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~1~

Belle Aurora
#3 Raw: Rebirth

Tradução Mecânica: Magali


Revisão Inicial e Final: Seraph Wings
Leitura: Lagherta
Formatação: Aurora Wings

Data: 05/2019
Raw Family Copyright © 2019 Belle Aurora

~2~
SINOPSE
Passaram seis anos desde que meu mundo virou de cabeça para
baixo. Ele me expôs ao lado mais sombrio da vida e eu nunca poderia
voltar para a pessoa que era. Eu tinha passado por tantas coisas que
pessoas normais sequer entenderiam.
Se eu tivesse a oportunidade de voltar e fazer as coisas de forma
diferente no entanto?
Sem chance.
Eu o escolheria mil vezes.
Um milhão de vezes.
Pela eternidade.
Creio que nada mudou.
Meu nome é Alexa Ballentine, e ainda estou apaixonada pelo meu
perseguidor.

~3~
A SÉRIE

~4~
PRÓLOGO
AJ

AJ era um garoto esperto. Ele só tinha cinco anos, mas sabia o


valor de um segredo.
Ele não gostava de guardar segredos de sua mãe, e quando lhe
perguntou se havia problema em mentir, ela disse que nunca seria certo
ser desonesto.
Não fazia sentido.
AJ ouviu sua mãe mentir antes.
Por que ela podia mentir quando ele não podia?
Sua mãe explicou que às vezes as pessoas mentiam para impedir
que outra pessoa ficasse triste, e essas eram chamadas de “mentirinhas
brancas”.
AJ pensou sobre isso.
Seu segredo machucaria sua mãe, tinham lhe dito isso, então não
era realmente uma mentira, ele pensou.
Manter seu segredo era mais como uma “mentirinha branca”.
Enquanto sua mãe o colocava na cama, ele sorriu para ela. — Eu te
amo, — ele disse a ela, e quis dizer isso.
O sorriso de sua mãe suavizou. — Eu te amo mais, querido, — ela
respondeu baixinho enquanto passava os dedos suavemente pelo cabelo
bagunçado dele.
Ela soprou um beijo quando saiu do quarto, apagando a luz e
fechando a porta atrás dela.
AJ ficou deitado em sua cama, acordado e esperando.
Ele não tinha certeza quanto tempo esperou, mas quando ouviu a
janela balançar, em seguida, levantar em lentidão excruciante, ele sorriu
animadamente.
Sua mentirinha branca estava aqui.
Papai estava em casa.
~5~
***

Lexi

— Mamãe?
Eu o ouvi. Como eu não poderia?
Mas continuei dirigindo em silêncio. Eu não estava realmente com
vontade de conversar; no entanto, o monstrinho no banco de trás tinha
outras ideias.
Meu peito estava pesado, oprimido.
Que dia.
Tudo parecia tenso. Meu corpo, meu queixo, meu aperto no
volante. Até meus olhos pareciam fixados firmemente na estrada. Mas
isso não era culpa de AJ, e eu não o deixaria saber que sentia que estava
morrendo por dentro.
Um suspiro me deixou.
Dia do papai nunca foi um bom dia para mim.
— Sim, querido?
Ele não respondeu por um longo tempo, e quando franzi minha
testa e olhei para ele através do espelho retrovisor, seus olhos estavam
fixos em mim, sem piscar.
Meu coração doeu quando olhei em seus olhos castanhos suaves.
Os olhos do pai dele.
Bem, merda.
Meu nariz começou a formigar. E assim, novas lágrimas rolaram
pelas minhas bochechas. Eu as sequei e afastei rapidamente, tentando
em vão reprimir a familiar picada de tristeza.
Jesus Cristo. Controle-se.
Meu filho, ele não gostava de me ver chateada. Sua voz era pouco
mais que um sussurro e quase desesperada. — Não chore, mamãe. —
Sua voz ficou pesada, e ele murmurou: — Eu não gosto disso.
Eu ouvi o pai dele nessas palavras endurecidas.

~6~
Ugh. Isso estava me matando.
Nós paramos em um semáforo e eu tirei minhas mãos do volante,
olhando para trás e forçando um sorriso. Eu falei baixinho, quase
pacificadora. — Desculpe, amigo.
Era o aniversário de seu pai e estávamos voltando para casa do
cemitério. Toda vez que eu via aquela lápide de mármore branco
reluzente, isso me levava de volta a um tempo que eu escolhi lembrar,
quando seria melhor esquecer. Uma época há muito tempo atrás, mas
tão vividamente fresca em minhas memórias. Não importa quanto tempo
havia passado, eu estava presa lá, naquela época. Em um lugar onde eu
era selvagem e descuidada e nos braços do homem que amava.
Não se engane sobre isso. Eu estava perigosamente apaixonada.
Imprudentemente apaixonada.
As luzes ficaram verdes e eu me virei novamente, dirigindo mais
uma vez, segurando o volante como uma tábua de salvação. Nós
estávamos a meio caminho de casa antes de eu perceber que estava
dirigindo no piloto automático, sem prestar atenção ao meu redor.
Meu coração deu um pulo de apreensão. Engoli em seco e balancei
a cabeça em uma tentativa fraca de me tirar do meu estupor.
Talvez a conversa não fosse uma má ideia, afinal. — Que tal irmos
ao supermercado, comprar um monte de porcaria e assistir a um filme
hoje à noite?
O largo sorriso no meu rosto era genuíno então. Havia apenas um
homem na minha vida, e ele colou meu coração novamente com lama,
risos e desenhos feitos com giz de cera e amor.
AJ sorriu, meu monstro sem dentes, mas tão rapidamente quanto
veio, sumiu. — Que dia é hoje?
Eu parei.
Hum...
Eu não pude evitar meu riso silencioso.
Que pergunta é essa?

~7~
Confusão divertida me surpreendeu e minhas sobrancelhas se
levantaram. — Uh... — Eu tentei reprimir o desejo de rir de novo. —
Domingo.
Ele piscou em seu colo antes de olhar de volta para mim através
do espelho. Ele balançou a cabeça antes de olhar pela janela. — Não,
obrigado.
Confusão marcou minha testa.
Hã?
Ele estava recusando guloseimas? Desde quando?
Eu não queria insistir, mas lentamente percebi que precisava de
tempo com meu filho, hoje mais do que nunca. Eu ia ter que melhorar a
oferta. — Talvez pudéssemos ficar acordados até tarde, dormir e depois
sair para comer panquecas amanhã.
Ooh. Eu sorri internamente.
Ele parecia tentado.
— E quanto à escola?
Ele sequer me conhecia? Eu era uma mãe legal. O que era um dia
faltando à escola para passar com meu filho? — Esqueça isso. Eu direi a
eles que você está doente.
— Isso é uma mentira. — Ele olhou para mim por um momento
antes de evitar o meu olhar. — E eu gosto da escola.
— Só uma pequena mentira. — Meu sorriso começou a cair. —
Uma mentirinha branca.
Espere. Eu estava realmente me justificando para uma criança de
cinco anos?
O que estava acontecendo aqui? AJ não estava agindo como ele
mesmo.
Depois de um momento de perplexidade, um pensamento surgiu e
reconheci o quão egoísta eu estava sendo. Ele era apenas um garotinho e
talvez hoje fosse mais difícil para ele do que eu pensava. Talvez ele
tivesse acabado de começar a descobrir exatamente o que perdera ao
perder seu pai.

~8~
Era uma hipótese, mesmo que eu precisasse de uma distração,
que talvez AJ precisasse de tempo para processar o que ele estava
sentindo. E meu peito doeu.
Ele poderia estar de luto como eu estava?
Suspirei interiormente e meu sorriso ficou triste. — Tudo bem,
querido. Uma próxima vez. — Mas não pude evitar a sensação de
desconexão entre nós.
E então chegamos em casa.
Eu estacionei e desliguei o carro. Antes de sair, me virei no banco
para olhar para o meu doce menino.
— Ei, — eu comecei, e quando ele olhou para mim com os cílios
longos e escuros, eu derreti. — Eu sei que hoje não foi fácil. — Eu
coloquei minha mão em seu joelho. — Você está bem?
Ele ficou estoico por um longo momento, meu bebê, e então
balançou a cabeça, mas permaneceu com a cara séria. Dei-lhe tempo e
um minuto inteiro se passou antes que ele abaixasse o queixo e dizer
com cuidado: — Se alguém me contasse uma coisa... um segredo... e eu
quiser contar a outra pessoa, tudo bem?
Pensei nos amiguinhos de AJ e perguntei: — O segredo está
machucando alguém?
AJ pensou sobre isso. — Não. Acho que não.
— Querido, quando alguém lhe conta um segredo, não é seu
segredo para contar. E quando alguém lhe conta esse segredo, eles estão
confiando que você o guarde para eles. — Estendi a mão e corri meus
dedos pelo lado do rosto dele. — Tem certeza de que esse segredo não
está machucando ninguém?
Ele olhou para baixo, e os longos cílios resvalaram em suas
bochechas. Ele então deu um aceno firme. — Tenho certeza.
Graças a Deus.
Eu não tinha certeza se poderia lidar com muito mais tristeza
hoje. — Ok, então não, querido. Você não deveria contar a ninguém.
— Nem a você? — Ele perguntou sensatamente.

~9~
— Eu? — Eu belisquei sua bochecha levemente, brincando, e ele
abriu um enorme sorriso. — Você pode me contar qualquer coisa. — Eu
pisquei para ele. — Nós não guardamos segredos, certo?
Eu não entendi. Ele parecia visivelmente chateado, mas
sussurrou: — Certo.
Uh oh.
Não é bom.
Meu coração gaguejou quando o ajudei a sair de seu assento. Saí
do carro e o puxei contra mim, abraçando-o ao meu lado. Seu braço
passou pela minha cintura.
O que estava acontecendo com meu garoto? De repente fiquei
ansiosa.
— Você pode me contar qualquer coisa. — Eu olhei para ele, sem
piscar. — Qualquer coisa mesmo. E eu não vou ficar chateada. Eu só
vou ouvir se você precisar de mim, mas... — Parei, entrei na sua frente e
me ajoelhei, olhando meu filho profundamente nos olhos. — ...Nós não
guardamos segredos um do outro, amigo.
Ele balançou a cabeça lentamente, sabiamente, como se estivesse
preso em uma situação difícil e não tivesse certeza de como proceder.
Merda.
Isso me preocupou.
Uma vez lá dentro, deixei minha bolsa escorregar do meu ombro
no balcão do café da manhã e, hesitante, olhei de volta para o menino
desajeitado de pé na entrada. Nós continuamos a olhar um para o outro
um pouco antes de eu perguntar: — Você tem algo a me dizer, amigo?
Um segundo depois, ele assentiu. — Sim. — Ele arrastou os pés.
Ele tinha algo importante para me dizer; Eu podia sentir isso,
como uma mãe sente. Dei-lhe toda a minha atenção. — O que é?
AJ falou, e eu não estava preparada para o que ele disse. De modo
nenhum.
— Bem, às vezes, tarde da noite...
Ah, isso não estava começando bem. Meu coração imediatamente
começou a correr.

~ 10 ~
— Às vezes... — Ele olhou para o rodapé e esfregou o sapato contra
ele. Sua voz baixou alguns decibéis. — Às vezes, papai vem me ver.
A pressão no meu coração foi liberada, a corda apertada
desenrolando-se.
Oh senhor.
Hoje não era o dia.
Eu senti vontade de chorar.
— Querido. — Meus olhos se fecharam por conta própria e eu
soltei uma risada sem graça, forçando a espessura na minha
garganta. Eu o puxei contra mim e apertei-o com força, balançando-o de
um lado para o outro, beijando sua têmpora.
Ele me abraçou de volta tão forte e eu expliquei algumas coisas
para ele.
— Eu sei que parece assim. — Eu o beijei novamente. — Papai vem
até mim também às vezes. — Eu recuei e observei-o com cautela. — Em
minha mente. Nos meus sonhos.
— Não. — AJ sacudiu a cabeça. — Não nos meus sonhos,
mamãe. É real.
Oh, querido... não.
Meu coração quebrou quando tentei explicar a ele que o que ele
estava sentindo, estava vendo, não era nada mais do que um mecanismo
de enfrentamento. Eu deveria saber. Em certo ponto, Twitch esteve no
meu quarto todas as noites e eu conversava com ele. Ele nunca
respondeu às minhas perguntas ansiosas. Levei um tempo e muita
terapia para perceber que estava me machucando psicologicamente.
— Quando eu sonho com papai, parece tão real. — Inspirando
profundamente, trêmula, eu falei em um suspiro, — É tão real que às
vezes não quero acordar de um sonho tão lindo. — Eu fechei meus olhos
para enfatizar minhas próximas palavras, agarrando seus antebraços. —
Mas é apenas um sonho, querido. — Eu o puxei para mim mais uma vez
e serpenteei meus braços ao redor dele. — Não é real.
AJ franziu o cenho. — Não, mamãe. — Ele tentou sacudir a cabeça
contra o meu peito. — É real. É de verdade.

~ 11 ~
Não é não. Ele se foi.
— Baby. — Meu coração doía tanto quanto as palavras faladas. —
Papai se foi.
— Ele não foi, — ele disse inflexivelmente apenas da maneira como
uma criança de cinco anos poderia.
Mordi o lábio para me impedir de soltar um grito de dor. Em vez
disso, sussurrei: — Sim.
Mas AJ não estava aceitando. Ele deu um passo para trás e senti a
perda imediatamente. A força total do seu olhar me atingiu. — Não.
Droga.
Ele não sabia o quanto estava me machucando?
Twitch se foi.
E ele nunca voltaria.
Mas meu filho era tão importante, tão precioso para mim, que eu
cedi e, ao fazê-lo, uma lágrima percorreu meu rosto. — OK bebê.
Um olhar de vitória cruzou seu rosto e, quando ele se atirou em
meus braços, segurei meu bebê e chorei em silêncio.
Porque meu filho estava de luto pelo pai que nunca teve. E o jeito
que ele escolheu para lidar com isso estava bom para mim.
Mesmo que isso significasse me machucar no processo.

~ 12 ~
CAPÍTULO UM
Twitch

Na sombra da noite, eu me movi devagar, em silêncio, e quando a


casa surgiu, eu parei. As luzes ainda estavam acesas. Eu fiquei ao lado
da árvore na esquina da rua e esperei.
Olhando para o meu pulso, chequei meu relógio ao luar e contei os
segundos. Quando o relógio bateu onze, eu olhei para a casa e de
repente estava inundada de escuridão. Era como um relógio. Todas as
noites, às onze da noite, Lexi ia para a cama, mas não antes de verificar
AJ.
Um pequeno sorriso apareceu nos meus lábios quando a lâmpada
no quarto do meu filho iluminou a janela.
E aí estava.
Viu?
Como um relógio. Mesma coisa, dia após dia.
Um momento passou e a janela escureceu, e essa era a minha
deixa.
Com as mãos nos bolsos do meu casaco, eu me movi lentamente,
silenciosamente, e quando cheguei à janela, coloquei minhas mãos no
topo da moldura de madeira e empurrei. Ela balançou quando
abriu. Puxei a tela de mosquitos e a coloquei no chão antes de entrar. No
segundo em que meu pé bateu no chão do seu quarto, ouvi estalos de
plástico.
Eu estalei minha língua, e murmurei: — Foda-se. — Quando o
homenzinho na cama levantou a cabeça e piscou para mim com sono, eu
disse baixinho: — Eu pensei ter dito para você limpar essa merda.
Ele esfregou os olhos e murmurou: — Eu esqueci.
— Você esqueceu. — Eu ri baixinho. — Claro que você fez.

~ 13 ~
O pequeno sorriso nos lábios dele disse que ele estava
mentindo. Meu filho poderia ter herdado a minha aparência, mas ele era
sua mãe por completo. Gentil, honesto e bom.
Eu olhei ao redor do quarto, no chão, antes de suspirar com a
bagunça, e pisei em silêncio em direção à estante. — Qual você quer,
garoto?
— Green Eggs and Ham1, — disse ele imediatamente.
Meus lábios se franziram em uma pequena carranca. —
Novamente?
— Novamente. — Ele assentiu, sentando-se na cama.
Outro suspiro saiu de mim, mas foi exagerado. Eu realmente não
dava a mínima para o que ele queria que eu lesse para ele. Eu faria isso,
leria o mesmo livro uma e outra vez, se isso significasse que passaria
algum tempo com meu filho. Porque o pouco tempo que tinha com ele
era algo que eu gostava. Era precioso e senti sua falta toda a sua
vida. Então, o pouco que tinha dele, eu lidaria com isso.
Livro na mão, fui até ele. — Chegue para lá. — Quando ele fez, eu
sentei na beira da cama, deitando contra a cabeceira de madeira, e
coloquei meu braço em volta dele e segurei o livro.
Sem hesitar, ele inclinou a cabeça sonolenta no meu peito. Eu
pisquei para ele quando ele soltou um pequeno bocejo e eu morri por
dentro.
Eu morri porra.
Nunca um filho foi tão amado quanto o meu. Sua confiança não
era algo que eu merecesse, mas aceitava porque era um hábito meu -
aceitar coisas que não me pertenciam. Reivindicando-os como meus.
Quando comecei a ler em voz baixa, reconheci que nem precisava
mais do livro. Eu tinha lido tantas vezes que sabia a maldita coisa de
cor. Mas AJ parecia gostar das fotos, então levantei o livro e deixei-o
virar as páginas quando necessário, observando-o sorrir para os
desenhos de aparência boba, sorrindo junto com ele.

1 Ovos verdes e presunto é um livro infantil do Dr. Seuss, publicado pela


primeira vez em 12 de agosto de 1960. A partir de 2016, o livro vendeu 8 milhões de
cópias em todo o mundo.

~ 14 ~
Eu nunca entendi o que significava quando pessoas diziam que
eram as pequenas coisas.
Olhando para o meu filho... eu entendi.
Esses sorrisos, sua risada, a maneira como ele coçava a bunda
sem vergonha... valeu a pena todo o tempo que passei longe dele. Por
esta criança, por Lexi, eu faria tudo de novo em um piscar de olhos. Eu
não queria, mas o faria, e por isso que era tão importante cuidar dos
negócios antes de ressurgir do meu túmulo vazio.
Eu estava tão perto de ressuscitar. Eu poderia prová-la, saborear
os lábios cheios e doces de Lexi enquanto eles me adoravam.
Pensar na mulher no final do corredor, sozinha em sua cama, fez
meu estomago revirar. Como seria fácil entrar em seu quarto e vê-la por
um tempo.
Sim. Eu era um doente fodido. E velhos hábitos eram difíceis de
morrer.
Deus. A lembrança dela...
Meu peito doía enquanto minha mente conjurava uma imagem
dela sorrindo para mim, rindo daquele jeito suave e quente que era
reservado para mim e só para mim.
Eu senti a falta dela.
Fazia muito tempo.
Terminado o livro, fechei-o e depois abracei meu filho sonolento
perto de mim. — Você está cansado, homenzinho? — Ele acenou com a
cabeça no meu peito e eu sorri. — Quer que eu fique até você dormir?
Outro aceno, mais fraco desta vez, e um pensamento me
atravessou.
Eu mataria por essa criança.
Passando a mão pelo seu cabelo bagunçado, eu fechei os olhos,
respirando-o. Ele cheirava a maçãs verdes, amaciante de roupas, e algo
exclusivamente AJ. Eu pressionei meus lábios em sua cabeça e os
segurei lá, já sentindo sua falta.
Um braço magro caiu no meu estômago e me segurou firme. Sua
voz era baixinha. — Você vai voltar, certo?

~ 15 ~
Eu fiz uma careta para mim mesmo. Como ele poderia me
perguntar isso?
Ele se aconchegou mais profundamente em mim e minha
expressão se intensificou. — Ei. — Quando ele não se mexeu, eu o
cutuquei e, lentamente, ele olhou para mim, seus olhos tristes. — Eu
vou voltar. — Mas seus olhos permaneceram tristes, e eu senti a dor
familiar que sempre senti antes de partir. — Eu prometo.
AJ olhou para mim por um longo momento antes de concordar. Eu
segurei meu pequeno homem com força, querendo tranquilizá-lo, mas
inseguro sobre como. Então, abaixei e tirei meu relógio, entregando o
metal pesado para ele.
De má vontade, ele pegou, e quando ele piscou para mim
interrogativamente, eu disse a ele: — Eu voltarei por isso. — Seus olhos
se arregalaram antes de olhar de volta para o relógio. Deus, essa
criança. O olhar de orgulho por ter ficado responsável por algo grande
como um relógio de pulso caro era mais do que eu podia lidar. — Você
vai mantê-lo seguro para mim, certo?
Seu aceno de cabeça foi firme, entusiasmado, e quando vi seu leve
sorriso, a sensação de dor no peito aliviou ligeiramente.
Eu não tinha muita certeza na vida, mas estava certo de uma
coisa. Eu amava meu filho. Eu o amava ferozmente. E se alguém fosse
estúpido o suficiente para foder com ele, eu estaria lá, Glock na mão.
Engatilhe.
Clique.
Estrondo.
Tente-me porra.
Uma hora depois, o carinha espalhado em cima de mim estava
dormindo e eu precisava sair rápido. Com todo o cuidado que pude, saí
de debaixo dele e reajustei as cobertas. Fiquei ali por um tempo,
observando-o, meu interior enrolando-se com força.
Eu não queria sair.
Mas eu tinha que fazer isso.

~ 16 ~
Antes de sair, passei a mão levemente pelo cabelo do meu filho,
abaixei-me e beijei sua testa. Com um sussurro suave, eu disse ao seu
corpo adormecido, “te amo”, e quis dizer isso.
Essas palavras, elas não me alarmavam tanto quanto
costumavam. Eu aprendi muita coisa no meu tempo longe. Como
apreciar a vida ao máximo foi uma dessas coisas. Eu poupei um último
olhar para o meu filho antes de sair para a noite.
Enquanto eu caminhava pela rua, para minha casa, me perguntei
por quanto tempo poderia continuar me escondendo de todos.
Porra.
Um sorriso curvou meus lábios quando a resposta se apresentou.
Para sempre, se eu precisasse.

— Quanto tempo mais? — Eu perguntei, claramente chateado.


Ele suspirou. — Eu não sei, Twitch. Essas coisas levam tempo. —
Ouvi sua cadeira guinchar. — O que, você acha que eles simplesmente
vão arriscar e confiar no que eu tenho a dizer sobre você? — Ele
zombou. — Por favor, filho. Os EUA relutantemente reconheceram sua
vida novamente, mas a Austrália não está tão disposta. — Ele fez uma
pausa. — Há uma sepultura vazia com seu nome nela, Twitch. Você
acha que isso não levanta perguntas? Pense nisso. Seu túmulo
desaparece, sua garota fica furiosa e quer respostas. — Ele soltou um
longo suspiro. — Quanto mais tempo isso levar, melhor para você. Confie
em mim sobre isso.
Ethan Black, meu sócio improvável, estava certo, e isso me deixou
por um fio. Eu estava nervoso. — Sim. Que seja.
— Olhe, — disse o maioral do FBI, — tudo vai dar certo. Você
sabia que esse processo seria demorado. Você disse que estaria nisso em
longo prazo. O que mudou?
Sim eu disse. Mas ver meu filho na noite passada me fez
pensar. — Digamos que eu queria agir sozinho agora, — eu perguntei. —
Qual é a pior coisa que poderia acontecer?

~ 17 ~
Ethan riu sem graça. — Porra do inferno. — Quando eu não
pronunciei uma palavra, ele ficou em silêncio por um segundo, depois
explicou: — Você fingiu sua morte, Twitch, e embora tecnicamente não
seja um crime, você está respondendo a muitas outras acusações que vai
se afogar nelas. Conspiração, evasão fiscal, falsificação de certidão de
óbito - quer que eu continue? Sua garota vai responder por ilegalmente
receber seu seguro de vida. Ah, e aqui está a pior. Fraude.
Certo. Entendi.
— Isso tudo? — Eu sorri quando ele soltou uma série de palavrões.
— Mantenha a porra da sua cabeça abaixada e fique longe de
problemas, — Ethan reclamou, e pelos sons, ele estava tão cansado
dessa conversa quanto eu. — Eu tenho trabalho a fazer. — E então ele
desligou na minha cara.
Sozinho no meu quarto, a um quarteirão de distância da casa que
vivia meu filho e minha mulher, eu pensei sobre a minha posição atual,
sobre o conselho de Ethan.
Mantenha a porra da sua cabeça abaixada e fique longe de
problemas.

Meus lábios se inclinaram nos cantos.


Não.
Esse não era meu estilo.
Levantando rapidamente, eu me vesti e peguei minhas
chaves. Antes de sair de casa, puxei meu capuz sobre a cabeça e deslizei
o meu Ray Ban. Escondendo minhas mãos tatuadas nos bolsos, eu saí,
fui em direção à minha despretensiosa Nissan Patrol e entrei.
Era segunda-feira e eu sabia onde ela estava. O mesmo lugar onde
estava toda segunda-feira.
Minha Lexi era uma criatura de hábitos.
Eu dirigi rapidamente e quando cheguei lá, estacionei, olhando
pelas minhas janelas escuras. E lá estava ela.
Minha alma inquieta aliviou com a visão dela.

~ 18 ~
Eu estava longe o suficiente para não ser notado, mas perto o
suficiente para ver a curva suave de sua bunda. E, foda-me, ela estava
linda.
O instrutor de ioga, um homem esguio de quarenta e poucos anos,
estava na frente das seis mulheres em uma pose, equilibrando-se em
uma perna enquanto pressionava o pé oposto no joelho, com os braços
estendidos sobre a cabeça.
As mulheres imitavam sua pose, e quando Lexi vacilou, ele
apressou-se, colocando as mãos na cintura dela para firmá-la.
Meus olhos brilharam e a raiva começou a crescer.
Olha, eu poderia ter tido algumas mudanças na minha ausência,
mas eu não era uma merda de santo. A visão das mãos de outro homem
na minha mulher fez meu coração acelerar. Isso me fez querer quebrar
cabeças.
Mandíbula apertada, continuei assistindo.
Quando ele disse algo, sorrindo, e Lexi respondeu através de um
largo sorriso, meu estômago se apertou dolorosamente. Eles falaram por
alguns instantes, e quando não consegui tirar meus olhos daquelas
mãos em seus quadris, meu pescoço começou a esquentar, minhas mãos
fecharam em punhos, e eu murmurei sob a minha respiração, — Tire
suas mãos dela caralho.
Como se ele me ouvisse, as mãos do imbecil se afastaram dela,
mas não antes de demorar um breve momento. E, honestamente, eu não
podia culpá-lo. Lexi era uma mulher linda.
Só quando ele se afastou eu relaxei. Eu respirei fundo, deixando
sair lentamente.
Questões de raiva me atormentariam o resto da minha vida, mas
eu estava trabalhando nelas.
Ela estava vestida com calças justas pretas e uma camiseta branca
solta, e eu observei o decote daquela camiseta enorme cair por um
ombro, revelando a grossa alça de seu sutiã esportivo. Ela usava tênis
brancos e seu cabelo espesso e castanho estava preso em um rabo de
cavalo alto.

~ 19 ~
De repente, as lembranças me assaltaram e fechei os olhos,
querendo desesperadamente mergulhar nessas lembranças e viver um
pouco.
Lexi na minha cama.
Lexi de joelhos.
Lexi me chupando tão bem enquanto olhava nos meus olhos.
Um gemido baixo escapou de mim, e minhas sobrancelhas
baixaram quando agarrei meu pau endurecido, apertando-o com
força. — Merda.
Minha cabeça caiu para trás e fechei meus olhos com força. Meus
lábios se separaram enquanto eu lutava para me controlar; Um suspiro
frustrado explodiu entre eles.
Sim.
Fazia muito tempo.
Eu precisava do meu bebê.
Uma carranca puxou minha boca.
Ela precisava de mim?
Tão rapidamente quanto o pensamento veio, se foi, e uma risada
leve me deixou.
Claro que ela fazia. Me amar era tudo que ela precisava.
Eu faria valer a pena. Eu a amaria de volta, amaria com força, a
deixaria satisfeita e faria com que ela se entregasse novamente. E ela
faria isso, de bom grado. Eu sabia do que minha mulher gostava. O
tempo não muda esses gostos particulares.
Eu deveria saber. Não mudou os meus.
O pensamento de Lexi, nua e disposta, minha mão envolvida em
torno de seu cabelo escuro e grosso, fez meu pau pingar.
Apertei-o com força suficiente para machucar e mordi o interior da
minha bochecha, divertindo-me com a dor. — Jesus. — Eu assobiei em
uma respiração com os dentes cerrados. — Tenho que sair daqui.
Antes de ir embora, poupei mais um olhar para minha mulher e,
quando o fiz, ela se virou para falar com uma mulher atrás dela, sorrindo

~ 20 ~
abertamente enquanto levantava um braço, segurava-o no peito e o
mantinha lá, alongando-se.
E minha alma gritou por ela.
Com um suspiro profundo, liguei o carro, dei ré e saí do
estacionamento.
Era uma vez, na terra dos deuses e monstros, vivia um anjo.
E o nome dela era Lexi.

~ 21 ~
CAPÍTULO DOIS
Lexi

Eu estava com frio e molhada de suor, mas momentaneamente


ignorei a necessidade viciosa de tomar uma chuveirada. No segundo em
que entrei na casa, chamei: — Ei, alguém em casa?
Para meu absoluto deleite, ninguém respondeu, e com um leve
suspiro, meus pés me levaram para a cozinha. Pegando uma cadeira da
mesa, arrastei-a, ignorando o guincho baixo que vibrou no meu ouvido, e
então subi sobre ela. Abrindo o armário mais alto à esquerda, estiquei o
braço e tirei uma barra de chocolate estrategicamente escondida. Com
um sorriso feliz, desci da cadeira, sentei-me, abri a embalagem e dei uma
grande mordida.
Com os olhos fechados em pura felicidade, mastiguei lentamente,
saboreando o sabor doce e rico.
Olhei para a barra de chocolate, sentindo-me levemente culpada
por comer o delicioso deleite quase imediatamente depois de terminar
um treino.
Com um leve encolher de ombros, dei outra mordida e disse: —
Meh. Dane-se.
Era por isso que eu malhava, não era? Então poderia comer o que
quisesse? E agora, eu queria chocolate, então... — Yum, — eu gemi
quando joguei o resto da barra na minha boca.
A porta da frente se abriu e meus olhos se arregalaram. Peguei o
papel-alumínio e enfiei no sutiã, mastigando mais rápido.
— Ok, meu pequeno, — disse Molly. — Tire seus sapatos e guarde
sua mochila.
Quando AJ passou pela porta aberta, ele gritou: — Oi, mãe!
Colocando a mão na boca, continuei mastigando, engoli em seco e
depois respondi: — Ei, querido.

~ 22 ~
Molly entrou na cozinha e olhou atentamente para mim. Ela sorriu
e perguntou: — Você comeu chocolate?
Como ela sabia? — O quê? Não, — eu disse um pouco rápido
demais.
Quando ela franziu a testa, sorrindo, e trouxe o dedo para o canto
dos meus lábios, ela puxou de volta e cheirou o dedo, sorrindo. —
Chocolate. — Então sua sobrancelha se estreitou. — Onde você
conseguiu chocolate? Eu quero chocolate.
Merda.
Apanhada.
A jovem de vinte e dois anos de idade tinha rapidamente se
tornado um membro desta família. Sim, era pequena e quebrada, mas
Molly se encaixava conosco. Quando Julius recomendou-a como babá
em meio período para AJ, fiquei hesitante. Eu deveria saber que alguém
recomendada por Julius teria sido checada três vezes.
Ele não era um homem que se arriscava. Nem sua esposa
Alejandra.
Eu sentia um pouco de saudade deles.
Eles viveram conosco por seis meses quando se mudaram para
Sydney, e no momento de sua chegada, Alejandra não estava em bom
estado. Tendo sido atacada e mantida em cativeiro por dias, ela estava
mais do que apenas fisicamente danificada. Mentalmente, ela estava tão
frágil que parecia quase quebradiça, a ser derrubada ao menor toque ou
som ou brisa, e depois de sua provação, ela mal falava. Não importava
quantas vezes eu pensasse sobre isso; Não conseguia sequer imaginar o
que aquela pobre mulher tinha passado.
Em poucos dias, ela perdeu um dedo, teve vários ossos quebrados,
foi repetidamente estuprada e sofreu danos oculares permanentes nas
mãos de um maníaco com uma faca de caça. Ela agora estava assustada
e totalmente petrificada com os médicos. No entanto, Julius a amava do
mesmo jeito. No tempo que eles moraram conosco, eu tive uma imagem
em primeira mão de quão ferida ela estava.
Às vezes, a memória ainda me assombra.

~ 23 ~
Lembro-me de acordar com os sons de gritos aterrorizados e
lamentos, arquejando e ofegando por ar, e no momento em que saí da
cama e corri pelo corredor, Julius estava tentando recuperar o controle
dentro de seu quarto.
— Acorde, baby, — ele dizia, ainda mais frenético, — Porra. Acorde!
— Então, mais alto, — Ana!
Mas os gritos continuaram, e eu fiquei no final do corredor com
uma mão pressionada contra o meu peito em uma tentativa fraca de
acalmar meu coração acelerado. Quando os uivos e gritos de pânico
finalmente acalmaram e foram substituídos pelos sons de choro baixo,
eu relutantemente voltei para o meu quarto, mas o sono nunca chegou.
Em um ponto, eu ouvi o andar pelo corredor, então coloquei meu
robe e saí do meu quarto, e o que vi quebrou meu coração.
Julius levava uma pilha de lençóis para a lavanderia. O cheiro de
urina era fraco, mas definitivamente estava lá.
Eu me movi pela porta aberta, e sentindo a minha presença, ele se
virou para olhar para mim, usando apenas calça de pijama, parecendo
atordoado e sonolento. Eu não perdi as marcas em seu pescoço e
arranhões que marcaram seu peito, sua pele bronzeada parcialmente
avermelhada. — Ei, — ele sussurrou, em seguida, voltou a colocar os
lençóis na máquina de lavar. — Desculpe, nós acordamos você.
Julius, eu estava percebendo, tinha a paciência de um santo. —
Não se preocupe com isso, — eu disse a ele. Depois de uma breve
hesitação, perguntei: — Ela está bem? — De costas para mim, ele
balançou a cabeça e entrei na lavanderia. — Outra lembrança?
— Ela, uh... — Ele limpou a garganta. — Ela ficou emaranhada
nos lençóis. Acordou apavorada. — Ele suspirou baixinho, cansado. —
Teve um acidente.
Era absolutamente deprimente que essa doce mulher tivesse
passado tanto em sua curta vida que ficar emaranhada em lençóis
representasse uma ameaça, assustando-a o suficiente para se
molhar. Matou-me vê-la recusar ajuda.

~ 24 ~
Eu era uma assistente social qualificada. Eu tinha recursos, ela só
precisava estender as mãos e tomar o que era oferecido. Na ponta dos
meus dedos, eu controlava o melhor do sistema de saúde mental
australiano. Mas eu entendia o medo melhor do que ninguém, e o que
isso poderia fazer a uma pessoa era verdadeiramente destrutivo.
— Talvez possamos tentar a terapia novamente, — falei baixinho.
Julius soltou uma leve gargalhada. — Sim. Boa sorte com isso. Ela
mal fala mais comigo. Como você vai fazê-la falar?
Minha resposta foi honesta e sombria. — Eu não sei.
Ele respirou profundamente, depois soltou lentamente ao
expirar. Quando ele passou por mim, pressionou um beijo suave na
minha bochecha. — Desculpe termos acordado você.
Na manhã seguinte, encontrei Ana sentada à mesa da cozinha, em
frente à AJ, e quando tropecei meio dormindo, ela sorriu. Claro, ela não
falava muito, mas ela ainda era tão gentil comigo quanto podia se
permitir ser, e se um sorriso fosse tudo o que pudesse receber, eu ficaria
feliz em aceitá-lo.
Eu apertei seu ombro suavemente. — Bom dia, Ana. — Parando ao
lado do meu filho, me curvei e passei um braço ao redor dele,
pressionando beijos ao lado do seu pescoço. — Bom dia querido. Está
com fome?
Ele fez uma careta antes de limpar o pescoço. Ele era um
garotinho, afinal. — Não. Ana me fez uma torrada.
Meus olhos sorriram para ela quando me endireitei. —
Obrigada. Posso lhe preparar alguma coisa? — Em resposta, ela
retribuiu meu sorriso, mas ergueu a caneca, dizendo que tinha tudo o
que precisava. Eu chequei a geladeira e murmurei: — Ok, bem, eu estou
pensando em bacon e ovos.
Com isso, Julius entrou na cozinha, parecendo sonolento e recém-
acordado. — Estou pronto para isso.
Eu gargalhei antes de voltar para Ana. — Você já percebeu que ele
some até que alguém comece a cozinhar?

~ 25 ~
Ela se virou para o marido, com os olhos cheios de alegria, mas
simplesmente tomou um gole de café. Ele se sentou ao lado dela, e com
um grunhido áspero e estridente, sua cadeira foi arrastada para ele. Ela
largou a caneca quando ele começou a sussurrar em seu ouvido. Eu os
observei discretamente quando comecei a cozinhar. Tudo o que ele disse
teve um efeito. Ela começou a assentir lentamente, fechando os olhos, e
quando ele se afastou, ela carinhosamente emoldurou seu rosto em suas
mãos e olhou-o nos olhos. Quando ela viu as olheiras abaixo, seu rosto
caiu e ela se inclinou, pressionando beijos suaves em seus lábios
carnudos.
Independentemente do que Ana passou, uma coisa estava
clara. Ela amava o marido mais do que as palavras poderiam
descrever. Um amor como o deles era raro, ainda mais raro por
sobreviver a tudo o que aconteceu. Eu adorava os dois e, apesar de
terem seus problemas, estava torcendo por eles.
Enquanto eu fritava ovos em uma panela e bacon em outra, joguei
um pouco de pão na torradeira e, quando saltou, Julius se levantou,
estendendo a mão e pegou dois pratos.
Foi quando o AJ atacou. — Por que você tem pesadelos?
Meu interior congelou. Eu sei que ele era apenas uma criança, mas
nós tínhamos falado sobre isso e ele sabia que não deveria fazer uma
pergunta tão pessoal a Ana.
Então, quando ela respondeu, fiquei atordoada.
Levou um tempo. Sua voz era baixa e soava rouca por falta de
uso. — Porque pessoas más fizeram coisas ruins comigo.
Eu ouvi a cadeira de AJ guinchar e então ele foi andando até
ela. Quando olhei para Julius, suas costas estavam retas e eu sabia que
ele estava ouvindo. Meu filho sentou-se ao lado da pequena mulher e
olhou em seu olho branco, danificado. — Eles fizeram isso?
Ela assentiu devagar. — Sim.
— Isso dói?
Ana sacudiu a cabeça. — Não. — Ela pegou a mão de AJ e tocou
nas cicatrizes de seu olho. AJ estremeceu, mas ela sorriu

~ 26 ~
encorajadoramente. — Está tudo bem. Eu não sinto mais nada. Está
entorpecido.
AJ seguiu em frente e pressionou seus pequenos dedos no rosto
dela. Quando ele de repente os retirou e perguntou: — Por que você
chora à noite? — Eu quase morri.
De olhos arregalados e completamente confusa com sua conduta
rude, eu me virei e o repreendi. — Já chega.
Mas Ana levantou a mão para mim, deixando-me saber que estava
tudo bem. Eu não pude deixar de notar o jeito que suas mãos tremiam
enquanto ela falava, como se fosse muito cansativo usar sua voz, mas
ela fez isso por AJ — Eu choro porque estou triste, baby.
E AJ a recompensou.
De repente, ele correu para o seu quarto. Todos nós ouvimos a sua
comoção jogando coisas ao redor, e quando finalmente encontrou o que
estava procurando, ele retornou. Ana pegou o urso marrom estendido
que ele segurava, e quando ela olhou para ele, ele disse a ela: — Às
vezes, quando fico triste, eu abraço meu urso. — Ele a olhou nos olhos
de uma maneira descarada que apenas uma criança podia. — Ele é
agradável. Ele é macio e cheira a biscoitos.
Ana colocou o nariz no centro do estômago do urso de pelúcia e
sorriu. — Ele cheira. — Ela entregou de volta seu urso. — Mas eu não
posso tirá-lo de você. Ele é seu.
Ele estufou o peito, quando afirmou: — Eu sou um menino
grande. Eu não preciso mais dele.
— Claro que sim, — ela disse gentilmente, segurando seu urso,
insistindo que ele o pegasse dela.
Quando ele falou a seguir, o orgulho me aqueceu. — Eu acho que
você precisa mais dele.
Ele era um bom menino e realmente queria ajudar. Enquanto
preparava o café da manhã, eu lhe disse calmamente: — Ele é teimoso
como uma mula. Ele não aceita um não como resposta. — Meus olhos se
arregalaram comicamente. — Confie em mim sobre isso.

~ 27 ~
Com a persistência do meu filho, ela olhou para o urso, tocando
suavemente o seu nariz antes de abraçá-lo contra ela, seu longo cabelo
preto caindo sobre o rosto. Sua voz era suave. — Obrigada.
Ele devolveu o sorriso dela. — Você é bonita, Ana. — Então ele se
virou para mim. — Posso assistir TV agora?
Oh meu Deus, essa criança. — Claro.
Os ombros de Julius estremeceram em gargalhadas silenciosas
enquanto ele se sentava à mesa, carregando o prato com ele. — É melhor
eu abrir meus olhos, Lex. Eu acho que seu garoto está tentando roubar
minha garota.
Enquanto sentava com eles, eu disse: — Eu não sei o que deu nele
esta manhã. Eu sinto muito.
Mas foi Ana quem respondeu. — Está tudo bem. Eu amo AJ.
Olhei para o meu filho na sala ao lado e meu rosto se suavizou. —
Ele também te ama.
E ele amava. Ele provou isso uma e outra vez, passando tempo
com Ana quando achava que ela estava solitária, conversando com ela,
compartilhando seus petiscos com a pequena mulher, trazendo-lhe suas
coisas mais queridas para emprestar ou guardar. E quando chegou a
hora de dizer adeus, AJ ficou arrasado.
Ele perguntou: — Você vai voltar? — Enquanto limpava o nariz
com a manga.
Ana se ajoelhou e sorriu gentilmente. — Claro, querido. Não
estamos indo muito longe. — Ela pegou a mão dele e segurou-a com
força. — Você pode vir visitar sempre que quiser.
— Agora, — ele perguntou, fungando, e ela riu baixinho de como
ele estava sendo ridículo.
Eu tinha um forte sentimento de que AJ a ajudara a se curar, e
não havia melhor elogio para uma mãe. Isso disse muito sobre seu
caráter.
Doía vê-lo perder sua amiga, mas foi legal ver Ana e Julius dando
um passo à frente na vida. Por um longo tempo, eles ficaram
presos. Sem se mover para frente ou para trás.

~ 28 ~
Apenas... presos.
Com uma mão gentil, ela enxugou suas lágrimas e falou em voz
baixa. — Eu prometo que assim que tivermos mobília e tiver uma cama
para você, podemos fazer uma festa do pijama, ok?
Com isso, ele sorriu através das lágrimas. — Ok. — Ele a abraçou
o mais firme que podia, e quando se separaram, Julius manteve os
braços abertos.
AJ dirigiu-se a ele devagar, arrastando os pés, e quando chegou a
ele, mergulhou o queixo, parecendo infeliz. Julius o pegou e, quando AJ
pousou a cabeça no ombro do tio Julius, meu interior se derreteu em
uma pilha de gosma.
— Você é o homem da casa, — disse Julius, e AJ assentiu em seu
ombro. — Isso significa que você tem que cuidar de sua mãe.
Eu sorri tristemente quando AJ olhou para mim e murmurou: —
Eu vou. Eu prometo.
— Esse é o meu menino, — disse Julius, segurando seu afilhado
perto e balançando suavemente de um lado para o outro. — Você está
bem?
AJ sacudiu a cabeça tristemente e Julius o abraçou mais forte,
soltando uma risada suave pelo nariz. — Ah, vamos lá. Você está me
matando aqui.
Quando vi AJ sorrir, soube que ele estava fazendo cena,
claramente amando a atenção, e mais tarde naquela noite, quando
Julius e Ana finalmente nos deixaram, a casa parecia terrivelmente
parada, quieta de uma maneira que não fazia há meses, e para ser
honesta, eu não gostei disso. Nem um pouco.
Semanas se passaram e a casa permaneceu tranquila. Julius
ligou, e pareceu desconfortável quando disse: — Eu acho que posso estar
me excedendo aqui, Lex.
Que sentimento estranho.
Estávamos muito além do excesso. Depois de tudo o que havíamos
passado, não achava que poderíamos ter vivido de outra maneira além

~ 29 ~
do que éramos. Limites nunca foram cruzados porque não havia
fronteiras entre nós.
— Nada disso, — eu disse a ele. — Está tudo bem?
— Recebi uma ligação de alguém que conheço. Na verdade, a filha
de alguém que conheço. Ela está procurando trabalho.
Sim. Eu estava definitivamente confusa.
Eu falei, — Ok?
— Ela não tem muita experiência, mas é boa em uma coisa.
— Oh? — Eu perguntei com cautela: — O que é isso?
— Ela é ótima com crianças.
E meu coração afundou. — Julius...
Mas ele me interrompeu: — Pense nisso, Lex. Você queria voltar a
trabalhar por um tempo agora, mas disse que as horas tornam muito
difícil conciliar AJ e um trabalho. — Ele rapidamente disse: — Molly
pode ajudar com isso. Você poderia trabalhar de novo, quaisquer que
fossem os horários. — Depois de um momento de silêncio, ele prometeu:
— AJ vai amá-la.
Eu não queria ferir o sentimento de Julius, mas isso parecia um
excesso. — O nome dela é Molly?
— Sim. Ela tem vinte e um anos e procura algo permanente.
Eu suspirei suavemente.
Minha preocupação materna entrou em jogo. — Você confia nela?
— Lex, — foi tudo o que ele disse, e eu sabia que era uma
pergunta estúpida. Como se Julius deixasse alguém indigno de
confiança em torno de seu afilhado.
A ideia de trabalhar novamente parecia incrível. Eu não pude
deixar de considerar a oferta.
— Bem, eu não posso prometer permanência, mas... — eu soltei
um longo suspiro. —... talvez ela possa vir por um dia ou dois na
próxima semana para que eu possa conhecê-la um pouco.
Julius estava bem com isso. — Claro, eu não tomaria nenhuma
decisão até que você a conhecesse. Ela é... — ele fez uma pausa. — Ela é
diferente.

~ 30 ~
Na semana seguinte, quando conheci Molly, entendi o que
“diferente” significava.
Quando atendi a porta e encontrei a menina pequena de pele
morena ali, usando jeans pretos apertados, uma blusa solta de mangas
compridas e botas de combate, eu recuei. Ela usava uma grossa sombra
preta nos grandes olhos cor de avelã, e seus grandes lábios carnudos
estavam pintados de uma cor de berinjela. Seus cabelos escuros eram
curtos e crespos, separados no meio, e ela tinha uma franja, que usava
reta. Suas unhas curtas e aparadas estavam pintadas de preto e ela
tinha tatuagens. Quando ela abriu a boca, eu não esperava ouvir a
doçura da voz dela.
— Senhora Ballentine? — Quando eu continuei olhando para ela,
seus olhos correram lentamente ao redor e ela endireitou sua postura. —
Uh, eu sou Molly. — Mas eu não conseguia falar. Seus olhos se
arregalaram quando ela esclareceu: — Julius me enviou.
A última declaração saiu parecendo uma pergunta.
Levei um momento para reiniciar, e quando o fiz, balancei a cabeça
como se a estivesse limpando. — Sinto muito, — eu disse a ela, abrindo
a porta e dando um passo para o lado. — Por favor, entre.
Ela fez, mas ela hesitou. Eu não a culpei. Se eu tivesse recebido as
mesmas boas-vindas que acabara de dar, hesitaria também.
Uma vez lá dentro, eu a levei até a cozinha e sorri
educadamente. — Sente-se. — No momento em que ela sentou, seu
joelho saltou de forma irregular e eu sabia que tinha arruinado minha
primeira impressão com essa garota. Eu tentei me redimir. — Então,
você é uma babá?
— Uma babá, — ela se iluminou. — Eu era uma au pair2, na
verdade.
Ela não parecia. — Sério? Au pair?

2 Uma au pair é uma assistente doméstica de um país estrangeiro que trabalha


e vive como parte de uma família anfitriã. Normalmente, as au pairs assumem uma
parte da responsabilidade da família pelo cuidado infantil, bem como algumas tarefas
domésticas, e recebem um subsídio monetário para uso pessoal.

~ 31 ~
— Em Londres. — Molly olhou ao redor da cozinha até ver a foto
da turma de AJ na geladeira. Estava ao lado da única foto que eu tinha
do Twitch. Ela olhou para o meu lindo menino e um pequeno sorriso
brincou em seus lábios. — Esse é AJ?
Eu me virei para olhar aquela foto e sorri. — Sim. Esse é ele.
— Ele é fofo.
— Oh, ele sabe disso. — Meu sorriso se alargou.
Um breve momento de silêncio passou entre nós e observei o rosto
de Molly cair. Ela se levantou e abriu a boca para falar, mas nada
saiu. Ela forçou um sorriso e tentou novamente. Quando ela falou, a voz
dela continha compreensão. — Eu não acho que isso vai dar certo. — Eu
levantei e tentei falar, mas ela balançou a cabeça. — Está tudo bem,
realmente. Eu entendo. — Quando ela saiu da cozinha, ela desviou o
olhar e disse: — Obrigada por me receber.
Essa jovem se sentia excluída e eu fiz isso com ela.
Eu me senti como o menor pedaço de escória que já nasceu.
Quando me recuperei e comecei a andar atrás dela, ela já estava
em seu carro vermelho brilhante. Corri para fora da minha casa,
descalça, e assim que o carro ligou com um estrondo baixo, entrei na
frente dele, e ela piscou para mim como se eu fosse uma pessoa louca.
Fiz sinal para ela desligar o motor e, quando o fez, continuou
sentada do lado do motorista, olhando cautelosamente para mim e
abaixando a janela. Eu andei os poucos passos e me inclinei, olhando
para dentro. — Por que você não volta lá para dentro? — Ela me olhou
de lado, mas não se moveu. Então eu tentei reparar o dano que tinha
causado dizendo: — AJ estará em casa em breve. Se vamos fazer isso,
gostaria que você o conhecesse.
O silêncio entre nós durou um tempo.
Relutantemente, ela saiu do carro e, em seguida, voltamos para a
cozinha, esperando que AJ chegasse em casa depois do seu jogo. A
conversa era escassa, e Molly não fez contato visual depois disso, mas no
momento em que a campainha tocou e eu deixei AJ entrar, acenando
para a mãe de sua amiga, Molly reviveu.

~ 32 ~
AJ correu para a cozinha e, no momento em que a viu, ele piscou
surpreso. — Quem é Você?
Ela zombou de sua grosseria, em seguida rebateu: — Quem
é você?
— Eu sou AJ. — Então ele declarou: — Eu moro aqui.
E Molly sorriu. — Eu sou Molly e eu não.
Então ela era boa com crianças.
— Uau, — disse ele, impressionado quando seus olhos enxergaram
as tatuagens através dos buracos em sua camisa. — Você tem
tatuagens.
— Eu tenho, — disse ela, em seguida, estreitou os olhos para
ele. — Você tem?
Ele riu. — Não, — e então acrescentou: — Sou muito pequeno, —
como se ela não soubesse. Eu sabia o que estava chegando antes que ele
dissesse. — Meu pai tem tatuagens. Muitas delas.
Eu não esperava que ela dissesse o que disse. — Eu encontrei seu
pai uma vez.
Minha carranca era leve. Ela encontrou?
E AJ ficou instantaneamente perplexo. Ele falou devagar, baixinho:
— Você encontrou?
Ela assentiu. — Sim. Foi há muito tempo, mas ainda me lembro
dele.
Parecia certo. Quem poderia culpá-la?
Twitch era difícil de esquecer.
— Quanto tempo? — AJ perguntou, largando a mochila no chão e
se aproximando.
Molly pensou sobre isso. — Anos atrás. — Ela sorriu para ele,
sabendo que tinha sua atenção. — Eu lembro que ele era muito alto. —
Então ela franziu a testa. — Ou talvez eu fosse muito pequena. Eu não
sei.
AJ disse: — Você é pequena, mas o papai era... — Ele olhou para
mim e eu sorri tranquilizadoramente. Ele continuou: — Sim. Papai era
alto.

~ 33 ~
Enquanto eu ficava lá ouvindo a pequena gótica contar ao meu
filho o pouco que sabia sobre seu pai, encostei-me ao balcão da cozinha
e sorri de sua lembrança. Depois que ela terminou, AJ estava meio
apaixonado, e quando ela disse: — Você parece com ele, — eu sabia que
AJ era dela, coração e alma.
Contratei Molly por dois dias por semana durante um mês. Eu
aumentei isso para um dia durante a semana seguinte, e outro na
próxima, até que, eventualmente, ela estava em nossa casa mais
frequentemente do que não. Eu consegui ver um lado diferente dela. A
guardiã brincalhona, mas firme de um garotinho que a adorava, e ela
amava AJ de todo o coração.
Parecia natural que, quando encontrei um emprego de meio
período no setor social, pedi-lhe que viesse morar conosco. Molly
graciosamente aceitou, e ela está conosco desde então.
Mas eu não era uma mulher estúpida, e meu tempo gasto com o
Twitch me ensinou muito, a ler nas entrelinhas e ouvir as palavras não
ditas. Então, quando descobri que Molly era altamente qualificada em
treinamento de armas e artes marciais, minhas suspeitas foram
confirmadas.
Eu não tinha certeza de quem era Molly, mas Julius a queria perto
de AJ por um motivo, e esse motivo era proteção. Eu só não sabia por
quê.
E isso me incomodou.

~ 34 ~
CAPÍTULO TRÊS
Ling

Com uma carranca cruel, eu coloquei minhas mãos nas portas


duplas e empurrei o mais forte que pude. Elas abriram com um whoosh,
batendo nas paredes com um barulho alto. Eu entrei, com o bastão de
beisebol na mão, cercada pelos meus irmãos, e olhei para o fodido caos
absoluto a minha frente.
Meus homens estavam brigando com os turcos novamente.
Por trás de mim, Van xingou em voz alta: — Porra, Ling. — Seus
olhos dispararam para os meus. — Não fique aí parada. — Ele olhou
para mim, inclinou-se e rosnou: — Faça alguma coisa.
Oh, eu faria alguma coisa, com certeza.
Meu lábio se curvou. Eu entrei e coloquei o bastão apoiado no meu
ombro enquanto me movia pelo clube. O vestido vermelho minúsculo que
eu usava não era exatamente uma roupa feita para o controle de danos,
mas, merda, o que uma garota poderia fazer?
Esses homens estavam começando a me irritar. Eu era a maldita
rainha deles, e era assim que me tratavam?
Eu ia mostrar a eles como me sentia sobre a insubordinação deles,
e faria isso de uma forma que era exclusivamente minha.
Os saltos de solado vermelho que eu usava pareciam grudar no
chão pegajoso da boate, e quando me aproximei de um grupo de homens
lutando, abaixei o bastão um momento antes de levantá-lo bem alto
sobre a minha cabeça. Eu me preparei, meu rosto se contorceu, e então
eu o baixei o mais forte que pude sobre a cabeça de um cara.
Meu cara.
Ele caiu com um baque desagradável, imóvel.
Os dois turcos voltaram a olhar para o corpo do meu soldado
vietnamita e ficaram boquiabertos. Eu sorri largamente, de olhos
arregalados, e me inclinei, mexendo meu dedo. Quando tive certeza de
~ 35 ~
que prendia a atenção deles, lambi meus lábios cor de cereja e disse: —
Agora imagine o que vou fazer com vocês.
Mero segundos depois, eles estavam rastejando enquanto eu
franzia os lábios, olhando em volta para a minha próxima vítima. Eu
olhei para os meus homens, meus meninos, e balancei a cabeça
discretamente em desgosto. Eles não aprendiam.
Mas iriam.
Quando me movi para outro grupo de homens, segurei meu bastão
com uma mão enquanto pegava o canivete em minha liga. Com uma
mão, o abri antes de cerrar os dentes e cravá-lo na coxa de um dos meus
homens.
O novato gritou de dor e recuou para me bater. Seu rosto,
contorcido de raiva, transformou-se em medo no momento em que ele
me viu.
Meus olhos o desafiaram a falar, o desafiaram a fazer a merda de
um som e, como os bons garotos que eu criei, ele abaixou a cabeça
submissamente.
Eles eram vergonhosos.
Não era culpa deles serem assim. Era minha. Eu tinha sido muito
branda, por muito tempo, querendo que meus filhos se divertissem
enquanto trabalhavam. E eles fizeram. Eles simplesmente não sabiam
quando parar.
Estalando minha língua, meu rosto se transformou quando me
ajoelhei, segurando a parte de trás de sua cabeça amorosa e gentilmente
trazendo-a para o meu peito. Eu acariciei seu rosto suado e murmurei:
— Eu não gosto de machucar meus bebês. — Em uma fração de
segundo, meu rosto se contorceu. Eu agarrei seu cabelo e puxei com
força, forçando-o a olhar nos meus olhos. — Mas você continua
a me envergonhar. — Meus olhos pousaram na faca saindo de sua
coxa. Eu abaixei minha mão e empurrei-a.
O rosto do jovem se contorceu de dor e ele engasgou, mas não
gritou. Em vez disso, ele mordeu o lábio com força suficiente para
sangrar. Meu coração começou a acelerar.

~ 36 ~
Droga.
Todo esse sangue e dor estavam me deixando excitada.
Quando levei meu rosto ao dele, pressionei com mais força o cabo
da faca e, quando um som sufocado gorgolejou em sua garganta, joguei
minha cabeça para trás e minha boca se partiu em desejo.
Eu realmente precisava transar.
Quando eu lentamente passei a língua sobre os lábios do jovem,
senti sua respiração curta e ofegante contra a minha boca, e pressionei
meus lábios nos dele, docemente agradecendo-lhe pelo seu
serviço. Quando me afastei e fiquei de pé, olhei para ele impassível. — Vá
para casa. Agora.
Com um suspiro, eu coloquei a mão em meus quadris, pernas
apoiadas e olhei para a carnificina que se seguiu.
Corpos espalhados por toda parte; foi um banho de sangue, e
quando senti alguém chegar por trás, coloquei a mão no calibre 22
escondido na minha liga.
Mas então ele falou. — Isto está saindo do controle.
Meu irmão mais velho, Van. O único irmão com quem eu
realmente me incomodava, o único da minha família que me entendia,
porque ele era igual.
Eu balancei a cabeça ligeiramente, e quando Van pressionou seu
peito nas minhas costas, eu fechei meus olhos e engoli em seco.
Era um jogo que fazíamos um com o outro, forçando os limites.
Sim.
Nós éramos fodidos assim.
Sua mão pousou no meu quadril e ele se aproximou, colocando os
lábios no meu ouvido. — Este é o seu domínio. Assuma o controle. — A
mão no meu quadril apertou. — Seja a rainha que eu sei que você é.
Eu virei para olhar para ele e ele manteve o rosto perto. Muito
perto.
Sem quebrar o contato visual, peguei minha arma, levantei e
disparei três tiros.

~ 37 ~
Os olhos de Van sorriram, brilhando de orgulho, e eu retornei
aquele sorriso arrogante, olhando para seus lábios por um longo
momento.
— Ling.
Mordi meu próprio lábio, imaginando que gosto ele teria.
— Ling, — ele avisou asperamente, segurando meu pulso e
tirando-me do meu estupor.
Piscando, eu afastei o desejo antinatural e olhei ao redor,
procurando pelo chão, momentaneamente surpresa por encontrar todos
os olhos em mim. Felizmente para eles, eu amava a atenção. Vivia para
isso.
Respirei fundo antes de meu olhar escurecer, e afirmei em voz alta:
— Estou desapontada. — Olhando para cada conjunto de olhos,
continuei. — Eu deveria me deitar bem aqui, ou vocês prefeririam que eu
me inclinasse sobre o bar? — Na clara confusão deles, eu disse: — Bem,
vocês estão me fodendo tanto que talvez deva ficar confortável.
Com isso, todos os olhares se voltaram para baixo em um
silencioso pedido de desculpas.
Os turcos sabiam que não deveriam vir aqui. Este era o meu
clube. Eu era a dona, mas isso não desculpava o comportamento dos
meus Dragons.
Refleti sobre essa situação, e a única frase que pensei tantas vezes
me veio à mente.
O que o Twitch faria?
Era o meu mantra, como vivi a minha vida e, até agora, isso me
serviu bem.
— Quem foi? — Eu dei um passo mais perto. — Que cara esperto
começou?
Depois de um longo momento, um deles se adiantou. Eu não
hesitei. Eu levantei a arma e puxei o gatilho, o eco do tiro soando alto
demais no prédio quase vazio. Não me alegrei em ver o homem cair no
chão em uma pilha sem vida.

~ 38 ~
Fechei meus olhos e respirei fundo, deixando sair lentamente. —
Quando vocês vão aprender? Ling dá. — Meus olhos se abriram mais
uma vez e meu rosto se contorceu de raiva. — Ling tira.
Quando me virei, pronunciei: — Decidam onde está sua lealdade e
decidam rapidamente. — Eu estava com muita raiva. — Porque mamãe
está tão perto de afogar seus filhotes.
Um suspiro agitado me deixou.
Às vezes, era difícil ser rainha.
Senti sua presença, sabendo que ele estava no meu rastro, e no
segundo em que saí, seu braço forte envolveu meus ombros, me puxando
contra ele. — Não se preocupe.
Era frustrante. Eu esperava que essa posição me desse muito mais
do que tomasse. Não admira que nenhum dos meus irmãos se opusesse
à minha posse.
Cinco irmãos e nenhum deles quiseram o trono. Eu deveria saber.
Por outro lado, eu tinha o respeito deles. Eu dei-lhes a
verdade. Eles não precisavam me amar; eles nem precisavam gostar de
mim, mas me respeitariam. Porque eu era a rainha dos Dragons, e essa
posição exigia respeito.
Era importante para mim.
Eu comecei de baixo e literalmente fodi meu caminho até o topo,
mas agora que estava olhando para baixo do Monte Olimpo, percebi que
algo estava faltando.
Um rei.
Apenas um homem tinha sido digno do título e ele se foi. Ele
estava morto. Não significava nada sem ele.
Era para sermos nós, nós dois, fazendo isso juntos.
Claro, eu poderia ser a rainha, mas sem um rei digno, o império
não significava nada.
Eu ainda chorei pelo idiota, mas fiz isso em silêncio, em particular,
longe de olhares indiscretos.
Então, quando Van me puxou mais para o lado e murmurou: —
Venha fumar um cigarro comigo. Nós vamos conversar, — eu assenti.

~ 39 ~
Porque nada me fazia sentir pior do que estar sozinha, e esta noite
eu estava sozinha.
No segundo em que entramos na casa de Van, eu chutei meus
sapatos e joguei minha bolsa no balcão antes de caminhar até um dos
três sofás e me jogar de costas nele. Olhando para o teto, me perguntei o
que diabos eu queria na vida.
Eu tinha tudo.
O dinheiro. O poder. A grandeza.
Por que eu estava sendo uma vadiazinha tão pequena?
Van se aproximou de mim, sentou no chão na minha frente,
colocou a mão no meu joelho e apertou-o em uma demonstração de
apoio silencioso.
Ele era meu campeão. Meu maior apoiador.
Às vezes, parecia que ele era meu único defensor.
Sem uma palavra, ele tirou a pequena lata do bolso e começou a
rolar. Ele acendeu a ponta do baseado, dando uma tragada antes de
passar para mim. Eu peguei, coloquei nos meus lábios e respirei a
fumaça forte e pungente. Dei outra tragada, depois outra, até que o
baseado foi arrancado dos meus dedos.
Ficamos em silêncio muito tempo antes de eu falar na área mal
iluminada, minha voz um pouco acima de um sussurro. — Você já
pensou sobre o que o Cha fez conosco?
Nosso pai foi abusivo em todos os sentidos e formas.
Ele não hesitou. — O tempo todo.
Foi difícil crescer em uma família vietnamita e ser a última de seis
filhos. Para piorar a situação, eu era uma menina. Meu pai não se
importava com isso. Ele me deixou saber em todos os momentos da
minha vida. As histórias que ele contava me moldariam na mulher que
eu era hoje.
Como, no momento em que ele descobriu que eu era uma menina,
e jogou minha mãe pelas escadas, bem ali no hospital. Como ele se
deliciou ao vê-la sangrando.

~ 40 ~
Infelizmente, sobrevivi. De fato, eu sobrevivi a várias tentativas de
aborto, tudo pela mão do meu pai, e quando nasci, ele prometeu se livrar
de mim, mais cedo ou mais tarde.
Ser preparada para o sexo foi confuso. Lembro-me de estar
confusa, aos cinco anos de idade, me perguntando por que meu pai de
repente estava sendo tão gentil comigo. Se eu fosse mais velha, teria
percebido que era uma armadilha. Sendo tão jovem e desejando a
aprovação de meu pai, fiz o que me foi pedido, porque quando o fazia, ele
ficava feliz comigo.
Era o seu processo clássico de treinamento. Um processo clássico
de condicionamento.
O covarde nem mesmo faria as coisas sozinho. Ele fez meus irmãos
fazer aquelas coisas terríveis comigo, e quando eu assumi o trono de
meu pai, fiz meus irmãos pagarem pelo que me fizeram.
Foi uma noite quando Van e eu tivemos uma discussão
relativamente feia quando o chamei de pedófilo. Eu não estava preparada
para o golpe, e quando Van me deu um tapa, ele fez isso com força
suficiente para que eu visse estrelas.
Arquejando através do choque, ele se inclinou sobre mim enquanto
eu pressionava minha bochecha e cuspia, — Você acha que é a única
vítima aqui? — Bem, sim, eu achava. E observei o peito do meu irmão se
erguer de raiva, com ansiedade, enquanto ele afastava as lágrimas das
lembranças. — Você acha que nós queríamos fazer aquelas coisas? —
Ele balançou a cabeça. — Você era jovem demais para lembrar. Você não
tem ideia do que seria feito conosco se recusássemos. — Ele olhou
inexpressivamente para a parede. — Ele nunca tocou em você. Isso não o
impediu de nos tocar. — Quando ele saiu de seu transe, ele piscou um
momento e então rosnou para mim. — Veja como você fala comigo, Ling
Ling. — Quando ele se afastou, deixando-me no chão, ele pronunciou: —
Não fale de merda sobre a qual você não sabe nada.
Foi a gravidade dessas palavras, a dor oculta em sua voz, que me
fez ver a verdade pelo que era. Van estava certo. Eu não fui a única
vítima da crueldade do meu pai.

~ 41 ~
Nós não falamos sobre isso com frequência, mas quando o fizemos,
eu me senti expelindo a raiva dentro de mim, flutuando um pouco com a
leveza no ar, e esta noite, eu precisava disso.
Ele me entregou o baseado e eu peguei, lambendo meus lábios e
segurando entre os meus dedos. — Você se lembra do que fez comigo? O
que ele o fez fazer comigo?
Eu coloquei a fumaça nos meus lábios e respirei, fechando os
olhos, me aquecendo no brilho quente do meu barato.
De costas para o sofá, Van assentiu. Sua voz era suave e
sussurrada. — Sim.
Eu dei outra tragada e minha mente ficou inebriante. Eu não
queria perguntar o que fiz. — Você quer fazer isso de novo?
Honestidade completa. — Não, mas eu penso sobre isso às vezes.
Igualmente. E eu estava com nojo de mim mesma.
E era por isso que éramos tão próximos. Ninguém entendia. Só nós
compreendíamos a confusão causada pelo abuso sexual infantil, a
perplexidade de ser preparada por um membro da família e não saber
que estava acontecendo e, finalmente, a experiência dolorosa de
ocasionalmente sentir prazer nas mãos de alguém que você não deveria.
Claro, não fomos culpados. Nós não sabíamos de nada. Nós
éramos apenas crianças, e a pessoa em quem deveríamos confiar nos
traiu. Ele nos traiu a todos.
Não é de admirar que fôssemos tão fodidos quanto éramos.
— Você quer filhos?
Van zombou. — Porra, não.
Justo. Apenas um dos meus irmãos teve um filho, e ficou o mais
longe possível daquela criança, com medo de bagunçá-lo tanto quanto
nós.
— Eu quero, — eu revelei, respirando fundo e deixando sair
lentamente. — Eu quis pelo menos.
Ele se inclinou para trás e a parte de trás da sua cabeça tocou
meu ombro. — Então você terá filhos, Ling-Ling. Sem problema.

~ 42 ~
Passei os dedos pelos cabelos dele com carinho e voltamos a um
silêncio confortável.
Não. Não era para ser.
Por mais que me entristecesse, as crianças não eram para mim.
E eu teria apenas que viver com o amargo ciúme que ela teve o
filho que por direito deveria ter sido, meu.

~ 43 ~
CAPÍTULO QUATRO
Lexi

Eu estava na cozinha quando alguém bateu na porta da


frente. Molly largou a colher de pau que estava usando para mexer o
molho de macarrão e enxugou as mãos em um pano de prato. — Eu vou
atender.
Deus, ela era uma boa menina. Eu estava grata por tê-la em
minha casa, na minha vida. Eu esperava que ela soubesse o quanto a
apreciava. Deus sabe que eu a lembrava sempre que podia.
No segundo em que ouvi a porta se abrir, Molly disse, divertida: —
Nossa, você parece uma merda. Longo voo?
E eu tive que reprimir o desejo de gritar de excitação. Apressando-
me para frente em meus chinelos do Pikachu, eu o vi e joguei meus
braços para cima, sorrindo: — Você está em casa!
Happy estava olhando feio para Molly. — Calma, pequena. —
Então ele avançou, cedendo um sorriso cansado. — Ei, linda. — Ele foi
lento para envolver seus braços a minha volta, e quando o fez, senti o
peso dele pousar em mim, apertando-me com força. Minhas mãos
subiram para segurar a parte de trás de sua jaqueta, e eu segurei-o tão
firme quanto ele. Esfregando minhas costas, ele se afastou, mas apenas
ligeiramente para olhar para mim através dos olhos sorridentes. — Como
vai?
Eu olhei para o rosto cansado e meu sorriso caiu. — Você está
bem?
Com o suspiro, ele fechou os olhos e seus cílios espessos pareciam
notavelmente longos contra suas bochechas. Depois de um momento, ele
passou a mão pelo rosto e balançou a cabeça. — Não se preocupe com
isso. — Então ele forçou outro sorriso. — Eu quero ouvir sobre
você. Como está meu garoto?

~ 44 ~
Algo não parecia certo. Happy esteve ausente por uma semana e
isso era muito tempo para nós. Normalmente, não passavam um dia ou
dois sem nos vermos. Pelo menos uma vez por semana, ele, Nikki e Dave
apareciam para jantar. Eu estava curiosa para saber por que ele parecia
tão triste.
Eu empurrei meu queixo para ele, suavizando meu sorriso. — Por
que você não vê por si mesmo? Ele anda perguntando por você.
O sorriso de Happy se alargou antes de ele beijar minha
bochecha. — Volto logo. — Antes de ir para o quarto de AJ, tirou algo do
bolso da jaqueta e levou-o pelo corredor.
E então eu ouvi o monstrinho exclamar: — Tio Happy!
Isto foi seguido por risadas e conversas baixinhas. Molly e eu
trocamos um olhar divertido antes de voltarmos às nossas tarefas
designadas. Teríamos uma casa cheia esta noite, e isso significava muita
comida, muita conversa e muitas risadas. No cardápio havia espaguete e
almôndegas, e eu fiz isso sabendo que era o favorito de Happy.
AJ saiu correndo de seu quarto segurando algo volumoso em sua
mão. — Olha o que tio Happy me deu!
Ele segurava a boneca Matryoshka com a temática do Grim
Reaper3 e eu bufei uma risada. Que presente mórbido. Infelizmente,
depois de herdar algumas das coisas de seu pai, AJ agora tinha um
fascínio por esqueletos. Seu bem mais valioso do mundo eram as
abotoaduras de crânio e ossos cruzados de Twitch. Houve um tempo em
que as levaria para todos os lugares com ele.
— Oh querido. Isso é tão... — Meus olhos se arregalaram enquanto
eu lutava para encontrar a palavra. — ...legal.
Molly se aproximou, olhando para as bonecas russas com
interesse ávido. — Isso é incrível, pequeno cara. — Ela gentilmente bateu
em seu queixo, sorrindo. — Isso parece pintado à mão. Aposto que é o
único assim. Sortudo.
AJ ficou radiante com a notícia e foi até o sofá para abrir e
explorar o presente macabro. Levei um tempo para perceber que Happy

3 O Ceifador.

~ 45 ~
não tinha saído do quarto de AJ. Quando cheguei à porta aberta e vi
Happy deitado na pequena cama de solteiro de AJ, seu rosto suave pelo
sono, sorri, mas meu olho captou algo saindo da gaveta de roupas
íntimas do meu filho.
Lentamente abrindo, tirei o metal frio e pisquei.
Era um relógio.
Um relógio muito masculino e muito grande. Um que eu nunca
tinha visto antes.
Franzindo a testa, segurei a prata pesada em minhas mãos e virei,
examinando o belo relógio. — De onde veio isso?
Eu não ouvi AJ chegar por trás de mim. Ele falou baixinho. — É do
papai. — Eu girei para olhar para ele, e o monstrinho sorriu um sorriso
cheio de dentes. — Eu estou guardando até que ele volte para buscá-lo.
Meus olhos se fecharam e eu girei ao redor, engolindo em seco
através da tristeza que suas palavras evocavam.
Droga, AJ
Papai não vai voltar.
Eu lutei contra o nó na minha garganta.
Pare.
Meu coração começou a doer dolorosamente.
Por favor... você está me matando, baby.
Sem uma palavra, empurrei o relógio de volta para a gaveta,
fechei-a com uma leve pancada, depois respirei fundo e mudei de
assunto. — Quieto, querido. Deixe o tio Happy cochilar. — Enquanto eu
passava por ele, coloquei uma mão gentil em suas costas e o levei de
volta para a cozinha.
Quanto tempo isso iria durar?
Eu precisava de conselhos, e esta noite, cercada por amigos, era
provavelmente o melhor lugar para consegui-los.
Não muito tempo depois, o som da fechadura me deixou saber que
tínhamos outro convidado. Quando Nikki entrou correndo, com os olhos
arregalados e exultante, ela nos ignorou completamente e disse: — Onde
ele está?

~ 46 ~
Com um revirar dos meus olhos, apontei para o corredor e, com
um zumbido do seu longo cabelo ruivo, ela foi à procura do seu
homem. No momento em que ela olhou para o quarto e viu sua forma
adormecida, sua expressão passou de excitada a triste. Ela colocou uma
mão gentil em seu coração e entrou no quarto. Eu a ouvi gentilmente
acordar Happy. — Aw. Você está com sono.
Então um recém-acordado Happy. — Olá bebê. Senti sua falta.
Sorri com seu gracejo brincalhão e voltei a preparar o pão de
alho. Cerca de um minuto depois, a porta da frente se abriu novamente,
e Dave entrou parecendo um pouco mais do que animado. — Onde ele
está?
Todos que entravam nesta casa iriam me ignorar?
Com uma risada suave, eu apontei para o corredor, e Dave saltou,
bateu os calcanhares, depois caminhou pelo corredor no exato momento
em que Nikki e Happy emergiram, de mãos dadas. Dave mal olhou para
Nikki, acariciando-a na cabeça, tirando um som indignado dela e
fazendo Happy rir. Dave olhou para o corredor, certificando-se de que AJ
estava fora de vista antes de se inclinar para Happy e pressionar os
lábios nos lábios do outro homem.
Eu tentei não assistir, mas foi difícil. Ainda era estranho para
mim, o arranjo deles, mas de alguma forma eles conseguiram fazer dar
certo.
Happy, Nikki e Dave viviam como um trio, no qual Happy era
compartilhado por Nikki e Dave. E, surpreendentemente, não foi Happy
quem sugeriu isso. Foi Nikki.
Falando do diabo, ela parecia feliz enquanto os dois homens
compartilhavam um momento doce.
Happy segurou a parte de trás do pescoço de Dave, aprofundando
mais o beijo antes de se afastar e sorrir. — Ei.
— Senti sua falta, — disse Dave em voz baixa.
Happy suspirou. — Eu também senti sua falta. — Ele puxou Nikki
para o lado dele. — De ambos. — Quando ele soltou um rouco, — Eu

~ 47 ~
mal posso esperar para chegar em casa hoje à noite, — minhas
sobrancelhas arquearam.
Algo me dizia que eles não iriam jogar uma simples partida de
Gamão.
Ugh. Sortudos.
Eu sentia falta do sexo.
Essa era a coisa mais difícil de ser mãe solteira. Eu não confiava
em nenhum homem o suficiente para deixá-los perto do meu filho, e não
gostava da aventura casual. Oh, não me entenda mal. Eu estive em
encontros e eles eram caras legais.
Talvez este tenha sido o problema.
Legal não parecia mais fazer nada por mim. Estar com o Twitch
tinha me mudado e minhas - ahem - preferências. Uma vez, Nikki me
disse que havia conhecido um Dom que eu gostaria, e literalmente me
lancei sobre a mesa para pressionar uma mão sobre sua boca enquanto
a silenciava freneticamente.
Por que ninguém entendia?
Eu tive o meu um em um milhão. Eu nunca encontraria alguém
como ele novamente. E, para ser sincera, eu não queria.
Havia apenas um irritantemente mandão, quente como o inferno,
absolutamente enlouquecedor Twitch.
E não era como se eu fosse completamente assexuada. Eu ainda
tinha uma mão e minhas memórias e, por enquanto, isso era o
suficiente. Eu sentia falta daquela conexão física e ansiava por ser
tocada às vezes, mas assim era a vida.
A verdade é que eu vivi e uma parte de mim morreu. Eu lamentei a
minha perda e muitas vezes ainda lamentava. Mas seguir em frente?
Okay, certo.
Deus sabe que tentei.
Uma leve melancolia me encheu.
Era difícil esquecer alguém que lhe dava tanto para lembrar.
No exato momento em que o forno apitou, a campainha tocou e eu
gritei: — Já vou! — Quando abri, Julius e Ana estavam ali, e eu abri a

~ 48 ~
porta, sorrindo largamente. — Ei vocês. Entrem. Espero que estejam com
fome.
Ana se aproximou, me abraçando gentilmente, e fiquei comovida
com o quanto ela parecia feliz em me ver. Julius estava acariciando sua
barriga alegremente. — Bebê, quando não estou com fome?
Eu fiz uma cara de concordância, acenando levemente. — Isso é
verdade.
Ele sorriu para mim antes de me envolver em seus braços, e eu
tomei todo o amor que ele deu. A verdade era que eu era uma prostituta
por carinho. Sempre fui. Sempre que alguém precisava de um abraço, eu
era a primeira a me jogar sobre eles. Às vezes, me perguntava se eu era
um pouco vadia para algumas pessoas. Eu sabia como as situações
poderiam ser mal interpretadas. Eu era muito cautelosa em tocar
homens, mas com Happy e Julius, aceitei tudo o que eles davam porque
eu não tinha mais ninguém e os amava muito.
Sempre que eu estava tendo algum problema em casa ou precisava
de um pouco de força, eles eram as primeiras pessoas para quem eu
ligava.
Eles eram uma espécie de meus — maridos de aluguel.
Eu estava grata por seus parceiros serem tão compreensivos nesse
sentido. Eu parecia pedi-los emprestado o tempo todo.
Todos nós nos sentamos na minha mesa de oito lugares, que é
grande o suficiente. Molly e eu colocamos a comida no centro da mesa, e
fiquei contente em ver todo mundo comer.
Era bom compartilhar uma refeição com a família e amigos.
Nikki pegou um pouco de espaguete para o pequeno monstro, e
quando ela apresentou a bochecha, AJ deu um beijo nela antes de
colocar uma enorme quantidade de macarrão em sua boca. Nikki sorriu
para seu afilhado. — É um prazer, querido.
Happy roubou um pedaço de pão de alho do prato de Ana, e eu
assisti divertida enquanto ela olhava para ele, batendo em seus dedos
com o garfo. Ele se afastou, parecendo ferido e sacudindo a mão. E

~ 49 ~
Julius riu, pegando uma almôndega no prato. — Não roube a comida
dela, cara. Ela não gosta disso. Só eu tenho permissão para fazer isso.
Ana acenou com a cabeça, então adoravelmente sorriu para o
marido.
Molly estendeu a salada para Dave e ele a pegou com uma
piscadela.
De repente, eu estava engasgada com a emoção. Isto - isto aqui
mesmo - era o que tornava a minha vida boa. Eu estava rodeada de boas
pessoas que eram ótimas companhia e, para os que não conseguiam
participar da conversa, davam um sorriso àqueles que o faziam.
Em momentos como esse, me considerei sortuda. Mais do que a
maioria.
Quando ficou muito tarde, AJ deu a volta na mesa, abraçando e
beijando todo mundo desejando boa noite antes de eu levá-lo para o
quarto e colocá-lo na cama. Eu o assisti se acomodar para dormir, e meu
coração palpitou com a quantidade de amor que a visão dele induzia.
Com um leve suspiro, voltei para a mesa enquanto Molly distribuía
o bolo de cerejas e creme que eu fizera na noite anterior. Ela me
entregou um pedaço, e agradeci-lhe com um aperto no braço antes de
me sentar e conversar com eles. — Eu tenho um problema que gostaria
de falar com vocês.
Todos pararam, olhando para mim, dando-me toda a atenção.
— O que é isso, querida? — Nikki perguntou com cautela, a
primeira a falar.
Eu peguei o bolo no meu prato. — Eu não sei. Provavelmente não é
nada. — Revirei os olhos e soltei um suspiro exagerado. — AJ tem falado
muito sobre o Twitch. E ele tem dito algumas coisas muito estranhas.
— Que coisas? — Julius perguntou, seu rosto franzido.
— Bem, para começar, ele diz que Twitch vem visitá-lo à noite, —
eu disse a eles com uma leve risada.
Foi quando Happy engasgou em seu bolo. Ele tossiu e tossiu até
que lágrimas se formaram em seus olhos, e ele ofegou, — O quê? — Nikki
lhe entregou seu copo de água e ele pegou, bebendo.

~ 50 ~
— Ok, olha, — eu disse com tristeza. — Não é completamente
estranho para uma criança criar cenários imaginários em suas mentes
quando estão lutando para lidar com algo assim. Tenho certeza que isso
é tudo. O que eu estou perguntando é, devo deixar pra lá, ou levá-lo para
ver alguém, para conversar com alguém?
Julius disse: — Acho que ele deveria falar com alguém, — ao
mesmo tempo, Happy disse: — Vai passar. É uma coisa de criança.
Eles se olharam cuidadosamente, e quando começou a ficar
estranho, meus olhos dispararam entre eles. Eu disse. — Eu poderia
apenas dar um tempo e ver o que acontece. — Então eu dei de ombros e
falei a coisa toda. — É provavelmente apenas uma fase.
— Claro, — disse Nikki.
— Sim, — concordou Dave com um leve aceno de cabeça.
Fiquei surpresa quando Ana abriu a boca e começou a falar, ainda
que baixinho. — Eu estava querendo te perguntar uma coisa, Lexi. —
Ela segurou as mãos debaixo da mesa para que ninguém pudesse ver o
quanto elas tremiam.
Ela estava falando comigo. Quão grande era isso? Eu não pude
deixar de sorrir. — O que é, Ana?
Ana olhou para Julius e ele olhou para mim por um momento
antes de se virar para ela e assentir. Ela me olhou por um longo tempo e
nós fomos pacientes. Levou um tempo para falar, mas ela finalmente
conseguiu. — Minha amiga Manda está vindo dos Estados Unidos para
passar algumas semanas conosco, e ela realmente quer conhecer você.
Uau, tudo bem. — Sim claro. Eu adoraria conhecê-la.
Infelizmente, parecia que Ana cansara por hoje porque olhava para
o marido e fazia uma cara de pura tristeza. Julius deu um leve beijo nos
lábios antes de assumir o controle. — Ela quer conhecer todos vocês.
Por que isso soou como se algo ruim estivesse para acontecer? —
Sem problemas. Traga-a para jantar uma noite e ela pode encontrar a
todos então.
Mas Julius balançou a cabeça. — Ela quer conhecer você primeiro.
Porque isso não soou nada sinistro.

~ 51 ~
O que estava acontecendo aqui?
— Ok, — eu disse lentamente e ri cautelosamente. — Qual é o
problema?
Julius me olhou nos olhos. — Estive escondendo algo de você, Lex.
Bem, merda.
Segredos
Não, não. Não gostava disso.
Meus lábios se afinaram e minha testa franziu. — O que você tem
escondido exatamente?
Julius me olhou por um longo tempo. — Manda é da família. Mais
especificamente... — Ele lambeu o lábio inferior. — ...ela é a tia de AJ.
OK. Oficialmente confusa aqui. — O que você quer dizer?
Todos na mesa olhavam para eles em completo silêncio, antes que
Julius revelasse: — Manda é a irmã biológica de Twitch.
Minha respiração me deixou em um whoosh.
— Ela é a filha de Antonio Falco Senior, o que a faz tia de AJ. —
Julius confundiu meu silêncio com recusa. Eu sei disso porque ele
levantou a mão e disse: — Agora espere um segundo e pense sobre isso.
— Ele continuou. — Ela é uma mulher muito legal. Uma médica,
Lex. Realmente respeitável. Na verdade, ela meio que me lembra de
você. Mas ela não queria que falássemos sobre ela, não até agora. E ela
adoraria conhecer o sobrinho.
Meus pulmões começaram a funcionar novamente, e lentamente,
respirei fundo, em seguida, respondi através de uma expiração: — Eu
quero conhecê-la.
Julius piscou para mim. — Sim? — Então ele sorriu. — Merda,
Lex. Ela vai ficar radiante. Ela está morrendo por uma apresentação.
Quando olhei para Ana, ela parecia tão feliz, mas eu não conseguia
funcionar.
Oh meu Deus.
Twitch tinha uma irmã.

~ 52 ~
***

Twitch

— Seu filho da puta estúpido. — Happy olhou para mim quando


eu abri a porta da frente.
— Pode repetir? — Eu disse em uma calma mortal.
É melhor esse idiota pensar melhor se ele acha que pode entrar na
minha casa e falar comigo desse jeito. Quer dizer, somos amigos há
muito tempo. Você acharia que ele teria mais juízo agora. Eu o socaria
na boca mais rápido do que ele perceberia.
Happy entrou e eu fechei a porta atrás dele. Ele andou de um lado
para o outro e, enquanto fazia isso, notei que ele segurava um recipiente
nas mãos.
— Para mim?
O lábio de Happy franziu e ele jogou o recipiente para mim. Eu
peguei, abri, e meu estômago roncou ao ver o espaguete e
almôndegas. Meu bebê poderia cozinhar e eu adorava comida
italiana. Sem outra palavra, fui até a pia, peguei um garfo limpo e fui
com tudo. Enfiei uma garfada na minha boca e fiz um som baixo na
garganta, mastigando e, em seguida, balbuciei: — Eu amo as
almôndegas dela.
Quando ele parou de andar, se virou para mim e disse: — Você
está ficando louco, ou é sua missão ser pego? — Quando eu lancei-lhe
um olhar sombrio, ele apontou para mim. — Eu não me irritaria hoje à
noite, filho da puta. Acabei de voltar de um voo de quatorze horas e não
tive meu pau chupado em uma maldita semana. Você acha que eu quero
estar aqui com você seu idiota irritante? Não, cara. Eu quero estar em
casa, não te dando uma lição.
Que merda estava acontecendo com ele?

~ 53 ~
Eu mastiguei lentamente e engoli em seco. — Foda-se, vá embora,
vadia. Eu não me importo.
Mas então, Happy colocou as mãos nos quadris e murmurou: —
Você esteve visitando AJ?
Oh.
Eu parei de mastigar.
Isso.
Que diabos isso era da conta dele de qualquer maneira? Eu não
estava machucando ninguém.
Eu segurei seus olhos, e ele passou a mão sobre a cabeça careca e
depois zombou. — Lexi quer levá-lo a um psiquiatra, Twitch. Acha que
está sofrendo de tristeza porque, pela vida dela, não consegue entender
por que ele está imaginando você em todo lugar.
OK. Isso pode ser um problema.
Happy perguntou: — Quanto tempo? — Mas não respondi.
Não havia nada de errado com o meu menino. Ele não precisava de
um psiquiatra. Ele precisava de seu pai e eu estava trabalhando nisso.
Suspirei interiormente, peguei minha comida e então murmurei
melancolicamente: — Vou parar.
Happy piscou para mim um segundo antes de me dispensar e
marchar para longe. Antes de bater a porta, ele disse: — Eu não acredito
em você, cara.
Eu comi o resto da minha comida em silêncio, tentando não ficar
ressentido por meus amigos terem ficado com a minha mulher esta noite
enquanto eu me sentava na escuridão, observando furtivamente do outro
lado da rua.

~ 54 ~
CAPÍTULO CINCO
Lexi

Eu estava nervosa.
Eu provavelmente não deveria estar, mas estava. Quero dizer, pelo
que eu sabia, Manda nunca havia conhecido Twitch. Mas ela carregava
seus genes, e isso me deixou nervosa.
Ela era parecida com ele?
Ela era tão autoritária quanto ele?
Eu não sabia nada sobre ela, e Julius achou que seria melhor
assim, que minhas impressões deveriam vir da mulher, não de histórias
sobre ela, e eu tinha que respeitar isso. Mas quando me sentei na frente
da cômoda, aplicando uma maquiagem leve, não pude deixar de pensar
nela.
Eu rapidamente vesti uma jeans e uma camiseta combinando,
então joguei meu cabelo em um rabo de cavalo alto. Quando me olhei no
espelho da penteadeira, suspirei contente. Isso foi tão bom quanto
consegui. Eu não me incomodei de me vestir muito melhor, e os nervos
me fizeram não querer exagerar com medo de parecer um idiota. Então
era isso.
Quando tentei sair do meu quarto, meus olhos captaram um flash
rosa na minha mesa de cabeceira. Franzindo a testa, meus pés levaram-
me a ela, e com um sorriso suave e confuso, peguei a pequena Zinnia
que tinha sido claramente arrancada do nosso quintal e a coloquei em
meus lábios sorridentes, respirando seu delicado aroma de terra.
Meu filho era tão puro de coração que me matava às vezes. Eu
estava fazendo o máximo para ensinar-lhe a arte em declínio do
cavalheirismo. Ele odiava as aulas de dança que o forcei, mas jurei que
ele aprenderia a valsa básica, e na maior parte do tempo, nós nos
divertíamos enquanto fazíamos isso. Eu tentei o meu melhor em ensinar-

~ 55 ~
lhe boas maneiras, mas, bem, ele era filho de Twitch, então eu fiz o que
pude com isso.
Não sei quanto tempo fiquei na cozinha, olhando pela grande
janela da sacada da sala de estar, mas quando vi um sedã prateado
estacionar, meu coração falhou. Eu coloquei a mão na minha barriga em
uma fraca tentativa de impedi-la de se agitar como estava.
Meu coração começou a correr.
E se ela não gostasse de mim?
Ah não.
E se eu não gostasse dela?
Ah, merda.
Muito tarde. A minúscula mulher de cabelos ruivos usando jeans
preto e uma blusa branca já estava no meio do meu gramado da
frente. Seus enormes óculos escuros tornavam difícil distinguir suas
feições. E então a campainha tocou.
Contei até sete antes de abrir a porta e ficar em silêncio. Quando a
pequena mulher americana tirou os óculos escuros, revelando olhos
azuis marcantes e um punhado de sardas no nariz, fiquei surpresa. Ela
não parecia nada com Twitch. Eu não pude evitar a repentina decepção
irracional que senti.
Mas então ela sorriu e lá estava ele. — Lexi?
Eu não queria. Eu realmente não o fiz. Eu tentei arduamente
evitar, mas não consegui.
Colocando uma mão nos meus lábios trêmulos, minha visão
borrou enquanto eu chorava em completo silêncio, assentindo.
O rosto da pequena mulher desmoronou e ela avançou, envolvendo
os braços a minha volta, abraçando-me por um longo tempo. Quando ela
recuou, seus próprios cílios estavam molhados e soltei uma risada
encharcada. — Oi.
Ela bateu em suas bochechas antes de se engasgar com sua
própria risada. — Olá.

~ 56 ~
Conseguindo me controlar, soltei um longo suspiro. — Bem, isso
não foi como eu planejei. — Uma risada envergonhada borbulhou na
minha garganta. — Por favor, entre.
De alguma forma, a inesperada explosão de emoção de ambas as
partes forçou uma conexão entre nós, e eu imediatamente me senti à
vontade com essa mulher. Entrei na cozinha, girei e perguntei: — Café?
Manda deixou cair à mochila no chão e pareceu quase aliviada,
puxando uma cadeira e sentando-se nela, o gesto familiar me fez gostar
dela ainda mais. — Você é um anjo.
— Engraçado. — Sorri enquanto colocava a cafeteira. — Assim era
como seu irmão costumava me chamar.
Estranhamente, ela disse: — Eu sei. — Mas quando minha
expressão confusa pousou sobre ela, ela imediatamente emendou: —
Quero dizer, eu ouvi sobre isso.
Está bem então.
Como a máquina de café estava enchendo, eu me senti um pouco
desajeitada. — Eu sinto muito. Eu não queria chorar com você lá
fora. Eu acho que fiquei um pouco sobrecarregada. — Eu mordi o
interior da minha bochecha. — Você não se parece com o Twitch, mas
quando você sorri... — Eu dei de ombros. — Por um segundo, eu o vi em
seu sorriso.
O rosto de Manda se suavizou. — Você deve tê-lo amado muito.
Eu derramei o café e falei baixinho. — Eu nunca parei. — Quando
eu lhe entreguei uma caneca, trazendo o açúcar e o creme, eu disse a
ela: — Eu não sabia que ele tinha uma irmã. Ele nunca mencionou você.
Ela meio que parecia envergonhada. — Ele não sabia. Tenho
certeza de que, sob as circunstâncias, ele não teria querido nada com a
gente de qualquer maneira.
Uau. — O que você quer dizer? — E mais importante, — Quem é a
gente?
Manda sorriu com firmeza, antes de explicar: — Eu tenho um
irmão chamado Giuseppe. Nós o chamamos de Zep. — Ela mordeu o
lábio. — Ele e Tony nasceram com apenas alguns dias de diferença.

~ 57 ~
E tudo fez sentido.
Minhas sobrancelhas se levantaram. — Oh.
Manda riu baixinho. — Sim, exatamente. Então Zep e eu temos a
mesma mãe, mas a mãe de Tony, eu nunca conheci. Eu ouvi dizer que
ela era uma idiota de qualquer maneira, então quando descobri que ela
morreu alguns anos atrás, foi como 'boa viagem'. — Ela fez uma
pausa. — Zep nunca sentiu a necessidade de procurar o nosso irmão,
mas eu fiz, por um tempo muito longo. — Ela parecia desanimada. —
Acabei o encontrando tarde demais.
Isso era triste. Eu estava triste por ela.
Minha voz era gentil. — Eu sinto muito.
Ela balançou a cabeça, tomando seu café preto. — Obrigada, mas
está tudo bem. — Ela sorriu. — Eu te encontrei e... — ela olhou para
mim esperançosa. — ...meu sobrinho.
Como se eu fosse manter AJ desta mulher doce. — Ele estará em
casa em uma hora.
Manda pareceu momentaneamente jubilosa. — Eu comprei para
ele um presentinho. — Então ela parecia nervosa. — Espero que ele
goste.
— Tenho certeza que ele vai adorar, — respondi, mas decidi ser
honesta e fiz isso com cautela. — Eu não contei a ele sobre você. Ele
ficará surpreso.
Manda e eu conversamos um pouco. Ela me contou sobre seu
marido, Evander MacDiarmid, e quando perguntei por que ela não usava
o mesmo sobrenome, ela me disse que seu pai insistira para que ela
mantivesse o seu próprio nome. Eu não tinha certeza do porquê, mas
parecia importante, então eu deixei passar. Quando perguntei sobre
Antonio Falco Sr, o rosto de Manda se iluminou quando ela falou sobre o
homem mais velho.
— Ele é o homem mais doce que você conhecerá. Eu juro por
Deus. Ele realmente quer conhecer você, mas... — Ela encolheu os
ombros levemente. — ...ele não sabia se seria bem-vindo, então pensei
em vir sozinha e avaliar como se sentia a respeito disso.

~ 58 ~
Conhecer o pai de Twitch? Oh, uau. Isso era intenso.
Por que eu estava tão ansiosa com isso? — Eu acho que eu
gostaria disso.
Manda sorriu, mas manteve um tom suave. — Eu vou deixá-lo
saber.
Antes que eu percebesse, uma hora se passou e estávamos a
minutos de distância de Molly trazer AJ para casa. Eu senti a
necessidade de avisar Manda. — AJ vai estar em casa a qualquer
momento, e é por isso que eu preciso explicar a você que AJ às vezes fala
sobre Twitch no presente.
Quando seu rosto assumiu uma expressão de pura confusão, ela
perguntou: — Como assim?
Eu corri meu dedo ao longo da borda da mesa de madeira. —
Parece que AJ tem imaginado que seu pai o visita à noite.
O rosto de Manda empalideceu. — Mesmo?
Eu sei. Era estranho, mas não pude deixar de defender meu
filho. — Ele está de luto, Manda.
Na minha curta declaração, sua expressão se suavizou. —
Claro. Obrigada pelo aviso.
Eu sorri com força. — Sem problemas.
O encontro desajeitado passou no momento em que a porta da
frente se abriu. Manda ficou de pé, olhando para o corredor, e ouvimos
Molly dizer a mesma coisa que ela dizia todas as tardes de escola. — Ok,
amigo. Sapatos fora. Largue a mochila. Vou te preparar um lanche.
Sem sequer olhar para a cozinha, AJ passou correndo tão
rapidamente que parecia um borrão. — Oi mãe!
As sobrancelhas de Manda se levantaram quando ela se virou para
mim, sorrindo, e eu balancei a cabeça em retorno, sorrindo. — Oi
querido. Você pode vir aqui quando terminar?
Molly entrou na cozinha, olhando de Manda para mim, e quando
fiz uma careta, lembrando-a de não ser tão rude, Molly suspirou,
andando para frente e observando a outra mulher com cautela. — Eu
sou Molly.

~ 59 ~
Manda sorriu. — Manda. Prazer em conhecê-la.
Molly olhou Manda de cima a baixo. — Eu sou a babá de AJ, — foi
o que ela disse. O que soou foi: — Eu sou a escolta de AJ, e não quero que
você mexa com ele.
Então Molly era um pouco protetora. Era uma das coisas que eu
amava nela.
Quando o pequeno monstro deslizou para a cozinha em suas
meias, ele sorriu para mim um momento antes de olhar para Manda,
seus olhos vagando dela abertamente, cautelosamente.
Seu sorriso se alargou e sua voz ficou melancólica. — Olá, AJ —
Quando ele não respondeu, ela se virou para mim e falou baixinho. —
Oh meu Deus. Ele parece com ele.
Eu sei. Era esmagador às vezes.
— Venha aqui um segundo, — eu disse, e quando ele se
aproximou lentamente, me inclinei na minha cintura, coloquei minhas
mãos em seus ombros e disse: — Eu quero que você conheça Manda.
Educado como ele poderia, AJ proferiu um tímido, — Olá.
Manda se ajoelhou na frente dele. — Eu esperei muito tempo para
conhecê-lo.
AJ olhou para ela, confuso. — Você esperou?
Ela assentiu gentilmente. — Sim. Você vê, eu sou... — Ela lambeu
os lábios, parecendo um pouco insegura de si mesma.
Quando parecia que Manda havia se perdido, eu assumi. — Você
lembra quando eu te disse que você não tinha tias ou tios de verdade?
AJ assentiu.
Coloquei meus lábios no ouvido dele e zombei sussurrando: — Eu
menti.
AJ virou-se para mim. Suas sobrancelhas subiram tão alto que
quase tocaram sua linha do cabelo, e ele parecia positivamente
estupefato. Ele sussurrou de volta: — Você mentiu?
Uma risada suave me deixou. — Não de propósito, baby. Eu não
sabia sobre sua tia Manda.
AJ encarou-a e murmurou um incrédulo: — Você é minha tia?

~ 60 ~
Manda engoliu em seco. — Sim. — Então ela gentilmente explicou:
— Eu sou a irmã do seu pai, — e a cabeça de AJ praticamente implodiu.
Ele ficou olhando para ela, sem piscar. Ele fez isso por um longo
tempo, e quando não fez nenhum movimento para dizer ou fazer
qualquer coisa, eu soltei uma risada suave. — Você está bem, amigo?
Ele balançou a cabeça e, quando eu ri, Manda sorriu
gentilmente. — Eu te trouxe um presente.
Bem, isso o tirou do seu estupor.
Típico.
Deixando-me, AJ caminhou até ela, e ela puxou um lenço de sua
bolsa, desembrulhando-o cuidadosamente antes de colocar o relógio de
bolso prata nas mãos de AJ.
Seus olhos se arregalaram e ele disse um silencioso — Uau.
Manda apertou o topo, abrindo a frente do relógio intrincadamente
gravado. — Isso era do meu pai. Ele me deu. É uma herança de
família. Veja, você é minha família, AJ — Ela tocou sua bochecha. — E
agora eu estou dando a você.
O que ela disse foi tão tocante que eu pisquei de volta o sentimento
repentino que me atravessou.
AJ se inclinou para ela. — O que isso diz? — Ele apontou para o
interior da frente.
Manda explicou: — Diz Con Affetto. Em italiano, significa que eu te
amo. — Ela gentilmente pegou a mão dele na dela. — Meu pai, seu avô,
adoraria conhecê-lo algum dia. Você gostaria disso?
E a mente de AJ foi soprada mais uma vez. Virando-se devagar, ele
olhou para Manda e murmurou: — Eu tenho um avô?
Manda inclinou a cabeça para trás e riu. Eu não pude evitar o
sorriso que lutou para ser libertado. Ele realmente era adorável.
— Sim, — ela riu. — Você tem um avô, querido. Embora eu tenha
certeza que ele gostaria que você o chamasse de nonno Tony. — Para sua
surpresa, ela tocou um dedo na ponta do nariz dele. — O que você
diz? Quer conhecer seu nonno Tony?

~ 61 ~
AJ balançou a cabeça devagar, depois com mais entusiasmo, até
que finalmente, um pequeno sorriso doce esticou seus lábios.
Manda passou algum tempo com AJ e eu insisti que ela ficasse
para jantar. Nós comemos à mesa, como uma família, e quando Manda
disse a AJ que nunca conheceu seu pai, AJ respondeu com: — Tudo
bem. Você pode vê-lo outra hora. — Então ele sorriu um sorriso cheio de
dentes. — Eu vou dizer a ele que você quer conhecê-lo.
Quando ele dizia essas coisas, meu coração murchava e morria um
pouco mais a cada vez.
Era hora de AJ ir para a cama, e depois que o ajeitei, Manda se
levantou. — Eu devo ir. Tenho medo de abusar da hospitalidade.
Mas eu simplesmente fui até a geladeira e peguei uma garrafa de
vinho. — Vamos sentar na varanda dos fundos. — Então eu sorri para a
minha nova irmã. — Eu não estou pronta para vê-la partir ainda.
Ela olhou para mim com uma afeição tão descarada em seus olhos
que eu sabia que isso era apenas o começo. Nós éramos uma pequena
família que ansiava mais, e agora que eu a tinha, lamentei o tempo que
passamos separadas. Ela me seguiu para fora e eu sentei no degrau
mais alto que levava ao quintal.
Manda se juntou a mim, estendendo a taça e eu servi. Ela bebeu o
branco aromático e fez um som baixo em sua garganta. — Não há nada
como o vinho australiano. — Ela levantou o copo para a luz da lua antes
de colocá-lo no nariz e apreciar seu aroma frutado. — Não há
comparação. Todos os outros só têm gosto quando são colocados ao lado
de um vinho Barossa.
Eu balancei a cabeça em concordância, bebendo meu copo.
Ficamos em silêncio por um tempo, antes que ela dissesse: —
Conte-me sobre ele. — Quando olhei para ela, ela esclareceu. — Como foi
seu relacionamento com meu irmão?
Oh Deus. Que pergunta carregada. — Quanto tempo você tem?
Ela soltou uma risada. — Quanto tempo for necessário.
— Ok. — Eu me inclinei para trás em um cotovelo. — Você pediu
por isso.

~ 62 ~
Eu contei tudo a ela. Bem, quase tudo. Eu discretamente mantive
o fato de que usei drogas para provar a Twitch que estava falando sério
sobre ele. Eu também escondi o que Twitch gostava no quarto. Fora isso,
eu contei tudo. Tudo isso.
Meu estômago se apertou com força.
Jesus. Eu perdi as rédeas.
E quando terminei, os olhos de Manda estavam arregalados e sem
piscar. — Lexi, — ela murmurou baixinho. — Isso parece horrível.
Bebendo meu vinho, eu ri suavemente. — Eu sei. — Parecia
horrível. — É difícil explicar por que eu o amava. Ele não era um desejo,
Manda. — Eu girei meu copo, vendo o vinho rodopiar. — Ele era algo que
eu precisava mais do que precisava respirar.
— Mas as coisas que ele fez... — Ela franziu a testa.
— Sim, — eu concordei. — Muito fodido, certo?
— Eu simplesmente não entendo.
Ela não iria.
Ninguém o fez.
Não era algo que você explicava; Era algo que você tinha que ter
vivido para entender. — Ele me amou tanto que levou uma bala por
mim. — Eu olhei para ela. — O que há para entender?
Com isso, uma sobrancelha perfeitamente cuidada se ergueu e
seus lábios se enrugaram. — Bem, quando você coloca assim. — Ela
levantou o copo para mim. — Para aqueles que amamos.
Sim. Eu beberia a isso.
Eu levemente toquei meu copo no dela, sorrindo para o quintal e
falei baixinho.
— Para aqueles que amamos.

~ 63 ~
***

Twitch

No segundo em que abri a porta, minha irmã olhou para mim com
raiva. — Seu filho da puta.
Eu olhei de volta. — Por que todo mundo fica me chamando
assim? Foda-se.
— Aquela mulher... — Manda entrou na casa. — ...é a pessoa mais
doce que já conheci. — Ela parecia tão decepcionada. — E você a tratou
como merda. — Suas mãos subiram. — Não. Pior que merda. — Seus
olhos se estreitaram perigosamente. — Você foi malvado. Você foi
cruel. Você era desagradável, Tony.
Bem, alguém acabou e teve um ótimo papo, não foi?
Suspirei, indo até a geladeira. — Você quer algo?
— Eu quero que você fique longe dela.
Lentamente, eu me virei para encarar minha irmã, segurando os
olhos dela com a intensidade do meu olhar. — Repita?
Os lábios de Manda se afinaram. — Depois de ouvir o que você fez
com ela, eu não sei por que ela ainda ama você, mas ela faz. — Ela
baixou a voz. — Então você precisa ficar longe dela. Porque ela o ama o
suficiente para que possa aceitá-lo de volta algum dia. — Ela balançou a
cabeça. — E eu não posso permitir isso.
Suas palavras me abalaram, mas não demonstrei. Minha voz
estava calma, entediada até. — Essa não é sua decisão a tomar, Mandy.
Ela odiava quando eu chamava Mandy.
— Eu fiquei sentada enquanto minha melhor amiga sofria com um
relacionamento abusivo. Eu não fiz nada e Ana quase morreu por causa
disso. Eu não farei isso de novo. Nunca mais.
Ah Merda. Não, ela não fez.

~ 64 ~
Meus olhos brilharam. — Você está comparando-me a Dino
Gambino? — Raiva borbulhava pelo meu corpo e eu cerrei os
dentes. Meu tom se tornou perigoso. — Eu amo aquela mulher.
Os olhos de Manda ficaram tristes e ela começou a concordar. —
Isso foi o que Dino disse a si mesmo também, Tony. Disse que amava
Ana, e foi por isso que fez as coisas que fez. Ninguém teve coragem de
dizer que ele era um pedaço de merda.
Não me diga que essa cadela me chamou de merda.
A raiva se transformou em fúria e me queimou, iluminando
minhas veias e bombeando uma fúria crua em meu coração. Eu falei
baixo, virando e apertando a borda do balcão com tanta força que fiquei
surpreso que não quebrou, — Você veja como fala comigo.
— Por favor, Tony. Não faça isso. Não volte atrás. Eles estão bem
sem você.
Esse foi o ponto de ruptura.
Fechei meus olhos e engoli em seco, tentando respirar através da
dor física da minha ira. Minha respiração rapidamente se tornou
ofegante e pesada. Pegando um copo da pia, eu levantei alto antes de
bater de volta o mais forte que pude. O barulho alto, em seguida, o
tilintar dos cacos quebrados não fez nada para acalmar a minha raiva.
Eu girei, gritando: — Eu não estou bem sem eles! — E o corpo de
minha irmã sacudiu quando ela se encolheu.
Ela não tinha ideia do que me custou estar aqui. Ela não sabia de
nada.
Soltando um longo suspiro, tentei me acalmar, e quando falei, fiz
isso em voz baixa. — Você pode ser minha irmã, mas não sabe nada
sobre mim, Manda. Não finja que sabe.
Ficamos nos encarando por um longo momento antes que minha
irmã se virasse e saísse da minha casa, fechando gentilmente a porta
atrás dela, e aquelas palavras não ditas eram mais altas do que se ela
tivesse apenas gritado comigo.

~ 65 ~
CAPÍTULO SEIS
Lexi

Eu assisti as notícias da tarde em completo silêncio.


— A figura do submundo Ling Nguyen, matriarca da notória gangue
vietnamita os Dragons4, comprou e se apossou da infame boate em
Darbour Harbour, The Cross, — disse o repórter.
Com o braço sobre minha barriga, me abraçando, o outro trouxe
até a minha garganta enquanto eu ouvia.
— A reputação da The Cross decaiu ao longo dos anos, agora
conhecida por ser um local de encontro para criminosos e
assassinos. Nove pessoas foram mortas no local no ano passado,
enquanto cento e treze pessoas ficaram gravemente feridas no local, e a
polícia está perplexa com a venda.
A tela mudou para um sargento da polícia que falou com os
repórteres. — Se a senhorita Nguyen está aqui para fazer negócios
legítimos, ela não terá com o que se preocupar. No entanto, teremos um
interesse especial nos acontecimentos no local.
Oh Deus.
Isso não era bom.
Meu telefone começou a tocar. Eu olhei para a tela e atendi
imediatamente. — Julius, você está vendo isso?
— Eu estou assistindo agora. — Ele fez uma pausa, então proferiu:
— Eu vou cuidar disso. Não diga uma palavra para Ana.
Cuide disso.
Cuide de Ling.
Meu estômago se revirou e meus lábios se separaram. Não
importava a distância que esses homens tentassem conseguir de seus
passados; ele os seguiriam para sempre. Eu gostaria que eles tivessem a

4 Dragões. Preferimos deixar o nome da gangue em inglês.

~ 66 ~
vida pacífica que desejavam. Lamentavelmente, muito sangue havia sido
derramado, e não era assim que o mundo deles funcionava.
Não é como se ela não merecesse. Ling foi a razão pela qual Ana se
encontrou nas mãos de um louco. Ling foi a razão pela qual Ana era a
mulher mentalmente aleijada de hoje.
Sim, ela merecia morrer, e rapidamente decidi que estava em paz
sobre isso.
— Ok. — Eu lambi meus lábios e mantive meus olhos na
televisão. — Faça o que você precisa fazer.
— Olha, — ele disse baixinho. — Eu não acho que ela seria
estúpida o suficiente para fazer qualquer coisa em plena luz do dia,
mas... — Ele hesitou. — Falarei com Molly. Diga-lhe para ser vigilante.
Minha carranca repentina se aprofundou. O pensamento de Ling
perto do meu filho foi o suficiente para me deixar louca de
preocupação. Foi o suficiente para me fazer violenta. Deixe-a tentar
chegar perto do meu filhote. Ela não tinha ideia do que uma pessoa era
capaz quando se tratava da segurança de seu filho.
Julius tinha me contado sobre a obsessão antinatural de Ling com
AJ, sobre como ela chorou abertamente sobre eu ser sua mãe e ela ficar
sem nada do Twitch. Ela estava louca de inveja, e isso a tornava perigosa
- não que ela não fosse antes, e essa era a parte preocupante. Insana
como ela era, não havia nada que ela não fizesse para conseguir o que
queria. Quando ela estava longe, bem longe, não era um problema. Mas
ela estava aqui agora, em Sydney, e isso significava problemas.
Se eu tivesse que escolher entre a vida de Ling e a segurança do
meu filho, Ling perderia todas às vezes. Esse era um simples fato.
As palavras que disse foram firmes e inabaláveis. — Cuide dela,
Julius.
— Deixe isso comigo. Não se estresse, — ele proferiu com
autoconfiança, então calmamente fervilhou. — A cadela vai sumir de vez.
Ele falou com muita confiança, com certeza, antes de desligar.
Então, por que eu não me sentia melhor?
Foi mais tarde naquela noite quando ouvi a comoção.

~ 67 ~
Eu acordei com um sobressalto e corri sem fôlego pelo corredor até
encontrar Molly segurando AJ para trás, longe da janela.
A janela aberta.
Enquanto AJ lutava contra o aperto de Molly, ele estendia os
braços e chorava adormecido: — Papai, volte!
Foi então que olhei para a mão de Molly, a mão que segurava a
arma, e estremeci, correndo para a janela. Ofegante de medo, olhei para
fora, mas não vi nada.
Não havia sinal de ninguém. E de repente eu estava feliz por ter
pedido a Molly que dormisse no quarto ao lado do meu filho.
Molly e eu trocamos um olhar de pânico.
— Papai! — AJ gritou, mais alto desta vez, e a necessidade ansiosa
em sua voz foi o suficiente para cobrir meus braços com arrepios.
Mas não havia ninguém lá.

***

Twitch

Era tarde, e eu não deveria estar onde estava, mas depois da briga
com minha irmã, precisava ver meu filho.
O pensamento de ser mantido longe dele foi o suficiente para me
fazer perder a porra da cabeça, e eu não me importava com o que Manda
pensava. Isso não aconteceria.
Se eu fosse honesto comigo mesmo, talvez estivesse aqui provando
um ponto.
Para quem?
Quem porra sabe. A mim mais do que ninguém, acho.
Puxando o meu capuz sobre a minha cabeça, saí para a escuridão
da noite, enfiei as mãos nos bolsos e fiz a curta caminhada até a
casa. Eu coloquei minhas mãos na vidraça e empurrei lentamente,
ouvindo o leve chiado quando ela levantou. Silenciosamente, eu escalei

~ 68 ~
para dentro, e no momento em que vi sua forma pequena e adormecida,
as cordas apertadas ao redor do meu peito diminuíram.
Meus pés me levaram silenciosamente até meu filho e eu me
ajoelhei ao lado da cama dele, observando-o ao luar, acariciando
gentilmente seu cabelo. Ele piscou sonolento e eu sorri, sussurrando: —
Ei, amigo.
— Papai. — Ele bocejou, então murmurou: — Eu senti sua falta.
Ele era meu coração. — Também senti sua falta. Eu mal podia
esperar para ver você, então pensei em visitá-lo.
Foi quando os olhos de AJ se abriram. — Papai, você sabia que
tem uma irmã?
Eu o silenciei, olhando para a porta. — Quieto, AJ.
— E você tem um pai também. Eu vou conhecê-lo um dia, tia
Manda disse. E eu tenho que chamá-lo de Nonno Tony, mas...
Meu coração começou a bater mais rápido. — AJ, amigo, eu
preciso que você fique quieto.
— ...eu não sei o que isso significa. E ela me deu um relógio. Não é
como o seu, é diferente, papai. — Ele abriu a gaveta de roupas íntimas e
puxou-o, sorrindo. — Viu?
Foda-me, ele estava fazendo uma algazarra. Eu coloquei um dedo
nos lábios dele. — Quieto, amigo ou papai vai ter que ir.
— Não. — Seu rosto caiu e seus lábios começaram a tremer. —
Você sempre tem que ir. — Ele olhou nos meus olhos, implorando: —
Fique comigo. Por favor.
Isso foi um rangido, ou eu estava ouvindo coisas?
Sussurrando, levantei-me e rapidamente sai correndo: — AJ,
preciso ir...
Meu homenzinho gritou: — Não, papai. — Então seu rosto se
contraiu quando ele chorou. — Você sempre vai!
Foda-se.
Meu coração estava acelerado.
— ...mas eu te amo. — Com isso, eu pulei pela janela e corri o
mais rápido que pude.

~ 69 ~
Enquanto corria, o ouvi. — Papai, volte!
Então, uma feminina baixinho. — AJ, o que há de errado? Fale
comigo.
Eu engoli a espessura da minha garganta.
Foi quando ouvi seu grito desesperado. — Papai! — E isso me deu
arrepios.
Não.
Isso não era bom.
E quando tudo virou merda, eu não tinha ninguém para culpar
além de mim mesmo.
***

Lexi

— Não parece que alguém invadiu, — Happy disse enquanto


verificava ao redor da casa. Ele se virou e perguntou: — Você tem certeza
de que AJ não empurrou a tela para fora?
Cansada e desconfortável, eu me abracei. — Eu não sei. Ele está
chateado. Ele não fala comigo.
— E você disse que ele estava chamando Twitch?
Eu balancei a cabeça, cansada, mas Happy não disse nada.
Que noite.
Não consegui voltar a dormir depois do incidente. E quem poderia
me culpar?
Os gritos de pânico de AJ eram coisas de pesadelos.
Quando ele se virou para mim, deu de ombros e disse: — Eu não
sei o que dizer, querida.
— Ele está...? — Eu afastei a súbita onda de lágrimas e tentei
novamente, minha voz mais áspera do que uma lixa. — Eu acho que ele
está alucinando, Happy.
— Não. — Happy franziu a testa, vindo em minha direção e
colocando as mãos nos meus braços. — Lexi, ele não está alucinando. —

~ 70 ~
Seu rosto suavizou e ele suspirou. — Ele está tão desesperado por seu
pai que está tentando fazer suas próprias memórias dele. Isso é tudo.
— Você não estava lá, — eu sussurrei. — Você não o ouviu. O jeito
que ele gritou. — Fechei os olhos e estremeci. — Foi assustador.
Quando Happy continuou a esfregar meus braços com simpatia,
eu suspirei e me aproximei dele, pressionando minha testa em seu peito,
buscando conforto. Ele me segurou o quanto precisei porque Happy era
esse grande amigo.
Um longo momento se passou antes que eu olhasse em seus olhos,
e declarasse: — Eu quero grades colocadas em sua janela.
Sem hesitar, ele falou. — Vou fazer algumas ligações.
E assim, eu podia respirar de novo.

***

Twitch

— Você fodeu tudo, — disse Happy enquanto caminhava para


dentro da casa.
Eu não disse nada por que na verdade sabia que tinha.
Ele ficou na minha frente, fechando os olhos e esticando o pescoço
de um lado para o outro. — Colocarão barras em suas janelas amanhã.
Filho da puta.
Meu interior afundou.
Droga. Eu realmente errei. E isso estava me custando meu tempo
com meu filho.
Porra. Eu odiava minha vida.
No meu longo suspiro, Happy levantou o rosto para olhar para
mim. — O que você esperava? Você entra na porra da sua casa como se
fosse dono do lugar. Era só uma questão de tempo antes de você passar
dos limites, como você faz, e se meter em merda. Você sabe o que me
irrita, no entanto? — Fiquei em silêncio, ouvindo, e seus olhos se

~ 71 ~
estreitaram em mim. — Você não está levando a culpa por isso, e
merece. Em vez disso, você deixa a porra de um menino de cinco anos
assumir a responsabilidade por seus jogos ferrados.
Eu não estava jogando. Eu só queria estar com meu filho.
Minha mandíbula apertou, mas eu não disse nada.
Happy me atacou. — Você é tão egoísta e, como resultado, seu
filho provavelmente terá que falar com um psiquiatra. Você sabe o que
vai acontecer quando eles não conseguirem encontrar uma causa para
suas alucinações? — Seu olhar era penetrante. — Eles vão medicá-lo
porque nenhum garoto normal vê seu pai morto andando na rua, Twitch.
Meu estômago revirou.
Ninguém iria medicar meu garoto. Eu morreria antes que isso
acontecesse.
Ele não entendia?
AJ era meu mais novo vício. Eu precisava dele.
Eu precisava do meu filho, mais do que precisei de alguém. Ele
soprava vida em mim quase tanto quanto sua mãe, e se eu não pudesse
tê-la, eu precisava dele.
— Não tem nada a dizer? — Happy esperou, mas eu não falei.
Qual era o ponto?
Ele não conseguiria entender. Nem poderia imaginar.
Happy assentiu. — OK. Bem, acabei de lhe dizer que seus jogos
terminaram. — Antes de sair, ele me olhou nos olhos e murmurou: —
Fique longe dele, Twitch. Por enquanto, só... — Ele soltou um suspiro
drenado. — ...fique longe.
Quando ele saiu e fiquei sozinho com meus pensamentos, me
perguntei o quanto arriscaria para ver meu filho.
A resposta logo ficou clara.
Eu arriscaria tudo.

