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AMINA KHAN
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Nosso grupo traduz voluntariamente livros sem previsão de lançamento no Brasil com o intuito de
levar reconhecimento às obras para que futuramente sejam publicadas. O Tea & Honey Books não
aceita doações de nenhum tipo e proíbe que suas traduções sejam vendidas. Também deixamos claro
que, caso os livros sejam comprados por editoras no Brasil, retiraremos de todos os nossos canais e
proibiremos a circulação através de gds e grupos, descumprindo, bloquearemos o responsável. Nosso
intuito é que os livros sejam reconhecidos no Brasil e fazer com que leitores que nunca comprariam
as obras em inglês passem a conhecer. Nunca diga que leu o livro em português, alguns autores (e
eles estão certos) não entendem o motivo de fazermos isso e o grupo pode ser prejudicado. Não
distribua os livros em grupos abertos ou blogs. Além disso, nós do grupo sempre procuramos adquirir
as obras dos autores que traduzimos e também reforçamos a importância de apoiá-los, se você tem
condições, por favor adquira as obras também. Todos os créditos aos autores e editoras.
Aviso!
Aviso de gatilho. Este livro contém:
— Linguagem homofóbica e ofensiva
— Menção de suicídio (Fora da página)
— Menção de estupro (Fora da página)
— Este é um livro de “de inimigos para amantes”. Esta não é uma
história de amor fofo; é um romance sombrio. Os personagens são vis e
cruéis uns com os outros. Se você não se sentir confortável com esse
conteúdo, por favor, não leia.
— Juliette, uma personagem deste livro, é uma personagem cruel e de
caráter moralmente duvidoso que fere emocional e fisicamente as
pessoas, portanto, se esse tipo de conteúdo for um gatilho para você, por
favor, não leia.
Aviso de conteúdo
por thb
***
***
Foi o que eu fiz. Passei a última hora ouvindo-a e absorvendo as
informações sobre a estrutura da célula animal.
Eu tenho que dar elogios quando eles são devidos; Adaline é
realmente excelente quando se trata de aulas particulares. Provavelmente
porque ela é tão apaixonada por biologia; está praticamente escorrendo dela
durante toda a sessão.
No entanto, minha atenção está vacilando agora, principalmente
porque estou cansada da conversa sobre biologia. Eu entendo o que ela está
dizendo e eu consumi. Eu aprendo rápido, então não posso me incomodar
em continuar falando sobre a estrutura da célula animal agora. Não quando
tenho tópicos de conversa muito mais interessantes que gostaria de trazer à
tona.
— Lembre-se de que o núcleo contém material genético — ela gira a caneta
—, não se esqueça dos ribossomos também. Lembre-se de que são
estruturas minúsculas onde ocorre a síntese de proteínas…
— Sua moto… — Eu a interrompi, limpando minha garganta no
processo.
Ela parece exasperada por eu tê-la interrompido. Eu não a culpo;
deveríamos estar falando sobre biologia. Eu deveria deixá-la continuar
porque preciso desesperadamente passar. Mas meu cérebro simplesmente
não permite; não poderei descansar até ouvir a resposta dela.
Aperto minha caneta com mais força, inadvertidamente, quando ela
olha para mim, tão atentamente. Não estou acostumada com Adaline me
ouvindo. É como uma injeção de adrenalina — seus olhos me observando.
— Sim? — ela questiona, confusa e irritada, incitando-me a
continuar.
Cruzo as pernas, respiro fundo e decido fazer exatamente isso.
— Quantas pessoas te foderam com você nela?
Ela levanta as sobrancelhas enquanto a irritação cresce
profundamente dentro de seus magníficos olhos verdes. Eu posso vê-la
cerrando os punhos nas laterais da minha cadeira. Eu me abstenho de sorrir
com seu claro desconforto e mantenho uma cara séria.
Admito que gosto de fazer perguntas inapropriadas quando se trata
dela, mas desta vez estou genuinamente curiosa.
— Você caiu quando criança? É por isso que você inventa tanta
besteira?
Não desvie. Responda-me.
— Você é muito maricas para responder? — Eu questiono
presunçosamente, fechando meu livro.
Ela é a coisa mais distante de um covarde. Não estamos nos anos de
1950, então não é como se ela tivesse vergonha de discutir sua vida sexual
também. Ela só está mais incomodada por ser eu quem está fazendo a
pergunta e isso me deixa muito feliz.
— Não. Eu só não sei por que você está tão interessada — ela diz,
encolhendo os ombros. Antes que eu possa responder, ela continua falando.
— Por que você está interessada na chupada que ganhei de uma garota
nesta moto? Por que você está tão interessada nos três orgasmos que ela me
deu?
Três. Três?
Adaline está me provocando, fazendo meus punhos cerrar e minha
cabeça latejar. Seu rosto presunçoso indica para mim que ela sabe que me
pegou; ela acha que estou com raiva por causa da minha homofobia.
Ela quer tanto que eu admita que está me incomodando ao descrever
seus desvios sexuais com garotas. Mas por que ela estar com um menino
também me incomoda tanto? Não. Eu não posso deixá-la chegar até mim.
— Eu só queria descobrir se sua vida sexual era tão mediana quanto
eu imaginava. — Digo as palavras em um tom entediado que me deixa
chocada.
Nunca fui boaem esconder ou controlar meus sentimentos, mas neste
momento estou me forçando a isso.
Ela parece perplexa, zombando.
— Mediana? Em que planeta?
— Aquela garota te dando três orgasmos não é tão incrível quanto
você pensa — murmuro asperamente, fingindo que não estou interessada
nesta conversa enquanto olho para minhas unhas.
Você pode opinar Juliette? Seu namorado não pode nem te dar um.
— Ah, como se você pudesse fazer melhor, princesa do travesseiro1 — ela
retruca, irritada.
— Do que você acabou de me chamar?
— Você me ouviu.
Princesa do travesseiro? Eu não sou uma princesa de travesseiro. Não
é minha culpa se não tenho vontade de cuidar de Adonis ou de qualquer
outro homem com quem já fiz sexo. Isso certamente não faz de mim uma
princesa do travesseiro.
— Eu não gosto de garotas, então isso não é aplicável. — Eu levanto
minha voz ligeiramente. Não foi a melhor resposta, mas ela tinha que saber
que o que ela disse não era preciso. No que me diz respeito, só sapatões
podem ser princesas de travesseiro e eu não sou sapatão.
Ela acena com a cabeça, rindo levemente daquele jeito irritantemente
presunçoso dela.
— Você tem razão. A palavra que eu estava procurando era chata.
Inspire. Expire.
— Querida, quando se trata de sexo, posso garantir que sou a coisa
mais distante de ser chata.
Não quero ronronar as palavras, não quero que soe tão sedutor, mas
não importa o que eu quis dizer, tudo o que importa é que minhas palavras
fazem a respiração de Adaline falhar. Nunca na minha vida me senti tão
grata por não piscar como neste momento.
Adaline Emery é uma parede de tijolos; suas paredes impenetráveis e
suas emoções totalmente guardadas. Então, aquele pequeno engate? É como
se heroína corresse em minhas veias.
— Ah, é? — Ela pergunta, provocando, brincando com o colar de
coração em volta do pescoço.
— Se eu fosse do seu jeito…
— Você quer dizer se você gostasse de transar com garotas — ela
corrige vulgarmente, sorrindo para o meu desconforto genuíno.
Eu cerro os dentes.
— Como eu estava dizendo, se eu fosse deplorável como você, você
descobriria rapidamente que não sou chata na cama.
Não sei as palavras que estão saindo da minha boca neste instante.
Não me refiro às palavras saindo da minha boca, só preciso vê-la perder,
retirar suas palavras. Certo?
— Você se dá muito crédito. Eu não sou Adonis. Não sou fácil,
Juliette. — Aposto que ela não é. Nada sobre Adaline Emery grita “fácil de
agradar”.
— Sério? Eu discordo… — Eu me levanto lentamente, caminhando
em sua direção. Coloco minhas duas mãos na poltrona e ela nem se mexe.
Ela parece estar prendendo a respiração e eu gosto disso; eu gosto
quando ela parece estar fazendo algo por minha causa.
— Você seria incrivelmente fácil. Acho que bastaria um toque… —
Eu me inclino para o lado de sua cabeça, engolindo seu cheiro mais uma
vez enquanto movo meus dedos em direção aos dela para que nossos dedos
mindinhos se toquem. — Um toque. Onde seria? Na cintura? Ou no
pescoço? Não, seria na sua bunda. Tudo o que tenho a fazer é marcar sua
bunda de vermelho pela maneira como você fala comigo. Então você estaria
implorando para que eu estivesse dentro de você. Não é verdade?
Eu movo meu rosto para trás para olhar para ela. Ela está respirando
pesadamente e seus olhos estão encobertos de uma forma que eu nunca vi
antes e é emocionante.
Eu estaria provocando a reação dela se não sentisse como minha
própria calcinha estava encharcada. Por que minha calcinha está
encharcada?
— Juliette… — ela sussurra, inclinando-se para mais perto de mim.
De repente, não consigo encontrar a vontade de respirar enquanto procuro
seus olhos verde-floresta. De perto, há um pontinho de luz avelã em sua
íris, algo que nunca havia notado antes.
— Sim? — Eu sussurro gutural enquanto me agarro a cada palavra
que ela está prestes a dizer. Conto os segundos na minha cabeça; qualquer
coisa para me manter focada e respirando, porque sinto que não consigo
respirar.
Um. Dois. Três. Quat…
— Eu nunca imploro para pessoas chatas me foderem.
Antes que eu possa responder, ela está ficando de pé para me
empurrar para longe dela com cuidado. Estou sem palavras. Não de bom
grado, mas sinto como se não pudesse nem abrir a boca para responder a
ela.
Como ela faz isso… desligar suas emoções em menos de cinco
segundos?
Eu limpo minha garganta, fingindo que este encontro não me
incomodou enquanto me sento na minha cama.
— Tanto faz, sapatão.
Ela zomba alto.
— Vamos seguir em frente com as aulas particulares. Cobrimos
apenas células animais; ainda temos muito o que fazer…
Eu a ignoro quando ela começa a divagar, eu deveria realmente
agradecê-la por isso, porque está me lembrando de como ela é
irritantemente insuportável. Seu comportamento está me dando o tempo
necessário para acalmar minha respiração.
Ouvir seu zumbido enquanto me ensina entorpece minha mente no
esquecimento. Ela está agindo como se isso fosse a coisa mais importante
da vida dela, tudo por causa de uma cartinha boba de elogio? Ela não
percebe que Oxford estará implorando por ela, independentemente de
alguma carta estúpida?
— Relaxe, temos muito tempo — eu a interrompo apressadamente.
Meu tom não é tão venenoso quanto costuma ser, mas principalmente
porque nosso encontro anterior me esgotou.
— Juliette — ela fala meu nome asperamente, olhando para mim —,
eu não vou deixar sua natureza incompetente e seu contentamento com suas
notas médias arruinar minhas chances de uma carta de recomendação!
Essa. Cadela.
Isso é o que é preciso para incomodar Adaline Emery? Ela é
completamente indiferente e monótona, mesmo quando estávamos
discutindo como eu dormiria com ela.
No entanto, assim que a conversa é direcionada para notas e cartas,
ela fica absolutamente furiosa. Todo esse tempo eu poderia ter usado seu
futuro em Oxford para chamar sua atenção. Para obter suas reações. Tê-la
absolutamente lívida.
Inacreditável.
— Você é tão dramática! — Eu gemo. — Claro, estou contente com
minhas notas! Não há nada de errado em ter notas medianas. Você deveria
tentar algum dia. Talvez então você pare de ser tão tensa.
Ela ri baixinho.
— Dramática? Por que diabos você acha que eu sou tão tensa? Não
consigo ser mediana, Juliette. Só pessoas como você têm essa opção.
— Pessoas como eu?
— Ricas, vadias mimadas que recebem tudo de mão beijada. — Sua
enunciação precisa enche meu corpo de raiva. Mas ela não para. — Você
consegue ser mediana, para deleitar com a segurança do seu dinheiro. Não
tenho esse luxo.
— Se você tivesse minha vida, você faria o mesmo — eu cuspo,
levantando-me em fúria.
— Não, eu não faria. — Ela balança a cabeça com um encolher de
ombros e eu arqueio minha sobrancelha, levando-a a continuar. — Na
verdade, eu usaria meu dinheiro para algo diferente de deixar outras pessoas
infelizes…
— Ah, por favor. — Eu zombo, cortando-a. Eu não fiz todo mundo
infeliz… apenas pessoas que me incomodam. Como quando eu disse à
minha mãe para mexer os pauzinhos e fazer com que Kelly Mitchell fosse
demitida como professora de Richmond porque ela se recusou a devolver
meu telefone após a detenção. Ou quando quebrei as janelas do carro de
Brock Johnson quando ele estacionou na minha vaga.
Para ser justa, ele mereceu; todo mundo sabe que ele é um idiota. O
ponto é que eu não deixo todo mundo infeliz. Só não me contrarie e você
ficará bem. De que adianta o dinheiro se não posso usá-lo para conseguir o
que quero?
Ela me ignora.
— Eu compraria todas as vantagens que pudesse, qualquer coisa que
me ajudasse a me destacar. Eu nunca seria mediana. — Ela faz uma pausa e
seus olhos me examinam de cima a baixo, me fazendo suar. — Eu não seria
como você, Juliette, seria muito pior.
O brilho perverso em seus olhos verdes e sua estatura confiante
enviam um arrepio pela minha espinha. Claro. Ela não está brava por eu ser
mimada, ela está brava porque eu não uso isso a meu favor da maneira
“adequada”. Acho que sou melhor do que ela, porque não usaria meu
dinheiro para progredir academicamente; eu não me importo o suficiente
para fazer isso.
Eu nunca tive que me importar muito.
— Juliette! — Uma voz chama, tirando-me dos meus pensamentos.
Eu conheço essa voz. A mesma voz estridente, mas ainda amorosa
que estou acostumada a ouvir quando ela não está em viagens de negócios.
Minha mãe.
1. “Pillow princess” é um termo utilizado geralmente na comunidade sáfica para falar de
mulheres que recebem estímulo sexual mas não retribuem.
Capítulo CINCO
Adaline
Idênticos olhos azuis gelados, o mesmo cabelo louro-dourado,
exceto os leves cabelos grisalhos. Toda vez que olho para Samantha
Kingston, sinto como se estivesse tendo uma visão de como Juliette será
daqui a trinta anos. Ela deveria estar feliz por ser uma milf, ou mãe que eu
gostaria de foder, absoluta quando ficar mais velha; uma milf reprimida e
mal-intencionada, mas ainda assim uma milf.
Quando ouvi sua voz estridente chamando Juliette do andar de baixo,
não consegui nem reagir antes que Juliette descesse instantaneamente.
Claro, eu não tinha muita escolha a não ser fazer o mesmo.
Então, é onde estamos agora, diante de Samantha Kingston que me
olha com desprezo e sua filha com um olhar suave de indiferença.
Ela está vestindo um longo casaco bege, um cinto de couro enrolado
no meio e um cachecol Chanel enrolado no pescoço. Eu tenho que admitir,
ela está na moda. Ou ela é apenas podre de rica? Existe realmente alguma
diferença?
— Adaline — ela cumprimenta com desdém, reconhecendo-me com
um leve aceno de cabeça.
Eu aceno de volta.
— Senhora Kingston.
Eu a odeio. Eu a odeio desde criança quando ela tentou usar seu poder
e dinheiro para implementar regras homofóbicas na academia de Richmond,
que felizmente não funcionou.
Eu a odeio desde que ela me disse que ser bissexual era nojento, mas
não tão ruim quanto ser gay, porque eu ainda tinha uma chance de acabar
com um homem.
Ela me disse isso em um comício gay alguns anos atrás. Cadela vil.
Ela está sempre em eventos de orgulho reclamando e repreendendo pessoas
como eu.
Ela é uma tirana, o que é muito divertido, porque ela é a mesma
mulher que se manifestou contra o sexismo e o racismo e até financiou
clínicas de aborto, mas ela estabelece limites para a homossexualidade?
Alguém precisa ensiná-la o que realmente significa progressividade.
— O que você está fazendo na minha casa? — Ela questiona, com os
lábios apertados.
Meus olhos se voltam para Juliette, que está ao meu lado. Ela está de
pé rigidamente, com os braços cruzados. Percebo que ela está muito
desconfortável, então decido me divertir um pouco com ela.
— Bem, na verdade acabei de foder sua filha…
— Ela está brincando! — Juliette interrompe em voz alta, sua mão
dispara para a minha e suas unhas começam a cavar em minha pele. — Ela
está apenas me ensinando.
Eu sufoco uma risada e puxo minha mão, ignorando seus olhares e
como me senti satisfeita quando suas unhas afundaram em meu braço. Eu
realmente preciso resolver minhas tendências masoquistas.
— Eu sei — Samantha zomba —, você não é uma degenerada como
ela.
— Tem certeza disso? Ela provavelmente chupou o pau do namorado
bem aqui na sala de estar.
Isso não é “taxar de puta”; isso é pura grosseria. Esta sou eu sendo tão
irritantemente irritante quanto posso para fazer sua mãe se sentir
desconfortável. Sem mencionar que enfurecer Juliette é sempre um bônus
também. Seus punhos cerrados e mandíbula cerrada me dizem que ela está
absolutamente furiosa. Eu amo isso.
Mesmo que eu esteja sendo petulante, o que claramente sou, as regras
comuns de cortesia não se aplicam quando se trata dos Kingston. Eles são
humanos vis que só merecem um tratamento vil de volta.
— Não estamos vivendo na idade da pedra. Minha filha pode fazer o
que quiser com o corpo dela, é uma prerrogativa dela. — Samantha dá de
ombros para minha grosseria.
Eca. Ela sempre diz a coisa certa. Isso deveria me acalmar, mas tudo
o que faz é fazer meu peito inchar de fúria. Estou com raiva porque ela me
repreendeu por ser bissexual desde criança. Estou com raiva porque em
todas as outras questões sociais parece que lutamos do mesmo lado!
Acima de tudo, estou com raiva porque foi ela quem deixou Juliette
assim. Ela é a razão pela qual Juliette é tão zangada, cruel e homofóbica.
— Então você aceita o sexo, desde que seja apenas um homem e uma
mulher? — Eu questiono, zombando.
— Precisamente.
— Você é uma bruxa reprimida, sabia disso? — Eu cuspo com raiva.
Neste exato momento, posso finalmente entender por que Juliette
despreza minha falta de atenção. Estou sentindo o gosto de Samantha, com
seu rosto estóico e palavras sem emoção.
Normalmente, isso não me incomodaria tanto, mas é porque nunca
falei com ela por mais de cinco minutos… nem nunca estive em sua casa.
— Adaline! — Juliette me repreende, mas sua mãe levanta a mão
sinalizando para ela não se envolver e ela fecha a boca instantaneamente.
Isso é o que é preciso para calar Juliette Kingston? Apenas um sinal
de sua mãe e ela está completamente silenciosa? Arrombada.
— Prefiro ser reprimida a ser desviada — retruca Samantha.
Eu rio indecorosamente.
— Desviada? Você consegue se ouvir? Voltamos à idade da pedra.
Ela tinha que entender sua hipocrisia, como ela poderia não entender
o quão ridículas eram suas noções? Seria uma coisa se ela fosse de extrema
direita e odiasse todos os grupos minoritários, pelo menos eu poderia
atribuir isso à ignorância.
Com ela, eu simplesmente não posso deixar de pensar que ela é a
razão pela qual Juliette me odeia. Eu preciso saber por quê. Já tentei
perguntar a ela antes, toda vez que a encontro. Eu costumava perguntar a
Juliette a mesma coisa também, mas nunca recebi uma resposta de nenhuma
delas.
— É diferente! — Ela argumenta e eu posso ver a quebra de fachada
sem emoção. Juliette está completamente silenciosa, com os olhos no chão
e percebo que este é o meu momento para descobrir isso sem que ninguém
interfira.
— Qual é o seu problema real? Por que você odeia tanto pessoas
como eu? — Eu a bombardeio com perguntas, levantando minha voz cada
vez mais alto.
— Eu não devo nenhuma explicação a você — diz ela com finalidade,
desviando os olhos de mim e eu sei que tenho que continuar pressionando.
Eu rio sombriamente, caminhando para mais perto dela.
— São problemas com a mamãe? Problemas com o papai? — Faço
uma pausa antes de baixar o tom. — Ou são problemas com o marido?
É isso que Juliette sente sempre quando é cruel com alguém? É um
pouco viciante, como se a malícia estivesse impregnando cada centímetro
do meu corpo.
Nunca fui de medir minhas palavras ou controlar meus pensamentos e
certamente não vou começar agora. Eu preciso continuar para entender
Samantha – para quase degradá-la.
Essa é a coisa sobre pessoas como Samantha Kingston, elas são
apenas miseráveis, pequenos valentões e se você forçar o suficiente, você
vai expor uma insegurança; algo enraizado tão profundamente que até
mesmo a menção disso os destrói.
— Pare com isso! — Ela adverte humildemente. Ela não é a mesma
mulher estóica que entrou na casa, ela parece uma bomba-relógio.
— Foi por isso que seu marido te deixou? Porque você é um pedaço
de merda ignorante e intolerante? — Não consigo sentir nenhum
arrependimento depois de falar porque minhas palavras maliciosas parecem
definir algo colérico em vigor.
Os olhos de Samantha mudam, tornando-se mais escuros e estreitos.
Quando estou tão perto dela, posso ver uma veia saindo de sua testa e sua
respiração fica mais pesada; tão perigosamente pesada.
— Como você ousa! — Ela berra alto. Eu meio que espero que ela me
bata, mas ela não bate. Ela apenas aponta o dedo na minha cara e diz: —
Não presuma saber coisas sobre meu marido…
— Ex-marido — corrijo com um sorriso malicioso no rosto. Eu odeio
isso. Eu pareço Juliette agora, tão amarga e venenosa.
Mas eu não posso parar. Eu quero, quero muito, mas não posso.
Eu tinha ouvido falar sobre o divórcio dos pais de Juliette alguns dias
depois de experimentar a ira homofóbica de Juliette pela primeira vez.
Fiquei muito magoada com o fato de minha própria bissexualidade ter
sido revelada para ter um pingo de simpatia por qualquer outra pessoa,
especialmente por ela. De qualquer forma, eu não sabia o suficiente para ser
solidária, tudo o que sabia era que o pai dela havia se divorciado da mãe
dela e ido embora.
Eu desprezo que essa fúria dentro de mim vá me fazer usar isso contra
ela agora. No entanto, continuo falando.
— Eu não o culpo por ir embora. Eu iria embora também, se minha
esposa e filha fossem vadias miseráveis e homofóbicas!
Samantha estreita os olhos e aperta a mandíbula.
— Ele não foi embora por minha causa!
— Mãe! — Juliette tenta interromper a mãe ao se aproximar e colocar
as mãos nos ombros dela. Não funciona. Eu sei que não porque Samantha
empurra as mãos de Juliette gentilmente, sinalizando para ela não se
envolver.
Seus olhos se voltam para mim com pura ferocidade.
— Julian foi embora porque é um viado do caralho que prefere ir
embora e foder com o chefe a ficar com a família! Ele é a razão pela qual eu
odeio sua espécie!
Suas palavras transbordam de fúria e sinto como se tivesse rompido
uma represa e a água não parasse de fluir.
Ela não para de cuspir palavras, mesmo quando Juliette está
implorando histericamente para ela parar.
— Ele era um covarde! Ele me espancou até virar polpa para me
impedir de divulgar seu segredinho sujo. Ele ficou feliz em me deixar por
um homem, mas com muito medo de admitir!
Não. Não. Não. Eu queria empurrá-la, mas até esse ponto? Para este
lugar dela tremendo, caindo no chão enquanto Juliette a conforta? Não, não
assim. Acabei de descer vários níveis além do comportamento de Juliette.
— Saia! — Juliette diz friamente, segurando sua mãe que está
tremendo de raiva.
Capítulo SEIS
Juliette
Duas semanas. Passei as últimas duas semanas causando estragos
em Adaline Emery. Não estou me referindo ao nosso habitual jogo de
insultos ou à malícia que me acostumei a desfilar perto dela.
Não, isso é diferente. É puro e frio. É cruel e está me cutucando desde
aquele dia.
O dia em que minha mãe revelou o segredo da minha família. O
mesmo segredo que ela havia enraizado em mim quando criança para ficar
quieta, principalmente por causa da alta sociedade e seu julgamento, mas
uma pequena parte deve ter sido por medo – medo de meu pai.
Ela estava apavorada naquele dia. Eu me lembro disso tão
vividamente. Eu tinha acabado de voltar do treino das líderes de torcida.
Minha mãe descobriu que meu pai estava dormindo com o chefe e
planejava nos deixar. Em vez de se desculpar por seu adultério, ele a
ameaçou e a repreendeu.
Ele estava em cima dela, esmurrando seu rosto e gritando com ela
para manter seu caso gay em segredo. Vendo isso, corri o mais rápido que
pude para detê-lo.
Fui tola em pensar que aquele eu esquelético de doze anos poderia
tirar meu pai de cima de minha mãe, mas tentei muito. Com tanta força que
ele me empurrou para trás. Como resultado, eu me machuquei e, de certa
forma, isso o impediu de continuar a bater na minha mãe.
Eu teria levado tantos empurrões, socos e chutes quanto pudesse se
isso significasse que ele pararia de machucá-la.
Ele saiu naquele dia e enviou os papéis do divórcio na semana
seguinte, transformando minha mãe de aliada em inimiga. A partir daquele
dia, ela não desprezava ninguém tanto quanto desprezava os gays.
Eu queria tanto explicar a ela que não era justo generalizar todos os
gays só por causa do meu pai. Talvez devesse, mas não expliquei. Eu não
podia. Não quando vi os hematomas que se formaram em minha mãe, tanto
física quanto emocionalmente.
É como se eu tivesse absorvido a dor dela naquele dia. Eu podia sentir
isso dentro de mim; cobriu cada centímetro de mim, me sacudiu e me
mudou de maneiras inimagináveis. Agora, eu era exatamente como ela –
homofóbica e implacável. Eu tinha que ser.
Desde que meu pai foi embora, minha mãe tem sido uma casca de seu
eu passado. Ela passou de amorosa e alegre a estóica e cruel com a maioria
das pessoas, mas nunca comigo.
Sua máscara estava tão bem colocada e não se mexeu todos esses
anos, até aquele dia, quando Adaline a provocou. Passei a noite inteira
consolando minha mãe que chorava no quarto.
Isso me teletransportou de volta para a noite que passei limpando as
feridas de minha mãe e enxugando suas lágrimas.
A parte minúscula e racional de mim sabe que Adaline não poderia
saber o que aconteceu com minha mãe e eu. Embora ela tenha sido
particularmente cruel naquele dia, não foi sem razão.
Afinal, não posso culpá-la por querer entender por que a odeio tanto.
No entanto, eu ainda não posso deixar de querer que ela se machuque pelo
que fez, porque ela machucou minha mãe e ela... me machucou.
Sim, eu a machuquei, mas nunca assim. Nunca falei sobre os pais
dela. Não que eu pudesse, pois não sei muito sobre eles.
Presumo que a mãe dela morreu quando ela era criança, nunca ouvi
nada sobre ela. Eu sei que o pai dela se enforcou antes de ela vir para a
academia de Richmond.
Eu já falei sobre isso ou joguei na cara dela? Não, eu não fiz isso.
Você falou sobre o irmão dela, então desça do seu pedestal. Maldita
seja essa consciência!
Tenho sido cruel com Adaline nas últimas duas semanas; eu pintei
“saátão” com spray em seu armário, queimei metade de seus preciosos
livros didáticos e ordenei aos meus asseclas que continuassem a assediá-la.
Eu esperava que ela gritasse, revidasse e sofresse – da mesma forma que
estou sofrendo –, mas ela não gritou.
Ela apenas suporta; cada insulto e merda que eu cuspo nela, ela
aceita. Eu nem mesmo falei com ela desde aquele dia em minha casa. Não
tenho conseguido enfrentá-la porque ela me faz perder o controle e, se eu
perder o controle, não serei tão cruel quanto posso. Então, eu a evitei e fiz
com que outros fizessem meu trabalho sujo para mim.
Mas isso não a incomodou. Ela está agindo como se nada tivesse
acontecido e ainda me envia notas de tutoria todos os dias por e-mail – que
ela sem dúvida recebe do Sr. Khalid.
Por mais que eu a deteste, ainda uso as anotações todas as noites.
Ainda preciso passar em biologia e permanecer na equipe de líderes de
torcida. Não vou deixar que ela estrague isso.
— Ei, você está bem? — Eu ouço a voz de Kai através do meu
telefone, que está pressionado no meu ouvido, interrompendo meus
pensamentos.
Kai está descansando em casa há duas semanas desde que ficou
doente. Senti falta dele, mas o lado bom dessa situação é que ele não estava
aqui para testemunhar o que tenho feito com Adaline. Se estivesse, eu
ouviria um sermão. Estou feliz por não ter que lidar com sua superioridade
moral neste caso.
— Sim, estou bem — eu digo a ele, sem saber se estou realmente
dizendo a verdade ou não.
— Tem certeza? — ele pergunta novamente e antes que eu possa
responder, ele acrescenta: — Você tem estado muito quieta nas últimas duas
semanas. Você sempre pode falar comigo. Você sabe disso, certo?
Eu sei que sim. Ele é praticamente a única pessoa com quem posso
conversar e confiar em como me sinto. Eu deveria dizer a ele o quão
miseravelmente zangada estou, mas simplesmente não consigo. Eu não vou
me abrir sobre isso, não quando prefiro reprimir minha raiva e deixá-la
apodrecer.
Se eu falar sobre isso, ele se dissipará. Sim, vou me sentir melhor,
mas quem se importa? Preciso segurar minha fúria para poder usá-la como
arma contra Adaline.
— Não se preocupe, eu prometo que estou bem. Apenas estressada
com o torneio de líderes de torcida chegando.
Obviamente, isso é mentira. Por que eu estaria preocupada com algo
em que me destaco tão claramente?
— Não se preocupe, você é a pessoa mais flexível que conheço! Você
vai arrasar! — Ele grita alto pelo telefone e eu sorrio, embora tenha certeza
de que ele danificou permanentemente meus tímpanos.
Eu rio.
— Você vai, né?
— Claro.
A pura segurança com que ele responde à minha pergunta sempre
aquece meu coração gelado. Ele é a única pessoa que vem a qualquer um
dos meus torneios de líderes de torcida.
Minha mãe vinha sempre, mas depois que meu pai a deixou ela parou
de vir. Ela disse que isso a lembrava muito de quando eles iam juntos aos
meus jogos. Ela não poderia apenas tentar por mim?
— Eu tenho que ir agora — Kai diz pelo telefone e rapidamente
continua. — Minha mãe está me chamando. Eu te ligo de volta depois.
Amo você!
— Também te amo. — Eu desligo.
Eu inclino minha cabeça contra meu armário, minha cabeça
parecendo totalmente pesada. Tanta tensão está instalada em meus membros
agora, tudo porque não fui capaz de liberá-la.
