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Sumário

Ele é Lindo, mas é Meu Irmão


Nathalia Rauscher
Primeiro Capítulo
Segundo Capítulo
Terceiro Capítulo
Quarto Capítulo
Quinto Capítulo
Sexto Capítulo
Sétimo Capítulo
Oitavo Capítulo
Nono Capítulo
Décimo Capítulo
Décimo Primeiro Capítulo
Décimo Segundo Capítulo
Décimo Terceiro Capítulo
Décimo Quarto Capítulo
Décimo Quinto Capítulo
Ele é Lindo, mas é Meu Irmão

Nathalia Rauscher
Primeiro Capítulo
Eu nunca soube quando os pesadelos realmente começaram, mas James sempre estava lá. Acalmando-
me e mostrando o caminho de volta…
A noite era escura como o fundo do oceano e ventava mais que o normal. Minha respiração era
ofegante e eu corria tanto que meus pés ardiam.
Então faltou chão e eu caí. Sozinha no escuro.
−Alguém, por favor! AJUDA-ME!
Silêncio absoluto. Ninguém me ouvia.
− Natalie, acorde!
− O quê? − Eu estava molhada de suor, meu cabelo grudava no rosto e as lágrimas escorriam
pelas bochechas. − Mas o que… O que aconteceu?
− Sério? Você não se lembra de nada? Você estava se batendo na cama e gritando sem parar!
Estou admirado que você não tenha acordado a mãe e o pai.
− Desculpa, foi o mesmo sonho de sempre.
−Natalie, você está em casa, estamos todos aqui, e que eu saiba não tem nenhum buraco na
propriedade para você cair. Não sei por que sonha com isso.
− Culpa sua, James! Apagou a luz outra vez, sabe que tenho medo de escuro. Você faz de
propósito. Admita! − Quantas vezes será que terei de repetir? Como pode ser tão burro!
− Nat, vai dormir pelo amor de Deus!
− Não consigo, vou conversar com você até cansar e esquecer o pesadelo! – Boa ideia, é
exatamente isso que vou fazer.
− Não vai não! Eu preciso acordar cedo amanhã, esqueceu?
− Ótimo. Você é o pior irmão do mundo, sabia? – Apelo emocional Natalie… O caminho é o
apelo emocional.
−Droga, vai para o lado para eu caber nessa porcaria de cama!
− Ué, mudou de ideia? – Estava escuro, mas eu sabia qual era a expressão dele. Expressão de
“Se você não fosse minha irmã eu te matava”.
− Não abusa Natalie! Paciência tem limites!
No momento seguinte eu era a garota mais salva do mundo. James me abraçou e transmitiu toda
calma que ele possuía. Ele era dois anos mais velho que eu, e extremamente maduro para um
garoto de 14 anos.
− James, será que um dia os pesadelos vão parar? − Eu sabia que ele não tinha como
responder essa pergunta, mas a fiz mesmo assim.
− Sabe por que você ainda tem esses pesadelos? Porque você quer, Natalie. Só por isso!
−O quê? – Mas é claro que eu gosto de acordar toda noite suada e petrificada de medo −
Esqueça, eu me arrependi de ter perguntado.
− Natalie, você nunca vai estar sozinha numa floresta no meio do nada e no escuro. Sabe o por
quê?
− Por quê? − Acho que sei a resposta, mas quero ouvi-lo me dizer.
− Porque eu vou estar lá. Estarei lá com você te fazendo lembrar a coisa mais óbvia do mundo,
eu e você sempre!
− James… Eu queria falar, mas não sabia ao certo o que dizer.
− Boa noite, Natalie…
− Boa noite, James − Eu estava segura. Exatamente onde gostaria de estar. Ao seu lado. −
Obrigada! − Colei meu rosto em seu ombro e enfim adormeci.
Naquela noite não tive mais pesadelos. Eu estava em paz. Éramos só eu e ele. Lado a lado.
Segundo Capítulo
Três anos depois
Abri os olhos e os primeiros raios de sol já inundavam o quarto. Olhei para o lado e a cama de
James estava vazia e arrumada. Impecável, na verdade. Típico dele.
Esfreguei os olhos e fui até a janela. Era uma bela visão eu preciso admitir. A janela dava direto
para o campo onde os meninos jogavam beisebol.
O pequeno lago deixava o quintal ainda mais acolhedor e familiar. O jardim da mamãe estava
florido e bem cuidado, e a casa de hóspedes deixava a propriedade com um ar sofisticado. Eu
sempre adorei morar aqui.
− Natalie, você já se levantou?
− Será que é tão difícil levantar antes do meio dia?
− Mãeeee! São nove horas da manhã! Nove horas. Bem longe de meio-dia. − Gente, todos
sabem como é difícil para eu acordar cedo − Olha que eu já tentei ser uma garota matinal, mas
com os pesadelos, isso chega a ser impossível. Se eu conseguisse dormir como uma pessoa normal,
sem me debater durante toda noite, talvez eu até acordasse mais cedo. E de quebra, ainda estaria
de bom humor.
− Natalie, minha querida, hoje é o dia que seu irmão vai para faculdade, não está animada?
A MEU DEUS DO CÉU!
− Como assim, hoje?
−Não era para ser no final do outono ou primavera, sei lá?
Como fui me esquecer disso?
− Se vista, vamos almoçar no jardim, preciso de ajuda com os pratos.
Antes de a minha mãe deixar o quarto, puxei seu braço e a trouxe para perto de mim.
− Mãe, você está animada?
− Claro que não! Vamos ficar sem ele por cinco anos!
Com um sorriso amoroso e acolhedor, ela segurou minhas bochechas e soltou um leve suspiro.
− Nat, não vamos deixar que ele saiba que estamos torcendo para que seja expulso, e voltar
correndo para nós, certo?
− Mãeeee!− soltamos juntas uma longa e gostosa risada.
Coloquei meu vestido azul com um fino cinto na cintura. Minhas sapatilhas pretas combinavam
perfeitamente com a roupa. Amarrei o longo cabelo castanho Num rabo de cavalo baixo e
desarrumado, puxando duas mexas douradas para frente. Eu tinha uma beleza normal, com olhos
amendoados e longos cílios.
Minha boca era grande e rosada. E meus quadris… A meus quadris poderiam ser um pouco
mais discretos. A cintura deixava o meu corpo com forma e equilíbrio. E eu agradecia a Deus por
isso. Dei a última olhada no espelho e desci as escadas.
− Natalie já era hora de sair do quarto, você poderia ter um pouco mais de vontade de viver,
não acha?
− Bom dia para você também, pai − Meu pai, o grande Charlles Mcley com seus grandes olhos
azuis e cabelos grisalhos. Parecia que era gentil com todo mundo menos comigo.
− Sua mãe está te esperando faz horas no jardim.
− Só demorei meia hora, pai – Ouvi-o resmungar alguma coisa, mas já era tarde. Acelerei o
passo, passei pela grande porta principal e me esqueci do degrau.
Já estava cambaleando para o lado quando senti um braço me envolver pela cintura e me
fazer voltar para vertical.
− Será que você não consegue ficar sem cair pelo menos um dia?
James estava parado na minha frente com aquele sorriso que fazia toda e qualquer garota cair
de amores por ele. Não sei ao certo quando ele começou a ter essa cara de modelo, ombros
largos e abdômen definido.
Acho que ele sempre foi bonito. Bonito até demais. Herdou os grandes olhos azuis do nosso pai,
algo que eu invejava calada, é claro. Se ele quisesse desistir da faculdade de direito e seguir a
carreira de ator ou atleta, ele podia. James era bom em tudo, tanto nos estudos quanto nos
esportes.
− Natalie? Você está bem? Está me olhando estranho de novo!
−Estou ótima! Estou olhando seu novo corte de cabelo! Está na moda ter cara de calouro e
cabelo lambido agora? − O cabelo dele estava perfeitamente penteado para trás, ele usava um
pouco de gel, o que tornava o loiro um pouco mais escuro.
− Hahaha, as garotas gostam assim, não vai me dizer que além dos olhos está com inveja do
meu cabelo agora?
− Cale a boca!!! Prefiro meus olhos castanhos a esse azul desbotado aí! − Senhor, como eu minto
mal.
Nota mental, preciso de desculpas melhores e mais convincentes.
Seu sorriso ficou de lado, e quando James faz isso, parece que consegue sorrir com os olhos
também. No momento seguinte deu um passo para frente e colocou uma mecha do meu cabelo
atrás da minha orelha. Inclinou-se, chegando perto do meu ouvido, tão perto que encostou os lábios
delicadamente no lóbulo. Meu Deus, como ele cheira bem, uma mistura de creme de barbear com
loção.
− Seus olhos são lindos, Natalie! A maioria das garotas mataria para ser como você. Não só
para ter os olhos que você tem, mas para terem o seu olhar.
− James… − Minha respiração estava cortada e eu simplesmente não sabia o que dizer. Não
queria nem abrir os olhos novamente. Eu estava completamente e extremamente petrificada.
− Nat, você deveria acreditar no seu irmão! Esqueceu que sou incapaz de mentir? Além do mais
tem um mutirão de homens que gostaria de se casar com você nessa cidade. Deveria considerar a
ideia de pelo menos conhecer alguém.
Pronto! Era tudo que eu precisava para o meu mundo voltar ao normal. Meu irmão dizendo que
eu preciso sair e conhecer alguém. Claro que ele quer que eu conheça alguém, que eu namore, ele
é meu irmão! O que mais eu esperava?
Eu esperava algo que não podia ter, eu esperava algo que não existia, algo que não podia
existir. Nunca.
Minha mãe convidou somente os parentes próximos para o almoço. Meu tio Xavier e sua mulher
Samantha, pais de Michael, melhor amigo de James. Meus avós Karl e Alda e minha melhor amiga,
Karen. O almoço foi uma típica reunião em família com direito a risadas, sobremesa e histórias
vergonhosas de quando éramos crianças.
No final, quando todos já estavam cansados de ouvir as histórias do meu pai sobre como ele
estava ganhando dinheiro e a produção de rosas estava indo bem, James me chamou para ajudá-
lo a levar os pratos para dentro.
− Então, está ansioso com a faculdade? Dizem que Nebraska é a melhor para quem está
buscando estudar pouco e beber muito!
− Haha, então escolhi a certa.
− Que desgosto, viu! Ainda bem que nossos pais tiveram dois filhos, pelo menos eles têm a mim
para dar um pouco de orgulho à família.
− Bem, daqui dois anos você estará bebendo junto comigo! Aí não vai restar orgulho nenhum.
James caiu na risada
− Nessa questão, papai e mamãe podem ficar tranquilos, eu não pretendo sair de Lake Ville
tão cedo!
Quando meu olhar encontrou com o de James, vi uma única expressão. Tristeza. Ele me olhava
de forma séria com as sobrancelhas curvadas, deixando aquela ruga de preocupação no meio do
seu rosto. Seu maxilar estava tenso e percebi que ele estava escolhendo as palavras a seguir.
−James… Você sabe que eu…
− Eu sei que você nunca saiu dessa cidade e acha que vai ter que cuidar da produção de rosas
para o nosso pai! Natalie não precisa ser assim! Você pode fazer uma faculdade e ser o que
quiser. Você não precisa ficar aqui e o agradar. Não precisa!
− Eu sei! Não estou fazendo isso por ele! Eu só não sou boa em nada, eu acho − Senti meus
olhos marejarem. − James eu gosto daqui, gosto das rosas e da cidade tranquila.
− Sei que você gosta de dançar também! Você pode se matricular, eles têm ótimos professores
de dança em Nebraska!
− Eu posso dançar aqui, eles têm professores aqui também! O que foi agora, você acha que
tudo é melhor do que em nossa cidade? Achei que gostava daqui. Achei que gostava das nossas
festas no lago e das feiras da estação! Achei que gostava de mim!
− Nat…
Nessa altura eu já estava chorando, estava ridícula, me sentia ridícula e envergonhada, e a
única coisa que eu pensava era subir para o quarto.
Quando me virei para sair, senti a mão de James me trazendo para perto dele.
