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LOATHING YOU

AMINA KHAN
Atenção!
Nosso grupo traduz voluntariamente livros sem previsão de lançamento no Brasil com o intuito de
levar reconhecimento às obras para que futuramente sejam publicadas. O Tea & Honey Books não
aceita doações de nenhum tipo e proíbe que suas traduções sejam vendidas. Também deixamos claro
que, caso os livros sejam comprados por editoras no Brasil, retiraremos de todos os nossos canais e
proibiremos a circulação através de gds e grupos, descumprindo, bloquearemos o responsável. Nosso
intuito é que os livros sejam reconhecidos no Brasil e fazer com que leitores que nunca comprariam
as obras em inglês passem a conhecer. Nunca diga que leu o livro em português, alguns autores (e
eles estão certos) não entendem o motivo de fazermos isso e o grupo pode ser prejudicado. Não
distribua os livros em grupos abertos ou blogs. Além disso, nós do grupo sempre procuramos adquirir
as obras dos autores que traduzimos e também reforçamos a importância de apoiá-los, se você tem
condições, por favor adquira as obras também. Todos os créditos aos autores e editoras.
Aviso!
Aviso de gatilho. Este livro contém:
— Linguagem homofóbica e ofensiva
— Menção de suicídio (Fora da página)
— Menção de estupro (Fora da página)
— Este é um livro de “de inimigos para amantes”. Esta não é uma
história de amor fofo; é um romance sombrio. Os personagens são vis e
cruéis uns com os outros. Se você não se sentir confortável com esse
conteúdo, por favor, não leia.
— Juliette, uma personagem deste livro, é uma personagem cruel e de
caráter moralmente duvidoso que fere emocional e fisicamente as
pessoas, portanto, se esse tipo de conteúdo for um gatilho para você, por
favor, não leia.
Aviso de conteúdo
por thb

O enredo apresenta uma personagem principal bissexual, cujo


romance sáfico é um dos pontos centrais da história. Além disso,
personagens secundários pretos e sul-asiáticos também desempenham
papéis significativos na trama. Outro personagem secundário é aquiliano,
enriquecendo ainda mais a diversidade cultural da narrativa. Há também
uma personagem principal que se assume como lésbica durante o
desenvolvimento do enredo. Este livro incorpora as tropes de enemies to
lovers, academic rivals, dark romance e bully romance.
Como dito anteriormente na nota de aviso da própria autora, este é um
livro que aborda gatilhos emocionais delicados. Os temas sensíveis incluem
homofobia, menções violência doméstica, violência física, bullying,
transtornos alimentares, menção de suicídio, trauma familiar e abuso
emocional e físico por parte dos pais, além de cenas explícitas de natureza
sáfica, retratando relações íntimas entre mulheres. Além disso, algumas
cenas podem conter preferências sexuais específicas, como enforcamento e
tapas. Há também menção de um vídeo de sexo que é usado como ameaça
em determinado momento da história (revenge porn).
Na versão original do livro, a personagem é descrita como tanned
skin, o que nós traduzimos para “pele bronzeada” devido a falta de mais
menções à etnia e características físicas da personagem. O termo "pele
bronzeada" é utilizado para descrever a tonalidade mais escura da pele
devido à exposição ao sol, sendo uma tradução literal da expressão em
inglês "tanned skin". É importante lembrar que a aparência física de um
personagem na literatura não define sua identidade, personalidade ou
origens étnicas.
Nossa intenção ao apresentar estes avisos é garantir que os leitores
estejam cientes do conteúdo abordado em "Loathing You" e possam fazer
uma escolha consciente sobre como prosseguir com a leitura. Caso optem
por continuar, esperamos que apreciem a história, sua diversidade
representativa e a sensibilidade com que os temas sensíveis são tratados.
Dedicatória
Para as garotas queer que não se encaixam no molde suave; aquelas que
não amam silenciosa e suavemente, mas alto e brutalmente até que as
rasgue.
Playlist
“The way I loved you.”—Taylor Swift
“Don’t blame me.”—Taylor Swift
“Dress.”—Taylor swift
“Sure thing.”—Miguel
“Lavender and velvet”—Alina Baraz.
“Unstable.”—Janine
“I love you.”—Billie Eilish
“High enough.”—K. Flay
“Fine line.”—Harry Styles
“Wanna be yours.”—Arctic Monkeys
“Jealous girl.”—Lana del Rey
“Good in bed.”—Dua Lipa
“War of hearts”—Ruelle
“Woo.”—Rihanna
“Somebody else.”—The 1975
“Almost love.”—Sabrina Carpenter

Playlist disponibilizada pelo THB aqui.


CONTEÚDO
AVISO!
DEDICATÓRIA
PLAYLIST
CONTEÚDO
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO QUATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
CAPÍTULO VINTE E DOIS
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
CAPÍTULO VINTE E CINCO
CAPÍTULO VINTE E SEIS
CAPÍTULO VINTE E SETE
CAPÍTULO VINTE E OITO
CAPÍTULO VINTE E NOVE
CAPÍTULO TRINTA
CAPÍTULO TRINTA E UM
CAPÍTULO TRINTA E DOIS
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO
CAPÍTULO TRINTA E CINCO
CAPÍTULO TRINTA E SEIS
CAPÍTULO TRINTA E SETE
CAPÍTULO TRINTA E OITO
CAPÍTULO TRINTA E NOVE
CAPÍTULO QUARENTA
CAPÍTULO QUARENTA E UM
CAPÍTULO QUARENTA E DOIS
CAPÍTULO QUARENTA E TRÊS
CAPÍTULO QUARENTA E QUATRO
AGRADECIMENTOS
SOBRE A AUTORA
“O amor nem sempre parece o céu, às vezes queima, envolve seu coração e
rasga seu interior; às vezes, o amor parece o inferno.”
Capítulo UM
Adaline
Não há um único pensamento na cabeça desse menino. Nem mesmo
um! Seria ofensivo dizer que previ isso? Quero dizer, ele é um aluno típico
aqui; irritante e com direito. Esta é a nossa quinta sessão e não recebi um
pingo de trabalho dele desde que começamos. Mesmo agora, ele está apenas
olhando para mim com um olhar confuso e vazio.
— Qual foi a pergunta de novo? — Andrew pergunta, parecendo
cansado.
Do que exatamente você está cansado? Estou dando aula para você
há uma hora e você passou o tempo todo no telefone!
Em vez de dizer o que penso, opto por uma opção mais fácil e
cintilante.
— Eu não vou mais te ensinar. — Enquanto arrumo minhas coisas,
ele apenas dá de ombros em resposta.
Claro. Por que ele deveria se importar? Ele é rico e provavelmente
pagará sua admissão em qualquer universidade que quiser, assim como
qualquer outro Neandertal neste pesadelo de escola – a instituição de ensino
médio de Richmond –, lar predominantemente dos pirralhos mais ricos e
mais privilegiados da Inglaterra.
A verdadeira questão é: por que estou perdendo meu tempo ensinando
essas crianças? Eu pondero sobre a questão enquanto saio da biblioteca da
escola. Bem, a tutoria tem seus benefícios; como parecer excepcional em
meus formulários de inscrição na universidade, que é a única coisa que
realmente importa para mim.
Embora eu sinta que minhas células cerebrais estejam diminuindo, o
que está começando a me esgotar quanto mais eu continuo a ensiná-las,
ainda há algumas vantagens nisso e se algo for benéfico para mim,
especialmente para minha educação, estou fazendo isso.
Foi por isso que aceitei aquela bolsa acadêmica para a Richmond
Academy quando tinha 12 anos. Eu não ia ficar na minha velha e pobre
escola secundária. Apesar de estar rodeada de crianças da minha idade, para
uma instituição onde a faixa etária é de 12 a 18 anos... não é exatamente a
coisa mais fácil. No entanto, eu me acostumei com isso rapidamente.
Todos aqui em Richmond são ricos; Acho que sou, sem dúvida, a
única bolsista aqui, já que os outros quatro desistiram como dominós ano
após ano. Eles não aguentaram a pressão. Com isso, quero dizer que eles
não poderiam lidar com os babacas ricos e arrogantes deste lugar. Eu não os
culpo, se eu não estivesse tão determinada a realizar meus sonhos, já teria
deixado este lugar anos atrás.
Este é um dos programas de ensino médio mais prestigiados do país,
então lidar com idiotas nos últimos cinco anos valeu a pena. Pelo menos,
posso experimentar todos os privilégios acadêmicos aqui, especialmente os
armários; lindos armários azul-marinho de tamanho duplo que combinam
com meu uniforme.
Minha abundância de livros cabe perfeitamente dentro deste armário,
assim como todo o resto; como meus fones de ouvido, que estou tirando e
colocando na minha cabeça.
A música é uma das únicas coisas que às vezes me faz sentir com os
pés no chão; isso e estudar. Estou extremamente empenhada em me tornar
uma cirurgiã, se não fosse, com certeza pensaria em me tornar musicista,
independentemente do fato de que não consigo tocar uma música mesmo se
fosse para salvar minha vida.
A música é realmente tão versátil. Eu poderia ouvir música durante o
sexo, no chuveiro, enquanto trabalho...
— É como se você fosse casada com esses fones de ouvido. — Sinto
meus fones de ouvido sendo arrancados de minha preciosa cabeça, o que
simultaneamente me tira dos meus pensamentos.
Eu bato a porta do meu armário, me virando para ficar cara a cara
com os culpados, meus melhores amigos. Victoria é quem está segurando
meus fones de ouvido com um sorriso no rosto impecável.
Vitória Williams. A família dela é uma das famílias mais ricas da Europa,
especialmente aqui na Inglaterra. Seus pais são jogadores de basquete de
renome mundial e toda a linhagem de sua família são prodígios do esporte.
Ela não é diferente; qualquer equipe esportiva que você pode nomear? Ela
está nela.
Eu, por outro lado, preferiria morrer a entrar para um time esportivo.
Passar horas suando enquanto faz cardio? Não, obrigada. Posso pensar em
algo que me dê a mesma quantidade de cardio e triplique o prazer.
Aqui está ela, meus fones de ouvido em suas mãos perfeitamente
cuidadas, seus olhos castanhos brilhando com malícia e sua pele negra
retinta brilhando mesmo neste clima úmido. Às vezes, é difícil ficar irritada
com ela; ela é bonita demais para se irritar com ela.
Eu puxo minha propriedade de volta.
— O que eu disse a vocês idiotas sobre tocar em meus fones de
ouvido?
— Que você vai nos desmembrar se tocarmos na sua merda? —
Aryan respondeu, sorrindo maliciosamente enquanto colocava o braço em
volta do meu ombro.
— Exatamente — eu respondo, socando seu estômago levemente.
Claro, no verdadeiro estilo de Aryan, ele aperta o estômago
melodramaticamente, enquanto eu escondo meu sorriso. Mesmo que eu
quisesse machucá-lo, o que sou muito capaz de fazer, não o incomodaria
nem um pouco. Aryan Oberoi é uma parede de tijolos; 1,83 metro, puro
músculo, parede de tijolos do sul da Ásia.
Assim como Victoria e praticamente todos os outros alunos desta
escola, a família de Aryan é extremamente rica.
Sua família vem de dinheiro muito antigo. Algo na linha dos
empreendimentos petroquímicos. Eu não tenho a menor ideia do que
qualquer um desses empreendimentos significa e nem Aryan.
Ele não é realmente muito esperto, mas nunca deixa que isso o afete.
Ele gosta mais de atividades físicas, assim como Victoria, especialmente
boxe.
Não poderíamos ser mais diferentes. Eu tinha inclinação acadêmica,
enquanto eles não se importavam e se concentravam mais em atividades
físicas. Eu era pobre, eles eram ricos, o que não fazia diferença para mim.
Eu sabia que tínhamos nos tornado melhores amigos na minha
primeira semana em Richmond, quando fui detida por protestar contra o
código de vestimenta sexista. Quando entrei na sala, os dois estavam lá por
fazerem exatamente a mesma coisa. Uma verdadeira amizade nasceu
naquele dia.
— Sempre tão violenta — Victoria responde brincando, abrindo seu
armário.
Quando ela abre, rosas começam a cair do armário até seus pés.
Aryan e eu compartilhamos um olhar divertido e conhecedor.
— Seu admirador secreto? — Eu estou brincando. Ela apenas revira
os olhos para mim.
Ela inspeciona as rosas com um leve sorriso nos lábios, as mãos
brincando com as pétalas.
— Ele não é secreto, ele é um pé no saco.
Ela está falando sobre Kai Kang, o garoto que tem saudades dela nos
últimos três anos. Ele declarou seu amor por ela em várias ocasiões com
flores, elogios e presentes. No entanto, Victoria nunca deu a ele uma hora
de seu dia nem o rejeitou.
— Por que você não o rejeita logo de uma vez então? — Eu questiono
curiosamente, enquanto Aryan concorda com a cabeça.
Eu não conseguia entender. Toda vez que ele se expõe com atenção e
presentes, ela aceita e não o rejeita com razão ou mesmo insinua que está
desinteressada. Teria sido um caso diferente se ele insistisse e não aceitasse
um não como resposta.
Ela dá de ombros sem olhar para nós.
— Gosto da atenção.
Justo.
— Talvez você devesse dar uma chance a ele — Aryan sugere
inocentemente. Os meus olhos e os de Victoria estalam instantaneamente
com a sugestão dele.
— Eu o destruiria. — Ela ri roucamente.
— Ele adoraria isso. — Eu rio, sentindo-a me empurrando de
brincadeira em resposta.
— Além disso, ele é muito bonito de se olhar — Aryan acrescenta
melancolicamente. Victoria e eu não podemos deixar de concordar com o
comentário dele.
Além do fato de Kai Kang ter um ciclo de amizades horrível, não sei
muito sobre ele. Tudo o que sei é que ele tem cabelos ruivos que cegam a
maioria das pessoas, tatuagens espalhadas por todo o corpo e é muito
atraente.
— Talvez você devesse dar uma chance a ele então — Victoria sugere
em um tom meio divertido, meio sarcástico. Alguém está se esquivando.
— Sem chance. Ele não é meu tipo. — Aryan ri ruidosamente,
balançando a cabeça. — Não gosto de meninos que agem como gatinhos
apaixonados.
É verdade, o tipo de Aryan é um homem que muitas vezes lhe daria
pouca atenção, o que é muito difícil de encontrar, principalmente porque
todo mundo dá atenção a ele, até as garotas que desconsideram
completamente o fato de ele ser gay.
— Filhote apaixonado — eu o corrijo educadamente.
Ele sorri para mim e acena com a cabeça.
— Sim. Ele é um filhotinho muito apaixonado.
— Acho cativante — Victoria responde com um raro e suave sorriso
no rosto.
— Então por que você não dá uma chance a ele? — A pergunta de
Aryan me faz arrulhar para ele. Ele sempre tenta ver o que há de bom nos
outros.
Vitória suspira.
— Você está esquecendo quem é a melhor amiga dele? Como posso
entreter a ideia de dar uma chance a ele quando ele é amigo de J…
— Por favor, não mencione o nome dela; estou tendo um dia tão bom.
— Eu a corto rapidamente.
Meus dois amigos riem da expressão de desgosto no meu rosto, mas
não acho isso nem um pouco divertido. Apenas a menção do nome daquela
garota traz bile na minha garganta e meu peito aperta sempre que penso
nela, o que é engraçado, porque consigo pensar nela com bastante
frequência. É irritante.
Percebo que Aryan e Victoria trocam olhares e sorriem. Tenho notado
que eles fazem muito isso quando falamos sobre o “diabo que não deve ser
nomeado”.
Victoria bagunça meu cabelo e coloca o braço em volta de mim da
mesma forma que imagino que uma irmã mais velha faria.
— Independente. Estar com ele significa que eu teria que vê-la o
tempo todo. Eu não faria isso com você.
Desculpas. Desculpas. Desculpas.
Podemos fingir que o motivo dela não estar namorando Kai é sobre
mim, mas não é. Eu disse a ela várias vezes que ficaria em êxtase se ela
decidisse sair com ele. Independentemente de quem seja sua melhor amiga,
ele é um garoto legal. Ele constantemente me defende contra sua melhor
amiga malvada e muitas vezes a repreendeu na minha frente também.
Embora ele seja muito doce, não sei por que ele ainda é amigo de
alguém como ela; talvez uma longa história? Um sentimento de obrigação?
Porque, sério, quem escolheria ser amigo dela de bom grado?
— Você não precisa se conter por minha causa… — Não consigo
terminar minha frase porque Victoria me lança um olhar severo, me dizendo
com os olhos para manter minha boca fechada.
Claro, eu faço exatamente isso. Não tenho o hábito de ignorar
Victoria e suas exigências, ninguém tem.
— Enfim… — Aryan pigarreia, mudando de assunto. Nós duas
permitimos. — Vocês já fizeram o teste do Sr. Mathew? Todo mundo está
falando sobre como é difícil.
— Eu fiz, foi muito fácil — eu respondo, inclinando-me para a curva
do pescoço de Victoria.
Eu a sinto rir contra mim.
— Tudo é fácil para você.
— Sim, é — eu respondo arrogantemente.
Recebo um leve empurrão de ambos pelo meu comentário, mas
nenhuma palavra de protesto.
Por que outro motivo eu seria a tutora preferida na academia de
Richmond? Sou academicamente talentosa; é um fato simples. Não há um
único assunto em que eu não seja excelente e, sim, não sou muito modesta
quanto a isso.
Embora a maior parte de minhas proezas acadêmicas tenha sido
construída naturalmente, trabalho muito mais do que qualquer um nesta
escola privilegiada, então não tenho vergonha de me gabar de quão
inteligente sou. Eu ganhei esse direito.
O sinal toca alto, acabando com minha ostentação. Ambos os meus
amigos gemem com o som.
— Ugh, eu tenho matemática — Aryan reclama daquele jeito amável
que ele costuma fazer.
— Francês.
— Biologia. — Eu sorrio. Ambos gemem em uníssono com a minha
excitação óbvia. Eles podiam tirar sarro de mim o quanto quisessem, e
frequentemente tiravam, mas isso nunca mudaria o quanto eu adorava
biologia. Eu ficaria de joelhos, até venderia todos que conheço se a biologia
me pedisse. É com certeza o meu assunto favorito. Amo biologia desde
criança e percebi que queria ser cirurgiã.
— Tente não ter orgasmo na aula. — Aryan me provoca.
Eu zombo; rio dele antes de chutar sua canela rapidamente e fugir,
ignorando seus gritos e risadinhas de Victoria.
Entro na sala de aula, ignorando o olhar escaldante dos outros alunos
enquanto me sento.
— Boa tarde — o professor Khalid cumprimenta enquanto ele entra e
coloca suas malas sobre a mesa no meio do laboratório de ciências.
Sua estatura de um metro e oitenta é curvada e seu cabelo preto
azeviche despenteado para caramba. Mesmo sua barba não está tão
arrumada quanto o normal.
Se fosse qualquer outro professor, eu não notaria essas coisas, mas ele
é o professor mais tolerável de Richmond. Costumo notar as pequenas
coisas quando realmente suporto alguém.
— A aula começará um pouco mais tarde hoje, pois tenho assuntos
importantes para resolver. Estarei de volta para ensinar em meia hora, fique
à vontade para usar esse tempo para revisar em aula…
Ele nem termina a frase antes que a maioria dos alunos saia correndo
da sala de aula, desesperados para se afastar dessa aula. Ele parece fazer o
mesmo, saindo do laboratório.
Obviamente, eu não saio, só uso esse tempo para pegar meu livro de
biologia e revisá-lo. Os exames finais de nível A são em alguns meses; Eu
preciso estar completamente preparada. Não posso correr o risco de não ser
aceita na universidade; Oxford, mais precisamente. É a escola dos meus
sonhos. Já faz dez anos que vi um anúncio na parte de trás do ônibus.
Sempre soube que queria ser cirurgiã, mas nunca soube para qual
universidade iria até aquele dia. Eu não tinha um telefone ou um livro para
me fazer companhia na época, então apenas encarei o pôster durante a
maior parte da viagem de ônibus. Não sei por que, mas ficou comigo e com
razão; afinal, é uma universidade de prestígio.
Eu quero fantasiar mais sobre o meu futuro, assim como continuar
lendo meu livro favorito, mas não posso, por causa daquele som. Eu posso
ouvir o barulho de saltos andando em minha direção e parando bem na
frente da minha mesa.
— Aposto que esse livro faz você querer se tocar.
Eu conheço essa voz. Eu poderia reconhecer aquela voz aveludada em
qualquer lugar… só porque me enfurece muito.
Isso faz meu pescoço queimar e minha mandíbula cerrar. Sinto que
não consigo respirar sempre que a ouço. Eu relutantemente olho para cima e
vejo a dona da dita voz.
Juliette
Kingston!
A ruína da minha existência. A própria cria de Satanás. Seus olhos
azul-gelo, como uma sereia, estão olhando para mim através de seus cílios
longos e sedutores e seus dentes brancos perolados estão mordendo seu
lábio inferior carnudo, incitando-me com seu sorriso. Ela está franzindo o
nariz arrebitado para mim, como se eu estivesse completamente abaixo
dela.
Depois, há aquele cabelo; aquele cabelo loiro dourado comprido que
sempre fica perfeito, sem nenhuma mecha fora do lugar. O mesmo cabelo
que me hipnotizou quando meus olhos a viram pela primeira vez na tenra
idade de doze anos. Eu pensei que ela era a garota mais etérea que eu já
tinha visto em toda a minha vida... até que ela abriu a boca.
Juliette é tudo o que você acha que uma garota loira e rica seria. Ela é
a capitã das líderes de torcida. Mesmo que líderes de torcida não sejam tão
populares aqui na Inglaterra, ela ainda consegue se destacar nisso. Ela é a
garota mais popular da escola, a garota com quem todo mundo quer estar ou
ser. Pense em Regina George, mas pior ainda, então você tem Juliette
Kingston.
Não sou religiosa de forma alguma, mas às vezes acho que Deus
enviou Juliette especificamente com a intenção de tornar minha vida um
inferno. Pontos para ela, porque funcionou.
— Aww, você quer assistir? — Eu respondo sarcasticamente.
Uma carranca aparece em seu rosto pálido com a minha resposta.
Então ela zomba:
— Nos seus sonhos, sapatão.
Aí está. Ela tem usado essa palavra para me repreender desde que fui
pega beijando uma garota atrás dos portões da escola quando eu tinha doze
anos. Foi então que todos descobriram que eu era bissexual. Um garoto do
time de basquete me viu e contou para todo mundo. Meus próprios amigos
descobriram isso, mas me apoiaram incrivelmente. Infelizmente, todo
mundo estava apenas… em silêncio.
Não é nem como se eu fosse a única – assumida e orgulhosa – em
nossa escola; muitas crianças são queer, o que a maioria das pessoas não
tem problemas. No entanto, por alguma razão, sou a pária social só porque
Juliette me odeia e sua palavra é o evangelho nesta escola.
Como se não bastasse ser excluída da escola por causa da minha
situação financeira, agora minha sexualidade também parecia ser um
problema. Por que ela não podia simplesmente mexer com alguma outra
criança gay? Por que tinha que ser eu?
Claro, eu nunca a deixei chegar até mim. Eu sempre lutei e assumi a
responsabilidade de tornar a vida dela tão difícil quanto ela tornou a minha.
Isso a enfurecia além do que se pode imaginar. Não era apenas minha
pobreza e atração por garotas que a incomodava. Não, é mais do que isso. É
o poder que me recuso a dar a ela: todos além de mim se curvaram para
Juliette.
Ela quer que eu seja como todo mundo que a idolatra, mas o que ela
não percebe é que eles só a adoram por causa de seus meios e sua família,
não por sua personalidade rançosa – afinal, ela é uma herdeira do império
Kingston. Ela é uma das mais ricas... risque isso, ela é a pessoa mais rica da
Inglaterra, exceto a monarquia.
Ok, talvez seja um pouco exagerado, mas a família Kingston vem de
um dinheiro que tem séculos. A maior parte dessa riqueza foi acumulada
pela propriedade de empreendimentos imobiliários e industriais.
Acho que ninguém em sua família privilegiada jamais trabalhou duro
por nada, incluindo Juliette.
Juliette e eu estivemos envolvidas em um jogo nos últimos anos; ela
me repreende e eu a repreendo de volta. Nós vamos e voltamos competindo
pelo controle e eu estaria mentindo se dissesse que não é interessante. Ou
emocionante.
— Nos meus sonhos? Nunca — eu digo, meu tom cheirando a tédio
enquanto fecho meu livro. — A única vez que eu sonharia com você seria
se estivesse tendo um pesadelo. — Não é minha melhor resposta, mas para
ser justa, estou cansada.
Ela dá aquela mesma risada cruel que estou acostumada a ouvir nos
últimos cinco anos.
— Você está com tanto medo de mim?
Eu tenho que segurar meu riso. Juliette é muitas coisas; ela é cruel,
conivente, mal-intencionada, egoísta, rude e uma infinidade de outras
coisas, mas ela nunca me assustou.
— Você? Apavorante? Não se engane. — Eu rio alto com suas
palavras. — O que você vai fazer? Roubar o dinheiro do meu almoço?
Enfiar-me em um armário? — Quero dizer, qual é; a garota tem dezessete
anos! Iria matá-la agir de acordo com sua idade? Então, novamente, o
dinheiro claramente envelhece você.
Seus olhos se estreitam em resposta, um fogo acendendo neles. Ela
pigarreia e se inclina para mais perto de mim e eu luto contra a vontade de
respirar seu cheiro; baunilha.
— Não me faça mostrar a você o quão assustadora eu posso ser.
Eu não respondo à sua ameaça porque minha respiração fica presa na
garganta e ela claramente toma isso como um desafio, porque ela continua a
falar.
— Tenho certeza que seu irmão não gostaria de estar atrás das grades
de novo, não é?
Eu aperto minha mandíbula com tanta força. Ela nunca deixa de
mencionar meu irmão mais velho ou como ele foi para a cadeia quando eu
tinha onze anos e passou quatro anos lá. Pelo menos, ela não menciona
meus pais mortos. Agradeço a ela por ter apenas um pingo de decência
humana.
Apenas mais uma coisa a acrescentar à já enorme pilha de razões
pelas quais as pessoas zombam de mim na escola, não que eu me importe.
Nenhuma das crianças desta escola abandonaria a escola quando
criança e trabalharia incansavelmente em uma garagem para sustentar sua
irmã mais nova; desistir de seus sonhos, apenas para que eu pudesse realizar
o meu próprio e então ter isso recompensado com uma sentença de prisão.
Forço um sorriso sarcástico no rosto.
— Tenho certeza que ele não se importaria. Ele gostou bastante da
paz e tranquilidade de lá.
Ela fecha os olhos por um breve segundo, claramente tentando
organizar seus pensamentos e se acalmar. Ela fazia isso com frequência
quando eu não lhe dava a atenção que ela queria.
Ela abre os olhos e diz:
— Você não se cansa de fingir que não te afeto?
Reviro os olhos com sua análise de mim. Mesmo que fosse verdade, é
irritante.
— Você é um disco quebrado, Juliette, você está vomitando a mesma
merda por cinco anos e adivinhe? É chato para caralho.
Deus, não. Nunca é chato. Cinco anos e ela ainda me mantém na
ponta dos pés em todas as oportunidades. Meu coração ainda dispara e
arrepios ainda percorrem minha espinha sempre que jogamos este joguinho.
Ela. Quer dizer, quando ela joga esse jogo porque eu não gosto de
brincar com ela.
Ou gosto?
Eu guardo meus livros, fechando minha bolsa sem nem mesmo olhar
para cima para ver a reação de Juliette ao meu comentário. Eu precisava
sair dessa sala de aula e realmente aproveitar o tempo livre, em vez de ficar
aqui sentada ouvindo as bobagens de Juliette.
Dou talvez três passos antes de sentir minhas costas colidindo com
seu peito. Sua mão macia me puxou para trás com tanta força bruta que
quase não consegui me mexer, então não foi uma surpresa ela ser capaz de
me virar. Seus olhos escurecem enquanto ela olha para mim, considerando
que ela é alguns centímetros mais alta do que eu.
Juliette olha para o meu rosto inabalável, sua mandíbula apertada.
— Você sai quando eu disser que pode.
Fria. Tão fria.
Minhas entranhas congelam com suas palavras; o tom exigente, o
olhar presunçoso em seu rosto e o controle que ela claramente tem de sobra.
Ela pode pensar novamente; prefiro ser esfolada viva do que deixar Juliette
Kingston me dizer o que fazer.
Eu puxo minhas mãos para fora de seu alcance e a empurro com tanta
força que suas costas batem na mesa.
— Me toque de novo e eu vou te matar.
Eu não dou a ela qualquer tempo para responder à minha ameaça. Eu
saio da sala de aula rapidamente, porque estar perto dela por mais de cinco
minutos faz minha pele coçar e meu sangue ferver além da conta.
Eu detesto Juliette Kingston.
Capítulo DOIS
Juliette
Eu a odeio. Eu a desprezo. Ela está apenas se afastando de mim. Ela
faz isso há tanto tempo, mas nunca para de me enfurecer.
Adaline Emery.
Ainda me lembro da primeira vez que coloquei meus olhos em
Adaline. Ela tinha andado... não, ela tropeçou na minha aula de ciências.
O som da chuva ainda ecoava em meus ouvidos quando a vi pela
primeira vez. O uniforme que ela usava estava amassado. Suas calças eram
compridas demais para ela e seus sapatos estavam imundos. Ela parecia
uma bagunça absoluta, até que eu vi seu rosto.
Aquele maldito rosto.
Eu gostaria tanto de poder tirar sarro de seu rosto, mas simplesmente
não posso. Ela realmente é uma visão, com sua pele bronzeada impecável,
olhos verdes jade brilhantes e cabelos pretos perfeitos. Ela se destaca tão
vividamente.
Eu gostaria que seu nariz de botão fosse torto para que eu pudesse
zombar dele. Eu gostaria que seu corpo magro e esbelto fosse
morbidamente desfigurado. Eu só queria que ela não fosse tão
convencionalmente atraente de se olhar.
Ela nem passou pela puberdade direito. Enquanto o resto de nós
estava lidando com acne e todas as outras coisas normais que pareciam o
fim do mundo, ela ainda estava perfeita como sempre.
Ela é tão ciente disso, tão audaciosamente ciente de que todos nesta
escola a querem. Felizmente, eles nunca tentariam. Ela pode ser atraente,
mas ainda é uma pária, sem falar que deixei bem claro que ela está fora dos
limites.
Ela é m…
Minha responsabilidade.
Desde o momento em que meus olhos vislumbraram Adaline Emery
pela primeira vez, o fogo se acendeu dentro de mim. Isso só foi alimentado
ainda mais quando descobri que ela era bissexual.
Como se não bastasse ela ser um caso de caridade e seu irmão estar
na cadeia, agora ela gostava de garotas? Ninguém mais se importava com
isso, mas eu sim.
Essa notícia mexeu comigo aos 12 anos. Eu não poderia deixá-la ir.
Juliette, de onze anos, teria confortado Adaline; eu teria parado de ser má
por alguns segundos e garantido a ela que tudo ficaria bem.
No entanto, muita coisa mudou para mim naquele ano, portanto, por
extensão, teve que mudar para Adaline também.
Mesmo que ela não gostasse de garotas, Adaline ainda seria
absolutamente irritante. Eu me deleitei em colocá-la em seu lugar nos
últimos cinco anos. Ridicularizá-la e jogar este jogo com ela tem sido uma
das partes mais consistentes e agradáveis da minha vida.
— Você nunca se cansa de irritá-la? — Kai me pergunta, apoiando-se
em seu armário, seus olhos castanhos escuros com monopálpebras me
encarando.
— Nunca. — Eu sorri porque era verdade. Eu poderia me cansar de
muitas coisas, mas irritar Adaline Emery? Eu nunca poderia me cansar
disso.
Eu vivo para isso.
— Você é insuportável — retruca Kai, balançando a cabeça enquanto
abre o armário e pega seus livros.
Não é a primeira vez que ouço isso e embora ele esteja brincando, a
maioria das pessoas não está. Afinal, sou uma Kingston, a herdeira de um
dos maiores impérios multimilionários da Inglaterra.
Acho que se as pessoas não me idolatram por causa do meu dinheiro,
geralmente o farão por causa da minha aparência. Se não, eles vão me
repreender por ambos, porque Deus me livre que uma garota seja bonita e
rica, visto que eles não podem me classificar como uma interesseira ou uma
puta – ambos os termos que os homens cunharam para rebaixar ainda mais
as mulheres.
— Você adora — eu retruco, empurrando de brincadeira o ombro do
meu melhor amigo.
Kai Kang. Futuro astro do rock em formação. Ele tem sido o único
amigo verdadeiro que já tive. Outras pessoas que se aproximaram de mim
como resultado de minha família rica e popular. Kai não é assim; ele é
como uma família para mim.
— Ela vai foder com você um dia — a diversão acompanha seu tom
—, sabe disso, certo?
— Seria o sonho dela. — Eu zombo de suas palavras.
Seria o sonho dela? Ou o meu?
Quem eu estou enganando? Sou eu. Claro, sou eu. Sou eu quem
deseja que um dia ela tenha coragem de passar os dedos pelo meu pescoço.
Que um dia ela agarre meu cabelo, morda qualquer coisa que ela possa
colocar os dentes e simplesmente ceda a essa raiva animalesca que eu sei
que ela tem por mim.
Então isso significaria que eu a alcancei; que eu me infiltrei tão fundo
em cada fenda de sua mente que ela não tem outra escolha a não ser
recorrer à violência física.
Ela nunca faria isso, porém, não porque ela odeia violência ou porque
ela me respeita. Não, é porque ela não vai me dar essa satisfação. Para ela,
eu sou nada.
Eu não sou “nada”. Eu sou uma Kingston.
— Eu disse a você que deixei mais algumas rosas para Victoria hoje?
— Kai diz animadamente, tirando-me dos meus pensamentos.
— Sim. Várias vezes — eu gemo e ele ri do meu aborrecimento, o
que me leva a continuar falando. — Ela apenas gosta de atenção, você sabe
— eu digo a ele em um tom severo, como se estivesse falando com meu
irmão mais novo, embora ele seja consideravelmente mais alto do que eu
com seus 1,80 metro de altura, comparado ao meu 1,50 metro.
— Eu gosto de dar a ela. — Ele dá de ombros em resposta.
Ele é outra coisa. Kai é do tipo que pergunta cinquenta vezes antes
mesmo de ficar ao lado de uma garota, mas de alguma forma, uma onda de
confiança o preenche quando se trata de Victoria.
— Por que você está tão apaixonado por ela? — Eu questiono
curiosamente, avançando quando acho que ele está pronto para começar a
responder.
Sério, não consigo entender. Claro, ela é linda, mas como você pode
gostar tanto de alguém? Acho embaraçoso, até mesmo degradante, ansiar
tão abertamente por alguém.
— Ela é inteligente, trabalhadora, bonita…
Eu o cortei, quase rindo alto.
— Inteligente? Isso é discutível. Você está esquecendo que ela é a
melhor amiga daquela sapatão deplorável…
— O que eu te disse sobre essa palavra? — Ele me interrompe com
raiva, batendo a porta do armário.
Reviro os olhos.
— Que minha linguagem homofóbica é nojenta.
Toda vez que pronuncio algo homofóbico, uma raiva pura e não
adulterada toma conta de suas feições. É compreensível, afinal, ele era meu
amigo antes de eu ficar assim.
Uma das principais razões pelas quais nos tornamos amigos íntimos
foi porque viemos de formas de pensar progressistas, ao contrário da
maioria das outras crianças em Richmond.
Ainda me lembro vividamente do que Kai me disse quando tínhamos
12 anos e eu tinha acabado de destruir o armário de Adaline pela primeira
vez, enquanto jorrava calúnias homofóbicas contra ela.
Ele olhou para mim e disse:
— Eu sei por que você está com tanta raiva dela, mas você ainda não
sabe e tudo bem. Estarei aqui para você agora e estarei lá para você
quando descobrir isso.
Até hoje, não sei o que ele quis dizer e não deu mais detalhes. Tudo o
que sei é que ele sabe algo em sua mente que justifica que ele seja o melhor
amigo de alguém como eu; alguém que age contra suas crenças o tempo
todo. Eu apenas me considero sortuda por ele ter permanecido meu amigo,
apesar de tudo.
Minha atitude não o impede de me dar sermões o tempo todo. Se eu
ganhasse um centavo por cada vez que ele me dá sermão sobre homofobia,
eu seria ainda mais rica do que já sou.
— Se a sua antiga versão ouvisse você falando agora, ela ficaria
enojada! — Ele passa a mão pelo cabelo ruivo; às vezes ele se irrita tão
facilmente. — Você não pode continuar se comportando assim, você não
pode continuar usando seu pai como desculpa…
— Não — eu o advirto em um tom perigosamente baixo.
Ele franze as sobrancelhas com raiva e fecha a boca, claramente
tentando montar suas próximas palavras com muito cuidado.
— Juli… — Kai para de falar abruptamente e eu levanto minha
sobrancelha para ele interrogativamente. Até que eu mesmo me assusto com
mãos me abraçando por trás.
Meu primeiro instinto é atacar a pessoa, mas então reconheço o leve
cheiro de madeira e as mãos fortes em volta da minha cintura e relaxo um
pouco. Apenas um pouco.
— Eu senti sua falta, baby — ele sussurra, com a cabeça apoiada na
curva do meu pescoço. Embora suas mãos pareçam um pouco fortes demais
e seu cheiro um pouco almiscarado, eu me inclino ainda mais para trás.
— Eu também senti sua falta — eu digo. Não tenho certeza se
realmente senti, mas parece apropriado dizer isso de volta.
Kai parece que se acalmou agora, porque está fazendo caretas com a
demonstração de afeto que está testemunhando.
Ele não é o maior fã do meu relacionamento ou do meu namorado, o
que é terrível, porque todos na academia de Richmond adoram o chão que
Adonis Waters pisa. Ele é o capitão do time de futebol masculino e o garoto
mais popular da escola. Então, faz todo o sentido para mim estar em um
relacionamento com ele.
Isso e o fato de que somos essencialmente a mesma pessoa. Ele é
rude, perverso, podre de rico e agradável aos olhos – assim como eu.
Comecei a namorar com ele quando tinha dezesseis anos. Lembro-me
nitidamente de ter me feito de difícil, até que um dia o vi andando pelos
corredores e testemunhei como todos estavam maravilhados.
Muitas garotas bajulavam sua pele marrom escura e aqueles olhos
castanhos. Seu cabelo curto, crivado de ondas, era a inveja de muitos
meninos também, assim como sua alta estatura de 1,80 metro. Eu sabia
naquele momento que faríamos sentido como um casal.
— Posso ir amanhã à noite? — Adonis me pergunta balançando as
sobrancelhas.
Eu sei que ele quer fazer sexo amanhã. Não era como se ele não
tentasse o seu melhor quando se tratava de sexo, mas era dolorosamente
chato.
Esse parecia ser o tema recorrente quando se tratava da minha vida
sexual, que era muito ativa antes e depois de conhecer Adonis. No entanto,
ninguém nunca me deu um orgasmo, além de mim mesma. Deve ser porque
conheço melhor meu próprio corpo.
Deve ser isso, né?
— Mal posso esperar. — Eu minto facilmente na cara dele enquanto
ele pega minha mão e pergunta se pode me levar de volta para a aula de
biologia e eu concordo.
Kai apenas revira os olhos e vai embora sem se despedir; ele
claramente ainda está furioso com minhas palavras anteriores.
Assim que chegamos à aula, dou um beijo de despedida em Adonis,
sem perder a maneira como ele verifica as outras garotas que estão ao meu
redor. Estranhamente, isso não me incomoda.
Volto para minha mesa e me sento, meus olhos imediatamente
procurando por Adaline. Eu a localizo rapidamente; ela não está em seu
assento habitual, mas no próximo a ele. Seus olhos estão focados
intensamente em seu livro de biologia e ela está balançando as pernas sob a
mesa. Seria tão absolutamente adorável se não fosse ela fazendo isso.
Eu me forço a desviar o olhar quando percebo o professor Khalid
voltando para a aula. Assim que ele entra na classe, ele começa a ensinar
imediatamente.
Passo a maior parte do tempo nesta aula apenas rabiscando no meu
caderno, fiz isso na maioria das aulas, mas principalmente de ciências. Só
não gosto de ciência ou de qualquer assunto que não seja Arte.
A única razão pela qual estou cursando biologia é porque todos os
alunos de Richmond são forçados a cursar todas as disciplinas básicas.
A arte é o único assunto que eu adoro. Eu poderia derreter em um
vazio de nada e ficar contente enquanto segurasse um pincel na ponta dos
dedos. Eu também teria feito disso uma carreira, mas minha mãe nunca
permitiria.
Alguns anos atrás, ela teria. Ela adorava me ver pintar e desenhar,
mas agora tudo o que ela quer é que eu siga suas regras; junte-me ao
negócio da família e não force mais os limites.
O toque do sinal traz meu cérebro de volta à realidade. Todo mundo
está fazendo as malas como animais raivosos antes que o professor Khalid
berre bem alto:
— O sino não dispensa vocês, eu dispenso!
Todos na classe gemem audivelmente com suas palavras e esperam
até que ele dispense todos. Eu faço o mesmo e coloco minha bolsa no
ombro enquanto saio deste buraco infernal.
— Juliette! — Ele chama, me parando quando estou prestes a sair da
sala de aula. — Eu gostaria de discutir algo com você antes de sair.
Eu suspiro e reviro os olhos, sabendo que ele estava prestes a me dar
um sermão sobre minhas notas novamente.
Quando chego à sua mesa, ele suspira e pega nossos testes recentes de
biologia. O meu tem um F enorme escrito nele. Eu olho em volta
instantaneamente, de repente me sentindo muito autoconsciente.
Felizmente, ninguém está aqui.
— Esta é a sua, o quê? Quarta falha este mês? Isso é péssimo, Juliette.
Não posso continuar deixando você se safar com essas notas — ele diz
severamente, massageando suas têmporas enquanto minhas palmas
começam a suar com suas palavras. — Você sabe como isso funciona, se
você reprovar em qualquer um dos seus assuntos principais, você está fora
da equipe de líderes de torcida…
— Não! — Eu protesto em voz alta. — Vou fazer o teste de novo.
Não. Não. Não. Não vou ser enxotada da equipe de líderes torcida. Eu
construí essa equipe desde o início e ela teria desmoronado se não fosse por
mim! É nosso último ano em Richmond; ano passado, vencemos todo
torneio importante, como de costume. Se eles me perderem, podemos nos
despedir de nossa sequência de cinco anos de vitórias.
— Não é só este teste, são todos os testes desde o início do ano.
— Mas…
— Já deu! — Ele me interrompe novamente e eu estreito meus olhos,
mas ele não parece nem um pouco assustado. — Estou te dando uma última
chance. Eu decidi que vou designar um tutor para você.
Eu expiro em alívio. Eu nunca me importei com biologia e não vou
começar agora, eu só ia improvisar meus exames finais de qualquer
maneira. Pelo menos assim, posso subornar ou até ameaçar meu tutor para
fazer o trabalho para mim.
— Quem vai me ensinar? — Eu questiono, pronta para descobrir
quem eu tenho que começar a ameaçar.
— A melhor aluna da minha classe — ele me diz, sua voz cheia de
exaustão e é quando eu me toco.
Ah, não.
— A melhor aluna da sua classe não é… — Não consigo nem
terminar minha frase, não consigo pronunciar as palavras porque, se eu
pronunciar, vou causar estragos no professor Khalid e em sua sala de aula.
Ele suspira alto, antes de responder.
— Adaline Emery.
Capítulo TRÊS
Adaline
Por que eu tinha o maior azar do planeta? Por que o universo está
conspirando contra mim?
Quando o professor Khalid me chamou em sua sala de aula e me
contou sobre ser designada como tutora de Juliette, caí na gargalhada. Só
parei quando vi a raiva no rosto de Juliette. Foi quando percebi que o
professor Khalid não estava brincando; nem um pouco.
Isso foi há dez minutos. Agora, estou em sua sala de aula, Juliette está
ao meu lado lançando olhares para ele e tudo que consigo pensar é como
vou estrangular os dois e me safar.
— Eu não posso ensiná-la. Ela é a cria de Satanás! — Eu grito
estrondosamente, batendo meus punhos na mesa e ele se encolhe.
Normalmente, eu nunca me comportaria dessa maneira com o
professor Khalid, afinal ele é meu professor favorito. Ou pelo menos ele
era, até esta decisão idiota.
— Eu também prefiro não ser ensinada por uma sapatão como ela! —
Juliette retruca, com as mãos nos quadris.
Eu me abstenho de chutar sua cabecinha loira. Cadela.
— Já chega! — O Sr. Khalid bate as mãos na mesa. — Antes de tudo,
esse tipo de linguagem homofóbica não será tolerada, senhorita Kingston.
— Seus olhos se voltam para mim: — Em segundo lugar, Adaline, peço
desculpas. Eu sei que você não se dá bem com a Srta. Kingston. Espero que
você possa deixar isso de lado para ensiná-la.
Eu suspiro.
— Com certeza não!
Sério, ele estava drogado? Por que eu colocaria meu orgulho de lado?
Não sou uma pessoa arrogante ou orgulhosa, mas quando se trata de
Juliette, meu orgulho aumenta dez vezes. Não há nada neste planeta que me
faria concordar em ser tutora de Juliette Kingston…
— Nem mesmo se eu lhe oferecer uma carta de recomendação para
Oxford? — Ele interrompe meus pensamentos.
Ok. Então talvez haja algo. Eu estreito meus olhos para ele
gentilmente. Eu posso dizer que ele está tentando conter o sorriso. Ele sabe
que a faculdade dos meus sonhos é Oxford, então esta carta vai realmente
ajudar nas minhas chances de admissão, especialmente porque ele mesmo
trabalhou em Oxford quando era mais jovem.
Vou mesmo deixar Juliette atrapalhar meu futuro? Claro que não.
Suspiro, derrotada e Juliette faz o mesmo. Ela provavelmente está com
medo de que sua mãe corte sua mesada se ela for reprovada em biologia.
Mimada de merda.
— Tudo bem. Você pode vir à minha casa e começar a me dar aula
agora — diz Juliette apressadamente e tenta puxar meu braço.
Eu a agarro instantaneamente e recuo, sem perder o jeito que ela
estreita os olhos para mim depois que eu faço isso.
— O que eu te disse sobre me tocar?
— Não comece…
— Senhoritas. Vocês duas precisam parar de brigar. — Sr. Khalid
exclama em voz alta. — Vocês duas têm algo a ganhar com isso. Juliette,
você fica no time e Adaline, você recebe sua carta. — Ah, então é por isso
que Juliette está concordando em ser ensinada. — Apenas tentem cooperar
uma com a outra, vocês podem até conseguir deixar as hierarquias deste
lugar para trás.
— Eu quero revisar a carta e ser capaz de fazer qualquer sugestão —
eu deixo escapar, realmente não ouvindo uma palavra do que ele está
dizendo. Eu ouço Juliette rindo baixinho com o meu comentário e o
professor Khalid parece exausto.
Quem se importa em entender Juliette Kingston ou hierarquias? Ele
acha que esse discurso vai me deixar repentinamente em êxtase por ser
tutora de Juliette? Talvez alguns anos atrás, quando eu era um pouco mais
mole. Agora, eu não poderia me importar menos.
— Sim, o que você quiser — diz ele, recostando-se na cadeira. —
Vou enviar por e-mail para você. Faça as alterações desejadas e envie de
volta. Mas só enviarei quando Juliette passar no exame final.
— Tá bom. Eu a ensinarei — resmungo em concordância e ele sorri.
Tenho certeza de que Juliette também está satisfeita, embora eu não olhe
para ela.
— Isso é ótimo. Agora, eu adoraria aproveitar meu almoço. Então,
vocês podem ir.
Juliette e eu não perdemos um segundo e saímos da sala dele.

***

Ando pelo corredor até os arredores da escola, encontrando


instantaneamente minha moto. No mar de Teslas e Lamborghinis, minha
surrada motocicleta Yamaha V-star 650 Classic se destaca.
Esta moto estava destruída quando pousou na garagem do meu irmão,
mas, felizmente, ele a consertou e a deu para mim. Às vezes, ter um irmão
mecânico é vantajoso.
Coloco o capacete na cabeça e subo na moto, pronta para partir.
Embora não haja muitos lugares legais no meu lado da cidade, ainda
há a loja de bolinhos da Srta. Kim. O melhor restaurante desta cidade se
você me perguntar e coincidentemente, onde eu trabalho, que é para onde
estou indo agora.
Trabalho lá desde os onze anos. Era dinheiro em mãos primeiro, para
evitar problemas para o restaurante por empregar uma menor de idade.
Na verdade, a senhorita Kim é minha vizinha e foi quem me adotou
quando meu pai morreu, alguns meses depois que meu irmão, Adam, foi
para a prisão.
Eu não tinha muitas outras opções, considerando que não queria ir
para um orfanato. Ela é amiga da família há anos e fez uma coisa
incrivelmente graciosa ao me adotar.
Ela assinou todos os papéis que precisava e me criou, mas me deixou
morar sozinha em minha casa – depois que eu implorei a ela –, me
verificando apenas cerca de umas cinquenta vezes por dia.
Eu não queria ser um fardo para ninguém, mas isso nunca a impediu
de me ajudar constantemente ao longo dos anos. Mesmo quando Adam saiu
da prisão e recuperou a minha tutela, ela nunca vacilou.
Eu estaciono ao lado do restaurante da Srta. Kim, um sorriso
enfeitando minhas feições enquanto eu sinto o leve cheiro de cebolinha.
— Me apresentando para o serviço! — Eu grito alto quando entro no
restaurante.
Senhorita Kim sorri brilhantemente quando ela me vê. Ela é sempre
tão adorável, com sua pequena estatura de 1,55 metro e seu corpo gordinho.
Seus olhos castanhos chocolate escuros e cabelos pretos encaracolados
também amplificaram sua fofura. Ela não parecia ter cinquenta anos.
— Como foi a escola? — Ela questiona calorosamente, entregando-
me o avental. Pego e amarro na cintura.
— Chato, como sempre — eu respondo, me preparando para assumir
o caixa.
— Eu fiz uma fornada extra de bolinhos para seu irmão e para você
— ela diz animadamente, mostrando-me a caixa vermelha em que os
colocou. Se você ainda não percebeu, a linguagem do amor dela é cozinhar
comida para mim.
— Você nos mima demais.
Ela põe a mão no meu ombro.
— Não é mimar se você é da família.
Eu cerro minha mandíbula, reprimindo qualquer abalo ou tremor que
eu sei que meu corpo está prestes a sentir com esse comentário e eu apenas
aceno de maneira graciosa.
Refeições quentes. Palavras gentis. Chamadas constantes. Ela tem
sido como a mãe que nunca tive e acho que tenho sido como a filha que ela
nunca teve. Ela também não tem marido, mas sempre me garantiu que
adorava ser solteira e ter seu próprio espaço. Sempre posso me relacionar
com ela dessa maneira.
— Eu estarei na parte de trás — ela sussurra antes de pressionar um
beijo na minha cabeça e sair para cozinhar mais comida na parte de trás.
Afasto meus sentimentos e começo a me preparar para receber
ordens. Acabamos de abrir, mas as filas são sempre excessivamente longas
aqui. Eu recebo cerca de uma dúzia de pedidos antes de ver um rosto
familiar.
— Oi, Addie. — Meu irmão cumprimenta, seu corpo de 1,70 metro
elevando-se sobre mim. As pessoas costumam dizer que somos parecidos.
Ele compartilha meus olhos verdes, pele bronzeada e cabelo preto, embora
o dele agora esteja raspado.
— Aqui para pegar seus bolinhos grátis? Bunda gorda. — Eu brinco e
ele engasga zombeteiramente, colocando a mão no peito em falsa
indignação.
— Ele é um menino em crescimento — a Srta. Kim grita lá de trás,
defendendo-o.
— Ele tem vinte e seis anos!
— Exatamente! — Ela ri, entregando-me a caixa vermelha de
bolinhos pela abertura da cozinha.
— Não fique com ciúmes porque ela me ama mais.
— Como desejar.
Percebo que ninguém está atrás de Adam. Eu mordo minha língua e
pondero se devo ou não trazer à tona o que vai acontecer em algumas
semanas e seus pensamentos sobre isso. Todo ano eu pergunto a ele e todo
ano ele recusa.
— Antes de você ir… — Faço um gesto para que ele se incline e ele o
faz. — Você quer ir visitar o túmulo do papai comigo?
Ele balança a cabeça.
— Não, você nem deveria estar indo.
— Mas…
— Por favor, esqueça isso. — Ele me corta, agitado e eu faço
exatamente isso. Ele praticamente sai correndo do restaurante depois disso.
Adam não é como eu – eu fujo de praticamente todos os problemas
que me são apresentados –, ele encara tudo de frente, exceto lidar com a
morte de meu pai ou até mesmo visitar seu túmulo.
Eu tento não pressionar muito, mas, francamente, eu só visito seu
túmulo mais por decência moral do que qualquer outra coisa, então não
posso culpar Adam.
Ele é realmente o melhor irmão mais velho que uma garota poderia
desejar. Ele deixa todo mundo assustado, deixando-os saber que ele os
esfolaria vivos se eles tentassem mexer comigo de alguma forma.
Ele não era superprotetor de uma forma insuportável. Felizmente, ele
não tem ideia sobre o meutumultuado relacionamento com Juliette ou como
ela tem sido cruel comigo ao longo dos anos… e eu gostaria de manter
assim.
Ele não seria capaz de fazer muito com ela de qualquer maneira, a
família dela é muito poderosa para isso. Sem mencionar que Adam criou
uma grande reputação depois de estar na prisão, além das noções
preconcebidas de todos sobre ele de que ele era um traficante de drogas ou
um cafetão. Mas, na verdade, ele é inofensivo, a menos que você mexa com
alguém de quem ele gosta, que basicamente sou eu e sua noiva, Olivia.
Eu também me envolvi nesses rumores; todo mundo começou a me
rotular como desajustada, então decidi ser uma. Briguei, vandalizei e fiz
besteiras, mas nada que me levasse à suspensão, apenas o suficiente para
assustar as pessoas e não deixá-las mexerem comigo. Funcionou, porque
ninguém mexeu. Bem, além disso…
— Olha o que temos aqui…
Ah. Falando no diabo.
Juliette está na minha frente, ainda com seu uniforme escolar como
eu. Há duas garotas atrás dela; uma ruiva e a outra morena.
Ela costuma ter garotas com ela quando vem aqui para me assediar, o
que ela faz com frequência. Claramente, ela não tem nada melhor para fazer
visto que ela vem aqui o tempo todo.
Eu suspiro.
— O que posso fazer para vocês, senhoritas, hoje?
— O meu de sempre. — Juliette sorri para mim enquanto bate as
unhas na mesa, seus asseclas estão completamente silenciosos atrás dela.
— Qual é o seu “de sempre”? — Eu finjo inocência, olhando para ela
através de meus cílios.
Ela aperta a mandíbula em resposta, olhando profundamente nos
meus olhos com seus deslumbrantes olhos azuis.
— Você sabe qual é o meu de sempre.
— Sério?
Bolinhos de legumes, três rolinhos de ovo, um ramen de frango com
frango extra e sem broto de feijão.
— Sua pequena…
— Ei, vai logo. — Uma voz nos tira do nosso pequeno jogo. Eu nem
tinha percebido que uma fila havia se formado atrás de Juliette e seus
pequenos asseclas; eu estava muito fascinada com a nossa discussão para
notar.
— Você ao menos sabe quem eu sou? — Juliette questiona, ofendida
e encarando o garoto atrás dela, que eu imediatamente reconheço.
Uh. Ah.
— Apenas nos dê um minuto, Lucas — eu digo gentilmente para ele e
ele balança a cabeça em resposta. Ele é sempre um menino agradável e
regular. Ele também tem mais ou menos a minha idade, então sempre
conversamos.
Eu sei que tenho que difundir esta situação ou Juliette fará um
negócio gigantesco e depois transformará sua vida em um inferno. Ela tem
feito isso bastante.
Eu me viro para Juliette e ela agora está olhando para mim, seus olhos
se estreitando enquanto ela olha para frente e para trás entre mim e Lucas.
— Vou fazer o seu pedido. Você pode sentar e esperar. — Eu aceno
minha mão em seu rosto com desdém e ela me ignora completamente.
— Você conhece ele? — Ela questiona, seu tom baixo e seus olhos
curiosos.
— Sim — eu respondo cansada. Eu preciso mover esta fila, então é
melhor eu apenas responder a ela.
Ela se inclina mais perto.
— Você dormiu com ele?
Inacreditável!
— Vai sentar, Juliette — eu resmungo, tentando conter minha raiva
por sua pergunta.
Nos poucos anos que a conheço, Juliette sempre me assediou com
perguntas inapropriadas. Ainda assim, nunca para de ser chocante para
mim. Quem ela pensa que é, me perguntando merdas assim? Especialmente
onde estou trabalhando!
Ela olha furiosamente para mim.
— Eu te fiz uma pergunta.
— Não é da sua conta.
— Não vou me sentar até você responder.
Ela está falando sério, imóvel, e agarrando-se a cada movimento e
palavra minha. Até mesmo suas amigas estão olhando para ela, intrigadas
com seu comportamento, pois parece que sua mandíbula vai explodir com
base em quão forte ela está apertando.
Olho para trás e vejo que as pessoas na fila não estão realmente
prestando atenção em nós, então não preciso me preocupar com ninguém
ouvindo.
Eu me inclino para frente.
— Não, eu não dormi com ele.
Leva três segundos para seu rosto relaxar, sua mandíbula se abrir e
aquele brilho diabólico reaparecer em seus lindos olhos. Ela não diz uma
palavra, apenas sorri para mim e estala os dedos, gesticulando para que seu
grupo a siga enquanto ela se senta.
Tão incrivelmente dramática.
Passo o resto do meu turno recebendo ordens, enquanto seus olhos
estão em mim o tempo todo. Ela faz isso com frequência, olha para mim
como se fosse me comer viva ou me enterrar a dois metros de profundidade.
Percebo que ela ainda está aqui e vamos fechar em cinco minutos. A
própria Sra. Kim saiu porque tinha um compromisso.
— Estamos fechando — eu anuncio, limpando a última mesa. Eu a
ignoro quando ela se levanta e caminha em minha direção.
Ela estende a mão e se inclina para mim, sua respiração fazendo
cócegas em meu ouvido.
— Você vai para casa comigo.
Capítulo QUATRO
Juliette
Eu realmente estavaaqui? Sentada na moto de Adaline Emery?
Quando exigi que ela nos levasse até minha casa, ela ficou perplexa,
até que eu a lembrei de que ela era minha tutora abandonada. Logo depois
disso, ela concordou. Eu não esperava que ela cedesse tão rapidamente e
não brigasse.
Ela é uma lutadora. Isso é o que me enfurece.
Ela estava tão incomodada por eu ter ido à sua pequena loja de
bolinhos. Já faço isso há alguns anos; é o meu lugar favorito para visitar,
porque posso irritá-la. Além disso, porque com o passar dos anos, me
acostumei com o lugar. Na verdade, adoro a comida que a Sra. Kim faz; é
divina.
Independentemente disso, não importa, porque agora tudo no que
posso pensar é em como sou engolfada pelo cheiro de cigarros e cerejas,
acompanhado por um leve toque de lavanda.
É tão terrivelmente insuportável estar perto desse cheiro; estar perto
dela. É ainda pior estar atrás dela, minhas mãos em volta de sua cintura
fina, agarrando sua jaqueta de couro.
A moto dela está surrada, fede a gasolina e o assento não é muito
confortável, então por que me sinto tão livre sentada nela? Por que estou
com medo do momento em que chegaremos à minha casa e terei que descer
desta moto?
Espio pelo espelho lateral e vejo Adaline dirigindo com tanto vigor,
não que eu consiga ver seu rosto naquele capacete. A Vadia nem me
ofereceu um capacete.
Não posso deixar de pensar em quantas pessoas já se sentaram nesta
moto com ela. Além de seus amigos, ela já ofereceu carona a alguém? Eles
a abraçaram como eu? Ou ela ofereceu a eles um capacete? Não importa.
Eu não ligo. Eu não poderia me importar menos com quem ela tem nesta
moto detestável.
Balanço a cabeça e decido liberar essa frustração reprimida da melhor
maneira que sei.
Eu me inclino para frente e coloco meu queixo em seu ombro.
Adaline instantaneamente enrijece e me cutuca, eu luto contra o desejo de
dobrá-la sobre esta moto e bater nela para… espere, não. Não bater. Quero
dizer: socar, chutar ou qualquer outra coisa, mas definitivamente bater
não.
Malditos sejam esses pensamentos intrusivos.
— Quantas pessoas já estiveram nesta moto? — Eu sussurro
provocante em seu ouvido, fingindo que não estou ansiando pela resposta.
— Vai se foder! — Ela responde. É abafado porque o capacete dela
ainda está colocado e isso me frustra.
Ela me frustra.
Eu gostaria de poder ver o rosto dela; quão incômodas suas feições
devem estar agora. Eu amo incomodar ela, amo tanto que às vezes esqueço
porque estou fazendo isso.
— Elas tocaram em você? — Eu ronrono as palavras.
Muitas vezes fiz isso com ela; eu a repreendia por se sentir atraída por
mulheres, mas depois me contradizia e a provocava. Mas só porque era tão
bom provocá-la, me deleitar com o fato de que a incomodava e ela é afetada
por mim.
— Sim. Muitas pessoas me foderam nesta moto também.
Um. Dois. Três. Eu dou a ela três segundos inteiros para mudar sua
declaração ou rir disso, mas ela não o faz.
Ela tem um desejo de morte? Ou eu só quero matar alguém?
Minhas mãos estão apertadas e não sei por quê; meu corpo está rígido
e não consigo explicar. Tudo o que sei é que as imagens das pessoas com
quem Adaline possivelmente fez sexo nesta moto estão invadindo minha
mente.
Ai, Deus. Uma mulher curvando-se sobre esta mtocicleta enquanto faz
sexo com ela? Ou ela montou um homem corpulento aqui? Quantas
vezes…
Este aborrecimento que está correndo em minhas veias agora é
puramente porque eu sou hétero e pensar nela fazendo sexo com mulheres
nesta moto está me incomodando porque não é natural. Deve ser isso.
Não tenho certeza de quando chegamos à minha casa, mas sinto que
estou voltando à realidade quando sinto o veículo parar.
— Saia da minha moto, loirinha — ela exige, tirando o capacete, eu
momentaneamente perco meus sentidos quando vejo seu cabelo preto
imperdoavelmente lindo cair do capacete.
Ela balança a cabeça como se estivéssemos em algum filme e tudo
estivesse em câmera lenta. Eu odeio que ela pareça tão bonita, mesmo
depois de um capacete colocado em sua cabeça.
Eu limpo minha garganta e balanço minha cabeça, saindo da moto
rapidamente.
— Com prazer.
Subo lentamente em direção a minha casa e digito o código-chave
para abrir o portão preto: 2305.
Minha casa é como algo saído dos filmes. Você sabe onde as crianças
têm um prato inteiro de café da manhã, mas comem um morango e saem
correndo de casa? É esse tipo de casa.
Minha mãe sempre reclama que é uma das nossas menores casas.
Suas palavras exatas são sempre: “Esta casa tem apenas 9.000 metros
quadrados, o que a maioria das pessoas pensaria?”
Ela acha que nossa fonte circular é muito cafona e que os arbustos
altos nunca estão perfeitamente aparados.
Ela prefere nossas casas nas partes mais ensolaradas do mundo, como
Austrália e Califórnia. Eu não, eu amo Londres; foi aqui que nasci e cresci.
Olhando para esta mansão à minha frente, sinto-me grata pela casa,
mas sinto pavor toda vez que passo por aquelas portas.
Parece que Adaline também não gosta muito da minha casa. Eu não
perco o leve sorriso em seus lábios. Ela provavelmente está se lembrando
da época em que vandalizou minha casa há três anos com seus amigos. Foi
impressionante, na verdade.
Ela pintou minha casa com spray, jogou ovos e jogou lixo em todos
os lugares. Minha casa ficou um caos por algumas semanas. Eu ainda não
sei como ela conseguiu cobrir tanta área, mas então, talvez seja culpa nossa
por termos dado folga aos seguranças naquele dia. E por nossa culpa, quero
dizer minha.
Claro, testemunhei as fitas de segurança e vi tudo. Apaguei
rapidamente todas as evidências porque sabia muito bem que, se minha mãe
tivesse encontrado as fitas, Adaline estaria na prisão. Não havia
possibilidade de eu deixar isso acontecer.
— Vamos — eu digo a ela, enquanto eu arranco minhas chaves e faço
o meu caminho para dentro de casa enquanto ela me segue. Imediatamente
entramos na casa, as empregadas vêm correndo em minha direção,
perguntando como podem me servir melhor.
Eu ofereço um sorriso gentil.
— Não vou precisar de ajuda, por favor, não me perturbe.
Subo as escadas, meu corpo e minha mente cientes de que Adaline
está atrás de mim. Eu me pergunto se o cheiro da minha casa é refrescante
para ela ou se a incomoda como me incomoda. Minha casa sempre cheirava
a alvejante; sempre limpa e perfeita, sem um pingo de sujeira. Minha mãe é
muito exigente com a limpeza, o que realmente não passou para mim.
Só me ocorre quando chego à porta do meu quarto que Adaline nunca
esteve dentro da minha casa, muito menos no meu quarto de verdade.
De repente, minhas mãos começam a suar. Minhas pernas estão
começando a congelar e tenho que me forçar a me mover e abrir a porta.
Por que me importo com o que ela pensa do meu quarto? Ela vai
pensar que está desgrenhado porque há arte por toda parte? Ou ela vai
pensar que é sem graça…
— Eu não posso acreditar que seu quarto realmente tem
personalidade — Adaline elogia de maneira indireta. Meu batimento
cardíaco começa a desacelerar e eu olho para ela. Ela está olhando
atentamente para cada centímetro do meu quarto.
Eu gosto disso.
Cada aspecto do meu quarto é coberto de arte; as paredes, pisos, até
minha porta estava completamente coberta.
Ainda estou surpresa por ter conseguido cobrir meu quarto,
considerando o quão enorme ele realmente é. Era o único cômodo da minha
casa que continha um pingo de cor que não era neutra nem esteticamente
agradável.
— Vamos começar — digo rapidamente, fingindo que não me
importei com o comentário dela.
Sento-me na minha cama queen-size, os lençóis de veludo parecem
impecáveis em minhas coxas nuas.
Eu imediatamente tiro o conteúdo da minha bolsa e olho para cima.
— Nem pense em sentar na minha cama.
Sua cabeça se vira para mim com o meu aviso, então ela estreita os
olhos.
— Eu prefiro cair morta do que arriscar estar em qualquer lugar perto
do esperma de Adonis.
Eca. Por que ela sempre tinha que ser tão grosseira?
— Posso garantir que minha cama está mais limpa do que toda a sua
casa. — Eu cuspo em um tom apertado. Ela apenas revira os olhos para
mim e puxa a cadeira da minha mesa e se senta nela.
Por uma fração de segundo, meus olhos são atraídos para suas pernas
longas e delgadas. Por que ela sempre usava saias? Quero dizer, obviamente
ela pode usar o que quiser, mas será que ela iria matá-la usar um par de
calças pelo menos uma vez?
Estou tão cansada de ver suas pernas macias e bronzeadas, embora eu
sempre tenha pensado que aquelas pernas longas cairiam muito bem na
equipe de líderes de torcida. Aposto que ela é super flexível também.
Pena que ela é sapatão; não permito que pervertidas entrem na minha
equipe de líderes de torcida. Eu balanço minha cabeça e olho para cima,
felizmente, ela está absorta em sua própria bolsa e não me pegou olhando.
Não era como se eu estivesse olhando de qualquer maneira; eu estava
simplesmente observando.
— Com o que estamos começando?
— Bem, qual é o seu ponto mais fraco? — Ela abre ligeiramente as
pernas e sinto-me cada vez mais irritada.
— Tudo.
Eu teria vergonha de admitir isso para qualquer outra pessoa, mas
com Adaline é diferente. Ela via as piores partes de mim e sempre assume o
pior de mim em qualquer cenário, então nunca preciso ficar envergonhada.
Ela acena com a cabeça em resposta, abrindo seu livro.
— Vamos começar com a estrutura celular. Definitivamente vai estar
no teste que temos nos próximos dois meses…
— Vamos fazer um teste? — Eu questiono, perplexa. Ela apenas olha
para mim com aborrecimento pintado em suas feições.
Eu realmente preciso começar a prestar mais atenção em biologia. Eu
sabia que teríamos alguns exames nos próximos meses antes de nosso
exame final no final do ano, mas não sabia que seria tão cedo.
— Sim, você saberia disso se prestasse atenção na aula, burra — ela
murmura a última parte baixinho, mas ainda alto o suficiente para eu ouvir.
Minhas narinas dilatam.
— Do que você acabou de me chamar? — Eu pergunto em um tom
perigosamente agitado.
Ela olha para mim e pisca.
— Você me ouviu.
Idiota? Sou uma infinidade de coisas; sou vingativa, cruel e uma pé
no saco, mas não sou burra nem nunca fui chamada de burra.
Eu desprezo essa palavra. Embora nunca tenha ouvido isso
diretamente, sei que algumas pessoas assumem que não sou inteligente. É
verdade que duvidei da minha inteligência quando criança, mas não duvido
mais; eu sei que sou inteligente.
Não tenho culpa de não ser obcecada por biologia como Adaline. É
claro que ela ama o assunto e está louca para se tornar uma cirurgiã. Ela
também poderia estar carregando um estetoscópio com ela o tempo todo.
— Vamos continuar com isso. — Eu expiro, não perdendo o jeito que
ela sorri para mim recuando.
Não é isso que eu faço, mas ela está me ensinando e não posso falhar,
então preciso ser a pessoa mais importante aqui. Mesmo que eu odeie.
— Como eu estava dizendo — ela pega a caneta e começa a fazer
algumas anotações —, a estrutura celular vai estar no teste. Você vai
precisar entender as definições de alguns componentes-chave, ok?
Seu tom me pega de surpresa. É como se ela tivesse vestido o traje de
minha tutora. Eu não odeio isso, mas é desconcertante. Ela parece tão séria,
como se realmente se importasse se eu entendo o que ela está dizendo. Isso
só me faz perceber algo totalmente irritante.
Eu tenho que realmente ouvi-la.

***
Foi o que eu fiz. Passei a última hora ouvindo-a e absorvendo as
informações sobre a estrutura da célula animal.
Eu tenho que dar elogios quando eles são devidos; Adaline é
realmente excelente quando se trata de aulas particulares. Provavelmente
porque ela é tão apaixonada por biologia; está praticamente escorrendo dela
durante toda a sessão.
No entanto, minha atenção está vacilando agora, principalmente
porque estou cansada da conversa sobre biologia. Eu entendo o que ela está
dizendo e eu consumi. Eu aprendo rápido, então não posso me incomodar
em continuar falando sobre a estrutura da célula animal agora. Não quando
tenho tópicos de conversa muito mais interessantes que gostaria de trazer à
tona.
— Lembre-se de que o núcleo contém material genético — ela gira a caneta
—, não se esqueça dos ribossomos também. Lembre-se de que são
estruturas minúsculas onde ocorre a síntese de proteínas…
— Sua moto… — Eu a interrompi, limpando minha garganta no
processo.
Ela parece exasperada por eu tê-la interrompido. Eu não a culpo;
deveríamos estar falando sobre biologia. Eu deveria deixá-la continuar
porque preciso desesperadamente passar. Mas meu cérebro simplesmente
não permite; não poderei descansar até ouvir a resposta dela.
Aperto minha caneta com mais força, inadvertidamente, quando ela
olha para mim, tão atentamente. Não estou acostumada com Adaline me
ouvindo. É como uma injeção de adrenalina — seus olhos me observando.
— Sim? — ela questiona, confusa e irritada, incitando-me a
continuar.
Cruzo as pernas, respiro fundo e decido fazer exatamente isso.
— Quantas pessoas te foderam com você nela?
Ela levanta as sobrancelhas enquanto a irritação cresce
profundamente dentro de seus magníficos olhos verdes. Eu posso vê-la
cerrando os punhos nas laterais da minha cadeira. Eu me abstenho de sorrir
com seu claro desconforto e mantenho uma cara séria.
Admito que gosto de fazer perguntas inapropriadas quando se trata
dela, mas desta vez estou genuinamente curiosa.
— Você caiu quando criança? É por isso que você inventa tanta
besteira?
Não desvie. Responda-me.
— Você é muito maricas para responder? — Eu questiono
presunçosamente, fechando meu livro.
Ela é a coisa mais distante de um covarde. Não estamos nos anos de
1950, então não é como se ela tivesse vergonha de discutir sua vida sexual
também. Ela só está mais incomodada por ser eu quem está fazendo a
pergunta e isso me deixa muito feliz.
— Não. Eu só não sei por que você está tão interessada — ela diz,
encolhendo os ombros. Antes que eu possa responder, ela continua falando.
— Por que você está interessada na chupada que ganhei de uma garota
nesta moto? Por que você está tão interessada nos três orgasmos que ela me
deu?
Três. Três?
Adaline está me provocando, fazendo meus punhos cerrar e minha
cabeça latejar. Seu rosto presunçoso indica para mim que ela sabe que me
pegou; ela acha que estou com raiva por causa da minha homofobia.
Ela quer tanto que eu admita que está me incomodando ao descrever
seus desvios sexuais com garotas. Mas por que ela estar com um menino
também me incomoda tanto? Não. Eu não posso deixá-la chegar até mim.
— Eu só queria descobrir se sua vida sexual era tão mediana quanto
eu imaginava. — Digo as palavras em um tom entediado que me deixa
chocada.
Nunca fui boaem esconder ou controlar meus sentimentos, mas neste
momento estou me forçando a isso.
Ela parece perplexa, zombando.
— Mediana? Em que planeta?
— Aquela garota te dando três orgasmos não é tão incrível quanto
você pensa — murmuro asperamente, fingindo que não estou interessada
nesta conversa enquanto olho para minhas unhas.
Você pode opinar Juliette? Seu namorado não pode nem te dar um.
— Ah, como se você pudesse fazer melhor, princesa do travesseiro1 — ela
retruca, irritada.
— Do que você acabou de me chamar?
— Você me ouviu.
Princesa do travesseiro? Eu não sou uma princesa de travesseiro. Não
é minha culpa se não tenho vontade de cuidar de Adonis ou de qualquer
outro homem com quem já fiz sexo. Isso certamente não faz de mim uma
princesa do travesseiro.
— Eu não gosto de garotas, então isso não é aplicável. — Eu levanto
minha voz ligeiramente. Não foi a melhor resposta, mas ela tinha que saber
que o que ela disse não era preciso. No que me diz respeito, só sapatões
podem ser princesas de travesseiro e eu não sou sapatão.
Ela acena com a cabeça, rindo levemente daquele jeito irritantemente
presunçoso dela.
— Você tem razão. A palavra que eu estava procurando era chata.
Inspire. Expire.
— Querida, quando se trata de sexo, posso garantir que sou a coisa
mais distante de ser chata.
Não quero ronronar as palavras, não quero que soe tão sedutor, mas
não importa o que eu quis dizer, tudo o que importa é que minhas palavras
fazem a respiração de Adaline falhar. Nunca na minha vida me senti tão
grata por não piscar como neste momento.
Adaline Emery é uma parede de tijolos; suas paredes impenetráveis e
suas emoções totalmente guardadas. Então, aquele pequeno engate? É como
se heroína corresse em minhas veias.
— Ah, é? — Ela pergunta, provocando, brincando com o colar de
coração em volta do pescoço.
— Se eu fosse do seu jeito…
— Você quer dizer se você gostasse de transar com garotas — ela
corrige vulgarmente, sorrindo para o meu desconforto genuíno.
Eu cerro os dentes.
— Como eu estava dizendo, se eu fosse deplorável como você, você
descobriria rapidamente que não sou chata na cama.
Não sei as palavras que estão saindo da minha boca neste instante.
Não me refiro às palavras saindo da minha boca, só preciso vê-la perder,
retirar suas palavras. Certo?
— Você se dá muito crédito. Eu não sou Adonis. Não sou fácil,
Juliette. — Aposto que ela não é. Nada sobre Adaline Emery grita “fácil de
agradar”.
— Sério? Eu discordo… — Eu me levanto lentamente, caminhando
em sua direção. Coloco minhas duas mãos na poltrona e ela nem se mexe.
Ela parece estar prendendo a respiração e eu gosto disso; eu gosto
quando ela parece estar fazendo algo por minha causa.
— Você seria incrivelmente fácil. Acho que bastaria um toque… —
Eu me inclino para o lado de sua cabeça, engolindo seu cheiro mais uma
vez enquanto movo meus dedos em direção aos dela para que nossos dedos
mindinhos se toquem. — Um toque. Onde seria? Na cintura? Ou no
pescoço? Não, seria na sua bunda. Tudo o que tenho a fazer é marcar sua
bunda de vermelho pela maneira como você fala comigo. Então você estaria
implorando para que eu estivesse dentro de você. Não é verdade?
Eu movo meu rosto para trás para olhar para ela. Ela está respirando
pesadamente e seus olhos estão encobertos de uma forma que eu nunca vi
antes e é emocionante.
Eu estaria provocando a reação dela se não sentisse como minha
própria calcinha estava encharcada. Por que minha calcinha está
encharcada?
— Juliette… — ela sussurra, inclinando-se para mais perto de mim.
De repente, não consigo encontrar a vontade de respirar enquanto procuro
seus olhos verde-floresta. De perto, há um pontinho de luz avelã em sua
íris, algo que nunca havia notado antes.
— Sim? — Eu sussurro gutural enquanto me agarro a cada palavra
que ela está prestes a dizer. Conto os segundos na minha cabeça; qualquer
coisa para me manter focada e respirando, porque sinto que não consigo
respirar.
Um. Dois. Três. Quat…
— Eu nunca imploro para pessoas chatas me foderem.
Antes que eu possa responder, ela está ficando de pé para me
empurrar para longe dela com cuidado. Estou sem palavras. Não de bom
grado, mas sinto como se não pudesse nem abrir a boca para responder a
ela.
Como ela faz isso… desligar suas emoções em menos de cinco
segundos?
Eu limpo minha garganta, fingindo que este encontro não me
incomodou enquanto me sento na minha cama.
— Tanto faz, sapatão.
Ela zomba alto.
— Vamos seguir em frente com as aulas particulares. Cobrimos
apenas células animais; ainda temos muito o que fazer…
Eu a ignoro quando ela começa a divagar, eu deveria realmente
agradecê-la por isso, porque está me lembrando de como ela é
irritantemente insuportável. Seu comportamento está me dando o tempo
necessário para acalmar minha respiração.
Ouvir seu zumbido enquanto me ensina entorpece minha mente no
esquecimento. Ela está agindo como se isso fosse a coisa mais importante
da vida dela, tudo por causa de uma cartinha boba de elogio? Ela não
percebe que Oxford estará implorando por ela, independentemente de
alguma carta estúpida?
— Relaxe, temos muito tempo — eu a interrompo apressadamente.
Meu tom não é tão venenoso quanto costuma ser, mas principalmente
porque nosso encontro anterior me esgotou.
— Juliette — ela fala meu nome asperamente, olhando para mim —,
eu não vou deixar sua natureza incompetente e seu contentamento com suas
notas médias arruinar minhas chances de uma carta de recomendação!
Essa. Cadela.
Isso é o que é preciso para incomodar Adaline Emery? Ela é
completamente indiferente e monótona, mesmo quando estávamos
discutindo como eu dormiria com ela.
No entanto, assim que a conversa é direcionada para notas e cartas,
ela fica absolutamente furiosa. Todo esse tempo eu poderia ter usado seu
futuro em Oxford para chamar sua atenção. Para obter suas reações. Tê-la
absolutamente lívida.
Inacreditável.
— Você é tão dramática! — Eu gemo. — Claro, estou contente com
minhas notas! Não há nada de errado em ter notas medianas. Você deveria
tentar algum dia. Talvez então você pare de ser tão tensa.
Ela ri baixinho.
— Dramática? Por que diabos você acha que eu sou tão tensa? Não
consigo ser mediana, Juliette. Só pessoas como você têm essa opção.
— Pessoas como eu?
— Ricas, vadias mimadas que recebem tudo de mão beijada. — Sua
enunciação precisa enche meu corpo de raiva. Mas ela não para. — Você
consegue ser mediana, para deleitar com a segurança do seu dinheiro. Não
tenho esse luxo.
— Se você tivesse minha vida, você faria o mesmo — eu cuspo,
levantando-me em fúria.
— Não, eu não faria. — Ela balança a cabeça com um encolher de
ombros e eu arqueio minha sobrancelha, levando-a a continuar. — Na
verdade, eu usaria meu dinheiro para algo diferente de deixar outras pessoas
infelizes…
— Ah, por favor. — Eu zombo, cortando-a. Eu não fiz todo mundo
infeliz… apenas pessoas que me incomodam. Como quando eu disse à
minha mãe para mexer os pauzinhos e fazer com que Kelly Mitchell fosse
demitida como professora de Richmond porque ela se recusou a devolver
meu telefone após a detenção. Ou quando quebrei as janelas do carro de
Brock Johnson quando ele estacionou na minha vaga.
Para ser justa, ele mereceu; todo mundo sabe que ele é um idiota. O
ponto é que eu não deixo todo mundo infeliz. Só não me contrarie e você
ficará bem. De que adianta o dinheiro se não posso usá-lo para conseguir o
que quero?
Ela me ignora.
— Eu compraria todas as vantagens que pudesse, qualquer coisa que
me ajudasse a me destacar. Eu nunca seria mediana. — Ela faz uma pausa e
seus olhos me examinam de cima a baixo, me fazendo suar. — Eu não seria
como você, Juliette, seria muito pior.
O brilho perverso em seus olhos verdes e sua estatura confiante
enviam um arrepio pela minha espinha. Claro. Ela não está brava por eu ser
mimada, ela está brava porque eu não uso isso a meu favor da maneira
“adequada”. Acho que sou melhor do que ela, porque não usaria meu
dinheiro para progredir academicamente; eu não me importo o suficiente
para fazer isso.
Eu nunca tive que me importar muito.
— Juliette! — Uma voz chama, tirando-me dos meus pensamentos.
Eu conheço essa voz. A mesma voz estridente, mas ainda amorosa
que estou acostumada a ouvir quando ela não está em viagens de negócios.
Minha mãe.
1. “Pillow princess” é um termo utilizado geralmente na comunidade sáfica para falar de
mulheres que recebem estímulo sexual mas não retribuem.
Capítulo CINCO
Adaline
Idênticos olhos azuis gelados, o mesmo cabelo louro-dourado,
exceto os leves cabelos grisalhos. Toda vez que olho para Samantha
Kingston, sinto como se estivesse tendo uma visão de como Juliette será
daqui a trinta anos. Ela deveria estar feliz por ser uma milf, ou mãe que eu
gostaria de foder, absoluta quando ficar mais velha; uma milf reprimida e
mal-intencionada, mas ainda assim uma milf.
Quando ouvi sua voz estridente chamando Juliette do andar de baixo,
não consegui nem reagir antes que Juliette descesse instantaneamente.
Claro, eu não tinha muita escolha a não ser fazer o mesmo.
Então, é onde estamos agora, diante de Samantha Kingston que me
olha com desprezo e sua filha com um olhar suave de indiferença.
Ela está vestindo um longo casaco bege, um cinto de couro enrolado
no meio e um cachecol Chanel enrolado no pescoço. Eu tenho que admitir,
ela está na moda. Ou ela é apenas podre de rica? Existe realmente alguma
diferença?
— Adaline — ela cumprimenta com desdém, reconhecendo-me com
um leve aceno de cabeça.
Eu aceno de volta.
— Senhora Kingston.
Eu a odeio. Eu a odeio desde criança quando ela tentou usar seu poder
e dinheiro para implementar regras homofóbicas na academia de Richmond,
que felizmente não funcionou.
Eu a odeio desde que ela me disse que ser bissexual era nojento, mas
não tão ruim quanto ser gay, porque eu ainda tinha uma chance de acabar
com um homem.
Ela me disse isso em um comício gay alguns anos atrás. Cadela vil.
Ela está sempre em eventos de orgulho reclamando e repreendendo pessoas
como eu.
Ela é uma tirana, o que é muito divertido, porque ela é a mesma
mulher que se manifestou contra o sexismo e o racismo e até financiou
clínicas de aborto, mas ela estabelece limites para a homossexualidade?
Alguém precisa ensiná-la o que realmente significa progressividade.
— O que você está fazendo na minha casa? — Ela questiona, com os
lábios apertados.
Meus olhos se voltam para Juliette, que está ao meu lado. Ela está de
pé rigidamente, com os braços cruzados. Percebo que ela está muito
desconfortável, então decido me divertir um pouco com ela.
— Bem, na verdade acabei de foder sua filha…
— Ela está brincando! — Juliette interrompe em voz alta, sua mão
dispara para a minha e suas unhas começam a cavar em minha pele. — Ela
está apenas me ensinando.
Eu sufoco uma risada e puxo minha mão, ignorando seus olhares e
como me senti satisfeita quando suas unhas afundaram em meu braço. Eu
realmente preciso resolver minhas tendências masoquistas.
— Eu sei — Samantha zomba —, você não é uma degenerada como
ela.
— Tem certeza disso? Ela provavelmente chupou o pau do namorado
bem aqui na sala de estar.
Isso não é “taxar de puta”; isso é pura grosseria. Esta sou eu sendo tão
irritantemente irritante quanto posso para fazer sua mãe se sentir
desconfortável. Sem mencionar que enfurecer Juliette é sempre um bônus
também. Seus punhos cerrados e mandíbula cerrada me dizem que ela está
absolutamente furiosa. Eu amo isso.
Mesmo que eu esteja sendo petulante, o que claramente sou, as regras
comuns de cortesia não se aplicam quando se trata dos Kingston. Eles são
humanos vis que só merecem um tratamento vil de volta.
— Não estamos vivendo na idade da pedra. Minha filha pode fazer o
que quiser com o corpo dela, é uma prerrogativa dela. — Samantha dá de
ombros para minha grosseria.
Eca. Ela sempre diz a coisa certa. Isso deveria me acalmar, mas tudo
o que faz é fazer meu peito inchar de fúria. Estou com raiva porque ela me
repreendeu por ser bissexual desde criança. Estou com raiva porque em
todas as outras questões sociais parece que lutamos do mesmo lado!
Acima de tudo, estou com raiva porque foi ela quem deixou Juliette
assim. Ela é a razão pela qual Juliette é tão zangada, cruel e homofóbica.
— Então você aceita o sexo, desde que seja apenas um homem e uma
mulher? — Eu questiono, zombando.
— Precisamente.
— Você é uma bruxa reprimida, sabia disso? — Eu cuspo com raiva.
Neste exato momento, posso finalmente entender por que Juliette
despreza minha falta de atenção. Estou sentindo o gosto de Samantha, com
seu rosto estóico e palavras sem emoção.
Normalmente, isso não me incomodaria tanto, mas é porque nunca
falei com ela por mais de cinco minutos… nem nunca estive em sua casa.
— Adaline! — Juliette me repreende, mas sua mãe levanta a mão
sinalizando para ela não se envolver e ela fecha a boca instantaneamente.
Isso é o que é preciso para calar Juliette Kingston? Apenas um sinal
de sua mãe e ela está completamente silenciosa? Arrombada.
— Prefiro ser reprimida a ser desviada — retruca Samantha.
Eu rio indecorosamente.
— Desviada? Você consegue se ouvir? Voltamos à idade da pedra.
Ela tinha que entender sua hipocrisia, como ela poderia não entender
o quão ridículas eram suas noções? Seria uma coisa se ela fosse de extrema
direita e odiasse todos os grupos minoritários, pelo menos eu poderia
atribuir isso à ignorância.
Com ela, eu simplesmente não posso deixar de pensar que ela é a
razão pela qual Juliette me odeia. Eu preciso saber por quê. Já tentei
perguntar a ela antes, toda vez que a encontro. Eu costumava perguntar a
Juliette a mesma coisa também, mas nunca recebi uma resposta de nenhuma
delas.
— É diferente! — Ela argumenta e eu posso ver a quebra de fachada
sem emoção. Juliette está completamente silenciosa, com os olhos no chão
e percebo que este é o meu momento para descobrir isso sem que ninguém
interfira.
— Qual é o seu problema real? Por que você odeia tanto pessoas
como eu? — Eu a bombardeio com perguntas, levantando minha voz cada
vez mais alto.
— Eu não devo nenhuma explicação a você — diz ela com finalidade,
desviando os olhos de mim e eu sei que tenho que continuar pressionando.
Eu rio sombriamente, caminhando para mais perto dela.
— São problemas com a mamãe? Problemas com o papai? — Faço
uma pausa antes de baixar o tom. — Ou são problemas com o marido?
É isso que Juliette sente sempre quando é cruel com alguém? É um
pouco viciante, como se a malícia estivesse impregnando cada centímetro
do meu corpo.
Nunca fui de medir minhas palavras ou controlar meus pensamentos e
certamente não vou começar agora. Eu preciso continuar para entender
Samantha – para quase degradá-la.
Essa é a coisa sobre pessoas como Samantha Kingston, elas são
apenas miseráveis, pequenos valentões e se você forçar o suficiente, você
vai expor uma insegurança; algo enraizado tão profundamente que até
mesmo a menção disso os destrói.
— Pare com isso! — Ela adverte humildemente. Ela não é a mesma
mulher estóica que entrou na casa, ela parece uma bomba-relógio.
— Foi por isso que seu marido te deixou? Porque você é um pedaço
de merda ignorante e intolerante? — Não consigo sentir nenhum
arrependimento depois de falar porque minhas palavras maliciosas parecem
definir algo colérico em vigor.
Os olhos de Samantha mudam, tornando-se mais escuros e estreitos.
Quando estou tão perto dela, posso ver uma veia saindo de sua testa e sua
respiração fica mais pesada; tão perigosamente pesada.
— Como você ousa! — Ela berra alto. Eu meio que espero que ela me
bata, mas ela não bate. Ela apenas aponta o dedo na minha cara e diz: —
Não presuma saber coisas sobre meu marido…
— Ex-marido — corrijo com um sorriso malicioso no rosto. Eu odeio
isso. Eu pareço Juliette agora, tão amarga e venenosa.
Mas eu não posso parar. Eu quero, quero muito, mas não posso.
Eu tinha ouvido falar sobre o divórcio dos pais de Juliette alguns dias
depois de experimentar a ira homofóbica de Juliette pela primeira vez.
Fiquei muito magoada com o fato de minha própria bissexualidade ter
sido revelada para ter um pingo de simpatia por qualquer outra pessoa,
especialmente por ela. De qualquer forma, eu não sabia o suficiente para ser
solidária, tudo o que sabia era que o pai dela havia se divorciado da mãe
dela e ido embora.
Eu desprezo que essa fúria dentro de mim vá me fazer usar isso contra
ela agora. No entanto, continuo falando.
— Eu não o culpo por ir embora. Eu iria embora também, se minha
esposa e filha fossem vadias miseráveis e homofóbicas!
Samantha estreita os olhos e aperta a mandíbula.
— Ele não foi embora por minha causa!
— Mãe! — Juliette tenta interromper a mãe ao se aproximar e colocar
as mãos nos ombros dela. Não funciona. Eu sei que não porque Samantha
empurra as mãos de Juliette gentilmente, sinalizando para ela não se
envolver.
Seus olhos se voltam para mim com pura ferocidade.
— Julian foi embora porque é um viado do caralho que prefere ir
embora e foder com o chefe a ficar com a família! Ele é a razão pela qual eu
odeio sua espécie!
Suas palavras transbordam de fúria e sinto como se tivesse rompido
uma represa e a água não parasse de fluir.
Ela não para de cuspir palavras, mesmo quando Juliette está
implorando histericamente para ela parar.
— Ele era um covarde! Ele me espancou até virar polpa para me
impedir de divulgar seu segredinho sujo. Ele ficou feliz em me deixar por
um homem, mas com muito medo de admitir!
Não. Não. Não. Eu queria empurrá-la, mas até esse ponto? Para este
lugar dela tremendo, caindo no chão enquanto Juliette a conforta? Não, não
assim. Acabei de descer vários níveis além do comportamento de Juliette.
— Saia! — Juliette diz friamente, segurando sua mãe que está
tremendo de raiva.
Capítulo SEIS
Juliette
Duas semanas. Passei as últimas duas semanas causando estragos
em Adaline Emery. Não estou me referindo ao nosso habitual jogo de
insultos ou à malícia que me acostumei a desfilar perto dela.
Não, isso é diferente. É puro e frio. É cruel e está me cutucando desde
aquele dia.
O dia em que minha mãe revelou o segredo da minha família. O
mesmo segredo que ela havia enraizado em mim quando criança para ficar
quieta, principalmente por causa da alta sociedade e seu julgamento, mas
uma pequena parte deve ter sido por medo – medo de meu pai.
Ela estava apavorada naquele dia. Eu me lembro disso tão
vividamente. Eu tinha acabado de voltar do treino das líderes de torcida.
Minha mãe descobriu que meu pai estava dormindo com o chefe e
planejava nos deixar. Em vez de se desculpar por seu adultério, ele a
ameaçou e a repreendeu.
Ele estava em cima dela, esmurrando seu rosto e gritando com ela
para manter seu caso gay em segredo. Vendo isso, corri o mais rápido que
pude para detê-lo.
Fui tola em pensar que aquele eu esquelético de doze anos poderia
tirar meu pai de cima de minha mãe, mas tentei muito. Com tanta força que
ele me empurrou para trás. Como resultado, eu me machuquei e, de certa
forma, isso o impediu de continuar a bater na minha mãe.
Eu teria levado tantos empurrões, socos e chutes quanto pudesse se
isso significasse que ele pararia de machucá-la.
Ele saiu naquele dia e enviou os papéis do divórcio na semana
seguinte, transformando minha mãe de aliada em inimiga. A partir daquele
dia, ela não desprezava ninguém tanto quanto desprezava os gays.
Eu queria tanto explicar a ela que não era justo generalizar todos os
gays só por causa do meu pai. Talvez devesse, mas não expliquei. Eu não
podia. Não quando vi os hematomas que se formaram em minha mãe, tanto
física quanto emocionalmente.
É como se eu tivesse absorvido a dor dela naquele dia. Eu podia sentir
isso dentro de mim; cobriu cada centímetro de mim, me sacudiu e me
mudou de maneiras inimagináveis. Agora, eu era exatamente como ela –
homofóbica e implacável. Eu tinha que ser.
Desde que meu pai foi embora, minha mãe tem sido uma casca de seu
eu passado. Ela passou de amorosa e alegre a estóica e cruel com a maioria
das pessoas, mas nunca comigo.
Sua máscara estava tão bem colocada e não se mexeu todos esses
anos, até aquele dia, quando Adaline a provocou. Passei a noite inteira
consolando minha mãe que chorava no quarto.
Isso me teletransportou de volta para a noite que passei limpando as
feridas de minha mãe e enxugando suas lágrimas.
A parte minúscula e racional de mim sabe que Adaline não poderia
saber o que aconteceu com minha mãe e eu. Embora ela tenha sido
particularmente cruel naquele dia, não foi sem razão.
Afinal, não posso culpá-la por querer entender por que a odeio tanto.
No entanto, eu ainda não posso deixar de querer que ela se machuque pelo
que fez, porque ela machucou minha mãe e ela... me machucou.
Sim, eu a machuquei, mas nunca assim. Nunca falei sobre os pais
dela. Não que eu pudesse, pois não sei muito sobre eles.
Presumo que a mãe dela morreu quando ela era criança, nunca ouvi
nada sobre ela. Eu sei que o pai dela se enforcou antes de ela vir para a
academia de Richmond.
Eu já falei sobre isso ou joguei na cara dela? Não, eu não fiz isso.
Você falou sobre o irmão dela, então desça do seu pedestal. Maldita
seja essa consciência!
Tenho sido cruel com Adaline nas últimas duas semanas; eu pintei
“saátão” com spray em seu armário, queimei metade de seus preciosos
livros didáticos e ordenei aos meus asseclas que continuassem a assediá-la.
Eu esperava que ela gritasse, revidasse e sofresse – da mesma forma que
estou sofrendo –, mas ela não gritou.
Ela apenas suporta; cada insulto e merda que eu cuspo nela, ela
aceita. Eu nem mesmo falei com ela desde aquele dia em minha casa. Não
tenho conseguido enfrentá-la porque ela me faz perder o controle e, se eu
perder o controle, não serei tão cruel quanto posso. Então, eu a evitei e fiz
com que outros fizessem meu trabalho sujo para mim.
Mas isso não a incomodou. Ela está agindo como se nada tivesse
acontecido e ainda me envia notas de tutoria todos os dias por e-mail – que
ela sem dúvida recebe do Sr. Khalid.
Por mais que eu a deteste, ainda uso as anotações todas as noites.
Ainda preciso passar em biologia e permanecer na equipe de líderes de
torcida. Não vou deixar que ela estrague isso.
— Ei, você está bem? — Eu ouço a voz de Kai através do meu
telefone, que está pressionado no meu ouvido, interrompendo meus
pensamentos.
Kai está descansando em casa há duas semanas desde que ficou
doente. Senti falta dele, mas o lado bom dessa situação é que ele não estava
aqui para testemunhar o que tenho feito com Adaline. Se estivesse, eu
ouviria um sermão. Estou feliz por não ter que lidar com sua superioridade
moral neste caso.
— Sim, estou bem — eu digo a ele, sem saber se estou realmente
dizendo a verdade ou não.
— Tem certeza? — ele pergunta novamente e antes que eu possa
responder, ele acrescenta: — Você tem estado muito quieta nas últimas duas
semanas. Você sempre pode falar comigo. Você sabe disso, certo?
Eu sei que sim. Ele é praticamente a única pessoa com quem posso
conversar e confiar em como me sinto. Eu deveria dizer a ele o quão
miseravelmente zangada estou, mas simplesmente não consigo. Eu não vou
me abrir sobre isso, não quando prefiro reprimir minha raiva e deixá-la
apodrecer.
Se eu falar sobre isso, ele se dissipará. Sim, vou me sentir melhor,
mas quem se importa? Preciso segurar minha fúria para poder usá-la como
arma contra Adaline.
— Não se preocupe, eu prometo que estou bem. Apenas estressada
com o torneio de líderes de torcida chegando.
Obviamente, isso é mentira. Por que eu estaria preocupada com algo
em que me destaco tão claramente?
— Não se preocupe, você é a pessoa mais flexível que conheço! Você
vai arrasar! — Ele grita alto pelo telefone e eu sorrio, embora tenha certeza
de que ele danificou permanentemente meus tímpanos.
Eu rio.
— Você vai, né?
— Claro.
A pura segurança com que ele responde à minha pergunta sempre
aquece meu coração gelado. Ele é a única pessoa que vem a qualquer um
dos meus torneios de líderes de torcida.
Minha mãe vinha sempre, mas depois que meu pai a deixou ela parou
de vir. Ela disse que isso a lembrava muito de quando eles iam juntos aos
meus jogos. Ela não poderia apenas tentar por mim?
— Eu tenho que ir agora — Kai diz pelo telefone e rapidamente
continua. — Minha mãe está me chamando. Eu te ligo de volta depois.
Amo você!
— Também te amo. — Eu desligo.
Eu inclino minha cabeça contra meu armário, minha cabeça
parecendo totalmente pesada. Tanta tensão está instalada em meus membros
agora, tudo porque não fui capaz de liberá-la.
A única coisa que costuma dissipar minha tensão é quando fico cara a
cara com Adaline, quando jogo nosso joguinho de insultos e a incomodo.
Falando no diabo, meus olhos se animam quando vejo Adaline
correndo em direção ao vestiário. Contenho uma risadinha porque sei que
ela está correndo para trocar de roupa. Eu fiz Stacey, a vice-capitã do meu
time de torcida, afogar suas roupas em raspadinha de framboesa.
Assistir Glee novamente me deu a ideia e não pude deixar de executá-
la. Ela deveria estar feliz; eu escolhi o sabor favorito dela.
Tudo dentro da minha mente está gritando para eu ficar parada, talvez
perder algum tempo conversando com as pessoas antes de ir para a aula.
Meu corpo, porém, não concorda e é isso que me leva a caminhar
atrás de Adaline, seguindo-a até o vestiário. Era mais fácil evitar Adaline
quando eu evitava de propósito ver seu rosto. Eu simplesmente não consigo
evitar quando a vejo.
Estou oficialmente me despedindo do meu recorde mais longo de
evitar Adaline Emery. Entro e ela está preocupada demais arrumando suas
roupas sujas para ouvir meus passos.
Percebo a rapidez com que ela trocou de roupa. Sua habitual saia
xadrez azul substituída por calças cinza e sua habitual camisa branca
substituída por um suéter azul marinho. Eu desprezo isso, mesmo depois
que ela foi atingida por uma lama, ela ainda parece bonita. Ainda mais
quando seu cabelo preto está preso.
Minhas palmas suam quando observo os cabelos de bebê expostos em
sua nuca. Ela deveria amarrar o cabelo com mais frequência.
Eu limpo minha garganta e ela parece assustada, quase gritando, mas
quando seus olhos verdes encontram os meus, ela relaxa. Ela realmente não
deveria.
— O que aconteceu com sua saia? Você sofreu um pequeno acidente?
— Eu questiono com uma voz falsa e preocupada.
Ela não responde de imediato, então aproveito a oportunidade para
caminhar lentamente em direção a ela. Meus pés me colocam bem na frente
dela, não muito longe, mas também não muito perto. Longe o suficiente
para não nos tocarmos, mas perto o bastante para que o cheiro de framboesa
esteja enchendo meus sentidos.
— Algo assim — ela diz, acompanhada por um suspiro profundo,
seus olhos brilhando com o que eu só posso supor ser exaustão.
Não vou me concentrar em como ela parece cansada, nem vou me
concentrar em como as olheiras sob seus olhos estão puxando meu peito por
algum motivo.
— Pelo menos é uma desculpa para você se trocar e cobrir essas
pernas horríveis — eu cuspo com um sorriso falso. Meus punhos se fecham
com força porque sei que estou mentindo; suas pernas não estão nem perto
de horríveis.
— Vou manter isso em mente — diz ela, com os olhos baixos, um
sorriso suave no rosto.
Pare. Pare com isso. Faça alguma coisa; rasgue meu cabelo, coloque
suas mãos em volta do meu pescoço, grite comigo por dizer algo tão
horrível, me chame de todos os nomes realmente terríveis que puder.
Apenas... faça alguma coisa, Adaline.
— Olhe para mim. — Eu peço friamente e ela faz instantaneamente.
Eu me deleito com a maneira como ela segue minhas ordens pela primeira
vez, é tão bom. Por que me sinto tão bem quando ela me ouve? — Você
contou a alguém? — Eu questiono tão baixinho que estou surpresa que ela
consiga me ouvir.
Seus olhos suavizam ligeiramente em compreensão. Não estou
surpresa por não ter que elaborar, ela sabe exatamente do que estou falando.
Preciso saber se ela contou a alguém sobre meu pai, para seus amigos ou a
seu irmão.
Eu preciso saber o que esperar. Não me ocorreu questioná-la antes
porque eu estava evitando-a. Minha mãe não está muito por perto, mas
posso dizer que ela desconfia que alguém descubra.
Isso arruinaria sua reputação — ela ser trocada por um homem. Não
só isso, mas se a notícia chegasse ao meu pai, talvez ele voltasse e nos
machucasse.
— Não. — Ela balança a cabeça, chocada. — Por que eu faria isso?
Para me destruir. Para arruinar a minha vida e a da minha mãe. Para
se vingar de nós pela maneira horrível como a tratamos. Eu poderia citar
um milhão de razões pelas quais ela divulgaria meu segredo, mas aqui está
ela, agindo como se fosse o pensamento mais absurdo.
— Por que não? — Atiro de volta, me aproximando dela. Seus pés se
movem para trás, então agora ela está encostada na parede.
Eu gosto dela assim; seu corpo pressionado contra a parede de modo
que ela é incapaz de fugir disso, fugir de mim.
— Talvez porque eu não seja uma pessoa maldosa.
— Ah, por favor. Nós duas sabemos que você é muito capaz de ser
maldosa. Ou você esqueceu o que aconteceu na minha casa? — Eu cuspo
asperamente, ignorando que posso sentir a respiração dela em mim e minha
própria respiração está começando a ficar mais pesada.
Ela suspira.
— Juliette, sinto muito. Eu sinto mesmo. Eu não sabia.
Ela soa tão genuína, com as sobrancelhas franzidas e os olhos
voltados para baixo, como se estivesse tão desesperada para que eu entenda
como ela está se desculpando, o quanto ela se arrepende. Pena que não me
importo.
— Eu não preciso de suas desculpas.
— Então o que você precisa? Já se passaram semanas e você é
implacável. O que vai fazer você parar?
Estou afetando ela. É errado que afetá-la assim me deixe feliz? Quero
dizer, é claro, estou apaziguada por ela estar exausta e incomodada, mas não
é o suficiente. Eu quero mais, eu preciso de mais.
— Eu quero que você se machuque… — Eu me inclino para mais
perto dela, meu rosto a centímetros dela. — Eu quero que queime cada
parte de você. Eu quero que você sinta tanta dor que não consiga respirar.
Ela pisca.
— Como você acha que foram os últimos dez anos da minha vida?
Fico em silêncio. Fico sem palavras por suas palavras, o que é uma
ocorrência bastante rara para mim. Minha respiração está presa na minha
garganta, suas palavras perfurando profundamente meu peito. Ela pode
estar falando de mim, ou talvez ela esteja falando sobre como sua vida é
miserável. De qualquer forma, é honesto e inesperadamente cru.
O silêncio que invade a sala deve me alarmar. Qualquer um poderia
entrar agora e o que eles veriam? Eu e Adaline, a centímetros de distância,
respirando pesadamente. Eu não posso nem tentar ter um pensamento,
porque tudo que posso fazer é olhar para seu rosto exausto.
Meus olhos notam a minúscula marca de beleza sob sua orelha;
qualquer coisa para me distrair de... seus lábios.
Agora estou olhando. Eu não tenho outra escolha. Eles parecem
suaves e seu batom vermelho marrom parece convidativo. Parece que ela
também não tem escolha, porque ela também está olhando para os meus
lábios.
Estando tão perto dela, quase posso traçar o contorno de seus lábios
com meus olhos. Não que eu consiga me concentrar em seus lábios por
mais tempo porque sinto meu pescoço sendo puxado para trás,
consequentemente me afastando de Adaline.
— Saia de cima dela!
Capítulo SETE
Adaline
— O que está acontecendo?
O som da voz de Aryan me tira do transe momentâneo em que eu
estava. O que foi isso? Aquele momento? Eu estava apenas confusa. Quero
dizer, não é nenhum segredo que Juliette é uma garota atraente, eu apenas
fiquei extasiada por um momento, só isso.
— Nada — coço a nuca —, está tudo bem.
Eles não parecem convencidos. Aryan parece perplexo e bem,
Victoria parece lívida. Ela puxou Juliette de cima de mim com tanta força
bruta que eu esperava que Juliette lutasse com ela ou gritasse com ela, mas
ela não lutou. Ela está parada ali, olhando para Victoria com aborrecimento,
embora seus olhos continuem vacilando em minha direção. Eu evito seus
olhos, como eu costumo fazer.
— Bem? Ela estava com as mãos em você! — Victoria grita, suas
mãos se agitando com exasperação.
Victoria fica muito protetora às vezes, acho que é a irmã mais velha
dentro dela. Ela realmente não pode evitar.
Eu não a culpo; uma vez quebrei a mão de uma garota porque ela
tentou dar um tapa em Victoria e Aryan uma vez sufocou um cara até ficar
inconsciente quando ele tentou nos apalpar. Somos um grupo protetor muito
violento.
Contei a eles sobre ter que ser tutora de Juliette quando saí de sua
casa naquele dia – eles ficaram céticos sobre o motivo de eu concordar, mas
assim que contei a eles sobre a carta de recomendação, eles entenderam.
Na verdade, eles foram direto para o gabinete do Sr. Khalid e pediram
para ver uma cópia da carta. Foi perfeito, fiz todas as alterações necessárias
e rapidamente comecei a temer atrasar minha parte no trato.
Juliette revira os olhos.
— Você está agindo de forma um pouco dramática, não acha? —
Meus amigos praticamente rosnam para ela.
Por que eles estão tão preocupados com isso? Quero dizer,
literalmente parece que está saindo fumaça de seus ouvidos. Isso é o que
Juliette e eu sempre fazemos; eles devem estar acostumados com isso a essa
altura.
Felizmente, eles não têm ideia do quanto Juliette tem me maltratado
nas últimas semanas.
— O que vocês estão fazendo aqui, afinal? — Eu pergunto, para
difundir a tensão.
Ambos suspiram audivelmente e Victoria é quem começa a falar.
— Nós ouvimos Stacey se gabando de ter destruído suas roupas,
então nós a confrontamos.
A menção de seu nome me lembra da raspadinha de framboesa. Ela
foi tão sorrateira sobre isso também, embora não fosse tão confiante quanto
Juliette. Ela fez isso por trás e fugiu logo em seguida.
— Não demorou muito para ela nos contar tudo o que eles estavam
fazendo com você — acrescenta Aryan.
Merda. Eu pensei que tinha me saído bem escondendo o estrago que
Juliette estava causando em mim. Eu até comprei alvejante de primeira
qualidade, só para poder remover aquela calúnia que ela colocou no meu
armário.
Eu não poderia deixá-los saber, eles matariam Juliette e então ela não
seria capaz de descontar sua raiva em mim, o que pela primeira vez era
realmente justificado.
Juliette zomba.
— É preocupante que vocês não tenham conseguido descobrir
sozinhos. Vocês não são os melhores amigos dela? — Ela me lança um
olhar, dizendo que está perplexa, mas satisfeita ao mesmo tempo por eu não
ter contado nada aos meus amigos.
— Cala a boca! — Victoria geme, segurando sua testa como se o som
da voz de Juliette estivesse lhe dando uma enxaqueca.
Juliette tem esse efeito na maioria das pessoas.
— Para ser justo, não tenho noção na maioria das vezes — retruca
Aryan, encolhendo os ombros. Eu me abstenho de bater na cabeça dele,
como costumo fazer quando ele faz piadas autodepreciativas.
— Sim, eu posso perceber — Juliette concorda em seu tom mal-
intencionado de sempre.
— Cale a boca! — Victoria, Aryan e eu disparamos em uníssono,
definitivamente éramos trigêmeos em outra vida.
Ela está me provocando. Ela sabe que aguento seus insultos, mas
quando se trata de meus amigos, é muito fácil me irritar. Estou cerrando os
punhos com força, tentando ignorar o comentário dela. Pelo menos eu
estava me segurando, até que ela fez outro.
— O quê? Eu só estava concordando com você — ela diz para Aryan
em um falso tom confuso. — Eu ia te chamar de imbecil, mas não achei que
você saberia soletrar.
Levo dois segundos inteiros antes de ter Juliette presa contra a parede,
minhas mãos agrupadas em seu colarinho enquanto a raiva pura, branca e
quente se dissipa por todo o meu corpo.
Meus amigos não fazem nenhum movimento, embora pela minha
visão periférica eu possa ver Victoria cerrando os punhos. Eles sabem que
devem me deixar lidar com isso.
Parte de mim se sente culpada, muito culpada por segurá-la
agressivamente assim depois do que fiz em sua casa. Minhas intenções
eram maliciosas, mas nunca em um milhão de anos eu esperaria ouvir o
quão mórbido era o passado de sua mãe. Não que isso justifique sua
homofobia, mas explica. Isso me ajuda a entender melhor Juliette e
Samantha.
Eu me senti tão culpada que deixei que ela me tratasse como nada;
como lixo puro, só para ela se sentir melhor.
Mas direcionado para os meus amigos? Ah, não. É aqui que minha
culpa finalmente se dissipou. Eu terminei de tomá-lo.
— Cale a porra da sua boca! — Eu cuspo minhas palavras duramente
para ela enquanto a empurro ainda mais contra a parede.
Ela não fala, apenas continua sorrindo diabolicamente, seus olhos
praticamente me examinando. Eu continuo.
— Diga o que quiser sobre mim, mas mantenha a boca fechada
quando se trata de meus amigos.
— Ou o quê? — ela provoca, mordendo o lábio inferior. Eu me vejo
ficando distraída por essa ação, momentaneamente.
— Não me teste, Juliette.
— Você não me assusta, Adaline.
Eu sei que não a assusto, assim como ela não me assusta. Não há
medo neste jogo que jogamos – nunca houve – e é isso que a deixa louca.
— Isso para agora. Cansei. Não vou mais aguentar sua merda — digo
a ela seriamente, sem perder a maneira como seu comportamento muda
instantaneamente.
Seus olhos se estreitam e seu sorriso desaparece. Eu posso ver a
forma como sua mandíbula aperta ligeiramente; não de uma forma zangada,
mas mais de uma forma descontente.
Ela sabe que estou falando sério. Cansei de deixá-la fazer isso por
causa de uma merda que fiz.
É ridículo. A mãe dela e ela ainda são vadias miseráveis, a merda que
elas passaram não serve de desculpa para nada. Você não pode generalizar
um grupo de pessoas por causa de uma pessoa horrível. Eu odeio todas as
pessoas loiras porque Juliette é uma vadia? Não.
— Isso acaba quando eu disser que acabou.
Ela é tão segura de si. Suas palavras exalam puro controle e poder,
como se ela não pudesse sequer imaginar um mundo onde eu não cantasse
sua música. Ela me conhece? Eu nunca vou dar a ela esse poder, nunca.
— Você precisa superar isso; você já me torturou o suficiente. —
Digo exasperada, o que pode ser um exagero. Claro, essas duas semanas
foram irritantes e inconvenientes, no entanto, a verdadeira tortura não a
enfrentou por duas semanas, quando ela enviou seus amigos para fazer seu
trabalho sujo. Era insuportável. Não porque senti falta dela, mas porque
ninguém briga comigo como ela.
Seus lacaios são deploráveis e irritantes, mas não são irritantes e
venenosos como ela. Eles não têm o dom de me incomodar como ela. Foi
pura tortura ouvir as palavras dela saindo das bocas deles.
Ela pisca.
— Agora você sabe como me sinto quando estou perto de você.
Eu expiro com o comentário dela. A absoluta seriedade com que ela
está falando me abala um pouco. Enquanto ela olha para mim, não consigo
desviar o olhar ou mesmo respirar.
Ela sente que eu a torturo? Eu deveria perguntar a ela como faço isso.
Eu quero desesperadamente saber como ela se sente torturada por mim.
— Você pode cortar a tensão com uma faca. — O sussurro fracassado
de Aryan me traz de volta à realidade.
Eu estava tão extasiada com meu confronto com Juliette que tinha
esquecido completamente que meus amigos também estavam aqui. Eu
soltei seu colarinho, incapaz de encontrar seus olhos novamente.
— Vamos — eu digo apressadamente, instantaneamente saindo do
vestiário e praticamente correndo pelos corredores. Meus amigos correm
atrás de mim.
— Por que você não nos contou sobre o que está acontecendo? —
Victoria pergunta, me alcançando. Antes que eu possa responder, Aryan
lança sua própria pergunta.
— Por que você não revidou? Você poderia facilmente ganhar de
Stacey!
Paro meus passos e eles espelham meus movimentos. Eu respiro
fundo e olho para eles, posso ver a preocupação estampada em suas feições.
Eu gostaria de poder contar aos meus amigos a história completa, mas
não posso divulgar os segredos de família de Juliette assim. Por mais
garantido que seja, eu simplesmente não posso.
— Eu fiz algo horrível, mas não posso dizer a vocês o que é. — Eu
suspiro, coçando minha bochecha. — Apenas confie em mim quando digo
que tive um bom motivo para aceitar a merda dela.
Há muitas coisas que amo em meus amigos; sua lealdade e humor,
mas acima de tudo, eu aprecio como eles são compreensivos. Eles nunca
me pressionam e sempre aceitam minha palavra para alguma coisa. Eles
sabem que eu não aceitaria a merda de Juliette a menos que houvesse uma
boa razão para isso.
Aryan acena com a cabeça.
— Nós confiamos em você. Só nunca deixe as pessoas passarem por
cima de você assim e se safarem novamente. Essa nunca foi você.
Victoria ecoa seus sentimentos.
— Isso nunca mais vai acontecer, você nunca vai deixar isso
acontecer de novo. Entendido?
— Entendido — eu concordo, balançando a cabeça. A tensão parece
que se dissipa instantaneamente quando meus amigos envolvem seus braços
em volta de mim.

