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O AMOR ESTÁ EM JOGO

RIXON RAIDERS 2
L A COTTON
CONTENTS

Rixon Raiders
Sinopse:

Prologue
Chapter 1
Chapter 2
Chapter 3
Chapter 4
Chapter 5
Chapter 6
Chapter 7
Chapter 8
Chapter 9
Chapter 10
Chapter 11
Chapter 12
Chapter 13
Chapter 14
Chapter 15
Chapter 16
Chapter 17
Chapter 18
Chapter 19
Chapter 20
Chapter 21
Chapter 22
Chapter 23
Chapter 24
Chapter 25
Chapter 26
Chapter 27
Chapter 28
Chapter 29
Chapter 30
Chapter 31
Chapter 32
Chapter 33
Chapter 34
Chapter 35
Chapter 36
Chapter 37
Epilogue

Playlist
Agradecimentos
Sobre a autora
O amor está em jogo
L. A. Cotton

Copyright de The Game You Play © L. A. Cotton, 2019.


Tradução: Andreia Barboza (L.A Serviços Editoriais)
Copidesque da tradução: Luizyana Poletto (L.A Serviços Editoriais)

Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são
produtos da imaginação do autor ou foram usados de forma fictícia e não devem
ser interpretados como reais. Qualquer semelhança com pessoas, vivas ou
mortas, eventos reais, localidades ou organizações é inteiramente coincidência.

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9610 de 19/02/1998. Exceto


para o uso de pequenos trechos em resenhas, é proibida a reprodução ou
utilização deste livro, no todo ou em parte, de qualquer forma, sem a permissão
prévia por escrito do detentor dos direitos autorais deste livro.
RIXON RAIDERS

O problema com você


O amor está em jogo
The harder you fall
The end game is you
SINOPSE:

Jogadores de futebol arrogantes, rivalidade escolar e garotas


que aparecem em seu caminho. Prepare-se... Os Raiders estão
de volta!

Felicity Giles tem uma lista.


Perder a virgindade.
Conhecer seu príncipe encantado e se apaixonar.
Ter o melhor último ano que uma garota pode querer.
O único problema? Seu príncipe não é santo, é um vilão, e ela
tem certeza de que ele vai destrui-la antes mesmo que lhe dê um
pedaço de seu coração.

Jason Ford tem um plano.


Ganhar o estadual e se tornar um dos quarterbacks de maior
sucesso da história de Rixon Raider.
Ir para a faculdade e correr atrás de seu sonho de ser convocado
para a NFL.
Evitar a garota que o deixa à flor da pele. Felicity Giles, a melhor
amiga de sua meia-irmã e um pé no saco.
Ela é irritante pra caramba.
Peculiar.
A garota é só um jogo para ele, nada mais.
Até que seu arquirrival parte para o ataque, usando as poucas
pessoas com quem ele se preocupa... e Felicity é pega no fogo
cruzado.

E de repente, odiá-la se parece muito com se apaixonar!


PROLOGUE

— GAROTA ESTÚPIDA — murmurei para mim mesma enquanto


apertava a descarga e deixava a cabine para lavar as mãos. A
música pulsava pelas paredes, imitando a batida do meu coração.
Ele está fazendo isso para te irritar. Ignore-o, e ele vai parar.
Mais fácil falar do que fazer.
Jason “idiota” Ford era a ruína da minha existência. Arrogante.
Pretensioso. Um completo galinha.
E o cara que meu coração decidiu que queria.
Coração estúpido, estúpido.
Pressionando as mãos no balcão de mármore frio, me encarei no
espelho que cobria a parede inteira. Minha aparência estava boa. O
cabelo estava perfeitamente enrolado, caindo em longas ondas
soltas nas costas, a maquiagem estava esfumada e sedutora, e o
vestido preto se agarrava às minhas curvas.
Minha aparência não estava só boa.
Estava bem sexy.
— Controle-se, Giles — ordenei para a garota que me encarava
no espelho. — Ele só tem poder sobre você se você permitir.
E agora, o idiota estava lá fora com outra garota.
Alguém que não era eu.
O nó na garganta apertou quando respirei fundo.
— Você consegue lidar com isso — sussurrei.
Neste momento, um grupo de garotas rindo entrou no banheiro,
parando para me olhar. Dei um sorriso tenso e saí correndo de lá. O
clube de Nova York em que os primos de Asher nos trouxeram era
demais. Nada como os bares que tínhamos em nossa pequena
cidade de Rixon. Era sombrio e escuro, e a mobília era elegante e
sexy. Frequentado por nova-iorquinos jovens e ricos, todos
procurando relaxar e se divertir.
Segui para o corredor que unia o banheiro ao resto do clube,
determinada a aproveitar a noite. E daí que Jason estivesse
praticamente comendo a prima de Asher? Meu corpo – e coração
idiota – poderiam tê-lo desejado, mas minha cabeça sabia que não
devia.
Minha cabeça sabia que Jason Ford era uma péssima ideia.
O que eu precisava era encontrar um cara legal que quisesse me
pagar uma bebida e dançar comigo a noite toda. E quem sabe,
talvez eu pudesse marcar outra coisa na minha lista. Afinal,
estávamos na incrível Nova York. Foi um pequeno milagre que meus
pais tivessem concordado em me deixar fazer essa viagem para o
aniversário da minha melhor amiga. É claro que eles só sabiam da
exposição de arte que planejávamos visitar e os passeios que
queríamos fazer. Mas o que eles não sabiam, não os machucaria.
O pensamento me fez sorrir e, colocando um balanço extra no
passo, virei a esquina... e bati direto em um peito musculoso e duro.
— Sei que você me quer, Giles, mas se jogar em mim é
desespero.
— Vá se foder, Jason. — Olhei para ele, recuando para colocar
uma distância segura entre nós. Claro que ele tomou isso como um
desafio, e o brilho em seus olhos era óbvio quando se aproximou. —
Jason — avisei, mas ele continuou andando até minhas costas
baterem na parede, tirando o ar dos meus pulmões.
— Sei o que você está fazendo — ele sussurrou em meu ouvido,
seu hálito quente cobrindo minha pele. Engoli em seco e fechei os
olhos. Sua voz era baixa e rouca. Se eu não o conhecesse bem,
seria fácil confundir seu tom com sedução.
Mas eu sabia quem ele era.
E tudo isso era um jogo para ele.
— Não estou fazendo nada, Jason — sussurrei, ignorando a
vozinha na minha cabeça sussurrando “mentirosa”.
Ele cruzou o espaço entre nós, colando seu corpo ao meu no
corredor mal iluminado.
— Não vai dar certo — acrescentou, passando a língua pela
minha pele úmida antes de mordiscar o lóbulo da orelha. Meus
joelhos dobraram quando um arrepio me atingiu.
— Jason. — Era para ser outro aviso, mas minha voz me traiu e
seu nome saiu dos meus lábios em um suspiro ofegante.
Ele passou uma de suas mãos pelo meu corpo. Lutei contra o
desejo de me inclinar em seu toque, de buscar mais. Jason não se
importou por ter apertado meu seio com um pouco mais de força ou
por seus dedos envolverem meu pescoço com mais firmeza. Porque
um cara como Jason Ford fazia e pegava o que queria, quando
queria.
Mas eu, sim.
Me importava que seu toque rude iluminasse meu corpo de uma
forma que nunca tinha acontecido antes. Me importava em deixá-lo
fazer coisas indizíveis comigo.
Eu me importava por me importar.
Lágrimas se formaram nos cantos dos meus olhos, mas pisquei
para afastá-las, mantendo o olhar duro quando ele finalmente
ergueu a cabeça.
— Continue assim e você vai se machucar — ele disse com
frieza. Mas o ar ao nosso redor estava tudo menos frio.
Estava intenso, estalando de tensão e, queimando de
antecipação.
— Você está brincando com fogo, Felicity. — Deus, até a
maneira como ele dizia meu nome me afetava. — E sabe o que
acontece quando se brinca com fogo?
Seu hálito com cheiro de licor acariciou meu rosto e seus lábios
pairaram perigosamente perto dos meus.
— Você acaba se queimando.
Eu deveria ter dito a ele para dar o fora. Ou dado um tapa
naquele rosto que derretia calcinhas e ido embora. Ou até mesmo
uma joelhada e corrido. Mas não fiz nenhuma dessas coisas. Em
vez disso, falei:
— Talvez eu queira me queimar.
Porque eu era Felicity Giles, a garota com uma lista e um caso
sério de loucura.
Jason ergueu a sobrancelha e me observou com aqueles olhos
escuros. Embora observar minha alma descrevesse melhor como eu
me sentia sempre que ele direcionava aquele olhar intenso em
minha direção.
Por que eu não poderia querer outra pessoa, qualquer pessoa?
Segundos se passaram enquanto nos encarávamos. A música
reverberou ao nosso redor. Risos e conversas persistentes próximo
ao canto escuro do corredor.
— Jason? — perguntei, finalmente quebrando o silêncio, incapaz
de suportar por mais um segundo.
— Puta merda — ele murmurou e, em seguida, seus lábios
estavam nos meus, duros e exigentes. Jason não apenas me beijou,
ele me devorou. As mãos agarraram meu vestido, puxando o tecido
pelas pernas até que os dedos encontraram a pele macia de minhas
coxas.
— Ah, caramba — gemi em seus lábios inflexíveis. Entrelacei as
mãos em seu cabelo castanho rebelde enquanto nossas línguas se
enredavam. Foi intenso, sensual e possivelmente o melhor beijo que
já dei.
Mas nada que era bom durava para sempre, e esse era Jason.
Ele não era príncipe encantado se lançando para conquistar o
coração da donzela. Ele era o príncipe maligno prestes a destruir e
arruinar, deixando um rastro de corações partidos.
— Cacete. — Ele se afastou.
A decepção cresceu em meu peito enquanto eu observava sua
expressão se transformar em pura raiva.
— Isso foi um erro. — Seu lábio se curvou em desgosto.
— Tudo bem — consegui sussurrar, alisando meu vestido
amassado.
— Tenho que ir, a Vaughn está esperando por mim.
Meu coração afundou.
Eu poderia lidar com suas provocações. Poderia até aguentar
ser chamada de erro. Mas ouvi-lo dizer que voltaria para outra
garota depois de me beijar daquele jeito... me deu vontade de
vomitar.
— Talvez seja melhor se apressar — retruquei. — Não vai querer
deixá-la esperando.
— Merda, Felicity, eu... — Algo brilhou em seus olhos, mas eu o
interrompi.
— Vá, Jason, vá embora. — Encarei os padrões no tapete
felpudo.
Seu olhar pesado permaneceu em mim por mais um segundo e
então, como sempre, ele se foi.
ACORDEI ASSUSTADA, lutando contra a escuridão. Merda, minha
cabeça doía depois de muitas bebidas. Mas precisei de toda a
coragem líquida para passar a noite vendo Jason e Vaughn. A mão
dele em sua cintura, os lábios em seu pescoço. A energia sexual
emanando deles e infectando a todos nas proximidades.
Meu estômago embrulhou, e eu me apoiei em um cotovelo,
esperando as ondas de náusea passarem. Só então um rangido no
corredor cortou o silêncio.
— Hailee? — sussurrei.
Nada.
Deitada de costas, olhei para o teto, perseguindo as sombras
com os olhos quando ouvi o som novamente. Pronta para ir lá fora e
ver quem estava de pé, segurei as cobertas. Mas minha porta se
abriu, e Jason entrou.
— O que você está...
— Shh — ele sussurrou, entrando no quarto.
— Você não pode entrar aqui — protestei, segurando o lençol e
mantendo-o ao redor do meu corpo. Seus olhos perfuraram a
escuridão. Me observando.
Perseguindo cada movimento meu.
Não que eu ousasse respirar com ele tão perto.
— Onde está a Vaughn? Você não deveria...
— Você para de falar em algum momento?
— Você entrou no meu quarto no meio da noite. Não pode dizer
o que eu posso ou não fazer.
Ele curvou os lábios.
— Quer apostar? — Ele se aproximou.
— Jason, isso não é engraçado...
— Você está nua, Giles?
Ah, caramba.
O calor se acumulou em meu estômago quando deveria ser
medo. Porque Jason não jogava bem, ele jogava sujo.
De forma mortal.
Perigosa.
— Você está bêbado — falei, encontrando minha voz
novamente. — Deveria sair.
— Tem certeza disso? — Ele estava perto da cama agora,
olhando para mim como um príncipe das trevas.
— Eu...
Ele precisava sair.
Eu precisava dizer a ele para sair agora.
Jason gostava muito disso. Um jogo no qual eu nunca deveria ter
me envolvido.
Tudo começou com uma lista.
A minha lista boba.
Era para me ajudar a arrasar no último ano. Para me encorajar a
fazer todas aquelas coisas que sempre sonhei, mas nunca
consegui. Para me livrar da minha existência excluída.
Mas eu não contava com ele.
Achei que era forte o suficiente para jogar seu jogo, para me
envolver na guerra com um especialista em estratégia.
Achei que poderia proteger meu coração e me divertir um pouco.
Eu deveria saber.
Deveria ter recuado em vez de me render. Mas entreguei meu
coração sem nem perceber.
E agora, ele era meu dono.
Por inteiro.
Mesmo se ele dissesse que não me queria.
Mas Jason estava lá, olhando para mim com fome em seus
olhos. Uma fome que combinava com a minha.
Ele me queria.
Jason Ford me queria.
E eu sabia, as regras tinham acabado de mudar.
UM
Felicity
— VAI ME IGNORAR PARA SEMPRE? — perguntei para minha
melhor amiga quando paramos em nossos armários. Ela me olhou
feio enquanto trocava os livros didáticos.
— Hails, vamos lá. Isso foi um erro. Eu cometi um erro.
Fechando o armário com força, seus olhos se fixaram nos meus,
nublados com decepção.
— Você dormiu com ele — ela sibilou, baixando a voz. —
Transou com o Jason. Perdeu a cabeça?
— Foi uma vez. — Apenas uma vez se você realmente pensasse
sobre isso. — E eu estava bêbada. Aquilo foi um erro. — Algo que
eu não repetiria tão cedo. Não que o referido idiota quisesse uma
segunda rodada. Controle-se, Felicity.
— E ainda acha que está tudo bem? Você estava bêbada. Para
não mencionar que era virgem. — Sua voz baixou perigosamente e
a indignação deixou suas bochechas em chamas. — E você o
deixou...
— Está feito agora. — Dei a ela um sorriso tenso, ignorando o nó
no estômago. — Isto nunca mais vai acontecer. Mas pelo menos
posso marcar outra coisa da minha lista. — Uma risada tensa saiu
de meus lábios, mas Hails não estava rindo.
Ela nem estava sorrindo.
— Isso não é engraçado, Flick. — Ela soltou um suspiro
exasperado. — Eu não posso... nem sei o que dizer agora.
— Então não diga. — Dei de ombros. — Vamos fingir que nunca
aconteceu. Jason quem?
Mas Hailee não estava mais me olhando. Estava concentrada
em algo atrás de mim. Então ela semicerrou os olhos com desprezo.
Não precisei me virar para saber quem era. Eu o senti. Senti seus
lábios na minha pele e suas mãos no meu corpo.
Um arrepio percorreu minha coluna, rapidamente se
transformando em raios disparando por meu corpo quando me virei
e encontrei o sorriso arrogante de Jason Ford.
— Fee, baby, senti sua falta.
Gemendo em silêncio para mim mesma, forcei um sorriso para
Asher, o melhor amigo de Jason.
— Faz só um dia, Asher. Talvez você precise ver a srta.
Hampstead para falar sobre a sua carência. Está ficando pior. —
Meu sorriso se ampliou, mas quando olhei para Jason e vi sua
indiferença, endureci.
Asher olhou entre nós dois, franzindo a testa.
— O que é...
— Grande jogo na sexta-feira? — Hailee o interrompeu, já
acomodada ao lado de seu namorado, Cameron.
Jason Ford, Cameron Chase e Asher Bennet. Os três eram da
realeza de Rixon Raider e esperavam levar o time de futebol até o
estadual este ano.
Era uma grande coisa para nossa cidadezinha. Ainda maior para
Jason e seu plano de partir e dominar o futebol universitário na
UPenn no próximo ano, com sorte, garantindo um lugar na NFL.
— Sério, Hails? — Asher zombou. — Virou fã agora?
Ela olhou para ele, ganhando risadas dele e de Cameron. Jason
continuou assistindo. Sua expressão era desprovida de emoção. Na
verdade, ele parecia... entediado. Meu estômago embrulhou quando
desviei o olhar.
Jason era complicado. Frio. Insensível. E um idiota completo.
Mesmo que visse em um pacote frustrantemente gostoso. Cabelo
escuro rebelde, olhos ainda mais escuros. Do tipo em que você se
perde em suas profundezas, sem esperança de voltar à superfície.
Ombros largos, braços musculosos e abdômen definido. Eu sabia
em primeira mão, porquê...
Não faça isso.
Jason vivia e respirava futebol. Seu compromisso era quase
obsessivo. Mas acho que quando você quer ser o melhor, tem que
dar tudo de si. Inclusive sua alma.
— É difícil não ser fã quando seu namorado é o grande wide
receiver do time. — Hailee sorriu para Cameron. Minha melhor
amiga deu um verdadeiro giro de cento e oitenta graus há alguns
meses. Ela sempre odiou o jogo. Odiava ainda mais seu meio-
irmão, Jason. Ele, Asher e Cameron tornaram sua vida um inferno
desde que ela se mudou para Rixon. Mas algo mudou este ano.
Cameron começou a olhar para ela com luxúria e, embora ela
tentasse ignorar seus encantos, não demorou muito para que
quebrasse suas paredes.
Nossa dupla logo se tornou um trio. Um quinteto, se contasse
Asher e Jason. Mas pela carranca que Jason mostrava sempre que
estava perto de nós, não era segredo que ele só tolerava o novo
relacionamento entre o melhor amigo e sua meia-irmã, na melhor
das hipóteses.
— Sim, bem, precisamos começar a treinar, então... — A
insinuação de Jason pairou no ar.
— Por que a pressa? — Asher perguntou. — Ainda temos... —
Sua boca se fechou quando o melhor amigo o encarou com um
olhar gelado. — Senhoras, foi um prazer. — Ele foi atrás de Jason,
que não se despediu, mas também não tinha dito oi.
Cameron se demorou, pressionando Hailee contra o armário e
beijando-a. Desviei o olhar, dando um pouco de privacidade a eles.
Eu me acostumei com suas demonstrações de carinho nas últimas
semanas, mas não as tornava mais fáceis de engolir.
Depois de cerca de um minuto, olhei para eles. Com os rostos
unidos, Cameron sussurrou algo para Hailee que a fez rir. A inveja
subiu pela minha garganta, mas eu a engoli. Depois de tudo que
eles a fizeram passar nos últimos anos, ela merecia esse romance
de conto de fadas. Um felizes para sempre.
Cameron e Hailee eram o casal dos sonhos, e eu estava muito
feliz por eles.
Não sentina dada de inveja.
Não.
Nem mesmo um pouquinho.

MEU DIA NÃO MELHOROU MUITO. Hailee quase não estava


falando comigo e os outros só falavam sobre o próximo jogo dos
Raiders contra Millington. O que significava que o nome dele me
seguiu como um sussurro ao vento, me provocando.
Mas tudo bem.
Eu estava bem.
Queria perder a virgindade e consegui. Certo, não esperava que
fosse com um dos idiotas mais arrogantes e presunçosos que eu
conhecia, mas o que era o último ano se não uma chance de tentar
coisas novas... e logo se arrepender por ter feito?
Imagens inundaram minha mente enquanto eu empurrava o
sanduíche em meu prato. Seus beijos apressados, necessitados e
tão gostosos. Suas mãos grandes e fortes espalmadas em meu
quadril e pescoço, possessivas e dominantes. A ardência dele me
preenchendo... as quase lágrimas.
— Flick? — Hailee semicerrou os olhos para mim. — Aonde
você foi agora?
— Ah, eu...
— Esqueça. — Ela voltou para suas batatas fritas e a culpa
envolveu meu coração. Eu odiava que as coisas estivessem
estranhas entre nós. Mas ela havia surpreendido a mim e Jason,
então eu sabia que tinha que dar um tempo para ela superar. Não
foi meu melhor momento.
— Sabe, você pode ir se sentar com ele. — Virei a cabeça para
onde Cameron estava com o resto do time de futebol.
— Eu sei. Mas não temos que ficar grudados. Além disso, ele
precisa dos amigos. — Ela olhou para ele. — Depois de tudo que
aconteceu com a mãe, ele precisa do time.
Concordei.
— Se ele está lá para se relacionar com o time, por que não tira
os olhos de você? — Arqueei a sobrancelha, e Hailee lutou contra
um sorriso.
— Ele queria que eu me sentasse com eles.
Passando a perna sobre o banco, me levantei.
— Vamos lá, vamos lá — disse, preparada para trazer mais uma
pessoa para o nosso time de dois.
Hailee franziu a testa.
— O que você está fazendo?
— Nós vamos para lá. Ele pode precisar do time, mas também
precisa de você. E para ser bem honesta, não posso almoçar com
ele te olhando com adoração.
— Flick — ela gemeu, espiando o time. — Não tenho certeza...
— Tudo bem. Vou sozinha. — Dei de ombros, pegando minha
bandeja e me movendo ao redor da mesa.
— Ah, meu Deus — Hailee suspirou. — Você está falando sério,
vai mesmo se sentar...
Mas suas palavras me escaparam enquanto eu caminhava até a
mesa deles. Alguns dos caras ergueram os olhos quando os
alcancei.
— Fee, baby. — Os olhos de Asher se iluminaram quando me
notou. — E a que devemos este prazer?
— Tem espaço para mais um?
— Ah, querida — um dos jogadores do segundo ano, Joel
Mackey, sorriu. — Você pode se sentar aqui. — Ele olhou para sua
virilha, e eu revirei os olhos.
— Afaste-se, Mackey. — Asher cutucou o cara ao seu lado e
olhou para o espaço vazio.
Assim que fui me sentar ao lado dele, Hailee se aproximou da
mesa.
— Eu me perguntei quanto tempo você demoraria para desistir.
— Ouvi Cameron dizer a ela baixinho. Ele passou a perna por cima
do banco e a puxou para perto, passando os braços por sua cintura.
— Oi.
— Oi.
Me sentei, tentando olhar para qualquer coisa, exceto Cam
roçando os lábios nos dela. Deus, eles estavam tão apaixonados.
Tão felizes. Eram tão perfeitos. Algo dentro de mim se torceu.
— Você está bem aí? — Asher perguntou em um sussurro.
— Quem, eu? — Dei a ele um sorriso caloroso. Asher era... bem,
ele era como um vira-lata que te seguia: fofo e chato. Mas nunca foi
nada além de legal comigo.
— Não precisa fazer isso — ele baixou a voz para que eu fosse
a única a ouvir. — Não comigo — acrescentou.
— Fazer o quê? — Me fiz de boba, ignorando o buraco no
estômago.
Seus olhos se voltaram para onde Jase estava sentado. Ele
estava ocupado conversando com um dos caras quando uma mão
bem cuidada passou por cima de seu ombro. Ele olhou para cima,
com um sorriso malicioso enfeitando seu rosto ridiculamente perfeito
enquanto Jenna Jarvis, ginasta, estrela e vadia da Rixon High,
olhava para ele com um sorriso lascivo. Sem hesitar, Jase empurrou
a cadeira para trás, deixando-a se sentar em seu colo. Ela colocou
os braços ao redor do pescoço dele, e eu quase ofeguei.
De repente, senti Asher passar o braço pelas minhas costas.
Meus olhos encontraram os dele, mas no verdadeiro estilo Asher,
ele simplesmente sorriu.
Meu celular vibrou, e eu o peguei.

HAILS: Você está bem?

EU: É claro. Por que não estaria?

NÃO ENCONTREI SEU OLHAR, apesar de senti-lo queimar a


lateral do meu rosto.

HAILS: Ele só está usando-a...

MEUS OLHOS se voltaram para Jase e Jenna por vontade própria.

EU: Não importa. Eu sabia o que estava fazendo.

NÃO SE DOMESTICAVA um cara como Jason Ford. Se aproveitava


tudo o que ele estava disposto a lhe dar e arquivava em “divertido
enquanto durou”. Jenna sabia disso, assim como todas as garotas
da escola e, ainda assim, não as impedia de tentar conquistá-lo.
Fazê-lo cair aos pés delas. E houve muitas que tentaram... e
falharam. Mas eu não me juntei a elas, porque não tinha ilusões
quando se tratava do quarterback número um e garoto de ouro do
futebol de Rixon.

HAILS: Você merece muito mais. Bj.

O BJ ME FEZ SORRIR. Ela podia ter ficado chateada comigo por


dormir com seu meio-irmão, mas Hailee não ficaria brava por muito
tempo. Éramos amigas de verdade e seria preciso mais do que um
cara para se interpor entre nós.

EU: Também te amo. Bjoo

APERTEI ENVIAR e finalmente olhei para ela, sorrindo. Mas então


algo chamou a atenção de Hailee e seu rosto empalideceu. Não
precisei me virar. Eu já sabia o que iria encontrar. Mas fiz assim
mesmo. Para provar a mim mesma – e talvez a ela – que eu estava
no controle da situação e que Jason foi apenas um lapso de
julgamento de alguém embriagada.
No segundo em que meus olhos pousaram nos dois, com Jenna
empoleirada em seu colo, os lábios se movendo, eu sabia que era
tudo mentira. Algo que eu repetia a mim mesma para que se
tornasse verdade.
Minhas mãos tremiam quando empurrei a bandeja e me levantei.
— Fee? — A voz de Asher mal penetrou o ruído branco na
minha cabeça. Jason não estava apenas beijando Jenna, ele a
estava devorando, e eu tinha certeza de que em cerca de dez
segundos estariam transando no refeitório. A energia sexual
emanava deles, me atingindo como uma bola de demolição.
— Eu... eu tenho que ir. — Me afastei depressa, tentando manter
a voz calma. — Me esqueci de que tenho um encontro com a srta.
Hampstead.
Ele franziu o cenho para mim e semicerrou os olhos, que ficaram
nublados com suspeita.
— Te vejo mais tarde, tá? — Forcei um sorriso que sabia que
parecia errado.
— Vou com você — Hailee falou do outro lado da mesa.
— Não, está tudo bem. — Me obriguei a encontrar seu olhar
simpático. — Te vejo no quarto período.
Mas no segundo em que comecei a me mover, percebi meu erro.
Para sair do refeitório, eu teria que passar diretamente por Jason e
Jenna.
Porcaria.
Respirando fundo, peguei a bandeja e mantive a cabeça erguida.
Eu estava muito orgulhosa de mim mesma por me manter firme.
Apenas mais alguns passos e eu estaria longe deles e do show de
sexo ao vivo. Até que algo roçou a parte de trás da minha perna, e
eu congelei. Minha respiração ficou presa enquanto eu tentava me
acalmar. Não era nada. Uma rajada de vento vindo de uma janela
aberta, talvez, ou partículas de poeira no ar. Antes que eu pudesse
me conter, olhei para baixo. Olhos escuros me encararam de volta.
Jason.
Era Jason.
Ele olhou para mim, através de mim, enquanto eu estava
paralisada. Jenna ainda o estava beijando, arrastando a boca
traiçoeira por toda sua pele. Pele que há menos de quarenta e oito
horas eu provei. Pele que eu estive beijando.
Um arrepio violento percorreu minha coluna e meu estômago
revirou.
Vai, Felicity. Apenas continue andando.
Jason ergueu a sobrancelha enquanto continuava a olhar para
mim, quase sem retribuir o beijo de Jenna, mas não impedindo-a
também.
Seu olhar intenso era cruel.
Mas eu não deveria ter esperado mais nada.
Me fortaleci, semicerrei os olhos para ele, me demorando por um
segundo, e então coloquei um pé na frente do outro e continuei
andando. Dizendo a mim mesma que ele não tinha arrancado meu
coração e pisado em cima dele.
DOIS
Jason
— PRECISAMOS CONVERSAR. — Cameron apoiou a mão no meu
peito, bloqueando minha saída do vestiário.
— Não estou interessado — falei com frieza.
— Nós vamos conversar. — Ele arqueou a sobrancelha ao me
empurrar. Foi de leve, mas o suficiente para eu saber que ele falava
sério.
— Tudo bem — resmunguei. — Diga o que você tem a dizer,
cara, e me deixe ir para a aula.
— Agora você vai para a aula? — Ele sorriu.
— Vá se foder.
— Por que você fez isso? — Cam soltou um suspiro cansado,
me perguntando um milhão de coisas com os olhos para as quais eu
não tinha resposta.
Dando de ombros, falei:
— Porque eu estava bêbado, e ela estava lá.
— Não me venha com essa besteira. Você gosta dela.
— Gostar dela? — gritei. — Não aguento mais essa garota. —
Felicity Giles era exatamente o tipo de garota que eu passava meus
dias tentando evitar. Carente. Desesperada. Estranha pra caramba.
— Você é um idiota às vezes, sabia disso?
— Nunca aleguei ser outra coisa. — Dei de ombros com
desdém.
— Eu não entendo. A Vaughn estava disposta e disponível. Você
poderia tê-la levado para o hotel... — Ele deixou as palavras
pairarem entre nós. Fomos a Nova York para o aniversário de Hailee
no fim de semana passado. A prima de Asher, Vaughn, nos mostrou
o lugar com seu irmão. Ela era gostosa. Magra, com curvas em
todos os lugares certos, e Cam tinha razão, estava pronta para isso.
Sussurrou em meu ouvido mais de uma vez durante a noite. Mas eu
não quis. Em vez disso, bebi mais do que deveria, voltei para o hotel
e me vi do lado de fora do quarto de Felicity no meio da noite.
— Olha, foi só sexo. Eu estava com tesão, e ela estava lá. — Ela
podia não ser o meu tipo, toda nerd e sem filtro, mas não havia
como negar que Felicity era linda. Cabelo escuro comprido, cintura
fina e pernas que pareciam durar quilômetros, mesmo que fosse
alguns centímetros mais baixa que eu. E seus olhos, puta merda.
Duas piscinas verdes como o mar.
— Só sexo — meu melhor amigo repetiu categoricamente.
— Sim, só sexo. Ela conhece o placar. Foi bom. Agora acabou.
Então, podemos todos seguir em frente? — Eu não podia me distrair
com algum drama feminino, não quando eu tinha os play-offs à
vista. Meu foco precisava ser cento e dez por cento na equipe. Na
vitória do Estadual.
— Então não era um jogo?
— Jogo? Do que é que você está falando? — A irritação
percorreu meu corpo.
— Você não sabe?
— Sério, Chase, diga logo.
Cameron me olhava como se eu tivesse perdido a cabeça. E
talvez eu tivesse. Se eu soubesse que isso me causaria tantos
problemas, nunca teria olhado duas vezes para Felicity. Mas na
verdade, a minha meia-irmã não deveria nos pegar.
Ele não respondeu, ainda me olhando boquiaberto, então
acrescentei:
— Olha, sei que ela é a melhor amiga de Hailee, mas ela
conhece as regras. Não prometi nada, e ela não...
— Você pode calar a boca um segundo? — ele grunhiu e foi a
minha vez de ficar boquiaberto.
Um instante se passou. Outro. O ar ficou carregado ao nosso
redor.
E então ele proferiu as últimas palavras que eu esperava ouvir.
— Ela era virgem.
— Virgem? — Ofeguei. — Isso é uma piada?
Felicity não era virgem. Claro, ela era apertada, mas só percebi
que não era tão experiente quanto Jenna ou as outras ginastas e
líderes de torcida que montavam em um pau como se fosse um
esporte olímpico. Mas ela não disse uma palavra quando fui mais
rápido. Mais intenso. Sempre gostei de estar no controle, e isso
transbordava para o sexo. Nunca levei uma garota a fazer nada que
não quisesse, mas também não era gentil. Eu gostava de transar. E
depois, gostava de dar o fora. Tentei toda a coisa de relacionamento
uma vez antes e isso explodiu na minha cara. Não quero mais
tentar.
Eu não costumava passar a noite e, com exceção de poucas
garotas, não repetia transas. O sexo era uma válvula de escape.
Nada mais. E assim como o futebol, me destacava nisso.
Então, como foi que não percebi que Felicity era virgem?
— Você realmente não sabia? — Cam perguntou.
— Acha que eu teria trepado com ela se soubesse? — Ele
estremeceu com o meu tom rude. — Ela estava praticamente
implorando por isso.
Acho. Estava tudo um pouco nebuloso. Mas ela queria tanto
quanto eu.
— Legal, muito bom. — Ele ironizou.
— Terminamos? Você está começando a me irritar.
— Sim, terminamos. — Ele soltou um suspiro exasperado. — Só
fique longe, Jase. Ela é a melhor amiga da Hailee e as coisas já
estão tensas o suficiente. — Ele não disse mais nada. Não
precisava.
As coisas entre nós estavam tensas. Mas o que ele esperava
quando descobri sobre ele e Hailee?
Durante toda a minha adolescência, ela foi a maldição da minha
vida. Eu a odiava. Odiava tudo sobre ela. Mas muita coisa mudou
desde o início do último ano. Acho que esse era um tema popular
por ser o último ano do ensino médio.
Eu e Hailee não éramos exatamente amigos agora, mas pelo
bem de Cameron, havíamos estabelecido uma trégua instável.
— Isso é tudo? — A raiva atou minhas palavras. Eu estava
superando toda essa merda.
— Sei que é difícil me ver com ela...
— Me poupe do discurso “Lamento ter escolhido a sua meia-
irmã...”
— Jase, vamos... — Ele segurou meu braço. — Isso não muda
nada. Você ainda é meu melhor amigo. Eu te dou cobertura.
Sempre.
Mas mudava as coisas.
Mudava tudo.
Sempre fomos nós dois contra o mundo. Agora não éramos
mais.
E eu não sabia o que fazer com isso.

ME AFASTEI da parede no segundo em que Felicity apareceu. Às


segundas-feiras, ela ficava depois da aula para o clube do livro.
Clube de merda. Parecia algo que minha avó gostaria se
estivesse viva.
— Jason? — Ela abriu a boca e arregalou os olhos verdes como
o mar quando me viu. — O que você está...
— Vamos, Giles — falei, tentando manter as coisas o mais
impessoal possível. Mas meu pau tinha outras ideias. Voltou à vida
no segundo em que minha mão segurou seu pulso fino, me
lembrando de como foi prendê-los enquanto eu a penetrava,
fazendo-a gritar meu nome.
— Vamos? Vamos aonde? — Ela bufou indignada. — Não vou a
lugar nenhum com você.
— Acha que tem escolha? — Eu a arrastei pela lateral do prédio
em direção ao ginásio. Estava silencioso, como eu sabia que
estaria.
— Jason — ela sussurrou, tentando se livrar do meu aperto. Mas
continuei andando, me recusando a fazer isso onde qualquer um
poderia passar e nos ver.
Empurrando a porta do ginásio, puxei-a pelo corredor em direção
ao vestiário. No segundo em que entramos e a porta se fechou, fui
para cima dela. Empurrando-a contra a parede, coloquei as mãos
nas laterais de sua cabeça e a encarei.
— Virgem? Você não pensou em mencionar isso antes de nós...
Sua carranca se aprofundou e um grunhido baixo retumbou em
sua garganta. Teria sido impressionante se ela não fosse tão
pequena e vulnerável comparada a mim.
— Não foi como se você tivesse perguntado — ela fervia.
— Porque não achei que...
— Ah, isso mesmo. — Ela arqueou a sobrancelha. — Você está
acostumado com um bando de vadias.
Jesus, essa garota.
— Cuidado, Giles.
— Ou o que, Ford? — ela respondeu, sem hesitar.
— Por que não me contou? — Minha voz suavizou, me
surpreendendo. Isso a surpreendeu também, se a dificuldade de sua
respiração fosse alguma indicação.
— Não é grande coisa. — Ela deu de ombros, parecendo
indecisa. — Eu queria resolver o problema e você estava disponível.
— Disponível? — Hesitei. Ela não podia estar falando sério. —
Você faz isso soar tão...
— O que você está fazendo, Jason?
O que eu estava fazendo?
— Nada, eu só... merda, Felicity, você deveria ter me contado.
Uma risada sardônica saiu de seus lábios.
— E para quê? Para que você pudesse ser mais romântico?
Comprar flores para mim e me dizer como eu estava bonita antes de
transar comigo? Por favor. Este não é um conto de fadas e você
certamente não é um príncipe. Foi só sexo, Jason. — Algo brilhou
em seus olhos, mas ela controlou a expressão rapidamente.
Mas era tarde demais. Eu já tinha visto aquele olhar antes. Um
pouco antes de penetrá-la.
Merda.
Merda. Merda. Merda.
As lembranças tomaram conta de mim. Sua pele úmida, os
pequenos gemidos que ela fazia enquanto eu me movia acima dela.
Dentro dela. A maneira como ela se agarrou a mim, me encontrando
a cada impulso.
— Tem certeza de que você era...
— Você está brincando comigo? — Ela arregalou os olhos.
— Mas você não... — As palavras ficaram presas na minha
garganta.
— O que, sangrei? Sangrei, sim, mas você estava muito bêbado
para notar. — A vergonha coloriu suas bochechas quando ela
baixou o olhar.
Eu estava bêbado, mas não tanto. Ou estava? Estava escuro e
confuso. Um emaranhado de beijos acalorados e toques
desesperados. E então Hailee irrompeu no quarto, acabando com o
momento. Eu praticamente fugi de lá, sem me preocupar em
verificar se ela estava bem.
— Posso ir agora? — ela acrescentou, mal olhando para mim.
— Eu... o que... — Ofeguei, sem saber por que me senti um
merda de repente. Então ela era virgem. Não era como se eu
tivesse iniciado isso. Ela estava tão excitada por mim quanto eu por
ela.
Eu estava mesmo com tesão por ela?
Falei a Cameron que era apenas sexo, conveniente. Mas não
podia negar que não gostei de ouvi-la descrever o que realmente
aconteceu.
A primeira vez de uma garota deveria ser... mais ou menos
assim, não era?
Corações, flores, luz ambiente e toda essa merda. Eu não sabia,
pois não tinha o hábito de transar com virgens.
— Por quê? — A palavra escapou da minha boca antes que eu
pudesse detê-la.
— Por quê? — Felicity franziu a testa. — Por que o quê?
— Por que eu?
— Ah, não se iluda, Jason. — Ela bateu no meu peito, sorrindo
com ironia. — Eu tenho uma lista, e você foi um meio para um fim.
Um meio para... que merda era essa?
— Se você acabou, tenho lugares para ir. — Ela se abaixou e
passou debaixo do meu braço, mas agarrei seu braço.
— Que jogo você está jogando, Giles?
— Jogo? — A surpresa brilhou em seus olhos e sua confiança se
esvaiu. — Você acha que isso é um jogo?
— Está me dizendo que não é?
O ar eletrizou ao nosso redor, estalando com a tensão sexual.
Meu pau sentiu. Cacete, meu corpo inteiro sentiu. E queria mais.
Mais Felicity.
Mais de sua boca esperta e réplicas espirituosas. Seus quadris
delgados e lábios carnudos.
Eu precisava me controlar. Porque eu já tinha o suficiente com
que me preocupar sem adicionar uma garota à mistura.
Especialmente a melhor amiga da minha meia-irmã.
— Vá para o inferno, Jason. — Ela saiu furiosa. Sua raiva era
quase palpável enquanto desaparecia no corredor.
Muito depois de ela ter partido, eu ainda estava lá. Processando
nossa interação. A resposta estranha do meu corpo a ela. Felicity
estava chateada, isso era óbvio – sua atitude era uma fachada para
seus verdadeiros sentimentos. Sua fala final foi reveladora o
suficiente. Ela queria que eu ficasse longe, merda.
Então, por que tudo o que ouvi foi começo do jogo?

— JASON, você pode vir aqui, por favor?


Com um gemido, voltei pelo corredor e entrei na cozinha, onde
encontrei meu pai remexendo uma pilha de papéis na mesa.
— Sim?
— Gostaríamos que você se juntasse a nós para jantar hoje.
— Estou bem, mas obrigado. — De jeito nenhum eu ia me sentar
e brincar de família feliz com meu velho, sua esposa e Hailee.
— Filho — meu pai soltou um suspiro pesado. — Precisamos
superar isso.
— Já superei. Só não quero fingir que ligo.
— Jason — ele retrucou, desviando os olhos para Denise. — Sei
que você está sofrendo, mas não é esse o caminho.
Eu e meu velho definitivamente não éramos exemplo de pai e
filho. Para o resto de Rixon, ele gostava de exalar união. Um time. O
herói do futebol e o filho que começou a seguir seu caminho. Mas
eu sabia a verdade. Sabia quem realmente era Kent Ford. Houve
um tempo em que eu adorava o chão em que ele pisava. Mas isso
foi antes. Quando ele e minha mãe estavam apaixonados. Quando
nossa família bastava.
— Estarei no meu quarto — falei, pegando uma banana da
fruteira e me retirando para o corredor. Quase colidi com Hailee
enquanto ela descia correndo as escadas.
— Me desculpe — ela falou. — Não te vi.
— Sim, tudo bem — resmunguei. Não era como se não pudesse
me notar. Um metro e oitenta e dois. Forte. Usando a camisa azul e
branca do time. — Com pressa?
Hailee franziu o cenho.
— Você quer falar?
— Esqueça. — Acenei para ela.
— Puxa, me desculpe. Eu só não esperava... o que você estava
dizendo? — Sua expressão suavizou e acabei cedendo.
— Perguntei se você está com pressa.
— A Felicity está vindo me buscar. Estamos indo para o The
Alley.
Claro que estavam. Eu não entendia o apelo. Era um lugar na
fronteira entre Rixon e Rixon East. Muitos garotos do Leste
frequentavam o lugar para meu gosto.
— Acha que é uma boa ideia ir para lá sozinha?
— Não vou sozinha. Estarei com a Flick. Mas é bom saber que
você se importa. — Uma sombra de diversão brincou nos lábios de
Hailee.
Antes que eu pudesse corrigi-la, a buzina do carro de Felicity
soou do lado de fora. Eu sabia porque ouvia aquele som irritante há
quase dois anos.
— Certo então, acho que te vejo por aí. — Hailee se moveu em
direção à porta, mas eu a chamei. — Sim? — Ela olhou para trás.
— Eu não sabia.
— Do quê? — Ela franziu as sobrancelhas.
Passei a mão pelo rosto, me perguntando por que falei qualquer
coisa para começar. Mas estava ali, pairando entre nós.
— Sobre a Felicity ser... — expliquei.
Minha meia-irmã inclinou a cabeça, me estudando por um
segundo e então disse:
— Tudo bem.
Tudo bem?
O que isso queria dizer?
— Estou feliz por termos esclarecido as coisas.
A sugestão de um sorriso levantou o canto de sua boca, mas
então sua expressão ficou séria.
— Sei que temos que nos tolerar pelo bem do Cameron, mas
fique longe da Felicity, Jason.
— Eu... — As palavras ficaram presas, mas era tarde demais.
Hailee já havia escapulido e desaparecido, me deixando parado ali,
me perguntando o que foi que aconteceu.
TRÊS
Felicity
— VOCÊ ESTÁ DISTRAÍDA — Hailee falou. — É ele, não é? Jason.
— Havia uma frieza em sua voz que apertou meu coração.
— Não é... — Soltei um suspiro pesado, encontrando seu olhar.
— Pensei que me sentiria bem, aliviada ou algo assim, mas agora
me sinto apenas...
Eu não sabia o que sentia.
A lista deveria me ajudar a sair dos limites da minha vida
perfeitamente normal e correr mais riscos. Não era como se eu
tivesse planejado seduzir Jason. Jogar seu jogo idiota de gato e
rato. Ele simplesmente estava lá. Como uma onda se formando
lentamente, e antes que eu percebesse o que tinha acontecido, caiu
sobre mim e me derrubou do chão.
— Ah, Flick. — Hailee se esticou e segurou minha mão. — Eu
poderia matá-lo por fazer...
— Não foi culpa dele. Preciso que você saiba disso. Eu...
— Você gosta dele, não é?
— Não consigo explicar, mas algo está diferente este ano. —
Nunca olhei duas vezes para o Jason e os amigos. Nem Hailee, e
veja como isso acabou. Agora ela estava loucamente apaixonada
por Cameron, e eles planejavam ir para a faculdade juntos e ter
bebês fofos enquanto ele continuava jogando futebol.
— Você achou que se transassem, ele mudaria de repente?
Porque...
— O quê? Não, não! — Balancei a cabeça. — Sei que o Jason
não é adequado para namorar. Confie em mim, eu sei. Mas há
algo... ele me faz sentir...
Só então a porta se abriu e um enxame de pessoas entrou,
todas vestindo camisetas vermelhas e brancas.
— Merda — Hailee resmungou enquanto observávamos os
jogadores de futebol de Rixon East caminhando até o balcão da
lanchonete.
— Eles não sabem que esta é a Suíça? — sussurrei.
Tate, o dono do The Alley, se recusava a permitir que a rivalidade
entre a Rixon High e a escola do outro lado do rio, Rixon East,
afetasse seus negócios. Qualquer um era bem-vindo aqui, contanto
que jogasse bem. Isso significava que não havia camisetas de
futebol, cores ou conversa fiada. É por isso que os dois times de
futebol geralmente evitavam o lugar como uma praga.
— Aparentemente, as regras mudaram. — Hailee se retraiu, e eu
não podia culpá-la. Lewis Thatcher, capitão e quarterback de Rixon
East Eagles, veio atrás dela quando descobriu que era a meia-irmã
de Jason. Foi um show, mas desde que a Rival’s Week acabou,
imaginamos – esperamos – que as travessuras estúpidas tivessem
acabado também.
— Ah, merda. — Quando Lewis Thatcher entrou no The Alley
com um sorriso malicioso, percebi que havia falado muito cedo.
Como Jason, ele era adorado por seus colegas de classe e
moradores da cidade. Mas ele não estava em Rixon East agora e,
tecnicamente, este era o território Rixon.
O que é que ele estava fazendo aqui?
— Talvez devêssemos ir — eu disse a Hailee, que ainda estava
olhando para eles. — Hails? — Chutei sua perna de leve por baixo
da mesa, e ela virou a cabeça para mim.
— Desculpe, o quê?
— Eu disse que talvez devêssemos ir.
— E deixá-lo vencer? De jeito nenhum. — O desafio faiscou em
seus olhos. — Duvido que eles reconheçam...
— Senhoras — uma voz profunda falou, e nós duas olhamos
para cima, encontrando Thatcher e outro cara olhando para nós. —
Hailee e, sinto muito, acho que não sei seu nome?
— Não sabe — falei —, porque eu não disse a você.
Todo o restaurante ficou quieto, todos se esforçando para ouvir
nossa conversa. Hailee me lançou um olhar que dizia, “não piore as
coisas”, mas de jeito nenhum eu iria ficar sentada aqui enquanto ele
a provocava.
— Podem ir agora. — Eu os dispensei e foquei em Hailee
novamente. Orando silenciosamente que eles partissem. Mas eles
não foram.
— Gosto dela — o amigo de Thatcher disse. — Me pergunto o
que mais essa boca pode fazer...
— Você precisa ir embora — Hailee disse, segurando a borda da
mesa, deixando os nós dos dedos brancos.
— Engraçado — Thatcher se inclinou, com os lábios curvados
com diversão. — Porque parece um aviso, e ainda assim, não vejo
ninguém aqui vindo em seu socorro. Você vê, Gallen?
— Não vejo ninguém, capitão. — O cachorro de Thatcher cruzou
os braços, olhando para mim.
Examinei a lanchonete, procurando por alguém – qualquer um –
que pudesse nos ajudar. Mas todos do grupo de garotos que
reconheci da escola baixaram o olhar no segundo em que olhei para
eles.
Covardes.
O resto dos garotos assistiam com uma mistura de interesse e
simpatia, e imaginei que fossem jovens do Leste. Acostumados com
os jogos de Thatcher.
— O que você quer? — Hailee parecia desinteressada, mas
percebi a inflexão em sua voz.
— Quero? — Thatcher sorriu. — Quero muitas coisas, baby. —
Ele puxou uma mecha de seu cabelo e a levou ao nariz, inalando
profundamente.
Que se dane. Enfiei a mão na bolsa e consegui pegar o celular
sem que Lewis ou seu cachorro percebessem. Localizando
rapidamente o número de Cameron, mandei uma mensagem e, em
seguida, coloquei o aparelho de volta na bolsa.
— Rumores dizem que você está trepando com o Chase.
Hailee apertou os lábios, se recusando a responder.
— Saia de cima dela, seu porco nojento — gritei, mas o pânico
encheu os olhos de Hailee quando ela balançou a cabeça de forma
sutil.
— Quer que eu cale a boca dela, capitão? — O cachorro
perguntou. — Porque eu adoraria vê-la se engasgar com meu...
— Eu gostaria de te ver tentar. — As palavras saíram antes que
eu pudesse detê-las. A fome brilhou no olhar predatório do cachorro
enquanto seus olhos velados percorriam meu corpo. — Porco —
murmurei, me afastando dele.
— Quero que você mande uma mensagem minha ao seu
namorado...
— Por que você mesmo não manda?
O alívio me atingiu com a visão de Cameron e Asher parados na
porta. Thatcher se endireitou, mas não saiu do lado de Hailee.
— Você está bem? — murmurei para ela, que assentiu com
lágrimas não derramadas se acumulando no canto dos olhos.
— Fee, baby, por que você não vem aqui? — Asher curvou o
dedo para mim, e eu me levantei, ignorando o grunhido baixo vindo
do amigo de Thatcher. Quando o alcancei, Asher me segurou ao
seu lado e sussurrou: — Você fez a coisa certa.
Embora com a raiva emanando de Cameron, não tivesse
certeza. Não queria incitar uma briga nem que Lewis incomodasse
Hailee mais do que já tinha feito.
— Ela é sua, Bennet? — o cachorro perguntou a Asher com um
grunhido. — Porque se não for, não me importaria de levá-la para
um passeio... ver se o que dizem sobre as garotas Raiders é
verdade. — Sua risada encheu o ar e alguns de seus companheiros
bufaram.
Meu estômago se embrulhou com nojo, mas os dedos de Asher
cravaram em mim, me firmando.
— O que vamos fazer aqui, Cam? — ele perguntou. — Somos
apenas dois e tem oito deles.
— Eu cuido disso. — Cameron avançou, o ar ao redor dele
carregado e perigoso. — Hailee, venha aqui. — Ele deu um aceno
reconfortante, e ela se levantou da cadeira, mas Thatcher apertou
seu ombro.
— Não tão rápido, baby, estamos apenas...
— Tire as mãos dela.
— Ou o quê, Chase? Você é o namorado, não lutador, e não vejo
Ford em lugar nenhum, não é?
A antecipação vibrou no ar e todo o restaurante assistia com
fascínio. Algumas câmeras estavam apontadas na direção do
impasse entre Cameron e Lewis Thatcher, e eu sabia que não
demoraria muito para que estivesse em todas as redes sociais.
— Você não quer fazer isso, cara — Cameron falou, erguendo as
mãos. — É um lugar público, as pessoas estão filmando.
A hesitação passou pelo rosto de Thatcher, o suficiente para
Cameron segurar a mão de Hailee e puxá-la em sua direção.
— Vá. — Ele balançou a cabeça em nossa direção, e ela correu
para o lado de Asher.
— Talvez devêssemos ligar para o Jason — ela falou.
— Essa é a última coisa que queremos fazer agora. Seu garoto
pode lidar com isso.
— O que está acontecendo aqui? — Tate parecia perturbado.
Apoiando as mãos nos quadris, ele olhou carrancudo para Thatcher.
— Você conhece as regras, filho. Não vou deixar você vir aqui
desrespeitando...
— Calma, coroa. — Ele ergueu as mãos, se afastando
lentamente — Estávamos apenas fazendo um lanche.
Saindo é o caramba.
Se Tate não tivesse aparecido, sabíamos que as coisas
poderiam ter terminado de forma muito diferente. Mas Lewis
Thatcher inclinou a cabeça em direção à porta e como bons lacaios,
seus companheiros de time saíram em fila da lanchonete, com Tate
os seguindo.
— Diga a Ford que o veremos em breve. — Thatcher mandou
um beijo para Cameron. — Prazer em te ver de novo, Hailee.
Asher me soltou e se jogou no caminho de Cameron.
— Não faça nada estúpido, mano. — Ele pressionou a mão no
peito de Cameron.
— Estou bem — Cam disse, passando o braço ao redor de
Hailee. —Vamos nos sentar.
— Quer dizer, vamos esperar até que seja seguro sair? —
perguntei, incapaz de manter o sarcasmo fora da voz. — Que merda
foi aquela?
Asher e Cameron nos levaram até uma das cabines nos fundos
para que tivéssemos um pouco mais de privacidade. Hailee se
acomodou ao lado de Cameron, e Asher me puxou para perto.
— Ele está procurando sangue. — Asher esfregou o rosto.
— Bem, ele não vai querer sangue na minha casa de novo. —
Tate apareceu com as sobrancelhas franzidas. — Cameron, é bom
ver você, filho.
— Ei, Tate. Me desculpe por...
— Olha, não há necessidade de se desculpar, mas não vou
permitir que essa rivalidade atrapalhe meu negócio, está me
ouvindo?
Cameron assentiu, com a mandíbula tensionada.
— Não tínhamos ideia de que eles iriam aparecer aqui — Hailee
acrescentou e a cor finalmente retornou às suas bochechas.
— Sim, bem, os merdinhas planejaram isso. Alguns deles
causaram uma distração nos fundos, ou eu teria chegado antes.
Você é mais que bem-vinda por aqui a qualquer hora, sabe disso.
Mas não se...
— Pode deixar — Cameron falou. — Isso não vai acontecer de
novo.
Mas era uma promessa que todos sabíamos que ele não poderia
cumprir. Lewis Thatcher fazia o que queria. Ninguém poderia
impedi-lo de vir aqui, exceto a polícia. E assim como os Raiders, os
Rixon East Eagles eram virtualmente intocáveis.
Tate não parecia convencido, mas se afastou, resmungando algo
sobre “loucura do futebol”. Poucas pessoas em Rixon eram contra o
esporte. Na verdade, em toda a minha vida, só conheci três que não
eram obcecadas com o jogo: Hailee, Tate e a minha mãe. Era
apenas uma parte da vida aqui.
— Puta merda — Asher suspirou.
— Concordo com isso — falei, inclinando a cabeça para trás.
— Você está bem? — Cameron perguntou a Hailee, puxando-a
mais para perto. Eu os invejei. Sua proximidade, seu amor. A
maneira como ele a olhava, como se ela fosse tudo que ele
precisava, e faria o que fosse necessário para mantê-la.
Deus, eu queria isso.
Então por que você transou com o Jason?
Ignorei meu crítico interno, focando em minha melhor amiga.
— Talvez devêssemos contar a alguém.
— Contar a quem? À srta. Hampstead? Minha mãe? O diretor da
escola? — Ela balançou a cabeça. — Eu posso lidar com Lewis
Thatcher.
— Você não deveria ter que lidar com ele. — Cameron bateu
com a mão na mesa, fazendo com que eu e Hailee
estremecêssemos. — O Jason nunca deveria ter...
— O que ele fez de tão ruim? — perguntei.
A rivalidade de Jason e Lewis Thatcher nasceu no time infantil e
os acompanhou até o acampamento de futebol juvenil. Todos nós já
tínhamos ouvido as histórias de dois dos melhores zagueiros de
nosso distrito. As travessuras e brigas. Mas algo mudou no ano
passado. A rivalidade se tornou acirrada. Mas ninguém sabia dos
detalhes, nem mesmo Hailee, que morava com ele.
— Nada com que você precise se preocupar, linda. — Asher
sorriu.
— Você me acha bonita? Que fofo — atirei de volta, cheia de
sarcasmo. Sua expressão se desfez e por um segundo eu poderia
jurar que ele parecia magoado, mas então seu sorriso voltou ao
lugar como se nunca tivesse saído dali.
— Você sabe que o Jase vai querer revan...
— Não aqui — Cameron disse baixinho, e algo se passou entre
eles. Algo que eles não queriam que eu e Hailee soubéssemos.
Garotos idiotas. Revirei os olhos.
— Não quero você ou o Jason indo atrás do Thatcher. — Hailee
segurou o queixo dele, forçando-o a olhar para ela.
— Não vamos, prometo.
— Não minta para mim, Cameron. Espero isso do Jason, mas
não de você.
— O que você espera que eu faça? O que ele fez com você...
— Está feito. Nada que você ou o Jason façam vai consertar.
Deixe para lá. Estou bem.
Cameron abaixou a cabeça, capturando seus lábios em um beijo
lento e contundente. Asher pigarreou, se movendo
desconfortavelmente.
— Sério, gente? — ele perguntou, me lançando um olhar
perplexo.
— Me desculpe. — Os olhos de Hailee encontraram os nossos
enquanto ela tentava se livrar do beijo. Mas Cameron era mais forte,
plantando grandes beijos molhados e desleixados em todo o rosto.
— Eeeeee, estou indo. Vamos, Fee, você pode chutar meu
traseiro no air hockey.
Com um gemido, eu o segui para fora da cabine. Asher era o
maior curinga do grupo: sempre sorrindo, sempre contando uma
piada. Com cabelo loiro claro, olhos azuis cintilantes e um sorriso
maroto, ele era a epítome do garoto americano da casa ao lado. E
de alguma forma, ganhei um lugar na vida dele. Cameron me
provocava sobre ficar com Asher e, às vezes, eu me perguntava
como seria. Quer dizer, ele parecia interessado, sempre me
provocando e flertando comigo. Mas, infelizmente, não era o cara
que virou minha cabeça e fez meu coração bater um pouco mais
rápido. No fundo, Asher era bom. Seu coração era puro.
O que era péssimo para mim... porque, aparentemente, eu
preferia garotos malvados com corações sombrios.
QUATRO
Jason
— O QUE FOI QUE ACONTECEU? — questionei no segundo em
que Cam e Asher chegaram em nosso lugar no Bell’s, um bar local
administrado por um ex-Raider e um de nossos maiores fãs. Olhei
para Hailee, que estava quieta e um pouco pálida ao seu lado. Mal
passei os olhos por Felicity. Não podia arriscar que ela usasse
aquela porcaria de vodu hipnótico em mim, não aqui.
— Então? — Arqueei sobrancelha, impaciente.
— Foi o Thatcher. Ele apareceu no The Alley.
— Ele te incomodou? — Encontrei o olhar da minha meia-irmã e
a encarei, até que ela me deu um leve aceno.
— Puta merda. — Passei a mão pelo cabelo, tentando controlar
a raiva que sentia correndo em minhas veias. Thatcher deveria ser
problema meu e do time. Ele não deveria ir atrás de Hailee. Mas
essa merda era comigo, e eu lidaria com isso.
De uma forma ou de outra, ele teria o que merecia. Mesmo que
eu tivesse que esperar até que a temporada acabasse.
Fechei a mão, sentindo a raiva irradiar dentro de mim. Lewis
Tatcher, filho da puta.
— Vou pegar as bebidas — Asher avisou, cortando o silêncio
pesado. Todos pareceram respirar fundo enquanto esperavam que
eu me recompusesse. Encontrei o olhar tenso de Cameron. A
preocupação brilhava em seus olhos enquanto ele me avisava em
silêncio para não fazer nada imprudente.
Mas era sobre mim que estávamos falando.
E quando se tratava de Lewis Thatcher, a tentação de atravessar
o rio e causar um pouco de caos era muito difícil de resistir.
— Estou bem — falei, passando os olhos por ele, Hailee e então
Felicity. Seu olhar encontrou o meu, semicerrando ligeiramente.
— Vou ajudar o Ash. — Eu me afastei, mal conseguindo suportar
o nó no estômago. — Ei. — Me inclinando no bar ao lado de Asher,
dei um sorriso tenso.
— Ei, você está bem, cara?
Resmunguei uma resposta inaudível.
— Essa merda com o Thatcher está ficando cabeluda — Ash
continuou. — Deveria ter visto quando ele colocou as mãos na
Hailee. Achei que o Cam ia...
— Ele a tocou? — Cerrei a mandíbula.
— Só estava tentando irritar o Cam. Consegui tirar a Fee de lá
antes que um de seus caras... — ele parou, me olhando
atentamente.
Eu sabia o que ele estava fazendo e não gostei.
— De qualquer forma — ele continuou quando não mordi a isca.
— Cameron se controlou. Não tenho certeza se poderemos
aparecer por lá tão cedo. Tate, o proprietário, não ficou muito
impressionado.
— Você sabe que não coloco os pés naquele lugar há quase
dois anos, certo?
Asher deu de ombros.
— Eu tinha me esquecido de como era legal.
— Sério? — Lutei contra um sorriso malicioso. — Você é
esquisito pra caramba às vezes.
— Vá se foder, cara. — Ele me empurrou. — Você tem um plano,
certo? Para fazer o Thatcher pagar por ter feito essa merda com a
Hailee? Sei que ela disse ao Cameron para não fazer nada, mas ele
não pode simplesmente se safar.
— E não vai — grunhi.
— Bem, você sabe que estou do seu lado. — Ele passou o braço
por cima do meu ombro no momento em que Jerry trouxe nossas
cervejas.
— Vocês dois não estão criando problemas, estão? — Ele
ergueu uma de suas sobrancelhas espessas.
— Nada com que você precise se preocupar, J. — Pisquei, e o
coroa riu.
— Já vi esse olhar muitas vezes. Lembre-se de que você terá
uma carga maior nos próximos jogos. Não estrague o que poderia
ser uma temporada perfeita. — Seus olhos encontraram os meus.
Como se eu fosse deixar isso acontecer. Iríamos até o fim este
ano. Qualquer coisa menos não era uma opção. Perdemos para
Rixon East no ano passado, e isso doeu pra caramba. Mas este
ano, o estadual era nosso. Mais duas vitórias e nossa passagem
para os play-offs estava no papo.
Pegamos nossas bebidas – cervejas para os caras e
refrigerantes para as garotas – e voltamos para a nossa mesa.
Mackey e alguns dos outros se juntaram a nós, e ele não perdeu
tempo em jogar seu charme para Felicity.
— E aí, Flick. Tudo bem se eu te chamar assim? — ele
perguntou com um sorriso sugestivo.
Me sentei na cabine, dando um longo gole na cerveja.
— Pode chamá-la de Felicity, idiota — Asher se inclinou, batendo
na cabeça dele.
— Mas achei que... — Mackey olhou para ela em busca de
ajuda, mas um sorriso lento se espalhou em seu rosto, e me
preparei para qualquer merda que estivesse prestes a sair de sua
boca.
— O Asher tem razão — ela ronronou, colocando a mão em seu
braço. — Esse é um apelido que só meus amigos mais próximos
usam. Pode me chamar de Felicity.
— Amigos próximos? — Os olhos do novato brilharam. — Baby,
basta dizer, e eu posso fazer acontecer.
As meninas sufocaram a risada enquanto Asher o acertava na
cabeça novamente.
— Puta merda, cara, o que foi isso?
— Você precisa melhorar o seu jogo, mano.
— A Khloe não pareceu se importar na noite passada quando
estava chupando meu...
Um coro de “cara” e “Mackey” soou ao nosso redor.
— Ah, agora é assim. Só porque a Hailee e a Fli... Felicity — ele
lhe deu um olhar de desculpas — estão aqui, temos que diminuir o
tom.
— Isso mesmo, idiota — Asher respondeu. — Porque
respeitamos as mulheres.
— Cara, você não ouviu o Jase contando a todos sobre a garota
com quem ele transou no fim de semana?
Puta merda.
Levantei a cabeça.
— Cale a boca, Mackey. Foi apenas conversa de vestiário.
— Conversa de vestiário é o caramba. Você disse...
— Não disse porra nenhuma. — Bati a mão na mesa, o som
reverberando por mim. Arrisquei um olhar para Felicity, esperando
que ela não o tivesse ouvido. Mas pela forma como o sangue havia
sido drenado de seu rosto, eu sabia que ela tinha.
Merda de novato estúpido.
— Com licença — ela empurrou Asher —, preciso usar o
banheiro.
— Acho que vou com você. — Hailee a seguiu e as duas saíram
depressa, mas não antes que a minha meia-irmã me encarasse.
— Que merda foi essa? — Asher franziu a testa para mim.
— Talvez ela tenha menstruado.
Todos nós ficamos pasmos com Mackey.
— Ou talvez — Asher continuou — elas precisem fazer xixi.
— Nada, garotas vão ao banheiro em grupo quando ficam
menstruadas. É chamado de sincronicidade menstrual ou algo
assim.
— Tenho certeza de que isso tem tudo a ver com garotas
menstruando na mesma época, não saindo para fazer xixi juntas.
— Tudo parece igual para mim. — Ele deu de ombros, e alguém
enrolou um guardanapo e jogou nele.
— Aconteceu alguma coisa entre vocês dois? — Asher baixou a
voz o suficiente para que ninguém mais o ouvisse.
— Quem? — Eu me fiz de bobo.
— Jase. Ela parecia prestes a vomitar em cima da mesa.
— Não tenho ideia do que você está falando.
— Claro que não. — Ele fez uma careta, se afastando de mim e
se juntando ao resto da conversa.
Não sei por que eles estavam tão preocupados. Eu e Felicity
transamos. Não era culpa minha o fato de que ela era virgem e não
me contou. Ou que Hailee tivesse nos surpreendido. Na verdade, foi
até uma coisa boa... acabamos com qualquer que fosse esse clima
estranho de desejo e ódio que existia entre nós. Exceto que isso
não terminou, e você roubou a merda da virgindade dela.
Sufocando um gemido, murmurei:
— Já volto. — Saindo da cabine, ignorei os olhares
questionadores. Não sei quando comecei a me preocupar tanto com
as coisas, mas precisava esfriar a cabeça. Não podia me dar ao
luxo de nenhuma distração neste semestre, e se meus amigos
continuassem trazendo Felicity à tona, ela seria exatamente isso:
uma distração.
Algo que eu precisava cortar pela raiz, mais cedo ou mais tarde.
Determinado, me dirigi para os fundos do bar, onde ficava o
corredor que levava aos banheiros. Hailee e Felicity estavam saindo
quando entrei. Minha meia-irmã imediatamente me avistou, com os
olhos em alerta máximo.
— Ei — falei, passando a mão pelo cabelo. — Posso falar com
você um minuto? — Meus olhos encontraram os de Felicity por cima
do ombro de Hailee.
— Não acho que isso é uma boa...
— Hailee. — Felicity colocou a mão em seu ombro. — Está tudo
bem. Vá, já nos encontramos.
Minha meia-irmã passou por mim, parando apenas para
encontrar meus olhos. Ela não falou. Não precisava. Sua mensagem
brilhou bem ali.
Não a toque.
Não a machuque.
Estou te avisando.
Enfiando as mãos no bolso, me movi em direção a Felicity.
— Vamos. — Passei ao redor dela e segui pelo corredor. Eu
conhecia este lugar bem o suficiente para saber onde ficavam todos
os cantos e recantos. Empurrando a última porta, segurei-a e
esperei Felicity entrar. Ela ergueu a sobrancelha em dúvida, e eu
disse: — Só para conversar, prometo.
Ela me deu um aceno tenso.
No segundo em que entrei no depósito e fechei a porta, o ar
pareceu desaparecer. Felicity me observou com os olhos nublados
de hesitação.
— Que merda foi aquela?
Ela se afastou como se eu a tivesse esbofeteado.
— Não se faça de boba, Flick. Eu vi a maneira como você reagiu
quando Mackey estava falando.
— Sim, bem, eu não planejava me tornar uma conversa de
vestiário — ela respondeu.
— É isso o que você acha? Que eu estava falando sobre você?
— Eu me aproximei. — Isso foi um erro. Você foi um erro. Algo que
não pretendo repetir.
Ela ofegou e a dor brilhou em seus olhos.
— Vá se foder — ela ferveu.
— Baby — estendi a mão, puxando uma mecha do seu cabelo
—, já fizemos isso.
— Eu te odeio. — A voz dela falhou.
Ótimo. Ela precisava me odiar. Eu não precisava que ela tivesse
uma ideia errada sobre nós.
Sobre mim.
Por mais que eu odiasse admitir, Hailee tinha razão. Eu
precisava ficar longe de Felicity. Ela era muito ingênua, pura pra
caramba. Até Nova York, até me encontrar, ela era virgem, pelo
amor de Deus.
Avancei novamente, ficando quase peito contra peito. Eu não
tinha planejado chegar tão perto, mas não havia como negar que ela
me puxava. Quase me fez querer terminar o que começamos em
Nova York. Baixei os olhos para seus lábios macios e carnudos que
eu conhecia o gosto. Ela os umedeceu enquanto me observava.
— Jason, o que...
— Cale a boca — grunhi. Ela estava arfando e me lembrou uma
corça. Inocente e vulnerável. Esperando ser abatida pelo lobo mau.
Antes que eu percebesse, envolvi a mão em seu pescoço,
acariciando a pele úmida com o polegar. Ela estava suando. Era
inebriante saber como a afetava. Saber que se eu enfiasse os dedos
em sua calcinha, provavelmente a encontraria molhada. Mesmo que
ela me odiasse, mesmo que não quisesse isso, seu corpo queria.
Algo que aparentemente tínhamos em comum.
Ela estremeceu, irradiando calor.
Talvez Felicity Giles não fosse uma garota tão boa.
A ideia fez meu pau pulsar, lutando contra meu jeans.
— Você precisa ir embora. — Seu corpo tremia, seus olhos
dizendo um milhão de coisas que ela nunca verbalizaria.
— E por que faria isso? — Me inclinei, passando os lábios por
sua mandíbula até o canto de sua boca. Ela respirou fundo.
— Jason, por favor, não faça isso...
— Você me quer.
— Não. — Saiu uma respiração instável.
— Não minta para mim, baby. Posso sentir o calor do seu corpo,
a maneira como você está tremendo ao meu toque. E aposto que se
eu fizer isso — desci a outra mão por seu estômago, mais e mais
baixo, até que eu roçasse o ápice de suas coxas.
Um gemido suave escapou dos lábios de Felicity, e eu ri.
— Bingo.
— Por quê? — ela ofegou, engolindo em seco.
— Por quê? — Recuei para olhar para ela. As pupilas estavam
dilatadas, a pele corada e sua excitação girava ao nosso redor. —
Porque eu posso. — Pairei a boca sobre a dela, esperando.
Antecipando o que ela poderia fazer.
Seus olhos tremularam fechados, com a respiração irregular. Eu
mal a tocava e, ainda assim, ela era tão responsiva. Tão fácil de
provocar. Felicity Giles não era nada além de surpresa após
surpresa.
— Por que eu? — perguntei contra seus lábios.
— O quê?
— Por que me escolheu? Não acredito nessa besteira de ser um
meio para um fim. Não quando você poderia escolher caras que
teriam te tratado...
Ela bufou.
— Ninguém na escola ousaria me convidar para sair.
Que merda era essa?
Pisquei, mal conseguindo acreditar no que estava ouvindo.
Claro, Felicity não era classicamente gostosa. Geralmente, a
encontrava andando pelo corredor parecendo mais o tipo bonitinha
do que uma garota com quem eu gostaria de transar. Mas quando
se olhava além do macacão, das camisas com estampa floral e do
estilo hippie que ela usava na maioria dos dias, era linda.
— Você realmente não sabe? — ela sussurrou.
Minha expressão devia ter dito tudo, porque Felicity soltou um
suspiro pesado.
— Você — ela disse. — Por sua causa. Você disse a todos que a
Hailee era proibida na nona série, e eu sou a melhor amiga dela. Se
alguém tentar chegar perto de mim, vai se aproximar da...
— Hailee.
— Hailee. — Ela franziu os lábios e assentiu. — Aparentemente,
não valho o risco.
Ela nunca namorou... por minha causa.
Acho que nunca pensei muito nisso antes. Ela era a melhor
amiga de Hailee. Alguém que eu estava acostumado a ver por aí.
Alguém que eu mal tolerava. Mas agora ela era... merda! Não queria
me sentir culpado. Mas uma emoção desconhecida passou por mim.
Um instante se passou. E outro.
— Jason, eu deveri...
— Espere, espere um minuto. — Eu precisava pensar, e era
impossível com ela parada ali, tão perto, mas tão longe. Com meu
corpo hiper consciente do dela.
— Você está bem? — Sua voz era muito baixa. Eu odiava, mas
não sabia por quê.
— Tudo bem, isso foi... estranho, mas vou embora. — Ela
começou a afastar meus dedos de seu pescoço. Eu nem tinha
percebido que ainda a segurava daquele jeito, porque não
conseguia pensar direito.
Felicity estava quase chegando à porta quando finalmente
encontrei minha voz.
— Pare — falei, girando para encontrar seu olhar confuso.
— Jason, eu...
Em um segundo, eu estava sobre ela, pressionando-a contra a
porta, cobrindo sua boca. Felicity bateu as mãos na minha camisa,
me empurrando para longe, mas eu era muito forte e eventualmente
ela desistiu, torcendo a mão no tecido e me puxando para mais
perto.
Exigindo mais.
Empurrando o corpo contra o dela, impulsionei os quadris para
frente.
— Ah, nossa — ela gemeu, arranhando minha nuca com as
unhas enquanto nos devorávamos. Línguas emaranhadas e dentes
se chocando.
— Nossa! — Recuei, piscando rapidamente, tentando esfriar a
cabeça.
Que merda eu estava fazendo?
— Isso foi...
— Um erro — Felicity disse com um toque de tristeza.
— Sim, quero dizer, eu não estava... — Recuei, colocando um
espaço muito necessário entre nós.
— Entendo. — Ela se fechou, envolvendo os braços na cintura,
mal encontrando meus olhos.
— Felicity, eu...
— Não vamos fazer isso. Eu não tinha nenhuma expectativa
quando nós... — Sua expressão esfriou como o ar ao nosso redor.
— Você não me deve nada, e eu com certeza não devo nada a
você, então vamos fingir que nunca aconteceu, tudo bem? Vou
voltar a ser a melhor amiga da sua meia-irmã, a pessoa que você
nem sabia que existia.
Fingir que nunca aconteceu.
— Certo. Parece bom para mim — falei, dando de ombros.
— Excelente.
— Ótimo. — A palavra ecoou em minha cabeça. Eu estava bem
com isso. Só vim falar com ela para acertar as coisas e evitar mais
drama com os caras. Fingir que nunca aconteceu era a solução
perfeita.
Afinal, ela estava certa. Ela nunca esteve no meu radar até
recentemente. Não era ninguém para mim.
Era melhor que voltasse como era. Certo?
CINCO
Felicity
— FELIZ DIA DE JOGO. — Abri um largo sorriso para Hailee, mas
ela franziu a testa.
— Você está feliz.
— Isso é crime?
— Não, claro que não, só achei que...
— Que eu passaria a semana me lamentando atrás do Jason?
— Consegui dar uma risada, mas foi tensa. — Como eu já disse
ontem e anteontem, foi um erro. Jason, quem?
Os olhos de Hailee me examinaram. Focados, avaliadores e
cheios de dúvidas.
— Se isso te faz sentir melhor — continuei, preenchendo o
silêncio constrangedor —, adicionei outro item à minha lista.
— É? — Ela arqueou as sobrancelhas quando a escola
apareceu.
— Sim. Número onze: não se relacionar, em hipótese alguma,
com o time de futebol.
— O Asher está no time de futebol. — Senti seu olhar pesado
sobre mim.
— O Asher é um amigo.
— É assim que vamos chamar? Ele gosta de você, sabia?
— Ele não gosta de mim. Gosta da ideia a meu respeito.
— Poderíamos namorar em dupla. — Ela parecia feliz com a
perspectiva. Muito feliz.
— Hails — olhei para ela —, não tenha nenhuma ideia sobre
mim e o Asher, viu?
— Quem, eu? — Ela abriu um sorriso bobo. — Não tenho ideia
do que você está falando.
— Hails, estou falando sério. O Asher é...
— Bonitinho. Atlético. E totalmente a fim de você.
— Ele não está... — O protesto morreu na minha língua. Houve
momentos em que percebi Asher olhando para mim com luxúria em
seus olhos azuis. Mas ele era um cara e eu uma garota. Era biologia
simples. Asher Bennet era um jogador por completo. Os rumores
que ouvi sobre suas escapadas sexuais eram impressionantes, para
dizer o mínimo. E ele tinha um tipo. Muito parecido com toda a
equipe.
Que não era eu.
— Preciso passar no estúdio primeiro. O treinador Hasson e o sr.
Jalin querem ver como as coisas estão “progredindo”. — Ela fez
aspas no ar.
— Ah, sim, os retratos da Noite dos Veteranos. E como estão
essas coisas? — Hailee era reservada sobre sua arte, então o fato
de o treinador Hasson ter pedido a ela para pintar os retratos
comemorativos dos jogadores veteranos não era pouca coisa.
Na verdade, era épico.
— Posso ir com você?
— Humm, não sei, Flick. É para ser uma grande surpresa no
jantar da Noite dos Veteranos
— Por favor. — Dei a ela meu melhor olhar de cachorrinho. —
Faltam três semanas para o jantar, e eu realmente quero vê-los.
— Eles ainda precisam de muito trabalho.
— Hails, vão ficar ótimos. O sr. Jalin e o treinador Hasson não
teriam te pedido isso se não acreditassem que você poderia fazer.
Ela me deu um sorriso fraco, algo que me disse que ela não
estava tão convencida quanto eu.
— Tudo bem. Mas você tem que se esquecer de que eu te
mostrei. Porque o Cameron estava me perseguindo para ver o dele,
e eu disse que não.
— Ahh, mas você me ama mais do que a ele.
— Flick, vamos. Eu amo vocês dois. Igualmente. — Seu lábio se
curvou.
Parando em uma vaga de estacionamento vazia, desliguei o
motor e me virei para olhar para minha melhor amiga.
— Sinto muito — falei em um tom sincero. — Me desculpe,
quase estraguei tudo com você por causa do Jason. E sinto muito
mesmo que você tenha visto... bem, aquilo.
Um estremecimento violento me atingiu com a lembrança de
Hailee me pegando com Jason. A confusão e dor em seus olhos.
A decepção.
Sua expressão suavizou quando ela segurou minha mão,
apertando-a suavemente.
— Me desculpe, eu surtei. É que o odiamos por tanto tempo e
você é minha melhor amiga. Não quero ver você se machucar.
— Você não precisa se preocupar comigo, Hails. — Meu peito se
apertou. — Sou uma garota crescida. Nem mesmo gente como o
Jason pode me machucar. — Mas no segundo em que disse as
palavras, soube que era mentira.
Porque Jason já tinha me machucado. E eu sabia que se tivesse
meia chance, ele me destruiria completamente.
Mas isso não iria acontecer, porque o que quer que houvesse
entre nós, a estranha atração de ódio e luxúria que tínhamos,
acabou.
Completamente.
Jason quem?

