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Helena

— Está tudo um desastre! — falo para o Guga. — Um de-


sastre!

Ele me ignora e volta seu olhar mais uma vez para o lado de
fora da janela.

Gato inútil.

Eu devia ter feito a Pati doar ele antes de se mudar para a


minha casa!

Guga dá um salto assustado quando uma rajada forte de ven-


to faz um galho de árvore bater contra a janela do quarto de
Lara, quarto em que estamos.
Bem feito!

Ele se esconde em uma poltrona que está na parede oposta à


janela e se enrosca na almofada de linho sob ele. Lara vai me
matar quando ver o tanto de pelo grudado nessa almofada…
e na cama e no tapete e, bem, em tudo.

Mas a Pati exigiu que o Guga estivesse presente no dia do


casamento. Então aqui estamos, eu e ele, e o mundo caindo
sobre as nossas cabeças.

Está tudo um completo desastre!

Pelo menos o pedido foi perfeito.

Se o casamento for um desastre e um tornado levar a casa da


Lara para Oz, podemos fingir que nos casamos naquele dia.

Nós estávamos namorando oficialmente havia dez meses e


ainda não tínhamos tido um fim de semana sozinhas. Claro
que Ju e Juju são uns amores e não foram um empecilho de
maneira alguma, mas, mesmo assim, sentíamos que merecía-
mos um fim de semana romântico a sós, já que nosso último
tinha sido em São Paulo no MASP Gala e, bem… não acabou
exatamente como eu esperava.
Com esse pensamento, aluguei um chalé na serra, porque sa-
bia que a Pati iria gostar mais de um fim de semana isoladas
do que no meio da cidade. Escolhi um chalé lindo, cheio de
paredes de vidro e vista para as montanhas.

Na segunda noite, decidimos que acenderíamos a lareira ex-


terna e abriríamos um vinho, e foi naquele momento que eu
percebi que era a hora certa.

Escondi o anel no bolso do cardigan de lã dela antes de ela o


vestir e quando estávamos lá fora com a fogueira crepitando,
a lua reinando no céu e nós conversando sobre alguma coisa
que não consigo me lembrar o que era porque estava ansiosa
demais para que ela achasse o anel, Pati finalmente colocou
as mãos no bolso para tentar aquecê-las.

Na mesma hora ela se virou para mim com as sobrancelhas


franzidas e eu soube que ela tinha encontrado o objeto gela-
do. Eu apenas sorri e a incentivei a tirar do bolso.

Assim que viu o anel, ela arregalou os olhos e ficou em com-


pleto silêncio por mais tempo do que eu havia calculado.

Eu sentia meu coração na boca. Pati é a pessoa mais tagarela


que eu conheço. Por que estava em silêncio???
Depois de horas… ou pelo menos foi o que pareceu, ela final-
mente deu sinais de consciência:

— Hm, amor… — ela disse, ou melhor, gaguejou. — O qu…


que é isso?

— É exatamente o que parece: um anel de noivado!

— Você quer se casar comigo? — ela perguntou, ainda arre-


galada.

Eu achava que ela era mais inteligente que isso, mas tudo
bem, deve ter sido culpa da surpresa.

— Quero!

— Quer?

— Claro, ué! A gente não namora há quase um ano?

— Namora.

— Não mora juntas há quase isso também?

— Mora.
— Você não tá feliz?

— Tô!

— E você tem alguma dúvida de que eu também estou?

— Não.

— Então!

Ela ainda me encarava surpresa, e um biquinho se formou em


seus lábios, ao mesmo tempo notei seus olhos se umedecen-
do e pude ver as chamas da fogueira refletindo neles. Ainda
assim ela não me respondeu, então me dei conta que talvez
fosse porque ainda não tinha feito a pergunta oficialmente.

Sem pensar muito, me levantei da cadeira em que estava e


me agachei na frente dela. Eu queria evitar a qualquer custo
o clichê do pedido de joelhos, mas precisava me aproximar
dela, e como ela estava sentada, fiquei sem muita escolha. Pe-
guei suas mãos nas minhas. O anel ali em algum lugar entre
os nossos dedos.

— Você quer se casar comigo? — perguntei.


— Quero! — ela gritou antes de pular em cima de mim.

Nós quase perdemos o anel nesse momento. Mas consegui


segurá-lo firme enquanto ela me beijava.

Como eu disse, foi perfeito!

Quando voltamos para casa e contamos aos meus filhos, tive


ainda mais certeza de que tinha tomado a decisão correta.
Eles ficaram quase mais felizes do que a Pati.

Desde aquele dia, combinamos que queríamos uma festa


íntima.

A Pati e minhas irmãs adoram falar que eu não gosto de nin-


guém, pois bem, se não gosto de ninguém, não precisei con-
vidar ninguém para a festa. Ainda assim, convidei minhas
irmãs e alguns colegas de trabalho. E Pati convidou só a fa-
mília e seus amigos mais próximos.

Mas não é porque queríamos uma festa pequena para trinta


pessoas que está tudo bem dar tudo errado!

Duas batidas na porta fazem Guga dar outro pulo. Como é


covarde, meu Deus.
— Entra!

Lara, que está no modo “resolutivo”, entra com uma agenda


na mão e o cabelo cheio de bobs. No momento, ela parece a
Dona Florinda, mas acho melhor não comentar isso em voz
alta.

— Tá, o pessoal do Orso ligou, falaram que só vão conseguir


entregar o Buffet depois que o tempo melhorar — ela dispara,
sem nem tirar os olhos da agenda.

— Eu te contratei pra quê, Lara? — pergunto, irritada com


mais uma coisa dando errado.

— Primeiro, você não me contratou e nem está me pagando


nada, eu me ofereci como sua irmã, de boa vontade e, segun-
do, como eu ia saber que um ciclone ia se formar do nada?

Fiquei tão estressada que esqueci de explicar o que está acon-


tecendo. Talvez já esteja bastante óbvio, mas hoje é o dia do
meu casamento!

E a Pati, sendo quem é, é claro que quis um casamento ao ar


livre. Para ser sincera, eu poderia me casar até no drive-thru
daquele restaurante de poke que ela gosta que estaria feliz.
Não me importo tanto com a festa. Mas me importo que ela
tenha o casamento que sonhou e ela queria um casamento ao
ar livre!

E se é o que ela quer, é o que ela vai ter!

Isso, é claro, se essa desgraça de ciclone extratropical não


estragar tudo. Que merda de cidade para ter tanto ciclone
também?

Como que uma coisa dessas acontece sem que os meteorolo-


gistas saibam? Que diabo de profissão inútil é essa que não
é nem capaz de prever um CICLONE! no dia do meu casa-
mento?

Nós olhamos com antecedência a previsão do tempo, esco-


lhemos a estação mais amena, o mês mais seco, tudo para que
o clima estivesse perfeito. Como queríamos uma cerimônia
pequena, a Lara ofereceu sua casa, que tem um jardim lindo
que comporta uma festa até maior que essa, e tudo estaria
absolutamente perfeito se não fosse por esse maldito ciclone
que resolveu passar pela ilha hoje.

O vento assobia forte e faz as janelas tremerem ainda mais.


Não vai sobrar uma única folha nas árvores do jardim desse
jeito.

