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Ele me ignora e volta seu olhar mais uma vez para o lado de
fora da janela.
Gato inútil.
Eu achava que ela era mais inteligente que isso, mas tudo
bem, deve ter sido culpa da surpresa.
— Quero!
— Quer?
— Namora.
— Mora.
— Você não tá feliz?
— Tô!
— Não.
— Então!
— A Susana não tem que dar pitaco, tenho certeza que ela
ainda tá rezando para a Pati dizer não na hora do “você aceita
esta mulher?”.
Minha sogra pode até estar mais à vontade, por assim dizer,
com a nossa relação, mas desconfio que não seja tão a favor
assim desse casamento. De qualquer forma fico feliz que a
família da Pati inteira esteja presente, sei como é importante
para ela.
— Mas ela tem razão, Lena. Se esse vento não parar, não
vamos conseguir ficar lá fora.
— Quase três!
— Foi o Pudim!
— COMO É QUE É?
Por um minuto inteiro fico sem saber o que falar, o que pensar
ou sentir. Isso não pode ser real.
Não!
Não vai adiantar de nada eu brigar com ela e, pela sua cari-
nha, ela já aprendeu sua lição sobre ser responsável.
Pego Juju pela mão para ela saber que não estou brava, e ca-
minhamos até a sala.
— Aqui diz que goiaba e mamão são laxantes naturais para
cachorros — Sofia diz, lendo algo no seu celular enquanto
Luísa caminha de um lado para o outro e Mila e Júlio exa-
minam o Pudim: Mila tentando olhar a garganta dele e Ju o
segurando firme.
— Que diabos, por que eles deixaram para vir tão em cima
da hora?
— Pena que você não tem os poderes dela, para fazer esse
tempo melhorar.
— Por quê?
— Por quê?
Logo deixei Pati escorregar pelo meu corpo. Ela por fim co-
locou os pés no chão, me abraçou pelo pescoço e me deu um
beijo rápido, mas gentil.
— Exatamente.
— De novo?
— Eu não falei ainda por conta do… ah, é uma longa história!
— Tá, tá!
— Amor, você ainda não está vestida! — Pati diz ao ver que
ainda estou com o robe de seda.
— Tem certeza?
Toc toc
Toc toc.
— Você vai ter que retocar — ela diz com uma risadinha.
Assim que termina, se afasta um pouco. — Entra!
Caminho até a sala em que vi Pudim pela última vez, mas não
os encontro lá. Procuro pela casa até que finalmente encontro
Pudim, Ju, Juju, Lucas, Luna, Luísa e Sofia na varanda da
frente da casa. Lucas é o único que já está arrumado.
Cristo.
— Sei.
— Desculpa, mãe!
— Pode deixar!
Eu sei que não sou uma pessoa fácil, mas sei também que
ela está disposta a ficar comigo assim mesmo. E esse detalhe
sozinho faz com que eu queira ser melhor todos os dias.
Pego meu celular para ver que horas são. Faltam apenas al-
guns minutos para o horário marcado. Como não sei se eles
conseguiram organizar tudo tão rápido, fico esperando algum
sinal da Lara.
Mais alguns minutos passam até que uma batida na porta cha-
ma minha atenção. A porta se abre devagar e Lara coloca a
cabeça para dentro.
— Está na hora!
— E a Pati?
— Eu sei!
— E que você vai irritá-la com o seu bom humor matinal! Vo-
cês provavelmente vão brigar por coisas bobas como quando
a Pati quiser comer alguma coisa diferente e a Helena insistir
em pedir comida do Orso pela sétima vez na semana. E a
Helena vai querer estapear a Pati quando ela resolver surfar
em meio à uma ressaca marítima…
— Ah bom! — exclamo.
“Eu sei que muita gente pensou que fomos rápidas demais,
inclusive nós mesmas em alguns momentos. Mas eu simples-
mente sei que você é a mulher que eu quero ao meu lado e
a cada dia que passa isso apenas se confirma. E eu não via
sentido em esperar mais!”
“E, de repente, toda essa teoria lógica e racional caiu por ter-
ra. E eu comecei a perceber que a magia não precisa estar
afastada da realidade. Muito pelo contrário, a magia está jus-
tamente naquilo que é mais real. Que é tão real que foge da
nossa capacidade de explicar com palavras. Porque estar com
você é mágico! Mas é a coisa mais real que já vivi também!”
— Sim!
Ela não precisa pedir de novo. Puxo Pati pela cintura e beijo
minha esposa pela primeira vez.
— Eu também te amo!
Luísa caminha mais uma vez até o altar e pega seu violão.
Ela se senta em uma cadeira e coloca o microfone mais perto.
Eu odeio dançar!
Pati me leva para mais perto dela e sinto nossos corpos se en-
costando, então, deito minha cabeça no seu ombro. Ela apoia
a cabeça sobre a minha e dita nossos passos.
— Feliz — respondo.
Além disso, mês que vem temos uma viagem em família com
eles para a Disney, vai ser a primeira viagem de avião dos
dois e eles estão animados. A Pati também está!
— Hm, sei.
Ela parece bêbada, mas não bebeu uma gota de álcool ainda.
Sei que está assim porque está feliz. Eu também estou.
Por mais ansiosa que eu esteja para ficar sozinha com a minha
esposa, sei que terei bastante tempo. A vida toda!
— No fim deu tudo certo — Pati diz apenas para mim, ainda
no meu colo.
Fim