— PUTA MERDA, Hails. Isso é... — Eu não tinha palavras para


descrever a obra de arte que meus olhos estavam encarando. Era
Cameron. Uma pintura dele preparado e pronto para pegar a bola.
Mesmo através de seu capacete, era possível ver sua determinação
feroz, a maneira como seus olhos estavam fixos no alvo. Nada além
dele e da bola, que era arremessada em direção a ele.
— Nunca vi nada assim. — Estendi a mão para tocá-lo, mas ela
afastou minha mão. — Merda, me desculpe — falei, me inclinando
mais para perto para dar uma olhada melhor. — É tão realista.
Como se eu o estivesse vendo se mover para pegar a bola. Até a
camisa dele parece estar se mexendo.
— Era isso o que eu queria capturar: a urgência do jogo, a
adrenalina e a força.
Olhei para ela, lutando contra um sorriso.
— Calma aí, você está começando a soar como uma verdadeira
fã.
Ela corou.
— Acho que ele está passando para mim.
— Admita, você adora. — Antes de Cameron, tive que arrastar
Hailee para seu primeiro jogo, e ela passou o tempo todo
reclamando. Mas agora, minha amiga estava a caminho de se tornar
a fã número um dos Raiders. E eu não poderia culpá-la. Se eu
pudesse assistir Cameron jogar, sabendo que ele era meu, também
seria convertida.
— Então, posso ver outro? — perguntei, olhando para as outras
telas, escondidas com lençóis.
— Você realmente acha que é bom o suficiente?
— Querida, é incrível. Você é tão talentosa. Eu gostaria de ter
seu tipo de habilidade natural... em qualquer coisa.
— Flick, vamos lá, você é boa nas coisas.
Eu bufei.
— Dificilmente. Diga uma coisa em que sou boa. — Hailee bateu
nos lábios, ponderando por muito tempo. — Viu? — acrescentei. —
Nada.
— Você gosta de ler.
— O mesmo acontece com metade da população. — Revirei os
olhos.
— E você tem sido muito boa em sair da sua zona de conforto
ultimamente.
— Não acho que exista uma disciplina para isso na faculdade,
Hails.
— Você gosta de listas.
Verdade. Eu gostava. As listas me mantinham organizada. Me
lembravam de coisas que eu precisava fazer. Lista de compras.
Lista de celebridades pelas quais me apaixonei. Sem mencionar
minha lista de desejos do último ano.
Listas me deixavam feliz.
— Tem razão. Sou uma excelente criadora de listas. É um
talento subestimado, com certeza.
— Ah, vamos lá. — Ela cutucou meu ombro. — Você sabe o que
eu quero dizer. Só porque você não é realmente boa em uma coisa,
não significa que não seja boa em muitas pequenas coisas.
— Sim, tem razão. — Meu sorriso foi forçado, e o nó no meu
estômago se apertou.
Não era que eu tivesse inveja de Hailee, eu não tinha. Ela era
talentosa, e eu estava animada com a revelação da Noite dos
Veteranos. Por ela. Mas isso só aumentou minha autoconsciência
de como eu era carente. Estávamos no ano das inscrições para a
faculdade e da busca por sonhos futuros. Um futuro que meus pais
planejaram para mim desde o ventre. Eles queriam que eu seguisse
a tradição familiar, frequentasse a UPenn, conseguisse o diploma
em administração e arranjasse um emprego executivo na cidade.
Antes do último ano, eu teria concordado com esses planos.
Porque era melhor do que a alternativa – nenhum plano. Mas eu
estava inquieta. Uma vozinha sussurrando em meu ouvido que se
eu fosse para UPenn, estudasse administração e me formasse,
pronta para entrar no grande velho mundo do emprego executivo,
eu me arrependeria. Antes era fácil de ignorar, mas agora estava
ficando mais alto, um barulho constante se fazendo ouvir.
Foi assim que minha lista de desejos do último ano apareceu. Se
eu fosse correr atrás do sonho dos meus pais para mim em vez de
percorrer a estrada acidentada da incerteza, eu queria ir com tudo.
Fazer do último ano o melhor que poderia ser.
1. Começar um novo hobby
2. Matar aula
3. Participar de uma reunião de torcida
4. Mergulhar nua no lago
5. Adormecer sob as estrelas
6. Ir a uma festa na casa de Asher Bennet
7. Beber (álcool de verdade) no Bell’s
8. Ir para o baile de inverno... com um par (não uma amiga)
9. Ficar com um cara qualquer
10. Me apaixonar por um amor louco e confuso
Me lembrei de cada item, marcando aqueles que já havia
concluído. Entrei para o clube do livro, participei de uma reunião de
torcida e fui a uma festa na casa de Asher. Graças a ele, também
fiquei um pouco bêbada no Bell’s. O número nove era um dado
adquirido, mas eu estava pensando em me dar uma chance no que
dizia respeito a isso, porque Jason não era um cara qualquer e nem
nosso momento de loucura poderia ser descrito como uma “ficada”.
— Ei — a voz de Hailee me tirou dos meus pensamentos. —
Você está bem?
— Hum, o quê? — pisquei para a minha melhor amiga.
— Você ficou fora do ar por um minuto.
— Estou bem.
— Eu não queria ferir seus sentimentos...
— Você não feriu. — Abri um sorriso. — Agora, o que uma
garota precisa fazer para ver os outros? — Inclinei a cabeça para os
retratos ocultos.
— Flick — Hailee gemeu.
— Hails, vamos... sou eu. — Pisquei os olhos e fiz beicinho
novamente, sabendo que ela não seria capaz de resistir. Mas nada
poderia ter me preparado para o próximo retrato enquanto Hailee
puxava o lençol que o cobria.
— Puta merda. — As palavras saíram de meus lábios em uma
lufada de ar. Era Jason, olhando diretamente para mim com os
olhos intensos e escuros fixos no meu rosto, o braço erguido pronto
para lançar a bola. Me aproximei, impressionada com os detalhes.
Os músculos de seu braço protuberantes, fortes e poderosos.
— Acho que é o meu favorito até agora — Hailee disse. — O que
é estranho, considerando que ainda não o suporto. Mas ele
incorpora o jogo. Acho que são os olhos, a determinação absoluta
neles. Como se ele fosse o jogo. Eu realmente nunca entendi sua
obsessão, mas ao vê-lo treinar, vê-lo lá fora no campo, eu entendo.
Ele não gosta apenas de futebol, ele...
— Precisa. — Eu não conseguia tirar meus olhos dele. Já tinha
visto Jason jogar algumas vezes e sempre era um espetáculo a ser
visto. Mas foi das arquibancadas. Isso era íntimo. Como se eu
estivesse ali em campo com ele, vendo-o comandar o jogo, seu
time. Um arrepio percorreu minha espinha e respirei fundo.
— É ótimo, Hails. Muito bom. — Tentei controlar a expressão,
mas Hailee semicerrou os olhos. Tentando desviar, perguntei: —
Quem falta?
— Jones, Merrick e Killian. Estou quase terminando com o resto.
— Mal posso esperar para vê-los todos juntos. O treinador
Hasson vai ficar maravilhado. — Voltei os olhos para o retrato de
Jason, mas me forcei a olhar para Hailee. Eu precisava empurrá-lo
para o fundo da minha mente. Uma lembrança que eu só me
permitia ter quando estava sozinha com um pote de sorvete ao
alcance.
— Eu só espero que os caras gostem — ela comentou baixinho.
— Eles vão — assegurei a ela. Não tinha como não gostarem.
Mas enquanto ela cobria Jason, vi a maneira como seus olhos
pousaram no meio-irmão. A cautela em seu olhar. As coisas sempre
foram tensas entre eles, e embora Hailee nunca admitisse, eu sabia
que ela queria que as coisas fossem mais fáceis. Que Jason a
respeitasse. Especialmente agora que ela estava com Cameron.
— Ele vai adorar, Hails.
— Não sei...
— Sim, você sabe. — Curvei os lábios em um sorrisinho. — Está
tudo bem querer a aprovação dele. É seu irmão.
— Meio-irmão.
— Isso realmente importa? É o último ano. Logo estaremos indo
em direções diferentes. Mas você e o Jason sempre encontrarão o
caminho de volta um para o outro, porque gostemos ou não, vocês
são parte da mesma família. Então, sim, está tudo bem querer que
ele goste, e está tudo bem se quiser tentar acalmar as coisas com
ele.
— Você é uma boa amiga, Felicity Giles. — Hailee passou os
braços em volta de mim, me abraçando com força. — E prometo
fazer tudo ao meu alcance para tornar o seu último ano o mais
incrível possível.
— Para o que der e vier — falei.
Hailee se afastou, sorrindo para mim.
— Para o que der e vier.
SEIS
Jason
— EI, QB, dê uma olhada. — Grady me mostrou seu telefone celular.
Peguei, semicerrando os olhos ao ler o tweet.

@THATCHERQB1: É melhor que os Raiders tenham cuidado, os


Tigers estão à espreita #Tigersvaoacaca #Raidersvaoseferrar

— O PRIMO do Thatcher não joga pelos Tigers? — ele me


perguntou enquanto eu devolvia o celular.
Dando de ombros, grunhi.
— Não dou a mínima. Ele só está amargo porque acabamos
com eles na Rival’s Week. — Jogamos com eles há algumas
semanas. Foi uma luta de cães, as duas equipes se recusando a
desistir. Mas, no final, conseguimos a vitória, e Thatcher voltou para
Rixon East com o rabo entre as pernas.
— Devemos nos preocupar? — Cam se inclinou, sussurrando
em meu ouvido.
— Eu pareço preocupado? — Thatcher estava se agarrando a
qualquer coisa. Ele não podia me tocar no campo e sabia disso.
— Ei. — Cam apoiou a mão no meu peito enquanto eu me
movia. — Tem certeza de que está bem?
— Millington vai cair e vou aproveitar cada segundo. — Sorri,
mas Cameron não compartilhou do meu entusiasmo. Na verdade,
ele parecia miserável.
— Ele não pode me tocar lá. — Minha expressão ficou séria. —
Você não precisa parecer tão...
— Grady — o treinador gritou, nos assustando. — É melhor que
não seja um celular em sua mão. Guarde-o, filho. Agora.
— Desculpe, treinador — Grady resmungou, se virando de
costas para mim quando sorri para ele.
— Juntem-se, rapazes — a voz do treinador Hasson ecoou pelo
vestiário. Nós nos aproximamos, entrando em formação ao redor
dele. Me ajoelhei, com o capacete na perna e a adrenalina pulsando
em minhas veias.
— Jogo seis — ele disse. — Ganhem esta noite e estaremos a
apenas um jogo de garantir nosso lugar nos play-offs. Somos o time
favorito. Mas isso não significa que podemos ficar presunçosos,
estão me ouvindo?
— Sim, senhor — soou alto, vibrando através de mim.
— O Millington tem uma defesa forte e um ataque rápido. Não os
subestimem. Quero olhos abertos. Deem ao Chase um caminho
claro e, pelo amor de Deus, fiquem de olho em seu QB.
Nossa defesa grunhiu de novo:
— Sim, senhor.
— Chase — o treinador chamou o cara parado ao meu lado. —
Você está bem?
— Sim, treinador.
— Fico feliz em ouvir isso, filho. Se algo mudar, me avise, está
bem?
Cam assentiu e encontrou meus olhos. Tanta coisa se passou
entre nós que meu peito apertou. Ele tinha perdido nosso último
jogo, porque sua mãe estava no hospital, mas ele estava de volta e
faminto por isso. Vi em seus olhos, sabia que os meus estavam
refletindo o mesmo. Estávamos muito perto. Tanto que eu quase
podia sentir o gosto. No ano passado, perdemos a chance de
disputar o campeonato, mas este ano era nosso. De um jeito ou de
outro, eu ia ganhar o anel de campeão antes de me formar.
— Há algo que você deseja adicionar QB? — o treinador me
perguntou, seus olhos transmitindo todas as conversas que tivemos
durante o treino desta semana.
Mantenha-se bem.
Estamos quase lá.
Leve-os à vitória, filho.
Olhando no rosto de cada um dos meus companheiros de
equipe, eu disse:
— Vamos fazer o que fazemos todas as semanas. Vamos até lá
e vamos jogar como queremos. Nós somos os Raiders. E o que
vamos fazer?
— GANHAR — o rugido de meus companheiros de equipe,
meus irmãos, me atingiu, alimentando o fogo que já ardia em meu
peito.
— É isso que eu gosto de ouvir. Asher, filho, se importa de fazer
as honras?
— Claro, treinador. — Asher ficou de pé, pulando como se fosse
o mascote do Tigers com esteroides. — Quem somos? — gritou.
— Raiders — nossas vozes carregavam o estrondo da multidão
do lado de fora.
— Eu perguntei quem somos?
— RAIDERS.
— E o que somos?
— Família.
— E o que vamos fazer? — Asher sorriu para mim, filho da puta
arrogante.
— Vencer.
— Eu perguntei o que vamos fazer?
— VENCER!
— Claro que vamos. — O treinador socou o ar com sua
prancheta e gritou: — Agora vão até lá e me mostrem do que vocês
são feitos.
À medida que saíamos do vestiário para o túnel do estádio,
parecíamos um exército avançando para a guerra. As chamas
lambiam minhas entranhas e a fome de vitória corriam em minhas
veias. Coloquei o capacete enquanto corríamos para o campo,
atravessando o banner das líderes de torcida como uma onda
poderosa. A multidão estava de pé, aplaudindo e gritando nossos
nomes. A força absoluta de suas vozes me atingiam. O som de
Imagine Dragons levava todo o lugar a um frenesi. Era para isso que
eu vivia. Neste lugar sagrado, sob as luzes fortes da noite de sexta-
feira, eu era o melhor. Adorado como um deus e reverenciado como
um astro. Eu era um aluno acima da média, conhecia bem um livro
de álgebra, de Shakespeare a Miller, mas aqui... aqui estava eu em
casa.
Levei um segundo, inspirando profundamente, saboreando o
cheiro da grama recém-cortada, deixando meus olhos percorrerem a
multidão de quatro mil pessoas. Por quatro anos, joguei futebol aqui.
Durante quatro anos, celebrei vitórias e derrotas, embora poucas.
Quatro anos de sangue, suor e lágrimas. Eu estava pronto, muito
pronto, para o próximo passo na minha carreira no futebol. O NCAA.
Um passo mais perto do sonho final: A NFL. Mas eu sabia que havia
algo sobre esse período, o último ano do ensino médio. Virei um
homem neste campo e nunca me esqueceria do tempo jogando
para o treinador Hasson, com caras que eu considerava meus
irmãos.
— Ei, QB, você está bem? — Asher gritou, e virei a cabeça para
ele. Assenti, correndo para o resto dos caras. A antecipação vibrou
ao nosso redor, o ar crepitando de excitação. Era viciante. Melhor do
que qualquer efeito sintético.
— Ei, Jase. — Grady balançou a cabeça para onde Millington
estava encolhido. — Parece que você tem um novo fã-clube.
Um de seus jogadores estava me olhando. Eu me endireitei,
inclinando o queixo, enviando a ele um silencioso “vá se foder”. Ele
semicerrou os olhos, apontando o dedo para mim antes de arrastá-
lo pela garganta.
— Ei, treinador? — chamei um de nossos treinadores
assistentes. — Número vinte e três. Em que posição ele está
jogando?
— Linebacker — ele respondeu com cautela. — Devo me
preocupar?
— Não. Só queria saber.
Ele me lançou um olhar penetrante.
— Não faça nenhuma besteira, viu?
— Ouvi alguém dizer besteira? — O treinador Hasson nos
chamou. — Ouça. Millington veio aqui para vencer. Se não
conseguirem, podem se despedir da chance nos play-offs. Isso
significa que eles vieram atrás de sangue. Seu sangue. Vocês me
ouviram? — Nós concordamos. — Eles estão desesperados e
homens desesperados farão de tudo para obter a vitória.
Mantenham a calma e não sejam arrastado para o jogo deles. Isso
vale para você também, QB.
— Sim, senhor. — Voltei a olhar para Millington. Como nós, eles
estavam amontoados ao redor de seu treinador, que sem dúvida
estava lhes dizendo para usar todos os truques para conseguir a
vitória que eles precisavam para manter vivo seu sonho dos play-
offs.
O árbitro interrompeu a conversa estimulante do treinador para
nos informar que precisávamos decidir o lance. Corri para o meio do
campo com Cam e Asher ao meu lado, onde encontramos os
jogadores de Millington de frente.
— Como eles são o time visitante, o lance vai para Millington. O
que vai ser, capitão?
— Cara — o jogador respondeu enquanto todos se amontoavam
para ver o árbitro jogar a moeda para o ar.
Coroa. Vá se foder. Sorri para ele e depois para o número vinte e
três, que veio apoiar seu capitão.
— A decisão é sua, Raiders.
— Vamos dar o pontapé inicial. — Eu não ia dar a esses filhos
da puta nem um grama de espaço para respirar.
— Ótimo. Espero um jogo limpo. Capitães, mantenham seus
jogadores sob controle e vamos jogar.
Asher e Cameron começaram a correr de volta para nossa
equipe, mas não pude resistir a olhar por cima do ombro. O número
23 estava correndo de costas, com os olhos fixos em mim, e mesmo
através de seu capacete, não deixei de entender as palavras que
ele proferiu.
Thatcher mandou lembranças.

— CORRA, corra — a multidão pareceu ecoar minhas palavras


enquanto Cameron disparava com a bola, se esquivando do mar de
jogadores vestidos de laranja e preto correndo em sua direção.
— Filho da puta — rugi quando ele foi abordado por uma enorme
extremidade defensiva e seu corpo bateu no chão com um baque.
Fora da zona final.
— Eles estão em cima de nós — Grady correu até mim enquanto
saíamos do campo.
Não estava errado, mas eu não queria admitir. Millington estava
jogando pesado e se não mudássemos logo, nossa vantagem de
21-18 desapareceria.
Dei um tapinha em seu ombro antes de abrir caminho em
direção a Merrick, um de nossos melhores jogadores de defesa.
— Faça-os pagar — eu disse, puxando seu capacete para o
meu. — Eu me recuso a perder para esse bando de idiotas.
Entendeu?
— Entendi, QB. — Seus olhos brilharam de fome.
— Vá buscá-los.
Observando enquanto nossa defesa se alinhava na luta, o
treinador Hasson veio até mim.
— O que está acontecendo? Eles te assustaram ou algo assim?
Eu não poderia dizer a ele que o primo de Thatcher, o número
23, estava tornando impossível para mim. Ele falou merda durante a
maior parte do jogo, me empurrando, me provocando, tentando me
fazer morder a isca. Eu não mordi... ainda, porque sabia que o
treinador ia me encher o saco. Mas não tinha certeza de quanto
mais eu poderia aguentar.
— A defesa vai cuidar disso — grunhi, observando enquanto o
QB do Millington encerrava a jogada. Ele era arrogante. Um
verdadeiro showman, preferindo segurar a bola e correr do que usar
seus jogadores e passar.
Obviamente, ele fingiu o passe, girou para a esquerda e saiu do
campo... direto para os braços do nosso cornerback. Seus corpos
caíram com força e o árbitro correu para o amontoado que já se
formava ao redor deles. Mas era o nosso jogador com a bola.
— Valeu, cacete! — Batendo palmas, puxei meu capacete,
pronto para voltar lá.
— É isso — o treinador gritou, e eu olhei para o relógio. Havia
tempo para mais uma jogada. Duas, se tivéssemos sorte. Tínhamos
que marcar. Qualquer coisa menos e correríamos o risco de dar a
Millington a chance de virar o jogo.
Dando ao treinador um aceno de cabeça, corri até meus
companheiros de equipe.
— É isso. A jogada que vai acabar com esses filhos da puta.
Quatorze — meus olhos encontraram os de Cam através do
amontoado —, pode ficar de fora. Vamos executar o Blue Right
Fourteen Reverse.
— Mas, Jase... — alguém começou, mas eu levantei a mão.
— Vamos com a jogada, entendeu?
— Entendi.
Não usar Cameron era um risco, mas não se fazia milagres
acontecerem jogando pelo seguro, e precisávamos atingir Millington
onde eles menos esperavam.
— Raiders em três. — Estendi o punho no centro do amontoado,
esperando que os outros dez me seguissem. — Um, dois, três.
Nosso grito de guerra ecoou, e o rugido da multidão acendeu
uma tempestade de fogo dentro de mim. Eles acreditavam em nós,
em mim, torcendo por nós até o amargo fim. E estávamos prestes a
lhes dar a vitória que mereciam.
Era isso o que nós merecíamos.
Millington avançou para a linha de scrimmage, com olhos duros
e mandíbulas apertadas. Eles eram os predadores e nós, a presa.
Mas primeiro teriam que nos pegar.
— Azul quatorze, azul quatorze, cabana. — A bola bateu em
mim, e eu a peguei com nada além da memória muscular. Caindo
para trás, estendi o braço pronto para entregar a bola ao running
back. Ele passou por mim e disparou enquanto eu seguia para a
direita, com a bola embalada em meu braço e cabeça abaixada. A
jogada falsa me deu o tempo que eu precisava para ganhar jardas,
mas não demorou muito para a defesa do Tigers perceber que eu
estava com a bola. Eles dispararam em minha direção como um
trem desgovernado. Corri com mais força, sentindo meus músculos
latejando com o esforço, o ar soprando em volta do meu capacete
enquanto eu continuava correndo.
— Vá, vá! — Todo o estádio parecia gritar, me impulsionando
para frente. Me dando a força de que eu precisava para fazer um
empurrão final.
Alguém me alcançou, e eu pulei para o lado, o baque de seu
corpo batendo no chão atrás de mim reverberando em meus
ouvidos.
Quinze jardas... dez... cinco. Eu estava muito perto. Tão perto
que já podia ouvir o eco de “touchdown” tocando em meus ouvidos.
Mas um jogador do Millington apareceu do nada, batendo direto em
mim, e a bola escapou das minhas mãos.
— Puta merda — grunhi, o chão amortecendo a queda.
— Esse é para o Thatcher. — O vinte e três me atingiu com
força. Seu cotovelo – ou punho – alcançou minhas costelas com um
propósito. Uma vez. Duas vezes... a dor se espalhou pela minha
lateral.
— Sai de cima de mim, porra — gritei, empurrando-o. Ele rolou
para longe, ficando de pé. No segundo em que me levantei, parei
cara a cara com ele, mal ciente do jogo ainda acontecendo ao nosso
redor. — Que merda foi essa?
O filho da mãe teve a coragem de sorrir.
— Ah, você acha engraçado. Seu idiota. — Me lancei contra ele
assim que o locutor gritou.
— Touuuuuuchdown.
— FORD, VEM AQUI AGORA — o treinador Hasson gritou no
momento em que torci a camisa do vinte e três.
— Melhor correr, babac...
Puxando-o, esmaguei meu capacete contra o dele.
— Diga ao Thatcher que se ele quiser, que venha me buscar. Ele
sabe onde me encontrar. — A raiva irradiou através de mim e
quando uma mão pousou no meu ombro, virei a cabeça tão
depressa que doeu.
— Solte-o, cara — Cam disse. — Ele não vale a pena.
— Como está a sua garota, Chase? — Vinte e três tinha um
sorriso malicioso de comedor de merda. — Quando terminar com
ela, me avise. Eu não me importaria de tomá-la por um...
Cameron me empurrou e o agarrou, os dois caindo no chão. De
repente, fomos cercados por um mar de laranja e preto, azul e
branco, jogadores empurrando e lutando enquanto Cameron batia
no vinte e três. Seu capacete estava fora agora, o de Cam também.
— Raiders, para a linha lateral AGORA! — O treinador agarrou
meu ombro. — Controle seus jogadores, capitão. — Sua voz estava
gelada. O suficiente para me tirar da névoa vermelha e comecei a
empurrar meus companheiros para longe.
— Vá, vá até lá. — Virei a cabeça para a lateral onde o restante
da nossa equipe estava reunido.
— Vamos lá, Chase. — O treinador e um dos técnicos de
Millington tiraram Cam de cima do primo de Thatcher. O técnico
Hasson cuidava do meu melhor amigo enquanto o outro ajudava
seu jogador a se levantar.
— Treinador, não foi... — Comecei, mas ele me encarou com um
olhar que dizia “cale a boca”.
— Vamos lidar com isso assim que estivermos no vestiário. Entre
aí e espere por mim, está me ouvindo? — Suas palavras eram
repletas de decepção, pesando sobre meu peito.
Passei um braço em volta do ombro de Cam, mas ele se
desvencilhou.
— Filho da puta. — Joguei o capacete no chão e o chutei,
fazendo-o voar para longe.
— Ford! — um dos treinadores gritou, mas não parei. Nem olhei
para trás enquanto seguia o resto da nossa equipe para dentro do
túnel. Tínhamos conseguido a vitória. Mas acabou em um show de
merda.
Tudo por causa do imbecil do Lewis Tatcher.
SETE
Felicity
A VOZ do treinador Hasson ecoou pelas portas. Ele não estava
apenas chateado com o que tinha acontecido, estava furioso.
— Não acha que deveríamos ir embora? — Estremeci enquanto
seu discurso continuava e olhei para Hailee, que andava pelo lado
de fora do vestiário da equipe como um animal enjaulado. Não
deveríamos estar aqui, mas ser a meia-irmã do quarterback e
namorada do wide receiver influenciou a decisão do segurança de
nos deixar esperar.
— Pode ir se quiser — ela disse, passando um braço em volta
da cintura, com o outro inclinado para que ela pudesse morder o
polegar —, mas não vou embora até saber que o Cameron está
bem.
— Certo. — Fui até ela. — Vamos ficar.
— Ainda não consigo acreditar que ele fez isso. — O silêncio
caiu sobre nós, mas não durou muito porque alguns minutos depois,
a porta se abriu e o time começou a sair.
Joel Mackey nos notou primeiro.
— É melhor você entrar aí, Hailee. — Ele fez uma careta. — Seu
garoto está mal.
O sangue sumiu de seu rosto quando ela olhou para mim.
— Você pode... quero dizer...
— Hailee — a voz de Jason cortou o ar como uma faca.
Ela correu para ele.
— Ele está bem? O que o treinador disse? Ele está machucado?
— As perguntas saíram dela depressa, e Jason parecia
completamente perdido.
Passando a mão pelo rosto, ele respirou fundo.
— O Cam precisa de você — foi tudo o que ele disse, virando a
cabeça para a porta. — Você deveria ir ficar com ele.
Seu olhar pousou em mim, e eu sorri.
— Vá, eu vou ficar bem.
— Não se preocupe, Hails. — Asher apareceu, fazendo um
caminho mais curto até mim. — Vamos garantir que ela chegue bem
em casa.
— Tem certeza?
— Vá, ele precisa de você.
Ela me deu um sorriso agradecido antes de se virar para Jason.
— Obrigada — ela murmurou antes de desaparecer lá dentro.
— O técnico...
— Ela não precisa se preocupar com o treinador — Jason
afirmou enquanto passava por Asher e desaparecia no túnel.
— Vamos. — Asher pendurou sua bolsa no ombro e acenou na
direção de seu companheiro de equipe, espalhando gotas de água
por todos os lugares.
— Asher — gemi, seguindo Jason. — Agora estou toda molhada.
— E eu nem toquei em você ainda.
Olhei para ele com os olhos arregalados e as bochechas
vermelhas.
— Relaxe, Fee, estou brincando.
— Ah, tudo bem. — O constrangimento inflamou minhas
bochechas enquanto corríamos atrás de Jason.
Lá fora, a maior parte da multidão já havia se dispersado. Alguns
dos caras ficaram por perto para tirar fotos e autografar camisetas,
bolas e outras parafernálias de jogo, mas Jason não parou para os
fãs obstinados. Ele nem os reconheceu.
— Vá em frente — Asher disse — Já vou. — Ele parou para tirar
uma foto com algumas crianças que estavam com os rostos
pintados com o símbolo dos Raiders.
Quando cheguei perto de Jason, as palavras escaparam dos
meus lábios:
— Onde está o Jipe do Asher?
— Eu vou dirigir.
— Ah — murmurei, olhando seu carro.
Jason chutou o cascalho, levantando uma nuvem de poeira.
Tudo sobre ele gritava “fique longe”. A expressão assassina. Ondas
de raiva emanando de seu corpo. A forma como sua mandíbula
estava tão apertada que parecia doer.
Ele era uma bomba nuclear esperando para detonar.
E, de repente, eu não queria ir a lugar nenhum com eles. Mesmo
que Hailee tivesse me trazido e agora estivesse atendendo às
necessidades de Cameron.
— Mudança de planos. — Asher caminhou até nós com o lábio
achatado em uma linha sombria. — Meus pais estão em... aaaa aqui
estão eles. — Faróis nos iluminaram, e eu olhei para onde seu olhar
estava fixo.
— Eles querem me levar para jantar.
— Querem? — Minha expressão devia ter me delatado, porque
Asher riu.
— Não fique tão preocupada, o Jase pode te levar para casa.
Não pode, QB?
O cara em questão grunhiu algo inaudível.
— Eu posso ir andando — falei depressa, querendo que o chão
se abrisse e me engolisse inteira. — Não é longe.
— Fee, baby, apenas entre na porcaria do carro. — As palavras
eram para mim, mas Asher estava olhando para Jason, e uma
mensagem silenciosa se passou entre eles.
— Você deveria ir ao Bell’s mais tarde — ele finalmente voltou
sua atenção para mim. — As bebidas são por minha conta.
— Não sei — falei em voz baixa. — Talvez, se a Hailee...
— Pense nisso. — Ele piscou e deu a Jase uma saudação de
dois dedos antes de ir em direção ao carro dos pais.
O silêncio permaneceu, girando com a raiva de Jason.
— Eu vou andando, você não...
— Entre no carro — ele grunhiu.
— O quê? — A indignação me atingiu quando levantei uma
sobrancelha para ele.
— Eu disse para entrar na merda do carro. — Ele deu a volta
para o lado do motorista e quase arrancou a porta das dobradiças
antes de se jogar para dentro e fechá-la com força.
Eu precisava ir embora. Colocar o máximo de distância possível
entre mim e o cara taciturno e zangado no carro. Mas havia algo em
sua raiva, na maneira como ele se conteve durante todo o jogo. Eu
o observei, mesmo quando tentei não fazer isso. O vinte e três
estavam em cima dele. Mas Jason não mordeu a isca. Mesmo
quando os dois estavam diante um do outro, ele manteve o controle.
Mas algo mudou quando Cameron tentou intervir. E a única coisa
que unia Jason e Cameron além do futebol era Hailee.
A janela desceu, me assustando.
— Pela última vez, Giles — sua voz me atingiu direto no
estômago. — Entre na porcaria do carro.

JASON não me levou para casa. Ele nem me levou para sua casa,
não que eu esperasse que ele fizesse isso. Mas também não achei
que ele pegaria a estrada para fora da cidade e pararia à beira do
lago. O terreno arenoso estava silencioso, não havia nada além do
farfalhar suave das folhas e meu coração batendo violentamente no
peito.
— Bem... — falei, tentando aliviar o clima. — Bela vista. —
Arriscando uma espiada em Jason, fiquei surpresa ao ver o canto de
sua boca se erguer.
— Quer falar sobre isso?
— Não, não quero.
— O que o vinte e três disse ao Cameron?
— Você notou, não é?
— Eu... — Apertei os lábios, não querendo admitir que tinha
percebido tudo.
Descartando meu deslize, ele acrescentou:
— Você não quer saber.
— Me teste.
Virando ligeiramente o corpo, Jason me prendeu no assento de
couro com aqueles olhos escuros intensos.
— Não era para acontecer assim. — Sua voz estava fria. — Ela
não deveria...
— Você acha que isso é culpa da Hailee? — Minha voz estava
repleta de incredulidade. — Você passou os últimos seis anos
tratando-a...
— Eu sei. — Jason entrelaçou os dedos no cabelo, puxando-os
em frustração. — Acha que não sei disso? A Hailee não era nada
para mim, e agora... agora ela está no meio dessa coisa com o
Thatcher, e eu não sei o que devo fazer. Não sei como... — Ele
parou e a dor brilhou em seus olhos.
— Cuidar? — sussurrei. — Não sabe como se importar?
— Não sou o cara bom aqui, Felicity. Quero ganhar o Estadual,
me formar no ensino médio, dar o fora desta cidade e ir para a
faculdade. É isso. Esse é o meu objetivo. E o Thatcher está
estragando tudo. — O som de seu punho colidindo com o volante
reverberou pelo carro. Quase não havia ar antes, mas agora eu mal
conseguia respirar. A raiva de Jason era tangível. — Eu só preciso
parar. Apenas parar pela merda de um segundo. — Com a cabeça
inclinada para trás, ele fechou os olhos com força, respirando com
dificuldade.
— Estou aqui se você quiser conversar. — Minhas palavras
quebraram o silêncio.
— Você não entenderia.
— Por que não sou popular? Por que não sei o que é ser
colocada em um pedestal por toda a cidade? Tem razão — dei um
pequeno suspiro —, não sei como é. Mas isso não significa que eu
não entenda como é a pressão.
Os olhos de Jason encontraram os meus, cheios de um raro
vislumbre de vulnerabilidade que sabia que poucas pessoas
conseguiam ver.
— Às vezes, parece que não consigo respirar sem que a cidade
inteira esteja assistindo. — A surpresa passou por seu rosto, como
se ele não pudesse acreditar que havia dito as palavras.
Esperei, na expectativa de que ele me dissesse mais. Que me
deixasse entrar. Mas sua máscara de pedra já estava no lugar.
Jason estava se torturando. Sobre Hailee. Pelo pai e a mãe dela
terem tido um caso. Por sua mãe ter ido embora. Por carregar o
peso da equipe. A rivalidade com Rixon East. Tudo se assentava em
seus ombros. E embora eu não quisesse entendê-lo nem tentar
descobrir o que se passava dentro da cabeça do filho pródigo do
futebol de Rixon, parte de mim entendia. Porque embora não fosse
a mesma coisa, embora eu não tivesse a pressão de uma cidade
inteira torcendo por mim e pelo meu futuro, eu tinha a pressão dos
meus pais. E às vezes, isso era quase insuportável.
— Quando tudo fica demais, eu faço uma lista. — As palavras
saíram antes que eu pudesse detê-las.
— Uma lista? — Jason bufou.
— Sim, isso me ajuda a processar as coisas.
— E essas listas... — sua voz estava repleta de sarcasmo — o
que você coloca nelas?
— Qualquer coisa. Às vezes, eu as uso para me ajudar a
organizar minha vida: listas de compras, de dever de casa...
— Você tem uma lista de dever de casa. — Ele franziu o cenho e
sorriu. — Claro que tem. O que mais?
— Celebridades que eu gostaria de namorar, livros que quero ler,
esse tipo de coisa.
— E sua lista de desejos do último ano?
— Como você...? Asher — gemi. — O Asher te contou. — Senti
as bochechas queimarem.
— Não se preocupe. Ele não me disse o que tem na lista.
Porque ele não sabia. Ele e Cameron me ouviram conversando
com Hailee sobre isso uma vez. Mas me recusei a compartilhar os
detalhes, porque, puta merda, isso seria constrangedor.
Tão embaraçoso quanto Jason me perguntar sobre isso.
— Isso é bom.
— Por que você parece tão preocupada, Giles? — Ele se
aproximou, levando o ar com ele. — Não estou na lista, estou?
Ah, não.
Ele estava fazendo aquilo de novo. Olhando para mim como se
quisesse algo.
Algo que eu sabia que não deveria dar a ele.
— Acho que deveríamos voltar — falei, tentando manter a voz
calma. — Está ficando tarde, e você vai encontrar o Asher às...
— Giles — ele me chamou, passando a mão ao longo da minha
clavícula e até meu pescoço. Seu polegar acariciou o ponto de
pulsação. — Pare de falar.
— Mas eu... — Ele moveu a ponta do polegar para meus lábios,
arrastando para baixo e fazendo meu lábio inferior estalar. Minha
barriga se contraiu. Seu toque era como fogo, me queimando por
dentro. Não queria me sentir desse jeito e nem responder assim,
mas não pude evitar. No que dizia respeito a Jason Ford, meu corpo
tinha vontade própria.
— Você não quer que isso pare? — ele sussurrou tão baixo que
quase não o ouvi.
— P-pare?
— Sim, o ruído, a pressão constante e... tudo.
Mais do que você pode imaginar, eu queria dizer, mas não
conseguia falar, porque seus lábios estavam bem perto dos meus.
— Já...
Ele me beijou. Apenas um toque suave de sua boca no canto da
minha. Poderia muito bem ter sido um beijo quente e desesperado
pela forma como meu corpo reagiu.
Eu estava ofegante, mas nem de longe a respiração era quanto
a de Jason.
— Última chance de me dizer para parar, Giles — ele murmurou,
com os olhos nos meus.
Pare, a palavra se formou na minha língua, mas se derreteu
antes que eu pudesse dizê-la. Porque não importava o quanto eu
soubesse que isso era uma má ideia... não importava o quanto eu
me arrependesse mais tarde... ninguém me fez sentir como Jason.
Tão viva. Tão desejada.
— Não quero que você pare — murmurei. O grunhido carnal que
vibrou no peito dele transformou meu sangue em lava derretida. Ele
queria isso.
Me queria.
E, naquele momento, não me importava se ele se arrependeria
ou nunca mais olhasse para mim. Bem aqui, agora, eu precisava
que ele me tocasse. Necessitava que ele me fizesse sentir.
Ele não me devorou como havia feito antes. Desta vez, seu beijo
foi lento, deliberado. Jason demorou para se familiarizar com o
formato dos meus lábios, lambendo e mordiscando. Passei a mão
por seu ombro, sentindo seu músculo duro se mover sob meu toque.
— Venha aqui, Giles. — Ele apoiou a mão em minha coxa e me
ajudou a passar pelo console central e me sentar em seu colo,
montando nele.
— Puta merda — ele grunhiu, e vi a dor gravada em seu rosto.
— Você está machucado.
— Não é nada. — Jason me puxou para mais perto.
Estávamos próximos. Muito próximos. De um jeito íntimo e
intenso. A carroceria baixa de seu carro vintage não havia sido
construída para sessões pesadas de amassos.
Uma fração de segundo se passou quando me acomodei sobre
ele, e nossos olhos se encontraram. Com os olhos semicerrados,
ardendo de luxúria, Jason parecia devastador, mas havia algo mais,
algo por baixo da máscara sombria que ele usava. Aquilo
desapareceu em um instante, e sua boca rapidamente encontrou a
minha novamente enquanto ele empurrava o corpo no meu, me
mostrando o quanto eu o excitava.
E, caramba, isso estava subindo direto à minha cabeça.
Agora eu entendia. O motivo pelo qual as garotas corriam atrás
dos bad boys, na esperança de domesticar seus modos selvagens.
Por isso, bem aqui, meu corpo tinha um breve poder sobre ele. Com
a maneira como meus beijos o fizeram ficar mais excitado, o
deixando com fome por mais.
Eu não era tola o suficiente para acreditar que isso significava
alguma coisa – eu sabia que não. Mas como poderia não me sentir
tão excitada por dentro sabendo que de todas as garotas com quem
ele poderia estar, Jason estava comigo.
Ele me escolheu.
Não viaja, Flick. Ele não te escolheu. Você estava lá.
Conveniente. Como um lanche para viagem. Afastei os
pensamentos intrusivos. Haveria tempo para analisar e me
arrepender mais tarde.
— Você está com roupa demais. — Sua voz soava rouca na
minha pele enquanto ele puxava meu suéter dos Raiders. A
camiseta fina por baixo se moldou às minhas curvas e os olhos de
Jason se fixaram em meus seios. — Lindos — a palavra escapou de
seus lábios.
Movi a mão entre nós, desesperada para sentir sua pele e
explorar seu corpo esculpido à perfeição por horas e horas de
condicionamento físico. Mas ele segurou meu pulso, sorrindo para
mim. Estava quase escuro, o céu repleto de estrelas cintilava sobre
nós como espectadores distantes. Apenas a tonalidade prateada da
lua iluminava nossos perfis. Se fosse possível, ele parecia ainda
mais devastador.
— Ja...
— Shhh. — Ele me silenciou com um dedo nos lábios enquanto
descia a outra mão pelo meu peito, trilhando um caminho entre o
vale dos seios e pelo estômago. Respirei fundo quando ele roçou o
cós da legging, mas isso não o impediu. Jason continuou sua
exploração do meu corpo, tocando e massageando, passando os
dedos pela minha pele. Mas quando ele enfiou a mão dentro da
legging, mal pude conter o gemido se formando em minha garganta.
— Molhada pra cacete — disse com rispidez, não me dando
chance de recuperar o fôlego ou processar o que estava
acontecendo enquanto pressionava um dedo dentro de mim.
— Ah, caramba — gemi, me movendo em sua mão, precisando
de mais.
Precisando de muito mais.
Inclinei a cabeça para trás, expondo o pescoço e clavícula para
ele. Respondendo ao meu apelo silencioso, Jason se aproximou e
beijou meu pescoço, sugando-o de um jeito suave. Me deixando
louca.
— Jase — ofeguei com a intrusão de um segundo dedo que me
fez estremecer. Mas apenas por um segundo, enquanto o prazer
fluía por mim como uma onda suave.
Eu estava perdida nas sensações intensas. A corrente quente
fluía entre nós, através de nós. A posição era íntima. A sensação de
sua boca quente em volta do meu seio enquanto ele movia os dedos
dentro de mim, circulando o polegar sobre meu clitóris.
— Estou tão perto — sussurrei, mal conseguindo reconhecer
minha própria voz. Minhas pernas começaram a tremer enquanto
Jason me penetrava mais fundo, mais forte. Nunca deixei ninguém
me tocar assim antes. Não do jeito que Jason fez. Como se não
fosse pelo meu prazer, mas pelo seu. Como se meu corpo fosse seu
para tocar como ele quisesse.
Naquele momento, me ocorreu que talvez fosse.
Olhei para ele. Seus olhos estavam tão escuros que pareciam
pretos. Um sorriso suave estava estampado em seu rosto enquanto
ele aumentava o ritmo.
— Você gosta dos meus dedos dentro de você? — ele
perguntou, como se eu pudesse responder com qualquer outra
coisa que não um pequeno aceno.
— Ah, Jason... — Não conseguia respirar, o orgasmo me
atingindo como um tsunami.
— Goze para mim, Felicity — ele murmurou, ainda me
observando. — Goze nos meus dedos.
Suas palavras sacanas me enviaram ao limite enquanto meu
corpo tensionava. Respirei fundo, estremecendo, tentando engolir a
vontade de chamar seu nome repetidamente.
Desabei nele, envolvendo seu pescoço. Mas Jason me empurrou
para trás, semicerrando os olhos enquanto levava os dedos à boca
e os chupava.
Minha barriga se contraiu.
Caramba, ele era lindo. Um anjo sombrio e perigoso.
— O que foi? — perguntei enquanto ele continuava me
observando, mas seu celular vibrou, interrompendo o silêncio
pesado que caiu sobre nós. Jason se inclinou e o pegou. — Algum
problema? — perguntei quando percebi que ele ficou tenso embaixo
de mim.
— Temos que ir. O pessoal vai se encontrar no Bell’s. — Sua voz
estava fria, distante, e eu sabia que o que quer que tivesse
acontecido entre nós havia acabado.
Tentei moderar o desânimo que apertou meu coração enquanto
saía de cima dele e me recostava no banco do passageiro. Ele me
entregou meu suéter sem dizer uma palavra, ligou o motor e saiu do
estacionamento.
Só dez minutos depois, quando desci de seu carro tentando
conciliar o que tinha acabado de acontecer, percebi que ele não
tinha me deixado tocá-lo. Antes de receber a mensagem, antes que
a temperatura esfriasse em zilhões de graus entre nós, Jason me
deixou seminua e tocou meu corpo do mesmo jeito que jogava: com
segurança, confiante e cem por cento no controle.
Mas não me deixou tocá-lo.
Se não tivéssemos sido interrompidos, ele teria deixado?
Algo me disse que era melhor não perguntar... porque
provavelmente não gostaria da resposta.
OITO
Jason
O BELL’S ESTAVA LOTADO. Todos tinham aparecido para
comemorar com o time. Normalmente íamos festejar na casa do
Asher, mas como seus pais estavam na cidade, fomos ao bar.
— Ei — ele disse, acenando para mim. — Onde está a Fee?
— Não dou a mínima.
— Você não se ofereceu para trazê-la?
— Não, eu não me ofereci para trazê-la. O que você acha que eu
sou, a porcaria da babá dela?
Asher me olhou com atenção.
— O que houve? Você parece irritado.
Arqueei a sobrancelha.
— O Thatcher mandando o primo fazer seu trabalho sujo não é
motivo suficiente para ficar chateado?
— Sim, eu só achei que... não importa.
Ele queria perguntar sobre Felicity. Estava bem ali em seus
olhos. Mas ela era a última coisa de que eu queria falar –
especialmente com ele.
Estraguei tudo de novo. Nunca deveria tê-la levado para o lago e
a beijado. Ou colocado as mãos sobre ela.
Ela simplesmente tornou tudo muito fácil. Não era como Jenna
ou as outras garotas com quem eu estava acostumado. Felicity
estava satisfeita por estar ali, falando e ouvindo. E um pouco da
merda que saiu de sua boca... bem, era pó de ouro e,
estranhamente, me peguei desejando ouvir qualquer frase estranha
que ela dissesse. Mas nada era tão intrigante quanto a maneira
como ela me deixou tocar seu corpo. Ela me deu o controle total,
como se confiasse em mim com cada fibra de seu ser. O que era
irônico, considerando que eu era a última pessoa na Terra em que
ela deveria confiar.
Apesar de seu lapso de julgamento no que diz respeito a mim,
Felicity era uma garota inteligente que fazia sempre o melhor que
podia. Mas quando coloquei as mãos em sua pele, minha boca na
sua, algo mudou. Era viciante.
Ela era viciante.
Mas também estava fora dos limites por tantos motivos que eu
provavelmente deveria fazer uma lista.
Sim, ela adoraria isso.
Lutei contra um sorriso.
— O que te fez sorrir como o Gato de Cheshire? — Asher me
cutucou, dando um longo gole na cerveja.
— Nada, só estava pensando. — Sua carranca se aprofundou
como se eu fosse um quebra-cabeça que ele estivesse conseguindo
montar.
— Como estão as costelas?
— Vou sobreviver. — Dei de ombros, engolindo a cerveja. O
primo de Thatcher havia sofrido algumas contusões, e eu tinha um
belo hematoma se formando, mas não era o suficiente para causar
danos reais.
Então, uma porta se abriu e Cameron e Hailee entraram, com
Felicity se arrastando atrás deles, parecendo assustada.
Puta merda.
Não esperava vê-la novamente esta noite.
— Aí está ele — Grady apontou. — Venha cá, Rocky Balboa, as
bebidas são por conta da casa.
O lugar inteiro aplaudiu, fazendo Cam abaixar a cabeça.
Idiota.
Ele nunca se colocava sob os holofotes como o resto de nós, e
agora que estava com Hailee, estava ainda mais inclinado a ficar
nos bastidores. Sempre enchi o saco dele por isso. Quando éramos
crianças e como pessoas a serem notadas, nunca entendi por que
ele raramente atraia atenção. Mas agora eu me perguntava se Cam
estava no caminho certo. Se ele sabia que se você permanecesse
no centro das considerações por muito tempo, acabaria queimando
sua alma até que não houvesse mais nada além de cinzas.
Cameron estava com um belo olho roxo no lado esquerdo. Eu
tinha que lhe dar crédito, não achei que ele faria isso. Mas parecia
que o que falavam era verdade: as garotas realmente te deixam
louco. E meu melhor amigo estava com dois pneus arriados pela
minha meia-irmã.
— Fee, baby, você veio.
— Eu... a Hailee insistiu. — Ela manteve os olhos em Asher, se
recusando a olhar para mim.
Não deveria ter me incomodado tanto, mas incomodou.
— Bem, vamos pegar uma bebida para vocês. — Ele se levantou
e passou o braço pelos ombros dela. Eu o segui.
— Vou para a mesa de sinuca.
Hailee chamou minha atenção, mas levantei o queixo e continuei
andando.

— OI, Jase, bom jogo esta noite. — Uma loira baixinha se


aproximou de mim, passando as mãos de forma sugestiva em meu
peito.
— Oi...
— Marissa — ela ronronou, com os olhos cheios de intenção. —
Sou da equipe de natação.
— Você deve adorar se molhar — um dos rapazes gritou. Olhei
para ele, voltando a observar Marissa, esperando ver seu leve
desgosto com as palavras. Mas no verdadeiro estilo caçadora de
atletas, ela piscou, passando os dedos na gola da minha camiseta.
— Ah, eu adoro me molhar. — As palavras saíram de seus lábios
lentamente. — Acho que você não poderia me ajudar com isso, não
é?
Marissa era gostosa. Corpo magro acentuado pela minissaia e a
regata bem pequena dos Raiders. Apoiando o polegar em meu
lábio, deixei meus olhos vagarem por suas curvas. Era exatamente
o meu tipo. Magra. Atlética. E pronta para qualquer coisa. Mas
faltava algo. Esse algo estava atualmente rindo de Asher como se
ele estivesse segurando a porra da lua.
— Jason. — Marisa roçou a mão em meu pau semi-interessado,
chamando minha atenção. — Perguntei se você quer sair daqui?
— Talvez mais tarde. É cedo ainda.
A rejeição brilhou em seus olhos, mas então seu sorriso sedutor
voltou ao lugar.
— Sabe onde me encontrar. — Ela balançou a cabeça em
direção a um grupo de meninas.
— Sim. — Peguei a garrafa de Bud e tomei um longo gole.
— Jason Ford dispensando uma boceta nova? — Grady
apareceu ao meu lado. — O inferno deve ter congelado.
— Não tenho certeza se ela poderia lidar comigo. — Sorri.
— Ah, merda, você é mau, capitão. Mal pra cacete. Mas se você
não quiser, se importe se eu...
— Fique à vontade, cara.
Ele me deu um tapa nas costas ao passar, indo direto para
Marissa e suas amigas da equipe de natação que pareciam uma
cópia carbono dela. Ele foi rapidamente acompanhado por Mackey e
outros novatos. Esses caras eram piores do que cães no cio. Ainda
bem que não tive que me esforçar para isso. Ser o quarterback
número um tinha importância em Rixon, mas ser Jason Ford – filho
do herói do futebol local, Kent Ford – e QB número um significava
tudo. Os caras queriam ser eu e as garotas queriam transar comigo.
Todo mundo queria se fartar. E até recentemente, eu tinha absorvido
isso. Mas quando todos queriam um pedaço seu, a chance de dizer
que te conheciam... que saíam, transavam ou até mesmo brigavam
com você, não havia muito mais para acontecer. Era um beco sem
saída e difícil pra caramba de lidar. Mas eu amava o jogo, o amava
mais do que qualquer coisa no mundo. Se me abrissem, eu tinha
certeza de que iria sangrar futebol. Mas tinha um preço. Um que
todos achavam que eu ficaria feliz em pagar até o fim da vida. Até
que não se saiba em quem pode confiar ou quem quer te usar como
um trampolim para seus cinco minutos de fama de cidade pequena.
É por isso que odiei tanto Hailee quando ela se mudou para cá.
Ela era muito crítica, agindo como se fosse santa, presumindo saber
como eu era.
Quem eu era.
Eu gostava de sexo, mas não queria namorar ou ficar preso a
uma garota. A última coisa que eu queria era criar raízes aqui. Rixon
era só um trampolim para coisas maiores e melhores. E eu tinha um
plano: conseguir o que meu velho não conseguiu e ser convocado
para a NFL. Uma lesão encerrou sua carreira no último ano da
faculdade. Seu sonho podia ter virado fumaça, mas seu legado
sobreviveu.
Eu.
E eu iria até o fim.
Não importava o custo.
— Tem algo em mente? — Cameron puxou um banquinho ao
meu lado.
— Nada, só assistindo o Grady fazer papel de idiota.
— Sabe, você pode vir se sentar conosco.
— Eu sei.
— O que estou tentando descobrir é se você não virá por causa
da Hailee, da Felicity ou das duas.
— Olha, Chase, estou feliz por você, estou mesmo. Me irrita um
pouco que você esteja saindo com a minha irmã? Claro que sim. —
Estremeci. — Mas eu entendo. Você precisa dela, ela precisa de
você, blá blá blá.
— Você fala como se fosse uma coisa ruim.
Eu o encarei.
— Você desistiu da Penn por ela. — Cameron sempre disse que
iria para a Penn comigo. Íamos dominar os Quakers e chutar alguns
traseiros da Ivy League. Mas então sua mãe ficou doente, e ele e
Hailee... bem, as coisas mudaram. Ele mudou.
Cam soltou um suspiro pesado, passando a mão pelo cabelo.
— Achei que havíamos superado isso. Entendo que o futebol é
importante para você, mas há mais coisas na vida...
— Esta é a parte em que você me diz que um dia vou conhecer
a garota certa e perceber que quero me estabelecer, me casar e ter
dois filhos? Porque se for, está perdendo seu fôlego.
— Eu sei que a Aimee te magoou...
— Você acha que isso tem a ver com a Aimee? Ela não era nada
além de uma idiota conivente como o irmão.
— Jase, vamos, sou eu. Você não precisa colocar...
— A Aimee foi um erro. — A merda de um erro que voltou para
me atingir. Se eu soubesse que ela era irmã do Thatcher, nunca
teria olhado para ela, muito menos tocado.
— Está tudo bem admitir que você sentiu algo... — Cameron
parou quando olhei para ele. De forma dura. Ele não entendia. Eu
não queria sentir. Não queria me preocupar com ninguém além de
mim e meu futuro. Gostar te deixava vulnerável. Isso te abria para
um mundo inteiro de dor que eu não tinha interesse em sentir.
Além disso, quando eu segurava a bola de couro em minhas
mãos, tinha tudo de que precisava.
— Tudo bem, não vou dizer mais nada. Mas você ainda deveria
se sentar conosco. Sei que isso significaria muito para a Hailee. —
Cam caminhou de volta para sua mesa e deixei meus olhos
vagarem para lá. Hailee estava olhando para ele com expressão
apaixonada e Asher estava ocupado entretendo Felicity com
conversa e cerveja. Teria sido fácil me sentar com eles, fingir que
estava tudo bem com a forma como tudo estava mudando. Mas
então, Asher se inclinou, tirando uma mecha de cabelo do rosto de
Felicity, e eu apertei a garrafa. Ele a estava tocando, e ela estava
adorando.
Que se danasse isso.
E eles que se danassem.
— Jerry — chamei ao me aproximar do bar. — Vou precisar de
algo mais forte.
— Vamos, Jase, você sabe que não posso...
— Gosto de você, J, mas ou me serve a droga da bebida ou vou
tomar em outro lugar.
Ele soltou um suspiro resignado e balançou a cabeça.
— Você me lembra a ele, você sabe. Do passado.
— Me poupe da merda de você é igualzinho ao seu velho. —
Apoiei a garrafa vazia, esperando Jerry servir a nova bebida.
— Até fala como ele. — Seu peito retumbou de tanto rir. — Vou
parar de servir depois de duas.
— Três. — Levantei uma sobrancelha.
— Tudo bem, três e pronto. — Ele empurrou um copo de uísque
para mim. Não era exatamente a bebida dos campeões, mas adquiri
o gosto quando eu e os caras costumávamos invadir o armário de
bebidas do meu pai.
Assim como meu velho, as palavras me fizeram estremecer. Ele
era tudo que eu tentava não ser. O principal exemplo de alguém que
deixa tudo subir à cabeça. Não importava que meu pai tivesse a
mim e minha mãe em casa. Alguma vadia só precisava piscar em
sua direção, e ele espumava pela boca. Minha mãe era um exemplo
de mulher forte. Ela ficou com meu pai durante tudo: a depressão, a
melancolia, a sequência interminável de mulheres desconhecidas.
Mas todo mundo tinha um ponto de ruptura, e meu pai havia
encontrado o dela. Ela finalmente foi embora e tive que escolher:
uma nova vida, uma nova escola e um novo time ou Rixon. Uma
decisão pela qual nunca o perdoaria.
Uma decisão pela qual minha mãe nunca me perdoou.
— Aí está você. — Uma mão familiar segurou meu ombro.
— Jenna — minha voz soou rude, mas não a impediu de se
sentar no banquinho ao meu lado.
— Bebendo sozinho?
— Só estou recuperando o fôlego. Você sabe como é depois de
um jogo.
— Sei como pode ser. — Ela passou os dedos pelo meu braço.
— Você parece tenso.
Tenso era a porra do eufemismo do ano.
— Posso ajudar com isso.
Meus olhos encontraram os dela. Claro que eu sabia onde isso
estava indo, a única coisa que existia entre nós. Mas meu pau não
estava focado, não esta noite.
Imperturbável, Jenna se inclinou, roçando os lábios na minha
orelha.
— Encontre-me no depósito em cinco minutos.
— Ah, sim, você vai fazer valer a pena?
Ela se afastou, passando a língua pelo lábio inferior, um toque
lento e sedutor.
— Acho que nós dois sabemos que quando terminarmos, você
vai se sentir muito melhor. — Ela se levantou, fazendo um show ao
empurrar o longo cabelo loiro do ombro e me dando uma visão
privilegiada do seu decote.
— Cinco minutos — ela murmurou antes de se afastar, indo
direto para a parte de trás do bar.
— Essa daí tem problema escrito na testa.
— Talvez eu goste de problemas, meu velho.
— Conheci outro cara que disse a mesma coisa uma vez. —
Jerry me lançou um olhar compreensivo, tirou a toalha do ombro e
começou a limpar o balcão.
Eu não queria Marissa. Ela era novata. Muito animada e ansiosa.
Provavelmente esperando que pudesse me impressionar o
suficiente para que eu ficasse com ela. Mas Jenna conhecia o jogo.
Ela sabia que não havia nada mais que sexo entre nós. Uma
maneira de extravasar e relaxar.
E dado o quanto eu estava tenso, sabia que seria um tolo em
resistir ao que ela estava oferecendo. Com a decisão tomada, engoli
o resto do uísque e segui para os fundos. Mas antes de desaparecer
no corredor, olhei para trás, procurando por meus amigos. Por
Felicity. Ela ainda estava rindo de Asher, com os olhos brilhantes e
os lábios curvados. Parecia feliz. Meu peito se apertou e as palavras
de Jerry ecoaram na minha cabeça. Ele estava errado. Eu não era
meu pai.
Eu nunca seria como meu pai.
Mas também não era um santo.
NOVE
Felicity
— TEM certeza de que ele não vai voltar? — perguntei a Hailee pela
milionésima vez desde que saímos do Bell’s.
— Ele raramente volta para casa na sexta à noite, seja quando
vai para o Asher ou... — ela parou, me dando um sorriso simpático.
Jason mal olhou duas vezes para mim no Bell’s, e cada vez que
o fazia, era com uma carranca no rosto. Como se isso não bastasse,
eu o observei seguir Jenna Jarvis até os fundos e voltar um pouco
mais tarde com um sorriso e a camiseta mais amassada.
— É o que é. — Franzi os lábios.
Ela afastou sua expressão sombria.
— De qualquer forma, não viemos para cá para nos lamentar
sobre garotos estúpidos. É a noite das garotas. Vamos de Scott
Eastwood em Uma longa jornada ou devemos voltar mais ao
passado com Robert Pattinson em Amanhecer?
Sufocando uma risada, lancei um olhar incrédulo a ela.
— Ainda não consigo acreditar. Você, Hailee Raine, é uma
Crepusculete enrustida.
— O quê? — Ela deu de ombros sem nenhum sinal de remorso.
— Ele é gostoso.
— Se você diz. Tim Riggins faz mais o meu tipo. Pode colocar
seus vampiros brilhantes. Durante a semana, eu assisto a série
Friday Night Lights.
— Talvez seja esse o seu problema — ela brincou, preparando o
filme.
— Diz a garota que está namorando seu próprio astro do futebol.
— Rolei de bruços e peguei outro punhado de pipoca.
— Estou namorando o Cameron, a pessoa. Que por acaso, joga
futebol.
— Sim, sim, continue dizendo isso a si mesma. — Peguei um
travesseiro e joguei nela. Hailee o pegou e se acomodou na cama,
apertando o interruptor de luz e mergulhando o quarto na escuridão.
— Isso é bom — ela comentou no meio de um bocejo. — Eu e
você, como nos velhos tempos.
— Hum-humm. — Me perguntei se ela ainda estaria dizendo isso
se soubesse o que fiz com seu meio-irmão há poucas horas.
Meu Deus, o que foi que fiz? Como pude deixá-lo me tocar
assim? Mas era como se eu me tornasse outra pessoa perto dele.
Alguém que prosperava em suas palavras cruéis e charme
arrogante.
Não era típico de mim. Mas talvez fosse esse o problema. Talvez
eu gostasse do fato de me sentir diferente perto de Jason. Poderosa
e sexy. Em vez da excluída que fui durante a maior parte da vida.
Hailee estava imersa no filme, fazendo ooh e ahh em todas as
suas partes favoritas, até que meus olhos ficaram pesados e as
imagens em movimento começaram a embaçar.
Acordei assustada.
— Hailee? — sussurrei, mas ela estava desmaiada, com a
respiração estável e superficial. O brilho da televisão iluminava o
quarto, guiando meu caminho enquanto eu ficava de pé, esticando o
pescoço. O relógio digital na mesa de cabeceira marcava uma da
manhã. Deveríamos ter dormido há pouco tempo.
Decidindo fazer xixi antes de tentar me acomodar de novo, entrei
no banheiro do quarto de Hailee. Sem me preocupar em acender a
luz, deixei a porta do quarto entreaberta. Assim que terminei, lavei
as mãos, captando meu reflexo no pequeno espelho de parede. Eu
parecia a mesma. Os mesmos olhos verdes, o mesmo cabelo
castanho e um sinal bonito na parte superior esquerda da minha
bochecha. Mas me senti diferente. Algo dentro de mim estava
mudando.
Eu estava mudando.
E não sabia como fazer isso parar, mesmo que eu quisesse.
— Vai ficar aí o dia todo ou já acabou? — o grunhido baixo
catapultou meu coração.
— Jason, o que... — Ele cruzou a distância, passando por mim
para puxar a porta que separava o lado de Hailee do banheiro e seu
quarto. — Me deixe sair. — Semicerrei os olhos quando observei
sua aparência desgrenhada e o cheiro amargo de uísque
persistente em seu hálito.
— Por que é que você está aqui? — ele grunhiu, esfregando o
queixo. Havia certo desdém em suas palavras, e percebi que ele
estava bêbado.
Porcaria.
Eu poderia lidar com o Jason sóbrio, mas o Jason bêbado... foi
esse que me colocou nessa situação.
— Estou com a Hailee. Ela me convidou. É a noite das garotas
— respondi, como se isso importasse.
Recuando, tentei alcançar a maçaneta da porta.
— Você está em toda parte, como um pesadelo recorrente. —
Suas palavras me atingiram.
— Foi você que entrou aqui...
— É a porra do meu banheiro. — A raiva brilhou em seus olhos
enquanto ele caminhava em minha direção, tão perto que se
estendesse a mão, me alcançaria.
— É da Hailee...
— Eu não dou a mínima. Você não deveria estar aqui. — Ele
passou a mão pelo cabelo, puxando as pontas em frustração.
— Então me deixe ir — sussurrei, cansada de sua mentira. Não
pedi por isso. Não pedi nada disso. Certo, talvez eu tenha ajudado a
confundir os limites entre nós, mas ele deixou perfeitamente claro
onde estávamos, e não era como se eu estivesse implorando para
ele me dar uma chance.
— É isso o que você realmente quer? — Ele estendeu a mão
para mim, apoiando-a na lateral do meu pescoço, traçando o
polegar para cima e para baixo.
— Sim — respondi, trêmula.
— Tem certeza? — Jason se inclinou, seu hálito quente na
minha pele, seus lábios perigosamente perto do ponto macio logo
abaixo da minha orelha. — Porque não tenho tanta certeza. Acho
que você gosta disso, gosta do que faço com você. — Ele inspirou
profundamente, me cheirou e minhas pernas quase cederam.
— Jason, pare. — Fechei as mãos, sabendo que se o tocasse,
não iria terminar bem.
— Parar? — Havia um brilho perverso em seus olhos quando ele
ergueu o rosto para mim. — Acha que pode dizer quando isso vai
parar?
— Não vou jogar este jogo com você, não mais.
Ele estava bêbado, suas palavras mais cruéis do que nunca e
seu toque mais severo.
— Jogo? Você acha que isso é um jogo? Isso não é um jogo. É
um esporte sangrento, baby. E você... você não poderia ter facilitado
nem se tivesse tentado.
Me soltando de seu aperto, dei um passo para trás, sentindo
meu corpo bater na parede.
— Saia — falei com frieza. — Agora.
Ele piscou, a confusão nublando seus olhos vidrados.
— Feli...
— Caia. Fora. Antes que eu faça algo de que nós dois nos
arrependeremos.
Seu olhar pesado se demorou em mim por um segundo antes de
ele cambalear para fora do banheiro, e eu caí contra a parede,
liberando a respiração presa na garganta. Me perguntando como é
que eu sobreviveria a Jason Ford.