~ 72 ~
***

Lexi

Fora um dia silencioso em nossa casa, o que era uma raridade por
si só.
Eu não sabia por que, mas AJ estava com raiva de mim. Ou pelo
menos achei que ele estava, até que vi a brilhante Zinnia vermelha na
minha mesa de cabeceira. Com um sorriso triste, eu a peguei e coloquei
em meus lábios, pressionando um leve beijo em suas pétalas antes de
caminhar até o quarto do meu AJ e pairar na porta.
Eu sei que ele me ouviu chegando, mas não olhou para mim; Ele
apenas continuou olhando pela janela através das grades que haviam
sido instaladas naquele dia.
Meu coração doía por vê-lo assim.
O que estava acontecendo com meu garotinho feliz?
A cada dia que passava, meu filho ficava cada vez mais agitado, e
não ser capaz de identificar a causa estava me deixando infeliz.
— Obrigada pela flor.
Ele nem sequer me dirigiu um olhar. — Eu não te dei uma flor.
Minha sobrancelha franziu quando eu gentilmente rodopiei a
Zinnia entre meus dedos. — Então de onde veio, bebê?
Ele hesitou.
A minha preocupação aumentou dez vezes. — Bebê?
Ele estava relutante, mas falou e, quando o fez, falou em voz
baixa. — Papai deixou para você.
Ok, sabe de uma coisa?
Eu era uma mulher paciente, mas já bastava.
O ritmo do meu coração aumentou. Larguei a flor, entrei em seu
quarto e me ajoelhei na frente dele. — AJ, papai morreu.
Meu filho parecia cansado. — Não, ele não morreu.
O ar ficou espesso ao meu redor, tornando difícil respirar.

~ 73 ~
— Sim, ele se foi, querido. — Eu peguei seu rosto em minhas mãos
e falei com firmeza. — Ele se foi e não vai voltar. Ele não pode.
E AJ sorriu tão serenamente que os cabelos na parte de trás do
meu pescoço ficaram em pé. — Papai não morreu, mamãe. Você verá.
Foi demais. Minha respiração ficou pesada, agarrei seus pequenos
braços com força e levantei minha voz. — Chega! Estou farta dessas
coisas. Eu sei que você está triste, mas...
AJ parecia confuso. — Eu não estou triste.
— Isso está demais. Chega. Nenhuma conversa sobre o papai. —
Minha voz tremeu. — Ele se foi, querido.
Mas ele simplesmente sorriu e balançou a cabeça.
Meu corpo inteiro sentiu como se estivesse pegando fogo. Eu não
conseguia respirar. Eu não podia ver através do borrão pungente em
meus olhos.
Meu coração estava partindo.
Foi quando dei o golpe final. Tremendo, eu levemente balancei meu
filho, engoli as lágrimas e gritei: — Papai está morto, AJ! Ele está morto
e nunca mais voltará! — Minha voz falhou. — Nunca!
Ver meu filho me olhar do jeito que ele fez foi horrível, e no
momento em que o soltei, seus lábios começaram a tremer. Seus olhos
se encheram de lágrimas, e quando seu rosto desmoronou, quis morrer
uma morte lenta e dolorosa porque era o que eu merecia. Mergulhando o
queixo, seus ombros tremeram, e eu escutei seu choro quase inaudível.
Eu era um monstro. Uma pessoa terrível. E naquele momento,
senti-me mais baixo que a escória.
Chorando baixinho, me abaixei e peguei meu filho, segurando-o
contra mim como a tábua de salvação que ele era. Seus braços
circularam meu pescoço e meu corpo inteiro tremeu com o peso das
minhas lágrimas. Eu o levei para o meu quarto e o deitei na cama,
deslizando ao lado dele.
Não sei quanto tempo ficamos lá. Parecia uma eternidade.
Ele piscou para mim através de cílios molhados e disse: — Não
chore, mamãe. — Seus pequenos lábios tremeram, quando ele sufocou,

~ 74 ~
— me desculpe. — Ele colocou uma pequena mão na minha bochecha,
enxugando a umidade lá e quando o fez, ele sussurrou: — Eu não vou
mais falar sobre o papai.
Sim. Eu era de fato um monstro.
Levei um momento, mas eu disse baixinho: — Me desculpe ter
gritado. — Quando ele se virou e se arrastou de volta para mim, eu o
abracei com força, pressionando beijos suaves na parte de trás de sua
cabeça. — Você pode falar sobre o papai. — Eu estava feliz que ele não
estava de frente para mim; Dessa forma, não podia ver o desespero
escrito em todo o meu rosto. — Fale sobre ele tanto quanto quiser, baby.
— Mais beijos na sua doce cabeça com aroma de maçã, e então eu fechei
meus olhos, e sussurrei suavemente, — Eu sinto muito ter gritado.
Isso estava me estripando, mas se era isso que AJ precisava agora,
eu lhe entregaria a faca.

~ 75 ~
CAPÍTULO SETE
Ling

— Se eu não soubesse melhor, acharia que você está invadindo


meu território. — Quando olhei para cima da minha mesa e vi o belo
turco parado ali, sorri, e seus olhos retornaram aquele sorriso. — Sorte
que sei melhor, certo? — Ele alertou.
— Aslan, o turco. — Eu me inclinei para trás em minha cadeira,
permitindo que meus olhos vagassem livremente.
Foda-se. Eu não gostava de Aslan, mas ele era lindo.
Vestido com seu terno preto impecável, camisa branca e gravata
preta de seda, ele encostou-se à porta, observando-me atentamente. O
homem de quarenta e poucos anos usava o cabelo escuro curto em um
corte militar. Ele era alto, e sua barba bem aparada me levou de volta às
memórias de sentir sua aspereza ao longo da parte interna das minhas
coxas. Maçãs do rosto altas, mandíbula forte, lábios mais cheios do que
deveria ser permitido em um homem. Anéis de prata pesadas forravam
seus dedos, e com uma brusca ingestão de ar, queria muito sentir o
metal frio contra minha boceta. Aqueles olhos escuros eram cheios de
grossos cílios negros que o faziam parecer muito mais inocente do que
era, e algo em mim gostava de conhecer seu lado real, o lado sujo, cru e
violento dele que ninguém mais via.
Foi um privilégio. Eu amava esse lado de Aslan Sadik.
Eu diria que senti sua falta, mas isso seria uma maldita mentira. A
última vez que transamos, ele me deu um soco tão forte que quase me
deixou com a mandíbula quebrada. Sorte dele, eu gostava disso. Eu
gozei mais vezes do que deveria.
Não, eu não senti falta de Aslan. Eu senti falta do sexo com Aslan.
Meus mamilos enrijeceram quando soltei um suspiro sem som. —
O que você está fazendo aqui, Sadik?

~ 76 ~
Eu ainda podia sentir seus dentes em mim, me mordendo como o
cão raivoso que ele era.
Seus olhos nunca deixaram os meus enquanto ele entrava
lentamente no meu escritório. — Eu senti sua falta. — Ele sorriu, e nós
dois sabíamos que era uma mentira, então... Sim, tente
novamente. Quando meus olhos se estreitaram sobre ele, ele colocou as
mãos na parte de trás da cadeira de visitante e se inclinou sobre ela. —
Ouvi dizer que você está tendo problemas com seus garotos.
Meus pelos eriçaram.
Era em dias como este que eu só queria abandonar o poder que
estupidamente reclamei para me tornar uma intocável e voltar a ser uma
vadia sem um cuidado no mundo.
Eu pisquei para ele enquanto meus lábios vermelho cereja se
esticavam amplamente em um sorriso. — Não me diga que você veio aqui
para oferecer seu conselho, Aslan. — Meu rosto endureceu. — Poupe seu
fôlego. — Olhei de volta para a tela do meu computador. — Ou terei
certeza que você não terá a chance de respirar novamente.
O pensamento de matar Aslan fez meu núcleo pulsar. Eu já estava
molhada.
Os olhos de Aslan escureceram um pouco. — Fale comigo assim de
novo. Desrespeite-me. Porra, eu te desafio. — Ele se aproximou olhando
para os meus lábios antes de lamber os seus. — Eu sinceramente não
dou à mínima se você tem problemas com seus garotos, mas estou aqui
para te dizer que se você for estúpida o suficiente para invadir meu
território...
— Você vai me matar? — Eu olhei para ele.
Com isso, ele respirou fundo, se moveu ao redor da mesa e se
ajoelhou, bem na minha frente, ficando na minha cara. Sua voz era
enganosamente calma, mas aqueles lindos olhos tinham uma
intensidade que eu não gostava. — Eu não vou matar você, Ling. Isso
seria muito fácil. — Sua mão subiu para agarrar meu queixo, e ele
apertou o suficiente para machucar. Ele trouxe seu rosto para o meu, e
quanto mais perto ficava, comecei a me sentir um pouco como um

~ 77 ~
cachorro sendo acuado em um canto. Quando seus lábios estavam à
distância de um fio de cabelo, ele falou suavemente. — Vou começar
matando seus homens. Todos eles. Seus irmãos incluídos. Ninguém que
você ama estará seguro. — Ele pressionou um beijo suave em meus
lábios, e quando eu tentei me afastar, seus olhos brilharam. Cavando os
dedos em minhas bochechas, ele cerrou os dentes e assobiou. — Eu vou
fodê-la com tanta força que você não será capaz de ficar de pé sem
cambalear, minha pequena víbora. — Seu rosto se contorceu e ele
pressionou um doloroso beijo nos meus lábios. — Eu vou jogar com sua
mente todos os dias da sua vida miserável. Você nunca saberá quando
farei, mas eu irei. Estarei nas sombras, para sempre, até que chegue o
dia em que... — Ele sorriu, e todo o seu rosto se transformou com ele,
não mais vicioso, mas mais uma vez bonito. — Vou assisti-la colocar
uma arma na sua cabeça, puxar o gatilho e espalhar seu cérebro pelas
paredes. — Ele suspirou feliz. — E que bela vista será. — Não mais
vicioso, mas mais uma vez lindo.
Ainda segurando minhas bochechas com força, ele segurou meus
olhos quando lentamente levou a mão entre as minhas pernas e
empurrou minha calcinha para o lado. Quando sentiu a umidade lá,
seus olhos se agitaram e Aslan perdeu um pouco da sua tensão. — Sua
cadela louca. — Ele deslizou um dedo dentro de mim, e todo o meu corpo
desabou imediatamente, submetendo-se a ele. Quando meus olhos
reviraram e meus lábios se separaram, Aslan mordeu o lábio e então
sussurrou: — Eu quero te foder com tanta força.
Minha voz era dura. — Você quase me matou da última vez.
Seus olhos brilharam perigosamente, e então ele sorriu e
murmurou: — Eu quero fazer isso de novo.
O único dígito dentro de mim começou a fazer um movimento
“venha aqui”, e eu mordi o interior da minha bochecha. Jesus Cristo,
parecia tão bom pra caralho. Mas eu precisava ser forte. — As coisas são
diferentes agora. Nós não podemos.
Se meus homens descobrissem que eu estava transando com o Rei
dos Lost Boys, perderia todo o respeito e, para ser honesta, não era algo

~ 78 ~
que pudesse arriscar. Eu estava fazendo um ótimo trabalho de perder o
respeito deles por conta própria. Eu não precisava da ajuda.
— Eu sei que não devíamos, mas... — Aslan sorriu para a minha
boca. — você acha que pode me impedir, vadia?
Meu núcleo se apertou com o pensamento dele me tomando
rudemente, brutalmente, e ele sentiu isso. Eu sei por que ele riu na
minha bochecha.
Eu nunca dei uma única foda sobre o que as pessoas pensavam
sobre mim. Eu fiz coisas ruins sem pedir desculpas toda a minha
vida. Fiz o que fiz quando quis, porque era assim que Ling Nguyen
agia. E, naquele momento, eu me odiava por ser do jeito que era.
Porque não pude dizer não.
Minha respiração engatou. — Foda-me.
Eu deveria saber o que estava por vir.
Aslan sorriu, tirou o dedo da minha boceta e se levantou. — Estou
surpreso com você, Ling. Eu achei que seria mais difícil do que
isso. Todo mundo fala sobre a Rainha Dragão como se ela fosse uma
porra de deusa, e olhe para você agora. — Ele colocou o dedo sob o nariz
e fechou os olhos, respirando profundamente o meu perfume em seus
pulmões. Ele chupou aquele dedo em sua boca, lambendo-o, e então
sorriu cruelmente. — Como se sente, caindo do topo, sua cadela frágil?
Bem, merda. Eu corri meus dedos frios sobre minhas bochechas
agora doloridas. Não parecia bom, com certeza.
Sem uma palavra, cheguei debaixo da minha mesa e peguei minha
arma, apontando para ele. Quando o rosto de Aslan enegreceu, devolvi-o
com um sorriso. Fiz isso porque nós dois sabíamos que eu tinha um
desejo por sangue e não teria problema em atirar nele exatamente onde
ele estava. Afinal, ele estava em minha casa e o desrespeito que
demonstrara era colossal.
Eu abaixei minha pistola e olhei para ele atentamente. — Deus,
você é lindo. — Quando seu rosto suavizou ligeiramente, eu continuei. —
Mas você está certo, claro. Obrigada pela lembrança. — Meus lábios se
separaram ao vê-lo e eu fiz uma demonstração olhando-o de cima a

~ 79 ~
baixo. — Claro, eu gostaria desse pau na minha boca, — admiti, minha
voz ficando ofegante, — sufocando-me enquanto você empurra até as
bolas. — Eu balancei a cabeça lentamente e suspirei, observando seu
arrependimento repentino. Eu refleti internamente. — Eu sempre gostei
de você, Aslan, e vou sentir sua falta. Ou devo dizer... Sorri
cruelmente. — ...Vou sentir sua falta me fodendo.
Aslan olhou para mim. — Eu sei o que você está fazendo. Não está
funcionando.
— É por isso que seu pau está mais duro do que o de um pastor
cretino na escola dominical? — Eu sorri quando ele baixou a mão para
se ajustar descaradamente. Eu levantei minha caneta para os meus
lábios. — Ninguém precisaria saber, — eu disse a ele, olhando para o
contorno de seu pênis duro. — Seria nosso pequeno segredo. — Meu
rosto ficou vazio de expressão. — A propósito, como está sua esposa?
Eu acho que tive um desejo de morte. Essa era a única explicação
que tinha por perguntar sobre ela - sua princesa turca. E quando ele se
lançou sobre mim, eu não estava preparada. Ou talvez eu estivesse e não
me importasse. Eu não sei.
Era um problema ultimamente, minha falta de cuidado.
O primeiro golpe foi duro o suficiente para fazer meu rosto virar
para o lado, e quando eu caí no chão, senti seu corpo forte em mim. Meu
coração disparou da pura alegria de me machucar. Meu templo latejava
e eu adorava. Eu senti tudo, a dor, e saboreei isso como uma amante. O
segundo golpe me atingiu tão forte quanto o primeiro, e quando consegui
me concentrar, Aslan estava em cima de mim, seu lábio curvado, seus
olhos mais escuros do que já os vi.
Ele levantou o punho para dar outro golpe, e foi quando eu dei um
sorriso sangrento. — Agora quem é fraco? — Quando ele percebeu que o
peguei tanto quanto ele me pegou, eu ri abertamente, com maldade.
Jogo. Partida. Vencida.
Sim, filho da puta. Você quer jogar?
Eu ganhei essa rodada.

~ 80 ~
Aslan não entendia que quando eu jogava, só competia porque
pretendia ganhar. A qualquer custo.
Demorou um pouco, mas agora ofegante o Turco recostou-se nos
calcanhares e fiquei surpresa quando ele murmurou em um tom
cansativo, — Touché.
Enfiando a mão no bolso do paletó, ele tirou um lenço branco
limpo e me entregou. Apoiando-me nos cotovelos, peguei-o e pressionei-o
no meu lábio inchado. Estava sangrando. Eu sabia disso porque o
familiar gosto metálico cobria minha língua, e naquele momento, eu não
queria nada mais do que Aslan me virar, puxar minha calcinha e foder
minha bunda tão rudemente quanto meu corpo permitiria.
Talvez mais do que isso.
— Pare com isso, — disse ele, recostando-se na minha mesa e
balançando a cabeça para o meu desejo aberto. — Eu não vou te foder,
Ling. — Suas sobrancelhas se estreitaram. — Você está tão confusa,
baby.
Diga-me algo que eu não sei.
Removendo o pano do meu rosto, eu sorri através do meu lábio
partido. — É por isso que você me ama.
Eu estava brincando, claro. O que ele disse em seguida, eu não vi
chegando.
Aslan me observou por um longo tempo antes de acariciar minha
bochecha gentilmente e murmurar: — É por isso que eu amo você.
Meu coração pulou uma batida.
Eu não gostei do que sua declaração me fez sentir. Então mudei a
direção dessa conversa.
Minha pequena mão pegou a dele na minha bochecha e pressionei
meus lábios na ponta do seu polegar, beijando-o gentilmente antes de
puxá-lo para dentro da minha boca, sugando. As pálpebras de Aslan se
fecharam e eu chupei profundamente. Seus lábios se separaram e ele
soltou um suspiro pesado.
Sim. Isto era mais o meu estilo.
Declarações de amor era um desperdício para mim.

~ 81 ~
Eu não amava. Não mais. O amor doía demais, eu aprendi, e o tipo
de dor que causava não era meu fetiche. Nem mesmo perto.
Foi por isso que soltei seu polegar com um estalo e lambi meus
lábios antes de olhar duramente para ele. — Saia daqui, Turco.
Ele me encarou por um momento, sem piscar, antes de se levantar
e puxar a parte inferior de seu casaco, endireitando-se. Quando ele
estendeu a mão para mim, eu a afastei, me levantando sozinha e
alisando a frente do meu vestido.
Aslan se aproximou, mais perto do que eu teria gostado, e
examinou meu rosto machucado. — Eu não queria que esta reunião
tivesse tomado esse rumo.
Meu peito doía.
Eu não consegui lidar com o carinho que revestia sua voz. Eu não
queria isso. Ele precisava ir.
Olhando para trás por cima do ombro, dei de ombros. — Não se
preocupe com isso. — Então lhe lancei meu olhar sorridente. — Eu
simplesmente causo esse efeito nas pessoas.
Apenas saia.
Ele parecia desapontado consigo mesmo. — Você é louca. — Ele
falou baixo, para si mesmo. — Por que diabos eu te quero tanto?
Com um leve suspiro, sentei-me na minha cadeira. — Pela mesma
razão que cada homem que eu fodi me quer, Sadik. Eu deixo você ser
quem você quer ser, quem realmente é. Eu trago seus demônios e os
fodo também, porque fico feliz em ver os homens perderem o controle
sobre si mesmo. Porque me deixa excitada ver um bom homem ser ruim,
e é tão fácil fazer isso. Porque eu gosto de ser tomada em vez de
cortejada. A dor me deixa molhada, e sei que isso é errado. — Eu soltei
um longo suspiro e sorri calorosamente para ele. — Mas é quem eu
sou. Eu não mudaria, mesmo que quisesse. — Meu sorriso diminuiu. —
Acredite em mim. Eu tentei.
Ele não via o que eu realmente era? Um câncer neste mundo,
atormentando cada homem que conheci.

~ 82 ~
Eu era uma doença sexualmente transmissível e Aslan era apenas
mais um de uma longa lista de pessoas infectadas.
O triste fato era que os homens gostavam de suas garotas
insanas. Eu era a prova disso.
Quando ele veio até mim, tomando meu rosto em suas mãos e me
olhando profundamente, meu peito se apertou com a preocupação em
seus olhos. Ele trouxe seus lábios cheios aos meus, beijando-me
gentilmente, e eu deixei, porque era uma sádica.
Meu coração se apertou dolorosamente com o que ele disse em
seguida.
— Eu sei o que seu pai fez com você, — ele falou contra meus
lábios antes de se afastar. — Sabendo o que sei agora, eu o teria matado.
— Ele segurou meu rosto rápido e olhou para mim quase
desesperadamente. — Eu o teria matado. O torturado. O desmembrado,
pedaço a pedaço, jogando-o aos cães. — Ele estava louco. Por que eu
gostava tanto disso? — Eu teria feito isso por você.
Um calor sólido se espalhou através de mim. Eu não deveria estar
sentindo o que estava sentindo.
— Eu não preciso de um homem para me proteger, Turco, — eu
disse a ele, recuando e vendo suas mãos caírem. Os homens me
decepcionaram toda a minha vida e eu nunca me colocaria na posição de
que isso acontecesse novamente. — Eu me salvo. Sempre fiz, sempre o
farei.
Aslan suspirou, mas fez isso com olhos sorridentes. — Eu sei. —
Quando ele se virou para sair, parou na minha porta. — Te vejo mais
tarde?
Jesus, ele era irritante.
Eu revirei meus olhos. — Você não sabe reconhecer uma dica, não
é?
Ele me soprou um beijo, sorrindo e então fiquei sozinha.
Era um sentimento estranho, realmente. Pela primeira vez desde
que Twitch morreu... eu não queria mais ficar sozinha.

~ 83 ~
Quando me sentei à minha mesa com uma boca latejante e uma
testa machucada, meus lábios se estreitaram.
Por que isso me irritava tanto?
Eram quase quatro da manhã quando a campainha tocou.
Deslizando para fora da cama, vestida com nada além de uma
minúscula camisola de seda, eu peguei a Glock dentro da minha mesa
de cabeceira. Quando a tinha na mão, olhei pelo olho mágico e franzi a
testa, abrindo a porta e apontando o cano da minha arma em seu peito.
— O que você está fazendo aqui, Turco? — Minha voz estava rouca
de sono.
Ele olhou para a arma por um momento antes de treinar seus
olhos sorridentes em mim. — Senti sua falta.
Okay, certo. — Por que você está realmente aqui?
Quando ele levou a mão para trás, eu dei um passo à frente, com o
rosto sério, e empurrei minha arma em seu peito. — Tente porra. — De
olhos arregalados, eu pressionei minha arma nele com força suficiente
para machucar e sorri. — Me dê um motivo. Atreva-se.
Mas Aslan Sadik apenas me observou atentamente antes de retirar
o item oculto. Ele estendeu a mão para mim e meu coração começou a
disparar.
— Isso é um truque? — Meus olhos se estreitaram nele. — Qual o
jogo que você esta fazendo? Eu não conheço este.
— Nenhum jogo, — disse ele, levantando a mão livre em um gesto
de rendição. — Isso só me lembrou de você. — Ele passou o polegar
sobre a rosa vermelha. — Linda. — Ele gentilmente tocou as poucas
pétalas machucadas. — Mas um pouco danificada.
Deus, ele estava pegando pesado. — Se você veio aqui para foder...
— Na verdade, tenho que ir. Minha esposa provavelmente está me
esperando.
Quando eu não fiz nenhum movimento para pegar a rosa, ele
pegou minha mão livre e levou-a a boca, beijando meus dedos, e eu
escondi bem o suficiente o calafrio que causou. Infelizmente, eu não
consegui esconder os arrepios que cobriam meus braços, e quando Aslan

~ 84 ~
os viu, ele sorriu, passando as pontas dos dedos suavemente sobre
eles. — Eu acho que você mentiu.
Minha sobrancelha baixou. — Sobre o quê?
— Eu acho que você quer ser cortejada. — No meu escárnio
incrédulo, ele continuou. — Eu acho que você quer alguém que seja
gentil, Ling. Você simplesmente não sabe, porque nunca experimentou
isso nas mãos de um homem. — Quando ele declarou: — Você foi
decepcionada pelos homens, inclusive eu, e sinto muito por isso, — eu
queria descarregar minha arma nele.
Como ousava assumir que me conhecia?
Como ousava estar parcialmente certo?
Eu não falei. Não consegui.
O que ele queria que eu dissesse a isso?
Ele não disse uma palavra quando colocou a rosa na minha
mão. Segurei com força, precisando sentir a picada aguda de seus
espinhos nas palmas das minhas mãos para romper o tumulto interno
que sentia.
Aslan andou para trás, se afastando, e eu queria que ele
voltasse. Antes de sair, ele disse: — Você está linda ao luar.
Quando ele se foi, fechei a porta atrás de mim e apoiei minhas
costas contra ela. Eu queria ser indiferente, mas nunca fui, não com
Aslan. Eu odiava que ele soubesse disso.
— Foda-se. — Eu olhei para a rosa bonita e meu coração pulsou.
Jesus Cristo, Ling.
O que você está fazendo?
Ah não.
A percepção me atingiu como uma tonelada de tijolos.
Eu estava me apaixonando.

~ 85 ~
CAPÍTULO OITO
Lexi

Era tão bom estar trabalhando novamente. Quer dizer, não era
trabalho remunerado, mas ainda era algo pelo qual eu era apaixonada, e
se pudesse ajudar simplesmente uma pessoa, então ficaria feliz. A
verdade era que eu não precisava do dinheiro. Eu tinha mais do que
sabia o que fazer. Cheques irrastreáveis ainda chegavam mensalmente
até hoje. Mas meu tempo era algo que eu poderia dar às pessoas que
precisassem.
Eu me ofereci para uma organização sem fins lucrativos que fazia
exames domiciliares em pessoas que sofriam de depressão, doenças
mentais, pensamentos suicidas e uma série de outros transtornos
mentais.
Andando até a porta, bati e quando a mulher atendeu a porta,
sorri. — Olá. Eu sou Lexi Ballentine. Nós conversamos ao telefone.
A mulher assentiu, mas não se moveu para abrir mais a porta.
— Posso entrar? — Quando ela me observou cuidadosamente, eu
disse educadamente, — Ou posso ficar aqui fora. Tudo bem também. —
Eu olhei para as minhas anotações. — É Gianna, não é?
Ela assentiu, escolhendo permanecer em silêncio, e tudo bem. Eu
poderia levar uma conversa por conta própria; Não precisava de ajuda.
Eu sorri suavemente. — Esse é um nome bonito. Você é italiana?
Com isso, ela falou baixinho. — Meu pai era. — Então ela
perguntou: — Você é americana?
Peguei-a.
Tudo que você precisava era uma brecha, e ela me ofereceu uma,
abençoada seja. — Sim. Eu vim morar aqui quando tinha vinte
anos. Você já esteve na Itália?
Ela balançou a cabeça, e não pude deixar de notar como ela estava
magra.
~ 86 ~
— Tudo bem se eu fizer algumas perguntas, Gianna?
Ela não parecia feliz, mas disse: — Tudo bem.
Eu me certifiquei de falar em voz baixa. Eu não queria abalá-la
mais do que claramente estava. — Quando foi a última vez que você
comeu, querida?
A mulher magra lambeu os lábios. — Ontem, eu acho.
Eu acho.

— Eu só perguntei por que tenho alguns mantimentos no meu


porta malas. — Eu coloquei meus olhos solidários sobre ela. — Eu sei o
quão assustador pode ser ir às compras quando você sofre de ansiedade.
— Eu realmente sabia. Passei o primeiro ano da preciosa vida de AJ
sofrendo de ansiedade, e tinha ataques mais frequentemente do que
não. — Precisa de alguma coisa? Eu tenho o básico. Pão, leite, cereais,
ovos.
Deus, ela parecia pronta para explodir em lágrimas, e quando
falou, foi apenas um sussurro. — Sim, por favor.
Eu fechei a prancheta. — Volto logo.
Abrindo o porta-malas do meu carro, tirei algumas sacolas de pano
e as carreguei. Enquanto as transportava, fiquei agradavelmente
surpresa quando Gianna abriu totalmente a porta. Eu aceitei o convite
não dito e entrei. No momento em que entrei, percebi porque ela não me
queria em sua casa.
Estava uma bagunça.
Ignorando a desordem, caminhei até a cozinha e disse: — Aqui
está bem?
O cheiro era ruim.
Quando Gianna me seguiu até a cozinha, ela viu quando
descarreguei as compras e abraçou-se, fazendo-a parecer ainda menor
do que era. — Eu tenho pensado em limpar.
Claro que ela tinha. Mas, para uma pessoa com ansiedade, era
mais fácil falar do que fazer.

~ 87 ~
Sem perguntar, fui até a pilha de pratos na pia e liguei a água
quente. As panelas no fogão pareciam mofadas.
Gianna parecia mortificada. — Você não precisa fazer isso.
— Porque você não senta e come alguma coisa e nós vamos
conversar. — Eu coloquei as luvas e permiti que a água fumegante
encharcasse os pratos um minuto antes de pegar a esponja e começar a
esfregar.
Sabendo que eu faria o que havia dito, Gianna se serviu hesitante
de uma tigela de cereal e sentou-se à mesa enquanto eu lavava a
louça. — Obrigada.
Era isso. Isso era tudo que eu precisava. Isso fazia tudo valer a
pena.
Eu girei na direção dela e sorri. — Não tem de quê.
Conversamos um pouco antes de eu lhe contar sobre a sessão
gratuita de terapia a que ela tinha direito. Ela recusou educadamente,
mas deixei os panfletos com ela de qualquer maneira. Continuamos a
conversar enquanto eu removia todas as caixas vazias pela casa, e
quando comecei a pegar as roupa do chão, Gianna se juntou a mim.
Eu coloquei as roupas na máquina para ela e certifiquei-me de
ficar até que tivesse terminado, sabendo que provavelmente não seria
tirada da máquina se eu não o fizesse.
Não era preguiça. Era apenas a condição que ela estava sofrendo.
Algumas horas mais tarde, eu deixei a sua casa mais limpa e lhe
disse que voltaria em poucos dias para checá-la. Gianna acenou, e eu
tive a sensação de que na próxima vez que viesse, ela me deixaria entrar.
Sim.
Meu trabalho era duro, mas definitivamente recompensador.
Um pensamento triste passou por mim enquanto eu me afastava.
Aqui estava eu ajudando pessoas, e ainda não consegui descobrir
como ajudar meu filho.
Que deprimente.

~ 88 ~
***

Twitch

Fazia dias desde que eu tinha visto meu filho, e estava passando
por abstinência. Eu estava irritado, irracionalmente louco e estava
nervoso. Impedido de invadir a casa e roubá-lo por um tempo, tudo que
podia fazer era assistir de longe enquanto a pequena Gótica o levava
para a escola, ao parque, a peças de teatro, ao supermercado onde AJ
jogava coisas no carrinho de compras e a pequena mulher fingia não
notar.
Eu não sabia quem ela era, essa babá, mas não podia ignorar a
arma que ela usava sob o casaco.
Quem quer que ela fosse, estava lá para proteger meu filho, então
eu decidi que ela era boa. Ela não parecia grande coisa, e a verdade era
que eu poderia tê-la derrubado em um piscar de olhos, mas Lexi confiava
nela o suficiente com o nosso menino, e isso eram todas as credenciais
que eu precisava ver.
A mulher desembrulhou um sorvete para AJ, e antes que ela lhe
desse, se agachou na frente dele e começou a falar. Eu não conseguia
ouvir o que ela dizia, mas prendeu a atenção de AJ e seu rosto suavizou
de uma maneira que eu nunca tinha visto enquanto a observava. AJ se
jogou em seus braços e ela o abraçou com força, acariciando seu cabelo
escuro e bagunçado e beijando sua testa como uma mãe faria.
AJ pegou o sorvete dela, e a mulher sorriu para ele
carinhosamente.
Sim.
Ela era boa, eu acho.
Quando um grupo de homens grandes se aproximou, aproximei-
me, franzindo a testa. Mas a pequena mulher sorriu para eles, rindo,

~ 89 ~
antes de se revezar abraçando cada um deles. Eu não reconheci nenhum
deles, mas reconheci as jaquetas que usavam.
DMS5
Drogas, Dinheiro, Sexo.
Eles eram uma gangue Maori, e parecia que a babá de AJ os
conhecia bem. Isso me fez pensar quem era exatamente essa mulher e de
onde ela veio.
Todos os homens grandes se revezaram apertando a mão de AJ
quando a mulher o apresentou orgulhosamente para eles, e eu
silenciosamente esbravejei.
Quem diabos era ela para apresentar meu filho aos membros da
gangue da Nova Zelândia como se não fosse nada?
Se eu tivesse uma voz viva, teria uma conversa com Lexi - marque
minhas palavras.
Isso não era aceitável.
Eu precisava falar com o Happy.

***

Molly

Era difícil para alguém como eu criar laços.


Minha vida foi amarga, na maior parte do tempo, senti que não
merecia o tipo de doce que recebi do monstrinho que se infiltrara em
meu coração.
Bebi meu café, observando o garoto que eu amava por cima da
borda da minha brilhante caneca amarela do Pokémon. Sua expressão
azeda era óbvia. Claro, Lexi notou isso também, mas AJ tinha estado
mal por um tempo agora e ela não sabia o porquê.

5 Drugs, Money, Sex.

~ 90 ~
Eu a peguei examinando seu rosto com uma preocupação bem
camuflada. Ela estava desesperadamente tentando encontrar a causa da
irritabilidade de AJ.
Eu sabia a causa. Parte dela, de qualquer maneira.
Zoe 'A Puta' Braemore.
A merdinha que provocou AJ, e o atingiu com algo que deveria
estar fora dos limites. Ela zombou dele por não ter um pai.
Isso explicava por que AJ começou a ver seu pai à noite. Também
explicava a angústia súbita que ele desenvolveu no período da manhã
antes da escola.
Algo me dizia que foder uma criança de cinco anos era ruim, mas o
que eu sabia?
Eu era um rato de rua, afinal de contas.
Eu pleiteei ignorância.
A cadeira rangeu quando me inclinei para trás, levantando a perna
para descansar um tornozelo no meu joelho. Esperei um momento, me
aquecendo no silêncio confortável, antes de olhar para Lexi e dizer: —
Então, vou pegar AJ na escola hoje.
Lexi levantou os olhos do jornal, uma careta pequena franzindo a
sobrancelha bonita. — O quê? — Ela colocou o jornal para baixo. — É o
seu dia de folga. Você não precisa fazer isso. O que as garotas fazem por
diversão nos dias de hoje? Mime-se. Saia e faça suas unhas.
Eu olhei para as minhas unhas pretas lascadas antes de olhar de
volta para ela.
Quando ela notou minha carranca, ela revirou os olhos. — Ok,
então não faça suas unhas. — Ela sorriu em encorajamento. — Faça algo
imprudente e divertido. Divirta-se, Molly.
Meu garoto estava quase hiperventilando. AJ olhou para a torrada,
sentindo meus olhos nele.

~ 91 ~
— Nah. — Eu tomei meu café. — Eu tenho planos para o meu
pequeno amor. — Lexi quis protestar, mas antes que pudesse, perguntei
a AJ — Belo Dan6, você quer pegar uma carona comigo no Big Red7?
Com os olhos arregalados, seus dedos ficaram flácidos, e o pedaço
de torrada que ele segurava na mão caiu sobre a mesa com um plop
seco. — Sério?
Eu não sorria frequentemente, mas quando fazia isso, me
certificava de direcionar todos para essa criança. Essa criança linda e
pura que usava seu coração na manga. Ele era bom demais para esse
mundo e, de alguma forma, só pelo destino, eu era a puta sortuda que
passava quase todos os dias com ele.
Guiando-o. Cuidando-o. Protegendo-o.
Não era um trabalho que encarava levianamente.
Eu poderia ter apenas vinte e dois anos de idade, mas tinha visto
muita merda. Essa merda tinha me envelhecido um pouco. Também me
ensinou muito sobre a vida e em quem não confiar. Isso me tornava boa
no que fazia, e embora houvesse dias em que desejasse nunca ter
nascido, passaria por cada dia ruim uma e outra vez se isso significasse
que acabaria exatamente onde estava agora.
Meus lábios grossos pareciam largos e desconfortavelmente
esticados. — Inferno, sim. — Parei por um segundo. — Contanto que
esteja tudo bem com sua mãe.
Ela estava focada em mim, firmemente. Sua voz, no entanto,
permaneceu baixa. — O que está acontecendo?
Lexi não era uma mulher burra. Você nunca imaginaria isso
olhando para ela, mas a merda que eu vi? Ela também tinha visto. Nós
só usamos de maneira diferente.
Eu usava minhas feridas de batalha abertamente.
Ela as usava como cicatrizes profundas.
Você faz, garota.

6 Handsome Dan é um buldogue que serve como mascote das equipes


esportivas da Universidade de Yale. Além de uma pessoa vestindo uma fantasia, a
posição é preenchida por um bulldog real, a honra sendo transferida para outro após
a morte ou aposentadoria.
7 Como ela chama seu carro.

~ 92 ~
Quando ela cruzou os braços sobre o peito, eu estendi a mão e
roubei um pedaço da torrada de AJ, sorrindo pelo jeito que ele engasgou
em indignação. Eu mastiguei lentamente e levei um tempo para
responder. — Nada.
Lexi olhou para AJ, preocupação gravada em suas feições. Ela era
uma boa mãe. Era impossível não gostar da mulher. Eu gostaria de ter
tido alguém como ela do meu lado quando era criança fazendo coisas
que uma criança não deveria fazer. Talvez se eu não tivesse visto por
mim mesma, não acreditaria que era possível que uma pessoa como ela
existisse.
Ela teria lutado por mim.
Ela teria lutado por mim como se eu fosse dela.
Uma mamãe ursa no coração.
— Por favor, mamãe? — Ele puxou a artilharia pesada, curvando a
boca adorável fazendo beicinho em seus lábios. Quando ele ergueu as
mãos, segurando-as com força sob o queixo em orações, eu sabia que ela
estava frita.
Seus ombros caíram e eu sorri na borda da caneca.
O sorriso de Lexi caiu. — Tem certeza, Molly?
Eu acenei para ela, levantando-me para levar minha caneca agora
vazia para a pia. — Vou colocar o assento no porta-malas antes de partir
hoje. Não se preocupe. Vou dirigir abaixo dos oitenta.
Seu rosto suavizou. — Eu sei que você vai.
Ela não disse isso duramente. Não foi uma ameaça ou um aviso.
Alexa Ballentine tinha fé completa em mim.
Eu queria abraçá-la então. Quero dizer, eu nunca faria. Eu não era
o tipo de abraço. Mas queria.
Ela nunca iria entender o que tinha me dado no dia em que me
trouxe para sua casa, confiando em mim com seu filho. Lexi e seu grupo
de amigos desajustados estavam curando algo dentro de mim que eu
tinha esquecido que estava há muito quebrado.
Em vez de mostrar a enxurrada de emoções confusas correndo por
mim, virei às costas para ela e fiz um espetáculo lavando minha

~ 93 ~
caneca. Sem ficar de frente para ela, eu disse: — Trarei o monstrinho de
volta às quatro e meia.
Lexi falou com seu filho. — Vá calçar seus sapatos e pegue sua
mochila escolar, amigo.
Quando a ouvi chegando atrás de mim e quando ela apareceu,
encostando o quadril na pia ao meu lado, levantei os olhos para
encontrar os dela. Ela quase sussurrou: — Ele te adora, você sabe.
Ela poderia ter dito qualquer coisa. Eu não sabia por que ela
escolheu me dizer isso em vez de me perguntar sobre a mudança
suspeita dos planos da tarde, mas eu estava grata por isso. Grata por
ela.
— O sentimento é mútuo, Lex.
Sua mão desceu no meu ombro e ela deu um leve aperto antes de
sair. Ela estava no corredor, quando falou novamente: — Eu sei.
Algo quente e grosso agitou no meu peito, e eu não tinha certeza
do porque, mas senti vontade de chorar.
Eu enxaguei minha caneca e coloquei para secar.
Zoe Braemore estava prestes a aprender que, embora AJ não
tivesse pai, ele tinha uma família que o amava. E nem todas as famílias
eram relacionadas ao sangue.
Meu carro guinchou quando estacionei bem na frente da escola de
AJ. Foi quase inaudível sobre o ronronar alto do motor do Big Red, mas
eu ouvi e franzi a testa.
Eu fiz uma anotação mental para verificar as pastilhas de freio
quando chegasse em casa.
O auxilio ainda não havia chegado, mas ele disse que estaria aqui
e eu sabia que estaria.
Eu entendia porque ele estava me fazendo esse favor sem
questionar.
Era por causa de AJ.
Esse garoto, essa criança doce e ingênua, não tinha ideia das
conexões que tinha no submundo ou do legado que ele mantinha. O filho
de Antonio 'Twitch' Falco, possivelmente o homem mais perigoso do

~ 94 ~
mundo em determinado momento. O afilhado de Julius ‘The Law’ Carter,
um homem que foi juiz, júri e carrasco do submundo. Ele chamava Farid
‘Happy’ Ahmadi, filho do mafioso persa Omid Ahmadi, de tio.
Juntos, esses homens, eram a santíssima trindade do submundo.
Se você estava do lado deles, você valia ouro. Definido para a vida.
Sem Julius, nunca teria conhecido Lexi. Nunca teria conhecido AJ.
E minha vida teria sido pior por isso.
Eu devia a Julius. Devia a ele uma grande chance.
Ele sabia disso. Eu sabia disso.
Eu não tinha ideia de como recompensá-lo, e odiava estar
endividada.
Você vai resolver isso.
Bem, eu teria que fazer. Ele se certificaria disso.
O Hummer preto parou, e, embora eu não conseguisse ver quem
estava lá dentro, saí do Big Red, meu Holden Torana SL5000 com
turbocompressor de 1974. Ela era uma beleza e tudo o que restava da
minha mãe. Uma figura gigantesca saiu do carro. Ele era assustador - eu
concordava com isso.
Hemi falou, e seu sotaque da Nova Zelândia sempre me fez rir. —
Ei, Molly, amor.
O que realmente soou foi — Huy, Molly luff8.
— Hemi. — Meu lábio se contraiu. — Obrigada por ter vindo.
Ele tinha pouco mais de um metro e oitenta e pesava cerca de
duzentos quilos. Ele era a intimidação em pessoa. Com a cabeça raspada
revelando o couro cabeludo tatuado, ele era absolutamente
assustador. Foi por isso que o escolhi para essa tarefa.
— Crianças, cara. — Ele balançou a cabeça, parecendo levemente
agitado. — Não desenterrem essa merda de bullying.
Uma bolha de riso tentou abrir caminho pela minha garganta, mas
eu engoli tudo. Era engraçado que um homem que regularmente batesse
nas pessoas não gostasse de valentões.
Hemi percebia que era um valentão?

8 Como ele pronuncia ‘Love’.

~ 95 ~
Eu diria que não, porque Hemi não era exatamente a criatura mais
esperta.
Quando ouvi o Hummer abrir, depois fechar novamente, olhei ao
redor de Hemi para ver quem ele tenha trazido com ele. Eu tive que olhar
firme para o segundo cara, mas quando ele se aproximou o suficiente,
minha boca se abriu em surpresa.
Oh, não, Hemi, seu burro incompetente.
— Tama. — Seu nome saiu ofegante e engasgado.
— Molly, — foi tudo o que ele pronunciou, áspero e curto.
Meu coração acelerou.
Ele não precisava dizer mais nada. Quero dizer, realmente, o que
mais ele poderia dizer?
Seu desinteresse dizia tudo.
Se Hemi era intimidante, Tama era assustador.
— Oh, merda, — Hemi murmurou, mas o que realmente saiu foi,
— Oh, shut9. — Ele coçou a cabeça. — Eu acho que talvez Tama não
tenha sido a melhor pessoa para trazer comigo hoje, Moll.
Meus olhos se afastaram da nova adição ao rosto de Tama. Ele
finalmente fez isso e conseguiu seu Tā Moko. Seu nariz, queixo e pescoço
foram tatuados em um desenho Maori tradicional. Eu me pergunto o que
ele fez para conseguir.
Há muito tempo, eu teria a honra de perguntar. Digamos que, eu
perdi esse direito. Eu perdi um tempo atrás.
Eu pisquei para Hemi, sarcasmo escorrendo da minha
declaração. — Você acha?
Não pegando esse sarcasmo, ele acenou com a cabeça uma vez
antes de iniciar um leve discurso divertido. — Bem, sim, por causa da
história de vocês e tudo mais, sabe? Como quando você...
Eu o interrompi, falando rápido demais e quase gritando minha
resposta: — Eu sei, Hemi. Eu estava lá.

9 Como ele pronuncia ‘Shit’.

~ 96 ~
Tama era um homem bonito. Ele usava seu longo cabelo preto
tradicionalmente, em um coque alto. Uma vez ele me disse a uma vida
atrás que o estilo que ele usava se chamava Tiki.
Minha etnia era parte maori, parte aborígene. Quando criança,
achava que teria o melhor dos dois mundos, mas o rude despertar foi
que nenhum grupo me queria entre eles. Quando perguntei por que, me
disseram que, à medida que envelhecesse, minha lealdade seria
distorcida. O que eles não sabiam era que, ao não me aceitar, eles - por
definição - estavam contra mim. E eu nunca esqueceria isso.
Se uma pessoa me fez querer esquecer meu ego ferido, foi Tama.
Tama, que me levou para sua casa, sua cama e seu coração. Ele se
responsabilizou por mim, lutou por mim e eu o traí.
Todos tinham uma pessoa que os ensinava a nunca confiar em seu
coração. Eu era a de Tama. Ouvi dizer que ele nunca mais foi o mesmo
depois que parti, e isso jogou em mim algo feroz.
Porra, você é uma idiota.
Eu fui. Não há como negar isso.
Uma longa respiração escapou de mim e eu passei a mão pelo meu
rosto antes de reconhecer o homem na minha frente. — Tama, você não
precisa ficar...
Ele me cortou com uma risada latente. Quando ele ficou sério, se
inclinou para o meu rosto e falou baixinho, mas maldosamente: — Eu
não estou aqui por você.
Claro que ele não estava.
Então, por que essa declaração me machucou tanto quanto?
— Eu sei disso, — eu disse, tentando não deixar minha expressão
mostrar. Checando meu relógio rapidamente, eu disse a ambos: —
Temos oito minutos antes do sinal tocar.
Um silêncio constrangedor caiu sobre nós. Hemi, claro, ficou
completamente alheio a isso, jogando em seu telefone. Minutos se
passaram antes que Tama perdesse a fria indiferença.

~ 97 ~
— De impiedosa para babá. — Tama sorriu maliciosamente, e
queria que soasse tão ruim quanto soou. — Como os poderosos caem,
hein?
Um momento de pausa.
— Se você conhecesse aquele menininho... — Meu coração se
encolheu.
Idiota.
Eu não precisava me explicar para ele.
Meus olhos deslizaram para o chão e os mantive lá. Eu não era
ousada o suficiente para olhar para Tama, cujos olhos estavam me
perfurando. Aqueles feixes de laser preparados para me cegar com raiva
violenta e volátil. Eu não era forte o suficiente para lutar contra ele ou o
efeito que ele tinha em mim, então, como a covarde que eu era, fingi
ignorá-lo.
Após os oito minutos mais longos da minha vida, o sino tocou e
nós nos posicionamos. Tama estava de pé, com os braços cruzados sobre
o peito e Hemi o espelhava. Eu fiquei entre os dois gigantes, puxei meus
óculos de sol da minha testa, e encostei meu ombro contra a estrutura
maciça de Hemi.
Nós éramos uma visão alarmante. Era quase uma pena
desperdiçar essa imagem com um grupo de crianças de cinco anos de
idade.
Não me dei conta de que AJ foi o primeiro a sair de sua sala de
aula, de cabeça baixa, rosto solene, correndo em direção ao portão que
ocupávamos.
Oh meu amor. O que ela fez com você?
Eu não correria até ele. Eu não o consolaria, não até que
estivéssemos fora de vista de todos os outros. Eu não estava aqui para
brincar. Isso era uma merda séria.
Ele olhou por um segundo e depois olhou novamente. Ele ficou ali
por um longo momento, tempo suficiente para que seus colegas de classe
se juntassem e parassem enquanto olhavam abertamente para nós. A

~ 98 ~
boca de algumas crianças caiu. Eu percebi que Zoe Braemore era uma
dessas crianças.
Os olhos de AJ se arregalaram comicamente, e sua reação aos
caras de aparência assustadora que me cercavam foi inestimável.
Ele sorriu.
O merdinha.
Deus, eu o amava. Ele era destemido quando preciso. Um
guerreiro no coração.
Pegando ritmo, ele começou a correr em nossa direção, sua
mochila batendo nas costas duramente a cada passada. Quando ele
chegou até nós, eu estendi minha mão para ele, mas fui rudemente
interrompida quando Tama pegou meu protegido, levantando-o,
segurando-o ao seu lado. E Tama olhou para ele.
Não era pessoal. Tama apenas odiava todos. No entanto, mesmo
sabendo disso, minha mãe interior me colocou na defensiva. Eu sabia
que Tama nunca machucaria uma criança, mas quando se
tratava dessa criança, eu nunca daria a ninguém a chance.
AJ perdeu o sorriso e olhou para Tama. Um feroz protecionismo se
acendeu dentro de mim, ainda mais selvagem do que antes, e assim que
fui avisar Tama para largá-lo ou perderia um membro, AJ estendeu as
mãozinhas e tocou as minúsculas pontas dos dedos no nariz tatuado de
Tama. Ele falou e meu coração doeu.
— Meu pai tem tatuagens. Muitas delas. Não em seu rosto, no
entanto. Quando eu for mais velho, também vou fazê-las, assim como
ele. — Ele apalpou o rosto de Tama sem medo, olhando atentamente
para a obra de arte ali. — Doeu?
Eu assisti o gelo derreter nos olhos de Tama. A severidade em seu
rosto, no entanto, permaneceu inalterada. — Sim.
Hemi ficou imóvel. Sem olhar para AJ, ele disse em voz alta: — Ei,
AJ, sabe o que eu odeio?
AJ torceu o torso para olhar de volta para Hemi. Ele balançou sua
cabeça. — Não.

~ 99 ~
— Valentões. — A boca de Hemi se torceu. — Eu odeio valentões,
amigo.
Certo, então.
Foi preciso toma minha força para não rir.
Eu planejava ser discreta, mas Hemi não sabia como soletrar a
palavra, muito menos retratá-la.
Os olhos de Zoe se arregalaram quando ela tentou passar. Eu
coloquei minha mão em seu pequeno ombro, parando-a em seu
caminho. Eu me inclinei em seu rostinho bonito, passando uma mão
gentil sobre suas tranças enroladas. Eu falei, mas não foi para Zoe.
— É ela, AJ? Sua amiga Zoe?
Ela olhou para Tama e seus olhos vagaram para Hemi antes de
voltar para mim.
Zoe Braemore parecia pronta para denunciar seu próprio nome.
— Essa é Zoe. — Eu não olhei para trás para o meu menino, mas
eu podia ouvir a curva do lábio dele. — Mas nós não somos amigos.
— Você pode me ajudar, Zoe? — A menina balançou a cabeça
lentamente, com os olhos arregalados. Eu me inclinei e olhei da
esquerda para a direita antes de chegar perto, como se o favor que eu
estava prestes a pedir fosse algum grande segredo. — Os primos de AJ
aqui ouviram que alguém o está aborrecendo.
Eu olhei para Tama. Ele olhava carrancudo para a merdinha.
— Como você pode ver, — eu continuei, — quando AJ está
chateado, seus primos também estão. — Eu abaixei minha voz. — Você
pode me fazer um favor?
Ela assentiu sem questionar. Boa menina.
— Eu quero que você fique de olho em AJ e me diga se ver alguém
zombando dele. — Eu levantei e olhei para Hemi antes de olhar de volta
para Zoe. — Hemi ali... ele odeia valentões. Certo, Hemi?
Hemi virou a cabeça de maneira significativa e assentiu. Ele
manteve o olhar na criança e eu observei toda a cor sumir do rosto de
Zoe.
Meu tiro acabara de atingir seu alvo.

~ 100 ~
Em cheio.
E meu trabalho aqui estava feito.
Eu sorri amplamente, mas não chegou aos meus olhos. Deve ter
sido menos do que reconfortante porque Zoe deu um pequeno passo
para trás. — Eu sabia que podia contar com você. Obrigada, Zoe. Tenha
um bom dia, certo querida? Enquanto ela se afastava, eu acenei para
ela, enquanto murmurava baixinho: — Primeiro golpe, sua vadiazinha.
As três e quinze, todas as crianças foram recolhidas pelos pais e
quase todos se dispersaram. Todos menos nós. Uma vez que estávamos
sozinhos, a postura de Hemi relaxou e ele ficou na frente de Tama, que
não havia soltado AJ.
A mão roliça de Hemi levantou e AJ a encontrou no meio do
caminho. Eles apertaram as mãos e Hemi se apresentou. — Meu nome é
Hemi, pequeno amigo. — Ele empurrou o queixo para o homem sombrio
que o segurava. — Esse é Tama.
O rosto de AJ ficou pensativo. E o que ele disse depois me matou.
— Molly conhecia um homem chamado Tama.
Dentro da minha cabeça, um apelo lento e prolongado. — Não, AJ
Nãooo.
— Disse que ele era assustador. O mais assustador. — AJ olhou
para Hemi. — Ela o amava. — Ele olhou para mim. — Certo, Molly? —
Então ele se virou para Tama, sua expressão sombria. — Mas ele
morreu. E isso deixou Molly triste.
Bile subiu na minha garganta, um peso queimando no meu peito.
AJ, sem saber o que ele tinha acabado de fazer, esticou os
bracinhos para mim. Entorpecida até o núcleo, eu o peguei em meus
braços sem questionar. Ele descansou sua bochecha no meu ombro e me
abraçou em volta do pescoço com muita força. — Eu não gosto quando
Molly está triste.
Hemi olhou de mim para Tama, depois de volta e, felizmente,
completamente fora do personagem, não disse o que estava em sua
mente antes de voltar para o Hummer.

~ 101 ~
Tama, por outro lado, cerrou a mandíbula com força. Ele não tirou
os olhos de mim. Eu esperava que ele visse o pedido de desculpas que
mantinha no meu.
Eu tinha certeza que ele fez, porque depois de uma longa pausa,
Tama falou. Sua voz era enganosamente calma. — Você ama a senhorita
Molly, hein?
AJ acenou no meu ombro.
Tama treinou seus olhos em mim. Ele falou sem emoção: — O
garoto é um péssimo juiz de caráter.
Com a voz calma, eu concordei: — Eu sei.
Porque ele estava certo. Eu não merecia o que AJ me dava. Eu não
merecia que Lexi confiasse em mim.
Eu era uma pessoa horrível e, um dia, pagaria por isso.

~ 102 ~
CAPÍTULO NOVE
Twitch

Quando ela entrou na minha casa, Manda parecia cansada. — Nós


precisamos conversar.
Sim. Isso estava fermentando por muito tempo. Nós precisávamos
resolver essa merda. Já era estranho pra caralho. Eu não precisava disso
bagunçando minha mente.
Ela se sentou no pequeno sofá e eu a segui pela sala, encostado na
parede quando ela começou. — Eu ouvi coisas sobre você. Coisas
ruins. E escolhi ouvir a sua versão, sobre quem você era antes de
julgar. Então, meu irmão, — ela disse, — quem exatamente você é?
Essa era uma pergunta difícil.
Eu realmente não sabia mais.
Eu estalei minha língua e gentilmente massageei a minha
têmpora. — Mandy, por favor. Me dá um tempo. Tive alguns dias de
merda. Além disso, já passamos por isso. — Olhei para ela
incisivamente. — Você acha que o Vander é um maldito santo?
Com minhas palavras, ela balançou a cabeça. — Eu conheço meu
marido, muito obrigada, mas ele nunca tentou me fazer acreditar que era
algo que não era. E você machucou aquela garota. — Ela parecia
desapontada. — Vander é o homem mais doce do mundo. — Na minha
zombaria aberta, ela emendou: — Para mim, ele é. Ele nunca foi
conscientemente mau para mim. Ele sempre me amou abertamente. Ele
nunca levantou a mão para mim porque sabe que eu o deixaria.
Ela não ia deixar isso quieto. Minha irmã tinha sido uma dor
perpétua na minha bunda desde o dia em que a conheci, envolvendo-se
comigo, metendo-se na minha vida tanto quanto possível, e mesmo que
ela me irritasse mais frequentemente do que não, era legal ter alguém se
importando.

~ 103 ~
Arrastei uma cadeira da mesa da sala de jantar, girei-a e sentei ao
contrário. — Você sabe quem eu era naquela época? — Em seu olhar
significativo, eu murmurei: — Claro que sabe. — Corri minha língua ao
longo dos meus dentes. — Você conheceu Lexi, então você sabe que sua
doçura é rara, um tesouro do caralho. — Ao acenar com a cabeça, eu lhe
expliquei. — Eu queria ver até onde poderia ir antes de quebrá-la.
— Por quê?
Minha irmã não ficou impressionada e eu não dei à mínima. Eu só
queria que ela entendesse. — Porque eu a queria do meu lado, Manda,
para sempre. — Deus, eu estava ficando puto. — Você acha que poderia
permitir que alguém como ela fosse minha rainha? Ela não é nada como
você, querida. Você viu merda toda a sua vida, seja de seu pai...
Ela interrompeu: — Ele também é seu pai.
Tanto faz. Ele não era nada para mim. — Ou a besteira de seu
irmão, e agora você está lidando com isso de novo através de
Vander. Você conhece esta vida, o que tudo isso implica. Lexi não. Ela
não sabe. Eu queria ver se ela tinha o que precisava para lidar, para
aceitar, porque a última coisa que eu precisava era a porra da minha
mulher fugindo de mim, dizendo que isso era demais. Então eu empurrei
e empurrei com força.
Relutantemente, vi que Manda estava começando a entender.
— Ela é, Mandy. Sem brincadeira. No segundo que eu a tive, senti
uma porra de um raio me atingir com tanta força que trouxe meu
cadáver de volta à vida. — Pensar em minha mulher era me testar. Lexi
era a vida. — Eu era um pecador e ela era minha única oração. Uma
divindade. A única deusa que eu adorava. — Eu fiz uma pequena
pausa. — Ainda faço.
E, por Deus, era a mais pura verdade do caralho.
Vi o rosto da minha irmã amolecer e revirei os olhos. — Então, a
boa notícia é que sou exatamente quem eu digo que sou.
Manda franziu a testa. — E as más notícias?
— A má notícia é... — Eu sorri. — Eu sou exatamente quem eu
digo que sou.

~ 104 ~
Culpado da acusação.
E minha irmã soltou uma risada. — Jesus, você é um idiota às
vezes.
Eu era. Eu não me desculparia por isso.
— Estamos bem? — Eu perguntei, coçando distraidamente a barba
no meu queixo, porque eu odiaria ter que perder minha irmã logo depois
de encontrá-la, mas desistiria dela em um piscar de olhos se me
custasse Lexi.
Minha irmã me olhou por um longo tempo antes de suspirar. —
Sim, eu acho que sim, mas eu juro por Deus, Tony, se você machucá-la
novamente... — Ela parou.
Eu encontrei o olhar desconfortável da minha irmã. — Eu não
posso prometer que não vou. Isso tudo é novo para mim, estar preso a
uma mulher, ser pai. Estou fadado a foder uma ou duas vezes. Ou
dez. — Eu soltei uma respiração cansada. — Mas vou tentar não fazer
isso.
Isso era o melhor que eu podia dar.
— Tudo bem, — disse ela, levantando. — Me de um abraço. Tenho
que ir ao encontro do meu sobrinho para uma festa de brincadeiras.
Afeto era algo que eu estava trabalhando. Isso não vinha
naturalmente para mim, mas para Manda sim, então eu lhe daria por
aguentar minha bunda. De pé, eu estendi meus braços para ela,
mexendo meus dedos em um movimento de ‘venha’, e ela sorriu para
mim quando entrou em meus braços.
Abracei minha irmãzinha com força e ela me apertou de
volta. Quando parecia muito, eu a soltei, mas ela se agarrou em
mim. Sem saber o que fazer, eu levantei a mão desajeitadamente e
comecei a acariciar seu ombro, e ela riu no meu peito. — Diga-me que
você não está me dando tapinhas como um cachorro, menino.
Suspirei alto, um sorriso curvando meus lábios. Porra, ela era uma
idiota por zombar do meu desconforto. Ela tinha sorte de eu estar
começando a amá-la.

~ 105 ~
Empurrando-a para longe de brincadeira, eu a vi tropeçar quando
ela riu de mim e apontei para a porta. — Dê o fora daqui. — Isso só fez a
minha irmã rir mais, mas ela foi embora.
Que merda.

***

Ling

Aslan se afastou de mim. Ele estava inquieto e eu não sabia por


que, mas ele estava me deixando muito nervosa. No momento em que
seus lábios deixaram os meus, eu olhei para ele com raiva. — O que há
com você esta noite?
Ele olhou para mim por um longo tempo antes de me ajustar em
seu colo, serpenteando seus braços em volta do meu corpo e me
segurando contra ele. Seu rosto estava perto, e embora essa coisa toda
de carinho fosse nova para mim, eu meio que gostava disso. — O que
estamos fazendo aqui, baby?
Nós estávamos sendo idiotas. Nós estávamos praticamente
garantindo que o ódio de nossas famílias continuasse vivo. Era quase
como se quiséssemos que o mundo soubesse quão egoístas e burros nós
realmente éramos, porque mesmo que estivéssemos nos escondendo,
não estávamos exatamente usando todos os recursos nesse aspecto.
Este era o nosso terceiro encontro no apartamento da cidade que
aluguei especificamente para encontrá-lo. Eu era uma idiota e com
certeza seria pega, mas quando se tratava de Aslan, eu realmente não
pensava nas consequências, nem me importava. Além disso, até agora,
ele se recusou a me foder, então, realmente, o que estávamos
fazendo? Não muito.
Mas, a verdade é que, se meus irmãos descobrissem, eles me
matariam. Literalmente.

~ 106 ~
Eu decidi pela honestidade. — Estamos fodendo de uma maneira
muito grande.
Quando ele riu baixinho, olhando para mim do jeito que estava,
com um apego em seus olhos que apontava para mim, senti parte do
gelo ao redor do meu coração estalar enquanto derretia.
— Venha para a cama comigo, — eu me inclinei e falei contra seus
lábios, moendo em seu pênis duro.
Mas ele balançou a cabeça, sorrindo ternamente. — Não.
Ele estava me matando aqui. Eu estava tão excitada que estava
pronta para transar a seco com sua perna se ele me deixasse.
Oh meu Deus. Você está se ouvindo.
Se ele me deixasse?
Quem era eu e o que diabos havia acontecido com a Rainha
Dragão?
Eu não gostava da pessoa que eu era quando estava com esse
homem. Ele me fazia sentir fraca, e isso não era bom. Eu era
independente. Eu não confiava em ninguém, não precisava de
ninguém. Eu estava alegremente livre. Foda-se ele.
— Tudo bem, — eu disse indiferente. — Eu acho que vou sair e
encontrar um bom pau jovem para chupar. — Quando seus olhos
brilharam, eu continuei. — Talvez eu o deixe brincar com minha boceta
por um tempo, e quando ele me fizer gozar... — Eu pressionei meus seios
nele. — Vou mostrar gratidão chamando-o de papai. Eles gostam disso,
sabe? — Enquanto eu levantava, Aslan agarrou meu pulso com força
suficiente para machucar, e eu sorri, gostando de onde isso estava
indo. — Mudou de ideia, Az?
Ele se levantou rapidamente e eu caí no chão em uma pilha.
— Filho da puta, — eu fervi.
— Eu não sei por que eu me importo com você, — ele disse
enquanto se afastava de mim.
E de repente, me senti mal com a perda dele.
Puta merda
Isso era novo. Eu não sabia se gostava disso.

~ 107 ~
Pouco antes de ele chegar à saída, gritei: — Espere. — E, para
minha surpresa, ele parou, em frente a porta.
Sim. Pensei sobre isso. Eu não gostei nada disso.
Parecendo como se ele quisesse bater em uma cadela, eu me
perguntei por que ele não batia nessa cadela. Ele sabia que eu estava
triste por isso. Na verdade, nada me faria mais feliz do que se ele fodesse
até me deixar sem fôlego.
Eu não podia acreditar que estava prestes a dizer o que disse. —
Isso é novidade para mim, Az. Você tem que me dar um desconto quando
eu pressionar, porque não conheço outra coisa. — Seu filho da
puta. Suspirei, humilhada pelo fato de estar me colocando nessa
posição. — Não gosto de te perturbar.
De repente, ele se virou e me encarou. — Eu tenho uma esposa em
casa, Ling, e acredite ou não, ela me adora. Eu não preciso dessa
besteira juvenil que você gosta de brincar, essa porcaria de ciúmes. Você
me deixa louco. — Quando ele balançou a cabeça e colocou as mãos nos
quadris como se estivesse contemplando o peso do mundo, minhas
entranhas murcharam porque eu sabia o que estava por vir. — Eu não
acho que devemos fazer isso de novo.
E porque eu não tinha ideia de como lidar com a tristeza abrupta
dentro de mim, eu o encarei de volta. — Nenhum problema aqui. —
Minha voz estava baixa. — É hora de você sair.
Afinal, eu tenho a atitude da minha mãe e o temperamento do meu
pai.
O belo turco parecia em guerra consigo mesmo um momento antes
de me olhar de cima a baixo, acenando com a mão em minha direção,
seus lábios afinando. — Quer saber? Foda-se isso. Estou fora.
O pensamento de Aslan Sadik me deixando para ir para casa com
sua esposa que o adorava me deixou louca suficiente para fazer um
ponto. Correndo até minha bolsa, peguei meu calibre 22, coloquei o dedo
no gatilho e disparei.
Bang

~ 108 ~
O som ecoou no apartamento de cobertura, e quando seu corpo
inteiro se sacudiu em choque, eu me deliciei com isso. Ele piscou para o
buraco na parede ao lado de sua cabeça e se virou para mim, de olhos
arregalados. — Sua cadela louca.
Sim. E é melhor você não esquecer. — Nunca mais volte, Az. Você
oficialmente desgastou minha hospitalidade.
Aqueles olhos escuros me observaram atentamente por um longo
tempo antes dele se virar e me deixar sozinha com meus pensamentos.
E não era um bom lugar para deixar uma cadela louca.

***

Lexi

— E eles eram enormes, os dois! — Disse AJ animadamente


enquanto me contava sobre conhecer os dois gigantes amigáveis. Não,
não gigantes. Primos. AJ os chamou de primos.
— Eles eram, hein? — Eu olhei para Molly, erguendo minhas
sobrancelhas até o meu couro cabeludo.
Molly teve a graça de parecer envergonhada. — Eles eram apenas
alguns velhos amigos.
Velhos amigos que por acaso estavam na vizinhança da escola no
horário de folga, no mesmo dia em que Molly sugeriu buscar AJ em seu
dia de folga, e usar seu potente carro vermelho, ainda por cima.
Mmhm. Soou legal.
Conte-me outra história, Molly. — Oh, tudo bem.
O lábio de Molly se contraiu na minha clara descrença. — Você
acreditaria que eles só vieram me dar uma olá?
Eu não pude deixar de rir. — Não. Não, eu não faria.
Ela parecia irritada. — Droga. Eu sabia que você era mais esperta
que isso.

~ 109 ~
Quando chegou a hora de colocar AJ no banho, eu levemente bati
no seu traseiro. — Hora do banho! — Então eu me inclinei para uma
Molly de olhos arregalados. — Nós não terminamos de falar sobre isso.
E ela suspirou alto.
Uma vez que AJ estava no banho, brincando com seu sapo de
corda, entortei meu dedo para Molly e ela me encontrou no corredor,
onde eu podia assistir AJ, mas ainda falar em particular. No momento
em que ela se aproximou, eu mantive meus olhos no meu filho, mas falei
com ela. — Eu confio em você, realmente confio, mas isso parece algo
que eu deveria saber, Molly. Então, derrame.
Os lábios ridiculamente cheios de Molly franziram-se e ela cruzou
os braços sobre o peito, espiando o banheiro antes de se afastar e dizer
baixinho: — Não enlouqueça.
Meus olhos se arregalaram. — Não enlouqueça?
Merda. Isso era pior do que eu pensava.
Bem, como eu poderia não enlouquecer agora?
Molly me calou. — Ele vai ouvir você!
Quando nós dois espiamos para o banheiro, AJ estava nos
observando com curiosidade e nós duas sorrimos largamente. AJ sorriu
de volta, mas foi cauteloso, o que era justo, porque Molly e eu
parecíamos loucas, saindo no corredor, sussurrando e tal.
Nós recuamos e Molly começou: — Percebi que AJ estava saindo
da escola o mais rápido que podia, então voltei no recreio e almoço para
ver o que estava acontecendo. Não demorou muito para descobrir que
essa pequena garota, Zoe, estava provocando AJ.
Ah não. — Sobre o quê?
A mandíbula de Molly se apertou. — Sobre não ter um pai.
Oh Deus.
De repente tudo fez sentido. A necessidade desesperada de AJ de
ver seu pai, mesmo que apenas em seus sonhos, sua tristeza súbita, a
maneira como ele estava subitamente ligado a todas as coisas de
Twitch. Eu coloquei a mão na minha testa e esfreguei.

~ 110 ~
Por que não pensei que isso poderia ter sido um problema
relacionado à escola?
Eu fui uma tola por ter perdido isso.
— Olha, está tudo bem. Eu cuidei disso. — Eu ouvi a raiva em seu
tom. — Zoe, a merdinha, não vai mais incomodar AJ. Isso é certo.
E então isso me atingiu.
Abaixando minha mão, eu pisquei para ela. — Você ameaçou uma
criança de cinco anos com membros de gangue? — Quando seus olhos
se lançaram ao redor, eu me inclinei e assobiei. — Você está louca?
Seus olhos se arregalaram. — Eles não disseram uma palavra,
Lex. Tudo o que eles fizeram foi ficar lá e olhar feio, enquanto Zoe e eu
conversávamos sobre o bullying. Eu juro. Eu não fiz nada que colocasse
você ou AJ em apuros. Eu nunca faria isso com você. — Molly espiou no
banheiro, olhando para o pequeno monstro antes de se afastar,
parecendo infeliz. — Ela estava o provocando, Lex.
Sim, as crianças podem ser cruéis. Eu sabia disso por experiência
própria. Mas isso não significava que Molly precisava intervir. — Você
deveria ter falado comigo.
— Eu sei, — ela murmurou sombriamente. Ela não olhou para
mim quando soltou um abafado; — Desculpe.
Eu entendia que Molly teve a melhor intenção no coração com
AJ. Ninguém nunca acusaria Molly de não levar seu trabalho a sério. —
Obrigada por defendê-lo.
O lábio dela levantou um pouco. Apenas um pouco; — Eu amo
meu pequeno verme.
Foi aí que AJ gritou: — Você está falando de mim?
Molly e eu rimos e respondemos: — Não.
AJ abriu o ralo, e eu entrei no banheiro, enrolando uma toalha em
volta dele, secando-o. — Você sabe o quê? Eu quero ouvir mais sobre
seus novos primos.
— Oh, cara, mamãe! — AJ ficou de olhos arregalados. — Hemi é
tão grande. — Ele fez um movimento circular em volta da barriga com as
mãos e a toalha caiu, deixando-o nu. Eu não pude deixar de rir, pegando

~ 111 ~
a toalha e cobrindo-o novamente. — E Tama era um pouco malvado, mas
Molly me disse que ele é sempre mau. — Quando olhei de volta para
Molly, a peguei fazendo sinais manuais para AJ, e no segundo que ela
me viu, forçou um sorriso robótico. — Tama tem tatuagens em todo o
rosto. Seu nariz, seu queixo. Por toda parte.
No longo suspiro e na sacudida de cabeça de Molly, reprimi minha
risada e disse: — Talvez Molly possa convidar seus novos primos para
que eu possa conhecê-los.
AJ ofegou. — Sim!
Molly zombou. — De jeito nenhum.
— Por que não? — Eu perguntei, fingindo polidez. — Eles soam
como cavalheiros absolutos. — Molly olhou para mim, não gostando da
minha provocação. — Eu não consigo ver por que você manteria esses
caras para si mesma. E além disso... — Eu virei meus olhos sorridentes
para ela. — ...Eu quero conhecer este seu Tama.
— Ele não é meu. — O rosto de Molly caiu e ela olhou para os
pés. — Não mais.
Ela parecia tão triste que baixei minha voz. — E nada pode ser
feito para consertar isso?
Molly sacudiu a cabeça. — Não. Eu estraguei tudo. — Ela se
endireitou de repente. — Eu acho que vou assistir TV no meu quarto.
Antes que eu pudesse objetar, ela se foi.
E eu me perguntei o que diabos essa doce menina tinha feito com
Tama que achava que não merecia perdão.
No fim das contas, era melhor não saber.

~ 112 ~
CAPÍTULO DEZ
Twitch

Eu mal conseguia respirar. — Se você está fodendo comigo,


Black...
Ethan riu asperamente. — Infelizmente para a população
australiana, sou cem por cento sério. Estou enviando alguém até você
amanhã com seus documentos. O nome dele é Gabriel Blanco. Facilite
para ele e, pelo amor de São Pedro, seja gentil.
— Foda-me, — eu respirei, tentando acalmar as batidas rápidas do
meu coração.
O riso de Ethan desapareceu a nada. Quando ele falou de novo,
senti essa merda. Eu senti duro.
— Você esperou muito tempo, Twitch, e sua paciência valeu a
pena. — Ele baixou a voz. — Estou orgulhoso de você, filho.
Eu não lidava bem com elogios. Especialmente não de outros
homens. — Ei, Ethan. Você está duro por mim, mano? — Em sua súbita
onda de maldições, eu soltei uma risada baixa. — Estou brincando,
cara. Fica frio. Eu estou... — Isso era difícil para eu admitir. Demorei um
pouco para conseguir falar. — Sou grato. Por tudo.
Ele grunhiu. — Por que eu sinto que acabei de lançar um leão na
comunidade desavisada?
Com isso, sorri largamente. — Porque você me conhece.
Enquanto ele soltava outra série de palavrões, ri baixo e, pela
primeira vez em cinco anos, pude respirar de novo.
Eu atendi a porta e olhei para o homem de terno com cautela. —
Nome?
— Gabe Blanco, — disse o homem de meia-idade em seu sotaque
australiano. — Ethan Black me enviou.

~ 113 ~
Quando eu não fiz nenhum movimento para deixá-lo entrar, Gabe
encolheu os ombros. — Eu posso levar essa merda de volta se você não
quiser.
E minha bochecha pulsou. Sem uma palavra, abri a porta e dei
um passo para trás, permitindo-lhe entrar, mas observei-o com cuidado.
Eu tinha problemas de confiança. Então me processe. Se você
tivesse sido baleado a quantidade de vezes que fui, você também os teria.
Gabe Blanco entrou, foi até o balcão, pegando um grande envelope
amarelo. Ele falava enquanto tirava as coisas. — Aqui está sua
identidade. — Ele jogou um pequeno cartão de plástico no balcão. — Seu
passaporte. — Ele colocou o pequeno livreto azul com cuidado. —
Segurança social e números de arquivo de impostos. — Um pequeno
pedaço de papel branco foi colocado ao lado do passaporte. — Aqui está
seu cartão bancário, detalhes da conta e cartão Medicare. — Os cartões
estavam em um envelope plástico. — E, finalmente, a sua cidadania
australiana. — O certificado de aparência extravagante era quase branco
e tinha um emu10 e um canguru segurando um brasão de armas. — Isso
é falso, a propósito. Apenas para aparições.
Eu não pude evitar o jeito que meu lábio se contraiu.
Obrigado Ethan Black.
Eu poderia tê-lo beijado.
— Isso é tudo? — Eu perguntei ao cara.
Gabe não hesitou. — Na verdade não. Pediram-me para transmitir
uma mensagem.
Por que isso não soava bem? — Que mensagem?
— Cuide-se porque estaremos observando você, — disse Gabe
clinicamente. Quando meu rosto escureceu, ele ergueu as mãos de um
modo apaziguador. — Não atire no mensageiro. Estou apenas
repassando isso.
Eu não gostei disso. — De quem?
— Alguns chefões na AFP.

10 A emu é a segunda maior ave viva em altura, depois de seu parente ratita, a
avestruz. É endêmica da Austrália, onde é a maior ave nativa e o único membro
existente do gênero Dromaius.

~ 114 ~
Merda. A última coisa que eu precisava era ser vigiado
constantemente pela Polícia Federal Australiana.
Ótimo. Ótimo. — Anotado. Agora, se isso é tudo.
— É tudo. — Gabe sorriu. — Bem-vindo de volta à terra dos vivos,
Antonio Falco.
Quando ele estendeu a mão para mim, eu relutantemente peguei,
balançando uma vez antes de largá-la. Acompanhei Gabe Blanco até a
porta e guardei todos os meus documentos no envelope amarelo, e fiz
isso com um leve sorriso.
Sim.
Eu estava de volta, filhos da puta.
De onde eu estava, senti que minha ansiedade deveria estar
aumentando, mas não estava.
Estava tranquilo, sereno e esperei pacientemente que ela me
encontrasse.

***

Lexi

Eu ri do olhar de desconforto no rosto de Ana. — Eu sei que parece


horrível, mas na verdade, eles são tão confortáveis e tão fofos. Eu
comprei três deles online de La Perla. Aqui. — Saí da mesa das mulheres
enquanto os homens sentavam-se na varanda, fumando charutos e
bebendo uísque. — Eu vou buscá-los para que você possa ver por si
mesma.
Entrando no meu quarto sem acender a luz, fui até a penteadeira
em frente à minha cama e tirei os três sutiãs, fechando levemente as
gavetas antes de olhar para o espelho.
Meu estômago afundou.
Larguei os sutiãs com um sobressalto quando vi a figura solitária
na minha cama, encostada na cabeceira.

~ 115 ~
Meu coração acelerou. Fechando os olhos, concentrei-me em
minha respiração.
Ah merda.
Finalmente aconteceu.
Eu quebrei. E não era de admirar com a surra emocional que eu
levara do meu filho nas últimas semanas. O lembrete constante de seu
pai tinha feito algo comigo, obviamente. Minha mente estava frágil e não
poderia aguentar muito. Talvez toda a conversa sobre AJ vendo Twitch
tenha inspirado algum tipo de ciúme dentro de mim.
Respirando com dificuldade, eu engoli o nó na garganta.
— Pare com isso, — eu sussurrei para mim mesma antes de abrir
os olhos, e eu assisti o feixe de luar na metade inferior da figura
encapuzada.
Jesus Cristo.
Ele não estava lá. Ele não estava realmente lá. Estava tudo na
minha cabeça. Mas isso não tornou menos angustiante, e a maneira
como meu coração bateu me fez sentir de repente tonta.
Minhas mãos tremiam e eu as fechei em punhos, minhas unhas
picando minhas palmas. — Lexi, — eu me avisei. — Pare.
O cérebro era uma coisa engraçada. Quase como um disco
rígido. Poderia evocar memórias num piscar de olhos, sem importar quão
dolorosa. E agora, eu estava me machucando.
Por que eu continuava me machucando?
Quando abri os olhos e ele ainda estava lá, comecei a ficar
genuinamente angustiada. Respirando com dificuldade, eu coloquei a
mão na minha testa e implorei a mim mesma o mais silenciosamente
possível. — Pare. Por favor.
Meu estômago caiu quando ouvi o farfalhar do outro lado do
quarto.
Espere.
Ele acabou de se mexer?
Não. Ele não poderia ter.
Mas ele o fez.

~ 116 ~
Ele fez.
Silenciosamente, ele sentou-se e fez algo que eu estava querendo
desde sempre.
Ele abaixou o capuz. E no momento em que vi aqueles olhos
castanhos e encapuzados, meu corpo inteiro gelou.
Este não era o Twitch dos meus sonhos assombrosos. Este era
outra pessoa.
Eu não conseguia respirar.
Isso era um sonho. Não era?
Tinha que ser.
— Anjo. — Aquela voz suave e rouca era quase inaudível.
Eu senti o sangue escoar do meu rosto. Rapidamente voltando
para a cômoda, eu ofeguei quando bati na borda e perdi o equilíbrio. Um
frasco de perfume caiu no chão, e o som estridente do vidro quebrando
se seguiu. Meu coração batia no meu peito. De olhos arregalados e
perplexos, levantei minhas mãos para a minha boca trêmula.
E foi quando todo o inferno se soltou.

***

Twitch

— Anjo.
O que mais eu poderia dizer? Ela estava linda vestida com jeans
apertados e um suéter branco enrolado nos braços.
Os grandes olhos azuis de Lexi molharam quando ela voltou para a
cômoda, e quando perdeu o equilíbrio, eu dei um passo para frente,
minha mão esticada para ela. Seu corpo inteiro tremeu, e quando ela
cobriu a boca, ofegando rapidamente, uma careta curvou minha boca.
Merda.
Talvez eu devesse ter feito isso de forma diferente.
Meu bebê parecia prestes a desmaiar.

~ 117 ~
Na porta, uma sombra apareceu, e o pequeno cara fez uma
aparição. — Posso tomar um sorvete? — Ele acendeu a luz e olhou para
a postura de sua mãe em confusão um segundo antes de me notar. Meu
filho. Ele não pôde conter sua excitação. — Papai!
Ele voou para mim e eu o peguei no ar, abraçando-o o mais forte
que pude sem machucá-lo.
Meu coração bateu mais rápido. Era isso.
Sem mais se esconder.
Meus olhos observaram sua reação. Eu continuei a segurá-lo,
observando Lexi atentamente quando percebi que isso, o que estava
acontecendo, não estava em sua cabeça. Uma mistura de emoções
surgiu.
Primeiro choque. Então confusão. Por fim, dor.
Seu rosto caiu, ela balançou a cabeça lentamente em negação, e
desabou contra a parede com um baque, seu corpo tremendo
violentamente quando começou a chorar. Sua boca se abriu e ela tentou
falar, mas meu bebê não podia através das lágrimas que machucavam
seu corpo.
AJ se afastou para olhar para a mãe. — Viu? Eu te disse.
Lexi empurrou-se contra a parede, soluçando silenciosamente,
sem piscar, uma expressão assombrada sombreando seus lindos
olhos. O olhar de pura dor e traição era mais do que eu poderia
suportar. Eu queria ir até ela, e planejei, mas a pequena Gótica entrou
no quarto, sua 22 apontada para mim. Ela se moveu para ficar na frente
de Lexi protetoramente antes de olhar para mim, sem piscar. — Quem
diabos é você?
Eu estava prestes a responder, quando Happy entrou. — Que
porra está acontecendo aqui? — Quando seus olhos pousaram em mim,
sua expressão tornou-se cansada, seu corpo curvou, e ele murmurou: —
Seu imbecil. — Ele fechou os olhos antes de engolir. Difícil. — Seu idiota.
Sim eu era.
Ele se aproximou de mim, alcançando AJ, e eu recuei, lançando-
lhe um olhar sombrio.

~ 118 ~
Sim, tente.
Ele poderia arrancar meu filho dos meus dedos frios e mortos.
— Twitch, temos uma casa cheia aqui. Não faça isso. Dê-me seu
filho.
Naquele momento, Lexi olhou entre meu irmão e eu por um longo
tempo até que finalmente se deu conta. Quando ela falou, sua respiração
engatou. Ela parecia ferida. Machucada; — Você sabia? — Nós dois nos
voltamos para a pergunta desolada. Seu rosto coberto de lágrimas
pousou em Happy. Novamente, em um tom mais alto, mais desesperado
desta vez. — Você sabia? — A respiração ofegante aumentou e ela
choramingou antes de gritar no topo de seus pulmões, — Você sabia?
O baixo grito agudo que lhe escapou depois disso foi
arrebatador. Chorando com o coração, ela lamentou até não ter mais ar
em seu corpo, e quando respirou fundo e levantou a cabeça, ela chorou
abertamente, apertando a garganta como se estivesse sufocando com o
que estava sentindo, e isso esmagou minha alma.
O corredor estava cheio de pessoas, pessoas silenciosas, e eu mal
lancei um olhar para aqueles que estavam observando em estado de
choque. Mas quando Julius encheu a porta e seus olhos arregalados
pousaram em mim, piscando lentamente, eu nunca me senti mais como
um pedaço de merda do que quando vi meu irmão rachar e quebrar, pois
ele era inquebrável.
Sim, eu o traí. E sim, ele soube disso imediatamente.
Julius ficou parado enquanto Lexi chorava. Seus lábios se
separaram e ele piscou lentamente, colocando as mãos na cabeça como
se estivesse passando pela pior enxaqueca de sua vida. — Não. — Ele
balançou a cabeça e, de repente, não estava mais chocado. Ele estava
chateado e rosnou: — Não.
Sim. — Irmão, — eu disse baixinho e vi quando seu rosto se
tornou poderoso.
Eu o observei lutar consigo mesmo a cada passo. Ele deu um
passo à frente, depois para trás e para frente novamente, como se não
soubesse o que fazer com ele, com o punho apertando e depois abrindo

~ 119 ~
uma e outra vez. Levou um tempo para controlar as emoções, mas
quando o fez, ele rosnou: — Lá fora. Agora.
Eu sabia o que estava chegando. Eu teria feito o mesmo. Eu
coloquei meu menino no chão com um suspiro e segui Julius pela porta
da frente, dando uma pequena olhada para minha mulher chorando.
O jeito que ela parecia agora, cansada e devastada?
Eu nunca quis ver isso de novo.
Ela não estava em condições de ver essa merda se
desenrolar. Murmurei para Happy, — Mantenha-os aqui dentro.
No corredor, passei por Nikki, Dave e Ana à espreita, enquanto
Manda simplesmente sacudia a cabeça, decepcionada.
Tudo bem. Eu poderia lidar com isso.
Eu estava acostumado a ser uma decepção.
Antes mesmo de sair pela porta, abri o zíper do meu casaco e o
tirei, revirando os ombros enquanto Julius andava de um lado para o
outro no gramado da frente, parecendo um homem possuído. Quando ele
me pegou olhando, seu rosto enrugou e seus olhos ficaram selvagens
enquanto balançava a cabeça. — Eu sei que você não fez isso. Não
para mim. — Ele apontou uma mão trêmula em direção a casa. — Não
para ela.
Merda. Ele estava levando isso pior do que eu esperava.
Minha voz estava áspera. — Eu tive que fazer, irmão.
Ele estava achando difícil falar. — Cinco anos. — Sua respiração
ficou pesada. — Onde diabos você esteve? — Seu lábio enrolou, mas as
palavras que ele cuspiu eram rachadas, de coração partido. — Eu
precisei de você.
Eu sei que ele o fez. Por isso precisava acreditar que eu parti.
Se Julius não acreditasse, ninguém mais teria.
— Passarei o resto da minha vida fazendo isso por você, — eu
ofereci, conciliando. E eu faria. Eu odiava tê-lo machucado, mas não era
opcional.
Julius se acalmou e seus olhos azuis brilharam. — Foda-se,
Twitch.

~ 120 ~
E quando ele se lançou em mim, eu deixei.
Punhos de pedra cortaram meu rosto, branco explodiu atrás de
meus olhos, e caí de costas na grama orvalhada. Grosseiramente, ele
montou minhas coxas e me bateu novamente, mais forte desta vez. E eu
vi estrelas. Ele me bateu de novo, e eu senti meu nariz esmagar sob seu
punho. De novo e de novo, ele me acertou, e eu levantei meus braços em
uma pobre tentativa de desviar dos golpes porque ele estava louco o
suficiente para causar algum dano real e, por assim dizer, Julius não
demonstrou nenhum sinal de abrandar.
Ele tirou meus braços do caminho, mas eu os arremessei,
repetidamente.
Um soco duro bateu no meu ombro e eu assobiei através da
dor. Julius ofegou alto, apressadamente, falando entre os dentes
cerrados. — Onde você estava? — O próximo golpe me atingiu no peito,
me curvando, e ele berrou: — Eu precisei de você, filho da puta! — Os
golpes diminuíram e, finalmente, pararam completamente. Agarrando a
frente da minha camiseta, senti o corpo do meu irmão tremer quando ele
gritou atado a lágrimas: — Eu precisei de você. — Ele chorou com os
dentes cerrados, — Seu pedaço de merda. Eu precisei de você.
Respirando tão bem quanto podia através do meu nariz quebrado,
eu o vi chorar e estendi a mão para segurar seu braço, mas ele me
afastou violentamente, levantando o mais rápido que pôde. — Sai de
perto de mim! — Antes que eu pudesse registrar o que estava
acontecendo, ele foi até a sua esposa, pegou-a pela mão e a arrastou
para o carro. — Manda, — Julius rosnou.
Quando Manda correu e entrou no banco de trás, o carro partiu
com um guincho.
Quando me levantei nos cotovelos, vi Nikki e Dave saindo com meu
filho. Meu coração torceu e eu fiquei de pé, pronto para me opor, mas
quando Nikki se virou para Happy, parecendo completamente
contrariada, e exclamou: — Se eu fosse você, não voltaria para casa hoje
à noite, — eu sabia que provavelmente era melhor para AJ não estar
aqui para o caos que se seguiria.

~ 121 ~
— Papai? — AJ gritou incerto, olhando estranhamente para a
minha posição na grama.
— Está tudo bem, broto, — eu disse a ele, ofegante e sem fôlego. —
Eu vou te ver em breve.
Happy ficou com as mãos nos quadris, exalando lentamente. Ele
mergulhou o queixo, olhando para os pés, depois falou baixinho: —
Poderia ter me avisado.
Eu poderia, mas estava cansado de esperar.
Desculpa.
Meu silêncio era toda a desculpa que ele receberia, e ele sabia
disso porque sacudiu a cabeça e entrou. Um longo momento se passou
antes que eu o seguisse, mas quando Happy saiu para o quintal, eu
desviei para onde minha alma ansiava estar.
No quarto dela.
Eu me movi para ficar na porta aberta e observei a mulher
quebrada descansar contra a parede, fria, sem piscar. Ela parecia à
concha de uma pessoa sentada tão pequena onde estava. Tudo o que eu
queria fazer era avançar, pegá-la em meus braços e segurá-la por um
tempo.
Quando tudo se tornou demais e o desconforto me atingiu com
força, arranhei meu queixo e balancei a cabeça porque queria pedir
desculpas, mas isso era ridículo.
Então eu segurei seus olhos e rezei para que ela ouvisse as
palavras não ditas.
De repente, ela olhou para mim do outro lado do quarto, uma
lágrima perdida passou por sua guarda. Eu senti sua palavra
sussurrada no fundo do meu coração.
— Eu te odeio.
E naquele momento, ela realmente odiava.
Uma tristeza que nunca imaginei sentir pesou nos meus ombros.
Tudo bem.
Ela nunca poderia me odiar tanto quanto eu me odiava.

~ 122 ~
Saí do seu quarto e a deixei em paz. Eu causei dano suficiente esta
noite. Teríamos um novo começo pela manhã.
Indo para os fundos, Happy andava pelo quintal enquanto a
pequena Gótica observava.
— Então você é ele, — disse ela, virando aqueles olhos entediados
em mim. — Eu não esperava que você fosse tão jovem. Quero dizer, você
precisa de um corte de cabelo e fazer a barba, mas estou surpresa. Ela
inclinou a cabeça. — Quantos anos você tem?
Quarenta e um anos. — Idade suficiente para ter juízo. —
Colocando um dedo na minha narina, eu soprei sangue para fora do meu
nariz e na varanda. — Jovem o suficiente para não dar à mínima.
— Isso precisa ser colocado no lugar. Venha aqui. — Quando não
fiz nenhuma tentativa de me mover, ela revirou os olhos. — Ou
não. Tanto faz. Pareça um ogro. Eu não me importo.
Ele precisava ser colocado no lugar. Eu dei alguns passos e sentei
na cadeira ao ar livre. — Você já fez isso antes?
Ela colocou os dois polegares nas laterais do meu nariz e
pressionou em minhas bochechas, parecendo despreocupada. — Uma
vez ou duas. — Um momento antes de ela fixar o meu nariz, ela
pronunciou: — Eu sou Molly.
Crack.
— Ah, porra, — eu gemi quando meus olhos lacrimejaram
incontrolavelmente e meu nariz começou a sangrar de novo. Quando ela
me entregou o lenço de papel, eu os tirei de suas mãos e levantei a
cabeça para me impedir de sangrar na minha camiseta. Eu não pude
deixar de notar o quão indiferente ela estava agindo e tinha que dizer
algo sobre isso. — Você não parece tão surpresa em me ver.
De costas para mim, ela continuou a observar Happy
caminhando. Ela encolheu os ombros. — Eu estava, mas agora não
estou. — Ela se virou, olhando para mim. — Seu filho não é um
mentiroso. — Quando ela colocou os olhos em um Happy ainda
andando, ela soltou um suspiro longo e prolongado. — Eu deveria ter
sabido. — Um tempo passou e nos sentamos em silêncio fácil. Na

~ 123 ~
quietude da noite, Molly falou às palavras que eu temia ouvir. — Ela
nunca vai te perdoar.
Talvez não.
Mas eu planejava fazê-la me amar de novo ou morrer tentando.
— Você mora aqui, certo? — Molly assentiu e eu continuei. —
Amanhã, você e eu vamos conversar sobre a facilidade que consegui
entrar e sair desta casa sem ser detectado.
A testa dela franziu, mas ela assentiu mais uma vez.
Bom.
Nós lidaríamos com isso amanhã.
Hoje à noite, eu pensaria em como consertar tudo o que tinha
fodido.

~ 124 ~
CAPÍTULO ONZE
Twitch

Fazia vinte e quatro horas e Lexi ainda não tinha deixado seu
quarto, e foi por isso que eu entrei. Eu precisava ter certeza de que ela
estava bem.
Meu filho não estava em casa nesse momento, mas Molly me
garantiu que ele voltaria no dia seguinte.
Para o bem de todos, é melhor que volte. Se ele não voltasse, eu
iria atrás dele e lhe disse isso. Ninguém iria me manter longe dele.
Já passava da meia-noite e, ao me deitar ao lado do anjo que
roubara meu coração, falei em voz baixa para não assustá-la.
— Lexi, — eu disse, vendo-a enrijecer. — Anjo. — Eu estendi a
mão para tocá-la, mas parei parcialmente, apertando a mão em um
punho antes de me afastar. — Nós precisamos conversar.
Eu a observei se abraçar. Ela ficou assim, seu corpo firmemente
tenso, um longo tempo. Sua voz era fraca e suas palavras suavemente
faladas me machucaram. — Vá embora.
OK.
Eu tinha todo o tempo do mundo.
Eu realmente esperava que ela entendesse isso porque eu não iria
a lugar nenhum.
Não sem ela.
Fui com Molly pegar meu filho na escola. Quando ela se recusou
descaradamente a me levar junto, eu lhe disse que iria de qualquer
maneira, e devo ter parecido convincente o suficiente porque ela cedeu
rapidamente. Eu fiquei no carro, esperando pacientemente enquanto ela
o pegava.
No segundo que ele me viu no banco de trás, seu rosto se
transformou em um enorme sorriso. — Papai! — Mas então ele focou no

~ 125 ~
meu nariz inchado e nos hematomas roxos sob os olhos e seu rosto
caiu. — Papai?
— Eu tive um pequeno acidente, amigo, mas está tudo bem. — Eu
abri meus braços para ele e ele subiu no banco de trás comigo, caindo
sobre mim. Abracei-o o máximo que pude antes de afivelá-lo. Enquanto
dirigíamos, expliquei: — Sua mãe não está se sentindo bem, então vamos
dar um tempo a ela. Eu vou ficar por um tempo, ok?
O rosto do meu filho se iluminou. — Você vai ficar?
Sorrir doía, mas por ele, eu consegui um pequeno. — Inferno, sim,
eu vou ficar.
Pela primeira vez em minha vida, conseguiria ser pai do meu filho
e não sei quem estava mais entusiasmado com isso, eu ou ele.
Quando voltamos para a casa e eu entrei na cozinha, esfreguei
minhas mãos. — Então... — Eu olhei para a versão menor, mais baixa e
mais magra de mim. — ...o que você come?
Molly soltou uma risada abafada e eu girei para ela, encarando. Na
intensidade da minha carranca, ela levantou as mãos em sinal de
rendição e limpou o sorriso do rosto, o que foi uma coisa boa, porque eu
não tinha nenhum problema em chutar sua bunda.
AJ olhou para a garota. — Molly me faz um lanche depois da
escola.
— Eu farei o seu lanche hoje, broto, — eu disse a ele,
discretamente dando o dedo para Molly quando ela sorriu muito para a
lealdade do meu filho por ela. — O que você normalmente come?
— Sanduíches de maçã com manteiga de amêndoa, — disse AJ e
eu pisquei.
— Repita? — O que diabos era isso?
Molly interrompeu: — Eu posso fazer isso, na verdade. Não tem
problema. É o meu trabalho.
Eu me virei, mordendo o interior da minha bochecha. Eu poderia
fazer isso. Se ela podia fazer isso e ela tinha tipo, o quê, treze anos, então
eu poderia fazer para o meu maldito filho um lanche de merda.
Ah merda.

~ 126 ~
Meu coração estava acelerado. Eu precisava me acalmar.
Fechando os olhos, respirei fundo, deixando sair lentamente. — Eu
farei isso. Apenas me mostre onde estão as coisas.
A menina deve ter sentido a irritabilidade em mim porque fez o que
eu pedi e me entregou uma maçã, uma faca e alguma merda chamada
manteiga de amêndoa. — Tudo o que tem que fazer é cortar a maçã em
fatias largas, tirar as sementes e colocar uma camada espessa de
manteiga de amêndoa nela antes de colocar outro pedaço de maçã no
topo. Viu? Sanduíches de maçã com manteiga de amêndoa.
É, eu entendi. Parecia fácil o suficiente.
Comecei a cortar a maçã e Molly fez um som na garganta. — Não
dessa maneira. Fatias largas, assim. — Ela segurou a maçã de lado.
Minha exasperação aumentou ao nível máximo. — Realmente
importa a maneira que eu corto a maçã estúpida?
— Sim, — ela disse, espertinha que era. — A menos que você
queira que AJ coma sementes de maçã com arsênico. — Quando minha
sobrancelha arqueou, ela soltou um abafado: — Você não quer isso.
OK. Merda.
Estava quente aqui?
Agitado pra caralho, eu arranhei a nuca no meu queixo.
Quem imaginaria que fazer um lanche seria tão difícil?
Depois que terminei os malditos sanduíches de frutas, coloquei-os
em um prato e os entreguei pata AJ, e o olhar que ele me deu, de puro
entusiasmo, fez cessar toda a ansiedade.
— Eles se parecem com os de Molly. — Então ele olhou para mim,
perguntando: — Posso ir ver mamãe?
Eu comecei: — Eu não acho que...
Mas Molly me interrompeu. — Claro, carinha. Apenas lembre-se,
ela não está se sentindo bem, ok? Portanto, fale baixo.
E ele partiu, abrindo a porta silenciosamente e entrando antes de
fechá-la tão suavemente atrás dele.
Quando olhei para Molly, ela disse: — Ela não se importará, confie
em mim. Ele vem antes dela. Sempre.

~ 127 ~
Claro que ele viria. Isso porque ela era uma ótima mãe. Nada como
a minha, nada como a dela, assim como eu sabia que ela seria.
E isso me deu esperança de que talvez até alguém como eu
pudesse ser um bom pai se colocasse minha cabeça nisso. Com a ajuda
de Lexi, eu aprenderia.

***

Lexi

Fiquei arrasada, absolutamente devastada com a percepção da


duplicidade dos últimos cinco anos. Eu não estava aceitando. De modo
nenhum. Toda vez que eu pensava nisso, minha respiração travava e
mais lágrimas do que eu sabia que abrigava caíam.
Para piorar a situação, meu filho havia tentado me dizer uma e
outra vez, e não apenas não acreditei nele, mas o fiz sentir que não podia
mais falar comigo sobre isso.
Meus olhos se fecharam, eu me abracei sob as cobertas enquanto
minha culpa fazia meu estômago afundar.
Eu era uma mãe horrível.
A porta do meu quarto rangeu quando se abriu e eu me recusei a
abrir os olhos. Eu estava sendo uma covarde, mas olhar nos suaves
olhos castanhos do homem que amava era mais do que eu podia
suportar. Era um lembrete das mentiras e do engano, do desgosto
absoluto que senti, antes e agora, e eu não sabia se suportaria lidar com
isso naquele exato momento.
Mas então eu ouvi sua voz doce. — Mamãe, você está bem?
Sem uma palavra, levantei as cobertas e ele deslizou sob elas. Algo
frio tocou meu braço, e eu olhei através dos meus olhos quentes e
inchados. — O que você tem aí?
AJ pegou um sanduíche de maçã e mordeu. — Papai me fez um
lanche.

~ 128 ~
Meu coração frágil se partiu um pouco mais. Mais uma fratura e
certamente se quebraria em mil pedaços.
— Oh, ele fez, hein? — Eu tentei manter minha voz leve, mas era
mais difícil do que parecia. — Molly está lá fora também?
— Sim, — disse ele, mordiscando seu lanche, e um pouco da
minha tensão caiu.
De jeito nenhum Molly deixaria AJ ir a qualquer lugar sem ela. Eu
sabia que ela arriscaria quase qualquer coisa para mantê-lo
seguro. Mesmo do pai dele.
Falando em voz baixa, AJ perguntou: — Tudo bem se papai ficar
algum tempo?
Eu pensei sobre isso e decidi que era melhor manter Twitch feliz
no momento, porque isso não duraria muito tempo e um Twitch infeliz
não era algo para se tomar de ânimo leve. Eu o vi chateado. As
lembranças ainda me atormentavam.
— Ok, baby, mas só por esta noite. — Eu me daria hoje, mas
amanhã, eu bateria. — Eu preciso falar com Molly, querido. Você pode
chamá-la para mim?
— OK. Fique bem. — Ele me beijou com os lábios pegajosos e eu o
amava por saber o quanto eu precisava disso. No momento em que Molly
entrou no quarto e fechou à porta, eu sussurrei: — Se ele tentar levar
AJ, quero que você atire nele.
Sem hesitação. — Sem problemas.
Boa menina.
Ela me deixou e eu encontrei um santuário nas profundezas das
minhas cobertas.
E agora, de volta à minha depressão, mas amanhã, eu voltaria
viva.

~ 129 ~
***

Twitch

Foi pouco depois das nove quando entrei na minha casa para
encontrar Happy sentado à mesa com Julius e Ana. Parei por um
segundo, olhando de irmão para irmão antes de entrar, fechando
levemente a porta atrás de mim.
— Você veio se desculpar? — Eu falei diretamente para Julius, e
quando ele franziu o cenho, eu sorri. — Olhe o que você fez na minha
cara, Jay. Eu pareço um saco de bosta surrado.
Sim, eu não sabia como lidar com isso, então fiz o que sempre
fazia - me tornei um espertinho.
Mas foi Ana quem se levantou. Ela era tão pequena, mas o jeito
que ela se comportava a fazia parecer ainda menor. Não havia confiança
em sua postura, e eu odiei isso porque, em um ponto, ela era uma
pessoa diferente. Suas mãos tremiam visivelmente quando ela abriu a
boca para falar. Infelizmente, nada saiu, e de onde eu estava, parecia
que a transpiração cobria sua testa enquanto tentava se concentrar na
respiração.
Meus olhos encontraram os de Julius. — O que há de errado com
ela?
Eu não estava tentando ser rude; Eu só estava perguntando.
Julius segurou meus olhos por um momento e depois olhou para a
mesa. — Ana tem TEPT11. — Ele não olhou para mim. — Eu não sei por
que estamos aqui, mas ela queria vir te ver, então aqui estamos nós.
Ele parecia chateado, mas estava aqui. Isso me disse um pouco
sobre o quanto ele amava seu pequeno pardal. Interessante.

11 Perturbação de stresse pós-traumático (PSPT) ou transtorno de estresse pós-


traumático (TEPT) é uma perturbação mental que se pode desenvolver em resposta à
exposição a um evento traumático, como agressão sexual, guerra, acidente de viação
ou outro tipo de ameaças à vida da pessoa.

~ 130 ~
Sem perguntar, eu me movi para frente, mais perto da mulher, e
olhei em seu rosto, negligenciando o olho danificado e as cicatrizes. —
Está tudo bem?
Julius me observou de perto, parecendo pronto para atacar. Foi
quando a ouvi.
— Twitch, eu preciso que você a mantenha quieta.
Eu fiz uma careta para ela e murmurei: — Huh?
Porra sobre o que ela estava falando?
— Eu ouço em minha cabeça às vezes. — Sua voz era lenta,
baixa. — Manda disse isso naquela noite, no Gio's. Você estava lá. — Ela
respirou repentinamente antes de soltar trêmula. — Eu sei que você
estava. Eu estava saindo e você me convenceu a voltar.
Oh. Entendi. Ela lembrou.
Meu queixo endureceu.
Olhei para Julius, que agora olhava para mim com curiosidade,
depois lambi meus lábios e falei com a mesma calma, evitando seus
olhos. — Eu estou contente que você esteja bem.
Do meu lugar no centro da sala, vi Julius passar de confuso a
completo conhecimento, e quando ele fechou os olhos e suspirou, soube
que havia sido pego. — Foi você. — Sim, foi. — Você me ligou naquela
noite. — Culpado, irmão.
— Você o matou, — a pequena mulher respirou porque as palavras
eram muito difíceis de dizer em voz alta.
Sim. Eu matei Maxim Nikulin.
Ignorando Julius, falei diretamente para ela, porque ela precisava
ouvir. — Porra, sim, eu matei. Faria de novo em um piscar de olhos. O
filho da puta estava duro sobre o seu rosto ensanguentado, garota. —
Meu lábio se curvou. — Ele morreu rapidamente. Fiquei furioso por não
ter tempo de lhe dar o que ele realmente merecia. Triste, porque eu teria
gostado de fazer isso.
Ela engoliu em seco e soltou um abafado: — Eu sabia que era
você. Eu pensei que estava ficando louca, — junto com um sorriso suave
e vingado.

~ 131 ~
Eu balancei a cabeça, os lábios finos, esfregando a parte de trás do
meu pescoço e evitando todo o contato visual.
Ela não estava louca, mas por todos os meios, deveria estar,
passando pelo que passou. Eu não julgaria se ela estivesse.
— Eu quis morrer. — As palavras eram calmas, ainda no ar.
Eu não a culpava. Parte de mim quis acabar com seu sofrimento
naquela noite. Ela parecia muito danificada para se curar. — Sim, eu
entendo isso. Desculpe, não pude deixar isso acontecer.
O sorriso suave de Ana transformou seu rosto inteiro. Ela era
bonita, linda na verdade. Quero dizer, não linda como Lexi, mas ela
tinha algo nela. — Obrigada.
— Não me agradeça. — Tipo, realmente. Não me
agradeça. Nunca novamente.
Senti-me desconfortável com elogios que não merecia e matar
Maxim Nikulin não era algo para ser admirado. Eu deveria ter feito isso
anos antes de ele chegar até ela. E agora, ela parecia assim, incapaz de
falar sem tremer como uma maldita folha.
Não. Ela não deveria estar me agradecendo.
Um momento de silêncio constrangedor passou antes que Julius
se levantasse, aproximando-se de sua esposa, pegando sua mão antes de
se dirigir para a porta. Antes de saírem, eu chamei: — Nós nunca vamos
conversar sobre isso?
Antes de fechar a porta, ele respondeu: — Sim, quando eu não
quiser matar você, idiota.
Eu interiormente sorri. Isso era um bom sinal.
Com um suspiro, virei-me para encarar Happy, que parecia muito
triste. — Você entrou em contato com seu Romeu e Julieta?
Ele balançou a cabeça devagar e murmurou: — Não.
— Fique aqui o quanto você precisar, mano.
O rosto de Happy se virou devagar e ele franziu o cenho. — Droga,
pode apostar que vou ficar aqui o tempo que eu precisar. Você é a razão
pela qual estou nessa merda, seu porra louca. — Ele se levantou,
entrando na cozinha e abrindo a geladeira. — Eu poderia estar em casa,

~ 132 ~
tendo uma boa noite tranquila fodendo minha garota ou sendo chupado
pelo meu cara, mas não. — Ele pegou uma cerveja e deu um puxão. —
Twitch decide que é hora, e, por Deus, é hora do caralho porque Twitch
disse isso. Foda-se todo mundo e qualquer caos que cause, porque você
tem a discrição de uma dinamite acesa.
Minha carranca era dura. Eu levantei meu dedo indicador. — Você
só tem um passe e é isso. Lembre-se disso.
Quando ele entrou no quarto de hóspedes, ele me mostrou o dedo
e aquela carranca aprofundou.
Cretino.
Eu não sabia o quão tarde era quando entrei pela janela, mas eu
só precisava estar perto dela.
Lexi sabia que eu estava lá. Eu sei disso porque quando a cama
afundou com o meu peso, seu corpo enrijeceu e ela parou de respirar por
um segundo. E mesmo que ela estivesse de costas para mim, eu me senti
mais calmo com minha mulher ao alcance dos meus braços,
independentemente de como ela se sentia em relação a mim.
Eu poderia lidar com muita coisa. Eu poderia lidar com a
tristeza. Eu poderia lidar com a raiva. Mas ser ignorado, eu não
conseguia.
O silencio estava começando a me incomodar. Eu decidi fazer uma
declaração, ainda que tranquila. — Eu lhe disse que voltaria por
você. Por vocês dois.
O silêncio foi quebrado pelo suspiro repentino, e então a cama
tremeu com a força de seu choro silencioso. Eu queria abraçá-la, beijá-la
e confortá-la. Eu queria lembrá-la de quão bem nos encaixamos, mas
agora não era a hora. Quando Lexi viesse para mim, ela faria de bom
grado. Eu não tomaria mais dessa mulher, não quando ela já tinha me
dado tanto.
Quando ela conseguiu recuperar o controle de si mesma, ela
limpou o nariz com a manga antes de fungar. — Saia.
E eu saí.
Não porque eu queria, mas porque devia muito a ela.

~ 133 ~
CAPÍTULO DOZE
Lexi

Por quê?
Eu não entendia.
Por que, porra?
Enquanto tomava banho, minha tristeza pareceu diminuir,
escorrendo pelo ralo aos meus pés com a água e o sabão. Meu escudo
externo tinha rachado, quebrado, largo e escancarado, e a minha parte
interna não estava melhor. Minha alma quebrou, meu espírito foi
espancado, e eu o odiava por isso.
Lavei meu cabelo devagar, com cuidado, tirando consolo da paz
que a água morna escorrendo sobre mim trouxe. Mas não durou muito
tempo.
Oh meu Deus.
Meu coração disparou.
Como ele pôde?
Meu peito doía terrivelmente e minha garganta fechou com raiva,
fúria e ressentimento.
Como ele pôde?
Fechei meus olhos e levantei meu rosto para o spray, tentando em
vão estabilizar minha respiração. Jesus Cristo. Eu mal conseguia
respirar fundo. Eu estava fumegando. Meu queixo tenso, eu desliguei a
água e saí, secando meu corpo e depois meu cabelo.
Do meu lugar em frente ao espelho do banheiro, todo o meu ser se
acalmou quando o ouvi. — Bom dia, broto. Pronto para a escola?
Tão doméstico. Tão familiar. Como se ele pertencesse aqui.
Meu lábio se curvou.
Como ele ousa?
Meus dentes rangeram quando coloquei minha calcinha e
sutiã. Vestindo moletom preto e um top apertado de alcinha cinza, eu

~ 134 ~
corri os dedos pelo meu cabelo molhado e abri a porta do banheiro,
saindo para o corredor descalça e pegando Twitch ajudando AJ a colocar
sua mochila.
Quando aqueles olhos castanhos suaves encontraram os meus, ele
me observou um segundo antes de colocar a mão levemente no ombro de
AJ, apertando. — Acho que mamãe está se sentindo melhor, amigo.
Não, ela não estava, seu idiota.
Molly me observava com cuidado, e quando encontrei seu olhar
cansado e sussurrei um áspero, — Tire-o daqui, — ela pegou a mão de
AJ antes de olhar entre os dois adultos na sala, um dos quais
simplesmente ficou lá, seus lábios em uma linha fina, enquanto o outro
tinha um brilho assassino em seus olhos.
Quando meu filho passou por mim, eu me ajoelhei e passei meus
braços ao redor dele, abraçando-o com tudo o que eu tinha em mim
antes de forçar um sorriso. — Tenha um bom dia, querido. Eu te amo.
Mas AJ era uma criança inteligente e hesitou, antes de perguntar
relutante: — Você está brava com o papai?
Eu não queria mentir para ele. Eu nunca menti antes, então olhei
para Twitch, olhei fixo em seus lindos olhos, os mesmos olhos que
assombraram meus sonhos por anos, e afirmei friamente: — Sim, eu
estou. E papai... — a palavra era amarga em minha língua e fez meu
estômago revirar com um pavor descontrolado — ...e eu vamos falar
sobre isso.
Molly levou um AJ de aparência preocupada para fora da casa, e
no momento em que a porta se fechou, eu hesitei, sem saber o que dizer,
sem saber o que fazer.
Twitch estava na ampla entrada da cozinha, olhando para os pés,
com a mandíbula apertada, e aproveitei o momento para examiná-lo.
Por quê?
Por que os anos separados foram tão bons para ele quando ele não
merecia? Por que ele tinha que parecer do jeito que fazia?
Ele estava usando jeans escuros que abraçavam suas longas
pernas, uma camiseta preta de mangas compridas que mostrava seu

~ 135 ~
peito e ombros largos, as mangas arregaçadas até os cotovelos revelando
seus antebraços musculosos e tatuados. Minha garganta apertou de um
jeito que cortou meu suprimento de ar.
Era tão cruel. Na minha cabeça, eu o imaginei milhares de vezes
parecendo exatamente como estava agora, só que em meus sonhos, eu
estava feliz em vê-lo. Muito longe de como me sentia no presente.
Passando a mão pelo seu cabelo longo demais, ele fez uma pausa
para coçar a barba muito longa em sua mandíbula angulosa e olhou
para mim através de seu olhar baixo. Seu nariz estava inchado, e as
manchas roxas sob seus olhos me disseram que Julius não se conteve
quando o atingiu, e isso me agradou. Ele passou uma língua nervosa
pelo lábio inferior cheio, as mãos fechando e depois se abrindo em um
movimento que me dizia que ele poderia estar ansioso, mas eu não tinha
certeza. Esse homem sempre foi bom em esconder suas verdadeiras
emoções.
Se ele não estava ansioso, deveria estar.
Quando ele falou, eu queria matá-lo. — Senti sua falta.
A intensa fúria que se acendeu na minha barriga era quente, mas
logo se transformou em um fogo infernal. Eu encontrei as palavras do
caralho.
Minha voz estava baixa, mostrando uma falsa calma. — Você
sentiu minha falta?
Oh, não, ele não fez. Eu sei que ele não experimentou isto.
Um único passo mais perto, um novo nível de raiva. — Você sentiu
minha falta? — Outro passo, outro colapso interno. Com olhos
selvagens, eu sussurrei: — Foi isso que você acabou de
dizer? Você sentiu minha falta?
Meu coração estava batendo tão rápido que pensei que poderia
estar tendo um ataque cardíaco. Não me surpreenderia, dadas às
circunstâncias. Já estava quebrado de qualquer maneira, então o que
era um mau funcionamento?
Twitch me olhou bem nos olhos, aquela voz rouca suave flutuando
sobre mim enquanto eu fervia. — Isso foi o que eu disse, baby.

~ 136 ~
Meu pescoço começou a aquecer com fúria crua. Minhas mãos
tremiam, e quando dei o último passo para ele, olhei no seu rosto e
pisquei para o descaramento desse homem.
Quando levantei a minha mão, recuei e bati na bochecha dele com
toda a força que pude, o som ecoou no espaço aberto ao nosso redor. Ele
mal se encolheu, e isso só me deixou mais furiosa. Ofegante, cerrei os
dentes, levantei a mão e coloquei tanta força nela quanto pude. Quando
o estalo alto soou, minha alma celebrou o modo como ele estremeceu
com o golpe.
Minhas palmas latejaram e se arrepiaram da força do estalo. A dor
foi uma mudança bem-vinda para o que eu estava sentindo nos últimos
dois dias. Era bom sentir algo diferente de entorpecimento.
De repente, seu nariz quebrado começou a sangrar novamente e
eu recuei mais uma vez, os lábios abertos, os olhos arregalados, mas
antes que pudesse acertá-lo outra vez, ele segurou meu pulso,
apertando-o com força, me encarando penetrantemente. — Sinto muito.
— Ele gentilmente passou o polegar sobre o meu pulso batendo e
suavizou seu tom. — Sinto muito, anjo.
Meus olhos brilharam e minha voz tremeu, não de tristeza, mas de
raiva imaculada. — Você não pode se desculpar por isso. Está me
ouvindo? — Minha respiração começou a sair ofegante e rápida. — Você
pede desculpas por pisar acidentalmente nos dedos de alguém. —
Levantando minha mão, eu bati em seu braço. Tapa. — Você pede
desculpas por comprar a marca errada de shampoo. — Tapa. Um golpe
mais forte. Minha voz levantou uma oitava. — Você pede desculpas por
voltar para casa tarde, Tony. — Tapa. Meus olhos ardiam com a força
das minhas lágrimas enquanto eu tremia toda. — Você não pede
desculpas por não vir mais para casa. — Tapa.
Lágrimas caíram dos meus cílios e deslizaram por minhas
bochechas, e eu não conseguia nem me sentir envergonhada pelo jeito
que meu nariz escorria.
O corpo de Twitch ficou tenso com cada golpe que eu dei, mas
tudo o que ele fez foi voltar para a cozinha, sua mandíbula de aço, as

~ 137 ~
sobrancelhas franzidas quando ele pegou o que eu precisava para
agir. Ele se afastou, e eu continuei em uma dança não convencional que
eu nem mesmo sabia os passos.
Cada golpe que eu dei parecia um castigo em mim mesma.
Esta não era quem eu era. Essa era a pessoa que ele me fez. E eu o
odiei por isso.
Os golpes vieram mais e mais rápidos e ele se moveu lentamente,
seu corpo rígido e inflexível, permitindo-me apoiá-lo contra o balcão da
cozinha. Meus braços trêmulos se agitaram em todas as direções, sem se
importar onde as batidas acertavam, só que eles fizessem.
Um gemido angustiado me deixou. — Como você pôde fazer isso?
— Golpe. As palavras eram ásperas. — Como você pôde fazer
isso comigo? — Soco. Minha voz falhou. — Com ele? — Tapa. Meu corpo
tremia enquanto eu chorava, e meus golpes enfraqueceram quando
minha dor me drenou como uma bateria de celular. — Eu te amei,
seu idiota. — Tapa. Quando seus olhos se fecharam e ele engoliu com
dificuldade, eu ergui meu braço, pronta para atacar novamente, mas
segurei no ar. Minha voz era fraca e concentrei-me no rápido bater do
meu coração, respirando lenta e trêmula. — Você não pode se desculpar
por isso. — Eu deixei cair meu braço, sentindo nada. Absolutamente
nada. — Saia da minha casa, Twitch.
Enquanto eu caminhava de volta para o meu quarto, com as
palmas das minhas mãos quentes e latejantes, eu dei um golpe final. —
Você deveria ter ficado morto.
Eu não o ouvi sair.
Na verdade, eu nem tinha certeza se ele havia saído.
Minha janela sacudindo na calada da noite me acordou com um
salto no coração.
Eu sabia que ele viria.
Ele continuou a sacudir enquanto lutava com isso.
Que foi exatamente porque a tranquei.
Era quarta-feira, dois dias depois de eu ter visto o pai do meu filho
pela última vez, e quando andei com AJ até o carro, vi-o esperando,

~ 138 ~
encostado na monstruosidade larga de uma árvore na esquina do
quarteirão.
Meu coração gaguejou, mas fingi indiferença.
Que ideia. Indiferença a Twitch.
Okay, certo.
Eu não era uma boa mentirosa, nem para mim mesma.
No momento em que nosso filho o viu, ele saiu correndo, e eu
simplesmente não conseguiria causar sofrimento ao meu filho esta
manhã, então não disse nada. Assistir Twitch abrir aquele sorriso torto
que eu amava tanto foi quase demais. O fato de que foi destinado a
nosso filho oficialmente tornou demais.
Anos.
Ele voluntariamente perdeu anos de AJ, e isso doía.
Eu não era idiota. Eu entendi. Ele não nos queria, na
época. Provavelmente passou os últimos anos fodendo por aí e
espalhando sua semente, e agora que provavelmente estava entediado
dessa vida, ele pensou em dar uma chance à paternidade e ver como
aconteceria. E depois que AJ estivesse bem e ligado ao pai, o que eu
podia ver que ele já estava, Twitch iria deixá-lo e eu ficaria para limpar o
rastro de destruição que ele deixou.
Eu não podia deixar isso acontecer, não deixaria isso acontecer.
Eu tive uma morte lenta e dolorosa quando me aproximei deles,
deslizando meus óculos de sol, e fiz o possível para ignorar o homem que
uma vez pensei ser um Deus. — AJ, precisamos ir, querido. Não quero
chegar atrasada para a escola.
AJ olhou para mim, radiante. — Olhe! — Ele apontou para a casa
do outro lado da rua, no lado oposto do cruzamento suburbano. — Papai
mora lá.
Um sentimento desconfortável me atravessou. Minhas
sobrancelhas franziram.
Se bem me lembrava... — Aquela casa estava no mercado há seis
meses.
Não me diga, porra.

~ 139 ~
Não. Não faça isso.
Aqueles olhos castanhos e suaves encontraram os meus. Ele disse:
— Cinco meses atrás, — e eu simplesmente sabia.
Oh, seu filho da puta.
Os golpes nunca parariam de chegar?
Ele esteve aqui por meses. Meses.
Minha mente mal podia assimilar o fato e meu batimento cardíaco
aumentou.
A mentira era profunda, profunda demais para acompanhar, pois
eu certamente cairia morta tentando traçar seu caminho.
Twitch segurou nosso filho perto dele, e foi bom porque eu estava
pronta para a segunda rodada. O idiota sorriu para mim, fazendo um
show examinando meu corpo com aqueles olhos perpetuamente
encapuzados. — Você está bem, baby.
Foda-se você foram as palavras que pensei.
O que eu realmente disse foi: — Precisamos ir.
— Posso ver o papai depois da escola? — AJ perguntou
educadamente, em seguida, acrescentou: — Por favor? — Por garantia.
Dando um passo à frente, eu estendi meus braços, e AJ veio de
bom grado comigo, mas durante a entrega, a mão de Twitch tocou a
minha, deixando um rastro de calor sólido ao longo da ponta dos meus
dedos. E eu odiava que um simples toque fosse o suficiente para
incendiar meu corpo. Quando ele estava seguro nos meus braços, eu
balancei a cabeça. — Eu acho que não. — Ele franziu a testa, e assim
que ele tentou argumentar, eu atirei-lhe um olhar firme. — Não essa
noite.
Twitch observou, examinando o rosto de seu filho, a mandíbula
cerrada na decepção que ele viu lá. — Da próxima vez, broto. Além disso,
você sabe onde eu moro. — Então ele olhou para mim, diretamente para
mim, e quando ele falou, eu ouvi a ameaça. — Eu não vou a lugar
nenhum.
Não.
Eu não gostei disso.