A única coisa que costuma dissipar minha tensão é quando fico cara a
cara com Adaline, quando jogo nosso joguinho de insultos e a incomodo.
Falando no diabo, meus olhos se animam quando vejo Adaline
correndo em direção ao vestiário. Contenho uma risadinha porque sei que
ela está correndo para trocar de roupa. Eu fiz Stacey, a vice-capitã do meu
time de torcida, afogar suas roupas em raspadinha de framboesa.
Assistir Glee novamente me deu a ideia e não pude deixar de executá-
la. Ela deveria estar feliz; eu escolhi o sabor favorito dela.
Tudo dentro da minha mente está gritando para eu ficar parada, talvez
perder algum tempo conversando com as pessoas antes de ir para a aula.
Meu corpo, porém, não concorda e é isso que me leva a caminhar
atrás de Adaline, seguindo-a até o vestiário. Era mais fácil evitar Adaline
quando eu evitava de propósito ver seu rosto. Eu simplesmente não consigo
evitar quando a vejo.
Estou oficialmente me despedindo do meu recorde mais longo de
evitar Adaline Emery. Entro e ela está preocupada demais arrumando suas
roupas sujas para ouvir meus passos.
Percebo a rapidez com que ela trocou de roupa. Sua habitual saia
xadrez azul substituída por calças cinza e sua habitual camisa branca
substituída por um suéter azul marinho. Eu desprezo isso, mesmo depois
que ela foi atingida por uma lama, ela ainda parece bonita. Ainda mais
quando seu cabelo preto está preso.
Minhas palmas suam quando observo os cabelos de bebê expostos em
sua nuca. Ela deveria amarrar o cabelo com mais frequência.
Eu limpo minha garganta e ela parece assustada, quase gritando, mas
quando seus olhos verdes encontram os meus, ela relaxa. Ela realmente não
deveria.
— O que aconteceu com sua saia? Você sofreu um pequeno acidente?
— Eu questiono com uma voz falsa e preocupada.
Ela não responde de imediato, então aproveito a oportunidade para
caminhar lentamente em direção a ela. Meus pés me colocam bem na frente
dela, não muito longe, mas também não muito perto. Longe o suficiente
para não nos tocarmos, mas perto o bastante para que o cheiro de framboesa
esteja enchendo meus sentidos.
— Algo assim — ela diz, acompanhada por um suspiro profundo,
seus olhos brilhando com o que eu só posso supor ser exaustão.
Não vou me concentrar em como ela parece cansada, nem vou me
concentrar em como as olheiras sob seus olhos estão puxando meu peito por
algum motivo.
— Pelo menos é uma desculpa para você se trocar e cobrir essas
pernas horríveis — eu cuspo com um sorriso falso. Meus punhos se fecham
com força porque sei que estou mentindo; suas pernas não estão nem perto
de horríveis.
— Vou manter isso em mente — diz ela, com os olhos baixos, um
sorriso suave no rosto.
Pare. Pare com isso. Faça alguma coisa; rasgue meu cabelo, coloque
suas mãos em volta do meu pescoço, grite comigo por dizer algo tão
horrível, me chame de todos os nomes realmente terríveis que puder.
Apenas... faça alguma coisa, Adaline.
— Olhe para mim. — Eu peço friamente e ela faz instantaneamente.
Eu me deleito com a maneira como ela segue minhas ordens pela primeira
vez, é tão bom. Por que me sinto tão bem quando ela me ouve? — Você
contou a alguém? — Eu questiono tão baixinho que estou surpresa que ela
consiga me ouvir.
Seus olhos suavizam ligeiramente em compreensão. Não estou
surpresa por não ter que elaborar, ela sabe exatamente do que estou falando.
Preciso saber se ela contou a alguém sobre meu pai, para seus amigos ou a
seu irmão.
Eu preciso saber o que esperar. Não me ocorreu questioná-la antes
porque eu estava evitando-a. Minha mãe não está muito por perto, mas
posso dizer que ela desconfia que alguém descubra.
Isso arruinaria sua reputação — ela ser trocada por um homem. Não
só isso, mas se a notícia chegasse ao meu pai, talvez ele voltasse e nos
machucasse.
— Não. — Ela balança a cabeça, chocada. — Por que eu faria isso?
Para me destruir. Para arruinar a minha vida e a da minha mãe. Para
se vingar de nós pela maneira horrível como a tratamos. Eu poderia citar
um milhão de razões pelas quais ela divulgaria meu segredo, mas aqui está
ela, agindo como se fosse o pensamento mais absurdo.
— Por que não? — Atiro de volta, me aproximando dela. Seus pés se
movem para trás, então agora ela está encostada na parede.
Eu gosto dela assim; seu corpo pressionado contra a parede de modo
que ela é incapaz de fugir disso, fugir de mim.
— Talvez porque eu não seja uma pessoa maldosa.
— Ah, por favor. Nós duas sabemos que você é muito capaz de ser
maldosa. Ou você esqueceu o que aconteceu na minha casa? — Eu cuspo
asperamente, ignorando que posso sentir a respiração dela em mim e minha
própria respiração está começando a ficar mais pesada.
Ela suspira.
— Juliette, sinto muito. Eu sinto mesmo. Eu não sabia.
Ela soa tão genuína, com as sobrancelhas franzidas e os olhos
voltados para baixo, como se estivesse tão desesperada para que eu entenda
como ela está se desculpando, o quanto ela se arrepende. Pena que não me
importo.
— Eu não preciso de suas desculpas.
— Então o que você precisa? Já se passaram semanas e você é
implacável. O que vai fazer você parar?
Estou afetando ela. É errado que afetá-la assim me deixe feliz? Quero
dizer, é claro, estou apaziguada por ela estar exausta e incomodada, mas não
é o suficiente. Eu quero mais, eu preciso de mais.
— Eu quero que você se machuque… — Eu me inclino para mais
perto dela, meu rosto a centímetros dela. — Eu quero que queime cada
parte de você. Eu quero que você sinta tanta dor que não consiga respirar.
Ela pisca.
— Como você acha que foram os últimos dez anos da minha vida?
Fico em silêncio. Fico sem palavras por suas palavras, o que é uma
ocorrência bastante rara para mim. Minha respiração está presa na minha
garganta, suas palavras perfurando profundamente meu peito. Ela pode
estar falando de mim, ou talvez ela esteja falando sobre como sua vida é
miserável. De qualquer forma, é honesto e inesperadamente cru.
O silêncio que invade a sala deve me alarmar. Qualquer um poderia
entrar agora e o que eles veriam? Eu e Adaline, a centímetros de distância,
respirando pesadamente. Eu não posso nem tentar ter um pensamento,
porque tudo que posso fazer é olhar para seu rosto exausto.
Meus olhos notam a minúscula marca de beleza sob sua orelha;
qualquer coisa para me distrair de... seus lábios.
Agora estou olhando. Eu não tenho outra escolha. Eles parecem
suaves e seu batom vermelho marrom parece convidativo. Parece que ela
também não tem escolha, porque ela também está olhando para os meus
lábios.
Estando tão perto dela, quase posso traçar o contorno de seus lábios
com meus olhos. Não que eu consiga me concentrar em seus lábios por
mais tempo porque sinto meu pescoço sendo puxado para trás,
consequentemente me afastando de Adaline.
— Saia de cima dela!
Capítulo SETE
Adaline
— O que está acontecendo?
O som da voz de Aryan me tira do transe momentâneo em que eu
estava. O que foi isso? Aquele momento? Eu estava apenas confusa. Quero
dizer, não é nenhum segredo que Juliette é uma garota atraente, eu apenas
fiquei extasiada por um momento, só isso.
— Nada — coço a nuca —, está tudo bem.
Eles não parecem convencidos. Aryan parece perplexo e bem,
Victoria parece lívida. Ela puxou Juliette de cima de mim com tanta força
bruta que eu esperava que Juliette lutasse com ela ou gritasse com ela, mas
ela não lutou. Ela está parada ali, olhando para Victoria com aborrecimento,
embora seus olhos continuem vacilando em minha direção. Eu evito seus
olhos, como eu costumo fazer.
— Bem? Ela estava com as mãos em você! — Victoria grita, suas
mãos se agitando com exasperação.
Victoria fica muito protetora às vezes, acho que é a irmã mais velha
dentro dela. Ela realmente não pode evitar.
Eu não a culpo; uma vez quebrei a mão de uma garota porque ela
tentou dar um tapa em Victoria e Aryan uma vez sufocou um cara até ficar
inconsciente quando ele tentou nos apalpar. Somos um grupo protetor muito
violento.
Contei a eles sobre ter que ser tutora de Juliette quando saí de sua
casa naquele dia – eles ficaram céticos sobre o motivo de eu concordar, mas
assim que contei a eles sobre a carta de recomendação, eles entenderam.
Na verdade, eles foram direto para o gabinete do Sr. Khalid e pediram
para ver uma cópia da carta. Foi perfeito, fiz todas as alterações necessárias
e rapidamente comecei a temer atrasar minha parte no trato.
Juliette revira os olhos.
— Você está agindo de forma um pouco dramática, não acha? —
Meus amigos praticamente rosnam para ela.
Por que eles estão tão preocupados com isso? Quero dizer,
literalmente parece que está saindo fumaça de seus ouvidos. Isso é o que
Juliette e eu sempre fazemos; eles devem estar acostumados com isso a essa
altura.
Felizmente, eles não têm ideia do quanto Juliette tem me maltratado
nas últimas semanas.
— O que vocês estão fazendo aqui, afinal? — Eu pergunto, para
difundir a tensão.
Ambos suspiram audivelmente e Victoria é quem começa a falar.
— Nós ouvimos Stacey se gabando de ter destruído suas roupas,
então nós a confrontamos.
A menção de seu nome me lembra da raspadinha de framboesa. Ela
foi tão sorrateira sobre isso também, embora não fosse tão confiante quanto
Juliette. Ela fez isso por trás e fugiu logo em seguida.
— Não demorou muito para ela nos contar tudo o que eles estavam
fazendo com você — acrescenta Aryan.
Merda. Eu pensei que tinha me saído bem escondendo o estrago que
Juliette estava causando em mim. Eu até comprei alvejante de primeira
qualidade, só para poder remover aquela calúnia que ela colocou no meu
armário.
Eu não poderia deixá-los saber, eles matariam Juliette e então ela não
seria capaz de descontar sua raiva em mim, o que pela primeira vez era
realmente justificado.
Juliette zomba.
— É preocupante que vocês não tenham conseguido descobrir
sozinhos. Vocês não são os melhores amigos dela? — Ela me lança um
olhar, dizendo que está perplexa, mas satisfeita ao mesmo tempo por eu não
ter contado nada aos meus amigos.
— Cala a boca! — Victoria geme, segurando sua testa como se o som
da voz de Juliette estivesse lhe dando uma enxaqueca.
Juliette tem esse efeito na maioria das pessoas.
— Para ser justo, não tenho noção na maioria das vezes — retruca
Aryan, encolhendo os ombros. Eu me abstenho de bater na cabeça dele,
como costumo fazer quando ele faz piadas autodepreciativas.
— Sim, eu posso perceber — Juliette concorda em seu tom mal-
intencionado de sempre.
— Cale a boca! — Victoria, Aryan e eu disparamos em uníssono,
definitivamente éramos trigêmeos em outra vida.
Ela está me provocando. Ela sabe que aguento seus insultos, mas
quando se trata de meus amigos, é muito fácil me irritar. Estou cerrando os
punhos com força, tentando ignorar o comentário dela. Pelo menos eu
estava me segurando, até que ela fez outro.
— O quê? Eu só estava concordando com você — ela diz para Aryan
em um falso tom confuso. — Eu ia te chamar de imbecil, mas não achei que
você saberia soletrar.
Levo dois segundos inteiros antes de ter Juliette presa contra a parede,
minhas mãos agrupadas em seu colarinho enquanto a raiva pura, branca e
quente se dissipa por todo o meu corpo.
Meus amigos não fazem nenhum movimento, embora pela minha
visão periférica eu possa ver Victoria cerrando os punhos. Eles sabem que
devem me deixar lidar com isso.
Parte de mim se sente culpada, muito culpada por segurá-la
agressivamente assim depois do que fiz em sua casa. Minhas intenções
eram maliciosas, mas nunca em um milhão de anos eu esperaria ouvir o
quão mórbido era o passado de sua mãe. Não que isso justifique sua
homofobia, mas explica. Isso me ajuda a entender melhor Juliette e
Samantha.
Eu me senti tão culpada que deixei que ela me tratasse como nada;
como lixo puro, só para ela se sentir melhor.
Mas direcionado para os meus amigos? Ah, não. É aqui que minha
culpa finalmente se dissipou. Eu terminei de tomá-lo.
— Cale a porra da sua boca! — Eu cuspo minhas palavras duramente
para ela enquanto a empurro ainda mais contra a parede.
Ela não fala, apenas continua sorrindo diabolicamente, seus olhos
praticamente me examinando. Eu continuo.
— Diga o que quiser sobre mim, mas mantenha a boca fechada
quando se trata de meus amigos.
— Ou o quê? — ela provoca, mordendo o lábio inferior. Eu me vejo
ficando distraída por essa ação, momentaneamente.
— Não me teste, Juliette.
— Você não me assusta, Adaline.
Eu sei que não a assusto, assim como ela não me assusta. Não há
medo neste jogo que jogamos – nunca houve – e é isso que a deixa louca.
— Isso para agora. Cansei. Não vou mais aguentar sua merda — digo
a ela seriamente, sem perder a maneira como seu comportamento muda
instantaneamente.
Seus olhos se estreitam e seu sorriso desaparece. Eu posso ver a
forma como sua mandíbula aperta ligeiramente; não de uma forma zangada,
mas mais de uma forma descontente.
Ela sabe que estou falando sério. Cansei de deixá-la fazer isso por
causa de uma merda que fiz.
É ridículo. A mãe dela e ela ainda são vadias miseráveis, a merda que
elas passaram não serve de desculpa para nada. Você não pode generalizar
um grupo de pessoas por causa de uma pessoa horrível. Eu odeio todas as
pessoas loiras porque Juliette é uma vadia? Não.
— Isso acaba quando eu disser que acabou.
Ela é tão segura de si. Suas palavras exalam puro controle e poder,
como se ela não pudesse sequer imaginar um mundo onde eu não cantasse
sua música. Ela me conhece? Eu nunca vou dar a ela esse poder, nunca.
— Você precisa superar isso; você já me torturou o suficiente. —
Digo exasperada, o que pode ser um exagero. Claro, essas duas semanas
foram irritantes e inconvenientes, no entanto, a verdadeira tortura não a
enfrentou por duas semanas, quando ela enviou seus amigos para fazer seu
trabalho sujo. Era insuportável. Não porque senti falta dela, mas porque
ninguém briga comigo como ela.
Seus lacaios são deploráveis e irritantes, mas não são irritantes e
venenosos como ela. Eles não têm o dom de me incomodar como ela. Foi
pura tortura ouvir as palavras dela saindo das bocas deles.
Ela pisca.
— Agora você sabe como me sinto quando estou perto de você.
Eu expiro com o comentário dela. A absoluta seriedade com que ela
está falando me abala um pouco. Enquanto ela olha para mim, não consigo
desviar o olhar ou mesmo respirar.
Ela sente que eu a torturo? Eu deveria perguntar a ela como faço isso.
Eu quero desesperadamente saber como ela se sente torturada por mim.
— Você pode cortar a tensão com uma faca. — O sussurro fracassado
de Aryan me traz de volta à realidade.
Eu estava tão extasiada com meu confronto com Juliette que tinha
esquecido completamente que meus amigos também estavam aqui. Eu
soltei seu colarinho, incapaz de encontrar seus olhos novamente.
— Vamos — eu digo apressadamente, instantaneamente saindo do
vestiário e praticamente correndo pelos corredores. Meus amigos correm
atrás de mim.
— Por que você não nos contou sobre o que está acontecendo? —
Victoria pergunta, me alcançando. Antes que eu possa responder, Aryan
lança sua própria pergunta.
— Por que você não revidou? Você poderia facilmente ganhar de
Stacey!
Paro meus passos e eles espelham meus movimentos. Eu respiro
fundo e olho para eles, posso ver a preocupação estampada em suas feições.
Eu gostaria de poder contar aos meus amigos a história completa, mas
não posso divulgar os segredos de família de Juliette assim. Por mais
garantido que seja, eu simplesmente não posso.
— Eu fiz algo horrível, mas não posso dizer a vocês o que é. — Eu
suspiro, coçando minha bochecha. — Apenas confie em mim quando digo
que tive um bom motivo para aceitar a merda dela.
Há muitas coisas que amo em meus amigos; sua lealdade e humor,
mas acima de tudo, eu aprecio como eles são compreensivos. Eles nunca
me pressionam e sempre aceitam minha palavra para alguma coisa. Eles
sabem que eu não aceitaria a merda de Juliette a menos que houvesse uma
boa razão para isso.
Aryan acena com a cabeça.
— Nós confiamos em você. Só nunca deixe as pessoas passarem por
cima de você assim e se safarem novamente. Essa nunca foi você.
Victoria ecoa seus sentimentos.
— Isso nunca mais vai acontecer, você nunca vai deixar isso
acontecer de novo. Entendido?
— Entendido — eu concordo, balançando a cabeça. A tensão parece
que se dissipa instantaneamente quando meus amigos envolvem seus braços
em volta de mim.
***
Depois de passar horas comendo sorvete e recebendo sermões de
meus amigos, eles acabaram me deixando em casa.
Eu me despeço deles enquanto saio do carro e ando pela calçada
irregular. O cheiro de maconha e o barulho dos carros buzinando enchem
meus ouvidos e me trazem uma estranha sensação de conforto.
Ando até minha pequena casa de dois quartos; a casa em que cresci.
Jogo minhas chaves no buraco e entro. Sempre cheira a bolinhos quando
entro em minha casa, graças à Sra. Kim.
Entro na cozinha e vejo uma infinidade de recipientes com comida e
um bilhete anexado a eles que diz: Trabalhando até tarde esta noite, fiz
comida para você. Por favor, coma. Não evite comer para poder estudar!
Te amo. Adam.
Eu rio de quão bem ele me conhece.
Subo as escadas para o meu quarto, minhas mãos roçando as
rachaduras nas paredes – isso é um hábito desde que eu era criança. Meu
quarto é extremamente limpo. Eu sou uma maníaca por organização,
especialmente quando se trata do meu quarto.
Eu imediatamente troco meu uniforme, odiando a maneira terrível
que sinto em meu corpo. Sinto a brisa fresca na minha pele quando tiro o
sutiã também, ficando só de calcinha.
Eu caio na minha cama e aproveito a sensação relaxante. Meu irmão
não está aqui, o que significa que é uma casa vazia. O pensamento em si me
dá uma ideia perversa – a mesma ideia que esteve em minha mente o dia
todo.
Não tenho o hábito de me tocar, principalmente porque só saio para
fazer sexo quando estou me sentindo particularmente frustrada, mas não
posso me incomodar em fazer isso agora.
Abro bem as pernas e minhas mãos começam a vagar pelo meu peito
enquanto brinco com meus mamilos. Minha mão vaga até o cós da minha
calcinha, eu gemo um pouco quando percebo o quão encharcada eu
realmente estou e quão úmida minha calcinha está. Estão tão úmidos que
meus dedos ficam encharcados imediatamente.
Estou frustrada o dia todo? Por quê?
Meus dedos circulam sobre meu clitóris enquanto me provoco um
pouco. Prazer percorre meu corpo até os dedos dos pés e xingo em
satisfação. Minha mente começa a lançar imagens de mulheres e homens
bonitos para mim.
De repente, imagens de cabelos loiros e olhos azuis começam a atacar
minha visão. Calma, não. Não, não.
Minhas mãos disparam para fora da minha calcinha imediatamente e
eu a coloco no meu peito, acalmando meu coração batendo de forma
irregular. O que eu estou fazendo?
Eu estava prestes a me tocar pensando em Juliette Kingston? Estou
tão desesperada? O que está acontecendo comigo e por que parece tão
diferente... tão bom?
Eu quero tanto levantar e fingir que não pensei apenas em Juliette
quando me toquei, mas não posso. Não quando minhas entranhas estão
gritando, implorando por uma liberação.
Devo realmente me negar o prazer? Devo deixar Juliette arruinar meu
orgasmo ou ser a causa disso? Acho que o último é mais adequado,
puramente por razões irônicas.
Pense nisso; ela ficaria furiosa ao descobrir que uma sapatão estava se
masturbando para ela. Então, esse seria o dedo médio definitivo para ela,
certo? Além disso, é apenas uma fantasia – todo mundo já estragou suas
fantasias.
Minhas mãos fazem o caminho de volta. Não perco tempo voltando
ao meu clitóris; está tão inchado. Normalmente não sou tão rápida, demoro
muito tempo para me excitar, mas sinto que poderia gozar em segundos.
Eu viro minha cabeça para o lado, dominada pelas imagens criadas
em minha mente. Só consigo pensar em Juliette em cima de mim, embaixo
de mim e dentro de mim.
Meus quadris se movem involuntariamente e eu mergulho dois dedos
dentro do meu buraco. Estou tão insuportavelmente molhada que meus
dedos praticamente deslizam para dentro. Meu aperto é tão torturantemente
bom. Ela pensaria que isso é bom?
Minha pele está escaldante. Minhas pernas estão farfalhando contra
os lençóis a cada grama de prazer que se acumula dentro de mim. Eu
levanto minha mão esquerda – que atualmente não está fazendo nada – até
meu pescoço e o envolvo.
Aperto meu pescoço a cada onda de prazer que sacode violentamente
meu corpo. Meus dedos estão começando a doer do jeito áspero que estou
batendo neles dentro de mim, mas não consigo parar. Não quando estou tão
perto ou quando tudo em que consigo pensar é em Juliette dentro de mim.
Estou tão perto. Estou empurrando profundamente dentro de mim,
cada vez mais rápido, enquanto tiro minha outra mão do meu pescoço e
começo a circular meu clitóris novamente. Meus movimentos são erráticos
e rápidos.
Estou tão perto que já posso saborear a felicidade.
Tudo o que tenho que fazer para me levar ao limite é abrir os olhos.
No minuto em que faço isso, começo a imaginar Juliette em cima de mim,
puxando-me para um beijo profundo, sua língua deslizando em minha boca
enquanto ela passa as mãos pelo meu cabelo.
Ai, meu Deus.
Minhas entranhas se apertam e apertam em torno de meus dedos.
Minhas pernas tremem, meu peito convulsiona e eu grito como nunca antes.
Sinto aquele formigamento muito familiar atingindo a parte de trás do meu
cérebro, enviando ondas por todo o meu corpo.
Ah, não.
Capítulo OITO
Juliette
O som da música clássica entra em meus ouvidos enquanto eu giro o
vinho tinto no meu copo. Hoje é 26 de outubro, meu aniversário. Acabei de
completar dezoito anos.
Passei a manhã com Kai, que me levou para tomar café depois do
treino de líder de torcida e agora estou com minha mãe para almoçar. Ela já
me comprou um monte de presentes; sem dúvida ela provavelmente os
escolheu de algum catálogo aleatório.
Acho que ela tem a impressão de que este vinho é a primeira vez que
bebo álcool. Ou pelo menos ela pensou que era, até que eu virei a taça de
vinho sem fazer careta.
— Eu gostaria do bife tártaro e outra garrafa de Château Cheval
Blanc. — Minha mãe pede educadamente. A garçonete começa a escrever,
então seus olhos se voltam para os meus.
— O que você gostaria, senhorita? — A garçonete me questiona
educadamente enquanto tento o meu melhor para não olhar por muito
tempo em seus olhos azuis escuros.
Eu examino o menu levemente antes de dizer:
— Eu gostaria da lagosta, por favor. — A garçonete acena com a
cabeça e reitera nosso pedido antes de se afastar depois de confirmá-lo.
Este restaurante é tão sufocante, embora seja um lugar bastante
sofisticado, ao qual estou acostumada.
O som do piano ao vivo é ensurdecedor, mas não tão alto quanto o
som de utensílios batendo. Eu gostaria que a música pudesse abafar o som
de adolescentes mimados reclamando de suas mesadas.
— Como vai, querida? — Minha mãe questiona, olhando para mim
com um sorriso suave.
Eu gosto dela quando ela está assim; calma e recolhida. É tão raro ela
estar atenta a mim hoje em dia, então eu aprecio cada segundo.
— Bem. — Eu sorrio levemente. — Minhas notas em biologia estão
melhorando. — Pela primeira vez, não estou mentindo para minha mãe
sobre minhas notas.
— Adaline ainda está dando aulas para você? — Ela questiona
baixinho, seus dedos segurando firmemente sua taça de vinho. E, sem mais
nem menos, o humor muda. O que eu pensei que seria um passeio normal é
claramente apenas um interrogatório.
Concordo com a cabeça, tomando um gole do meu vinho.
— Sim, ela está.
Falar sobre Adaline me lembra daquele dia no vestiário. Isso me
abalou completamente. Não tenho certeza do que estava prestes a acontecer
antes de seus amigos entrarem. Evitei até mesmo pensar nisso.
Independentemente disso, parei de torturá-la desde aquele dia.
Honestamente, acabamos de voltar à nossa rotina habitual de brigas.
Embora ainda seja incômodo, não estava tão tumultuado quanto ficou
depois do que aconteceu com minha mãe.
Embora estejamos de volta à nossa rotina normal, ela continuou a me
ensinar por e-mail nas últimas semanas em vez de pessoalmente. Eu
simplesmente não posso tê-la de volta em minha casa; isso me lembra que
ela sabe sobre meu pai.
— Ela... contou a alguém? — Minha mãe pergunta em um sussurro
abafado, olhando em volta para ver se alguém está ouvindo nossa conversa.
Balanço a cabeça, bebendo meu vinho. Ela me faz essa mesma pergunta
todas as semanas desde que Adaline a emboscou.
É claro que minha mãe está com medo, até apavorada, de que as
pessoas descubram sobre meu pai. Todos tinham a impressão de que o
divórcio foi amigável.
De qualquer forma, ninguém achava que meu pai era bom o suficiente
para minha mãe, principalmente porque ela vem de uma família com
enormes quantias de dinheiro e ele não era tão rico quanto ela – ou tão
talentoso.
Se descobrissem que ele partiu por um outro homem, nos
desprezariam e nosso nome de família seria completamente manchado.
— Bom. Certifique-se de que continue assim.
— Eu vou.
Claro que eu vou. Não que eu tenha que me esforçar de qualquer
maneira; Adaline deixou cada vez mais claro que não contaria a ninguém.
Eu ainda não entendo o porquê. Se eu estivesse no lugar dela, acho que não
lhe daria a mesma cortesia. Mas, novamente, eu sou uma vadia enorme.
— Em outras notícias… — minha mãe pigarreia, atraindo minha
atenção. — O conselho de administração mal pode esperar para que você se
junte a eles no ano que vem.
— Próximo ano? Não é um pouco cedo?
Não sei absolutamente nada quando se trata das empresas de minha
mãe, nem estou interessada em nada disso; estou apenas feliz por termos
sido bem-sucedidas.
Minha mãe, porém, quer que eu entre na empresa; ela quer que eu me
torne a próxima herdeira e não consigo dizer a ela que não quero isso.
Ela balança a cabeça.
— Eu não acho. Você estará na universidade no próximo ano; é
perfeito.
É óbvio que ela não está me perguntando, ela está me dizendo
exatamente o que vai acontecer.
Crescendo, eu era inflexível em querer abrir minha própria galeria ou
ir para a universidade de arte depois da faculdade. No entanto, desde que
meu pai partiu, meus sonhos ficaram em segundo plano.
Se eu não entrar para o negócio da família, isso vai dar mais motivos
para as pessoas fofocarem e minha mãe se preocupa muito com o que as
pessoas pensam. Agora, mais do que nunca, ela precisa que nossa reputação
permaneça intacta. Então, se eu tiver que desistir dos meus sonhos para
ingressar em qualquer universidade que ela escolher, que assim seja.
— Quando você acha que poderá tirar uma folga do trabalho? — Eu
pergunto, mudando de assunto e ela felizmente obedece.
— Eu não tenho certeza. Estamos muito ocupados nos próximos
meses.
— Em breve será o meu torneio de torcida. Você acha que conseguiria
ir? — Eu questiono gentilmente e recuo mentalmente quando ela olha para
mim abruptamente.
Eu sei a resposta. É sempre a mesma coisa, desde os doze anos.
— Não posso.
Parte de mim quer gritar, perguntar incessantemente por que ela não
pode vir. Eu sou sua única filha; eu sou tudo o que ela tem, então por que
ela não pode aparecer para mim? A dor de perdê-lo é demais? É tão
insuportável que você nem consegue ver como sou boa em alguma coisa?
Eu quero dizer tudo isso, mas não posso. Nunca pergunto a ela porque sei
que não vou conseguir a resposta que quero e estou muito cansada disso.
Eu apenas aceno para minha mãe, sem dizer muito mais. Felizmente,
não preciso falar mais porque a garçonete traz nossa comida assim que
percebo que meu apetite desapareceu de repente, o que é chocante, pois sou
uma grande fã de comida.
Em vez de devorar a comida, suspiro e meus olhos seguem a
garçonete quando ela sai. Sua camisa preta é bem ajustada, abraçando suas
curvas voluptuosas. Ela está no lado pesado e mais velho. Não posso deixar
de admirar como ela é bonita e como seu traseiro é atraente… o que estou
fazendo?
Desvio os olhos, ignorando a sensação de ardência. Eu fazia isso com
frequência. Não sei por que, mas meus olhos ficam magnetizados com as
mulheres, não importa onde eu esteja. Deve ser porque tenho inveja de
como algumas mulheres são atraentes. Deve ser isso.
Eu balanço minha cabeça, pego minha faca e garfo e começo a comer.
Qualquer coisa para me distrair de olhar para qualquer outra pessoa. Deus!
Sair para almoçar é realmente exaustivo mentalmente às vezes.
***
O almoço acabou há algum tempo, tive que me despedir da minha
mãe porque ela tem mais uma viagem de negócios pela frente.
Quanto a mim, acabei de estacionar meu Maserati Quattroporte em
minha casa – meu primeiro e último carro.
Sempre que estou cansada ou estressada, sento no meu carro. É o meu
bem mais precioso.
Ninguém tem permissão para comer e/ou beber no meu carro, nem
ninguém além de mim pode dirigi-lo. Lembro-me de uma vez quando Kai
comeu uma barra de granola no banco do passageiro e eu o joguei fora e o
fiz voltar.
Antes de adormecer no carro, eu saio. Não sei por que estou tão
exausta. Deve ser por causa do treino das líderes de torcida esta manhã; foi
muito intenso.
Entro em minha casa e as empregadas vêm correndo em minha
direção como costumam fazer e apenas lanço um sorriso suave, sinalizando
que posso cuidar de mim mesma. Felizmente, eles voltam para a cozinha e
me dão espaço.
Não consigo nem subir as escadas porque a campainha começa a
tocar. Eu não dou a ninguém a chance de abrir a porta enquanto corro em
direção a ela. Presumo que seja provavelmente Adonis. Ele tem o péssimo
hábito de aparecer sem avisar.