− Desde quando você acha que eu não gosto de você? Desde quando você acha que eu vou
me mudar porque não gosto daqui? Responda-me, Natalie!
Sua respiração era pesada e seus olhos penetravam nos meus. Se eu não o conhecesse bem,
acharia que estava a ponto de me matar, mas o que ele estava sentindo era tristeza acima de
tudo.
− Eu só… James, eu achei… Você não entende!
−Você é que não entende! E é melhor que não entenda mesmo…
−Se eu não entendo me explique! James… Explique-me! Fale comigo!
Seus olhos se suavizaram e sua expressão se acalmou.
− Nat, eu preciso ir, eu preciso estudar! E eu acho…
−Acha o quê?
−Acho que preciso ficar longe por um tempo! Mas eu não consigo ir dessa maneira, Nat…
Silêncio.
− Nat, você vai ficar bem? Eu preciso saber se você vai ficar bem, não vou partir sem que me
responda antes.
− Você me subestima demais, sabia? Fique tranquilo. Eu vou sobreviver!
−E os pesadelos, você promete que vai me ligar se tiver algum?
− No meio da noite? Sério? Haha
− Natalie, estou falando sério!
− Eu ligo, prometo!
− É melhor cumprir a promessa dessa vez!
−Estou interrompendo alguma discussão familiar? − Mike estava parado na porta com a mão
na cintura e com expressão de deboche.
− Já está na hora?
− Já estava na hora há dez minutos! Agiliza, cara, tô esperando na caminhonete.
No momento seguinte, James me abraça forte, colado ao meu ouvido.
−Amo você, me ligue para qualquer coisa! Isso é uma ordem!
− Amo você! Volte logo!
Terceiro Capítulo
Cinco anos depois
O sol já estava se pondo e o vento trazia a chuva que todos esperavam há mais de um mês.
− Ééé senhora Natalie acho que nossas rosas num vão morrê de sede!
− Já estava na hora, estávamos ficando sem armazenamento, pelo jeito a chuva vem essa noite
ainda!
Leonel era um senhor de meia idade, como cabelos grisalhos, olhos cinza e gentis. Era o
funcionário mais antigo do meu pai e o mais confiável também. Às vezes ele sentia a pressão que
meu pai colocava em mim, e tentava ser como um amigo mais velho. Se eu precisasse de algum
conselho, com certeza era a ele que recorria.
−Vamos senhora Natalie, não vai querer se atrasar para o próprio aniversário.
Claro, o aniversário! Não que eu não gostasse, mas depois que James foi embora eu não achei
muito divertido comemorar isso todos os anos. Antes de James ir para faculdade éramos
inseparáveis. Passávamos meus aniversários sempre em volta do lago da casa, bebendo o vinho da
vinícola do nosso primo Mike e comendo besteiras. Eu, Karen, Mike e James… Hoje seria o quinto
ano que faríamos isso sem ele. Novamente.
Estava com meu suéter de tricô creme que ganhei de aniversário de minha mãe. Ele caia ao lado
do meu ombro direto deixando minha pele clara à mostra. A saia jeans desbotada deixava o
visual romântico e sexy ao mesmo tempo. Não sei por que estou me vestindo assim, não pretendo
instigar ninguém. Enfim, não tenho paciência para trocar de roupa de novo. Amarro meu cabelo em
um coque frouxo e deixo cair longas mechas ao lado das bochechas.
−Natalie! Karen e Michael acabaram de chegar… Você está linda filha! A blusa ficou perfeita,
parece que foi feita para você!
−Obrigada, mãe! Adorei o presente!− Não podia reclamar da mãe que eu tinha. Ela sempre foi
muito carinhosa e amorosa comigo e com meu irmão, e eu agradecia toda noite por isso. − Estou
pronta, vamos descer?
− Vamos sim!
A casa estava perfeitamente arrumada com bexigas cor de rosa e brancas, minha mãe
caprichou na quantidade de comida dessa vez. Tinha doces e taças de champanhe espalhadas ao
longo da casa. O cheiro das rosas colhidas mais cedo pairava no ar!
−Ahhh a aniversariante resolveu dar o ar da graça!
− Boa noite pra você também, Mike!
Na mesma hora senti Karen pulando em cima de mim com um abraço apertado.
−Nat! Parabéns, amiga! A casa está linda!!! Você está linda! Está tudo perfeito!
Karen era o tipo de pessoa que abraçava a gente com a alma! Um abraço acolhedor e cheio
de sinceridade. E eu tinha orgulho de ter uma amiga como ela. Minha melhor amiga desde que eu
me conheço por gente.
− Obrigada, flor. Você também está maravilhosa!
Karen vestia um vestido preto e elegante com renda ao redor dos ombros. Karen tinha um corpo
bem desenhado com pernas torneadas e cabelos negros na altura dos ombros. Era uma mulher
linda. Tínhamos quase a mesma idade, Karen era apenas um ano mais nova que eu, mas dava
conselhos como ninguém. Eu a amava do fundo do coração.
− E aí? Vai querer seu presente agora ou depois?
− Michael… Eu disse que não queria nada! Disse para não se incomodar!
− Agora já é tarde, sua chata! E quem em sã consciência vai a um aniversario e não leva
presente? Tirando a vez do aniversario do Jim que eu estava bêbado e esqueci.
−Hahaha! Toda vez que me lembro disso eu morro de rir.
− Compramos junto o presente!
− Karen… Obrigada!
A caixa era relativamente grande com um papel brilhante e uma longa fita cor de rosa
amarrada no topo. Karen e Michael sempre foram amigos, mas eu estava começando a desconfiar
dessa proximidade dos dois nos últimos dias. Até presente compraram juntos. Muito suspeito.
−Vocês foram juntos escolher o presente então?
− Fique quieta antes que eu me arrependa e fique com o presente pra mim!
− Tá bom! Não está mais aqui quem perguntou.
Quando abri a caixa, vi um par de lindas sapatilhas cor de creme com longas fitas de cetim.
−Um par de sapatilhas novas! − Eles sabiam escolher presentes.
−Pronto! Agora você pode se esbaldar de dançar! Rodopiar pela propriedade inteira, como
uma doida varrida.
−Hahaha, obrigada, Mike. Vou fazer isso mesmo.
−Obrigada, pessoal! Vocês são os melhores amigos que alguém poderia ter!
−Isso mesmo, valorize a gente.
−Michael! − Hahaha.
Estávamos todos ao redor da mesa prontos para cantar parabéns! O bolo de dois andares era
radiante. Havia rosas decorando todo o topo. Brigadeiros brancos o deixavam ainda mais
apetitoso. Amoras vermelhas e framboesas se espalhavam em torno dele. Meu tio estava prestes a
apagar a luz quando a campainha tocou.
− Natalie, você está esperando alguém?− Minha mãe perguntou.
− Não. Vou ver quem é. Volto em um minuto!
−Rápido, senão vamos cortar o bolo sem você! Tive que roubar uns três bombons já!
−Tenho certeza que você roubou bem mais de três, Michael! –Saí gargalhando enquanto ele
fazia cara de culpado.
Quando cheguei à porta não acreditei em quem estava parado na minha frente. Ele usava uma
blusa azul um pouco mais escura que seus olhos. Calça jeans apertada e sapato social. Não havia
mudado muito, tirando o fato de estar mais lindo do que nunca. Havia deixado o cabelo crescer um
pouco mais, deixando-o cair nos olhos, e sua barba estava por fazer. Ele era uma visão do
paraíso. E era meu irmão também.
−James… Mas… O que você está fazendo aqui? − Eu não estava acreditando, eu devia estar
com a cara de tonta do ano. Mas não tinha importância. Ele estava aqui. Na minha frente.
−Estou esperando você me convidar para entrar…
Meu Deus! Como ele consegue sorrir desse jeito, estreitando os olhos dessa maneira, deixando
sua expressão suave e divertida.
− O quê?
− Natalie… Você está se lembrando de mim? Estou começando a ficar assustado já!
−Jamesss, meu filho, você está aqui! Meu Deus, que presente maravilhoso. Você voltou!
No momento seguinte todos estavam abraçando e beijando James, e eu estava completamente
parada com meu mundo girando, parecia que eu ia cair a qualquer momento.
− Eu vim entregar o presente da Nat!
− E você não conhece sedex? Não existe isso no primeiro mundo onde você está estudando?
− Sabe como é… Não confio nessas coisas! Atravessar o mar não é confiável…
− Será que a gente pode comer o bolo antes e discutir isso depois?
O bolo, o presente, o meu aniversário era a última coisa que eu estava pensando. Não
conseguia acreditar que ele estava aqui. Cinco anos que eu não o via. Cinco anos se passaram e o
que eu sentia estava vivo em mim. E eu não tinha a mínima ideia de como lidar com isso.
O bolo estava todo iluminado com tantas velas que colocaram nele. Lindo demais para comer.
Todos estavam ao redor batendo palmas e cantando os parabéns. Quando eu estava prestes a
assoprar a vela, senti sua voz no meu ouvido…
−−Faça um pedido que ele será atendido!−Disse James.
Só pensava em uma coisa. James!
Depois de todos estarem cheios de tanto comer, chegou à hora do bombardeio de perguntas ao
James. Perguntavam como era a faculdade, a cidade, as pessoas e as namoradas, claro. James
respondia todas as perguntas pacientemente, menos à última. Deixando claro que não estava se
relacionando com ninguém. Eu tentava não olhar e nem parecer muito interessada. Decidi ir até a
cozinha pegar um copo de água e colocar minha cabeça no lugar.
− Desistiu de beber?
− Como?
− A água, Natalie. O copo na sua mão!− Ele falava pausadamente tentando me fazer entender
˗Você está com a água na mão e não com álcool.
− Estou só dando um tempo. Tentando não ficar bêbada.
−Aaaaaaaa, vocês estão prontos para beber de verdade agora?
Michael chegou à cozinha e me tirou do transe. Chegou perto da gente com aquela cara que
fazia todos caírem na risada
−Teu presente de verdade está lá fora, Natalie!
−Como assim?
−Trouxe uma caixa de vinho e escondi na casa do lago! Vocês estão prontos para a festa
começar?
Nos olhamos e caímos na risada.
−Vou avisar a Karen! A gente se vê no lago.
−Ok
Virei-me para deixar o copo na bancada e senti o braço de James ao redor de mim, segurando
uma pequena caixa vermelha na altura dos meus olhos. Ele estava com seus lábios colados em meu
ouvido.
−Espero que goste…
Olhei para ele com um sorriso no rosto e abri a delicada caixinha. No interior, um lindo par de
brincos de pérolas.
−São perfeitos! A jóia era delicada e ao mesmo tempo sofisticada.
−Nada que você não mereça, Nat.
−Obrigada!
−De nada, mas você não vai colocar?
−Agora? Você quer que eu coloque agora?
−Você não gostou? Então coloque. Quero te ver com eles.
Às vezes eu não sabia se era coisa da minha cabeça, mas achava por diversas vezes que ele
me olhava e falava coisas que não saem da boca de um irmão.
Retirei meus brincos de prata e no lugar coloquei meu novo presente, que devia ter custado uma
fortuna.
−Como eu imaginava!
− Como você imaginava?
−Eu imaginei você com eles antes de comprar.
−E o que achou?
−Já te falei. Como eu imaginava.
Seus olhos se estreitaram e o azul se tornou mais profundo escuro e penetrante.
−Vamos?
−Onde?
−Para o lago, Nat. Beber com Michael e a Karen. Você tem certeza que está bem? Está meio
avoada hoje.
−Estou ótima! Vamos!
Avoada era pouco. Eu me encontrava fora de mim. Parecia que o mundo estava em câmera
lenta e eu prestes a vomitar.
Chegamos ao lago e havia velas espalhadas por todos os lados. Karen e Michael estavam
estendendo cobertores e almofadas. James segurava duas taças na mão.
−Esquecemo-nos de pegar as taças para eles!
−Você acha que o Mike não pegou para a garota dele?
−Garota dele?
−Nat, sério que você não suspeita?