TUDO VOLTOU ao normal depois disso. O que quer que tivesse


acontecido entre mim e Jason em seu carro, foi arquivado como
erros épicos, e passei o fim de semana tentando o meu melhor para
esquecer nosso momento do meio da noite no banheiro. Claro, eu
não disse uma palavra sobre isso para Hailee.
Tinha doído, foi uma dor aguda estilhaçando meu peito, ver que
ele podia ir tão rapidamente de me beijar, me tocar, para estar com
Jenna. Mas era apenas mais um lembrete de que eu precisava tirar
todos os pensamentos de Jason Ford da minha cabeça.
Pelo menos, esse era o plano.
— Felicity?
— Hã??
— Você está bem, querida? — Minha mãe franziu a testa. — Eu
estava te chamando, e você estava completamente fora do ar.
— Estudando até tarde da noite — falei, em meio a um bocejo
falso. — Você sabe como é.
— Sei que é o último ano, baby, mas não quero que você fique
doente. Uma boa noite de sono...
— Contribui para uma mente saudável. Eu sei, mãe.
— Você sabe que a sua avó, que Deus abençoe sua alma,
costumava falar isso para mim todos os dias.
— Eu sei, mãe. — Do mesmo jeito que você faz.
— Último ano. — Ela empurrou um prato de panquecas para
mim antes de se servir de outra caneca de café. Aparentemente,
quando se era adulto, com uma mente saudável, tinha uma boa
noite de sono e tomava dois cafés antes das oito. — Parece que
você nasceu ontem.
Gemendo silenciosamente, comi o café da manhã enquanto ela
relembrava o passado. Quando terminei, ela estava com os olhos
um pouco marejados.
— Estamos muito orgulhosos de você, Felicity, e em pensar que
está seguindo nossos passos.
— Claro, mãe. — Essa era a resposta que eu sempre dava
quando ela mencionava a faculdade.
— Embora — ela continuou —, não faço ideia de como o seu pai
vai lidar com isso. Ele mal dormiu quando você estava em Nova
York.
— Foi uma noite — eu a lembrei.
— Eu sei, eu sei. Mas Nova York é tão...
Eu enchi o silêncio com adjetivos. Grande. Incrível. Inspiradora.
Viva. Eu deveria saber que ela diria:
— Esmagadora.
— Não sei, até gostei. — E não teve absolutamente nada a ver
com perder a virgindade com um certo Raider taciturno.
— Mesmo? — Ela torceu o nariz. — Achei tão espalhafatoso. De
qualquer forma, seu pai e eu concordamos, sem mais viagens até
depois da formatura, mocinha. Não tenho certeza se o coração dele
aguentaria, e você sabe que o dr. Garrick disse que ele precisa
controlar a pressão arterial.
— Mãe, não acho que minha viagem de uma noite tenha
aumentado a pressão arterial do meu pai, mas sim suas noites
intermináveis no escritório. — Ele raramente estava em casa e se
estava, trazia trabalho com ele.
— Ele só quer nos prover, baby. Uma forte ética de trabalho é
muito importante nos dias de hoje.
— Eu sei — murmurei as palavras, me sentindo culpada de
repente. Papai trabalhava muito para sua família.
— Um dia você vai entender. — Seus olhos não continham nada
além de calor, como se ela estivesse me fazendo um favor. Me
protegendo. Me mantendo a salvo dos monstros do mundo. Mas o
que ela não percebia era que estava me sufocando.
Eu estava sufocada.
Mas não podia dizer isso a ela.
A menos que quisesse partir seu coração.
Então pressionei os lábios e sorri, esperando que ela não
pudesse ver que eu já estava contaminada por um monstro.
Um que usava camisa azul e branca e comia garotas como eu
no café da manhã.

— SRTA. Giles — a voz rouca me assustou. — Exatamente a garota


que eu esperava encontrar.
Franzi o cenho enquanto olhava para o diretor Finnigan
boquiaberta, tentando encontrar em meu cérebro qualquer
indiscrição recente que eu pudesse ter cometido para que ele viesse
me repreender.
Quando o silêncio durou um segundo a mais que o normal,
finalmente recuperei a voz e perguntei:
— Sinto muito, estava me procurando, senhor?
— De fato. — Ele sorriu. — Esta é Mya Hernandez, uma aluna
transferida da Filadélfia. Eu esperava que você pudesse ser amiga
dela e ajudá-la a se estabelecer.
— Eu? — Pisquei, certa de ter ouvido mal. — Você quer que eu
seja amiga dela?
— Bem, não conheço nenhuma outra aluna chamada Felicity
Giles, você conhece?
— Não, senhor.
— Então — ele continuou —, vou deixar vocês se conhecerem.
Mya já está com seu horário de aula. Se tiver qualquer problema,
consulte a srta. Hampstead.
Ele alisou o blazer e saiu pelo corredor, deixando a mim e a nova
garota olhando sem jeito uma para a outra.
— Ouça, está tudo bem — ela falou, com um leve sotaque latino.
— Não preciso que você cuide de mim. Apenas me aponte a direção
da sala de — ela examinou o papel em sua mão — história, e direi à
srta. Hampstead que você foi mais do que prestativa.
— Mya, certo? — perguntei, ignorando sua rejeição. — Eu sou
Felicity. Prazer em conhecê-la.
— Sim, tanto faz. — Ela puxou a bolsa pelos ombros e olhou ao
redor.
— Eu amo o seu cabelo, é...
— Natural? — Mya revirou os olhos.
— Desculpe, não quis dizer...
— Não, me desculpe. — Sua expressão dura suavizou. — Isso
foi rude. É difícil se transferir no meio do semestre do último ano.
— Você é da Filadélfia?
— Badlands — sua voz baixou significativamente.
— Isso não é... — As palavras se alojaram na minha garganta.
— O gueto? — Sua sobrancelha arqueou quando ela deu uma
risada estrangulada.
— Não foi... — Minhas bochechas queimaram. — Eu não...
— Badlands não é os Hamptons, com certeza, mas ainda era
meu lar, sabe?
— Você já foi? — Mudei de abordagem. — Para os Hamptons,
quero dizer? Sempre quis ir, mas minha mãe e meu pai preferem
cultura à praia. — Cultura tranquila: museus, galerias e edifícios
históricos.
— Fui uma vez. Não achei que era tudo isso. A coisa toda não é
realmente minha praia. — Mya bufou, empurrando os cachos em
espiral indisciplinados do rosto. Ela era linda: negra de pele clara e
um corpo esguio, mas curvilíneo. Ela me lembrava Amanda
Stenberg.
Sorri para mim mesma. As garotas de Rixon se encaixam em
duas categorias: Barbies plastificadas com roupas colantes e o resto
de nós. Um olhar para Mya, e eu sabia que ela era como eu e
Hailee. Bem, antes de Cameron e um certo astro quarterback que
permaneceria inominável.
— O que foi? — Mya franziu a testa para mim enquanto eu a
observava.
Entrelaçando o braço ao dela, me inclinei para mais perto.
— Você é fã de futebol, Mya Hernandez?
— Prefiro basquete.
Meu sorriso se ampliou.
— Por que você está olhando assim para mim? — Ela franziu o
cenho.
— Ah, nada, mas acho que vamos ser grandes amigas —
declarei, arrastando-a pelo corredor. — Bem-vinda a Rixon High.

— E ESTE É O REFEITÓRIO — anunciei enquanto Mya se arrastava


atrás de mim. Ela insistiu em fazer suas próprias coisas na hora do
almoço, e eu insisti que ela viesse comigo para encontrar Hailee.
Aparentemente, minha persistência superou a dela.
— Eeeeeeee se parece exatamente com a da minha antiga
escola, exceto pelo tráfico de drogas e brigas.
Virei a cabeça e sabia que minha boca estava aberta como um
peixe.
— Piada — Maya disse. — Estou brincando. Bem sobre o tráfico
de drogas, principalmente.
— Foi tão ruim assim? — perguntei quando entramos na fila.
— Fallowfield High era uma selva. Tive sorte de ter escapado.
— Como você conseguiu?
— Longa história — foi tudo o que ela disse antes de voltar a
atenção para os itens do almoço. — A mesma merda de comida.
— Ah, não sei. Os tacos costumam ser bons e sexta-feira é dia
de espaguete.
— Humm, parece delicioso — ela respondeu em tom provocador.
— Espere, você verá.
— E quem pode ser essa? — Asher tinha um timing impecável.
Eu esperava que Mya se situasse antes de apresentá-la a qualquer
outra pessoa. Mas pela forma como seu olhar desceu pelo corpo
dela e voltou, eu sabia que Asher não precisaria de apresentações.
— Asher Bennet. — Ele estendeu a mão. — Você deve ser a
nova garota.
— Esta é a Mya — respondi quando ela franziu os lábios em
desafio, olhando para a mão de Asher como se ele tivesse uma
doença infecciosa.
Eu estava começando a gostar mais dessa garota a cada
segundo.
Ele se recuperou rapidamente, passando os dedos pelo cabelo
loiro bagunçado.
— Você gosta de futebol, Mya?
— Não faz meu tipo, não.
— Teremos que mudar isso, porque você acabou de chegar em
Rixon.
— Eu deveria saber o que isso significa?
— Você vai ver. — Ele piscou para ela antes de voltar sua
atenção para mim. — Você está ótima, Fee, baby. — Então ele se
afastou como se não fosse nada.
— Por que todos estão olhando para nós? — Mya perguntou.
— Porque você acabou de chamar a atenção de um Raider. —
Meu estômago deu um nó com as palavras, o que era estranho,
porque se Asher voltasse sua atenção para a nova garota,
significava que não estaria mais de olho em mim.
Não era?
— Não estou interessada. — Mya carregou sua bandeja com
itens de almoço.
— Namorado? — Levantei uma sobrancelha.
— Ex. E não pretendo substituí-lo tão cedo.
— Ah, entendo. Rompimento ruim? — Seguimos pela fila.
— O pior. — A dor brilhou em seus olhos, mas desapareceu em
um instante. Mya era endurecida. Indiferente. Me lembrava muito
Hailee pré-Cameron.
Pagamos o almoço e seguimos em meio às massas até nossa
mesa. Hailee já estava lá. Ela ergueu os olhos e sorriu.
— Você deve ser a Mya. Bem-vinda a Rixon High. Vejo que a
Flick já colocou as garras em você. — Minha melhor amiga lutou
contra um sorriso.
— Ela é persistente, admito.
— Ei — protestei. — Estou sentada bem aqui.
— Nós sabemos — as duas disseram ao mesmo tempo, e eu
fiquei boquiaberta.
— Estou começando a achar que foi uma má ideia. Agora são
duas de vocês.
— Força nos números, estou certa? — Mya estendeu o punho
em direção a Hailee, que a encarou. Quando ela desajeitadamente
bateu contra os nós dos dedos de Mya, foi a minha vez de rir.
— Muito gueto — murmurei para ela.
— Ouvi isso — Mya desviou o olhar para mim, e eu corei.
— Desculpe.
— Nada, está tudo bem. Gosto disso. É melhor do que todos que
olham para mim como se não soubessem se deveriam correr para o
outro lado ou me perguntar se eu conheço o Snoop Dog
— Mya, isso não é... — Hailee começou, mas as palavras
morreram em seus lábios. — Rixon é uma cidade pequena. Não há
muita diversidade por aqui.
— Posso ver. — Mya deixou seus olhos vagarem pelo refeitório.
Embora eu não tenha piscado duas vezes para o estilo dela – jeans
rasgados, camisa amarrada na cintura, blusa caqui e botas estilo
militar – outros alunos estavam olhando. — Então me expliquem.
— Time de futebol. — Fiz um gesto para onde Asher e o resto da
equipe estavam sentados. Ele nos deu uma saudação de dois
dedos, e Mya bufou.
— Ele é sempre tão...
— Irritante? — perguntei. — Bastante. Nós odiávamos a equipe
até este ano, mas como a Hailee está namorando...
— Espera aí — Mya recuou. — Você está namorando com ele?
— Ah, não. Estou com o Cameron. Está vendo aquele de cabelo
curto escuro e tatuagem de flor de cerejeira?
— Bom, muito bom. Mas ainda é jogador de futebol? Droga,
garota.
— Nem me fale. — Hailee sorriu timidamente. — Nunca foi o
plano, mas...
— Não pode se escolher por quem você se apaixona. — Mya
terminou como se soubesse tudo sobre relacionamentos
complicados. — Entendo.
— O futebol é uma grande coisa aqui — continuei. — Os Raiders
têm uma chance real de chegar ao estadual, então espere que as
coisas fiquem um pouco malucas nas próximas semanas.
Mya fez uma careta.
— Há algo para se divertir em Rixon que não envolva futebol?
— Tem o Ice T’s, a sorveteria. E o The Alley.
— Me deixe adivinhar, boliche?
Concordei.
— Tem lanchonete e fliperama também. É provavelmente um
dos únicos lugares intocados pelo futebol por aqui. — Bem, foi até
recentemente, mas não disse isso a Mya. Não queria assustá-la.
— Então temos sorveteria e boliche. Algo mais? — Ela sorriu.
— Humm... no verão, vamos até o lago e nadamos, isso é muito
legal.
— Você está vivendo sua melhor vida aqui, hein?
— Como eu disse, cidade pequena. — Hailee sorriu, colocando
um pouco de macarrão na boca.
O olhar de Mya voltou para as mesas de futebol.
— Acho melhor reajustar minhas expectativas então. — Havia
algo em seus olhos, uma tristeza marcada pela luxúria. Mya
demonstrou detestar futebol, assim como o resto de nós que
tentamos não ser afetados. Mas a verdade é que quando se morava
em um lugar como Rixon, o futebol se infiltrava em sua vida, mesmo
que você não quisesse.
Quando seus olhos encontraram os meus novamente, e ela
perguntou:
— Devo perguntar se vocês têm um time de basquete? —
percebi que talvez eu a tivesse julgado mal.
DEZ
Jason
— VIU A GAROTA NOVA? — Grady me perguntou enquanto eu me
preparava para o treino.
Dei de ombros, puxando as ombreiras.
— Vi o Bennet se apresentando. — Mackey piscou para ele. —
Está pensando em se unir à favela?
— Isso não é legal, mano — Asher cerrou a mandíbula. — Não é
legal.
— O que foi? Só estou dizendo que ela parece parte do elenco
daquele filme, Straight Outta Compton – a história do NWA. — Ele
vociferou as palavras.
— Mackey, faça um favor a todos nós e cale a boca, certo?
— Desculpe, Cap, eu só estava brincando.
— Idiota — Asher resmungou, empurrando-o nos ombros e
saindo do vestiário.
— Acho que o Bennet está apaixonado pela nova garota —
Grady comentou e gargalhadas ressoaram pela sala.
— Talvez vocês devam parar de fofocar e se concentrar no jogo
que está por vir. — Atirei um olhar severo a cada um deles antes de
ir atrás de Asher.
Eu não me importava com a garota nova, mas a vi sentada com
Hailee e Felicity no almoço. Claro que minha meia-irmã e sua
melhor amiga aceitariam a excluída.
Revirando os olhos, fui até Asher e Cameron.
— Ei, você está bem?
— Quem, eu? — Suas sobrancelhas arquearam. — Estou bem.
— Asher tinha grande experiência em varrer qualquer coisa para
debaixo do tapete.
— Quem é ela, afinal? — perguntei.
— Ouvi dizer que veio transferida da Filadélfia. Mia, Mya ou algo
assim — Cameron ofereceu. — O diretor pediu a Felicity para ajudá-
la a se instalar.
— Entendi.
— Muito bem, rapazes, venham aqui — o treinador Hasson
gritou. Quando estávamos ouvindo, ele disse: — O jogo sete e vai
ser difícil. Fenn Hill é o time a ser batido nesta temporada. Seu
ataque tem sido imparável, para não mencionar que eles têm onze
divisões. E vamos jogar na casa deles. Não vou adoçar as coisas:
vocês vão precisar se esforçar muito para ganhar. E precisamos
dessa vitória.
Porque esta vitória era o nosso bilhete para os play-offs.
— Deixa conosco, treinador — falei com confiança. Os Falcons
eram bons, mas nós éramos melhores.
— Fico feliz que pense assim, filho, porque depois do jogo de
sexta-feira, você precisa provar a si mesmo. Não vou repetir o que
aconteceu, porque traçamos uma linha na sexta. — Sim, depois que
ele nos repreendeu como se fôssemos crianças apanhadas com as
mãos em um pote de biscoitos antes de dar um aviso a Cameron. —
Mas é melhor vocês pedirem a Deus para não fazer aquela merda
de novo. Não me importo se os jogadores estão falando mal de suas
avós mortas. Deixem. Isso. Pra. Lá. Fui claro?
— Sim, senhor.
— Bom. — Seus olhos pousaram em mim. — Aqueça-os, QB.
— Vamos — rugi, ficando de pé. Depois do jogo de sexta-feira,
eu estava ansioso para voltar ao campo e para provar a todos – e a
mim mesmo – que éramos os melhores.
Mas então vi dois rostos familiares nas arquibancadas. Correndo
ao lado de Cameron, resmunguei:
— O que elas estão fazendo aqui?
— A Hailee precisa trabalhar nos últimos esboços para a Noite
dos Veteranos.
Apertando os lábios, engoli a resposta que estava na ponta da
língua. Eu poderia lidar com Hailee, mas Felicity?
— Estou cansado dessa merda.
— Não seja idiota — Cam me deu um olhar duro. — Você sabe
como este projeto é importante para a Hailee. Além disso, ela
esteve em quase todos os treinos, e você não... — A percepção
cintilou em seus olhos. — Mas você não está falando sobre ela,
está?
— Não tenho ideia do que você está falando.
Um sorriso lento curvou sua boca.
— Claro que não. — Cameron me deu um tapinha nas costas
antes de se juntar ao resto dos caras em formação para o
aquecimento. — Vou gostar de ver você cair — ele falou, e eu o
encarei, sem entender.
Que merda era essa agora?

O TREINO FOI BRUTAL. O treinador nos fez fazer exercícios até os


músculos queimarem e os ossos doerem. Ele estava preocupado
com o jogo contra Fenn Hill. Era nítido pela maneira como nos
pressionou. Exigiu mais. Insistiu que déssemos tudo o que tínhamos
e mais um pouco. Quando voltamos para o vestiário, eu estava
pronto para cair na cama e dormir por uma semana. Não que isso
fosse uma opção.
— Ei, QB, o Thatcher está falando mal de novo.
Endireitei a coluna quando Grady se aproximou, me entregando
o celular.

@THATCHERQB1: Melhor correr, melhor se esconder, os Falcons


estão à caça #Falconspelavitoria #Raiderspodemseferrar

— ELE NÃO VAI DESISTIR DISSO, não é?


— Ele fala demais. — Entreguei o celular de Grady de volta para
ele.
— E se não for só conversa? — Cameron se sentou no banco ao
meu lado.
— Posso lidar com o Thatcher.
— Como você lidou quando ele estava no The Alley colocando
as mãos na Hailee?
— Isso não é justo, e você sabe.
— Tem razão. — Ele soltou um suspiro tenso. — Sinto muito. Eu
simplesmente não suporto a ideia de ele estar em qualquer lugar
perto dela.
— Não vai acontecer de novo — garanti, embora soubesse que
era uma promessa que não poderia cumprir.
— Você não acha que ele vai aparecer na sexta-feira, não é?
Talvez devêssemos falar com o trei...
— Perdeu a porra da cabeça? A última coisa que precisamos
fazer é levar isso ao treinador. Se o Finnigan descobrir sobre isso,
não vai acabar bem para nenhum de nós. Ele já está de olho em
cada movimento meu. — Determinado a “limpar” a reputação do seu
time de futebol, o novo diretor tornou sua prioridade garantir que o
time se comportasse. Sendo que o time não era seu, não realmente.
Um fato que ele odiava. Mas o treinador Hasson e o conselho
escolar só podiam nos proteger até certo ponto.
A necessidade de ir atrás de Thatcher me queimava. Mas eu
tinha que ser inteligente para dar o troco. Porque o time havia
trabalhado muito duro para que eu arriscasse tudo.
Eu trabalhei muito duro.
— O Thatcher vai receber o que está aguardando por ele — falei
baixinho, sentindo a vingança ferver meu sangue.
— Isso é o que me preocupa. — Cameron me lançou um olhar
penetrante antes de se levantar e pegar a bolsa. — Te vejo amanhã
— disse, antes de se afastar.
Houve uma época em que fazíamos tudo juntos. Mas agora ele
tinha Hailee e tudo era diferente.
E isso era uma merda.
Peguei minhas coisas e saí. Não esperava encontrar Asher e
Felicity no estacionamento, rindo e brincando como velhos amigos.
— Estamos pensando em ir para o Bell’s, quer ir? — Ash
perguntou com um sorriso fácil, como se ela fizesse parte do nosso
grupo. Fiz uma careta, encontrando os olhos dela em questão. Ela
abaixou o rosto, e pude ver o calor subindo por suas bochechas.
— O que é, vocês dois agora são companheiros de foda ou algo
assim? — Felicity empalideceu enquanto Asher fechava os olhos,
soltando um suspiro pesado.
— Jase, vamos lá, não é assim...
— Dane-se. Não é da minha conta. Faça o que quiser, mas acho
que vou passar.
— Talvez eu deva ir embora. — A voz suave flutuou sobre mim
como uma corrente quente. Eu estava sendo um idiota, mas ela
estava em todos os lugares.
— Você não precisa ir embora. Falei que vamos sair, e nós
vamos. — Asher semicerrou os olhos para mim, me desafiando a
discutir. Então me dei conta de que talvez tudo isso fosse parte de
algum jogo. Sua maneira de tentar me fazer admitir que gostava
dela.
Eu não gostava.
Ela simplesmente me irritava. Isso era tudo.
Mas quando me afastei deles, não tinha mais tanta certeza.

— VAMOS, pessoal, para os ônibus. — Era sexta-feira à noite e o


time e equipe técnica estavam amontoados em quatro ônibus que
nos levariam a Fenn Hill. Nossos torcedores seguiam atrás de nós.
Era um espetáculo para ser visto: metade da cidade fazendo
uma viagem de quarenta minutos para apoiar os Raiders. Mas todos
queriam nos ver vencer e dar um passo mais perto do estadual. E
ajudava ter uma grande presença da torcida nos jogos fora de casa.
Seu rugido constante era como combustível para o fogo.
Nosso fogo.
Vi da janela quando Cameron se despedia de Hailee. Felicity e a
nova garota ficaram na periferia, fingindo não olhar. Durante toda a
semana eu a evitei, e durante toda a semana meu humor piorou.
Merda de garotas.
Deixe-as entrar e há chance de que estraguem tudo, mas
mantenha-as à distância... e é provável que estraguem tudo. Era
uma situação sem saída.
Racionalizei que meu estranho fascínio pela garota que fazia
listas, frequentava o clube do livro e possuía algumas camisas muito
feias não era nada mais que o fato de que ela era virgem, e eu não
tinha abalado seu mundo porque Hailee se intrometeu.
O plano era tirá-la da minha cabeça com Jenna, mas eu estava
começando a me perguntar se só precisava transar com ela mais
uma vez. Afastei essa ideia idiota. Fazer isso com Felicity era uma
via de mão única para uma dor de cabeça que eu não queria ou
precisava.
Com todos finalmente a bordo, o treinador Hasson parou na
frente, olhando para nós como sempre fazia quando tínhamos um
grande jogo pela frente – ou seja, todos.
— Ouçam, garotos — ele explodiu. — Quero o seu melhor
comportamento esta noite. Estamos jogando fora de casa, o que
significa que vocês não estão só representando seu time, estão
representando a escola e a cidade. Não espero nada além de
profissionalismo, entenderam?
Um resmungo de sim, senhor ecoou ao meu redor enquanto o
olhar duro do treinador focava em mim. Ele ainda estava chateado
com o jogo contra Millington e tinha todo o direito de estar. Mas ele
não era o único no campo. Às vezes, as decisões saíam de nossas
mãos. Às vezes, a decisão era tomada tão rapidamente que você
não tinha tempo de pesar as consequências. Você estava dando na
cara de algum filho da puta antes que pudesse se conter.
— Ei, você está bem? — Cameron cutucou meu ombro.
Assenti. Eu estava mais do que pronto para o jogo. Ansioso para
sair e arrasar com os Falcons. Como se eu precisasse de pressão
extra, Grady se inclinou sobre a minha cadeira e empurrou o celular
na minha frente.
— Viu isso?
— Grady — Cam o advertiu, mas era tarde demais. Passei os
olhos sobre o tweet, apertando a mandíbula com a provocação de
Thatcher.

@THATCHERQB1: O que é isso que estou ouvindo? Os Raiders


chorando como pequenas v%d$as #Falconsacabemcomeles
#Raidersmelhordesistir
— ELE SÓ ESTÁ TENTANDO te perturbar. — Cameron disse,
pegando o celular da minha mão e o empurrando de volta para
Grady, resmungando algo para ele sobre parar com essa merda.
— Sim, está dando certo — falei com frieza.
— Você não pode permitir isso, cara. Ele sabe que os Eagles
estão fora dos play-offs e agora está tentando sabotar nossa
chance.
Me concentrei em pressionar o punho na coxa, abrindo e
fechando a mão. Apertando até o sangue ser drenado. Thatcher me
tirava do sério e nada do que eu fizesse conseguia me livrar dele.
O rosto de Asher apareceu entre a lacuna nos dois assentos à
nossa frente.
— Talvez devêssemos atravessar o rio e dar o que ele quer. — A
malícia iluminou seu rosto. Asher podia ser o palhaço do grupo, mas
sempre estava disposto a fazer barulho.
— Sério, você acha que isso vai resolver alguma coisa? —
Cameron soltou um suspiro de frustração.
— Melhor do que ficar esperando que ele venha até nós. —
Asher se virou.
— Não dê ouvidos a ele. — O tom do meu melhor amigo era
sério. — O Thatcher vai acabar ficando entediado.
Mas por mais que eu quisesse acreditar nele, eu não conseguia.
Thatcher continuaria me provocando até que eu perdesse o
controle.
Porque éramos mais parecidos do que eu acreditava. Eu magoei
sua irmã... e agora ele estava determinado a me machucar. Fui
arrogante o suficiente para pensar que era intocável. Acreditava que
Thatcher não poderia me machucar, porque a lista de pessoas com
quem eu me importava era minúscula.
Mas eu me importava.
No fundo, eu me importava pra cacete. E eu odiava isso.
Porque gostar me deixava vulnerável.
Fraco.
Algo que eu não poderia ser.
ONZE
Felicity
— ME RELEMBRE por que concordei em vir para essa coisa? —
Mya resmungou enquanto eu arrastava a ela e Hailee para a
barraca de bebidas antes do jogo.
Fenn Hill era um estádio muito menor que o da nossa escola,
mas isso não impediu a multidão. Nossos rostos pintados de azul e
branco, camisas e bonés mal faziam uma marca no mar de amarelo
e verde.
— É divertido — gritei por cima do barulho.
— Divertido? — Mya arqueou uma sobrancelha, olhando para
Hailee, que ergueu as mãos.
— Não olhe para mim. Estou aqui apenas pelo Cameron.
— Estou confusa — nossa nova amiga falou. — Achei que você
odiasse o time de futebol e toda a instituição do jogo. — ela citou as
palavras que Hailee disse no início desta semana.
— Ah, nós odiamos — expliquei. — Mas também estamos
abraçando isso este ano.
— Certo. — Mya franziu a testa. — Então, qual você quer?
— Quero? — gaguejei, quase me engasgando com a sua
insinuação.
— Bem, sim. Quero dizer, faz sentido porque ela está aqui. —
Mya apontou para Hailee. — Mas o que não consigo entender é por
que você está aqui se não tem uma queda por um dos...
— Não tenho queda nenhuma — falei depressa, um pouco
rápido demais. — Acontece que eu gosto de assistir a jogos de
futebol. Mesmo que toda a instituição fique maluca.
— Então você está em negação. — Ela arqueou a sobrancelha.
— Não estou... — O argumento secou na ponta da minha língua.
— Eu só quero apoiar Cameron e os caras.
— Os caras? Você quer dizer o Asher e o Jason...
— Bem, bem, se não é a garota do Chase e a outra atrevida. —
O amigo de Thatcher, aquele que ele havia chamado de Gallen
apareceu, com o olhar predatório fixo em mim. — Você está ótima,
baby.
— O que é que você está fazendo aqui? — questionei.
— Vim ver o jogo, o que mais eu...
— O Thatcher está aqui? — Hailee estava branca como um
lençol.
— Não achou que eu deixaria o Gallen aqui se divertir sozinho,
não é? — Thatcher contornou seu amigo e semicerrou os olhos para
Mya. — Quem é a nova garota?
— Ninguém para você — ela respondeu, cruzando os braços.
— Não sabia que o Ford tinha começado a se misturar com ratos
de rua.
— Você não pode dizer isso — gritei, dando um passo à frente
de Mya, protegendo-a do sorriso superior de Thatcher. — Nem a
conhece.
— Tenho olhos, querida.
As pessoas estavam nos encarando. Até o cara do cachorro-
quente estava olhando para nós em vez de fazer a porcaria do seu
trabalho.
— Vá embora — baixei a voz, implorando com os olhos. — Você
está fazendo uma cena.
Thatcher se aproximou, levando o ar com ele, até que minha
respiração ficou presa na garganta.
— Você tem coragem, sabia, querida? Estava planejando brincar
um pouco mais com a garota do Chase, mas talvez eu brinque com
você. — Ele ergueu a mão e roçou a lateral do meu pescoço,
provocando um violento estremecimento dentro de mim.
— Tire as mãos dela. — Mya se aproximou, a raiva emanando
dela. — Antes que eu grite.
Tatcher virou a cabeça para ela e um sorriso torto enfeitou sua
expressão mortal.
— Gritar só me deixa mais excitado, baby.
Batendo em sua mão, recuei, puxando Mya comigo. Gallen
sorriu com malícia, sem disfarçar o fato de que estava me comendo
com os olhos.
A bile subiu pela minha garganta. Esses caras eram nojentos.
Pior do que qualquer coisa que já testemunhei Jason ou o time
fazer. Eles não pareciam caras que queriam se divertir um pouco
conosco. Pareciam querer nos humilhar.
Nos machucar.
— Vamos lá — Hailee falou com a voz baixa. — É melhor irmos.
Puxei Mya para longe, tentando ignorar os dois pares de olhos
cravados em minha pele.
— Ainda quero saber? — ela perguntou, enquanto
abandonávamos os cachorros-quentes e nos misturávamos no mar
de gente.
— Ah, aquele era Lewis Thatcher, o quarterback e alfa-idiota dos
rivais dos Raiders, o Rixon East Eagles.
— Lamento ter perguntado. — Ela deu uma meia risada. —
Então, quando você disse que Rixon leva o futebol muito a sério,
estava falando a verdade...
— Muito. — Meus lábios se curvaram em um sorriso hesitante.
— Pode ficar meio louco. Não existe amor perdido entre Jason e
Thatcher.
— E eu que achei que me mudar para uma pequena cidade no
meio do nada seria chato.
— Ei — protestei. — Rixon não fica no meio do nada.
— Também não é na cidade. Mas estou feliz que o diretor
Finnigan nos uniu. — A expressão dela suavizou, algo que suspeitei
que a maioria das pessoas não viam.
— Eu também. Vamos. — Entrelaçando os braços com o dela e
de Hailee, afastei todos os pensamentos sobre Thatcher.
Tínhamos um jogo a vencer.

— PUTA MERDA, isso é revigorante. — Mya sorriu ao meu lado


enquanto observávamos o ataque comemorar um touchdown. Seu
sexto no jogo.
— O que eu te disse? Odeie os jogadores, não o jogo. —
Piscando para ela, eu ri, saltando e acenando com as mãos como
louca.
Hailee estava mais quieta, com os olhos focados em Cameron
enquanto ele batia nas mãos de seus companheiros de equipe
antes de correr para fora do campo.
Era o quarto período e não tínhamos visto Thatcher e seu amigo
novamente. Mas vimos os Raiders arrasarem com os Falcons o jogo
todo. Nossa torcida, embora quatro vezes menor que a da casa, era
mais barulhenta, estava com mais fome e o zumbido no ar era
elétrico.
— Quase lá — gritei, agarrando a mão de Hailee e a apertando.
Eu sabia o quanto era importante para ela estar aqui por
Cameron, depois de tudo que eles haviam passado.
O apito final soou e nossa pequena área das arquibancadas
explodiu. Até Mya estava de pé, gritando e aplaudindo enquanto a
vitória nos atingia.
Era estranho. Durante o ensino médio, nunca fiz parte de nada.
Não fui da banda ou torcida. Não fui convidada para festas, para
entrar na equipe de debate ou competir em um clube de atletismo.
Eu tinha Hailee e nossa vida simples – indo ao The Alley, entrando
de penetra em festa estranhas, comendo nosso peso corporal em
sorvete no Ice T’s – e isso era o suficiente.
Até eu querer mais.
Até que eu quisesse absorver todas as experiências que
pudesse no último ano e experimentar todas as coisas que nunca
tive, porque fomos rejeitadas por nossos colegas por causa de
Jason e seu rancor estúpido contra Hailee. Mas aqui, torcendo pelo
time, senti pertencimento.
Assim que os jogadores desapareceram do campo, nós saímos
da arquibancada e seguimos para o estacionamento onde os ônibus
da equipe estavam esperando. No segundo em que Jason
apareceu, liderando a equipe para fora do estádio dos Falcons, uma
enorme rodada de aplausos saudou nossos heróis. Os caras se
separaram, procurando por seus amigos e familiares entre a
multidão reunida. Cameron e Asher vieram direto para nós três,
enquanto Jase conversava com o treinador Hasson e seu pai. Fingi
ouvir Asher à medida que ele contava cada jogada e passe. Sério,
eu estava observando Jason. Sua expressão estava tensa quando
seu pai segurou seu ombro enquanto falava com animação com o
treinador.
— Fee, baby, o que tem a sua... — Asher esticou o pescoço e o
brilho em seus olhos diminuiu. — Ah.
— Me desculpe — dei a ele meu melhor sorriso. — O que estava
dizendo?
— Bem, eu estava prestes a convidar vocês três para a festa na
minha casa amanhã... — Eu odiava o desânimo em sua voz, mas
não adiantava tentar consertar. Ele me viu olhando para Jason, e eu
soube que ele percebeu como eu me sentia.
Mesmo que eu nunca tivesse contado a ele.
— Você gosta de festas, Mya? — Asher colocou o braço em
volta do ombro dela, e juro que um pequeno rosnado se formou em
sua garganta. — Mensagem recebida. — Ele se afastou com um
sorriso. — Mas falando sério, você deveria vir amanhã. Minha casa
é o lugar certo para festas. A Hailee estará lá, certo, Hails?
— Acho que sim. — Ela deu de ombros, olhando para Cam, que
estava muito ocupado olhando para ela com tanta emoção que eu
tinha certeza de que ele não tinha ouvido uma única palavra que
Asher tinha acabado de dizer.
— Só se a Felicity for.
Olhei para Mya, e ela ergueu uma sobrancelha, com uma
expressão indecifrável em seu rosto.
— O que me diz, Fee, baby? Festa na minha casa amanhã?
Há algumas semanas, minha resposta imediata teria sido sim.
Estava na minha lista, era um rito de passagem para jovens da
Rixon High. Mas isso foi antes de transar com Jason. Antes dos
olhares acalorados e beijos roubados. Antes que os olhos de
cachorrinho de Asher me seguissem por toda parte.
Deus, tudo parecia tão complicado agora.
— Haverá dança?
— Sempre tem dança. — Suas sobrancelhas balançaram
sugestivamente.
— Não estou falando sobre esse tipo de dança, Asher. — Eu
tinha ouvido as histórias.
— Pode haver qualquer tipo de dança que você queira.
Ele estava flertando. Nada que ele não tivesse feito cem vezes,
mas sempre que o fazia, eu me sentia mais e mais confusa.
— Tudo bem, podemos ir. — Olhei para Mya, que assentiu. Ela
era difícil de ler. Mas não perdi o jeito como seus olhos
permaneceram na direção de Asher.
Ela gostava dele.
Ele gostava de mim. Pelo menos, eu achava que sim.
E eu gostava de Jason.
Se isso não significava desastre, não sabia o que era.
— Ei, QB — Asher acenou para Jase. Ele veio em nossa
direção, com os olhos frios. — Vamos para o Bell’s mais tarde?
— Hoje, não, meu pai quer... comemorar. Mas vou para a sua
casa amanhã. — Seu olhar encontrou o meu, semicerrando. Eu
podia senti-lo sobre minha pele, queimando. Ele parecia nervoso. A
adrenalina do jogo, sem dúvida.
— Você está bem, Jase? Você parece um pouco...
Jason interrompeu nossa conexão para olhar para Asher.
— Estou bem — ele grunhiu. — O treinador nos quer no ônibus.
— Acho que isso é um adeus, garotas. Até amanhã?
Jason fez uma pausa, olhando para nós.
— Você as convidou?
— Bem, sim, eu não...
— Que se dane. — Ele saiu pisando duro, e eu soltei um suspiro
trêmulo.
— O que deu nele? — Asher perguntou a Cam.
— Acho que é só a pressão de tudo.
Ou o fato de que ele era um idiota temperamental.
O técnico Hasson e seus assistentes começaram a reunir o time
para entrar nos ônibus enquanto alguns torcedores se demoravam
para acenar para eles. Nós ficamos para trás também, porque
éramos esse tipo de garotas agora.
Estranhamente, não me importei.
— Acha que deveríamos ter contado a eles? — perguntei a
Hailee enquanto ela olhava apaixonada para Cam.
— E preocupá-los por nada? Não. — Ela cruzou os braços, e eu
vi uma centelha de dúvida em seus olhos. Hailee não gostava de
guardar segredos, muito menos de Cameron. Mas decidimos não
contar a eles sobre Thatcher estar aqui para evitar mais problemas.
— Vamos, devemos ir — Hailee começou a ir em direção ao meu
carro, mas parou quando Thatcher apareceu. Ele se inclinou de
forma casual no capô, abrindo um sorriso de lobo em nossa direção.
Olhei para trás, esperando que os ônibus da equipe ainda estivesse
lá, mas já estavam desaparecendo na estrada.
Porcaria.
— Humm, Hailee, o que vamos fazer?
— Basta agir com calma — ela falou. — Ele não vai fazer nada.
Só quer nos usar para atingir os caras.
Exatamente com o que eu estava preocupada.
— Ele realmente não sabe quando parar, não é? — Mya
perguntou enquanto nos aproximávamos.
— Garotas — ele falou assim que seu amigo e outro cara saíram
das sombras.
Ainda havia algumas pessoas no estacionamento, mas todos
estavam voltando para seus carros, sem prestar atenção a nós três.
— Devemos gritar por...
— Não — Hailee disse, girando os ombros para trás. Ela estava
acostumada com os jogos de Jason e suas travessuras cruéis. Mas
isso parecia diferente. Hailee não tinha qualquer importância para
Thatcher, mas tinha para Jason e Cameron, e ele sabia disso.
— O que você quer, Lewis? — ela questionou quando os
alcançamos.
— Muitas coisas. — Ele deixou seus olhos percorrerem o corpo
dela.
— Sim, bem, eu também, mas nem sempre podemos conseguir
o que queremos. Acho que você deveria ir embora.
— Ou o quê? — Ele se afastou do capô. — Vi os ônibus saindo.
Seu irmão e namorado estão voltando para Rixon, e você está
aqui... sozinha.
— Ela não está sozinha. — Mya deu um passo à frente.
— Sim, ela está conosco — acrescentei, enfiando a mão no
bolso e meus dedos roçaram no canto do celular.
— Aaah, estou com medo. — Os três caíram na gargalhada. Até
que os olhos de Gallen pousaram em mim... e na minha mão.
— O que você tem aí, gracinha? — Ele se aproximou, e eu
recuei, sentindo meu coração batendo muito forte no peito.
— N-nada — murmurei, cambaleando para trás até minhas
costas baterem na lateral de uma caminhonete. Mas Gallen não
parou. Ele continuou vindo até que me prendeu, com as mãos
pressionadas em ambos os lados da minha cabeça.
— Você não está tentando chamar reforços, está?
— Vá se foder — estourei.
Seus olhos brilharam.
— Ah, baby, eu adoraria te foder. — Ele passou um dedo pelo
meu pescoço e entre o vale dos meus seios. Arfei com uma
respiração instável quando virei a cabeça para longe dele. Mas ele
segurou meu rosto com força, me puxando de volta.
— Só uma prova — ele gemeu, esfregando os quadris em mim
enquanto sua língua alcançava meus lábios.
— O que há de errado com você, seu merda?
Ele grunhiu de dor e a pressão indesejada de seu corpo contra o
meu desapareceu enquanto ele tropeçava para longe.
— Que merda é essa?
Mya avançou sobre ele, com o punho cerrado.
— Pelo amor de Deus — Thatcher resmungou. — Se você quer
que algo seja feito... — ele parou, deixando Hailee vir até mim. —
Você. — Ele apontou o dedo para Mya, — Mantenha as mãos para
si. — Ele deu ao outro cara um aceno de cabeça e segurou as mãos
de Mya puxando-as para trás.
— Você não pode fazer isso — ela se debateu. Mas a briga dela
só fez o cara sorrir.
— Agora, onde estávamos? — Os olhos de Thatcher
escureceram. — O que estou tentando descobrir é se você é a
namorada do Bennet ou do Ford.
— O quê? Não sou...
Thatcher baixou o rosto para o meu, tão perto que eu podia
sentir seu hálito quente sobre minha pele. Meu estômago
embrulhou.
— O Bennet te quer. Eu já vi isso. A maneira como ele te
observa, te toca. E o Ford não gosta disso. Eu o vi tenso agora
mesmo.
Ele estava nos observando? Esperando que eles fossem
embora?
Ah, Deus.
— Eu não sou ninguém. Sou amiga da Hailee, só isso.
— Então você não saiu com o Bennet ou o Ford? Talvez os dois?
— Ele arqueou a sobrancelha. — Talvez, por baixo dessa pose de
mocinha inocente, você não é nada mais do que uma vagabunda.
Pressionei os lábios, tentando engolir o medo e o pânico. Sem
falar a verdade.
Thatcher semicerrou os olhos, me avaliando.
— Você está mentindo — ele apontou. — Você é alguém e
aposto que é do...
— Merda, capitão — Gallen disse, não tão arrogante agora. —
Segurança. Nós precisamos ir...
— Sim, tudo bem. — Thatcher recuou, passando a mão pelo
rosto com os olhos ainda fixos em mim. — Até a próxima. — Ele
sorriu.
O silêncio se estendeu diante de nós e o ar ficou gelado. Então
ele disse:
— Ah, e diga ao Ford que vou buscá-lo.
DOZE
Jason
— QUEM SÃO ESSAS PESSOAS? — resmunguei. Cheguei na casa
de Asher há uma hora e peguei um pack de seis cervejas antes de
pegar minha cadeira nos fundos, mas havia pessoas em todos os
lugares.
— É uma festa. Estamos comemorando, se lembra?
Claro que me lembrava dessa merda. Estávamos nos play-offs.
Mas depois de um desastroso jantar pós-jogo com meu pai e
Denise, eu não estava exatamente com humor para isso.
— Você convidou a porra da escola inteira?
Asher sorriu.
— Apenas os mais maravilhosos e bonitos. Quem é lindo? — ele
gritou e todos enlouqueceram, gritando e aplaudindo. Sempre o
showman. Revirei os olhos.
— Onde está o Chase? — perguntei.
— Lá dentro com a Hailee, mas eu ficaria longe deles se fosse
você. Me parece que há problemas no paraíso. — Asher deu um
longo gole em sua cerveja.
Mas eu já estava fora da cadeira, caminhando em direção à
casa. A última coisa de que precisávamos era que nosso wide-
receiver perdesse a calma por causa de alguma merda com minha
meia-irmã. O time precisava de Cam nos play-offs.
Eu precisava dele.
— Seu funeral, cara — ele gritou.
Lá dentro, não estava melhor. Havia gente amontoada em cada
canto da enorme casa dos Bennet. Eles eram ricos – podres de
ricos em comparação com o resto de nós – e não se importavam
que Asher usasse o local como centro da festa, já que ficavam muito
fora da cidade. Eu não conseguia descobrir o que era pior: ter pais
que se importavam, mas nunca estavam por perto, ou ter um pai
com quem você não concordava e que se recusava a ficar afastado.
Parecia que pais eram um pé no saco, de qualquer maneira que
você olhasse.
Procurei por Cam e Hailee no térreo antes de subir as escadas.
Nem sempre foi fácil para Cam, e como os Bennet tinham quartos
de hóspedes suficientes para abrir um hotel, eles deram a ele seu
próprio quarto. Já tinha um tempo que ele não o usava, mas eu
sabia que se estivessem em qualquer lugar, seria lá.
Vozes elevadas me fizeram parar quando cheguei à sua porta.
— Conte a ele, Cameron.
— E depois? O que você acha que contar fará a não ser incitar a
guerra?
Me aproximei mais, me esforçando para ouvir e senti os cabelos
ao longo da minha nuca se arrepiarem em atenção.
— Então, o que faremos? Vamos esperar até que o Thatcher
realmente machuque uma de...
Entrei no quarto, com os olhos semicerrados.
— Me contar o quê?
— Jase, cara, não sabíamos...
— Contar. O. Quê? — Me concentrei em Hailee, já que era ela
que achava que me dizer seja lá o que tivesse acontecido era uma
boa ideia.
— O Thatcher estava no jogo ontem à noite.
— O que foi que você disse? — Vi vermelho, cerrando os
punhos e sentindo a fúria correndo em minhas veias.
— Nós o vimos antes do jogo e novamente depois... — Hailee
desviou os olhos para Cameron, que estava mortalmente imóvel.
— E por que é que só estou descobrindo sobre isso agora?
— A Hailee acabou de me contar. Eu juro, cara.
— É verdade — ela acrescentou. — Eu não sabia o que fazer, e
a Flick...
— O que ela tem a ver com tudo isso? — Ouvir seu nome fez
meu pulso disparar e meu coração martelar no peito.
— O amigo do Thatcher... — Ela hesitou, meu humor ficando pior
a cada segundo. — Ele...
— Hailee, diga logo ou então...
— Jase, cara, você precisa se acalmar — Cam ofereceu, mas o
encarei com um olhar frio.
— Eles a assustaram, Jason. Ele a prendeu contra um carro e
tentou...
Eu não conseguia ouvir nada com o rugido do sangue batendo
nos meus ouvidos.
— Você está bem, cara? Você parece pálido.
— E-ele a tocou? — As palavras quase me sufocaram.
— Não como você está pensando, mas ele a segurou e disse
algumas coisas. E o amigo dele segurou a Mya depois que ela deu
um soco nele.
— Ela fez o quê? — Esfreguei as têmporas. Isso estava piorando
a cada segundo.
Hailee assentiu.
— Ela bateu nele, assim ele soltou a Flick, mas então o Tatcher...
Bati o punho na parede ao meu lado e ouvi o estalo do osso
contra a parede de gesso reverberar por mim. Mas quase não senti
dor, muito consumido pela ideia de Thatcher em qualquer lugar
perto de Felicity.
— Ele sabe que ela é importante, Jason. — Hailee deixou as
palavras pairarem entre nós, a insinuação como um tapa na cara.
— Onde ela está agora? — perguntei, mal conseguindo ver
direito.
— Em casa. Ela não quis vir. Acho que a afetou mais do que
gostaria de deixar transparecer. A Flick ficou enfurnada em casa o
dia todo.
— E você? Está bem?
Se Hailee ficou surpresa com minha preocupação, não
demonstrou.
— Estou — ela disse, segurando a mão de Cameron. — Sei que
isso te dá um motivo para ir atrás do Thatcher, mas é o que ele quer.
Você está nas eliminatórias agora. Se der um passo errado fora do
campo, o Diretor Finnigan pode te suspender pelo resto da
temporada.
Eu não sabia disso.
— Não precisa se preocupar comigo — falei —, eu vou ficar
bem. Vocês dois vão ficar bem se eu sair? — Levantei uma
sobrancelha para Cameron, que assentiu.
— Ele não vale a pena — ele me lembrou. — Não faça o jogo
dele.
— Não planejo fazer isso. — Mas Thatcher receberia o que
merecia. De uma forma ou de outra, ele pagaria por tudo isso.
Mas agora, eu tinha coisas maiores com que me preocupar.

A CASA de Felicity estava mergulhada na escuridão quando parei


do lado de fora. Cameron e Hailee tentaram me avisar sobre vir
aqui, mas assim que o nome dela saiu dos lábios da minha meia-
irmã, todo pensamento racional me escapou.
Eu precisava saber que ela estava bem.
Talvez fosse culpa pelo fato de que ela não estaria nessa
confusão se não fosse por mim, ou talvez fosse porque ela
significava mais para mim do que eu gostaria de admitir. Fosse o
que fosse, eu não iria embora até que a visse com meus próprios
olhos.
Então, por que eu estava sentado aqui nos últimos dez minutos,
incapaz de sair da porcaria do carro?
— Merda — murmurei, abrindo a porta e saindo. Eu nunca tinha
ido atrás de uma garota antes. Nunca parei na soleira da porta e
esperei que elas aparecessem. Não era meu estilo. Não era algo
que já me imaginei fazendo... ainda assim, aqui estava eu.
Mas no segundo em que cheguei à varanda dos Giles, paralisei.
Era noite de sábado. E se os pais dela estivessem em casa? E se o
pai dela atendesse a porta e me visse parado aqui? Ele me
reconheceria. Todo mundo na cidade sabia quem eu era. Então
haveria perguntas, suposições... merda.
Não havia carro na garagem, a menos que contasse o bettle
amarelo-girassol feio de Felicity.
Peguei o celular e enviei uma mensagem rápida para Hailee.

EU: Os pais dela estão em casa?


Haile: Como é que vou saber? O carro deles está aí?
Eu: Acho que não.
Hailee: Não devem estar então. Espero que você saiba o que
está fazendo.

IGNOREI ISSO, não querendo admitir que não tinha a menor ideia
do que estava fazendo.
Com uma batida suave, esperei. E esperei.
E esperei mais um pouco.
Havia chance de ela estar dormindo. Mas não era bom o
suficiente. Eu precisava vê-la, ouvir sua versão do que aconteceu.
Precisava saber que ela estava bem.

EU: Preciso do número dela.


Hailee: De jeito nenhum.
Eu: Por favor. Não pediria se não fosse importante.
Hailee: Se eu fizer isso, e ainda não decidi que vou fazer, você
tem que me prometer que não vai magoá-la. Nunca.

MERDA. Como ela poderia esperar que eu concordasse com isso?

HAILEE: Então... o que vai ser?


Eu: Prometo sempre fazer o que acho que é melhor para ela...
Hailee: Jason, isso não é a mesma coisa.
Eu: É tudo o que tenho a oferecer agora. O que vai ser,
irmãzinha? Vai me dar o número dela ou devo invadir a casa da sua
melhor amiga?
Hailee: JASON!!! Não se atreva...
Eu: Estou brincando.
MAIS OU MENOS. Porque eu não iria embora sem ver Felicity.
Outra mensagem veio com um número de telefone celular. Adicionei
aos contatos e abri um novo chat de mensagem.

EU: Abra a porta.


Felicity: Quem é?
Eu: Venha descobrir...

ALGUNS MINUTOS SE PASSARAM, e eu estava começando a


pensar que ela havia se trancado lá dentro enquanto esperava as
autoridades chegarem. Mas então a cortina se moveu e alguns
segundos depois, a porta se abriu.
— Jason? — Felicity me chamou. — O que você está...
— Não recebo um convite para entrar? — Forcei os olhos a
permanecerem em seu rosto e não em suas pernas nuas.
— Por que eu iria convidá-lo para entrar? — Ela olhou para mim.
— E o que você está fazendo na minha casa? Está tarde. Eu estava
dormindo.
— Apenas abra a porcaria da porta, Felicity — suspirei. — A
Hailee me contou o que aconteceu ontem à noite com o Thatcher.
— E você veio aqui para fazer o que exatamente? — Ela
contraiu os lábios, me provocando. Seus olhos me desafiavam a
admitir.
— Vai realmente me fazer dizer?
O silêncio se estendeu diante de nós enquanto Felicity esperava
que eu fizesse minha escolha.
— Tudo bem, mulher. Vim porque no segundo em que soube que
ele colocou as mãos em você, quis matar alguém. — De preferência
ele.
Uma risada amarga saiu de seus lábios macios.
— Então você está com ciúmes? É isso? — Ela arqueou a
sobrancelha em desafio.
— Ciúme do Thatcher? — esbravejei. — Não estou com ciúmes.
— Não? Porque pelo que vejo, parece que está. Você não
gostou de ouvir que o Thatcher e seu amigo colocaram as mãos no
meu corpo? Que eles estavam tão perto de mim que pude sentir o
calor de sua respiração na minha pele. — Meu corpo começou a
tremer de raiva enquanto ela continuava falando. Ficava
descrevendo o que Thatcher e seu amigo haviam feito com ela.
— Felicity...
— O que é, Jason? — ela perguntou de forma brusca. — Dói
saber que eles me queriam? Que desejavam me machucar? Porque
eu acho que ele teria feito isso. Acho que ele teria me tomado ali
mesmo...
— Pare, tá? — Arfei e esfreguei o esterno, tentando aliviar o
aperto. — Simplesmente pare.
— Por quê? Por que eu deveria? — Lágrimas não derramadas
se acumularam nos cantos de seus olhos e de repente percebi que
ela estava provocando tanto quanto liberando sua própria raiva com
a situação.
— Me deixe entrar, Giles — falei, enfiando o pé na abertura.
— Não. — Uma única lágrima escapou, rolando pela bochecha
de Felicity. — Você precisa ir. Vá embora, Jason.
— Vamos, baby. Me deixar entrar.
— Você não se importa comigo — ela sussurrou.
— Eu me importo — admiti. — Não estaria aqui se não me
importasse.
Seus olhos encararam os meus, procurando. Buscando
respostas que eu não tinha. Era uma batalha de vontades, e eu não
sabia quem iria sucumbir primeiro.
— Tudo bem — ela finalmente cedeu —, mas você não pode
ficar. Meus pais...
— Quem disse alguma coisa sobre ficar? — Sorri quando entrei,
ganhando um de seus famosos revirar de olhos.
A porta se fechou atrás de nós, e eu vacilei, pois o som foi como
um tiro no peito.
Que merda eu estava fazendo? Ela estava bem, eu podia ver
isso. Talvez um pouco abalada e com raiva, mas foi atrevida comigo
do jeito que costumava ser. A luta brilhava em seus olhos verdes
como o mar.
— Lugar legal — falei, preenchendo o silêncio constrangedor.
— Não é muito diferente da sua casa. — Ela sorriu de leve, me
levando pelo corredor que eu sabia que daria na cozinha.
— Você não foi para a festa?
— Não estava com muita vontade de socializar. — Ela deu de
ombros, se afastando de mim.
— Ei. — Segurei seu braço e puxei suavemente, apoiando-a
contra o balcão. Ela ofegou, seus olhos brilharam com tanta emoção
que me senti sem fôlego. Como podia uma garota – uma garota
peculiar, sem filtro e chata – me afetar tanto com um único olhar?
— Você está bem?
— Eu... — Felicity passou as mãos pelo meu peito, seu toque
era como um incêndio, abrindo uma trilha de calor. — Acho que sim.
— O Thatcher só queria te assustar.
— Sim, bem, funcionou.
Meu peito se apertou novamente. Muitas pessoas estavam
sendo arrastadas para essa coisa entre mim e Thatcher. Primeiro
Hailee, depois Cam e agora, Felicity. Se eu não tomasse cuidado,
logo haveria coisas demais para eu controlar.
— O que você fez de tão ruim? — Sua voz soou baixa mesmo
no silêncio.
Merda. Ela poderia ter me feito qualquer outra pergunta, e eu
provavelmente teria respondido... mas isso era a única coisa que eu
queria que ela não soubesse sobre mim.
Mas em vez de calar a boca e distraí-la com beijos e toques, me
peguei dizendo:
— Havia uma garota.
Felicity ficou tensa, com os olhos cheios de perplexidade.
— Uma garota? Como a Jenna?
— Não, não como Jenna. — Fiz uma careta. — A Jenna não é
ninguém.
Felicity arqueou uma sobrancelha ao ouvir isso.
— Ela é só alguém para passar o tempo. Um corpo voluntário. —
Jesus, parecia horrível em voz alta.
— Eca, que nojo — ela murmurou, baixando os olhos.
— Ei — passei os dedos por baixo de sua mandíbula e inclinei
seu rosto —, você perguntou.
— Eu sei, eu só... argh, eu a odeio.
— Você parece um pouco ciumenta, Giles. — A ideia me deixou
um pouco presunçoso.
— Não está exatamente na minha lista ver o cara que eu... —
Ela se conteve e me peguei querendo arrancar as palavras dela,
mas não o fiz. — Doeu ver vocês dois juntos, só isso.
— Juntos? Eu e a Jenna não estávamos...
Puta merda.
No Bell’s.
— Não era o que parecia.
— Quer dizer que você não a levou para o depósito dos fundos e
transou com ela? — Ela revirou os olhos de novo. — Devo ter me
enganado.
Minha coluna endureceu. O desejo de discutir com ela foi ficando
mais forte. Felicity estava parcialmente certa: eu não tinha transado
com Jenna naquela noite, mas ela me fez sexo oral.
A vergonha era um sentimento com o qual eu não estava
familiarizado, mas não amorteceu o impacto.
— Eu não transei com ela — falei, como se isso importasse.
— Que se dane, Jason. — Ela olhou para mim novamente. —
Isso, nós, é tudo um jogo. E como eu disse outra noite, no banheiro
do seu quarto, não tenho certeza se quero continuar a jogar.
O banheiro. Merda. Isso foi um erro. Eu estava bêbado e com
raiva, e ela estava bem ali, o meu próprio saco de pancadas
pessoal.
Em vez de reconhecer aquele desastre, cheguei mais perto,
diminuindo o espaço entre nós.
— Tem certeza disso?
Felicity entreabriu os lábios em uma inspiração suave.
— O que você está fazendo, Jason? — A voz dela soou trêmula.
— Achei que era óbvio. Estou aqui porque não suportei a ideia
de o Thatcher te machucar.
— Porque está com ciúmes. — Não saiu atrevido desta vez.
— Eu não estou... — Esfregando a nuca, ponderei sobre o que
dizer a seguir. Quando realmente tudo que eu queria fazer era beijá-
la. Afinal, não diziam que ações falam mais alto do que as palavras?
— Você é linda pra cacete. — Meus lábios pairaram
perigosamente perto dos dela. Teria sido tão fácil colar a boca na
sua. Mas eu queria saboreá-la, provar cada centímetro de sua pele.
Queria me perder nela, e isso me desarmou.
— Seus olhos estão tão escuros — ela falou. — É como se
fossem pretos.
— Dizem que os olhos são a janela da alma. Então, o que isso
diz sobre mim?
— Acho que diz que você é mortal. — Felicity se inclinou.
Nossos narizes se roçaram e os lábios quase se tocaram.
— Mortal, é?
Nos aproximamos ainda mais.
— E perigoso...
— Definitivamente perigoso — ecoei, provando-a. Uma vez.
Duas.
— Não prove que estou errada, Jason — suas palavras me
atingiram, mas eu não tive tempo para processá-las, porque sua
boca cobriu a minha, e eu sabia que o jogo tinha acabado de mudar.
E eu não tinha mais certeza das regras.
TREZE
Felicity
JASON ESTAVA NA MINHA CASA.
Não deveria ter sido o único pensamento a consumir minha
mente enquanto seus lábios percorriam minha pele, mordiscando e
sugando, mas foi.
Jason estava aqui.
Porque ele estava preocupado.
Comigo.
Eu não sabia o que fazer com isso.
Queria armazenar a informação para referência futura. Guardar
para a próxima vez que eu precisasse me lembrar que ele não era
apenas um idiota presunçoso. Mas eu sabia que era uma coisa
perigosa – me permitir acreditar que isso significava qualquer coisa
mais do que o que estava acontecendo bem aqui, neste momento.
Jason pertencia a Rixon. Ele tinha o coração de quase todas as
pessoas de nossa cidade. Não havia espaço para o meu também.
No entanto, me vi caindo na toca do coelho.
De alguma forma, conseguimos subir as escadas para o meu
quarto sem interromper o contato. Nossas roupas se espalharam em
uma trilha aleatória da porta até a cama, que parecia melhor do que
nunca com Jason Ford seminu esparramado sobre ela.
— Venha aqui. — Ele apontou o dedo para mim, se apoiando
nos cotovelos para me observar. Quando cheguei à cama, ele se
arrastou até a borda, colocando os pés no chão. — Você sempre
dorme com uma camiseta dos Raiders? — Ele tocou a camisa azul
e branca grande demais, me puxando até eu ficar entre suas
pernas.
— Estou invocando a quinta emenda — falei, com um sorriso
tímido.
— Vai, é? — Suas mãos fizeram um caminho tortuoso em
minhas pernas, cada vez subindo mais até que seus dedos roçaram
o ápice das minhas coxas. — Gosto de você nas cores dos Raiders.
— Seus olhos brilharam com luxúria, mas tentei não ler nas
entrelinhas.
Não seja seduzida.
Não caia nessa conversa fiada.
Não deixe isso se tornar mais do que é.
— Mas acho que prefiro você assim. — Ele levantou a camisa
até que estivesse amontoada em meus ombros. Terminei de tirá-la,
me expondo a ele.
— Perfeito. — Sua voz soou tensa, e eu amei. Adorava que eu o
afetasse tanto, sabe-se lá o porquê, mas ele me fazia derreter.
A antiga Felicity, a de antes do último ano, queria fazer um
milhão de perguntas.
O que isso significa?
Ele me queria ou era apenas sexo alimentado pela raiva?
Ele sentiu pelo menos um grama do que eu sentia por ele?
Mas a nova Felicity, a garota com uma lista de desejos do último
ano, eliminou todas as dúvidas e, de boa vontade, entrou na cova
do leão. Porque, no fundo, talvez eu quisesse ter a chance de
domar a besta.
Jason passou uma das mãos no meu estômago, me fazendo
estremecer.
— Gosta disso? — ele perguntou com a voz rouca, olhando para
mim com um sorriso preguiçoso. — E disso? — Seus dedos
cobriram um dos meus mamilos, beliscando, e uma onda de prazer
me atingiu.
— Ah, nossa. — Tentei engolir o gemido, mas seu toque era
como criptonita.
A outra mão se juntou à festa, apertando e acariciando até que
meus joelhos começaram a dobrar.
— Jason, pare, eu não posso...
— Muito?
Assenti, com o corpo derretendo contra ele. Antes que eu
pudesse recuperar o fôlego, ele me puxou para a cama e me rolou
para baixo de si.
— Tem ideia do quanto me excita saber que ninguém esteve
aqui — Ele passou a mão entre nós, me segurando. — além de
mim?
Jason pressionou um dedo, me acariciando através da calcinha
úmida. Queria que ele a puxasse para o lado e me tocasse,
realmente me tocasse, mas ele parecia contente em tomar seu
tempo. Me provocar. Me deixar selvagem.
Ele se moveu para trás, ficando ao pé da cama. A boxer justa
deixava pouco para a imaginação e quase gozei quando ele se
segurou, apertando com força.
— Jason...
— O que você quer, baby?
Tudo, eu queria dizer. Mas gemi:
— Você...
Com os olhos escuros e entreabertos, ele subiu de volta na
cama, me beijando profundamente e com força. Nossas línguas se
moveram em um ritmo acelerado, se enredando e girando até que
eu não tivesse certeza de onde eu terminava e ele começava.
Seu comprimento duro se moveu contra mim, me deixando mais
molhada, mais necessitada. Minhas experiências sexuais deixavam
pouco a desejar em comparação com isso. Jason mal estava me
tocando e o senti em todos os lugares. Minhas sinapses disparavam
em todas as direções, o calor correndo em minhas veias.
Coloquei a mão em seu abdômen duro, marcado com perfeição
de horas e horas de condicionamento físico. Mas quando toquei seu
pau, Jason agarrou meu pulso, prendendo-o no colchão ao lado da
minha cabeça.
— Paciência — ele disse contra meus lábios antes de se inclinar
de volta em um beijo. Sua língua acariciou cada centímetro da
minha boca antes de se mover para o meu queixo, descendo pela
curva do pescoço e ao longo da clavícula. Eu me contorci contra ele,
desesperada para que acabasse com a doce tortura. Mas algo me
disse que ele estava apenas começando.
O pensamento tanto me entusiasmou quanto me apavorou.
Em um dia normal, Jason era muito para se lidar. Muito. Mas
assim – seminu, com a pele pressionada na minha, boca agarrada
ao meu pescoço, mãos segurando meu quadril – ele era letal.
Jason interrompeu o beijo novamente, mas apenas para descer
pelo meu corpo. Ele enfiou a língua no meu umbigo, girando-a. Algo
tão insignificante não deveria parecer tão erótico, mas parecia.
Meus dedos do pé se curvaram e meu corpo doía para estar mais
perto dele.
— Isso precisa sair — ele sussurrou na parte interna da minha
coxa, puxando a calcinha para baixo. Eu estava nua, totalmente
exposta ao cara que eu sabia que nunca me daria tudo que eu
precisava.
Tudo que eu queria.
Mas não conseguia me importar, não com sua boca pairando
sobre meu lugar mais íntimo.
— Alguém já beijou você aqui? — ele perguntou com a voz
rouca.
— N-não — ofeguei.
Ele sorriu com malícia antes de se inclinar para mim. Sua boca e
língua pareciam quentes e pesadas enquanto ele lambia e
acariciava. Jason penetrou um dedo dentro de mim, depois outro.
Gemi, e seu nome saiu de meus lábios.
— Você tem um gosto bom pra cacete. — A outra mão subiu
pelo meu corpo, descansando entre meus seios, me prendendo na
cama enquanto se inclinava novamente, me provando com uma
intensidade que me fez gemer e resistir ao colchão.
Mas Jason era uma provocação. Ele se afastava cada vez que
eu estava quase no ápice. Provocava minha pele quente com
beijinhos ao longo das coxas, recompensando os gemidos com uma
pressão mais profunda de seus dedos. Segurei seu cabelo, tentando
desesperadamente mover sua cabeça para onde eu mais precisava,
mas ele era forte.
E eu estava excitada e sem fôlego.
— Jason, por favor...
Finalmente, ele cedeu, me atacando com a boca, lambendo e
acariciando meu clitóris com fervor. Meu corpo começou a tremer e
a força do meu orgasmo me rasgou antes que eu tivesse tempo de
me preparar.
Jason subiu de volta no meu corpo, lambendo os dedos antes de
traçá-los sobre meus lábios.
— Veja como você tem um gosto bom. — Chupei, excitada com
a luxúria queimando em seus olhos, o grunhido carnal retumbando
em seu peito enquanto eu me provava em seu dedo.
— Acho que estou morta — suspirei, mal conseguindo formar
palavras.
— Não me chamam de incrível por nada. — Ele sorriu antes de
me beijar, longa, profunda e dolorosamente devagar.
— Quero te sentir. — Bocejei, descendo a mão pelo seu
abdômen marcado.
— Mais tarde — ele insistiu, rolando de cima de mim e me
colocando em seu corpo, minhas costas contra seu peito sólido.
— Estamos de conchinha? — perguntei, confusa que ele
quisesse me abraçar ao invés de fazer sexo.
— Você está exausta — foi tudo o que ele disse quando o peso
do que tinha acabado de acontecer caiu sobre nós.
Depois de alguns minutos de silêncio, perguntei:
— Jase, o que estamos fazendo?
Ele enrijeceu atrás de mim e eu meio que esperava que ele se
levantasse, vestisse as roupas e corresse para longe. Mas ele não
fez isso. Deu beijinhos ao longo do meu ombro, provocando uma
nova onda de desejo na minha barriga.
— Isso é tão bom — sussurrei, inclinando a cabeça para um
lado.
— Você é maravilhosa.
Três palavrinhas que se enraizaram em meu peito e explodiram
em esperanças, sonhos e coisas que eu sabia que não deveria
querer com ele.
Ah, Deus. O que fiz ao deixá-lo entrar na minha casa?
Em meu coração?
Fechei os olhos, tentando controlar o pânico que corria em
minhas veias. Minha mãe sempre disse para esperar e me entregar
ao cara certo. O cara que iria proteger meu coração, mantê-lo
seguro e tratá-lo com respeito.
E aqui estava eu, na cama, vendendo minha alma ao diabo.
Porque embora eu quisesse mais, desejasse que ele dissesse que
isso era o começo de algo, eu sabia que não era.
Jason Ford era um belo desastre esperando para acontecer.
E eu estava bem no meio da tempestade.
ABRI OS OLHOS e me estiquei, sentindo os músculos doloridos de
prazer.
— Jason? — Sorri ao pronunciar do nome dele. — Eu caí no...
Porcaria.
Me levantei depressa, o fluxo de luz me atingindo como um
balde de água gelada. Era de manhã, o que significava...
— Felicity, amor, você está acordada? — A voz da minha mãe
soou através da porta.
— Jason? — sussurrei sibilando. Olhei ao redor do quarto,
esperando encontrá-lo escondido no armário.
Ele não estava, era claro.
Não havia sinal dele. Suas roupas não estavam no chão e os
lençóis ligeiramente bagunçados ao meu lado já estavam frios.
Jason havia partido. E já fazia um tempo.
— Flick, querida, você está acordada? — Uma batida soou na
porta antes que ela se abrisse e a cabeça de minha mãe
aparecesse.
— Oi, mãe. — Dei a ela um sorriso fraco, puxando o lençol em
volta do meu corpo. — Como foi a noite?
— Ah, você conhece seu pai, foi tudo muito bom. — Em resumo,
eles foram ao seu restaurante favorito, comeram suas refeições
favoritas e depois foram dançar em seu bar favorito.
— Um dia desses, você deveria surpreendê-lo. — As palavras
escaparam.
— Surpreendê-lo? — Ela franziu o cenho. — Não tenho certeza
de que seu pai gostaria disso. Sabe que ele não lida bem com
mudanças.
— Foi só uma ideia. — Abaixei a cabeça, me sentindo boba de
repente. Nunca comentei sobre o relacionamento dos meus pais.
Eles eram felizes, contentes em sua vida juntos. E daí se gostavam
de rotina?
— Você está bem? — ela perguntou. — Parece um pouco... não
sei... triste.
— Estou bem, mãe, apenas cansada. — Bocejei para causar
efeito.
— Vai encontrar com a Hailee hoje? Sentimos falta dela.
Também sinto. Engoli as palavras. Nós saíamos juntas o tempo
todo, almoçávamos juntas na escola todos os dias e fazíamos todas
as coisas que fazíamos antes de Cameron, mas ela tinha alguém
agora.
Alguém que não era eu.
— Não tenho certeza. Acho que ela disse algo sobre sair com o
Cameron e o Xander. — O irmão caçula de Cameron era o mais fofo
e se encantou muito com a minha melhor amiga. Mas quem não se
encantaria com ela?
— Você não poderia ir com eles? Só porque ela tem namorado
agora, não significa...
— Mãe — suspirei. — Está tudo bem. Estou feliz por ela. Ela
merece.
— Ah, querida, eu não quis dizer... claro que você deve estar
feliz por ela. Só quis dizer que me lembro como é perder a melhor
amiga para um cara. — Ela me deu um sorriso caloroso. — O seu
dia vai chegar, Felicity. O ensino médio pode ser um momento
confuso. Mas logo, você vai estar na faculdade e tenho certeza de
que irá conhecer um jovem simpático e inteligente que vai te deixar
louca.
— Como o papai te deixou?
Seus olhos brilharam.
— Exatamente. Os garotos da escola têm muito que crescer. Por
que namorar um garoto quando pode esperar alguns meses e
namorar um homem. Certo? — Ela piscou de brincadeira.
— Ah, Deus — resmunguei, jogando um travesseiro nela. —
Saia daqui. Está muito cedo para isso.
— Tudo bem. — Sua risada suave me atingiu. — Mas se você se
apressar, vou fazer bacon e ovos.
— Claro, mãe.
Ela saiu, e eu afundei nos travesseiros, tentando ignorar o
quanto suas palavras me afetaram.
Pegando o celular da mesa de cabeceira, fechei os olhos e
respirei fundo. Será que este era o início do meu conto de fadas?
Será que desta vez eu conseguiria meu príncipe?
Mas quando finalmente olhei para a tela, não havia nada.
Talvez Jason não quisesse te acordar. Eu sabia que não. Jason
fugia quando as coisas ficavam muito intensas. Mais uma vez, ele
não me deixou tocá-lo. Ele não queria transar comigo. Nem se
incomodou em me acordar para se despedir. Porque ele estava me
mantendo à distância. Ele me deu muito ontem à noite, mas se
recusou a me dar a única coisa que eu realmente queria.
Seu coração.
CATORZE
Jason
— O QUE FOI QUE ACONTECEU? — As primeiras palavras que
saíram da boca de Cameron não foram surpresa. Claro que ele ia
querer saber o que aconteceu com Felicity. Mas o que eu deveria
dizer a ele quando ainda não sabia o que é que tinha acontecido?
— Então você foi lá? — Asher acrescentou, me dando um
sorriso malicioso. — Eu sabia que a desculpa sobre o seu velho era
mentira.
— Nós conversamos — falei, impassível, carregando mais pesos
na prensa torácica enquanto Cam ficava em posição.
— Conversaram. — Ele arqueou a sobrancelha. — Você espera
que acreditemos nisso?
Dando de ombros, mantive a calma. Eles não precisavam saber
que eu e Felicity compartilhamos um momento. Seja lá o que isso
significasse. Ou que eu a abracei como se ela fosse a coisa mais
preciosa do mundo. Então, assim que ela caiu no sono, saí correndo
de lá sem nem me despedir, porque entrei em pânico. Porque, pela
primeira vez desde Aimee, as coisas pareciam calmas. Não havia
expectativa esmagando meu peito, nem peso do time ou a vitória do
Estadual. era só eu, uma garota e o silêncio.
Eles não precisavam saber disso.
— Acredite no que quiser, é a verdade. Ela me contou
exatamente o que aconteceu com o Thatcher e seus capangas e
então eu fui embora.
— Certo — Cameron falou, se inclinando no banco. — E eu não
estou perdidamente apaixonado pela sua meia-irmã.
— Sério? — Foi a minha vez de levantar uma sobrancelha. —
Você realmente vai jogar essa merda na minha cara?
— Está na sua cara, eu jogando ou não. — Ele soltou um suspiro
exasperado. — Eu e a Hailee somos o fim do jogo. Quanto mais
cedo você aceitar, mais fácil será para todos nós.
— Fim do jogo. Você acha que você e ela são... — Puta merda.
Eu nem conseguia dizer as palavras. Eu sabia que ele a amava e
que ela sentia o mesmo... mas fim do jogo?
Mas pela expressão de total seriedade no rosto de Cam, parecia
que eu tinha subestimado a profundidade de seus sentimentos.
— Vou com ela para a faculdade, cara. Você acha que eu faria
isso se não planejasse colocar uma aliança no dedo dela algum dia?
— Puta merda — resmunguei. — Agora sei que você está
brincando comigo, porque não acredito que esteja realmente
sugerindo que pode...
— Me casar com ela? — Um leve sorriso apareceu em sua boca.
— Estou falando sério mesmo.
Asher bufou, e eu o encarei com um olhar duro.
— Você está ouvindo isso?
— Ah, estou, e não posso dizer que estou surpreso.
Gemi, entregando a barra para Cam.
— Mas somos muito jovens para toda essa merda. Temos a vida
inteira pela frente para pensar em sossegar. — Isso nem estava no
meu radar ainda.
Para mim, garotas eram uma conveniência, algo para me ajudar
a relaxar depois de um jogo difícil ou uma sessão de treinamento
esgotante. Além disso, não tinha tempo para me preocupar com
mais ninguém, não quando tinha que provar meu valor na Penn no
próximo ano.
Então por que você foi até lá, idiota? Ignorei a vozinha
resmungando na minha cabeça. Eu podia estar preocupado com
Felicity ser pega no fogo cruzado sem me apegar. Não significava
nada, exceto que meu coração não era tão sombrio como todos
faziam parecer. Ela era a melhor amiga de Hailee e inocente em
toda essa merda com Thatcher.
Era só isso.
— A Hailee é minha base — meu melhor amigo disse, como se
fosse a coisa mais simples do mundo. — Quando tudo estava
desmoronando e as coisas com a minha mãe estavam no seu pior,
ela estava ao meu lado. Sem perguntas. Não porque visto uma
camiseta dos Raiders ou porque ela me vê como um vale-refeição.
— Ele se sentou de volta no banco, respirando fundo. — Tenho
sorte de tê-la.
Sim, até que ela ficasse amarga e começasse a se ressentir pelo
compromisso e dedicação necessários para ser reconhecido em um
dos melhores times de futebol universitário do país. Os astros do
futebol colegial podiam ter sido tratados como deuses entre os
homens, mas a faculdade era um outro nível de adoração. A Penn
não me pediu para me comprometer cedo porque achavam que eu
seria um ativo de grande valor para sua equipe – eles acreditavam
que eu tinha potencial para ser o ativo.
Mesmo que eu quisesse ter alguém ao meu lado durante tudo
isso – e eu não queria – não havia o suficiente para todos. Eu não
poderia estar cem por cento comprometido com o jogo e com
alguma garota. Ser o melhor exigia um sacrifício, um que eu estava
muito disposto a fazer.
— Não é para mim — respondi, com convicção.
— Ninguém iria tolerar seu mal humor mesmo. — Asher grunhiu
enquanto malhava com os pesos livres.
Foi uma piada
Ele estava brincando.
No entanto, isso não impediu o estranho aperto em meu peito.
— Noite dos Veteranos na próxima semana. Você está pronto,
cara? — ele perguntou mudando de assunto.
— Acho que vou improvisar. — Dei de ombros, cruzando os
braços.
— O treinador vai ficar puto, porque você não preparou um
discurso motivacional.
— O treinador que se dane.
— Tente dizer isso na cara dele. — Asher sorriu, mas sua
expressão ficou séria com as próximas palavras. — Você sabe o
que é engraçado? Esperei minha vida inteira por isso. Estadual.
Faculdade. Mas agora está quase aqui, tudo que posso pensar é
que não estou pronto para dizer adeus.
— Nnhaaaa, vai sentir nossa falta, Bennet? — zombei.
— Nem todos podemos ser intocáveis como você, Jase. Sim,
vou sentir saudades. Vocês são meus melhores amigos. Começar a
faculdade, ter que provar tudo de novo... não vou mentir, isso me
assusta demais.
Suas palavras me atingiram. Nunca pensei muito nisso. Não
quando eu estava com os olhos focados em jogar pelo Penn
Quakers por praticamente toda a minha vida. Estava em meu
sangue, era meu legado. Meu velho teve a carreira perfeita lá, até
que uma lesão acabou com seu sonho. E quando segui seus
passos, seu sonho se tornou o meu. Tenho me esforçado para ir
para a Penn desde sempre. Agora, estava quase na hora. Então,
embora eu amasse meus amigos como irmãos, não estava
preocupado em ir para a faculdade no próximo outono. Porque eu
estava contando os dias para isso desde que meu velho me deu a
primeira bola de futebol.
E estava quase na hora de meus sonhos se tornarem realidade.