Imagine minha surpresa quando abro a porta e vejo Adaline parada na
minha frente.
— O que você está fazendo aqui? — Eu pergunto, perplexa, meus
olhos examinando sua roupa.
Ela está vestindo sua jaqueta de couro de sempre combinada com
calças cargo pretas e um top curto canelado branco. Eu tento o meu melhor
para não olhar para sua barriga lisa e tonificada.
Ela suspira profundamente.
— Vim confessar meu amor eterno por você.
Reviro os olhos.
— Sério, o que você está fazendo aqui?
— Estou aqui para ser sua tutora — ela responde e eu reprimo a
vontade de estrangulá-la. Deixei claro para ela que não a quero perto de
minha casa, muito menos dentro dela, me ensinando.
— Eu não quero que você…
— Eu sei. Você não me quer em sua casa. — Ela me interrompe,
imitando o que eu estava prestes a dizer. Eu levanto minha sobrancelha para
ela, esperando que ela continue. — É por isso que você virá para a minha.
Capítulo NOVE
Adaline
Ela está aqui. Juliette Kingston está na minha casa; no meu quarto,
sentada na minha cama. De alguma forma, não sinto repulsa pela situação,
mas provavelmente porque me toquei pensando nela algumas semanas
atrás, nesta mesma cama.
Eu tentei reprimir o pensamento desde então e tem sido bastante fácil,
considerando que só tenho ensinado Juliette por e-mail. Ela nem passa mais
no restaurante da Sra. Kim; ela apenas pede para entrega.
Eu poderia ter continuado dando aulas particulares para Juliette por e-
mail, mas preciso acompanhar o progresso dela adequadamente. Então, ela
precisa superar seus problemas assim como eu, porque preciso que a carta
de recomendação seja enviada.
— Eu compilei uma lista de cartões flash que precisamos revisar.
Podemos começar com um teste...
— Temos mesmo? Não podemos simplesmente fazer algo mais fácil?
— Ela me interrompe, massageando a cabeça como se estivesse exausta.
Ela nem brigou comigo quando eu disse a ela que a ensinaria em
minha casa, nem fez comentários maldosos sobre minha casa. Em vez
disso, ela insistiu em dirigir seu próprio carro até aqui e eu obedeci
alegremente.
Parte de mim está satisfeita com a paz, mas a outra parte está perplexa
com sua mudez. Também está me incomodando; eu prefiro quando ela é
mal-intencionada por algum motivo. Então, obviamente, vou tentar o meu
melhor para irritá-la.
Eu finjo uma carranca.
— Aww, você está cansada de um longo dia sem fazer nada?
Vamos, eu sei que esse ato silencioso não vai durar muito. É apenas
uma questão de tempo antes que ela volte ao seu eu mal-intencionado...
— Vai se foder. — Ela cospe asperamente. Bem, isso foi rápido.
— Não, obrigada. Você não é meu tipo — eu retruco, notando a
tensão nadando em seus intensos olhos azuis.
— Eu sou o tipo de todo mundo.
Ela é tão absoluta em sua declaração. Nem um pingo de dúvida em
seus olhos e não posso refutar. Ela é linda, isso é óbvio. Se a personalidade
dela não fosse tão mórbida e rançosa, claro, ela seria o meu tipo.
— Não é o meu. — Atiro de volta inflexivelmente.
Seu cabelo loiro sedoso não é meu tipo, nem seus olhos azuis de
sereia ou seu corpo etéreo. Nem uma única parte dela é o meu tipo.
— Qual é o seu tipo então? — Ela cruza os braços como uma criança
petulante que não consegue o que quer.
— Não é você — repito e neste momento ela está lívida.
Ela sai furiosa da minha cama e fica na minha cara olhando para mim.
— Você é tão...
— Sexy? Inteligente? Gostosa para caralho?
— Intolerável! — Ela grita, me interrompendo como eu fiz com ela.
Seu rosto está vermelho. Eu estou sufocando o riso vendo como eu a deixei
com raiva, isto é, até que ela fala novamente. — Vou sair daqui!
Antes que ela possa ir embora, eu agarro seu braço.
— Ei, você não vai a lugar nenhum. Nós temos que estudar.
— Não me toque — ela resmunga, puxando seu braço do meu. É
irônico como o jogo virou. Normalmente sou eu que faço isso.
— Relaxe. — Eu franzo minhas sobrancelhas. — O que há de errado
com você hoje?
— Ver seu rosto me irrita. — Ela estala de volta para mim, respirando
pesadamente. Então ela se afasta de mim e passa as mãos pelos cabelos.
Não é isso. Ela vê meu rosto perfeito quase todos os dias e adora me
irritar. Hoje ela está diferente. Ela deve ter treinado como líder de torcida.
Sempre que sua prática é mais difícil do que o normal, ela fica exausta e
quieta.
Eu dou de ombros.
— Você pode ficar tão irritada quanto quiser. Isso não muda o fato de
que temos que estudar. A menos que você queira ser expulsa do seu time.
Não é segredo que nós duas nos desprezamos, mas ambas temos algo
a ganhar com isso.
Eu sei que ela é obcecada por líderes de torcida. Já estive em alguns
jogos e não posso negar que o talento dela é de outro mundo. Então, eu sei
que ela não gostaria de ser expulsa do time.
No meu caso, o Sr. Khalid ainda não enviou aquela carta de
recomendação e não enviará, até que Juliette obtenha uma aprovação geral
em sua aula e seja aprovada no exame final. Então, acho que vou ter que
parar de provocá-la. Grande desapontamento.
Ela geme e diz:
— Eu realmente te odeio.
— O sentimento é mútuo.
Ela se senta na minha cama e silenciosamente me diz que está pronta
para continuar estudando. Obviamente preciso morder minha língua hoje;
ela está claramente exausta demais para jogar nosso joguinho. Eu sei que
deveria estar feliz com isso, mas por que parece tão insatisfatório?
Eu vasculho minha bolsa, tirando todos os meus pertences enquanto
ela faz o mesmo. Minhas mãos alcançam o fichário de duzentas páginas que
fiz para ela. É o meu material de estudo mais extenso e fiz isso porque sei
que Juliette odeia biologia; ela não aprenderá nada a menos que aprenda a
tolerar e que melhor maneira de fazer isso do que mergulhar no meu
fichário? Eu até adicionei guias e imagens codificadas por cores.
— Você fez um fichário inteiro? — Ela questiona quando eu
entrego a ela, seus olhos saltando das órbitas. Ela está folheando as páginas
e tenho certeza de que vejo uma pitada de entusiasmo, ou pelo menos
espero ver.
Eu dou de ombros.
— Considere isso seu presente de aniversário.
Obviamente, eu o fiz antes do aniversário dela, mas eu tinha um
pressentimento de que daria a ela hoje. Não que seja um presente de
verdade, estou fazendo porque preciso. Além disso, ela definitivamente está
acostumada com coisas mais extravagantes, então estou esperando que ela
revire os olhos com isso.
— Você lembrou? — Ela fala baixinho, seus olhos segurando uma
emoção que eu não consigo decifrar.
O quê? Conheço essa garota durante a maior parte da minha vida
adolescente e ela está chocada por eu saber o dia do aniversário dela? Claro,
eu a odeio, mas isso não significa que eu tenha demência.
— Eu te conheço há uns quatro anos, Juliette.
— Cinco anos — ela corrige, olhando para mim com o que parece ser
um pequeno sorriso. — Obrigada... pelo presente.
Quero dizer que não é um presente, é para estudar e tecnicamente, é
para minha carta de recomendação. No entanto, não posso dizer nada
porque estou perplexa por ela ter me agradecido. Nunca ouvi palavras como
essas saírem de sua boca para mim, nem testemunhei um sorriso tão
genuíno em seus lábios. Pode ser minúsculo, mas ainda está lá.
Por que meu coração está batendo um pouco mais rápido? Por que
meus joelhos estão começando a suar? Esqueça. Eu não posso me debruçar
mais sobre isso.
— Vamos começar.
***
— Por que a homeostase é necessária? — Pergunto tirando outro
flashcard, esperando por sua resposta. Estou essencialmente ensinando
biologia para essa garota no ensino médio e estou reprimindo a vontade de
zombar dela por isso.
Sua resposta vem na velocidade da luz.
— Ele garante que as células e tecidos do corpo tenham o ambiente
correto para funcionar.
Mais uma vez, ela está certa. Faz cerca de quarenta minutos que eu
questiono Juliette de um lado para o outro e ela está respondendo às
perguntas com facilidade. Foi tão inesperado. Não porque a ache estúpida,
mas porque sei que ela despreza a biologia. Claramente, ela está estudando
as notas que tenho enviado a ela por semanas. Estou impressionada, sério.
— Você tem estudado muito, não é? — Eu pergunto, perplexa.
Ela acena com a cabeça em resposta.
— Não posso reprovar em biologia. Minha mãe me mataria. — Seus
olhos brilham com algo semelhante à ansiedade. — Também não posso ser
expulsa do time.
Esta é a primeira vez que vejo Juliette parecendo genuinamente
preocupada com alguma coisa. Ela geralmente carrega consigo uma fachada
confiante, especialmente quando se trata das coisas em que ela claramente
se destaca. Vê-la assim a faz parecer mais humana.
— Você não vai ser expulsa — eu asseguro a ela —, você melhorou
bastante.
— Isso foi um elogio? — Ela sorri. Pelo amor de Deus.
— É uma observação — eu a corrijo, revirando os olhos. Por dentro,
estou me repreendendo por elogiá-la inadvertidamente. O que há de errado
comigo hoje?
Pesquiso nos bolsos, decidindo fazer uma pequena pausa para clarear
a cabeça. Antes mesmo de tirar meu cigarro da caixa, Juliette tem algo a
dizer.
— Esse é um hábito imundo — ela comenta, torcendo o nariz para
mim com desgosto.
Acho que isso é muito rico vindo de uma garota que bebe metade de
seu peso corporal em tequila todo fim de semana. Então, novamente,
ninguém é um hipócrita melhor do que Juliette.
Ela tem razão, porém, fumar é um hábito imundo. Considerando que
quero ser cirurgiã, devo ser mais cautelosa e ter medo dos efeitos adversos à
saúde, mas não acho que seja um grande problema para mim pessoalmente.
Quase não fumo, só fumo quando fico nervosa e/ou quando preciso
espairecer.
Eu sorrio, baixando minha voz.
— O que há de errado em ser imundo?
Capítulo DEZ
Juliette
Ela se lembrou do meu aniversário. Não é uma grande coisa, pelo
menos não deveria ser; minha mãe e Kai sempre fizeram meu aniversário
ser especial. A escola inteira elogia, especialmente nas redes sociais. Mas é
isso que torna isso diferente, Adaline não usaredes sociais, então significa
que ela realmente se lembra.
Esta é a primeira vez em cinco anos que ela me deseja parabéns pelo
meu aniversário. Claro que também nunca a felicitei, mas sempre me
lembro da data; vinte e três de maio.
Ela até me deu um presente, o fichário. Eu estou olhando para ele
agora, me distraindo de encará-la.
O fichário é tão tediosamente detalhado e surpreendentemente
colorido. Não consigo nem imaginar quanto tempo ela levou para fazer todo
esse fichário.
Já recebi bolsas, carros e até ilhas no meu aniversário antes, então por
que um simples fichário está tendo esse efeito em mim?
Merda. O que há de errado comigo? É apenas um fichário estúpido e
ela só o fez para me ajudar a estudar para que ela possa enviar sua ridícula
carta de recomendação.
É este cômodo. Estar no quarto dela está me deixando louca,
claramente. Nos cinco anos que conheço Adaline, nunca entrei em sua casa,
principalmente em seu quarto.
É tão limpo; tudo está arrumado e há livros por toda parte. Não
apenas livros didáticos, mas muita literatura clássica que eu realmente não
esperava. A casa dela é menor que a minha, obviamente, mas é tão
aconchegante que parece que pessoas moram aqui.
Outra diferença entre nossas casas é a falta de quadros em sua casa.
Enquanto minha casa está cheia de fotos emolduradas, a dela só tem uma
foto dela e do irmão.
Depois, há o lado nerd do quarto dela. Colados em metade de suas
paredes, há imagens da anatomia humana. Sem falar no esqueleto
assustador que fica ao lado de seu guarda-roupa, embora seja infinitamente
menos assustador quando está usando óculos escuros.
— O que há de errado em ser imundo? — Ela pergunta com a voz
rouca, colocando o cigarro na boca.
Arrepios percorrem minha espinha com seu tom; eu não posso evitar.
Ela está me provocando, acendendo o cigarro e esperando que eu responda.
Só consigo pensar em como a fumaça parece sedutora saindo de seus
lábios carnudos. Saia dessa, Juliette!
Eu ignoro seu comentário grosseiro.
— Acho que estou cansada demais para continuar estudando. Preciso
de algum incentivo.
Com isso, quero dizer que não consigo me concentrar em estudar, não
quando ela está olhando para mim daquele jeito. Preciso mudar de assunto e
recuperar um pouco do controle que claramente perdi agora.
— Como o quê? — Ela joga junto, ainda fumando.
— Que tal se eu acertar a próxima pergunta, você pode responder a
uma das minhas.
Eu tenho pensado nisso por um tempo, especialmente recentemente.
Minha mãe me encarregou de garantir que Adaline não contasse a ninguém
sobre meu pai, mas, por algum motivo, acredito que ela não contará a
ninguém. Independentemente disso, preciso de uma garantia para mantê-la,
apenas por precaução.
Ela parece pensar nisso por um momento, mas então acena com a
cabeça em concordância.
— Que hormônio é liberado pelo pâncreas se a concentração de
glicose no sangue for muito baixa? — Ela pergunta com uma velocidade
insana. Ela está jogando a pergunta para mim sem olhar para nenhum
flashcard, direto do topo de sua cabeça e isso me desorienta.
Esta pergunta não estava em nenhum dos cartões, mas tudo bem,
posso improvisar.
— Glucagon.
Minha pequena e boba Adaline. Ela realmente acha que eu não leria
os livros didáticos que ela recomendou? Graças a Deus li, porque agora
ganhei nosso joguinho e estou recebendo meu prêmio; ela não pode me
negar.
Ela aperta a mandíbula, mas suas covinhas aparecem, mostrando o
quanto ela está impressionada.
— Pergunte à vontade.
— Por que seu irmão foi para a cadeia?
Diga-me. Parte de mim quer saber para que eu possa guardá-la, a
outra parte quer mergulhar em sua mente e conhecer as partes mais
sombrias do que ela passou. Eu quero envolver uma parte dela que ninguém
conhece; para deleitar-me com o fato de que ela só contou a mim.
Ela está abrindo a boca; eu posso provar as palavras que estão prestes
a sair de sua boca até que a campainha toca e sua boca se fecha novamente.
Pelo amor de Deus!
— Segure esse pensamento — diz ela antes de apagar o cigarro no
cinzeiro em forma de pulmão.
Sério, alguém poderia ser mais obcecado com a anatomia humana?
Por que suas paixões são tão cativantes? Eu desprezo isso.
Ela sai da sala e eu tento ao máximo não olhar para sua bunda. Eu até
fecho meus olhos momentaneamente. O que há de errado comigo? Por que
estou sempre olhando para mulheres assim? Por que sempre tenho tanto
ciúme do corpo de outras mulheres?
Ouço a porta se abrir no andar de baixo e uma voz estridente que
desperta meu interesse e me tira de meus pensamentos tumultuados.
Eu deveria ficar aqui no quarto dela, esperar ela terminar com quem
quer que esteja na porta, isso é a coisa educada a se fazer afinal. O único
problema é que, quando se trata de Adaline Emery, sou tudo menos
educada.
Além disso, eu deveria estar voltando para casa de qualquer maneira.
Tenho planos com Adonis. Eu nem percebi o quão tarde estava ficando.
Pego minha bolsa e coloco o fichário e meus outros pertences dentro.
Meus pés me levam ao topo de sua escada, mas antes de descer, ouço
vozes, o que me leva a parar. Eu me agacho na escada e decido espionar
silenciosamente.
Deste ângulo posso ver a parte de trás da cabeça de Adaline e há uma
garota na porta. Ela tem cabelos ruivos e pele marrom escura. Ela é linda.
Por que ela é bonita?
— Me desculpe, eu nem percebi que já eram cinco horas — Adaline
diz, seu tom doce e arejado. O quê?
Quem é essa garota e porque Adaline está falando com ela de maneira
tão doce? Essas duas tinham planos ou algo assim? Ela nunca falou comigo
assim.
A garota bonita balança a cabeça.
— Tudo bem, você terminou seus planos agora?
A garota nem espera que Adaline responda sua pergunta antes de
estender a mão e começar a acariciar seu ombro. Acho que não.
— Não, ela não terminou — eu grito, descendo as escadas, enquanto
seguro minha bolsa com força. Ambos os olhos se voltam para mim quando
os alcanço.
Adaline parece confusa e aquela de cabelo ruivo parece um cervo
pego pelos faróis. Fico aliviada ao ver que a mão dela não está mais perto
do corpo de Adaline.
A garota sorri, estendendo a mão para me cumprimentar.
— Oi, eu sou Priya…
— Não se preocupe, eu não me importo. — Eu a interrompi
friamente. Ela franze a testa antes de retrair a mão, parecendo chocada e
afrontada.
Às vezes, algo toma conta de mim – talvez um alter ego cruel, não
tenho certeza. Tudo o que sei é que é difícil de controlar ou talvez eu não
queira controlar.
Nunca prometi ser uma boa menina ou uma menina legal. Eu sou
cruel. Eu sou viciosa. Eu sou a melhor em ser essas coisas, então por que eu
pararia?
Quando olho para ela de perto, percebo que ela é alguns centímetros
mais alta do que eu. Não gosto disso, porque significa que ela está me
desprezando. Portanto, ela também está olhando para Adaline. Só eu
desprezo Adaline.
— Ignore, ela é uma cadela perpétua — Adaline entra na conversa,
atirando olhares para mim antes de olhar gentilmente para Priya.
— Está tudo bem — diz Priya, sorrindo suavemente para Adaline. O
que está acontecendo aqui?
Eu a avalio e tomo nota de seu traje. Ela está vestindo um casaco azul
Burberry e botas Prada. Ela definitivamente não é deste bairro, o que me faz
pensar em como ela conheceu Adaline.
Ela parece bastante inofensiva. Seus olhos castanhos estão piscando
do chão para qualquer outro lugar. Sua perna está tremendo um pouco e
posso ver um leve fio de suor em sua testa. Só pode haver uma razão para
ela estar tão nervosa; ela não quer ser pega aqui com Adaline.
Ah, eu posso me divertir muito com isso.
Adaline tenta conduzir Priya para dentro, mas antes que ela consiga,
dou um passo à frente e encosto minha mão no batente da porta,
bloqueando-a. Eu posso sentir minha natureza predatória crescendo. Eu
inclino minha cabeça para o lado e dou a ela meu sorriso venenoso
característico.
— Você deveria ir embora. Eu não terminei com ela — eu ronrono as
palavras de uma maneira sedutora para que ela possa tirar suas próprias
suposições lascivas.
Funciona, porque posso ver Adaline tossindo em estado de choque ao
meu lado e Priya olhando entre nós duas. Eu sorrio, embora eu esteja me
xingando por insinuar indiretamente que eu e Adaline estamos fazendo
sexo. Isso nunca aconteceria.
— Eu só estou dando aulas particulares para ela — Adaline entra na
conversa rapidamente, me empurrando com os ombros. — Na verdade,
acabamos de terminar.
Sério? Ela acha que vou deixá-la com essa garota? Eu não sou uma
imbecil. Se eu sair agora, essas duas vão obviamente fazer sexo. Apenas o
pensamento disso está enviando uma raiva quente por todo o meu corpo. Só
porque não gosto da ideia de duas garotas fazendo sexo.
Eu balanço minha cabeça.
— Não terminamos. Eu quero continuar…
— Eu não me importo com o que você quer. Saia! — Ela me
interrompe. Com licença?
— Por quê? Assim você pode transar com ela? — Eu cuspo de volta
com raiva ficando em seu rosto.
— Eu tenho um nome…
— Eu disse que você podia falar? — Eu me viro para Priya,
levantando minhas sobrancelhas e ela fecha a boca.
Este é o tipo de Adaline? Garotas que sentam e obedecem? Deus! Ela
tem padrões baixos.
— Cale a boca! — Adaline geme alto, parecendo extremamente
irritada comigo. Eu a ignoro e me concentro em Priya.
— Priya… — Eu chamo. Quando ela parece que vai abrir a boca, eu
falo de novo. — Não fale, apenas ouça. Se eu quiser, posso fazer um
pequeno telefonema e descobrir tudo o que quero sobre você. Acene com a
cabeça se você entender.
Ela acena com a cabeça. Ela parece tão fraca, como se estivesse
ficando cada vez menor na minha frente. Isso só está me estimulando a ser
o mais cruel possível.
Eu sorrio friamente.
— Eu poderia encontrar todo mundo que você conhece, incluindo
seus pais, e contar a eles tudo sobre esse pequeno flerte. Eles não gostariam
disso, não é?
É tão óbvio que ela está aqui para fazer sexo com Adaline, mas só
estou assumindo que a família dela não sabe disso. Gosto de pensar que sou
boa em ler as pessoas e, com base em como ela parece nervosa, ela
definitivamente ainda está no armário e provavelmente não por escolha
própria.
— Pare com isso — adverte Priya, com os lábios tremendo e os olhos
trêmulos.
Bingo.
— Aw. Estou chateando você? Só estou avisando, você realmente
quer arriscar seu futuro para transar com ela? — Claro, eu não ligaria para
os pais dela ou faria qualquer coisa assim.
Não consigo ouvir sua resposta porque leva apenas dois segundos
antes de Adaline me prender contra a parede, seu cotovelo está no meu
pescoço e ela está olhando para mim, o fogo em seus olhos está
incendiando meu corpo.
— O que há de errado com você, porra? — Ela grita, exasperada.
Quero me deleitar com a sensação de vê-la incomodada comigo, mas
mal consigo conter minha própria raiva agora.
— Comigo? Não há nada de errado comigo. Eu não sou a sapatão que
gosta de foder garotas! — Eu grito de volta para ela, enfurecida.
— Sim, eu gosto de foder garotas e garotos também e isso é normal!
— Eu…
Ela me interrompe.
— Isso é mais do que posso dizer por você, Juliette. Você está triste e
sozinha. É por isso que você trata as pessoas como merda, porque você é
uma vadia patética e superficial. Você não consegue entender o conceito de
pessoas se amando porque você não é digna de amor!
Inspire. Expire. Inamável. Patética. Inamável. Patética.
Eu não posso responder. Eu não consigo nem respirar porque suas
palavras me congelaram no lugar.
Adaline agarra meus ombros com força e parte de mim pensa que ela
vai me dar um soco. Em vez disso, ela apenas me empurra para fora de sua
casa e conduz Priya para dentro ao mesmo tempo. Ela, então, bate a porta
na minha cara, me deixando sem fôlego.
Ela é tão boa nisso. Tão incrivelmente boa em não me dar a chance de
responder. Eu espero por alguns segundos, tentando parar as lágrimas que
sinto transbordar em meus olhos.
Inamável. Patética. Não. Por que eu choraria por alguém como ela?
Ela é muito patética, não eu! Eu enxugo a lágrima perdida que caiu do meu
olho, caminho em direção ao meu carro e entro.
Eu ligo meu carro e acelero instantaneamente. Eu preciso ficar longe
deste maldito lugar; dela. Como ela ousa?
Ela disse algumas coisas horríveis para mim antes, mas isso? Isso
passa do limite. Tudo isso para quê? Por uma garota com quem ela quer
fazer sexo? Aposto que elas estão se apaixonando agora. Aposto que Priya
tem as mãos por toda parte… pare de pensar, apenas dirija.
***
— Não acredito que vou perder a porra da aula de biologia por sua
causa.
Sério? Ela tem sangue na lateral da bochecha, seu cabelo preto
azeviche está despenteado além do normal e, embora seu uniforme esteja
abotoado, está completamente destruído. No entanto, de alguma forma, a
única coisa que a incomoda mais é a falta de biologia? Adaline é tão nerd.
— Chora mais — eu zombo dela, cruzando os braços sobre o peito.
— Senhoritas, chega! Estou totalmente desapontada com o que acabei
de testemunhar!
A Diretora Smith está berrando suas palavras. Depois que nos pegou,
ela imediatamente nos conduziu a uma sala de aula vazia, nos sentou e
passou cerca de cinco minutos olhando para nós com decepção.
Espero que ela não conte isso à minha mãe… não que ela vá atender o
telefone de qualquer maneira, ela está ocupada demais para isso.
— Brigando? Vocês sabem que Richmond não tolera violência. —
Ela suspira. — Vou ter que punir vocês duas por esse comportamento…
— Deixe-me adivinhar, eu pego detenção e ela sai com nada além de
uma advertência? — Adaline a interrompe, zombando.
Eu viro meus olhos para a esquerda, olhando para a raiva pulsando
nela. Sinto uma pontada de culpa percorrer minha corrente sanguínea, quase
me sufocando. Eu empurro para longe tão rapidamente quanto apareceu.
Faço isso sempre que me sinto culpada pela forma como tratei Adaline… o
que é frequente.
— Por favor, não presuma que eu teria favoritos e teria padrões
duplos, Srta. Emery — a Sra. Smith responde, franzindo a testa com a
suposição.
A Sra. Smith está muito longe de ser injusta. Ela nunca deu
tratamento preferencial aos garotos ricos desta escola. Nunca. Ela é uma das
únicas professoras desta escola que não o fez, o que é uma sorte,
considerando que ela é a diretora.
Sorte para Adaline, pelo menos. Ela não é como o antigo diretor que
costumava aceitar subornos, eu sei disso, considerando que muitas vezes
era eu quem o subornava.
Adaline revira os olhos.
— Bem, você teria que ter jogo de cintura com ela, considerando que
a mãe dela faz doações para esta escola.
Ela realmente precisa superar. Sim, sou rica, isso não vai mudar tão
cedo.
A Sra. Smith suaviza os olhos.
— Dinheiro não significa que as consequências são negadas. — Ela
olha entre nós dois e continua. — Na verdade, vou deixar vocês duas aqui
pela próxima hora porque, claramente, a melhor forma de punição é deixar
vocês duas aqui juntas.
O quê? Sem chances. Se eu ficar sentada nesta sala de aula pela
próxima hora com ela, vamos acabar brigando de novo.
— Mas… — nós duas dizemos em uníssono.
— Vocês preferem que eu chame seus guardiões? — Ela pergunta e
nós duas ficamos em silêncio e ela parece satisfeita. — Adeus, senhoritas.
Ela sai da sala sem sequer olhar em nossa direção, ignorando os meus
protestos e os de Adaline. Suspiro e me inclino para trás na cadeira.
A dor da nossa luta está finalmente se instalando; minhas costas estão
doendo, enquanto meu lábio inferior parece incrivelmente dolorido como se
alguém tivesse pisado nele.
Eu não me arrependo; essa luta foi o mais perto de estar viva que me
senti em muito tempo. Minhas mãos nela assim, foi absolutamente
emocionante. A sensação de ter toda a atenção dela era absolutamente
indescritível.
— Olha o que você fez — Adaline diz em um tom irritado,
balançando a cabeça para mim.
— Eu? Foi você quem começou ontem.
Seus olhos se estreitam com minhas palavras e ela parece confusa.
Ela me expulsou, foi ela quem veio resgatar aquela garota e depois me
chamou de antipática. Merdinha.
— Você é tão delirante. Acha que isso é minha culpa? — Ela parece
furiosa, agitando as mãos freneticamente.
— Bem, se você não tivesse me expulsado de sua casa…
Ela me interrompe.
— Você ainda encontraria um motivo para foder comigo. Você tem
feito isso nos últimos cinco anos.
Ah, é? Como se ela também não tivesse jogado esse jogo comigo nos
últimos anos.
— Ah, por favor. Não aja como se você não tivesse me devolvido tão
bem — eu respondo, revirando os olhos com tanta força que eles
basicamente viajaram para a parte de trás da minha cabeça.
— Sim, eu devolvi — ela suspira, passando a mão pelo cabelo —,
mas não comecei.
A pura exaustão em seu rosto me deixa em algum tipo de frenesi. Ela
não está procurando um argumento com essa declaração, ela está apenas
expressando o quanto está cansada.
Não posso refutar a declaração dela; eu realmente não posso.
— Não, você não começou.
Eu comecei isso. A Juliette, de 12 anos, que estava com raiva de seu
pai espancador de mulheres, começou isso.
No fundo eu sei que sou cruel. Tenho sido horrível, mas não consigo
parar, não quando é a única coisa que me dá algum tipo de alívio e a única
maneira de ter um pingo de atenção dela.
Sim, começou como uma forma de me vingar do meu pai, mas em
algum momento se tornou uma rotina, algo para mim e só para mim.
Eu corro minha mão pelo meu cabelo e olho para o relógio na parede,
observando os minutos passarem lentamente enquanto o silêncio engole a
sala.
Parece uma eternidade quando olho para cima, mas apenas vinte
minutos se passaram. Eu sei que deveria apenas pegar meu telefone e ficar
em silêncio pelo resto do nosso tempo, mas não posso.
— Você ainda vai me ensinar, certo? — A pergunta sai mansa.
Seu olhar corta pra mim.
— Obviamente. Ainda preciso que a carta seja enviada.
Eu sorrio internamente com isso. Mesmo que ela pareça irritada, ela
ainda vai me ensinar. Ela vai ter que me ensinar até nossos exames finais e
isso me dá muito tempo para continuar mexendo com ela.
— Por que você está tão obcecada por Oxford, afinal? — Por que eu
me importo?
— Por que você está tão obcecada por mim? — Ela fica inexpressiva.
Eu nem me incomodo em refutar sua declaração.
— Porque eu gosto de incomodar você. Agora, responda à minha
pergunta.
No estilo usual de Adaline, ela não responde. Em vez disso, ela
aponta o dedo do meio para mim. Muito maduro.
— Mataria você ser madura pelo menos uma vez? — Eu zombo,
irritada.
Ela acena com a cabeça em resposta, sorrindo sarcasticamente.
— Sim, mataria.
Ela é tão irritante; tão chocante. Qualquer coisa que eu diga, não
importa o que seja, ela tem que combater. Então, novamente, nós
literalmente brigamos há trinta minutos, talvez o comportamento dela seja
justificado.
— Não consegue nem responder a uma pergunta simples — murmuro
baixinho, irritada.
— Isso está vindo de você? — Ela zomba em voz alta.
Eu franzo minhas sobrancelhas.
— Pergunte o que quiser, sou madura o suficiente para responder.
— Tudo bem — ela diz, sua expressão pensativa por alguns
segundos. — E você então? O que você quer fazer quando sair desse
inferno?
— Vou trabalhar na empresa da minha mãe. — Eu me inclino para
trás contra a minha cadeira.
Ela estreita os olhos para mim com confusão em seu rosto, em vez de
seu olhar irritado habitual.
— Eu perguntei o que você quer fazer, não o que você vai fazer.
— Isso é o que eu quero fazer — eu digo com firmeza.