Eles estavam inseparáveis, é verdade. Apesar de sermos praticamente irmãs, ela não me conta
quase nada de sua vida amorosa. Ka é extremamente tímida e reservada. Nota mental: lembrar-se
de questioná-la sobre isso depois.
− Eles formam um belo casal.
James me olhou do canto de olho, erguendo a sobrancelha e sorrindo de lado.
−Eles formam um belo casal.
Quarto Capítulo
Já era quase 3 horas da manhã. Karen já estava dando risada de tudo que Michael falava. Estava
completamente bêbada. E eu… Bom, eu estava bêbada também.
−Bom, acho que as meninas já estão completamente loucas! Hora de ir para casa.
Desde quando James ficou tão mandão assim? E tão bonito? Ah meu Deus, cale a boca Natalie.
Que coisa horrorosa esses pensamentos.
− Eu consigo beber mais! Falei tentando desobedecer às ordens do irmão mais velho.
− Eu sei que você consegue beber muito mais, Nat…
Sua expressão era indecifrável e extremamente sexy. Lá vou eu novamente com esses
pensamentos
− Sabe? Então me deixa beber mais!
−Levanta dai ou eu mesmo te levo e te levo para dentro!
−Atreva-se!
No momento seguinte, eu estava nos braços de James chacoalhando e gritando de raiva.
−Jamesss! Quem você pensa que é?
−Uma pessoa muito mais responsável que você. Mais uma taça e você ia nadar pelada no lago!
− Que exagero!
Quando chegamos ao quarto, ele me jogou na cama e ficou parado me olhando. Fixamente
− Vou dormir na cama ao lado, se não se importar!
− Você sempre dormiu aqui, é seu quarto também! Por que me importaria? Você só sumiu por
cinco anos, mas o quarto continua aqui. É seu!
−Nat… Sinto muito…
−Não, não quero que sinta! Imagine, você foi conhecer o mundo! Aproveitar, é uma escolha sua,
não sinta por isso.
Eu já estava me levantado, e indo ao banheiro antes que as lágrimas me denunciassem quando
ele me puxou para si.
−Eu não estava conhecendo o mundo, Natalie. Eu não estava aproveitando. Eu estava
estudando! Você acha que fiquei em uma festa por cinco anos?
−Eu não acho nada, boa noite!
−Boa noite o caralho!
− James…
Quinto Capítulo
Minha cabeça latejava. Eu não sabia se era melhor permanecer de olhos fechados ou tentar abri-los.
Meu Deus! Parece que minha cabeça irá explodir.
−−Ahh Deus!
− Não culpe a Deus, Natalie, culpe o álcool!
Abri os olhos e a expressão de James era de puro divertimento. Ele estava mesmo rindo do meu
sofrimento?
− Eu estou morrendo aqui, e você fazendo piadas?
− Sabe o q que eu acho?
− Humm?
− Que você nunca ficou bêbada de verdade!
Ele me olhava com deboche. Estava claramente se divertindo com meu sofrimento.
− Como pode ter certeza disso? Eu passei esses últimos anos me embebedando todo fim de
semana?
− Você só pode estar de brincadeira!
Ele gargalhava nesse momento.
− Não estou brincando!
− Natalie, se você estivesse falando a verdade, você saberia que isso que está passando se
chama ressaca!
Quando abri meus olhos novamente, já eram 15 horas da tarde. Minha cabeça não girava mais,
e eu não tinha mais vontade de morrer. Acho que encontrei a cura da ressaca. Dormir até me
cansar!
Levantei-me e fui até o banheiro, precisava tomar um banho e escovar os dentes urgentemente!
Ainda estava com a roupa da noite anterior, ela cheirava a vinho e perfume. A combinação não
era muito agradável. Despi-me e joguei a roupa no cesto. Quando me virei, fiquei paralisada.
−James…
−Merda! Desculpa, não sabia que estava aqui… Merda, eu já vou…
James deixou o banheiro correndo. Antes de bater a porta, o ouvi murmurando algo como “puta
merda”. Acho que fiquei uns cinco minutos parada na mesma posição depois que ele saiu. Ele me
viu completamente pelada e eu não fiz nada. Fiquei ali parada com os olhos arregalados.
Inacreditável! Preciso de um banho. Um banho bem gelado!
Quando desci as escadas, meus pais estavam tomando o café da tarde.
− Nat, está com fome? Tem torradas e chá! − Gritou minha mãe
− Já era hora da patricinha acordar!
E já estava na hora do meu pai me alfinetar.
− Vocês estão sozinhos? − Perguntei
− Estamos sim, por quê, Nat?
− Por nada não. James não está?
− Saiu faz uns 15 minutos, disse que precisava dar uma volta e clarear os pensamentos. Acho
que tem mulher envolvida nisso!− Minha mãe sorriu e piscou pra mim. − Você sabe se tem alguma
garota na vida do seu irmão?
− Sei lá, mãe. Cada pergunta. Como vou saber?
−Tudo bem, não está aqui quem perguntou…
Mas que droga! Ele deve estar se sentindo mal. Deve estar com vergonha. Eu precisava ter dito
alguma coisa, mas não. Fiquei com aquela cara de trouxa olhando para ele.
Mas uma coisa me intrigava. Uma coisa em toda essa situação constrangedora. Eu olhei o tempo
todo em seus olhos. Mas ele não, ele percorreu todo meu corpo com seu olhar. Seus olhos eram
escuros e penetrantes e ele parecia que estava gostando do que via. Eu não acredito que estou
pensando nisso! Eu preciso ocupar minha mente com outra coisa. Preciso dançar.
− Nat? Está me ouvindo? − Meus pais me olhavam com expressão de confusão.
− Está sim! Vou dançar!
− Nat, sua apresentação é amanhã! Não é melhor descansar hoje? E se você se machucar?
Querida fique em casa, descanse!
− Obrigada pela preocupação mãe, mas preciso ir!
Sexto Capítulo
Estava no salão do estúdio há um bom tempo. Suada e descabelada, mas ainda precisava extravasar!
Eu rodopiava sem parar. A música já havia tocado pelo menos umas 15 vezes. Eu estava esgotada.
Emocionalmente e fisicamente e me sentido bem melhor. Assim poderia chegar em casa e capotar. Sem
pensar em mais nada. Sem pensar nele.
− Bravooooo!!! A melhor bailarina da cidade!
Quando me virei, vi Philippe me aplaudindo com um sorriso de canto a canto. Philippe era o filho
do pastor da cidade. Um garoto bonito. Perdi minha virgindade com ele, mas eu não o amava, na
verdade ele era mais como um amigo. Amigo e nada mais. Não me arrependi de ter me entregado
a ele. Arrependime de não ter deixado claro que aquilo seria uma noite e nada mais. Eu não o
amava, mas ele sentia algo por mim. E não me deixava esquecer isso.
−Lipe! Não te ensinaram a bater antes de entrar?
−Hahaha, olá Nat! Está tentando se matar de tanto dançar?
−Está me observando há quanto tempo?
−Bom, eu te vi dançar no mínimo umas sete vezes! Não te falaram para descansar em vésperas
de apresentações?
− Não te ensinaram a não se meter na vida alheia?
−Ok não está mais aqui quem falou!
Peguei minha bolsa, troquei rapidamente minhas sapatilhas pelas sandálias e fui de encontro à
porta de saída. Philippe me fitava com seus olhos castanhos. Ele era lindo, cabelos escuros, olhos
um pouco mais claros, ombros largos e um belo corpo. Mas não foi por isso que eu dormi com ele.
Foi porque ele sempre foi gentil. Gentil até demais.
−Nat, faz tanto tempo que a gente não sai!
−Lipe… Não somos namorados para ficarmos saindo por aí!
−Eu sei, não precisa falar isso toda vez que te convido para sair!
−Desculpe, Philippe… Eu estou nervosa com a apresentação de amanhã. Desculpe se fui rude
com você!
−Tudo bem, eu desculpo se você sair comigo!
−Ah, meu Deus! Você não desiste, né?
−Amigos não saem? Qual é Nat! Um jantar de amigos! Quando você quiser! Nos seu tempo…
Por favor…
−Tá bom, vou tentar, mas não prometo que vou ligar!
−Para mim está ótimo. Quer uma carona?
−Até mais, Philippe.
Sétimo Capítulo
Quando cheguei em casa avistei a pickup de James estacionada na frente de casa. Esperei mais uns
cinco minutos dentro do carro até decidir por descer.
Entrei e vi meus pais no jardim conversando. Subi as escadas e fui direto para o banheiro.
Precisava tomar um banho. Não podia deixar que James me visse descabelada daquele jeito.
Depois de estar seca e com roupas limpas fui para o quarto e o vi sentado na beirada da cama.
Seus olhos estavam baixos. Ele olhava para o chão o tempo todo. Até que decidi quebrar o silêncio
− Pode olhar, James, eu estou vestida!
− Não tem graça, Natalie!
Seus olhos tinham pesar e ele estava se sentindo extremamente mal
− Desculpa! Só queria amenizar o clima!
− Não tem problema, já avisei a mãe e o pai que vou dormir na casa de hóspedes! Isso não vai
acontecer novamente.
−Não! James… Não!
Ele me olhava. Encarava-me esperando o que eu diria a seguir.
−James, não precisa fazer isso! Acontece, vamos esquecer isso!
−Acontece? Vamos esquecer isso? Sério, Nat?
− Fique, não quero que você se sinta mal, só fique, aqui é seu quarto também!
Ele me olhou. Passou os dedos no cabelo e deu um longo suspiro.
− Com uma condição!
− Pode falar!
− Me avise quando você estiver usando a porra do banheiro!
− Fechado!
Oitavo Capítulo
No dia seguinte acordei e James não estava mais na sua cama. Espreguicei-me e fiquei mais alguns
minutos olhando para o teto. Hoje era o grande dia.
A única coisa que me interessava mais que as rosas. Mais que a carreira de administração que
exerci nos últimos anos na propriedade cuidando de toda papelada e burocracia da empresa era
a dança. Essa, sim, me faria sair da cidade, me faria conhecer o mundo e dançar por cada canto
dele. E hoje eu poderia mostrar isso. Meu professor havia me avisado que os três olheiros mais
importantes e da maior companhia de balé estariam na cidade hoje. Eu precisava mostrar o meu
melhor. Eu seria a melhor.
Decidi fazer algo impulsivo, escrever no meu diário pela manhã. Decidi escrever o que estava
sentindo, decidi escrever o que queria que acontecesse neste dia. Não custa nada sonhar!
Não vi James e meus pais o dia todo. James foi resolver um problema com nosso primo na
fazenda ao lado. Não sabia o que era, devia ser alguma encrenca que Michael se meteu. Meus
pais tinham uma importante reunião, mas deixaram claro que estariam na minha apresentação sem
atrasos.
−Nat, você está linda! Uma autêntica bailarina!
−Karen! Que bom que veio!
−Eu falei que íamos juntas! Além disso, alguém precisa te ajudar com esse coque! Parece um
ninho de pombo!
−Hahaha, por favor, me ajude!
Uma hora depois estava no palco esperando as cortinas se abrirem. Espiei pelo tecido e vi meus
pais, Karen, Mike e James. No momento seguinte as luzes estavam em mim! Só pensei em uma única
coisa! Olhe para mim…
Nono Capítulo
*****James*****
Acordei e olhei para o relógio, eram 06h30min. Natalie dormia como um anjo em sua cama.
Como podia ser tão linda e delicada? Abruptamente a afastei dos meus pensamentos. Precisava
pensar em outra coisa. Qualquer coisa, menos nela. Vesti minhas roupas de corrida e meu casaco.
Correr era meu melhor remédio. Se eu estava com raiva ou precisava colocar meus pensamentos
no lugar, a solução era correr.
Passei ao redor de toda propriedade quando avistei de longe Mike arrumando a cerca de
entrada da sua fazenda.
−Não é melhor deixar esse trabalho pra alguém que entenda?
− Cara, meu nome não é James! Eu sei mexer em algo mais do que caneta e papel!