— ENTÃO, você e a Felicity, hein? — Hailee entrou na cozinha.


— O quê? — Agi com calma, me recostando no balcão enquanto
tomava o resto do shake de proteína.
— Ela me disse que vocês tiveram uma boa conversa no sábado
à noite. — Ela me deu um olhar desconfiado.
— Conversamos, sim. Não diria que foi bom.
— Nada aconteceu?
— Por quê? — Franzi o cenho. — Ela disse que sim?
— Não.
— Bem, então nada aconteceu.
— Jason, não faça isso. Não disfarce. Eu te disse para não...
Me afastando do balcão, passei por ela.
— Não precisa se preocupar, irmãzinha, eu e a Felicity somos
apenas amigos.
— Amigos? — Ela bufou. — Você realmente espera que eu
acredite que você e... você está tramando alguma coisa.
Soltando um suspiro de frustração, me virei, encontrando o olhar
semicerrado de Hailee.
— Que merda você quer de mim? Passei por cima do fato de
que você e o Cameron...
— Ah, pelo amor de Deus, nós nos amamos, estamos
apaixonados. Acredite em mim, seria muito mais fácil se eu não
amasse o seu melhor amigo. Mas eu o amo. E não vou me
desculpar por isso. Se ao menos você largasse essa besteira de
machão que não se importa com ninguém, talvez você entendesse.
Ou até mesmo deixasse alguém...
— Cuidado, Hails, você está começando a soar como uma
romântica, e sei que você tem a consciência de que não deve
pensar que a vida é um grande conto de fadas e todo mundo tem
seu felizes para sempre.
— Argh. — Ela ergueu as mãos. — Você é tão frustrante.
Desisto. — Hailee saiu da cozinha e não pude deixar de sorrir.
Implicar com minha meia-irmã já foi um dos meus passatempos
favoritos, mas agora eu via o que aquilo era: rivalidade juvenil entre
irmãos que tinha ultrapassado os limites.
Engoli o resto do shake e peguei as chaves.
— Jason — a voz de Denise arrepiou minha pele como o som de
unhas arranhando um quadro-negro. — Esperava te pegar antes de
você sair.
— Eu preciso ir, ou vou...
— Não vai demorar nem um minuto. — Ela me deu um sorriso
tenso. — É a Hailee, ela ainda não quer falar comigo.
— Isso não é problema meu.
— Sei que vocês dois ainda não são amigos, mas achei que...
bem, achei que depois de tudo, você poderia falar com ela por mim.
— Você quer que eu converse com a Hailee sobre como você
arruinou minha família? Mentiu para ela todo esse tempo? Ficou
parada e não fez nada enquanto quase nos matávamos? Me diga,
Denise, sobre o que exatamente devo falar com ela?
A vergonha queimava suas bochechas enquanto ela gaguejava,
tentando desesperadamente retomar o controle da conversa. Eu
poderia tolerar Hailee por causa de Cameron e nosso ódio
compartilhado pela traição de nossos pais, mas não devia nada a
Denise. Ela representava tudo que eu desprezava.
— Jason — ela fungou, mal contendo as lágrimas —, isso não é
justo. Eu e o seu pai nunca quisemos machucar ninguém.
— É só isso, não é? Ninguém deve se machucar, mas sempre
acontece. — As palavras me atingiram bem no peito.
Era verdade. As pessoas sempre encontravam um jeito de ferir
umas às outras. Magoavam os outros em nome do amor...
ganância... ciúme.
— Posso ver que foi uma má ideia. Esqueça que eu disse
alguma coisa. — Ela correu para fora da cozinha, seus soluços
pontuando a tensão.
Eu provavelmente deveria ter sentido culpa por fazer minha
madrasta chorar, mas a verdade era que os adultos deveriam
estabelecer os padrões. Ensinar a seus filhos respeito e integridade.
Meu velho podia ter me ensinado como lançar um passe perfeito,
mas falhou miseravelmente quando se tratava de me ensinar como
ser um cara do bem. Mesmo depois de perder a chance de se tornar
profissional, depois de conhecer minha mãe e se estabelecer, ele
não conseguia desistir da vida de astro do futebol. Ele e minha mãe
passaram anos fingindo, representando seus papéis de pai e mãe
amorosos, marido e mulher. Quando na verdade, era tudo uma
farsa. Minha mãe ficou com ele por obrigação enquanto ele se
agarrava a um sonho que nunca seria seu, encontrando consolo no
fundo de uma garrafa ou na cama de uma estranha. Não queria
jamais tratar alguém como meu pai tratou a minha mãe. Alguém
com quem ele deveria se preocupar, amar. Era por isso que não
planejava me estabelecer. Vi notícias suficientes sobre jogadores de
futebol e o impacto do jogo em suas vidas pessoais e
relacionamentos para saber que não valia a pena a dor de cabeça
ou o sofrimento.
Não valia a pena.
Mas o futebol, o jogo, isso valia.
Era tudo que eu precisava.

QUANDO CHEGUEI À ESCOLA, a primeira aula já estava em


andamento. Não que importasse o meu atraso. Os professores
regularmente fechavam os olhos quanto a isso ou minha ausência.
Em vez de entrar de forma furtiva na aula de matemática, decidi ir
para a academia. Depois da conversa com Hailee e Denise, eu
precisava queimar um pouco mais de energia e o treino era só
depois da aula.
Mas mesmo depois de uma boa malhação, eu ainda estava
inquieto. Algo corria em minhas veias, tornando difícil me
concentrar. Normalmente, eu enviaria uma mensagem de texto para
Jenna ou uma das outras ginastas ou líderes de torcida para ver se
elas queriam me ajudar a relaxar, mas a única pessoa para quem eu
queria enviar uma mensagem era para quem não deveria.
Escapei do quarto de Felicity na manhã de ontem por um motivo.
Para evitar conversas estranhas, em que ela teria a ideia errada, e
eu teria que cavar para sair do buraco em que me meti. Mas meu
pau aparentemente não gostou de não receber o que queria, porque
antes que eu percebesse, ele me fez pegar meu celular e mandar
uma mensagem de texto para ela.

EU: Cadê você?


Felicity: Nossa, você está vivo? Achei que tivesse sido abduzido
por alienígenas...
Eu: Não queria causar problemas com seus pais.
Felicity: Isso parece quase fofo... se fosse verdade.
Eu: Talvez seja.

NÃO ERA, mas não ia dizer isso a ela.

FELICITY: Mas nós dois sabemos que não é. O que você quer,
Jason? Estou na aula...

SORRI COM SUA RESPOSTA. Mesmo por uma conversa por


mensagem de texto, eu poderia imaginá-la me enfrentando: com a
mão no quadril, olhos arregalados e fervendo de indignação. Sua
boca toda amuada e implorando por atenção.
Puta merda.
Essa situação tinha tempestade de merda escrito por toda parte.
Ainda assim, não conseguia me conter. Eu estava tão acostumado
com as garotas fazendo tudo o que eu pedia, aproveitando a chance
de estar comigo, que a ironia de Felicity era revigorante. Tanto que
eu queria mais. Ansiava por isso como um viciado ansiava pela
próxima dose. Porque, embora eu não precisasse de distração do
futebol, talvez uma distração de todas as outras besteiras ao meu
redor fosse exatamente o que eu precisava.

EU: Me encontre depois da aula.


Felicity: Não posso. Tenho uma coisa chamada próxima aula.
Você deveria tentar fazer isso algum dia.
Eu: Mate. Aposto que está na sua lista...

OS TRÊS PONTINHOS indicavam que ela estava respondendo,


mas o tempo passou e nada. Eu estava brincando sobre a lista, mas
descobri que tinha acertado o prêmio.

EU: Estou certo, não estou? Com certeza está na sua lista.
Felicity: Já matei aula antes.
Eu: E eu sou virgem. Vamos, mate a aula e marque outra coisa
da sua lista... vou fazer valer a pena.
Felicity: Você não deveria fazer promessas que não tem
intenção de cumprir!
Eu: Talvez esta seja uma promessa que eu queira cumprir.

EU TINHA certeza de que não deveria me sentir tão presunçoso por


atraí-la, mas não podia negar que me deixou com uma sensação
incrível.
Quando ela não respondeu, digitei outra mensagem.
EU: Podemos terminar o que começamos na sua casa?

FELICITY: Quando você apareceu e nós conversamos?

EU: As únicas palavras que me lembro de você dizer são: ah,


caramba e mais. Vamos, Giles. É o último ano. Você está ficando
sem tempo, e sabe que quer.

POR FAVOR, queira. Encarei o celular, desejando que seu nome


aparecesse.

FELICITY: Você vai ter que se esforçar MUITO mais que isso.

MERDA. Eu não esperava que chegasse tão longe, não de verdade.


Mas agora que ela estava dentro, eu não planejava desistir. Mais
uma prova. Isso era tudo que eu precisava.
Pelo menos, era o que eu dizia a mim mesmo enquanto enviava:

EU: Desafio aceito.


QUINZE
Felicity
— EI — Mya falou ao meu lado. — O que chamou sua atenção?
— Ah, nada. — Enfiei o celular no bolso e lhe dei um sorriso
brilhante.
— Ah, sério, o mesmo nada que chamou sua atenção no almoço
e na aula? — Ela arqueou a sobrancelha. — Vamos, pode me dizer.
É um deles, certo? Asher ou Jason.
— Shhh. — Segurei sua mão, puxando-a para mais perto.
— Merda, foi sem querer. Estou certa? — Ela baixou a voz de
um jeito conspiratório. — É um deles. Sabe que ouvi dizer que o
Jason saiu da festa às pressas no sábado? — Ela balançou as
sobrancelhas.
Apertando os lábios, continuei andando, mas Mya prosseguiu.
— Pode falar comigo, sabe? — ela continuou. — Sei o que é
querer alguém... que não serve para você.
Olhei depressa para ela.
— Eu não...
— Garota, está escrito em seu rosto toda vez que ele aparece.
Ah, Deus.
A cor sumiu de minhas bochechas.
— É tão óbvio?
— Sério? — A boca de Mya se ergueu em um meio sorriso, não
que algo sobre isso fosse divertido. — Você não está enganando
ninguém além de si mesma.
— Porcaria. Isso não deveria acontecer. Eu não deveria... —
Engoli as palavras.
— Se apaixonar por ele?
— Eu não estou... não é assim. Sei que não tem futuro. É Jason
Ford, pelo amor de Deus. Mas existe algo. — Algo que estava se
provando muito difícil de ignorar. Especialmente porque ele não
estava tornando fácil esquecê-lo.
Meu celular vibrou de novo, e Mya me cutucou, me incentivando
a olhar.
JASON: Dançar nua na chuva?

— ESSE É O JASON, certo? O Jason Ford? Puta merda garota, o


que você fez com ele?
— É bem bobo. — Não respondi à mensagem, dando a Mya
toda a minha atenção. — Criei uma lista para o último ano, como
uma espécie de lista de desejos.
— Boa ideia.
— Você acha?
— Sim, afinal, a vida é para se viver, certo? Se ter uma lista te
mantém responsável, então a ideia é ótima. — Mya entrelaçou o
braço ao meu. — Então, o que exatamente tem nesta lista, ou é
segredo?
— Eu não saio por aí divulgando, se é isso que você quer dizer.
— É algo só seu. Adorei isso. Mas o Jason sabe da lista?
— Sim, o Asher deixou escapar.
— Asher? — Algo brilhou em seus olhos. — Qual é o problema
dele, afinal?
— O que você quer dizer? — Chegamos à sala onde o clube do
livro realizava suas reuniões semanais.
— Não importa — ela retrocedeu. — É aqui que você fica?
— Sim, me esforcei para começar um novo hobby este ano.
Mya olhou para a placa na janela e franziu a testa.
— E escolheu o clube do livro? Isso não parece uma lista de
desejos.
— Ei, é um começo.
— Sim, mas vamos lá, você pode fazer melhor.
Suas palavras me atingiram, abrindo toda a insegurança que já
senti sobre mim mesma. Todos os meus medos de me tornar como
meus pais.
Mya tinha razão – o clube do livro era seguro. Não forçava
limites ou me desafiava. Era algo que minha mãe teria feito quando
estava na escola.
Estremeci.
— Ah, meu Deus, estou me tornando a minha mãe —
resmunguei, desejando ter me inscrito em formação de bruxos ou
algo do tipo.
— Você quer fazer memórias, certo? — Assenti, sem saber
aonde ela queria chegar com isso. — Então precisa pensar grande.
Precisa pensar tão grande que, quando olhar para o colégio daqui a
vinte anos, possa dizer que não se arrepende de nada.
— Zero arrependimentos, gosto do som disso. — Mesmo que me
apavorasse.
— Pronta para me mostrar essa lista?
Eu estava?
Duvidava que algum dia estaria pronta, mas se eu queria que o
último ano fosse épico, talvez eu precisasse da ajuda de Mya mais
do que gostaria de admitir.

— ESTOU EM CASA — gritei, deixando as chaves no aparador e


indo para a cozinha.
— Oi, querida, como foi seu dia?
Passei o dia evitando as mensagens de texto de um cara
gostoso, revisei minha lista de desejos com minha nova amiga e
considerei matar aula. Mas não querendo causar um ataque
cardíaco em minha mãe, respondi:
— Como sempre. Chegou em casa cedo?
— Fui à consulta com o dentista. Agendei você para o próximo
mês.
— Obrigada, mãe.
Ela empurrou um copo de suco para mim antes de voltar para a
panela de espaguete. Era terça-feira, o que significava que a comida
era espaguete. Amanhã seria assado, e quinta-feira minha mãe
fazia bife e fajitas de frango.
— Eu e seu pai estávamos conversando ontem e achamos que
agora é uma boa hora para começar a contatar empresas na cidade
que possam lhe dar um estágio no próximo verão.
— Ainda estamos em novembro, mãe. Não é um pouco
prematuro?
— Claro que não. Fazer os contatos certos agora pode ser
crucial para o seu futuro.
— Vou resolver isso — murmurei, batucando no balcão. — Ei,
mãe — falei depois de alguns minutos de silêncio. — Qual foi a
coisa mais aventureira que você fez no colégio?
Ela olhou por cima do ombro, com as sobrancelhas franzidas em
confusão.
— Coisa aventureira?
— Sim, como sair depois de escurecer ou dar uns amassos atrás
das arquibancadas.
— Felicity Charlotte Giles, o que foi que deu em você? — Uma
leve mancha rosa apareceu em suas bochechas.
— É para um projeto escolar — menti. — De inglês.
— Para um projeto, hum, bem... — Ela secou as mãos no pano
de prato enfiado no cós da calça. — Vamos ver, houve uma vez que
eu e seu pai matamos aula para ir ao lago para um piquenique.
Estávamos namorando há seis meses, e ele queria tornar isso
especial. Depois, teve uma época em que ficamos no fundo da sala
de aula do sr. Kavendish, durante Romeu e Julieta, que foi
particularmente ousado.
— Que aventura, mãe — zombei, sentindo meu estômago
afundar.
— Sinto muito se minhas histórias não são legais o suficiente
para você, meu amor, mas éramos bons garotos. Não procurávamos
problemas e éramos felizes vivendo dentro das regras.
Eu conhecia bem a história. Meus pais eram namorados no
ensino médio, foram para a faculdade, se formaram e encontraram
empregos na cidade. Juntos. Então apareci, sua surpresa não
planejada, e atrapalhei seus planos. Eles nunca me fizeram sentir
menos do que amada e querida, mas às vezes me perguntava se
seu interesse autoritário em meu futuro era a resposta a ter um filho
para o qual não estavam preparados.
— Você já se arrependeu de ter ficado só com o papai?
As linhas ao redor de seus olhos se aprofundaram.
— A escola quer mesmo saber essas coisas?
Dando de ombros, rapidamente inventei algo para dizer.
— Eles querem que comparemos o último ano do passado com
o de agora, esse tipo de coisa. Não nos deram perguntas pré-
definidas ou algo assim. Eu só pensei... bem, você e o meu pai
estão juntos desde sempre. Isso nem sempre é fácil.
— Éramos jovens? Claro que sim. Mas quando você sabe, sabe,
querida. E quando dei uma olhada em seu pai, soube que ele era o
cara.
— Qual você acha que é a receita para o sucesso de vocês? —
Porque enquanto muitos casamentos terminavam em sofrimento,
meus pais resistiram à tempestade.
— Humm, vamos ver. Boa comunicação, nunca dormir brigados
e rotina.
— Rotina? — questionei. — Jesus, mãe, você faz isso soar tão
romântico.
— Amor, seu pai é tão romântico quanto aquela colher de pau.
— Ela sacudiu a cabeça para a prateleira de utensílios. — Mas ele
sempre esteve ao meu lado, e isso é o que realmente importa.
Prefiro ter uma vida inteira com seu pai a alguns meses de fogo e
paixão.
Achei um pouco triste que ela não achasse que poderia ter os
dois. Mas quem era eu para julgar? Eles eram felizes o suficiente e
estavam cem por cento comprometidos um com o outro e com
nossa família.
— Lembrança favorita do último ano?
— Essa é fácil. — Ela sorriu de um jeito melancólico. — O baile
de formatura. Foi mágico. Exatamente como os filmes retratam. Seu
pai comprou um lindo buquê para mim e nos levou ao ginásio da
escola em seu velho Buick enferrujado. Combinamos nossas roupas
e dançamos a noite toda com nossos amigos. Foi perfeito.
— Aposto que teve um pós-festa incrível.
Minha mãe riu baixinho.
— Não havia nada disso na minha época. — Não acreditei nem
por um segundo, o que só poderia significar uma coisa: meus pais
não foram convidados ou, mais provavelmente, se recusaram a ir.
— Felicity, está tudo bem? — ela mudou de direção. — Você
parece distraída ultimamente e, não vou mentir, isso está me
preocupando.
— Estou bem, mãe. — Exceto que não consigo parar de pensar
em um cara. Um que sei que vai partir meu coração se eu der a ele
meia chance.
— Não deixe a bola cair agora, sim? — Sua expressão suavizou.
— Muitas pessoas acham que uma vez feitas as inscrições para a
faculdade, o último ano é uma chance de relaxar. Mas é uma
chance de começar a pensar sobre o futuro, sobre o tipo de pessoa
que você deseja ser.
— Entendi, mãe, cabeça erguida, futuro. — Suas palavras
deixaram um gosto amargo na minha boca.
— Você tem sido uma garota muito boa, Felicity. Agora que a
Hailee tem namorado, temo que você perca o foco. O time de
futebol é uma má influência. Os atletas recebem muitas coisas de
graça, mas a vida real não é assim.
— O Cameron é um cara bom.
— Tenho certeza de que é. — Ela me deu um sorriso duvidoso.
— Mas você quer mais da vida do que acabar como uma namorada
troféu, não é?
— Uau, vá devagar. — Levantei as mãos, com os olhos
arregalados. — Estamos falando da Hailee e do Cameron, não de
mim.
Minha mãe se aproximou e tirou minha franja do rosto.
— Você é linda, Felicity. Por dentro e por fora, os garotos vão
notar isso. Só espero que quando o fizerem, você escolha
sabiamente.
— Mãe, sou adolescente. Isso significa que ocasionalmente vou
estragar tudo ou errar. — Eu ri, mas saiu estrangulado.
— Somos Giles, querida. Você sabe o que isso significa. — A
vontade de revirar os olhos era forte, mas permaneci inexpressiva
quando ela falou: — Organizada, preparada e pontual. Isso é tudo
que você precisa na vida.
— Claro, mãe. Vou subir e fazer minha lição de casa. Começar
mais cedo.
Seu rosto se iluminou.
— Essa é a minha garota. Eu chamo quando o jantar estiver
pronto.
Assentindo, deixei minha mãe com seus planos e me dirigi para
o santuário do meu quarto. Lá dentro, tirei os sapatos, peguei o
pedaço de papel dobrado da bolsa e me joguei na cama. Minha lista
estava uma bagunça. Não havia nada organizado ou preparado.
Mas não podia negar que apesar do aviso involuntário de minha
mãe, as adições de Mya fizeram meu pulso disparar.

1. Começar um novo hobby Explorar caminhos de carreira


alternativos
2. Matar aula
3. Participe de uma reunião de torcida – FEITO
4. Mergulhar nua no lago Fazer uma tatuagem
5. Adormecer sob as estrelas
6. Ir a uma festa na casa de Asher Bennet. Fazer uma festa com
estilo
7. Beber (álcool de verdade) no Bell’s – EM EXCESSO
8. Ir para o baile de inverno... com um par (não com uma amiga)
9. Ficar com um cara qualquer. Refazer a primeira vez
10. Me apaixonar por um amor louco e confuso (alguém que
NÃO seja JF)
11. Não confraternizar com o time de futebol!!!

PEGANDO o celular da mesa de cabeceira, encontrei o número


dela.

EU: Ei, quanto à minha nova lista...


Mya: Não me diga que já mudou de ideia?
Eu: Não, não, é só a minha mãe, ela gosta de ser organizada e
preparada...
Mya: Que bom que sua mãe não é a dona da lista ;)
Eu: Ha-ha! Estou sendo boba? Isso tudo é estúpido?
Mya: Você está com medo?
Eu: Meus pais planejaram toda a minha vida por mim. E se eu
fizer a lista e perceber que a vida deles não é a que eu quero?
Mya: Acho que tudo bem. Querer fazer nossos pais felizes é
perfeitamente normal, mas não às custas de nossas esperanças e
sonhos.

REFLETI sobre as palavras de Mya, mas outra mensagem chegou


antes que eu pudesse digitar uma resposta.

MYA: Já descobriu o que vai fazer?


Eu: Não...
Mya: Certo, quando você era pequena, o que você queria ser?
Eu: O que isso tem a ver com a lista?

O CELULAR COMEÇOU A TOCAR e o nome de Mya apareceu na


tela.
— Alô — falei.
— Pode parecer idiota, mas apenas me ouça, sim?
— Tudo bem — resmunguei. — Sempre adorei animais, mas
meus pais nunca me deixaram ter gato ou cachorro. Eles ficavam
preocupados com alergias, segurança e todas essas coisas. Em um
verão, encontrei um cachorro vira-lata. Era uma coisinha esquelética
e desnutrida, mas tinha a carinha mais fofa, e eu queria muito que
fosse meu. Eu o atraí para o galpão do nosso jardim, lhe dei
cobertores e comida.
— O que aconteceu?
A tristeza tomou conta de mim.
— A minha mãe descobriu e me fez levá-lo para um abrigo local.
Chorei por uma semana. — Uma pequena parte de mim ainda
estava ressentida com isso todos esses anos depois.
— Cachorros, sério? Imaginei você mais como escoteira.
— Não. Sempre quis ser médica veterinária.
— Então comece por aí...
— Começar por onde? — Ela não estava fazendo sentido.
— Você não tem certeza se deseja seguir os passos de seus
pais, certo? Então precisa encontrar seu próprio caminho.
— Acho que sim. — Um grande peso se instalou em meu peito.
— Te vejo amanhã.
Ela riu baixinho.
— É essa a sua maneira de me dizer que falei besteira?
— De jeito nenhum. Você me deu muito em que pensar.
Obrigada.
— Ei, para que servem os amigos, certo? Te vejo amanhã.
Desligamos, e eu olhei para o teto, repetindo a conversa.
Sempre fui uma boa garota. Gentil e passiva, muito disposta a
seguir os sonhos e esperanças de meus pais para mim, porque era
o que eu esperava. Mas se o último ano até agora me mostrou algo,
era que algumas coisas na vida exigiam que você corresse um
risco. Elas exigiam que você deixasse de lado todas as suas
inseguranças e dúvidas e desse um salto de fé. Talvez dessem
certo, talvez não, mas pelo menos você saberia que tentou.
Eu queria isso.
Queria correr riscos e jogar a cautela ao vento.
Queria ir atrás do que eu desejava. Me divertir descobrindo um
novo caminho, um que eu mesma abri.
Queria me apaixonar perdidamente, apesar de todos me
avisarem que isso só iria acabar em dor de cabeça.
Deus, eu queria isso.
Mas eu poderia realmente fazer isso com Jason, sabendo que eu
nunca significaria para ele o mesmo que ele significava para mim?
Meu celular tocou, com outra mensagem recebida. Abri, ansiosa,
esperando mais alguns conselhos de Mya, mas o nome de Jason
me encarou de volta.

JASON: O que está fazendo agora?


DEPOIS DE DIGITAR e excluir pelo menos três respostas, falei a
verdade.

EU: Deitada na cama prestes a começar o dever de casa.


Jason: Você está me matando, Giles. Venha me encontrar... ou
melhor ainda, posso ir até você. Me lembro da sua cama ... é
confortável.

LUTEI CONTRA UM SORRISO. Para minha total surpresa, Jason


estava se mostrando muito persistente.

EU: Não e não. Preciso fazer isso e minha mãe está em casa.
Jason: As mães me amam.

MEU PEITO se apertou com suas palavras brincalhonas. Eu o


odiava por fazer isso comigo, me oferecendo vislumbres do cara
que eu sabia que estava se escondendo sob seu exterior frio e
indiferente. Vislumbres de um cara que eu sabia que nunca viria à
tona permanentemente.

EU: Não tenho certeza se a minha mãe amaria.


Jason: Ela não é fã? Estou magoado.
Eu: Como se você não tivesse mulheres de meia-idade
suficientes te bajulando.
Jason: Mas eu não as quero...

MEU CORAÇÃO ACELEROU com suas palavras. Com tudo que ele
não estava dizendo.
EU: Tchau, Jason. Te vejo na escola amanhã.
Jason: Você sabe que eu não cheguei onde estou sem muita
persistência e foco... quando quero algo, eu vou atrás.

NÃO RESPONDI. Não sabia o que dizer. Mas, provando ser


verdade, outra mensagem de texto apareceu.

JASON: Nós dois sabemos que você vai acabar embaixo de mim de
novo, Giles. Por que não nos poupar da dor de cabeça e ceder?
Eu: E por um segundo, você realmente me enganou. Tchau,
Jason.

ELE NÃO RESPONDEU, mas não importava. O dano já estava feito.


Ele fez exatamente o que me irritaria pra caramba. Mas ele também
fez uma grande mossa na minha armadura, e eu sabia que se ele
continuasse, não seria capaz de resistir por muito mais tempo.
Ainda mais alarmante, eu realmente não queria.
DEZESSEIS
Jason
SORRINDO, cliquei em enviar a última mensagem de texto para
Felicity.

EU: Mergulhar nua no lago?


Felicity: Está falando sério? Sabe que tipo de coisas se esconde
lá?
Eu: Posso pensar em algumas...

CONTINUEI SORRINDO, mas olhei ao redor do refeitório para ter


certeza de que ninguém estava prestando atenção em mim.

FELICITY: Comporte-se!!!
Eu: Vamos, Giles, diga sim. Vamos matar aula e viver no lado
selvagem...
Felicity: Tenho aula de reforço.
Eu: Aula de reforço? Estamos no último ano...
Felicity: Nem todos têm passe livre para fazer o que quiserem.
Ao contrário de algumas pessoas...
Eu: Pense na sua lista!
Felicity: Tchau, Jason.

DROGA, ela estava realmente bancando a difícil. Achei que quase a


tinha pegado outro dia, mas então, no último minuto, ela puxou o
tapete debaixo de mim. Eu não estava acostumado a me esforçar
tanto por uma garota. Mas Felicity não era qualquer uma. Um fato
que eu poderia finalmente admitir para mim mesmo sem começar a
suar frio.
Arrisquei espiar onde ela, Hailee e Mya estavam sentadas em
sua mesa de costume.
— Procurando por mim? — A mão de Jenna cobriu meus olhos e
seus lábios roçaram na minha bochecha. Afastei seus dedos e olhei
para ela.
— Que merda foi essa?
Ela recuou, a indignação brilhando em seus olhos.
— O que foi? Não posso dizer olá agora? — Empurrando o
cabelo loiro sedoso por cima do ombro, ela se sentou ao meu lado.
— Isso não foi olá, foi você marcando seu território.
— Não seja dramático. Foi só um beijinho. Já fizemos muito mais
que isso em público antes.
Endireitei a coluna e o nó em meu estômago se apertou quando
olhei para Felicity. Ela estava ocupada conversando com Hailee,
sem prestar atenção em mim. Mas se olhasse para cá...
Por que isso importa? Não é como se você fosse dela ou algo
assim.
— Jason? — Jenna segurou meu joelho. — Perguntei onde você
foi durante a festa. Procurei por você.
Me obrigando a olhar para ela e não para Felicity, disse:
— Eu tinha uma merda para cuidar.
A expressão dela endureceu.
— Merda para cuidar? Isso é tudo que você me diz? — Ela
estava chamando atenção agora. Meus companheiros fingindo não
ouvir enquanto almoçavam e conversavam entre si.
— Cuidado — grunhi. — Você está começando a soar como uma
namorada, e nós dois sabemos que eu não namoro.
Ela passou as mãos pelo meu peito ao se inclinar, me dando a
visão perfeita dos seus seios.
— Você vive dizendo isso e, ainda assim, continua vindo a mim,
duas, três, quatro vezes... — Ela umedeceu os lábios no que assumi
ser uma tentativa de sedução. Mas tudo o que fez foi me arrepiar.
— Vou porque você é boa nisso. Nada mais, nada menos. —
Afastei as mãos de Jenna do meu peito e as empurrei de volta para
ela.
Alguém bufou. Todos olhavam para ver o que eu faria a seguir.
Todos, incluindo Felicity. Seu olhar queimou em mim, me forçando a
olhar para ela. Havia muito em seus olhos, eu não sabia qual
emoção analisar primeiro.
Mas Jenna gritou:
— Você é um idiota egocêntrico, Jason. Um dia desses, você
virá atrás de mim e eu direi não. — Ela parecia genuinamente
magoada enquanto fugia da nossa mesa.
— Lá vai a vadia previsível da ginástica — alguém gemeu. Mas
não dei a mínima. Eu só tinha olhos para a garota me encarando
como se eu tivesse acabado de chamá-la na frente de todo o
refeitório.
Meu celular vibrou e eu o peguei.

FELICITY: O que foi isso?


Eu: Não tenho ideia do que você está falando...

ERGUI OS OLHOS para os dela novamente enquanto eu lutava


contra um sorriso.

FELICITY: A Jenna parecia chateada.


Eu: Não sei. Não se preocupe.
Felicity: O que é importante para você, Jason?

VOCÊ. Eu me importo com o que você pensa. Mas não conseguia


digitar as palavras. Não aqui, não agora.
Talvez nunca.
— Alguém interessante? — Asher perguntou do outro lado da
mesa.
— Nada, apenas meu velho.
— Certo. — Ele viu através do meu estratagema. — Vou te
pegar mais tarde.
Observei com os olhos semicerrados quando ele se levantou da
cadeira e foi até Felicity e as garotas. Sem pedir permissão, se
sentou ao lado dela e passou o braço por cima do seu ombro. O
desafio brilhava em seus olhos enquanto ele olhava para mim do
outro lado do salão.
Filho da puta.
Eu amava Asher como um irmão, mas ele estava levando essa
coisa com Felicity longe demais.
— Qual é a dele? — Grady cutucou minhas costelas. — Acha
que ele está transando com ela? — Ele balançou a cabeça para
onde Asher estava abraçado à Felicity.
— Como é que eu vou saber? — grunhi.
— Uau, cara, não precisa ficar irritado comigo. Achei que se
alguém soubesse o que estava acontecendo com os dois, seria
você. Embora eu mesmo não consiga entender. Ela é muito
estranha. Tem cara de grudenta.
— Grady?
— Sim, Cap?
— Cale a merda da boca.
Ele baixou a cabeça, colocando um bocado de salada na boca.
O cara não tinha filtro.
Asher chamou minha atenção novamente, com um sorriso nos
lábios. Sem outra palavra, me afastei da mesa e me levantei.
— Estou saindo — falei.
— Te vejo no treino? — Grady perguntou, e eu assenti.
Ao sair do refeitório, enviei outra mensagem para Felicity.

EU: Você o quer?


Felicity: O quê?
Eu: Não se faça de boba, Giles. Você. O. Quer?
Felicity: Cuidado, Jason. Você parece terrivelmente ciumento
para alguém que não se importa...
CERREI a mandíbula e a raiva irradiou através de mim. Ela sabia
exatamente o que fazer para conseguir uma reação. Mas com
ciúme?
Eu não estava com ciúmes.
Eu era a porra do Jason Ford.
Mas enquanto eu me movia pelo corredor, o pessoal saltando
para fora do caminho para abrir espaço para mim, tudo que eu
conseguia imaginar era Felicity sorrindo para Asher, com o braço
pendurado sobre o ombro dela. E eu queria matar alguém.

— CORRA DE NOVO — o treinador gritou da linha lateral. Não


havia um músculo em meu corpo que não doesse, mas dei boas-
vindas à ardência. Ela anestesiava todo o resto. Sufocava todas as
emoções desconhecidas que se enraizavam em meu peito,
serpenteando por mim como um veneno de ação lenta.
— Se eu não te conhecesse — Asher provocou da linha de
scrimmage. — Eu diria que você está tendo um caso grave de bolas
azuis.
— Va se foder, Bennet — rebati, me preparando para encerrar a
jogada.
— Só estou dizendo que você não parece bem.
— Ash — Cam advertiu de sua posição.
— Calma, ele sabe que só estou implicando. — Ele me deu um
sorriso maroto.
Pedi a jogada e caí para trás ao fazer o passe para Cam.
— Ótimo! — o treinador exclamou. — Continuem jogando assim
e não teremos nada com que nos preocupar na sexta-feira. Podem
ir para o chuveiro. Vejo vocês amanhã.
Arrancando o capacete, coloquei-o debaixo do braço e comecei
a ir em direção ao vestiário.
— Ei — Ash correu ao meu lado. — Falando sério, você está
bem? Eu estava só...
— Que merda você está fazendo?
— Não estou fazendo nada.
— Não me venha com essa besteira. — Encontrei os olhos dele,
semicerrando os meus. — Você está me pressionando. Por quê?
— Não estou... — Ele apertou os lábios, refletindo sobre a
resposta. — Certo. Eu não entendo, sabe? Você gosta dela. Sei que
gosta. E por alguma razão bizarra, ela gosta de você também.
— E?
— Você é teimoso demais para fazer qualquer coisa quanto a
isso.
— Talvez eu não queira fazer nada a respeito. — A mentira
azedou na minha língua. Eu queria fazer algo quanto a isso, mas
sabia que não deveria.
Os outros caras nos deram um amplo espaço enquanto
reduzíamos a velocidade.
— Vamos, Jase, sou eu. Eu o conheço muito bem e sei que
nenhuma garota jamais te irritou como ela. Diga que estou errado.
— Ele arqueou a sobrancelha.
Foi a minha vez de sufocar minha resposta.
— Achei que não. — Ele me deu um sorriso conhecedor.
— Você gosta dela — apontei.
— Não importa. — Asher deu de ombros daquele jeito
descontraído e fácil, mas vi a tensão em seus olhos.
Ele gostava dela.
Provavelmente muito mais do que jamais admitiria.
— Então qual é o plano? Tentar me convencer a dar uma chance
a ela e você vai ficar nos bastidores esperando que eu estrague
tudo para que possa consertar o coração partido dela?
Foi uma piada. Uma tentativa de tirar o sorriso presunçoso de
seu rosto. Mas saiu pela culatra, porque no segundo em que as
palavras saíram da minha boca, percebi que provavelmente era
verdade. Eu estragaria tudo, e ele estaria lá, esperando para
enxugar as lágrimas dela.
— Admita que você gosta dela, e vou recuar — ele falou. — Sei
que te mata me ver flertando com ela.
— Você perdeu a porra da cabeça. — Passei por ele e continuei
andando. Asher não sabia nada sobre o que eu sentia.
Droga, nem eu sabia.
— Jase, cara, quando você vai parar e agir como um homem?
Parando, olhei para trás, semicerrando os olhos.
— Ela não vai te esperar para sempre. — Ele simplesmente não
parava de pressionar. — E sim, talvez eu esteja por perto para
ajudá-la a se esquecer de você. E aí? Você só vai ficar sentado e
me ver dando em cima da sua garota?
A minha garota?
Não deveria ter soado tão bom.
— Você a escolheria em vez de mim? — me desviei.
— Quantos anos nós temos, cinco? — Ele passou a mão pelo
rosto. — Tudo o que estou dizendo é que é melhor você descobrir o
que quer, porque tenho certeza de que há muitos outros caras
apenas esperando para tomar o seu lugar.
— Isso é uma ameaça, Bennet? — Fiquei mais reto, sentindo a
irritação subir pela minha espinha.
— Você é um idiota, sabia disso?
— Nunca aleguei ser outra coisa.
— Só não a destrua, cara. Ela é forte, mas não tanto. — Ele se
moveu ao meu redor, sem olhar para trás enquanto eu ficava parado
ali, me perguntando quando a vida ficou tão complicada.
A resposta clara como o dia.
Porcaria da Felicity Giles.

EU ESTAVA CANSADO DE ESPERAR.


O plano era simples: atrair Felicity para me encontrar e transar
com ela para tirá-la da minha cabeça. Porque Asher tinha razão, eu
estava interessado. Cada vez mais. Foi ela quem me disse que não
jogaria meus jogos, mas parecia estar correndo em círculos ao meu
redor. E por mais que eu a quisesse, desejasse provar seus lábios
novamente, absorver o silêncio que existia sempre que ela estava
por perto, no fundo, eu sabia que essa coisa entre nós nunca
poderia funcionar.
EU: Esta noite. Você, eu e todos os itens da sua lista que você não
completou.
Felicity: Nunca acreditei que você gostasse de cães...
Eu: O QUÊ?
Felicity: Nada, esqueça que eu disse alguma coisa.
Eu: Você é estranha pra cacete.
Felicity: Você gosta de continuar me lembrando isso.

MERDA. Não era a melhor maneira de marcar pontos com ela.


Considerando minha resposta, segui com a verdade pela primeira
vez.

EU: E se eu te dissesse que gosto do seu tipo de estranho?


Felicity: Segure o telefone. Jason Ford acabou de admitir que
gosta de alguma coisa?
Eu: Calma aí, Giles. Eu disse que gosto da sua estranheza... não
tenho certeza se é um motivo para ficar lisonjeada.
Felicity: Você gosta de mim.

SIM.
Sim, eu gosto.
Mas não podia dizer isso a ela. Então, em vez disso, optei por
algo típico de atleta idiota.

EU: Gostaria que você pulasse mais no meu pau.


Felicity: Tudo bem.

MEUS OLHOS quase saltaram das órbitas.


EU: Certo, você quer pular no meu pau? Porque eu tenho que dizer,
Giles, estou um pouco surpreso...
Felicity: Muito engraçado! Tudo bem, vou te encontrar...

MINHA PULSAÇÃO DISPAROU.

EU: É? Depois da aula? Ou agora?


Felicity: Matar aula está na minha lista.

SORRI DE FORMA TRIUNFANTE. Eu sabia disso.

EU: Me encontre depois do segundo tempo, logo depois do vestiário.


Felicity: Você realmente pensou sobre isso.
Eu: Eu penso em muitas coisas.

VOCÊ. Nua. Debaixo de mim.

FELICITY: Tchau, Jason. Te vejo em breve.


DEZESSETE
Felicity
EU ESTAVA FICANDO LOUCA.
Era a única explicação em que pude pensar enquanto me
escondia no banheiro feminino até que o corredor se esvaziasse.
Quando passaram uns bons cinco minutos após o início do terceiro
período, saí do banheiro, andei depressa pelo corredor e saí direto
em uma das entradas laterais. Meu coração batia forte quando
atravessei o gramado e dei a volta pelos fundos do prédio. Mas não
foi nada comparado a como ele bateu como louco quando avistei o
Dodge Charger de Jase que estava com o motor zumbindo
exatamente como a vibração de minha pele.
Ele parecia completamente à vontade quando abri a porta e
entrei.
— Não sabia se você viria.
— Apenas dirija — falei depressa, arregalando os olhos
enquanto observava ao redor, procurando por qualquer sinal de que
eu tinha sido pega.
— Não fique tão preocupada — ele falou baixinho. — Ninguém
vai saber que você saiu.
Olhei para ele como se dissesse “até parece”, e ele riu de um
jeito sombrio.
— É fácil para você dizer — falei. — Você tem permissão para
fazer o que quiser e ninguém se importa.
— Ah, eu não teria tanta certeza disso.
Ele me olhou, me fazendo estremecer e minha barriga apertar.
Mas tentei ignorar seu tom sugestivo e o brilho em seus olhos.
Tarde demais, você já deu a ele todo o poder ao concordar em
matar aula.
— Se você quiser voltar, eu posso...
— Apenas dirija — repeti.
— Como quiser. — Jason sorriu enquanto arrancava e saía
através do portão da escola. — Sabe, se você respirar pode ajudar.
Eu o fuzilei com os olhos, e ele riu novamente.
Alguns segundos de silêncio se passaram e então ele disse:
— Sinto muito sobre a manhã de domingo.
— Não, você não sente — respondi, mais resignada do que com
raiva. Jason era Jason. Ele não me prometeu nada, e eu também
não pedi. Então, o fato de eu estar no carro com ele quando deveria
estar sentada no terceiro período de inglês não me passou
despercebido. Mas não conseguia tomar decisões racionais quando
se tratava do quarterback bad boy de Rixon.
Talvez eu fosse mais parecida com Jenna Jarvis, o time de
ginástica e líderes de torcida do que eu imaginava. Mas elas não
tinham uma lista. Elas não queriam viver cada segundo do último
ano como se fosse o último.
Eu queria.
Pelo menos, essa era a minha desculpa para o meu
comportamento ultimamente.
— Você não é o que eu esperava, Giles — ele murmurou, e suas
palavras me fizeram me sentar um pouco mais ereta.
— Eu deveria saber o que isso significa?
Eu era eu. Nada mais, nada menos. Até recentemente, Jason
não tinha feito nenhum esforço para esconder o fato de que me
achava irritante. Mas agora, ele me olhava de forma diferente, falava
comigo de uma maneira que nunca esperei.
Era tudo muito confuso.
Qualquer garota normal podia ter acreditado que significava que
ela era especial ou que estava capturando o coração do cara de
quem gostava. Mas eu, não. Sabia que não se prendia um cara
como Jason. Com alguém como ele, você era parte de seu público.
Podia respirar, falar, estar em sua presença.
E por alguma razão, neste momento, ele tinha me escolhido. Me
dado um aceno real. Sufoquei uma risada nervosa.
— O que foi? — ele perguntou enquanto meus olhos pareciam
fazer buracos na lateral de sua cabeça.
— Nada.
— Posso ouvir você pensando por todo o caminho até aqui, diga
logo. — O canto de sua boca se ergueu.
— Só estou me perguntando como é ser você. Amado por uma
cidade inteira, adorado pela maioria de seus colegas de classe. Os
caras querem ser vocês, as garotas querem... — A palavra ficou
presa na minha garganta.
— Pode falar, Giles.
— Tudo bem, as garotas querem transar com você, mesmo
sabendo que isso é tudo que elas vão conseguir.
Isso o fez se mexer de um jeito desconfortável em seu assento.
Bom.
Idiota.
— Talvez a viagem valha a pena — ele rebateu, e eu bufei.
— Ninguém é tão bom de cama.
— Isso é um desafio? — Ele olhou para mim, desafiando-me
com seu olhar escuro e intenso.
— Você não deveria estar olhando para a estrada?
— Não sei, a vista daqui é incrível. — Ele piscou antes de voltar
sua atenção para a estrada.
Gritei por dentro com minhas emoções para fechar as escotilhas,
porque sabendo ou não – planejando ou não – Jason estava
derrubando minhas defesas uma por uma.
Ele é Jason Ford. O incrível Jason Ford. Ele não namora.
Não se compromete.
Nem se apaixona.
Terminada a conversa interna de incentivo, alisei a saia e disse:
— Então, para onde exatamente estamos indo?
— É surpresa.
— Aposto que é o que você diz a todas as garotas. — Estremeci
com o tanto que as palavras soaram desesperadas. Mas eu tinha
um problema sério de enfiar os pés pelas mãos que costumava ficar
muito pior quando Jason estava por perto para me confundir com
suas linhas suaves e charme fácil.
Esperei por sua resposta, que não veio. Em vez disso, ele
apertou os lábios como se quisesse impedir que sua resposta
escapasse.
Estranho.
O silêncio se seguiu. Espesso e pesado, do tipo que não parecia
desconfortável, mas também não era totalmente confortável.
Obriguei-me a olhar pela janela para ver a cidade passar, me dando
espaço para respirar e me preparar para o que quer que Jason
tivesse na manga.
Por fim, começamos a diminuir a velocidade, mas apenas porque
Jason saiu da estrada principal e entrou em uma trilha coberta de
mato que serpenteava por entre as árvores.
— O lago? — perguntei, sentindo uma emoção passar por mim.
Ele me trouxe aqui antes, mas paramos no estacionamento. Jason
não deu sinais de parar desta vez.
— Não se preocupe — disse —, não vamos nadar. Não hoje, de
qualquer maneira.
O carro sacudiu e saltou sobre o terreno irregular. Eu não vinha
aqui há anos, desde que Hailee e eu paramos de nadar.
— O que foi? — A voz grave de Jason reverberou por mim.
— Nós costumávamos adorar vir aqui.
— Por que pararam de vir?
— Está de brincadeira comigo, certo? No verão, depois que você
roubou as roupas e a bicicleta de Hailee e ela teve que voltar para
casa seminua no calor escaldante... parece familiar?
Ele contraiu os lábios.
— Você foi um idiota total com ela.
O carro parou abruptamente perto da beira da água.
— Sim, bem, as coisas mudam.
— É mesmo? — perguntei, desesperada para saber o que ele
estava pensando, para entrar em sua cabeça e descobrir seus
segredos mais obscuros e profundos.
Quando ele não respondeu, sussurrei:
— O que estamos fazendo, Jason?
— Achei que era bem óbvio. — Ele curvou o lábio de um jeito
presunçoso.
— Jason...
— O que você quer de mim, Giles?
— Quero te conhecer. Não o Jason Ford que todo mundo
consegue ver, mas o verdadeiro.
— O verdadeiro, é? — ele zombou. — Não acho que alguém
queira conhecer meu verdadeiro eu. Tudo o que querem é o astro
do futebol, o atleta, o cara que pode impulsioná-los à grandeza
social. As pessoas querem a ilusão, não a coisa real.
— Eu quero. — As palavras saíram baixinhas.
— E se você não gostar do que encontrar? — Sua expressão
suavizou, não muito, mas estava lá. — E se debaixo da camisa
número um não houver nada além de escuridão?
— Não acredito nisso. Você se importa, Jason, sei que se
importa. Com a Hailee, com seus amigos... — Comigo. As palavras
ficaram presas na minha garganta. — Você não é só o idiota
presunçoso que deixa todos acreditarem que é.
— Vamos esclarecer uma coisa — ele disse, seus olhos me
fixando no local. — Eu sou. Não sou o bad boy recuperado e não
estou procurando ser mudado por... — Ele engoliu as palavras, e eu
me senti enrubescer de indignação.
— Acha que eu quero te mudar?
— Todas as garotas querem.
— Vamos deixar uma coisa bem clara, Jason — retruquei com a
voz baixa e abafada. — Não sou todas as garotas.
O calor brilhou em seus olhos enquanto ele se inclinava mais
perto, levando o ar consigo.
— Vou partir seu coração. Sabe disso, não é? Isso, seja o que
for, não vai acabar bem.
Corra, gritava a vozinha na minha cabeça, corra para longe e
nunca mais olhe para trás.
Mas não alcancei a maçaneta da porta. Em vez disso, estendi a
mão para ele, segurando sua camisa e puxando sua boca para a
minha.
— Você é louca — ele murmurou, encontrando meus lábios no
meio do caminho, atacando-me com sua boca, com lambidas
frenéticas de sua língua. Jason beijava como se fosse a última
jogada e toda a partida estivesse em jogo.
Ele não perdeu tempo em passar a mão pelo meu corpo,
espalmando meus seios através do suéter.
— Tira agora — ele ordenou como se suas palavras fossem a lei.
Talvez fossem, dada a rapidez com que o ajudei a puxá-lo pela
minha cabeça. Seus lábios se curvaram em um sorriso de lobo
enquanto ele avaliava meu corpo. — Já foi comida no capô de um
carro, baby?
Estávamos de volta a isso.
Ele não me chamou de Giles.
Mas de Baby.
Eu não sabia o que odiava mais.
— Jason — falei em um sussurro sem fôlego —, você sabe que
não.
— É mesmo, você não foi, porque sou o único cara que já teve
isso. — Sua mão desceu pela minha barriga, encontrando o cós da
legging.
— Caramba, eu te odeio — as palavras escaparam da minha
boca antes que eu pudesse detê-las.
Ele ergueu a cabeça e sua expressão era confusa.
— Engraçado, porque de onde estou sentado, parece que você
faria qualquer coisa para pular no meu...
— Jason! Pare.
— Parar? — Ele ergueu a sobrancelha. Antes que eu pudesse
processar o que estava acontecendo, Jason me puxou para si,
forçando minhas pernas a se abrirem para ficar em suas coxas. —
Quer que eu pare? — Ele se moveu contra mim e sua ereção atingiu
meu ventre.
— Eu... sim... não. — Tentei sufocar os gemidos.
— Qual é, Giles, por que você está me enviando sinais confusos
aqui? — Ele continuou se movendo contra mim enquanto suas
mãos brincavam com meus seios.
— Não consigo pensar quando você está... — O prazer
percorreu meu corpo. Mas não era o suficiente.
Não era nem perto de ser o suficiente.
— O que foi, baby? Precisa de mais? — Jason passou a mão
pela minha garganta, medindo meu pescoço para que pudesse me
empurrar para trás suavemente. Então ele sugou a pele dali.
Segurei a camisa com mais força, puxando-o, empurrando-o
para longe, eu não tinha mais certeza.
— Diga — sua voz ecoou ao nosso redor. — Diga que você me
quer, que quer isso.
— Eu... — Não faça isso, não dê a ele tanto poder sobre si.
— Diga as palavras, baby. — Seu polegar pressionou em meu
centro, fazendo-me estremecer acima dele.
— Eu te quero — minha voz tremeu, um reflexo do meu corpo.
— Quero isso. — As palavras me fizeram soltar uma exalação
aguda. A vitória brilhou em seus olhos e o ar ao nosso redor mudou
quando um entendimento se estabeleceu entre nós.
Eu o odiava.
Detestava que ele me fizesse sentir tão viva, tão desejada.
Odiava o jeito que ele sabia exatamente como me beijar e me
tocar para me fazer cair a seus pés.
Mas acima de tudo, detestava como não o odiava, nem um
pouco.
— Relaxe — ele disse, como se soubesse que eu estava
perdida. — Se isso te faz se sentir melhor, eu também te odeio. —
Seu polegar roçou em meu pescoço lentamente antes de seus
lábios seguirem seu toque. — Odeio como não consigo parar de
pensar em você. — Ele me beijou. — Detesto que você diga as
coisas mais ridículas. — Me deu outro beijo. — Mas, acima de tudo,
odeio que o Thatcher e o outro idiota tenham colocado as mãos em
você. Odeio... — Seus lábios tocaram minha pele novamente
enquanto meu coração batia contra minha caixa torácica.
Este não era o plano.
Ele não deveria dizer tudo isso para alimentar a pequena parte
de mim que sonhava com uma época e lugar diferentes. Uma época
e lugar onde Felicity Giles poderia acabar com um cara como Jason
Ford.
Esperei por suas palavras, ávida por mais. Mas elas nunca
vieram, sendo substituídos por beijos quentes enquanto ele
arrastava a língua para cima e para baixo na minha garganta. A
decepção inundou meu peito, mas no fundo, não fiquei surpresa.
Jason nunca admitiria a verdade. Que havia algo entre nós. Que
isso era mais do que apenas sexo. E por mais que doesse, talvez
fosse melhor assim.
Suas mãos estavam em cima de mim agora, assim como sua
boca.
— Jason — eu o chamei, puxando gentilmente seu cabelo. —
Desacelere.
Ele ergueu o rosto, com a sobrancelha arqueada. Aproveitei o
momento e empurrei as mãos contra seu peito para movê-lo de
volta. Então me atrapalhei para encontrar a alavanca de reclinação
e puxei-a.
— Que merda é essa? — ele grunhiu e eu sufoquei uma
risadinha. Jason precisava de controle. Necessitava manter todo o
poder. Mas desta vez, eu queria estar no assento do motorista.
Queria deixá-lo selvagem.
— Que jogo você está jogando, Giles? — ele perguntou,
agarrando meus quadris enquanto eu me movia suavemente acima
dele. Nós dois gememos e outra emoção passou por mim. Ele
estava à minha mercê agora.
Com a confiança recém-adquirida, enganchei as mãos no cós da
legging e as empurrei para baixo. Não foi fácil tirá-las, mas
consegui. Se Jason percebeu meu strip-tease desajeitado, não
comentou, seu olhar entreaberto estava muito ocupado absorvendo
cada centímetro da minha pele nua.
— Puta merda, você é linda — ele sussurrou.
Sim, puta merda. Suas palavras foram como uma flecha
envenenada em meu coração.
Como se tivesse notado minha hesitação, o desafio brilhou em
seus olhos. Ele estava pronto para atacar, para retomar o poder e
lançar tudo isso em mim. Mas eu não ia recuar. Eu não seria apenas
um peão em seu jogo.
Eu era a porcaria da rainha.
E esta rainha queria que o rei se ajoelhasse a seus pés.
Levando as mãos as costas, desabotoei o sutiã e o deixei
deslizar pelos meus braços. Jason não falou, não precisava. Seus
olhos traíram cada pensamento que passava por sua cabeça e,
embora eu soubesse que era apenas temporário, eu o tinha
exatamente onde o queria.
— Tire isso — exigi, com os olhos fixos em sua camisa.
— Tudo bem, eu vou jogar, baby. — Havia uma pontada de
diversão em sua voz quando ele se inclinou para frente para tirar a
camisa. Ele era muito lindo, um Adônis perfeitamente esculpido.
Que neste momento, era meu. Não de Jenna Jarvis ou da equipe de
ginastas. Não de Rixon High, do time ou mesmo da cidade.
Meu.
Mas você não pode mantê-lo, Felicity. Não se esqueça disso.
Nunca esqueça isso.
Passei as mãos por seu abdômen, contando cada cume até que
meus dedos pairaram perto do cós de seu moletom. Sem me dar
tempo para hesitar, puxei suavemente, esperando que Jason
levantasse a bunda do assento para que eu pudesse tirá-lo de seus
quadris.
Puta merda. Ele estava duro como uma rocha.
Sua risada baixa cortou a tensão ao nosso redor. Ergui os olhos
para os seus.
— O quê? — perguntei.
— Só estou me perguntando se você é corajosa o suficiente.
Eu o segurei com firmeza e seus gemidos encheram o carro.
— Merda, Felicity. — Meu nome em seus lábios era como
música para meus ouvidos.
— Preservativo?
— Porta-luvas.
É claro que ele mantinha um estoque de preservativos no porta-
luvas. Revirei os olhos, e ele ergueu a sobrancelha, com o olhar
entreaberto, nebuloso de luxúria.
Com grande habilidade, consegui me inclinar e pegar um. Jason
me surpreendeu capturando meus pulsos e me puxando para baixo.
Ele me beijou com força, machucando meus lábios e me deixando
sem fôlego. Quase podia sentir sua mente trabalhando além do
tempo, ouvir seus pensamentos.
Mas eu estava longe demais para me importar. Precisava de
Jason mais do que jamais precisei de qualquer coisa antes.
Era assustador.
Hilariante.
E completamente louco.
Ele me observou com as pupilas dilatadas enquanto eu liberava
seu pau e rasgava a embalagem, rolando a camisinha sobre ele.
Sua respiração estava irregular, seus músculos se moviam a cada
entrada aguda de oxigênio.
Apoiei uma mão em seu ombro, me levantei sobre ele, puxei a
calcinha para o lado e lentamente afundei nele.
— Puuuttaaa merda — Jason grunhiu, apertando meu quadril,
tentando me firmar. Mas eu não ia deixá-lo assumir a liderança. Não
agora, não quando finalmente segurei parte do poder.
Mesmo que fosse apenas temporário.
DEZOITO
Jason
FELICITY PARECIA UM ANJO. Os olhos estavam nublados de
prazer os lábios separados em um gemido suave.
Um anjo atrevido e safado.
Meu anjo.
Ela me pegou completamente desprevenido quando assumiu o
controle. Eu não achei que ela faria isso, mas deveria ter imaginado,
porque no que se referia a Felicity Giles, nada era o que parecia.
E eu adorava isso.
— Sim, assim mesmo — murmurei, levando meus quadris para
cima enquanto ela se movia acima de mim.
Não importava que estivéssemos perto do lago, no meio do dia,
onde qualquer um poderia nos ver. No segundo em que meus lábios
a tocaram, eu sabia que havia apenas um jeito disso terminar. Com
ela montando meu pau e ela sabia também.
Passei as mãos pelo seu corpo, desesperado para tocar e
explorar cada centímetro de sua pele. Suas curvas suaves, a
inclinação de seus quadris, os seios perfeitos.
Eu não conseguia o suficiente dela.
— Jason... — Meu nome escapou de seus lábios, preso em
algum lugar entre um suspiro e um gemido. O som necessitado era
uma linha direta com meu pau.
Eu queria assumir o controle, agarrar sua cintura e mostrar a ela
exatamente como eu gostava, como eu precisava disso, mas ela
usou aquela porcaria de vodu em mim novamente, porque eu não
podia fazer nada além de sentar e me divertir.
Aproveitá-la.
Cada movimento de seus quadris. A maneira como ela se
elevava ligeiramente acima de mim, segurando a ponta dentro dela
e então afundando de volta lenta e profundamente. Nunca me
preocupei com uma garota me possuir antes, porque nunca houve
uma garota que tivesse chegado perto. Nem mesmo Aimee tinha
conseguido. Felicity era diferente. Ela era tudo que eu nunca soube
que precisava.
Era uma pena que não pudesse ficar com ela. E eu não podia.
Porque ainda que fosse fantástico tê-la montando em mim, isso,
bem aqui, era onde tínhamos que terminar. Antes que ela se
tornasse o tipo errado de distração.
O tipo de distração que jurei nunca me deixar levar.
Meu peito se apertou enquanto eu tentava colocar a cabeça de
volta no jogo.
— O que foi? — ela perguntou, mal conseguindo recuperar o
fôlego. — O que há de errado?
— Nada — respondi de forma fria. — Venha aqui. — Envolvi o
braço em sua cintura, quando me sentei, nos posicionando peito a
peito.
— Jason, o que você...
— Shhh — sussurrei, me movendo para frente e para trás, a
posição íntima muito mais profunda e intensa. Eu podia sentir cada
centímetro seu pressionado contra cada centímetro meu e era de
tirar o fôlego. Naquele momento, foi difícil negar o quanto ela era
perfeita. A forma como o seu corpo se moldava ao meu, como se
fossem duas peças do mesmo quebra-cabeça.
— Você não deveria... — sua voz falhava de prazer.
— Tem alguma ideia de como me deixa louco? — As palavras
pairaram entre nós enquanto eu lentamente recuperava o controle
de seu corpo.
Seu.
Felicity enterrou o rosto no meu ombro enquanto eu entrelaçava
a mão em seu cabelo e nosso ritmo aumentava, roubando o fôlego
dos meus pulmões. Eu vou te comer até arrancar você da minha
cabeça.
Ela paralisou e seu corpo enrijeceu acima de mim.
Merda.
Não queria dizer as palavras em voz alta. Mas agora elas tinham
saído, provocando um vasto oceano entre nós.
— Felicity, eu...
Ela segurou meus lábios, forçando-os juntos enquanto se movia
mais rápido. Mais intenso. Perseguindo o clímax.
Seu corpo começou a tremer e sua respiração estava
entrecortada e pesada. O formigamento familiar na base da minha
espinha me disse que eu estava perto. Pronto para gozar junto com
ela, que só precisava de um empurrão final. Inclinando a cabeça, a
minha boca em torno de seu mamilo e mordi suavemente. Seus
gritos ecoaram ao nosso redor, e o prazer colidiu comigo como um
trem de carga. Mas, como qualquer ápice, a inevitável queda era
uma merda.
Felicity desceu de cima de mim, puxando suas leggings e suéter
e vestiu-se desajeitadamente.
— Isso é algo para a sua lista — falei através de uma risada
tensa. Eu parecia um idiota. Como se alguma piada boba sobre a
lista dela mudasse o fato de eu ter deixado escapar acidentalmente
que queria transar para tirá-la da minha cabeça.
— Devíamos voltar para a escola. — Sua voz estava fria,
fazendo com que a temperatura dentro do carro caísse alguns
graus. — Não quero perder o quinto período.
— Ah, sim. — Vesti a calça de moletom e coloquei a camisa. As
coisas foram de ótimas para uma merda em dois segundos, tudo por
causa da minha boca grande.
Mas era isso que você queria, certo?
Mais uma vez com ela. Uma chance de retificar como as coisas
tinham acontecido em Nova York.
A volta para a escola foi dolorosa. Felicity mal olhou para mim e
toda vez que eu tentava preencher o silêncio sufocante, as palavras
morriam na ponta da minha língua.
Foi um desastre.
Exatamente o que eu sabia que aconteceria, mas fiz mesmo
assim. Felicity não era Jenna ou qualquer uma das outras garotas
com quem eu normalmente transava. Ela era diferente.
Eu era diferente perto dela.
Logo entramos no estacionamento, a escola aparecendo à
frente.
— Felicity, eu...
— Não se preocupe, Jason. Eu sabia o que era. Sabia e vim
mesmo assim. Mas terminou, certo? — Ela não parecia triste ou
chateada, apenas resignada. — Você transou comigo para me tirar
da sua cabeça, então acho que podemos apenas seguir em frente.
— Eu... — Diga algo. Diga qualquer coisa. Mas nada saiu, meus
pensamentos eram muito incoerentes para formar palavras.
— Tudo bem... — Felicity segurou a maçaneta da porta e a
empurrou. Mas não saiu antes de se voltar para mim. — Acho que é
verdade o que todas as garotas dizem sobre você — ela disse,
olhando em meus olhos conflituosos.
— É? E o que falam? — Consegui resmungar.
— Que você vale a pena. — Seus olhos não brilhavam e sua voz
estava desprovida de qualquer emoção. — Vejo você por aí, Jason.
Então ela se foi.
Doeu pra caramba vê-la ir embora, mas eu sabia que era melhor
assim. Melhor que ela pensasse que eu era apenas um cretino de
coração frio que a usou em um jogo de gato e rato. Mas a verdade
era que eu não tinha mais tanta certeza. E embora eu nunca tivesse
feito isso, pela primeira vez na minha vida, eu queria ir atrás da
garota.
A vida não era um conto de fadas. O único final feliz de que eu
precisava era aquele em que ganhava o Estadual, ia para a
faculdade e realizava meu sonho de me profissionalizar.

— MUITO BEM, garotos, se juntem. — O treinador acenou para nós.