— E por que você não está se arrumando ainda? — Lara per-


gunta olhando para o meu robe de seda.

— Como por quê? Porque o mundo está acabando lá fora.

— A previsão é de que passe em uma hora.

— A “previsão” — faço aspas com os dedos — era de que o


tempo estaria perfeito hoje! Acho que não podemos confiar
tanto assim na “previsão”.

— Eu estava falando com a Susana agora há pouco e ela su-


geriu passar a cerimônia para a sala da piscina, tem espaço de
sobra pra fazer tudo ali e já está decorado!

A sala da piscina é uma área de festa coberta adjacente à pis-


cina, porém sem portas e é onde, a princípio, seria servido o
buffet depois da cerimônia.

— A Susana não tem que dar pitaco, tenho certeza que ela
ainda tá rezando para a Pati dizer não na hora do “você aceita
esta mulher?”.
Minha sogra pode até estar mais à vontade, por assim dizer,
com a nossa relação, mas desconfio que não seja tão a favor
assim desse casamento. De qualquer forma fico feliz que a
família da Pati inteira esteja presente, sei como é importante
para ela.

— Mas ela tem razão, Lena. Se esse vento não parar, não
vamos conseguir ficar lá fora.

— Que horas são?

— Quase três!

O casamento está marcado para as 17h e foi todo planejado


para que a cerimônia termine ao pôr do sol, que é realmente
lindo do jardim da Lara.

Dentro de uma hora, no máximo uma hora e meia, os convi-


dados deveriam começar a chegar. Mas não sei como estão
as estradas de acesso e nem se o clima vai mesmo melhorar.

Por que está dando tudo errado???

— Eu preciso falar com a Pati! — anuncio e saio do quarto


da Lara em direção ao quarto de hóspedes em que sei que ela
está.

Mas antes que eu termine de atravessar o corredor…

— Mamãããe! Mamãe!!! — Juju grita na minha direção, os


olhinhos molhados de lágrimas e as sobrancelhas juntas.

— O que foi, meu amor? — pergunto me abaixando para


ficar na altura dela. Apesar de ela ter crescido bastante nesse
último ano.

— Foi o Pudim!

— O que tem o Pudim?!

Ju e Juju insistiram que se o Guga iria participar da cerimô-


nia, o Pudim, nosso labrador, também deveria. Então veio a
família toda para a casa da Lara.

Diferente dos meus filhos e da minha futura esposa, Lara não


ficou tão feliz assim com essa decisão.

Juju hesita antes de falar o que aconteceu, e a sua cara soma-


da a minha angústia generalizada nesse dia, me deixa a ponto
de um colapso.
— O que foi, Júlia? — pressiono.

— Você não vai brigar comigo?

— Por que eu brigaria com você?

— Porque o Pudim comeu as alianças!

— COMO É QUE É?

Júlia e o irmão ficaram responsáveis pelas alianças. Eles que


deveriam levar até o altar durante a cerimônia.

— Ele comeu as alianças!

— Como? Como que… como?

— A tia Mila achou que seria legal a gente levar as alianças


dentro de uma flor, aí eu e o Ju fomos no jardim escolher
uma bonita — ela conta, mas meu cérebro está ansioso pela
resolução da história —, a gente achou uma branca pra com-
binar com os vestidos, aí o Ju colocou as alianças dentro dela,
depois colocou a flor no banco do lado dele enquanto a gen-
te comia um bem-casado que a tia Luísa roubou pra gente.
Aí quando a gente viu, o Pudim tava comendo a flor com as
alianças dentro!

Por um minuto inteiro fico sem saber o que falar, o que pensar
ou sentir. Isso não pode ser real.

O Pudim não pode ter comido as alianças de vinte mil reais.

Horas antes do casamento!

Não!

— Você vai brigar comigo? — Juju pergunta de novo, apreen-


siva.

Respiro fundo e sacudo a cabeça.

Não vai adiantar de nada eu brigar com ela e, pela sua cari-
nha, ela já aprendeu sua lição sobre ser responsável.

— Não — digo. — Não, meu amor. Cadê o Pudim?

— Tá lá na sala com o Ju e a tia Luísa, tia Mila e tia Sofi.

Pego Juju pela mão para ela saber que não estou brava, e ca-
minhamos até a sala.
— Aqui diz que goiaba e mamão são laxantes naturais para
cachorros — Sofia diz, lendo algo no seu celular enquanto
Luísa caminha de um lado para o outro e Mila e Júlio exa-
minam o Pudim: Mila tentando olhar a garganta dele e Ju o
segurando firme.

— Tem uma goiabeira lá no quintal, eu vou atrás de uma


goiaba bem madura — Luísa diz, agitada. — LENA!

Todos na sala se viram para mim. Quatro pares de olhos


apreensivos e um par que parece zoar com a minha cara, o
do Pudim.

Como esse cachorro é irritante, meu Deus.

Quando ele chegou lá em casa, ele comia absolutamente tudo


que via pela frente. Confesso que se dependesse de mim, teria
doado ele já na primeira semana, mas Ju, Juju e Pati não me
deixaram.

— Ele é um filhote, amor — Pati disse na época. — Logo ele


aprende a não roer os móveis.

— E até lá ele destrói a nossa casa inteira — eu disse.


Nós estávamos na sala de TV, Ju e Juju brincavam com o Pu-
dim no quintal enquanto eu analisava uma almofada de linho
toda roída, rasgada e babada. Guga, que certamente ria da
minha cara, estava deitado em uma poltrona me encarando.

— Mas ele é tão fofinho! — Pati disse, se aproximando de


mim e me enlaçando pela cintura.

— Você também é e nem por isso fica comendo a decoração!

— Você me acha fofinha? — ela perguntou com uma expres-


são travessa.

— Acho! — disse, puxando-a para o sofá.

Pati caiu por cima de mim, rindo e me beijando pelo rosto


e lábios. Depois de me encher de beijos, ela deitou a cabeça
no meu peito, e ficamos ali abraçadas, sem fazer nada, e por
algumas horas esqueci completamente que aquele filhote de
demônio da tasmânia destruiu nossa sala inteira.

— É melhor trazer bastante goiaba — digo para Luísa que


ainda me encara sem saber o que fazer.

— Hm, é… tá! — ela gagueja.


— Cuidado, amor — Sofia diz. — Tá ventando muito e tá
cheio de galho voando pra todo lado.

Luísa assente com a cabeça antes de sair em disparada em


direção ao jardim.

— Que porra que aconteceu? — pergunto para os outros que


estão na sala.

— Pudim! — Luna, que está com um ano e meio, diz, passan-


do a mão na besta-fera e o abraçando pelo pescoço.

Desde que ela aprendeu a andar sozinha, adora ficar passean-


do pela casa e colocando tudo na boca. Pensando bem, ela é a
versão humana do Pudim.

— Foi um acidente — Mila explica.

Apenas reviro os olhos e me esforço para pensar apenas nas


soluções e não nos sermões.

— Quanto tempo a goiaba leva pra fazer efeito? — pergunto


para a Sofia.

— Não sei ao certo… mas espero que menos de uma hora.