−Tá certo! Mas não é a terceira vez que você mexe nessa cerca, meu?
− Pelo amor de Deus! Eu preciso de ajuda aqui!
−Meu, eu devia filmar sua cara de desespero! Hahaha.
− Vai ficar rindo aí ou me dar uma mão?
− Sai para lá!
Quarenta minutos depois a cerca estava arrumada, ou pelo menos parecia que estava.
− Ela não parece que vai durar muito, cara… James? Tá me ouvindo?
− O quê? A cerca vai ficar bem!
− A cerca pode ser, mas e você? Vai ficar bem?
− Quê? Que pergunta é essa?
− Que pergunta é essa? Que cara é essa? Você parece que tá com a cabeça em outro lugar.
Desde a chegada da Nat… Ahhhh.
−Ahhh o quê?
− Cara, não vai me dizer…
−Não, nada, não tem nada demais, você tá viajando…
− Caso você não se lembre, eu sei o que rola, cara.
− Não rola nada. Você tá louco? Melhor não tocar nesse assunto
−James, você estava bêbado, mas sabia o que estava me contando.
−Você nunca vai esquecer aquela merda?
Uma noite antes de ir para faculdade e ficar cinco anos longe, eu e Mike tivemos a brilhante
ideia de beber até cair. Só que eu não caí. Eu contei. Contei tudo o que eu sentia pela minha irmã.
E o desgraçado se lembra de cada palavra que eu disse.
− Você consegue esquecer aquela merda?
− Bom, a cerca esta em pé, eu vou nessa!
− Cara, eu não acho isso normal, mas eu vejo o jeito que ela te olha.
−Cale a boca, Mike! Nunca mais abra a boca para falar essa merda!
− Falou! Mas da próxima vez, eu te deixo falando sozinho e não dou ouvidos para essas porras
que você fala!
− Eu estou na merda!
− Puta que pariu! Pode começar a falar.
Eu contei. Parece que eu não aprendo nunca. O dia que abri a boca para o Michael, eu tinha
17 anos e estava louco de bêbado. Hoje tenho 22, estou sóbrio e continuo a falar o que não
devia.
− Cara, que foda! Não tenho o que te dizer… Quero dizer, isso é errado meu. Nunca vi isso na
minha vida. Cara, tanta mulher, mas… A Nat?
− Você tá me ajudando pra caralho, sabia?
− Foi mal, mas você viu ela pelada mesmo?
− É melhor você tirar esse pensamento sujo da cabeça!
− Puta merda! Não tô pensando em nada, você sabe que eu curto a Ka! Você está apaixonado
mesmo, laçado!
− Fodido!
Você vai à apresentação dela hoje?
− Claro que eu vou, meu! Imagina…
− A Karen vai com ela, como eu sei que você não quer topá-la nesse momento, espere até às
cinco da tarde. Ela e a Karen vão sair de casa nesse horário, aí você pode se arrumar sem surtar.
−Boa ideia, valeu!
Contei cada segundo no relógio. Às cinco em ponto. Mike me deu uma carona até a fazenda.
Quando chegamos estava tudo escuro. Ele tinha razão, elas já haviam saído.
− Não te falei? A barra tá limpa!
− É, acertou dessa vez!
−Tá chato, hein irmão?!
−Tá, táá…Vamos entrar, não posso me atrasar, se a Karen te ligar fale que estamos na sua
casa nos preparando.
− Falou.
Quando cheguei ao quarto o perfume de Natalie estava forte. Embriagante na verdade. Se
Mike não estivesse lá, eu jurava que ia cheirar o travesseiro dela. Coloquei meu terno enquanto
Mike trocava mensagens com Karen pelo telefone. Parece que eu não fui o único a ser fisgado.
Antes de sair do quarto vi o diário de Natalie em cima da cômoda. Ela nunca o deixava à mostra.
Na verdade, eu nunca tinha visto o diário dela antes. Eu sabia que não podia, mas foi mais forte
do que eu. Abri na data de hoje, foi então que o mundo se abriu, bem debaixo dos meus pés.
− Mas que porra é essa?
− Cara, me diz que isso não é o diário da guria…
− Puta que pariu!
− Cara, você tá me assustando, será que dá pra falar alguma coisa que não seja palavrão?
− Caralhooooo!
Eu não estava acreditando. Eu lia e relia e não podia crer no que ela escreveu
“Eu danço para ele, cada passo, cada salto.
Eu vivo para ele, cada suspiro, cada palavra.
“Meu amor é dele, para sempre ao seu lado, meu querido James”
−Isso não esta acontecendo!
− Cara, eu não te entendo, se você tivesse a porra de um diário, e fosse uma menininha, você ia
escrever a mesma coisa!
− Cale a porra da boca!
−Tá bom, não dessa maneira, porque ia ser meio estranho, mas…
−Cale a boca, Mike!
−Dá para se acalmar?
−Vamos vê-la dançar.
− O quê? Você estava surtando ha um segundo atrás, agora você…
− Eu vou te dizer o que a gente vai fazer, vamos vê-la dançar, depois vamos para o lago
beber!
−Tá bom…
− Eu, você a Karen, ela e a Caroline.
− Não cara, pensa bem…
− Michael, só dirija, porque eu não estou em condições…
− Péssima ideia, James, depois não diga que não te avisei.
− Péssima ideia. Mas ainda assim, é melhor do que a ideia que ela escreveu no diário.
Eu precisava agir rápido. Sabia que iria magoá-la profundamente, mas era a única coisa que eu
podia fazer. Era a coisa certa a se fazer. E eu não iria voltar atrás.
Quando as cortinas se abriram ela estava lá. Sozinha. Brilhava mais que tudo. Ela era de longe
a mulher mais linda que eu vi na vida, e eu fui amaldiçoado por ser o irmão dela. Puta merda!
Quando a musica começou ela encontrou meu olhar e até a apresentação acabar, não desviou os
olhos de mim. Exatamente como escreveu no maldito diário. Era para mim, que ela dançava. Mas
isso ia acabar. E seria esta noite.
Décimo Capítulo
***James***
Durante todo espetáculo, eu só pensava em uma coisa. Uma única coisa. Eu amava a minha irmã.
Amava a minha própria irmã. Eu a amava, como um homem ama uma mulher. Eu sentia atração por
ela. Sentia todo tipo de sentimento, que não poderia sequer pensar em ter. Recordava-me de
quando éramos crianças, de quando a atração não estava presente, mas aquele sentimento
estranho, sim. Um sentimento que fazia sentido. Não era claro para mim, pois era apenas um
menino, mas sabia que havia algo estranho. Claro que eu sempre a tratei com um carinho de irmão.
Um carinho muito protetor. Tanto que as pessoas notavam o tanto de cuidado que eu tinha com a
Natalie. Será que notavam a atração entre nós crescendo também? Será que as pessoas notavam
que nossa relação se intensificava cada vez mais? E o pior, cada dia mais forte. Enquanto aquela
garota, que estava virando a mulher mais linda do mundo dançava naquele palco, comecei a sentir
um aperto no peito. Sentia que eu era a pessoa mais próxima dela, e que se tornaria a pessoa
mais distante também.
Quando Natalie rodopiou no ar no ápice do espetáculo, me recordei de quando éramos
adolescentes, logo no começo da nossa adolescência, quando nos tornamos amigos inseparáveis. É
normal que irmãos briguem e tenham desentendimentos, ainda mais quando se trata de um casal
de irmãos. Uma hora ou outra há algum desentendimento. Não entre nós. Nunca entre nós. O mais
peculiar é que nós não desgrudávamos nem por um segundo. As festas eram as mesmas, os amigos
os mesmos, os gostos então… Nós combinávamos em tudo.
Senti Michael me observando, eu deveria estar com aquela cara de quem comeu e não gostou.
Óbvio, eu estava travando uma batalha interna. Senhor, por que comigo? Logo comigo isso foi
acontecer. Não adiantou ficar com as garotas mais lindas da escola ou da faculdade. Não
adiantou transar com elas. Nunca adiantaria, e eu sabia a resposta. Eu amava a única mulher que
não poderia ter. Eu a amava mais que tudo. E isso doía demais. Eu não suportaria vê-la com outro
homem. Mas me recordando agora, ela também não poderia me ver com outras. Se ela sentia o
mesmo que eu. Se ela sentia aquilo tudo que escreveu no diário. Se, ela me visse com outra mulher,
isso a machucaria profundamente. Essa era a única maneira de me distanciar dela. A única
maneira de fazer a minha menina me odiar. Só de pensar nisso começo a sentir uma ânsia, um
enjoo. Mas era a única maneira. Precisava me afastar. Mesmo que isso fosse a infelicidade de toda
minha vida.
Será que é isso amar de verdade? Machucar a pessoa e se machucar? Claro que não. Para
pessoas normais não. Mas para nós. Para mim, e para Natalie seria isso. E, se é verdade o que
falam, que o tempo cura tudo. Um dia ela me esqueceria, e eu também.
Ahhh Deus, quem eu estou querendo enganar? Nunca vou esquecê-la. Por mais que eu me afaste,
que eu a machuque. Meu coração sempre será dessa mulher incrível que infelizmente é minha irmã.
Senti um braço pousando no meu ombro esquerdo, me fazendo voltar à realidade, e afastando
todas as recordações que tive por um instante.
− Cara, você não parece nada bem, quer dar uma volta lá fora? Tomar um ar, talvez?
Michael estava com uma cara de assustado e de pena ao mesmo tempo. Será que eu estava
dando tanta bandeira assim? Acho que não, eu estava só pensando imóvel na cadeira.
− Eu tô legal!− Foi o máximo que eu consegui responder. Que lixo de resposta. Se a minha
intenção era não dar na cara que eu estava surtando, eu estava fazendo errado.
− Cara, você está chorando! Você não está nada bem. Escuta-me, vamos tomar um ar até você
se recompor.
Mas que merda! Como que isso foi acontecer? Eu nem notei que estava com o rosto molhado.
Maldição. Olhei em volta por um instante, procurando saber se havia alguém me observando.
Graças a Deus que ninguém havia notado. Enxuguei o rosto com a manga da camisa, respirei
fundo e ajeitei o cabelo para trás. Fiquei por um instante com as mãos na nuca tentando
estabelecer uma forma de explicar essa merda para o Michael. Quando virei em sua direção para
inventar qualquer droga de desculpa, eu simplesmente desisti. Posso mentir pra qualquer um. Até
pra mim mesmo, mas ele me conhece. Meu melhor amigo que conhece todos meus podres da vida.
Não vale a pena mentir para ele.
− Eu estou no inferno, Mike!
− Porra! Você sabe que não há nada que eu diga agora né? Sabe que essa merda é errada e
que o que você está pensando em fazer é uma merda mais errada ainda certo?
− Certo. Mas vai ser assim. Não posso mais com isso cara. Não aguento.
− James, só se acalma e não faça nada de cabeça quente cara. Eu vou ficar do teu lado. Só
não seja um desgraçado com ela.
Aquilo que ele acabava de me dizer, me fez revirar o estômago. Era exatamente isso que eu ia
fazer. Eu seria um desgraçado com ela. Mas era isso, ou eu teria uma recaída um dia. Imagine eu
agarrando a Natalie. Ela precisava ficar longe. Ela precisava me odiar.
− Só, aceite a minha decisão, Mike.
−−É isso que eu vou fazer. Aceitar cara, porque você é meu primo. Meu melhor amigo. Mas não
pense que eu concordo com essa droga de plano sujo. Em tentar afastar a Nat desse jeito.
− Para mim é o suficiente. Você aceitar e não abrir o bico pra ninguém.
Senti que Mike ia me falar alguma coisa, mas desistiu de última hora. Ele era assim. Percebi toda
essa história o afetara também. Ele se importava de verdade comigo. Mas hoje ele estava triste
pela Natalie, e não por mim.
****Natalie*****
Quando a música acabou e as cortinas se fecharam, eu senti que ia desmaiar. Meu coração
estava acelerado e eu não parava de pensar nele. Em como ele me olhou durante todo o
espetáculo. Não tirou os olhos de mim. Será que ele sabia que era para ele que eu dançava?
