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Knox

Deixe-me esclarecer uma coisa.


Não estou apaixonado pelo meu melhor amigo.
Meu coração não está partido, e não há ninguém que se
intrometa e faça tudo ficar melhor magicamente. O que quer que
aquela vidente maluca diga, não é verdade!
Eu sou Knox MacKenzie e sou hétero como uma flecha 1. Eu gosto
de meninas, mesmo que elas nem sempre gostem de mim.
Se meu coração bater um pouco mais rápido e minha barriga
ficar um pouco vacilante quando o barman local coloca seus olhos
fascinantes em mim, não é da conta de ninguém além de mim.

Lucky

Amor não correspondido pode ser uma merda, mas trouxe o


homem mais solitário da pequena cidade de Jasper para a minha
cervejaria. Knox não tem ideia de como ele é transparente - mesmo
quando a velha vidente maluca lhe diz a verdade na cara.
Mas Knox está convencido de que ele é heterossexual.
Ele está convencido de que ela está confusa.
Bem, estou convencido de que esses olhares que compartilhamos
significam mais.
O que Knox precisa é de um amigo para ajudá-lo a esquecer seu
coração partido e descobrir quem ele realmente é.

1 Aquele velho jogo de sentido da palavra Straight que significa tanto hétero como direito, reto...
Nota para o leitor

Uma pequena parte deste livro foi inspirada por um artigo que li
sobre uma freeskier2 sueca chamada Jesper Tjäder. Essa corajosa
garota de 22 anos foi a primeira pessoa a realizar um ciclo de 360
graus em um trilho com esquis em 2016. O truque é conhecido
como O Ciclo da Morte. Então, parabéns a Jesper, há uma parte
deste livro que destaca seu feito magnífico. Todo o crédito para
você.

2 É uma esquiadora praticante do Freeskiing ou Newschool que é um estilo de esqui que envolve
manobras, saltos, e as características do terreno do parque, tais como calhas, caixas, lanças, ou outros
obstáculos.
Capítulo Um
Knox

Cada célula do meu corpo me disse que era uma má ideia. Eu


não queria estar aqui. Observar meu ex melhor amigo vivendo na
vida boa com seu namorado chique, nascido na cidade, machucava
mais do que enfiar vidro debaixo de uma unha. Por que eu disse a
ele que viria, eu ainda não sabia. Era mais fácil quando eu o
evitava. Isso me salvou de tê-lo esfregado na minha cara.

Meu caminhão balançou e saltou pela estrada de serviço, seus


amortecedores fazendo um passeio acidentado extra em terrenos
irregulares. Eu precisava levá-lo para a loja e fazer Philly olhar de
uma vez por todas. Era pior do que montar um touro, e eu estava
adiando por muito tempo.

A nova casa de Easton apareceu, todos os dois andares, com o


lado de troncos, telhado inclinado e janelas enormes. Caro e vistoso
no meio da vasta paisagem montanhosa. Um presente do
namorado.

Quem diabos dava uma casa?

Eu não achava que Easton fosse o tipo que se comprava, mas,


ultimamente, parecia que eu não o conhecia mais. Seu namorado
arrogante, rico e de aparência perfeita se certificou disso. O Lachlan
Montgomery extravagante entrou na cidade há um ano e roubou
meu melhor amigo bem debaixo do meu nariz.

— Idiota.

Ele não era bom o suficiente para Easton. Eles não faziam sentido
juntos, mas quanto mais meses se passavam, mais felizes eles
pareciam e mais miserável eu ficava. A casa era a cereja do bolo.
Quando Easton me disse que Lachlan havia construído uma casa
para eles, eu não aceitei bem. Isso foi há um mês. O choque
acalmou um pouco, mas a dor constante no meu peito só ficou
mais intensa com o passar dos dias.

Uma casa significava que o que eles tinham era estável e


provavelmente permanente. Esse cara, Lachlan, não iria a lugar
nenhum tão cedo.

Sob a garagem estava o velho Ford surrado de Easton e o novo


Range Rover do namorado. Isso significava que Lachlan estava
aqui? Eu não me inscrevi para isso. De jeito nenhum eu visitaria
Easton com aquele idiota por perto. Já era ruim o suficiente que
Lachlan era tudo que ele conseguia falar, eu não precisava ver seu
rosto estupidamente bonito também.

Eu teria me virado no local, exceto que a porta da frente se abriu


e Easton se apoiou no batente da porta, os braços cruzados
enquanto me observava me aproximar. Seu sorriso cresceu,
vincando os lados de sua boca como fazia hoje em dia. Não tinha
sido assim no colégio. Ele tinha cara de bebê naquela época. O
passar dos anos havia feito esses vincos e ele os usava bem. Por
mais irritado que eu estivesse com seu recente abandono, me
acalmou um pouco ser o destinatário daquele sorriso. Brilhava à luz
do sol e me lembrava dos bons e velhos tempos, quando éramos
apenas eu e ele.

Cavalgando juntos.

Dividindo uma cerveja depois do trabalho na cervejaria.

Não fazendo nada em um dia frio de inverno, exceto conversar e


implicar um com o outro.

Eu perdi aqueles dias.