~ 140 ~
Havia definitivamente um aviso atado nessa última declaração e,
lamentavelmente, Twitch nunca foi justo. Infelizmente para ele, ele não
me conhecia mais. E os esforços que eu faria para manter meu filhote a
salvo eram infinitos, até mesmo de seu pai.
Especialmente do pai dele.
Evitar Twitch foi mais fácil do que eu pensava. Fazia dias desde
que permiti a AJ um tempo com o pai dele, e depois daquela primeira
manhã, Twitch não tinha saído para ver o filho dele ir para a escola.
Eu achei inteligente da parte dele me dar um bom espaço após as
ocorrências da semana. Passei meus dias como fiz na semana anterior,
mas estava no piloto automático, mal pensando nas coisas que
aconteciam ao meu redor e, quando Nikki ligou pela centésima vez,
atendi.
— Hey, — eu falei baixinho.
Ela imediatamente começou a chorar. — Eu não sabia, juro.
Seus gritos chamavam os meus, mas me recusei a deixá-los serem
libertados, especialmente no escritório. — Eu sei.
— Então por que você não está falando comigo? — Ela fungou. —
Você acha que é a única confusa, Lex? — Um grito estridente a deixou
antes de ela chorar abertamente. — Estou perdendo a porra da minha
cabeça aqui.
Oh menina doce. Meu coração doeu por ela. — Você não falou com
Happy?
— Você está brincando comigo? — Ela choramingou. — Porra, não,
— ela pronunciou tão firmemente quanto podia. — Foda-se ele. — Ok,
naquela hora a voz dela quebrou, e quando ela continuou, eu mal
conseguia entendê-la pelo choro. — Eu o odeio.
Eu sorri suavemente. — Não, você não faz.
Com isso, a barragem quebrou. Nikki uivou quebrada, — Não, eu
não. — Ela continuou a soluçar, e resmungou: — Eu quero, no entanto.
— Um gemido soou. — Por que eu não consigo?
Eu me recostei na cadeira da minha mesa. — Porque você sabe tão
bem quanto eu que o que quer que isso seja, não é culpa de Happy. É de

~ 141 ~
Twitch. — Eu estava brava com Happy. Eu estava muito furiosa, mas eu
conhecia Twitch, e por conhecê-lo sabia que ele faria o que quisesse com
ou sem a ajuda de seus amigos. Mas isso não significava que eu estava
pronta para falar com Happy. Então talvez eu tivesse minhas próprias
razões egoístas para sugerir o que fiz. — Eu acho que você deveria ligar
para ele, querida. — Porque o pensamento de ambos Twitch e Happy
vivendo do outro lado da rua me fez sentir acuada em um maldito canto.
— Você acha isso? — Ela respirou, e naquele momento, eu sabia
que era o que ela precisava ouvir, o que rezou para ouvir de mim. Se eu
tivesse lhe dito que nunca mais queria ouvir seu nome sendo
pronunciado, Nikki apagaria o número de Happy e fingiria que os
últimos cinco anos de sua vida nunca aconteceram. Eu, no entanto, não
era tão cruel. Essa era a minha questão a ser resolvida, não a dela.
— Eu acho, querida. — E quis dizer isso. — Quero dizer, eu não
tornaria fácil para ele. — Quando ela soltou uma risada aguada, eu
sorri. Esse sorriso sumiu quando um silêncio constrangedor se
seguiu. — Fale com ele, Nikki. Está tudo bem. Eu quero.
Minha melhor amiga ficou em silêncio por um longo momento,
mas quando falou eu senti essas palavras profundamente em minha
alma. — Eu te amo, Lexi.
— Eu também te amo, Nik Nak. — Soltei um longo suspiro,
colocando a mão na testa enquanto meus olhos se fechavam. — E assim
que eu souber o que diabos está acontecendo, vamos conversar, ok? —
Antes de desligar, eu perguntei: — Como está Dave? — Ao seu escárnio,
meu rosto se contraiu. — Bem assim, hein?
Ela hesitou. — Ele está... uh... chateado.
Eu não pude evitar a risada suave que borbulhava na minha
garganta. Conhecendo Dave, chateado era o maior eufemismo do século,
e quando ouvi a risada em resposta de Nikki, a alegria aumentou. Era
uma situação tão inacreditável. Era isso que tornava tudo mais cômico.
Era bom rir diante do desespero. Eu tinha certeza de que estava
pisando a linha fina entre sanidade e histeria.

~ 142 ~
Quando finalmente conseguimos nos controlar, eu ri. — Bem,
tenho que ir agora e tentar não pensar no fato de que meu ex acabou de
retornar dos mortos, vive do outro lado da rua e está tentando se inserir
de volta em minha vida.
Nikki ofegou em voz alta. — Ele mora do outro lado da rua?
Ugh. Eu não queria falar sobre isso. — Ok, então tchau.
— Espera! — Ela chamou, mas eu já tinha o dedo no botão
finalizando a chamada.
Eu não tinha forças para lidar com isso. Hoje não.

~ 143 ~
CAPÍTULO TREZE
Lexi

— Posso entrar?
Meus olhos frios percorreram a pequena mulher, e quando Manda
levantou as mãos de forma conciliadora, ela pronunciou rapidamente: —
Eu descobri por acaso. Eu não deveria saber. Eu juro. — Ela inspirou
profundamente e continuou a expirar. — Nosso pai nem sabe ainda. — O
rosto dela se contraiu com o pensamento. — E, merda, ele vai ficar
chateado comigo.
Eu a estudei por um momento. Velhos hábitos custavam a morrer
e a curiosidade sempre foi minha falha. Quero dizer, olhe para onde isso
me deixou com Twitch. Grávida de um criminoso e sozinha no mundo -
foi onde.
A verdade era que eu queria saber os fatos e precisava falar com
alguém que sabia o que diabos estava acontecendo aqui. Manda poderia
ser essa pessoa. Deus sabe que eu não queria Twitch em qualquer lugar
perto de mim agora.
Sem uma palavra, eu me afastei para o lado e com um sorriso
tenso, ela passou por mim e entrou na casa. Eu gentilmente fechei a
porta atrás de nós e a segui até a cozinha. Quando Manda viu AJ, seu
sorriso se abriu. — Ei, você. — Mas AJ mal deu um sorriso para sua tia
antes de entrar em seu quarto, e Manda franziu a testa. — Ele está bem?
Não, ele não estava.
Eu cruzei os braços no meu peito. — Ele quer o pai dele.
Manda assentiu em compreensão, e eu estava grata por ela não
oferecer seu conselho nesta situação desconfortável.
Molly se levantou da mesa da cozinha, encarando Manda nos olhos
antes de olhar para mim. — Vou prepará-lo para a cama.

~ 144 ~
— Obrigada, Molly. — Ela realmente era uma dádiva de
Deus. Quando eu andei em direção à geladeira, falei ao longo do
caminho. — Eu acho que você está aqui para conversar.
Pelo menos ela tinha a graça de parecer desconfortável. — Sim. Eu
achei que deveria vir preencher a lacuna.
Eu peguei uma garrafa de vinho branco e segurei na minha
mão. — Eu acho que vamos precisar disso. — Mas antes de fechar a
geladeira, eu girei para ela e disse: — O quão ruim é isso? — Com sua
careta clara, eu cheguei na geladeira com um suspiro e peguei uma
segunda garrafa, enquanto resmungava: — Rock'n Roll. — Batendo a
porta da geladeira com a minha bunda, apontei meu queixo na direção
do armário à esquerda antes de deslizar em meus chinelos Pikachu. —
Pegue dois copos, ok? Vamos sentar na varanda.
Quando ambas estávamos sentadas, abri o vinho e enchi nossos
copos.
Manda começou: — Bem...
Mas eu a cortei com um estalo da minha língua. Inalando
profundamente, falei baixinho: — Deixe eu me preparar, — e levantando
meu copo, coloquei-o em meus lábios, inclinei-o para trás e bebi de uma
vez só até que seu conteúdo se foi. Os olhos de Manda se arregalaram
com o meu soluço pouco feminino, e eu me servi de novo. — Mais um. —
Eu esvaziei o segundo copo e sorri. — Ok, estou pronta. Atire.
— Por onde você quer que eu comece? — Ela ofereceu lentamente.
Que pergunta. — Do começo, é claro.
— Lamento não poder ir tão longe, — disse ela com um sorriso
triste. — Como eu disse, só descobri que meu irmão estava vivo por
acidente e só posso lhe contar o que sei. Então, que tal começar com um
pouco do passado da nossa família?
Claro, por que não? — Prossiga.
Eu já estava bêbada? Sentia-me assim.
— Ok, — começou Manda. — Bem, vamos começar com o membro
mais antigo da família Falco, Antonio Falco Senior ou Papa Tony, como
ele é chamado nas ruas.

~ 145 ~
— Nas ruas? — Eu pisquei. Em seu olhar vazio, meus ombros
caíram. Ah, droga. — Seu pai é um mafioso?
Os lábios de Manda franziram antes que ela apontasse para a
garrafa e fingiu um sorriso. — Beba.
Tudo bem então.
Parecia que eu ia precisar. Seguindo seu conselho, eu bebi do meu
copo e ela voltou a enchê-lo sem julgamento, e naquele momento eu
amava minha cunhada.
— Papa Tony tinha sido um grande assassino toda a sua vida,
trabalhando seu caminho a partir do nada. Ele fazia parte de uma
empresa chamada Occhi Bianchi assim como seu pai, e o pai de seu pai
antes dele. — Ela tomou um gole de vinho. — Meu pai era jovem quando
se casou com minha mãe, Angela Rossi, e como a maioria dos
casamentos arranjados, nenhum deles ficou feliz com a situação. — Ela
encolheu os ombros. — Longa história, meus irmãos nasceram com dias
de diferença no mesmo hospital. Mamãe sabia que meu pai fodia por aí e
não se importava, até que Zep nasceu. Eu não sei o que aconteceu com
ela, mas algo mudou e ela pediu ao meu pai que lhe fosse fiel para que
eles pudessem mostrar a seus filhos como uma família ama
verdadeiramente. — Os olhos de Manda se fixaram em mim. — Você
deveria saber que meu pai amava a mãe de Tony. Ele a amava
muito. Mas ele era casado e, embora honrasse os desejos de sua esposa
de permanecer fiel, deu seu nome ao filho bastardo. Claro, ele nunca
mais viu o menino.
Que triste. Eu escutei atentamente.
Manda continuou. — Quando nasci, meu pai se recusou a me dar
seu nome.
Minha sobrancelha franziu. Que merda? — Por que você é uma
menina?
— Não. Ele fez isso para me proteger, — ela disse
cuidadosamente. — Ele me deu o nome da minha mãe e me mandou
morar com a irmã dela. Eu cresci em outro estado, longe de meus pais, e
isso foi feito porque o status de meu pai tinha crescido muito durante

~ 146 ~
um curto período. Todos queriam estar ligados a Antonio Falco, mesmo
que isso significasse casar com seus filhos. Meu pai não queria isso para
mim. Ele sabia que um dia Zep provavelmente se casaria por aliança, e
ele queria que pelo menos um de seus filhos se casasse por amor.
— Infelizmente, — ela continuou com um sorriso, — por um
terrível golpe de sorte, eu estava vivendo uma vida longe do submundo
desprezível em que meu pai estava tão envolvido quando, por acaso,
estava trabalhando no turno da noite do pronto-socorro de Chicago e fui
sequestrada por dois bandidos. O mesmo tipo de bandido de quem meu
pai tentou desesperadamente me afastar.
Colocando a mão na minha boca, eu ofeguei alto. — De jeito
nenhum. Como eles sabiam quem você era?
Ela riu, sacudindo a cabeça. — Eles não sabiam. Foi pura sorte
eles terem me escolhido e, quando cheguei à mansão, fui arrastada para
uma sala com um homem ensanguentado. Ele tinha várias feridas de
bala. Eu não tinha instrumentos nem equipamento. Inferno, eu nem
sequer tinha ataduras. — Ela tomou um gole de vinho e inclinou a
cabeça ligeiramente. — Foi então que me disseram que se aquele homem
morresse, eu também morreria.
— Oh meu Deus. — Eu estava positivamente encantada e me
inclinei para ela. — O que você fez?
— Tudo o que pude para mantê-lo vivo, — ela me disse. — Ele
perdeu muito sangue e, embora eu tenha removido as balas que
encontrei e suturado as feridas, não estava vendo a melhora que
esperava ver. Depois de muitos palavrões e um pouco de persuasão,
consegui convencer um dos bandidos a me levar de volta ao hospital
para pegar suprimentos. Quando voltamos, a condição do homem havia
piorado e achei que o perderia, e assim, perderia minha própria
vida. Então fiz a única coisa que pude.
Eu me inclinei com os olhos arregalados. — O que foi isso?
— Eu lhe disse que se ele morresse por minhas mãos, eu o traria
de volta e o mataria de novo.

~ 147 ~
Eu pisquei para ela um momento antes de uma risada chocada me
deixar. Que história louca.
— Inúmeros IVs e dias depois, o homem recuperou a consciência,
e quando ele olhou nos meus olhos, algo aconteceu comigo. Foi como
uma faísca - fraca, mas estava lá. — Manda sorriu suavemente. — Passei
semanas naquela mansão cuidando do homem mal-humorado. Dia após
dia, ele me amaldiçoou enquanto eu cuidava dele, e mal podia esperar
para sair de lá. Só que no dia em que finalmente fui autorizada a sair...
— Ela olhou para mim, melancólica. — Eu não queria ir.
— Ugh. — Eu pressionei a mão no meu coração. — Você se
apaixonou? — Em seu aceno lento e abatido, perguntei: — O que você
fez?
Manda sorriu então, estendendo a mão esquerda. — Casei com ele,
é claro.
Eu olhei para o anel de platina brilhante, em seguida, de volta
para a mulher. Minha sobrancelha franziu. — Você é louca.
— Eu sei, — disse ela, radiante. — Mas o homem certo fará isso
com uma mulher sensata.
Droga. Eu não sabia disso?
Reze, querida.
— Então, eu me tornei a Sra. Evander MacDiarmid. Meu marido é
o dono da Highland Steel e, — ela falou lentamente — ele é tão
gostoso. Juro por Deus, tudo o que ele precisa fazer é falar com aquele
sotaque escocês e estou arrancando minha maldita roupa.
Sua admissão foi tão inesperada que eu ri alto, batendo a mão
sobre a minha boca. — Manda. — Garota suja.
Eu gostava dessa mulher. Ela era muito legal.
Ela sorriu, e eu vi tanto do Twitch que meu coração doía. —
Desculpa. Já faz semanas e sinto falta dele.
Semanas?
Cadela, por favor.

~ 148 ~
Eu zombei. — Tente seis anos. — Quando ela piscou em choque,
minhas sobrancelhas arquearam quando eu levantei meu copo em um
brinde antes de tomar o conteúdo de um só gole.
Sim. Sente-se.
— Você nunca...? — Ela parou.
Eu balancei a cabeça e falei baixinho: — Não.
— Por que não? — Suas sobrancelhas franziram em questão.
Porque eu amei tanto seu irmão que ainda dói.
Porque quando o perdi, eu me perdi.
Porque quando ele me disse que eu nunca iria querer mais ninguém,
achei que ele estava apenas sendo arrogante.
Infelizmente, ele não estava.
— Eu não sei, — eu menti com bastante facilidade. — Eu acho que
ser mãe me manteve ocupada.
Sentadas ao ar livre em um silêncio confortável, Manda falou e ela
fez isso gentilmente. — Você tem que falar com ele, Lexi. — Quando por
acaso olhei para ela, ela acrescentou: — Nem que seja para o
fechamento.
Fiquei em silêncio, tomando meu vinho, mas depois de algum
tempo, respondi: — Eu sei. Eu não estou pronta ainda.
Nem um segundo se passou, antes que ela dissesse: — Ele salvou
a vida de Ana, você sabe. — No meu olhar confuso, ela assentiu. — Eu
estava lá. — Seus olhos se tornaram sombrios. — Ela estava morrendo e
Tony a salvou.
Espere. Ana morava na minha casa há meses. Ela nunca
mencionou isso. — Ela sabia?
— Não. — Manda balançou a cabeça. — Ela sabe agora. Ela é
grata. Julius, mais ainda, embora ele não queira admitir isso. — Ela
olhou para cima. — É apenas uma questão de tempo antes de ele ser
aceito de volta ao rebanho por seus irmãos. — Por que isso soava tão
agourento? — Eu não conheço meu irmão como uma irmã deveria, mas
estou chegando lá, e pelo pouco que sei, posso garantir-lhe algo, Lexi. —
Sua expressão era sombria. — Ele não vai desistir de seu filho.

~ 149 ~
Sabe o quê? Não.
Eu me sentei ereta, minhas costas rígidas. — Ele não tem escolha
nesse assunto.
Manda torceu o corpo para mim, seus olhos implorando. — Escute
a si mesma. Você sabe mesmo de quem você está falando aqui? Nós não
estamos falando de um cara normal tentando conseguir a guarda parcial
de seu filho. Estamos falando de Antonio 'Twitch' Falco. Se você não lhe
der algo... — Ela soltou um suspiro suave. — Estou preocupada que ele
tome isso sem pedir.
OK. Talvez ela conhecesse um pouco sobre seu irmão. — Eu vou
lidar com isso.
Logo depois, Manda saiu, e enquanto eu estava sentada sozinha
no meu quarto, minha ansiedade aumentou quando ponderei quanto
tempo teria antes de Twitch começar a tomar sem pedir.
Eu não sabia que horas eram quando a batida soou na porta, mas
ainda estava escuro. Acordando com um sobressalto, meu coração
acelerou quando a batida soou novamente, desta vez mais alta que a
anterior.
Deslizando para fora da cama, eu coloquei meus chinelos Pikachu
e vesti meu quimono de seda antes de sair do meu quarto para o
corredor. Ouvi Molly se aproximar por trás e, quando espiei pela janela
lateral fosca, suspirei ante a familiar sombra encapuzada antes de abrir
a porta. — Vá embo... — A declaração morreu em meus lábios quando vi
o pacote que ele estava segurando.
— Você perdeu alguma coisa? — Twitch perguntou com sono,
segurando AJ em seus braços.
Meu coração parou.
Eu pisquei em confusão, meus lábios entreabertos, e quando
estendi a mão para ele, Twitch se afastou.
Antes que eu pudesse pensar, assobiei: — Dê-me meu filho.
Seu rosto escureceu, e ele embalou nosso filho adormecido em
seus braços enquanto falava baixo. — Eu sei que você está chateada
comigo, e mereço isso, então vou deixar passar a maneira que você

~ 150 ~
acabou de me acusar. Eu sei que você está furiosa, e é por isso que não
vou mencionar o fato do meu filho de alguma forma ter saído do seu
quarto, fora da segurança da porra de sua casa no meio da noite com
duas mulheres adultas dentro que deveriam mantê-lo seguro. Eu
também não vou mencionar ele ter atravessado a rua no escuro, onde
poderia ter sido atropelado por um carro ou ter sido sequestrado e levado
sem deixar rastros. — Merda. Ele parecia furioso. Eu odiava que ele
tivesse o direito de estar. Sem hesitar, ele me entregou meu filho e eu
segurei-o perto, fechando os olhos e respirando-o enquanto acariciava
sua cabeça e o balançava. E Twitch me observou atentamente. — Sei que
você está chateada, e é por isso que eu não vou mencionar nada dessa
merda hoje à noite. — Ele deu um passo para trás, longe de mim, mas
seus olhos falavam volumes. — Mas amanhã, vamos conversar.
Ele se virou e caminhou de volta pela rua descalço, vestindo nada
além de boxers e seu capuz, e todo o meu ser cantarolava de susto,
porque não havia como escapar disso.
Amanhã vamos conversar.
O medo me deixou no limite, e eu tinha certeza de que foi a única
razão pela qual fiz o que fiz naquela tarde.
Chegando em casa do trabalho, estava ansiosa para ver meu
homenzinho depois da severa repreensão que lhe dera naquela
manhã. Acordar daquela maneira na noite anterior foi a coisa mais
assustadora que já experimentei na minha vida. Despertar para
encontrar meu filho fora da cama, sabendo que ele saiu pela porta dos
fundos e contornou a casa para encontrar seu pai no meio da noite foi
um pensamento aterrorizante.
Todas as coisas que poderiam ter acontecido com ele tocaram em
minha mente repetidamente, e eu estava pronta para falar. Ou então eu
pensei.
Então, quando cheguei a uma casa vazia, comecei a entrar em
pânico. Meus pés me levaram de sala em sala e encontrei a mochila de
AJ na cama dele. Meu coração acelerou. Molly sempre me avisava

~ 151 ~
quando eles iam a algum lugar, e depois do susto de ontem à noite, eu
estava petrificada com o pensamento de onde meu filho poderia estar.
Eu peguei minha bolsa e peguei meu celular, discando o número
de Molly.
Minha sobrancelha arqueou quando ouvi o toque na cozinha.
Oh Deus.
Meu pânico quadruplicou.
Onde eles estão?
Minhas mãos tremiam enquanto eu procurava pela casa mais uma
vez, incluindo o quintal, e saí sem nada. No momento em que terminei,
um pavor gelado corria por mim. Pegando minhas chaves em minhas
mãos trêmulas, corri pelo corredor e saí de casa assim que AJ e Molly
saíram da casa do outro lado da rua. Eu não sei o que eles estavam
fazendo ou por que estavam lá, mas imediatamente, enfureci.
Eles me viram e Molly acenou enquanto Twitch mantinha um
olhar atento em mim.
Minha raiva aumentou a cada passo, e quando cheguei, peguei a
mão de meu filho de Molly e segurei-a com força na minha, depois
enfrentei o rosto inquieto de seu pai. — Eu só vou te dizer uma vez,
Twitch. Fique longe de nós. De mim. De AJ — Minha voz subiu. —
Fique longe.
Meu coração estava batendo tão forte que eu mal podia me ouvir
sobre o baque persistente. Sem lhe dar uma chance de responder, eu
praticamente arrastei meu filho de volta para casa, e enquanto ele
chorava, meu coração doía.
— Não, mamãe. Não! — Meu coração disparou quando AJ gritou:
— Papai, não vá embora de novo. Eu quero ficar com você! — Quando ele
gritou, ‘papai’, no topo de seus pulmões, eu mal conseguia respirar.
Puxei meu filho para dentro da casa e, quando a porta se fechou
atrás de nós, me virei para Molly. — Onde você estava? Eu liguei e seu
telefone está na maldita cozinha. Que coisa irresponsável de merda,
Molly!

~ 152 ~
Molly piscou em choque. Eu nunca tinha falado com ela assim
antes. — Nós ficamos lá por cinco minutos, Lex. AJ fez algo para seu pai
na escola e mal podia esperar para entregar. — Sua testa franziu e sua
voz ficou quieta. — Eu não achei que você se importaria.
Eu falei sobre os gritos agudos de AJ. — Bem, eu fiz! Jesus,
Molly. Você me assustou até a morte. — Minha bravata começou a
falhar. — Você sabe como é chegar em casa, sem um aviso, incapaz de
ligar para você depois da noite passada? — Minha voz falhou. — Eu
estava apavorada.
Bateu nela então e o rosto de Molly caiu. — Sinto muito. Eu não
pensei.
— Não, você não o fez, — eu disse, guiando AJ até seu
quarto. Quando me ajoelhei na frente dele, agarrei seus braços, falei
baixinho. — Querido, você não pode fazer isso. Você não pode
simplesmente sair quando quiser. Você tem que pedir a mamãe.
AJ falou através das lágrimas. — Eu quero o papai.
Fechei meus olhos, engolindo através da ferida que sua declaração
dolorosa causou. — Você não pode ter o papai. Você me tem. Eu sou sua
mãe e sou eu quem manda.
Ele lutou nos meus braços, sua respiração engatando enquanto
chorava. — Eu não quero você. Eu quero o papai.
Foda-se.
Comecei a chorar. — Você não precisa dele. Você me tem.
Eu não vi o golpe chegando, e me chocou quando me atingiu.
Um pequeno suspiro escapou de mim enquanto minha bochecha
latejava.
AJ cerrou os dentes, rosnando de fúria, ergueu as pequenas mãos
acima da cabeça, e as trouxe para o meu rosto novamente, enquanto
gritava: — Eu não quero você. Você é estúpida!
Nunca senti essa dor antes. Tudo o que o Twitch já fizera comigo
desapareceu em nada ao ser atingida pelo meu próprio filho.
Eu queria morrer.

~ 153 ~
Molly entrou no quarto assim que AJ me bateu novamente. — Você
é estúpida! — Ela correu para frente quando ele me bateu de novo,
gritando: — Você é estúpida!
Quando Molly chegou a AJ, ele caiu nos braços dela, soluçando,
enquanto eu caía de costas no chão, chorando baixinho.
Saindo de lá, eu entrei no meu quarto, fechando a porta atrás de
mim antes de cobrir minha boca com as mãos e soltar um grito baixo e
agudo. Eu deslizei pela porta e sentei-me lá por um tempo, imaginando
como na terra nós tínhamos chegado aqui, nisso, o nosso ponto mais
baixo.
Horas depois, sentei-me na cama com a luz acesa, lendo as
palavras na página do romance, mas sem realmente entender nada. Do
canto do meu olho, o vi se aproximar.
Removendo meus óculos de leitura, larguei o romance para olhar o
garotinho espreitando por trás do batente da porta.
Eu falei baixinho. — Querido?
Isso foi tudo o que bastou.
Ele correu pelo quarto, e no segundo que se jogou em mim,
envolvendo seus braços desengonçados a minha volta quase com muita
força, eu fechei meus olhos e abracei-o contra mim, acariciando seus
cabelos. Um longo tempo se passou antes que ele falasse, e quando o fez,
não pude me conter.
Sua voz era suave e reconfortante. — Você não é uma estúpida,
mamãe. Você é uma mama inteligente.
Oh, senhor, eu chorei.
— Sinto muito, mamãe. — Meu filho se afastou e usou a mesma
mão que me atingiu para enxugar minhas lágrimas, e me consolou
enquanto lutava contra sua própria tristeza. — Eu te amo.
— Eu te amo mais, baby, — eu disse a ele através de uma
fungada.
AJ dormiu comigo naquela noite, e enquanto eu o segurava perto,
respirando o doce aroma de maçã do seu cabelo, soube que algo tinha
que ser feito.

~ 154 ~
Sim. Algo estava muito errado em nosso lar normalmente
harmonioso.
E o nome disso era Twitch.

~ 155 ~
CAPÍTULO QUATORZE
Twitch

Eu mantive meus olhos na casa do outro lado da rua. Eu não via


meu filho há dias. Lexi não estava exatamente suportando minha
presença no momento, então fiquei longe. Desde o meu retorno, ela
estava mudada, e eu odiava vê-la assim. Não mais a mãe divertida e
amorosa que eu observava de longe, ela agora era uma bagunça ansiosa,
seu rosto tenso, seus olhos sombrios, e sabendo que eu era a causa
estava fodendo comigo.
Então eu recuei, continuando de olho, mantendo distância. Eu não
sabia quanto tempo conseguiria isso, mas iria aguentar o máximo que
pudesse. Minhas mãos estavam suando. Eu odiava me sentir fora de
controle, sempre odiei, e tudo o que estava acontecendo agora estava
fora do meu controle.
Angústia correu através de mim com o pensamento de ser mantido
longe do meu filho.
Quanto tempo isso duraria?
Durante uma semana inteira, chequei a janela de Lexi à noite e,
quando a encontrei trancada, saí com um suspiro. Tudo o que eu queria
era falar com ela, estar perto dela, e estava me matando não me forçar
em sua vida, como eu realmente queria. Eu poderia ter entrado se
realmente me concentrasse nisso. Eu poderia ter quebrado o trinco,
deixando seu quarto sempre aberto para mim, mas eu precisava que ela
me quisesse. Mostrasse-me que ela me queria.
Ontem de manhã, no silêncio da minha casa, ouvi Happy
conversando com sua mulher. Ele falou com ela por um longo tempo,
desculpando-se profundamente, assumindo a responsabilidade pelo que
tinha feito e, depois do que pareceram horas, saiu do meu quarto de
hóspedes com sua mochila.

~ 156 ~
Eu olhei para ele antes de voltar a olhar pela janela aberta. —
Partindo?
— Sim, — ele murmurou, em pé na porta aberta. — Conversei com
Nikki. Ela me quer em casa.
— E Dave? — Eu sabia o quanto ele amava aquele cara.
Happy suspirou, estendendo a mão para esfregar sua careca. —
Ele pode me socar na boca, mas não me importo. Vou deixar passar. Não
é nada que eu não mereça de qualquer maneira.
Antes de entrarmos nessa bagunça, sabíamos que haveria
consequências. O preço era pequeno para o que havia sido ganho. Eu
faria tudo de novo. Eu me perguntei se Happy faria o mesmo.
Happy se aproximou e eu me virei, estendendo meu braço para
ele. Ele segurou meu antebraço antes de nos encontrarmos, batendo nas
costas um do outro. Ele não disse uma palavra. Tudo o que eu consegui
foi: — Tô devendo a você.
Eu não precisava dizer isso. Era um fato. Mas Happy tinha me
apoiado nos últimos cinco anos, mantendo-me atualizado, enviando-me
fotos do meu filho, minha mulher, sendo meus olhos e ouvidos quando
eu estava a um mundo de distância. Ele lidou com o meu temperamento,
minha raiva, minha depressão, e fez isso sem reclamar.
Sim.
Eu lhe devia.
Quando ele saiu, continuei olhando pela janela, pensando no meu
filho e no quanto eu o queria comigo.

~ 157 ~
***

Lexi

A semana passou devagar, dolorosamente. Eu tive esse tempo para


pensar sobre a minha reação a Twitch querendo passar um tempo com
nosso filho. Minha mente vagou para lugares que não deveria ter. Eu
ainda estava tão compreensivelmente magoada, mas quando me sentei e
vislumbrei essa situação em sua totalidade, percebi que, manter Twitch
longe de AJ, não estava apenas machucando Twitch. Estava
machucando meu filho.
Foi por isso que eu estava engolindo meu orgulho e andando pela
rua.
Antes mesmo de chegar a casa, a porta da frente se abriu e Twitch
saiu, seus olhos castanhos atentos, provavelmente esperando por outro
ataque, e ele estava certo em esperar por isso. Mordi o interior da minha
bochecha para me impedir de atacá-lo verbalmente.
Usando jeans azul-marinho, uma camiseta preta de manga
comprida apertada e Adidas brancos gastos, ele passou a mão pelo
cabelo longo demais. Com a barba no queixo, ele parecia um sonho
molhado. Não. Isso era uma declaração muito leve. Ele parecia um
enorme sonho molhado. Um sonho molhado em Ritalin12.
Jesus.
Seus ombros se levantaram um pouco quando ele se moveu para
colocar as mãos nos bolsos do jeans e quando ele falou, sua voz áspera
me lavou. — Ei, anjo.
Duas palavras. Isso foi tudo o que bastou para meus mamilos
enrijecer.
Deus. Eu era patética.

O metilfenidato, vendido sob os nomes comerciais Ritalin, entre outros, é um


12

medicamento estimulante usado para tratar a desordem de hiperatividade com déficit


de atenção e a narcolepsia. É um medicamento de primeira linha para o TDAH.

~ 158 ~
Evitando seu olhar intenso, eu disse suavemente: — Posso
entrar? Eu preciso falar com você.
Sem hesitar, ele disse: — Você é sempre bem-vinda aqui.
Meu coração doeu de um jeito que me fez querer chorar. Eu não
faria. Mas queria.
Eu o segui para dentro e fiquei surpresa ao descobrir como era
acolhedor. A porta da frente se abria para uma área amplamente
difundida, e da minha localização, vi a cozinha limpa e a sala de jantar,
bem como um pequeno sofá e uma televisão grande. Minha bunda
intrometida olhou pelo corredor em direção aos quartos, mas eu
rapidamente inalei, então me afastei.
Twitch, nunca perdendo nada, proferiu: — Quer uma turnê? — Eu
fui balançar a cabeça, mas ele acrescentou: — Não é muito. Quer dizer,
não é a mansão em Darling Point, mas... — Seu lábio tremeu. — ...é um
lugar para descansar minha cabeça esgotada. Além disso... — Ele
arranhou distraidamente o rastro em sua garganta. — Estou tentando
ser discreto.
A mansão em Darling Point. Oh, as memórias. Passei a maior
parte das minhas noites lá. Foi o lugar onde engravidei. O mesmo lugar
em que quase morri depois de uma noite cheia de drogas. Aquela
mansão era minha casa tanto quanto a dele. Eu sentia falta às vezes. Eu
ocasionalmente dirigia até lá apenas para me perder nas lembranças por
um tempo.
Mantendo a distância, assenti devagar, depois levemente
suspirei. — Claro.
Eu estaria mentindo se dissesse que não estava curiosa.
Enquanto ele me acompanhou pela casa, fiquei dois passos atrás,
precisando daquele espaço entre nós. Ele abriu a porta do banheiro,
acendendo a luz. — Banheiro. — Então a porta ao lado dessa. —
Lavanderia. — No final do corredor, ele abriu para um quarto com uma
cama de casal. — Quarto de hóspedes. — O quarto ao lado estava
aberto. Tinha uma cama de solteiro com lençóis da Patrulha Canina,

~ 159 ~
uma estante com livros infantis e uma caixa de brinquedos. Antes que
ele dissesse algo, eu sabia o que era aquilo. — O quarto do AJ.
Minha preocupação chegou a um ponto febril e eu me virei para
ele, perguntando: — O que você está fazendo, Twitch? Por que você está
aqui? — E finalmente. — O que você quer de nós?
Mas o belo homem pensativo jogou o polegar de volta para trás, e
quando falou, fez isso baixo, cheio de insinuações. — Quer ver meu
quarto?
Engolindo em seco, balancei a cabeça e detestei o modo como
corava. — Eu quero que você responda minhas perguntas.
Ele respirou fundo antes de soltar pelo nariz. — Não sou bom com
perguntas, baby. Você sabe disso.
Meu estômago revirou. — Pare de me chamar de baby.
Encostado no batente da porta, aqueles lábios cheios se franziram
e seus olhos enrugaram nos cantos. Ele passou um tempo vagando pelo
meu corpo, e quando disse a única palavra, eu sabia que tinha cometido
um grande erro ao vir aqui. — Nunca.
Diga o que você veio dizer e saia, Alexa.
— AJ está miserável, — eu disse a ele e fiquei fascinada com a
maneira como ele se endireitou e me deu sua atenção. — Então eu
preciso saber quais são seus planos.
A preocupação de Twitch permaneceu na vanguarda, mas ele
lambeu os lábios e murmurou: — Meu plano é ser pai do meu filho. Ele
acrescentou cuidadosamente: — Se a mãe dele me deixar.
OK. — Ele não é um brinquedo, Twitch. — Seus olhos se
estreitaram, mas eu continuei. — Ele não é algo que você pode brincar e
deixar de lado quando se cansar dele. Ele é um garotinho, um garotinho
impressionável que, por algum motivo, ama você. — Com essa
declaração, o corpo de Twitch relaxou um pouco. — Então o que vai
acontecer? Você vai ficar ou partir? — Precisei de toda a coragem que
tinha para dizer tudo isso. — Porque, mesmo que me deixe infeliz vê-lo,
lidarei com isso se é o que ele precisa. — Minha voz se acalmou. — Mas

~ 160 ~
você não vai deixá-lo. Não como me deixou. Porque não acho que AJ
sobreviveria.
Sem hesitação. — Eu não vou partir.
Uma leve zombaria me deixou. — Perdoe-me por ter confiança zero
em você. — Minha boca puxou para baixo em uma linha sombria. —
Houve uma época em que você me dizia que faria qualquer coisa por
mim e olha como isso acabou.
Seus olhos me perfuraram, como laser, desconcertante. — Como
você sabe que não fiz? — Antes que eu tivesse a chance de pensar sobre
isso, ele disse: — Eu não vou a lugar nenhum. Estou de volta para
sempre. E... — Ele hesitou. — ...Eu quero ser um bom pai. — Ele
desviou meu olhar duro, parecendo um pouco desajeitado quando
acrescentou: — Então, talvez você possa me ajudar.
Ele parecia sincero. Por que isso me incomodava tanto?
Meu batimento cardíaco aumentou em ritmo. Era isso. Não havia
volta agora. — Você pode começar buscando-o na escola hoje.
A cabeça de Twitch se levantou, seus olhos questionando como se
ele achasse que isso era uma piada.
Era uma piada de merda. Eu era uma piada. Como se eu estivesse
permitindo isso.
Não foi uma decisão tomada facilmente. Infelizmente, eu conhecia
esse homem, então eu lhe daria um centímetro antes dele me rasgar por
quilômetros, deixando um caminho de destruição em torno de todos que
eu amava.
Quando eu consegui encontrar a coragem para olhar em seus
olhos, suas sobrancelhas baixaram, mas ele disse: — Sim, claro. —
Quando ele continuou, fez isso com cautela. — Devo trazê-lo para cá,
ou...?
— Não, leve-o para casa. — Para mim. — Se você quiser ficar com
seu filho, pode fazer isso lá. — Sob o meu olhar atento.
As palavras não ditas pairaram no ar.
Eu não confio em você.

~ 161 ~
Mas o lábio de Twitch se ergueu no canto. — OK. Ele saí por volta
das três, certo?
— Sim. Você lembra onde é?
Ele me deu um aceno singular. — Eu lembro. — Depois de um
momento, ele disse: — Quando vamos conversar? Realmente conversar?
Eu era uma covarde, então chequei meu relógio. — Outra hora. Eu
tenho que ir.
— Claro. — Seus lábios se estreitaram. — Ioga.
O que ele acabou de dizer?
Minhas sobrancelhas se levantaram devagar. Minha boca ficou
aberta. — Você tem me seguido?
Ele soltou uma risada abafada e balançou a cabeça como se eu
fosse hilária. — Baby, — foi tudo o que ele disse, como estivesse me
perguntando: — Você não me conhece?
Eu interiormente suspirei.
Claro que ele estava me seguindo.
Era de Twitch que estávamos falando. Ele provavelmente sabia
meu cronograma semanal de cor. Merda. Ele provavelmente sabia a que
horas eu tomava banho todas as noites.
Com um longo suspiro, balancei a cabeça e disse: — Sim. Eu nem
estou indo para lá hoje, — e fui recompensado com o mais belo sorriso
torto conhecido pelo homem. E esse sorriso me atingiu de tal maneira
que soube que precisava sair de lá e fazê-lo rapidamente.
Twitch me olhou e, enquanto eu me afastava, ele me
chamou. Quando eu virei para encará-lo, sua mandíbula estava apertada
quando disse: — O cara da ioga, seu professor ou o que diabos ele é.
Minha sobrancelha tricotou. — O que tem ele?
— Diga a ele para manter as patas para si mesmo... — Ele se
endireitou, os olhos escurecendo um tom. — ...ou vou acabar com ele.
Meu interior ardia mais quente que o sol.
Ugh.
A porta se fechou antes que eu pudesse reagir, e não deveria ter
sentido o que estava sentindo naquele momento.

~ 162 ~
Jesus Cristo.
Não.
Definitivamente não.
Quando entrei pela porta da frente, o ouvi. — Você pode, eu não
sei, ir se foder?
Minha sobrancelha baixou quando diminuí meus passos. Foi
quando ouvi a voz doce de Molly. — Não, obrigada.
Twitch suspirou alto, e quando eu atravessei a entrada do
corredor, ele olhou para mim completamente agitado, as sobrancelhas
franzidas em aborrecimento. — Anjo, diga a ela que pode me deixar
sozinho com meu filho.
Eu olhei entre Molly e Twitch, então olhei para AJ, que estava
inconsciente no sofá, comendo seu lanche depois da aula. Eu balancei a
cabeça lentamente. — Molly vai para onde o AJ vai.
Ele piscou para mim, irritado além da crença, e quando Molly
lançou-lhe um largo sorriso de vitória, ele deu um passo em minha
direção. — Jesus, Lex. Eu não vou roubá-lo daqui.
— Você não vai?
Quando ele me deu um olhar de absoluto desgosto, quase senti
vergonha de mim mesma.
Quase.
Eu assisti sua garganta balançar quando ele engoliu a
raiva. Quando ele falou, foi pouco mais de um sussurro. — Eu nunca
iria tirá-lo de você. — Seus lábios se estreitaram e sua testa enrugou
perigosamente com o pensamento. — Nunca.
É bom saber, não que eu seja burra o suficiente para confiar em
você.
Antes de entrarmos em uma discussão, eu deslizei minha bolsa do
meu ombro para o chão. — Você vai ficar para o jantar?
— Eu não sei. — Ele ainda parecia ferido com a minha
acusação. — O que tem no menu?
— Parmesão de berinjela.

~ 163 ~
Ele fez uma cara de puro arrebatamento. — Porra, sim, eu vou
ficar.
Eu balancei a cabeça, reprimindo meu sorriso para sua reação
estranhamente familiar. Ele amava comida italiana, e quando eu
cozinhava, ele amava minha comida italiana. Enquanto ele me seguia até
a cozinha, eu disse baixinho: — Você precisa parar de xingar ao redor.
Twitch zombou. — Ele já ouviu tudo isso antes. Ele sabe que não
deve dizer essa merda. — Eu fiz um som baixo na garganta, e ele gritou:
— AJ, diga à mamãe o que o papai disse sobre xingar.
Da sala, AJ falou alto o suficiente para nós dois ouvirmos. — Eu
posso ouvir, mas não posso dizer. — Então ele acrescentou: — Não até
que eu esteja mais velho.
Minhas sobrancelhas puxaram para baixo, e eu gritei de volta, —
Não até nunca, — e Twitch sorriu tanto que senti no meu ventre.
Na hora do jantar, nós nos sentamos à mesa, e enquanto Twitch já
estava em sua segunda porção do meu parmesão de berinjela, AJ olhou
para baixo em seu prato. — Eu não gosto disso.
— Você come ou vai para a cama. A escolha é sua, querido, — eu
disse a ele. Nós nunca tínhamos problemas até que uma refeição fosse
apenas legumes. Eu entendia - ele tinha cinco anos; ele também era um
menino e meu filho era carnívoro.
Ele cruzou os braços sobre o peito. — Você não precisa comer
coisas que não gosta. Por que você me faz comer coisas que eu não
gosto?
Um olhar de pura simpatia tomou minhas feições. Eu me inclinei,
colocando uma mão gentil em seu ombro, apertando. — Porque eu sou
sua mãe e seu sofrimento é muito importante para mim.
Twitch soltou uma risada, e quando AJ olhou para ele com olhos
suplicantes, Twitch levantou as mãos. — Não olhe para mim,
amigo. Mamãe faz as regras por aqui.
Eu admito, foi bom ter apoio, e, não surpreendentemente, depois
que Twitch disse isso, AJ começou a comer sua refeição.

~ 164 ~
Não demorou muito para a hora do banho de AJ, e Twitch deu boa
noite à minúscula versão dele e, depois que ele se foi, precisei pensar
muito sobre porque a casa parecia tão vazia sem ele.

~ 165 ~
CAPÍTULO QUINZE
Lexi

— Ei. — Twitch veio correndo do outro lado da rua. — Eu vou


pegá-lo hoje?
A outra noite pareceu muito familiar, natural demais, e passei
metade do tempo pensando porque estava tão chateada com isso. A
verdade era que foi tudo o que sonhei. Um lar com meu filho e seu pai,
um ambiente doméstico. Foi algo que fez minha alma doer.
Não era uma boa ideia entrar em uma fantasia de ponta
cabeça. Não era bom me deter no passado. Eu precisava pensar no
agora. E isso estava se movendo rapidamente. Eu precisava desacelerar.
Não. Eu precisava que isso parasse completamente.
Balançando a cabeça, dei um passo na direção dele e disse: —
Passinhos de bebê.
Seu rosto mudou, e embora ele não parecesse zangado, certamente
estava irritado e olhou para mim por um longo tempo através de
sobrancelhas franzidas, antes de murmurar: — É quinta-feira.
Sim. Eu também fui ao jardim de infância. Eu também sabia os
dias da semana. — Eu sei.
— Se estiver tudo bem com você, eu gostaria de ir a sua aula de
natação.
Eu hesitei. Uma coisa era ter Twitch na minha casa, onde eu
poderia controlar o cenário. Eu não gostava da ideia de estar fora de
casa com ele como uma família. — Olha, eu não sei. — Mas Twitch
apenas olhou para mim, e entendi rapidamente com um leve revirar de
meus olhos. — Você já decidiu que irá, não é?
Ele olhou para mim, seus olhos cheios de diversão. — Meu pedido
foi mais uma cortesia.
Um leve suspiro me deixou.
Claro que foi.
~ 166 ~
Quando coloquei minhas coisas no carro, eu disse: — Eu acho que
nos veremos mais tarde, então.
Mas ele não se afastou. Em vez disso, ele se aproximou ainda
mais, e quando estava no meu espaço pessoal, olhou para o meu
vestido. — No outro dia, o vestido que você usou, aquele com toda a
merda de babados nele. — Ele fez uma pausa, me observando de
perto. — Gostei. Parecia bem em você.
Eu não usei para você.
Ele sempre gostou quando me vestia bem.
No que dizia respeito a elogios, esse estava no topo da prateleira
para Twitch. Evitei o olhar dele e respondi clinicamente: — Obrigada.
— Nós vamos conversar hoje à noite? — Seu lado roçou o meu, e
todo o meu corpo incendiou. Quando não fiz menção de responder, ele
estalou a língua. — Precisamos conversar, Alexa.
Uh oh.
Ele só me chamava de Alexa antes de eu receber uma surra.
Ah, merda.
Eu adorava ser espancada.
Não.
Não. Eu amava quando Twitch me espancava.
Ugh. Merda.
Os flashes repentinos de imagens passadas inundaram minha
mente, e enquanto eu lutava para respirar, meus dedos afrouxaram e
deixei cair minhas chaves. Quando Twitch se agachou para pegá-las,
essas imagens se intensificaram. De olhos arregalados, olhei para ele,
sem piscar, quando ele me olhava conscientemente. Com outras coisas
em mente, ele olhou para a minha virilha e meu núcleo se apertou sob o
olhar atento. Ele passou a língua pelo lábio inferior, meus joelhos
enfraqueceram, e tive que trancá-los para me segurar, mortificada por
ele estar evidentemente pensando a mesma coisa que eu.
Quando ele falou baixinho, o ar me deixou em um whoosh.
— Eu sinto como se já tivéssemos passado por isso.

~ 167 ~
Peguei minhas chaves da mão dele, e os únicos sons que podiam
ser ouvidos na rua eram o barulho dos meus saltos enquanto eu corria
para o lado do motorista do meu carro.
Maldito seja.
A tensão sexual estava aumentando. Ele estava se certificando
disso. E eu estava caindo em sua teia pegajosa.
— Sim! Vamos lá, AJ! — Twitch se levantou e gritou antes de se
sentar de novo, olhando para mim com os olhos arregalados. — Olhe
para ele.
— Ele é bom. — E ele estava tão animado, tão orgulhoso, que eu
não pude deixar de sorrir. — Ele nada desde os dois anos.
— Ele não é apenas bom, Lex. — Twitch balançou a cabeça. — Ele
é um prodígio filho da puta. Quero dizer... — Ele abanou o braço. —
...nenhuma das outras crianças é tão rápida. — Ele chamou a atenção
de uma mãe olhando para ele. — Sem ofensa, senhora.
Oh meu Deus. Eu inclinei minha cabeça para ele e sussurrei: —
Você quer parar? — Claro, ele não estava errado. AJ era um ótimo
nadador. Era como se eu estivesse vendo meu filho com novos olhos. —
Mas você está certo. — Quando eu senti seus olhos em mim, mantive os
meus próprios treinados em nosso filho. — Ele é incrível.
Ficamos em silêncio um pouco antes de ele falar. — Você fez isso.
— Eu olhei para ele. — Isso foi tudo você, baby. — Seu olhar me manteve
cativa. Eu não consegui desviar o olhar. — Você é uma ótima mãe. —
Quando ele se virou para olhar para o nosso filho, ele disse: — Sabia que
você seria.
Eu era, no entanto?
Eu pensei que era boa. Mas, recentemente, não parecia.
Nas últimas semanas, a cada dia que passava, sentia que estava
falhando com ele. Como mãe, como protetora, como modelo, tudo o que
lhe ensinei, fiz o posto com seu pai. Não é de admirar que seu
comportamento tenha estado tão esquisito ultimamente. Ele
provavelmente me olhava e se perguntava por que ele precisava seguir as
regras quando sua mãe não as seguia.

~ 168 ~
Eu prometi me esforçar mais pelo bem do meu filho. Eu não
desrespeitaria o pai dele na frente dele. Eu não deixaria minha raiva
dominar minhas emoções. E, para o bem da nossa felicidade, eu falaria
com Twitch e tentaria descobrir como fazer isso funcionar para todos
nós.
Nossa família era pequena. Nossa família estava fragmentada. Mas
isso não significa que não poderíamos nos dar bem.
A felicidade de AJ significava mais para mim do que meu próprio
contentamento, então, pelo bem maior, eu sorriria através do meu
desconforto.
Quando chegamos em casa, Twitch parou no gramado e, quando
deixei AJ entrar em casa, mantive a porta aberta em silêncio,
observando-o atentamente.
No momento em que seus pés se moveram, eu me virei, andando
pelo longo corredor até a cozinha antes de me ajoelhar na frente do
monstrinho sonolento. — Prepare-se para a cama.
Mas AJ, mesmo sonolento, olhou para o pai. — Posso ficar
acordado?
— Não, — eu respondi por nós dois. — Você precisa vestir seu
pijama, querido.
Com um olhar de pura irritação, AJ colocou as mãos nos meus
braços e empurrou levemente. — Não é justo.
E nesse momento, Twitch soltou uma risada sem humor. — Calma
aí, garoto. — Quando AJ olhou para ele, Twitch lançou-lhe um olhar
duro. — Você deve saber que não pode simplesmente colocar as mãos em
sua mãe. — Sem perguntar, ele me ajudou a ficar de pé e tomou meu
lugar, ajoelhando-se na frente do nosso precioso garoto. — Nós não
batemos nas mulheres. Não com raiva. Nunca. Entendeu?
A vergonha de AJ estava exposta, e mesmo que Twitch o tenha
feito refletir por um tempo, ele colocou uma mão gentil no cabelo
bagunçado do filho. — Você está cansado, não é, amigo? — AJ assentiu,
incapaz de olhar nos olhos de seu pai. — Diga boa noite para sua
mãe. Eu vou ficar, ler uma história para você.

~ 169 ~
Uau. Ele estava fazendo muito bem a coisa toda de “ser pai”.
Era confuso. Parte de mim torcia por ele, parte de mim esperava
que ele falhasse, e uma pequena fatia do meu orgulho ferido queria que
ele achasse o trabalho duro demais e desaparecesse de novo. Essa
mesma pequena fatia me causou uma quantidade incomensurável de
apreensão.
Sem uma palavra, AJ se aproximou e passou os braços em volta de
mim em um silencioso pedido de desculpas. Abracei-o o mais forte que
pude sem cortar seu suprimento de ar, porque sabia como era ser
repreendida por Twitch, e não parecia bom.
Tendo dado a Molly a noite de folga, observei Twitch levar sua
pequena cópia carbono pelo corredor até o quarto dele, e então comecei a
lavar os pratos. Não muito tempo depois, ouvi passos suaves e depois ele
perguntou: — Isso acontece muito?
Eu sabia o que ele estava perguntando. — Não. Só desde a sua
chegada.
— Não brinca, — disse ele, parando ao meu lado enquanto eu
continuava lavando os pratos. — Eu vou falar com ele.
Minha testa franziu, mas um pequeno sorriso apareceu em meus
lábios. — Acho que eu deveria ter lhe dado a conversa 'nós não batemos
nas mulheres'.
Em poucas palavras, uma alegação ousada foi feita. Ele era um
hipócrita. Como alguém como dele, que claramente gostava de colocar as
mãos nas mulheres e dominá-las, conversaria com seu filho sobre não
fazer o que ele tanto gostava?
Um momento de silêncio passou entre nós.
— O que você acha que eu deveria ter dito a ele, baby? — Sua voz
era suave como seda, e quando ele parou atrás de mim, meus pulmões
pararam de funcionar. Mãos fortes pousaram na minha cintura e eu
pisquei sonolenta, bêbada pela sua proximidade. Quando ele pressionou
sua frente nas minhas costas, meu estômago se apertou e uma
respiração instável me deixou. — Que eu não bato mulheres... — Seus

~ 170 ~
lábios tocaram a concha da minha orelha e meus mamilos atingiram o
pico. — Não, a menos que realmente me implorem, muito?
Foda-se.
Para onde foi todo o ar?
No momento em que senti sua ereção grossa, minha boca se abriu
em um gemido silencioso. Ele recuou um pouco para se ajustar, e então
o contorno de seu pau estava descansando entre as bochechas da minha
bunda cobertas pela calça de ioga. Ele empurrou levemente uma vez,
duas vezes... até que meus olhos se abriram com um sobressalto.
Oh, Deus, doía fisicamente dizer isso, mas precisava ser dito. —
Pare.
Mas Twitch não estava sentindo o meu ‘pare’. Na verdade, ele
sentiu como um protesto tão fraco que simplesmente baixou o rosto ao
lado do meu pescoço, mordendo levemente a delicada pele lá, e quando
seus dentes me beliscaram, todo o meu corpo sacudiu.
— Pare. — Mais alto desta vez, mas o tom ofegante que usei disse
outra coisa.
— Não. — Twitch abriu a boca e se grudou em mim, chupando a
área sensível entre meu pescoço e ombro. Uma mão deslizou para cima,
sobre minhas costelas, para descansar logo abaixo do meu peito
dolorido. E eu morri.
Jesus menina Você não está pensando seriamente em continuar
com isso, não é? Você não aprendeu nada sobre o controle de
impulsos? Eu sei que esse cara te enlouquece com todo seu vodu sexual,
mas merda, ele está te fazendo ser a cadela imprudente que você deixou
para trás.
O pensamento foi o suficiente para forçar uma reação instintiva e,
sem sequer uma palavra, empurrei o traseiro com força suficiente para
pegá-lo desprevenido. Quando ele tropeçou para trás um passo, eu girei,
estendendo a mão. Meu rosto estava vermelho, e eu quase ofeguei, —
Pare, — e desta vez, eu quis dizer isso.
Twitch franziu a testa para mim, parecendo levemente exasperado,
mas fechou os olhos, respirando fundo. Quando ele se abaixou e passou

~ 171 ~
os dedos ao redor do seu pau coberto pelo jeans, apertando com força,
eu achei que cairia de joelhos e imploraria para ele me alimentar.
Por sorte, eu estava sem fôlego e momentaneamente sem palavras.
Meus olhos se fixaram firmemente nos dedos hábeis que
massageavam seu comprimento duro. As próximas palavras que ele falou
foram um aviso. — Se você continuar olhando para mim como se eu
fosse um lanche, vou colocá-la de joelhos. — Quando eu levantei a
cabeça, seu olhar encapuzado me segurou rápido. — E quando eu disser
para chupar meu pau, você vai fazer o que lhe mando, anjo.
Ele te deixou.
Ele deixou seu filho.
Ele é egoísta, um sociopata que não sabe amar. Ele é quebrado e te
deixou quebrada. Nunca se esqueça disso.
Com meu olhar firme, encontrei seus olhos e disse-lhe: — Eu não
pertenço a você. — Eu balancei minha cabeça. — Não mais.
Ele nem sequer recuou. — Sim, você pertence. — Sua arrogância
era enlouquecedora. — O fato de você sentir a necessidade de vocalizar
me diz quanta propriedade eu tenho sobre você. Eu sei que você me
quer, mas está com raiva de mim, com razão, então não está se deixando
ter o que realmente quer. E você pode lutar comigo, baby. Você sabe que
gosto disso. Mas quando tudo for demais e precisar de mim tanto quanto
eu preciso de você, só tem que fazer uma coisa. — Ele deu um passo
para trás, para longe de mim, e eu senti a perda imediatamente. — Deixe
uma luz acesa.
Minha testa franziu.
Deixe uma luz acesa?
Twitch deu outro passo para trás e foi preciso cada força que eu
tinha para não segui-lo. — Vamos reacender o que perdemos e tudo
acabará bem, então vamos falar... — Aqueles olhos castanhos suaves
pousaram no meu decote e, eu juro, eles brilharam brevemente. —
...sobre aqueles seus belos sutiãs e para quem você está usando.
E observei boquiaberta quando Twitch atravessou o corredor e
saiu da minha casa.

~ 172 ~
***

Ling

O encontro estava indo tão bem quanto podia, vendo que eu tinha
inúmeros inimigos nesta mesma sala. A qualquer momento, qualquer
um desses filhos da puta poderia pegar sua arma, levantá-la e atirar em
mim. Isso me incomodava?
Não. Não.
Na verdade, sentindo como eu me sentia agora, olhando através da
sala para o belo turco, tudo o que eu desejava era que alguém fizesse
isso e libertasse essa cadela miserável.
Aslan Sadik era uma doença e fui contaminada - muito. Eu tinha
todos os sintomas. A falta de sono, pouco ou nenhum apetite,
irritabilidade e uma sensação pesada pressionando meu peito.
Meu lábio se curvou enquanto eu o observava rir, sorrindo através
de sua conversa com Titus Okoye, o visitante traficante de armas
liberiano.
Eu o odiava.
Então, quando Elias Munoz, aparentemente muito jovem para
liderar, chefe americano-argentino de Los Gatos Negros veio sentar ao
meu lado, eu pisquei para ele. — Você está perdido?
Elias sorriu para minha atitude. Seja como for, filho da puta. —
Você parecia precisar de companhia.
Eu zombei exageradamente. — Elias, nunca me falta companhia
quando eu quero. — Meus olhos arderam em sua virilha, e eu fiz um
show lambendo meus lábios vermelho-cereja antes de me inclinar. — Há
um banheiro por aqui onde poderíamos escapar?
Elias era neutro. Fodê-lo não me faria mal, porque não tínhamos
nada a ver um com o outro. Nossas fronteiras não se tocavam, e nossos
homens raramente tinham contato, mas quando isso acontecia, não
surgiam problemas. E, embora parecesse tentado, estendeu a mão para

~ 173 ~
passar o polegar pela minha mandíbula e disse: — Já ouvi falar de você,
Ling, sobre o que você gosta. — Ele balançou a cabeça, movendo-se para
se afastar. — Eu não estou nisso.
Antes que ele conseguisse escapar, peguei aquela mão grande e a
segurei na minha, brincando com seus longos dedos. — Eu tenho muitos
gostos, Elias. Eu sou uma espécie de camaleão. Posso ser o que você
quiser que eu seja. — Eu sorri alegremente. — Só preciso que você me dê
um soco na boca para que eu possa gozar.
Elias piscou para mim por um longo momento antes de seu lábio
tremer. Então, quando ele inclinou a cabeça para trás e riu tão alto, eu
sabia que tinha alcançado meu objetivo. De minha visão periférica, vi o
turco me observando, e levou tudo dentro de mim para não olhar para
ele, para provocá-lo abertamente.

Foda-se você, Az. Você acha que é especial? Eu não preciso de você.

Eu não ouvi Luka Pavlovic se aproximando, mas quando ele se


elevou sobre mim, ele parecia furioso. — Eu sei o que você fez, kurva13.
Meus olhos se estreitaram nele. — Eu imploro seu perdão?
Seu lábio enrolou. — Todos nós sabemos o que você fez, prostituta
Dragão. Para Julius. Para sua esposa. — Quando ele se inclinou no meu
rosto, minha primeira reação era arrancar seus olhos. Mas eu mantive a
imagem de calma. — Se esse não fosse um lugar neutro, eu a mataria
aqui mesmo. — Ele fez um show me olhando de cima a baixo. — Você
não tem um amigo no mundo, Ling, especialmente nesta sala, então por
que você não pega sua bunda magra e a joga de um penhasco?
Luka era um homem respeitado. O chamado rei por essas
bandas. O croata me segurou firme com os olhos e um silêncio tangível
encheu a sala. O pressentimento que tive me fez pesar naquele assento,
e quando olhei em volta para os homens ao meu redor, não encontrei

13Adjetivo. kurva (vulgar, gíria) prostituta. (vulgar, gíria) muito. (vulgar, gíria)
usado como um intensificador informal; maldita; kurva élet.

~ 174 ~
nenhum deles disposto a dar um passo à frente e ficar ao meu lado. Nem
mesmo o belo turco.
Bem, essa era a minha deixa para partir.
Embora meu coração estivesse acelerado, me virei para Elias. —
Quer vir para casa comigo? Eu prometo que vou ser gentil.
Mas, como eu sabia que ele faria, Elias balançou a cabeça
lentamente. — Não, obrigado.
Eu franzi meus lábios em insatisfação. — E você, Luka? — Eu dei
um passo a frente e gentilmente toquei sua gravata. — Eu vou deixar
você me punir. Vou até tentar não gozar.
A expressão de Luka ficou irada. Em sua voz baixa, ele falou com
os dentes cerrados. — Eu nunca bati em uma mulher antes, mas para
você, esta noite, eu poderia apenas abrir uma maldita exceção. Você me
enoja, pervertida.
Com sua raiva desenfreada, meus olhos brilharam. — Ooh,
Luka. Não provoque, baby. Eu já estou encharcada. — Eu peguei a mão
dele, trazendo-a para a bainha do meu vestido. — Quer sentir?
Quando ele puxou sua mão, eu ri musicalmente, em seguida, olhei
em volta para todos os rostos estoicos que me cercavam. — Nem sequer
tentem. Cada um de vocês eliminou um problema antes, e Julius, meu
velho amigo, era meu. Então me ataquem se for preciso, mas não se
façam de santos de merda. Eu fiz o que precisava, para chegar onde
estou hoje, e tenho que dizer... — Meus olhos se estreitaram. — ...a visão
não é o que foi prometido no folheto.
Olhando para todos e cada um deles, eu me levantei do meu
assento e mantive contato visual enquanto saía da sala. Quando saí,
meu olhar pousou em Aslan, e quando ele desviou o olhar, sorri em
vitória. Mas quando eu estava fora de vista, peguei meu celular e
disquei, colocando o telefone no ouvido enquanto caminhava.
As tensões estavam aumentando e eu precisava me recompor.

~ 175 ~
CAPÍTULO DEZESSEIS
Lexi

Eu estava triste. Dizer adeus a Manda foi mais difícil do que eu


pensava, considerando que acabamos de nos conhecer. Passamos muito
tempo nos abraçando e ela prometeu voltar em breve, talvez com o
pai. Prometi manter contato e enviar-lhe atualizações sobre o
sobrinho. Ela prometeu me enviar um vídeo de seu marido falando
naquele seu sotaque sexy.
Nós éramos duas mulheres reunidas por acaso, separadas pela
distância, e eu odiava que ela estivesse agora a um oceano de
distância. Eu realmente senti que ela era minha maior aliada no
momento.
Toda vez que eu falava com Nikki, ela perguntava constantemente
sobre como as coisas estavam indo com o Twitch, quando as coisas não
estavam indo em tudo. Sempre que falava com Dave, ele perguntava sem
rodeios quando Twitch partiria novamente, e isso quase me quebrava
porque ele estava simplesmente me perguntando o que eu realmente
pensava. Quando falava com Julius, ele se recusava a falar sobre Twitch,
e Ana não era de falar muito. Eu ainda tinha que falar com Happy, e
quanto mais tempo passava, mais parecia que um buraco crescia entre
nós.
Parecia quase injusto ter contato constante com Twitch, enquanto
não poderia gastar uma palavra para uma pessoa que eu descreveria
como minha rocha quando a merda aconteceu.
Decidi que era hora de recomeçar as velhas tradições.
Hoje à noite, nós jantaríamos juntos, como uma família. Só que
esta noite, colocaríamos um prato a mais e tentaríamos evitar que
alguém se machucasse seriamente.
Sim. Esse era definitivamente o objetivo. Que ninguém saísse
sangrando.

~ 176 ~
Eu chequei o forno, e o cheiro que saía era divino. Com um sorriso,
comecei a fazer o nhoque a partir do zero. Não era difícil quando você
sabia o que estava fazendo, e aprendi há fazer isso anos atrás, sem
precisar mais de uma receita, simplesmente sozinha. Eu ainda estava
trabalhando quando a campainha tocou e, quando abri a porta, o
homem alto e loiro que estava ali sorriu para mim quase com tristeza.
Colocando as mãos em meus quadris, eu disse: — David Allen,
venha aqui agora.
Dave não precisou ser avisado duas vezes. Ele passou os braços
em volta de mim e eu fechei os olhos, não percebendo até o momento o
quanto sentia falta do meu amigo. Quando ele se afastou, parecia
sombrio. — Sinto muito por não ter entrado em contato.
Eu revirei meus olhos. — Não comece. Eu sei que isso não foi fácil
para você.
Dave franziu a testa. — Não faça isso, Lex. Não dê desculpas por
mim. Sim, eu tive um choque, mas seu choque foi muito maior do que o
meu e eu perdi o foco das coisas. Eu sinto muito.
Eu não lhe disse que havia sido realmente mais fácil sem todos por
perto, se metendo nas minhas coisas. Em vez disso, sorri e afirmei: —
Desculpas aceitas. — Eu me virei e andei de volta para a cozinha e ele
seguiu. — Então, me diga o que está acontecendo. Como estão as coisas
com Happy?
— Nada bom. Mas nós estamos, ah... — Dave fez um som em sua
garganta. — Falando.
Eu falava Dave fluentemente. Eles não estavam falando. Eles
estavam fodendo.
Meu sorriso era difícil de esconder. — Bem, isso é bom. Não é?
Dave puxou uma cadeira enquanto eu trabalhava no nhoque. —
Eu acho. Estou tendo dificuldades com isso, Lex. — Ele suspirou longo e
baixo. — Eu já tenho problemas de confiança. Isso simplesmente me
abalou.
Eu sabia o que ele queria dizer. — Sim. Entendi.

~ 177 ~
Na minha resposta sombria, Dave se concentrou em mim. — Como
você está?
— Eu estou indo tão bem quanto posso sob as circunstâncias. —
Eu lancei-lhe um olhar de olhos arregalados. — Não acho que eu atenda
aos requisitos de altura para esta montanha-russa emocional.
— Bem, tudo o que posso dizer é que espero que você tenha
aprendido algo com tudo isso, por que...
A porta da frente abriu e Molly entrou, seguido por AJ.
Twitch seguiu logo atrás.
No segundo que Dave viu Twitch, ele se levantou, vestindo uma
expressão de pura descrença. — Você está falando sério, Lex? — Ele
balbuciou, — Pelo amor de Deus, você não pode estar falando sério
agora. — Suas mãos tremiam. — Você não aprendeu nada? Você não vê
o que ele está fazendo? — Meu pescoço começou a ficar vermelho, e eu
fiquei feliz que Molly fosse inteligente o suficiente para ter lido os sinais e
levado AJ para o seu quarto enquanto Dave desabafava. — Já é ruim o
suficiente ele estar do outro lado da rua. — Seu rosto estava tenso. —
Estou chocado com você. Eu não achei que você seria estúpida o
suficiente para deixá-lo entrar em sua casa!
Eu vi o exato momento em que o Twitch passou de levemente
agitado para puramente enfurecido. Ele deu um passo ameaçador para
frente. — O que você acabou de dizer? — Então outro. — Creio que você
não acabou de chamar minha mulher de idiota, Dave.
Mas Dave estava se sentindo corajoso. — Sua mulher. — Ele riu
sem graça, em seguida, olhou para mim. — Sua mulher? Isso foi rápido,
Lex. Bom.
Ah não. Meus planos estavam indo pelo ralo rápido. Alguém ia se
machucar se eu não fizesse alguma coisa.
— Seu pedaço de merda, — disse Twitch, falando baixinho, nunca
levantando a voz. — Você vai sair e fará isso agora. — Seus olhos
escureceram. — Antes que eu faça você ir.
— Pare com isso. — Minha voz tremeu.

~ 178 ~
Dave zombou. — Você vai me fazer sair? — Depois de um momento
de silêncio, ele trovejou: — Quem diabos é você para entrar nesta casa e
fazer ameaças? Você machucou Lexi. Você a machucou além do
reparo. Ao contrário de você, eu amo essa mulher. Veja, Twitch, é isso
que você faz quando ama alguém. Você lhes diz coisas que elas não
querem ouvir porque é a coisa certa a fazer. Você as trata como merecem
ser tratadas. Você fica por perto.
Meu coração começou a correr. A tensão era grossa o suficiente
para cortar com uma faca.
Na expressão assassina de Twitch, meu corpo inteiro se
acalmou. — Você acha que eu não queria estar aqui, com a minha
menina, com o meu filho porra? — Twitch falou baixo. — Você acha que
eu quis passar os últimos cinco anos dormindo sob pontes, em estações
de trem, sem um centavo em meu nome, por que não poderia mais
reivindicar esse nome? — Ele deu outro passo e meu estômago revirou
com suas palavras. — O quê? Você acha que eu estive por aí festejando,
fodendo ao redor de férias em Ibiza? Deixe-me dizer uma coisa, meu
homem. As garotas não gostam de sem-teto. — Seus lábios se
estreitaram. — Oh sim. A vida glamorosa. Você me conhece, Dave.
Meu coração doeu. Oh, como doeu.
Ouvir tudo isso fez algo para mim, para minha alma. Um pequeno
fragmento do meu coração partido começou a se reparar.
Meu coração me lançou um olhar sério.
Eu lhe disse que ele não teria feito o que fez sem uma razão.
Meu cérebro revirou os olhos.
Se você acredita nele, você é uma imbecil. Não deixe a mesma cobra
te morder duas vezes.
Em guerra comigo mesmo, uma decisão foi tomada. Não havia
como evitar. Já era hora de Twitch e eu conversarmos.
Dave perdeu um pouco do seu vapor, mas sua mandíbula estava
apertada quando ele disse: — Você nos deve uma explicação. Onde você
esteve?

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Com isso, Twitch perdeu a calma. Seus olhos brilharam. — Eu não
devo merda nenhuma a você, filho da puta. — Então suas sobrancelhas
baixaram. — A única pessoa com quem preciso falar sobre isso é o anjo
de pé ali. — Ele empurrou o queixo para mim. — E ela não está pronta
para isso, então estou fazendo algo que raramente faço. — Ele olhou
para mim de forma significativa. — Estou esperando.
Twitch não era um homem paciente. Ele era compulsivo e tinha
problemas de controle. O fato de que ele estava mostrando contenção...
era monumental.
Quem era esse homem, e o que ele fizera com o irritadiço, egoísta e
descuidado que eu conhecia?
Twitch soltou as palavras como se esta fosse sua casa e ele tivesse
o direito de fazê-lo. — Você tem duas escolhas, Dave. Você pode sair com
o rabo entre as pernas e meu pé na sua bunda, — ele ofereceu. — Ou
você pode calar a boca, pedir desculpas e comer a refeição que sua
garota está fazendo. — Ele olhou Dave de cima a baixo, medindo-o. — Se
eu fosse você, escolheria a opção dois. Faz muito tempo, e eu estou louco
por uma briga.
Sem esperar por uma resposta, Twitch seguiu pelo corredor,
procurando por seu filho.
Um longo tempo se passou antes que Dave falasse de novo e, antes
que o fizesse, limpou a garganta. — Eu não quis dizer o que disse. —
Uma pequena pausa. — Você não é idiota, Lex.
Eu não era, no entanto?
Meu filho me chamava de idiota. Meus amigos estavam me
chamando de idiota. Era um tema comum ultimamente, e se alguém
estava sendo chamada repetidamente, as chances eram de que a pessoa
fosse o que eles estavam rotulando.
De repente, fiquei oprimida e minha garganta ficou espessa de
emoção. Eu falei baixinho, afastando as lágrimas. — Não se preocupe
com isso. Tem sido um pouco louco por aqui.
— Sim. — O tom baixo de Dave combinou com o meu. — Eu posso
ver isso. A última coisa que você precisa é que seus amigos comecem a

~ 180 ~
se virar contra você. — Ele colocou a mão no meu ombro. — Eu sinto
muito.
Abruptamente deprimida, senti a necessidade de me explicar e
minhas ações. — É só que AJ tem estado infeliz sem ele, e quanto mais o
afasto do pai, mais ele ataca.
— Oh, querida.
Meu coração acelerou. — Eu não sabia o que fazer, e mesmo que
tenha sido difícil para mim, achei que se apenas o deixasse ver Twitch,
ele seria mais feliz.
— Claro.
Era difícil respirar em torno da tensão no ar. — Você pode não
entender a situação em que estou. Estou ferrada se fizer, também se não
fizer. Estou tentando ser esperta sobre isso, Dave. Apenas tentando
pegar a estrada com a menor quantidade de minas enterradas nela.
Ele parecia absolutamente desanimado. — Eu sei.
— E Twitch tem sido surpreendentemente bom neste momento, —
eu revelei de má vontade. — É como... não sei. Ele mudou, Dave. Eu não
sei onde ele estava ou o que estava fazendo, mas o tempo longe fez algo
com ele. — Meus olhos implorando, eu disse: — Este homem vai estar
por perto. Eu gostaria que todos nós nos entendêssemos. Se você não
pode fazer isso por mim, por favor, faça por AJ, porque ele ama o pai.
— E quanto a você, Lex? — Ele segurou meus olhos. — Você o
ama?
Até o dia que eu morrer. — Eu nem o conheço mais.
Dave parecia moderadamente apaziguado pela minha resposta,
porque deixou por isso mesmo. Ele também se juntou a nós para o
jantar, e quando as pessoas começaram a chegar, sua preocupação com
a presença de Twitch era tão evidente em seus rostos que eles não
precisavam dizer uma palavra sobre isso.
Felizmente, ninguém disse nada sobre isso, e honestamente, eu
também não teria, dado os olhares ousados que Twitch
apresentou. Pareceu estranho por um tempo, mas quando Ana começou
a falar com Twitch, a mesa ganhou vida com a conversa. Claro, Twitch

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não estava muito envolvido, mas ele ficou, e Julius continuou civilizado,
observando seu velho amigo, seu irmão, com uma luz em seus olhos que
eu não conseguia ler exatamente.
O que era isso? Melancolia? Raiva? Tristeza? Eu não pude
identificar. Talvez um pouco dos três.
Quando Happy entrou pela porta com Nikki, eu achei difícil olhar
para ele, e quando ele se aproximou de mim com cuidado, como se fosse
um cervo assustado, olhei para o meu amigo e o observei
desmoronar. Ele abriu a boca para falar, mas nada saiu. Ele olhou para
um Twitch atento antes de seus lábios se estreitar e seus olhos fechar,
enquanto murmurava: — Lex, eu... eu sinto muito.
Quando eu dei os três passos e passei meus braços ao redor de
sua cintura, ele me apertou com tanta força que eu engasguei. Senti sua
desculpa, senti sua tristeza por me decepcionar, senti seu
arrependimento naquele abraço apertado. Eu não falei. Eu não
consegui. Eu simplesmente estendi a mão e peguei seu rosto em minhas
mãos, pressionando um beijo suave em sua bochecha.
Não era perdão, não exatamente. Era uma pequena misericórdia
que lhe dei, porque o amava, meu querido amigo.
Logo depois de comer a sobremesa, todo mundo estava fazendo um
movimento para sair, e Twitch estava no meio de dizer boa noite para AJ
que eu não tinha a intenção de escutar, mas quando me aproximei, a
pergunta do meu filho me manteve cativa.
— Tio Dave disse que você machucou mamãe. — Ele parou por um
momento. — É por isso que ela está brava com você?
— Sim, amigo, — foi tudo o que Twitch disse.
— Você pediu desculpas?
— Não, eu não fiz. — Ele hesitou. — Eu não posso pedir desculpas
pelo que fiz.
— Às vezes, quando deixo mamãe chateada, ela precisa de um
abraço. — Meu coração sacudiu. — Talvez você devesse abraçá-la.
Twitch soltou uma risada leve. — Eu poderia tentar isso. Obrigado
pelo conselho.

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AJ parecia satisfeito consigo mesmo. — De nada.
Eu não pude deixar de sorrir quando voltei para a cozinha.
A verdade era que, depois do mês que eu tive, poderia precisar de
um abraço.

~ 183 ~
CAPÍTULO DEZESSETE
Lexi

Twitch passou à tarde com AJ depois de ir buscá-lo na escola, e


quando cheguei do trabalho com dor de cabeça e de mau humor, ele me
encurralou no corredor quando eu saí do meu quarto.
Seu olhar atento percorreu meu rosto. — Você está bem?
O que te importa?
Ugh. Reação automática. Eu realmente precisava parar com isso.
Eu estremeci, depois olhei para ele com os olhos apertados,
falando baixinho. — Sim. Só preciso de analgésicos e ficarei bem.
Quando ele marchou para a cozinha e abriu os armários, eu
demorei um pouco, mas o segui, e quando ele encheu um copo com água
e se aproximou segurando as pílulas em uma mão, o copo de água na
outra, eu fiquei lá, lábios franzidos em pensamento. — O que você está
fazendo?
Ele franziu a testa para as pílulas, em seguida, olhou para mim
sem falar.
Eu hesitei.
Twitch suspirou, pegando o copo e colocando-o na ponta da mesa
da cozinha; as pílulas o seguiram. Ele olhou demoradamente para mim
antes de dizer: — Mulher teimosa, — depois saiu da sala para se sentar
com AJ no sofá, assistindo The Lego Movie.
Eu não estava acostumada a isso, a Twitch sendo um participante
ativo na minha vida. Mesmo quando namoramos, tivemos um
relacionamento estranho. Era dar e receber.
Eu dava enquanto Twitch tomava, às vezes mais do que eu tinha
para dar.
Então me processe por estar hesitante. Eu não estava acostumada
a ser cuidada por um homem que uma vez me disse que iria me quebrar.

~ 184 ~
Suspirando levemente, tomei as pílulas com um grande gole de
água, depois entrei na sala de estar e olhei para Molly. — Eu preciso de
alguns minutos para essas pílulas fazer efeito.
Ela assentiu. — Sem problemas. Eu vou cuidar do jantar.
Eu lancei-lhe um olhar de pura gratidão. — Você é maravilhosa. —
Quando meus olhos se fixaram nos dois corpos entrelaçados no sofá,
meu coração derreteu. Twitch estava deitado de costas, com os braços
dobrados para cima atrás da cabeça, fazendo com que seus bíceps se
levantassem de uma maneira quase pecaminosa. O garotinho envolto em
suas pernas com os pés cobertos de meia abraçando seu pai com os dois
braços, como se estivesse com medo de ser tirado dele, e meu coração
derreteu dolorosamente. Quando AJ enfiou a mão no bolso do casaco de
Twitch e pegou dois botõezinhos de chocolate com as cores do arco-íris,
jogando-os em sua boca, as lembranças de um passado distante
voltaram.
Aqueles doces olhos castanhos se concentraram em mim. — Você
está bem, mamãe?
Eu sorri para o meu filho. — Tudo bem querido. Obrigada por
perguntar. — Eu arrisquei um olhar furtivo para Twitch que acabou não
sendo tão furtivo porque o homem estava olhando diretamente para
mim, um calor familiar em seu olhar.
Meu último pensamento antes de voltar para o meu quarto era
sombrio.
Se você machucá-lo, eu mesmo te mato.
E se chegasse a isso, eu tinha certeza que o faria.
— Ei, mamãe urso.
Eu me estiquei sob as cobertas e pisquei através da sonolência. A
longa sombra deitada ao meu lado falou de novo. — Seu filhote está
perguntando por você.
Confusa e piscando através do meu sono, perguntei um áspero: —
Que horas são?
— Sete e meia.

~ 185 ~
Meus olhos se abriram. — O quê? — Sentei-me na cama e as
cobertas caíram até a cintura. Eu me estiquei languidamente e falei
através de um bocejo: — Por que ninguém me acordou?
Twitch se elevou, descansando a cabeça na mão erguida. — Porque
mandei todos ficarem quietos e deixar você dormir.
Eu soltei um longo suspiro. — Você não precisava fazer isso.
— Eu sei que não, mas fiz. — Seus olhos descansaram no meu
decote, descendo. — Você precisa cuidar de si mesma, baby. — De
repente, percebi que estava usando uma camiseta decotada sem sutiã, e
quando tentei discretamente cobrir meu peito, seus lábios levantaram
nos cantos. — Nada que eu não tenha visto antes. — Quando se
levantou, ele disse: — Apenas uma questão de tempo antes de ver tudo
novamente.
Uma risada chocada me deixou. — Você é tão cheio de merda.
— Eu não sou. — Ele parecia um pouco insultado.
— Oh, mas você é, — eu insisti, em seguida, soltei um sorriso
improvisado. Ele não precisava saber que eu estava queimando com o
pensamento de estar com ele novamente. — O que faz você pensar que
eu ainda quero você, Twitch?
Ele se inclinou para mim e eu recuei da intimidade desse pequeno
movimento. E quando ele falou, as palavras me atingiram com a força de
mil orgasmos. — Porque eu sou seu maldito rei, e você é minha linda
rainha. Então, seja boazinha, curve-se a mim... — Sua voz baixou um
pouco. — ...e deixe-me amá-la. — Ele deslizou para fora das cobertas,
deixando-me desolada e sozinha. Ele se endireitou, e o ar de arrogância
sobre ele aumentou um nível inteiro. Ele se moveu lentamente em
direção à porta. — Venha dar boa noite para o nosso filho para que eu
possa levá-la de volta para a cama e mostrar o quanto senti sua falta.
O ar queimou nos meus pulmões. — Você é louco.
Ele sorriu então. — Culpado, baby.
Se o caos e a fúria se unissem, Twitch seria a criança nascida do
acoplamento. E que furacão bonito e louco ele seria.

~ 186 ~
Minha determinação estava oscilando em um ritmo alarmante. Eu
não podia negar que o queria. A questão era, eu seria louca o suficiente
para aceitá-lo de volta?
Mais tarde naquela noite, foi preciso alguma insistência, mas
Twitch finalmente foi embora e, ao fazê-lo, balançou a cabeça e
suspirou. Já passava das onze quando me levantei para pegar um copo
de água e, quando coloquei o copo nos lábios, meu coração gaguejou
diante da sombra sentada na varanda dos fundos.
Minhas sobrancelhas se estreitaram, enquanto murmurei
baixinho: — Que diabos ele está fazendo?
Por que ele está escondido lá fora?
Tão rapidamente quanto o pensamento veio, eu reconheci o erro
na minha suposição.
Ele não estava escondido. Ele estava esperando para eu encontrá-
lo.
Tomando meu copo de água, abri a porta de correr, saindo. Sem
uma palavra, sentei-me no último degrau, envolvendo meu quimono em
volta das minhas pernas, quando o fiz. Twitch sentou no degrau abaixo,
e quando ele colocou algo nos lábios e um suave brilho laranja cintilou
na escuridão, eu olhei furiosamente no escuro. — Você está falando
sério?
Ele inspirou profundamente o baseado e, quando soltou a fumaça,
disse: — É para o meu glaucoma.
Minhas sobrancelhas arquearam e quando ele deu outra tragada,
eu me inclinei para frente e suavizei meu tom. — Você tem glaucoma?
Ele engasgou com sua risada, fumaça saindo de sua boca com
cada tosse, e a mortificação me excitou.
Oh meu Deus. Eu era uma idiota.
A risada áspera de Twitch continuou, e quanto mais se prolongava,
um sorriso se formava em meus lábios, e logo depois, eu estava rindo da
minha própria estupidez. — Ah, cale a boca. Estou cansada.
Quando a risada dele diminuiu, ele murmurou: — Porra, eu senti
sua falta.

~ 187 ~
— Você não tinha que sentir minha falta. — Eu não pude
evitar. Eu estava sofrendo. — Você poderia ter ficado.
— Você acha que se isso fosse uma opção, eu não estaria aqui?
Dei de ombros. — Eu não sei.
Quando eu olhei para ele, ele chamou minha atenção por um
momento, antes de dizer: — Não me olhe assim.
— Assim como?
A intensidade do seu olhar me perfurou. — Como se me odiasse.
Eu não o odiava?
Por que eu não o fiz?
Eu abaixei meu olhar ferido e suspirei. Já era tempo. — Vamos
conversar.
Twitch deu outra tragada no baseado antes de me oferecer. Eu
hesitei e ele disse: — Isso me ajuda a dormir.
Eu balancei a cabeça, mas queria tanto, precisando disso para
lidar com a conversa pela frente. Eu fechei minhas mãos em punhos e
recusei educadamente. — Eu não uso mais isso. — Memórias de Twitch
colocando seus lábios nos meus e levemente soprando a fumaça
pungente na minha boca enquanto eu inalava a mistura de drogas e o
próprio homem me excitou.
Meu peito doía com a necessidade de reviver isso. Mas eu
permaneci firme, negando essa necessidade.
— Por que você fez isso? — Eu falei na noite silenciosa.
Ele não falou por um longo tempo, e me perguntei se ele realmente
falaria. Mas então ele começou, e embora possa não ter sido a explicação
que eu queria, era uma explicação, no entanto. — Eu nunca planejei as
coisas do jeito que aconteceram. Nunca planejei te querer do jeito que
faço, precisar de você do jeito que faço. E uma vez que você era uma
droga correndo em minhas veias, sabia que faria qualquer coisa por
você. Até mesmo desaparecer, se era isso que precisava.
Meu silêncio foi um convite para continuar, e ele fez. — Tomei
algumas decisões ruins no meu tempo como rei. Fiz inimigos e não me
importei porque nunca planejei passar dos quarenta. — Ele respirou

~ 188 ~
fundo e soltou o ar lentamente. — Mas isso mudou, e eu sabia que se a
reivindicasse abertamente, estaria colocando um alvo em sua cabeça. —
Ele olhou para mim. — Preciso que saiba que nunca tive a intenção de
morrer para você, mas quando você me disse que estava grávida e aquele
idiota atirou em mim, foi uma oportunidade que eu não poderia
desperdiçar.
Eu estava tão confusa. — Eu não entendo. Que oportunidade?
— Passei muito tempo procurando pessoas, limpando minhas ruas
de ameaças. — Ele me lançou um olhar. — Purgar a maldade e chegar a
uma posição em que voltar significaria que nada tocaria meu menino.
Oh meu Deus. Isso soava como se ele estivesse me dizendo que
passou os últimos cinco anos rastreando as pessoas e... matando-as. —
Por que você está me contando isso?
— Você e eu somos agora um livro aberto. — Seus olhos me
seguraram com firmeza. — Eu espero que você possa lidar com isso,
baby, porque algumas das merdas que vou lhe contar é fodida, mesmo
para mim.
Meu coração saltou. Eu estava pronta para isso? Eu não sabia.
— Me entreguei para a polícia.
— O quê? — Eu perguntei, completamente atordoada.
Ele soltou uma risada. — Eu sei. Eu, trabalhando com as
autoridades. Que porra é essa? Trabalhei com o FBI por um tempo, e se
desse o que prometi, ganharia imunidade completa e conseguiria voltar
para você. Esse era o acordo. — Ele fez uma pausa. — Eu não achei que
levaria tanto tempo quanto levou. Eu fui arrogante, achando que
resolveria a merda em um ano. — Ele zombou. — O primeiro ano foi o
mais difícil. Eu consegui nada rapidamente. Sem pistas, sem
recursos. As duas únicas pessoas que sabiam que eu estava vivo eram
as duas pessoas que me ajudaram a morrer. Dormi na rua, roubei o que
precisava e vivi do lixo em alguns momentos. Às vezes tinha surtos e
desistia, planejava continuar morto. Mas... — Ele fechou os olhos e
olhou para mim cansado. — Eu sou egoísta, baby. Precisava estar com
meu filho. Precisava voltar para casa para você.

~ 189 ~
Ele recostou-se no degrau, apoiando-se nos cotovelos, olhando
para o quintal. — Ninguém tomaria sua coroa. Não no meu turno. Eu
forjei-lhe um trono, anjo, e o fiz dos corpos mutilados e ensanguentados
de cada filho da puta que ficou no meu caminho, te deixando sentada
bem em uma poça de sangue, usando uma coroa de espinhos. — Ele
sorriu, então sua voz encheu de reverência. — Minha rainha.
Meu estômago se apertou. Isso não deveria ter acendido um fogo
dentro de mim. Jesus Cristo, eu era uma aberração.
— Ninguém chegaria até você, até meu menino. Use meu corpo
como um escudo. Corte-me. Drene meu sangue. — Ele balançou a
cabeça lentamente. — Não acontecerá.
Eu tinha tantas perguntas. Não sei por que escolhi a que fiz. — O
que aconteceu com a sua tatuagem?
Eu não precisei especificar. O icônico 13 que eu passara a amar
não mais enfeitava a maçã de sua bochecha. Em seu lugar havia uma
cicatriz. A cicatriz que testemunhei ele receber aos oito anos quando
éramos crianças, reunimos em uma noite curta, destinados a nos
encontrar novamente como amantes, e embora não soubesse disso na
época, eu precisava dele.
Ele era um fogo tão quente que sua chama ficou azul. E eu queria
ser queimada uma e outra vez, sorrindo através da dor e implorando por
mais.
Eu era claramente uma masoquista, mas às vezes você precisava
sangrar para lembrar que ainda estava viva. E Twitch me fez sangrar,
exalando calor vermelho até meu coração parar, e toda vez que ele me
matava, eu era revivida com um único beijo.
Seu amor era mortal e eu não queria o antídoto.
Twitch olhou para mim por um longo momento. — Dê um pouco,
receba um pouco. Você sabe como isso funciona, baby. Eu dei um
pouco, então agora é a sua vez. Você me dá o que eu quero e responderei
suas perguntas.
Imediatamente cansada, deixei escapar: — O que você quer?
Sua voz áspera, nomeou isto. — Eu quero que você me toque.

~ 190 ~
Quando revirei os olhos e me movi para ficar de pé, sua mão
quente se fechou ao redor do meu pulso, me puxando de volta para
baixo. — Não assim. Quero dizer em qualquer lugar. Onde você
quiser. Apenas... — Sua voz era baixa, grossa. — Toque-me baby.
Soava tão inocente, mas eu conhecia Twitch, e nada nele era
inocente. Acreditar que ele fosse capaz de algo tão puro era tolice. Mas
eu queria tocá-lo.
Eu interiormente suspirei. Eu detestava que vivesse por
afeição. Algo tão básico quanto um simples toque era tão importante
para mim. Isso poderia transmitir mensagens não ditas, e agora, a
necessidade que Twitch usava em seu rosto cansado me dizia que ele
precisava disso.
Arrastando-se, ele esperou pacientemente enquanto eu levantava
minha mão direita e a levava ao seu rosto, gentilmente o envolvendo. No
momento em que meus dedos entraram em contato com sua pele quente,
seus olhos se fecharam por conta própria e eu o observei respirar fundo,
liberando lentamente, saboreando meu toque.
O efeito que eu tinha nele me encheu de poder repentino, e me
deliciei com seu estado relaxado.
Colocando minha outra mão em seu pescoço, passei minhas
unhas sobre a barba bem aparada, celebrando a maneira como seu rosto
se transformava em uma expressão de puro êxtase, e falei baixinho: —
Diga-me.
Ele fez um som baixo em sua garganta. — Era uma marca muito
óbvia. O FBI me fez tirar a laser. — Ele gemeu baixinho quando minha
mão deslizou até seu ombro, levemente amassando o nó que encontrei, e
ele falou através de um suspiro. — Pensei em você a cada segundo, todos
os dias.
Eu queria subir em seu colo e implorar por um único beijo. — Para
onde vamos a partir daqui? — Então, ainda mais calmamente, — Como
vamos seguir em frente?
Seu olhar encapuzado pousou em mim, e sua resposta foi tão
suave quanto sua voz rouca permitiria. — Muito devagar.

~ 191 ~
Olhei para aqueles suaves olhos castanhos e passei meus dedos
suavemente pelo queixo. Minha voz estava pouco mais que um
sussurro. — Eu não sei se posso perdoar você.
Sua resposta foi puro Twitch. — Nunca pedi por isso, anjo.
Bunda arrogante.
Olhando para baixo em seu rosto, eu o observei enquanto ele me
observava, e estar com ele, bem aqui na minha varanda dos fundos,
parecia tão certo que fiz uma careta, desapontada comigo mesma.
Esse era o problema, eu acho. Quando você olhava para alguém
através de óculos cor de rosa, todas as bandeiras vermelhas? Elas eram
apenas... bem... bandeiras. Modesto. Seguro.
Mas eu sabia melhor.
Passando minhas mãos pelo seu cabelo longo demais, aumentei
meu aperto, puxando para trás, forçando sua cabeça para cima e
amando o jeito que seu lábio se curvou em desconforto. Eu levei meu
rosto para perto dele, lentamente, de forma significativa, e quando
nossos lábios estavam apenas à distância de um fio de cabelo, falei
baixinho. — Você precisa de um corte de cabelo.
Liberando-o rapidamente, me levantei e me movi em direção à
porta de correr, parando apenas quando ele soltou um som perplexo, —
É isso? É tudo o que você tem a me dizer?
Eu franzi meus lábios em pensamento, inclinando a cabeça
ligeiramente, e então assenti. — Sim.
Meus olhos encontraram os dele quando tranquei a porta e
desliguei a luz da cozinha, deixando-o inundado na escuridão. E dizer
que eu estava orgulhosa de mim mesma era um enorme eufemismo.
Sim.
Eu era mais forte do que me dava crédito.

~ 192 ~
***

Twitch

Uma risada surpresa me deixou quando me sentei sozinho na


varanda escura.
Eu me ajustei em minhas calças e meu lábio tremeu.
Ela me deixou louco. Tudo o que eu queria fazer era caçá-la,
dobrá-la e dirigir para casa, bombeando em sua boceta doce até
descarregar dentro dela.
Mas eu esperaria. E essa espera tornaria tudo ainda mais doce.

~ 193 ~
CAPÍTULO DEZOITO
Ling

O The Cross estava tendo uma boa noite. A música tocava


enquanto eu assistia do balcão fechado, e no segundo que o vi, minhas
sobrancelhas franziram.
Que porra ele estava fazendo aqui?
Eu olhei ao seu redor, investigando. Ele estava sozinho ou, pelo
menos, parecia estar. Descendo, mantive meus olhos abertos,
antecipando o ataque que assumi estar chegando. Mas quando o vi
sentado sozinho no bar, a curiosidade me moveu para frente.
Meus rapazes estavam por perto, observando, mas mantendo
distância, e quando um deles se adiantou, atirei-lhe um olhar duro. Ele
recuou imediatamente, e andei até ele, parando atrás dele, proferindo: —
O que você está fazendo aqui, Az?
Ele endireitou seu longo corpo quando se levantou. Seus olhos
sorriam e eu queria arrancá-los. — Senti sua falta.
Foda-se ele. — Você precisa sair, — eu disse com firmeza. — Você
não é bem vindo aqui.
Aslan deu um passo mais perto, mas parou quando peguei minha
arma, apontando para seu pau. Ele levantou as mãos em sinal de
rendição. — Passei para ver como estavam as coisas. Eu sei que você
tem uma remessa chegando. Vim para ver se você queria selar a paz. Eu
poderia ajudá-la, Ling.
Ele deu outro passo e meu estômago doeu. Ele estava invadindo, e
eu não queria machucá-lo, mas faria se precisasse. — Afaste-se, Az.
— Não, — foi tudo o que ele disse quando deu outro pequeno
passo para perto de mim. Mais um passo e estaríamos nivelados um
contra o outro.
Ele estava invadindo, violando um código, e meus homens sabiam
disso. Eu podia sentir seus olhos em mim, avaliando meu próximo
~ 194 ~
movimento. Eu permitiria que Aslan Sadik viesse a minha casa e me
desrespeitasse do jeito que estava fazendo?
Não, eu não faria.
Eu não podia.
Eu não queria fazer o que fiz, mas faria do meu belo turco um
exemplo.
Apontando para a esquerda, eu puxei o gatilho, e o tiro soou sobre
a música. O corpo inteiro de Aslan estremeceu e, colocando uma mão ao
seu lado, ele soltou uma risada chocada. — Você atirou em mim. — Ele
levantou a mão para olhar para a umidade vermelha lá, e ofegou, — Você
me acertou. — Seus olhos arregalados encontraram os meus, e quando o
fizeram, seu lábio se contraiu. — Sua cadela louca.
Oh, por favor. Foi uma ferida superficial. Se eu o quisesse morto,
ele estaria, e sabia disso.
Um dos meus homens se aproximou, com a arma apontada para
Aslan, e dei um passo para trás, longe de um homem casado que eu não
poderia ter. — Escolte o Sr. Sadik até seus homens. Se eles causarem
problemas... — Eu me virei e comecei a me afastar. — Pinte a cidade de
vermelho.
Enquanto eu estava sentada sozinha no apartamento da cidade
com a cabeça nas mãos, não conseguia controlar meu coração
acelerado. Eu não chorava há anos, desde que Twitch morreu, e se eu
ainda tivesse a capacidade tenho certeza que teria chorado antes. Mas
eu já havia secado há muito tempo.
Quando a porta da frente se abriu, suspirei de alívio. Algo me dizia
que ele viria, e no momento em que ele apareceu, balançando a cabeça
para mim, sorri tristemente.
Az se moveu colocando as mãos nos quadris, mas quando tocou
sua ferida, fez uma careta, em seguida, olhou para mim. — Eu não posso
acreditar que você atirou em mim.
— Você pediu por isso, — retruquei porque ele merecia o que
recebeu e teve sorte de eu não querer matá-lo.

~ 195 ~
— Sua vadia louca, — ele disse mais uma vez, atravessando a
sala. Antes que ele chegasse a mim, fiquei de pé, esperando. No
momento em que chegou perto o suficiente, ele deslizou os braços em
volta da minha cintura e abaixou o rosto para o meu, pressionando
beijos suaves nos meus lábios, e eu amei como ele me deixou tonta. Sua
loção pós-barba cheirava tão bem que eu queria lamber uma linha do
pescoço dele até o seu pau. Eu coloquei minhas mãos em seu peito,
gostando do jeito que ele me fazia sentir tão pequena. Ele fez um som
baixo em sua garganta, em seguida, falou entre beijos. — Minha cadela
louca.
Fechei meus olhos, me pressionando contra ele. — Eu não queria.
— Eu sei, — disse ele. — Eu pude ver que não. Sinto muito por
pressioná-la. Eu só, — ele suspirou, — realmente senti sua falta,
querida. — Seus olhos me perfuraram. — Diga que me ama.
Não.
Eu balancei a cabeça, meus olhos tristes. Ele não podia me pedir
isso. Eu não podia lhe dar isso. Ele não era meu. Ele nunca seria. Nós
éramos estúpidos por tentar algo que nunca poderia ser, mas eu nunca
quis alguém do jeito que queria esse homem. Eu o amava mais do que
sabia.
Então eu empurrei. Correndo minhas unhas no seu peito, olhei em
seus olhos e murmurei: — Venha para a cama comigo.
Eu não estava esperando a resposta que recebi.
— Ok, — ele respondeu, e quando me deu aquele sorriso de
bilhões de dólares, não pude deixar de devolvê-lo. Deus, ele era tudo. Ele
não conseguia se afastar de mim tempo suficiente para andar a curta
distância, e eu ri enquanto tropeçávamos no quarto, sorrindo para os
beijos desse homem bonito. Dedos hábeis abriram o zíper do meu
vestido, e quando ele deslizou para o chão, eu saí dele, andando
rapidamente até a cama e subindo nela com um sorriso. Uma vez que
assumi a posição - de quatro com a minha bunda no ar, a cabeça
encostada nas cobertas e com as mãos nas costas de maneira submissa,
suspirei: — Foda-me, baby.

~ 196 ~
Um longo tempo se passou, e quando percebi que ele não tinha se
movido, sentei-me, olhando para ele por cima do meu ombro. Eu o vi
olhando para o teto, com uma expressão de pura frustração.
Meu coração afundou. — O que há de errado?
Ele desviou o olhar. — Isso não era o que eu tinha em mente. —
Seus lábios se estreitaram. — Eu não quero isso.
O orgulho me fez ranger por dentro. — Você não me quer?
— Eu quero, — ele me assegurou. — Mais do que tudo. Mas não
assim, Ling. — Seus olhos mostraram sua infelicidade. — Assim não.
O quê? Como deveríamos foder então?
Sentei-me na beira da cama de calcinha e olhei para ele
intrigada. — Nós podemos fazer do jeito que você quiser, Az. Como você
me quer? Algemada? Amarrada? De olhos vendados? Eu tenho um
uniforme escolar em algum lugar por aqui. Eu posso te chamar de
papai. Qual é o seu desejo? — Quando ele fechou os olhos com força e
soltou uma maldição, eu comecei a ficar puta. — Eu preciso que você
fale comigo, baby. O que está acontecendo aqui? Porque estou muito
confusa. — Minhas sobrancelhas se franziram. — Eu achei que você
queria isso.
— Venha aqui, — foi tudo o que ele disse, apertando a ponte do
nariz, e quando me aproximei com cuidado, ele olhou para mim e disse:
— Você tem alguma ideia do quanto eu quero você? — Eu olhei para
baixo em seu jeans apertado, mas ele riu baixinho. — Não. Não assim. —
Ele colocou minha mão em seu peito, apenas sobre seu coração. —
Aqui. É aqui que quero você. — Ele levou meus dedos aos lábios. — Eu
preciso de você aqui também. — Quando ele puxou minha mão para sua
têmpora, me olhou profundamente nos olhos, e explicou: — Eu quero
compartilhar tudo com você. Meu corpo, meu coração, minha mente, eu
quero dar tudo a você. Só você. Mas... — Suas sobrancelhas baixaram
quando um pensamento o atingiu. — ...Eu não acho que você saiba
como compartilhar dessa maneira, não é, baby?
O que ele estava me pedindo, eu não podia dar. Não porque eu não
quisesse. Porque eu nunca tive isso em primeiro lugar. Eu era

~ 197 ~
insensível. Meus sentimentos estavam dormentes. Eles tinham sido
arrancados de mim em uma idade muito jovem. Mas se eu tivesse essas
coisas, se pudesse dar essas coisas a alguém, eu as daria para Aslan
Sadik.
— Eu não consigo, — disse a ele miseravelmente, querendo tanto
ser o que ele precisava.
E pela primeira vez na minha vida adulta, me senti terrivelmente
inadequada e completamente falha. Que sensação estranha e
deprimente.
Ele pegou minha mão e apertou seus lábios em meus dedos, me
observando de pálpebras abaixadas. Quando ele falou, fez isso
suavemente. — Você confia em mim o suficiente para tentar?
Eu confiava?
Foi difícil falar. Aslan me fazia querer coisas que eu nunca quis
antes. Um pensamento assustador. — Claro. — Mas eu lancei-lhe um
olhar duro. — Mas se eu não gozar, vou ficar puta.
Sua risada suave contra meus dedos foi leve, doce e bonita de uma
maneira que eu não sabia que existia. — Eu prometo que vou deixar
você completamente satisfeita.
Uma pontada repentina rasgou meu peito porque ele me deixaria
para ir para casa com sua esposa. A mesma esposa que o adorava.
Aslan me fazia sentir humana em um mundo que me dizia que eu
era um monstro. Parte de mim o amava por isso. A outra parte o
detestava por me mostrar como era, quando eu poderia ter sido feliz e
ingênua pelo resto dos meus dias.
Agora eu sabia mais. Sabia o que estava perdendo, e era
impossível não lamentar os anos que perdi na minha situação.
Quando Az desceu, seus lábios cheios tocaram minha bochecha. —
Coloque seus braços a minha volta. Segure-me, Ling. Como se você
nunca quisesse me deixar ir.
Eu não queria. Então, eu fiz o que ele pediu e serpenteei meus
braços ao redor dele, cuidando seu machucado. Era realmente
engraçado; Há um mês, a ideia de ferir homens me deixava

~ 198 ~
excitada. Mas quando se tratava desse homem, a ideia de machucá-lo
fazia meu estômago revirar. O que estava acontecendo comigo?
Meu batimento cardíaco diminuiu quando olhei em seus olhos
escuros. Ele parecia um anjo ao luar, e quando ele me beijou, vi
estrelas. Ele fez amor com a minha boca suavemente antes de sua língua
encontrar a minha, acariciando-a com a dele, e ele tinha um gosto
delicioso, como bourbon e hortelã. Ficamos lá por horas, e pela primeira
vez na minha vida, meus lábios inchados não tinham nada a ver com
serem atingidos, mordidos ou esbofeteados.
Seus beijos suaves combinados com seus toques leves me fizeram
cambalear com antecipação. Mais uma vez, não era algo que eu estava
acostumada. Meu tipo de sexo era o áspero, roupas sendo rasgadas, e Az
ainda nem tinha me tocado em qualquer lugar que eu precisasse ser
tocada. Meus mamilos enrijeceram contra o meu sutiã de renda, quase
como se estivessem tentando buscar seu toque. Minha boceta doía de
um jeito que eu nunca tinha experimentado. Minha ânsia fez meu
clitóris sensível desejando apenas um toque de seus dedos.
Tudo de ser beijada.
Az andou comigo para trás com os braços ainda a minha volta até
a parte de trás das minhas pernas baterem no pé da cama, e assumi que
era isso. Este era o lugar onde ele me viraria, me dobraria e me foderia
duramente. Mas isso não aconteceu. Não. Em vez disso, ele bateu
levemente na minha bunda. — Suba na cama, baby.
O que, assim como eu estava? Sem chupar seu pau? Sem remover
minhas roupas? Sem remover as suas roupas? Sem exigências? Que
porra é essa?
Eu subi no centro da cama e assisti com fascinação quando ele
deslizou sobre as cobertas ao meu lado, me puxando contra seu
corpo. Quando senti sua dureza no meu quadril, abaixei-me para
esfregar, mas a mão de Aslan interceptou a minha. — Deixe-me fazer
você se sentir bem. Então você pode me tocar.
Quando seus lábios tocaram os meus, eu suspirei em sua
boca. Nada nunca foi tão bom quanto os lábios deste homem. Ele passou

~ 199 ~
a mão pela minha lateral, seu polegar suavemente acariciando a pele
acima da linha da minha calcinha, e então seus lábios arrastaram beijos
firmes, de boca aberta do meu queixo, para o meu pescoço, ainda mais
baixo. Az levemente me empurrou de costas, e quando sua boca deixou
uma linha de beijos no centro do meu corpo no vale dos meus seios, eu
arqueei minhas costas, querendo mais do que ele estava dando. E pelo
jeito que ele riu, ele também sabia disso.
Az pressionou seus lábios na área logo abaixo do meu umbigo, e
meu estômago apertou sabendo o que estava por vir. Ele abriu minhas
pernas e me beijou sobre a minha calcinha. E minha boceta inundou.
Puta merda. Que excitante. Um homem levando seu tempo. Quem
diria?
Era irreal, a sensação. Era quase demais, mas também não era
suficiente. Eu levantei meus quadris para sua boca, procurando por
mais, e fui recompensada quando ele pressionou mais forte no meu
núcleo coberto pela calcinha, mordiscando e lambendo suavemente
através do material fino. Um gemido baixo me escapou. Eu me senti bem
no que ele estava fazendo comigo, e quando ele tirou a boca de onde eu
precisava, levantei a cabeça para olhar para ele, completamente
desapontada.
Az sorriu para mim, de pé antes de se despir lentamente. Quando
ele deixou sua cueca boxer, eu quase fiz beicinho. Eu queria esse pau.
Ele subiu, elevando-se sobre mim até que sua posição estivesse
certa, e quando ele se abaixou, apoiando a maior parte de seu peso em
seus braços, e o contorno sólido de seu pau descansou na minha
calcinha já encharcada, suspirei, jogando minha cabeça para trás nas
cobertas. Quando ele começou a se mover, moendo contra mim, comecei
a ofegar levemente.
Parecia incrível e não estávamos nem pele a pele. Eu estava
absolutamente estupefata.
Alcançando meus seios, ele puxou um bojo para baixo, revelando
um mamilo tenso e necessitado. Ele olhou para mim por um momento
antes de abaixar a cabeça e capturar aquele pico duro entre os lábios,

~ 200 ~
sugando suavemente, e eu quase saltei da cama. Eu senti cada puxão de
sua boca como se ele estivesse chupando meu clitóris. Sua mão se
moveu do meu quadril, deslizando para baixo para gentilmente me
esfregar sobre a minha calcinha e, franzindo minhas sobrancelhas, soltei
um gemido baixo.
Sim. Contato direto.
Ele mal estava me tocando, as pontas dos dedos dele esfregando
círculos suaves sobre o meu clitóris coberto de renda, e apenas quando
minha boceta apertou com força, Az perguntou: — Você está limpa,
baby?
O quê? Meus olhos se abriram.
Eu pisquei para ele, e as palavras foram ditas em voz baixa. — Eu
não sei. — Porque eu não sabia. Fazia meses desde que fui testada.
Mas o tom de Aslan não tinha julgamento. — Ok. — Ele tirou um
preservativo do cós da cueca e abriu-o antes de tirá-lo e enrolá-lo. Ele fez
um trabalho rápido na minha calcinha, e então se deitou entre as
minhas pernas abertas.
Eu não pude deixar exclamar um incrédulo — Missionário?
— Sim. — Ele sorriu para mim. — Eu quero te beijar, baby? Tudo
bem?
Tudo bem?
— Sim. — Eu acho que estava tudo bem.
Ele recuou um momento, pegando seu pau na sua mão e guiando-
o para mim. No momento em que senti a ponta dele acariciar minha
abertura, meus lábios se separaram. Eu não acho que houve um
momento na minha vida em que estive mais excitada do que
agora. Claro, o sexo que fiz antes me fez gozar principalmente pelo fator
do choque. Mas isso era a coisa real. Não era só sexo. Aslan Sadik estava
me regando de amor e eu senti isso.
Az empurrou, lentamente, e meu coração bateu no meu peito
enquanto ele trabalhava em mim, empurrando gentilmente até que eu
estivesse totalmente empalada. E então ele se moveu, e eu sabia que
nunca seria a mesma. Com seus olhos em mim, ele puxou para trás,

~ 201 ~
dirigindo de volta para mim, em seguida, começando um ritmo. Em
pouco tempo, eu estava toda quente, e quando ele me beijou, eu gemi
contra seus lábios, beijando-o de volta ansiosamente.
Eu senti isso chegando, mas desta vez foi diferente. Normalmente,
quando eu gozava, vinha com força e rapidez e arrancava o sentido de
mim. Esta era uma queimadura lenta. Uma subida.
Minha boceta apertou em torno dele e suas sobrancelhas
franziram, a boca abrindo. — Oh sim, baby. Minha linda garota. Você vai
gozar para mim, Ling?
Suas palavras suavemente faladas fizeram algo comigo. Senti as
picadas na linha da minha espinha, e quando meu núcleo pulsou
dolorosamente forte, meu estômago apertou e minha boca arredondou
quando meus olhos se abriram, completamente fora de foco.
Um momento depois, meu corpo inteiro pulsou e eu caí em
pedaços, ordenhando seu pau quando encontrei a minha libertação.
— Porra, Ling, — Az gemeu, beijando meus lábios frouxos. — Oh,
merda. — Ele ofegou, fechando os olhos. — Baby, sim.
Enquanto eu ainda estava descendo do meu orgasmo, Az dirigiu
para dentro de mim, seus quadris empurrando erraticamente até que ele
se enterrou o mais profundamente que pôde e se manteve lá, dentro de
mim, quando seu pau começou a pulsar. Ele gemeu longo e baixo antes
de cair sobre mim, segurando meu seio enquanto tentava estabilizar sua
respiração. Eu podia sentir seu batimento cardíaco rápido através da
jugular em seu pescoço, e por algum motivo, isso me fez sorrir.
Mas esse sorriso foi de curta duração.
De repente, o pensamento de perder isso, de perder esse homem,
foi esmagador. Fiquei impressionada com a ansiedade abrupta que senti.
Humilhantemente, meu corpo tremeu quando comecei a chorar. E
quando Aslan levantou a cabeça para olhar para mim, eu cobri meus
olhos com as mãos.
— Baby. — Ele parecia docemente preocupado. — O que há de
errado?
Eu precisava dizer a ele.

~ 202 ~
Removendo minhas mãos do meu rosto, eu bati nas minhas
bochechas, piscando as lágrimas. Meu lábio tremeu quando eu expliquei
um som sombrio: — Estou apaixonada por você e não quero estar.
Surpreendentemente, Aslan não se ofendeu com a minha
admissão. Em vez disso, ele parecia muito feliz com isso. — Já era tempo
de você admitir, porra.
— Não zombe de mim. Isso é sério. — Eu o fuzilei.
Az olhou para mim com ternura. — É sério. — Ele bicou meus
lábios carinhosamente. — Eu também te amo, Ling.
As palavras saíram baixas e, enquanto eu as pronunciava, sabia
que era um pedido inútil. — Então fique comigo.
Escolha-me.
Pegue-me.
Venha para casa comigo.
Mas ele balançou a cabeça. — Baby, você sabia onde estava se
metendo e eu nunca deixaria minha esposa. Ela é uma boa mulher. —
Ao revirar os olhos, ele gentilmente me repreendeu. — Não faça
isso. Você não a conhece. A merda que ela já me apoiou, a merda que ela
passou ao meu lado, eu devo muito a ela. — Ele procurou meu rosto. —
Ela tem meu nome, mas é você, Ling. Tudo mais é seu. Eu prometo,
baby. — Ele me observou cuidadosamente, enquanto perguntava: —
Você pode lidar com isso?
Pouco tempo depois eu respondi.
— Sim, — eu menti.
Porque se Aslan fizesse amor com sua esposa do jeito que fazia
amor comigo, não era de admirar porque ela o adorava.
E eu a odiei.

~ 203 ~
CAPÍTULO DEZENOVE
Lexi

Era sábado, e embora Molly geralmente levasse AJ com ela de


manhã, dando-me tempo para ir para a minha corrida de fim de semana,
eu disse a ela que poderia ter o dia de folga. Eu precisava comprar
roupas novas para o meu monstrinho. Meu filho parecia ter crescido
durante a noite e todas as suas calças estavam começando a ficar
parecendo de pescador de moluscos.
Ele sentou-se à mesa do café da manhã, comendo cereal, e quando
eu lhe disse que íamos fazer compras, ele imediatamente perguntou: —
O papai pode ir também?
Eu hesitei apenas por um momento, certificando-me de manter
meu sorriso largo, e então respondi: — Acho que não, querido. Ele
provavelmente está ocupado hoje.
A verdade era que eu não tinha ideia do que o Twitch faria
hoje. Eu só queria um dia com meu filho, ininterrupto e a sós.
Depois que aprontei AJ para o dia, certificando-me de encher sua
pequena mochila de salgadinhos e uma garrafa de água, nós saímos.
— Oi, papai! — AJ acenou entusiasticamente, chamando Twitch,
que por acaso estava chegando em sua casa.
Suspirei, então sussurrei baixinho: — Você sempre aparece
quando eu não quero, seu astuto filho da puta. — Era como se ele
soubesse toda vez que a nossa porta da frente se abria. Eu não duvidaria
que ele tivesse colocado sensores na maldita porta.
Minha testa franziu.
Eu definitivamente verificaria a porta por sensores quando
chegássemos em casa.
Twitch, vestido com um jeans azul que envolvia suas longas
pernas, uma camiseta preta que fazia seus braços parecerem dignos de

~ 204 ~
mordiscar, e aqueles Adidas originais, olhou por baixo do boné preto que
ele usava. — Ei, camarada. Está tudo bem?
Quando AJ decolou pela calçada, meu coração parou de
bater. Aconteceu porque não parecia que ele iria parar quando chegasse
à rua. Eu gritei para ele: — AJ, pare!
Ao mesmo tempo, o rosto de Twitch entrou em pânico e ele
começou a correr. — Pare!
AJ parou na linha da rua e, quando Twitch o alcançou, ele colocou
a mão no peito e soltou um longo suspiro. — Jesus, broto. — Ele
ofegou. — Você me deu um maldito ataque cardíaco. — Então seu rosto
escureceu, mas ele falou tão gentilmente quanto podia. — Nós
conversamos sobre isso. Você não pode simplesmente atravessar a
rua. Os carros estão sempre indo e vindo, e às vezes eles não param.
O rosto de AJ caiu. — Eu sinto muito.
Meu coração batia forte, e no segundo em que pude respirar de
novo, pronunciei em falsa calma: — Diga adeus ao papai e depois entre
no carro, querido.
AJ, sabendo que não deveria empurrar sua sorte, abraçou seu pai,
desculpando-se mais uma vez antes de abrir a porta do carro, depois a
fechando atrás dele. Assim que soube que ele não podia ouvir o que
estávamos dizendo, inclinei-me para Twitch e sussurrei: — Eu nunca
tive um problema desse tipo até que você aparecesse. Desde que você
voltou, meu filho tem sido tão imprudente, e isso me deixa doente. —
Quando sua mandíbula apertou, suspirei e fiz a pergunta delicada que
estava querendo. — Você já pensou em se mudar para outro lugar? — A
sobrancelha de Twitch se franziu e eu expliquei: — Acho que seria
melhor se você não estivesse tão perto. Dessa forma, ele saberia que não
poderia vê-lo sempre que o impulso surgisse.
Mas seu rosto ficou estoico. — Eu não vou a lugar nenhum. Eu
gosto daqui. Eu quero estar perto dele. — Ele fez um ponto válido e eu o
odiei por isso. — Pergunte a si mesma, o que aconteceria se eu me
mudasse e ele decidisse ir me procurar? Ele se afastaria ainda mais
daqui, cruzaria ruas mais largas, e eu não estaria lá para intervir

~ 205 ~
quando necessário. — Com o meu silêncio de lábios finos, ele olhou para
a minha roupa. — Você não deveria ir correr?
Meus olhos se arregalaram. — Você ainda está me seguindo?
Suas palavras eram baixas, irritadas. — Eu seguiria você em
qualquer lugar.
Meu coração falhou por uma razão diferente então.
— Seja como for, — eu murmurei, balançando a cabeça. — Eu
preciso ir.
Mas Twitch continuou. — Aonde você vai?
— Para o shopping, — eu disse, entrando no carro e fechando a
porta atrás de mim, mas abaixando a janela.
Foi quando meu querido filho gritou: — Mamãe disse que você está
muito ocupado para vir conosco.
Ah! Maldito seja. Filho da mãe.
E Twitch apenas olhou para mim conscientemente. — Oh, ela
disse, não é? — Eu abaixei meus olhos porque sabia o que estava por
vir. — Bem, como se constata, estou livre como um pássaro hoje.
Sim. Isso era de se esperar.
— Sim! — AJ gritou, e eu soltei um completamente inexpressivo, —
Oh, sim, tão excitante.
Twitch deu a volta no carro e abriu a porta do passageiro,
deslizando ao meu lado e colocando o cinto antes de se virar para o
filho. — Nós vamos ter um ótimo dia. — Então ele olhou para mim, me
desafiando a dizer alguma coisa. — Um dia de família. — Quando eu
olhei para ele, seu lábio levantou no canto e ele tirou o boné, passando a
mão pelo cabelo, que agora estava longo o suficiente para colocar atrás
das orelhas. Não ficou mal. Pelo contrário, eu não achava que Twitch
poderia ficar mal, mesmo que tentasse. Apenas não era o que eu
lembrava. — O quê? — Ele perguntou na minha óbvia frustração. —
Aparentemente, algumas pessoas acham que eu preciso de um corte de
cabelo, então tenho que ir ao shopping de qualquer maneira.
Eu dirigi sem dizer uma palavra porque todas as palavras que
queria dizer eram muito grosseiras para dizer na frente do meu filho de

~ 206 ~
cinco anos de idade. Em vez disso, fiquei em silêncio e, quando
chegamos ao shopping, saímos do carro. Twitch pegou a mão de AJ
como se fosse a coisa mais natural do mundo, e andou ao meu lado. No
momento em que entramos pelas portas, Twitch colocou o braço em
volta de mim.
Quando eu fiz uma careta para ele, tentando afastá-lo, ele me
puxou mais para o lado dele, me segurou com força, e falou diretamente
em meu ouvido, sua respiração aquecendo minha pele. — Lute
comigo. Eu te desafio, baby.
Isso soou como uma ameaça.
Uma deliciosa ameaça.
Eu tentei ignorar o jeito que me sentia ao ter o braço dele ao meu
redor. Fazia tanto tempo que eu pensava ter imaginado o jeito que isso
me fazia sentir. Infelizmente, não consegui.
Ele cheirava bem.
Ugh.
Por que ele tem que cheirar tão bem?
Idiota.
Respirando profundamente, eu segurei seu perfume nos meus
pulmões o máximo que pude antes de falar através da minha
expiração. — Ok, primeira parada, o barbeiro. — Eu olhei ao redor de
Twitch e falei com AJ — Você quer cortar o cabelo também, querido?
AJ olhou de mim para o pai, e Twitch olhou para ele, sorrindo. —
Depende de você, carinha.
— Sim, por favor. — Eu nunca iria superar o quão doce era sua
vozinha.
Entramos no primeiro barbeiro que vimos e, enquanto eu estava
ajudando AJ a sentar, ouvi um dos barbeiros perguntar a Twitch o que
ele queria. Eu quase ri quando ele respondeu: — Eu não sei, cara. Algo
legal, eu acho. O que está na moda?
Antes de pensar sobre o que eu estava fazendo, disse ao barbeiro:
— Desbaste um pouco, limpe os lados e deixe o topo um pouco mais
cheio. — Eu inclinei minha cabeça em pensamento. — Não tire toda a

~ 207 ~
barba. Apenas apare e arrume. Ele vai precisar de alguns produtos para
levar para casa também.
Quando o barbeiro olhou para Twitch em confirmação, seus olhos
enrugaram nos cantos e ele ergueu as mãos. — Ela é a chefe. Esposa
feliz, vida feliz.
Meu estômago se apertou e meu coração se aqueceu.
Pare com isso, coração.
Eu não gostei de como me senti quando Twitch me chamou de sua
esposa.
Meu corpo era um maldito traidor.
Outro barbeiro veio se apresentar a AJ, apertando sua mão. —
Então, você quer igual ao seu pai?
É claro que eles sabiam que Twitch era seu pai. Nosso filho era
uma réplica exata do homem sentado ao lado dele. Twitch parecia
satisfeito em ser referido como o pai de AJ. Ele mostrava seu orgulho
abertamente.
AJ assentiu alegremente e meu coração doeu. Qualquer coisa para
ser como o pai dele. O barbeiro segurou gentilmente o queixo de AJ. —
Oh, sim, olhe para toda essa penugem. — Ele olhou para o meu filho. —
Quando foi a última vez que você se barbeou, garoto?
AJ riu histericamente. — Nunca.
— Nunca, — repetiu o barbeiro, solenemente. — Bem, é o seu
problema. Por isso que você está uma bagunça. — O barbeiro girou a
cadeira de AJ algumas vezes, e eu não pude deixar de rir junto com ele
enquanto ele segurava os lados por sua vida. — Ei, mamãe, — o barbeiro
disse. — Que tal darmos a ele uma barba limpa?
Minha testa franziu, mas continuei a sorrir. — Hã?
O barbeiro se inclinou e falou baixinho. — É uma pequena
diversão. Na verdade, não colocamos uma lâmina na navalha.
Oh. Isso era tão fofo. AJ adoraria isso.
Eu olhei para o meu filho, meus olhos cheios de alegria. — Sim,
por que não? Ele está começando a parecer desleixado.