Claro que não. Como poderia saber? Como ele poderia imaginar o absurdo que eu sinto por ele?
Ele estava somente assistindo o espetáculo. Mas é que às vezes eu sentia que ele me olhava com
adoração. Na verdade era nisso que eu queria acreditar. Eu queria me agarrar a qualquer coisa
que me faça acreditar que ele sinta o mesmo que eu. Que ele sinta o mínimo de atração por mim.
Não somente amor e cuidado que um irmão sente pelo outro. O que eu queria era errado. Eu
queria que James me desejasse. Que ele me quisesse da maneira que eu o desejo.
Fiquei parada por um instante, ouvindo somente os aplausos que se tornavam cada vez mais
fracos. Fechei os olhos, tentando realinhar minhas ideias. Eu estava cada dia mais entregue a esse
sentimento. Ao amor platônico que sentia desde pequena por James. O problema é que agora
esse sentimento se intensificara. Eu não estava conseguindo mais disfarçar como antes. Eu estava
mais avoada. Não conseguia pensar direito, nem dormir sem antes pensar nele. Em como seria, se
não fossemos irmãos.
Por várias vezes eu me peguei pensando em coisas idiotas. Ideias absurdas que nunca iriam
acontecer. Mas mesmo assim eu pensava. Pensava em como seria, se não fossemos irmãos. Eu
criava histórias na minha cabeça, criando um enredo em que James fosse irmão da Karen, e eu o
conhecesse a partir daí. Como seria se nós fossemos pessoas sem nenhum laço sanguíneo. Será que
ele sentiria vontade de ficar comigo? Será que ele me olharia como uma mulher, e não como sua
irmãzinha?
Na saída fui recebida com flores e parabéns de todos os lados, tentei avistar James no meio da
multidão, e o encontrei conversando com Caroline. Não entendi o que ele estava fazendo com ela.
Caroline eu nunca nos demos bem. Ela sempre foi apaixonada por James e nunca gostou de mim.
− Nat, você foi maravilhosa!
−Ahhh, obrigada Ka!
−Está tudo bem? Que cara é essa?
− O que James está fazendo com Caroline?
− O quê? Ah sei lá, ela deve estar tentando alguma coisa com ele, para variar…
Imediatamente olhei para Karen e meus olhos se encheram de lágrimas. Karen era minha melhor
amiga. E a única que sabia do meu segredo. Por anos ela tentou tirar isso da minha cabeça, até
que desistiu. Agora ela só me escuta.
− Nat, ele nunca olhou para ela! Fique tranquila
− E aí, vamos beber?
Michael me tirou dessa neura de pensamentos me trazendo para realidade. Talvez fosse disso
mesmo que eu precisasse. Um bom porre.
James não falou comigo durante todo o caminho de volta. Não tinha muito que me dizer, mas
pelo menos um parabéns ou você foi bem, ou até mesmo um nada mal era melhor que o silêncio.
−Quando descemos do carro decidi que ia acabar com aquele silêncio.
−James? O que achou?
− Legal você foi bem!
O quê? Só isso, quando me dei conta ele já havia se virado e ia de encontro ao lago. Senti as
mãos de Karen me guiando pelo jardim, e quando cheguei aos cobertores estendidos, não
acreditei no que vi. Caroline e James. Ela estava no colo dele enrolada em seu casaco, segurando
seu rosto e o beijando vergonhosamente. Eu queria morrer. Não. Eu queria primeiro vomitar, e em
seguida, morrer. Mas não fiz nada fiquei só olhando. Durante a noite inteira.
Eu me sentia oca pela primeira vez na vida, sabia que ele já havia ficado com outras mulheres,
mas ver isso era diferente. Só sentia tristeza e decepção. Sentia−me traída, burra por pensar que
algum dia meu irmão me olharia diferente. O problema era na minha cabeça, e não deixaria isso
mais me afetar. Estava bêbada, mas sabia o que eu queria, peguei meu celular e liguei para a
pessoa que ficaria comigo sem pensar duas vezes. Philippe.
−Philippe?
−Natalie? Esta tudo bem? São duas horas da manhã…
−Lembra que você pediu para eu te ligar quando estivesse afim?
−A fim? Natalie, você está bêbada?
−Venha para minha casa! Estou morrendo de saudades de você!
Quando me dei conta, o celular foi arrancado da minha mão. James me olhava com raiva. Ódio,
na verdade.
−Philippe?
−James? Pode me dizer que brincadeira é essa?
− Eu quero que você preste muita atenção, porque eu vou te falar uma única vez! Se você
chegar perto da Nat, eu juro que arranco o seu pau fora! E estou pouco me fodendo se você é
filho do pastor!
Eu estava olhando horrorizada para James. Se não fosse suficiente o vexame que eu estava
passando, ele pegou meu celular e atirou no lago!
− Seu idiota! Eu te odeio!
− Não. Você não odeia!
−Odeio você com todas as minhas forças! Você acabou de estragar meu celular!
− Você compra outro! Eu te fiz um favor!
−Favor? Você está louco?
− Você que está louca! Ligando para o cara a essa hora, você queria o quê? Dar para ele,
Natalie?
− Para sua informação… Eu já dei para ele…
James ficou imóvel, me fuzilava com o olhar. Seu maxilar estava tenso e ele abria e fechava as
mãos sem parar. Parecia que perderia o controle a qualquer momento. E eu não estava nem aí.
− Ué… Ficou sem fala agora?
− Você está falando como uma prostituta!− Ele dizia cada palavra pausadamente. Sabendo o
quanto aquilo me atingiria.
Aquelas palavras me acertaram em cheio. Antes de terminar a frase, minha mão estava na cara
dele. O tapa foi com toda a força que eu sentia, mas pareceu que a força foi em vão. Ele não
sentiu nada.
−Natalie, entre agora!
− Vá se ferrar! Quem você pensa que é?
−A porra do seu irmão!
−Foda-se!!! Você quer ficar a sós com a vagabunda? É isso???
Ele agarrou meus braços e chegou bem perto do meu ouvido. Senti sua respiração ofegante. Eu
sabia que quando ele fazia isso, é porque estava pensando em cada palavra que ia me dizer.
− A vagabunda vai para casa agora! E nós dois vamos conversar!
James me soltou e chamou Michael. Nos momentos seguintes, ele pegou Karen e colocou no carro
enquanto tentava desesperadamente tirar Caroline da nossa frente. Depois de cinco minutos, tudo
ficou em silêncio, e ele me olhava de cima a baixo.
− Não precisava fazer isso, pode ir foder com ela! Não me importo!
− Olha a boca, Natalie!
− Foda-se! Você trouxe essa vadia para nossa casa! Esse lago era nosso, nos só convidamos a
Karen e o Michael, e agora você fodeu com tudo isso!
− Eu li a merda do seu diário, sabia?!
De repente eu fiquei muda. Eu achei que a situação não podia piorar, mas sempre tem uma
maneira… Por isso que eu o senti me olhando de uma maneira estranha enquanto eu dançava.
Aquilo não era coisa da minha cabeça. Aquela sensação dele saber que eu estava dançando para
ele. Na verdade ele sabia. Sabia que o espetáculo era somente para ele.
− Como você pôde?
− Natalie, o que está escrito lá! Isso é proibido, no que você estava pensando?
− É claro que é proibido! É a porra de um diário, seu imbecil!
− O que está escrito lá… Desde quando… Desde quando você sente isso?
− Vá se ferrar, James!
Ele me segurava, agarrava-me junto ao seu corpo. Estava quente e tenso. Eu podia sentir cada
músculo do seu abdômen e dos seus braços.
−Eu vou te perguntar mais uma vez, e espero que você me responda… Desde quando?
−Isso importa?
−Desde quando, caralho?
−Sempre! − A voz saiu mais alta do que eu esperava. Ele tinha acabado de arrancar a
verdade da minha boca.
***JAMES***
Onde é que eu estava com a cabeça? E o plano de fazê-la me odiar? Eu não presto pra nada
mesmo. Estou sendo fraco. Estou cedendo pela atração e pelo desejo pela Natalie. Não, eu estou
cedendo pelo amor que sinto por ela. Um amor incontrolável. Quando cheguei até aqui com a ideia
de fazê-la sentir raiva de mim, de fazê-la sentir até nojo. Porque da maneira que eu estava com
Caroline, era isso que ela devia sentir por mim. Repulsa, por eu estar me esfregando com aquela
outra garota. Mas acho que ela era fraca como eu. Ela não conseguia me odiar de verdade, não
conseguia ficar longe de mim. Era como eu, nunca conseguiria se afastar. Eu sabia que o que
estava prestes a fazer era a coisa mais errada do mundo. Era proibido e ilegal. Mas sabe o que
mais? Eu não estava nem aí. Não hoje. Hoje eu queria tê-la em meus braços. Hoje o meu desejo se
concretizaria. Hoje eu teria a coisa que mais desejava na vida. Hoje eu teria a minha irmã. Hoje eu
seria dela e ela se entregaria a mim. Sem rodeios, sem conversas. Não daria brecha para um
possível arrependimento. Sabia que era inevitável o que sentiria depois, mas não queria correr o
risco de me acovardar agora. Eu iria somente confirmar se era isso que ela queria mesmo. Eu só
precisava da sua permissão. Precisava somente do seu SIM.
Apenas por uma noite.
Décimo Primeiro Capítulo
***Natalie***
James me segurou nos braços e me levou até a casa de hóspedes. Quando chegamos ao quarto,
ele me prendeu na parede. Minhas costas só não encostavam-se a ela, porque havia uma mesa me
segurando.
− 14 anos
− O quê?
−Desde os 14 anos eu penso em você!
−James…
O que estava acontecendo entre nós parecia um sonho. Não, pareciam aquelas histórias
miraculosas que eu inventava na minha cabeça. Eu não estava acreditando que estávamos tendo
essa conversa. Será que chegou a hora? A hora que eu tanto esperei? É engraçado, que nós
ensaiamos tantos diálogos na nossa cabeça, mas na hora que eles realmente acontecem, nada sai
como o esperado. Eu estava pálida e me sentia uma idiota. Não sabia o que dizer. Eu não queria
fazer papel de boba. E no momento eu me sentia estúpida. Então decidi ficar calada e ficar
encarando-o. Uma simples atitude covarde, mas era o melhor que eu podia fazer no momento.
− O que a gente vai fazer não pode sair daqui, ouviu?
− Está bem… − Minha voz saiu como um sussurro.− O que será que ele quis dizer com o que
vamos fazer? Será que vamos nos beijar?
− Eu preciso que você fale, Natalie! Você me entendeu?
− Eu entendi!
− Se você quiser que eu pare, me avise. Seu eu te machucar, preciso que você me fale na hora,
você me entendeu?
− Não vai me machucar…
Agora eu sabia o que ele estava querendo dizer. Isso ia acontecer. Nós. Depois de tantos anos…
Nós vamos acontecer.
− Você me entendeu, Natalie?
− Sim…
Seus lábios colaram nos meus, no primeiro momento foi um beijo casto, até que James abriu a
boca e sugou meu lábio inferior. Ele me devorava. Sua língua invadia cada canto da minha boca.
Ele me mordia ferozmente e eu sentia seus gemidos quando sua ereção friccionava minha barriga.
A vida inteira eu sonhava em como isso seria. Em como seria beijá-lo. Posso dizer que não chegou
nem aos pés, do que eu imaginei. Era muito melhor que isso. Era grandioso.
− Deus! Como eu sonhei com isso!
− James… Eu o puxava mais ao meu encontro e sentia que ele estava sofrendo por ainda estar
com as roupas.
− Erga os braços!
− Erguer?
−Vamos, erga os braços!
Fui obediente e ergui meus braços como ele ordenou. James puxou meu vestido por cima da
cabeça e atirou no chão. Eu estava somente com as sapatilhas e os brincos de pérolas que ele
havia me dado no dia do meu aniversário. Eu nunca o vi dessa maneira. Seus olhos eram famintos.