— Acho que você não é madura o suficiente para dizer a verdade —
ela diz zombeteiramente, com o queixo apoiado nas mãos.
— Tudo bem. — Eu cerro os dentes, evitando contato visual com ela
quando digo minhas próximas palavras. — Quero abrir minha própria
galeria de arte.
Quando eu olho para ela novamente, eu juro que vejo um esboço de
sorriso enfeitando suas feições, mas ele se foi tão rápido quanto apareceu.
— Então, por que você vai entrar nos negócios de sua mãe?
— É o que é esperado de mim. — Eu dou de ombros porque
realmente não é grande coisa. Tenho uma vida privilegiada, tenho sorte até
de ter uma vaga em uma empresa do porte da minha mãe.
Ela desvia um pouco os olhos, como se estivesse pensando, antes de
falar.
— Parece dramático — seu tom é leve e sério ao mesmo tempo —,
apenas faça o que quiser.
Muito perspicaz.
Reviro os olhos.
— Você vai responder minha pergunta agora ou não? — Mais uma
vez, por que me importo tanto?
Ela assente, suspirando profundamente por um momento.
— Oxford é prestigiosa, mas é mais do que isso. — Ela brinca com os
dedos antes de continuar. — É quieto. Não conheço ninguém lá e eles não
me conhecem.
— Parece chato. — Suas covinhas aparecem com minhas palavras;
talvez ela perceba que estou forçando meu tom irritado... porque estou
realmente presa a cada palavra dela.
— Exatamente.
Oxford fica a uns trinta minutos daqui, então não tenho certeza do que
ela quis dizer com quieto, mas meio que entendo.
— Qual é o plano depois?
— Ser cirurgiã.
— Obviamente — reviro os olhos —, quero dizer o que
especificamente.
— Ainda não tenho certeza, mas acho que uma cirurgiã
cardiovascular seria o ideal — diz ela, sem conseguir esconder o brilho nos
olhos.
Eu sei muito sobre essa garota, infelizmente, mas ainda não sabia que
ela queria se concentrar em cirurgia cardíaca? Quem se importa? Eu a
odeio, não preciso saber sobre suas futuras aspirações de carreira.
— Trabalhar com o coração… — murmuro com falsa consideração.
— Isso pode ser um pouco difícil, já que você não tem um.
Imagino-a daqui a uma década, em seu uniforme cirúrgico. Ela
comandaria a sala. Eu sei que sim. Ela trabalharia duro. Mesmo que todos
na sala duvidem dela, ela continuará, talvez apenas para irritá-los. Ela
passaria por cima de cada pessoa para chegar onde ela quer.
Ela me dá um sorriso doce e doentio.
— Eu não sabia que você precisava possuir algo para estudá-lo.
Vamos torcer para que você não decida fazer neurocirurgia tão cedo.
— Cala a boca.
— Merda, desculpe. Você precisa que eu lhe diga o que significa
neurocirurgia? — Ela faz beicinho e eu quase esqueço de responder.
— Seu pequeno ato de ser mais esperta do que todo mundo está
ficando meio velho, sabia? — Não, não está.
— Se você está se sentindo ameaçada por minha superioridade
acadêmica, é só dizer. — Ela me dá um sorriso perverso que me obriga a
desviar o olhar dela.
— Você é irritante para caralho — eu gemo, jogando minha cabeça
para trás.
— E você finalmente terminou seu questionário — ela geme
satisfatoriamente —, graças a Deus.
— Na verdade… — Eu me viro para ela e ela já parece irritada —
você também não respondeu minha outra pergunta ontem; sobre seu irmão.
Ela está olhando para mim com uma emoção indescritível rabiscada
em seu rosto. Prendo a respiração, meio que esperando que ela não
responda. Por que ela iria? Especialmente depois de como me comportei,
mas principalmente por que quando ela responderia às minhas perguntas
sérias?
— Por que eu diria a você? — Exatamente. — E não diga nada sobre
maturidade porque eu realmente não dou a mínima.
— Você pode me pedir algo em troca. — Eu ofereço, séria. — Vamos
lá, tem que haver algo que você quer de mim.
Minhas palmas começam a suar quanto mais ela olha para mim.
Espero ver aquele brilho diabólico de sempre em seus olhos, mas tudo que
posso ver é exaustão. O que ela vai pedir? Dinheiro? Vai me ridicularizar?
Humilhação física?
— Você não pode mais me chamar de palavra com “s” — diz ela com
tanta seriedade que quase caio da cadeira.
É isso? Ela está tão séria agora, olhando para mim como se estivesse
me pedindo para pendurar a lua no céu para ela.
— Tudo bem — eu finjo resmungar como se estivesse irritada, mas
realmente não me importo. Você nem deveria chamá-la assim.
— Você sabe quem é Ben Andrews? — Ela me pergunta, avançando
em seu assento e me pego refletindo suas ações. Ela finalmente vai me
contar.
— Sim, ele é aquele cara que sofreu um acidente muito ruim alguns
anos atrás, certo?
Ben não é um cara conhecido de forma alguma, ele é apenas muito
rico, então eu sei o que aconteceu com ele. Acho que há alguns anos ele
sofreu um acidente e ficou paraplégico da cintura para baixo. Não muito
tempo depois, a casa de sua família foi incendiada.
— Meu irmão fez isso — ela diz baixinho, seus olhos não se mexem,
nem um centímetro.
O quê?
Eu pisco.
— Por quê?
Ai, meu Deus. Incêndio culposo? Assalto? É por isso que Adam foi
para a prisão? Aposto que ele fez isso por um motivo idiota; talvez Ben o
tenha desrespeitado ou tentado dormir com a namorada ou algo totalmente
ridículo…
Ela aperta a mandíbula.
— Porque Ben é um psicopata que gosta de estuprar mulheres.
Ai, meu Deus.
Minha respiração falha com a frase dela, minha mente dispara com as
notícias. Jesus Cristo. Meu primeiro instinto é ficar boquiaberta com
descrença e raiva. Mas eu olho profundamente nos olhos de Adaline e
instantaneamente, meu coração para. Minha mente assume
automaticamente o pior. Ele... a estuprou?
A ideia de ele fazer isso com qualquer mulher é revoltante e me dá
vontade de matá-lo sem remorso, mas a ideia de ele fazer isso com ela? Isso
queima meu peito em uma fúria inimaginável.
Por favor, Deus não. Por favor, não deixe que ela tenha passado por
algo tão horrível.
Eu respiro fundo.
— Ele tocou em você...
— Não, não em mim — ela responde rapidamente, balançando a
cabeça.
Ah, merda. Graças a Deus. Eu expiro em alívio e meus ombros caem,
embora não totalmente porque ele ainda fez algo hediondo para alguém.
Ela continua.
— Ele tentou atacar uma garota do lado de fora de um clube onde
meu irmão trabalhava. Ele viu Ben e antes que ele estivesse prestes a atacá-
la, Adam fez o que qualquer humano decente faria e deu uma surra nele; ele
o paralisou.
Nunca soube muito sobre Adam Emery além do fato de que ele esteve
na prisão. Eu estaria mentindo se dissesse que não o julguei ou até mesmo
espalhei rumores sobre por que ele foi para a prisão apenas para irritar
Adaline.
Agora, sinto nojo de ter pensado em fazer isso. Se eu estivesse no
lugar dele e visse uma garota sendo atacada, faria a mesma coisa! No
entanto, eu tive a ousadia de julgá-lo por estar na prisão?
Estupro é a pior coisa que você pode fazer neste planeta. Então, estou
feliz que Adam pelo menos chegou perto desse ponto e paralisou Ben.
Bastardo do mal.
— O que aconteceu depois disso? — Eu pergunto com raiva em
minha voz.
— Seus pais decidiram não apresentar queixa após a agressão porque
teriam que admitir que seu filho é um estuprador. — Ela ri um pouco
baixinho antes de continuar. — Bem, isso foi antes de Adam incendiar a
casa deles e eles terem que prestar queixa por incêndio criminoso.
Acho que posso gostar de Adam Emery.
— Você se ressente dele? Por voltar e fazer isso quando ele poderia
ter deixado quieto e não ter ido para a cadeia? — Eu questiono
curiosamente.
Eu quero saber. Preciso saber o que a jovem Adaline deve ter pensado
ou sentido. Como ela se sentiu quando ouviu a notícia? É normal que ela se
ressentisse dele. Afinal, ela era apenas uma criança; uma criança que perdeu
o irmão.
— Quem você acha que esperou no carro enquanto ele fazia isso? —
Ela pergunta com orgulho.
Encontro-me mordendo de volta um sorriso com suas palavras. Eu
deveria saber; até a jovem Adaline era confiante. É estranhamente
emocionante pensar nela se juntando ao irmão para fazer algo tão louvável,
mas perigoso ao mesmo tempo.
— A garota está bem?
Não consigo nem imaginar o trauma que ela passou, sendo agredida
sexualmente. Não me intrometo sobre quem ela é porque sei que Adaline
não vai me contar e não é da minha conta de qualquer maneira, só preciso
saber se ela está bem.
— Ela está bem. Na verdade, ela ajudou meu irmão e pagou o
advogado dele.
Eu me forço a não pensar na tristeza que irradia dela, porque se eu
fizer isso, meu peito vai inchar com uma quantidade inimaginável de dor.
Não sei porque, talvez seja apenas empatia.
— Ela já denunciou?
— Ela tentou. A polícia se recusou a ajudar porque ela não havia sido
estuprada. Eles nem se importaram com o fato de ele ter sido acusado de
estupro por duas garotas antes — diz ela com raiva, cerrando os punhos
sobre a mesa.
Ele definitivamente conseguiu se safar inúmeras vezes, considerando
o quão rico ele é. Eu não posso nem imaginar com quantas pessoas ele fez
isso. A raiva incandescente corre por todo o meu corpo.
O silêncio envolve a sala por alguns minutos depois disso, até que eu
decido falar.
— Sinto muito por dizer todas aquelas coisas sobre seu irmão.
Ela parece genuinamente chocada com meu pedido de desculpas.
Claro, ela está. Eu não peço desculpas; mesmo quando parece que a culpa
de tratá-la assim está corroendo minha alma, eu não peço. Eu apenas
empurro para longe e sigo meu dia, mas não hoje.
— Eu não me importo — ela responde, mas vejo o meio sorriso que
ela está dirigindo para mim.
Um sorriso real dirigido a mim? Um que não é sarcástico e cruel, mas
genuíno. O inferno deve ter congelado. Quando ela sorri assim suas
covinhas tomam conta de seu rosto enquanto seus olhos sorriem também.
Como passamos da briga para ela se abrindo sobre o irmão? E por que
minhas pernas estão tremendo de repente?
O resto do tempo que passamos trancados aqui é gasto em silêncio,
mas é confortável, embora eu dê alguns olhares furtivos para ela de vez em
quando, me perguntando por que parece que chegamos a uma trégua.
Capítulo TREZE
Adaline
Como eu pude dizer isso a ela? Já se passaram alguns dias e ainda
não consigo entender o fato de ter contado a Juliette por que meu irmão foi
condenado à prisão. Meus amigos nem sabem disso, principalmente porque
Adam me disse anos atrás para não dizer nada, já que eu teria sido
processada por difamação se a notícia se espalhasse.
Então, por que me senti tão à vontade para contar a Juliette?
As coisas mudaram recentemente entre nós. Eu a ensinei há dois dias
e foi realmente amigável, incomumente silencioso também. É quase como
se tivéssemos chegado a uma trégua ou algo assim. Embora ainda
briguemos, ela está menos venenosa ultimamente.
Vou dar aulas particulares para ela novamente amanhã e estou com
medo. Minha mente fica tão nebulosa perto dela ultimamente e não sei por
quê. Tudo o que sei é que passei os últimos cinco anos tentando o meu
melhor para evitar e reprimir tudo o que penso ou sinto sobre ela e está
ficando mais difícil de conter.
— Acabei de receber uma mensagem — Adam diz, tirando-me dos
meus pensamentos.
Sua mão está no volante enquanto ele estaciona do lado de fora da
minha escola. Sempre que ele não tem trabalho, ele sempre me deixa em
casa, principalmente porque desde que ele saiu da prisão, ele sempre passa
seu tempo livre comigo. Presumo que ele queira recuperar o tempo perdido,
assim como eu.
Ele também está sendo estranhamente protetor porque cheguei em
casa alguns dias atrás com o trabalho de Juliette exibido em mim e uma
ligação da diretora que Adam transmitiu. Mal posso esperar para fazer
dezoito anos e não ter que responder a nenhuma autoridade escolar
novamente.
Eu não disse a ele que foi Juliette, apenas que foi uma garota aleatória
e eu tive que impedi-lo fisicamente de ir para a escola.
— Você quer uma medalha ou…
— Espertinha — ele retruca, batendo no meu ombro de brincadeira.
— É da minha oficial de condicional. Ela acabou de saber que Ben foi
preso.
Espere, o quê? Choque transparece em seu rosto enquanto ele olha
para o telefone, lendo a mensagem. O humor é sugado para fora da
atmosfera.
— Por quê? — Eu pergunto perplexa, tirando meu cinto de segurança
para que eu possa me virar para Adam.
Ele rola através de seu telefone.
— Aparentemente, ele foi pego em um esquema de tráfico de drogas.
Ele acabou de ser preso e não vai ter fiança… ele pode pegar dez anos.
Eu tenho tantos pensamentos passando pela minha cabeça no
momento. Em primeiro lugar, estou perplexa com o quão horrível é nosso
sistema de justiça, considerando que ele está enfrentando dez anos por algo
tão servil quanto drogas, mas não recebeu um pingo de punição por ser um
estuprador psicopata.
Em segundo lugar, não tenho dúvidas de que Juliette é responsável
por isso. Ela é a única pessoa a quem já contei sobre essa situação e ela
detém uma quantidade insana de poder, então isso deve ter sido obra dela…
não seria difícil para ela. Por que meu coração palpita ao pensar nisso?
— Uau — eu pronuncio sem fôlego, inclinando-me para trás no
assento com um suspiro.
Alívio inunda minhas veias com a notícia. Mesmo quando meu irmão
o paralisou, não acho que foi punição suficiente, considerando que ele
esteve fora esse tempo todo e Deus sabe quantas outras mulheres ele atacou.
Eu tentei o meu melhor para ficar de olho nele depois que Adam foi para a
prisão, mas ele e sua família sumiram.
Mas agora, ele provavelmente estará atrás das grades e não posso
agradecer o suficiente.
— Estou feliz que o estuprador finalmente vai ser preso. — Adam
diz, com os olhos baixos e os punhos cerrados no volante.
Aquele monstro não apenas arruinou a vida de muitas mulheres, mas
também arruinou a do meu irmão; roubou anos dele. Sua expressão
perturbada me lembra o que Juliette me perguntou há alguns dias, se
alguma vez eu me ressenti dele pelo que ele fez. Percebo que nunca me
ocorreu dizer a ele que não me ressentia dele. Eu apenas presumi que ele
sabia.
Eu toco seu ombro.
— Você deve saber que nunca me ressenti com você pelo que você
fez com ele; por voltar e queimar sua casa.
Eu nunca poderia me ressentir do meu irmão por isso, por que eu iria?
Ele fez a coisa certa, algo que qualquer ser humano decente faria. Fiquei
feliz por ele ter voltado e queimado a casa. Eles não mereciam viver
naquela mansão confortável depois de esconder os crimes de seu filho.
— Por quê? — Ele questiona, esfregando os olhos. Ele sempre faz
isso antes de começar a chorar. — Você era apenas uma criança e eu tive
que sair, você foi deixada para se sustentar e teve que ficar com ele.
— Eu faria de novo. Eu faria tudo do mesmo jeito; você salvou uma
vida naquele dia e eles mereciam ver a casa pegar fogo. Eu nunca poderia
me ressentir de você por isso, eu te amo por isso.
Eu era criança e tinha que trabalhar, meu pai passava a maior parte do
tempo bebendo e eu tive que assumir as rédeas porque meu irmão tinha sido
preso.
Houve dias em que passei sete dias seguidos trabalhando e mal
conseguia ganhar dinheiro para fazer compras naquela semana. Eu nem
deixei a Srta. Kim saber o quão ruim era. Então meu pai morreu e eu não
tive escolha a não ser me sentir um fardo para ela também. No entanto, eu
ainda não mudaria uma única coisa.
— Eu também te amo. — Ele funga, enxugando as lágrimas. — Você
fez um bom trabalho se mantendo forte nestes últimos anos.
Posso dizer que ele se sente culpado por eu ter que trabalhar nessa
idade e pelo fato de ter ficado com meu pai. Independentemente disso, ele
passou todos os dias tentando compensar isso, mesmo que não precise.
Estou grata, porém, porque agora não tenho que trabalhar tanto quanto
antes.
Adam faz tudo por mim e ainda tem um sorriso no rosto, embora não
tenha vivido bem seus vinte anos. Mesmo antes de ir para a prisão, ele era
como um pai para mim – ainda é – muito mais do que meu próprio pai
jamais foi.
— Eu fiz, mas você está de volta agora para que eu possa
vagabundear com você. — Eu brinco, usando minha mão para enxugar suas
lágrimas e ele se inclina em minhas palmas rindo.
— Posso te pegar mais tarde? — Ele pergunta mudando de assunto
tentando recuperar sua respiração normal.
Eu aceno gentilmente e o puxo para um abraço. Ele se derrete em
meus braços e funga em meu ombro.
Abraçá-lo me lembra que devo falar com Juliette, afinal, ela é a razão
pela qual Ben finalmente está sendo punido. Não vou agradecer, mas tenho
que pelo menos dar o crédito a ela onde é devido.
Maldita seja Juliette por me fazer respeitá-la.
***
***
É hora do jogo. Estamos todas no ginásio, que é mais ou menos do
tamanho de um estádio de futebol. Nosso time é o primeiro, as meninas
estão todas vestidas com nossas cores, azul e branco.
Enquanto aperto meu rabo de cavalo, olho para a multidão e vejo Kai
sorrindo e torcendo por mim. Eu tenho uma regra onde eu só olho para a
multidão uma vez, meu olhar nunca demora depois disso.
Nunca me deixo distrair.
A campainha toca e antes de vermos a luz vermelha sinalizando a nós
para começar, eu bato palmas, sinalizando para as meninas entrarem em
posição.
— Lembrem-se de manter o foco e não importa o que aconteça, nunca
se distraíam! — Eu digo em voz alta para as garotas ao meu redor e elas
acenam com a cabeça animadamente enquanto todas nós colocamos nossas
mãos no meio.
— Força, equipe! — Nós gritamos em uníssono, nossas mãos para
trás no ar.
Nós nos posicionamos e a música começa.
Um.
Dois.
Três.
No mundo das líderes de torcida, não há como parar para saborear
nada, é sempre para o próximo passo. Isso é o que estamos fazendo agora;
movendo para a esquerda e para a direita no ritmo e balançando nossos
quadris metodicamente.
Eu não posso nem contar quantas vezes eu dou um backflip ou algo
perigoso que poderia quebrar meu pescoço, mas é tão emocionante e eu
adoro isso.
Adoro a maneira como torcemos alto e podemos ouvir as pessoas
gritando por nós. Não é como só torcer por um time, é um verdadeiro
torneio de nível municipal apenas para torcer.
Sorrio brilhante e dolorosamente toda vez que movo minhas pernas
ou mãos.
Está indo tão fabulosamente bem. Nossos movimentos são elegantes e
controlados e finalmente chegou a hora do movimento extravagante: o giro
final.
Eu subo a bordo de minhas companheiras de equipe, meus pés
suavemente equilibrados nos ombros de uma garota. Minhas mãos estão no
ar e posso sentir a felicidade irradiando de mim.
Tudo está indo tão perfeitamente bem... até que começo a sentir algo
estranho no meu peito.
Chame isso de intuição, instinto, uma voz gritando na minha cabeça
me dizendo para olhar para a multidão, então eu olho. Ela é a primeira coisa
que vejo. Seus olhos verdes floresta olhando para os meus, como se ela
estivesse muito extasiada com o que estou fazendo.
Todo o resto desaparece e meus olhos só a veem. Meu coração está
batendo forte no meu peito e não consigo respirar, ver ou mesmo ouvir o
que está acontecendo. Não posso fazer nada além de olhar para ela e então
faço a pior coisa que poderia fazer; eu pisco. Antes que eu perceba, perdi o
equilíbrio.
Ah, não.
Capítulo QUINZE
Adaline
— Você quer que eu vá com você hoje? — Aryan me pergunta, seu
braço em volta do meu ombro.
O horário escolar acabou e eu estou saindo enquanto Aryan fica para
trás para esperar por Victoria. Ela foi detida por fazer falta em uma garota
durante um jogo de basquete. Ela fica excepcionalmente áspera quando se
trata de esportes.
Normalmente, eu também ficaria esperando por ela, mas hoje tenho
que visitar o túmulo de meu pai. Hoje é o aniversário de sua morte, a única
vez que visito seu túmulo.
— Não, está tudo bem. Vai ser minha última visita por um tempo; eu
deveria fazer isso sozinha. — Tento esboçar um sorriso, mas falho.
Parece que deve ser a última visita por um tempo, não vou sentir
necessidade de visitá-lo quando for para Oxford. Pelo menos, espero que
não.
— Quer tomar sorvete depois? — Ele me pergunta.
— Obviamente — eu respondo com um sorriso.
***
***
***
2. Acrônimo em inglês para “Science, Tecnology, Enginnering and Mathematics”, que significa
“Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática”. A Metodologia Stem/Steam visa apresentar uma
forma de aprendizagem integrada, com base em projetos e que busca a formação do indivíduo em
várias áreas do conhecimento.
Capítulo VINTE E UM
Adaline
O silêncio que envolve a sala não é desconfortável, na verdade, é
pacífico, o que é totalmente chocante, considerando que menos de quarenta
minutos atrás, eu alimentei Juliette e ela nem tentou me bater por causa
disso. Talvez não seja estranho porque eu praticamente corri de volta para o
meu lugar depois que ela terminou de comer.
Ela está me desenhando novamente agora, enquanto eu ainda estou
pensando em porque achei necessário alimentá-la. Eu apenas me senti
estranha quando ouvi seu estômago roncar; eu senti meu próprio estômago
revirar ao som disso.
Eu só sabia que tinha que garantir que ela comesse alguma coisa. Não
é como se eu pudesse deixá-la morrer de fome, porque então ela não estaria
em seu juízo perfeito para a tutoria depois de terminar o desenho.
Minhas motivações eram puramente egoístas.
Meus olhos vagam por esta sala para me distrair de pensamentos mais
tumultuosos.
Ainda fico chocada com o quão rica a família Kingston realmente é;
sua sala de arte é quase tão grande quanto minha casa inteira!
Há desenhos por todas as paredes, cavaletes por toda parte e, do lado
direito da sala, há toda uma seção dedicada ao que parece ser...cerâmica?
— Você faz cerâmica? — Eu me pego questionando-a, virando minha
cabeça para ela.
Seus olhos se fixam em mim.
— Eu costumava fazer, quando era criança.
Há algo diferente em seus olhos, algo que me faz querer saber mais,
eles estão abatidos e seu tom é rígido.
— Você não quer mais fazer? — Eu pergunto curiosamente.
— Não.
É simples; resoluto. Ela nem levanta os olhos do desenho quando
responde.
Algo mudou no ar. Antes, conversávamos casualmente, talvez até
gostando de ouvir sobre os gostos e desgostos uma da outra, o que é
chocante.
Este é provavelmente o tempo mais longo que passamos sem discutir.
Não é como se estivéssemos discutindo agora, mas ela conseguiu se
esconder em uma armadura de indiferença.
Por que eu não gosto disso?
Eu respiro fundo antes de perguntar:
— Por quê?
— Isso não é da sua conta. — Ela cospe friamente. Agora, ela parece
incomodada. Foi-se sua fachada indiferente.
Essa é a coisa sobre Juliette, ela não perde tempo com as coisas. É
sempre zero a cem com ela – sem tempo para saborear, apenas direto para a
raiva. Não há purgatório ou meio-termo, ela é como uma bomba-relógio.
— Ok, relaxe. — Eu levanto minhas mãos em defesa, ela apenas
zomba e volta a desenhar.
Sei melhor do que ninguém que não devo me intrometer quando
alguém se recusa a falar sobre algo. De qualquer forma, nem é da minha
conta, então por que estou incomodada por ela não estar me contando? Por
que o fato de ela não querer compartilhar isso comigo está cutucando meu
peito como um pingente de gelo? Talvez eu seja apenas uma pessoa
inatamente curiosa.
— Você já fez cerâmica? — Ela me questiona de repente e fico
chocada por ela continuar a falar comigo. Jekyll e Hyde não têm nada sobre
ela.
— Sempre quis — digo, suspirando —, simplesmente nunca tive
tempo. — Eu dou de ombros.
Além da escola e do trabalho, nunca tive muito tempo enquanto
crescia, especialmente depois que Adam foi para a prisão. Eu não poderia
escolher um hobby, mas tudo bem, eu não mudaria nada. Então, novamente,
às vezes me incomoda quando vejo coisas que gostaria de fazer.
Não sei por que estou contando isso a Juliette. Não tenho certeza do
que há nesta sala, mas me sinto muito confortável, como se pudesse falar
sobre qualquer coisa e isso é... perigoso.
— O que mais você queria fazer? — Sua pergunta me pega de
surpresa por um momento.
Ela parece interessada, como se realmente quisesse saber e isso faz
meu peito se apertar, tão apertado que não sei como estou realmente
respirando no momento. Eu afasto o sentimento estranho e respondo a sua
pergunta.
— Sempre achei que aprender a tocar piano seria legal — admito,
abaixando um pouco a cabeça.
Ela levanta as sobrancelhas para mim como se estivesse satisfeita
com a minha resposta. Não sei como ela está olhando para mim e
desenhando ao mesmo tempo, mas ela está conseguindo fazer isso
perfeitamente.
— É fácil depois que você pega o jeito — diz ela distraidamente,
ainda desenhando.
— Você toca? — Eu pergunto, espantada.
Claro que ela toca. Existe alguma coisa que ela não pode fazer? Acho
que passar em biologia seria algo bom, mas ela está pegando o jeito
também.
Ela acena com a cabeça.
— Sim, Kai me ensinou. — Ela sorri com carinho quando menciona o
nome dele.
Eu aceno em resposta e suspiro. Parte de mim quer perguntar se ela
pode me ensinar, mas afasto o pensamento da cabeça com a mesma rapidez
com que surge.
O que há de errado comigo? Passamos uns quarenta minutos sem
discutir e de repente, quero que ela me ensine a tocar piano?
O que está acontecendo comigo?
— Eu costumava fazer isso com meu pai — ela diz de repente,
tirando-me dos meus pensamentos.
— O quê? — Eu murmuro, confusa.
Ela parece meio atordoada e congelada ao mesmo tempo, como se
estivesse pensando profundamente sobre uma memória passada ou apenas
se desassociando. Nunca a vi assim; ela parece tão vulnerável.
— Cerâmica. Eu fazia muito isso com meu pai — repete, suspirando.
— Não é mais algo que eu gosto de fazer.
Meu coração aperta com suas palavras e mais com a pequena carranca
que ela está tentando suprimir. Acho que nunca a ouvi soar tão vulnerável.
Não sou boa em confortar as pessoas, mas quero confortá-la e não sei
por quê. Independentemente disso, eu não deveria… não posso. Então, vou
fazer isso da maneira mais lógica; é nisso que sou boa.
— Você é boa na cerâmica?
Ela franze as sobrancelhas.
— Sim?
— Então não deixe que ele tire isso de você — eu digo baixinho,
como se estivesse expirando as palavras.
Ela me encara com um olhar indescritível naqueles olhos azuis
deslumbrantes. O que eu disse provavelmente não foi a coisa certa, mas não
sei mais o que dizer. Na verdade, não falamos direito sobre o pai dela desde
que a mãe dela divulgou o que ele fez.
Eu odeio o pai dela; nunca conheci o homem, mas depois do que
ouvi, é claro que o odeio.
Ele traiu, bateu na esposa e deixou a família para trás. Isso não é um
homem, é um covarde que merece o inferno criado sobre ele. Ela não deve
parar de fazer algo porque isso a lembra dele. Ela não deveria deixá-lo
manchar suas memórias.
Enquanto espero ela responder, ela faz algo inesperado... ela sorri. É
torto e cheio de humildade, como se ela quisesse esconder que está sorrindo
de algo que eu disse.
De repente, sinto que minha cabeça está girando e minhas pernas
estão bambas.
— Este é o maior tempo que passamos sem brigar, sabia? — Ela
muda de assunto, seu olhar indo e voltando do desenho para mim.
Esta é a maneira dela de me agradecer pelo que eu disse sem
realmente me agradecer. Então, naturalmente, vou jogar junto com ela.
— Eu sei, alguém deveria verificar.
— Verificar o quê?
— Se o inferno congelou.
Ela morde a parte interna da bochecha e posso vê-la segurando uma
risadinha. Eu apenas sorrio em resposta enquanto ela balança a cabeça.
Tum. Tum. Tum.
Pare. Pare com isso.
Meu cérebro entoa a mensagem para frente e para trás em meu
coração, tentando parar a ferocidade da batida que está machucando meu
peito agora.
Ela morde o lábio e me pego cravando minhas unhas na minha coxa
em resposta.
— Eu terminei — diz ela. Eu arqueio minhas sobrancelhas, confusa,
até que ela fala novamente. — Terminei de desenhar você — ela esclarece.
— Já? — As palavras saem da minha boca antes que eu possa contê-
las e sinto o calor subir ao meu rosto.
Por que pareço desapontada?
Eu ignoro o olhar presunçoso e quase tímido em seu rosto e limpo
minha garganta.
— Posso ver?
— Sim, venha aqui.
Imediatamente, eu me levanto e caminho em direção a ela. Enquanto
caminho até onde ela está, sou envolvida pelo cheiro de baunilha e tinta
acrílica e não o desprezo, nem por um segundo.
Eu ignoro o quão perto estou ao lado dela e direciono meu olhar para
a tela... Estou sem palavras.
Deveria ser familiar, afinal, sou eu, sentada exatamente na mesma
cadeira e vestindo exatamente o mesmo uniforme. Cada partícula de detalhe
é pronunciada e assustadoramente precisa. Ela até desenhou os arrepios nos
meus braços.
Esta é outra pessoa, alguém etéreo e cru.
Eu não sabia que a arte podia ser tão real, como olhar para uma foto
— não, isso não faz justiça. Eu sabia que Juliette era talentosa, isso é óbvio,
mas ter esse talento direcionado a mim? É incrível.
Eu tomo uma respiração profunda e trêmula.
— Juliette essa é…
— Sim, eu sei, é um trabalho em andamento…
— O que? Você é cega? — Eu digo sem fôlego, meus olhos ainda na
pintura. — Isto está perfeito. Os detalhes disso são impecáveis. Você é
talentosa para caralho. Isso é lindo.
Sinto seus olhos fixos em mim, mas não olho em sua direção, não
enquanto esta pintura me arrebatou em todos os sentidos da palavra.
— Bem, é você — ela responde em um sussurro suave.