Eu apertei minhas mãos no volante enquanto estacionava na


frente da casa, desligando o motor e ouvindo o tique-taque
enquanto esfriava. Easton esperou enquanto eu levava um minuto
para me aterrar antes de sair. Eu vim até aqui, tudo que eu
precisava fazer era ficar o tempo suficiente para ouvir o que quer
que ele tivesse para me dizer que era tão importante que não podia
esperar. Parecia urgente ao telefone, e por mais inflexível que eu
fosse sobre evitar Lachlan, ainda não podia negar nada a Easton.
Ele me pediu para vir, então aqui estou eu, coração e emoções em
um liquidificador.

Tínhamos um código de irmão. Se Easton precisasse de mim, não


importa o quê, eu estaria lá. Ultimamente, não conseguia ter
certeza de que funcionava para os dois lados e estava com muito
medo de testá-lo. Eu mudei em sua escala de importância e passei
mais e mais dias sem a companhia de Easton. Sem aqueles
sorrisos.

Mas ele ligou. Ele precisava de mim. Não pude dizer não a ele. Ele
era uma parte de mim de uma maneira que eu não poderia
descrever. Nós crescemos lado a lado, e eu não o deixaria
pendurado, apesar de Lachlan e seu ‘Aqui, deixe-me presenteá-lo
com uma casa’.

Eu estalei meus dedos e fiz o que pude para me livrar do medo


antes que Easton visse e me acusasse de não estar bem novamente.

Quando saí da caminhonete, o idiota apareceu ao lado de Easton.


As escassas peças de alegria que eu consegui juntar ao ver Easton
pela primeira vez em semanas, desapareceram no ar. Lachlan era
como sal em uma ferida.

Meus pés vacilaram e abaixei meu queixo, me recusando a olhar


para o casal feliz. Concentrando-me em algumas respirações
purificadoras, disse a mim mesmo para me animar e lidar com isso.
Com minhas mãos enfiadas fundo em meus bolsos, eu estufei meu
peito para tentar adicionar alguns centímetros à minha altura
patética de um e sessenta e cinco e enfrentei meu nêmesis.

Infelizmente, meu filtro cérebro-boca me falhava toda vez que


meu coração doía. — Não sabia que ele estaria aqui. Deveria ter
ficado em casa.

Lachlan mal conteve um rolar de olhos. — Um prazer como


sempre, Knox.
Eu olhei para o sorriso presunçoso no rosto de Lachlan,
reprimindo outro comentário.

— Ele mora aqui. O que você esperava? — Easton perguntou.

— Que talvez ele tenha sido morto por uma debandada de


cavalos, e você estava me convidando para compartilhar a notícia
devastadora. E caso não fosse flagrantemente óbvio, a palavra
devastadora era sarcasmo.

— Minha nossa. — Easton inclinou a cabeça para o céu e


suspirou.

Lachlan estendeu as mãos, presunçoso como sempre. — Ainda


inteiro, receio. Mas boas notícias, estou indo para a cidade com
Percy, então você pode ter algum precioso tempo de amigos sem
mim. Eu sei quando não sou desejado.

Eu não respondi. O sorriso de Easton tinha desaparecido com a


nossa briga, e eu sabia que ia receber uma merda por agitar as
coisas novamente. Eu não pude evitar.

Lachlan chamou de volta para a casa por Percy, o menino que


Easton estava adotando por um ano. O processo de adoção estava
quase finalizado e ele seria filho de Easton.

Lachlan beijou a bochecha de Easton e eu desviei o olhar. Eles se


despediram, e Lachlan dirigiu-se ao seu Range Rover enquanto um
Percy borbulhante voou para fora da porta da frente atrás dele,
batendo na orelha de Lachlan enquanto ele saltava em direção ao
veículo.
Eles entraram e saíram pela estrada de terra. O tempo todo, não
olhei para Easton e fiquei com os pés plantados, sem saber o que
fazer. Tudo estava tão confuso dentro de mim, eu não sabia como
processar. Senti náusea, uma dor aguda e indefinida no peito e
uma ansiedade constante e vibrante que me fazia estremecer
sempre que estava perto dele.

Eu passei mais tempo tentando processar tudo do que gostaria.


Um ano depois e eu ainda não sabia por que não podia estar feliz
por Easton.

— Por que você sempre tem que ser um idiota com ele?

Eu lancei meu olhar para Easton, que não estava mais sorrindo.
Sua postura acolhedora parecia mais defensiva agora.

Justamente.

Eu fui um idiota.

— Eu sinto muito. Ele me irrita.

— Por quê? Ele nunca fez nada para você.

Eu murchei, meu ombro cedeu, meu queixo bateu em meu peito


enquanto chutei o chão. Por quê? Era essa a pergunta de um
milhão de dólares. — Não sei. Deixa pra lá. Não é nada.

Não conseguia explicar algo que não entendia. Tudo que eu sabia
era que Lachlan tirou algo de mim. Algo importante, e eu o odiava
por isso.

Easton suspirou. — Vamos lá.


Eu o segui para dentro de casa, examinando e odiando esta nova
vida que ele havia adotado ainda mais. Lachlan não era apenas um
cara alto e bonito da cidade, mas ele estava bem de vida o suficiente
para dar a Easton tudo o que ele quisesse.