— Ninguém abre o bico pra Pati — digo. — Ela queria um
casamento perfeito e é exatamente o que ela vai ter!!! Nem
que eu tenha que trazer um cirurgião veterinário para recupe-
rar essas alianças!

Vejo Ju e Mila abraçando o Pudim de maneira protetora.

Que exagero! Eu disse cirurgião, não um taxidermista ou coi-


sa assim.

— Lena, você precisa se arrumar! — Mila diz, depois de


olhar melhor para mim.

— Vocês também não estão prontos ainda.

— Mas nós não somos a noiva! E eu e a Sofia já estamos ma-


quiadas, só falta pôr o vestido.

Eu sei que posso me arrumar em menos de uma hora. Tan-


to eu quanto Pati decidimos não contratar maquiadoras ou
cabeleireiras. Nós mesmas vamos nos arrumar, embora Pati
precise de ajuda com o cabelo dela.

— Temos um problema! — Susana diz, entrando na sala tam-


bém.
— Mais um? — Sofia pergunta.

— Como mais um?

— Nada — digo, sem tempo para explicar. — Qual o proble-


ma?

— A Pati acabou de receber um telefonema da banda. O voo


deles foi cancelado ou adiado, não entendi direito, por causa
do mau tempo e eles não vão conseguir chegar aqui a tempo.

— Que diabos, por que eles deixaram para vir tão em cima
da hora?

— Acho que tiveram outro evento ontem.

Levo as mãos ao rosto.

Está tudo um desastre!

— Lena — Mila diz —, eu sei que você tá estressada, mas a


gente dá um jeito.

— Que jeito, Camila!? Eu tô sem aliança, sem banda, sem


buffet e sem local para fazer a cerimônia!
— Mas ainda tem a noiva — ela diz em tom otimista. —
E é o mais importante.

Não consigo evitar revirar os olhos. Eu sei que a Pati é o mais


importante, mas puta que pariu!

— Se acalma, Lena — Sofia diz. — A aliança e a banda a


gente resolve, eu vou ver com a Lu se ela consegue alguém
pra tocar assim em cima da hora!

— Eu vou ajudar a Pati a terminar o cabelo dela — Mila


diz. — Susana, vê com a Lara para passar a festa para a área
coberta. Ju e Juju, vocês ficam aqui com o Pudim e a Luna e
ajudem a tia Lu e a tia Sofi com as alianças!

— Tá bom — Ju e Juju falam em uníssono.

Como não tem nada que eu possa fazer, sigo as instruções da


Mila. Guga ainda está no quarto da Lara e Alícia está lá brin-
cando com ele. Ela já está pronta com um vestidinho de festa
azul turquesa e uma tiara nos cabelos soltos.

— Eu se fosse você não mexia tanto no Guga, ele vai encher


o seu vestido de pelos! — digo para ela.
— A mamãe disse que eu pareço uma princesa! — ela diz,
orgulhosa.

— Parece mesmo! Parece a Elsa!

— Ela é a minha preferida!

— Pena que você não tem os poderes dela, para fazer esse
tempo melhorar.

— A mamãe disse que se não melhorar a gente pode fazer


aqui dentro.

— Ela disse pra mim também, mas eu queria que fosse lá


fora.

— Por quê?

— Porque a tia Pati queria um casamento ao ar livre.

— Por quê?

Dois fins de semana depois do pedido, eu, Pati, Ju e Juju es-


távamos na praia jogando taco no fim de tarde. Estava frio
e ventando bastante, mas os três me convenceram… Como
sempre me convencem de tudo.

Eu e a Pati estávamos jogando contra os dois. Nós nos tacos


e eles no ataque.

— Joga rasteiro, Ju!!! — Júlia, que estava atrás de mim, gri-


tou ao irmão, que iria atacar a bolinha na minha direção.

Júlia é realmente minha filha, tão competitiva quanto eu. Ela


sabia que eu teria mais facilidade de rebater se a bola viesse
quicando. Sabia também que o irmão era muito bom de mira
e a chance de derrubar a minha casinha aumentava se eu er-
rasse a bola.

— Eu confio em você, amor! — Pati gritou da outra ponta.

Como o sol já estava se ponto e estava começando a esfriar


bastante, decidimos que esse seria o jogo de desempate já que
cada dupla havia vencido uma partida.

O jogo estava 8 a 4 para eu e a Pati.

Júlio fez exatamente como a irmã pediu e jogou uma bolinha


traiçoeira forte e rasteira. Como ela vinha bem na direção da
minha casinha, tive que tentar rebater mesmo assim. Senti
meio quilo de areia sendo levantado com a minha rebatida,
mas acertei a bola, que correu para a direção do mar. A reba-
tida não foi nem muito forte nem muito longe, mas Pati e eu
nos olhamos e sabíamos que poderíamos cruzar o taco pelo
menos uma vez. Saímos correndo na mesma hora que Júlio
pegou a bolinha.

— Juju! — ele gritou antes de arremessar na direção dela, que


estava atrás da casinha desprotegida, que antes era minha.

Eu e Pati corremos para cruzar. Juju, assim que pegou a bola,


a jogou com tudo na casinha desprotegida, mas Pati saltou e
conseguiu colocar o taco dentro do círculo a tempo.

— Quase! — Juju lamentou com um sorriso.

Pati estava com um short de corrida laranja e moletom azul


marinho, mas naquele momento seria impossível dizer as co-
res, já que estava toda em tons de areia, de tão suja que tinha
ficado na última jogada. Mas o sorriso vitorioso prevalecia.

Era a vez de Júlia atacar e seria novamente eu que teria que


rebater já que eu e Pati havíamos cruzado e invertido nossas
posições. Então eu sabia que a Juju iria repetir o ataque do
Júlio e jogar rasteira também.
Respirei fundo e me concentrei. Júlia atacou com um pou-
co menos de precisão do que Júlio e a bola quicou quando
acertou um montinho de areia, o que facilitou meu trabalho
e eu consegui rebater com força, jogando a bola por cima da
cabeça da Pati e da Juju.

Eu e Pati não perdemos tempo e corremos para cruzar o taco


somando 10 pontos. Retornamos à base para validar o ponto
na mesma hora que Júlia chegou à bola e a lançou para o
irmão.

— CRUZA! — Pati gritou e corremos até o centro para cru-


zar os tacos no chão.

Conseguimos antes que Júlio tivesse a chance de derrubar a


casinha.

Pati soltou um grito de alegria e antes que eu pudesse regis-


trar qualquer coisa, ela pulou na minha cintura, entrelaçando
as pernas ao redor de mim e comemorando a vitória erguendo
os braços.

Apesar de ter sido pega de surpresa, segurei ela firme para


que não caíssemos. Escutei Ju e Juju reclamar ao fundo, mas
foi ótima a sensação de ganhar deles em alguma coisa, já que
sempre dão uma surra na gente no tênis.

Logo deixei Pati escorregar pelo meu corpo. Ela por fim co-
locou os pés no chão, me abraçou pelo pescoço e me deu um
beijo rápido, mas gentil.

Naquele momento, o sol estava se pondo sobre o mar e o céu


estava em tons de rosa, roxo e laranja e, por alguns segundos,
me esqueci completamente de onde estávamos e o que está-
vamos fazendo e me perdi naqueles olhos cor de oliva.

