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JP já tinha 14 anos, mas apesar disso, até que ele era bem legal
com a gente e não deixava ninguém roubar os nossos doces.
Acho que Anna era a mais parecida com a sua fantasia. Pelo
menos ela usava óculos iguais aos da Velma e tinha o cabelo no
mesmo comprimento. Bom, talvez a pele fosse diferente, já que
a mãe dela era branca e o pai negro, e Anna era uma mistura
dos dois, mas fora isso, ela era mesmo parecida com a Velma.
Principalmente na personalidade.
— Legal!
— Claro!
E foi assim que Anna entrou no meu quarto pela primeira vez.
2002
E elas ganharam.
2003
— Tina.
— Uhum…
— Pra quê?
— Uau, que gata que você está! — Tina disse assim que entrou
no quarto e viu Anna.
Não sabia se ela falava por pena ou educação, mas senti algo
estranho no meu estômago.
Eu sabia muito bem que ela tinha e também sabia onde estavam
as bebidas, mas eu não ia deixar essa destrambelhada estragar a
nossa noite.
— Hm… que sem graça — Tina disse.
***
Tina não largou Anna nem por um segundo e sempre que podia
dava trela para os meninos mais velhos. Eu via que Anna estava
tão desconfortável quanto eu, mas não sabia como fugir de Tina,
já que cada passo que Anna dava, Tina puxava a menina de volta
pelo braço.
— Ah, Anna, deixa de ser cdf. Vai ser legal — Tina falou, se
inclinando de uma maneira estranha e íntima sobre Anna.
— Você que sabe, mas vai ser bem legal, e a gente pode, sei
lá, se divertir.
— Por que você não vai sozinha? — eu falei, pela primeira vez
em vários minutos.
— Vou.
É claro que eu ia, não ia deixar a Anna sozinha com essa pira-
nha. Eu gostava dessa palavra para descrever Tina. Era assim que
a minha mãe chamava as mulheres que ela não gostava, e parecia
apropriado para essa sem noção também.
— Você acha que ela vai ficar chateada se a gente for embora?
— Anna me perguntou.
Anna era a minha melhor amiga e eu amava ela mais que qual-
quer outra pessoa, mas hoje ela estava me irritando.
Olhei para ela para tentar entender o motivo, mas ela tinha um
sorriso. Pela primeira vez desde que essa noite começou, consegui
retribuir genuinamente.
— Eu sei. Me desculpa!
2005
— Não, vou ficar em casa e não vou abrir a porta pra ninguém.
Melhor colocar uma placa dizendo que não temos doces!
— Tá.
— Eu sinto muito.
— Cala a boca!
— Eu também estou!
2006
Quando abri a porta da minha casa, quase caí para trás com a
imagem de Anna vestida de Aisha das Winx.
— Você tá linda!
Eu não sabia explicar por que o clima estava tão estranho, mas
eu não conseguia parar de olhar para ela através do espelho em
que fazia a minha maquiagem e não sabia o que falar.
— O quê?
— Minha mãe diria que ainda somos. Como ela de fato disse…
seis vezes… só antes de eu sair de casa — Anna falou com uma
risada e uma revirada de olhos.
Meu irmão não estava em casa e fazia muito tempo que eu não
entrava no quarto dele, muito menos sem autorização, mas acho
que ele não iria se importar se a gente não mexesse em mais nada.
— Vamos ter que virar a noite pra ver tudo — eu falei para
Anna que carregava os DVDs.
— Tudo bem.
— Claro!
— Tem razão.
— Não?
— É claro que não… ainda mais se ela for ruiva e meio des-
trambelhada igual a Tatum — Anna tinha um sorriso maroto.
— Se a carapuça serviu…
Fim.
O sol havia se posto há algumas horas e, apesar de ser uma
noite quente, deixei o fogo aceso para terminar um medicamento
que entregaria pela manhã.
— Ah! Olá, eh… puxa, por um momento achei que não tinha
ninguém em casa. — Ela fez uma pausa. — Eu gostaria de falar
com Cassandra! — disse de maneira tão articulada que imagino
que tenha praticado essas palavras no caminho.
— Com o amor!
Novamente minha reação se resumiu a franzir a testa e encarar
aqueles olhos. Era um pedido no mínimo inusitado.
— Com o quê?
— Minha amiga, Anne, me disse que você é bruxa e eu pensei
que você poderia fazer alguma poção para me ajudar.
— Que tipo de problemas uma moça como você pode ter com
amor? — perguntei. — Você tem o quê? 18 anos?
— 19.
— Não entendo…
Sei que deveria apenas cortá-la e mandá-la para casa, mas como
disse, a curiosidade sempre foi meu maior defeito.
— Oh, não sei, você é a bruxa, mas me ajudar a, não sei, re-
conhecer ele quando eu o vir…
— Já — respondi apenas.
— Não sei, mas deve ter mais no mundo do que essa vila
monótona! — ela falou com um ar tão sonhador e jovial que fez
eu me sentir uma anciã, mesmo sendo apenas poucos anos mais
velha. — Tem que ter!
— É por isso que eu estou aqui! Minha irmã mais velha acabou
de se casar e eu sou a próxima, tenho certeza de que logo um
dos rapazes da vila irá pedir minha mão! Você precisa me ajudar
a encontrar o amor verdadeiro… eu não posso viajar sozinha, não
sei nada sobre isso e meus pais jamais concordariam, e nenhum
rapaz da vila viajará comigo, então, estou certa de que minha alma
gêmea deve ser um viajante!
Estava mais claro do que água que o que ela precisava não era
de ajuda com o amor, era apenas de coragem!
Eu sei que não deveria estar enganando uma moça tão ino-
cente, mas também sei que coragem é apenas confiança na causa
pela qual se está lutando, então, se eu puder ajudá-la acreditar ou
acreditar que acredita, talvez o feitiço dê resultado!
— É claro!
— Virtos o quê?
***
— Eu, eh…
— Estranha como?
— E estou mesmo!
— Obrigada, Cass!
— Oh, não poderia estar mais feliz, ela sempre foi apaixona-
da por Thomas. Por isso todos acharam tão estranho, porque ele
nunca deu bola para ela, mas desde semana passada ele não parou
de falar dela, segundo a irmã dele me contou.
— Ela mesmo, a mãe dela me disse que ela chora muito a noite
e acredito que sejam cólicas, e essa mistura ajudará a diminuir o
incômodo.
Posso não ser uma bruxa, mas meus remédios também fazem
mágica!
***
— Então?
***
***
— Cass!
Funcionou.
— Eu sei que você não é uma bruxa e que você me disse qual-
quer coisa para que eu te deixasse em paz aquele dia —ela disse,
sem parecer zangada ou magoada, e tive a impressão de que ela
já sabia disso há um tempo.
— Eu menti!
Oh.
Seus olhos eram como imãs e era impossível para mim olhar
para qualquer outra coisa que não fosse eles.
***
Arrisquei mais um olhar para Sarah, mas ela não esboçou ne-
nhuma reação sequer. Senti novamente uma cintada me atingir a
face.
Ela apoiou a lamparina no chão, levou uma das mãos com de-
licadeza ao meu rosto e me beijou os lábios.
— Como?
— Para o sul!
Fim.
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