— Faltam dois jogos antes dos play-offs. — Os caras começaram a
aplaudir, mas eu mal consegui resmungar.
— Sim, sim, vocês estão animados, eu entendo. Vocês
ganharam. Mas precisamos manter nossas cabeças focadas.
Amanhã é a noite dos veteranos, o que significa que vocês precisam
estar em seu melhor comportamento. Haverá a saída formal no jogo
e, em seguida, as apresentações na festa. A sra. Hasson está
preparando algo especial para a ocasião, então quero ver todos
vocês em suas melhores roupas. Grady — ele olhou para o cara na
minha frente —, isso é para você também, filho. Se eu te vir
vestindo um moletom ou uma camiseta, vou te fazer usar um dos
meus ternos antigos. Considere-se avisado.
Alguns de nós riram enquanto Grady me mostrou o dedo do
meio por trás de seu capacete.
— Alguma pergunta?
— Não, senhor.
— Bom. Não se esqueçam de que temos a exibição da srta.
Raine também. Quero que vocês se lembrem de demonstrar
respeito por ela. Ela trabalhou incansavelmente neste projeto e acho
que falo por toda a equipe quando digo que estou animado para ver
o que ela criou.
Olhei para Cam, que estava com um sorriso bobo no rosto. Ele
estava tão apaixonado pela minha meia-irmã que deixava um gosto
amargo na minha língua.
— Será uma reunião só com os mais próximos na sexta. Certo,
treinador? — Não sei por que fiz a pergunta, e imediatamente quis
retirá-la quando todos os olhos pousaram em mim. Asher estava
sorrindo, mas Cam parecia preocupado. Eu não tinha contado a eles
sobre mais cedo com Felicity, mas eles sabiam que algo tinha
acontecido porque eu fui um idiota durante o treino, descontando
minhas frustrações em meus companheiros de equipe.
— Quer nos contar algo, Jase? — o treinador perguntou com
uma pontada de diversão.
— Não — mantive a voz calma. — Só queria ter certeza de que
não íamos convidar a turma inteira.
— Tenha certeza de que será íntimo, filho. O time, família...
namoradas — ele zombou — e a equipe de torcida.
Um estrondo de apreciação ecoou pelo campo.
— Melhor comportamento, se lembram? — O treinador nos
lançou um olhar perplexo. — Certo, saiam daqui. Jase, uma palavra,
por favor.
Fiquei por ali, esperando enquanto meus companheiros se
dirigiam para os chuveiros.
— O que foi, treinador?
— Tudo pronto para amanhã?
— Com certeza. — Passei a mão pelo cabelo úmido e pela nuca.
— Só queria que você soubesse. O diretor Finnigan pediu ao seu
pai para fazer um discurso na apresentação.
Minha coluna endureceu.
— Entendo.
— Agora, sei que vocês dois nem sempre concordaram, mas ele
é o seu pai, Jason, e a cidade o considera...
— Um herói. — Como se eu precisasse de mais um lembrete.
— Está fora do meu alcance, mas queria te avisar.
— Obrigado — resmunguei.
— Um conselho, filho. É importante saber de onde você veio,
mas não precisa deixar isso te definir. Você mereceu isso, Jason, e
quando formos coroados como campeões estaduais, você poderá
ficar tranquilo sabendo que fez isso acontecer. Não seu pai ou seu
legado. O futebol pode estar no seu sangue, mas você tem um dom
raro que é todo seu, filho. Tenha certeza disso.
— Obrigado, treinador. — Eu mal consegui pronunciar as
palavras por causa do nó na garganta.
Ele me deu um aceno.
— Agora entre lá com os outros.
Enquanto saía do campo, não pude deixar de me perguntar
como seria ser normal. Ir para lá amanhã com minha família, talvez
uma namorada. Pessoas que me amassem incondicionalmente, não
por causa de quem eu era e para onde estava indo, mas pela
pessoa por trás da camiseta.
A pessoa por trás do menino de ouro do futebol de Rixon.
Eu nem conseguia me lembrar da pessoa que era antes. Antes
do time juvenil e do colégio, e recordes estaduais. Antes de ser
caçado por algumas das melhores faculdades do país. A maioria
das pessoas passava a vida inteira perseguindo seus sonhos,
tentando transformar a fantasia em realidade. No entanto, aqui
estava eu, com apenas dezoito anos, com o mundo inteiro aos meus
pés. Meus sonhos estavam ali para serem tomados. Deveria ter sido
a melhor época da minha vida, e até recentemente foi. Até que
comecei a me importar. Mas eu não podia me importar com isso.
Não podia me dar ao luxo de me abrir para distrações. Para me
tornar vulnerável. Agora, não. Não quando eu estava tão perto.
MAIS TARDE NAQUELA NOITE, me encontrei no último lugar que
eu queria estar: dando carona a Hailee em um silêncio
constrangedor pra cacete. Ela não mencionou Felicity e eu não
perguntei. Achei que o fato de ela não ter falado nada sobre a falta
da amiga significava que Felicity estava mantendo segredos, o que
me convinha perfeitamente.
— Obrigada por me ajudar a fazer isso — ela finalmente disse
quando paramos do lado de fora da entrada lateral do Departamento
de Artes.
— Sim, bem, o treinador não me deu escolha. — Passei a mão
pelo rosto.
— Entendo. — A expressão dela endureceu. — Eu só pensei...
Não importa, vamos lá. — Hailee saiu do carro, e eu soltei um
suspiro pesado, batendo no volante. Não deveria soar tão amargo,
mas agora era tarde demais. Relutante, abri a porta e segui Hailee
para dentro do prédio.
— Há nove retratos no total — ela disse, sem olhar para mim. —
Cada um foi embalado para ser transportado e o treinador e o sr.
Jalin já levaram o equipamento de exibição para sua casa.
— Entendi. — O Estúdio de Artes não fazia parte da área da
escola que eu conhecia, mas Hailee parecia completamente à
vontade enquanto nos guiava pela rede de salas adjacentes. O ar
era pesado com o cheiro de tinta e fluido de limpeza.
— Leva algum tempo para se acostumar.
O silêncio se instalou entre nós. Mas parecia sufocante.
— Arte, é? O Cameron disse que você é muito boa.
— Espero que sim, pois seria meio constrangedor se o treinador
revelasse os retratos e eles se assemelhassem a obras de arte de
crianças. — Seus lábios se curvaram ligeiramente, e eu me vi
sorrindo de volta.
— Acho que foi uma pergunta idiota.
— Não é idiota. — Ela me deu um meio sorriso. — Sei que isso é
estranho para você, Jason. Eu sendo parte da sua vida. Mas
tornaria as coisas muito mais fáceis se pudéssemos pelo menos
tentar nos dar bem.
— Isso realmente irritaria nossos pais. — Sorri. Mas o sorriso de
Hailee sumiu. — Você quer perdoá-la?
— Não quero perdoá-la, mas não sei por quanto tempo mais
poderei mantê-la na geladeira. É o último ano. Vou para a faculdade
no próximo. — A tristeza afiou em sua expressão.
— E daí? Eles ganham passe livre só porque estamos voando
do ninho?
— Jason — Hailee apertou a ponta de seu nariz. — Você não
acha isso cansativo? — Quando olhei para ela com uma expressão
indiferente, ela acrescentou: — Guardar tanto ódio e amargura?
— Eu não odeio tudo.
Ela me lançou um olhar penetrante e senti minha mandíbula
apertar.
— Você não sabe o que é nunca saber os motivos de alguém,
não saber em quem pode confiar — falei. — As pessoas acham que
é muito fácil ser um jogador de futebol famoso, mas sabe quantos
anos eu tinha quando os olheiros começaram a me abordar?
— Treze?
— Onze. Eu estava na sexta série. Enquanto a maioria das
crianças brincava de rei da colina e capturar a bandeira, eu fazia
exercícios e trabalhava com meu pai em programas de
condicionamento. — Porque não havia outro caminho para mim. Eu
iria realizar seu sonho, gostasse ou não.
— Eu não fazia ideia...
— Não importa. — Dei de ombros com desdém, chutando o chão
com a ponta do tênis. — No momento em que você chegou em
Rixon, eu tinha chamado a atenção de quatro equipes da Primeira
Divisão. Quatro. As pessoas começaram a me notar. De repente,
minha vida não era mais minha, era do meu pai, do treinador, até
mesmo da cidade. Quando tudo que eu queria era jogar futebol.
Sempre adorei o jogo, esse nunca foi o problema. Mas eu não
tinha percebido naquela época, que um dia, isso significaria assumir
a expectativa de uma cidade inteira.
Um lampejo de simpatia passou pelo rosto de Hailee.
— Merda, você não quer ouvir isso, provavelmente deveríamos...
— Obrigada — ela disse — por me contar.
Por que eu contei a ela?
Foi há muito tempo, e eu não era mais criança. Estar no centro
das atenções vinha com o território, e a luz só ficaria mais forte
quando eu fosse para a faculdade. Para sobreviver, tinha que se
construir paredes. Talvez eu as tenha construído mais alto do que os
outros, mas era só porque eu queria mais do que a maioria.
— Isso explica muita coisa. — Um sorriso apareceu em sua
boca.
— É mesmo?
— Toda essa pressão, a expectativa... isso explica por que você
é um idiota de primeira. — Hailee riu baixinho, com os olhos
brilhando. Mas eu não ri. Nem sorri. Porque ela estava certa.
Eu era um idiota porque podia ser. As pessoas me tratavam
como o filho pródigo do futebol e em algum momento, comecei a
agir como tal. Mas o que a maioria das pessoas não percebia é que
era um mecanismo de defesa. Uma forma de me proteger.
— Estou brincando, Jason. — Hailee acrescentou quando não
respondi.
— Não, você não está.
— No passado, talvez fosse. Mas agora? Agora, você não é tão
ruim. — Ela segurou a maçaneta da porta do estúdio dois e entrou.
— O que... — Suas palavras foram sumindo e me aproximei atrás
dela para ver o que a tinha deixado sem palavras.
Materiais de arte estavam espalhados por toda parte. Tinta
vermelha e branca estava espalhada pelas paredes e pelas telas
que estavam encostadas ao acaso pelo lugar.
— Não acredito que alguém fez isso. — A voz de Hailee tremia
enquanto ela enxugava as lágrimas. — Está tudo arruinado... o
projeto da noite dos veteranos está arruinado.
Olhei para minha meia-irmã, a pessoa cuja vida eu tornei uma
miséria no passado, e me senti o pior tipo de merda. Por muito
tempo, usei Hailee como saco de pancadas para lidar com minha
raiva por sua mãe e agora ela estava sendo usada da mesma forma
por outra pessoa.
Tudo por minha causa.
Por um momento, foi como se eu estivesse olhando para nós,
pela primeira vez realmente olhando além da armadura que coloquei
em volta de mim, os princípios de “machucar as pessoas antes que
me machuquem” pelos quais vivi e não gostei do que vi.
Aproximei-me dela e coloquei a mão em seu braço, fazendo-a
pular enquanto sua atenção se desviava das telas destruídas.
— Cuidaremos disso, tá? O que você quer que eu faça para
ajudar?
Hailee respirou fundo.
— Pode me ajudar a colocá-las de volta nos cavaletes?
Eu concordei.
O silêncio era ensurdecedor enquanto trabalhávamos juntos para
limpar o estúdio. Vi meu rosto no meio do caos. O de Cam também.
Algumas telas pareciam piores do que outras. Quando recuamos
para examinar os destroços, Hailee soltou um suspiro exasperado.
— Me diga que isso não é o que estou achando. — Seu corpo
tremia de raiva. — Me fale que o Thatcher não invadiu e arruinou
meu trabalho árduo por causa de alguma rivalidade estúpida no
futebol. Me diga, Jason. — Seus olhos encontraram os meus, me
prendendo no lugar, fazendo-me sentir com cinco centímetros de
altura.
— Não posso — grunhi, com as mãos fechadas com firmeza
contra minhas coxas enquanto eu percebia a devastação. Arte não
era minha praia, mas eu sabia o quanto ela havia trabalhado duro
no projeto. Quantas horas ela levou para pintar cada retrato.
Um instante se passou.
Outro.
Até que eu não pudesse ouvir nada além do rugido do sangue
entre meus ouvidos e o baque surdo do meu coração contra a
minha caixa torácica.
— Sinto muito. — As palavras cortaram o ar como uma lâmina
quente no gelo enquanto meu punho se chocava contra a parede.
— Merda, Jason. — Hailee correu até mim, tentando dar uma
olhada na minha mão. Mas eu a afastei, embalando-a contra meu
peito.
— Está tudo bem — falei. Não estava, mas já estive pior. Não
era nada que um pouco de gelo e algumas doses de uísque não
resolveriam.
— Você não deveria ver até esta noite. — Ela fungou, ignorando
meu pedido de desculpas.
— Nunca percebi que você era tão talentosa. — Mesmo coberto
de respingos de tinta vermelha e branca, eu podia distinguir os
detalhes intrincados do meu capacete, a forma como minha camisa
parecia ondular enquanto eu me movia com a bola. Não era apenas
bom.
Era incrível pra cacete.
— Você deveria ter visto antes... — ela parou, a tristeza
irradiando dela.
— Você pode consertá-las? — O meu havia sido o mais afetado,
mas pelo menos quatro pareciam ter escapado dos respingos de
tinta.
— Não tenho certeza. Preciso falar com o sr. Jalin.
— Hailee...
— Sei o que você vai dizer, Jason, e entendo. Se envolvermos o
Thatcher nisso, o diretor Finnigan intervirá. Mas preciso contar ao sr.
Jalin. Vou pensar em algo para protegê-lo, mas todos saberão que
algo aconteceu quando revelarmos amanhã. Talvez se arrumarmos
este lugar e eu falar com ele, possamos controlar a história.
Não era ideal. Mas não era como se tivéssemos uma lista de
opções.
— Quando você ficou tão tortuosa? — perguntei com um meio
sorriso, evitando o fato de que ela estava preparada para mentir
para me proteger porque eu não sabia o que fazer com isso.
— Aprendi com os melhores. — Ela me lançou um olhar
cúmplice.
— Sabe, se eu não te odiasse tanto, acho que provavelmente
poderia aprender a gostar de você.
— O sentimento é totalmente mútuo. — Hailee refletiu minha
expressão. — Vamos, temos muito trabalho a fazer se quisermos
arrumar este lugar antes da aula de amanhã.
Peguei o celular.
— O que você está fazendo? — Hailee parecia cautelosa.
— Chamando reforços.
DEZENOVE
Felicity
— QUER FALAR SOBRE ISSO? — Mya me perguntou.
— Não. Quero ficar bêbada, flertar com caras bonitos e depois
comer meu peso corporal em sorvete. Talvez não nessa ordem. —
Dei um longo gole na bebida que Mya pegou escondido de sua avó.
Quase estourou meus miolos no primeiro gole que dei, mas pelo
menos me deixou entorpecida.
— Odeio te dizer isso — minha parceira no crime falou —, mas
não tenho certeza se este é o lugar para conhecer pessoas.
Estávamos perto do rio, amontoadas em um banco.
Provavelmente não foi minha ideia mais brilhante, mas não consegui
ficar em casa, chafurdando. Desviar das perguntas incessantes de
minha mãe. Não era como se eu pudesse ligar para Hailee. Não
quando ela estava fora com Jason se preparando para a noite dos
veteranos. Pelo menos eram apenas familiares e amigos íntimos da
equipe. Eu não teria que ficar sentada lá, olhando para ele, me
lembrando de como ele me fez sentir... como Jason pisou em
qualquer esperança de haver algo real entre nós.
Vou transar com você para te tirar da minha cabeça.
Ele não queria dizer aquelas palavras. Eu tinha visto a surpresa
em seus olhos escuros, o lampejo de pânico. Qualquer outra garota
provavelmente teria lhe dado um tapa no rosto e corrido. Mas eu
não.
O que havia de errado comigo?
— Você está apaixonada por ele — Mya disse e virei a cabeça
para ela.
— Hã? — gaguejei.
— Eu disse “você está apaixonada por ele”.
— Não estou... eu não deveria...
— Garota, nós duas sabemos que não funciona assim. Você não
pode decidir por quem se apaixona.
— Não estou apaixonada por ele.
— Talvez não agora. Mas está aí, dentro de você. Você o quer.
— Quero — admiti, olhando para o chão. — Ele é diferente
comigo.
— Eles sempre são — ela suspirou, sua voz distante.
— Seu ex?
Ela assentiu de leve.
— Me atraiu antes que eu pudesse ver o que estava
acontecendo.
— Ele te machucou?
— Ele não apenas me machucou — Mya me deu um sorriso
triste —, ele me destruiu completamente. Jermaine era meu melhor
amigo. Nossas mães eram amigas, engravidaram juntas, nos
criaram juntos. Éramos todos unidos.
— O que aconteceu? — perguntei, surpresa que Mya finalmente
estava se abrindo para mim.
— Ele se envolveu com um grupo ruim. No início, eram apenas
meninos pensando que eram gângsteres. Mas no ano passado, as
coisas mudaram. Ele mudou. Ele era o mesmo Jermaine quando
éramos apenas nós dois, mas começou a se envolver com um
grupo. Implorei que ele parasse, mas o dinheiro fala mais alto e ele
achou que era invencível.
— Parece alguém que conheço — resmunguei.
— Jermaine não estava envolvido em nenhuma rivalidade no
futebol do colégio, Felicity. Ele estava traficando drogas para o tipo
de pessoa a quem você não diz não.
— Oh. — Minhas bochechas esquentaram.
— Sei que essa rivalidade deixa a todos vocês nervosos — sua
expressão se suavizou —, mas não é vida ou morte.
— Jermaine...
— Morreu? Não, mas ele recebeu uma lição depois que errou, e
eu... — Mya engoliu em seco, todo o seu comportamento ficando
sombrio. — Eu era uma garantia.
Meus olhos se arregalaram.
— Quer dizer que você foi... machucada?
Ela assentiu lentamente.
— Minha mãe finalmente disse ao J. que estava tudo acabado
entre nós e me mandou para o meio do nada para terminar o último
ano. Não tive notícias de Jermaine desde então. — Minha nova
amiga deu de ombros como se não fosse nada, mas a dor irradiava
dela.
— Você estará mais segura aqui — falei, como se isso
importasse.
— Segura, mas não inteira. Passei a vida inteira com Jermaine
ao meu lado. Mesmo sabendo que é o melhor, mesmo sabendo que
não poderia ficar parada e vê-lo arruinar sua vida, isso não torna as
coisas mais fáceis. Se eu não estiver lá, quem vai protegê-lo? —
Uma única lágrima escorregou do canto do olho de Mya, mas ela
engoliu rapidamente em seco, e não pude deixar de me perguntar o
que ela havia passado para ter endurecido tanto.
— Ele vai ficar bem — acrescentei.
Ela deu de ombros.
— Não importa mais.
Mas algo me disse que sim. Ela estava mentindo para si mesma.
Assim como eu estava mentindo para mim. Sobre Jason. Sobre o
meu futuro perfeitamente traçado, cortesia dos meus pais.
— Qual é a história entre você e o Jason?
— Essa é uma história para outro dia.
— Não vou a lugar nenhum. — Mya me lançou um olhar
penetrante.
— Jason é... bem, ele é complicado. Ele sempre foi esse idiota,
sabe? Intocável. Frio. Cruel. Ele fez da vida de Hailee um inferno
desde que ela se mudou para Rixon. Eu nunca gostei dele, odiava o
que ele representava, como ele a tratava.
— O que mudou?
— Tudo. — Sorri com tristeza. — Tudo mudou. Comecei a ver
vislumbres por trás de sua máscara, e estava muito cansada de ser
a boa menina. De ser a garota sempre esquecida. E ele olhava para
mim com intensidade... Mas não era nada mais do que um jogo.
Um jogo que eu perdi.
O silêncio desceu sobre nós enquanto nós duas nos perdemos
pensando sobre os caras em nossas vidas que queríamos, mas não
podíamos ter. Peguei a garrafa de licor e tomei outro gole, querendo
limpar o buraco no meu estômago.
— Você está vibrando — Mya disse, depois de alguns minutos.
— É a Hailee.
— Deixa ir para a caixa postal. — Acenei para ela, traçando
padrões nas nuvens brancas macias que flutuavam no céu escuro.
As vibrações finalmente pararam, apenas para recomeçar segundos
depois.
— Ela está ligando de novo.
— Provavelmente quer me contar tudo sobre o Cameron. Ele
está sempre fazendo coisas fofas para ela.
— Ele parece legal.
— Ele é o melhor — suspirei, sonhadora.
— Faz você se perguntar por que um cara como ele é amigo de
um cara como Ja...
— Não. — Virei a cabeça para Mya. — Você prometeu. não
vamos falar sobre ele.
— Eu sei, mas...
— Sem mas, Mya, por favor.
— Tudo bem. — Ela ergueu as mãos. — Sinto muito. Não queria
te aborrecer.
— Não estou aborrecida, só estou...
O que eu estava? magoada? Com certeza. Envergonhada?
Terrivelmente. Mas, acima de tudo, estava aborrecida comigo
mesmo. Com a facilidade com que cedi aos encantos de Jason,
quando o tempo todo eu sabia que era um jogo. Um que, no
passado, eu não tinha intenção de jogar.
Argh. Fui tão estúpida. Jason me jogou o anzol, a linha e me
fisgou. Me fazendo acreditar que eu tinha a vantagem, que eu
estava dando as cartas, apenas para puxar o tapete debaixo de
mim.
— Ela ainda está ligando. — A preocupação de Mya perfurou
minha bolha. — Talvez você devesse atendê-la — Ela me entregou
meu celular.
— Ei, Hails — tentei ao máximo soar sóbria.
— Graças a Deus — minha melhor amiga parecia preocupada.
— Estou tentando te ligar há cinco minutos.
— Desculpe, eu só estava... lá embaixo pegando uma bebida. —
Era quase verdade.
Mya me lançou um olhar perplexo.
— O quê? — murmurei, dando de ombros. Ela revirou os olhos e
voltou para o que quer – ou quem quer – que tinha sua atenção em
seu celular.
— Os retratos... — Foi só então que percebi que ela parecia
chateada.
— O que aconteceu? — Eu me endireitei, sentindo o pavor subir
pela minha espinha.
— O Thatcher, ele... ele destruiu o estúdio.
— Não! — ofeguei, arregalando os olhos. Hailee havia
trabalhado como louca por horas no projeto da noite dos veteranos.
— Está muito ruim?
— Muito. — Ela fungou, e eu sabia que provavelmente estava
erguendo uma fachada de coragem. — Os caras me ajudaram a
arrumar a maior parte da bagunça, mas ao menos dois retratos
estão arruinados.
— Ah, Deus, Hails, sinto muito.
— Sim, é uma merda. O sr. Jalin acha que ainda podemos fazer
algo a tempo para amanhã, mas não tenho tanta certeza.
— Como está o Ja... — Seu nome ficou preso na minha
garganta.
— Ele está agindo de forma surpreendentemente legal. Mas sei
que já está planejando vingança. Está daquele jeito, sabe?
Suas palavras me arrepiaram.
— Sim — sussurrei.
— De qualquer forma, vamos todos para o Bell’s. Acho que eles
querem me animar.
— Isso é legal.
— Então, você vai nos encontrar lá?
— Eu... — Mya deve ter ouvido Hailee, porque ela estava
balançando a cabeça e murmurando não para mim.
— Claro. Por que não? Estou com a Mya, então nós duas
vamos.
— Tudo bem — Hailee respondeu. — Preciso de uma bebida.
Algo forte.
O licor se revirou em meu estômago com suas palavras. Eu
precisava de água. Mas ela não precisava saber disso.
— Veremos você em breve. — Desliguei e engoli o resto da
bebida.
— Esta é uma má ideia. — Mya me encarou.
— Eu sei. — Me levantei, balançando de leve enquanto o ar frio
flutuava ao meu redor. — Mas você não sugeriu que eu adicionasse
uma festa à minha lista? — Curvei os lábios de um jeito torto.
— Não era isso que eu tinha em mente. Não direi que avisei
quando as coisas derem errado, porque não é meu estilo, mas direi
o seguinte: acho que você deveria ligar de volta para Hailee e dizer
que mudou de ideia.
— Anotado. — Dei a ela um aceno desafiador.
Mya revirou os olhos.
— Tudo bem, vamos. Vamos causar alguns problemas.
— Problemas? — Meus lábios se curvaram em uma linha fina. —
Quem disse alguma coisa sobre problemas?
Mas ela estava certa. Eu estava bêbada. E Jason era um idiota.
Isso não poderia terminar bem.

— HAILS — chamei através do bar. Estava lotado para uma quinta-


feira, mas imaginei que alguém tivesse contado a todos que Jason,
Asher e Cameron estavam aqui e, como abelhas ao mel, não
puderam resistir.
Muito sexy, gostoso e péssimo para o seu coração, querida.
— Você está bêbada? — Hailee semicerrou os olhos e franziu a
testa como a pele de uma idosa.
— Quem? Eu? Jamais! — Dei a ela um sorriso malicioso.
— Eu ainda quero saber? — Ela me cortou, indo direto para
Mya.
— Ela me chamou. — A traidora ergueu as mãos. — Eu sou
apenas a acompanhante.
— E a ladra de bebidas alcoólicas — murmurei.
— Ladra de bebidas alcoólicas? — Hailee parecia realmente
preocupada agora. — Aconteceu alguma coisa?
— Aconteceu? O que poderia ter acontecido?
Ela segurou meu braço e me puxou para perto.
— Flick, fale comigo. Isso não é típico de você.
Muitas coisas não eram como eu costumava a agir.
Soltei um suspiro exasperado.
— Só preciso me soltar. Relaxar um pouco. Me divertir. —
Balancei as sobrancelhas de forma sugestiva.
— Tem certeza de que está bem? Talvez nós devêssemos...
— Fee, baby — uma voz soou de trás de Hailee. — Traga seu
traseiro bonito aqui.
Fui contorná-la, mas ela me interrompeu.
— Flick, fale comigo.
— Sinto muito, Hails. — Puxando-a em meus braços, abracei
minha melhor amiga com força. — Sinto muito.
— Sente muito? — Ela recuou. — Pelo quê?
— Os retratos, é claro.
Mya balançou a cabeça discretamente, mas a nivelei com um
olhar que dizia que isso era entre mim e minha melhor amiga.
— Tem certeza de que está bem? — Hails perguntou.
— Só estou sentindo a pressão do último ano. Você sabe como
meus pais podem ficar.
— Sua mãe...
— É a última coisa de que quero falar. Vamos esquecer tudo
sobre pais, jogadores de futebol idiotas e apenas nos divertir.
— Você sabe que amanhã tem aula?
Dei de ombros.
— Uma noite não vai doer.
— Flick... — Mas eu já tinha ido, tecendo meu caminho através
das mesas para onde Asher e Cameron estavam sentados.
— Quer nos contar alguma coisa? — Asher me perguntou
quando me acomodei ao seu lado na cabine, com um sorriso bobo
estampado no meu rosto.
— Estamos aqui para distrair a Hailee das coisas, certo? —
Arqueei a sobrancelha. — Achei que a melhor maneira de fazer isso
era se soltando um pouco. — Meu olhar pousou na cerveja de Asher
e foi sua vez de arquear uma sobrancelha.
— Sério? — ele perguntou, mas eu já estava pegando sua
garrafa e levando-a aos lábios. — Está bem então.
— Flick. — Hailee e Mya finalmente nos alcançaram. — Acha
mesmo que é uma boa ideia?
— Está na minha lista, lembra? — perguntei, olhando para ela
com cara de gato de botas.
— De jeito nenhum, você não vai jogar essa merda para mim,
não esta noite.
— Ah, a lista secreta. — Asher envolveu meu ombro e me
inclinei ligeiramente para ele. Ele não era Jason, mas era cheiroso e
o peso de seu braço em volta de mim era bom.
Muito bom.
— Quando vamos descobrir o que tem na lista?
— Nunca. — Sorri para ele.
— Aposto que posso te persuadir a me contar.
— Ah, sim, e como você planeja fazer isso? — Eu estava
flertando... com Asher e me sentia bem. Ele se aproximou, mas eu
também.
— Sou muito criativo, tenho certeza de que posso pensar em...
Alguém pigarreou e quando ergui a cabeça para onde o som
tinha vindo, fui recebida com um olhar gelado que não apenas me
deu calafrios, mas congelou o sangue correndo em minhas veias.
— Por que demorou tanto? — Asher perguntou, se afastando de
mim, mas sem remover o braço.
— O Jerry queria encher o saco. — Os olhos de Jason não
deixaram os meus por um segundo, mas depois se moveram para
onde a mão de Asher repousava em meu ombro. Se olhares
matassem, eu tinha certeza de que nós dois estaríamos mortos.
— Mya, certo? — ele perguntou, se sentando ao lado dela. —
Você sabe quem eu sou?
— Todo mundo sabe. — Ela deu de ombros, se sentando um
pouco mais reta. Espelhei sua ação, desesperada para ver o que ele
diria a seguir. Jason se inclinou, com a boca perigosamente perto de
seu ouvido, e sussurrou algo. Ela arregalou os olhos e depois os
semicerrou.
— Obrigada — Mya disse com frieza. — Mas eu não poderia
estar menos interessada, nem se tentasse. — Ela me lançou um
olhar tranquilizador, mas o estrago estava feito. Jason tinha flertado
com ela... bem na minha frente. Agindo como se não fosse nada.
Como se eu não fosse nada.
Assim como você está fazendo com Asher.
— Volto já — falei para ninguém em particular enquanto me
afastava da cabine. A sala começou a girar, mas continuei até
chegar ao corredor que levava aos banheiros.
— Felicity, espere — Mya chamou.
— Estou bem. — Acenei para ela, cambaleando em direção ao
banheiro feminino.
— Está tudo bem — ela disse, segurando meu braço com
gentileza. — Ele só está tentando te deixar com ciúmes. Eu nunca...
— Eu sei. — Finalmente encontrei seus olhos.
— Olha, de uma garota com o coração partido para outra: você
não pode deixá-lo vencer. Você merece mais. Merece tudo que ele
não vai te dar.
— Eu sei — as palavras repetidas saíram em um sussurro.
— Então aja como tal — Mya disse. — Se jogar no melhor amigo
dele é apenas se rebaixar ao nível dele. Você é melhor que isso.
Você é melhor do que ele e se ele quiser ter outra chance com você,
faça-o merecer.
— Merecer... certo? — Eu meio que sorri. — E como faço isso?
— Faça-o pensar que você não precisa dele.
— Não flertando com o Asher?
— Os amigos dele estão definitivamente fora dos limites, mas eu
não disse nada sobre os outros caras. — Mya sorriu com malícia. —
Então, o que me diz? Devemos voltar lá, encontrar dois caras fofos
que não sejam jogadores e deixar seu cara louco de ciúmes?
Meu cara.
Como se Jason fosse se permitir pertencer a alguém.
— Acho que sim.
— Não é bom o suficiente. — Sua expressão ficou sombria. —
Se eu posso sobreviver deixando minha casa e o cara que amei
desde sempre, tenho certeza de que você pode sobreviver a uma
noite de flerte inofensivo em nome de fazer Jason Ford perceber o
que ele está perdendo.
— Shhh. — Olhei ao redor do corredor. A última coisa que eu
precisava era que a pessoa errada ouvisse a nossa conversa – ou
qualquer pessoa nesse caso.
— Muito bem, é isso. — Um olhar de determinação brilhou em
seu rosto. — Eu estava pronta para te arrastar para fora daqui
gritando e chutando, mas posso ver que é pior do que eu pensava.
Então, uma noite. Você tem uma noite.
— Uma noite? — Eu não tinha ideia do que ela estava falando.
— Menos conversa — Mya segurou a minha mão — e mais
bebida. Temos trabalho a fazer.
VINTE
Jason
— MANO, se você apertar mais forte, sua mandíbula vai quebrar. —
Asher riu, tomando um longo gole de sua cerveja.
— Ela me deixa louco — grunhi, observando enquanto Felicity e
algum idiota do time de futebol riam como se fossem velhos amigos.
— Ela é uma garota. É o que elas fazem. Então você e ela...
— Nunca vai acontecer.
Felicity me desarmou. Cada momento que passei com ela, senti
minhas paredes se quebrarem um pouco mais. Eu não podia me dar
ao luxo de ficar indefeso, não em um mundo que iria me mastigar e
cuspir mais rápido do que se poderia dizer “Vai, Raiders”.
Olhei para ele e notei seus olhos fixos em outra direção... onde
Mya também estava conversando com um cara.
— A garota nova, é?
— O quê? — Ele virou a cabeça.
— Você e a garota nova?
— Eu te ouvi da primeira vez. Só não tenho a menor ideia do que
você está falando.
— Claro que não. — Esfreguei o queixo. Ele estava certo. Se eu
apertasse com mais força, havia uma boa chance de precisar de
tratamento odontológico de emergência. Mas desde que ela voltou
do banheiro, Felicity tinha falado com qualquer pessoa e qualquer
um com pau que não eu.
— Bem, não somos um bom par? — Asher simplesmente não
parava de falar. — Você não admite que quer a Fee e eu não admito
que gosto da garota nova.
— Então você gosta dela? Sabia. — Eu sorri.
— Ela é... diferente.
— Você não está errado quanto a isso. — Engoli o resto da
minha cerveja.
— Então, você e a Fee?
— Não existe eu e a Fee. — Que tipo de apelido era esse,
afinal?
— Você sabe que só te pressionei antes, porque eu queria que
você deixasse de ser um idiota, certo?
— Eu sei — resmunguei. Quando Cam e Asher sugeriram que
viéssemos todos ao Bell’s para que Hailee pudesse se distrair
depois da confusão no estúdio, eu não esperava que isso se
transformasse em uma sessão de terapia. Tudo que eu queria fazer
era beber e esquecer Thatcher. Entorpecer o desejo ardente de dar
um soco na sua cara.
Eu nunca esqueceria o olhar no rosto da minha meia-irmã
quando ela viu a devastação que ele causou. Parte de mim não
queria se importar, não queria se sentir responsável por isso.
Mas eu me importava.
Eu era o responsável.
E era uma verdade difícil de engolir.
Asher passou o braço por cima do meu ombro enquanto
observávamos as garotas flertando descaradamente com os dois
idiotas.
— Não sei quanto a você, mas eu não vou ficar sentado aqui,
assistindo a essa merda. — Ele me deu um olhar penetrante, que
deveria ter me feito segui-lo enquanto ele cruzava o bar até elas.
Mas eu não fui.
Eu não podia.
Porque ir seria admitir algo para o qual não estava pronto.
Então me sentei lá como a porra de uma estátua, observando a
garota que tinha virado o meu mundo de cabeça para baixo
enquanto ela piscava e enrolava uma mecha de cabelo no dedo.
Apertei a mão na mesa. Vá embora, em silêncio, desejei que o
idiota se afastasse. Porque embora eu não pudesse ir até lá e
reivindicar meu direito, não tinha certeza se era forte o suficiente
para ficar parado e assistir alguém dar em cima de Felicity. Não
quando eu ainda podia sentir seu gosto em meus lábios, me lembrar
de como era bom transar com ela, como era fácil me perder nela.
— Um centavo pelos seus pensamentos. — Hailee apareceu ao
meu lado.
— Só estou relaxando.
— Não acho que já te vi assim antes — ela disse, me fazendo
sentir mais culpado. — Aconteceu alguma coisa entre vocês dois?
— Hailee...
— Eu sei, eu sei. Mas conheço a Felicity, e ela não é assim.
— Não posso ser quem ela precisa.
— Quero concordar. Quero te dizer para se afastar e poupar a
dor no coração dela. Mas algo me diz que vocês dois já estão muito
envolvidos para isso. — Minha meia-irmã me olhou como se
pudesse ver através de mim.
Eu odiei isso.
— Você tem que fazer uma escolha, Jason — ela continuou. —
Dar uma chance a ela ou deixá-la ir. Porque isso – seja o que for
que você esteja fazendo agora – a está machucando. E eu não vou
ficar parada e te deixar fazer isso, eu simplesmente não vou.
Apertando os lábios, dei a ela o tratamento silencioso. Eu não ia
ter essa conversa. Aqui, não. Agora, não. E definitivamente não com
ela. Minha meia irmã. A porcaria da Hailee Raine, a garota que odiei
por tanto tempo que não sabia como lidar com minha recém-
descoberta preocupação por ela.
— Ei. — Ela colocou a mão no meu braço quando não respondi.
— Não sou sua inimiga, Jason.
Lentamente, voltei meu olhar duro para o dela. Ela estava certa.
As linhas foram redesenhadas e de alguma forma, estávamos do
mesmo lado agora, mas isso não significava que eu tinha que
gostar, ou mesmo aceitar.
— Sim, tanto faz. — Dei de ombros, encontrando Felicity na
multidão novamente.
Talvez eu não pudesse ir reivindicá-la, mas poderia me sentar
aqui e assistir. Eu poderia ter certeza de que aquele idiota
mantivesse as mãos firmemente para si mesmo.
— Espero que saiba o que está fazendo — Hailee soltou um
suspiro pesado. — Vou encontrar o Cameron.
— Faça isso — grunhi. — Preciso de outra cerveja. —
Chamando a atenção de Jerry, inclinei a garrafa vazia em direção a
ele. Ele me deu um aceno conciso, a decepção brilhando em seus
olhos. Ele poderia julgar tudo o que quisesse. Jerry não sabia o que
era suportar a expectativa de uma cidade inteira... de seus
colegas... companheiros de equipe. Ele não sabia o que era querer
tanto algo que você tinha que desistir de todo o resto.
Ninguém sabia.

— VOCÊ VAI LIDAR COM ISSO? — Asher me perguntou algum


tempo depois: — Ou eu vou?
Respirando fundo, observei Felicity se balançar, tonta enquanto
tentava fazer Hailee e Mya dançarem com ela. Tinha sido o mesmo
na última hora/ Felicity tentando coagir as garotas a dançar, elas
dizendo não.
— Merda, ela vai...
Mya segurou sua queda.
— Alguém deveria tê-la levado para casa há uma hora — falei.
— A Hailee tentou. A Mya também. Ela está em uma missão,
cara.
Hailee chamou minha atenção do outro lado do bar, com a
expressão cheia de desafio. Não vai fazer nada?
Esfreguei as têmporas, exalando um suspiro trêmulo, encarando
seu olhar de aço. Era uma má ideia – a pior de todas. Mas eu não
aguentava mais um segundo ver Felicity piscando os olhos para um
cara qualquer ou evitando avanços de algum idiota que não merecia
tocá-la.
— Aqui. — Empurrei a garrafa de água para Asher. Parei de
beber há um tempo, bem no momento em que Felicity começou a
tentar – e falhou – transformar o Bell’s em uma danceteria.
— Bom homem. — Ele me deu um tapinha no ombro. — Vá com
calma com ela, ela está bêbada.
— Sim, sim. Te vejo amanhã. — Nossos olhos se encontraram e
vi sua preocupação. Asher poderia ter uma queda pela nova garota,
mas ele se importava com Felicity, e eu não conseguia decidir se
estava aliviado por ela tê-lo como amigo ou com ciúme insano.
Talvez as duas coisas.
Hailee e Mya me notaram primeiro.
— Ah, é você — Felicity balbuciou, seu corpo caindo mole contra
mim. — Não tenho certeza se ainda gosto de você. — Ela apoiou as
mãos em meu peito e meu corpo vibrou com o calor.
Jesus, até seu toque era mágico.
— Chave de casa? — perguntei a Hailee por cima do ombro.
— Bolso, presumo.
— Se os pais dela acordarem e me descobrirem em sua casa, é
melhor você ter uma boa desculpa. — Mantive a voz baixa.
— Nós podemos levá-la — Mya disse por cima do meu ombro.
Mas eu a ignorei, envolvendo a cintura de Felicity e colocando-a ao
meu lado.
— Eu te vejo em casa. — Dei a ela um aceno. Hailee retribuiu,
com os olhos divertidos. Mas não foi nada comparado aos olhares
curiosos direcionados a nós enquanto eu conduzia Felicity para fora
do bar. Eu estava aliviado por Jenna e a equipe de ginástica não
estarem presentes, porque esse era um show de merda que eu não
precisava agora.
— Jason? — Felicity murmurou.
— Sim?
— O que quer que esteja fazendo, pare. Eu te odeio. — Ela
prendeu a respiração instável. — E me odeio por pensar que você
poderia mudar.
— Sim, sim, Giles. Você me odeia, eu entendo. Agora entre na
merda do carro.

QUINZE MINUTOS e uma parada de emergência depois, graças a


Felicity que achou que ia vomitar no carro, chegamos na casa dela.
Tirei a chave do seu bolso, que estava aninhada em meus braços, e
destranquei a porta da frente dos Giles. Ela soltou um gemido baixo
quando sua cabeça bateu na parede.
— Shhh. — Tracei sua bochecha com os dedos. A última coisa
que eu precisava era que o sr. Giles me encontrasse carregando
sua filha para cima, mas, mais uma vez, todo o pensamento racional
tinha voado pela janela.
Felizmente, lembrei-me do layout de sua casa, então não tive
que me preocupar em ver seus pais dormindo.
— Certo, vamos te levar para a cama. — Eu a coloquei no
colchão e comecei a torturante tarefa de despi-la.
— Não — ela murmurou, se atrapalhando com as roupas. — Eu
posso fazer isso.
— Você mal consegue falar, muito menos se despir. — Afastei os
dedos dela. —Me deixe fazê-lo.
— Por quê? — ela murmurou, com a cabeça caída como de uma
boneca de pano. — Eu não sou ninguém. Nada.
— Você não é nada. — Afastei o cabelo de seu rosto, lutando
contra um sorriso e ignorando o nó gigante na minha garganta.
Ela não conseguia ver que era alguma coisa para mim? Que
estava lentamente se tornando muito importante, e é por isso que eu
tinha que ir embora? Antes que estivéssemos muito envolvidos e as
coisas ficassem muito confusas.
Felicity cedeu, seu corpo flexível enquanto eu tirava a camisa e
jeans antes de colocá-la na cama. Seus olhos estavam fechados, a
respiração profunda e estável. Ela tinha bebido muito esta noite.
Muito. E eu sabia que era minha culpa pelo modo como as coisas
aconteceram antes.
— Puta merda — murmurei, me afastando dela antes que eu
fizesse algo estúpido. Algo mais estúpido do que entrar de forma
furtiva em sua casa, em uma noite de quinta-feira enquanto seus
pais dormiam no fim do corredor.
Mas também não conseguia sair de lá. Porque naquele
momento, com ela desmaiada na cama, eu poderia fingir. Fingir que
ela era minha e eu dela. Mesmo que fosse apenas um sonho. Um
que eu sabia que nunca poderia se tornar realidade.
Encostado na mesa, algo chamou minha atenção. Alcançando a
pilha de papéis, o logo familiar ficou diante de mim.
— O que... — Semicerrei os olhos quando peguei o formulário da
faculdade, sentindo um dor apertar meu estômago.
Não podia ser.
Não acreditava que ela estava se candidatando à Penn, a merda
da mesma faculdade que eu.
No entanto, ali estava, bem na minha cara, como um foda-se
gigante do universo.
— J-Jason? — Sua voz baixa me atingiu mortalmente no peito.
— Você ainda está aqui?
Queria ir até ela para tranquilizá-la de que estava tudo bem. Que
ela estava apenas desorientada por causa de toda a bebida em sua
corrente sanguínea. Mas fiquei paralisado pelos papéis em minhas
mãos. No que eles insinuavam.
Penn era a Ivy League, uma das melhores faculdades do país.
Quais eram as chances de Felicity também ter planos de ir para lá?
A menos que... não. Ela não faria esse tipo de merda maluca.
Faria?
De repente, eu não conseguia respirar. Senti um aperto nos
pulmões como se eu tivesse sido atingido com força por um
linebacker. Indo depressa e em silêncio para a porta, olhei para ela
uma última vez antes de sair do quarto e refazer meus passos para
fora de casa.
Felicity nunca deveria ser uma distração. Ela nunca deveria
mexer comigo desse jeito.
Mas mexia.
E por mais que eu resistisse, por mais que eu soubesse que era
uma ideia terrível, no fundo, estava pensando em explorar essa
coisa entre nós. A atração inexplicável. Mas eu não estava
procurando por nada sério. Não tinha tempo para isso. Agora, não.
Não quando eu iria para Penn no próximo outono. Então, a ideia de
que ela estaria lá, no campus, aparecendo em todo lugar... Eu não
conseguia lidar com essa merda.
Era melhor assim.
Melhor que ela me odiasse.
Que ela tirasse todas aquelas ideias a respeito de nós dois da
cabeça.
Felicity merecia o Príncipe Encantado, não o Cavaleiro
Incompreendido, de mal humor o tempo todo e ódio na alma.
As vibrações do meu celular me tiraram dos meus pensamentos
e eu o tirei do bolso.
— Sim?
— Verifique o Snapchat — Grady falou. — Temos um problema.
— Vou querer saber?
— Acho que você vai querer ver isso, capitão.
— Tudo bem — cerrei a mandíbula —, obrigado por avisar.
Esperei até estar no carro para abrir a mensagem de Grady e,
quando o fiz, sabia que apenas uma pessoa era o responsável.
Thatcher.
VINTE E UM
Felicity
— ACHO QUE ESTOU NO INFERNO.
— Não — Hailee negou —, isso é apenas a ressaca falando.
— Não diga essa palavra. É terrível.
— O que a sua mãe disse?
— Ah, eu me escondi no banheiro até ela sair para o trabalho.
Mas se eu não sobreviver ao longo do dia, estou pronta para fingir
uma cólica estomacal.
— Foi uma exibição impressionante na noite passada. — Ela me
lançou um olhar penetrante, um que eu senti até a boca do
estômago.
— Honestamente, não sei o que dizer. — Minhas bochechas
coraram.
— Poderia começar com a verdade.
— Não tenho certeza se você está pronta para ouvir isso. —
Olhei para ela enquanto o resto dos alunos avançavam pelo
corredor, movendo-se para suas aulas.
— Ei — ela segurou minha mão —, está tudo bem. Você não
precisa me proteger. Sei que você gosta dele. E que ele gosta de
você.
— Ele não gosta de mim, Hails. — Balancei a cabeça. — sou só
um jogo para ele.
Um que eu nunca poderia vencer.
— Então, o que foi ontem à noite?
— O que você quer dizer?
— Por que o meu meio-irmão teimoso te tirou do Bell’s – na
frente de todos, devo acrescentar – se você é só um jogo?
— Tirou?
Eu tinha memórias nebulosas de estar em seus braços, mas não
havia considerado o que isso significava. Que ele tivesse feito isso
na frente de outras pessoas. Nossos colegas de classe. Hailee
estava me olhando como se esperasse uma resposta, então eu
respondi:
— Porque ele está tentando ganhar o prêmio de aluno do ano?
Não sei.
— Deus, você é estúpida às vezes. Ele gosta de você. Está
escrito em seu rosto toda vez que ele te olha.
— Hails, não sei o que você acha que sabe, mas o Jason não
gosta de mim. — Pelo menos, não da maneira que eu queria que
ele gostasse.
— Venha para a noite dos veteranos.
— Não posso. É apenas para a família e amigos do time.
— Bem, eu sou a convidada de honra e da família. Você pode
ser minha acompanhante.
— Não acho que seja uma boa ideia.
— Olha — Hailee me puxou para mais perto do banco do
armário —, o Jason é tão teimoso quanto bom no futebol. Mas ele é
diferente com você. Não sei explicar, mas desde Nova York ele está
diferente. Venha esta noite, esteja presente para ele. E talvez depois
vocês dois possam conversar.
— Acha mesmo que é uma boa ideia? Ele fez parecer que... —
Minha voz sumiu antes que eu revelasse muito.
Tudo estava confuso demais. Ele dizia uma coisa, mas estava
constantemente fazendo outra. E apesar da minha cabeça saber
que era melhor – mais fácil – desistir, meu coração não queria isso.
— Você não quer pelo menos saber no que vai dar?
— Acho que sim...
— Então venha.
— Tudo bem, eu vou. — Eu iria para o jogo de qualquer maneira
e mesmo que Jason não me quisesse lá, Hailee, Asher e Cameron
fariam com que eu me sentisse bem-vinda.
Senti um frio na barriga. Não queria ter esperanças de novo, não
no que dizia respeito a Jason. Mas eu tinha memórias nebulosas da
noite passada. Dele me despindo e me cobrindo. De seus dedos
traçando meu rosto como se eu fosse a coisa mais preciosa do
mundo. Ele tinha sido muito gentil, tátil e caloroso comigo. Um
contraste gritante com a versão gelada que todo mundo via.
— Não fique tão preocupada. — Hailee apertou minha mão,
oferecendo-me um sorriso tranquilizador.
Mas era sobre Jason que ela estava falando.
O que significava que eu não precisava me preocupar.
Eu precisava estar apavorada.

EU DEVERIA SABER que a noite estava condenada quando os


Raiders perderam. Todo o jogo tinha sido como arrancar dentes.
Marcamos um touchdown. Eles conseguiram um de volta. Nós
atingimos o QB deles, eles derrubaram o nosso com ainda mais
força. Jason estava fora de jogo, tanto que nós vimos o treinador
Hasson repreendê-lo na linha lateral mais de uma vez. Foi péssimo
e todos sentiram a tensão no campo.
Quando chegamos na casa dos Hasson, a energia nervosa
corria em minhas veias.
— Relaxe — Hailee falou. — Vai ficar tudo bem.
— Você assistiu ao mesmo jogo que eu? — perguntei, incrédula.
— Foi terrível.
— Foi um jogo e não é como se eles precisassem da vitória ou
algo assim.
— Hails, você ainda tem muito a aprender.
Ela riu, desligando o motor.
— Sei que falei com você para vir hoje à noite por causa do
Jason, mas tenho que confessar: fiz isso parcialmente por mim.
— Hails, ele viu o retrato. Ele sabe o quanto você é boa.
— Eu sei, mas isso é diferente. — Sua voz falhou. — É como me
expor para todos, e isso me apavora.
Eu me virei para ela.
— Você é tão talentosa, amiga. Não tem nada com que se
preocupar. O sr. Jalin conseguiu consertar os retratos danificados e
todos vão adorar. Todos. Esta é a sua hora de brilhar, Hails.
Ela me deu um leve aceno, mas eu podia ver o medo em seus
olhos. Estendendo a mão, eu apertei a mão dela.
— Você vai conseguir.
— Nós vamos conseguir. — Seu sorriso se ampliou.
— De um jeito ou de outro.
— De um jeito ou de outro. — Hailee assentiu, antes de sairmos
do carro e darmos a volta pela lateral da casa. A equipe já estava lá,
com as expressões sombrias e o clima ainda tenso.
— Ah, srta. Raine — o Treinador Hasson a cumprimentou. —
Exatamente a pessoa que eu queria ver.
— Olá, treinador, jogo difícil.
— Humm. — Seus lábios se pressionaram em uma linha fina. —
Não vamos tocar nisso esta noite. Estamos aqui para celebrar
nossos veteranos e o seu talento. O sr. Jalin me informou sobre o
incidente. — A maneira como ele disse isso sugeria que sabia que
havia mais coisas do que aquilo que lhe foi dito. — É uma pena ter
acontecido na véspera da apresentação — acrescentou.
Hailee ficou tensa, mas manteve a expressão neutra.
— Essas coisas acontecem. Estou aliviada que o sr. Jalin teve a
clarividência de tirar fotos deles.
— Verdade. Agora, preciso de você por um momento rápido para
executar o plano.
— Humm, claro. — Hailee olhou para mim e eu assenti.
— Vá, eu vou ficar bem. — Olhando ao redor do quintal dos
Hasson, vi Asher e Cameron com seus pais. O resto dos jogadores
estava com suas famílias.
Mas Jason, não.
Ele estava sentado em uma cadeira no canto, bebendo uma
cerveja. Jenna Jarvis sentou-se orgulhosamente em seu colo, como
a Rainha Vadia que ela era. Uma potente mistura de raiva e ciúme
subiu pela minha espinha quando seus olhos se ergueram para os
meus e brilharam com a vitória.
— Flick, o que... ah. — Hailee reapareceu. — Que merda ele
está fazendo? Ela nem deveria estar aqui, é um evento fechado —
ela murmurou baixinho.
— Está tudo bem — falei, ignorando a dor em meu peito. —
Vamos pegar nossos lugares.
— Tem certeza?
— Estou aqui agora, não estou? — E não era como se ver Jenna
em cima de Jason fosse novidade para mim. Eu já tinha passado
por isso várias vezes.
Fui atrás de Hailee, mantendo meus olhos à frente. Se Jason me
notou, não demonstrou. Asher, por outro lado, sorriu para mim
quando nos aproximamos da longa mesa. Estava arrumada em
forma de U gigante com o púlpito na frente cercado pelos retratos de
Hailee atrás em um arco abrangente, e fileiras atrás para o resto dos
convidados.
— Fee, baby, que surpresa — Asher disse baixinho, olhando
além de mim, provavelmente para Jason.
—A Hailee me convidou como sua acompanhante.
— Ah, não, você pode ser a minha. Vamos. — Ele deu um
tapinha no assento ao lado dele.
— Não tem ninguém sentado aí?
— Você. — Ele sorriu e meu nervosismo diminuiu.
— Ei, Felicity — Cameron acrescentou quando me sentei. —
Como você está?
— Estou bem. Desculpe por aparecer sem convite. — Dei a ele
um sorriso tenso.
— Imagina. Você é a melhor amiga da Hailee, o que te torna
uma de nós. Além disso, acho que a sra. Hasson se empolgou com
toda a comida. Quanto mais pessoas, melhor.
— Obrigada. — Antes que eu pudesse me conter, levantei o
olhar para onde Jason e Jenna estavam sentados. Ele parecia
indiferente, mal a tocando, mas ela estava enrolada nele, com as
mãos espalmadas em seu peito, o corpo inclinado para ele,
enviando um sinal claro para todos – para mim – que esta noite,
Jason pertencia a ela.
— Ele está chateado por termos perdido — Cameron disse.
— Não, ele está irritado por não estar focado no jogo e é por isso
que perdemos.
— Ash — Cam advertiu.
— Ele precisa dar um jeito nas coisas antes dos play-offs ou
podemos dar adeus ao estadual.
— O que foi? — perguntei, quando vi os três olhando para mim.
— Você deveria falar com ele — Asher disse.
— Ela vai, certo, Flick? — Hailee acrescentou. — Depois da
apresentação.
— Eu, ah, não sei. — Meus olhos o encontraram novamente, só
que desta vez ele estava olhando de volta. Seus olhos estavam
semicerrados e escuros. A raiva emanava dele, palpável até mesmo
de nossa posição do outro lado do quintal.
— Ignore-a. — Asher se inclinou.
— É fácil para você dizer. — Tentei sorrir, mas sabia que
provavelmente parecia tenso.
— Ele não a quer. Ela é apenas conveniente. Ou um mau hábito.
Sim, ela é um mau hábito. — Ele curvou os lábios.
— Sabe o que dizem sobre os maus hábitos, certo? — perguntei.
— São difíceis de parar. — Meu estômago afundou.
— Não desista do nosso cara ainda. Não sei o que aconteceu
hoje, mas algo o está corroendo. — Dei a ele um olhar penetrante e
ele acrescentou: — Mais do que o normal.
— Você realmente quer que eu faça isso? — As palavras
escaparam da minha boca. — Eu e Jason?
Asher respirou fundo, fechando os olhos. Mas quando os abriu
novamente, estava olhando para mim com nada além de
compreensão.
— Desejei por um segundo que as coisas pudessem ser
diferentes? Que talvez eu tivesse chamado sua atenção primeiro?
Claro que sim. — Ele engoliu em seco. — Mas não se pode
escolher por quem se apaixona, e eu sempre soube que era você e
ele.
— Não tenho certeza se existe eu e ele, Asher.
— Isso porque o Jason não sabe como deixar as pessoas
entrarem. Ele não sabe como confiar em ninguém. Mas você o está
mudando, Fee, baby. É por isso que não pode desistir dele ainda.
Jason pode não perceber, mas precisa de você. E algo me diz que
você também precisa dele.
— Eu... — As palavras morreram em meus lábios. — Você é um
bom amigo, Asher Bennet. Ele tem sorte de ter você.
— Você me tem também. — Ele sorriu. — Não importa o que
aconteça, eu sempre estarei ao seu lado.
— Isso significa muito. Você vai fazer uma garota muito feliz um
dia.
— Não tenho tanta certeza disso. — Ele riu, mas saiu
estrangulado. — Aqui vamos nós.
Segui a linha de visão de Asher até onde o treinador Hasson
estava parado ao lado do púlpito. Jason finalmente se mudou para
uma cadeira vazia na mesa. Claro que tinha que ser bem à minha
frente. Seu olhar duro queimou na lateral do meu rosto enquanto eu
tentava me concentrar no treinador Hasson.
— Certo, certo, quietos. — Ele esperou que o silêncio caísse
sobre o quintal. — Esta noite nós celebramos nossos veteranos.
Seu compromisso e dedicação, sua liderança e talento. Mas não é
apenas uma celebração do passado, é uma celebração do futuro.
Dos jovens que vocês estão se tornando e das portas que esperam
por vocês. Tenho um discurso totalmente diferente em algum lugar
— ele fingiu verificar seus bolsos —, mas por enquanto, vou deixá-
los com o homem que sabe tudo sobre o que é preciso para ser o
melhor. Kent Ford.
Hailee enrijeceu ao meu lado e eu me inclinei.
— Você sabia sobre isso?
— Ele nunca disse uma palavra — ela sussurrou.
— Talvez seja por isso que ele estava estranho. — Isso faria
sentido. Todos sabiam que não havia amor perdido entre Jason e
seu pai, apesar da frente unida que o sr. Ford gostava de apresentar
a todos.
O pai de Jason foi até o púlpito, passando as mãos nas lapelas
de seu paletó. Ele era bonito, muito parecido com um Jason mais
velho. O mesmo cabelo castanho rebelde, os mesmos olhos
escuros intensos. Mas a idade o suavizou, ou talvez fosse a mãe de
Hailee. De qualquer maneira, ele parecia feliz. Parecia um homem
satisfeito com a vida. Um homem apaixonado.
Encontrei a mãe de Hailee na fileira externa de assentos. Ela
sorriu para o marido, irradiando felicidade.
— Olhe para a sua mãe — falei, baixinho.
— Eu prefiro não — Hailee gemeu.
— Ei. — Segurei a mão dela por baixo da mesa. — Ela está feliz.
Eles estão felizes. Sei que ela te magoou, mas não se pode
escolher por quem você se apaixona. — Deus, eu parecia Mya e
Asher. Eu sabia que Hailee carregava muito ressentimento por sua
mãe e pelas mentiras que ela contou. Mas se aprendi alguma coisa
nas últimas semanas, foi que às vezes sua cabeça e seu coração
entravam em guerra e nem sempre era sua cabeça que saía
vencedora.
Era muito fácil julgar, mas só quando se estava naquela
situação, tentando fazer a coisa certa, que você percebia o quanto o
coração era poderoso. Afinal, aqui estava eu, completamente ciente
de que Jason não me queria, não do jeito que eu o desejava, mas
eu estava disposta a dar um passo mais uma vez para tentar
alcançá-lo. Para tentar mostrar a ele que às vezes é preciso arriscar.
— Ei — Hailee cutucou meu ombro. — Você está bem?
— Sim. — Dei um sorriso fraco a ela. — Estou, sim. — A mentira
era tão regular agora que saiu da minha língua com facilidade.
Mesmo que cada vez que as duas pequenas palavras saíssem dos
meus lábios, matasse outro pedacinho do meu coração.
VINTE E DOIS
Jason
EU QUERIA CORRER. A vontade de me levantar e ir embora para
longe do meu velho, do treinador, de meus companheiros de time e
melhores amigos, de Hailee, até mesmo de Felicity, passou por
mim. Como um veneno mortal, queimou, corroendo minha alma.
A última coisa que eu queria fazer era me sentar aqui e ouvir
Kent Ford falar merda sobre trabalho duro, sacrifício e família.
Porque ele era um mentiroso. Claro que ele adorava o jogo e foi um
jogador muito bom naquela época, um dos melhores, mas não sabia
o que significava fazer sacrifícios. Meu pai era o tipo de cara do tipo
“pega o bolo e come” e, como tantos jogadores antes dele, suspeitei
que ele amava o que o jogo podia fazer por ele mais do que o jogo
em si.
Mesmo assim, não me mexi.
As pessoas achavam que eu era frio, que não me importava. Às
vezes, eu achava que me importava muito. Eu só não deixava as
pessoas verem.
— Bem-vindo à noite dos veteranos. — Sua voz forte ecoou pelo
quintal dos Hasson, — O último jogo em casa de todas as
temporadas sempre teve um lugar especial em meu coração, mas
esta noite foi diferente. Esta noite, vi meu filho continuar o legado
dos Ford na história dos Raider. É uma pena que seu jogo não foi
bom, mas que jogador não tem seus altos e baixos? — Ele deu um
sorriso fácil para a multidão, e até ganhou uma ou duas risadas.
Mas eu não estava rindo. Nem mesmo sorrindo. Porque eu sabia
que não era uma piada.
Ele e o treinador ficaram chateados por não termos conseguido a
vitória e não foram os únicos. Meu velho estava me dizendo na
frente de todos que eu não tinha sido bom o suficiente esta noite e
isso doeu. Tanto, que parte de mim gostaria de ter me levantado em
seu casamento e falado sobre seu fracasso como pai e marido só
para ver se ele gostaria disso.
A sensação de nunca ser bom o suficiente, mesmo pensando
que havia dado tudo de si.
Mas a verdade é que minha cabeça não estava ali esta noite. Eu
estava muito consumido pela última ameaça de Thatcher. Com o
olhar verde-mar de Felicity toda vez que ela olhava na minha
direção na escola. No entanto, não pude contar a ninguém sobre
Thatcher. Até que eu descobrisse o que fazer, tinha que mentir e
fingir que estava tudo bem.
Mas não estava.
Eu estava despencando na merda ao meu redor. As peças do
meu mundo cuidadosamente construído estavam desmoronando,
porque eu não consegui manter meu pau dentro das calças e fora
da garota que me deixava louco.
— Sei tudo sobre sacrifício e dedicação. O sangue, suor e
lágrimas que são necessários para ganhar um campeonato estadual
— meu pai mostrou o anel do campeonato para seu público, que
estava encantado — e é por isso que sei que vocês o trarão para
casa nesta temporada. Porque vocês são lutadores. Porque você
são os melhores. Porque vocês são Raiders. E Raiders...
— Nunca desistem — as palavras soaram ao meu redor,
reverberando por mim, alimentando um fogo em minha alma.
Mesmo que eu estivesse chateado, embora este fosse o último lugar
na Terra que eu queria estar agora, não importava. O futebol estava
no meu sangue, fazia parte do meu DNA, e quando meus
companheiros e torcedores gritavam nosso nome, algo se iluminava
dentro de mim.
Meus olhos encontraram os de Felicity do outro lado do quintal.
Ela estava me observando, com um leve sorriso enfeitando seus
lábios. Porque ela estava aqui, eu não fazia a mínima ideia, mas no
fundo, queria acreditar que ela veio atrás de mim. Não que eu
pudesse dizer isso a ela.
— Certo, certo, vou encerrar para que possamos ir para as
coisas boas.
— Sim, as asas de frango da Sra. H — alguém gritou, ganhando
uma rodada de assovios e gritos.
Meu pai pegou sua bebida do púlpito e ergueu-a bem alto.
— Aos veteranos de 2019. Que o seu futuro seja repleto de
oportunidades, sucesso e, acima de tudo... futebol.
O lugar explodiu, todos aplaudindo o homem que eu odiava tanto
que mal conseguia olhar para ele. Provavelmente não era saudável
a quantidade de ressentimento e amargura que carregava comigo,
mas eu não sabia como me livrar.
Não sabia como perdoá-lo.
Os pais deveriam definir o padrão. Deveriam ajudar a nos
transformar nos adultos que um dia nos tornaríamos. O que
significava que eu poderia esperar me tornar um filho da puta traidor
que se importava mais em ficar bem perante a cidade e com o pau,
do que com sua família.
O homem do momento se aproximou de mim.
— Jason — ele estendeu a mão —, estou orgulhoso de você,
filho. Muito orgulhoso.
Encarei sua mão, desejando poder não apertá-la. Mas todos
estavam assistindo, esperando para ver o momento especial entre
pai e filho.
— Obrigado — ofeguei, segurando sua mão e a apertando.
Seus olhos continham muitas desculpas, mas era um pouco
tarde demais. Eu não tinha certeza se encontraríamos o caminho de
volta um para o outro. Não depois de tudo.
O treinador escolheu aquele exato momento para intervir e dei
um suspiro de alívio quando meu pai se sentou.
— Obrigado, Kent — disse, oferecendo um aceno de apreciação.
— Sei que significa muito para a equipe ter você aqui. Você é uma
verdadeira inspiração para o pessoal e a prova de que sonhos
podem se tornar realidade. — Agora vamos para a apresentação.
Todos os anos, gosto de dar a cada um dos meus veteranos um
presente simbólico para lembrar o tempo que passaram em Rixon
High. Para lembrá-los de onde vieram. Este ano, fizemos algo um
pouco diferente. Em um esforço para trabalhar em todos os
departamentos, ofereci ao sr. Jalin, nosso diretor de artes, sobre
uma oportunidade empolgante para uma de suas alunos. Srta.
Raine, por favor, suba aqui.
Olhei para o outro lado, observando enquanto Hailee se
levantava, com as bochechas vermelhas e os olhos arregalados, e
caminhava em direção ao técnico.
— O que a srta. Raine criou para a apresentação deste ano é
incrível. E espero que vocês se juntem a mim para aplaudir seu
talento. Veteranos de 2019, apresentamos seus retratos do último
ano. — Ele e Hailee começaram a descobrir cada retrato. A multidão
se calou em um silêncio reverente. Nem eu poderia negar o impacto
das nove pinturas lado a lado.
— Acho que vocês vão concordar que elas são realmente
especiais.
— Obrigada — minha meia-irmã disse, mal conseguindo olhar
para o público.
Um por um, o treinador chamou os veteranos, apresentando-lhes
seu retrato. Hailee posou para fotos, aceitando graciosamente um
beijo casto na bochecha de cada um deles, todos exceto Asher, que
a segurou e a girou, e Cam que a puxou em seus braços e a beijou
profundamente, sem se importar com o público.
— E por último, mas não menos importante, nosso quarterback e
capitão, Jason Ford.
Os aplausos da multidão se transformaram em ruído quando me
levantei e me movi em direção a Hailee. Ela estava sorrindo para
mim com tanta incerteza, que me senti uma merda completa. Mas
quando a alcancei e ela me envolveu com seus braços, foi a minha
vez de me sufocar. Hailee não falou, não precisava. Esse gesto
disse muito.
Quando ela se afastou, seu sorriso não era mais incerto, mas
cheio de compreensão. Isso apenas torceu a faca mais
profundamente. Eu tinha sido um idiota com ela: tornando sua vida
um inferno desde que ela chegou a Rixon. No entanto, aqui estava
ela me perdoando por tudo como se fosse a coisa mais simples do
mundo.
— Espero que goste — ela disse, tirando a foto emoldurada do
cavalete e apresentando-a para mim.
Eu tinha visto o retrato ontem, mas estava arruinado com
respingos de tinta vermelha e branca.
— Bem, filho — o treinador falou, preenchendo o silêncio
constrangedor. — O que você acha?
— Eu... — As palavras se alojaram na minha garganta junto com
a porra do caroço gigante que esteve lá nos últimos minutos.
— Acho que você o deixou em um silêncio atordoado.
Hailee franziu o cenho.
— Você está bem? — ela sussurrou.
— Está bom, muito bom — consegui ofegar. — Obrigado.
— Certo, agora já resolvemos todas as formalidades — o
treinador declarou —, vamos comer.
A sra. Hasson e algumas das mães dos outros jogadores
começaram a descobrir a comida disposta em uma longa mesa na
beira do gazebo. A maioria dos caras não perdeu tempo e entrou na
fila. Mas Cam e Asher vieram até nós.
— Você está se escondendo de nós, Hails — Ash disse.
— Você os viu ontem.
— Não, eu vi a bagunça que o Thatcher fez. — Estremeci com a
menção de seu nome. — Você é supertalentosa e não sei sobre
esses dois idiotas, mas vou pendurar o meu em cima da minha
cama.
— Obrigada, acho. — Ela riu.
— Onde está a Fee? — ele perguntou.
— Ela está... humm — Hailee voltou os olhos para os meus, —
por aí.
Código para: ela não sabia se deveria vir aqui.
Meu peito se apertou.
— Está com fome? — Cam perguntou a ela.
— Um pouco. — Hailee corou, e eu gemi.
— Sério, vocês dois podiam pelo menos fingir que estão falando
sobre comida. — Passando por ele, me dirigi para a fila, sendo
interceptado por Felicity.
— Oi — ela disse, mas seu sorriso não alcançou seus olhos.
— Ei.
Ela estremeceu com o meu tom frio, mas se esquivou mantendo
contato visual.
— Eu só queria te dar parabéns.
— Obrigado. — Fui contorná-la, precisando fugir, mas ela
segurou meu braço. — Eu esperava que pudéssemos conversar,
mais tarde, talvez?
— Não há nada a dizer.
A dor se refletiu em seu rosto.
— Jason, por favor, vim hoje à noite para...
— Ei, capitão, você tem que experimentar isso — Grady gritou, e
eu aproveitei a oportunidade para escapar. Ele empurrou um aluno
do segundo ano para abrir espaço para mim e me entregou um
prato. — O que foi aquilo? — Ele inclinou a cabeça para onde
Felicity ainda estava de pé, nos observando.
— Nada.
— Então, a noite passada foi...
— Nada. — Dei de ombros.
— Não me parece nada. Parece que você arranjou uma
grudenta.
— Ela é a melhor amiga da Hailee — falei, impassível.
— Nunca cague onde você come, cara. — Ele passou o braço
em volta do meu ombro.
— Não é assim.
— Para você, talvez, mas ela tem aquele olhar. — Ele olhou para
trás novamente, mas eu não, não desta vez. — E nós dois sabemos
que você não precisa dessa merda agora.
— Faça-me um favor, Grady?
— Sim?
— Cale a porra da boca.
Sua expressão se desfez.
— Desculpe, cara, só estou te dando uma força. — Seguimos
pela fila, enchendo nossos pratos com churrasco. — Já decidiu
como lidar com o problema do Thatcher?
Balançando a cabeça, olhei para ele. De forma dura.
— Merda, erro meu. Só estou preocupado que ele te atraia para
fazer algo realmente estúpido.
— Por que você não se preocupa consigo mesmo e deixa o
Thatcher comigo?
— Claro, Jase, eu só...
— Deixe. Isso. Pra. Lá — resmunguei.
— Como quiser, cara. — Ele ergueu as mãos. — Este churrasco
parece bom.
— Então vamos comer.
E esquecer tudo sobre Felicity e Thatcher.
DEPOIS QUE TODOS SE EMPANTURRARAM, nos acomodamos
novamente. O tilintar do garfo do treinador contra o copo fez com
que todos ficassem em silêncio. Puxei a gola da camisa. Parecia
que estava ficando mais apertada a cada segundo, tirando o ar dos
meus pulmões e dificultando a respiração.
— Você consegue — Cam murmurou para mim.
— Agora que todos vocês encheram a barriga, vou passar para o
Jason. Antes de fazê-lo, gostaria de aproveitar esta oportunidade
para dizer algumas palavras sobre este jovem.
Gemendo silenciosamente, enterrei o rosto em minhas mãos.
— Jason Ford veio até mim como um jovem raivoso e de cabeça
quente. Ele ultrapassou todos os limites que estabeleci, quebrou
todos os recordes de antes dele e se esforçou mais do que qualquer
outro jogador com quem já tive o prazer de trabalhar. Mas com um
grande talento vem uma grande responsabilidade, e há quatro anos,
se alguém me perguntasse se Jason tinha o necessário para ser o
QB um, eu teria que pensar sobre isso.
Ele fez uma pausa.
— Vocês sabem, ser o quarterback exige liderança, requer um
jogador que entenda a importância do trabalho em equipe, alguém
que dê conta das jogadas, mas nem sempre obterá a glória na zona
de finalização. Jason tinha talento de sobra. Ainda tem. Na verdade,
eu arriscaria e diria que nunca vi um jogador sênior comandar o
campo como Jason. — Seus olhos pousaram em mim e ele me deu
um aceno de encorajamento. — Mas o talento é apenas parte disso.
Se quiser ir até o fim, precisa ficar de olho no prêmio. Tem que
esquecer todas as outras porcarias fora do campo, as rivalidades e
o drama, as garotas e as festas. Tem que deixar tudo isso de lado e
dar cento e dez por cento cada vez que pisa no campo. Jason não é
perfeito e ainda tem um longo caminho a percorrer, mas se alguém
pode ir até o fim, é ele. É por isso que quero apresentar a Jason
Ford o prêmio de Jogador Mais Valioso de 2019 da Rixon High
School e o prêmio de Jogador do Ano do Técnico. Foi um prazer vê-
lo crescer e se tornar o jogador que é hoje, filho. Agora vá adiante e
deixe Rixon orgulhoso.
Seu elogio me atingiu, pesando fortemente em meus ombros
quando fui até ele, aceitando seu aperto de mão firme e os dois
troféus. Mas o treinador deu um passo adiante, me puxando para
um abraço.
— Estou orgulhoso de você, garoto. Muito orgulhoso. Só não se
esqueça de onde você veio quando sair e dominar a NCAA.
— Obrigado, treinador. — Aproximei-me do púlpito, ajustando o
microfone. — Olá a todos, sou o Jason.
Algumas risadinhas soaram e Grady me mostrou o dedo do
meio.
Idiota.
— O treinador me pediu para dizer algumas palavras, mas falar
em público não é exatamente o meu forte. Eu prefiro arrasar em
campo.
Os caras explodiram em gritos e aplausos e o treinador teve que
intervir para acalmá-los.
— Ser o QB um nos últimos quatro anos tem sido um privilégio.
O futebol é a minha vida. É tudo o que sempre quis fazer. Tudo o
que posso me imaginar fazer. E sou grato por ter tido a oportunidade
de trabalhar com o treinador e sua equipe.
Fiz uma pausa e olhei ao redor.
— Mas o treinador tem razão: ser um Raider é mais do que
futebol, é família, e eu amo vocês como irmãos. Bem, a maioria de
vocês. O júri ainda está decidido sobre o Mackey. — Eu sorri para o
aluno do segundo ano me observando com fome nos olhos. Fome
que lembrava a mim. Ele queria ser como eu um dia. Estar aqui
falando com seus companheiros de equipe, seus irmãos. Mas ele
estava muito distraído com as garotas, festas e a adoração divina
que recebíamos cada vez que caminhávamos pelos corredores da
escola.
— O treinador falou muito sobre sacrifícios. — Meus olhos
encontraram Felicity. — Mas quando você quer algo o suficiente,
quando é tudo o que você pode ver, não há nenhum preço muito
alto a pagar. Marquem minhas palavras, Raiders, um dia, será meu
nome no Hall da Fama. Um dia, vocês dirão que conheceram uma
lenda da NFL.
Parecia arrogante. Um sonho que podia nunca se tornar
realidade. Mas não trabalhava com hipóteses e possibilidades,
trabalhava com fatos concretos. E eu iria até o fim.
Não importava o sacrifício.