— A gente devia casar ao ar livre — ela disse, ainda abraçada


em mim. — No pôr do sol!

— Você acha? — perguntei.

— Acho! A vida é mais alegre ao ar livre.

— Então vamos nos casar ao ar livre — eu disse para Pati e


fui recompensada com mais um beijo.

Ju e Juju se juntaram a nós assim que o tema festa foi men-


cionado.

— Porque a vida é mais alegre ao ar livre — respondo para a


Alícia no quarto de Lara.

— E uma festa tem que ser alegre, né, tia?

— Exatamente.

— A gente pode esperar o vento passar — ela diz, parecendo


muito a Lara nessa idade, que tentava arrumar solução para
tudo.

— É uma boa ideia, Lili.

O banho relaxante de banheira que tomei há menos de uma


hora não foi potente o bastante para acalmar meus nervos
diante de tantos empecilhos, mas tento respirar fundo e focar
naquilo que eu tenho controle… que nesse momento é: nada!

Bom, isso não é verdade, eu posso controlar a minha maquia-


gem, e é o que eu decido fazer enquanto a Alícia continua
brincando com o Guga e enchendo o vestidinho turquesa de
pelo.

Eu não faço nem ideia de como é o vestido da Pati. Foi a Luí-


sa e a Sofia que a ajudaram a escolher, enquanto Lara e Mila
me ajudaram com o meu. E as quatro garantiram que não
escolheríamos vestidos parecidos.

Eu disse que isso era bobagem porque eu e Pati jamais esco-


lheríamos o mesmo vestido, mas as quatro estavam se sen-
tindo As Panteras em uma missão, cheias de segredos e es-
tratégias para que os vestidos combinassem um com o outro.
Achei melhor deixar elas se divertirem.

O meu vestido é liso, de cetim Duchese, com mangas sete


oitavos e decote fechado. Quer dizer, frente fechada porque
as costas estão à mostra em um U profundo. Minhas irmãs
disseram que não poderia combinar mais comigo, e elas tem
razão, eu gosto mesmo desse estilo minimalista e sóbrio.

Faço uma maquiagem leve, que combina tanto com o vestido


quanto com um evento ao ar livre. Modéstia à parte, acho que
estou muito bonita. Meu cabelo também não exige grande
habilidade e sou capaz de fazê-lo sozinha. É apenas um co-
que baixo com uma trança lateral e algumas mechas soltas da
franja.

— Lena — Lara diz, entrando no quarto — falta um pouco


mais de uma hora, a gente tem que decidir se vai esperar mais
ou vai fazer aqui dentro!
Que inferno, não se tem paz nem no dia do casamento.

— Tá — digo, resignada. — Mas eu vou falar com a Pati


primeiro!

— De novo?

— Eu não falei ainda por conta do… ah, é uma longa história!

— Tá, mas sejam rápidas, temos que decidir logo!

Deus, como essa mulher é controladora. Devia ter escolhido


a Luísa para organizar. Se bem que corria o risco de eu me
casar no A Bica da Larica e ter que comemorar tomando um
litrão de cerveja.

Melhor que seja a Lara mesmo.

Respiro fundo e caminho até o quarto de hóspedes no fim do


corredor.

Antes de bater na porta, escuto Lara falando com Alícia no


seu quarto:

— Meu amor, você tá enchendo seu vestidinho de pelos!


Bom, a minha parte eu fiz. Eu avisei!

Dou três batidas na porta.

— Quem é? — Mila pergunta do outro lado.

— Sou eu! — digo, já girando a maçaneta.

Sinto a porta voltar com força para cima de mim.

— Você não pode entrar! — Mila diz, empurrando a porta.

Mas que diabos…

— Por que não?

— Ora, porque dá azar ver a noiva vestida antes do casamen-


to!

— Pati, eu preciso falar com você! — falo para a minha na-


morada.

— Deixa ela entrar, Mila! — Ouço a voz da Pati.

— Fecha os olhos, Lena — Mila ordena.


— Fala sério, Camila!

— Fecha os olhos ou eu não abro a porta!

— Tá, tá!

Coloco a mão sobre meus olhos fechados.

Tenho a impressão de que Mila dá uma espiada em mim para


ver se estou mesmo com os olhos fechados antes de abrir a
porta e me conduzir até a parte de dentro do quarto.

— Vou deixar vocês a sós — ela diz e escuto a porta se fe-


chando.

— Amor, você ainda não está vestida! — Pati diz ao ver que
ainda estou com o robe de seda.

— Ainda não. Tá tudo dando errado! — falo, finalmente dei-


xando minha frustração tomar conta.

Sinto a presença dela se aproximando de mim, o cheiro de


maresia me acalma e sinto minha respiração relaxar. A sua
mão encontra minha que está livre e ela planta um beijo no
dorso.
— Se acalma, amor! — ela diz.

Pela primeira vez, sinto vontade de chorar de raiva ou frustra-


ção ou irritação, não sei ao certo. Mas sinto.

— Eu só queria que fosse tudo perfeito — digo.

— E por que você acha que não vai ser?

— Olha esse tempo! A banda cancelou. O Orso não consegue


trazer o buffet. E ainda tem o Pudim!

— O que tem o Pudim?

— Hm… nada! Nada demais!

— A gente não precisa nem de banda, nem de comida para


se casar! — ela diz de forma gentil, e a sinto se aproximando
ainda mais.

— Mas não dá pra fazer um casamento ao ar livre com um


ciclone!

Até eu reconheço o tom de manha na minha voz, mas é mais


forte do que eu.
— A gente pode casar aqui dentro, isso não é tão importante.

— Mas você queria um casamento ao ar livre!

Escuto ela soltar uma risadinha, em seguida planta mais um


beijo na minha mão.

— Eu sei, linda, mas o mais importante é que eu vou me casar


com você, o resto é só detalhe!

— Tem certeza?

— É claro! Você é tudo o que importa!

Sinto a mão dela colocando uma mecha de cabelo atrás da


minha orelha e a sua respiração se aproximando da minha.
Os seus lábios acariciam os meus e tiro a mão dos olhos para
levar até a sua cintura e a puxar para mim. Consigo sentir
que o vestido é bordado, mas esse detalhe se perde na minha
mente na hora que sinto a sua boca na minha.

Não importa quantas vezes ela me beije, todas as vezes sinto


como se fosse a primeira. Ainda assim, há algo de diferente
nesse beijo. Uma promessa. Não é um beijo afoito, mas é
intenso.
Sinto o gosto do batom misturado ao doce da sua boca e levo
minha outra mão ao seu pescoço, tentando impedir que esse
momento acabe. Pensando bem, se o ciclone levar a casa de
Lara para Oz, é esse o momento que eu vou considerar o nos-
so casamento.

Toc toc

Duas batidas na porta nos trazem de volta para a realidade,


sinto Pati se afastando aos poucos, mesmo contra a nossa
vontade. Certamente contra a minha, mas sinto que contra a
dela também.

Levo alguns segundos para me recompor e quando abro os


olhos, vejo os dela a poucos centímetros dos meus. O oliva
quase todo encoberto pelo preto das pupilas. Consigo ver a
sua maquiagem e sinto o ar faltando por um segundo.