~ 208 ~
Os olhos de AJ se arregalaram de prazer, e eu tive que cobrir
minha boca para me impedir de rir alto. Quando vi Twitch me
observando atentamente, minhas sobrancelhas se levantaram em
silenciosa pergunta.
Seus olhos continuaram me percorrendo, e quando ele finalmente
se voltou para o meu rosto, me jogou um beijo e eu zombei. Ele estava
pegando tão pesado que eu mal conseguia raciocinar.
Eu nunca admitiria isso, mas gostava desse lado lúdico dele. Era
um lado que eu raramente via anos atrás, mas, novamente, éramos
pessoas diferentes naquela época. Deus sabe que eu não era a mesma
pessoa que fui há cinco anos. Inferno, eu não era a mesma pessoa que
fui ontem.
Depois que meus dois homens pareciam novos e...
Uau. O quê?
Meu coração sacudiu.
De onde veio isso?
Meu peito doía com a facilidade de me referir a Twitch como meu.
Doeu em muitos níveis porque um homem como Twitch era tão
selvagem que nunca seria enjaulado. Não por mim, nem por ninguém.
Quando saímos da barbearia, Twitch pegou a mão de AJ e se
aproximou de mim, mas me afastei, precisando de espaço. Senti seus
olhos em mim quando passei meus braços em volta de mim e caminhei
para o lado sozinha. Me lendo bem o suficiente, ele me deu a distância
que eu ansiava.
Nós caminhamos em silêncio até que a pequena voz me chamou,
— Mamãe. — AJ segurou suas pernas juntas com força e fez uma cara
de desconforto. — Eu preciso ir.
Quando eu pisei em sua direção, Twitch me parou com um — eu
vou levá-lo.
Antes que eu pudesse dizer uma palavra, Twitch levou nosso filho
ao banheiro do shopping. Não demorou muito para que ambos saíssem
do banheiro, e enquanto Twitch parecia um pouco vermelho no rosto, AJ

~ 209 ~
olhou para o pai com uma expressão de puro sofrimento. — Mas está
tudo bem?
Minha sobrancelha franziu.
O que estava acontecendo?
Twitch colocou uma mão gentil na boca de AJ e falou baixinho. —
Tudo bem, garoto. Falaremos sobre isso depois, ok?
OK. O que diabos estava acontecendo aqui?
— Mamãe, posso ir no carrinho? — Implorou AJ, e eu peguei uma
moeda, vendo-o correr para o parque infantil no centro do shopping. No
momento em que ele estava fora do alcance da audição, perguntei
baixinho: — O que aconteceu?
Twitch parecia mortificado. — Acho que podemos ter um problema
aqui.
Ele parecia tão angustiado que meu pânico cresceu, e quando
começou a explicar, eu escutei atentamente. — Então ele estava usando
o mictório, certo, e eu precisava mijar também. — Ele baixou a voz. —
Então eu tirei e comecei a mijar e... — Ele fechou os olhos e sussurrou:
— Ele olhou e viu, certo?
Meu filho tinha um pênis. Ele sabia o que era um pênis. Qual era o
problema aqui?
— Ok, — eu disse lentamente.
Mas Twitch me olhou de maneira significativa. — Ele viu, Lex. —
Quando eu não entendi, ele falou devagar. — O piercing, baby.
O reconhecimento surgiu no meu rosto. — Você ainda tem isso?
Ele ignorou a minha pergunta. — Quero dizer, ele olhou para ele,
depois olhou para mim e perguntou o que aconteceu.
— O que você disse para ele?
— A primeira coisa que veio à mente. — Sua testa baixou. — Eu
disse que foi um acidente.
Eu estreitei meus olhos para ele. — Você disse a ele que foi um
acidente? — Minha boca se abriu ligeiramente. — Por que você diria
isso?

~ 210 ~
— Eu entrei em pânico, — ele sussurrou. — Dê-me uma porra de
pausa. — Ele fez uma careta. — O que ele está fazendo olhando para o
pau de outros homens de qualquer maneira? Você precisa falar com ele
sobre manter os olhos para si mesmo.
Desculpe?
— Ele é seu filho também, e nunca esteve no banheiro masculino
antes. Ele geralmente vai para o feminino comigo. Estou supondo que ele
estava apenas curioso. Ele não conhece a etiqueta dos banheiros
masculinos, e você quer ser pai, Twitch, então fale com ele sobre isso. —
Cruzei os braços sobre o peito e olhei para ele. — Isso é o que é ser um
pai, Tony. É responder perguntas. Perguntas incômodas. — Com o seu
desconforto, uma bolha de diversão subiu pela minha garganta e eu
ri. — Eu não posso acreditar que você disse a ele que foi um acidente. —
Meu riso aumentou. — O que você estava pensando? Ele provavelmente
está se perguntando como vai passar a vida evitando um acidente. — Eu
mal podia me segurar enquanto continuava a rir. — Oh meu Deus. Ele
vai ter algumas perguntas para você, papai. Espero que você esteja
pronto para respondê-las.
Ele me observou rir um bom tempo antes de seu lábio tremer. A
palavra foi dita baixa e não havia nenhum indício de malícia nela. —
Cadela.
A hilaridade começou de novo, e quando AJ retornou de seu
passeio, finalmente consegui me acalmar o suficiente para levá-lo a uma
loja de roupas. Depois do incidente no banheiro masculino, as coisas
pareciam mais leves, e até enviei a Twitch alguns pequenos sorrisos de
apoio silencioso. Ele ia precisar disso para a conversa que estava por vir.
Depois que escolhi algumas roupas novas para AJ, nós
percorremos a loja e eu procurei uma blusa nova para mim. No entanto,
cada uma que eu pegava recebia um som não impressionado feito pelo
homem crescido atrás de mim.
— O quê? — Eu perguntei, segurando a blusa branca simples. — É
legal.

~ 211 ~
— Sim, — Twitch disse. — É legal. Se você for uma solteirona
vivendo sozinha com seus quarenta gatos.
— Eu gosto de gatos, — eu murmurei, largando a blusa simples.
— Agora isso... — Ele ergueu um minivestido justo, quase branco,
antes de olhar para mim. — Isso é quente. — Ele empurrou em minha
direção. — Pegue isso.
Eu zombei. — Não, eu não vou comprar isso. — Eu olhei para
ele. — É inapropriado. Eu sou mãe.
Twitch assentiu. — Sim, você é uma mãe. Você não está morta,
anjo. — Ele me olhou de cima a baixo com o calor em seus olhos. — Você
é gostosa. Compre isso.
AJ correu para a área masculina e eu segui, evitando essa
conversa em um nível de especialista. Quando Twitch pegou uma calça
social, fiquei de olho no AJ e disse: — Você não usa mais ternos.
Não era uma questão, apenas uma observação.
Ele sorriu para mim. — Sempre gostou de mim de terno, não é,
baby?
Deus, ele era irritante. Eu poderia ser uma idiota também,
sabe? — Eu gostava de você vivo.
Enquanto eu me afastava, sua mão serpenteou, apertando minha
mão com força, me puxando para trás, e quando estava perto, ele me
puxou para ficar na frente dele enquanto mostrava um terno preto, e
murmurou, — quero dizer, eu poderia comprá-lo, mas onde diabos eu
iria usá-lo?
— Você poderia ter usado para o seu funeral, — eu murmurei,
entediada.
E ele piscou para mim. — Eu pensei que você fosse uma
voluntária.
Então, isso era fora do tópico. Minhas sobrancelhas arquearam. —
Eu sou.
— Não. — Ele balançou a cabeça lentamente. — Você é uma fodida
comediante. — Quando uma risada surpresa me deixou, ele
continuou. — Esse é seu trabalho extra? — Eu ri mais e seu lábio se

~ 212 ~
contraiu. — Quando é seu próximo show? Dê-me um lugar na primeira
fila. — Eu não conseguia respirar de tanto rir e ele bateu levemente na
minha bunda. — Foda-se espertinha. É melhor você controlar essa boca
ou eu posso ter que preenchê-la com alguma coisa.
Minha boca abriu e eu não pude acreditar em mim mesma. — Com
o quê?
Ele olhou para a minha boca sorridente e passou a língua pelo seu
lábio inferior. Sua voz era baixa, rouca. — Algo duro.
Eu olhei para baixo, bem na sua virilha, me sentindo corajosa. —
Estou com fome.
Oh meu Deus. Pare.
Os olhos de Twitch brilharam, e quando ele se moveu para me
agarrar, eu habilmente evitei suas mãos, caminhando até nosso filho. —
Ok, querido. Acho que podemos ir.
AJ parecia levemente arrasado. — Mas você sempre me deixa ir ao
parquinho.
Eu fiz um som hesitante na garganta. — Já estamos aqui há um
tempo. Papai provavelmente está ficando entediado.
— Papai, — veio de trás de mim, — nunca fica entediado quando
está com a família. — Quando revirei os olhos, ele disse: — Você quer ir
ao parquinho, amigo? Vamos fazer isso.
Saímos do shopping e fomos para o sol da tarde. No segundo em
que dei a AJ o sinal verde, ele correu para o playground ao ar livre,
correndo para as outras crianças e subindo correndo as escadas até o
topo do escorregador, acenando para nós enquanto sorria. Quando um
pai que encontrava regularmente acenou para mim, sorri e acenei de
volta. E foi quando um corpo duro veio pressionar minhas costas.
Eu me virei para encará-lo e perguntei baixinho: — O que você
está fazendo? — Seu rosto estava perto e tudo que eu queria fazer era
correr levemente minhas unhas pelo queixo anguloso. Um braço forte
veio ao redor das minhas costas enquanto o outro aterrissou com um
tapa na minha bunda, e eu gritei de surpresa. — Twitch!

~ 213 ~
Ele olhou para mim, desafiando-me a lutar com ele. — Parece que
você conhece alguns dos outros papais por estas bandas.
Oh senhor. Ele estava com ciúmes?
Ele estava sendo ridículo, e quando a grande mão apertou minha
bunda, eu engoli em seco. — AJ brinca com sua filha às vezes. — Oh,
Deus, era tão bom, mas... — Me solte.
Aqueles suaves olhos castanhos encapuzados. — Ou eu me agarro
a você, ou, — ele falou perigosamente baixo, — seguro o pescoço dele. —
Meus lábios se separaram e ele se concentrou neles. — Depende de você,
baby.
Eu pensei sobre isso. Parte de mim sabia que ele nunca faria uma
cena. Não aqui de qualquer maneira, e nunca na frente de AJ. A outra
parte de mim não queria arriscar nunca mais ser autorizada a voltar ao
shopping.
Um longo momento se passou antes que eu me permitisse cair
contra ele, e quando o fiz, fui recompensada com outro aperto duro antes
que ele deslizasse a mão no bolso da minha calça jeans, me segurando
perto.
E Twitch estava certo. Nós tivemos um ótimo dia.
Como uma família.
Quando saímos do shopping, Twitch carregou o filho de um lado e
me segurou perto do lado oposto. Nós éramos seus acessórios e ele nos
usava com prazer, seu peito estufando com uma presunção que eu
nunca o vi usar. E foi legal.
Tudo estava indo bem. Isso, até que voltamos para o carro e ele
hesitou, focado em um homem andando em nossa direção. Eu fiz uma
careta quando o homem parou, olhando para Twitch como se tivesse
acabado de ver um fantasma.
Eu conheço o sentimento.
A hesitação de Twitch durou apenas um segundo antes de
começarmos a andar novamente, e quando passamos pelo homem alto
de pele morena com olhos escuros e sobrancelhas grossas, Twitch
apontou o queixo para ele, mas não parou de andar. — E aí, Sadik?

~ 214 ~
Deixamos o homem com os olhos arregalados e boquiaberto em
choque, e quando estávamos sentados em segurança no carro, virei-me
para Twitch e disse em voz baixa: — Quem era aquele?
Twitch respondeu com a mesma calma: — Aquele é o cara que vai
avisar todos os filhos da puta de Sydney que o rei está de volta.
Ah merda.
— Vamos, anjo. — Ele coçou a mandíbula, olhando pela janela. —
Vamos para casa.
***

Aslan o maldito Turco

No momento em que ela atendeu ao telefone, eu disse com


urgência: — Precisamos conversar.
— O que há de errado? — Ela perguntou imediatamente.
— Baby, — eu comecei, ainda chocado. — Tenho certeza que
acabei de ver um fantasma.

~ 215 ~
CAPÍTULO VINTE
Ling

— Não é possível. — Eu andava, incapaz de tomar fôlego em meus


pulmões. Eu parei para olhar para Aslan. — Não era ele.
Az sentou-se no sofá, apoiando os cotovelos nos joelhos enquanto
cobria a boca com os dedos. Na minha hesitação, ele se endireitou. —
Era, Ling. — Quando eu não estava convencida, ele se levantou. — Eu o
vi com meus próprios olhos, baby. — Mas eu ainda não estava
convencida. Ele colocou a mão no quadril bom e fechou os olhos,
apertando a ponte do nariz. — Eu sei o que vi porra. Era ele. Ele até
parou um segundo e disse: “E aí, Sadik?”
Eu não sei quem Aslan viu, mas não era Twitch. Não poderia
ser. Ele estava morto. Eu fui ao maldito funeral. Passei meses
lamentando até que Julius teve pena de mim e me deu um emprego,
uma casa e uma nova vida.
Não.
Não era Twitch.
Az estava confuso.
Sim, era isso.
Ele estava confuso, ou pelo menos eu achava que ele estava, até
que ele continuou. — Eu juro por Deus, Ling. Era Twitch. — Seus olhos
imploraram e ele soltou uma risada sem humor. — Eu não sou
louco. Ele estava com uma mulher dessa altura. — Ele colocou a mão em
certa altura. — Uma linda garota do tipo da porta ao lado. Ela tinha
cabelos castanhos compridos e ondulados, grandes olhos azuis, um
corpo pequeno e curvilíneo com um belo par de seios.
Meu coração sacudiu.
Soava como Alexa Ballentine.
Mas o que ele disse em seguida confirmou que meu belo Turco não
estava tão louco quanto esperava que estivesse. — E ele estava
~ 216 ~
segurando um menino, — ele afirmou com sinceridade. — Um garotinho
que se parecia com ele.
Não.
Eu balancei a cabeça e Aslan suspirou, revirando os olhos. —
Baby. Eu sei o que vi. — Ele implorou pacientemente, — Ling, por
favor. Eu mentiria para você?
Eu não achava que ele faria isso, mas pessoas mais próximas a
mim tinham me traído antes, então não descartaria a ideia.
Havia apenas uma maneira de descobrir.
Meu estômago se apertou.
Eu procuraria Lexi.
***

Lexi

Eu estava nervosa.
Oh, Deus, eu estava nervosa.
Sozinha na casa, sentei-me na beira da cama e olhei para o
interruptor de luz. Um momento se passou e eu soltei um suspiro,
levantei, em seguida, movendo-me em direção a ele, mas vacilei no
escuro, me virando e cobrindo minha boca com as mãos trêmulas.
Isso era realmente uma boa ideia?
Eu pensei sobre isso um segundo.
Não, disse meu coração.
Meu cérebro concordou, balançando a cabeça.
Eu não deveria estar fazendo isso, mas realmente queria. Fazia
muito tempo. Eu precisava tanto que desconsiderei todo bom senso que
tive e atravessei o quarto.
E quando fiz o que fiz, sentei-me na banqueta no meu quimono de
seda e esperei.

~ 217 ~
***

Twitch

Quando passei pela janela, pisquei para a casa e franzi a testa.


Minha carranca se aprofundou quando levantei meu pulso para
verificar meu relógio.
23h51
Olhei de volta para a casa, mantendo a carranca, mas depois um
pequeno sorriso cortou a escuridão.
Minha voz estava baixa. — Eu vou ser amaldiçoado.
Ela deixou uma luz acesa.

***

Lexi

A janela sacudiu, em seguida, abriu, e quando ele entrou,


fechando-a atrás dele, ele parou, me observando atentamente através de
seu olhar perpetuamente encapuzado. Ele parecia bem em jeans preto,
uma camiseta cinza de mangas compridas e seus tênis.
Eu estava envergonhada por querer isso, querer tanto que me abri
a possibilidade de me machucar novamente. Mas este era Twitch, e eu
sempre parecia fazer coisas irresponsáveis e insanas quando se tratava
desse homem.
O que Manda disse uma vez?
Isso é o que o amor fará com uma mulher sensata.
Agora, senti isso em meus malditos ossos.
Então, quando me levantei com as pernas trêmulas e dei os
poucos passos descalços, segurei o item em minhas mãos e ele olhou
para baixo, perplexo, sem dizer uma palavra. Quando ele desdobrou, eu

~ 218 ~
vi o reconhecimento amanhecer e ele piscou para mim, sua testa
abaixada em confusão. — Você guardou?
Sim.
Eu mantive o cinto. O mesmo cinto que ele usou em mim há muito
tempo. O lembrete agora manchado de sangue de sua morte.
Eu guardei.
Ele pareceu momentaneamente oprimido, mas escondeu bem. Ele
respirou fundo antes de soltá-lo lentamente, trêmulo, e então ele colocou
os olhos em mim. — Você está pronta para isso?
Tirando o elástico do meu pulso, juntei meu cabelo em um rabo de
cavalo baixo e o prendi. Então assenti e sussurrei: — Sim.
Twitch deu um passo ameaçador em minha direção. — Você
precisa ter certeza.
— Eu tenho. — Tão certa quanto poderia estar.
Outro passo iminente. — Eu não vou parar, baby.
— Eu sei. — Eu estava contando com isso.
Até que, finalmente, ele ficou na minha frente, estendendo a mão
para acariciar minha bochecha com amor, seu tom baixo, áspero. —
Apague a luz. Assim que você fizer isso, está valendo.
Meus mamilos enrijeceram.
Virando, fui até o interruptor de luz e levantei a mão, mas hesitei,
fazendo a pergunta que temia ouvir a resposta. — Você está limpo?
Sua testa franziu. — Claro.
Eu balancei a cabeça, limpando a garganta. — Eu não estou no
controle de natalidade. — Claro que eu não estava. Não havia
necessidade. Eu não andava dormindo por aí. Na maioria das noites, eu
nem dormia.
E quando Twitch ouviu minha declaração silenciosa, seus olhos se
aqueceram de prazer. — Anotado. — Ele soltou um suspiro curto. —
Você se lembra de como isso funciona?
— Sim. — Minha voz estava ofegante.
Como eu poderia esquecer?

~ 219 ~
Só fale quando solicitada. Implore e seja
recompensada. Desobedeça e pague.
Seus olhos seguraram os meus e, sem dizer uma palavra, apertei o
botão, inundando o quarto na escuridão, deixando-nos ambos
inundados pela luz do luar que entrava pela janela. E mesmo que eu não
pudesse mais ver seu rosto, ouvi a tensão em sua voz, e todas as minhas
fantasias nos últimos seis anos vieram à vida.
— Deixe-me duro.
Silenciosamente, com os pés leves, dei um passo em direção a ele.
Oh meu Deus.
Então outro.
Puta merda.
Quanto mais perto eu chegava dele, mais forte meu coração
batia. Meu estômago se agitou quando cheguei a ele. Eu me movi para
me ajoelhar e fiz isso lentamente. Uma vez de joelhos, estendi a mão,
abri o botão da calça jeans e abaixei o zíper vagarosamente. Separando
os flaps, eu olhei em seus olhos enquanto corria os dedos leves sobre a
dureza projetada atrás de suas boxers. Meus olhos, desde que ajustados
à escuridão, observaram-no me olhar com os lábios entreabertos, e no
momento em que envolvi minha mão em torno do pau coberto pelo
material, ele fechou os olhos e jogou a cabeça para o céu, deixando
escapar um suspiro agudo.
Sua reação me fez sentir corajosa. Ousada.
Deslizando minhas mãos pela cintura elástica, envolvi meus dedos
em torno do calor suave e duro dele e o puxei livre.
Assim que meus olhos pousaram em seu pau grosso e longo,
minha boca salivou.
Minha respiração se tornou agitada quando o segurei com uma
mão trêmula e olhei o piercing que eu mataria para ter dentro de
mim. Aparentemente, o tempo não me mudou. Eu levantei seu pau e
soltei um suspiro suave enquanto inspecionava a bola prata que
atravessava a parte inferior sensível. Incapaz de resistir, corri meu
polegar sobre ela e observei seu pau pulsar em minhas mãos.

~ 220 ~
Ele ainda era impressionante. Maldito seja. Ele ainda era também
o maior pau que tive o prazer de foder, e, Jesus, como eu precisava
sentir o calor espesso dentro de mim mais uma vez.
Meus olhos se agitaram com o pensamento, e um silencioso “Oh,
merda” escapou de mim.
Imediatamente, ele me reprovou. — Eu lhe disse para falar?
Sua voz era dura. Minha boceta estremeceu. Mas eu não respondi,
simplesmente balançando a cabeça. E quando ele colocou uma mão
gentil na minha cabeça, suavemente acariciando meu cabelo, eu me
inclinei em seu toque em um gesto um tanto felino, desejando mais de
sua aprovação.
E ele me deu. — Boa menina.
Oh, eu teria feito qualquer coisa para ouvi-lo me dizer isso.
Eu pensei sobre isso e corei.
Parecia que eu ainda faria qualquer coisa para ouvi-lo dizer essas
palavras suaves e cobertas de carinho.
Aumentando a pressão sobre ele, eu o acariciei, observando
através do meu olhar sonolento quando ele ficou impossivelmente mais
duro na minha mão. Inclinando-me, olhei para ele e pressionei um beijo
suave na sua ponta, sentindo a umidade salgada em meus
lábios. Achatando minha língua, eu o lambi, e o suspiro repentino que
isso provocou em Twitch foi delicioso. Tão delicioso que tive que fazer
novamente.
Eu o lambi lentamente, com vontade, repetidamente, e quando ele
ofegou, — Chega, — eu deveria ter parado.
Mas não fiz.
Eu não pude.
O gosto quente e limpo dele era viciante. Sempre foi. Eu não queria
soltá-lo. Eu senti muito a falta dele.
Então, quando ele se abaixou e apertou minhas bochechas com
força, forçando minha boca a abrir, um gemido suave escapou de mim. E
ele estalou a língua. — Eu digo chega, você para. — Ele me soltou, e eu
olhei para ele, deixando cair seu pau e esfregando minhas bochechas

~ 221 ~
doloridas. E o idiota alcançou meu quimono, deslizando a mão sob a alça
no meu sutiã preto e encontrando um pico tenso, beliscando levemente o
nó sensível.
Minha cabeça caiu para trás e um gemido silencioso me
escapou. E quando ele me beliscou pela segunda vez, eu não estava mais
pensando direito. Deslizando a mão sob o meu manto de seda, agarrei
meu monte úmido através do cetim e da renda e olhei para ele,
suplicando. Minha voz era suave como um sussurro. — Por favor. Por
favor. Oh, por favor.
Eu precisava gozar mais do que precisava da minha próxima
respiração.
Mas Twitch pegou meu braço e o puxou, forçando-me a me
soltar. E quando pensei que explodiria em um discurso cruel, ele
agarrou seu pau e acariciou-o lentamente, hipnotizando-me. Foi quando
ele ordenou — Abra.
Só fiquei confusa um momento antes de abrir a boca
ligeiramente. Mas Twitch fez um som na garganta. — Mais. — Um pouco
mais amplo. Mas Twitch apenas segurou seu pau, longe de mim,
acariciando lentamente, e recebi sua mensagem silenciosa. Eu abri
minha boca o máximo possível.
Ele me alimentou com seu comprimento gradualmente,
deliberadamente, e eu quase engasguei quando ele gentilmente
empurrou na minha boca, mas depois de fazer isso algumas vezes, me
acostumei com o seu tamanho novamente. Era natural ter o pau desse
homem na minha boca, quando nada sobre isso deveria ter sentido como
tal.
Eu mantive minha boca aberta para ele até que minhas bochechas
arderam, e quando os fios molhados de cuspe vazaram pelos lados da
minha boca, pelo meu queixo, em seguida, ainda mais longe, pingando
em meu decote, suas narinas dilataram.
Com um puxão forte, ele tirou meu quimono. — Tire. Mostre-me o
que estou perdendo.
Meu estômago se agitou violentamente.

~ 222 ~
Merda.
Eu amava quando ele falava tão implacavelmente. Isso me deixou
tão quente e excitada que achei que gozaria nesse exato momento.
Com dedos gentis, eu empurrei o quimono e ele caiu em uma pilha
atrás de mim, deixando-me vestida com uma calcinha de renda e cetim e
seu sutiã combinando. Quando me mexi para empurrar a alça do meu
sutiã para baixo, sua mão pegou a minha e ele falou baixinho. — Deixe-
o.
De alguma forma, eu sabia que ele gostaria. No segundo que vi,
pensei nele. Era lindamente delicado com suas xícaras de renda e
grossas alças pretas, traspassadas, fazendo-me parecer amarrada como
o presente que eu era. Parecia o sonho de um macho dominante e fiquei
muito feliz por ele ter sido afetado por isso.
Quero dizer, eu lembro especificamente dele uma vez me dizendo
que gostava de suas mulheres em seda e babados, porque elas eram
presentes para serem desembrulhadas.
Bem, Feliz Natal, Twitch.
Como se ele ouvisse meus pensamentos, seus olhos percorreram
meu corpo e ele murmurou: — Linda. — Então sua carranca voltou. —
Levante-se.
Era difícil ficar de pé quando o idiota não oferecia uma mão, mas
eu consegui me levantar o mais graciosamente que pude, e quando me
virei para encará-lo, o peguei olhando para os meus seios através
daqueles olhos sonolentos. Ele engoliu em seco, em seguida, estendeu a
mão atrás dele para pegar a parte de trás de sua camiseta e a tirou.
E esse corpo.
Que revelação.
Minhas entranhas estavam uma bagunça. Eu queria chorar com a
beleza de seu corpo tatuado. Ele era deleitável, e eu esperava que ele me
permitisse passar minha língua por todo o plano muscular de seu
estômago. Talvez passar do oco que ficava logo abaixo daquele
estômago. Ainda mais longe lambendo meu caminho através daquele V
recortado, o mesmo V que apontava como uma flecha para o lugar que

~ 223 ~
eu queria chupar tão forte que ele me presentearia com a doçura salgada
de sua semente.
Porra. Eu queria que ele gozasse na minha boca.
Ele fez um rápido trabalho com seus sapatos e meias, descendo as
calças pelas pernas e saindo delas. Claro, ele manteve suas cuecas, mas
o jeito que seu pau duro saía da cintura baixa era quente como o
inferno. Depois de todo esse tempo, não fiquei desapontada. E quando
ele se moveu para sentar-se na beira da cama, abriu bem as pernas e
deu um tapinha no colo. — Sente.
Isso era novo. Eu estava um pouco confusa, mas fui de bom grado,
e no momento em que me sentei na sua coxa, olhando para frente, sabia
por que ele estava fazendo isso.
Nós estávamos diretamente em frente ao espelho da penteadeira.
Um braço veio ao redor da minha cintura e me puxou para trás,
pressionando contra ele, e a sensação de seu pau descansando contra a
minha bunda era quase demais. Sabendo que isso me colocaria em
problemas e não me importaria nem um pouco, eu olhei para o reflexo,
bem em seus olhos, e levantei minha mão para os meus seios,
suspirando enquanto revirei meus mamilos entre os dedos suaves.
Surpreendentemente, ele me permitiu um momento antes que seu
outro braço viesse ao meu redor, me prendendo, envolvendo tão
firmemente que eu mal conseguia me mexer. E quando ele colocou os
lábios na minha bochecha, beliscando-me levemente, ele perguntou
baixinho: — Quem é responsável pelo seu orgasmo?
Eu bufei uma respiração irritada e ganhei outra mordida no meu
queixo.
Meus olhos baixaram, mas ele colocou uma mão severa no meu
queixo e me virou para encará-lo, e quando levantei meus olhos para seu
intenso olhar ardente, ele estava tão lindo que eu poderia ter morrido. —
Você é, — eu sussurrei quase amorosamente. E ele ouviu isso.
Um beijo suave no meu queixo foi minha recompensa.

~ 224 ~
Quando ele empurrou o queixo em direção ao espelho, eu virei
para olhar de volta para o nosso reflexo, assim que Twitch passou a mão
pelo meu lado, na minha coxa para segurar meu monte quente.
O desejo ardente que ele causou me incendiou. Meu coração ardia,
e quando ele me soltou para envolver meu cabelo em torno de sua mão,
eu sabia que faria qualquer coisa por esse homem, de bom grado,
apenas para agradá-lo.
Seus dedos contundentes começaram a esfregar contra mim, e
embora eu sentisse que estava me perdendo, sabia o que ele queria de
mim e segurei seu olhar. Ele começou a esfregar mais forte, mantendo
seu ritmo lento, e respirei fundo, trêmula. Quando ele agarrou minha
coxa e colocou a minha perna sobre a dele, deixando-me aberta para ele,
meu coração acelerou. Eu estava tão perto. E quando ele usou o polegar
para empurrar minha calcinha para o lado, eu fechei meus olhos, grata
que ele finalmente iria me tocar. Meu couro cabeludo beliscou quando
ele gentilmente puxou meu cabelo, forçando um estremecimento de mim,
e eu abri meus olhos para vê-lo correr seu dedo médio para cima e para
baixo na minha fenda, sem pressa, como se tivesse todo o tempo do
mundo.
Bem, eu não tinha. Eu estava morrendo aqui. — Por favor.
Outro puxão rápido e eu assobiei sem fôlego. Enquanto eu pensava
em quanta merda estaria se empurrasse em seu toque, ele falou baixo,
ternamente, — É disso que você precisa, anjo?
Antes que eu pudesse responder, ele deslizou o dedo do meio
dentro de mim. Meus lábios se separaram, meus olhos se arregalaram e
soltei um suspiro ofegante. Eu balancei a cabeça ansiosamente para o
reflexo e ele soltou meu cabelo, passando a mão pelas minhas costas
antes que deslizasse em volta de mim e mexesse em um dos mamilos
necessitados.
Um gemido me deixou entre dentes cerrados. E Twitch ficou
olhando atentamente enquanto meus quadris se curvavam em seu
toque. Seus olhos escureceram e ele tirou o dedo de mim.
Droga!

~ 225 ~
— Eu acho que você esqueceu o seu lugar, Alexa.
Oh meu Deus. Ele te chamou de Alexa. Isso só pode significar uma
coisa.
Em um movimento rápido como um raio, ele me colocou sobre seu
colo, e antes que eu pudesse chiar de excitação, sua mão desceu duro e
rápido na minha bunda.
Tapa.
Meu rosto corou com uma mistura de prazer e dor. Eu senti meu
núcleo apertar.
Eu não olhei para o espelho, mas sabia que estava chegando.
Tapa.
Era tão bom. Parecia uma liberação maior do que o orgasmo que
eu ansiava.
Era o nirvana.
Tapa.
Meu corpo inteiro tremeu quando comecei a chorar. Não da dor ou
da humilhação de querer tanto isso, mas de alívio.
Tapa.
O último golpe, o golpe mais duro, fez tremer em meu cerne, e
Twitch passou a mão o forte sobre meu traseiro ardente de uma maneira
calorosa e adorável que me deixou tremendo de emoção reprimida. E
quando ele me moveu para ficar na frente dele, eu funguei, evitando os
olhos dele.
As palavras que ele falou foram tão inapropriadas que o adorei por
isso. Ele passou as duas mãos pelas minhas bochechas vermelhas e
inchadas e deu um beijo suave na minha barriga antes de olhar para
mim. — Tão linda quando você chora, menina triste.
Jesus Cristo.
Ele tinha os chifres de um demônio, os olhos de um anjo e a boca
de um deus.
Sorte minha.

~ 226 ~
Ele me observou com preocupação quando eu afastei minhas
bochechas e envolvi minha cintura, seus dedos espalhados pela minha
carne. — Nós ainda vamos fazer isso?
Ele estava fora do personagem. Eu também, só nesse momento.
Eu pisquei rapidamente. — Sim.
Ele examinou meu rosto um pouco antes de seus olhos
escurecerem e ele estar de volta. — Suba na cama. De quatro, bem na
beira.
Eu me esforcei para chegar onde ele precisava de mim, e quando
virei, olhando por cima do ombro, vi Twitch finalmente abaixar sua
boxer, deixando-o completamente nu para mim, e levantei minha bunda
ainda mais em um convite.
Ele deu os dois passos em direção à cama e olhou para minha
bunda enrugada antes de apertar uma bochecha com força o suficiente
para doer, sacudindo minha carne levemente. — Toque-se. Mostre-me
que você quer.
Sem hesitar, deslizei a mão entre as minhas pernas e circulei
minha boceta coberta pela calcinha.
Mas Twitch estalou a língua. — Não assim. Você sabe o que eu
quero.
Sentindo-me ousada e mais excitada que o inferno, estendi a mão
entre as minhas pernas e dei-lhe o dedo, esfregando meu dedo médio ao
longo da minha fenda.
Eu ouvi sua diversão. — Isso não foi muito bom, — ele ronronou
antes do meu corpo sacudir quando sua mão fez contato com a minha
bunda. Minha boca se arredondou quando o som ecoou por todo o meu
quarto. — Garotas atrevidas não podem gozar. — Outro tapa, mais leve
desta vez. — Somente os anjos podem gozar.
Ele avançou, enganchando os dedos no cós da minha calcinha, em
seguida, puxando-a até meus joelhos. A brisa fresca sobre minha carne
superaquecida era agradável, ainda mais agradável quando Twitch se
abaixou e soprou levemente sobre meu calor. — Eu vou fodê-la agora. —

~ 227 ~
Outra respiração leve sobre a minha pele quente. — Vou te mostrar o
quanto senti falta do meu bebê.
Quando ele empurrou na minha bunda, inclinando-se sobre mim,
eu sabia o que estava por vir e me levantei, apresentando meu pescoço
em completa submissão. O couro grosso parecia levemente restritivo
quando Twitch colocou o pino de metal no buraco mais apertado e, com
o cinto preso ao redor da minha garganta, Twitch envolveu a mão em
toda a extensão do couro, deixando-me sentir como um animal de
estimação. O seu animal de estimação.
Minha boceta latejava em antecipação.
Eu não odiava isso, com certeza. Tudo o que conseguia pensar era
o quanto eu queria isso. Precisava disso. Precisava dele.
Twitch.
Tudo se reduziu a ele. Sempre foi assim. E eu não pensaria no
amanhã. Eu só poderia viver no presente porque com Twitch, o amanhã
poderia nunca chegar. Eu aprendi minha lição. Não era - um passo de
cada vez - com ele; era -viver o agora, porque o futuro não é garantido.
Tomando posse de si mesmo, ele correu seu pau para cima e para
baixo na minha fenda molhada e assobiou em uma respiração. — Quem
é dono desta pequena boceta quente? — Ele espancou minha boceta com
seu pau, um tapa soando molhado. — De quem é isso?
Não havia como negar. — Sua. — Eu ofeguei, — é sua.
Ele continuou a arrastar a cabeça lisa dele através do meu calor
úmido. Sua voz era curta e sombria. — Você nunca quis alguém como
me quer. — Outro tapa de seu pau, e desta vez ele atingiu meu clitóris
com seu piercing. — Não é verdade, anjo?
Enquanto meu clitóris pulsava, soltei um longo gemido, e quando
ele puxou o cinto em aviso, minha boceta apertou. — Sim, — eu
respirei. — Você estava certo.
Você está certo, seu idiota, e às vezes eu te odeio por isso.
A sala reverberou com sua risada presunçosa e, lentamente, ele
empurrou para dentro do meu buraco carente. A cabeça dele deslizou
para dentro de mim, e quando senti a bola de seu piercing arrastar ao

~ 228 ~
longo da minha carne interna, um leve suspiro me deixou e meus olhos
se fecharam.
Foi quando ele falou. — Viu? — Ele proferiu significativamente,
dirigindo-se mais para dentro de mim. — Feitos um para o outro.
Ele não parou até que eu estava totalmente empalada em seu eixo
latejante. Ou talvez fosse eu quem estava latejando, realmente não
sabia. O que eu sabia era que ele precisava se mover.
Tipo agora.
Eu estava cheia. Recheada. Eu tinha esquecido o quão espesso ele
era. Minha boceta parecia estar pegando fogo quando seu calor de aço
me encheu. Eu estava sobrecarregada da melhor maneira possível. Meu
corpo inteiro estava formigando com a sensação.
E Twitch grunhiu: — Como diabos você ainda é tão apertada? —
Ele puxou de volta, em seguida, empurrou em mim novamente quase
com raiva. — Foda-se.
Meus olhos reviraram. — Ce... — Eu tentei falar a
palavra. Lambendo meus lábios, tentei novamente. — Cesariana.
Sim. Isso era o suficiente. Esperava que ele tivesse entendido por
que eu não conseguia pensar agora, muito menos falar sobre isso.
Ele começou devagar, empurrando para dentro de mim, e do jeito
que ele murmurou, — Sim. Tão linda, — eu sabia que ele estava
assistindo o show. Quando eu levantei minha bunda um pouco mais
para aumentar o prazer em ambas as extremidades, esse pequeno
movimento puxou um gemido de Twitch no exato momento em que um
gemido baixo escapou de mim.
Era o êxtase.
Dinamite sexual puro.
Volátil. Explosivo.
Eu senti o segundo em que ele soltou o cinto. Como? Porque seu
comprimento caiu do meu lado, mas quando ele emaranhou a mão no
meu cabelo e puxou levemente, meu núcleo apertou. Ele puxou com
firmeza, forçando-me a segui-lo, e então eu estava erguida em uma
posição ajoelhada, minhas costas arqueadas quase dolorosamente

~ 229 ~
quando Twitch envolveu sua mão livre ao redor da minha garganta
enquanto continuava seu ataque de impulso lento. Eu ofeguei a cada
estocada, e quando Twitch colocou a boca no canto dos meus lábios, me
beijando profundamente na bochecha, eu quase gozei.
E ele sentiu isso.
Soltando meu pescoço, ele segurou meu queixo levemente e
rosnou: — Não goze.
E então eu fiz algo idiota. Super idiota. Eu coloquei minha língua
para fora e lambi os dedos dele.
Senti seu impulso oscilar quando ele respirou fundo.
Eu fiz novamente e ele grunhiu no meu ouvido. — Se você não
quer que eu faça um depósito, você precisa parar.
Mas eu não consegui parar. Eu precisava dele. Tudo dele.
Quando minha língua saiu pela terceira vez com o rosto perto do
meu, ele me observou, e quando eu menos esperava, ele segurou meu
queixo com força e me ofereceu dois dedos.
Oh meu Deus.
Aleluia!
Eu os puxei na minha boca, sugando desesperadamente, e Twitch
parou de respirar por um momento, seus quadris empurrando em mim
espasmodicamente.
Ele soltou meu cabelo tão de repente que quase me joguei para
frente, mas felizmente, ele me segurou, e quando eu estava estável, sua
mão deslizou entre as minhas pernas. Inesperadamente, ele beliscou
meu clitóris, e eu gritei em torno de seus dedos. O longo comprimento do
cinto parou entre o meu decote. Ele diminuiu seus impulsos e fez
novamente, batendo levemente minha boceta entre pitadas. O tempo
diminuiu e meu corpo ficou relaxado enquanto as picadas familiares
forravam minhas costas inteiras. Meus olhos fecharam quando luzes
coloridas dançaram por trás das minhas pálpebras fechadas, e eu gemi
quando Twitch perguntou: — Você vai gozar no meu pau, anjo?
Tentei concordar, mas não consegui. Toda a minha energia estava
entregue ao meu orgasmo.

~ 230 ~
No momento em que meu núcleo liso apertou em torno de seu
eixo, ele soltou um grunhido e pressionou o rosto no meu pescoço. —
Porra. Goze para mim, bebê. — Minha respiração tremeu quando a
primeira contração me levou, e quando Twitch soltou os dentes cerrados,
— Sim. Bem desse jeito. Ordenhe-me, — eu estava perdida.
Eu caí em pedaços, e enquanto meu corpo tremia
incontrolavelmente, nunca mais quis ser reposta novamente.
Não agora. Nunca.
Twitch me soltou e eu caí na cama, ofegante e fraca pela minha
libertação. Ele agarrou meus quadris com força suficiente para me
machucar e me puxou de volta para suas violentas investidas. Mordendo
meu lábio, agarrei as cobertas e gemi enquanto ele ofegava, os sons de
nossos corpos batendo reverberando nas paredes.
E então, com um rosnado baixo, Twitch me segurou contra seu
corpo com força enquanto descia, cobrindo minhas costas com seu peito
e me segurando perto, e gentilmente se balançou em mim.
Eu senti.
Seu pau latejante. O calor úmido dentro de mim.
Eu senti a sua libertação. E a intensidade disso era
simultaneamente assustadora, mas celestial. Surpreendente.
Seu baixo gemido encheu o quarto, e quando ele ofegou em meu
ouvido, eu o senti ainda dentro de mim. Eu fui consolada pela sensação
de estar cercada por ele, pelo sentimento de estar cheia dele. Eu fui
consolada por sua mera presença. Esse homem nunca entenderia
realmente o quanto significava para mim, e esse simples fato partiu meu
coração tão rapidamente quanto pensei que poderia ter começado a
cicatrizar.
Twitch me surpreendeu, como sempre fazia. Quando ele saiu de
mim, senti nossos gozos combinados escorrerem pelas minhas
pernas. Uma fração de segundo depois, ele caiu na cama de costas e me
puxou para baixo sobre ele, pegando seu agora macio pau e encaixando-
o dentro de mim, e eu gostei disso em um nível insano. Eu acho que nós
dois precisávamos da proximidade.

~ 231 ~
Com a minha cabeça em seu peito e meu dedo passando
suavemente sobre seu mamilo plano, a pergunta vibrou ao meu redor
enquanto ele passava as mãos suavemente pelas minhas costas para se
acomodar na minha bunda. — Você está bem?
— Sim, — eu menti.
E ele riu baixinho. — Não, você não está.
Não, não estava.
Eu pisquei as lágrimas. Havia tantas coisas que eu queria dizer,
perguntar.
Senti sua falta.
Onde você estava? Eu precisei de você.
Como se atreve a voltar depois de todo esse tempo e me fazer te
amar de novo, seu bastardo cruel?
Eu não preciso mais de você, seu idiota. Eu passei cinco anos sem
você. Eu poderia passar uma eternidade.
Mas principalmente
Nunca mais me deixe. Eu preciso de você mais do que preciso
respirar.
Eu estava confusa, e quando descansei meu queixo em seu peito,
encontrei-o olhando para mim. Uma única lágrima deslizando por minha
bochecha, enquanto eu proferi um severo: — Você precisa sair.
Mas seus olhos seguraram os meus. — O que eu te disse? — Ele
passou a mão sobre o meu cabelo agora bagunçado em um gesto doce e
amoroso, olhou-me profundamente nos olhos, então jurou: — Eu nunca
vou deixá-la novamente.
E do jeito que ele disse, sincero e tão cheio de convicção, eu
acreditei nele.
Eu acreditei nele.

~ 232 ~
CAPÍTULO VINTE E UM
Lexi

A batida na porta me acordou e, quando persistiu, pisquei


sonolenta ao sol da manhã. Foi quando seus braços se apertaram em
volta de mim.
— Diga a eles para se foderem, Lex.
Ah merda.
Meus olhos se abriram e eu pisquei para o homem bonito na
minha cama. Eu me sentei rapidamente. — Ah merda!
Com isso, ele olhou para mim, rapidamente piscando sua
sonolência. — O quê?
Eu estava em pânico. — Eu achei que tinha te pedido para sair!
Seus olhos se abriram e suas sobrancelhas se franziram. — E eu
te disse que não ia a lugar nenhum.
As batidas continuaram e eu saí da cama. — Você precisa ir. Tipo
agora. — Fui até a janela e abri, esperando que ele entendesse. — Por
favor, Twitch. Apenas vá.
— Qual é o problema aqui? — Ele descansou na minha cama,
colocando o braço atrás dele, usando-o como um travesseiro.
Ugh. Era perturbador como ele parecia ótimo de manhã.
Mais batidas, e eu enfiei a cabeça para o corredor e gritei: — Só
um minuto! Já estou indo! — Antes de voltar para o meu ex, e assobiar,
— Eu não quero que AJ te encontre aqui, na minha cama.
Mas um Twitch sonolento grunhiu. — E daí? Ele sabe que eu te
amo. Eu disse a ele cem vezes.
Aw. Meu coração.
Eu também... não.
Eu coloquei minhas calças de pijama e vesti um suéter, o tempo
todo implorando: — Por favor, Twitch. Eu não preciso disso agora. E eu
definitivamente não preciso que ele tenha esperanças. Ele já está

~ 233 ~
concretizando algumas. Não quero que isso aumente quando ele
perceber que o papai não vai morar aqui.
As sobrancelhas de Twitch baixaram e as palavras saíram sem
pressa. — Papai não vai morar aqui?
Uma batida forte, então uma pequena leve, — Mamãe, eu preciso
ir!
— Estou indo, — eu gritei, antes de sussurrar para o bebê gigante
na cama, — Não! Papai certamente não vai morar aqui! — Eu zombei. —
Nós fodemos e foi ótimo, Tony, mas foi só isso.
Mentira. Mas ele não precisava saber disso.
Ele parecia meio machucado quando saiu da cama, de lábios finos
e deprimido. — Bem. Eu irei. Mas... — Seu corpo nu estava me
distraindo. — Isso não acabou, anjo.
Deixei-o se vestir no quarto, fechando a porta enquanto corria pelo
corredor e abri a porta. O monstrinho largou a bolsa na porta e passou
apressado por mim. — Eu preciso fazer xixi! — E quando Julius e Ana
me observaram com desconfiança, eu gaguejei através da minha
explicação idiota. — Ei, sinto muito por isso. Havia uma enorme barata
no meu quarto e ela... — Porra. — Quero dizer, não me deixou sair do
meu quarto. — Eu forcei uma risada. — Eu estava meio encurralada. —
Batendo a mão no meu ombro, eu sorri um pouco demais. — Desculpa.
Mas Julius estreitou os olhos para mim. — Uma barata, é? — Ele
coçou o nariz. — Sim, elas com certeza são enormes hoje em dia. — Seus
olhos se arrastaram para o lado da casa no momento em que Twitch
entrou em cena, e eu morri mil vezes.
Meu convidado tardio e insensato apenas atravessou o pátio,
sorrindo como o tolo que era, puxando sua camiseta e, em seguida, ele
gritou: — Bom dia a todos.
Julius riu baixinho, balançando a cabeça antes de se virar para
mim, seus olhos sorrindo. — Sim. Definitivamente uma infestação de
barata por aí.
Eu estava mortificada. Minhas bochechas brilharam rosa
fluorescente, e quando Ana se inclinou para perto, olhando para a minha

~ 234 ~
garganta, seus olhos se arregalaram. Suas palavras eram suaves e
sussurrantes. — Isso é um chupão?
Um suspiro me deixou quando pressionei a mão no meu pescoço e
resmunguei: — Não!
Os olhos de Ana sorriram e ela balançou a cabeça devagar.
Oh meu Deus. Ele me deu um chupão. Quantos anos ele tinha,
dezessete?
Meu humor escureceu. Eu deveria saber. Ele sempre gostou de
fazer afirmações indiscutíveis.
— Idiota, — eu murmurei então suspirei, irritada. — Bem, não
fiquem aí parados. Entrem.
Assim que eu segui pelo corredor, AJ me atingiu, jogando-se em
meus braços, e eu ri, levantando-o. — Ei você. Você se divertiu?
Ele assentiu, sorrindo. — Foi tão divertido! Ana fez pipoca e nós
assistimos... — Ele ergueu três pequenos dedos. — ...três filmes. Eu
fiquei acordado até tarde. E tio Julius me preparou o café da manhã e eu
quero dormir de novo.
Eu ri baixinho. — Claro, amigo, mas não por um tempo.
Seu rosto caiu. — Ah, por quê?
Eu apertei-o com força. — Porque eu senti sua falta. Eu amo
quando você está em casa comigo. — Eu me afastei, passando a mão
pelo cabelo bem aparado. — Eu sempre sinto sua falta quando você não
está.
Ele sorriu um sorriso cheio de dentes um segundo antes de sua
sobrancelha franzir, assim como o de seu pai. — Por que o papai estava
andando ao redor da casa esta manhã?
Meu interior afundou.
Oh, foda minha vida.
— Ele estava... — Ah, merda. Eu não conseguia pensar. Minhas
mãos estavam suando. — Ele estava checando por aranhas.
— Oh, — disse AJ, como se ele tivesse entendido completamente.
Rapaz, se ele tivesse entendido, esperava que me explicasse por
que eu não tinha ideia do que estava falando.

~ 235 ~
Julius se engasgou com uma risada. — Problema de pragas real
nesta casa.
Eu fiz uma careta para seu rosto sorridente. — Parece que sim.
AJ estava completamente alheio a toda e qualquer insinuação que
seu tio Julius estava exalando. — Por favor, posso assistir TV agora?
Deus, sim. — Claro querido. Vá em frente.
Quando meu filho estava fora de vista, voltei para os meus
supostos amigos e vi quando eles sorriram amplamente em minha
direção. Com um grunhido, fui até a máquina de café e liguei. Quando o
fiz, um pequeno sorriso puxou meus lábios. — Oh, cale a boca.
Mais tarde naquele dia, depois de tomar banho e cobrir o pequeno
chupão no meu pescoço, fui até o mercado, deixando AJ aos cuidados de
Molly. Quando voltei, não foi surpresa que Twitch estivesse no chão da
minha sala, jogando Guess Who com seu filho.
— Oi, — eu disse enquanto caminhava pelo corredor com uma
sacola de compras em cada mão.
— Oi, mamãe, — disse AJ, olhando para o jogo.
Twitch apontou o queixo para mim. — Precisa de uma mão?
Eu sorri educadamente. — Eu estou bem.
Enquanto eu descompactava as compras, ouvi Twitch falar com
seu filho. — Cara, eu preciso falar com sua mãe um segundo. Por que
você não vai procurar Molly?
Assim que ele entrou na cozinha, eu coloquei as pílulas na minha
boca e tomei um pouco de água, engolindo-as. Ele olhou para o
pacote. Tudo bem; Eu não iria esconder isso. Não dele.
Ele pegou a caixa. — O que é isso?
Eu encolhi os ombros levemente. — Plano B. — Sua testa franziu,
então eu continuei, — contraceptivo de emergência. — Sua sobrancelha
franziu ainda mais, e eu proferi baixinho: — Eu não estou no controle de
natalidade, Tony, e você... — Como ele falou isso? — ...fez um
depósito. Isso vai garantir que um bebê não seja concebido.
Seu rosto ficou impassível enquanto processava o que eu estava
dizendo. — Então, — ele começou, — sem mais bebês?

~ 236 ~
Foi uma pergunta feita de uma maneira que implicava que ele
queria mais filhos.
Meu coração parou e começou novamente com um solavanco.
Eu fiz a pergunta com cautela. — Você quer mais bebês?
Twitch virou para olhar para a sala de estar, onde AJ estava agora
disputando com Molly em um jogo de adivinhação. O que ele disse me fez
derreter. — Olhe para ele. Veja como ele é perfeito. — Ele respirou fundo
e soltou o ar lentamente. — Eu poderia ter mais dez deles, no mínimo. —
Ele se virou para mim. — Nós não somos mais jovens, baby. Esta pode
ser nossa única oportunidade.
Gostei tanto de como soou que me deixou irracionalmente
irritada. E porque eu estava com raiva, precisava descontar em
alguém. — Bem, sim, Twitch. Eu adoraria mais crianças, mas não estou
preparada para fazer isso sozinha. — Minha boca fez uma careta. — Eu
nem sei como consegui passar pela primeira vez. Tudo foi um borrão. Eu
estava de luto e medicada, e não estava em condições de ter aquele
menino lindo. — Meu coração começou a disparar. — Eu estava em um
estado tão ruim que fui roubada de meus próprios desejos. Eu não pude
dar à luz naturalmente porque estava fraca demais, mental e
fisicamente. Eu não pude amamentar porque o leite não desceu. Eu
queria essas coisas... — Eu fiz uma careta para ele — ...e você as tirou
de mim.
Sua mandíbula cerrou. Ele não falou.
— Então, o quê? — Eu perguntei. — Qual é o plano? Você vai
voltar a cada cinco anos e me engravidar? É isso? — Meu coração estava
acelerado. — Perder todas as coisas difíceis e voltar para desfrutar de
seus filhos quando eles são divertidos? — Eu balancei a cabeça. — Como
eu disse, sim, eu queria mais filhos, e talvez um dia eu os tenha. — Eu
não deveria ter dito o que disse. — Mas não com você.
Molly, sentindo a tensão na cozinha, levantou-se e disse a AJ: —
Carinha, venha ver o ninho do pássaro que encontrei. — O monstrinho a
seguiu até o quintal, deixando-me sozinha com o homem que partiu meu
coração.

~ 237 ~
Twitch parecia cansado. — Que diabos eu tenho que fazer para
convencê-la de que não vou a lugar algum? — Ele deu um passo mais
perto, seus olhos implorando. — Diga-me o que preciso fazer e farei.
Eu balancei a cabeça lentamente. — Não, você não pode fazer isso.
— Meus olhos pousaram nos dele. — Não pode ficar chateado quando a
pessoa que teria lhe dado a maldita vida não confia mais em você. Você
errou aqui, não eu.
Ele se virou para mim, me dando as costas, e eu sabia que ele
estava lutando para se controlar.
Minha voz saiu cansada. — Eu fui leal até a morte, Tony. Eu teria
feito qualquer coisa por você. E você me deixou. — Minha alma ainda
estava doendo. — Você me deixou com o coração partido, uma criança e
a porra de uma lápide. — Eu soltei uma risada sem graça. — Não só
isso, mas você me fez acreditar que era meu herói, que me salvou. —
Isso não era algo que eu simplesmente superaria. — Isso é tão confuso.
Quando ele se virou para me encarar novamente, seu rosto estava
esticado. — Se eu pudesse voltar...
Eu revirei meus olhos. — Você nunca teria feito isso. Eu sei.
Mas ele balançou a cabeça. Seu tom era sombrio. — Eu faria tudo
de novo. — Eu fiz uma careta enquanto ele continuava. — Para mantê-la
segura, para manter meu filho seguro, eu sacrificaria tudo. Até a minha
própria vida. — Meu rosto ficou passivo enquanto ele dava seu golpe de
misericórdia. — Você não entende porra, não é anjo? — Ele parecia
miserável. — As poucas horas que passo com você valem as mil que
passei sem você.
Meu coração deu um pulo com a sua admissão atipicamente
aberta.
Ele me olhou por um longo momento antes de baixar o olhar e se
mover. Eu o vi andar pelo corredor e sair pela porta.
Talvez eu estivesse sendo muito dura com ele.
Infelizmente, eu simplesmente não me importava.

~ 238 ~
A nostalgia me desviou do caminho de casa. Lamentavelmente, o
que deveria ser uma viagem reconfortante e confortável acabou sendo
traumática de tantas maneiras que eu mal conseguia funcionar.
Cheguei em casa soluçando, e quando estacionei meu carro,
marchei para o outro lado da rua e bati meu punho na porta dele.
No segundo que abriu, ele notou meu rosto vermelho e manchado
e seus olhos se arregalaram em pânico. — O que aconteceu? — Ele
agarrou meus braços e falou baixinho. — Onde está o AJ?
— AJ está bem. — Eu funguei. — Ele está com Molly. — Lágrimas
frescas fluíram, e eu levantei minha mão, batendo meu punho em seu
peito, enquanto gritava, — Diga a eles para colocá-la de volta!
Ele pegou minhas mãos nas suas, segurando-as firmemente
enquanto sua testa franzia. — O quê? Colocar de volta? O que?
Mas eu não estava de bom humor. — Você sabe do que estou
falando. — Eu engasguei com um soluço. — Eu quero de volta. Agora.
Ele segurou minhas mãos, esfregando-as gentilmente. — Eu
preciso que você fale comigo, anjo. Explique-me isso.
Meu soluço miserável era quase inaudível. — A lápide. — Eu
pisquei através das minhas lágrimas. — Diga a eles para colocá-la de
volta. Não era deles para levar.
E como se uma lâmpada se acendesse em sua cabeça, seu corpo
relaxou e ele suspirou suavemente. — Eles finalmente a tiraram.
Minha voz estava áspera. — Não sobrou nada. Eles
desenterraram. Ele se foi.
O túmulo inteiro havia sumido, como se os últimos seis anos não
tivessem existido. Como se meu luto estivesse em minha mente e não
fosse justificado. Minha cabeça estava uma bagunça.
Como se atreveram?
Aquela lápide significava algo para mim, e eles não podiam levá-la.
— Baby. — Sua testa franziu enquanto ele continuava a acariciar
minhas mãos. — Por que você está tão chateada com isso?
— Porque, — eu comecei, limpando minhas bochechas. — Porque
quando você nos deixar novamente, é tudo o que restará para AJ. — Meu

~ 239 ~
corpo tremeu com a força dos meus gritos estridentes. — Porque é tudo
o que terei de você. — Eu ofeguei com força, levantando minha mão e
batendo no peito dele mais uma vez. — É minha. Eu quero de volta!
O rosto de Twitch caiu, e enquanto eu eliminava minha raiva em
seu peito duro e inflexível, ele passou os braços a minha volta, me
puxando contra o seu corpo forte enquanto eu desmoronava. Eu chorei
forte, sem vergonha, e enquanto respirava insegura, soltei um quebrado:
— Não nos deixe. De novo não.
O que eu quis dizer foi, — Não me deixe.
Ele tinha que saber que eu não sobreviveria a isso. Não uma
segunda vez.
O que ele disse não me apaziguou. Não foi uma
promessa. Dificilmente um juramento. — Eu juro a você que nunca vou
deixá-la. — Ele pressionou seus lábios na minha têmpora. — Não de
bom grado.
E eu sabia por que ele não podia me dar mais do que isso.
Era porque ele era Antonio “Twitch” Falco, um homem que já foi
um rei nesta cidade. E agora que a notícia sobre o seu retorno estava se
espalhando, haveria alguns que iriam muito longe para garantir que ele
nunca mais tentasse conquistar o trono novamente.
Era porque as balas falavam mais alto que as palavras.

~ 240 ~
CAPÍTULO VINTE E DOIS
Lexi

AJ estava se preparando para a escola quando Twitch entrou na


casa como se fosse dono do lugar. De seu quarto, AJ gritou: — Papai?
Seus olhos cansados sorriam enquanto ele se aproximava da
cafeteira, servindo duas canecas. — Eu estou aqui, broto.
Isso fazia parte da nossa rotina ultimamente. Twitch deixaria AJ
na escola e o pegaria, e ele fazia isso quase todos os dias, sem
Molly. Molly, é claro, teve muito a dizer sobre isso para o próprio
homem. Ela o acusou de disputar seu emprego e eu não pude deixar de
rir de sua acusação contundente. Ela realmente era adorável. Como se
eu fosse demiti-la. Ela era mais do que apenas uma funcionária. Molly
era da família.
Era tão difícil dar a Twitch uma pitada da minha confiança, mas
eu sabia que, se fôssemos fazer esse trabalho, eventualmente, teria que
confiar em Twitch com seu filho sozinho. E honestamente, depois de ver
como ele interagia com o nosso monstrinho, eu não achava que ele faria
algo para machucá-lo. No que dizia respeito ao nosso filho, Twitch
sempre parecia colocá-lo em primeiro lugar, o que era um alívio.
Enquanto o homem em questão passava por mim na cozinha, ele
pressionou seu corpo longo e duro na minha parte de trás e abaixou a
cabeça para beijar minha bochecha. — Bom dia, anjo. — Ele colocou a
segunda caneca de café no balcão na minha frente como uma oferenda
ao santuário de uma deusa.
Meu coração estava acelerado.
Cretino.
Eu também não estava de bom humor. Meus lábios se estreitaram
quando me virei para ele e, quando vi como o movimento nos
posicionara, imediatamente me arrependi. Nós estávamos perto. Um
pouco perto demais. Twitch segurou no balcão, me encurralando, e
~ 241 ~
quando meus olhos demonstraram pânico, seus olhos enrugaram nos
cantos, sabendo que eu estava enjaulada.
Minha voz era baixa, mas irritada, e meus olhos se estreitaram
nele. — Por que você está sendo tão legal comigo? Você nunca foi tão
legal comigo. Eu implorava para você ser gentil comigo e nunca consegui
isso. — Eu espiei pelo lado de seu corpo enorme para ter certeza de que
ninguém estava vindo. — Então o que há?
Eu estava procurando por uma briga? Sim.
Twitch ia me dar isso? Não.
Deslizando um braço ao redor das minhas costas, ele gentilmente
puxou minha trança, forçando minha cabeça para cima, e quando ele
falou, minha reserva se despedaçou. — Passei seis anos sem você. Seis
anos pensando em tudo que deveria ter feito quando tive a chance. Seis
anos de culpa. Seis anos de arrependimento. Eu saí de um jeito e voltei
de outro. Eu sou um homem mudado.
Quando minha testa franziu, eu sussurrei: — Mas você ainda
gosta do seu jeito.
Claramente, seu gosto no quarto não tinha mudado.
Eu disse isso de forma significativa e seus olhos riram. — Eu disse
que mudei, baby, não que sou um maldito santo.
Quando meus lábios se separaram e eu olhei para sua boca
maravilhosamente cheia, ele deu um passo minúsculo para perto,
colocando nossos corpos impossivelmente mais próximos, e falou
baixinho: — Não pense que não notei você evitando minha boca.
Ah, merda. Eu achei que estava sendo tão discreta. Eu hesitei na
minha resposta. — A outra noite, você— eu engoli em seco. — Você
poderia ter exigido um beijo, e eu... — Eu teria. Eu teria dado a ele
qualquer coisa.
Mas Twitch balançou a cabeça devagar, de forma significativa. —
Nunca gostei de forçar mulheres. Isso não me excita. E forçar você? —
Sua mandíbula apertou. — Eu prefiro bater uma. — Ele levantou as
duas mãos para enquadrar meu rosto com adoração. — Eu só quero que
você queira. Eu quero que você me queira tanto que dói pra caralho. —

~ 242 ~
Já faço. — Eu quero que você pense em mim o tempo todo. — Eu
raramente penso em nada além de você. — Eu quero estrelar seus
sonhos. — Toda noite, baby. Ele passou o polegar sobre meus lábios
macios. — Eu quero que você me dê essa boca mais do que qualquer
coisa, porque, porra, não tenho pensado em outra coisa senão nesses
sorridentes lábios de anjo nos meus. — Ele me soltou, recuando. — Mas
eu quero que você também queira.
Eu quero.
Eu faço! Volte!
Molly entrou na cozinha, parando quando viu o quão perto
estávamos olhando nos olhos um do outro. Suas sobrancelhas
arquearam e ela jogou um polegar por cima do ombro. — Se vocês
precisam de um minuto, eu posso voltar.
— Não, estamos bem, — proferiu Twitch antes de se aproximar da
pequena mulher, olhando para ela de um jeito conhecedor. — Eu ouvi
que alguma merda estava incomodando meu menino. — Seus olhos se
estreitaram nela. — AJ me disse que você chamou alguns de seus
amigos para buscá-lo um dia. Grandes amigos. Tipo de amigos tatuados
nos rostos. — Ele endireitou-se para a altura total, cruzando os braços
sobre o peito, parecendo mais um Deus vingativo do que homem. — Eu
acho que você não levaria membros do DMS para a escola do meu filho
para bater em uma garotinha.
Molly empalideceu, o que era estranho, porque ela era bastante
morena. — Eu não pedi a eles para bater nela. Merda, ela tem cinco
anos. Eu só queria que eles a assustassem um pouco, não a
atacassem. Eles só ficaram parados, eu juro. — Seu rosto ficou solene
rápido o suficiente. — Além disso... — O lábio dela se curvou. — ...ela
mereceu.
Mas os olhos de Twitch continuaram a observá-la por um longo
momento antes que seus lábios se levantassem nos cantos. — Cadela
fria. — Ele colocou um sorriso torto sobre ela e eu estava com ciúmes
disso. Ele apontou para ela, acenando aquele dedo em sua direção. — Eu
sabia que gostava de você, Molly.

~ 243 ~
Enquanto Molly relaxava, revirei os olhos. — Não a encoraje. Foi
uma jogada irresponsável.
Mas Twitch se moveu para ficar ao lado dela - em uma
demonstração de apoio, suponho. — Não. Foi uma jogada ousada, e se
ela se importa muito com o nosso filho, não posso culpá-la. Eu faria o
mesmo.
E pela primeira vez desde a sua chegada, Molly piscou para ele
com admiração.
Merda.
Ele a conquistou.
Ótimo. Ótimo.
Estava ficando um pouco solitário no meu lado enquanto Twitch
continuava conquistando as pessoas. Eu estava começando a sentir que
quase todo mundo estava bem por ele estar de volta. Eu precisava
conversar com pessoas com o pensamento igual e, felizmente, eu as
encontraria para o jantar.
— Ei. — Sorri, entrando no restaurante indiano.
Nikki sorriu tristemente quando ela me abraçou com força. — Ei
garota. Como você está?
Dave se levantou e me abraçou, pressionando um beijo suave na
minha cabeça. — Estamos preocupados com você, mas não queríamos
pressionar. — Ele olhou para mim com simpatia. — Eu sei que tem sido
uma luta.
Uma luta. Que eufemismo.
Com um suspiro pesado, sentei-me à mesa e acenei para ele. —
Não se preocupe com isso. Tem sido... — Eu procurei pela palavra. —
...caótico. — Sim. Isso servia. Mas antes de começarmos, peguei um copo
de água da mesa e bebi. — Como estão as coisas com vocês? — Eles
olharam um para o outro por um momento antes de deixar cair seus
olhares de tristeza. Meu estomago revirou. — Como está Happy?
Nikki forçou um sorriso. — As coisas estão bem. Ele está bem.
— As coisas não estão bem. — Dave não podia nem olhar para
mim. — Ele se mudou.

~ 244 ~
— O quê? — Eu me inclinei, chocada. Minha boca caiu aberta. —
O que aconteceu?
Nikki deu de ombros, mas manteve seu largo sorriso colado em
seu rosto. — Eu não sei realmente.
Dave suspirou, apertando a ponte do nariz. — Eu pedi que ele
saísse. — Quando ele olhou para mim, seus olhos estavam tristes. — Eu
não estou lidando bem com isso.
O sorriso de Nikki desapareceu. Ela parecia devastada quando
colocou a mão no braço de Dave em apoio. — Tem sido difícil para todos
nós.
Ele olhou para ela amavelmente e colocou a mão sobre a dela,
enquanto sussurrava: — Sinto muito.
Ela balançou a cabeça e um sorriso triste enfeitou seus lábios. Ela
falou calmamente: — Tudo bem.
Meu coração estava partindo por eles. Eu sei que o que Happy fez
foi errado. Ele mentiu para nós, e fez isso por cinco anos. Mas eles não
sabiam a situação difícil na qual Twitch o colocara. Eles não conheciam
as regras não escritas do submundo. Eles não entendiam o quanto era
importante para Happy manter a farsa. E eles provavelmente nunca o
fariam.
Eles nunca entenderiam que os três irmãos improváveis nunca
estariam verdadeiramente fora do grupo do submundo. Era algo que
você aceitava ou não. Eu senti a necessidade de expandir isso em voz
alta.
Deixando escapar um suspiro desanimado, eu disse: — Este
mundo em que vivem, as raízes são profundas. — Quando os dois
olharam para mim, peguei meu canudo e mexi na água gelada,
falando. — Correm profundamente em suas veias. É mais uma parte
deles do que esta vida, do que a vida normal, — esclareci. — Normal para
Twitch, Julius e Happy é apenas outro nível na máquina de lavar. — Eu
ri sem graça. Meus lábios se transformaram em uma carranca. — Não
existe para eles. — Eu olhei para os meus melhores amigos, esperando
que entendessem o que eu estava dizendo aqui. — Eles estão tentando

~ 245 ~
ter um gostinho dessa vida, mas não vai ser fácil. Eles sempre terão
alvos em suas cabeças. Eles ocasionalmente mentem pelo que
consideram o bem maior. Eles vêm com uma etiqueta de aviso anexada
neles. Todos fazem isso, e se você não conseguir lidar com isso, precisa
deixá-lo.
Dave pensou nas minhas palavras. Sua expressão foi de levemente
estupefato para assustado e finalmente aborrecido. — Porque isso não é
assustador em tudo. — Ele pegou sua cerveja e deu um gole antes de
sinalizar por outra. — Obrigado, Lexi. — Ele balançou a cabeça, seus
lábios finos. — Muito obrigado.
O copo de vinho que eu pedi chegou, quando Nikki perguntou
incrédula, — E você está bem em ser enganada?
Eu levantei meu copo de vinho em saudação. — Não pergunte, não
conte. — Eu bebi o maldito de uma só vez, mostrando como eu não
estava bem com isso.
Dave riu enquanto eu delicadamente enxuguei uma gota de vinho
que agora estava escorrendo pelo meu queixo. — Ok, chega de nós. —
Ele examinou meu rosto. — Como você está?
Minhas sobrancelhas franziram e eu falei devagar. — Meu
namorado mafioso ex falecido voltou dos mortos, mora do outro lado da
rua, e agora está dentro da minha casa, no meu espaço por pelo menos
oito horas todos os dias. — Minhas sobrancelhas franziram ainda
mais. — Ele faz insinuações sexuais constantemente e me diz que me
ama muito. Ele... — Tomei uma respiração trêmula. — Ele está sendo
doce e engraçado, e parece tão bom que metade do tempo estou me
imaginando na cama com ele. — Minha voz ficou baixa quando um
pequeno sorriso puxou meus lábios. — E neste exato momento, ele está
acampando na minha sala de estar dentro de um forte de cobertor que
ele fez com seu filho, um filho que o ama mais do que qualquer coisa no
mundo. — Forcei um sorriso, mas minha voz tremeu. — Então, você
sabe, ok, eu acho.
Os olhos de Nikki se estreitaram em mim. — Oh meu Deus, — ela
sussurrou.

~ 246 ~
Minhas sobrancelhas arquearam em seu tom descrente. — O quê?
Seus olhos permaneceram largos quando ela se inclinou, sua boca
aberta. — Você transou com ele.
Dave engasgou, colocando uma mão no seu peito, sua expressão
de puro choque e, como a pessoa incrivelmente inteligente que eu era,
apenas gaguejei em espanto. — Como você sempre sabe?
Nikki se inclinou para trás, sorrindo, colocando o braço na parte
de trás da cadeira de Dave. Seu ombro encolheu levemente. — É um
dom. — Ela sorriu mais, parecendo extremamente feliz consigo mesma.
Por que meus amigos eram idiotas?
Dave piscou para mim, sua mão firmemente plantada em seu
peito. — Estou chocado. Positivamente chocado.
— Eu não queria que isso acontecesse, — eu menti, em seguida,
suspirei, esclarecendo as coisas. — Na verdade, — eu comecei, meu rosto
caindo, — foi uma escolha minha.
Outro suspiro escapou de Dave, e eu gritei, — Você não sabe o
quão difícil tem sido evitá-lo, evitar como me sinto sobre ele, e estou
tentando, mas droga. — Suspirei sonhadoramente. — Ele não mudou,
não onde importa. Não no quarto. — Dave soltou uma gargalhada e
minha expressão ficou desanimada. — Eu sei. Eu sou uma idiota. — Eu
segurei minhas mãos para eles. — Estou pronta. Gritem comigo.
Nikki sacudiu a cabeça. — Eu não vou gritar com você.
— Eu vou, — Dave entrou na conversa.
Nikki raciocinou: — Você tem uma enorme ligação emocional com
esse homem e, sim, o que ele fez foi imperdoável, mas eu conheço você,
Lex. Eu sei o quanto você o amava.
— Bem, eu não sei o que você quer que eu diga, — disse Dave,
exasperado. — É como se você estivesse convidando-o para te machucar
novamente. Tudo bem que ele está sendo um bom pai. Isso é realmente
muito bom de ouvir. Mas ele não era um bom namorado. — Ele
zombou. — Ele não era nem mesmo um bom ser humano.
Eu sabia disso.
Eu sabia de tudo isso. Mas era bom ouvir isso.

~ 247 ~
Nikki, sempre a romântica, sorriu. — Ele diz que te ama, Lex. Isso
é enorme vindo dele. — Então ela perguntou: — Você vai lhe dar outra
chance?
Dave parecia que ia perder a cabeça. — Não, ela não vai! — Mas
quando ele olhou para o meu rosto hesitante, seus ombros caíram. — Oh
Deus. Você quer isso, não é?
Ugh. Todas essas perguntas e observações óbvias me deixaram
ansiosa. — Eu não sei o que eu quero, ok? — Eu soltei um longo
suspiro, passando a mão pelo meu cabelo. — Estou confusa. — Eu
definitivamente estava. — Vocês não o viram com AJ. — Eu sorri
suavemente. — É a coisa mais adorável. Ele é tão bom com ele, de uma
maneira que eu nunca pensei que pudesse ser, mas é. — Por favor,
entendam. — Ele sabe que cometeu erros comigo. Ele admite isso
livremente. É como, — tentei explicar da melhor maneira que pude, — se
ele fosse uma versão avançada de si mesmo. Ele não é mais o Twitch. Ele
é o Twitch, dois ponto zero. É como se seu chip emocional tivesse sido
atualizado ou algo assim. — Eu balancei a cabeça, me sentindo
estúpida. — Eu não sei.
O silêncio na mesa durou um pouco antes de Dave falar, e ele o fez
com relutância. — Bem, talvez se nós víssemos, — ele começou. —
Talvez se pudéssemos ver esse novo e melhorado Twitch do qual você
fala, talvez tudo isso não pareça tão assustador e nos sentiríamos menos
ansiosos sobre a coisa toda.
Mas Nikki sacudiu a cabeça, sorrindo. — Eu não estou
ansiosa. Eu acho legal.
Dave revirou os olhos. — OK tudo bem. Estou ansioso, Lex, e você
pode realmente me culpar? — Não, eu não podia. — Ele já deu uma
explicação de onde esteve esse tempo todo?
Eu balancei a cabeça, não oferecendo uma explicação porque os
negócios de Twitch não eram da sua conta.
— Ok. — Dave olhou de mim para Nikki. — Então. — Ele encolheu
os ombros. — Churrasco na casa Ballentine?
Espere. — O quê? — Eu perguntei cautelosamente.

~ 248 ~
Dave me olhou nos olhos. — Se você quiser que o aceitemos, vou
precisar ver tudo isso em primeira mão.
Eu pensei sobre isso.
Na verdade, não era uma ideia terrível. Talvez estar juntos ajudaria
a curar todos nós. Quanto mais eu pensava nisso, mais perfeita a ideia
soava, e eu sorri. — OK. Churrasco na minha casa. Sábado, cinco da
tarde, — apontei para Nikki. — Traga seus niknaks14. — Eu então
apontei para Dave. — Deixe seu mau humor em casa.
Nikki bateu palmas. — Sim!
Dave resmungou: — Não posso prometer isso.
Agora que os detalhes estavam acertados, fiquei animada. Fazia
muito tempo desde que nos reunimos como uma família. Eu não acho
que percebi o quanto precisava disso até agora. Eu precisava de meus
amigos perto. Eu precisava que as coisas voltassem ao normal, assim
seria feito.
Churrasco na casa Ballentine.

14 Petiscos, pasteizinhos de queijo geralmente.

~ 249 ~
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
Lexi

No dia seguinte, dei uma corrida que realmente não queria e


cheguei em casa para tomar banho um pouco antes das 10h. Quando eu
tinha acabado de abrir a porta do banheiro, ouvi meu monstrinho dizer
algo que me destruiria completamente.
— Papai, posso ficar com você?
Cada molécula do meu ser queria sair correndo de lá, disparar, e
acabar com essa conversa antes mesmo de começar. Mas uma pequena
parte de mim queria ouvir o que “papai” tinha a dizer sobre isso. Então
fiz o que qualquer outra mulher teria feito.
Eu escutei.
— Hum. — Twitch hesitou. — Eu não sei sobre isso, pequeno cara.
AJ não foi dissuadido. — Por quê?
— Porque, — disse Twitch com naturalidade. — Você pertence à
sua mãe.
Minha ira diminuiu ligeiramente.
Meu filho tentou novamente. — Mas eu não estaria longe.
— Exatamente. Então realmente não há necessidade de ficar
comigo, não é? Além disso, vejo você todos os dias, amigo, e isso não vai
mudar.
AJ soltou um som abatido, — Ok.
— Olhe, — disse Twitch ao nosso filho triste. — Eu quero você
comigo o tempo todo. Eu quero. Eu adoraria que você ficasse comigo e
talvez um dia possamos fazer isso. Mas agora não. Ok, amigo? Porque
agora, mamãe precisa que você esteja com ela. — Quando ele
acrescentou um som suave, — Você a faz feliz, — uma pequena parte de
nossa confiança quebrada se consertou.

~ 250 ~
Ele teve uma oportunidade aberta aqui. Um ingresso dourado. Mas
por alguma razão desconhecida, ele não tinha aproveitado. E eu estava
agradecida.
Eu esperei alguns minutos antes de sair do banheiro, e sem parar,
fui para o meu quarto me sentar ao lado da penteadeira, escovando meu
cabelo molhado. Nem um minuto depois, o homem em questão estava de
pé na minha porta aberta. Eu olhei para ele e ele entrou, falando em voz
baixa. — Ei, então eu não sei o que aconteceu, mas...
Cortando-o, olhei de volta para o espelho e escovei meu cabelo. —
Eu ouvi. — Era surpreendente, sua necessidade de revelar o que acabara
de acontecer. Tentei não levar a necessidade do meu filho de estar com o
pai para o lado pessoal, mas realmente doía.
— Eu disse a ele que não, — ele acrescentou, franzindo a testa
para o meu rosto sem expressão.
— Eu sei. — Eu olhei para cima em seu reflexo. — Eu te disse, eu
ouvi.
Ele enfiou as mãos nos bolsos e me observou por um longo
momento. — Eu pensei que você estaria chateada.
— Eu estou, — eu divulguei. — Mas não é sua culpa. — Tentei
explicar sem ser cruel. — Você é como um novo brinquedo. Você é
brilhante e divertido. E embora você seja o pai dele, eu ainda sou a
disciplinadora nesta casa, então... — Dei de ombros, tentando esconder
a dor que o pedido inocente de meu filho tinha me causado. — Eu acho
que é natural ele querer você.
Como eu quero.
Twitch deu dois passos, estendeu a mão e tocou uma mecha do
meu cabelo molhado. Suas palavras eram equilibradas e seguras. — Um
dia, não será um problema, porque estarei vivendo bem aqui, sob este
teto, e ele terá mamãe e papai próximos o suficiente para que fique
entediado com a minha bunda e queira sua mãe de volta.
Eu olhei para o seu reflexo com as sobrancelhas arqueadas,
lutando contra um sorriso. — Muito arrogante?

~ 251 ~
Seus olhos perscrutaram profundamente os meus. — Não. Apenas
confiante.
— Certo, — eu murmurei baixinho antes de continuar a escovar os
nós.
— Então. — Twitch sentou na beira da cama, seus olhos sempre
atentos. — Estou sentindo que essa coisa de churrasco pode ser um
interrogatório.
Ninguém nunca acusou Antonio Falco de ser um homem estúpido.
Eu pisquei inocentemente. — O que você quer dizer?
Seus lábios se contraíram ao meu distinto tom sulista. — Você
sabe exatamente o que eu quero dizer, Lex. E é legal, eu acho, mas vou
te avisar. — Ele se levantou. — Se Dave vier para cima de mim
novamente, não vou me segurar.
— Eu sei, — eu admiti em um sorriso irônico. — Eu já o avisei.
— Sim, você avisou. — Sua expressão se tornou convencida. —
Minha mulher me dá cobertura. Porque ela é sólida. — Ele levantou a
mão, apertando-a em um punho. — Um maldito diamante.
Revirei os olhos, mas suas palavras me fizeram corar de um jeito
tão brilhante que parecia que eu tinha esfregado violentamente meu
rosto com uma lixa. — Vá embora.
Misericordiosamente, ele fez, mas como eu tive sorte nesse quesito,
a noite provaria que seria um pouco azarada em outros. Ou seja, na
situação de Dave.
Era pouco antes das cinco, quando nossos amigos começaram a
entrar em minha casa, e enquanto Molly os cumprimentava na porta, os
cumprimentei da cozinha enquanto preparava saladas que
acompanhariam a ridícula quantidade de carne comprada para
alimentar os homens presentes hoje à noite, porque, como meu filho,
eram todos carnívoros.
Quando Ana e Julius entraram na casa, parei de mexer as
verduras e abracei os dois. — Ei, eu senti falta de vocês.
Do outro lado do corredor, Twitch saiu do quarto de AJ, e ao ver
seu velho amigo, ele se esgueirou por trás do Adonis de pele morena e o

~ 252 ~
pegou de surpresa, os dois braços apertados em torno dele como
cordas. Ele segurou Julius com firmeza e, quando Julius falou com os
dentes cerrados, — Solte-me, seu filho da puta, — Twitch levantou-o do
chão uma polegada e sacudiu-o duas vezes, fazendo com que Julius
sufocasse: — Juro por Deus, irmão.
Foi quando Twitch o soltou, sorrindo sarcasticamente. — É bom
saber que você ainda se lembra de mim, irmão.
A maneira como ele disse irmão era como se o homem fosse tudo
menos isso, e Ana e eu nos olhamos desconfortavelmente.
Julius se virou para ele. — Você quer repetir isso para mim? —
Sua expressão furiosa, ele olhou em volta por AJ, em seguida, inclinou-
se e falou em voz baixa. — Eu não fui aquele que partiu, filho da
puta. Você foi. — A fúria que ele mostrava era real. — Não passou um
dia de merda que eu não tenha pensado em você, em como te
decepcionei, e você estava lá fora vivendo sua vida, dizendo foda-se o
resto de nós? — Ele balançou a cabeça. — Não, cara. Não me jogue essa
besteira.
Quando Twitch se adiantou para ficar ao lado de seu irmão e
estendeu a mão para Ana, ele disse: — Olhe para ela. — Julius fez, e
Twitch continuou: — Essa mulher mudou sua vida, não foi,
irmão? Mudou como você não tinha a mínima ideia que ela faria. Ela se
tornou seu tudo, seu tudo, e você quer me dizer que não teria feito a
mesma merda que eu fiz para manter meu anjo a salvo? — Twitch
abaixou a mão e olhou Julius nos olhos. — Eu sei que você faria. Porra,
eu sei que você fez. Foi lá e massacrou trinta homens sem piscar um
olho por esse pequeno pardal. — Ele olhou para Ana. — Tudo por ela. —
Ele olhou de volta para seu irmão. — Então me diga que você está
chateado comigo. Diga-me que eu estraguei tudo. Mas nem pense em
dizer que você não me viu fazendo o que precisava para manter minha
família fora dos limites porque sei que você sente essa merda em sua
alma, meu irmão.
O silêncio era grosso o suficiente para atravessar.

~ 253 ~
Julius olhou para os pés por um longo tempo antes que Twitch lhe
cutucasse o braço. — Vamos lá. Você precisa de uma cerveja.
Ana e eu assistimos Twitch sair, deixando a porta dos fundos
aberta. Demorou alguns instantes, mas Julius se arrastou atrás dele e,
depois que eles se foram, meus olhos se arregalaram para a pequena
mulher ao meu lado. Eu falei baixinho. — Oh meu Deus, eu pensei que
eles iam brigar novamente.
Ana fez uma careta, assentindo rapidamente de acordo.
Um segundo passou e eu sorri, então sussurrei: — Mas é bom que
eles estejam conversando.
Ana assentiu, sorrindo suavemente.
Nikki e Dave chegaram em seguida, e assim que todos nos
cumprimentamos, Happy chegou.
Nikki se lançou para o Deus persa calvo, envolvendo seus braços
ao redor dele, e quando ele tropeçou para trás, ele riu. — Uau, baby. —
Happy sorriu para ela antes de pressionar um beijo casto em seus lábios,
e Nikki sorriu para ele, apaixonada como tinha feito há seis anos quando
se conheceram. As palavras que ele falou eram agradavelmente doces. —
Eu senti sua falta. — Mas quando Happy soltou Nikki e abraçou Ana e
eu, ele passou por Dave com um silencioso — Ei, — e nada mais, antes
de ir para o quintal.
Dave parecia completamente arrasado.
E eu queria sacudi-lo então. Eu queria dizer a ele que o amor
verdadeiro nem sempre era sol e rosas. Que às vezes o amor fedia ao céu
aberto. Mas quando você encontrava o amor, mesmo um tão confuso
quanto o deles, você o segurava com as duas mãos, porque os altos
superavam os baixos de cem por um.
Infelizmente, eu não fiz.
Em vez disso, coloquei a mão no braço dele e apertei, lançando-lhe
um sorriso simpático.
Os homens cercaram a churrasqueira, e até meu monstrinho foi
chamado para a disputa da testosterona e de masculinidade, entregou
um par de longas pinças ao pai e recebeu a tarefa de cuidar das

~ 254 ~
salsichas. E foi adorável. Mas, como um garotinho, ele se entediou
rapidamente e foi jogar bola com Molly na grama.
Quando me aproximei para descobrir em quanto tempo a carne
ficaria pronta, mais rápido do que o bote de uma cobra, Twitch me pegou
pela cintura e me puxou contra o seu corpo. Ele me segurou com força
por muito tempo, e enquanto eu lutava para sair do seu abraço, ele
colocou o rosto no meu pescoço e me mordeu. Isso me fez ter uma crise
de riso. Ele sabia que eu tinha cócegas, o idiota. E todos os meus
convidados observaram nossa interação atentamente, como se fôssemos
um par de criaturas fascinantes em um documentário de Sir David
Attenborough15.
Era desconcertante, mas eu sabia por que eles achavam
necessário.
Erros foram cometidos no passado. Erros terríveis. Dos que não
valiam a pena repetir.
A comida foi servida, nós comemos, e depois de limpar o ambiente
ao ar livre, o sol começou a se pôr sobre o quintal. Enquanto me movia
para sentar ao lado de Twitch, ele estendeu a mão e acariciou minha
bunda suavemente, e eu senti a leve carícia por toda parte. Uma
conversa fácil começou e, enquanto eu olhava ao redor da mesa para os
meus amigos sorridentes, me senti mais à vontade do que nunca em
minha vida enquanto eles riam de alguma história estupidamente trivial
que Nikki contava.
Estava escuro quando AJ saiu correndo da casa e sentou-se no
colo de Twitch. Eu não era a única pessoa assistindo a doce interação
entre pai e filho. Enquanto o nosso filho recostava-se no corpo reclinado
do seu pai, Twitch mantinha-o perto, parando de vez em quando para
dar um beijo suave no cabelo com aroma de maçã do pequeno
monstro. E quando Nikki chamou minha atenção, ela colocou a mão no
coração e fez uma careta.
Fale -me sobre isso, irmã.

15 Sir David Attenborough (David Frederick Attenborough, nascido em 8 de


maio de 1926) é um naturalista britânico e personalidade de televisão.

~ 255 ~
Confie em mim, eu senti isso. Eu sentia isso toda vez que os via
juntos. Meus ovários explodiram várias vezes no último mês e meio. Era
um problema.
Quando AJ ficou mole e começou a babar, eu sorri com a bela
visão do meu menino adormecido, sinalizando para Twitch e me
movendo para tirar o nosso filho dele, mas ele apenas me dispensou. —
Deixa comigo.
Sem uma palavra, como se fosse a coisa mais fácil do mundo,
Twitch levantou AJ em seus braços e caminhou com seu corpo
adormecido para dentro, colocando-o na cama para passar a noite. E foi
aí que Dave se inclinou e falou, ainda que em voz baixa: — Não estou
cem por cento convencido, mas tudo bem. Eu vejo isso.
Foi isso. Isso foi tudo o que ele disse, e eu me perguntei o que
exatamente ele viu.
Quando Twitch retornou, o silêncio o cumprimentou. Ele olhou ao
redor dos olhos vigilantes da mesa e estendeu os braços. — Tudo
certo. Quem é o primeiro? — Ele se sentou com um leve suspiro,
estendendo a mão para mim, e como a babaca que eu era, minha mão
encontrou a dele sem questionar. Nossos dedos se entrelaçaram e nada
mais importava para mim, apenas que estávamos aqui, juntos, curtindo
uma noite com amigos. Curtindo a vida com nosso filho.
Claro, eu não cederia tão facilmente, e acho que Twitch sabia
disso. Minha hesitação era de segunda natureza neste momento. Qual
era o ditado?
Uma vez mordida, duas vezes precavida.
O negócio era que eu gostava de quando Twitch afundava seus
dentes em mim.
Sim. Eu era uma idiota.
Dave se endireitou na cadeira e se inclinou para frente. — Ok, eu
vou começar. — Ele deu de ombros. — Onde você esteve?
Twitch levantou minha mão e mordiscou meus dedos. Ele falou
contra a minha pele, e a onda de calor fez meus braços irromperem em
uma massa de arrepios. — Próxima pergunta.

~ 256 ~
Dave recostou-se e zombou. — Sério?
Twitch abaixou minha mão, prendendo-o com seu olhar. — Sério.
— Apertei a mão dele, e ele olhou para mim por um momento, antes de
relutantemente acrescentar: — Eu estive por toda parte, e Lexi sabe onde
e por quê. Eu não devo nada a nenhum de vocês, por isso fiquem
atentos.
Nikki assentiu levemente, respeitando-o completamente, enquanto
Julius ouvia atentamente e fingia estar entediado.
Por que os homens eram tão orgulhosos? Por que eles achavam
que mostrar emoção os tornava fracos? Eu não entendia.
Mas Dave não gostou do tom que foi usado com ele e retaliou da
pior maneira. — Então, você está nos dizendo que um homem como você
passa seis anos sem uma mulher? — Ele soltou uma risada. — Foda-se,
cara. Conte outra.
Ah não. Ele foi lá.
Meu peito começou a doer.
Era uma pergunta que eu queria fazer, mas não tive coragem de
abordar.
Então, quando Twitch respondeu: — Eu nunca disse isso, — eu
recuei, deslizando minha mão para piscar para ele. E ele franziu a testa,
dizendo: — Baby, — antes de se voltar para Dave com um olhar severo,
pegando um guardanapo enrolado da mesa e jogando-o nele. — David
Allen, eu vou acabar com você.
— O quê? — Riu Dave, evitando facilmente o projétil. — Estou
curioso.
E a bochecha de Twitch pulsou. — Você é um monte de coisas,
meu homem, mas curioso não é uma delas. — Ele apontou para ele
antes de tomar um longo gole de sua cerveja. — Eu sei o que você está
fazendo e não gosto disso.
Dave levantou as mãos em sinal de rendição, mas fez isso
sorrindo.
— Quantas? — Eu falei baixo.
Twitch se inclinou. — Precisamos fazer isso agora?

~ 257 ~
Eu me afastei dele, falando devagar: — Quantas?
Sua mandíbula endureceu quando ele me olhou nos olhos e falou
com os dentes cerrados. — Uma. — Então ele pensou sobre isso. —
Metade de uma.
O quê?
— Repita? — Minhas sobrancelhas arqueadas. — Metade de
uma? Como isso funciona?
Twitch parecia chateado. — Olha, foi há muito tempo, tudo bem?
Meus braços se cruzaram no meu peito. — Não. Vamos ouvir isso.
Jogando-se de volta em sua cadeira, ele gemeu em voz alta antes
de se acomodar e dizer: — Era o segundo aniversário de AJ. Eu saí para
tomar uma bebida. As coisas estavam levando mais tempo do que eu
esperava, e por um segundo, eu desisti e decidi que não voltaria, ok? Ele
olhou para mim, seus olhos escuros e tempestuosos. — Fazia três anos e
eu tinha feito apenas cerca de um oitavo do que precisava fazer. Rastrear
as coisas que precisava estava sendo mais difícil do que o esperado, e
Happy... — Ele olhou para o amigo. — Era toda a ajuda que eu
tinha. Obrigado, meu irmão. — Ele bateu no peito com o punho fechado.
Happy ergueu a cerveja para ele, inclinando a cabeça.
— Então. — Twitch se inclinou para trás e levantou o tornozelo
para descansar em um joelho. — Encontrei uma mulher que... — Ele fez
uma careta. — Eu nem sei como ela era. Ela tinha uma boceta e isso era
o suficiente. E eu a levei para trás de um bar úmido, no beco, e a
empurrei de joelhos, lhe dizendo para começar a trabalhar.
Meu coração doeu ao ouvir isso, mas era bom que ele estivesse
sendo aberto. Eu queria saber.
O que ele disse em seguida me surpreendeu.
— Mas meu pau não levantava. — Eu ergui minha cabeça, os
olhos arregalados, e Twitch encolheu os ombros. — Eu não sei. Isso
nunca tinha acontecido antes, então mandei que ela se afastasse para
que eu pudesse fazer isso. — Quando Julius deu uma risadinha, a
mandíbula de Twitch se apertou e ele mostrou o dedo para ele. — E eu
estava tentando, acredite em mim, estava tentando pra caralho. Mas

~ 258 ~
nada acontecia. Levei um segundo para perceber que não iria acontecer,
então eu saí de lá, bolas azuis e tudo mais. — Ele olhou para mim e
suspirou. — E esse foi o maldito momento horripilante que percebi que
era um homem de uma só mulher.
Oh.
Jogando um olhar sombrio para Dave, ele estreitou os olhos para
ele. — Eu não te devo merda nenhuma, mas vou dizer isso uma vez, meu
homem, então ouça. — Aqueles olhos castanhos suaves pousaram em
mim, e ele pronunciou: — Me apaixonei por um anjo aos oito anos de
idade. — Meu coração gaguejou. Ele continuou, — Uma pequena
coisinha com grandes olhos azuis, carregando um kit de primeiros
socorros com metade do seu tamanho, arrastando aquela merda no
quintal do vizinho, porque ela viu que um garotinho estava machucado e
se escondendo. — Suas sobrancelhas franziram. — Um anjo que tentou
consertar uma ferida aberta com um band-aid.
Eu não tinha certeza se alguém sabia dessa
história. Provavelmente foi por isso que vi expressões confusas ao longo
de toda a mesa, exceto Julius. Esta não foi uma história que eu
compartilhei.
Era nossa e só nossa. Nosso começo foi profundo, como as raízes
de um carvalho de cem anos de idade. O mesmo carvalho em que eu
havia esculpido seu nome.
A história deu uma reviravolta, quando ele acrescentou: — Tornei-
me obcecado aos dezesseis anos. Aos vinte e poucos anos, eu odiava
aquela garota. Gastei muito tempo e dinheiro procurando por
ela. Planejado fazer coisas ruins para aquela mulher, e a encontrei,
eventualmente. Na casa dos trinta, fiz muita merda estúpida, fodida,
tentando encontrar uma abertura com aquela garota, e quando
finalmente consegui e estava todo dentro, ela sorriu para mim, e tudo
que eu conseguia pensar era 'oh, merda. Estou com problemas aqui’. —
Ele olhou para Dave. — Temos uma história que você nem consegue
compreender com a sua felicidade suburbana, seu idiota. Então não
assuma que você me conhece. Nem pense que você a conhece. Estamos

~ 259 ~
montando a tempestade que eu criei, e estamos fazendo isso em
particular. — Seus olhos permaneceram encapuzados quando ele soltou
um sorriso cruel. — Então vá em frente e me subestime, David Allen. Eu
te desafio. Eu te prometo isso. — Seus olhos suavizaram quando eles
pousaram em mim, e ele falou diretamente para mim. — Eu não vou a
lugar nenhum.
Eu queria chorar então.
Este homem. Ele era o único homem que podia me quebrar,
quebrar meu coração, e eu pegaria cada pedaço quebrado e colocaria de
volta em suas mãos.
Havia apenas um amor como esse. Era um tipo de amor
desesperado e esmagador que fazia uma pessoa fazer coisas estúpidas e
agir de uma forma que nunca considerou possível. Mas era nosso,
confuso como era.
Não muito depois da declaração ousada de Tony, todos estavam se
movendo para ir embora, e quando eu segui a fila de pessoas para fora,
um braço forte serpenteou ao redor da minha cintura, me puxando para
perto. Quando olhei em seus olhos, ele olhou para mim com um olhar
tão intenso de adoração que quase gozei bem ali, na frente de nossos
convidados.
Quão inadequado.
— Vou ligar para você levar AJ para outra festa do pijama, —
gritou Julius enquanto ele e Ana andavam até o carro. Foi quando um
lustroso Mercedes Kompressor preto passou na velocidade de um
caracol. E quando a janela baixou, meu interior apertou e meu corpo
inteiro congelou.
Ah não.
Ela olhou para Julius, lambendo os lábios cor de cereja antes de
lhe jogar um beijo.
Ah merda.
Mas quando seu olhar pousou em mim, ela arregalou os olhos,
puxou a mão, fez o movimento de uma arma e apontou para mim,
gritando: — Boom, cadela!

~ 260 ~
Porra.
Eu ofeguei alto, tropeçando para trás, completamente aterrorizada
e segurando Twitch. E quando seus lábios formaram um sorriso largo e
punitivo, eu sabia que ela podia sentir meu medo e eu a odiava por
celebrá-lo.
Tudo aconteceu tão rapidamente que eu não tinha certeza se tinha
simplesmente imaginado.
Twitch saiu do meu lado e, quando se aproximou do carro em
direção à janela aberta, e quando se arrastou lentamente, Ling falou,
olhando para Twitch de cima a baixo. Seu tom era tão sedutor quanto a
cobra que ela era. — A morte parece bem em você, baby.
Ouvi Ana começar a hiperventilar, e Julius a conduziu para dentro
do carro enquanto Happy corria para ficar na minha frente, seu corpo
me protegendo do perigo. Nikki e Dave simplesmente ficaram em choque.
Twitch ficou furioso, mas não demonstrou. A coisa era, senti sua
fúria no meu coração. Eu senti seu pavor. Sua raiva se infiltrou no ar ao
nosso redor. — Eu sabia que você era louca, mas você tem algumas
bolas em você, Ling, — Twitch proferiu em falsa calma. — Você cometeu
um erro vindo aqui. — O carro acelerou. — Me teste. Eu te desafio. —
Ele correu atrás dele e, quando se afastou, ele gritou:— Tem uma porra
de alvo em sua cabeça agora, cadela.
No segundo em que o carro estava fora de vista, ele girou, as veias
do pescoço saltando quando ele olhou para Julius e pousou as mãos na
cabeça, resmungando baixinho, ofegando: — Conseguimos um problema
para nós.
Sim.
Não, brinca Sherlock.
Julius assentiu, com a mandíbula apertada. — Vamos lá.
Happy deu um passo à frente e balançou a cabeça. — De jeito
nenhum. Algo cheira mal aqui.
Sim, sim. — Não. — Eu dei um passo à frente, os olhos
arregalados, as mãos tremendo. — Nenhum de vocês vai a lugar

~ 261 ~
algum. Vocês estão me ouvindo? — Eu torci para encarar Twitch. —
Você não vai a lugar nenhum!
Ana empurrou a porta do passageiro e saiu cambaleando,
tentando acalmar sua respiração. Julius parecia controlado. — Está
bem. Está tudo bem baby. Eu cuidarei disso.
Mas Ana sacudiu a cabeça e tentou falar. — Você... Você... —
Quando ela fechou os olhos e soltou um gemido de dor, meu coração se
partiu por ela. Seu trauma aumentou dez vezes ao ver a mulher
responsável por sua captura e tortura. Ela tentou novamente, — Você se
lembra... — Ela respirou fundo. — O que aconteceu... — Ela ofegou
ruidosamente. — Quando ela nos separou? — Ela balançou a cabeça e
gritou: — De novo não!
A bravata de Julius pareceu vacilar diante de suas palavras. Ele
puxou sua esposa para perto, envolvendo seus braços ao redor dela e
balançando-a enquanto ela chorava.
Twitch também se recompôs. — Ok. — Suas sobrancelhas
baixaram em pensamento. — Todo mundo vai para casa. — Ele olhou de
Ana para o meu rosto pálido e seus lábios se diluíram quando ele
suspirou. — Hoje não é à noite.
Mas quando todos partiram e Twitch me acompanhou para dentro,
segurando minha mão com força na dele, apenas um pensamento
circulou minha mente.
A cadela louca sabe onde eu moro.
Bem, merda.
Isso não era bom.

~ 262 ~
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
Twitch

Era tarde, e eu deitei ao lado do meu anjo, imaginando como


diabos eu permiti que isso acontecesse.
Todo o meu tempo longe foi para amarrar as pontas soltas. Eu fui
descuidado em acreditar que o que deixei para trás ficaria longe.
Eu ouvi sobre o Ling.
Eu ouvi sobre sua traição, sobre o que ela tinha feito a Julius e
Ana. Ouvi sobre a sua forte posse aos Dragons, a execução de seu
pai. Mais recentemente, do escárnio que ela estava fazendo no
submundo.
Pela primeira vez desde suas origens, os Dragons estavam
recrutando agora Vietnamitas mestiços. Era inédito. Eles eram
conhecidos por seus valores tradicionais, e Ling estava fodendo tudo.
Algumas pessoas até disseram que ela estava transando com o
irmão dela.
Conhecendo Ling, eu não duvidaria disso. Ela era louca e nada
estava fora dos limites.
Eu sabia que eventualmente a curiosidade levaria a melhor sobre
ela, mas não esperava que fosse tão cedo. Porra, eu não esperava que ela
se aproximasse. A cadela cometeu um erro vindo aqui hoje à noite.
Mantendo minha ansiedade para mim mesmo, fiquei quieto
quando a mulher ao meu lado se virou, aconchegou-se perto e
pressionou o rosto na lateral do meu pescoço. Sem hesitar, a peguei e a
puxei para deitar em cima de mim, porque ela precisava de conforto e eu
estava trabalhando em ser tudo que ela precisava.
Eu encontrei minha religião. Lexi era minha bíblia. E com sua
misericórdia, eu renasceria.
Com minha voz áspera, eu sussurrei: — Você precisa da minha
ajuda para dormir?
~ 263 ~
Seu aceno sutil foi tudo o que ela me deu.
E tudo bem, porque esta noite não era sobre eu fazer
exigências. Era sobre dar abnegadamente a minha rainha.
Então eu rolei e olhei em seus olhos úmidos, passei minhas mãos
por suas coxas e levantei a bainha de sua saia antes de me afastar da
cama. Agarrando seus tornozelos, eu a arrastei para o final da cama até
que sua bunda doce descansou na beira do colchão.
Ela se apoiou nos cotovelos, olhando para mim, com os olhos
arregalados e curiosos.
Meu bebê.
Eu faria o que fosse necessário para mantê-la segura.
Neste momento, entretanto?
Ajoelhei-me, abri suas pernas, abaixei a cabeça e rezei.

***

Lexi

— Papai?
Eu ouvi o monstrinho, mas estava muito ocupada sendo uma
covarde e continuei fingindo que estava dormindo.
De sua posição, colado às minhas costas, o homem ao meu lado
levantou a cabeça e sua voz estava rouca. — Ei, camarada. O que houve?
— Ele rapidamente acrescentou: — Não acorde sua mãe.
AJ se aproximou e murmurou: — Você teve uma festa do pijama?
Eu me esforcei para reprimir meu sorriso, mas foi difícil. Ele soou
tão excluído, nosso lindo menino.
— Ah, sim, — ele resmungou, baixando a cabeça para o travesseiro
que compartilhamos. — Eu não consegui encontrar minhas chaves.
Com isso, não consegui reprimir meu sorriso. Foi uma boa
mentira. Uma que ele acreditaria.
AJ soou confuso. — Elas estão bem aqui.

~ 264 ~
Twitch levantou a cabeça novamente. — Oh o quê? De jeito
nenhum. — Ele fingiu sua surpresa tão bem que todo o meu corpo
tremeu em uma risada baixa, então estremeci quando Twitch beliscou
minha bunda com força.
Nosso filho riu. — Paizinho bobo. — Um momento depois, — estou
com fome.
Twitch suspirou. — Onde está Molly?
— No banho.
Sussurrei: — Vá alimentar nosso filho, — e Twitch passou a mão
pelo meu quadril nu, sob o lençol. Uma carícia lenta e amorosa. Uma
carícia secreta, só para mim.
Deus. Eu estava tão apaixonada por este homem.
Era desconcertante. Que contraste entre nosso relacionamento
anterior comparado ao que tínhamos agora. Eu estava começando a
perceber que Twitch não era tão complexo quanto eu pensava. Quero
dizer, claro, ele era uma criatura complicada, mas usava o coração na
manga e, quando decidia que amava você, dava tudo de si. E, por assim
dizer, eu precisava de tudo dele.
Na noite anterior, tive o sonho mais estranho.
Lá estava ele segurando uma adaga em uma mão, seu coração na
outra, e quando ele caiu de joelhos, sangrando da ferida aberta em seu
peito, dando seu último suspiro, ele estendeu sua mão ensanguentada e
trêmula em oferta, implorando-me para levar o pedaço ainda batendo
dele.
Eu fiz, e quando ele finalmente pereceu, fez isso sorrindo.
Quando acordei assustada, preocupada e ofegante, encontrei-o no
escuro e ele abriu os braços para mim. Eu descansei minha cabeça em
seu peito e escutei cuidadosamente o ritmo constante de seu coração até
que encontrei paz e adormeci novamente.
— Ok, pequeno cara. Eu estarei lá em um segundo. Quer colocar
um pouco de pão na torradeira?
AJ saiu correndo do meu quarto e gritou: — Você quer um pouco?

~ 265 ~
— Não, — ele gritou de volta, sabendo muito bem que eu estava
acordada. Ele pressionou sua frente em minhas costas e beijou meu
ombro nu enquanto a mão no meu quadril deslizava até o estômago,
descendo ainda mais descansando logo acima do meu monte. — Eu já
comi, — ele murmurou com voz rouca na minha pele, pressionando os
lábios sorridentes na minha carne.
Um feliz — Mmmm — foi tudo que eu poderia responder.
Ele com certeza comeu. Ele comeu a vontade.
Sorri para o meu travesseiro e, quando senti o colchão levantar, a
cama ficou mais fria e tive que fazer um beicinho.
— Você está com fome, mamãe? — Ele perguntou enquanto
colocava sua calça jeans, movendo-se para sair do quarto sem sua
camiseta, mas parando na porta esperando minha resposta.
Eu levantei minha cabeça e apertei um olho, e meu coração bateu
com a visão dele. Deus, ele era lindo. — Sim.
Ele me observou através de pálpebras pesadas, seus olhos
vagando pelo meu corpo coberto pelos lençóis. Isso deixava pouco para a
imaginação. Então Twitch balançou a cabeça e suspirou alto. — Levante-
se, baby, ou vou deitar com você.
Alguns minutos se passaram, encontrei minha calcinha, puxando-
a para cima antes de colocar um sutiã e envolver o quimono de seda a
minha volta. Abri as cortinas, deixando entrar a brisa da manhã, e
sentei-me na cômoda, onde escovei meu cabelo e fiz um coque no topo
da minha cabeça. Mas quando vi algo na minha clavícula, inclinei-me
para perto. Quando me concentrei nisso, passei a mão sobre o roxo,
depois revirei os olhos.
Outro chupão.
Bom, Twitch.
Quando eu entrei na cozinha, vendo o homem espalhando
Vegemite na torrada para o seu filho, assisti seu rosto franzir, e quando
ele me notou, ele fez uma careta. — Como você pode alimentá-lo com
essas coisas? Tem gosto de bunda.
— Ele foi criado com isso. — Eu dei de ombros. — Ele gosta disso.

~ 266 ~
— É grosso, e marrom, e... — Eu juro, Twitch empalideceu um
pouco, fechando a tampa amarela brilhante e empurrando o frasco o
mais longe que podia, murmurando: — Não, obrigado.
— Então, — eu comecei. — Você precisa parar de deixar marcas
em mim.
Mas Twitch apenas me ignorou, levando o prato de torrada para o
garotinho de cueca assistindo a desenhos animados no chão da sala da
estar. Quando ele voltou, no entanto, se aproximou de mim com
intenções. A cada passo que dava, fui obrigada a recuar até sentir que
meu traseiro bateu nos armários da cozinha e, quando ele me colocou
onde queria, observou o mais novo chupão. Seus olhos brilharam um
momento antes de ele levantar a mão, descansando-a levemente no meu
pescoço, passando o polegar sobre a vermelhidão roxa na minha
clavícula.
— Você não sabe ler? — Ele pronunciou, o tom rouco suave de sua
voz fazendo com que meu corpo reagisse. — Cada uma dessas marcas é
uma carta de amor. — Ele olhou para mim, aqueles olhos castanhos
suaves enxergando dentro de mim. — Se você olhar firme o bastante
descobrirá o que elas dizem.
Jesus Cristo. Eu nunca estive mais ligada por meras palavras em
toda a minha vida.
Eu queria segurar a parte de trás de sua cabeça, puxá-lo para o
meu pescoço e pedir-lhe mais escrituras para ler no meu tempo livre.
Em vez disso, arruinei o momento. — O que vamos fazer sobre
Ling?
Seus olhos escureceram ao ouvir o nome dela. —
Nós não vamos fazer nada. — Sua mandíbula cerrou, e ele calmamente
disse: — Deixe-a para mim, anjo. — No meu olhar de incerteza, ele
continuou. — Eu não tenho certeza se ela vai voltar, mas depois da
mensagem que enviei, ela com certeza vai recuar.
— Que mensagem? — Eu não pude deixar de perguntar.

~ 267 ~
E surpreendentemente, ele me respondeu, seu polegar passando
suavemente pela minha pele de uma maneira consoladora. — Ceda ou
morra.
Eu acho que ele ficou um pouco chocado quando olhei ao redor
dele para verificar AJ. Quando tive certeza que ele não iria ouvir, mantive
minha voz baixa e evitei seu olhar. — Eu não quero que ela tenha uma
escolha. — Quando encontrei seus olhos apertados, eu disse a ele com
franqueza: — Eu quero que ela desapareça.
Ele piscou para mim por um longo momento antes de seus lábios
se estreitarem. — Não vai ser fácil. Ela é a rainha e seus homens a
mantêm protegida. Temos que ser espertos. Discretos. — Com a
movimentação de AJ na sala de estar, Twitch virou-se para olhá-lo antes
de voltar-se para mim e explicou: — Um problema dessa proporção pode
levar algum tempo para... — Ele pensou na palavra. — ...desaparecer.
— Eu não me importo. — Eu coloquei minhas mãos no cós da sua
calça jeans antes de prender meus dedos nos bolsos e gentilmente puxá-
lo para mais perto. Ele veio quando chamado. Eu olhei para ele, bem nos
seus olhos e sussurrei: — Eu a quero morta.
O jeito que ele olhou para mim então, com uma admiração e
respeito que eu raramente o vi usar, fez minhas entranhas tremerem. Ele
estendeu a mão para acariciar minha bochecha e eu me inclinei em seu
toque enquanto ele rugia, — Sólida.
Era um elogio, mas completamente infundado, já que senti que
estava desmoronando.
E quando ele colocou as mãos nos meus ombros e olhou para os
meus lábios, ele perguntou: — Quando você vai me dar essa boca, baby?
— A necessidade em sua voz era palpável. — Estou tentando ser
paciente, mas eu lhe disse antes, não sou um santo.
— Em breve, — eu prometi ofegante.
Eu não estava pronta ainda, mas quase lá. Quando lhe desse
minha boca, não havia como voltar atrás. Era a última parte minha que
tinha para dar, a parte mais íntima que tinha para dar, e eu não daria
sem estar certa.

~ 268 ~
E quando ele olhou para mim do jeito que olhava agora, com o
coração na manga e nos olhos, baixei o olhar quando meu coração
acelerou. — Pare com isso.
Ele parecia confuso. — Parar o quê?
Minhas bochechas coraram. — Pare de me conquistar.
Sua risada rouca me atingiu bem nos ovários, e quando ele me
envolveu com força, abaixando a cabeça e rindo no meu pescoço, eu
segurei seus bolsos e sorri timidamente.
Foi então que percebi que queria mais filhos com meu rei
lindamente torturado, e talvez se ele conseguisse colocar a rainha
Dragão no chão, falaríamos sobre isso.
Twitch era a droga que eu não sabia que precisava, e queria injetá-
lo, direto em minhas veias e permanecer ligada por ele por toda a vida.
O que isso dizia sobre mim?
Senhor.
Eu não queria pensar nisso.
Molly entrou na cozinha e gemeu: — Oh, Deus. Parem, por favor.
Quando Twitch se virou para olhá-la, seus olhos enrugaram nos
cantos. — Sabe, você poderia apenas ir se foder.
Molly serviu-se de uma xícara de café. — A sério. É como ver sua
mãe gostosa transando com seu mais novo namoradinho. — Ela varreu o
braço em direção a Twitch. — E o namorado dela é um tanque tatuado
que não usa a camiseta dele em casa. Ugh. Nojento.
Eu inclinei minha cabeça para trás e ri alto.
Era por isso que amava Molly. Seu nível de atrevimento era
extraordinário.
— Tanto faz. — Eu saí dos braços de Twitch, e quando fiz isso, ele
fez um grunhido baixo em sua garganta. Coloquei a mão gentilmente em
sua barba bem aparada e disse: — Preciso tomar banho.
Molly se aproximou. — Ei, Lex, você tem algo bem aqui. — Ela
apontou para a clavícula, e quando eu não fiz nenhum movimento, ela
deu outro passo e ia limpar isso de mim antes que percebesse o que era
a marca. Seus olhos se arregalaram de surpresa antes de se estreitarem,

~ 269 ~
em seguida, se fixaram em Twitch com um brilho. Ela falou baixo: —
Quantos anos você tem? Quatorze?
Quando Molly se virou, sacudindo a cabeça, incrédula, e saiu da
cozinha, Twitch levantou a perna e a chutou, acertando-a de leve na
bunda. No momento em que seu café derramou, ela soltou um som de
pura irritação antes de girar sobre ele e guinchar, — idiota!
E essa foi a minha sugestão para sair.
Caminhei até o banheiro, e os sons da discussão familiar se
apossaram de mim, fazendo-me sentir leve e feliz.
A sério.
Eu era uma aberração.

***

Twitch

— Você não se lembra de mim, não é?


Molly se sentou no sofá com AJ no colo e seus olhos me
observaram atentamente. Sua voz permaneceu doce enquanto passava a
mão pelo cabelo do meu filho.
Eu olhei para cima do meu celular. — Eu deveria?
AJ estava em seu tablet, com as orelhas cobertas pelos fones de
ouvido enquanto assistia a algum programa estúpido em que homens e
mulheres adultos desembalavam ovos com surpresas e mostravam aos
jovens em casa o que recebiam. Eu realmente não entendia as coisas que
as crianças assistiam nos dias de hoje. Era obscuro.
E as pessoas achavam que eu tinha problemas.
— Você conhecia meu pai, — foi tudo o que ela disse, e quando
não continuou, eu levantei minha mão e fiz um gesto de — conte-me
mais. — Ela respirou fundo e me deu mais. — Eu tinha uns oito anos e,
quando você entrou em nossa casa, eu me escondi atrás de um
corrimão, observando você. — Ela sorriu. — Eu estava convencida de

~ 270 ~
que você era um Mokoi. — Quando eu fiz uma careta, ela explicou: —
Um espírito aborígine que sequestrava e comia crianças. Meu pai nos
contava histórias sobre o Mokoi. Eles eram altos e anormalmente magros
com cabelos escuros e olhos vermelhos, e eles dormiam no alto das
árvores, vigiando as próximas vítimas. Os Mokoi eram mortos-vivos,
nascidos da magia negra e muitas vezes carregavam as almas daqueles
que abusavam da magia na vida.
Ao meu olhar perplexo, ela olhou para mim e mordeu o lábio
inferior excessivamente cheio, sua voz melódica assombrada. — Minha
vida em casa não era boa, e apesar de eu ser apenas uma criança, senti
que era melhor me arriscar com um Mokoi do que ficar onde estava. —
Ela baixou o rosto e olhou para o meu filho com um carinho que
reservava apenas para ele. — Eu estava descalça e suja. Meus cachos
estavam muito emaranhados, a camiseta que eu usava estava rasgada e
as solas dos meus pés estavam sangrando. — Ela engoliu em seco e
piscou rapidamente. — E me aproximei de você, coloquei minha mão
pegajosa na sua e disse...
Foda-se.
Eu me lembrei dela.
Como eu poderia esquecer?
— Estou pronta, — completei a frase, piscando para ela, incrédulo.
Ela assentiu com a cabeça, os olhos brilhando. — Sim. — Ela
limpou a garganta. — Você olhou para o meu estado e se ajoelhou,
enxugando as lágrimas das minhas bochechas. Veja, estava triste por
nunca mais ver minhas irmãs, porque quando um Mokoi levava você,
você não voltava. Você parecia mau, mas foi gentil comigo, e por uma
fração de segundo, eu estava bem com você me comendo.
Ah, merda.
Eu pensei sobre o meu filho em uma situação semelhante e meu
peito doeu.
Era um limite difícil para mim. Eu nunca poderia tolerar crueldade
para com as crianças.

~ 271 ~
— Mas você fez algo que eu não planejei, — a pequena mulher
esclareceu.
Sim. Eu me lembro.
Olhei para meu filho e murmurei baixinho: — Eu matei seu pai.
Ela sorriu largamente, assentindo. — Sim. O fuzilou, bem na
minha frente.
Minhas sobrancelhas se arquearam. — Eu nunca quis que isso
acontecesse.
— Eu sei, — disse ela em um silêncio. — Mas isso mudou minha
vida. Isso mudou a vida das minhas irmãs também. Nosso pai... — Ela
fez uma pausa. — ...era um homem cruel. Ele gostava de nos atormentar
psicologicamente, e quando isso não funcionava, ele nos punia
fisicamente. — Seus lábios se afinaram. — Simplesmente por sermos
meninas.
Monty “The Butcher” Holden era um porco de homem e não me
senti culpado por matá-lo.
Eu estava confuso, no entanto. — Como você acabou aqui?
— Completamente por acaso. — Suas sobrancelhas arquearam. —
Eu vi Julius em uma reunião e perguntei sobre você. Ele me disse que
você tinha morrido e eu fiquei... — A voz dela se acalmou. —
...chateada. Porque eu lhe devia e descobrir que nunca teria a chance de
recompensá-lo era muito frustrante. Ele perguntou o quanto eu queria
saldar essa dívida, e eu lhe disse faria qualquer coisa. Foi quando ele
sugeriu conhecer Lexi. — Ela acariciou o cabelo do meu filho e AJ
estendeu a mão, puxando o braço para baixo para abraçá-lo enquanto
ele observava a tela em seu colo. — E quando eu conheci este pequeno
ladrão, ele roubou meu coração.
Para onde isso estava indo? — Por que você está me contando
isso?
Molly olhou para mim significativamente. — Porque eu preciso que
você entenda que estou pronta para proteger sua família, até a morte, se
necessário.
Ela realmente queira dizer isso. Eu tive certeza.

~ 272 ~
— Espero que não chegue a isso, — eu murmurei. — Meu filho
parece gostar de você viva. — E isso significava algo para mim.
Seus olhos pousaram no pequeno monstro em seu colo e ela sorriu
suavemente. — Não importa o que ele quer. Se chegar a isso, eu vou
protegê-lo com meu corpo. — Ela o abraçou, e AJ sorriu para ela,
incapaz de ouvir o que ela estava dizendo. Ela sorriu através de suas
palavras. — E matarei qualquer um que tente prejudicá-lo. — Quando
seus olhos se fixaram em mim, ela ficou séria. — Qualquer um.
Bom. Nós estávamos definitivamente na mesma página.
Eu olhei de volta para o meu celular. Minha voz estava baixa.
— Eu sabia que gostava de você, Molly.