— Bem, acho que sou bonita então — eu respondo meio brincando,
ignorando os arrepios que suas palavras me deram.
Quer dizer, sim, eu sei que sou atraente. Não sou cega nem pretendo
ser modesta. No entanto, a pessoa nesta pintura é mais do que isso e não
posso acreditar que alguém que me odeia me desenhou assim.
— Você é linda — Juliette sussurra, tirando-me do meu transe.
Como se meu corpo estivesse no piloto automático, eu quase
instantaneamente me viro para olhar para ela, apenas para perceber que
nossos rostos estão a centímetros de distância. Se eu caísse agora, sentaria
no colo dela, já que a cadeira dela está quase diretamente abaixo de mim.
Ela me acha bonita.
Engulo em seco enquanto olho em seus olhos; suas pupilas
triplicaram de tamanho. Antes que eu perceba, ela está se levantando
cuidadosamente devagar.
Juliette está se elevando sobre mim e ela está colocando uma mecha
de cabelo atrás da minha orelha. Ela se inclina, seus lábios encontrando o
lado da minha orelha enquanto ela sussurra:
— Sinto muito se alguma vez fiz você se sentir como se não fosse.
Sinto meus joelhos dobrarem com seus sussurros suaves e também
com o fato de que ela está realmente se desculpando por alguma coisa.
Como meninas, a insegurança está fortemente entrelaçada em nossas
vidas desde o nascimento até a morte. Carregamos esse peso que é passado
de geração em geração. Eu também sou uma vítima disso, como tenho
certeza que ela provavelmente também é.
Embora Juliette não tenha causado nenhuma insegurança específica
para mim, ela alimentou algumas delas. Ela fez inúmeras críticas à minha
aparência e, quando cresci, percebi que eram infundadas. No entanto, isso
não fez doer menos.
— Pedir desculpas não resolve. — Eu suspiro profundamente, ainda
sentindo seus lábios na concha da minha orelha.
Ela se afasta lentamente e pressiona a testa contra a minha.
— Será que isso resolve?
Ela se inclina lentamente, como se esperasse que eu me afastasse, mas
não me afasto. Na verdade, eu me inclino com tanto vigor quanto ela.
Seus lábios encontram os meus, de boca aberta e macios. É diferente
do nosso primeiro beijo; é igualmente apaixonado, mas é mais gentil.
Parece que os anjos moldaram nossos lábios um para o outro, como se ela
estivesse respirando vida pura em mim e eu não posso deixar de responder.
Minhas mãos se movem para seu rosto, segurando suas bochechas
macias e sinto as dela vagando pelas minhas costas. Eu a puxo para mais
perto e a beijo com reverência como se estivesse no corredor da morte e ela
fosse minha última refeição, lenta e controladamente, mas ainda ansiando
por mais.
Eu me sinto tão segura dentro deste beijo, como se eu pudesse
desmoronar em um vazio do nada e ela fosse estar lá para me abraçar.
Até que ouço um barulho – não tenho certeza se é o gemido dela ou
sou eu, mas instantaneamente, isso me traz de volta à realidade. Eu me
afasto dela como se ácido puro tivesse queimado minha pele.
Ela parece deslumbrada e confusa. Eu não posso nem dignificar sua
aparência com uma resposta.
Ai, meu Deus. Ai, meu Deus.
Instantaneamente, percebo que estou cometendo um erro, estou
beijando Juliette... de novo!
— Merda! — Eu exclamo, olhando para seus lábios novamente.
Enquanto olho, percebo que preciso sair daqui.
— Adaline…
— Eu tenho que ir. — Eu a interrompo rapidamente enquanto volto
para a cadeira e pego minha bolsa.
Diga algo! Me impeça de ir! Minha mente está cheia de pensamentos,
mas eu os ignoro.
— Que tal me dar aulas…
— Amanhã! — Eu a interrompi novamente, correndo em direção à
porta e saindo de lá.
Eu faço meu caminho para fora de sua casa, ignorando os olhares
curiosos que suas empregadas estão enviando para mim. Assim que saio,
agarro meus joelhos e me inclino como se estivesse tentando recuperar o
fôlego.
Claro, estou tentando recuperá-lo porque aquele diabinho sugou tudo
de mim com seus lábios macios e mãos gentis! Juro que poderia desmaiar
agora com essa pressão latejante que está destruindo minha mente e meu
coração.
Ando em direção a minha moto e coloco uma perna sobre ela,
sentando. Eu preciso sair daqui; não posso mais ficar perto de Juliette ou
vou voltar para dentro e beijá-la de novo, sem sentido.
Antes que eu possa colocar meu capacete, meu telefone toca no meu
bolso. Olho e vejo que tenho uma mensagem. Eu instantaneamente sei
quem é e aperto minha mandíbula em resposta. O que? Já se passaram dois
minutos desde que saí da casa dela.
Pelo menos salve o meu número.
Ok.
Cria de Satanás:
É a Juliette, aliás.
Sim, eu percebi isso.
Algo me diz que as coisas estão prestes a mudar, só não tenho certeza
se é para melhor ou para pior.
Capítulo VINTE E DOIS
Juliette
Ruína da minha existência:
Sessão de tutoria em 20 minutos.
Ok.
Quando pedi a Adaline para me lembrar por mensagem de texto na
próxima vez que tivéssemos uma sessão, não quis dizer vinte minutos antes.
É tão bobo que eu tenho o número dela há anos e esta é uma das
primeiras vezes que trocamos mensagens. Acho que nunca tive um motivo
para enviar uma mensagem de texto para ela antes ou vice-versa.
Então, novamente, eu também não tinha um motivo para beijá-la
ontem, mas ainda consegui fazer isso. Um beijo eu poderia atribuir à
estupidez, mas dois? Nem eu consigo explicar isso, ainda mais quando o
beijo foi tão inesquecível; tão terno, como se estivesse nos braços de um
anjo.
Calma, o quê? Foi apenas um bom beijo. Apenas um beijo, não um
evento que mudou a vida – isso é ridículo.
Não sei o que há de errado comigo. O que está acontecendo comigo?
Primeiro, digo a ela que nosso beijo foi um erro, depois a beijo novamente.
Sinto que estou ficando clinicamente insana.
Tudo o que sei é que a necessidade de beijá-la está viva e está em
meus ossos implorando para ser despertada; para ser solta sobre ela para
que eu possa satisfazer minha fome insaciável.
— E quanto a isso? — Kai pergunta tirando-me dos meus
pensamentos. Ele está segurando minha jaqueta de couro vermelha e
erguendo as sobrancelhas. Desligo o telefone e inspeciono as roupas,
minhas roupas.
Ele faz isso com frequência; vem e rouba minhas jaquetas. Ele diz
que tenho roupas melhores, mas, na verdade, tenho um gosto muito melhor.
No entanto, desta vez é realmente muito diferente, ele está escolhendo
roupas para seu encontro com Victoria hoje.
Finalmente! Demorou apenas cinco anos e ele conseguiu um encontro
com a garota dos seus sonhos.
— Ótimo, combina com o seu cabelo — eu digo a ele fazendo um
falso beijo de chef.
Ele sorri brilhantemente antes de colocar a jaqueta e se olhar no
espelho. Ele mexe no cabelo enquanto faz isso, com as mãos tremendo e a
respiração pesada.
— Você está ótimo — eu digo a ele gentilmente, meu rosto
descansando em minhas palmas enquanto eu deito de bruços na minha
cama.
Ele realmente está. Seu cabelo está bagunçado, mas no estilo de um
astro do rock. Ele está vestindo uma regata preta e seu jeans preto rasgado
da sorte — a roupa perfeita para onde ele a está levando; seu bar de música
favorito.
— Espero que ela pense isso também — diz ele, coçando a nuca
enquanto se vira para mim.
Honestamente, quando ele me ligou na noite da festa e me disse que
tinha beijado Victoria, eu não pude acreditar. Ele me contou tudo sobre
como ela o encontrou tirando uma soneca em um dos quartos e
simplesmente começou a lhe dar água e deixá-lo sóbrio — embora ela
também estivesse bastante bêbada. Então eles foram expulsos e acho que
começaram a conversar e então apenas... se beijaram. Ele até me contou
como eles encontraram Adaline e eu teria pago um bom dinheiro para ver a
reação dela a toda aquela provação.
Kai me dizendo isso me lembrou que eu nem contei a ele sobre como
Adaline e eu nos beijamos... duas vezes.
Não posso contar a ninguém porque senão seria real e não posso
permitir isso. Especialmente a Kai, porque ele se deleitará com isso.
Normalmente eu conto tudo a ele, então é muito difícil esconder um
segredo como esse dele.
— Ela vai. — Eu o asseguro.
— Eu não sei — ele suspira, sentando-se na minha cama. — Ela disse
que o beijo foi um erro, mas estou confuso porque ela me convidou para
sair.
Eu franzo minhas sobrancelhas.
— Isso é bem aleatório. Por que ela diria isso?
Sério? Por que ela diria algo assim sem ser provocada? É óbvio para
qualquer um que ela claramente gosta dele, talvez não tanto quanto ele
gosta dela, mas ela ainda sente algo por ele. Então, de que adianta negar?
Ele dá de ombros.
— Porque eu a pedi em namoro.
Ah, é por isso.
— O quê?! Já? — Eu pergunto em voz alta, meus olhos saltando das
órbitas.
Esse garoto está falando sério? Sim, ele está apaixonado por ela há
anos, mas eles literalmente acabaram de se beijar pela primeira vez, sem
mencionar que ela provavelmente está apavorada com o quão forte ele está
chegando.
Ele parece surpreso com a minha pergunta, então falo de novo, um
pouco mais suave desta vez.
— Talvez ela tenha se assustado e dito que foi um erro porque você
estava indo rápido demais.
— Sim, foi o que Aryan disse. — Ele concorda com a cabeça e
suspira profundamente.
Eu arqueio uma sobrancelha.
— Aryan Oberoi? Desde quando você fala com ele?
— Desde a festa. Eu o vi derrotar as garotas de hóquei no jogo de
bebida, então pedi dicas. Estamos conversando desde então.
— Então, vocês são, tipo, amigos agora? — Eu questiono, confusa.
— Sempre fomos muito amigáveis, mas sim, acho que agora somos
realmente amigos — diz ele, ajeitando o cabelo no espelho novamente.
Uau. Ok. Então ele não só vai a um encontro com Victoria, mas agora
ele também é amigo de Aryan. Ele está lentamente se misturando ao grupo
de amigos de Adaline e não sei como me sentir sobre isso.
E se ele se tornar amigo de Adaline? E se ele perceber o que está
acontecendo entre nós?
Minha cabeça dói.
— O que devo fazer sobre o que Victoria disse? — Ele muda de
assunto, quase choramingando.
— Nada. Apenas aproveite o seu encontro. Não é como se você
tivesse que confessar seu amor eterno por ela. Tenha um pouco de orgulho
— eu digo meio brincando e meio sério.
Não consigo imaginar como seria ser Kai, usar seu coração na manga
sem vergonha. Sinto minhas entranhas revirarem com o fato de que ele é tão
ousado e corajoso e não vê nada de errado nisso. Na verdade, ele se diverte
com isso.
Ele zomba, rindo.
— Orgulho? Por que preciso de orgulho quando a vida é tão curta?
Eu dou a ele um olhar inexpressivo por ser tão dramático, mas ele se
levanta abruptamente e me puxa pelas mãos para que eu fique de pé com
ele.
Ele coloca as mãos nos meus ombros.
— A vida é muito curta para não ser honesto sobre como você se
sente. Eu amo estar perto de Victoria, então vou continuar fazendo isso,
porque por qual razão eu me privaria de algo que claramente gosto?
Ele está olhando profundamente em meus olhos como se estivesse
tentando me enviar uma mensagem mental que eu não estou
compreendendo. Tudo o que sei é que suas palavras estão queimando minha
pele, enviando tremores por cada centímetro do meu corpo.
Ele é tão despreocupado e leve por estar apaixonado por ela.
A vida é muito curta.
— Você é tão brega — eu brinco, tirando as mãos dele de cima de
mim para que eu possa esconder o calor no meu pescoço.
Funciona, porque instantaneamente, ele ri e apenas suspira
sonhadoramente.
— Sim, eu sou. — Ele olha para o relógio e diz: — Preciso ir agora
ou vou me atrasar.
— Vamos — eu digo, caminhando em direção à porta do meu quarto
e abrindo para ele. Ele sai correndo primeiro, depois eu o sigo.
Desço as escadas enquanto ele caminha vigorosamente e posso sentir
a excitação irradiando de seu corpo; ele está praticamente quicando com
energia. Ele provavelmente leva dois segundos para chegar à porta da frente
— é o quão rápido ele está andando.
Ele abre a porta primeiro e eu quase tropeço quando vejo Adaline
parada bem na frente da minha porta, com o punho levantado como se
estivesse prestes a bater.
— Oi, Adaline! — Kai diz alegremente. — Você está aqui para ser
tutora dessa daqui, certo? — Ele aponta a cabeça para mim.
Ela acena sem jeito, evitando contato visual comigo e focando em
Kai.
— Sim. Você vai ao seu encontro com Victoria hoje, certo?
— Sim. — Ele sorri brilhantemente e eu reprimo o desejo de
bagunçar seu cabelo por ser tão adorável.
Adaline sorri, mas não é o sorriso sarcástico de sempre, em vez disso,
ela inclina a cabeça para o lado e lança um sorriso perverso para meu
melhor amigo. Eu já sei o que está por vir, quero dizer, é o que toda garota
faz por sua melhor amiga.
Ela entra na minha casa sem nenhum convite, se aproximando de Kai
que se afasta instintivamente.
— Você sabe que estou estudando para ser cirurgiã, certo?
Ele balança a cabeça lentamente.
— Sim?
Claro que ele sabe, acho que qualquer um em um raio de oito
quilômetros saberia disso, considerando que ela nunca se cala sobre isso.
Seria cativante se não fosse ela a fazê-lo.
Reviro os olhos, mas uma parte de mim está curiosa para ver onde ela
quer chegar com isso.
— Isso significa que sou muito versada quando se trata do corpo
humano… — ela enfia o dedo no peito dele levemente — então, eu sei
exatamente onde tocar em você para realmente doer.
Eu reprimo uma risada de quão nervoso Kai parece agora. Sei que ele
é meu melhor amigo e que deveria protegê-lo, mas ele é um menino grande
e estou gostando muito desse pequeno espetáculo.
— Tenho certeza que sim. — Ele ri trêmulo.
Ela sorri, ameaçadoramente.
— Então, você precisa garantir que Victoria se divirta muito com
você neste encontro, porque se ela não se divertir, você entenderá muito
bem minhas habilidades cirúrgicas.
— Cl-claro. V-você não precisa se preocupar; eu vou cuidar
completamente dela. Quero dizer, ela pode cuidar de si mesma, mas…
— Aproveite seu encontro, Kai. — Ela o interrompe e seu sorriso
mudou completamente; está mais brilhante, a ameaça se foi, pois foi
substituída por diversão.
Ela realmente é o diabo, não é?
— Graças a Deus — ele murmura baixinho antes de se virar para
mim. — Te ligo mais tarde.
Concordo com a cabeça e o puxo para um abraço rápido.
— Não fique nervoso, vá devagar, ok? — Eu sussurro em seu ouvido
encorajadoramente.
Ele sorri e me dá um beijo rápido na bochecha antes de sair correndo,
evitando o contato visual com Adaline. Ela realmente o aterrorizou.
— Isso foi cruel — eu digo, divertida enquanto fecho a porta da
frente.
Estou testando um pouco as águas, para ver se ela vai trazer o beijo à
tona ou agir diferente comigo. Até agora, ela evitou contato visual, então
aposto que ela está pensando no beijo; aposto que ela está se divertindo com
a sensação boa…
Ela dá de ombros, meio sorrindo.
— Eu preciso deixar as coisas claras para ele.
Eu congelo um pouco com seu tom tímido e o jeito que ela está
finalmente olhando nos meus olhos. Ela não parece mais estranha.
Por que ela não está me bombardeando sobre o beijo? Primeiro, ela
sai correndo depois do beijo e agora, está agindo como se nada tivesse
acontecido?
Talvez seja o melhor. Quero dizer, se agirmos normalmente, isso
significa, tecnicamente, que nunca aconteceu, certo?
— Você percebe que para machucá-lo, você teria que passar por mim
primeiro? — Eu digo, cruzando os braços sobre o peito, meio sorrindo.
Eu posso fazer isso; podemos fazer isso — voltar ao normal ou o que
quer que seja normal para nós.
Ela ri presunçosamente.
— Juliette, eu poderia passar por você no meu pior dia.
Eu levanto minhas sobrancelhas.
— Considerando que eu jogo garotas com o dobro do seu tamanho no
ar na maioria dos dias, enquanto você despreza qualquer tipo de atividade
física... duvido muito disso.
Sem mencionar que sou alguns centímetros mais alta que ela. Ela está
em uma forma espetacular, mas isso não significa que ela poderia lutar
contra mim, ela poderia tentar, mas duvido muito que ela conseguiria.
Ela literalmente disse uma vez que não podia participar da aula de
educação física porque não acredita em atividade física forçada e que isso
“vai contra seus direitos”.
Para ser justa, sua desculpa funcionou, principalmente porque o Sr.
Smith estava cansado dela não fazer absolutamente nada durante as aulas.
— Não desprezo toda atividade física — diz ela, com a voz mais
baixa, quase provocativa.
Sinto meus joelhos dobrarem com suas palavras e um calor subindo
pelo meu pescoço, mas antes que eu possa responder, ela está subindo
minhas escadas. Ainda bem que ela não me deixou responder porque acho
que eu não seria capaz.
Eu balanço minha cabeça com esses pensamentos e subo as escadas.
Quando entro no meu quarto, ela já se acomodou sentada na minha cadeira
giratória com o caderno nas mãos.
— Então, com o que vamos começar? — Eu questiono, sentando na
minha cama, de frente para ela. Pego minha bolsa no chão e pego meu
próprio caderno e caneta, pronta para aprender de verdade.
— Seu exame está chegando, então eu revi alguns trabalhos anteriores
e acho que eles vão repetir a seção de evolução. Esse é um dos tópicos que
não abordamos em detalhes, então vamos trabalhar nisso um pouco — ela
diz, mas meus olhos estão focados no jeito que ela está mordendo a ponta
da caneta.
Saia dessa, Juliette.
Preciso me concentrar nos estudos, preciso tirar nota máxima neste
teste, então o que quer que esteja passando pela minha cabeça terá que
esperar pela próxima hora.
— Você sabe o que é evolução? — Ela me pergunta enquanto escreve
em seu caderno.
— Um pouco. Foi quando passamos de macacos para humanos?
— Essencialmente, mas você será questionada sobre a teoria da
evolução. Você sabe o que é isso?
— Bem, você colocou no fichário, algo sobre... seleção natural? —
Eu pergunto em vez de dizer enquanto escrevo “evolução” como um
cabeçalho na minha página.
Ela dá um meio sorriso e não sei por quê.
— Sim, você sabe o que é seleção natural?
— Não —, eu digo, balançando a cabeça e mexendo na minha caneta.
— Ok, é isso que eu vou te ensinar hoje então. — Seu tom gentil me
alivia quando eu nem percebi que precisava de alívio.
Pelo amor de Deus.
***
***
***
Às vezes, esqueço o quão obscenamente popular Juliette é, até em
momentos como este em que as pessoas estão fervilhando ao seu redor.
No momento, estou encostada no meu armário, meus fones de ouvido
na cabeça, como sempre. Eu nem estou fazendo segredo sobre cuidar de
Juliette, não posso. Eu quero que ela me note, olhe para mim, mas ela não
vai.
Ela está apenas conversando com um grupo de meninas e meninos
que, sem dúvida, provavelmente a elogiam sobre como ela é bonita, o que
ela é, mas ainda assim, eles não querem dizer isso quando dizem isso; eles
apenas a adoram. Eles não têm ideia de como ela realmente é bonita; eles
não viram seu rosto quando ela está cheia de prazer ou quando ela está
enchendo a cara de macarrão.
Eles não a viram. Não como eu.
O toque do sinal me tira dos meus pensamentos, essa é a desvantagem
dos fones de ouvido antigos: eles não cancelam o ruído.
Eu suspiro e tiro meus fones de ouvido, colocando-os no meu
armário. Tenho um período livre agora, então provavelmente vou apenas ler
um livro ou…
Virando-me, meus olhos pousam em Juliette, que está caminhando em
direção ao banheiro. Não importa, eu sei exatamente o que vou fazer.
Espero alguns segundos, me firmando, antes de caminhar em direção
ao banheiro. Está me dando flashbacks de uma semana atrás, quando ela
estava com os dedos na minha boceta. Estou literalmente frustrada
sexualmente desde então, porque ela me evita.
Entro no banheiro e ela está em frente aos espelhos, reaplicando o
brilho labial. Instantaneamente, seu olhar encontra o meu e posso ver seu
maxilar cerrado. Eu me aproximo atrás dela e ela não para sua tarefa.
— Oi — eu digo baixinho.
Ela suspira, abaixando o brilho labial.
— O que você quer?
A voz dela. É a primeira vez em uma semana que ouço sua voz
aveludada e isso me estimula de maneiras inimagináveis. Parece uma lufada
de ar fresco depois de ficar presa no subsolo por muito tempo.
— Que você pare de me ignorar — eu respondo sem rodeios e sem
vergonha.
Ela parece surpresa com a minha honestidade e eu não a culpo, eu
também estou surpresa. Normalmente não sou assim, especialmente com
ela.
— Não estou te ignorando, só estou ocupada. — Vem sua réplica
esfarrapada.
— Eu ainda sou sua tutora. Não podemos simplesmente parar…
— Estou ocupada. — Ela me interrompe, repetindo suas palavras.
Nesse ponto, ela se virou para finalmente ficar de frente para mim e é
difícil continuar minha linha de pensamento quando ela parece tão sexy.
Seu cabelo loiro sedoso está preso em um rabo de cavalo perfeito e
penteado e seu uniforme está perfeito como sempre. Hoje ela não está
usando tanta maquiagem como costuma usar, independentemente disso, ela
sempre parece etérea.
— Bem, você está ocupada esta noite? — Eu pergunto.
Diga não. Me diga que não. Eu estou bem se ela continuar negando
qual sua sexualidade, desde que ela finalmente fale comigo de novo.
Podemos apenas voltar a dar aulas particulares. Ela pode se curar da
maneira que quiser e lidar com sua sexualidade em seus próprios termos.
Nunca tive problemas com isso…
— Sim, vou jantar com Adonis, é nosso aniversário.
Sério? Então, enquanto eu estive essencialmente em culpa agonizante
por uma semana inteira, pensando que ela provavelmente está lidando com
tanta ansiedade e homofobia internalizada, ela realmente está perfeitamente
bem? Tão bem que ela vai jantar com o namorado idiota?
— O que vocês dois estão comemorando? Trair um ao outro? —
Minha voz sai mais cortante do que eu gostaria, mas não consigo evitar.
— Ele está satisfeito e eu também — diz ela, despreocupada.
Uma pontada atinge meu peito antes que eu possa pensar direito.
Apenas uma tapa-buraco? Isso é o que eu sou?
Por que você está tão incomodada com isso? Você não acredita em
amor, só em sexo, certo? Ah, desapareça, cérebro! Não tenho tempo para o
seu sarcasmo.
— Entendido — eu digo em um tom cortante e acho que vejo uma
partícula de culpa em seus olhos, mas se vai tão rápido quanto veio.
A maneira como ela disse isso, como se eles estivessem em algum
relacionamento aberto confuso, onde eles têm casos com outras pessoas e
depois voltam para conversar sobre isso; como se eu fosse seu pequeno
experimento ou algo assim.
— O quê? Você está com ciúmes ou algo assim? — Ela ri daquele
jeitinho cruel.
Eu ignoro suas palavras.
— Você tem transado com ele enquanto nós estamos fazendo o que
quer que seja? — Eu faço um gesto entre nós com minhas mãos.
Ciúmes. Por que eu ficaria com ciúmes? Com ciúmes de um homem
que pode levá-la para jantar? Um homem do qual ela não se envergonharia;
alguém com quem ela poderia ser vista em público ou levar para casa para
sua mãe?
Eu não sou ciumenta.
Então, por que preciso tanto que ela diga não?
— Claro que sim — ela diz, franzindo as sobrancelhas como se eu
estivesse sendo ridícula. — Ele é meu namorado. Já disse que não gosto de
garotas. Você é o experimento aqui, não ele.
Uma onda de fúria e mágoa percorre meu corpo com suas palavras.
Sinto meus joelhos fraquejarem, especialmente enquanto ela está aqui, com
o rosto impassível.
Ela ainda está dormindo com ele? Ai, acho que vou vomitar. Talvez
eu devesse sentir pena dela estar dormindo com ele porque ela claramente
não gosta de homens, mas eu não posso.
Talvez uma parte de mim acredite nela quando ela me chama de
experimento. Ela não seria a primeira garota hétero que me usou assim e
provavelmente não será a última.
Eu sou o experimento.
No entanto, ele é o namorado, o cara com quem ela dorme e o cara
cuja mão ela segura na escola sem sentir medo.
— Bem, divirta-se transando com seu namorado. — Eu me inclino
para frente e a vejo engolir em seco. — Certifique-se de aproveitar
especialmente quando ele não fizer você gozar e você passar o resto da
noite se sentindo miserável.
Eu vejo uma onda de dor e ofensa passar pelo rosto dela porque ela
não é rápida o suficiente para esconder desta vez, mas eu não me importo.
Sim, eu errei, mas meus amigos nunca contariam a ninguém, sem
mencionar o fato de que eu pedi desculpas. Então, em vez de ter uma
conversa madura, ela quer jogar tudo isso fora me tratando como merda?
Bem, dane-se isso! Dois podem jogar esse jogo.
Eu saio do banheiro antes que ela tenha a chance de responder.
Claramente, estou com muita raiva para olhar para onde estou indo porque
esbarrei em alguém. Estou pronta para descontar a raiva de Juliette em
quem quer que eu esbarre até eu olhar para cima... É Alex, com seu sorriso
bobo e cabelo loiro bagunçado.
— Oi, Addie, eu estava literalmente procurando por você. — Ele
sorri.
— E aí, Alex? — Eu pergunto cansada, mas tentando o meu melhor
para não brigar com ele porque ele não merece isso, embora ele tenha agido
de forma muito estranha ultimamente. Ele fica me mandando mensagens e
tentando falar comigo entre as aulas. Eu? Eu não dou a mínima para ele
porque tenho estado insanamente ocupada estudando... e pensando em
Juliette.
Ele esfrega as mãos nervosamente.
— Eu tenho uma festa hoje à noite e eu estava pensando... você quer
ir como meu par?
Ah.
Ah, não.
Antes que eu possa responder, uma voz fria surge atrás de mim.
— Quantas vezes eu já te disse que ela não está interessada?
Eu me viro para a direita e lá está Juliette, com as mãos nos quadris
atirando adagas em Alex e instantaneamente, fico furiosa de novo.
— Desde quando você fala por ela? Vocês se odeiam — Alex diz e eu
o aplaudo interiormente por realmente enfrentá-la.
Ele tem razão. Ela não fala por mim, especialmente depois da merda
que ela acabou de fazer.
Atiro adagas com o olhar na direção dela, mas ela não tira os olhos de
Alex, parece que vai despedaçá-lo.
Foi quando a lâmpada finalmente se apagou na minha cabeça; ela
está... com ciúmes. Ai, meu Deus, ela é tão difícil de ler; em um minuto ela
não gosta de garotas, no próximo, ela está com ciúmes? Eu deveria estar
feliz, mas não estou; estou com muita raiva para isso agora.
— Sim, nós nos odiamos, então ignore ela. — Volto meu olhar para
Alex, sorrindo para ele. — Eu adoraria ir como sua acompanhante hoje à
noite, Alex.
Ele ilumina positivamente.
— Sério? Legal! Vejo você hoje à noite então. Pego você às oito?
— Parece bom. — Eu sorrio e ele balança a cabeça timidamente antes
de se virar e ir embora.
Isso é bom, certo? Alex é um cara legal, ele é doce e gentil e também
não é ruim para os olhos. Ele nunca teve medo de ser meu amigo em
público e nunca falaria comigo do jeito que Juliette acabou de falar.
— O que você está fazendo? — Juliette pergunta e eu me viro para
olhá-la.
Ela está respirando pesadamente, seus olhos escurecidos e seu tom
incrivelmente baixo. Quero rir de como ela parece ciumenta, mas não o
faço, porque quero que ela lide com isso.
— Me enchendo de outra pessoa — eu respondo e nem mesmo dou a
ela uma chance de responder antes de sair.
Não sou uma garota idiota que anseia por alguém que a trata como
merda. Eu nem sou capaz de me apaixonar por ninguém, então por que me
importo tanto? Por mais legal que fosse para Juliette não negar, claramente,
isso não vai acontecer tão cedo.
Isso não vem ao caso, preciso lembrar quem sou – quem sempre fui.
Sou Adaline Emery e sou excelente em uma infinidade de coisas, mas no
que sou melhor?
Dar às pessoas o gosto de seu próprio remédio.
***
Alex me buscou. Ele foi educado, abriu minha porta para mim e se
ofereceu para pegar minha jaqueta assim que entramos na festa.
Ele nem sequer olhou para as minhas pernas que estão à mostra por
causa do quão curto é este vestido de cetim preto, que eu tenho que elogiar,
porque eu já estive na posição exata dele antes e olhei... sem vergonha
também.
Ele está sendo um amor e estamos dançando juntos enquanto Aryan,
Kai e Victoria estão em algum lugar fazendo o mesmo.
Então, por que me sinto tão vazia? A festa está absolutamente agitada
e Alex está sendo muito engraçado. Ele é tão bonito, mas não sinto nada,
não quando tudo em que consigo pensar é em Juliette.
Ela está jantando com Adonis agora? Ele sabe o que ela pediria? Ou
pior, ele faz o pedido para ela? Afinal, eles estão juntos há dois anos, tenho
certeza que ele sabe muito sobre ela…
— Posso pegar alguma coisa para você beber? — Alex pergunta,
inclinando-se mais perto para que eu possa ouvi-lo sobre a música.
Eu balanço minha cabeça.
— Eu não bebo.
Juliette sabe disso.
Ele murcha visivelmente com minhas palavras e eu quase posso sentir
o gosto do pedido de desculpas prestes a sair de sua boca agora, então eu o
interrompo trazendo suas mãos para minha cintura e me virando em seus
braços.
Eu o sinto enrijecer, mas ele se recupera rapidamente e envolve o
braço em volta do meu estômago, nós dois dançando.
Eu deveria estar me divertindo agora, não pensando na cria de
Satanás.
Eu não toquei em outra pessoa desde que Juliette e eu nos beijamos
pela primeira vez, o que é chocante porque eu faço sexo com bastante
frequência e em algum lugar desde então, parece que eu simplesmente...
não quero mais.
Continuamos dançando e a música só fica mais alta. Meus olhos
examinam a festa e inadvertidamente vão em direção à entrada da festa e eu
gostaria que não tivessem, porque eu vejo ninguém menos que Juliette
entrando... com Adonis.