Ela está perfeita.

Me sinto hipnotizada pelos seus olhos.

Toc toc.

— Fecha os olhos — ela sussurra a milímetros da minha boca.


Faço o que ela manda, e logo sinto sua mão ao redor dos
meus lábios, tentando limpar o batom borrado pelo beijo.

— Você vai ter que retocar — ela diz com uma risadinha.
Assim que termina, se afasta um pouco. — Entra!

— Ah, Lena, você tá aqui ainda — Escuto Lara dizer. — Uau,


você tá linda, Pati!

— Obrigada! — Pati responde e só pelo seu tom, sei que está


sorrindo.

— Parece que um milagre aconteceu — Lara diz. — O ciclo-


ne passou e abriu um sol lindo. O jardim tá cheio de folhas
caídas, mas fora isso, está perfeito para fazermos a cerimô-
nia lá fora. Todo mundo já se ofereceu para ajudar a decorar,
acho que dá tempo. O que vocês acham?

— Eu acho perfeito! — escuto a voz doce da Pati ao meu lado


e pela primeira vez em horas abro um sorriso também.

— Que bom, porque o Vicente e o Murilo já estão instalando


as luzes — Lara solta uma risada. — Bom, é melhor você ir
se arrumar — ela diz, me puxando pelo braço. Sinto a mão
da Pati escapando da minha à medida que Lara me carrega.
Quando escuto a porta fechar, abro os olhos e Lara me encara
com uma expressão engraçada.

— O que foi? — pergunto.

— Nada — ela diz, balançando as mãos — é só que acho que


você vai gostar — ela indica a porta do quarto com a cabeça
e sei que está falando do vestido da Pati.

Tento revirar os olhos, mas, em vez disso, um sorriso se for-


ma e não consigo impedir. Lara solta uma risadinha da minha
cara e me empurra de leve pelo ombro.

— Vamos, você tem que se arrumar.

— Eu sei, mas antes eu vou ver como está a situação das


alianças!

Caminho até a sala em que vi Pudim pela última vez, mas não
os encontro lá. Procuro pela casa até que finalmente encontro
Pudim, Ju, Juju, Lucas, Luna, Luísa e Sofia na varanda da
frente da casa. Lucas é o único que já está arrumado.

Se não fosse pelas folhas caídas, seria impossível dizer que


houve um ciclone há apenas poucos minutos. O céu está pin-
tado de um azul intenso e o vento parou quase que comple-
tamente.

Me aproximo deles a tempo de ver Luísa, com uma luva de


limpeza, remexendo no cocô do Pudim.

Cristo.

— Não acredito que vou me casar com uma aliança cagada!

Todos olham para mim mais uma vez.

— A gente vai limpar, relaxa — Sofia promete, embora tenha


uma cara de nojo igual a de todos os presentes.

— Achei! — Luísa exclama. — As duas!

— Graças a Deus! — Sofia diz.

Apesar da sensação generalizada de alívio, todos têm a cara


franzida ao olhar para o objeto que não se parece em nada
com as alianças brilhantes e bem-polidas que escolhi.

Pudim é o único que não tem a expressão de repulsa. Na ver-


dade, tem a expressão mais boboca e inocente do mundo!
— Que nojo!

— Pudim! — Luna exclama alegremente sem entender nada


do que está acontecendo.

— Relaxa, Helena — Sofia diz — a gente vai lavar e deixar


de molho no álcool 70% por um tempo. Até a hora de usar vai
estar esterilizada e brilhante!

— Sei.

— Desculpa, mãe!

— Tá tudo bem, Ju — respondo, abraçando ele. — Já tá re-


solvido. Só toma mais cuidado da próxima vez.

— Pode deixar!

— Melhor vocês irem se vestir — digo para eles.

— A gente vai ajudar a arrumar tudo lá fora — Juju diz, ani-


mada. — A tia Mila pediu pra gente ir lá assim que resolvesse
isso — ela aponta para o cocô.

— E é melhor a gente ir — Sofia diz — meu pai e a Susana


precisam de ajuda com as cadeiras.

Sofia pega Luna no colo para levá-la junto.

— E eu vou resolver esse problema — Luísa anuncia, segu-


rando as alianças.

— Por favor, tira esse cheiro delas!

— Deixa comigo — ela diz e caminha até a lavação da casa.

Meus filhos, Lucas e Sofia com Luna caminham até o jardim


e sinto que finalmente posso ir me arrumar em paz.

Pela primeira vez no dia, não tenho nenhuma grande preocu-


pação ocupando minha mente, sei que o buffet vai conseguir
chegar, porque Lara confirmou com eles. Sei que, em últimos
casos, a Luísa mesmo é capaz de animar a festa. Sei que as
alianças estarão prontas e sei que o clima está bom. E ago-
ra, sem nenhuma preocupação, começo a sentir a ansiedade
chegando. Uma sensação estranha de medo e esperança mis-
turados.

É uma sensação muito parecida com o dia que busquei Ju e


Juju para morar comigo; tinha medo de não ser capaz de dar a
eles o que eles precisavam e não ser uma boa mãe.

Mas logo percebi que esse é o tipo de coisa que aprendemos


todos os dias, eu com eles e eles comigo.

Acredito que um casamento seja parecido. Ao mesmo tempo


que tenho medo de que não serei uma boa esposa, sei que a
Pati vai estar ali o tempo todo comigo, e aprenderemos juntas.

Eu sei que não sou uma pessoa fácil, mas sei também que
ela está disposta a ficar comigo assim mesmo. E esse detalhe
sozinho faz com que eu queira ser melhor todos os dias.

Termino meu cabelo e por fim ponho o vestido. Na hora que


me olho no espelho sinto toda a realidade do momento me
acertando o peito.

Nunca, na minha vida inteira, imaginei que um dia usaria um


vestido de noiva. Ainda assim, não consigo tirar o sorriso do
rosto nem por um segundo.

Às vezes, as coisas menos planejadas são as mais perfeitas!

Pego meu celular para ver que horas são. Faltam apenas al-
guns minutos para o horário marcado. Como não sei se eles
conseguiram organizar tudo tão rápido, fico esperando algum
sinal da Lara.

Aproveito que estou com o celular e mando uma mensagem


para Pati.

“Te vejo daqui a pouco. Te amo!”

A resposta vem em poucos segundos:

“Não vejo a hora. Tb te amo!”

Mais alguns minutos passam até que uma batida na porta cha-
ma minha atenção. A porta se abre devagar e Lara coloca a
cabeça para dentro.

— Está na hora!

Respiro fundo antes de acompanhá-la.

— E a Pati?

— O Pepa já levou ela.

Pati e eu decidimos que entraríamos juntas no altar. Por vá-


rios motivos, mas um deles é que se não fosse para eu entrar
com o meu pai, preferia não entrar com mais ninguém além
dela.

Ainda assim, minhas irmãs organizaram para que nós só nos


víssemos na hora da cerimônia. Então acredito que Pepa te-
nha levado a Pati até a entrada do altar para não nos vermos
antes da hora.

Lara oferece o braço para me ajudar. Apesar de eu estar acos-


tumada a andar de salto, é mais difícil com um vestido tão
longo, então ergo a barra com uma mão e aceito a ajuda, en-
laçando meu braço no dela.