~ 273 ~
CAPÍTULO VINTE E CINCO
Ling

Enquanto eu estava sentada em um banquinho, vestindo apenas a


camisa dele, meus olhos sorriram para o homem bonito cozinhando para
mim.
— Então eu disse a ele... — Ele fez uma pausa para virar o
gözleme16 fritando. — ...é melhor ver o que fala ou eu adicionarei outro
buraco em sua cabeça. — Ele se virou para sorrir para mim. — E eu
tenho certeza que vi um homem adulto cagar as calças.
Eu ri sob a minha respiração, balançando a cabeça. Ele era
ridículo, meu lindo turco. E ele estava começando a significar mais para
mim do que qualquer pessoa no mundo. Então eu precisava lhe contar.
Ele estava sem camisa e meus olhos percorriam os planos
musculares de seu corpo. Quando ele se virou para cozinhar, limpei a
garganta e falei: — Eu o encontrei.
Aslan parou. Ele ficou de costas para mim por um longo momento
antes de virar para me encarar, sua expressão ilegível.
— Sim. — Passei a mão pelo meu cabelo comprido e suspirei. —
Você estava certo. — Meus olhos encontraram os dele. — Ele está de
volta.
Az observou meu rosto antes de dizer: — E como nos sentimos
sobre isso?
Nós.
Ugh. Ele estava me matando.
— Nós, — comecei, — sinto-me traída e magoada. —E
rejeitada. Meu olhar desceu até o balcão, e eu corri uma unha
perfeitamente cuidada sobre o mármore frio. — Não sabemos o que

Gözleme é um tradicional pão sírio turco e pastelaria. A massa é geralmente


16

sem fermento e feita apenas com farinha, sal e água, mas o gözleme também pode ser
feito com massa de fermento.

~ 274 ~
pensar ou o que dizer. — Eu suspirei e olhei nos olhos dele. — Mas não
nos sentimos bem com isso.
— Certo, — ele disse levemente um momento antes de desligar o
fogão e tirar a panela do fogo. De costas para mim, ele proferiu um
baixinho: — E onde é que isso nos deixa, baby?
O medo em sua voz chamou o medo na minha.
— Eu não sei, — eu murmurei honestamente.
Ele se virou para mim, aqueles olhos escuros mais escuros do que
eu já os vi. Sua voz era baixa, perigosa. — Você o quer de volta?
Mais uma vez, honestidade, pura e simples. — Eu não sei mais. —
Eu abaixei meus olhos. — Eu achei que sim. — Meu coração batia
forte. — Mas eu não acho mais, porque... — Engoli em seco, evitando o
seu olhar fixo, e falando baixo, — eu tenho você.
Aslan preencheu o buraco dentro de mim. Eu não queria mais ou
desejava Twitch. Eu precisava do homem em pé na minha frente, o
homem ao meu lado, apesar das probabilidades estarem sempre contra
nós.
Apesar do fato de que ninguém nos quereria juntos.
Apesar do fato de que o homem que eu amava era casado e nunca
deixaria a esposa.
Nós éramos da realeza, mas nunca governaríamos juntos. Nós
éramos uma tragédia em formação, e isso só me fez querer mais dele.
Eu assisti enquanto seu corpo relaxava, perdendo um pouco da
óbvia tensão em seu rosto. Seus lábios se separaram e ele soltou um
longo suspiro, passando a mão pela sua nuca.
Nossos olhares desesperados se encontraram do outro lado do
balcão, e tudo de errado no mundo se dissipou.
Minha voz era suave como um sussurro. — Eu te amo.
Az fechou os olhos e os manteve fechados enquanto respondia da
mesma maneira. — Também te amo, Ling.
O aperto ao redor do meu coração se afrouxou, e eu observei o
homem que me conquistou com rosas danificadas e beijos suaves, dando
um suspiro de alívio.

~ 275 ~
Deixe Twitch ter sua pequena família.
Eu tinha algo melhor.

***

Twitch

Eu a senti me observando na porta aberta. Quando eu puxei meu


moletom, ouvi as palavras sussurradas que ela falou.
— Aonde você vai?
Sua voz era suave, mas não conseguia esconder a preocupação
que se alinhava.
Fechando meu casaco, me virei e desejei que não tivesse. Ela
usava sua preocupação como uma segunda pele. — Apenas fazendo uma
visitinha domiciliar.
Os braços de Lexi se ergueram e ela se abraçou, e esse pequeno
movimento me fez querer ficar e deitar ao seu lado, dormir ao lado da
minha mulher e me sentir em casa com minha família. Infelizmente, não
podia. Essa merda precisava ser cortada pela raiz, e meus irmãos e eu
éramos os únicos capazes de fazer o que precisava ser feito.
Ela empurrou o queixo, apontando para o meu lado. — Você
sempre leva uma arma para visitinhas?
Não perdia uma batida, meu anjo. — Nestes tipos de visitas
domiciliares, eu faço.
Eu estava preocupado com a reação dela.
Eu não deveria estar.
Endireitando, ela movimentou a cabeça e então suspirou
suavemente. — Certo. — Ela baixou as mãos para os lados e disse: —
Bem, cubra seu filho antes de sair.
Jesus fodido Cristo.
Essa mulher.
Sólida.

~ 276 ~
Quando me movi, fiz isso devagar, com propósito, e quando
cheguei a ela, olhei em seus grandes olhos azuis antes de falar baixo. —
Beije-me antes de ir.
Ela me olhou no fundo dos olhos. — Não.
Quando minha testa franziu, ela sorriu amplamente, e meu pau
pulsou.
Quando ela saiu do quarto, me movi pelo corredor para dar boa
noite ao meu filho. Depois que fiz isso, notei-a esperando por mim na
porta da frente. Eu me aproximei lentamente, e quando cheguei perto,
ela caiu em mim. Era uma segunda natureza ter meus braços ao redor
dessa mulher.
Essa mulher que me deu tanto.
Seu coração, um filho, um lar. Ela deu tudo que eu não sabia que
queria e continuou a dar no dia a dia.
Eu era um homem de sorte, e um dia esse anjo seria minha
esposa, usaria meu anel, e depois que fizéssemos nossos votos, eu a
manteria descalça, grávida e muito feliz.
Olhando para ela como estava, decidi que precisava de uma filha
com a doçura rara de Lexi e a força do diamante. Uma garota que amaria
seu pai, independentemente do pedaço de merda que ele era.
Seu cuidado gentil me cortou como uma faca quente na
manteiga. Ela falou baixinho na curva do meu pescoço. — Esteja seguro.
— Quando ela deu um beijo suave no velho ferimento de bala, a cicatriz
arredondada que ganhei a protegendo naquele dia fatídico seis anos
atrás, eu perdi a compostura.
Eu rosnei baixo em minha garganta, em seguida, me afastei para
fixar o meu olhar escuro nela. — Continue cuidando de mim assim e me
casarei com você.
Sua resposta me deu arrepios.
Olhando para mim, com os olhos arregalados e bonitos como um
pêssego, ela inclinou um pouco a cabeça e perguntou: — Promete?
O som de um carro entrando na garagem chamou nossa atenção, e
eu me inclinei para pressionar um beijo em sua testa. — Mais tarde.

~ 277 ~
Sem outra palavra, saí de casa e fui até o SUV preto, abrindo a
porta e deslizando para o banco do passageiro. No segundo em que
fechei a porta, o carro decolou e me virei para Julius. — Qual é o
problema?
Happy falou do banco de trás. — Sua segurança é apertada,
cara. Eu não sei como vamos entrar, muito menos chegar perto o
suficiente para matá-la. Seus homens a protegem como se ela fosse a
reencarnação de Cristo.
Julius resmungou. — Ela tem um apartamento na cidade, fora dos
registros. Ling acha que é inteligente, mas quanto mais arrogante fica,
mais desleixada se torna. Ela vai para este apartamento para
dormir. Quase toda noite, ela está lá e... — Quando me virei para ele, ele
olhou para mim por um momento antes de se virar para a estrada. —
...você não vai acreditar quem eu vejo entrando e saindo daquele lugar.
— Quem? — Eu perguntei, minha testa franzida.
— Aslan Sadik
Quando Julius falou isso, os cabelos na parte de trás do meu
pescoço ficaram em pé.
— Filho da puta. — Eu bati um punho no painel, forte o suficiente
para fazer o plástico ranger. Eu olhei para Julius. — Adivinha quem me
viu na porra do shopping algumas semanas atrás? — Eu torci para olhar
de volta para Happy. — Aslan, o maldito turco.
A carranca de Happy era profunda. — O quê? Você acha que ele e
Ling estão juntos? — Ele balançou a cabeça. — De jeito nenhum. Os
Dragons e os Last Boys se odeiam, cara, desde o início dos tempos, e
esse ódio é profundo. Ela já está desonrada. Eu não acho que ela seja
tão burra assim.
— Ela é, — declarou Julius sombriamente. Quando ele olhou para
mim, seus lábios estavam finos. — Por que você não disse nada?
Eu joguei-lhe um olhar que dizia “você está brincando comigo? Em
seguida, o encarei por um longo tempo. — Você não estava atendendo as
minhas ligações, porque eu, — falei vagarosamente, — magoei seus
sentimentos.

~ 278 ~
Julius estreitou os olhos para mim antes de voltar para a
estrada. Um pouco depois, ele falou. — Ok, então Aslan está passando
informações para Ling. — Ele olhou no espelho retrovisor para Happy. —
Essa é a única coisa que faz sentido. A questão é por quê?
Era óbvio.
Happy relutantemente proferiu: — Porque eles estão juntos.
— Porque estão juntos, — repetiu Julius, suspirando baixinho.
Ling era uma suicida se achava que os Dragons iriam ignorar essa
transgressão.
Não. Eles teriam a cabeça dela em uma bandeja.
Talvez essa fosse a maneira mais inteligente de contornar nosso
problema, deixá-la se destruir.
— Ok. — Olhei pela janela do carro em movimento. — Vamos
conversar com o turco.
A casa era uma fortaleza. Era enorme, imponente, e eles tinham
segurança para combinar com Alcatraz. Mas nós tínhamos algo que eles
não tinham.
Happy.
Do banco de trás, ele digitou rapidamente no laptop. — Me dê um
segundo. — Ele continuou digitando. — Eles têm dois sistemas
consecutivos funcionando ao mesmo tempo. É confuso. — Seus dedos se
moveram rapidamente ao longo do teclado. — Ok, estou chegando lá
agora. — Os sons de botões clicando estavam fazendo minha cabeça
doer. — Mais um comando e... — Ele bateu Enter. — Eles estão
desligados. — Ele olhou de mim para Julius. — Vamos lá. Não sei
quanto tempo até que eles percebam e mandem alguém consertar o que
eu estraguei.
Puxando o capuz sobre a minha cabeça, saí do carro e abri o
aplicativo que Happy instalou no meu telefone. Eu apontei para a
garagem de três portas e apertei o botão. Uma das portas começou a se
levantar e olhei para Happy, meu rosto solene. — Foda-se.
Happy simplesmente levantou uma sobrancelha e sorriu.
O homem conhecia sua merda.

~ 279 ~
A tecnologia certa nas mãos erradas era uma coisa perigosa.
Todos nós entramos e eu apertei o botão novamente, fechando a
porta atrás de nós. Havia uma porta atrás do amplo espaço aberto, e
quando cheguei lá, gentilmente coloquei minha mão na maçaneta e
tentei girar, mas não abriu. Estava trancado. Julius ergueu a mão e
bateu levemente ao lado do teclado preso à porta. Recuei enquanto
Happy se aproximava, abria o estojo plástico e mexia nos fios. Momentos
depois, a luz vermelha ficou verde e, quando Happy experimentou a
maçaneta, ela girou.
Nós estávamos dentro.
No momento em que a porta se abriu, uma voz feminina gritou: —
Eu achei que você tinha dito que ia se atrasar? — Nós seguimos pelo
corredor, com as armas em punho, e ela continuou: — Bem, eu acabei
de começar a terceira temporada de Game of Thrones. Venha assistir
comigo. — Ela riu. — Eu juro por Deus, Az, essa coisa é tão fodida... —
Quando ela entrou em vista, sua cabeça balançou em choque, seus olhos
arregalados correram entre nós três, e ela sussurrou: — Oh.
A jovem na cadeira de rodas estava excessivamente magra, seus
grandes olhos castanhos arregalados de medo, seus longos cabelos
negros presos em um rabo de cavalo baixo. Ela usava um suéter grosso e
tinha um cobertor sobre o colo. Seus lábios cheios se separaram em
aflição, enquanto ela falava baixinho: — Vocês vão me matar?
Eu me senti como um idiota. Ela estava claramente doente. Mas
isso não era problema meu. — Eu não sei ainda. — Eu me aproximei
dela, meu tom gentil. — Isso depende do seu marido.
Surpreendentemente, ela segurou meu olhar com a força da rainha
que ela era. — Bem, — ela suspirou. — Ele só vai chegar em casa mais
tarde. — Ela usou as mãos para girar a cadeira de rodas e começou a se
mover lentamente. — Então, entre, eu acho.
Seguimos de perto atrás dela, e quando ela entrou na sala de estar
de aparência aconchegante, acomodou-se na frente do aquecedor,
absorvendo seu calor, esfregando as pernas e fazendo uma careta. Ela
olhou para trás e apontou em direção ao sofá. — Sentem.

~ 280 ~
Antes de me sentar, fui até ela e estendi a mão. — Telefone.
Olhando para mim com aqueles olhos assombrados, ela puxou o
celular de debaixo do cobertor, e eu vi a tela de Mensagens aberta e a
única palavra escrita ali era Socorro. Por sorte, ela ainda não
enviara. Meus olhos se estreitaram nela e ela encolheu os ombros,
parecendo levemente envergonhada. — Não pode me culpar por tentar.
Não, não podia.
Enquanto Happy e Julius estavam sentados no sofá com suas
armas, eu puxei um banquinho do balcão e me sentei ao lado da mulher
de aparência frágil. Ela me observou atentamente, e eu disse: — Você
provavelmente não se lembra de mim...
Mas ela me cortou com um objetivo: — Eu me lembro de você.
OK. Bom.
Isso era bom.
Então ela sabia do que eu era capaz.
Nós não falamos por um tempo depois disso, mas quando uma
hora se passou, eu estava ficando entediado de esperar. Quando vi os
olhos da mulher piscarem devagar, cansados, limpei a garganta. No
segundo em que seus olhos cansados se fixaram em mim, eu disse: — O
que há de errado com você?
As palavras não eram cruéis, apenas curiosas.
Ela sorriu tristemente. — Esclerose múltipla.
Suspirei em solidariedade, balançando a cabeça levemente. —
Lamento.
— Tudo bem. — Ela sorriu, mas foi tão tenso que saiu uma
careta. — Talvez você me tire da minha miséria hoje à noite.
Não, eu não faria. — Sim, talvez.
Mais uma hora e eu estava pronto para perguntar à mulher agora
adormecida se ela tinha um baralho ou damas, ou alguma coisa de
merda - qualquer coisa, para ajudar a passar o tempo.
Foi quando a porta da garagem se abriu e passos pesados se
aproximaram. — Asya? — Antes de ele entrar, ela se mexeu, piscando
durante o sono. Ele gritou: — Os malditos servidores estão off-line

~ 281 ~
novamente. — Ele parecia frustrado. — Eu juro por Deus, tatlım17. Estou
cansado dessa besteira de monitoramento. É como se eu estivesse
pagando para eles me foderem...
Quando ele entrou na sala de estar, seus olhos se fixaram em mim
sentado ao lado de sua esposa, e quando ele viu o estado grogue dela, ele
se lançou. — Seu cretino. — Ele correu para frente, e Happy e Julius se
levantaram, apontando as armas para ele. Ofegante, Aslan teve o bom
senso de levantar as mãos e dar um passo para trás. Ele olhou para
mim, suas narinas dilatadas de raiva. Ele falou com os dentes cerrados:
— Ela está doente.
Eu usei o cano da minha arma para arranhar minha têmpora. —
Eu posso ver isso. — Olhei de volta para Asya, que agora estava olhando
para o marido com os olhos arregalados e apologéticos, e olhei
novamente para ele. — Eu tenho sido um perfeito cavalheiro, não tenho,
Asya?
A veia no templo de Aslan inchou quando seu rosto congelou e ele
apontou um dedo para mim. Ele sussurrou: — Você não diga o nome
dela!
Ele claramente amava essa mulher. O que diabos ele estava
fazendo com Ling?
Dei uma olhada na mulher.
A única coisa que fazia sentido era que ele não estava fazendo sexo
em casa.
Meus lábios se afinaram.
Más escolhas levavam a más circunstâncias, e ele estava preso
agora. Eu esperava que Ling valesse a pena.
— Estou bem, — disse a mulher ao meu lado. — Ele não fez
nada, aşkım18. — Ela piscou para mim, engolindo em seco. — Ainda não.
Alívio tomou conta de Aslan e ele tentou se acalmar. Ele olhou
entre nós três vigilantes, observando sua posição, seu redor. Sua
desgraça iminente. — Por que vocês estão aqui?

17 Docinho, querida, apelido carinhoso em Turco.


18 Amor, meu amor em Turco.

~ 282 ~
— Você sabe por que, Sadik. — Em tom baixo, eu disse: — Estou
aqui por causa de uma mulher.
Aslan pareceu confuso.
— Uma mulher que até algumas semanas atrás achava que eu
estava morto.
A porra do Turco começou a entender.
— Uma víbora mortal, — expliquei. — Um dragão que foi até a
minha casa no meio da noite, fez um gesto ameaçador para minha
mulher e colocou um alvo em sua linda cabecinha.
— Eu não sei o que você está falando, — ele proferiu, mas seus
olhos estreitos falaram volumes.
Ele estava disposto a conversar, mas não na frente de sua esposa.
Bem, foda-se ele.
Eu nunca joguei pelas regras. Ele tinha esquecido quem eu era?
O trono pertencia à outra pessoa, mas todos sabiam que se eu o
quisesse de volta, tudo que tinha que fazer era reivindicá-lo como meu.
— Com certeza você sabe, — murmurou Julius. — Você passou
quase todas as noites em seu apartamento na cidade até as primeiras
horas da manhã. — Ele olhou para Asya. — O quê? Você não sabia que
seu marido estava fodendo a Rainha Dragão? — Quando o rosto já pálido
de Asya se transformou em porcelana e ela olhou para o marido em
questão, Julius lhe jogou o telefone. — Tenho algumas fotos legais para
você, princesa. — Ele se virou para Aslan. — Oh, me desculpe. A
‘necessidade de saber’ era besteira?
Asya rolou pelas fotos e sua respiração ofegante
aumentou. Quando o telefone caiu de suas mãos para o chão de madeira
com um estrondo, ela soou como se estivesse engasgando, e quando
levou as mãos trêmulas à boca, balançando a cabeça suavemente, ela
colocou os olhos marejados no marido, agora sabendo o nível de sua
traição.
Aslan engoliu em seco. — Não é o que parece, — ele disse a ela,
mas soou fraco para todos na sala.

~ 283 ~
— Eu vou lhe dizer uma vez, Sadik, — eu disse antes de oferecer
meu conselho. — Há algo errado com aquela mulher. Ling é uma praga
neste mundo. Ela arruinará sua vida de todas as maneiras possíveis, e
quando você não lhe der o que ela quer... — Eu olhei para Asya, mas
falei com seu marido. — Ela vai começar a foder com as coisas que você
ama. — Eu o encarei e observei seu rosto cair. — Não é culpa dela; ela
simplesmente não conhece algo melhor. — Eu avisei: — Você não pode
consertá-la. O que está quebrado dentro dela, não pode ser consertado.
Aslan olhou para sua esposa, usando uma tristeza que eu nunca
tinha visto o homem normalmente confiante usar. — Não foi planejado,
— disse ele, sua voz áspera oscilando. — Eu sinto muito, sultanım19.
Eu podia ver que estava começando a penetrar, mas eu precisava
que eles soubessem qual era a minha posição no relacionamento do
maldito turco com a Rainha Dragão.
Virando-me para a mulher ao meu lado, estendi a mão e ela
relutantemente colocou os dedos trêmulos na palma da minha
mão. Falei com ela diretamente; foda-se seu marido. — Eu tenho uma
confissão a fazer. Eu não vim aqui para te machucar, mas... — Quando
ela piscou, seus cílios umedeceram. — ...Posso ver que foi o que fiz aqui,
então, me desculpe. — Eu bati na mão fria dela e lambi meus lábios. —
Seu marido tem uma escolha a fazer, e espero que ele faça a certa,
porque... — Eu olhei em seus olhos precisando que ela visse quão sério
estava falando. — ...Se eu voltar aqui e você me ver novamente, — eu
disse sombriamente, — serei a última coisa que verá, princesa.
Ela respirou com dificuldade antes de assentir em compreensão.
Coloquei a mão no joelho dela, cobrindo-a com a minha enquanto
me concentrava no homem quebrado do outro lado da sala. — O que
você precisa entender, Aslan, é que Ling pode ser louca, mas... — Eu
soltei a mão de sua esposa e me levantei, caminhando até ele, e quando
falei novamente, meu tom era sombrio. — Mas eu lhe ensinei tudo o que
ela sabe. — Cheguei perto e murmurei baixinho: — Você quer loucura,
amigo? — Meu olhar encapuzado abaixou-se sobre ele enquanto meu

19 O feminino para sultão.

~ 284 ~
lábio se curvava. — Foda com a minha família, e vou te mostrar que a
loucura de Ling não é nada perto da minha.
Eu o olhei de cima e a baixo, então sussurrei: — Você fez votos
para aquela mulher, seu pedaço de merda. Isso não significa nada para
você? — Eu assisti seu rosto desmoronar. — Ela está doente. — A
primeira de suas lágrimas caiu. — Ela precisa do marido, e você a deixa
sozinha para foder uma psicopata diagnosticada? — Ele fechou os olhos,
e eu murmurei: — Qual é o seu problema? Ponha sua cabeça no lugar e
seja o homem que sua esposa precisa enquanto ainda tem tempo.
Quando ele tremeu com a extensão da emoção que tentou conter
dentro dele, com a arma na mão, eu me virei novamente e perguntei: —
Ei, Asya? Você quer que eu mate esse idiota por você?
— Não! — Ela chorou, seu corpo tremendo com a força de seus
soluços. — Não por favor. Por favor, não. — Ela encarou o homem que
não a merecia e chorou baixinho: — Por favor. Eu o amo.
Aslan chorou abertamente, e eu não vi nada além de vergonha em
seus olhos.
Bom. Eu terminei aqui.
Eu levantei minha mão e o cutuquei no peito. — Você foi tocado
por um anjo.
E com isso, partimos, deixando um rastro de corações partidos
atrás de nós.

~ 285 ~
***

Aslan o maldito turco

Ficamos sentados em silêncio pelo que parecera horas antes de ela


falar.
— É ela?
O nível de traição em sua voz me cortou com força. Mas Asya
merecia a verdade, então eu daria isso a ela, mesmo que minha voz
tremesse. — Sim.
Com essa única palavra, minha esposa foi destruída. Eu assisti do
outro lado da sala enquanto ela chorava baixinho, e naquele momento,
me senti completamente indigno da princesa girando sua cadeira de
rodas para longe para chorar em privacidade.
Esta noite, meu mundo desmoronou, e eu não tinha ninguém para
culpar além de mim mesmo.
Eu queria bater em algo sem sentido. Eu queria ficar sozinho. Eu
precisava fugir, mas não podia deixá-la.
Ela fungou e respirou fundo, tentando acalmar a voz vacilante, e o
que ela disse me matou. — Eu não queria estar doente com você, Az. —
Ela virou a cadeira para me encarar. — Eu sei que nós dissemos para
sempre, mas... — Seus lábios tremeram. — ...para sempre está chegando
mais cedo para nós do que esperávamos, e... — Outro conjunto de
lágrimas caiu. — ...sinto muito por isso. Sinto muito que nossa
eternidade seja apenas temporária. — Seu soluço baixo foi minha
ruína. — Eu nunca quis que isso acontecesse, hayatim20.
Só tive noção quando ela disse que eu poderia ter me sentido
traído por ela ficar doente.
Eu era um homem cruel sim. Mas nunca fui um mau marido. Até
agora.
E sabendo isso me quebrou.

20 Querido, termo carinhoso.

~ 286 ~
Sem um momento de hesitação, fui até minha princesa turca e me
ajoelhei na frente dela. A ação falou alto. Ser submisso não era da minha
natureza, mas eu me entregaria a ela, uma e outra vez, porque ela era
digna.
Com a voz áspera, eu disse: — Eu desapontei você, karim21.
Ela olhou para mim com uma profunda tristeza. — Como eu
desapontei você.
Eu era um demônio.
Quem era eu para fazer uma alma tão pura sentir-se uma
decepção quando ela não fez nada além de brilhar através da escuridão
que me consumia?
Eu era de fato um demônio. Um vilão.
Quando ela estendeu a mão para mim, eu a encontrei no meio do
caminho, pegando sua mão delicada na minha. Aqueles lindos olhos que
eu sempre adorei seguraram os meus, enquanto ela sussurrava: — Seni
seviyorum.
Eu te amo.
As palavras me sufocaram até a morte e, abaixando minha cabeça
até o joelho dela, segurei sua mão com força como se tivesse medo que
ela me deixasse e chorasse como uma criança.
Eu amava minha esposa. Eu a amava muito mais do que me
amava. Eu a amava mais do que tudo, até mesmo a mulher com um
coração gelado e lábios cor de cereja. E Twitch estava certo.
Ling não valia a pena, não importava o que eu sentisse por ela.
Minha família vinha em primeiro.
Eu fui estúpido por ter começado isso. Eu precisava acabar com
isso.
Amanhã, eu terminaria meu caso.

21 Meu coração.

~ 287 ~
CAPÍTULO VINTE E SEIS
Lexi

Ele se deitou na cama um pouco antes do amanhecer e, quando se


aproximou e gentilmente acariciou meu cabelo, falei na escuridão. —
Como foi?
Mas, por um momento, ele me ignorou. — Venha cá.
Eu fui de bom grado, precisando ouvir o coração dele batendo, e
quando coloquei minha cabeça em seu peito e escutei a batida constante
de seu coração, relaxei contra ele, correndo uma mão para cima e para
baixo do seu lado com meus olhos fechados. — Então?
Ele hesitou um segundo antes de falar baixo. — Perdeu seu único
aliado. — Bom. Seus braços se apertaram a minha volta. — Quebrando a
fortaleza, pedaço por pedaço. — Então ele disse através de um bocejo, —
Eu não dou a mínima quanto tempo leve. Você quer que ela desapareça,
baby... — Sua voz ficou sonolenta. — ...ela irá.
Era uma promessa. Ele fez um juramento. Tudo dentro de mim
dizia que ele nos manteria seguros.
E como a idiota que eu era, escolhi acreditar nisso.

***

Molly

O texto que recebi fez meu telefone parecer mais pesado do que
deveria.
Eu tinha acabado de colocar o pequeno monstro na cama e sabia
que teria que responder, de uma forma ou de outra.
Meu coração disparou.
De qualquer forma, eu estava ferrada.

~ 288 ~
Se eu dissesse sim, estaria novamente com a pessoa cuja família
me destruiu.
Se eu dissesse não, ele estaria perdido para mim para sempre.
Segurei o telefone na mão enquanto caminhava pelo corredor,
encontrando-o sentado no chão em frente a Lexi enquanto ela se deitava
no sofá de barriga para baixo, observando a TV e adoravelmente
passando os dedos levemente pelo cabelo dele. Twitch estava de olhos
fechados, amando suas atenções e ambos pareciam cansados. Eu odiava
interromper, mas isso era importante.
Limpando minha garganta, esperei que ele abrisse os olhos, e
quando ele olhou para mim, eu simplesmente sinalizei com meu queixo
na direção do meu quarto, ignorando o olhar súbito e inquieto de Lexi.
Eu andei pelo corredor, parei no meio do meu quarto e esperei. Ele
entrou logo depois, e quando sua figura imponente bloqueou minha
porta aberta, eu soltei: — Eu preciso que você fique aqui hoje à noite.
Sua testa franziu. — Por quê?
Era uma pergunta razoável. Eu não sei por que isso me irritou
tanto.
Na defensiva, eu disse: — Eu tenho um trabalho hoje à noite.
Isso não caiu bem. — Eu achei que você estivesse fora.
— Eu estou, — eu revelei, — mas devo a esse cara.
— Não, — Twitch disse friamente. — Você mesmo disse. Você me
deve. — Ele me olhou de cima a baixo. — Você não vai a lugar nenhum,
Molly.
Porra do caralho. — Eu não sou uma criança, — eu fervi, meus
olhos arregalados de fúria. Meus lábios cheios se curvaram. — Eu não
sou sua filha. Você não pode me dizer o que fazer. Além disso, —
acrescentei, — só estou pedindo por respeito. — Eu terminei, — eu vou.
Ele pareceu pensar nisso, lutando contra a necessidade de dizer
algo, batendo as mãos no batente da porta por um longo tempo antes de
estender a mão. — Me passa seu telefone.
Se esta fosse a única maneira de conseguir que ele me deixasse em
paz, eu negociaria. Abri a tela e entreguei meu telefone para ele.

~ 289 ~
Ele digitou rapidamente, olhando para a tela, depois murmurou: —
Se você se meter em confusão, ligue para esse número. Alguém irá até
você. — Fui pegar meu telefone, mas ele o manteve fora do alcance. —
Eu preciso que você se lembre da sua promessa para mim. — Seu olhar
sombrio me segurou no lugar. — Certifique-se de estar segura e, se
achar que não está, ligue, porra. Sua vida é importante para mim. —
Suas palavras fizeram meu coração aquecer. Mas então ele estragou
tudo. — Sua vida é uma ferramenta. É algo que eu posso usar para
manter meu filho seguro, por isso certifique-se de voltar inteira,
Molly. Se não... — Sua voz suave como uísque estava enganosamente
calma. — ...Ficarei muito desapontado.
Eu queria meu telefone de volta, e ele sabia disso porque seu lábio
tremeu enquanto eu olhava para o celular retangular com uma carranca.
— Aonde você vai?
— Eu não sei ainda, mas vou sair em breve.
— Tem tudo que você precisa? — Ele estava falando de armas.
Eu assenti. — Tudo pronto.
— Você precisa de uma carona?
Porra, porra. — Não, pai, — eu disse, ficando irritada. — Vou usar
o Big Red.
— Quando você vai voltar?
Oh meu Deus. Finalmente clicou.
Ele estava me atrasando por algum motivo, mas por quê?
Eu estava oficialmente chateada.
Eu me inclinei e assobiei: — Dê-me o meu telefone!
Ele checou a tela um momento antes de entregá-la, e eu passei por
meus contatos, localizando o número que ele adicionou.
Eu li em voz alta, — 911. — Eu segui com uma risada.
Ele não riu. Não.
Ele me observava atentamente. — Ligue se você precisar. Não
banque uma heroína. Sua vida não é sua para arriscar, Molly. — Ele
saiu do meu quarto e entrou no corredor. — É minha.

~ 290 ~
Enquanto ele se afastava, meu lábio se curvou e eu lancei-lhe o
dedo.
As palavras que ele me devolveu foram muito divertidas. — Isso
não é legal.
Eu enviei o texto.
Eu: estou dentro
E então esperei.
Alguns momentos depois, recebi uma mensagem de volta.
Tama: no armazém. Uma hora.
Assim como nos velhos tempos.
Vesti-me rapidamente com meu jeans skinny preto e uma regata
preta sem sutiã. Não importava. Eu era muito pequena de qualquer
maneira. Meus seios mal existiam. Ninguém nem notaria. Por cima da
regata, usei uma capa de renda preta apertada, de mangas compridas,
que não fazia nada para me proteger do frio. Era mais uma declaração de
moda. Completando meu visual, coloquei meu Chucks preto que
definitivamente tinha visto melhores dias.
Reaplicando meu batom nos lábios que minhas irmãs uma vez
chamaram de sopradores de sopa, verifiquei a minha maquiagem e
estava pronta para ir.
Antes de sair do meu quarto, coloquei meu coldre carregado e o
usei abertamente. Eu não estava mais me escondendo. Não de Lexi, nem
de ninguém. Quando cheguei a sala de estar, Lexi estava de pé, e quando
ela olhou para o coldre de perna que eu usava contendo minha faca de
caça favorita, seus olhos se arregalaram um momento antes de respirar
fundo, fechar os olhos e se aproximar de mim, colocando as mãos nos
meus ombros.
E o que ela disse me fez sentir coisas que me deixaram
desconfortável.
— Esta casa é um lar só por causa das pessoas nela. — A voz
suave e maternal de Lexi me atingiu. — E não seria o mesmo sem
você. Então, seja inteligente e esteja segura. — Fechei os olhos e ela
tocou a mão quente na minha bochecha. — Volte para nós, Molly.

~ 291 ~
Eu amava essa mulher. Ela me lembrou da minha mãe.
— Eu vou. — Meu tom era suave.
Sem olhar para trás, consegui sair pela porta dos fundos e entrar
na garagem. Quando liguei o Big Red, ele rugiu para a vida, sacudindo
as paredes do interior com cada estrondo áspero que vomitou para que
todos soubessem que ele vivia.
Porra. Eu amava esse carro.
Saí então, e não sabia quando voltaria.
Mas eu planejava voltar.
Para a minha família.
O armazém em ruínas era história antiga. Eu estive aqui centenas
de vezes antes. Foi na verdade onde Tama e eu nos conhecemos através
de um amigo em comum, que contou a Tama Hariana sobre minha
especialidade. Uma especialidade que ele simplesmente precisava ter.
Eu era uma mercenária. Uma arma de aluguel, e uma boa pra
caralho também. Eu aprendi com os melhores, treinando com as piores
pessoas que me deram a vantagem a qual precisava para colocar um pé
em um mundo que queria pisar em mim, empurrando-me até que eu
afundasse no chão duro e frio.
Fiz meu nome antes dos dezesseis anos e, aos dezoito anos, eles
começaram a me chamar de Quickbeat. Eu não sei quem começou isso,
mas pegou, e enquanto, uma vez, as pessoas gritavam meu nome
abertamente, começaram a sussurrar.
Eu mentiria se dissesse que não gostei disso.
Eles estavam esperando por mim do lado de fora. Havia quatro
deles, enormes homens maoris, mas eu só tinha meus olhos em um.
O único.
Eu acelerei para o lote, I Like It, de Cardi B, tocando alto nos alto-
falantes. O subwoofer22 fez todo o para-brisa traseiro vibrar com o baixo
pesado que fazia meu coração parar. Eu precisava me animar e a música
me ajudava nesse departamento.

22 Subwoofer é um tipo de alto-falante específico para a reprodução de


frequências baixas, que são as responsáveis pelos sons mais graves, cobrindo
frequências que vão de 20 a 200 Hz.

~ 292 ~
Fazia um tempo desde que fiz isso.
Big Red rugiu quando pisei no acelerador e girei o volante,
inclinando-me contra a porta enquanto o carro se movia de lado, e
observei com um sorriso quando o cascalho pulverizou os homens,
forçando-os a cobrir seus rostos com os braços. Eu parei o carro de
repente, desligando-o e saindo com um sorriso de merda, batendo a
porta com a minha bunda e andando até eles com confiança.
Eu olhei para os caras. Eu conhecia todos eles.
Hemi, o ursinho de pelúcia gigante, estava lá. Ele empurrou o
queixo para mim.
Amoho não me poupou um sorriso. Isso era justo. Eu olhei firme
para ele enquanto ele me encarava.
O rosto de Kawana era suave, mas ele também não me
cumprimentou.
Isso é uma merda.
Eu amava o Kawana. Ele era meu garoto.
Quando meus olhos pousaram em Tama, parei na frente do
homem enorme e musculoso. Sua altura de um metro e noventa, era um
contraste com o meu um e sessenta e cinco, mas mantive minha
posição, parada e cruzei os braços sobre o peito. Minha voz melódica era
tão enganadora. Sempre foi. — Tama. — Eu o olhei de cima a baixo,
parando sobre sua virilha antes de levantar os olhos para ele. — Você
parece bem.
Ele parecia. Meu Deus, ele sempre pareceu.
Tama tinha cento e trinta quilos de puro músculo. Seu peito era
largo. Seus ombros eram ainda mais largos. Eu sempre considerei esse
homem um Deus. Um Deus vingativo, e seu olhar negro estava em
mim. As tatuagens em seu rosto o faziam parecer aterrorizante, mas
tudo o que eu queria fazer era passar meus dedos por elas e segui-las
com beijos.
Quando ele abriu a boca, as palavras saíram ásperas e todo o meu
corpo explodiu em arrepios. — Por que você veio?
Porque você me pediu.

~ 293 ~
Porque sinto muito pela dor que causei a você.
Porque eu nunca amarei ninguém do jeito que amo você.
Dei de ombros, meus olhos nunca deixando os dele. — O
pagamento era bom. — Meu tom baixou. — Falando nisso...
Tama levou a mão para trás e, momentaneamente, meu coração
parou.
Eu estava em desvantagem, em menor número e superada.
Oh, uau.
Foi estupidez vir aqui.
Mais rápido que um raio, apontei as duas Glocks para ele, sem
piscar, e o idiota sorriu, jogando o pacote de dinheiro aos meus pés.
Ele fez isso de propósito e, com minha demonstração idiota, eu
havia revelado minha ansiedade. E Tama contava com isso. Ele me
conhecia bem.
Merda.
Tama estava zombando de mim. Ainda mais quando ele disse: —
Para que você precisa de dinheiro? Fraldas para aquele seu garoto?
Eu não respondi. Eu mal pisquei. Mas abaixei minhas armas e as
guardei no coldre. Tentando olhar ao redor deles, eu disse: — O que há?
O cabelo dele estava puxado para cima em um coque tradicional,
vestido imaculadamente, e quando ele soltou um suspiro suave, abaixou
seus braços maciços. — Eu a quero morta.
Minha testa franziu. — Isso é tudo?
Ele mesmo poderia ter feito isso.
Tama olhou de soslaio para mim. — Eu quero que ela sofra.
Ah. Aí estava.
Tama não torturava mulheres.
Não. Ele deixou isso para mim.
Eu assenti. — Sem problemas. Quem é ela? — Sua resposta foi
não me dar nenhuma resposta, e depois de uma intensa competição de
olhar, meus pés se moveram. Deixando o dinheiro no chão, passei por
ele, sussurrando: — Justo o suficiente.

~ 294 ~
O armazém estava escuro, exceto pela única luz apontada para a
mulher amarrada à cadeira no centro do piso vazio.
Pobre cadela.
Eu me perguntei o que ela fez para justificar a ira de Tama
Hariana?
Mas então me lembrei do dinheiro e só restou um pensamento.
Quem se importa?
Era uma vida difícil, a nossa, e muitas pessoas não conseguiam
entender como fazíamos isso. Ética eram apenas linhas borradas para
mim, para Tama. Não eram regras exatamente, apenas sugestões que
escolhíamos seguir ou não.
Às vezes fazíamos; às vezes não.
Pelo preço certo, qualquer coisa poderia ser comprada. Até mesmo
a morte.
E era aí que eu entrava.
Caminhei até a mulher, vestida com uma jaqueta preta enorme,
suéter preto comum e os pés descalços. Sua cabeça estava coberta com
um saco de chita, e pelo jeito que ela lutava e se debatia, seus gritos
abafados, eles tinham a amordaçado.
Bom.
Eu não queria ouvir isso. Poderia ser uma distração às vezes. Eu
não precisava disso.
— Desculpe, amor, — eu lhe disse em voz baixa. — Nada
pessoal. São apenas negócios.
Tirando a faca do coldre na minha perna, enfiei a mão no bolso e
tirei as luvas de couro, colocando-as antes de chegar ao meu pescoço e
puxar o lenço preto para cima do meu nariz. A única razão pela qual eu
usava isso era me proteger do sangue infectado me tocando. Eu sempre
fui cuidadosa, mas você não conhecia as pessoas com quem estava
lidando.
Quando pressionei a ponta da faca na mão da mulher, ela inclinou
a cabeça para trás e gritou por trás da mordaça.
Meu coração disparou.

~ 295 ~
Seu corpo inteiro tremeu, e eu removi a faca do centro de sua mão,
em seguida, murmurei: — Eu não sei o que você fez para irritá-lo, mas
prometo que terminarei isso o mais rápido possível.
Eu não escolhi a crueldade. Eu não era cruel por natureza.
Eu fui feita desse jeito.
Quando olhei para trás para encontrar os quatro homens
formando uma parede, meu coração acelerou.
Isso era estranho.
Por que parecia que eles estavam me trancando?
A mulher na cadeira começou a chorar, e juro que havia uma
familiaridade sobre ela. Minha testa franziu e olhei de volta para Tama,
limpando a lâmina da faca com minhas luvas de couro. — Quem é ela,
Tama?
Tama balançou a cabeça. — Alguém que precisa morrer.
Eu virei de volta para a mulher e franzi a testa pelo jeito que ela
tentou mover as mãos. Elas tremiam muito, mas ela tentou em vão
movê-las, repetindo o movimento continuamente, mas não entendi o que
ela precisava de mim.
Algo me deixou desconfortável. Olhando para trás, a forma como
os homens estavam guardando a saída, olhei novamente para a mulher,
e quando me aproximei dela, estendendo a mão para o rosto coberto com
o saco, Tama avisou gentilmente: — Se você tocar essa máscara juro por
Deus, Molly. Eu vou te matar.
Meu coração disparou. Minha respiração ficou pesada e observei a
mulher com os olhos arregalados. Quando ela moveu os dedos em um
gesto torcido que me levou de volta à minha infância, um suspiro
sufocado me deixou e eu corri para frente.
Era um M. Ela o formou com dedos trêmulos e meu coração parou.
Quando os sons de passos pesados seguiram logo atrás, eu corri
até ela, me joguei no colo dela, usando-a como um assento enquanto a
protegia e, de pernas abertas, meu corpo inteiro tremia com raiva
reprimida. Eu levantei minhas Glocks e eles pararam no meio do
caminho.

~ 296 ~
Tama adiantou-se e minha voz estremeceu. — Como você pôde?
Ele simplesmente me observou, e fez isso um pouco antes de falar
com calma: — Esse é o preço que você paga, Molly. — As palavras eram
sem emoção, frias. — Uma irmã por um irmão.
Filho da puta.
De pé sobre pernas trêmulas, eu segurei seu olhar. — Vou pegar
minha irmã e vou embora.
— Não, você não vai, — disse Tama.
Mas por trás dele veio um quase inaudível: — Sim, ela vai.
Meu coração saltou.
Twitch.
Tama e seus homens afastaram-se do homem desarmado e,
quando Twitch voltou a falar, olhou diretamente para Tama. — Você me
conhece?
A mandíbula de Tama se apertou. — Sim, irmão.
Twitch coçou a barba bem aparada na mandíbula. — Bom. — Ele
olhou em volta dos homens e falou comigo. — Vamos lá.
Eu não sei como ele sabia onde eu estava, mas naquele momento,
fiquei aliviada por ele aparecer sem avisar.
A voz de Tama estava em chamas de raiva pura e ardente. — Ouça
aqui, irmão. Se Molly está em sua casa, ela está lá infiltrada. — Ele
avisou Twitch, — Alguém vai acabar morto, e não será ela.
— Isso que aconteceu com você? — Twitch perguntou Tama, mas
ele não respondeu. — Eu acho que se Molly fez isso com você -
especificamente a você - você não está fazendo as perguntas certas. Ou
seja, por quê?
Tama balançou a cabeça. — Você está cometendo um erro.
Mas Twitch apenas encarou o homem enorme. — Parece que você
já cometeu alguns sobre a sua garota aí.
No segundo que descobri a cabeça da minha irmã, olhei para o
rosto coberto de lágrimas com os olhos arregalados. — Lenka.

~ 297 ~
Minha irmã mais velha quebrou em soluços e eu cuidadosamente
removi a fita de sua boca. Sua voz tremeu. — Eu achei que você ia me
matar, Mol.
Eu ia.
O pensamento me atingiu ao núcleo.
Tama se virou, claramente enfurecido por seu plano estar
arruinado, e rugiu: — Você matou meu irmão, Molly Te Wiata. E isso não
ficará impune. — Ele apontou um dedo severo para mim. — Marque
minhas palavras.
Minha irmã se virou para mim. — Você nunca contou a ele?
— Cale a boca, — eu murmurei, acompanhando-a.
Mas Lenka não seria silenciada. Ela se afastou de mim, e sua voz
percorreu todo o armazém. — Seu preço já foi pago, seu cachorro!
Tama deu um passo à frente. Ser chamado de cachorro era o
menor dos insultos. — O que você acabou de dizer, vadia?
Lenka ficou furiosa. Ela tremeu com isso. — Seu irmão Uri era um
porco de homem.
— Diga de novo. — Tama se aproximou e sua voz tremeu.
Mas Lenka não poderia ser intimidada. — Minha irmã amava você,
seu idiota. Você acha que ela matou seu irmão por diversão? Pergunte a
si mesmo o que diabos ele deve ter feito para Molly tirar sua vida sem
valor. — Ela arquejou. — Nós estávamos no seu território. — Sua voz
rouca. — Nos foi prometido proteção. — Ela apontou um dedo trêmulo
para o homem gigante e lamentou: — Nos foi prometido proteção,
e você nos decepcionou, Tama Hariana!
Tama parecia confuso. Eu abaixei meu olhar, recusando-me a
olhar para ele.
A voz de Lenka tremeu. — Ele a tocou. Ela era apenas uma
criança. Ele fez coisas com ela e ela não estava preparada para isso. Ele
a destruiu e, por mais que tentássemos, os pesadelos a consumiram.
Tama parecia perplexo. — Quem?
— Keisha. — Minha voz estava desligada.
Minha irmãzinha, Keisha. O bebê da nossa família.

~ 298 ~
Lenka tentou se controlar. — Uri a estuprou. Ele a tomou a
força. Ela era apenas uma garotinha.
Tama riu então. — Você é louca.
Os outros homens riram também enquanto Twitch observava, e os
olhos de Lenka se arregalaram quando ela gritou: — Você não estava lá!
— Minha irmã caiu de joelhos e gemeu como um animal ferido,
segurando sua garganta. Ela chorou: — Você não estava lá. — Ninguém
mais estava rindo. Lenka fechou os olhos e sua voz estava fraca. — Eu a
encontrei pendurada por lençóis floridos cor-de-rosa. Os lençóis de uma
menina de treze anos. Uma menina de treze anos que descobriu que
estava grávida e sentiu que não poderia vir até nós. — Os olhos de Lenka
vazaram quando ela piscou para Tama, seu estado emocional frágil. —
Ele fez isso com ela.
Tama balançou a cabeça.
E encerramos aqui. — Vamos lá. — Eu ajudei minha irmã e
caminhei em direção à entrada, em direção a Twitch.
Para a liberdade.
Quando coloquei Lenka em segurança no banco do passageiro do
meu carro, caminhei até os homens, certificando-me de manter distância
enquanto puxava lentamente uma Glock e apontava para a cabeça de
Tama. Meu tom foi baixo. — Eu te amei. Em um ponto, eu teria feito
qualquer coisa por você. Mas quando te falei minhas preocupações sobre
Uri, você as afastou. — Eu abaixei a arma, segurando-a ao meu lado. —
Você me decepcionou. Você decepcionou Keisha. — Eu dei um passo
para trás. — A morte dela foi culpa sua, chefe.
Quando ele me observou com cuidado, seu olhar de repente
inseguro, eu murmurei: — Uma irmã por um irmão? — Eu olhei de cima
a baixo, abaixando minha arma. — Você conseguiu. Considere minha
dívida paga.
Eu acidentalmente dei um passo para trás e bati direto em
Twitch. Ele ficou atrás de mim, colocando o braço em volta dos meus
ombros, e eu permiti.
As palavras que ele falou foram impressionantes.

~ 299 ~
Sua voz era baixa, áspera. — Eu acho que vocês, filhos da puta,
precisam saber que Molly está sob minha proteção. — Seu tom era
mortal. — No que diz respeito a vocês, ela é minha filha adotiva. Ela é da
família. Vocês vêm atrás dela, vocês vêm atrás de mim e de todos
os meus. — Seu braço apertou meus ombros, me segurando ainda, e eu
não tinha percebido que estava tremendo até então. — Espalhe a
palavra.
Minha raiva tirou o melhor de mim.
Ofegante, levantei minha arma e tirei a trava, os ecos de tiros
reverberaram ao nosso redor e, quando o som se apagou, Twitch falou
atrás de mim. — Bom tiro.
— Do que você está falando? — Saí de seu abraço e me virei para
olhar para os buracos de bala em torno de Tama e seus homens,
deixando-os completamente intocados e parecendo irritados como o
inferno.
Enquanto eu caminhava de volta para o meu carro, soltei um frio:
— Eu perdi.

~ 300 ~
CAPÍTULO VINTE E SETE
Twitch

Saí do carro e fui até Molly.


— Quer falar sobre isso?
— Não, — ela murmurou, amuada.
Parei para olhar para a outra mulher no carro e não a queria em
casa. Ela parecia instável. Não queria essa merda ao redor do meu
filho. Então peguei minhas chaves e as entreguei para Molly. — Leve-a
para minha casa. Limpe-a. Deixe-a dormir, — falei com cautela. — Mas
amanhã, ela sai.
Molly olhou para a irmã por um longo momento antes de
concordar sutilmente. Eu sabia que ela tinha entendido o que eu queria
dizer.
Ela pode ser sua irmã, mas somos sua família agora.
Elas atravessaram a rua, e quando as vi fechar a porta atrás delas,
meu olhar atento varreu a rua vazia. Quando tive certeza de que elas
estavam seguras, entrei, e no segundo em que entrei, tanto Happy
quanto Lexi se levantaram. Eu levantei minhas mãos. — Ela está bem.
O corpo inteiro de Lexi relaxou de alívio antes que ela se
endireitasse e usasse sua voz de mãe. — O que ela estava pensando?
Abri o zíper do meu casaco e o tirei, jogando-o no sofá. — Ela o
ama. — Uma vez, eu teria zombado dela por isso. Hoje eu entendia. —
Você faz coisas estúpidas pelas pessoas que você ama. Qualquer coisa
para torná-los felizes.
Happy grunhiu uma risada. — Não é que é verdade?
Eu caminhei até o homem, o braço estendido, e quando cheguei
perto o suficiente, ele colocou a mão na minha e me puxou, batendo nas
minhas costas ao mesmo tempo em que minha mão se conectava com a
dele. — Te devo uma.

~ 301 ~
Happy riu. — Eu sei. — Quando se afastou, ele sorriu. — Eu estou
contando. — Ele estendeu os braços para Lexi e ela foi até ele,
abraçando-o com força, e então ele se foi.
Meu anjo se levantou, me observando atentamente antes de dar
um passo à frente, estendendo a mão. — Venha aqui. Fale comigo.
Bem, merda. Isso não soou bem.
Toda vez que conversávamos nos dias de hoje, acabávamos
discutindo. Eu não queria discutir. Eu queria ir para a cama com minha
mulher e dormir respirando o doce aroma de baunilha de seu cabelo
espesso.
Mas Lexi queria conversar, então nós conversaríamos.
Andando até ela, ignorei sua mão e me aproximei, colocando
minhas mãos em seus quadris e a trazendo para perto de mim. — Eu
posso pensar em tantas atividades melhores para fazer do que falar, —
eu sussurrei roucamente.
E embora ela parecesse completamente afetada, seus lábios se
separaram, mas ela balançou a cabeça.
Meus lábios se afinaram. — Ok, baby. — Eu suspirei. — Quer
falar sobre o quê?

***

Lexi

Eu olhei para ele e senti meu coração entrar em curto-circuito.


Merda. Ele não deveria me afetar do jeito que fazia. Não depois de
todo esse tempo.
Eu amava o jeito que ele olhava para mim. Eu nunca sabia como
ele usaria essa boca. Ele simplesmente falaria comigo ou me devoraria
inteira?
Honestamente, eu estava bem com as duas opções.

~ 302 ~
Quando lambi meus lábios, seu olhar atento pousou sobre
eles. Seu olhar encapuzado fez meu coração bater mais rápido.
Ele olhou para mim como se seu pau já estivesse dentro de mim e,
estranhamente, eu o senti.
Limpando a garganta, puxei-o para o sofá e, quando me sentei,
fiquei agradavelmente surpresa quando ele deitou todo seu corpo, com a
cabeça no meu colo.
Fez meu coração aquecer ao vê-lo me usando como precisava. Ele
sempre foi tão cheio de orgulho. Seis anos atrás, ele nunca se permitiria
ser colocado em uma posição de fraqueza. E ele me deu isso.
Devo tê-lo encarado um segundo a mais, porque quando ele
estendeu a mão e gentilmente esfregou o centro das minhas
sobrancelhas, ele soltou um som em sua garganta e depois murmurou:
— Sem franzir o cenho. — Suas próprias sobrancelhas franziram. —
Não. Não gosto disso.
Os últimos dois dias me fez perceber que eu estava me
apaixonando novamente por Twitch com muita força, rápido demais, e a
última vez que fiz isso, meu coração ficou partido. Então precisávamos
conversar.
Respirei fundo e comecei com um baixo: — Estou preocupada.
No segundo que falei, senti seu corpo endurecer. Ele falou com
cautela: — Que tipo de preocupações?
— O tipo de preocupação que faz você questionar se está tomando
as decisões certas para si mesma. — Meu coração disparou, quando
acrescentei: — Para o seu filho.
Com isso, ele sentou-se e olhou para frente por um longo momento
antes de respirar fundo e falar ao expirar, seu tom áspero: — O que é
isso?
Minha voz tremeu. — Eu preciso que você saiba que, mesmo que
não possamos estar juntos no final... — Deus, doeu, — ...Estou feliz que
você fez parte da minha vida.
Com isso, ele colocou as mãos nos meus ombros, apertando. Ele
fechou os olhos um segundo antes de olhar nos meus olhos, os dele

~ 303 ~
arregalados. — Você está... — Eu senti suas mãos tremerem contra a
minha pele. — Você está me pedindo para partir?
Oh.
Eu fiz uma careta para mim mesma.
Eu pude ver por que ele pensava isso.
— Não, — eu falei baixinho. — Não. — Estendi a mão e peguei as
mãos dele nas minhas e, quando o olhei profundamente nos olhos e
disse: — Estou te dando uma saída, — seu corpo ficou relaxado e ele
começou a respirar de novo.
Mas eu não esperava a reação que recebi.
Eu esperava compreensão. Eu esperava sua apreciação. Eu não
esperava fúria crua.
Ele falou com os dentes cerrados, afastando-se de mim, e senti a
perda em um nível pessoal. — Se você quiser entrar,
entre. Totalmente dentro. Mas estou cansado dessa merda, sem besteira.
— Aqueles olhos castanhos suaves de repente ficaram difíceis. — Eu sei
que você me quer tanto quanto eu quero você, então por que diabos você
não está comigo? — Ele fechou os olhos e engoliu em seco. — Você é a
porra da minha religião, Lexi. — Quando seus olhos se abriram, eles me
imploraram, mas sua voz estava estranhamente calma. — Deixe-me te
adorar.
Eu não entendi, mas sua raiva parecia alimentar a minha. — Você
vai ter que me desculpar por ter dúvidas. — Meu olhar duro segurou o
dele. — Especialmente quando se trata do meu filho.
— Nosso filho, — ele fumegou, antes de reajustar seu tom. — Ele é
nosso filho, Lex. Nós dois tivemos participação ao fazê-lo. Ele é nosso.
Eu imediatamente me arrependi do que eu disse. — Mas apenas
um de nós ficou por aqui.
Ele se levantou e se afastou, e meu peito doeu. Não era isso que eu
planejara. Eu queria uma conversa tranquila; Eu queria respostas
simples, e o que consegui foi uma briga borbulhante que só parecia
crescer.

~ 304 ~
— Então, o quê? — Tony proferiu. — Você quer que eu saia? — Eu
nunca disse isso, mas estava muito atordoada para falar. Ele obviamente
tomou isso como um sim, porque suas próximas palavras eram uma
arma e estavam apontadas para mim. — Ouça-me, Alexa. AJ poderia
amar a nós dois. — Ele fez uma pausa em seus passos para colocar seu
olhar escuro em mim. — Ou ele pode te odiar. Você decide.
Bang.
Minha voz tremeu com a compreensão do que ele acabou de
dizer. — Seu idiota.
E foi nesse momento que ele percebeu que estava fodido. Ele
colocou a mão no quadril e outra na testa, batendo levemente os dedos
na têmpora. Ele falou por entre dentes cerrados, os olhos bem
fechados. — Isso não saiu certo.
— Eu acho que você precisa sair.
— Eu não quis dizer isso. — Ele suspirou.
Meu tom era suave como um sussurro. — Você precisa sair.
— Não. — Ele balançou a cabeça, tentando argumentar comigo. —
Eu vou ficar bem aqui. Ling é uma louca. Você acha que ela não
pensaria duas vezes em vir aqui, machucar você?
Eu estava muito além para dar uma merda sobre isso. — Por que
você se importa?
Quando ele se lançou contra mim com seu corpo volumoso, foi um
movimento tão repentino que não tive tempo de reagir. Ele pegou meus
dois pulsos em suas mãos, quase machucando, e me sacudiu, rosnando,
— Você não entende? Eu daria a minha vida por você. — Quando meus
olhos arregalados encontraram os dele, ele olhou para as mãos e soltou
meus pulsos, recuando e olhando para longe. — Na verdade, — ele
ofegou levemente, perdido em sua própria cabeça, — eu já fiz isso.
Esfreguei meus pulsos, não porque doesse, mas porque seu toque
áspero me queimava de uma maneira que eu não sentia há anos.
E no verdadeiro estilo Twitch, ele caminhou pelo corredor, abriu a
porta da frente e saiu, fugindo de mim.
No momento em que ele se foi, senti sua falta.

~ 305 ~
Quando eu acordei de manhã, me sentindo irritada além da
crença, saí do meu quarto em minha camisola e fui atingida diretamente
no estômago.
Filho da puta.
Eu fiquei imóvel e observei o homem adulto artisticamente
decorado deitado no chão sem sua camisa enquanto seu filho
pressionava marcadores coloridos em sua pele, usando-o como seu
próprio livro de colorir pessoal.
O monstrinho olhou para mim, sorrindo. — Oi, mamãe. — Ele
gesticulou para seu pai deitado. — Veja.
Eu estava olhando.
Ele era lindo.
E quando ele olhou para mim, minha garganta se fechou. Ainda
mais quando ele proferiu um cauteloso, — Bom dia, mamãe.
Ugh. Meu coração. Não é justo.
Eu limpei minha garganta. — Você vai levá-lo para a escola esta
manhã?
— É claro, — disse ele, observando meu rosto de uma maneira que
dizia tudo.
Ele estava pensando em quanto dano causou na noite anterior.
Eu balancei a cabeça, evitando o olhar vigilante dele. — OK. Eu
vou sair para uma corrida.
Quando saí do banho, eles já haviam partido e, quando entrei no
meu quarto, meus olhos captaram o borrão vermelho na mesinha de
cabeceira.
Fui até lá, pegando a zínia vermelha brilhante e girando-a entre
meus dedos antes de pressioná-la contra meus lábios. As pétalas
estavam frescas contra a minha pele.
Por que eu senti vontade de chorar, quem sabia?
Sacudindo a tristeza que sentia, me estiquei por um tempo antes
de me vestir e pegar o meu carro. Eu destranquei a porta e então
suspirei, percebendo que tinha esquecido minha garrafa de água. Saí do
carro e corri de volta para a casa em uma fração de segundo, correndo

~ 306 ~
de volta para o carro em tempo recorde, deslizando o cinto e comecei a
dar ré.
Sentindo o som do rádio, eu cantei junto. Alto.
— Você nem mesmo tranca?
Pisando nos freios, meu corpo sacudiu, e no meu pânico, apertei a
buzina um segundo antes de respirar fundo e gritar para o alto.
— Ainda não canta uma merda, baby.
Enquanto eu continuava gritando, ouvi sua risada baixa e áspera,
e meu grito aumentou quando levei a mão para trás do meu assento,
golpeando as cegas o homem irritante.
Quando a risada dele aumentou e fiquei sem fôlego, girei no banco
e olhei de volta para ele, com os olhos arregalados e ofegante. No
momento que eu o vi deitado no banco de trás, reclinado com um braço
atrás da cabeça, parecendo confortável como sempre enquanto sorria
para mim, eu me virei, inclinou a cabeça para trás e gritei de novo, só
que desta vez gritando, — Idiota!
Meu coração batendo no meu peito, fiquei sem fôlego pela segunda
vez, e com as bochechas coradas, meu corpo tremeu em um riso
silencioso. Deixando cair a minha testa no volante, a buzina soou
novamente e minha risada aumentou. Eu falei através da minha falta de
ar, — Você me assustou até a morte.
Senti-o subir no console central e sentar-se no banco do
passageiro, esperando que eu me recompusesse e, quando finalmente
consegui, olhei para ele com os olhos apertados, e aquele sorriso
maravilhosamente torto me atingiu como um soco no rosto. Ele se
inclinou. — Sentiu minha falta?
Eu balancei minha cabeça, minha garganta engrossando
drasticamente. — Você é um idiota.
— Eu sei, — ele pronunciou asperamente. — Mas esse idiota adora
você.
Oh, ele não fez.
Ele não fez isso.
Isso foi tudo que bastou.

~ 307 ~
Meu rosto franziu e eu comecei a chorar, e quando solucei, falei
através dos meus gritos. — Estou com tanto medo.
— De quê? — Quando eu não respondi, ele tentou novamente. —
Eu preciso que você fale comigo, anjo.
Meus ombros tremiam. Eu mergulhei meu queixo, observando as
lágrimas caírem no meu colo. Minha voz era suave como plumas. — De
você me deixar de novo. — Eu implorei: — Você sabe como é isso? Nunca
saber se hoje é nosso último dia juntos? Para sempre pensar que poderia
ser esse? — As lágrimas continuaram vindo, e eu resmunguei, — É
aterrorizante querer para sempre com alguém que pode não ser capaz de
dar a você. — Eu respirei fundo, tremendo, quando admiti: — Eu me
perdi quando perdi você. Não acho que sobreviveria uma segunda vez.
Ele me observou atentamente, seus olhos suaves. Ele não falou
por um tempo, mas quando o fez, seu tom era sério. — Tudo o que fiz, fiz
por nós, para que pudéssemos ser uma família.
— Eu sei. Mas dói amar você, Twitch. — Falei através de um
suspiro arrepiante. — Sempre foi assim.
Estendendo a mão, ele pegou a minha na dele e pegou meu queixo
com a outra, virando-me para encará-lo, e o que ele disse fez meu
estômago apertar. — Monte isso comigo e sairemos disso juntos. —
Abaixando a cabeça, ele pressionou seus lábios contra os nós dos meus
dedos e falou contra eles. — Cavalgue ou morra, baby. Juntos para
sempre. Você é isso para mim. Eu sei que sou isso para você. — Ele
olhou para mim através de seu olhar abaixado. — Me ame para sempre?
Meus lábios se separaram e eu engoli em seco. — Para sempre é
muito tempo.
Seus olhos enrugaram nos cantos. — Sim.
Ele me soltou com um suspiro relutante antes de abrir a porta do
passageiro. Ele hesitou um segundo antes de olhar diretamente para
frente, e o solene voto que proferiu fez meu coração doer.
— Provavelmente não significa nada agora, e eu sei que você
precisava ouvir isso na época, mas não pude te dar, então estou dizendo

~ 308 ~
agora. — Uma pequena pausa, e então, — Eu te amarei até o fim dos
tempos.
Antes que eu pudesse registrar o que ele havia dito, a porta estava
fechada e ele estava voltando para o outro lado da rua.

***

Twitch

Foi uma semana difícil para o meu anjo e eu sabia do que ela
precisava.
Uma noite fora.
Uma noite de boa comida.
Uma noite com o seu homem.
De preferência uma em que terminássemos a semana difícil com
uma noite difícil na cama.
Então, quando apareci em casa, usando o terno de oito mil dólares
que comprei para ela e caminhei pelo corredor até a sala de estar, vi
Molly e AJ reclinados no sofá. Quando a pequena mulher me viu, ela riu
antes de soltar um longo assobio. — Puta merda. Você vai a um funeral
ou algo assim?
Meu filho apenas olhou para mim com os olhos arregalados e
sussurrou: — Uau.
Mas a casa parecia vazia. Franzindo a testa, olhei em volta, antes
de perguntar: — Onde ela está?
AJ voltou para a TV. — Noite de encontro.
Perdão?
Minha voz ficou baixa. — O quê?
Os olhos arregalados de Molly se fixaram em mim. — É noite de
encontro.
Como inferno que era.
— Com quem? — Eu mal podia conter a minha fúria.

~ 309 ~
Molly encolheu os ombros antes de me olhar de cima a baixo. —
Tenho certeza que você pode encontrá-la se realmente quiser. Você sabe,
— ela disse com significado, arqueando as sobrancelhas. — Como você
me encontrou?
Parando apenas momentaneamente para dar boa noite para meu
filho, saí de casa, e minha raiva pulsou com tanta força que tudo que eu
podia ouvir era o sangue correndo em meus ouvidos. Parando em casa,
peguei minhas chaves e fui para o carro. Eu liguei, em seguida, estendi a
mão para o porta-luvas, pegando meu estimado calibre 45, colocando-o
no banco ao meu lado.
Meu queixo ficou tenso quando pensei no que Molly disse.
Parecia que eu iria para um funeral depois de tudo.
Pisando fundo, disparei pela rua, absolutamente furioso,
rastreando o GPS da minha mulher.
E Deus a ajude quando a encontrá-la.

~ 310 ~
CAPÍTULO VINTE E OITO
Lexi

Eu sabia que ele viria. Eu estava contando com isso. E enquanto


me sentei na praia esperando, ouvi seu suspiro quando ele se
aproximou. Eu girei para olhar para ele, e quando seu rosto foi de irado
para um pouco aliviado, ele parou, balançando a cabeça antes de
murmurar: — Você está sozinha.
Minha testa enrugou por um momento, mas quando vi o que ele
estava vestindo, um sorriso suave agraciou meus lábios. Foi uma
explosão do passado vê-lo no terno cinza-metalizado sob medida.
Jesus fodido Cristo todo-poderoso. Eu mordi meu lábio. — Você
parece bonito.
Minhas partes de senhora gostaram muito disso.
Ele parou ao meu lado, e quando eu olhei para ele da minha
posição sentada, ele olhou para mim. — Molly disse que você estava em
um encontro.
— Não, ela não disse. — Olhei para a praia, observando as ondas
quebrando e espumando. — Ela disse que eu estava em uma noite de
encontro.
O silêncio seguiu, e quanto mais tempo se prolongava, mais largo
meu sorriso interno se tornava.
— Tudo bem, — disse ele, movendo-se para sentar-se ao meu
lado. — Eu vou morder a isca. — Levantando os joelhos, ele descansou
seus antebraços sobre eles, em seguida, estreitou os olhos em mim. — O
que é noite de encontro?
Eu sorri para mim mesma, mentalmente elogiando seu
comportamento calmo e tranquilo.
Isso era um teste? Não intencionalmente, não. Mas estava
provando ser uma boa, e sua compostura me disse o quanto ele mudou.
Isso era importante.
~ 311 ~
— Para responder a essa pergunta, você precisa de um pouco de
informação adicional. Então, — eu comecei, — AJ estava na escola um
dia, quando um dos alunos perguntou à professora o que era a noite do
encontro. A menina queria saber por que seus pais estavam indo a uma
noite de encontro e ela não tinha certeza do que era aquilo. A professora
de AJ estava explicando que às vezes mamães e papais saem juntos à
noite sem seus filhos. Que alguns pais faziam isso uma vez por semana,
enquanto outros só faziam em dias especiais. E quando AJ chegou em
casa, ele me perguntou por que eu nunca ia a noites de
encontro. Expliquei que só se aplicava a pais que tinham parceiros. —
Eu me virei para encarar o Twitch. — Mas AJ não achou que isso fosse
justo comigo.
O rosto de Twitch se suavizou e meu sorriso se alargou. — Ah, as
injustiças do mundo. Não. Nosso filho não aceitava. Ele perguntou se
havia um dia especial, qualquer dia, que eu pudesse usar para uma noite
de encontro. E eu tinha um em mente. Então, ele insistiu que eu o
usasse. E aqui estamos nós. — Eu me virei para o homem ao meu
lado. — É apropriado que você esteja aqui para isso.
— Por que hoje?
— É 18 de março. — Quando eu vi que ele não estava entendendo,
eu o tirei de sua miséria. — O dia em que nos encontramos, como
adultos. Você sabe. — Eu o observei atentamente e joguei a isca. — O
dia que você organizou para aquele homem horrível me atacar.
Bem, isso o fez falar.
Ele se endireitou e zombou. — Ele não deveria ter levado aquilo tão
longe. E quando eu vi o que ele tinha feito, como te machucou, eu fiquei
furioso. Perdi a cabeça. Eu poderia tê-lo despedaçado com minhas
próprias mãos. — Twitch fechou as mãos em punhos. — Matá-lo
novamente, dada a chance.
— Eu sei, — eu murmurei. — Eu sei que você faria.
Um silêncio espesso nos envolveu, e eu não pude evitar.
Sorrindo para o céu noturno, perguntei: — Quão louco você ficou
quando pensou que eu estava em um encontro?

~ 312 ~
— Louco o suficiente para ter trazido minha Glock.
Eu não deveria achar isso tão engraçado quanto achei. Minha
risada ecoou no ar fresco da noite, e ouvi o homem perigoso ao meu lado
engasgar com sua própria risada.
Deus, nós éramos loucos.
Quando meu riso abrandou, falei baixinho: — Percorremos um
longo caminho, não é mesmo, querido?
— Sim, — ele concordou, e eu senti seus olhos em mim.
Eu me virei para encará-lo, e quando o encontrei franzindo a testa
para mim, minha própria carranca se formou. — O quê foi?
Com a mandíbula apertada, ele olhou para frente. — Eu sei como é
sentir... — Ele fez uma pausa. — Sentir como se este fosse o nosso
último dia juntos. — Ele lambeu o lábio inferior. — E isso me assusta
pra caralho. — Eu lhe dei o momento que ele claramente precisava antes
de continuar. — Você está com medo de eu partir, e tenho medo de você
acordar e perceber que está oficialmente farta da minha merda. Porque
um dia você vai.
Ele disse isso tão agonizantemente suave que tive certeza que ele
realmente acreditava nisso.
Vamos dando voltas e voltas.
Que par nós éramos.
— A última vez que te vi vivo, você me disse que queria me
quebrar, — recordei em voz baixa.
— Quem disse que o objetivo mudou? — Minha cabeça virou
abruptamente para ele, meus olhos se estreitando, mas seu olhar sorriu
de volta provocadoramente. — De que outra forma eu deveria recompô-la
novamente?
Revirei os olhos, mas meu coração se aqueceu de um jeito que era
perigoso para minha saúde.
Na escuridão, ouvimos as ondas quebrarem quando ele finalmente
falou de novo. — Eu percebi tarde demais.
Minhas sobrancelhas franziram. — Percebeu o quê?

~ 313 ~
Seus olhos tempestuosos se concentraram em mim. — Que
quebrar você nunca iria me consertar.
Oh bebê.
Como ele cresceu.
Era demais para mim. Eu precisava de uma conversa
nova. Conversa mais leve. — Você se lembra de quando costumava me
trazer aqui?
— Eu me lembro de tudo. — Ele sorriu então. — Nós viemos aqui
para ficar chapado.
— Não, — eu o corrigi. — Você ficava chapado e eu assistia. —
Meus olhos se arregalaram. — E então deixaria você me levar para casa.
— Eu balancei minha cabeça com a minha idiotice, rindo sem graça. —
Oh, Deus, eu fui tão imprudente com você.
— Você foi, mas era divertido. — Ele sorriu.
Minhas sobrancelhas arquearam. — Eu não sei sobre isso.
Ele olhou para mim. — Você está me dizendo que não pensa nesse
momento e sorri com as lembranças?
Claro que sim. Como eu não poderia? Foi a época mais turbulenta
e instável de minha vida, e eu amei cada segundo disso. Mas os tempos
mudaram.
Eu concordei: — Algumas delas foram divertidas. Mas o
pensamento de fazer tudo de novo... — Eu tentei reprimir minha risada
suave, mas falhei. — Eu acho que recusaria educadamente. Eu sou uma
mãe agora. — Eu sorri tristemente. — Eu não posso mais pensar apenas
em mim mesma.
— Eu entendo isso, baby, — ele expôs, e eu sei que ele
entendia. Ele amava seu filho mais do que tudo. Eu realmente sentia
isso sempre que eles estavam juntos. — AJ é tudo que eu imaginava que
seria e muito mais. E sou grato.
Ele era grato.
A lembrança de tempos atrás, me agrediu com força e rapidez, e
fui grata pela escuridão, quando meus joelhos se apertaram e meu
estômago se agitou.

~ 314 ~
— Você é grato?
Twitch olhou para mim e, quando me movi, percebi que ele se
perguntava o que eu estava fazendo. Mas enquanto me arrastava a curta
distância e usava seus ombros firmes como alavancagem, levantando
minha perna e subindo em cima dele, suas mãos pousaram em meus
quadris, me ajudando a se acomodar em seu colo.
Nossos rostos próximos, eu corri meu nariz pelo comprimento do
seu e sussurrei: — Grato o suficiente para chupar minha língua?
Sua respiração trêmula fez minha boceta inundar na hora. Meus
lábios se separaram ligeiramente. Eu ignorei a batida pesada do meu
coração e me inclinei, pressionando um beijo suave na borda do lábio, e
as mãos na minha cintura se apertaram como um vício. — Lexi, — ele
rosnou em aviso, um momento antes de seus olhos tempestuosos
encontrar os meus. — Não brinque comigo, mulher.
Meus olhos se arregalaram com o tom brutal que ele usou
comigo. Eu estava preocupada que ele confundisse meu suspiro súbito
com medo.
Eu deveria ter imaginado.
Twitch riu sombriamente. — Você acha que está no controle aqui?
— Ele estalou a língua. — Oh, baby. — Quando ele se inclinou e sua
respiração mentolada aqueceu meus lábios quando proferiu
asperamente: — É como se você nem me conhecesse, — eu engasguei
com um gemido, minha calcinha completamente, quase
embaraçosamente, encharcada.
E o idiota sorriu triunfantemente.
Então eu fiz algo que eu nunca faria seis anos atrás.
Pronta ou não.
Eu tomei o controle.
Aqui vou eu.
Meu olhar pesado pousou no lábio inferior cheio dele e meu
coração bateu. Ele não estava preparado para quando me inclinei para
perto e gentilmente toquei minha língua naquele lábio, lambendo
suavemente. Torturantemente lento. E quando seus braços

~ 315 ~
serpentearam em torno de mim em uma tentativa de recuperar o poder,
me segurando em cativeiro, eu sorri internamente.
Quem está no controle agora, malandro?
Minha vitória, no entanto, foi de curta duração.
Sua boca se separou em um gemido. Eu deslizei minha língua, e
seus lábios se fecharam em torno dela, sugando levemente, gemendo em
minha boca aberta, e eu morri, retornando seus sons necessitados e me
empurrando com mais força em seu duro comprimento. Ele gostou
disso. Eu sei que ele fez porque rosnou, e quando seus quadris se
contraíram em mim, eu vi estrelas, ofegando como uma cadela no cio.
Twitch chupou um pouco mais, estendendo uma mão para
envolver meu cabelo em torno de seu pulso, e quando ele puxou minha
cabeça para o lado, eu engasguei com a mistura de prazer e dor
pulsando em minhas veias. Ele aproveitou, mergulhando em mim,
sugando-me mais fundo em sua boca. Profundamente o suficiente para
que nossos lábios finalmente se encontrassem em um beijo lento e
sensual. E os lábios deste homem eram exatamente como me lembrava
deles.
Assobiando, rachando, explodindo fogos de artifício em um arco-
íris de cores.
Dinamite. Perigoso e imprevisível, e ele segurou o fusível muito
perto do meu coração.
Uma maldita bomba atômica cuja nuvem de cogumelo tiraria
minha carne dos meus ossos, deixando-me nua, aberta e sangrando
vermelho.
E esses tipos de explosões, eu sentia por toda a parte, em minha
mente, meu coração e meu núcleo, tudo de uma vez, tudo igualmente
afetado.
E se eu morresse então, teria morrido feliz.
Eu queria erguer meus braços e passar as mãos pelos cabelos
dele, mas lutei para me libertar. Seus braços não deixaram. Minha
respiração se intensificou enquanto eu me contorcia contra ele. — Por
favor.

~ 316 ~
Mas Twitch puxou meu cabelo com força suficiente para picar. —
Não.
Secretamente amando a picada latejante no meu couro cabeludo,
minha voz ficou ansiosa. — Eu quero te tocar.
— Não, — foi sua resposta rouca, quando ele tomou meus lábios
em um beijo profundo e punitivo e eu caí em seu abraço, exalando nele.
Eu tentei uma última vez, minha voz suave e suplicante. Eu falei
em nosso beijo: — Por favor, baby. Por favor.
Ele rosnou baixo em sua garganta antes de seus braços
afrouxarem ao meu redor. — Nunca poderia dizer não. — Seus olhos
estavam baixos e vidrados, quando ele proferiu: — Não quando você
implora tão bem.
Sim!
Com meus braços finalmente livres, envolvi um em torno de seus
ombros largos, e enquanto o outro agarrou a parte de trás de sua cabeça
e quando sua boca se chocou com a minha, eu fiz um som de saudação
baixo em minha garganta enquanto minha cabeça nadava. Minhas
unhas cravaram em seu couro cabeludo, e ele assobiou contra a minha
boca. Meus olhos brilharam antes de eu sorrir em seus lábios. Eu não
pude evitar. Arquejando levemente, agarrei a maior parte de seu cabelo e
puxei com força.
Ele estremeceu e eu me endireitei, elevando-me sobre ele, a ponta
do meu nariz tocando suavemente o dele. Eu mal consegui ficar séria
quando murmurei: — Gratidão mostrada. Agora me agradeça, querido.
Eu estava tão perdida na sensação dele que não vi isso chegando...
Tapa.
Meus olhos se arregalaram, meu corpo sacudiu de surpresa, e eu
empurrei seus ombros. — Ai.
— Você quer ser uma espertinha? Eu vou deixar sua bunda
esperta. — Ele passou a mão suavemente sobre a palmada latejante na
minha bunda, e quando meu rosto formigou em irritação, seus olhos
riram, e ele quase sussurrou: — Obrigado, baby.
Oh Senhor.

~ 317 ~
Se eu achava que amava esse homem antes, eu o adorava agora.
Seus olhos examinaram a praia deserta e ele manteve a voz
baixa. — Você quer foder aqui, ou ir para casa?
Hum. Eu tinha a escolha?
OK.
Isso era diferente.
Meus olhos suavizaram quando coloquei minhas mãos em seus
ombros, levemente arranhando seu paletó caro com minhas unhas. —
Casa, — porque, — Eu tenho areia na minha bunda. — Eu terminei
baixinho.
Quando seu corpo inteiro tremeu com riso silencioso, sorri
calorosamente para ele, e quando ele olhou para mim, com os olhos
cheios de alegria, meu coração doeu descontroladamente.
Não fazia sentido.
Como você poderia possivelmente sentir a falta de alguém que você
tinha em seus braços?
Era ridículo.
Sem aviso, inclinei-me e coloquei minha boca na dele. Deslizando
as mãos por baixo da minha saia, ele acariciou a parte de trás das
minhas coxas antes de descansá-las completamente na curva da minha
bunda, e quando suspirei em sua boca, ele bateu na minha bunda
levemente e rosnou baixo em sua garganta. — Vamos lá.
No segundo em que entramos na casa escura e silenciosa, o
homem alto às minhas costas estendeu a mão para mim, me puxando
para frente, e ergui meu braço atrás de nós para gentilmente acariciar
seus cabelos. Ele colocou os lábios na casca do meu ouvido e falou
baixo. — Preciso que você fique quieta por mim.
Meu estômago revirou em antecipação. Eu balancei a cabeça, e
quando ele colocou a boca no meu pescoço, eu trabalhei duro para
silenciar o gemido baixo que queria escapar.
Com a mão no cabelo dele, soltei um breve suspiro, e quando um
braço circulou minha cintura com força, o outro deslizou sob a bainha
da minha saia descansando no meu monte. Mordi o lábio para parar o

~ 318 ~
suspiro borbulhando na minha garganta. Ele me esfregou
meticulosamente até minhas pernas tremerem, e justamente quando eu
pensei que falharia em minha missão, ele acalmou seus dedos, me
acariciando gentilmente, com ternura.
Sua sussurrou: — Boa menina, — foi toda a recompensa que eu
precisava.
Não era como se eu tivesse escolha. Nosso filho estava no final do
corredor, no extremo oposto da casa, assim como Molly, e eu não queria
que nenhum deles ouvisse, ou pior, viesse verificar.
Ele me guiou para o meu quarto e fechou a porta suavemente
atrás de nós. No momento em que estávamos sozinhos no espaço ao
luar, começou. Sua voz era baixa, mas dura, ele ordenou: — Me dispa.
Oh!
Eu lentamente me virei e me encontrei mais perto do que o
esperado. Sem tempo a perder, comecei a trabalhar, passando as mãos
pelo peito até os ombros, em seguida, empurrando o casaco sob medida
antes de descansá-lo gentilmente na minha penteadeira. A gravata de
seda veio a seguir. Eu a soltei, deixando-a sobre seus ombros. Meus
dedos ágeis desabotoaram os botões de sua camisa, um a um,
lentamente, até que seu peito forte estava exposto. Ele ergueu o pulso e
eu trabalhei em uma abotoadura, passando para a outra antes de se
juntarem ao casaco na cômoda. E quando cheguei a suas calças, dei um
forte puxão no cinto de couro preto, forçando um bufo do homem a
quem daria tudo, se ele assim o desejasse. Sem uma palavra, eu mantive
meus olhos nos seus encapuzados, abri o botão de cima de sua calça e
gentilmente abaixei o zíper. Mas quando me movi para enfiar a mão na
abertura, as palavras que ele falou dificilmente eram um pedido. —
Fique nua.
Meu interior apertou.
Sim senhor.
Chutando meus sapatos, peguei a bainha do meu vestido e
levantei-o sobre a minha cabeça. Eu estendi meu braço, deixando-o cair
em um amontoado ao meu lado, e quando levei a mão para trás, para

~ 319 ~
soltar meu sutiã, seus olhos me observaram avidamente. Quando o
gancho se soltou, segurei as xícaras do sutiã de cetim por um momento
antes de deixar as alças caírem pelos meus braços, no chão, deixando
meus seios cheios à mostra.
As narinas de Twitch dilataram como um touro pronto para atacar.
E oh. Eu gostei disso.
Justamente quando fui tirar minha calcinha, ele fez um barulho
em sua garganta, e quando meu olhar confuso encontrou o dele, ele
balançou a cabeça. — Deixe-as.
Meu olhar confuso se aprofundou e seus olhos me desafiaram a
protestar.
Eu sabia como isso funcionava. Este não era minha primeira
experiência.
Removendo as mãos da minha cintura, mantive ao meu lado e
esperei por sua instrução. E quando ele percebeu isso, seus olhos
brilharam com prazer espontâneo.
Ele correu uma mão gentil e amorosa pelo meu lado, e murmurou,
— Perfeita. — Um momento depois, a escuridão em seu olhar retornou
quando me olhou nos olhos, e declarou: — Eu vou deixá-la me montar
esta noite, e você fará bem feito, mas juro por Deus, baby, se fizer um
maldito som, um som de merda, você não gozará. Você me entendeu?
Meus lábios se fecharam em uma carranca, mas respirei fundo,
endireitei, e então assenti em resposta. E ele ficou satisfeito.
— Bom. — Com um movimento lento, ele tirou a gravata,
segurando-a. — Suas mãos.
Minha carranca interna diminuiu rapidamente quando estendi
minhas mãos para ele e o observei habilmente envolver o material de
seda em torno de meus pulsos, apertando-o o suficiente para cortar a
minha circulação. Observando-me o tempo todo, eu jurei que ele podia
ver o jeito que meu coração pulou na minha garganta enquanto me
amarrava, segurando minhas duas mãos pequenas em uma das suas.
Ele me puxou para o pé da cama, e enquanto sentava, abrindo as
pernas, acomodando-se na beirada, enfiou a mão na cueca e se soltou,

~ 320 ~
agarrando-se com força e trabalhando sua ereção para cima e para
baixo, completamente sem pressa.
E eu engoli em seco para me impedir de babar.
— Suba.
Eu não ousei fazer um som, mas meu coração estava batendo tão
forte que me perguntei se ele podia ouvir tão alto quanto eu podia. Ao me
aproximar, coloquei um joelho no espaço entre as pernas dele, usando a
alavanca para me erguer o mais graciosamente possível para montá-lo. A
maneira como suas pernas estavam posicionadas me fez ter que abrir
minhas pernas de uma maneira um pouco imprópria, e ele sabia disso.
Ele queria isso.
Ele gostava de me deixar desconfortável.
Twitch era meu líder de culto. Eu era sua prostituta. E gostava de
suas lições, aquelas onde ele me ensinou que desconfortável poderia ser
uma coisa maravilhosa. Eu era sua aluna destemida, tão ansiosa em
aprender. Tão ansiosa por agradar.
Olhando-me nos olhos, ele procurou meu rosto um segundo antes
de recostar-se ligeiramente e ordenou: — Comece o trabalho.
Eu me arrastei para frente até que as partes mais desesperadas de
nós se encontraram, e embora minha calcinha fosse um inconveniente,
elas não me impediram de sentir seu calor latejante. Enquanto eu moía
contra ele com minhas mãos amarradas na minha frente,
obedientemente, observei seu rosto mudar. Ele lutou contra si mesmo, e
toda vez que fazia isso, o poder que senti dentro de mim cresceu um
pouco.
Sem querer, com cada respiração áspera, com cada franzir de sua
testa, ele me fez uma mulher perigosa.
Eu o trabalhei devagar, mas com firmeza, balançando contra ele
até que pensei que poderia gozar. Meu rosto se contraiu, e quando eu
acidentalmente soltei um pequeno gemido, meus olhos se abriram e
mordi meu lábio.
Seus olhos fixos em mim, ele colocou a mão na minha clavícula,
descansando-a desconfortavelmente perto do meu pescoço. — Eu devo

~ 321 ~
estar ouvido coisas. — Ele me observou, seu olhar inabalável. — Você
disse algo?
Eu balancei a cabeça e, respirando asperamente, lambi meus
lábios.
A mão na minha clavícula caiu e ele acariciou o lado do meu
pescoço com o polegar. — Eu achei que não.
Sem aviso, ele enfiou a mão debaixo de mim e puxou minha
calcinha para o lado. Segurando seu pênis em suas mãos, ele correu sua
cabeça através da minha fenda, deslizando através da umidade sedosa, e
minha respiração acelerou. Ele abriu as bochechas da minha bunda, a
cabeça dele deslizando dentro de mim facilmente.
Minha respiração ficou presa, e eu queria gemer tanto que mordi
minha língua com força suficiente para sangrar. Eu não era estúpida o
suficiente para acreditar que ele me daria uma segunda chance. Ele
estava sendo extremamente generoso deixando o primeiro passar. Outra
merda e eu não gozaria. E isso seria trágico.
Twitch fechou os olhos, parecendo aflito, depois gemeu baixinho:
— Foda-se.
De repente, embriagado com a sensação de nosso sexo, Twitch
levantou minhas mãos amarradas por cima de sua cabeça, abaixando-as
em seus ombros, e quando ele agarrou meu quadril com a mão livre, ele
rosnou: — Olhos em mim.
A mão no meu pescoço apertou. Meus olhos se arregalaram apenas
momentaneamente antes de ele empurrar para dentro de mim, puxando-
me para baixo enquanto metia em mim impiedosamente. E quando meus
olhos começaram a fechar, um leve tapa no meu queixo me fez focar
nele. Ele balançou a cabeça, rangendo os dentes enquanto eu saltava
sobre ele. — Eu disse olhos em mim.
Ele me fodeu impiedosamente, a mão no meu pescoço começando
a trancar minha respiração. Não o suficiente para me sufocar, mas o
suficiente para me deixar desconfortável. E quando me senti perdendo a
batalha pela compostura, a mão no meu pescoço subiu para agarrar

~ 322 ~
meu queixo. Inclinando-se, ele pressionou o rosto na minha bochecha e
falou sujo.
As palavras sujas e sussurradas eram tudo que eu podia
suportar. — Essa linda boceta me pegou, baby. Ela está implorando por
isso, — ele ofegou levemente, segurando meus quadris enquanto dirigia
em mim uma e outra vez. — Ela está com fome. Quer ser alimentada. E
quando eu finalmente alimentar sua boceta, ela vai chupar tudo como se
estivesse morrendo de fome e serei a única coisa que ela engolirá. — Seu
olhar negro encontrou o meu, agarrando meu queixo com força antes de
pressionar seus lábios firmes contra os meus nervosos roubando um
beijo. — Porque sou eu.
A confiança em seu tom indicava que ele não estava mentindo.
E com essas palavras, fui atingida.
Ele puxou meu gatilho. E eu inclinei minha cabeça para trás,
minha boca se contorceu e expirou.
Meu corpo se contraiu tão severamente que estremeci da cabeça
aos pés, e quando o primeiro espasmo me tomou, eu ofeguei em voz alta,
não conseguindo mais manter minha promessa de silêncio. Meus braços
se apertaram ao redor de seu pescoço, e enquanto descia do meu
orgasmo, Twitch me montou. Difícil. Com suas mãos nos meus quadris,
ele me puxava para baixo em seu pau repetidamente, o rangido úmido
soando alto demais no quarto silencioso. Enquanto ele usava meu corpo
como seu próprio dispositivo pessoal de prazer, eu observei enquanto a
veia em sua têmpora inchava quando ele empurrava, de novo e de novo,
meus seios firmemente pressionados contra seu peito.
Sentindo sua liberação se aproximando, meus lábios se separaram
e eu sussurrei: — Dê-me.
Seu rosto enrugou e as mãos nos meus quadris cravaram minha
pele com tanta força que sabia que estava marcada.
Inclinando-me, falei contra seus lábios. — Alimente-a.
Sua cabeça caiu para trás um momento antes de ele colocar a
testa na minha, seus olhos tempestuosos. — Você quer isso?
— Eu quero isso, — eu bufei.

~ 323 ~
Ele rangeu os dentes, diminuindo seus impulsos. — Você precisa
disso?
Ele estava louco?
Eu precisava disso?
Porra, sim, eu precisava disso.
Arquejando levemente, respondi da única maneira que pude. Meu
rosto suave, eu respirei as palavras para ele. — Eu te amo.
E foi isso.
Twitch colocou a mão na parte de trás da minha cabeça e me
puxou impossivelmente mais perto, batendo a boca na minha. Eu o
beijei fanaticamente enquanto ele grunhia em minha boca, seu pau
pulsando, e eu o senti derramar-se dentro de mim.
Minutos se passaram e seu toque duro suavizou, acariciando-me
em todos os lugares que pudesse alcançar, e quando ele levantou o olhar
pesado do meu ombro, trouxe minhas mãos para baixo entre nós,
soltando-as das amarras apertadas. No momento em que elas estavam
livres, ele pegou meus pulsos em suas mãos e acariciou-os
carinhosamente com os polegares antes de pegar minha mão esquerda e
levá-la à boca.
Quando ele fechou os olhos, eu coloquei minha mão em seu peito,
sentindo a batida constante de seu coração, e as palavras que ele falou
fizeram meu coração responder a altura. — No que diz respeito a todos
os outros... — Ele pressionou outro beijo na minha mão. —
...provavelmente haverá um anel neste dedo. — Ele observou minha
reação, e quando não conseguiu uma, ele perguntou: — Você me
entendeu?
Meu coração se aqueceu e doeu instantaneamente, mas eu confiei
no meu instinto, quando sussurrei: — Eu o entendo.
Eu não percebi que ele estava apreensivo até que soltou um longo
suspiro, respondendo em um exalar, — Bom. — Seu olhar caiu para os
meus lábios. — Agora me beije, baby.

~ 324 ~
Então eu o fiz. Beijei-o longa e duramente, minha língua saindo
para encontrar a dele, e ele me segurou nele quase como se estivesse
com tanto medo de me perder quanto eu estava.
Nosso amor era insano. Como sorrir na cara de um pelotão de
fuzilamento.
Deus.
Por que nós éramos assim?
A resposta logo se revelou.
Porque viver sem o outro não era uma vida digna de ser vivida.
Sim, nós éramos loucos. E tudo bem.
Ele seria meu remédio. Eu seria sua terapia.
Porque éramos loucos de amor.

~ 325 ~
CAPÍTULO VINTE E NOVE
Lexi

Na manhã seguinte, quando o monstrinho invadiu meu quarto e


encontrou seu pai na minha cama, ele rosnou: — Vocês
tiveram outra festa do pijama?
Meu riso sacudiu a cama, e quando o homem às minhas costas
soltou uma risada no meu cabelo, eu bufei.
Esta criança. Eu não conseguia nem lidar.
Era cedo demais para isso.
Eu levantei minha cabeça e bocejei. — Bom dia, querido.
Ele ficou ao pé da cama, parecendo louco como um galgo
encontrando um saco de gatos, e quando ele cruzou os braços sobre o
peito, meus olhos se arregalaram. Ele murmurou: — Não é justo. Por que
o papai dorme aqui? Por que ele não pode dormir comigo?
A isso, o pai dele respondeu num tom áspero: — Você quer dormir,
cara pequeno? Tudo bem então. — O braço que ele tinha a minha volta
apertou quando ele se espreguiçou. — Que tal você ir dormir na minha
casa esta noite e nós vamos fazer... — ele resmungou, meio
adormecido. — Eu não sei. Merda masculina.
O rosto de AJ ficou chocado e depois se transformou em
incredulidade antes de se decidir pela pura excitação. Ele ergueu os
braços no ar e gritou: — Sim! — antes de sair correndo do quarto,
passando pelo corredor e - se não me engano - já em seu quarto fazendo
uma mala.
Eu falei no quarto silencioso. — E a mamãe? Ela está convidada
para a festa do sexo masculino?
Twitch estendeu a mão por baixo das cobertas e apertou meu
peito. — Não. Desculpe, mamãe. Apenas garotos são permitidos.
Eu fingi chateação. — Oh, não, o que eu devo fazer?

~ 326 ~
Ele moveu meu cabelo para o lado, pressionando um longo beijo
no meu pescoço. — Continue empurrando essa bunda e vou fodê-la até a
próxima semana.
Jesus.
A conversa suja nunca deixou de me excitar. E quando eu
acidentalmente - de propósito - pressionei minha bunda em sua ereção
matinal, ele sussurrou: — Jesus. Você não sabe quando parar, baby. —
Ele soltou um rosnado profundo em seu peito, antes de avisar: — Pare.
Eu fiz beicinho. — Ok. — Pegando o meu manto, eu coloquei sobre
o meu corpo nu, amarrando-o em volta da minha cintura antes de pegar
a boxer de Twitch e colocá-la ao alcance do braço. Ele me viu pegar
roupas íntimas limpas, e quando olhei através do meu armário, tirando
um vestido preto liso, ele fez um barulho.
Virando, eu pisquei. — Você não gosta?
Ele fez uma careta que dizia que não.
Por que isso importava para mim?
Eu coloquei o vestido de volta, e quando tirei um vestido na altura
do joelho, com a saia justa, ele franziu os lábios em aprovação.
— Ok, — eu disse, levando comigo para o banheiro.
Tomei um banho rápido e, quando abri a porta do banheiro para
sair o vapor, ouvi a conversa que meu filho estava tendo com o pai.
— Por que você chama mamãe de bebê? Ela não é um bebê. Ela é
uma dama.
— Bem, sim, — explicou Twitch. — É um termo carinhoso.
AJ não entendeu. — O que é um termo carinhoso?
Twitch soltou uma risada. — Como você chama alguém com quem
se importa muito. E eu chamo a sua mãe assim porque eu a amo e quero
mantê-la segura, e faria qualquer coisa para protegê-la. — Ele fez uma
pausa. — Você entendeu, broto?
— Sim, — disse AJ — Eu entendi.
Eu sorri para mim mesma, saindo do banheiro e verificando o
horário. Com um grito ansioso, eu corri para o meu quarto e saí pulando
em um pé, tentando colocar meus sapatos sem cair. — Oh, droga. Eu

~ 327 ~
vou me atrasar. — Pegando minha bolsa, eu gritei: — Ok, eu tenho que
ir. Eu te amo, querido. — Fiz uma pausa na porta, sorrindo para o meu
homenzinho. — Vejo você depois da escola.
Foi quando AJ gritou de volta: — Eu também te amo, baby.
E o silêncio que se seguiu foi absolutamente horrendo.
Incapaz de me conter, comecei a rir do horror no rosto de
Twitch. — Oh céus, papai. — Eu ri silenciosamente, e quando ele olhou
para mim com uma expressão que gritava Socorro! Eu balancei a cabeça,
todo o meu corpo tremendo com alegria reprimida. — Eu não vou me
meter nisso por nada nesse mundo. Isso é com você. — Abri a porta e
saí, sufocada pela alegria. — Divirta-se com isso!
Eu ri todo o caminho para o trabalho.

***

Ling

Eu estava me sentindo tão deprimida que só fazia sentido ficar


chapada.
Uma tempestade estava se formando. Uma tempestade furiosa que
estava fadada a custar vidas. E seus ventos fortes derrubaram o sentido
de dentro de mim.
Fazia três dias desde o telefonema.
O telefonema que me destruiu.
Sem dormir em três malditos dias, eu dirigi em silêncio, e nunca
me ocorreu pensar em como diabos ainda estava funcionando depois de
estar acordada por setenta e duas horas inteiras. A droga que usei
anteriormente era provavelmente a razão pela qual meu coração estava
assim acelerado, mas em minha mente, meu coração estava funcionando
mal, falhando da notícia de que eu não era mais desejada.
Eu não chorei. Não, eu não choraria.

~ 328 ~
Nenhum homem valia minhas preciosas lágrimas. Em todos esses
anos, eu nunca achei que seria idiota o suficiente para me cair nesse
tipo de besteira.
No entanto, aqui estava eu, quebrada.
A puta mais cruel desse lado do hemisfério, eu me considerava
imune as ministrações de homens como ele. Como eu pude ser tão
idiota?
Meu lábio se curvou quando pisei no acelerador, segurando o
volante com força, ultrapassando os carros de forma imprudente
enquanto voava pela estrada.
Aslan Sadik deixou sua marca em mim.
Ah, ele vai aprender hoje.
E agora, eu deixaria minha própria marca.
O belo turco aprenderia que não podia simplesmente brincar com
os sentimentos das pessoas como ele fez. Você não podia simplesmente
dizer a alguém que as amava e depois descartá-las. Era uma jogada
covarde fazer alguém acreditar que você se importava então apenas...
partir. Ele me mostrou uma ternura que eu nunca tinha conhecido e
nunca mais seria a mesma.
Eu implorei.
Você pode acreditar nessa merda?
Minhas entranhas encolheram de vergonha.
Eu implorei para ele ficar comigo.
Quem é essa cadela frágil?
Minha frequência cardíaca aumentou quando soltei uma risada
sem graça, meu cabelo chicoteando ao meu redor enquanto o vento
assaltava meus olhos ardentes.
Sim, é por isso que eu estava chorando. Era do vento. Não da
mágoa.
Sim. Você diz a si mesma o que precisa dizer a si mesma, boo.
Homens estúpidos.
Eu os odiava. Todos eles.

~ 329 ~
Eu estava oficialmente virando totalmente lésbica. Sem mais pau
para mim. Eu claramente não era responsável o suficiente para confiar
mais em mim em torno de paus.
Que porra de vergonha.
Eu amava paus.
Quando comecei a dirigir, não sabia para onde estava indo, mas
agora que estava parando no meio-fio, percebi que sabia o tempo
todo. Meu aperto no volante era tão forte que meus dedos ficaram
brancos. Respirei fundo e olhei para o outro lado da rua um momento
antes de o que restava do meu coração construir uma parede em volta de
si, protegendo-se de mim e das decisões que tomei para permitir que isso
acontecesse.
Eu nem culpava Az. Na verdade não. Eu confiei nele e deveria ter
juízo, e isso era comigo.
Talvez tenha sido por isso que doeu tanto. O único homem que eu
havia deixado me quebrar anteriormente, era um homem que preferia
morrer a estar comigo.
Eu inclinei minha cabeça para trás e ri abertamente por um longo
tempo antes de o meu coração estremecer de tal forma que me fez
colocar uma mão trêmula no meu peito, ofegando através da dor.
Por que ninguém me queria?
— O que há de errado comigo? — Eu falei na quietude do interior
do carro antes de cerrar os dentes, olhando para mim mesma no espelho
retrovisor. Erguendo a mão, a afastei e bati na minha bochecha, o
impacto fazendo uma pancada sólida.
Eu engasguei e então ofeguei, meus olhos revirando enquanto meu
núcleo se apertava. A área latejava e fechei meus olhos em êxtase
quando uma lágrima caiu dos meus cílios.
Novamente.
Eu levantei minha mão oposta, trêmula de antecipação. Eu
precisava de mais, mais dor para aliviar a dor. Quando o segundo golpe
aterrissou, soltei um gemido baixo, mordendo meu lábio, valorizando o
calor ardente pulsando em minha calcinha.

~ 330 ~
Algumas coisas nunca mudariam.
Foi descuidado da minha parte achar que podia.
Eu nasci assim. Eu não podia mudar, não importava o quanto eu
quisesse nos momentos mais fracos. Mas essa cadela louca possuía sua
insanidade, usava-a como uma segunda pele e, hoje, eu não estava
apenas louca. Eu estava demente, enlouquecida.
Psicopata com um lado de esquizofrênica.
Uma lunática com parafusos soltos.
E enquanto eu olhava para o meu reflexo, passando minhas mãos
sobre a carne aquecida em minhas bochechas, eu mal me reconheci.
O que eles fizeram com você, passarinho?
Meu olhar assentou, acalmou, e quando tomei minha próxima
respiração, meu coração furioso se estabilizou, e com uma frieza que eu
havia aperfeiçoado ao longo dos anos, saí do carro.
Esse era o começo do fim. Volta ao lar. E eu esperava que Az
estivesse pronto para isso, porque eu tinha planos para ele e a esposa
que o adorava.
Meus pés cobertos de Louboutin me levaram para o porta-malas, e
quando apertei o botão nas minhas chaves, ele abriu. Eu examinei
minhas alternativas.
Pé de cabra?
Taco de beisebol?
Eu fiz um som pensativo baixo na minha garganta antes de me
esticar e pegar um em cada mão, pesando minhas opções. Depois de um
segundo, olhei direto para frente, as sobrancelhas franzidas em
consideração.
A resposta era óbvia, claro.
— Ambos. — Sorri quando me virei e segui em direção ao cupê
preto Tesla Model S 75D.
Carros buzinavam enquanto eu atravessava a rua sem olhar, mas
mal eles sabiam que eu era o lobo entre as ovelhas e as comia inteiras
com pouco ou nenhum aviso, por nenhuma razão. Então, quando um

~ 331 ~
caminhão buzinou um segundo a mais, eu parei no meio da rua, virando
para encarar o homem dentro da cabine.
Ele fez um gesto obsceno.
Eu assobiei como um gato.
Ele abaixou a janela e gritou: — Saia da estrada!
— Faça-me sair, — foi minha resposta doce e lenta.
O homem sacudiu a cabeça. — Foda-se cadela louca.
Louca como uma raposa.
Eu inclinei minha cabeça para trás e ri antes de lamber meus
lábios e piscar para ele. — Você entende disso, baby. — Eu continuei
meu caminho alegremente, um molejo no meu passo, e quando entrei no
prédio que não deveria estar, o segurança se levantou imediatamente,
me reconhecendo. O homem corpulento se acalmou quando eu sorri
para ele e disse educadamente: — Eu acho que você deveria chamar seu
chefe, bonito. — Virando-me, fui até o logotipo empresarial no chão de
mármore e lentamente subi a minha saia. — Ele vai querer ver isso.
A empresa imobiliária de alta classe estava quieta enquanto eu
agachava, esperando, e no momento em que as portas do elevador se
abriram, eu segurei seus olhos escuros enquanto mijava sobre a porra
do piso de mármore que ele havia importado da Itália, sobre o logotipo
que seu amado pai projetou, sobre todas as malditas coisas que tivemos
juntas que ele tirou de mim.
Sim.
Eu mijei por tudo isso.
Eles diziam que ações falavam mais alto que palavras, e agora,
eu sabia que Aslan Sadik entendia o recado.
Você e os seus podem sugar isso, seu pedaço de merda.
Quando o guarda de segurança olhou para mim com desgosto,
soprei-lhe um beijo e, quando terminei, levantei-me com cuidado,
deslizei a saia para baixo e segurei os olhos trovejantes de um belo
turco. O segurança pegou o telefone, mas quando Az ergueu a mão, o
homem corpulento desligou o telefone.

~ 332 ~
Ele olhou para mim por um longo momento antes de dar os dois
passos e, quando me olhou como fazia agora, com um olhar cheio de
preocupação e pena, eu queria matá-lo então. Quando ele falou, eu sabia
que seria apenas uma questão de tempo antes de fazer exatamente isso.
— Ok. Você fez o que tinha que fazer. — Ele olhou em volta para os
poucos homens que nos cercavam e falou baixo. — Você está ferida. Você
está louca. Entendi. Eu entendo. — Ele se inclinou, murmurando, —
Mas você está se envergonhando, Ling. Você precisa sair. — Seus olhos
se estreitaram. — Ou farei você sair.
O que ele acabou de dizer?
A veia ao lado do meu pescoço latejava no ritmo do meu batimento
cardíaco crescente, e, descendo, peguei minhas armas e assenti, fingindo
vergonha. — Você está certo.
Seu lindo rosto ficou suave e eu sabia que o tinha onde o queria.
Tão bonito.
Eu queria quebrar aquelas maçãs do rosto salientes, golpear meu
bastão em seu rosto para ter certeza de que seu sorriso de um milhão de
dólares nunca mais brilharia, pegar meu pé-de-cabra e o colocar sobre
sua cabeça, espalhando seu cérebro para o meu bel prazer.
Em vez disso, abandonei o ato, meu rosto estava sóbrio e, quando
meu sorriso lento apareceu, sua apreensão retornou dez vezes.
Estou de volta, vadias.
— Veja, Az, — eu expliquei com um suspiro, — Eu queria que isso
funcionasse. — Estendendo a mão, alisei sua lapela. — Eu realmente
queria. — Meus olhos encontraram os dele. — Mas você fodeu tudo e
agora, — eu esclareci, — você tem que pagar.
Mais de seus homens chegaram, observando a discussão. Entre
eles estava o irmão mais novo de Aslan, Enver, e no momento em que
Aslan o viu, sua inquietação começou a crescer. Eu poderia ter
derrubado a nós dois então. Eu poderia ter derramado as informações e
deixado todos os seus homens saberem que seu Rei havia declarado seu
amor pela Rainha Dragão, mas eu não o fiz.
Não.

~ 333 ~
O sofrimento de Aslan Sadik viria agradável e devagar, e eu
arrancaria as coisas de que ele mais gostava, uma a uma, para que ele
pudesse sentir a dor de cada perda antes de eu atacar novamente.
Esse menino ia aprender hoje que Ling Nguyen não era uma
adolescente apaixonada.
Ling Nguyen era uma rainha filha da puta, e se ele não me
deixasse usar seu rosto como um trono, eu me empalaria em sua
espinha quebrada e ensanguentada até que o prazer cru fizesse meu
corpo tremer.
Seus lábios se estreitaram e, quando ele colocou as mãos nos
quadris, abaixando o rosto, ouvi o desconforto em sua voz. — O que você
quer?
Oh baby. Você não tem ideia.
O silêncio ao nosso redor ficou tenso, eu me inclinei e assobiei, —
Tudo.
Ele se endireitou quando eu me virei e caminhei para fora,
parando na frente do carro maravilhosamente elegante que Az
estimava. Levantando o bastão, vi Aslan parado na porta aberta me
observando, e apontei em sua direção um momento antes de falar.
— Próximo arremesso.
Quando levei o bastão para cima, sorri para o homem bonito,
depois pisquei antes de baixá-lo, quebrando um dos faróis. O vidro
quebrou, tomando conta da rua, e me mudei para o outro lado, segurei o
taco e o abaixei, quebrando o outro farol. Gemendo de prazer com a
destruição que eu estava causando, mordi meu lábio e meus olhos
brilharam no mesmo momento em que minha respiração ficou pesada.
Foi uma sensação tão intensa e inebriante que achei que poderia
gozar aqui na rua.
Quando o irmão mais novo de Aslan correu porta afora, atacando-
me, eu ri como uma colegial e fiz um show espalmando minha boceta,
deixando escapar um gemido ofegante. Az o seguiu, agarrou seu irmão,
segurando-o, e ele soltou uma rajada em turco em seu ouvido. Enver
lutou no aperto de seu irmão, e eu sorri para sua carranca mortal.

~ 334 ~
O carro era um presente de irmão para irmão. Era parte da razão
pela qual Aslan o amava. Claro, o carro valia em torno de cento e
cinquenta mil, e para esses homens, isso era troca de dinheiro. Mas a
verdadeira razão pela qual Aslan amava esse carro era porque seu irmão
o comprara para ele, e ele amava seu irmão.
Que pena que Enver não sabia que tínhamos maculado o seu
presente, transando nele em cada chance que tivemos.
Quando quebrei as luzes traseiras, suspirei feliz, e quando
coloquei o bastão pelo para-brisa traseiro, cerrei os dentes, a força do
golpe reverberando pelos meus braços.
Girando para trás, eu olhei para Az por cima do meu ombro e
sorri. — Intervalo.
Quando peguei o pé de cabra que deixei no capô, Enver lutou no
aperto de seu irmão e depois gritou: — Você está morta, vadia!
Eu pensei sobre o que ele disse, inclinando a cabeça para o lado,
minha sobrancelha franzindo. — Você sabe o que, pequeno Az? — Eu
pisquei para a versão mais jovem do homem bonito. — Você está tão
certo. — Meu rosto ficou escuro. — Eu estou morta.
Morta.
Morta por dentro. Morta de espírito. Alma atrofiada. Coração
falho. Morta pra caralho.
E eu estava bem com isso.
Era melhor enfrentar a dura verdade do que acreditar em lindas
mentiras.
Meu lábio enrolou quando eu levei o pé de cabra para o carro,
repetidamente, grunhindo em cada golpe, minhas palmas ardendo e meu
rosto enrugado. E depois que minha raiva diminuiu levemente, joguei o
pé-de-cabra no capô do carro e me virei para os homens, deixando
escapar um suspiro de satisfação.
Mas o que Az fez comigo depois garantiu seu destino.
Seu corpo estremeceu, depois sacudiu, e quando ele abriu a boca e
riu alto, meu sangue ferveu.

~ 335 ~
Os homens que o rodeavam se juntaram, os amigos fiéis que eram,
e minhas veias pulsavam lava derretida pura.
Sua risada zombou de mim. Zombou dos Dragons. Ele
ridicularizou minha capacidade como mulher e líder. E eu não aceitaria
isso.
Deslizando a mão debaixo da minha saia, tirei a pistola da minha
liga, levantei e disparei. Os homens recuaram em choque, e quando eu
continuei a esvaziar o clipe inteiro no capô do carro, assistindo o motor
esfumaçar, eu dei um passo para trás, colocando meu olhar endurecido
no próprio homem. Encolhendo os ombros levemente, franzi meus lábios
cor de cereja e disse: — Ops.
O âmbar ardente sob o capô aumentou e eu sabia que era hora de
ir.
Eu não tinha certeza do que aconteceria a seguir porque não tinha
um plano, mas o que eu sabia era isso.
Se Az não estava comigo, ele estava contra mim.
E isso significava guerra.

~ 336 ~
CAPÍTULO TRINTA
Lexi

Enquanto o homem alto e bonito levava a versão menor de si


mesmo para o outro lado da rua, eu sorri abertamente enquanto, ao
mesmo tempo, meu coração doía.
Observá-lo partir estava ficando mais difícil de suportar, e cada vez
que ele fazia isso, levava um pedaço de mim com ele.
A sorte nos reuniu. Não era bom nem ruim, apenas...
sorte. Primeiro como crianças, depois como adultos e agora, mais uma
vez, como duas pessoas sem nada a perder, apenas uma a outra. As
apostas eram altas, pois imaginei que esta seria a nossa última chance
de acertar.
Eles chegaram à porta, e quando meu filho se virou para mim,
acenando como um lunático, eu sorri de verdade então, acenando de
volta. Porque ele era precioso. Um presente. E Twitch tinha me dado.
E quando o próprio homem levantou a mão para mim em
reconhecimento, achei difícil acenar de volta, a principal razão sendo que
eu o queria aqui, em casa, onde ele pertencia.
Mas ele me decepcionou tantas vezes antes que era difícil engolir
meu orgulho e convidá-lo a voltar para a minha vida como um elemento
permanente. Porque eu ainda estava machucada. Porque não importava
que ele estivesse de volta, eu não poderia apagar os últimos seis anos de
tormento emocional que ele de bom grado me fez passar. Porque,
independentemente do fato de que o amava, eu ainda era uma mulher
desprezada.
Eu era uma frágil boneca de porcelana, e Twitch não apenas me
viu cair. Ele me jogou fora da segurança da minha capa, sabendo que eu
iria quebrar. E agora, as peças que me sobraram?
Elas eram afiadas.

~ 337 ~
Um pouco atrasada, eu levantei minha mão, retornando seu aceno
e colando um sorriso falso que não se encaixava no meu rosto.
Ele, claro, notou.
Congelada, assisti seu sorriso minguar enquanto ele contemplava
o que tinha acontecido entre a minha porta da frente e a dele para me
causar tanta angústia, e sem olhar para trás, entrei na casa, fechando a
porta atrás de mim tão gentilmente quanto possível para não perturbar o
silêncio que me saudou como amigo.
Um segundo depois, meu telefone tocou.
Tony: Eu posso levá-lo de volta.
Meu coração apertou quando digitei minha resposta curta.
Eu: Divirta-se. x
Eu amava Twitch tanto quanto uma pessoa podia amar
outra. Talvez até mais do que era aceitável. Definitivamente mais do que
era sensato.
Meu celular vibrou na minha mão, e como se tivesse ouvido meu
tumulto interior, li sua resposta com um coração terno.
Tony: eu te amo
Naquele exato momento, me senti boba pela minha hesitação.
Eu também te amo, querido.
Eu olhei para a minha resposta, e meus dedos continuaram
digitando sem permissão. Descaradamente, olhei para a tela por um
longo momento antes de bater em Enviar.
Eu: Mas se você sequer pensar em partir novamente, eu
mesma vou te matar.
Meu coração bateu no meu peito e eu respirei profundamente,
fazendo uma tentativa fraca de estabilizar minha respiração
pesada. Quando meu telefone tocou pela terceira vez, soltei um suspiro
enquanto eu lia em silêncio.
Tony: Nunca, baby.
Com essas duas palavras, eu fui de mar revolto a águas
tranquilas, minha inquietação me deixando em uma única respiração
trêmula.

~ 338 ~
Quem era esse homem para ter tanto poder sobre mim?
Quando meu telefone tocou novamente, eu fiz uma careta para a
tela, e quando li a mensagem, uma risada chocada me deixou.
Tony: Envie-me uma foto dos seus seios.
Continuei a rir com a minha resposta.
Eu não!
Um segundo depois
Tony: Isso é engraçado. Você faz parecer que foi uma
negociação.
Meu sorriso ficou tímido. Eu achei que queria fazer isso
simplesmente porque iria agradá-lo.
Mas eu não podia.
Podia?
Não.
Eu balancei a cabeça e digitei rápido.
Eu: Comporte-se, papai.
Quando sua resposta chegou, meu estômago apertou ao mesmo
tempo em que minha boceta.
Tony: Sim baby. Isso mesmo. Eu gosto quando você me chama
de papai.
Meus lábios se separaram quando um grunhido baixo deixou
minha garganta, e em minha mente, odiei que o ouvi falar as palavras
imundas no meu ouvido.
Eu não deveria ter achado isso excitante.
Por que isso era tão quente?
Quase imediatamente depois disso,
Tony: Tenho que ir. Continuaremos isso mais tarde.
Não. Volte!
Mas o que eu realmente respondi foi:
Eu: sinto tanto a sua falta
E eu sentia.
Eu realmente sentia.

~ 339 ~
***

Ling

A mulher na cama comigo gemeu de prazer quando fechei meus


lábios em torno de um mamilo cor de rosa e chupei o pico rígido. Seus
seios eram perfeitos, assim como o resto dela. E daí que ela era
diferente? Eu também era. Mas quem diabos poderia nos julgar?
Eu queria lhe dar um bom momento, um momento feliz, porque
ela e eu, embora diferentes, estávamos lutando as mesmas batalhas.
As pessoas nos julgavam. Elas nos perseguiam. Fomos
maltratadas e odiadas, e o amor que mostrei a ela nessa cama tinha
aquela energia por trás de um grande pau. O tipo de luxúria que
incendiava as estrelas. Eu queria fazê-la gozar de novo e de novo até que
sua dor entorpecesse e eu estivesse entorpecida.
Entorpecer era bom. Eu poderia lidar com a dormência.
A mulher levantou a cabeça e respirou: — Ooh, baby. Veja o que
você faz comigo.
Sua mão desapareceu sob os lençóis e, quando ressurgiu, estava
levemente sacudindo seu pau.
Eu salivava, querendo muito envolver minha boca em torno dele, e
quando ela empurrou seus quadris levemente em minha direção, seus
lábios rosados fazendo beicinho, eu sorri, lhe dando o que precisava. Eu
abaixei minha cabeça, e enquanto ela estendia seu pau duro para mim,
mostrei minha língua e lambi toda a cabeça, observando seus olhos
fortemente maquiados revirarem enquanto eu lavava seu calor duro,
lambendo o pré-gozo cuja erupção causei.
Então, sim, eu disse não a mais homens, e quis dizer
isso. Felizmente, encontrei uma brecha. O que era ótimo para mim,
porque não havia nada que eu amava mais do que um bom pau duro.
Quando eu a tomei em minha boca, seus quadris empurraram,
forçando-me a engolir mais dela em minha boca, e senti sua gratidão em

~ 340 ~
cada impulso superficial que ela deu enquanto fodia minha boca. Sua
respiração ofegante aumentou, e quando vi seu estômago enrijecer, soltei
seu pau com um estalo antes de substituir minha boca pela minha mão
e masturbá-la rudemente. — Você vai gozar, baby?
— Sim, — ela ofegou, me observando através dos olhos
encapuzados enquanto eu trabalhava seu pau duro.
— Goze em mim.
Seus olhos brilharam enquanto eu apresentava minha bunda para
ela como o presente que era.
Sem hesitar, a bela loira pegou seu pau em suas mãos e trabalhou
no meu rabo apertado. Eu soltei um gemido baixo quando ela segurou
meus quadris, cravando suas longas unhas de acrílico em mim enquanto
fodia meu buraco apertado. Não durou muito tempo. Dentro de alguns
minutos, a senti tencionar e quando ela bateu em mim com mais força,
soube que estava muito longe de parar.
— Oh, Deus, — sua voz doce soou. — Oh, merda, baby. — Ela
parou de empurrar, e quando meteu em mim uma última vez, senti seu
corpo inteiro enrijecer e eu sorri para os lençóis. Ela grunhiu uma e
outra vez, sua barriga tremendo com a força de seu orgasmo. E eu
estava feliz por poder dar isso a ela sem julgamento ou vergonha por ser
nada mais do que a pessoa que ela era.
Era uma vida difícil para aqueles considerados diferentes.
Eu deveria saber.
Eu liderava a matilha.
— Bem, isso não é legal.
A mulher gritou, recuando e puxando os lençóis para cima de nós
enquanto Aslan estava na porta aberta do quarto do meu apartamento
na cidade, sua expressão completamente vazia de emoção.
Eu realmente precisava mudar as fechaduras.
A pobre dama ao meu lado parecia mortificada.
Eu, por outro lado, direcionei ao meu namoradinho um olhar
luxurioso. — Você deveria ter ligado, Az. — Eu fiz um show correndo
minha língua ao longo do meu lábio superior antes de me inclinar para a

~ 341 ~
mulher ao meu lado, apertando seu seio muito redondo através do
lençol. — Eu teria guardado um pouco para você.
Az sacudiu a cabeça, parecendo muito mais desapontado do que
tinha o direito de estar. — Twitch estava certo, — disse ele, e meu
coração parou.
O que ele acabou de dizer?
O que Twitch disse?
Quando Twitch disse alguma coisa?
O que diabos Az estava fazendo falando com o Twitch?
Seus olhos duros, ele deu um passo para trás e seus lábios se
curvaram em desgosto. — Você está muito danificada para ser
consertada.
As palavras eram severas, destinadas a insultar e - foda-se - elas
encontraram seu alvo.
Oh meu maldito Deus.
Tudo fazia sentido.
— Twitch o advertiu para ficar longe de mim. — Não era uma
pergunta. Era uma declaração firme.
Filho da puta.
Eu o mataria.
Fiquei surpresa por ter conseguido manter o tom calmo,
escondendo o fato de estar enfurecida. — Desde quando você aceita
ordens de alguém, Sadik?
O imbecil evitou a pergunta.
— Eu vim aqui para propor uma trégua. — Os belos lábios do
Turco se estreitaram. — Eu vim pedir desculpas a você, Ling, mas
agora... — Sua expressão se tornou passiva. — Agora, eu não dou à
mínima. — Ele olhou para a mulher ao meu lado antes de se virar para
mim. — Você é uma boceta egoísta e mimada que atira merda toda vez
que alguma coisa não acontece do seu jeito. — Aqueles olhos da meia-
noite me agrediram. — Você se diz rainha? — Ele bufou uma risada
cruel. — Você devia se envergonhar. Você é uma piada de merda.
E com isso, ele se virou e foi embora.