— Quer cerveja?

— Pensei que você não bebesse.

— Eu não. Lach bebe, e eu sei que você bebe, daí a minha


pergunta.

Dei de ombros, ganhando um suspiro longo e sofrido. Easton


puxou uma de sua geladeira extravagante de porta dupla e me
entregou antes de acenar para a longa mesa de estilo country. Era
tudo tão extravagante.

Móveis feitos sob medida. Fotos do casal feliz nas paredes,


curtindo o tempo juntos. Um jogo de tabuleiro que havia ficado na
mesa, prova de uma noite divertida em família. A cozinha tinha
uma porta de correr com uma vista incrível de sua extensa
propriedade. Um convés traseiro rodeava uma enorme piscina no
solo que estava fechada para a temporada. Além, não havia nada
além de montanhas e sempre-vivas. Era pacífico e lindo.

E não minha vida.

Rolei a garrafa de cerveja em minhas mãos, olhando para a mesa


de madeira.
— O que aconteceu com você? — Easton perguntou, tirando-me
da minha meditação.

— O que você quer dizer?

— Quero dizer, nós somos melhores amigos desde sempre, mas


desde que conheci Lachlan, você desapareceu da minha vida.

— Eu sei quando não sou desejado.

— O que diabos isso quer dizer?

— Não importa. — Coloquei a cerveja na boca, deixando a cerveja


gelada e fermentada escorrer pela minha garganta.

— Isto é importante. Por que você não pode ficar feliz por mim?

— Eu estou. — A mentira tinha um gosto amargo na minha


língua, e eu sabia que Easton a via pelo que era. Ele não era bobo.

— Não, você não está. Eu o amo, Knox. Estou construindo uma


vida com ele e não consigo entender por que meu melhor amigo não
me apoia.

A culpa se infiltrou em cada fenda. Minha pele esquentou. —


Você merece melhor.

— Lachlan é incrível. Você não o conhece. Além disso, talvez eu


não queira coisa melhor. Ele é perfeito para mim.

Eu queria perguntar o que o tornava tão perfeito. Era seu quase


dois metros de altura? Seu corpo alto e magro? Seu ego? Sua
confiança? O dinheiro dele?
Pressionei meus lábios, sem encontrar os olhos de Easton. — Eu
sinto falta de quando éramos eu e você, sabe? Íamos beber cerveja
na cervejaria depois do trabalho. Saíamos nos fins de semana
atirando merda ou dávamos um passeio pelas trilhas. — Dei de
ombros. — Ele é seu favorito agora, não eu. Não sou eu desde o dia
em que você o conheceu.

Easton riu, e eu lancei meu olhar para cima, carrancudo.

— Cuidado, Knox. Você parece com ciúme.

— Eu não estou com ciúmes, idiota.

Ele ergueu uma sobrancelha. — Então como você chama isso?

— Eu chamo isso... eu não sei porra. Ele roubou meu melhor


amigo e isso dói, ok? Cale-se.

O olhar de Easton se suavizou. — Ele não me roubou. Ainda


estou aqui. Há um ano que quero sair com você, mas você continua
levantando paredes e me afastando.

Peguei o rótulo da garrafa. — Por que você queria que eu viesse?

Easton parou por tempo suficiente, olhei para cima e encontrei


seu olhar novamente. A cautela brilhou em seus olhos. Ele molhou
os lábios.

Eu apertei minhas mãos em torno da garrafa, sentindo que algo


estava vindo e que eu não iria gostar.

— Porque eu tenho algo para te dizer. É importante, e eu queria


te dizer há algum tempo, mas nunca é um bom momento. Receio
que, se não te contar logo, vai se espalhar e você vai ouvir em outro
lugar.

O nó em meu estômago se apertou mais e eu estava com frio.


Aquela antecipação que senti quando Easton me ligou pela primeira
vez triplicou e travou meus pulmões. Meu coração disparou
enquanto esperava que ele continuasse.

— Lachlan e eu vamos nos casar.

Suas palavras me deixaram sem fôlego. O sangue rugiu em meus


ouvidos, eliminando todos os outros sons. Eu balancei a cabeça
roboticamente porque era a coisa certa a fazer. — Oh.

Foi o prego no caixão - o golpe mortal que eu não tinha visto


chegando. Ou eu tinha? Era isso. Eu nunca mais teria Easton só
para mim. Era o dia em que seguiríamos caminhos separados e
nunca mais olharíamos para trás. O dia que eu esperava desde que
tínhamos quinze anos. Sempre soube que ele me deixaria para trás.

Ele continuou olhando como se pudesse ver dentro da minha


alma. Eu não sabia mais o que dizer, então fiquei ali sentado,
entorpecido, fazendo tudo que podia para não tremer ou mostrar
sinais externos de angústia, embora estivesse desmoronando por
dentro.

— Quero que seja meu padrinho, Knox. Ninguém é mais


adequado para esse papel do que você.
Seu padrinho. Era ironia no seu melhor, porque se eu fosse de
fato seu padrinho, não seria eliminado por alguém melhor. Alguém
mais bonito, mais inteligente e mais rico.