Ele me encarava com um ar de predador. O irmão amoroso e gentil ainda estava ali, mas em
segundo plano. O que estava tomando conta no momento, era um James mais maduro. Um homem.
Um dominador em certo ponto. Ele apenas confirmou o que eu realmente queria. Teve o cuidado de
saber se era isso que eu desejava. Ele só precisava da minha permissão. O que ele não sabia, é
que ele sempre teve.
− Deus! Como você é linda! Você é tudo que eu sempre quis!
−Jura?
− Se, eu juro? Nat, você é minha fantasia…
− Sua fantasia?
− Sempre fantasiei com você. A vida toda… E agora com você assim, vestindo só as sapatilhas
de balé e os brincos de pérolas… Meu Deus!
− E vai ficar só olhando?
Eu estava me sentindo totalmente ousada tendo esse diálogo com ele. Mas dane-se. Era o que eu
mais queria. E eu iria usufruir de cada instante. De cada momento. Sem arrependimentos.
Sua boca estava colada na minha, se afastando o mínimo possível para responder minhas
perguntas.
− Não Nat… Eu vou comer você também…
Sua boca devorava meu seio direito enquanto sua mão fazia movimentos circulares e beliscava
meu mamilo esquerdo.
−Ahhh, Jamessss!
− Fala, fala para mim o que você está sentindo… Fala amor…
− Me coma… Só… Me coma…
− Desde quando você ficou tão boca suja? Peça mais uma vez que eu não terei como te dizer
não…
Cheguei bem perto do seu ouvido, mordi sua orelha e sussurrei… − Me coma, por favor!
−Aaaahhhh, abra essa camisinha enquanto tiro as calças.
Abri o pequeno envelope metálico, James atirou a calça para longe e olhou nos meu olhos antes
de colocar a camisinha.
− Olhe para baixo, Natalie, quero que veja ele…
Umedeci o lábio inferior e baixei meus olhos para seu pênis. Meu Deus, era enorme! Eu sabia
que James era grande e seu pau devia ser proporcional, mas não esperava por isso.
− Gosta do que vê?
− É enorme…
−Você que deixa ele assim… − Ele pega minhas mãos e me faz senti-lo. Começo a massagear
seu pau de cima a baixo e o ouço arfar.
−Ahhh Natalie, se você continuar vou gozar na sua mão! E a gente não quer isso, quer?
− Não…
− Então o que você quer? Eu não vou encostar um dedo em você se você não me falar…
− Eu… Eu quero você…
− Me quer onde?− James abriu minhas pernas e passou seus dedos por toda minha buceta me
fazendo gemer.
− Ahhh, James…
− Está bom assim?
− Ahhhhhhh, Deus!
− Natalie, me responda está bom assim?
− Pode ficar melhor!
−Hahahaha, tudo bem! − James passou seu dedo em sua boca e desceu até minha entrada, e
suavemente o enfiou dentro de mim.
Eu só sabia gemer.
− Assim está melhor?
− Bem melhor, não pare… Aahhhh…
Sem pedir ele enfiou um segundo dedo e começo a rodopiar dentro de mim. A sensação era
única eu sentia que podia gozar a qualquer momento, mas subitamente ele tirou os dedos de mim
me deixando vazia por dentro.
− Segure essa mesa. Com força. E não solte. Somente se eu mandar!
Obedeci e agarrei os cantos da mesa, James me puxou para perto dele e abriu minhas pernas
me deixando totalmente aberta.
− Como você consegue ser tão gostosa? Está molhada assim para mim, Natalie?
− Ahhh, James eu não aguento mais!
− Então peça!
− Transe comigo!
− Não Natalie! Eu não vou transar com você! Vou fazer amor! Forte e gostoso! Você quer?
− Mais que tudo!
Com uma única estocada ele estava dentro de mim, e eu gritei seu nome. Ele parou
abruptamente e me olhou assustado!
− Nat, eu te machuquei!
− O quê? Não, é que eu nunca senti tanto prazer na vida!
− Então se prepare! Que você não viu nada ainda!
Seu sorriso malicioso e seus gemidos roucos estavam me enlouquecendo, ele dava investidas
cada vez mais rápidas e fortes, e não desviava dos meus olhos um segundo sequer. Quando eu
disse que ia gozar, ele segurou as duas mãos em volta do meu rosto e me fez o pedido que me
faria desmoronar a seguir.
− Goza comigo? Vem gozar comigo, Nat… Vem… Ahhhh… Merda!!!
Eu ainda estava tremendo pelo gozo intenso que me consumia. James ainda estava dentro de
mim. Sua respiração estava começando a se normalizar. Ele lentamente foi saindo do meu corpo.
Levantou-se e foi jogar a camisinha no lixo. Voltou com uma toalha úmida e começou a me limpar.
−James, não precisa…
−Eu quero me deixa fazer isso!
− O que a gente vai fazer?
Seus olhos se estreitaram e eu senti angústia e pesar no seu olhar.
− Eu não sei!
− Você vai me ignorar depois disso?
−Nat, o que a gente fez, eu não quero pensar nisso agora.
−Tudo bem…
−Vou dormir aqui hoje!
−James, por favor!
−Natalie, eu preciso ficar longe de você. Ou eu vou te comer a cada cinco minutos naquele
maldito quarto!
−Tá legal…
Antes de deixar o quarto, ele me puxou e me beijou profundamente.
− Durma bem, amor…
−Boa noite, James…
Décimo Segundo Capítulo
Quando a porta se fechou, encostei-me nesta que estava gelada, e falei para ninguém ouvir - te amo
amor. Não sei se foi fruto da minha imaginação, mas parece que ouvi um - eu também - do outro lado.
Chovia lá fora, e eu escutava os pingos de água atingirem a janela do quanto. Será que foi um
sonho? Quando me virei na cama, sentime dolorida. Encostei minha mão na parte da frente da
calcinha, estava inchada. Com certeza não foi um sonho. Isso realmente aconteceu. Eu não sabia se
chorava de alegria ou de tristeza. Como ia lidar com isso? Como ia encarar James novamente? Por
hora eu precisava de um banho e de uma boa xícara de café.
Meus pais não estavam em casa, era quase meio-dia e tinha luzes acesas na casa de hóspedes
onde James passou a noite. Vesti minhas galochas e peguei a sombrinha. Eu não podia esperar,
precisava vê-lo. Precisava ouvir da boca dele o que a gente faria depois da noite com sexo.
Quando cheguei à porta, pensei em bater, mas senti que ela não estaria trancada. Girei a
maçaneta e estava certa. A porta se abriu. Entrei e tranquei o lado de dentro. As luzes estavam
acesas, mas não ouvia James, resolvi me anunciar.
−James? Está aí?
Silêncio.
Cheguei à entrada do quarto e o vi deitado. Ele estava de bruços, dormindo como um anjo.
Cheguei mais perto e pude ouvir o som da sua respiração. Ele estava calmo e tranquilo. Eu poderia
ficar o dia todo o vendo dormir. Corri meus olhos por seu corpo e notei que ele estava nu. O lençol
de linho branco cobria somente a parte de sua bunda e pernas. Minha vontade de tocá-lo estava
ficando insuportável. Sentei na beirada da cama e corri meus dedos por suas costas. Ouvi-o
resmungando algo, mas ele ainda dormia profundamente. Cheguei perto de seu ouvido enquanto
fazia carinho ao redor do seu pescoço e cabelo.
−James?
− Hummmmm…
James? Acorde… Querido…
− O quê… Natalie?
Rapidamente ele se virou e me olhou incrédulo, parecia que não estava acreditando que eu
estava fazendo ali.
− O que você está fazendo aqui?
Antes de responder sua pergunta percebi que quando ele se virou, não puxou todo o lençol. Seu
pênis estava ali, exposto e eu não parava de encará-lo. James percebeu e em seguida se cobriu.
− Será que você pode olhar para mim e não para o meu pau?
− Eu quero falar com você.
− Você quer falar comigo? Tudo bem… Mas podia ter batido antes de entrar, não acha?
− Você não trancou o quarto, não foi culpa minha, e eu vi luzes, achei que já tinha se levantado!
− Eu desmaiei depois da nossa noite, nem me lembrei de apagar as luzes, elas ficaram assim a
noite toda.
− Certo…
− E?
− E…
−Natalie, o que mais você quer conversar?
Eu não sabia por onde começar. Parecia tão fácil chegar lá e dizer tudo que eu sentia, mas não
foi como o planejei. Estava envergonhada e arrependida por tê-lo acordado daquela maneira.
− Natalie?
− Nada, foi um erro, me desculpa vou… Eu vou indo…
Quando me levantei senti um puxão no meu braço no momento seguinte James estava em cima
de mim, me olhando fixamente a poucos centímetros da minha boca.
− Natalie, você veio até aqui, para me avisar que as luzes da casa estavam acesas?
− Hummm… Não…
− Então? Sou todo ouvidos…
− Eu queria te ver…
− Bem, está me vendo não está?
− Sim…
− Está satisfeita?
− Por hora…
− Por hora? − Ele soltou uma risada leve e então ergueu uma sobrancelha.
Silêncio.
− Natalie… O que você quer de mim?
James me olhava com ternura e desejo ao mesmo tempo. Seu cabelo estava bagunçado e caia
nos olhos, e a barba rala o deixava ainda mais sexy, eu não conseguia resistir. Agarrei seu
pescoço e colei meus lábios nos dele. Mordi sua boca e ele enfiou a língua no fundo da minha,
invadindo cada canto dela, como na noite anterior. Quanto mais eu o beijava, mais ele retribuía,
passando suas mãos ao redor da minha cintura até chegar ao interior das minhas coxas.
Subitamente, ele largou da minha boca e me olhou seriamente.
− Natalie, eu preciso que me diga, você tem que falar comigo…
− Pensei que tivesse respondido…
−Não, Natalie, você me beijou, não respondeu minha pergunta…
−Você quer a verdade?
−Algum dia eu pedi a mentira?
Respirei fundo e criei coragem para dizer tudo que eu sempre quis.
− Eu quero você, quero você agora, quis você ontem e não queria que você tivesse me deixado
a noite. Te quero o tempo todo. Quero com toda força que alguém possa querer outro alguém!
Os olhos de James estavam arregalados e sua boca levemente aberta. Ele arfava e por um
minuto achei que fui longe demais e o assustei.
Então ele se aproximou de mim. Estava a centímetros da minha boca. Senti seu hálito fresco
contra minha pele.
− Você me terá hoje, você me teve ontem, e antes disso, Nat, você já me tinha…
Quando James terminou a frase, suas mãos já estavam na minha calcinha. Ele puxou a seda
para o lado e escorregou dois dedos para dentro de mim.
−Ahhhhhhhhh, meu Deus!
−Não é Deus, Natalie… Sou eu… James… − Ele sorria contra minha pele.
Ele sussurrava cada palavra. Sorria com os olhos e com aqueles dentes perfeitos. Eu não sabia
por quanto tempo ainda podia suportar.
Ele usava aquele sorriso que podia desfazer uma guerra ou iniciar uma. Era a perdição e eu
estava completamente entregue a ele.
− Está gostando, meu amor?
Seus dedos faziam movimentos de “venha cá”, dentro de mim. Ele estava me deixando
completamente maluca. Adorava quando falava com ternura, me chamando de meu amor.
− Não pare… Por favor… Só não pare…
− Não vou parar, eu vou fazer coisas melhores com você, Nat…
Melhor que isso? Quando percebi James estava no meio das minhas pernas beijando minha
virilha delicadamente. Abriu minhas pernas o máximo que pôde e ficou ali me observando por um
minuto. Eu estava completamente exposta e aberta. Aberta de corpo e alma para o único homem
que amei nessa vida. E nesse momento não interessava o que ele era pra mim, mas o que
significava.
− Deus, você é tão linda, e está tão molhada! Fui eu quem te deixou assim, linda?
− Sim − Minha voz saia rouca e falhada, eu não estava aguentando estar nessa posição sem
que ele me tocasse.