Lara está muito bonita também, com os cabelos volumosos


soltos e um vestido esvoaçante cor de pêssego.

— Você tá nervosa? — ela pergunta.

— Não sei dizer.

— Fico aqui tentando imaginar a cara da mamãe em saber


que você vai se casar! — ela diz com um risinho incontido.

— Gosto de pensar que ela aprovaria.


— É claro que aprovaria. Ela estaria mais feliz que todo mun-
do.

Sinto um alívio imenso com o comentário da Lara, apesar de


acreditar que minha mãe realmente aprovaria e de, no fundo,
saber que hoje em dia não faz mais diferença, já que ela não
está mais aqui. Fico feliz em saber que Lara também acredita
nisso.

A verdade é que a aprovação da minha mãe sempre foi algo


que busquei.

— E o papai também — ela continua, e respondo com um


sorriso agradecido.

Sinto uma coisa passando pela minha perna e vejo que é o


Guga caminhando ao meu lado. Pelo jeito ele também não
quer perder a festa.

Assim que chegamos à parte externa, vejo a Pati pela primei-


ra vez e… MEU DEUS!

Ela está me esperando ao lado de Pepa, logo atrás das cadei-


ras dos convidados. O vestido que escolheu, ao contrário do
meu, não é nada minimalista, na verdade tem uma pegada
suave e romântica, mas os bordados e texturas sobre o tecido
extremamente leve, dão um toque moderno, que foge do tra-
dicional. Tenho dificuldades de desviar os olhos dela e deixo
que Lara me guie até onde preciso ir.

Os cabelos de Pati estão parcialmente presos, num penteado


de princesa lindo.

Ela está perfeita!

Assim que nos aproximamos, sinto como se o mundo parasse


por um segundo. Seus olhos estão fixos em mim e o sorriso
não deixa os seus lábios nem por um segundo. Sinto como se
uma força magnética me impedisse de olhar para qualquer
outra coisa. Meus olhos só enxergam ela.

Finalmente, Pepa planta um beijo no dorso da mão de Pati


antes de sair em direção ao seu assento e Lara me dá um
beijo no rosto, sem encostar o batom para não borrar minha
maquiagem.

— Você está linda! — Pati diz, sem tirar os olhos de mim.

— Você também! Perfeita!


Ela apenas sorri para mim e estende a mão.

Quando me dou conta, estamos prestes a entrar no altar. Pati


entrelaça nossos dedos, apertando um pouco mais do que de
costume.

Escuto alguns acordes de ukulele e vejo a Luísa, que está no


altar ao lado de Mila, tocando Somewhere Over the Rainbow.
De alguma forma, isso me parece mais perfeito do que a Mar-
cha Nupcial tocada por uma banda formada por desconheci-
dos.

Enquanto caminhamos pelo corredor, os convidados se le-


vantam. Vejo o Pepa ao lado da namorada, Mariana, fazen-
do um joinha para a Pati, que solta uma risada ao meu lado.
Amanda e Susana estão chorando. Espero que a Susana seja
de alegria. Ao seu lado, meu sogro e a avó de Pati também
parecem emocionados. Vejo o Chiquinho e o Murilo, que está
com a Luna no colo, sorrindo, e a Lara abraçada ao Vicente,
chorando.

Quando chegamos ao altar, Luísa encerra a música e lança


uma piscada para nós duas antes de se juntar a Sofia como
madrinhas, à minha direita.
— Boa hm… tardinha — Mila pronuncia, olhando para o
céu tentando identificar se é de tarde ou de noite. O céu está
exatamente igual estava naquele dia do taco, em tons de rosa,
roxo e laranja. — Estamos reunidos aqui hoje para celebrar
a união desta pessoa linda e amável — ela aponta para a Pati
— com esta… Helena!

Uma leva de risadinhas, incluindo a da Pati, preenchem o es-


paço.

— Desculpa, Lena — Mila diz. — Você também é linda!

— Eu deveria ter chamado um juiz de paz para isso — digo


em tom de brincadeira.

— Você também é amável — Pati intervém e planta um beijo


na minha mão.

— Own! — Mila exclama. — O amor é mesmo lindo… e cai


muito bem em você, Lena! — ela diz com sinceridade para
mim, então eleva a cabeça e continua. — Mas como eu ia
dizendo, estamos aqui para celebrar o amor dessas duas.

“Se você perguntasse para mim ou para as minhas irmãs há


alguns anos, certamente nós três afirmaríamos sem nem pes-
tanejar que a Lena jamais se casaria. Essa era uma daquelas
verdades incrustada na dinâmica familiar e que todo mundo
simplesmente sabe, da mesma forma que todo mundo sabe
que a Luísa é a mais talentosa de nós, ou que o bolo de limão
da Lara é horrível e a gente diz que gosta só para agradar ela!”

— Ei! — Lara protesta.

— Desculpa, Lara, mas era melhor confessar de uma vez!

— É terrível mesmo — Pati sussurra pra mim.

— Eu sei!

— Enfim — Mila continua. — Acontece que às vezes as ver-


dades não são tão absolutas assim. Porque, por mais que to-
das acreditássemos que a Helena jamais se casaria, no dia
em que ela anunciou que pediu a mão da Pati, de repente, era
como se fosse a coisa mais óbvia e natural do mundo. Talvez
no amor não tenham verdades absolutas nem mentiras abso-
lutas. Talvez o que acreditávamos sobre a Lena seja verdade
e mentira ao mesmo tempo. Talvez se não fosse a Pati, a Lena
realmente jamais se casaria. E talvez algum dia o bolo da
Lara fique bom!
— Tá, já chega dessa piada! — Lara intervém.

Ao meu lado escuto a Pati fungando e percebo que ela está


chorando e rindo ao mesmo tempo.

— Como alguém que ama a minha irmã — Mila continua


—, meu coração se enche de alegria de receber você, Pati, na
nossa família. Eu sei que falo por todas nós, inclusive pela
Lena, quando digo que é notório que você trouxe luz e alegria
para a vida dela. Você, o Ju e a Juju despertaram nela um lado
que há anos não víamos. Um lado fiel, protetor e mais vivo.

Pati sorri e aperta ainda mais a minha mão. Começo a sentir


um formigamento no meu peito e meus olhos umedecendo.

— Apesar disso — Mila continua —, eu não tenho dúvidas


de que a Helena vai te deixar maluca com as rabugices dela…

— Que isso, guria!

— E que você vai irritá-la com o seu bom humor matinal! Vo-
cês provavelmente vão brigar por coisas bobas como quando
a Pati quiser comer alguma coisa diferente e a Helena insistir
em pedir comida do Orso pela sétima vez na semana. E a
Helena vai querer estapear a Pati quando ela resolver surfar
em meio à uma ressaca marítima…

—Você pretende chegar a algum lugar, Camila?! — pergunto.

Mila sorri para mim e escuto Pati soltar outra risada.

— E mesmo assim, sei que vocês serão muito felizes e esse


será um casamento sólido e duradouro!

— Ah bom! — exclamo.