Padrinho.

— Knox?

— Quando é o casamento? — Minha voz estava rouca e eu a


disfarcei bebendo minha cerveja.

— Esperamos fazer isso neste inverno. Ainda não definimos uma


data, mas temos ideias em andamento. Estamos analisando
algumas coisas antes de anunciá-la.

Eu balancei a cabeça, minha mandíbula apertada. Um nó se


formou na minha garganta e eu o engoli antes de perguntar: —
Quem perguntou a quem? Ele perguntou a você ou foi o contrário?

— Ele perguntou-me.

— Quando?

Uma pausa. Eu esfaqueei Easton com um olhar penetrante,


minha raiva crescente não mais escondida.

— Um mês atrás. No mesmo dia em que ele me mostrou a casa e


eu descobri que estava adotando Percy.

— Um mês? Você sabe há um mês e não me contou?

Easton esfregou o rosto. — Você não foi exatamente muito


caloroso com a ideia de Lach e eu juntos. Não sei como falar com
você sobre ele. Você fica na defensiva. Achei que estávamos perto.
Achei que você ficaria feliz por mim.

Eu mordi de volta uma resposta sarcástica e puxei minha pele


grossa, fazendo tudo que eu podia para esconder a evidência de
como suas palavras me deixaram em pedaços. — Feliz por você.
Certo. Parabéns, eu acho.

Ele não respondeu.

Esvaziei minha cerveja e empurrei a garrafa de lado antes de


empurrar para levantar.

— É isso aí? Você está indo embora?

— Eu tenho coisas para fazer.

— Knox.

— O que você quer que eu diga? Eu disse parabéns. Bom para


você. Você achou o senhor perfeito. Senhor alto, moreno e bonito.

Easton se levantou e bloqueou a porta quando tentei sair. Ele


tocou meu braço, mas o instinto me fez me afastar de seu conforto.

— O que aconteceu com você? — O desgosto em seu rosto tinha


um nome, e se chamava Knox MacKenzie. Eu fiz isso. Eu coloquei
lá.

— Eu só... não pensei que você me abandonaria assim.

— Do que você está falando?

— Eu pensei que éramos melhores amigos, então ele apareceu, e


sou notícia velha.
Easton bufou uma risada. — Você soa como Percy. Eu só posso
ter um melhor amigo? Não posso ter um melhor amigo e um
amante? Esperei minha vida inteira por isso. Eu não pensei que
isso iria acontecer. E então aconteceu, e eu mal podia esperar para
compartilhar com você, mas me matou porque eu sabia que você
não ficaria feliz por mim. Eu quero você lá. Eu quero você ao meu
lado.

— Eu não sei o que eu quero ser.

Easton se encolheu como se eu tivesse batido nele. Sua boca se


abriu como se ele fosse falar, então se fechou novamente e ele
balançou a cabeça. Ele me estudou por um minuto, a dor
irradiando dele em ondas grossas. Enquanto ele procurava meu
rosto, olhei para o chão.

— Você sabe — ele murmurou. — Estou começando a pensar


que Lachlan estava certo. Não sei como não vi isso antes.

— O que isso deveria significar? Certo sobre o quê?

— Nada. Esqueça. Você sabe o que? Você meio que matou minha
agitação, Knox. Vá para casa. — Ele foi para a outra sala, me
deixando sozinho na porta da frente.

— Droga. — Eu belisquei a ponta do meu nariz, analisando o


emaranhado de emoções que me oprimia.

Quando fui procurar Easton, o encontrei do lado de fora, no


convés traseiro. Ele estava sentado em uma espreguiçadeira, pernas
separadas, cotovelos nos joelhos, cabeça inclinada para a frente e
parecendo taciturno.

Eu sentei ao lado dele. O ar de outubro soprou através da minha


flanela, mas eu estava entorpecido demais para sentir o frio. —
Sinto falta de quando éramos apenas você e eu. Você está seguindo
em frente, e eu... não. Eu acho... eu sempre imaginei... — Eu não
conseguia explicar, principalmente porque não entendia.

— Nunca te abandonaria. Só porque quero começar uma família


não faz de você menos importante.

Então, por que parecia que eu era o segundo melhor?

Ele olhou para mim. — Você realmente não está interessado em


ser meu padrinho de casamento?

A dor olhando para mim cortou profundamente. Mordi a bala,


engoli meu orgulho e disse: — Eu serei seu padrinho. — Mesmo
que isso me mate, e Easton não tenha ideia de como eu estava
arrasado por dentro.

Ele agarrou a parte de trás do meu pescoço e me arrastou contra


ele para um abraço estranho de lado.

— Eu te amo, mesmo quando você é um idiota confuso.

Eu não falei. Não pude. Absorvendo o conforto de Easton, seu


perfume, permitindo que seu toque acalmasse as tempestades lá
dentro, fechei os olhos e respirei.
Capítulo Dois

Lucky

Os olhos de todos contavam uma história. Se você olhar


profundamente e tiver paciência, poderá desvendar os mistérios que
eles guardam em seus corações, mesmo quando não falam, mesmo
quando pensam que estão escondendo seus segredos do mundo.
Não há duas histórias iguais, assim como não há duas pessoas
iguais. Era parte do motivo pelo qual eu amava meu trabalho. A
exposição a tantas pessoas me deu a chance de explorar seus
funcionamentos internos sem que elas nunca tivessem que dizer
uma palavra para mim.