— AQUI ESTÁ ELE, o cara do momento. — Meu pai segurou meu


ombro e me puxou para o seu lado. — Estamos orgulhosos de você,
filho, muito orgulhosos.
Sorri com força para o grupo de homens reunidos em torno do
meu velho.
— Deve ser incrível, Kent, ver seu filho seguir seus passos.
— É muito bom. — Sua mão me apertou. — A questão é, ele
tem o que é preciso para ir até o fim? — Sua voz saiu
despreocupada, mas não perdi a amargura persistente.
— O treinador parece pensar assim, e eu estou torcendo por
você, Jason. — O pai de Grady se intrometeu, virando a cerveja em
minha direção. Dei a ele um pequeno aceno de apreciação.
— Ele só precisa aprender a controlar suas emoções. Veja esta
noite, por exemplo...
Me desliguei, rangendo os dentes. Eu não queria ouvir sobre
como errei ou como estraguei a temporada perfeita do time.
— Com licença — falei, me livrando de seu aperto. — Mas esta
noite deveria ser uma celebração, então vou fazer exatamente isso,
comemorar. — Afastando-me, não esperava ouvi-lo chamar meu
nome.
— Jason. — Eu me virei lentamente, semicerrando os olhos. —
Eu só estava jogando conversa fora com os caras, você sabe como
é.
— Tanto faz — eu resmunguei.
— Você está chateado.
— Não estou chateado, só estou... não importa. — Soltei um
suspiro exasperado.
— Eu acho que sim. — Seu público havia se dispersado,
deixando nós dois e um barco cheio de merda com o qual eu não
queria lidar.
— Sabe — ele se aproximou, com as mãos enfiadas nos bolsos
—, eu me lembro de como era ser jovem. Ter o mundo aos seus
pés. Pensar que se é invencível. — A dor brilhou em seus olhos. —
Mas somos todos humanos, Jason. Todos nós cometemos erros.
— Você é um hipócrita de merda — grunhi as palavras. — Ir até
lá hoje à noite para falar sobre sacrifício e dedicação e o que
significa ser uma equipe.
— Cuidado com o seu tom, filho — ele falou com frieza, olhando
ao redor para se certificar de que ninguém tinha me ouvido. Porque,
Deus nos livre, se alguém realmente visse quem éramos nós, o pai
e o filho por trás dos sorrisos falsos. — Sei que você ainda está
chateado por mim e Denise...
— Chateado? É isso que você acha? Que estou chateado com
você e Denise? — Uma risada amarga retumbou em meu peito. —
Não estou chateado com você e Denise. Vocês dois se merecem.
Você não tem a porra da ideia de como é crescer na sua sombra,
um homem respeitado e venerado por uma cidade inteira. Sabendo
que, sem você, provavelmente eu não estaria onde estou hoje, mas,
ao mesmo tempo, sabendo que sou quem sou por sua causa. Frio.
Insensível... cruel.
— Jason, eu...
— Chega, pai — eu grunhi. — Você tem tudo que precisa agora,
certo? Você tem a Denise e um filho pelo qual pode viver
indiretamente. E eu? Eu tenho o futebol. Pelo menos, eu sei que o
jogo nunca vai me decepcionar.
VINTE E TRÊS
Felicity
— VOCÊ VIU O JASON? — foram as primeiras palavras que saíram
da boca de Hailee quando ela se aproximou de nós.
— Não, estivemos aqui o tempo todo — Asher disse.
— Merda, ele e o pai se desentenderam e o Jason foi embora.
Ele parecia muito chateado. Eu ia atrás, mas alguém me parou para
falar sobre as pinturas.
— Merda — Cam resmungou, puxando Hailee para seu colo. —
Esta é a última coisa de que precisamos.
— Você deveria ir atrás dele — Asher me disse enquanto eu
olhava de forma obcecada em como o seu melhor amigo abraçava a
minha melhor amiga. De forma íntima. Com ternura. Como se ela
fosse a coisa mais preciosa do mundo inteiro.
— Não sei — falei, sentindo o desânimo subir pela minha
garganta como uma barata —, ele não pareceu satisfeito em me ver.
— Na verdade, agiu como se me ver fosse a última coisa que
queria. — Talvez eu devesse ir embora.
— Tudo ou nada, se lembra? — Hailee perguntou, seus olhos
implorando para mim. — Pelo menos, tente falar com ele. Ele
parecia muito chateado.
Meu coração doeu por Jason, e eu queria ir atrás dele, queria
mesmo, mas não tinha certeza se meu coração sobreviveria a outra
rejeição.
— Ele precisa de você, Fee. — Asher me deu um meio sorriso.
— Além disso, se você não for atrás dele, um de nós tem que ir e
tenho certeza de que ele prefere ver um rosto bonito à cara feia do
Cam.
— Tudo bem, eu vou. — Levantei-me. — Alguma ideia de onde
devo tentar olhar? — A casa do treinador Hasson era como um
labirinto.
— Experimente o galpão do barco ou na beira do rio.
— Certo, me desejem sorte.
Os três sorriram.
— Boa sorte — Hailee falou. — E não aceite não como resposta.
Com as pernas trêmulas, cruzei o quintal dos Hasson, pegando o
caminho do pátio principal até o rio. Estava escuro, nada além do
tom prateado da lua iluminando o caminho.
— Jason? — murmurei. — Você está aqui embaixo?
Encontrado com nada além de silêncio, continuei andando,
contornando o galpão do barco. Não havia ninguém aqui. Me sentei
em um banco, observando o rio tremeluzir e dançar à distância.
A noite toda Jason me evitou. Mas, apesar de seu desdém,
Hailee tinha razão. Eu precisava de um encerramento. Precisava
saber de uma vez por todas onde eu estava. Se eu sonhei com a
crescente conexão entre nós. Porque eu sabia o que sentia e que
Jason gostava de mim. Ele simplesmente não sabia como lidar com
isso.
Os segundos se passaram, e o ar gelado passou por meu rosto
e pescoço. Vestindo a jaqueta, me levantei, pronta para admitir a
derrota e voltar para meus amigos quando ouvi um farfalhar.
— Jason? — chamei.
— Você não deveria estar aqui — ele disse, das sombras. Eu me
aproximei, o luar refletindo em seu perfil duro, fazendo-o parecer
ainda mais intimidante do que o normal.
— Vim ver se você está bem. A Hailee disse que viu você
discutindo com seu pai.
— A Hailee precisa aprender a cuidar da porra da própria vida.
— Seu tom combinava com seus olhos.
Frios.
Cautelosos.
Completamente desprovido de emoção, apesar da raiva que
emanava dele.
Um arrepio percorreu minha espinha e me abracei com força.
— Jason, fale comigo, por favor.
— E dizer o quê? Achei que você tivesse entendido ontem.
— Então é isso? — Reprimi a dor de suas palavras duras. —
Você só vai se afastar e fingir que isso, que nós, não é nada.
— Não é nada — ele grunhiu. — Não sei o que mais posso fazer
para que você veja. Você mesma disse, Giles, você não era nada
mais do que um jogo. Um jogo que ganhei e agora terminei com
você.
Lágrimas se formaram nos cantos dos meus olhos, mas eu não
choraria, não na frente dele. Ele não merecia minhas lágrimas.
Nem uma.
— Por que está fazendo isso? Por que está sendo tão cruel?
Você se importa, Jason, — eu disse. — Sei que você se importa.
Você só está com medo. Com medo de se permitir sentir algo. Bem,
novidade, também estou. Mas estou aqui. Estou disposta a arriscar
por você. Por nós. — Meu peito arfou com o peso das palavras, mas
Jason não parecia afetado.
Indiferente.
— Não há nós. — Suas palavras me fizeram estremecer. — Por
que você não pode simplesmente aceitar isso?
— Porque não acredito em você. Ontem à noite...
— Você acha que a noite passada significou alguma coisa? —
ele zombou, e a aspereza de seu olhar era como se ele estivesse
me fuzilando com os olhos. — Eu estava fazendo um favor a Hailee
e poupando todo mundo do constrangimento. Você estava uma
vergonha.
As palavras me atingiram, fazendo meu coração saltar para a
garganta. O sangue latejava entre minhas orelhas.
Uma baita vergonha.
Ele não me salvou porque se importava... ele me salvou por
pena.
— Deus, eu sou uma idiota. — Muito idiota. — Deixei todos eles
me convencerem de que você gostava de mim, que precisava de
mim. Mas você não precisa de ninguém.
Pessoas sem coração não tinham espaço para se preocupar
com os outros, muito menos precisar de alguém.
— Finalmente descobriu, hein? — Ele coçou o queixo
distraidamente.
— Espero que você encontre o que está procurando, Jason —
falei, com confiança. Eu poderia estar me estilhaçando por dentro,
mas não queria que ele me visse desmoronar.
Jason não disse nada quando me virei e comecei a me afastar.
Mas então sua voz perfurou o silêncio pesado.
— Ah, e Giles...
— Sim? — Olhei por cima do ombro, mal me segurando por um
fio.
— Talvez você deva pensar em se inscrever em outra faculdade.
A Penn não é grande o suficiente para nós dois e não sei que merda
está tentando fazer, mas não quero você lá.
Entreabri os lábios em um suspiro de dor. Eu queria discutir,
dizer a ele que me candidatar a UPenn não tinha nada a ver com ele
e tudo a ver com meus pais, meu futuro, mas uma figura surgiu das
sombras.
— Ei, baby — Jenna disse, aproximando-se de Jason como se
eu não estivesse parada ali com lágrimas nos olhos. — Sentiu
minha falta? Ah, oi, Felicity, não vi você aí.
Ela me viu muito bem.
E ficou muito satisfeita em ver o sangue sumir do meu rosto.
— Acho que você deveria ir agora, a menos que queira ver o
show, se é que me entende. — Ela sorriu antes de pressionar seus
lábios nos de Jason, garantindo que eu me sentasse na primeira fila.
Ele não investiu, não a estava tocando ou retribuindo o beijo.
Estava me observando. Seus olhos duros silenciosamente me
desafiando a chamá-lo.
Levou tudo que eu tinha para não pular em suas costas e
arrancá-la do cara que, sem saber, roubou meu coração.
Não, isso não estava certo. Ele não o tinha roubado. Eu o
entreguei de bom grado. Esperando secretamente que fosse o
suficiente.
Que eu fosse o suficiente.
Quando o tempo todo, eu sabia que não.
Jason Ford era o diabo em pele de cordeiro, e eu não era nada
mais do que um jogo embrulhado em um pacote bonito.
Algo para passar o tempo.
Um jogo do qual ele já havia se cansado.
— Nunca imaginei que você fosse voyeur — a voz de Jenna me
tirou do meu devaneio sombrio. — Mas se quiser assistir, talvez
você aprenda uma ou duas coisas. — Ela riu no ombro de Jason.
Droga, isso doeu. Eu não queria acreditar que ele havia dito a
ela que ele tinha tirado a minha virgindade, mas neste ponto, tudo
era possível. Porque eu não conhecia Jason.
— Pode desfrutar dele. — Mal consegui sufocar as palavras.
Por um breve momento, pensei ter visto um lampejo de
arrependimento no olhar de Jason, mas então ele capturou a boca
de Jenna e fechou os olhos, perdendo-se no beijo, me mostrando
que não havia mudado em nada. Ainda era o cretino de coração frio
que sempre alegou ser. Só que era tarde demais. Ele me envolveu e
depois me jogou fora, não se importando por ter partido meu
coração em mil pedaços.
Pedaços que eu sabia que nunca sarariam direito.
De alguma forma, apesar do buraco em meu peito, consegui me
virar e me afastar deles com a cabeça erguida.
De Jason.
O que prometi a mim mesma que seria a última vez.

— ISSO É BOM — Mya disse enquanto comíamos cookies e sorvete


e assistíamos a filmes ruins. Foi ideia de Hailee após o fim
desastroso da noite anterior.
Eu nem tinha parado para avisar que estava indo embora, só
precisava estar muito, muito longe de Jason e de suas palavras
venenosas.
— Não consigo me lembrar da última vez que tive uma noite de
garotas.
— Antes do Cameron, fazíamos muito isso. Embora a maioria de
nossas festas do pijama acabasse com Hailee planejando vingança
contra Jason.
— Ei — Hailee disse —, nós ainda saímos juntas. Você faz
parecer que agora que estou com o Cameron, não estou por perto.
— Estou brincando, Hails. Estou feliz por você, de verdade.
Depois de tudo que eles te fizeram passar, você merece toda a
felicidade.
— Seu irmão parece um idiota de grau A. — Mya franziu os
olhos.
— Meu meio-irmão é um idiota. Mas ele está diferente
ultimamente. — Seu olhar se voltou para o meu.
— Sim, bem, diferente ou não — suspirei —, ainda é um cretino
de coração frio.
Mya e Hailee me olharam com simpatia.
— Por favor, não façam isso. Não olhem para mim como se ele
tivesse arrancado meu coração e pisado em cima dele. Eu queria
um encerramento e consegui.
— Sim, mas ainda não consigo acreditar que ele fez isso. E com
a Jenna, de todas as pessoas.
— Sério, Hails? Porque é sobre o Jason que estamos falando.
Ele está me decepcionando a cada passo, por que a noite passada
deveria ter sido diferente?
— Só achei que desta vez ele iria... — Ela engoliu as palavras.
— Eu sei — afirmei baixinho —, eu também.
Embora eu soubesse exatamente quem era Jason Ford, parte de
mim ainda esperava que ele tivesse mudado. Que eu o tivesse
mudado. Consegui me convencer de que era diferente das Jennas
Jarvis do mundo, quando o tempo todo eu era exatamente igual.
Era uma pílula difícil de engolir. Mas pelo menos, vi suas
verdadeiras cores de uma vez por todas. Eu poderia seguir em
frente sabendo que tentei quebrar as paredes de aço de Jason.
Mesmo que fosse uma merda ter falhado.
— Se me perguntar, você está melhor sem ele. Jason Ford ama
apenas duas coisas: a si mesmo e futebol.
— Você não está errada. — Hailee se inclinou para bater na mão
de Mya.
— De qualquer forma, chega de conversa sobre garotos. Achei
que essa seria a noite das garotas. Quais são seus planos para
depois do colégio, Mya?
— Aah direto para as coisas pesadas, gosto disso. — Ela cruzou
as pernas na frente do corpo e empurrou os cachos de seu rosto. —
Sempre quis fazer algo para ajudar as pessoas, sabe? Como
aconselhamento sobre drogas ou orientação escolar.
— Psicologia? — perguntei.
— Talvez, ou Pedagogia. Não decidi ainda, mas estou me
inscrevendo na Montclair State e Michigan. Quero sair do estado,
mas não muito longe.
— Cameron e eu vamos para Michigan.
— Não acredito.
Hails assentiu.
— Ele deveria ir para UPenn com o Jason, mas...
— Mas ele percebeu que não suportaria ficar longe da Hailee e
se candidatou a Michigan. — A maneira como minha melhor amiga
corou com minhas palavras foi muito fofa.
— Uau, isso é... sério.
Hailee deu de ombros.
— Eu não poderia imaginar ir sem ele.
— Sinto falta disso — Mya suspirou. — Ter alguém com quem
fazer planos. E você, Flick? Pensou mais nos seus?
— Achei que o plano era estudar administração. — Hailee
franziu a testa para mim.
— Era... quero dizer, é.
— Mas...
— Mas talvez eu esteja com dúvidas.
— Ah, merda, seus pais sabem?
— O que você acha? — Revirei os olhos de forma dramática.
— Achei que você estava feliz se inscrevendo na UPenn e
seguindo seus passos.
— Bem, sim, eu estava. Sempre foi esse o plano. Instilado em
mim desde o primeiro dia. Mas agora, não tenho tanta certeza de
que é o que quero.
As palavras cruéis de Jason na noite passada encheram minha
cabeça. Ele achou que eu estava me inscrevendo na UPenn porque
era para onde ele estava indo, mas não poderia estar mais longe da
verdade. Eu estava me inscrevendo porque era o esperado. Porque
meus pais queriam que eu seguisse seus passos e continuasse seu
legado. O excitante mundo do emprego executivo. E até
recentemente, eu estava muito feliz por fazê-los felizes.
— Você nunca disse nada — Hailee parecia abatida, com a
expressão cabisbaixa.
— Você me conhece, Hails. — Dei a ela um sorriso tenso. — Eu
agrado as pessoas, não costumo quebrar regras. — Até Jason.
Deixei isso estritamente para Hailee e sua vingança contra os caras.
— Mas este é o seu futuro. Você não pode fazer algo só porque
seus pais querem que faça.
— Eu sei. — Só levei um tempo, e um pequeno empurrão de
Mya, para encontrar coragem para seguir meu próprio caminho.
— Então o que vai fazer?
Essa era a pergunta de um milhão de dólares. Eu poderia fazer
administração na UPenn e fazer meus pais felizes ou poderia ir
atrás do que eu queria. Perseguir meus sonhos.
O único problema era que eu não sabia ainda quais eram.
— Vou trabalhar na minha lista.
— Sua lista? — Hailee gemeu. — Isso já não causou problemas
suficiente?
— Na verdade, a Mya me ajudou a repensar algumas coisas.
Acho que pode ser bom para mim trabalhar para concluí-la e, quem
sabe, talvez eu descubra exatamente o que quero fazer da minha
vida.
— Agora parece um plano com o qual posso embarcar. — Mya
sorriu, seus olhos brilhando de ansiedade, como se eu fosse um
projeto que ela mal pudesse esperar para colocar as mãos.
— Você sabe que estou sempre a seu lado, o que quer que você
decida — Hailee acrescentou. — Só porque estou com o Cameron
agora, não significa que não estou cem por cento ao seu lado.
— Obrigada. Mas as primeiras coisas primeiro... — Tirei o celular
do bolso e encontrei o número de Jason.
— Isso é o que acho que é? — Hailee esticou o pescoço para
ver melhor.
— Sim. Preciso traçar uma linha com relação a Jason e seus
jogos. — Meu polegar pairou sobre o botão “excluir”. Respirando
fundo, fechei os olhos e o pressionei.
— A novos começos — Mya declarou, erguendo seu refrigerante
no ar.
— A novos começos — ecoei, tilintando meu copo contra o dela.
Mas o som de Hailee limpando a garganta cortou nossa risada
suave.
— Agora você vai confessar o que realmente aconteceu entre
vocês dois?
Ah, droga.
— Sério? Você quer saber? Achei que você estava com uma
cicatriz mental por causa de Nova York.
— Não quero saber os detalhes gráficos, mas sim, quero saber.
— Ela me deu um sorriso hesitante. — Afinal, preciso saber o
quanto tenho que me vingar por ele ter te magoado. — Sua boca se
curvou em um sorriso malicioso e logo nós três estávamos caindo
no chão do meu quarto em ataques de riso.
E a dor em meu coração desapareceu.
Só um pouquinho.
VINTE E QUATRO
Jason
— VOCÊ VAI me fuzilar com os olhos a manhã toda? — Eu
finalmente ergui os olhos para os de Hailee, e ela estalou a língua
em desgosto. — O que quer que esteja na sua cabeça, apenas
desembuche para que eu possa terminar meu café da manhã em
paz. — Eu quase rosnei as palavras.
— Eu só estou me perguntando o que te fez ser assim. Sei que
você tem problemas com seu pai, mas entre na merda da fila. A
maioria de nós tem problemas com os pais. O que me faz pensar
que deve haver algo mais. Uma razão pela qual você é tão... tão
cruel.
— Eu não tenho que te responder. — Semicerrei os olhos.
— Tem razão, não tem. Mas estou perguntando assim mesmo.
— Hailee olhou de volta. — Por quê? Por que fez isso com ela?
— Eu deveria saber do que é que você está falando?
Suas narinas se dilataram e uma faixa rosa coloriu cada
bochecha. Minha meia-irmã estava chateada e em vez de tentar
esfriar as chamas, eu as estava atiçando. Mas ela não fazia ideia do
motivo pelo qual fiz o que fiz.
Ninguém fazia.
— A Felicity foi para a noite dos veteranos por você — ela
sibilou. — Para te apoiar. E você foi e jogou isso de volta na cara
dela. Sei que vocês dois têm se encontrado. Que ela dormiu com
você... de novo. Sei de tudo.
Não foi seu tom rude que me fez estremecer internamente, foi o
fato de Felicity ter contado tudo a ela. Coisas que achei que eram
apenas entre nós dois. Não que isso importasse agora.
Nada disso importava.
— Sim, bem, acabou.
— Está se ouvindo? Você estava saindo com ela em segredo...
por quê?
— Eu não...
— Porque você se preocupa com ela. Pare de fingir que não.
Acha que não vemos a maneira como você olha para ela? Até o
Thatcher e seus capangas notaram. Você a observa. Você a
observa quando pensa que ninguém está olhando, então não venha
me dizer que o que quer que esteja acontecendo entre vocês dois
não foi nada. — Hailee bateu com as mãos na mesa, fazendo
barulho com as tigelas do café da manhã.
— Acha que me importo? — gritei de volta, meu controle quase
se desfazendo. — Não importa. Nada disso importa, porra. Não
posso me dar ao luxo de nenhuma distração no próximo ano.
— Se você se preocupa com alguém, não é uma distração,
Jason — sua voz suavizou um pouco —, é um suporte.
— Não importa.
— Pare de dizer que não importa. É importante pra cacete — ela
rugiu de volta, com o peito arfando com a tensão de suas palavras.
— A Felicity merece coisa melhor. E você prometeu, me prometeu
que não iria machucá-la... — Lágrimas se formaram em seus olhos,
contorcendo meu estômago.
— Não, eu não prometi — falei com frieza.
— Prometeu, sim.
— Não, eu não prometi. O que prometi foi sempre fazer o que
acho que é melhor para ela, e isso... isso é o melhor.
Hailee balançou a cabeça, xingando baixinho.
— Isso nem faz sentido. Se você quisesse transar com a Jenna,
poderia pelo menos esperar até que a Felicity fosse embora. Ela
estava bem ali e você esfregou a Jenna na cara dela. Então me
diga, Jason, como isso é o melhor para ela?
— Ela precisava saber que estava acabado. — As palavras
quase ficaram presas na minha garganta, e eu respirei fundo.
— Ah, meu Deus, ouça a si mesmo. Você me deixa enjoada. —
Ela se inclinou na cadeira, derrotada. — Eu realmente achei que
você estava mudando. Que você finalmente havia se livrado da
casca dura. Mas foi realmente um jogo, não foi?
Dei de ombros para ela com desdém.
— Você acha que o mundo inteiro gira ao seu redor. Só porque
você é um deus do futebol, pode fazer o que quiser. Mas isso é o
ensino médio, Jason. Em breve, você não estará mais no topo da
cadeia alimentar e espero que experimente o seu próprio remédio.
— Terminou? — grunhi.
— Terminei? — Ela sorriu. — Estou só começando. Você é tão
egocêntrico que nem consegue ver o que está acontecendo ao seu
redor. Não parou por um segundo para considerar os sentimentos
da Felicity. Nunca te ocorreu que talvez ela tenha suas próprias
merdas acontecendo. Você automaticamente presumiu que ela
estava se candidatando à UPenn para te seguir. Jason Ford. Astro
do futebol e idiota épico. — Uma risada amarga saiu dos lábios de
Hailee. — Mas você não poderia estar mais errado.
— O que isso quer dizer?
— Que talvez você devesse tirar a cabeça do próprio umbigo por
cinco segundos e perguntado a ela sobre sua vida. Mas agora, você
nunca terá a chance.
— É mesmo? E por quê? — Eu parecia composto, mas suas
palavras me desarmaram completamente.
Com as mãos pressionadas firmemente contra a mesa, Hailee se
levantou devagar, a cadeira raspando contra os ladrilhos, o som me
cortando até os ossos.
— Porque, querido irmão, você pode ter ganhado o jogo, mas o
único perdedor aqui é você. — Ela caminhou até a porta, olhando
para trás no último segundo. — E, Jason?
— Sim? — resmunguei.
— Se sabe o que é bom para você, fique longe da Felicity. Ela
não precisa que você complique a vida dela mais do que já está.
Seu aviso pairou entre nós, e eu sabia que qualquer progresso
que tínhamos feito em consertar nosso relacionamento tinha
retrocedido.
E eu só tinha a mim mesmo para culpar.

— EI — Cam disse quando entrei no ginásio. Tínhamos treino


matinal, e eu estava me preparando para seu discurso. Portanto,
sua saudação foi inesperada, para dizer o mínimo.
— Você ainda está falando comigo? Porque depois do esporro
que Hailee me deu esta manhã, eu não tinha certeza se deveria
usar armadura.
— Vamos, Jase — ele soltou um suspiro pesado —, você tinha
que saber que isso não iria acabar bem. Você realmente magoou...
— Sim, sim, me poupe do discurso. Já ouvi. — Passamos para o
supino e começamos a adicionar pesos.
— Então o que acontece agora?
— Nada. O que está feito, está feito. A Felicity sabia no que
estava se metendo.
— Mas...
— Não há mas nenhum — grunhi irritado. — Acabou. Você sabia
que ela tinha se inscrito na Penn? — Arqueei a sobrancelha.
— A Hailee mencionou isso, mas não, eu não sabia. Você acha
que ela fez isso porque sabia que você vai para lá?
— Não sei o que pensar, mas ela não pode ir.
— Jase, você não pode dizer a alguém se ela pode ou não ir
para a faculdade, cara. É o futuro dela e a Hailee disse algo sobre
seus pais serem ex-alunos.
— Eu não me importo se os pais dela são os melhores amigos
do reitor, ela não pode ir para lá. — Não posso tê-la lá, em qualquer
lugar que eu vá.
Quando encontrei os olhos de Cam novamente, ele estava me
examinando.
— O que foi? — retruquei.
— O que realmente está acontecendo com você?
— Me poupe da sessão de terapia. Já me cansei do Asher
fazendo isso.
— Me chamou? — Ele apareceu do nada.
— Ótimo, agora tenho que ouvir vocês dois.
— Não. — Ash ergueu as mãos quando me sentei no banco. —
Não vou falar nada. A meu ver, agora que você deixou a Fee de
lado, ela está livr...
— Nem pense nisso, porra. — Meu peito retumbou.
— Nisso o quê? — Ele se fez de bobo.
— Ash, não o pressione.
— Pressioná-lo? Como eu poderia o estar pressionando quando
ele a mastigou e cuspiu como se ela não fosse nada? — Seu sorriso
era fácil, mas seu tom era frio.
Sim, Asher estava chateado, e eu não poderia culpá-lo.
— Quer meus restos, Bennet? — Engoli a culpa que me atingiu e
fiz o que fazia de melhor: banquei o idiota. — Ela é toda sua.
— Você é um filho da puta sem coração, sabia disso, Ford? —
ele disse antes de se afastar.
Cam balançou a cabeça, esfregando a nuca.
— Aquilo era mesmo necessário?
— Ele a quer desde o primeiro dia.
— E você ficaria bem com ele estando com ela? Porque você
sabe que ele provavelmente vai atrás dela apenas para provar um
ponto.
Dando de ombros, empurrei a barra com mais força, grunhindo
com o esforço.
— Como ele disse, ela está livre. — As palavras serpentearam
em volta do meu coração.
— Não acredito em você — Cam comentou. — Você é um filho
da puta cruel, mas se importa com ela.
— Sim, bem, não me importo o suficiente.
Eu meio que esperava que Cam seguisse os passos de Asher e
fosse embora, mas ele não o fez. Cameron era leal até os ossos.
Foi por isso que demorou tanto para ir atrás do que ele realmente
queria: Hailee. Ainda assim, ele não ficou impressionado com minha
atitude e, pelos dez minutos seguintes, trabalhamos em um silêncio
doloroso. Tudo enquanto ele me observava, tentando ver além do
meu exterior gelado. Mas se alguém era especialista em manter as
emoções bloqueadas, era eu. Eu tinha anos de prática e não estava
prestes a me abrir agora.
Eu tinha coisas mais importantes em que pensar.

QUANDO A HORA DO ALMOÇO CHEGOU, tudo que eu queria era


comer meu sanduíche de peru em paz. Mas mesmo isso era pedir
demais.
— Sabe, se quiser ir até lá, tenho certeza de que eles não...
Virei a cabeça para Grady e lancei um olhar duro para ele.
— Caramba — ele suspirou. — Alguém está estressado. Só
estou dizendo...
— Bem, não diga.
Como se tivessem ouvido nossa discussão, Asher e Felicity
olharam para nós. Ash manteve o olhar no meu, com um silencioso
vá se foder brilhando em seus olhos. Deixei meus olhos correrem
diretamente sobre ele para ela. O sangue foi drenado do rosto de
Felicity enquanto ela tentava não ser afetada, mas vi os sinais
reveladores. Olhos arregalados, a forma como sua respiração
ofegou, e eu sabia que se estivesse perto o suficiente, se passasse
meus dedos por seu pescoço, sua pele estaria quente.
Felicity não era a única afetada. Meu coração estava disparado
como se eu tivesse acabado de fazer uma hora de cardio. Ele batia
com tanta força que senti em meu crânio. Fechando as mãos, eu as
pressionei em meu jeans, incitando-me a me acalmar. Mas ela viu.
Ela viu e, em vez de deixar para lá, decidiu me lançar uma isca. Se
aproximando mais de Asher, Felicity se inclinou para ele, rindo de
algo que ele disse.
— Calma, mano — Grady disse baixinho. — Antes que quebre
alguma coisa. — Ele se levantou na minha frente, bloqueando
minha visão de Asher e Felicity. — Não vale a pena. — Sua voz era
baixa.
— Sim, estou bem. — Me recostei, me forçando a abrir as mãos.
— De olho no prêmio, lembra? — Grady recuou, apertando meu
ombro. — Você precisa transar, livrar-se um pouco dessa tensão,
capitão.
— Alguém disse meu nome? — Jenna apareceu com um sorriso
sedutor no rosto. — Olá, baby. — Ela fez um show ao se sentar no
meu colo, envolvendo o meu pescoço como se ali fosse seu lugar.
Como se eu pertencesse a ela.
— O que quer?
— Você, se eu puder escolher. — Descendo a mão entre nós,
ela segurou meu pau.
Grady caiu na gargalhada, cumprimentando alguns dos
jogadores.
— Ei, Jenna, onde estão as outras?
— As meninas estarão aqui em breve. — Ela deu uma piscadela
sugestiva para ele.
— Sr. Ford, srta. Jarvis. — O diretor Finnigan apareceu do nada,
limpando a garganta. — Por favor, mantenham o decoro. Esta é
uma lanchonete da escola, não um clube de strip. — Seu olhar se
fixou em mim, e seu desdém por tudo que eu representava estava
gravado em cada linha de seu rosto, e havia muitas. — Tudo pronto
para sexta-feira?
Dei a ele um aceno imperceptível.
— Bem, estou ansioso por isso. — Ele caminhou até sua
próxima vítima inocente.
— Esse cara precisa transar — alguém disse, fazendo nossa
mesa cair na gargalhada.
— Ele realmente não gosta de você, não é? — Mackey
perguntou.
Dei de ombros. Ele não gostava, mas não importava. Logo a
temporada acabaria e ele não poderia mais me tocar.
Grady me lançou um olhar, mas eu me esquivei. Não ia fazer
nada estúpido, nada que prejudicasse a chance do time no
campeonato. Mas depois disso, Thatcher era meu. Tudo o que eu
tinha que fazer era manter a calma e me recusar a ser atraído para
seus jogos.
Jenna tirou o cabelo do ombro e colocou a boca no meu ouvido.
— Quero você, vamos dar uma fugida para o vestiário.
Teria sido muito fácil dizer sim.
Muito fácil deixá-la se ajoelhar e me ajudar a esquecer todas as
besteiras.
— Jason, o que você me diz? Vamos sair daqui? — Ela
mordiscou minha orelha, mas eu estava muito ocupado olhando
para Felicity.
Vendo-a me olhar.
— Talvez mais tarde, certo? — Dei a Jenna um sorriso fácil,
voltando os olhos para Felicity.
Mas ela se foi.
VINTE E CINCO
Felicity
— CERTO, obrigada por entrar em contato comigo. Por favor,
mantenha-me em mente se abrir alguma vaga. — Desliguei,
esfregando a mão no rosto.
— Com sorte? — Mya se sentou ao meu lado.
— Não. Liguei para todas as clínicas veterinárias em um raio de
vinte quilômetros.
— Bem, isso é uma merda. E abrigos?
— Só existem dois. Um oferece cargos de voluntariado, mas não
tem vagas e o outro está passando por uma reestruturação, então
não estão contratando novos funcionários no momento.
— Você poderia ampliar o raio.
— Eu não poderia fazer mais nada e meus pais ficarão
desconfiados.
Mya cutucou meu ombro.
— Você sempre pode contar a eles.
— Posso, mas quero ter certeza primeiro. Se eu contar e não der
certo, vou causar muita dor de cabeça por nada.
— Você realmente acha que eles vão ficar tão chateados? A
escola de veterinária é um plano sólido.
— Mas não é o plano deles e são pelo menos oito anos na
faculdade.
— Mas você quer?
— Acho que sim. Bem, fiz todos os cursos certos e adoro
animais. Mas vou precisar falar com a srta. Hampstead sobre como
mudar minha inscrição e preciso encontrar alguma experiência
prática.
— Aah, você poderia passear com os cachorros dos seus
vizinhos ou administrar uma creche para cachorros no fim de
semana.
— Ah, sim, meus pais anti-animais de estimação adorariam isso
enquanto reagiriam de forma exagerada todos os dias, dizendo que
eu pegaria tétano, que a casa seria invadida por pulgas ou que os
vizinhos iriam reclamar dos latidos.
— Certo, eu entendo, alerta de pais excessivamente cautelosos.
Deve ter uma vaga em algum lugar para você.
— Ei, o que vocês duas estão fazendo aqui? — Hailee franziu o
cenho. — Fui para a sala de estudos, mas você não estava lá.
— Eu queria começar a ligar para as clínicas veterinárias e a
Mya me encontrou aqui.
— Conseguiu alguma coisa?
— Nada ainda. Talvez eu precise de um plano B.
— Já tentou a clínica da cidade? — ela perguntou.
— Não, é muito perto de casa. Se meus pais me encontrarem...
— Você não precisa dizer a eles por que está fazendo isso,
apenas que deseja tentar coisas novas.
— Não sei... seria ideal ser tão perto. — Eu não teria que me
preocupar com o tempo de viagem e talvez pudesse ajudar depois
da escola.
— Você deveria ligar — Mya falou, me entregando o telefone,
com o número da clínica já digitado.
— Agora?
— Pode pensar em um momento melhor?
Hailee se sentou ao meu lado, as duas me dando olhares de
expectativa.
— Tudo bem, mas aposto que eles não têm nada. — Eu tinha
demorado muito para tentar encontrar algo.
Liguei e esperei.
— Olá, Clínica Veterinária Rixon, Regina falando. Como posso
ajudar?
— Humm, oi, Regina. Sou veterana na Rixon High School e
gostaria de saber se você tem alguma oportunidade de voluntariado.
Estou pensando em estudar veterinária na faculdade e gostaria
muito de ter alguma experiência prática.
Mya me deu um pequeno sinal de positivo.
— Qual é mesmo o seu nome?
— Ah? Sinto muito, é Felicity.
— Bem, em primeiro lugar, obrigada por pensar em nós, Felicity.
Eu adoraria poder dizer que temos algo agora, mas infelizmente...
— Vocês não têm. — Meus ombros caíram. — Eu esperava isso.
— Tenho certeza de que você entende, temos um processo
rigoroso em vigor para todos os nossos voluntários e recrutamos
recentemente.
— Claro, eu entendo perfeitamente.
— Dito isso, talvez eu consiga organizar uma visita para você ao
nosso centro do outro lado da cidade.
— O local de resgate de animais? — perguntei.
— Sim, o A Brand New Tail. Não há vagas para voluntários
permanentes no momento, mas tenho certeza de que George, o
gerente, não se importaria de conversar com você.
— Isso seria ótimo, obrigada.
— Excelente. Me mande um e-mail, e eu o encaminharei para
George. Também podemos adicioná-la à lista de espera, caso surja
alguma coisa...
— Muito obrigada. — Nos despedimos e desligamos.
— Então... — Mya perguntou.
— Ela vai me apresentar ao George, o responsável por um outro
abrigo, mas não têm nada permanente no momento.
— Bem, é um passo na direção certa. — Ela me deu um sorriso
tranquilizador. — E quem sabe? Talvez você possa jogar charme
para o George e fazer com que ele lhe dê um turno ou dois?
— Mya! — Minhas bochechas queimaram. — Eu nunca...
— Relaxa, estou brincando. Mas é bom ver você sorrir, garota.
Era bom sorrir. Até que avistei Cameron, Asher... e Jason vindo
em nossa direção. Minha respiração ficou presa na garganta.
Mesmo agora, depois de tudo, meu coração ainda o queria. O resto
de mim não queria nada além de vê-lo queimar em chamas, mas
meu coração, bem, ainda não estava pensando assim.
Antes que eles nos alcançassem, Jason se separou dos amigos
e seguiu em direção ao ginásio. Soltei um pequeno suspiro de alívio,
ignorando a maneira como meu estômago se afundou, e colei o
sorriso mais brilhante que pude para Cameron e Asher.
— Garotas — Asher falou. — Sentimos sua falta no almoço. —
Seus olhos pousaram nos meus, perguntando coisas que eu não
queria responder.
— Nós tivemos uma... coisa. — Mya piscou para mim.
— Uma coisa. Eu gosto de coisas. Vocês poderiam ter me
convidado.
— Asher... — Hailee advertiu.
— Está tudo bem, Hails. Não precisa fingir que isso não é
estranho. Mas estou bem. De verdade.
— Esse é o espírito, Fee, baby. Então, o que está acontecendo?
— Felicity está tentando traçar seu futuro — Hailee explicou.
— Parece interessante. Podemos ajudar em alguma coisa?
— Não, a menos que você conheça uma clínica veterinária que
esteja aceitando voluntários.
— Argh. — Asher franziu o cenho. — Não achei que você fosse
uma amante de gatos.
— Ei, eu também gosto de cachorros. Qualquer coisa macia e
fofa, realmente, eu não discrimino.
— Já fez contato com a clínica do centro?
Concordei.
— Eles não têm nada. Vou conseguir alguma coisa. — Acenei
para ele, na esperança de desviar a atenção de mim para outra
pessoa. A última coisa que eu precisava era de Asher envolvido
nisso. Ele era pior do que um cachorro com um osso.
— Acho que deveríamos ir treinar antes que o treinador venha
nos procurar. — Cameron estendeu a mão para Hailee, puxando-a
para ficar de pé. — Vou sentir sua falta.
— Eu também — ela respondeu, beijando-o.
— Eu também — Asher acrescentou com um sorriso.
Cameron mostrou-lhe o dedo do meio.
— Vão ao jogo sexta-feira, certo? — Asher voltou sua atenção
para mim e Mya.
— Na verdade — empurrei minha longa franja para atrás da
orelha —, acho que não.
— Mas o quê? Você tem que vir. É o nosso último jogo antes dos
play-offs.
— A Hails vai, certo, Hails?
— Sim, ela vai — Cam respondeu por ela.
— Viu, você tem que vir.
— A Hailee pode ir com os pais do Cam. — A mãe e o pai dele
iriam para Brennington já que ela finalmente estava se sentindo um
pouco melhor.
— E você, Mya? Posso contar com você lá, torcendo por nós?
— Ah, droga, você disse sexta-feira? Acho que vou ter que lavar
o cabelo.
— Acho que vou ter que lavar o cabelo — ele murmurou
baixinho, revirando os olhos. — Se você não vier, não vai poder vir
para a festa conosco depois.
— O que vamos fazer? — Mya apertou minhas mãos, fingindo
decepção.
— Podemos ir ao The Alley — sugeri. — Ou talvez ficar bêbadas
na beira do rio de novo, foi divertido. Ah, já sei, poderíamos...
— Tudo bem, tudo bem, vocês duas fizeram seu ponto. Mas
convenhamos, não importa o que vocês façam, não vai ser tão
divertido quanto estar comigo. — O olhar divertido de Asher
permaneceu em Mya até que ele piscou e se afastou, sem se
preocupar em esperar por Cameron.
— Você realmente não deveria encorajá-lo — ele observou.
— Ele pode lidar com isso — Mya zombou, olhando para Asher
que se afastava. Ela podia minimizar a química entre os dois, mas
não enganava ninguém.
O ciúme agitou meu peito, o que era uma loucura. Porque eu
não queria Asher assim. Mas não podia negar que sua atenção
suavizou um pouco o golpe da rejeição de Jason. Sem mencionar a
parte de mim que se preocupava que se Mya e Asher ficassem
juntos, eu perderia minhas duas amigas mais próximas para os
Raiders.
— Ei, você está bem? — Mya me cutucou de novo e eu dei a ela
um sorriso fraco.
— Eu? Estou ótima.
— Vai dar tudo certo, Flick. Posso sentir.
— Falando em sentir — Cam pigarreou —, é melhor que eu vá
antes que o treinador me faça sentir o peso da sua ira por estar
atrasado. Te vejo hoje à noite? — ele perguntou a Hailee.
— É claro. Tchau.
Ele a puxou para um último beijo e seguiu atrás de Asher.
— O que foi? — ela perguntou, percebendo que nós duas a
encarávamos.
— Vocês dois são tão fofos que é nojento. — Mya sorriu.
— Nojento demais — acrescentei com um sorriso, apesar da
sensação de aperto no estômago.
Eu queria isso.
Queria que alguém olhasse para mim do jeito que Cameron
olhava para ela.
Mas eu nunca iria conseguir enquanto estivesse presa a Jason.

— FELICITY, querida, é você? — a voz da minha mãe soou pelo


corredor enquanto eu tirava os sapatos e colocava as chaves no
aparador.
— Oi, mãe. — Entrei na cozinha.
— Como foi o clube do livro?
— Bem, obrigada. Meu pai não chegou?
— Ele precisou ficar até tarde no escritório.
— De novo? Ele está sempre trabalhando.
— Claro que está. Você sabe como é, temos que manter o teto
sobre nossas cabeças. Bem, você vai compreender em breve. —
Ela deu uma risadinha.
— Então, estive pensando... — falei, me sentando em um dos
banquinhos. — Já que esse é o último ano, gostaria de fazer algum
voluntariado.
— Que ideia maravilhosa. — Minha mãe veio para a ilha de café
da manhã para se juntar a mim. — Tenho certeza de que eu ou seu
pai podemos conseguir alguma experiência de trabalho com...
— Na verdade, mãe, eu estava pensando em fazer outra coisa.
— Outra coisa? — Ela franziu as sobrancelhas. — Me desculpe,
não tenho certeza se entendi.
— Acabei de perceber que há muitas coisas que sempre quis
fazer e o tempo está se esgotando, então achei que agora seria um
bom momento para experimentar.
— Humm, isso soa meio que distrativo, querida. Você tem clube
do livro. Isso já é diferente.
Bom Deus, se ela achava que clube do livro era diferente, eu não
tinha esperança de tê-la ao meu lado em meu novo plano.
— Isso não está exatamente me dando uma grande experiência
de vida, mãe. Quero aprender algo novo, experimentar coisas
novas. Antes que eu perceba, a faculdade vai chegar e terei a
agenda cheia de aulas. Não quero deixar o ensino médio com
nenhum arrependimento.
— Não, você está certa, você está absolutamente certa. — Seu
sorriso brilhante me deu um pouco de esperança. — Aposto que se
o seu pai falar com o Killian, no banco, ele poderia ajudar ou eu
poderia perguntar à sra. Fenton se ela tem algo adequado.
Minha bolha estourou quase tão rapidamente quanto começou a
inflar.
— A sra. Fenton do asilo? — Minha voz estava repleta de
descrença.
— Essa mesmo. Tenho certeza de que os residentes adorariam
sua visita.
— Não era bem isso que eu tinha em mente, mãe. Estava
pensando em algo mais na linha de trabalhar com... animais.
— Animais? — ela mal conteve sua surpresa. — Mas por que
você gostaria de trabalhar com animais?
— Bem, eu sempre quis um animal de estimação, lembra? E
imagine como deve ser divertido trabalhar com todos os
cachorrinhos e gatinhos fofos.
— Fofo e perigoso, Felicity. E nem me fale sobre alergias.
— Mãe, eu não tenho alergia.
— Porque nós criamos você em um ambiente sem animais de
estimação.
— Não tenho certeza se funciona assim.
— Parece uma terrível perda de tempo quando você pode estar
adquirindo experiência prática em local de trabalho.
Ela não entendeu. Ela nunca entenderia. É por isso que nunca
me desviei do plano. Seu plano.
Era mais fácil assim. Mas agora que considerei um plano
diferente, não podia simplesmente deixar para lá. Se meu breve
tempo com Jason me ensinou alguma coisa, era ir atrás do que
queria.
— Acho que vai ser bom para mim — falei, desafiadora, sentindo
algo se agitar em meu peito.
— Não tenho certeza se concordo, querida. E só posso imaginar
o que seu pai dirá, mas se for algo que você realmente deseja fazer
— ela deu um suspiro resignado —, acho que não teria problemas,
desde que seja verificado se eles têm políticas de saúde e
segurança atualizadas.
— Sério?
— Você trabalhou duro nos últimos três anos, Felicity. Merece
algum tempo de folga.
Não era exatamente um endosso brilhante, mas eu aceitaria.
— Obrigada, mãe, significa muito ter o seu apoio. — Se ela se
sentiria assim mesmo que soubesse a verdade, era outra história.
— Querida, tudo que eu quero é que você seja feliz — ela
alcançou o balcão —, você sabe disso, certo?
Assenti com um nó na garganta. Ela queria que eu fosse feliz...
fazendo o que a deixava feliz. Mas eu queria mais. Percebi isso
agora. Queria correr atrás dos meus próprios sonhos, mesmo
quando me levassem para o caminho errado. Queria cometer erros
e aprender com eles. Não queria mais me contentar com a média,
não quando eu poderia ser incrível.
Ainda havia uma falha fatal em meu novo plano – eu não tinha
certeza se algum dia teria coragem de contar aos meus pais.
VINTE E SEIS
Jason
— VAMOS LÁ, número um, você está preguiçoso —um dos
treinadores assistentes gritou do outro lado do campo. Xinguei
baixinho, movendo as pernas com mais força, empurrando a parede
de dor que se fechava ao meu redor.
Eu estava cansado pra cacete.
Graças a Thatcher e à merda com Felicity, eu mal estava
dormindo. Meus músculos doíam e minha cabeça latejava, mas era
treino, e eu tinha um trabalho a fazer. Dar nada menos do que cento
e dez por cento não era uma opção.
— É isso, QB, continue assim.
Senti olhos em mim. Olhando em volta, encontrei Asher me
encarando. Ele ainda estava chateado com a nossa última conversa
sobre Felicity e era uma merda que eu não pudesse contar a
verdade a ele. Mas ele iria superar. Ele sempre superava.
— Ei — Cam disse, correndo até mim. — Você está bem?
— Estou. Pronto para chutar o traseiro de Brennington na sexta-
feira. — Era nosso último jogo e seria na casa deles. Então teríamos
uma semana de descanso antes da primeira rodada dos play-offs.
— Você e seu pai resolveram as coisas?
Mal tínhamos nos falado desde a noite dos veteranos, mas isso
não era novidade.
— Não muito.
— Sei que você está com raiva dele por tudo, mas talvez...
— Agradeço o conselho, de verdade — grunhi enquanto minhas
mãos fechavam em torno do passe de Grady. — Mas prefiro não
fazer isso. Você está com a Hailee agora, guarde isso para ela.
— Posso apoiar vocês dois. Além disso, a Hailee e a mãe estão
resolvendo as coisas.
Arqueei a sobrancelha.
— Acho que não somos tão parecidos, afinal. — Porque eu mal
conseguia olhar para o meu velho por causa de suas indiscrições,
muito menos tentar acalmar as coisas.
No entanto, acho que era diferente para mim. Há anos eu sabia
quem meu pai realmente era. Muito antes de Denise e Hailee
entrarem em cena. Ela foi apenas a gota d'água no que dizia
respeito à minha mãe.
Então, não, eu não tinha pressa em perdoar o homem que
arruinou nossa família. Mas estava com pressa em dar o fora desta
cidade. Uma ruptura limpa. Isso é o que eu queria. Para escapar da
sombra de Kent Ford e forjar meu próprio legado.
— Ouviu mais alguma coisa do Thatcher? Eu estava pensando
que talvez devêssemos ter dito ao treinador...
— Você acha que ele não sabe o que aconteceu com o projeto
de arte? Ele não é idiota. Mas não pode se dar ao luxo de permitir
que Finnigan enfie o nariz onde não deve.
— Ele disse alguma coisa para você?
— Não, mas insinuou.
— Então o que você vai fazer? O Thatcher não vai...
— Se o Thatcher sabe o que é bom para ele, vai ficar do outro
lado do rio até depois dos play-offs.
— Você realmente acha que ele vai fazer isso, depois de tudo?
Eu não sabia, mas não adiantava dizer isso a Cam. Não quando
ele queria fugir e tagarelar com o treinador.
— Não sei quantas vezes tenho que dizer isso — grunhi —, mas
posso lidar com o Thatcher.
Cameron não parecia convencido, mas eu estava cansado de
discutir sobre algo que não podia mudar. Thatcher não pararia até
conseguir o que queria.
A mim.
Portanto, era meu plano ficar escondido e ficar longe de
problemas pelo menos até sermos coroados campeões estaduais.
— Jase, venha aqui, filho. — O treinador acenou para mim como
de costume.
— Ele não parece muito feliz.
— Tenho certeza de que não é nada — grunhi, arrancando o
capacete e passando por Cam para ir para onde o treinador e um
dos assistentes estavam conversando.
— E aí, treinador?
O treinador assistente pediu licença e nos deixou por conta
própria. O treinador Hasson segurou meu ombro.
— Caminhe comigo.
Nós giramos em torno dos caras e caminhamos para a outra
extremidade do campo. O ar estava gélido, os primeiros sinais do
inverno evidentes na grama orvalhada.
— Fale comigo sobre o que aconteceu com o projeto de arte da
srta. Raine.
— Nós dissemos a você, treinador. Foi um acidente. Estávamos
movendo o...
— Sei o que você me disse, Jase, mas estou perguntando a
verdade. — Ele me deu um olhar penetrante. — Há rumores de que
os Eagles tiveram algo a ver com isso. Você não sabe nada a esse
respeito, não é?
— Eu não, treinador. — Enfiei minhas mãos no cós da calça e
mantive a expressão neutra.
— Jase, seja sincero comigo. Se eu descobrir que o Thatcher e
seu bando de idiotas do outro lado do rio foram os responsáveis,
não poderei protegê-lo do diretor Finnigan. E nós dois sabemos que
ele está apenas esperando por uma desculpa para tirá-lo do time.
— Não sei o que te dizer, treinador. — Esfregando a nuca, dei a
ele um meio sorriso.
— Essa rivalidade será a minha morte. — Ele balançou a cabeça
em frustração. — Vou sentir muita falta de você no ano que vem,
mas não posso dizer que vou sentir falta dessa coisa entre você e o
Thatcher sempre que eu viro as costas.
— Eu...
— Me ouça bem, Jason. Mais quatro jogos. Isso é tudo o que
está entre você e o campeonato. Seria uma pena se você
arruinasse o que tem sido uma temporada quase perfeita porque
não soube quando parar. Mantenha a cabeça no lugar, está me
ouvindo?
— Sim, senhor.
— Falo sério, filho. Se eu descobrir que você está planejando
uma retaliação contra os Eagles, você não terá que se preocupar
com o Finnigan, porque serei eu quem fará você ficar de fora.
Fechei os olhos por muito tempo no que diz respeito a vocês dois.
Travessuras estúpidas do ensino médio são uma coisa, mas quando
começam a afetar as pessoas ao seu redor, é hora de encerrar.
Se ele queria me fazer sentir mais culpado do que eu já me
sentia, ele conseguiu. O sentimento atingiu meu estômago, torcendo
e apertando.
— Você é um bom garoto, Jason. Falei de coração na noite dos
veteranos, mas às vezes, você fica cego para o jogo e isso o torna
seu pior inimigo. De alguém que se lembra de como é querer tanto
que você não consegue ver mais nada, existe um grande mundo lá
fora, e há espaço para mais do que apenas futebol. Não parece
agora, quando você está no precipício da grandeza, mas acredite
em mim quando digo, é verdade. — Ele segurou meu ombro
novamente. — Agora, saia daqui. Não quero ver você de novo até
entrarmos no ônibus para o jogo de sexta-feira, certo?
— Mas, treinador, ainda faltam dois dias.
— Estou dando a todos vocês uma folga bem-merecida. Não
estou preocupado com sexta-feira e nem você deveria estar. É o
que vem depois que importa. Você trabalhou duro nesta temporada
Jason, tente ser um garoto de dezoito anos pelo menos uma vez.
Você nunca sabe, pode ser bom. — O treinador piscou para mim
antes de endireitar o boné e sair em direção ao ginásio.
Folga?
Não fazia parte da equação. Sempre havia algo para se fazer,
para o qual treinar. Mesmo quando a temporada acabava, eu estava
na academia malhando, ou continuava nos treinos com os caras.
Aperfeiçoando o jogo, fortalecendo quaisquer fraquezas.
— Então? — Cam se aproximou de mim. — Qual é o veredicto?
— Ele quer que a gente pare um pouco.
— Folga? Parece bom para mim. — Ele sorriu.
Foi naquela fração de segundo que percebi o quanto mudamos.
Talvez fosse Hailee, a doença de sua mãe ou o futuro iminente, mas
o futebol não era mais a coisa mais importante na vida de Cam.
Talvez nunca tenha sido.
Nunca imaginei que algo iria se interpor entre nós, entre nossos
planos, mas aconteceu. No entanto, eu não poderia culpá-lo. Eu
nunca o tinha visto tão feliz quanto estava com minha meia-irmã.
Nunca esteve em meus planos encontrar alguém, deixar alguém
entrar. Me distrair.
Então ela apareceu.
Felicity Giles.
Puta merda, ela me pegou de surpresa. Um anjo de cabelos
escuros, sem filtro e senso de moda louco. Ela era tudo que eu não
queria ou precisava e, ainda assim, se infiltrou no meu exterior de
aço antes mesmo que eu tivesse tempo de perceber o que estava
acontecendo.
— Você está pensando nela, não está? — A voz de Cam me
tirou de meu devaneio.
— Quem, na Hailee? — brinquei.
— Você sabe exatamente de quem estou falando. — Ele sorriu.
— Não importa.
— Você fica dizendo isso...
— Porque é verdade. Está acabado. — Tinha que estar.
— Se você diz.
Eu disse.
Mesmo que fosse a maior mentira de todas.

— E É ASSIM que se faz, garotos — o treinador arrancou seu boné


e o jogou no ar. — Uma temporada quase perfeita. — Se não
tivéssemos estragado nosso último jogo.
Aquela era uma pílula difícil de engolir, mas não importava.
Estávamos nos play-offs. Um passo mais perto do objetivo final.
— Tomem banho e se troquem. Quero sair daqui e voltar para
casa.
Um coro de “Sim, treinador” soou ao meu redor, e o zumbido da
vitória ainda estalando no ar.
— Ei, capitão, dê uma olhada — Grady me mostrou o celular.

@THATCHERQB1: Os Raiders podem ter ido para os play-offs, mas


o Ford vai cair. #voceestaacabado #fiquedeolho
— ELE ESTÁ CHATEADO porque os Eagles estão fora e nós
estamos dentro — falei, sentindo meu estômago dar um nó. —
Deixe-o falar merda, todos nós sabemos qual é o melhor time.
— Ainda acho que deveríamos atravessar o rio e mostrar a ele
quem manda. — Ash pendurou a toalha no ombro.
— Você superou a birra? — Meu tom foi calmo.
Ele deu de ombros quando entramos no chuveiro.
— Achei que se alguém vai aparecer na festa mais tarde, eu
preciso fazer as pazes.
— Ah, então é assim, hein?
A boca de Asher se curvou.
— O que posso dizer, tenho que dar às pessoas o que elas
querem.
— Filho da puta — murmurei baixinho.
Depois de um banho rápido, nos vestimos e nos reunimos perto
dos ônibus onde Hailee e alguns outros fãs ficaram para nos dar os
parabéns.
— Ótimo jogo — ela disse para Cam e Asher, me ignorando
completamente. Eu me afastei, puxando a bolsa por cima do ombro.
Estava na ponta da língua perguntar onde Felicity estava, mas isso
sugeriria que eu me importava.
— Ei, Jase, vamos voltar com a Hailee. Quer uma carona?
Olhei para ela em questão, que deu de ombros com desdém.
— Eu vou com...
— Apenas entre na porcaria do carro, Jason — ela suspirou.
— Você ouviu a mulher, Jason, entre na porcaria do carro. —
Ash piscou, e eu mostrei o dedo do meio para ele. Ele estava tão
presunçoso que eu queria mandá-lo se foder. Mas não falei nada.
Em vez disso, cerrei os dentes e entrei no carro, me perguntando
quando eu me tornei um covarde.
DUAS HORAS DEPOIS, todo mundo que importava estava
espremido na casa de Asher.
— Muito bem, filhos da puta, fiquem quietos. — Ele pulou na
bancada da cozinha e ergueu a cerveja. — Sei que o treinador disse
tudo na semana passada na noite dos veteranos, mas esta é a
minha casa e eu quero dizer algumas palavras.
Alguns rapazes aplaudiram enquanto Grady enrolava um
guardanapo e o lançava nele.
— Vá em frente — ele gritou.
— Não vai demorar muito — Ash sorriu para ele, balançando as
sobrancelhas —, assim como o Mackey na cama. — Outra rodada
de gritos estourou ao meu redor.
— O ano passado deveria ter sido nosso. Devíamos estar
naquele jogo do campeonato, trazendo a coroa para casa. Mas este
ano... este ano será. Amo vocês e não sei o que vou fazer quando a
temporada acabar. Então levantem suas bebidas e deixem-me ouvir
todos vocês. Quem somos nós?
— Raiders.
— E o que vamos fazer?
— Ganhar!
— Caramba, estamos certos. Agora vamos comemorar como os
vencedores que somos e nos divertir. — Ele engoliu sua bebida e
bateu no peito como Tarzan. Cam riu ao meu lado, mas eu mal sorri.
Porque comemoração ou não, faltava alguma coisa.
Segui Cam para fora, para nossos assentos de costume, onde
Hailee se juntou a nós.
— Tudo certo? — Cam perguntou a Hailee enquanto ela se
acomodava em seu colo.
— Sim, tudo bem.
— Elas não vão vir?
Ela balançou a cabeça, seus olhos encontrando os meus.
— Acho que não.
— Talvez seja melhor — Cam falou baixinho enquanto eu me
concentrava na minha cerveja, raspando o rótulo com a unha.
— Sim. — Os olhos de Hailee queimaram no topo da minha
cabeça.
— Shots — Asher apareceu com uma bandeja de Jelly shot.
— Não, cara — resmunguei, sem humor.
— Ah, vamos lá, cara, nós conseguimos. Uma temporada quase
perfeita e o estadual na mira. — Ele estendeu um copo para mim,
esperando que Cameron e Hailee pegassem os deles.
— Não consigo acreditar que está quase no fim. — A expressão
de Ash se desfez quando ele ergueu seu copo. — Foram os
melhores quatro anos da minha vida. Aos bons amigos, ao futebol e
ao futuro, seja lá o que for. — Algo brilhou em seu rosto, mas sumiu
rapidamente quando ele engoliu.
— Pittsburg não saberá o que os atingiu — Cam falou,
colocando o copo vazio na bandeja.
— Sim — Ash deu de ombros —, mas não será o mesmo, será?
Um bom amigo o teria tranquilizado, teria jurado que as coisas
não mudariam.
Mas ele estava certo.
Depois da formatura, nada mais seria o mesmo.
VINTE E SETE
Felicity
— VOCÊ DEVE SER A FELICITY. Sou o George, bem-vinda a Brand
New Tail.
— Olá. — Sorri para o homem. Ele era mais jovem do que eu
esperava, com cabelo loiro claro e sorriso brilhante. Não deveria ter
mais do que vinte e cinco anos. — Muito obrigada por me receber.
— Sem problemas. A Regina me disse que você está pensando
em cursar veterinária na faculdade...
— É uma possibilidade, mas sei o quanto é competitivo e um
pouco de experiência ajudaria muito na minha inscrição.
— Posso te perguntar por que agora? A maioria dos voluntários
do ensino médio começa no primeiro ano.
— Sempre amei animais e veterinária era algo que sempre tive
vontade de fazer, mas meus pais... bem, eles têm ideias diferentes
no que diz respeito ao meu futuro.
— Ah. — Ele sorriu. — Não precisa dizer mais nada. Meus pais
sonhavam com um médico e conseguiram um veterinário.
— Como eles lidaram com isso?
— Foi um choque no começo, mas eles aceitaram a ideia. No
final, acho que tudo o que nossos pais realmente desejam é que
sejamos felizes. Vamos começar?
— Eu adoraria.
Pela primeira vez desde que Mya me convenceu a fazer tudo
isso, senti uma semente de esperança brotar em meu peito. George
entendia. Ele esteve onde eu estava agora e passou por isso sem
muitos solavancos e arranhões se sua posição aqui era alguma
indicação.
— Primeiras coisas primeiro. Esta é a Serena, nossa gerente. —
Ele acenou para a mulher com cabelo curtinho que ocupava a mesa.
— Serena, conheça a Felicity. Estou apresentando o lugar a ela.
— Ei, boneca — ela sorriu de forma calorosa. — Caloura do
ensino médio?
— Veterana, na verdade — George a corrigiu. — Ela está
começando um pouco tarde.
— Não há tempo como o presente. Não o deixe te assustar,
Felicity, não é? — Concordei. — O George ladra, mas não morde.
Desculpe o trocadilho de cachorro, você vai ouvir um monte desses
por aqui. — Ela me deu uma piscadela e voltou para o que quer que
estivesse fazendo.
— Não ligue para ela — George disse, me levando por uma
porta para um longo corredor. — Então, lá fora fica o que chamamos
de “o andar”. E tudo além desta porta é o que chamamos de “parte
dos fundos”.
— Entendi.
— Achei que deveríamos começar com as coisas divertidas e
começar dos fundos para a frente.
— Por mim, tudo bem. — O lugar tinha um cheiro bem distinto.
Eu não conseguia definir o que era, mas estava lá.
— Temos uma equipe permanente de quatro pessoas. Eu,
Serena, Joseph e Maggie, e uma equipe de cinco voluntários que
nos ajudam semana a semana, dependendo do quanto estamos
ocupados. — George continuou andando, levando-me até o final do
corredor. — Serena cuida do atendimento, de todas as consultas e
adoções de clientes. Maggie e eu lidamos com os recém-chegados.
Realizamos verificações completas, atualizamos os reforços de
vacinação, administramos medicamentos e tratamentos em todos os
casos que necessitem. E Joseph é nosso encantador de animais.
— Encantador de animais?
— É como gostamos de chamá-lo. Seu trabalho é cuidar dos
animais no dia a dia, mas o cara tem um dom raro com eles, mesmo
nos casos mais graves que vemos. Em meus cinco anos aqui, não
vi um caso que ele não fosse capaz de resolver.
— Uau, ele parece maravilhoso.
— Ele é realmente incrível. Infelizmente, teve um raro dia de
folga, então você não o encontrará hoje.
Senti uma decepção, mas tentei me livrar dela, lembrando-me
das palavras de encorajamento de Hailee e Mya. Este era um passo
positivo na direção certa.
— E aqui estamos. Isso é o que gostamos de chamar de
“zoológico”.
No segundo George abriu a porta, percebi o porquê. Recebida
com latidos excessivamente zelosos e ronronados cautelosos, entrei
na sala. Até mesmo alguns rosnados me cumprimentaram.
— Certo, certo, fiquem quietos. — George arrastou suas chaves
ao longo da gaiola mais próxima. — Trouxe alguém para conhecer
todos vocês, mas precisam prometer se comportar.
— Há muitos.
— Não aceitamos apenas casos de Rixon. Cobrimos as áreas
próximas também, então as coisas podem ficar bem malucas.
Estamos quase no limite agora. Vinte e cinco gatos, dezoito
cachorros e Earl.
— Earl? — perguntei com os olhos arregalados enquanto
observava a vasta sala. Estava claramente dividida em cães e
gatos, com uma mesa de exame e um aparelho instalado no meio.
As gaiolas eram grandes e espaçosas, cada uma equipada com
tigelas de comida, água, arranhador para os gatos e alguns
brinquedos para os cães.
— Nosso coelho. Tecnicamente, só recebemos cães ou gatos,
mas ele foi encontrado no beco atrás do prédio, e Serena implorou
que o pegássemos.
— Alguém o deixou lá?
— Você ficaria surpresa com os lugares que as pessoas
descartam animais de estimação indesejados.
Meu coração se apertou quando encontrei o coelho de orelhas
compridas em uma gaiola especial, longe dos outros animais. Ele
era tão fofo e indefeso. A ideia de que alguém poderia simplesmente
jogá-lo fora fez meu coração doer.
— Então, quando um animal chega pela primeira vez, a primeira
parada é um exame completo de saúde... — Pelos próximos dez
minutos, George explicou como eles procediam com novos animais
e como usavam um serviço digital para tentar realojar tantos animais
que possível.
— A permanência média conosco é de onze semanas, o que
significa que estamos fazendo um trabalho bastante bom para
encontrar novos lares compatíveis para os animais. Temos um
processo de triagem completo e insistimos que os adotantes em
potencial participem de uma de nossas sessões de informações
antes de começar a fazer qualquer coisa. E estamos orgulhosos de
ter 85% de sucesso na busca por novos lares.
— Oitenta e cinco por cento? Mas o que acontece com os outros
quinze por cento?
— Ah, eles geralmente ficam vitalícios aqui ou nós os
transferimos para um centro mais adequado. — Ele foi até uma
gaiola e se agachou. — Esse é o Boomer. Ele é um labrador negro
que está comigo desde o início.
O cachorro olhou para mim, inclinando-se para farejar o ar.
— Olá, rapaz.
— Quer conhecê-lo? Ele é bem amigável.
— Eu adoraria. — Senti uma certa emoção quando George
destrancou a gaiola e abriu a porta.
— Ele está um pouco inseguro com novos rostos, então dê a ele
um minuto.
— Ei, Bo...
O enorme cachorro saltou em minha direção, me jogando de
bunda no chão.
— Acho que você tem um fã — George riu, mas eu estava
derrubada enquanto Boomer me cutucava e lambia meu rosto,
persuadindo-me a passar as mãos por seu pelo macio e brilhante.
— E o George disse que você era tímido. — Olhei para ele, que
corou um pouco. Ele era meio fofo, dez vezes mais fofo pelo fato de
cuidar de todos aqueles animais.
Mas eu não estava aqui para ter uma queda por George, e sim
para absorver tudo o que pudesse sobre o que significava trabalhar
em um lugar como esse.
— Você gosta disso, hein? — Cocei o pescoço de Boomer, e ele
inclinou a cabeça de um lado para o outro para que eu pudesse ter
melhor acesso.
— Certo, Boom, volte para dentro. O Joseph não está de plantão
hoje, mas vou me certificar de que você estique as pernas mais
tarde. — Ele deu um tapinha na cabeça de Boomer antes de
conduzi-lo gentilmente de volta para sua gaiola.
— Todos eles fazem exercícios diários?
— Sim. Duas vezes ao dia. E depois o Joseph os leva em
pequenos grupos até o quintal. É importante para a socialização e
preparação para suas novas casas.
Assenti, absorvendo cada palavra com ansiedade.
— Sempre quis um cachorro ou gato, mas a minha mãe tinha
medo de alergias.
— Tenho três animais de estimação. — George tirou um
punhado de guloseimas para cachorros de uma jarra e começou a
seguir pela fileira baixa de gaiolas. — Um spaniel e dois gatos.
— Onde você estudou?
— Na Escola de Medicina Veterinária da Penn. Eu me formei no
ano passado, tirei as licenças e a Regina me ofereceu o cargo de
gerente do centro.
— Uau, isso é incrível.
— Sempre imaginei que trabalharia em uma clínica veterinária,
mas quando comecei a ser voluntário aqui, não consegui me
imaginar em outro lugar. Há algo mágico em unir um animal de
estimação resgatado a um novo dono. — O orgulho irradiava de
cada palavra e percebi que queria isso. Eu queria fazer a diferença
para os animais e as pessoas.
— Você tem aquele olhar — ele observou.
— Tenho?
— Sim. — Ele sorriu. — O brilho de novata. Eu me lembro bem.
Deixou você mais linda. — Seus olhos se arregalaram com o
deslize, e eu sufoquei uma risadinha.
George estava flertando comigo. Provavelmente não foi
intencional e tinha sido inofensivo, mas foi bom do mesmo jeito.
— E isso foi realmente inapropriado. Sinto muito. Às vezes eu
falo antes de pensar. Posso garantir a você que geralmente sou
muito mais profissional.
— Tudo bem.
Silêncio constrangedor estendeu-se diante de nós, apesar das
pequenas palpitações em meu peito.
— Então, humm, sim, este é o “zoológico”. Também temos uma
sala cirúrgica, uma de recuperação e algumas baias de isolamento
para os piores casos.
— Dói meu coração saber que as pessoas podem ser tão cruéis
com algo tão fofo.
— Vemos de tudo aqui. Definitivamente, não é para quem tem
coração fraco, mas só torna tudo mais gratificante quando um cão
que só conheceu abandono e abuso encontra um lar amoroso. Quer
ver o resto do lugar?
Assentindo, ansiosa, falei:
— Adoraria.