— Sei disso porque vocês são pessoas melhores uma com a


outra — Mila continua. — Sei que sempre que algo aborrecer
vocês, o amor e o respeito vão prevalecer porque a verdade é
que a Pati adora que você seja rabugenta, Lena, e você ado-
ra que ela seja vibrante e cheia de luz! Sei que será sólido
porque vocês se completam nas diferenças e se somam nas
semelhanças. E juntas formam uma família!

Sinto ambas as mãos de Pati segurando a minha e escuto mais


uma vez ela fungar. Acaricio o dorso da sua mão com o pole-
gar e compartilho um sorriso com ela.

— Mas agora, sem mais delongas — Mila anuncia —, vamos


ao que importa! Lu, é com você!
Luísa sobe no altar mais uma vez e pega o violão que está
ao lado do ukulele. Demoro algumas notas para identificar
a música. É Aliança dos Tribalistas. Vejo o olhar de Mila e
Luísa atravessar nós duas e nos viramos a tempo de ver o Ju
e a Juju entrando.

Eles estão lindos com roupinhas combinando. Júlio está com


um terno de três peças bege claro e gravata borboleta, e Júlia
está com um vestido no mesmo tom com a saia rodada. Ela
está com o cabelo preso em um coque com algumas tranças
caindo na lateral do rosto. Em suas mãos a famigerada flor…
quer dizer, uma flor nova, já que a original virou composto
orgânico. Dentro estão nossas alianças.

Sinto meus olhos lacrimejando e a mão da Pati acaricia a mi-


nha.

Mas se um dia eu te encontrar

Do jeito que sonhei

Quem sabe ser seu par per feito

E te amar do jeito que eu imaginei

Os dois caminham até nós com sorrisos largos e quando se


aproximam, cada uma de nós abraça um deles pelo ombro,
trazendo-os para junto de nós.
— Helena, você gostaria de falar alguma coisa? — Mila per-
gunta quando Luísa termina a música.

— Sim! — respondo e me viro para a Pati. — A Mila resumiu


bem a minha vida. Assim como elas, também nunca imagi-
nei que estaria aqui nesse momento. Eu simplesmente não
via sentido em ter um documento que prendesse duas pes-
soas uma à outra. Quem me conhece sabe que sempre enchi o
peito para dizer que não precisava de ninguém e que achava
idiotice “pertencer” a alguém. Mas o mundo dá mesmo voltas
e, por sorte, evoluímos. E admito que talvez tenha demorado
para aprender isso, mas aprendi e entendi que não há prisão
quando há amor. Eu não pertenço a você e você não pertence
a mim. Porque pertencimento implica em não ter escolha, em
não ser livre. E eu escolho estar com você. Todos os dias.
Porque eu quero. Porque estar com você é muito melhor do
que não estar. E eu nunca imaginei que poderia me sentir
como eu me sinto quando eu estou com você. Nunca achei
que fosse capaz de amar assim nem me sentir tão confortável
na presença de outra pessoa. Estar com você é como estar
em casa e de férias ao mesmo tempo. É familiar e excitante.
Divertido e romântico. Você faz que meus dias sejam alegres
e aconchegantes ao mesmo tempo.

“Eu sei que muita gente pensou que fomos rápidas demais,
inclusive nós mesmas em alguns momentos. Mas eu simples-
mente sei que você é a mulher que eu quero ao meu lado e
a cada dia que passa isso apenas se confirma. E eu não via
sentido em esperar mais!”

Estiquei minha mão livre para a Júlia e ela me entregou a


aliança com o meu nome gravado.

— E se você me quiser, eu vou estar aqui pra sempre! —


digo, segurando sua mão com a aliança a poucos milímetros
do seu dedo.

— Quero! — ela responde em um riso molhado.

Não espero nem um segundo mais para colocar a aliança no


seu dedo. Levo a mão à boca e planto um beijo nos dedos e
na aliança.

Espero que a Luísa tenha esterilizado bem.

Escuto uma rodada de aplausos e puxo Pati pela mão para um


beijo, mas a voz da Mila me impede.

— Espera aí, apressadinha, que ainda não acabou! — Ela co-


loca as mãos em nossos ombros, nos afastando uma da outra.
— Pati, você gostaria de dizer alguma coisa?
Pati apenas sorri e assente com a cabeça. Seus olhos fixos em
mim e sinto o ar faltar por um segundo. Ela morde o lábio
inferior antes de falar e eu espero que ela seja rápida, porque
só consigo pensar na parte do “pode beijar a noiva”.

— Eu não sei o que eu posso dizer que vá superar o que já


foi dito, mas vou tentar mesmo assim — Ela abre um sorriso
que é impossível não espelhar. — Ao contrário de você, eu
imaginei esse momento desde criança! Véu, grinalda, flores
brancas, chuva de arroz. O pacote completo. Quando somos
crianças, tudo parece simples e alcançável; só que crescemos
e descobrimos que o mundo não é tão simples e alcançável
assim, e quanto mais o tempo passava, mais a fantasia dava
lugar à racionalidade e aos empecilhos. Casamento entre
duas mulheres não era legalizado. Achava que minha família
seria contra. O tempo estava passando e não encontrava a
mulher certa… Inúmeros banhos de água fria sobre aquilo
que a princípio era tão mágico.

“Aprendi a ver as coisas mais objetivamente e concluí que se


encontrasse alguém que gostasse de mim e que eu gostasse
também, estaria bom. Seria o suficiente. Tudo bem se não
tivesse fogos de artifícios e borboletas no estômago. Tudo
bem se não me casasse com véu, grinalda e flor de laranjeira.
Tudo bem.
“Mas aí eu conheci você!

“E, de repente, toda essa teoria lógica e racional caiu por ter-
ra. E eu comecei a perceber que a magia não precisa estar
afastada da realidade. Muito pelo contrário, a magia está jus-
tamente naquilo que é mais real. Que é tão real que foge da
nossa capacidade de explicar com palavras. Porque estar com
você é mágico! Mas é a coisa mais real que já vivi também!”

Ela se vira para a Júlia e pega a aliança de dentro da flor


branca. Minha visão está turva pelas lágrimas que encobrem
meus olhos.

— Helena — ela diz —, você aceita…

— Sim!

— Eu não terminei ainda, amor!

— Com você, eu aceito tudo!

Ela solta uma risada, balançando a cabeça de leve.

— Nesse caso… — ela diz, então coloca a aliança no meu


dedo e, assim como eu, planta um beijo na minha mão.
Observo o anel por alguns segundos. O peso e sensação são
estranhos a princípio, mas a imagem não é. Sinto como se ali
fosse mesmo o lugar dele.

— Bom — Mila diz e vejo ela enxugando uma lágrima tam-


bém. — Pelos poderes investidos em mim por… por vocês
mesmas. Porque isso aqui não tem validade legal nenhuma,
depois vocês vão ter que assinar o documento…

— Mila! — Pati exclama!

— Ah, sim, sim, desculpa. Bem, como eu ia dizendo: Pelos


poderes investidos à mim, eu as declaro mulher e mulher.
Pode beijar a noiva!

Ela não precisa pedir de novo. Puxo Pati pela cintura e beijo
minha esposa pela primeira vez.

Um som de aplausos pode ser escutado no fundo da minha


mente, mas tudo o que eu consigo me concentrar é no gosto
e textura dela. Ao mesmo tempo que é igual, é absolutamente
diferente.