Claro, algumas pessoas estavam mais do que dispostas a


derramar suas histórias de vida aos meus pés, especialmente
quando tinham muitas canecas de cerveja. Eu preferia os calmos e
modestos. Eu amava assisti-los. Ouvir com meus olhos em vez de
meus ouvidos. Você pode ouvir o que as pessoas não estão dizendo
apenas ao observá-las. É fascinante.

Knox MacKenzie era meu mais novo quebra-cabeça.

Seus olhos contavam uma história de tristeza, dor e uma solidão


que eu podia sentir em meus ossos, mesmo quando não era meu
para sentir. Ele estava sentado na mesma mesa nas últimas duas
horas, olhando para a mesma caneca de cerveja sem beber.

Algo aconteceu. Knox era um frequentador assíduo da cervejaria,


então eu o conhecia bem o suficiente, embora não tivéssemos nos
falado muito. Era meu segundo ano em Jasper, e esse cara estava
se dissolvendo diante dos meus olhos nos últimos meses.

Roendo um palito de menta, triturando-o entre meus molares e


rolando-o para o outro lado da boca para mastigar mais, eu o
observei. Eu li nas entrelinhas, observando sua linguagem corporal
e comportamento. Além do grupo de caras com quem ele vinha de
vez em quando, eu nunca tinha visto Knox com ninguém em um
nível romântico, mas eu apostaria minha casa que o cara estava
sofrendo de um coração partido esta noite.

Ele parecia arrasado. Destruído. Como se uma brisa suave fosse


explodi-lo. A dor derramava dele em ondas. Era palpável o
suficiente para que sua servidora, Anka, evitasse sua mesa. Não era
como se ele precisasse de uma recarga.

Eu enchi o copo de cerveja Honey Bear que eu estava servindo e


coloquei em uma base para copos na frente do cavalheiro, no bar,
que fez o pedido. Ele estava em uma conversa profunda com seu
amigo, então acenou com a mão, reconhecendo a entrega da bebida
sem olhar para ela. Eu o adicionei à sua conta aberta quando
avistei Anka caminhando pela sala. Ela olhou para Knox, balançou
a cabeça e continuou até o bar.
Anka trabalhava como garçonete na Jasper Brewery por mais de
uma década. Ela era um punhado de anos mais jovem do que meus
quarenta e um e estava presa em uma fase gótica que parecia
ridícula para alguém na casa dos trinta. Rumores diziam que ela
manteve esse estilo desde o colégio e provavelmente continuaria
aguentando até ficar velha.

Vestida de preto da cabeça aos pés, com cabelos tingidos da


mesma cor, piercings, tatuagens e uma atitude ousada e
implacável, ela não era uma que se misturava. Eu não me
importava com ela. Na maioria das vezes. Ela falava muito e tinha
uma opinião sobre tudo e todos. Como a maioria das pessoas na
cidade, ela prosperava na fofoca.

Eu a desvendei na minha primeira semana de trabalho. Ela


estava namorando o único tatuador da cidade, que trabalhava fora
de casa, bebia demais e mantinha horários estranhos. Ela odiava
crianças, não era do tipo que se casava e não tinha escrúpulos em
falar o que pensava. Os clientes a amavam ou odiavam. Ela era
impetuosa e implacável.

Anka colocou a bandeja no balcão e apoiou-se em um braço,


examinando a sala com o nariz empinado. Muitas vezes me
perguntei se ela poderia farejar uma boa história sendo preparada a
meio quarto de distância. Para uma sexta-feira à noite, a cervejaria
não estava muito ocupada. A multidão do jantar havia se
dispersado há muito tempo, o que eliminou um bom número de
clientes. Os poucos restantes eram frequentadores assíduos que
gostavam de nossas cervejas especiais à noite, após um dia de
trabalho.

— Preciso de três bandejas de amostras, uma cerveja, uma


vermelha e dois growlers da Tail prontos para quando a mesa seis
levantar.

Ela continuou a receber clientes enquanto eu organizava seu


pedido. Fiquei com um olho nela e o outro na torneira para não
transbordar os copos. O nariz de Anka sempre enrugava quando
seu olhar pousava em um grupo de pessoas de quem ela não
gostava. Seus olhos brilharam quando encontraram um cara
bonito, e seu queixo se ergueu uma fração quando ela estava se
concentrando em uma fofoca suculenta da cidade. Anka era uma
leitura fácil.

Uma ligeira ruga apareceu em seu nariz quando seu olhar pousou
no solitário Knox. Ele não cabia em nenhuma de suas caixas. Ele
era muito quieto para fofocar e estava muito fora de seu homem de
fantasia musculoso e tatuado padrão. Além disso, ele estava
emitindo vibrações que a alertaram para ficar longe. Mais de uma
vez, ela anunciou que não era uma psiquiatra, e seu ombro não era
para chorar. Eu sugeri que talvez ela estivesse no ramo errado de
trabalho. Ela não gostou disso.