***
Depois de passar horas comendo sorvete e recebendo sermões de
meus amigos, eles acabaram me deixando em casa.
Eu me despeço deles enquanto saio do carro e ando pela calçada
irregular. O cheiro de maconha e o barulho dos carros buzinando enchem
meus ouvidos e me trazem uma estranha sensação de conforto.
Ando até minha pequena casa de dois quartos; a casa em que cresci.
Jogo minhas chaves no buraco e entro. Sempre cheira a bolinhos quando
entro em minha casa, graças à Sra. Kim.
Entro na cozinha e vejo uma infinidade de recipientes com comida e
um bilhete anexado a eles que diz: Trabalhando até tarde esta noite, fiz
comida para você. Por favor, coma. Não evite comer para poder estudar!
Te amo. Adam.
Eu rio de quão bem ele me conhece.
Subo as escadas para o meu quarto, minhas mãos roçando as
rachaduras nas paredes – isso é um hábito desde que eu era criança. Meu
quarto é extremamente limpo. Eu sou uma maníaca por organização,
especialmente quando se trata do meu quarto.
Eu imediatamente troco meu uniforme, odiando a maneira terrível
que sinto em meu corpo. Sinto a brisa fresca na minha pele quando tiro o
sutiã também, ficando só de calcinha.
Eu caio na minha cama e aproveito a sensação relaxante. Meu irmão
não está aqui, o que significa que é uma casa vazia. O pensamento em si me
dá uma ideia perversa – a mesma ideia que esteve em minha mente o dia
todo.
Não tenho o hábito de me tocar, principalmente porque só saio para
fazer sexo quando estou me sentindo particularmente frustrada, mas não
posso me incomodar em fazer isso agora.
Abro bem as pernas e minhas mãos começam a vagar pelo meu peito
enquanto brinco com meus mamilos. Minha mão vaga até o cós da minha
calcinha, eu gemo um pouco quando percebo o quão encharcada eu
realmente estou e quão úmida minha calcinha está. Estão tão úmidos que
meus dedos ficam encharcados imediatamente.
Estou frustrada o dia todo? Por quê?
Meus dedos circulam sobre meu clitóris enquanto me provoco um
pouco. Prazer percorre meu corpo até os dedos dos pés e xingo em
satisfação. Minha mente começa a lançar imagens de mulheres e homens
bonitos para mim.
De repente, imagens de cabelos loiros e olhos azuis começam a atacar
minha visão. Calma, não. Não, não.
Minhas mãos disparam para fora da minha calcinha imediatamente e
eu a coloco no meu peito, acalmando meu coração batendo de forma
irregular. O que eu estou fazendo?
Eu estava prestes a me tocar pensando em Juliette Kingston? Estou
tão desesperada? O que está acontecendo comigo e por que parece tão
diferente... tão bom?
Eu quero tanto levantar e fingir que não pensei apenas em Juliette
quando me toquei, mas não posso. Não quando minhas entranhas estão
gritando, implorando por uma liberação.
Devo realmente me negar o prazer? Devo deixar Juliette arruinar meu
orgasmo ou ser a causa disso? Acho que o último é mais adequado,
puramente por razões irônicas.
Pense nisso; ela ficaria furiosa ao descobrir que uma sapatão estava se
masturbando para ela. Então, esse seria o dedo médio definitivo para ela,
certo? Além disso, é apenas uma fantasia – todo mundo já estragou suas
fantasias.
Minhas mãos fazem o caminho de volta. Não perco tempo voltando
ao meu clitóris; está tão inchado. Normalmente não sou tão rápida, demoro
muito tempo para me excitar, mas sinto que poderia gozar em segundos.
Eu viro minha cabeça para o lado, dominada pelas imagens criadas
em minha mente. Só consigo pensar em Juliette em cima de mim, embaixo
de mim e dentro de mim.
Meus quadris se movem involuntariamente e eu mergulho dois dedos
dentro do meu buraco. Estou tão insuportavelmente molhada que meus
dedos praticamente deslizam para dentro. Meu aperto é tão torturantemente
bom. Ela pensaria que isso é bom?
Minha pele está escaldante. Minhas pernas estão farfalhando contra
os lençóis a cada grama de prazer que se acumula dentro de mim. Eu
levanto minha mão esquerda – que atualmente não está fazendo nada – até
meu pescoço e o envolvo.
Aperto meu pescoço a cada onda de prazer que sacode violentamente
meu corpo. Meus dedos estão começando a doer do jeito áspero que estou
batendo neles dentro de mim, mas não consigo parar. Não quando estou tão
perto ou quando tudo em que consigo pensar é em Juliette dentro de mim.
Estou tão perto. Estou empurrando profundamente dentro de mim,
cada vez mais rápido, enquanto tiro minha outra mão do meu pescoço e
começo a circular meu clitóris novamente. Meus movimentos são erráticos
e rápidos.
Estou tão perto que já posso saborear a felicidade.
Tudo o que tenho que fazer para me levar ao limite é abrir os olhos.
No minuto em que faço isso, começo a imaginar Juliette em cima de mim,
puxando-me para um beijo profundo, sua língua deslizando em minha boca
enquanto ela passa as mãos pelo meu cabelo.
Ai, meu Deus.
Minhas entranhas se apertam e apertam em torno de meus dedos.
Minhas pernas tremem, meu peito convulsiona e eu grito como nunca antes.
Sinto aquele formigamento muito familiar atingindo a parte de trás do meu
cérebro, enviando ondas por todo o meu corpo.
Ah, não.
Capítulo OITO
Juliette
O som da música clássica entra em meus ouvidos enquanto eu giro o
vinho tinto no meu copo. Hoje é 26 de outubro, meu aniversário. Acabei de
completar dezoito anos.
Passei a manhã com Kai, que me levou para tomar café depois do
treino de líder de torcida e agora estou com minha mãe para almoçar. Ela já
me comprou um monte de presentes; sem dúvida ela provavelmente os
escolheu de algum catálogo aleatório.
Acho que ela tem a impressão de que este vinho é a primeira vez que
bebo álcool. Ou pelo menos ela pensou que era, até que eu virei a taça de
vinho sem fazer careta.
— Eu gostaria do bife tártaro e outra garrafa de Château Cheval
Blanc. — Minha mãe pede educadamente. A garçonete começa a escrever,
então seus olhos se voltam para os meus.
— O que você gostaria, senhorita? — A garçonete me questiona
educadamente enquanto tento o meu melhor para não olhar por muito
tempo em seus olhos azuis escuros.
Eu examino o menu levemente antes de dizer:
— Eu gostaria da lagosta, por favor. — A garçonete acena com a
cabeça e reitera nosso pedido antes de se afastar depois de confirmá-lo.
Este restaurante é tão sufocante, embora seja um lugar bastante
sofisticado, ao qual estou acostumada.
O som do piano ao vivo é ensurdecedor, mas não tão alto quanto o
som de utensílios batendo. Eu gostaria que a música pudesse abafar o som
de adolescentes mimados reclamando de suas mesadas.
— Como vai, querida? — Minha mãe questiona, olhando para mim
com um sorriso suave.
Eu gosto dela quando ela está assim; calma e recolhida. É tão raro ela
estar atenta a mim hoje em dia, então eu aprecio cada segundo.
— Bem. — Eu sorrio levemente. — Minhas notas em biologia estão
melhorando. — Pela primeira vez, não estou mentindo para minha mãe
sobre minhas notas.
— Adaline ainda está dando aulas para você? — Ela questiona
baixinho, seus dedos segurando firmemente sua taça de vinho. E, sem mais
nem menos, o humor muda. O que eu pensei que seria um passeio normal é
claramente apenas um interrogatório.
Concordo com a cabeça, tomando um gole do meu vinho.
— Sim, ela está.
Falar sobre Adaline me lembra daquele dia no vestiário. Isso me
abalou completamente. Não tenho certeza do que estava prestes a acontecer
antes de seus amigos entrarem. Evitei até mesmo pensar nisso.
Independentemente disso, parei de torturá-la desde aquele dia.
Honestamente, acabamos de voltar à nossa rotina habitual de brigas.
Embora ainda seja incômodo, não estava tão tumultuado quanto ficou
depois do que aconteceu com minha mãe.
Embora estejamos de volta à nossa rotina normal, ela continuou a me
ensinar por e-mail nas últimas semanas em vez de pessoalmente. Eu
simplesmente não posso tê-la de volta em minha casa; isso me lembra que
ela sabe sobre meu pai.
— Ela... contou a alguém? — Minha mãe pergunta em um sussurro
abafado, olhando em volta para ver se alguém está ouvindo nossa conversa.
Balanço a cabeça, bebendo meu vinho. Ela me faz essa mesma pergunta
todas as semanas desde que Adaline a emboscou.
É claro que minha mãe está com medo, até apavorada, de que as
pessoas descubram sobre meu pai. Todos tinham a impressão de que o
divórcio foi amigável.
De qualquer forma, ninguém achava que meu pai era bom o suficiente
para minha mãe, principalmente porque ela vem de uma família com
enormes quantias de dinheiro e ele não era tão rico quanto ela – ou tão
talentoso.
Se descobrissem que ele partiu por um outro homem, nos
desprezariam e nosso nome de família seria completamente manchado.
— Bom. Certifique-se de que continue assim.
— Eu vou.
Claro que eu vou. Não que eu tenha que me esforçar de qualquer
maneira; Adaline deixou cada vez mais claro que não contaria a ninguém.
Eu ainda não entendo o porquê. Se eu estivesse no lugar dela, acho que não
lhe daria a mesma cortesia. Mas, novamente, eu sou uma vadia enorme.
— Em outras notícias… — minha mãe pigarreia, atraindo minha
atenção. — O conselho de administração mal pode esperar para que você se
junte a eles no ano que vem.
— Próximo ano? Não é um pouco cedo?
Não sei absolutamente nada quando se trata das empresas de minha
mãe, nem estou interessada em nada disso; estou apenas feliz por termos
sido bem-sucedidas.
Minha mãe, porém, quer que eu entre na empresa; ela quer que eu me
torne a próxima herdeira e não consigo dizer a ela que não quero isso.
Ela balança a cabeça.
— Eu não acho. Você estará na universidade no próximo ano; é
perfeito.
É óbvio que ela não está me perguntando, ela está me dizendo
exatamente o que vai acontecer.
Crescendo, eu era inflexível em querer abrir minha própria galeria ou
ir para a universidade de arte depois da faculdade. No entanto, desde que
meu pai partiu, meus sonhos ficaram em segundo plano.
Se eu não entrar para o negócio da família, isso vai dar mais motivos
para as pessoas fofocarem e minha mãe se preocupa muito com o que as
pessoas pensam. Agora, mais do que nunca, ela precisa que nossa reputação
permaneça intacta. Então, se eu tiver que desistir dos meus sonhos para
ingressar em qualquer universidade que ela escolher, que assim seja.
— Quando você acha que poderá tirar uma folga do trabalho? — Eu
pergunto, mudando de assunto e ela felizmente obedece.
— Eu não tenho certeza. Estamos muito ocupados nos próximos
meses.
— Em breve será o meu torneio de torcida. Você acha que conseguiria
ir? — Eu questiono gentilmente e recuo mentalmente quando ela olha para
mim abruptamente.
Eu sei a resposta. É sempre a mesma coisa, desde os doze anos.
— Não posso.
Parte de mim quer gritar, perguntar incessantemente por que ela não
pode vir. Eu sou sua única filha; eu sou tudo o que ela tem, então por que
ela não pode aparecer para mim? A dor de perdê-lo é demais? É tão
insuportável que você nem consegue ver como sou boa em alguma coisa?
Eu quero dizer tudo isso, mas não posso. Nunca pergunto a ela porque sei
que não vou conseguir a resposta que quero e estou muito cansada disso.
Eu apenas aceno para minha mãe, sem dizer muito mais. Felizmente,
não preciso falar mais porque a garçonete traz nossa comida assim que
percebo que meu apetite desapareceu de repente, o que é chocante, pois sou
uma grande fã de comida.
Em vez de devorar a comida, suspiro e meus olhos seguem a
garçonete quando ela sai. Sua camisa preta é bem ajustada, abraçando suas
curvas voluptuosas. Ela está no lado pesado e mais velho. Não posso deixar
de admirar como ela é bonita e como seu traseiro é atraente… o que estou
fazendo?
Desvio os olhos, ignorando a sensação de ardência. Eu fazia isso com
frequência. Não sei por que, mas meus olhos ficam magnetizados com as
mulheres, não importa onde eu esteja. Deve ser porque tenho inveja de
como algumas mulheres são atraentes. Deve ser isso.
Eu balanço minha cabeça, pego minha faca e garfo e começo a comer.
Qualquer coisa para me distrair de olhar para qualquer outra pessoa. Deus!
Sair para almoçar é realmente exaustivo mentalmente às vezes.
***
O almoço acabou há algum tempo, tive que me despedir da minha
mãe porque ela tem mais uma viagem de negócios pela frente.
Quanto a mim, acabei de estacionar meu Maserati Quattroporte em
minha casa – meu primeiro e último carro.
Sempre que estou cansada ou estressada, sento no meu carro. É o meu
bem mais precioso.
Ninguém tem permissão para comer e/ou beber no meu carro, nem
ninguém além de mim pode dirigi-lo. Lembro-me de uma vez quando Kai
comeu uma barra de granola no banco do passageiro e eu o joguei fora e o
fiz voltar.
Antes de adormecer no carro, eu saio. Não sei por que estou tão
exausta. Deve ser por causa do treino das líderes de torcida esta manhã; foi
muito intenso.
Entro em minha casa e as empregadas vêm correndo em minha
direção como costumam fazer e apenas lanço um sorriso suave, sinalizando
que posso cuidar de mim mesma. Felizmente, eles voltam para a cozinha e
me dão espaço.
Não consigo nem subir as escadas porque a campainha começa a
tocar. Eu não dou a ninguém a chance de abrir a porta enquanto corro em
direção a ela. Presumo que seja provavelmente Adonis. Ele tem o péssimo
hábito de aparecer sem avisar.
Imagine minha surpresa quando abro a porta e vejo Adaline parada na
minha frente.
— O que você está fazendo aqui? — Eu pergunto, perplexa, meus
olhos examinando sua roupa.
Ela está vestindo sua jaqueta de couro de sempre combinada com
calças cargo pretas e um top curto canelado branco. Eu tento o meu melhor
para não olhar para sua barriga lisa e tonificada.
Ela suspira profundamente.
— Vim confessar meu amor eterno por você.
Reviro os olhos.
— Sério, o que você está fazendo aqui?
— Estou aqui para ser sua tutora — ela responde e eu reprimo a
vontade de estrangulá-la. Deixei claro para ela que não a quero perto de
minha casa, muito menos dentro dela, me ensinando.
— Eu não quero que você…
— Eu sei. Você não me quer em sua casa. — Ela me interrompe,
imitando o que eu estava prestes a dizer. Eu levanto minha sobrancelha para
ela, esperando que ela continue. — É por isso que você virá para a minha.
Capítulo NOVE
Adaline
Ela está aqui. Juliette Kingston está na minha casa; no meu quarto,
sentada na minha cama. De alguma forma, não sinto repulsa pela situação,
mas provavelmente porque me toquei pensando nela algumas semanas
atrás, nesta mesma cama.
Eu tentei reprimir o pensamento desde então e tem sido bastante fácil,
considerando que só tenho ensinado Juliette por e-mail. Ela nem passa mais
no restaurante da Sra. Kim; ela apenas pede para entrega.
Eu poderia ter continuado dando aulas particulares para Juliette por e-
mail, mas preciso acompanhar o progresso dela adequadamente. Então, ela
precisa superar seus problemas assim como eu, porque preciso que a carta
de recomendação seja enviada.
— Eu compilei uma lista de cartões flash que precisamos revisar.
Podemos começar com um teste...
— Temos mesmo? Não podemos simplesmente fazer algo mais fácil?
— Ela me interrompe, massageando a cabeça como se estivesse exausta.
Ela nem brigou comigo quando eu disse a ela que a ensinaria em
minha casa, nem fez comentários maldosos sobre minha casa. Em vez
disso, ela insistiu em dirigir seu próprio carro até aqui e eu obedeci
alegremente.
Parte de mim está satisfeita com a paz, mas a outra parte está perplexa
com sua mudez. Também está me incomodando; eu prefiro quando ela é
mal-intencionada por algum motivo. Então, obviamente, vou tentar o meu
melhor para irritá-la.
Eu finjo uma carranca.
— Aww, você está cansada de um longo dia sem fazer nada?
Vamos, eu sei que esse ato silencioso não vai durar muito. É apenas
uma questão de tempo antes que ela volte ao seu eu mal-intencionado...
— Vai se foder. — Ela cospe asperamente. Bem, isso foi rápido.
— Não, obrigada. Você não é meu tipo — eu retruco, notando a
tensão nadando em seus intensos olhos azuis.
— Eu sou o tipo de todo mundo.
Ela é tão absoluta em sua declaração. Nem um pingo de dúvida em
seus olhos e não posso refutar. Ela é linda, isso é óbvio. Se a personalidade
dela não fosse tão mórbida e rançosa, claro, ela seria o meu tipo.
— Não é o meu. — Atiro de volta inflexivelmente.
Seu cabelo loiro sedoso não é meu tipo, nem seus olhos azuis de
sereia ou seu corpo etéreo. Nem uma única parte dela é o meu tipo.
— Qual é o seu tipo então? — Ela cruza os braços como uma criança
petulante que não consegue o que quer.
— Não é você — repito e neste momento ela está lívida.
Ela sai furiosa da minha cama e fica na minha cara olhando para mim.
— Você é tão...
— Sexy? Inteligente? Gostosa para caralho?
— Intolerável! — Ela grita, me interrompendo como eu fiz com ela.
Seu rosto está vermelho. Eu estou sufocando o riso vendo como eu a deixei
com raiva, isto é, até que ela fala novamente. — Vou sair daqui!
Antes que ela possa ir embora, eu agarro seu braço.
— Ei, você não vai a lugar nenhum. Nós temos que estudar.
— Não me toque — ela resmunga, puxando seu braço do meu. É
irônico como o jogo virou. Normalmente sou eu que faço isso.
— Relaxe. — Eu franzo minhas sobrancelhas. — O que há de errado
com você hoje?
— Ver seu rosto me irrita. — Ela estala de volta para mim, respirando
pesadamente. Então ela se afasta de mim e passa as mãos pelos cabelos.
Não é isso. Ela vê meu rosto perfeito quase todos os dias e adora me
irritar. Hoje ela está diferente. Ela deve ter treinado como líder de torcida.
Sempre que sua prática é mais difícil do que o normal, ela fica exausta e
quieta.
Eu dou de ombros.
— Você pode ficar tão irritada quanto quiser. Isso não muda o fato de
que temos que estudar. A menos que você queira ser expulsa do seu time.
Não é segredo que nós duas nos desprezamos, mas ambas temos algo
a ganhar com isso.
Eu sei que ela é obcecada por líderes de torcida. Já estive em alguns
jogos e não posso negar que o talento dela é de outro mundo. Então, eu sei
que ela não gostaria de ser expulsa do time.
No meu caso, o Sr. Khalid ainda não enviou aquela carta de
recomendação e não enviará, até que Juliette obtenha uma aprovação geral
em sua aula e seja aprovada no exame final. Então, acho que vou ter que
parar de provocá-la. Grande desapontamento.
Ela geme e diz:
— Eu realmente te odeio.
— O sentimento é mútuo.
Ela se senta na minha cama e silenciosamente me diz que está pronta
para continuar estudando. Obviamente preciso morder minha língua hoje;
ela está claramente exausta demais para jogar nosso joguinho. Eu sei que
deveria estar feliz com isso, mas por que parece tão insatisfatório?
Eu vasculho minha bolsa, tirando todos os meus pertences enquanto
ela faz o mesmo. Minhas mãos alcançam o fichário de duzentas páginas que
fiz para ela. É o meu material de estudo mais extenso e fiz isso porque sei
que Juliette odeia biologia; ela não aprenderá nada a menos que aprenda a
tolerar e que melhor maneira de fazer isso do que mergulhar no meu
fichário? Eu até adicionei guias e imagens codificadas por cores.
— Você fez um fichário inteiro? — Ela questiona quando eu
entrego a ela, seus olhos saltando das órbitas. Ela está folheando as páginas
e tenho certeza de que vejo uma pitada de entusiasmo, ou pelo menos
espero ver.
Eu dou de ombros.
— Considere isso seu presente de aniversário.
Obviamente, eu o fiz antes do aniversário dela, mas eu tinha um
pressentimento de que daria a ela hoje. Não que seja um presente de
verdade, estou fazendo porque preciso. Além disso, ela definitivamente está
acostumada com coisas mais extravagantes, então estou esperando que ela
revire os olhos com isso.
— Você lembrou? — Ela fala baixinho, seus olhos segurando uma
emoção que eu não consigo decifrar.
O quê? Conheço essa garota durante a maior parte da minha vida
adolescente e ela está chocada por eu saber o dia do aniversário dela? Claro,
eu a odeio, mas isso não significa que eu tenha demência.
— Eu te conheço há uns quatro anos, Juliette.
— Cinco anos — ela corrige, olhando para mim com o que parece ser
um pequeno sorriso. — Obrigada... pelo presente.
Quero dizer que não é um presente, é para estudar e tecnicamente, é
para minha carta de recomendação. No entanto, não posso dizer nada
porque estou perplexa por ela ter me agradecido. Nunca ouvi palavras como
essas saírem de sua boca para mim, nem testemunhei um sorriso tão
genuíno em seus lábios. Pode ser minúsculo, mas ainda está lá.
Por que meu coração está batendo um pouco mais rápido? Por que
meus joelhos estão começando a suar? Esqueça. Eu não posso me debruçar
mais sobre isso.
— Vamos começar.

***
— Por que a homeostase é necessária? — Pergunto tirando outro
flashcard, esperando por sua resposta. Estou essencialmente ensinando
biologia para essa garota no ensino médio e estou reprimindo a vontade de
zombar dela por isso.
Sua resposta vem na velocidade da luz.
— Ele garante que as células e tecidos do corpo tenham o ambiente
correto para funcionar.
Mais uma vez, ela está certa. Faz cerca de quarenta minutos que eu
questiono Juliette de um lado para o outro e ela está respondendo às
perguntas com facilidade. Foi tão inesperado. Não porque a ache estúpida,
mas porque sei que ela despreza a biologia. Claramente, ela está estudando
as notas que tenho enviado a ela por semanas. Estou impressionada, sério.
— Você tem estudado muito, não é? — Eu pergunto, perplexa.
Ela acena com a cabeça em resposta.
— Não posso reprovar em biologia. Minha mãe me mataria. — Seus
olhos brilham com algo semelhante à ansiedade. — Também não posso ser
expulsa do time.
Esta é a primeira vez que vejo Juliette parecendo genuinamente
preocupada com alguma coisa. Ela geralmente carrega consigo uma fachada
confiante, especialmente quando se trata das coisas em que ela claramente
se destaca. Vê-la assim a faz parecer mais humana.
— Você não vai ser expulsa — eu asseguro a ela —, você melhorou
bastante.
— Isso foi um elogio? — Ela sorri. Pelo amor de Deus.
— É uma observação — eu a corrijo, revirando os olhos. Por dentro,
estou me repreendendo por elogiá-la inadvertidamente. O que há de errado
comigo hoje?
Pesquiso nos bolsos, decidindo fazer uma pequena pausa para clarear
a cabeça. Antes mesmo de tirar meu cigarro da caixa, Juliette tem algo a
dizer.
— Esse é um hábito imundo — ela comenta, torcendo o nariz para
mim com desgosto.
Acho que isso é muito rico vindo de uma garota que bebe metade de
seu peso corporal em tequila todo fim de semana. Então, novamente,
ninguém é um hipócrita melhor do que Juliette.
Ela tem razão, porém, fumar é um hábito imundo. Considerando que
quero ser cirurgiã, devo ser mais cautelosa e ter medo dos efeitos adversos à
saúde, mas não acho que seja um grande problema para mim pessoalmente.
Quase não fumo, só fumo quando fico nervosa e/ou quando preciso
espairecer.
Eu sorrio, baixando minha voz.
— O que há de errado em ser imundo?
Capítulo DEZ
Juliette
Ela se lembrou do meu aniversário. Não é uma grande coisa, pelo
menos não deveria ser; minha mãe e Kai sempre fizeram meu aniversário
ser especial. A escola inteira elogia, especialmente nas redes sociais. Mas é
isso que torna isso diferente, Adaline não usaredes sociais, então significa
que ela realmente se lembra.
Esta é a primeira vez em cinco anos que ela me deseja parabéns pelo
meu aniversário. Claro que também nunca a felicitei, mas sempre me
lembro da data; vinte e três de maio.
Ela até me deu um presente, o fichário. Eu estou olhando para ele
agora, me distraindo de encará-la.
O fichário é tão tediosamente detalhado e surpreendentemente
colorido. Não consigo nem imaginar quanto tempo ela levou para fazer todo
esse fichário.
Já recebi bolsas, carros e até ilhas no meu aniversário antes, então por
que um simples fichário está tendo esse efeito em mim?
Merda. O que há de errado comigo? É apenas um fichário estúpido e
ela só o fez para me ajudar a estudar para que ela possa enviar sua ridícula
carta de recomendação.
É este cômodo. Estar no quarto dela está me deixando louca,
claramente. Nos cinco anos que conheço Adaline, nunca entrei em sua casa,
principalmente em seu quarto.
É tão limpo; tudo está arrumado e há livros por toda parte. Não
apenas livros didáticos, mas muita literatura clássica que eu realmente não
esperava. A casa dela é menor que a minha, obviamente, mas é tão
aconchegante que parece que pessoas moram aqui.
Outra diferença entre nossas casas é a falta de quadros em sua casa.
Enquanto minha casa está cheia de fotos emolduradas, a dela só tem uma
foto dela e do irmão.
Depois, há o lado nerd do quarto dela. Colados em metade de suas
paredes, há imagens da anatomia humana. Sem falar no esqueleto
assustador que fica ao lado de seu guarda-roupa, embora seja infinitamente
menos assustador quando está usando óculos escuros.
— O que há de errado em ser imundo? — Ela pergunta com a voz
rouca, colocando o cigarro na boca.
Arrepios percorrem minha espinha com seu tom; eu não posso evitar.
Ela está me provocando, acendendo o cigarro e esperando que eu responda.
Só consigo pensar em como a fumaça parece sedutora saindo de seus
lábios carnudos. Saia dessa, Juliette!
Eu ignoro seu comentário grosseiro.
— Acho que estou cansada demais para continuar estudando. Preciso
de algum incentivo.
Com isso, quero dizer que não consigo me concentrar em estudar, não
quando ela está olhando para mim daquele jeito. Preciso mudar de assunto e
recuperar um pouco do controle que claramente perdi agora.
— Como o quê? — Ela joga junto, ainda fumando.
— Que tal se eu acertar a próxima pergunta, você pode responder a
uma das minhas.
Eu tenho pensado nisso por um tempo, especialmente recentemente.
Minha mãe me encarregou de garantir que Adaline não contasse a ninguém
sobre meu pai, mas, por algum motivo, acredito que ela não contará a
ninguém. Independentemente disso, preciso de uma garantia para mantê-la,
apenas por precaução.
Ela parece pensar nisso por um momento, mas então acena com a
cabeça em concordância.
— Que hormônio é liberado pelo pâncreas se a concentração de
glicose no sangue for muito baixa? — Ela pergunta com uma velocidade
insana. Ela está jogando a pergunta para mim sem olhar para nenhum
flashcard, direto do topo de sua cabeça e isso me desorienta.
Esta pergunta não estava em nenhum dos cartões, mas tudo bem,
posso improvisar.
— Glucagon.
Minha pequena e boba Adaline. Ela realmente acha que eu não leria
os livros didáticos que ela recomendou? Graças a Deus li, porque agora
ganhei nosso joguinho e estou recebendo meu prêmio; ela não pode me
negar.
Ela aperta a mandíbula, mas suas covinhas aparecem, mostrando o
quanto ela está impressionada.
— Pergunte à vontade.
— Por que seu irmão foi para a cadeia?
Diga-me. Parte de mim quer saber para que eu possa guardá-la, a
outra parte quer mergulhar em sua mente e conhecer as partes mais
sombrias do que ela passou. Eu quero envolver uma parte dela que ninguém
conhece; para deleitar-me com o fato de que ela só contou a mim.
Ela está abrindo a boca; eu posso provar as palavras que estão prestes
a sair de sua boca até que a campainha toca e sua boca se fecha novamente.
Pelo amor de Deus!
— Segure esse pensamento — diz ela antes de apagar o cigarro no
cinzeiro em forma de pulmão.
Sério, alguém poderia ser mais obcecado com a anatomia humana?
Por que suas paixões são tão cativantes? Eu desprezo isso.
Ela sai da sala e eu tento ao máximo não olhar para sua bunda. Eu até
fecho meus olhos momentaneamente. O que há de errado comigo? Por que
estou sempre olhando para mulheres assim? Por que sempre tenho tanto
ciúme do corpo de outras mulheres?
Ouço a porta se abrir no andar de baixo e uma voz estridente que
desperta meu interesse e me tira de meus pensamentos tumultuados.
Eu deveria ficar aqui no quarto dela, esperar ela terminar com quem
quer que esteja na porta, isso é a coisa educada a se fazer afinal. O único
problema é que, quando se trata de Adaline Emery, sou tudo menos
educada.
Além disso, eu deveria estar voltando para casa de qualquer maneira.
Tenho planos com Adonis. Eu nem percebi o quão tarde estava ficando.
Pego minha bolsa e coloco o fichário e meus outros pertences dentro.
Meus pés me levam ao topo de sua escada, mas antes de descer, ouço
vozes, o que me leva a parar. Eu me agacho na escada e decido espionar
silenciosamente.
Deste ângulo posso ver a parte de trás da cabeça de Adaline e há uma
garota na porta. Ela tem cabelos ruivos e pele marrom escura. Ela é linda.
Por que ela é bonita?
— Me desculpe, eu nem percebi que já eram cinco horas — Adaline
diz, seu tom doce e arejado. O quê?
Quem é essa garota e porque Adaline está falando com ela de maneira
tão doce? Essas duas tinham planos ou algo assim? Ela nunca falou comigo
assim.
A garota bonita balança a cabeça.
— Tudo bem, você terminou seus planos agora?
A garota nem espera que Adaline responda sua pergunta antes de
estender a mão e começar a acariciar seu ombro. Acho que não.
— Não, ela não terminou — eu grito, descendo as escadas, enquanto
seguro minha bolsa com força. Ambos os olhos se voltam para mim quando
os alcanço.
Adaline parece confusa e aquela de cabelo ruivo parece um cervo
pego pelos faróis. Fico aliviada ao ver que a mão dela não está mais perto
do corpo de Adaline.
A garota sorri, estendendo a mão para me cumprimentar.
— Oi, eu sou Priya…
— Não se preocupe, eu não me importo. — Eu a interrompi
friamente. Ela franze a testa antes de retrair a mão, parecendo chocada e
afrontada.
Às vezes, algo toma conta de mim – talvez um alter ego cruel, não
tenho certeza. Tudo o que sei é que é difícil de controlar ou talvez eu não
queira controlar.
Nunca prometi ser uma boa menina ou uma menina legal. Eu sou
cruel. Eu sou viciosa. Eu sou a melhor em ser essas coisas, então por que eu
pararia?
Quando olho para ela de perto, percebo que ela é alguns centímetros
mais alta do que eu. Não gosto disso, porque significa que ela está me
desprezando. Portanto, ela também está olhando para Adaline. Só eu
desprezo Adaline.
— Ignore, ela é uma cadela perpétua — Adaline entra na conversa,
atirando olhares para mim antes de olhar gentilmente para Priya.
— Está tudo bem — diz Priya, sorrindo suavemente para Adaline. O
que está acontecendo aqui?
Eu a avalio e tomo nota de seu traje. Ela está vestindo um casaco azul
Burberry e botas Prada. Ela definitivamente não é deste bairro, o que me faz
pensar em como ela conheceu Adaline.
Ela parece bastante inofensiva. Seus olhos castanhos estão piscando
do chão para qualquer outro lugar. Sua perna está tremendo um pouco e
posso ver um leve fio de suor em sua testa. Só pode haver uma razão para
ela estar tão nervosa; ela não quer ser pega aqui com Adaline.
Ah, eu posso me divertir muito com isso.
Adaline tenta conduzir Priya para dentro, mas antes que ela consiga,
dou um passo à frente e encosto minha mão no batente da porta,
bloqueando-a. Eu posso sentir minha natureza predatória crescendo. Eu
inclino minha cabeça para o lado e dou a ela meu sorriso venenoso
característico.
— Você deveria ir embora. Eu não terminei com ela — eu ronrono as
palavras de uma maneira sedutora para que ela possa tirar suas próprias
suposições lascivas.
Funciona, porque posso ver Adaline tossindo em estado de choque ao
meu lado e Priya olhando entre nós duas. Eu sorrio, embora eu esteja me
xingando por insinuar indiretamente que eu e Adaline estamos fazendo
sexo. Isso nunca aconteceria.
— Eu só estou dando aulas particulares para ela — Adaline entra na
conversa rapidamente, me empurrando com os ombros. — Na verdade,
acabamos de terminar.
Sério? Ela acha que vou deixá-la com essa garota? Eu não sou uma
imbecil. Se eu sair agora, essas duas vão obviamente fazer sexo. Apenas o
pensamento disso está enviando uma raiva quente por todo o meu corpo. Só
porque não gosto da ideia de duas garotas fazendo sexo.
Eu balanço minha cabeça.
— Não terminamos. Eu quero continuar…
— Eu não me importo com o que você quer. Saia! — Ela me
interrompe. Com licença?
— Por quê? Assim você pode transar com ela? — Eu cuspo de volta
com raiva ficando em seu rosto.
— Eu tenho um nome…
— Eu disse que você podia falar? — Eu me viro para Priya,
levantando minhas sobrancelhas e ela fecha a boca.
Este é o tipo de Adaline? Garotas que sentam e obedecem? Deus! Ela
tem padrões baixos.
— Cale a boca! — Adaline geme alto, parecendo extremamente
irritada comigo. Eu a ignoro e me concentro em Priya.
— Priya… — Eu chamo. Quando ela parece que vai abrir a boca, eu
falo de novo. — Não fale, apenas ouça. Se eu quiser, posso fazer um
pequeno telefonema e descobrir tudo o que quero sobre você. Acene com a
cabeça se você entender.
Ela acena com a cabeça. Ela parece tão fraca, como se estivesse
ficando cada vez menor na minha frente. Isso só está me estimulando a ser
o mais cruel possível.
Eu sorrio friamente.
— Eu poderia encontrar todo mundo que você conhece, incluindo
seus pais, e contar a eles tudo sobre esse pequeno flerte. Eles não gostariam
disso, não é?
É tão óbvio que ela está aqui para fazer sexo com Adaline, mas só
estou assumindo que a família dela não sabe disso. Gosto de pensar que sou
boa em ler as pessoas e, com base em como ela parece nervosa, ela
definitivamente ainda está no armário e provavelmente não por escolha
própria.
— Pare com isso — adverte Priya, com os lábios tremendo e os olhos
trêmulos.
Bingo.
— Aw. Estou chateando você? Só estou avisando, você realmente
quer arriscar seu futuro para transar com ela? — Claro, eu não ligaria para
os pais dela ou faria qualquer coisa assim.
Não consigo ouvir sua resposta porque leva apenas dois segundos
antes de Adaline me prender contra a parede, seu cotovelo está no meu
pescoço e ela está olhando para mim, o fogo em seus olhos está
incendiando meu corpo.
— O que há de errado com você, porra? — Ela grita, exasperada.
Quero me deleitar com a sensação de vê-la incomodada comigo, mas
mal consigo conter minha própria raiva agora.
— Comigo? Não há nada de errado comigo. Eu não sou a sapatão que
gosta de foder garotas! — Eu grito de volta para ela, enfurecida.
— Sim, eu gosto de foder garotas e garotos também e isso é normal!
— Eu…
Ela me interrompe.
— Isso é mais do que posso dizer por você, Juliette. Você está triste e
sozinha. É por isso que você trata as pessoas como merda, porque você é
uma vadia patética e superficial. Você não consegue entender o conceito de
pessoas se amando porque você não é digna de amor!
Inspire. Expire. Inamável. Patética. Inamável. Patética.
Eu não posso responder. Eu não consigo nem respirar porque suas
palavras me congelaram no lugar.
Adaline agarra meus ombros com força e parte de mim pensa que ela
vai me dar um soco. Em vez disso, ela apenas me empurra para fora de sua
casa e conduz Priya para dentro ao mesmo tempo. Ela, então, bate a porta
na minha cara, me deixando sem fôlego.
Ela é tão boa nisso. Tão incrivelmente boa em não me dar a chance de
responder. Eu espero por alguns segundos, tentando parar as lágrimas que
sinto transbordar em meus olhos.
Inamável. Patética. Não. Por que eu choraria por alguém como ela?
Ela é muito patética, não eu! Eu enxugo a lágrima perdida que caiu do meu
olho, caminho em direção ao meu carro e entro.
Eu ligo meu carro e acelero instantaneamente. Eu preciso ficar longe
deste maldito lugar; dela. Como ela ousa?
Ela disse algumas coisas horríveis para mim antes, mas isso? Isso
passa do limite. Tudo isso para quê? Por uma garota com quem ela quer
fazer sexo? Aposto que elas estão se apaixonando agora. Aposto que Priya
tem as mãos por toda parte… pare de pensar, apenas dirija.
***

Graças à raiva que corre em minhas veias, cheguei ao meu destino em


tempo recorde.
Eu estaciono erraticamente, frustração nublando meu julgamento
enquanto eu saio do meu carro. Vou ficar muito desapontada comigo mesma
pela manhã por tratar meu carro dessa maneira.
Ando até a mansão cafona e modernizada e coloco o código do
portão. Assim que entro, vou até a porta e bato. Não leva nem dois minutos
antes que a porta se abra e Adonis dê um sorriso atrevido para mim.
Eu não o cumprimento com palavras, apenas o puxo para um beijo
contundente. É duro, áspero, dá um frio na barriga, mas eu continuo. Suas
mãos fazem seu caminho em volta da minha cintura e nos separamos do
beijo.
Minhas mãos vão para o cinto dele.
— Tudo bem?
— Porra, sim — ele me garante, sorrindo. — Tem certeza?
— Sim — eu digo, antes de desafivelar o cinto e puxar as calças e
boxers para baixo.
Eu preciso disso. Eu preciso tirá-la da minha mente.
Ele sai de suas calças e me beija novamente, me levantando para que
minhas pernas fiquem em volta de sua cintura. Eu ignoro como suas mãos
parecem deslocadas e como sua técnica de beijo é descuidada. Ele me
carrega até o sofá e cai em cima de mim, mas toma cuidado para não me
esmagar com seu peso.
Eu rapidamente tiro minhas próprias calças, deixando-me nua e
pronta. Estou tão frustrada e furiosa. Só consigo pensar nas mãos daquela
garota no corpo de Adaline. Isso está me deixando louca; eu preciso dele
para tirar a irritação de mim.
Ele enfia a mão no bolso e tira uma camisinha, colocando-a em si
mesmo. Ele se posiciona perto da minha entrada, olhando para mim em
busca de segurança e eu aceno para ele. Ele lentamente entra em mim e eu
fecho meus olhos.
Ele balança para frente e para trás dentro de mim, minhas mãos se
movendo em direção às suas costas enquanto corro minhas unhas para cima
e para baixo em suas costas mórbidas e musculosas.
Com os olhos fechados, posso sentir o cheiro de lavanda e fumaça. Eu
posso sentir o quão quente eu estou. Com os olhos fechados, não consigo
pensar em nada além dela.
O que eu estou fazendo? Ah, Deus. Eu não posso controlar minha
mente. Ela está em cima de mim, sussurrando coisas doces dentro do meu
ouvido enquanto eu movo minhas mãos e seguro seu cabelo.
— Mais forte — digo a Adonis, mas, na verdade, estou dizendo isso a
ela.
Não posso negar a mim mesma o prazer disso, não importa o quão
errado seja pensar nela. O sexo nunca foi tão bom antes. Por que é tão bom?
Não consigo abrir os olhos porque vou parar de me sentir assim. Eu
tento o meu melhor para abafar seus ruídos e volto a imaginá-la. Só estou
pensando nela porque estou com raiva. É a raiva que me excita, não ela.
Eu movo meus quadris para obter mais fricção enquanto penso nela;
quão alto ela gritaria. Eu posso ouvi-la gemer. Aposto que ela é uma
gritadora. Aposto que toda a rua seria capaz de ouvi-la gemer.
— Mais! — Eu imploro enquanto ele empurra seus quadris ainda
mais nos meus, ele está claramente chocado com o meu entusiasmo. Eu
nunca sou tão vocal durante o sexo.
— Você gosta disso? — Ele resmunga e eu abafo sua voz fingindo
que uma voz diferente me fez a mesma pergunta.
— Sim! — Eu gemo alto.
Deus, ela se sente tão molhada. Ela está tão molhada para mim
quando puxo seu cabelo e ela empurra mais fundo dentro de mim. Seus
lindos olhos verdes olhando para mim. Seu corpo está dentro do meu, nosso
prazer se entrelaçando em minha mente.
O calor está me queimando; meus quadris estão doendo por causa da
maneira áspera com que os empurro para cima. Ela é tão tentadora. Seus
lindos olhos verdes olhando para mim enquanto ela empurra dentro de mim,
minhas unhas cravando em suas costas.
Eu nunca me senti assim antes durante o sexo. É inimaginável. Eu
posso sentir o calor se acumulando dentro da minha mente enquanto a
imagino montando em mim. Estou tão perto. Estou no limite. Sim, amor.
Por favor, Adaline, me faça gozar...
Sou tirada de meus pensamentos quando um par de lábios se junta aos
meus, inadvertidamente fazendo meus olhos piscarem. Minha fantasia é
interrompida quando vejo seus olhos.
Meu prazer desaba, incapaz de vir à tona. Eu estava tão perto. Eu só
quero arrancar cada folículo de cabelo da minha cabeça agora.
Droga de vida!
Capítulo ONZE
Adaline
Ontem foi um dia agitado, para dizer o mínimo. Eu botei Juliette
contra a parede e a expulsei da minha casa. Nunca coloquei minhas mãos
nela antes, nem ela fez o mesmo comigo.
A guerra emocional é o nosso ponto forte e, embora ela tenha tornado
minha vida um inferno nos últimos cinco anos, ela nunca me atingiu. Eu
realmente não bati nela ontem também, mas eu a empurrei para fora.
Honestamente, ela mereceu. A maneira como ela falou com Priya foi
péssima e indigna. Ela tem sorte que tudo o que ela conseguiu foi um
empurrão, eu deveria ter chutado a merda dela.
Agora, normalmente, eu não poderia me importar menos se Juliette
fosse má com alguém. Na verdade, eu até gosto disso. Desta vez, porém, foi
diferente, porque, mais uma vez, era inatamente homofóbico.
— Acho que devo me juntar a outro time — Victoria diz, tirando-me
dos meus pensamentos enquanto ela inclina a cabeça contra o armário.
Eu franzo minhas sobrancelhas.
— Outro? Você está em praticamente todos.
Basquetebol. Beisebol. Futebol. Tênis. Tenho certeza de que há
muitos mais que não consigo lembrar. Não há um único time esportivo do
qual ela não faça parte, é seriamente assustador. Eu tento o meu melhor para
aconselhá-la a não trabalhar demais. Não que ela dê ouvidos a mim ou a
Aryan quando se trata de sua natureza excessivamente trabalhadora.
Embora eu suponha que seja hipócrita da minha parte, considerando
que ambos tentaram me impedir de me sobrecarregar academicamente; eu
também nunca os escuto.
— Exceto golfe — diz ela. Huh?
— O que você é? Alguém com cinquenta anos de idade? — Eu
respondo brincando. Ela ri em resposta até eu falar de novo. — Pare de se
sobrecarregar. Sério, você está fazendo o suficiente.
Mais do que o suficiente. Eu quero tanto transmitir como ela está
trabalhando até os ossos, mas sei que ela refutaria minhas palavras.
— Trabalhar demais é o lema da minha família — ela responde,
tentando brincar enquanto evita meu olhar.
Os Williams são amorosos, mas têm padrões elevados. Às vezes me
considero sortuda por não ter pais. Não tenho que lidar com a pressão
constante dos humanos que me deram à luz. Em vez disso, apenas eu me
pressiono.
Eu belisco sua mandíbula e viro seu rosto para mim para que ela olhe
para mim.
— Foda-se o lema da sua família, esta é a sua vida.
Seus olhos suavizam.
— Eu sei. Vou tentar relaxar. — Ela relaxa visivelmente e eu sorrio.
Detesto ver meus amigos nervosos ou chateados, porque não sou a
melhor em confortar as pessoas. No que eu sou boa é em abraços. Eu a
trago para mim e a abraço, quase embalando seu corpo de certa forma. Ela
aninha a cabeça no meu ombro e suspira profundamente.
Antes de nos separarmos do abraço, nossas cabeças se erguem ao som
da voz de Aryan.
— Queridas, vocês poderiam me ajudar com as outras caixas? Eu
preciso levá-las para a aula — ele pede, ofegante.
Nós nos separamos para vê-lo segurando duas caixas brancas com
cada mão, só posso presumir que as caixas estão cheias de livros didáticos.
Aposto qualquer quantia em dinheiro que ele ofereceu para carregar
essas caixas para alguém que provavelmente é muito capaz de fazer isso
sozinho, principalmente porque ele é irritantemente prestativo e talvez
porque adora mostrar como é forte.
Eu balanço minha cabeça.
— Claro que não, apenas use esses músculos fortes dos quais você
sempre se gaba.
Victoria ri da minha declaração e Aryan me encara, não que isso
possa ser chamado de olhar furioso, é mais um olhar de cachorrinho
amuado. Normalmente, funciona comigo, mas não hoje. Recuso-me a
participar de qualquer atividade física que não esteja me dando algum tipo
de gratificação. Sou uma pensadora, não uma trabalhadora.
— Eu ajudo, só me dê um minuto — Victoria diz gentilmente para
ele. Ela não consegue resistir ao beicinho dele.
— Obrigado — ele diz a ela, então olha para mim e mostra a língua.
— Te odeio.
— Também te amo, menino. — Eu mando um beijo para ele enquanto
ele ri e vai embora.
— Como foi sua noite com Priya? — Victoria atrai minha atenção de
volta balançando as sobrancelhas sugestivamente.
— Foi boa. Ela não estava nervosa, mesmo sendo sua primeira vez
com uma garota.
Essa é outra razão pela qual não gostei de Juliette desrespeitar Priya.
Ela não é apenas doce, mas também é amiga da família de Victoria. Na
verdade, nos conhecemos há um mês na festa de aniversário de dezoito anos
de Victoria. Começamos a flertar e, antes que eu percebesse, fizemos planos
reais de nos vermos ontem.
Esqueci completamente os planos quando estava ensinando Juliette.
Depois que ela ficou envergonhada e quase intimidada por Juliette, eu
esperava que ela fosse embora, mas ela não foi.
Na verdade, ela basicamente se lançou sobre mim e tivemos uma
noite agitada. Ela gozou duas vezes, mas eu não gozei.
Surpreendentemente, não foi porque era a primeira vez dela – porque
ela estava muito ansiosa para aprender e deu o seu melhor – foi
principalmente porque eu não conseguia parar de pensar em como Juliette
estava sendo irritante. Ela arruinou minha capacidade de orgasmo ontem.
Então, Priya pode igualar o placar outra vez.
— Ela é uma garota adorável, mas acho que você precisa de alguém
um pouco mais dura — Victoria diz, com uma carranca.
Eu levanto minha sobrancelha.
— Acabamos de transar, não é como se eu fosse me casar com a
garota.
— Deus me livre de você realmente namorar alguém — Aryan
sussurra em meu ouvido por trás e eu estremeço com o choque,
empurrando-o quando ele ri.
Victoria ignora nossas travessuras.
— Só estou dizendo, não seria uma coisa ruim encontrar alguém.
Eu não sou de namorar. Eu não tenho relacionamentos. Eu tentei um
pouco quando era mais jovem, mas simplesmente não tinha capacidade
emocional para lidar com outra pessoa, nem tempo.
Sinceramente, ainda não tenho nenhum dos dois e só não quero
namorar ninguém, ninguém me excita ou me estimula o suficiente para isso.
O amor em si me incomoda, especialmente quando as pessoas falam
sobre isso para mim. Eu realmente desprezo a noção de amor. Para mim, é
apenas uma força raivosa que causa estragos na vida das pessoas.
Veja bem, não estou falando de amizades ou família, estou falando do
amor que te deixa cego e estúpido quando você está tão apaixonado por
alguém que não consegue pensar em mais nada. É absolutamente
abominável.
— Eu não acredito no amor. Vocês sabem disso. — Eu suspiro.
— Addie… — ambos dizem suavemente.
Eu os corto.
— Não, sério. Eu vi o que o amor fez com meu pai e não vou cometer
os mesmos erros que ele. Não vou deixar o amor me consumir e me distrair
do que é importante.
Oxford. Diploma. Cirurgia. Essa é a lista. Nada jamais impedirá isso,
especialmente o amor.
As expressões de ambos suavizam com a menção de meu pai porque
é muito raro. Não me importo de falar dele, mas é difícil. Isso me oprime e
é desagradável.
Não acredito em Deus, mas se ela existe, agradeço a ela por me enviar
grandes amigos que não se intrometem ou pressionam e simplesmente
abandonam o assunto quando estão me incomodando, como estão agora.
— Então, alguém vai me ajudar com essas caixas agora ou não? —
Aryan deixa escapar, mudando de assunto.
— Ainda um não para mim — eu respondo imediatamente.
***
Depois do almoço, me despeço dos meus amigos e vou até o vestiário
para me preparar para a aula mais idiota da escola.
Odeio aula de educação física; é a aula mais inútil do planeta. Por que
estou sendo avaliada com base em quão bem eu jogo uma bola?
Não que eu seja fisicamente incapaz, porque não sou, mas
considerando que passo a maior parte do meu tempo estudando, fumando
ou dormindo, não sou exatamente Usain Bolt ou Venus Williams.
Sou a primeira aqui a me arrumar, principalmente porque o
atendimento é cronometrado com base na rapidez com que você entra nos
vestiários, o que significa que quanto mais rápido eu aparecer, mais cedo
vou sair. Trabalhe de forma mais inteligente, não mais difícil.
Desfaço minha gravata azul-marinho, pendurando-a dentro do
armário e imediatamente começo a desabotoar a camisa branca do
uniforme. Minhas mãos começam rápido, mas desacelera depois do meu
último botão porque... bem, eu posso sentir alguma coisa.
O suor está escorrendo pelo meu pescoço, o cheiro de baunilha está
invadindo meus sentidos e sinto que meu coração está desacelerando
exponencialmente.
Ela está aqui. Eu sempre sei quando ela está aqui.
— O que você quer, Juliette? — Eu falo, virando minha cabeça para o
lado para olhar para ela.
Ela está parada na porta, com as costas contra ela. Seu uniforme está
impecável, como sempre, e ela está com uma faixa azul na cabeça. Seus
olhos azuis elétricos estão varrendo meu corpo. Isso me obriga a lembrar
que minha camisa está aberta. O que significa que ela pode ver meu corpo e
meu sutiã preto de renda.
Eu nunca tive problemas com nudez ou meu corpo sendo visto por
alguém antes, então por que meu coração está disparado com o olhar dela?
— O que faz você pensar que eu quero alguma coisa? — Ela atira de
volta, sorrindo preguiçosamente para mim.
Você sempre quer alguma coisa.
— Talvez porque você nunca consegue me deixar em paz.
Nunca. Nos últimos cinco anos ela nunca me deixou sozinha e eu
realmente a odeio. Eu a odeio por isso, porque agora eu me acostumei com
isso.
Agora, parece algo normal, como se eu não pudesse funcionar sem
ela.
Ela balança a cabeça e vem em minha direção.
— Você não está entediada de ficar sozinha? Já que você foi assim a
maior parte de sua vida?
Isso deve ser uma piada sobre meus pais estarem mortos e o fato de
que meu irmão esteve na prisão durante a maior parte da minha vida
adolescente. Ela está pisando em um território muito perigoso.
— Por que você está aqui, Juliette? — Repito em tom irritado. —
Para ter um pedido de desculpas?
Prefiro sentar em um cacto, nua, e ao mesmo tempo levar um chute
no rosto antes de me desculpar com Juliette.
Ela ri venenosamente.
— Por que eu precisaria de um pedido de desculpas? Nada do que
você disse era verdade, então não me incomodou de forma alguma.
Ela está se aproximando de mim e estou começando a sentir minha
respiração ficando superficial. Ela está diferente hoje, seus olhos parecem
mais cruéis e seu comportamento geral é mais difícil de ler do que o
normal.
— Se é isso que ajuda você a dormir à noite — eu digo com uma
ironia.
— Você disse que eu não era amável…
— Juliette… — Tento interrompê-la e tento justificar o quanto fui má
com ela.
Embora justificado, as palavras que usei foram cruéis e ela acabou de
me lembrar disso. Eu praticamente posso sentir a culpa corroendo meu
peito.
Ela me interrompe e continua.
— Isso é claramente uma mentira. Sou muito amável, considerando
que tenho meu namorado e minha mãe, enquanto você não tem nenhum dos
dois. Então, acho que isso faz de você alguém que não pode ser amada,
certo?
Esqueça. Qualquer fragmento de culpa que eu tive por ela acabou de
se dissipar no ar. Mencionar minha mãe? Ela nunca fez isso antes, nem
mencionou meu pai.
O último não teria me afetado tanto, não do jeito que minha mãe me
afeta. Queima em meu peito e se enrola em minha garganta. Como ela ousa
citá-la? Tudo por causa de uma pequena briga que tivemos ontem, que ela
começou?!
— Eu também não preciso. Não preciso da validação de outras
pessoas como você! — Eu levanto minha voz, ficando em seu rosto.
— Não, você não precisa — ela cruza os braços —, a sua validação
vem de suas notas.
Deus, seu cheiro, seus olhos, a maneira como seu corpo parece estar
me puxando magneticamente a cada respiração, é tão irritante.
Ela está em um rolo hoje, suas emoções estão tão guardadas que eu
posso ver um vislumbre de mim mesma nela. Eu realmente a irritei tanto
ontem? Por que ela está tão incomodada com isso?
— Sim, é verdade, porque as notas realmente significam alguma
coisa.
As notas me levarão aonde preciso ir, não preciso de mãe, namorada,
namorado ou basicamente de ninguém para isso. Essa merda é inútil,
considerando o meu objetivo de longo prazo.
— Talvez para você. Tudo o que preciso fazer é gastar meu dinheiro e
posso entrar em qualquer universidade de minha escolha.
Ela está me provocando, mordendo o lábio e me irritando com sua
natureza mimada.
Ela está certa. No fundo, sei que posso trabalhar duas vezes mais do
que eles, mas nunca terei as mesmas oportunidades. Crianças ricas sempre
terão a faca e o queijo na mão.
— Você deveria usar todo esse dinheiro para comprar uma nova
personalidade. Você está precisando urgentemente de uma — eu desvio em
um tom entediado.
Está rachando. Lentamente, mas com segurança, minha fachada
despreocupada está rachando e posso sentir as lascas em meu corpo e a
raiva em minha mente. Evito seu olhar porque está me levando à beira da
loucura e não quero que ela veja minha máscara caindo.
— Fique de joelhos. — Seu tom é o que faz meus olhos se voltarem
para ela. É baixo. Rouca. Seus olhos estão desprovidos de qualquer emoção
e aquele sorriso atrevido ainda está em seus lábios.
Ela é louca? O que passa na cabeça dela para ela vir com os pedidos
tão aleatórios?
— Vai se foder. — Eu cuspo nela duramente. Ela ri insensivelmente
em resposta.
Então, antes que eu possa piscar, ela pega minha gola e me puxa para
mais perto dela. Isso está claramente começando a se tornar nossa coisa.
— Ajoelhe-se para mim — ela repete, sorrindo maliciosamente.
— Vai a merda… — Ela me coloca de joelhos antes que eu possa
pronunciar uma palavra de protesto. Suas mãos colocadas em meus ombros,
seus dedos cavando.
Uau. Ela é forte. Aquela força de líder de torcida que está me
obrigando a ficar no chão. Ou talvez meu corpo esteja apenas se recusando
a se levantar, porque não consigo pensar direito com as mãos dela em mim
assim. Não que eu pense direito.
Essa posição parece íntima, embora realmente não devesse. Ela está
olhando para mim, respirando pesadamente e suas mãos ainda segurando
meus ombros com força.
Sinto como se o mundo estivesse congelado, como se estivesse preso
no lugar e não pudesse fazer nada além de olhar para ela.
— Olhe para você, tão fodidamente patética — ela murmura para
mim, mordendo o lábio.
Seu tom satisfeito me tira do meu estado congelado e eu
imediatamente a empurro. Eu me levanto e esfrego meus joelhos nus, que
estão doloridos, enquanto ela ri presunçosamente. Que vadia.
— Vai se foder — eu retruco com raiva. Honestamente, não é o meu
melhor retorno, mas é tudo que posso reunir agora.
— Eu já fiz isso noite passada.
Noite passada. Quando a expulsei da minha casa, ela foi direto para
Adonis? Por que isso está me deixando tonta? Não sei muito sobre Adonis.
Às vezes, até esqueço que ele é o namorado dela, porque mal os vejo juntos
na escola.
Imagens de Juliette com aquele pau estão invadindo minha mente e
meu peito está recuando ao pensar nisso; ele em cima dela, ele dentro dela...
Não. Não.
— Idem. — Tento esconder a irritação em minha voz porque não
tenho ideia de por que estou tão furiosa por ela ter feito sexo com o
namorado.
Claramente, ela também está irritada; sua risada morreu e ela está
olhando para mim com os olhos estreitados. Eu posso praticamente ver o
vapor saindo de suas orelhas e sei que ela está prestes dizer as palavras mais
vis porque é isso que ela faz quando não consegue controlar sua raiva; ela
desconta em mim.
Ela aperta a mandíbula.
— Você realmente se jogaria em uma garota fraca assim? Quero
dizer, eu realmente não posso culpá-la. Acho que você nunca teve pais por
perto para ensiná-la a ter padrões.
Terceira vez. É a terceira vez que ela menciona o fato de eu ser órfã.
Não respondi com malícia nas duas primeiras vezes, principalmente porque
não queria dar a ela essa satisfação.
Desta vez, eu poderia me importar menos. Eu não vou me conter.
Desta vez eu não posso me conter. É diferente agora, o jogo que jogamos há
anos está nos alcançando e a fúria está tomando conta.
— Sim, sorte sua. Ter seu pai por perto para te ensinar tudo sobre ter
padrões. Aposto que ele te ensinou bem. — Eu me inclino para mais perto
dela. — Me diga, você vai crescer e foder seu chefe também, assim como o
papai?
Dez segundos. É o tempo que leva para eu registrar que Juliette me
deu um tapa na cara. Leva apenas metade desse tempo para sua expressão
ficar horrorizada com o que ela fez.
Eu? Não perco mais tempo; eu pulo sobre ela. É isso, cinco anos em
construção, sou eu finalmente cedendo à raiva; a violência.
Rápido assim. Nós colidimos.
Capítulo DOZE
Juliette
Bata em mim. Me machuque. Sim. Ela está com as mãos em volta
do meu pescoço e as minhas estão puxando seus cabelos. Nós duas estamos
nos debatendo, mas segurando uma à outra ao mesmo tempo e está
queimando meu corpo violentamente.
Isso é tudo que eu sempre quis; ela está cedendo à sua fúria carnal e
eu adoro isso.
Ela dá um tapa na minha bochecha e eu me deleito com a sensação.
Eu mereço isso por falar sobre seus pais mortos; por zombar dela sobre
isso.
Foi uma coisa maldosa de se fazer, mesmo para os meus padrões. Eu
mereço especialmente sua violência depois de esbofeteá-la. Como eu
poderia fazer isso? Eu simplesmente não consigo parar de machucá-la.
Isso já faz muito tempo; talvez seja porque é nosso último ano.
Provavelmente é por causa do medo de nunca mais poder vê-la que estou
sendo levada a fazer isso com ela. Talvez seja a raiva que sinto quando
penso nela e naquela garota ontem.
— Vadia maldita! — Ela grita, me prendendo no chão, mas eu mordo
seu braço e ela grita de dor enquanto nós duas rolamos, lutando pelo
controle, o que é engraçado porque nós duas sabemos como dar um soco
perigoso. Nós duas poderíamos acabar com isso agora e realmente
machucar uma à outra, mas não vamos; estamos mergulhadas no
sentimento.
Pelo menos eu estou. Estou absorvendo a sensação de ter toda a
atenção dela agora, com suas mãos me puxando violentamente. Ela está
tentando me alcançar, mesmo que seja para me machucar, ela ainda está
tentando me alcançar e eu não me canso disso.
— Cadela! — Atiro de volta para ela sorrindo enquanto sinto o
sangue encharcar meus lábios.
Eu agarro seus pulsos e luto pelo controle, rolando em cima dela e
prendendo-a no chão enquanto ignoro seus chutes. Eu monto em seu corpo
para que ela não seja capaz de sair do meu alcance.
Ambos os nossos gritos se dissolvem em um vazio de nada quando
meus olhos caem para o corpo dela, que está abaixo de mim. É tão
tonificado e suave, como se ela tivesse sido esculpida pelos deuses gregos.
Como o corpo dela é tão perfeito quando ela odeia malhar?
Principalmente aqueles seios, que estão sendo acentuados por aquele lindo
sutiã de renda. Ela usa coisas sensuais assim com frequência?
Suas mãos puxando meu cabelo me tiram do transe, minha cabeça se
inclinando para cima com força. Ela sorri para a minha dor e eu congelo
nesta posição. Eu não posso me mover, não quando seus olhos verdes
perigosos estão olhando para os meus. Sinto que o mundo inteiro está
girando e não consigo respirar.
— O que está acontecendo aqui?! — Uma voz soa no vestiário, nos
fazendo levantar nossas cabeças para ver a diretora na porta.
— Ela começou! — Nós duas gritamos de volta em uníssono, um
rubor subindo para minhas bochechas devido a nossa posição.
— Vocês duas venham comigo agora!
***

— Não acredito que vou perder a porra da aula de biologia por sua
causa.
Sério? Ela tem sangue na lateral da bochecha, seu cabelo preto
azeviche está despenteado além do normal e, embora seu uniforme esteja
abotoado, está completamente destruído. No entanto, de alguma forma, a
única coisa que a incomoda mais é a falta de biologia? Adaline é tão nerd.
— Chora mais — eu zombo dela, cruzando os braços sobre o peito.
— Senhoritas, chega! Estou totalmente desapontada com o que acabei
de testemunhar!
A Diretora Smith está berrando suas palavras. Depois que nos pegou,
ela imediatamente nos conduziu a uma sala de aula vazia, nos sentou e
passou cerca de cinco minutos olhando para nós com decepção.
Espero que ela não conte isso à minha mãe… não que ela vá atender o
telefone de qualquer maneira, ela está ocupada demais para isso.
— Brigando? Vocês sabem que Richmond não tolera violência. —
Ela suspira. — Vou ter que punir vocês duas por esse comportamento…
— Deixe-me adivinhar, eu pego detenção e ela sai com nada além de
uma advertência? — Adaline a interrompe, zombando.
Eu viro meus olhos para a esquerda, olhando para a raiva pulsando
nela. Sinto uma pontada de culpa percorrer minha corrente sanguínea, quase
me sufocando. Eu empurro para longe tão rapidamente quanto apareceu.
Faço isso sempre que me sinto culpada pela forma como tratei Adaline… o
que é frequente.
— Por favor, não presuma que eu teria favoritos e teria padrões
duplos, Srta. Emery — a Sra. Smith responde, franzindo a testa com a
suposição.
A Sra. Smith está muito longe de ser injusta. Ela nunca deu
tratamento preferencial aos garotos ricos desta escola. Nunca. Ela é uma das
únicas professoras desta escola que não o fez, o que é uma sorte,
considerando que ela é a diretora.
Sorte para Adaline, pelo menos. Ela não é como o antigo diretor que
costumava aceitar subornos, eu sei disso, considerando que muitas vezes
era eu quem o subornava.
Adaline revira os olhos.
— Bem, você teria que ter jogo de cintura com ela, considerando que
a mãe dela faz doações para esta escola.
Ela realmente precisa superar. Sim, sou rica, isso não vai mudar tão
cedo.
A Sra. Smith suaviza os olhos.
— Dinheiro não significa que as consequências são negadas. — Ela
olha entre nós dois e continua. — Na verdade, vou deixar vocês duas aqui
pela próxima hora porque, claramente, a melhor forma de punição é deixar
vocês duas aqui juntas.
O quê? Sem chances. Se eu ficar sentada nesta sala de aula pela
próxima hora com ela, vamos acabar brigando de novo.
— Mas… — nós duas dizemos em uníssono.
— Vocês preferem que eu chame seus guardiões? — Ela pergunta e
nós duas ficamos em silêncio e ela parece satisfeita. — Adeus, senhoritas.
Ela sai da sala sem sequer olhar em nossa direção, ignorando os meus
protestos e os de Adaline. Suspiro e me inclino para trás na cadeira.
A dor da nossa luta está finalmente se instalando; minhas costas estão
doendo, enquanto meu lábio inferior parece incrivelmente dolorido como se
alguém tivesse pisado nele.
Eu não me arrependo; essa luta foi o mais perto de estar viva que me
senti em muito tempo. Minhas mãos nela assim, foi absolutamente
emocionante. A sensação de ter toda a atenção dela era absolutamente
indescritível.
— Olha o que você fez — Adaline diz em um tom irritado,
balançando a cabeça para mim.
— Eu? Foi você quem começou ontem.
Seus olhos se estreitam com minhas palavras e ela parece confusa.
Ela me expulsou, foi ela quem veio resgatar aquela garota e depois me
chamou de antipática. Merdinha.
— Você é tão delirante. Acha que isso é minha culpa? — Ela parece
furiosa, agitando as mãos freneticamente.
— Bem, se você não tivesse me expulsado de sua casa…
Ela me interrompe.
— Você ainda encontraria um motivo para foder comigo. Você tem
feito isso nos últimos cinco anos.
Ah, é? Como se ela também não tivesse jogado esse jogo comigo nos
últimos anos.
— Ah, por favor. Não aja como se você não tivesse me devolvido tão
bem — eu respondo, revirando os olhos com tanta força que eles
basicamente viajaram para a parte de trás da minha cabeça.
— Sim, eu devolvi — ela suspira, passando a mão pelo cabelo —,
mas não comecei.
A pura exaustão em seu rosto me deixa em algum tipo de frenesi. Ela
não está procurando um argumento com essa declaração, ela está apenas
expressando o quanto está cansada.
Não posso refutar a declaração dela; eu realmente não posso.
— Não, você não começou.
Eu comecei isso. A Juliette, de 12 anos, que estava com raiva de seu
pai espancador de mulheres, começou isso.
No fundo eu sei que sou cruel. Tenho sido horrível, mas não consigo
parar, não quando é a única coisa que me dá algum tipo de alívio e a única
maneira de ter um pingo de atenção dela.
Sim, começou como uma forma de me vingar do meu pai, mas em
algum momento se tornou uma rotina, algo para mim e só para mim.
Eu corro minha mão pelo meu cabelo e olho para o relógio na parede,
observando os minutos passarem lentamente enquanto o silêncio engole a
sala.
Parece uma eternidade quando olho para cima, mas apenas vinte
minutos se passaram. Eu sei que deveria apenas pegar meu telefone e ficar
em silêncio pelo resto do nosso tempo, mas não posso.
— Você ainda vai me ensinar, certo? — A pergunta sai mansa.
Seu olhar corta pra mim.
— Obviamente. Ainda preciso que a carta seja enviada.
Eu sorrio internamente com isso. Mesmo que ela pareça irritada, ela
ainda vai me ensinar. Ela vai ter que me ensinar até nossos exames finais e
isso me dá muito tempo para continuar mexendo com ela.
— Por que você está tão obcecada por Oxford, afinal? — Por que eu
me importo?
— Por que você está tão obcecada por mim? — Ela fica inexpressiva.
Eu nem me incomodo em refutar sua declaração.
— Porque eu gosto de incomodar você. Agora, responda à minha
pergunta.
No estilo usual de Adaline, ela não responde. Em vez disso, ela
aponta o dedo do meio para mim. Muito maduro.
— Mataria você ser madura pelo menos uma vez? — Eu zombo,
irritada.
Ela acena com a cabeça em resposta, sorrindo sarcasticamente.
— Sim, mataria.
Ela é tão irritante; tão chocante. Qualquer coisa que eu diga, não
importa o que seja, ela tem que combater. Então, novamente, nós
literalmente brigamos há trinta minutos, talvez o comportamento dela seja
justificado.
— Não consegue nem responder a uma pergunta simples — murmuro
baixinho, irritada.
— Isso está vindo de você? — Ela zomba em voz alta.
Eu franzo minhas sobrancelhas.
— Pergunte o que quiser, sou madura o suficiente para responder.
— Tudo bem — ela diz, sua expressão pensativa por alguns
segundos. — E você então? O que você quer fazer quando sair desse
inferno?
— Vou trabalhar na empresa da minha mãe. — Eu me inclino para
trás contra a minha cadeira.
Ela estreita os olhos para mim com confusão em seu rosto, em vez de
seu olhar irritado habitual.
— Eu perguntei o que você quer fazer, não o que você vai fazer.
— Isso é o que eu quero fazer — eu digo com firmeza.
— Acho que você não é madura o suficiente para dizer a verdade —
ela diz zombeteiramente, com o queixo apoiado nas mãos.
— Tudo bem. — Eu cerro os dentes, evitando contato visual com ela
quando digo minhas próximas palavras. — Quero abrir minha própria
galeria de arte.
Quando eu olho para ela novamente, eu juro que vejo um esboço de
sorriso enfeitando suas feições, mas ele se foi tão rápido quanto apareceu.
— Então, por que você vai entrar nos negócios de sua mãe?
— É o que é esperado de mim. — Eu dou de ombros porque
realmente não é grande coisa. Tenho uma vida privilegiada, tenho sorte até
de ter uma vaga em uma empresa do porte da minha mãe.
Ela desvia um pouco os olhos, como se estivesse pensando, antes de
falar.
— Parece dramático — seu tom é leve e sério ao mesmo tempo —,
apenas faça o que quiser.
Muito perspicaz.
Reviro os olhos.
— Você vai responder minha pergunta agora ou não? — Mais uma
vez, por que me importo tanto?
Ela assente, suspirando profundamente por um momento.
— Oxford é prestigiosa, mas é mais do que isso. — Ela brinca com os
dedos antes de continuar. — É quieto. Não conheço ninguém lá e eles não
me conhecem.
— Parece chato. — Suas covinhas aparecem com minhas palavras;
talvez ela perceba que estou forçando meu tom irritado... porque estou
realmente presa a cada palavra dela.
— Exatamente.
Oxford fica a uns trinta minutos daqui, então não tenho certeza do que
ela quis dizer com quieto, mas meio que entendo.
— Qual é o plano depois?
— Ser cirurgiã.
— Obviamente — reviro os olhos —, quero dizer o que
especificamente.
— Ainda não tenho certeza, mas acho que uma cirurgiã
cardiovascular seria o ideal — diz ela, sem conseguir esconder o brilho nos
olhos.
Eu sei muito sobre essa garota, infelizmente, mas ainda não sabia que
ela queria se concentrar em cirurgia cardíaca? Quem se importa? Eu a
odeio, não preciso saber sobre suas futuras aspirações de carreira.
— Trabalhar com o coração… — murmuro com falsa consideração.
— Isso pode ser um pouco difícil, já que você não tem um.
Imagino-a daqui a uma década, em seu uniforme cirúrgico. Ela
comandaria a sala. Eu sei que sim. Ela trabalharia duro. Mesmo que todos
na sala duvidem dela, ela continuará, talvez apenas para irritá-los. Ela
passaria por cima de cada pessoa para chegar onde ela quer.
Ela me dá um sorriso doce e doentio.
— Eu não sabia que você precisava possuir algo para estudá-lo.
Vamos torcer para que você não decida fazer neurocirurgia tão cedo.
— Cala a boca.
— Merda, desculpe. Você precisa que eu lhe diga o que significa
neurocirurgia? — Ela faz beicinho e eu quase esqueço de responder.
— Seu pequeno ato de ser mais esperta do que todo mundo está
ficando meio velho, sabia? — Não, não está.
— Se você está se sentindo ameaçada por minha superioridade
acadêmica, é só dizer. — Ela me dá um sorriso perverso que me obriga a
desviar o olhar dela.
— Você é irritante para caralho — eu gemo, jogando minha cabeça
para trás.
— E você finalmente terminou seu questionário — ela geme
satisfatoriamente —, graças a Deus.
— Na verdade… — Eu me viro para ela e ela já parece irritada —
você também não respondeu minha outra pergunta ontem; sobre seu irmão.
Ela está olhando para mim com uma emoção indescritível rabiscada
em seu rosto. Prendo a respiração, meio que esperando que ela não
responda. Por que ela iria? Especialmente depois de como me comportei,
mas principalmente por que quando ela responderia às minhas perguntas
sérias?
— Por que eu diria a você? — Exatamente. — E não diga nada sobre
maturidade porque eu realmente não dou a mínima.
— Você pode me pedir algo em troca. — Eu ofereço, séria. — Vamos
lá, tem que haver algo que você quer de mim.
Minhas palmas começam a suar quanto mais ela olha para mim.
Espero ver aquele brilho diabólico de sempre em seus olhos, mas tudo que
posso ver é exaustão. O que ela vai pedir? Dinheiro? Vai me ridicularizar?
Humilhação física?
— Você não pode mais me chamar de palavra com “s” — diz ela com
tanta seriedade que quase caio da cadeira.
É isso? Ela está tão séria agora, olhando para mim como se estivesse
me pedindo para pendurar a lua no céu para ela.
— Tudo bem — eu finjo resmungar como se estivesse irritada, mas
realmente não me importo. Você nem deveria chamá-la assim.
— Você sabe quem é Ben Andrews? — Ela me pergunta, avançando
em seu assento e me pego refletindo suas ações. Ela finalmente vai me
contar.
— Sim, ele é aquele cara que sofreu um acidente muito ruim alguns
anos atrás, certo?
Ben não é um cara conhecido de forma alguma, ele é apenas muito
rico, então eu sei o que aconteceu com ele. Acho que há alguns anos ele
sofreu um acidente e ficou paraplégico da cintura para baixo. Não muito
tempo depois, a casa de sua família foi incendiada.
— Meu irmão fez isso — ela diz baixinho, seus olhos não se mexem,
nem um centímetro.
O quê?
Eu pisco.
— Por quê?
Ai, meu Deus. Incêndio culposo? Assalto? É por isso que Adam foi
para a prisão? Aposto que ele fez isso por um motivo idiota; talvez Ben o
tenha desrespeitado ou tentado dormir com a namorada ou algo totalmente
ridículo…
Ela aperta a mandíbula.
— Porque Ben é um psicopata que gosta de estuprar mulheres.
Ai, meu Deus.
Minha respiração falha com a frase dela, minha mente dispara com as
notícias. Jesus Cristo. Meu primeiro instinto é ficar boquiaberta com
descrença e raiva. Mas eu olho profundamente nos olhos de Adaline e
instantaneamente, meu coração para. Minha mente assume
automaticamente o pior. Ele... a estuprou?
A ideia de ele fazer isso com qualquer mulher é revoltante e me dá
vontade de matá-lo sem remorso, mas a ideia de ele fazer isso com ela? Isso
queima meu peito em uma fúria inimaginável.
Por favor, Deus não. Por favor, não deixe que ela tenha passado por
algo tão horrível.
Eu respiro fundo.
— Ele tocou em você...
— Não, não em mim — ela responde rapidamente, balançando a
cabeça.
Ah, merda. Graças a Deus. Eu expiro em alívio e meus ombros caem,
embora não totalmente porque ele ainda fez algo hediondo para alguém.
Ela continua.
— Ele tentou atacar uma garota do lado de fora de um clube onde
meu irmão trabalhava. Ele viu Ben e antes que ele estivesse prestes a atacá-
la, Adam fez o que qualquer humano decente faria e deu uma surra nele; ele
o paralisou.
Nunca soube muito sobre Adam Emery além do fato de que ele esteve
na prisão. Eu estaria mentindo se dissesse que não o julguei ou até mesmo
espalhei rumores sobre por que ele foi para a prisão apenas para irritar
Adaline.
Agora, sinto nojo de ter pensado em fazer isso. Se eu estivesse no
lugar dele e visse uma garota sendo atacada, faria a mesma coisa! No
entanto, eu tive a ousadia de julgá-lo por estar na prisão?
Estupro é a pior coisa que você pode fazer neste planeta. Então, estou
feliz que Adam pelo menos chegou perto desse ponto e paralisou Ben.
Bastardo do mal.
— O que aconteceu depois disso? — Eu pergunto com raiva em
minha voz.
— Seus pais decidiram não apresentar queixa após a agressão porque
teriam que admitir que seu filho é um estuprador. — Ela ri um pouco
baixinho antes de continuar. — Bem, isso foi antes de Adam incendiar a
casa deles e eles terem que prestar queixa por incêndio criminoso.
Acho que posso gostar de Adam Emery.
— Você se ressente dele? Por voltar e fazer isso quando ele poderia
ter deixado quieto e não ter ido para a cadeia? — Eu questiono
curiosamente.
Eu quero saber. Preciso saber o que a jovem Adaline deve ter pensado
ou sentido. Como ela se sentiu quando ouviu a notícia? É normal que ela se
ressentisse dele. Afinal, ela era apenas uma criança; uma criança que perdeu
o irmão.
— Quem você acha que esperou no carro enquanto ele fazia isso? —
Ela pergunta com orgulho.
Encontro-me mordendo de volta um sorriso com suas palavras. Eu
deveria saber; até a jovem Adaline era confiante. É estranhamente
emocionante pensar nela se juntando ao irmão para fazer algo tão louvável,
mas perigoso ao mesmo tempo.
— A garota está bem?
Não consigo nem imaginar o trauma que ela passou, sendo agredida
sexualmente. Não me intrometo sobre quem ela é porque sei que Adaline
não vai me contar e não é da minha conta de qualquer maneira, só preciso
saber se ela está bem.
— Ela está bem. Na verdade, ela ajudou meu irmão e pagou o
advogado dele.
Eu me forço a não pensar na tristeza que irradia dela, porque se eu
fizer isso, meu peito vai inchar com uma quantidade inimaginável de dor.
Não sei porque, talvez seja apenas empatia.
— Ela já denunciou?
— Ela tentou. A polícia se recusou a ajudar porque ela não havia sido
estuprada. Eles nem se importaram com o fato de ele ter sido acusado de
estupro por duas garotas antes — diz ela com raiva, cerrando os punhos
sobre a mesa.
Ele definitivamente conseguiu se safar inúmeras vezes, considerando
o quão rico ele é. Eu não posso nem imaginar com quantas pessoas ele fez
isso. A raiva incandescente corre por todo o meu corpo.
O silêncio envolve a sala por alguns minutos depois disso, até que eu
decido falar.
— Sinto muito por dizer todas aquelas coisas sobre seu irmão.
Ela parece genuinamente chocada com meu pedido de desculpas.
Claro, ela está. Eu não peço desculpas; mesmo quando parece que a culpa
de tratá-la assim está corroendo minha alma, eu não peço. Eu apenas
empurro para longe e sigo meu dia, mas não hoje.
— Eu não me importo — ela responde, mas vejo o meio sorriso que
ela está dirigindo para mim.
Um sorriso real dirigido a mim? Um que não é sarcástico e cruel, mas
genuíno. O inferno deve ter congelado. Quando ela sorri assim suas
covinhas tomam conta de seu rosto enquanto seus olhos sorriem também.
Como passamos da briga para ela se abrindo sobre o irmão? E por que
minhas pernas estão tremendo de repente?
O resto do tempo que passamos trancados aqui é gasto em silêncio,
mas é confortável, embora eu dê alguns olhares furtivos para ela de vez em
quando, me perguntando por que parece que chegamos a uma trégua.
Capítulo TREZE
Adaline
Como eu pude dizer isso a ela? Já se passaram alguns dias e ainda
não consigo entender o fato de ter contado a Juliette por que meu irmão foi
condenado à prisão. Meus amigos nem sabem disso, principalmente porque
Adam me disse anos atrás para não dizer nada, já que eu teria sido
processada por difamação se a notícia se espalhasse.
Então, por que me senti tão à vontade para contar a Juliette?
As coisas mudaram recentemente entre nós. Eu a ensinei há dois dias
e foi realmente amigável, incomumente silencioso também. É quase como
se tivéssemos chegado a uma trégua ou algo assim. Embora ainda
briguemos, ela está menos venenosa ultimamente.
Vou dar aulas particulares para ela novamente amanhã e estou com
medo. Minha mente fica tão nebulosa perto dela ultimamente e não sei por
quê. Tudo o que sei é que passei os últimos cinco anos tentando o meu
melhor para evitar e reprimir tudo o que penso ou sinto sobre ela e está
ficando mais difícil de conter.
— Acabei de receber uma mensagem — Adam diz, tirando-me dos
meus pensamentos.
Sua mão está no volante enquanto ele estaciona do lado de fora da
minha escola. Sempre que ele não tem trabalho, ele sempre me deixa em
casa, principalmente porque desde que ele saiu da prisão, ele sempre passa
seu tempo livre comigo. Presumo que ele queira recuperar o tempo perdido,
assim como eu.
Ele também está sendo estranhamente protetor porque cheguei em
casa alguns dias atrás com o trabalho de Juliette exibido em mim e uma
ligação da diretora que Adam transmitiu. Mal posso esperar para fazer
dezoito anos e não ter que responder a nenhuma autoridade escolar
novamente.
Eu não disse a ele que foi Juliette, apenas que foi uma garota aleatória
e eu tive que impedi-lo fisicamente de ir para a escola.
— Você quer uma medalha ou…
— Espertinha — ele retruca, batendo no meu ombro de brincadeira.
— É da minha oficial de condicional. Ela acabou de saber que Ben foi
preso.
Espere, o quê? Choque transparece em seu rosto enquanto ele olha
para o telefone, lendo a mensagem. O humor é sugado para fora da
atmosfera.
— Por quê? — Eu pergunto perplexa, tirando meu cinto de segurança
para que eu possa me virar para Adam.
Ele rola através de seu telefone.
— Aparentemente, ele foi pego em um esquema de tráfico de drogas.
Ele acabou de ser preso e não vai ter fiança… ele pode pegar dez anos.
Eu tenho tantos pensamentos passando pela minha cabeça no
momento. Em primeiro lugar, estou perplexa com o quão horrível é nosso
sistema de justiça, considerando que ele está enfrentando dez anos por algo
tão servil quanto drogas, mas não recebeu um pingo de punição por ser um
estuprador psicopata.
Em segundo lugar, não tenho dúvidas de que Juliette é responsável
por isso. Ela é a única pessoa a quem já contei sobre essa situação e ela
detém uma quantidade insana de poder, então isso deve ter sido obra dela…
não seria difícil para ela. Por que meu coração palpita ao pensar nisso?
— Uau — eu pronuncio sem fôlego, inclinando-me para trás no
assento com um suspiro.
Alívio inunda minhas veias com a notícia. Mesmo quando meu irmão
o paralisou, não acho que foi punição suficiente, considerando que ele
esteve fora esse tempo todo e Deus sabe quantas outras mulheres ele atacou.
Eu tentei o meu melhor para ficar de olho nele depois que Adam foi para a
prisão, mas ele e sua família sumiram.
Mas agora, ele provavelmente estará atrás das grades e não posso
agradecer o suficiente.
— Estou feliz que o estuprador finalmente vai ser preso. — Adam
diz, com os olhos baixos e os punhos cerrados no volante.
Aquele monstro não apenas arruinou a vida de muitas mulheres, mas
também arruinou a do meu irmão; roubou anos dele. Sua expressão
perturbada me lembra o que Juliette me perguntou há alguns dias, se
alguma vez eu me ressenti dele pelo que ele fez. Percebo que nunca me
ocorreu dizer a ele que não me ressentia dele. Eu apenas presumi que ele
sabia.
Eu toco seu ombro.
— Você deve saber que nunca me ressenti com você pelo que você
fez com ele; por voltar e queimar sua casa.
Eu nunca poderia me ressentir do meu irmão por isso, por que eu iria?
Ele fez a coisa certa, algo que qualquer ser humano decente faria. Fiquei
feliz por ele ter voltado e queimado a casa. Eles não mereciam viver
naquela mansão confortável depois de esconder os crimes de seu filho.
— Por quê? — Ele questiona, esfregando os olhos. Ele sempre faz
isso antes de começar a chorar. — Você era apenas uma criança e eu tive
que sair, você foi deixada para se sustentar e teve que ficar com ele.
— Eu faria de novo. Eu faria tudo do mesmo jeito; você salvou uma
vida naquele dia e eles mereciam ver a casa pegar fogo. Eu nunca poderia
me ressentir de você por isso, eu te amo por isso.
Eu era criança e tinha que trabalhar, meu pai passava a maior parte do
tempo bebendo e eu tive que assumir as rédeas porque meu irmão tinha sido
preso.
Houve dias em que passei sete dias seguidos trabalhando e mal
conseguia ganhar dinheiro para fazer compras naquela semana. Eu nem
deixei a Srta. Kim saber o quão ruim era. Então meu pai morreu e eu não
tive escolha a não ser me sentir um fardo para ela também. No entanto, eu
ainda não mudaria uma única coisa.
— Eu também te amo. — Ele funga, enxugando as lágrimas. — Você
fez um bom trabalho se mantendo forte nestes últimos anos.
Posso dizer que ele se sente culpado por eu ter que trabalhar nessa
idade e pelo fato de ter ficado com meu pai. Independentemente disso, ele
passou todos os dias tentando compensar isso, mesmo que não precise.
Estou grata, porém, porque agora não tenho que trabalhar tanto quanto
antes.
Adam faz tudo por mim e ainda tem um sorriso no rosto, embora não
tenha vivido bem seus vinte anos. Mesmo antes de ir para a prisão, ele era
como um pai para mim – ainda é – muito mais do que meu próprio pai
jamais foi.
— Eu fiz, mas você está de volta agora para que eu possa
vagabundear com você. — Eu brinco, usando minha mão para enxugar suas
lágrimas e ele se inclina em minhas palmas rindo.
— Posso te pegar mais tarde? — Ele pergunta mudando de assunto
tentando recuperar sua respiração normal.
Eu aceno gentilmente e o puxo para um abraço. Ele se derrete em
meus braços e funga em meu ombro.
Abraçá-lo me lembra que devo falar com Juliette, afinal, ela é a razão
pela qual Ben finalmente está sendo punido. Não vou agradecer, mas tenho
que pelo menos dar o crédito a ela onde é devido.
Maldita seja Juliette por me fazer respeitá-la.
***