~ 342 ~
Sentei-me em linha reta, deixando os lençóis caírem nos meus
quadris, e quando levei a mão debaixo do meu travesseiro, a tempestade
dentro de mim enfureceu com uma fúria que eu nunca tive o prazer de
experimentar até aquele momento.
Então, quando o tiro soou e a mulher ao meu lado gritou, Az
congelou por um momento, imóvel como eu nunca vi uma pessoa. E esse
tipo de quietude gritante era uma visão tão antinatural que me
assustava. Quando a vermelhidão começou a surgir, ele lentamente se
virou para me encarar. Estendendo a mão para pressionar seu coração,
ele oscilou no lugar, olhando para a saída do ferimento antes de olhar
para mim, com os olhos arregalados e chocado.
— Sua cadela louca, — ele murmurou fracamente. Seu corpo
tremeu violentamente um momento antes de ele soltar um grito de dor:
— Você atirou em mim.
O som de seu corpo caindo no chão seria aquele que me
perseguiria todas as noites em meus sonhos pela eternidade.
— Oh, foda-se, — eu sussurrei instável.
Eu não queria matá-lo. Eu não queria matá-lo.
Olhando ao meu lado para a mulher na cama, eu soltei um
atordoado, — Eu não queria.
Simplesmente aconteceu.
E quando ela me olhou como se eu fosse um maldito monstro,
balançando a cabeça animadamente concordando, e eu soube que ela
achava que era a próxima.
Eu lambi meus lábios.
Ela estava certa.
Levantando a arma, seu rosto caiu quando ela começou a chorar
com a percepção de que seu próximo fôlego seria o último, e tudo que eu
podia fazer era dizer: — Sinto muito, — quando o tiro ecoou por todo o
quarto. Seu corpo nu e sem vida caiu para fora da cama, e eu estava
agradecida por ela ter tido a graça de ficar longe da minha vista.

~ 343 ~
O que foi apenas momentos atrás, uma sala cheia de sons de
prazer mútuo estava agora inundada em silêncio. Em um único
momento, perdi o amor da minha vida.
Meus olhos correram de onde ele estava para a arma na minha
mão.
Ele morreu pela minha mão. Eu o matei.
Soltando a arma como se tivesse me queimado, ela caiu ao lado da
cama com um baque surdo.
Eu me movi e não sei quanto tempo passou porque parecia que o
tempo tinha parado.
Quando me sentei na beira da cama, meus olhos no corpo do
homem que me mudou com um beijo suave, senti algo construindo. Algo
sombrio e sinistro.
Tristeza.
O primeiro soluço saiu de mim como uma bala deixando uma
arma, forte e rápido. Segurando minha cabeça em minhas mãos,
uivando de dor, eu me abracei e balancei baixinho, dizendo as palavras
repetidas vezes como um mantra.
— Eu não queria. Eu não queria. Eu não queria.
Minutos se passaram e, enquanto minhas lágrimas continuavam
caindo, cheguei à conclusão de que uma pessoa era a culpada.
Deslizando para fora da cama, me arrastei até ele em joelhos
fracos e deitei no meu belo turco, acariciando seus cabelos grossos. —
Sinto muito, — falei calmamente enquanto me inclinei e pressionei meus
lábios nos dele. Outro soluço me deixou. Eu falei através das lágrimas,
pressionando outro beijo suave em seus lábios, sussurrando: — Acorde,
baby.
Mas ele não estava escutando.
Meu corpo tremeu na minha posição no chão enquanto meu tom
se desesperava. — Tudo vai ficar bem. — Eu funguei e expliquei: — Eu
só preciso que você acorde. — Fiz uma pausa em sua quietude. — OK?
Nada. — OK?
Nenhuma palavra.

~ 344 ~
Meus lábios tremeram, e eu acariciei seu cabelo duramente
enquanto minha voz rachava, — Ok?
Eu fiquei um momento olhando para ele. Seus olhos abertos
estavam vazios e ocos, e sua boca aberta parecia congelada em um grito
que ele nunca teve a chance de libertar.
Fechando os olhos, soltei um gemido baixo antes que os soluços
tomassem meu corpo com força. Lágrimas borraram minha visão
enquanto eu chorava abertamente, puxando-o contra mim e segurando-o
na morte como deveria ter na vida.
Estava tudo bem. Tudo ficaria bem.
Meus braços balançaram em torno de seu peso morto. Eu peguei o
pouco calor que ele tinha.
Nós só deitaríamos aqui por um tempo e amanhã tudo ficaria bem.
Eu embalei sua cabeça em meu peito e o balancei suavemente,
colocando meus lábios em sua têmpora enquanto sussurrava todas as
coisas que gostaria de ter dito ontem.
Tudo ficaria bem.
Infelizmente, tudo não estava bem.
Com meus olhos inchados pelo choro, eu olhei para cima quando
meu irmão entrou no quarto, seus olhos olhando do corpo frio e sem
vida de Aslan para mim e depois de volta. Ele engoliu em seco, passando
a mão pelo rosto, enquanto proferia um baixo: — Ling...
Eu sei.
Era ruim.
Quando me agachei no canto do quarto, vestindo apenas a minha
pele manchada de sangue, eu disse a única coisa que podia.
— Foi um acidente.
Lamentavelmente, o ferimento a bala em suas costas mostrava de
forma diferente.
Meu irmão piscou para mim um momento antes de seus pés se
moverem e atravessar o quarto. Van se ajoelhou na minha frente,
erguendo uma mão macia e acariciando minha bochecha antes de tentar
afastar o cabelo manchado de sangue que secou no meu rosto de quando

~ 345 ~
coloquei minha cabeça no peito de Az em um esforço para ver se seu
coração estava batendo. — Está tudo bem, Ting-a-Ling. — Ele me
levantou e me puxou em seus braços. Ele me segurou com força,
esfregando minhas costas nuas. — Nós resolveremos isto.
Não.
Ele não entendeu?
Isso não era algo que pudéssemos resolver.
Nós não poderíamos trazê-lo de volta. Não podíamos fazê-lo
respirar de novo, sorrir de novo, discutir comigo ou me amar de coração
cheio e com a mente vazia, fodam-se as consequências.
Meu irmão pegou o lençol da cama e envolveu-o em meu corpo
trêmulo, me puxando para o lado dele antes de me guiar para fora do
quarto e em direção ao sofá.
Isso não poderia ser resolvido.
Aslan estava morto.
Van me sentou e começou a fazer os telefonemas necessários. Meu
olhar ficou duro com a compreensão de que eu nunca mais abraçaria o
homem que amava.
E eu culpava Twitch.

~ 346 ~
CAPÍTULO TRINTA E UM
Lexi

A comoção começou assim que a porta da frente se abriu, e escutei


seguindo o corredor, continuando na sala de estar. De dentro do
banheiro em meus chinelos do Pikachu, parei de aplicar rímel quando
ouvi meu homenzinho.
— E Lula Molusco é um bobão, mas Bob Esponja não se
importa. Ele gosta dele de qualquer maneira, — explicou AJ
entusiasticamente.
— Por que ele é um bobão? — Perguntou Twitch.
— Eu não sei. Ele fica bravo e não gosta de pessoas. Ele gosta de
seu clarinete, — continuou AJ, — o chefe, o Sr. Sirigueijo, é um bobão
também. Ele gosta de dinheiro e é um caranguejo, mas sua filha é uma
baleia e ela chora muito.
Twitch parecia enlouquecido. — Que tipo de programa é esse? —
Eu ouvi um baque enorme, em seguida, um rangido, e Twitch
murmurou: — Fora do sofá, cara pequeno. Sua mãe não vai gostar disso.
Mais rangido. Mais pulos. Então a voz de AJ se elevou
animadamente quando ele pulou nas almofadas. — Eu gosto disso. É
engraçado. Patrick é bobo. Papai, — ele arquejou enquanto continuava
pulando, — podemos assistir Bob Esponja?
Twitch não falou por um momento, mas quando o fez, ouvi
severidade em seu tom. — AJ, — ele começou, — eu disse fora do sofá.
Infelizmente, não parecia que nosso filho estava com vontade de
ouvir, e os gritos altos continuaram, seguidos pelo pequeno monstro
arquejando e ofegando, e escutei quando AJ ignorou seu pai. — Mamãe
me deixa assistir todas as manhãs antes da escola. Nós podemos?
— Fora do sofá, — ele tentou novamente, seu tom enganosamente
calmo.

~ 347 ~
Os rangidos e gritos continuaram quando AJ explodiu com — Oh!
— Ele gritou a plenos pulmões: — Quem vive em um abacaxi no fundo do
mar?
A casa inteira tremeu quando Twitch gritou: — Saia do sofá!
Foi tão alto que o silêncio que se seguiu quase ecoou pelas
paredes.
Quando ouvi o barulho parar, meu coração disparou.
Meu primeiro instinto foi voar para fora do banheiro com armas
em punho e rasgar o homem bonito em um novo idiota. Mas a assistente
social em mim me disse para esperar e ver como isso funcionaria.
Com o coração pesado, esperei.
Ao som da respiração de AJ, minhas entranhas se contraíram, e
quando Twitch soltou um gemido, seguido por um apologético, — Oh,
amigo. Eu sinto muito. Vem cá, — pequenos passos correram e, quando
espiei para fora do banheiro, encontrei Twitch de joelhos, embalando
nosso filho nele, balançando-o de um lado para o outro enquanto AJ
chorava baixinho.
E meu peito doeu dolorosamente.
O trabalho dos pais não era fácil. Havia muitos manuais, sim, e
todos tinham uma opinião sobre como ser pai, mas era basicamente
sobre experiência, e Twitch ainda não tinha tido esse prazer.
Eu precisava entender que ele estava aprendendo com o tempo, e
algumas das lições seriam aprendidas da maneira mais difícil.
Quando o homem em questão beijou a cabeça do nosso filho e
suspirou antes de recuar para limpar as lágrimas do pequeno monstro
com as costas dos dedos, ele explicou: — O que aconteceu não foi sua
culpa, ok? — AJ assentiu, segurando as lágrimas Twitch continuou. —
Quando eu era um garotinho, algumas coisas ruins aconteciam comigo
e, às vezes, ruídos altos fazem alguma coisa na minha cabeça. — Ele
apontou para a têmpora e tentou falar delicadamente. — Às vezes, ruídos
altos deixam o papai irritado, ok? Mas isso não é problema seu, amigo.
— Ele tocou uma mão gentil no queixo de AJ, enxugando mais

~ 348 ~
lágrimas. — Estou tentando melhorar. — Twitch puxou nosso filho para
ele novamente, abraçando-o com força. — Eu vou melhorar.
Eu ouvi as palavras que ele não disse.
Eu vou melhorar... por você.
AJ envolveu seus pequenos braços ao redor do pescoço do pai e
resmungou: — Sinto muito.
Eu assisti o coração de Twitch quebrar. Ele fechou os olhos,
aflito. — Você não fez nada errado. Você não precisa se desculpar por
nada, ok? Eu sinto muito. — Disse Twitch, colocando os lábios no topo
da cabeça com aroma de maçã. — Eu errei e me desculpe. — Depois de
um longo momento, Twitch se afastou e olhou para o monstrinho
triste. — Estamos bem, pequeno cara? Você me perdoa?
AJ era um observador. Ele nem sempre aceitava as coisas sem
uma explicação, e enquanto olhava nos olhos de seu pai, ele deve ter
visto a desculpa sincera neles porque assentiu devagar,
contemplativamente, como se realmente acreditasse que Twitch estava
arrependido.
Assim como eu.
Então, quando Twitch suspirou aliviado e se levantou para colocar
a mão na cabeça de AJ, murmurou: — Vá guardar sua mochila. Eu
preciso falar com sua mãe, — eu estava pronta para ele.
Ele apareceu na porta do banheiro parecendo pálido e chateado, e
quando estalei minha língua, caminhando na sua direção, ele me
encontrou no meio do caminho, envolvendo seus braços em volta de mim
com força enquanto me enroscava ao redor de sua cintura,
pressionando-me contra ele.
Meu pobre bebê.
Meu pobre e assustado bebê.
Twitch baixou o rosto na curva do meu pescoço e o movimento fez
meu peito doer tanto que mal consegui contê-lo. Estendendo a mão,
acariciei a parte de trás de sua cabeça carinhosamente e beijei o espaço
acima de sua orelha, proporcionando o conforto que ele precisava
naquele momento.

~ 349 ~
Segurei-o por um minuto inteiro antes de ele se afastar,
endireitando-se e respirando fundo para se firmar. E eu sorri
suavemente. — Ei.
Mas ele não falou. Ele simplesmente baixou o rosto para o meu,
buscando mais conforto nos meus lábios. E eu dei a ele.
O beijo foi lento, profundo e cheio de desculpas, e quando nos
separamos, seus olhos pareciam menos turbulentos e mais
focados. Mais como ele mesmo. E quando ele cobriu minha boca uma
segunda vez, tomando meus lábios em outro beijo duro antes de me virar
e sair do banheiro, eu pedi para parar.
Ele parou na porta, se contorcendo e olhando para mim com
expectativa.
Não diga isso.
Não diga isso.
Não diga isso, Alexa.
— Se você falar com ele assim novamente, — eu mantive minha
voz suave, — vou cortar suas bolas.
Ah, maluca. Você disse isso.
Twitch olhou para mim por um longo momento, seus olhos
brilhando, e quando me atacou, eu chiei em choque, meu coração
pulsando.
Um braço forte me envolveu com força, o outro deslizou pelas
minhas costas, segurando minha bunda com uma mão firme, beliscando
enquanto apertava com força. Ele rosnou baixo em sua garganta e
gentilmente beliscou o lóbulo da minha orelha antes de soltar um áspero
som — Eu amo quando você fica toda mamãe urso. — Ele se afastou,
mordendo o lábio inferior, seu olhar encapuzado, e quando sua mão
levantou e pousou na bochecha da minha bunda com um tapa forte, eu
gritei. Seus olhos brilharam uma segunda vez, quando rosnou, — Sexy
pra caralho.
E minha boceta foi atingida imediatamente.
Ele me deixou no banheiro, sozinha e com tesão, e quando voltou
um pouco depois, me encontrou no exato lugar em que me deixou, com

~ 350 ~
os olhos enrugados nos cantos. — Molly vai cuidar do monstro. Vou te
levar para almoçar. Então... — Ele checou o enorme relógio prateado. —
Esteja pronta em uma hora. — Ele deu um passo para trás. — Oh, e
baby?
Meu olhar pousou sobre ele, mas quando eu abri minha boca para
falar, tudo o que saiu foi um pequeno pio.
Os vincos em seus olhos se aprofundaram, quando ele ordenou: —
Vista-se bem.
Saí de casa sentindo-me estúpida, mas essa estupidez
desapareceu quando vi a monstruosidade ronronar na minha garagem.
Minha boca caiu aberta e, quando meus olhos encontraram os
dele, minha voz era pequena. — Que diabos é isso?
Ele parecia um maldito lanche enquanto passava a mão pelo
cabelo, encostado no carro preto e elegante no jeans preto que abraçava
muito bem suas longas pernas. Usando uma camisa cinza com as
mangas arregaçadas até os antebraços, mostrando suas mãos grandes e
braços tatuados de uma forma que fez meu interior apertar e meu
coração pular na minha garganta. Ele trocou seu Adidas por um novo
par de sapatos pretos casuais, e minha boca ficou mais seca do que o
Saara.
Jesus Cristo, ele era bonito. Muito bonito, em minha opinião. E
quando ele tirou os óculos de sol, seu olhar pesado percorreu meu corpo,
e eu estava me sentindo idiota novamente, especialmente quando ele
estendeu seus óculos de sol em minha direção, e murmurou um áspero:
— Que porra é essa?
Meu estômago se encolheu de vergonha e eu mergulhei meu
queixo, enquanto eu dizia: — Aquela vez que fomos fazer compras, —
minha voz era baixa, — você gostou tanto...
Ah não.
O minivestido justo, branco e decotado era definitivamente mais
apropriado para uma garota de vinte anos, não uma mulher de trinta e
poucos anos. Apertando meus olhos, bati a mão na testa e me virei,
caminhando de volta para a casa em meus saltos cor de caramelo. —

~ 351 ~
Desculpa. Deixe-me trocar. — Sob a minha respiração, eu sussurrei: —
Tão idiota, — enquanto minhas bochechas queimavam.
Passos pesados correram, e quando ele agarrou meu pulso, me
girando, eu não pude nem mesmo olhar para ele.
Eu era uma idiota.
— Olhe para mim.
Eu balancei a cabeça. Seus dedos vieram ao meu queixo e
forçaram meu rosto até ele, mas fechei meus olhos enquanto a
humilhação continuava a percorrer através de mim.
— Anjo, — ele disse tão suave quanto um homem como Twitch
poderia. — Olhe para mim.
Outra sacudida da cabeça. — Eu me sinto estúpida.
— Você está linda. — Com isso, eu abri meus olhos para encontrar
seus lábios finos, e quando sua testa enrugou, ele passou o polegar
sobre meu pulso e revelou: — O problema é que eu não serei o único
cara a notar isso.
Meus olhos se estreitaram nele.
O que ele estava falando?
— Você está encarando isso muito bem, — eu disse com cautela.
— Eu estou... — Ele limpou a garganta, como se estivesse
tentando ejetar a irritação que sentia. — Estou trabalhando em meus
problemas de raiva.
Oh. Meu coração começou a inchar. Querido.
Meu rosto suavizou junto com a minha voz. — Eu posso me trocar.
Aqueles olhos perpetuamente encapuzados percorreram toda a
minha extensão e ele soltou um longo suspiro. — Você comprou esse
vestido para mim, então vai usar esse vestido, e eu vou calar a boca
sobre isso porque você está gostosa e estou com fome. — Ele puxou meu
pulso, me levando de volta para o carro. — Venha conhecer meu bebê.
Meus lábios se franziram.
Oh meu Deus.
Você está com ciúmes de um carro?
Talvez.

~ 352 ~
O elegante esportivo preto era tão brilhante, tão novo, que minhas
sobrancelhas se arquearam. — Ela parece cara.
— Ela foi, — foi tudo que eu recebi de volta.
Eu andei em direção a ela, passando os dedos leves pelo exterior, e
quando cheguei à parte de trás do carro, eu li em voz alta, — Maserati.
— Eu não sabia muito sobre carros, mas sabia que essa marca era uma
daqueles pela qual os caras perdiam a cabeça. Solenemente, eu dei um
sorriso que não alcançou meus olhos. — Quão cara?
Com isso, ele chegou a coçar a testa. — Estou faminto.
Sim.
Muito cara.
Revirei os olhos, mas permiti que ele abrisse a porta do passageiro
para mim, e quando deslizei para dentro, tive que admitir. O interior de
couro era lindo. E quando Twitch entrou no lado do motorista, eu o
encarei, sorrindo. — Ok, eu vou admitir. É legal.
— Sim, — ele concordou em voz baixa, saindo da garagem. — Por
duzentos mil, porra, deveria ser.
Meus olhos se arregalaram. — O quê? — E quando seus olhos
riram, eu gaguejei, — V-você está louco.
— Eu tenho dinheiro, baby. — Ele colocou o carro em movimento e
encolheu os ombros antes de olhar para mim de forma significativa, seu
tom quase acusador. — Você parou de descontar os cheques.
Os cheques.
Os cheques que ele enviava todo mês nos últimos seis anos.
Meu coração ficou preso na garganta, mas engoli o nó. — Eu tenho
dinheiro suficiente, Twitch. O suficiente para durar algumas vidas. Eu
não preciso de mais.
Estendendo a mão, ele pegou a minha na dele, colocando-a na
alavanca, e sua mão pousou na minha. Quando mudamos de marcha,
fizemos juntos. Ele manteve os olhos na estrada. — Dinheiro nunca é
demais.
— Sim é. Além disso... — eu disse a ele sinceramente, — Eu teria
desistido de tudo para ter você comigo.

~ 353 ~
Com o rosto na estrada, vi a expressão dele se tornar grave e,
quando ele falou, fez isso em voz baixa. — Eu sei.
Chegamos rápido à cidade e, por sorte, conseguimos um lugar bem
em frente ao restaurante italiano. Twitch deu a volta e abriu a porta do
passageiro para mim, oferecendo-me a mão, e quando a peguei, saindo,
ele trancou o carro com um clique de um botão e colocou a mão na parte
inferior das minhas costas, guiando-me para o restaurante.
Era bom estar juntos, só nós dois. Às vezes me perguntava se
teríamos tempo sozinhos entre a escola e o trabalho e ser pais. Eu
definitivamente me senti egoísta querendo Twitch só para mim, mas não
pude evitar. Eu ansiava por ele, desejava sua atenção em um nível que
era insalubre.
Sentando rapidamente, a jovem que trouxe os nossos menus
basicamente engoliu a língua quando se apresentou como nossa
garçonete. Ela arregalou os olhos para o Deus tatuado na minha frente e
tropeçou em suas palavras. — Olá, eu sou... Meu nome é... Eu sou
Adela, e serei sua... Eu vou servir vocês. — Suas bochechas arderam. —
Quero dizer, serei sua garçonete hoje. — Seus lábios se separaram
quando ela olhou para o meu companheiro bonito, e ela guinchou: —
Vocês gostariam de saber os especiais de hoje?
Twitch estreitou os olhos para ela. — Não.
— Ok, — ela respirou antes de virar e desaparecer.
— Bem. — Eu olhei para o menu, falando baixinho. — Você
certamente chamou a atenção dela.
— Eu não quero a atenção dela, — ele respondeu baixinho, e
quando eu olhei para ele, seus olhos examinavam o menu. Um momento
depois, ele olhou para mim através do seu olhar encapuzado. — A sua é
o suficiente.
Ah, merda.
Meu maldito coração.
— Talvez eu quisesse saber os especiais, — eu resmunguei e vi
seus olhos sorrirem.
— Quer que eu a chame de volta?

~ 354 ~
— Não, — eu suspirei, em seguida, tentei não rir. — Ela parecia
que estava à beira de um derrame, — soltei uma risada.
Ele me observou atentamente, um sorriso puxando seus lábios
antes de sua expressão se tornar solene, e quando ele falou, as palavras
fecharam minha garganta, me sufocando. — Quer se casar?
Eu pisquei para ele quando o cardápio caiu das minhas mãos. —
O quê? — Confusão me atingiu quando sua pergunta assentou sobre os
meus ombros como um cachecol quente. Eu engoli em seco e minha
boca se abriu antes de minhas sobrancelhas franzirem, e eu perguntei:
— Hoje?
Seus lábios se franziram. — Por que não?
Hummm, o quê?
Meu coração estava acelerado e achei difícil respirar. — Eu nunca
sei se você está falando sério ou não, e este é um daqueles momentos
que eu preciso saber... — As palavras saíram ofegantes. — ...se você está
falando sério ou não.
— Quando se trata de você, baby, eu estou sempre falando sério.
— Ele examinou meu rosto por um momento, antes de afirmar: — Eu
não sou um homem difícil de agradar. Eu não quero muito na vida. Eu
não estou pedindo muito, anjo.
— O que... — A pergunta saiu em uma expiração. — O que você
está pedindo?
Sem brincadeiras. Eu precisava que ele fosse claro comigo.
Ele pensou sobre isso, seu rosto sério. — Eu quero meu anel no
seu dedo. Quero que você tenha meu nome. Quero acordar com meus
braços ao seu redor e meu pau enterrado bem fundo nessa bela boceta
toda maldita manhã.
Ah merda. Eu também queria isso.
Mas então ele continuou, respirando fundo e soltando lentamente
enquanto seus suaves olhos castanhos me prenderam. — Eu quero que
você me queira, e quero que me mostre isso a cada chance que você
tiver. Eu quero lealdade. Eu quero devoção completa e total. Nenhuma

~ 355 ~
besteira. Eu quero compartilhar tudo com você. Tudo baby. Sem
segredos.
Minha boca se abriu quando soltei um suspiro agudo.
Porque isso não soou alarmante.
Não.
De modo nenhum.
Ele assistiu a minha reação. — Eu quero que você se entregue a
mim abnegadamente, e quero que faça isso porque sabe que não importa
o quão longe eu leve, quão desconfortável te faça, você confia em mim
sobre seus limites, confia em mim para mantê-la segura. Eu quero que
você sinta o quanto quero você também, e estou trabalhando na minha
ganância, mas sou um homem egoísta por natureza. — Ele terminou
com, — Eu quero tudo.
Eu esperei um momento antes de responder, e o sarcasmo vazou
da minha declaração enquanto eu ampliava meus olhos e trabalhava em
respirar de forma constante. — Não é pedir muito?
Com isso, ele soltou uma risada áspera, e quando deu aquele
sorriso torto que eu amava tanto, derreti por dentro. Seu sorriso
suavizou quando ele disse: — Diga você mesmo, baby. Você é meu feliz
para sempre.
Meu coração triplicou de tamanho.
Twitch estava louco.
Lindo e louco.
E tudo o que ele queria, eu também queria. Mas isso era demais,
rápido demais.
— Eu... — as palavras foram sussurradas. — Eu não sei,
querido. Faz apenas dois meses e meio e mal chegamos...
Ele puxou uma caixa de anel de veludo preto e colocou na mesa
entre nós.
— Oh meu Deus. — Eu soei estrangulada. — Você comprou um
anel, seu bastardo convencido. — Eu forcei uma risada sem graça e meu
joelho saltou sob a mesa. — Não. — Eu balancei a cabeça. — Não, não.
— Meu olhar estava pesado na pequena caixa me provocando no centro

~ 356 ~
da mesa. — Não. — Mas quando eu disse isso, peguei a caixa do anel e a
puxei para frente, encarando-a sem piscar.
E quando eu abri, minhas sobrancelhas franziram em decepção.
— Está vazia.
Twitch fez uma careta. — É? — Ele girou a caixa para ele e
murmurou: — Huh. Estranho. — Estendendo a mão por cima da mesa,
ele pegou minha mão esquerda e gentilmente a levou à boca,
pressionando um beijo nos meus dedos e falando contra a minha pele. —
Ah, olhe para isso. — Ele trouxe a outra mão para cima. — Eu encontrei.
Meu coração gaguejou quando o anel de ouro apareceu entre seus
dedos. Ele manteve os olhos em mim enquanto deslizava suavemente em
meu dedo, e quando eu puxei minha mão trêmula para trás, segurando-
a na minha frente para olhar para o anel fino e recatado com um único
diamante no centro, eu segurei minha respiração por um longo tempo.
Quando soltei um suspiro trêmulo, ouvi-o dizer: — Achei que você
não gostaria de algo chamativo.
Eu não gostaria. — É perfeito, — eu disse baixinho, quase com
tristeza, e quando abri a boca para falar, ele me cortou com um aceno de
sua mão.
— Está tudo bem. Eu sei que você está muito hesitante, e eu
entendo, então não tomaremos nenhuma decisão hoje. Eu só tenho que
deixar claro que este é o objetivo final e estou calmamente confiante.
Oh! Graças a deus.
Eu não confiava em mim mesma tomando uma decisão neste
segundo porque, se fizesse, nós provavelmente nos casaríamos ao
anoitecer.
Assentindo, olhei para o anel mais uma vez antes de colocar meus
dedos nele, tirando-o. Mas ele me parou com: — Por que você não deixa
isso por um tempo? — Meus olhos encontraram os dele e uma única
sobrancelha se levantou, quando ele acrescentou: — Veja se você gosta.
Isso soou razoável o suficiente.
Tudo certo.

~ 357 ~
— Sim, tudo bem, — eu disse, deslizando o lindo anel de volta,
mas adicionei rapidamente, — Só para, você sabe, testar o tamanho.
Os cantos dos olhos dele se enrugaram. — Claro baby.
A doce e pegajosa resposta me disse que eu não estava enganando
ninguém e ele sabia muito bem que eu queria usar o anel porque queria
ser dele tanto quanto ele queria me reivindicar por conta própria. Eu era
covarde demais para admitir isso.
Durante o almoço, eu não conseguia parar de olhar para o anel, e
toda vez que meus olhos pousavam sobre ele, eu sorria
inconscientemente. Foi tudo que eu sempre quis para nós, tudo que
imaginei em minha mente, em meus sonhos.
Por que eu estava com tanto medo de transformar esse sonho em
realidade?
Saímos do restaurante de mãos dadas e, quando o Twitch colocou
as chaves na ignição, o carro atrás de nós começou a buzinar. Eu me
contorci para trás, olhando para o Lexus cinza-escuro quando ele
buzinou de novo.
Twitch olhou para o espelho retrovisor, a mandíbula apertada. —
Que porra esse palhaço está fazendo? — Outra buzinada, e Twitch
fechou os olhos, rangendo os dentes. Ele abaixou a janela e jogou o
braço para fora, acenando para o carro. — Passe, idiota.
Mais buzina, por mais e mais tempo, e quando o Twitch saiu do
carro parecendo pronto para matar, eu sussurrei: — Oh, merda.
Eu ouvi seu discurso irritado: — Você quer um problema,
amigo? Bem, você tem um agora. Saia da porra do carro.
Meu coração disparou enquanto eu observava, com os olhos
arregalados e petrificada.
A porta do carro se abriu e um homem alto de cabelos escuros e de
meia-idade saiu, e ele não parecia com medo de Twitch. De fato, quando
ele avançou, com o rosto tenso, ele fez questão de se aproximar de
Twitch, muito perto.
E quando o ombro de Twitch relaxou, ele sacudiu a cabeça devagar
e disse: — Eu deveria saber.

~ 358 ~
O homem na frente de Twitch sorriu e Twitch devolveu. Quando
eles se aproximaram, se abraçando e dando tapinhas nas costas um do
outro, rindo, eu estava um pouco confusa. Eles recuaram, olhando um
para o outro, falando em voz baixa, alegremente, e essa confusão
aumentou um pouco quando Twitch voltou para o carro e sorriu
alegremente. — Eu quero apresentá-la a alguém.
— Ok, — eu disse, soltando o cinto e saindo do carro tão
graciosamente quanto se poderia em um minivestido.
No momento em que saí, Twitch estava ao meu lado, me puxando
para perto, e o homem sorriu largamente, me olhando de cima a baixo
antes de falar em um leve sotaque eslavo: — Como diabos você
conseguiu essa coisa linda, seu desgraçado feio??
Oh meu. Ele era tão encantador, e quando sorria como estava,
todos olhos e dentes, fazia algo engraçado no meu estômago.
Uma risada atordoada me deixou, e quando o homem estendeu a
mão, eu coloquei minha mão na dele e pisquei enquanto ele beijava
meus dedos.
Twitch não gostou disso.
— Ei, Pav. Você gosta da sua mão, cara? — Quando o tal Pav se
virou para encarar Twitch, meu homem bonito declarou: — A menos que
você queira perdê-la, eu soltaria.
Pav sorriu então, soltando minha mão gentilmente e erguendo as
mãos em sinal de rendição antes de dizer: — Pare de me chamar de
Pav. Você me faz soar como uma porra de sobremesa. O homem se virou
para mim. — E eu não sou tão doce, docinho. — Seus olhos estavam
quentes. — Eu sou Luka.
Mas Twitch me puxou de volta para o lado dele, e eu caí nele
com força. Ele teve a coragem de falar por mim. — Luka Pavlovic, esta é
minha esposa, Lexi.
Filho da puta.
Lentamente, eu recuei para piscar para o meu bonito e idiota, e
seus olhos sorriram para mim. Olhando para Twitch, falei com Luka. —
Eu não sou esposa dele.

~ 359 ~
— Esse é um belo anel que você tem aí. — Luka olhou para a
minha mão esquerda. — Ele deu isso para você?
Hum. — Bem, sim.
As sobrancelhas de Luka se levantaram. — E você está usando
isso livremente?
Espere. — Sim mas...
Luka sorriu, interrompendo-me na verdade: — Então você é esposa
dele.
O quê? — Agora espere um minuto. — Eu me virei para Twitch,
levantando minha mão e empurrando seu ombro, parecendo
chateada. — Você armou isso?
Os olhos de Twitch brilharam para mim antes de levantar o rosto
para Luka. — Ela não é algo?
O olhar de Luka se lançou entre nós. — Eu nunca vi uma mulher
colocar as mãos em você e viver para contar a história, então... — Ele
assentiu, parecendo completamente perplexo. — ...sim. Ela é algo, tudo
bem.
— Sim, — eu murmurei. — Ela é algo. — Meus olhos se
estreitaram em Twitch. — Ela está chateada é o que ela está.
Os dois homens riram e eu não consegui ver o humor nessa
situação.
Depois de um momento, Luka suspirou, observando Twitch com
cuidado. — Ouvi que você estava de volta. Eu não acreditei nisso. — Seu
rosto ficou sério. — Não são muitos os homens que retornam da
sepultura parecendo tão bem quanto você. — Twitch e Luka trocaram
um olhar de compreensão e Luka se livrou de seu estupor. — Então,
quando vi você agora, achei que estava imaginando coisas. — Ele deu de
ombros, sorrindo. — Eu tive que dar uma olhada mais de perto. E aqui
está você, meu irmão.
O rosto de Twitch se suavizou quando ele olhou para mim. — Tive
motivos para fazer o que fiz.
Os olhos de Luka se estreitaram em Twitch um momento antes
dele olhar para mim, com um olhar pesado. — Sim. Eu posso ver isso. —

~ 360 ~
Ele se endireitou. — Então. — Ele bateu palmas, esfregando as mãos
com avidez. — Você voltou.
Twitch balançou a cabeça devagar. — Estou de volta, Pav, mas não
estou de volta.
A testa de Luka se enrugou. — Você está fora?
— Eu estou fora, — ele afirmou com firmeza, e o nó no meu
estômago aliviou. — Tenho uma esposa. Tenho um filho. Eu não quero
voltar. Tenho merda mais importante para pensar além de me proteger
vinte e quatro horas por dia.
O homem não pareceu impressionado. — Você sabe que não é tão
fácil, Twitch.
— É... — Twitch avaliou o homem antes de redefinir seu tom
perigoso. — ...se eu disser que é.
A conversa continuou, e eu não entendi metade do que foi dito.
— As pessoas vão falar.
— Deixe-os falar.
— A notícia vai se espalhar.
— Eu não me importo, — foi a resposta contundente de Twitch.
— Tecnicamente, o trono ainda é seu.
— Estou falando em inglês, Pav? — Twitch ficou positivamente
indignado. — Ouça-me, meu irmão. — Seu braço apertou ao meu redor,
e quase parecia que ele estava buscando a força para permanecer
calmo. — Eu estou fora.
— Foda-me. — Luka suspirou antes de afirmar acusadoramente:
— Você está fora. Julius está fora. Happy está fora. — Ele olhou para
Twitch. — É engraçado que quando todos vocês precisaram de merda, eu
estava lá com o que diabos precisavam, e agora a merda está indo para o
buraco no meu reino, nenhum de vocês, filhos da puta, está por perto
quando preciso de vocês.
Twitch ficou quieto com isso. — O que você quer dizer com merda
indo para o buraco?
Luka suspirou, fechando os olhos. — O corpo de Aslan Sadik foi
encontrado esta manhã no porto, uma bala nas costas. Os Lost Boys

~ 361 ~
querem respostas, e eu estou tentando dar isso a eles. Eles estão de luto,
e isso os tornam voláteis. — O queixo de Luka ficou rígido. — Há
rumores por aí. — Ele olhou em volta antes de continuar: — Sobre um
relacionamento que ele poderia ter tido com alguém com quem não
deveria ter.
— Ling. — Foi uma resposta grave.
E quando meu corpo endureceu ao lado do Twitch, o lábio de Luka
se curvou. — Parece saber muita merda do submundo para alguém que
está fora. — Quando o olhar de Twitch escureceu, Luka acrescentou: —
Só estou dizendo. — Ele olhou para os sapatos, antes de dizer: — Tenho
certeza que ela fez isso, mas ninguém viu nada e, quando liguei para
interrogar a Rainha Dragão, o irmão dela deu-lhe um álibi. — Luka
ergueu os olhos para Twitch. — Disse que eles estavam juntos a noite
toda. — Ele lambeu os lábios e olhou para mim por um momento antes
de esclarecer: — Na cama.
Meu estômago revirou.
Ling estava transando com o irmão dela?
Oh meu Deus. Nojenta.
Meu rosto deve ter transmitido meus sentimentos sobre isso,
porque Luka balançou a cabeça, iluminando: — Até onde sabemos, é
uma mentira. Van vai dizer e fazer qualquer coisa para manter sua irmã
segura. E ele iria muito longe para fazer isso.
Ainda assim... ew.
Twitch parou por um longo momento, antes de dizer: — Eu não sei
o que dizer a você, cara.
Luka observou-o de perto. — Por que você não começa me dizendo
o que diabos você e seus meninos estavam fazendo na casa de Asya
Sadik há algumas semanas?
Meu olhar pesado pousou em Twitch, e quando seus olhos
encontraram os meus, ele não se contorceu nem se mexeu. Ele parecia à
imagem da inocência. Felizmente, eu o conhecia bem.
Seu ombro sacudiu indiferente. — Uma visita amistosa. Só queria
empurrar meu velho amigo Az na direção certa, longe das garras de uma

~ 362 ~
porra de Víbora. E talvez achasse que lhe dar um susto como esse faria
isso.
Eu ouvi as palavras, mas sabia que você não visitava amigos no
meio da noite carregando armas.
— Ah, Twitch, — Luka gemeu. — Seu idiota do caralho.
Eu não pude evitar. — Ei. — Quando os olhos do homem irritado
se voltaram para os meus, de repente fiquei autoconsciente. Eu me
pressionei contra o lado de Twitch mais por medo do que uma
demonstração de apoio e falei fracamente: — Não fale com ele desse jeito.
Para minha surpresa absoluta, a expressão chocada de Luka se
transformou em um sorriso largo, e quando ele olhou para Twitch, o
homem ao meu lado pressionou seus lábios contra a minha testa. Eu
senti o seu sorriso contra a minha pele. — Viu? — A palavra suavemente
falada aqueceu minha pele. — Sólida.
Levou um momento, mas o sorriso de Luka caiu. — Se eu precisar
de você, vou chamá-lo.
Eu não gostei do tom que ele usou. Soava como uma ordem, e isso
me preocupava. Inconscientemente, minha mão subiu para descansar no
peito largo de Twitch e meu rosto ficou solene.
— Estou fora, Luka, — foi toda a resposta que o homem recebeu.
E enquanto ele andava de costas para o carro, eu vi o perigo em
Luka Pavlovic quando seu rosto escureceu, e ele disse ao meu homem: —
Você está fora quando eu disser que está fora. — Ele sorriu, mas foi
deformado. — Você não ouviu, irmão? — Aquele sorriso desapareceu, e
ele murmurou severamente, — Eu sou o maldito rei agora.
O carro rolou, deixando-nos na rua comigo agarrada a Twitch,
sentindo como se estivesse prestes a perder o homem que acabei de ter
de volta. E fiquei chocada ao perceber que não ia deixar isso acontecer
novamente.
Não de bom grado.

~ 363 ~
CAPÍTULO TRINTA E DOIS
Twitch

— Preciso que você ligue para o seu cara para mim, — eu disse
quando Molly sentou-se à mesa de jantar com o tornozelo descansando
em seu joelho, tomando seu café.
Seu rosto franziu. — Qual cara?
Vamos, Molly. Não vamos jogar essa besteira agora.
Eu revirei meus olhos e depois suspirei. — Você sabe qual cara. O
enorme filho da puta maori.
Seus olhos pousaram em mim, e os lábios dela se separaram
ligeiramente. Um momento se passou e ela balançou a cabeça. — Não.
Encostando-me a parede, arranhei minha mandíbula irritada e
falei, — não foi realmente um pedido.
— Não, — ela afirmou com mais firmeza antes de se levantar e
tentar sair correndo da sala.
Ela foi rápida.
Eu fui mais rápido.
Minha mão disparou, agarrando seu braço com força, parando-a
em seu caminho. Seu olhar mortal pousou na minha mão antes que ela
lentamente olhasse para mim, seu lábio se curvando, e eu sorri quando
ela me atirou um olhar frio.
— Tire sua mão de mim. — Ela era uma cadela, nossa Molly. E
isso era bom. Isso nos serviria bem. Ela tentou sair do meu aperto e
cuspiu: — Ele deixou o irmão estuprar minha irmã.
Pássaro bobinho. — Ele não fez nada e você sabe disso. O que
aconteceu não teve nada a ver com Tama, mas você está machucada,
então quer fazer dele o inimigo. — Meu abraço afrouxou nela, mas ela
não fugiu. Eu assisti seu rosto cair enquanto ela ouvia as palavras que
falei. — Vocês dois perderam alguém importante. Vocês estão chateados,

~ 364 ~
e se falarem sobre isso, perceberá que ambos têm algo a se desculpar. —
Eu a soltei então. — Mas nenhum de vocês é culpado.
— Eu matei o irmão dele. — Molly piscou as lágrimas, recusando-
se a deixá-las cair, e eu a respeitava por isso. — Ele nunca vai me
perdoar.
Foi quando a voz baixa de Lexi penetrou no silêncio. — Oh,
querida. — O rosto da minha mulher estava desolado quando ela se
moveu instintivamente para Molly e colocou os braços em volta dela por
trás, descansando a testa na sua cabeça. — Eu não sabia. — Os olhos de
Lexi se fecharam enquanto lidava com o que acabara de ser revelado a
ela. E firme como era, apertou Molly com força e murmurou: — Sinto
muito.
Molly se virou e permitiu que Lexi cuidasse dela, e isso me
atingiu. Ambas as mulheres eram partes importantes do meu
passado. Era engraçado como o passado se repetia, nos
unindo, forçando-nos uma aproximação como se todos pudéssemos
desempenhar um papel significativo no futuro um do outro.
Lexi se afastou, com os olhos tristes, e olhou para Molly, mantendo
os braços ao redor dela. — Você não tem que ligar para ele, ok?
Meu rosto enrugou.
Hum sim. Ela tem.
Mas, meu lindo anjo, me surpreendeu quando acrescentou: — Mas
eu sei que Twitch não pediria isso a você se não fosse importante,
querida. Então... — Ela passou os dedos pela lateral da bochecha macia
de Molly. — Você não precisa, mas... — Seus olhos pousaram em mim
por um momento antes de ela continuar gentilmente. — ...Gostaríamos
que fizesse.
Quase imediatamente, Molly soltou um rouco: — Vou ligar para
ele.
E Lexi se inclinou, pressionando os lábios na testa da pequena
garota. Ela fechou os olhos e os segurou lá por um longo tempo antes de
responder sincera: — Obrigada. Eu sei que isso não vai ser fácil, mas
estarei bem aqui com você, ok? — Os olhos abatidos de Molly se

~ 365 ~
ergueram para os dela, e Lexi sorriu calorosamente para a pequena
mulher. — Eu não vou a lugar nenhum.
Molly assentiu com a cabeça, sua expressão de desespero, e o
brilho infantil em seus olhos forçou um traço de proteção fora de mim
que eu não senti com ninguém além do meu filho e sua mãe.
— Ligue para ele, — eu disse enquanto me empurrava para fora da
parede. — Diga a ele para vir sozinho.
Eu tinha um mau pressentimento. Um sentimento que me dizia
que algumas pessoas precisariam ser sacrificadas para manter minha
família segura. Eu me afastei, precisando controlar meu tumulto
interno. Porque eu não podia proteger a todos.
O silêncio era espesso, pegajoso, mantendo nós quatro congelados
sentados à mesa. E quando meus olhos se afastaram do enorme monstro
em forma de homem com o rosto tatuado para a minúscula e delicada
pálida mulher com lábios amuados, eu não pude deixar de sorrir
internamente, porque nos dez minutos que estivemos aqui, eles só
tinham olhos um para o outro.
Enquanto Lexi permanecia sentada por Molly, ela me lançou um
olhar que dizia: — Oh meu Deus, isso é tão estranho, — e ouvi essa
merda sussurrada em meu ouvido. Limpando minha garganta, virei
meus olhos para o homem e segurei-os lá. — O que você sabe sobre os
Dragons?
O olhar sombrio de Tama não saiu de Molly quando ele disse: — O
preço desse bate-papo vai te custar caro.
A maneira suave como ele disse me fez perceber que ele não estava
falando comigo. Meus olhos se estreitaram em Molly e observei o pânico
se instalar.
Decidi deixar claro que — Molly não trabalha para você, Tama. Ela
trabalha para mim, e não tenho nenhuma intenção em deixá-la voltar ao
rebanho. — Ele se virou para mim, e se eu não fosse quem era, tendo
visto a merda que tinha visto, o acharia um homem
assustador. Felizmente, suas táticas de intimidação não me atingiam em

~ 366 ~
nada. — Especialmente não depois da merda que você fez na última vez
que a chamou.
Seu olhar mortal pousou sobre ela mais uma vez, e sua resposta
foi áspera, baixa. — Nunca disse que a queria para trabalhar.
Meu estômago se apertou de raiva, dolorosamente. — Não vou
deixá-lo se aproveitar da minha menina também, então se esse é o plano,
você pode aproveitar esta oportunidade e dar o fora da minha casa.
Tama não falou por muito tempo, mas notei o modo como as mãos
dele se fecharam em punhos, depois abriram constantemente, antes que
ele dissesse: — Que oportunidade?
Eu sorri internamente.
Peguei-o.
— Eu ouvi dizer que você tem um cara. Um cara que faz
vigilância. E ouvi dizer que ele é bom.
— Amoho. — O peito de Tama estufou com orgulho. — Ele não é
bom. Ele é o melhor.
Sua confiança falou volumes. — Eu preciso que ele fique de olho
em Ling Nguyen.
Mas Tama já estava balançando a cabeça. — Não, cara. Nós não
fodemos com os Dragons. — Ele piscou para a mesa. — Eles são
loucos. Nenhuma regra se aplica. Aquela rainha deles tem um parafuso
solto na cabeça. Os comanda com raiva. — Seus lábios se curvaram. —
Repugnante. Vergonhoso. — Ele respirou fundo antes de balançar a
cabeça mais uma vez. — Eu não vou deixar meus homens morrerem por
você, e é isso que vai acontecer se aceitarmos esse trabalho.
— Não se eu matá-la primeiro, — eu falei, e maldição se isso não
chamou sua atenção. — Os Dragons são uma dor na bunda de todo
mundo, e eu planejo forçá-los a se dissolver. — Oh, sim, ele estava
ouvindo, tudo bem. — Você me ajuda aqui, o território deles é seu.
Era território nobre. Um ponto da cidade que ninguém além dos
Lost Boys mantinha.
Sim. Tama estava ouvindo.

~ 367 ~
Eu não acho que ele entendeu como isso funcionava porque a
porra do cara sentiu necessidade de negociar. — Eu ainda quero Molly.
Uma pequena risada me deixou. — Você não pode tê-la. — Minha
alegria desapareceu a nada e mostrei isso. — Você ganha o território ou
não ganha nada. Mas filhos da puta gananciosos também recebem um
presente de despedida, — eu disse a ele. — Um buraco grátis na cabeça.
Com isso, o homem gigante realmente deu um sorriso. Ele pareceu
contemplar minha oferta, e fez isso muito antes de se levantar e dizer: —
Vou falar com meus homens. Voltarei com uma resposta. — Eu me
levantei e o levei para fora da cozinha, mas quando ele de repente se
virou para encarar Molly, ele parou por um segundo, depois murmurou:
— Vem?
Dizer que ela ficou atordoada era um eufemismo. Suas
sobrancelhas franziram, parecendo que ela estava com uma enorme
quantidade de dor, e sua boca se abriu em descrença, mas ela não se
moveu.
O gigante Maori observou-a um momento antes de seus lábios se
estreitarem, e ele assentiu em compreensão antes de continuar saindo
pela porta. O que ele não viu foi Molly se levantar.
Eu a parei: — Você não vai.
Ela parecia completamente abalada, como se estivesse sendo
puxada em diferentes direções e quisesse seguir todas.
— Molly, você tem vinte e dois anos. Ele tem a minha idade, — eu
disse severamente. — Você não pode ir com ele. — Quando seus olhos se
estreitaram em mim, eu engoli uma risada, mas balancei a cabeça,
murmurando: — Eu não vou permitir isso, menina. Sente sua bunda na
cadeira.
E quando seus olhos brilharam e ela rosnou: — Foda-se! — Ela
correu para o seu quarto um momento antes de voltar com sua bolsa.
Eu forcei um longo suspiro. — Volte aqui, Molly.
Mas ela me ignorou, correndo atrás dele. — Tama!
A porta da frente se fechou, e da janela, Lexi e eu assistimos
enquanto Tama virava justamente quando Molly se lançou nele, e no

~ 368 ~
segundo em que ele a pegou, seus lábios se encontraram em um beijo
duro e desesperado que me fez sorrir em vitória.
Do meu lado, Lexi parecia irritada. — Não cabe a você decidir com
quem ela está, Twitch. Ela o ama e... — Quando ela me encarou, seus
grandes azuis se estreitaram em meus lábios. — Por que você está
sorrindo?
Meu bebê.
Deus, ela era linda.
Movendo delicadamente seu cabelo para trás da orelha, continuei
sorrindo, quando afirmei: — Não finjo saber muito sobre as mulheres,
mas sei de uma coisa. Elas não gostam quando você lhes diz o que
fazer. Ou ficar longe de alguém que elas querem.
Eu vi o momento exato em que ela entendeu. Seus olhos se
arregalaram e ela mergulhou o queixo para esconder o sorriso, e quando
finalmente olhou para mim novamente, seus olhos estavam cheios de
alegria. — Seu merda sorrateiro. Você fez tudo isso... disse tudo isso de
propósito, sabendo que ela iria até ele.
Tama carregou Molly até o carro dele, beijando-a como se ela fosse
ar e ele estivesse morrendo de vontade de respirar de novo. Totalmente
zombando, eu disse: — Oh não. Molly, volte.
Lexi inclinou a cabeça para trás e riu alto, e eu sorri para seu
rosto corado e sorridente antes do meu olhar aquecido pousar em seus
lábios carnudos. — Eu preciso dessa boca, mamãe.
Seus olhos brilharam um pouco antes de se tornarem luxuriosos, e
eu amei como, depois de todo esse tempo, ainda éramos tão afetados um
pelo outro quanto no começo. — Só minha boca? — Ela parecia
desapontada.
Eu balancei a cabeça lentamente quando peguei a mão dela,
puxando-a para perto. — Toda jornada precisa de um ponto de partida.
Um som abafado me deixou quando seus dedos gananciosos
saíram para esfregar meu pau através do meu jeans. Com a voz ofegante,
ela soltou um abafado: — Você não vai me repreender?
Ela queria ser repreendida.

~ 369 ~
Foda-me. Ela era perfeita.
Mas hoje eu só queria o meu doce anjo sorridente. Só ela. E eu
queria tudo dela. — Toque-me.
Andando de costas pelo corredor, eu mantive meus olhos nela, e
ela manteve a pequena mão no meu zíper. Quando abaixei o rosto para
beijá-la, ela recuou alegremente, sorrindo enquanto evitava meus lábios,
e meu coração fez essa estranha coisa nervosa.
Hã.
Isso era diferente.
Sempre que eu estava perto dessa mulher, não conseguia manter
minhas mãos longe dela ou minha calça.
No segundo em que estávamos no quarto, coloquei minhas mãos
na parte de baixo do vestido de algodão que ela usava e o tirei, e a visão
dela em sua minúscula calcinha de renda e sutiã branco combinando...

***

Lexi

Ele estava ali há muito tempo. Eu estava começando a ficar


nervosa.
— Querido? — Minhas sobrancelhas franziram levemente.
O que havia de errado com ele?
De repente, ele franziu a testa e engoliu em seco, em seguida,
piscou e estava de volta. Mas quando ele pegou o telefone e o apontou
para mim, eu levantei minha mão com um suspiro, quase derrubando o
celular de suas mãos.
— Não tire fotos de mim. — Totalmente indignada, eu assobiei, —
Não assim.
Ele teve a ousadia de parecer irritado. — Por que não?
— Eu estou...
Ah não.

~ 370 ~
Meus olhos se fecharam com força, e as inseguranças com as
quais tinha lutado desde que tive AJ retornaram plenamente. Eu cobri
meu estômago com uma mão espalmada, totalmente envergonhada, e
então sussurrei: — Eu não sou a mesma. — Eu disse isso de uma forma
que ele não podia interpretar mal o significado.
E ele entendeu.
Dando um passo à frente, seu comprimento duro pressionou meu
quadril. Olhando para mim significativamente, ele soltou um som
áspero: — Isso parece decepção para você?
Não.
Parecia minha ruína.
Inesperadamente, minha boca se abriu e todas as palavras voaram
para fora. — Eu não sou tão magra como era.
— Eu gosto de você assim.
— Eu tenho uma barriga.
Ele zombou. — É dificilmente uma barriga.
— Minha bunda está maior.
Com isso, ele sorriu, deslizando a mão pelo meu quadril para
apertar uma bochecha arredondada. — Eu sei.
Idiota.
Sentindo-me direta, continuei: — A gravidez deixou meus peitos
enormes. Olhe. — Eu pressionei meus braços neles para fazer o meu
ponto, e quando os globos se projetaram obscenamente, pisquei para
ele. — Viu? — Seus olhos estavam em meus seios, e quando passei a
mão pelo meu cabelo, suspirando em irritação, eu disse: — Não é justo
que eu fique assim quando você parece... — Eu gesticulei com o braço
para o corpo dele. — ...assim. — Eu continuei, — eu malho. Eu corro. Eu
faço yoga. Não importa o que eu faça; essas curvas não querem me
deixar. — Quando seus olhos enrugaram nos cantos, eu revelei
tristemente: — Elas se sentiram em casa e, aparentemente, não vão a
lugar algum.
— Bom, — foi a resposta que ele deu.
Meus olhos se estreitaram. — Você está me ouvindo?

~ 371 ~
Ele suspirou. — Eu estou escutando, anjo. Eu só não dou a
mínima, isso é tudo. — Assim que um suspiro aquecido me deixou, ele
abriu aquele sorriso maravilhosamente torto, e proferiu: — Eu ouço suas
preocupações, mas eu sou um homem. Eu amo curvas. Curvas em você
então? — Um rosnado estrondoso soou baixo em sua garganta e seus
olhos fecharam. — Boom.
Bem, merda.
Boom.
Eu gostei disso.
— Eu só estou um pouco insegura é tudo, e...
Ele se inclinou e me cortou, capturando meus lábios em um beijo
firme e potente que me deixou positivamente inebriada, e quando ele se
afastou, seus olhos estavam quentes, quando ele proferiu baixinho, —
Cale a boca, baby.
— Ok, — foi a minha resposta ofegante.
Com um empurrão suave, eu caí de costas na cama e ele subiu em
cima de mim. Meus olhos se arregalaram quando olhei para baixo da
cama em meus chinelos amarelos brilhantes. — Você quer que eu deixe
o Pikachu? — Seus lábios pousaram ao lado do meu pescoço e eu sorri
suavemente, soltando um pequeno encolher de ombros. OK. — Como
você quiser.
— Eu quero você, — foi definitivamente a resposta correta, e eu
senti essas palavras no fundo da minha alma enquanto ele chupava a
área delicada onde o pescoço encontrava o ombro, marcando-me.
Meus olhos fecharam em êxtase e eu levantei minhas mãos para a
parte de trás de sua cabeça, precisando que esse homem lindo me
deixasse outra carta de amor marcada na minha pele, para não esquecer
como ele se sentia sobre mim.
Com cada beijo, com cada toque suave de sua língua na minha, ele
enviou mensagens furtivas. Mensagens secretas significativas apenas
para mim.
Você é a razão pela qual eu respiro.
Eu faria qualquer coisa para te fazer feliz.

~ 372 ~
Eu te amo.
E eu devolvi a ele.
Eu vivo por você.
Eu mataria por você.
Eu te amo mais.
Tendo vivido em muitos lugares na minha vida, em nenhum lugar
me senti mais em casa do que nos braços de Antonio Falco.
Isso era muito assustador.
Quando de repente ele pegou minha mão esquerda, olhando para o
anel que eu continuava usando, ele manteve os olhos no diamante
cintilante, mas disse: — Sempre encontrarei o caminho de volta para
você.
Sim. Ele faria.
Mas meu coração gaguejou porque parecia triste vindo de um
homem que não era inocente, e isso me preocupou.
— Nós vamos nos casar, — eu disse a ele enquanto minha
garganta se tornava espessa de emoção. E eu não sei exatamente onde
estava indo com isso. Talvez eu apenas precisasse lançar o lembrete lá
fora.
E quando ele balançou a cabeça, meu coração se apertou, mas o
que ele disse fez minhas entranhas se desfazer. — Não importa o que as
pessoas digam. Não importa o que a lei diga. Se eu te chamar de minha
esposa, então você é minha esposa. Mas se você quiser tornar oficial,
podemos fazer isso, baby. — Ele beijou meus dedos. — Até onde eu sei,
você é a Sra. Antonio Falco.
Eu pisquei para aqueles olhos que aqueciam nos meus braços. Eu
usei minhas mãos livres para emoldurar seu rosto. Passei meus
polegares pelas suas bochechas ásperas, acariciando-as amorosamente
porque ele era precioso para mim.
Sussurrando, confessei: — Estou com medo.
Ele não respondeu, simplesmente assentiu, e eu sabia que
estávamos na mesma sintonia.

~ 373 ~
Abaixando a cabeça para o vale entre meus seios, ele deitou em
mim com os braços a minha volta enquanto eu acariciava seus cabelos,
abraçando-o com força, alimentando-o do conforto que ele tão
desesperadamente precisava.
Porque o passado de Twitch estava nos alcançando.
Eu só esperava que tivéssemos um pouco mais de tempo juntos
antes de finalmente sermos pegos.
Fizemos amor lentamente à tarde, sem pressa, com os nossos
lábios nunca longe dos do outro, e foi tudo.
Algo mudou com aquela sessão de amor suave, e não sei o que
exatamente, mas no fundo senti que era um bom tipo de
mudança. Como se o homem complexo ao meu lado se abrisse para mim
completamente. E quando nos deitamos nus com minha perna enlaçada
nas dele, Twitch me puxou para o seu lado antes de pegar minha mão e
segurá-la na boca.
O doce gesto fez meu coração inchar e, naquele momento, senti-me
verdadeiramente estimada.
Na quietude do ambiente ao nosso redor, mantive meus olhos
fechados e falei baixinho. — Eu quero mais filhos.
Eu senti a boca de Tony se curvar em um sorriso contra a minha
mão.
E tive certeza que ele sentiu meu sorriso respondendo contra seu
peito.
Quando eu gentilmente coloquei minha mão em seu peito sobre o
coração, ele colocou seus lábios na minha testa, e pronunciou
suavemente: — Tudo o que meu bebê quiser.
Meu peito doeu quando meu coração foi de cheio a explodir. — Eu
te amo.
Ele pressionou seu rosto no meu, seus lábios beijando suavemente
onde quer que pudessem alcançar, e fechei meus olhos, absorvendo o
amor que ele dava, assim como as palavras não ditas que ele
falou. Porque Twitch deixou suas ações falarem por ele.
E eu gostei do que elas estavam dizendo.

~ 374 ~
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS
Ling

— Eu não quero mais ficar aqui.


Cansada de ser pajeada, levantei-me e deixei meu quarto. Mas o
homem enlouquecedor a quem eu chamava de irmão me impediu,
colocando as mãos nos meus ombros e me direcionando de volta para
dentro. — Ling Ling, você precisa passar despercebida. Isso não está em
discussão. — Ele olhou para mim calorosamente. — Seja boazinha. Por
favor?
Nos dias que se seguiram à morte de Aslan Sadik, Van mandou
alguns dos homens mais confiáveis vasculharem meu apartamento na
cidade, limpando cada centímetro enquanto meus irmãos cuidavam dos
corpos. Em poucos dias, aquele apartamento estava de volta ao mercado
com muita gente interessada, mas me recusei a vender, e sem
explicação, me perguntei se Van sabia o porquê. Porque se eu vendesse,
tudo acabaria, assim como todas as minhas melhores lembranças que
criei com o belo turco.
Era difícil ser incapaz de chorar porque estava confinada e meu
irmão estava tentando ao máximo me ocupar, mas nada poderia ocupar
um coração partido, bem como a tristeza.
Eu me movi lentamente, sentada na beira da cama, falando
baixo. — Por que você fez isso?
Pelo canto do meu olho, vi Van parado. Ele não respondeu por um
longo momento, mas quando o fez, sua voz era áspera. — Você teria feito
isso por mim.
Eu teria?
Eu não tinha mais tanta certeza.
O luto estava fazendo coisas engraçadas com a minha percepção.
— Venha aqui. — Eu estendi minha mão, e ele veio até mim sem
hesitação, sentando ao meu lado e me permitindo pegar a mão dele.

~ 375 ~
O que eu daria para sentir algo diferente do que estava sentindo
agora.
Eu faria qualquer coisa terrível, repugnante, apenas para sentir
algo diferente da depressão correndo em minhas veias.
— Você disse a eles que estávamos na cama juntos, — eu
murmurei, pegando sua mão e colocando em minha coxa nua, mantendo
meu tom calmo. — O que você acha de tornar esse boato uma realidade,
irmão?
Van fechou os olhos, apertando minha carne com força suficiente
para machucar. — Ling. Pare.
Não.
Colocando uma mão gentil em sua mandíbula, eu o virei para me
encarar e seus olhos se fecharam com tanta força que achei que ele
poderia chorar. — Olhe para mim.
Mas meu irmão balançou a cabeça com firmeza e sussurrou: —
Não faça isso.
Mas eu queria fazer isso.
Eu queria me esquecer por um tempo e não me importava como.
Meu coração sobressaltou quando me inclinei para perto,
pressionando meus lábios nos dele.
Parecia errado. Ainda mais quando a boca de Van permaneceu
frouxa.
— Beije-me de volta, — eu disse com tristeza.
Mas ele não o fez.
Meus olhos ardiam. — Beije-me de volta, — eu implorei, e minha
respiração engatou quando a primeira das minhas lágrimas caiu. — Por
favor.
Van manteve os olhos fechados e os lábios relaxados. E foi nesse
momento que realmente percebi o quão baixo eu havia afundado.
Az estava certo.
Eu não era uma rainha. Eu era uma piada de merda.
Claramente desconfortável, o corpo do meu irmão permaneceu
rígido mesmo depois de eu ter me afastado dele.

~ 376 ~
Com a voz fraca, eu mergulhei meu queixo e senti vergonha pela
primeira vez em anos, chorando baixinho, — Me desculpe. — Quando o
homem ao meu lado se levantou e se dirigiu para a porta, entrei em
pânico. Com os olhos arregalados, chamei: — Não me deixe.
O seu, — eu preciso, — foi dito de uma forma que me dizia que se
ele não fizesse, faríamos algo que nos arrependeríamos.
Então eu o assisti sair.
A coisa era, eu estava seguindo nessa direção de qualquer
maneira, e se não tomasse uma má decisão aqui no meu quarto, temia
tomar outra em outro lugar.
Com uma expressão fria como pedra, levei meu carrinho de
compras para o caixa e, quando fui chamada, avancei, descarregando os
itens na esteira.
A garota rechonchuda no caixa escaneou os itens, colocando-os
em sacolas.
Depois de um tempo, ela examinou o pequeno casaco preto de
capuz, segurando-o e sorrindo. — Oh Deus. Isso é adorável. — Ela me
deu um sorriso antes de olhar para o resto dos meus itens e dizer: —
Alguém será mimado hoje. Quantos anos?
— Eu ainda não o peguei, mas... — Eu removi meus óculos de sol
e sorri timidamente. — Ele tem cinco anos. — Olhei para a esteira cheia
de roupas de menino e brinquedos. — E sim. Ele será mimado.
— É adorável que você esteja adotando. É uma coisa maravilhosa
que você está fazendo. — A garota do caixa fez uma careta. — Você vai
ser uma ótima mãe, — ela disse conscientemente antes de acenar. — Eu
posso dizer.
Sim.
Eu seria uma ótima mãe.
Uma ótima mãe, de fato.

~ 377 ~
***

Lexi

No segundo em que abri a porta da frente, meus olhos se


arregalaram alegremente e um suspiro alto me deixou. Eu gritei
animadamente, pulando para cima e para baixo, batendo palmas
entusiasticamente antes de me jogar nos braços da pequena ruiva.
— Manda!
A mulher que eu carinhosamente chamava de irmã riu enquanto
eu me joguei contra ela, fazendo-a tropeçar e colocar uma mão na parede
perto da porta para se firmar. Meu riso exultante soou no ar fresco da
manhã.
Eu me afastei, puxando meus braços para trás e sorri como um
idiota quando levemente bati em seu braço. — O que você
está fazendo aqui?
Ela encolheu os ombros, sorrindo com força pela minha
excitação. — Eu disse que voltaria, não disse? Mas... — Ela se virou para
olhar o carro estacionado na rua, parecendo um pouco ansiosa. — Eu
posso ter feito algo realmente idiota aqui, Lexi.
Meus olhos se estreitaram nela antes de virarem para o carro
estacionado. Quando os três homens saíram todos de uma vez, meu
rosto ficou frouxo e eu soltei um silencioso — Oh.
Automaticamente, virei meu rosto, olhando de volta para casa
desconfortavelmente, depois voltei a olhar para o rosto apologético de
Manda. Eu falei baixinho: — Você deveria ter ligado.
Sua expressão de repente cansada me disse que ela sabia disso, e
minha preocupação aumentou quando ouvi Twitch se aproximar. Por
trás de mim, o senti parado nas minhas costas enquanto olhava por
cima da minha cabeça para os nossos convidados. Sentindo o corpo dele

~ 378 ~
enrijecer, eu rapidamente girei, e quando meus olhos pousaram sobre
ele, seus olhos nem piscavam, mandíbula rígida, em um dos homens.
O mais velho dos homens.
Seu olhar gelado pousou em Manda. Ela imediatamente soltou um
abafado: — Não fique com raiva de mim. — Quando ele não respondeu,
ela fechou os olhos. — Por favor, não fique com raiva de mim.
O silêncio se arrastou, e enquanto os três homens mantinham a
distância, Manda revelou solenemente: — Ele está doente, Tony. —
Twitch olhou para a irmã mais nova e acrescentou: — Sei que joguei isso
em você, mas ele não tem muito tempo sobrando, e achei que se você o
conhecesse, — ela suspirou cansada. — Você teria algum fechamento.
O silêncio envolveu meu peito como um vício.
Quando Twitch falou, ele falou para mim, baixo e arrastado. —
Você quer conhecer meu pai?
Eu queria, desesperadamente.
Ergui meu rosto e disse: — Isso não é sobre o que eu quero.
Ele olhou para mim, seus olhos frios, suas palavras quentes. —
Toda minha existência é sobre o que você quer. — Quando eu não
respondi, ele teve sua resposta e suspirou suavemente. — Ela quer
conhecê-lo. — E quando ele levantou a mão e acenou para os homens,
meu coração começou a bater no ritmo de seus passos.
Mas quando eles chegaram até nós, senti frio nas minhas costas e
percebi que Twitch tinha saído.
Meu peito doía terrivelmente, mas engessei um sorriso quando o
mais alto dos homens se aproximou, e quando ele abriu a boca, seu
sotaque escocês macio e sedoso acariciou minha pele. — Esta é minha
cunhada?
— Uau, — foi o que eu estupidamente disse, e Manda riu.
Meu olhar atordoado pousou sobre ela, e o marido ridiculamente
bonito de Manda pegou a mão pendurada ao meu lado, levou-a a boca e
deu um beijo nos meus dedos. Ele continuou a segurar minha mão
enquanto me olhava nos olhos, quase hipnotizando. — Olá linda. Meu
nome é Evander, mas quase todos me chamam de Vander.

~ 379 ~
— Oh, uau, — me escapou, e quando minhas bochechas se
aqueceram, virei-me para Manda e disse: — Eu entendo totalmente.
E embora os olhos do marido se estreitassem em mim, ele
continuava sorrindo, mas pelo jeito que o corpo de Manda tremia em
risada silenciosa, ela me entendeu. Eu limpei minha garganta e sorri
amplamente. — É um prazer conhecê-lo. — De repente, envergonhada,
olhei para os meus pés antes de olhar para Manda. — Se eu soubesse
que vocês viriam... — Meus olhos se encontraram com Vander. — Eu
teria me vestido de maneira mais apropriada.
— Não seja boba, amor. — Seus olhos pousaram em meus pés e
ele sorriu. — Pikachu é o meu favorito.
Bem, duh.
Ele era o favorito de todos.
— Por favor, entrem. — Eu mantive a porta aberta, e quando
Manda e Vander entraram, de repente eu estava cara a cara com um
homem que se parecia tanto com meu ‘não marido’ que tive que me
impedir de erguer a mão e tocar seu lindo rosto.
Embora seu formato de rosto fosse um pouco diferente - anguloso
e muito mais severo - seu cabelo escuro bem arrumado, seu queixo forte,
seu lábio inferior cheio, a maneira como seus olhos eram
involuntariamente encapuzados, era tudo Twitch. Mas ele não era o
Twitch. E pelo jeito que estava olhando para mim com aqueles olhos
verdes floresta, inseguro e levemente irritado, eu poderia dizer que ele
não queria estar aqui.
De repente tímida, eu engoli em seco e lentamente estendi minha
mão para ele. — Olá. Eu sou Lexi.
O homem olhou para minha mão desinteressadamente antes do
homem mais velho lhe dar um tapa na parte de trás da cabeça e
murmurar grosseiramente: — Quando uma mulher estende a mão, você
aceita, Giuseppe. — Os olhos do homem maduro sorriam para mim
maliciosamente antes dele balançar a cabeça e murmurar: — Crianças,
hein?
Crianças?

~ 380 ~
Giuseppe estava em seus quarenta anos.
Eu não pude evitar a risada que me escapou.
Giuseppe revirou os olhos, gentilmente tomando a mão estendida,
sacudindo-a uma vez, depois bufando claramente irritado: — Sou Zep.
Legal.
Esse cara parecia ser a vida da festa.
Se a festa fosse realizada às quatro da manhã em um cemitério
úmido, é claro.
O homem mais velho praticamente empurrou Zep do caminho para
ficar na minha frente, e algo estranho aconteceu. Enquanto segurávamos
os olhos um do outro, uma compreensão inaudita passou entre nós. Ele
queria estar aqui, queria saber o que tínhamos aqui, e senti isso em
meus ossos.
Esse homem era um bom homem. Nenhuma dúvida sobre isso.
Sem uma única palavra, eu dei um passo à frente e ele abriu os
braços para mim, envolvendo-os ao meu redor em um gesto paternal que
fez meu coração doer.
Antonio Falco Sênior me segurou por um longo tempo antes de se
afastar para olhar para mim com olhos brilhantes. Erguendo a mão, ele
segurou meu rosto e sorriu calorosamente. — Garota linda.
Engasgando, sussurrei rouca: — Papa Tony.
Incapaz de falar, ele acariciou minha bochecha, e eu me inclinei
em seu toque áspero antes de recuar e deixar os dois passarem. Uma vez
lá dentro, fiquei surpresa ao ver Manda olhando para o quintal pela
janela, e quando parei ao lado dela, pude ver por que ela estava sorrindo.
Vander e Twitch estavam lá fora conversando de perto, sorrindo, e
quando Vander agarrou a parte de trás do pescoço de Twitch, puxando-o
para beijar sua bochecha em um gesto de fraternidade, Twitch o
deixou. Quando Vander se afastou, Twitch bateu a parte de trás de seus
dedos contra a protuberância no zíper de Vander, fazendo-o pular e
Twitch rir quando eles explodiram em conversas rápidas.

~ 381 ~
Era tão estranho. Eles se conheciam bem o suficiente para brincar
assim, mas eu não conhecia nenhuma dessas pessoas. Ele não os tinha
mencionado para mim em tudo.
Eu me perguntei por quê.
Manda e eu rimos baixinho com as palhaçadas dos homens antes
que ela se virasse para mim e parecesse esperançosa. — Você tem algum
daquele vinho australiano de primeira na geladeira?
Pffft. Sempre tinha.
Quando cheguei à geladeira para retirar uma garrafa, fiz uma
pausa antes de olhar para os dois homens me observando
atentamente. O instinto me fez pegar uma segunda garrafa e perguntar:
— Que horas são?
Manda verificou seu telefone. — Já passou do meio-dia.
— Legal, — eu disse quando peguei uma terceira garrafa em meus
braços. Empurrando meu queixo em direção ao armário, eu disse: —
Pegue algumas taças, ok?
Manda já estava fazendo isso, segurando as hastes de seis taças de
vinho entre os dedos. — Na varanda?
Eu sorri para ela. — Você sabe disso.
Quando abri a porta de correr com o pé, saí e coloquei as garrafas
de vinho no belo cenário ao ar livre. No momento em que os homens
seguiram Manda e eu, não pude deixar de notar a conversa entre Twitch
e Vander parar quando os olhos castanhos e suaves de Twitch
escureceram um pouco. Ele perdeu o sorriso e eu odiei isso.
Enchi as taças e as entreguei, mas quando Vander recusou, o
sotaque era grosso. — Eu trouxe uma garrafa de uísque comigo, mas não
achei que começaríamos tão cedo.
Com isso, Twitch resmungou: — Pegue. Diabos, eu poderia
precisar de uma bebida.
Os lábios de Vander franziram, e quando ele desapareceu, a
conversa caiu em um silêncio desconfortável. No segundo em que ele
voltou com a garrafa, Twitch bateu no seu copo. Vander serviu alguns
dedos. Twitch bateu de novo no copo. Vander serviu um pouco

~ 382 ~
mais. Mas Twitch atirou em seu cunhado um olhar que dizia: — É
melhor você encher essa merda, — então Vander fez. E vi quando Twitch
tomou metade do copo de uma só vez.
— Querido, — eu comecei, mas o Twitch apenas olhou para mim,
quase me desafiando a terminar minha frase. E porque eu sendo quem
era e Twitch sendo quem ele era, sabia que ele precisava ser imprudente
hoje, então lhe dei isso.
Papa Tony enfrentou Zep e começou tolamente com: — Seu
irmão...
Oh, isso não caiu bem. Não para Zep e nem para Twitch.
Zep zombou. — Ele não é meu irmão.
— Certo pra caralho, eu não sou, — devolveu Twitch acidamente.
Zep olhou para Twitch. — Qual é o seu problema?
— Eu não tenho um. — Twitch soltou uma risada. — Mas posso
ver que você tem, cadela.
Zep sorriu maliciosamente. — Você acabou de me chamar de
cadela? Você tem bolas aí.
— Meninos, — Papa Tony interrompeu, pacificando.
Twitch segurou seu olhar amargo. — Sim, eu estou te chamando
de cadela. — Ele se sentou, olhando-o de cima a baixo. — Cadela rica e
mimada, tem tudo no mundo entregue a ele. Um pequeno e triste filho
da puta ciumento, porque...
Os olhos de Zep brilharam. — Eu não sou ciumento.
—... Tenho o nome do meu pai. — Twitch terminou levantando os
braços, e quanto mais zangado, mais acentuado seu sotaque ficava. —
Você quer o nome? Pegue, mano. Eu não quero. Deus sabe que isso
nunca me fez bem.
Os lábios de Zep se estreitaram, então ele esclareceu baixinho: —
Eu não estou com ciúmes.
Twitch bebeu o resto de seu copo, e quando olhou para Vander
com seu olhar escuro, Vander o encheu sem questionar. E quando
Twitch tomou a metade de seu copo cheio, seus olhos ficaram turvos,
enquanto ele dizia: — Ótimo. Estou feliz que você não esteja com ciúmes.

~ 383 ~
— Ele passou os dedos pelo lado de fora do copo antes de dar uma
risada. — Que porra te deixaria com ciúmes de mim? — Aqueles olhos
castanhos suaves se estreitaram perigosamente. — Meu padrasto me
espancar desde que eu era um maldito bebê? Viver nas ruas? Comer do
maldito lixo? Os anos que passei no reformatório? — Ele soltou uma
gargalhada rouca e sem graça antes de dizer baixinho: — Enquanto você
estava em casa seguro com sua mãe e pai, eu passei minha vida inteira
perto da morte, sendo decepcionado por cada filho da puta que deveria
estar me protegendo. Sua vida te transformou em um príncipe. Minha
vida me transformou em um maldito animal. — Ele bebeu o uísque,
lambendo os lábios. — Você tinha sua merda entregue em uma bandeja
de prata, meu homem, enquanto eu construí um império a partir do
zero. Fiz milhões. Conquistei o respeito de meus parceiros. Fui chamado
de um maldito rei por estas bandas. — Seus olhos se estreitaram em seu
irmão. — Tive pequenas cadelas como você com medo de dizer meu
maldito nome em voz alta. — Twitch balançou a cabeça lentamente. —
Você não sabe nada sobre mim. Eu não te conheço. Eu não quero
conhecê-lo. Mas aquela mulher... — Ele apontou para mim
asperamente. —... É a coisa mais importante na minha vida, e ela quer
te conhecer, então vou calar a porra da boca agora e deixar essa merda
acontecer porque vai fazê-la feliz. E quando ela está feliz, estou feliz.
Meu coração se aqueceu.
Inclusive... oh, não.
Ninguém se atreveu a falar.
Então Twitch olhou ao redor da mesa antes de aterrissar em seu
irmão e sorrir acentuadamente. — Minha existência deixa você
desconfortável?
Zep se virou para o pai. — Acho que eu vou sair.
Papa Tony parecia positivamente desolado, e quando seus olhos
examinaram o rosto duro de Twitch, ele começou suavemente,
aplacando: — Tony...
Um baque alto soou, fazendo meu corpo sacudir, e quando o
punho cerrado de Twitch desceu sobre a mesa com força suficiente para

~ 384 ~
sacudi-la, assistimos as taças de vinho tremer, seguido pelo estridente
som de vidro quebrando quando uma rolou sobre a borda da mesa para
o chão. E quando Twitch falou, eu nunca tinha ouvido essa fúria crua.
Sua expressão enlouquecida, seus olhos estreitos, ele falou entre
os dentes cerrados, e todo o meu corpo se arrepiou. — Meu nome
é Twitch. — Ele manteve a voz baixa. — Batizado nas ruas pela minha
família real, Pops. — Ele disse que Pops como se fosse uma palavra
depreciativa.
Twitch se virou para encarar Zep. — Você não quer um irmão? —
Seus lábios franziram enquanto ele assentia. — Sem problemas aqui,
cara, mas...
De repente, ele se levantou e entrou na casa. Todos nós olhamos
um para o outro, sem saber o que estava acontecendo, mas quando
Twitch voltou ao seu lugar, ele segurava em suas mãos algo que fez meu
coração falhar.
Ele segurava a foto entre os dedos e estendeu para Zep. — Mas
esse garotinho... — Ele fez uma pausa para virar a foto na direção do
próprio rosto e olhou para o nosso filho ferozmente. — Esse lindo
menininho... — Ele virou a foto para o irmão. — ...ele tem seu sangue
correndo em suas veias, e ele não tem muita família. Eu sei que ele
amaria outro tio, um verdadeiro tio, e você também o amaria porque ele
é adorável pra caralho. Então, tome uma decisão, cara. Dentro ou fora?
— Ele lançou-lhe um olhar sem emoção. — Eu deixarei você atirar sua
raiva por seu Pai sobre mim, porque você não significa nada para mim,
mas eu te desafio a tentar essa merda com meu filho. — Seus olhos se
estreitaram perigosamente, e sua voz era um pouco mais que um
sussurro. — Eu te desafio, porra. — O olhar frio se estendeu para seu
pai. — E você...
Twitch se deteve, sacudindo a cabeça rapidamente e soltando uma
respiração áspera. Ele levantou tão rápido que a cadeira em que ele
estava sentado voou para trás com um estrondo que fez meu coração
saltar, e quando ele andou na minha direção, me endireitei, esperançosa.

~ 385 ~
Parecendo completamente angustiado, ele pegou minha cabeça em
suas mãos e colocou seu rosto perto do meu, seus olhos implorando. —
Eu achei que pudesse fazer isso, mas não posso. — O beijo que ele
plantou em meus lábios foi contundente.
Eu o vi entrar na casa e ouvi a porta da frente bater atrás
dele. Seu carro ligou e então ele partiu.

~ 386 ~
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO
Twitch

Já era tarde quando voltei de Julius e Ana. Eu não deveria estar


dirigindo, mas queria chegar em casa para minha garota. Eu não tinha
visto meu filho o dia todo, e sabia que ele estaria na cama, mas ainda
precisava vê-lo antes de desmaiar, o que senti que seria em breve. Então
eu dirigi devagar, com tanto cuidado quanto um homem bêbado poderia.
No momento em que entrei na garagem, a porta da frente se abriu
e Lexi saiu da casa com seu minúsculo roupão de seda, o rosto marcado,
a boca tensa, parecendo apreensiva pra caralho. E eu me senti como um
idiota.
Saí do carro e me aproximei lentamente em pernas
instáveis. Porque eu disse o que disse ninguém imaginaria, mas anunciei
espetacularmente. — Eu estou bêbado.
— Eu sei. — Ela se pressionou ao meu lado, deslizando um ombro
debaixo do meu braço, e eu relaxei, colocando meu peso sobre ela. —
Julius ligou. — Ela olhou para mim, seus olhos quentes, mas seu tom
irritado. — Você deveria tê-lo deixado te chamar um táxi.
— Eu sei, — eu disse por que ela estava certa. Quão sortudo filho
da puta eu era em ter essa mulher que me amava incondicionalmente e
aceitava essa merda? Ela era tudo de bom neste mundo podre, e era
minha. Meus lábios se curvaram dos lados enquanto eu olhava através
das pálpebras pesadas. — Você sabe o quanto eu te amo?
— Não. — Ela me acompanhou para dentro, e perguntou um
divertido: — Quanto você me ama?
— Muito, — eu disse a ela, e o som de sua risada suave me fez
querer dar a ela tudo o que desejava na vida.
E eu faria.
Eu faria isso por ela.
Faria qualquer coisa por ela.
~ 387 ~
Meu bebê.
— Cadê a festa? — Eu disse um pouco alto demais quando
entramos, e ela colocou um dedo nos meus lábios, me silenciando. Eu
abaixei meu tom. — Todo mundo se foi?
— Manda e Vander ficarão com Julius e Ana. Eles acabaram de
sair. Mas... — Ela me olhou com cautela. — Zep e o Papa Tony iriam se
registrar em um hotel, e... — ela hesitou antes de continuar, — Eu achei
bobagem, vendo que você tem uma casa do outro lado da rua que não
está sendo usada, então lhes disse que poderiam ficar lá. — Seus olhos
examinaram meu rosto cuidadosamente. — Eles recusaram
repetidamente, mas eu insisti e, eventualmente, eles cederam.
Meu estômago revirou, mas me endireitei antes de me inclinar e
colocar meu rosto perto do dela. — Você é uma boa mulher.
Ela sorriu então, e eu soube que aguentaria o mundo inteiro para
manter minha rainha feliz.
Tropeçando, eu me movi pelo corredor em direção ao quarto de AJ,
e Lexi seguiu de perto quando entrei o mais silenciosamente que pude,
ajoelhando-me ao lado de sua cama e colocando uma mão gentil em sua
cabeça. Senti uma onda de alívio tomar conta de mim enquanto
observava seu peito subir e descer enquanto ele respirava com facilidade
durante o sono.
Eu levantei, caminhando até meu lindo anjo de olhos azuis. Ela
disse: — Vamos lá. Vamos para a cama.
Mas meus pés não estavam funcionando bem. Além disso, minha
cabeça estava girando. Cheguei até o sofá antes de me abaixar,
colocando minhas mãos no chão e depois me encostando ao sofá. E Lexi
me observou um momento antes de vir se sentar atrás de mim, suas
pernas em cada lado da minha cabeça. Eu esfreguei minha bochecha
áspera contra o seu joelho e assisti com fascinação quando arrepios
cobriram sua pele.
— Estou tentando ser um bom pai, — disse na sala escura.
— Eu sei que você está, — ela respondeu suavemente, passando a
mão suavemente pelo meu cabelo.

~ 388 ~
— Eu o amo tanto que me assusta.
Ela soltou uma risada leve. — Eu conheço a sensação.
Quando ela passou a mão pela minha bochecha, eu murmurei: —
Eu só quero que ele olhe para mim e não veja o pedaço de merda que eu
sou. — Inclinando minha cabeça para trás para olhar para ela, eu
perguntei baixinho: — Como eu faço isso?
Lexi era meu mundo, mas aquele garotinho, meu garoto... ele era
todo o meu universo. O pensamento de alguém tentando me manter
longe dele era inconcebível. Eu faria qualquer coisa para estar perto
dele. Ninguém poderia me manter longe.
Eu gostaria de ver alguém tentar.
A mão pequena na minha bochecha parou, e quando veio debaixo
do meu queixo, me segurando no lugar, o rosto dela inclinado sobre o
meu, e ela afirmou com firmeza: — Você não é um pedaço de merda. —
Quando só pisquei, ela se inclinou, colocando o nariz no meu. — Você
me entendeu?
Eu era, no entanto. Lex simplesmente não podia ver. Ela só via o
que queria ver em mim, e isso me fez um bastardo sortudo porque ela só
tentava ver o meu melhor.
Em vez de falar, levantei o rosto e, quando nossos lábios se
tocaram, beijei-a e ela devolveu a vida ao meu corpo frio e insensível.
Ela era minha bíblia. As páginas. A tinta. As orações. E eu a
reverenciaria até o dia em que morresse, tomaria meu lugar e esperaria
por ela do outro lado. Eu não era um homem santo, mas acreditava
nessa merda do fundo da minha maldita alma.
Nada poderia nos separar. Nem mesmo a morte. A morte poderia
tentar, mas eu já a tinha enganado antes e faria de novo se fosse
necessário.
Qualquer coisa para ficar com minha mulher.
Mas algo estava me incomodando, e quando me movi para ficar de
pé, minha mulher me ajudou sem julgamento. E quando levantei
novamente, tropecei em direção à porta da frente. Imediatamente, Lexi

~ 389 ~
colocou a mão nela, me impedindo de sair. — Onde você pensa que vai?
— Ela acrescentou com firmeza: — Vamos para a cama.
— Olha, — eu disse a ela, piscando lentamente: — Eu tenho que
ter uma conversa com o doador de esperma.
— Não, esta noite você não vai. — Suas sobrancelhas franziram e
seus lábios se separaram antes de colocar uma mão no quadril,
parecendo mandona, dominadora e sexy como o inferno. — Você está
bêbado.
Eu precisava que ela entendesse. — Eu preciso dizer o que tenho a
dizer agora por que amanhã... — Eu me senti estúpido dizendo o que
disse. — Eu não vou ter coragem de dizer o que preciso, baby.
Minha absoluta honestidade atingiu um ponto sensível. Mesmo no
meu estado fodido, pude ver isso.
Ela me observou cuidadosamente por um longo tempo antes de
suspirar. — Você não vai começar outra discussão, vai?
— Eu não planejo isso, — eu disse honestamente, mas não sabia o
que aconteceria quando eu chegasse lá.
Seus olhos se fecharam e ela tirou a mão da porta, e a amei por
saber que eu precisava fazer isso. Eu girei a maçaneta e saí em pernas
bambas. Quando cheguei à minha casa, bati na porta e, quando abriu,
Zep ficou parado lá. O idiota não abriu para mim, então forcei minha
entrada.
Esta é a porra da minha casa, cadela.
— Onde está o velho? — Perguntei, olhando ao meu redor.
— Ele está na cama, — Zep proferiu com força. — Ele não está
bem.
— Eu preciso falar com ele.
Assim que Zep balançou a cabeça, a porta do meu quarto se abriu
e meu pai saiu de pijama.
Ele parecia velho. Realmente velho.
Frágil, fraco, completamente quebrável. E nesse momento, eu
queria quebrá-lo.

~ 390 ~
No segundo em que vi meu pai, esqueci minha promessa a Lexi e
comecei meu discurso inesperado. — Que tipo de homem segura seu
filho... — Eu levantei minhas mãos. — ...em seus malditos braços... —
Eu os deixei cair ao meu lado. — ...e nunca mais o vê? — Eu olhei-o nos
olhos, sem esconder minha raiva. — Quem faz isso?
Nenhum dos homens respondeu, mas meu pai parecia perturbado.
Um longo momento passou antes do homem que me gerou dizer:
— Você acha que foi fácil?
Eu não dava à mínima.
— Sim, eu acho que foi fácil. — Eu arrastei o braço para Zep. —
Você teve um filho. Não precisava de outro. Foi isso? — A maneira como
ele olhou para mim estava fazendo algo estranho no meu interior. Minha
respiração ficou pesada. — O que havia de errado comigo, hein?
O pensamento de alguém tentando me afastar do meu filho me fez
doer fisicamente. Fez-me querer machucar alguém. Fez-me querer bater
cabeças.
Como esse filho da puta pôde fazer o que fez sem olhar para trás?
Pela minha vida, não conseguia entender.
Eu era pai.
Eu estava bêbado.
E foda-me, eu estava emocional.
Minha garganta apertou, minha voz falhou enquanto eu lutava
com as palavras. — Por que você não me quis, cara?
O doador de esperma entrou mais na sala. — Te entregar foi a
coisa mais difícil que já fiz. — Suas sobrancelhas se enrugaram. — Eu
achei que estava fazendo a coisa certa. Deixando você crescer em um
mundo de zero expectativa, especialmente aquelas que vinham com o
nosso nome. Eu queria o melhor para você. — Ele deu de ombros
fracamente. — Então o deixei ir.
Eu pisquei rapidamente, em seguida, limpei bruscamente a
umidade escorria pela minha bochecha. — Sim. Muito bem que me fez.
A expressão do velho ficou séria. — Eu posso ver isso. E sinto
muito.

~ 391 ~
— Você sente muito? — Eu soltei uma risada áspera antes de
olhar para o meu irmão, apontando para o velho. — Ele sente muito. Isso
é bom. — Eu balancei a cabeça lentamente, encarando meu pai. — Eu
não sei o que você achou que aconteceria quando chegasse aqui. Talvez
você tenha pensado que eu estaria eufórico para te ver, que ainda
precisava de um pai. Eu não sei. Mas deixe-me dizer uma coisa, meu
velho. Você fez uma coisa boa. — Eu parei por um segundo. — Você me
ensinou exatamente o que não quero ser como pai. Então... — Eu dei um
passo para trás. — Obrigado.
Saí pela porta para encontrar Lexi parada na esquina da rua,
tremendo, mas esperando. E meu coração aumentou um tamanho.
Não. Eu não a merecia, mas isso não significava que fosse desistir
dela.
Quando a alcancei, envolvi um braço pesado em torno dela e
esfreguei sua pele gelada, franzindo a testa. — Você está congelando.
Seus dentes batiam quando ela olhou para mim, seus olhos cheios
de preocupação, e ela perguntou: — Você está bem?
Não. — Sim.
Eu não estava.
Mas ficaria.
***

Lexi

Ele estava de mau humor e eu não o culpei.


Esta manhã tinha sido tensa, para dizer o mínimo, especialmente
quando AJ decidiu contar a seu pai o quão grande seu tio Zep e Nonno
Tony eram, sobre os presentes que compraram para ele, mostrando para
Twitch a corrente de ouro e o crucifixo que ele ganhou, como eles lhe
contaram tudo sobre sua família na América e na Itália. Nosso filho, nem
ao menos remotamente sentindo o estresse em seu pai porque sua
excitação estava alta, continuou e continuou, e continuou falando sobre

~ 392 ~
os dois homens do outro lado da rua, enquanto Twitch tomava seu café
em completo silêncio.
E a experiência passada me ensinou que um Twitch silencioso era
um perigoso Twitch.
Ele ficava pensativo. Ele analisava em excesso. Ele
enlouquecia. Eu sabia disso dos nossos momentos passados juntos há
muito tempo. Então eu fiz o que senti que precisava fazer para tirá-lo
disso.
A casa estava vazia e silenciosa, além do chuveiro correndo, e
quando me movi para dentro do banheiro fumegante, sentei-me na
tampa do vaso fechado. Meu olhar aquecido vagou por seu corpo através
do vidro fosco, e levando a mão, coloquei meus dedos no botão e apertei.
— Ah, porra! — Veio de dentro do chuveiro quando a água quente,
em seguida, correu fria quando dei a descarga no vaso sanitário.
A porta fosca se abriu, e o homem gloriosamente nu lançou um
olhar furioso para mim que era tão perverso que meu corpo inteiro
incendiou, minha boceta apertou em ansiedade.
— Que porra é essa, Lexi? — Ele rosnou, e quando eu levei meus
dedos lentamente no botão, seu olhar se intensificou e sua mandíbula
enrijeceu. — Não faça isso. — No momento em que meus dedos tocaram
o botão, sua mão subiu e ele apontou para mim. — Se você fizer isso, vai
pagar, baby. Ouça bem.
Eu sei.
Um estremecimento visível me escapou, e eu mordi meu lábio,
observando os olhos de Twitch brilharem.
Eu sorri internamente.
Ele entendeu.
Olhando-o profundamente nos olhos, apertei o botão, a descarga
soou, e assim que ele soltou um grunhido áspero, eu saltei e corri para
fora do banheiro o mais rápido que pude. O chuveiro foi desligado, e ouvi
a porta fosca bater, mas minhas pernas não eram tão longas quanto às
dele e ele me alcançou no corredor. No segundo em que ele agarrou a

~ 393 ~
parte de trás da minha camiseta com uma mão dura, me puxou para
trás e eu bati em seu corpo com um suspiro.
Ele estava completamente molhado, completamente duro e
ofegando asperamente.
— Cadela, — ele murmurou carinhosamente em meu ouvido, e eu
sorri apenas momentaneamente antes de tentar escapar novamente.
Meus mamilos apertaram quando sua mão subiu para o meu
queixo e segurou-o com firmeza, enquanto eu soltava um abafado: — Por
favor, não me obrigue a fazer isso. Meu marido estará em casa em breve.
As palavras eram hesitantes.
Mas, oh, Deus, ele gostava disso.
Twitch forçou seu pênis duro no meu quadril com tanta força que
doeu. — Você acha que eu dou a mínima? Espero que ele volte para
casa. Espero que ele veja você assim, quente para mim. — Ele me virou
para olhar em seu olhar encapuzado. — Você começou isso; Agora vai
terminar. — Colocando as mãos nos meus ombros, ele empurrou
rispidamente, e eu caí aos seus pés em uma pilha, fingindo
preocupação. E ele sorriu cruelmente quando meu olhar pousou em sua
ereção furiosa. — Nunca teve um pau tão grande assim, não é?
Eu balancei a cabeça, meu corpo inteiro arrepiado.
Descendo, ele colocou a mão na minha bochecha, acariciando-a
suavemente. — Vai doer quando eu finalmente te tomar, e você vai
adorar porque eu amo isso. — Sua voz ficou áspera quando ele segurou
meu queixo com força. — Você não?
Com os olhos arregalados em um medo fingido, eu balancei a
cabeça lentamente o máximo que pude em função do seu aperto,
engolindo em seco.
— Você corre, — ele advertiu suavemente, — eu persigo. — Ele
olhou para mim, seu olhar poderoso. — E quando eu te pegar, baby... —
Ele sugou o ar através dos dentes, ajoelhando-se nu e passando a mão
sobre a perna da minha calça de yoga. — Eu vou te foder com tanta
força que você vai me provar em sua boca por anos. — Uma grande mão
deslizou até o cós da minha calça e deslizou para dentro com força. —

~ 394 ~
Agora, — ele falou com os dentes cerrados, — deixe-me sentir o quanto
essa boceta apertada me quer.
Eu tentei fechar minhas pernas, mas ele as abriu novamente com
um grunhido, e quando uma respiração ofegante escapou de mim, seus
dedos ásperos entraram em contato com minha calcinha. Ele manteve o
seu olhar escuro em mim quando deslizou a mão sob o cetim frágil, e
quando as pontas dos dedos encontraram minha boceta molhada, ele
soltou uma respiração áspera no mesmo momento em que minha cabeça
caiu para trás e um gemido baixo foi forçado dos meus lábios.
Com dedos hábeis, ele esfregou minha entrada escorregadia, e com
a outra mão, ele devagar masturbou seu pau de um jeito que me fez
querer implorar por seu sabor.
— Você quer isso? — Eu sei o que ele queria e balancei a cabeça
quando ele riu cruelmente. — Você diz uma coisa... — Quando ele
empurrou um dedo dentro do meu calor escorregadio, minha boca se
arredondou e meus olhos se fecharam quando ele lentamente, com
firmeza me fodeu com o dedo. — Mas sua boceta está me sugando tão
bem, engolindo meu dedo tão docemente que sei que você está mentindo.
— Ele empurrou o dedo em mim até o fundo e segurou lá enquanto o
meu interior tremia. — Você tem certeza que não quer isso? — Com a
boca escancarada, eu balancei a cabeça deliberadamente, vendo-o me
observar. E ele se inclinou, colocando o nariz no meu, enquanto
murmurava: — O que você quer, pequeno pardal?
— Eu quero... — Foi difícil encontrar a minha voz, mas o fiz, e o
que eu disse chocou a nós dois. As palavras saíram trêmulas. — Eu
quero que você me sufoque e me diga que eu sou uma boa menina.
Seus olhos brilharam.
Os meus alargaram-se.
E quando ele se moveu, fez isso tão rápido que tudo ficou
embaçado.
O dedo grosso dentro de mim escorregou, minhas calças de yoga
foram puxadas pelas minhas pernas junto com minha calcinha
encharcada, e apenas quando achei que ele me arrastaria para o quarto,

~ 395 ~
ele se sentou de joelhos e estendeu a mão para agarrar minha garganta
duramente, me empurrando contra a parede. Eu ofeguei em torno de seu
aperto firme, estendendo ambas as mãos para agarrar seu antebraço.
Parecia tão errado, tão antinatural querer isso.
Ele era muito grosseiro. Brutal demais.
Não fazia sentido minha boceta encharcar do jeito que estava.
No entanto, aqui estávamos nós.
Com uma mão na minha garganta, ele passou o braço livre ao
redor da minha cintura e me segurou no lugar enquanto se arrastava
para frente, me prendendo entre o corpo dele e a parede. Pendurando
minhas pernas sobre os seus joelhos, ele colocou a testa na minha,
implacavelmente perto, e esfregou minha boceta com firmeza. — É isso o
que você quer, baby?
Ele estava fora do personagem.
— Sim, — eu respirei trêmula.
O rosto de Twitch suavizou por um momento. — Tem certeza
disso?
Ele estava me dando uma saída antes que isso se tornasse
violento. Mas eu queria lhe dar este presente, porque eu o amava e... —
Eu confio em você.
Parecendo aflito, seus olhos se fecharam e ele os apertou com
força, sabendo que isso estava me custando o meu conforto, mas sendo
conscientemente incapaz de me deixar ir.
Ele testaria meus limites?
Sim. Ele sempre fez isso.
Eu confiava nele para parar se fosse necessário?
Não, ele não iria parar. Mas iria desacelerar por mim se eu não
conseguisse acompanhar. E isso era tudo que eu precisava.
Pequenas garantias. Não grandes gestos.
Eu assisti com fascinação quando ele respirou fundo, esticou o
pescoço para cima, e então abriu os olhos para lançar seu olhar escuro
sobre mim. Ele se inclinou e colocou os lábios na concha da minha

~ 396 ~
orelha, e quando ele falou, eu sabia que estava ligado. — Papai vai te
foder agora, baby.
Meu núcleo apertou, e quando ele aumentou seu aperto em mim,
senti meu coração bater firmemente contra a palma de sua mão, e meu
corpo era dele para fazer o que quisesse.
Hoje eu era o seu brinquedo. Seu joguete. Um buraco apertado e
nada mais. E ele me usaria porque queria, não porque eu tinha dado
minha permissão. Porque ele estava sofrendo e precisava de uma saída.
Eu me entreguei como tributo à sua dor.
Minha boca abriu em um gemido silencioso quando ele colocou a
ponta dele na minha fenda carente.
— Cala a boca, — ele rosnou, e eu o fiz, meus olhos nele,
respirando pesadamente pelo meu nariz.
Quando a ponta dele me roçou suavemente, ele segurou meu
pescoço com insensatez em uma mão enquanto a outra desceu para
arrastar minha blusa para cima. Ele olhou para o meu sutiã preto e
justo, me observando com atenção, antes de correr os dedos ásperos
sobre o inchaço dos meus seios. — Não seja tímida, anjo. — Suas
sobrancelhas franziram com a suavidade da minha pele, em seguida, ele
lambeu os lábios. — Se eu morder... sim, vai doer. — Ele puxou meu
sutiã duramente, em seguida, sorriu maliciosamente pela maneira como
minha respiração engatou. — Mas eu prometo que você vai gostar.
Ele aplicou a menor quantidade de pressão, e quando a cabeça
dele caiu em mim, meus olhos se fecharam, uma respiração suave me
deixando levemente. Pouco a pouco, ele deslizou mais e mais,
perigosamente lento. E quando eu estava meio empalada, sua testa
franziu, ele rangeu os dentes, e com um impulso sólido, um suspiro alto
foi tirado de mim quando ele entrou na minha boceta, até as bolas.
Sentindo-me cheia e desesperada, meus lábios começaram a se
mover, e então eu estava implorando em um sussurro apressado: — Oh,
por favor. Eu quero muito isso. Por favor, baby. Dê-me isto.
A maneira como seus olhos encobriram... oh, foda-se. Ele era uma
visão, meu serafim sombrio.

~ 397 ~
Ele trouxe seu rosto para o meu, nariz a nariz, enquanto mantinha
os olhos em mim. Seu sussurro de resposta era tão quente que deveria
ser ilegal. — Esta boceta é uma parte sua, anjo, mas você e eu, nós dois
sabemos a verdade. — Sua respiração mentolada aqueceu quando ele
mordeu meu lábio inferior com força suficiente para pulsar. Um gemido
agudo foi forçado de mim enquanto ele lavava a ferroada com a língua. —
Está entre suas pernas... — Ele me beliscou novamente, mais suave
desta vez. — ...mas pertence a mim.
Isso era o que eu carinhosamente chamava de modo animal.
Suas palavras me fizeram cambalear.
Acho que todos nós amamos um cavalheiro, mas secretamente
ansiamos por uma besta.
Quando ele inclinou os quadris para trás e empurrou para cima,
meu corpo inteiro tremeu. Ele fez isso de forma constante, mais e mais,
seu aperto no meu pescoço, minha boceta pingando. Minhas costas nuas
contra a parede, meus mamilos enrijeceram a combinação de calor na
minha frente, frio nas minhas costas, e quando meu sexo apertou em
torno dele, senti seu pau pulsar em resposta.
Uma urgência repentina percorreu a nós dois.
O rosto de Twitch enrugou calorosamente e, quando sua mão livre
se aproximou do meu pescoço, pude sentir que ele estava
perto. Apertando ambas as mãos com força, senti meu suprimento de ar
sendo cortado, e quando meus olhos se arregalaram nele, sua expressão
permaneceu imutável enquanto bombeava para dentro de mim.
Meus braços pareciam pesados quando não consegui respirar
fundo, e quando estava muito fraca para aguentar mais, eles caíram aos
meus lados enquanto ele me fodia sem sentido. Quando ele fodia a vida
de mim.
Existência era estranha assim, e eu senti que era justiça poética
ser morta por um homem que apenas momentos atrás eu disse que
confiava com minha vida.

~ 398 ~
***

Twitch

Eu estava cercado por coisas que amava.


Seu corpo, minha obra de arte favorita.
Seu gemido, minha música favorita.
Sua respiração roubada, ela continuou a confiar em mim.
Eu usava o amor dela como uma tatuagem.
Ela reavivou minha alma queimada com um único beijo.
Eu amava essa mulher.
Eu a amava até a morte.

***

Lexi

Olhos abertos, mas desolados, perdi a consciência.


Momentos depois, voltei com um suspiro agudo quando ele me
soltou.
E o orgasmo que me atingiu veio do nada.
Seus braços me envolveram, segurando-me enquanto eu tomava o
ar que precisava desesperadamente. Meu coração disparou de forma
errática, e uma total e completa felicidade me encheu, fluindo através do
meu corpo em ondas. Jogando minha cabeça para trás, eu abri minha
boca e gritei quando apertei irregularmente em torno de seu pau. Nem
um segundo depois, ele empurrou tão profundamente dentro de mim
quanto podia, e eu ouvi seu grunhido áspero ao redor dos meus duros
chiados.
Twitch me segurou perto, minha cabeça caindo em seu ombro, e
eu continuei a ofegar, absorvendo o máximo de ar possível. Minha testa

~ 399 ~
estava encharcada pela transpiração - por esforço ou medo, eu não
sabia.
Seu pau amolecido escorregou para fora de mim enquanto minhas
pernas continuavam a tremer, e quando ele colocou seu rosto na curva
do meu pescoço, respirando, percebi que daria qualquer coisa para
mantê-lo são.
Até minha própria vida.
— Anjo, — foi o que ele ofegou no meu pescoço, beijando a pele
quente, mas macia. A pele que ele segurou com muita força por muito
tempo.
O que ele queria dizer era - sinto muito. Mas não havia
necessidade de desculpas. Eu achava cruel alguém pedindo desculpas
por não ser nada mais do que ele.
Um caçador natural. Um assassino condicionado.
Era como pedir a um leão que se desculpasse por ser um predador
e tentar convertê-lo ao veganismo.
Sem fundamento.
Sentindo sua liberação pingando do meu núcleo ainda apertado e
no chão do corredor, eu agarrei a parte de trás de sua cabeça com as
duas mãos, segurando-o perto. Respirando pesadamente, minha voz
resmungou: — Eu queria. Além disso... — Mudei meus lábios para o
cabelo úmido e sussurrei: — Você precisava disso.
A maneira como o seus braços me apertaram, deixando-me sem
fôlego, me disse que eu estava certa.
E enquanto vivesse, daria tudo o que estivesse ao meu alcance
para tornar a vida desse homem complexo um pouco menos complicada.

~ 400 ~
CAPÍTULO TRINTA E CINCO
Lexi

Já passava da meia-noite quando ouvi o carro ligar. Meus olhos se


abriram com um sobressalto e escutei atentamente. A porta da frente se
fechou atrás dele e levantei da cama, correndo para a janela, observando
em completa descrença enquanto ele partia.
Meu coração se contraiu com tanta força que minha respiração me
deixou com um whoosh.
Quando ele colocou uma mochila no banco do passageiro, meus
olhos se arregalaram e perdi o fôlego de sussurrar em um suspiro: — Oh
meu Deus, seu imbecil.
Ele estava partindo. Fugindo na noite como um maldito covarde.
Meu peito começou a doer terrivelmente.
Filho da puta!
Naquele único momento, uma raiva como nunca senti antes me
tomou. Naquele momento, eu era uma criança nascida da raiva e
tumulto. Fúria será o teu nome, e quando eu corri porta a fora, minha
ferocidade explodiu de uma faísca singular para um inferno furioso e
queimou com tanta força que chamuscou minhas veias.
Se ele achava que iria me deixar, deixar-nos uma segunda vez, ele
estava muito enganado.
— Não, — clamei no segundo em que cruzei o limiar. Esse clamor
aumentou em um grito quando ele se virou e parou, uma expressão de
impaciência cruzando suas feições. — Não! — E uma vez que passei pela
varanda da frente, não parei, acusando-o em nada além da minha
camisola de cor creme provocante. Meu coração acelerou quando
levantei minhas mãos, coloquei-as em seus ombros e empurrei o mais
forte que pude. — Não!
Meu empurrão mal o moveu.
Que irritante.
~ 401 ~
— Volte para dentro, — ele pronunciou passivamente, e minha
raiva explodiu.
Eu falei. Eu falei mesmo que minha voz tremesse. — Você não
pode fazer isso. — Quando ele virou o rosto, eu levantei minha mão
trêmula e levei para sua bochecha, forçando-o a olhar para mim. — Você
não pode fazer isso conosco novamente.
Ele lambeu os lábios, piscando para mim sem emoção. — Volte
para dentro, Lexi.
— Não. — Eu me mantive firme, mas minha bravata escorregou. —
Não sem você.
Twitch respirou fundo. — Eu tenho que sair daqui um pouco, tudo
bem?
— Não. — Minhas veias estavam iluminadas com lava
escaldante. Eu balancei a cabeça e gritei de forma excruciante: — Não
está tudo bem.
Eu odiava chorar quando ficava brava porque ele achava que eu
estava genuinamente triste, quando na verdade estava tentando ao
máximo não matá-lo eu mesma.
Meus olhos ficaram borrados com lágrimas não derramadas. — É
assim que você faz agora? Você só faz as malas e sai quando a merda
fica difícil? — Minha respiração ficou pesada quando deixei minha raiva
ser conhecida. — Estou tão feliz que você sente que tem essa escolha,
seu filho da puta, — eu ofeguei e depois chorei. — Eu não tenho esse
luxo, de fugir quando sinto que estou afundando por dentro, o que é
muito, a propósito. Porque eu sou mãe. — Eu apontei para a casa
enquanto minhas lágrimas deixavam uma trilha ardente nas minhas
bochechas. — E há um garotinho naquela casa que depende de mim.
Quando ele baixou o rosto, a tristeza penetrou, superando a
raiva. Minha dor era real e, embora eu já tivesse passado pelos primeiros
três estágios, o quarto veio rápido e forte. E então eu estava
barganhando.
— Por favor, não faça isso. — Meus ombros tremiam enquanto eu
chorava abertamente. Ele abriu a boca para falar, mas eu levantei a

~ 402 ~
mão, interrompendo-o. — Eu não me importo com o que você
faz comigo, mas não faça isso com ele. — Era difícil respirar e minha voz
ficou fraca. — Eu mal sobrevivi, Tony. — Meus lábios tremeram,
enquanto eu sussurrava agonizantemente: — Isso vai matá-lo.
Enquanto olhávamos um para o outro por um longo tempo, Twitch
abriu o zíper de seu capuz e deu um passo à frente, me cobrindo com
seu calor e seu cheiro, puxando o capuz sobre minha cabeça, parecendo
completamente calmo, e então o odiei.
Como ele poderia parecer tão tranquilo enquanto eu sentia meu
mundo desmoronar?
Então, quando ele deu um passo à frente e segurou minhas
bochechas, eu lutei com ele. — Não. — Eu levantei minhas mãos e bati
em seu peito. Ele se inclinou novamente, e um grunhido de dor escapou
de mim quando minha mão conectou com seu queixo. — Não me toque!
— Um braço forte circulou minha cintura e me segurou rápido, e eu
levantei meus braços, batendo nele de novo e de novo enquanto chorava
abertamente. — Não me toque, seu pedaço de merda!
— Baby, pare, — ele balbuciou, evitando tanto dos meus golpes
quanto podia.
Apertando minhas mãos em punhos, eu dei um soco em seus
ombros, mas meus golpes estavam diminuindo quando meu coração
enfraqueceu, enquanto minha alma tentava desesperadamente entender
por que isso estava acontecendo de novo.
A resposta foi uma pílula difícil de engolir.
Estava acontecendo porque eu deixei.
— Deixe-me ir. — Eu lutei em seus braços, e quando ele não me
soltou, eu gritei: — Me solta!
E foi assim que Twitch me transformou em outra dona de casa
furiosa gritando na rua.
Ele soltou então, e tanto quanto implorei por isso, eu queria correr
de volta aos seus braços se isso significasse mantê-lo comigo por mais
algum tempo.
Sim. Eu era verdadeiramente patética.

~ 403 ~
E quando eu balancei minha cabeça e virei de costas para ele,
voltando para a casa, me perguntando como diabos eu explicaria isso
para meu filho, ele pegou meu pulso. Eu o afastei com pouco ou nenhum
esforço e virei meu olhar mortal para ele. — Você quer ir? — Eu varri
meu braço para fora. — Vá. — Minha expressão grave, eu avisei: — Mas
eu juro para você, Antonio Falco, se você sair hoje, sai para sempre. Você
me ouviu?
Sim, eu disse isso. Mas eu não quis dizer isso.
Eu girei no meu calcanhar porque não queria que ele me visse
chorar de novo. Ele me parou com: — Eu deixei uma nota. — Meus pés
falharam e eu parei. — São apenas alguns dias. — Minha garganta se
contraiu dolorosamente. De costas para ele e meus pés gelados, ele falou
baixinho. — Vou voltar.
Minha respiração me deixou com um whoosh e meus ombros
caíram. Eu não ousei encará-lo.
Ele continuou: — Apenas alguns dias. Isso é tudo. — E quando eu
o ouvi se aproximar, meu corpo inteiro ficou rígido. — Vou voltar, anjo.
Por que eu deveria acreditar nele?
A última vez que acreditei nele, acabei enterrando-o.
— Eu não estou deixando você. Não do jeito que você pensa. — Eu
detestei que ouvi sinceridade em sua voz. — Eu te disse, baby. — O que
ele disse em seguida fez um novo fluxo de lágrimas caírem. — Sempre
encontrarei meu caminho de volta para você.
Eu me abracei então, tentando em vão falar através das minhas
lágrimas. — Aonde você vai?
Ele não hesitou. — Passei seis anos sem você, anjo. Passei esses
anos sozinho e miserável. Agora eu tenho você, tenho meu filho e estou
feliz pra caralho. Eu não vou correr nenhum risco. — Minhas costas se
aqueceram quando o senti parar bem atrás de mim. — Vou encontrar
alguém que garanta que tenhamos pelo menos mais seis anos juntos. —
Quando suas mãos caíram sobre meus ombros, ele disse: — Estou
cansado de esperar. Eu não posso viver assim, sabendo que ela está lá
planejando qualquer merda. Vivendo com esse medo na boca do meu

~ 404 ~
estômago. — Ele inspirou profundamente, seguido de uma expiração. —
Está mexendo comigo, baby.
Ling.
Isso era sobre Ling.
No meu silêncio, ele continuou: — Você me conhece, Lex. Você
acha que eu vou esperar a cadela atacar primeiro? Foda-se essa merda.
— As mãos nos meus ombros apertaram quando ele fez um som negativo
em sua garganta. — Não é meu estilo.
Meus pés estavam congelando e, quando me virei, fiz isso
devagar. Meus olhos úmidos encontraram os dele, e eu perguntei
baixinho: — Por que você acha que ela está planejando alguma coisa?
Honestidade brutal. — Porque eu estaria. — E a certeza em sua
voz fez meu coração falhar.
Meus olhos ficaram tão desolados quanto o meu tom. — Você não
está partindo?
Ele balançou a cabeça lentamente e seus olhos falaram com os
meus, segurando uma certeza neles. E naquele momento, a confiança
surgiu através de mim. Uma que eu não tinha o direito de sentir, não
com a nossa história. Isso me encheu de esperança.
Eu segurei minha respiração.
A experiência passada me dizia para temer esse homem e o que ele
poderia fazer comigo, mas meu coração objetou tão profundamente que
não seria silenciado. Tomei a objeção e a aconcheguei profundamente,
segurando-a perto, nutrindo-a para crescer.
Quando olhou para o relógio, ele pronunciou as palavras que eu
temia ouvir. — Eu tenho que ir. — Na minha expressão insegura, ele se
aproximou, erguendo as mãos e colocando-as suavemente na minha
cintura. — Vou voltar, — ele proferiu com sinceridade. As mãos na
minha cintura apertaram. — E quando eu fizer isso, vamos nos casar. —
Seus olhos castanhos suaves procuraram meu rosto tenso, antes que ele
ordenasse gentilmente, — Beije-me antes de eu ir.
Promessas suaves feitas com uma língua bifurcada.
Não, eu não deveria acreditar nele.

~ 405 ~
Então por que estava?
Porque era melhor que a alternativa.
Meu coração se partiu, fissuras apareceram por todo o frágil vidro
de que era feito, e quando ele me olhou nos olhos e ordenou: — Beije-me,
— meus pés se moveram sem permissão.
Ele abaixou o rosto no exato momento em que fiquei na ponta dos
pés, e quando nossos lábios se tocaram, muito foi dito sem
falarmos. Meus braços envolveram seu pescoço e eu não o deixei
ir. Ainda não.
Seu terno beijo disse: — Eu não vou te decepcionar, — enquanto
meus lábios desesperados imploravam: — Volte para mim.
E quando ele recuou, cuidadosamente afastando meus braços
dele, eu o vi aproximar-se do carro e entrei em pânico. — Não se perca,
ok?
Ele soltou uma risada suave antes de olhar para
mim. Realmente olhar. — Você não sabe, anjo? — A intensidade desse
olhar me deu arrepios. — Não importa qual mapa eu siga, todos eles me
trazem de volta para você.
Jesus Cristo.
Eu estava apaixonada por uma cobra de língua prateada.
Minha respiração engatou enquanto eu atrasava sua partida. —
Me amará para sempre?
Ele abriu a porta do carro e fez uma pausa. E então sorriu, o
sorriso maravilhosamente torto que assombrava meus sonhos até
hoje. — Até o fim dos tempos. — Antes de ele deslizar para o banco do
motorista, ele murmurou: — Espere por mim, baby.
Mas não respondi por que não precisava.
E enquanto observava o carro saindo de ré da minha garagem,
cheguei à percepção doentia de que iria esperar.
Eu esperaria um milhão de anos.
Meus olhos se abriram um pouco antes do amanhecer. Eu estendi
a mão, sabendo que ele não estaria lá.

~ 406 ~
Dedos procurando cegamente o lado vazio da cama, eu fechei
meus olhos e me enrolei enquanto meu coração doía terrivelmente,
abraçando seu capuz contra mim nas primeiras horas de uma manhã
solitária. Eu respirei seu perfume inebriante e, eventualmente, devagar
quando o sol nasceu, caí no sono novamente.
— Onde está o papai?
Eu não sei e isso está me matando.
Sorrindo para o pequeno monstro com uma luz que não alcançou
meus olhos, eu disse: — Ele teve que sair em um trabalho.
Molly olhou para mim da mesa, franzindo a testa e trocamos um
olhar solene.
Meu filho olhou entre nós, antes de perguntar com cuidado: —
Quando ele vai voltar?
Sua hesitação me matou.
Sentei-me ao lado dele e passei a mão suavemente pelo cabelo
dele. — Eu não tenho certeza, baby.
Alguns dias, ele disse. A nota que ele deixou disse uma
semana. Por tudo que eu sabia, poderiam ser meses. Anos, até.
Quem sabia?
Minha atitude ficou mais pessimista a cada segundo, e antes de
fazer algo realmente idiota, como chorar pela quarta vez esta manhã,
olhei para meu homenzinho e disse: — Que tal fazermos um belo jantar
hoje à noite? Eu posso ligar para Ana e Julius.
Os olhos do monstrinho se iluminaram. — E tio Happy e Nikki e
Dave? — Quando eu assenti, ele continuou, — E tia Manda?
Uma risada curta me escapou. — Sim. Tio Zep e Nonno Tony
também. Todos.
— Sim, — ele ofereceu imediatamente, sorrindo arduamente. E
fiquei feliz por isso.
Deus sabia que eu precisava da distração.
Twitch estava visivelmente ausente durante o jantar, mas só o meu
maravilhoso e insistente Dave teve a coragem de fazer a pergunta que
todos estavam pensando.

~ 407 ~
— Onde está o Señor Se-Irrita-Muito?
Já havia escurecido. AJ estava na cama após uma overdose de
sorvete de chocolate e desmaiar no colo de Ana. Molly estava no quarto
conversando com Tama ao telefone, o que me deixou capaz de falar
livremente. — Eu não sei.
A mesa inteira ficou em silêncio, e eu forcei uma risada antes de
olhar em volta. — Alguém tem alguma ideia de onde ele foi? — Eu fixei
meu olhar em Happy. — Com uma mochila. — Então para Julius. — No
meio da noite? — Meus olhos se voltaram para o Papa Tony. — Alguém?
— Quando me virei para encarar Zep, minha voz se calou. — Porque eu
estou enlouquecendo aqui a cada hora que passa. Quero dizer... — Meus
olhos desesperados encontraram os de Nikki. — Eu nem sei se ele vai
voltar.
Ninguém respondeu, e isso em si falou volumes.
— Não seja boba, — Nikki começou com certeza, quebrando o
silêncio. — Ele não faria isso. — Seu tom baixou um decibel. — Não de
novo. — Mas a confiança dela caiu quando ela olhou para Happy e o
encontrou olhando para Julius, uma pergunta não dita em seus
olhos. — Ele faria?
Dave zombou: — Sim, ele faria. — Ele ergueu as mãos em sinal de
rendição e foi dirigido a mim. — Sinto muito, querida, mas... — Ao meu
rosto pálido e abatido, ele parou, sabendo que eu não estava no clima
para seu atrevimento.
Eu ergui meu copo de vinho vazio para Manda, e ela encheu sem
hesitar. Eu virei para encará-la. — Ele não falou com você?
Eu estava desesperada aqui. Completamente frenética.
— Não, desculpe, — proferiu Manda lamentando, colocando a mão
no meu braço em consolo. Ela então cutucou o marido.
Vander encolheu os ombros. — Não disse merda nenhuma para
mim, querida.
Minha cabeça caiu para trás e meu rosto se encolheu em
desespero. — Jesus. — Colocando a mão na minha testa, eu bati,

~ 408 ~
lutando contra as lágrimas, e falei com os dentes cerrados. —
Onde ele está?
— Cuba.
Soltando minha mão, meus olhos pousaram em Zep. — O quê?
Ele limpou a garganta. — Ele está em Cuba. — Quando meus
lábios se separaram e minha testa se curvou em dúvida, ele acrescentou:
— Procurando por alguém.
— Como você sabe disso? — Sem ofensa, mas, — Por que ele lhe
diria?
Mas Zep ficou quieto, me torturando com aquele intenso olhar
dele.
Meu coração começou a correr. — Ele está bem?
Zep assentiu devagar.
Eu engoli o nó na garganta. — Você falou com ele?
Um aceno afirmativo foi tudo que consegui. Felizmente, era tudo
que eu precisava, e quando meu corpo relaxou e pude finalmente
respirar de novo, Zep disse: — Apenas confie nele, ok?
Confiar nele.
Eu estava tentando aqui. Eu realmente estava.
Eu pensei sobre isso por um longo momento antes de respirar
fundo, e soltar um suspiro, — Sim. OK.
E quando eu bebi meu copo inteiro de vinho em um gole, ninguém
pareceu surpreso.
Meus olhos examinaram a entrada vazia, cansada.
Fazia três noites desde que Twitch saíra e, embora eu conferisse
meu telefone a cada minuto, não havia ligações. Nenhuma mensagem de
texto. Notificações zero.
Meu celular estava tão vazio quanto eu me sentia.
Mas, tão exausta quanto eu estava, olhei para o anel na minha
mão esquerda e algo dentro de mim segurou a lasca de esperança que
estava competindo por atenção.
Ele vai voltar. Eu sei que ele vai.
Meu batimento cardíaco vacilou.

~ 409 ~
Ele tem que.
Andando de volta para o meu quarto, eu subi na cama e fiz como
fazia todas as noites.
Eu deixei uma luz acesa.