Mudei meu olhar para o homem em questão enquanto colocava a


segunda bandeja de amostras ao lado de sua bandeja. Knox pegou
sua bebida pela primeira vez em mais de uma hora e deu um gole.
Pela expressão de desgosto que ele mostrou em seu rosto depois, eu
presumi que a cerveja estava quente e não era mais atraente.

Anka se virou para mim, revirando os olhos. — Ele está todo


deprimido esta noite. Novamente. Não sei por que ele se incomoda
em entrar. Não é como se ele estivesse bebendo. Ele pediu aquela
cerveja há duas horas. Aposto que agora tem gosto de mijo.

Coloquei o último pedido de Anka na bandeja, verificando Knox


novamente. — Ele tem muito em que pensar. Talvez ele tenha
vindo porque precisa de companhia. Não queria ficar sozinho.

Ela bufou uma risada sem humor. — É disso que tenho medo.
Você já tentou falar com ele? Ele é esquisito e estranho. Não,
obrigado.

Ela deslizou a bandeja no ombro, agarrou uma das tábuas de


amostra e saiu andando. Eu fiz a varredura, garantindo que não era
necessário em nenhum outro lugar, e coloquei meus olhos em Knox
novamente. Ele não era esquisito e estranho. Ele era tímido e
constrangido, especialmente quando não estava entre seu grupo de
amigos.

Como esta noite. Como muito ultimamente.

Jogando meu palito de dente em um lixo próximo, puxei um copo


limpo da prateleira e o enchi com a mesma Red Tail Ale que ele
tinha encarado a noite toda. Com uma nova base para copos,
vaguei até sua mesa e coloquei-a na frente dele. Ele se assustou e
se endireitou, olhando-me com cautela antes de lançar seu olhar ao
redor da sala.

— Eu não pedi isso. — Ele apontou para a caneca como se ela


pudesse mordê-lo.

— Eu não acho que esta esteja mais boa. Deve estar quente
como uma sopa. — Peguei sua velha bebida enquanto ele franzia a
testa.

— Mas...

— É por minha conta. Não se esqueça disso desta vez.

Ele lançou seu olhar em minha direção. Foi um breve piscar, mas
eu estava acostumado com as pessoas que não mantinham contato
visual. Por toda a minha vida, as pessoas fizeram todo o possível
para evitar me olhar nos olhos.

— Hum... obrigado.

Ele envolveu a nova caneca com as mãos e ficou


instantaneamente perdido em sua cabeça novamente. Por um
minuto sólido, fiquei ao lado de sua mesa, observando sua mente
angustiada se desdobrar enquanto sua angústia empoçava a seus
pés. Ele nem percebeu que eu não tinha saído.

Seu cabelo era castanho escuro com uma mecha de ruivo que
aparecia quando a luz o atingia com precisão. Foi soprado pelo
vento e bagunçado de um dia de trabalho ao ar livre. Sua barba
aparada era mais vermelha do que o resto, e cobria bochechas
redondas e uma boca carnuda que permanecia em um beicinho
perpétuo a noite toda. Eu sabia que seus olhos eram da cor de
chocolate ao leite e que ele tinha vergonha de seu tamanho. Eu
sabia que ele tinha dificuldade para falar com as garotas e dependia
muito de seu melhor amigo, Easton, quando estava em grandes
multidões. Easton não era alguém que eu tinha visto muito
ultimamente.

Toquei o braço de Knox, e ele se encolheu com tanta violência que


você pensaria que eu o eletrocutei. Olhos cor de mocha em pânico
encontraram os meus, mas antes que ele pudesse encontrar sua
voz, eu acenei para o bar. — Se você precisar de um ouvido, sabe
onde me encontrar.

Seu olhar deslizou para o bar e voltou, confusão marcando um


caminho em sua testa. — OK. Hum... obrigado?

Knox não tinha ideia de como ele era transparente.

Eu o agraciei com um leve sorriso e voltei para o meu posto atrás


do bar com sua cerveja velha. Eu joguei na pia e coloquei a caneca
na bandeja suja. Peguei outro palito de menta do copinho que
mantinha sob o bar, desembrulhei-o e enfiei no canto da boca antes
de pegar um pano e fazer com que parecesse ocupado enquanto
limpava o topo quase intocado do balcão. A última coisa que Knox
precisava era a pressão da minha atenção concentrada dissecando-
o. Seria melhor se ele pensasse que eu estava ocupado demais para
dar qualquer aviso sobre sua noite agitada.
Ele não se juntou a mim. Qualquer pessoa que passasse cinco
minutos assistindo Knox sabia que ele passaria o resto da noite
preocupado com aquele convite simples. Não éramos amigos, então
ele se perguntaria por que eu estava falando com ele. O que eu
queria? Eu estava armando para ele? Sua confiança nas outras
pessoas era frágil e isso me deixou triste.