Mais uma vez, estou no vestiário, só porque deixei minha garrafa de


água aqui durante minha briga com Juliette e minha cabeça esquecida só se
lembra agora.
Eu vasculho o cômodo, que felizmente está vazio, mas minha garrafa
não está em lugar algum. Alguma cadela com sede obviamente roubou.
Deus, eu preciso começar a acorrentar minhas coisas para que não se
perca…
Minhas costas colidem com um corpo atrás de mim e eu grito de
surpresa, meus pensamentos parados. Eu me viro e fico cara a cara com
uma líder de torcida que parece muito zangada, surpreendentemente não é
Juliette. É Stacey, a mesma morena irritante que me enganou. Ela tem sorte
de eu deixá-la escapar impune por causa da minha própria culpa.
— O que você quer? — Eu questiono, já irritada.
Ela estreita os olhos castanhos para mim.
— Você precisa deixar nossa capitã em paz. Eu sei que você brigou
com ela…
— Capitã? Você realmente a chama assim? — Eu pergunto com uma
risada alta.
Juro que essas garotas adoram e têm altar para Juliette e é realmente
muito perturbador. Como agora, Stacey parece que está prestes a estourar
um vaso sanguíneo se eu disser uma palavra errada sobre Juliette.
— Fique longe dela! — Ela ignora meus comentários e tenta me
ameaçar. — Ela é min… minha amiga!
Ela se aproxima de mim e fica na minha cara. Estou um pouco
assustada com o quão zangada ela está, ainda nem lancei meus piores
insultos nela.
Suas palavras acendem uma lâmpada em minha mente. Há uma ruga
em sua sobrancelha. Seus punhos estão cerrados ao lado do corpo e seu
lábio inferior está tremendo ligeiramente. Eu conheço esse olhar. Ela está
sendo territorial agora. Não é que ela esteja lutando por sua capitã, mas sim
pela garota que ela gosta.
Tem sido tão óbvio. Como não vi? Ela a segue como um cachorrinho.
Outro dia, eu a vi comprar um buquê de margaridas para Juliette. Ela
claramente não gosta muito dela, senão saberia que Juliette prefere
gardênias.
Meus olhos se estreitam com sua proteção, de repente estou me
sentindo muito zangada e não sei por quê. Quero dizer, ela é bonita, com
seu cabelo castanho escuro e encaracolado e seus olhos cor de chocolate.
Ela é rica também. Esse é o tipo de Juliette?
Espere, não. O que eu estou fazendo?
Juliette tem namorado, sem contar que é homofóbica. Como se ela
fosse gostar dessa garota…
Ah, pelo amor! Independentemente disso, eu não me importo!
— Ah, tá com ciúmes? Você quer sua capitã só para você? — Eu
zombo das palavras, de repente me sentindo muito maliciosa com a garota
na minha frente. Seus olhos se arregalam com minhas palavras.
Espero que ela grite comigo ou negue as acusações, considerando que
ela provavelmente é internamente homofóbica. O que eu não esperava é que
ela me desse um soco na boca.
Meu corpo cai para trás e o sangue começa a escorrer da minha boca.
Estou desorientada por um momento e absolutamente chocada. Só por um
momento, porque assim que começo a ver claramente de novo, eu lanço-me
sobre ela.
É assim por diante.
Eu uso meu punho e dou um soco no rosto dela, mas miro em seu
olho, ignorando seus gritos. Eu trabalho rapidamente e torço seu corpo para
que seu braço fique atrás das costas. Eu puxo seu braço ainda mais e ela
grita de dor.
— Faça isso de novo e eu vou quebrá-la, entendeu? — Eu cuspi as
palavras duramente, apertando seu braço para fazer o meu ponto.
Eu poderia quebrar o braço dela bem aqui. Sempre fui decente na
luta, principalmente porque aprendi a me proteger desde muito jovem.
Além disso, porque eu treino rotineiramente com Aryan em sua academia
de boxe. Eu poderia facilmente rasgá-la agora. Meu cérebro está me
dizendo para fazer isso, mas não posso.
Meu braço afrouxa apenas o suficiente para não machucá-la, mas não
deixá-la ir ao mesmo tempo.
Veja, o mundo trabalha a favor da elite, sempre funcionou assim. Se
eu quebrar o braço dela agora, ela vai correr para a diretora e eu vou ser
expulsa, ou pior, ela vai me acusar de agressão. Não importa que ela tenha
começado, o que importa é quem tem dinheiro para sair de situações como
essa e eu não tenho.
— Entendido — ela grita e eu mantenho sua mão lá por mais alguns
momentos, acalmando minha própria respiração para não matá-la.
Eu empurro seu corpo para longe do meu e saio do cômodo porque se
eu ficar mais um momento, vou mudar de ideia e estrangulá-la.
Eu praticamente corro para o banheiro e, felizmente, ninguém está lá.
Eu inspeciono o dano feito no espelho e caramba, é ruim.
Meu lábio inferior está inchado, como estava há alguns dias por causa
de Juliette, mas não tanto. Eu me pergunto se ela enviou Stacey para fazer
isso, assim como ela a enviou para me sujar? Bem quando eu estava prestes
a começar a respeitá-la, ela faz isso?
A porta range ao se abrir e eu não vacilo, continuo olhando para o
espelho até que ouço uma voz familiar falar.
— Bom ver você aqui. — Seu tom é leve e arejado; ela não está
tentando começar uma briga comigo. Na verdade, ela pode estar brincando
comigo.
Por que Juliette sempre consegue me surpreender nos piores
momentos? Eu apenas a ignoro e passo um lenço de papel em meu lábio,
tentando conter o sangramento enquanto evito seu olhar.
De repente, ouço seus passos caminhando em minha direção.
— Você está sangrando — diz ela suavemente, quase como um
sussurro. Ela está olhando para mim no espelho porque ainda estou de
costas para ela.
Eu esperava que ela parecesse satisfeita ou arrogante, mas ela
parece... preocupada? Suas sobrancelhas estão franzidas e sua boca
entreaberta enquanto olha para o meu rosto.
— Sério? Como você descobriu essa Sherlock Holmes? — Eu cuspo
sarcasticamente, jogando fora o lenço de papel na lixeira.
— Quem fez isso com você? — Ela murmura as palavras, sua mão
alcançando meu ombro e me virando em sua direção.
Seu toque não é impetuoso como de costume, na verdade, ela está
sendo incrivelmente gentil. É desconcertante para mim, por que ela está
agindo assim quando ela provavelmente orquestrou a coisa toda?
Eu arranco meu braço de seu alcance.
— Sai, porra.
Eu tento me afastar, mas ela se coloca na minha frente e não me deixa
fora de seu alcance, nem por um segundo.
— Quem caralhos fez isso com você, Adaline? — Ela repete
novamente, seu tom ainda mais baixo desta vez.
Seus olhos escureceram, sua carranca se aprofunda. Eu nunca a vi tão
cheia de raiva antes e isso está me assustando um pouco. Seus olhos azuis
estão inegavelmente furiosos. Posso sentir a raiva irradiando dela, mas não
a deixo me atingir.
— Não aja como se você não tivesse enviado Stacey para foder
comigo assim — eu retruco em um tom irritado.
— Stacy? O quê? — Ela pergunta, franzindo as sobrancelhas em
confusão. — Por que eu enviaria alguém para fazer isso com você?
Ela parece ofendida. Na verdade, ela parece irrevogavelmente
chocada por eu ter sugerido tal coisa, como se fosse inacreditavelmente
insano ela enviar alguém para me machucar fisicamente.
Mesmo que tenhamos literalmente brigado alguns dias atrás, a
seriedade absoluta em seu rosto está me deixando perplexa e não gosto nada
disso, nem um pouco.
— Que seja. — Eu descarto suas palavras. — Diga à sua pequena
lacaia para ficar longe de mim ou você perderá uma líder de torcida para o
seu torneio.
— Adaline…
Eu a ignoro e passo por ela, abrindo caminho para fora do banheiro e
me afastando. Ela realmente não enviou Stacey? Quero dizer, esta é a
primeira vez que uma de suas lacaias bate em mim e realmente não faz
sentido para ela ordenar isso agora.
Balanço a cabeça e ignoro qualquer pensamento sobre Juliette. Isso
não é sobre ela, é sobre meu lábio latejante.
Adam com certeza vai enlouquecer. Vou ter que esconder isso.
***

Um paracetamol e vinte minutos depois, estou de pé ao lado do meu


armário, minha cabeça encostada nele.
Fui à enfermaria e peguei uma bolsa de gelo para o inchaço, mas
provou ser inútil. Sem mencionar que agora estou com uma dor de cabeça
terrível, que só piora quando ouço o sinal tocar e os alunos saem correndo
de suas salas de aula. Eu fecho meus olhos em resposta, tentando o meu
melhor para abafar o barulho.
— O que diabos aconteceu com você? — Meus olhos se abrem
quando ouço a voz de Victoria.
Ah, não. Ela e Aryan estão parados na minha frente, parecendo um
par de pais preocupados. Seus olhares se concentraram em meu lábio
machucado e na bolsa de gelo. Como vou minimizar isso com sucesso?
— Não foi nada. Acabei de brigar um pouco com Stacey no
vestiário…
— Aquela puta do caralho! — Aryan berra, interrompendo-me com
raiva.
Ele raramente xinga, especialmente mulheres, então sei que ele está
muito zangado agora.
— Eu vou matá-la! — Victoria grita, suas narinas queimando. Ela e
Aryan trocam um olhar e eu sei que eles estão prestes a encontrá-la.
— Não, espere…
Eles ignoram minhas palavras e começam a pisar no corredor, abrindo
caminho através do mar de alunos. Victoria até derruba alguém no chão
com sua velocidade.
— Pelo amor de Deus — eu sussurro para mim mesma observando-os
correr em direção aos vestiários, eu largo a bolsa de gelo e rapidamente os
sigo, antes que eles recebam algum tipo de acusação de assassinato.
Quando chegamos aos vestiários, antes que eles invadissem, ouvimos
gritos, que interrompem seus passos e os meus. A porta já está entreaberta,
então, por pura curiosidade, sinalizo para eles se agacharem para que
possamos espionar o que está acontecendo.
Somos realmente intrometidos assim.
Enquanto todos nos esforçamos para nos agachar e ver através da
fresta da porta, minha respiração acelera quando vejo Juliette. Ela está
parada na frente de Stacey, que parece positivamente abalada.
— Que merda de gente branca é essa? — Aryan sussurra para nós e
eu seguro uma risada, assim como Victoria, mas ele está falando sério.
— Você a machucou. Quem lhe deu permissão para fazer isso? —
Juliette grita friamente.
O que realmente está acontecendo aqui? Isso é sobre mim?
— Sinto muito — Stacey murmura, fungando como um cachorrinho
petrificado.
Ouço meus amigos tentando conter o riso e me pego fazendo o
mesmo. Quero dizer, isso é psicótico, borderline? Sim. Mas, na verdade,
estou gostando de ver a crueldade de Juliette sendo direcionada a outra
pessoa, para variar.
— Ela está fora dos limites. Essa foi a primeira e última vez, nunca
mais coloque as mãos nela — ela berra as palavras como se fosse uma
psicopata. Não sei por que Stacey está aceitando isso, Juliette é literalmente
inofensiva, então o que ela vai fazer? Expulsar Stacey? Grande coisa.
— Que mão foi? — Juliette questiona, sem um pingo de emoção em
seu rosto.
O quê?
— O quê? — Stacey ecoa meus sentimentos.
— Com qual mão você deu um soco nela? — Juliette reformula,
levantando a sobrancelha.
— Esta aqui — diz Stacey, segurando o braço direito e antes que ela
possa retirá-lo, Juliette o agarra.
— Nem pense em se mover — diz Juliette maliciosamente.
Antes que eu pudesse piscar, ela arrastou Stacey para um dos bancos
e a sentou. Então tira uma toalha da bolsa de ginástica e a enfia na boca da
dela.
Não consigo desviar o olhar, nem por um segundo, e o que acontece
depois disso entra em minha mente em câmera lenta… é perturbador e faz
meu coração disparar. Nem Juliette nem eu somos indivíduos violentos,
mas se alguma de nós fosse mais inclinado à violência, pensei que seria eu.
Então, imagine minha surpresa quando Juliette agarra o pulso, olha
Stacey bem nos olhos e de uma só vez, quebra a mão dela.
O som de ossos esmagados ecoa pela sala. Qualquer um em um raio
de cinco milhas teria ouvido o som da mão estalando e seus gritos teriam
ecoado em todo o corredor se não fosse pela toalha alojada em sua boca.
Ai. Meu. Deus.
Ela quebrou a mão dela. Eu sei que estou estudando para trabalhar em
medicina, mas Jesus Cristo, quase vomito ao vê-la. Meu coração quase salta
do peito e se encolhe de medo, enquanto meu cérebro não consegue nem
entender o que acabou de testemunhar.
Eu suspiro em estado de choque, assim como meus amigos, Victoria
parece que está prestes a desmaiar e honestamente, eu sinto que desmaiaria
também. Aryan está fechando os olhos como se fosse a cena fosse se
repetir.
— Se eu descobrir que você tocou em Adaline novamente, farei
muito pior do que isso. Vou arruinar sua vida, entendeu? — Juliette diz,
estranhamente calma.
Stacey não pode fazer nada, mas acena com a cabeça enquanto ela
choraminga. Posso sentir meus amigos olhando para mim, mas estou apenas
focada em Juliette. Estou sonhando agora? Ou isso é uma bad trip? É muita
loucura para estar realmente acontecendo.
— Agora, corra para a enfermaria e diga a ela que você teve um
pequeno acidente e não se preocupe em aparecer para praticar. Você está
fora do time.
— Que porra é essa? — Diz Vitória.
— Essa garota é louca. — Aryan acrescenta.
Meus amigos estão fazendo comentários enquanto corremos do
vestiário, mas não consigo me juntar a eles. Não quando minha mente está
disparada e meu coração está batendo tão rápido que posso realmente
desmaiar.
Eu deveria estar enojada agora; eu deveria me sentir mal do estômago
depois de testemunhar Juliette fazer isso. Este não é um filme de máfia,
somos apenas estudantes, pelo amor de Deus!
Quero dizer, sim, Stacey é uma vadia, ela está constantemente me
repreendendo. Ela até me disse para me matar várias vezes, mas quebrar a
mão dela?
Mas, se eu deveria estar com nojo, por que minhas mãos estão
suando? Por que não consigo tirar os olhos de Juliette? Por que estou tão
insuportavelmente molhada?
Capítulo QUATORZE
Juliette
Meu sangue ainda está fervendo. Ver Adaline sangrando ontem
deixou meu cérebro em um frenesi. Não consigo parar de pensar nisso; é
tudo em que penso.
A fúria correu pelas minhas veias quando vi como ela estava
magoada, tanto que eu nem estava pensando direito quando quebrei a mão
de Stacey. Mas não me arrependo de ter feito isso, nenhum pouco.
Nem mesmo por um segundo.
Como ela ousa tocar em Adaline? Stacey sabe muito bem que ela está
fora dos limites. Era psicótico ao extremo e limítrofe? Sim. Eu me importo?
Não.
Eu precisava ter certeza de que ela nunca mais pensaria em tocar em
Adaline. Só estou furiosa com isso porque se alguém pegasse Stacey, eu
teria que responder por isso e toda a nossa equipe de torcida estaria em
perigo. Essa é a única razão pela qual me importo, certo?
Eu realmente preciso parar de pensar nela, especialmente hoje. O
torneio de torcida final é em uma hora e passei o dia inteiro torturando o
time com prática vigorosa. Uma carga de trabalho maior caiu sobre meus
ombros agora que Stacey está descansando em casa por causa de sua mão.
Ela disse a todos que sofreu um acidente e quer parar de ser líder de torcida
por causa disso.
Eu nunca perco. Não vou começar a perder hoje. Honestamente,
tenho sido muito radical desta vez, principalmente porque o excesso de
trabalho está dissipando a tensão e a fúria do meu corpo.
Pela primeira vez na minha vida, estou realmente nervosa com um
torneio e estou descontando no meu time.
— Podemos fazer uma pausa? — Grace pergunta tirando-me dos
meus pensamentos.
Eu me viro para encará-la e ela está arfando e ofegante. Na verdade,
todas as garotas estão praticando pela quinta vez na sala de prática. Todas as
garotas estão olhando para mim como se me desprezassem com cada osso
de seu corpo. Não as culpo, mas, ao mesmo tempo, não me importo. Prefiro
que me odeiem e trabalhem duro, do que me amem e não trabalhem.
Estou pronta para dizer não a Grace e ordená-la a continuar
praticando, isto é, até ela disparar em direção à lixeira no canto da sala e
começar a vomitar incontrolavelmente.
Jesus Cristo.
Não penso duas vezes antes de correr em sua direção e segurar seu
cabelo para trás. O resto da equipe vem em nossa direção e todas nós
ignoramos o fedor de seu vômito. Afinal, somos uma equipe, precisamos
estar lá para ela.
— Você está bem? — Pergunto esfregando suas costas, mas ela
apenas responde vomitando um pouco mais. Deus, esse cheiro é tão
horrível.
A maneira como ela está vomitando não é como se ela tivesse comido
algo horrível, é mais como se não houvesse nada em seu sistema. Enquanto
ela continua com ânsia de vômito, olho para sua melhor amiga, Lilly, e dou
a ela um olhar questionador. Ela sabe tudo sobre Grace e agora parece que
sabe algo importante.
Quero saber por que ela está vomitando e se devo me odiar por
sobrecarregá-la ou se há um motivo maior.
— Ela não come há alguns dias — Lilly diz com um suspiro, seus
lábios tremendo.
O quê?
— O quê? Por quê? — Eu questiono em voz alta, no fundo
provavelmente já sei a resposta, só espero que minhas suspeitas não estejam
certas.
Por favor, não estejam certas.
— Eu queria perder um pouco de peso para ficar bem para a
apresentação — ela murmura grogue, com a cabeça ainda pairando sobre a
lixeira.
Pelo amor de Deus. Eu suspiro alto e olho para o resto das garotas que
parecem tão chocadas e desapontadas quanto eu. Nunca pressionei
nenhuma garota desse time quando se trata de peso. Na verdade, é uma
regra fundamental que nunca envergonhemos o corpo desta equipe.
Então, novamente, não importa o quão gentis somos, a imagem
corporal é algo com o qual você tem que lidar sozinho. As palavras de
ninguém mais ajudará. Isso não significa que eu vou parar de tentar.
— Ouça, Grace — ela olha para mim —, você nunca tem que passar
fome. Você é perfeita para caralho. Nunca se esqueça disso.
Ela começa a chorar e sinto meu coração apertar em resposta. Essas
meninas são como minha família, por mais irritantes e enervantes que
sejam, ainda é a minha responsabilidade cuidar delas.
Eu olho para o resto das garotas.
— Vocês são todas perfeitas. Passar fome não vai te trazer os
resultados que desejam; só vai arruinar sua relação com a comida. Nunca
pensem em fazer algo assim, ou vocês terão que lidar comigo.
— Sim, capitã — todas dizem em uníssono, parecem desconfortáveis
e emocionadas.
— Agora, todas vocês podem ir, não precisamos praticar novamente.
Apenas certifiquem-se de voltar em uma hora, é quando o torneio começa.
Todas saem correndo do ginásio, exceto Lilly, que se agacha ao lado
de sua amiga e sussurra palavras de conforto em seu ouvido.
Eu tomo isso como minha deixa para sair. Claramente, elas estão
tendo um momento íntimo de amizade e não sou de me intrometer. Dou um
último sorriso a Grace e dou um tapinha nas costas dela antes de sair da sala
de prática. Decido ir até o refeitório para pegar comida para Grace.
Enquanto entro no refeitório, pego algumas frutas e doces para
aumentar o açúcar no sangue dela, outra coisa que felizmente as aulas de
biologia me ensinaram.
Meu telefone começa a zumbir no meu bolso, então eu o pego e
coloco perto do meu ouvido.
— Olá?
— É o Mark. Eu só estava ligando para avisar que Ben será
formalmente acusado amanhã.
Mark Richie, um procurador de renome mundial. Quando Adaline me
contou sobre Ben naquele dia, eu sabia que tinha que agir. Contei à minha
mãe sobre seus atos traiçoeiros e ela instantaneamente pediu alguns favores.
Não contei a ela toda a história, apenas que Ben é um estuprador
doente. O jogo das drogas foi inteligente, não tenho certeza de quem os
plantou, mas fizeram um bom trabalho. Era a única maneira de garantir que
ele iria para a prisão e Mark foi a atração principal de tudo.
Eles se moveram em um ritmo muito rápido, graças ao dinheiro e à
posição de minha mãe. Ben nunca mais verá a luz do dia. Seus pais podem
ser poderosos, mas não como minha família.
Ninguém é tão poderoso quanto minha família.
— Eu quero que ele sofra. Coloque-o na pior prisão que puder
encontrar. — Eu pareço uma vilã psicopata, não uma garota de dezoito
anos, mas essa é a vantagem de ter muito dinheiro; isso te amadurece.
Aprendi isso muito jovem, quando minha mãe me dava dinheiro e me
dizia para usá-lo sempre que alguém me incomodasse.
— Claro — ele responde.
Desligo o telefone e sorrio, meu humor está muito melhor depois de
ouvir essa notícia.
Eu me pergunto como Adaline e Adam vão se sentir ouvindo a
notícia, espero que eles estejam felizes. Não que eu me importe com o que
eles sentem.
Eu pago por toda a comida e a levo de volta para a sala de prática,
pronta para gentilmente dar um sermão em Grace sobre como ela é perfeita
e alimentá-la. Deus! Ser capitã é um trabalho árduo.

***
É hora do jogo. Estamos todas no ginásio, que é mais ou menos do
tamanho de um estádio de futebol. Nosso time é o primeiro, as meninas
estão todas vestidas com nossas cores, azul e branco.
Enquanto aperto meu rabo de cavalo, olho para a multidão e vejo Kai
sorrindo e torcendo por mim. Eu tenho uma regra onde eu só olho para a
multidão uma vez, meu olhar nunca demora depois disso.
Nunca me deixo distrair.
A campainha toca e antes de vermos a luz vermelha sinalizando a nós
para começar, eu bato palmas, sinalizando para as meninas entrarem em
posição.
— Lembrem-se de manter o foco e não importa o que aconteça, nunca
se distraíam! — Eu digo em voz alta para as garotas ao meu redor e elas
acenam com a cabeça animadamente enquanto todas nós colocamos nossas
mãos no meio.
— Força, equipe! — Nós gritamos em uníssono, nossas mãos para
trás no ar.
Nós nos posicionamos e a música começa.
Um.
Dois.
Três.
No mundo das líderes de torcida, não há como parar para saborear
nada, é sempre para o próximo passo. Isso é o que estamos fazendo agora;
movendo para a esquerda e para a direita no ritmo e balançando nossos
quadris metodicamente.
Eu não posso nem contar quantas vezes eu dou um backflip ou algo
perigoso que poderia quebrar meu pescoço, mas é tão emocionante e eu
adoro isso.
Adoro a maneira como torcemos alto e podemos ouvir as pessoas
gritando por nós. Não é como só torcer por um time, é um verdadeiro
torneio de nível municipal apenas para torcer.
Sorrio brilhante e dolorosamente toda vez que movo minhas pernas
ou mãos.
Está indo tão fabulosamente bem. Nossos movimentos são elegantes e
controlados e finalmente chegou a hora do movimento extravagante: o giro
final.
Eu subo a bordo de minhas companheiras de equipe, meus pés
suavemente equilibrados nos ombros de uma garota. Minhas mãos estão no
ar e posso sentir a felicidade irradiando de mim.
Tudo está indo tão perfeitamente bem... até que começo a sentir algo
estranho no meu peito.
Chame isso de intuição, instinto, uma voz gritando na minha cabeça
me dizendo para olhar para a multidão, então eu olho. Ela é a primeira coisa
que vejo. Seus olhos verdes floresta olhando para os meus, como se ela
estivesse muito extasiada com o que estou fazendo.
Todo o resto desaparece e meus olhos só a veem. Meu coração está
batendo forte no meu peito e não consigo respirar, ver ou mesmo ouvir o
que está acontecendo. Não posso fazer nada além de olhar para ela e então
faço a pior coisa que poderia fazer; eu pisco. Antes que eu perceba, perdi o
equilíbrio.
Ah, não.
Capítulo QUINZE
Adaline
— Você quer que eu vá com você hoje? — Aryan me pergunta, seu
braço em volta do meu ombro.
O horário escolar acabou e eu estou saindo enquanto Aryan fica para
trás para esperar por Victoria. Ela foi detida por fazer falta em uma garota
durante um jogo de basquete. Ela fica excepcionalmente áspera quando se
trata de esportes.
Normalmente, eu também ficaria esperando por ela, mas hoje tenho
que visitar o túmulo de meu pai. Hoje é o aniversário de sua morte, a única
vez que visito seu túmulo.
— Não, está tudo bem. Vai ser minha última visita por um tempo; eu
deveria fazer isso sozinha. — Tento esboçar um sorriso, mas falho.
Parece que deve ser a última visita por um tempo, não vou sentir
necessidade de visitá-lo quando for para Oxford. Pelo menos, espero que
não.
— Quer tomar sorvete depois? — Ele me pergunta.
— Obviamente — eu respondo com um sorriso.
***

Enquanto ando pelo corredor, não posso deixar de pensar em como


fui idiota por visitar o túmulo de meu pai. Até Adam me repreende toda vez
que eu o visito; só porque ele odiava nosso pai.
Eu não o odiava; eu realmente não sentia nada por ele.
Balanço minha cabeça com esses pensamentos enquanto começo a
caminhar em direção às portas duplas para deixar a escola.
De repente, ouço um grande aplauso vindo do ginásio, me assustando.
O torneio.
É hoje. Aposto que Juliette e sua equipe estão arrasando o mundo de
todos agora porque é isso que elas fazem de melhor. Embora ser líder de
torcida não seja algo muito importante na Inglaterra, a academia de
Richmond é um dos poucos lugares onde o esporte é reconhecido.
Eu realmente não sou fã de nenhum esporte, incluindo líderes de
torcida, então não sei por que o som da torcida está me atraindo.
Eu deveria ir, preciso chegar ao cemitério antes que comece a chover,
mas por que meus pés estão me levando em direção à quadra? Eu não me
importo com isso, então por que minha mente está gritando comigo para ir
apenas dar uma olhada em Juliette?
Os gritos penetrantes estouram meus tímpanos enquanto entro e
caminho até as arquibancadas, não vou sentar porque não vou ficar muito
tempo.
Meus olhos vacilam para o centro da sala e vejo o time de Juliette,
com seus pequenos uniformes azuis e brancos. Eu tenho que admitir que as
garotas da torcida são muito gostosas, mas Juliette? Ela é algo
completamente diferente. Sua energia é radiante e dominadora.
Deus! As pernas dela ficam tão bonitas nesse uniforme. Saia dessa.
A série delas começa e eu mal consigo acompanhar, a cada dois
segundos uma garota dá uma cambalhota e quase morre. Juliette é um
arraso, ela tem que ser, considerando o quão elegantemente ela se move.
Ela está iluminando toda o lugar e aquele sorriso... eu nunca a vi
sorrir tão genuinamente antes e está puxando meu peito. Não consigo tirar
os olhos dela, nem por um segundo.
Olhando para ela agora, seria impossível pensar nela quebrando a
mão de alguém, mas ela quebrou. É tudo em que consigo pensar.
Juliette sobe nos ombros de algumas garotas e eu prendo a respiração,
olhando para ela. Não tenho dúvidas de que ela ficará bem. Pelo menos, não
duvidei até que seus olhos vacilaram para mim e ela fez uma pausa.
Por que ela está olhando para mim? Ela deveria estar focada em seus
movimentos. Abro minha boca para sinalizar para ela desviar o olhar, mas
antes que eu possa, vejo sua perna perder o equilíbrio e ela... cai.
Ai, meu Deus!
Estou de pé antes mesmo de pensar, disparando em direção ao time e
ignorando todas as outras pessoas que também correram para lá. Todo
mundo está bloqueando meu caminho; não consigo ver o que está
acontecendo e meu coração está batendo forte no peito. Ela está
machucada? Ai, meu Deus, ela está ferida?
Eu ofego pesadamente e minha mente está em sobrecarga. Não
consigo pensar em nada além do fato de que Juliette pode estar ferida agora.
Quem inventou essas séries? Estou pensando em ligar para a
associação de líderes de torcida e reclamar sobre como esses movimentos
são absolutamente ridículos.
Suspiro, vendo uma maca ser enrolada no ginásio e fecho meus olhos,
não querendo ver Juliette sendo colocada nela e rolando para fora daqui.
Desculpa, pai, não posso visitá-lo hoje.

***

Já se passaram algumas horas e estou esperando do lado de fora da


enfermaria, tantas pessoas entraram e saíram daquela sala. Fiquei tentada a
perguntar a Kai sobre Juliette quando ele saiu da enfermaria, mas apenas
me escondi e mantive minha boca fechada. Quero ver por mim mesma se
Juliette está bem.
Espero a enfermeira sair do quarto e olho em volta antes de entrar.
Alguém poderia pensar que estou espionando ou algo assim, mas,
sério, não quero que ninguém pense que me importo com Juliette Kingston.
Porque eu não me importo com ela.
Deixa-me chocada quando entro na enfermaria e vejo Juliette
perfeitamente relaxada, com o telefone na mão enquanto ela rola o feed. Ela
me ouve entrando e olha para cima, assustada.
— O que você está fazendo aqui?
Eu ignoro a pergunta dela.
— Por que você parece bem? Você caiu…
— Sério? Na melhor das hipóteses, foi uma queda básica, já caí assim
pelo menos uma centena de vezes antes. — Ela me interrompe com uma
risada.
Ela então se levanta e move as pernas, como se estivesse se
alongando. Ela está zombando de como estou sendo ridícula, mas ainda não
consigo evitar a respiração que sai do meu corpo. Ela não está ferida.
Graças a Deus. Meu peito parece dez vezes mais leve.
— Então, você está bem, sem ferimentos? — Repito minha pergunta
preocupada.
— Nenhum. — Ela sorri presunçosamente, como se estivesse muito
feliz por eu estar preocupada com ela e isso está me irritando.
— Bom — eu digo antes de levantar minha voz. — Você é estúpida,
porra?
Ela está bem sem nenhuma lesão, o que significa que não preciso ser
gentil ou doce. Posso ficar com raiva e preocupada e repreendê-la por ser
tão idiota que quase se machucou.
— O quê? — Ela questiona, confusa e parecendo nervosa enquanto
eu me aproximo.
Seu cabelo está desgrenhado pela primeira vez, seu uniforme de
torcida desgastado e estou tentando evitar fato dela parecer tão sexy ela
agora.
— Por que diabos você perderia o foco assim…
— Obviamente, eu não planejava. — Ela me interrompe novamente
em um tom irritado.
— O que fez você perder o foco? — Eu questiono em um grito,
levantando minha voz enquanto nossos corpos estão a apenas alguns
centímetros um do outro.
Quero saber o que de importante distraiu tanto Juliette, que nunca
perde o foco, que quase perdeu um membro.
Como ela pode ser tão estúpida a ponto de esquecer o que está ao seu
redor? Eu preciso saber. Mais importante, por que me importo tanto? Por
que o medo estava cortando cada centímetro do meu corpo quando a vi
assim?
— Nada que te interesse! — Ela grita de volta, uma veia saindo de
sua testa.
Sério? Tudo o que Juliette Kingston faz é da minha conta.
— Você é tão estúpida! — Eu grito furiosamente.
Ela estreita os olhos.
— O que há de errado com você hoje? Não estou morta, estou
completamente bem...
— Sim, por enquanto! Você ainda não sabe; você pode ter sofrido
uma concussão ou algo assim. — Eu agito minhas mãos tentando esclarecer
meu ponto.
Segundo a segundo, nossos corpos estão magnetizando um ao outro,
como se fosse uma segunda natureza.
A raiva corre em minhas veias e não consigo pensar direito, tudo o
que sei é que meu corpo está se movendo por conta própria e preciso que
Juliette saiba como estou incrivelmente furiosa.
— Não seja ridícula!
— Eu sou ridícula? Foi você que quase quebrou a porra da perna!
— Ossos quebrados não são grande coisa! — Ela grita.
— Ah, eu sei. Eu notei isso quando você quebrou a mão de Stacey!
— Eu digo e seu rosto cai.
— C-como você sabe disso? — Choque corta seu rosto ao meio, seu
tom talvez até um pouco envergonhado.
— Eu vi! — Eu zombo e continuo falando. — Da próxima vez que
pensar em cometer uma agressão, tente trancar a porta!
— Vou ter isso em mente da próxima vez. — Ela revira os olhos; eu
praticamente posso sentir o cheiro de seu ChapStick de cereja tão perto que
estamos. — Além disso, não é a mesma coisa.
— Você está certa, aquilo foi de propósito, isso foi pura idiotice.
— Foi um acidente pelo amor de Deus! — ela geme alto — Stacey
merecia.
— Ah, é? Por que é que ela merecia? — Não olhe para os lábios
dela. Não olhe para os lábios dela.
— Porque ninguém machuca você — ela deixa escapar, com as mãos
nos quadris. O calor corre para o meu rosto, não posso evitar. Ao que
parece, nem ela pode, porque ela está positivamente corada.
— Sim. — Eu limpo minha garganta, tentando conter minha
respiração pesada. — Ninguém exceto você, certo?
Não é o mesmo, em nenhum lugar é o mesmo. Ela não me bateu
porque queria me machucar e nem eu. Eu queria senti-la, cada centímetro e
cada fenda que pertence a ela. Eu queria mostrar a ela como ela me
incomoda; talvez eu quisesse machucá-la um pouco também.
— Nós brigamos! Não é a mesma coisa! — Ela levanta a voz, mas sei
que ela quer dizer que nunca me machucaria desse jeito. — Por que
estamos tendo essa discussão?
— Você está certa, deveríamos estar falando sobre por que você
estava tão distraída lá fora.
— Por que você está tão preocupada com isso? — Ela questiona,
rangendo os dentes.
— Porque você me incomoda.
— Bem, você me incomoda mais. — Ela enfia o dedo no meu peito.
Ela não afasta o dedo, nem por um segundo. Ele permanece
firmemente plantado no meu peito e não consigo evitar o olhar dela.
O som de respiração pesada ecoa por toda a sala. Minha mente está
me dizendo para correr para longe e não voltar, mas não posso fazer nada.
Estou congelada no lugar e antes que eu possa tentar me mover,
Juliette abriu caminho para dentro de mim e plantou seus lábios nos meus.
Droga!
Capítulo DEZESSEIS
Juliette
Tão escaldante. Tão satisfatório. Tão incrivelmente perfeito. Estou
beijando Adaline Emery e nunca mais quero parar.
Este beijo é tudo que eu sempre fantasiei e muito mais. Seus lábios
parecem o ar que estou morrendo de vontade de respirar todos os dias.
Deus, é assim que beijar é para outras pessoas?
Meus pensamentos são interrompidos quando ela se afasta de mim.
Instantaneamente, fico alarmada, preocupada que ela vá me esmurrar ou
ficar com tanto nojo que nem consiga olhar para mim.
Ela está ofegante, seus olhos correndo em direção aos meus lábios
enquanto ela parece confusa.
— O quê? — Ela murmura sem fôlego.
Seus lindos olhos mantêm a intriga e a confusão girando
profundamente dentro deles, como se ela estivesse reunindo cada encontro
que tivemos nos últimos cinco anos. Afinal, eu a odeio, então por que a
beijei? Não sei, mas sei que não quero parar, nem por um segundo.
Talvez eu tenha que parar, então dou um passo para trás e estou
prestes a me desculpar até que ela se inclina para frente e me beija
impetuosamente de volta, de boca aberta.
O calor se acumula no fundo da minha barriga e minha mente se
derrete em uma poça de puro desejo. Eu não perco tempo puxando-a para
mim, minhas mãos em sua cintura.
Sim! Finalmente!
Tudo faz sentido agora; seus lábios nos meus saciando a sede que
tenho por ela desde que a vi pela primeira vez. Espere, não!
Não pense, apenas beije.
Suas mãos estão no meu cabelo e eu sorrio no beijo enquanto a levo
em direção à parede, batendo-a contra a superfície. Ela geme, beijando-me
de volta mais forte e mais gostoso.
Estamos brigando; mesmo enquanto nos beijamos, estamos brigando
pelo controle. Realmente, tudo pelo que estou brigando é para colocar
minhas mãos em cada fenda e centímetro de seu corpo requintado.
Minha língua sai, derretendo em sua boca e a dela faz o mesmo. Eu
não sabia que beijar poderia ser tão perfeito; eu nunca beijei alguém tão...
suave antes.
Ela tem o gosto de cada pensamento confuso que já me permiti ter;
como o sol em um dia quente e os arrepios que marcam minha pele em um
dia frio. Ela tem um gosto perfeito.
— Deus — eu gemo em sua boca quando ela move as mãos para a
minha bunda e a segura, fazendo-me esfregar involuntariamente em sua
frente.
Ah, quem eu estou enganando? É muito voluntário.
— Deus não, amor, eu sou muito pior — ela responde roucamente em
minha boca e eu mordo seu lábio inferior em resposta, observando seus
olhos escurecerem.
Cada centímetro do meu corpo está gritando para eu arrancar a roupa
dela agora, mas eu me abstenho de fazê-lo… este é o nosso primeiro beijo,
afinal. Por mais quente que esteja agora, quero que seja apenas isso; um
beijo.
Minhas mãos se movem para seu pescoço enquanto a puxo de volta
para minha boca, nossos lábios se chocando gentil e agressivamente ao
mesmo tempo.
— Espero que ela esteja bem.
As palavras sussurradas vindas de fora da enfermaria me assustam e
imediatamente me afasto de Adaline, como se seu toque queimasse minha
pele. Ela parece confusa, até que a porta se abre e Kai entra, olhando entre
nós duas, perplexo.
— Adaline? O que você está fazendo aqui? — Kai questiona
curiosamente.
Nós duas estamos arfando e ofegantes e eu estou evitando seu olhar
enquanto ela evita o meu. Ela parece nervosa. Eu nunca a vi tão
incrivelmente nervosa antes.
— Eu só estava entrando para pegar um band-aid para alguma coisa.
— Ela gagueja, passando a mão pelo cabelo.
Deus, isso é adorável; a maneira como ela passa a mão pelo cabelo.
Como seu rosto está vermelho flamejante e como ela está gaguejando suas
palavras. Ela parece tão irrevogavelmente desgrenhada e eu não consigo
nem absorver como isso é bom. Apenas Kai está olhando para nós com um
sorriso no rosto!
Ele arqueia uma sobrancelha.
— Ok…
— Eu só... vou indo — Adaline diz sem jeito e não dá a ninguém a
chance de responder antes de sair correndo da sala.
— Você parece corada — Kai comenta, cruzando os braços sobre o
peito e sorrindo.
Por que ele está sorrindo?
— Acho que posso ter sofrido uma concussão — resmungo,
segurando minha testa, porque, honestamente, só de pensar que ele sabe o
que eu e Adaline estávamos fazendo me dá dor de cabeça.
De repente, ele parece preocupado.
— Sente-se, vou chamar a enfermeira.
O que acabou de acontecer?

***

Agarro minha cabeça latejante enquanto saio da enfermaria. Eu tive


que fugir de Kai, que está agindo como se eu tivesse sofrido algum acidente
horrível. Sério, o que há com todo mundo? Até Adaline estava louca por eu
ter caído. Embora eu não possa mentir, gostei de ver como isso a
incomodava.
Ela estava com tanta raiva e tão preocupada que fez meu coração
bater mais rápido e não sei por quê. Também não sei por que a beijei. Por
que eu a beijei? Nós duas somos meninas! Sem mencionar que eu
absolutamente a desprezo.
Então, por que parecia tão bom?
Eu balanço minha cabeça livrando minha mente desses pensamentos
ridículos, isso só está fazendo minha cabeça latejar ainda mais. Felizmente,
o corredor está quase vazio pois as aulas terminaram há um tempo.
Pelo menos, eu pensei que estaria, porém enquanto eu estava
andando, meus olhos flagraram Adonis... pegando uma garota em seu
armário.
Suspiro e caminho até ele. Eu me inclino contra os armários e
claramente, nenhum deles percebe que estou aqui, então limpo minha
garganta.
Eles saem do transe e olham para mim, assustados.
Bem, Adonis parece assustado, a garota não se importa. Eu não a
culpo; por que ela se importaria? Não é ela que está namorando esse
babaca. Eu apenas me afasto, balançando a cabeça.
Adonis faz isso com frequência. Ele faz isso tão obviamente que me
faz pensar o quão estúpido ele realmente deve ser.
Ele me traindo nunca me incomodou, acho que é porque eu não sou
muito ciumenta. Sem falar que sei que somos o casal perfeito,
logisticamente falando, então quem se importa se ele trai?
Além disso, não é como se eu tivesse uma vantagem no momento, eu
literalmente acabei de dar o melhor beijo da minha vida em uma garota,
ninguém menos que Adaline Emery.
O que eu fiz?
Capítulo DEZESSETE
Adaline
Estou mentalmente instável? Eu caí e perdi temporariamente todos
os meus sentidos, ou sou apenas a pessoa mais burra do planeta?
Claramente, há algo de errado comigo porque acabei de beijar Juliette
Kingston... e adorei.
Suas mãos ágeis na minha cintura, aqueles lábios macios me
envolvendo em um beijo tão apaixonado e quente, mas tão gentil ao mesmo
tempo. Aquele beijo foi algo saído de um filme. Senti um desejo puro
chacoalhando meus ossos e fogos de artifício ricocheteando em cada
centímetro do meu corpo.
Como isso aconteceu? Beijar Juliette? Ela é a pior pessoa que
conheço. O que eu estava pensando?
Claramente, eu não estava pensando, nem um pouco. Parecia tão
incrível e eu não conseguia parar, agora estou aqui e é tudo no que consigo
pensar.
Passei os últimos dias evitando-a na escola e ela claramente fez o
mesmo. Agora é sexta à noite e estou no carro com meus amigos, mas ainda
não consigo parar de pensar nela.
Tenho escondido o beijo dos meus amigos, o que tem sido
extremamente difícil, porque não escondo muito deles. Odeio guardar
segredos deles porque quero desesperadamente falar com alguém sobre o
beijo. Eu preciso que meus amigos coloquem algum juízo em mim e me
deem um tapa bobo por beijar Juliette.
— Estou tão nervoso para minha partida na próxima semana — diz
Aryan, enquanto masca chiclete.
Victoria está dirigindo enquanto eu estou no banco do passageiro e
Aryan está atrás. Essa é a desvantagem de ser o único homem nessa
amizade; ele sempre se senta na parte de trás. Ele é um gigante de qualquer
maneira; há mais espaço para ele lá.
— Não se preocupe, você não vai perder — eu digo gentilmente,
virando minha cabeça para trás, ignorando meus próprios pensamentos
tumultuados.
Aryan é uma fera quando se trata de boxe, tem sido sua paixão desde
que éramos crianças. No momento, ele luta boxe em uma das academias
mais notórias da Inglaterra. Ele costuma falar sobre se profissionalizar
quando sairmos da escola este ano e, honestamente, ele tem capacidade.
— Você é incrível no ringue; você não tem nada com o que se
preocupar — Victoria diz virando o carro para a esquerda e Aryan sorri para
nós.
Ficamos em silêncio enquanto Victoria continua a dirigir. Estamos
indo para uma festa agora, organizada pelo capitão do time de Lacrosse,
Alex.
Costumo ficar longe de festas organizadas pelos garotos de
Richmond, prefiro festas com pessoas que têm personalidades reais.
No entanto, eu realmente me dou bem com Alex, pois costumava ser
sua tutora alguns anos atrás, então não pude recusar o convite.
Estamos chegando cada vez mais perto da casa de Alex e me vejo
borbulhando. Normalmente, quando meus amigos e eu entramos em
silêncio, é confortável, pacífico até. Mas agora, é o oposto completo. Eu
posso sentir o estresse apertando minha garganta e as palavras implorando
para sair da minha boca, eu preciso contar a eles sobre Juliette.
Não costumo discutir sobre Juliette com eles, pelo menos discuto bem
menos agora que comecei a dar aulas particulares para ela. Mesmo quando
eles me perguntam como está indo com as aulas particulares, eu apenas dou
respostas evasivas de uma palavra. No entanto, isso é importante, preciso
dizer a eles.
Eles precisam saber sobre o beijo.
— Juliette e eu nos beijamos — eu deixo escapar rapidamente,
fechando meus olhos e cobrindo meus ouvidos.
Espero ser atingida por uma onda de gritos e confusão, talvez até
alguns tapas na minha cabeça e rosto. Não suporto ver a decepção e o
choque em seus rostos.
Alguns segundos se passam e eu não ouço ou sinto nada, então abro
meus olhos lentamente, esperando ver seus rostos chocados. O que não
espero é vê-los parecendo casuais e certamente não espero o que Aryan
diga a seguir.
— Pague. — Ele sorri, segurando sua mão na frente em direção a
Victoria.
— Pelo amor de Deus — ela resmunga bem a tempo, porque
chegamos à mansão de Alex e ela estaciona rapidamente.
O choque do comportamento casual deles me deixou sem palavras,
então eu apenas sento e observo enquanto ela solta o cinto de segurança e
puxa a carteira. Antes que eu possa piscar, ela pega um maço de dinheiro e
entrega para Aryan.
Que diabos?
— O que está acontecendo? — Eu questiono, tirando meu próprio
cinto de segurança.
Aryan ri presunçosamente.
— Fizemos uma aposta sobre quando você e Juliette finalmente se
beijariam. Eu sabia que seria este ano, com certeza.
Desculpa… o quê?!
— Deixe-me repetir — eu digo limpando minha garganta —, o quê?!
Eles parecem assustados com meu grito e trocam olhares. O que
realmente está acontecendo aqui? Por que eles estão agindo como se
previssem isso? Minha mente está correndo agora e, honestamente, estou
chateada.
Victoria levanta as mãos em defesa.
— Não olhe para mim, eu estava apostando que você nunca iria beijar
aquele demônio, mas eu vi que chegaria a hora.
— Como? — Não quero que as palavras saiam com tanta raiva, mas
não consigo evitar.
Victoria sorri timidamente.
— Desculpa, ficou muito óbvio que vocês estão a fim uma da outra.
— Desde quando?
— Desde que ela quebrou a mão de Stacey por você. — Victoria diz,
visivelmente estremecendo com a memória. — A garota está literalmente
obcecada por você.
Nós nem sequer falamos sobre isso desde que aconteceu,
principalmente porque eu evitei o fato de ela ter feito algo assim… e o fato
de que eu poderia ter gostado.
— Vamos lá, por que você acha que eu sempre impedi Victoria de
bater em sua bunda pela forma como ela trata você? — Aryan pergunta,
como se fosse óbvio. — Eu sabia que ela só estava te tratando assim porque
ela está afim de você.
— Eu ainda quero bater na bunda dela — Victoria entra na conversa
—, não há desculpa para tratar alguém assim.
— Então, você está dizendo que ela gosta de mim? Isso é bom. Mas
eu não gosto dela, nem em um milhão de anos — eu cerro as palavras e
mais uma vez, eles trocam olhares um com o outro.
— Addie, ela é literalmente tudo sobre o que você consegue falar há
cinco anos. Não importa o quão horrível ela seja. Você nunca nos deixa
defendê-la contra ela — Aryan diz, seus olhos suavizando.
— Isso é porque eu a odeio! — Eu retruco em voz alta passando
minhas mãos pelo meu cabelo. — Eu a odeio, mas ainda é só entre nós. Eu
não preciso de ninguém para lutar minhas batalhas por mim. Isso não
significa que eu goste dela.
Eu jogo meu rosto em minhas mãos, frustração irradiando de cada
fenda do meu corpo. O que está acontecendo? Meus amigos acham que
estou afim de Juliette? Passei anos falando sobre o quanto eu a desprezo!
Esses dois estiveram comigo a cada passo do caminho, até
concordando comigo quando falo sobre o quanto Juliette é uma pessoa
horrível. Agora, de repente, eles acham que eu gosto dela? Isso é uma
piada?
— Desculpa — eles dizem apressadamente em uníssono.
Eu abro meus olhos e eles estão olhando para mim com expressões de
arrependimento. Claramente, eles não esperavam que eu ficasse tão irritada.
Difícil para eles, eu também não esperava que meus melhores amigos
apostassem em quando eu beijaria aquela cria de Satanás, mas nem sempre
conseguimos o que queremos.
— Nós apenas nos beijamos, foi um erro estúpido, mas isso não
significa que eu estou a fim dela — eu digo resolutamente.
Foi apenas um beijo; um beijo alucinante que mudou minha vida, mas
isso não significa que eu tenha sentimentos por Juliette. Como eu poderia
ter sentimentos pela garota que fez da minha vida um inferno por anos?
— Olha, eu entendo; ela é horrível, mas isso não significa que você
pode controlar como se sente…
Eu corto Aryan, a fúria nadando em meus olhos.
— Eu a odeio, é a única coisa que sinto. Eu nunca poderia gostar de
alguém como ela!
Estou ofegante neste momento; minha voz é elevada e eles parecem
assustados.
Não costumo levantar a voz para eles ou para muitas pessoas, só não
sou assim, embora seja diferente com Juliette. Apenas o pensamento de
estar atraída por ela está me deixando furiosa e preciso que eles acreditem
que não estou.
Preciso acreditar que não estou a fim dela.
— Não vamos tocar no assunto de novo — Victoria diz, olhando para
mim com choque estampado em seu rosto.
Eu aceno com a cabeça para Victoria, mas honestamente, suas
palavras entram por um ouvido e saem pelo outro. Não estou mais com
raiva dos meus amigos, estou com raiva de outra pessoa: Juliette.
Cansei de pensar em Juliette Kingston. Vou entrar na festa e me
divertir muito. Vou ficar com outra pessoa e fumar maconha para caramba,
porque eu não bebo.
Nem vou para casa estudar esta noite, porque vou acordar na cama de
outra pessoa.
Esta festa vai ser absolutamente espetacular.
Capítulo DEZOITO
Juliette
Esta festa é uma merda exponencial, com corpos suados dançando e
álcool estourando nas costuras desta mansão. Normalmente, isso soaria
como um momento extraordinário para mim, mas não está sendo assim
hoje.
Esta festa simplesmente não está me agradando, mesmo que as luzes
estejam vermelhas como uma espécie de clube de sexo e as pessoas estejam
dançando como se suas vidas fossem divertidas.
Até Kai está se divertindo, ele desapareceu há dez minutos para jogar
uma competição de beer pong contra as garotas do time de hóquei.
Obviamente, ele provavelmente perderá, ninguém vence essas garotas.
Normalmente, eu estaria lá com ele, tentando o meu melhor para
beber demais de todos, mas acabei de passar os últimos vinte minutos na
cozinha beijando Adonis. Tenho feito muito isso recentemente, só para
poder esquecê-la; a morena de um metro e sessenta e cinco que está
atormentando meus pensamentos mais do que o normal.
Até passei a evitá-la na escola, ela também, porque mal a vi esta
semana.
Cheguei à conclusão de que a única razão pela qual beijei Adaline foi
porque estava sexualmente frustrada. Adonis não me tira do sério e claro,
por isso eu a beijei.
O fato de ela ser uma menina não importa, os cérebros não podem
dizer logicamente a diferença entre homens e mulheres; são tudo apenas
produtos químicos, certo?
Eu não sou bissexual. Não gosto de mulheres; até o pensamento é
revoltante. Eu particularmente não gosto de Adaline, fiz da vida dela um
inferno por anos, como eu poderia gostar dela?
Aquele beijo foi estranho e me arrependo de cada segundo dele. Cada
segundo de sua boca quente e gostosa na minha, suas mãos no meu cabelo e
sua língua...
Eu me arrependo disso!
— Você quer alguma coisa para beber, talvez um pouco de vodca? —
Adonis murmura em meu pescoço; eu mal posso ouvi-lo sobre a música.
— Tequila — eu o corrijo e ele balança a cabeça antes de me dar um
beijo na bochecha e sair para pegar minha bebida.
Vodca? Ele está falando sério? Ele deve saber que eu desprezo vodca
e que tequila é minha bebida favorita. Eu praticamente bebo meu peso
corporal em tequila todo fim de semana – com ele!
Para ser justa, também não sei muito sobre ele além de sua cor
favorita, que é verde. Espere, não. É azul? Ou talvez amarelo? Ah, pelo
amor de Deus! Quem se importa? Saber coisas triviais como essas não
importa.
— Juliette! — Eu ouço meu nome e levanto minha cabeça e vejo Kai
vindo em minha direção.
Ele está absolutamente bêbado com cara de merda. Aquelas garotas
do hóquei devem tê-lo aniquilado totalmente no jogo. Eu o avisei que ele
não seria capaz de lidar com isso.
Seu cabelo ruivo está mais bagunçado do que o normal e sua blusa
branca está do avesso, meu olhar se abaixa quando percebo que o zíper da
calça está aberto.
— Você está bem? — Ele me pergunta arrastando as palavras com um
sorriso suave no rosto.
Deus, eu amo esse garoto.
— Eu estou bem, mas claramente você não está. — Eu rio, me
aproximando dele e fechando seu zíper.
Instantaneamente, ele se aninha em meu ombro e eu tenho que firmar
seu corpo — ele se torna um bebê quando está bêbado. Eu não me importo
em ser mãe dele, porém, eu sei que ele realmente não se dá bem com sua
própria mãe ou pai.
— Ai, meu Deus! Um anjo acabou de entrar — ele murmura
sonhadoramente no meu pescoço, me soltando. Eu me viro para seguir sua
linha de visão e vejo porque seus olhos estão em forma de coração agora.
Seus olhos estão em Victoria, que está usando uma blusa Prada preta
e uma saia preta combinando; muito chique para uma festa de escola, mas
não posso criticar o estilo dela, nem por um segundo. Claro, ela não está
aqui sozinha, mas os olhos de Kai estão apenas nela.
Meus olhos? Bem, meus olhos estão onde sempre estão — em
Adaline.
— Mais como o diabo — murmuro sem fôlego, apertando minha
mandíbula enquanto a vejo entrar.
O que Adaline e seu bando estão fazendo aqui? Raramente os vejo em
festas escolares, especialmente Adaline. Eu sei que não é a coisa dela; ela
prefere festejar em seus próprios termos em seu próprio território. Pelo
menos é o que sempre vejo Victoria postando em seu Instagram.
Independentemente disso, as festas da escola não são tão divertidas
assim; apenas crianças em idade escolar bebendo e cheirando drogas
ilegalmente. Eu sei que Adaline não faz nenhuma dessas coisas,
especialmente álcool — ela não toca nessas coisas. Eu balanço minha
cabeça e foco meus olhos de volta nela.
Ela está entrando na festa como se fosse dona do lugar, seu cabelo
preto parecendo bagunçado, mas sexy ao mesmo tempo. Ela está usando um
sutiã de malha preta. Droga! Isso cobre alguma coisa? Seu corpo tonificado
está em exibição e eu não consigo desviar meus olhos, nem desviá-los de
suas pernas longas e bronzeadas que são perfeitamente exibidas por sua saia
curta de couro preto.
Ela usa saias tão bem.
Ah, não. Afasto os olhos e me inclino para o ouvido de Kai.
— Vou usar o banheiro, fique atento à sua bebida.
Ele acena com a cabeça ao ouvir minhas palavras, mas seus olhos
ainda estão observando Victoria e eu balanço minha cabeça com uma risada
enquanto subo as escadas. Por alguma razão, não quero mais sair desta
festa.
Esquisito.
***

Gosto de observar as pessoas, ver como elas interagem e absorver


essas informações. Eu faço isso principalmente quando estou entediada,
como agora.
Estou nesta festa há mais trinta minutos e passei esse tempo evitando
Adaline e me sentindo absolutamente miserável. Acho que essas duas
coisas podem ser mutuamente exclusivas.
Então agora, eu me submeti a observar as pessoas ao meu redor,
apenas para me divertir.
No momento, eu posso ver os olhares que Victoria está lançando para
o bando de garotas pairando sobre Kai, mas ele está alegremente
inconsciente da atenção que está recebendo – como sempre. Ele só quer a
atenção dela, ele anseia por isso, é muito óbvio.
Então eu vejo uma garota da minha equipe, Melissa, ela está olhando
para o outro amigo de Adaline, Aryan. Ela parece querer devorá-lo. Tenho
certeza de que ele é um pervertido como Adaline e joga no outro time,
então ela teve azar.
— Oi, bebê. — Eu ouço uma voz arrastada atrás de mim, então eu me
viro, presumindo que seja Adonis, o único homem que eu não acho
interessante de assistir… onde ele esteve? Ele desapareceu depois de me dar
minha bebida e não o vi desde então.
Quando me viro, percebo que o homem na minha frente não é meu
namorado. Em vez disso, é um cara alto e loiro que parece um boneco Ken.
Ele está claramente bêbado e está tentando dar em cima de mim, nem
tenho certeza se ele vai para Richmond; eu nunca o vi antes. Ele
provavelmente invadiu a festa como as crianças de outras escolas costumam
fazer.
— Não vai acontecer — eu afirmo, olhando-o de cima a baixo com
desgosto.
Agora, eu não me importo de sair da relação que tenho com o Adonis,
quer dizer, ele me trai, então eu posso fazer o mesmo. No entanto, não vou
trair com este boneco Ken. Loiros não são meu tipo, especialmente os
presunçosos e aqueles que usam bonés de beisebol em festas. Qual é, essas
são realmente suas escolhas de estilo?
— Vamos, dance comigo — diz ele, aproximando-se de mim e eu
sinto o cheiro de seu fedor.
Colônia. Também não é do tipo luxuoso.
— Não — afirmo simplesmente. Normalmente, eu adicionaria um
pouco mais de energia, mas estou cansada esta noite.
Ele zomba de mim.
— Quem perde é você.
Eu que perco? Sou a herdeira de um império multimilionário e sou
linda, não estaria perdendo nem em um milhão de anos.
Eu apenas rio de suas palavras e começo a me afastar, isto é, até que a
música diminui e eu o ouço resmungar.
— Mulherzinha estúpida.
Ah, não. Grande erro.
Eu me viro lentamente e inclino minha cabeça para o lado, veneno em
meus olhos.
— Do que você acabou de me chamar?
Os homens gostam de xingar as mulheres quando se sentem rejeitados
e inferiores — o que geralmente são. O único problema com isso é que eles
não esperam que as mulheres revidem, mas mal sabe o Sr. Ken que os
tempos estão mudando. Na verdade, eles sempre mudaram para mim; eu
como garotos como ele no café da manhã. Tudo o que tenho a fazer é
estalar os dedos e posso arruinar a vida dele.
Ele fica na minha cara e diz:
— Eu chamei você de idiota, puta do caralho…
Ele não consegue terminar a frase porque um soco o acerta e o coloca
de cara no chão. Ele geme alto e aperta o nariz, que está sangrando
profusamente.
Ninguém na festa percebeu; eles estão muito ocupados dançando ou
envolvidos em suas próprias lutas.
Engasgo em choque, porque esperava que fosse minha mão. Eu não
esperava ver Adaline na minha frente, gemendo de dor em seu punho, mas
rindo ao mesmo tempo.
O. Que. Diabos. Aconteceu.
Adaline acabou de dar um soco no boneco Ken e derrubá-lo de bunda.
Esse cara tem pelo menos um metro e oitenta e também parece que se
exercita bastante, mas ela o socou com uma facilidade tão hipnotizante.
— Seu pai não te ensinou como falar com as mulheres com respeito?
— Ela questiona com uma risada cruel e acrescenta: — Puto idiota.
— Cadela! — Ele grita de volta para ela e tenta se levantar.
Ela apenas zomba dele, mas eu? Bem, eu uso tanto impulso quanto
posso e o chuto entre suas pernas, como se fosse um reflexo. Como ele ousa
chamá-la de cadela?
— Ah! — Ele geme, sua mão livre se movendo em direção à imitação
patética de um pau. — Suas vadias!
Este é um homem adulto chorando no chão de uma festa enquanto
todos os outros o ignoram dançando e duas garotas estão de pé sobre seu
corpo. Este deve ser um ponto muito baixo em sua vida.
Adaline ri sombriamente e eu olho para ela. Não há razão para ela
parecer tão atraente agora enquanto ela morde o lábio de dor, seus olhos
verdes segurando o que eu só posso supor ser uma satisfação. Ela está
olhando para mim como se estivesse orgulhosa, e eu me pego mordendo
meu lábio em resposta, espelhando seu comportamento.
Droga! Ficou muito mais quente aqui.
Capítulo DEZENOVE
Adaline
Eu jásoquei pessoas antes, por muitas razões diferentes.
Normalmente, sou cuidadosa, rápida e principalmente controlada. No
entanto, desta vez fui imprudente; uma fúria vermelha, quente e ardente
envolveu meu corpo e agora estou pagando o preço. Por preço, quero dizer
a bolsa de gelo que estou segurando contra meu punho inchado.
Eu deveria me arrepender de bater naquele pau loiro por causa da dor,
mas eu não me arrependo... nem por um segundo.
Quem ele pensa que é, chamando Juliette de vadia? Ele tem sorte de
eu não ter quebrado as pernas dele pelo jeito que ele falou com ela.
Eu odeio Juliette do fundo do meu coração, mas isso não dá a ele um
passe livre para falar com ela desse jeito. Ninguém pode falar com ela
assim.
Além de mim.
Falando em Juliette, ela está lançando olhares mortais na minha
direção agora. Depois que ela chutou o loiro nas bolas – o que não deveria
ser atraente, mas foi –, ela o tirou da festa e praticamente me arrastou para o
banheiro do andar de cima com uma bolsa de gelo.
— Eu era perfeitamente capaz de lidar com ele sozinha — Juliette diz
para mim irritada, mas seus olhos não têm o mesmo aborrecimento estranho
que seu tom tem. É quase como se ela estivesse fingindo estar com mais
raiva do que realmente está.
— Eu sei — dou de ombros com suas palavras, tentando esconder
meu sorriso. — Eu só estava com vontade de brigar hoje.
Isso é completamente verdade. Desde que entrei na festa e vi Juliette,
era como se todo o meu corpo estivesse submerso em gelo, água fria que
me sufocava.
Tentei me divertir e flertar com várias pessoas, mas tudo parou
quando vi o loirinho pairando sobre Juliette. Eu não consegui me concentrar
em mais nada.
— Bem, fique fora disso da próxima vez! — Ela estala em um tom
castigador.
Isso me irrita. Fica fora disso? Eu sei que ela poderia lidar com isso
sozinha, mas a mataria ser educada e me agradecer? Que pergunta boba!
Claro que sim; ela é a maior babaca.
— Ou o quê? Você vai me beijar de novo? — Eu provoco, estreitando
meus olhos.
Aí está. Joguei a bomba e o rosto dela ficou completamente vermelho
como uma beterraba; o mesmo tom de vermelho que combina com o que
ela está vestindo: um espartilho vermelho escuro com preto, calças de couro
e Deus... ela parece tão sexy.
Eu odeio isso. Pare de se distrair.
Ela bate a porta do banheiro.
— Você está louca? Alguém pode ter escutado! — Ela meio grita,
meio sussurra para mim.
— Aww, você está com medo de que as pessoas saibam que Juliette
Kingston gosta de beijar garotas? — Eu zombo dela com um sorriso.
Ela gosta de garotas? Eu não faço ideia. Talvez eu saiba, mas não
quero admitir porque se eu fizer isso significa que ela sentiu algo quando
me beijou, então isso significaria que o beijo realmente significou algo. Eu
não posso ter isso, nem por um segundo.
Como ela poderia gostar de garotas? Ela é a pessoa mais homofóbica
que conheço, mas talvez isso tenha sido apenas internalizado por causa do
trauma que ela enfrentou quando criança.
Não. Eu preciso parar com isso. Por que estou psicanalisando sua
sexualidade como se tivesse algum efeito sobre mim? Não; eu não poderia
me importar menos com isso ou o fato de que ela me beijou.
— Tive uma concussão! — Ela retruca, agitando as mãos.
— Ah? Você teve uma concussão quando me jogou contra os
armários também…
— Sim! Isso foi um erro. — Ela berra.
Um erro. Sim, era isso mesmo. Seus lábios nos meus, os fogos de
artifício que ultrapassaram meu cérebro e o transformaram em mingau; Eu
sei que foi um erro, então por que suas palavras enviam uma pontada ao
meu coração? Eu ignoro o sentimento e tento o meu melhor para mascará-
lo.
— Sim, foi um erro — eu concordo, não perdendo o jeito que ela se
encolhe levemente, sua respiração falhando.
— Nem pense em contar a ninguém. — Ela ameaça.
Claro, sua ameaça é risível, mas eu me abstenho de realmente rir alto.
Por que eu contaria a alguém, além de meus amigos, é claro?
— Ah, sim, eu estava prestes a confessar a todos o quanto você é uma
beijadora mediana.
— Mediana? Não seja ridícula! — Ela bufa, profundamente ofendida.
Claro, estou mentindo, ela é muitas coisas, mas uma beijadora
mediana não é uma delas. Eu gostaria que ela fosse mediana, então eu não
estaria pensando em como ela é uma beijadora impecável.
Seus lábios macios tinham gosto de meia-noite; como os desejos mais
profundos que se escondem em meu peito e como o conforto de um
cobertor em um dia frio.
— Já comi melhores. — Eu dou de ombros em resposta, segurando a
bolsa de gelo com mais força contra os nós dos dedos.
— Seu maldito desejo. — Suas narinas dilatam.
— Qual desejo? Que você não fosse uma beijadora mediana? Você
está certa, eu desejo isso. — Eu zombo dela e coloco a bolsa de gelo no
chão.
— E eu gostaria que você não fosse tão convencida — ela retruca.
— Você já me viu? — Aponto para mim mesma, abafando o riso com
a irritação dela, mas não paro por aí, continuo andando para mais perto dela
e ela responde se afastando lentamente.
Suas costas batem na porta do banheiro.
— Sim, tudo o que vejo é uma cadela irritante que está muito enfiada
em seu próprio traseiro.
— Se eu sou tão irritante, por que você me beijou? — Eu sussurro,
meus olhos correndo para os lábios dela.
Seus olhos se arregalam de surpresa.
— Eu-eu disse a você que tive uma concussão. — Seu perfume cítrico
está me sufocando, assim como seus olhos, que parecem escurecer mais e
mais a cada minuto.
Eu me inclino para a concha de sua orelha.
— Aposto que você quer me beijar de novo — murmuro baixinho.
Eu a ouço suspirar baixinho.
— Nem nos seus sonhos.
— E nos meus pesadelos? — Eu contraponho, inclinando-me para
mais perto dela até que estou pairando sobre seus lábios. Como se fosse
instinto, seus olhos se fecham suavemente, como se esperasse que eu
envolvesse seus lábios nos meus.
Eu quero. Não vou negar que quero beijá-la neste momento; dirigir
meus lábios nos dela e fazer o que quiser com ela aqui e agora, mas às
vezes na vida o orgulho é mais importante do que o que você quer.
— Pena que eu não beijo vadias — eu digo abruptamente, me
afastando dela.
Seus olhos se abrem em resposta, como se ela tivesse acabado de
acordar de um sono e estivesse completamente desorientada e com raiva.
— Vamos voltar a nos odiar. — Ela estala com raiva.
— Eu nunca parei. — Eu respondo de volta para ela, incapaz de
esconder minha diversão com seu constrangimento.
— Bom.
— Tudo bem.
— Ótimo.
— Perfeito.
— Eca! — Ela geme alto antes de abrir a porta e sair, batendo-a.
Ela é tão insuportável. Primeiro ela me beija e depois age como se eu
fosse o problema? Então ela fecha os olhos para me beijar de novo? Essa
garota tem alguns problemas sérios.
Não é como se eu pudesse evitá-la para sempre. Eu fiz isso esta
semana, mas, eventualmente, tenho que voltar a dar aulas particulares para
ela; temos um teste em breve e ela precisa passar, caso contrário, o Sr.
Khalid ficará desconfiado e não enviará a carta. Não posso ajudá-la com
isso se a estou evitando-a.
É diferente ultimamente. Antes, eu podia continuar com o jogo que
Juliette e eu jogamos, mas ultimamente parece que está me empurrando
para baixo e pesando sobre mim. Isso ocorre porque, quando eu entrar em
Oxford, nunca mais precisarei estar na mesma vizinhança que a escola
Richmond, então é muito improvável que eu a veja novamente.
Não ver Juliette nunca mais parece o paraíso para mim.
Suspiro pesadamente e me preparo para sair do banheiro, isto é, até
que dois corpos abrem caminho para dentro, com os lábios entrelaçados.
Claramente, eles estão procurando um lugar para fazer sexo.
Normalmente, eu não me intrometeria, mas desta vez vou ter que me
intrometer, porque as duas pessoas se beijando são Kai e Victoria.
Devo agir como se estivesse chocada?
As mãos dela estão no cabelo dele e as mãos dele estão em volta da
cintura dela e eles estão muito ocupados se beijando para ver que estou
literalmente aqui com assentos na primeira fila para o pequeno festival de
sexo deles.
— Aham. — Eu limpo minha garganta alto e instantaneamente seus
corpos se afastam um do outro.
Ou, pelo menos, Victoria recua dele, praticamente o afastando. Seu
rosto está vermelho e sua boca aberta, olhando para mim, enquanto ele
parece completamente perplexo.
Esses dois estão claramente embriagados — não o suficiente para
esquecer que isso aconteceu, mas bêbados o suficiente para atribuir todo
esse momento à embriaguez. Tenho a sensação de que não será o caso, ou
espero que não.
— Adaline? — Eles questionam em uníssono, olhando para mim com
olhos atordoados.
— Da próxima vez que você estiver procurando um lugar para foder,
tente realmente olhar mais e beijar menos. — Eu balanço minha cabeça
com um sorriso.
De alguma forma, ver o olhar envergonhado em seus rostos está
fazendo minha dor diminuir. Há um brilho nos olhos de Victoria, um que é
muito raro, e foi claramente Kai quem colocou isso lá. Não tenho dúvidas
de que ela dirá que isso foi um erro amanhã, mas, por enquanto, espero que
ela se divirta com isso.
Victoria cora, mas então seus olhos baixam para o meu punho.
— E-espere, por que você está colocando gelo no seu punho?
Antes que eu possa responder ao seu olhar de aço, Kai fala primeiro.
— Isso tem alguma coisa a ver com aquele cara que saiu da festa
agarrado ao próprio pau?
Esqueci como isso era engraçado. Eu não percebi que alguém o viu.
Claramente, Kai viu. Eu gostaria de registrá-lo saindo com dor assim, ou
pelo menos quando Juliette o chutou, porque foi absolutamente hilário.
— Juliette quem realmente fez isso. Eu sou mais responsável pelos
danos em seu rosto. — Eu sorrio presunçosamente, não perdendo a fúria no
rosto de Victoria.
Deus, espero que o loirinho não vá a Richmond porque, se for,
Victoria vai encontrá-lo e despedaçar suas bolas.
— Espere, o quê? Por quê? — Kai me bombardeia com perguntas e
não perco o jeito que ele está evitando timidamente o olhar de Victoria.
— Ele a chamou de vadia, então eu dei um soco nele, depois ele me
chamou de vadia e ela o chutou. Apenas uma luta de festa padrão, sabe?
— Ele chamou ela de vadia?
— Ele te chamou de vadia? — Kai e Victoria perguntam ao mesmo
tempo.
Eu sufoco uma risada com a proteção deles. Kai é tão leal a Juliette
quanto Victoria é a mim.
— Eu vou para casa. — Eu suspiro.
Eu vim para esta festa com a intenção de sair com alguém ou, pelo
menos, apenas me divertir.
Agora tudo o que realmente vou deixar é a memória de Juliette
chamando nosso primeiro beijo de um erro e um punho dolorido que
definitivamente estará pior amanhã. Essa festa foi uma merda.
Capítulo VINTE
Juliette
Estou totalmente acabada. Tive três semanas para trabalhar neste
projeto de arte, que vale toda a minha nota final e não fiz absolutamente
nada.
Na verdade, eu nem lembrava até que Kai me mandou uma
mensagem sobre isso e me disse que era para amanhã! Como isso escapou
da minha mente? Eu nem planejei nada! Além de saber que tenho que fazer
um retrato ao vivo de alguém da escola, o problema é que não escolhi
ninguém.
O que eu estava pensando? Ah, eu sei. Em vez de prestar atenção na
aula de arte – que é literalmente a única aula que me deixa feliz –, tenho me
preocupado demais com Adaline Emery.
Por causa dela, agora estou vasculhando minha sala de arte tentando
preparar meus suprimentos, enquanto destruo tudo ao meu redor.
Eu estava fazendo um bom trabalho em evitá-la até aquela festa na
sexta-feira. Passei o fim de semana inteiro pensando nela, repassando os
eventos dela socando aquele garoto e nós discutindo no banheiro.
Eu simplesmente odiava vê-la congelando o punho assim e eu
explodi. Ela poderia ter se machucado seriamente socando aquele cara.
Quer dizer, sim, ela pode ser forte, mas não é exatamente uma fisiculturista.
Eu tive que discutir com ela para que ela soubesse que não deveria fazer
isso de novo, não importa o quão quente estivesse.
Quente? Não! Ai, meu Deus, o que está acontecendo comigo? É por
isso que não consigo me concentrar em nada; ela se incorporou em todos os
meus pensamentos; Não consigo parar de pensar nela, ou naquele beijo. O
mesmo beijo que eu disse que foi um erro, com o qual ela prontamente
concordou, até que ela fingiu que ia me beijar de novo e praticamente riu de
mim.
Por que isso fez meu peito apertar em resposta? Por que o
pensamento dela pensando que nosso beijo foi um erro deixou meu
estômago em uma onda de desespero? Não sei o que está acontecendo
comigo.
Eu não posso... eu não posso gostar de garotas. Não é isso que está
acontecendo aqui; só não consigo esquecer o beijo porque, objetivamente,
foi um beijo perfeito. Se eu tivesse o mesmo beijo com um garoto, teria me
feito sentir exatamente da mesma maneira. Não sou depravada como ela;
não conta se eu realmente não gosto de garotas.
Eu nunca poderia gostar de garotas. Eu simplesmente não posso; eu
não sou como meu pai.
Eu afasto o pensamento e coloco meu cavalete e tela em um canto da
minha sala de arte.
Minha sala de arte é gigantesca; é quase como um conservatório e
uma garagem infundida. Tem pé-direito alto e paredes cinza, que se
tornaram cada vez mais coloridas devido a toda a tinta que foi espalhada
nelas ao longo dos anos.
Minha mãe queria transformar esta sala em uma quadra de tênis
coberta, mas eu a cansei quando criança e a convenci a transformá-la em
minha sala de arte.
Além do meu carro, este é outro dos meus lugares seguros, o meu
santuário.
Sento-me no banquinho e suspiro, sem saber como começar. Então
ouço uma batida na porta. Não me incomodo em olhar para trás e apenas
grito um rápido:
— Entre.
Certamente, é uma das minhas empregadas. Não pode ser Adonis
porque ele está em detenção. Também não pode ser Kai, porque ele está no
clube de música; outra razão pela qual não posso simplesmente desenhá-lo
para o meu projeto.
— Então, você realmente tem uma sala de arte inteira para você? Isso
realmente é uma merda de gente rica.
Eu conheço essa voz, é a mesma voz rouca e de alguma forma suave
que me deixa sem sentido. Meu corpo instantaneamente fica dez vezes mais
quente quando ouço isso. Eu reconheceria aquela voz em uma sala cheia de
um milhão de outras vozes diferentes.
Eu instantaneamente viro minha cabeça.
— Adaline? O que você está fazendo aqui?
Ela se encosta no batente da porta, os braços cruzados.
— Estou aqui para sua tutoria.
Eu fico enraizada no meu lugar e ela simplesmente entra na sala como
se fosse a dona do lugar. Ela ainda está de uniforme, embora as aulas
tenham terminado algumas horas atrás. Ela provavelmente ficou para trás
para o clube de STEM2; ela faz isso toda segunda-feira.
Eu encaro mentalmente a palma da mão.
— Porra, eu nem me toquei disso. Por que você não me avisou antes?
Eu esqueci completamente que tínhamos uma sessão de tutoria hoje.
Honestamente, eu meio que esperava que ela cancelasse nossas aulas
particulares, mas ela está realmente ouvindo o que eu disse a ela na sexta-
feira sobre voltar a se odiar. Ela está agindo normalmente e não posso
culpá-la por isso porque sei que ela quer aquela carta de recomendação,
então é claro que ela ainda precisa me ensinar. Então, por que a indiferença
dela está me irritando?
— Eu mandei um e-mail para você — ela diz com um encolher de
ombros, enquanto apenas fica na minha frente com as mãos nos bolsos.
Pela primeira vez, ela está usando calças, a camisa branca para fora
da calça como sempre, a gravata azul-marinho afrouxada e a mochila preta
pendurada no ombro direito.
Ela capta a essência de ser estudante tão perfeitamente, como um
redemoinho de inocência e rebelião, com uma infinidade de exaustão.
— Eu mal checo meus e-mails. Você deveria ter me ligado — eu
respondo em um tom agitado. Eu deveria ter mencionado isso nas
incontáveis semanas que ela passou me ensinando por e-mail, mas não me
importei muito na época.
Eu me importo agora, porque preciso ser notificada antes que ela
apareça na minha casa. E se eu estivesse ridícula? Ou eu estivesse doente?
Ela revira os olhos.
— Eu não tenho o seu número, gênia.
— Sério? Eu tenho o seu.
— O quê? Como?
— Nono ano, quando roubei seu telefone e troquei todos os seus
contatos, lembra?
Ela aperta a mandíbula e eu sorrio presunçosamente. Ainda me
lembro de como ela estava com raiva de mim. Presumo que ela teve
dificuldade em mudar os contatos de volta. Ela provavelmente enviou uma
dúzia de mensagens erradas antes de perceber o que eu tinha feito.
Eu mexia com ela assim o tempo todo, especialmente durante os
primeiros anos de escola. No entanto, usei esse incidente específico como
uma oportunidade para roubar o número dela e salvá-lo.
Por mais engraçado que pareça, o número dela é o único que consigo
recitar de memória.
Esquisito.
Ela zomba.
— Não pareça tão presunçosa ou você está esquecendo o que eu fiz
com você depois?
— Como se eu pudesse esquecer; eu fiquei tinta de cabelo azul no
meu cabelo por meses. — Balanço a cabeça, irritada com a lembrança.
Para ser justa, foi uma boa resposta, mas, felizmente, foi uma tintura
de cabelo temporária. Lembro-me de como ela parecia presunçosa naquele
dia, minha mãe ficava me perguntando como isso aconteceu e, obviamente,
nunca contei a ela. Foi entre mim e Adaline; nosso jogo sempre foi apenas
entre nós.
— Pelo menos, realçou a cor dos seus olhos. — Ela ri. Embora seu
elogio seja sarcástico, ainda traz um rubor às minhas bochechas.
Ela pensa nos meus olhos?
— De qualquer forma… — Eu limpo minha garganta. — Eu não
posso ter uma sessão de tutoria com você hoje. Meu projeto de arte é para
amanhã e eu tenho que trabalhar nele. Eu sei que você acha que não é
importante…
— Quando eu disse isso? — Ela me interrompe, parecendo irritada.
Ah, qual é. Esta é Adaline Emery; ela provavelmente nem pensa que
a arte é um assunto real porque não requer testes rigorosos e nem contém
nenhuma academia.
— Você está pensando nisso — eu digo, como se fosse óbvio.
Ela cruza os braços sobre o peito.
— Eu não sabia que você podia ler mentes, isso é tão fascinante.
Diga-me, o que estou pensando agora?
Ela se acha tão engraçada, não é? Com aquele pequeno brilho em seus
perigosos olhos verdes e aquela postura confiante e segura.
— Você é tão insuportável. — Eu gemo com sua resposta sarcástica.
— Sim, e você adora presumir coisas sobre mim — ela retruca,
parecendo genuinamente irritada, o que me confunde por um momento.
Por que ela se importa com o que eu suponho sobre ela? Eu tenho
feito isso desde o momento em que coloquei os olhos nela. Então, o que há
de diferente agora?
Ela suspira e continua falando.
— A arte é importante; é uma matéria como qualquer outra matéria.
Só porque não sou muito boa nisso, não significa que não respeito.
Seu discurso mais uma vez me desconcerta, seu tom sério, como se
ela realmente se importasse com o que penso de sua opinião sobre Arte.
Estou apenas desejando?
Independentemente disso, acredito no que ela está dizendo e estou
feliz por ela ter dito isso.
— Você acabou de admitir que não é boa em alguma coisa?
Ela ri alto e eu quase esqueço de respirar. Ela está realmente rindo;
uma risada calorosa dirigida a algo que eu disse. Não consigo tirar os olhos
dela; a maneira como seus olhos se enrugam quando ela ri e segura o peito.
Por que minhas mãos estão suando?
— Essa é a única coisa que você conseguiu absorver com isso? — Ela
questiona, ainda rindo. Encontro-me sorrindo e encolhendo os ombros em
resposta.
Claro, essa não é a única coisa que ganhei com isso. Quando Adaline
fala, costumo me concentrar em tudo o que sai de sua boca. Mais uma vez,
ela provou que minhas suposições estavam erradas e eu deveria estar
zangada com isso, mas não estou.
— Nós podemos apenas ter aulas particulares amanhã, então — diz
ela, mudando de assunto e eu viro meus olhos de volta para ela.
Instantaneamente, uma lâmpada acende na minha cabeça. Não muito
brilhante, mas um escuro que está crepitando, implorando para ser visto.
— Espere — eu digo antes que ela comece a se afastar.
Esta é uma ideia horrível; uma da qual provavelmente me
arrependerei amanhã, mas é a única opção conveniente que tenho no
momento.
— Sim? — Ela pergunta, parecendo confusa.
Eu sorrio timidamente.
— Alguma chance de você querer me ajudar com meu projeto de
arte... modelando para mim?
— Não.
Para ser justa, vi a resposta vindo a dois quilômetros de distância.
Quero dizer, esta é Adaline Emery; nada é fácil com esta pequena megera.
Tudo bem, porém, eu odeio o que vem fácil.
— Ah, vamos lá!
— Não. — Sua enunciação deliberada da palavra me irrita além da
crença.
— Olha, você pode até me ensinar logo depois! — Por mais lógica
que seja minha explicação, não posso evitar o quão chorosa minha voz soa.
— Podemos manter o foco em nossas sessões em vez de reagendar.
Ela fica em silêncio, parecendo pensativa, como se estivesse
esperando que eu continue, então eu faço exatamente isso.
— Tem uma prova chegando, você não quer que eu passe? De que
outra forma você vai enviar sua carta?
Então, não consigo me lembrar do meu projeto de arte, mas posso
lembrar que há um exame de biologia chegando? Sério, o que há de errado
comigo?
Usar a carta para conseguir o que eu quero é o que eu faço bem —
troca e suborno; manipulação no seu melhor. Então, novamente, com
Adaline, nunca é unilateral. Acho que nós duas manipulamos uma à outra à
nossa maneira.
Hesitação está em seu rosto, suas sobrancelhas grossas franzidas
enquanto ela contempla o que decidir. Esta é a sua cara pensativa habitual –
não confundir com a cara focada, que é quando ela morde o lábio inferior e
olha para o que ela está focada.
Ela suspira profundamente.
— Tudo bem.
Espere, o quê? Funcionou? Eu me alegro interiormente com o quão
chocada estou agora, mas não deixo transparecer, pois temo que isso vá
irritá-la. Não há nada que ela odeie mais do que quando eu consigo as
coisas do meu jeito.
É muito apropriado que tudo o que eu precisei fazer foi trazer a carta
dela e ela se derreteu em uma poça de total e absoluta disposição.
Eu gosto disso.
Antes que eu possa direcioná-la para uma cadeira que ela possa usar,
ela caminha para a esquerda e pega uma para si mesma. Ela faz questão de
arrastá-la pelo chão, perfurando meus ouvidos com o barulho estridente.
Claro, ela deve ser irritante. Não posso dizer muito a ela porque ela
concordou em ser minha modelo.
Ela se senta na minha frente, tirando a mochila e deixando-a cair no
chão ao lado dela, então olha para mim com expectativa.
— Então, você vai me desenhar?
Desenhar Adaline Emery por Deus sabe quantas horas? Não foi assim
que eu imaginei que seria esse dia.
— Sim. Não se preocupe, você ainda pode se mover. Este é mais um
desenho sincero de qualquer maneira.
Ela acena com a cabeça e apenas se senta; ela não se mexe um
centímetro e eu acho estranho, mas começo a desenhar mesmo assim.
Uso a mão direita para começar a desenhar um contorno e a esquerda
para borrar tudo o que acho indesejável – prefiro usar as duas mãos quando
desenho, pois gosto de estar totalmente imersa.
Enquanto continuo desenhando, não posso deixar de notar todos os
pequenos detalhes que envolvem Adaline. Suas sobrancelhas grossas e bem
desenhadas, a maneira como seu nariz de botão está arrebitado e como seu
cabelo preto está começando a crescer. Normalmente, ela o mantém na
altura dos ombros, mas claramente está ocupada demais para cortá-lo.
Suas bochechas são tão animadas que mesmo o menor movimento faz
com que suas covinhas apareçam instantaneamente. Depois tem aqueles
olhos, aqueles olhos verde jade que não consigo fazer jus, só com um
desenho. Há um redemoinho de algo lá – algo muito endurecido, mas gentil
ao mesmo tempo.
Por mais encantadora que seja sua aparência, estou tendo dificuldade
em continuar desenhando, de quão rígida ela é. Tudo o que consigo focar é
em como ela é bonita, porque ela é como uma estátua congelada.
Preciso dar um pouco de vida a ela, para que ela não pareça um robô
reprimido com medo de se mover um centímetro.
— Por que você está tão rígida? — Eu questiono, pausando meus
movimentos.
— Eu não estou — ela protesta, estreitando os olhos e uma tonalidade
rosa toma conta de suas bochechas.
— Você está, sim. É doloroso de assistir.
— Eu nunca fiz isso antes. — Ela gesticula para a tela com as mãos.
Espero que ela não tenha feito isso antes. Ninguém mais pode
desenhá-la. Ninguém.
— Qual é o seu filme favorito? — Eu pergunto abruptamente e isso
realmente leva a um movimento; seus ombros caem por um momento.
— O quê? — Ela questiona, franzindo as sobrancelhas.
— Estou ajudando você a relaxar, apenas responda a pergunta — eu
digo a ela gentilmente.
— Eu não vou satisfazer sua curiosidade — ela diz em um tom
presunçoso. Existe outro humano tão difícil?
— Por quê? Porque não há nada mais para você do que ser obcecada
por química? — Eu incito.
— Biologia — ela corrige, já parecendo chateada e eu sorrio por
dentro.
— Mesma coisa.
— Não, não é. — Finalmente, alguma emoção que posso usar para
desenhar.
— Você não está refutando meu ponto. — Eu aponto e ela parece
visivelmente irritada, talvez até um pouco envergonhada.
— Meninas Malvadas — ela diz instantaneamente, como se nem
fosse uma competição.
— Sério? — Eu pergunto, espantada.
Não é que seja um filme ruim, longe disso, na verdade só não é algo
que eu esperava da Adaline.
— É um clássico — diz ela, olhando para mim como se eu fosse uma
tolo se não pensasse o mesmo. Seus olhos estão me perguntando por que eu
não esperava sua resposta.
— Eu só esperava que você citasse algum filme de ficção científica
ou algo assim. — Eu explico em um tom divertido.
— Sem chance. Filmes de ficção científica são péssimos. — Ela
parece ofendida com minhas palavras.
Eu noto o fato de que ela está movendo as mãos e seus ombros estão
relaxando dez vezes mais. Instintivamente, minhas mãos começam a
desenhar novamente, mas não interrompo a conversa.
— Não, eles não são! — Eu retruco, ofendido. — De Volta Para O
Futuro é tecnicamente ficção científica e esses filmes não são nada ruins.
De Volta Para O Futuro é meu filme favorito de todos os tempos. Eu
poderia assistir mil vezes. Na verdade, eu realmente assisti. Lembro-me de
quando eu era criança, minha mãe costumava me proibir de assistir se eu
fosse uma pirralha petulante. Funcionou, porque a ameaça de não vê-lo
novamente me fez voltar a ser uma criança polida e educada.
— Justo. — Ela ri, claramente divertida com a minha pequena
explosão e sinto minhas mãos suando novamente.
— Comida favorita? — Eu questiono, mudando de assunto enquanto
começo a preencher os traços de seu rosto na minha tela.
— Macarrão. — Vem a sua resposta simples e como se percebesse a
minha curiosidade, acrescenta: — É simples e barato, como não gostar?
Eu sufoco aquele ataque aleatório de pena que cutuca meu peito.
Controle-se! Ela disse que gostava de macarrão porque é barato, não porque
ela mendigava comida na rua. Deus!
— Qual é o sua série favorita? — Ela me questiona aleatoriamente.
Quase caio da cadeira quando vejo que ela está perguntando seriamente,
como se estivesse interessada na minha resposta.
Ai, meu Deus! O que é essa sensação confusa no meu estômago?
Estou ficando doente? Espero que não.
— Doctor Who — eu respondo timidamente. Parece que sou mais
nerd do que ela.
— Espera, sério? — Ela questiona, meio chocada e meio animada. —
Eu amo Doctor Who.
Talvez ela tenha algumas qualidades resgatáveis.
— Sério? Quem é seu Doctor favorito? — Eu pergunto, meus olhos
piscando de Adaline para a tela.
— Dez, obviamente — ela responde.
Pare com isso. Pare de dizer coisas que estão me fazendo sorrir e me
sentir conectada a você de alguma forma.
— A única resposta certa — eu respondo, borrando o lado de seu
corpo delineado com meu polegar.
— Eu não posso acreditar que você é tão nerd — diz ela, divertida.
— Não é nerd gostar de Doctor Who — eu retruco defensivamente.
— É sim. Essa série é feita para nerds.
— Talvez eu seja um pouco nerd então.
— Só um pouco? — Ela brinca com um meio sorriso e eu sinto
minhas pernas tremerem. Graças a Deus por esta cadeira. — Quando você
recebe a nota disso? — Ela me pergunta.
— Daqui alguns meses, vale toda a minha nota.
— Você realmente ama arte, não é? — Vem seu comentário aleatório.
— Obviamente. — Eu dou de ombros, acalmando o inchaço no meu
peito quando vejo suas covinhas surgindo.
— Quem é seu artista favorito? — Ela parece genuinamente curiosa e
meu coração para por um segundo. Eu mesmo sou dramática, não sou?
— Artemísia Gentileschi.
— Não faço ideia de quem seja.
Eu rio baixinho, meus olhos focados no desenho.
— Ela era uma artista do século XVII. Minha mãe me mostrou uma
de suas pinturas quando eu era mais jovem, para me mostrar como as
mulheres podem ser fortes. — Eu desenho a curvatura do sorriso que ela
está dando no momento. — Essa força pode ser mostrada de diferentes
maneiras, como na pintura.
— Que pintura ela te mostrou? — Ela pergunta baixinho.
— Judith matando Holofernes.
Ela pega o telefone assim que as palavras saem da minha boca – só
posso presumir que pesquisou a pintura no Google. Seus olhos se abrem
maravilhados e eu sorrio para mim mesma.
— Bem, definitivamente mostra como as mulheres podem ser fortes.
— A diversão dança em seus olhos e eu rio em resposta.
Antes que eu possa responder, meu estômago decide fazer uma
pequena proeza e resmunga. Seu rosto continua o mesmo e ela nem se
mexe, então eu abro minha boca novamente para falar, mas ela resmunga
novamente, como uma espécie de monstro.
Ai, meu Deus! Eu quero rastejar para um buraco e morrer. Droga!
Isso é tão constrangedor…
— Você comeu alguma coisa hoje? — Ela pergunta em um tom que
quase soa... preocupado?
— Não, fiquei ocupada — eu digo com indiferença e continuo
desenhando, tentando me livrar do constrangimento.
No entanto, não posso continuar desenhando porque ela se levanta
abruptamente, pega sua bolsa do chão e começa a remexer nela. Eu não
digo nada; apenas observo enquanto ela tira uma banana de sua bolsa.
Ela então caminha até mim.
— Aqui, pegue isso — ela diz, me entregando a banana, mas eu não a
pego imediatamente.
— Não posso. — Balanço a cabeça e aponto para minhas mãos que
estão sujas.
Independentemente das minhas mãos sujas, não sou o maior fã de
bananas, de qualquer maneira. Então, por que o gesto dela está fazendo meu
estômago revirar? O fato de ela estar me oferecendo comida está fazendo
minha cabeça girar. Por que ela está sendo tão legal?
Ela olha para mim como se estivesse pensando muito agora, então ela
murmura baixinho.
— Idiota. — Antes que eu possa responder, ela fala novamente. —
Abra sua boca.
— O quê? — Eu engasgo quase cuspindo em resposta, mas
felizmente, eu não o faço.
Ela não reage, apenas descasca a banana e a leva aos meus lábios.
— Apenas abra.
Eu faço o que ela me diz, pela primeira vez. Minha boca se abre e ela
lentamente coloca a banana dentro. O gosto é horrível, nojento… então por
que continuo mastigando e não consigo tirar os olhos dela?
Ela olha para a minha boca enquanto me alimenta como se eu fosse
algum tipo de bebê, suas sobrancelhas desenhadas enquanto ela morde o
lábio inferior.
Quando olho em seus olhos, o sabor é diferente. De repente, é doce
como mel, fazendo minha boca salivar enquanto mastigo com reverência –
só porque ela quer que eu faça. Ela quer que eu coma, então eu vou comer.
Isto é ruim. Isso é muito ruim.