Acho que o jantar não durou muito.
Ela parece tão comestível como sempre, usando um vestido elástico
vermelho escuro que só posso presumir que seja Prada? Seus peitos caem
tão bem naquele vestido quanto suas longas pernas que estão à mostra.
Eu a vejo caminhando em direção à pista de dança improvisada e seus
olhos encontram os meus. Instantaneamente, uma onda de energia percorre
meu corpo, todo aquele vazio desapareceu no abismo e agora, tudo o que
sinto é pura fúria. Como ela ousa entrar nessa festa com seu namorado
estúpido?
Mais importante, como ela ousa andar alguns metros na minha frente,
dançando com Adonis? Ela parece furiosa ao ver Alex atrás de mim, mas
ela ainda está dançando com Adonis, espelhando meus movimentos e
envolvendo os braços dele em volta da cintura dela enquanto ela me encara.
Este é o jogo que ela quer jogar agora? Ok. vou morder a isca; eu
sempre mordo quando se trata dela.
— Você é muito gostosa. — Sinto Alex resmungando em meu
pescoço e aproveito a oportunidade para esfregar minha bunda nele.
Ele geme baixinho, mas não consigo me concentrar nisso agora,
apenas mantenho meus olhos em Juliette e continuo dançando com ele.
Come Over da Jorja Smith começa a explodir nos alto-falantes e me
sinto pronta para dançar. Sinto a raiva correndo em minhas veias enquanto
observo Juliette se esfregando em Adonis e ele está gostando de tudo. Eu só
quero matá-lo por isso, ela é minha!
Ela é? Com as mãos dele sobre ela?
Eu trabalho com minha fúria movendo as mãos de Alex para cima e
para baixo em meu corpo até que ele está segurando meus seios e sinto sua
dureza crescendo atrás de mim. A escuridão abduz o olhar de Juliette. Posso
sentir a fúria irradiando dela, mas me sinto bem demais para parar.
Eu adoro incomodá-la.
Ele começa a beijar meu pescoço lentamente, provavelmente
verificando se eu quero parar, mas eu não paro, não enquanto ela está me
observando. Eu gemo de prazer, realmente curtindo a sensação, ele não é
tão macio quanto Juliette, mas ele também é bom nisso, afinal sou apenas
humana.
Uma humana que não faz sexo há uma semana.
Continuo dançando com ele, sentindo a música zumbindo em mim e
meu corpo esquentando. Neste ponto, assistir Juliette é uma agonia, meu
corpo parece que pode explodir de desejo e raiva.
De repente, minha visão de Juliette é bloqueada por uma figura que
aparece na minha frente. Uma figura muito sexy. Mais baixa do que eu, pele
negra linda e um sorriso atrevido. Isso não me deixa menos irritada com a
intrusão.
— Posso me juntar? — A garota pergunta.
Ela é ousada. Ela também não é de Richmond, eu a teria reconhecido.
Além disso, ninguém viria até mim se fosse de Richmond, exceto Alex.
Seu olhar é quase provocador e predatório ao mesmo tempo e não
consigo deixar de olhá-la. Eu viro minha cabeça para Alex perguntando se
ele está bem com isso, usando meus olhos.
— O que você quiser, eu estou dentro — ele me diz atrevidamente e
eu sorrio.
— Vem — digo a ela, retraindo minhas mãos de Alex e puxando-a
para mais perto do meu corpo.
Minhas mãos se movem para a cintura dela e as mãos dela estão em
volta do meu pescoço enquanto Alex ainda está atrás de mim, envolvendo
as mãos na minha cintura. Começa meio rígida, mas logo nós três nos
fundimos em uma dança, como um trio.
Eu descanso minha cabeça na curva do rosto da garota e meus olhos
vagam de volta para Juliette, que parece... furiosa. Seu rosto está vermelho
e, a essa altura, ela parou de dançar com Adonis. Meu primeiro instinto é
parar o que quer que seja e correr para ela... até que eu a veja beijar Adonis.
Ela está de costas para mim e eu sinto que poderia desmaiar com o
enjôo que sinto agora. Sinto meu peito doer, como se alguém tivesse
acabado de me dar uma facada no coração. Dane-se isso.
Instantaneamente, jogo o jogo dela, plantando meus lábios na garota
com quem estou dançando no momento – ela não perde tempo em retribuir
e ouço Alex choramingando atrás de nós.
— Vamos encontrar um quarto — a garota murmura contra meus
lábios e ela se afasta de mim, inclinando-se e beijando Alex também.
Ele parece estupefato e em transe, mas acima de tudo, ele parece
excitado. Ele acena com a cabeça instantaneamente e eu me pego fazendo o
mesmo, meio falsamente empolgada e meio empolgada de verdade.
Quer dizer, vamos lá, um trio com duas pessoas gostosas? Que boa
maneira de irritar Juliette. Não! Não me importo com isso, só me preocupo
em seguir em frente com o que quer que tenhamos.
Nós três corremos para as escadas entre os incontáveis corpos
bêbados e irritantes. Subimos as escadas, nos tocando e nos beijando até
chegarmos ao quarto dele.
A vantagem da festa ser na mansão de Alex é que temos um quarto
grande só para nós e ninguém pode nos expulsar.
Quando entramos no quarto, imediatamente caio na cama e sinto a
menina, cujo nome ainda não sei, subir em cima de mim.
— Eu quero provar você — ela me diz em um tom rouco.
— Sim — eu gemo, levantando meu vestido e observando enquanto
ela vai para o trabalho, puxando minha calcinha para o lado. Sua língua está
vazia; não é agonizante e não parece uma tortura quente como a de Juliette,
mas tento esquecer isso.
Chamo Alex com meus dedos e ele vem para o lado da cama
instantaneamente, seu jeans completamente esticado por sua protuberância.
Eu olho em seus olhos para confirmação enquanto passo minha mão sobre
sua calça jeans e ele acena com a cabeça.
— Me toque — ele praticamente choraminga, abrindo o zíper de sua
calça jeans e deixando seu pênis saltar livre.
Ele é grande; talvez cerca de 20 centímetros. Imediatamente começo a
correr minha mão para cima e para baixo em seu pênis e finjo um gemido,
sentindo a garota chupar meu clitóris.
Imagino que seja a língua de Juliette dentro de mim e que consegue
enviar uma onda de calor em meu estômago, mas ainda não é o suficiente.
Então, eu decido esquecer isso envolvendo o pau de Alex na minha boca,
mas antes que eu possa, a porta se abre.
É Juliette. Seu rosto e olhos arregalados enquanto ela capta a imagem
de nós. Seus punhos estão cerrados ao lado do corpo e eu literalmente
nunca a vi parecendo tão... perigosa antes.
Capítulo TRINTA E TRÊS
Juliette
Quente. Fogo. Fúria. Está correndo por todas as veias do meu
corpo agora. Estou com febre? Ou eu apenas tenho vontade de matar
alguém agora? Até expirar é uma missão neste momento, porque não
consigo respirar, não quando vejo o que está à minha frente.
Adaline… na cama de Alex, com uma garota entre as pernas.
Bem, a garota está de pé. Alex também está... fechado. Ambos
recuaram instantaneamente quando entrei na sala. Eles são espertos, eu
admito isso; porque se eu visse as mãos de alguém perto de Adaline, eu
teria que cortá-las. Não, não estou exagerando, já quebrei a mão de alguém
antes por tocá-la. Talvez não seja a mesma coisa, mas ainda assim, as
consequências seriam as mesmas.
— Que porra! — Alex está exausto, considerando o rubor em suas
bochechas.
— Vocês dois — eu digo, meu tom perigosamente calmo enquanto
gesticulo com minhas mãos para as duas pessoas que vou quebrar muito em
breve. — Para fora!
Não consigo nem olhar para Adaline agora, não consigo encontrar
seus olhos. Estou apenas focada em acalmar meu batimento cardíaco
errático antes de fazer algo tão obscenamente violento que assuste Adaline
para sempre.
— Este é o meu quarto — Alex gagueja em resposta e sua fachada
confiante é risível.
Ele literalmente ainda está com as mãos sobre o pau fechado, de tão
envergonhado que ele está por eu ter pego ele. Ele não deveria se gabar, eu
prefiro jogar alvejante nos olhos em vez de ver o pau dele de novo.
O mesmo idiota patético que Adaline estava prestes a…
Eu cerro meus punhos, minhas unhas cravando em minha pele com
força suficiente para tirar sangue enquanto fecho meus olhos
momentaneamente para recuperar meus sentidos.
Minha. Minha. Minha. Minha.
— Quem é? — Meus olhos se abrem ao som da voz da garota
aleatória.
Ela parece genuinamente confusa e eu também, considerando que não
tenho ideia de quem ela é. Tudo o que sei é que fiquei com raiva quando
Adaline estava dançando com Alex, então ela foi e me deixou furiosa ao se
juntar e... beijá-la.
Às vezes, há necessidade de violência. Eu ignoro a pergunta da garota
sem nome, assim como todos os outros na sala. Talvez eles estejam muito
preocupados olhando para mim enquanto eu ando pelo grande quarto de
Alex.
Eu encontro o que estou procurando empoleirado em seu baú marrom
escuro – seu bastão de Lacrosse. Que idiota pretensioso, eu sei que ele é o
capitão do time de Lacrosse, mas sério? Sou a capitã da equipe de líderes de
torcida, mas guardo pompons no meu quarto? Não.
Talvez eu devesse agradecê-lo por ser tão criança, porque o bastão
parece bastante caseiro em minhas mãos, especialmente quando eu o viro
para que a parte da rede fique voltada para o chão e a parte dura fique
acessível para mim.
Eu nem me incomodo em virar o rosto para ninguém. Posso ouvir
vozes, mas não consigo decifrar as palavras, tudo o que posso fazer é
começar a balançar.
As molduras de família dele (por convidá-la para ser sua
acompanhante nesta festa), algumas garrafas de cerveja em sua mesa (por
dançar com ela). Qualquer coisa que pareça quebrável está sendo esmagada
(isso é por colocar as mãos nela).
Salas de raiva não são nada comparadas a isso. Sinto pura adrenalina
correndo por mim enquanto destruo o quarto dele, enquanto ela assiste.
— Vou dar o fora daqui. — Eu ouço a garota sem nome dizer
preocupada e ela sai correndo do cômodo, mas eu não paro meu dano.
— Que porra! — Alex grita pela segunda vez e tenta intervir. Seu
corpo vindo na minha frente, seus olhos arregalados.
Eu zombo em seu rosto e ele se encolhe, protegendo-se de medo (isso
é por colocar seu pau perto dela). Eu me deleito com a sensação dele estar
apavorado – com tanto medo de mim.
Ele deveria estar.
Ele logo se recupera de seu medo. Desta vez, ele apenas parece
exausto.
— Juliette, pare com isso.
Eu me aproximo dele, reprimindo o desejo de tirar sua cabeça do
corpo.
— Então dê o fora.
É o quarto dele, a casa dele. Ele não deveria me ouvir, mas seus olhos
baixam, um suspiro pesado saindo de seu corpo e ele aperta as têmporas.
Antes que eu perceba, ele se afasta pateticamente, batendo a porta.
Não se trata de eu destruir o quarto dele, ele poderia facilmente substituir
tudo isso e nem prejudicaria a conta de seus pais, também não é sobre eu
segurar o bastão dele. Se ele me achasse perigosa, não me deixaria aqui
com Adaline. É sobre poder. Ele sabe que eu tenho isso, que eu poderia me
infiltrar profundamente em cada fenda de sua vida e destruí-lo.
Meu olhar volta para Adaline e deixo o taco escorregar das minhas
mãos e caindo no chão ao vê-la.
Ela está apenas apoiada em suas mãos, sorrindo para mim, seu vestido
delicioso ainda está levantado, suas pernas incríveis à mostra, mas ela ainda
está de calcinha.
A autoridade preenche todos os meus sentidos.
— Abaixe a porra do seu vestido.
— Acho que não — ela retruca como uma pirralha, nem um pouco
ameaçada pelo brilho que tenho certeza de que estou atirando em sua
direção agora.
Ela parece tão bem agora – muito bem –, tão malcriada e
completamente imperturbável como se eu não tivesse me comportado como
uma lunática. Isso só me impulsiona ainda mais em minha raiva.
— Que porra você pensa que estava fazendo aqui? — Eu pergunto,
referindo-me ao que estava prestes a acontecer antes de eu entrar. Embora
eu saiba exatamente o que iria acontecer, eu quero ouvir isso dela.
— Bem… — ela se senta e finalmente puxa o vestido para baixo —,
eu estava prestes a fazer sexo a três antes de você entrar…
— Duas pessoas, sério?
Ela dá de ombros com aquele pequeno brilho que está sempre em
seus olhos.
— Sou uma superdotada.
Minha mandíbula aperta com tanta força que estou surpresa por não
quebrar. Superdotada. Isso mesmo, é exatamente isso que ela é.
Eu danço com Adonis e, de alguma forma, ela quase consegue dormir
com duas pessoas? Eu nem toquei nele no jantar, fiquei o tempo todo
pensando nela!
— Eu vou destruí-lo, assim como ela. Você sabe disso, não sabe? —
Meu tom é sombrio e o mais calculista possível, porque estou sendo
brutalmente honesta.
Eu provavelmente deveria me sentir mal por pensar assim, Alex é um
cara legal, não é? Bem, eu não me importo! Ele tocou em Adaline, ninguém
a toca.
Quanto à garota, vou descobrir quem ela é. Ela provavelmente terá o
mesmo destino de Alex. Talvez até pior, considerando que sua língua estava
dentro de Adaline... ah, definitivamente pior.
— Quer saber de uma coisa? Você é uma maldita psicopata? Sim. Eu
tenho uma boa ideia — ela retruca com um revirar de olhos e faz um lento
caminho direto para a porta.
Eu observo seus pés para ter certeza de que ela não tropeça em
nenhum dos vidros quebrados ou qualquer outra coisa. Felizmente, ela está
usando sapatos, gostaria que Alex e aquela garota não estivessem.
Eu intercepto Adaline e a viro, efetivamente prendendo seus ombros
contra a porta. Minhas mãos não são ásperas, mas também não são gentis.
Eu olho profundamente em seus olhos.
— Eles não podem tocar em você. Ninguém pode tocar em você.
Ninguém. Ninguém, só eu. Talvez eu seja uma psicopata abertamente
possessiva, mas não me importo. Sempre me senti assim, desde que pus os
olhos em Adaline pela primeira vez, sabia que ela não pertenceria a mais
ninguém além de mim.
Ela me empurra para longe de seu corpo com força e sua respiração é
difícil, espelhando a minha.
— Ou o quê? Você vai quebrar a mão de Alex como fez com Stacey?
— Quando você vai parar de trazer isso à tona…
— Não importa. — Ela revira os olhos e geme simultaneamente. — O
que importa é que você está aqui agindo como se pudesse ditar com quem
eu vou dormir quando você ainda está dormindo com aquele maldito idiota!
A raiva ainda está fervendo em meu peito, mas é preciso abrir espaço
para a culpa que me supera agora, especialmente com a aparência dos olhos
dela, exatamente como estavam no banheiro esta manhã. Eu odiava isso.
Foi tudo em que pensei quando jantei com Adonis. Eu o ignorei a
noite toda, todos os seus presentes e carinho. Tudo em que eu conseguia
pensar era em Adaline, tudo em que sempre penso é nela.
— Eu menti — eu admito baixinho —, eu não dormi com ele. Não
desde o nosso primeiro beijo.
Eu menti para ela. Obviamente não dormi com Adonis, mal consegui
tocá-lo desde que Adaline e eu nos aproximamos. Como poderia quando a
única pessoa que quero tocar é ela?
Eu tive que mentir. Eu tinha que fazer qualquer coisa para afastá-la e
isso incluía ignorá-la por uma semana. Eu mal falei com Kai esta semana,
ou qualquer pessoa. Eu estava apavorada, envergonhada até, sobre como eu
berrei na frente dela.
Eu estava em um estado de paranóia completa e absoluta que alguém
descobriria através de seus amigos sobre nós. Isso não importa agora, neste
momento, quero tatuar meu nome na testa dela para que ninguém chegue
perto dela.
Seus olhos se arregalam um pouco, mas ela se recupera rapidamente.
— Eu não ligo. Agora me deixa em paz. — Seu tom é frio, mas há um
toque subjacente de tremor que posso sentir.
Ela se importa. Eu sei que sim. Só está me deixando com mais raiva
ela fingir que não. Por que ela quer tanto que eu a deixe sozinha? A
paranóia ecoa em minha mente.
— Assim você pode voltar lá e transar com eles? — Eu retruco
furiosamente, cerrando meus punhos.
— Exatamente.
— Não me teste, Adaline.
— Você não me assusta, Juliette.
As mesmas palavras que dissemos uma à outra no vestiário alguns
meses atrás, mas agora os papéis foram invertidos e eu absolutamente odeio
isso. Eu posso sentir meu corpo ficando cada vez mais quente. Por mais
zangada que eu esteja, não consigo parar de encará-la.
Adaline também não para com suas palavras; eu posso praticamente
sentir a malícia escorrendo dela enquanto ela cruza os braços sobre o
estômago.
— Por que você se importa? Você é hétero, deveria estar feliz, certo?
Sou apenas seu experimento. — Ela cospe asperamente. — Não se
preocupe, isso não significa que temos que parar de fazer sexo, apenas
significa que você terá que ficar em uma lista de espera.
Tão tímida, tão maliciosamente vil. Seu cabelo escuro está
ligeiramente bagunçado e seu batom marrom borrado e isso me deixa
enjoada e... excitada? Isso não a livra da minha raiva, no entanto. Não,
apenas multiplica dez vezes.
Lista de espera. Não demoraria muito para mudar isso para vários
obituários.
— Pare com isso. — Meu tom baixo não passa de um aviso, porque
ela está testando seriamente meus últimos nervos agora. Eu nunca deveria
ter dito que ela era um experimento, eu sei disso e me arrependo. Eu sou tão
idiota às vezes. Ela nunca poderia ser minha experiência, nunca.
Eu só sabia que essa seria a palavra a ser usada para fazê-la me deixar
em paz. Ela tentou de tudo para que eu falasse com ela durante toda a
semana e eu precisava que ela fosse embora... antes que eu desistisse.
— Ou o quê? — Seus olhos semicerrados estão me provocando.
— Deixa eu te levar para casa — digo mudando de assunto,
desesperada para tirá-la daqui.
Eu conheço Adaline. Se eu deixá-la aqui, ela dormirá com outra
pessoa, talvez outra pessoa que não seja Alex. Espero que seja apenas para
me incomodar e não porque ela realmente... quer.
— Não.
Claro. Esta é Adaline Emery. Ela não é como todo mundo. Ela não
vai me adorar no meu altar e aceitar todas as minhas exigências. Não
importa se eu a ameaço, a repreendo, ela sempre fará o que quiser.
Eu não poderia forçá-la, não sou capaz disso. Isso não torna sua não
conformidade menos irritante.
— Por que você está sendo tão difícil agora? — Eu gemo, passando a
mão pelo meu cabelo.
Ela zomba alto como se minhas palavras fossem ridículas.
— Estou sendo difícil? Eu? Isso é tão bom vindo de você.
— Sinto muito, ok? Sinto muito, Addie. Eu não quis dizer o que eu
disse… — Eu me aproximo dela e faço uma tentativa de agarrar seu braço.
— Apenas venha comigo…
Ela se afasta do meu toque como se o ácido a tivesse ralado e eu sinto
meu coração torcer.
— Porra, não me toque. Deus, eu te odeio para caralho.
— Por quê? Porque arruinei suas chances de um trisal medíocre? —
Eu rebato nela, ainda sentindo a dor dela recusando meu toque.
Tão zangada. Tão furiosa e por quê? Tudo porque eu interrompi o que
ela estava prestes a fazer? Ela deveria estar me agradecendo.
Eu queria matar os dois, mas não matei. Eu me abstive de ficar com
ela e discutir isso, quando tudo que eu realmente quero fazer é voltar lá e
torcer o pescoço deles.
Eu também quero dobrar Adaline e espancá-la para sempre por me
testar assim, então eu quero terminar fodendo-a com tanta força que ela
nunca mais pensará em deixar alguém tocá-la novamente.
— Não, eu te odeio porque você é egoísta para caralho! — Ela cutuca
meu peito com o dedo.
Deveria doer, meio que dói, mas, acima de tudo, é emocionante. Ela
está me tocando, mesmo que seja para me machucar e me enfurecer, ela
ainda está me tocando.
— Egoísta?
Claro, sou egoísta, especialmente quando se trata dela.
— Sim, egoísta! — ela ecoa, seu rosto mais vermelho do que nunca e
antes que eu possa falar, ela continua. — Você não quer admitir que gosta
de garotas, mas você senta aqui e age como se fosse minha dona!
Não consigo respirar, não quando ela fala e principalmente porque ela
não para. Eu não quero processar suas palavras. Mal consegui pensar nas
palavras que ela disse na semana passada.
— Eu te odeio porque você é uma filha da puta miserável que adora
derrubar as pessoas! Eu te odeio porque você me intimidou durante a maior
parte da minha vida e, por algum motivo, ainda estou aqui. Eu odeio que
você esteja em uma negação mais profunda do que você seria capaz de
entender e eu odeio o quanto isso está me afetando. Eu odeio me sentir
culpada por isso... eu te odeio!
— Ah, é? Bem, eu te odeio mais!
— Eu aposto que você odeia. — Ela ri sombriamente, balançando a
cabeça.
Eu me encontro andando para mais perto dela e ela instintivamente se
afasta. A adrenalina está tomando conta do meu corpo até que ela está presa
contra a parede mais uma vez, só que eu não a toco, apenas a minha voz.
— Eu odeio como você pensa que é a pessoa mais inteligente da sala.
Eu odeio que você geralmente seja mesmo. Eu odeio o quão leal você é, o
quão teimosa você é, o quão desagradável e grosseira você é! — Sinto
minha respiração ficando cada vez mais pesada, meus olhos disparando de
seus lábios para seus olhos rapidamente. — Eu odeio como fico com raiva
quando você dá a alguém um pingo de sua atenção… — Minha voz alta
agora está reduzida a um sussurro superficial. — Acima de tudo, odeio
como é agonizante estar perto de você.
— Agonizante? — Ela respira suavemente.
Cada olhar. Cada toque. Cada suspiro. Cada gemido. Toda vez que
Adaline simplesmente existe. Nunca senti uma tortura tão intensa como esta
em toda a minha vida.
— Sim, é pura agonia querer estar perto de você a cada segundo de
cada dia; ter que fingir que você não é nada para mim. É uma tortura ter
que ver você com outras pessoas… — Eu me inclino para mais perto,
apenas alguns centímetros entre nós. — Porque nunca tive o hábito de
compartilhar, amor, você é minha, toda minha.
Sendo filha única, nunca tive que compartilhar, nunca. Eu não
compartilho nada, especialmente coisas ou pessoas que eu realmente
valorizo.
Adaline Emery é minha. A mente dela. O rosto dela. Seu corpo. Cada
pensamento, cada desejo e cada medo são meus. Tudo dela, em todos os
momentos, tudo me pertence e só a mim. Ela pode ser sua própria pessoa,
mas ela é minha pessoa também.
A minha garota.
Adaline treme contra mim, ofegante tanto quanto eu, talvez até mais
forte. Posso sentir a decepção e o desejo irradiando dela e espero
desesperadamente que ela ceda a isso.
Ela respira trêmula.
— Eu te desprezo com cada fibra do meu ser.
Ela fica tão bonita assim: me odiando. Tão linda que me enfurece e
bato as mãos na porta, ela não se mexe, nem por um segundo.
— Me odeie, me despreze, me deteste. Eu não me importo com o que
você sente, contanto que você só sinta isso por mim.
Eu vou pegar o que ela me der. Aguento seu aborrecimento, sua
indignação, sua fúria e aguento tudo com um sorriso no rosto. Desde que
ela só me dê, porque acho que não consigo mais respirar sem ela.
Adaline engasga baixinho e eu posso sentir a guerra interna dela
consigo mesma em sua linda cabecinha, seus olhos constantemente
piscando de meus lábios de volta para meus olhos e estou espelhando seus
movimentos.
— Me leva para casa agora... antes que eu mude de ideia.
Capítulo TRINTA E QUATRO
Juliette
A raiva alimenta a maneira como Adaline e eu nos comportamos
uma com a outra. Acho que sempre foi assim, independentemente da
suavidade subjacente e da intimidade contra a qual temos lutado
ultimamente. A principal tendência sempre foi a raiva, até a fúria – não há
como negar o quão tóxico isso é, mas não me importo, é fascinante.
Mesmo depois de jogar meus sentimentos possessivos na frente dela,
a raiva ainda estava proeminente no ar, especialmente durante a viagem de
carro até a casa dela. Estava tudo completamente silencioso, não de uma
forma desconfortável, mas sim tensa.
Eu não conseguia parar de pensar em como ela estava prestes a fazer
sexo com outras pessoas e presumo que ela ainda estava pensando no que
eu disse a ela esta manhã porque ela parecia furiosa, especialmente quando
praticamente me arrastou para fora do meu carro e para o quarto dela.
Felizmente, ela me disse que seu irmão não estaria em casa por um longo
tempo.
Agora nós dois estamos aqui, uma de frente para a outra e, nos
últimos dez minutos, discutimos sobre... as cintas.
— Eu não preciso ser mimada! Já fizemos sexo antes e eu fui ótima
nisso. — Tento não soar muito arrogante, mas não consigo evitar.
Alguns momentos antes eu havia pedido a Adaline que me trouxesse
sua caixa cheia de brinquedos. Eu só tenho que dizer... uau. Ela realmente
tem muitos brinquedos… de todas as formas e cores… foi meio
intimidante. Eu tive que me forçar a não pensar nela usando qualquer um
dos brinquedos em outras pessoas.
Acabei escolhendo um dos brinquedos embalados. Tem cerca de 22
centímetros, preto como carvão e pontas duplas, o que deveria me assustar,
mas não assusta.
O que posso dizer? Eu gosto de mergulhar de cabeça quando se trata
de coisas novas.
É exatamente por isso que eu estava prestes a começar a prendê-lo em
mim até que Adaline me parou, argumentando que eu não estava pronta
para isso e que ela deveria ser a única a usá-lo. Ela realmente ainda deve
estar furiosa com o que eu disse a ela esta manhã, porque em vez de
explicar gentilmente, ela praticamente riu na minha cara.
— Isso é diferente, você só foi fodida antes, não fodeu — ela retruca,
com as mãos em seus deliciosos quadris.
Acho que parte dela está um pouco preocupada, mas acho que ela está
apenas me irritando de propósito, me deixando nervosa.
Não me interpretem mal, é claro que eu não me importaria de Adaline
ser a única a usar a cinta. Quem em sã consciência ficaria zangada com
isso? No entanto, quero usá-la desta vez, principalmente porque quero
desesperadamente dar a ela o melhor sexo de sua vida.
— Apenas cale a boca e me ajude a colocá-la — resmungo, irritada.
Ela parece prestes a abrir a boca novamente em protesto, mas antes
que ela possa, começo a tirar meu vestido. Isso cala sua boquinha petulante
muito rapidamente.
Eu me deleito com a maneira como seus olhos absorvem meu corpo
enquanto começo a descartar minha calcinha e sutiã, o mais rápido que
posso. Ela está praticamente salivando e isso só está me deixando mais
molhada do que já estou.
Eu a chamo com o dedo e ela vem diligentemente em minha direção,
com a cinta na mão. Ela suspira pesadamente como se estivesse tão
aborrecida por eu estar conseguindo o que quero, ou melhor, irritada por ela
gostar tanto disso.
Ela segura a alça e eu entro nela, colocando minhas mãos em seus
ombros para me equilibrar. Meus olhos a observam enquanto ela aperta o
brinquedo em volta dos meus quadris.
Está tão quente aqui.
— Aqui, isso vai dentro de você. — Ela gesticula para o lado menor
do brinquedo, olhando para mim em busca de confirmação e eu aceno com
entusiasmo. Ela lentamente coloca a parte menor dentro de mim e eu
suspiro levemente, sentindo meu aperto se ajustar ao brinquedo lentamente.
— Porra — murmuro baixinho, e ela morde o lábio.
Estou totalmente segura dentro da cinta e, por algum motivo, não
estou nervosa nenhum pouco. Mal posso esperar para sentir esse brinquedo
balançando na minha boceta enquanto fodo Adaline com ele.
Claramente, ela também não pode, porque ela se inclina para frente
para envolver seus lábios nos meus, mas eu recuo instantaneamente. Eu
quero beijá-la, eu sempre quero, mas agora eu quero fazer outra coisa.
— O que foi?
Pare de fazer beicinho, isso faz coisas comigo.
— Alex. — O nome sai da minha boca com desdém e ela levanta uma
sobrancelha para que eu continue. — Você ia... chupar o pau dele esta
noite?
Sinto bile e fúria subindo pela minha garganta só de pensar nisso,
especialmente quando Adaline está na minha frente com um sorriso
malicioso no rosto.
— Sim.
Inspire. Expire.
Eu posso ver em seus olhos que ela está tentando me provocar e está
funcionando. Não consigo nem decifrar a pontada que bate em meu peito
porque a fúria pura que sacode meus ossos dói mais. Eu deveria sair deste
quarto agora.
Eu deveria sair daqui e encontrar Alex... caçá-lo. Eu deveria arrancar
seus olhos para que ele não seja capaz de colocá-los em Adaline nunca
mais, quebrar suas mãos para que ele nunca mais possa tocá-la. Eu deveria
destruí-lo.
Em vez disso, olho para o brinquedo preso a mim e de volta para
Adaline, que está apenas me olhando com aquele sorriso ainda no rosto.
— Que tal você ficar de joelhos e chupar o meu?
Se não posso matar Alex, certamente posso punir Adaline. Não devoe
ser confundido com um pedido, estou ordenando que ela faça algo e no
estilo Adaline usual... ela está sendo uma pirralha.
Ela cantarola em tom de zombaria.
— Acho que não é tão grande quanto o dele, vou passar.
Como se fosse um reflexo, minhas mãos instantaneamente a
empurram de joelhos, como se ela fosse a pessoa mais leve do mundo. Ela
engasga olhando para mim em choque e intriga, mas ela não se move uma
única polegada.
— Cale a boca. — Eu cerro as palavras, olhando para ela. — Se você
mencioná-lo novamente, vou arruiná-lo.
Ela apenas sorri para mim.
— Quem? Alex…
Estendo minha mão instantaneamente envolvendo-a em seu pescoço
ágil e mais uma vez ela engasga em estado de choque. Eu a sinto inclinar-se
ao meu toque e agarro seu pescoço um pouco mais apertado. Isso parece tão
perfeito, como se minhas mãos fossem feitas para isso.
— Palavra segura? — Eu pergunto seriamente, correndo meus dedos
para cima e para baixo em seu pescoço.
Sua expressão me diz que ela, com certeza, está se divertindo com
isso e ela parece tão bem assim; minhas mãos em volta de seu lindo
pescoço, de joelhos para mim. Eu nunca soube que uma visão como essa
poderia me deixar tão insuportavelmente molhada, mas deixou.
— Estetoscópio.