Eu apostaria um palpite, ele passou muito tempo crescendo


cercado de valentões. Se alguém conhecia os sinais, era eu, com
meu cabelo loiro avermelhado - com uma mecha branca que crescia
na frente - minha pele pálida e sardenta e meus dois olhos de cores
diferentes. Eu era a aberração na escola, especialmente porque
meus pais tinham a pele mais escura e eram descendentes de
malaios. As crianças eram cruéis e não gostavam de coisas
diferentes. Tive a sensação de que Knox conhecia essa dor muito
bem.

A noite continuou. Eu servia bebidas, preenchia pedidos, corria


para a cozinha e para trás, e contava o troco das pessoas sem
pestanejar. Bartender era como eu pagava as contas desde o
colégio. Não importava onde eu pousava, sempre havia um bar onde
minhas habilidades eram bem-vindas. Era mais lucrativo quando
eu morava nas cidades maiores, mas o ambiente era o que eu mais
gostava, não o salário.

Durante todo o tempo em que trabalhei, fiquei ciente de Knox em


sua mesinha tranquila.
Ele estava mais alerta do que antes. A bebida que eu entreguei
desapareceu, e enviei Anka com uma segunda, informando-a para
deixá-lo saber que era por minha conta novamente. Sua carranca
se aprofundou com a notícia, mas isso me rendeu o primeiro sorriso
da noite.

Mas mesmo aquele sorriso agradecido estava carregado de


perguntas e desconfiança. Uma cerveja não era apenas uma
cerveja. Um gesto amigável não era apenas um gesto amigável. Não
para Knox.

Ao contrário do barzinho inútil de Dyna-Lynn descendo a rua, a


cervejaria fechava à meia-noite. Não encorajávamos as pessoas a
beber até serem estúpidas. Isso nos mantinha um nível acima do
poço de água da cidade. Éramos uma atração turística e
trabalhamos muito para manter uma imagem respeitável.

Por volta das onze e meia, a maior parte da multidão havia se


afastado, deixando Knox e dois outros clientes que compartilhavam
uma jarra em uma mesa mais distante. Anka ficara à mesa deles,
fofocando e ignorando seus deveres, que deveriam incluir limpar as
mesas e arrumar as cadeiras para que nossa empregada pudesse
chegar ao chão pela manhã.

Peguei um pano e alvejante e me coloquei no chão para cuidar


das coisas. Comecei em uma extremidade da cervejaria e
lentamente fiz meu caminho em direção a Knox, rolando outro
palito de menta na boca e mastigando a extremidade até extrair
todo o sabor. Ele me observou o tempo todo, embora tenha desviado
o olhar quando olhei em sua direção. Quando cheguei à mesa ao
lado da dele, ele derrubou os últimos goles de sua caneca.

— Outra antes de fecharmos? — Eu perguntei, apontando para a


sua caneca vazia. — Você tem tempo.

— Claro, mas posso muito bem pagar por isso. Não sei por que
você está comprando minhas bebidas. Você não precisa fazer isso.
Eu não sou... assim, se é isso que você pensa. — Ele falou com a
mesa, recusando-se a me olhar nos olhos.

— Como o quê? — Eu sabia o que ele queria dizer, mas estava


forçando uma conversa e decidi me fazer de bobo.

Suas bochechas ficaram rosadas sob sua barba escura, e eu


observei evidências de um engolir apertado enquanto sua garganta
subia e descia. — Nada. Eu não quis dizer... deixa pra lá.

Eu esperei, mas ele não deu uma explicação. A última coisa que
eu queria fazer era assustá-lo.

Removendo o palito da boca, inclinei-me, baixando a voz. — Eu


não estava dando em cima de você. Eu estava apenas abrindo as
linhas de comunicação, se você quiser conversar. Isso é tudo. Parte
do trabalho.

Sabendo que ele estava desconfortável, peguei a sua caneca vazia,


joguei meu palito dentro, limpei a mancha que ele deixou na mesa e
voltei para o bar para servir-lhe um último gole antes que a noite
acabasse. Enquanto a caneca se enchia, fiquei meio de olho nele.
Ele esfregou a nuca e olhou em volta, arisco e desconfiado. Ele
puxou o telefone, verificou a tela, colocou-o na mesa e afundou na
cadeira. Esvaziando.

Definitivamente, um coração partido. Talvez Knox tenha sido


rejeitado por uma paixão ou largado por alguma namorada que ele
mantinha escondido. Eu já tinha visto isso antes. Knox exibia todos
os sinais de perda de amor.

Entreguei sua bebida e aceitei seu dinheiro, sem discutir quando


ele murmurou que não precisava de troco. Ele me deu o suficiente
para cobrir toda a sua conta, incluindo as bebidas que eu me
ofereci para comprar, além de uma gorjeta generosa. Acho que meu
gesto amigável o incomodou muito.

Não argumentei e voltei para limpar as mesas.

Às dez para a meia-noite, Josiah Nipissing entrou, bolsa de


ombro pendurada em um braço, câmera pendurada no outro, rosto
enterrado em seu telefone - como de costume. Como um relógio,
meu único amigo em Jasper entrou pela porta da cervejaria com
tempo suficiente para pegar uma bebida antes de fecharmos. Todas
as noites, sem falta. De todas as pessoas que conheci quando vim
para Jasper, Josiah era de longe um dos personagens mais
interessantes.