É mais íntimo e familiar.


Quando nos afastamos, nossos olhos se encontram e sei que
ela também sentiu isso. Sentiu que é igual, mas diferente.
Que é ainda melhor!

— Te amo! — ela exclama.

— Eu também te amo!

— Bom — Mila diz, batendo uma mão na outra — vamos


começar essa festa! Lu, é com você de novo!

Luísa caminha mais uma vez até o altar e pega seu violão.
Ela se senta em uma cadeira e coloca o microfone mais perto.

— Eu queria primeiro parabenizar as pombinhas! — ela diz,


colocando a alça do violão. — Como vocês sabem, por cau-
sa do ciclone, a banda não conseguiu chegar a tempo e eu
infelizmente não vou conseguir tocar a valsa de casamento.
Mas queria dedicar uma música a vocês mesmo assim antes
do jantar ser servido. Quem está com fome que me desculpe,
mas a noite é delas hoje, não do seu estômago! Eu tô falando
de você, Pepa!

— Pô, que vacilo! — Pepa exclama da plateia.


A sequência de risadas logo é encoberta pelos acordes do vio-
lão de Luísa e de cara identifico como Something dos Beatles,
que ela sabe que é uma das minhas preferidas.

Os convidados todos se levantam, fechando as cadeiras e


abrindo espaço para o que parece ser uma pista de dança.

Quando me dou conta, minha esposa está me puxando pela


mão para o meio da “pista”.

Eu odeio dançar!

Sou péssima. Descoordenada. Mas não me importo hoje.

Deixo que ela me conduza.

Pati me leva para mais perto dela e sinto nossos corpos se en-
costando, então, deito minha cabeça no seu ombro. Ela apoia
a cabeça sobre a minha e dita nossos passos.

Não me importo se estamos no ritmo da música ou não. Nem


se as pessoas estão prestando atenção ou pensando no jantar.
Naquele momento só importa nós duas.

Apesar de tudo que aconteceu durante o dia e da minha preo-


cupação, tudo valeu a pena, porque esse momento é perfeito!
Mais que perfeito!

No refrão da música percebo outros casais se juntando a nós


na pista de dança, e Luísa logo emenda mais uma música, e
mais uma, então mais uma.

O clima de festa e celebração toma conta e quando o jantar


finalmente é servido, estão todos famintos.

— Vó! — Pati exclama ao se aproximar da sua avó na mesa


dos pais antes de jantarmos. Ela abraça a idosa depois os pais.

Estão todos sorrindo e parecem felizes. Espero que estejam


mesmo.

— Tu tash linda, filha! — a avó diz. — E tu vê se cuida dela


dereitinho senão eu te dô-te uma coça! — ela diz para mim
e, apesar da ameaça clara, não consigo não soltar uma risada.

— Pode deixar! — respondo.

Trocamos mais algumas palavras com eles então caminha-


mos até a nossa mesa.
— Cadê a pombinha — Pepa aparece antes que possamos nos
sentar, puxando Pati pelo braço. — Você ainda não dançou
comigo!

— É verdade! — ela diz. — Mas a Luísa ainda nem jantou,


tadinha.

— Só uma. Ela tá me devendo — Pepa insiste. — Lu, toca


uma bem bonita aí! — ele grita para a minha irmã.

Luísa olha para os dois e não demora nada para escolher a


música. Quando Uma Arlinda Mulher dos Mamonas Assas-
sinas começa, os dois caem na gargalhada e Pepa puxa Pati
para a pista.

Espero que as crianças não prestem atenção nessa letra hor-


rorosa e misógina.

Me sento na nossa mesa para observar os dois. O Ju e a Juju,


que já terminaram de comer, resolvem dançar também e le-
vam os priminhos para a pista. Até Luna entra na brincadeira.

Não vai ser hoje que a Luísa vai jantar!

— Como você se sente? — Lara pergunta quando se senta ao


meu lado.

— Feliz — respondo.

— Você parece mesmo feliz.

Levo um susto quando sinto alguém me abraçar de repente


por trás.

— Você é a noiva mais linda que eu já vi — Mila diz, plan-


tando um beijo na minha bochecha.

Ela se senta na cadeira vazia ao meu lado.

— Eu não esqueci o que você falou do meu bolo — Lara


resmunga para ela.

— Ah, Lara, é verdade! O bolo é ruim mesmo — Mila se


justifica.

— Ela tem razão! — concordo.

— Da próxima vez deixo vocês passarem fome na minha


casa.
— E quando vocês vão para a Argentina? — Mila muda de
assunto.

— Amanhã! — respondo. — Vamos fazer escala em Buenos


Aires antes de ir para Mendoza.

Nossa lua de mel é em uma fazenda e vinícola em Mendoza,


com vista para a Cordilheira dos Andes. Vamos ficar apenas
cinco dias, porque não queríamos deixar o Ju e a Juju sozi-
nhos tanto tempo. Eles vão ficar aqui na Lara nesses dias,
inclusive hoje. Afinal acabamos de nos casar e merecemos a
casa toda apenas para nós!

Além disso, mês que vem temos uma viagem em família com
eles para a Disney, vai ser a primeira viagem de avião dos
dois e eles estão animados. A Pati também está!

— Bom, aproveitem bastante! — Mila diz e já emenda outro


assunto. — Eu adorei os seus votos, Lena!!!

— Eu também! Quem diria que você seria tão romântica!

— Ah, não enche, Lara.

— Tô falando sério, eu acho fofo!


— Eu também acho — Mila concorda.

— Hm, sei.

— Vocês estão falando da minha esposa? — Pati chega e se


senta no meu colo.

Ela parece bêbada, mas não bebeu uma gota de álcool ainda.
Sei que está assim porque está feliz. Eu também estou.

— Estávamos falando que ela é uma fofinha — Mila respon-


de.

— É mesmo! A mais fofinha — Pati concorda.

Dessa vez não consigo revirar os olhos nem conter o sorriso.


Sou recompensada com um beijo na bochecha.

— Você como se sente, senhora Lancellotti? — Lara pergunta


para Pati.

Ela abre um sorriso imenso com o sobrenome.

Eu ofereci para ela adotar o Lancellotti, porque assim nós


quatro teríamos o mesmo sobrenome, mesmo ela não ado-
tando o Ju e a Juju legalmente, seríamos uma família e nós
quatro saberíamos disso.

— Nunca estive melhor!

Por fim, Luísa finalmente é liberada e se junta a nós, Ju e Juju


seguem ela. Quando dou por mim, minha família inteira está
dividindo uma mesa para quatro pessoas. Todos se espremem
e fazem caber de alguma forma.

Por mais ansiosa que eu esteja para ficar sozinha com a minha
esposa, sei que terei bastante tempo. A vida toda!

Então, por ora, aproveito o momento, com ela ainda sentada


no meu colo, me lembrando o tempo todo da sorte que te-
nho. Minhas irmãs aproveitam meu bom humor para contar
histórias vergonhosas sobre mim, o que faz a felicidade dos
nossos filhos.

— No fim deu tudo certo — Pati diz apenas para mim, ainda
no meu colo.

— Foi tudo perfeito — respondo. — Perfeito.

Fim

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