Reviro os olhos para sua resposta adorável e um tanto óbvia.
— Claro que sim.
Ela mostra a língua para mim zombeteiramente antes de perguntar:
— E a sua?
— Pare. — Eu sou uma garota simples.
— Muito criativo.
— Por que você não usa essa boquinha malcriada para algo melhor?
— Digo puxando-a para mais perto pelo pescoço, para a ponta do meu... por
falta de um termo melhor... pau.
— Por que você não me obriga, porra. — Ela range de volta, e eu
vejo aquele fogo em seus olhos.
— Abre essa porra dessa boca. — Eu ordeno com raiva e aperto sua
garganta com mais força e relutantemente sua boca se abre. — Toque na
minha coxa se quiser que eu pare — eu digo gentilmente e ela apenas acena
com a cabeça em resposta, um sorriso gentil puxando sua boca aberta.
Essa é a última vez que ocorre gentileza para qualquer uma de nós,
porque eu não perco tempo em forçar meu pau em sua garganta e ela não
perde tempo chupando.
— Porra — eu gemo, observando sua boquinha bonita envolver esse
pau.
Deve ser por isso que os homens são tão obcecados por boquetes. Não
me interpretem mal, devorar minha boceta é muito mais agradável, mas isso
ainda é fascinante. Pode ser o fato de que toda vez que ela chupa, o
brinquedo empurra o outro lado para dentro de mim, mais fundo no meu
ponto G.
Ou talvez seja o fato de ela estar de joelhos por mim. Seus sedutores
olhos verdes olhando para mim enquanto sua boca está em volta de mim.
Ela é tão patética, tão inegavelmente sedutora. Ela sabe que eu realmente
não consigo sentir nada, mas ao mesmo tempo, ela está agindo como se eu
pudesse e isso me faz sentir tudo.
O pensamento de que ela estava prestes a fazer isso por outra pessoa
envia uma espiral de ácido pela minha garganta e corpo.
— Este é o único pau que você vai ter nessa boquinha bonita — eu
gemo asperamente e meu corpo se move no piloto automático depois disso.
Eu agarro a parte de trás de seu cabelo e começo a foder seu rosto,
entrando e saindo de sua boca com meu pau e ela toma cada centímetro. Eu
nem tenho certeza de como sei fazer isso, mas é apenas puro instinto neste
momento.
— Porra, engasgue com isso — eu gemo beligerantemente, minhas
mãos segurando seu cabelo com mais força enquanto eu empurro mais forte
em sua boca.
É tão sexy, tão quente. Seus olhos se encheram de lágrimas e saliva
sai involuntariamente de sua boca. Eu me sinto ficando cada vez mais
molhada enquanto sinto o brinquedo esfregando contra meu clitóris. Mesmo
que não estivesse, eu ainda estaria faminta porque Adaline está me
deixando louca.
Ela sempre me deixa louca.
— Vadia do caralho. — Eu a degrado, enquanto ela engole
profundamente meu pau.
Ela responde movendo as mãos para minhas coxas nuas e cravando as
unhas em mim com tanta força que é o suficiente para tirar sangue e eu
sorrio para ela.
Ela é tão perfeita.
— Você fica tão bonita assim… — murmuro para sua boca cheia de
pau — com meu pau na sua boca.
Por mais incitante que seja meu tom, quero dizer cada palavra. Ela
parece incrivelmente sexy assim, especialmente com a boca cheia, então ela
não pode responder para mim como uma pirralha.
Suas sobrancelhas se franzem em aborrecimento e eu já posso ouvir
as incontáveis respostas que ela provavelmente já planejou em sua cabeça.
Pena que não seremos capazes de ouvi-los, pois minhas estocadas estão se
tornando cada vez mais erráticas.
Estou tão perto, tão perto de gozar com ela fazendo isso e é patético.
Ainda não quero gozar assim, quero gozar quando a boceta dela estiver
apertada no meu pau.
Meus quadris relutantemente desaceleram de foder seu rosto enquanto
eu a puxo duramente para fora do meu pau pelo cabelo. Eu a puxo para
cima e não perco tempo plantando meus lábios nos dela.
Ela parece desorientada pela minha rápida mudança de ritmo, mas
imediatamente retribui o beijo. Suas mãos vagam pelo meu corpo e
arranham meus seios, emitindo um gemido da minha boca para a dela.
Eu coloco minha língua em sua boca e sinto meu corpo inteiro
derreter no dela. Este é o nosso primeiro beijo em uma semana inteira. Eu
estive tão incorrigivelmente desesperada para ter seus lábios nos meus na
semana passada, foi uma agonia absoluta.
O desespero afunda em meus membros enquanto minhas mãos vagam
por seu corpo, ainda beijando seus lábios gentis duramente. Antes que eu
perceba, sinto minhas mãos agindo por vontade própria e rasgando o tecido
de seu vestido, arrancando-o completamente de seu corpo.
— Juliette! — Ela adverte, separando seus lábios dos meus.
Não finja que não ama.
Eu a puxo de volta para meus lábios.
— Vou comprar toda a linha de roupas para você, amor.
Qualquer coisa que ela quiser. Sempre que ela quiser. Agora que sei
que ela me pertence, tudo o que ela precisa fazer é dar consentimento e eu
trarei a lua aos seus pés.
Ela geme de volta em minha boca e sai de seu vestido rasgado.
Trabalhamos juntas para desabotoar vorazmente seu sutiã e ainda estamos
praticamente brigando enquanto nos beijamos.
Suas mãos estão puxando grosseiramente as raízes do meu cabelo e
minhas unhas estão cravadas em seus quadris nus enquanto nos beijamos
duramente.
Minha boca vagueia longe de seus lábios e em direção ao seu
pescoço, mordendo e mordendo cada centímetro enquanto ela geme. Eu
chupo sua pele com força, certificando-me de deixar uma marca muito
óbvia. Quero que todos saibam que ela está comprometida. Que ela é
minha.
— Vá para a cama — murmuro contra seu pescoço e, em seguida,
olho para ela. Eu não posso mais esperar; eu preciso estar dentro dela.
Seus olhos malcriados estão mais escuros do que eu já vi antes e ela
balança a cabeça. Antes que eu possa responder, ela me empurra para a
cama – um tanto rudemente.
Minhas costas batem em seus lençóis macios e não faço nenhum
movimento para me levantar. Em vez disso, fico confortável, encostada em
seus travesseiros enquanto a observo tirar a calcinha. Esqueci como o corpo
dela era etéreo. Eu sinto que poderia gozar só de olhar para ela… aqueles
seios perfeitos, aquela cintura fina e aquela bunda injustamente sexy.
Ela rasteja para a cama.
— Cale a boca.
Ela está pulsando de raiva. Eu posso sentir isso; está irradiando dela.
Isso deveria me assustar, mas não, isso me excita ainda mais. Como posso
não ficar excitada quando ela está fazendo um movimento para me montar?
Eu gemo, minha mente nublada.
— Porra, isso aí.
Eu silenciosamente observo com entusiasmo enquanto ela monta em
meu corpo e lentamente posiciona sua boceta pingando na cabeça do meu
pau. Ela afunda lentamente e eu suspiro ao mesmo tempo que ela. O outro
lado balança dentro de mim e meus olhos reviram.
— Porra. — Ela estremece, gemendo.
É assim que o céu deve ser – ou pelo menos parece. Adaline Emery,
me montando em um ritmo absolutamente selvagem. Suas próprias mãos
acariciando seus próprios seios enquanto ela se perde no prazer tão
obviamente. Ela me deixou absolutamente cativada, especialmente porque o
brinquedo continua empurrando ainda mais em minha boceta duramente.
— Bem assim, amor, monte em mim.
Ela faz exatamente isso, seus gemidos mais altos do que qualquer
coisa que eu já ouvi. Instintivamente, movo minhas mãos em direção aos
seus quadris para estabilizá-la, mas ela afasta minhas mãos erraticamente.
— Não toque.
— Por que…
— Você não pode me tocar.
— Porra. — As palavras saem da minha boca em um tom
decepcionante.
Ela parece totalmente satisfeita com a minha reação, ainda montando
esse pau como se sua vida dependesse disso. Ela claramente ainda está com
raiva de mim e sendo uma vadia sobre isso.
Eu posso me sentir chegando à beira do meu orgasmo. Eu deveria
atribuir isso ao brinquedo que está atingindo meu ponto G repetidamente.
No entanto, essa não é a única razão pela qual estou tão perto, é tudo sobre
ela. O rosto dela. Os olhos dela. A maneira como ela geme enquanto
cavalga este pênis. Observá-la e senti-la é o que sempre me leva ao limite.
Eu não aguento mais.
— Por favor, me deixe tocar em você.
— Implore por isso. — Ela cospe, mas não consegue controlar o
gemido em sua voz.
— Você é uma vadia — eu lamento, sentindo minhas mãos
queimando para tocá-la.
Ela ri daquela forma maliciosa que costumo fazer, apenas se
esfregando mais forte em mim.
— Isso não soa como implorar.
Eu olho profundamente em seus olhos cheios de luxúria que são
dominados pelo prazer e posso ver o quão séria ela está. Ela está com raiva,
talvez até magoada, mas acima de tudo ela está faminta. Quem sou eu para
negar o que ela está pedindo? Farei qualquer coisa que ela disser, se isso
significar que posso tocá-la.
— Por favor, Addie — eu choramingo, segurando seus lençóis com
força —, eu preciso tocar em você. Eu preciso tanto disso.
— Você pode fazer muito melhor do que isso. — Ela joga minhas
próprias palavras antigas de volta na minha cara, seu rosto dominado por
crueldade e prazer.
— Por favor! — Eu gemo, meu próprio orgasmo logo se
aproximando.
O calor está crescendo dentro da minha barriga e estou tão perto de
ser dominada por pura paixão desenfreada e posso dizer que ela também
está, com a forma como suas sobrancelhas estão marcadas, sua boca aberta
enquanto ela mói meu pau como uma mulher enlouquecida. Ela está indo
direto ao ponto, vendo como estou desesperada por ela.
— Me diz que você é minha cadela. — Ela empurra ainda mais.
— Eu sou sua cadela — minha resposta é instantânea e ela parece
satisfeita, gemendo mais alto quando posso dizer que ela quer ceder a isso.
Qualquer orgulho que me restava lentamente se transformou em nada.
Como eu poderia ter algum resquício de orgulho quando uma sedutora está
montando em mim e não me deixando tocá-la?
Um fogo familiar acende de volta em seus olhos enquanto ela os
estreita.
— Diga que sou melhor que ele. — Suas mãos se movem para o meu
pescoço enquanto ela envolve seus dedos em volta da minha garganta.
Ela está me sufocando enquanto me monta e eu sinto como se
pudesse ver estrelas neste exato momento, embora minha visão esteja
embaçada pelo prazer.
Ele? Levo alguns segundos para entender o que ela está tentando
transmitir e quase rio alto por causa disso. Ela acha que Adonis significa
alguma coisa? Ele não chega aos pés dela e acho que nunca chegará.
— Ele não é nada. Ele não é nada, porra. — Eu alivio suas tensões,
ofegante. — Você é tudo, Addie.
Eu imploro com meus olhos enquanto observo sua defesa diminuir e
um sorriso enfeitar seu rosto satisfeito. Não demora muito para ela
responder às minhas palavras caindo em um orgasmo feliz. Eu a sinto
tremer ao redor do meu pau, suas pernas chacoalhando, mas ela ainda está
esfregando contra meu pau.
Ainda trabalhando para me fazer gozar.
— Porra! — Ela geme alto, soltando meu pescoço de prazer. — Vá
em frente, amor, me toque.
Não preciso de mais incentivo enquanto movo minhas mãos em
direção aos seus quadris e esse contato é suficiente — a eletricidade
percorre todo o meu corpo enquanto me sinto explodindo pelas costuras.
Ela ainda está cavalgando lentamente me ajudando com meu orgasmo
e, sem dúvida, incentivando o dela também. Eu me inclino para frente e
envolvo seus seios em minha boca, chupando e mordiscando, sentindo meu
próprio orgasmo correr através de mim duramente.
Minhas mãos se movem para suas costas e eu cravo minhas unhas
nela duramente – um pequeno castigo por me fazer implorar mais cedo. Ou
mais como uma recompensa, considerando que ouço seus gemidos altos
encherem o ar.
Ouvir seu gemido só me estimula ainda mais e sinto meu corpo
trabalhando em sobrecarga – eu a viro, instantaneamente prendendo-a no
colchão e ela fica mais uma vez desorientada.
Exceto que ela não está de costas, ela está de bruços. Sua bunda
perfeita à mostra e sua cabeça enterrada nos travesseiros.
Que visão.
— Coloque de volta — ela choraminga alto quando percebe que o
brinquedo escapou dela. Ela nem se importa que eu a tenha virado.
— Cale a boca — eu resmungo, sem perder tempo batendo em sua
bunda, ela recua deliciosamente.
— Porra — ela geme. — Faça isso de novo.
Onde está o espírito de luta dela? Onde está aquela atitude malcriada
que ela costuma ter? Acho que todo esse tempo eu só tive que espancá-la.
Eu gostaria de ter feito isso muito antes porque é viciante.
Eu atendo seu pedido e dou um tapa em sua outra banda da bunda
duramente, observando-a grunhir nos travesseiros em resposta.
— Que bunda tão bonita.
Eu bato em sua bunda novamente pela terceira vez, o mais forte que
posso.
— Isso é por deixar outras pessoas tocarem em você.
Quarta palmada.
— Isso é por me fazer implorar.
Quinta palmada.
— Isso é por ser uma maldita pirralha.
— Juliette… — ela geme em um grito, sua bunda vermelha cereja e
isso está me deixando encharcada. — Por favor, me fode.
Eu não perco tempo usando seus quadris para sustentá-la, sua bunda
para no ar e suas mãos firmemente colocadas no colchão. Eu me alinho em
direção a sua entrada e entro sem nenhum aviso.
— Ai, meu Deus — ela geme e eu gostaria de poder ver seu rosto,
mas a vista daqui de trás é muito cativante também.
— Porra — eu gemo, sentindo o brinquedo esfregando contra meu
clitóris e cavando em minha boceta.
Não vou devagar, na verdade, começo a entrar e sair dela em um
ritmo animalesco, sentindo a raiva escorrendo de cada parte de mim
enquanto me lembro do que encontrei na festa.
— Você se encaixa nisso tão fodidamente bem, amor. — Eu agarro
um punhado de seu cabelo, ainda batendo nela.
— Amor, mais forte — ela me diz em um gemido, e isso só me faz
puxar seu cabelo com mais força e fodê-la com mais força.
— Uma boceta tão apertada para uma vadia tão fodida. — Eu cuspo
asperamente.
— Você é tão boa nisso. Porra!
— De quem é essa buceta?
— Mi-minha.
— Resposta errada, amor — eu puxo seu cabelo para trás
dolorosamente e retiro meu pau ligeiramente.
Isso a traz de volta aos seus sentidos enquanto ela choraminga.
— É sua. Essa boceta é sua... só não pare.
Eu não vou. Eu nunca vou parar.
— Isso mesmo, essa boceta é minha e você também.
Ela é minha. Sempre foi e sempre será, especialmente agora,
enquanto enfio meu pau profundamente em sua boceta molhada, metendo
nela como um animal. Parece incrível, como se toda a minha raiva estivesse
derretendo, mas de alguma forma também se multiplicando ao mesmo
tempo?
— Minha linda vagabunda. Minha puta do caralho — eu gemo. —
Porra, diga isso.
— Vai se foder. — Ela mal consegue pronunciar as palavras com a
força que estou empurrando dentro dela.
Eu bato em sua bunda duramente.
— Porra, diga isso, Adaline.
— Eu sou sua vadia. — As palavras saem de sua boca como uma
melodia e posso sentir o quão perto estou.
— Porra, sim — eu assobio, gotas de suor deixando meu pescoço. —
Só eu posso te tocar, só eu posso te beijar, só eu posso te foder.
Eu bato em sua boceta molhada o mais forte que posso, meus quadris
entrando nela descontroladamente. Não há dúvida de como isso é violento e
como nós duas estamos curtindo isso.
— Juliette! — Ela suspira alto, claramente perto.
— Goza comigo, Addie — eu digo a ela, mantendo meu ritmo o
mesmo, mas minhas mãos deixaram seu cabelo. Em vez disso, estou me
revezando, esfregando suas costas e arranhando sua bunda enquanto me
empurro dentro dela.
Meu orgasmo vem primeiro, talvez alguns segundos antes do dela,
quando sinto todo o meu corpo ter espasmos mais profundos no dela. Ela
goza logo depois, ambos os nossos gemidos preenchendo cada centímetro
deste quarto.
Eu mal posso ver, meus olhos piscando, abrindo e fechando por causa
do prazer anulando meu corpo.
Quente. Gelo. Tóxico. Presumo que é assim que cada uma dessas
coisas girando juntas seria.
Eu continuo empurrando, desta vez em um ritmo mais lento enquanto
eu incentivo meu orgasmo. Meu clitóris está inchado além da crença,
minhas entranhas se contraem, quanto mais eu olho para a cena na minha
frente.
Cada vez que fazemos sexo é melhor que a anterior. Isso é normal?
Não tenho certeza, tudo que sei é que nunca quero parar.
Eu a observo ser tomada por seu orgasmo e sinto minha boca salivar
com a visão. Eu odeio Adaline Emery, muito. Acho que nunca conseguirei
parar de odiá-la e isso é um problema... porque eu a odeio mais do que
jamais amei qualquer outra pessoa.
Mais do que jamais amarei qualquer outra pessoa.
Dez minutos e uma toalha depois, nós dois deitamos uma ao lado da
outra, debaixo das cobertas dela. Seu brinquedo foi guardado com
segurança para ser limpo e eu literalmente nunca me senti tão confortável
em minha vida. Eu quero levantar e pegar um copo d'água para ela ou dar a
ela qualquer coisa que ela queira.
Mas temo que, se eu me mexer um centímetro, ela me peça para ir.
Por mais que esse sexo tenha mudado a vida, acho que uma conversa real
está chegando.
— Vou terminar com ele — eu digo abruptamente, virando minha
cabeça para ela.
Eu não quero Adonis. Acho que nunca quis. Embora eu possa estar
confusa sobre uma infinidade de outras coisas, essa é uma coisa que não me
deixa nem um pouco confusa.
Ela parece cansada, mas está claramente satisfeita com minhas
palavras.
— E daí? Somos amigas de foda exclusivas agora?
"Amigas de foda." O termo não nos faz justiça; eu sei que não.
Também sei que ela está usando esse rótulo desde o início, claramente não
está pronta para nenhum outro rótulo. Eu tenho que estar bem com isso,
especialmente considerando que eu mesma estou apavorada. Terei tudo o
que ela me der, desde que ela apenas me dê.
— Isso significa que se você deixar alguém tocar em você ou se você
tocar em alguém novamente, eu vou acabar com a pessoa.
Ela sorri e seus olhos escurecem.
— O mesmo se aplica a você.
Eu sufoco uma risada.
— Eu não quero tocar em mais ninguém. Acho que nunca quis. —
Começo a puxar os lençóis com as unhas. — Você queria tocá-los? Essa
noite?
Deitar aqui ao lado dela me lembra da pontada que acertou meu peito
antes. Parte de mim está magoada, insegura até, por ela realmente querer
fazer sexo com outra pessoa hoje. Ela tem feito isso com outras pessoas
esse tempo todo também?
Ela balança a cabeça.
— Eu estava com raiva de você. Na verdade, eu não os queria. — Ela
sorri suavemente como se pudesse ler meus pensamentos. — Eu também
não dormi com mais ninguém desde que nos beijamos. Eu não quero mais
ninguém.
Eu posso ver a dor física se formando em seu rosto, ela claramente
odeia falar sobre seus sentimentos, ela sempre odiou. Ela está fazendo isso
por mim, e não posso evitar o alívio que inunda meu peito
instantaneamente. Ela não quer mais ninguém? Ela só quer a mim.
Eu sinto que poderia morrer feliz agora.
— Eu realmente sinto muito pelo que eu disse... eu não quis dizer
aquilo... nem por um segundo. — Eu me inclino para frente, olhando em
seus olhos e ela suspira.
Às vezes, sinto como se pudesse me perder naqueles lindos olhos dela
ou talvez já tenha me perdido. Sinto que estou presa, amarrada a sua alma e
incapaz de escapar. Talvez eu apenas não queira escapar. É por isso que eu a
afasto e depois peço desculpas, ajo como se eu fosse louca porque às vezes
a culpa está me sufocando.
Ela nunca poderia ser minha experiência, ela é tudo. Eu odeio magoá-
la com minhas palavras e odeio que isso esteja me afetando quando há
alguns meses eu teria me deliciado com isso.
— Eu provavelmente não deveria, mas eu acredito em você — ela
murmura baixinho. Ela está estendendo outra cortesia para mim, depois de
tudo.
Talvez Deus realmente esteja do meu lado hoje.
— Adam vai voltar para casa em breve? — Por favor, diga não.
— Não, ele vai ficar na casa de Olivia esta noite — ela responde, seus
olhos abrindo e fechando lentamente.
— Posso ficar?
— Juliette…
— Por favor. — As palavras saem em um apelo suave.
— Tudo bem — ela murmura, claramente exausta demais para
discutir.
Comemoro interiormente e sorrio. Meu olhar de repente vai para o
esqueleto, que está ao lado de seu guarda-roupa, atrás dela e me assusto. Ela
me olha confusa.
— Sério, qual é o problema com esse esqueleto? — Eu faço um gesto
para ele.
Ela se vira e depois volta para mim com uma risada leve.
— Jimmy? Aryan me deu de presente alguns anos atrás. Começou
como uma piada sobre como sou obcecada por biologia, mas acabei
gostando dele. — Ela sorri com carinho e eu quero dar um tapa nela por ser
tão cativante e adorável.
— Foi um presente de aniversário? — Eu pergunto curiosamente,
avançando. Talvez eu não devesse ter perguntado isso porque aquele sorriso
carinhoso foi apagado de seu rosto.
— Não. Eu não comemoro meu aniversário. — Suas palavras são
resolutas e, por algum motivo, isso me faz não querer forçar mais, então
não o forço.
Antes que eu perceba, seus olhos se fecham e ela entra em um sono
profundo. Às vezes, acho que quero entrar nela e me envolver em sua pele,
saber tudo sobre ela.
Fico acordada por mais vinte minutos observando-a dormir e ouvindo
o som tranquilo de sua respiração.
***
***
Uma vez que estou na cama, agradeço aos céus que aquela vontade
que me incomoda de estudar diminuiu lentamente hoje. Estou contente em
apenas deitar na minha cama e tirar uma soneca – ou pelo menos eu estava
– até ouvir minha campainha tocar. Não pode ser Adam; ele tem uma chave
e também está trabalhando até tarde. Também não seriam meus amigos
porque eu disse a eles que não estava com vontade de sair.
Meus pés relutantemente saem da minha cama enquanto desço as
escadas, deprimida. Quando abro a porta, quase caio para trás. Sinto como
se um caminhão tivesse acabado de bater em mim e me feito voar.
É Juliette. Seu rosto parece frenético, mas ela está linda como sempre.
Deus. Faz uma semana que não a vejo e sinto que estou tendo alucinações.
— Juliette? Onde você esteve…
— Então, eu estava olhando minhas fotos e percebi que ainda tenho
aquela foto que tirei de você… quando fiz aquelas caretas engraçadas com
você no oitavo ano… — Mantenho minha boca fechada com sua
interrupção e a deixo continuar, perplexa. nas palavras dela. Ela ofega
pesadamente fechando a porta atrás dela. — Percebi na foto que você estava
usando seus fones de ouvido… então os enviei para alguém que conheço…
para encontrá-los.
Ela faz uma pausa e abre a bolsa pendurada no ombro. Então ela pega
um par de fones de ouvido pretos idênticos.
— Demorou um pouco. Eu tive que dirigir até Birmingham para
buscá-los, pois eles vieram da França… foi o único que pudemos encontrar.
Eu nem percebi que ela colocou os fones de ouvido na minha mão até
que eu os sentisse. Estou muito ocupada olhando para ela, quase sem
palavras.
— Eu sei que não são seus fones de ouvido e eles não guardam as
mesmas memórias... mas espero que você possa encontrar conforto neles —
ela diz e me ocorre que ela parece nervosa.
Ela nunca soa nervosa.
— Juliette… — Eu suspiro em um sussurro. — Você fez isso? Por
quê?
Eu esperava que ela me dissesse onde esteve por uma semana, por
que ela não veio à escola. Talvez ela me dissesse que percebeu que é
lésbica, mas não quer nada comigo. Ou talvez ela continuasse no armário,
mas eu nunca esperei isso. Dirigindo para outra cidade só por fones de
ouvido? Deus sabe quanto isso custou. Eu sinto que não consigo respirar
agora.
Ela não responde e eu aproveito para continuar falando.
— Obrigada…
— Eu sou lésbica — ela deixa escapar, me cortando. Suas palavras e
o tom de rosa em suas feições fazem meu coração inchar.
Lésbica. Não queer. Não gay. Ela mergulhou direto no termo e eu sei
o quanto isso deve deixá-la com medo de se rotular de uma maneira muito
obsoleta, especialmente com o que ela passou, posso ver a hesitação em seu
rosto.
Faz sentido. Você não pode desfazer anos de negação em uma
semana, mas pode começar. Embora ainda não explique por que ela
comprou esses fones de ouvido para mim.
— Você fez isso porque é lésbica?
— Não. — Ela balança a cabeça. — Eu fiz isso porque estou cansada
de esconder o quanto eu quero você. Estou tão cansada de esconder quem
eu sou, esconder o que eu quero. — Ela solta uma risada cansada. —
Aparentemente, estava claro para todos, menos para mim. Ou talvez
estivesse claro para mim lá no fundo.
Ela me conta tudo. Como ela passou a semana inteira focando em si
mesma e em sua sexualidade, com Kai para guiá-la. Como ela não
suportava ir para a escola porque passou a semana inteira chorando. Eu
ouço atentamente, incapaz de formar palavras.
Ela está me contando, ela está finalmente me dizendo que me quer,
mas não posso evitar o medo que afoga meu corpo.
— E a sua mãe? — Eu pergunto baixinho, uma vez que ela termina e
ela engole em seco. Então eu coloco os fones de ouvido para baixo para não
deixá-los cair.
Ela suspira pesadamente.
— Eu mal posso lidar com isso sozinha... minha mãe não está pronta
para isso. De qualquer maneira, não estou pronta para contar a mais
ninguém… como você disse, só tenho que ser honesta comigo mesma.
— Estou orgulhosa de você — eu digo baixinho e ela levanta uma
sobrancelha, mas antes que ela possa responder eu continuo. — Tão
orgulhosa de você.
— Você não está com raiva? Acabei de assumir, embora tenha te
tratado como merda por gostar de garotas.
— Como eu poderia ficar com raiva de você por se aceitar?
— Isso é ridículo. — Ela balança a cabeça. — Você deveria me odiar!
— Eu te odeio — eu sussurro, incapaz de esconder minha diversão.
— Então me bata! Grite comigo! Não fique parada aí! — Ela grita,
seu rosto ficando vermelho.
— A única pessoa que vai te ajudar é você — eu digo. — Então, você
pode superar sua própria culpa.
— Claro, quero deixar para lá, quero ser digna de você. — A agonia
em sua voz me deixa em uma espiral.
Eu me aproximo dela.
— Você não é digna de mim, Juliette. — Seus olhos ficam abatidos,
mas eu continuo. — Também não sou digna de você porque não é assim
que a vida funciona. O perdão não é equivalente a ser digno.
— Não posso te apressar, posso? — Ela pergunta, seu tom
compreensivo.
Eu balanço minha cabeça.
— Não. Mas estou chegando lá, não preciso gritar nem bater em você.
Eu só preciso sentir isso ir embora.
— Mas você ainda me quer? — Sua voz soa incrédula e esperançosa
ao mesmo tempo.
— Eu quero. Eu te quero tanto que às vezes dói, mas… — eu não
posso ser como meu pai — você deveria estar feliz... você finalmente sabe
quem você é! Você não quer experimentar com outras garotas?
Ela parece chocada com a minha sugestão e meu coração quase se
parte com o pensamento.
— Não. Nunca. Eu só quero você. Eu sempre quis você. — Ela
suspira pesadamente e tira minhas mãos de seu rosto, segurando-as. — Sei
que não tenho o melhor histórico, mas quero mudar isso. Eu costumava
implorar por sua atenção, ainda imploro, mas aceitei. Agora eu estou
pedindo por isso.
Ela esfrega círculos em minhas mãos e continua falando.
— Podemos ser mais do que qualquer coisa que chamemos isso… —
Seu gesto de mão livre entre nós. — Podemos foder, podemos conversar.
Serei sua inimiga ou sua amiga. Posso ser sua melhor amiga se você quiser.
— Quem é você e o que fez com Juliette Kingston? — É uma
resposta esfarrapada, mas é tudo que consigo imaginar agora.
Ela sorri.
— Apenas um encontro. Amanhã?
Eu respondo puxando-a para um beijo quente. Não consigo ouvir
nada enquanto meus lábios envolvem os dela e então percebo uma coisa –
não foi dos fones de ouvido que eu senti saudade esta semana, foi dela.
Capítulo TRINTA E SEIS
Juliette
É possível sentir-se completamente leve? Ter cinco anos de repressão
derretendo em um quase vazio – algo que ainda está lá, mas está
desaparecendo lentamente? É como eu me sinto. Foi assim que me senti
durante toda a semana passada, deprimida na cama e chorando todas as
noites por causa da minha sexualidade.
Kai esteve lá, me mantendo atualizada sobre Adaline, porque nunca
duvidei que a desejaria depois de me resolver. Isso só foi cimentado ainda
mais quando fui à casa dela ontem. Eu queria ficar depois de abrir meu
coração para ela, mas sabia que ela precisaria de espaço depois das minhas
palavras. Só espero que ela venha hoje.
Minha campainha toca e eu me preparo para atender, meu coração
saindo do meu peito. É ela. Isto tem que estar certo? Abro a porta... não é
ela. Em vez disso, é Adonis.
Minha primeira linha de pensamento é ficar com raiva, mas fui eu que
o convidei. Eu não esperava que ele viesse tão cedo.
— Oi, recebi sua mensagem — diz ele, entrando na minha casa. —
Está tudo bem? Quase não tive notícias suas durante toda a semana.
Sua preocupação realmente não faz muito por mim, mas eu entendo.
Como ele disse, não falei com ele na semana passada.
— Precisamos conversar — digo a ele com um suspiro.
— Ok?
— Precisamos terminar — eu digo, tentando abafar o quanto estou
entediada. — Poupe-me da frivolidade de tudo isso. Essa é a caixa com suas
coisas. — Aponto para a pequena caixa de papelão com as coisas dele ao
lado da minha porta. Na maior parte, são apenas algumas de suas roupas e
algumas joias que ele me presenteou ao longo de nosso relacionamento.