~ 410 ~
CAPÍTULO TRINTA E SEIS
Ling

O que você está fazendo aqui, Ling Ling?


Eu não sei, porra.
Não importa quão duro pensei sobre isso, não pude descobrir qual
cadeia de eventos me levou a estar aqui hoje, mas aqui estava eu, e não
podia sair. Não até que a visse.
De pé no frio revigorante da noite de abril, fiquei
esperando. Assistindo. Esperando um vislumbre. E quando ela
finalmente apareceu, minha testa franziu em incredulidade.
— Bem, foda-se, — eu disse baixinho.
Sério?
OK. Então, Asya Sadik não era o que eu esperava.
Revirei os olhos no escuro, suspirando de frustração.
Claro. Ela tinha que estar em uma cadeira de rodas, não é? Por
que não?
Meu lábio se curvou.
Ótimo. Ótimo pra caralho.
Claro, eu era um monstro, mas nem eu poderia matar uma mulher
indefesa em uma cadeira de rodas.
Não.
Eu não podia fazer isso.
Mas quando me movi do meu esconderijo sombrio e me virei para
sair, a porta dos fundos se abriu e ela me interrompeu: — Você vai ficar
aí a noite toda, ou vai entrar?
Virando-me devagar, estreitei os olhos na mulher esbelta. Um
sorriso lento puxou meus lábios e a olhei de cima abaixo.
Ela não era nada. Ela estava vazia.
Eu era linda.
~ 411 ~
Ela era... doente.
Eu era uma maldita víbora mortal.
Ela era um balão vazio.
Meu reinado era real e o terror que me cercava deixava os homens
caindo de joelhos.
Eu olhei para seu colo coberto pela manta.
Ela não conseguiria cair de joelhos nem se eu a empurrasse.
Desgosto me atravessou.
Ela era lamentável.
Então, por que diabos ele a amava o suficiente para me deixar?
Meus lábios vermelho-cereja se abriram em um sorriso quando
inclinei minha cabeça e murmurei: — Você não está com medo que eu
lhe mate?
Seu sorriso de retorno me deixou marginalmente
impressionada. — Ousadia sua assumir que eu quero viver.
Minhas sobrancelhas arquearam, meus lábios franziram pela
quantidade estranha de confiança que fluía em torno da mulher
claramente doente.
Touché, cadela.
— Entre. — Ela se afastou para dentro da casa antes de virar as
costas para mim. Meu, oh meu. Ela era uma pequena boceta ousada. —
Quero falar com você.
Um breve momento se passou antes que eu respirasse fundo e a
seguisse para dentro, fechando a porta atrás de mim com minhas mãos
enluvadas de couro. Ela me observou atentamente quando me
aproximei. Só para deixar clara minha posição, segurei minha magnífica
Glock 45 rosa de ouro em minha mão, e quando os olhos da pequena
mulher se estreitaram, ela perguntou: — Meu marido te deu essa arma?
Um sorriso lento esticou meus lábios.
Sim, com certeza.
Quando não respondi, ela segurou meu olhar, empurrando o
queixo na direção da pistola. — Essa é a minha arma. — Seus lábios
puxaram em um sorriso fino quando ela balançou a cabeça e soltou uma

~ 412 ~
risada sem graça. — Ele te deu minha arma. — Quando o rosto dela
caiu, senti essa merda com força. Ainda mais quando ela murmurou: —
Foda-me, Az. Seu desgraçado.
Meu coração se apertou com tanta força que saltou uma batida.
Eu baixei o olhar para o presente amado, meu sorriso se apagou e
a ouvi dizer: — Ele deve ter realmente amado você.
Sim.
Também achei.
Az, seu idiota.
Colocando o presente contaminado no balcão, sentei-me no
banquinho e lancei-lhe uma expressão de pura frustração. — Você
acharia que sim, ainda... — Meu tom era sombrio. — ...que ele voltasse
para casa para você todas as noites, mesmo quando eu lhe implorava
para ficar. — Endireitei meus ombros. — Ele era cruel. Ele não deveria
ter me deixado amá-lo assim. — Minha garganta se encheu de
emoção. — E eu fiz. Eu o amei tanto.
— Até a morte, parece, — ela respondeu calmamente.
Eu nunca admitiria isso, mas podia ver por que Az amava sua
esposa. Asya Sadik tinha uma confiança nela que a teria feito uma
grande líder. Talvez, em um mundo diferente, sob circunstâncias
diferentes, nós gostaríamos uma da outra.
... Não.
Quando meu olhar estoico encontrou o dela, ela revirou os
olhos. — Eu sei; você não estava lá. Você não teve nada a ver com a
morte dele. Ling é inocente, seu irmão insistiu. Como ousamos
perguntar como diabos nosso querido Az acabou sendo despejado no
porto? Porque, Deus sabe, não poderia ter sido a Rainha Dragão. Ela não
é tão louca. — Seu jogo sarcástico era forte. — Eu sei o que Van
disse. Nós duas sabemos que ele está apenas cumprindo seu dever. Não
posso dizer que teria feito o mesmo, mas posso respeitar os valores da
família. — Ela baixou o queixo, evitando o meu olhar. — Nós duas
sabemos que foi você.

~ 413 ~
Foi estranho. Ela não significava nada para mim, mas parecia que
éramos espíritos afins, aprisionados por nossa própria escuridão, nossa
própria forma de inferno.
Nós duas estávamos sofrendo.
— Eu não queria. — As palavras que me deixaram eram
assombradas. — Foi um acidente.
Ela considerou isso. — Acidente ou não, — Asya disse, — ele se foi,
e eu preciso que você faça algo por mim. — Quando estreitei meus olhos
nela, ela não vacilou. Seu tom era firme. — Chame isso de compensação.
Eu não lhe devia merda nenhuma. Mas me vi perguntando: — O
que você quer?
Relutância zero. — Eu quero que você me mate.
Meu olhar era duro, e meus olhos seguraram os dela por um longo
minuto antes de uma rouca risada sair de dentro de mim. Mas sua
expressão permaneceu imutável. Eu balancei a cabeça e murmurei: —
Não.
A bochecha de Asya Sadik se contorceu enquanto se empurrava
para frente e falava com os dentes cerrados: — Acho que você não me
entendeu, Ling Nguyen. — O tom dela não dava espaço para
negociação. — Você matou meu marido. Você me deixou sozinha neste
mundo sem o homem que eu amo. E você vai me matar, sua cadela sem
coração. — Ela respirou pesadamente pelo nariz e sua voz tremeu. — É o
mínimo que você poderia fazer.
— Eu não vim aqui para isso, — eu disse a ela, mesmo que tivesse,
mas as coisas mudaram agora que eu tinha falado com ela. E me chame
de cruel, mas sabendo que não estava sozinha em minha tristeza estava
mantendo meus pedaços juntos.
Se eu estivesse seguindo o caminho do sofrimento em silêncio,
preferi não fazê-lo sozinha.
Ela estaria comigo.
O rosto de Asya estremeceu e ela cuspiu: — Estou morrendo. — O
rosto dela se enrugou. — Você entende isso? — Seu desespero era
claro. — Eu sou um fardo para minha família, Ling. Todo dia, eles vêm e

~ 414 ~
vão, e me deixam sem a porra da minha dignidade. — Seus olhos
brilharam, quando ela disse: — Eu não farei isso com eles. Eu não
posso. Não mais. — Endireitando-se, ela fungou e sentou-se ereta,
fortalecendo sua voz. — Então, você vai me matar. E você vai fazer isso
agora. — Ela respirou fundo, falando através de uma expiração. — Estou
pronta.
Maldita seja.
Suspiro alto.
Eu realmente sentia pela cadela. Mas não a mataria.
Encurtei a distância e olhei para a sua triste versão em sua pobre
cadeira de rodas com a sua doença lamentável, e falei com firmeza: —
Não vou te matar, Asya Sadik.
O rosto dela caiu mais uma vez, mas antes que ela tivesse a
chance de discutir, coloquei a pistola no colo dela, gentilmente peguei
sua mão e a cobri com a minha, colocando-a sobre a beleza de ouro rosa.
Porque me tornei tão emocional, eu não sabia. Essa mulher não
significava nada para mim. Nós não éramos amigas. Não éramos
família. Ela não era ninguém. E ainda assim senti sua dor em um nível
pessoal.
Nossa agonia era nossa conexão. Um elo sólido entre nós. Se eu
fosse ela, teria querido morrer também.
Porra. Eu queria morrer independentemente.
Eu engoli o nó na garganta e sussurrei: — Cumprimente Az por
mim.
Sem um momento de hesitação, virei e saí pela porta dos fundos,
fechando-a atrás de mim com as mãos enluvadas. Não sei até onde
cheguei antes de o tiro soar, mas a solidão que senti pesava em meus
ombros.
Mais uma vez, sozinha na minha miséria.

~ 415 ~
***

Lexi

Já passava das onze da noite quando uma batida soou na porta e,


quando Molly saiu correndo do quarto, com uma arma em cada uma das
mãos, um olhar firme no rosto, virou-se para mim e disse com firmeza:
— Volte.
Era tão estranho receber ordens da babá, especialmente uma que
tinha metade da minha idade. Mas eu fiz o que ela pediu.
Outra batida soou e, em seguida, — Lexi.
No segundo que o ouvi, corri para fora do meu quarto, e Molly
parecia chateada quando abriu a porta e disse: — Você não sabe como
ligar?
Julius ficou parado, com a mandíbula tensa, os olhos em mim. —
Pegue sua merda.
O tom de Molly ficou abalado. — O que está acontecendo?
Julius se virou para ela. — Asya Sadik se matou.
— Ok, — Molly falou lentamente. A maneira como falou me disse
que ela não entendia.
Nem eu.
— Luka ligou, — ele me disse. — Disse que filmagens de segurança
mostram Ling no local. Dez segundos depois que a cadela sai, Asya se
mata. — Falando diretamente para Molly, ele disse: — Alguns segundos
depois de Luka ligar, Amoho me diz que a perdeu de vista. Não sabemos
onde ela está. — Seus olhos encontraram os meus na escuridão. — Eu
não estou dizendo que ela está, mas não posso garantir que não esteja a
caminho daqui, Lex, então preciso que você venha comigo.
Minha mão disparou até a minha garganta, enquanto eu falava
fracamente: — Para onde?
— Para algum lugar que você não possa ser tocada, — foi tudo o
que ele disse. — Ana está exausta. Eu não posso cuidar de vocês duas.

~ 416 ~
E porque estava com medo de perder o juízo, permiti que Julius
tirasse meu filho adormecido de sua cama e, quando Julius o carregou,
como o animal de estimação obediente que eu era, segui cegamente.
Quando chegamos à mansão na costa norte de Sydney,
Warriewood para ser preciso, fiquei boquiaberta. Não era Darling Point,
mas ainda era enorme.
Segurando meu filho adormecido no colo, meus lábios se moveram
por vontade própria. — Quem mora aqui?
Mas Julius não respondeu. Ele estava muito nervoso. Muito
focado. O que, claro, me aterrorizou. E quando chegamos aos altos
portões de segurança, Julius abaixou a janela e apertou o botão do
interfone.
Do outro lado veio — Molim23?
Julius falou com calma. — Abra os portões, Pav. Você sabe que
sou eu.
Os portões se abriram e Julius dirigiu pela longa entrada de
paralelepípedos em completo silêncio.
Pav.
Ah, merda.
Estávamos no castelo do rei e eu não tinha certeza se Twitch
ficaria feliz com isso. — Twitch sabe disso?
Julius retrucou bruscamente: — Twitch não está aqui.
Meu corpo inteiro se sacudiu com a aspereza em seu tom. Era tão
diferente dele, meus olhos se arregalaram em choque e eu pisquei em
alarme.
Santo inferno.
Esta pode não ser a precaução que assumi que seria. E quando
Pav saiu de sua casa parecendo sombrio em seus moletons, esperei até
que Julius abrisse a porta para mim antes de sair com meu filho.
Luka Pavlovic aproximou-se devagar, com cuidado e falou com a
mesma cautela. — Eu sei que começamos com o pé errado, mas quero
assegurar-lhe que você estará segura aqui. — Ele olhou para o

23 Quem em Croata.

~ 417 ~
monstrinho adormecido em meus braços, e quando levantou a mão para
acariciar suavemente a cabeça do meu filho, eu deixei. — Vocês dois.
— Obrigada. — Eu não sabia mais o que dizer, então não disse
nada.
— Entre, — ele falou baixinho para não acordar AJ — Vou te
mostrar o seu quarto.
Quando me voltei para Molly, ela ficou ao lado de Julius e eu
disse: — Vamos.
Mas Molly baixou o rosto, soando momentaneamente
envergonhada de si mesma. — Eu não sou bem vinda aqui, Lex.
— Não, — Pav concordou em silêncio mortal. — Ela não é.
O quê?
Oh inferno não. Isso não era aceitável.
— Tudo bem. — Eu girei de volta para Luka e disse: — Eu quero
agradecer a oferta, mas vamos embora.
As sobrancelhas de Luka se estreitaram. — Você não pode. Eu não
vou permitir isso.
Quem diabos ele achava que era?
Eu mantive meu tom firme. — Eu não sou um de seus lacaios, Sr.
Pavlovic. Você não pode me dizer o que fazer. E... — Eu encarei Molly. —
...se Molly não é bem-vinda, não acho que quero ser também.
Julius se aproximou, parecendo irritado como o inferno. — Lex,
não seja idiota.
Eu me virei nele, irritada. — E é melhor você prestar atenção no
seu tom comigo, Julius Carter. Não se esqueça de quem te recebeu em
sua casa e colocou a família em risco por você e pela sua. — Pelo menos
ele teve a graça de parecer envergonhado. Eu falei com Molly. — Tama
nos receberia?
Seu rosto se iluminou. — Com certeza. — Ela já havia puxado o
celular para fora. — Deixe-me chamá-lo.
Luka parecia positivamente irritado. — Você prefere ficar com a
escória DMS do que comigo? — Ele virou-se para Julius e balbuciou um
não divertido, — Porra, irmão? — Quando Molly colocou o telefone no

~ 418 ~
ouvido, Luka revirou os olhos e beliscou a ponte do nariz. — OK. Tudo
bem. — Suas sobrancelhas baixaram e seus lábios se afinaram. — Ela
pode ficar.
Minhas entranhas se desenrolaram de alívio, e enquanto eu
segurava meu filho em meus braços, balançando-o gentilmente,
murmurei um sincero: — Obrigada, Luka.
— Entre. — Ele balançou a cabeça, voltando-se para a casa e
soando completamente irritado. — E rápido com isso.
Enquanto me afastava com meus chinelos Pikachu, Julius falou
hesitante. — Eu não estou chateado com você, Lexi. Estou chateado com
ele.
Virei-me para encará-lo e, ao fazê-lo, notei o cansaço em suas
feições. Não me ocorreu até aquele momento o que ele deveria estar
sentindo agora. Nossos homens se mantinham tão firmes que era raro
vê-los vacilar. E Julius parecia perto de desmoronar.
Quando falei, o fiz suavemente. — Eu a quero morta também,
querido.
A dor me moldou em uma guerreira. Mágoa me deixou afiada nas
bordas. O amor me forçou ao medo.
Ling morreria. Era só uma questão de tempo antes que o karma
finalmente a alcançasse. E depois de tudo o que ela fez com a minha
família, eu queria ver a prostituta sangrar até que suas veias secassem.

***

Ling

— O que diabos há de errado com você, Ling?


Meu irmão estava sentado no final da minha cama quando entrei
no meu quarto. Ele parecia louco. Isso era incomum. Van era meu maior
fã. Ele achava que eu havia pendurado as malditas estrelas.

~ 419 ~
Eu mal vacilei ao passar por ele, indo para o banheiro. — Qual é o
seu problema?
Depois de lavar meu rosto e tirar a roupa, emergi em meu pijama
de seda, mas o puro ódio que Van demonstrava me fez parar no meio do
caminho.
Esquisito.
Sim. Isso era definitivamente estranho.
E quando ele se levantou e falou, saiu um rosnado. E esse rosnado
fez todos os tipos de imagens distorcidas passarem pela minha
cabeça. — Eu lhe disse para não deixar essa porra de quarto, mas você
vem e vai quando quer, como uma criança mimada. Foda-se o que sua
presença nas ruas está fazendo a sua própria família.
Oh sim. Ele estava chateado.
Meu lindo irmão estava com raiva de mim.
Ah não. Eu não gostei disso. — Van, — eu comecei lentamente,
franzindo a testa delicada.
— Não, — ele rosnou, e quando dei um passo para longe dele, seu
rosto ficou sem expressão. Seu tom continuou o mesmo. — Isso foi um
erro. Eu achei que você estivesse pronta, mas não está. — Ele respirou
fundo. — É por isso que decidimos que você não comandará mais os
Dragons. — Minha boca caiu aberta enquanto ele prosseguia. — A
votação foi feita. Estou assumindo, Ling.
Eu pisquei para ele, meu interior apertando com raiva reprimida.
O inferno que ele estava.
Contendo-me como a rainha que eu era, meu rosto permaneceu
vazio, quando eu disse: — Um motim, Van? — Uma risada suave saiu de
mim. — Sério?
Mas o Van que eu amava estava longe de ser visto. Em vez disso,
Van o idiota tomou o seu lugar. — Chame do que quiser. Eu já comecei o
controle de danos. — Seu olhar frio me reteve rapidamente. — Eu nunca
deveria ter lhe escutado. Mas isso é minha culpa. Eu confiei em você e
deveria ter sido mais sensato.
Suas palavras me cortaram profundamente.

~ 420 ~
Esse filho da puta.
O pânico explodiu profundamente no núcleo da minha
existência. — Van, pense sobre isso.
— Eu pensei. — Ele assentiu. — Eu o fiz. — Ele me olhou de cima
a baixo. — É uma vergonha o que você se tornou, Ling. Você nos levou
de ser uma das empresas mais proeminentes e confiáveis no hemisfério
sul para ser seu próprio brinquedo pessoal, tratando nossos homens
como crianças e punindo-os quando eles se comportam mal. Nossa
reputação sofreu em seu comando. Sua atitude de 'eu não dou a mínima'
nos custou mais do que você vale a pena, receio.
Que porra é essa? Ele nunca falou assim comigo.
— Então aqui está o que vai acontecer. — Ele deu um passo mais
perto de mim, e não confiei na tranquilidade em seu tom. — Você vai se
sentar aqui, neste quarto, como a boneca que nasceu para ser, e vai
ouvir o que eu digo, porque você sabe que tenho as melhores intenções.
Esse era o plano? Ele iria me encarcerar como a irmã retardada?
Meu sangue começou a ferver.
Ele sabia quem eu era?
Isso não iria acontecer.
— Você não terá mais nada a ver com os Dragons. Você não vai vê-
los; não vai falar com eles. Você nem vai mais ver nossos irmãos porque
sei o quanto é uma boa manipuladora. Quando for a hora certa, você vai
morar na minha casa comigo, onde posso ficar de olho em você o tempo
todo.
Minha raiva aumentou para fúria quente e pesada.
Ele deu outro passo à frente. — E quando você me convidar para a
sua cama, — ele falou baixo, — irei até você.
Meu coração começou a bater mais rápido.
A raiva se transformou em clara fúria escaldante.
Não. Nada disso funcionaria para mim.
— Nós não somos normais, Ling, e estou cansado de tentar ser
algo que não sou. Então, decidi parar de lutar contra a escuridão dentro
de mim e abraçá-la. — E ele sorriu tão cruelmente que vi meu pai nesse

~ 421 ~
sorriso vazio. — É muito libertador. Eu posso ver por que você vive do
jeito que vive. Acho que descobrirá que serei um rei meio decente. E, em
particular... — Outro passo confiante mais perto. — Você pode ser minha
rainha.
Minhas entranhas torceram dolorosamente, e quando abaixei
meus olhos, meu irmão confundiu minha posição com uma de
submissão.
Eu ouvi o orgulho alinhar sua voz quando ele estendeu a mão para
acariciar minha bochecha calorosamente. — Minha linda bonequinha.
Nós éramos realeza em nossos próprios direitos, mas eu tinha algo
que meu irmão nunca teria. Tenacidade. Era algo com o que você nascia
ou não. Não poderia ser ensinado. Felizmente para mim, eu tinha essa
merda em baldes.
Desempenhando o papel que ele claramente queria que eu fizesse,
estendi a mão lentamente para alisar sua lapela e mantive meus olhos
abaixados, enquanto perguntava baixinho: — Venha para a cama
comigo?
Van passou os braços a minha volta, descansando as mãos logo
abaixo das minhas costas. — Você me quer, Ling?
Eu queria sua alteza?
Não. — Sim, — eu murmurei baixinho, e quando ele nos moveu em
direção à cama, uma calma que eu raramente sentia fluía através de
mim, irradiando calor em uma situação fria que não terminaria bem, não
importando como isso acontecesse.
Ao lado da cama, eu passei a mão de seu peito até o seu estômago,
ainda mais baixo até que meus dedos descansaram logo abaixo do seu
umbigo. — Deite.
Quando seus olhos se fixaram em mim, ele fez o que pedi, e
quando subi em cima dele, coloquei minhas mãos em seu peito e me
debrucei em seu estomago. Eu me inclinei até que minha frente
encontrou a dele e pude sentir seu coração batendo em seu peito. Ele
estava animado com isso, nossa vergonha. Seu coração chamou o

~ 422 ~
meu; batia por mim e só por mim, e eu deslizei minhas mãos sob o
travesseiro, pressionando-me nele de uma maneira puramente sexual.
Os olhos do meu irmão estavam cobertos de prazer e eu sorri
timidamente em troca. — Você tem certeza que quer isso? Eu sou uma
mulher perigosa, Van. — Minha voz ficou ofegante. — Uma vez que você
me tenha, nunca mais será o mesmo.
O sorriso suave de Van fez meu estômago doer, e quando ele
proferiu um áspero eu te amo, percebi que ele amava.
Ele realmente amava.
Van achou que os Dragons prosperariam sob comando de um rei,
mas não apreciava o que eles tinham nesse momento. Eu sei que ele
achava que estava fazendo o que era melhor, mas já estava tomando
decisões terríveis e, infelizmente, eu não aceitaria isso.
— Você acha que os Dragons precisam de um rei, meu irmão? —
Eu perguntei docemente, arrastando beijos ao longo de sua mandíbula.
— Eu acho, — ele grunhiu enquanto eu corria minha língua ao
longo de seu queixo.
Eu queria meu irmão?
Eu queria muitas coisas.
Eu queria que ele me entendesse.
Eu queria que ele percebesse seu erro.
E acima de tudo, eu o queria morto.
Beijando sua bochecha, eu falei contra sua pele áspera com a
barba por fazer: — Meu lindo irmão, você tem sido a luz do sol na minha
escuridão. Você me segurou toda vez que caí e agradeço por isso. Mas eu
preciso que você me ouça agora, e ouça bem. — Eu me movi então. Meus
lábios a um fio de cabelo longe dos seus, eu olhei para Van nos olhos e
sussurrei maliciosamente, — Eu sou o maldito rei.
Em um movimento que ele não viu chegando, seus olhos se
arregalaram quando me sentei, tirando a faca de caça debaixo do meu
travesseiro, levantando acima da minha cabeça, e enquanto eu a
abaixava em seu peito, meus olhos se arregalaram e meu lábio se
curvou. O som de surpresa que ele fez quando a lâmina de sete

~ 423 ~
polegadas entrou em seu corpo foi música para meus ouvidos. Eu a levei
mecanicamente para baixo uma e outra vez, e a cada vez que a faca
deslizava nele, um grunhido áspero escapava de sua boca. Um calor
úmido salpicava meu rosto, sobre meus olhos, mas não ousei pará-
los. Eu precisava ver o momento exato em que a luz desaparecesse de
seus olhos.
Eu contei cada golpe.
Minha mão firme acalmou somente quando cheguei aos sessenta e
três golpes e o peito de Van parecia carne picada.
Meus lençóis brancos agora estavam vermelhos, me sentei e franzi
os lábios, olhando para o meu irmão, ofegando levemente. Ele ofegava e
tossia, e quando seu corpo estremeceu, peguei a faca de caça e
lentamente lambi a lâmina. Quando fiz isso, nossos olhos se
encontraram.
A expressão dele era uma mistura igual de choque e dor, e não dei
à mínima. — Sinto muito, Van, mas acho que você poderia dizer que a
minha resposta para tudo que acabou de oferecer é... — Eu parei por um
segundo, meu rosto escureceu, e eu falei devagar, — Não.
Ele abriu a boca e tentou falar, mas tudo o que saiu foi um som
borbulhante e repugnante.
Eu deveria simplesmente ter cortado sua garganta, mas não
quis. Eu queria assistir.
— Isso poderia ter sido diferente. Você sabe disso, não sabe? —
Quando ele não respondeu, porque não podia, eu peguei sua cabeça em
minhas mãos e movi-a em um lento aceno de cabeça. — Isso mesmo. Eu
não queria fazer isso. — Eu segurei suas bochechas, e ele ofegou por ar
enquanto eu movia a cabeça de um lado para o outro em um aceno de
cabeça. — Mas nossas visões colidiram e um de nós precisava ir. E com
certeza não seria eu, Van. Você sabe que eu sou muito egoísta para
compartilhar o que é meu. — Sua respiração ofegante ficou mais
fraca. — Isso aqui? Isso é o que me faz uma boa líder. Ninguém está
seguro, Van. Ninguém. Eu acho que o que estou tentando dizer é... — Eu
o mantive firme quando ele respirou fundo, gaguejando. A expiração

~ 424 ~
nunca veio. E quando abaixei sua cabeça, pisquei para minhas mãos
manchadas de sangue. — ...vida longa ao rei.
O silêncio começou a girar sobre mim enquanto minhas ações se
repetiam em minha mente. E por alguma razão desconhecida, sentada
sobre o corpo morto do meu irmão, eu simplesmente não consegui
encontrar vontade de me importar.
Este era meu castelo, sim, mas eu nunca mais governaria. Quando
descobrissem o que aconteceu aqui, minha vida estaria perdida. Luka
Pavlovic colocaria uma bala entre meus olhos.
Porque era o que você fazia com bestas doentias.
Você as matava.
Eu pensei sobre o que fazer agora, mas apenas uma opção se
destacou.
Se eu partisse, partiria com um estrondo. E quando eu finalmente
detonasse minha bomba atômica, a explosão seria sentida por toda
parte. Eu agitaria cada maldita janela neste buraco de cidade.
Um sorriso manchado de sangue se esticou em meus lábios
quando deslizei para fora da cama e saí do quarto, descalça e pintada de
vermelho.
Sim. Eles me sentiriam. Eu me certificaria disso.
Boom, cadelas.

~ 425 ~
CAPÍTULO TRINTA E SETE
Lexi

— Nenhuma palavra?
Eu servi meu café, olhando para a caneca preta e dourada, meus
lábios apertados. — Não. — Quando meus olhos encontraram os de
Luka, dei de ombros e forcei um sorriso que eu sabia que não alcançava
meus olhos. Minha resposta foi apática. — Ele nunca foi realmente do
tipo 'ligar para checar'.
Com o tom meio irritado, Luka sorriu com carinho. — Não, ele não
é.
Nos últimos dias, Luka Pavlovic e eu tínhamos começado a
conhecer um ao outro e, com o passar dos dias, formou-se uma
compreensão não dita. Uma tolerância mútua. Ele já não me tratava
como um fardo, e eu não o tratava mais com a insolência de uma garota
hormonal de treze anos de idade. Ao contrário de Twitch, Luka era na
verdade uma espécie de conversador, e quanto mais conversávamos,
mais eu gostava do homem.
E em nosso ódio compartilhado por uma mulher altamente
imprudente, combinávamos perfeitamente.
Afinal, Luka tinha muito a perder nessa situação. Enquanto eu
não taxava perder sua posição tão altamente quanto perder a minha
vida, o reinado de Luka era importante para ele, tanto quanto minha
vida era para mim.
Toda vez que pensava no que Ling era capaz, imaginava meu filho
crescendo sem a mãe, sem o pai. E isso me assustava até a morte. Havia
tanta coisa para qual queria estar por perto, tanto pelo que AJ precisaria
de mim aqui. Eu não estava pronta para conhecer meu criador. Ainda
não. Nem Twitch. Então eu lhe dei tempo porque sinceramente era tudo
que tinha para dar nesse momento.

~ 426 ~
Sentada ao seu lado na mesa, passei a mão pelo cabelo com um
suspiro e virei meu rosto cansado para ele. — O que há em Cuba? —
Luka baixou o olhar, passando um dedo pela mesa, e eu estreitei os
olhos nele. — Parece que vou fugir, Pav? — Ele me olhou nos olhos. —
Não, eu estou bem aqui, e se você soubesse metade da merda que o
homem me fez passar, confie em mim, até mesmo você me diria para
correr. — Meus olhos suavizaram. — Mas eu estou aqui. Estou
esperando. Eu só quero que ele volte para casa.
— Ele vai, — disse ele imediatamente, antes de acrescentar: — Há
apenas uma coisa em Cuba, Alexa, e por sua causa, espero que Twitch
não seja estúpido o suficiente para trazer essa merda para cá, por que...
— Ele me lançou um olhar de desagrado inconfundível. — Eu não ficarei
satisfeito.
O jeito que ele estava olhando para mim fez meu coração gaguejar.
— E se ele não voltar? — Sussurrei, e meus olhos foram para as
minhas mãos, completamente fora de foco enquanto enfatizava baixinho.
E pela primeira vez desde que o conheci, Luka Pavlovic parecia
inseguro. — Você poderia ficar aqui, comigo. — Ele realmente era um
homem doce, uma vez que você visse a intensidade que ele usava como
armadura pesada. E quando abri a boca para falar, acrescentou com
certeza: — Mas ele voltará.
Luka parecia tão certo. Eu queria sentir o mesmo. — Como você
sabe?
A falta da Twitch veio em ondas e hoje eu estava me afogando.
Ele falou baixo e abriu um largo sorriso que eu tinha certeza que
faria calcinhas derreter em todo o mundo. — Porque eu voltaria por você.
Infelizmente, apenas o sorriso do homem me afetava. Era torto e
largo e o fazia parecer um menino travesso, e eu adorava.
Revirei os olhos, mas suavizei com uma risada. — Conquistador.
— Honesto, — ele proferiu baixinho, e enquanto se afastava, ele
piscou, e eu não tinha certeza se estava realmente brincando ou não.
Eu não deveria estar rindo como estava.
Definitivamente não.

~ 427 ~
Minha pele picou quase dolorosamente enquanto arrepios
percorriam meus braços, começando no meu ombro até o meu
pulso. Minhas sobrancelhas arquearam cansadas, e quando a brisa leve
atingiu meu braço, franzi a testa sonolenta e me aconcheguei mais
profundamente nas cobertas.
Só que não havia nenhuma.
O estrado de madeira rangeu e meus olhos se abriram, piscando
rapidamente na escuridão, e quando se ajustaram, meu coração pulsou.
— Anjo.
O sussurro rouco suave era um bálsamo em minha alma, e eu me
sentei e me atirei nele, jogando meus braços ao seu redor com uma
respiração áspera. Ele me permitiu segurá-lo contra mim com firmeza,
puxando sua cabeça no meu peito enquanto me ajoelhava ao lado dele
no colchão. Eu pressionei beijos firmes em sua cabeça uma e outra vez,
e quando ele colocou seus lábios no vale entre meus seios, meus
mamilos enrijeceram com um desejo que não seria negado.
Sem dizer uma palavra, eu peguei a bainha da minha camisola e
puxei pela minha cabeça, deixando-me em nada além de uma minúscula
calcinha de seda. Com a voz grossa de emoção, lhe ordenei, — Beije-me.
Ouvindo a necessidade em minha voz, ele fez o que mandei.
No momento em que seus lábios tocaram os meus, eu estava
perdida. Gemendo em sua boca, minhas mãos encontraram o seu cinto e
puxei-o desesperadamente, conseguindo soltá-lo antes de estalar o botão
em seu jeans, enfiando a mão e tomando seu comprimento duro,
apertando-o com força.
A boca de Twitch relaxou quando ele soltou um gemido baixo.
Eu precisava dele dentro de mim. Agora mesmo.
Na escuridão da noite, eu implorei em um sussurro: — Por favor,
baby.
O ligeiro engate de sua respiração me disse que eu não estava
sozinha em minha necessidade.
Rapidamente, ele nos virou, e quando se elevou sobre mim, um
puxão duro fez minha calcinha descer pelas minhas pernas. Quando

~ 428 ~
minhas mãos encontraram a bainha de sua camiseta, ele murmurou um
áspero, — Deixe-a. — A insistência em seu tom fez meu núcleo
encharcar. Ajoelhando-se entre as minhas pernas, ele segurou seu pau
em uma mão, em seguida, abaixou-se, deslizando dentro de mim com
uma aspereza que me tirou um pequeno gemido.
E Twitch me deu o que eu desejava.
Completamente vestido, ele me fodeu forte, me fodeu rápido, e pela
primeira vez em anos, me fodeu na posição missionário, sua boca
procurando desesperadamente a minha. Mas eu precisava sentir mais
dele. Minhas mãos moveram-se rapidamente, levantando sua camiseta
para sentir seu peito duro em meus seios arfantes antes de envolver
minhas pernas em torno de seus quadris e encontrar seus impulsos.
Foi urgente. Foi apressado. E, acima de tudo, foi completamente
inebriante.
Juntos, éramos perfeitos.
Você não poderia vencer isso.
Um grunhido passou seus lábios, e ele murmurou com força, —
Senti sua falta.
Enquanto ele metia em mim impiedosamente, respirei — Te amo,
— e quando o fiz, ele ficou imóvel, procurando meu rosto no escuro,
espalmando carinhosamente minha bochecha antes de se inclinar e
capturar minha boca em um beijo firme que recitava versos poéticos
inteiros enquanto tudo que eu conseguia administrar eram linhas vazias.
No limite da liberação, eu levantei meus quadris com um gemido
baixo, e ele pegou a sugestão, puxando para trás, em seguida,
empurrando todo o caminho para dentro de mim. Meu núcleo apertou
com força, e Twitch ofegou em minha boca enquanto segurava meu
rosto, drenando os últimos seis dias de ansiedade fora de
mim. Enrijecendo meu corpo, afundei de volta no colchão, meus lábios
separados, esperando o trem me atingir, e quando isso aconteceu, eu
estremeci. Eu tremia como se tivesse sido eletrocutada, meu orgasmo
batendo forte e rápido. Ele engoliu meu gemido com um beijo que
machucou, e quando parou, me olhando nos olhos, senti seu pau

~ 429 ~
pulsar. E quando ele se derramou dentro de mim, tudo estava certo no
meu mundo.
No momento.
Os sons de nossa respiração ofegante preencheram o silêncio, e
Twitch colocou a boca no meu pescoço, gentilmente me
mordendo. Sorrindo suavemente, passei meus braços ao redor de sua
cabeça, valorizando a sensação de sua boca em mim. Suas mordidas
pungentes se espalharam do meu pescoço até a minha clavícula até o
meu ombro, e quando seus dentes apertaram minha pele, meu núcleo
apertou seu pênis ainda duro, amorosamente, como o mais doce dos
beijos.
Deus. Eu senti falta dele.
Era engraçado como você poderia desesperadamente sentir falta de
ser íntima com quem amava, mas quando não tinha sido abraçada por
um tempo, percebia que o sexo não era o que sentiu falta afinal.
Ele manteve a boca na minha pele por um longo tempo, e quando
finalmente levantou a cabeça, eu segurei seu olhar, correndo os dedos de
sua testa até seu queixo áspero. — Você voltou.
E quando sua testa franziu, eu soube que Twitch tinha ouvido
tudo o que eu disse. Até as partes que tentei esconder. — Não gosto da
surpresa em seu tom, baby.
Bem, o que ele esperava?
Eu alisei sua testa com dedos gentis e ignorei sua declaração. —
Encontrou o que procurava?
— Sim, e Pav não está feliz, — ele murmurou, e parecia tão
cansado que meus braços se apertaram ao redor dele, oferecendo o
conforto que podiam. — Então, vamos partir bem cedo.
Ele estava de volta.
Ele voltou.
Secretamente feliz, eu abaixei a cabeça e pressionei minha boca na
sua testa com meus lábios quentes e inchados. — Ok, querido.

~ 430 ~
Embora eu estivesse aliviada por ele estar de volta, algo dentro de
mim se recusou a soltá-lo, e não importava como nos rearranjássemos,
meus braços permaneceram firmemente presos ao redor do meu homem.
Para minha sorte, Twitch não pareceu se importar.
Meus olhos se arregalaram nas três pessoas enfrentando Luka
Pavlovic, e quando Luka viu Twitch e eu nos aproximando, ele fechou os
olhos, balançando a cabeça lentamente.
— Eu o quero fora, — ele murmurou.
— Pav. — Twitch colocou as mãos para cima em um gesto de
conciliação. — Vamos conversar.
Uma mulher sorriu, sentando-se no sofá. — Sim, Luka. — Ela o
olhou de cima a baixo. — Vamos conversar.
— Conversar, — soou muito como “foda” vindo de seus lábios.
— Eu fecharia minha boca se fosse você, Fernanda, — Pav rosnou
com os dentes cerrados. E quando a segunda mulher perdeu a
capacidade de segurar o riso, Luka parecia chateado. — Não me faça ir
aí, Luna.
Foi então que percebi que as mulheres eram gêmeas.
Fernanda usava o cabelo escuro longo e ondulado nas costas,
enquanto Luna tinha o cabelo curto, desbastados nos lados e mais longo
na frente, com um estilo bagunçado. Fernanda usava jeans apertados e
uma pequena camiseta que mostrava seu estômago. Luna usava calças
cargo largas e uma camiseta solta com um sutiã esportivo
embaixo. Fernanda parecia muito feminina, enquanto Luna usava
sombra preta nos olhos com uma atitude que dizia — aproxime-se com
cautela, — mas seus corpos altos e esbeltos eram os mesmos, os rostos
idênticos.
Fernanda lambeu os lábios sedutoramente. — Parece que você
sentiu minha falta, Pav. — Então ela piscou, e quando me virei para
olhar para Luka, ele parecia querer dar alguns passos e estrangular a
mulher. — Mas, — ela suspirou, — é o que você ganha por nos banir. —
Seus lábios fizeram beicinho melodramaticamente, enquanto ela dizia: —

~ 431 ~
Você atirou no meu coração, baby. — De repente, seu rosto mudou e ela
murmurou sombriamente: — que tal eu retribuir o favor?
— Jesus Cristo. — Twitch exalou um suspiro irritado. — Você tem
um desejo de morte, Fern.
Quando Luka sacou a arma e apontou para ela, a expressão que
Fernanda mostrava era de pura vitória. E ele soube imediatamente que
havia revelado muito em suas ações.
Oh sim. Meus olhos arregalaram-se no modo como Fernanda
observava o Sensacional Croata. Eles definitivamente tiveram algo em
um ponto.
— Eu não me provocaria, Papi. — Fern sentou-se, um leve sorriso
puxando o canto de sua boca. — Eu sou uma mulher. — Seus olhos se
estreitaram em Luka antes de se recostar no sofá, descansando os
braços sobre seu encosto. — Estive lavando manchas de sangue das
minhas roupas desde que era adolescente.
Minhas sobrancelhas arquearam.
Oh, merda.
Era difícil não ser afetado pela mulher. Eu meio que gostei de seu
tipo ousado. Eu definitivamente poderia aprender uma coisa ou duas
com ela.
O homem por trás das duas mulheres falou, e eu nunca ouvi nada
parecido com sua voz rica e grave.
— Já chega.
Isso me lembrou de sexo.
Sim. Era isso.
Era sexo puro e não adulterado. Eu senti tudo isso. E me
incomodou o suficiente para dar um passo para trás, para longe dele.
— Ninguém te perguntou merda nenhuma, Thiago, — Luka cuspiu
ferozmente. — Se eu precisasse que você mediasse, pediria isso. — Ele
então passou a mão pelo rosto cansado. — Já é ruim o bastante ter as
Vegas na minha maldita casa. Eu não quero ouvi-lo, cara. Você foi
avisado.

~ 432 ~
O homem, Thiago, era alto e construído como um tanque de guerra
russo. Com um peito largo, pescoço grosso e uma carranca sem rival, ele
era todo músculo. Seu cabelo escuro era curto e a barba cerrada
alinhava sua mandíbula afiada como navalha. Seu queixo forte, maçãs
do rosto altas e pele bronzeada me lembraram de um boneco do GI
Joe. Só que GI Joe parecia um boceta em comparação com este demônio
de homem.
Quando ele me pegou olhando para ele com uma carranca, pousou
aquele olhar indiferente em mim, e, não, eu não o afastei. Mas, em vez de
ficar com medo, fiquei surpresa por estar completamente irritada. E
quando eu disse perfeitamente calma: — Se continuar me olhando
assim, você perderá um olho, — ninguém ficou mais surpreso do que
eu. O que era ainda mais surpreendente, foi que eu quis dizer isso.
Senti Twitch se mover para perto de mim, e completa e total
adoração fluiu através de mim. Com esse pequeno gesto, ele falou
muito..
Ele me protegeria, para sempre e sempre.
Thiago segurou meu olhar por um longo momento antes que seus
lábios se contraíssem e seu rosto se suavizasse ligeiramente. Quando ele
falou com Twitch, tudo o que ele disse foi: — Ela é sua?
E Twitch respondeu: — Ela está usando meu anel.
Os lábios de Thiago afinaram, e ele murmurou uma queixa
baixinho, — Maravilhoso.
Qual era o problema com esses homens?
Felizmente, a conversa parou quando Molly entrou na sala
segurando a mão de AJ, mas quando seus olhos pousaram nos três
viajantes, ela puxou meu filho para trás, mantendo-o longe do perigo que
a santa trindade claramente emanava. Infelizmente, o monstrinho já
havia visto seu pai.
Seus suaves olhos castanhos se arregalaram em pura alegria,
quando ele gritou: — Papai!
Com uma força que não era natural para uma criança de cinco
anos, ele tirou a mão de Molly e começou a correr. No segundo em que

~ 433 ~
ele alcançou Twitch, ele pulou, e o papai urso o pegou no ar, segurando-
o perto enquanto AJ o abraçava pelo pescoço com tanta força que iria
estrangulá-lo.
— Aí está ele. — Twitch sorriu para o cabelo de nosso filho,
beijando sua cabeça, em seguida, balançando-o de lado a lado,
acariciando suas costas. — Como você está, broto?
AJ segurou-o com força. — Você demorou a voltar, — o pequeno
monstro murmurou tristemente, e meu coração doeu.
Mas Twitch não se importava que ele estivesse o sufocando. Ele
queria seu filho perto. Havia uma espessura alinhada a seu tom. —
Estou de volta agora.
— Aw, — murmurou Fernanda, virando os olhos arregalados para
Luna.
Luna colocou a mão em seu coração e ficou boquiaberta antes de
deixar escapar um descrente, — Twitch. — Seus olhos pousaram em
nosso menino e ela piscou para ele. — Você é um pai. — Ela parecia
absolutamente atordoada, e esse tipo de choque normalmente só vinha
de pessoas com quem você estava familiarizado.
Tipo, estreitamente familiarizado.
Quem eram essas pessoas?
— Então não há chance de roubar sua garota? — Minha cabeça
estalou para Thiago, e enquanto eu olhava para ele, ele piscou antes de
um lento sorriso aparecer.
Twitch não achou graça e, embora dissesse: — Você pode tentar,
Tee, — o que ouvi foi: — Vou matá-lo devagar e me banhar em seu
sangue.
Sentindo que ele estava perto da implosão, me movi, pressionando
em seu lado livre, e ele colocou o braço em volta da minha cintura quase
reflexivamente. Seu humor não melhorou quando Luka decidiu opinar.
— Você tem que pegar uma senha como o resto de nós, filho da
puta, — ele acrescentou maliciosamente. — Eu cheguei aqui primeiro.
Oh meu Deus.
Meu estômago se apertou.

~ 434 ~
A bochecha de Twitch pulsava enquanto ele lentamente olhava
para o amigo. — Você tem sido legal comigo, Pav, então vou fingir que
não ouvi isso.
Luka deu de ombros, parecendo completamente despreocupado. —
Estou sendo honesto.
A mandíbula de Fernanda se apertou e ela baixou o olhar para
esconder sua dor. E eu senti por ela então. O que quer que ela tenha
feito, machucou Pav. Isso estava claro. E agora, Pav queria machucá-la.
O braço ao meu redor apertou. Mostrando minha lealdade sem
reservas, me virei, inclinando-me para pressionar meus lábios no
pescoço sobre a cicatriz enrugada que ele havia adquirido seis anos
atrás, e quando senti seus músculos relaxarem sob a minha boca,
comecei a relaxar o suficiente para me afastar.
Os olhos de Twitch se estreitaram em seu amigo. Sua voz mal
chegava a um sussurro. — Você tem sorte de eu estar segurando meu
filho.
Esses homens eram cansativos e, enquanto meus olhos se
fechavam, estendi a mão para apertar a ponta do nariz e enunciar: —
Podemos, por favor, não fazer isso? — Lentamente, abri os olhos e olhei
ao redor da sala. Um suspiro cansado me deixou. — Eu odeio dizer isso,
mas... — Meus olhos apologéticos pousaram em Luka. — nós precisamos
da sua ajuda. — E quando meu olhar cansado encontrou meu filho, eu
toquei seu cabelo macio antes de voltar para o quarto. — Temos um
problema para resolver.
Um problema com os lábios vermelho-cereja e uma atitude filha da
puta.

~ 435 ~
CAPÍTULO TRINTA E OITO
Lexi

O silêncio era denso e, enquanto eu normalmente apreciava um


momento de silêncio, esse era diferente. Era pegajoso. Sufocante. E
enquanto nos dirigíamos para casa como Luka desejava, todo o meu
corpo vibrava hiper-consciente. Porque nós estávamos sendo caçados
como presas.
Estávamos sendo caçados e o rei se recusou a ajudar.
A minha parte lógica entendia por que Luka rejeitou nosso pedido
de ajuda. A minha parte maternal sabia que eu nunca perdoaria suas
ações.
— Ninguém mais pode nos ajudar. — Eu virei meu olhar
suplicante para ele, e quando ele desviou o olhar, eu sabia - eu sabia -
ele não faria nada. Isso, claro, não me impediu de tentar. — Luka. — Eu
dei um passo à frente antes de virar para olhar meu filho dormindo no
sofá. Eu faria qualquer coisa por esse garoto. Eu tinha. Eu faria. E eu
continuaria. — Por favor, — eu apelei para o lado mais suave que ele
raramente mostrava. O lado que tive a sorte de conhecer no meu tempo
a sós com ele. — Ajude-nos.
Mas quando ele respondeu tão insensivelmente como fez, Luka
Pavlovic estava morto para mim. — O que você quer de mim, mulher? —
Ele se virou para a família Vega à espreita no canto da sala. Ele olhou
para os três de forma significativa. — Parece-me que você tem toda a
ajuda que precisa.
Eu rapidamente percebi o problema dele e, uau, não conseguia
acreditar nele.
Meu olhar suave inflamou em raiva ardente. — Você está
ressentido? É disso que se trata? — Meus olhos se arregalaram em
compreensão. — Você não vai nos ajudar porque está ressentido porra?

~ 436 ~
— Eu me virei para encarar Fernanda, e cuspi: — Ele não vai ajudar a
proteger meu filho por sua causa?
— Baby. — Twitch colocou a mão no meu ombro, mas eu o afastei,
exigindo uma resposta.
O olhar frio de Fernanda pousou em Luka com a força de um
machado passando por cipreste macio. — Não se estresse, gatita. — Ela
parecia enojada com o homem que uma vez chamou de seu rei. — Você
não consegue ver o quão abalado ele está? Isso deve dizer tudo o que
você precisa saber. — Sua confiança era inabalável. — Somos tudo que
você precisa.
Então, quando voltamos para casa com os Vegas nos seguindo, eu
provavelmente deveria estar me sentido mais à vontade do que
estava. Mas me pareceu errado. Tudo isso. Eu não conseguia apontar
exatamente o quê, mas algo parecia errado.
Twitch entrou na garagem e os Vegas estacionaram atrás de
nós. Em segundos, Molly apareceu no Big Red e Tama saiu do carro com
ela. Eu nem sequer notei Julius e Ana até que saí do carro. Happy foi o
último a chegar, e veio sozinho.
Meus olhos deslizaram para Twitch. — Reunião de família?
Tomando a mão de AJ na sua, ele parou para me observar com
cuidado. — Reunião de família.
Com um longo suspiro, destranquei a porta da frente e, pouco
antes de entrar, Thiago entrou na minha frente. Eu fiz uma careta. — O
que você está fazendo?
Thiago Vega olhou para o meu filho sonolento por um longo
momento e, quando respondeu, meu estômago se agitou. — Checando
caso tenha cobras. — Ele entrou sozinho.
Meu estômago doeu de repente, violentamente, e senti o sangue
escoar do meu rosto.
Na verdade, nunca me ocorreu que Ling tivesse coragem de estar
bem sentada, esperando por nós em nossa própria casa. E quanto mais
pensava nisso, mais entendia que não havia regras para Ling

~ 437 ~
Nguyen. Ela era um paradoxo, querendo governar, mas odiando o
sistema e a politicagem que vinha com isso.
Não. Ling não jogava pelas regras.
Ela andava na linha deles, escorregando um pé em ambos os lados
dessa linha sempre que lhe convinha. Pelo que entendi, ela não era a
grande líder que achava que seria. Governando puramente pelo medo,
não por respeito. Era só uma questão de tempo antes que os Dragons se
voltassem contra ela. Infelizmente, eu não podia esperar tanto tempo.
— Quão ruim é isso? — Veio de trás de nós, e quando me virei, Zep
estava parado lá, com as mãos nos bolsos e encarando seu irmão.
— É ruim o suficiente para eu querer você em minha casa ouvindo,
— Twitch disse com firmeza.
Zep balançou a cabeça lentamente, e seu rosto parecia muito tenso
na resposta de Twitch. Evander atravessou a rua, movendo-se para se
juntar a seus cunhados.
Momentos depois, Thiago voltou, sacudindo o queixo em direção a
casa.
Todos nós entramos em completo silêncio enquanto Twitch
liderava a maioria para a varanda dos fundos. Molly pegou AJ pela
mão. Ele bocejou abertamente e esfregou os olhos enquanto ela o guiava
para seu quarto, colocando-o na cama.
Ninguém falou até que ela retornasse, e quando Tama falou
primeiro, eu não esperava o que ele tinha a dizer.
Ele limpou a garganta, ganhando atenção, e quando levantou o
celular e balançou a cabeça, ele disse: — Amoho ligou. Não é bom. — Ele
parecia assustado, e até eu sabia que, para alguém como aquele enorme
guerreiro maori, ter a aparência que tinha agora, a notícia não era
boa. — Van Nguyen foi encontrado na cama de sua irmã.
Meu rosto enrugou.
Ai credo. Que nojo.
Quando ninguém falou, Tama esclareceu: — Ele foi esfaqueado
tantas vezes que seu peito foi triturado.

~ 438 ~
Espere. — Ele está morto? — Eu pisquei para ele, não esperando
que a história tomasse o rumo que tomou.
Tama assentiu. — E Ling está desaparecida. — Ele enfrentou
Julius. — Amoho a perdeu de vista em algum lugar na estrada cerca de
vinte minutos atrás. — Seus lábios se estreitaram. — Ele tem certeza que
ela sabia que estava sendo seguida.
Julius sussurrou entre dentes e a tensão sentia era evidente. —
Bem, foda-se. — Ana enfiou a mão na de Julius e eles trocaram um olhar
apreensivo que fez meu estômago doer.
— Há mais, — Tama continuou. — Parece que os Dragons queriam
uma mudança de poder. — Ele fez uma cara de conhecimento. — Até
onde sabemos, a Rainha Dragão jogou sujo.
Jogou sujo?
Jogou sujo?
Meu estômago torceu dolorosamente e eu engoli em seco, sentando
na cadeira mais próxima a mim. Minha voz estava fraca. — Bem, isso
não parece bom.
— Não, — Evander concordou. — Não parece.
— Onde ela estava indo? Que direção? — Perguntou Twitch, e eu
sabia o que ele estava realmente perguntando.
Ling estava a caminho daqui?
Oh senhor.
Eu segurei minha respiração.
Mas Tama apenas balançou a cabeça. — A última vez que a vimos,
ela estava indo para o norte.
Norte. Longe daqui. Para o rei.
Graças a Deus.
E mesmo que eu o odiasse agora, engoli meu orgulho e soltei um
irritado: — Alguém deveria avisar Luka. — Quando todos olharam para
mim como se eu fosse uma pessoa louca, dei de ombros e disse: —
Jesus, pessoal. Estou chateada, mas não o quero morto. E eu
definitivamente não tenho que me rebaixar ao seu nível. — Meus olhos
pousaram em meu lindo homem pensativo. — Faça a ligação.

~ 439 ~
Mas Twitch sacudiu a cabeça. — Você quer ligar, ligue. Eu não vou
perder meu precioso fôlego. Não com ele.
— Sim, foda-se ele, — murmurou Luna.
Fernanda murmurou baixinho: — Eu já fiz isso.
Luna sorriu. — Como foi?
Fernanda suspirou sonhadora, com um pequeno sorriso nos lábios
carnudos. — Fenomenal.
Esse foi o momento que Thiago teve o suficiente. Ele colocou uma
mão grande na testa e soltou em voz baixa: — Jesus Cristo.
Fernanda riu baixo e rouco enquanto Luna se inclinou e
sussurrou: — Ela ama torturar nosso irmão.
Eu podia ver isso.
— Twitch, — eu implorei suavemente. Mas ele simplesmente
balançou a cabeça. Ele não ia fazer nada.
Teimoso maldito.
Eu estendi minha mão com um olhar. — Me dê o maldito telefone.
— Eu vou ligar pra ele.
Virando para Happy, atirei-lhe um olhar agradecido. — Obrigada.
Mesmo que Luka tivesse nos abandonado, eu não teria sua morte
pairando sobre a minha cabeça como a espada de Dâmocles24.
Twitch parecia louco como o inferno, gritando para Happy
enquanto ele entrava na casa. — Tenha a certeza que ele saiba por que
você está ligando. Diga a ele que a mulher a quem ele acabou de recusar
ajuda ainda está vigiando seu maldito traseiro. — Ele fechou os olhos e
proclamou, — Filho da puta.
A tensão era densa o suficiente para cortar. Surpreendentemente,
foi Fernanda quem falou em nome de Luka. — Não é culpa dele. Ter-nos
aqui dificulta as coisas para ele. Ele nos baniu por uma boa razão. — Ela
realmente parecia triste. — Foi por isso que partimos de bom
grado. Estar de volta ao seu território contra o decreto dele... levanta

24 A espada de Dâmocles é uma alusão frequentemente usada para remeter a


este conto, representando a insegurança daqueles com grande poder (devido à
possibilidade deste poder lhes ser tomado de repente) ou, mais genericamente, a
qualquer sentimento de danação iminente.

~ 440 ~
questões sobre sua autoridade. — Ela fez uma careta. — Ou a falta
disso.
Foi o jeito que ela falou - sussurrando - suave e completamente
desanimada - que me fez perguntar: — O que você fez?
Seu rosto ficou sem expressão por um segundo inteiro antes de
mascará-lo com um sorriso astuto. — Isso é uma história para outro dia.
Tudo bem então.
Não é da minha conta.
Entendi.
— Nós temos um plano? — Eu perguntei para a
multidão. Ninguém respondeu. Virei para encarar Twitch e disse
baixinho: — Temos que ter um plano, querido.
Um plano seria bom. Um plano significava que estávamos
tentando manter o controle em uma situação onde não tínhamos
nenhum.
Twitch manteve os olhos em mim. — Vamos nos esconder nos
próximos dias. Manter AJ em casa...
Já sacudindo a cabeça, interrompi: — Eu já o mantive longe da
escola o tempo todo em que estávamos com Luka. Mais tempo e eles vão
fazer perguntas.
Molly franziu os lábios generosos. — Eu estou com Lexi. Manter AJ
na escola significa que o alvo de Ling se estreita em vocês dois, e eu
odeio dizer isso, mas meu trabalho é proteger aquele garotinho, não seus
pais. — Picava como suas palavras eram insensíveis, mas ela estava
certa. — A escola é provavelmente o lugar mais seguro para ele.
Luna estava assentindo. — Ela está certa. Com Molly e o
pequeno niño fora de cena, podemos nos concentrar em vocês dois.
Eu podia ver que Twitch estava desabando. Ele falou com Molly. —
Você fica com ele. Todo o maldito dia. Você me escutou?
— Eu ouvi, — ela respondeu com sinceridade, e eu sabia que Molly
faria o que fosse preciso para proteger meu filho, até mesmo jogar-se na
frente de um monte de balas.

~ 441 ~
Julius pegou uma cadeira e sentou-se, puxando Ana para o seu
colo. — Nós nem sabemos de quem ela está atrás.
Twitch respondeu positivamente: — Ela me quer. — Seus olhos
cansados mais do que o habitual quando ele passou a mão pelo cabelo e
falou baixo. — Sempre fui eu.
Um momento de silêncio caiu entre todos nós, e tive a sensação de
que todos pensavam a mesma coisa.
Ele estava certo.
Sempre foi Twitch.
— Você está armado? — Thiago perguntou a ele.
— Sempre, mano.
— E você? — Ele me perguntou. — Você sabe como usar uma
arma?
No exato momento em que respondi: — Sim, — Twitch disse: —
Não, — e quando ouviu minha resposta, suas sobrancelhas franziram
enquanto piscava para mim perplexo.
Minhas sobrancelhas arquearam. Falei com Thiago, mas mantive
meu olhar fixo em Twitch. — Sim, sei como usar uma arma. — Um
momento se passou e então expliquei: — Você acha que Julius Carter
morou na minha casa por seis meses, passando pelo que passou e não
me ensinou a proteger meu filho?
Com isso, o rosto de Tony se suavizou. — Você tem uma arma na
casa. — Uma declaração.
— Sim, eu tenho.
— E você nunca me disse.
— Não, eu não disse. — Parecia que todos nós tínhamos alguns
segredos.
Ele manteve a voz suave. — Você planejou usar essa arma em
mim?
— Ocasionalmente. — Maldição se não pensei sobre isso algumas
vezes.
Seus olhos sorriram, e os meus sorriram de volta para ele.

~ 442 ~
Em resposta a minha trapaça, tudo o que ele pronunciou foi um
suave, — Sólida.
Porra. Eu amava esse homem.
E quando Zep falou, suas palavras foram direcionadas apenas
para Luna e só para Luna. — Você vem comigo.
A testa de Luna enrugou. — De jeito nenhum, — foi sua resposta,
mas soou como se ela dissesse: — Você é louco.
Zep a olhou de cima a baixo como se ela fosse um lanche de
proporções épicas e ele estivesse faminto. Seu lábio se contraiu. — Eu
quero você na minha equipe, Lulu.
Lulu?
Espera. Eles se conheciam?
De repente, ocorreu-me. Tudo fazia sentido. Zep sabia que Twitch
estava em Cuba. Como? Porque ele provavelmente sugeriu isso. E agora
que olhei mais atentamente em como Zep observava Luna, vi mais do
que eu queria.
Zep estava afim dela.
Luna piscou para ele. — Assim como todo mundo, — ela
respondeu, rindo sem soar divertida.
Thiago, cansado dos pretendentes aparentes de suas irmãs,
estalou: — Minhas irmãs ficam comigo, Falco. As duas. — Ele terminou:
— Nós não estamos aqui por você. — E maldição se não parecia uma
ameaça.
Mas então, novamente, qualquer coisa saindo da boca de Thiago
Vega soava como uma ameaça.
— Como vamos fazer isso? — Perguntou Happy, encostado na
parede.
Molly interrompeu: — Vou dormir no quarto de AJ até uma nova
ordem. — Ela olhou para Luna e Fernanda. — Vocês ficam com minha
cama.
Elas concordaram com a cabeça.
— Thiago, você fica com o sofá, — sugeriu Twitch.

~ 443 ~
— Não abre, — eu disse, meus olhos vagando sobre sua forma
monstruosa, em seguida, adicionando um apologético, — Desculpa.
— Os demais... — Twitch deu de ombros. — ...Eu não sei. Vão
para casa, eu acho.
Era a primeira vez que eu ouvia Twitch inseguro de si mesmo, e
isso me assustava pra caralho.
Quando todos se despediram e estávamos sozinhos na cama, nos
abraçamos com força, próximos, e não me lembro de adormecer, apenas
acordar.
E quando finalmente acordei, estava sozinha em uma cama fria.

~ 444 ~
CAPÍTULO TRINTA E NOVE
Twitch

— O que você está fazendo aqui? — Ela perguntou baixinho.


Pensando em fazer algumas merdas estúpidas para mantê-la
segura.
— Nada.
Mas ela me conhecia, essa mulher. Ela me conhecia bem o
suficiente para saber que quando eu entrava na minha cabeça isso era
uma coisa perigosa.
E suas palavras sussurradas me disseram o quão bem ela
conhecia a pessoa que eu era. — Pare com isso. — Quando ela deu
alguns passos e se ajoelhou ao meu lado, levantei meu olhar cansado
para ela, e aqueles grandes olhos azuis que eu amava brilhavam com
preocupação. Ela se apoiou nos calcanhares e estendeu a mão para me
tocar, mas parou a meio caminho, fechando a mão estendida em um
punho. Ela não falou por um tempo, mas quando o fez as palavras foram
firmes. — Tudo o que você está pensando... pare.
Como eu poderia?
Isso consumia minha mente. Consumia meus
pensamentos. Consumia-me inteiro.
Nós não estávamos lidando com qualquer um aqui. Eu ensinei
Ling e a ensinei bem. Isso não ia terminar até que um de nós estivesse
em um caixão, e ela agora não tinha nada para viver.
Eu estava fodendo com uma pessoa que não tinha mais nada a
perder.
Isso fazia dela uma adversária perigosa.
— Eu já consegui dissuadir Ling de muitas loucuras antes. —
Olhei de volta para o quintal. — Talvez eu possa dissuadi-la disso
também.
Infelizmente, eu realmente não acreditava nisso.
~ 445 ~
Nem Lexi.
E quando ela olhou para mim do jeito que fez agora, preocupada e
tensa, senti a necessidade de ser real com ela, mesmo que eu
provavelmente não devesse. Mas eu falei sério quando disse que não
queria segredos entre nós. — Ela não tem uma fraqueza, baby.
Sem hesitação. — Claro que ela tem. Todos nós temos.
— Ela é mais cobra do que gente, Lex. — Minha postura enrijeceu
e acrescentei um irritado, — Cheia de um veneno que eu coloquei
lá. Ling é um monstro da minha própria criação. Ela mal é humana, e eu
alimentei seu lado animalesco. Eu o alimentei e o vi crescer e fiz essa
merda feliz porque, na época, poderia usar esse lado dela. E o que está
acontecendo como resultado disso... — Eu soltei um suspiro. — É minha
própria culpa.
Minha mulher falou, sem restrições. — Eu sei que você está
preocupado. Estou preocupada também. Mas você não precisa porque eu
vou te proteger. — As palavras eram sussurradas.
Um pequeno fungar me escapou, e quando me virei para minha
esposa, percebi sua expressão e meu sorriso diminuiu.
Ela estava falando sério.
Sério pra caralho.
Com a expressão petrificada, eu proferi um áspero: — Acha que
passei seis malditos anos longe para você ir e arriscar a sua vida por
mim? — Eu balancei a cabeça lentamente. Ela precisava prestar atenção
às minhas palavras duras. — Não vai acontecer.
Eu vi o momento exato em que ela me entendeu. O rosto dela caiu
e os belos lábios cor-de-rosa se separaram um pouco quando ela engoliu
em seco. O termo carinhoso saiu trêmulo. — Eu te amo.
— Não faça isso. — Eu estalei minha língua em aborrecimento,
minha coluna enrijecendo.
— O quê?
— Não... — Doía dizer isso. Minha voz abrandou: — Não diga
adeus. Não agora. — Uma pausa sólida. — Ainda não.

~ 446 ~
Sim, Ling estava deixando um rastro de corpos atrás dela, mas
enquanto minha mulher se movia lentamente, descansando a testa no
meu ombro, seu cabelo castanho espesso pendendo em ondas enquanto
ela abraçava meu braço com força como se eu já estivesse morto, decidi
que não seria um deles.

***

Molly

Era estúpido dizer “não se estresse” para alguém que estava muito
estressado, então continuei suavemente com — não deixarei nada
acontecer com ele.
Lexi sorriu cansada enquanto ficava de olho no monstrinho
comendo torradas na mesa de jantar e conversando com um grupo de
assassinos contratados. — Eu sei que você não vai.
Sua confiança em mim me elevou a um poder maior, me fez subir
de nível.
Então, quando chegou a hora de sair, peguei meu pequeno amigo
pela mão e o levei até o carro com mais confiança. Nós acenamos da
entrada de carros e eu desci a rua, olhando de volta para ele pelo
retrovisor. — Ei, broto, — eu comecei. — Eu sei que a casa está um
pouco lotada atualmente, mas em breve, tudo voltará ao normal, ok?
AJ me examinou com sabedoria além da sua idade. — Quando a
mulher má se for?
Esta criança. Jesus. A intensidade que ele exalava era
completamente antinatural para um menino de sua idade, ainda que
vindo dele, fosse esperado.
— Quando a mulher má se for, — esclareci.
Seguimos em frente e, pouco antes de chegarmos à escola, sua
vozinha soou. — Molly?

~ 447 ~
— Esse é o meu nome. Não o gaste. — Eu pisquei no espelho e
sorri, tentando aliviar a tensão que irradiava dele.
Seus suaves olhos castanhos se arregalaram e ele apontou para a
estrada com uma expressão de puro terror. — Cuidado.
Eu não vi o Mercedes Kompressor preto passar o sinal de pare,
mas quando pisei no freio e girei o volante para evitar a colisão iminente,
minha cabeça latejou e eu cerrei os dentes quando a dianteira do Big
Red guinchou até parar sem ser atingido. Uma nuvem de fumaça cobriu
o carro e o cheiro de borracha queimada fez meu nariz enrugar.
Meu coração saltou no meu peito. — Oh meu Deus, — eu ofeguei
enquanto minhas mãos tremiam.
— Molly? — A voz assustada disse baixinho.
Sem um momento de hesitação, eu engoli em seco e peguei meu
telefone, apertando o botão de pânico que Happy tinha instalado nele,
então soltei o cinto de segurança e me ajoelhei no banco da frente para
olhar para o meu monstrinho. Seus gritos silenciosos fizeram meu peito
doer. — Você está bem, amigo? — Eu olhei para ele. Ele não parecia
machucado, apenas abalado, e quando ele assentiu como o soldado que
eu conhecia, meu corpo relaxou e eu soltei um suspiro aliviado. — Oh,
amigo. Eu sinto muito.
Do lado de fora do carro veio um alarmado, mas feminino: — Oh,
Deus, você está bem? Eu vi tudo. Você precisa de ajuda?
— Não. — Estendi a mão para AJ e ele colocou a mão trêmula na
minha. Apertei com força, agradecendo a Deus que as coisas não foram
piores do que eram. — Estamos bem.
— Você tem certeza?
De repente, a preocupação da voz da mulher desapareceu e foi
substituída por ameaça, e meu coração gaguejou. Eu me virei devagar, e
no segundo em que a vi, minhas entranhas murcharam.
Porra, Molly. O que foi que você fez?
Ling piscou para mim através da janela aberta e sua sobrancelha
baixou. — Você não parece bem.
— Cai fora, — eu rosnei com os dentes cerrados quando entendi.

~ 448 ~
Ela não estava atrás de Twitch.
Era AJ que ela queria.
— Você está ferida, — Ling insistiu enquanto abriu a porta do
passageiro. Tudo aconteceu tão rápido que não tive tempo de reagir. Um
segundo, eu estava consciente, então no momento seguinte não
estava. Eu lutei contra isso. Deus. Eu lutei muito, mas enquanto ela
continuava a me acertar com o Taser, eu perdi a batalha.
E quando a escuridão me levou, eu a ouvi dizer: — Viu? Não está
nada bem.

***

Ling

Regozijando-me, internamente, observei o corpo da jovem tremer


com a força de cinquenta mil volts. Eu observei alegremente quando
seus olhos reviraram e ela sacudiu como se estivesse sendo eletrocutada
porque, bem, ela estava. Eu segurei o Taser em seu estômago e me
vangloriei pela maneira como ela estremecia espasmodicamente. Quando
ela começou a espumar pela boca, parei, relutantemente.
Eu não queria matá-la. Eu só queria que ela sofresse. E sofreria
quando finalmente acordasse e descobrisse que seu pupilo havia sido
arrancado debaixo da segurança de sua asa de aço.
Molly sofreria.
Todos eles sofreriam.
Eu tinha planos para esse garotinho, esse lindo garotinho cujos
pais eram idiotas. Idiotas egoístas e egocêntricos.
Meu sorriso estava escondido sob a minha expressão gelada, e
mesmo que eu não o revelasse, senti tão forte que queria levantar a
cabeça para o céu e rir ao sol da manhã.
Oh sim.
Eu os machucaria da maneira mais cruel.

~ 449 ~
— Socorro! — Eu gritei o mais alto que pude, chamando a atenção
da rua.
Com os olhos arregalados, saí do carro e corri para as poucas
pessoas ao redor do acidente. — Alguém me ajude! — Eu coloquei
minhas mãos em um homem, agarrei sua camisa com força, e cuspi, —
Eu conheço essa mulher. Chame uma ambulância!
O homem já estava com o celular ligado, discando e eu sorri
internamente, mas corri de volta para o carro e gritei na janela. —
Molly? Você pode me ouvir, Molly? — Eu ofeguei em voz alta por
precaução, em seguida, proferi um vacilante: — Você vai ficar bem.
Forçando as lágrimas dos meus olhos, fiz meus lábios tremerem,
enquanto gritava para ninguém em particular: — Alguém ajude minha
amiga!
Uma pequena multidão se reuniu em torno do carro e, quando abri
a porta de trás, estendi a mão para o garotinho que eu amava antes
mesmo de ele existir. Meu coração cheio, eu murmurei: — Venha comigo,
AJ.
Mas ele apenas ficou sentado lá, me observando com os olhos
arregalados. Ele estava apavorado e eu não gostava disso. De modo
nenhum.
— Eu conheço seus pais, querido, — eu disse a ele. — Venha
comigo. Vou levá-lo para casa.
Quando seus olhos pousaram na parte de trás da cabeça de sua
guardiã, ele se virou para mim e disse: — Molly está bem?
Quem se importa? — Sim, garoto doce. Ela vai ficar bem. Ela só
desmaiou.
Ele hesitou, olhando para a minha mão.
Venha comigo.
— Venha aqui. — Minha voz era baixa, dominante, e quando eu o
vi escorregando para trás no assento, longe de mim, eu internamente me
repreendi. — Você não quer ir para casa para sua mamãe, Alexa? E seu
pai também?
Venha comigo, meu amor.

~ 450 ~
O menininho balançou a cabeça lentamente, com cautela, e eu
sorri suavemente. — Venha comigo, querido. — Ele colocou a mão na
minha e minhas entranhas se soltaram. Eu não sabia que estava
prendendo minha respiração até soltar o instável suspiro.
Ele veio.
Ele veio para mim de bom grado.
Minha alma doeu.
Quão má pessoa eu poderia ser se essa doce alma veio a mim
livremente, ansiosamente?
Essa criança seria minha redenção. Ele era a minha chance de
uma vida melhor.
Em um tom sussurrado, eu disse: — Vamos para casa.
Quando ele me permitiu puxá-lo para fora do carro, eu o levantei
em meus braços, e enquanto o colocava no meu quadril, meus lábios
começaram a tremer quando passei meus braços ao redor dele e o
segurei perto de mim.
A sensação... oh, Deus.
Meu batimento cardíaco diminuiu naquele momento.
A sensação de segurar seu filho pela primeira vez não era nada
menos que impressionante.
— Oh, merda, — eu sussurrei quando pressionei meus lábios em
sua cabeça. Pela primeira vez na minha vida, senti meu coração explodir
de plenitude. Meus olhos se fecharam com a força da emoção que senti
naquele momento. Era difícil respirar além do nó na minha garganta.
Segurando meu filho perto, passei pela multidão e, quando fui
notada, um homem gritou: — Ei! Para onde você está o levando?
Eu não me incomodei em responder.
Uma mãe não só defendia como protegia seu filho e eu o
protegeria, mesmo de seus próprios pais.
Caminhei a curta distância até meu Mercedes Kompressor preto e
coloquei meu homenzinho no banco de trás, afivelando-o antes de passar
uma mão gentil e amorosa pelo lado do rosto dele. Deslizando para o
banco do motorista, em seguida, ligando o carro, dirigi e dirigi, e não

~ 451 ~
tinha certeza de quanto tempo se passara até que o menino triste no
banco de trás soltasse um instável — Eu quero minha mãe.
— Querido. — Minha testa franziu enquanto eu olhava no espelho
retrovisor. — Não fique triste. — Eu mantive meus olhos sorridentes
sobre ele enquanto revelava meu pequeno segredo.
— Eu sou sua mamãe agora.

***

Twitch

Meu telefone tocou no meu bolso e o puxei para fora, baixando


minha caneca de café. Eu olhei para a tela antes de responder. — Está
tudo bem?
— Molly ativou o sinal de socorro — disse Happy.
Ele estava no viva-voz em um carro. Ele estava dirigindo, e quando
ouvi carros buzinando ao redor dele, soube que ele estava dirigindo
rápido.
Sem hesitar um segundo, saí pela porta da frente e falei ao
telefone. — Onde?
— Na rua antes da escola.
Eu já estava no meu carro, e quando liguei a ignição, vi Lexi sair
correndo da casa descalça, com os olhos arregalados em dúvida. Eu não
tive tempo para parar. Saí da garagem tão rápido que os pneus
derraparam.
Meu peito explodia enquanto dirigia em direção à escola.
E pela primeira vez na minha vida, eu pedi a um Deus no qual não
acreditava que isso fosse apenas uma precaução.
Eu cheguei a uma cena de caos. O carro de Molly estava
esfumaçando debaixo do capô, todas as portas estavam abertas e eu não
conseguia ver ninguém lá dentro. O carro estava parado no acostamento,
um longo rastro de marcas de derrapagem levando aonde ele havia

~ 452 ~
parado. Happy estava conversando com um paramédico e, quando ele se
curvou, segurando a cabeça entre as mãos, eu parei no meio do
caminho.
Meu coração parou de bater.
O peso no meu peito aumentou. Eu não conseguia me mexer.
Happy se endireitou. Ele me viu e começou a andar, mas eu recuei
para longe dele. Ele continuou vindo, e no momento em que chegou a
mim, colocou as mãos nos meus ombros.
Eu dei de ombros. — Onde ele está?
— Molly está em estado crítico. Ela mal respira. Eles a estão
levando para...
Nesse momento época, eu não dava a mínima para Molly. — Onde
ele está?
—... o hospital.
De repente, irado, meus olhos se arregalaram, enquanto eu
ofegava, — Onde ele está?
Happy passou a língua pelo lábio inferior e colocou as mãos nos
quadris. — Ela os tirou da estrada, uma testemunha disse. Saiu do carro
e fez um bom trabalho em convencer a multidão de que ela era uma
amiga. — Ele me olhou de forma significativa. — Deixaram-na se
aproximar.
Meus olhos brilharam. Empurrando contra seu peito, eu agarrei
sua camisa com força e curvei meu lábio, deixando escapar um sinistro
— Eu juro por Deus, mano...
Happy não recuou quando falou as palavras que fizeram minha
cabeça implodir. Ele disse em voz baixa, com tristeza. — Ele se foi,
Twitch. — Eu empurrei seus ombros e assisti-lo tropeçar. — Ela o levou.
Porra.
Minha cabeça girou.
Merda.
Meu coração se partiu.
Não não não não não.
Isso não estava acontecendo.

~ 453 ~
Vagando sem rumo, coloquei minhas mãos no topo da minha
cabeça e pisquei para o nada.
Eu queria culpar Ling, mas a verdade fez um buraco no meu peito.
Isso foi minha culpa.

***

Lexi

O som do carro se aproximando me fez sair para recebê-lo, minha


garganta apertada. Quando Twitch saiu do carro, seus olhos sombrios,
evitando o meu olhar, minha respiração ficou rasa.
Foi quando eu vi.
A mochila escolar pendurada na mão dele.
Carros de polícia pararam na frente da casa, e quando pisquei sem
foco, todo o meu mundo desmoronou. Eu balancei a cabeça e olhei para
Twitch, totalmente atordoada. Quando ele finalmente encontrou meus
olhos, a emoção crua que eu vi por trás daqueles olhos castanhos me fez
colocar a mão na minha garganta e dizer: — Não.
Um homem deu um passo à frente e eu o ouvi falar, mas não
consegui registrar nada.
— Senhora Ballentine, meu nome é Gabriel Blanco. Eu sou da
Polícia Federal Australiana. — Ele tomou seu tempo, falando baixo e
calmamente. — Podemos entrar?
Eu me virei lentamente para Twitch. Minha visão borrada com
lágrimas não derramadas. Minha voz era pouco mais que um
sussurro. — Onde está meu filho?
Twitch deu um passo à frente, segurando a pequena mochila azul
nas mãos, que ficou pendurada como um mau presságio. Ele falou
suavemente: — Estávamos errados. — Relutantemente, ele emendou sua

~ 454 ~
declaração. — Eu estava errado. — Sua hesitação falou volumes. — Ela
não estava atrás de mim.
— Oh, — eu respirei quando a minha garganta se fechou e a
primeira das minhas lágrimas quentes deslizou por minhas
bochechas. Eu caí de joelhos, sem piscar, e soltei um abafado: —
Entendi.
Nós estávamos errados.
Querido Deus, não.
Meu coração acelerou e minha respiração se tornou pesada e
ofegante quando a gravidade dessa situação me atingiu.
Nós estávamos tão errados.
A Rainha Dragão queria meu filho.

***

Ling

Ele estava chorando.


Oh, Deus, ele chorou, e parecia que nunca iria parar. Isso durou
tanto tempo que me perguntei se ele secaria. Não havia como uma
criança tão pequena quanto ele armazenar tanto líquido para que as
lágrimas que derramava nunca terminassem.
Ele chorou no carro.
Ele chorou no apartamento.
Ele chorou quando o banhei. Enquanto eu o vestia. Enquanto eu o
segurava e o balançava e o amava.
Ele chorou.
E doeu tanto.
Um pequeno suspiro me escapou.
Então isso era maternidade.
Eu mantive meu olho nele de longe, e quando ele finalmente
chorou até adormecer, soltei um suspiro superficial e trêmulo,

~ 455 ~
aproximando-me e gentilmente me deitando em cima das cobertas ao
lado dele. Passando a mão pelo cabelo dele, observei-o dormir um pouco
antes de sucumbir ao peso das minhas pálpebras e adormecer.
Amanhã seria um dia melhor.
Porra.
Tinha que ser.

~ 456 ~
CAPÍTULO QUARENTA
Ling

Ele dormiu tão profundamente quanto pôde sob as circunstâncias


estressantes em que o coloquei, e eu não poderia estar mais
orgulhosa. Mesmo que sua testa estivesse marcada, ele parecia
positivamente angelical. Eu sorri gentilmente para este menino forte e
me perguntei quanto tempo levaria para ele finalmente gostar de
mim. Eu não tinha certeza. Poderiam ser dias, meses ou anos. Não
importava. Uma vez que ele visse que minhas intenções não o
machucariam, ele sucumbiria a mim.
Ele teria que fazer.
Eu não tinha necessidade dele de outra forma.
— Bom dia, querido, — eu disse suavemente da sua cabeceira.
Seu pequeno corpo ficou rígido e meu sorriso aumentou.
Ele era uma coisinha cansada.
E quando ele abriu as pálpebras e olhou para mim através dos
olhos sonolentos, me observou por um longo momento antes de olhar ao
redor do quarto. Eu vi o momento exato em que ele percebeu que o que
aconteceu no dia anterior não havia sido um sonho, e quando o atingiu,
seus lábios se separaram e seu rostinho doce caiu com força.
Eu estalei minha língua e me sentei na beira da cama. — Não
chore, querido. Venha aqui. — Estendi meus braços, mas ele não
veio. Sorrindo, eu deixei meus braços caírem. — OK. Você não gosta de
abraços. Entendi. Tudo bem.
Foi quando ele abriu a boca e perguntou em voz baixa: — Onde
está minha mamãe?
Hmmm. Dilemas.
O carinha parecia relutar em esquecer sua mãe prostituta.
Tudo bem. Eu poderia consertar isso.
Eu faria qualquer coisa para atingir meu objetivo.
~ 457 ~
Eu lambi meus lábios, antes de dizer: — Sua mãe e seu pai te
deram para mim de presente.
Sua testa franziu quando seu sensor de besteiras. — Não, eles não
fizeram.
OK. Ele era mais esperto do que eu lhe dava crédito.
Meus olhos se estreitaram em sua insubordinação. — Sim, eles
fizeram.
— Não. — Ele sentou na cama e me olhou nos olhos de um jeito
que eu só vi seu pai fazer. Era raiva pura e inigualável. — Você é uma
mentirosa.
Meus lábios se esticaram em um sorriso. — É mesmo? — Eu me
inclinei devagar e falei calmamente. — Então por que eles não vieram
buscar você?
Era uma pergunta que ele não podia responder, e a maneira como
seu rosto ficou vazio de emoção me dizia que ele estava pensando sobre
isso. O que ele disse em seguida fez minha espinha endurecer.
— Você é a mulher má.
Ele era um merdinha.
Eu amava isso.
Eu esperava que ele fosse como Lexi, vendo como ela o criou, mas
a verdade era que ele era exatamente como Twitch. E eu poderia usar
isso, manipular isso, moldá-lo ao herdeiro que eu merecia.
— Eu não sou uma mulher má, — eu menti suavemente,
estendendo a mão na direção dele, mas ele se arrastou para longe do
meu toque, parecendo mais furioso do que um cão de ferro-velho com
pulgas.
Agradável.
Essa pequenina criatura definitivamente seria um espinho no meu
sapato. Uma coceira chata que você não conseguia alcançar.
Minha boca se abriu em um pequeno suspiro. Era isso. Era assim
que eu ia chamá-lo, meu filho.
— Coceira, — falei no silêncio da sala. — Minha pequena coceira.

~ 458 ~
Uma ode 25ao pai dele.
Sim. Sorri maternalmente para o garotinho que parecia querer me
chutar.
Era tão estranho. Eu já o amava. Ele era tudo que eu pensava que
seria e mais. Sua atitude, sua resiliência, era tudo que eu precisava para
torná-lo meu sucessor.
Olhando para ele calorosamente, meu coração doeu de alegria com
a compreensão de que ele era perfeito. Simplesmente perfeito.
Sim.
Eu o amava.
E não o deixaria ir.

***

Twitch

O sono nunca veio naquela noite, e quando amanheceu, meus


olhos se fixaram na mulher sentada na beira da cama em sua camisola,
olhando fixamente para a parede.
Matou-me vê-la assim.
Eu me perguntei se foi assim que ela ficou quando parti, e todo um
novo nível de culpa se apoderou de mim por ver essa linda mulher
resiliente parecendo quebrada e vazia, quando o amor dela era tão
profundo. Eu não gostei disso, e meu único pensamento era corrigir isso
e corrigir rapidamente.
Meu telefone tocou ao mesmo tempo em que a campainha da
porta. Eu deslizei para fora da cama, segurando meu celular na mão, e
quando passei pela minha mulher, coloquei uma mão gentil em seu
ombro.

25 Ode é uma composição poética do gênero lírico que se divide em estrofes


simétricas. O termo tem origem no grego “odés” que significa “canto”. Na Grécia
Antiga, "ode" era um poema sobre algo sublime composto para ser cantado
individualmente ou em coro, e com acompanhamento musical.

~ 459 ~
Sua falta de resposta foi uma bala no meu coração.
Eu respondi ao meu celular no segundo em que saí do quarto. —
Sim.
— Porra, Twitch. Foda-se. Eu... — Ele parou
momentaneamente. — Eu não sei o que dizer. — O tom de Ethan Black
me disse que ele já sabia sobre o meu filho. Ele suspirou. — Diga-me o
que posso fazer e farei.
A campainha tocou pela segunda vez, e continuei meu caminho,
abrindo a porta. O sargento Gabriel Blanco estava do lado de fora, com o
café na mão, e eu não me incomodei com sutilezas. Com um movimento
do meu queixo, ele entendeu a mensagem e entrou quando respondi ao
chefe do FBI. — Eu aprecio isso, Black, mas... — Eu lhe dei a verdade. —
Você não pode me ajudar, cara.
Meu tempo gasto trabalhando com esse homem foi curto, mas
nesse breve tempo, nos conhecemos bem. E Black leu nas
entrelinhas. — Me escute agora. Não faça nada estúpido.
Filho da puta.
Meu aperto no meu celular aumentou. — Não faça nada
estúpido? Esse é o seu conselho? — Minha raiva aumentou. — Aquela
puta louca tirou meu filho de debaixo do meu maldito nariz, fez o carro
em que ele estava sair da porra da estrada, e você quer que eu fique
calmo, Black? — Eu não dava a mínima se Blanco estava na minha casa
ouvindo; Eu disse o que sentia. — No segundo em que colocar minhas
mãos naquela cadela, ela é comida de cachorro, Black. — Meu tom
baixo, minha voz tremeu de fúria. — É melhor você acreditar que farei
isso acontecer com minhas próprias mãos, se eu tiver a oportunidade, e
espero que sim, porque nada me faria mais feliz do que rasgar membro a
membro da víbora de lábios vermelhos. E quando eu terminar com ela,
vocês precisarão de registros da arcada dentária para identificá-la. —
Minhas mãos tremiam. — Vou cortar sua maldita cabeça e beber do seu
lindo crânio.
— Twitch, — Ethan Black advertiu.

~ 460 ~
Mas eu não estava ouvindo. — Eu tenho merda para fazer. — Eu
desliguei então me virei para Gabe Blanco. — Você não ouviu nada,
entendeu?
Odiava admitir, mas Blanco era um cara decente. Ele ergueu a
xícara para o ar e murmurou: — O que houve? Desculpa. Não consegui
ouvir você bebendo esse café delicioso.
Sim. Certo porra, ele não podia. — Alguma novidade?
— Recebi uma denúncia anônima ontem à noite para verificar um
depósito no sul. — Endireitei-me, mas ele continuou. — Alguns de meus
rapazes verificaram antes do amanhecer. E sim, ela largou o carro lá,
mas não havia sinal dela nem de seu filho. Eu sinto muito.
Minha testa franziu em pensamento. — Onde você disse que este
armazém fica mesmo?
No limite e pronto para sufocar uma cadela, chegamos à casa. Ele
me encontrou na frente enquanto Gabe ficava no carro.
Empurrando o queixo na direção de Gabe, Tama disse: — É um
policial?
— Sim, e ele vai ficar bem aí. — Olhei de volta para o carro. —
Você fez a transferência da filmagem?
— Amoho está fazendo isso agora.
Sem uma palavra, ele se virou e entrou. Levei isso como um
convite aberto e o segui, mas quando a porta se fechou atrás de mim,
meus olhos captaram a pequena mulher no corredor e meus passos
vacilaram.
O corpo inteiro de Molly endureceu a me ver. Ela segurou meu
olhar por um momento fugaz, antes de abaixar a cabeça e entrar
mancando em um quarto, fechando a porta silenciosamente atrás dela. E
Tama ficou ali, olhando eu observá-la.
Ele apontou para o quarto oposto, e eu entrei, mantendo meus
olhos na porta por onde Molly tinha desaparecido.
Ela conseguiu sair do hospital antes que qualquer um de nós
tivesse a chance de checá-la. Sua irmã, Lenka, chegou à nossa casa

~ 461 ~
pouco tempo depois, pegando as coisas de Molly e colocando-as na parte
de trás do carro. E foi isso.
Molly estava fora.
Fora da nossa casa. Longe da vista. Fora de si.
Simplesmente fora.
Eu não esperava isso dela, a merda patética que ela estava
puxando. Ela não era uma filha da puta.
— Como ela está indo? — Eu perguntei baixinho.
Tama piscou para mim antes de franzir a testa. Ele não respondeu
por um longo tempo. — Como você acha que ela está? — Ele me segurou
com um olhar. — Não que se importe muito, mas minha Molly, ela ama
seu filho. Jurou protegê-lo até a morte. E agora... — Ele se virou para a
porta fechada. — Ela queria estar morta.
Um suspiro áspero me deixou enquanto eu coçava a barba por
fazer no meu pescoço.
A culpa era uma cadela carente.
A culpa exigia reconhecimento. Eu sabia disso. Eu sentia isso. Era
duro e, sim, no começo eu culpei Molly pelo que aconteceu, mas a
verdade era que Molly não poderia fazer nada contra Ling, e colocar uma
contra a outra teria sido uma briga inútil. Ling sempre sairia vitoriosa
desta batalha, não importando as circunstâncias.
Sua culpa era minha, e eu a usava como um laço no meu pescoço,
me sufocando.
— Consegui algo, — o grande homem maori no computador
proferiu. Ele olhou para a tela, apertando os olhos. — Sim. É ela.
Eu dei alguns passos e olhei para a filmagem. Ling saiu do
Mercedes, foi até a porta do passageiro e abriu-a. Demorou um pouco
para meu filho sair, mas quando o fez, um suspiro de alívio me
encheu. Eu examinei Ling e o jeito que ela estendeu a mão para o meu
filho.
Era estranho como ela estava agindo.
E quando AJ se recusou a pegar a mão dela, meu estômago caiu.
Jesus, broto. Não dê motivos para ela te machucar.

~ 462 ~
Mas Ling ficou de joelhos, falou com ele um segundo, e então
envolveu seus braços em volta do meu filho, segurando-o com força,
como se ela tivesse o maldito direito.
A irritação tornava difícil respirar. Minha mulher estava uma porra
de bagunça em casa, e Ling estava tomando o carinho destinado a Lexi.
Cadela do caralho.
Eu ia despedaçá-la. Sim. Eu ia matá-la com minhas próprias
mãos.
— É um SUV branco ou prateado, — murmurou Amoho,
observando Ling partir com meu filho. — Eu não consigo visualizar
totalmente, mas acho que posso conseguir placas parciais.
Esse cara era um mago no computador.
Sentindo uma onda de carinho por ele, eu bati minhas mãos em
seus ombros e apertei com força. — Faça isso, cara. — Recuando,
respirei fundo e expirei lentamente.
Tama ficou ali, impondo-se como uma maldita estátua Tiki, com o
rosto desenhado, os lábios puxados para baixo. — Quero ajudá-lo a
pegar seu filho de volta.
Ele quis dizer isso. Não porque ele estava com Molly, mas porque
sabia que se não recuperássemos meu filho logo, alguém do meu pessoal
seria enviado para identificar seu pequeno corpo. E nem mesmo
psicopatas como nós toleravam a violência contra crianças.
— Obrigado por isso. — Eu olhei para Amoho. — Vou precisar de
uma cópia dessa filmagem.
Amoho girou na cadeira e me jogou um pequeno USB
branco. Peguei-o com facilidade, enquanto ele falava: — Se tivermos
novidades, vamos ligar.
Antes de sair, Tama me parou. — Veja. Sobre Molly...
Eu cortei o grandalhão com: — O que ela está fazendo vai ajudar.
— As palavras foram duras, mas ditas suavemente. — Diga-lhe que uma
vez ela me disse que faria qualquer coisa para proteger meu filho, e estou
contando com isso, porque, agora, ele precisa de toda a ajuda que puder.
E assim eu saí.

~ 463 ~
***

Lexi

Nunca antes havia percebido o quão cruel à mente poderia ser.


Tome agora, por exemplo.
Contra todos os desejos, eu me perguntava quais seriam os
últimos pensamentos do meu filho antes de Ling tirar sua vida.
Ele se lembraria das vezes em que ficávamos acordados até tarde e
assistíamos a filmes, rindo enquanto ele tentava pegar a pipoca que eu
jogava em sua boca? Ou suas últimas reflexões sobre mim seria das
vezes em que ele implorou sobre o retorno de seu pai e como uma mãe
terrível me recusei a acreditar?
Eu não estava chorando, não mais, mas as lágrimas continuaram
a cair, deslizando por minhas bochechas e escorrendo pelo meu pescoço.
Minha mente estava presa na tristeza.
Eu só esperava que quando chegasse a hora, ela fizesse isso rápido
para ele.
Minha sobrancelha baixou quando ouvi meus próprios
pensamentos.
Preste atenção.
O que diabos eu estava fazendo?
Absolutamente nada.
Sentada aqui, sentindo pena de mim enquanto Ling fazia Deus
sabe o que com meu filho. Era aterrador.
Que tipo de mãe isso me fazia?
Isso me fazia uma mãe indigna de seu filho.
Sentindo uma nova fonte de energia renovada derivada do pesar,
levantei-me e troquei de roupa. Fui até minha mesa de cabeceira e abri a
gaveta de baixo, revelando a pequena caixa de metal escondida. Digitei o
código, ela abriu e eu peguei a Glock calibre 22 que Julius me deu para

~ 464 ~
minha própria proteção. Estava carregada e pronta para usar. Antes de
sair do meu quarto, me olhei no espelho.
Meu rosto parecia vazio. Uma escuridão sólida sob meus olhos
vermelhos. Meus lábios estavam pálidos e secos, e uma carranca
constante franziu minhas sobrancelhas.
Eu estava uma bagunça absoluta.
Mas eu não tinha tempo para lamentar. Eu peguei minha bolsa, e
Luna olhou para cima de seu laptop quando saí do meu quarto. Ela deve
ter visto o brilho de aço em meus olhos, porque se levantou devagar. —
Onde você está indo, Lexi?
Nenhuma mentira aqui. — Eu vou ver Pav.
Luna levantou as mãos em um gesto apaziguador. — Não há
necessidade. Fern e Thiago já estão lá e estão negociando por sua
ajuda. Eles estarão de volta em breve, e tenho certeza de que teremos
um exército à nossa disposição. — Ela fez uma pausa, me olhando de
cima a baixo. — Eu sei que isso é difícil para você, mas estamos fazendo
tudo que podemos para recuperar seu filho e trazê-lo de volta em
segurança.
Eu não queria zombar como fiz. Isso meio que escapou. — Sem
ofensa, Luna, mas você não pode entender... — Minha voz quebrou. —...
o que é isso. — Meus lábios tremeram. — E eu preciso fazer alguma
coisa, não apenas sentar aqui como uma donzela em perigo e esperar
que alguém ajude a me resgatar desta situação. — Eu funguei, piscando
para conter as lágrimas. — Então eu vou.
Ela me chocou quando sentou novamente, mantendo os olhos em
mim. — OK.
Espere. Isso foi um truque?
— Tudo bem, — eu disse, ajeitando a bolsa no meu ombro e
girando lentamente para sair. Antes de chegar a porta, girei e disse: —
Vem comigo?
O rosto de Luna suavizou quando ela se levantou mais uma vez. —
Se você quiser.

~ 465 ~
Eu queria isso, porque estava furiosa com Luka Pavlovic e não
confiava em mim a sós com ele, caso sua resposta fosse mais uma
recusa.
Surpreendentemente, Luka me deixou entrar na casa sem discutir,
então o que aconteceu quando ele atendeu a porta da frente o chateou.
Puxando minha pistola, segurei-a com firmeza e apontei para o
centro do peito dele.
— Lexi, — Luna murmurou com cautela, mas eu era uma mulher
em uma missão.
Pav não parecia muito perturbado quando soltou um som
cansado: — O que está fazendo, Alexa?
Para provar minha seriedade, eu afastei a arma dele e puxei o
gatilho.
Bang.
Nenhum de nós se encolheu, mas o som foi ensurdecedor.
Thiago e Fern saíram correndo, com as armas prontas, mas
quando os dois me viram, abaixaram as armas e Thiago deu um pequeno
passo à frente. — Alexa, não faça isso.
Minhas narinas dilataram enquanto eu respirava fundo pelo nariz,
olhei para ele por um milésimo de segundo antes de descansar meus
olhos selvagens de volta em Luka. — Você vai me ajudar a encontrar
meu filho, Luka. — Eu dei um passo à frente e pressionei o cano da
arma em seu peito. Ele colocou as mãos para cima lentamente e deu um
passo para trás. Com cada passo que eu dava, ele entrava em sua casa e
eu falei o tempo todo. — Você é um covarde, — eu disse a ele
sarcasticamente. — E pela primeira vez na minha vida, eu não sou. —
Outro passo. — Eu não tenho mais medo. Estou apenas com raiva. —
Minha visão borrou com lágrimas de fúria. — Porque uma rainha em seu
domínio decidiu que me odeia o suficiente para tirar o meu filho de mim,
e isso é culpa sua... — Eu olhei para ele com nojo. —... Alteza.
Fern se pronunciou, — Lexi, eu também não gosto disso, mas você
não pode fazer isso, gatita.

~ 466 ~
Ignorando todos os sinais de aviso, aproximei-me. Minha voz
trêmula. — Eu implorei por sua ajuda. — Meus lábios tremeram. —
Implorei por isso. E você recusou. Cada segundo que ele se foi é um
segundo que não terei de volta, e não estou preparada para perder mais
do que já perdi. — Dando um pequeno passo para longe dele, eu levantei
meu braço, apontando para sua cabeça. — Então eu não estou mais
pedindo, Luka. Agora estou exigindo. — Meu braço começou a tremer. —
Você vai nos ajudar.
Luka Pavlovic me olhou profundamente nos olhos. Ele falou
baixinho. — Abaixe a arma, pequena.
A mão que segurava a arma tremia quase tão incontrolavelmente
quanto a minha voz. — Não. Não até você dizer que vai me ajudar. — A
mandíbula apertada, meu tom baixo, enfraquecido. — Preciso da sua
ajuda.
Foi quando Fern falou. — Lexi, por favor. Abaixe a arma. — Ela
parou por um longo momento, antes de revelar: — Ele acha que sabe
onde ela está.
Com isso, girei para encará-la. — O quê?
Luka aproveitou a oportunidade que lhe dei, levantando meu braço
para o alto, tirando a arma do alcance, entrando no meu espaço e
mantendo meu corpo trêmulo perto. Quando eu pisquei para ele através
das minhas lágrimas, ele me surpreendeu, poupando um pequeno
sorriso para a pessoa que simplesmente ameaçou um rei em seu próprio
domínio. — Você acha que eu deixaria alguma coisa acontecer com
aquele garotinho? — Era difícil respirar fundo. — Aquele garoto passou
uma semana em minha casa. Comeu na minha mesa. Chamou-me de
tio. — Meu corpo cedeu no mesmo momento em que minha respiração
engatou. Luka passou uma mão gentil pela minha bochecha e balançou
a cabeça. — Eu protejo minha família, Alexa. E quer eu goste ou não,
você é da família.
Minha alma doía com a força do alívio que senti naquele momento
e, quando Luka ligou para Twitch, Fern me conduziu até o sofá e me

~ 467 ~
sentou, onde fiquei mergulhada em minha cabeça em completo e
absoluto silêncio, porque não tinha mais nada a fazer ou dizer.

~ 468 ~
CAPÍTULO QUARENTA E UM
AJ

AJ olhou para o outro lado do quarto, onde a mulher desconhecida


sentou-se na beira da cama e escovou o cabelo molhado, cantarolando
para si mesma e sorrindo o tempo todo.
Sim, ele tinha apenas cinco anos de idade, mas sabia que algo
estava errado.
Algo estava muito errado.
Esta mulher - essa senhora má - disse a ele que seus pais lhe
deram de presente, mas isso pareceu errado. Tão errado quanto estar
sozinho com a mulher sorridente demais parecia.
Ele não gostava daqui. Ele queria ir para casa.
Para casa com sua mãe. Com seu pai. Com Molly.
Apenas sua casa.
AJ olhou ao redor do quarto como costumava fazer, procurando
alguma saída. Mas ela estava sempre um passo à frente, trancando
portas, fechando janelas, dormindo no mesmo quarto que
ele. Começando a achar que nunca encontraria o caminho de casa e
lembrando-se do que sua mãe lhe dissera.
Se ele se perdesse, tudo o que precisava fazer era encontrar um
adulto e ele o ajudaria a encontrar o caminho de casa.
Ele olhou furtivamente para a mulher bonita. Ela era adulta, mas
não o ajudaria.
Ele começou a se perguntar quantas pessoas más existiam no
mundo. Quantas pareciam seguras e bonitas como ela? Quantas eram
mulheres?
Era um pensamento assustador para uma mente tão jovem
compreender.
— Com licença, — ele falou baixinho.

~ 469 ~
A mulher parou antes de se virar para ele. Ela olhou para ele com
expectativa. — Mamãe.
Ele odiava isso. Ela insistiu que ele a chamasse assim. Mas ela
não era sua mãe. Sua mãe era sua mãe. Essa mulher era uma pessoa
má, e ele não sabia por que ela o queria, por que o tomou.
Então, ele se recusou a chamá-la assim.
O sorriso dela se alargou como se sentisse sua luta interna. Como
se ela gostasse.
Quando se virou para encará-lo, o que ela disse chamou a atenção
de AJ. — Querido, se você me chamar de mamãe, te darei o que quiser.
Ele pensou sobre isso. — Qualquer coisa?
A boca da mulher má se esticou em um sorriso. — Qualquer coisa,
— ela prometeu.
O pequeno coração de AJ começou a bater mais rápido. Ele não
gostou do que sabia que tinha que fazer, mas faria. Ele faria isso por sua
mãe.
— Mamãe, — ele começou, e o rosto da mulher se suavizou junto
com o sorriso dela. — Eu gostaria de ir para casa agora. — No momento
em que ele viu a espinha da mulher enrijecer, soube que tinha dito algo
errado. — Para minha mãe e meu pai de verdade. — Quando seus olhos
se fecharam, AJ sentiu um fluxo de frio através do quarto enquanto seu
humor escurecia. — Por favor, — ele acrescentou tão educadamente
quanto podia.
Mas tão facilmente quanto seu humor azedou, suas pálpebras
tremeram e então ela estava sorrindo tão docemente que ele realmente
acreditou que ela poderia fazer o que pediu.
Ele deveria ter sido mais esperto.
— Oh, querido. — A mulher olhou para ele calorosamente antes de
dizer: — Você está em casa.
Todo o corpo de AJ se arrepiou pelo jeito que ela falou, como se
realmente acreditasse nisso. Algo estava muito errado com esta
senhora. E, felizmente, AJ era esperto o suficiente para ver que não
ganharia nada a perturbando.

~ 470 ~
Então, por enquanto, ele faria o que ela quisesse, sem importar o
quanto isso o machucava.
Voltando para os brinquedos no chão, quando falou de novo, fez
isso com delicadeza.
— Ok, mamãe.

***

Twitch

A porta da frente se abriu e Thiago ficou ali, me observando


atentamente, com uma carranca estragando sua testa perpetuamente
franzida. — Onde diabos você esteve?
Eu passei pelo vão e segui pelo corredor até a sala principal onde
todos estavam me esperando. Eles estavam todos lá. No instante em que
a vi sentada no sofá, seu rosto vazio com olhos sombrios, fui até ela.
Quando me aproximei, ignorando todos ao meu redor, meu peito
se apertou quando, pela primeira vez em dois dias, ela piscou para mim
e murmurou: — Vamos recuperá-lo.
Eu fiz uma careta para a minha mulher. Claro que íamos. O que
ela achava - que o fracasso era uma opção? Ela me conhecia? O que
diabos estava acontecendo na sua linda cabeça?
Não saber isso me preocupou.
Tomando sua mão pequena e fria na minha, sentei-me ao lado dela
e a puxei para mim, pressionando beijos suaves em sua testa úmida, e
ela deixou, fechando os olhos, absorvendo o conforto que eu tão
raramente oferecia. E quando me afastei, examinando o rosto dela,
gentilmente empurrei o fio de cabelo para trás das orelhas e prometi: —
Ele vai voltar para casa, baby.
Ela mostrou sua própria aceitação da minha sinceridade, e quando
estendeu a mão para acariciar minha bochecha com a mão fraca, sorriu
suavemente. — Seja uma mãe, disseram-me. — Ela sorriu, mas sua

~ 471 ~
respiração engatou. — Vai ser fácil, me disseram. — Quando seus lábios
começaram a tremer, eu a puxei para mim, segurando a parte de trás de
sua cabeça enquanto ela tremia e sacudia, e naquele momento, eu soube
que faria qualquer coisa - e quis dizer qualquer coisa – para ver meu filho
em segurança com sua mãe.
Era cruel pensar que nossa família provavelmente seria dilacerada
com essa batalha.
Foi cruel ter meu filho comigo apenas alguns meses. Mas, não
importa o sacrifício, nós faríamos acontecer.
Eu daria tudo pelo meu homenzinho. Incluindo minha vida.
— Onde está o policial? — Pav perguntou do outro lado da sala.
Olhando por cima da cabeça de Lexi, eu disse: — Mandei-o
embora. — Quando nossos olhos se encontraram, eu disse: — Ele não
pode nos ajudar, Luka.
Pelo aceno grave que ele me deu, eu sabia que havia
entendido. Este era um problema nosso. Nós não jogávamos por regras
normais neste reino. A lei não significava nada para nós. Nós lidávamos
com os nossos da maneira que bem entendíamos, e Ling Nguyen havia
assinado sua própria sentença de morte.
Eu não estava preparado para o que aconteceria se Gabe Blanco
chegasse primeiro a Ling.
Ela alegaria insanidade, provavelmente cumpriria alguns anos e
sairia por uma complicação ou brecha. E eu não podia deixar isso
acontecer.
— Ok, vamos começar. — Pav se moveu para o centro da sala e
olhou em volta para a nossa pequena, mas capaz família. — Os Dragons
mantiveram muitos negócios em segredo, o que dificultou muito rastrear
quaisquer aquisições de propriedades nas quais eles poderiam ter
participado. Mas, com as ferramentas certas... — Ele inclinou a cabeça
para Luna, que devolveu regiamente. — Você pode encontrar qualquer
coisa na internet.
O olhar de Zep rolou sobre a mulher sentada ao lado dele antes de
estender a mão para beliscar seu lado. — Lulu para o resgate, hein?

~ 472 ~
— Pare com isso. — Ela recuou, afastando a mão dele. — Eu tenho
cócegas.
Os olhos de Zep estavam semicerrados, e ninguém perdeu a
afirmação na maneira como ele falou: — Eu me lembro.
Happy ficou de lado, encostado na parede, e empurrou o queixo
para a mulher com ares de menino. — O que você encontrou, Luna?
— Na verdade... — começou ela, lançando um olhar conspirador
para a irmã, — foi Pav e Fernanda que me deram a ideia. — Ela olhou
para os colegas. — Não é nenhum segredo agora que Ling e Aslan eram
um casal, e depois que ele terminou, as coisas azedaram. Então, após
uma pequena pesquisa interna, eu simplesmente procurei por todos os
possíveis negócios de Sadik. Demorou um pouco, mas consegui localizar
algumas de suas perdas. — Ela encolheu os ombros, minando
completamente o trabalho extraordinário que fizera. — Todos levam de
volta para a mesma conta no exterior.
Julius falou baixo, cruzando os braços sobre o peito. — Essas
contas devem ser irrastreáveis.
Foi então que Luna deixou um pouco de sua arrogância
aparecer. — Deveria ser sim.
Happy, agora curioso, aproximou-se para sentar no lugar vago ao
lado de Luna e puxou seu laptop para mais perto dele, passando por
suas descobertas. — Ela fez uma bela tentativa em cobrir seus
rastros. Transferências de várias contas de diferentes países, mas ela
fodeu de uma forma mínima e muito estúpida.
Luna olhou para Happy por um longo momento antes de um lento
sorriso se espalhar por seus lábios. E Zep não gostou disso. — Oh, sim?
— Ele murmurou, quebrando o feitiço de Luna. — Como foi isso?
Happy trocou um olhar conhecedor com Luna. — A conta de
origem foi mantida a mesma. Erro de principiante. Também negociou em
dólares australianos. É uma transação volumosa. Deveria ter negociado
em euros ou dólares americanos. Isso teria tornado a busca muito mais
ampla.

~ 473 ~
Evander ficou atrás de Manda, com a testa franzida. — De quantas
propriedades estamos falando aqui?
— Catorze, — especificou Luna. — Mas nós reduzimos para três.
— Três? — Manda franziu a testa. — Isso é tudo? — Ela olhou ao
redor da sala, confusa com a espera. — O que estamos
esperando? Vamos lá.
Evander assentiu em concordância. — Estou pronto quando vocês
estiverem.
Pav ergueu as mãos e disse: — Agora espere um segundo. Nós só
temos uma chance nisso. Se ela nos vir chegando, vocês acham que ela
simplesmente vai tentar fugir e seguir em frente? Não. — Seus lábios se
estreitaram quando ele balançou a cabeça. — Ela vai matar seu refém e
depois se matar. Então, precisamos ser inteligentes sobre
isso. Programar bem.
Ninguém esperava que Lexi falasse, muito menos dissesse o que
disse. — Nós faremos do seu jeito, Luka. Mas estou avisando. A todos
vocês. — Uma pausa significativa seguiu. — Na primeira oportunidade,
vou matá-la. Eu. — Ela virou sua expressão séria para mim. — Eu vou
matá-la.
Eu me afastei da minha mulher o suficiente para olhá-la nos
olhos. — Você não vai junto.
Ela sorriu então, tão serena que meu estômago apertou, e quando
ela disse: — Você acha que pode me impedir? — Meu coração afundou.
Porque eu não podia pará-la. Não a impediria.
E havia segurança no grupo.

~ 474 ~
***

AJ

AJ não conseguia dormir. Era a primeira noite que ela o deixava


dormir sozinho, e ele se perguntou por que dormia mais facilmente com
ela no quarto. Não fazia sentido.
Ele deveria se sentir mais seguro sem ela, mas mesmo um
garotinho tão jovem quanto ele podia ver que a mulher má não queria
machucá-lo, apenas reivindicá-lo como dela. Ser uma mãe para ele.
E então, na calada da noite, ele foi procurá-la.
Ele a encontrou rapidamente, sentada em frente à televisão, com
os olhos arregalados grudados na tela enquanto assistia ao
noticiário. Aproximando-se silenciosamente por trás, ele parou quando
se concentrou na tela da televisão e observou o que ela estava assistindo
tão intensamente.
Era uma foto dele.
— ...dois dias de busca pelo estudante desaparecido, Antonio Julius
Falco. As imagens mostram a criança de cinco anos sendo
audaciosamente retirado dos destroços de um veículo e escoltado para
outro por essa mulher. Uma foto da mulher má apareceu na tela. — Ling
Nguyen. — O repórter continuou, — Nguyen, líder conhecida dos nefastos
Dragons, tem um mandado de prisão pelo assassinato de seu irmão, Van
Nguyen, e sequestro. Se você viu essa mulher ou sabe alguma coisa sobre
o sequestro de Antonio Julius Falco, entre em contato com a Crime
Stoppers26 no...
AJ parou de ouvir. Ele parou de ouvir porque a mulher má estava
errada.
Eles estavam procurando por ele.

26Crime Stoppers ou Crimestoppers é um programa em muitas comunidades


na América do Norte que permite que as pessoas forneçam informações
anônimas sobre atividades criminosas.

~ 475 ~
Ele sorriu interiormente antes de limpar a garganta. — Mamãe? —
Ele esfregou os olhos por garantia, e quando a mulher se apressou a
desligar a televisão, ela girou e franziu a testa para ele.
— O que você está fazendo, querido? Está tarde.
AJ fez beicinho do jeito que sua mãe verdadeira achava adorável e
murmurou um choroso: — Eu não consigo dormir.
A mulher má estalou a língua e estendeu os braços. Ele foi até ela
de bom grado e permitiu que ela envolvesse seus braços ao redor dele, e
foi engraçado. Quando sua mãe o abraçava, ele se sentia quente, seguro
e amado. Mas quando esta mulher o abraçou, ele não sentiu nada. Ele
se sentiu entorpecido.
Ela beijou a cabeça dele e esfregou suas costas. — Que tal eu fazer
um pouco de chocolate quente?
Qualquer coisa para ficar acordado por mais algum tempo.
Agora que AJ sabia que seus pais estavam procurando por ele -
não que ele tivesse dúvidas - precisava encontrar um jeito de sair daqui,
e ele só poderia fazer isso se ela estivesse ocupada.
— Sim, por favor, — ele murmurou baixinho.
E o sorriso que ela lhe deu foi tão grande, tão doce, que ele quase
esqueceu o quanto essa mulher era má.
Quase.
— Qualquer coisa para você. — Sem demora, ela ajustou o manto
ao seu redor, apertando a tira ao redor da cintura, em seguida, dirigiu-se
para a cozinha. Seus olhos examinaram ao redor, mas ele não viu
nada. Então, quando a mulher o chamou para a cozinha, ele foi. Ela
sorriu quando puxou um banquinho para ele, e quando ele se sentou,
seu coração estremeceu quando seus suaves olhos castanhos pousaram
no objeto à sua frente.
A mulher foi até a geladeira, retirando o leite e, ao fazê-lo, assistia
seu olhar observador atentamente.
AJ engoliu em seco antes de olhar para ela. Sua voz era tímida. —
Isso é uma arma real?
Ela colocou o leite em uma panela e ligou o fogão a gás. — Sim.

~ 476 ~
Uau.
— Por que você tem isso? — Ele perguntou baixinho.
A mulher colocou os cotovelos no balcão e se inclinou. — Para
protegê-lo.
AJ franziu a testa. Ele não conhecia ninguém que quisesse
machucá-lo. — De quem?
— Das pessoas que querem tirar você de mim.
AJ se perguntou se o pai dele tinha uma arma. Uma arma maior
que esta. Ele não sabia, e não saber disso o assustou.
Ele precisava fazer alguma coisa e fazer isso rápido.
Então, quando ele estendeu a mão e pegou, sua outra mãe
inclinou a cabeça, nunca tirando os olhos dele.
AJ viu pessoas usarem armas, na TV, em filmes.
Quão difícil poderia ser?
Era mais pesada do que ele esperava. Muito mais pesada que a
arma de brinquedo que ele tinha em casa. Mas ele levantou-a alto,
colocando o dedo no gatilho. Sua outra mãe sorriu, seus olhos na arma
que ele segurava. Então AJ fechou os olhos, prendeu a respiração e
puxou o gatilho.
Clique.
Seus olhos se abriram e um olhar confuso passou por ele.
Nada aconteceu.
AJ soltou o ar que estava segurando, e antes de abaixar a arma,
sua outra mãe falou gentilmente.
— Você está segurando isso errado, querido. Aqui. Deixe-me
mostrar-lhe. — Sobre o balcão, ela ajustou sua mão e colocou seu dedo
de volta no gatilho. Seu olhar suave era astuto. — Agora. Atire.
AJ não hesitou uma segunda vez.
Ele puxou o gatilho e...
Clique.
Nada.
A mulher má sorriu. — Oops. A segurança está travada. — Ela
estendeu a mão e mexeu alguma coisa. — Tente de novo, baby.

~ 477 ~
Ele fez.
Ele puxou o gatilho e, desta vez, a arma realmente disparou.
Bang.
Mas AJ não estava preparado para a força motriz, e quando a
arma deu um coice, direto em seu nariz, jogando-o do banco para o
chão, sua outra mãe riu, andando ao redor do balcão para ajudá-lo a
levantar do piso frio.
O nariz de AJ formigou e ele achou que poderia estar sangrando.
Ela se ajoelhou ao lado de seu corpo trêmulo, pegou a arma de sua
mão trêmula e entrou em seu espaço, e ela não estava mais rindo. Em
vez disso, ela se inclinou para perto, segurou seu olhar aterrorizado com
seus olhos selvagens e sussurrou: — Boom.
E quando o corpo de AJ estremeceu, ela ergueu a cabeça para o
céu e riu abertamente.
Uma coisa era certa. Essa mulher era assustadora. E AJ estava
com medo dela.
Ela não agia como uma mãe deveria. Ela não agia como sua
mãe. Ela fazia tudo diferente, errado. Ela era imprevisível e isso fez com
que AJ se sentisse desamparado. Ele nunca sabia o que ela faria a
seguir.
Quando parou de rir e baixou o rosto para ele, ela o observou por
um breve momento e seu sorriso começou a diminuir. — Eu entendo, —
ela começou. — Você não me ama, ainda não. Mas eu preciso que você
saiba que eu te amo. Eu te amo muito. — O resto do sorriso dela caiu,
quando ela disse, — Então eu vou trancá-lo em seu quarto esta noite,
meu amor. — Ela estendeu a mão para alisar seu cabelo bagunçado. —
Antes de qualquer um de nós faça algo bobo.
De repente, AJ não se sentiu tão bem. As palavras que ele falou
não eram mais que um sussurro. — Sinto muito, mamãe.
Ela sorriu então, e o nó em seu estômago se afrouxou. — Está
tudo bem, baby. — A mulher se levantou e estendeu a mão para ele. Sem
hesitar, AJ pegou a mão dela e ela o abraçou ao seu lado, esfregando o
ombro dele. — Você está bem? Eu sei que isso foi um pouco assustador.

~ 478 ~
Ele assentiu. Seu nariz doía, mas ele estava bem.
— Meu menino forte. — Ela riu orgulhosamente enquanto o guiava
pela cozinha. — Tem sido um longo dia. Vamos tomar um pouco de
chocolate quente e ir para a cama. OK?
— Tudo bem, — ele sussurrou, e eles se sentaram em silêncio,
bebendo seu chocolate quente, olhando um para o outro o tempo todo.
AJ não sabia muito, mas sabia de uma coisa.
Ele precisava colocar as mãos naquela arma novamente.
Porque se eles não viessem atrás dele, AJ iria se salvar.

~ 479 ~
CAPÍTULO QUARENTA E DOIS
Thiago

Vestido de preto, fundindo-me nas sombras que nos cercavam,


olhei através do terreno para minhas irmãs e dei um aceno de cabeça
discreto.
Fernanda se moveu primeiro, graciosamente, como uma
bailarina. Luna foi em seguida, com um ar casual que só ela poderia
usar.
Os dois primeiros edifícios foram um fracasso. Eles estavam
abandonados. Vazios. À beira da demolição. Normalmente, isso seria um
lugar decente para esconder uma criança. Infelizmente, pelo que eu
sabia sobre Ling, ela era do tipo corajosa. Pretensiosa. Ela gostava de
fazer um show. E embora nós não tivéssemos feito uma varredura
completa do edifício, ainda assim, eu sabia que ela estava lá em algum
lugar.
No prédio de apartamentos totalmente ocupado.
Tornou mais difícil para nós fazer o que precisávamos, mas isso
não significava merda nenhuma, porque éramos os notórios Vegas. Nós
poderíamos fazer qualquer trabalho pelo preço certo. Sozinhos, não
valíamos muito, mas como família, éramos inestimáveis.
Cada um de nós trazia algo diferente para o grupo; cada um de nós
trazia algo importante e necessário. Juntos, minhas irmãs e eu éramos
invencíveis. Lamentavelmente, isso significava que muitas vezes
tínhamos alvos em nossas cabeças. Foi por isso que escolhemos
permanecer escondidos a maior parte do tempo.
Foi também por isso que Luka nos baniu.
Eu não era um homem estúpido de qualquer maneira. Ser banido
só causou duas coisas ao nosso negócio. Primeiro, elevou nossa taxa a
proporções astronômicas. E segundo, manteve Fernanda segura. E
segura era como Luka gostava de sua mulher.

~ 480 ~
Sim, ele estava chateado com ela, mas Luka Pavlovic adorava
minha irmã. Ele a adorava tanto que, embora provavelmente o matasse
por dentro, a enviou para viver a meio mundo de distância dele.
E com essa decisão, ele teve o meu respeito.
O que posso dizer?
Eu definitivamente preferia minhas irmãs a salvo que mortas.
Alguns minutos se passaram antes que uma voz baixa soasse
dentro do meu ouvido.
— Estou a postos, — disse Fernanda.
— Eu também, — disse Luna.
Meus olhos examinaram a escuridão que me cercava. Eu andei
pelo estacionamento, examinando cada carro pelo qual passei. —
Encontre-a, — eu disse para minhas irmãs, e elas tinham minha fé
absoluta. Eu confiava nelas como em ninguém mais. Elas eram
inteligentes e talentosas e brilhantes, minhas irmãs.
Eu confiava nelas com a minha vida, o que era uma sorte porque
muitas vezes, durante os trabalhos que fizemos, era crucial.
Meus pés se moviam silenciosamente ao longo do piso de cimento
enquanto eu passava de um andar para o outro, examinando carro após
carro.
— Uh, pessoal? — Luna sussurrou. — Eu acho que tenho contato
visual.
— O quê? — Fernanda balbuciou incrédula. — Como?
Luna riu. — Engula essa merda, Fern. Eu cheguei aqui primeiro.
— Onde você está? — Fernanda nunca gostou de ficar em
segundo.
— Escalando o prédio, — Luna disse com tanta naturalidade que
eu sorri.
Minhas irmãs eram loucas.
— Onde você está, Luna? — Eu perguntei baixinho enquanto
continuava a andar no estacionamento.
— É difícil dizer, — ela pronunciou suavemente. — Acho que é o
décimo andar. Eu não sei. Esperando confirmação visual.

~ 481 ~
— Esperando pela confirmação, — Fern lamentou, tentando
parecer profissional.
Continuei andando enquanto sorria. Elas eram as duas únicas
mulheres no mundo que me faziam rir. Merda. Elas eram as únicas
pessoas no mundo que me faziam sorrir. Eu as amava muito, minhas
irmãzinhas. E eu não deixaria nada acontecer a elas.
Quando meu olho captou um SUV prateado que poderia ter sido o
mesmo da fita de vigilância que Twitch tinha conseguido, me aproximei
cautelosamente, minhas sobrancelhas franzidas. Pegando meu telefone,
olhei para as imagens salvas no meu celular, comparando-as com o
carro na minha frente. Examinando cada centímetro do carro, dei um
passo para trás e suspirei.
Foi quando Luna disse as palavras mágicas. — Visualização
confirmada. Tenho Ling e o garoto à vista. Repito, tenho o menino à
vista.
Fern cantou no meu ouvido. — Inferno, sim, baby. É assim
que fazemos.
— Bom trabalho, — eu disse a elas. — Eu encontrei o carro. Vou
ligar para Luka. — Respirando fundo, murmurei: — Vamos pegar esta
cadela e levar o menino para casa em segurança.
— Esse é o plano, — afirmou Fern, antes de perguntar a Luna: —
Ei, Lulu. O que você precisa?
Luna hesitou por um momento, antes de dizer: — Acesso ao
telhado. Eu tenho um plano.