2. Acrônimo em inglês para “Science, Tecnology, Enginnering and Mathematics”, que significa
“Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática”. A Metodologia Stem/Steam visa apresentar uma
forma de aprendizagem integrada, com base em projetos e que busca a formação do indivíduo em
várias áreas do conhecimento.
Capítulo VINTE E UM
Adaline
O silêncio que envolve a sala não é desconfortável, na verdade, é
pacífico, o que é totalmente chocante, considerando que menos de quarenta
minutos atrás, eu alimentei Juliette e ela nem tentou me bater por causa
disso. Talvez não seja estranho porque eu praticamente corri de volta para o
meu lugar depois que ela terminou de comer.
Ela está me desenhando novamente agora, enquanto eu ainda estou
pensando em porque achei necessário alimentá-la. Eu apenas me senti
estranha quando ouvi seu estômago roncar; eu senti meu próprio estômago
revirar ao som disso.
Eu só sabia que tinha que garantir que ela comesse alguma coisa. Não
é como se eu pudesse deixá-la morrer de fome, porque então ela não estaria
em seu juízo perfeito para a tutoria depois de terminar o desenho.
Minhas motivações eram puramente egoístas.
Meus olhos vagam por esta sala para me distrair de pensamentos mais
tumultuosos.
Ainda fico chocada com o quão rica a família Kingston realmente é;
sua sala de arte é quase tão grande quanto minha casa inteira!
Há desenhos por todas as paredes, cavaletes por toda parte e, do lado
direito da sala, há toda uma seção dedicada ao que parece ser...cerâmica?
— Você faz cerâmica? — Eu me pego questionando-a, virando minha
cabeça para ela.
Seus olhos se fixam em mim.
— Eu costumava fazer, quando era criança.
Há algo diferente em seus olhos, algo que me faz querer saber mais,
eles estão abatidos e seu tom é rígido.
— Você não quer mais fazer? — Eu pergunto curiosamente.
— Não.
É simples; resoluto. Ela nem levanta os olhos do desenho quando
responde.
Algo mudou no ar. Antes, conversávamos casualmente, talvez até
gostando de ouvir sobre os gostos e desgostos uma da outra, o que é
chocante.
Este é provavelmente o tempo mais longo que passamos sem discutir.
Não é como se estivéssemos discutindo agora, mas ela conseguiu se
esconder em uma armadura de indiferença.
Por que eu não gosto disso?
Eu respiro fundo antes de perguntar:
— Por quê?
— Isso não é da sua conta. — Ela cospe friamente. Agora, ela parece
incomodada. Foi-se sua fachada indiferente.
Essa é a coisa sobre Juliette, ela não perde tempo com as coisas. É
sempre zero a cem com ela – sem tempo para saborear, apenas direto para a
raiva. Não há purgatório ou meio-termo, ela é como uma bomba-relógio.
— Ok, relaxe. — Eu levanto minhas mãos em defesa, ela apenas
zomba e volta a desenhar.
Sei melhor do que ninguém que não devo me intrometer quando
alguém se recusa a falar sobre algo. De qualquer forma, nem é da minha
conta, então por que estou incomodada por ela não estar me contando? Por
que o fato de ela não querer compartilhar isso comigo está cutucando meu
peito como um pingente de gelo? Talvez eu seja apenas uma pessoa
inatamente curiosa.
— Você já fez cerâmica? — Ela me questiona de repente e fico
chocada por ela continuar a falar comigo. Jekyll e Hyde não têm nada sobre
ela.
— Sempre quis — digo, suspirando —, simplesmente nunca tive
tempo. — Eu dou de ombros.
Além da escola e do trabalho, nunca tive muito tempo enquanto
crescia, especialmente depois que Adam foi para a prisão. Eu não poderia
escolher um hobby, mas tudo bem, eu não mudaria nada. Então, novamente,
às vezes me incomoda quando vejo coisas que gostaria de fazer.
Não sei por que estou contando isso a Juliette. Não tenho certeza do
que há nesta sala, mas me sinto muito confortável, como se pudesse falar
sobre qualquer coisa e isso é... perigoso.
— O que mais você queria fazer? — Sua pergunta me pega de
surpresa por um momento.
Ela parece interessada, como se realmente quisesse saber e isso faz
meu peito se apertar, tão apertado que não sei como estou realmente
respirando no momento. Eu afasto o sentimento estranho e respondo a sua
pergunta.
— Sempre achei que aprender a tocar piano seria legal — admito,
abaixando um pouco a cabeça.
Ela levanta as sobrancelhas para mim como se estivesse satisfeita
com a minha resposta. Não sei como ela está olhando para mim e
desenhando ao mesmo tempo, mas ela está conseguindo fazer isso
perfeitamente.
— É fácil depois que você pega o jeito — diz ela distraidamente,
ainda desenhando.
— Você toca? — Eu pergunto, espantada.
Claro que ela toca. Existe alguma coisa que ela não pode fazer? Acho
que passar em biologia seria algo bom, mas ela está pegando o jeito
também.
Ela acena com a cabeça.
— Sim, Kai me ensinou. — Ela sorri com carinho quando menciona o
nome dele.
Eu aceno em resposta e suspiro. Parte de mim quer perguntar se ela
pode me ensinar, mas afasto o pensamento da cabeça com a mesma rapidez
com que surge.
O que há de errado comigo? Passamos uns quarenta minutos sem
discutir e de repente, quero que ela me ensine a tocar piano?
O que está acontecendo comigo?
— Eu costumava fazer isso com meu pai — ela diz de repente,
tirando-me dos meus pensamentos.
— O quê? — Eu murmuro, confusa.
Ela parece meio atordoada e congelada ao mesmo tempo, como se
estivesse pensando profundamente sobre uma memória passada ou apenas
se desassociando. Nunca a vi assim; ela parece tão vulnerável.
— Cerâmica. Eu fazia muito isso com meu pai — repete, suspirando.
— Não é mais algo que eu gosto de fazer.
Meu coração aperta com suas palavras e mais com a pequena carranca
que ela está tentando suprimir. Acho que nunca a ouvi soar tão vulnerável.
Não sou boa em confortar as pessoas, mas quero confortá-la e não sei
por quê. Independentemente disso, eu não deveria… não posso. Então, vou
fazer isso da maneira mais lógica; é nisso que sou boa.
— Você é boa na cerâmica?
Ela franze as sobrancelhas.
— Sim?
— Então não deixe que ele tire isso de você — eu digo baixinho,
como se estivesse expirando as palavras.
Ela me encara com um olhar indescritível naqueles olhos azuis
deslumbrantes. O que eu disse provavelmente não foi a coisa certa, mas não
sei mais o que dizer. Na verdade, não falamos direito sobre o pai dela desde
que a mãe dela divulgou o que ele fez.
Eu odeio o pai dela; nunca conheci o homem, mas depois do que
ouvi, é claro que o odeio.
Ele traiu, bateu na esposa e deixou a família para trás. Isso não é um
homem, é um covarde que merece o inferno criado sobre ele. Ela não deve
parar de fazer algo porque isso a lembra dele. Ela não deveria deixá-lo
manchar suas memórias.
Enquanto espero ela responder, ela faz algo inesperado... ela sorri. É
torto e cheio de humildade, como se ela quisesse esconder que está sorrindo
de algo que eu disse.
De repente, sinto que minha cabeça está girando e minhas pernas
estão bambas.
— Este é o maior tempo que passamos sem brigar, sabia? — Ela
muda de assunto, seu olhar indo e voltando do desenho para mim.
Esta é a maneira dela de me agradecer pelo que eu disse sem
realmente me agradecer. Então, naturalmente, vou jogar junto com ela.
— Eu sei, alguém deveria verificar.
— Verificar o quê?
— Se o inferno congelou.
Ela morde a parte interna da bochecha e posso vê-la segurando uma
risadinha. Eu apenas sorrio em resposta enquanto ela balança a cabeça.
Tum. Tum. Tum.
Pare. Pare com isso.
Meu cérebro entoa a mensagem para frente e para trás em meu
coração, tentando parar a ferocidade da batida que está machucando meu
peito agora.
Ela morde o lábio e me pego cravando minhas unhas na minha coxa
em resposta.
— Eu terminei — diz ela. Eu arqueio minhas sobrancelhas, confusa,
até que ela fala novamente. — Terminei de desenhar você — ela esclarece.
— Já? — As palavras saem da minha boca antes que eu possa contê-
las e sinto o calor subir ao meu rosto.
Por que pareço desapontada?
Eu ignoro o olhar presunçoso e quase tímido em seu rosto e limpo
minha garganta.
— Posso ver?
— Sim, venha aqui.
Imediatamente, eu me levanto e caminho em direção a ela. Enquanto
caminho até onde ela está, sou envolvida pelo cheiro de baunilha e tinta
acrílica e não o desprezo, nem por um segundo.
Eu ignoro o quão perto estou ao lado dela e direciono meu olhar para
a tela... Estou sem palavras.
Deveria ser familiar, afinal, sou eu, sentada exatamente na mesma
cadeira e vestindo exatamente o mesmo uniforme. Cada partícula de detalhe
é pronunciada e assustadoramente precisa. Ela até desenhou os arrepios nos
meus braços.
Esta é outra pessoa, alguém etéreo e cru.
Eu não sabia que a arte podia ser tão real, como olhar para uma foto
— não, isso não faz justiça. Eu sabia que Juliette era talentosa, isso é óbvio,
mas ter esse talento direcionado a mim? É incrível.
Eu tomo uma respiração profunda e trêmula.
— Juliette essa é…
— Sim, eu sei, é um trabalho em andamento…
— O que? Você é cega? — Eu digo sem fôlego, meus olhos ainda na
pintura. — Isto está perfeito. Os detalhes disso são impecáveis. Você é
talentosa para caralho. Isso é lindo.
Sinto seus olhos fixos em mim, mas não olho em sua direção, não
enquanto esta pintura me arrebatou em todos os sentidos da palavra.
— Bem, é você — ela responde em um sussurro suave.
— Bem, acho que sou bonita então — eu respondo meio brincando,
ignorando os arrepios que suas palavras me deram.
Quer dizer, sim, eu sei que sou atraente. Não sou cega nem pretendo
ser modesta. No entanto, a pessoa nesta pintura é mais do que isso e não
posso acreditar que alguém que me odeia me desenhou assim.
— Você é linda — Juliette sussurra, tirando-me do meu transe.
Como se meu corpo estivesse no piloto automático, eu quase
instantaneamente me viro para olhar para ela, apenas para perceber que
nossos rostos estão a centímetros de distância. Se eu caísse agora, sentaria
no colo dela, já que a cadeira dela está quase diretamente abaixo de mim.
Ela me acha bonita.
Engulo em seco enquanto olho em seus olhos; suas pupilas
triplicaram de tamanho. Antes que eu perceba, ela está se levantando
cuidadosamente devagar.
Juliette está se elevando sobre mim e ela está colocando uma mecha
de cabelo atrás da minha orelha. Ela se inclina, seus lábios encontrando o
lado da minha orelha enquanto ela sussurra:
— Sinto muito se alguma vez fiz você se sentir como se não fosse.
Sinto meus joelhos dobrarem com seus sussurros suaves e também
com o fato de que ela está realmente se desculpando por alguma coisa.
Como meninas, a insegurança está fortemente entrelaçada em nossas
vidas desde o nascimento até a morte. Carregamos esse peso que é passado
de geração em geração. Eu também sou uma vítima disso, como tenho
certeza que ela provavelmente também é.
Embora Juliette não tenha causado nenhuma insegurança específica
para mim, ela alimentou algumas delas. Ela fez inúmeras críticas à minha
aparência e, quando cresci, percebi que eram infundadas. No entanto, isso
não fez doer menos.
— Pedir desculpas não resolve. — Eu suspiro profundamente, ainda
sentindo seus lábios na concha da minha orelha.
Ela se afasta lentamente e pressiona a testa contra a minha.
— Será que isso resolve?
Ela se inclina lentamente, como se esperasse que eu me afastasse, mas
não me afasto. Na verdade, eu me inclino com tanto vigor quanto ela.
Seus lábios encontram os meus, de boca aberta e macios. É diferente
do nosso primeiro beijo; é igualmente apaixonado, mas é mais gentil.
Parece que os anjos moldaram nossos lábios um para o outro, como se ela
estivesse respirando vida pura em mim e eu não posso deixar de responder.
Minhas mãos se movem para seu rosto, segurando suas bochechas
macias e sinto as dela vagando pelas minhas costas. Eu a puxo para mais
perto e a beijo com reverência como se estivesse no corredor da morte e ela
fosse minha última refeição, lenta e controladamente, mas ainda ansiando
por mais.
Eu me sinto tão segura dentro deste beijo, como se eu pudesse
desmoronar em um vazio do nada e ela fosse estar lá para me abraçar.
Até que ouço um barulho – não tenho certeza se é o gemido dela ou
sou eu, mas instantaneamente, isso me traz de volta à realidade. Eu me
afasto dela como se ácido puro tivesse queimado minha pele.
Ela parece deslumbrada e confusa. Eu não posso nem dignificar sua
aparência com uma resposta.
Ai, meu Deus. Ai, meu Deus.
Instantaneamente, percebo que estou cometendo um erro, estou
beijando Juliette... de novo!
— Merda! — Eu exclamo, olhando para seus lábios novamente.
Enquanto olho, percebo que preciso sair daqui.
— Adaline…
— Eu tenho que ir. — Eu a interrompo rapidamente enquanto volto
para a cadeira e pego minha bolsa.
Diga algo! Me impeça de ir! Minha mente está cheia de pensamentos,
mas eu os ignoro.
— Que tal me dar aulas…
— Amanhã! — Eu a interrompi novamente, correndo em direção à
porta e saindo de lá.
Eu faço meu caminho para fora de sua casa, ignorando os olhares
curiosos que suas empregadas estão enviando para mim. Assim que saio,
agarro meus joelhos e me inclino como se estivesse tentando recuperar o
fôlego.
Claro, estou tentando recuperá-lo porque aquele diabinho sugou tudo
de mim com seus lábios macios e mãos gentis! Juro que poderia desmaiar
agora com essa pressão latejante que está destruindo minha mente e meu
coração.
Ando em direção a minha moto e coloco uma perna sobre ela,
sentando. Eu preciso sair daqui; não posso mais ficar perto de Juliette ou
vou voltar para dentro e beijá-la de novo, sem sentido.
Antes que eu possa colocar meu capacete, meu telefone toca no meu
bolso. Olho e vejo que tenho uma mensagem. Eu instantaneamente sei
quem é e aperto minha mandíbula em resposta. O que? Já se passaram dois
minutos desde que saí da casa dela.
Pelo menos salve o meu número.
Ok.
Cria de Satanás:
É a Juliette, aliás.
Sim, eu percebi isso.
Algo me diz que as coisas estão prestes a mudar, só não tenho certeza
se é para melhor ou para pior.
Capítulo VINTE E DOIS
Juliette
Ruína da minha existência:
Sessão de tutoria em 20 minutos.
Ok.
Quando pedi a Adaline para me lembrar por mensagem de texto na
próxima vez que tivéssemos uma sessão, não quis dizer vinte minutos antes.
É tão bobo que eu tenho o número dela há anos e esta é uma das
primeiras vezes que trocamos mensagens. Acho que nunca tive um motivo
para enviar uma mensagem de texto para ela antes ou vice-versa.
Então, novamente, eu também não tinha um motivo para beijá-la
ontem, mas ainda consegui fazer isso. Um beijo eu poderia atribuir à
estupidez, mas dois? Nem eu consigo explicar isso, ainda mais quando o
beijo foi tão inesquecível; tão terno, como se estivesse nos braços de um
anjo.
Calma, o quê? Foi apenas um bom beijo. Apenas um beijo, não um
evento que mudou a vida – isso é ridículo.
Não sei o que há de errado comigo. O que está acontecendo comigo?
Primeiro, digo a ela que nosso beijo foi um erro, depois a beijo novamente.
Sinto que estou ficando clinicamente insana.
Tudo o que sei é que a necessidade de beijá-la está viva e está em
meus ossos implorando para ser despertada; para ser solta sobre ela para
que eu possa satisfazer minha fome insaciável.
— E quanto a isso? — Kai pergunta tirando-me dos meus
pensamentos. Ele está segurando minha jaqueta de couro vermelha e
erguendo as sobrancelhas. Desligo o telefone e inspeciono as roupas,
minhas roupas.
Ele faz isso com frequência; vem e rouba minhas jaquetas. Ele diz
que tenho roupas melhores, mas, na verdade, tenho um gosto muito melhor.
No entanto, desta vez é realmente muito diferente, ele está escolhendo
roupas para seu encontro com Victoria hoje.
Finalmente! Demorou apenas cinco anos e ele conseguiu um encontro
com a garota dos seus sonhos.
— Ótimo, combina com o seu cabelo — eu digo a ele fazendo um
falso beijo de chef.
Ele sorri brilhantemente antes de colocar a jaqueta e se olhar no
espelho. Ele mexe no cabelo enquanto faz isso, com as mãos tremendo e a
respiração pesada.
— Você está ótimo — eu digo a ele gentilmente, meu rosto
descansando em minhas palmas enquanto eu deito de bruços na minha
cama.
Ele realmente está. Seu cabelo está bagunçado, mas no estilo de um
astro do rock. Ele está vestindo uma regata preta e seu jeans preto rasgado
da sorte — a roupa perfeita para onde ele a está levando; seu bar de música
favorito.
— Espero que ela pense isso também — diz ele, coçando a nuca
enquanto se vira para mim.
Honestamente, quando ele me ligou na noite da festa e me disse que
tinha beijado Victoria, eu não pude acreditar. Ele me contou tudo sobre
como ela o encontrou tirando uma soneca em um dos quartos e
simplesmente começou a lhe dar água e deixá-lo sóbrio — embora ela
também estivesse bastante bêbada. Então eles foram expulsos e acho que
começaram a conversar e então apenas... se beijaram. Ele até me contou
como eles encontraram Adaline e eu teria pago um bom dinheiro para ver a
reação dela a toda aquela provação.
Kai me dizendo isso me lembrou que eu nem contei a ele sobre como
Adaline e eu nos beijamos... duas vezes.
Não posso contar a ninguém porque senão seria real e não posso
permitir isso. Especialmente a Kai, porque ele se deleitará com isso.
Normalmente eu conto tudo a ele, então é muito difícil esconder um
segredo como esse dele.
— Ela vai. — Eu o asseguro.
— Eu não sei — ele suspira, sentando-se na minha cama. — Ela disse
que o beijo foi um erro, mas estou confuso porque ela me convidou para
sair.
Eu franzo minhas sobrancelhas.
— Isso é bem aleatório. Por que ela diria isso?
Sério? Por que ela diria algo assim sem ser provocada? É óbvio para
qualquer um que ela claramente gosta dele, talvez não tanto quanto ele
gosta dela, mas ela ainda sente algo por ele. Então, de que adianta negar?
Ele dá de ombros.
— Porque eu a pedi em namoro.
Ah, é por isso.
— O quê?! Já? — Eu pergunto em voz alta, meus olhos saltando das
órbitas.
Esse garoto está falando sério? Sim, ele está apaixonado por ela há
anos, mas eles literalmente acabaram de se beijar pela primeira vez, sem
mencionar que ela provavelmente está apavorada com o quão forte ele está
chegando.
Ele parece surpreso com a minha pergunta, então falo de novo, um
pouco mais suave desta vez.
— Talvez ela tenha se assustado e dito que foi um erro porque você
estava indo rápido demais.
— Sim, foi o que Aryan disse. — Ele concorda com a cabeça e
suspira profundamente.
Eu arqueio uma sobrancelha.
— Aryan Oberoi? Desde quando você fala com ele?
— Desde a festa. Eu o vi derrotar as garotas de hóquei no jogo de
bebida, então pedi dicas. Estamos conversando desde então.
— Então, vocês são, tipo, amigos agora? — Eu questiono, confusa.
— Sempre fomos muito amigáveis, mas sim, acho que agora somos
realmente amigos — diz ele, ajeitando o cabelo no espelho novamente.
Uau. Ok. Então ele não só vai a um encontro com Victoria, mas agora
ele também é amigo de Aryan. Ele está lentamente se misturando ao grupo
de amigos de Adaline e não sei como me sentir sobre isso.
E se ele se tornar amigo de Adaline? E se ele perceber o que está
acontecendo entre nós?
Minha cabeça dói.
— O que devo fazer sobre o que Victoria disse? — Ele muda de
assunto, quase choramingando.
— Nada. Apenas aproveite o seu encontro. Não é como se você
tivesse que confessar seu amor eterno por ela. Tenha um pouco de orgulho
— eu digo meio brincando e meio sério.
Não consigo imaginar como seria ser Kai, usar seu coração na manga
sem vergonha. Sinto minhas entranhas revirarem com o fato de que ele é tão
ousado e corajoso e não vê nada de errado nisso. Na verdade, ele se diverte
com isso.
Ele zomba, rindo.
— Orgulho? Por que preciso de orgulho quando a vida é tão curta?
Eu dou a ele um olhar inexpressivo por ser tão dramático, mas ele se
levanta abruptamente e me puxa pelas mãos para que eu fique de pé com
ele.
Ele coloca as mãos nos meus ombros.
— A vida é muito curta para não ser honesto sobre como você se
sente. Eu amo estar perto de Victoria, então vou continuar fazendo isso,
porque por qual razão eu me privaria de algo que claramente gosto?
Ele está olhando profundamente em meus olhos como se estivesse
tentando me enviar uma mensagem mental que eu não estou
compreendendo. Tudo o que sei é que suas palavras estão queimando minha
pele, enviando tremores por cada centímetro do meu corpo.
Ele é tão despreocupado e leve por estar apaixonado por ela.
A vida é muito curta.
— Você é tão brega — eu brinco, tirando as mãos dele de cima de
mim para que eu possa esconder o calor no meu pescoço.
Funciona, porque instantaneamente, ele ri e apenas suspira
sonhadoramente.
— Sim, eu sou. — Ele olha para o relógio e diz: — Preciso ir agora
ou vou me atrasar.
— Vamos — eu digo, caminhando em direção à porta do meu quarto
e abrindo para ele. Ele sai correndo primeiro, depois eu o sigo.
Desço as escadas enquanto ele caminha vigorosamente e posso sentir
a excitação irradiando de seu corpo; ele está praticamente quicando com
energia. Ele provavelmente leva dois segundos para chegar à porta da frente
— é o quão rápido ele está andando.
Ele abre a porta primeiro e eu quase tropeço quando vejo Adaline
parada bem na frente da minha porta, com o punho levantado como se
estivesse prestes a bater.
— Oi, Adaline! — Kai diz alegremente. — Você está aqui para ser
tutora dessa daqui, certo? — Ele aponta a cabeça para mim.
Ela acena sem jeito, evitando contato visual comigo e focando em
Kai.
— Sim. Você vai ao seu encontro com Victoria hoje, certo?
— Sim. — Ele sorri brilhantemente e eu reprimo o desejo de
bagunçar seu cabelo por ser tão adorável.
Adaline sorri, mas não é o sorriso sarcástico de sempre, em vez disso,
ela inclina a cabeça para o lado e lança um sorriso perverso para meu
melhor amigo. Eu já sei o que está por vir, quero dizer, é o que toda garota
faz por sua melhor amiga.
Ela entra na minha casa sem nenhum convite, se aproximando de Kai
que se afasta instintivamente.
— Você sabe que estou estudando para ser cirurgiã, certo?
Ele balança a cabeça lentamente.
— Sim?
Claro que ele sabe, acho que qualquer um em um raio de oito
quilômetros saberia disso, considerando que ela nunca se cala sobre isso.
Seria cativante se não fosse ela a fazê-lo.
Reviro os olhos, mas uma parte de mim está curiosa para ver onde ela
quer chegar com isso.
— Isso significa que sou muito versada quando se trata do corpo
humano… — ela enfia o dedo no peito dele levemente — então, eu sei
exatamente onde tocar em você para realmente doer.
Eu reprimo uma risada de quão nervoso Kai parece agora. Sei que ele
é meu melhor amigo e que deveria protegê-lo, mas ele é um menino grande
e estou gostando muito desse pequeno espetáculo.
— Tenho certeza que sim. — Ele ri trêmulo.
Ela sorri, ameaçadoramente.
— Então, você precisa garantir que Victoria se divirta muito com
você neste encontro, porque se ela não se divertir, você entenderá muito
bem minhas habilidades cirúrgicas.
— Cl-claro. V-você não precisa se preocupar; eu vou cuidar
completamente dela. Quero dizer, ela pode cuidar de si mesma, mas…
— Aproveite seu encontro, Kai. — Ela o interrompe e seu sorriso
mudou completamente; está mais brilhante, a ameaça se foi, pois foi
substituída por diversão.
Ela realmente é o diabo, não é?
— Graças a Deus — ele murmura baixinho antes de se virar para
mim. — Te ligo mais tarde.
Concordo com a cabeça e o puxo para um abraço rápido.
— Não fique nervoso, vá devagar, ok? — Eu sussurro em seu ouvido
encorajadoramente.
Ele sorri e me dá um beijo rápido na bochecha antes de sair correndo,
evitando o contato visual com Adaline. Ela realmente o aterrorizou.
— Isso foi cruel — eu digo, divertida enquanto fecho a porta da
frente.
Estou testando um pouco as águas, para ver se ela vai trazer o beijo à
tona ou agir diferente comigo. Até agora, ela evitou contato visual, então
aposto que ela está pensando no beijo; aposto que ela está se divertindo com
a sensação boa…
Ela dá de ombros, meio sorrindo.
— Eu preciso deixar as coisas claras para ele.
Eu congelo um pouco com seu tom tímido e o jeito que ela está
finalmente olhando nos meus olhos. Ela não parece mais estranha.
Por que ela não está me bombardeando sobre o beijo? Primeiro, ela
sai correndo depois do beijo e agora, está agindo como se nada tivesse
acontecido?
Talvez seja o melhor. Quero dizer, se agirmos normalmente, isso
significa, tecnicamente, que nunca aconteceu, certo?
— Você percebe que para machucá-lo, você teria que passar por mim
primeiro? — Eu digo, cruzando os braços sobre o peito, meio sorrindo.
Eu posso fazer isso; podemos fazer isso — voltar ao normal ou o que
quer que seja normal para nós.
Ela ri presunçosamente.
— Juliette, eu poderia passar por você no meu pior dia.
Eu levanto minhas sobrancelhas.
— Considerando que eu jogo garotas com o dobro do seu tamanho no
ar na maioria dos dias, enquanto você despreza qualquer tipo de atividade
física... duvido muito disso.
Sem mencionar que sou alguns centímetros mais alta que ela. Ela está
em uma forma espetacular, mas isso não significa que ela poderia lutar
contra mim, ela poderia tentar, mas duvido muito que ela conseguiria.
Ela literalmente disse uma vez que não podia participar da aula de
educação física porque não acredita em atividade física forçada e que isso
“vai contra seus direitos”.
Para ser justa, sua desculpa funcionou, principalmente porque o Sr.
Smith estava cansado dela não fazer absolutamente nada durante as aulas.
— Não desprezo toda atividade física — diz ela, com a voz mais
baixa, quase provocativa.
Sinto meus joelhos dobrarem com suas palavras e um calor subindo
pelo meu pescoço, mas antes que eu possa responder, ela está subindo
minhas escadas. Ainda bem que ela não me deixou responder porque acho
que eu não seria capaz.
Eu balanço minha cabeça com esses pensamentos e subo as escadas.
Quando entro no meu quarto, ela já se acomodou sentada na minha cadeira
giratória com o caderno nas mãos.
— Então, com o que vamos começar? — Eu questiono, sentando na
minha cama, de frente para ela. Pego minha bolsa no chão e pego meu
próprio caderno e caneta, pronta para aprender de verdade.
— Seu exame está chegando, então eu revi alguns trabalhos anteriores
e acho que eles vão repetir a seção de evolução. Esse é um dos tópicos que
não abordamos em detalhes, então vamos trabalhar nisso um pouco — ela
diz, mas meus olhos estão focados no jeito que ela está mordendo a ponta
da caneta.
Saia dessa, Juliette.
Preciso me concentrar nos estudos, preciso tirar nota máxima neste
teste, então o que quer que esteja passando pela minha cabeça terá que
esperar pela próxima hora.
— Você sabe o que é evolução? — Ela me pergunta enquanto escreve
em seu caderno.
— Um pouco. Foi quando passamos de macacos para humanos?
— Essencialmente, mas você será questionada sobre a teoria da
evolução. Você sabe o que é isso?
— Bem, você colocou no fichário, algo sobre... seleção natural? —
Eu pergunto em vez de dizer enquanto escrevo “evolução” como um
cabeçalho na minha página.
Ela dá um meio sorriso e não sei por quê.
— Sim, você sabe o que é seleção natural?
— Não —, eu digo, balançando a cabeça e mexendo na minha caneta.
— Ok, é isso que eu vou te ensinar hoje então. — Seu tom gentil me
alivia quando eu nem percebi que precisava de alívio.
Pelo amor de Deus.

***

Quarenta minutos, duas mini pausas e três páginas de anotações


depois, finalmente entendo a teoria da evolução; palmas para a minha
tutora.
No começo, eu estava pronta para arrancar o cabelo dela, mas ela
realmente explicou em detalhes vívidos com o passar do tempo.
Sempre que temos uma sessão de tutoria, me sinto uma espécie de
cientista, por mais ridículo que pareça. Ela não me faz sentir estúpida por
não saber certas coisas, ao invés disso, ela insiste que eu diga a ela se eu
não entender alguma coisa. Ela deve ter sido uma professora incrível em
sua vida passada ou algo assim.
Adaline realmente deve se importar com aquela carta de
recomendação para fazer tudo isso; sentar aqui e me tolerar sem me
repreender e depois ter que me ensinar?
Por outro lado, estou tolerando ela também, só para que minha mãe
não me mate e eu possa continuar treinando o time pelo resto do ano.
Não importa que tenhamos terminado nosso torneio final, preciso
preparar as novatas para o próximo ano, quando não estiver por perto.
— Antes de ir, precisamos fazer um mini teste sobre as anotações que
enviei para você. Você as memorizou? — Ela questiona, pescando
flashcards de sua mochila.
Ah. Não.
Em minha defesa, tenho estado muito ocupada com o treino de
torcida e pensando no fato de que beijei a garota que mais odeio neste
mundo.
— Não — eu digo timidamente coçando a parte de trás da minha
cabeça.
Ela franze as sobrancelhas e franze a testa.
— Eu te enviei isso uma semana atrás.
— Tenho estado ocupada — retruco, começando a sentir a irritação
crescendo.
— Isso não é motivo o suficiente. Você quer ser expulsa do time?
— Não.
— Então, quando eu enviar algo para você, não evite só porque você
está ocupada — ela me diz severamente.
Eu cerro meus punhos com força e bufo alto. Ela é uma hipócrita
terrível. Dizendo-me para não evitar as coisas, como ela não está evitando o
que aconteceu entre nós ontem.
Enquanto ela estava me ensinando, eu estava distraída, mas agora
suas palavras estão me dando nos nervos.
Reviro os olhos.
— Ok, mãe.
— Você é tão criança. — Ela zomba, estreitando os olhos.
— Você está apenas sendo dramática, eu posso ler essas anotações
quando quiser, o que são, tipo duas páginas? Eu poderia fazer isso
dormindo...
— Tente dez páginas. — Ela me interrompe.
— Dez páginas?! Para quê?
O que ela está escrevendo? Uma pequena história? Dez páginas!
— É genética; é muito para estudar. — Ela encolhe os ombros.
— Parece chato — eu digo em um tom desinteressado, recostando-me
nas palmas das mãos.
Talvez eu esteja tentando provocá-la, talvez eu queira que ela fique
irritada com o quão indiferente eu estou sendo, para que ela possa entender
como eu me sinto. Independentemente disso, está funcionando. Seu peito
está arfando ligeiramente e ela está apertando a mandíbula com força.
Estou incomodando ela.
— Isso é importante, Juliette. — Ela range as palavras.
— Ainda parece chato, Adaline — eu retruco, fingindo bocejar, o que
acidentalmente provoca um bocejo real. Isso claramente a desencadeia.
Ela se levanta abruptamente, com as mãos nos quadris enquanto olha
para mim.
— Por que você está sendo tão difícil?!
Eu? Sou eu que estou sendo difícil? Ah, não, ela não pode fazer isso,
nem por um segundo. Estou feliz por termos tirado as aulas particulares do
caminho, porque agora tudo o que está passando pela minha cabeça é
confrontá-la sem nenhuma interrupção.
Levanto-me, espelhando suas ações e agora estamos a centímetros de
distância uma da outra.
— Sou eu que estou sendo difícil?
— Sim…
— Não sou eu que estou evitando o fato de que nos beijamos ontem!
— Eu congelo quando as palavras saem da minha boca e claramente, ela
também.
É quase risível a rapidez com que a vermelhidão toma conta de suas
bochechas, mas não consigo rir, não quando minha própria voz está presa
na minha garganta.
— O quê? — Ela profere sem fôlego, seus olhos perfurando
profundamente os meus.
— V-você me ouviu — eu retruco, fechando meus punhos para
impedir que minhas mãos tremam.
Pareço ridícula, como uma garota desesperada, mas não consigo
controlar as palavras que saem da minha boca mais do que posso controlar
como meu corpo reage ao ter Adaline tão perto.
Arrepios. Aquecida. Pura agonia.
— Eu deveria estar ensinando você, Juliette, não repetindo o nosso
beijo — diz ela irritada, passando a mão pelo cabelo preto.
— Então, você se lembra? — Eu digo, zombando.
— Ai, meu Deus! — Ela geme alto. — O que há de errado com
você?!
Ela está mesmo me perguntando isso? Como ela pode não dizer que
ela é o problema? Ela está me evitando e o fato de eu nunca saber o que ela
está pensando.
Ela é tão boa nessa fachada que se tornou parte dela, como se ela
fosse uma espécie de estátua arrogante e eu odeio estar tentando quebrá-la.
Por que eu me importo?
— Você! — Eu grito estrondosamente. — Você é o que há de errado
comigo!
Nossos rostos estão a centímetros de distância e ambas respiramos
pesadamente no espaço uma da outra. Eu luto contra o desejo de respirar
seu perfume de lavanda e cerejas.
Suas pupilas se dilatam com a minha explosão, mas ela não se mexe
nem um centímetro.
— Eu? — Sua voz sai calma, quase como um sussurro, mas ainda
sarcástica ao mesmo tempo.
— Sim, você! — Eu me aproximo dela e ela instintivamente se afasta,
suas costas batendo na minha parede enquanto eu me elevo sobre ela.
Eu não paro de falar.
— Do jeito que você evita tudo ao seu redor e finge que nada te
afeta…
— Porque não me afeta. — Ela me interrompe, sua voz desafiadora,
mas sua estatura pequena.
— Ah, é? — Eu pergunto, deixando meu tom mais baixo e ela acena
com a cabeça.
Minhas mãos sobem por cima de seus ombros, pressionando contra a
parede. Eu sinto sua respiração engatar quando eu me inclino contra a
concha de sua orelha.
— Então, eu não afeto você?
— Não — ela diz trêmula e parte de mim quer continuar, torturá-la,
porque eu sei o quanto a estou incomodando agora.
Eu simplesmente não posso, não quando ela está dizendo não e sendo
tão inflexível. Com ela e eu, tudo é um jogo, mas quando se trata de estar
perto dela assim, não posso mais jogar.
Eu lentamente movo minha cabeça para trás, então estou de frente
para ela novamente e volto minhas mãos para a lateral do meu corpo.
— Ok — eu digo com uma respiração pesada.
Eu me viro, ou pelo menos tento, até sentir que estou sendo virada de
volta e um par de lábios quentes está envolvendo os meus. Meu corpo reage
antes da minha mente e eu imediatamente a beijo de volta. Como eu não
poderia?
Sua mão se move para o meu pescoço, segurando a parte de trás dele
e a minha se move para a cintura dela. Eu a puxo impossivelmente para
mais perto de mim enquanto sinto sua língua mergulhando em minha boca e
eu luto com a minha. Nuvens de desejo e excitação pura e não adulterada
sacodem meus ossos.
Por que eu me privaria de algo que claramente gosto?
Eu posso provar seu ChapStick de melancia e isso só está me
estimulando ainda mais. Ela deve sentir o mesmo porque me sinto presa à
parede e gemo contra sua boca.
Eu posso senti-la sorrindo através de seus beijos e é a coisa mais
quente de todas.
— Isso não significa que eu goste de garotas — murmuro contra seus
lábios, minhas unhas cravando em sua cintura enquanto a beijo com mais
força.
— Isso não significa que eu gosto de você — ela retruca contra meus
lábios.
Sim, eu odeio Adaline Emery e poderia odiá-la pelo resto da minha
vida, mas isso nunca vai enterrar o desejo que tenho de beijá-la toda vez
que a vejo.
Capítulo VINTE E TRÊS
Adaline
Como estou aqui de novo? Beijando Juliette Kingston e me
divertindo... não, na verdade estou me deliciando com isso – em toda a
glória de suas mãos vagando pelo meu corpo e as minhas emaranhadas em
seus cabelos dourados.
Não posso mais negar isso; eu gosto de beijar Juliette. Isso não
significa que eu gosto dela, apenas gosto de seus lábios… seus lábios
macios que estão machucando os meus agora.
— Eu não gosto de você — ela murmura e então separa seus lábios
dos meus. Eu quero reclamar, mas antes que eu possa, ela os prendeu no
meu pescoço.
Ah, Deus.
— Você só gosta de me beijar — eu retruco, meio zombando, meio
gemendo.
Ela é tão boa nisso, mordiscando meu pescoço como se quisesse me
devorar e agindo como se estivesse com sede por décadas e finalmente
estivesse bebendo.
Seus lábios e dentes estão roçando cada centímetro do meu pescoço e
sua outra mão está no meu cabelo.
— Exatamente — ela murmura contra o meu pescoço e eu posso
senti-la sorrindo para ele. — Ninguém pode saber sobre isso.
Seu aviso não é escutado, pois estou muito ocupada apreciando a
sensação de seus lábios enquanto ela os arrasta contra minha clavícula. No
entanto, a parte do meu cérebro que ouve envia uma pontada no meu peito;
é pequena e não pronunciada, mas ainda está lá.
Não sei por quê.
— Ninguém — eu concordo, puxando-a para longe do meu pescoço e
prendendo meus lábios nos dela. — Isso é puramente físico.
Ela cantarola no beijo.
— Sem amarras.
Este é o meu cenário perfeito, algo que fiz a maior parte da minha
vida de qualquer maneira, então por que suas palavras me deixam em uma
espécie de frenesi? Não tenho certeza, tudo que sei é que um caso “sem
compromisso” funciona para mim e sempre funcionou. Eu nunca poderia
me prender, especialmente com alguém como Juliette.
Afinal, eu a odeio.
— Sem compromisso — eu respondo prontamente, segurando sua
nuca e puxando-a mais para dentro de mim.
Deus, ela tem o mesmo gosto que seu cheiro: baunilha. Não do tipo
forte, mas do fraco que dá água na boca.
Eu já beijei muitas pessoas antes, mas isso? Beijar Juliette é como
respirar fundo depois de ficar muito tempo submersa na água.
Achei que nada seria melhor do que nosso primeiro beijo, mas ela
provou que eu estava errada.
Minhas mãos percorrem seu corpo enquanto ela chupa e morde meu
pescoço. Para uma garota hétero, ela é muito boa em fazer meu corpo doer
de prazer.
Sinto suas mãos se movendo em direção à minha jaqueta, lentamente
tentando tirá-la dos meus ombros e antes que eu possa ajudá-la, meu
telefone toca.
— Ignore — ela sussurra em minha boca e eu não preciso ouvir duas
vezes, especialmente quando ela tira minha jaqueta e a joga no chão como
se estivesse muito faminta por mim agora.
Então meu telefone toca novamente — na verdade, continua tocando
pelo próximo minuto. Ela geme no meio do beijo e eu me vejo,
infelizmente, deixando seus lábios, tendo que afastá-la levemente.
— Um minuto. — Eu prometo a ela, achando difícil desviar o olhar
de seus lindos lábios machucados. Eu pesco meu telefone no bolso de trás e
na palma da mão quando vejo todas as mensagens.
É Adam, ele está quase me assediando porque eu deveria estar em
casa agora fazendo uma degustação de bolo com ele e sua noiva. Pelo amor
de Deus!
Se eu não aparecer, ele saberá que algo está acontecendo – ele sabe o
quanto eu amo bolo – então ele provavelmente enviará uma equipe de busca
ou algo assim. Ele é muito dramático.
Eu suspiro alto.
— Eu tenho que ir.
Juliette franze as sobrancelhas.
— O quê? Por quê?! — Eu ignoro o quão carente seu tom é e
claramente ela está surpresa com isso porque o calor corre para suas
bochechas e eu tenho que desviar o olhar.
Pare de ser tão fofa Juliette.
— Eu prometi a Adam que apareceria para uma degustação de bolo
de casamento — eu digo a ela passando a mão pelo meu cabelo.
Eu provavelmente pareço tão desgrenhada agora. Não é minha culpa,
porém, Juliette estava praticamente me atacando o tempo todo. Não que eu
me importe; eu gosto das minhas garotas rudes.
— Adam vai se casar? — Ela questiona curiosa e chocada ao mesmo
tempo. Há algo em seu tom, algo que não consigo decifrar. Parece que ela
está um pouco chateada por não ter sido informada sobre essa notícia, mas
certamente não pode ser isso. Por que ela se importaria com isso?
— Sim, em alguns meses — eu digo, balançando a cabeça e ela acena
de volta.
De repente, o ar fica estranho e não sei como dissipá-lo. Seus olhos
estão correndo para todos os lugares da sala, menos para mim.
Por alguma razão, me pego examinando sua roupa. Ela parece tão
casual com sua calça de moletom cinza e sua blusa preta. Eu tenho que me
conter para não olhar para o quão bem seus peitos estão naquele top.
— Bem, vejo você na próxima vez — digo, evitando contato visual
novamente enquanto pego minha jaqueta do chão. Deus, isso é brutal.
— Sim, tudo bem — diz ela coçando o queixo de uma forma
pensativa falsa.
Fico feliz em saber que não sou a única que está se sentindo estranha
agora. Eu não me incomodo em olhar para ela novamente enquanto faço
meu caminho até a porta.
Assim que minha mão toca a maçaneta da porta, ouço sua voz
aveludada.
— Eu ainda te odeio.
Apenas quatro palavras simples. No entanto, eles relaxam minha
respiração e batimentos cardíacos dez vezes e um sorriso genuíno se
espalha em meu rosto.
— O sentimento é mútuo.
***
Eu jogo minhas chaves na porta e entro em minha casa. Parece mais
limpo do que o habitual hoje; Adam deve ter saído do trabalho mais cedo.
Eu faço o meu caminho para a nossa pequena e aconchegante sala de jantar.
— Olá, cadelas! — Eu grito bem alto, ele odeia quando eu faço isso, e
é por isso que continuo fazendo.
Quando entro na sala de jantar, Adam e sua noiva, Olivia, estão
sentados ali, olhando-se amorosamente nos olhos até me localizarem.
— Já era hora — ele diz para mim, zombando.
— Oi, Addie! — Olivia diz alegremente. Eu ignoro Adam e
instantaneamente me jogo nos braços dela, quase a derrubando da cadeira.
Ela dá os melhores abraços — calorosos e seguros — imagino que
seja como uma mãe abraçaria seu filho. Então, novamente, eu nunca saberia
sobre isso.
Não tenho certeza de como meu irmão conseguiu fisgar alguém como
Olivia. Ela é uma modelo plus size para uma pequena agência local, o que
faz sentido, considerando que ela é deslumbrante com sua rica pele marrom
escura e sorriso deslumbrante.
Meu irmão a conheceu enquanto cumpria seu último ano de prisão.
Ela estava visitando seu próprio irmão que estava na prisão e com quem
Adam conseguiu fazer amizade enquanto estava preso.
Para encurtar a história, ela perguntou ao irmão sobre ele e eles
começaram a conversar toda vez que ela ia visitá-lo.
Avanço rápido para ele finalmente ser liberado e eles finalmente
ficarem juntos. Dois anos depois, ele propôs casamento.
A melhor decisão que ele já tomou na vida.
Eu estava com medo de deixá-lo quando for para Oxford, pois estarei
morando em um apartamento. No entanto, quando ele conheceu Olivia, eu
sabia que o estaria deixando em mãos impecáveis e vice-versa.
— Espere, onde estão os bolos? — Pergunto enquanto meus olhos
percorrem a mesa de carvalho vazia enquanto dou um beijo na bochecha de
Olivia e me sento na cadeira ao lado dela e em frente a Adam.
Olivia e Adam são introvertidos selvagens, então, em vez de assistir a
uma degustação de bolos, eles os entregaram em casa.
— Nós acabamos com eles — diz Olivia timidamente.
Esses malditos traidores.
— Como você pôde? — Eu suspiro meio zombeteiro, meio sério,
porque, sério?!
— Eu mandei mensagem para você umas cinquenta vezes — Adam
diz encolhendo os ombros. — Se dorme, você perde.
— Espero que você engasgue durante o sono. — Eu bufo, estreitando
meus olhos para ele.
Este babaca! Por causa dele, deixei uma sessão de amassos muito
tentadora para comer um bolo, mas esse monstro gigante acaba com todos?
— Espero que você engasgue durante o sono. — Ele me imita e eu
estendo a mão sobre a mesa e belisco seu braço violentamente.
— Ai! — Ele reclama em voz alta. — Há mais bolos chegando
amanhã, sua merdinha. Além disso, por que você só está batendo em mim?
Ela comeu também. — Ele aponta para Olivia.
Eu relaxo quando percebo que há mais bolos chegando amanhã, caso
contrário, eu já estaria planejando vingança contra Adam.
— Sim, mas eu gosto dela. — Eu dou de ombros, inclinando minha
cabeça contra seu ombro.
— Aww — ela responde rindo, seus olhos castanhos brilhando.
— Traidora — ele murmura para ela e ela apenas mostra a língua para
ele.
Leva apenas dois segundos para eles voltarem a ser apaixonados e
adoráveis. Ele claramente não consegue ficar longe dela porque se levanta e
senta na cadeira dela, puxando-a para seu colo.
Por mais nauseante que seja essa demonstração de afeto, estou
incrivelmente feliz por Adam. Pelo menos, ele não tem aversão ao amor por
causa do nosso pai. Na verdade, acho que o que meu pai passou o fez querer
encontrar o amor ainda mais, enquanto eu sou o oposto. Acho que sempre
serei.
Vê-los assim em sua própria bolha me lembra o que aconteceu hoje;
beijei Juliette pela terceira vez. Não posso continuar negando que estou
atraída por ela, no entanto, quero descobrir por que e como. As opiniões de
meus amigos me ajudaram, mas acho que perguntar a pessoas mais velhas e
experientes ajudaria.
— Eu tenho uma pergunta hipotética — eu digo, atraindo sua atenção
enquanto seus olhos se voltam instantaneamente em minha direção.
— E aí? — Olivia pergunta, arqueando as sobrancelhas enquanto
Adam corrobora sua pergunta com sua expressão facial.
— Bem, digamos que alguém que você odeia beijou você…
— Espere, o quê? Alguém forçou você? –- Adam me bombardeia
com perguntas, preocupação e raiva já gravadas em seu rosto e Olivia é a
mesma.
— O quê? Não! — Eu digo rapidamente e em voz alta, aliviando o
olhar em seu rosto. — Eu literalmente apenas disse que era uma pergunta
hipotética.
Ele abre a boca para falar novamente, mas Olivia o cala.
— Deixe ela terminar.
Ele cala a boca como uma criança, ela nem precisa pedir duas vezes.
Eu louvo todos os anjos acima por esta mulher, porque ela conseguiu fazer
meu irmão irritante calar a boca.
— Como eu estava dizendo... digamos que alguém que você odeia te
beija e você gosta, isso é normal? — Pergunto séria e curiosa.
— Não sei se normal é a palavra certa, mas é bastante comum —
Olivia diz em um tom confuso, mas ainda assim reconfortante.
— Mas como você pode gostar de beijar alguém que você odeia? —
Eu pergunto, perplexa, sem perder os sorrisos que ambos estão ostentando
em seus rostos.
O mesmo olhar que meus amigos costumam ter. Juro que é como se
todos na minha vida soubessem de algum segredinho além de mim.
— Você não pode controlar se seu corpo gosta de alguma coisa. Você,
de todas as pessoas, deveria saber disso, Sra. Biologia — Adam diz
balançando as sobrancelhas.
Antes que eu possa revirar os olhos com o comentário dele, Olivia
fala novamente.
— Ou talvez você não odeie mais essa pessoa?
Agora eu sei que isso não é verdade. Eu nunca poderia parar de odiar
Juliette Kingston, nunca. Não importa quantas vezes ela me beije ou faça
algo cativante, nada jamais mudará o profundo ódio que tenho por ela que
está embutido em minha alma.
Eu balanço minha cabeça.
— Não, eu definitivamente ainda odeio…
— Eu pensei que isso era hipotético? — Adam me interrompe,
sorrindo presunçosamente.
Nem Adam nem Olivia sabem muito sobre minha vida amorosa,
minha inexistente vida amorosa. Quando meninas ou meninos vêm e/ou
ficam, no dia seguinte, Adam é doce o suficiente para fazer o café da manhã
para eles, mas ele não se intromete mais.
Não tenho certeza do que ele diria se soubesse que beijei Juliette
Kingston. Ele sabe que não sou sua maior fã, no entanto, nunca disse a ele o
quão cruel ela tem sido comigo ao longo dos anos, principalmente porque
ele estava na prisão e eu não queria que ele se preocupasse. Além disso, ao
longo dos anos, isso se transformou de crueldade para eu realmente revidar,
então qual era o sentido de contar a ele?
Se ele soubesse o quanto ela é uma vadia, com certeza me daria um
sermão sobre beijá-la ou pior, ele provavelmente iria para a escola e tentaria
processá-la ou algo assim.
— Cale a boca — eu retruco, gemendo enquanto ele ri. Eu então
direciono meus olhos para Olivia. — O que você vê neste perdedor?
Ela dá de ombros, sorrindo.
— Ele sempre me ajuda com minhas palavras cruzadas.
— É isso? — Ele faz beicinho como um bebezinho. Eu deveria estar
gravando isso agora e postando para que todos possam ver o quanto ele é
um bebê.
Ela sorri, inclinando-se para ele.
— Você também é muito bom de cama…
— Lalalala. — Eu tampo meus ouvidos e me levanto, ignorando suas
gargalhadas. — Não consigo te ouvir! — Eu digo em uma voz cantante. Eu
posso ver suas bocas se movendo, mas eu ignoro, porque eu sei que eles
provavelmente estão dizendo a merda mais obscena agora.
Não paro de tapar os ouvidos enquanto saio da sala de jantar,
ignorando seus protestos. Na verdade, não paro até estar literalmente fora
do meu quarto e prestes a entrar.
O que há de errado com estas pessoas? Eu preferiria morrer um
milhão de vezes a ouvir sobre a vida sexual do meu irmão. Até o
pensamento é nojento. Na minha cabeça, ele é um padre que não tem
nenhuma atividade sexual.
Eu giro a maçaneta da porta do meu quarto e entro sem me preocupar
em olhar para cima, até que ouço um:
— Oi, baby cakes — bem alto.
Eu grito e aperto meu peito em puro horror e espero que Adam e
Olivia estejam correndo preocupados, mas em vez disso ouço risadas lá de
baixo.
Eu saio do meu medo instantaneamente e vejo Aryan deitado na
minha cama com um sorriso.
— Jesus, você me assustou! — Eu digo, respirando pesadamente
enquanto ainda aperto meu peito.
— Eu disse aos dois pombinhos lá embaixo para não contar a você
que eu estava aqui — diz ele com uma falsa risada maligna.
Merda. Ele sabe que odeio surpresas; eu sempre odiei. Por que você
está tentando me dar um ataque cardíaco? Qual é o motivo real para
surpresas?
— Idiota — eu digo, pulando na cama e batendo em seu peito com o
meu peso.
— Ai! — Ele geme. — É assim que você trata alguém que trouxe isso
para você… — ele puxa uma sacola cheia de peças de Mini-Reese
escondidas sob meu edredom de algodão preto.
Eu olho para os lanches com ar sonhador e saio de seu peito.
— Quando eu disse idiota, eu na verdade quis dizer querido.
As intromissões são mais bem-vindas quando vêm com presentes,
especialmente meus chocolates favoritos.
— Sim. — Ele zomba, rindo e recostando-se no meu travesseiro, o
braço atrás da cabeça.
— O que você está fazendo aqui, afinal? A noite de cinema é amanhã
— eu digo colocando um pedaço de chocolate na minha boca.
— Bem, eu tinha um encontro por aqui naquela pista de boliche,
então pensei em vir.
Todo mundo está saindo hoje além de mim? O que está no ar? É
novembro, não é realmente a estação do amor, então qual é desse
comportamento?
— Como foi? — Pergunto curiosamente e seu rosto não dá a melhor
impressão.
— Chato, como sempre. — Ele suspira pesadamente. — Eu juro, às
vezes acho que nunca vou encontrar o amor.
Aryan tem propensão a ser dramático. Novamente, a maioria de seus
encontros este ano foram muito ruins ou apenas chatos, então ele pode ter
razão nisso.
— Sim, você vai encontrar sim, e se não, eu vou ficar solteira com
você, obviamente. — Eu asseguro a ele, acariciando suas mãos.
Ele sorri brilhantemente.
— Como foi o seu dia? Você estava ensinando Juliette de novo, certo?
— Sim. — Concordo com a cabeça sem jeito e ele me dá um olhar
suspeito.
Agora é a hora. Eu poderia esconder isso dele; quero dizer
claramente, Juliette e eu recentemente chegamos a algum tipo de acordo
tácito. Mas não posso esconder isso dos meus amigos, eles me conhecem
muito bem; eles descobririam de qualquer maneira.
— Juliette e eu nos beijamos... de novo. — Eu deixo escapar e seus
olhos se arregalam em resposta.
— Sério?
— Sim.
— O que aconteceu depois? — Ele questiona curiosamente,
avançando enquanto enche o rosto com chocolate.
Ele está sendo tão casual sobre isso, embora alguns dias atrás, eu
quase tenha mordido a cabeça dele e de Victoria por insinuar que eu gosto
de Juliette. Estou grata por ele estar sendo tão casual, sei que quando contar
a Victoria ela também será.
— Nós meio que concordamos que gostamos de nos beijar... mas é
isso — eu digo, inclinando-me no meu travesseiro enquanto reproduzo os
eventos na minha cabeça.
Eu sinto que seus lábios estarão nos meus para sempre; impresso
permanentemente. Eu poderia esfregar um milhão de vezes e até derramar
água quente em meus lábios, mas nunca poderia remover os restos dela.
Acho que não quero.
— Então, sem amarras? — ele pergunta, erguendo as sobrancelhas.
— Obviamente. Eu a odeio — eu digo, bufando. — Além disso, ela
nem gosta de garotas.
As palavras deixam um gosto amargo na minha boca, mas eu o afasto,
principalmente porque não consigo mais pensar nisso. A sexualidade de
Juliette é problema dela e eu não me importo.
— Você realmente acredita nisso? — Ele pergunta, arqueando uma
sobrancelha enquanto me dá um olhar tipo “sério?”.
Eu? Não tenho certeza, mas suas palavras me fazem perceber algo
assustador, aterrorizante até.
— Isso significa que eu tirei ela do armário? — Eu pergunto
preocupada, meus olhos arregalados.
Ah, não. Eu disse aos meus amigos que a beijei e nem percebi que
estava potencialmente expondo-a. Independente se ela gosta de garotas ou
não, falei do nosso beijo, sabendo o quanto ela despreza os gays.
— Mais ou menos, mas Victoria e eu nunca contaríamos a mais
ninguém, nunca — Aryan diz resolutamente, aliviando um pouco meus
medos e eu aceno.
Confio em meus amigos para não contar a ninguém e também não
contaria a ninguém. Além disso, Juliette é uma vadia, por que eu deveria
me sentir mal por contar aos meus amigos sobre algo que estava me
incomodando?
Meu cérebro é muito lógico, então sou muito boa em justificar minhas
ações com fatos e, até agora, os fatos são os seguintes: Juliette é uma vadia
e, tecnicamente, não a tirei do armário porque meus amigos não vão contar
a mais ninguém.
Se é que há alguma coisa para ser revelada.
— Ela não pode gostar de garotas — eu digo quase em um sussurro,
meu tom trêmulo.
— Por quê?
— Bem, para começar, ela tem namorado. — Eu zombo, empurrando
para baixo o calor queimando meu peito.
Adonis Waters. Honestamente, acabei de me lembrar que Juliette tem
namorado. Eles nem parecem um casal de verdade. Eu mal os vejo juntos e
quando vejo, ela parece querer matá-lo.
Então, novamente, por que uma garota como Juliette, que tem o
mundo a seus pés, namoraria Adonis se ela não o amasse? Eu deveria me
sentir mal por ela estar traindo ele comigo, mas eu realmente não me sinto.
De forma alguma.
— E daí? Já ouviu falar em heterossexualidade compulsória ou
bissexualidade? — Aryan pergunta me surpreendendo.
Heterossexualidade compulsória. Eu seria um tola se não pensasse
nisso, mas não quero. Ela também pode ser bissexual — eu sou —, então
não sei por que não consigo entender que ela também é bissexual. Na minha
cabeça, estou mantendo Juliette como uma garota heterossexual que
ocasionalmente gosta de beijar garotas para se divertir.
É mais fácil assim.
Aryan continua.
— Ele é um namorado de merda de qualquer maneira, ele está sempre
traindo ela.
— O quê?! Sério?
Espere, o quê? Não é de admirar que eu não me sinta culpada; talvez
inconscientemente, eu sempre soube que ele era um idiota. Quem poderia
trair Juliette? Eu odeio a garota, mas até o pensamento é incompreensível.
— Sim, você saberia disso se prestasse atenção em qualquer coisa
além de seus livros didáticos — Aryan brinca e eu reviro os olhos para ele.
Eu dou de ombros.
— Nada é mais importante do que meus livros didáticos.
Ele apenas ri enquanto eu pego o controle remoto, silenciosamente
dizendo a ele que não posso mais me incomodar em falar sobre Juliette e
ele obedece. Eu percorro os canais e me aconchego nele enquanto ele
envolve seus braços em volta de mim.
— O que vamos assistir? — Pergunto-lhe.
— Eu não me importo. Qualquer coisa que não me aborreça.
— Que tal De Volta Para O Futuro?
Capítulo VINTE E QUATRO
Juliette
Eu simplesmente adoro estar na aula de inglês; é uma das minhas
aulas favoritas além de arte. Acho que é principalmente porque, quando eu
era criança, minha mãe costumava ler para mim – principalmente literatura
clássica e poesia. Embora provavelmente fosse mais apropriado ler as
histórias da Disney para mim, sou grata de qualquer maneira. Agora,
enquanto eu gosto da maioria das coisas relacionadas ao inglês, o que não
gosto é de ter que assistir a outra aula em que temos que ler Romeu e
Julieta… pelo quinto ano consecutivo.
— Alguém quer compartilhar seus pensamentos sobre o final deste
livro? — A Sra. Khan pergunta, a turma fica em silêncio por alguns
segundos com a pergunta dela.
Agora, essa é uma nova pergunta. Normalmente, somos questionados
sobre o quão bem isso se aplica a um exame ou algo igualmente chato. Esta
pergunta é realmente interessante, não que eu vá respondê-la de qualquer
maneira; não posso me incomodar em discutir com a Sra. Khan sobre isso.
Uma mão se levanta e é Alex, o capitão do time de Lacrosse. A Sra.
Khan parece feliz por alguém estar participando.
— Vá em frente, Alex.
— Acho que se os Montecchios e os Capuletos superassem seus
preconceitos, nada disso teria acontecido. Então Romeu e Julieta poderiam
ter vivido em paz em vez de morrer — diz ele, pensativo.
A Sra. Khan parece satisfeita com seus pensamentos, mas eu zombo e
claramente, é muito alto, porque seus olhos instantaneamente se voltam
para mim.
— Você tem algo a acrescentar, Juliette? — Ela pergunta em um tom
interessado.
Eu poderia simplesmente dizer não e ficar de boca fechada, mas
nunca fui muito boa nisso.
— Na verdade, sim. — Eu limpo minha garganta. — Só acho que
esse livro é ridículo, é mais sobre obsessão do que amor.
A Sra. Khan está olhando para mim pensativa, como se esperasse que
eu acrescentasse mais, mas não vou. O que eu disse é puramente factual;
Julieta e Romeu foram ridiculamente idiotas. Não apenas porque se
mataram por estupidez e amor, mas porque se apaixonaram em primeiro
lugar.
Como você pode se apaixonar por seu inimigo jurado?
— Observação interessante, Juliette — ela diz meu nome de forma
irônica, como se eu ousasse criticar um livro onde o personagem principal
tem meu nome.
O dela nem está escrito corretamente!
— Alguém mais quer compartilhar seus pensamentos? — Senhorita
Khan pergunta novamente.
Estou pronta para um milhão de mãos se levantarem, tentando
argumentar comigo. Quero dizer, sei que minha análise não vai me dar uma
boa nota, mas gosto de compartilhar minha opinião, por mais injustificada
que seja.
— Eu realmente concordo com Juliette. — Uma voz familiar se
anima e meus olhos se voltam para o lado esquerdo da sala de aula.
Meus olhos quase saem das órbitas quando percebo quem acabou de
concordar comigo... Victoria Williams. O inferno congelou? Porcos estão
prestes a começar a cair do céu?
Ela continua.
— Se você sabe que é ruim para alguém, não deve continuar a
persegui-lo. Eles eram idiotas.
Uma risada implora para sair do meu peito com a maneira insensível
com que ela dá de ombros depois de dar sua declaração, mas eu me
abstenho de fazê-lo.
Ela está olhando diretamente para a Sra. Khan, nem mesmo
reconhecendo que concordou comigo. Eu sei que ela não gosta muito de
mim e não a culpo, ela é claramente protetora com Adaline, enquanto eu a
tratei como merda pura nos últimos anos, então a opinião dela não conta.
O que ela diz ressoa em mim, no entanto, não apenas porque ela está
concordando comigo, mas por causa de seus olhos depois que ela diz; é
abatida e dura, como se ela odiasse o que está dizendo, mas ela ainda
acredita. Parece que é pessoal.
Sempre pensei que Kai era bom demais para ela, mas agora posso ver
um pequeno reflexo de mim mesma em seus olhos, o que apenas consolida
ainda mais meus pontos de vista; Kai realmente é bom demais para ela.
— Eu posso ver ambos os seus pontos. No entanto, essas opiniões não
são suficientemente analíticas — diz ela, escrevendo algumas coisas no
quadro branco e depois se vira novamente para nós. — Alguém mais quer
acrescentar algo antes de prosseguirmos?
Daniel Miller levanta a mão e instantaneamente sei o que ele está
prestes a dizer.
— Romeu não é um pedófilo? Quero dizer, Julieta tinha treze anos…
A Sra. Khan suspira audivelmente e aperta a testa.
— Isso de novo não, Daniel. Você não pode insistir nisso toda vez que
pergunto sobre Romeu e Julieta!
A classe inteira, inclusive eu, ri baixinho de como ela está ficando
nervosa. Daniel apenas dá de ombros como se não soubesse o que fez de
errado e, para ser justo, eu também não sei.
Eu evito rir e me concentro na tangente que a Sra. Khan continua. Por
foco, quero dizer sonhar acordada com diferentes cenários para a próxima
hora.
***