− Bom, vejamos se eu consigo te molhar mais…
O sorriso dele sumiu no instante que ele abocanhou minha boceta chupando meu clitóris com
força. Eu arquei minhas costas para trás e gritei de prazer. Quanto mais ele me chupava, mais eu
chegava perto do clímax.
−Aaahhhh, James… Aahhh…
− Sabe com o que eu sonhava?
− Com quê?
− Com você gozando na minha boca! Você pode fazer isso para mim, Natalie? Pode gozar na
minha boca, meu amor?
−Jamessss!!! Eu… Estou quase gozando em você…
− Então goze! Goze pra mim, amor… Você é tão gostosa, como pode ter um gosto tão bom,
Nat? Como pode ser tão perfeita? Bom pra caralho…
Senti que ele sorria no meu clitóris, enfiando agora três dedos de uma só vez. Começando um
vai e vem delicioso. Sua barba por fazer deixava minha região mais sensível ainda, e eu
precisava me lembrar de dizer a ele para nunca mais fazer aquela barba.
− Ahhhhhhhh − Explodi num orgasmo forte e intenso. Meu corpo tremia todo. Eu estava num
êxtase sem fim. Estava no céu.
− Agora posso entrar em você?
− James, não precisa me pedir…
− Não preciso pedir, é? Nunca mais?
− Nunca!
−Abra a gaveta!
Virei-me e abri o pequeno criado mudo ao lado da cama, mas parei em seguida. James sugava
com vontade meu mamilo enquanto massageava o outro.
− Hummmm…
− Natalie… Pegue o preservativo…
− Não consigo…
− Não consegue? E por que não consegue?
− Porque você me deixa louca…
−Tá certo… Parei. Agora pegue a porra da camisinha antes que eu meta em você sem nada.
−Hummmm, deve ser bom!
−Natalie… Não brinque comigo!
Alcancei o pequeno envelope, rasguei e entreguei a ele.
− Não quer colocar?
− Eu? Eu… Nunca coloquei…
− Bom, se quiser tentar… Estou aqui, Nat. Ajudo você.
Segurei o preservativo e coloquei na ponta do seu pau, ele passou suas mãos ao redor das
minhas, e me orientou em todo o processo. Sempre sussurrando o quanto eu era maravilhosa.
Dizendo o quanto me desejava. Quando terminei de colocar, ele me jogou novamente na cama.
− Segure na cama! E não solte.
Obedeci e coloquei meus braços a cima da cabeça agarrando a cabeceira de metal.
− Hoje vou te comer com força! Se quiser que eu pare, me fale, entendeu?
− Sim… − Eu estava quase sem voz, mas acho que ele conseguiu me entender.
− Ótimo! Porque quando você me acordou hoje cedo, eu estava sonhando com você. Sonhando
que te comia assim!
James envolveu minhas pernas em seus ombros me deixando totalmente vulnerável. Ao mesmo
tempo colocou suas mãos ao redor das minhas segurando forte. Quando me penetrou, senti que
estava completa novamente. Ele ficou assim por alguns segundos de olhos fechados, paralisados
dentro de mim. Depois começou a se mexer, primeiro suave depois suas investidas se tornaram mais
secas e rápidas. Agora ele me olhava fixamente e gemia a cada estocada.
−Ahhhhh, Nat!!!
−James… hummmmmmmm
−Ahhhh, olha pra mim, fique olhando pra mim… Não desvie o olhar do meu!
Eu não tirei os olhos dele um minuto, não desviei o olhar do dele por um segundo. Quando
percebi que estava quase chegando ao clímax, ele parou subitamente.
− Natalie?
Sua voz era um sussurro.
− James?
− Como posso te amar tanto assim? Como você fez isso comigo?
− Eu te amo!
− Eu amo mais!
Gozamos juntos. Quando paramos de tremer, James e eu ficamos como na noite passada.
Deitados, ele dentro de mim, por um bom tempo. Até ouvirmos o som de um motor de carro. Ah,
meu Deus! Mamãe e papai!
− Droga, Natalie, você trancou a porta?
− Sim! Pare de gritar comigo!
− Só se vista, está legal?
Juntei meu vestido do chão, coloquei as botas e arrumei meu cabelo num rabo de cavalo caído.
Olhei no espelho e estava apresentável, não estava com cara de quem acabara de trepar.
− Eles estão entrando, vá se, perguntarem, você estava dando uma volta no quintal.
Dei meia volta e fui até a entrada, mas antes de abrir, senti seus braços me puxando e me
virando para um beijo repleto de desejo. Quando o beijo cessou, ficamos por um momento nos
olhando sem dizer nada.
−Agora vá! Suma daqui!
Sorri e saí pela porta em direção à casa principal. Nossos pais não perguntaram nada, nem
quando cheguei com as botas cheias de lama pela casa, estavam ocupados demais discutindo
sobre o novo fornecedor. Agradeci por isso. Entrei no quarto e pensei em tomar uma ducha, mas
não queria tirar o cheiro de James de mim.
Décimo Terceiro Capítulo
Eu não estava no meu juízo perfeito. O que estávamos fazendo era completamente errado e
ilegal, mas eu não conseguia resistir, e há um dia descobri que ele também não conseguia. Peguei
meu diário e resolvi escrever. Coloquei tudo o que eu sentia e dessa vez o tranquei e coloquei na
escrivaninha. Estava exausta, nunca tinha experimentado uma maratona de sexo antes, e não fazia
ideia do quanto isso cansava. Resolvi me deitar um pouco e tirar um cochilo.
Ao acordar, e já estava escuro lá fora. O céu estava estrelado e parecia que a chuva ia dar
uma trégua.
Esfreguei os olhos e olhei pela janela. Havia luzes no quarto de James. Desci as escadas e
encontrei um bilhete no lado de dentro da porta.
“Fomos jantar com futuros possíveis fornecedores.
Tem comida na geladeira, não nos espere acordada.
Com amor, Rosa”
Minha mãe sempre deixava bilhetes para mim, mesmo que fosse para ir só até a padaria.
Abri a geladeira e senti vontade de comer apenas uma maçã e tomar um copo de suco de
laranja. Fui até a sala e me esparramei no sofá. Abri a parte da cortina e fiquei encarando a casa
de hóspedes, onde estava a pessoa que eu me entregara de corpo e alma.
Terminei a maçã e o suco já fazia umas duas horas, e nada do James sair daquela casa. Será
que ele estava me esperando? Será que ele esperava que eu fosse lá? Que eu o encontrasse
novamente? Só tinha uma maneira de saber. Vesti minhas calças e uma regata branca. Coloquei
minhas botas e saí em direção ao lago.
Quando cheguei perto da casa, ouvi vozes do outro lado. Era Michael. Eu sabia que não devia
escutar atrás da porta, mas foda-se, ele leu o meu diário. Eu tinha esse direito. Prestei atenção ao
máximo tentando com que a chuva não atrapalhasse, mas o que ouvi foi a pior coisa que eu
poderia escutar.
− Não, Michael! Eu não vou ficar com ela. Ela é minha irmã! O que eu fiz não tem perdão! Não
tem perdão
− Cara, você não pode simplesmente sumir! E seus planos de construir um escritório e advogar
aqui na cidade?
De repente meu mundo desabou. Parecia que o chão estava se abrindo e eu caía lentamente
para o fundo deste terrível pesadelo. Mas não era um pesadelo. James estava realmente falando
tudo isso. Eu não acredito no que estou ouvindo! Ele falou em sumir? Quer dizer que o plano dele
era transar comigo e sumir? Não. Não pode ser. James não era assim. Eu o conheço. Ele não podia
fazer isso comigo! Por favor, Deus, que eu tenha escutado errado!
− Planos, Mike? Sério? Isso fodeu com qualquer plano, eu não consigo olhar para a cara dela.
Vou pegar minhas coisas e sumir hoje à noite, não posso vê-la nunca mais!
− Cara, se acalma, esfrie a cabeça!
− Porra, Mike, nossos pais chegaram e ela estava pelada em cima de mim! Pelada em cima de
mim! Imagina se eles entrassem aqui! Puta que pariu!
Eu não podia escutar mais nenhuma palavra. Ele me destruiu! Destruiu-me por inteiro, e eu nunca
mais me recuperaria! Mas eu sabia exatamente o que deveria fazer daqui para frente.
James chegou à cidade com um plano, e eu acabei com isso. Eu tirei isso dele. Se não fosse pelo
meu diário, estaria tudo bem. Não farei mais isso com ele. Eu preciso ir. Preciso sumir o mais rápido
possível, antes dele. Juntei algumas mudas de roupas, meus cartões e documentos. Antes de entrar
no carro e deixar minha vida para trás, resolvi deixar uma ultima lembrança. Uma carta. E então
sumi.
Décimo Quarto Capítulo
****James*****
Eu não podia mais com aquela situação. No que eu estava pensando? Meu Deus, eu transei com
minha irmã! Isso não está nem perto das merdas que eu já fiz. Eu juro que vou me amaldiçoar pelo
resto da minha vida.
− Quando um não quer, dois não fazem!
− Suma da minha frente, Mike, antes que eu te tire a força daqui!
−− Cara, eu só estou dizendo que não foi uma, mas duas vezes, vocês sabiam o que estavam
fazendo!
Olhei para ele com uma cara incrédula. Ele estava mesmo tentando arrumar uma desculpa para
toda aquela merda?
− Como é que é?
− James, eu só estou dizendo que o que vocês fizeram é errado. Estranho e ilegal. Mas, porra,
eu nunca vi alguém amar tanto assim outra pessoa. Cara, você precisa parar de se lamentar e
arranjar uma solução.
− A solução é sumir. A única solução! Ficar longe dela. Para sempre! Eu nunca vou me perdoar
por isso! Eu trepei com ela, caralho! Trepei com ela!
− Você já pensou em como ela vai ficar quando acordar pela manhã e for avisada que o irmão
fugiu da cidade, sem explicação nenhuma? Ela vai ficar na merda, cara!
− Se ela for um pouco sensata, vai entender… Esse assunto acabou! Só preciso de um lugar
para ficar quando ela apagar as luzes, e eu tiver certeza que dormiu. Depois disso ela estará livre
de mim para sempre.
Fiquei me remoendo por horas. Mike me deixou em sua casa. O plano era ficar lá até de
madrugada. Quando eu tivesse certeza que todos estariam dormindo, voltaria somente para
buscar meu carro. A maioria das minhas coisas já estava no quarto de hóspedes, então não
precisei me incomodar em entrar na casa.
Quando finalmente chegou a hora, Mike me levou até a fazenda. Quando chegamos lá, a visão
era o oposto do que eu esperava. Haviam luzes pela casa inteira, a iluminação do jardim e do
lago também estavam acesas. Até o senhor Leonel estava lá. Porque diabos um funcionário estava
a essa hora na nossa casa?
Até que me passou algo na cabeça.
− Merda! Eu fiquei todo esse tempo sem dar notícias. Meu carro está aqui, mas não tem
nenhuma roupa minha na casa. Mike, eles devem ter achado que aconteceu alguma coisa comigo.
Caralho!
− Porra! Eu falei que isso não ia dar certo!
Quando estacionamos vi minha mãe, junto com meu pai e o caseiro na porta de casa. Pulei da
caminhonete e fui de encontro a eles. Quando me aproximei, pude notar os olhos inchados de
minha mãe, estava chorando, e meu pai andava de um lado para o outro.
−Mãe? Mãe… O que foi? Estou aqui! Está tudo bem.
−Ahh James, ainda bem que você chegou, onde você estava? Estávamos preocupados…
−Mãe está tudo bem, não tem porque ficar assim!
−Você perdeu o juízo, moleque? − Meu pai estava puto da cara. Poucas as vezes que eu vi ele
assim. Normalmente ele ficava com essa cara quando os negócios não iam bem, ou seus charutos
acabavam.
−Sua irmã fugiu!
Quando ouvi a frase que meu pai acabou de falar, minhas pernas ficaram moles. Virei-me para
ele e o encarei por um instante.
−Sua irmã sumiu, desapareceu!
− Como é?
−James, querido… Ela não atende o celular, levou as roupas, não deixou nada, para onde ela
pode ter ido?