~ 482 ~
***

Ling

Tinham sido dois dias longos, e entre a falta de sono, a ansiedade


que corria através de mim a cada segundo do relógio, e o sinistro
conhecimento de que meu tempo com meu herdeiro poderia ser
interrompido, me atingiu de um modo que me fez entrar em pânico.
— Ei, querido, — eu disse com um sorriso quando me aproximei
dele. — Eu te trouxe uma coisa.
Quando entreguei a barra de chocolate azul e branca, ele franziu a
testa para ela. — O que é isso?
— É um doce. Doce americano. É chamado de Almond Joy. Tipo
uma recompensa, mas com amêndoas por cima. — Ele me observou
cautelosamente. Sim, ele tinha o direito de olhar do jeito que fazia, mas
isso não significava que eu tinha que gostar disso. — Eu achei que
poderíamos comer juntos antes de dormir.
Minha pequena coceira, olhou para a barra de chocolate por um
longo momento, depois de volta para mim. — Não, obrigado.
Eu fingi parecer mais triste do que estava. — Oh. OK. Não é
grande coisa. — Levando meu tempo, abri a embalagem de uma barra e
mordi. Eu mastiguei lentamente e gemi, fechando os olhos. — Uau. Faz
muito tempo desde que comi um desses. — Fiz uma careta feliz e
assenti. — É muito bom. — Eu lambi meus lábios e perguntei
astutamente: — Tem certeza de que não quer um?
Claro que ele queria um.
Ele estava babando por isso.
Mas, como a maioria das mães, eu tinha certeza de que Lexi
ensinou meu filho a não aceitar doces de estranhos.
Então, quando mordi a barra de chocolate novamente e sorri
alegremente, era apenas uma questão de tempo antes que ele cedesse.
Infelizmente para ele, a tentação era muito forte, e quando abri a

~ 483 ~
segunda barra de chocolate, alcançando-a, ele a pegou devagar,
estudou-a com cuidado e depois a mordeu. Uma vez que o chocolate
atingiu sua língua, eu o vi mastigar ansiosamente, e quando ele engoliu
a primeira mordida, voltou para a segunda rapidamente. E naquele
momento, senti meu coração inchar ao mesmo tempo em que meu
estômago doía.
Porque ele deveria ter escutado a mãe dele.
— É bom, certo?
Ele acenou com entusiasmo e meu interior apertou.
Você nunca deve aceitar doces de estranhos.

~ 484 ~
CAPÍTULO QUARENTA E TRÊS
Twitch

Meu coração disparou o tempo todo. Uma vez que Thiago havia
confirmado a visualização de AJ, não consegui pensar em nada além de
segurar meu filho novamente, mas silenciosamente temendo que
pudesse ser tarde demais. O carro parou e Luka se virou para nos
encarar. — Você está bem?
— Sim. — Eu não estava, no entanto. Nem um pouco. E pela
aparência da minha mulher, ela também não estava. — Estamos bem,
anjo?
Ela piscou para mim, mas seus movimentos eram lentos. Ela
estava além de exausta, e gostaria que ela tivesse me deixado fazer do
meu jeito. Eu entendi por que ela não podia fazer isso, mas seria mais
fácil para mim se eu não tivesse que focar nela hoje à noite, também.
— Sim, — ela falou timidamente. — Estou pronta.
O olhar de Luka vagueou entre nós dois. Seus lábios se
estreitaram e ele assentiu devagar. — OK. Vamos fazer isso.
Era perto das três da manhã. Era importante ter o elemento
surpresa do nosso lado. Não que isso importasse. Ling estaria
esperando. Ling estaria pronta para nós.
E uma cobra adormecida ainda tinha presas.
Happy, Julius e Zep já estavam esperando. Logo, Evander e Manda
se juntariam a eles. E quando saímos do carro para nos juntar ao grupo,
Luka verificou suas mensagens e falou com a pequena multidão reunida
na entrada do prédio. — Thiago, Luna e Fern estão prontos para
ir. Happy, você tem algo para nós?
Happy entregou pequenas coisas pretas de aparência plástica. —
Coloquem em seus ouvidos. Desta forma, estaremos todos
conectados. Vocês não poderão falar com os Vegas, mas poderão ouvi-
los. Somente Luka será capaz de se comunicar diretamente.
~ 485 ~
Todos nós colocamos os fones de ouvido e ouvimos Fern cantando
Another One Bites The Dust.
Os dentes de Luna batiam. — Está congelando aqui, pessoal. Faça
um movimento logo.
Happy se virou para encarar Luka. — Quando você estiver pronto.
— Estamos prontos, — disse ele com um breve aceno de cabeça.
Mas atrás de nós veio: — Desculpe, estamos atrasados. — Eu girei
ao som de sua voz. Ela parecia pequena, assustada e fora do lugar. Mas
levantou a cabeça e piscou para mim um momento antes de seus olhos
se encontrarem com os de Lexi. Com um pequeno encolher de
ombros. — Ouvi dizer que vocês poderiam precisar de ajuda.
Lexi se inclinou para frente e colocou os braços ao redor de
Molly. Elas se abraçaram por um longo tempo, e enquanto os olhos de
Molly se fechavam, Lexi sussurrou em seu ouvido, e eu assisti o rosto de
Molly cair em pura tristeza. Ela balançou a cabeça e soltou um
sussurrado: — Sinto muito.
Encontrando os olhos de Tama, eu empurrei meu queixo para
ele. — Obrigado por ter vindo.
Luka não pareceu impressionado. — Ótimo. Agradável. Reunião de
família. Maravilhoso pra caralho. Agora... — Ele apontou para o
prédio. — ...estamos perdendo tempo. Vamos nos mexer.
Lexi desenrolou seus braços ao redor de Molly, mas permaneceu
ao seu lado em uma demonstração de apoio silencioso, e enquanto
Happy arrombava o prédio usando seus aparelhos e tudo mais, Julius se
moveu para o meu lado, falando apenas no meu ouvido. — Ana queria
estar aqui.
Eu fiz uma careta para ele. — Aquela garota já passou pelo
suficiente. Fico feliz que você tenha conseguido convencê-la. Além
disso... — Minha própria voz se acalmou. — Esta não é a luta dela.
Julius se inclinou e colocou a mão no meu ombro. — Ele está
voltando para casa.
Sim, ele estava.
Ele estava.

~ 486 ~
Meu filho estava voltando para casa.
As enormes portas duplas apitaram um segundo antes do trinco
estalar e entramos. Happy segurou a porta e, enquanto eu passava por
ele, eu murmurei: — Meu irmão, — orgulhosamente.
Tivemos que subir em dois elevadores, com Lexi, Molly, Tama,
Luka e eu em um, Julius, Happy, Zep, Evander e Manda no
outro. Quando chegamos à cobertura do décimo andar, Happy se
ajoelhou ao lado da porta, inseriu um cartão chave vazio na fechadura e
usou o telefone para hackear o código.
A luz ficou verde e meu coração saltou. Estávamos tão perto.
Antes que alguém entrasse, Julius levou um dedo aos lábios e fez
sinal para todos os outros ficarem no corredor. O apartamento estava
escuro quando ele entrou, a arma empunhada, mas logo a ouvi.
— Largue isso, Jay.
Uma luz acendeu e, do corredor, vimos Julius ser iluminado pelo
brilho suave da lâmpada.
O que Julius disse em seguida me fez correr para o lado dele. —
Ling, — ele disse, com o rosto cheio de preocupação, — o que você fez
com ele?
O quê?
Foda-se essa merda.
Meus pés me carregaram mais rápido do que antes, e quando me
juntei a meu irmão naquele quarto, meus olhos pousaram na pequena
mulher que segurava meu filho nos braços no canto da grande janela da
sacada.
Ela parecia drogada, ou cansada, ou ambos. Eu não sabia dizer.
Ling sorriu para mim, mas foi mais uma provocação. — Quieto,
papai. Você vai acordá-lo.
— Coloque-o no chão, Ling. — Minha voz tremeu com fúria crua.
De trás de mim veio: — Solte meu filho, — e fiquei surpreso com a
firmeza da voz de Lexi naquele momento.
Ling olhou em volta, e seus olhos se arregalaram quando o espaço
dentro da sala ficou menor e menor com os corpos preenchendo a

~ 487 ~
área. Molly deslizou para um lado da sala quando Tama imitou seu
movimento na parede oposta, bloqueando a pequena mulher.
— Oh. Você trouxe convidados. Se eu soubesse, teria arrumado. —
Ela sorriu para Lexi. — Mas você conhece as crianças. Coisinhas
bagunceiras. — Manda se adiantou, e Ling lentamente levantou sua
arma, estalando sua língua. — Para trás, baby, ou farei um buraco em
você.
Mas Manda deu outro pequeno passo à frente, colocando as mãos
para cima. — Ling. Meu nome é Manda. Sou médica. — Ela olhou para o
sobrinho e franziu a sobrancelha. — Estou preocupada. A respiração de
AJ está um pouco superficial demais para o meu gosto. — Ela falava
como se Ling fosse uma criança. — Você pode me dizer o que deu a ele?
Ling franziu o cenho para o garotinho em seus braços e eu queria
matá-la ali mesmo. — Eu lhe dei um pouco de Phenergan.
— O quê? — Eu estava tremendo. — Você drogou meu filho?
Cadela estúpida. Meu queixo doeu com o quão apertado
estava. Ela era carne de cachorro.
Manda assentiu levemente. — É um anti-histamínico. Às vezes
usam isso para deixar as crianças sonolentas em voos longos. — Ela se
virou para Ling, deu outro pequeno passo à frente e perguntou: —
Quanto você deu a ele, Ling? Isso é muito importante, ok? Demais pode
matá-lo.
Mas Ling ignorou Manda enquanto gentilmente balançava meu
filho em seus braços. — Eu só queria segurá-lo. Ele está sempre
tenso. Eu só queria amá-lo, — ela sussurrou suavemente.
— Ele não é seu. — Do meu lado, a respiração de Lexi ficou
pesada, e eu assisti seus punhos se fecharem de raiva. — Você não pode
pegá-lo.
Com isso, Ling piscou rapidamente antes de se fixar em Lexi. Seu
lábio enrolado. — E quem vai me impedir, Lexi? Você? — Ela zombou, e
então ficou irada. — Você e os seus sempre foram um problema. Quero
dizer, pessoalmente, eu não sei o que diabos ele vê em você. — Ela olhou

~ 488 ~
para Lexi de cima a baixo lentamente. — Você é realmente muito...
comum.
— Vamos falar sobre isso, — eu murmurei. — O que você quer,
Ling?
Ling pensou um momento antes de seus olhos brilharem. — Eu
quero que você sofra. — Para meu choque absoluto, os olhos de Ling
brilhavam com lágrimas não derramadas. — Eu quero que você se
machuque. — A primeira de suas lágrimas caiu quando ela
continuou. — Eu quero que você saiba como é perder alguém que você
ama, Twitch. — Seu corpo tremeu em soluços silenciosos. — Pela
primeira vez na minha vida, eu estava feliz. — O lábio dela se curvou. —
E então você voltou e arruinou tudo. — Ela respirou fundo e piscou a
umidade em seus olhos. — Az e eu éramos felizes juntos. Mas você não
gostou de me ver feliz, não é? Você estava com ciúmes porque eu não te
queria mais, não estava? Então você se meteu. — Ela parecia triste
então, e eu percebi que nunca antes tinha visto Ling tão abertamente
triste. — Eu o amei tanto. E você o tirou de mim. — Ling sorriu para
meu filho carinhosamente. — Olho por olho, baby.
Ela era louca. — Eu não o tirei de você.
— Você fez, — ela insistiu.
— Não, eu não fiz.
— Sim, você fez!
— Você atirou nele, Ling. Você atirou nele pelas costas enquanto
se afastava de você. — Eu parei por um momento. — Foi tudo sua culpa.
Ela ficou em pé então, e o jeito que a boca do meu filho ficou
aberta parecia tão antinatural que eu sabia que isso tinha que acabar
logo para que pudéssemos conseguir a ajuda médica que ele precisava. O
braço dele caiu para o lado, e quando Ling abriu a boca e gritou, ele nem
sequer se mexeu. — É sua culpa ele estar morto! — Ela ofegou,
parecendo profundamente triste. — Ele nunca teria me abandonado se
não fosse por você. Ele estaria aqui comigo se você mantivesse seu fodido
nariz fora do meu maldito negócio, seu imbecil! — Seus lábios
tremeram. — Você é a razão pela qual ele está morto.

~ 489 ~
Meu ouvido interno zumbiu enquanto Luna falava baixinho. — Eu
não tenho um tiro claro aqui pessoal. Eu não consigo ver o menino.
Fern acrescentou: — Nem eu.
Thiago falou rispidamente. — Não atirem.
Eu precisava ganhar tempo. Eu dei um passo à frente e, quando o
fiz, Molly e Tama avançaram junto comigo. — Eu sinto muito.
— Sim. — Ling assentiu, mas sua expressão permaneceu feroz. —
Você sente muito agora, não sente? Porque eu tenho algo seu. Algo que
você ama muito.
Quando Ling ergueu a arma, Lexi deu um pequeno passo para
frente e ofegou, trêmula. — Se você tocar um fio de cabelo dele eu vou te
estripar. Você me entendeu, sua puta idiota?
— Ooh. — Ling sorriu largamente e olhou para Lexi com uma nova
apreciação. — Miau, Lexi. Quem sabia que tinha isso em você?
Ela deu um passo para trás, na direção da janela, e Luka, sendo a
única linha de comunicação com os Vegas, começou a monologar. —
Afaste-se da janela, Ling. Não é seguro.
Ling sorriu tristemente. — Nós dois sabemos que não vou sair
disso viva, Luka. — Ela olhou para AJ calorosamente. — E onde quer
que eu vá, planejo levar meu filho comigo.
Meu estômago caiu. Como diabos ela iria.
Foi quando Luna disse: — Deixe-a abrir a janela.
O quê?
Luna tinha que estar fodendo com a gente.
Meu coração começou a acelerar.
De jeito nenhum eu iria deixar meu filho em qualquer lugar perto
de uma janela aberta no décimo andar.
Eu dei mais um passo a frente e levantei minhas mãos em sinal de
rendição. — Leve-me em vez disso.
Ling se aproximou do canto com os pés descalços e tateou às cegas
para destrancar a janela. Sua boca franziu. — Hmmm. Não. — Ela me
olhou. — Embora confirme o que eu disse, baby. A morte parece bem em
você. — Quando ela abriu a janela, uma brisa fresca soprou, e quando

~ 490 ~
ela levantou a arma e apontou para mim, ela murmurou, — Vamos
tornar isso permanente. — O dedo de Ling pressionou levemente o
gatilho e ela sorriu de lado. — Vejo você no inferno, baby.
Tudo começou a se mover em câmera lenta.
O aperto de Ling em sua arma aumentou.
Eu me preparei para morrer.
Lexi se moveu para ficar na minha frente, de braços abertos.
Todos correram para frente.
E foi aí que aconteceu.
De repente, Ling foi empurrada de volta para a sala com tanta
força que foi jogada sem a menor cerimônia a dois metros de
distância. AJ foi atirado de seus braços e, onde pousou, permaneceu
imóvel. Ele não respondeu à queda e eu sabia que algo estava muito
errado. Por uma fração de segundo, todos nós o observamos, desejando,
esperando que ele despertasse. Mas ele não fez.
Lexi e Manda correram para ele, o examinando. Molly se juntou a
elas, seguindo cuidadosamente as instruções de Manda enquanto ela
checava seus sinais vitais.
Mas eu tinha um peixe maior para fritar.
Ling, esparramada no centro da sala com sua pistola ainda caída
ao lado da janela, olhava para Luna. Empoleirada no peitoril da janela,
com as pernas afastadas e segurando a corda de segurança como uma
porra de super-herói, ela ergueu um dedo para Ling e soprou-lhe um
beijo. — E aí, cadela?
Os olhos de Ling se arregalaram quando ela percebeu que estava
acabada. Recuando, ela continuou, respirando com dificuldade, até que
bateu na parede, e foi quando Julius fez algo que queria fazer a muito
tempo. Ele caminhou até uma Ling petrificada, se ajoelhou na frente dela
e disse algo que eu não estava esperando. — Eu perdoo você.
— O quê? — Sua voz tremeu e Ling piscou, intrigado. — Você
perdoa?
— Sim. — Ele acenou antes de recuar e socá-la diretamente na
boca o mais forte que podia. Enquanto ela ofegava rapidamente, Julius

~ 491 ~
entrou em seu rosto e sorriu. — Você vai morrer hoje à noite. E eu vou
para casa com minha esposa. Então, acho que você poderia dizer... —
Seu rosto escureceu um pouco. — ...que eu venci.
Esse era meu irmão.
Esse era o Julius que eu conhecia. Ele não era de violência
desnecessária. E eu estava tão cansado desta vida que também não
era. Não mais.
Luka e eu fomos até a rainha encolhida, enquanto Tama seguia
atrás, como uma sombra. Ela era patética e eu a odiava.
Pav cutucou meu ombro. — A decisão é sua.
Eu olhei para sua boca ensanguentada e depois para a minha
mulher. Eu sei que ela queria participar disso, mas não podia deixá-la
viver com isso. Eu não podia deixá-la manchar sua alma pura. A minha
já estava suja, e enquanto vivíamos o resto de nossas vidas juntos, ela
poderia fazer o que toda boa esposa fazia e orar por mim.
Enquanto eu olhava para essa pequena mulher, essa pequena
cobra que viveu para ver os outros queimar, minha raiva se acendeu. Ela
não era nada. Ela era insignificante. E depois que ela morresse, ninguém
choraria.
Então eu lhe fiz um favor.
Descendo, envolvi minha mão ao redor de sua garganta e a
peguei. Ela lutou comigo todo caminho até a janela, batendo em minhas
mãos e me chutando, e a sala pareceu parar ao meu redor. Senti todos
os olhos em mim enquanto dei passo após passo firmemente em direção
à morte de Ling. E quando cheguei, poupei-lhe um breve olhar, dando a
Luna a chance de entrar, longe da janela.
Com os olhos arregalados e o rosto vermelho, Ling Nguyen sabia o
que estava por vir.
Ela engasgou: — Faça isso.
Ah, eu faria.
Mas não antes de dizer o que precisava. — Sinto muito por ter
conhecido você. — Sua respiração diminuiu. — Sinto muito por fazer
você ser essa pessoa. — Ela se acalmou em meus braços. — Sinto muito

~ 492 ~
não te amar o suficiente para deixá-la ir quando você teve a chance de
seguir em frente.
Seria um dos meus maiores arrependimentos.
Meu aperto na garganta dela aumentou, e eu disse: —
Cumprimente Az por mim, — um momento antes de jogá-la pela janela.
Inclinando-me sobre o parapeito, observei-a cair.
Eu observei seus braços se agitarem como se ela fosse um pássaro
que não sabia voar. Eu observei seus olhos se arregalarem e sua boca
em um grito silencioso. Eu a assisti temer sua existência pela primeira
vez em sua vida miserável.
E eu tive imenso prazer em vê-la atingir o chão abaixo.
Olhe para isso!
Ela saltou.
Meu ser inteiro se iluminou quando o peso saiu dos meus ombros,
mas não durou muito tempo. Nós precisávamos sair deste lugar. Nós
precisávamos sair rápido. E quando fizemos isso, não consegui
resistir. Quando um carro decolou com minha mulher, filho e irmã, eu
hesitei.
Eu precisava dar uma olhada mais de perto, para confirmar sua
morte.
No momento em que me aproximei do corpo sem vida de Ling,
senti uma forte tristeza me cobrir. Ajoelhei-me ao lado do seu corpo
imóvel e estendi a mão para acariciar suavemente seus cabelos. Ela
estava sangrando por todos os lugares, olhos, nariz, pelas orelhas. Seu
corpo estava tão quebrado quanto sua alma. Quão adequado.
Muitas pessoas abandonaram essa mulher na vida. E eu fui um
deles.
Eu levantei, lançando um único olhar para ela antes de respirar
fundo e me afastar da mulher perigosa que eu havia criado. Nesse
momento, me senti dolorido em um lugar que não deveria me sentir
dolorido. Simultaneamente, meu peito doía enquanto meu estômago
aliviava.

~ 493 ~
Quando andei de volta para o meu pessoal, um pensamento
estranho passou pela minha cabeça.
Assim como nasceu e como viveu toda a sua vida, Ling Nguyen
morreu lindamente.
Concluí.

~ 494 ~
CAPÍTULO QUARENTA E QUATRO
Lexi

Assim que o carro reduziu a velocidade e parou, me joguei da parte


de trás e corri para a entrada de emergência com Manda nos meus
calcanhares e meu filho nos braços. — Ajuda! — Eu ofeguei enquanto
corria. Minha voz coaxou: — Eu preciso de ajuda!
Dois enfermeiros correram para frente e, enquanto a mulher abria
os olhos do monstrinho, acendendo uma luz, o homem perguntou: — O
que aconteceu?
O que aconteceu?
Eu tive o insano desejo de rir em voz alta.
Jesus Cristo. Quanto tempo ele tem? Porque, oh garoto, eu tenho
uma história para contar.
Felizmente, Manda respondeu em meu nome. — Deram-lhe
Phenergan e não sabemos o quanto. — Ela olhou para AJ — A julgar por
sua respiração superficial, estou supondo uma dose dupla, no mínimo.
A enfermeira colocou um estetoscópio no peito do meu filho e
franziu a testa antes de movê-lo. Quando sua carranca se aprofundou,
os últimos dias de exaustão me alcançaram, e meus braços começaram a
tremer enquanto eu lutava para segurar meu garotinho neles.
Meu pequeno tropeço foi notado por todos.
Do meu lado, Manda disse: — Deixe-me carregá-lo, Lexi.
Mas eu dei um passo para trás.
Não.
Ninguém o tiraria de mim. Eu não permitiria isso.
Quando o enfermeiro estendeu os braços, minha reação inicial foi
abrir a boca e vomitar uma longa série de obscenidades malignas. Mas o
meu atual estado de exaustão até isso era muito. Em vez disso, eu
simplesmente balancei a cabeça enquanto meus olhos corriam do
enfermeiro para a enfermeira de forma irregular.
~ 495 ~
A enfermeira suspirou alto. — Escute. — Seu tom me disse que ela
havia cansado da minha merda antes de começar. — Eu preciso colocar
esse garotinho em um respirador. Também preciso colocar uma linha
intravenosa nele, e não posso fazer isso com você agarrada a ele do jeito
que está.
Eu pisquei para o meu filho, e por um momento maciço, estava
genuinamente apavorada em deixá-lo ir.
Meus ombros tremiam quando baixei o rosto para a bochecha de
AJ, pressionando beijos trêmulos quando comecei a chorar. Face ao
momento que eu precisava desesperadamente, olhei em seus olhos e
minha respiração engatou, enquanto eu resmungava: — Por favor, não o
tire de mim.
Eles não entendiam?
Eu havia acabado de recuperá-lo.
Meu maior medo no momento era AJ acordar em uma sala
desconhecida, em um lugar desconhecido sem mim.
Ele precisava de mim.
Não.
Você precisa dele.
No meu medo sincero, o rosto da mulher se suavizou. — Você veio
até nós por ajuda. Agora vamos ajudá-lo, amor.
Quando mãos gentis desceram sobre meus ombros, minha cabeça
se levantou e seus suaves olhos castanhos me seguraram no lugar. —
Solte-o, baby.
Eu balancei a cabeça enquanto meus lábios tremiam. — Não.
Twitch se moveu devagar, e então estava ao meu lado. Seus olhos
nunca deixaram os meus, e com mãos firmes, mas gentis, ele tentou
tirar meu filho dos meus braços.
Demorei um segundo para reagir. Atormentada, meu lábio se
curvou quando reconheci o que ele estava fazendo. Eu tentei recuar, mas
o braço livre dele me segurou pela cintura. — Solte-me.
Por que ele não entendia?
Eu não podia.

~ 496 ~
Eu simplesmente não conseguia.
Nós lutamos enquanto ele tentava tirar meu filho de mim. — Não.
E quando ele falou, todo o meu corpo cedeu. — Você vai recuperá-
lo desta vez, anjo. Eu prometo. Apenas solte-o.
Com meu medo dito em voz alta, minha respiração me deixou de
uma só vez. O pesar me atingiu com força como um soco no estômago.
Em meu estado de declínio, ele conseguiu puxar nosso filho de
mim, e quando levantei a cabeça e chorei abertamente, meus joelhos
tremeram, mas ele me segurou firme. Eu o ouvi dizer: — Leve-o. — E
observei quando os enfermeiros levaram meu filho.
Eles o tiraram de mim uma segunda vez em poucos dias.
E fiz a única coisa que pude naquele momento.
Eu chorei.
Eu chorei com todo meu coração.
— Antonio Julius Falco.
No momento em que seu nome foi chamado, eu saí do colo de
Twitch e corri para o jovem médico. Onde encontrei a energia, ninguém
sabia. — Sim. Sou eu.
Voltei-me para Twitch e não pude deixar de notar os círculos
escuros sob seus olhos. Momentaneamente, senti-me horrível. Em meu
estado maníaco, eu havia esquecido como ele deveria estar se
sentindo. Ele tinha feito um trabalho tão bom em cuidar de mim que me
esqueci de lembrar que isso não era apenas sobre mim. Era sobre
nós. E, talvez, meu homem normalmente forte precisasse do consolo em
meus braços tanto quanto eu precisava do dele.
Dando um pequeno passo para trás, coloquei minha mão fria na
dele, segurei seus olhos e alterei minha declaração. — Somos nós. —
Voltei para o médico. — Somos seus pais.
— Eu sou o doutor Prahesh. — O médico nos observou
atentamente, um segundo. — Seu filho recebeu uma dose relativamente
alta de Phenergan. A quantia que lhe foi dada levou a uma overdose. Nós
administramos carvão ativado. Usamos isso para tratar o
envenenamento. O que isto faz é parar qualquer absorção adicional no

~ 497 ~
intestino e reter as toxinas para que sejam expulsas de outra forma. —
Ele olhou para Twitch. — Antonio foi colocado na UTI. — A conversa
tomou outro rumo quando os lábios do médico se estreitaram, e ele
admitiu: — Nós esperávamos ver algum tipo de resultado por agora, mas
até o momento, não há nenhuma mudança em seus sinais vitais. — Meu
interior afundou quando ele prosseguiu. — Sua respiração é o que mais
nos preocupa.
Meu coração bateu quando tentei entender o que ele estava
dizendo.
— Mas ele não piorou. — Apertei a mão de Twitch. — Isso é algo,
certo?
Típico Lexi. Sempre procurando um lado positivo.
O doutor Prahesh concordou: — Definitivamente. — Ele olhou
entre nós, dois pais em pânico, e teve pena, enquanto proferia: — Vocês
são bem-vindos para sentar com ele, se quiser.
— Sim, — eu disse imediatamente quando meus ombros tensos
relaxaram. — Nós gostaríamos disso.
Não havia percebido que a mão de Twitch estava tão pegajosa
quanto estava. Sua mandíbula apertou, ele assentiu, e sua voz suave
como uísque soou muito grave para o meu gosto. — Lidere o caminho.
E como se o mundo estivesse contra nós estarmos com nosso filho,
a voz vinda de trás nos deteve com um agudo — Antonio Falco. — Nós
dois nos viramos para encontrar o sargento Gabriel Blanco com uma
expressão séria, e ele estava focado unicamente em Tony. Quando ele
falou novamente, não se incomodou com sutilezas. — Eu preciso que
você venha comigo.
Twitch olhou para o homem de cima a baixo. Seu tom era
simplesmente entediado, quando respondeu: — Para quê?
— Uma mulher está morta. Preciso de uma declaração.
Gabe, o homem com quem eu tomara café dezenas de vezes, o
homem que me consolara pela ausência do meu filho, olhou para o meu
marido como se ele fosse uma merda. E, pela minha vida, não consegui
evitar.

~ 498 ~
Eu tirei minha mão da de Twitch e deslizei na frente dele, uma
barricada humana. Com os olhos cheios de raiva, ignorei a batida falha
do meu coração e caminhei em direção ao sargento. — Aquele monstro
envenenou meu filho, Gabe. Ela o envenenou, e eu não sei se ele vai
acordar. — Minha voz estava enganosamente calma enquanto eu tentava
em vão estabilizar minha respiração. Minhas mãos tremiam quando
forcei as palavras a sair. — Você quer uma declaração? OK. Eu darei
uma. — Olhando Gabriel Blanco profundamente nos olhos, eu não
gaguejei quando deixei a acusação voar. — Com todos os recursos do
mundo, você não conseguiu fazer em dias o que minha família conseguiu
em uma noite. — Oh, eles poderiam tentar, tudo bem, mas ninguém viria
atrás de nós. De jeito nenhum, não assim. — Esta noite de todas as
noites. — Eu balancei a cabeça levemente. — Que vergonha, sargento
Blanco.
Um momento de silêncio passou, e quanto mais esse momento
durou, pude ver Gabe Blanco se questionando. E fiquei feliz por isso.
Tomando a mão de Twitch mais uma vez, olhei para Gabe, mas
falei com o meu homem. — Vamos lá, querido. — Minha voz era
monótona, seca. — Devemos estar lá quando ele acordar.
Enquanto nos afastávamos da nossa desgraça iminente, Gabe
gritou: — Você não vai escapar disso. Eu voltarei.
Sua declaração ardente não me assustou.
Nós não iríamos fugir.
A vilã em nosso conto de fadas tinha finalmente sido derrotada de
uma vez por todas.
Não. Nós terminamos a corrida.
Twitch me puxou para o lado dele e deu um beijo suave na minha
testa. Coloquei minha mão em seu peito e suspirei profundamente,
amorosamente, enquanto nos aproximávamos cada vez mais da cola que
nos mantinha unidos.
Nosso filho.
O silêncio veio como um indulto, e logo em seguida, percebi que o
único lugar para onde iríamos futuramente era os braços um do outro.

~ 499 ~
Porque nos pertencíamos e nada poderia nos separar.

***

Twitch

Haviam se passado vinte e quatro horas.


Eu estava oficialmente pirando pra caralho. E enquanto Lexi
dormia na cadeira no canto do quarto, deitei-me junto ao meu filho na
estreita cama do hospital, observando os tubos que saíam de sua boca e
nariz, querendo saber como eu conseguira colocar a pessoa que amava
mais do que a vida em si nesta posição.
A culpa era uma emoção relativamente nova para mim. Eu não
gostei; isso era uma certeza.
Eu estava desesperado.
E então implorei.
— Você tem que acordar, amigo. — Você tem que porque eu não
posso viver com a vergonha. — Só abra os olhos. — Por favor. — Sua mãe
precisa de você. — Eu preciso de você. — Por favor, amigo. — Eu fechei
meus olhos com força e engoli em seco, enquanto sussurrava: — Eu
sinto muito, filho.
Eu chorei em silêncio para não acordá-la.
Era o mínimo que poderia fazer nesta tempestade que criei.

***

Lexi

— O que você está fazendo? — Eu perguntei quando o doutor


Prahesh se moveu ao lado da cama de AJ e inspecionou o respirador que
mantinha meu filho vivo.

~ 500 ~
Ele apertou botões na máquina e ficou em silêncio um pouco antes
de responder. — Eu acho que é hora de ver como AJ reagirá respirando
por conta própria.
Twitch de repente não estava mais dormindo. Ele se sentou,
piscando sonolento. — O que você disse?
— O quê? — Minha mente vacilou um momento antes de escurecer
completamente. — Você quer desligar a única coisa que mantém meu
filho vivo? — Eu não poderia ter zombado, mesmo que quisesse. Eu me
inclinei para ele, franzindo a testa e fervendo, — Sobre o meu corpo
morto.
— Doutor. — Twitch franziu a testa. — Eu entendo que este é o
seu trabalho e tudo, mas... não.
Mas o doutor Prahesh não viu a seriedade nesta situação. Em vez
disso, ele sorriu gentilmente. — Eu sei que isso é difícil para ambos, mas
os sinais vitais de AJ melhoraram consideravelmente. Sua cor
voltou. Sua febre diminuiu. E agora, gostaria de comparar sua
respiração a quando ele chegou aqui. Mas não posso fazer isso se não
tirarmos o respirador.
Pais deveriam saber o que fazer nessas situações. Eles foram feitos
para ser fortes e ter um plano e confiar em seus médicos. Mas, quando
Tony e eu nos entreolhamos, usávamos expressões de incerteza
combinadas, e sua incerteza alimentou a minha em níveis que um pai
não deveria ter.
Ninguém falou por um tempo.
— Faça isso, — disse Twitch, e meus olhos se arregalaram em
choque.
Minha boca se abriu levemente. — O quê? Não!
Twitch se arrastou até a beira do assento. — Baby, eles não podem
mantê-lo assim para sempre. — Sua expressão suavizou, e eu juro que
havia uma tristeza distinta em seus olhos. — Temos que deixá-lo cair
para que ele possa voar sozinho.
Foi um belo sentimento falado na hora errada.

~ 501 ~
Minha garganta apertou e eu sussurrei ansiosamente, — E se ele
não voar? E se ele bater no chão?
Twitch olhou para o chão e, ao fazê-lo, mordeu o interior da
bochecha. Ele não respondeu por um longo momento, mas quando
levantou à cabeça, ele encolheu os ombros. — Não há lugar melhor para
cair do que aqui, anjo.
— Quanto mais tempo ele ficar na máquina, maior sua chance de
desenvolver pneumonia, — disse Prahesh. — Já faz trinta e seis
horas. Com sua permissão, gostaria de tentar tirá-lo antes que seja tarde
demais.
Meu coração estava em guerra com a minha cabeça.
Meu corpo frio, meus olhos sombrios, eu andei pelo comprimento
do quarto, colocando meus dedos sobre a minha boca e pesando os
possíveis resultados. Dos doze possíveis resultados que minha mente
conjurou, apenas um deles foi feliz.
Eu não gostava dessas chances.
Eu odiava essas probabilidades.
Passando a mão pelo meu cabelo, andei mais um pouco até parar
na frente de Tony. Minha voz estremeceu quando pisquei as lágrimas e
divaguei: — Eu geralmente sei o que fazer em situações difíceis, e não sei
o que fazer aqui, Twitch. E se ele não conseguir respirar sozinho? E se
ele estiver mais ferido do que pensávamos? Eu não posso perdê-lo, e
agora mesmo... — Minha voz era pouco mais que um sussurro. —
...podemos perdê-lo.
Twitch estendeu a mão e levou meus dedos entre os seus. Ele
acariciou-os um segundo antes que eu visse o jeito que sua bochecha
pulsava. — Não diga isso, — ele falou baixinho, mas com firmeza. — Ele
é forte, criado por uma mãe sólida com os genes de seu pai teimoso. —
Ele não olhou para mim, e me perguntei se era porque ele estava
preocupado que eu visse seu próprio medo espalhado por esses lindos
olhos. — Ele não vai a lugar nenhum. Ele vai sair dessa, baby.
Meus olhos correram para o garotinho que parecia ainda menor
nos lençóis brancos e ofuscantes de sua cama de hospital. Tantos tubos

~ 502 ~
saindo dele. Eu não estava pronta para deixá-lo ir. E quando Twitch
apertou meus dedos entre os seus, percebi que talvez não precisasse.
Ele estava certo.
Eu teria que deixar meu passarinho cair se quisesse que ele
voasse.
— Ok. — Engolindo o nó na garganta, eu disse as palavras com
calma, apesar de cada parte da minha alma doer. — Faça isso.
Com um breve aceno de cabeça, o doutor Prahesh saiu do quarto e
voltou com uma enfermeira. Eles trabalharam em conjunto com a
enfermeira na máquina, enquanto o doutor suavemente separava a
sonda do tubo de respiração. — E, — ele disse enquanto meu coração
parou, — agora veremos o que o nosso pequeno Antonio é capaz de fazer.
Ele removeu o tubo e observou atentamente enquanto colocava um
estetoscópio no peito do meu filho. E o peito dele era a única coisa em
que podia me concentrar.
Não estava se movendo.
Minha voz tremeu. — Ele não está respirando.
O doutor Prahesh ouviu atentamente. — Dê-lhe um segundo.
Completamente aterrorizada, meu corpo ficou rígido, enquanto eu
ofegava, — Ele não está respirando, Twitch.
Observamos atentamente, em completo choque e horror, enquanto
nosso filho jazia sem vida na cama.
O doutor Prahesh franziu a testa. Segundos se passaram e ele
olhou para a enfermeira. Eu não gostei do olhar que foi trocado.
— O que está acontecendo? — Eu perguntei.
Nenhum dos dois falou.
— O que está acontecendo? — Eu falei em pânico.
O doutor Prahesh tirou o estetoscópio do peito do meu filho e abriu
a boca para falar, mas foi interrompido quando Twitch se levantou da
cadeira. — Ali.
Eu olhei para onde ele estava apontando.
Ele estava apontando para AJ
Mais especificamente, no peito dele.

~ 503 ~
— Ali, — disse ele, avançando em direção à cama estreita.
O doutor Prahesh colocou o estetoscópio de volta em AJ, mas isso
não importava.
Eu podia ver.
Oh meu Deus.
Eu podia vê-lo se movendo.
Obrigada Deus.
Ele estava respirando.
O doutor Prahesh sorriu ao ouvir o instrumento. — Bem desse
jeito, — ele falou baixo, para si mesmo, e seu sorriso se alargou. — Sutil
e profundo.
Uma risada chocada saiu da minha garganta e lutei para respirar
através dela. Twitch se virou para mim, mas ele não estava sorrindo. Ele
ainda parecia uma árvore inquebrável perdida em uma luta contra um
furacão feroz.
Eu precisava que ele se curvasse.
Eu precisava que ele se curvasse antes que quebrasse.
— Querido. — Eu dei um passo à frente.
Ele não respondeu.
— Querido. — Toquei seu braço, e ele olhou para o local que eu
tinha tocado antes de descansar seu olhar turbulento no meu. Eu sorri e
suavizei minha voz. — Ele está respirando. — Eu funguei. Meus olhos
ficaram borrados com lágrimas não derramadas antes que eu risse: —
Ele está respirando.
— Ele está respirando, — confirmou um Doutor Prahesh
parecendo em êxtase. — Ele está fora do ventilador e respirando por
conta própria. — Ele se virou para nos olhar. — Isso é o melhor que
poderíamos pedir.
— Por que...? — Twitch tentou falar, mas parou. Ele tentou de
novo, mais devagar dessa vez, e a emoção espessa que ouvi em sua voz
fez com que eu me movesse em direção a ele, me pressionando ao seu
lado. — Por que ele não acorda?
Era algo que eu queria perguntar, mas estava com muito medo.

~ 504 ~
Eu escutei atentamente a resposta que o Dr. Prahesh deu. — Bem,
às vezes, quando as pessoas experimentam um trauma como Antonio, o
corpo não é a única coisa que precisa de tempo para cicatrizar. A mente
é delicada. A mente de uma criança, mais ainda. — Ele olhou de volta
para o nosso filho. — Ele está se curando. Acho que seu filho vai acordar
quando estiver bem e pronto.
“Eu acho que” não era algo que eu queria ouvir, mas aceitaria.
O doutor Prahesh era um homem inteligente.
E nove horas depois, o monstrinho abriu os olhos e acordou de seu
longo sono como a bela adormecida que ele era.

~ 505 ~
CAPÍTULO QUARENTA E CINCO
Twitch

Nos dias que seguiram após AJ chegar em casa, nossa casa esteve
cheia, durante dias, por horas a fio, e pela primeira vez na minha vida,
não me importei com a companhia. Isso me fez pensar sobre os
arrependimentos, as hipóteses, os merecimentos. Isso me impediu de
pensar sobre as coisas que poderiam ter acontecido, e estava grato pelo
indulto dos meus pensamentos.
Os presentes chegaram aos montes, e embora AJ estivesse tendo
dificuldade em falar depois da retirada de seu tubo de respiração, estava
melhorando a cada minuto e maldição se ele não amava ser mimado.
Eu mal podia acreditar o quão resistente meu filho era.
Lá estava ele, sorrindo e rindo, brincando no chão com Happy e
Ana enquanto eu lutava contra o desejo de chorar. Lutei tanto contra
esse desejo, mas ele não me deixava há dias.
Cada sorriso que ele atirou na minha direção atingiu meu
coração. Cada olhar animado, cada suspiro feliz, cada abraço que ele me
dava quando passava por mim me destruiu. Destruiu minha alma de
uma maneira que não consegui compreender. Não respirei
profundamente desde que ele foi tirado de nós, e ainda não havia
conseguido administrar isso. Porque poderíamos não ter tido tanta sorte
e eu silenciosamente prometi que passaria o resto da minha vida sendo o
pai que ele merecia. Eu seria o tipo de pai que desejei quando criança, o
tipo envolvido e amoroso. O tipo de pai que instintivamente sabia que
algo estava errado com seu filho. O tipo de pai que conhecia o seu
filho muito bem.
Algo aconteceu comigo na semana passada. Algo havia
mudado. Senti-me suavizar de um jeito que não parecia natural, de certo
modo eu queria lutar contra isso, mas estava cansado de lutar. Talvez
fosse hora de mudar. E quando me sentei ao lado do meu pai doente,
~ 506 ~
falei sem nenhum traço de malícia. — Você voltará para visitar, certo,
Pops?
Antonio Falco Sênior não tinha muita vida sobrando nele, mas ele
queria gastar o pouco tempo que restava compensando o erro que havia
cometido uma vida atrás. E agora, quando olhava para o meu filho em
recuperação, pude apreciar isso. Eu respeitava isso.
Sua voz era áspera. — Você quer isto?
Dei de ombros. — Claro. Por que não?
Ele piscou para mim em descrença atordoada. Ele estava
esperando uma bomba explodir. Mas não havia bomba a detonar. Eu
estava sendo honesto.
Quando se passou um tempo suficiente, eu disse: — Então, isso é
um sim?
Ele falou com cautela. — Talvez você possa levar meu neto para
me visitar em Vegas?
Sem hesitação. — OK. Quero dizer, pode não ser por um
tempo. Depende de como ele irá se recuperar e tudo, mas sim. Eu acho
que Lexi concordará com isso.
O lábio do meu pai se inclinou no canto. Seu lábio se contraiu e se
esticou quando ele sorriu. Esse sorriso chamou o meu, e quando ele
levantou as mãos trêmulas, percebi que estava mais doente do que eu
pensava. Sem aviso, ele pegou minhas bochechas e me puxou para
perto. Quando ele beijou minhas bochechas com tanta força quanto
pôde, soltando uma risada, algo que eu nunca senti fluiu através de
mim, lentamente. Languidamente. Era calor líquido nas minhas veias.
Era o amor de um pai.
Algo que eu nunca tive antes.
E enquanto eu lutava contra a emoção que estava sentindo, peguei
uma das mãos trêmulas do meu pai e beijei seus dedos grossos e
envelhecidos enquanto ele continuava sorrindo para mim como se eu
estivesse respirando vida nele. Com uma mão na sua e a outra em seu
ombro, eu gentilmente o sacudi e disse: — Não se apresse em morrer

~ 507 ~
agora, ok? — Meu tom era tão firme quanto consegui. — Nós temos
muita merda para pôr em dia.
Foi quando meu irmão entrou com uma palmada forte no meu
ombro. — O que está acontecendo? Vocês dois precisam de um quarto
ou alguma merda? — Zep sorriu para mim enquanto eu olhava para
ele. — Você vai sentir nossa falta, idiota?
Com uma carranca, tirei sua mão do meu ombro. — Foda-se,
cadela.
E enquanto Zep ria abertamente, ele passou o braço em volta do
meu pescoço, sufocando-me, e deu um beijo na minha cabeça. — Está
tudo bem, filho da puta. — Ele enfiou os dedos no meu cabelo e esfregou
com força o suficiente para me fazer cerrar os dentes. Antes que ele se
afastasse para sentar ao lado da quantidade crescente de pessoas ao
redor do meu filho, ele soltou uma frase: — Eu também vou sentir sua
falta.
Meu pai sorriu largamente na conversa, suspirando, — Como
irmãos de verdade. — Ele assentiu com tristeza. — Vocês fizeram um
homem velho muito feliz, meus filhos.
Foi bom, e parte de mim não queria que fosse porque eu sentiria
muita falta.
Nós estávamos um mundo longe deles, minha família e eu sentiria
falta deles mais do que queria admitir. Então não o fiz.
Enquanto Manda e Zep brigavam por um caminhão que Molly e
Tama haviam trazido para o pequeno cara, AJ ria animadamente e eu
sorri. Do meu lugar à mesa, vi Julius, Nikki e Dave sentados do lado de
fora com minha mulher. Ela estava sorrindo. Ela estava feliz.
Estava tudo bem.
Tudo estava bom.
Então, quando Luka ligou, meu estômago caiu porque eu sabia o
que estava por vir.
Não iríamos porque ele era meu rei e eu era seu pupilo.
Nós iríamos porque ele era meu amigo e eu lhe devia.

~ 508 ~
Com sorte, o que eu devia não me custaria muito porque, porra, eu
não tinha mais nada para dar.
***

Lexi

Assim que nos sentamos no sofá branco e Luka começou a falar,


eu sabia o que estava acontecendo aqui.
— Eu preciso de você, — foi tudo o que ele disse, e foi destinado
exclusivamente a Twitch.
Sim. Os meus piores temores foram confirmados. Ele queria a
santa trindade de volta ao rebanho.
Eu virei para olhar para o homem ao meu lado e meu nariz
enrugou. — Não.
Mas Luka foi persistente. — Meu reino está desmoronando, e no
meio do desmoronamento, eu te ajudei. — A última declaração foi
dirigida a nós dois, e ele se certificou de que eu soubesse disso, olhando
entre nós. — Pode demorar um pouco, mas podemos reconstruir,
Twitch. Eu só preciso de alguns bons homens.
Mais uma vez. — Não.
Luka olhou para mim. — Estou falando com você, mulher?
Oh, não, ele não entendeu.
Ele iria me entender, ou então me ajude Deus.
— Você vê este anel? — Eu levantei minha mão esquerda, e o
diamante reluzente brilhou na luz. — Este anel significa que a vida dele
não é mais dele para negociar. É minha, Luka. E eu digo não. — Minha
expressão disse-lhe para lutar comigo. Eu o desafiei a tentar. — Você
pode ter um trono, Luka. — Levantei um segundo antes de me sentar de
volta no colo de Twitch. — Mas este aqui é meu, e eu serei amaldiçoada
se alguém tentar tirar isso de mim.
Twitch tentou interromper com — Baby.

~ 509 ~
Mas eu parei essa merda com um firme: — Se você não calar a
boca, eu calarei para você, Tony. Eu juro por Deus. Não me pressione
agora.
Um suspiro nas minhas costas me disse que eu estava sendo um
pé no saco.
Por sorte, não me importei.
Um silêncio frio seguiu.
— Ela é assustadora, — disse Luka em voz baixa.
— Ela é sólida, — rebateu um Twitch presunçoso, apertando meu
quadril com ternura.
Sim, eu era. Mas era mais que isso. Eu tinha um medo em mim
que nunca me abandonava. Esse medo me impulsionou a fazer coisas
que nunca me julguei capaz. Esse medo estava lentamente
desaparecendo, mas nunca desapareceria completamente com Twitch
trabalhando de um modo que eu não saberia se ele voltaria para casa.
Eu não poderia viver assim.
Eu merecia mais.
Nós merecíamos mais.
— Seis anos, — eu sussurrei. — Seis anos eu passei sem ele. —
Ele não podia entender o inferno que eu tinha passado naquele
tempo. — Meu filho perdeu tanto. Acabei de recuperá-lo, Luka. Eu não
posso perdê-lo novamente. Eu sinto muito. Eu me arriscaria antes
mesmo de jogar com a vida dele porque aquele buraco de bala... — Meu
suspiro saiu cansado, mas continuei quase imediatamente. —
Essa maldita cicatriz no pescoço dele me diz que ele é estúpido o
suficiente para acreditar que é invencível. E todos nós sabemos que isso
não é verdade.
Com isso, Twitch pareceu ofendido. — Você quer se acalmar, anjo?
Não, eu não queria.
Eu girei em seu colo para encará-lo, respirei fundo e falei com
cuidado: — Você sabe que quando os lobos se acasalam, a fêmea finge
sentir medo apenas para se colocar debaixo dele. Ela age assustada,
Twitch, mas ela faz o que faz para proteger sua garganta, seu ponto

~ 510 ~
fraco. — Seu rosto suavizou. — Você me chama de rainha, querido, mas
que tipo de rainha eu seria se não protegesse meu rei?
Twitch olhou para mim e piscou, completamente
resignado. Levantando a mão, ele segurou minha bochecha com ternura,
passando o polegar ao longo da minha mandíbula. E a ação me disse
tudo que eu precisava saber.
Ele estava comigo.
Que as decisões tomadas a partir de agora, seriam por nós. Pela
nossa matilha.
— Isso é nojento, — afirmou Luka, e quando nós dois nos viramos
para encará-lo, ele parecia meio doente. — Vocês são nojentos, sabiam
disso? Aliás... — Ele lançou um olhar para Twitch. — ...onde diabos eu
encontro uma como ela?
Senti o corpo do meu rei estremecer sob o meu na risada
silenciosa. Mas mantive meus olhos em Luka.
O destino nos uniu uma e outra vez, mas eu não tomaria isso
como garantido. O amanhã não nos foi prometido. Então eu lutaria para
nos manter juntos em segurança.
— Ele é meu, Luka. Só meu. — Minha voz tremeu, e odiei quão
fraca me sentia então. As palavras saíram lentas. — Você não pode tê-lo.
Luka me observou atentamente, e os olhos do novo rei dispararam
para o antigo rei atrás de mim. Um longo momento se passou antes que
ele revirasse os olhos e dissesse: — Sabe de uma coisa? — Luka disse
antes de bater as mãos em suas coxas, e então me alfinetou com um
olhar despreocupado. — Eu nem o quero.
Ah merda.
E eu pude respirar novamente. — Oh, excelente.
Eles podiam ver o jeito que meu coração estava batendo no meu
peito?
Eu esperava que não.
— Bem... — Enquanto levantava, lambi meus lábios e fingi
compostura. — Por mais legal que isso tenha sido, Luka, precisamos ir
para casa para o nosso filho.

~ 511 ~
Twitch pegou minha mão trêmula na sua e apertou-a em uma
demonstração silenciosa de apoio, e quando Luka olhou para baixo em
nossas mãos entrelaçadas, ele deu um longo suspiro. — Tanto faz. —
Seus lábios franziram. — Tire essa porcaria melosa da minha casa,
beleza? — Ele apontou para a porta da frente. — Fora.
Mas eu sorri. Porque eu passara a conhecer Luka. E quando soltei
a mão de Twitch e fiz o curto trajeto até ele, ele permitiu que eu tomasse
seu rosto em minhas mãos, puxasse-o para baixo e plantasse um beijo
longo e duro em sua bochecha. Quando ele finalmente se afastou e eu
abri minha boca para falar, não consegui dizer o que precisava.
Obrigada.
Luka deve ter percebido isso. Eu sei que ele o fez porque quando
me esforcei a falar, ele piscou para mim hesitante e murmurou um
suave: — Está tudo bem. Estamos bem.
Eu pisquei as lágrimas que pareciam me assaltar diariamente, a
sensação da emoção avassaladora que não tinha me deixado, e balancei
a cabeça através do nó na garganta quando dei um passo para trás
diretamente nos braços de um homem que literalmente lutou contra a
morte para estar comigo na vida.
Fale sobre compromisso.
Eu estava começando a ver que Twitch nunca fazia nada que
decidia de uma maneira meia boca. Vida, trabalho, amor. Ele era
extremo em todos os sentidos. Intenso. E agora que vivi sem ele, passei a
apreciar o que ele me deu.
Ele era meu e eu era dele, incondicionalmente, e finalmente
estávamos felizes.
Quando saímos de Luka, eu me perdi em pensamentos enquanto
Twitch nos levava para casa. Eu só fui arrancada dos meus pensamentos
quando ele estendeu sua mão para a minha, entrelaçando nossos dedos,
e os apoiou no console central. Ele olhou para mim um momento,
observando meu rosto antes de voltar para a estrada. — Você está bem,
baby?
Eu estava?

~ 512 ~
Eu pensei sobre isso.
— Sim, — eu respirei baixinho. — Estamos bem.
Eu sei que não foi o que ele perguntou, mas foi a resposta que
recebeu, e pelo seu leve sorriso, era a resposta que ele queria. Quando
ele abriu a boca e saiu, — Eu te amo, — soava mais como uma ameaça
do que um carinho, e era tão severo, tão gritante, que eu não pude
evitar.
Eu bufei alto.
E a boca de Twitch se alargou em um sorriso.
Maldito seja.
Eu amava esse homem e o deixei saber. Inclinando-me, eu
pressionei meus lábios em sua bochecha, beijando a aspereza ali
calorosamente, carinhosamente, uma e outra vez, e enquanto me
afastava, ele franziu a testa.
— Ei. Volte aqui.
Quando ele agarrou a frente da minha camisa e me puxou para
ele, eu soltei um pequeno — Ei, — quando nossos lábios se encontraram
duramente. Ele tomou minha boca de um jeito que os poemas
falavam. Sem vacilar, em completo abandono, e a terra parou de girar
durante os segundos em que nossos lábios se uniram.
Como eu poderia viver sem esse tipo urgente de amor?
A resposta veio rapidamente.
Eu não podia.
Eu não faria.
E quando meus olhos se abriram novamente, senti minhas
bochechas aquecerem enquanto a tontura diminuía. Eu olhei para o
homem à minha frente por um longo tempo, e quando ele se virou para
piscar para mim, meu estômago se agitou.
Não era preciso ser um gênio para descobrir que nosso tipo de
amor era raro.
Então, quando abri a boca novamente, falei baixinho. — Eu te
amo, Twitch.

~ 513 ~
Ele manteve os olhos na estrada, mas seu aperto na minha mão
aumentou. O idiota convencido respondeu: — Eu sei.
Eu queria bater nele, mas não o fiz.
Em vez disso, sorri gentilmente para a estrada à frente. — Bom.
A felicidade absoluta que senti naquele momento me consumiu tão
forte, que minha mente só teve que arruiná-la.
Sim. Você está feliz agora. Mas quanto tempo vai durar, Lexi?
Bem desse jeito. Clima arruinado.
Minha ansiedade retornou dez vezes mais. Minha mente
vagou. Minhas vísceras reviraram quase dolorosamente.
Nós ficaríamos bem.
Quer dizer, o que mais poderia dar errado? Tudo estava como
deveria.
Minha mente riu.
Não conte com isso.
Mas porque eu acreditava em nós e queria muito que isso
funcionasse, eu fiz.
Não deveria ter.

~ 514 ~
CAPÍTULO QUARENTA E SEIS
Lexi

Meu coração gaguejou no momento em que vi o familiar carro da


polícia estacionado na frente.
— Twitch, — eu murmurei quando me sentei reta, meus lábios se
separando em pavor.
Suas sobrancelhas franziram em confusão, e ele falou suavemente,
obviamente sentindo que eu me assustava facilmente. — Provavelmente
não é nada.
Ele provavelmente estava certo. Mas e se não estivesse?
Eu já tinha tirado o cinto de segurança quando Twitch entrou na
garagem e, quando o carro parou, saltei, batendo a porta atrás de mim e
corri para a casa com o coração acelerado e os olhos arregalados. No
segundo em que abri a porta da frente, chamei: — AJ!
Ele não respondeu. Minha apreensão se transformou em puro
terror. E quando cheguei ao corredor, parei em meus passos,
encontrando os olhos solenes de Gabe Blanco. Eu segurei seus olhos, e
respirei pesadamente quando questionei com um instável — Onde está
meu filho, Gabe?
Minhas costas aqueceram quando Twitch parou protetoramente
atrás de mim.
Eu não estava esperando a resposta que recebi. — Serviço de
Proteção à Criança.
Eu fiquei boquiaberta. Meu estômago caiu.
De trás de mim, Twitch proferiu em completa descrença: —
Repita?
Gabe sentou-se à nossa mesa de jantar, tomando o café que ele
mesmo havia preparado e encolheu os ombros. — Eu não sei o que você
esperava, Falco. — Ele nivelou-nos com um olhar que certamente era

~ 515 ~
usado para intimidar o pior dos criminosos. — Você se recusou a dar
uma declaração. Recusou-se a nos deixar falar com o menino...
Twitch passou por mim, com os olhos tempestuosos e explodiu: —
Ele não está pronto. Ele está se curando.
— Nós temos perguntas, Twitch. Perguntas que você se recusa a
responder. — Gabe ficou de pé, percebendo a movimentação de Twitch
enquanto levantava a voz. — E agora, um poder superior decidiu que
estão cansados de esperar que você esteja pronto. Então, bom trabalho.
— Gabe se virou, passando a mão pelo cabelo castanho curto. — Porra!
— Ele virou novamente e olhou para Twitch. — Você acha que eu queria
isso? — Ele balançou a cabeça. — Olhe para mim assim o quanto quiser,
idiota. — Ele pressionou o dedo apontado no peito de Twitch. — Você
causou isso, não eu.
Eu estava ouvindo, mas era difícil de compreender.
O que isso significava?
O silêncio era espesso o suficiente para esculpir com uma faca, e
quando Twitch tirou a mão de Gabe de seu peito, senti o sangue rugindo
em meus ouvidos.
Minha pergunta soou monótona. — Você está tirando nosso filho
de nós?
Era o meu pior medo ganhando vida.
Gabe olhou para o céu e colocou as mãos nos quadris. Quando ele
abaixou a cabeça, se recusou a olhar para mim. — Eu não estou fazendo
nada, Alexa. — Seus lábios se estreitaram. — Eu te disse, isso está fora
das minhas mãos. — Ele respirou fundo e falou através da expiração
lenta. — Se serve de consolo, Molly está com ele.
A bochecha de Tony pulsou. — Juro por Deus, seu pedaço de
merda, se alguma coisa acontecer com ele... — Twitch deu um passo
ameaçador para frente, mas eu peguei um punhado da parte de trás de
sua camisa, segurando-o.
— Pare, baby. — Minha voz era quase inaudível.
Nós tínhamos que ser inteligentes aqui.

~ 516 ~
Para minha surpresa, ele parou, respirando pesadamente pelo
nariz, seu corpo vibrando com raiva reprimida.
Eu era uma assistente social qualificada. Eu conhecia o
sistema. Eu o conhecia de dentro para fora.
Eles não podiam fazer isso.
Eles não poderiam.
Eles poderiam.
Não. Não com meu filho eles não podiam.
Certo. Diga isso a si mesma, Lexi.
Sentindo uma dor pungente no meu peito, ponderei esse novo
acontecimento. Nós não estávamos lidando com qualquer um aqui. Nós
estávamos lidando com um sistema superior a Polícia Federal
Australiana. Isso significava apenas uma coisa.
Agora estávamos lidando com a ASIO.
Jesus fodido Cristo.
Isso não era bom.
A organização australiana de inteligência de segurança. E uma
organização como essa fazia a merda acontecer. Uma organização como
essa não tinha regras.
Eu engoli em seco, recuperando meu rumo, e envolvi minhas mãos
em torno do braço de Tony para impedi-lo de dar uma estocada
desavisada em um oficial da Polícia Federal Australiana. — O que
precisamos fazer aqui, Gabe? — Quando ele não respondeu, eu implorei
através da minha dor. — Por favor, — eu disse. — Não faça isso por
nós. Faça isso por AJ Ele provavelmente está apavorado. — O
pensamento fez meu estômago afundar.
E quando olhei para o Twitch, ele olhou para mim com uma
resolução que me dizia que faríamos qualquer coisa para recuperá-
lo. Porque o para sempre significava nada sem o nosso filho.
— Eu acho. — Gabe suspirou alto antes de apertar os lábios. — Eu
acho que você poderia começar dando uma declaração. Dizendo-nos o
que realmente aconteceu naquela noite. — Ele não pareceu
impressionado com nenhum de nós. — Isso seria um começo.

~ 517 ~
E porque Gabe Blanco sabia quem era meu marido, sabia quem
éramos, pegou as chaves e começou a se aproximar da porta da
frente. — Eu vou te dar um tempo para... — Ele fez uma pausa. —
...processar esses eventos.
Besteira.
Ele estava nos dando tempo para combinar nossas histórias.
Antes de sair, ele nos entregou seu cartão. — Vejo você em uma
hora, certo?
— Nós estaremos lá, — disse Twitch, colocando o cartão em seu
bolso.
E uma vez que estávamos sozinhos, nos viramos um para o outro,
parecendo quase tão ruins quanto nos sentíamos.
Meus olhos se fecharam por conta própria enquanto meus ombros
caíam. — Estou começando a ficar realmente doente com essa merda,
querido.
Braços firmes serpentearam ao meu redor e me seguraram
perto. Ele beijou o topo da minha cabeça enquanto gentilmente esfregava
minhas costas. — Apenas um pequeno contratempo, baby, isso é tudo.
— Aquelas mãos grandes pairavam em meus quadris. — Devemos passar
pelo que aconteceu.
Eu levantei meus olhos para encontrar os dele. — Passar pelo quê?
— Meu olhar descansou em sua testa franzida. — Ling foi
descuidada. Ela foi flagrada. Nós a confrontamos. Pouco antes de
conseguirmos chamar a polícia, ela pulou para a morte. Fim da história.
O aperto de Twitch aumentou nos meus quadris. Seus olhos
nunca deixaram os meus quando ele abaixou o rosto e beijou meus
lábios, sussurrando suavemente contra eles, ele murmurou: — Sólida.
Eu estava descobrindo que eu era. Eu tinha a força de um
diamante enterrada dentro de mim que estava vindo à tona. Eu não
pediria desculpas por ser a pessoa que essa vida me fez ser.
Você desviava dos socos ou era derrubada.
Naturalmente, pela quantidade de socos que recebi, finalmente
aprendi a desviar.

~ 518 ~
Levou anos, hematomas e um coração partido, mas eu finalmente
cresci.
Quando Tony recuou, eu prendi meus dedos nos laços de sua
calça jeans. Ele esfregou meus braços dos ombros aos pulsos,
suavemente. — Você está pronta, baby?
Com a expressão vazia, eu assenti. — Vamos pegar o nosso
menino.
***

Twitch

Estávamos há uma hora em interrogatório, e eu estava começando


a ficar agitado. Nenhuma das perguntas até agora tinha sido sobre
Ling. Na verdade, parecia que Gabriel Blanco estava tentando conseguir
informações sobre as pessoas que eu devia, as pessoas que ajudaram a
salvar a vida do meu filho.
Eu não estava entendendo isso.
Gabe sentou na minha frente e o gravador na mesa me
provocou. — E os Vegas?
— E o que tem eles? — Eu me inclinei para trás na minha cadeira,
não dando uma única foda.
Os ombros de Gabe enrijeceram junto com o seu rosto. — Até onde
sabemos, eles não são exatamente bem-vindos nesses lados. Por que eles
voltaram?
Dei de ombros. — Como diabos eu deveria saber?
A história deles não era minha para contar. Eles eram boas
pessoas que tinham fodido tudo.
Quem não tinha?
— Twitch. — Gabe apertou a ponte do nariz antes de olhar para
mim com os olhos cansados. — Me dê algo, cara. Qualquer coisa. — Ele
fechou os olhos. — Ajude-me a ajudar você.

~ 519 ~
O que ele queria de mim? — Eu não fiz nada de errado. E se você
acha que eu fiz... — Levantei minhas sobrancelhas incisivamente. —...
prove. Me leve. Me prenda.
Nós dois sabíamos que ele não tinha nada contra mim. Se ele
tivesse, eu já estaria em uma cela.
Gabriel Blanco não era um homem estúpido e sabia que estava
açoitando um cavalo morto. Felizmente, ele se mexeu, tomando notas em
seu pequeno bloco de anotações. — Tudo bem então. — Ele continuou
escrevendo por um tempo, e uma vez que ele parou, olhou para mim. —
Diga-me o que aconteceu com Ling Nguyen. Como você conseguiu
encontrá-la? — Ele deixou o silêncio frio flutuar em torno de nós antes
de levantar. — Como ela acabou morta, Falco?
Meus lábios comprimiram. — Ela se descuidou. Ela foi
flagrada. Nós a confrontamos, recuperamos nosso filho. Ela se jogou pela
janela.
Gabe me observou, sem piscar. Quando ele percebeu que era tudo
que eu tinha para dar, suas sobrancelhas arquearam. — É isso? — No
meu silêncio, ele soltou uma risada dura. — Sério, Falco? É tudo o que
você vai me dizer?
Eu pensei sobre Lexi em uma sala sozinha em algum lugar sendo
questionada como uma maldita criminosa, e minha garganta
fechou. Mas lembrei-me do que ela me disse antes de nos separarmos.
— Eu sei que é contra a sua natureza, querido, mas eu preciso que
você seja frio, calmo e tão centrado quanto possível, ok? Lute contra a
raiva. Seja esperto. Seja seguro.
Era contra a minha natureza, mas eu estava mudando.
Por ela, eu faria qualquer coisa.
Respirei fundo e mentalmente contei até dez, lutando contra a
fúria que estava sendo construída. — Foi o que aconteceu, sargento
Blanco. — Meu queixo apertado, eu disse: — Não posso te dar mais do
que a verdade.

~ 520 ~
Gabe estreitou os olhos em mim. — Você quer me dizer que Ling
Nguyen, a Rainha Dragão, suspeita de ter assassinado centenas de
pessoas...
Milhares, eu o corrigi internamente.
— ...simplesmente cedeu sem lutar?
Eu coloquei minhas mãos na mesa fria, lutando contra o desejo de
jogar meus punhos em seu rosto. — Ela estava encurralada. Sabia que o
tempo dela acabara. Era a prisão ou a morte. — Eu levantei minhas
sobrancelhas. — Ling escolheu a morte. — Com meus olhos inabaláveis,
eu segurei seu olhar. — Eu a observei caminhar até a janela, pisar no
peitoril e pular. — Minhas entranhas deram um nó com a sensação de
jogá-la do décimo andar. O prazer me inundou com a lembrança do
choque em seus olhos. — Foi suicídio.
A porta atrás de mim se abriu e, quando o homem alto e grisalho
entrou, ele disse: — Essas foram as minhas conclusões.
O quê? Como? Por quê...?
— Filho da puta, — eu disse lentamente enquanto me movia para
ficar de pé.
Ethan Black sorriu apesar de seu óbvio aborrecimento. — Parece
que você não consegue ficar longe dos problemas, certo filho?
Embora eu estivesse feliz em vê-lo, minha testa franziu. — O que
você está fazendo aqui?
Ethan não respondeu à minha pergunta. Eu não perdi o jeito que
seu sorriso vacilou momentaneamente. Mas ele era um veterano
experiente em lidar comigo. — Passei algum tempo com seu filho.
Meus olhos se arregalaram. Ele passou? — Quando?
— Aqui. Agora mesmo. — Seu sorriso ficou quente. — Eu não
posso acreditar que ele tem apenas cinco. Meu Deus, ele é esperto. Ele é
um bom menino, Twitch.
Espere.
Ele estava me dizendo...?
— Ele está aqui? — Eu me virei para Gabe, meus olhos
examinando cada movimento seu. — Neste prédio? — Quando a

~ 521 ~
expressão de Gabe se tornou envergonhada, eu fechei meus olhos e
balancei a cabeça lentamente, enquanto eu gritava, — Seu pedaço de
merda.
— Conheci sua mulher também, — Ethan acrescentou
calmamente. Quando virei meu olhar turbulento para o seu sereno, ele
levantou uma sobrancelha. — Não pude deixar de notar que ela tinha
um belo anel em seu dedo. — Sua voz se acalmou. — Eu não entendi na
época, mas entendo agora. — Ele parou por um segundo. — Uma mulher
assim... vale a pena.
Gabe soltou um suspiro severo. — Estou no meio de uma
entrevista aqui, Black. Posso ajudá-lo?
Ethan se endireitou e olhou para o sargento de um jeito que só o
chefe do Estado-Maior do FBI podia fazer. — Sim. Suspenda o
interrogatório. Você tem tudo que precisa. Terminamos aqui. — Ethan
colocou a mão no meu ombro. — Vamos.
Era isso?
Não precisei se avisado duas vezes. Eu levantei e me movi para
segui-lo.
Antes que pudéssemos sair, Gabe Blanco balbuciou: — Senhor,
espere. — Ele ficou olhando para Ethan, incrédulo. — As informações
que ele tem... — Ele deixou o resto da declaração permanecer no ar.
E Ethan me provou que era um homem de palavra. — Antonio
Falco cumpriu sua pena. Seis anos disso. Este homem forneceu tudo o
que precisava fornecer, e agora está partindo. — Ethan Black fixou seu
olhar negro em Gabriel Blanco. — A morte de Ling Nguyen foi
considerada suicídio e este país está mais seguro por isso. Você não
concorda?
Os punhos de Gabe se fecharam em frustração, e ele abaixou a
cabeça um momento antes de levantar o rosto. Ele parecia resignado e
falou com cuidado. — Sim senhor.
— Bom. Agora, — Ethan respondeu, — a menos que você esteja
planejando acusar este homem de algum crime, eu vou levá-lo para sua
família.

~ 522 ~
Seu tom implorava para Gabe discutir com ele.
Eu meio que gostaria que ele o fizesse. Nada me faria mais feliz do
que ver esse idiota de colarinho azul ser derrubado.
O tom de Gabe afundou quando ele baixou o olhar. Sua mandíbula
apertada, ele respondeu: — Sim, senhor.
Ethan abriu a porta e, com um sorriso que eu sei que deve tê-lo
matado, joguei uma piscadela para Gabriel Blanco enquanto seguia meu
velho amigo para a liberdade.
***

Lexi

O rangido da porta me colocou de pé imediatamente, e no segundo


em que meu olhar preocupado encontrou o dele, meus ombros relaxaram
e eu lentamente andei em sua direção. Ele envolveu os braços a minha
volta, colocando o rosto na curva do meu pescoço, e eu absorvi tudo o
que ele me deu nesse firme abraço. Quando tínhamos tirado tudo o que
precisávamos um do outro, eu levantei meu rosto e ele olhou para mim
por um longo momento antes de gentilmente beijar meus lábios.
— Você está bem?
— Sim, — eu respondi calmamente. — Você está?
Os olhos de Twitch sorriram. — Estamos bem, anjo.
— Papai, — a pequena voz resmungou. Ele deslizou do colo de
Molly, e então o monstrinho correu para ele, com os braços estendidos.
Twitch sorriu quando levantou seu filho em seus braços e
abraçou-o com força, embalando a parte de trás de sua cabeça contra
ele. — Ei, amigo, — ele falou suavemente em seu cabelo, e balançou-o
suavemente.
A visão foi uma das muitas que fizeram meu coração inchar. Eu
apreciaria momentos como este em minha memória por toda a
eternidade.

~ 523 ~
Foi então que notei o homem mais velho atrás dele, e quando me
aconcheguei ao lado de Tony, sorri gentilmente para o homem de cabelos
grisalhos que conheci há apenas uma hora. — Olá novamente.
Ethan Black me deu um sorriso educado. — Como ele está?
AJ apoiou a cabeça no ombro do pai e abraçou-o pelo pescoço.
Meu coração não estava na minha resposta incerta. — Ele está
chegando lá.
A verdade era que AJ estava compreensivelmente petrificado em
ser afastado de nós. Fisicamente, ele estava se curando. Mentalmente...
eu não tinha tanta certeza. Ele acordava no meio da noite e se deitava na
cama com a gente mais vezes do que não, e nós deixávamos. Ele sorria
menos do que costumava, ria menos também. Seus olhos de cinco anos
pareciam cansados e envelhecidos, e esses olhos avaliavam
cuidadosamente o ambiente, procurando por perigo em lugares onde não
havia nenhum. Me preocupava que parte do meu filho nunca se curasse
completamente. Ele nunca seria a criança despreocupada que tinha
sido. Eu sabia disso.
Como ele poderia ser?
Ling havia quebrado meu filho e, enquanto ela teve o alívio da
morte, AJ teria que viver com o medo que ela tinha incutido pelo resto de
sua vida.
Eu estava tão cansada. Tudo o que eu queria fazer era ir para casa
e me curar como uma família.
Virei para Twitch e passei a mão pelas costas do meu filho. —
Podemos ir para casa agora, por favor?
— Ah, — Ethan cortou antes que Twitch pudesse falar. — Antes de
irem, eu preciso de uma palavra. É importante. — E quando Ethan
gentilmente tocou o cabelo de AJ e falou diretamente com nosso filho, eu
sabia que algo estava acontecendo. — Filho, eu preciso falar com seus
pais. Você acha que poderia nos dar um minuto?
AJ levantou a cabeça, parecendo inquieto e irritado. Ele falou com
cuidado. — Não, obrigado. — Ele disse tão educadamente quanto
conseguiu, mas eu ouvi o medo em sua voz. Ele não arriscaria outro

~ 524 ~
período de separação. Ele queria estar perto de nós, e eu estava grata
por Ethan entender isso.
— Nós não vamos a lugar nenhum, filho, — declarou Ethan. — Eu
não vou levá-los a lugar algum. Nós vamos ficar bem aqui, ok? Eu só
preciso falar com eles um minuto.
Twitch observou a turbulência se formar no rosto de AJ e, pelo
modo como sua mandíbula se apertou, não gostou. — Está tudo bem,
amigo. Nós vamos estar bem aqui.
Nós demos a AJ o tempo que ele precisava, e quando Molly
avançou, ela estendeu a mão para o monstrinho. — Vamos,
querido. Existem alguns brinquedos legais ali. Vamos brincar um pouco.
Twitch o colocou no chão e, embora demorasse um pouco, AJ
pegou a mão de Molly e permitiu que ela o levasse ao canto dos
brinquedos. Ele fingia jogar enquanto mantinha seus olhos em nós, e
isso quebrou meu coração já fraturado.
Ethan apontou o braço em direção ao pequeno sofá. — Por favor,
sentem-se.
Ah não.
Algo estava errado.
Jesus. Eu queria chorar. Quando isso terminaria?
Nós nos sentamos em silêncio, e quando Ethan puxou uma
cadeira para sentar na nossa frente, Twitch murmurou: — Por que você
está aqui, Black?
Seu tom indicava que ele acabara de perceber que a presença do
homem poderia não ser a dádiva que inicialmente pensamos.
Ethan descansou os cotovelos sobre os joelhos separados e juntou
as mãos. Quando ele disse: — O que vocês querem primeiro, as boas ou
as más notícias? — Meu coração falhou.
Foi a maneira que ele disse, como se realmente não houvesse boas
notícias, que fez Twitch suspirar alto e colocar a cabeça entre as mãos,
soltando um gemido baixo.
Meus lábios se moveram. — As boas notícias.

~ 525 ~
Ethan assentiu levemente. — OK. A boa notícia é que vocês foram
inocentados de qualquer delito na morte de Ling Nguyen.
Meu nariz se contraiu. — Nós não fizemos nada de errado. Ela
roubou nosso filho. O drogou, Sr. Black. — Sentei-me para frente e
reiterei: — Não fizemos nada de errado.
— Eu sei disso, — afirmou Ethan de uma maneira muito pacífica
que me fez sentar de novo.
Twitch tirou as mãos do rosto exausto e sentou-se ereto. — E as
más notícias?
— Bem, — Ethan começou. — ASIO tem mantido os olhos em você
desde o seu retorno, sem surpresa, e até a sua pequena situação com
Ling Nguyen, eles estavam felizes...
O que era isso?
Eu não entendi.
E quando eu olhei para o Twitch em confusão, ele revirou os olhos,
deixando escapar um frustrado: — Foda-me, Ethan. Apenas diga logo!
Ethan falou. — Você vai ser deportado, Twitch.
Como?
O olhar no rosto de Twitch dizia que ele estava tão chocado com a
notícia quanto eu.
— O quê? — Eu disse em descrença.
Ethan sentou-se na cadeira. — A Austrália está, infelizmente,
muito cansada da merda que parece seguir Antonio Falco, eu receio.
O rosto de Twitch mudou, claramente, como se ele tivesse acabado
de descobrir algo. — É por isso que você está aqui. — Ele soltou uma
risada sem graça. — Você é minha escolta.
Ethan não se incomodou em enfeitar as palavras. — Correto.
O sorriso cruel de Twitch fez meu estômago doer. — Eles acham
que eu vou partir calmamente porque você está aqui? Foda-me, eles
acharam errado. — Ele levantou tão rápido, tão furioso, que soltei um
pequeno suspiro. Colocando uma mão no meu peito, olhei em seus olhos
selvagens. — Isso é besteira. — Ele andou de um lado para o outro e
rangeu os dentes, e rosnou: — Se eles querem uma guerra, eles terão

~ 526 ~
uma, Black. Anote minhas palavras. — O sorriso dele ficou astuto. —
Eles acham que vão me separar da minha mulher. Danem-se. Vou soltar
o inferno nesta cidade esquecida antes de deixar alguém me levar para
longe da minha família.
Este era meu marido. Este era quem ele era e eu queria tudo dele.
O bom. O mal. O psicótico.
Twitch era um homem de boas intenções, costurado com arame
farpado e alimentado pela fúria crua. E, com o passar do tempo, percebi
que não queria que ele mudasse, porque as partes quebradas dele eram
as partes que eu valorizava de todo coração.
Uma decisão foi tomada.
— Sente-se, — eu disse.
Seus olhos se abateram para mim em confusão.
— Sente-se, — repeti inflexivelmente.
Ele me observou por um longo momento antes de sentar
lentamente ao meu lado, e quando falei, falei com cuidado, de uma
maneira que esperava que ele entendesse o que eu queria dizer. — A
primeira vez que você me deixou, senti que chovia todos os dias no meu
coração. E as nuvens bloquearam o sol. Durante muito tempo, não vi
nada além de cinza. — Respirei fundo e soltei um suspiro lento. — Eu
não quero isso de novo. Eu nunca ficarei bem em me separar de
você. Aonde você for, eu seguirei. — Eu olhei para as mãos dele e
coloquei a minha pequena na dele. — Pertencemos um ao outro.
Quando ele finalmente encontrou sua voz, ele perguntou: — O que
você está dizendo, baby?
— Eu estou dizendo... — Meus olhos inseguros encontraram os
dele. — ...que talvez seja hora de uma mudança. — Meu olhar triste
deslizou até o pequeno monstro brincando mecanicamente no canto sem
prazer ou felicidade. — Talvez isso seja uma bênção disfarçada. Talvez
essa mudança seja uma coisa boa para todos nós.
Ele me olhava como se eu fosse louca. — Você está falando sério?
— Como um ataque cardíaco, — eu murmurei com um breve aceno
de cabeça.

~ 527 ~
— AJ frequenta uma ótima escola, — ele respondeu.
— Nós encontraremos outra ótima escola para ele frequentar nos
Estados Unidos.
— Ele tem amigos aqui, baby.
— Ele vai fazer novos amigos.
Ele parecia perplexo. — Você tem uma vida aqui.
Eu balancei a cabeça. — Não é uma vida que vale a pena viver sem
você.
E eu quis dizer isso.
Em todo o tempo em que o conheci, nunca vi o rosto de Antonio
Falco suavizar da maneira como o fez nesse momento. — Baby, — ele
pronunciou suavemente, e quando me puxou contra ele, eu levantei meu
rosto quando ele segurou meu rosto e me beijou como se eu fosse a coisa
mais preciosa do mundo. Foi então que percebi que essa decisão era
óbvia.
Viver a vida sem Twitch era uma tortura pela qual eu não estava
disposta a me sujeitar.
Ethan nos deu o nosso momento, e quando nos viramos para
encará-lo novamente, seus olhos sorriram para Twitch e, um tanto
desconcertante, murmurou: — Vale a pena.
— Então, — perguntou Twitch, — como vai funcionar?
— Quanto tempo nós temos? — Eu adicionei.
Ethan soltou uma risada pelo nariz. — Eles querem Twitch no
próximo voo para fora. — Ao olhar de pura incredulidade em ambos os
nossos rostos, ele rapidamente acrescentou: — Mas eu posso trabalhar
nisso. Eu diria com segurança que você tem cinco ou seis dias. Uma
semana no máximo.
— Uma semana? — Eu repeti.
Isso era tempo suficiente para arrumar toda a nossa vida?
Eu acho que teria que ser. Não era como se tivéssemos uma
escolha.
— Olha, — disse Twitch quando ele pegou minha mão, correndo o
polegar ao longo dela carinhosamente. — Que tal eu ir, e quando a

~ 528 ~
merda estiver resolvida, você leva sua bunda para baixo com o meu
menino?
Uau.
Ele parecia positivamente odiar essa ideia, como se fosse difícil
dizê-la em voz alta.
Para sua sorte, isso não funcionava para mim.
Era uma loucura quanto amor você poderia sentir por outra
pessoa. Ele percorria minhas veias. Deu-me a vida. — Nós vamos juntos,
— eu pronunciei suavemente antes de virar para Ethan. — Uma semana
está ótimo. Nós vamos fazer funcionar. Obrigada Ethan.
Ethan ficou de pé. — Ótimo. Eu tenho um telefonema para
fazer. Com licença.
Depois que ele se foi, os dedos de Twitch se enrolaram e puxaram
meu pulso, e quando encontrei seu olhar castanho e suave, ele
murmurou: — Você não precisa fazer isso.
Minha resposta foi franca. — Eu sei que não.
Suas sobrancelhas se levantaram. — Esta sua atitude é nova. —
Seus lábios se afinaram. — Não sei se estou amando ou odiando, Lex. —
Eu não pude evitar o sorriso que esticava meus lábios. E quando ele
olhou para mim, quero dizer realmente olhou para mim, suas
sobrancelhas baixaram ligeiramente. — Vamos realmente fazer isso?
Eu inclinei minha cabeça em pensamento. — Sim, — eu disse
baixinho. — Nós vamos.
— Tem certeza disso?
Eu tinha a sensação de que ele não ia perguntar de novo. Esta era
a hora de falar se eu tivesse alguma preocupação ou receio. E quanto
mais eu pensava nisso, não conseguia pensar em nada que preferisse
fazer a dar os primeiros passos como uma família. Crescer. Para
reconstruir o que foi quebrado juntos.
Quando olhei para o nosso filho, sorri para mim mesma. —
Estamos bem, baby.
Na verdade, nada parecia mais perfeito para mim.

~ 529 ~
CAPÍTULO QUARENTA E SETE
Lexi

— Eles não podem fazer isso. — Nikki se levantou da cadeira, com


os olhos arregalados e furiosos.
Eu sorri para o seu ultraje em meu nome. Quando falei, fui gentil e
calma. — Eles já fizeram, querida.
— Mas... — Nikki começou a ofegar. — Mas... — Ela parecia que ia
ficar doente. Sua voz enfraqueceu. — Mas... — Ela bateu as costas da
mão no ombro de Happy, e quando ele olhou para ela, seu rosto
enrugou. — Faça alguma coisa!
A expressão de Happy suavizou. Ele puxou sua namorada pelo
pulso e a acomodou ao seu lado. — Não há nada que eu possa fazer
sobre isso, querida. Além disso... — Happy sorriu tristemente para o
irmão. — ...eles querem ir.
— Não, eles não querem, — Nikki murmurou. Minha expressão me
entregou. Seus olhos brilhavam intensamente, e quando se fixaram em
mim, seus lábios se separaram, enquanto ela afirmava acusadoramente:
— Você quer ir? — Ela piscou rapidamente. — Você quer nos deixar? —
Ela parecia totalmente desolada. — Por quê?
Eu sabia que isso ia ser difícil, mas de alguma forma foi diferente
na minha cabeça.
De pé no canto da sala com os braços cruzados sobre o peito como
uma criança petulante, como o idiota que ele era, Dave olhou
severamente para Twitch. — Por causa dele.
Twitch jogou o braço para cima e deu o dedo a Dave. — Foda-
se David Allen.
Dave não recuou. — É a verdade. — Ele se empurrou para fora da
parede e se moveu. — Ela está nos deixando por causa de suas
intermináveis cagadas. — Ele parecia tão confuso. — Independentemente

~ 530 ~
de quem você é e o que você faz, ela ama você. Sempre amou. — Ele deu
de ombros, parecendo perdido em pensamentos. — Eu não entendo.
Foi quando Happy murmurou: — Você não poderia.
A sala inteira ficou em silêncio.
Uh oh.
As sobrancelhas de Dave baixaram um pouco. — O que isso
significa?
Happy colocou as mãos para cima, cedendo. — Isso não é sobre
nós.
Dave deu um passo à frente. — Você acabou de fazer isso sobre
nós.
— Eu não deveria ter dito nada. — Happy olhou para mim, em
seguida para Twitch, e eu não pude deixar de notar a maneira como
Nikki esfregou seu braço enquanto ela mantinha seus olhos tristes em
seu homem. — Peço desculpas.
Mas Dave não queria desistir dessa conversa. — Não, você não
deveria. Mas disse. Então... — Ele jogou os braços para os lados. —
Continue, Happy. Diga o que você quer dizer.
Happy rangeu os dentes em frustração. — Você quer que eu fale?
— Sim. — As sobrancelhas de Dave se arquearam. — Eu quero
que você fale.
— Ok, você quer fazer isso aqui? Tudo bem. — A mandíbula de
Happy permaneceu firme, e não combinava com a maneira serena como
ele falava. Ele olhou para seu ex, e seus olhos estreitos me disseram que
o que estava por vir provavelmente não era algo que Dave queria
ouvir. — Você é um covarde do caralho.
Minhas sobrancelhas subiram até a minha linha do cabelo.
Tapa.
Isto já era previsto acontecer. A tensão entre Happy e Dave já
vinha crescendo há algum tempo e simplesmente chegou ao ponto de
ebulição.
Não havia como voltar agora.
As palavras eram bélicas.

~ 531 ~
Dave deu um passo para trás como se tivesse sido
empurrado. Colocando uma mão em seu peito, seus lábios se separaram
em choque. Ele piscou para Happy, e quando encontrou sua voz, ele
disse fracamente: — Isso não é justo.
— Não, não é, — concordou Happy, depois suspirou. — Mas é a
verdade. — Quando ele apontou para mim de repente, eu me inclinei
para trás em surpresa. — Aqui está uma pessoa que sabe o que
quer. Ama o seu homem e vai segui-lo até os confins da terra, só porque
ela sabe, Dave. Ela sabe que não pode viver sem ele. E isso é uma coisa
linda. — Ele encarou seu ex-parceiro. — Você zomba dela por amá-lo,
mas ela é mais corajosa do que você jamais foi. Do que você jamais será.
— A expressão severa de Happy caiu e tudo o que restou foi pura
tristeza. Seu tom combinava com sua miséria. — Então diga a si mesmo
que não precisa de mim tanto quanto preciso de você. Você é o bastardo
sombrio que foi criado pelo seu medo. Está tudo bem, baby. — Seu tom
escureceu. — Mas não zombe dela por ser a pessoa que você não pode
ser.
Twitch enfiou a mão no bolso, tirou um punhado de chocolates
arco íris e jogou alguns na boca, mastigando devagar. — Isso é o que eu
tenho dito. — Eu bati meu cotovelo no seu lado e ele olhou para mim,
irritado. — O quê? — Ele piscou ao meu olhar não sutil e levou um
chocolate até a minha boca.
Apesar de tudo, meus lábios se separaram, porque... chocolate.
O silêncio era sufocante, e quando me virei para encarar Twitch,
minha expressão gritava: — Que porra é essa?
Twitch suspirou e seu lábio se curvou. Antes de falar, seu rosto se
suavizou. — Ei, Dave, — ele gritou, inclinando-se para trás e
descansando o braço atrás da minha cabeça no sofá. Quando Dave
olhou para ele, desanimado, Twitch apontou o queixo para ele. — Por
que você está deixando meu irmão miserável, cara?
OK. Então, Twitch era tão sutil quanto uma sonda anal.
Dave zombou. — Eu estou deixando-o miserável? — Dave virou-se
para enfrentar Happy. — Eu disse que estava arrependido!

~ 532 ~
Happy levantou, espelhando o tom de Dave. — Você me fez sair!
O rosto de Dave desmoronou. — Eu cometi um erro!
— Então, deixe-me voltar! — Happy trovejou.
Dave explodiu: — Eu tenho tentado por meses. Eu simplesmente
não sabia como!
Para isso, Happy não tinha resposta. Mas Twitch tinha. Ele
colocou os lábios na concha do meu ouvido, soando arrogante. — E é
assim que se faz. — Quando eu me inclinei para ele, sorrindo para mim
mesma, seu braço apertou em volta dos meus ombros. Quando nem
Happy nem Dave falavam, Twitch ficou enjoado pela maneira que
estavam parados, parecendo extremamente confusos com a troca de
última hora. Ele estalou a língua, — Mano. — Happy se virou para
encará-lo, e Twitch soltou um entediado: — Vocês vão se beijar e fazer as
pazes ou o quê? Porque tenho que te dizer. — Ele fez uma cara
desinteressada. — Estou meio que cansado dessa besteira.
O pequeno sorriso de Nikki se esticou enquanto ela observava da
linha lateral, e quando Happy demorou, ela colocou a mão na coxa dele e
gentilmente o empurrou na direção de Dave. E depois do que pareceu
uma vida inteira, quando Happy se moveu, Dave também.
Os dois homens se abraçaram como amantes reunidos, e quando
eles se beijaram, senti sua conexão quebrada se fundir, remendando na
frente dos meus olhos. Eles se beijaram devagar e meu coração começou
a inchar pela maneira que o amor deles encheu a sala.
Nikki descansou as mãos apertadas sob o queixo, parecendo
alegremente feliz. Mas quando seus olhos localizaram algo perto da
porta, seu rosto ficou alarmado e ela soltou um susto, — Uh...
E quando virei, vi o porquê.
AJ estava ali, observando Happy e Dave reacenderem seus
laços. Ele não parecia chateado ou enojado. Apenas curioso.
O leve grunhido que me escapou fez com que todos se voltassem
para o meu filho e, quando o fizeram, ficaram completamente imóveis,
congelados em choque.
Demorou um pouco antes de ele falar, mas eu sabia que o faria.

~ 533 ~
— Tio Happy, — ele perguntou inquisitivamente: — Por que você
está beijando Dave?
Meu coração saltou.
Oh, Deus, eu não estava preparada para esta conversa. Por que eu
não estava preparada para essa conversa? Eu sabia que viria
eventualmente. Eu deveria estar pronta para esta conversa!
Happy parecia em pânico. — Uh...
— Bem... — As bochechas de Dave estavam coradas e ele engoliu
em seco. — Você vê, carinha... — Dave parou, sem saber o que dizer,
procurando por ajuda.
Um herói inesperado veio para o resgate.
— Vem cá, broto, — Twitch proferiu, acariciando o pequeno local
ao lado dele. — Sente-se. — AJ sentou ao lado de seu pai, e quando
Twitch falou, eu fiquei chocada com o que ele disse. — Tio Happy e Dave
estão apaixonados, e é por isso que eles estavam se beijando.
Ugh. Meu coração.
O monstrinho franziu a testa em pensamento. — Mas eu achei que
Nikki e tio Happy se amavam.
— Nós nos amamos. — Nikki sorriu docemente. — Muito. — Ela
olhou para Dave. — Mas também amamos Dave.
Twitch olhou para o nosso rapaz e explicou: — Às vezes, os caras
se apaixonam por caras, e está tudo bem.
Sim, estava, baby. Oremos.
Um momento de silêncio se passou.
AJ virou-se para Nikki e perguntou com interesse: — Vocês todos
dormem na mesma cama?
Bem, merda.
Meu estômago caiu violentamente.
Nikki superou seu choque rapidamente e limpou a garganta. —
Sim, nós dormimos, querido.
O nariz de AJ enrugou quando ele olhou para Happy e
Dave. Quando ele se virou para Nikki, ele disse: — Você não é
esmagada?

~ 534 ~
A risada surpresa de Nikki soou por toda a sala, e ela assentiu. —
Bem, sim. Ás vezes eu sou.
AJ sentou encostado em seu pai sorridente e deu uma sugestão. —
Talvez vocês devam comprar uma cama maior.
— Você sabe o quê? — Nikki reprimiu sua risada. — Essa é uma
ótima ideia. Talvez devêssemos.
E enquanto tudo isso acontecia, apenas sentei lá, piscando para o
meu filho. A quantidade de orgulho que senti nesse momento era
incomparável. Ele realmente era uma alma linda. Nosso menino. AJ era
resiliente, ele era puro de coração, e continuou a me surpreender. Como
as mães costumavam fazer, mal podia esperar para ver o homem que ele
se tornaria. Eu já sabia que ele seria algo especial, e a mulher que
capturasse seu coração seria excepcional em todos os sentidos, interna e
externamente.
Eu, por exemplo, mal podia esperar para conhecê-la.
A tarde continuou e, depois de assinar os formulários, entreguei-os
a Happy. — Obrigada por fazer isso.
Ele enfiou os papéis da procuração no bolso da jaqueta. — Não se
preocupe com isso. Não se preocupe com a casa. Não se preocupe com
nada. Vou garantir que você consiga o melhor preço possível por isso. —
Ele inclinou a cabeça para Twitch. — Você também, mano.
Eu sabia que ele iria, mas quando olhei ao redor da casa que
chamei de lar pelos últimos seis anos, não pude deixar de sentir uma
tristeza arrebatadora me inundar. Eu me abracei enquanto olhava pelo
corredor. A mesma sala em que meu filho deu seus primeiros passos.
Havia muitas lembranças alinhadas nessas paredes. Eu só esperava que
elas ficassem frescas em minha mente enquanto criávamos novas
memórias onde quer que acabássemos.
Braços vieram ao redor da minha cintura e me seguraram
enquanto eu desmoronava por dentro. O homem atrás de mim
permaneceu em silêncio, e eu o amava por saber que as palavras não
podiam descrever o que eu estava sentindo nesse momento.
Estávamos dias longe de desenraizar e eu estava ansiosa.

~ 535 ~
Era uma mudança ousada.
Sem casa. Sem amigos. Sem cama para dormir. Começando do
zero aos trinta e oito anos de idade. Era difícil.
Meu peito doía ao perceber que me restava dias com tudo que eu
conhecia e amava, tudo que me era familiar. E isso era uma droga. Mas
pior foram os seis anos que passei sem o homem que amava.
Eu o escolheria.
Eu o escolheria mil vezes.
Eu o escolheria pela eternidade, porque meu coração era vazio sem
ele.
Então nós nos mudaríamos e faríamos isso alegremente.
Juntos, como uma família.
Eu estava orgulhosa de mim mesma.
Dizer adeus estava sendo mais difícil do que eu imaginava, e
imaginei que seria horrível, então isso queria dizer alguma coisa. Todos
os nossos amigos e familiares vieram nos ver partir, e enquanto Ethan
Black se afastava para o lado, nós abraçamos nossos entes queridos com
corações pesados e olhos brilhantes.
Julius passou os braços a minha volta. — Nós vamos visitá-los, —
ele retumbou com força. Apertei-o com mais força, incapaz de falar, e
quando Ana jogou os braços em volta de nós dois, minha garganta se
contraiu desconfortavelmente.
Eu sentiria muito a falta deles, todos eles, igualmente.
Então, quando Ana se ajoelhou na frente de AJ e entregou a ele o
mesmo urso marrom que ele lhe dera, o que parecia ser uma vida inteira
atrás, ele piscou antes de franzir o cenho em questão. E quando ela
falou, falou claramente, sem o tremor em sua voz que eu ouvi tantas
vezes, sem o medo incapacitante que eu sabia que ela carregava dentro
dela. Com a morte de Ling, parte de Ana se curou. — Eu sei que você é
um menino grande e não precisa mais dele. — Ela olhou para o urso. —
Sempre que me sentia triste ou sozinha, abraçava o urso pardo. E seu
urso fez um bom trabalho afastando essa tristeza. — Sua expressão caiu
quando ela ergueu o urso e o abraçou uma última vez. Quando ela

~ 536 ~
terminou, ela o entregou para o meu filho. — Mas é hora de ele ser
devolvido a você.
AJ parecia dividido. Ele hesitou. — Mas ele é seu agora. Você
precisa dele.
Ana estendeu a mão e espalmou a bochecha de AJ
carinhosamente, enquanto sussurrava: — Acho que você precisa mais
dele.
Ai Jesus. Meu coração. Eles estavam me matando.
AJ relutantemente pegou seu urso marrom de Ana. Ele olhou para
o ursinho de pelúcia com cheiro de biscoito por um longo momento antes
de pular nos braços de Ana. Ela o abraçou e beijou-o e sussurrou sem
parar em seu ouvido, e quando eles finalmente se separaram, ambos os
olhos estavam embaçados.
Isso quebrou meu coração.
Bem, isso explodiu.
Ethan limpou a garganta do lado de fora e meu estomago
revirou. Já era hora. E quando fizemos a longa caminhada até o terminal
internacional, aguentei tudo. Eu acenei, sorri e segurei minha merda
como se meu mundo não estivesse desmoronando. Eu mantive aquele
falso sorriso colado no meu rosto até que nós embarcássemos. Eu usei
esse sorriso como uma máscara até encontrarmos nossos assentos, e o
mantive lá. Um pedaço de armadura. Um escudo pesado. Meu sorriso
era minha espada. Eu o segurei quando o avião decolou. Quando
estávamos voando alto, só então permiti que vacilasse.
Meu sorriso oscilou e vacilou. A picada inevitável de lágrimas por
trás das minhas pálpebras. Respirei fundo quando a máscara que eu
usava desmoronou em pedaços, e quando o primeiro soluço me atingiu,
atingiu com força, deixando-me ofegando por ar.
Sem uma palavra, Twitch levantou o braço entre nós e me puxou
para o seu colo. Eu enterrei meu rosto na curva de seu pescoço e chorei
abertamente enquanto ele beijava minha bochecha, sussurrando coisas
doces em meu ouvido. Eu estava emotiva. Destruída. E ele me deixou
estar sem julgamento ou desprezo. Ele me deixou ser eu, e não achava

~ 537 ~
que havia algo mais importante no mundo do que estar com alguém que
não temesse seus demônios, mas os amasse.
Eu chorei até que não houvesse mais lágrimas e, quando terminei,
a minha tristeza havia desaparecido. Eu me senti melhor, mais leve.
Lentamente, deslizei minhas pernas para fora da minha rocha e
sentei de volta em meu próprio lugar, limpando meus olhos vermelhos e
inchados. Ele me deu um tempo, mas quando o silêncio entre nós
começou a incomodá-lo, se inclinou para o meu rosto, e quando eu
pisquei para ele através dos olhos arregalados, ele exigiu em voz baixa:
— Beije-me.
Nunca haveria um momento em minha vida em que eu me negasse
a sensação dos lábios de Antonio Falco contra os meus.
Eu o beijei suavemente, minha mão subindo para segurar sua
bochecha enquanto o fazia. E quando recuei, ele se inclinou para beijar
meus lábios. Meu coração se aqueceu e um sorriso me pegou de
surpresa.
Com o nosso filho ao nosso lado, unimos nossas mãos à viagem
inteira para casa.
Fechei meus olhos e descansei no meu assento enquanto dávamos
nosso primeiro passo para o sempre.
Era a nossa segunda semana nos Estados Unidos. Nada era como
eu me lembrava. Nós estávamos literalmente em casa, em nossa cidade
natal, e nada sobre esse lugar parecia familiar. Tudo havia
mudado. Tudo parecia errado. Então, quando Twitch perguntou a Ethan
se ele poderia cuidar de AJ durante a tarde, minha curiosidade foi
despertada.
Quando perguntei onde estávamos indo, tudo o que Twitch disse
foi: — Um passeio.
Foi um longo dia. O caminho inteiro, Twitch silenciou minhas mil
perguntas, mas quando chegamos ao nosso antigo bairro, descobri que
não tinha mais perguntas a fazer. Eu assisti pela janela do passageiro
enquanto a familiaridade começava a surgir neste lugar desconhecido. E
quando o Twitch parou no meio-fio, as duas casas à nossa frente ficaram

~ 538 ~
lá, uma memória eterna passou pela minha cabeça e, de repente, eu
tinha seis anos novamente.
— Qual é o seu nome? — Eu perguntei na minha doce voz de seis
anos de idade.
Eu abruptamente achei difícil respirar.
Ele chutou uma pedra. — Não importa. Você vai esquecer quando eu
partir.
Casa.
Nós estávamos em casa.
Twitch me observou por um longo tempo, enquanto meus olhos
analisavam o quanto as casas não haviam mudado. Era tão
estranho. Todo o bairro havia mudado, atualizado, exceto por essas duas
casas. Era como se elas estivessem presos em uma distorção do tempo.
Esperando por nós.
— Vamos, — ele pronunciou suavemente, e quando saiu do carro,
eu descontraidamente desfiz o cinto de segurança e o segui.
Eu engoli em seco quando memória após memória me assaltou
como balas. Tiro após tiro, elas penetraram meu coração, minha alma. E
mesmo depois desse curto tempo, descobri que não queria mais estar
aqui. Doía muito.
— Por que estamos aqui? — Eu perguntei suavemente.
— Porque, — disse ele, voltando-se para enfrentar nossas
memórias. — Essas casas foram cruéis conosco.
Sim, elas foram, e pensar nisso fez meu coração doer.
— Essas construções foram cruéis, — continuou ele. — E eu ainda
não estou bem com o que essas casas fizeram a um casal de crianças
inocentes.
Bem, merda. Meu nariz começou a formigar. — Oh querido.
Diga-me o que fazer, meu amor. Diga-me como tornar
melhor. Nomeie e será seu.
Meu lindo homem.
Meu sobrevivente.
Meu cavaleiro em armadura arranhada.

~ 539 ~
— Estas casas colocaram em movimento uma cadeia de eventos
que nos levou a encontrar um ao outro várias vezes, e eu sinto muito por
como nós começamos, mas, porra, sou grato a essas casas por você estar
aqui comigo. Bem aqui. Agora mesmo. Então... — Ele lambeu os lábios,
virando-se para mim, e quando segurou minhas bochechas e deu um
beijo suave na minha testa, eu fechei meus olhos e escutei o que ele
tinha a dizer. — O que vamos fazer é derrubar essas casas cruéis. Nós
vamos vê-las cair. Observar cada tijolo e cada porra de lasca dessas
porcarias desmoronar no maldito chão. Assistir cada palavra cruel e
porta batendo ser transformado em nada. E onde nossos passados se
deitarem em ruínas, vamos construir um desejo.
Foda-se.
Meus ombros tremiam. Eu já estava chorando.
A gravidade da nossa situação me atingiu com força, como um
martelo no coração.
Conseguimos.
Nós fizemos isso.
Nós estávamos aqui, juntos, trabalhando no nosso futuro. E com
cada grama do meu ser, eu não conseguia pensar em nenhum outro
lugar que gostaria de viver do que os ossos de onde tudo começou.
A verdade era que não importava onde morássemos. Uma casa era
apenas um corpo. E nós éramos o coração. Enquanto estivéssemos
juntos, nada poderia nos tirar isso.
Quando ele beijou meus lábios, eu chorei fracamente, em seguida,
funguei. — Sim.
Twitch se afastou para olhar nos meus olhos. — Tudo bem?
— Tudo bem. — Eu ri através das minhas lágrimas.
Movendo-se para ficar atrás de mim, ele passou os braços em volta
da minha cintura e apoiou o queixo na minha cabeça. Levantei a mão
para o seu antebraço e apertei. Foi quando ele disse: — Tenho planos
para este lugar.
Oh senhor. Aposto que ele tem.
E só porque eu podia, dificultei os seus planos.

~ 540 ~
— Estou grávida.
Twitch ficou imóvel às minhas costas e eu sorri lentamente,
amplamente. E quando ele recuperou o movimento em seus membros,
seus braços se apertaram em torno de mim com força suficiente para
dificultar a respiração. Mas eu não me importei.
Quando ele colocou a boca no meu ouvido e sussurrou: — Te amo,
— meu mundo estava completo.
E no meio da tarde de um lindo dia de primavera, ficamos sobre a
ossada de uma lembrança e fizemos planos para o nosso futuro.

***

Twitch

Minha cabeça estava uma bagunça. Eu não sabia o que fazer, o


que sentir. Mas em toda a anarquia da minha mente geralmente caótica,
um pensamento se repetia.
A crença selvagem que tudo que eu estava perseguindo finalmente
parou de correr.

~ 541 ~
EPÍLOGO
Lexi

Eu abri a porta e gritei feliz quando os vi. A ruivinha atacou-me e


quando o corpo dela colidiu com o meu, minha respiração me deixou
com um whoosh. Lutando para respirar, eu ri através do desconforto
quando minha improvável melhor amiga e eu nos encontramos pela
primeira vez.
— Lily, — o gigante taciturno ainda esperando na porta com sua
prole resmungou, — você a está sufocando.
Mas a Lily acabou me abraçando mais forte. — Eu não me
importo. Eu tenho cinco meses de abraços saindo de mim agora, e ela vai
pegá-los ou então Deus me ajude.
Tudo começou um mês depois que chegamos aos Estados Unidos.
Twitch ligou para um velho amigo. Esse velho amigo era um homem
chamado Nox. Durante o telefonema, Twitch explicou a Nox que eu
estava tendo dificuldade em lidar com a falta de familiaridade na nossa
situação de vida. No final da ligação, Twitch surpreendentemente me
entregou o telefone e a mulher da outra linha começou a falar.
Eu não estava esperando o furacão que era Lily. E a dádiva de
Deus que ela era.
Um telefonema foi o suficiente e, assim, nos conectamos.
Não passou um dia em que Lily e eu não conversamos. Seja via
telefone ou texto, éramos tão próximas quanto duas pessoas que
moravam em estados diferentes podiam ser. Então, quando Lily ligou
para avisar que eles desceriam para visitar sua irmã, eu fiquei eufórica.
Conhecer sua improvável alma gêmea era uma coisa especial.
E agora que ela estava aqui, senti que já estava de luto pela falta
dela, pois em uma semana ela partiria.
Eu abracei com mais força.

~ 542 ~
Quando ela finalmente recuou, olhei em seus olhos sorridentes e
estupidamente disse: — Oi.
Lily inclinou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada. Eu não
pude deixar de me juntar a ela. Quando a risada começou a doer,
segurei minha barriga distendida e gemi através da minha alegria. — Ai.
— Ah. — Lily colocou as mãos no meu bebê e gentilmente o
esfregou. — Como está meu carinha?
Eu respirei fundo e soltei um suspiro lento. — Como você se
sentiria se alguém a carregasse em sua confortável cama de água, com
um serviço de quarto sem fim, dormindo o tempo todo?
— Muito bem. — As sobrancelhas de Lily arquearam.
Meu sorriso se alargou enquanto eu olhava para a minha barriga.
— Ele está ótimo.
Da porta, Nox soltou uma gargalhada: — Então, podemos entrar
ou o quê?
Minhas bochechas arderam. Eu corri e os puxei para dentro. — Oh
meu Deus, sim! Entrem. Entrem!
Quando passou por mim, Nox deu um beijo na minha bochecha.
— Como você está, Lex?
— Ótima, agora que vocês estão aqui, — eu disse a ele antes de
olhar para o belo rapaz ao seu lado. Ele tinha cabelos escuros e olhos
azuis. — Oh senhor. Esse é Rocco? — Eu sabia que era e me virei para
Lily. — Ele é tão alto. Com o que você o alimenta?
Rocco, que estava com onze anos, pareceu envergonhado quando
sua mãe se posicionou atrás dele e explicou: — São apenas os bons
genes Taylor, querida.
A princesinha segurando a mão de Nox era outra coisa em seu
tutu. Foi um choque vê-la usando o menor par de botas pretas de
combate que eu já vi. Ela tinha o cabelo escuro de Nox, mas os olhos
verdes de Lily. Eu sorri para ela. — Olá docinho. Qual o seu nome?
Claro que eu sabia o nome dela. Eu recebia fotos dessas crianças
diariamente, mas senti que era importante incluir as crianças, que elas
soubessem que tinham voz nesta casa.

~ 543 ~
— Eu sou Angie. Eu tenho quatro anos. — Ela levantou quatro
dedos e eu a amei instantaneamente. Ela me olhou nos olhos e não
hesitou quando afirmou: — Você é bonita.
Oh doce Jesus.
Eu não pude evitar. Eu estendi a mão e puxei-a para mim em um
longo abraço. Angie devolveu meu abraço e eu estreitei meus olhos em
Lily. — Você combinou isso, não foi?
Lily riu. — Eu juro que não!
Nos braços de Nox havia uma pequena garota de bochechas
vermelhas, chupando o dedão no vestido mais doce que eu já vira. Ela
era a imagem cuspida de Lily. Cabelo ruivo grosso e olhos verdes. Ela
também parecia não querer deixar a segurança dos braços de seu pai, e
olhando para Nox, eu podia ver o porquê. Ele era um homem enorme.
Nox beijou a cabeça do anjinho. — Esta é Mia. — Ele suspirou. —
Ela perdeu sua soneca e agora estamos todos pagando por isso.
Lily revirou os olhos para o drama do marido. — Lhe darei dez
minutos antes que ela desmaie.
Minha expressão era simpática, esfreguei as costas da menina e
falei baixinho: — Talvez possamos colocar um filme para a pequena Mia.
Nós temos travesseiros e cobertores. Meu filho AJ pode lhe construir um
forte. Isso soa bem? — Mia pensou sobre isso antes de chupar o dedo em
sua boca, deprimida e triste. Finalmente, ela assentiu e eu sorri
amplamente para o anjo cansado. — Ok, querida.
Quando AJ entrou correndo na casa do quintal, ele guinchou
parando quando percebeu que tínhamos companhia. Como costumava
fazer hoje em dia, ele observou as pessoas ao seu redor. Demorou alguns
segundos, mas quando considerou seguro, ele avançou.
Eu me aproximei dele e coloquei minhas mãos em seus ombros,
orgulhosamente apresentando meu filho. — Esse é AJ. Ele acabou de
completar seis anos. — Lily e Nox o cumprimentaram, mas AJ parecia
preso em suas palavras. — Diga olá, querido.
— Olá, — ele forçou, desviando o olhar.

~ 544 ~
Pobrezinho. Ele soou tão desajeitado quanto se sentia.
Infelizmente, levava algum tempo para AJ se abrir com as pessoas hoje
em dia. Ele, compreensivelmente, não confiava facilmente. Ele não falava
tão livremente. Ele era um pouco recluso entre as pessoas. Meu filho
estava na terapia, mas o terapeuta avisou que não poderia ajudar se AJ
não falasse com ela.
Rezei para que ele encontrasse forças para superar o medo e a
angústia, e recuperasse a parte de si mesmo que perdera. Nesse meio
tempo, tudo que eu podia fazer era amá-lo e apoiá-lo de todo o coração
enquanto ele encontrava seu caminho para fora do buraco em que Ling o
havia jogado.
— Bem... — Eu gentilmente apertei os ombros de AJ. — Eu espero
que vocês estejam com fome. Twitch está montando a grelha enquanto
conversamos e temos comida suficiente para alimentar um exército.
Os olhos de Nox se iluminaram de interesse. — Eu estou com
fome.
Lily olhou para o marido lentamente. — Você está sempre com
fome.
Nox sorriu para sua esposa com ternura, e amei tanto isso que
meu peito doeu.
AJ reuniu todos os travesseiros do lugar. As crianças trabalharam
na construção de um forte adequado para Mia enquanto Lily e Nox me
seguiam para fora. Twitch olhou de relance, e quando seus olhos
pousaram em nossos convidados, enrugaram nos cantos. — Meu
homem.
Dando um passo à frente, ele e Nox apertaram as mãos antes de
esbarrar os ombros e bater nas costas um do outro com força suficiente
para machucar. Nox agarrou Twitch pelos ombros. — Faz muito tempo.
— Sem brincadeira, — murmurou Twitch. Eles se encararam por
um longo tempo, examinando as mudanças um no outro antes que eu
visse as emoções tirarem o melhor do meu marido e ele recuou,
engolindo em seco, depois dizendo: — Você precisa de uma cerveja.

~ 545 ~
Mas Nox parecia conhecer Twitch melhor do que eu imaginava, e
quando meu homem se afastou do grupo e entrou na casa, Nox se virou
para mim, sorrindo maliciosamente. — Algumas coisas nunca mudam.
— Não, — eu concordei calmamente, lutando contra um sorriso.
A noite continuou sem problemas. Todos tinham comido. As
crianças finalmente se entenderam e brincaram durante a noite toda
enquanto Mia dormia com o barulho. A conversa era uma fonte, fluindo e
sem fim, cheia de alegria e riso, e à medida que a noite terminava, não
queria que nossos amigos partissem.
Lily se juntou a mim na cozinha enquanto os caras continuaram
conversando do lado de fora, e enquanto carregávamos a máquina de
lavar louça, alguém puxou minha camisa.
Assustada, olhei para o meu filho. Seus olhos estavam presos na
menina vestindo um tutu e botas de combate. Ele não se dirigiu a
nenhum de nós quando falou gentilmente. — Ela não me disse o nome
dela. — Sua voz era distante. — Qual é o nome dela?
Ele estava agindo de forma estranha. Fiquei momentaneamente
estupefata.
Os olhos de Lily dispararam entre nós até ela dizer: — O nome dela
é Angela. Nós a chamamos de Angie.
Um pequeno sorriso esticou seus lábios. — Angie, — ele
murmurou sonhadoramente. E quando olhou para mim e falou, meu
coração parou. Ele falou em voz baixa, com sinceridade, e demonstrou
tanta determinação em seu tom que me vi acreditando nele. — Eu vou
me casar com essa garota.
Minha boca caiu aberta. O mesmo aconteceu com Lily.
Mas AJ não percebeu. Ele só tinha olhos para a menina de cabelos
escuros e olhos verdes que aparentemente roubara seu coração. Antes
que qualquer um de nós pudesse falar, AJ flutuou para longe, de volta
para o grupo de crianças brincando no sofá, deixando Lily e eu
estupefatas.
Quando encontrei minha voz, estava fraca. — Ele não sabe o que
está dizendo.

~ 546 ~
Lily pulou em cima disso. — Certo. Ele é apenas um garotinho.
— Exatamente, — eu forcei uma risada estranha. — Oh meu, as
crianças definitivamente dizem as coisas mais ousadas. — Eu lambi
meus lábios e vacilei. — Mas ainda assim. Talvez devêssemos...
Lily acrescentou gentilmente, — ...não contar aos caras sobre isso?
Eu estava tão feliz por estarmos na mesma página. — Sim, — eu
falei rapidamente.
E ela assentiu, engolindo em seco. — Combinado.
— Ótimo.
— Legal.
E enquanto conversávamos educadamente, não pude deixar de
notar que nenhuma de nós conseguia tirar os olhos da maneira peculiar
como Angie e AJ se sentavam juntos no sofá. Angie segurava o vídeo
game portátil nas mãos, falando sem parar, explicando o objetivo do jogo
e, enquanto tagarelava, AJ a observava atentamente, os olhos
examinando o rosto dela, sorrindo suavemente para si mesmo. E meu
peito doeu.
Ah merda.
Meu filho estava apaixonado.
A casa estava silenciosa. Esse era um evento raro em si. Claro, era
cedo, mas o silêncio não era tão relaxante quanto tinha sido
antigamente. Especialmente quando tive que suportar o tempo sem o
meu filho como aconteceu. O silêncio era assustador e, quando entrei em
seu quarto e o encontrei dormindo, meu coração se tranquilizou e me
permiti respirar novamente.
Sentada na beira da sua cama, olhei para o rosto angelical do
menino que quase não voltou para casa. Minha mão se moveu sem
querer e, quando toquei seu cabelo, lembrei a mim mesma que
estávamos bem.
Nós estávamos bem.
Sendo o mais silenciosa possível, deixei-o dormir um pouco mais
porque ele não estava quebrado em seus sonhos.

~ 547 ~
Descalça e grávida, dirigi-me à geladeira e me servi de um copo de
suco de laranja, depois saí à procura do homem desaparecido. Não era
frequente acordarmos separadamente, mas quando o fizemos, ficava
inquieta.
Não demorou muito, e quando abri a porta de correr e parei na
porta aberta vestida apenas com a minha camisola, ele olhou para mim
por um momento antes de continuar o que estava fazendo. E a cada
segundo que passava, o riso subia pela minha garganta, perigosamente
desejando escapar. Mas eu o mantive bloqueado.
Em vez disso, inclinei-me contra o batente da porta e disse: —
Uma vez, pensei que você fosse um Deus. — Bebi meu suco. — E agora
olhe para você, lavando roupa, pendurando minhas calcinhas e sutiãs.
Eu segurei o riso o máximo que pude, mas quando seus olhos se
enrugaram em um sorriso, ele apontou para mim em advertência, e
cinco dos meus sutiãs pendiam de seu antebraço. Eu perdi a batalha,
inclinando minha cabeça para trás e soltei minha risada leve.
Ele balançou a cabeça, mas não perdi o jeito que o lábio dele se
contraiu. Quando ele murmurou: — Foda-se, baby, — soava mais como
— eu te amo, baby, — e eu não conseguia tirar o sorriso do meu rosto.
Com meu coração cheio e meu bebê chutando, eu resolvi voltar, e
como fiz isso, ele gritou: — Você poderia ajudar, sabe.
Eu parei na porta, olhando para ele, e minhas sobrancelhas se
levantaram.
Esse cara.
— Eu lavei roupa por seis longos anos, baby. — Eu comecei a
fechar a porta de correr entre nós, e enquanto fazia isso, disse com
suavidade: — É oficialmente a sua vez.
Ele zombou através do vidro.
Eu soprei-lhe um beijo.
Ele continuou pendurando minhas calcinhas e sutiãs no varal. E
eu nunca estive mais feliz em toda minha vida.
Os dias se transformaram em semanas. Semanas se
transformaram em meses. Meses se transformaram em anos.

~ 548 ~
O velho carvalho no quintal, o mesmo carvalho onde eu havia
esculpido no nome do garoto que jurei que não esqueceria aos sete anos
de idade, agora trazia os nomes de cada membro da família que
acolhíamos em nossa ninhada.
Isso se tornou tradição.
Mais tarde naquele ano, outro nome seria esculpido no carvalho
Falco.
E meu coração e alma se estabeleceram enquanto minha família
crescia.
Os gritos suaves vindos do berçário me fizeram disparar da cama,
momentaneamente confusa e irritada o suficiente para me fazer suar.
Mas ele já estava de pé e saiu pela porta. E quando voltou com o
pequeno embrulho, acendi a lâmpada enquanto ele a colocava
suavemente entre nós.
Suas narinas dilataram e sua boca abriu, seus lábios tremendo
enquanto seus pequenos braços tentavam escapar de sua restrição de
musselina. Não. Ela não estava feliz, nossa pequena dama. E nós dois
sabíamos o porquê.
Piscando sonolenta, eu estendi a mão para soltar a frente do meu
sutiã e abaixei o bojo antes de levantar gentilmente minha doce menina
e segurá-la contra o meu peito. Ela se agarrou rapidamente, minha
pequena porquinha, e fez sua coisa quando seu pai se inclinou de lado,
apoiando-se sonolentamente em seu cotovelo, nos observando
carinhosamente enquanto ela se alimentava.
Meu marido acariciou os cabelos finos na parte de trás de sua
cabeça e sussurrou sonolento: — Desacelere, filha. Mamãe não vai a
lugar algum.
Meu coração mal podia suportar quanto amor eu tinha dentro de
mim. Era forte, transbordante, e quando se assentou sobre mim como
um cobertor quente, me perguntei se algum dia envelheceria.
As chances eram, nenhuma. E eu estava bem com isso. Na
verdade, eu contava com isso.

~ 549 ~
Twitch era um pouco voyeur nos dias de hoje, especialmente
quando se tratava de seus filhos. Ele adorava ver AJ fazendo sua lição de
casa, orgulhoso das habilidades de nosso primogênito. Ele adorava ver
Matteo cair em seu pequeno traseiro, tentando em vão impedir que suas
perninhas oscilassem debaixo dele enquanto tentava correr antes mesmo
que pudesse andar. Mas, acima de tudo, ele adorava cada momento da
alimentação de Sofia.
Sua pequena princesa, ele a chamava. A menina do papai.
Eu tive uma premonição de que ela seria a menina dos olhos de
seu pai.
Droga. Ela já era.
Tudo que ele perdeu com o nosso primogênito. Ele estava se
certificando de não perder outro único segundo de sua preciosa infância.
Cicatrizes.
Nós os tínhamos aos montes.
Mas essas cicatrizes nos moldaram nas pessoas que éramos hoje.
E embora nossas feridas tenham começado dolorosamente, as marcas
que deixaram eram permanentes. Eternas. E era grata pela lembrança
de como nos esforçamos para estar juntos.
Isso dizia muito sobre nós.
O fracasso nunca foi uma opção. Twitch e eu ficaríamos juntos ou
morreríamos tentando.
Havia dias em que eu sentava e observava minha família prosperar
com tal sentimento que internamente me desculpava e chorava em
completo silêncio, em segredo, porque a força da emoção pura era
absolutamente incapacitante.
Nós tínhamos conseguido.
Todo dia era um presente.
Nós conseguimos, contra todas as probabilidades, percorrendo o
caminho menos óbvio.
Éramos nós contra o mundo, e eu protegeria essa família com
todas as fibras do meu ser.
O que me leva ao assunto principal.

~ 550 ~
Uma palavra de advertência para aqueles que pretendem
prejudicar minha família.
Meu nome é Alexa Falco. E eu não tenho mais medo.
Venha atrás de nós.
Atreva-se.
Eu vou te derrubar.

FIM

~ 551 ~

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