Eu saio da sala de aula com pura euforia e dor de cabeça. Graças a


Deus eu não tenho que ouvir mais rabiscos sobre como uma criança pré-
adolescente e um adulto estavam apaixonados.
Enquanto sigo pelo corredor, tenho um vislumbre da ruína da minha
existência.
Adaline está perto de seu armário, livro na mão e fones de ouvido na
cabeça. Juro que ela usa aqueles fones de ouvido o tempo todo na escola –
sempre usou, desde que éramos crianças e sempre me perguntei por quê,
mas não é da minha conta e não me importo.
Vê-la traz de volta uma onda de memórias de ontem. Aquele beijo,
aquele beijo absolutamente espetacular no qual não consegui parar de
pensar a noite toda.
Ela me beijou pela primeira vez. Ela me queria; eu podia sentir isso
em cada gemido que saía de seu corpo. Sua partida foi irritante, mas
provavelmente foi melhor ela ter feito ou eu teria arrancado suas roupas ali
mesmo e eu... não estou pronta para isso.
Ainda não.
No entanto, eu me toquei ao pensar nela quando ela partiu. Eu toquei
cada lugar que ela tocou, desejando que ela estivesse fazendo isso de novo e
eu nunca gozei tão forte em toda a minha vida.
Claramente, meu corpo a quer e não posso mais negar; é porque ela é
tão suave, tão tentadora; não tem nada a ver com o sexo dela.
Nada.
— Oi, Juliette! — Uma voz alegre me tira do meu transe, felizmente.
— Eu adorei seus sapatos. — Ela me elogia apontando para os meus
sapatos.
Não faço ideia de quem é essa garota, quero dizer o nome dela, mas
não consigo lembrar o que é. É Maria ou Alice? Eu literalmente não tenho
ideia. Garotas e garotos aleatórios frequentemente vêm até mim durante o
dia e me elogiam; é falso, mas ainda admiro ao mesmo tempo.
Claro, ela adora meus sapatos. Eles são os saltos Louboutin So Kate.
Esses são pretos, mas tenho de todas as cores. Felizmente, Richmond não
tem uma política de não seguir – não que fosse seguir de qualquer maneira.
Por mais ridículo que pareça, eu realmente amo saltos, principalmente
porque eles me fazem sentir poderosa, como se eu pudesse pisar em
qualquer um sem pensar duas vezes.
Embora a dor possa ser irritante, também é meio... legal.
— Obrigada, eu também gosto do seu! — Eu digo em meu falso tom
alegre, olhando para suas martens pretas.
— Obrigada! — Ela diz de volta, seus olhos cheios de diversão e seu
tom ainda alegre. Ela pisca para mim antes de ir embora.
Aqueles eram os sapatos mais feios que eu já vi na minha vida.
Normalmente, eu diria apenas isso à queima-roupa, mas essa garota parecia
inofensiva e ela é definitivamente alguns anos mais nova. Qual é o sentido
de arruinar o dia dela? Ela vai descobrir como esses sapatos são horríveis
por conta própria eventualmente.
O sinal toca antes mesmo de eu chegar ao meu armário para tomar um
paracetamol para essa dor de cabeça terrível. Eu gemo em resposta e vou
para minha próxima aula: biologia.
Eu costumava desprezar ir para a aula de biologia, principalmente
porque nunca entendi metade da merda que o Sr. Khalid costumava vomitar.
No entanto, nas últimas semanas eu realmente tenho gostado das aulas, não
tanto quanto minhas sessões de tutoria com Adaline.
Quando entro na sala de aula, ela já está praticamente cheia, além do
meu lugar de sempre, que fica algumas fileiras atrás de Adaline. Falando no
diabo, ela está sentada, os olhos já absortos em seu livro.
O assento ao lado dela é ocupado por uma garota aleatória, como
sempre.
Hoje não.
Desço a fileira e paro na frente da garota. Eu sinto os olhos de
Adaline me perfurando da minha visão periférica, mas eu a ignoro.
— Levanta — eu digo com autoridade para a garota que já está
tremendo em seu assento.
— M-mas este é o meu lugar — ela gagueja, seu pescoço ficando
vermelho escarlate.
Eu me inclino para ela, colocando minhas mãos em meus quadris.
— Agora é meu.
Ela não pensa duas vezes antes de se levantar e sair de seu assento. Eu
sinto um sorriso puxando os lados da minha boca enquanto eu deslizo em
seu assento.
— O que você está fazendo? — Eu ouço Adaline sibilando ao meu
lado e me viro para ela.
— Sentando ao lado da minha tutora — eu retruco descaradamente,
tentando reprimir um sorriso.
A próxima hora de aula consiste em eu tentar o meu melhor para me
concentrar no aprendizado, mas tudo o que posso realmente focar é em
como Adaline é irritantemente adorável quando está estudando.
Capítulo VINTE E CINCO
Adaline
Em meus dezessete anos de vida, nunca me distraí durante as aulas
de biologia, até hoje. Mais precisamente, até duas horas atrás quando eu
estava na aula e Juliette sentou bem do meu lado!
Quem ela pensa que é basicamente exigindo que Rachel deixe o
assento ao meu lado? Eu realmente não me importo muito com Rachel
porque mal falava com ela, mas ainda assim, é a essência por trás disso que
é irritante.
Mas por que era tão sexy? Talvez fosse o brilho em seus olhos
deliciosos, as mãos firmes naqueles quadris estreitos, sem falar no tom de
comando que exalava pura confiança.
Funcionou, porque Rachel se levantou da cadeira sem pensar duas
vezes. Uma coisa que sempre odiei em Juliette é a maneira como ela
comanda o controle de qualquer sala em que esteja. Então, depois de ter
ingressos para a primeira fila do show, por que gostei tanto?
Eu nem falei com ela durante a aula, aliás, passei o tempo inteiro
tentando ao máximo ignorar ela e aquele olhar petulante, sem falar que toda
vez que ela não entendia alguma coisa, ela tentava olhar para mim para
obter respostas. Sei que sou a tutora dela, mas acho que ela está gostando
demais dessa pequena provação.
Sei que chegamos a um tipo de acordo, que somos uma espécie de
amigas coloridas, embora ainda não tenhamos feito sexo.
Independentemente disso, isso não significa que ela pode me distrair
durante a aula, especialmente durante a aula de biologia.
A aula acabou faz um tempo e logo depois fiz voluntariado para o
clube de STEM.
Agora estou atrás do prédio da escola, fumando. Dou uma pequena
tragada no cigarro, a fumaça enchendo meus pulmões e instantaneamente
atingindo minha cabeça.
Embora o hábito seja imundo, gostaria de dizer que sou inteligente
quanto a isso. Não faço isso com frequência, apenas quando estou nervosa
ou preciso de algum alívio rápido.
Continuo fumando enquanto caminho em direção ao estacionamento.
Minha mão ociosa procura meu telefone no meu blazer e meus dedos
pairam sobre o contato do meu irmão. Ele me deixou hoje, então eu deveria
chamá-lo de volta para uma carona – pelo menos esse foi o meu processo
de pensamento antes de olhar para frente.
O estacionamento está bem vazio, exceto por alguns carros, sendo um
deles o Maserati preto de Juliette. Ela está pairando sobre o capô do carro,
parecendo totalmente perplexa.
Ela ainda está aqui. Ela nunca está aqui depois que as aulas terminam,
a menos que tenha treino das líderes de torcida. Elas não têm treino hoje, o
que significa que ela está aqui há pelo menos duas horas.
Eu a observo por um tempo. Ela continua entrando e saindo do carro,
tentando ligar o motor, mas não dá. Mesmo carros ridiculamente caros têm
problemas, quem diria?
Antes que eu possa pensar, meus pés estão se arrastando pelo chão,
me impulsionando na direção dela. Dou alguns passos atrás dela, apenas o
suficiente para ver que ela não tem ideia do que está fazendo. Ela está
apenas bufando e mexendo nos fios.
Balanço a cabeça, escondendo meu sorriso.
— Suas habilidades mecânicas são ridículas.
Ela congela por um momento, antes de se virar, qualquer
constrangimento que ela sentiu com as minhas palavras se dissolveu quando
ela cruzou os braços sobre o estômago.
Eu a vejo olhar ao redor do estacionamento, provavelmente tentando
se certificar de que ninguém nos veja falando sem ameaças de morte.
— Por que eu precisaria dessas habilidades quando posso
simplesmente pagar alguém para ser meu mecânico? — Ela retruca, aquele
brilho travesso em seus olhos.
Acho tão divertido que ela ainda seja tão confiante e espirituosa,
independentemente do fato de que acabei de apontar suas habilidades
mecânicas de merda. Também acho irritante, porque é meio cativante.
— Então, por que você não está pagando alguém para ajudá-la agora?
A verdadeira questão é: por que ainda estou aqui falando com ela
agora? Eu poderia simplesmente ligar para Adam e ir para casa agora
mesmo.
— Porque todo mundo conhece minha mãe, então se eu ligar para
eles, eles vão contar a ela e então ela vai me ligar e reclamar sobre como eu
deveria ser independente…
— Ela está certa.
É extremamente doloroso concordar com Samantha Kingston, mas ela
está certa. Não importa quanto dinheiro você tenha, você deve aprender
habilidades práticas, especialmente quando se trata de seu carro.
Ela revira os olhos.
— Você pode ser irritante em outro lugar?
Eu sorrio para ela, então olho para seu capô aberto. É o seguinte,
Adam é mecânico e sempre me ensinou coisas sobre carros. Então,
tecnicamente, seria minha obrigação moral ajudá-la.
Certo?
— Sai — eu digo a ela.
— O que…
— Vá sentar no carro. Quando eu mandar, tente ligar o motor
novamente. — Eu a interrompi.
Espero que ela discuta comigo, talvez mostre como é orgulhosa. O
que eu não esperava é que ela soltasse um adorável bufo antes de voltar
para o carro. Ela está realmente me ouvindo; eu gosto disso.
Eu inspeciono o motor dela para ver se algo vazou, mas não. Então
meus olhos vagam por todo o resto e percebo que a vela de ignição dela está
solta.
Tiro um par de luvas do bolso do blazer. Normalmente, essas luvas
são estritamente reservadas para um dia de neve, mas de jeito nenhum vou
sujar minhas mãos por ela.
Eu movo minhas mãos em direção à vela de ignição e a aperto um
pouco, colocando-a no lugar.
— Comece agora — digo a ela em voz alta; ela acena com a cabeça
antes de virar as chaves e instantaneamente, seu motor ruge para viver.
Fecho o capô do carro e a encaro pelo para-brisa; Juliette está olhando
para mim como se estivesse impressionada e irritada ao mesmo tempo.
Eu pisco para ela presunçosamente antes de começar a me afastar. Eu
realmente não espero que ela me agradeça, esse não é realmente o estilo
dela nem o meu.
— Onde está sua moto? — Eu a ouço perguntar e me viro, ela está do
lado de fora do carro novamente.
— Em casa, peguei uma carona — digo, dando de ombros.
Seu rosto está rabiscado com o pensamento, como se ela estivesse
resolvendo algum tipo de equação em sua mente. Ela leva alguns segundos
antes de dizer:
— Que tal eu te levar para casa, como um agradecimento por
consertar meu carro... ou o que seja?
— Você poderia apenas dizer obrigada. — Eu indico, mordendo o
interior da minha bochecha para parar de sorrir.
Ela está seriamente pedindo para me dar uma carona? Essa garota me
surpreende todos os dias e não tenho certeza se isso é bom ou ruim.
— Eu gosto mais da minha ideia. — Ela sorri maliciosamente.
— Tudo bem — eu respondo com um falso distanciamento.
Quero dizer, Adam provavelmente está ocupado planejando seu
casamento — ele adora planejar o casamento —, então por que eu o
incomodaria para vir me buscar? Claramente, só estou concordando com
isso porque não quero incomodar Adam.
Como se ele não gostasse de buscar você. Meu cérebro repreende e
eu interiormente digo para ele calar a boca.
Eu faço meu caminho para o lado do passageiro de seu carro e entro.
Instantaneamente, sou engolfada pelo cheiro de baunilha e cerejas. Claro,
seu carro tem um cheiro idêntico ao dela.
Ao colocar o cinto de segurança, admiro o carro dela. O interior é
marrom Scarlett, como se o vinho tinto fosse a inspiração. Não há nem um
grama de sujeira aqui – é como se fosse um carro novo em folha, embora eu
saiba que ela ganhou isso dois anos atrás como um doce presente de
dezesseis anos.
Meus olhos se voltam para a janela esquerda e me lembro que, do
lado de fora, todos os vidros do carro dela são escuros. Não é de admirar
que ela esteja sendo tão casual sobre me dar uma carona; ela sabe que
ninguém vai me ver em seu carro.
Não é ilegal ter todas as janelas pintadas como uma espécie de
criminoso? Que pena, esqueci completamente que só é ilegal se você for
pobre. Se você é rico, é apenas elegante ou justificado.
Balanço a cabeça com esses pensamentos irritantes e meus olhos se
voltam para a direita, o que é um erro, porque Juliette está saindo de sua
vaga de estacionamento com uma mão no meu assento enquanto ela dá ré.
Ai, meu Deus, ela está tentando atrair mulheres?
Porque está funcionando, principalmente pelo jeito que ela move a
mão em direção à alavanca de câmbio enquanto a outra fica firme no
volante.
Eu tenho habilitações para dirigir um carro, mas prefiro dirigir minha
moto. No entanto, Juliette está seriamente me fazendo repensar isso.
Enquanto ela dirige, tento o meu melhor para não olhar para ela, o
que é consideravelmente difícil quando ela parece tão sexy dirigindo. Quero
dizer, está claramente estabelecido que me sinto atraída por ela, então por
que eu me negaria?
Eu relaxo enquanto ela dirige. Estou chocada por ela nem ter
colocado meu endereço no mapa, ela meio que sabe para onde está indo.
Então, novamente, ela esteve na minha casa para dar aulas particulares,
então não deveria ser tão chocante.
A fome faz meu estômago roncar, então pesco no bolso uma barra de
granola. Dou uma mordida antes de me dar conta de que estou comendo no
carro de Juliette.
Eu sei que algumas pessoas são muito exigentes com as pessoas
comendo no carro, não é? Eu me viro para ela e seus olhos já estão em
mim, mas ela os desvia. Ela não parece incomodada por eu comer em seu
carro, então continuo até terminar.
O passeio de carro foi confortavelmente silencioso, nem mesmo
nenhuma música tocando. Pelo menos, era confortável até o telefone dela
tocar. Está descansando em um daqueles suportes de telefone, então foi
difícil para mim não ver o que apareceu na tela dela.
O que apareceu foi o nome de Adonis e uma mensagem que dizia:
“Sinto sua falta, baby.”
Ela também vê claramente porque limpa a garganta, mas não
responde.
Sinto a bile subindo pela minha garganta como resultado dessa
mensagem e não tenho certeza do porquê.
Às vezes, esqueço que Adonis existe e já beijei a namorada dele…
três vezes. Então, novamente, Aryan me disse que ele a trai. Victoria
também corroborou essa informação quando liguei para ela mais tarde
naquela noite para informá-la sobre o meu tipo de acordo sexual com
Juliette.
— Adonis não pode saber — Juliette diz abruptamente e eu atiro a ela
um olhar confuso. — Sobre nós sermos... você sabe…
— Inimigas com benefícios? — Eu tento esclarecer para ela com um
tom divertido.
— Sim — diz ela com um pequeno sorriso torto.
Eu balanço minha cabeça.
— Ele não saberá.
Como ele descobriria? Acho que nunca falei com ele. De forma
alguma.
— Você não se sente culpada? — Ela me pergunta abruptamente e
curiosamente.
— Por que eu me sentiria culpada? Não sou eu que estou namorando
com ele, é você. — As palavras deixam um gosto amargo na minha boca e
tenho que me forçar a desviar o olhar de Juliette.
Por que ela está namorando ele? Claro, ele é bonito e atlético e... não
importa, ele é perfeito para ela.
Ela suspira.
— Eu sei... mas não me sinto culpada, isso é ruim?
Não sei quando isso se tornou uma sessão de terapia, mas me pego
querendo responder à pergunta dela, embora não saiba como.
É evidente que Juliette não é tão empática quanto o ser humano
normal costuma ser; quer dizer, ela é uma vadia, porém, eu sei que ela não é
completamente cruel, então por que ela não se sente culpada por tê-lo
traído?
— Você o ama? — Eu questiono, cravando minhas unhas em minhas
mãos.
— Eu acho que sim — ela responde evasivamente e meu cérebro
exala um pouco.
— Você acha? Isso não soa como amor.
— Ah, é? Como se você soubesse muito sobre o amor — ela diz com
uma zombaria enquanto vira a esquina.
Ok, ela tem razão, mas é só porque não quero saber nada sobre amor.
Tenho certeza de que, se infelizmente me apaixonasse por alguém, não
pensaria duas vezes antes de amá-lo.
O tom defensivo que irradia dela me dá uma ideia, uma teoria, se
preferir; se ela está tão apaixonada por Adonis, então por que ela me
beijou? Claramente, ela está faltando alguma coisa.
— Justo. — Eu dou de ombros. — Posso não saber nada sobre amor, mas
sei muito sobre trepar.
— O que isso quer dizer? — Ela questiona, franzindo as
sobrancelhas.
— Adonis não te fode direito, não é? — Eu digo presunçosamente,
testando minha teoria.
— C-claro que ele fode! — Ela grita em um tom pouco convincente.
Bingo.
— Sério? — Eu questiono, levantando minhas sobrancelhas. — Sem
julgamento aqui, você pode me dizer.
Não acredito que acabei de dizer a Juliette que não a julgaria por algo
e realmente quis dizer isso. Estou tão enojada comigo mesma agora. O que
está acontecendo comigo?
Ela demora algumas batidas antes de suspirar e falar:
— Ele não consegue me fazer... gozar.
A pura frustração e decepção em seu rosto faz meu coração apertar
por algum motivo. Eu não esperava que ela fosse honesta tão rapidamente,
mas é revigorante. Não é exatamente uma notícia de última hora; muitos
homens não conseguem fazer as mulheres gozarem.
Muitas mulheres fazem piadas sobre isso e fingem que de alguma
forma nos torna as vencedoras, mas não torna e estou feliz que Juliette
esteja, pelo menos, sendo honesta sobre como ela está desapontada.
Sério, deixar um homem usar você como uma lanterna e fazer piadas
sobre como você não teve nenhum prazer é degradante. Não durma com
homens que não vão te fazer gozar, é simples.
Estou pronta para descarregar esse discurso em Juliette, mas o olhar
em seus olhos me assusta um pouco. Há algo mais; tenho a sensação de que
esses homens estão se esforçando ao máximo, ou pelo menos espero que
estejam.
Hora de testar outra teoria.
— Só ele? — Eu questiono, cerrando meus punhos com força. Eu
quero me desculpar por isso; ela só tem um namorado de merda.
Por favor diga sim. Por favor, diga que um homem conseguiu fazer
você gozar antes.
— Não. — Ela balança a cabeça. — Ninguém consegue.
Ah, não. Um homem, posso justificar e atribuir suas próprias
capacidades de merda, mas vários? A parte lógica da minha mente está
gritando comigo agora para avaliar os fatos.
Juliette praticamente assediou você a vida toda, ela claramente tem
trauma de seu pai gay abusivo deixá-la, ela te beijou três vezes e nenhum
homem jamais foi capaz de fazê-la gozar.
Juliette ainda está dirigindo, um leve rubor em suas bochechas,
provavelmente pelo que ela admitiu, enquanto minha mente está
completamente disparada enquanto as palavras de Aryan estão tocando em
minha cabeça.
Já ouviu falar em heterossexualidade compulsória?
— Foi por isso que você me beijou? — Eu pergunto abruptamente,
minha respiração pesada.
Sua respiração falha e posso vê-la apertando o volante com força.
— Não sei por que te beijei, Adaline.
Também não sei por que a beijei, então posso entender sua hesitação
em responder, mas por que meu coração para com sua “não resposta”?
Estou prestes a virar a cabeça, até que ela fala novamente.
— Eu só queria — diz ela em um sussurro suave, como se estivesse
com medo de ouvir a si mesma.
Alguns meses atrás, eu absolutamente desprezava estar no mesmo
cômodo que Juliette Kingston, agora estou no carro dela, nunca querendo
sair; estou congelada no lugar, agarrando-me às suas palavras enquanto ela
me diz que queria me beijar.
Cansei de me conter.
— Pare o carro — eu digo a ela seriamente. É possível, ainda estamos
a cerca de trinta minutos de minha casa e esta é uma rua vazia.
Ela parece alarmada.
— O quê? Por que…
— Pare o carro, Juliette — repito, interrompendo-a, meu tom
desprovido de qualquer emoção.
Pela primeira vez, ela não fala de novo, ela me escuta e eu posso
ouvir o som de seus pneus cantando enquanto ela estaciona apressadamente
em uma calçada aleatória. Tivemos sorte de não ter ninguém atrás de nós,
porque foi a parada mais abrupta de todos os tempos.
Ela desafivela o cinto e se vira para mim, alarmada e confusa.
— Por que você me pediu para parar? Você está bem…
Eu a interrompi novamente.
— Posso beijar você?
Seus olhos se arregalam em choque antes de olharem para os meus
lábios, depois de volta para os meus olhos, como se ela estivesse tentando
avaliar o quão sério estou falando. “Muito sério” é a resposta que estou
tentando transmitir com meus olhos semicerrados.
— Sempre.
Isso é tudo que preciso. Minhas mãos rapidamente desafivelam meu
cinto de segurança e estendo a mão, puxando seus lábios para os meus.
A eletricidade percorre meu corpo no momento em que envolvo seus
lábios. Como isso pode ficar cada vez melhor? Eu a sinto me beijando de
volta, de boca aberta, paixão e calor explodindo nas costuras de nossas
bocas.
Minhas mãos têm vontade própria enquanto se emaranham em seus
cachos macios e sinto as dela na minha nuca, me puxando para dentro.
Então eu movo minhas mãos devagar em suas coxas e a toco, esperando
que ela entenda os sinais que estou enviando.
Ela entende, nem mesmo desgruda os lábios dos meus enquanto passa
por cima do console do carro e senta no meu colo.
Essa é a coisa sobre Juliette e eu, embora não gostemos uma da outra,
com certeza nos entendemos... sempre.
Eu seguro minhas mãos em seus quadris para que ela não caia do meu
colo e ela responde esfregando seus quadris em mim. Eu a ajudo usando
minhas mãos para guiá-la, sentindo o prazer de seu corpo balançando contra
o meu.
— Sim, assim mesmo — ela murmura contra meus lábios e eu me
encontro tendo que deixar seus lábios. Ela choraminga desapontada até que
meus lábios encontrem o caminho para seu pescoço pálido.
— Me usa — murmuro em seu pescoço e posso ouvi-la gemer em
resposta, roçando mais forte contra mim. Aquecida e enlouquecida, vejo-a
tirando o blazer dos ombros e luto contra o desejo de fazer o mesmo.
Ela precisa disso. Como ninguém a fez gozar? Ela não pode continuar
assim. Ela precisa me usar o máximo que puder até sentir que está à beira
da insanidade, como se eu fosse o brinquedo dela. Não resta um pingo de
orgulho em mim quando se trata de fazer uma garota bonita gozar.
Ouvi-la gemer de prazer está enviando ondas de prazer através da
minha calcinha. Há algo mais também, uma espécie de calor.
Talvez Aryan esteja certo, talvez Juliette goste de garotas, talvez ela
seja bissexual ou talvez até lésbica; quem se importa? Ela está moendo em
mim agora.
— Porra, você é tão boa nisso — ela geme alto na curva do meu
pescoço. Eu me vejo ficando cada vez mais molhada enquanto ela continua
seus cuidados. Mas parece que não é o suficiente para ela, porque ela
sussurra em meu ouvido: — Vamos para sua casa.
Capítulo VINTE E SEIS
Adaline
Levou um tempo recorde para nos levar até minha casa, como se
alguém estivesse atrás de nós. A viagem foi silenciosa, cheia de expectativa.
O único problema é que, quando entramos em minha casa, bem na nossa
frente estavam meu irmão e Olivia.
Eu amo meu irmão e Olivia, eu realmente amo. No entanto, agora eu
quero estrangulá-los por causa de como o timing deles é uma merda. Eu
provavelmente estava prestes a fazer sexo com Juliette se eles não
estivessem aqui.
— Vocês chegaram cedo em casa — digo abruptamente, coçando a
nuca.
Embora eu não possa ver o rosto dela agora, sei que Juliette
provavelmente está apavorada agora; ela está paranóica e assustada e, por
algum motivo, quero aliviar isso.
— Sim, nossas compras terminaram mais cedo — Olivia me diz
enquanto Adam olha desconfiado entre Juliette e eu.
Juliette ainda está olhando para o chão, então aproveito a
oportunidade para tornar as coisas um pouco menos complicadas.
— Bem, esta é Juliette... uma garota que estou ensinando. — Eu a
apresento. — Juliette, este é meu irmão, Adam e sua noiva, Olivia.
Adam sabe que eu sou tutora de pessoas, então ele não deve ficar
muito desconfiado, seu rosto relaxou, mas ele ainda parece confuso.
— Prazer em conhecê-la, Juliette — Olivia diz, sorrindo
calorosamente e isso leva Juliette a finalmente olhar para cima. Aproveito a
oportunidade para andar para a frente e ficar ao lado dela.
Por alguma razão, quero ficar ao lado dela; eu não quero estar atrás
dela ou na frente dela, eu quero estar ao lado dela, especialmente quando
ela está assim; como se ela quisesse que o chão se abrisse e a engolisse
inteira.
— É um prazer também — diz Juliette rigidamente, mas
educadamente. No entanto, o ar continua tão estranho, como se fosse
completamente insondável.
Estou prestes a nos desculpar antes que Adam fale novamente, de
repente.
— Espere... Juliette como a Juliette Kingston?
Ah, não. Esqueci completamente que Adam sabe exatamente quem é
a mãe de Juliette, considerando que sempre a encontramos durante os
festivais do orgulho gay e ela lança insultos a todos os gays de lá.
Ela está sempre falando sobre Juliette lá também, falando sobre como
sua filha é perfeita. Mal sabe ela que sua filha acabou de enfiar a língua na
minha garganta, há dois minutos.
— Então você conhece minha família? — Juliette pergunta em um
tom diferente e mais confiante. Ela provavelmente pensa que Adam está
impressionado com sua riqueza e sabe sobre o nome de sua família.
Isso não vai correr bem.
Adam acena com a cabeça e sem perder o ritmo, ele diz:
— Sim, estou muito familiarizado com a sua mãe homofóbica.
Pelo amor de Deus. Adam e eu não apenas compartilhamos a mesma
aparência, mas sua personalidade claramente se parece com a minha
também, porque ele nunca sabe quando manter a boca fechada.
Foi assim que eu soei quando estava falando com Samantha?
— Adam! — Olivia e eu gritamos em uníssono, repreendendo-o.
Eu não gosto de Juliette e o que Adam disse é verdade, mas não gosto
de como ele apenas a colocou no lugar dela. Não sei por que, considerando
que geralmente adoro, mas simplesmente não gosto; só eu posso me
comportar assim com ela.
Ele não escuta, ele está apenas encarando Juliette com um olhar
irritado, enquanto Juliette parece um pouco desanimada neste ponto, mas
também divertida ao mesmo tempo.
— Bem, isso foi divertido — diz ela, divertida e depois se vira para
mim. — Vejo você amanhã… para aulas particulares.
Eu aceno rigidamente, tentando o meu melhor para não machucá-la
agora, porque ela está realmente sendo madura, ela não está lutando ou
discutindo com meu irmão e ela está indo embora.
Não é apenas a maturidade que me impressiona, mas também sua
autoconfiança. Por que ela é tão sexy? Eu deveria ter continuado no carro
com ela, pelo menos.
— Vejo você amanhã — eu digo de volta em um sussurro, ainda
sexualmente frustrada e ela balança a cabeça antes de se virar, ela sorri para
Olivia e simplesmente ignora Adam enquanto sai de casa.
Adam fecha a porta atrás dela, então olha para mim quase
acusadoramente.
— Você está ensinando Juliette Kingston?
Eu dou de ombros.
— O senhor Khalid me dará uma carta de recomendação se eu fizer
isso.
Eu nunca digo a Adam quem estou ensinando, principalmente porque
ele nunca está em casa quando as sessões estão acontecendo e por que ele
se importaria? No entanto, eu especificamente não contei a ele sobre
Juliette porque acho que, subconscientemente, eu sabia que ele iria somar
dois mais dois sobre a mãe dela e depois me irritar com isso.
Sua sobrancelha arqueia perigosamente alta, transmitindo sua
decepção.
— Então, você está disposto a ensinar a filha de uma homofóbica
assumida?
Bem, na verdade, acabei de beijar a filha de uma homofóbica
assumida pela quinta vez, mas não vamos nos prender aos detalhes.
Reviro os olhos com sua indignação moral.
— Estou disposta a fazer o que for preciso para entrar em Oxford. —
Ele levanta a sobrancelha ainda mais alto com o meu tom casual, mas eu
continuo. — Ela nem é tão ruim quanto a mãe dela.
O quê? Não acredito que estou defendendo Juliette Kingston agora.
Embora eu tenha razão, ela não é tão ruim quanto Samantha, mas
principalmente porque ela não tem o mesmo poder. Ela ainda tem as
mesmas opiniões, mas continuo deixando que ela me beije de qualquer
maneira. Quão confuso é isso?
Quão confusa eu estou?
— Ela é a pessoa de quem você estava falando, não é? A pessoa que
você odeia que te beijou? — Ele pergunta como se já soubesse.
— O quê? Não! — Eu digo, tentando soar convincente. — Eu disse a
você que isso era hipotético.
Juro que vejo Olivia abafando uma risada e Adam parece irritado
como sempre, mas há algo mais profundo em seu olhar, como sempre, é
preocupação.
— Você geralmente é uma boa mentirosa, agora? Nem tanto — ele
diz, zombando.
Eu não posso fazer isso agora. Não gosto de mentir para meu irmão,
mas o que mais devo fazer? Não me dou ao trabalho de receber um sermão
dele quando, no fundo, já sei que esse lance com Juliette é ruim.
Posso viver em negação pelo tempo que quiser, porque, por pior que
seja, é bom.
— Não tenho tempo para isso, tenho que ir me preparar para a partida
de Aryan e depois tenho um turno na casa da senhorita Kim — digo,
ignorando suas palavras; deixando-o saber que esta conversa acabou.
— Tudo bem. Vou guardar as compras — ele resmunga para Olivia,
antes de entrar na cozinha. Reviro os olhos para sua imaturidade, mas estou
meio agradecida por ele ter ido embora e não poder mais me repreender.
Eu suspiro, mas antes que eu possa me virar e subir as escadas, Olivia
começa a falar.
— Addie?
Eu olho para ela.
— Sim?
— Juliette parece... legal — ela diz com um daqueles sorrisos falsos.
Eu dou crédito a ela por tentar atuar, mas ela não é muito boa nisso.
Não que isso importe de qualquer maneira, ela está agindo como se eu
estivesse trazendo Juliette para casa como uma espécie de namorada? Eu
não consigo nem imaginar algo assim. Estremeço só de pensar.
Eu balanço minha cabeça, sufocando um sorriso.
— Ela não é.
Ela ri um pouco, sua expressão é muito mais genuína.
— Melhor ainda.
***
Na manhã seguinte, já desci as escadas quando ouço a campainha
tocar. Sinto minhas mãos suando e meu coração acelerado porque sei que
Juliette está na porta.
Espero que não seja estranho, especialmente depois do que meu irmão
disse e considerando que ela me prendeu contra a parede.
Abro a porta e ela está lá, vestindo uma saia marrom escura – que está
fazendo maravilhas por suas longas pernas tentadoras… e um suéter creme
de caxemira.
— Seu irmão não está aqui, está? — Ela pergunta, estreitando os
olhos em diversão e eu expiro em alívio.
Ela não está estranhando isso; eu meio que esperava que ela tentasse
arruinar a vida do meu irmão ou ficasse com medo de voltar aqui. Estou
feliz que ela não esteja.
— Não, ele está no trabalho — eu digo, gesticulando para ela entrar e
ela entra. Fecho a porta atrás dela e me viro para ela.
— Graças a Deus — ela exala com um gemido —, ele claramente me
odeia.
Eu rio de sua atitude dramática.
— Não, ele odeia sua mãe — eu a corrijo.
— É a mesma coisa — ela diz, encolhendo os ombros e por algum
motivo eu me encontro murchando com suas palavras, ela realmente pensa
que é como sua mãe? Ou ela não se importa de ser percebida como ela?
— Espere, você estava assistindo De Volta Para O Futuro 2? — Ela
pergunta, tirando-me dos meus pensamentos, sua linha de visão indo para a
minha TV, que está pausada com De Volta Para o Futuro 2.
Eu gostaria de poder dizer que era mais inteligente, mas
honestamente, eu estava assistindo.
— Talvez.
— Então, você assistiu o primeiro? — Ela pergunta de novo e eu
quase caio para trás com o quão animada ela parece agora, seus lindos olhos
azuis arregalados e sua boca aberta como uma garotinha tonta.
Pare de ser fofa.
Eu limpo minha garganta e ajo com indiferença.
— Alguns dias atrás, sim.
— O que você achou?! — Ela pergunta me sacudindo pelos ombros e
eu não consigo conter meu sorriso.
Foi um filme muito bom, meio mudo às vezes, mas fiquei viciada na
maior parte do filme, assim como Aryan. Por alguma razão, assistir me fez
sentir mais perto de Juliette, o que é incrivelmente estranho.
— Foi bom.
— Apenas bom?
— Sim.
Suas mãos caem dos meus ombros e ela me dá um pequeno empurrão.
— Você é tão chata.
Suspiro com um pequeno sorriso.
— Tudo bem. Foi uma mudança de vida, monumental, incrível…
— É isso que eu gosto de ouvir — ela retruca, sorrindo
presunçosamente.
— Vamos. — Balanço a cabeça com uma risada, gesticulando para as
escadas enquanto subo as escadas e ela segue atrás de mim.
Ela se joga na minha cama como se fosse dona dela e pega seu
material de estudo enquanto eu me preparo para entrar no modo tutora,
embora seja muito difícil quando ela parece tão bonita.
Sento-me na cadeira do computador em frente a ela e bato palmas.
— Nosso exame é na próxima semana. Você não pode refazer este,
então você tem que passar, ok?
As notas de Juliette estão melhorando constantemente, eu vi o
trabalho de classe dela e ela está realmente pulando. Ela só precisa passar
em todos os próximos exames e não será expulsa do time. Então, é claro,
também receberei minha carta, que é a única coisa que me importa.
Ela acena com a cabeça.
— Eu sei.
— Vamos começar então.
Os próximos quarenta minutos consistem em eu ensinar a Juliette
exatamente o que escrever durante o exame e como funciona o esquema de
notas.
Eu estudei praticamente todos os esquemas de notas que já me foram
dados e sempre funcionou a meu favor.
Ela está compilando notas diligentemente e eu me esforço para não
me distrair quando chegamos ao final de nossa sessão. Em seguida,
preparo-me para fazer um questionário no final de nossa sessão, como
costumamos fazer.
— Então você finalmente estudou aquelas notas que eu te dei sobre
genética? — Eu pergunto pronta para me decepcionar novamente.
— Eu estudei, mas estou tendo dificuldade em reter as informações
— ela diz honestamente, mordendo o lábio inferior.
Ela é tão diferente quando eu a ensino; foi-se a sua fachada confiante
e chegou esta menina nervosa que só quer uma ajuda. Na verdade, é meio
cativante.
Foco, Adaline.
— Vou ler algumas perguntas desses cartões, tente o seu melhor para
respondê-las — eu digo gentilmente e ela acena com a cabeça.
Pego o primeiro cartão.
— O que é um gameta? — Essa é bem fácil, ela deve ser capaz de
responder.
— Célula-ovo?
— E..?
— Eu não tenho certeza. — Ela suspira, apertando as têmporas.
— É uma célula sexual, então ou esperma ou óvulo — eu digo
tranquilizadora e ela acena com a cabeça anotando novamente.
Ai, meu Deus, o que está acontecendo comigo? Eu deveria estar
gritando com ela ou tirando sarro dela por não se lembrar, mas não estou e
não quero.
— O que é adenina? — Eu pergunto, pegando outro cartão de
memória e ela fica completamente em branco.
— Eu não tenho certeza. — Ela franze a testa.
— É uma base encontrada no DNA, que só se liga à timina.
— Você nem vira as cartas, como você se lembra de tudo isso? — Ela
olha para mim em um tom meio frustrado, meio impressionado.
Eu dou de ombros.
— Ajuda o fato de eu realmente amar a biologia. É difícil para você
lembrar porque você não está realmente interessada nisso.
Ah, o privilégio dos ricos, nunca ter que estudar para coisas que não
importam, ou mesmo estudar para coisas que importam.
Ela suspira profundamente, franzindo a testa.
— É tão difícil às vezes, estou melhorando, mas não importa se eu
não passar neste teste.
Ok, então ela tem privilégios, mas na verdade ela está tentando. Ela
está tentando há meses, então claramente, ela se importa, apenas não é algo
pelo qual ela é apaixonada.
Observo enquanto ela passa a mão pelo cabelo, parecendo exausta.
Uma ideia surge em minha mente por causa de como ela parece totalmente
gostosa e também porque pode ajudá-la.
— Que tal eu te dar algum incentivo? — Eu sugiro, limpando minha
garganta.
— Como? — Ela pergunta, franzindo as sobrancelhas e apoiando-se
nos braços.
— Bem, que tal para cada pergunta que você acertar, eu tiro uma peça
de roupa.
Seus olhos quase saltam das órbitas e, honestamente, os meus quase
saltam. Por que acabei de dizer isso? Mais importante, por que não me
arrependo de dizer isso? Nenhum pouco.
— O quê?! Sério? — Seu tom é confuso, mas seduzido ao mesmo
tempo e está me excitando.
Tecnicamente, isso não vai atrapalhar a tutoria porque vai ajudá-la a
aprender. Certo?
Eu concordo.
— Sim, assim você terá algum incentivo e se concentrará mais. —
Quero acreditar nas palavras que saem da minha boca, mas não consigo.
— Por favor — ela murmura e tenho certeza que ela estava dizendo
isso em sua cabeça, mas saiu involuntariamente.
Eu escondo um sorriso e pego um cartão.
— O que são autossomos?
Ela esfrega a nuca.
— Porra, eu não sei esse. — Ela franze a testa pesadamente.
Eu literalmente nunca a vi tão perturbada por não conseguir uma
resposta certa, tudo isso porque eu não vou me despir? Dizer a mim mesma
que ela não gosta de garotas está ficando cada vez mais difícil a cada dia.
— Qualquer cromossomo que não seja um cromossomo sexual — eu
digo a ela, abafando uma risada e ela me encara.
— Próximo cartão. — Ela estala para mim, bufando.
— O que são aminoácidos? — Faço uma pergunta fácil para ela parar
de ficar chateada, ou talvez porque eu realmente queira tirar a roupa para
ela.
Quem sabe?
Ela visivelmente sorri com a pergunta.
— Blocos de construção para proteínas!
— Correto.
De repente, o ar está mais quente e seus olhos escureceram. Ela está
olhando para mim com expectativa, mas suavemente ao mesmo tempo,
como se ela entendesse se eu não mantivesse minha parte no trato. Eu
realmente quero, eu realmente quero.
Estou vestindo apenas uma regata branca e calça de moletom preta,
então, se eu começar com isso, vou ficar nua muito rapidamente.
Eu mantenho meus olhos nela enquanto tiro minha regata, lentamente,
saboreando a sensação de tirar minhas roupas para Juliette enquanto ela me
observa.
Uma vez que minha blusa é removida, fico apenas com meu sutiã de
renda branca. Eu engulo e olho para cima e vejo que ela está me devorando
com os olhos. Sinto como se fosse sua presa e ela minha predadora, mas,
por algum motivo, não quero correr, quero que ela me cace.
Eu a ouço respirar fundo, antes de dizer:
— Próxima carta. — Sua voz sai mais baixa do que o normal.
Eu sorrio para ela e pego outro cartão enquanto sinto seu olhar no
meu corpo.
— O que é uma dupla hélice?
Isso pode acontecer de qualquer maneira; Juliette deve ser capaz de se
lembrar disso ou pelo menos espero que ela se lembre. Suas sobrancelhas
estão amarradas em frustração e ela está genuinamente pensando em sua
vida.
Isso está fazendo maravilhas para o meu ego, o fato de ela estar tão
desesperada para me deixar nua.
— Ah, espere, eu sei disso! — Ela diz animadamente batendo palmas.
— É a estrutura do DNA!
— Correto — eu digo a ela com orgulho e ela apenas sorri para mim,
ainda olhando para o meu corpo de topless.
— Rápido, rápido. — Ela bate palmas olhando sem vergonha para o
meu peito e eu reprimo a vontade de dar um tapa nela e beijá-la ao mesmo
tempo.
— Cala a boca — eu resmungo de volta, divertida. Então decido
provocá-la um pouco. Eu me inclino e tiro minhas duas meias em vez de
qualquer outra coisa.
Ela geme alto.
— Sério?
— Meias são roupas. — Eu rio, encolhendo os ombros.
Ela revira os olhos para mim, bufando como uma pirralha.
— Continue.
— O que as proteínas histonas fazem? — Eu questiono
presunçosamente, esta é uma das questões mais difíceis.
— Elas... ajudam o DNA a se enrolar nos cromossomos. — Ela me dá
um pequeno sorriso depois de responder.
Seus olhos ainda estão presos no meu corpo, enquanto ela está
mordendo o lábio inferior e há um brilho perigoso naqueles olhos azuis
deslumbrantes. Confie que ela só se lembrará das respostas quando minha
dignidade estiver em jogo!
— Ei, foco. — Eu estalo meus dedos na frente dela, limpando minha
garganta.
— Desculpe, você é linda para caralho — ela diz sem rodeios e eu me
sinto derreter em uma poça de nada.
Sinto minhas bochechas corarem.
— Isso não é sobre mim, concentre-se em estudar.
Ela tem que focar nos estudos, por isso que eu fiz isso, não é? Então,
por que eu quero arrancar as roupas dela agora?
Ela zomba como se meu comentário fosse ridículo.
— Você já se viu? Não consigo me concentrar em nada além de você.
Dane-se isso. Pela primeira vez na minha vida, eu não me importo em
estudar, não quando ela está olhando para mim assim, nem quando ela diz
coisas assim que não só me abalam profundamente, mas me excitam
incrivelmente. Esta é a mesma Juliette Kingston que me odeia?
Eu mantenho meus olhos em seus sedutores enquanto coloco os
cartões na minha mesa e, em seguida, olho para ela.
— Lembra o que você me disse naquele dia nos vestiários, antes de
brigarmos?
Eu deveria estar tirando outra peça de roupa agora, mas não estou.
Em vez disso, vou dar a ela algo muito melhor, uma recompensa por aquele
comentário comovente.
— Sobre seus pais? Me desculpe… — Eu quase rio de sua voz
confusa e cheia de tristeza, mas eu a interrompi prontamente.
— Não, a outra coisa — eu esclareço a ela, mordendo meu lábio e ela
faz o mesmo, acenando com a cabeça quando ela finalmente percebe. —
Diga de novo — digo.
A tutoria acabou, ela sabe e eu também.
Ela sorri e olha para mim, seus olhos subindo e descendo pelo meu
corpo novamente enquanto seus olhos escurecem.
— Fique de joelhos.
Se você tivesse me dito alguns meses atrás que eu ficaria de joelhos,
seminua para Juliette, eu provavelmente daria um soco na sua cara e depois
daria risada.
No entanto, agora estou lentamente ficando de joelhos e quase
rastejando em sua direção enquanto ela observa cada movimento meu.
Eu a alcanço entre suas pernas e olho para ela, ela puxa a respiração e
eu sorrio para ela. Ela instantaneamente me puxa para cima e coloca seus
lábios nos meus. Eu a beijo de volta avidamente, minhas mãos em seus
joelhos nus e as dela segurando meu rosto.
— Porra — ela murmura contra meus lábios e aproveito a
oportunidade para mergulhar minha língua profundamente em sua boca
enquanto ela retribui. Ela tem um gosto tão bom o tempo todo, é como se
meus lábios fossem feitos para ela e só para ela.
Ela é uma vadia; tão conivente e cruel, mas seus lábios são puramente
angelicais.
Sinto meu corpo ficar cada vez mais quente a cada vez que a beijo,
então desgrudo meus lábios dos dela abruptamente e ela quase choraminga,
até que me abaixo.
— Você tem sido tão boa, acho que merece uma pequena recompensa,
não é? — Eu ronrono as palavras acariciando suas pernas nuas levemente.
Ela acena com a cabeça, engolindo em seco.
— Sim, acho que você precisa usar melhor sua boca.
Eu esperava que ela estivesse nervosa, tremendo com a perspectiva de
eu cair em cima dela, mas ela não está. Em vez disso, ela é carente, mas tão
exigente e rude ao mesmo tempo. Por que isso é tão quente? Não sei. No
momento, também não me importo, porque isso já faz muito tempo.
Então, sim, talvez eu precise usar melhor minha boca; talvez eu
precise tirar todos os insultos guardados e usar na boceta dela.
— Sim? Você quer que eu prove você? — Eu a provoco, passando a
mão por sua saia.
— Por favor — ela sussurra baixinho, tentando mover suas próprias
mãos para baixo para tirar sua calcinha, mas eu bato em suas mãos.
De jeito nenhum. Este é o primeiro orgasmo que ela terá de outra
pessoa, então eu quero que ela se deite e aproveite; eu não quero um único
pensamento passando por sua mente além da minha língua dentro de sua
boceta.
— Me deixe fazer o trabalho, princesa. — Eu a castigo levemente e
ela geme em resposta.
Ela cai de costas e suspira, esperando que eu faça o trabalho que
prometi. Eu sorrio enquanto tiro lentamente sua calcinha, dando a ela o
máximo de tempo possível, caso ela queira me impedir, mas ela não
impede.
Ela abre as pernas quase instantaneamente assim que tiro sua calcinha
e quero rir de sua disposição, mas não posso; a visão é muito sexy.
Ela está abrindo as pernas para mim.
A primeira visão de sua boceta é celestial, é tão suave e está
realmente pingando. Ela está pingando para mim. Isso tudo porque eu
estava me despindo para ela?
Eu beijo suas coxas tonificadas suavemente, chupando, mordendo e
mordendo qualquer centímetro de pele que eu posso colocar minha boca e
ela geme alto.
Sinto-me cada vez mais molhada ao som dela, enquanto continuo
raspando minhas unhas e dentes na pele perto de sua boceta, mas ainda não
dando a ela o que ela quer.
— Por favor, Addie — ela implora em um gemido, balançando a
cabeça de um lado para o outro.
— Por favor, o quê? — Eu murmuro contra suas coxas em uma
risadinha desonesta, ignorando o quão bom soa quando ela diz meu nome
assim.
— Por favor, coma minha boceta — ela implora mais alto e isso é o
suficiente para eu ouvir.
Eu gosto de agradar, não tenho o hábito de fazer as pessoas
implorarem muito, principalmente Juliette. Eu agarro suas coxas e a puxo
para mais perto de mim, fecho meus olhos e mergulho dentro dela com
minha língua e quase desmaio – ela tem um gosto incrível, cítrico e
salgado; exatamente como eu imaginei que ela teria.
Ela tem gosto de algo pelo qual eu poderia ficar obcecada, algo que
quero imprimir em mim a cada segundo de cada dia.
Ela geme alto e não perde tempo agarrando meu cabelo com as mãos
e praticamente me empurrando ainda mais em sua linda boceta.
— Ai, meu Deus! — Ela engasga alto, como se não conseguisse
respirar, o que só me estimula ainda mais.
Eu agarro suas coxas, puxando-a mais fundo em minha boca,
enquanto ela continua se debatendo e movendo seu corpo de um lado para o
outro.
Eu movo meus dedos em direção ao seu clitóris inchado e o esfrego
em círculos enquanto continuo lambendo-a com minha língua e ela fica
mais alta.
— Eu disse a você, amor, não há Deus aqui, só eu. — Eu retruco com
a voz rouca, ainda comendo sua pequena boceta como se minha vida
dependesse disso enquanto ela rebola na minha boca, gemendo mais alto.
— Olhe para mim! — Ela ordena sem fôlego e instantaneamente
meus olhos se voltam para ela.
Seu rosto está completamente vermelho, sua respiração pesada e seus
olhos completamente satisfeitos enquanto ela me comanda com os olhos.
Eu mantenho meus olhos nela e ela envolve as pernas em volta da minha
cabeça.
— Não se atreva a parar — me diz em um grito, ela ainda é tão
exigente como sempre enquanto agarra meus lençóis com força.
Eu não sonharia em parar. Eu comeria sua boceta todos os dias sem
fazer mais nada se pudesse. É completamente viciante; ouvi-la e vê-la se
desfazer à minha mercê é viciante.
— Bem assim... você é tão boa nisso — ela me elogia em um gemido
e eu aproveito a oportunidade para mostrar a ela o quão boa eu realmente
sou.
Eu chupo seu clitóris, girando suavemente minha língua em cada
fenda de sua boceta enquanto ela praticamente cavalga meu rosto com seus
movimentos.
Eu a coloco com força e delicadeza ao mesmo tempo, comendo-a
como se estivesse morrendo de fome e ela fosse minha última refeição.
Nunca me canso de sua boceta deliciosa; eu nunca me canso dela.
— Vou gozar! — Ela geme e estou meio chocada com o quão rápido
ela vai gozar, mas não paro o que estou fazendo.
Em vez disso, tiro e colo minha língua nela no mesmo ritmo, sem
estragar nada. Posso senti-la apertando minha língua e a sensação é
indescritível. Eu movo minhas mãos mais para cima na cama e travo nossos
dedos. Ela me segura com mais força, apertando minhas mãos.
— Goze para mim — murmuro em sua boceta, isso é tudo que
preciso, porque ela estremece e engasga, seu corpo tem espasmos e suas
pernas se contraem.
— Porra. — Ela engasga alto como se não conseguisse respirar ou
estivesse respirando demais ao mesmo tempo.
Solto suas mãos, mas não consigo tirar os olhos dela; não quando
todo o seu corpo está tremendo violentamente e seu rosto é interpretado
dessa forma, como se ela tivesse perdido o controle de si mesma e eu não
posso acreditar.
Eu a observaria gozar pelo resto da minha vida se pudesse. Ela
merece isso; não acredito que ninguém jamais teve o prazer de vê-la gozar
antes, mas parte de mim está feliz por eu ser a primeira.
Minha boca a solta e dou a ela alguns segundos para se acalmar, pois
ela parece não conseguir lidar com o que acabou de acontecer; é como se
ela não pudesse ver nada agora. Ela persegue seu orgasmo lentamente e eu a
observo diligentemente.
Juliette Kingston. Meu único ódio verdadeiro. A garota que eu
desprezo e a garota que me despreza, mas acabei de dar a ela um orgasmo –
o primeiro dela com outra pessoa – enquanto eu tinha que me controlar para
não ter um orgasmo só de vê-la.
— Você vai me deixar viciada nisso — ela me diz com uma
respiração pesada, com os olhos fechados.
Tum. Tum. Tum.
Por que ela diz coisas assim? Por que ela está tornando extremamente
difícil para mim continuar a odiá-la?
Eu rio do sentimento e me levanto, olhando para Juliette na minha
cama e seus olhos se abrem. Ela me dá um sorriso atordoado e morde o
lábio para mim, ela faz um movimento para se levantar, passando as mãos
na minha cintura, mas eu a interrompo, segurando suas mãos.
— Isto foi sobre você, só você — eu digo suavemente, impedindo
suas mãos de vagar mais abaixo.
Ela franze a testa ligeiramente para mim, mas acena com a cabeça em
concordância, afastando as mãos.
Esta foi a primeira vez que ela esteve com uma garota em qualquer
aspecto, não quero apressá-la. Ela pode pensar que quer mergulhar de
cabeça, mas na verdade não quer. Posso odiá-la, mas isso não significa que
quero que ela surte.
— Eu deveria ir — diz ela abruptamente e só posso acenar com a
cabeça em resposta.
Eu me afasto e observo enquanto ela coloca a calcinha de volta e se
arruma, ela me dá uma olhada antes de se levantar. Não tenho certeza do
que é, mas não é o olhar desagradável que ela costuma me lançar e isso está
me assustando.
Ela caminha em direção à porta e eu sinto uma dor incômoda no meu
peito. Quero dizer a ela que não precisa ir, mas não digo. Eu apenas a
observo enquanto ela sai.
Capítulo VINTE E SETE
Juliette
Boca. A boca dela em mim. A língua dela dentro de mim. É tudo
em que consigo pensar. É tudo em que vou conseguir pensar pelo resto dos
meus dias.
Foi há poucos dias, mas quero de novo; preciso disso de novo. Eu
quero sua boca em cada centímetro do meu corpo o tempo todo.
Fiquei completamente perplexa quando Adaline surgiu com a
sugestão de tirar a roupa para obter respostas, embora, para ser honesta,
nunca tivesse ficado tão motivada para lembrar uma resposta para qualquer
coisa antes.
Aquele corpinho tonificado dela; eu queria tão desesperadamente
livrá-la de todas as roupas que ela estava vestindo.
Eu nunca quis tanto que alguém me tocasse em toda a minha vida. Eu
nunca desejei a boca de alguém tão vividamente antes.
Eu não posso nem começar a descrever a maneira como ela me fez
gozar, foi tão monumentalmente incrível que nenhuma palavra poderia
fazer justiça.
Eu costumava pensar que as pessoas estavam exagerando quando
falavam sobre como era transcendente receber sexo oral ou fazer sexo,
agora sei que não.
Algo mudou em mim, como se as comportas tivessem se aberto e eu
não pudesse controlá-las. Minha mente está absolutamente esgotada e não
estou com raiva disso, nem um pouco.
Tudo no que consigo pensar agora é em colocar minhas mãos em seu
corpo na próxima vez que a vir. Eu nunca quis tanto tocar alguém quanto
quero tocá-la.
Eu nem queria ir embora, queria muito ficar e retribuir, mas ela foi
tão gentil comigo; ela apenas entendeu melhor do que eu que talvez fosse
demais para um dia e ela estava certa.
É por isso que a tenho evitado desde então. A maneira como ela olhou
para mim depois me arruinou. Isso me fez perceber exatamente o que tenho
feito, especialmente quando cheguei em casa e minha mãe estava lá pela
primeira vez antes de partir para outra viagem de negócios que
provavelmente durará semanas.
Jantamos juntas e eu me senti absolutamente enojada o tempo todo,
porque ainda não me arrependo do que fiz com Adaline.
É apenas sexual no final do dia, só se torna um problema quando se
torna algo mais do que isso – o que nunca acontecerá. Isso é apenas uma
experiência, nada há de errado nisso, porque ninguém jamais saberá.
Eu não posso mais ignorar Adaline independentemente, porque nós
temos uma sessão de tutoria hoje e a campainha acabou de tocar, então eu
sei que ela está aqui, mesmo que ela esteja vinte minutos atrasada.
Abro a porta e lá está ela, com uma minissaia preta e um top preto.
Sério, ela só tem tops? Para ser justa, eles fazem maravilhas por
aquele corpinho firme.
— Oi — Adaline diz casualmente.
Ela não me deixa responder antes de entrar em minha casa como se
não tivesse me dado o melhor orgasmo da minha vida alguns dias atrás,
como se eu não estivesse implorando para ela me comer.
Eu arqueio minhas sobrancelhas com seu comportamento casual, mas
estou um pouco grata por ela não estar escondendo isso de mim. Quero
dizer, eu a repreendi durante toda a vida por ser bissexual e agora a deixei
me chupar... e adorei? Se eu estivesse no lugar dela, não me deixaria
esquecer, especialmente depois de evitá-la por dias.
— Você está atrasada — eu digo, balançando a cabeça de qualquer
outro pensamento.
— Sim, eu estava recebendo minhas notas do meu exame de
matemática — diz ela, encolhendo os ombros.
— Quanto você tirou? — Eu me pego perguntando por algum motivo.
Por que eu me importo?
— Dez, obviamente.
Obviamente. Ela é uma merdinha tão arrogante, mas por que é tão
atraente? Além disso, por que meu peito está inchando de... orgulho? Desde
quando eu me importo com as notas que ela tira?
— Como você vai comemorar? — Eu pergunto, tentando acalmar o
inchaço no meu peito. Ela parece confusa, então eu esclareço: — Por tirar
uma boa nota.
— Primeiro de tudo, é uma nota perfeita — ela esclarece e eu reviro
os olhos. — Além disso, por que eu comemoraria isso?
Tudo bem, comemorar boas notas não é só coisa de rico, até eu sei
disso.
— Isso é o que as pessoas fazem — eu digo, perplexa com o quão
confusa ela parece agora.
— Você faz isso? — Ela me questiona curiosamente.
Eu concordo.
— Sim.
Sempre celebrei tirar boas notas, seja comprando coisas extravagantes
ou apenas cuidando de mim mesma. Afinal, é uma conquista,
principalmente quando estudei muito para algo e vale a pena.
Ela dá de ombros.
— Estou acostumada com isso.
Há algo diferente em seu tom; suas palavras podem parecer
arrogantes, mas não são. Por alguma razão, sinto seu tom irritante em meu
peito; ela soa tão exausta e casual ao mesmo tempo e eu não consigo
entender.
— Trabalhar duro ou tirar notas perfeitas?
— Ambos.
Eu a encaro pensativa, digerindo suas palavras. A ideia de comemorar
nem lhe ocorre e por uma razão desconhecida, isso me incomoda.
Sempre presumi que ela provavelmente festejava ou comemorava de
alguma forma; quero dizer, ela fala o suficiente sobre como suas notas são
perfeitas, sempre pensei que ela fazia isso porque ficava orgulhosa, ela
claramente não ficava orgulhosa o suficiente.
Não é só porque ela está acostumada a tirar notas perfeitas, mas quase
parece que ela espera isso de si mesma, então ela nunca pode comemorar; é
quase monótono. Ela está tão acostumada a isso, a trabalhar duro e nunca
ter tempo para parar e se divertir.
Suas palavras do dia em que ela estava na minha sala de arte
continuavam tocando na minha cabeça. “Eu sempre pensei que aprender a
tocar piano seria legal.”
Acho que nunca pensei em comemorar uma conquista, por menor que
fosse. Estou ciente de que é por causa do dinheiro que tenho e também
estou ciente de que joguei isso na cara dela a maior parte de sua vida, então
por que de repente estou sentindo como se água gelada estivesse me
lavando?
Sem chance; isso não vai funcionar. Não vou deixá-la varrer sua
conquista para debaixo do tapete.
— Vem comigo — eu digo. Eu não dou a ela tempo para pensar antes
de pegar sua mão e praticamente puxá-la comigo.
— Espere, onde você está me levando? — Ela pergunta, confusa, mas
eu não respondo, não até que nós duas tenhamos chegado à minha sala de
estar.
Eu a levo até o piano de cauda no canto da sala; ele está acumulando
poeira há algum tempo. Eu solto a mão dela e tento não pensar na sensação
de perda.
— Senta. — Aponto para o banco preto do piano.
Ela ergue as sobrancelhas.
— Eu deveria estar ensinando você, Juliette.
— Podemos perder um dia; eu acho que isso é mais importante — eu
digo acenando para suas preocupações em um tom sério.
— Tocar o piano? — ela retruca, divertida.
— Comemorar — eu esclareço.
Seus olhos suavizam.
— Juliette…
— Me deixe te ensinar a tocar — eu imploro e exijo ao mesmo
tempo.
Eu quero fazer isso; quero ensinar a ela algo que ela não precise se
esforçar muito. Ela pode tê-lo para si mesma sem quaisquer expectativas ou
regras.
— Tudo bem — ela retruca e estou chocada com a rapidez com que
concordou, ela realmente deve querer aprender a tocar.
Ela se senta e eu me sento ao lado dela. Minha mãe me mataria se
soubesse que estou deixando Adaline tocar neste piano. Afinal, é um
Steinway & Sons Fibonacci. Só que ela também me mataria se soubesse que
implorei a Adaline para me chupar.
— Vou começar a tocar. Concentre-se em meus dedos e repita o que
estou fazendo assim que terminar — eu digo a ela e ela balança a cabeça, já
olhando para as teclas com espanto.
Esta não é a maneira de ensinar piano a alguém, mas, novamente, eu
nunca ensinei ninguém, então estou apenas improvisando tudo isso.
Começo a tocar as primeiras notas de Nuvolo Bianchi de Ludovico
Einaudi. Talvez eu devesse ter escolhido algo mais fácil, mas quero tocar
essa música; parece certo jogar isso com ela.
Meus dedos deslizam nas teclas e sinto uma onda de adrenalina tomar
conta do meu corpo. Já não toco há algum tempo, tinha-me esquecido como
é aliciante.
— Uau — ela sussurra baixinho e eu sorrio, sentindo seus olhos em
mim enquanto continuo a tocar as notas lentamente para que ela possa se
lembrar.
É difícil me concentrar em jogar quando seu ombro está pressionado
ao lado do meu e ela está tão perto; eu continuo sendo engolfada por seu
perfume.
Por que ela sempre cheira tão bem? Mais importante, por que estou
incomodada com o cheiro dela quando literalmente coloquei minha língua
dentro de sua boca antes?
— Sua vez — eu digo, parando lentamente e observo enquanto ela
suspira, se preparando.
Ela começa a deslizar seus dedos ágeis nas teclas e claro, assim como
tudo, ela é natural nisso também. Eu deveria estar olhando para as mãos
dela, mas não estou, estou olhando para seu rosto deslumbrante, que parece
tão cativado enquanto ela toca.
Sinto meu coração batendo e meus ouvidos zumbindo, mas não tenho
certeza se é por causa da música ou se é ela.
Já vi Adaline focada antes, mas nunca a vi assim; tão livre, tão
relaxada e alegre. Eu nunca a vi realmente se soltar e é eletrizante; é
emocionante.
Eu não achava possível ela ser mais atraente do que já é, quer dizer,
isso seria injusto com toda a população.
No entanto, aqui está ela, parecendo ainda mais bonita porque a
emoção está rabiscada em todo o rosto.
— Isso é tão legal — ela murmura baixinho como uma criança e uma
dor se forma em meu peito.
Ela deveria ter sido capaz de fazer isso. Ela deveria ter tido a
oportunidade de fazer tudo o que desejava; toda criança deveria ser capaz.
Mas ela não tinha isso, ela tinha que trabalhar, estudar e viver; tudo
sem pais, enquanto eu constantemente a repreendia e batia nela.
Pare com isso. Pare de se sentir culpada. Ela é apenas sua parceira
sexual, nada mais, nada menos.
Ela para de tocar e olha para mim, tirando-me dos meus pensamentos.
— Sua vez. — Ela sorri suavemente e eu quase entro em combustão.
Eu limpo minha garganta e aceno com a cabeça, minhas mãos
voltando para o piano enquanto evito seu olhar. Eu me sinto imersa na
música e ela está começando a me puxar.
— Por que você escolheu essa música? — Ela me pergunta baixinho,
quase em um sussurro.
Minhas mãos param por um momento, mas não me viro para ela. Não
tenho certeza do que se passa com Adaline Emery, mas por algum motivo
quero contar coisas a ela, coisas tão profundamente enraizadas em minha
alma que nem quero contar a mim mesma.
— Eu costumava tocar o tempo todo, principalmente nos aniversários
da minha mãe. Ela sempre me pedia para tocar depois que cortávamos o
bolo; ela adorava — eu digo bem baixinho, quase em um sussurro.
Mencionar minha mãe em voz alta faz meu coração disparar. Não
posso evitar; faz um tempo que não a menciono para Adaline e foi muito
intencional.
Eu beijei uma garota, deixei ela gozar em mim. Se minha mãe
descobrisse, ela iria... me odiar. Eu seria como meu pai: um pervertido, um
degenerado, alguém capaz de ferir.
— Eu não acho que ela poderia parar de amá-la; Não vejo como
alguém poderia. — Adaline corta meus pensamentos e me viro para olhar
para ela.
Eu nunca a ouvi ou a vi falar tão suavemente antes. Ela quis dizer o
que acabou de dizer; pelo menos eu espero que sim.
Suas sobrancelhas estão franzidas suavemente e seus olhos verdes
carregam uma emoção indescritível, mas eu sei que não é aborrecimento ou
ódio – eu sei muito bem como isso parece nela.
Seus olhos e suas palavras trazem uma calma sobre mim e,
instantaneamente, sinto minha histeria desaparecer. Está tudo bem, minha
mãe nunca descobriria sobre isso. De qualquer forma, isso é apenas uma
experiência, eu nunca poderia ser como meu pai, nunca machucaria minha
mãe como ele.
Eu não vou machucá-la. Eu prometo que não vou. O que minha mãe
não sabe, não vai machucá-la.
— Desde que meu pai foi embora, ela simplesmente... parou de me
pedir para tocar — eu digo com um suspiro. Pareço tão patética reclamando
da minha mãe para alguém que não tem pais.
— Talvez ela não precise pedir, talvez você devesse tocar de qualquer
maneira.
Eu quero gritar e espernear com ela por ser tão suave e doce sem
motivo, mas eu não faço isso. Em vez disso, eu me inclino para frente e
envolvo seus lábios com os meus... mais uma vez.
Ela me beija de volta instantaneamente, como se fosse uma segunda
natureza. O próprio pensamento me estimula. O beijo é suave e sereno,
como se ela estivesse me dizendo que entende, apenas por usar seus lábios
macios.
As meninas têm lábios tão macios; na verdade, tudo o que elas têm é
macio e é... reconfortante.
Ela se afasta da minha boca e encosta a testa na minha.
— Esta é mesmo uma celebração muito boa — diz ela com um
sorriso.
Seu sorriso parece um dardo envenenado esfaqueando meu peito; é
genuíno demais. Eu não posso fazer isso; estamos entrando em águas
perigosas e não aguento.
Tenho tantos sentimentos girando em meu peito agora, mas só vou me
concentrar em um desejo.
— Esta não é a única celebração — eu digo a ela roucamente,
movendo meus lábios em seu pescoço.
Eu mordi sua pele macia, roçando e beijando; seus gemidos são como
música para meus ouvidos. Não precisamos deste piano, podemos fazer
música de outro jeito… do nosso jeito.
— É mesmo? — Ela pergunta preguiçosamente, como se não pudesse
se concentrar em nada além dos meus lábios em seu pescoço.
Eu relutantemente deixo seu pescoço e posso ouvi-la gemer em
resposta. Deus, isso é quente.
Eu olho profundamente em seus lindos olhos antes de falar.
— Comer você é a outra celebração — digo com toda a confiança que
posso e vale a pena, porque posso ouvir sua respiração engatar.
— Você não precisa... se não quiser — ela diz com preocupação e
desejo ao mesmo tempo.
Esse é o problema, eu quero. O tempo todo, quero meus dentes, mãos
e boca em cada fenda do corpo dela.
— Eu quero, mais do que deveria... só estou nervosa, não vai ser bom.
— Admito abaixando minha cabeça um pouco.
Quero dizer, esta é a primeira vez que faço algo sexual com uma
garota; com Adaline, ainda por cima. Ela provavelmente já esteve com
tantas garotas. Só de pensar nisso, uma onda de fúria desce pela minha
garganta e não sei por quê.
E se eu não corresponder a mais ninguém? Por que pareço tão
patética agora?
— Ei, não faça isso — diz ela, colocando um dedo sob meu queixo e
levantando-o. — Apenas faça o que parece certo. Você nunca poderia ser
ruim em alguma coisa; você é Juliette Kingston.
É possível ficar excitada quando alguém diz seu nome completo
assim? Isso é um fetiche? Porque tenho certeza de que tenho, especialmente
porque Adaline é quem está dizendo isso.
Ela está me dando poder ao dizer meu nome e está fazendo isso de
propósito. Suas palavras me dão toda a confiança de que preciso, talvez até
demais – todo mundo sabe que o poder é o que mais me excita.
Instantaneamente, eu me levanto e vou para trás dela. Eu me inclino e
puxo seu banquinho um pouco mais para trás e ela engasga, provavelmente
porque ela ainda está nele. Ela tenta virar o corpo, mas coloco minhas mãos
em seus ombros com firmeza.
— Fique quieta — digo a ela com firmeza e ela faz exatamente isso
como uma boa menina. — Continue tocando piano.
Demora alguns segundos, mas ela obedece e começa a tocá-lo. Eu
reprimo a vontade de dizer a ela como estou orgulhosa dela por aprender o
começo da peça tão rapidamente.
Em vez disso, fico de joelhos e rastejo na frente dela, bem na frente
do banco. Ela me vê e engole em seco, mas não para de tocar. Eu amo
quando ela me ouve.
Eu movo minhas mãos sob sua saia, olhando para ela em busca de
aprovação e ela acena com a cabeça. Eu não perco tempo, arranco sua
calcinha; eu preciso vê-la. Eu abro suas pernas enquanto a vejo mordendo o
lábio inferior, ainda brincando.
— Juliette… — ela murmura sem fôlego, mas eu mal posso ouvi-la;
estou muito ocupada olhando para a boceta dela.
Ai, meu Deus. É incrível — sua pele macia, sua boceta tão molhada.
Eu me sinto cativada. Ela tem as pernas abertas para mim sem vergonha e é
tão sexy. Ela está pingando e é tudo por minha causa.
— Uma boceta tão bonita — eu digo sombriamente, não sendo capaz
de tirar os olhos dela.
Eu mantenho meus olhos nela enquanto começo a espalhar beijos na
parte interna de suas coxas. Vou apenas fazer o que parece certo; o que foi
bom para mim quando ela fez isso e o que posso dizer ao que seu corpo
responde. Vou fazer o que quero, pela primeira vez na minha vida.
— Porra — ela murmura, já errando algumas notas, mas eu ignoro.
Não consigo me concentrar em nada além de como seus sussurros
soam bem, como minha própria calcinha está ficando encharcada enquanto
beijo suas coxas, provocando-a. Até suas coxas são deliciosas; é como se
ela se banhasse em puro desejo todas as noites.
— Você está tão molhada, amor, isso é tudo para mim? — Eu
murmuro contra a parte interna de sua coxa.
Ela apenas choraminga em resposta e tanto quanto eu gosto de como
ela parece chorona agora, eu ainda quero uma resposta. Eu preciso de uma
resposta.
— Diz! — Meu tom é exigente, resoluto.
Eu preciso que ela diga isso, que admita que sua boceta me quer,
precisa de mim. Acho que sempre precisei que ela dissesse isso.
— Sim, é para você. É tudo para você — ela lamenta, quase socando
as teclas do piano.
Eu gosto disso, de vê-la à minha mercê, e ela quer estar à minha
mercê. Ela parece tão incrivelmente sexy assim; eu juro que poderia gozar
só de olhar para ela.
— Uma vagabunda tão boa — eu a cumprimento com uma risada
sombria e mordo sua coxa.
Seu corpo estremece e ela morde o lábio ainda mais forte.
Claramente, ela gosta de degradação e isso funciona a meu favor, porque eu
adoro fazer isso.
Continuo lambendo e provocando sua parte interna das coxas,
tentando me controlar para não atacar sua boceta.
Minha mordida deixa uma marca e eu quase gozo só de vê-la, é como
se eu a tivesse marcado. Ai, meu Deus.
— Por favor — Adaline geme. Ela está sendo tão boa; ela ainda está
tocando piano e parece tão desesperada.
Eu gosto disso. Esqueça gostar, eu adoro isso. Eu amo o quão
desesperada ela está por mim, o quanto ela precisa de mim. Eu só preciso
ouvir agora; eu a quero faminta por mim.
— Implore por mim. — Eu ordeno a ela, sorrindo em sua pele.
— Não.
Ela parece tão irritada agora, como se soubesse que eu faria uma
merda dessas, mas ela pode me culpar? Quem não gostaria de uma garota
bonita implorando para te ter?
— Implore, Adaline, não me faça dizer duas vezes. — Eu a advirto,
minhas unhas cavando levemente em sua coxa.
Ela é uma pirralha tão petulante; ela pode me negar o quanto quiser
fora disso, mas sei que ela me quer agora. Então, ela vai ter que implorar
por isso, porque isso me excita mais do que qualquer outra coisa.
— Por favor! — Ela choraminga novamente, mais alto desta vez e
suas mãos param de tocar, ao invés disso, elas se movem para se firmar no
banco.
Tão fofa. Ela tem que se firmar porque está tão desesperada por mim.
— Você pode fazer muito melhor do que isso.
Ela aperta a mandíbula. Ela parece tão furiosa e chorosa ao mesmo
tempo, é delicioso. Eu me aproximo de sua boceta, pairando sobre ela e
olhando para ela, dizendo-lhe com meus olhos que ela precisa implorar
melhor.
— Foda-se — ela geme, quase como se estivesse com uma dor
insuportável. — Por favor, coma minha boceta, eu preciso tanto de você,
Juliette…
Eu não aguento mais. Instantaneamente mergulho dentro dela,
primeiro com a língua. Adoro calar sua boquinha desonesta, silenciá-la. Ela
raramente não tem algo a dizer, então esse silêncio é tão viciante.
Eu a ouço ofegar, mas não consigo prestar atenção nisso, não quando
ela tem um gosto tão perfeito.
Ela tem gosto de abacaxi e... todos os meus desejos mais obscuros?
Isso é possível? Por que isso é tão perfeito? Por que devorar uma garota é
tão satisfatório?
— Porra! — Adaline geme, mas mal posso ouvi-la porque sua boceta
me hipnotizou.
Apesar disso, eu a sinto; suas mãos se movem para o meu cabelo e ela
o puxa enquanto eu a devoro. Eu não tenho o suficiente dela; eu preciso de
cada centímetro de sua boceta dentro da minha boca. Eu chupo seu pequeno
clitóris e aplico um pouco de pressão e ela responde puxando minha cabeça
ainda mais para dentro dela.
Droga! Ela é tão gostosa. É como se minha boca soubesse exatamente
o que ela precisa, como se minha boca fosse feita exatamente para isso:
para ela.
— Você tem um gosto tão perfeito — eu digo com voz rouca em sua
boceta bonita.
Eu preciso dela mais perto de mim. Eu movo minhas mãos sob suas
coxas e de uma só vez, eu a pego, suas pernas agora em meus ombros
enquanto eu me levanto.
— Ai, meu Deus! — ela grita, quase chocada e excitada ao mesmo
tempo.
Agradeço a Deus por essa força de líder de torcida.
Eu mantenho minha língua enterrada em sua boceta enquanto a viro,
então sua bunda está plantada no banco, mas suas costas estão encostadas
no piano.
Ela esbarra no piano, suas costas batem nele, fazendo com que as
teclas protestem alto, mas eu não me importo. Neste momento, este piano
poderia estar encharcado com cada resquício dela e eu nem pensaria em
limpá-lo.
— Grite meu nome — murmuro, circulando seu clitóris com minha
língua.
Ela precisa se lembrar de quem está fazendo isso com ela, quem a
está fazendo se sentir tão bem que ela está movendo a cabeça de um lado
para o outro como se não suportasse respirar, contra cuja boca ela está se
esfregando como uma vagabunda voraz.
— Juliette! — Ela grita em um gemido ofegante.
Se eu soubesse que tudo o que ela precisava para me ouvir era comê-
la, eu teria feito isso há muito tempo, especialmente se eu soubesse que
provar uma boceta seria tão monumental.
— De novo. — Eu exijo enquanto passo minhas mãos por seu corpo,
agarrando seus seios empinados.
Eu gostaria que ela não estivesse usando sutiã agora, ainda assim seus
seios parecem tão perfeitos em minhas mãos. Eu continuo puxando e
apertando-os.
— Juliette! — Ela grita ainda mais alto, o rosto contorcido de tanto
prazer que não consigo respirar.
Felizmente, não preciso respirar; posso simplesmente continuar
chupando seu clitóris enquanto enfio dentro e fora dela com minha língua
tão forte quanto eu quiser.
Eu penso em usar meus dedos, mas eu decido contra isso, eu quero
fazê-la gozar apenas com a minha boca por enquanto, para que ela saiba o
quão boa eu posso ser.
— Eu v-vou gozar. — Ela resmunga, moendo seu rosto em mim com
reverência… mais forte.
— Ainda não — eu digo, quase com raiva. Ela choraminga em
resposta, quase soluçando.
Eu preciso de mais. Ela não pode gozar ainda, não quando eu não me
canso de seu gosto, não quando eu quero me lembrar do gosto dela pelo
resto da minha vida.
Eu quero fazer isso para sempre, ter minha língua dentro dela para
sempre e para ela gemer para mim para sempre. Ela não pode gozar ainda,
não estou nem perto de terminar com ela…
— Por favor, por favor, deixe-me gozar — ela geme em um grito,
quase arrancando meus folículos capilares.
Deixa para lá. Como posso negá-la quando ela implora como uma
vagabunda? Quando ela está tão desesperada por mim? Se preciso alguma
coisa, é vê-la gozar, ela merece isso por aturar todas as minhas merdas. Eu
nunca a vi assim antes; tão completamente em transe de prazer.
— Porra — eu gemo, apaixonada por ela parecer tão sexy enquanto
geme de prazer. — Ok, amor, está tudo bem. Você pode gozar para mim.
Ela estava claramente esperando por permissão, porque assim que as
palavras saem da minha boca, sinto suas pernas envolvendo minha cabeça.
Ela aperta em torno da minha língua e eu poderia morrer feliz agora com
esse sentimento.
— Ah, merda! — Ela grita tremendo enquanto seu peito arfa
violentamente.
Presa em sua boceta, meus olhos ficam em seu rosto. Ela parece
etérea, tão crua, tão imunda enquanto goza por minha causa – para mim.
Eu gostaria de poder engarrafar essa visão dela e mantê-la, para que
eu pudesse revê-la sempre que quisesse. É a visão mais inestimável do
mundo.
Alguns minutos se passam e vejo suas pernas relaxarem em volta da
minha cabeça, mas ainda permanecem sobre meus ombros.
Ela inspira e expira com os olhos fechados, claramente incapaz de
esconder aquele enorme sorriso no rosto. Não consigo tirar os olhos dela,
nem por um segundo.
— Tem certeza de que foi a primeira vez que fez isso? — Ela
pergunta sem fôlego, abrindo os olhos, há um brilho divertido neles.
— Sou um pouco perfeccionista. — Eu dou de ombros de uma forma
falsamente confiante e ela ri preguiçosamente.
Ela acha que eu sou boa, bem, é claro que ela acha, eu literalmente só
a fiz gozar. O orgulho que me enche o peito é insuperável; nunca senti tanto
orgulho em toda a minha vida.
Em vez de me responder, ela pigarreia, tirando as pernas dos meus
ombros desajeitadamente. Não sei por que, mas desvio o olhar enquanto ela
procura a calcinha.
Eu literalmente comi ela, mas a única vez que sinto vergonha é
quando ela está se trocando de novo?
Quão fodida eu estou?
Eu quero fazer isso de novo. Eu quero fazê-la gozar quantas vezes for
possível pelo resto da minha vida e isso é absolutamente perigoso.
Encontro-me sentada no banco olhando para o chão, então ouço a voz
dela.
— Eu acho que você vai me viciar nisso também — ela diz as
palavras tão baixinho que parte meu coração um pouco.
Eu quero que ela seja viciada nisso – viciada em mim – para que eu
consuma cada pensamento em sua linda cabecinha.
Eu sempre quis isso; de uma maneira diferente, mas sempre quis que
ela fosse tão consumida por mim quanto eu sou por ela.
Eu olho para cima e ela está completamente vestida, olhando para
mim com um olhar suave. Eu sorrio para ela levemente e ela caminha até
mim e se inclina, capturando minha bochecha em um beijo suave.
Eu deveria dizer a ela para ficar, parte de mim quer, mas a outra parte
sabe que não posso. Então, eu apenas deixei ela beijar minha bochecha e ir
embora.
Meus olhos voltam para o chão porque eu não acho que posso
suportar vê-la partir.
Capítulo VINTE E OITO
Adaline
Para alguém que insiste que não gosta de garotas, Juliette Kingston
é... incrível em chupar. É tudo o que consigo pensar desde ontem, quando
ela estava de joelhos me dando o melhor orgasmo que já tive.
Como ela fez isso? Sorte de principiante, era isso. Mas como a sorte
dela é tão perfeita?
Juro que estava vendo estrelas, foi quando realmente comecei a
enxergar de novo porque desmaiei por uns bons cinco minutos. Eu não
queria deixá-la, mas quando o fiz, percebi uma coisa... Juliette Kingston
não é hetero.
Não é surpreendente que eu não tenha percebido antes. Embora eu
esteja bastante confiante em me gabar da inteligência acadêmica, é o oposto
completo quando se trata de inteligência emocional.
Acho que, no fundo, reprimi qualquer pensamento de que ela gostasse
de garotas porque então eu entenderia seu comportamento confuso. No
entanto, parei de reprimi-lo e descobri completamente quando fiz oral nela
pela primeira vez e ela me evitou depois.
Não estranhei porque sabia que ela estava nervosa e precisava de um
tempo para me encarar novamente sem ficar constrangida.
Todos nós já estivemos lá.
Deveria me deixar com raiva, feroz em frustração que a garota que
me repreendeu por gostar de garotas realmente gostasse de garotas. Acho
que no fundo estou com raiva, mas talvez até feliz…
Não! Eu não posso me debruçar sobre isso. Não importa se ela é
lésbica, porque ela vai considerar o que estamos fazendo como uma
experiência e provavelmente crescerá para se casar com um homem rico
que é um idiota.
Não é minha função trazer isso à tona ou focar nisso de qualquer
maneira, ela é apenas minha aluna e meio que minha amiga sexual, não é
minha função ajudá-la a entender sua homofobia internalizada. Eu poderia
me preocupar menos.
Posso continuar aproveitando os benefícios da nossa situação, que são
absolutamente incríveis. Eu preciso colocar minhas mãos nela de novo,
estou praticamente espumando pela boca por causa dela.
Eu teria ido à casa dela hoje, mas tive que trabalhar logo depois da
escola. Eu poderia mandar uma mensagem para ela agora, mas acho que
devo dar a ela um ou dois dias.
Ou estou me dando tempo para relaxar? Porque, por alguma razão,
sinto as mãos pesadas em volta da minha garganta se penso nela por muito
tempo. Ela não apenas caiu de cabeça ontem, ela também... me ensinou a
tocar piano.
Ela não zombou de mim por não saber, mas me ensinou algo
genuinamente.
Ela estava tão radiante, tão talentosa quando tocou aquelas notas,
então não consegui entender o fato de que sua mãe não a pediu para tocar
por um tempo. Por que alguém não gostaria de ouvir como as notas soam
angelicais vindas de Juliette?
Pare com isso!
— Você está bem? você parece distraída hoje — a senhora Kim diz,
tirando-me dos meus pensamentos, suas sobrancelhas levantadas em
preocupação.
Meu turno terminou há algum tempo; estou apenas ajudando na
limpeza enquanto passo o tempo todo pensando em Juliette. Deve ser
porque estou com tesão. Como combinamos antes, é só isso. Certo?
— Sim, desculpe-me. Só estou distraída — digo com um suspiro,
limpando o balcão.
Ela arranca o pano da minha mão.
— Seu turno acabou de qualquer maneira, vá sentar com seus amigos.
— Ela aponta para Victoria e Aryan, que estão sentados em uma das mesas
ao lado da porta, onde ambos estão absortos em suas próprias conversas.
Eles costumam esperar que eu termine meus turnos para que possamos sair
depois.
— Mas…
— Não. Você está sempre ficando para trás para limpar, então vá! —
Ela me enxota, divertida. — Além disso, diga a seus amigos para pararem
de dar gorjetas de cem…
— Então, devo dizer a eles para dar mais gorjeta? Entendi. — Ela
balança a cabeça divertida com minhas palavras e eu beijo sua bochecha
rapidamente.
Quer dizer, vamos lá, meus amigos são milionários, o mínimo que
eles podem fazer é dar uma boa gorjeta, especialmente para a Sra. Kim.
Eu me despeço dela enquanto ela caminha para os fundos e abro meu
avental, colocando-o sob o balcão enquanto caminho em direção aos meus
amigos. Ambos parecem aquecidos, veias furiosas, vozes altas.
— Oi, perdedores — eu digo deslizando para o assento ao lado de
Aryan e em frente a Victoria. Ambos ignoram minhas palavras e parecem
estar em algum tipo de debate acalorado. Deus sabe do que se trata desta
vez.
Eu sempre pareço ser o mediador nesses debates porque, na metade
do tempo, não me importo com o que eles estão debatendo. Passo esse
tempo mexendo no telefone, me perguntando se devo ou não mandar uma
mensagem para Juliette.
Eu realmente não a vi muito na escola hoje, exceto quando nós duas
tivemos nossa prova de ciências pela manhã. Eu estava tão perto de falar
com ela antes, mas me contive. Concordamos em não fazer nada suspeito
na escola. No entanto, passei o tempo todo me preocupando com o
resultado do teste dela, em vez de realmente me concentrar no meu próprio
teste, que é o primeiro.
Tenho certeza que ela se saiu bem, descobriremos em dois dias de
qualquer maneira. Ela deve ter se saído bem, caso contrário será expulsa do
time e minha carta não será enviada, o que claramente é tudo o que me
importa.
— Bem, o que você acha? — Aryan pergunta abruptamente, parando
a discussão e olhando para mim enquanto Victoria espelha seus
movimentos.
Eles não percebem que literalmente não estive aqui durante toda a
conversa?
— Sobre o quê? — Eu levanto minha sobrancelha confusa, enquanto
coloco meu telefone para baixo, tentando não pensar mais em Juliette.
Provavelmente é um debate importante, considerando o quão absortos
os dois parecem agora, especialmente Aryan, cujo rosto está completamente
vermelho e ele está quase... ofegante.
— Loiros ou morenos? — Victoria esclarece, sem perder o ritmo.
Deixa para lá.
Eu dou de ombros.
— Eu prefiro pessoas carecas, na verdade.
Os dois me encaram por alguns momentos, quase como um olhar
inexpressivo e um olhar furioso ao mesmo tempo e eu sufoco uma risada.
Ambos suspiram profundamente, ignorando completamente minhas
palavras e voltam a discutir.
— Os morenas são claramente amantes superiores — diz Victoria,
levantando a voz.
Aryan faz uma careta.
— Primeiro de tudo, amantes? Ai credo. Em segundo lugar, loiros são
muito melhores, são mais gentis, mais gostosos…
— Você saiu com um loiro! — Victoria interrompe, lendo minha
mente.
— Meu ponto ainda permanece. Ele era o melhor de todos os meus
namorados. Kai não é loiro de qualquer maneira…?
Ela dá de ombros, interrompendo-o.
— Ele é originalmente moreno, então meu ponto permanece.
Aryan faz beicinho, franzindo as sobrancelhas enquanto faz o
possível para parecer zangado, mas nunca funciona, ele é literalmente o
epítome da luz do sol.
— Addie? — Ambos se voltam para mim em uníssono, pedindo
minha opinião.
Abro a boca para dar uma das minhas respostas sarcásticas habituais,
porque quem não daria? Este debate é absolutamente ridículo. Eu juro que
esses dois discutem sobre as coisas mais idiotas.
— Resposta de verdade. Sem sarcasmo. — Victoria me interrompe
com um aviso e eu estreito meus olhos para o quão bem ela me conhece.
Eu suspiro.
— Loiras.
Não sei por que disse isso, foi mais um reflexo do que qualquer outra
coisa, porque eu realmente não tenho um tipo, pelo menos acho que não.
Aryan sorri amplamente com minhas palavras lançando um olhar
presunçoso para Victoria.
— Não é justo! Ela só está dizendo isso por causa de Juliette —
Victoria diz, choramingando.
Eu balanço minha cabeça instantaneamente.
— Sem chance. Eu a odeio, então isso não faz sentido.
Juliette Kingston não é a única loira do planeta, nem nunca será a
única. Não disse isso por causa dela; eu não disse.
Ela zomba.
— Sim, você a odeia tanto que caiu em cima dela.
— E ela caiu em cima de você — acrescenta Aryan, rindo enquanto
eles batem na mão um do outro.
Como isso passou de um debate para todo mundo me perseguindo? É
por isso que não devo me envolver em suas brigas.
— Você não descreveu isso como... alucinante? — Aryan diz,
balançando as sobrancelhas para mim.
— Acredito que ela disse que foi a melhor que já comeu —
acrescenta Victoria, rindo alto.
Tanto ela quanto Aryan agora estão rindo de minhas palavras,
claramente tendo esquecido sobre o que quer que seja esse debate.
Eu conscientemente olho para a Sra. Kim, que felizmente ainda está
no fundo da cozinha. Então, ela não está ouvindo a provocação a que estou
sendo submetida agora.
— Eu nunca vou dizer nada a vocês de novo — eu resmungo,
olhando para eles.
Isso é obviamente uma mentira, eu conto tudo a eles. Não é como se
eu pudesse falar com mais alguém sobre isso, especialmente com Adam, já
que ele deixou claro que não gosta de Juliette e sua família. Nós nem sequer
falamos sobre Juliette novamente desde que ele falou com ela naquele dia.
Contei aos meus amigos o que aconteceu com Juliette assim que
cheguei em casa ontem. Eles ficaram chocantemente extasiados, embora
provavelmente estejam apenas felizes por eu finalmente estar obtendo
benefícios de nossa situação.
Aryan dá de ombros, sorrindo.
— Estou feliz que finalmente aconteceu.
No entanto, fico chocada com a rapidez com que eles mudaram de
tom – meus dois amigos passaram de desprezá-la a ficarem felizes por ela
ter me comido. Então, novamente, eles admitiram que achavam que isso
demoraria muito. Ainda estou chateado com aquela pequena aposta.
— Eu também. Agora posso parar de me sentir culpada por namorar
Kai — acrescenta Victoria.
Eu franzo minhas sobrancelhas para Victoria.
— O que você quer dizer?
Ela suspira.
— Bem, eu me senti culpada porque ele é o melhor amigo de uma
homofóbica que fez da sua vida um inferno. É uma das razões pelas quais
eu estava tão relutante em sair com ele em primeiro lugar.
Acho que ela está certa. Juliette é uma homofóbica assumida, mas por
algum motivo, Kai ser amigo dela nunca me incomodou. Eu nunca
questionei por que um cara legal como ele seria amigo de uma cadela como
ela, principalmente porque eu não me importava com nenhum deles, mas
também no fundo, eu apenas achava que fazia sentido.
— Sim, mas Kai é um cara legal — eu digo, tentando aliviar sua
culpa e ambos concordam.
— Você é tão bom quanto as pessoas com as quais se associa — ela
diz séria e então continua. — Ele sempre tentou me convencer de que ela é
uma boa pessoa, o que ainda duvido, mas acho que sempre soube que, no
fundo, ele tinha um bom motivo para ser amigo dela, como ela ser uma
lésbica enrustida.
Lésbica enrustida. A frase em si atrai simpatia de mim, mas também
um pingo de fúria.
Aryan acena pensativamente.
— Sim, isso não é desculpa para o comportamento dela, mas eu posso
entender. Acho que todos nós sabíamos lá no fundo.
Nós? Quem somos nós? Porque com certeza não sou eu.
— Sim, eu ainda estou em dúvida sobre pedir a Kai para ser meu
namorado até que eu veja que Juliette se tornou menos agressiva. Eu não
me importo o quão fechada ela é.
Eu, pelo menos, não tinha ideia de que ela era lésbica ou mesmo que
gostava de garotas nem um pouco.
Claramente, meus amigos estão teorizando há muito mais tempo do
que eu e nem mesmo sabem sobre o pai dela, mas ainda somam dois mais
dois sobre sua homofobia internalizada. Neste ponto, eu não posso nem me
sentir culpada por revelar Juliette para eles porque claramente eles já
sabiam.
Era tão óbvio?
Esqueça ser óbvio, é considerado normal que ser gay significa
automaticamente que você pode intimidar outras pessoas e atribuir isso à
homofobia internalizada?
Eu com certeza já lidei com muitos traumas, mas não descontei em
outras pessoas, nem uma vez.
Não. Não. A parte racional de mim entende que o comportamento
dela pode ser explicado. A outra parte de mim não consegue explicar ou
não quer.
Quando começo a fazer isso, as coisas mudam. Preciso acreditar que
ela ainda me odeia, independentemente de ser homofóbica ou não. Não
posso deixar as linhas borradas, não posso.
Tudo o que preciso fazer é ensiná-la e ocasionalmente usá-la e deixá-
la me usar quando estamos com tesão. Então, assim que deixarmos
Richmond, nunca mais verei Juliette.
Balanço a cabeça para afastar qualquer pensamento e mudo de
assunto.
— Vamos tomar sorvete.
***

É um dos jogos de basquete mais importantes para Victoria hoje; é a


primeira partida da temporada e os olheiros estarão presentes.
Começa em cerca de vinte minutos, mas Aryan e eu estamos aqui há
cerca de uma hora, ajudando a preparar.
— Você vai arrasar, não se preocupe — eu digo, observando-a driblar
a bola.
— Apenas mantenha o foco, nem pense nos olheiros — acrescenta
Aryan, separando as garrafas de água nos bancos.
— Eu sei, eu tenho tudo sob controle — ela diz, respirando
pesadamente e focando na bola.
Ela é feroz quando se trata de esportes; seu esforço está
completamente concentrado. O cabelo em tranças e o uniforme azul e
branco bem arrumado; não vai durar assim que ela começar a tocar.
Antes que eu possa dar a ela mais uma conversa estimulante, ouço as
portas do ginásio se abrindo. Minha cabeça se volta para a porta e vejo Kai
entrando com um sorriso enorme e uma placa igualmente enorme que diz:
Victoria é minha Jogadora Camisa 10!
Eu não consigo nem prestar atenção em como isso é incrivelmente
adorável, porque caminhando atrás dele está... Juliette. Sinto minha
respiração deixar meu corpo quando a vejo.
Ela está vestindo uma roupa estranhamente simples hoje — um top
branco, jeans largos azul claro e uma jaqueta preta de carro de corrida. Ela
parece tão deslumbrante como sempre, especialmente seu umbigo
tonificado que eu seriamente não consigo parar de olhar.
Não consigo tirar os olhos dela e sinto que minha boca ficou mais
seca que o deserto do Saara. Flashbacks estão me atingindo na velocidade
da luz; eu de joelhos, ela me pegando e me comendo como um deus grego
com uma força insana.
Acho que nem pisquei até que ela veio bem na minha frente e Kai
gritou, correndo em direção a Victoria e a abraçando.
— Olha o que o gato arrastou — eu comento, meus olhos
vasculhando seu corpo de cima a baixo.
Sinto seus olhos fazendo o mesmo comigo. Estamos em público
agora, então não podemos deixar exatamente óbvio que nós duas comemos
uma a outra a essa altura, embora eu não consiga parar de pensar nisso e
queira fazer isso de novo o tempo todo.
— Kai me forçou a vir — ela explica em um tom descontente. Ela
está sendo extraordinariamente casual, agindo como se não tivesse me
pegado e me devorado contra seu piano dois dias atrás. Então, novamente,
estamos em público e ela se destaca em colocar uma máscara na frente de
outras pessoas.
Ainda não consigo desviar o olhar dela. É diferente estar em um
cômodo com ela agora. Eu me sinto completamente magnetizada por ela e
ela também, claramente, porque ela está olhando para mim com... fome. Eu
juro que poderia me inclinar para frente agora e envolver seu corpo com o
meu.
Gosto que as coisas raramente sejam estranhas conosco; nós apenas
voltamos a como sempre nos comportamos uma com a outra. É meio que...
calmante, na verdade.
Eu quero perguntar a ela como ela foi no teste de ciências ontem, mas
eu não pergunto, não há necessidade de agir como se eu me importasse. Eu
não me importo com tutoria externa.
— As pessoas estão chegando, vamos pegar os melhores lugares —
diz Aryan, tirando-nos dessa competição de encarar.
Eu olho para ele e ele já está subindo as arquibancadas. Kai dá um
beijo rápido em Victoria e segue Aryan.
Estou prestes a segui-los também, até que vejo Juliette caminhando
até Victoria, então decido segui-la, porque conhecendo Juliette, ela está
prestes a fazer algo irritante agora.
— Victoria — ela a cumprimenta com desdém.
— Juliette — Victoria responde com desprezo.
Sinto que deveria dizer meu nome agora também, mas acho que vou
me conter.
— Então devo assumir que você e Kai estão namorando agora? —
Juliette pergunta, cruzando os braços sobre o estômago.
— Sim. — Victoria acena com a cabeça, ainda quicando a bola de
basquete com os olhos fixos em Juliette.
Juliette inclina a cabeça para o lado.
— Então isso significa que você vai parar com as suas atitudes
quentes e frias?
— Ei — eu tento interromper.
Victoria me interrompe suavemente.
— Deixe ela falar, eu sei que você já falou com Kai.
Eu quero dizer não, mas não posso; ela está certa. Eu praticamente
ameacei Kai mesmo sabendo que ele era inofensivo. Mas eu tinha que fazer
isso, é dever de uma melhor amiga, então acho que Juliette também tem que
fazer.
Juliette me lança um olhar presunçoso quando fecho minha boca e
quero chutá-la por isso.
Ela continua sardonicamente.
— Kai realmente gosta de você, considere-se sortuda porque ele é um
cara legal.
— Ele é — Victoria concorda rigidamente.
Juliette se inclina para mais perto dela.
— Se você machucá-lo, vou arruiná-la e nós duas sabemos que não
estou blefando quando digo isso.
Eu sei que ela não está blefando. Victoria é podre de rica, mas não no
mesmo nível de Juliette. Não acho que Juliette a arruinaria fisicamente, mas
com certeza tentaria tornar sua vida um inferno.
Ela teria que passar por mim primeiro, é claro, mas acho que
secretamente ela se deliciaria com isso.
— Entendido — Victoria diz com confiança, inabalável.
Juliette apenas zomba e sobe as arquibancadas para encontrar um
assento. Victoria se vira para mim e apenas dá de ombros, me dando um
sorriso divertido. Então eu a puxo para um abraço rápido para acalmar seus
nervos.
— Boa sorte com o jogo — digo a ela, beijando o lado de sua cabeça.
— Obrigada — ela murmura nervosamente e eu dou um último
tapinha nas costas dela antes de ir embora.
Enquanto subo as arquibancadas, vejo que Kai e Aryan estão sentados
bem no final com Juliette ao lado deles. Então, para sentar ao lado dos meus
amigos, vou ter que sentar ao lado de... Juliette. Por alguma razão, isso não
está me incomodando tanto quanto eu pensei que incomodaria.
Sento-me ao lado dela e instantaneamente me sinto envolvida por seu
perfume. Prendo a respiração um pouco, para não ter que inspirar. Ela está
apenas rolando a tela no telefone e eu provavelmente deveria apenas sentar
e ficar quieta, pois o jogo está prestes a começar.
Mas isso não é divertido.
— Você acha que Kai é bom demais para ela, não é? — Eu me viro
para Juliette com um tom irritado.
— Obviamente, ela continua a enganá-lo — ela retruca
pomposamente.
Eu cerro minha mandíbula com a maneira como ela está estreitando
os olhos para mim, mas também sinto um formigamento percorrer meu
corpo. Eu costumava odiar discutir com Juliette, pelo menos eu pensava que
sim. Não é de admirar que meus amigos pudessem sentir toda a tensão; é
palpável.
— Ela o quer. Ela só tem dificuldade em mostrar isso — eu digo e
não sei por que estou explicando isso a ela. Eu só quero que ela saiba que
Victoria gosta dele. Não quero que ela desgoste de Victoria, por algum
motivo estou começando a me importar com a opinião dela.
Ela dá de ombros.
— Quando você quer alguém, você supera as coisas difíceis.
Seu comportamento casual e a maneira suave como ela está
entregando essas palavras me fazem cerrar os punhos. O que ela saberia
sobre querer alguém? Ela nem quer o próprio namorado, claramente.
— Ela quer superar e isso conta para alguma coisa — eu digo
seriamente. O apito toca, atraindo minha atenção para o jogo. — Agora,
cale a boca e assista ao jogo.
— Cale a boca e assista ao jogo. — Ela me imita como uma criança.
Eu zombo.
— Você é tão imatura.
— Você é tão irritante — ela retruca.
— Cadela.
— Vaca.
— Vocês duas podem calar a boca? Podemos ouvir vocês discutindo
daqui — Aryan diz em voz alta, meus olhos se voltam para ele e ele está me
lançando um sorriso malicioso assim como Kai.
— Ela começou — Juliette e eu resmungamos em uníssono e ambas
rimos em resposta.
Juro que Aryan e Kai se tornaram melhores amigos agora,
principalmente porque Kai passou muito tempo perto de Victoria e de nós.
Eu gosto de falar com ele, mas na maior parte do tempo o mantenho à
distância, apenas porque ele é o melhor amigo de Juliette.
Acho que ela não gostaria que eu cruzasse os limites com ele. Acho
que também não quero. Claramente, ela não contou a ele sobre nosso
acordo e não quero levantar suspeitas.
Eu ignoro Juliette e foco meus olhos no jogo gritando alto sempre que
Victoria marca – o que é muito frequente.
Mais pessoas se arrastam para as arquibancadas enquanto entram e
vejo os pais dela entrando e ocupando seus lugares. Instantaneamente, é
como se Victoria mudasse de brilhante e borbulhante para estóica e focada
durante o jogo.
— Vamos, Vitória! — Eu torço alto e todos fazem o mesmo,
principalmente Kai, ele está gritando a plenos pulmões com seu sinal no ar.
Eu tento o meu melhor para não desviar meus olhos para a minha
direita, para que eu possa ver Juliette, mas eu sinto que estou lutando contra
cada centímetro do meu ser.
— Sem chance! Isso foi uma violação de três segundos! — Juliette
grita quase gritando com o árbitro.
Desta vez eu tenho que olhar para ela. Ela está aquecida, o rosto
vermelho e o cabelo desgrenhado. É tão sexy, incrivelmente atraente, mas
adorável ao mesmo tempo.
— Acho que você gosta de basquete? — Eu pergunto, divertida e ela
nem tira os olhos do jogo.
— Sou líder de torcida, gosto de praticamente todos os esportes —
retruca ela em tom óbvio, e depois acrescenta. — Victória é muito boa.
Acho que ela nunca foi a um dos jogos de basquete da escola, mas
claramente ela está exultante com a expressão em seu rosto.
— Ela é incrível — eu a corrijo, observando orgulhosamente
enquanto minha melhor amiga faz sua mágica.
Não sei nada sobre basquete; tudo que eu realmente sei é que marcar
é uma coisa boa e sempre que Victoria tem a bola, é meu trabalho torcer por
ela.
Continuo lançando olhares furtivos para Juliette e toda vez que o
faço, sinto meu coração bater forte. Por que ela está tão bonita hoje? Quer
dizer, ela é sempre linda, mas ultimamente toda vez que eu olho para ela, é
como se ela estivesse... brilhando?
É pura agonia sentar ao lado dela, sabendo que não posso tocá-la.
Estou tão acostumada a ter rédea solta por causa do quanto eu estive na casa
dela e ela na minha.
Sinto minhas mãos coçando e queimando como ácido sendo
derramado nas minhas costas. Meus dedos estão brincando com as laterais
da minha cadeira porque, se eu a encontrar, vou alcançá-la.
Ela é minha tentação proibida, porque eu a odeio terrivelmente, mas
não quero nada mais do que tocá-la agora; sentir sua pele macia sob as
pontas dos meus dedos e fazê-la se contorcer sob mim como fez no outro
dia.
Eu nunca quis tocar ninguém como eu quero tocá-la e isso é
aterrorizante e me incomoda para caramba.
— Oi, Adaline. — Uma voz alegre me tira dos meus pensamentos
tumultuados e eu me viro para a esquerda.
É Alex Smith, o capitão do time de Lacrosse e um dos meus amigos,
eu acho? Ele é uma das poucas pessoas nesta escola que não me repreendeu
ou me evitou por causa de Juliette, e é por isso que nunca consigo recusar ir
às festas dele.
Vê-lo me lembra de como dei um soco naquele loiro perdedor na
festa dele.
— Oi, Alex, tudo bem? — Eu questiono, um pouco confusa sobre por
que ele está se aproximando de mim durante o jogo.
Ele estende uma raspadinha vermelha em sua mão direita para mim.
— Eles estavam vendendo isso lá fora e eu sei o quanto você gosta…
— Ela gosta mais do de framboesa. — Uma voz cruel o interrompe e
é Juliette.
Eu me viro para a direita e dou uma olhada nela, dizendo-lhe para
calar a boca. Ela tem uma carranca gravada em seu rosto, seus olhos se
estreitam enquanto ela passa os olhos para cima e para baixo no corpo de
Alex. Como ela sabe que eu gosto de raspadinha de framboesa?
— Na verdade, eu também gosto de morango, obrigada — eu digo,
me virando para Alex e pegando a raspadinha.
Ele está definitivamente corando, seu rosto pálido ficando um tom
mais vermelho. Alex é muito bonito, com seu cabelo loiro bagunçado e
olhos castanhos e quem pode esquecer aqueles óculos adoráveis.
Ele coça a nuca e diz:
— É, escute, eu estava pensando... tenho uma festa chegando em
algumas semanas, se você quiser ir como meu par…
— Ela não está interessada, vaza, Alex. — Juliette o interrompe
novamente. Nesse ponto, todo o seu corpo está voltado para Alex, ela nem
está mais focada na partida.
— Uau, relaxe. — Ele levanta a mão nervosamente em defesa.
Estou prestes a abrir minha boca para repreender Juliette por ser tão
rude sem motivo, mas ela fala novamente em um tom frio.
— Não me faça dizer duas vezes. — ela o avisa, seu tom
incrivelmente baixo.
Por alguma razão, isso envia um arrepio na minha espinha e está me
deixando... molhada. Eu literalmente tenho que fechar minhas pernas por
causa da voz dela. Quem pode me culpar? Sua voz severa é incrivelmente
irritante, mas quente ao mesmo tempo.
— Ignore ela, Alex — digo a ele, porque ele está praticamente
tremendo.
Eu posso sentir os olhos de Juliette me perfurando, mas eu não dou a
ela a satisfação de olhar em sua direção.
Ele suspira.
— Falo com você mais tarde. — Ele franze a testa antes de voltar
para as arquibancadas.
Viro-me para Juliette, sentindo-me incomodada neste ponto.
— O que diabos há de errado com você…?
— Por que Alex está comprando raspadinhas para você? — Ela me
interrompe friamente, ignorando completamente minhas palavras.
Eu olho em volta para ver se mais alguém pode ver o quão
insanamente ela está agindo, mas Kai e Aryan estão absortos em sua própria
conversa.
— Porque ele é um cara legal. Por que você está sendo tão vadia com
ele? — Eu questiono, perplexa com o quão frio seu comportamento está
agora.
Estou prestes a tomar um gole da raspadinha, mas ela me lança um
olhar perigoso e, por algum motivo, isso me faz colocá-la no porta-copos.
Ela aperta a mandíbula.
— Eu simplesmente não gosto dele.
— Você não gosta de ninguém.
— Sim, especialmente você.
Eu zombo em uma risada sombria.
— Você com certeza gostava de mim quando colocou sua língua na
minha…
— Cale a boca — ela me diz, seu rosto ficando cinquenta tons mais
vermelho enquanto ela olha em volta para ver se alguém ouviu.
Eu abafo uma risada em seu rosto vermelho, mas qualquer resquício
de humor é apagado do meu rosto quando vejo o quão nervosa ela está
começando a parecer. Eu sigo sua linha de visão e ela está olhando em
volta; algumas pessoas estão olhando para nós de forma estranha.
Eu nem percebi o quão estranho isso seria para todos os outros – nós
sentadas juntas; todo mundo sabe que nos odiamos. Acho que realmente
não me importava nem pensava no que os outros pensariam. Ela claramente
esqueceu também, mas agora parece que ela percebeu.
Ela limpa a garganta e se levanta lentamente.
— Esses assentos são muito altos. — Eu a ouço dizer a Kai, mas sinto
que ela está me dizendo também.
Ela não espera por uma resposta enquanto caminha pelas
arquibancadas, procurando outro lugar para sentar.
Eu me viro para Aryan e Kai, que estão me dando um olhar que
parece quase como se fosse de simpatia e não tenho certeza do porquê; eu
não poderia me importar menos sobre onde Juliette se senta.
Não importa no final do dia. Não importa que sejamos inimigas com
benefícios ou que às vezes, quando ninguém está olhando, se passe um
momento de ternura entre nós, no qual penso dias a fio.
No final das contas, ainda nos odiamos, principalmente na frente de
outras pessoas. As pessoas pensam que ela me despreza e ela sempre vai
respeitar o que as outras pessoas pensam.
Nada mudou.
Capítulo VINTE E NOVE
Juliette
Tudo mudou.
Lenta, mas seguramente, tudo está mudando e tudo por causa de
Adaline Emery.
Para começar, estou acordando com antipatia por ela, em vez de
desprezo total, como de costume.
Depois, temos o fato de que, a cada momento do dia, quero colocar
minhas mãos nela, especialmente ontem, durante o jogo de basquete. Fiquei
completamente extasiada em nossa conversa e nem percebi que estava
sentada ao lado dela e que as pessoas estavam olhando, perplexas com o
fato de eu estar sentada ao lado da garota que odeio.
Felizmente, saí e sentei em outro lugar. Eu nem fiquei para o jogo
inteiro, porque eu não podia confiar em mim mesmo para não voltar para
Adaline, especialmente com aquele perdedor, ou Alex, pairando sobre ela.
Não quero nem pensar nele agora. Uma raiva pura e quente percorre
meu corpo quando penso nele.
Independentemente disso, muitas coisas estão mudando ultimamente,
mas a maior mudança até agora é... passei no meu exame de biologia.
Com “B”. Isso mesmo, um “B”!
Quase desmaiei quando recebi a notícia esta manhã e a primeira
pessoa que quis contar foi Adaline. Eu queria contar a ela imediatamente,
mas não a vi o dia todo na escola hoje; ela provavelmente estava ocupada
com o clube do ensino médio ou estudando na biblioteca – ela praticamente
mora lá. Então, mandei uma mensagem para ela quando cheguei em casa e,
finalmente, uma hora depois, minha campainha tocou.
Eu imediatamente sei que é ela. Desço as escadas praticamente
correndo e não perco tempo abrindo a porta. Lá está ela, ainda com o
uniforme escolar, com aquela jaqueta de couro que parece estar sempre
usando.
Vê-la assim, sabendo que eu poderia puxá-la para um beijo tão
facilmente e ela não iria recuar ou recusar… o pensamento em si é tão
calmante.
Às vezes, é difícil compreender o fato de que podemos nos tocar, que
somos inimigas com benefícios ou qualquer que seja o termo – isso
realmente não importa.
Suas sobrancelhas estão gravadas em preocupação.
— Você passou…
— Tirei um B! — Eu a interrompi, incapaz de conter minha
excitação.
Acontece rapidamente; primeiro seu rosto preocupado se transforma
lentamente em um sorriso radiante e, antes que eu perceba, ela abriu
caminho para mim. Adaline está me abraçando, seus braços em volta do
meu pescoço enquanto ela segura com força.
Sinto como se estivesse congelada e meu batimento cardíaco
geralmente lento está prestes a cair do meu peito. Seu cheiro está me
arrebatando, assim como seu abraço caloroso.
Ela é quente e forte. De alguma forma, posso sentir as vibrações de
seu orgulho em seu corpo. Parece loucura, mas posso sentir o quanto ela
está orgulhosa de mim e é absolutamente viciante. Eu quero tão
desesperadamente derreter em seus braços e abraçá-la de volta, mas antes
que eu possa, ela se afasta.
Seu rosto fica vermelho.
— Merda, desculpe.
Eu nunca vi suas bochechas tão vivamente rosadas antes, é tão
cativante. A maneira como seus olhos verdes estão correndo para todos os
lugares, menos para mim.
Eu limpo minha garganta.
— N-não, está tudo bem.
Eu gostei. Eu não deveria, mas eu gostei.
Ela apenas coça a nuca com a mão direita e isso me faz notar as flores
que ela segura com a esquerda. Eu nem os notei quando a vi pela primeira
vez; ela deve tê-las escondido atrás das costas.
— São para mim? — Pergunto gesticulando para as flores. Eu tento o
meu melhor para não soar muito esperançosa, mas não posso evitar.
Ela acena com a cabeça rigidamente.
— Bem, você disse que geralmente comemora as boas notas e eu sei
que essas são as suas favoritas... então, sim.
Adaline empurra as flores para mim abruptamente e eu as pego,
tentando acalmar meu batimento cardíaco errático. São gardênias, um
buquê de tamanho moderado.
Ela me deu minhas flores favoritas?
— Você estava escondendo nas suas costas? E se eu não passasse? —
Eu pergunto, perplexa.
Ela dá de ombros.
— Eu as teria dado a quem tivesse passado.
Eu mordo o interior da minha bochecha e sufoco um sorriso com seu
sarcasmo. Então reviro os olhos também, mas antes que eu possa responder,
ela fala novamente.
— Eu sabia que você ia passar — ela murmura baixinho.
Eu suspiro profundamente com suas palavras, incapaz de lutar contra
o sorriso doloroso e estilhaçado que atinge meu rosto. Ela realmente
acreditou em mim?
— Como você sabia que as gardênias são minhas favoritas? — Eu
pergunto, quase em um sussurro abafado enquanto brinco com as pétalas
macias.
As flores são as mais lindas que já vi e acho que é só porque foi ela
quem as deu para mim.
Adaline olha para mim como se minha pergunta fosse ridícula.
— Você se lembra quando tivemos aquela tarefa de dissecar flores e
folhas no oitavo ano? Você fez uma birra e se recusou a participar. Mesmo
naquela época, você era dramática.
Eu sorrio com carinho, pensando na memória. Ela está certa, mesmo
naquela época eu era extremamente dramática. Até ameacei demitir nosso
antigo professor de ciências.
Eu ganhei no final, porém, como sempre faço. A professora trocou as
gardênias por rosas.
Lembro-me de como Adaline zombou de mim por isso e depois
rasgou algumas gardênias e as jogou no meu armário. Eu estava inatamente
furiosa.
Ah. Bons tempos.
— Você se lembra disso? — Eu respiro as palavras em estado de
choque.
Ela franze as sobrancelhas.
— Eu não tenho demência, Juliette.
É tão normal para ela, tão inacreditavelmente normal que ela se
lembre de algo assim, algo que eu mesmo quase esqueci ao longo dos anos.
Eu nem conheço mais ninguém que possa se lembrar das minhas
flores favoritas assim ou das memórias associadas a elas.
Por que ela tem que fazer isso? Por que ela tem que fazer meu
coração bater assim? Por que não consigo formar nenhum pensamento em
torno dela?
Ela passa de me odiar em um momento para fazer coisas assim, é só
porque ela é uma boa pessoa? Meu cérebro passou de odiar sua mera
presença para ficar completamente vazio perto dela. Devemos ser inimigas
com benefícios, nada mais, nada menos.
Por que ela está me torturando assim?
Deixei escapar um suspiro profundo e descontente.
— Eu realmente te odeio para caralho.
Ela parece totalmente confusa com minhas palavras, talvez até um
pouco ofendida. Até que coloco as flores na mesinha ao lado da porta de
entrada e a puxo para meus braços, beijando-a.
Não posso esperar mais, não tem ninguém aqui. É hora de começar a
cumprir nosso acordo.
Eu a puxo para trás, usando minha mão livre para fechar a porta da
frente e empurrá-la contra ela. Ela engasga em minha boca e move as mãos
em direção à minha cintura, me puxando para mais perto.
Beijar Adaline tornou-se tão comum quando estamos em casa, como
se fosse uma segunda natureza. Está começando a parecer uma segunda
natureza, mesmo fora do conforto da minha própria casa e isso é perigoso.
Ela tem gosto de pasta de dente com menta e ChapStick de melancia,
mas acima de tudo, ela tem gosto dela mesma; o melhor sabor do planeta.
Minhas mãos vagam por seu corpo enquanto deslizo minha língua em sua
boca, nossos beijos se tornando mais desleixados e quentes a cada segundo.
— Você não acha que mereço uma pequena recompensa por passar?
— Murmuro contra seus lábios, separando-me por apenas um segundo.
Não preciso me preocupar com nada em minha própria casa. Posso
pedir o que quiser e fazer o que ela quiser que eu faça. Posso ser tão imunda
quanto eu desejar.
Ela olha profundamente em meus olhos enquanto eu descanso minha
testa contra a dela.
Minhas mãos vagam dentro de sua jaqueta, acariciando sua cintura e
puxando seu corpo, provocando-a implacavelmente, mas também tentando
desesperadamente não rasgar suas roupas.
— Sim… — Adaline diz em um tom baixo, mas então seu rosto se
transforma em preocupação. — Eu acho que sim, mas e suas empregadas
domésticas?
Eu rio sombriamente.
— Eu dei uma folga a elas. — Eu me inclino para mais perto dela,
pairando sobre seus lábios. — Temos a casa toda só para nós.
Na verdade, dei-lhes uma folga assim que minha mãe partiu para sua
viagem de negócios. Eu sempre faço isso. Claro, sem o conhecimento da
minha mãe. Graças a Deus que eu fiz, caso contrário, as empregadas teriam
ingressos na primeira fila para assistir eu comer Adaline.
Adaline morde o lábio, sorrindo com a minha resposta e antes que eu
perceba, ela planta seus lábios de volta nos meus, enquanto me pega ao
mesmo tempo. Reflexivamente, eu suspiro e envolvo minhas pernas em
volta de sua cintura enquanto ela me segura com força.
Para quem odeia malhar, ela com certeza é forte; é tão sexy.
Ela continua me beijando enquanto me carrega e sobe minhas escadas
e é a coisa mais quente do mundo. Nós quase tropeçamos algumas vezes
subindo as escadas e eu me pego rindo contra seus lábios enquanto ela faz o
mesmo.
Eu não a solto e ela também não. Ela não é como eu, alguém que
desiste quando está com medo. Pelo menos, uma de nós é forte o suficiente
para continuar aguentando.
Finalmente chegamos ao meu quarto e continuo a beijá-la, de boca
aberta, enquanto sua mão aperta minha bunda com força. Ela me leva até
minha cama e sinto que estou caindo no colchão enquanto ela cai em cima
de mim, com cuidado.
Eu amo isso: tê-la em cima de mim. Ela separa seus lábios dos meus e
me encara com atenção.
— Tem certeza? — Ela me pergunta gentilmente, suas mãos
acariciando meu rosto.
Tenho certeza? Todo o meu corpo está em agonia quando não estou
perto dela, quando não a toco ou quando ela não está me tocando. Eu sinto
que posso explodir em um poço de chamas se ela não me foder agora. Acho
que nunca tive tanta certeza de outra coisa em toda a minha vida.
Eu aceno com entusiasmo.
— Tenho e você?
— Sempre.
Apenas essas palavras são suficientes para me deixar mais molhada
do que já estou. Isso está realmente acontecendo, vamos explorar os corpos
uma da outra de uma forma mais profunda do que antes.
Eu deveria estar nervosa – estou um pouco –, mas sinto que conheço
o corpo dela como a palma da minha mão e ela conhece o meu também.
Melhor que qualquer um.
Estendo a mão para tentar envolver seus lábios nos meus novamente,
mas ela se afasta. Eu olho para ela preocupada e ansiosa antes que ela
comece a se despir. Eu fico boquiaberta com ela e me inclino para trás,
curtindo o show.
Primeiro, ela tira a jaqueta rapidamente, como se estivesse queimando
sua pele. Ela é um pouco mais lenta quando se trata de desfazer a gravata
azul-marinho. Então o resto de suas roupas vão sendo descartadas aos
poucos; cada botão, cada zíper. É torturante assistir. É como se ela fosse
minha stripper pessoal.
Incapaz de conter minha luxúria, eu me levanto e desvio meus olhos
de seu corpo, decidindo tirar minhas próprias roupas apressadamente.
Eu praticamente arranco meu suéter preto e calça de moletom cinza.
Rapidamente solto meu sutiã e o deixo cair no chão. Estou prestes a tirar
minha calcinha de renda preta também, mas antes de fazer isso, eu olho
para cima.
Adaline está na mesma situação que eu, pois ela fica na minha frente
apenas com sua calcinha de renda vermelha e fico com água na boca. Como
se fosse algum tipo de ritual, ficamos ali uma de frente para a outra e
tiramos nossas calcinhas quase ao mesmo tempo.
Deve ser estranho, independentemente do nosso acordo, quero dizer,
nós nos odiamos, mas aqui estamos nós, nos despindo uma para a outra
como se fosse a coisa mais íntima do mundo.
Não consigo nem pensar em ficar constrangida agora, por mais
nervosa que esteja, porque não consigo tirar os olhos do corpo de Adaline.
Seu corpo parece ter sido esculpido pelos próprios deuses gregos –
absolutamente requintado. Sua deliciosa cintura é incrivelmente estreita;
seus quadris, igualmente.
Eu mordo meu lábio, olhando para seu estômago e braços tonificados.
Ela é naturalmente magra, sem contar aquelas coxas lisinhas e isso me dá
água na boca.
Depois, há os seios dela; tão alegres e redondos, um pouco maiores
que o meu. Eu deveria estar com ciúmes de como eles são perfeitos, mas
não estou; eu os quero… eu a quero.
Nunca desejei mais ninguém. Meu olhar desce para sua boceta macia
e sinto minha mente me estimulando. Como alguém pode ser tão
absolutamente perfeito? Como não vi isso antes?
— Você é linda para caralho, Juliette — ela diz, me tirando do meu
transe.
Ela está olhando para mim com pura fome e algo mais suave que não
consigo decifrar. Nunca ninguém me olhou assim antes.
As pessoas me dizem que sou bonita e sei que sou, mas não assim.
Sinto meu coração dilacerado com suas palavras e olhar.
— Você é perfeita, Adaline — eu sussurro de volta para ela, meu tom
trêmulo.
Estamos sendo tão brandas para pessoas que se odeiam, mas eu não
aceitaria de outra maneira agora. Ela não é a garota que eu odeio agora, ela
é Adaline, a garota com quem estou prestes a fazer sexo.
Ela sorri suavemente e dá passos lentos em minha direção, mas não
aguento mais. Corro até ela e a envolvo em um beijo, nossos corpos nus se
entrelaçando. Minhas mãos vagam por cada centímetro de sua pele; todo
aquele desejo reprimido saindo do meu corpo.
Isso é tudo em que consigo pensar desde que dei uma chupada nela,
preciso de mais dela. Por que eu sempre preciso de mais dela?
Sinto suas mãos macias se movendo em direção à minha bunda e
agarrando-a com força e as minhas se movendo para seus lindos seios. Eu
os agarro e aperto; peitos são tão sexy. Quem teria pensado?
Eu sinto sua língua deslizando em minha boca enquanto eu a beijo de
volta com reverência como se eu não pudesse ter o suficiente de sua boca e
corpo.
Ela então me leva até a beira da minha cama e eu a puxo para baixo
comigo enquanto caímos na cama.
Continuamos nos beijando com reverência enquanto me movo para
trás em direção à cabeceira da cama. Enquanto isso, ela não perde tempo
montando na minha perna e eu engasgo em sua boca, sentindo como sua
boceta está molhada.
É a sensação mais inacreditável do mundo, saber que ela está tão
molhada por minha causa.
— Porra, sim — eu gemo uma vez que separei meus lábios dos dela.
Eu os movo para o pescoço dela resmungando contra ele. — Senta em mim,
amor.
Ela geme quando agarro e mordo seu pescoço e posso sentir sua
umidade roçando em mim ainda mais forte.
É tão sexy; o jeito que ela está me usando para se sentir tão bem.
Resolvo ajudá-la empurrando meu joelho mais para cima.
— Porra — ela geme, balançando sua boceta para frente e para trás
no meu joelho como um animal.
Continuo mordiscando seu pescoço, meus olhos ainda observando
cada movimento dela e me sinto cada vez mais excitada. Eu não aguento
mais. Ela é muito gostosa, muito insuportável.
Ela é tão livre e atenciosa que não precisa me ignorar ou fugir de
mim, ela pode simplesmente me usar.
Afasto meus lábios de seu pescoço e olho profundamente em seus
olhos vidrados.
— Abra sua boca.
Sem pensar duas vezes, ela abre a boca, seu rosto ainda construído em
absoluto prazer, enquanto ela continua se esfregando na minha coxa. Ela é
uma boa menina, tão obediente comigo.
Eu pego dois dos meus dedos e os deslizo dentro de sua boca e vejo
seus olhos escurecerem.
Ela chupa obedientemente meus dedos sem dizer uma palavra e sinto
que estou pingando. Cada coisa que ela faz é quente.
Seus lábios são tão carnudos em torno de meus dedos, completamente
machucados pelos beijos que compartilhamos.
— Que boquinha sacana — eu digo com a voz rouca, completamente
pasma com sua boca.
Ela responde mordendo levemente meus dedos e se esfregando com
mais força na minha coxa e eu sorrio com o quanto ela é uma pirralha.
Minha pirralha.
Eu tiro meus dedos de sua boca e os movo para minha própria boceta,
usando sua umidade para me agradar. Ela descansa sua testa contra a minha
enquanto eu esfrego meu clitóris inchado. É tão bom me tocar para ela
enquanto ela goza na minha coxa.
— Sim, se masturba para mim, amor — ela geme, seu tom
incrivelmente baixo.
Ela parece tão presunçosa e satisfeita que estou me tocando pelo
quanto ela parece gostosa e isso só faz meu clitóris inchar ainda mais.
Continuo esfregando círculos enquanto observo seus olhos rolarem de
prazer. Minha coxa está definitivamente pingando agora e eu não gostaria
que fosse diferente.
— Você é tão gostosa. — Eu gemo as palavras enquanto me esfrego
mais forte, observando-a.
Estou tão dolorosamente perto e é embaraçoso o quão rápido eu gozo
sempre que Adaline olha para mim. Quem poderia me culpar? Você viu ela?
— Goza para mim — ela exige, seu tom beligerante enquanto ela
balança mais forte contra mim.
— Goza comigo — eu retruco, cuspindo as palavras como se fosse
uma ordem.
Eu preciso dela para gozar comigo, para senti-la se desfazer na minha
coxa enquanto eu me toco por ela.
Meu olhar não consegue parar de viajar para cada centímetro de seu
pequeno corpo; seus seios, sua boceta e aquele rosto deslumbrante.
Ela choraminga enquanto eu balanço minha coxa contra sua boceta e
acelero minhas próprias ministrações. Eu sinto a euforia chegando, meu
cérebro sendo dominado por puro calor e minhas pernas começando a
tremer violentamente.
— Ah, merda! — Adaline grita, sua boceta pulsando contra minha
coxa e seus olhos rolando para a parte de trás de seu crânio.
— Porra — eu gemo ao mesmo tempo, incrivelmente alto, minhas
mãos puxando a parte de trás de seu cabelo.
Eu me vejo sendo levada ao limite observando-a gozar — ela parece
tão etérea, perfeita demais para ser real, isso me faz gozar em resposta.
Nós duas estremecemos uma contra a outra, nossos quadris se
contraindo e o peito arfando. Ela planta seus lábios de volta nos meus,
ajudando-me a enfrentar meu incrível orgasmo e eu a sinto tremendo contra
mim, claramente ainda experimentando o dela.
Esse orgasmo parece a ponta do iceberg. É tão incrível, mas eu quero
mais.
Adaline abriu as comportas, metafórica e literalmente. Parece que ela
lê minha mente porque ela separa seus lábios dos meus.
Suas mãos se movem para minhas coxas e rapidamente ela nos vira,
então agora estou escarranchada em seu estômago. Fico maravilhada com
sua agilidade, mas antes que eu possa dizer qualquer coisa, ela fala.
— Sente na minha cara. — Ela me ordena sem fôlego, com os olhos
vidrados de luxúria.
Não preciso ouvir duas vezes, suas mãos se movem para minhas
coxas e eu me movo para sentar em seu rosto enquanto ela me estabiliza
instantaneamente.
Não importa o quão sensível eu esteja do meu orgasmo; minha
resistência não me deixa parar. Eu me abaixo em sua língua e
instantaneamente, sou engolfada pelo prazer.
Como passei a maior parte da minha vida sem prazer assim? Como
sobrevivi antes disso?
Eu moo contra sua língua enquanto ela faz mágica absoluta em mim.
Ela é absolutamente perfeita em todos os sentidos, como uma espécie de
estrela pornô que sabe exatamente o que fazer e como me derrubar, porque
esse é o nosso problema, podemos nos odiar, mas sempre nos entendemos.
Sua língua está quente; como se estivesse queimando lava derretida
em mim. Parece que ela está respirando desejo na minha boceta,
trabalhando como uma sereia e realizando todas as minhas fantasias na
minha boceta.
— Sim — eu gemo, minhas mãos segurando a cabeceira da cama —,
come minha boceta assim.
Ela me lambe como se estivesse morrendo de fome e eu fecho meus
olhos saboreando a sensação. Ela está tão faminta por mim e minha boceta
está claramente faminta por sua boca, porque estou me esfregando ainda
mais forte em sua boca.
Eu nem me importo em machucá-la com minhas coxas e, claramente,
ela também não, porque ela está agarrada a mim para salvar sua vida.
— Não pare, porra! — Eu grito estrondosamente sentindo ela
chupando meu clitóris.
Eu abro meus olhos e olho para ela, seu rosto completamente coberto
com minha boceta e isso está me deixando louca.
Ela parece tão bem assim; ela sempre tem algo a dizer, mas agora
olhe para ela... completamente sem palavras.
— Você é tão boa nisso, Addie — eu lamento, meus olhos começando
a borrar de prazer.
Sinto suas unhas cravando em minhas coxas e isso só me estimula
ainda mais.
Mais uma vez, sinto-me constrangedoramente rápida ao gozar,
especialmente com a ferocidade com que sua língua está enfiando em meu
buraco agora.
— Vou gozar na sua cara — resmungo, sentindo o suor escorrer pelo
meu pescoço.
Ela responde comendo-me com mais força e sinto meu peito revirar
em resposta. Meu cérebro está completamente desprovido de qualquer
pensamento além de sua língua dentro de mim e minha boceta em sua boca.
Antes que eu possa expressar um pensamento coerente, minhas coxas
têm um espasmo e minha cabeça involuntariamente se move para trás.
Fogos de artifício derretem em minha mente e borboletas enxameiam meu
estômago enquanto o calor aumenta em minha boceta.
— Adi! — Eu grito o nome dela, meu orgasmo balançando meu
corpo em seu rosto.
Eu me movo preguiçosamente contra seu rosto, levando meu orgasmo
à beira da perfeição. Pelo menos, eu estava tentando, mas ela não me dá a
oportunidade, em vez disso, ela nos vira de novo.
Quando ela ficou tão forte? É assim que as meninas fazem sexo? Eles
continuam indo e indo? Que delícia.
Minhas pernas ainda estão tremendo neste momento enquanto ela
derrete seus lábios nos meus. Eu me sinto tão fraca, mas não quero nada
mais do que tocá-la e isso me traz de volta à vida. Minhas mãos percorrem
seu corpo, até sua bunda empinada enquanto eu a seguro.
Eu a sinto morder meu lábio inferior e gemo de prazer. Eu sinto suas
mãos rastejando lentamente em direção à minha boceta. Ela está claramente
tentando compensar todos os orgasmos que passei minha vida sem receber e
eu nunca poderia ficar brava com isso.
— Viu como você tem um gosto fodidamente bom? — Ela murmura
contra meus lábios em um gemido.
Ela está certa, eu tenho um gosto tão fenomenal, mas ainda não tão
perfeito quanto o gosto dela. Eu respondo beijando-a de volta com mais
força, machucando seus lábios.
— Por favor, me fode — murmuro roucamente contra seus lábios,
deslizando minha língua dentro de sua boca.
Sinto suas mãos deslizando pelo meu estômago em direção à minha
boceta, ela não perde tempo esfregando círculos no meu clitóris e eu suspiro
alto. Estou tão sensível, mas minha boceta ainda está com fome dela.
Sempre está.
— Você ainda está molhada para caralho — ela resmunga, separando
seus lábios dos meus e movendo-se em direção aos meus seios.
Ela continua esfregando meu clitóris enquanto chupa e morde meus
mamilos sensíveis e o prazer é indescritível.
— Você sempre me deixa muito molhada — eu retruco, meu corpo se
contorcendo de prazer.
Ela não tem ideia. Acho que ela sempre me deixou molhada sem
saber, mesmo quando eu desprezava o mero pensamento dela. Agora é pior,
porque não me sinto culpada por me molhar, não posso.
Ela responde às minhas palavras colocando um dedo dentro da minha
boceta e eu instantaneamente expiro de prazer. Ela olha para mim, ainda
mordendo meus seios. Ela está olhando para se certificar de que estou bem,
posso ver em seus olhos. Concordo com a cabeça e gemo ao mesmo tempo
e ela toma isso como um desafio.
Seu dedo empurra para dentro e para fora de mim, atingindo pontos
que só eu posso atingir. Ela enrola os dedos dentro de mim e eu empurro
meus quadris em seus dedos.
— Eu preciso de mais — eu lamento como uma pirralha petulante,
embora eu pudesse gozar só com um de seus dedos. Inferno, eu poderia
gozar apenas por ela olhando para mim. Eu preciso mais dela; cada coisa
que ela pode me dar… eu quero e quero o tempo todo.
Ela obedece diligentemente e acrescenta um segundo dedo e minha
boceta prontamente o pega, desliza com facilidade considerando o quanto
estou pingando. Ela se move de volta para mim, sua testa descansando
contra a minha para que sua boca possa sentir cada gemido, cada suspiro
que me deixa.
— Boa menina. Você pega meus dedos tão bem — ela arrulha com a
voz rouca, empurrando mais forte em mim.
Ai, meu Deus.
— Bem ali — eu gemo, sentindo-a atingir meu ponto ideal, enquanto
olho profundamente em seus olhos.
Ela empurra cada vez mais forte como se não tivesse o suficiente de
mim e eu me deleito com isso. A cama range a cada estocada e meus
quadris sobem em seus dedos, sentindo a sensação avassaladora de prazer
batendo em minha mente. Eu mordo meu lábio com a sensação incrível de
seus dedos macios.
— Ninguém me fode como você — eu gemo e seus olhos se estreitam
perigosamente, ficando mais escuros, como se eu tivesse acendido um traço
possessivo nela.
— Ninguém nunca vai — diz ela, empurrando mais forte em mim e
seu polegar começa a esfregar meu clitóris.
Ela está tão fodida quanto eu, tão sedenta de poder, enquanto ela
empurra para dentro de mim, seus dedos se enrolando dentro e fora de mim,
seu polegar pressiona com força no meu clitóris. Sua possessividade é
deliciosa, assim como seus dedos.
Minhas mãos agarram meus lençóis de seda enquanto me contorço
debaixo dela em agonia.
— Adaline! — Eu grito, sentindo-me chegando à beira da pura
insanidade.
Ela me beija, e isso me leva ao limite. A sensação de seus lábios
macios nos meus e seus dedos esticando minha boceta apertada… é demais
para eu suportar.
Sinto arrepios de eletricidade percorrendo meu corpo, viajando desde
minha cabeça até minha boceta. Parece que um vulcão entrou em erupção
dentro de mim, enquanto sinto seus lábios nos meus.
Ah. Porra.
O ácido corre pelas minhas costas e a heroína percorre todas as
minhas veias. Tremores. Arrepios. Qualquer coisa que você possa nomear
acontece com meu corpo – é transcendental, como se eu tivesse evocado
meu próprio mundo imaginário e pisado nele, sentindo a brisa e o sol
brilhando em minha pele.
Ela está olhando para mim, seu sorriso se alarga enquanto ela tira os
dedos da minha boceta, trazendo-os até minha boca. Eu instantaneamente
abro minha boca e os chupo.
— Quem tem a boca sacana agora? — Ela pergunta arrogantemente,
mordendo o lábio enquanto olha para mim.
Droga! Serei qualquer coisa que ela quiser que eu seja; sua inimiga, a
garota com quem ela transa ou sua vagabunda. Qualquer coisa.
Chupo seus dedos com mais força, saboreando-me dela e isso torna
meu orgasmo muito mais atraente.
Ela retrai os dedos e eu movo minhas mãos em direção aos seus
quadris e a puxo para perto de mim, aproveitando a oportunidade para virá-
la, embora não seja tão rápido quanto eu gostaria, considerando o quanto
estou esgotada.
Isso não importa, porque agora, tudo que eu quero fazer é deixá-la se
sentindo bem. Não importa que ela seja uma garota e que eu nunca tenha
estado dentro de uma garota antes, tudo o que importa é que vou fazê-la se
sentir incrível, mesmo que seja a última coisa que eu faça.
Capítulo TRINTA
Adaline
Juliette está em cima de mim, sua língua dentro da minha boceta
enquanto suas mãos pairam sobre cada centímetro do meu corpo e eu nunca
estive tão encantada, especialmente quando eu olho para o corpo dela. É
simplesmente majestoso.
Em ampulheta, forma tonificada, suas pernas longas, esbeltas e fortes
que são claramente uma cortesia de ser uma líder de torcida tão talentosa, e
seus quadris são especialmente atraentes e voluptuosos. Eu não posso nem
começar a mencionar seus seios – eu não consigo tirar meus olhos de seus
peitos empinados.
Eu poderia me tocar uma e outra vez ao ver seu corpo tão perfeito que
é – como ela é perfeita.
— Juliette... — Eu gemo as palavras enquanto ela chupa meu clitóris
com força, como se estivesse morrendo de fome.
Ela está tão imunda agora, suas mãos viajando ao redor do meu corpo
enquanto ela me devora. Ela não tem nenhuma preocupação no mundo, ela
está apenas tentando o seu melhor para me fazer sentir bem, tão
incrivelmente bem.
Está funcionando.
— Eu amo sua boceta para caralho — ela murmura em minha boceta,
seus olhos escurecidos olhando para mim.
— Eu amo sua boca para caralho — eu retruco em um gemido,
minhas próprias mãos apertando seus lençóis de seda.
Sua língua está tão boa dentro de mim, como nada que eu já tive
antes. Eu posso sentir o quanto ela me deseja através de sua língua e cada
carícia. Eu quero tão desesperadamente fechar meus olhos com o prazer
retumbante, mas eu não posso... eu preciso vê-la.
— Porra, assim mesmo — eu a encorajo, minhas mãos emaranhadas
em seu cabelo sedoso enquanto a empurro ainda mais contra minha boceta.
Minha barriga está cheia de calor, meu clitóris inchando cada vez
mais a cada vez que sua língua o circula. Parece puro veneno correndo em
cada veia, especialmente quando seus olhos azuis lascivos estão firmemente
fixos nos meus.
Ela quer que eu saiba que é ela quem me faz sentir tão impecável, mal
ela sabe que eu nunca seria capaz de esquecer isso. Eu nunca seria capaz de
apagar a memória de sua cabeça entre minhas pernas, a maneira como seus
olhos me encaram ou a sensação de sua língua.
Eu envolvo minhas pernas em torno de sua cabeça enquanto suas
mãos se movem em direção às minhas coxas, puxando-me ainda mais perto
de sua boca como uma boa menina.
— Juliette... — Eu suspiro baixinho, minha cabeça balançando de um
lado para o outro por causa do prazer.
Eu me esfrego em seu rosto precisando de mais de sua língua
talentosa, sentindo uma coceira muito familiar arrebatadora em meu corpo.
Meu clitóris pulsa contra sua língua quanto mais ela chupa. A
maneira como ela está se movendo no meu clitóris de volta para o meu
buraco está me deixando faminta.
Ela lambe uma faixa desde meu buraco até meu clitóris e meus olhos
reviram impossivelmente.
— Porra! — Eu grito, minhas pernas tremendo ao redor de sua
cabeça.
O orgasmo ondula pelo meu corpo, parece que água gelada está
viajando por cada centímetro de mim. Minhas pernas se soltam em torno de
sua cabeça porque estou muito ocupada tendo espasmos de prazer.
Eu sempre gozo rápido quando se trata de Juliette, é assim que estou
faminta por ela.
Um arrepio percorre minha espinha, meu cérebro recebendo o
arranhão de que precisava tão desesperadamente para sua coceira. Meu
peito arfa, meu pescoço suando enquanto tento recuperar minha respiração.
Meus olhos vagam de volta para Juliette, que está sorrindo entre
minhas pernas. Ela separa a boca da minha boceta, seus olhos nunca
deixando os meus nem sequer uma vez.
— Eu poderia ver você gozar para sempre — ela me diz, com os
olhos escuros de luxúria.
Ela é tão séria, não é? Seu tom é mais baixo do que eu já ouvi, sua
boca encharcada com minha excitação.
Minha boceta aperta com suas palavras, meu clitóris já inchado
ficando cada vez mais excitado. Para sempre?
Eu deveria estar inatamente apavorada com suas palavras,
profundamente abalada, mas não estou. Como eu poderia ter medo quando
me sinto da mesma maneira?
— Então me faça gozar de novo. — Eu expiro provocativamente, mas
também desesperadamente.
Ela claramente toma isso como um desafio porque um sorriso
predatório se espalha em seu rosto.
Seus dedos alcançam meu clitóris ainda inchado e ela começa a
esfregar. A parte de trás da minha cabeça derrete em seu travesseiro de seus
cuidados.
Eu mantenho meus olhos nela, especialmente quando ela insere um
dedo dentro da minha boceta, tortuosamente devagar. Seus olhos se abrem
quando ela entra em mim, como se estivesse em transe. Posso sentir seu
nervosismo porque ela nunca esteve com uma garota antes, mas também
posso sentir sua empolgação.
— Porra. Você é tão apertada. — Ela se maravilha, mordendo o lábio
enquanto se aprofunda em mim e eu empurro meus quadris em sua direção.
Seus olhos não deixam os meus. Eu nunca a vi tão completamente
encantada antes e isso só está me estimulando cada vez mais. Ela me quer.
Ela me quer muito e eu posso sentir isso porque eu a quero também.
— Me fode, Juliette — eu expiro e ela obedece, seu dedo empurrando
dentro e fora de mim.
— Sim? Assim, amor? — Ela me pergunta arrogantemente com uma
pitada de nervosismo, como se quisesse ter certeza de que está indo bem.
Ela está indo perfeitamente, tão perfeitamente bem que eu não posso
acreditar que é a primeira vez que ela faz isso com uma garota.
— Bem assim — eu gemo em resposta, apertando em torno de seu
dedo. — Você é tão boa nisso.
Ela empurra mais forte assim que as palavras saem da minha boca.
Sua confiança é palpável agora, posso senti-la em cada estocada. Ela está
me alongando tão bem e estou pegando tudo o que ela pode dar porque é
muito viciante. O desejo brota da minha boceta e de cada pedacinho do meu
corpo.
— Eu aposto que você queria que eu fizesse isso há muito tempo —
ela murmura para mim, seus olhos escuros. Há algo mais desesperado em
seu olhar, como se ela precisasse que eu lhe dissesse que queria isso.
— E-eu me toquei pensando nisso — admito descaradamente,
precisando que ela saiba, porque não posso negar agora.
Nem um único pensamento de negação pode passar pela minha
cabeça agora, porque não tenho pensamentos viajando pela minha mente.
Tudo o que posso sentir é ela dentro de mim, em cima de mim, deixando
seu perfume em cada centímetro da minha pele.
— Porra. — Eu a ouço murmurar baixinho e ela prontamente usa seus
outros dedos para esfregar meu clitóris, mas ela ainda não adiciona mais
dedos em minha boceta.
Ela é tão provocante.
— Me diga o que você imaginou. — Ela me ordena enquanto se
move abruptamente de volta para mim, seu rosto olhando diretamente para
o meu enquanto ela continua me fodendo.
Eu gemo, meus olhos piscando de prazer avassalador.
— Pensei em seus dedos esticando minha boceta... assim.
— Porra. — Juliette engasga e geme com minhas palavras. Sua mão
livre se move em direção ao meu rosto enquanto ela enfia o polegar na
minha boca. — Que boquinha imunda.
Ela está tão excitada agora, eu posso dizer. Ela está olhando para mim
com os olhos mais escuros que eu já vi. Eu posso sentir o quanto ela me
deseja agora e isso só me excita ainda mais.
Eu chupo seu polegar e esfrego em seus dedos.
— Amor, mais fundo — murmuro em torno de seu polegar.
Ela obedece instantaneamente, atingindo meu ponto G, ela mergulha
mais fundo e eu posso sentir seu dedo se curvando dentro de mim. Ela
aprende tão rápido, é incrível.
— Eu também pensei nisso… — ela admite, com o peito arfando
pesadamente. — Eu pensei em foder você, como sua boceta ficaria
molhada, como você gemeria alto para mim.
— Preciso de mais dedos — lamento quando seu polegar desliza para
fora da minha boca. Sinto-me chegando perto de uma euforia iminente por
causa de suas palavras e dedos.
Ela também pensou em mim; ela fantasiou sobre mim; isso me faz
pingar positivamente.
— Implore por mais — ela exige, empurrando mais forte em mim,
sua testa descansando contra a minha.
— Vai se foder — eu retruco, irritada, o que a estimula a me foder
ainda mais forte e eu tenho que controlar meus olhos para não rolar para
fora do meu crânio.
Ela ri sombriamente.
— Não, amor, eu estou fodendo você.
— Por favor, me dê mais dedos — imploro em voz alta, não me
importando com meu orgulho agora.
Como posso me importar com algo tão trivial quanto orgulho quando
ela está enterrada dentro de mim? Quando minha boceta está ficando cada
vez mais molhada quanto mais ela empurra para dentro de mim?
Claramente, minhas palavras não são suficientes porque ela continua
me provocando.
— Me diga que você é uma vagabunda.
Eu gemo dolorosamente, olhando profundamente em seus olhos
escurecidos, quase sádicos.
— Eu sou uma vagabunda.
— Isso mesmo, você é uma vagabunda para mim — ela diz em um
tom satisfeito, mas animalesco.
Instantaneamente, ela enfia outro dedo dentro da minha boceta
molhada. Eu choramingo com a sensação de resistência. É tão bom, mas há
uma pontada de dor ali, que é rapidamente aliviada quando sinto seus lábios
derretendo na minha testa.
Eu quase convulsiono com esse ato gentil, especialmente quando ela
se inclina para trás olhando para mim enquanto ela empurra para dentro e
para fora. Eu mordo meu lábio inferior e grito, sentindo meu ápice
chegando.
— Isso mesmo, amor, goza nos meus dedos — Juliette sussurra
gentilmente, mas exigente ao mesmo tempo e isso é tudo o que preciso.
Eu me sinto apertando seus dedos e, na névoa, posso ver como ela
está hipnotizada por como minha boceta teve espasmos em seus dedos e
isso só torna o prazer que percorre meu corpo muito mais prazeroso.
— Porra! — Eu grito minhas mãos segurando os lençóis com tanta
força que poderia rasgá-los.
Minhas pernas farfalham contra a cama, tremendo violentamente
enquanto meu corpo se contrai em resposta. Meus olhos abrem e fecham
algumas vezes – juro que posso ver estrelas agora. Nunca tomei ecstasy,
mas presumo que seja assim.
Não consigo ouvir nada, ver nada ou mesmo provar minha própria
língua agora, tudo o que posso fazer é respirar, como se estivesse em minha
própria bolha com Juliette nela e nada pode interceptá-la.
— Eu quero tentar uma coisa — ela diz abruptamente, retraindo os
dedos e eu gemo com a perda de contato.
— Você pode fazer o que quiser comigo — eu digo a ela, tentando
recuperar minha respiração e ela é como seu tivesse acabado de dar a ela a
melhor notícia de sua vida.
Estou sendo incrivelmente honesta. Minha boceta pode levar o que
ela quiser me dar, não importa o quão inchada ou cansada eu esteja, porque
o desejo vive em meus ossos, residindo tão profundamente dentro de mim e
toda vez que a vejo, ele desperta.
Não importa o que ela me dê, eu preciso de mais e mais, então vou
aceitar qualquer coisa que ela me der. Antes que eu perceba, Juliette se
abaixa ainda mais sobre mim para que sua boceta fique alinhada com a
minha. Acho tão absolutamente adorável como ela está rígida e nervosa
agora que me pego sorrindo para ela. A suavidade apenas escorre de mim.
Percebo o que ela está tentando fazer e a ajudo a se ajustar em cima
de mim. Ela se aproxima e nós duas suspiramos quando nossas bocetas
fazem contato.
— Ai, meu Deus — nós duas dizemos em uníssono e uma risada
coletiva sai de nossas bocas por causa de como estamos sincronizadas.
Se você me dissesse há alguns meses que eu estaria tesourando com
Juliette Kingston, eu teria rido na sua cara, mas agora? Eu nunca estive
mais animada na minha vida.
Ela roça em minha boceta, seu clitóris instantaneamente esfregando
contra o meu e eu lamento. Ela começa a cavalgar em mim, seus olhos
arregalados com a posição em que estamos e, honestamente, os meus
também.
— Mais forte, amor — eu digo a ela em um gemido, sentindo seu
impulso em mim e eu movo minhas mãos para suas costas, cravando
minhas unhas em sua pele esbelta.
— Porra. — Ela geme de dor e necessidade devassa. — Me leva. Tire
tudo de mim.
Ai. Meu. Deus.
Suas mãos se movem para meus seios quando ela começa a apertá-los
enquanto ela empurra sua boceta em mim com mais força e seu clitóris
esfrega contra o meu; é tão insano. Sinto que a transformei em um monstro
sexual e não me arrependo.
Nem mesmo por um segundo.
— Não pare — eu imploro entre gemidos, sua boceta é tão incrível e
quente. Parece que nós duas somos peças de um quebra-cabeça,
encaixando-se perfeitamente.
— Eu não vou parar, nunca vou parar — ela diz em um tom doce e
louco.
Quero dizer que isso parece o paraíso, mas não é. Isso é imundo, não
adulterado e está torturando minha própria alma com prazer. Este é o
inferno, meu próprio inferno pessoal e eu nunca quero sair.
Ela encosta a testa na minha e aproveito para envolver seus lábios nos
meus, me degustando nela. Nós nos beijamos, boquiabertas, enquanto
nossas bocetas se esfregam e a sensação é agonizantemente prazerosa.
Suas mãos param de apertar meus seios e se movem para os lados do
travesseiro enquanto ela tenta se firmar e eu movo minhas mãos para sua
bunda empinada e a puxo mais fundo em minha boceta.
— Ai, meu Deus — ela geme contra o meu lábio e eu posso dizer que
ela está perto, então eu empurro meus quadris por baixo dela, mais forte.
Nós duas nos agarramos enlouquecidas, como animais cheios de
luxúria, enquanto nossos beijos se tornam mais confusos e desleixados até
que ambas explodimos.
Minhas mãos mais uma vez se movem para os travesseiros, tentando
tocar qualquer coisa para estabilizar o prazer que está prestes a sacudir meu
corpo.
Sinto suas próprias mãos deslizando nas minhas, entrelaçando seus
dedos nos meus enquanto seu corpo treme violentamente contra o meu.
Parece loucura, mas posso senti-la gozando contra mim, pois ela
provavelmente também pode me sentir.
Nós resistimos uma contra a outra, ofegando na boca uma da outra.
Ela treme contra mim, mas só consigo me concentrar em meu próprio
prazer insuperável que está atacando todos os meus sentidos.
Perdi a conta de quantas vezes ela me fez gozar, todas elas foram
poderosas e inegavelmente torturantes, mas isso?
Isso é lindo. Ela é linda. Em cima de mim e contra mim, com seus
olhos azuis etéreos olhando profundamente nos meus. É quase como se ela
pudesse ver minha alma e eu pudesse ver a dela também. Parece que nossas
almas estão desmoronando com cada grama de prazer que a atinge.
Observá-la torna esse orgasmo muito mais prazeroso. Muito mais
angustiante.
Eu não consigo respirar, não quando eu posso sentir meu coração
batendo de forma tão irregular e minha boceta apertando mais forte do que
nunca. Eu só quero segurar Juliette contra mim e nunca deixá-la ir. Não
importa o que eu quero, porque depois de alguns minutos, ela sai de cima
de mim.
Eu balanço minha cabeça tentando sair do transe em que eu estava,
me forçando a recuperar minha respiração. Eu posso senti-la ofegante ao
meu lado, nós duas desfrutando de nossos orgasmos.
— Quatro vezes — diz ela abruptamente.
Eu me viro para ela confusa e cansada.
— Huh?
O rosto de Juliette me distrai, ela parece tão completamente esgotada
agora; seu rosto está vermelho, seu cabelo bagunçado e seus lábios
inchados. No entanto, ela ainda parece positivamente... radiante?
— Eu fiz você gozar quatro vezes — diz ela, com o peito arfando. —
Eu te disse que três vezes não eta tão impressionante.
Um.
Dois.
Três.
Demora cerca de três segundos para um sorriso pateta se espalhar no
meu rosto e uma risada profunda sair da minha boca. Ela espelha meus
movimentos e começa a rir também, é profundo, mas de alguma forma
gentil ao mesmo tempo.
Deixe que ela se vanglorie disso, porque, novamente, ela ganhou esse
direito.
— Você é uma idiota — eu retruco quando finalmente paro de rir.
Ela sorri amplamente.
— Talvez, mas claramente não sou uma princesa dos travesseiros.
— Claramente.
Eu não posso nem mentir para ela, ela literalmente me fez gozar
quatro vezes. Como ela conseguiu fazer isso? Esta é a mesma garota que
nunca esteve com uma garota antes. Ela realmente é perfeccionista, não é?
— Eu não sabia que poderia ser assim — ela me diz, parecendo
incomumente vulnerável. Seu olhar é meio intimidador quando ela está
assim, mas não consigo desviar.
— Eu também não — admito honestamente e ela parece perplexa
com minhas palavras.
Em meus dezessete anos de vida, estive com meu quinhão de pessoas.
Já estive com pessoas de todas as alturas, raças, tamanhos e gêneros
também. Eu tive sexo ótimo, sexo ruim e sexo que mudou minha vida, mas
isso? Este foi o melhor que eu já tive.
Claro, deve ter sido porque foi com a única garota que eu odiava
desde criança.
— Foi assim para você? Sua primeira vez com uma garota? — Ela
pergunta curiosamente, avançando e brincando com meus dedos.
Eu me pego deixando-a brincar com meus dedos enquanto também
me aproximo dela.
Eu balanço minha cabeça.
— Minha primeira vez com um cara foi melhor do que minha
primeira vez com uma garota.
— Sério? Achei que as garotas conheciam melhor o corpo uma da
outra? — Ela parece completamente chocada com a minha revelação e é
adorável.
Onde está a Juliette que teria me repreendido por mencionar ter feito
sexo com uma garota? Ela está tão calma aqui, tão curiosa.
Na verdade, ela está admitindo que as garotas conhecem melhor o
corpo umas das outras. Então, novamente, ela não pode ser realmente
homofóbica quando ela literalmente apenas colocou os dedos dentro de
mim.
Só vou apreciar a normalidade dela enquanto ainda a tenho, podemos
ser normais assim no conforto da casa dela, onde ela não tem que responder
a ninguém. Eu deveria me divertir porque ela vai voltar a fingir que odeia
pessoas como eu amanhã.
— Elas conhecem, na maioria das vezes… — Eu suspiro e ela olha
para mim me pedindo para continuar. — Eu apenas coloquei muita pressão
em mim mesma porque tinha quinze anos e pensei que seria perfeito
porque…
— Vocês eram duas garotas. — Ela termina para mim.
— Exatamente. — Eu concordo. — Eu tinha dormido com um cara
alguns meses antes e sempre soube que era bissexual. Então, eu presumi
automaticamente que dormir com uma garota seria muito melhor.
Eu já tinha beijado garotas antes, obviamente, uma vez que eu tivesse
idade suficiente para desenvolver sentimentos sexuais, eu queria agir sobre
eles.
O primeiro cara com quem dormi era doce. Ele era um dos primos de
Aryan. O nome dele era Raj e nos conhecemos na festa de aniversário de
quinze anos de Aryan. Nós meio que tivemos um caso e ele foi o primeiro
cara com quem dormi. Foi gentil e desajeitado, mas não foi ruim, apenas
uma primeira vez normal.
Ela balança a cabeça, ouvindo atentamente.
— E não foi?
Por que estou me abrindo assim? Sou literalmente um livro fechado
para a maioria das pessoas porque odeio falar sobre sentimentos. Com
Juliette, é tão fácil se abrir, embora eu odeie que pareça tão fácil.
Nós duas estamos aqui na cama – nuas – e em vez de ser tímida por
estarmos nuas e podermos nos ver ou apenas devastá-la novamente, estou
contando a ela sobre minha primeira vez?
O que há de errado comigo?
Eu deveria estar saindo daqui, geralmente é o que faço quando faço
sexo com alguém, então por que quero tanto ficar?
— Foi horrível. O nome dela era Allison e ela estava trabalhando no
restaurante da Srta. Kim durante o verão e nós meio que tivemos um... caso.
Paro de falar quando sinto a mão de Juliette se afastando da minha.
Seu rosto escureceu e uma carranca está começando a surgir. Eu lanço a ela
um olhar interrogativo, mas ela instantaneamente sai dessa, limpando a
garganta.
— Continue — ela diz, seu tom baixo.
— Bem, nenhuma de nós tinha ficado com uma garota antes, foi
horrível. Não apenas porque era estranho, mas porque nenhuma de nós
sabia o que estávamos fazendo. Nós apenas pensamos que a outra saberia.
— Eu rio com a memória, percebendo o quão ridículo isso soa. Quero dizer,
como alguém pode saber o que fazer com você se você não contar? Eu, com
quinze anos, realmente achava que minha vida era um pouco de um vídeo
de pornografia.
Juliette ri também, mas é um tipo diferente de risada, é sombria e
maliciosa, como se ela estivesse feliz por eu ter tido uma primeira vez de
merda com aquela garota.
— Mas as meninas ainda são geralmente melhores? — Ela muda de
assunto.
— Depende da pessoa, mas para mim... sim — eu admito, encolhendo
os ombros.
É diferente para todos. Eu realmente não tenho uma preferência, mas
posso dizer que na maioria das vezes, sexo com mulher é melhor do que
com homem. Só depende da pessoa com quem você está.
Estar com garotas é a mesma coisa – é sem vergonha e corajoso, não
é tão suave quanto as pessoas fazem parecer. É suave com os homens
também. Mesmo sem saber, nos diminuímos aos poucos para nos sentirmos
mais amados.
Como meninas, não precisamos nos diminuir quando estamos juntas,
nos encaixamos em todos os sentidos da palavra. Não importa se estamos
machucadas, ensanguentadas ou vazias, nós nos tornamos essas coisas
juntas – nós nos encaixamos.
— Então isso significa que sua vida sexual com garotas melhorou
muito? — Ela zomba, parecendo irritada e eu franzo as sobrancelhas.
Por que ela está dizendo isso como se fosse uma coisa ruim? É como
se essa garota quisesse que eu fizesse sexo terrível.
— E você? — Eu mudo de assunto. — Como foi sua primeira vez?
É tão estranho que Juliette e eu saibamos tanto uma sobre a outra,
mas esses pequenos detalhes íntimos de alguma forma passaram
despercebidos. Então, novamente, por que compartilharíamos essas coisas?
Nós nos odiamos por tanto tempo.
Então, por que eu quero saber agora? Por que eu quero alcançar sua
pele e conhecê-la como se fosse minha? Para saber os segredos que ela não
se sente confortável em contar a si mesma; coisas que ela esconde naquele
canto de sua mente que ninguém mais tem permissão para visitar.
Ela suspira, sua irritabilidade claramente se acalmando agora.
— Eu também tinha quinze anos, foi no final daquela festa de dez
anos que fizemos. Foi um encontro aleatório; eu nem me lembro do nome
dele.
Falar sobre sua primeira vez me lembra de seu namorado e
imediatamente elimino qualquer pensamento sobre ele. Eu não quero ter
que lidar com nenhuma culpa agora.
Sua confissão faz meu coração apertar por algum motivo. Todo
mundo merece uma boa primeira vez; não precisa ser clichê como nos
filmes.
Quero dizer, a virgindade é apenas uma construção social de qualquer
maneira. Portanto, independentemente disso, sua primeira vez não deve ser
em uma festa de merda. Apesar que se alguém me dissesse que sua primeira
vez foi assim, eu não me importaria nem um pouco, então por que me
importo agora?
Eu nem fui convidada para aquela festa obviamente, mas me pergunto
o que teria acontecido se eu tivesse invadido. Eu teria notado que Juliette
escapou para fazer sexo? Eu teria me importado?
— Foi bom? — Pergunto, no fundo já sei a resposta.
— Não — ela diz em um sussurro. — Ele tentou o seu melhor, mas
foi apenas... vazio. Eu deitei lá depois, me perguntando o que havia de
errado comigo.
Eu nunca estive nesse lugar, não como ela.
Juliette para de falar de repente, sua mandíbula apertada e parece que
ela está revivendo a memória. Sinto meu coração se partir um pouco. Eu
movo meus dedos em direção a ela, entrelaçando nossos dedos mais uma
vez e ela me segura com mais força.
Ela sorri tristemente, tomando isso como um incentivo para continuar.
— Eu pensei que era porque era minha primeira vez e não deveria ser
bom, mas continuou sendo vazio todas as vezes depois disso também.
Ainda não sei o que há de errado comigo.
Eu quero dizer tantas coisas. Coisas como: Você é lésbica. Você não
gosta de homens, você gosta de mulheres, mas por causa do seu pai, você
está lidando com a homofobia internalizada. É por isso que você gozou três
vezes comigo, porque eu sou uma garota!
Em vez disso, digo:
— Não há nada de errado com você.
Ela olha para mim, seus olhos suavizando. É quase como se ela
pudesse entender o que estou dizendo, mas não completamente. Posso dizer
que as paredes atrás de seus olhos são impenetráveis agora, mas não é meu
trabalho derrubá-las; mesmo que pareça que pode ser.
— Não parece vazio com você... — ela diz em um sussurro abafado.
— Parece cheio, como o melhor que já tive.
Por que ela está me torturando dizendo coisas assim? Mais
importante, por que estou me inclinando para frente e tentando envolver
seus lábios com um beijo em resposta? Isso é o quanto suas palavras me
oprimem. Pelo menos, eu estava prestes a fazê-lo, até que um barulho alto
ondula pelo ar.
Que audácia do meu estômago de roncar e ficar com fome quando eu
literalmente acabei de comer a refeição mais deliciosa da minha vida:
Juliette.
Sinto minhas bochechas corarem e isso me traz de volta à realidade
quase instantaneamente.
— Eu devo ir…
— Que tal eu fazer algo para você comer? — Ela pergunta em um
tom divertido, me interrompendo.
***
Não sei por que concordei em ficar. Eu não faço ideia. Tudo o que sei
é que aceitei a oferta dela e nós duas rapidamente nos trocamos e nos
limpamos. Até agora, nos últimos trinta minutos, estive sentada em sua
mesa de jantar, esperando enquanto ela cozinhava.
Sua sala de jantar é gigantesca; cada cômodo da casa dela é quase do
tamanho da minha casa. A sala de jantar tem paredes altas em verde
esmeralda – a decoração é em ouro enferrujado e marrom. A mesa de jantar
de mármore verde escuro é longa; como uma em que a família real comeria.
Estou sentada bem no final, mais próxima da cozinha.
Quem diria que uma pirralha rica e mimada como ela saberia
cozinhar? Sempre presumi que ter empregadas a tornaria inútil. Então,
novamente, ela me disse que deu a elas algumas semanas de folga. A mãe
dela também está fora, então ela fica sozinha nesta casa enorme? Isso deve
ser tão solitário.
O som de passos me tira do transe e eu olho para cima para ver
Juliette entrando na sala de jantar com dois pratos – até mesmo os pratos
dela parecem caros.
Antes de colocar qualquer coisa na mesa, ela olha para mim.
— Você quer algo para be…?
— Eu não bebo — eu a interrompo, não quero que ela traga sua
centésima garrafa de tequila.
Ela olha para mim como se eu tivesse dito algo totalmente idiota.
— Eu sei. Estou perguntando se você quer água ou Coca-Cola ou algo
assim?
— Não, eu estou bem. Obrigada — eu digo e ela acena com a cabeça,
colocando os dois pratos para baixo. Ela se senta bem na minha frente e eu
olho para ela com curiosidade. — Como você sabe que eu não bebo? — Eu
pergunto.
No que me diz respeito, as únicas pessoas que conhecem minha
aversão ao álcool são meus amigos e meu irmão.
— Eu literalmente nunca vi você tocar em bebida. Mesmo nas festas
você está sempre bebendo água ou aquele Red Bull horrível. — Ela
visivelmente faz uma careta e eu sufoco uma risada.
Ela realmente me conhece, tanto que sabe exatamente o que estou
bebendo em qualquer festa, o que é ainda mais impressionante porque
raramente vamos às mesmas festas.
Balanço minha cabeça de qualquer pensamento e olho para o meu
prato, parece apetitoso. Parece bastante simples também, apenas macarrão
vegetariano. Pego o garfo dourado ao meu lado e estou prestes a comer até
que ela limpe a garganta. Eu olho para cima e ela está olhando para mim
com expectativa.
A percepção me atinge.
— Obrigada. — Eu mentalmente coloco a mão no rosto por não
agradecê-la pela comida mais cedo. Não consigo esquecer as boas maneiras
só porque a odeio, a Sra. Kim me mataria.
Juliette revira os olhos em resposta e agora estou realmente confusa, o
que ela quer?
— Por que você não bebe? — Ela me pergunta de repente e
aleatoriamente.
— Por que você está me perguntando isso? — Eu retruco, colocando
meu garfo para baixo.
— Acabei de preparar uma refeição para você de graça, então pense
em responder à minha pergunta como pagamento. — Ela encolhe os
ombros, nem mesmo tocando sua própria comida ainda.
Eu posso ver através de sua mentira agora. Esta não é a provocação
habitual dela. Isso é mais do que apenas curiosidade sutil; ela quer saber.
Ela sempre parece querer saber mais sobre mim.
Normalmente, eu odeio contar a ela, então por que minha boca está
abrindo antes que eu possa impedir?
— Meu pai era alcoólatra. É hereditário, então não quero arriscar —
afirmo sem rodeios e vejo seus olhos se arregalarem lentamente.
Eu vejo aquele olhar em seu rosto, primeiro há choque,
provavelmente porque eu nunca falo sobre meus pais com a maioria das
pessoas, especialmente com ela. Em segundo lugar, há pena e eu detesto
isso. Estou tão acostumada a ver essa expressão no rosto das pessoas. Eu vi
isso toda a minha vida.
Quem se importa se meu pai era alcoólatra? Isso é apenas a ponta do
iceberg, há tantas coisas piores sobre ele e minha vida que eu nem sonharia
em contar a ela.
Seus olhos suavizam.
— A respeito…
— Não me pergunte sobre mais nada — eu a advirto, mas quase sai
como um apelo.
Eu não quero fazer isso. Por mais que minha mente pareça segura,
quase querendo que eu conte a Juliette, ainda não vou. Isso é problema
meu, meus próprios problemas.
Juliette acena em compreensão e eu estou perplexa. Esta é a mesma
garota conhecida por me irritar e nunca ceder. Quem é essa garota e o que
ela fez com Juliette Kingston?
Eu pego meu garfo de volta e olho para o prato, pronta para comer,
mas ela me interrompe novamente.
— É apenas um pouco de macarrão. Não tenho o hábito de cozinhar,
então não vai estar perfeito…
— Tenho certeza que está bom. — Eu cortei sua divagação nervosa
suavemente. É cativante; é mesmo. No entanto, estou com tanta fome que
ela precisa calar a boca por dois segundos e me deixar comer.
Posso sentir seus olhos em mim enquanto cutuco a comida e a levo à
boca. Dou a primeira mordida e mastigo, então percebo que só pode ser
descrito como...
— Essa comida é horrível — eu digo com uma careta, assim que
termino de mastigar.
Talvez eu devesse ter deixado ela me interromper mais algumas vezes
para me salvar dessa tortura. Quem estraga macarrão? Como isso é
possível? Ela provou isso enquanto estava fazendo? Parece que alguém
jogou uma panela inteira de sal e ácido nisso.
Sua boca está aberta e seu rosto positivamente vermelho.
— Você nem vai fingir que gostou?!
— Porque eu faria isso?
Não vou mentir para Juliette. Essa garota provavelmente tem acesso
aos melhores chefs do mundo, então não há desculpa para essa comida.
— Tudo bem, devolva — ela diz com raiva, tentando estender a mão
sobre a mesa e pegar meu prato, mas eu não entrego.
— Não, eu ainda vou comê-lo — digo a ela, puxando-o para longe de
seu alcance.
Ela parece perplexa com minhas palavras até que eu começo a
esfaquear os pedaços de macarrão e comê-los, rapidamente, tentando
engolir o gosto absolutamente horrível.
— O quê? Por quê? — Ela questiona e eu olho de volta para ela. Ela
parece confusa e irritada, mas também curiosa.
Espero até depois de engolir mais desse veneno, antes de responder a
ela.
— Não desperdiço comida.
— Por quê? — Ela pergunta curiosa, ainda sem tocar na própria
comida. Ela claramente confiou em minhas palavras quando eu disse que
era ruim.
Eu dou a ela um olhar inexpressivo.
— Eu não acabei de dizer para você não me perguntar mais nada?
— Quando foi que eu ouvi você? — Ela continua me encarando como
uma pirralha, sem se mexer. Eu poderia simplesmente ignorá-la e terminar a
comida. No entanto, não consigo evitar minha boca, que parece se abrir
cada vez mais em torno de Juliette.
Suspiro profundamente, mais uma vez deixando meu garfo no prato.
— Quando eu era criança, havia dias em que não tinha dinheiro para
comer. Naquela época, eu teria matado para consumir qualquer coisa...
então agora, quando consigo comida, não posso desperdiçar.
Eu vejo seus olhos suavizarem e a pena entra em seu olhar mais uma
vez. Eu tenho que desviar meus olhos dela, não gostando de como me sinto
vulnerável agora.
Mais importante, não gosto de como pareço estar bem por estar
vulnerável perto de Juliette.
Ainda me lembro vividamente daqueles dias. Meu pai estava no
crédito universal porque estava bêbado demais para trabalhar. Mesmo esse
dinheiro mal dava para as contas ou a casa.
Adam e eu éramos apenas crianças, mas ele tinha idade para trabalhar
e largou os estudos para trabalhar em várias oficinas, mas o dinheiro não era
dos melhores. Adam e eu esticamos a comida por dias seguidos. Depois que
ele saiu, tive que começar a sobreviver por conta própria.
Foi só quando comecei a trabalhar na casa da Sra. Kim que comecei a
receber refeições regularmente porque ela não tinha ideia de como as coisas
estavam ruins em minha casa.
Poderia ter sido pior para nós, mas, independentemente disso, não
desperdiço comida, não apenas pelo que passei, mas porque sei que
algumas pessoas não têm nada. Simplesmente não é mentalmente possível
para mim tomar algo como certo assim.
Pode não ser saudável, mas sou só eu.
— Isso é realmente uma atrocidade. — A voz de Juliette me tira do
meu turbilhão interior.
Eu olho para cima e me deparo com a visão de Juliette comendo seu
macarrão. Suas sobrancelhas estão franzidas, seu nariz franzido e sua boca
cheia. Ela parece absolutamente enojada.
— O que você está fazendo? — Eu questiono, perplexa.
Ela apenas dá de ombros, seus olhos ainda fixos em seu prato.
— Eu não vou fazer você comer sozinha.
Tum. Tum. Tum.
Essa garota é realmente minha inimiga? Se ela é, por que sinto que
alguém enfiou a mão dentro do meu peito e está apertando meu coração?
Aqui Juliette está sentada, enfiando a massa na boca o mais rápido
que pode, para não ter que se demorar no sabor. Sento-me ali, observo-a e,
reflexivamente, começo a comer de novo, mas sou lenta. Ao contrário dela,
na verdade estou me demorando no sabor.
De alguma forma, não tem mais um gosto tão ruim, não enquanto eu a
observo; não quando seus olhos se estreitam em desgosto enquanto sua
boca está cheia.
Minhas palmas começam a suar – estou surpresa que o garfo não
escorregou por entre meus dedos. Eu sinto que posso desmaiar. Meu
cérebro está acelerado e minha língua está dormente. Parece que a água fria
está me lavando e quanto mais eu olho para Juliette, mais agonia preenche
todas as minhas veias.
Ah, não.
Capítulo TRINTA E UM
Juliette
Estou incrivelmente surpresa por não estar lidando com um caso
crônico de intoxicação alimentar depois de consumir aquela refeição ontem.
Em minha defesa, tenho uma chef pessoal e, quando dou folga a ela,
apenas peço comida. Nunca tive a necessidade de cozinhar, mas é claro que
devo começar a aprender.
A menos que eu queira que Adaline degrade minha comida assim
novamente, embora pelo menos ela tenha sido honesta. Não apenas sobre a
comida, mas pela primeira vez em sua vida ela me contou algo sobre sua
vida por sua própria vontade – com apenas um mínimo de persuasão. A
maneira como ela me disse por que não desperdiça comida me torturou de
maneiras que eu não esperava.
Senti pena, claro que senti, mas acima de tudo senti… admiração. Ela
é resiliente claramente, resiliente demais.
Eu realmente nunca soube o quão ruim era sua vida em casa porque
ela nunca me deu a oportunidade de espiar.
Agora que ela deu, isso me fez entendê-la melhor, me fez sentir ainda
pior por jogar sua pobreza na cara dela ao longo dos anos.
Eu sei, com certeza, que se eu crescesse como ela, não seria tão forte
quanto ela – para aceitar cada insulto que ela recebeu ao longo dos anos e
não quebrar, mas, em vez disso, continuar trabalhando tão duro.
Eu sempre amei o fato dela ser uma lutadora, mas há muito mais do
que eu sei.
Eu queria perguntar mais a ela; sempre quis perguntar mais sobre sua
família, sua infância e praticamente tudo, mas ela não desistiu. Eu não
deveria ter perguntado de qualquer maneira; somos apenas inimigas
coloridas.
Falando nisso, como nossa primeira vez foi tão perfeita? Quer dizer,
eu pesquisei antes, principalmente vídeos no Google e no YouTube. Fiz a
mesma coisa antes de comê-la pela primeira vez, tentei assistir um pouco de
pornografia, mas era muito irreal, então apenas pesquisei.
Realmente valeu a pena, porque nunca me diverti tanto na cama.
Nunca me senti tão cheia, tão sexualmente satisfeita. Também nunca me
senti tão arrogante como me senti. Eu a fiz gozar quatro vezes e queria
repetir mais mil vezes também.
Eu fiz isso.
Quero fazer de novo, quantas vezes for possível, até que fique
gravado em minha mente por toda a eternidade. Eu queria fazer isso de
novo ontem depois de comermos e fizemos mais cinco vezes no total antes
de ela ir embora.
Eu não me satisfaço; eu só quero minhas mãos nela o tempo todo.
Deveríamos ter sido inimigas com benefícios muito antes.
Mesmo agora, não consigo parar de pensar em colocar minhas mãos
nela. Saí da minha primeira aula cinco minutos atrás e agora estou
encostada no meu armário, mexendo no meu telefone. Na verdade, estou
apenas observando Adaline. Ela está parada ao lado do armário
conversando com as amigas. Ela parece tão atraente como sempre,
especialmente com aquele pirulito que ela está chupando.
Seus olhos encontram os meus e eu coro quando percebo que fui pega
encarando, mas ela apenas sorri, girando sua língua ao redor do pirulito.
Ela parece tão impecável, tão sedutora quanto sua linda boca enrolada
naquele pirulito. Está tomando cada grama de autocontrole para eu não ir
até ela e fodê-la contra seu armário.
Minhas mãos trêmulas pescam meu telefone do bolso do blazer
novamente e eu passo o dedo sobre o contato dela, sem perder tempo para
repreendê-la.
Pare de me provocar.
A ruína da minha existência:
Me obrigue.
Sua resposta instantânea me faz olhar para cima do meu telefone e ela
ainda está olhando para mim. Desta vez, ela chupa o pirulito inteiro e eu
mordo meu lábio em resposta. Ela é uma provocação incrível.
Me encontra no banheiro.
Ela não responde, mas mesmo assim vou até o banheiro, sem me
preocupar em olhar para ela, porque isso poderia fazer alguém suspeitar. A
excitação chacoalha meus ossos enquanto entro no banheiro.
Eu olho em volta para ter certeza de que ninguém está aqui e,
felizmente, ninguém está. Apenas alguns segundos depois, ouço a porta se
abrindo e me viro. Adaline está na minha frente, seu pirulito em nenhum
lugar à vista, ao contrário, foi substituído por um olhar presunçoso em seu
rosto.
Eu não perco tempo andando até ela e puxando sua gola para mim,
plantando meus lábios nos dela.
Ela me beija de volta instantaneamente e eu aproveito a oportunidade
para puxá-la comigo e levar nós duas para uma das cabines. Fecho a porta
atrás de nós e então a viro, prendendo-a contra a porta.
— Você me deixa louca para caralho — murmuro contra seus lábios
macios.
— Eu sei — ela responde presunçosamente e eu enfio minha língua
em sua boca, silenciando-a.
Sinto suas mãos segurando minha cintura, me puxando para mais
perto e gemo em sua boca. Minhas próprias mãos vagam por seu corpo e
finalmente o plantam firmemente em sua bunda enquanto o seguro.
Ela separa seus lábios dos meus, pairando sobre mim, embora eu
continue tentando capturar seus lábios novamente. Ela está me incitando
com os lábios, aproximando-se e afastando-se novamente.
— Você é provoca tanto — eu lamento baixinho, seus olhos verdes
sedutores estão olhando para mim através de seus cílios.
— Você ama isso — ela retruca, mordendo meu lábio inferior com
força e eu gemo de dor.
Ela finalmente envolve meus lábios mais uma vez e o calor derrete
em minha boca. Nós nos fundimos em um frenesi, minhas mãos pairando
sobre cada centímetro de seu corpo enquanto a beijo apaixonadamente. Eu
juro que poderia estar morrendo de fome e não importaria se eu tivesse seus
lábios nos meus.
Ela geme em minha boca e eu passo minhas mãos em sua boceta, por
cima da calça. O dia que essa menina resolve usar calça é logo hoje?
— Por favor — ela implora entre beijos, abrindo o zíper de sua calça
e puxando minhas mãos para baixo de sua calcinha.
Encharcada. Ela está completa e totalmente encharcada e eu estou me
divertindo com isso. Eu circulo seu clitóris inchado e ela está
choramingando, tentando ao máximo não falar muito alto. Eu amo que ela
tenha que lutar contra esse instinto.
— Porra — murmuro contra seus lábios.
Ela geme ardentemente em minha boca enquanto eu enfio um dedo
dentro de sua pequena boceta apertada — eu me sinto tão natural nisso e
isso é insano. Acho que a pesquisa realmente compensa.
Ou ela só me quer muito. Espero que seja o último porque eu a quero,
o tempo todo. Sinto que poderia desmoronar em um vazio escuro e vazio se
não tivesse em minhas mãos Adaline Emery.
Ela é tão quente, tão apertada, ela é imoral em torno de meus dedos e
estou perdendo a cabeça quando a penetro.
— Porra — ela geme e eu afasto meus lábios dela e abro meus olhos,
quero vê-la desfeita por minha causa.
Seus olhos se abrem também e ela parece positivamente satisfeita. Ela
também parece linda, etérea até. Eu quero continuar e fazê-la gozar, mas o
som da porta do banheiro se abrindo me assusta.
Instantaneamente, uso minha mão livre para fechar sua boca, mas não
tiro minha outra mão de sua calcinha. Seus olhos se arregalam e eu a sinto
sorrindo contra a minha boca.
— Precisamos descobrir como colar neste teste, sério. — Eu ouço
uma voz dizer, aguda e estridente.
— Ouvi dizer que Roy vai distribuir respostas durante o almoço —
retruca outra voz igualmente aguda.
Eu olho profundamente nos olhos de Adaline e parte de mim está com
medo de que nós duas sejamos pegas aqui e minha vida acabe. A outra parte
de mim quer fazê-la gozar assim, minha mão sobre sua boca com as pessoas
do lado de fora.
Eu a sinto mover a mão tentando empurrar minha própria mão ainda
mais em sua boceta, mas eu não obedeço e posso sentir o quão frustrada ela
está. Depois do que parece uma eternidade, ouço as duas garotas saindo e a
porta se fechando.
Instantaneamente, expiro de alívio e Adaline morde minha mão
levemente, fazendo com que eu solte minha mão de sua boca e minha outra
mão se retire de sua calça.
Rasgo um pedaço de papel do suporte e limpo meus dedos. Eu faço
tudo tão rápido que quase me dá uma chicotada.
— Quem é a provocadora agora? — Ela diz frustrada, mas ainda leve,
como se entendesse que não podemos continuar, que eu não posso. Não
quando alguém poderia entrar novamente. Alguém que veja que nós
estamos juntas nesta cabine.
— Você não vai dizer isso esta noite — eu retruco, levando a mão de
volta para a cintura dela e puxando-a para mais perto do meu corpo.
— Isso é uma promessa? — Ela responde, provocando, seus braços
em volta do meu pescoço como sua segunda natureza.
Quando isso se tornou tão normal para nós? Apenas tocar uma à outra
e nenhuma de nós piscar.
Eu rio sombriamente.
— Não, é um aviso.
Ela sorri com a minha resposta e se inclina, mas antes que seus lábios
encontrem os meus, eu digo algo, porque sinto que vou explodir se não o
fizer.
— Eu estava querendo te perguntar uma coisa.
— Sim? — Ela pergunta, separando seus braços dos meus
inadvertidamente me obrigando a fazer o mesmo.
Eu odeio o quão vazia isso me faz sentir, quando as mãos dela não
estão em mim. Pare com isso. Controle-se, Juliette.
— Você já... usou uma cinta? — Eu já sinto o rubor subindo para
minhas bochechas.
Não consigo evitar, estou curiosa. Toda essa pesquisa me mostrou que
há mais de uma maneira de fazer sexo, especialmente quando se trata de
mulheres.
Ela pisca lentamente, um sorriso enfeitando seu rosto.
— Eu já usei. Eu tenho uma caixa inteira se você quiser usar…
— Uma caixa inteira? O que você é, uma analista de cintas? — Eu
zombo, cortando-a. — De jeito nenhum vou usar algo que esteve dentro de
outra pessoa.
Por que eu fiz a pergunta? Apenas o pensamento de alguém dentro
dela ou dela dentro deles me deixa doente.
Sinto a fúria entrando em cada fenda do meu corpo e a malícia me
encharcando e não sei por quê. Com quantas pessoas ela esteve? Por que
estou perguntando isso? Não importa.
Você quer saber quantas pessoas você precisa matar. Eu tento o meu
melhor para ignorar meus pensamentos intrusivos.
Adaline me dá um olhar inexpressivo.
— É por isso que tenho uma caixa, para não usar os mesmos
brinquedos para pessoas diferentes.
Pessoas diferentes. Pessoas. Diferente.
— Podemos... usar um esta noite? — Eu pergunto abruptamente,
balançando a cabeça de qualquer outro pensamento.
Eu quero que ela esteja dentro de mim e eu quero estar dentro dela.
Eu quero isso de todas as maneiras – de todas as maneiras possíveis – na
cama dela, na minha e em qualquer outro lugar que ela quiser; eu só quero
isso com ela.
Adaline acena com a cabeça, engolindo em seco.
— Sim, Adam vai trabalhar até tarde, então você pode vir à minha
casa?
Por alguma razão, ela parece tão nervosa quanto eu e isso acalma meu
rubor dez vezes.
— Vejo você então — eu sussurro, tentando conter minha excitação.
Ela apenas acena com a cabeça, mas então, como em câmera lenta,
ela se inclina para frente e dá um beijo em meus lábios. Encontro-me
atordoada por seu beijo gentil, mas antes que eu possa dizer qualquer coisa,
ela está saindo do banheiro.
Eu não posso lutar contra o sorriso largo que toma conta do meu
rosto, meus dedos traçando meus lábios completamente chocados com
aquele beijo. Já nos beijamos antes, mas foi tão curto e doce.
Eu passo a mão pelo meu cabelo e tento ignorar o quão rápido meu
coração está batendo agora. Espero alguns minutos antes de começar a sair
do banheiro. Claramente, estou muito distraída quando saio, porque esbarro
em um baú sólido como uma rocha.
Estou pronta para destruir a vida dessa pessoa até olhar para cima e
ficar cara a cara com Adonis. Fale sobre timing ruim.
— Oi, amor — diz ele alegremente e antes que eu possa responder,
ele está me envolvendo em um abraço.
Às vezes, eu realmente esqueço que Adonis existe. Isso é ruim? Aliás,
por que ele está tão feliz? Ele sabe que não sou muito de abraçar.
— Oi — murmuro em seu peito sem jeito antes de me separar de seu
forte abraço.
— Você está animada para semana que vem? — Ele pergunta
sorrindo.
Semana que vem?
— O que tem na semana que vem? — Eu expresso minha confusão.
Seu rosto cai.
— Nosso aniversário de dois anos.
Ah, não. Eu esqueci completamente. Não posso deixar de me sentir
um pouco culpada quando vejo como ele está desanimado, sem mencionar
que literalmente o traí quando ele provavelmente planejou um jantar de
aniversário para nós.
A culpa que sinto se dissipa rapidamente quando lembro que ele me
trai o tempo todo. Não é como se ele se importasse muito comigo... certo?
— Ah, sim, estou tão animada. — Finjo meu entusiasmo e ele não
parece convencido.
— Você tem me evitado muito recentemente, está acontecendo algo?
Sério? Este é o momento que ele escolhe para agir como observador?
Eu o tenho evitado um pouco desde que Adaline caiu em cima de mim. Na
verdade, nem dormi com ele desde que Adaline e eu nos beijamos pela
primeira vez; eu simplesmente não consegui por algum motivo. Tenho
estado muito preocupado com pensamentos de tutoria e Adaline.
Claramente, ele está ficando desconfiado.
— Não, só estou ocupada com as aulas particulares — digo em um
tom falso e cansado.
Ele acena, mas ainda parece confuso.
— Estou surpreso que você ainda não tenha matado Adaline.
Adonis, como todo mundo nesta escola, sabe o quanto Adaline e eu
nos desprezamos, mas ele fica fora disso. Nunca falamos dela porque o
nosso jogo é só nosso, não importa a opinião dos outros.
— Sim, eu também. — Eu rio sem jeito.
Matar ela? Não, eu a beijei, estive dentro dela e ela dentro de mim.
Não só isso, não consigo parar de pensar nela a cada segundo de cada dia.
Matar ela? Como posso fazer isso quando ela está me matando, lentamente,
dia após dia.
— Quer sair depois da escola? — Ele muda de assunto rapidamente.
Agradeço-lhe mentalmente por me libertar da minha turbulência interior.
— Não posso. Recebi detenção depois da escola por adormecer
durante as aulas de matemática. — Na verdade, isso não é mentira;
adormeci esta manhã na aula.
Não me importo com matemática, é extremamente fácil e sempre tiro
boas notas. É simplesmente entediante – terrivelmente entediante –, sem
mencionar que não consegui dormir ontem à noite porque fiquei acordada a
noite toda pensando em Adaline. Então, é claro, adormeci durante a aula.
— Ok, eu vou te mandar uma mensagem mais tarde — diz ele em um
tom agitado, mas ainda se inclina e beija meus lábios.
Quanto anos ele tem? Doze? Quem dá um beijo na boca de alguém
como despedida?