ACABEI FICANDO a maior parte da tarde. George ficou feliz em


falar sobre o trabalho, e eu estava mais do que disposta a ouvir. Não
poderia ter sido melhor... até que ele me lembrou de que não havia
vagas para voluntários, e o fundo do poço caiu da minha bolha feliz.
— Claro, eu entendo — falei, contorcendo as mãos.
— Acho que você realmente se encaixa aqui. — Um leve rubor
cobriu suas bochechas novamente e não havia dúvida de que ele
estava flertando. — Mas minhas mãos estão atadas. Espero que
você entenda.
— Sim, obrigada.
— Bem, foi um prazer conhecê-la, Felicity. Se você tiver alguma
dúvida ou precisar de ajuda com sua inscrição, me avise. — Ele
remexeu no bolso. — Aqui está o meu cartão.
— Obrigada. — Eu o peguei e o segurei perto do peito como se
ele tivesse acabado de me oferecer o universo. — Eu
provavelmente deveria te deixar voltar ao trabalho. Não deveria
deixá-los esperando. — Balancei a cabeça.
— Sim, tenho muitas tarefas a realizar hoje, já que o Joseph está
de folga.
— Tenho certeza de que você fará um ótimo trabalho.
— Vou tentar.
Nenhum de nós fez qualquer esforço para se mover, mas estava
começando a ficar estranho, então dei a ele um pequeno aceno e fui
embora. Foi uma experiência tão agridoce... confirmando meu
desejo inexplorado de trabalhar com animais, mas temperado por
uma pontada de arrependimento. Frustração, porque não fui mais
corajosa para ir atrás do que queria no ano passado ou sempre que
minha mãe e meu pai mencionavam a faculdade.
E sabendo que podia ser tarde demais.
VINTE E OITO
Jason
EU ESTAVA SAINDO quando a voz de Hailee me parou no meio do
caminho.
— Talvez você devesse ligar para o George e ver se ele pode...
— A conversa ficou abafada, mas entendi a palavra estranha.
Flick.
Perguntar.
Pode.
— George? — Me virei para trás e entrei na cozinha.
— Bom dia para você também — minha meia-irmã resmungou
enquanto se servia de um copo de suco.
— Quem é George? — Encostei-me no batente da porta
casualmente.
— Ninguém.
— Você torna isso muito fácil às vezes.
— E você torna muito fácil odiá-lo. — Um sorriso malicioso se
espalhou por seu rosto. — Você não tem que estar na escola bem
cedo para treinar?
— Eles vão esperar por mim.
— Tão arrogante.
— Tão espinhosa — atirei de volta. — Então, George?
— Não é ninguém.
Não gostei da maneira como ela estava se desviando. Hailee
normalmente só fazia isso se não queria que eu soubesse de algo.
E agora, havia apenas uma pessoa que ela não queria que eu
soubesse.
Felicity.
— Eu vou descobrir, irmãzinha — eu avisei. — De uma forma ou
de outra, vou descobrir quem é George. — Pegando uma maçã da
tigela, mordi, dando um olhar penetrante para ela.
— Você não se importa, lembra? Então, por que quer saber
quem é George? — Olhei com mais intensidade, e ela riu. — Não é
tão arrogante agora, é? — Ela arqueou a sobrancelha.
Sem outra palavra, saí da cozinha, sentindo o músculo da
mandíbula pulsar.
Merda de George.
Não deveria me importar quem ele era. Ele podia ser o novo
tratador da piscina dos Giles ou um amigo da família. Mas isso não
impediu minha mente de disparar em uma centena de direções
diferentes, todas terminando no mesmo ponto. George não era
ninguém.
Ele era alguém, e eu odiava isso.
No momento em que cheguei à casa de Asher, George havia
assumido uma vida própria. Uma bola de neve na vida de Felicity.
Talvez eles estivessem namorando. Talvez ele fosse um ex
procurando reatar o relacionamento. Ou talvez Felicity estivesse
dando em cima dele. Aquilo doeu.
— Bom dia. — Asher deu uma olhada para mim ao entrar no
carro e soltou um assobio baixo. — O que aconteceu agora?
— Quem é George?
— George? Isso é algum tipo de teste? Devo saber quem é
George?
— Basta responder à porra da pergunta.
— George, o curioso? George Foreman? George Clooney? —
Asher zombou, e eu olhei para ele sem expressão. — Não? Bem,
nesse caso, não tenho ideia de quem é George. — Apertei o volante
enquanto fazia a volta para a escola. — Estou supondo, pela
maneira como você está estrangulando o volante, que não era a
resposta que você queria.
— Não é nada.
Ele bufou.
— Se você diz.
Um instante se passou. E outro. Até eu finalmente ofegar:
— Eu ouvi a Hailee ao telefone com a Felicity.
— E aí? Você está preocupado que o tal George esteja se
preparando para consertar seu coração partido? Eu chamaria isso
de uma doce dose de “eu te avisei”.
Meu peito retumbou de indignação quando engoli a resposta.
Doía dizer isso, mas Asher estava certo.
— O que, sem resposta? — ele adicionou.
Olhei para ele em silêncio, implorando para que deixasse para
lá. Mas eu escolhi o amigo errado para confiar.
— Eu não disse que isso iria acontecer? — Ash grunhiu. — A
Felicity é cativante, mano. Se você não estivesse tão interessado
nela, eu não teria hesitado em tentar a sorte. Mas há muitos outros
caras por aí, Jase.
— Eu sei. Porra, você acha que eu não sei disso? — As palavras
saíram tensas.
— Então o que aconteceu? — Com o canto do olho, observei
enquanto ele se virava, passando a mão pelo cabelo bagunçado. —
Fale comigo, vamos tentar resolver isso antes que seja tarde
demais.
— O treinador vai ficar puto se chegarmos atrasados — falei, me
desviando.
— Jase, cara, vamos lá...
— Apenas me faça um favor e cuide dela, certo? — Baixei a voz,
encontrando uma vaga de estacionamento vazia. Desligando o
motor, o silêncio desceu sobre nós.
Asher queria dizer mais, argumentar que eu estava cometendo
um grande erro, mas eu já tinha feito minha cama. Esta manhã foi
apenas surpreendente. Fiquei confuso ao ouvi-la conversar com
Hailee sobre outro cara tão cedo. Mas estava fadado a acontecer.
Felicity podia ser peculiar, mas tinha uma personalidade carinhosa e
o tipo de sorriso que iluminava uma sala inteira. Qualquer cara teria
sorte de tê-la. Eu teria sorte de tê-la. Em outra vida, talvez.
Empurrei a porta com o ombro, sem nem me preocupar em
esperar por Ash, e me dirigi para o vestiário. Eu precisava bater em
algo. Precisava machucar.
Mas, acima de tudo, precisava esquecer.

O TREINO NÃO AJUDOU MUITO. Eu me esquivei de duas aulas,


mal ouvindo os professores antes de me juntar aos meus colegas de
time no almoço. Eles conversaram ao meu redor, animados com o
descanso de uma semana antes do primeiro jogo dos play-off no
próximo fim de semana.
— Venho trazendo boas notícias. — Asher largou a bandeja e se
sentou ao meu lado. — George não é ninguém. — Ele se inclinou,
mantendo a voz baixa. — Bem, ele é alguém, mas não é ninguém
com quem devemos nos preocupar.
— Nós? — perguntei com frieza, sentindo a irritação subindo
pela minha espinha.
— Quem diria que você poderia ser tão possessivo? — Ele me
lançou um olhar sarcástico. — De qualquer forma, George é o
gerente de um local de resgate de animais em que Felicity está
tentando conseguir uma vaga como voluntária.
— Por que ela quer fazer isso?
— Eu ouvi a Hailee dizer ao Cameron que ela está pensando em
mudar seu curso para veterinária ou algo assim. Mas ela precisa de
experiência prática para sua inscrição.
Então George não era um cara novo com quem ela estava
namorando. Eu deveria ter sentido o alívio me atingi.
Não senti.
Porque eu não pude deixar de me perguntar se a mudança de
planos dela teve algo a ver com a minha reação instintiva ao
descobrir que ela havia se inscrito na Penn.
— Tá — grunhi.
— Tá? — Ash repetiu. — Te trago uma notícia importante e tudo
o que você me diz é “tá”?
— Como eu disse antes, não...
— Importa, sim, recebi o memorando. Acho que você não deve
estar interessado em saber que o George deu seu cartão a Flick e
disse a ela para ligar se precisasse de qualquer coisa. Não sei sobre
você, mas isso soa muito como um código para... — Asher gemeu
de dor quando meu cotovelo atingiu suas costelas. Voltei de forma
casual para meu sanduiche, fingindo que ele não tinha acabado de
explodir meu mundo.
Então George não era um cara novo com quem ela estava
saindo. Mas pelo que parecia, ele queria ser.
Eu a empurrei direto para seus braços abertos.
E não fazia a menor ideia do que fazer com isso.
MEU HUMOR só piorou com o passar do dia. Então, quando o
celular vibrou enquanto eu caminhava para o carro no final do dia e
abri a mensagem recebida no Snapchat, quase tive um acesso de
raiva. A imagem granulada estava acompanhada por apenas três
palavras.

ACABOU O TEMPO.

PUTA MERDA.
Thatcher não ia recuar, e eu não tinha certeza de quanto tempo
mais poderia evitá-lo. Talvez fosse melhor acabar com isso agora.
Eu ele. Um a um.
Contra meu melhor julgamento, digitei em resposta.

DIGA HORA E LUGAR.

SUA RESPOSTA FOI INSTANTÂNEA.

NO MAN’S LAND... sexta-feira após o pôr do sol.

ERA um trecho de terra próximo ao rio, não muito longe do The


Alley. Costumávamos ir lá quando éramos crianças, antes que a
rivalidade entre os Raiders e os Eagles se tornasse mais do que
apenas algumas pegadinhas inofensivas do ensino médio.
COMBINADO. Só eu e você.

AH, você sabe disso. Vou gostar de te fazer sangrar.

MUITAS PALAVRAS para um cara que esperou quase oito meses


para se vingar.

TODAS AS COISAS boas vêm para aqueles que esperam.

NÃO RESPONDI. Não fazia sentido. Poderíamos andar em círculos


o dia todo sobre o fato de que ele estava escolhendo agora para
atacar, mas isso não mudaria nada. Eu só tinha que descobrir uma
maneira de me afastar dessa coisa. Porque enquanto ele tinha tudo
a ganhar, eu tinha tudo a perder.

EU ESTAVA SENTADO NO QUINTAL, bebendo uma cerveja


quando Hailee me encontrou.
— Bebendo sozinho aqui fora, deve ser ruim.
— Só precisava de um pouco de ar.
— Gostaria de falar sobre isso?
— Não, não quero. Mas obrigado pela oferta — acrescentei no
final.
— Alguém segure o telefone, o inferno deve ter congelado — ela
riu, puxando outra cadeira para perto da minha. — Você deve estar
animado para os play-offs.
— Estou pronto. É como se toda a minha vida tivesse me levado
a esse ponto, sabe?
— Na verdade, não. — Ela me deu um sorriso hesitante. — Mas
estou com você há tempo suficiente para saber o quanto isso é
importante.
— E aí? Somos amigos de novo?
— Não tenho certeza se alguma vez fomos amigos, mas cansei
de guardar tanto ódio e amargura. Quero aproveitar o resto do
último ano.
— Aos não-amigos? — Levantei minha cerveja, e Hailee franziu
a testa. — Aqui. — Passando uma garrafa vazia, bati o gargalo da
minha contra a dela.
— Trégua? — ela adicionou.
— Acho que posso concordar com isso.
— Sei que foi difícil para você por causa da Felicity e não vou
mentir, passei alguns dias planejando maneiras de fazer você pagar,
mas acho que percebi que foi melhor assim.
Suas palavras se enrolaram em meus pulmões, tornando difícil
respirar.
— É? — Eu mal consegui ofegar.
— Sim. Vocês dois são de mundos completamente diferentes e o
futebol sempre será a coisa mais importante para você. E tudo bem.
A Felicity precisa de alguém sólido, alguém que aguente seu tipo de
loucura.
— Alguém como George? — As palavras saíram antes que eu
pudesse detê-las.
— Ah, Deus, por favor, não me diga que você está com ciúmes
do George?
— Eu deveria estar?
Sua expressão se desfez.
— Eu realmente não sei como responder a isso.
— Então ela quer ser médica veterinária ou algo assim?
— Sim, é tudo novo. Ela deveria cursar administração como seus
pais. Mas ela fez aquela lista, e isso a pressionou a reavaliar as
coisas, a ir atrás de coisas que ela não teria ido antes.
— Como jogadores de futebol idiotas que não sabem o que
querem?
— Exatamente. — Hailee deu uma risada. — Talvez em outro
momento e lugar, vocês dois teriam dado certo.
— Pode ser. — Gostei dessa ideia: Felicity e eu juntos em alguns
anos. Eu, o jogador importante da NFL, e ela, a médica veterinária
de grande coração.
— Como você soube que o Chase era o cara? — perguntei,
embora me sentisse estúpido no segundo em que as palavras
saíram da minha boca.
— Não foi uma questão de saber. Foi apenas uma percepção de
que a vida era melhor com ele por perto e quando as coisas
estavam complicadas com a mãe dele, eu queria apoiá-lo. Estar ao
lado dele.
Dei um longo gole na cerveja, refletindo sobre suas palavras.
— Sempre achei que eu era o apoio dele. — Meu lábio se curvou
em um meio sorriso, apesar do nó no meu estômago.
— Um dia, você vai encontrar isso. Talvez não agora, mas um
dia...
— Eu quase tive isso, sabe?
— Aimee?
— Sim. — Fiquei olhando para longe, lembrando-me de um
tempo que parecia muito distante.
— O que aconteceu? — Hailee perguntou. — Quer dizer, sei um
pouco, mas prefiro ouvir de você.
Encontrando seus olhos, deixei escapar um suspiro cansado.
— A Aimee era... diferente. Especial. — Pelo menos, eu achei
que ela era. Mas isso foi antes de eu saber a verdade. Antes de eu
conhecer Felicity e perceber que o que eu sentia por Aimee não era
nada além de uma paixonite.
— Ela te magoou?
— Não só me magoou, me destruiu completamente.
VINTE E NOVE
Felicity
ACORDEI com o som do celular vibrando. Inclinando-me, me
atrapalhei para encontrá-lo e o levei ao ouvido.
— Alô?
— Felicity, é o George.
— George? — Esfreguei os olhos sonolentos, sem saber se
tinha ouvido corretamente.
— George, da New Tail. Espero não ter te acordado.
— É tão óbvio? — Uma risada baixa deixou meus lábios.
— Desculpe, achei que, sendo dia de aula, você estaria de pé e
pronta.
— Não sou uma pessoa muito matinal.
— Percebi. — Ouvi seu sorriso. — De toda forma, só queria te
informar que surgiu uma vaga, então se você ainda estiver
interessada...
— Interessada? — Fiquei de pé. — Eu adoraria.
— Bem, isso é ótimo. Quando você pode vir aqui e preencher a
documentação?
— Hoje, eu posso ir hoje — as palavras saíram em um frenesi.
— Tenho aulas até as três e meia, mas depois disso estou livre.
— Vou precisar verificar a agenda, mas não acho que será
problema. Posso enviar um e-mail para você mais tarde para
confirmar — ele hesitou — ou uma mensagem de texto?
— Qualquer um está bom. — Senti um frio no estômago de
excitação. — Estou aliviada e animada, de verdade. Você estava tão
certo de que não havia vaga, e eu meio que perdi as esperanças.
— Bem, estou feliz em ligar com boas notícias. — George me
deu uma lista do que levar antes de nos despedirmos e desligarmos.
Pulei da cama com um salto e rapidamente mandei uma
mensagem para Hailee e Mya.

EU: George acabou de ligar... há uma vaga para mim.


HAILEE: Isso é incrível, estou muito feliz por você.

MYA: Isso é ótimo. Todo aquele flerte deve ter valido a pena.

MEU ESTÔMAGO DEU UM NÓ. Era por isso que George tinha
encontrado algo para mim de repente? Por que ele gostou de mim?
Eu não queria dever nada a ele.
Droga.
Digitei outra mensagem rápida para Hailee.

EU: Você não acha que o George encontrou algo para mim porque
acha que eu devo a ele agora, acha?

MEU CELULAR TOCOU, e eu atendi.


— A Mya parece pensar que ele está fazendo isso porque gosta
de mim — falei depressa.
— Bom dia para você também. — Hailee riu baixinho.
— Desculpe, eu estava tão feliz e agora estou em pânico.
— Ele deu a entender isso?
— Não sei. Ele foi amigável, mas parecia um cara legal.
— Ele sabe que você está no ensino médio, certo?
— É claro.
— Então, ele provavelmente está fazendo uma boa ação. Você
disse que ele mesmo acabou de sair da faculdade, então
provavelmente sabe o quanto isso significa para você. Isso é uma
coisa boa, Flick.
— Você está certa. — Dei um suspiro de alívio. — Você está
totalmente certa. A Mya está enganada.
— Ela gosta de bagunçar sua cabeça. Mas ela tem boas
intenções.
— Eu sei. Obrigada. Preciso me preparar para a escola. Quer
uma carona?
— O Cameron vem me buscar, mas você quer ir com a gente?
— O Jason... na verdade, não responda a isso. Te encontro lá.
Acho que tenho que pegar a Mya de qualquer maneira.
— Tudo bem, e Flick?
— Sim?
— Acho que a Mya está certa. Acho que isso pode ser muito
bom para você.
— Obrigada, te vejo na escola. — Desliguei e soltei um suspiro
trêmulo, sentindo a energia nervosa irradiar por mim. Conseguir
essa oportunidade na A Brand New Tail foi uma coisa boa, mas
significava deixar de lado o sonho dos meus pais para mim.
Algo que eu não gostaria de fazer.

— OI. — Hailee me encontrou depois da aula. O dia tinha voado e


minha cabeça estava muito ocupada com a ligação de George para
me concentrar. — Você vai direto para lá?
Concordei.
— Não queria correr o risco de ir para casa e encontrar minha
mãe. Dessa forma, posso acalmar meus nervos antes de chegar lá.
— E o que você vai fazer? — Asher espiou por cima do ombro
de Hailee, sorrindo para mim.
— O local de resgate de animais ligou para a Flick. Eles têm uma
vaga para ela.
— O pequeno Georgie mexeu alguns pauzinhos, não é?
— Como você sabe sobre George? — Franzi o cenho.
— Eu, ah — ele gaguejou, com os olhos cheios de culpa. — Ouvi
a Hailee contar para o Cam sobre isso.
— Certo.
— Estou orgulhoso de você, Fee, baby. — Ele envolveu o braço
no meu pescoço e me puxou. — Aquelas bolas de pelo vão te amar.
— Espero que sim, eu adoraria.
Asher soltou o braço e se afastou de mim.
— Oi, pessoal — Mya disse, se juntando a nós.
— Mya — ele falou baixinho, a razão para sua mudança
repentina aparente. — Bela camisa.
— Essa coisa velha. — Ela puxou a camiseta puída e riu. —
Obrigada.
Hailee e eu observamos os dois. Asher estava afetado. Seus
olhos acompanhavam cada movimento de Mya. Mas ela parecia
indiferente à atenção dele.
— Então, o que vocês vão fazer mais tarde? Sei que a Flick está
indo para o paraíso dos cachorrinhos, mas e você, Hailee? Mya?
— Cam e eu prometemos ao Xander que o levaríamos ao Ice-
T’s.
— Só não encha aquele merdinha de doces. Já cometemos esse
erro uma vez.
— Acho que temos tudo sob controle. — Hailee sorriu.
— Mya?
— Vou me relacionar com o dever de casa do sr. Galveston.
— História? — Asher estremeceu. — Ai.
— Você ao menos faz lição de casa? — ela questionou.
— Faço... às vezes — ele acrescentou. — Mas só porque jogo
futebol não significa que sou um atleta burro. Você está olhando
para um cara com média alta.
— Atlético e inteligente. Estou impressionada.
— Você deveria estar.
— Certo — interrompi. — Não que eu não esteja gostando de
assistir seja o que for isso — balancei meu dedo entre eles —, mas
preciso ir. Não quero deixar o George esperando.
— Ligue-me assim que terminar — Mya pediu. — Quero saber
tudo sobre o gato do George.
— Gato do George? — Asher franziu a testa. — Ele não é o
gerente do lugar?
— O gerente muito jovem e muito fofo — Mya assentiu. —
Palavras da Flick, não minhas.
— Você arranjou um paquera, Fee, baby? Estou machucado.
— Não arranjei um paquera. — O calor se espalhou pelo meu
pescoço e em minhas bochechas. — O George é... legal. Ele
também vai ser meu chefe, então...
— Bizarro. — Asher sorriu, seus olhos brilhando com diversão.
— Bobo — resmunguei, acenando para ele. — Certo, estou
saindo. Ligo para vocês duas mais tarde. Asher, foi um prazer, como
sempre.
— O prazer é todo meu — ele disse enquanto eu os deixava. —
Ah, e Fee? Certifique-se de que o George mantenha suas patas
para si mesmo. Entendeu o trocadilho... patas. — Ele explodiu em
gargalhadas quando revirei os olhos e saí do prédio.
Imaginando no que eu estava me metendo.

ACONTECE que eu não tinha nada com que me preocupar. Quando


cheguei ao centro, Serena me deu as boas-vindas, entregando-me
uma pilha de papéis para preencher. Em seguida, trocou os papéis
por um manual de voluntário que ela me deixou estudando enquanto
atendia alguns clientes. George acabou aparecendo para me
orientar quanto a programação do voluntariado e a lista de tarefas.
Perdi a última rodada de treinamento voluntário, então, por
enquanto, eu ainda teria que aprender como fazer as coisas, mas
estava aliviada por estar lá.
— Eu não tinha ideia de que havia tanta coisa envolvida na
adoção de animais — falei, seguindo George enquanto ele
acariciava um recém-chegado: Benji, um cachorrinho fofo de um
ano de idade, trazido por seus pais que estavam se divorciando e
não o queriam mais. Ele era tão fofo, com olhos grandes e redondos
e pelo macio e grosso da cor da areia.
— Nosso processo é rigoroso e demorado, mas significa
melhores taxas de sucesso. Algo de que temos muito orgulho.
— Estou tão animada para começar.
— E estamos ansiosos para que você comece. Você conhecerá
os outros voluntários no fim de semana. Acho que a Sandie, Hale e
Lisa estão no sábado, e o Tom e a Beth estão no domingo.
— São cinco? — perguntei, confusa.
— Sim, não falei isso antes?
— Falou, mas presumi que alguém tinha saído já que surgiu
outra vaga. — E eu definitivamente me lembrava dele me dizendo
que estava lotado.
— Ah. — George ficou muito vermelho. — Nós demos um jeito e
conseguimos abrir algumas horas para você.
— Uau, isso é... uau.
— Na verdade, é um ótimo momento, pois a Sandie anunciou
recentemente que está grávida, então ela vai precisar diminuir seu
horário conforme a gravidez progredir.
— Ah, certo então, se você tem certeza. — Eu não conseguia
afastar a insinuação de Mya. Os motivos de George não eram
inteiramente inocentes.
— Não há nada com que se preocupar, prometo. Sei como a
experiência prática pode ser importante para a inscrição para a
faculdade, então se pudermos fazer a nossa parte para ajudá-la... —
Ele deixou suas palavras pairarem.
— Obrigada, isso é muito gentil.
Ele sorriu e a cor em suas bochechas voltaram ao normal.
— Quer assumir enquanto eu pego o resto dos suprimentos?
— Sério? — Comecei a arregaçar as mangas.
— Claro, entre aqui. O Benji é um dos mais amigáveis.
— Ele é tão fofo. Não consigo entender o fato de que não o
quiseram mais.
— Ele será realocado em algum momento. Ele é um dos
melhores casos, acredite em mim. Certo, se você entrar aqui —
George segurou Benji, mas deu um passo para trás, deixando-me
passar por ele, assim fiquei mais perto da banheira e do cachorrinho
—, é isso. Agora leve uma mão para a coleira. — Nossos dedos
roçaram quando ele retirou a mão e foi a minha vez de corar.
George pigarreou e recuou.
— Você pode começar a enxaguá-lo e depois secá-lo com
aquela toalha. — Ele moveu a cabeça para o balcão e uma pilha de
toalhas.
— Enxaguar e secar, entendi.
— Excelente, já volto.
George saiu e dei banho em Benji devagar. Ele era calminho, me
deixando esfregá-lo e passar os dedos por seu pelo encharcado. —
Você gosta disso, garoto? — murmurei ganhando uma lambida
ansiosa no rosto. Dei uma risada e o meu sorriso era tão grande que
doeu. Mas havia algo tão certo em estar aqui, que senti a felicidade
me envolver como um cobertor quente.
— Tudo bem? — A voz de George perfurou minha bolha.
— Estamos óti... — Benji escolheu aquele momento exato para
sacudir seu pelo, espalhando gotas de água por toda parte. — Ah,
meu...
George me entregou uma toalha.
— Aqui, se enxugue enquanto eu o seguro.
— Isso acontece muito?
— Sim, perigo do trabalho. — Ele riu.
— É engraçado — falei, me enxugando —, eu meio que andei à
deriva no ensino médio, sem ter muita certeza do que queria fazer.
Feliz em seguir o plano dos meus pais para mim. Mas estar aqui, é
como se eu soubesse que isso é o que quero fazer. Puxa, aposto
que soou muito clichê.
— Não soou, não. Eu senti o mesmo naquela época. Eu sabia
que ser médico era o que meus pais queriam para mim. Mas eu ia
ao hospital visitar a minha avó quando ela esteve doente, ou
conversava com meu pai em seu raro dia de folga, e nunca senti
essa conexão. Sabia que seria gratificante curar pessoas, salvar
vidas. Mas nunca pareceu o que eu estava destinado a fazer.
— Como vou contar a eles? — sussurrei as palavras.
— Se isso te faz feliz, eventualmente vai fazê-los felizes
também.
Ele fez isso parecer tão fácil.
— Veja desta forma, você pode passar os próximos quatro anos
de sua vida na faculdade, estudando algo que não quer ou algo que
te excita. Algo que te apaixona. Quem sabe para onde o futuro vai te
levar, mas você não preferiria estar no caminho que você escolheu?
Me desculpe — George acrescentou. — Como eu disse antes, às
vezes as coisas simplesmente saem antes que eu possa impedi-las.
— Admiro isso, na verdade. É bom conhecer alguém que
entenda o que estou passando.
— Certamente deve haver outras pessoas que te entendam.
Uma melhor amiga? Namorado?
— Melhor amiga, sim. Namorado, não. — Meu estômago
embrulhou. — Mas não tenho certeza se a Hailee entende. Ela
sempre soube o que queria fazer.
A expressão de George mudou, seus olhos se fixaram nos meus,
procurando por algo.
— George? — perguntei, quebrando a estranha tensão que
havia caído sobre nós.
— O quê? Sinto muito. — Ele balançou a cabeça. — Tem sido
um longo dia. Onde estávamos?
Benji escolheu aquele momento para sacudir o pelo novamente,
encharcando George. Peguei algumas toalhas e corri até eles.
— Obrigado — ele disse. — Isso vai me ensinar a prestar mais
atenção.
O momento entre nós havia passado, mas eu não pude deixar
de me perguntar o que o deixou tão distraído.
TRINTA
Jason
— TEM CERTEZA DISSO? — Grady me perguntou pela vigésima
vez naquela semana.
— Essa coisa precisa acabar agora.
— Não estou discordando, só não entendo por que você não
está levando o Bennet e o Chase para te apoiar. Bem, o Chase eu
meio que entendo. Se o Thatcher tivesse vindo atrás da minha
garota do jeito que ele foi atrás da Hailee, eu não seria capaz de...
— Grady...
— Estou calando a boca — ele gemeu. — Então, vamos mesmo
fazer isso?
— Eu vou fazer. Só preciso de você lá para o caso de as coisas
darem errado.
Ele soltou um assobio baixo.
— E você tem certeza de que não podemos adiar isso até
ganharmos o Estadual?
— Tem que ser agora.
— Se o treinador...
— O treinador não vai descobrir. — Thatcher era muitas coisas,
mas não era delator.
— Eu poderia ligar para alguns dos outros caras...
— Se você está tendo dúvidas, cara, vou sozinho.
— Não, vou com você. Só acho que é uma má ideia. Uma
péssima ideia.
Eu não discordava, mas Thatcher queria seu pedaço de carne e
estava determinado a conseguir de uma forma ou de outra. Pelo
menos assim, se eu o encontrasse cara a cara, seria uma luta justa.
Além disso, não era a primeira vez que nos enfrentávamos. Eu
sabia que poderia lidar com ele
— Entendido. Te vejo em dez minutos.
— Sim, sim. Te vejo lá.
Desliguei e peguei minhas chaves do aparador. Já estava quase
anoitecendo. Cameron tinha saído com Hailee, e os pais de Asher
estavam na cidade para uma visita rápida e insistiram em levá-lo
para jantar. Meu pai e Denise estavam fazendo a mesma merda que
faziam nas noites de sexta-feira. O caminho estava livre.
Até eu sair de casa.
— Aimee? — Encarei a garota que tinha me ferrado uma vez. —
Que merda você está fazendo aqui?
— Oi, Jason — ela me deu um sorriso hesitante —, já faz um
tempo.
— Não o suficiente. — Cerrei os dentes. — Deixe-me adivinhar,
seu irmão te mandou.
— Na verdade, ele não sabe que estou aqui. Se ele souber... —
Ela parou, desviando os olhos para o chão. — Podemos conversar?
— Você pode dizer tudo o que veio dizer, e depois pode dar o
fora da minha propriedade.
— Jason... — Ela soltou um suspiro pesado, passando a mão
pelo cabelo. Quando não respondi, ela acrescentou: — É justo.
Acho que mereço isso.
— Você só pode estar brincando comigo — murmurei baixinho.
Aimee ergueu os olhos para os meus novamente, com simpatia
e arrependimento brilhando em suas íris castanhas.
— Seria tarde demais para pedir desculpas?
— Desculpas não significam nada na boca dos mentirosos.
— Eu nunca quis te magoar... tudo foi longe demais e...
— Guarde isso para você — rebati, arfando de frustração.
Houve um tempo em que desejei a garota diante de mim. Queria
tanto, que baixei a guarda. Me abri para ela. Não havia um
centímetro de sua pele que eu não tivesse provado. Uma curva ou
imperfeição que eu não tinha traçado com os lábios. Achei que
soubesse tudo que havia para saber sobre a garota quieta do outro
lado do rio... até que descobri que ela era a irmã mais nova de
Lewis Thatcher.
A raiva correu por minhas veias, acendendo uma tempestade em
meu peito. Nunca houve nenhum amor perdido entre mim e
Thatcher, mas Aimee mudou tudo. Transformamos nossa rivalidade
em uma guerra que se espalhou pelo campo e em nossas vidas,
afetando a todos ao nosso redor.
— Você se vingou, Jase, não é o suficiente? O que você fez para
mim...
— Não fale comigo sobre o que eu fiz. Você me enrolou por
semanas, me deixou acreditar que o que tínhamos era real. Senti
por você coisas que nunca senti antes e era tudo mentira.
Eu estava me apaixonando por ela. Não consegui identificar o
momento exato em que aconteceu. Mesmo na época, eu não tinha
percebido. Foi depois, quando descobri quem ela realmente era,
que entendi o quanto eram profundos meus sentimentos por Aimee
Thatcher, a irmã de meu inimigo.
— Não foi — ela gritou, enxugando as lágrimas que caíam de
seus olhos. — O que nós compartilhamos era real. Foi real. Não era
para ser, mas não pude evitar. Não pude deixar de me apaixonar por
você.
Cruzando a distância entre nós, parei bem na frente dela,
semicerrando os olhos.
— Você me enganou, Aimee. Me deixou fraco e indefeso e
então, quando eu estava completamente à sua mercê, você enfiou a
faca nas minhas costas e me viu sangrar.
— Jason... — A voz de Aimee tremeu quando ela esticou o
pescoço para olhar para mim. — Sinto muito, sinto muito.
— É? Bem, eu só sinto muito por não ter te destruído
completamente. — As palavras saíram baixas e mortais, misturadas
com a dor de nosso passado.
Quando descobri quem ela era e o que planejou com seu irmão,
criei meu próprio plano. Eu nunca esqueceria a expressão no rosto
de Thatcher quando ele abriu a mensagem do vídeo em que eu
estava transando com sua irmã. Era a vingança de que eu
precisava, mas foi o catalisador para tudo desde então.
— Você sempre foi malvado, Jason, mas vou me arrepender
para sempre de transformá-lo... nisso. — Um violento soluço
escapou dos lábios de Aimee quando ela recuou, colocando uma
distância muito necessária entre nós. — Só vim avisá-lo — ela
acrescentou. — O Lewis quer te destruir. Ele quer ter certeza de que
você não vai disputar os play-offs. Se você tiver um pouco de bom
senso, não vai encontrá-lo.
Passei a mão sobre a cabeça e nuca, sentindo o peso de suas
palavras pressionar meu peito como uma tonelada de tijolos.
— Isso é tudo?
— Falo sério, Jason — ela avisou, — ele quer sangue. Seu
sangue.
Em outra ocasião, em outro lugar, eu teria respondido com
alguma afirmação arrogante sobre ele ser só conversa e nenhuma
ação. Mas as apostas mudaram. Fui atrás da irmã dele, e ele veio
atrás da minha, mas não retaliei. Eu estava esperando a hora certa
para ir atrás dele.
Mas meu tempo acabou.
Eu tinha que decidir.
Lutar.
Ou fugir.
Algo que Hailee me disse uma vez passou pela minha cabeça, e
não pude deixar de pensar que não importava o que eu decidisse,
haveria apenas um perdedor no final disso.
Eu.
— Você deve ir, Aimee. — Passando por ela, fui direto para o
meu carro. Quanto mais cedo acabássemos com isso, melhor.
— Jason, não faça isso... — Seus gritos ricocheteavam na janela
como a chuva contra o vidro. Aimee fazia parecer que eu tinha uma
escolha, mas fugir nunca foi uma opção, e minha decisão já estava
tomada.
Pegando o celular, enviei uma mensagem rápida para Grady
antes de ligar o motor e sair da garagem. A figura derrotada de
Aimee se encolheu no espelho retrovisor. Eu tinha participado de
muitos duelos. Jogos de futebol em que os jogadores quebram as
regras e se preocupam mais em machucar uns aos outros do que
marcar touchdown.
Para mim, não era diferente.
Thatcher queria meu sangue?
Certo.
Mas eu o faria trabalhar para isso.

ESTAVA tranquilo em No Man’s Land quando chegamos. Grady


ficou tenso ao meu lado, batendo os dedos na coxa.
— Nervoso? — perguntei, examinando o trecho de terra à nossa
frente. Ficava bem ao lado da ponte, protegido pelos enormes
pilares de cimento. Parte dela corria por baixo, acessível apenas
quando o rio estava baixo. O que não era frequente. Quando
éramos crianças, íamos até lá, desafiando uns aos outros para
tentar atravessar. Crianças fazendo o tipo de merda que as crianças
fazem.
Mas o que aconteceria não era isso.
Era bem diferente.
— Qual é o plano? — Grady ignorou minha pergunta.
— Plano? — Olhei de soslaio para ele. — Vou dar uma surra
nele e mandá-lo rastejando de volta através do rio com minhas
iniciais arranhadas na porra da pele.
— Jesus, capitão. — Grady soltou um assobio baixo. — Tem
certeza de que não devemos chamar...
— Quanto menos pessoas envolvidas, melhor. Se você quer ir
embora, vá. Não vou usar isso contra você. — Eu não estava com
medo, estava furioso pra cacete. Um fogo líquido queimava em
minhas veias.
— Foda-se isso. Vou ficar. Apenas me prometa que se as coisas
ficarem muito complicadas, nós vamos embora.
— Sim, tanto faz — a mentira escapou. De jeito nenhum eu iria
embora até que Thatcher recebesse a mensagem alta e clara para
não mexer comigo e com os meus.
— Vamos então?
Saímos do carro com o vento cortante de outono batendo em
nós.
— Merda, está frio.
— Cresça, Grady. — Sorri enquanto flexionava os braços e saía
em direção à margem do rio. Thatcher estava esperando, mas ele
não estava sozinho.
— Estou surpreso por você ter vindo — ele falou.
— Sou um homem de palavra.
— Interessante. — Ele inclinou a cabeça, coçando o queixo. —
Você não veio sozinho. — O olhar duro de Thatcher mudou-se para
Grady.
— Nem você. — Olhei para o tonto ao seu lado.
— Não queria perder a surra que você vai levar, Ford — Gallen
falou, aproximando-se de seu companheiro de equipe.
A raiva disparou pela minha espinha sabendo que ele colocou as
mãos em Felicity.
— Sim, sim, vamos fazendo isso ou o quê?
— Ah, vamos fazer isso. Mas você realmente deveria ter trazido
reforços. — Seu lábio se curvou quando um grupo de outros
jogadores do Eagles saiu das sombras.
— Uau, não foi esse o combinado — Grady disse, aproximando-
se de mim.
Thatcher deu de ombros e arrancou o moletom com capuz e a
camiseta.
— Sim, bem, o jogo acabou de mudar.
Meus olhos percorreram cada um deles: jogadores que
reconheci. Jogadores que eu tinha enfrentado em campo mais
vezes do que eu poderia contar. Jogadores que eu sabia que fariam
qualquer coisa por seu capitão e quarterback.
Mesmo se ele fosse um idiota completo.
— A diferença entre mim e você? — falei. — Me recuso a levar
meus jogadores comigo.
— O justo Jason Ford, pessoal — Thatcher acenou com o braço
— que poético.
Deixando escapar um bocejo falso, olhei para Grady.
— Entediado? Sei que eu estou. — Agarrando a bainha do meu
moletom e camiseta, eu os tirei, jogando-os aos pés do meu
companheiro de equipe.
Thatcher olhou de volta para seu público, pronto para mostrar
um pouco mais, mas eu estava cansado de falar. Com a cabeça
baixa e o ombro inclinado, eu o joguei no chão. Nós pousamos com
um baque, seus grunhidos enchendo o ar enquanto eu batia meus
punhos na lateral de seu corpo.
— Filho da puta! — Ele rugiu, resistindo e se debatendo contra
mim. Seu punho veio com força, esmagando a carne macia do meu
pescoço, e eu rolei para longe, momentaneamente sem fôlego.
— Golpe baixo, Ford — ele rugiu, se colocando de pé.
Antes que eu pudesse antecipar seu próximo movimento, dois de
seus companheiros de equipe me levantaram, segurando meus
braços.
— Ei, ei — Grady correu para nós — isso não foi... — Sua
cabeça se inclinou para trás quando o punho de Gallen atingiu sua
bochecha, e os dois começaram a lutar.
— É assim que você ganha? — questionei. — Jogando sujo?
— Não — Thatcher sorriu —, é assim que termino a sua
temporada. — Seus punhos bateram em minhas costelas. Várias
vezes. Tirou o ar de meus pulmões. A dor ricocheteava em mim. As
mãos que me restringiam afrouxaram o aperto, e eu caí de joelhos,
minhas mãos impedindo a queda.
— Qual é o problema, Ford, o gato comeu sua língua?
Thatcher recuou, dando-me espaço para me levantar. Eu já
podia sentir os hematomas nas costelas, o tecido danificado. Mas
eu estava acostumado com um pouco de dor, eu prosperava com
isso.
Limpando o lábio ensanguentado com as costas da mão,
levantei meu queixo em desafio.
— Vai ser preciso muito mais do que isso para me derrubar. —
Joguei todo o meu peso para a frente, nossos corpos se chocando,
osso com osso, pele com pele. Ódio puro contra ódio puro.
— Você é um lunático do caralho — cuspi as palavras quando
ele bateu com a cabeça na minha, errando meu nariz e roçando
meu queixo. Doeu pra caramba, mas afastei a dor, deixando para
lidar com isso mais tarde.
Já passei por coisa pior. Thatcher poderia fazer o seu pior, mas
só um de nós ia embora inteiro, e não era ele.
TRINTA E UM
Felicity
— TEMOS que encontrar um lugar novo para ir na sexta-feira à noite
— Mya resmungou, passando os olhos ao redor de The Alley.
— Ei, não é tão ruim.
— Não é tão ruim? Garota, acabei de ver dois rapazes ficarem
animados com a vitória no air hóquei. Nada sexy.
— Não sei. — Dei de ombros. — Até que eu gosto. — O The
Alley era familiar, como o par de tênis favorito. Aqueles que você
não suportava jogar fora, não importa o quanto estejam
desgastados e fedorentos.
— Um dia, vou levar você para a cidade. — Os olhos de Mya
brilharam com a promessa. — Ah, sim, poderíamos ir a um clube ou
dois e encontrar um bom par de...
— Vocês têm que vir ver isso. — Um cara entrou correndo na
lanchonete, sem fôlego e com o rosto vermelho. — Jason Ford e
Lewis Thatcher estão perto do rio, batendo forte um no outro.
A sala girou e segurei na borda do balcão com tanta força que o
sangue foi drenado de meus dedos.
— Flick, respire — Mya me chamou. — Apenas respire. —
Saindo do meu transe, encontrei seu olhar preocupado. —
Provavelmente não é nada. Você sabe como os rumores circulam
por aqui.
Não era nada.
Senti em meu âmago.
Só então, meu celular ganhou vida.
— É a Hailee — falei, olhando para a tela, desejando que ela me
dissesse que não era verdade.
— Hails? — o nome dela saiu estrangulado.
— Estamos indo para lá agora, mas você está mais perto.
— Eu não posso... eu não...
— Fee, baby — Asher entrou na linha. — Como você está?
— Eu não... é verdade? Ele está lá lutando contra Thatcher?
— Não temos muita certeza do que está acontecendo agora, e é
por isso que precisamos que você vá até lá. Agora, Felicity.
Eu não conseguia falar, as palavras se alojaram contra o nó
gigante na minha garganta.
— Asher? É a Mya. Ela está meio fora do ar ou algo assim. Sim,
tudo bem. Nós podemos fazer isso. Devemos ligar... não, certo.
Entendi. — Ela empurrou o celular de volta para mim.
— Precisamos ir, agora.
— Mas...
— Controle-se, seu homem precisa de você.
— Ele não é...
Mya bateu as mãos na mesa, inclinando-se para enfiar o rosto
na minha frente.
— Você precisa se recompor, tá? — Eu concordei. — O Jason
pode cuidar de si mesmo, mas o Asher está preocupado... não
importa. Precisamos ir imediatamente. Você pode ficar aqui e
enlouquecer ou pode vir comigo e torcer para que você coloque um
pouco de senso nele antes que seja tarde demais.
— Os play-offs — gritei, ficando de pé. Se o treinador ou diretor
Finnigan descobrirem sobre isso, Jason podia ser forçado a ficar de
fora dos play-offs.
Mya revirou os olhos dramaticamente.
— Agora ela entende. Vamos, estamos perdendo tempo. — Ela
arregaçou as mangas da jaqueta e prendeu os cachos em espiral
em um rabo de cavalo bagunçado, o que me fez pensar com que
frequência ela fazia esse tipo de coisa por Jermaine.
— Muitas vezes — ela disse como se ouvisse meus
pensamentos. — Agora vamos. O Jason precisa de você.

EU MAL CONSEGUIA VER o mar de pessoas – jovens de Rixon e


Rixon East – todos misturados, desesperados para ter um vislumbre
de Thatcher e Jason, seu Reis quarterbacks lutando.
— O que devemos fazer agora? — perguntei a Mya, agarrando
sua mão como se fosse meu salva-vidas.
— Flick, aqui. — A voz de Hailee acalmou um pouco do
desconforto em meu estômago.
— Graças a Deus — Quase caí em seus braços, me consolando
em seu abraço. — Isso é loucura. Ei, como você chegou aqui antes
de mim?
— O Asher dirigiu como um louco. — Ela fez uma careta para
ele. — Mas nós estamos aqui agora, e os caras chamaram a
cavalaria.
— A cav... — As palavras morreram na minha língua enquanto
toda a equipe se infiltrava atrás de Asher e Cameron.
— Precisamos dispersar essa multidão — Cam avisou, com o
cenho franzido de preocupação. — Alguma sugestão?
— Deixe comigo — Asher falou, segurando alguns dos caras e
sussurrando em seus ouvidos. Logo eles desapareceram na
multidão.
— Vamos — Cam segurou a mão de Hailee e fez sinal para que
o seguíssemos. Tivemos que empurrar para atravessar a parede de
corpos, mas quando finalmente vi Jason, paralisei. A visão dele sem
camisa e ensanguentado foi uma sobrecarga sensorial.
— Flick? — Mya gritou acima do barulho: os grunhidos e
gemidos dos dois lutadores no meio do ringue rudemente formado,
os aplausos sanguinários de nossos colegas. — Fique firme — ela
me repreendeu, puxando meu braço, empurrando-me para a ação.
— Ele está bem, viu? Você realmente precisa se preocupar
quando...
Thatcher deu um bom golpe, o estalo de osso contra osso
reverberando através de mim tão violentamente que meu estômago
embrulhou e a bile subiu pela minha garganta. Engoli, puxando uma
golfada de ar fresco.
— Alguém tem que fazer alguma coisa.
— Nós vamos, se você continuar andando.
— Puta merda — Grady correu para nós, exibindo seu próprio
olho roxo.
Cam balançou a cabeça para seu companheiro de equipe, com a
desaprovação estampada em sua expressão.
— Guarde o esporro, cara, estou totalmente ciente de como isso
é um desastre — Grady estremeceu.
— Vou lidar com você mais tarde — Cameron fervia. — No
momento, precisamos descobrir como acabar com isso.
— Eu tentei duas vezes. Este é o agradecimento que recebi. —
Ele apontou para o hematoma feio se formando ao redor do olho.
— Certo, vá encontrar o Asher e ajude com a multidão. Nós
resolveremos isso.
Nós?
Porque minhas pernas pareciam prestes a ceder enquanto eu
me agarrava a Mya.
— Certo — Asher reapareceu, sem fôlego e corado. — Estou
aqui, qual é o plano?
— Acho que vocês dois deveriam ir até lá antes de perder seu
quarterback nos play-offs — Mya brincou.
— Cara, eu amo uma mulher que fala as coisas como elas são.
— Ash sorriu para ela. — Ei, Thatcher — ele caminhou em direção a
eles — se divertindo sem mim?
— Foda-se, Bennet, isso é entre mim e Ford. — Thatcher não
saiu ileso, havia sangue escorrendo de um corte em seu lábio e
outro sob o olho. Ele também tinha um hematoma feio se formando
nas costelas.
— Desculpe, cara, mas nós meio que precisamos do nosso QB
para os play-offs. Você sabe, aqueles para os quais você não se
classificou este ano.
— O que ele está fazendo? — Mya cambaleou, mas Cam a
interrompeu com o braço.
— Ele está com tudo sob controle.
— Claro que não, olhe... — Ela balançou a cabeça para onde
alguns jogadores dos Eagles estavam se aproximando dele.
— Merda, certo, vocês três fiquem aqui.
— Cam — Hailee o chamou —, não tenho certeza se isso é uma
boa ideia. Talvez devêssemos chamar a polícia...
— Se chegar a esse ponto, faremos isso, prometo. Mas por
agora, apenas fique aqui. — Ele a encarou com um olhar que eu
raramente via nele.
— Aquele garoto tem mais moderação do que eu — Mya
comentou.
— É com isso que estou preocupada. — Hailee segurou minha
mão e ficamos ali, nós três, observando enquanto os caras de quem
gostávamos enfrentavam Thatcher e seu bando de capangas.
— O que quer que o Asher tenha feito, funcionou. Olha, as
pessoas estão indo embora.
Olhamos para trás para encontrar a multidão se dispersando
lentamente, sendo conduzida pelos Raiders restantes.
— Acabou, Thatcher — Cameron se colocou entre ele e Jason.
— Você acha que só porque apareceu com a sua garota
acabou? Acabou quando eu disser que acabou. — Ele estava
furioso, emanando raiva. — Na verdade, já que ela está aqui —
seus olhos encontraram Hailee — por que você não vem aqui e
experimenta como é estar com um homem de verd...
O punho de Cameron foi direto em seu rosto. Thatcher grunhiu
de dor, cambaleando para trás, mas rapidamente se endireitou,
cuspindo sangue no chão.
— Então você tem bolas, Chase? Eu estava começando a
pensar que você não faria isso depois que deixou a mim e os caras
mexerem com sua garota várias vezes.
— Cameron, não. — Hailee soltou a mão, movendo-se em
direção a eles, mas antes que ela chegasse lá, Grady apareceu e a
segurou, trazendo-a de volta para nós.
— Fique fora disso, Hailee, confie em mim.
— Ah, você não quer brincar? E a sua garota, Ford, ela gosta de
brincar? Com certeza pareceu que...
— Thatcher — o tom de Jason era gelado.
Um arrepio percorreu minha espinha ao observá-los. Havia tanta
raiva e ódio entre eles que eu sabia que estava faltando algumas
das peças do quebra-cabeça.
— Lewis, pare — a voz de uma garota quebrou a tensão.
— Aimee, não te avisei para você ficar fora dessa merda?
Seu cabelo escuro balançou enquanto ela corria em direção a
eles, colocando-se na frente de Jason como se o estivesse
protegendo.
— Hailee — perguntei, sentindo o nó no meu estômago se
apertar —, quem é?
— Acho que é a Aimee.
— Aimee?
— Sim, a irmã do Thatcher, a ex do Jason.
Jason tinha uma ex?
Eu tinha uma vaga lembrança cheia de luxúria dele mencionar
uma garota, mas ele não tinha entrado em detalhes. Ela nem havia
sido um sinal no meu radar, mas agora estava lá: uma pessoa da
vida real. E estava parada na frente de Jason como se fosse seu
papel protegê-lo.
— Ah, merda, Flick, eu não... — A voz de Hailee tornou-se um
ruído branco enquanto eu observava a garota desconhecida
enfrentar seu irmão. Ela não tinha paralisado nas linhas laterais ou
parado e assistido. Ela correu direto para a briga.
Para proteger Jason.
Mas por que ela faria isso? A não ser que...
— Ei, você não sabe de nada ainda, então pare de pensar no
que quer que esteja pensando agora. — Mya cutucou meu braço,
dando-me seu olhar mortal, sua marca registrada.
— Eu não vou embora até que você venha comigo, Lewis. Isso
já foi longe demais. O Jason só fez o que fez porque estava
magoado.
— Você acha que eu dou a mínima para isso? Ele enviou aquele
vídeo para...
— Me machucou. A mim, Lewis. Se alguém deveria estar aqui
exigindo vingança, sou eu. — A expressão de Aimee ficou triste. —
Olha, sei que você só quer me proteger, se vingar dele, mas este é
o futuro dele.
A mandíbula de Thatcher cerrou, e seus olhos queimaram de
ódio pelo cara que eu percebi que não sabia nada a respeito. Não
de verdade. Achei que ele fosse me deixar entrar, me deixe ver um
lado seu que ninguém mais viu, mas Jason era uma caixa trancada.
Talvez ele seria assim para sempre.
As lágrimas se formaram em meus olhos enquanto eu
lentamente comecei a me afastar de minhas amigas.
— Felicity, aonde você está indo? — Mya sibilou, tentando me
alcançar, mas eu a afastei.
— Não posso ficar aqui. — Eu não podia ver o passado de Jason
passando bem na frente dos meus olhos. Doeu muito ver sua
história.
Sentir isso.
— Não fuja, agora, não. Não quando ele precisa de você.
— Jason não precisa de mim, Mya. — Sorri com tristeza,
deixando as lágrimas caírem livremente. — Ele nunca precisou.
Sem uma segunda olhada, eu me afastei. De Hailee também,
ignorando suas chamadas. Bloqueando o som da voz de Aimee
enquanto ela tentava argumentar com Thatcher. O ruído surdo de
sussurros enquanto os Raiders e os Eagles montavam guarda.
Mas acima de tudo, ignorei o som do meu coração se partindo.
TRINTA E DOIS
Jason
— ISSO NÃO ACABOU — Thatcher grunhiu quando finalmente
cedeu, deixando Aimee passar o braço em volta de sua cintura e
levá-lo embora. Ela olhou para trás e seus olhos diziam coisas que
eu não queria ouvir.
Cam e Ash se aproximaram de mim em um segundo, ajudando-
me a ficar em pé enquanto me guiavam para as garotas e
companheiros de equipe.
— Puta merda, cara, você está péssimo — ele soltou um suspiro
trêmulo. — Você precisa ir ao pronto-socorro? — Olhei para Grady
com uma expressão de “vá se foder” e ele ergueu as mãos. — É
muito cedo para dizer eu avisei?
— Grady? — resmunguei com a boca sangrando, apoiando-me
em Ash. Minhas costelas queimavam pra cacete, e eu não tinha
cem por cento de certeza de que Thatcher não tinha quebrado nada.
Se tivesse, eu poderia dizer adeus aos play-offs.
Isso, presumindo que eu não fosse parar na mesa do diretor
Finnigan na primeira hora da manhã de segunda-feira.
Merda.
Eu realmente estraguei tudo.
— Sim, Cap? — Grady perguntou.
— Cale a merda da boca.
— Vamos, é melhor sairmos daqui antes que a polícia apareça.
— Cam mal encontrou meus olhos, e ele parecia bem
decepcionado.
Mas que se danasse.
Ele não sabia de toda a história ainda, ninguém sabia.
Em algum momento, eu contaria, mas primeiro precisava de uma
tonelada de Advil e uma garrafa de Jack.
Consegui rastejar para a parte de trás do jipe de Asher. Mya
subiu atrás de mim enquanto Cam e Hailee se sentaram na frente.
Não havia sinal de Felicity, mas eu tinha quase certeza de que a
tinha visto ali, de pé com as meninas.
Talvez eu tenha sonhado.
Uma miragem no meio de uma das piores surras da minha vida.
Um lindo anjo no meio do meu inferno pessoal.
— Acho que os rumores são verdadeiros — Mya disse, me
estudando atentamente.
— Sim, e o que dizem? — Respirar doía, falar ainda mais, mas
havia algo na maneira como ela olhou para mim que me deixou
intrigado.
— Você não é apenas um rosto bonito. — Ela sorriu. — Antes de
desmaiar, me diga uma coisa. Valeu a pena? — Ela manteve a voz
baixa, como se estivéssemos compartilhando algum grande
segredo.
— Valeu muito. — Afundei contra o couro, engolindo um gemido
e fechando os olhos. — Valeu pra cacete.
Sua gargalhada foi a última coisa que ouvi.

— QUE MERDA VOCÊ ESTAVA PENSANDO, mano? — As veias do


pescoço de Asher latejavam de frustração. — Estamos tão perto do
Estadual, daí você vai e faz essa merda, e para quê? Para dizer que
você tem bolas maiores do que Thatcher? Não faz sentido nenhum.
— Ash, deixa pra lá — Cam o cortou com frieza, com os olhos
fixos em mim.
— Deixar? Você está brincando comigo? Ele está fora. Quando o
treinador ficar sabendo disso, e vai saber, ele não terá escolha a
não ser te tirar — ele apontou o dedo para mim — do time. Todo
aquele trabalho duro por nada. Eu simplesmente não entendo. Você
disse a todos nós para deixá-lo, então por que foi que...
— ASH! — Cam rugiu, e seus olhos arregalaram-se.
— O quê?
— Eu disse para deixar isso pra lá.
— Sim, que se dane, estou fora. Preciso de uma cerveja ou algo
assim. — Ele saiu furioso da sala, batendo a porta atrás de si.
— Isso foi bem. — Sorri, sentindo os analgésicos e o uísque
lentamente fazendo efeito.
— Jase, vamos lá, dê uma folga. Ele só está preocupado. Todos
nós estamos.
— Sim, sim, me poupe do sermão de Madre Teresa. Eu sabia o
que estava fazendo quando fui até lá.
— Então por que fez isso?
— Como se você não soubesse.
— Por causa dela? — Ele arqueou a sobrancelha. — Mas por
quê?
Por quê?
Essa foi a pergunta que me fiz várias vezes desde que voltei
para a casa de Ash.
— Porque o pensamento de ele machucá-la me mata.
Um lento sorriso apareceu em seu rosto.
— O que foi? — perguntei.
— Demorou pra caramba.
— Não muda nada — gemi, sentindo a dor queimar em cada
parte de mim.
— Eu acho que sim. Acho que muda tudo.
— Não sou esse tipo de cara, Cam. Não sou como você.
— Você acabou de levar uma surra... por uma garota. Acho que
você é mais parecido comigo do que imagina.
Eu bufei.
— Dei uma surra nele. — De jeito nenhum Thatcher levaria
vantagem sobre mim. Claro, eu estava sangrando e machucado,
mas ele também. Meus dedos estavam abertos para provar isso.
— Então, no final, você arriscou tudo... por uma garota.
— Não por qualquer garota. — Inclinei a cabeça para trás e
fechei os olhos quando a realidade de tudo me atingiu.
Asher estava certo. Estraguei tudo pelo que já trabalhei. Mas não
foi à toa.
Foi por ela.
E eu faria de novo. Repetidamente, se isso significasse proteger
Felicity de gente como Thatcher e seus capangas.
— Ele tem algumas fotos dela... de nós — grunhi as palavras,
sentindo a culpa me atingir. Thatcher pode ter ficado perturbado,
mas dei a ele a munição de que precisava para ir atrás de Hailee e
depois de Felicity. Todo esse tempo, achei que por não me importar,
por não dar a mínima para ninguém ao meu redor, eu estava me
protegendo. Mas elas não eram o elo mais fraco.
Eu era.
— Fotos de que tipo... ah, merda.
— Sim — suspirei. Eu ainda não tinha ideia de como ele as
conseguiu, mas eu as tinha visto com meus próprios olhos: Felicity e
eu no meu carro, perto do lago. — Ele ameaçou espalhar na internet
a menos que eu concordasse com a luta.
— A Aimee sabia? Foi ela quem enviou a mensagem para o
Asher.
— Eu não tenho ideia de porque ela estava lá. Ela apareceu na
minha casa para me avisar que era uma armadilha, que o Thatcher
pretendia me foder o suficiente para arruinar minha chance de jogar
nos play-offs.
— Primeiro a Hailee, agora você e a Felicity. Isso não é apenas
uma brincadeira inofensiva, Jase. É mais sério que isso.
— Você acha que não sei?
— Temos que denunciá-lo.
— Eu comecei — gritei. — Nada teria acontecido se não fosse
por aquele vídeo que enviei para ele, meu e da Aimee.
— Verdade, mas isso foi entre vocês três. — Cam esfregou as
têmporas. — Você nunca passou essa merda adiante. Ele está fora
de controle e ainda não há nada que o impeça de enviar essas fotos
para todos. Temos que denunciá-lo.
— Dê-me algum tempo para resolver isso, certo?
— Jase...
— Vinte e quatro horas, isso é tudo que estou pedindo.
— Certo. Mas se você não lidar com isso da maneira adequada,
eu o farei. O treinador e o diretor Finnigan vão ficar loucos quando
descobrirem sobre isso, talvez a verdade suavize o golpe.
Eu não compartilhava de seu otimismo, mas era difícil me
preocupar com os play-offs quando sentia que nunca mais
levantaria uma bola.
— Você parece uma merda. Tem certeza de que não quer que
eu te leve ao pronto-socorro?
— Não, estou bem. Tenho tudo que preciso. — Virei a cabeça
para a garrafa de Jack e a caixa de comprimidos.
— Certo, descanse um pouco. Se precisar de qualquer coisa...
— Obrigado, e Cam?
— Sim?
— Ela estava lá? Quer dizer, acho que a vi, mas está um pouco
nebuloso.
— Estava — ele hesitou —, mas foi embora.
— Certo. — Sua confirmação doeu mais do que qualquer
hematoma causado pelo punho de Thatcher.
— Ela vai mudar de ideia. — Ele permaneceu perto da porta.
— Você acha?
— Eu sei que sim. — Um leve sorriso apareceu em sua boca.
— Como?
— Porque é isso que se faz quando se ama alguém. — Cameron
saiu como se não tivesse acabado de lançar uma bomba.
Ele achava que Felicity me amava?
Depois de tudo que fiz a ela, da maneira como a tratei.
Não era possível.
Era?
Eu queria que ela me amasse?
Era loucura.
Nós dois.
Eu me preocupava com ela, com certeza. Não teria feito tudo
isso se não me importasse.
Mas amor?
Eu não estava apaixonado por ela.
Ela não era meu tipo. Peculiar e irritante. Muito esquisita com
suas listas e falta de filtro. Mas também era gentil, compassiva e
não se levava muito a sério. E tinha um corpo estrondoso escondido
debaixo daquele macacão horrível que usava.
Meu coração começou a bater violentamente e senti minhas
mãos ficarem úmidas. Eu estava tendo algum tipo de reação. Um
momento de clareza completa.
Eu estava totalmente apaixonado por Felicity Giles.
QUANDO ACORDEI NA MANHÃ SEGUINTE, tinha quase certeza
de que estava no inferno. Então, quando uma batida soou na porta,
grunhi um entre, mal me importando com quem era. Eu só precisava
de remédios para dor.
A porta se abriu e a cabeça de Hailee apareceu.
— Ah, meu Deus. — Ela correu para mim, com lágrimas não
derramadas em seus olhos.
— Espero que você não vá chorar por mim — falei com rispidez
— porque não gosto de lágrimas.
— O que é que você estava pensando? — Se encostando na
beira da cama com cuidado, Hailee pegou a caixa de analgésicos e
me deu dois, entregando-me um copo de água para tomá-los.
Um gemido de dor retumbou em meu peito, mas eu o engoli.
— Obrigado.
— Tem certeza de que não posso persuadi-lo a ir ao pronto-
socorro?
— Tenho. Mas vou ao médico do time na segunda-feira.
— O treinador vai ficar louco.
— As coisas são como são.
— Jason, não faça isso. Não subestime o fato de que você jogou
fora os play-offs para tentar defender minha honra.
— É claro que você acharia isso, srta. Sou o centro do mundo.
— Mesmo que doesse pra caramba, eu ri. A expressão no rosto de
Hailee era impagável demais.
— Quer dizer que você não fez isso para se vingar do Thatcher
por causa das fotos?
— Ah, com certeza dei uns murros nele por isso. — Consegui
piscar, apesar do hematoma no olho. — Mas não, não foi por sua
causa.
— Então, o que... Felicity. — Ela arregalou olhos. — Isso foi pela
Felicity.
— Como você adivinhou?
— Porque você não é assim. Quero dizer, você não é
exatamente conhecido por sua cabeça fria. Mas não arriscaria os
play-offs se não fosse importante. — A compreensão em seus olhos
era quase insuportável. — O que ele ameaçou fazer?
— Ele tem algumas fotos nossas. Ameaçou publicá-las se eu
não concordasse com o encontro. Eu não poderia fazer isso com
ela, não depois de tudo. — Afundando de volta nos travesseiros,
olhei para o teto.
— Então tudo isso? Afastá-la, esfregar a Jenna na cara dela, agir
como se você não se importasse, era tudo para se distanciar? Para
protegê-la?
Eu a encarei.
— Ele sabia que ela era importante para mim. Que era a minha
fraqueza, então sim, pensei que se a afastasse, se fingisse que não
me importava, ele a esqueceria. Eu não sabia que ele tinha as fotos.
Ele deve ter mandado um dos seus caras me vigiar.
— Ah, Jason. — Hailee fez algo que ela nunca tinha feito antes:
segurou minha mão e a apertou suavemente. — Você se importa.
Todo esse tempo você se importou. Sabe que tem que contar a ela,
certo?
Dei a ela um olhar penetrante.
— Jason, vamos lá, ela acha que você e a Aimee...
— A Aimee não me importa.
— Sei disso, mas a Felicity viu a maneira como ela se intrometeu
para protegê-lo. Se coloque no lugar dela. Ela nem sabia que você
tinha uma ex.
— Puta merda — suspirei, sentindo a dor se estilhaçar através
de mim. Só que desta vez, não era o tipo físico.
Tudo estava bagunçado pra cacete.
— Você tem que resolver isso. Caso contrário, foi tudo por nada.
É aí que ela estava errada.
Não foi por nada.
Porque se eu sabia alguma coisa sobre relacionamentos, sobre
amor, era que se protegia as pessoas de quem se gostava. As
apoiava e fazia sacrifícios.
E eu tinha acabado de fazer o definitivo.
Sacrifiquei a única coisa que eu queria mais do que tudo. Mas
mesmo agora, mesmo sabendo que provavelmente não veria um
único jogo dos play-offs, não me arrependia.
Só me arrependia de não ter escolhido Felicity antes.
TRINTA E TRÊS
Felicity
EU ESTAVA no paraíso dos sonhos. Os lábios de Jason traçavam
beijos leves como plumas na curva do meu pescoço, o calor de seu
corpo me envolvia e seu cheiro delicioso agitava meus sentidos.
— Abra seus olhos, linda.
— Não quero — murmurei, sentindo o desejo em meu ventre.
— Felicity. — Sua voz era tão real. — Abra os olhos.
— Não, não me obrigue. Não quero que isso acabe. — Era muito
bom aqui. Aconchegada em seus braços, segura e protegida.
Acarinhada. Apoiei o rosto em seu ombro, respirando-o.
— Jason — suspirei, seu nome doce na minha língua.
— Sim, baby?
— Faça amor comigo, por favor. — Eu o queria. Mais do que eu
jamais quis qualquer coisa. Certo, se ele não me tocasse logo, eu
me afogaria nas chamas que ardiam dentro de mim.
Um gemido gutural encheu meus ouvidos quando seus lábios
roçaram em minha orelha.
— Abra os olhos e me pergunte de novo.
Que droga. Mesmo em meus sonhos, ele era insuportável.
— Tudo bem, tudo que é bom tem um fim mesmo — murmurei
para mim mesma, porque soube no segundo em que abri os olhos...
— Jason? — Segurei os lençóis, com o corpo paralisado enquanto
ele pairava sobre mim. — M-mas o que você... Jason?
— Oi. — Seu lábio inchado se curvou em um sorriso hesitante.
— Me desculpe, eu te assustei.
— Me assustou? — Respirei fundo, com as costas grudadas nos
travesseiros. — Você quase me provocou um ataque cardíaco.
— Entre outras coisas. — Um leve sorriso brincou em seu rosto.
— Ah, Deus — murmurei, virando o rosto no travesseiro. Não
tinha sido um sonho. Jason estava aqui, no meu quarto.
Ele me beijou... e eu implorei a ele para fazer amor comigo.
O universo me devia um bom carma no futuro, depois de toda a
merda que me fez passar ultimamente.
Sentindo meu colapso iminente, Jason recuou, me dando algum
espaço. Meus olhos se ajustaram à escuridão, revelando a extensão
de seus ferimentos. Eu o alcancei instintivamente, passando os
dedos sobre os hematomas escuros ao redor de seus olhos. Ele se
inclinou para mim, exalando uma respiração instável.
— Por que, Jason? Tudo pelo que você se esforçou... — minha
voz sumiu e o peso do que tinha acontecido na noite de sexta-feira
caiu sobre nós.
— Por você — ele sussurrou.
As palavras foram como um tiro no meu coração.
Duas pequenas palavras que eu nunca, em um milhão de anos,
esperava ouvir.
— Por mim? — ofeguei, procurando seus olhos em busca de
qualquer sinal de que isso era uma piada. Que tudo fazia parte de
seu jogo cruel.
— Acho que deveríamos conversar.
— Conversar... você invadiu minha casa no meio da noite... para
conversar?
— Eu deveria esperar. — Ele passou a mão pelo cabelo
castanho rebelde, deixando-o cair desordenadamente em volta do
rosto. — Tinha tudo planejado. Mas eu estava deitado na cama,
tentando ignorar a dor, e não pude esperar nem mais um segundo.
Eu precisava ver você.
— É mesmo?
Passei todo o fim de semana me preocupando com ele,
absorvendo avidamente qualquer detalhe minucioso com que Hailee
me alimentasse.
Jason assentiu e um sorrisinho incerto levantou o canto de sua
boca. Ele estremeceu com a ação involuntária.
— Dói?
— Você não iria acreditar. Mas não tanto quanto saber que
posso ter estragado as coisas entre nós.
Nós.
Ele achava que ainda havia um nós?
Talvez eu ainda estivesse sonhando, presa em algum belo
pesadelo.
— Isto é real? — perguntei baixinho. Ele se inclinou, segurando
meu rosto, roçando o polegar em meus lábios. Desejo cru brilhou
nas profundezas de seus olhos.
— Isso parece real?
— Honestamente, não tenho certeza. — Eu mal conseguia
pensar direito com a maneira como meu coração batia no peito.
— E quanto a isso? — Jason se aproximou, tocando os lábios
nos meus.
— Ainda não tenho certeza, você provavelmente deveria fazer
isso de novo. Só para eu me certificar. — Lutei contra um sorriso, e
ele riu, o som como uma balsamo para o meu coração machucado.
Lentamente, ele entrelaçou os dedos no meu cabelo, inclinando
meu rosto de leve para alinhar nossas bocas no ângulo perfeito.
— Jason — implorei, desesperada para que ele me beijasse,
para que me mostrasse que isso era real. Mas ele parou, olhando
para mim com tal intensidade que pensei que meu coração fosse
explodir. Seus olhos estavam escuros, semicerrados e cheios de
tanta emoção que eu não conseguia respirar.
Não pude fazer nada além de esperar.
— Você é a coisa mais importante na minha vida, e eu sinto
muito. Sinto muito, mesmo — ele disse com total convicção.
Então ele me beijou.
Mas não foi apenas um beijo.
Foi Jason entregando seu coração de boa vontade. A cada toque
de seus lábios, cada carícia de sua língua, ele me disse tudo que eu
ansiava tão desesperadamente ouvir enquanto sua boca se movia
sobre a minha. Ele podia estar no controle, definindo o ritmo, mas o
poder era meu. Ele fervia entre nós. Uma advertência tácita. Ele
estava se desculpando comigo por meio de ações, não de palavras,
mas a bola estava do meu lado em relação ao que aconteceria a
seguir.
— Jason, espere — pedi, me forçando a interromper o beijo.
Ele encostou a testa na minha, deixando escapar um gemido de
dor.
— Ei — falei, passando as mãos de leve contra suas bochechas,
forçando-o a olhar para mim. — Estou aqui, estou bem aqui, mas
você está certo, devemos conversar.
Havia tantas coisas que precisávamos falar. Coisas que eu
precisava saber antes de deixá-lo se safar.
— Posso voltar mais tarde — ele começou a se afastar —,
quando for...
— Jase?
— Sim, Giles?
— Cale a boca e deite-se comigo. — Eu me afastei para abrir
espaço para ele e joguei a coberta de volta. Ele arqueou a
sobrancelha, mas sua expressão rapidamente suavizou.
— Tem certeza?
— Venha aqui antes que eu mude de ideia. — Meus pais
estavam dormindo no final do corredor, e eu não queria pensar no
que meu pai faria se me encontrasse com um garoto na cama, ainda
mais um Raider, mas eu não desistiria da chance de ter Jason aqui
assim. Na minha cama, com o coração nas mãos e pronto para
conversar.
Ele tirou os tênis, o moletom foi o próximo, antes de se deitar ao
meu lado. Nos deitamos de lado, um de frente para o outro.
— O que você quis dizer com ter feito isso por mim? —
perguntei.
— O Thatcher sabia que você era importante para mim. Ele me
enviou algumas mensagens ameaçando me atingir através de você.
Então eu me distanciei. — Ele fechou os olhos. — Te afastei.
— Entendo. — Estremeci, pensando em tudo que passamos nas
últimas semanas, tudo que ele me fez passar.
Jason puxou as cobertas ao nosso redor, recusando-se a me
deixar escapar da conversa.
— Mas não importava, porque ele sabia a verdade e já tinha seu
Ás na manga — ele hesitou, com os olhos repletos de culpa. — Ele
tinha algumas fotos nossas, do lago, naquele dia.
— Não! — Me senti em pânico, o constrangimento fazendo
minhas bochechas queimarem enquanto meus pensamentos
disparavam em uma centena de direções diferentes.
— Sinto muito. Ainda não sei como ele as conseguiu, mas ele
ameaçou publicar a menos que eu concordasse em encontrá-lo.
— Ele tem fotos... minhas. Nossas?
— Eu vou denunciá-lo para as autoridades. Isso foi longe
demais. Percebo agora. Farei tudo ao meu alcance para garantir
que ele não divulgue essas fotos.
Lágrimas se formaram nos cantos dos meus olhos. Eu não era
uma vadia. Não dormia por aí ou saí com vários caras. Mas eu tinha
feito coisas com Jason... coisas que não queria que ninguém
soubesse, muito menos visse. — Ah, Deus, se meus pais...
— Ei, ei. — Ele me puxou para seus braços, me colocando
contra seu corpo sólido. — Não vai chegar a esse ponto, eu
prometo.
Com as mãos pressionadas em seu peito, fechei os olhos e
respirei fundo, estremecendo.
— Eu vou resolver isso, Felicity, você tem a minha palavra. — Eu
não só ouvi as palavras, eu as senti. Jason falou de coração. Ele fez
tudo isso por mim, para me proteger. Era muito para processar.
De repente, um pensamento surgiu na minha cabeça.
— E quanto a Aimee? — Estiquei a cabeça para olhar para ele.
— Aimee não me importa.
— Jason...
— Ela importou no passado. Mas essa merda acabou há muito
tempo.
— Ela é a irmã do Thatcher? — Ele assentiu, traçando os dedos
para cima e para baixo na minha espinha, tornando difícil me
concentrar. — Vocês ficaram juntos?
— Você realmente quer saber essas coisas? — ele perguntou, e
eu dei a ele um sorriso fraco, assentindo. — Eu não via ou falava
com a Aimee há meses, até ontem.
— Ah, isso me faz sentir melhor.
— Bom, não quero que você se preocupe com outras garotas.
Não há ninguém além de você.
— Jenna? — Arqueei a sobrancelha de forma acusadora.
Ele bufou.
— Um meio para o fim.
— Aconteça o que acontecer entre nós, prometa que nunca vai
se referir a mim como um meio para um fim.
— Você não é um meio para um fim, Giles. Você é o fim do jogo.
Se eu já não estivesse perdidamente apaixonada por Jason
Ford, essas três palavras teriam girado meu mundo.
— Fim do jogo? Parece... sério?
— Ah, é sim. — Ele beijou a ponta do meu nariz. — Muito sério.
— Não tenho certeza se entendi exatamente o que isso significa,
talvez você tenha que me explicar. — Lutei contra um sorriso.
— Isso significa que você é minha.
— Eu sou sua, certo, acho que posso concordar com isso. — O
calor se espalhou por mim. Ele disse as palavras como se fossem a
coisa mais simples do mundo inteiro. E eu adorei.
Eu o amava.
Eu o amava há um tempo. Só estava com muito medo de admitir.
— Algo mais? — Abaixei a cabeça, bancando a tímida.
— Sim, acho que significa que quando chegar o dia do jogo, só
haverá um número que você vai usar. — Ele capturou meus lábios
em um beijo contundente. — O meu.