Suas sobrancelhas franzem e suas mãos são colocadas em seus
quadris. Ele está balançando a cabeça como se não pudesse acreditar nas
palavras que estão saindo da minha voz. Estou esperando que ele chore ou
talvez grite, não tenho certeza. Provavelmente implore para me ter de
volta…
— Você é uma vadia. — Eu não esperava essa resposta ou a risada
insensível.
Por mais chocada que eu esteja, apenas dou de ombros.
— Eu sei. — Claro, eu sou uma vadia, sempre fui. Ele sabe disso e
não é como se fosse um santo.
— Sério? É assim que você termina um relacionamento de dois anos?
— Não me faça rir. Isso mal era um relacionamento. — Eu fico
olhando para minhas unhas, inspecionando como elas estão arrumadas hoje.
— Você me traiu o tempo todo.
— Por que diabos você acha que eu fiz isso? — Ele deixa escapar
com raiva.
— Não me diga que você está sentado aqui me culpando por sua
traição? — Eu quase rio alto.
— Eu-eu só fiz isso na sua frente — ele murmura, ligeiramente
abaixando a cabeça.
— O quê? — Eu pergunto confusa, o olhar em seus olhos me tira do
meu tédio.
— Trair — ele esclarece. — Eu nunca dormi com mais ninguém, só
pedi a algumas garotas para me beijar ao ar livre, quando você estava por
perto.
— O quê? Por quê?
— Eu queria sua atenção! — Ele grita. — Desde o começo, isso foi
tudo que eu sempre quis. Eu tentei de tudo para fazer você agir, para
mostrar que você me queria — ele balança a cabeça com uma risada triste
—, mas nada disso funcionou.
— Então você pensou que esse era o caminho a seguir? — Não quero
parecer crítica, mas não posso evitar. Esse cara está falando sério? Você
queria minha atenção então beijou outras garotas na minha frente?
— Ah, por favor! — ele diz, de repente com raiva de novo. — Então
só você tem o privilégio de agir para chamar a atenção? Só você pode fazer
merdas estúpidas?
— O que isto quer dizer? — Eu pergunto, um poço de medo
crescendo em meu estômago.
— Significa que eu sei por que você passou os últimos cinco anos
intimidando Adaline — ele diz. Seu tom não é tão malicioso quanto eu
esperava, ao contrário, é vazio. — Eu sei que você a quer.
Ah, não.
— Como? Quando? — Essa é toda a resposta que consigo reunir,
porque posso desmaiar.
— Eu descobri quando fomos jantar no nosso aniversário. Eu nunca
tinha visto você parecer tão vazia antes, não desse jeito. — Seu olhar se
torna pensativo. — Então fomos àquela festa e seus olhos estavam nela o
tempo todo… você simplesmente desapareceu depois, sem nenhuma
palavra.
— Adonis…
— Não sei como não percebi isso antes, mas a questão é que percebi
agora. — Ele aponta o dedo para mim com raiva. — Então não se atreva a
se achar superior depois de tudo que você fez.
Ele tem razão. Eu estava traindo-o o tempo todo, talvez fazendo até
pior do que ele estava fazendo. Não tenho nenhuma posição moral elevada,
não apenas com Adaline, mas com todos os outros em minha vida; mesmo
Adonis.
— E daí? Você vai contar para todo mundo? — O medo corta meu
peito.
— Eu não faria algo assim. — Ele parece estarrecido. — Eu nem sou
homofóbico, Juliette, só não me importava como você se comportava
porque eu te amava!
Ele é como todo mundo na escola. Eles também não são
homofóbicos, apenas ovelhas me adorando cegamente por causa do meu
status, incapazes de entender o quão perigoso isso é. Mesmo que eu
chegasse a isso em algum momento, sempre soube, no fundo, que eles não
acreditavam no que eu me iludi ao acreditar.
Adonis pensa que me capacitar é amor – talvez seja para algumas
pessoas –, mas eu vi o que deveria ser, o que poderia ser. Significa
responsabilizar-se, tentar ser melhor.
— Sinto muito.
Ele ri friamente.
— Não, você não sente. Você não está arrependida por me trair e
também não está arrependida por terminar comigo, então não finja que está.
— Ele se abaixa e pega sua caixa, pronto para sair.
Eu chamo por ele antes que ele diga algo:
— Adonis.
— O quê? — A irritação abafa suas palavras, mas ele não se vira.
— Nestes últimos dois anos, acho que não teria sobrevivido com
nenhum outro homem. — Quero dizer. Eu quero dizer cada palavra porque
eu não acho que teria. Ele me capacitar estava errado, mas também me deu
uma estranha sensação de conforto.
Eu observo como seus ombros caem e a parte de trás de sua cabeça
acena antes de ele sair. Dois anos se passaram, mas tudo em que consigo
pensar é como quero o resto dos meus anos com outra pessoa, uma certa
morena.
***
Nas próximas horas, estudo biologia usando as anotações que Adaline
me enviou, até que a campainha toca e instantaneamente corro para a porta,
abrindo-a.
— Oi — eu digo baixinho.
— Oi — ela responde igualmente baixo.
— Você está linda — eu consigo murmurar, mesmo que os nervos
estejam me sufocando.
Ela arqueia as sobrancelhas.
— Você me disse para usar minhas roupas mais sujas. — Ela está
vestindo uma camisa branca grande que virou cinza e shorts camuflados
que parecem ter uma década de idade. Enquanto eu optei por um macacão
azul e um colete branco por baixo.
— Você sempre está linda. — Eu pisco para ela, gesticulando para ela
entrar. Assim que ela o faz, fecho a porta atrás dela.
— Você está sendo incomumente romântica — ela sorri levemente,
virando-se para mim, com as sobrancelhas arqueadas.
Espero alguns segundos antes de dizer:
— Estou tentando mostrar a você que posso ser melhor.
— Juliette — ela diz suavemente —, eu já te disse, o perdão leva
tempo, mas estou chegando lá.
— Sinto muito. — Minha carranca se aprofunda ainda mais, quero
dizer isso o tempo todo. Passei de nunca proferir uma palavra de desculpas
para constantemente querer me desculpar pela forma como a tratei.
Não percebo o quanto reprimi minha culpa, pensei que, uma vez que
saísse, desapareceria com a mesma rapidez, mas não desapareceu. Isso me
consome, envolve meu próprio ser.
Vou esperar pelo perdão dela para sempre se for preciso.
— Eu sei — diz ela. — Então pare de tentar cortejar meu perdão.
Eu arqueio minha sobrancelha.
— O cortejo continua, afinal sou um Kingston.
— Ah, é? — Ela cantarola, se aproximando e me puxando pela
cintura. Formigamento correm por todo o meu corpo e eu aproveito a
oportunidade para envolver meus braços em volta do pescoço.
— Sim, você está prestes a receber a experiência completa de
namorar Juliette.
— Isso vem com traição envolvida ou…
— Muito engraçado. — Reviro os olhos com sua provocação e a
risada que sai de sua boca. — Na verdade, eu terminei com ele hoje.
Eu conto tudo a ela; como ele estava chateado e como eu era cruel,
mas ela apenas escuta com um sorriso satisfeito no rosto. Ela parece
deliciosamente possessiva e eu me deleito com isso.
— Ele não vai contar a ninguém, vai? — Ela pergunta depois que seu
sorriso desaparece e ela parece preocupada.
— Não.
— Bom — diz ela e, de repente, sua sobrancelha direita se arqueia. —
A propósito, o que você fez com Alex? Ele me disse que foi expulso.
— Eu? Nada. — Finjo inocência e reprimo a fúria que sinto quando
ela menciona o nome dele. — Apenas deixei a administração saber sobre
seu pequeno problema com drogas.
Com isso, quero dizer que paguei alguém do time de Lacrosse para
plantar algumas drogas no armário de Alex. Claramente, ele não é um bom
capitão, porque só paguei cerca de trezentos para que seu companheiro de
equipe o atacasse. Foi extremo? Sim. Mas não me arrependo, nem por um
segundo. Só estou chateada por não estar lá para testemunhar pessoalmente.
— Ele não tem problema com drogas.
— Ele não tem? Ah, bem — eu dou de ombros. — Ele tem sorte que
isso foi tudo o que aconteceu com ele.
Ela revira os olhos para mim, mas posso dizer que, no fundo, ela está
lisonjeada, talvez até satisfeita. Ela tem sorte de eu não ter feito nada com
aquela garota que estava lá, achei que seria exagero.
— Traga ele de volta para a escola.
— O quê? Por quê? — Pareço uma criança petulante.
Ela levanta as sobrancelhas para mim.
— Porque é errado…
— Não finja que não gostou... nenhum pouco? — Eu a cortei,
sorrindo.
Ela cora um pouco antes de se recompor.
— Claramente você me influenciou demais. Traga ele de volta,
Juliette.
Eu gemo.
— Tudo bem, vou tentar.
Ela sorri com isso, me dando um beijo nos lábios como recompensa,
o que me faz querer reintegrar cada pessoa que já expulsei de Richmond.
— Você está pronta para o nosso primeiro encontro? — Eu mudo de
assunto.
— Sim. O que vamos fazer?
— Venha comigo — eu respondo, puxando sua mão e levando-a para
dentro da minha sala de arte, minha roda de oleiro no meio dela.
— Você tem uma tara de professor? É por isso que você continua me
ensinando coisas? — Ela mexe as sobrancelhas para mim.
— Por quê? Quer ser minha boa aluna? — Eu a provoco e beijo seus
lábios antes de caminhar até meus armários. Pego dois aventais e entrego
um a ela.
— Eu não me oporia a essa ideia — ela diz, tentando amarrar seu
próprio avental, mas eu o arranco de sua mão e amarro para ela.
— Eu só quero que você seja capaz de fazer coisas que não era capaz
de fazer antes — murmuro contra seu pescoço enquanto amarro o avental
em volta dela.
Ela se vira e me encara como se eu tivesse pendurado a lua.
— Fofa — ela murmura.
Só para ela.
Eu suspiro profundamente.
— Eu sei que este não é um primeiro encontro ideal... ficar presa em
minha casa porque estou com muito medo de que as pessoas nos vejam. —
Minha voz falha um pouco quando termino de falar, mas não consigo evitar.
Ela é assumida – e orgulhosa disso também enquanto eu estou
apavorada. Eu posso ter sido honesta comigo mesma, mas o pensamento de
ser honesta com qualquer outra pessoa é horrível. Eu nem me importo com
ninguém na escola, mas a notícia se espalha rápido e não quero que minha
mãe descubra.
Ela segura meu rosto.
— Sempre que passo tempo com você é perfeito, seja a portas
fechadas ou não. — A sinceridade nas palavras faz meu coração bater
violentamente e eu a puxo para outro beijo.
Dói um pouco beijá-la sabendo que não posso dar a ela o que ela
realmente merece. Então, peço desculpas pela minha covardia através do
beijo, esperando que ela aceite.
— O que você quer fazer? — Eu sussurro, uma vez que deixo seus
lábios.
— Uma tigela? — Ela pergunta em vez de dizer, parecendo
desorientada por um segundo.
Meu eu arrogante sorri com isso.
— Boa escolha.
Ela se senta enquanto começo a preparar todos os materiais e a usar
um barbante para cortar um pouco de argila para ela. Ela apenas me observa
com um olhar que queima minha alma.
— Ok, coloque seus dedos aí — eu a instruo, observando seus olhos
se arregalarem de admiração.
Observá-la tentar moldar a argila com as mãos é fascinante. Eu
adorava fazer isso com meu pai. No entanto, eu não pensei que faria isso de
novo até que ela me disse que eu deveria.
Agora estou aqui, fazendo de novo pela primeira vez em muito
tempo, com ela. Não importa que ela seja péssima nisso, que continue
falhando em fazer alguma coisa, o que importa é que há um brilho em seus
olhos, uma curiosidade infantil que me deixa dez vezes mais leve.
Puxo uma cadeira e me sento atrás dela.
— Deixe-me ajudar — eu sussurro em seu ouvido, minhas mãos se
movendo sobre as dela como se fosse uma cena de filme clichê. — A
propósito, eu recuperei minha nota por aquele desenho que fiz de você.
Na verdade, recuperei a nota há uma semana, mas estava muito
ocupada tendo uma crise sobre minha sexualidade para contar a ela.
Guardei o desenho no meu guarda-roupa, escondendo com segurança.
— O que você conseguiu? — Ela pergunta, tremendo e eu sorrio em
seu ouvido.
— Dez, obviamente. — Eu abaixo meu tom, zombando das palavras
que ela usou uma vez comigo.
— Como você vai comemorar? — Ela imita de volta e eu rio
levemente.
— Estou comemorando agora. — Dou um leve beijo em seu pescoço,
inalando seu perfume.
Comemoro pelos próximos vinte minutos com ela, nossas mãos
moldando a argila juntas. O único problema é que é horrível. É a massa de
argila mais estranha que já vi e está completamente desfigurada. Acho que
finalmente encontrei algo em que Adaline não é boa.
— Como nós estragamos isso? — Eu pergunto, incapaz de abafar
minha risada. Agora mudei minha cadeira para perto dela, para poder
avaliar adequadamente os danos causados.
— Eu culpo você. — Ela aponta seu dedo coberto de argila para mim
de forma provocante. — Se você tivesse parado de me provocar, teria
acabado bem.
— Você amou minha provocação — eu retruco.
— Não amei.
— Amou sim.
— N…
Sua frase é interrompida quando me inclino para a frente e passo um
pouco de argila em sua bochecha. Sua boca se abre em choque e um brilho
diabólico logo aparece.
— Não, espere…
Ela não me dá tempo para terminar meu apelo antes de me atacar de
volta, esfregando um punhado de argila no meu peito.
— Ah, é assim então. — Digo antes de atacá-la e ela traz a mesma
energia.
— Qual é, sua merdinha!
Suas mãos se movem em direção ao meu cabelo e a sensação de
argila fria só me estimula ainda mais.
Nós nos atacamos vorazmente, marcando cada centímetro do corpo
da outra com argila molhada e caindo sobre as cadeiras da sala de arte
enquanto nos escondemos uma da outra em todos os cantos. Somos como
crianças e toda vez que nos encontramos; a argila vai absolutamente para
todos os lugares.
Eu a prendo contra o chão, mas ela consegue nos rolar – esfregando
sua bochecha cheia de argila na minha e eu me contorço para fora de seu
alcance, prendendo-a contra o chão.
O silêncio que nos envolve dura pouco porque, depois de olharmos
para os rostos cobertos de barro uma da outra, caímos na gargalhada. Uma
risada profunda e hedionda ressoa da boca da minha barriga. Eu mal
consigo respirar e ela também não, porque ela está ficando vermelha. Eu
nunca ri tanto em toda a minha vida. Eu sinto que meus intestinos vão
rasgar.
— Quer tomar um banho? — Ela sugere provocativamente debaixo
de mim, sua risada diminuindo. Eu respondo puxando sua boca na minha.
Mesmo quando ela tem gosto de barro, ela tem um gosto bom.
Nós nos despimos até o meu banheiro, rindo entre os beijos enquanto
o chuveiro lava o melhor encontro da minha vida. Suas mãos percorrem
meu corpo e as minhas fazem o mesmo, claramente este encontro está longe
de terminar.
***
***
A manhã seguinte passa da mesma forma, mas tenho que sair da cama
durante a noite porque preciso ir à despedida de solteiro de Adam. Não é
nada desprezível, só eu e seus amigos em um bar local, ele só quer jogar
sinuca e passar o tempo com seus amigos enquanto Olivia está em algum
lugar fazendo o mesmo. Ela me convidou para sua despedida de solteira,
mas, como madrinha de Adam, senti que deveria comparecer à dele.
Embora spa e mimosas devessem ter sido o caminho a percorrer, mas
na última hora, eu tenho sido a alma da festa porque não estou tentando
fazer a noite de Adam ser sobre mim, então fingi estar feliz e alegre. Fiquei
feliz quando Adam e seus amigos saíram para fumar porque finalmente
posso tirar minha máscara divertida.
Agora estou no bar, sentada para uma pausa – a miséria me atingiu
mais uma vez e me pego olhando para todas as garrafas na prateleira.
Um desejo rasteja no fundo da minha garganta. Isso fez ele se sentir
melhor, talvez faça você se sentir melhor também. A voz sussurra em meu
ouvido e eu escuto.
— O que eu posso fazer por você? — O barman pergunta, nem
mesmo pedindo minha identidade. Por que ele pediria? Ele está sendo pago
independentemente.
Eu apago momentaneamente.
— O que você sugere? — Deus, pareço idiota, só nunca bebi álcool
antes. Ele sorri para mim timidamente e de repente, eu me sinto mal do
estômago.
— Você está procurando esquecer ou lembrar? — Sua pergunta me
pega de surpresa por um momento. Eu não sabia que bartenders realmente
soavam como nos filmes.
Lembrar? Ou esquecer? Quero lembrar como Juliette é linda, como
ela pode ser engraçada, como ela pode ser cruel quando quer? As sardas nas
costas, as estrias nas coxas… cada beijo, cada toque, cada suspiro, cada
luta.
— Esquecer.
Ele balança a cabeça e me serve uma dose do que parece ser vodca.
Pego meu cartão e coloco na máquina. Levanto o copo até os lábios,
tentando tomar um gole, mas depois engulo inteiro. Tem gosto de remédio,
um maldito remédio frio batendo no fundo da minha garganta. Dói tanto e
eu faço uma careta abertamente, o barman ri de mim.
— Posso ter um pouco de tequila no lugar disso? — Eu pergunto,
estremecendo e ele apenas acena com uma risada. Ele repete seu trabalho
anterior com tequila e me sinto como Juliette quando pego o copo.
Qualquer. Farei qualquer coisa para sentir que ela está bem aqui ao
meu lado.
Pego o copo novamente, mas antes que ele possa tocar meus lábios,
ele é arrancado de minhas mãos. Eu giro minha cabeça confusa, apenas para
encontrar os olhares preocupados dos meus melhores amigos.
— Que porra você está fazendo? — Victoria grita.
— E por que você está servindo álcool a um menor? Você quer que eu
denuncie você? — Aryan diz ao barman que apenas revira os olhos em
resposta antes de ir embora.
Tão hipócrita. Eles bebem todo fim de semana, como qualquer outro
adolescente do planeta, mas Deus me livre de beber.
— Estraga-prazeres — murmuro baixinho, evitando seus olhares. Eu
tento alcançar o copo na mão de Victoria, mas ela rapidamente o puxa de
volta.
— Não toque nisso. O que há de errado com você? — Ela pergunta.
— Não me diga o que fazer. — Eu bufo, irritada e quase com raiva.
Na verdade, não, estou com muita raiva.
— Addie, pare com isso — Aryan me adverte.
— O quê? Sou adulta, não posso beber?
— Você tem 17 anos, na verdade, mas esse não é o ponto. Você não
quer beber, você nunca bebeu — ele diz severamente. Eu nunca o vi assim.
— Bem, eu quero agora. — Eu dou de ombros. Não, eu não quero.
Apenas o pensamento de beber aquela tequila está me deixando doente por
dentro, mas eu só quero deixar ir.
— Não, você não quer — diz Victoria.
— Vocês não entenderam quando eu bloqueei vocês? Eu não quero
falar com vocês, porra — eu cuspo com raiva, sem perder as carrancas em
seus rostos. Eu me levanto, mas eles bloqueiam meu caminho.
— Eu sei que você está chateada, mas estamos tentando dizer para
você entender… — Victoria começa seu sermão novamente.
Eu a interrompo.
— Entender o quê? Que você está de alguma forma defendendo a
mesma garota que você odiava não muito tempo atrás? — Eles ficam em
silêncio, então eu continuo falando. — Nunca pensei que Kai seria o único
a me ouvir. Eu pensei que vocês estariam do meu lado!
As pessoas estão nos lançando olhares engraçados por causa da
comoção, mas eu não dou atenção. Estou com raiva, na verdade estou
furiosa com todas as pessoas. Meus próprios amigos, que eu achava que
valorizavam a lealdade acima de tudo, estão defendendo Juliette.
— Porque estou tentando lhe contar, Addie! — Vitória grita. — Não é
culpa de Juliette.
Eu zombo cansadamente.
— Sim, por que seria?
— Ela é cruel, sim, ela é, mas desta vez ela foi forçada a isso. —
Aryan se aproxima de mim, colocando as mãos em meus ombros. — Desta
vez, ela fez isso por você.
— Do que você está falando? — Eu pergunto, confusa enquanto tiro
as mãos de Aryan de cima de mim e ele franze a testa com tanta força que
meu coração estremece.
— Stacey tinha de vocês fazendo sexo — diz ele, suspirando.
— O quê? — Eu pronuncio, minha mandíbula caiu.
Victoria suspira, ela e Aryan lançando olhares um ao outro.
— Ela é voluntária no museu… Stacey, quero dizer. — ela esclarece.
— Ela viu vocês lá e gravou vocês fazendo sexo.
— O-o quê?
Ela continua.
— Ela foi à casa de Juliette e a chantageou, disse a ela para quebrar
seu coração, caso contrário ela postaria… ela tem cópias.
Eu tropeço para trás na cadeira do bar. No Museu. Nos banheiros. Era
com isso que ela a estava chantageando. Não apenas se assumir, mas ser
vítima de revenge porn. O pensamento queima violentamente o fundo da
minha garganta. Ela tem um vídeo de nós fazendo sexo.
Doente. Ela é tão doente.
— Então, ela não está com Stacey? — Eu falo, confusa e eufórica ao
mesmo tempo.
— Isso foi seriamente tudo o que você absorveu com isso? —
Victoria diz, diversão dançando em seus olhos, Aryan espelha suas
expressões.
Claro, isso é o que eu absorvo disso. Uma fita de sexo é ruim. Mas ela
estar com Stacey? Outra pessoa tocá-la ou estar com ela é pior. É uma das
piores coisas que eu poderia imaginar.
Eu não me importo se um vídeo meu de sexo vazar, contanto que ela
estivesse comigo, eu aceitaria. Mas isso é egoísta, não posso esperar que ela
sinta o mesmo. Claro, ela está apavorada, isso arruinaria toda a sua
reputação. Nada é pior do que uma mulher ter liberdade sexual... mas os
perpetradores de vazamentos de revenge porn raramente são
ridicularizados. São sempre as vítimas.
Aryan pigarreia, atraindo minha atenção.
— Ela não se importava com o que acontecia com ela, apenas com o
fato de que aquele vídeo arruinaria seu futuro. Ela fez isso por você.
Espere o quê? Ela não se importava consigo mesma? Juliette
Kingston, que só parece se importar com o que as outras pessoas pensam
dela.
Meu futuro. Eu nem pensei no meu futuro. Eu sendo médica. Ela
pensou nisso, porém, tanto que me machucou para me salvar disso. Eu a
chamei de egoísta em minha mente, eu disse a ela que nada jamais poderia
me levar a dizer palavras vis para ela assim. Mas eu estava errada, se
estivesse no lugar dela, talvez eu fizesse o mesmo.
Ela fez isso por mim.
Quero me levantar e encontrar Stacey, quero rasgá-la membro por
membro, mas não consigo fazer isso agora. Não consigo fazer nada além de
me arrepender.
3. The Universities and Colleges Admissions Service in the UK. Sistema de admissões de
faculdades no Reino Unido.
Capítulo QUARENTA E TRÊS
Juliette
— Nós precisamos matar Stacey.
Reviro os olhos.
— Não, nós não precisamos.
Kai me dá um olhar inexpressivo e uma risadinha irrompe do fundo
da minha garganta. Acho que é a primeira vez que ri desde tudo isso. Claro,
eu só poderia manter Kai afastado por um tempo.
Eu contei tudo a ele esta manhã e ele se desculpou por não ter me
ouvido antes, mas eu não podia culpá-lo. Ele tentou ligar para Adaline logo
depois, mas eu o impedi – ela precisa de espaço, está claro. Isso só vai
afastá-la ainda mais de mim.
— Sério, quando sua mãe vai resolver isso? — Ele pergunta em um
acesso de raiva.
— Ela está a caminho, eu liguei para ela ontem e disse que precisava
de ajuda com uma coisa — eu digo, sentindo meu nervosismo crescer.
— Você realmente vai contar a ela?
— Sim.
Minha mãe não hesitou em me dizer que entraria no próximo vôo. Ela
deve chegar aqui em breve. Não tenho certeza se ainda terei essa coragem
quando a vir, mas vou ter que me forçar.
— Você vai ao casamento de Adam amanhã? — Pergunto-lhe.
Seus olhos suavizam.
— Não sem você.
Eu desvio meus olhos dele.
— Ela não quer me ver.
Tenho certeza que a despedida de solteiro de Adam é esta noite
também. Só sei porque ajudei a planejar as lembrancinhas com ela. Eu tive
que praticamente forçá-la a me deixar ajudar.
— Isso é um tiro no escuro e você sabe disso — ele me diz.
Talvez seja. Talvez eu esteja com medo de ver o rosto dela novamente
porque isso me fará perceber que tudo o que ela disse é verdade. Que ela é
capaz de amar, mas nunca me amaria.
— Juliette! — Uma voz chama do andar de baixo e instantaneamente
me levanto da minha cama, Kai me seguindo enquanto desço as escadas de
maneira apressada. É minha mãe, entrando pela porta com umas quinze
malas nas duas mãos.
— Oi, senhorita Kingston — Kai cumprimenta alegremente.
— Olá, Kai. — Ela sorri de volta para ele. Ela sempre gostou de Kai.
Dou uma olhada em Kai, inadvertidamente dizendo para ele ir e ele
obedece. Ele se despede de mim e de minha mãe. Minha mãe se aproxima
de mim e me puxa para um abraço apertado, quente e... estranho. Ela se
afasta depois de alguns segundos e eu olho para ela, confusa.
— Então qual é o problema? — Ela me pergunta, inclinando a cabeça
para o lado.
— Vamos sentar.
Ela assente, franzindo as sobrancelhas. Entramos na sala de jantar
enquanto ela coloca as malas no chão e se junta a mim na mesa, sentando-se
ao meu lado.
— Qual o problema, Juliette? Você está me preocupando. — Ela está
certa, posso ver em seus olhos.
Eu deveria começar pequeno. Algo para testar as águas.
— Eu não quero estar na empresa mãe. — Ela não diz nada, então eu
continuo. — Quero abrir minha própria galeria. Sempre quis isso.
As palavras de Victoria me encorajaram a fazer mais do que apenas
me assumir. Se eu quero viver honestamente, isso deve abranger todas as
partes da minha vida.
Ela espera alguns momentos antes de perguntar:
— É isso?
Quando eu aceno, ela exala alto como se eu tivesse acabado de dar a
melhor notícia de sua vida.
— Graças a Deus. Achei que você estivesse com algum tipo de
problema. — Ela respira trêmula. — Tudo bem, Juliette, não é o que eu
teria escolhido para você, mas se é o que você quer fazer, eu vou apoiar.
— Sério?
Ela franze a testa.
— Sério.
Isso foi mais fácil do que o esperado. Tão fácil que está me fazendo
querer dizer a ela a próxima coisa muito rapidamente.
Eu cerro meus punhos com força.
— Tem mais uma coisa.
— Sim?
— Preciso de ajuda com um problema. — Eu mexo com meus dedos
antes de olhar para ela. — Alguém está com problemas.
— Quem está com problemas? — Ela franze as sobrancelhas.
— Adaline Emery.
Ela parece perplexa, quase rindo quando diz:
— Adaline Emery? Por que eu me importaria com ela?
— Mãe, isso é sério. Esse problema pode arruinar a vida dela. — Eu
cerro as palavras, de repente meu coração está disparado. Se eu dissesse a
ela que estava com problemas, ela se importaria, ela não tem ideia de que
estamos juntos nisso.
Ela zomba.
— Como eu disse antes, por que eu me importaria com a vida dela?
— Porque eu me importo com ela — murmuro, abaixando a cabeça.
— O quê?
A fúria corre através de mim com sua confusão, com sua total falta de
consideração pela mulher que amo. Eu olho para ela, vendo a confusão e a
ignorância vagando em seus olhos. Como pude não ver isso todos esses
anos? Não posso mais ignorar e não consigo parar.
Eu poderia me afogar nesses sentimentos e nunca sair para respirar…
não acho que mereço sair para respirar. Eu quero ir às compras, discutir
sobre coisas estúpidas e fazer coisas que outros casais fazem. Quero segurar
a mão dela quando ando na rua e não me preocupar com ninguém nos
machucando. Quero trazê-la para casa e deixá-la nervosa para impressionar
minha mãe, não porque ela tenha medo dela, mas porque ela só quer
impressionar.
— Porque eu me importo com ela! — Eu grito, minhas mãos batendo
na mesa. Ela parece ofendida e eu me levanto. — Cada segundo de cada
dia, eu me preocupo com ela! — Eu quero parar, mas não posso, tudo sai de
dentro de mim. — Eu amo ela. Estou apaixonada por ela. Hoje. Amanhã. Se
eu fosse viver para sempre, seria amando-a!
Ela apenas fica sentada lá, completamente sem palavras e acho que eu
também. Ai, meu Deus. Fico ali parada por alguns bons minutos, mas ela
ainda está em silêncio, meu coração despenca ao mais fundo possível, mas
não deixo transparecer. Eu apenas balanço minha cabeça e faço meu
movimento para ir embora. Mas antes que eu possa, ela fala.
— Juliette … — Sua voz é hesitante.
Eu não me viro.
— Sim?
— Qual era o problema?
Eu não deixo a ansiedade ou vergonha me parar desta vez.
— Stacey Johnson. Ela nos gravou fazendo sexo e está me
chantageando com isso.
Eu não espero por sua resposta, eu me afasto e piso todo o caminho
até o meu quarto, batendo a porta do meu quarto. Logo depois, ouço a porta
da frente fechando, mas é suave.
Enrolo-me debaixo das cobertas, mas não choro, também não fico
com raiva. Isso torna as coisas muito mais difíceis, sem minha mãe vai ser
mais difícil assustar Stacey e apagar aqueles vídeos, mas vou dar um jeito.
Acabei de me assumir para minha mãe. Não esperava parabéns nem
abraço, esperava raiva. Eu esperava possivelmente ser expulsa de casa. Este
pode não ser o melhor resultado, mas também não é o pior e isso é a coisa
mais triste do mundo ou a mais normal. O pensamento me leva a um sono
profundo e, como em todas as noites, sonho com Adaline.
***
FIM
Agradecimentos
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer aos meus leitores do
Wattpad; vocês me deram coragem para publicar este livro e não tenho
palavras para agradecer por tudo!
Meus maiores agradecimentos vão para minha família, especialmente
para minha mãe – por ser a melhor mãe que alguém poderia ter. Um
agradecimento especial para minha irmã, Ramisha e especialmente minhas
irmãs, Zainab e Zara, elas me concederam o privilégio de ser uma estudante
desempregada que pode ter tempo para se concentrar em escrever este
romance.
Além disso, gostaria de agradecer à minha editora, Faith Okoro, e ao
designer de capa, Muhammad Waqas, que podem ser encontrados no Fiverr.
Sobre a autora
Amina Khan é uma mulher lésbica de 19 anos, autora britânica-
paquistanesa que cresceu em Birmingham, na Inglaterra. Loathing You é seu
primeiro romance e ela começou a escrevê-lo no Wattpad, onde alcançou
mais de um milhão de leitores e apoiadores.