***

Depois de um dia inteiro de aulas medíocres, estou exausta. Eu nem


tive aula de biologia hoje e, por algum motivo, me decepcionei com isso.
Outra coisa irritantemente decepcionante é que tenho detenção, que é para
onde estou indo.
Entro na sala de aula e está completamente vazia. Eu sorrio com a
solidão e sento na fila do meio, batendo minha bolsa Prada na mesa e
pegando meu telefone.
Mando uma mensagem de texto para Kai por um tempo e jogo jogos
frívolos no meu telefone enquanto espero o professor da detenção aparecer.
Eu me pergunto quem é desta vez. Eu realmente não me importo. Eu só
espero que seja qualquer um, mas…
— Desligue o telefone, senhorita Kingston. — Uma voz interrompe e
eu olho para cima instantaneamente.
Senhor Moore. Claro. Pelo amor de Deus, por que eu coloco essas
coisas no universo? Ele parece tão miserável como sempre, com sua careca
brilhante e barba ruiva. Ele é o único professor substituto que continua
aparecendo, claramente, ele não tem outra vida ou perspectiva de trabalho.
Ele é tão irritante; ele não tem absolutamente nenhum filtro e adora fazer
comentários injustificados sobre a vida das pessoas.
Literalmente, sempre que ele fala é para insultar alguém. Então,
essencialmente, ele sou eu, mas não tão bonito ou inteligente, porque seus
insultos são medíocres na melhor das hipóteses.
Eu apenas o ignoro e desligo o telefone. Eu massageio minhas
têmporas já sentindo uma dor de cabeça chegando. O único pensamento que
me faz passar por isso é que eu sei que irei à casa de Adaline e a verei.
Não! Quero dizer, transarei com ela. Eu não me importo em vê-la,
apenas transar com ela. Não é como se eu sentisse falta dela quando não a
vejo nem nada.
Sim, você sente. Ah, cale a boca cérebro, o que você sabe?
A porta se abrindo novamente me tira dos meus pensamentos e eu
olho para cima para ver... Aryan? O que diabos ele está fazendo na
detenção? Juro que ele é como o aluno de ouro.
Obviamente não sei muito sobre ele, mas sei que nunca vi esse garoto
se metendo em encrenca por nada que não seja algo admirável, porque ele é
literalmente uma bola de sol.
É nauseante.
— Aryan? O que você está fazendo aqui? — O Sr. Moore está tão
chocado quanto eu.
Aryan apenas se senta na fileira ao meu lado, algumas cadeiras à
minha direita. Ele suspira.
— Me atrasei muitas vezes esta semana por causa do treino de boxe.
O Sr. Moore revira os olhos.
— Treino de boxe? É por isso que você está chegando tarde na
escola?
Eu o desligo assim que ele começa sua palestra. Eu fecho meus olhos
e começo a sonhar acordada lentamente e tudo em minha mente é Adaline.
É como se ela estivesse me hipnotizando. A boceta dela é mesmo mágica?
É como se tivesse lançado um feitiço sobre mim e eu não consigo pensar
em nada além dela. Então, novamente, ela sempre obscureceu meus
pensamentos, mesmo antes de tocá-la.
— Talvez se você prestasse mais atenção em chegar à escola no
horário, não estaria reprovado nas aulas. Idiota.
Instantaneamente, meus olhos se abrem com suas palavras. Idiota?
Ele acabou de chamar Aryan de idiota? O quê? Ele é um professor!
Somente alunos podem chamar outros alunos de idiotas.
Ele também parece tão presunçoso, com os braços cruzados sobre o
estômago enquanto olha para Aryan. Eu pagaria um bom dinheiro para ver
o que Adaline faria com ele se ouvisse isso. Não é segredo que ela é
ferozmente protetora com seus amigos. Quero dizer, ela quase arrancou
minha cabeça quando fiz aquele comentário sobre Aryan.
Embora eu tenha gostado bastante. Eu gostava de tê-la muito furiosa
comigo, com as mãos amontoadas no meu colarinho. Droga! Mesmo o
pensamento disso poderia me fazer gozar agora.
— Sim, senhor — Aryan diz e meus olhos se voltam para ele, ele nem
parece incomodado.
O Sr. Moore simplesmente o ignora e olha para o relógio.
— Estarei de volta em dez minutos. Fiquem quietos e não criem
problemas — ele diz severamente, seus olhos firmemente plantados nos
meus.
Faço questão de revirar os olhos abertamente com suas palavras e ele
apenas zomba, saindo da aula. Espero a porta fechar completamente antes
de me virar abruptamente para Aryan.
— Como você pode deixá-lo falar assim com você assim? — Eu
pergunto indecorosamente.
Sério, se ele falasse assim comigo eu mandaria demiti-lo. Não apenas
isso, mas eu iria dissecar sua vida medíocre pedaço por pedaço até que ele
estivesse absolutamente miserável. Ninguém me desrespeita. Ninguém.
— Onde isso é da sua conta? — Seu tom é cheio de atitude e sua
mandíbula cerrada.
Então ele é o epítome da luz do sol com todos menos comigo? Justo.
Quer dizer, tecnicamente eu tornei a vida da melhor amiga dele um inferno.
— Só estou curiosa — eu digo, encolhendo os ombros.
Ele apenas revira os olhos e mexe em seu celular, ignorando minhas
palavras. Eu não vacilo meu olhar, porém, não gosto de ser ignorada e,
especialmente, não gosto quando as pessoas não respondem às minhas
perguntas.
Seus olhos piscam de mim para seu celular, claramente frustrados.
Ele suspira, finalmente virando a cabeça para mim e eu sorrio em
vitória.
— As palavras dele realmente não me afetam. Eu sei que todo mundo
pensa que eu sou idiota. Talvez eu não seja a pessoa mais inteligente da
sala…
— Você não é. — Eu casualmente o interrompi.
Pelo amor de Deus. Eu faço uma careta com minhas palavras
abertamente. Eu não tenho um interruptor?
Ele me lança um olhar impassível, mas não parece tão ofendido, mas
me sinto meio culpada, o que é estranho; por que eu me sentiria culpada por
declarar fatos? Não me senti culpada quando o chamei de imbecil daquela
vez, então por que isso é diferente?
eu limpo minha garganta.
— Desculpe, isso foi desnecessário.
— É, foi. — Ele zomba. — Talvez eu não seja inteligente com
relação a livros, então quem se importa? Há mais na vida do que isso.
Existem outras maneiras de ser inteligente e, mesmo assim, o que há de tão
bom em ser inteligente?
Ele é tão autoconfiante na maneira como fala e eu nunca havia notado
isso antes. Ou eu não me importei o suficiente para perceber. Como ele é
assim? Mais importante, não consigo nem imaginar quanto tempo ele levou
para chegar a esse ponto. Ele realmente não se importa com o que as
pessoas pensam dele?
— Então, realmente não te incomoda quando as pessoas dizem coisas
assim para você? — Eu pergunto perplexo.
Ele suspira.
— Costumava incomodar quando eu era mais jovem, especialmente
quando as crianças costumavam me chamar de coisas mais ofensivas como
“bicha”...
— As pessoas te chamavam assim? — Meu tom é chocado. Eu não
posso conter o tremor em meu tom.
Ele olha para mim como se eu tivesse acabado de dizer algo tão
ridículo e então isso estala na minha cabeça; eu literalmente chamei sua
melhor amiga de sapatão por anos.
Por que estou tão chocada? Por que não consigo imaginar chamar
alguém de palavra com “b”, mas eu estava bem chamando Adaline de
sapatão?
Por que sou tão fodida?
— Desculpe, continue — digo a ele e juro que o vejo sufocar um
sorriso.
Duas desculpas no espaço de dois minutos? O que está acontecendo
comigo?
Ele dá de ombros.
— Acho que cresci e percebi que as pessoas dizem coisas cruéis
porque elas mesmas estão acostumadas a ouvir coisas cruéis.
Isso é tão... atencioso; tão totalmente compreensivo e a maneira como
ele fala me lembra de Kai.
Por mais que eu odeie admitir, talvez Aryan esteja certo. Existem
mais aspectos da inteligência do que ser esperto, porque pelas palavras dele,
posso dizer que ele é muito inteligente emocionalmente.
Bem o oposto de mim. Combato palavras cruéis com palavras ainda
mais cruéis. Na verdade, eu começo antes de qualquer outra pessoa. Eu não
pensaria nas razões de alguém ser mau ou cruel, eu apenas os derrubaria por
isso. Isso não é algo para se orgulhar, é apenas algo com o qual me
acostumei.
Eu me pego concordando com a cabeça, ainda ouvindo atentamente,
querendo ouvir mais – precisando ouvir mais e ele obriga de forma
chocante.
— As pessoas sempre vão falar, não importa o que você faça. Então,
por que deixar se incomodar? Não vou me mudar por ninguém… ninguém
deveria mudar.
Ele está olhando para mim. Seu olhar é pensativo, persistente em mim
e isso me abala. Como afirmei antes, gostaria de pensar que sou excelente
em ler as pessoas ou talvez seja a paranóia que vive profundamente em
meus ossos; a mesma paranóia com a qual vivi a maior parte da minha vida.
Também pode ser o fato de Aryan mostrar suas emoções em seu rosto
– a maior desvantagem de ser uma pessoa tão otimista –, seus olhos
castanhos escuros nervosos, sua mão direita coçando aquela barba
terrivelmente perfeita.
— Ai, meu Deus — murmuro baixinho e posso ver sua respiração
engatar, ele parece confuso ou talvez com medo. Eu noto os dois. Nós não
somos amigos, então por que ele está sentado aqui me dando mais
informações do que o necessário, me dando o que parece ser um conselho e
tentando transmitir uma mensagem profunda? Porque ele sabe! — Você
sabe, não é?
— Sabe o quê? — Ele pergunta, sua oitava subindo e sua mão direita
esfregando seu pescoço.
Que mentiroso terrível.
— Adaline filha da puta — murmuro com raiva, sentindo meu
coração bater forte. Levanto-me rudemente, agarrando minha bolsa
enquanto sinto um calor subindo pelo meu pescoço.
Posso ver a boca de Aryan se movendo, mas não consigo ouvir nada
saindo de sua boca, nem posso olhá-lo nos olhos. Acabei de sair da
detenção, sem me preocupar com mais nada além de confrontar Adaline.
Eu vou matá-la.
***
Acho que quebrei umas cinco regras de trânsito a caminho da casa de
Adaline, mas não me importo. Eu não poderia me importar enquanto dirigia
porque a fúria estava correndo pelo meu corpo. Traição, algo que nunca
experimentei antes, mas é isso que qualifica como traição? Com certeza
parece que sim, especialmente agora, enquanto estou do lado de fora da
casa de Adaline, minha mão batendo em sua porta.
Não leva nem cinco segundos antes que a porta se abra e lá está ela.
Ela tem a coragem de sorrir suave e animadamente para mim e eu tenho a
coragem de gostar disso.
— Oi…
— Seu irmão está em casa? — Eu a cortei abruptamente.
Ela balança a cabeça confusa.
— Não…
Antes que ela possa responder, eu entro em sua casa, empurrando seu
ombro com força. Eu me viro para ela e ela fecha a porta, parecendo
totalmente perplexa.
— Você contou a seus amigos sobre nós? — Eu cuspo as palavras
como uma acusação.
Um.
Dois.
Três.
Leva três segundos para Adaline aparentemente processar minhas
palavras – ela parece um cervo nos faróis e instantaneamente meu coração
para.
A culpa que está escrita em seu rosto só me deixa com mais raiva e
confirma ainda mais todas as minhas suspeitas. Isso provavelmente
significa que ela também contou a Victoria.
Ai, meu Deus.
— Merda! — ela exclama preocupada, se aproximando de mim. —
Eu só precisava de alguém para conversar…
— Nós concordamos em não contar a ninguém! — Eu grito as
palavras e não perco o jeito que ela se encolhe, recuando quase
instintivamente.
Não consigo me concentrar nisso agora. Não posso me importar com
isso agora; estou muito furiosa.
— Eu sei — sua voz está cheia de culpa —, me desculpe. Eu não
deveria ter dito nada, mas eles não vão contar a ninguém... eu confio neles.
Confia neles? Eu não ligo! Ai, meu Deus, eles sabem. Todos eles
sentam lá e riem de mim juntos? Como eles não poderiam? Passei de
intimidar Adaline a fazer sexo com ela. Aposto que já contaram a tantas
pessoas.
Ai, meu Deus. Aposto que Victoria contou a Kai. Ele senta lá e ri de
mim com ela também?
— Eu não confio neles! Victoria está namorando Kai, ela
provavelmente já contou a ele. — Eu agito minhas mãos tentando fazer meu
ponto.
— Ela não contou a Kai, eu juro — diz ela com sinceridade e eu
quero acreditar nela.
Talvez eu acredite, mas isso não importa.
— Vai se foder, Adaline — eu retruco, raiva pingando de cada palavra
minha, mas eu não posso evitar o estalo que sai da minha voz.
Meu coração está batendo tão rápido agora e a ansiedade está
preenchendo todas as minhas veias. E se eles forem para a escola e
contarem para todo mundo? Quero dizer, é garantido, não é? Como
vingança pela forma como tratei Adaline.
Não demoraria muito para que a notícia chegasse até minha mãe. Ela
descobriria e me odiaria, eu seria igual ao meu pai. Ela me deserdaria.
Como ela seria capaz de me amar de novo?
Não. Não. Não. Não…
— Me desculpe, eu sinto muito. Eu sei que você está com medo…
— Medo? Por que eu estaria com medo? — Eu a cortei furiosamente,
ofendida com suas palavras.
Isso não é medo. O buraco no meu estômago e o suor no meu pescoço
não são medo. É raiva. É sempre assim, não sou capaz de ter medo porque o
medo te deixa fraco, te deixa vulnerável e você só é vulnerável se algo for
verdade, mas isso não é verdade.
— Juliette… — ela murmura baixinho, com as sobrancelhas franzidas
de preocupação e os olhos cheios do que só pode ser descrito como... pena?
— O quê? Por que você está olhando assim para mim?
Eu não quero sua aparência gentil. Eu não quero a pena dela. Não sei
o que quero, só sei que combinamos algo e ela não cumpriu. Ela precisa
parar de me olhar assim. Está fazendo meu peito apertar e meus joelhos
ficarem pesados. Não consigo respirar quando ela me olha assim.
— Assim como? — Ela tenta mascarar o visual, mas não está fazendo
seu melhor trabalho hoje.
— Como se você soubesse de algo que eu não sei — eu digo
defensivamente e o visual está de volta, mais forte do que nunca.
Ela fica em silêncio e não consigo evitar as palavras que saem da
minha boca em seguida.
— O quê? você acha que eu gosto de garotas ou algo assim? — Eu
pergunto desconfiada.
Seu rosto diz tudo o que precisa ser dito, como se ela já soubesse em
sua mente, como se ela me conhecesse melhor do que eu mesma.
— Juliette, nós fizemos sexo…
— Isso não significa que eu goste de garotas. Você é a única garota
que me atrai — eu retruco, minha respiração ficando mais pesada e meu
tom mais defensivo.
Eu não posso gostar de garotas. Não posso. Não posso. Não posso.
Não posso. Não posso. Não posso. Não posso. Não posso. Não posso. Não
posso. Não posso. Não posso. Não posso. Não posso. Não posso. Não
posso. Não posso. Não posso. Não posso. Não posso.
— Não, eu não sou e tudo bem — ela diz, eu nunca a ouvi falar tão
suavemente antes.
— Não me rotule, porra! — Eu retruco, apontando um dedo na cara
dela. — Mesmo se eu gostasse de garotas, não seria bom você contar a
ninguém, seria coisa minha para contar.
Eu não gosto de garotas. Eu não gosto, então não sei por que estou
com tanta raiva. Ela deveria saber, no entanto. De todas as pessoas, ela
deveria saber que você não conta coisas assim às pessoas.
Ela sentiu isso, não sentiu? Quando ela foi descoberta por aquele
neandertal quando tínhamos doze anos e todo mundo sabia que ela gostava
de garotas?
Sim, e o que você fez Juliette? Você a confortou por ter sido
denunciada ou a repreendeu?
Adaline não me deve nada, especialmente depois de como eu a
tratei... mas isso não faz doer menos.
Minha mãe vai me odiar, com razão. Ela terá por mim o mesmo
desprezo que tem por meu pai. Eu prometi a ela, eu estava lá para ela e jurei
ser como ela... não como ele. Ela vai me odiar. Me odiar. Me odiar. Me
odiar.
Eu me odeio.
Ela suspira e eu juro que posso ouvir um tremor em seu tom.
— Você tem razão. Eu sinto muito, eu sinto. Eu só, eu gosto… — ela
para no meio da frase, ficando vermelha. — Desculpe.
Sinto luzes e câmeras. Eu sinto mil olhos em mim nesta sala agora
mesmo que ninguém esteja aqui. Fui despida, meus segredos expostos,
minha dor exposta. A vergonha que carrego comigo em todas as mesas em
que me sento está lutando muito para voltar ao meu corpo e é agonizante.
Eu ignoro suas palavras, nem mesmo sendo capaz de ouvir o que ela
está dizendo ou tentando dizer.
— Eu não gosto de garotas... eu não posso gostar de garotas. — Meu
tom está trêmulo; não vai demorar muito para eu explodir.
— Sim, você pode, só porque seu pai…
— Não mencione a porra do meu pai! — Isso é o que é preciso, a
menção do meu pai é o suficiente para que as lágrimas comecem a cair
livremente.
É doloroso. As lágrimas quentes traçando meu rosto são dolorosas,
mas não tão dolorosas quanto a maneira como Adaline está olhando para
mim agora — com compreensão, compaixão e tudo o que concordamos que
não sentimos uma pelo outra; tudo que não é ódio.
— Ok — ela sussurra suavemente.
Ela tenta se aproximar de mim, mas eu recuo. Como isso aconteceu?
Do nosso momento de manhã até agora? Por que estou chorando na frente
da garota que odeio e por que não me sinto envergonhada?
Eu só quero derreter em seus braços; eu quero ser honesta e ser
abraçada enquanto soluço em seus braços enquanto ela me consola, mas
não posso, porque então estaria admitindo... e não posso fazer isso.
Então, faço o que geralmente não faço bem, fujo.
Capítulo TRINTA E DOIS
Adaline
Eu não consigo dormir. Eu não consigo comer. Pior de tudo, não
consigo estudar; tudo porque Juliette tem me ignorado por uma semana
inteira.
Juliette nunca me ignora. Ela pode me evitar e enviar suas asseclas
para fazer seu trabalho sujo, mas ela nunca me ignora completamente. Eu
tentei ligar para ela, enviar mensagens, até enviei e-mails para aulas
particulares – como fiz da última vez que ela ficou com raiva de mim.
Espero que ela tenha realmente estudado as anotações porque,
independentemente da nossa situação, preciso dessa carta de recomendação.
Literalmente, sempre que tento falar com ela na escola, ela
desaparece. Normalmente, eu me divertiria com isso; com o fato de que eu
a irritei, mas desta vez é diferente.
A diferença é que ela está claramente magoada. Não consigo parar de
pensar no rosto dela; no jeito que ela chorou.
Toda vez que penso nisso, meu coração se aperta em resposta. Eu
mesma não chorei desde que meu irmão foi condenado à prisão quando eu
tinha onze anos.
Eu nem chorei quando meu próprio pai morreu; eu simplesmente não
sou uma pessoa emotiva – ou talvez eu reprima a maioria das minhas
emoções. Então, por que me senti quase a ponto de chorar quando a vi
chorar?
Talvez a culpa gerasse isso. Nunca pude escolher quando me assumi;
eu fui cruelmente desmascarada e odiei ter meu controle tirado de mim.
Então, como eu pude fazer a mesma coisa com Juliette? Mesmo que as
circunstâncias sejam diferentes e meus amigos objetivamente não contem a
ninguém, isso não importa.
Era seu segredo, mesmo que ela ainda não soubesse.
— Ei, você está bem? — A voz de Victoria me tira do meu tumulto
interior.
Atualmente estou na biblioteca da escola – que é insanamente
gigantesca. Estou estudando com Aryan e Victoria para um próximo exame
de matemática, mas, na verdade, só estou pensando em Juliette.
Eu suspiro e aceno com a cabeça, mas nenhum deles parece
convencido.
— O que fez você finalmente ceder a essa coisa com Kai, além de
esquecer que ele era amigo de Juliette? — Eu pergunto abruptamente.
Quero dizer, sempre pensei que Victoria era exatamente como eu
quando se tratava de sentimentos, que ela os reprimia e nunca daria uma
chance a Kai. Estou agradavelmente surpresa por eles estarem namorando,
mas ainda quero saber por que… por que agora?
— Essa é uma pergunta aleatória — ela diz, franzindo as
sobrancelhas e Aryan faz o mesmo, mas eu apenas dou de ombros, levando-
a a responder. — Acho que estava ficando muito difícil negar que eu o
queria e o fato de ser nosso último ano em Richmond. O pensamento de que
eu não o veria todos os dias nunca mais me assustou. — Seu rosto está
pensativo, como se ela estivesse pensando profundamente sobre sua
situação.
Aryan e eu ouvimos atentamente, completamente fascinados por suas
palavras. Eu literalmente nunca a ouvi falar assim antes; ela soa tão livre,
tão... suave. Ela está sendo brutalmente honesta e isso está me fazendo
pensar ainda mais.
Me assusta pensar que possivelmente não verei Juliette novamente
depois de deixar Richmond? Eu costumava pensar que seria como o céu,
mas não tenho mais certeza.
Ela fica vermelha.
— Eu finalmente me permiti ter alguém.
— Isso é tão sentimental.
— Isso é tão fofo — Aryan diz ao mesmo tempo que eu.
Victoria sorri para Aryan e apenas aponta o dedo do meio para mim e
eu mando um beijo para ela. É meu dever como sua melhor amiga tirar
sarro dela quando ela diz qualquer coisa remotamente emocional, é assim
que as coisas funcionam.
— Por que você perguntou isso? — Victoria questiona, confusa.
Respiro fundo antes de falar.
— Acho que estou começando a... tolerar Juliette.
O olhar conhecedor e os sorrisos em seus rostos me abalam um
pouco. Eles parecem divertidos, talvez até um pouco preocupados. Eles
sempre sabem tudo antes de mim mesmo, então não estou chocada por eles
não estarem chocados.
— Você quer dizer "gostar" dela? — Aryan sorri timidamente e eu
apenas abaixo minha cabeça levemente em resposta.
— Você descobriu isso porque ela está te ignorando há alguns dias?
— Victoria me pergunta com interesse.
Meus amigos literalmente tiveram ingressos na primeira fila para ver
Juliette me ignorando a semana toda. Victoria se ofereceu para perguntar a
Kai sobre isso, mas rapidamente percebeu que ele não sabia sobre mim e
Juliette, então ela não podia nem perguntar a ele.
Eu sorrio timidamente.
— Talvez.
— Sinto muito por isso de novo — acrescenta Aryan, com o rosto
abatido.
Ele tem feito muito isso na semana passada. Ele veio à minha casa
assim que Juliette saiu e Victoria também. Ele passou Deus sabe quanto
tempo se desculpando por ela ter descoberto, mas eu assegurei a ele que não
era culpa dele.
— Não, não foi sua culpa, foi minha. — Ele ainda não parece menos
culpado, mas eu quero dizer tudo o que estou dizendo.
Victoria zomba, parecendo afrontada.
— Ah, por favor, ela fez muito pior com você.
Ela está certa. Ela está completamente certa. No entanto, sei lá no
fundo que Victoria sabe que nunca é certo tirar alguém do armário, mas ela
provavelmente fez a mesma coisa que eu – se enganou pensando que está
tudo bem porque eu só estava confiando em meus amigos.
— Eu sei — eu suspiro, esfregando minhas têmporas — e é por isso
que é tão louco que eu possa gostar dela.
— Você realmente nunca notou isso antes? — Aryan diz, como se o
próprio pensamento fosse uma loucura e Victoria ecoou seus sentimentos
com suas expressões.
— Eu pensei em transar com ela antes, mas não... gostar dela. — Eu
tremo só de pensar. — Ela tem sido horrível comigo desde que éramos
crianças, como eu poderia gostar dela? O que isso diz sobre mim?
Acho que já sei a resposta para isso lá no fundo. Deveria ser
vergonhoso gostar de alguém como ela, que me intimidou durante anos. No
entanto, ao longo do caminho, me vinguei por cada coisa terrível que ela fez
comigo. Uma parte de mim também gostou ou talvez tenha se acostumado
com isso.
Eu sei que não posso perdoá-la totalmente; ela começou todo esse
jogo. Sim, eu lutei eventualmente e chegamos em pé de igualdade, mas isso
nunca vai mudar o fato de que nunca começou igual.
Não há problema em se sentir culpada por forçá-la a se assumir.
Inferno, é até bom fazer sexo com ela, mas eu sou realmente uma dessas
pessoas? Alguém que acaba gostando de seu inimigo… seu valentão?
Victoria acena com a cabeça com um suspiro.
— Significa que você é humana. Acredite em mim, prefiro que você
goste de alguém que seja uma pessoa melhor. Demorou muito para eu e
Aryan percebermos que você queria Juliette dessa forma, mas nos
acostumamos. Você não pode escolher de quem você gosta.
Concordo com as palavras dela, pensando nelas. Ela definitivamente
tem razão. Quer dizer, imagine como foi confuso para Aryan e Victoria
descobrirem que eu queria Juliette ou estava atraída por ela, pois eles
deixaram claro que eu a queria há um tempo, o que ainda não tenho certeza
se queria, mas eles me conhecem melhor do que eu mesma.
Se meus amigos – que odeiam Juliette talvez tanto quanto eu e até me
ajudaram a mexer com Juliette várias vezes – podem entender por que gosto
de Juliette, talvez eu também possa.
— E ela está mudando, não está? Eu vi naquele dia na detenção —
acrescenta Aryan.
Não tenho certeza ao que ele está se referindo, mas acho que tem algo
a ver com ela ouvir e se desculpar com ele. Honestamente, quando ele me
disse isso, fiquei chocada. Ela raramente se desculpa.
— Eu não quero que ela mude — eu admito.
Sim, ela está mudando um pouco, pelo menos em termos de não ser
tão homofóbica. Eu também posso sentir, ou pelo menos senti antes de ela
começar a me ignorar.
— Você gosta de garotas malvadas? — Aryan mexe as sobrancelhas e
Victoria ri.
Posso ficar de pé e dizer que odeio Juliette por ser má, mas isso
simplesmente não é verdade – gosto dela má, gosto dela cruel. Eu não me
importo com o quão má ela é, porque ela é boa nisso. A única coisa que não
suporto é a homofobia dela.
Eu dou de ombros em concordância e então acrescento:
— Eu não gosto de garotas homofóbicas.
Ambos concordam com a cabeça, mas estão olhando para mim com
olhares pensativos. Eles literalmente se parecem com gatos Cheshire agora
com sorrisos do tamanho de Júpiter em seus rostos.
— Por que vocês estão sorrindo?
Eles olham entre si e Victoria gesticula com a mão para Aryan, como
se ela estivesse dando a ele a frente do palco para colocar algum juízo na
minha cabeça.
— Porque você é uma corredora, Addie. Você foge dos problemas e
evita falar sobre eles, mas está nesse joguinho com Juliette há anos e nunca
fugiu.
Ele tem razão. Ele está absolutamente certo e é assustador. Evito tudo,
a menos que me beneficie de alguma maneira. Ela é a única coisa que não
posso evitar, não importa o quanto eu tente.
— Então, por que ainda tenho esse ódio por ela? — Neste ponto,
estou jogando fora todas as minhas preocupações porque preciso de
respostas.
Eu ainda a odeio. Toda vez que olho para ela, toda vez que a vejo
fazer algo irritante, uma raiva desenfreada enche meu peito. Está
infeccionado ao longo de cinco anos, então eu entendo que é difícil mudar,
mas não deveria ir embora quando você gosta de alguém? Como você pode
odiar alguém que você gosta?
— Como você é a pessoa mais inteligente que conheço, mas lhe falta
tanto bom senso? — Aryan diz, estupefato.
Eu zombo engasgando com suas palavras, mas antes que eu possa
responder, Victoria começa a falar.
— O oposto do amor não é o ódio; é apatia. Você odiar Juliette é a
prova inegável de que sente algo por ela. Se você continuar a odiá-la, isso
significa apenas que você continua sentindo coisas por ela.
Por que meus amigos são tão inteligentes? E por que eu tenho a
coragem de me rotular como inteligente? Eu gostaria de ter um pingo da
inteligência emocional que esses dois possuem.
Apatia. Eu nunca me senti apática em relação a Juliette em toda a
minha vida. Pensando bem, eu sempre a odiei, então isso significa que não
preciso parar? Isso é emocionante, porque acho que não conseguiria parar
de odiá-la, mesmo que tentasse.
Não somos Juliette e Adaline sem nos odiarmos, simplesmente não
somos.
— Não se preocupe com isso, não é como se você precisasse se casar
com a garota. Você odeia o amor mesmo, não é como se você quisesse que
ela fosse sua namorada. É apenas casual, certo? — Victoria diz, seu tom é
meio provocador, mas sério ao mesmo tempo, como se ela desejasse que eu
discordasse dela.
— Certo. — Ambos suspiram e parecem desapontados com a minha
resposta.
Como eu poderia concordar com ela? Só porque percebi que gosto de
Juliette não significa que vou me apaixonar por ela. Tudo o que significa é
que ela é mais do que uma amiga sexual, mas isso não faz dela minha
namorada. Eu nunca poderia ser como meu pai; eu nunca poderia me
apaixonar.
Eu nunca poderia deixar isso me arruinar.
Aryan acena com a cabeça e então geme dramaticamente.
— Agora, se terminamos com esta pequena crise, alguém pode me
ajudar com esta equação?

***
Às vezes, esqueço o quão obscenamente popular Juliette é, até em
momentos como este em que as pessoas estão fervilhando ao seu redor.
No momento, estou encostada no meu armário, meus fones de ouvido
na cabeça, como sempre. Eu nem estou fazendo segredo sobre cuidar de
Juliette, não posso. Eu quero que ela me note, olhe para mim, mas ela não
vai.
Ela está apenas conversando com um grupo de meninas e meninos
que, sem dúvida, provavelmente a elogiam sobre como ela é bonita, o que
ela é, mas ainda assim, eles não querem dizer isso quando dizem isso; eles
apenas a adoram. Eles não têm ideia de como ela realmente é bonita; eles
não viram seu rosto quando ela está cheia de prazer ou quando ela está
enchendo a cara de macarrão.
Eles não a viram. Não como eu.
O toque do sinal me tira dos meus pensamentos, essa é a desvantagem
dos fones de ouvido antigos: eles não cancelam o ruído.
Eu suspiro e tiro meus fones de ouvido, colocando-os no meu
armário. Tenho um período livre agora, então provavelmente vou apenas ler
um livro ou…
Virando-me, meus olhos pousam em Juliette, que está caminhando em
direção ao banheiro. Não importa, eu sei exatamente o que vou fazer.
Espero alguns segundos, me firmando, antes de caminhar em direção
ao banheiro. Está me dando flashbacks de uma semana atrás, quando ela
estava com os dedos na minha boceta. Estou literalmente frustrada
sexualmente desde então, porque ela me evita.
Entro no banheiro e ela está em frente aos espelhos, reaplicando o
brilho labial. Instantaneamente, seu olhar encontra o meu e posso ver seu
maxilar cerrado. Eu me aproximo atrás dela e ela não para sua tarefa.
— Oi — eu digo baixinho.
Ela suspira, abaixando o brilho labial.
— O que você quer?
A voz dela. É a primeira vez em uma semana que ouço sua voz
aveludada e isso me estimula de maneiras inimagináveis. Parece uma lufada
de ar fresco depois de ficar presa no subsolo por muito tempo.
— Que você pare de me ignorar — eu respondo sem rodeios e sem
vergonha.
Ela parece surpresa com a minha honestidade e eu não a culpo, eu
também estou surpresa. Normalmente não sou assim, especialmente com
ela.
— Não estou te ignorando, só estou ocupada. — Vem sua réplica
esfarrapada.
— Eu ainda sou sua tutora. Não podemos simplesmente parar…
— Estou ocupada. — Ela me interrompe, repetindo suas palavras.
Nesse ponto, ela se virou para finalmente ficar de frente para mim e é
difícil continuar minha linha de pensamento quando ela parece tão sexy.
Seu cabelo loiro sedoso está preso em um rabo de cavalo perfeito e
penteado e seu uniforme está perfeito como sempre. Hoje ela não está
usando tanta maquiagem como costuma usar, independentemente disso, ela
sempre parece etérea.
— Bem, você está ocupada esta noite? — Eu pergunto.
Diga não. Me diga que não. Eu estou bem se ela continuar negando
qual sua sexualidade, desde que ela finalmente fale comigo de novo.
Podemos apenas voltar a dar aulas particulares. Ela pode se curar da
maneira que quiser e lidar com sua sexualidade em seus próprios termos.
Nunca tive problemas com isso…
— Sim, vou jantar com Adonis, é nosso aniversário.
Sério? Então, enquanto eu estive essencialmente em culpa agonizante
por uma semana inteira, pensando que ela provavelmente está lidando com
tanta ansiedade e homofobia internalizada, ela realmente está perfeitamente
bem? Tão bem que ela vai jantar com o namorado idiota?
— O que vocês dois estão comemorando? Trair um ao outro? —
Minha voz sai mais cortante do que eu gostaria, mas não consigo evitar.
— Ele está satisfeito e eu também — diz ela, despreocupada.
Uma pontada atinge meu peito antes que eu possa pensar direito.
Apenas uma tapa-buraco? Isso é o que eu sou?
Por que você está tão incomodada com isso? Você não acredita em
amor, só em sexo, certo? Ah, desapareça, cérebro! Não tenho tempo para o
seu sarcasmo.
— Entendido — eu digo em um tom cortante e acho que vejo uma
partícula de culpa em seus olhos, mas se vai tão rápido quanto veio.
A maneira como ela disse isso, como se eles estivessem em algum
relacionamento aberto confuso, onde eles têm casos com outras pessoas e
depois voltam para conversar sobre isso; como se eu fosse seu pequeno
experimento ou algo assim.
— O quê? Você está com ciúmes ou algo assim? — Ela ri daquele
jeitinho cruel.
Eu ignoro suas palavras.
— Você tem transado com ele enquanto nós estamos fazendo o que
quer que seja? — Eu faço um gesto entre nós com minhas mãos.
Ciúmes. Por que eu ficaria com ciúmes? Com ciúmes de um homem
que pode levá-la para jantar? Um homem do qual ela não se envergonharia;
alguém com quem ela poderia ser vista em público ou levar para casa para
sua mãe?
Eu não sou ciumenta.
Então, por que preciso tanto que ela diga não?
— Claro que sim — ela diz, franzindo as sobrancelhas como se eu
estivesse sendo ridícula. — Ele é meu namorado. Já disse que não gosto de
garotas. Você é o experimento aqui, não ele.
Uma onda de fúria e mágoa percorre meu corpo com suas palavras.
Sinto meus joelhos fraquejarem, especialmente enquanto ela está aqui, com
o rosto impassível.
Ela ainda está dormindo com ele? Ai, acho que vou vomitar. Talvez
eu devesse sentir pena dela estar dormindo com ele porque ela claramente
não gosta de homens, mas eu não posso.
Talvez uma parte de mim acredite nela quando ela me chama de
experimento. Ela não seria a primeira garota hétero que me usou assim e
provavelmente não será a última.
Eu sou o experimento.
No entanto, ele é o namorado, o cara com quem ela dorme e o cara
cuja mão ela segura na escola sem sentir medo.
— Bem, divirta-se transando com seu namorado. — Eu me inclino
para frente e a vejo engolir em seco. — Certifique-se de aproveitar
especialmente quando ele não fizer você gozar e você passar o resto da
noite se sentindo miserável.
Eu vejo uma onda de dor e ofensa passar pelo rosto dela porque ela
não é rápida o suficiente para esconder desta vez, mas eu não me importo.
Sim, eu errei, mas meus amigos nunca contariam a ninguém, sem
mencionar o fato de que eu pedi desculpas. Então, em vez de ter uma
conversa madura, ela quer jogar tudo isso fora me tratando como merda?
Bem, dane-se isso! Dois podem jogar esse jogo.
Eu saio do banheiro antes que ela tenha a chance de responder.
Claramente, estou com muita raiva para olhar para onde estou indo porque
esbarrei em alguém. Estou pronta para descontar a raiva de Juliette em
quem quer que eu esbarre até eu olhar para cima... É Alex, com seu sorriso
bobo e cabelo loiro bagunçado.
— Oi, Addie, eu estava literalmente procurando por você. — Ele
sorri.
— E aí, Alex? — Eu pergunto cansada, mas tentando o meu melhor
para não brigar com ele porque ele não merece isso, embora ele tenha agido
de forma muito estranha ultimamente. Ele fica me mandando mensagens e
tentando falar comigo entre as aulas. Eu? Eu não dou a mínima para ele
porque tenho estado insanamente ocupada estudando... e pensando em
Juliette.
Ele esfrega as mãos nervosamente.
— Eu tenho uma festa hoje à noite e eu estava pensando... você quer
ir como meu par?
Ah.
Ah, não.
Antes que eu possa responder, uma voz fria surge atrás de mim.
— Quantas vezes eu já te disse que ela não está interessada?
Eu me viro para a direita e lá está Juliette, com as mãos nos quadris
atirando adagas em Alex e instantaneamente, fico furiosa de novo.
— Desde quando você fala por ela? Vocês se odeiam — Alex diz e eu
o aplaudo interiormente por realmente enfrentá-la.
Ele tem razão. Ela não fala por mim, especialmente depois da merda
que ela acabou de fazer.
Atiro adagas com o olhar na direção dela, mas ela não tira os olhos de
Alex, parece que vai despedaçá-lo.
Foi quando a lâmpada finalmente se apagou na minha cabeça; ela
está... com ciúmes. Ai, meu Deus, ela é tão difícil de ler; em um minuto ela
não gosta de garotas, no próximo, ela está com ciúmes? Eu deveria estar
feliz, mas não estou; estou com muita raiva para isso agora.
— Sim, nós nos odiamos, então ignore ela. — Volto meu olhar para
Alex, sorrindo para ele. — Eu adoraria ir como sua acompanhante hoje à
noite, Alex.
Ele ilumina positivamente.
— Sério? Legal! Vejo você hoje à noite então. Pego você às oito?
— Parece bom. — Eu sorrio e ele balança a cabeça timidamente antes
de se virar e ir embora.
Isso é bom, certo? Alex é um cara legal, ele é doce e gentil e também
não é ruim para os olhos. Ele nunca teve medo de ser meu amigo em
público e nunca falaria comigo do jeito que Juliette acabou de falar.
— O que você está fazendo? — Juliette pergunta e eu me viro para
olhá-la.
Ela está respirando pesadamente, seus olhos escurecidos e seu tom
incrivelmente baixo. Quero rir de como ela parece ciumenta, mas não o
faço, porque quero que ela lide com isso.
— Me enchendo de outra pessoa — eu respondo e nem mesmo dou a
ela uma chance de responder antes de sair.
Não sou uma garota idiota que anseia por alguém que a trata como
merda. Eu nem sou capaz de me apaixonar por ninguém, então por que me
importo tanto? Por mais legal que fosse para Juliette não negar, claramente,
isso não vai acontecer tão cedo.
Isso não vem ao caso, preciso lembrar quem sou – quem sempre fui.
Sou Adaline Emery e sou excelente em uma infinidade de coisas, mas no
que sou melhor?
Dar às pessoas o gosto de seu próprio remédio.
***