Claro que ela não atendia o celular. Eu atirei o telefone dela no lago na noite passada. Isso só
pode ser uma merda de um pesadelo!
−Já chamaram a polícia?
Porra!
− Claro que não! Não queremos um escândalo na família. Espero que você não faça alarde
com isso!
− Alarde, pai? Sua filha sumiu caralho! Será que você é tão egoísta assim? Como pode pensar
em você numa hora dessas?
− Olha como fala comigo garoto! Sua irmã é uma ingrata!
− Natalie não fugiria! Aconteceu alguma coisa…
− Claro que aconteceu. Sua irmã é uma maldita ingrata que cospe no prato que come!
Jesus, eu estou prestes a socar a cara do meu pai. Puta que pariu!
−Você é um desgraçado. Um maldito desgraçado, sabia?
−James. Deus pare com isso! A situação já está bem difícil! Não quero ninguém brigando aqui!
Querem me matar?
− Nat tinha razão quando falava de você, pai… Sempre foi desleixado quando o assunto era
ela. Sempre a tratou com indiferença. Agora ela está sabe Deus onde, e você só pensa na
vergonha que a família pode passar e nos seus malditos charutos!
−James, meu filho, por que você não sobe e tenta encontrar alguma pista de onde sua irmã
possa ter ido?
Leonel estava me olhando com compaixão e resolvi ouvi-lo antes que uma briga se iniciasse no
andar debaixo. Era a Última coisa que minha mãe precisava nesse momento.
Subi as escadas e abri a porta. O quarto estava escuro e frio. As portas do roupeiro estavam
abertas e as gavetas estiradas. Senti um aperto no peito, não havia quase nada. Ela tinha levado
praticamente todas as roupas e pertences. Não sabia o que fazer. Não sabia nem o que eu estava
sentindo. Eu estava prestes a fazer a mesma coisa que ela. Fugir sem deixar rastros. Mas ela foi
mais rápida. Sentiu o mesmo que eu. Foi corajosa e fez o que devia ter feito antes mesmo de mim.
E eu não podia fazer nada a respeito. Não podia abrir a boca. Não poderia nem mesmo acalmar
o coração da minha mãe. Natalie fez o que eu faria. Não poderia julgá-la.
Sentei-me na cama e vi um pequeno envelope pairado no meu travesseiro. O nome, James,
estava escrito em preto no canto superior no papel.
Ela me deixou uma carta? Fiquei um tempo somente alisando o papel, virando o envelope de um
lado para o outro.
− Você não vai abrir?
A voz de Mike quebrou o silêncio e me fez voltar à realidade.
− Ela me deixou uma carta. Deixou-me uma maldita carta.
−Estou vendo. Não sou cego. Agora só falta você ler!
Olhei para ele, e Mike assentiu com a cabeça. Ele era um bom amigo. Meu melhor amigo. Meu
primo e quase um irmão.
− Estarei do lado de fora, se precisar me chame! Já liguei para Karen, ela está a caminho. Se
ela souber de qualquer coisa, nos avisará.
Assenti para ele e fiquei sozinho no quarto. Somente eu e aquele pedaço de papel. Finalmente
encontrei coragem e comecei a ler.
James… Nosso sonho
Eu sei que o que fizemos não tem perdão. Sei que o que passamos na última noite deve ficar em
segredo para o resto das nossas vidas. Como um sonho. O que eu fiz, o que eu falei, foi a mais
pura verdade. Abri meu coração para você. Abri meu corpo e minha alma. E você me amou. Era
tudo que sempre esperei. Por anos sonhei com isso. Mas sabia que seria somente um sonho. Você
ficou tempo demais longe da sua família. Chegou na cidade com um plano de fazer carreira e
abrir seu próprio escritório. Eu te amo, e não posso tirar isso de você. Por isso resolvi partir antes.
Agora está livre. Considere−se livre da culpa também. Viva, ame, siga em frente. Eu não sou mais
a garotinha que acordava no meio da noite com medo dos pesadelos. Eu cresci e posso me virar
sozinha. James, você me deu o que eu sempre quis, me deu amor. Me deu meu um sonho! E eu vou
guardá-lo para o resto da vida… Toda vez que fechar meus olhos vou me lembrar de você. Toda
vez que fechar meus olhos, vou me lembrar de nós.
Com todo amor…
Nat
Eu não me lembrava da última vez que eu chorei, mas agora as lágrimas caíam e eu não podia
fazer nada para que elas parassem. Natalie ouviu minha conversa com o Mike. Ela sabia que eu ia
embora. Sabia que eu seria um covarde e desapareceria sem nem me despedir. O que eu fiz? Isso
era um pesadelo. Meu peito parecia que ia explodir, eu estava desesperado. Completamente
desesperado. Mas não seria um covarde mais. Nunca mais.
Décimo Quinto Capítulo
Quando cheguei à sala, meu pai estava enchendo seu copo de uísque, e minha mãe estava com os
olhos fixados no chá. Mike e Karen estavam lá também. Karen havia chorado, dava para notar em
seus olhos.
− James, sinto muito!
−Tudo bem Ka, a culpa é minha!
Todos olharam para mim no mesmo instante, a expressão era de comoção e compreensão.
−James, querido, não se culpe… Como você poderia fazer alguma coisa?
−Mãe, a culpa é minha, Nat fugiu por minha causa.
− Cara, acho melhor não….
− Mike, eu quero falar.
Todos estavam parados esperando o que eu diria a seguir.
−Eu amo a Natalie. Sempre amei.
−Ahh querido, nós sabemos. Todos nós amamos a Natalie.
−Não. Vocês não estão entendendo.
Merda, por onde eu começo essa merda de conversa? A sala estava em silêncio. Eu precisava
falar. Precisava ter coragem por ela. Eu devia isso a Natalie.
− Eu amo a Natalie como um homem ama uma mulher. E não como um irmão ama a sua irmã.
− James, o que você está falando… Você está confuso, não sabe o que está dizendo.
− Pare, mãe! Eu sei exatamente o que estou falando. Sei exatamente o que sinto desde que eu
tinha quatorze anos de idade maldição. Quatorze anos, droga!
− Não pode ser, você não está falando coisa com coisa, filho. Natalie sumiu e estamos todos
perturbados com isso.
− Mãe, será que dá para você me dar ouvidos um instante?
− Cale a boca, James. Eu quero que você suba e vá esfriar a cabeça. Antes que você mate sua
mãe do coração!
− Não pai, eu não vou. Eu vou dizer tudo que eu já devia ter falado há anos.
− Cale a boca antes que eu te coloque para fora!
− Tente! Vamos, tente me colocar para fora!
Meu pai partiu pra cima de mim. Mike o segurou enquanto ele dizia o quanto eu era estúpido e
mimado. Deixou claro que pensaria duas vezes antes de me deixar algum dinheiro. Minha mãe
estava no canto da sala e chorava sem parar. Karen tentava acalmá-la. A casa estava um caos, e
eu não me importava. Nada mais me importava.
− Calem a boca todos vocês!
A sala ficou em silêncio quando ouvimos o grito de Leonel.
− Rosa, se você não falar quem vai abrir a boca sou eu!
− Não se atreva, seu empregado de merda!
Meu pai chamou o caseiro de empregado de merda? Ele estava completamente fora de si.
− Eu avisei. Se alguém não falar, eu falo!
− Leonel, se você disser uma palavra, pode juntar suas merdas e sair da minha propriedade
hoje mesmo!
−Leonel, por favor… - Minha mãe implorava.
Mas que merda está acontecendo nessa casa?
− Puta que pariu! Alguém pode me dizendo que vocês estão falando, caralho?
Leonel tocou no meu ombro e ficou me encarando por um tempo. Passou os dedos calejados na
cabeça antes de acender seu cigarro.
−James, Natalie é sua irmã de criação! Nada mais que isso.
O quê?Mas que merda! Eu não estava conseguindo processar a frase que acabou de sair da
boca daquele homem. Irmã de criação. Nada mais do que isso?
−James… − Ele escolhia cada palavra sabiamente. − Ela foi criada com você, patrão, mas não
tem o mesmo sangue dos Mcley. Ela não tem o mesmo sangue que você!
− Como assim? Do que você está falando? − Parecia que a minha cabeça ia explodir.
− Pare, Leonel, por favor, pare! − Minha mãe gritava. Eu via o desespero na voz e nos olhos
dela.
− Cale a boca, mãe. Pelo amor de Deus, cale a porra da boca!
− Patrão, Natalie não é filha de Charlles e Rosa. A mãe dela morreu num acidente de carro
quando você tinha dois anos. Ela tinha acabado de nascer. Era um bebê ainda quando veio para
essa casa.
Minha cabeça girava e eu tinha vontade de quebrar a sala toda, inclusive meus pais e todos
que sabiam de toda essa merda de mentira. Olhei para meus genitores que estavam sem
expressão. Pareciam vazios por dentro e por fora.
− Por que essa mentira? Por que falaram que ela era filha de vocês? Por que não falaram a
verdade, cacete?
− James, você não entenderia…
− Me faça entender, mãe. Ou eu juro que saio por aquela porta e nunca mais olho para cara
de vocês.
−James, a mãe da Natalie… Ela era minha melhor amiga. Lis sofreu o acidente de carro meses
depois de dar a luz à Nat. − Lágrimas escorriam pelo rosto da minha mãe. E pela primeira vez
percebi a culpa em seus olhos. − Ela não morreu no acidente, ela morreu logo depois no hospital.
O marido dela infelizmente morreu faleceu no local do acidente.
− O pai da Nat…
−Não, James. O marido da Lis não era o pai da Nat. Por isso que essa mentira foi criada.
−Eu não estou entendendo essa porra! Seja mais clara!
−Filho, Lis teve um caso. Um caso enquanto era casada, e ela me prometeu não contar isso a
ninguém. Ela prometeu não entregar a filha dela para o pai biológico. Por mais que ela o amasse,
a culpa era maior. Quando Lis soube que o marido havia morrido no acidente, ela me disse que ele
não precisava de uma vergonha daquelas; queria que fosse enterrado com dignidade!
− Isso não cabia a ela, e nem a você!
A vida da Nat, a minha vida… Foi uma mentira.
−James, me entenda, eu jurei para mãe dela. Eu adotei a Nat como fosse minha. Minha filha e a
criei assim. E hoje eu afirmo para você, ela é minha filha!
−Ela não é sua filha, mãe! Você criou a Nat. Mas ela não é a sua filha, porra!
Era tanta coisa para pensar. Eu estava com nojo da minha família. Com nojo por mentir assim
para nós; com nojo de toda essa história. Estava com pena da Nat, que viveu no meio dessa merda
toda. E estava aliviado. Aliviado por eu não ter o mesmo sangue que o dela. Aliviado por não ser
seu irmão.
Por isso eu me sentia assim em relação a ela. Sempre me senti atraído por ela. Porque ela nunca
foi minha irmã.
−Mike?
− Fala cara!
− Me alcança a chave do carro.
−Cara, eu não acho uma boa ideia, você está de cabeça quente. Vamos dar um tempo…
− Me alcança a porra da chave, Michael!
− Filho, James… Aonde você vai?
− Eu vou atrás dela, e vou trazê-la de volta!
− Patrão! Com todo o respeito, seu carro não vai muito longe. Pegue as chaves da minha
caminhonete. Ela está acostumada com a estrada de chão e não com o asfalto. Eu devo isso ao
senhor.
−Deve a mim? Por que você deve algo a mim?
Ele me olhou fixamente antes de falar.
− Porque ela é a minha filha, James… Natalie é minha filha…
Agarrei as chaves da mão dele e saí em disparada porta afora. Quando entrei no carro, Mike
se sentou ao meu lado.
− Vou junto, primo! Vou junto!
− Como quiser… Eu nem sei por onde começar a procura-la. Estou desesperado!
Mike estava sorrindo de canto a canto.
− Cara, o carro dela tem rastreador!
Graças a Deus!
− Mike?
− Diga.
− Aperte o cinto! Vamos trazê-la de volta… De volta para o meu lado.

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