QUANDO ACORDEI NOVAMENTE, foi por causa do alarme e um


peito muito duro, muito quente. Eu me desvencilhei do abraço de
Jason e alcancei atrás de mim, tentando desesperadamente
localizar o celular para fazer o barulho parar.
— O que...
— Desculpe — sussurrei. — Alarme.
— Merda — ele se endireitou e rapidamente afundou de volta,
gemendo de dor. — Eu não queria dormir.
— Estou feliz que você tenha dormido. — Tirando o cabelo do
rosto, sorri ao ver Jason esparramado na cama. Em algum momento
da noite, ele tirou a calça jeans e a camisa e se deitou de volta ao
meu lado, deslizando as pernas nuas contra as minhas.
Foi o paraíso.
— Quanto tempo temos antes que seus pais apareçam?
— Não muito. — Tive a precaução de programar o alarme trinta
minutos antes do normal para que ele pudesse fugir antes que eles
acordassem.
— Venha aqui. — Ele enganchou seu braço em volta do meu
pescoço e me puxou para si, encontrando os meus lábios em um
beijo desajeitado.
— Eca, hálito matinal — reclamei.
— Você acha que eu dou a mínima para isso? Lábios, agora —
ele grunhiu as palavras, cobrindo minha boca com a sua, fazendo
um show ao empurrar sua língua profundamente e enredando-a
com a minha. Minha barriga se contraiu. Uma dor deliciosa se
espalhou por mim.
— Quanto tempo você disse que temos mesmo? — Jason rolou
para o lado, puxando minha perna sobre seu quadril e movendo sua
ereção em mim.
— Não o suficiente. — Um gemido baixo escapou de meus
lábios enquanto ele continuava se esfregando contra mim. — Ah,
caramba, isso é...
— Puta merda, preciso parar. Preciso... — Uma batida na porta
do meu quarto nos fez paralisar.
— Bom dia, baby, você está acordada?
— Ah, sim, mãe — resmunguei, mal conseguindo formar
palavras enquanto Jason pressionava em mim novamente, com um
sorriso presunçoso enfeitando seu rosto machucado.
— Vou fazer café. Te vejo lá embaixo.
Esperei um segundo para me certificar de que ela tinha saído e,
em seguida, dei um tapa no peito de Jason.
— Você é tão ruim — eu o repreendi, mas sua expressão estava
distorcida de dor. — Merda, desculpe. Aonde dói?
— Em todos os lugares, mas em nenhum tanto quanto aqui. —
Ele segurou minha mão e a fechou em torno de seu pau duro como
pedra.
— Jason!
— Você está me dizendo que se eu fizer isso — ele enfiou os
dedos dentro da minha calcinha — não vou te encontrar molhada?
— Ah, caramba... — Pressionei meus lábios enquanto ele me
acariciava, deslizando pela minha umidade. — Nós não podemos...
— gemi, perdida na sensação.
— Pela primeira vez, estou inclinado a concordar. — Ele afastou
os dedos e abri os olhos, vendo-o sugá-los para limpar. — Mais
tarde. — A promessa cintilou em seus olhos quando ele se inclinou,
me beijando. Ele acariciou minha língua com a sua, me deixando
sentir o meu gosto em seus lábios.
— Como você vai escapar? — Ele mal conseguia se sentar,
muito menos executar um plano de fuga.
— Quem disse alguma coisa sobre escapar? As mães me
amam, lembra? — Arregalei os olhos e seu rosto se abriu em um
sorriso largo. — Te peguei.
— Ha, agora vá antes que meu pai acorde.
Jason saiu da cama e pegou suas roupas.
— Suas costelas. — Empalideci com o enorme hematoma roxo
na lateral do seu corpo.
— Não é nada — ele minimizou, mas vi a forma cuidadosa com
que ele vestiu a camisa e moletom, refletindo a dor em seus olhos a
cada movimento. — Te vejo mais tarde, certo?
Estava na ponta da língua perguntar o que aconteceria quando
chegássemos à escola, mas Jason já havia saído para o corredor.
Ele olhou para trás, seus olhos dizendo todas as coisas que ainda
iríamos dizer.
Coisas que nunca pensei que diríamos.
E eu soube, naquele segundo, que desta vez não era um jogo ou
alguma pegadinha cruel.
Era real.
Jason Ford, o garoto de ouro do futebol de Rixon, era meu.
TRINTA E QUATRO
Jason
— TEM CERTEZA DISSO? — Cam me perguntou enquanto
caminhávamos para a escola. Todo mundo estava olhando: alunos,
professores e até mesmo os poucos pais que estavam por ali. Eu
sabia o que eles estavam vendo.
Jason Ford.
Jogador de futebol e astro do time.
Desordeiro e arrogante.
As pessoas geralmente fechavam os olhos. Normalmente
desculpavam minhas travessuras como “garotos sendo garotos”.
Mas não desta vez.
Desta vez, pessoas se machucaram.
Eu me machuquei.
Mas eles não sabiam a verdade. Não sabiam que eu tinha feito o
que fiz por necessidade de proteger Felicity. Para defender a garota
que consumia todos os meus pensamentos.
Eles não sabiam nada.
No que me dizia respeito, poderia continuar assim. Eu não tinha
lutado contra Thatcher pela glória ou em nome da reputação dos
Raiders, nem mesmo a minha própria. Fiz isso porque, no final das
contas, eu era apenas um cara que amava uma garota e se
recusava a deixar algum idiota como Lewis Thatcher arruiná-la por
causa de sua briga comigo.
Eu a avistei primeiro. Ela estava conversando com Hailee e Mya
perto de seu armário, ignorando o som de sussurros e fofocas no
corredor.
— Então vocês dois conversaram sobre o que vai acontecer
agora? — Cam me perguntou enquanto nos aproximávamos delas.
— Não. — Eu não conseguia desviar meus olhos para responder
a ele. Felicity estava vestindo jeans largos, pendurados na cintura,
com um pedaço de pele em exibição onde a camisa não chegava ao
cós. Era larga na altura da barriga, justa no peito e deixava um
ombro de fora. Seus longos cabelos castanhos estavam sobre um
ombro, seu rosto sem maquiagem e sua expressão animada
enquanto falava com as amigas.
— Então, qual é o pla...
Mas eu já tinha ido embora. Atravessado o fluxo de alunos.
Hailee me notou primeiro e seus lábios se abriram em um sorriso
largo. Mya foi a próxima, com presunção brilhando em seus olhos,
como se soubesse que essa era uma conclusão precipitada. No
entanto, não dei a mínima para suas reações. A única garota com
quem eu me importava ainda não tinha me notado quando me
aproximei por trás dela. Cobrindo seus olhos com as mãos, me
inclinei e sussurrei.
— Adivinha quem?
— Humm, Asher? — Ela riu quando a girei em meus braços e
olhei para ela.
— Tente de novo, Giles.
— Oi — ela falou com um sorriso inseguro.
— Oi.
Hailee e Mya recuaram, dando espaço para nós dois. A escola
inteira parecia ter parado ao nosso redor, todos assistindo seu rei se
apaixonar por sua rainha.
— Sou eu ou todos estão nos observando? — Felicity lançou um
rápido olhar ao redor.
— Estão esperando para ver se o boato é verdadeiro.
— É mesmo? — Seu sorriso se ampliou. — E que boato seria
esse?
— Que o QB um está oficialmente fora do mercado. — Me
aproximei mais dela.
— E ele está? — Ela acompanhou meu passo.
— Acho que é bastante seguro dizer que ele está comprometido.
— Droga, justo quando finalmente criei coragem para dizer a ele
como me sinto. Bem, acho que terei que esperar até que seja lá
quem for, dê um pé na bunda dele.
— Eu já te disse que você é estranha pra cacete? — Abaixei a
cabeça na direção da dela.
— Eu já te disse que tenho uma coisa por jogadores de futebol?
— Jogadores, no plural? Porque eu conheço alguns caras que
adorariam...
Ela deu um tapa no meu peito. Antes que ela pudesse mover as
mãos, segurei seus pulsos, mantendo-os pressionados ali.
— Quer me contar algo, Giles?
— Você primeiro, Ford, tenho uma reputação a proteger. — Ela
piscou e eu soltei uma risada calorosa. Essa garota...
Essa garota.
Inclinando-me, aproximei os lábios de sua orelha e sussurrei:
— Estou com meu coração ferrado.
Felicity recuou para olhar bem nos meus olhos.
— É essa a sua maneira de dizer que me ama?
Engolindo em seco, assenti, ciente de que não era exatamente
como eu planejava dizer a ela.
— Bom trabalho, porque estou completa e totalmente louca por
você também.
Não me importava que tivéssemos audiência. Nem que as
pessoas estivessem gravando com seus celulares o momento em
que o QB um entregou publicamente suas bolas para uma garota.
Não me importei nem um pouco quando pressionei Felicity
contra os armários e a beijei. As pessoas simplesmente teriam que
se acostumar com isso porque ela era minha e eu era seu, e
pretendia lembrá-la disso a cada segundo de cada dia.

— FORD, meu escritório, agora!


Todos os olhos se voltaram para mim quando me levantei e
caminhei pelo vestiário. Alguns caras me deram tapinhas nas
costas, oferecendo seu apoio em silêncio. Mas esse fardo era meu,
e só meu. Até que entrei em seu escritório para descobrir que não
estava sozinho.
— Treinador — falei em tom frio, esperando a merda bater no
ventilador, enquanto desviava os olhos para a figura silenciosa já
sentada na frente de sua mesa.
— Sente-se — ele grunhiu, e eu me acomodei na outra cadeira
vazia. — Acho que nem preciso fazer minha próxima pergunta para
saber a resposta. Você está péssimo, filho. Péssimo mesmo.
Me mexi desconfortavelmente na cadeira de plástico, tentando
encontrar uma posição que não fizesse meus pulmões parecerem
que estavam pegando fogo.
— Assim que terminarmos aqui, você vai direto para o médico,
ouviu? Se você quebrou alguma coisa, Deus me ajude...
Concordei, sabendo que esta era uma das vezes que o treinador
não apreciaria uma resposta espertinha.
Ele arrancou o boné e esfregou a cabeça de pura frustração.
— Mais quatro jogos, foi tudo o que pedi. E você não pôde me
ouvir. Sabe que terei que ir ao diretor Finnigan com isso, certo? Se
ele ainda não descobriu, já que parece ser a única coisa na boca
dos alunos esta manhã.
— Sinto muito, senhor. — Parecia muito idiota em comparação
com o que estava em jogo, mas era tudo o que eu tinha a oferecer.
— Então você confirma a história dele? — ele olhou para Asher,
que esfregou a nuca.
— Eu, ah...
— Está tudo bem, mano. Eu já confessei que estraguei tudo
incitando Thatcher naquela luta e que você teve que vir me salvar.
Que merda era essa?
Encarei Ash como se ele tivesse ficado louco. Ou talvez eu
tivesse. Porque nada do que ele estava dizendo fazia sentido.
— Bem, Jason, o que você tem a dizer?
— Eu, humm, eu...
— Está tudo bem — Ash sussurrou e olhei para os olhos dele em
questão. Ele assentiu, seus olhos confirmando tudo que eu não
queria acreditar.
Ele estava se entregando.
Em meu lugar.
Cerrei os dentes por trás dos lábios enquanto tentava descobrir o
que fazer. Se eu o deixasse fazer isso, as chances eram de que sua
temporada tivesse acabado. Mas se eu contasse a verdade ao
treinador, era a minha temporada que estava acabada, e talvez a de
Asher também pelo fato de ter tentado me salvar.
Puta merda.
— Não tenho o dia todo, filho.
— Está tudo bem, Jase, pode contar a ele.
Não pude fazer isso. Não podia ser esse tipo de cara. Não
depois de tudo.
— Desculpe, treinador, mas tenho que lhe dizer...
— A verdade, treinador — Ash me cortou —, é que o Lewis
Thatcher é um filho da puta doente que passou os últimos três
meses perseguindo Jason por meio de seus amigos e familiares. O
Jason não queria dizer a ninguém para proteger sua meia-irmã e a
namorada.
— Namorada? — O treinador franziu a testa, esfregando o
queixo.
— Felicity Giles, você não a conhece?
— O nome não me é estranho.
— O Thatcher ameaçou machucar a Felicity várias vezes, mas o
Jason se recusou a morder a isca. Sua ameaça final foi mais
persuasiva. — Asher me deu um olhar simpático. — Eu sabia que
se o Jason descobrisse sobre a ameaça, iria atrás do Thatcher,
então eu combinei o encontro.
— E o que exatamente você esperava alcançar, filho?
Ash deu de ombros daquele jeito fácil dele.
— A paz mundial? — Bufei.
— Merda, eu sei. Mas não podia simplesmente me sentar e não
fazer nada. De qualquer forma, a coisa toda foi uma armação. Eles
me atacaram e não tive escolha a não ser pedir reforços.
— Que foi quando você interveio? — O treinador ergueu a
sobrancelha para mim.
— Sim.
— Para salvar a pele do seu companheiro de equipe?
— Sim, senhor.
— Mas o jogamos direto na mão do Thatcher, porque o que ele
queria era o Jase lá.
— Entendo, e o resto da equipe? Qual o papel deles em tudo
isso?
— Eu os chamei como um apoio, mas foi isso. — Passei a mão
no rosto.
— Você tem provas das ameaças do Thatcher?
Asher assentiu.
— Tenho capturas de tela de tudo.
— Desde quando? — perguntei.
— Sabia que um dia poderíamos precisar.
— Há também um vídeo e algumas fotos, senhor. Mas eles são...
humm, bastante íntimos.
— Você deveria ter vindo até mim com isso. Vocês deveriam ter
vindo até mim no segundo em que o Thatcher aumentou a aposta.
— Sim, senhor — resmungamos ao mesmo tempo.
— A srta. Raine e a srta. Giles atestarão sua história?
Concordei.
— Certo, bem, não tenho escolha a não ser levar isso ao diretor.
Dada a sua história com ele, não esperaria que ele ficasse do seu
lado. Você sabe o que isso significa?
Outro sim, senhor encheu a sala.
O treinador deixou escapar um suspiro exasperado.
— Farei o meu melhor, mas pode estar fora do meu alcance.
Agora vão para a aula, vocês dois. E fiquem lá até eu dizer o
contrário.
Saímos do escritório em silêncio, mas no segundo em que
estávamos fora do alcance da voz, segurei o braço de Ash.
— Que merda foi aquela?
— Eu estava salvando seu pescoço, então não seja um idiota e
estrague as coisas. Siga o plano.
— O plano? Você percebe que assumiu a responsabilidade por
algo que pode encerrar sua temporada no futebol?
— Eu sei e faria de novo se isso significasse que você pode
jogar.
— Mas por quê? — Fiquei chocado.
— Porque você é um dos meus melhores amigos e sei o quanto
o estadual significa para você. Além disso, o Finnigan está apenas
procurando uma desculpa para cair em cima de você e isso poderia
ter criado um problema que você não precisa. — Ele começou a
andar, mas apertei seu braço com mais força.
— Asher, vamos, pense sobre isso, é loucura.
— Na verdade, é muito simples. Sou seu amigo e é isso que
amigos fazem. Você pode me agradecer mais tarde. — Com isso,
ele puxou o braço e saiu andando como se não tivesse acabado de
salvar meu sonho e acabado com o dele.
MAIS TARDE NAQUELE DIA, eu tinha outra conta a acertar.

— JASON? — Jenna arregalou os olhos enquanto eu a empurrava


de volta para o vestiário feminino. As garotas ofegaram, algumas
gritando enquanto abraçavam as roupas contra seus corpos
seminus.
— Todo mundo para fora, agora — rugi, sabendo muito bem que
ninguém reclamaria. Uma por uma, as amigas e companheiras de
equipe de Jenna correram para fora do vestiário, deixando-a à
minha mercê.
— J-Jason, você está me assustando.
— Bom, você deveria estar com medo pra cacete. — Fechei a
distância entre nós até que pudesse sentir o cheiro nauseante de
seu perfume.
— O que é isso, o que há de errado? — Ela tentou recuperar o
controle da situação. Piscando os olhos, ela empurrou o cabelo para
trás para revelar uma extensão de pele bronzeada e a curva de
seus seios.
— Isso não vai funcionar, Jenna — estourei. — Sabe, tive uma
conversa interessante com Aimee Thatcher mais cedo. Te lembra
alguma coisa? — Seu rosto empalideceu e seus olhos se encheram
de medo. — Imagino que você deve conhecê-la bem, já que esteve
visitando a casa dela, alimentando o Thatcher com coisas sobre
mim. Sobre a minha vida.
— Não é... não foi assim.
— Então você não abriu as pernas e o deixou te comer enquanto
sussurrava todos os meus segredos em seu ouvido?
— É tudo culpa sua — ela gritou, estendendo as mãos para o
meu peito e batendo forte. — Você me dispensou como se eu não
fosse nada. E por causa da Felicity Giles, uma ninguém.
— Cuidado, Jenna. Você pode pensar que é a Abelha Rainha
por aqui, mas logo poderei tirar esse título de você. — Eu poderia
destrui-la sem nem mesmo suar. Mas eu não estava em busca de
sangue ainda, estava em busca de respostas. — Como você fez
isso?
Durante toda a manhã, estive pensando em como Thatcher
conseguiu as fotos minhas e de Felicity. Presumi que ele fez com
que um de seus caras me seguisse, mas parecia um exagero. Até
para Thatcher. Foi só quando Grady mencionou que tinha visto
Jenna conversando com alguns jogadores dos Eagles na sexta-feira
enquanto a luta se dispersava, que comecei a montar um cenário
mais provável. Uma rápida ligação para Aimee confirmou minhas
suspeitas. O cara de Thatcher era, na verdade, uma garota. Uma
garota que, contra meu melhor julgamento, tinha um relacionamento
íntimo e pessoal comigo.
— Jason, eu...
— Responda a porra da pergunta.
— Eu te segui, tá? Estive te observando, percebi que você
sempre enviava mensagens de texto para alguém. Não precisava
ser cientista de foguetes para descobrir quem, pela maneira como
vocês dois olhavam um para o outro no refeitório. — Suas palavras
estavam cheias de ciúme. — Não planejava te seguir, mas vi a
Felicity saindo de forma furtiva e, antes que eu percebesse, entrei
no meu carro. Foi apenas um golpe de sorte.
Um grunhido baixo ressoou em meu peito e o sangue foi
drenado de seu rosto novamente.
— Eu não... não foi isso que eu quis dizer. Só quis dizer que foi
uma coincidência. Por favor, Jason, o que você vai fazer?
Bati a mão contra a parede ao lado dela e gritei:
— Só o que você merece.
Então me afastei sem olhar para trás.
Não importava nossa história, Jenna fez sua cama quando foi
atrás de Felicity.
Ela poderia apodrecer nela.
TRINTA E CINCO
Felicity
— COMO ESTAMOS INDO AQUI? — A cabeça de George
apareceu na porta assim que coloquei Benji de volta em sua gaiola.
— Tudo bem. Acabei de preparar Benji e ia começar a trabalhar
com Meagan e Frieda. — Esses eram dois dos cachorrinhos mais
fofos que eu já vi; dois mini Schnauzers que eu teria lutado para
distinguir se não fosse por suas coleiras contrastantes.
— Na verdade, você tem uma visita. — Algo brilhou em seu
rosto.
— Visita? — Lavei minhas mãos e sequei com papel toalha. —
Aqui?
— Ele está esperando na frente.
Ele?
Segui George para o corredor, meus pensamentos girando.
Quando chegamos às portas que separavam a frente dos fundos do
centro, George fez uma pausa.
— Só quero que você saiba que já causou uma boa impressão
aqui. Você é ótima com os animais, ansiosa para aprender e a
Serena te adora, o que é sempre um bônus. — Ele me deu um
sorriso hesitante. — A posição é sua pelo tempo que você quiser.
— O que você... — George abriu a porta e eu ofeguei. — Jason?
Mas o que você está...?
— Oi. — Ele me deu um sorriso hesitante enquanto se
aproximava de nós. — Obrigado, cara — ele estendeu a mão para
George —, eu realmente aprecio isso.
— Humm, sim, claro. — Meu novo chefe passou a mão sobre a
cabeça, parecendo agitado e a culpa fez suas bochechas corarem.
— Espere um minuto. — Semicerrei os olhos de um para o outro.
— Ele te envolveu nisso?
— Talvez — George admitiu com timidez.
— Deixe-me adivinhar: — deixei escapar um suspiro incrédulo —
você é fã dos Raiders?
Suas bochechas ficaram vermelhas como uma beterraba.
— Não sei o que dizer. — Achei que talvez George tivesse me
dado a vaga porque gostava de mim; nunca me ocorreu que ele
tivesse feito isso porque Jason havia pedido.
— Posso pegá-la emprestada?
— Ela é toda sua. — Havia um tom nas palavras de George que
confirmou as suspeitas de Mya. Ele gostava de mim. Mas sabia que
eu pertencia a outra pessoa.
Dei a ele um meio sorriso.
— Obrigada. Ainda devo voltar aqui amanhã?
— Claro, Felicity. Como eu disse, a posição é sua pelo tempo
que você quiser.
Com um pequeno aceno, deixei Jason segurar minha mão e me
levar para fora de A Brand New Tail.
— Você tem algumas explicações a dar — falei no segundo em
que estávamos na calçada.
— E vou. — Ele me puxou para frente, então ficamos cara a
cara. — Mas primeiro... — Jason entrelaçou as mãos no meu
cabelo, inclinando meu rosto. Seus lábios roçaram os meus, lentos e
ternos no início, mas rapidamente se tornaram outra coisa. Jason
lambeu minha boca, empurrando a língua para dentro, encontrando
a minha. Ele tinha gosto de menta e roubou meu fôlego, enquanto
explorava cada centímetro da minha boca.
Me marcando.
Me possuindo.
Se imprimindo na minha alma.
Quando finalmente nos separamos, estávamos corados e sem
fôlego.
— Oi — ele falou baixinho.
— Oi. — Lutei contra um sorriso, ainda mal capaz de acreditar
que esse deus forte e assustador do futebol era meu.
— O que foi? — ele perguntou.
— Eu simplesmente não posso acreditar que estamos aqui,
depois de tudo.
— Acredite, baby. — Ele baixou a cabeça, esfregando o nariz
contra o meu, roubando um beijo casto. — Porque você é minha
agora e não há como escapar de mim.
— Que bom que não tenho planos de fugir então. Agora —
passei as mãos em seu peito —, confesse. O que você disse ao
George para que ele me desse uma vaga?
— Não foi nada que alguns ingressos para os play-offs não
pudessem resolver.
Eu recuei.
— Ingressos. Isso é tudo que eu valho? Espere até eu encontrá-
lo.
— Não o incomode com isso. Acho que ele teria concordado
sem que eu desse os ingressos para suavizar o acordo.
— Como você sabia... Asher — a minha ficha caiu. — O Asher te
falou.
— Ele só estava tentando ajudar. — Jason me puxou para mais
perto e seus lábios encontraram a pele macia sob minha orelha. —
Senti a sua falta.
— Faz apenas algumas horas.
— Muitas.
— Esse é o tipo de namorado que você vai ser? Carente?
Jason ergueu a cabeça e franziu a testa para mim.
— Carente? Eu te algemaria a mim se achasse que isso não
causaria problemas sérios com seus pais.
— Jason!
— O que foi? — Ele se fez de bobo. — Não posso evitar se tudo
o que posso pensar é em beijar você, entrar em você.
— Shhh, você não pode dizer coisas assim para mim aqui.
Ele se inclinou para trás, roçando na minha orelha com os lábios.
— Baby, eu posso dizer o que eu quiser.
Ele era tão malvado.
Malvado e todo meu.
Levaria algum tempo para me acostumar.
— O que o diretor Finnigan disse?
Ele segurou minha mão e começou a me conduzir pela rua até o
carro.
— Ele ainda não tomou uma decisão. Mas não está parecendo
bom para Asher.
— Ainda não consigo acreditar que ele fez isso.
— Sério? — Ele arqueou a sobrancelha. — Porque quando
penso nisso, é exatamente o tipo de merda maluca que ele faria.
— Ele é um bom amigo.
Jason abriu a porta do passageiro para mim e eu me sentei,
esperando-o entrar. Assim que a porta se fechou atrás dele, o ar no
carro ficou pesado.
— Você gostaria que fosse ele?
— O quê? — perguntei, surpresa.
— Você já desejou que tivesse se apaixonado por ele?
— Não. — Eu nem precisava pensar sobre isso. — Nunca houve
uma escolha, Jason. Não se pode escolher por quem se apaixona.
— Você me ama, Giles? — Seus olhos encontraram os meus,
sombrios, incertos e tão vulneráveis que fizeram meu coração se
derreter.
— Eu te amo tanto que me apavora.
— Que bom. — Ele se inclinou e me beijou. — Podemos ficar
apavorados juntos.

DEZ MINUTOS DEPOIS, Jason estacionou em sua casa e desligou


o motor.
— Nervosa? — ele me perguntou, estendendo a mão e
entrelaçando com a minha.
— Nervosa? Com o que eu poderia estar nervosa? Estive na sua
casa mais vezes do que posso contar. A mãe da Hailee me ama. —
Saiu presunçoso, apesar do frio na minha barriga.
— Não tem ninguém em casa, linda. — Sua risada suave encheu
o carro.
— Ah — sussurrei, sentindo o calor se espalhar por mim. —
Onde estão todos?
— A Hailee está com o Cameron, e a Denise e o meu pai estão
fazendo a merda que gostam de fazer à noite. A casa é nossa por
pelo menos as próximas quatro horas.
— Oh. — Desta vez, engoli em seco.
— Ei — Jason passou a mão pelo meu braço até tocar meu
pescoço. — Você está bem?
— Sim. — Pisquei para ele. Esse era Jason. Nada que eu já não
tivesse experimentado – e sobrevivido – antes.
— Sem pressão, tá? — Seus olhos procuraram os meus. —
Podemos entrar lá, assistir TV e comer nosso peso corporal em
batatas fritas. Ou podemos fazer o dever de casa. Só quero ficar
com você.
— Certo.
— Mesmo?
Assenti, encontrando coragem para sair de seu carro. Não sei
por que fiquei tão nervosa de repente. Eu o deixei me reivindicar na
frente de metade da nossa classe hoje na escola. Mas isso parecia
diferente.
Parecia que estávamos falando um para o outro e, depois de
tudo que passamos, havia uma vozinha no fundo da minha mente
sussurrando para eu ter cuidado. Para não pular de cabeça com ele
no caso de ele mudar de ideia de repente.
Mas era tarde demais.
Eu já estava em águas profundas, esperando que Jason me
jogasse um bote salva-vidas.
Esperando que ele fosse meu bote salva-vidas.
Entramos na casa em silêncio. Eram as mesmas quatro paredes,
a mesma coleção de ornamentos espalhafatosos que revestiam as
prateleiras e as fotos de família que a mãe de Hailee havia
espalhado pelas paredes. Tudo estava exatamente igual.
Mas eu estava diferente.
Estávamos diferentes.
— Isso é estranho para você? — Jason perguntou, sem dúvida
sentindo minha hesitação.
— Um pouco. Eu só... Nunca pensei que chegaríamos aqui e
agora é onde estamos... estou feliz, de verdade. Mas...
— Você está preocupada que eu te magoe de novo. — A
vergonha tomou conta dele. — Espere aqui. — Jason deu um beijo
na minha cabeça antes de desaparecer no corredor.
Fiquei lá, com os braços em volta da cintura, me perguntando o
que poderia ser tão importante que ele teve que me deixar.
Quando ele voltou, estava com aquele olhar envergonhado
novamente.
— Jason, o que você fez? — perguntei.
Ele estava segurando uma sacola plástica branco.
— Eu estava tentando pensar em uma maneira de te mostrar
que quero isso. Que estou falando sério sobre isso. — Ele acenou
entre nós. — Então, eu trouxe algo para você.
Espiei, tentando ver o que estava na bolsa. Mas nada poderia ter
me preparado para o moletom da Penn que ele puxou.
— Eu não tinha certeza do seu tamanho. — Ele o entregou para
mim. Parecia macio e pesado em minhas mãos.
— Não entendo...
— Bem, você vai precisar de um no próximo outono. — Uma
energia nervosa irradiava dele. — Eu também tenho um, mas o meu
é preto.
— Você está me dizendo que nos deu moletons combinando? —
Meu coração inchou.
— Bem, sim. — Ele abaixou o rosto, esfregando a nuca, olhando
para mim através dos cílios grossos e escuros. — Não é isso que os
casais fazem?
Eu não tinha palavras.
Nenhuma.
Acho que Jason as roubou bem na época em que roubou
completamente meu coração.
— Sei que disse que não quero você lá, na Penn, mas eu só
estava atacando. É claro que eu quero você lá.
— Quatro anos, é muito tempo. — Sorri. — E se as coisas derem
errado e tivermos que ficar perto um do outro o tempo todo?
— Impossível. — Ele passou o braço ao redor do meu pescoço e
me puxou contra seu peito. — Eu já te falei, somos fim do jogo.
Portanto, se você tiver dúvidas, sugiro que saia agora. Porque vou
te prender a mim pelos próximos quatro anos e meio, pelo menos.
— Apenas quatro anos e meio?
— Quando eu entrar no profissional, talvez precise te liberar,
— Por mim, tudo bem. Namorar um jogador profissional de
futebol não está na minha lista.
Seus dedos cravaram em meus lados, fazendo cócegas e me
beliscando. Minha risada soou livremente, enchendo o espaço entre
nós e as fissuras restantes em meu coração.
— Eu te amo pra cacete. — Jason curvou a mão em volta do
meu pescoço. — Nunca pensei que precisasse de alguém. Mas
preciso de você, Felicity. Preciso tanto que dói. — Ele encostou a
cabeça na minha, respirando bruscamente.
— Então me tome — sussurrei.
— É? — Seus olhos estavam arregalados e maravilhados.
E famintos.
Tanto, que minhas pernas viraram geleia.
— Estou bem aqui, o que você está esperando... — O ar
escapou dos meus pulmões enquanto Jason me colocava por cima
do ombro e me carregava escada acima, ignorando meus gritos de
misericórdia.
Dentro de seu quarto, ele me abaixou até o chão, deixando cada
centímetro do seu corpo tocar o meu. Ficamos lá, com os olhos fixos
um no outro, e nenhum de nós disse uma palavra. Simplesmente
absorvendo o momento.
Até que me afastei, me movendo mais para dentro do quarto do
cara mais complicado e lindo que já vi.
Era exatamente como eu esperava. Escuro e viril. Paredes de
ardósia cinza com toques de preto e cromado. A cama estava
coberta por lençóis pretos com estampa prateada. Me fez lembrar
de uma tempestade. Sedutor e misterioso à distância, mas mortal se
chegar muito perto.
Assim como Jason.
— Você é a primeira garota a entrar neste quarto, além da Hailee
— ele falou. Me virei para encontrar seu olhar sincero. Ele voltou
para o batente da porta, se inclinando de forma casual, me
observando.
— É muito... você.
Vindo em minha direção, Jason inspirou um pouco de ar, até
chegar a mim, me envolvendo por trás e fazendo meus pulmões
queimarem de necessidade.
— Você é linda demais. Eu não te mereço.
Estendi a mão e emoldurei sua bochecha.
— Não cabe a você decidir o que merece.
— As coisas que quero fazer com você definitivamente me
tornam indigno.
Ele me virou e meus lábios se entreabriram em um suave ah.
— Última chance — ele avisou, e seus olhos escureceram como
a cor de seus lençóis.
— Eu não vou fugir — falei em desafio.
— Que bom, porque eu iria atras de você até os confins da terra.
Você é minha, Felicity. Cada pedaço seu.
TRINTA E SEIS
Jason
TRACEI SEU ROSTO com os olhos, percebendo o rubor de suas
bochechas. Seus lábios estavam entreabertos, macios, rosados e
deliciosos.
— Por onde começar? — Pressionei a palma da mão contra o
esterno de Felicity, descendo-a pelo seu suéter até que meus dedos
encontraram a bainha. Lentamente, puxei o tecido por seu corpo,
deixando-o amontoado em torno de seus ombros.
— Quero provar cada centímetro seu.
— Jason. — Meu nome soava como o paraíso em seus lábios.
Me ajoelhei, traçando meu nome em seu estômago com a língua.
Eu queria marcá-la. Marcá-la de todas as maneiras possíveis até
que estivéssemos presos com tanta força que ela nunca poderia me
deixar. Porque não havia como voltar atrás agora. Fui sincero em
cada palavra que disse a ela. Ela era o fim do jogo. Eu ainda queria
o futebol, a Penn, a NFL e tudo o que vinha com isso, mas não
queria nada disso se Felicity não estivesse ao meu lado.
Beijando uma trilha até o sutiã, passei os braços por suas costas
e abri o fecho. Suguei com avidez um dos seus seios e mordi o
mamilo com gentileza. Seu corpo estremeceu de prazer, então fiz de
novo... e de novo, até que ela estava se contorcendo na minha
frente, agarrando meus ombros.
— Você está me provocando — ela gemeu, enterrando os dedos
no meu cabelo e puxando com força.
Minha garota tinha garras e era tão excitante, que achei que
poderia explodir ali mesmo.
— Estou apenas começando. — Escalei seu corpo, puxando o
suéter e a regata, deixando o sutiã rosa escuro escorregar de seus
braços e cair no chão. Meu próprio moletom e camisa foram os
próximos. Enganchando o braço em volta de sua cintura, pressionei
a mão contra a parte inferior de suas costas até que estivéssemos
pele com pele, suas curvas delicadas niveladas contra meus
músculos firmes. Tudo em nós era diferente.
Duro e macio.
Áspero e liso.
Cruel e gentil.
Mas nos encaixávamos perfeitamente. Duas partes do mesmo
todo.
Seu cabelo estava caído entre nós como uma cortina de seda,
então eu o enrolei em minha mão, prendendo-o em sua nuca e
puxei suavemente, forçando-a a arquear as costas. Dando-me o
acesso perfeito para beijar e chupar seu pescoço. Fiz isso
lentamente, provando e saboreando sua pele doce e salgada.
— Mais — os gritos de Felicity ecoaram no quarto. — Preciso de
mais. — Suas unhas roçaram minhas omoplatas.
— Estou com você, linda. — Nossos lábios se encontraram,
quentes, úmidos e necessitados; nossas línguas lambendo,
acariciando e explorando. Seus beijos eram viciantes e eu sabia que
nunca seria suficiente.
Felicity ficou impaciente, traçando meu abdômen com as mãos,
seguindo um caminho tortuoso até o cós da minha calça jeans. Ela
abriu o botão com habilidade e enfiou a mão dentro, me agarrando.
— Puta merda — ofeguei enquanto ela me acariciava devagar.
— Não era isso que eu tinha em mente — minha voz falhou com
luxúria crua.
— Mal posso esperar. Preciso de você — ela murmurou —
agora.
Eu queria fazê-la esperar, para me familiarizar com cada
centímetro de seu corpo, e com todas as partes que eu ainda tinha
que explorar, mas verdade seja dita, eu também não podia esperar.
Minha necessidade por ela era como uma tempestade de fogo
furiosa dentro de mim, queimando mais e mais a cada toque, a cada
prova.
Fizemos um trabalho rápido no jeans e peças íntimas um do
outro, então eu a peguei no colo e a coloquei na cama, sem me
preocupar em pedir permissão. Felicity deu uma risadinha. O som
era tão perfeito que eu queria engarrafar essa merda para um dia
chuvoso.
— Venha aqui. — Ela moveu o dedo, levantando-se da cama e
deixando as pernas abertas. Não havia nem um toque de timidez ou
incerteza em seus olhos, seu amor por mim brilhava em seu olhar
verde-mar.
Rastejando sobre ela, deslizei entre suas pernas, sentindo meu
pau duro como pedra se encaixando em sua entrada.
— Preciso parar? — Arqueei a sobrancelha para ela, esperando,
rezando para que ela não me obrigasse.
— Só estive com você — ela falou — e estou tomando
anticoncepcional. Mas sei que você esteve com outras...
— Ninguém.
— O quê? — Ela piscou para mim.
— Não houve outras garotas desde Nova York.
A confusão cintilou em seus olhos cheios de luxúria.
— Mas a Jenna...
— Eu nunca dormi com ela, só deixei você pensar... merda. —
Apoiei a cabeça em seu ombro, lamentando o que aconteceu entre
nós. Ao tentar protegê-la, eu a magoei, e isso sempre estaria lá, em
segundo plano.
— Jason, olhe para mim — sua voz me persuadiu a sair do
esconderijo. — Eu não me importo com o que aconteceu antes, só
me importo com o que acontecerá agora e no futuro. — Ela
entrelaçou as pernas mais alto, quase me puxando para seu corpo.
Nós dois gememos com o contato íntimo.
— Então, se eu fizer isso. — Movi os quadris, empurrando mais
um centímetro dentro dela. — Você não vai me odiar?
Umedecendo os lábios, Felicity olhou direto para mim e um
sorriso sedutor se espalhou por seus lábios.
— Eu não te falei? Não há nada mais que eu ame do que odiar
você. — Passando as mãos pelo meu corpo até minha bunda, ela
me pressionou ainda mais contra ela.
— Puta merda — gemi, sentindo raios de prazer disparando em
todas as direções dentro de mim. — Você tem alguma ideia de
como me faz sentir?
— Me mostre — ela falou e suas palavras saíram ofegantes.
Me movi para frente novamente, passando a mão por uma de
suas pernas, nos aproximando mais, tomando-a muito mais
profundamente. Minha outra mão encontrou seu pescoço e espalhei
os dedos ao seu redor de forma possessiva enquanto eu puxava
antes de afundar em seu calor novamente.
Meus lábios reivindicaram os de Felicity novamente, minha
língua amando sua boca, do jeito que meu corpo a amava.
— Eu te amo — sussurrei contra seus lábios inchados. — Eu te
amo pra cacete.
— Eu também te amo, Jason. Muito.
Acelerei o ritmo, precisando de mais. Precisando de tudo que ela
tinha para dar. Nossa pele ficou úmida, nossos beijos desajeitados,
enquanto Felicity me encontrava impulso por impulso.
Minha parceira.
Minha igual.
A garota que me ensinou que há mais vida do que o jogo.
Quem me ensinou a amar.
A garota que eu planejava manter enquanto ela me quisesse.

A MANHÃ seguinte chegou rápido demais. Deixei Felicity em casa


na noite passada, depois fui para casa e bebi muito uísque. Eu
estava feliz que as coisas entre nós estavam finalmente boas, mas
ainda havia muita coisa em jogo. Então, quando o treinador chamou
a mim e a Asher em seu escritório depois de um treino cansativo, eu
sabia que a espera finalmente havia acabado.
— Entrem, garotos — o treinador acenou para que nos
sentássemos. — O diretor Finnigan consultou o conselho escolar e,
à luz de tudo, eles decidiram suspendê-lo da equipe, com efeito
imediato.
Asher soltou um suspiro pesado, se inclinando-se para frente
nos cotovelos.
— E o Jase?
— O diretor Finnigan pressionou por uma suspensão, mas o
conselho entendeu que, já que você estava ajudando seu colega de
equipe, uma punição mais branda seria adequada. — Ele contraiu a
boca em uma linha sombria. — Você está fora do jogo da próxima
semana, mas se conseguirmos passar para a próxima rodada, você
pode jogar.
Afundei na cadeira, passando a mão pela nuca. Eu poderia jogar.
Se chegássemos à segunda rodada dos play-offs, que eu tinha toda
fé que conseguiríamos, eu poderia jogar. Mas isso teve um preço.
A temporada de Asher estava acabada.
— Treinador — falei, pronto para defender meu companheiro de
equipe, meu irmão.
Um dos melhores amigos que um cara poderia ter.
— É justo — Ash me interrompeu. — Não vou contestar. Além
disso, talvez eles me deixem usar Vinnie, o Viking. Vai, Raiders. —
Saiu divertido apesar da derrota em seus olhos.
— Ash...
— Está tudo bem, mano. — Ele deu de ombros. — Eu sabia o
que estava fazendo quando fui até lá para encontrar o Thatcher.
O treinador Hasson nos observou, me observou. Ele sabia. No
fundo, eu não duvidava que ele soubesse a verdade, mas ele estava
deixando acontecer dessa maneira porque às vezes bons homens
tinham que fazer sacrifícios, e sem o sacrifício de Asher, os Raiders
iriam para os play-offs sem seu jogador principal.
— Sinto muito que tenha chegado a este ponto, sinto muito
mesmo — ele se dirigiu a Asher. — Você é um bom garoto, Bennet,
e não tenho dúvidas de que terá uma carreira de sucesso com os
Panters, de Pittsburg. O diretor Finnigan pode dar a palavra final
sobre se você joga ou não, mas o time e campo são meus e espero
vê-lo sentado no banco apoiando seus companheiros, está me
ouvindo?
— Eu não estaria em outro lugar, treinador.
— Bom, agora saia daqui.
A porta se fechou atrás de Asher, sugando o ar da sala.
— Sabe, não consegui dormir noite passada. Fiquei ali me
preocupando se estava prestes a perder não um, mas dois dos
meus melhores jogadores nos play-offs. É o pior pesadelo de um
treinador.
— Treinador, eu...
— Ouça bem, Jason — ele grunhiu, parecendo decepcionado. —
Não sei tudo o que aconteceu com Thatcher e, francamente, não
quero saber. Mas você precisa aprender a canalizar sua raiva, filho.
Você acha que não conheço garotos como você e Thatcher?
Caramba, eu costumava ser como você. Achava que era intocável,
um deus dentro e fora do campo. Mas meu velho se recusava a me
deixar esquecer quem eu era e de onde vim. Ele manteve meus pés
firmes no chão.
Ele fez uma breve pausa.
— Sei que você e o Kent têm problemas e que não foi fácil
crescer na sombra dele, mas pelo amor de Deus, não jogue fora o
que pode ser a oportunidade de uma vida por causa de gente como
os Thatcher do mundo. Você é melhor que isso. Você pega toda a
porcaria, toda a raiva e ressentimento, e canaliza para o futebol. Ou
se isso falhar, encontre uma boa mulher para ajudar a mantê-lo com
os pés no chão.
Eu ri disso. Conheci a sra. Hasson muito bem ao longo dos anos
e não era segredo que ela mantinha o treinador na linha.
— Essa srta. Giles. Você acha que pode ser sério?
— Acho que sim, senhor.
— Bom, então segure-a e não solte, está me ouvindo? Quando
se tem o mundo aos seus pés como você, as garotas caem em
cima. Todas vão querer um pouco de ação, a glória, mas é raro
encontrar uma garota que verá além de tudo isso. Uma garota que
vai ficar por tempo suficiente para perceber que há mais para você
do que futebol.
— Entendo — falei, tentando disfarçar a profundidade com que
suas palavras me afetaram.
— Só mais uma última coisa antes de você sair. Achei que você
gostaria de saber que o conselho escolar está realizando uma
investigação completa sobre o sr. Thatcher e a srta. Jarvis. Eles não
vão se safar disso, Jason. Mas estou te implorando. Deixe as
autoridades cuidarem disso de agora em diante.
— Acho que posso fazer isso, treinador.
— Fico feliz em ouvir isso. Muito bem, saia daqui. Temos um
jogo para nos prepararmos. Só porque você está fora do primeiro,
não significa que não espero cento e dez por cento no treino, viu?
Assentindo, fui até a porta, mas parei.
— Ei, treinador, você teve problemas naquela época?
— Um urso caga na floresta? — Um sorriso raro ergueu o canto
de sua boca. — Agora vá, antes que eu mude de ideia.
O vestiário estava vazio quando entrei. Apenas Asher
permaneceu sentado no banco perto de seu armário.
— Ei — falei, me sentando ao seu lado.
— Ei — ele murmurou, chutando seus tênis contra o chão.
— Por que, Ash? — Eu já tinha feito essa pergunta a ele, mas
isso foi antes de a sentença ser proferida.
— Porque sempre foi assim que deveria ser: você fica com a
garota e a glória.
— Ash, vamos lá... — Empurrei seu ombro com o meu.
— Está tudo bem. — Passando a mão pelo cabelo, ele
finalmente ergueu os olhos para mim, mas seu sorriso era distante.
— É o seu sonho, cara, faça valer a pena.
Com um pequeno aceno de cabeça, ele se levantou e saiu do
vestiário. Deixando-me sentado lá com nada além de meus
arrependimentos.
Diziam que que pesada era a cabeça que se usava a coroa.
Bem, minha coroa estava enrolada em culpa e vergonha, e pesava
a porra de uma tonelada.
TRINTA E SETE
Felicity
OLHEI para o relógio de parede pela décima vez em menos de dez
minutos.
— Felicity, querida, há algo errado com a sua comida?
— Não, mãe, está ótima. — Forcei um sorriso, empurrando o
macarrão no prato. — Eu... humm... é só que, bem, há algo que
quero falar com você. Duas coisas, na verdade. — Eu esperava me
sentar com ela e meu pai, mas ele ficou preso no escritório
novamente, e achei que poderia ser uma bênção disfarçada. Se eu
contasse a ela primeiro, minha mãe poderia ajudar a dar a notícia ao
meu pai.
— Estou ouvindo. — Ela colocou os talheres na mesa e se
inclinou com atenção. — Seja o que for, baby, tenho certeza de que
não justifica toda essa preocupação. — Seus olhos se suavizaram.
— Que história engraçada, eu... — A campainha me assustou,
me fazendo engasgar com as palavras que ainda estavam por vir.
— Você está esperando alguém?
Eu estava... mas ele estava quinze minutos adiantado.
Ah, merda.
— Vou atender, mãe. — Eu me levantei da cadeira e saí antes
que ela pudesse me impedir, quase correndo pelo corredor. Abrindo
a porta da frente, resmunguei:
— Você chegou cedo.
— A Hailee disse que você pode precisar de apoio moral. —
Jase arqueou a sobrancelha. — E eu trouxe apoio.
— Apoio?
Ele puxou o braço de trás das costas, revelando um buquê de
rosas.
— São lindas. — Fui pegá-las, mas Jason as tirou de alcance.
— Na verdade, são para sua mãe. A Hailee me disse que eram
as favoritas dela.
— Tem certeza de que não fez isso antes? — Dando um passo
para o lado, eu o deixei entrar. Mas Jason fez uma pausa, virando-
se para encontrar meu olhar sonhador.
— Só por você. Sempre só por você. Você me deve, Giles. —
Ele sorriu, inclinando-se para roubar um beijo.
— Felicity, querida — a voz da minha mãe soou pelo corredor —,
está tudo bem?
— Tudo bem, mãe. Estou quase.
— Já? — Jason sussurrou, traçando a boca no meu pescoço. —
Eu nem toquei em você ainda.
— Comporte-se. — Apoiei as mãos em seu peito. — Isso tem
que correr bem. — Porque se não... bem, não valia a pena pensar
nisso. Me afastei, mas ele segurou meu pulso, me puxando de volta
para si.
— Ei, vai ficar tudo bem, Felicity. Aconteça o que acontecer, nós
cuidaremos disso, certo? Juntos.
Qualquer apreensão que eu sentia se dissipou. Jason podia ser
novo em toda a coisa de relacionamento, mas até agora, ele estava
fazendo um trabalho incrível.
— Preparado? — perguntei a ele, sentindo-me cair em seus
olhos intensos e escuros. Nossas bocas se encontraram
novamente, como ímãs incapazes de lutar contra a atração.
— Felicity? — A voz da minha mãe estava mais perto agora.
Droga.
Com os lábios ainda unidos aos de Jason, olhei para o corredor
para encontrá-la ali, nos observando com uma mistura de leve
curiosidade e pânico.
— Humm, ei, mãe. — Finalmente me separei da boca do meu
namorado. — Surpresa.
— Surpresa? Não tenho certeza se estou entendendo... — Ela
semicerrou os olhos, passando de mim para Jason. — É quem eu
acho que é?
— Oi, sra. Giles. Eu sou Jason. Jason Ford. — Ele deu um
passo à frente, oferecendo o buquê de flores para ela. — É um
prazer conhecê-la.
— São para mim? — Ela o olhou de forma rígida.
— Sim. Um passarinho me contou que são as suas favoritas.
— São muito bonitas. Obrigada, Jason. — Minha mãe aceitou as
flores de forma graciosa, apesar da carranca em seu rosto. —
Agora, você se importaria de explicar por que está na minha casa,
beijando a minha filha?
— Sobre isso, mãe. Eu posso explicar. O Jason é... — As
palavras estavam bem ali, na ponta da minha língua, mas eu
paralisei.
Paralisei completa e totalmente.
Acariciando os dedos contra os meus, o toque de Jason
lentamente derreteu o pânico em minha garganta.
— Eu sou o namorado da Felicity.
— N-namorado. Ah, meu... Bem, isso é um choque. Namorado?
— Seus olhos foram para os meus e eu consegui assentir de leve.
— Entendo, e há quanto tempo isso está acontecendo?
— É bastante recente — Jason respondeu com confiança, e eu
estava começando a me perguntar se havia algo que ele não
poderia fazer. — Mas fique tranquila, eu me importo muito com sua
filha.
— Isso é... bom saber. — Ela levou a mão para o pescoço como
se estivesse com dificuldade para respirar. — Talvez devêssemos
todos nos sentar. — Minha mãe se virou e desapareceu no corredor,
e eu caí contra Jason.
— Não é assim que eu queria que fosse. — Soltei um suspiro
pesado. — Você viu o rosto dela? Ela está mortificada.
— Ei. — Jason passou os dedos sob a minha mandíbula,
inclinando meu rosto para encontrar seus olhos de aço. — Pelo
menos ela sabe agora. Ela vai se acostumar.
— Como você pode ter tanta certeza?
— Porque ela te ama.
— Certo. — Inspirando profundamente, falei: — Vamos terminar
isso. — Porque o mundo dela estava prestes a girar mais uma vez
antes que a noite acabasse.
Eu só esperava que todos nós sobrevivêssemos.
Encontramos minha mãe na sala de estar, tomando o que
parecia ser bebida alcoólica. Querido Deus, levei minha mãe a
beber. O primeiro motivo da lista.
— Sinto muito, mãe. Não era assim que eu queria que você
descobrisse. Eu estava tentando te contar durante o jantar, mas as
palavras simplesmente não saíam.
— Não vou negar que é muito para processar. Não fazia ideia de
que você estava namorando; você não me disse nada. — A dor
brilhou em seus olhos, fazendo a culpa serpentear ao redor do meu
coração.
— Eu não estou namorando, quer dizer, não estava... eu e o
Jason simplesmente aconteceu. — Ergui os olhos para os dele. —
Não planejei nada disso.
— Bem, se há uma coisa que sei, é que você não pode escolher
por quem se apaixonou. Quero dizer, olhe a mim e a seu pai, por
exemplo. — Ela sorriu de forma melancólica. — Só pensei que você
tinha mais bom senso, querida.
— Mãe! — eu a repreendi.
— Perdoe-me, Jason, não queria parecer tão insensível. Tenho
certeza de que você pode entender que estou surpresa com a ideia
de minha filha estar saindo com um jogador de futebol, ainda mais o
quarterback de Rixon.
Ele endureceu ao meu lado, apertando minha mão um pouco
mais forte.
— Não estamos saindo, mãe — falei. — Eu o amo. Estou
apaixonada por ele.
Se ela ficou surpresa no corredor ao me ver beijar Jason, não
era nada comparado com a sua expressão de agora.
— Felicity Charlotte Giles, apaixonada, mesmo?
— Sim.
— E você — ela olhou para Jason —, quais são suas intenções
com a minha filha?
Ele limpou a garganta e eu queria que o chão se abrisse e me
engolisse por inteiro. Jason podia achar que eu era meio louca, mas
ele estava prestes a ver que eu não era páreo para a minha mãe.
— Vou ser honesto, essa não é uma pergunta que imaginei
responder tão cedo. — Uma risada estrangulada retumbou em seu
peito. — Mas eu a amo, senhora. Ela me faz querer ser um homem
melhor. Me faz querer coisas que eu não tinha certeza se queria.
Entendo que você tem preocupações, eu também tenho. Mas, por
favor, saiba que eu nunca faria nada para machucá-la.
A expressão da minha mãe mal se suavizou.
— Você é bem charmoso, não é?
Ah, meu Deus, apesar de sua máscara de pedra, minha mãe
estava flertando com meu namorado.
Eu nunca iria viver assim.
— Eu tento — Jason brincou em resposta, e eu pisei em seu pé.
Ele sufocou um grunhido.
— Seu pai não vai gostar disso, querida.
— Eu esperava que você pudesse ajudar a suavizar o golpe.
Mas antes de tomar qualquer decisão, provavelmente há outra coisa
que você deveria saber.
— Ah, Deus, você não está grávida, está?
Jason começou a se engasgar ao meu lado enquanto minha
mãe me olhava com expectativa. E eu me mantive sentada,
encolhendo na cadeira, me perguntando quando a vida ficou tão
complicada. Saber a resposta era simples.
Jason Ford.

DEPOIS QUE DEI a notícia de que planejava mudar minha


graduação em administração para veterinária e ela teve um meio
colapso, deixei Jason me arrastar para longe para nos dar um pouco
de espaço. Eu tinha partido o coração dela, mas ele continuava me
tranquilizando, que isso iria passar. Porque a vida era assim. Talvez
o coração dela nunca voltasse a ser como antes, mas continuaria
batendo.
— Como você está se sentindo? — ele me perguntou enquanto
dirigia para onde quer que estivesse me levando.
— Triste, mas principalmente aliviada. Sou sua única filha, seu
bebê. Eu não queria magoá-los.
— Ela vai mudar de ideia, eu prometo. — Ele apoiou a mão em
meu joelho, esfregando com carinho. Eu a cobri com a minha, grata
por sua garantia.
— E o meu pai?
— Ele também. Pode não acontecer da noite para o dia, pode
nem mesmo ser em alguns meses, mas vai acontecer. — Murmurei
alguma resposta incoerente, deprimida demais para responder. —
Você merece realizar todos os seus sonhos, Felicity, e isso vai
acontecer.
— Para onde estamos indo, afinal? — Mudei de assunto. Eu não
estava com vontade, mas Jason insistiu que tinha algo para me
mostrar. Nunca conseguia resistir a ele e não ia a começar agora.
Quando saímos da estrada principal para fora da cidade e
pegamos o familiar caminho de terra até o lago, eu gemi.
— Sério? Você me trouxe aqui, agora? A última coisa que quero
fazer agora é pular em seu...
— Giles? — Ele desligou o motor.
— Sim?
— Cale a boca e saia do carro.
Certo, tudo bem. Revirando os olhos, abri a porta e saí. O lago
brilhava sob um manto de estrelas cintilantes.
— Deus, é tão lindo aqui.
Jason veio por trás de mim, envolvendo os braços em volta da
minha cintura.
— Um passarinho me disse que você quase completou sua lista.
— Quase.
Restavam apenas três coisas: dormir sob as estrelas, fazer uma
tatuagem e ir ao baile de inverno com um acompanhante que não
fosse uma amiga. Embora eu ainda não tivesse certeza sobre fazer
uma tatuagem. Parecia muito permanente.
— E se eu te disser que você pode completar duas dessas
coisas esta noite?
— Nós vamos dormir aqui? — Eu tinha certeza de que meu
namorado não tinha autorização para fazer tatuagem, e o baile de
inverno só aconteceria em algumas semanas.
Estiquei o rosto para ele, incapaz de esconder meu sorriso.
— Só se você quiser — ele respondeu.
— Mas está congelando.
— Bem, tecnicamente, pensei que poderíamos dormir no carro,
mas a vista é a mesma.
— É perfeito. — Uni meus lábios nos dele. — Obrigada. Mas isso
é apenas uma...
Jason colocou algo na minha mão. Eu abri o bilhete.
Rosas são vermelhas, violetas são azuis
Quer ir ao baile de inverno comigo?

SUFOCANDO UMA RISADINHA, perguntei:


— Confesse. Foi o Asher que escreveu isso, não foi?
— Ele pode ter ajudado um pouco.
Me virando nos braços de Jason, inclinei-me, tocando a testa na
dele.
— Estou feliz que vocês dois estão bem.
— Você realmente acha que eu quero falar sobre o Ash agora?
— O que mais você tem em mente? — perguntei, tímida.
— Primeiro. — Ele abaixou a cabeça, beijando minha clavícula,
sugando a pele sensível entre os dentes. Um arrepio me atingiu e
meus olhos tremularam fechados. — Quero sua resposta.
— Sim — sussurrei sentindo o desejo vibrar através de mim.
— Ótimo. — Jason me girou para que minha bunda batesse na
beirada de seu carro. — Agora vou fazer amor com você no capô do
carro e então podemos conversar sobre a última coisa da sua lista
antes de cair no sono sob as estrelas, O que acha?
Enroscando meus braços em volta do pescoço dele, sorri.
— Parece perfeito.
EPILOGUE

QUATRO SEMANAS DEPOIS...


Felicity
— Meu Deus, não posso ver. — Enterrei o rosto no braço de Hailee
enquanto assistíamos de nossos assentos preferenciais. Mya estava
conosco, assim como o pai de Jason, a mãe de Hailee e os pais de
Cameron. Asher estava brigado com os pais desde a suspensão,
então eles não vieram
Um oooh coletivo rugiu pela multidão quando a extremidade
defensiva dos Bulldog derrubou Cam pela terceira vez.
— É sempre tão tenso? — Mya perguntou, ao que eu e Hailee
respondemos:
— Não.
— Sinto muito por perguntar. — Ela ergueu as mãos, pegando
outra mão de pipoca.
— Sério? — Eu a olhei boquiaberta.
— O quê? — Ela deu de ombros. — Estou com fome.
Eu não conseguia comer. Estava muito nervosa. Meu coração
esteve na minha boca durante a maior parte do jogo. Eu sabia o
quanto isso significava para Jason. Ele tinha se mantido calmo em
torno de Asher; tentando suavizar as rachaduras que surgiram entre
eles desde que Asher foi suspenso por causa da briga com
Thatcher. Mas quando estávamos apenas nós dois, quando eu
estava deitada em seus braços, sem nada entre nós, sentia seu
medo. O medo de fracassar, de deixar o time, seu treinador e a
cidade inteira na mão.
Mas, acima de tudo, de se desapontar.
Ele se esforçou muito por isso, todos eles se esforçaram, mas
ninguém queria isso mais do que Jason. Não era apenas um elogio
do ensino médio; era o seu legado. Sua maneira de provar a si
mesmo. Portanto, vê-lo e o resto da equipe serem derrubados a eles
era quase insuportável.
— Corra — Hailee gritou. — Corra.
Nós duas prendemos a respiração, esperando o momento em
que nosso ataque chegaria à zona final, mas um jogador defensivo
dos Bulldog apareceu do nada e se chocou contra Grady,
derrubando-o no chão.
— Droga.
— Pelo menos ele quase chegou lá dessa vez — Mya comentou.
Eu a encarei com um olhar incrédulo.
— Só porque o seu cara não está no campo não significa que
você não pode pelo menos fingir que está interessada.
— Estou interessada. — Ela se sentou um pouco mais reta. — E
o que você quer dizer com meu cara?
— Você sabe exatamente o que quero dizer. — Ela e Asher
ficaram mais próximos desde que fiquei com Jason, mas os dois
ainda não haviam descoberto se o que tinham era mais do que
amizade.
— Somos apenas amigos.
Revirando os olhos, voltei a olhar para o campo, procurando por
Jason. O orgulho irradiava de todos os ossos do meu corpo. Não
porque ele liderou sua equipe até este ponto; toda a cidade sabia
que ele faria isso, mas pelo fato de que ele era meu.
Pela distância que percorremos.
O quarterback número um complicado, taciturno e cruel de Rixon
estava mudando bem diante dos meus olhos. Ele estava mais
caloroso e mais aberto, não tinha mais medo de me dizer como se
sentia. Tinha ainda menos medo de me mostrar. Ele até fez um
esforço para conhecer meus pais, embora isso fosse um trabalho
em andamento. Meu pai não estava gostando muito da ideia de que
eu tinha um namorado, muito menos um chamado Jason Ford, com
quem planejava ir para a faculdade no ano que vem.
Claro, ele ainda gostava de falar sacanagem e me fazer corar a
cada oportunidade, mas eu não me importava. Na verdade, aprendi
a amar isso. Ele forçava meus limites e eu fazia o mesmo com os
dele.
E mal podia esperar pelo próximo verão, quando iriamos para a
UPenn para começar o resto de nossas vidas.
Juntos.
Jason
— Raiders, juntem-se — gritei como um general comandando seu
exército. Meus companheiros se amontoaram, esperando minhas
palavras de encorajamento. Para que o discurso profundo os levaria
ao quarto tempo.
— Ouçam — a palavra saiu sem fôlego. Eu estava cansado;
todos nós estávamos. — Nenhuma equipe quer estar nesta posição;
indo para o quarto tempo perdendo por oito pontos. Mas podemos
fazer isso. Sei que podemos. Esqueçam todos os outros jogos,
esqueçam o que aconteceu no último jogo. — Quando quase
havíamos perdido nossa vitória confortável, dando ao time
adversário espaço para marcar um touchdown com dois minutos do
relógio. Felizmente, conseguimos a conversão antes do apito final,
mas foram os dois minutos mais estressantes da minha vida.
— Quatro anos e tudo se resume a isso. Aconteça o que
acontecer, tenho orgulho de dizer que sou um Raider, e vocês
também devem ter. Mãos à obra, Raiders em três.
O amontoado ficou mais unido quando meus companheiros
colocaram suas mãos sobre as minhas. Meus olhos encontraram os
de Asher na linha lateral e antes que eu pudesse pensar sobre isso,
gritei:
— Ei, quarenta e dois, venha até aqui. — Não dei a mínima que
ele não deveria se mover do bando. Ele merecia isso tanto quanto o
resto dos caras.
— Sentindo a pressão, QB? — ele zombou enquanto corria até
mim.
— Você merece estar aqui. — Encarei seus olhos, dizendo a ele
em silêncio tudo que eu fui covarde demais para dizer em voz alta.
Obrigado.
Devo-lhe uma.
Você é o melhor amigo que um cara poderia ter.
Ele me deu um breve aceno de cabeça e disse:
— Vamos fazer isso ou não?
— Ao seu comando, Ash.
— Raiders, em três. Um. Dois. Três... — Nosso grito de guerra
ecoou ao meu redor pela última vez, a multidão de seis mil pessoas
ecoando o grito para nós.
Era algo para se ver, parado lá no campo agora manchado do
Hershey Stadium, as luzes ofuscantes da noite de sexta-feira
brilhando sobre nós. Fazendo-nos parecer maiores que a vida.
Adorados e venerados. Na próxima vez que eu fizesse isso, minha
camisa seria a vermelha, branca e azul da Penn Quaker, e eu seria
um novato. Mas estava pronto. Faminto por isso.
Faculdade.
Futebol.
Um novo começo com Felicity.
Não poderia acontecer logo o suficiente. Mas primeiro, tínhamos
um jogo a vencer.
Felicity
— Tem certeza de que é uma boa ideia? — perguntei a ninguém em
particular enquanto olhava para o letreiro em neon escrito Ink City,
com a energia nervosa vibrando através de mim.
— Ele vai adorar — Mya sussurrou em meu ouvido enquanto os
caras se acotovelavam, os efeitos de nossas poucas bebidas de
comemoração aparecendo. — Além disso, é o último item da sua
lista, você não pode desistir agora.
Assenti, observando os caras. Eles estavam agitados, todos nós.
Ainda no topo da vitória. Os Raiders conseguiram, no último minuto
do jogo. Cam havia feito o ponto final.
— Meus pais vão...
— Jamais descobrir isso. Siga o plano.
— O plano, certo. — Respirei fundo. Hailee chamou minha
atenção e franziu a testa.
— O que vocês duas estão fazendo?
Ignorando-a, fui para a frente do nosso grupo e segurei a
maçaneta da porta.
— Vocês vão fazer isso ou não?
— Puta merda, eu adoro quando ela assume o comando. —
Jason sorriu, e eu revirei os olhos.
— Ah, estou dentro — Asher saltou na ponta dos pés. — Estou
ferrado. Campeão Estadual de 2019, aí vou eu.
— Odeio ter de perguntar isso, campeão — Mya deu um tapinha
no ombro dele —, mas você pode reivindicar o título se não jogou de
verdade?
— Ótimo jeito de estourar a bolha de um cara. — Ele fez uma
careta, mas rapidamente se desfez. Ele estava muito animado.
Todos nós estávamos. A comemoração depois do jogo foi uma
loucura, todos correram para o campo para vibrar com o time. Em
seguida, houve um jantar no restaurante do hotel com familiares e
amigos próximos. Depois disso, o treinador finalmente nos deixou
livre. Oficialmente, não deveríamos deixar o hotel, mas não
oficialmente, o treinador concordou em fechar os olhos, contanto
que todos nós estivéssemos prontos de manhã para pegar os
ônibus para casa.
— De qualquer maneira — Asher continuou —, vou fazer isso.
Nenhuma garota na faculdade vai saber que não joguei. Elas vão
apenas ver o “campeão estadual” e se juntar a mim como...
— Moscas voando sobre a merda? — Mya perguntou
impassível.
Todos nós entramos na loja, recebidos com o som de pistolas de
tatuagem e rock tocando. Jason caminhou até a mesa e tomou a
liderança.
— Três? — ele perguntou e os caras assentiram.
Mas antes que ele pudesse confirmar com a recepcionista, eu
falei:
— Quatro.
— Puta merda, Fee, — Asher soltou entre os dentes. — Sério?
— Algo pequeno — falei, olhando para Jason. — É a última
coisa da minha lista.
— Caramba, sim, você ouviu minha garota, serão quatro.
Sua garota. Acho que nunca me acostumaria a ouvi-lo me
chamar assim.
— Sentem-se. O Auden estará com vocês em breve.
Jason se aproximou de mim, aproximando os lábios do meu
ouvido.
— Tem certeza disso?
Dei a ele um pequeno aceno, não confiando em mim para falar.
Nós conversamos sobre o que eu poderia fazer se resolvesse
prosseguir com isso. Afinal, era o único item restante na minha lista.
Mas quando ele visse, iria pirar.
Eu já tinha me apaixonado louca e completamente por ele, então
poderia muito bem fazer uma tatuagem tão louca quanto para
demonstrar isso.
Jason
— Por que eles estão demorando tanto? — grunhi, andando de um
lado para o outro do lado de fora da sala onde Felicity estava
atualmente, sozinha com Auden, com as mãos em seu corpo,
tocando-a.
— Calma, cara. — Cam apertou meu ombro. — Ele está só
fazendo seu trabalho.
— Sim, bem, ela deveria ter me deixado entrar lá com ela.
— Talvez ela estivesse com receio de desmaiar ou ficar enjoada.
Lancei a Ash um olhar duro. Como se eu me importasse com
isso. Minha versão favorita de Felicity era a sua primeira visão pela
manhã, com o cabelo todo bagunçado e despenteado, os olhos com
as pálpebras pesadas de sono e a pele úmida do meu toque.
Eu adorava dormir com ela, mas geralmente não dormíamos de
verdade. Não tinha culpa de que ela era tão irresistível, e eu era um
cara de sangue quente que era impotente contra sua magia vodu.
A vibração da arma atrás da porta finalmente parou.
— Até que enfim — resmunguei, me aproximando.
Poucos minutos depois, ela se abriu e Felicity apareceu.
— Já estava na hora.
— Sinto muito — ela disse baixinho. — Doeu mais do que eu
esperava.
— Posso ver? — perguntei esperando um coração minúsculo ou
alguma citação em fonte cursiva que as garotas gostavam de fazer.
Ela teve algumas ideias, mas havia sido cautelosa quanto a uma
decisão. Então, quando ela disse Não surte, o chão sumiu debaixo
de mim.
— O que você fez?
Felicity olhou ao redor da loja e se aproximou. Ela levantou o
suéter, puxando a gola da blusa para baixo, e tudo ficou mais lento.
— Me diga se isso diz o que eu acho que diz. — Meu coração
batia tão forte que pensei que fosse desmaiar.
— Ah, diz tudo bem. — Asher estava ao meu lado, olhando para
a curva do seio perfeito de Felicity como se ele nunca tivesse visto
os seios nus de uma garota antes.
Lá, na minúscula fonte Varsity, tatuado bem onde seu coração
estava, estavam quatro pequenas palavras que não deveriam ter me
agradado tanto.
Propriedade de um Raider.
— Flick — Hailee ofegou, arregalando os olhos. — Por favor, me
diga que isso é temporário.
— Não é. — Ela soltou o suéter, encontrando meu olhar. —
Agora, não importa o que aconteça, uma parte do meu coração
sempre será seu.
— Puta merda. — Asher bateu as mãos contra a coxa. — Se
você não colocar uma aliança nela, eu colocarei. — Ele sorriu para
mim e eu olhei de volta, enviando-lhe uma mensagem silenciosa.
Sobre o meu cadáver.
PLAYLIST

Two Weeks – FKA Twigs


River of Tears – Alessia Cara
Good Enough – Little Mix
Cruel – Glowie
11 Minutes – YUNGBLUD, ft. Halsey
Gotta Get Up – Moody
Better – Khalid
If I Go – Ella Eyre
Why Her Not Me – Grace Carter
I Gave It All – Aquilo
Bad Blood – Taylor Swift
Nightmare- Halsey
To the Hills – Laurel
Let Me Down Slowly – Alec Benjamin
Mother Tongue – Bring Me The Horizon
Fight For You – ALIUS, Rasmus Hagen
Don’t Let Me Down – The Chainsmokers
Love Me Or Leave Me – Little Mix
Easier – 5 Seconds of Summer
Only Want You – Rita Ora
Now You’re Gone – Tom Walker, Zara Larson
Power Over Me – Dermot Kennedy
Cross Me – Ed Sheeran, ft. Chance the Rapper
Fight For You – Man Made Machine
Love Again – New Hope Club
Say You Love Me – Jessie Ware
AGRADECIMENTOS

Jason, ah Jason.
Se você chegou até aqui, espero que tenha gostado da história
do meu mocinho alfa. Sim, ele é cruel. Sim, ele é mau, mas por
baixo de sua casca dura, tem apenas um cara tentando encontrar
seu lugar no mundo. Espero que você ame o meu menino mal
compreendido tanto quanto amei escrevê-lo.
O suporte para esta série foi incrível. Das mensagens, passando
pelas belas edições, até as críticas maravilhosas... obrigada a cada
um que se apaixonou por este bando de jogadores de futebol
arrogantes. Seu apoio é tudo!
Como sempre, há uma lista enorme de pessoas a quem devo
gratidão:
Andie, minha editora e amiga. Você me mantém sã e me tira do
sério mais vezes do que posso contar. Eu estaria realmente perdida
sem você! Twink, obrigada por estar ao meu lado sempre que
preciso desabafar, gemer ou apenas revirar os olhos. Nina, minha
leitora alfa. Ter você para segurar minha mão durante este
lançamento foi tudo, obrigada. Minha equipe beta: Becky, Bre, Jamie
e Tami, obrigada por sua honestidade e ajuda para ajustar a história
de Jason e Felicity. Ginelle, minha extraordinária revisora de provas,
seu olho de águia continua a me surpreender.
Para minha equipe de promoção: eu me curvo! Seu apoio
constante é incrível e me sinto sortuda por ter todos vocês ao meu
lado. Abraços e beijinhos virtuais! Minhas Indie Girls, vocês sabem
quem são. Obrigada por estarem sempre presente quando preciso
desabafar ou apenas conversar sobre o que está dando certo ou
não.
Aos meus leitores/grupos de spoiler: obrigada por me
acompanharem e continuarem a se envolver e apoiar minha jornada
de escrita e publicação. É bom ter um lugar para conversar sobre
livros ou sobre a vida. E para os blogueiros, revisores e
bookstagrammer que apoiaram a série, dizer obrigada realmente
não parece o suficiente!
E, finalmente, para minha família. Por me darem tempo e espaço
para que eu pudesse “continuar com isso”. Sou uma workaholic,
mas estou tentando melhorar. Prometo.

Até a próxima.
Beijos,
L. A.
SOBRE A AUTORA

Drama. Angústia. Romances viciantes

Autora de romances young adult e new adult, L. A. fica mais feliz escrevendo o
tipo de livro que adora ler: histórias viciantes, cheias de angústia adolescente,
tensão, voltas e reviravoltas.

Sua casa fica em uma pequena cidade no meio da Inglaterra, onde atualmente faz
malabarismos para escrever em tempo integral e ser mãe/árbitra de duas
crianças. Em seu tempo livre (e quando não está acampada na frente do laptop),
você provavelmente encontrará L. A. imersa em um livro, escapando do caos que
é a vida.

L. A. adora se conectar com os leitores. Os melhores lugares para encontrá-la


são:
www.lacotton.com

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