Alex me buscou. Ele foi educado, abriu minha porta para mim e se
ofereceu para pegar minha jaqueta assim que entramos na festa.
Ele nem sequer olhou para as minhas pernas que estão à mostra por
causa do quão curto é este vestido de cetim preto, que eu tenho que elogiar,
porque eu já estive na posição exata dele antes e olhei... sem vergonha
também.
Ele está sendo um amor e estamos dançando juntos enquanto Aryan,
Kai e Victoria estão em algum lugar fazendo o mesmo.
Então, por que me sinto tão vazia? A festa está absolutamente agitada
e Alex está sendo muito engraçado. Ele é tão bonito, mas não sinto nada,
não quando tudo em que consigo pensar é em Juliette.
Ela está jantando com Adonis agora? Ele sabe o que ela pediria? Ou
pior, ele faz o pedido para ela? Afinal, eles estão juntos há dois anos, tenho
certeza que ele sabe muito sobre ela…
— Posso pegar alguma coisa para você beber? — Alex pergunta,
inclinando-se mais perto para que eu possa ouvi-lo sobre a música.
Eu balanço minha cabeça.
— Eu não bebo.
Juliette sabe disso.
Ele murcha visivelmente com minhas palavras e eu quase posso sentir
o gosto do pedido de desculpas prestes a sair de sua boca agora, então eu o
interrompo trazendo suas mãos para minha cintura e me virando em seus
braços.
Eu o sinto enrijecer, mas ele se recupera rapidamente e envolve o
braço em volta do meu estômago, nós dois dançando.
Eu deveria estar me divertindo agora, não pensando na cria de
Satanás.
Eu não toquei em outra pessoa desde que Juliette e eu nos beijamos
pela primeira vez, o que é chocante porque eu faço sexo com bastante
frequência e em algum lugar desde então, parece que eu simplesmente...
não quero mais.
Continuamos dançando e a música só fica mais alta. Meus olhos
examinam a festa e inadvertidamente vão em direção à entrada da festa e eu
gostaria que não tivessem, porque eu vejo ninguém menos que Juliette
entrando... com Adonis.
Acho que o jantar não durou muito.
Ela parece tão comestível como sempre, usando um vestido elástico
vermelho escuro que só posso presumir que seja Prada? Seus peitos caem
tão bem naquele vestido quanto suas longas pernas que estão à mostra.
Eu a vejo caminhando em direção à pista de dança improvisada e seus
olhos encontram os meus. Instantaneamente, uma onda de energia percorre
meu corpo, todo aquele vazio desapareceu no abismo e agora, tudo o que
sinto é pura fúria. Como ela ousa entrar nessa festa com seu namorado
estúpido?
Mais importante, como ela ousa andar alguns metros na minha frente,
dançando com Adonis? Ela parece furiosa ao ver Alex atrás de mim, mas
ela ainda está dançando com Adonis, espelhando meus movimentos e
envolvendo os braços dele em volta da cintura dela enquanto ela me encara.
Este é o jogo que ela quer jogar agora? Ok. vou morder a isca; eu
sempre mordo quando se trata dela.
— Você é muito gostosa. — Sinto Alex resmungando em meu
pescoço e aproveito a oportunidade para esfregar minha bunda nele.
Ele geme baixinho, mas não consigo me concentrar nisso agora,
apenas mantenho meus olhos em Juliette e continuo dançando com ele.
Come Over da Jorja Smith começa a explodir nos alto-falantes e me
sinto pronta para dançar. Sinto a raiva correndo em minhas veias enquanto
observo Juliette se esfregando em Adonis e ele está gostando de tudo. Eu só
quero matá-lo por isso, ela é minha!
Ela é? Com as mãos dele sobre ela?
Eu trabalho com minha fúria movendo as mãos de Alex para cima e
para baixo em meu corpo até que ele está segurando meus seios e sinto sua
dureza crescendo atrás de mim. A escuridão abduz o olhar de Juliette. Posso
sentir a fúria irradiando dela, mas me sinto bem demais para parar.
Eu adoro incomodá-la.
Ele começa a beijar meu pescoço lentamente, provavelmente
verificando se eu quero parar, mas eu não paro, não enquanto ela está me
observando. Eu gemo de prazer, realmente curtindo a sensação, ele não é
tão macio quanto Juliette, mas ele também é bom nisso, afinal sou apenas
humana.
Uma humana que não faz sexo há uma semana.
Continuo dançando com ele, sentindo a música zumbindo em mim e
meu corpo esquentando. Neste ponto, assistir Juliette é uma agonia, meu
corpo parece que pode explodir de desejo e raiva.
De repente, minha visão de Juliette é bloqueada por uma figura que
aparece na minha frente. Uma figura muito sexy. Mais baixa do que eu, pele
negra linda e um sorriso atrevido. Isso não me deixa menos irritada com a
intrusão.
— Posso me juntar? — A garota pergunta.
Ela é ousada. Ela também não é de Richmond, eu a teria reconhecido.
Além disso, ninguém viria até mim se fosse de Richmond, exceto Alex.
Seu olhar é quase provocador e predatório ao mesmo tempo e não
consigo deixar de olhá-la. Eu viro minha cabeça para Alex perguntando se
ele está bem com isso, usando meus olhos.
— O que você quiser, eu estou dentro — ele me diz atrevidamente e
eu sorrio.
— Vem — digo a ela, retraindo minhas mãos de Alex e puxando-a
para mais perto do meu corpo.
Minhas mãos se movem para a cintura dela e as mãos dela estão em
volta do meu pescoço enquanto Alex ainda está atrás de mim, envolvendo
as mãos na minha cintura. Começa meio rígida, mas logo nós três nos
fundimos em uma dança, como um trio.
Eu descanso minha cabeça na curva do rosto da garota e meus olhos
vagam de volta para Juliette, que parece... furiosa. Seu rosto está vermelho
e, a essa altura, ela parou de dançar com Adonis. Meu primeiro instinto é
parar o que quer que seja e correr para ela... até que eu a veja beijar Adonis.
Ela está de costas para mim e eu sinto que poderia desmaiar com o
enjôo que sinto agora. Sinto meu peito doer, como se alguém tivesse
acabado de me dar uma facada no coração. Dane-se isso.
Instantaneamente, jogo o jogo dela, plantando meus lábios na garota
com quem estou dançando no momento – ela não perde tempo em retribuir
e ouço Alex choramingando atrás de nós.
— Vamos encontrar um quarto — a garota murmura contra meus
lábios e ela se afasta de mim, inclinando-se e beijando Alex também.
Ele parece estupefato e em transe, mas acima de tudo, ele parece
excitado. Ele acena com a cabeça instantaneamente e eu me pego fazendo o
mesmo, meio falsamente empolgada e meio empolgada de verdade.
Quer dizer, vamos lá, um trio com duas pessoas gostosas? Que boa
maneira de irritar Juliette. Não! Não me importo com isso, só me preocupo
em seguir em frente com o que quer que tenhamos.
Nós três corremos para as escadas entre os incontáveis corpos
bêbados e irritantes. Subimos as escadas, nos tocando e nos beijando até
chegarmos ao quarto dele.
A vantagem da festa ser na mansão de Alex é que temos um quarto
grande só para nós e ninguém pode nos expulsar.
Quando entramos no quarto, imediatamente caio na cama e sinto a
menina, cujo nome ainda não sei, subir em cima de mim.
— Eu quero provar você — ela me diz em um tom rouco.
— Sim — eu gemo, levantando meu vestido e observando enquanto
ela vai para o trabalho, puxando minha calcinha para o lado. Sua língua está
vazia; não é agonizante e não parece uma tortura quente como a de Juliette,
mas tento esquecer isso.
Chamo Alex com meus dedos e ele vem para o lado da cama
instantaneamente, seu jeans completamente esticado por sua protuberância.
Eu olho em seus olhos para confirmação enquanto passo minha mão sobre
sua calça jeans e ele acena com a cabeça.
— Me toque — ele praticamente choraminga, abrindo o zíper de sua
calça jeans e deixando seu pênis saltar livre.
Ele é grande; talvez cerca de 20 centímetros. Imediatamente começo a
correr minha mão para cima e para baixo em seu pênis e finjo um gemido,
sentindo a garota chupar meu clitóris.
Imagino que seja a língua de Juliette dentro de mim e que consegue
enviar uma onda de calor em meu estômago, mas ainda não é o suficiente.
Então, eu decido esquecer isso envolvendo o pau de Alex na minha boca,
mas antes que eu possa, a porta se abre.
É Juliette. Seu rosto e olhos arregalados enquanto ela capta a imagem
de nós. Seus punhos estão cerrados ao lado do corpo e eu literalmente
nunca a vi parecendo tão... perigosa antes.
Capítulo TRINTA E TRÊS
Juliette
Quente. Fogo. Fúria. Está correndo por todas as veias do meu
corpo agora. Estou com febre? Ou eu apenas tenho vontade de matar
alguém agora? Até expirar é uma missão neste momento, porque não
consigo respirar, não quando vejo o que está à minha frente.
Adaline… na cama de Alex, com uma garota entre as pernas.
Bem, a garota está de pé. Alex também está... fechado. Ambos
recuaram instantaneamente quando entrei na sala. Eles são espertos, eu
admito isso; porque se eu visse as mãos de alguém perto de Adaline, eu
teria que cortá-las. Não, não estou exagerando, já quebrei a mão de alguém
antes por tocá-la. Talvez não seja a mesma coisa, mas ainda assim, as
consequências seriam as mesmas.
— Que porra! — Alex está exausto, considerando o rubor em suas
bochechas.
— Vocês dois — eu digo, meu tom perigosamente calmo enquanto
gesticulo com minhas mãos para as duas pessoas que vou quebrar muito em
breve. — Para fora!
Não consigo nem olhar para Adaline agora, não consigo encontrar
seus olhos. Estou apenas focada em acalmar meu batimento cardíaco
errático antes de fazer algo tão obscenamente violento que assuste Adaline
para sempre.
— Este é o meu quarto — Alex gagueja em resposta e sua fachada
confiante é risível.
Ele literalmente ainda está com as mãos sobre o pau fechado, de tão
envergonhado que ele está por eu ter pego ele. Ele não deveria se gabar, eu
prefiro jogar alvejante nos olhos em vez de ver o pau dele de novo.
O mesmo idiota patético que Adaline estava prestes a…
Eu cerro meus punhos, minhas unhas cravando em minha pele com
força suficiente para tirar sangue enquanto fecho meus olhos
momentaneamente para recuperar meus sentidos.
Minha. Minha. Minha. Minha.
— Quem é? — Meus olhos se abrem ao som da voz da garota
aleatória.
Ela parece genuinamente confusa e eu também, considerando que não
tenho ideia de quem ela é. Tudo o que sei é que fiquei com raiva quando
Adaline estava dançando com Alex, então ela foi e me deixou furiosa ao se
juntar e... beijá-la.
Às vezes, há necessidade de violência. Eu ignoro a pergunta da garota
sem nome, assim como todos os outros na sala. Talvez eles estejam muito
preocupados olhando para mim enquanto eu ando pelo grande quarto de
Alex.
Eu encontro o que estou procurando empoleirado em seu baú marrom
escuro – seu bastão de Lacrosse. Que idiota pretensioso, eu sei que ele é o
capitão do time de Lacrosse, mas sério? Sou a capitã da equipe de líderes de
torcida, mas guardo pompons no meu quarto? Não.
Talvez eu devesse agradecê-lo por ser tão criança, porque o bastão
parece bastante caseiro em minhas mãos, especialmente quando eu o viro
para que a parte da rede fique voltada para o chão e a parte dura fique
acessível para mim.
Eu nem me incomodo em virar o rosto para ninguém. Posso ouvir
vozes, mas não consigo decifrar as palavras, tudo o que posso fazer é
começar a balançar.
As molduras de família dele (por convidá-la para ser sua
acompanhante nesta festa), algumas garrafas de cerveja em sua mesa (por
dançar com ela). Qualquer coisa que pareça quebrável está sendo esmagada
(isso é por colocar as mãos nela).
Salas de raiva não são nada comparadas a isso. Sinto pura adrenalina
correndo por mim enquanto destruo o quarto dele, enquanto ela assiste.
— Vou dar o fora daqui. — Eu ouço a garota sem nome dizer
preocupada e ela sai correndo do cômodo, mas eu não paro meu dano.
— Que porra! — Alex grita pela segunda vez e tenta intervir. Seu
corpo vindo na minha frente, seus olhos arregalados.
Eu zombo em seu rosto e ele se encolhe, protegendo-se de medo (isso
é por colocar seu pau perto dela). Eu me deleito com a sensação dele estar
apavorado – com tanto medo de mim.
Ele deveria estar.
Ele logo se recupera de seu medo. Desta vez, ele apenas parece
exausto.
— Juliette, pare com isso.
Eu me aproximo dele, reprimindo o desejo de tirar sua cabeça do
corpo.
— Então dê o fora.
É o quarto dele, a casa dele. Ele não deveria me ouvir, mas seus olhos
baixam, um suspiro pesado saindo de seu corpo e ele aperta as têmporas.
Antes que eu perceba, ele se afasta pateticamente, batendo a porta.
Não se trata de eu destruir o quarto dele, ele poderia facilmente substituir
tudo isso e nem prejudicaria a conta de seus pais, também não é sobre eu
segurar o bastão dele. Se ele me achasse perigosa, não me deixaria aqui
com Adaline. É sobre poder. Ele sabe que eu tenho isso, que eu poderia me
infiltrar profundamente em cada fenda de sua vida e destruí-lo.
Meu olhar volta para Adaline e deixo o taco escorregar das minhas
mãos e caindo no chão ao vê-la.
Ela está apenas apoiada em suas mãos, sorrindo para mim, seu vestido
delicioso ainda está levantado, suas pernas incríveis à mostra, mas ela ainda
está de calcinha.
A autoridade preenche todos os meus sentidos.
— Abaixe a porra do seu vestido.
— Acho que não — ela retruca como uma pirralha, nem um pouco
ameaçada pelo brilho que tenho certeza de que estou atirando em sua
direção agora.
Ela parece tão bem agora – muito bem –, tão malcriada e
completamente imperturbável como se eu não tivesse me comportado como
uma lunática. Isso só me impulsiona ainda mais em minha raiva.
— Que porra você pensa que estava fazendo aqui? — Eu pergunto,
referindo-me ao que estava prestes a acontecer antes de eu entrar. Embora
eu saiba exatamente o que iria acontecer, eu quero ouvir isso dela.
— Bem… — ela se senta e finalmente puxa o vestido para baixo —,
eu estava prestes a fazer sexo a três antes de você entrar…
— Duas pessoas, sério?
Ela dá de ombros com aquele pequeno brilho que está sempre em
seus olhos.
— Sou uma superdotada.
Minha mandíbula aperta com tanta força que estou surpresa por não
quebrar. Superdotada. Isso mesmo, é exatamente isso que ela é.
Eu danço com Adonis e, de alguma forma, ela quase consegue dormir
com duas pessoas? Eu nem toquei nele no jantar, fiquei o tempo todo
pensando nela!
— Eu vou destruí-lo, assim como ela. Você sabe disso, não sabe? —
Meu tom é sombrio e o mais calculista possível, porque estou sendo
brutalmente honesta.
Eu provavelmente deveria me sentir mal por pensar assim, Alex é um
cara legal, não é? Bem, eu não me importo! Ele tocou em Adaline, ninguém
a toca.
Quanto à garota, vou descobrir quem ela é. Ela provavelmente terá o
mesmo destino de Alex. Talvez até pior, considerando que sua língua estava
dentro de Adaline... ah, definitivamente pior.
— Quer saber de uma coisa? Você é uma maldita psicopata? Sim. Eu
tenho uma boa ideia — ela retruca com um revirar de olhos e faz um lento
caminho direto para a porta.
Eu observo seus pés para ter certeza de que ela não tropeça em
nenhum dos vidros quebrados ou qualquer outra coisa. Felizmente, ela está
usando sapatos, gostaria que Alex e aquela garota não estivessem.
Eu intercepto Adaline e a viro, efetivamente prendendo seus ombros
contra a porta. Minhas mãos não são ásperas, mas também não são gentis.
Eu olho profundamente em seus olhos.
— Eles não podem tocar em você. Ninguém pode tocar em você.
Ninguém. Ninguém, só eu. Talvez eu seja uma psicopata abertamente
possessiva, mas não me importo. Sempre me senti assim, desde que pus os
olhos em Adaline pela primeira vez, sabia que ela não pertenceria a mais
ninguém além de mim.
Ela me empurra para longe de seu corpo com força e sua respiração é
difícil, espelhando a minha.
— Ou o quê? Você vai quebrar a mão de Alex como fez com Stacey?
— Quando você vai parar de trazer isso à tona…
— Não importa. — Ela revira os olhos e geme simultaneamente. — O
que importa é que você está aqui agindo como se pudesse ditar com quem
eu vou dormir quando você ainda está dormindo com aquele maldito idiota!
A raiva ainda está fervendo em meu peito, mas é preciso abrir espaço
para a culpa que me supera agora, especialmente com a aparência dos olhos
dela, exatamente como estavam no banheiro esta manhã. Eu odiava isso.
Foi tudo em que pensei quando jantei com Adonis. Eu o ignorei a
noite toda, todos os seus presentes e carinho. Tudo em que eu conseguia
pensar era em Adaline, tudo em que sempre penso é nela.
— Eu menti — eu admito baixinho —, eu não dormi com ele. Não
desde o nosso primeiro beijo.
Eu menti para ela. Obviamente não dormi com Adonis, mal consegui
tocá-lo desde que Adaline e eu nos aproximamos. Como poderia quando a
única pessoa que quero tocar é ela?
Eu tive que mentir. Eu tinha que fazer qualquer coisa para afastá-la e
isso incluía ignorá-la por uma semana. Eu mal falei com Kai esta semana,
ou qualquer pessoa. Eu estava apavorada, envergonhada até, sobre como eu
berrei na frente dela.
Eu estava em um estado de paranóia completa e absoluta que alguém
descobriria através de seus amigos sobre nós. Isso não importa agora, neste
momento, quero tatuar meu nome na testa dela para que ninguém chegue
perto dela.
Seus olhos se arregalam um pouco, mas ela se recupera rapidamente.
— Eu não ligo. Agora me deixa em paz. — Seu tom é frio, mas há um
toque subjacente de tremor que posso sentir.
Ela se importa. Eu sei que sim. Só está me deixando com mais raiva
ela fingir que não. Por que ela quer tanto que eu a deixe sozinha? A
paranóia ecoa em minha mente.
— Assim você pode voltar lá e transar com eles? — Eu retruco
furiosamente, cerrando meus punhos.
— Exatamente.
— Não me teste, Adaline.
— Você não me assusta, Juliette.
As mesmas palavras que dissemos uma à outra no vestiário alguns
meses atrás, mas agora os papéis foram invertidos e eu absolutamente odeio
isso. Eu posso sentir meu corpo ficando cada vez mais quente. Por mais
zangada que eu esteja, não consigo parar de encará-la.
Adaline também não para com suas palavras; eu posso praticamente
sentir a malícia escorrendo dela enquanto ela cruza os braços sobre o
estômago.
— Por que você se importa? Você é hétero, deveria estar feliz, certo?
Sou apenas seu experimento. — Ela cospe asperamente. — Não se
preocupe, isso não significa que temos que parar de fazer sexo, apenas
significa que você terá que ficar em uma lista de espera.
Tão tímida, tão maliciosamente vil. Seu cabelo escuro está
ligeiramente bagunçado e seu batom marrom borrado e isso me deixa
enjoada e... excitada? Isso não a livra da minha raiva, no entanto. Não,
apenas multiplica dez vezes.
Lista de espera. Não demoraria muito para mudar isso para vários
obituários.
— Pare com isso. — Meu tom baixo não passa de um aviso, porque
ela está testando seriamente meus últimos nervos agora. Eu nunca deveria
ter dito que ela era um experimento, eu sei disso e me arrependo. Eu sou tão
idiota às vezes. Ela nunca poderia ser minha experiência, nunca.
Eu só sabia que essa seria a palavra a ser usada para fazê-la me deixar
em paz. Ela tentou de tudo para que eu falasse com ela durante toda a
semana e eu precisava que ela fosse embora... antes que eu desistisse.
— Ou o quê? — Seus olhos semicerrados estão me provocando.
— Deixa eu te levar para casa — digo mudando de assunto,
desesperada para tirá-la daqui.
Eu conheço Adaline. Se eu deixá-la aqui, ela dormirá com outra
pessoa, talvez outra pessoa que não seja Alex. Espero que seja apenas para
me incomodar e não porque ela realmente... quer.
— Não.
Claro. Esta é Adaline Emery. Ela não é como todo mundo. Ela não
vai me adorar no meu altar e aceitar todas as minhas exigências. Não
importa se eu a ameaço, a repreendo, ela sempre fará o que quiser.
Eu não poderia forçá-la, não sou capaz disso. Isso não torna sua não
conformidade menos irritante.
— Por que você está sendo tão difícil agora? — Eu gemo, passando a
mão pelo meu cabelo.
Ela zomba alto como se minhas palavras fossem ridículas.
— Estou sendo difícil? Eu? Isso é tão bom vindo de você.
— Sinto muito, ok? Sinto muito, Addie. Eu não quis dizer o que eu
disse… — Eu me aproximo dela e faço uma tentativa de agarrar seu braço.
— Apenas venha comigo…
Ela se afasta do meu toque como se o ácido a tivesse ralado e eu sinto
meu coração torcer.
— Porra, não me toque. Deus, eu te odeio para caralho.
— Por quê? Porque arruinei suas chances de um trisal medíocre? —
Eu rebato nela, ainda sentindo a dor dela recusando meu toque.
Tão zangada. Tão furiosa e por quê? Tudo porque eu interrompi o que
ela estava prestes a fazer? Ela deveria estar me agradecendo.
Eu queria matar os dois, mas não matei. Eu me abstive de ficar com
ela e discutir isso, quando tudo que eu realmente quero fazer é voltar lá e
torcer o pescoço deles.
Eu também quero dobrar Adaline e espancá-la para sempre por me
testar assim, então eu quero terminar fodendo-a com tanta força que ela
nunca mais pensará em deixar alguém tocá-la novamente.
— Não, eu te odeio porque você é egoísta para caralho! — Ela cutuca
meu peito com o dedo.
Deveria doer, meio que dói, mas, acima de tudo, é emocionante. Ela
está me tocando, mesmo que seja para me machucar e me enfurecer, ela
ainda está me tocando.
— Egoísta?
Claro, sou egoísta, especialmente quando se trata dela.
— Sim, egoísta! — ela ecoa, seu rosto mais vermelho do que nunca e
antes que eu possa falar, ela continua. — Você não quer admitir que gosta
de garotas, mas você senta aqui e age como se fosse minha dona!
Não consigo respirar, não quando ela fala e principalmente porque ela
não para. Eu não quero processar suas palavras. Mal consegui pensar nas
palavras que ela disse na semana passada.
— Eu te odeio porque você é uma filha da puta miserável que adora
derrubar as pessoas! Eu te odeio porque você me intimidou durante a maior
parte da minha vida e, por algum motivo, ainda estou aqui. Eu odeio que
você esteja em uma negação mais profunda do que você seria capaz de
entender e eu odeio o quanto isso está me afetando. Eu odeio me sentir
culpada por isso... eu te odeio!
— Ah, é? Bem, eu te odeio mais!
— Eu aposto que você odeia. — Ela ri sombriamente, balançando a
cabeça.
Eu me encontro andando para mais perto dela e ela instintivamente se
afasta. A adrenalina está tomando conta do meu corpo até que ela está presa
contra a parede mais uma vez, só que eu não a toco, apenas a minha voz.
— Eu odeio como você pensa que é a pessoa mais inteligente da sala.
Eu odeio que você geralmente seja mesmo. Eu odeio o quão leal você é, o
quão teimosa você é, o quão desagradável e grosseira você é! — Sinto
minha respiração ficando cada vez mais pesada, meus olhos disparando de
seus lábios para seus olhos rapidamente. — Eu odeio como fico com raiva
quando você dá a alguém um pingo de sua atenção… — Minha voz alta
agora está reduzida a um sussurro superficial. — Acima de tudo, odeio
como é agonizante estar perto de você.
— Agonizante? — Ela respira suavemente.
Cada olhar. Cada toque. Cada suspiro. Cada gemido. Toda vez que
Adaline simplesmente existe. Nunca senti uma tortura tão intensa como esta
em toda a minha vida.
— Sim, é pura agonia querer estar perto de você a cada segundo de
cada dia; ter que fingir que você não é nada para mim. É uma tortura ter
que ver você com outras pessoas… — Eu me inclino para mais perto,
apenas alguns centímetros entre nós. — Porque nunca tive o hábito de
compartilhar, amor, você é minha, toda minha.
Sendo filha única, nunca tive que compartilhar, nunca. Eu não
compartilho nada, especialmente coisas ou pessoas que eu realmente
valorizo.
Adaline Emery é minha. A mente dela. O rosto dela. Seu corpo. Cada
pensamento, cada desejo e cada medo são meus. Tudo dela, em todos os
momentos, tudo me pertence e só a mim. Ela pode ser sua própria pessoa,
mas ela é minha pessoa também.
A minha garota.
Adaline treme contra mim, ofegante tanto quanto eu, talvez até mais
forte. Posso sentir a decepção e o desejo irradiando dela e espero
desesperadamente que ela ceda a isso.
Ela respira trêmula.
— Eu te desprezo com cada fibra do meu ser.
Ela fica tão bonita assim: me odiando. Tão linda que me enfurece e
bato as mãos na porta, ela não se mexe, nem por um segundo.
— Me odeie, me despreze, me deteste. Eu não me importo com o que
você sente, contanto que você só sinta isso por mim.
Eu vou pegar o que ela me der. Aguento seu aborrecimento, sua
indignação, sua fúria e aguento tudo com um sorriso no rosto. Desde que
ela só me dê, porque acho que não consigo mais respirar sem ela.
Adaline engasga baixinho e eu posso sentir a guerra interna dela
consigo mesma em sua linda cabecinha, seus olhos constantemente
piscando de meus lábios de volta para meus olhos e estou espelhando seus
movimentos.
— Me leva para casa agora... antes que eu mude de ideia.
Capítulo TRINTA E QUATRO
Juliette
A raiva alimenta a maneira como Adaline e eu nos comportamos
uma com a outra. Acho que sempre foi assim, independentemente da
suavidade subjacente e da intimidade contra a qual temos lutado
ultimamente. A principal tendência sempre foi a raiva, até a fúria – não há
como negar o quão tóxico isso é, mas não me importo, é fascinante.
Mesmo depois de jogar meus sentimentos possessivos na frente dela,
a raiva ainda estava proeminente no ar, especialmente durante a viagem de
carro até a casa dela. Estava tudo completamente silencioso, não de uma
forma desconfortável, mas sim tensa.
Eu não conseguia parar de pensar em como ela estava prestes a fazer
sexo com outras pessoas e presumo que ela ainda estava pensando no que
eu disse a ela esta manhã porque ela parecia furiosa, especialmente quando
praticamente me arrastou para fora do meu carro e para o quarto dela.
Felizmente, ela me disse que seu irmão não estaria em casa por um longo
tempo.
Agora nós dois estamos aqui, uma de frente para a outra e, nos
últimos dez minutos, discutimos sobre... as cintas.
— Eu não preciso ser mimada! Já fizemos sexo antes e eu fui ótima
nisso. — Tento não soar muito arrogante, mas não consigo evitar.
Alguns momentos antes eu havia pedido a Adaline que me trouxesse
sua caixa cheia de brinquedos. Eu só tenho que dizer... uau. Ela realmente
tem muitos brinquedos… de todas as formas e cores… foi meio
intimidante. Eu tive que me forçar a não pensar nela usando qualquer um
dos brinquedos em outras pessoas.
Acabei escolhendo um dos brinquedos embalados. Tem cerca de 22
centímetros, preto como carvão e pontas duplas, o que deveria me assustar,
mas não assusta.
O que posso dizer? Eu gosto de mergulhar de cabeça quando se trata
de coisas novas.
É exatamente por isso que eu estava prestes a começar a prendê-lo em
mim até que Adaline me parou, argumentando que eu não estava pronta
para isso e que ela deveria ser a única a usá-lo. Ela realmente ainda deve
estar furiosa com o que eu disse a ela esta manhã, porque em vez de
explicar gentilmente, ela praticamente riu na minha cara.
— Isso é diferente, você só foi fodida antes, não fodeu — ela retruca,
com as mãos em seus deliciosos quadris.
Acho que parte dela está um pouco preocupada, mas acho que ela está
apenas me irritando de propósito, me deixando nervosa.
Não me interpretem mal, é claro que eu não me importaria de Adaline
ser a única a usar a cinta. Quem em sã consciência ficaria zangada com
isso? No entanto, quero usá-la desta vez, principalmente porque quero
desesperadamente dar a ela o melhor sexo de sua vida.
— Apenas cale a boca e me ajude a colocá-la — resmungo, irritada.
Ela parece prestes a abrir a boca novamente em protesto, mas antes
que ela possa, começo a tirar meu vestido. Isso cala sua boquinha petulante
muito rapidamente.
Eu me deleito com a maneira como seus olhos absorvem meu corpo
enquanto começo a descartar minha calcinha e sutiã, o mais rápido que
posso. Ela está praticamente salivando e isso só está me deixando mais
molhada do que já estou.
Eu a chamo com o dedo e ela vem diligentemente em minha direção,
com a cinta na mão. Ela suspira pesadamente como se estivesse tão
aborrecida por eu estar conseguindo o que quero, ou melhor, irritada por ela
gostar tanto disso.
Ela segura a alça e eu entro nela, colocando minhas mãos em seus
ombros para me equilibrar. Meus olhos a observam enquanto ela aperta o
brinquedo em volta dos meus quadris.
Está tão quente aqui.
— Aqui, isso vai dentro de você. — Ela gesticula para o lado menor
do brinquedo, olhando para mim em busca de confirmação e eu aceno com
entusiasmo. Ela lentamente coloca a parte menor dentro de mim e eu
suspiro levemente, sentindo meu aperto se ajustar ao brinquedo lentamente.
— Porra — murmuro baixinho, e ela morde o lábio.
Estou totalmente segura dentro da cinta e, por algum motivo, não
estou nervosa nenhum pouco. Mal posso esperar para sentir esse brinquedo
balançando na minha boceta enquanto fodo Adaline com ele.
Claramente, ela também não pode, porque ela se inclina para frente
para envolver seus lábios nos meus, mas eu recuo instantaneamente. Eu
quero beijá-la, eu sempre quero, mas agora eu quero fazer outra coisa.
— O que foi?
Pare de fazer beicinho, isso faz coisas comigo.
— Alex. — O nome sai da minha boca com desdém e ela levanta uma
sobrancelha para que eu continue. — Você ia... chupar o pau dele esta
noite?
Sinto bile e fúria subindo pela minha garganta só de pensar nisso,
especialmente quando Adaline está na minha frente com um sorriso
malicioso no rosto.
— Sim.
Inspire. Expire.
Eu posso ver em seus olhos que ela está tentando me provocar e está
funcionando. Não consigo nem decifrar a pontada que bate em meu peito
porque a fúria pura que sacode meus ossos dói mais. Eu deveria sair deste
quarto agora.
Eu deveria sair daqui e encontrar Alex... caçá-lo. Eu deveria arrancar
seus olhos para que ele não seja capaz de colocá-los em Adaline nunca
mais, quebrar suas mãos para que ele nunca mais possa tocá-la. Eu deveria
destruí-lo.
Em vez disso, olho para o brinquedo preso a mim e de volta para
Adaline, que está apenas me olhando com aquele sorriso ainda no rosto.
— Que tal você ficar de joelhos e chupar o meu?
Se não posso matar Alex, certamente posso punir Adaline. Não devoe
ser confundido com um pedido, estou ordenando que ela faça algo e no
estilo Adaline usual... ela está sendo uma pirralha.
Ela cantarola em tom de zombaria.
— Acho que não é tão grande quanto o dele, vou passar.
Como se fosse um reflexo, minhas mãos instantaneamente a
empurram de joelhos, como se ela fosse a pessoa mais leve do mundo. Ela
engasga olhando para mim em choque e intriga, mas ela não se move uma
única polegada.
— Cale a boca. — Eu cerro as palavras, olhando para ela. — Se você
mencioná-lo novamente, vou arruiná-lo.
Ela apenas sorri para mim.
— Quem? Alex…
Estendo minha mão instantaneamente envolvendo-a em seu pescoço
ágil e mais uma vez ela engasga em estado de choque. Eu a sinto inclinar-se
ao meu toque e agarro seu pescoço um pouco mais apertado. Isso parece tão
perfeito, como se minhas mãos fossem feitas para isso.
— Palavra segura? — Eu pergunto seriamente, correndo meus dedos
para cima e para baixo em seu pescoço.
Sua expressão me diz que ela, com certeza, está se divertindo com
isso e ela parece tão bem assim; minhas mãos em volta de seu lindo
pescoço, de joelhos para mim. Eu nunca soube que uma visão como essa
poderia me deixar tão insuportavelmente molhada, mas deixou.
— Estetoscópio.
Reviro os olhos para sua resposta adorável e um tanto óbvia.
— Claro que sim.
Ela mostra a língua para mim zombeteiramente antes de perguntar:
— E a sua?
— Pare. — Eu sou uma garota simples.
— Muito criativo.
— Por que você não usa essa boquinha malcriada para algo melhor?
— Digo puxando-a para mais perto pelo pescoço, para a ponta do meu... por
falta de um termo melhor... pau.
— Por que você não me obriga, porra. — Ela range de volta, e eu
vejo aquele fogo em seus olhos.
— Abre essa porra dessa boca. — Eu ordeno com raiva e aperto sua
garganta com mais força e relutantemente sua boca se abre. — Toque na
minha coxa se quiser que eu pare — eu digo gentilmente e ela apenas acena
com a cabeça em resposta, um sorriso gentil puxando sua boca aberta.
Essa é a última vez que ocorre gentileza para qualquer uma de nós,
porque eu não perco tempo em forçar meu pau em sua garganta e ela não
perde tempo chupando.
— Porra — eu gemo, observando sua boquinha bonita envolver esse
pau.
Deve ser por isso que os homens são tão obcecados por boquetes. Não
me interpretem mal, devorar minha boceta é muito mais agradável, mas isso
ainda é fascinante. Pode ser o fato de que toda vez que ela chupa, o
brinquedo empurra o outro lado para dentro de mim, mais fundo no meu
ponto G.
Ou talvez seja o fato de ela estar de joelhos por mim. Seus sedutores
olhos verdes olhando para mim enquanto sua boca está em volta de mim.
Ela é tão patética, tão inegavelmente sedutora. Ela sabe que eu realmente
não consigo sentir nada, mas ao mesmo tempo, ela está agindo como se eu
pudesse e isso me faz sentir tudo.
O pensamento de que ela estava prestes a fazer isso por outra pessoa
envia uma espiral de ácido pela minha garganta e corpo.
— Este é o único pau que você vai ter nessa boquinha bonita — eu
gemo asperamente e meu corpo se move no piloto automático depois disso.
Eu agarro a parte de trás de seu cabelo e começo a foder seu rosto,
entrando e saindo de sua boca com meu pau e ela toma cada centímetro. Eu
nem tenho certeza de como sei fazer isso, mas é apenas puro instinto neste
momento.
— Porra, engasgue com isso — eu gemo beligerantemente, minhas
mãos segurando seu cabelo com mais força enquanto eu empurro mais forte
em sua boca.
É tão sexy, tão quente. Seus olhos se encheram de lágrimas e saliva
sai involuntariamente de sua boca. Eu me sinto ficando cada vez mais
molhada enquanto sinto o brinquedo esfregando contra meu clitóris. Mesmo
que não estivesse, eu ainda estaria faminta porque Adaline está me
deixando louca.
Ela sempre me deixa louca.
— Vadia do caralho. — Eu a degrado, enquanto ela engole
profundamente meu pau.
Ela responde movendo as mãos para minhas coxas nuas e cravando as
unhas em mim com tanta força que é o suficiente para tirar sangue e eu
sorrio para ela.
Ela é tão perfeita.
— Você fica tão bonita assim… — murmuro para sua boca cheia de
pau — com meu pau na sua boca.
Por mais incitante que seja meu tom, quero dizer cada palavra. Ela
parece incrivelmente sexy assim, especialmente com a boca cheia, então ela
não pode responder para mim como uma pirralha.
Suas sobrancelhas se franzem em aborrecimento e eu já posso ouvir
as incontáveis respostas que ela provavelmente já planejou em sua cabeça.
Pena que não seremos capazes de ouvi-los, pois minhas estocadas estão se
tornando cada vez mais erráticas.
Estou tão perto, tão perto de gozar com ela fazendo isso e é patético.
Ainda não quero gozar assim, quero gozar quando a boceta dela estiver
apertada no meu pau.
Meus quadris relutantemente desaceleram de foder seu rosto enquanto
eu a puxo duramente para fora do meu pau pelo cabelo. Eu a puxo para
cima e não perco tempo plantando meus lábios nos dela.
Ela parece desorientada pela minha rápida mudança de ritmo, mas
imediatamente retribui o beijo. Suas mãos vagam pelo meu corpo e
arranham meus seios, emitindo um gemido da minha boca para a dela.
Eu coloco minha língua em sua boca e sinto meu corpo inteiro
derreter no dela. Este é o nosso primeiro beijo em uma semana inteira. Eu
estive tão incorrigivelmente desesperada para ter seus lábios nos meus na
semana passada, foi uma agonia absoluta.
O desespero afunda em meus membros enquanto minhas mãos vagam
por seu corpo, ainda beijando seus lábios gentis duramente. Antes que eu
perceba, sinto minhas mãos agindo por vontade própria e rasgando o tecido
de seu vestido, arrancando-o completamente de seu corpo.
— Juliette! — Ela adverte, separando seus lábios dos meus.
Não finja que não ama.
Eu a puxo de volta para meus lábios.
— Vou comprar toda a linha de roupas para você, amor.
Qualquer coisa que ela quiser. Sempre que ela quiser. Agora que sei
que ela me pertence, tudo o que ela precisa fazer é dar consentimento e eu
trarei a lua aos seus pés.
Ela geme de volta em minha boca e sai de seu vestido rasgado.
Trabalhamos juntas para desabotoar vorazmente seu sutiã e ainda estamos
praticamente brigando enquanto nos beijamos.
Suas mãos estão puxando grosseiramente as raízes do meu cabelo e
minhas unhas estão cravadas em seus quadris nus enquanto nos beijamos
duramente.
Minha boca vagueia longe de seus lábios e em direção ao seu
pescoço, mordendo e mordendo cada centímetro enquanto ela geme. Eu
chupo sua pele com força, certificando-me de deixar uma marca muito
óbvia. Quero que todos saibam que ela está comprometida. Que ela é
minha.
— Vá para a cama — murmuro contra seu pescoço e, em seguida,
olho para ela. Eu não posso mais esperar; eu preciso estar dentro dela.
Seus olhos malcriados estão mais escuros do que eu já vi antes e ela
balança a cabeça. Antes que eu possa responder, ela me empurra para a
cama – um tanto rudemente.
Minhas costas batem em seus lençóis macios e não faço nenhum
movimento para me levantar. Em vez disso, fico confortável, encostada em
seus travesseiros enquanto a observo tirar a calcinha. Esqueci como o corpo
dela era etéreo. Eu sinto que poderia gozar só de olhar para ela… aqueles
seios perfeitos, aquela cintura fina e aquela bunda injustamente sexy.
Ela rasteja para a cama.
— Cale a boca.
Ela está pulsando de raiva. Eu posso sentir isso; está irradiando dela.
Isso deveria me assustar, mas não, isso me excita ainda mais. Como posso
não ficar excitada quando ela está fazendo um movimento para me montar?
Eu gemo, minha mente nublada.
— Porra, isso aí.
Eu silenciosamente observo com entusiasmo enquanto ela monta em
meu corpo e lentamente posiciona sua boceta pingando na cabeça do meu
pau. Ela afunda lentamente e eu suspiro ao mesmo tempo que ela. O outro
lado balança dentro de mim e meus olhos reviram.
— Porra. — Ela estremece, gemendo.
É assim que o céu deve ser – ou pelo menos parece. Adaline Emery,
me montando em um ritmo absolutamente selvagem. Suas próprias mãos
acariciando seus próprios seios enquanto ela se perde no prazer tão
obviamente. Ela me deixou absolutamente cativada, especialmente porque o
brinquedo continua empurrando ainda mais em minha boceta duramente.
— Bem assim, amor, monte em mim.
Ela faz exatamente isso, seus gemidos mais altos do que qualquer
coisa que eu já ouvi. Instintivamente, movo minhas mãos em direção aos
seus quadris para estabilizá-la, mas ela afasta minhas mãos erraticamente.
— Não toque.
— Por que…
— Você não pode me tocar.
— Porra. — As palavras saem da minha boca em um tom
decepcionante.
Ela parece totalmente satisfeita com a minha reação, ainda montando
esse pau como se sua vida dependesse disso. Ela claramente ainda está com
raiva de mim e sendo uma vadia sobre isso.
Eu posso me sentir chegando à beira do meu orgasmo. Eu deveria
atribuir isso ao brinquedo que está atingindo meu ponto G repetidamente.
No entanto, essa não é a única razão pela qual estou tão perto, é tudo sobre
ela. O rosto dela. Os olhos dela. A maneira como ela geme enquanto
cavalga este pênis. Observá-la e senti-la é o que sempre me leva ao limite.
Eu não aguento mais.
— Por favor, me deixe tocar em você.
— Implore por isso. — Ela cospe, mas não consegue controlar o
gemido em sua voz.
— Você é uma vadia — eu lamento, sentindo minhas mãos
queimando para tocá-la.
Ela ri daquela forma maliciosa que costumo fazer, apenas se
esfregando mais forte em mim.
— Isso não soa como implorar.
Eu olho profundamente em seus olhos cheios de luxúria que são
dominados pelo prazer e posso ver o quão séria ela está. Ela está com raiva,
talvez até magoada, mas acima de tudo ela está faminta. Quem sou eu para
negar o que ela está pedindo? Farei qualquer coisa que ela disser, se isso
significar que posso tocá-la.
— Por favor, Addie — eu choramingo, segurando seus lençóis com
força —, eu preciso tocar em você. Eu preciso tanto disso.
— Você pode fazer muito melhor do que isso. — Ela joga minhas
próprias palavras antigas de volta na minha cara, seu rosto dominado por
crueldade e prazer.
— Por favor! — Eu gemo, meu próprio orgasmo logo se
aproximando.
O calor está crescendo dentro da minha barriga e estou tão perto de
ser dominada por pura paixão desenfreada e posso dizer que ela também
está, com a forma como suas sobrancelhas estão marcadas, sua boca aberta
enquanto ela mói meu pau como uma mulher enlouquecida. Ela está indo
direto ao ponto, vendo como estou desesperada por ela.
— Me diz que você é minha cadela. — Ela empurra ainda mais.
— Eu sou sua cadela — minha resposta é instantânea e ela parece
satisfeita, gemendo mais alto quando posso dizer que ela quer ceder a isso.
Qualquer orgulho que me restava lentamente se transformou em nada.
Como eu poderia ter algum resquício de orgulho quando uma sedutora está
montando em mim e não me deixando tocá-la?
Um fogo familiar acende de volta em seus olhos enquanto ela os
estreita.
— Diga que sou melhor que ele. — Suas mãos se movem para o meu
pescoço enquanto ela envolve seus dedos em volta da minha garganta.
Ela está me sufocando enquanto me monta e eu sinto como se
pudesse ver estrelas neste exato momento, embora minha visão esteja
embaçada pelo prazer.
Ele? Levo alguns segundos para entender o que ela está tentando
transmitir e quase rio alto por causa disso. Ela acha que Adonis significa
alguma coisa? Ele não chega aos pés dela e acho que nunca chegará.
— Ele não é nada. Ele não é nada, porra. — Eu alivio suas tensões,
ofegante. — Você é tudo, Addie.
Eu imploro com meus olhos enquanto observo sua defesa diminuir e
um sorriso enfeitar seu rosto satisfeito. Não demora muito para ela
responder às minhas palavras caindo em um orgasmo feliz. Eu a sinto
tremer ao redor do meu pau, suas pernas chacoalhando, mas ela ainda está
esfregando contra meu pau.
Ainda trabalhando para me fazer gozar.
— Porra! — Ela geme alto, soltando meu pescoço de prazer. — Vá
em frente, amor, me toque.
Não preciso de mais incentivo enquanto movo minhas mãos em
direção aos seus quadris e esse contato é suficiente — a eletricidade
percorre todo o meu corpo enquanto me sinto explodindo pelas costuras.
Ela ainda está cavalgando lentamente me ajudando com meu orgasmo
e, sem dúvida, incentivando o dela também. Eu me inclino para frente e
envolvo seus seios em minha boca, chupando e mordiscando, sentindo meu
próprio orgasmo correr através de mim duramente.
Minhas mãos se movem para suas costas e eu cravo minhas unhas
nela duramente – um pequeno castigo por me fazer implorar mais cedo. Ou
mais como uma recompensa, considerando que ouço seus gemidos altos
encherem o ar.
Ouvir seu gemido só me estimula ainda mais e sinto meu corpo
trabalhando em sobrecarga – eu a viro, instantaneamente prendendo-a no
colchão e ela fica mais uma vez desorientada.
Exceto que ela não está de costas, ela está de bruços. Sua bunda
perfeita à mostra e sua cabeça enterrada nos travesseiros.
Que visão.
— Coloque de volta — ela choraminga alto quando percebe que o
brinquedo escapou dela. Ela nem se importa que eu a tenha virado.
— Cale a boca — eu resmungo, sem perder tempo batendo em sua
bunda, ela recua deliciosamente.
— Porra — ela geme. — Faça isso de novo.
Onde está o espírito de luta dela? Onde está aquela atitude malcriada
que ela costuma ter? Acho que todo esse tempo eu só tive que espancá-la.
Eu gostaria de ter feito isso muito antes porque é viciante.
Eu atendo seu pedido e dou um tapa em sua outra banda da bunda
duramente, observando-a grunhir nos travesseiros em resposta.
— Que bunda tão bonita.
Eu bato em sua bunda novamente pela terceira vez, o mais forte que
posso.
— Isso é por deixar outras pessoas tocarem em você.
Quarta palmada.
— Isso é por me fazer implorar.
Quinta palmada.
— Isso é por ser uma maldita pirralha.
— Juliette… — ela geme em um grito, sua bunda vermelha cereja e
isso está me deixando encharcada. — Por favor, me fode.
Eu não perco tempo usando seus quadris para sustentá-la, sua bunda
para no ar e suas mãos firmemente colocadas no colchão. Eu me alinho em
direção a sua entrada e entro sem nenhum aviso.
— Ai, meu Deus — ela geme e eu gostaria de poder ver seu rosto,
mas a vista daqui de trás é muito cativante também.
— Porra — eu gemo, sentindo o brinquedo esfregando contra meu
clitóris e cavando em minha boceta.
Não vou devagar, na verdade, começo a entrar e sair dela em um
ritmo animalesco, sentindo a raiva escorrendo de cada parte de mim
enquanto me lembro do que encontrei na festa.
— Você se encaixa nisso tão fodidamente bem, amor. — Eu agarro
um punhado de seu cabelo, ainda batendo nela.
— Amor, mais forte — ela me diz em um gemido, e isso só me faz
puxar seu cabelo com mais força e fodê-la com mais força.
— Uma boceta tão apertada para uma vadia tão fodida. — Eu cuspo
asperamente.
— Você é tão boa nisso. Porra!
— De quem é essa buceta?
— Mi-minha.
— Resposta errada, amor — eu puxo seu cabelo para trás
dolorosamente e retiro meu pau ligeiramente.
Isso a traz de volta aos seus sentidos enquanto ela choraminga.
— É sua. Essa boceta é sua... só não pare.
Eu não vou. Eu nunca vou parar.
— Isso mesmo, essa boceta é minha e você também.
Ela é minha. Sempre foi e sempre será, especialmente agora,
enquanto enfio meu pau profundamente em sua boceta molhada, metendo
nela como um animal. Parece incrível, como se toda a minha raiva estivesse
derretendo, mas de alguma forma também se multiplicando ao mesmo
tempo?
— Minha linda vagabunda. Minha puta do caralho — eu gemo. —
Porra, diga isso.
— Vai se foder. — Ela mal consegue pronunciar as palavras com a
força que estou empurrando dentro dela.
Eu bato em sua bunda duramente.
— Porra, diga isso, Adaline.
— Eu sou sua vadia. — As palavras saem de sua boca como uma
melodia e posso sentir o quão perto estou.
— Porra, sim — eu assobio, gotas de suor deixando meu pescoço. —
Só eu posso te tocar, só eu posso te beijar, só eu posso te foder.
Eu bato em sua boceta molhada o mais forte que posso, meus quadris
entrando nela descontroladamente. Não há dúvida de como isso é violento e
como nós duas estamos curtindo isso.
— Juliette! — Ela suspira alto, claramente perto.
— Goza comigo, Addie — eu digo a ela, mantendo meu ritmo o
mesmo, mas minhas mãos deixaram seu cabelo. Em vez disso, estou me
revezando, esfregando suas costas e arranhando sua bunda enquanto me
empurro dentro dela.
Meu orgasmo vem primeiro, talvez alguns segundos antes do dela,
quando sinto todo o meu corpo ter espasmos mais profundos no dela. Ela
goza logo depois, ambos os nossos gemidos preenchendo cada centímetro
deste quarto.
Eu mal posso ver, meus olhos piscando, abrindo e fechando por causa
do prazer anulando meu corpo.
Quente. Gelo. Tóxico. Presumo que é assim que cada uma dessas
coisas girando juntas seria.
Eu continuo empurrando, desta vez em um ritmo mais lento enquanto
eu incentivo meu orgasmo. Meu clitóris está inchado além da crença,
minhas entranhas se contraem, quanto mais eu olho para a cena na minha
frente.
Cada vez que fazemos sexo é melhor que a anterior. Isso é normal?
Não tenho certeza, tudo que sei é que nunca quero parar.
Eu a observo ser tomada por seu orgasmo e sinto minha boca salivar
com a visão. Eu odeio Adaline Emery, muito. Acho que nunca conseguirei
parar de odiá-la e isso é um problema... porque eu a odeio mais do que
jamais amei qualquer outra pessoa.
Mais do que jamais amarei qualquer outra pessoa.
Dez minutos e uma toalha depois, nós dois deitamos uma ao lado da
outra, debaixo das cobertas dela. Seu brinquedo foi guardado com
segurança para ser limpo e eu literalmente nunca me senti tão confortável
em minha vida. Eu quero levantar e pegar um copo d'água para ela ou dar a
ela qualquer coisa que ela queira.
Mas temo que, se eu me mexer um centímetro, ela me peça para ir.
Por mais que esse sexo tenha mudado a vida, acho que uma conversa real
está chegando.
— Vou terminar com ele — eu digo abruptamente, virando minha
cabeça para ela.
Eu não quero Adonis. Acho que nunca quis. Embora eu possa estar
confusa sobre uma infinidade de outras coisas, essa é uma coisa que não me
deixa nem um pouco confusa.
Ela parece cansada, mas está claramente satisfeita com minhas
palavras.
— E daí? Somos amigas de foda exclusivas agora?
"Amigas de foda." O termo não nos faz justiça; eu sei que não.
Também sei que ela está usando esse rótulo desde o início, claramente não
está pronta para nenhum outro rótulo. Eu tenho que estar bem com isso,
especialmente considerando que eu mesma estou apavorada. Terei tudo o
que ela me der, desde que ela apenas me dê.
— Isso significa que se você deixar alguém tocar em você ou se você
tocar em alguém novamente, eu vou acabar com a pessoa.
Ela sorri e seus olhos escurecem.
— O mesmo se aplica a você.
Eu sufoco uma risada.
— Eu não quero tocar em mais ninguém. Acho que nunca quis. —
Começo a puxar os lençóis com as unhas. — Você queria tocá-los? Essa
noite?
Deitar aqui ao lado dela me lembra da pontada que acertou meu peito
antes. Parte de mim está magoada, insegura até, por ela realmente querer
fazer sexo com outra pessoa hoje. Ela tem feito isso com outras pessoas
esse tempo todo também?
Ela balança a cabeça.
— Eu estava com raiva de você. Na verdade, eu não os queria. — Ela
sorri suavemente como se pudesse ler meus pensamentos. — Eu também
não dormi com mais ninguém desde que nos beijamos. Eu não quero mais
ninguém.
Eu posso ver a dor física se formando em seu rosto, ela claramente
odeia falar sobre seus sentimentos, ela sempre odiou. Ela está fazendo isso
por mim, e não posso evitar o alívio que inunda meu peito
instantaneamente. Ela não quer mais ninguém? Ela só quer a mim.
Eu sinto que poderia morrer feliz agora.
— Eu realmente sinto muito pelo que eu disse... eu não quis dizer
aquilo... nem por um segundo. — Eu me inclino para frente, olhando em
seus olhos e ela suspira.
Às vezes, sinto como se pudesse me perder naqueles lindos olhos dela
ou talvez já tenha me perdido. Sinto que estou presa, amarrada a sua alma e
incapaz de escapar. Talvez eu apenas não queira escapar. É por isso que eu a
afasto e depois peço desculpas, ajo como se eu fosse louca porque às vezes
a culpa está me sufocando.
Ela nunca poderia ser minha experiência, ela é tudo. Eu odeio magoá-
la com minhas palavras e odeio que isso esteja me afetando quando há
alguns meses eu teria me deliciado com isso.
— Eu provavelmente não deveria, mas eu acredito em você — ela
murmura baixinho. Ela está estendendo outra cortesia para mim, depois de
tudo.
Talvez Deus realmente esteja do meu lado hoje.
— Adam vai voltar para casa em breve? — Por favor, diga não.
— Não, ele vai ficar na casa de Olivia esta noite — ela responde, seus
olhos abrindo e fechando lentamente.
— Posso ficar?
— Juliette…
— Por favor. — As palavras saem em um apelo suave.
— Tudo bem — ela murmura, claramente exausta demais para
discutir.
Comemoro interiormente e sorrio. Meu olhar de repente vai para o
esqueleto, que está ao lado de seu guarda-roupa, atrás dela e me assusto. Ela
me olha confusa.
— Sério, qual é o problema com esse esqueleto? — Eu faço um gesto
para ele.
Ela se vira e depois volta para mim com uma risada leve.
— Jimmy? Aryan me deu de presente alguns anos atrás. Começou
como uma piada sobre como sou obcecada por biologia, mas acabei
gostando dele. — Ela sorri com carinho e eu quero dar um tapa nela por ser
tão cativante e adorável.
— Foi um presente de aniversário? — Eu pergunto curiosamente,
avançando. Talvez eu não devesse ter perguntado isso porque aquele sorriso
carinhoso foi apagado de seu rosto.
— Não. Eu não comemoro meu aniversário. — Suas palavras são
resolutas e, por algum motivo, isso me faz não querer forçar mais, então
não o forço.
Antes que eu perceba, seus olhos se fecham e ela entra em um sono
profundo. Às vezes, acho que quero entrar nela e me envolver em sua pele,
saber tudo sobre ela.
Fico acordada por mais vinte minutos observando-a dormir e ouvindo
o som tranquilo de sua respiração.
***

Espero ser acordada pela sensação de estar entrelaçada com os


membros de Adaline. Em vez disso, desperto com o som de farfalhar e,
quando meus olhos se abrem, vejo Adaline andando de um lado para o
outro em seu quarto, que está uma bagunça.
— Você está bem? — Eu pergunto rouca, esfregando os olhos.
Melhor sono da minha vida.
— Apenas procurando por algo — ela murmura e eu posso dizer que
ela não quer ser incomodada. Ela provavelmente está acordada há um
tempo, considerando que está usando com um par de shorts cinza e uma
camiseta preta grande demais.
Felizmente, estou vestida com uma de suas camisetas brancas
também porque me levantei no meio da noite e vasculhei seu guarda-roupa.
Suas roupas têm o cheiro dela e eu adoro isso.
Eu esfrego meus olhos para tirar o sono e bocejo antes de olhar para o
meu telefone e são cerca de nove da manhã. Eu interiormente me alegro
sabendo que é sábado e não tenho que correr para a escola... ou deixar
Adaline.
Eu evito contato visual com ela, não querendo que ela se concentre
em como eu pareço bagunçada pela manhã. Em vez disso, vou até o saguão
onde fica o banheiro dela. Assim que entro, tranco a porta e procuro nos
armários uma escova de dentes extra.
Começo a me limpar – tanto os dentes quanto o rosto – para ficar
apresentável quando saio do banheiro. Minha mente relembra a noite
incrível que tivemos juntas e me pergunto se ela gostaria de tomar café da
manhã comigo.
Assim que termino de me lavar, saio do banheiro e, quando entro no
quarto novamente, ela ainda está remexendo em suas coisas. Ela parece
ainda mais estressada do que antes.
Ela se vira para mim.
— Você precisa ir.
O quê?
— O quê? Por quê? — Eu pergunto, confusa.
— Dá o fora, Juliette. — Vem sua resposta fria. O pescoço e o rosto
vermelhos, as mãos trêmulas. O quê?
— Qual o problema? — Pergunto preocupada, tentando me
aproximar dela, mas ela se afasta.
Ela suspira com raiva.
— Perdi meus fones de ouvido.
— Então... compre outro par?
Agora eu sei que nem todo mundo é tão rico quanto eu, mas com
certeza ela pode comprar outro par de fones de ouvido? Vou comprá-los
para ela se isso a impedir de se estressar tanto com algo trivial.
Essa claramente não foi a resposta certa porque ela atira adagas na
minha direção.
— Não posso. Eles eram especiais.
Suspiro derrotada, não querendo discutir com ela.
— Ok. Bem, deixe-me ajudá-la a procurar.
— Não, eu não preciso da sua ajuda. — De repente, sua voz começa a
subir. — Isso é tudo culpa sua, de qualquer maneira.
— Culpa minha? Como isso é culpa minha?
— Porque eu deixei você ficar e adormeci sem meus fones de ouvido!
Eu nunca faço isso.
Ela não parecia ter um problema quando estava abraçada a mim no
meio da noite.
— Você disse que eu poderia ficar — eu retruco de volta ao seu
absurdo.
— Isso claramente foi um erro. — Ela cospe friamente.
Eu não posso evitar a pequena lágrima que ataca meu coração com
suas palavras. Ela parece tão lívida, tão inegavelmente estressada, mas isso
não significa que ela está falando sério... não é?
Eu estreito meus olhos com raiva.
— Por quê? Porque você está tendo um ataque de raiva por causa de
alguma coisa?
— Vai se ferrar — ela responde, meia-boca, virando seu corpo para
longe de mim.
Eu gemo, segurando seu braço e virando-a de costas para mim.
— Apenas cresça e me diga qual o problema. Fale comigo.
Ela é tão direta, tão sem vergonha de tudo, mas quando se trata de
seus próprios sentimentos, ela é uma parede de tijolos.
Ela zomba.
— Ah sim, como se nós duas fôssemos conhecidas por nossas
excelentes habilidades de comunicação. — Ela arranca a mão do meu
aperto.
— Bem, vamos mudar isso então. Pare de ser uma vadia e me diga o
que há de errado.
— Saia! — Ela repete, desta vez em um grito e eu já estou farta.
Eu não vou sentar aqui e implorar para ela me dizer o que está errado.
Pego meu telefone em sua cama e saio do quarto, desço as escadas e vou até
a porta da frente. Calço os sapatos e pego as chaves do carro, assim que saio
pela porta percebo o frio que está – nem estou de calça.
Eu ando em direção ao meu carro e antes que eu possa abri-lo, o frio
me traz de volta aos meus sentidos. O que eu estou fazendo? Estou
realmente deixando Adaline agora, quando ela claramente precisa de mim?
Ela não vai admitir, mas ela precisa.
Ela simplesmente me perdoou, mesmo depois de eu ter sido uma
vadia com ela, sem mencionar o quão terrivelmente horrenda eu fui com ela
ao longo dos anos. No entanto, estou aqui pronta para sair porque ela foi um
pouco rude?
Passar a última semana evitando-a foi uma tortura, agora que a tenho
de volta, não vou deixá-la ir tão fácil.
Suspiro profundamente e bato as mãos na porta do carro tentando
aliviar minhas frustrações, então volto para a casa dela. Assim que fecho a
porta atrás de mim, por algum motivo, sinto uma sensação estranha na boca
do estômago.
Meu estômago cai ainda mais quando subo as escadas e isso me
assusta. Cada passo que dou em direção ao quarto dela é o mesmo e,
quando entro novamente, minha mente entra no piloto automático.
Adaline está de joelhos, hiperventilando, com a cabeça entre as mãos
trêmulas.
— Addie? Ai, meu Deus. — Meus pés correm em direção a ela antes
que eu possa pensar direito, caindo de joelhos em frente a ela.
Meu coração cai ao vê-la assim. Ela parece tão incomumente
vulnerável e isso está me abalando. Seu rosto está vermelho, suas mãos
tremendo e ela está lutando para recuperar o fôlego.
Ela está tendo um ataque de pânico.
— Cite três coisas que você pode ver, amor. — Eu a instruo
gentilmente, tomando cuidado para não tocá-la, caso ela fique mais agitada.
Tenho experiência anterior com ataques de pânico – minha mãe
costumava ter ataques o tempo todo depois que meu pai foi embora. Eu me
treinei quando criança para tentar difundi-los quando eles aconteciam.
Seus olhos nervosos estão correndo ao redor da sala e eu posso dizer
que ela está tentando o seu melhor para responder, mas ela está lutando.
— Que tal três coisas que você pode ouvir? — Eu tento subjugar o
desespero da minha voz.
— S-sua voz. — Ela respira trêmula e eu expiro de alívio.
Ela só menciona uma coisa, mas está conseguindo acalmar sua
respiração agora. Eu avalio que é seguro tocá-la agora, então começo a
esfregar círculos em suas costas.
Claramente, isso ajuda, porque eu sinto sua respiração se acalmando
ao seu ritmo normal. Não acredito que quase a deixei aqui, ela
provavelmente estava tendo esse ataque de pânico por alguns minutos.
Graças a Deus voltei.
— Está tudo bem — digo a ela encorajadoramente, controlando o
tremor em meu tom.
— Desculpe.
— Porque você está se desculpando?
— Por ser tão fodida.
Meu coração dói um pouco.
— Você não é fodida.
Sapatona. Pervertida. Inamável. Abominação. Eu a chamei de tantas
coisas, mas eu traço a linha quando ela se chama de fodida? Ah, não. Posso
sentir a culpa lentamente saindo de meus ossos e estou tão preocupada
tentando entender o motivo de seu ataque de pânico que não consigo trazer
a culpa de volta.
— Por que esses fones de ouvido eram tão importantes para você? —
Eu pergunto gentilmente, mudando de assunto.
— Eles foram a única coisa que impediu — diz ela, desprovida de
qualquer emoção.
— Impediu o quê?
— A voz do meu pai.
Ela está mencionando seu pai para mim novamente, por vontade
própria e isso meio que me perturba. Meu coração está batendo
estrondosamente.
— Está tudo bem, você pode me dizer. — Eu a incentivo gentilmente,
enquanto paro de esfregar suas costas.
Depois de algumas batidas, ela começa, com os olhos baixos.
— Adam me comprou os fones de ouvido quando eu era criança. Eu
costumava usá-los quando meu pai costumava gritar comigo.
Prendo a respiração.
— Por que ele gritava com você, amor?
— Porque eu matei minha mãe. — As palavras saem de sua boca
apaticamente e ela continua. — Ela morreu ao me dar à luz.
Ah.
— Eu sinto muito.
Eu não posso dizer mais nada, nada vai transmitir o quão
verdadeiramente chocada e abalada eu estou ao ouvi-la dizer essas palavras.
Ela está se abrindo para mim, pela primeira vez, e sinto meu coração se
partir cada vez mais.
Eu ouço atentamente enquanto ela continua.
— Minha mãe estava sofrendo de muitas complicações e ela disse aos
médicos para me salvar em vez dela mesma. Meu pai era contra, mas
chegou tarde demais ao hospital.
Minha mente está disparada, como se a pena e a culpa estivessem me
sufocando. “Sou muito amável, considerando que tenho meu namorado e
minha mãe. Enquanto você não tem nenhum dos dois. Então, acho que isso
faz de você a inamável, certo?”
Ela faz uma pausa abrupta e solta uma pequena risada desprovida de
sentimento.
— Então ele ficou com uma esposa morta e uma filha que não queria
mais.
É por isso que ela quer se tornar médica? Para impedir que outras
pessoas tenham o mesmo destino de sua mãe ou até dela mesma? Sua
paixão faz mais sentido do que nunca e, de repente, sinto uma culpa imensa
por zombar de sua natureza excessivamente zelosa.
— Não é sua culpa — digo a ela com urgência, movendo-me para
segurar suas mãos.
Como poderia ser culpa dela? Ela não pediu para nascer.
Ela me deixa segurar sua mão.
— A parte lógica de mim sabe que não tive nada a ver com a morte
dela, mas quando isso é tudo o que você sabe... é difícil desligá-lo.
— O que ele disse para você?
Parte de mim não quer saber, porque pelo olhar em seu rosto, posso
dizer que é doloroso.
— Tanto e tão pouco ao mesmo tempo. Ele passava de me ignorar em
um minuto para me chamar de monstro e assassina no minuto seguinte... —
ela faz uma pausa abrupta e eu olho para ela preocupada e confusa antes de
acrescentar: — Você provavelmente não quer ouvir isso. — Ela olha para
baixo.
Eu seguro sua mão com mais força e coloco meu dedo sob seu
queixo, levantando sua cabeça. Seu olhar de corça faz meu coração doer.
— Eu quero conhecer cada parte de você, tudo.
Ela sorri suavemente e entrelaça nossos dedos com mais força. Eu
tomo isso como um sinal para soltar seu queixo e deixá-la continuar.
— Eu realmente não considero George meu pai. Ele fez o que era
legalmente esperado dele, como trocar minha fralda ou me alimentar até
que eu chegasse à idade em que não precisasse mais. Nunca tivemos uma
única conversa civilizada. — Ela sorri tristemente. — Adam foi quem me
criou, ele sempre me defendeu contra ele. Ele queria que eu fugisse com
ele, mas eu era muito jovem e, quando criança, não queria deixar meu pai.
Ela faz uma pausa.
— Ele nunca parou de me lembrar que eu era um monstro. Ficou
ainda pior quando Adam foi para a cadeia porque ele não estava lá para
detê-lo, para pará-lo. Ele me deu aqueles fones de ouvido de uma loja de
caridade antes de partir, para me ajudar e eles ajudaram… mas não
completamente. — Ela suspira trêmula. — Só parou quando eu tinha doze
anos, quando entrei naquele dia e o vi pendurado no teto.
— Foi você quem o encontrou? — Eu pergunto, chocada.
— Quem mais seria? — Ela dá de ombros, como se fosse a coisa mais
normal do mundo.
— Eu sinto muito. — Eu sinto meus olhos cheios de lágrimas e ela
ainda está impassível e de alguma forma isso é ainda mais triste.
Minha mente divaga e pensa em Adaline quando criança, entrando em
sua casa e encontrando seu pai enforcado. Ter que vê-lo assim e depois
chamar a polícia porque não havia mais ninguém por perto?
Isso é cruel. É tão cruel e eu gostaria de ter estado lá para ela.
— Está tudo bem.
— É por isso que você não comemora seu aniversário? — É óbvio
agora. O que o torna muito mais doloroso.
Ela acena com a cabeça.
— Eu costumava sempre recusar, não importa o quanto Adam
tentasse me convencer, mas eu tentei uma vez. Eu tinha acabado de fazer
oito anos e Adam comprou um cupcake para mim antes de ir para a
faculdade depois que ele voltou para a escola… — Sinto suas mãos
segurando as minhas com mais força. — Eu estava no meu quarto e antes
que pudesse acendê-lo, meu pai entrou.
Sua pausa me preocupa.
— Ele te machucou... não machucou? — Por favor não. Diga não.
Ela balança a cabeça lentamente e eu sinto meu coração apertar mais
forte do que nunca.
— Não doeu tanto quanto sua negligência, mas sim, ele me machucou
— ela continua —, ele quebrou minha porta e me deu um tapa na cara. Ele
estava muito bêbado…
— Isso não torna a situação melhor. — Eu interrompo suavemente e
severamente ao mesmo tempo.
George Emery. Ele está morto. Então, por que eu quero tanto matá-lo?
Quem põe as mãos sobre uma criança? O abuso emocional não foi
suficiente, então ele teve que recorrer à violência física? Não só isso, mas
ele manchou a memória do primeiro aniversário que ela foi corajosa o
suficiente para tentar comemorar.
Se alguém é um monstro, é ele.
— Eu sei. — Ela acena com a cabeça, esfregando círculos na minha
mão como se fosse eu que precisasse de consolo. — Adam também pensava
assim, ele chamou a polícia naquela noite porque estava com medo de ser
mais violento, mas eles não se importaram. Então, ele resolveu o problema
com as próprias mãos e o espancou. Ele só parou depois que eu implorei…
Eu não teria parado se fosse Adam.
— Meu pai sentou na minha cama mais tarde naquela noite, deve ter
pensado que eu estava dormindo. Ele chorou silenciosamente ao meu lado a
noite toda. Ele nunca mais me tocou.
Eu aperto minha mandíbula e engulo a bile e as lágrimas que sinto
crescendo dentro de mim.
Ela dá de ombros.
— Eu parei de reagir a ele depois disso. Acostumei com a crueldade
dele. Eu sabia que ele se alimentava de minhas reações. Ele estava tão
fodidamente vazio por dentro que precisava me machucar para que pudesse
sentir alguma coisa. Ele precisava que eu me sentisse culpada.
— Você... se sentiu culpada?
— Sim.
— Você ainda se sente culpada?
— Às vezes — ela murmura baixinho. — Às vezes até sinto pena
dele.
— O quê? Por quê? — Eu franzo minhas sobrancelhas. — Ele era um
homem horrível... ele te machucou.
Ela inclina a cabeça contra a cama antes de olhar para o teto.
— Quando eu era mais nova e pedia a Adam que me contasse
histórias sobre meu pai, ele sempre recusava porque não pensava mais nele
como seu pai… — ela suspira. — Mas no dia do enterro dele, ele ligou da
prisão e me contou muitas histórias. Você sabe o que todos elas incluíram?
— O quê? — Pergunto cativado por suas palavras.
— Gentileza. Risada. Amor. Ele foi o melhor marido que minha mãe
poderia ter desejado e um pai amoroso para Adam.
Isso só me deixa com mais raiva.
— Mas ele não foi um bom pai para você... como você pode não odiá-
lo por isso? Eu o odeio por isso e nunca o conheci. Ele parece um monstro.
Eu não me importo que ele tenha perdido a esposa. Talvez eu não seja
uma pessoa empática, mas não me importo. Só sei que Adaline está
traumatizada, provavelmente ficará por muito tempo e tudo graças a ele.
Adaline concorda com a cabeça.
— Acho que no fundo somos todos monstros, se formos levados a
esse ponto. Talvez se eu sentisse que ele era meu pai, eu poderia odiá-lo.
Como eu poderia odiar um homem que era apenas um estranho para mim?
Ela está sendo tão compreensiva com alguém que a tratou como nada.
É exaustão ou maturidade emocional? De qualquer forma, isso me deixa
mais triste do que nunca e só me faz respeitá-la ainda mais.
Ela nunca teve pais. Um morreu e o outro estava completamente
desprovido de qualquer sentimento paternal em relação a ela. Tudo o que
ela realmente teve foi Adam e até ele foi enviado para a prisão durante a
maior parte de sua adolescência.
Como ela sobreviveu?
Minha cabeça começa a queimar. "Acho que você nunca teve pais por
perto para ensiná-la a ter padrões."
— E piorava quanto mais velha eu ficava, quanto mais independente
eu me tornava, mais ele podia chafurdar em sua miséria. Ele era uma
concha vazia de pessoa, ele apenas ficava sentado lá e bebendo, esperando
até que pudesse estar com minha mãe novamente — eu sinto suas mãos
tremendo um pouco —, até que ele finalmente teve o suficiente e se matou.
Eu a observo atentamente e minha mente não para de tentar imaginar
todos esses eventos.
— Ele é a razão pela qual eu nunca me apaixonaria. Eu vi o jeito que
isso o consumiu e arruinou. Ele perdeu a mulher que amava e isso o
transformou em um monstro. Eu nunca poderei ser assim.
Ela nunca vai se deixar apaixonar? Eu nunca soube disso sobre ela.
Pensando bem, nunca a vi sair com ninguém. Sempre presumi que ela
namoraria pessoas fora de Richmond, pois ela estava fora dos limites lá.
Claramente, ela nunca se deu a oportunidade.
Ela realmente nunca vai se apaixonar? Por que meu coração está
caindo com as palavras dela? Eu deveria entendê-la, considerando o que
passei com meu próprio pai. Eu também não quero ser como ele.
Eu coloco uma mecha de seu cabelo atrás da orelha, observando seus
olhos exaustos.
— Ele se arruinou, o amor não fez isso com ele. Adam perdeu a mãe
naquele dia também, ele não te machucou por causa disso, não é?
Ela balança a cabeça.
— Não, ele não machucou.
Quer dizer, ele tinha o quê? Nove anos? Quando sua mãe morreu e ele
ganhou uma irmãzinha. Teria sido mais compreensível para ele culpar e
ficar com raiva de Adaline porque ele era uma criança, mas não culpou. Ele
era mais pai do que o adulto na situação e amor não é desculpa para isso. O
luto não é desculpa para ser uma pessoa horrível e um pai ainda pior.
Pode explicar, mas não justifica.
Eu suspiro pesadamente.
— Seu próximo aniversário, celebre.
— Juliette…
— Para se sentir mais perto dela. Não estou dizendo para fazer algo
extravagante. Estou dizendo para carregar essa culpa que você sente e
acender uma vela com ela. — Eu seguro a mão dela com mais força. —
Cada ano que passa, tente acabar com isso. Você não tem nada pelo que se
sentir culpada.
Se sua mãe tivesse sobrevivido, ela não teria nascido e, por mais
egoísta que pareça... Não consigo imaginar minha vida sem Adaline Emery.
— Isso foi estranhamente perspicaz. — Ela tenta aliviar o clima, mas
não estou conseguindo.
— Você realmente acha que ela gostaria que você não comemorasse o
dia em que nasceu?
— Ela me odiaria. — A dor por trás de seus olhos me abala
profundamente.
— Não, ela não faria isso. Ela não gostaria que você se sentisse
culpada por algo que não é sua culpa. — Eu seguro ambas as bochechas
dela gentilmente. — Ela não te odiaria Addie, ninguém seria capaz de te
odiar assim…
— Você odeia.
Não assim. Nunca assim.
Minhas mãos caem de seu rosto.
— Desculpe.
— Pelo quê? — Ela parece confusa.
Meu tom está trêmulo.
— Por tudo. Por ser aquela garota que te intimidou quando você veio
para a escola. Por tratá-la como uma merda e esperar que você apenas
aceitasse... me desculpe por ser tão fodidamente horrível.
Neste ponto, não consigo controlar. Meus olhos começam a sangrar
livremente com toda a culpa reprimida que reprimi todos esses anos.
Justifiquei tudo usando meu pai e o trauma como desculpa. Ela já passou
por coisas muito piores do que eu e nunca usou isso como motivo para
rebaixar outras pessoas.
Eu fungo e engasgo com minhas lágrimas.
— Você passou por tanta coisa... tanto que eu não seria capaz de
suportar se fosse você. Sinto muito por colocar você para baixo, sinto muito
por tomar o lugar dele.
A culpa é insuperável e nada que eu possa fazer vai consertar isso. O
pai dela morreu antes de ela vir para Richmond e eu simplesmente tomei o
lugar dele. Ela passou de um abusador para outro… sou igual a ele, sou um
monstro.
— Você não é como meu pai — ela diz baixinho, enxugando minhas
lágrimas com as mãos e eu odeio isso.
Ela está sendo tão compreensiva, me confortando quando é ela quem
precisa ser consolada.
— Como você pode dizer isso? Eu derrubei você, assim como ele. —
Eu choro mais forte. — Eu fui horrível pra caralho com você... eu ainda sou
horrível com você. Eu sinto muito.
Ela me observa berrar e continua enxugando minhas lágrimas com o
olhar mais suave que já vi em seus olhos. Eu deveria estar confusa por ela
não estar chorando, mas nunca a vi chorar. Presumo que ela parou quando
era jovem, como se falasse sobre como parou de reagir — acho que isso
significa que ela foi forçada a parar de sentir completamente também.
Ah, não. Isso só me torna mais culpada. Cinco anos inteiros de
tormento no qual eu também a submeti. Não importa se ela revidou ou me
devolveu, o que importa é que eu comecei! E tudo para quê? Porque
queimava quando olhava para ela? Porque toda vez que eu a via isso me
lembrava do meu pai?
Que motivo patético.
— Eu não acho que posso perdoá-la totalmente pela forma como você
me tratou… — ela diz baixinho e eu aceno em compreensão. — Mas eu não
quero que você pense que é como meu pai.
Eu sou, de certa forma. Sujeitando-a a palavras cruéis e querendo que
ela reagisse. Portanto, não importa o quão perto cheguemos, não posso
deixar de pensar que Adaline passou de um agressor para outro.
Ela continua.
— Ele me derrubou porque me odiava... Acho que você me derrubou
porque se odiava.
Eu fungo e enxugo minhas lágrimas.
— Por que eu me odiaria?
Ela suspira baixinho e me dá um sorriso gentil antes de acariciar meu
rosto.
— Você deveria ir para casa, Juliette.
Balanço a cabeça quase instantaneamente.
— Adaline, não vou deixar você assim.
Por que ela está me pedindo para sair? Ela não parece zangada ou
aborrecida comigo. Na verdade, ela está olhando para mim com
compreensão suave.
— Estou bem, estou, eu prometo... na verdade, me sinto mais leve do
que nunca. — Ela sorri genuinamente, e eu sei que ela está dizendo a
verdade. — Eu nunca falei com ninguém sobre isso, não como acabei de
falar com você.
Nem mesmo seus amigos?
— Então deixe eu ficar. — Exorto desesperadamente.
Ela solta minhas mãos.
— Eu quero que você vá para casa e pense por que você se odiava
naquela época.
— Adi…
— Isso não é saudável, Juliette. Essa negação que você carrega
consigo... mas não cabe a mim consertar isso para você. — Sinto as
lágrimas borbulhando novamente e ela continua. — Eu entendo, eu
realmente entendo. Você não quer ser como seu pai e eu não quero ser como
o meu, mas algumas coisas não podem ser mudadas — ela diz suavemente
e eu sei que ela está se referindo a mim agora. — Você não precisa ser
honesta com mais ninguém, mas pelo menos seja honesta consigo mesma,
Juliette.
Ela se inclina para frente e beija minha bochecha suavemente. Seu
mero toque me faz sentir mais corajosa do que nunca e faz as peças
clicarem. Eu não posso discutir com ela, ela está certa. Isso não é saudável.
Eu me inclino para a frente e a envolvo em um abraço apertado,
segurando-a apertado e ela retribui. Eu beijo sua testa gentilmente, é mais
uma promessa. Eu estarei de volta, mesmo quando eu me levantar e sair
desta sala agora, eu estarei de volta.
Eu não posso mais fazer isso.
***
Eu não fui para casa como Adaline me aconselhou, ao invés disso eu
dirigi até a única casa que eu sei que vou conseguir minhas respostas. Aqui
estou, batendo rapidamente na porta escura e preta desta mansão familiar.
A porta se abre, cabelos ruivos entrando em cena.
— J? Você está bem?
— Sou igual a ele. — Eu deixo escapar entrando em sua casa.
— Quem? — Kai pergunta confuso, fechando a porta atrás de si.
— Meu pai.
Sinto tanto calor, como se uma febre estivesse atacando todos os
meus sentidos, mas não consigo ir embora. Preciso de respostas ou pelo
menos preciso ser forçado a me dar as respostas porque não posso mais
fazer isso.
— Do que você está falando? — Ele pergunta, perplexo e preocupado
enquanto se aproxima de mim.
— Adaline e eu fizemos sexo. Estamos fazendo sexo há um tempo.
— As palavras saem da minha boca abruptamente.
— Desde quando? — Ele pergunta, seus globos oculares parecendo
que vão sair de suas órbitas.
Devo contar a primeira vez que nos beijamos ou não?
— É complicado. Há alguns meses, meio que... você realmente não
sabe?
Acho que minha paranóia foi em vão. Eu deveria ter confiado em
Adaline quando ela disse que seus amigos nunca contariam a ninguém.
— Eu pensei que algo poderia ter acontecido com vocês depois
daquela queda durante o torneio… — ele balança a cabeça com um sorriso
suave. — Mas eu não achei que fosse isso, embora eu sempre soubesse que
vocês gostavam uma da outra…
— Do que você está falando? O que você quer dizer com "sempre"?
— Eu o interrompi, confusa e desesperada por respostas.
Seu olhar suaviza.
— Você nunca se perguntou por que eu continuei amigo de você
todos esses anos, apesar do quão homofóbica você tem sido?
Claro, eu me perguntava. Eu apenas me considerava sortuda por ele
ter continuado meu amigo.
— Por que você continou sendo meu amigo? — Eu falo em um
sussurro.
— Porque você estava sofrendo. Eu vi. Eu sabia que você precisava
de tempo e ajuda. Você sempre não gostou de Adaline, mas mudou naquele
dia. Você a desprezava e eu sabia por quê.
— Por quê?
Seus olhos brilham de pena.
— Porque você a queria, talvez estivesse enterrado lá no fundo, mas
acho que você sempre a quis e a odiou por causa disso.
Suas velhas palavras ecoam na minha cabeça. "Eu sei porque você
está tão bravo com ela, mas você ainda não sabe e tudo bem. Estarei aqui
para você agora e estarei lá para você quando descobrir isso."
— Não, eu a odiei porque ela é como meu pai. — As palavras saem
trêmulas.
— Então por que você não odeia nenhum outro gay em Richmond?
Não finja que não sabe quantos outros garotos gays existem, Juliette. Por
que você só machuca ela?
— Não sei.
— Você não a odiava, Juliette, pelo menos não desde o começo. Você
se odiava por desejá-la, por querer qualquer garota... porque isso fazia você
pensar que era como ele.
Não. Não. Não. Todos esses anos. Olhando para Adaline pela
primeira vez quando éramos crianças e sentindo aquela queimação no peito.
Aquele sentimento na minha barriga que me deixou tão envergonhada.
Eu balanço minha cabeça com dor.
— Eu não posso ser como ele.
— Você não é nada como ele. — Ele coloca as mãos nos meus
ombros. — Ele não era abusivo porque era gay, era porque era um ser
humano horrível. Você não é nada como ele.
Eu não sou. Eu não sou como ele. Eu não machucaria ninguém do
jeito que ele machucou minha mãe.
Velhas memórias queimam meu couro cabeludo com dor, minha
cabeça latejando mais forte do que nunca. A menina bonita no berçário com
os olhos castanhos. A garçonete no meu almoço de aniversário. Todas as
garotas que eu tento não olhar. Adaline entrando na minha aula de ciências
quando éramos mais jovens.
— Não quero ser assim, quero ser normal. — Eu gaguejo com medo,
minha voz falhando.
Isso soa como ele — aquele medo de que outras pessoas descubram, a
agonia que o transformou em um homem abusivo. Somos todos monstros se
formos pressionados a esse ponto. Ele se esforçou, tudo porque estava com
medo.
Todo esse tempo eu não queria ser como ele, mas de alguma forma,
eu me tornei a pior parte dele – o medo e a paranóia que me fazem atacar os
mais próximos de mim.
— Você é normal. Não há nada de errado com você — Kai diz
gentilmente, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
Nada. Não há nada de errado comigo, mas haverá se eu continuar
negando isso. Se eu deixar essa dor infeccionar por mais e mais tempo,
então, em vez de abuso verbal, vou recorrer à violência física como meu
pai. Tudo por quê? Ser temida? Ter controle? Poder?
Eu não quero isso. Não quero mais nada disso, só quero me olhar no
espelho e não sentir vergonha. Só quero imaginar minha vida futura sem ter
medo do que minha mãe vai pensar.
Eu só quero ser eu.
Eu suspiro trêmula, cinco anos de repressão inundando de mim neste
exato instante.
— Sou lésbica.
Alívio inunda meus próprios ossos. Sinto como se estivesse
prendendo a respiração por tanto tempo e agora posso finalmente respirar
novamente.
Kai está sorrindo para mim o mais amplamente possível e me
puxando para um abraço esmagador.
Isso é tudo o que preciso para me perder e, mais uma vez, começo a
chorar em seus braços. Em seus braços não preciso me esconder. Eu posso
ser eu; não preciso mais mentir para mim mesma.
Eu posso ser apenas eu.
Capítulo TRINTA E CINCO
Adaline
Mais uma semana se passou sem que Juliette dissesse uma palavra
para mim. A única diferença desta vez é que... ela simplesmente não está
por perto. Ela nem apareceu na escola.
No começo, eu estava preocupada. Até perguntei a Kai sobre isso,
mas ele me garantiu que ela estava bem e só precisava de um tempo para
uma coisa. Eu sei que ela me quer; eu sei que ela gosta de mim. Isso está
claro, considerando que ela quase matou Alex quando nos encontrou. Eu
gosto dela também – isso é claro porque eu nem queria estar lá com ele em
primeiro lugar.
Ele continua me lançando olhares conhecedores toda vez que o vejo
com Victoria, mas continuo ignorando. Talvez Juliette tenha contado a ele?
Mas isso não faz sentido, ela nunca contaria a ninguém.
Até o Natal e o ano novo passaram esta semana. Fiquei tentada a
mandar um presente de Natal para ela, mas nem comemoro o feriado. Eu
não tenho um pingo de excitação em meu corpo independentemente, tudo
porque ela sugou isso de mim, assim como meu trauma.
Ainda não acredito que contei a ela sobre meu pai e meu passado. Eu
nunca nem falei sobre isso com meus amigos, só Adam sabe como foi ruim.
Ela sentou-se lá e me confortou, sem julgamento, sem malícia. Ela voltou
mesmo depois de eu ter sido rude e não me ridicularizou por ter um ataque
de pânico por causa de um par de fones de ouvido – outra razão pela qual
esta semana foi tão difícil, não tenho meus fones de ouvido para me
confortar.
Ela precisava desta semana, seja para aceitar sua sexualidade ou negá-
la ainda mais, não tenho certeza. Tudo o que sei é que ela precisava desse
espaço e talvez eu também. Eu me senti muito vulnerável depois de contar a
ela sobre meu passado, mas, de alguma forma, segura ao mesmo tempo.
Eu estive bem esta semana. Enviei e-mails de tutoria para Juliette e
deixei por isso mesmo, não importa o quanto eu queira enviar uma
mensagem regular para ela... ou até mesmo ligar para ela. Estou tentando
ser uma boa pessoa, dar a ela espaço para respirar e organizar suas coisas.
Afinal, já estive na mesma situação que ela, embora nunca tenha
sofrido de homofobia internalizada a esse ponto.
Deus, isso é tão cansativo. Por que isso tinha que acontecer comigo?
Por que eu tive que acabar gostando de uma garota que literalmente
despreza os gays, mas ela mesma é gay?
— Adaline, você pode ficar depois da aula, por favor? — A voz do
Sr. Khalid corta meus pensamentos e eu olho para cima e apenas aceno com
a cabeça, desorientada.
Quando o sinal toca, eu vou até ele depois que todos já saíram da sala.
Suas sobrancelhas estão franzidas em preocupação, uma caneta girando
entre os dedos.
Ele espera um momento antes de perguntar:
— Você está bem?
A pergunta me pega de surpresa por um momento.
— Sim, eu estou bem.
Seus olhos se estreitam em descrença.
— Você estava completamente distraída durante toda esta lição. É
completamente diferente de você.
— Estou bem, só estou cansada — repito, tentando fazer meu tom
cansado soar mais normal.
Ele balança a cabeça, mas não parece que acredita em mim.
— Bem, eu apenas pensei que deveria avisá-la que enviei sua carta e
anexei um pedido para dar a você prioridade máxima ao receber uma
resposta. — Ele vira o laptop e me mostra o e-mail. — Então, espere uma
carta de aceitação até, no máximo, mês que vem.
— Ou uma carta de rejeição — eu respondo cansada e o choque em
seu rosto é palpável.
— Você tem certeza que está bem?
Eu ignoro sua pergunta.
— Por que você enviou minha carta mais cedo? Eu pensei que você
estava esperando pelos exames finais?
Quero dizer, ele fez um grande alarido sobre eu ter que ser tutora de
Juliette até os exames finais, é por isso que estou nessa confusão em
primeiro lugar.
Um pequeno sorriso aparece no canto de sua boca.
— Eu sempre enviaria a carta de Adaline, independentemente de
Juliette ter passado ou não.
— Então você mentiu? — Eu pergunto, confusa e talvez um pouco
zangada.
— Eu fiz algo errado? Juliette está passando em biologia pela
primeira vez em cinco anos, não tenho dúvidas de que ela também passará
nos exames finais. — Seu rosto presunçoso é irritante, mas não posso
culpá-lo, afinal ele conseguiu o que queria.
— Tchau, senhor. — Eu me viro, pronta para sair antes que ele chame
meu nome.
— Adaline.
— Sim? — Eu me viro, nem mesmo escondendo meu desgosto.
— Vocês aprenderam alguma coisa uma sobre a outra? Ou foi um
inferno ensiná-la?
Eu sorrio um pouco antes de responder.
— Foi um inferno completo… — e eu não mudaria isso por nada no
mundo.
Minhas mãos correm pelos meus cabelos, tentando o meu melhor para
manter meus olhos cansados abertos enquanto ando pelo corredor. É fim do
dia, já disse aos meus amigos que não queria sair hoje. Eles estiveram
preocupados comigo a semana toda, mas tentei ao máximo esquecer Juliette
e me acalmar. Eu nem contei a eles nada do que aconteceu conosco e eles
foram educados o suficiente para não insistir nisso.
Eu só quero ir para casa, deitar na minha cama e ler um livro – algo
triste – para poder mergulhar em qualquer que seja esse sentimento.
Isto é, até eu olhar para cima e ver Alex pairando sobre seu armário
enquanto puxa seus pertences. Eu nem teria reparado nele, mas o armário
dele fica a dois armários do meu. Pensando bem, também não ouvi muito
dele esta semana, embora eu tenha mandado uma mensagem de desculpas
para ele um dia depois da festa.
Eu fui honesta. Eu disse a ele que gostava de outra pessoa e estava
usando-o para irritar essa pessoa. Ele não respondeu às mensagens e eu me
senti culpada, claro que sim.
Eu caminho em direção a ele e ele ainda está muito preocupado em
esvaziar seu armário.
— Oi.
Ele se vira para mim com um suspiro profundo.
— Adaline. — Vem sua curta saudação.
— Eu só queria dizer... sinto muito por…
— Recebi sua mensagem. Eu sei o quanto você está arrependida. —
Ele bate a porta do armário. — Não há necessidade de se desculpar.
Há. Há absolutamente uma razão para se desculpar. Eu o conduzi.
Mesmo se eu continuasse com o trio, eu teria me arrependido – eu sei que
no fundo eu só queria irritar Juliette e quando funcionou... eu não pensei em
Alex nunca mais.
— Eu não deveria ter enganado você — eu digo, notando a falsa
apatia em seus olhos.
Ele concorda.
— Você não deveria, mas está tudo bem. Eu tenho problemas maiores
agora mesmo.
— Qual o problema? — Pergunto confusa com seu comportamento
errático.
Ele suspira profundamente, jogando a mochila no ombro.
— Dois dias depois da festa, fui chamado ao escritório do diretor…
aparentemente eles receberam uma denúncia anônima sobre drogas estarem
no meu armário.
— Drogas? — Meus olhos saltam das órbitas, afinal, este é Alex.
Doce, com olhos de corça, que se recusa a tocar em um baseado, Alex.
Ele ri de uma maneira triste, mas ainda com raiva.
— Exatamente. Não consigo nem fumar um cigarro. Addie, alguém
está fodendo comigo. Eu sei isso.
Devo admitir que também sei disso, dar a ele um ombro para chorar
ou se apoiar. No entanto, tudo o que posso pensar é que meu apelido vindo
de sua boca não soa tão cativante quanto quando Juliette o diz.
Addie.
É dela. Sempre me chamaram assim a vida toda, mas quando ela me
chama assim, parece tão normal, tão confortável. Isso entra em cada fenda
da minha mente e se torna parte de mim, como se ela tivesse mapeado toda
a minha identidade apenas por me chamar assim.
É como se ela realmente me conhecesse e eu me tornasse indiferente
ao fato de ela me chamar assim até que outra pessoa o fizesse... e eu
percebo o quão insatisfatório é a sensação de não ter seus lábios.
Assim que percebo sobre o que Alex está realmente falando, é tarde
demais – ele já está indo embora e não consigo impedi-lo... ou realmente
me importar.
Logicamente, eu não deveria. Ele é rico, poderia encontrar qualquer
outra escola e pagar a entrada. Então, novamente, ainda não está certo, mas
a parte sombria de mim está um pouco satisfeita que o ciúme de Juliette a
levou tão longe, se ela fez isso.
Ela é sombria, cruel e conivente. Eu costumava odiar isso nela e
acumular minha superioridade moral sobre ela, mas agora não sou melhor
do que ela, porque estou satisfeita, até mesmo compelida com a ideia de ela
fazer isso com Alex. De certa forma, sou como ela, talvez sempre tenha
sido. A escuridão vive em nós duas, só não percebi o quanto desejei a
escuridão dela até agora.
Pelo menos ela não quebrou a mão dele.

***

Uma vez que estou na cama, agradeço aos céus que aquela vontade
que me incomoda de estudar diminuiu lentamente hoje. Estou contente em
apenas deitar na minha cama e tirar uma soneca – ou pelo menos eu estava
– até ouvir minha campainha tocar. Não pode ser Adam; ele tem uma chave
e também está trabalhando até tarde. Também não seriam meus amigos
porque eu disse a eles que não estava com vontade de sair.
Meus pés relutantemente saem da minha cama enquanto desço as
escadas, deprimida. Quando abro a porta, quase caio para trás. Sinto como
se um caminhão tivesse acabado de bater em mim e me feito voar.
É Juliette. Seu rosto parece frenético, mas ela está linda como sempre.
Deus. Faz uma semana que não a vejo e sinto que estou tendo alucinações.
— Juliette? Onde você esteve…
— Então, eu estava olhando minhas fotos e percebi que ainda tenho
aquela foto que tirei de você… quando fiz aquelas caretas engraçadas com
você no oitavo ano… — Mantenho minha boca fechada com sua
interrupção e a deixo continuar, perplexa. nas palavras dela. Ela ofega
pesadamente fechando a porta atrás dela. — Percebi na foto que você estava
usando seus fones de ouvido… então os enviei para alguém que conheço…
para encontrá-los.
Ela faz uma pausa e abre a bolsa pendurada no ombro. Então ela pega
um par de fones de ouvido pretos idênticos.
— Demorou um pouco. Eu tive que dirigir até Birmingham para
buscá-los, pois eles vieram da França… foi o único que pudemos encontrar.
Eu nem percebi que ela colocou os fones de ouvido na minha mão até
que eu os sentisse. Estou muito ocupada olhando para ela, quase sem
palavras.
— Eu sei que não são seus fones de ouvido e eles não guardam as
mesmas memórias... mas espero que você possa encontrar conforto neles —
ela diz e me ocorre que ela parece nervosa.
Ela nunca soa nervosa.
— Juliette… — Eu suspiro em um sussurro. — Você fez isso? Por
quê?
Eu esperava que ela me dissesse onde esteve por uma semana, por
que ela não veio à escola. Talvez ela me dissesse que percebeu que é
lésbica, mas não quer nada comigo. Ou talvez ela continuasse no armário,
mas eu nunca esperei isso. Dirigindo para outra cidade só por fones de
ouvido? Deus sabe quanto isso custou. Eu sinto que não consigo respirar
agora.
Ela não responde e eu aproveito para continuar falando.
— Obrigada…
— Eu sou lésbica — ela deixa escapar, me cortando. Suas palavras e
o tom de rosa em suas feições fazem meu coração inchar.
Lésbica. Não queer. Não gay. Ela mergulhou direto no termo e eu sei
o quanto isso deve deixá-la com medo de se rotular de uma maneira muito
obsoleta, especialmente com o que ela passou, posso ver a hesitação em seu
rosto.
Faz sentido. Você não pode desfazer anos de negação em uma
semana, mas pode começar. Embora ainda não explique por que ela
comprou esses fones de ouvido para mim.
— Você fez isso porque é lésbica?
— Não. — Ela balança a cabeça. — Eu fiz isso porque estou cansada
de esconder o quanto eu quero você. Estou tão cansada de esconder quem
eu sou, esconder o que eu quero. — Ela solta uma risada cansada. —
Aparentemente, estava claro para todos, menos para mim. Ou talvez
estivesse claro para mim lá no fundo.
Ela me conta tudo. Como ela passou a semana inteira focando em si
mesma e em sua sexualidade, com Kai para guiá-la. Como ela não
suportava ir para a escola porque passou a semana inteira chorando. Eu
ouço atentamente, incapaz de formar palavras.
Ela está me contando, ela está finalmente me dizendo que me quer,
mas não posso evitar o medo que afoga meu corpo.
— E a sua mãe? — Eu pergunto baixinho, uma vez que ela termina e
ela engole em seco. Então eu coloco os fones de ouvido para baixo para não
deixá-los cair.
Ela suspira pesadamente.
— Eu mal posso lidar com isso sozinha... minha mãe não está pronta
para isso. De qualquer maneira, não estou pronta para contar a mais
ninguém… como você disse, só tenho que ser honesta comigo mesma.
— Estou orgulhosa de você — eu digo baixinho e ela levanta uma
sobrancelha, mas antes que ela possa responder eu continuo. — Tão
orgulhosa de você.
— Você não está com raiva? Acabei de assumir, embora tenha te
tratado como merda por gostar de garotas.
— Como eu poderia ficar com raiva de você por se aceitar?
— Isso é ridículo. — Ela balança a cabeça. — Você deveria me odiar!
— Eu te odeio — eu sussurro, incapaz de esconder minha diversão.
— Então me bata! Grite comigo! Não fique parada aí! — Ela grita,
seu rosto ficando vermelho.
— A única pessoa que vai te ajudar é você — eu digo. — Então, você
pode superar sua própria culpa.
— Claro, quero deixar para lá, quero ser digna de você. — A agonia
em sua voz me deixa em uma espiral.
Eu me aproximo dela.
— Você não é digna de mim, Juliette. — Seus olhos ficam abatidos,
mas eu continuo. — Também não sou digna de você porque não é assim
que a vida funciona. O perdão não é equivalente a ser digno.
— Não posso te apressar, posso? — Ela pergunta, seu tom
compreensivo.
Eu balanço minha cabeça.
— Não. Mas estou chegando lá, não preciso gritar nem bater em você.
Eu só preciso sentir isso ir embora.
— Mas você ainda me quer? — Sua voz soa incrédula e esperançosa
ao mesmo tempo.
— Eu quero. Eu te quero tanto que às vezes dói, mas… — eu não
posso ser como meu pai — você deveria estar feliz... você finalmente sabe
quem você é! Você não quer experimentar com outras garotas?
Ela parece chocada com a minha sugestão e meu coração quase se
parte com o pensamento.
— Não. Nunca. Eu só quero você. Eu sempre quis você. — Ela
suspira pesadamente e tira minhas mãos de seu rosto, segurando-as. — Sei
que não tenho o melhor histórico, mas quero mudar isso. Eu costumava
implorar por sua atenção, ainda imploro, mas aceitei. Agora eu estou
pedindo por isso.
Ela esfrega círculos em minhas mãos e continua falando.
— Podemos ser mais do que qualquer coisa que chamemos isso… —
Seu gesto de mão livre entre nós. — Podemos foder, podemos conversar.
Serei sua inimiga ou sua amiga. Posso ser sua melhor amiga se você quiser.
— Quem é você e o que fez com Juliette Kingston? — É uma
resposta esfarrapada, mas é tudo que consigo imaginar agora.
Ela sorri.
— Apenas um encontro. Amanhã?
Eu respondo puxando-a para um beijo quente. Não consigo ouvir
nada enquanto meus lábios envolvem os dela e então percebo uma coisa –
não foi dos fones de ouvido que eu senti saudade esta semana, foi dela.
Capítulo TRINTA E SEIS
Juliette
É possível sentir-se completamente leve? Ter cinco anos de repressão
derretendo em um quase vazio – algo que ainda está lá, mas está
desaparecendo lentamente? É como eu me sinto. Foi assim que me senti
durante toda a semana passada, deprimida na cama e chorando todas as
noites por causa da minha sexualidade.
Kai esteve lá, me mantendo atualizada sobre Adaline, porque nunca
duvidei que a desejaria depois de me resolver. Isso só foi cimentado ainda
mais quando fui à casa dela ontem. Eu queria ficar depois de abrir meu
coração para ela, mas sabia que ela precisaria de espaço depois das minhas
palavras. Só espero que ela venha hoje.
Minha campainha toca e eu me preparo para atender, meu coração
saindo do meu peito. É ela. Isto tem que estar certo? Abro a porta... não é
ela. Em vez disso, é Adonis.
Minha primeira linha de pensamento é ficar com raiva, mas fui eu que
o convidei. Eu não esperava que ele viesse tão cedo.
— Oi, recebi sua mensagem — diz ele, entrando na minha casa. —
Está tudo bem? Quase não tive notícias suas durante toda a semana.
Sua preocupação realmente não faz muito por mim, mas eu entendo.
Como ele disse, não falei com ele na semana passada.
— Precisamos conversar — digo a ele com um suspiro.
— Ok?
— Precisamos terminar — eu digo, tentando abafar o quanto estou
entediada. — Poupe-me da frivolidade de tudo isso. Essa é a caixa com suas
coisas. — Aponto para a pequena caixa de papelão com as coisas dele ao
lado da minha porta. Na maior parte, são apenas algumas de suas roupas e
algumas joias que ele me presenteou ao longo de nosso relacionamento.
Suas sobrancelhas franzem e suas mãos são colocadas em seus
quadris. Ele está balançando a cabeça como se não pudesse acreditar nas
palavras que estão saindo da minha voz. Estou esperando que ele chore ou
talvez grite, não tenho certeza. Provavelmente implore para me ter de
volta…
— Você é uma vadia. — Eu não esperava essa resposta ou a risada
insensível.
Por mais chocada que eu esteja, apenas dou de ombros.
— Eu sei. — Claro, eu sou uma vadia, sempre fui. Ele sabe disso e
não é como se fosse um santo.
— Sério? É assim que você termina um relacionamento de dois anos?
— Não me faça rir. Isso mal era um relacionamento. — Eu fico
olhando para minhas unhas, inspecionando como elas estão arrumadas hoje.
— Você me traiu o tempo todo.
— Por que diabos você acha que eu fiz isso? — Ele deixa escapar
com raiva.
— Não me diga que você está sentado aqui me culpando por sua
traição? — Eu quase rio alto.
— Eu-eu só fiz isso na sua frente — ele murmura, ligeiramente
abaixando a cabeça.
— O quê? — Eu pergunto confusa, o olhar em seus olhos me tira do
meu tédio.
— Trair — ele esclarece. — Eu nunca dormi com mais ninguém, só
pedi a algumas garotas para me beijar ao ar livre, quando você estava por
perto.
— O quê? Por quê?
— Eu queria sua atenção! — Ele grita. — Desde o começo, isso foi
tudo que eu sempre quis. Eu tentei de tudo para fazer você agir, para
mostrar que você me queria — ele balança a cabeça com uma risada triste
—, mas nada disso funcionou.
— Então você pensou que esse era o caminho a seguir? — Não quero
parecer crítica, mas não posso evitar. Esse cara está falando sério? Você
queria minha atenção então beijou outras garotas na minha frente?
— Ah, por favor! — ele diz, de repente com raiva de novo. — Então
só você tem o privilégio de agir para chamar a atenção? Só você pode fazer
merdas estúpidas?
— O que isto quer dizer? — Eu pergunto, um poço de medo
crescendo em meu estômago.
— Significa que eu sei por que você passou os últimos cinco anos
intimidando Adaline — ele diz. Seu tom não é tão malicioso quanto eu
esperava, ao contrário, é vazio. — Eu sei que você a quer.
Ah, não.
— Como? Quando? — Essa é toda a resposta que consigo reunir,
porque posso desmaiar.
— Eu descobri quando fomos jantar no nosso aniversário. Eu nunca
tinha visto você parecer tão vazia antes, não desse jeito. — Seu olhar se
torna pensativo. — Então fomos àquela festa e seus olhos estavam nela o
tempo todo… você simplesmente desapareceu depois, sem nenhuma
palavra.
— Adonis…
— Não sei como não percebi isso antes, mas a questão é que percebi
agora. — Ele aponta o dedo para mim com raiva. — Então não se atreva a
se achar superior depois de tudo que você fez.
Ele tem razão. Eu estava traindo-o o tempo todo, talvez fazendo até
pior do que ele estava fazendo. Não tenho nenhuma posição moral elevada,
não apenas com Adaline, mas com todos os outros em minha vida; mesmo
Adonis.
— E daí? Você vai contar para todo mundo? — O medo corta meu
peito.
— Eu não faria algo assim. — Ele parece estarrecido. — Eu nem sou
homofóbico, Juliette, só não me importava como você se comportava
porque eu te amava!
Ele é como todo mundo na escola. Eles também não são
homofóbicos, apenas ovelhas me adorando cegamente por causa do meu
status, incapazes de entender o quão perigoso isso é. Mesmo que eu
chegasse a isso em algum momento, sempre soube, no fundo, que eles não
acreditavam no que eu me iludi ao acreditar.
Adonis pensa que me capacitar é amor – talvez seja para algumas
pessoas –, mas eu vi o que deveria ser, o que poderia ser. Significa
responsabilizar-se, tentar ser melhor.
— Sinto muito.
Ele ri friamente.
— Não, você não sente. Você não está arrependida por me trair e
também não está arrependida por terminar comigo, então não finja que está.
— Ele se abaixa e pega sua caixa, pronto para sair.
Eu chamo por ele antes que ele diga algo:
— Adonis.
— O quê? — A irritação abafa suas palavras, mas ele não se vira.
— Nestes últimos dois anos, acho que não teria sobrevivido com
nenhum outro homem. — Quero dizer. Eu quero dizer cada palavra porque
eu não acho que teria. Ele me capacitar estava errado, mas também me deu
uma estranha sensação de conforto.
Eu observo como seus ombros caem e a parte de trás de sua cabeça
acena antes de ele sair. Dois anos se passaram, mas tudo em que consigo
pensar é como quero o resto dos meus anos com outra pessoa, uma certa
morena.

***
Nas próximas horas, estudo biologia usando as anotações que Adaline
me enviou, até que a campainha toca e instantaneamente corro para a porta,
abrindo-a.
— Oi — eu digo baixinho.
— Oi — ela responde igualmente baixo.
— Você está linda — eu consigo murmurar, mesmo que os nervos
estejam me sufocando.
Ela arqueia as sobrancelhas.
— Você me disse para usar minhas roupas mais sujas. — Ela está
vestindo uma camisa branca grande que virou cinza e shorts camuflados
que parecem ter uma década de idade. Enquanto eu optei por um macacão
azul e um colete branco por baixo.
— Você sempre está linda. — Eu pisco para ela, gesticulando para ela
entrar. Assim que ela o faz, fecho a porta atrás dela.
— Você está sendo incomumente romântica — ela sorri levemente,
virando-se para mim, com as sobrancelhas arqueadas.
Espero alguns segundos antes de dizer:
— Estou tentando mostrar a você que posso ser melhor.
— Juliette — ela diz suavemente —, eu já te disse, o perdão leva
tempo, mas estou chegando lá.
— Sinto muito. — Minha carranca se aprofunda ainda mais, quero
dizer isso o tempo todo. Passei de nunca proferir uma palavra de desculpas
para constantemente querer me desculpar pela forma como a tratei.
Não percebo o quanto reprimi minha culpa, pensei que, uma vez que
saísse, desapareceria com a mesma rapidez, mas não desapareceu. Isso me
consome, envolve meu próprio ser.
Vou esperar pelo perdão dela para sempre se for preciso.
— Eu sei — diz ela. — Então pare de tentar cortejar meu perdão.
Eu arqueio minha sobrancelha.
— O cortejo continua, afinal sou um Kingston.
— Ah, é? — Ela cantarola, se aproximando e me puxando pela
cintura. Formigamento correm por todo o meu corpo e eu aproveito a
oportunidade para envolver meus braços em volta do pescoço.
— Sim, você está prestes a receber a experiência completa de
namorar Juliette.
— Isso vem com traição envolvida ou…
— Muito engraçado. — Reviro os olhos com sua provocação e a
risada que sai de sua boca. — Na verdade, eu terminei com ele hoje.
Eu conto tudo a ela; como ele estava chateado e como eu era cruel,
mas ela apenas escuta com um sorriso satisfeito no rosto. Ela parece
deliciosamente possessiva e eu me deleito com isso.
— Ele não vai contar a ninguém, vai? — Ela pergunta depois que seu
sorriso desaparece e ela parece preocupada.
— Não.
— Bom — diz ela e, de repente, sua sobrancelha direita se arqueia. —
A propósito, o que você fez com Alex? Ele me disse que foi expulso.
— Eu? Nada. — Finjo inocência e reprimo a fúria que sinto quando
ela menciona o nome dele. — Apenas deixei a administração saber sobre
seu pequeno problema com drogas.
Com isso, quero dizer que paguei alguém do time de Lacrosse para
plantar algumas drogas no armário de Alex. Claramente, ele não é um bom
capitão, porque só paguei cerca de trezentos para que seu companheiro de
equipe o atacasse. Foi extremo? Sim. Mas não me arrependo, nem por um
segundo. Só estou chateada por não estar lá para testemunhar pessoalmente.
— Ele não tem problema com drogas.
— Ele não tem? Ah, bem — eu dou de ombros. — Ele tem sorte que
isso foi tudo o que aconteceu com ele.
Ela revira os olhos para mim, mas posso dizer que, no fundo, ela está
lisonjeada, talvez até satisfeita. Ela tem sorte de eu não ter feito nada com
aquela garota que estava lá, achei que seria exagero.
— Traga ele de volta para a escola.
— O quê? Por quê? — Pareço uma criança petulante.
Ela levanta as sobrancelhas para mim.
— Porque é errado…
— Não finja que não gostou... nenhum pouco? — Eu a cortei,
sorrindo.
Ela cora um pouco antes de se recompor.
— Claramente você me influenciou demais. Traga ele de volta,
Juliette.
Eu gemo.
— Tudo bem, vou tentar.
Ela sorri com isso, me dando um beijo nos lábios como recompensa,
o que me faz querer reintegrar cada pessoa que já expulsei de Richmond.
— Você está pronta para o nosso primeiro encontro? — Eu mudo de
assunto.
— Sim. O que vamos fazer?
— Venha comigo — eu respondo, puxando sua mão e levando-a para
dentro da minha sala de arte, minha roda de oleiro no meio dela.
— Você tem uma tara de professor? É por isso que você continua me
ensinando coisas? — Ela mexe as sobrancelhas para mim.
— Por quê? Quer ser minha boa aluna? — Eu a provoco e beijo seus
lábios antes de caminhar até meus armários. Pego dois aventais e entrego
um a ela.
— Eu não me oporia a essa ideia — ela diz, tentando amarrar seu
próprio avental, mas eu o arranco de sua mão e amarro para ela.
— Eu só quero que você seja capaz de fazer coisas que não era capaz
de fazer antes — murmuro contra seu pescoço enquanto amarro o avental
em volta dela.
Ela se vira e me encara como se eu tivesse pendurado a lua.
— Fofa — ela murmura.
Só para ela.
Eu suspiro profundamente.
— Eu sei que este não é um primeiro encontro ideal... ficar presa em
minha casa porque estou com muito medo de que as pessoas nos vejam. —
Minha voz falha um pouco quando termino de falar, mas não consigo evitar.
Ela é assumida – e orgulhosa disso também enquanto eu estou
apavorada. Eu posso ter sido honesta comigo mesma, mas o pensamento de
ser honesta com qualquer outra pessoa é horrível. Eu nem me importo com
ninguém na escola, mas a notícia se espalha rápido e não quero que minha
mãe descubra.
Ela segura meu rosto.
— Sempre que passo tempo com você é perfeito, seja a portas
fechadas ou não. — A sinceridade nas palavras faz meu coração bater
violentamente e eu a puxo para outro beijo.
Dói um pouco beijá-la sabendo que não posso dar a ela o que ela
realmente merece. Então, peço desculpas pela minha covardia através do
beijo, esperando que ela aceite.
— O que você quer fazer? — Eu sussurro, uma vez que deixo seus
lábios.
— Uma tigela? — Ela pergunta em vez de dizer, parecendo
desorientada por um segundo.
Meu eu arrogante sorri com isso.
— Boa escolha.
Ela se senta enquanto começo a preparar todos os materiais e a usar
um barbante para cortar um pouco de argila para ela. Ela apenas me observa
com um olhar que queima minha alma.
— Ok, coloque seus dedos aí — eu a instruo, observando seus olhos
se arregalarem de admiração.
Observá-la tentar moldar a argila com as mãos é fascinante. Eu
adorava fazer isso com meu pai. No entanto, eu não pensei que faria isso de
novo até que ela me disse que eu deveria.
Agora estou aqui, fazendo de novo pela primeira vez em muito
tempo, com ela. Não importa que ela seja péssima nisso, que continue
falhando em fazer alguma coisa, o que importa é que há um brilho em seus
olhos, uma curiosidade infantil que me deixa dez vezes mais leve.
Puxo uma cadeira e me sento atrás dela.
— Deixe-me ajudar — eu sussurro em seu ouvido, minhas mãos se
movendo sobre as dela como se fosse uma cena de filme clichê. — A
propósito, eu recuperei minha nota por aquele desenho que fiz de você.
Na verdade, recuperei a nota há uma semana, mas estava muito
ocupada tendo uma crise sobre minha sexualidade para contar a ela.
Guardei o desenho no meu guarda-roupa, escondendo com segurança.
— O que você conseguiu? — Ela pergunta, tremendo e eu sorrio em
seu ouvido.
— Dez, obviamente. — Eu abaixo meu tom, zombando das palavras
que ela usou uma vez comigo.
— Como você vai comemorar? — Ela imita de volta e eu rio
levemente.
— Estou comemorando agora. — Dou um leve beijo em seu pescoço,
inalando seu perfume.
Comemoro pelos próximos vinte minutos com ela, nossas mãos
moldando a argila juntas. O único problema é que é horrível. É a massa de
argila mais estranha que já vi e está completamente desfigurada. Acho que
finalmente encontrei algo em que Adaline não é boa.
— Como nós estragamos isso? — Eu pergunto, incapaz de abafar
minha risada. Agora mudei minha cadeira para perto dela, para poder
avaliar adequadamente os danos causados.
— Eu culpo você. — Ela aponta seu dedo coberto de argila para mim
de forma provocante. — Se você tivesse parado de me provocar, teria
acabado bem.
— Você amou minha provocação — eu retruco.
— Não amei.
— Amou sim.
— N…
Sua frase é interrompida quando me inclino para a frente e passo um
pouco de argila em sua bochecha. Sua boca se abre em choque e um brilho
diabólico logo aparece.
— Não, espere…
Ela não me dá tempo para terminar meu apelo antes de me atacar de
volta, esfregando um punhado de argila no meu peito.
— Ah, é assim então. — Digo antes de atacá-la e ela traz a mesma
energia.
— Qual é, sua merdinha!
Suas mãos se movem em direção ao meu cabelo e a sensação de
argila fria só me estimula ainda mais.
Nós nos atacamos vorazmente, marcando cada centímetro do corpo
da outra com argila molhada e caindo sobre as cadeiras da sala de arte
enquanto nos escondemos uma da outra em todos os cantos. Somos como
crianças e toda vez que nos encontramos; a argila vai absolutamente para
todos os lugares.
Eu a prendo contra o chão, mas ela consegue nos rolar – esfregando
sua bochecha cheia de argila na minha e eu me contorço para fora de seu
alcance, prendendo-a contra o chão.
O silêncio que nos envolve dura pouco porque, depois de olharmos
para os rostos cobertos de barro uma da outra, caímos na gargalhada. Uma
risada profunda e hedionda ressoa da boca da minha barriga. Eu mal
consigo respirar e ela também não, porque ela está ficando vermelha. Eu
nunca ri tanto em toda a minha vida. Eu sinto que meus intestinos vão
rasgar.
— Quer tomar um banho? — Ela sugere provocativamente debaixo
de mim, sua risada diminuindo. Eu respondo puxando sua boca na minha.
Mesmo quando ela tem gosto de barro, ela tem um gosto bom.
Nós nos despimos até o meu banheiro, rindo entre os beijos enquanto
o chuveiro lava o melhor encontro da minha vida. Suas mãos percorrem
meu corpo e as minhas fazem o mesmo, claramente este encontro está longe
de terminar.

***

— Então, você gostou do encontro? — Eu pergunto baixinho, nós


duas estamos na minha cama deitadas em uma felicidade pós-orgásmica,
completamente nuas.
— Mais do que tudo — ela responde, me dando um sorriso
preguiçoso.
Viro-me de lado, de frente para ela e ela me espelha.
— Então, eu te convenci de que você deveria namorar comigo?
Estou indo rápido, eu sei que estou. Sinto que estou agindo como Kai
agiu com Victoria agora, mas não posso evitar. Eu finalmente entendo o que
se passa em sua cabeça quando ele vê Victoria; eu sei o que quero e não
quero perder mais tempo.
Seu sorriso cai.
— Eu não sou boa em manter namoradas — ela diz, o olhar nervoso
em seus olhos me deixando em um frenesi.
— Isso é porque ainda não me assumi? Porque ainda não posso lhe
dar essa experiência real? — De repente, sinto-me incrivelmente
autoconsciente.
Eu não a culparia. Ela sabe que ainda não posso me assumir, não
posso segurar sua mão em público ou levá-la para sair em encontros onde
qualquer um possa nos ver. Eu nem poderia trazê-la para casa se minha mãe
estiver aqui.
— Deus, não! — Ela diz instantaneamente, como se estivesse
chocada com minhas palavras. Suas mãos alcançam meu rosto. — Estou
dizendo que seria uma péssima namorada, Juliette, porque não me permito
esses sentimentos. Não posso ser como meu pai.
O pai dela. Claro. Como pude ser tão estúpida? Cinco anos de trauma
não vão apenas se dissipar em alguns meses com tudo o que temos feito. Eu
sei disso melhor do que ninguém, mas ainda não está me atrapalhando.
— Mas você não é incapaz deles. Isso é bom o suficiente para mim —
eu digo suavemente.
— Eu estudo demais! — Ela exclama aleatoriamente.
— Vou lembrá-la de fazer pausas.
— Eu sou péssima em falar sobre as coisas.
— Estamos conversando agora.
— Eu sou muito arrogante.
— É justificado.
— Sou muito sarcástica.
— É fofo.
Suas covinhas aparecem.
— Você costumava odiar essas coisas sobre mim.
— Bem, agora eu as amo. — Eu dou de ombros me aproximando
dela. — Não quero mais que sejamos apenas dois corpos, quero que
sejamos duas mentes também, quero que você me diga.
— Diga o quê? — ela sussurra de volta, sem fôlego.
Eu coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha dela. É agora ou
nunca, Juliette. Você pode fazer isso.
— Me diga. Me conte tudo. Me conte as partes mais chatas do seu dia
que nem te interessam, me conte como você acorda de manhã e como
dorme à noite. Me diga o que te assusta e quais são seus desejos mais
profundos. Eu quero tudo, toda a sua mente e todos os seus pensamentos, dê
tudo para mim e somente para mim... porque eu não acho que posso mais
respirar sem isso.
Escuro. Torcido. Cavando em cada parte de mim perigosamente e
gentilmente ao mesmo tempo. Ela causa estragos no meu corpo e na minha
mente o tempo todo — é isso que Adaline faz comigo.
Ela me assusta com como ela me faz sentir, mas... é tão bom. Sempre
me senti bem, mesmo quando eu a odiava e mesmo agora quando a quero.
Ela exala alto, como se não pudesse acreditar no que estou dizendo.
— O que você está fazendo comigo? — Ela põe a mão no peito nu
como se estivesse acalmando a respiração.
— Isso é um sim? — Eu pergunto, provocando.
— Porra, sim. — Ela me puxa para sua boca, beijando-me
profundamente e eu tenho que me conter para não transar com ela de novo,
estou muito exausta. — Espere — diz ela de repente, interrompendo nosso
beijo —, espero que você não pense que vou ficar toda apaixonada agora.
— Seu tom é provocador e sério ao mesmo tempo. Até a deflexão dela é
fofa.
— Eu nem sonharia com isso — eu retruco, incapaz de esconder o
sorriso largo que surge em meu rosto.
Ela dá de ombros.
— Mas acho que não faria mal gostar... de andar de mãos dadas. —
Sua falsa indiferença é incrivelmente adorável.
Eu sorrio e movo minha mão para a dela.
— Isso parece bom — eu digo, enquanto entrelaço seus dedos com os
meus.
A primeira vez que demos as mãos fora do sexo – é algo proposital.
Acabamos de fazer sexo, mas ficar de mãos dadas com ela parece mais
íntimo para mim. Eu olho em seus olhos e posso sentir a paz, mas também
posso ver a familiar acidez subindo – eu também sinto, é natural.
Alguns segundos se passam, antes de eu rir baixinho e dizer:
— Você quer muito me chamar de vadia agora, não é?
Posso praticamente sentir a tensão se dissipando em seus ombros.
— Muito mesmo — ela admite em uma risadinha silenciosa e eu não
posso deixar de rir em resposta, puxando-a para o meu peito.
Meu peito está mais leve do que nunca e eu durmo como um bebê
absoluto durante a noite. Mesmo enquanto Adaline e eu brigamos pelas
cobertas no meio da noite, temo ter provado a paz e nunca mais querer
voltar.
Capítulo TRINTA E SETE
Adaline
— Outro encontro? Estou começando a pensar que você nos
substituiu por Juliette — Aryan diz, balançando a cabeça em falso
desapontamento. É engraçado, considerando que em todos os encontros ele
foi o único a me implorar por detalhes depois.
— E as rosas no armário dela? — Victoria zomba suspirando. —
Quem teria pensado que você era tão sentimental?
— São gardênias vermelhas — corrijo e instantaneamente me sinto
envergonhada porque elas me olham como se eu fosse louca. Eu apenas me
ocupo em tirar meus fones de ouvido do meu armário e enfiá-los na minha
bolsa.
Ainda não acredito que ela se esforçou tanto para me dar esses fones
de ouvido. A parte assustadora é que acho que estou começando a preferir
eles do que meus antigos.
— Quem é você e o que fez com Adaline Emery? — Victoria balança
a cabeça abafando uma risada.
— Não finjam que vocês não estão secretamente em êxtase por eu
finalmente estar namorando alguém. — Eles não refutam minha afirmação,
mas mesmo assim eu coro.
Antes que eles possam responder, meu telefone vibra, eu o pego e é
Juliette. Eu olho para cima do meu telefone e ela está parada em seu
armário, seus olhos já em mim enquanto ela brinca com as pétalas de seu
buquê de gardênia.
Cria de Satanás:
Você sabe o que simbolizam as gardênias vermelhas?
Não.
Amor secreto.
Eu fico ainda mais vermelha – se é que isso é possível – e tenho que
desviar o olhar do meu telefone. Eu sabia que havia uma razão pela qual
decidi ir para as gardênias vermelhas hoje em vez das normais… eu apenas
tive um pressentimento.
Amor secreto. Isso nos encapsula perfeitamente, especialmente desde
nosso primeiro encontro, algumas semanas atrás. Tem acontecido sem parar
desde então.
Embora não nos falemos na escola, ainda nos esgueiramos; beijo no
banheiro, na casa dela e na minha, até o restaurante da sra. Kim virou um
porto seguro para gente, embora ela ainda não saiba que estou namorando a
Juliette, porque ela ainda não saiu do armário e eu não quero colocá-la na
mesma situação que eu fiz quando contei aos meus amigos. Esgueirar-se é
bastante fácil de qualquer maneira e emocionante também. Eu nunca soube
que namorar poderia ser tão… reconfortante.
Até meus amigos já avisaram Juliette – já que é o nascimento deles
neste momento. Eu não estava lá para a conversa, mas Juliette me disse que
havia muitas ameaças envolvidas.
Mando uma mensagem para Juliette com o endereço exato do nosso
encontro e assim que o sinal toca, me despeço dos meus amigos e saio da
escola. Assim que subo na minha moto, praticamente acelero todo o
caminho até o museu de arte local e estaciono no local mais aleatório.
Claro, Juliette já está aqui, encostada no carro e olhando para mim.
— Oi — eu digo uma vez que eu ando até ela, certificando-me de que
ninguém mais está por perto.
— Oi — ela responde, aparentemente fazendo a mesma coisa.
Eu rapidamente enfio as mãos nos bolsos e tiro duas máscaras,
entregando uma a ela.
— Use isso antes de entrarmos, para não sermos reconhecidos.
Ela pega a máscara da minha mão e a coloca no rosto. Eu disse a ela
para se trocar antes que ela viesse também e usar as roupas mais pobres que
ela possuía, que eu acho que consistem em um moletom branco Ralph
Lauren e jeans azul. Às vezes, esqueço que ela é uma cadela mimada.
Minha cadela mimada. Eu também me troquei no carro antes de sair,
vestindo um simples par de jeans e regata branca – obviamente com minha
jaqueta de couro preta.
Ela parece triste quando a máscara é colocada.
— Eu sinto m…
— Se você pedir desculpas, eu vou te matar — murmuro sob minha
própria máscara.
Ela continua fazendo isso. Nas últimas semanas, a maioria dos nossos
encontros foi no restaurante da sra. Kim ou em algum lugar recluso e ela
está sempre se desculpando por isso. Continuo garantindo a ela que não me
importo com onde namoramos, é o suficiente para mim estar com ela. Deus,
pareço ridícula.
Ela balança a cabeça e seus olhos se enrugam. Eu aperto minha mão
com a dela e entramos no museu. Eu entrego ao homem na entrada dois
ingressos. Tive que obrigar Juliette a não pagar esse encontro, ela quase
perdeu a calma porque aparentemente ela mesma é uma máquina de venda
automática e não gosta de ser tratada assim. Bem, ruim para ela.
Quando entramos pelas portas duplas, instantaneamente minhas mãos
começam a suar… espero que ela não sinta. Planejei esse encontro
minuciosamente, então espero que ela goste.
Seus olhos se arregalam em choque enquanto ela olha em volta.
— Espere, isso é uma exposição para…
— Artemísia Gentileschi. — Eu termino para ela, provavelmente
massacrando a pronúncia, mas quem se importa. Ela está em êxtase. Então
eu continuo. — Tenho certeza que você já esteve em uma antes, mas…
— Eu não estive — ela diz e então se vira para mim, como se eu
tivesse pendurado a lua para ela. — Você é incrível — diz ela, pulando em
meus braços e estou surpresa com o quão confortável ela está em público,
mas para ser justa, esta galeria está quase vazia. Eu a abraço de volta,
pegando-a levemente e ela ri na curva do meu pescoço.
— Eu sei. — Eu sorrio arrogantemente quando ela me solta. Ela
apenas revira os olhos e antes que eu perceba, está puxando minha mão e
me arrastando para cada obra de arte.
— Isso é lindo — ela diz fascinada, com os olhos firmemente
plantados em uma obra de arte. É intitulado: Jael e Sísera. Mostra uma
mulher cravando uma estaca no crânio de um homem. Eu não sabia o quão
horrível a arte poderia realmente ser. Eu gosto disso.
— Sim, é — eu ecoo seus sentimentos, meus olhos firmemente
plantados nela.
— O homem atacado é Sísera. Ele era um senhor da guerra para o
Jabin, o rei que estava oprimindo. — Ela para de divagar abruptamente,
olhando para mim. — Desculpe, estou te entediando?
— Claro que não — eu digo instantaneamente. — Continue, eu gosto
de ouvir você falar assim.
Ela cora e continua. Ela me conta cada pedaço da história por trás
desta pintura e eu ouço atentamente enquanto ela faz comentários
sarcásticos sobre os personagens nas fotos e eu amo que sua natureza cruel
não seja reservada apenas para pessoas da vida real, mas também fictícia.
Nós até discutimos sobre o impacto da arte na sociedade moderna e
logo descubro que não tenho a menor ideia sobre arte, mas Juliette tem –
uma quantidade alarmante.
— Faz muito tempo que não vou a um museu de arte — ela admite,
com a mão bem apertada na minha enquanto caminhamos em volta das
pinturas.
— Algum motivo em particular?
— Depois que percebi que não ia me tornar uma artista, meio que
parei de ir… — ela encolhe os ombros com tristeza — porque toda vez que
via uma galeria ou um museu, não conseguia deixar de fantasiar sobre como
queria ser assim também.
— Por que você não pode? — Eu franzo minhas sobrancelhas.
— Minha mãe me mataria.
Eu dou de ombros.
— É a sua vida.
— Você não entenderia. — Ela balança a cabeça, seu tom mais factual
do que irritado.
— Porque eu não tenho pais?
De repente, seu rosto fica vermelho. Ela aperta minhas mãos com
mais força.
— Eu não quis dizer isso assim…
— Eu sei, não estou ofendida. — Eu balanço minha cabeça, aliviando
suas tensões. — Entendo. Nunca tive que me preocupar em desapontar
alguém.
Piedade lava em seus olhos, mas acho que é injustificado. Eu vivi
para mim; escolhi o que quero fazer porque nunca tive que viver de acordo
com os padrões de outras pessoas.
— Eu só estou com medo — ela admite com uma respiração pesada.
Eu esfrego meu polegar em sua mão.
— Coisas que te assustam geralmente são as coisas mais importantes
para se enxergar.
Ela me assusta, o tempo todo, todos os dias.
Você é muito perspicaz às vezes, sabia disso?
— Eu sei. — Eu fico na ponta dos pés e dou um beijo rápido em sua
testa.
Continuamos a percorrer as pinturas e chegamos à secção de compra
da exposição. Ela fica absolutamente louca, qualquer coisa que ela pode, ela
tenta comprar. É como se eu tivesse que impedi-la fisicamente de comprar
todas as obras de arte desta seção. Eu não impeço, porque é o dinheiro dela.
A única vez que tento impedi-la é quando ela tenta me comprar a pintura
intitulada Susanna e os mais velhos, só porque eu disse que a pintura era
linda.
— Eu disse que é bonito, Juliette, não que eu quero que você compre
para mim! — Eu a castigo.
— Parece a mesma coisa para mim. — Ela encolhe os ombros com
um olhar arrogante em seu rosto.
— São quatro mil!!
— Ok, então é um presente barato? E daí?
— Você está sendo propositalmente obtusa? — Eu atiro nela.
— Você está sendo difícil de propósito? — Ela retruca, com as mãos
nos quadris.
— Não posso aceitar. — Eu balanço minha cabeça em desafio.
— É um presente.
— Sou eu levando você para um encontro, você não deveria estar me
comprando presentes.
— Sim, e você tem sorte de eu deixar você pagar os ingressos, então
deixe-me comprar este presente para você. — É mais um comando do que
qualquer coisa.
— Isso não é um presente; eu poderia comprar um carro com esse
dinheiro! — Eu digo a ela indecorosamente.
— Que carros você possui que custa tão pouco?
— Eu não posso aceitar isso, Juliette. Você sabe que eu não gosto de
coisas assim.
— O quê? Eu te presenteando com algo? Bem, que pena — ela diz
em voz alta, mas antes que eu possa responder, ela continua. — Vou
comprar o que eu quiser, vou comprar essa pintura, um carro, um avião,
uma casa, vou até comprar uma ilha se eu quiser e você vai sentar lá e pegar
aceitar.
Minha respiração de repente fica mais pesada com seu olhar quente.
— Por que você não me faz aceitar?
Deus, eu costumava odiar como ela era mimada, e não era nem por
causa do dinheiro, mas como ela o usava para rebaixar os outros, em vez de
usá-lo para coisas melhores. Mas agora? Por mais que eu queira lutar, isso
me faz sentir tão desejada, eu não posso. Quer dizer, o dinheiro é dela, ela
pode fazer o que quiser com ele, até jogar em mim. Especialmente quando
ela olha para mim assim e me diz o que fazer. Talvez eu sempre tenha
gostado um pouco.
Meu tom malcriado parece incendiá-la porque ela paga pela pintura às
pressas – praticamente forçando um funcionário a colocá-la em seu carro
enquanto ela me arrasta para o banheiro mais próximo.
Nossos lábios se fundem em um, ardentemente. Ela me arrasta para
um dos cubículos e me prende contra a porta. Sua mão desabotoa minha
calça jeans e ela enfia a mão na minha calcinha e não perde tempo me
penetrando com força.
— Aceite, amor — ela grunhe em meu ouvido.
— Porra — eu gemo em resposta, sentindo seus dedos batendo em
cada ponto.
— Silêncio, você não vai querer que ninguém te ouça. — Ela coloca a
mão sobre minha boca e ri sombriamente. — A menos que você goste
disso…
Eu mordo a mão dela e isso a faz entrar ainda mais fundo em mim.
— Aposto que sim, aposto que adoraria que as pessoas ouvissem você
sendo fodida como uma putinha aqui…
Eu gemo mais alto contra sua boca devido a suas palavras sujas e
ritmo selvagem e aproveito para desabotoar sua calça jeans e enfiar meus
próprios dedos dentro dela. Ela está incrivelmente molhada. Eu deslizo tão
facilmente em seu aperto e isso só faz meu próprio clitóris inchar ainda
mais.
— Ah, Deus — ela geme, sua testa pressionada contra a minha
enquanto nós duas empurramos uma na outra.
Estou sempre tão perto quando Juliette está dentro de mim que é
quase embaraçoso, mas você pode me culpar? Ela é uma deusa entre os
humanos. Eu poderia gozar só de olhar para ela às vezes, como agora, com
sua mão apertada em volta da minha boca. Ela parece tão presunçosa, mas
tão quebrável ao mesmo tempo que coloca meus dedos em sua boceta e
balança contra minha mão.
A maneira como ela geme sem fôlego contra mim me deixa louca.
— Amor, mais forte — ela choraminga e implora ao mesmo tempo e,
como sempre, eu escuto.
— Você é tão boa nisso — eu elogio, alimentando sua perversão de
elogio e um traço de luz entra em seus olhos e em suas estocadas também.
O suor escorre pelas minhas costas quanto mais forte ela me toca e
sinto vontade de estourar. Ela é tão boa nisso, tão incrivelmente boa.
— Addie — ela geme ainda mais alto quando eu dirijo meu dedo em
seu ponto G e antes que eu perceba, estou tremendo contra ela também.
É diferente quando você goza com alguém. Quando as vibrações
ondulam através de vocês dois – é tão animalesco e vulnerável por natureza.
Não é como no começo, não tenho medo de me perder no prazer, apenas
deixo chegar em mim.
Então acontece. É lento, quase como se o tempo tivesse parado
completamente.
— Eu te amo — ela sussurra sem fôlego contra mim.
O choque é suficiente para interromper meu orgasmo completamente.
Arrepios percorrem minha espinha até meu coração, que também congelou
no lugar.
Ela se retrai de mim e eu não digo uma palavra. Nem mesmo
enquanto nos limpamos. Em vez disso, dou um beijo em seus lábios,
fingindo que ela não disse nada. Ela também não toca no assunto, nem
quando saímos do museu nem quando saímos separadamente. Eu não tenho
certeza de como eu dirijo de volta com o jeito que meu coração estava
batendo, mas eu dirijo.
***
Ainda sinto meu coração disparado quando entro em casa. Ele se
dissipa com força quando entro na sala de jantar e Adam está sentado na
mesa.
— Oi, perdedora — ele cumprimenta quando seus olhos encontram os
meus.
Vou até a mesa de jantar e me sento em frente a ele. O cheiro de
comida ataca instantaneamente meus sentidos. Tem cheiro de alecrim e
pimenta.
— O que tem para o jantar?
Ele arqueia uma sobrancelha.
— Tente de novo.
Eu coloco meu sorriso mais agradável.
— Por favor, Rei Adam, o que há para o jantar?
Ele ri um pouco baixinho.
— Frango assado. — Minhas papilas gustativas se animam com o
pensamento, mas antes que eu possa me levantar, ele fala novamente. —
Você já está com seu discurso pronto? — Ele me pergunta.
— Sim — eu digo. — Tem certeza de que quer que eu seja sua
madrinha? — Fiquei meio chocada quando ele me perguntou alguns meses
atrás, pensei que ele perguntaria a um de seus amigos. Quero dizer, o que eu
sei sobre ser uma madrinha?
— Obviamente — diz ele. — Você é minha pessoa favorita.
— Isso é apenas sentimental.
Ele revira os olhos.
— Então, você não quer ver os convites? — Ele mexe as
sobrancelhas.
— Eles estão aqui? Mostra!
Ele enfiou a mão no bolso do paletó tirando dois envelopes pretos.
Abro um deles e o convite é lindo, para dizer o mínimo – uma inscrição em
itálico com aro dourado. Meu coração explode ao ver o nome de Adam
emparelhado com o de Olivia.
— Legal, certo?
— Sim! — Eu exclamo, incapaz de esconder o sorriso iluminando
minhas feições. — Espere, por que você me deu dois?
— Um para você — ele diz e então empurra o segundo envelope para
mim — e um para Juliette.
— O quê? — Eu pronuncio sem fôlego e tenho certeza que a cor foi
drenada do meu rosto neste momento.
Ele dá de ombros.
— Dar a você um acompanhante deixaria as pessoas desconfiadas e
presumo que ela não queira isso.
— O quê? Eu sou a tutora dela, porque eu a convidaria? — Eu
balbucio como se ele estivesse louco.
— Você deve pensar que eu sou idiota. — Ele balança a cabeça,
diversão dançando em seus olhos.
— Adam–
— Às vezes, chego cedo em casa. Não quero que a casa fique
fedendo, então espero do lado de fora e fumo um pouco de... alguma coisa.
— Eu arqueio minha sobrancelha, mas ele continua. — Eu sempre vejo o
mesmo Maserati sair quase todas as noites com uma certa loira. Não é
preciso ser um gênio para descobrir isso, Addie.
Eu o encaro sem fôlego.
— Você não pode contar a ninguém.
— Para quem eu contaria? — Ele pergunta, franzindo as
sobrancelhas. — Por que você mesma não me contou?
— Porque você a odeia — eu me defendo.
— Tenho coisas melhores para fazer do que odiar uma adolescente.
— Ele zomba como se eu estivesse sendo ridículo. — Claramente, ela deve
ser diferente em comparação com a mãe para você gostar dela assim. — Há
um desgosto em suas palavras, mas uma espécie de compreensão também.
— Como assim?
— Você está diferente ultimamente... você está mais leve. Você não
está mais indo a mil por hora. Isso é obra dela?
— Sim. — Ela me faz feliz, mais feliz do que eu jamais pensei que
fosse capaz de ser.
— Então isso é tudo que importa — ele diz antes de bater nos joelhos
e se levantar. — Eu fiz o seu prato. Está no microondas. — Ele dá um
tapinha no meu ombro antes de fazer um movimento para ir embora. —
Addie — ele chama e eu me viro. — Essa é a garota que você disse que
odiava, mesmo que você a tenha beijado?
Concordo com a cabeça, me sentindo um pouco envergonhada por ter
negado da outra vez que ele me perguntou.
— Ela também me odeia.
Ele fica parado por um momento, como se estivesse recordando uma
memória pensativamente.
— Ela faz isso quando sai pela nossa porta… ela fica do lado de fora
por alguns minutos e espera que a luz do seu quarto se apague antes de sair.
— Ele sorri suavemente e dá de ombros. — Isso não soa como alguém que
te odeia.
Ele se afasta lentamente depois disso, rindo baixo como um
garotinho.
Talvez Juliette não me odeie mais ou talvez ainda me odeie. Isso não
importa porque ela me ama.
Juliette Kingston me ama e não consigo evitar o pavor que toma conta
do meu corpo com o pensamento. Fingi não ouvi, não foi? Posso continuar
fingindo? Se eu fizer isso, é quase como se ela não tivesse dito nada. Quase
como se eu não tivesse que responder ou simplesmente ignorar.
Capítulo TRINTA E OITO
Juliette
Eu não digo nada para Adaline sobre como ela não disse “eu te
amo” de volta para mim ou como ela fingiu que eu não disse isso. Não
menciono isso nos próximos dias ou semanas após nosso encontro e, de
alguma forma, já se passaram meses e é como se eu nunca tivesse dito isso.
Não me arrependo de dizer isso, eu quis dizer cada palavra. A única
coisa que lamento é não ter dito novamente. Eu não pronunciei a palavra
“amor “ novamente para ela.
Na maioria das vezes, tudo está impecável como sempre – os mesmos
encontros, o mesmo sexo perfeito –, mas eu estaria mentindo se dissesse
que o sentimento de pavor não está corroendo meu peito neste último mês.
Nós não falamos sobre o que eu disse e mesmo se eu trouxesse isso à
tona agora, ela provavelmente estaria muito ocupada. Eu só a vi algumas
vezes este mês porque ela esteve ocupada fazendo os retoques finais nos
preparativos para o casamento de seu irmão.
— Ei, você está bem? — Kai estala os dedos na minha cara,
chamando minha atenção.
Acabamos de fazer nosso exame final de matemática e meu cérebro
está completamente frito. A maioria dos meus exames já terminou, mas
ainda me resta biologia. Adaline já fez o exame de biologia cedo e os outros
além de inglês.
— Sim, apenas cansada. — Eu suspiro, esfregando minha cabeça. —
O que você estava dizendo?
— Eu estava perguntando o nome do seu alfaiate. Você conhece
aquele que faz os smokings? — Ele bagunça o cabelo.
— Victor? Sim, posso te dar o número dele. Por quê?
— Para o casamento de Adam na semana que vem — diz ele,
fechando seu armário.
— Você foi convidado para isso? — Eu pergunto, chocada.
— Sim, eu sou o acompanhante de Victoria. — Ele franze as
sobrancelhas. — Adaline não te contou?
Ela não me contou muito sobre o casamento. Até perguntei qual
vestido ela usaria, mas ela não respondeu. Eu apenas presumi que não havia
muitas notícias relacionadas a isso.
Eu balanço minha cabeça.
— Na verdade, não.
— Bem, talvez seja porque ela sabe que você não quer se assumir
ainda. Ela provavelmente está apenas sendo cautelosa — ele diz
gentilmente, colocando a mão no meu ombro.
Ou talvez Adam não quisesse me convidar, sei que ele não é meu
maior fã, então faz sentido.
Eu concordo.
— Vou perguntar a ela sobre isso mais tarde, nem a vi esta manhã.
— Ela não veio para a escola — Kai diz, confuso como se eu já
devesse saber disso.
— Ela não veio?
— Não, Vic disse que ela está doente.
— Doente?!
***

— Você tomou algum remédio? Desde quando você está doente?


Ontem à noite você foi para a cama cedo. Você estava doente então? Você
foi ao hospital?
— Juliette… — ela me interrompe no meio da divagação com um
sorriso divertido no rosto. — Eu te disse que é só um resfriado. Estou bem.
Assim que Kai me disse que ela estava doente, fui a cada uma das
aulas dela e peguei anotações, junto com um pouco de canja de galinha,
uma cesta com seus lanches favoritos e alguns remédios.
Bem? Bem? Sua voz soa nasalmente obstruída e há uma caixa cheia
de lenços perto dela. Na minha opinião, isso não é pior do que estar em seu
leito de morte!
— Não está bem! — Eu digo a ela. — Responda minhas perguntas,
por favor.
— Tomei um remédio algumas horas atrás…
— Mais de quatro?
— Sim?
— Bem, então você precisa tomar um pouco mais.
— Você fica fofa quando está preocupada — ela sorri suavemente,
fungando —, mas vamos focar em coisas mais importantes, eu tenho que te
ensinar…
— Você não vai me ensinar, Addie, você está doente! — Essa garota
está falando sério? Ela está enrolada sob as cobertas da cama, mas quer
falar sobre aulas particulares?
— Está tudo bem. Você tem seu exame final de biologia em breve.
Precisamos revisar. — Ela tenta se levantar, mas eu a paro imediatamente.
— Vou passar e, se não, tenho certeza de que o Sr. Khalid ainda
enviará sua carta. — Eu tento aliviar suas tensões, colocando-a com
segurança em sua cama. Obviamente, é por isso que ela está tão preocupada
que acha que sua carta não será enviada.
— Sim, bem, não quero correr nenhum risco, com a carta. — Ela
tosse, evitando contato visual comigo.
— Eu disse não. Você está doente — repito, um pouco mais
severamente desta vez. Eu vasculho o cesto, o que ela me disse que não era
necessário, e pesco as anotações que compilei de suas aulas. — Aqui, eu sei
que você ainda quer estudar, então peguei anotações da aula de inglês hoje.
— Eu os entrego a ela.
— Sério? — ela pergunta espantada, ela pega as anotações e olha para
elas e de volta para mim rapidamente.
— Eu posso fazer isso por você, você sabe disso, certo? Se você
estiver doente, posso trazer anotações da aula — resmungo, um pouco
irritada por ela estar tão chocada.
Seus olhos enrugam, suas covinhas mais profundas do que eu já vi
antes.
— Deus, eu te adoro.
Não é amor, porém, você não me ama.
Eu sorrio de volta para ela, desconsiderando a dor em meu peito.
— Esqueci de pegar um spray nasal. Você tem algum?
— Deve haver algum na minha gaveta — ela diz através de suas
fungadas enquanto se acomoda em sua cama.
Eu tomo nota da pintura que comprei pendurada logo acima de sua
cama enquanto abro sua gaveta. Eu não posso ajudar as borboletas que
enxameiam meu estômago com a visão. Abro a gaveta de cabeceira,
vasculhando os incessantes acessórios de biologia e pacotes de
preservativos — que vou ter que me lembrar de jogar no lixo porque ela
não vai precisar deles. Por fim, encontro o spray nasal, mas por baixo dele
há algo mais interessante.
— Espere, o que é isso? — Eu questiono, pegando as duas cartas
douradas.
Seu olhar cai para as minhas mãos.
— Convites do casamento de Adam. — Ela boceja alto. — São para a
próxima sexta-feira.
— Por que você tem dois?
De repente, seu rosto se transforma em uma mistura de ansiedade e
rubor.
— Sim, Adam meio que convidou você, mas juro que não contei nada
a ele. — A rapidez com que ela acrescenta a segunda parte da frase me faz
sentir culpado.
— Por que você não me contou? — Eu pergunto, confusa.
— Eu sabia que você não viria.
Meu peito dói com suas palavras resolutas.
— Por que é que eu não iria? — Eu pergunto, enquanto me sento em
sua cama.
— É um casamento pequeno, Juliette, mas as pessoas falam e saberão
que você esteve lá — ela explica gentilmente, percebendo claramente como
estou ficando irritada.
— Então, Adam estava bem comigo indo? — Não quero parecer tão
chocada, mas não posso evitar, pensei que ele me odiasse.
— Sim — ela sorri suavemente —, ele estava animado, na verdade.
— Mas você não está? — Eu a critico, de repente um pouco irritada
porque Adam não teve nenhum problema com isso, ele estava disposto a me
convidar, mas ela não queria me contar?
Eu deveria estar com medo, com medo de que talvez Adam contasse a
alguém que sou lésbica, mas não estou, em vez disso, estou ficando cada
vez mais irritada.
— Juliette, você não poderia vir. — Seu tom está cansado, talvez seja
porque ela está doente ou apenas porque ela está começando a ficar irritada
também.
— Você ainda deveria ter me contado. É como se você não me
quisesse lá.
— Claro que eu quero! — Ela levanta a voz antes de beliscar a ponta
do nariz.
— Claramente não. — Eu observo de improviso.
Ela olha para mim.
— Por que você está brigando comigo quando estou doente?
De repente me sinto culpada, mas não é o suficiente para superar meu
aborrecimento. Eu não tenho certeza com que estou mais irritada..
— Eu não estou brigando com você! Eu só… — eu expiro — eu
simplesmente não entendo.
— Por que você está brava? Porque eu não te contei ou porque você
não pode vir? — Ela pergunta, como se já soubesse a resposta.
— Ambos — eu admito, apertando minha mandíbula. — Teria sido
bom se você tivesse pelo menos me contado.
— Por que eu diria a você algo que te deixaria chateada? É melhor
simplesmente não mencionar isso. — Seu tom casual de repente deixa todo
o meu corpo em chamas, especialmente quando ela tenta fechar os olhos e
massagear as têmporas.
— Ah, sim, você é ótima nisso. — Eu zombo com raiva, levantando-
me.
— O que isto quer dizer? — Ela zomba de mim como se fosse uma
competição.
— Significa que você gosta de evitar as coisas. — Eu cerro as
palavras.
— O que eu evitei?
— O fato de eu te amar! — Eu berro as palavras, como se estivessem
deixando a parte profunda e oca do meu coração ou mais como se
estivessem sendo forçadas a sair.
— O quê? — Ela murmura sem fôlego e um pedaço de mim morre
um pouco quando ela me olha assim. Tão sem esperança, tão quebrada.
— Você ouviu naquele dia, não ouviu? — Minha voz falha um pouco.
— Por que você fingiria não me ouvir?
Eu sou tão horrível? Tenho sido tão torturante estar por perto que ela
nem consegue reconhecer o fato de que eu a amo? Um “obrigada” teria
bastado, mesmo um pequeno sorriso teria amolecido meu coração.
— Eu disse a você, eu não posso. — Ela olha para longe de mim. —
Eu disse a você que não posso ser como meu pai. Eu não posso te amar.
O pai dela. O pai dela. O pai dela. Ela soa como eu e quando eu
estava nessa situação, ela me entendeu, ela foi gentil comigo e não me
apressou de forma alguma. Mas essa é a diferença entre mim e ela, não sou
tão boa quanto ela. Nunca fui.
— Você não pode me amar ou não vai me amar? — Eu cuspo
asperamente.
De repente, seus olhos se voltam para mim, como se ela estivesse
com dor.
— Eu sinto. Eu sinto isso aqui. — Ela coloca a mão sobre o peito. —
Dói o tempo todo. Eu quero você o tempo todo, todos os dias, você é tudo
em que penso, mas…
— Mas você não me ama. — Eu termino por ela apaticamente como
se as palavras que ela está dizendo não importassem, como se nada
importasse se ela não me amasse. Mas isso não é verdade, posso esperar o
quanto for preciso, mas nunca fui boa em morder a língua quando estou
com raiva.
— Eu não posso te amar! — Ela grita com raiva, seus olhos brilhando
com um fogo que eu nunca vi antes. — Eu não quero amar você.
Eu tropeço para trás com suas palavras, como se tivessem me
acertado bem no rosto. Parte de mim entende que isso é por causa do
trauma dela – seu pai –, mas a parte vulnerável de mim, a parte egoísta de
mim odeia porque eu coloco meus sentimentos em risco. Acho que sempre
a amei, mas ela não consegue me amar de volta. Não consigo evitar aquela
sensação incômoda no fundo da minha garganta – ela não consegue
imaginar me amar porque não sou digna de amor.
Sua expressão se transforma em preocupação.
— Espere…
Mas eu não espero, eu disse que esperaria por ela, mas eu não espero,
eu vou embora.
Capítulo TRINTA E NOVE
Juliette
Passo os próximos dois dias principalmente na cama. A única vez
que saí da cama foi quando tive que ir para a escola para fazer a prova de
biologia. Eu esperava que seria mais difícil do que era, ou talvez estivesse
chateada demais para me concentrar em como estava difícil. Eu respondi a
todas as perguntas, e talvez eu seja arrogante, mas sei que fiz um ótimo
trabalho. Adaline nem veio me visitar, ela me mandou algumas mensagens,
mas eu ignorei. Ela está explodindo meu telefone me perguntando sobre
como foi meu exame também. Eu estive deprimida na cama nos últimos
dois dias, embora eu tenha pedido a Kai para checar Adaline para ter
certeza de que ela ainda não estava doente e, felizmente, ela não está mais.
Ela até terminou seu exame final de inglês. Aposto que ela ficou acordada e
estudou a noite toda para isso.
Ela deve estar com enxaqueca ou talvez uma concussão. Afinal, por
que ela não está na minha casa? Ela não percebe que quando me afastei dela
queria que ela corresse atrás de mim? Para me pegar em seus braços e me
dizer que ela é capaz de me amar, mesmo que não hoje, talvez um dia?
Infelizmente, isso não é um filme, é?
Ou talvez seja, considerando que a campainha acabou de tocar.
Finalmente, ela caiu em si. Eu corro para fora do meu quarto, mas antes de
abrir a porta, arrumo meu cabelo, desejando tanto não estar vestida com
uma calça de moletom cinza e uma camiseta preta porque isso não é nada
atraente.
Quando abro a porta, minhas sobrancelhas se franzem
automaticamente.
— Stacey?
Stacy Johnson. Na frente da minha porta, seu uniforme ainda e seu
comportamento totalmente arrogante. Ela passa por mim, deixando-me
desorientada por um momento. Fecho a porta atrás dela e me viro. Não a
vejo há meses, disseram-me que ela estava terminando o ano letivo em
casa.
Eu estreito meus olhos e inclino minha cabeça para o lado.
— Você está bem? Bateu a cabeça? — Antes que ela possa responder,
eu falo novamente. — Porque o que faz você pensar que pode invadir
minha casa?
— Ah, Deus me livre de invadir sua casa — ela faz beicinho
zombeteiro —, pelo menos, eu não quebrei sua mão.
Pelo absoluto amor de Deus. Quando todos vão superar a coisa da
mão?
— Supere isso, parece bem curado para mim. — Faço um gesto para
a mão dela que não está mais engessada. — Agora, saia da minha casa.
— Que rude. — Ela zomba, reclamando. — Só vim para te dizer
como foi bom te ver.
— O que você está falando? Quando te vi? — Eu questiono, confusa
e irritada.
Todo o meu humor está ainda mais desanimado do que já estava. Eu
realmente pensei que seria Adaline na porta.
— Ah, você sabe. Quando você foi ao museu com Adaline.
Minha respiração fica presa na garganta com suas palavras e seu jeito
seguro. Ai, meu Deus. Não! Não consigo controlar o choque em meu rosto.
Eu sei disso porque Stacey me dá um sorriso perverso.
— Eu não sei do que você está falando — eu desvio, tentando
controlar o tremor em minhas palavras.
— Você se orgulha de ser uma capitã tão boa, mas nem sabia que sou
voluntária no museu? — Ela ri maliciosamente. — Ah, bem, acho que
funcionou a meu favor, considerando que você não parecia tão tímida, as
máscaras eram ridículas também, eu poderia te ver a um quilômetro de
distância, Juliette.
— Você está me confundindo com outra pessoa, eu não estava lá —
eu gaguejo, odiando o quão fraca eu pareço agora, mas eu não posso evitar.
Ela se aproxima de mim e sinto as paredes desmoronando quanto
mais ela ri.
— Sim, você estava, eu tive um pressentimento de que você diria que
não… — ela pega seu telefone — e é por isso que eu tenho mantido um
olho em você no último mês. Quer ver?
Ela não me dá chance de responder porque começa a rolar a tela. As
fotos me cegam de fúria e ansiedade. É tudo; fotos nossas no museu de arte,
na casa da Sra. Kim, andando pelo parque do bairro dela, nos beijando, de
mãos dadas e fazendo tudo o mais que as pessoas normais fazem, mas não
somos normais, não é?
— Você tem me perseguido? — Eu cerro as palavras em descrença.
Ela zomba.
— Perseguir? Não seja ridícula, eu só estava coletando algumas
informações.
— Informação? Para quê?
Ela dá de ombros.
— Chantagem.
Eu zombo sem fôlego. Ai, meu Deus, essa garota realmente é louca
com aquele pequeno brilho nos olhos, sua estatura confiante e o sorriso
venenoso que está tomando conta de seu rosto. O mais assustador de tudo é
que ela me lembra de mim mesma e isso é ruim, porque significa que ela
não está blefando, nem por um segundo.
Então, é agora ou nunca. Eu posso ficar aqui e deixar esse medo me
estrangular até que eu finalmente me transforme em meu pai, até que eu
eventualmente machuque todos ao meu redor por causa disso ou eu possa
ser melhor.
— Você acha que eu me importo? Diga a todos que sou gay, não dou
a mínima. — Eu escolho melhor o caminho. Eu escolho qualquer coisa
sobre ela.
— Sério? — Ela pergunta, franzindo as sobrancelhas, mas de repente
seu olhar se torna mais perigoso. — Você nem vai se importar se eu mostrar
isso para todo mundo?
Meu olhar está voltado para o telefone dela quando um vídeo começa
a ser reproduzido. É filmado em um ângulo esquisito, como se ela estivesse
filmando do chão e então eu vejo… sou eu, pressionando Adaline contra a
porta da cabine. A bile sobe pela minha garganta e todo o meu corpo
congela. É uma vídeo de sexo. Este é um vídeo de sexo meu e de Adaline
quando estávamos no museu.
Como não sabíamos que havia mais alguém lá?
— V-você nos filmou?! — Eu abaixo as palavras e tento pegar o
telefone dela, mas ela o arranca do meu alcance.
— Nem pense nisso — ela avisa —, tenho cópias no meu laptop, no
meu computador… de tudo.
Ai, meu Deus. Stacey nos viu. Ela nos viu fazendo sexo. É vil. É
abominável que ela tenha isso. O suor escorre do meu pescoço, sufocando
todos os meus sentidos.
— Ela é menor de idade, você não pode postar isso — eu digo
presunçosamente, escondendo o medo cortando meu peito.
Eu deveria estar preocupada comigo mesma. Se isso vazar, todo
mundo vai saber que sou lésbica, todo mundo vai me ver nos meus
momentos mais íntimos. Minha mãe será ridicularizada, repreendida até.
No entanto, por alguma razão, tudo em que consigo pensar é como isso
afetará Adaline.
— E? Você acha que isso importa? Uma vez que este vídeo for
lançado, ele nunca será esquecido. — Ela balança a cabeça, ainda não parou
de sorrir. — Você encosta um dedo em mim e eu dou minhas senhas ao meu
irmão e faço com que ele divulgue o vídeo.
— Você realmente correria o risco de ir para a cadeia? — Eu
pergunto, surpresa com o comportamento dela.
Ela zomba.
— Aqui é a Inglaterra, se você tem dinheiro, pode se safar de
qualquer coisa.
Cada pessoa que eu expulsei. Cada pessoa que maltratei só porque
podia; as memórias me queimam. Era assim que eu parecia; eu costumava
ser assim. Ou talvez seja quem eu sempre serei. É nojento.
— Você iria se afundar assim? O que há de errado com você?
— É como você sempre dizia, não lembra? — ela me imita. — “Não
há linha que você não possa cruzar, meninas. Se você quer alguma coisa,
machuque quem você precisa.”
Eu disse isso? Eu disse algo tão nojento e ela gravou em sua mente e
agora está usando contra mim? Eu me pergunto quantas outras garotas
ouviram a mesma coisa e seguiram em frente; me pergunto quantas outras
vidas eu arruinei com meus comentários fugazes.
Deve ser isso que as pessoas querem dizer quando falam sobre carma.
Eu entendo agora. Eu mereço isso, todos os aspectos disso. Mas Adaline?
Ela não merece isso.
— Então? O que você quer?! — Eu imploro.
— Quero Adaline fora de sua vida.
— O quê? Por quê?
— Por quê? Por quê? — Ela repete como um maníaco raivoso. —
Você quebrou a porra da minha mão por ela, Juliette. Por meses, tentei
esquecer, mas não consigo! — Ela se aproxima de mim. — Você a tratou
como merda por anos e agora, de repente, você está saindo com ela? Que
porra há de errado com você?
— Sinto muito por quebrar sua mão — eu digo apressadamente. —
Desculpa, ok!
— Desculpa? Você acha que desculpar vai consertar isso? — Ela
cospe asperamente. — O que ela tem que eu não tenho?
A pergunta me tira o fôlego, assim como a maneira como seu lábio
inferior treme. Stacey parece... ciumenta. Eu provavelmente deveria brincar
com isso, mas não consigo nem imaginar.
— Tudo — eu retruco desafiadoramente.
Adaline é tudo que Stacey não é. Ela é gentil, compassiva e feroz,
mas não desconta nos outros! Ela é tudo que eu gostaria de ser.
Ela aperta a mandíbula.
— Quebre o coração dela, Juliette, porque se você não fizer isso, este
vídeo o fará.
Minha respiração pesada ecoa pela sala. O que eu deveria fazer? Se
este vídeo for postado, o futuro de Adaline estará arruinado. Podemos viver
em uma era progressista, mas não é tão progressista para as mulheres
quanto pensamos. Esta é uma cicatriz, uma queimadura que vive com você
para sempre. A carreira dela estaria arruinada. Ela não seria capaz de ser
médica. Tudo o que ela ama, tudo o que ela sempre quis, desapareceria no
ar.
Uma batida na porta me tira dos meus pensamentos e Stacey me lança
um olhar de advertência. Reviro os olhos para ela e abro a porta. Acho que
Deus me odeia ou gosta de pregar peças cruéis em mim, porque de qualquer
dia que ela pudesse escolher, Adaline escolheu hoje para aparecer na frente
da minha porta.
Capítulo QUARENTA
Adaline
— Então, o que você acha? — Adam pergunta com orgulho,
projetando o peito para fora e endireitando os ombros.
No momento, estamos na alfaiataria do Mackenzie. É um pequeno
edifício pitoresco a cerca de cinco minutos da minha casa. Hoje é a prova
final de Adam antes do seu casamento. Seus amigos estão um pouco
atrasados, então somos só eu e ele aqui.
Seu smoking preto é requintado; ele se encaixa bem e é feito sob
medida para a perfeição, o que não é realmente uma surpresa, considerando
que ele tem sido um noivozilla absoluto nos últimos meses. Ele parece
excepcionalmente bonito, mas é claro, não posso dizer isso a ele.
— Você parece menos horrível do que o normal — eu digo.
Ele zomba, revirando os olhos.
— Até parece. Eu pareço um garanhão. — Ele gira em seu smoking,
verificando-se no espelho de corpo inteiro. Eu apenas rio e me deleito com
sua felicidade enquanto me sento no sofá, porque não posso me divertir
sozinha, principalmente porque Juliette tem me ignorado nos últimos dois
dias. Eu não a culpo; fui horrível com ela.
Eu não queria que minhas palavras saíssem do jeito que saíram, eu
simplesmente explodi. Estou com medo. Tentei enviar uma mensagem de
texto para ela, mas ela simplesmente me ignorou. Estou com muito medo de
falar com ela pessoalmente porque sinto que minhas paredes vão
desmoronar se eu fizer isso. Embora eu também esteja morrendo de vontade
de saber como ela se saiu no exame de biologia. Eu nem estava lá para
apoiá-la antes ou depois do exame!
Eu não quero te amar! Como eu poderia ter dito essas palavras para
ela? Senti meu próprio coração se partir quando as disse, só precisava dizer
algo... qualquer coisa para afastá-la.
— Tem certeza de que está pronto para isso? — Pergunto a Adam de
repente, deixando meus próprios pensamentos ganharem vida. Ele se vira e
arqueia a sobrancelha em confusão. — Como você sabe que deveria estar
com Olivia? — Eu esclareço.
Ele dá um meio sorriso e caminha até mim, sentando-se ao meu lado
no sofá. Não pretendo nublar sua mente com dúvidas, parte de mim quer
que ele saiba que deve tomar essa decisão corretamente, que eu estaria
disposta a dirigir um carro de fuga se ele quisesse ir embora. A outra parte
de mim está confusa, perplexa até mesmo por ele amar tanto alguém que
está disposto a amarrar toda a sua vida com essa pessoa.
— Você apenas sabe — diz ele, como se fosse a coisa mais fácil do
mundo.
— Isso é perspicaz.
Ele ri um pouco da minha observação sarcástica.
— Não sei como descrever, Addie. — Ele suspira melancolicamente.
— Tente por favor.
— Não me sinto eu mesmo quando ela não está por perto… é quase
como se nada importasse se ela não estivesse lá para testemunhar. Eu... eu a
amo tanto que às vezes me dói fisicamente. — Ele abaixa a cabeça
timidamente. Eu nunca o vi assim antes. — Eu me sinto como um palito de
fósforo vazio sem ela, não posso queimar se ela não estiver lá para ajudar a
me acender.
Eu nunca o ouvi tão eloquente antes, tão sem palavras, mas tão cheio
de palavras ao mesmo tempo. Sempre tive ciúmes dele por poder amar tão
livremente, nunca entendi porque ele podia e eu não. Tínhamos o mesmo
pai, talvez não totalmente, mas no final, ambos lidamos com a mesma
ausência.
— Você não está com medo? Você não tem medo de se transformar
em nosso pai? — Na verdade, ele deveria estar com mais medo do que eu,
ele passou mais tempo com meu pai… ele viu a mudança de um homem
amoroso para um cruel. Ele testemunhou o que o amor pode fazer com
alguém.
— Claro, estou com medo. Tenho medo de tudo, de ela perceber que
talvez eu não seja bom o suficiente para ela ou que outra pessoa seja melhor
ou que ela simplesmente não me queira mais. — Ele põe a mão no meu
ombro. — Mas não tenho medo de ser como ele, nunca tive medo disso.
— Por quê? — Eu pronuncio sem fôlego.
— Porque ele não se comportou assim por amor. Ele estava
clinicamente deprimido e era um alcoolista furioso — afirma simplesmente.
— Sim, mas ele a perdeu. Se não tivesse, talvez ele…
— Não sabemos o que poderia ter acontecido — ele me interrompe
sério. — Você não está cansada de viver com medo? Você não quer viver
sua vida por você?
Estranho. Sempre pensei que estava vivendo minha vida para mim —
nem parei para pensar que o medo de me tornar meu pai me afastou de
coisas que eu poderia ter desejado, coisas que poderia ter escolhido. Eu me
enganei pensando que tudo o que fiz estava de acordo com minhas próprias
crenças. Mas é assim que funciona agora, não é? No final das contas,
sempre seremos a soma de nossos traumas não resolvidos.
— Você é um bom irmão mais velho, sabia disso?
— Eu sei. — Ele pisca para mim, puxando-me para um abraço lateral.
Temor. Algo que nunca pensei que iria me atrapalhar é fazer
exatamente isso. Mas sabe de uma coisa? Eu não vou deixar. Não mais. Não
quando finalmente me sinto feliz.
— Você se importa se cortarmos isso? Eu tenho que ir a algum lugar.
Ele concorda.
— Sim, tudo bem. Você já viu como estou ótima.
— Amo você. — Eu o beijo na bochecha apressadamente.
— Também te amo!
Ao sair da loja, pego meu telefone e ligo para Kai, rezando para que
ele atenda. Não posso ligar para meus amigos porque eles estão ocupados e
só há uma outra pessoa que conheço que dirige um carro que chegará rápido
o suficiente.
— Olá?
— Oi, Kai, é Adaline. Você poderia me dar uma carona? Eu só quero
ir até Juliette…
Sua voz sai apressada.
— Mande o endereço, estarei aí em cinco minutos.
Mando uma mensagem de texto com o endereço, esperando do lado
de fora porque sei que ele chegará a qualquer momento. Então, de repente,
começa a cair. Eu sorrio, sentindo a brisa penetrar na minha pele. Está
chovendo e eu não me importo. Fico na chuva o máximo que posso porque,
pela primeira vez na vida, me sinto viva!
Juliette. Minha Juliette. A garota que eu odiei desde que me lembro e
por quem me apaixonei. Tão desesperadamente. Tão irrevogavelmente.
Acho que sempre me senti assim. Quando a vi aos doze anos e não
consegui respirar. Quando ela me cortou com suas palavras e tudo que eu
conseguia pensar era em como ela estava bonita. Quando dormimos juntas
pela primeira vez e eu senti como se estivesse dentro dela. Ela está tecida
tão firmemente dentro de mim; cada momento da minha adolescência foi
moldado em torno dela e quero que o resto da minha vida também seja
moldada em torno dela.
A chuva encharca meu cabelo, mas não sinto frio. Eu mal posso ver
quando uma Ferrari vermelha vem correndo pela estrada e eu corro para o
lado do passageiro. A porta se abre automaticamente e Kai sorri para mim.
— Juliette tem estado insuportável nos últimos dois dias. É melhor
que este pedido de desculpas seja importante — ele me diz enquanto eu
entro em seu carro, ele nem mesmo reclama sobre como eu encharquei seus
assentos, ele apenas dirige, possivelmente o mais rápido que eu já vi
alguém dirigir em minha vida.
***

Kai para do lado de fora da casa de Juliette em tempo recorde e eu


quase escorrego para fora do carro com urgência. A chuva não parou; estou
interpretando isso como um sinal de que preciso fazer algum grande gesto
romântico.
— Vá buscar sua garota! — Ele grita comigo e eu rio de suas palavras
antes de atravessar a rua correndo. Quando chego a seus portões pretos,
digito o código-chave: 2305.
Eu bato em sua porta apressadamente, arrumando meu cabelo, mesmo
que esteja completamente encharcado, assim como meu jeans – jeans
molhado é a pior coisa do mundo, mas não consigo me importar.
A porta se abre e Juliette está parada na minha frente, chocada.
— Addie?
Eu me apresso e entro animadamente.
— Não consigo mais segurar, Juliette, sinto muito… — minhas
palavras são interrompidas quando vejo um rosto familiar na casa de
Juliette. As palavras morrem na minha garganta quase instantaneamente.
É Stacey. O que Stacey está fazendo aqui? Meus olhos se voltam para
Juliette, que parece... diferente.
Normalmente, seu comportamento é autoconfiante, não como agora;
seus ombros estão curvados, seu olhar piscando para frente e para trás entre
mim e Stacey. Por alguma razão, a sensação no estômago está ondulando de
ansiedade.
— O que você está fazendo aqui? — Direciono a pergunta para
Stacey.
— Eu acho que eu deveria estar te perguntando isso. — Ela arqueia a
sobrancelha, me trazendo de volta à realidade.
Ah, Deus. Quase esqueci que ninguém sabe sobre mim e Juliette.
Merda. Merda. Eu endireito minhas costas e finjo ser indiferente. Não é
minha melhor atuação, mas para ser justo, fui pega de surpresa por Stacey
estar aqui.
Eu limpo minha garganta.
— Bem, eu só estou aqui para ensiná-la.
Juliette continua evitando contato visual comigo e Stacey apenas sorri
maliciosamente.
— Desempenho brilhante, realmente. Mas você pode cortar a merda.
Eu sei tudo sobre você e Juliette.
— Sabe o quê? — Eu me faço de boba, como ela saberia? Juliette
contou a ela?
Meu coração despenca a um milhão de quilômetros e eu sinto que de
alguma forma traí Juliette por não agir bem o suficiente. Foi isso que
Juliette sentiu quando descobriu que meus amigos sabiam dela? A paranóia
é debilitante, como se alguém estivesse entrando em mim e espiando minha
alma.
— Ah, pare com isso! — Stacey diz, sua voz subindo. — Juliette,
acho que é hora de você confessar a ela.
Confessar para mim? O que realmente está acontecendo aqui? Eu
olho para Juliette interrogativamente e seus olhos estão baixos, como se
estivesse doendo até para respirar.
— Juliette — Stacey diz novamente, incitando-a com sua voz.
Nesse exato momento, é como se um interruptor fosse acionado, os
olhos de Juliette escurecem, seu rosto refletindo algo que eu já vi antes;
algo cruel. Isso me lembra da primeira vez que ela me chamou de sapatão e
eu tenho que reprimir a vontade de correr.
Ela inclina a cabeça para o lado, estreitando os olhos para mim.
— Ah, qual é, Stacey, não há muito o que saber — ela se inclina
contra a parede gesticulando para mim —, só que eu tenho experimentado
com a pequena senhorita Sapatão aqui.
Sinto uma pontada no peito com suas palavras. Ela não me chama
assim há tanto tempo e agora está saindo de sua língua como se estivesse lá
desde sempre. Isso não pode estar certo, ela está com medo, isso é tudo.
Engulo a raiva que está crescendo dentro de mim, preciso me lembrar
que Juliette está com medo de ser desmascarada. Ela não é como eu, é
paranóica e tem muito mais a perder. Ela não quis dizer isso. Ela não pode
querer dizer isso. Não.
— Juliette, está tudo bem. — Eu me aproximo dela. — Olha, ela
sabe, está tudo bem. Não podemos voltar no tempo, mas tudo bem…
— Você está tentando me consolar? — Ela ri venenosamente. —
Console-se, quem está sendo usada é você.
— Usada? — Eu repito suas palavras, incapaz de parar a forma como
meu coração cai.
— Todo mundo experimenta no ensino médio, isso é tudo que você é
para mim, isso é tudo que você sempre foi — ela afirma duramente.
Não vou deixá-la fazer isso, deixar que seu medo de ser desmascarada
controle o que vai acontecer a seguir.
— Juliette — eu digo, severamente desta vez —, eu sei que você está
com medo de se assumir…
Ela me interrompe novamente.
— Assustada? Estou bem em ser gay Adaline, só não estou bem em
ser associada a alguém como você.
Uma dor diferente de qualquer outra rói meu peito.
— Eu não acredito em você.
Ela está apavorada. Stacey a emboscou e agora ela está com medo de
sair, então ela está tentando me afastar. Como ela poderia ter me usado?
Todas as palavras ternas que ela disse, seus sussurros e mãos suaves, não
poderiam ser mentira. Alguém como eu. Ela aperta a mandíbula e eu tento
estender a mão e tocá-la, mas outra mão me afasta.
— Mantenha suas mãos longe dela! — Stacey me avisa. — Não
sabemos onde suas mãos estiveram. — Ela se aproxima de Juliette e desliza
sua própria mão pelo ombro de Juliette.
Eu quase tropeço para trás, especialmente quando Juliette não a
afasta. Minha confusão se transforma em fúria.
Ninguém toca no que é meu, ninguém. Estendo a mão para a frente e
empurro Stacey. Eu desesperadamente tento agarrar seu cabelo ou colocar
minhas mãos em volta de sua garganta, qualquer coisa para me distrair das
lágrimas que sinto crescendo dentro de mim, mas antes que eu possa causar
algum dano real, Juliette se coloca entre nós duas, tentando nos impedir de
brigar.
— Não toque nela — ela diz rigidamente e eu expiro de alívio, até
que eu olho direito e percebo que ela está falando comigo. Comigo?
Por ela?
— O quê?
— Você a ouviu — Stacy sorri. — O quê? Você pensou que era única
para Juliette? Que doce. Você realmente achou que ela iria atrás de você
quando eu estivesse aqui? — Suas mãos apertam as de Juliette e eu posso
sentir o gosto da bile subindo pela minha garganta.
— Juliette, por quê? — Meus olhos ardem quando vejo suas mãos
entrelaçadas.
É isso que é? Esse tempo todo ela estava com Stacey? Eu sabia que
Stacey gostava dela, mas ela quebrou a mão dela, como isso pode ter
acontecido? Não faz o menor sentido, mas não consigo pensar logicamente
quando a mão dela está entrelaçada com a de Juliette. Na verdade, não
consigo pensar em nada.
— Porque você é fácil, Adaline. Olhe para você, você está tão ansiosa
para agradar. Você pega qualquer coisa que eu te der. Você não vale nada.
— Mas eu te amo. — Minha voz falha e eu sinto que vou desmaiar.
Pareço tão fraca, tão totalmente fraca, mas não consigo evitar.
Sua mandíbula aperta e ela fecha os olhos momentaneamente antes de
abri-los novamente.
— Você me ama? — Ela sorri maliciosamente. — Isso é triste. Deus,
eu fui boa, não foi? Eu até quase me convenci até que percebi uma coisa.
Eu não poderia amar você. Alguém como você? Você não é amável. Você
não é nada para mim.
Você não é nada para mim, você não é minha filha! Você é um
monstro, Adaline. Você matou minha esposa! Ninguém jamais poderia te
amar!
Meus olhos queimam com as memórias ressurgidas e eu engasgo
baixinho com suas palavras. A expressão estóica envia uma onda de traição
por cada centímetro do meu corpo. Eu não posso respirar.
— Você não me ouviu?! — Eu berro. — Eu. Amo. Você. — Minha
voz falha.
Ela aperta a mandíbula no que só posso supor ser aborrecimento.
— Eu não ligo.
Foi assim que ela se sentiu? Quando eu não disse as palavras de volta
para ela? Quando eu desconsiderei completamente as palavras? Não, ela
não fez isso, foi tudo uma encenação, porque se ela quis dizer o que disse,
por que sua mão ainda está entrelaçada com a de Stacey? Não me incomodo
em perguntar, apenas me viro e corro para fora da casa dela e não paro até
chegar ao carro de Kai, que ainda está estacionado do lado de fora. Eu bato
na janela apressadamente e ele a abre. Ele está ao telefone.
— Adaline? Onde está Juliette? — Ele pergunta, preocupado
enquanto desliga o telefone.
— Você pode me deixar entrar? — Eu pergunto em um tom
moderado. Ele não perde tempo em abrir a porta para mim e eu deslizo para
o banco do passageiro. — Ela não está vindo — murmuro.
— Você está tremendo — diz ele apertando meu cinto de segurança
para mim. — O que aconteceu?
— Nada.
O que eu devo falar? Como posso explicar que pela primeira vez na
minha vida eu senti... desgosto? Provei a traição que pensei só ser possível
na ficção, algo que nunca pensei ser capaz de sentir.
Ele não parece convencido.
— Eu vou entrar lá.
— Não — eu sussurro, segurando seu braço. — Fique.
Seus olhos se arregalam e depois suavizam. Antes que eu perceba, ele
está se inclinando para frente e enxugando uma lágrima do meu rosto.
Meus olhos se arregalam um pouco, eu nem tinha percebido que
estava chorando, mas quando eu percebo... parece que não consigo parar.
Kai me puxa para seu peito e antes que eu perceba, estou chorando em seus
braços.
Capítulo QUARENTA E UM
Juliette
Fria. Adaline parecia tão fria quando ela tropeçou em minha casa
ontem. Arrepios cobriam seus braços e seu cabelo encharcado. Ela parecia
ainda mais fria ao me ouvir falar… ao ouvir as coisas vis e falsas que eu
jogava em seu caminho.
Kai explodiu meu telefone, praticamente me xingando pelo que
aconteceu. Segundo ele, Adaline não lhe contou nada, apenas chorou. Eu a
fiz chorar. Eu nunca a fiz chorar, mesmo quando eu estava sendo tão
incrivelmente horrível no passado.
Kai tem me evitado ou talvez eu o tenha evitado? Stacey saiu logo
depois de Adaline, certificando-se de me ameaçar uma última vez antes de
partir.
Assim que ela saiu, corri para o banheiro e vomitei. Eu não conseguia
parar. As coisas vis que cuspi em Adaline sufocaram meu corpo
violentamente, quase como se meu corpo estivesse me punindo pelo que eu
tinha feito. Eu merecia, claro que merecia.
Então é isso. Tenho que ficar longe da garota que amo porque, se não
ficar, Stacey arruinará o futuro dela. Como isso aconteceu? Fiquei feliz por
um pequeno período de tempo antes, mas, mais uma vez, algo me deu um
tapa na cara.
Não consigo parar de pensar na expressão em seu rosto quando eu
disse que ela não era nada para mim.
Ela disse que me amava. As palavras que eu queria desesperadamente
ouvir, mas agora gostaria de nunca ter escutado, não desse jeito. Eu não
merecia ouvi-las. Chamei-a de sapatão depois de dizer que não faria isso,
depois de admitir que eu também era! O que há de errado comigo?
A campainha toca, mas não me levanto do sofá, fico grudada no meu
lugar – estou assistindo Meninas Malvadas desde esta manhã –, é tudo que
consigo assistir.
Eu tento ignorar a campainha, mas ela continua tocando, de novo e de
novo. Tem que ser alguém que tem meu código, não pode ser Adonis.
Adaline sempre soube meu código desde que veio a minha casa, mas não é
ela. Eu sei que não.
Eu me levanto e caminho frustrada em direção à porta, abro e minha
raiva quase morre quando vejo Victoria parada ali.
— Addie não está nos contando o que aconteceu, mas ela não sai da
cama. Aryan te odeia, Kai não quer falar com você, mas eu quero saber o
que aconteceu — ela divaga em um acesso de raiva, passando por mim para
dentro da minha casa.
O que há com as pessoas passando por mim e entrando na minha
própria casa?
Tudo o que consigo pensar quando vejo Victoria é em como Adaline
está:
— Addie está bem? Ela comeu? O resfriado dela piorou por estar na
chuva…
— Juliette — ela repete, me interrompendo —, o que aconteceu?
— Ela está com raiva de mim — eu digo solenemente, encostada na
minha parede. O que eu devo falar? Stacey disse para não contar a ninguém,
mas, novamente, não é como se ela pudesse me ouvir. Talvez eu
simplesmente não tenha energia para isso.
— Só isso? — Ela levanta uma sobrancelha como se não acreditasse
em mim.
— Sim.
— Ela já esteve com raiva de você antes, não esteve? Qual a
diferença agora? Por que você está assim? — Ela gesticula para mim e seu
tom me irrita, como ouso ficar chateada? Como se tudo isso fosse frívolo.
— É diferente! — Eu grito e ela parece surpresa. — Antes era
diferente quando ela ficava com raiva de mim, eu adorava porque não tinha
mais nada dela. Mas agora? Agora eu tive a felicidade dela, o calor dela...
— Eu expiro trêmula, minhas mãos agrupadas no meu peito. — Eu tive o
conforto dela e só de pensar nela com raiva de novo... isso está me
destruindo.
Eu caio no sofá, minha cabeça caindo em minhas mãos. Não suporto
olhar para ninguém agora. Eu não posso fazer isso. Como eu pensei que
poderia ficar longe de Adaline? Apenas o pensamento disso está me
queimando.
Sinto o sofá afundar ao meu lado, uma mão hesitante sendo colocada
em meu ombro.
— O que aconteceu? — Ela pergunta gentilmente.
Eu olho para ela. Sua expressão genuína, a confusão girando em suas
pupilas. Não posso evitar; flui de mim como água.
Conto tudo a ela, como Stacey gravou eu e Adaline no mês passado,
como ela me ameaçou, o vídeo de sexo. Quando termino, Victoria apenas
olha para mim. Seus olhos são ilegíveis, então fico surpresa quando ela dá
um peteleco em minha testa com força.
— Ai! — Eu estremeço. — Para que isso?
— Isso foi pelo que você disse a Addie — diz ela, suas narinas
queimando e antes que eu perceba, ela está dando um peteleco em minha
testa novamente.
— Para que isso? — Eu gemo de dor, esfregando o local dolorido.
— Isso é por ser uma idiota — ela diz e eu franzo minhas
sobrancelhas em confusão. — Por que você simplesmente não usou aquele
dinheiro do qual está sempre se gabando para resolver este problema?
— Ela tem cópias, o que eu vou fazer? Entrar na casa dela e roubá-
las? Você superestima completamente minhas capacidades. — Eu cruzo
meus braços contra o meu estômago e me inclino no meu sofá com um
bufo.
— E daí? Você simplesmente vai parar de ficar com Addie?
— O que mais devo fazer? Se Stacey liberar as fitas, a vida dela será
arruinada… ela pode se despedir de Oxford ou de se tornar médica.
— E você?
— Quem se importa comigo?
Seus olhos suavizam.
— Ela se importa. Você sabe que ela se importa. Você não pode
simplesmente desistir. — Ela estreita os olhos para mim gentilmente. —
Você só está com medo de sua mãe, não é?
— Do que você está falando?
— Você sabe que poderia falar com sua mãe e fazer tudo isso
desaparecer, mas está com medo — diz ela. — Você está com medo de
contar para sua mãe quem você é.
Eu abaixo meus olhos de vergonha e embaraço. No fundo, eu sei que
ela está certa. No calor do momento com Stacey eu não estava pensando
direito, mas depois eu poderia ter ligado para minha mãe. Ela poderia ter
lidado com isso rapidamente, mas, no fundo, estou com muito medo de
confessar a ela.
Eu disse a Stacey que não me importava em assumir, o que era
verdade, porém não quis dizer isso completamente. Estou aqui chafurdando,
mas a verdade é que eu poderia resolver isso e quero desesperadamente.
Estou apavorada com tudo.
Eu expiro trêmula.
— Claro, estou com medo. Você não entenderia.
Ela suspira.
— Talvez não como você, mas eu entendo. — Ela olha para mim. —
Você acha que eu quero estar em vinte clubes esportivos diferentes? Eu nem
gosto de jogar basquete, Juliette. — Ela solta uma risada sem graça.
Eu franzo minhas sobrancelhas.
— Então por que você está?
— Porque é o que se espera de mim — diz ela e estou chocada com o
quanto ela soa como eu. — Mas claramente, fazer o que se espera de você
não funciona para todos. — Eu quase rio de seu tom sarcástico.
— Então, o que devo fazer?
Vitória balança a cabeça.
— Descubra, você nem sempre pode esperar obter as respostas de
outra pessoa.
Talvez seja seu olhar inabalável ou a maneira como ela está sendo
insensível que me dá a coragem de que preciso, porque essa insensibilidade
é o que eu preciso. Não preciso ser mimada – nunca precisei. Ela está certa,
eu tenho que descobrir isso sozinha.
Arrependimento se infiltra em meus ossos. A ideia de viver minha
vida sem Adaline me dá enjôo, não vou tolerar isso. Então, quando Victoria
sai, não perco tempo, entro no meu carro e corro para a casa de Addie.
***
A viagem de carro até lá é rápida, mas tenho que conter as lágrimas
que borbulham dentro de mim na maior parte do caminho. Meu carro mal
está totalmente estacionado na rua quando eu saio e corro o mais rápido que
posso até a porta dela. Meus punhos automaticamente começam a bater nele
com toda a força assim que o alcanço, como se alguém estivesse morrendo.
A porta se abre erraticamente e o olhar estóico de Adam é tão hostil como
sempre, mas também é diferente.
— Ela não quer ver você. Saia.
Então, ela contou a ele, isso dificulta as coisas.
— Por favor! Eu posso explicar…
— Explicar o quê? Que você quebrou a porra do coração da minha
irmã? Considere-se sortuda por ser uma mulher, porque se não fosse, estaria
a sete palmos do chão agora. — Ele resmunga a ameaça.
Ele se parece tanto com ela, especialmente quando está com raiva,
seus olhos verdes ferozes, sua carranca estóica, mas imóvel.
— Por favor, me deixe falar com ela — imploro. — Adi! — Eu grito,
tentando olhar para dentro da casa, mas ele bloqueia meu caminho.
— Saia da minha propriedade — ele late. — Ela não quer ver você.
— Por favor, eu vou morrer sem ela. — Minha voz falha. Posso fingir
que estou sendo dramática, mas não estou. Ela é tudo. Eu não me importo o
quão tóxico é. Não consigo respirar ou dormir sem ela. Sem ela, nada
importa.
— Você tem dezoito anos, você vai sobreviver — diz ele
apaticamente, mas vejo uma figura descendo as escadas atrás dele.
— Addie — eu sussurro sem fôlego.
Ela está ao lado de seu irmão, olheiras sob seus lindos olhos. Eu a vi
de tantas maneiras ao longo dos anos, através de centenas de lentes
diferentes. Já a vi brava, fria, feliz, triste, mas nunca a vi assim. Tão
completamente vazia.
— Está tudo bem, eu posso lidar com isso — ela diz a seu irmão e
parece que eles estão falando com os olhos ou algo assim, mas ele cede e
me dá um último olhar antes de ir embora.
— Addie — eu digo, me aproximando dela, mas ela se afasta
instantaneamente. — Eu sinto muito, porra.
Ela não faz nenhum movimento para me deixar entrar na casa ou para
sair de casa ela mesma.
Seu rosto é estóico, quase solto.
— Tudo bem.
— O quê?
— Eu disse que está tudo bem, Juliette, porque não me importo mais.
— Sua voz cresce com frieza. — Você já falou o suficiente. Quero que me
deixe falar.
— Mas eu preciso explicar…
— Eu disse, me deixe falar — ela repete, calmamente. Tão calma que
me assusta. Eu aperto minha boca e ela respira uma vez, antes de começar.
— Você não precisa se desculpar porque nada do que disse estava errado.
Você está certa, isso não é nada, porque você não é nada. — A dor me
atinge com força e não posso fazer nada, a não ser ouvir em silêncio. — Eu
estava errada. Sou capaz de amar, mas não quero desperdiçá-lo com uma
pessoa como você. — Ela me encara com um distanciamento feroz.
— Addie, por favor…
— Eu vou encontrar o amor, Juliette, mas você? Você sempre será
uma vadia miserável, presa no mesmo lugar pelo resto da vida. — Ela ri
apaticamente. — Não sou incapaz de sentir as coisas, mas quer saber? Eu
gostaria de ser, porque eu não quero sentir nada por você nunca mais.
— Stacey estava me chantageando, Adaline. Ela não significa nada
para mim…
Ela nem se mexe.
— Eu não me importo por que você fez o que fez, eu não me importo,
porque você sabe de uma coisa, Juliette? Nada, e quero dizer nada mesmo,
neste planeta poderia me fazer dizer essas coisas para você — ela diz,
balançando a cabeça. — Mas acho que essa é a diferença entre eu e você,
não desisto quando as coisas ficam difíceis.
— Sinto muito, e-eu não posso sobreviver sem você.
— Acostume-se com isso — ela me diz, sua máscara estóica se
quebrando e sua voz embargada. Ela bate a porta na minha cara.
Não tenho certeza se é o vento ou a dor no peito que me faz cair de
joelhos, mas, de alguma forma, estou lá, chorando como se tivesse sido
aberta da cabeça aos pés. Ela não está me dando uma chance de me
explicar, mas de alguma forma, não posso ficar com raiva dela por isso.
Raiva não é nada do que estou sentindo, sou incapaz de sentir isso neste
momento.
Ela não abre a porta, nem agora e nem nas próximas horas que passo
chorando e implorando para que ela abra. Quando a exaustão toma conta do
meu corpo, sinto um par de mãos me pegando, quase me embalando de
certa forma. É Victoria. Ela me pega e me leva até meu carro, não paro de
chorar, nem na hora, nem nunca.
Capítulo QUARENTA E DOIS
Adaline
Foi isso que meu pai sentiu? Agonia? Tortura? Eu poderia ficar aqui
para sempre e não me mover um centímetro, afundando em meus
sentimentos e me afundando em minha miséria. Eu também não me sentiria
culpada por isso, porque é isso que estou sentindo, é egoísta. Não se
importa com mais ninguém, nada mais importa, nem mesmo eu.
As pessoas dizem que você não consegue dormir ou comer quando
seu coração se parte, mas eu não sofro desse problema. Eu como. Às vezes,
me empanturro até ficar distraída demais para pensar. Eu durmo também,
porque ela está lá nos meus sonhos. Não tenho certeza de quanto tempo se
passou desde que bati a porta na cara de Juliette. Sei que já se passaram
dias, não sei quantos, mas sei que o casamento de Adam é daqui a dois dias.
Eu não posso nem imaginar sair da minha cama para isso, mas eu tenho que
sair.
Não consigo tirar as palavras dela da minha cabeça. “Stacey estava
me chantageando” Deveria ter sido o suficiente para eu perdoá-la; ela
estava com medo de ser exposta, então ela quebrou meu coração. Mas não é
o suficiente, não é uma desculpa boa o suficiente.
Ela provavelmente está mentindo de qualquer maneira; eu a vi
segurando a mão de Stacey e como ela a protegeu contra mim, ela a quer.
Não posso deixá-la voltar, não quando ela é uma cadela egoísta que só
pensa em si mesma. Foi só nisso que ela pensou quando falou com Stacey,
quando ela me degradou – degradou sua própria reputação, seus próprios
sentimentos.
Bem, é hora de colocar meus próprios sentimentos em primeiro lugar,
então estou deprimida, chorando, fazendo o que eu quiser, até que eu possa
limpar Juliette da minha mente.
Por isso fiquei parado na porta, ou melhor, sentada. Ouvi Juliette
chorando, cada soluço. Foi terrivelmente perturbador, mas eu estava
congelada no lugar. Deus, odeio pensar nisso, tanto quanto odeio pensar no
rosto dela quando falei com ela. Como ela ousa ficar lá e chorar?
Uma batida na minha porta me tira dos meus pensamentos, mas eu
não respondo. Provavelmente é Adam. Ele está muito preocupado comigo
há dias, mas não contei a ele o que aconteceu comigo e Juliette.
Kai surpreendentemente tem me verificado, mas ele também me deu
espaço. Eu queria contar aos meus amigos, mas parece que Juliette os
manipulou porque sempre que eles falam comigo, eles tentam me
convencer a perdoá-la. Então, eu bloqueei seus números. Também disse a
Adam para não deixá-los entrar. Não tenho tempo para lidar com ninguém
que queira responder por Juliette. Estou furioso demais para isso.
— Ok, estou entrando. Bati cinco vezes. — A voz de Adam chama.
De repente, sinto as cobertas sendo arrancadas de cima de mim, gemo em
protesto, mas ele me ignora. — Eu estava no computador e um alerta da
UCAS3 chegou. Você entrou em Oxford! — Quando eu não respondo, ele
continua falando. — Agora eu sei que você não gosta de comemorar, mas já
economizei algum dinheiro para este dia. Assim que eu voltar da minha lua
de mel, vou levar você onde quiser, quando quiser…
— Não quero ir a lugar nenhum, não quero nada — digo a ele,
cansada —, não me importo. — Eu puxo as cobertas sobre minha cabeça.
Não quero ver nada agora, principalmente o quadro pendurado em cima da
minha gaveta. A mesma pintura que Juliette me deu e a mesma que não
consigo jogar fora.
Ele puxa as cobertas novamente e eu olho para ele.
— Você trabalha para isso há anos e não se importa?
— Eu sabia que ia entrar. — Eu tento puxar as cobertas de volta, mas
ele mantém o cobertor no lugar.
— Você não quer comemorar? — Sua voz soa desesperada, pena
ultrapassando sua expressão.
— Como você vai comemorar?
Ácido sobe pela minha garganta quando olho para Adam e tudo que
posso ver é ela. Oxford. Meu sonho. Eu não me importo mais. Nunca pensei
que me tornaria alguém assim, alguém tão patético que não consegue
pensar em mais ninguém, além dela.
Meus sonhos não significam nada se ela não estiver comigo. Isso não
será para sempre; Não estou deprimida, mas pela primeira vez na vida,
finalmente entendo o que meu pai passou. Talvez não na mesma proporção,
mas entendo. Isso dói. A dor é debilitante, é exaustiva.
— É por causa da Juliette? Você ainda não me contou o que ela fez…
— Ela me usou; ela partiu meu coração. Isso é tudo — eu afirmo
simplesmente.
— Você está se ouvindo? Você entrou em Oxford, Addie! Você vai
deixar aquela garota estragar isso?
— Ela não é apenas "aquela garota". — Eu cuspi sentando na minha
cama. De repente, estou com raiva dele. Por que estou defendendo ela
agora?
Ele suspira.
— Eu sei que dói, Addie. Eu sei que sim, mas você não pode deixar
isso te engolir inteiro.
— Por que não? — Eu cuspo. — Por que não posso? Por que todo
mundo consegue se enterrar em seus sentimentos e descontar nos outros,
mas eu não posso deixar isso me engolir inteira? — Meus gritos claramente
o assustam, mas seu olhar logo se suaviza. Ele apenas acena com a cabeça e
senta na cama comigo.
Eu olho para ele confusa antes que ele me puxe para seu peito. Luto
para me livrar de seu alcance, mas ele me mantém ali com mais força, até
que mais uma vez me pego chorando sem parar. Ele apenas me mantém lá
por horas.

***

A manhã seguinte passa da mesma forma, mas tenho que sair da cama
durante a noite porque preciso ir à despedida de solteiro de Adam. Não é
nada desprezível, só eu e seus amigos em um bar local, ele só quer jogar
sinuca e passar o tempo com seus amigos enquanto Olivia está em algum
lugar fazendo o mesmo. Ela me convidou para sua despedida de solteira,
mas, como madrinha de Adam, senti que deveria comparecer à dele.
Embora spa e mimosas devessem ter sido o caminho a percorrer, mas
na última hora, eu tenho sido a alma da festa porque não estou tentando
fazer a noite de Adam ser sobre mim, então fingi estar feliz e alegre. Fiquei
feliz quando Adam e seus amigos saíram para fumar porque finalmente
posso tirar minha máscara divertida.
Agora estou no bar, sentada para uma pausa – a miséria me atingiu
mais uma vez e me pego olhando para todas as garrafas na prateleira.
Um desejo rasteja no fundo da minha garganta. Isso fez ele se sentir
melhor, talvez faça você se sentir melhor também. A voz sussurra em meu
ouvido e eu escuto.
— O que eu posso fazer por você? — O barman pergunta, nem
mesmo pedindo minha identidade. Por que ele pediria? Ele está sendo pago
independentemente.
Eu apago momentaneamente.
— O que você sugere? — Deus, pareço idiota, só nunca bebi álcool
antes. Ele sorri para mim timidamente e de repente, eu me sinto mal do
estômago.
— Você está procurando esquecer ou lembrar? — Sua pergunta me
pega de surpresa por um momento. Eu não sabia que bartenders realmente
soavam como nos filmes.
Lembrar? Ou esquecer? Quero lembrar como Juliette é linda, como
ela pode ser engraçada, como ela pode ser cruel quando quer? As sardas nas
costas, as estrias nas coxas… cada beijo, cada toque, cada suspiro, cada
luta.
— Esquecer.
Ele balança a cabeça e me serve uma dose do que parece ser vodca.
Pego meu cartão e coloco na máquina. Levanto o copo até os lábios,
tentando tomar um gole, mas depois engulo inteiro. Tem gosto de remédio,
um maldito remédio frio batendo no fundo da minha garganta. Dói tanto e
eu faço uma careta abertamente, o barman ri de mim.
— Posso ter um pouco de tequila no lugar disso? — Eu pergunto,
estremecendo e ele apenas acena com uma risada. Ele repete seu trabalho
anterior com tequila e me sinto como Juliette quando pego o copo.
Qualquer. Farei qualquer coisa para sentir que ela está bem aqui ao
meu lado.
Pego o copo novamente, mas antes que ele possa tocar meus lábios,
ele é arrancado de minhas mãos. Eu giro minha cabeça confusa, apenas para
encontrar os olhares preocupados dos meus melhores amigos.
— Que porra você está fazendo? — Victoria grita.
— E por que você está servindo álcool a um menor? Você quer que eu
denuncie você? — Aryan diz ao barman que apenas revira os olhos em
resposta antes de ir embora.
Tão hipócrita. Eles bebem todo fim de semana, como qualquer outro
adolescente do planeta, mas Deus me livre de beber.
— Estraga-prazeres — murmuro baixinho, evitando seus olhares. Eu
tento alcançar o copo na mão de Victoria, mas ela rapidamente o puxa de
volta.
— Não toque nisso. O que há de errado com você? — Ela pergunta.
— Não me diga o que fazer. — Eu bufo, irritada e quase com raiva.
Na verdade, não, estou com muita raiva.
— Addie, pare com isso — Aryan me adverte.
— O quê? Sou adulta, não posso beber?
— Você tem 17 anos, na verdade, mas esse não é o ponto. Você não
quer beber, você nunca bebeu — ele diz severamente. Eu nunca o vi assim.
— Bem, eu quero agora. — Eu dou de ombros. Não, eu não quero.
Apenas o pensamento de beber aquela tequila está me deixando doente por
dentro, mas eu só quero deixar ir.
— Não, você não quer — diz Victoria.
— Vocês não entenderam quando eu bloqueei vocês? Eu não quero
falar com vocês, porra — eu cuspo com raiva, sem perder as carrancas em
seus rostos. Eu me levanto, mas eles bloqueiam meu caminho.
— Eu sei que você está chateada, mas estamos tentando dizer para
você entender… — Victoria começa seu sermão novamente.
Eu a interrompo.
— Entender o quê? Que você está de alguma forma defendendo a
mesma garota que você odiava não muito tempo atrás? — Eles ficam em
silêncio, então eu continuo falando. — Nunca pensei que Kai seria o único
a me ouvir. Eu pensei que vocês estariam do meu lado!
As pessoas estão nos lançando olhares engraçados por causa da
comoção, mas eu não dou atenção. Estou com raiva, na verdade estou
furiosa com todas as pessoas. Meus próprios amigos, que eu achava que
valorizavam a lealdade acima de tudo, estão defendendo Juliette.
— Porque estou tentando lhe contar, Addie! — Vitória grita. — Não é
culpa de Juliette.
Eu zombo cansadamente.
— Sim, por que seria?
— Ela é cruel, sim, ela é, mas desta vez ela foi forçada a isso. —
Aryan se aproxima de mim, colocando as mãos em meus ombros. — Desta
vez, ela fez isso por você.
— Do que você está falando? — Eu pergunto, confusa enquanto tiro
as mãos de Aryan de cima de mim e ele franze a testa com tanta força que
meu coração estremece.
— Stacey tinha de vocês fazendo sexo — diz ele, suspirando.
— O quê? — Eu pronuncio, minha mandíbula caiu.
Victoria suspira, ela e Aryan lançando olhares um ao outro.
— Ela é voluntária no museu… Stacey, quero dizer. — ela esclarece.
— Ela viu vocês lá e gravou vocês fazendo sexo.
— O-o quê?
Ela continua.
— Ela foi à casa de Juliette e a chantageou, disse a ela para quebrar
seu coração, caso contrário ela postaria… ela tem cópias.
Eu tropeço para trás na cadeira do bar. No Museu. Nos banheiros. Era
com isso que ela a estava chantageando. Não apenas se assumir, mas ser
vítima de revenge porn. O pensamento queima violentamente o fundo da
minha garganta. Ela tem um vídeo de nós fazendo sexo.
Doente. Ela é tão doente.
— Então, ela não está com Stacey? — Eu falo, confusa e eufórica ao
mesmo tempo.
— Isso foi seriamente tudo o que você absorveu com isso? —
Victoria diz, diversão dançando em seus olhos, Aryan espelha suas
expressões.
Claro, isso é o que eu absorvo disso. Uma fita de sexo é ruim. Mas ela
estar com Stacey? Outra pessoa tocá-la ou estar com ela é pior. É uma das
piores coisas que eu poderia imaginar.
Eu não me importo se um vídeo meu de sexo vazar, contanto que ela
estivesse comigo, eu aceitaria. Mas isso é egoísta, não posso esperar que ela
sinta o mesmo. Claro, ela está apavorada, isso arruinaria toda a sua
reputação. Nada é pior do que uma mulher ter liberdade sexual... mas os
perpetradores de vazamentos de revenge porn raramente são
ridicularizados. São sempre as vítimas.
Aryan pigarreia, atraindo minha atenção.
— Ela não se importava com o que acontecia com ela, apenas com o
fato de que aquele vídeo arruinaria seu futuro. Ela fez isso por você.
Espere o quê? Ela não se importava consigo mesma? Juliette
Kingston, que só parece se importar com o que as outras pessoas pensam
dela.
Meu futuro. Eu nem pensei no meu futuro. Eu sendo médica. Ela
pensou nisso, porém, tanto que me machucou para me salvar disso. Eu a
chamei de egoísta em minha mente, eu disse a ela que nada jamais poderia
me levar a dizer palavras vis para ela assim. Mas eu estava errada, se
estivesse no lugar dela, talvez eu fizesse o mesmo.
Ela fez isso por mim.
Quero me levantar e encontrar Stacey, quero rasgá-la membro por
membro, mas não consigo fazer isso agora. Não consigo fazer nada além de
me arrepender.

3. The Universities and Colleges Admissions Service in the UK. Sistema de admissões de
faculdades no Reino Unido.
Capítulo QUARENTA E TRÊS
Juliette
— Nós precisamos matar Stacey.
Reviro os olhos.
— Não, nós não precisamos.
Kai me dá um olhar inexpressivo e uma risadinha irrompe do fundo
da minha garganta. Acho que é a primeira vez que ri desde tudo isso. Claro,
eu só poderia manter Kai afastado por um tempo.
Eu contei tudo a ele esta manhã e ele se desculpou por não ter me
ouvido antes, mas eu não podia culpá-lo. Ele tentou ligar para Adaline logo
depois, mas eu o impedi – ela precisa de espaço, está claro. Isso só vai
afastá-la ainda mais de mim.
— Sério, quando sua mãe vai resolver isso? — Ele pergunta em um
acesso de raiva.
— Ela está a caminho, eu liguei para ela ontem e disse que precisava
de ajuda com uma coisa — eu digo, sentindo meu nervosismo crescer.
— Você realmente vai contar a ela?
— Sim.
Minha mãe não hesitou em me dizer que entraria no próximo vôo. Ela
deve chegar aqui em breve. Não tenho certeza se ainda terei essa coragem
quando a vir, mas vou ter que me forçar.
— Você vai ao casamento de Adam amanhã? — Pergunto-lhe.
Seus olhos suavizam.
— Não sem você.
Eu desvio meus olhos dele.
— Ela não quer me ver.
Tenho certeza que a despedida de solteiro de Adam é esta noite
também. Só sei porque ajudei a planejar as lembrancinhas com ela. Eu tive
que praticamente forçá-la a me deixar ajudar.
— Isso é um tiro no escuro e você sabe disso — ele me diz.
Talvez seja. Talvez eu esteja com medo de ver o rosto dela novamente
porque isso me fará perceber que tudo o que ela disse é verdade. Que ela é
capaz de amar, mas nunca me amaria.
— Juliette! — Uma voz chama do andar de baixo e instantaneamente
me levanto da minha cama, Kai me seguindo enquanto desço as escadas de
maneira apressada. É minha mãe, entrando pela porta com umas quinze
malas nas duas mãos.
— Oi, senhorita Kingston — Kai cumprimenta alegremente.
— Olá, Kai. — Ela sorri de volta para ele. Ela sempre gostou de Kai.
Dou uma olhada em Kai, inadvertidamente dizendo para ele ir e ele
obedece. Ele se despede de mim e de minha mãe. Minha mãe se aproxima
de mim e me puxa para um abraço apertado, quente e... estranho. Ela se
afasta depois de alguns segundos e eu olho para ela, confusa.
— Então qual é o problema? — Ela me pergunta, inclinando a cabeça
para o lado.
— Vamos sentar.
Ela assente, franzindo as sobrancelhas. Entramos na sala de jantar
enquanto ela coloca as malas no chão e se junta a mim na mesa, sentando-se
ao meu lado.
— Qual o problema, Juliette? Você está me preocupando. — Ela está
certa, posso ver em seus olhos.
Eu deveria começar pequeno. Algo para testar as águas.
— Eu não quero estar na empresa mãe. — Ela não diz nada, então eu
continuo. — Quero abrir minha própria galeria. Sempre quis isso.
As palavras de Victoria me encorajaram a fazer mais do que apenas
me assumir. Se eu quero viver honestamente, isso deve abranger todas as
partes da minha vida.
Ela espera alguns momentos antes de perguntar:
— É isso?
Quando eu aceno, ela exala alto como se eu tivesse acabado de dar a
melhor notícia de sua vida.
— Graças a Deus. Achei que você estivesse com algum tipo de
problema. — Ela respira trêmula. — Tudo bem, Juliette, não é o que eu
teria escolhido para você, mas se é o que você quer fazer, eu vou apoiar.
— Sério?
Ela franze a testa.
— Sério.
Isso foi mais fácil do que o esperado. Tão fácil que está me fazendo
querer dizer a ela a próxima coisa muito rapidamente.
Eu cerro meus punhos com força.
— Tem mais uma coisa.
— Sim?
— Preciso de ajuda com um problema. — Eu mexo com meus dedos
antes de olhar para ela. — Alguém está com problemas.
— Quem está com problemas? — Ela franze as sobrancelhas.
— Adaline Emery.
Ela parece perplexa, quase rindo quando diz:
— Adaline Emery? Por que eu me importaria com ela?
— Mãe, isso é sério. Esse problema pode arruinar a vida dela. — Eu
cerro as palavras, de repente meu coração está disparado. Se eu dissesse a
ela que estava com problemas, ela se importaria, ela não tem ideia de que
estamos juntos nisso.
Ela zomba.
— Como eu disse antes, por que eu me importaria com a vida dela?
— Porque eu me importo com ela — murmuro, abaixando a cabeça.
— O quê?
A fúria corre através de mim com sua confusão, com sua total falta de
consideração pela mulher que amo. Eu olho para ela, vendo a confusão e a
ignorância vagando em seus olhos. Como pude não ver isso todos esses
anos? Não posso mais ignorar e não consigo parar.
Eu poderia me afogar nesses sentimentos e nunca sair para respirar…
não acho que mereço sair para respirar. Eu quero ir às compras, discutir
sobre coisas estúpidas e fazer coisas que outros casais fazem. Quero segurar
a mão dela quando ando na rua e não me preocupar com ninguém nos
machucando. Quero trazê-la para casa e deixá-la nervosa para impressionar
minha mãe, não porque ela tenha medo dela, mas porque ela só quer
impressionar.
— Porque eu me importo com ela! — Eu grito, minhas mãos batendo
na mesa. Ela parece ofendida e eu me levanto. — Cada segundo de cada
dia, eu me preocupo com ela! — Eu quero parar, mas não posso, tudo sai de
dentro de mim. — Eu amo ela. Estou apaixonada por ela. Hoje. Amanhã. Se
eu fosse viver para sempre, seria amando-a!
Ela apenas fica sentada lá, completamente sem palavras e acho que eu
também. Ai, meu Deus. Fico ali parada por alguns bons minutos, mas ela
ainda está em silêncio, meu coração despenca ao mais fundo possível, mas
não deixo transparecer. Eu apenas balanço minha cabeça e faço meu
movimento para ir embora. Mas antes que eu possa, ela fala.
— Juliette … — Sua voz é hesitante.
Eu não me viro.
— Sim?
— Qual era o problema?
Eu não deixo a ansiedade ou vergonha me parar desta vez.
— Stacey Johnson. Ela nos gravou fazendo sexo e está me
chantageando com isso.
Eu não espero por sua resposta, eu me afasto e piso todo o caminho
até o meu quarto, batendo a porta do meu quarto. Logo depois, ouço a porta
da frente fechando, mas é suave.
Enrolo-me debaixo das cobertas, mas não choro, também não fico
com raiva. Isso torna as coisas muito mais difíceis, sem minha mãe vai ser
mais difícil assustar Stacey e apagar aqueles vídeos, mas vou dar um jeito.
Acabei de me assumir para minha mãe. Não esperava parabéns nem
abraço, esperava raiva. Eu esperava possivelmente ser expulsa de casa. Este
pode não ser o melhor resultado, mas também não é o pior e isso é a coisa
mais triste do mundo ou a mais normal. O pensamento me leva a um sono
profundo e, como em todas as noites, sonho com Adaline.
***

Na manhã seguinte, acordo grogue, me sentindo mais leve do que o


normal. Eu acho que sair do armário faz isso com você. Eu me viro para a
minha mesa de cabeceira acendendo a lâmpada. Pego minha garrafa de
água, mas em vez disso sinto um pedaço de papel. Eu o pego e está
dobrado, com meu nome nele. Esfrego os olhos para tirar o sono e começo
a ler, sentindo meu coração bater forte.
Juliette,
Como você sabe, não sou boa com palavras, então pensei que
escrever isso seria o melhor caminho a percorrer. Conversei com os pais de
Stacey e com a polícia. Com um pequeno incentivo extra, todos os vídeos e
dispositivos foram destruídos. É seguro dizer que ela não vai incomodá-la
novamente.
Não consigo nem imaginar o que ela quer dizer com incentivo extra,
mas sei que não é bom. Eu respiro fundo antes de continuar lendo.
Não sou a melhor mãe, Juliette, faz tempo que não sou. Está claro,
considerando que eu nem sabia que você estava em um relacionamento.
No entanto, embora eu não seja a melhor mãe, vi o medo em seus
olhos quando você confidenciou a mim ontem. Você olhou para mim como
se eu fosse ele. Eu preciso que você saiba que eu nunca te machucaria e
nunca deixaria ninguém te machucar também. Preciso de algum tempo
para isso, mas quero que saiba que, se você realmente ama Adaline, nunca
deixarei que ninguém a machuque, inclusive eu.
Todo o meu amor, mãe.
Ps: Vou encerrar minha viagem de negócios mais cedo e nos vemos
em alguns dias. Parece que temos muito o que recuperar.
Uma gota de água pinga na carta e tento enxugar as lágrimas, mas não
adianta. Reli a carta quantas vezes pude, até meus olhos doerem de tanto
olhar.
O calor das palavras penetra em minha alma e me transporta de volta
ao corpo da Juliette de 12 anos, que queria Adaline. Mas preciso lembrar
que agora estou no corpo da Juliette de 18 anos, que vai tê-la.
Pego meu telefone e me preparo para ligar para ela, mas
instantaneamente, uma notificação de cinco minutos atrás chama minha
atenção, é dela.
Ruína da minha existência:
Aryan e Victoria me contaram tudo sobre Stacey. Sei que não fiz esse
convite, mas estarei esperando por você esta noite.
Eu estarei lá.
Capítulo QUARENTA E QUATRO
Adaline
Chegou. O casamento de Adam e Olivia. O salão do casamento é
bem pequeno, mas não faz diferença, pois há apenas cerca de cinquenta
pessoas presentes. As paredes de mogno marrom destacam ainda mais o
vestido branco de Olivia.
Ela está caminhando em direção a Adam agora, seu buquê de violetas
a acompanhando. Eu nunca o vi tão iluminado assim antes, lágrimas
encharcando seu rosto.
Eu estou de ombros retos ao lado dele. Eu sou a única do lado dele
que não usa terno. Eu pensei sobre isso, mas não queria me igualar a todos
os outros padrinhos.
Então, em vez disso, estou usando um elegante vestido marrom-
escuro com uma fenda entre as pernas. É possivelmente o vestido mais
chique que já usei na minha vida – e o mais caro –, mas vale a pena para o
casamento dele.
Assim que Olivia alcança Adam, ele pega as mãos dela – claramente,
eles não conseguem parar de se tocar. A amiga de Olivia está na frente deles
enquanto ela está ministrando. Prendo a respiração e me concentro em seus
votos.
Adam respira fundo e trêmulo antes de começar.
— Não sou muito bom em falar sobre o que sinto, mas... vou tentar o
meu melhor…
Os convidados murmuram audivelmente com seu nervosismo e ele
continua.
— É simples, sério. Você é a melhor coisa que já me aconteceu, Liv.
Nunca conheci uma alma tão bonita, gentil e brilhante quanto você.
Prometo estar sempre ao seu lado, protegê-la e apreciá-la, nunca deixar que
a luz que você tem se apague.
Sua voz falha e eu não consigo parar de me agarrar às suas palavras e
claramente nem Olivia, porque ela está chorando abertamente.
— Eu te amo tanto que não consigo imaginar passar minha vida com
outra pessoa que não você… — Enquanto ele se prepara para terminar de
falar, meus olhos vagam até a entrada do corredor. — Eu te amo sem
nenhuma expectativa, sem nenhuma reserva. Eu te amo do jeito que você é,
com tudo o que sou... — Não consigo ouvir o resto do que Adam diz
porque, neste exato momento, meus olhos encontram os dela.
Juliette. Minha respiração é arrancada de mim e meus ouvidos foram
completamente silenciados. Não consigo ouvir nada; quase não consigo ver
nada... tudo o que vejo é ela.
Seus olhos suavizam quando encontram os meus e ela logo encontra
um assento em uma das mesas circulares, a mesma em que Aryan, Victoria
e Kai estão sentados. Não consigo nem olhar para eles, mas tenho certeza
de que provavelmente estão enviando olhares de cumplicidade na minha
direção.
Eles me garantiram que ela viria hoje, independentemente disso, não
posso dar a eles a satisfação do meu olhar chocado, porque não consigo
tirar os olhos dela. Ela está usando um vestido de cetim verde esmeralda,
seus cabelos sedosos soltos em ondas e seu batom vermelho está mais
encantador do que nunca.
Eu tenho que me forçar a desviar meus olhos dela. Quando olho para
frente, parece que os votos de Olivia já foram feitos e eles estão se
beijando. As pessoas aplaudem e eu me vejo fazendo o mesmo. Ambos se
viram e caminham de volta pelo corredor e antes que eu perceba, todos
estão indo para a pista de dança.
A multidão de pessoas não me interessa enquanto tento passar para
chegar até Juliette. Eu não posso acreditar que ela está realmente aqui.
Fiquei chocada quando ela me mandou uma mensagem de volta ontem.
Depois que a deixei chorando do lado de fora da minha porta? Eu não a
culparia se ela nunca mais quisesse falar comigo. Eu nem sequer dei a ela
uma chance de explicar.
Meus pensamentos são interrompidos quando esbarro em um corpo e
olho para cima com aborrecimento. É uma garota que eu não conheço,
porque eu reconheceria um cabelo ruivo escuro assim em qualquer lugar.
— Você se parece com seu irmão — diz a garota.
Eu arqueio minhas sobrancelhas para ela.
— Estou assumindo que você é do lado da noiva? — Não quero
parecer tão sarcástica, mas estou tentando falar com Juliette.
— Prima da noiva — ela responde, seu tom já sedutor. — Eu sou
Amelia.
— Adaline — eu digo educadamente, tendo que levantar minha voz
um pouco para que ela possa me ouvir sobre a música.
— Você quer dançar? — Ela me pergunta e antes que eu possa
recusar educadamente, uma voz mais aguda fala.
— Não, ela não quer.
Olho para trás de Amelia e é Juliette. Ela está parada ali, muito segura
de si. O vento é nocauteado para fora de mim. Deus! Ela parece tão perfeita
de perto. Tão dolorosamente lindo.
— Tenho certeza que ela pode responder por si mesma — Amelia diz
em um tom sarcástico, ignorando os olhares que Juliette está enviando para
ela.
— Eu quero dançar — eu digo e Amelia sorri estendendo a mão. Eu
olho para Juliette e ela está com uma careta de confusão.
O sorriso no rosto de Amelia se transforma em algo completamente
diferente quando eu ando em direção a Juliette.
Eu estendo minha mão.
— Gostaria de dançar?
Ela sorri brilhantemente e eu juro que ouço anjos cantando ao vê-la.
— Sempre. — Eu nem me incomodo em me virar e testemunhar a
bufada de Amelia.
Ela aperta minhas mãos e quase me puxa para o meio da pista de
dança e a música felizmente muda para um tom mais lento. Vejo meus
amigos na pista de dança enviando sorrisos para mim, assim como meu
irmão, que está dançando com Olivia. A sra. Kim também está na pista de
dança, parecendo excessivamente bêbada. Ela me lança um sorriso, com um
polegar para cima. Acho que não preciso explicar nada a ela.
As mãos de Juliette movem-se para a minha cintura e as minhas para
o pescoço dela, circulando-o com tanta força que ela não poderia escapar
mesmo que quisesse.
— Sinto muito… — Nós duas começamos ao mesmo tempo e rimos
baixinho.
— Desculpe, eu estava atrasada. — Ela sorri timidamente. — Eu
queria estar perfeita.
— Você está — eu digo a ela. — Você sempre está.
Ela cora e seus olhos examinam minha própria forma.
— Você é linda.
Sinto que estou ficando vermelha, mas tenho coisas mais importantes
para discutir.
— Juliette, sobre Stacey…
— Você não precisa se preocupar — ela me diz sem fôlego —, minha
mãe lidou com isso.
Suas palavras me assustam. Eu tinha um plano pronto, estava exausta
demais para fazer qualquer coisa ontem, mas sabia que depois do
casamento eu iria resolver o problema Stacey. Eu só precisava ver Juliette
primeiro.
Minha boca se abre.
— Você disse a sua mãe?
Ela sorri suavemente.
— Sim, eu não poderia esconder isso dela para sempre. Não quando
eu quero estar com você.
— Você ainda me quer? Mesmo depois que eu disse essas coisas para
você? — Eu tremo com a memória de deixá-la chorando na minha porta.
Ela não fala, então eu continuo. — Desculpe.
— Parabéns a propósito, ouvi falar de Oxford. Eu sempre soube que
você entraria — ela diz abruptamente e eu não posso responder porque ela
está falando de novo. — Comprei um apartamento lá, de um quarto. É
pequeno. Fica ao lado da sua universidade e tem um espaço perfeito para
uma galeria embaixo.
— O quê? — Eu murmuro sem fôlego. Juliette Kingston em algum
apartamento de um quarto? De alguma forma, essa é a parte mais chocante
de sua declaração.
Tudo está acontecendo tão rápido que mal consigo processar. Mãos se
movem para o meu rosto, segurando minhas bochechas suavemente.
— Você não tem nada para se desculpar. Me desculpe, me desculpe,
mas não vou me arrepender de novo porque cansei de estragar tudo. Aquele
apartamento é uma promessa, para mostrar o quanto estou falando sério,
cansei de viver para todo mundo. Quero passar o resto da minha vida com
você.
— Juliette… — As lágrimas que mancham minha maquiagem valem
a pena quando ela me olha daquele jeito.
— Não vou ficar aqui fazendo falsas promessas, não sou uma boa
pessoa. — Ela balança a cabeça. — Sou cruel e vingativa, mas prometo que
vou te proteger, vou enfrentar todas as brigas. Dê-me toda a sua raiva, toda
a sua tristeza e eu a farei minha. — Sua voz falha antes que ela fale
novamente. — Eu te amo, de todo o coração, sinceramente, como se fosse a
coisa mais verdadeira. Eu te amo de uma forma que me rasga e me
recompõe ao mesmo tempo, eu te amo, Adaline.
Eu a puxo para mim e para os meus lábios, incapaz de ouvir mais
palavras antes que meu coração saia do meu peito. Ela retribui quase
instantaneamente, suas próprias lágrimas encharcando meus lábios. Eu a
puxo impossivelmente para mais perto de mim. Deus, como devemos
parecer idiotas… duas garotas chorando se beijando, mas eu não me
importo.
Estamos nos beijando, não apenas no conforto de nossas próprias
casas, mas em público, onde outras pessoas estão. Eu sei o quanto ela está
assustada, posso sentir pelo jeito que ela treme durante o beijo, mas estou
aqui, estou aqui.
Seus lábios deixam os meus e sua testa descansa contra a minha.
— Podemos voltar a nos amar agora?
— Eu nunca parei.
Ela congela como se estivesse se perguntando se ouviu direito, então
repito minhas palavras.
— Eu te amo.
Seus olhos se arregalam.
— Diga isso de novo — ela implora desesperadamente.
Eu a puxo pelo pescoço.
— Eu te amo. Cada parte vingativa e cruel de você. Eu menti antes.
Não gostaria de ser incapaz desses sentimentos, porque nunca me senti tão
viva em toda a minha vida. — Eu expiro sem fôlego. — Passei tanto tempo
te odiando, mas agora quero passar o resto da minha vida te amando. Você é
um inferno, Juliette; meu próprio inferno pessoal e eu nunca quero sair dele.
Eu quero queimar para sempre, com você.
Ela olha para mim, engasgando com as lágrimas como se não pudesse
entender as palavras que saem da minha boca.
— Eu vou queimar com você, sempre.
Nossos membros se entrelaçam no abraço mais apertado
humanamente possível. Nunca me senti tão segura, nunca. Seu cheiro, seu
toque, sua mera presença parecem o paraíso que eu nunca soube que existia
e o inferno para o qual sempre soube que estava destinada.
Afastamo-nos do abraço a contragosto, ajudando-nos a enxugar as
respectivas lágrimas sem borrar a maquiagem mais do que já está.
— Eu vou pegar uma bebida. Você quer alguma coisa? — Eu
pergunto, fungando. Todo aquele choro secou seriamente minha garganta.
Ela sorri, enxugando as próprias lágrimas.
— Não, só não demore.
Eu não vou. De agora em diante, nunca mais demorarei.
Eu beijo seus lábios suavemente e ela aprofunda, me fazendo sorrir
no beijo. Ela choraminga quando faço um movimento para sair.
— Addie — Juliette chama e eu me viro. Ela sorri timidamente para
mim, colocando as mãos nos quadris.
— Sim?
— Eu ainda te odeio.
Eu sorrio, balançando a cabeça.
— O sentimento é mútuo.

FIM
Agradecimentos
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer aos meus leitores do
Wattpad; vocês me deram coragem para publicar este livro e não tenho
palavras para agradecer por tudo!
Meus maiores agradecimentos vão para minha família, especialmente
para minha mãe – por ser a melhor mãe que alguém poderia ter. Um
agradecimento especial para minha irmã, Ramisha e especialmente minhas
irmãs, Zainab e Zara, elas me concederam o privilégio de ser uma estudante
desempregada que pode ter tempo para se concentrar em escrever este
romance.
Além disso, gostaria de agradecer à minha editora, Faith Okoro, e ao
designer de capa, Muhammad Waqas, que podem ser encontrados no Fiverr.
Sobre a autora
Amina Khan é uma mulher lésbica de 19 anos, autora britânica-
paquistanesa que cresceu em Birmingham, na Inglaterra. Loathing You é seu
primeiro romance e ela começou a escrevê-lo no Wattpad, onde alcançou
mais de um milhão de leitores e apoiadores.

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