Ele era o proprietário e colunista-chefe do Jasper Times, um


jornal local que era mais uma fonte de entretenimento do que
qualquer coisa séria. Ele trabalhava até tarde na maioria das
noites, escrevendo todas as histórias que reunia ao longo do dia e
compilando notícias e dramas suficientes para caber em seu jornal
quinzenal.

Josiah deslizou para uma banqueta do bar, deixando cair seus


pertences no chão a seus pés, sem tirar os olhos do telefone. Sua
língua traçou um padrão sobre o lábio superior enquanto seus
dedos voavam e seus olhos piscavam pela tela. Ele era um viciado
em mídia social.

Eu já estava servindo sua bebida quando ele distraidamente


bateu no balcão, os olhos grudados em seu feed do Twitter ou
Instagram ou Facebook, enquanto dizia: — Alguma chance de eu
poder...? Quando você tiver um minuto.

Como sempre, Josiah deixou cair as últimas palavras do final de


sua frase. Eu não tinha determinado a razão exata por trás de seus
padrões de fala peculiares, mas eu o entendia bem. Isso me
divertia.

Outras pessoas não o aceitaram muito bem. Ele frustrava a


maioria dos moradores da cidade e, quanto mais frustrada uma
pessoa ficava, pior Josiah ficava. Se ele sabia que estava te
irritando, continuava cavando. Ele prosperava em atenção, não
importando se era negativa ou positiva. Limites para ele não
existiam. Ele estava na sua cara, sem remorso e presunçoso como o
inferno.
Coloquei sua cerveja no balcão e esperei que sua névoa de mídia
social passasse. Não fazia sentido falar com ele quando estava
perdido em seu telefone. Enquanto esperava, observei Knox. Sua
cerveja estava quase acabando. Ele olhou sombriamente para seu
telefone escuro ao lado dele como se ele estivesse disposto a receber
uma ligação ou uma mensagem de texto e tirá-lo de seu medo. Mas
quem quer que tenha feito isso com ele não estava respondendo aos
seus apelos silenciosos.

— Ei. — Disse Josiah, interrompendo minha reflexão. Ele deixou


cair uma cópia do jornal do dia seguinte no bar e bateu em um
artigo no canto inferior. — Verifique-o. Eu estava mergulhando
fundo em... você sabe — ele tamborilou os dedos na tela escura do
telefone — como sempre faço, e descobri isso. As pessoas vão...
quero dizer, olhe para isso. Certo? — Ele soltou um suspiro,
balançando a cabeça e sorrindo de orelha a orelha. — É muito
legal.

Eu lancei meu olhar para Josiah, examinando e notando sua


euforia, deduzindo o que ele estava ou não dizendo. Você tinha que
ser bom em ler nas entrelinhas com ele. A maioria das pessoas não
era. Sua fala afetada e incompleta era uma característica de Josiah
que uma pessoa tinha que aprender a manobrar se quisesse
conhecê-lo melhor.

Ele tomou um gole de sua cerveja, acenando para o papel,


encorajando-me a ler. — Esta é uma escavação de diamantes. De
vez em quando, eu tropeço em coisas que simplesmente... — Ele
estalou suas bochechas. — É épico.

Eu examinei o artigo e olhei para a pequena foto anexada. Minhas


sobrancelhas batem na linha do cabelo. — Espera. Isso é pra valer?
O Guinness Book of World Records está chegando aqui? Em
Jasper?

— É isso que eu estou dizendo. Eu estava fazendo uma pesquisa


no Google, procurando... e estava bem ali. Estrondo! Preto e branco
na tela. As pessoas vão… Isso é incrível. Você vê? E o momento
certo? Eles estão vindo no meio de... você sabe. Todo mundo já está
aqui para isso. É genial. — Ele balançou a cabeça, engolindo um
gole de cerveja. — Shay ainda nem anunciou isso em suas redes
sociais. Isso vai ser... — Ele balançou as sobrancelhas. — Não é
ótimo?

Eu levei um segundo, processando a confusão distorcida de


meias frases e franzi a testa para o artigo do jornal, lendo-o mais
cuidadosamente. — Isso parece perigoso. O que é um ciclo da
morte? É isso? — Eu apontei para a foto de uma coisa enorme
parecendo um círculo.

— Você está lendo isso? — Josiah inclinou-se sobre o balcão e


olhou de cabeça para baixo.

— Sim, estou lendo. Shay Lee tentará completar um circuito


completo de 360 graus que nunca foi feito em esquis antes. Isso é
verdade?
— Por favor. Não me insulte. Você acha que eu... — Josiah
acenou para o papel.

Eu me encolhi enquanto tentava imaginar. Josiah havia escrito


que o Ciclo da Morte fora realizado com sucesso em outros
esportes, como ciclismo e skate. Ainda assim, isso nunca foi feito
em esquis. Ninguém se atreveu a tentar. Os riscos eram enormes. O
ciclo era extremo e perigoso. Josiah também explicou que muitos
atletas em outros esportes sofreram ferimentos grav es ao tentarem
completar esse feito no passado. Tudo, desde crânios rachados a
vários ossos quebrados.

— Ele vai se matar. Bem ali no sopé da montanha. Por que ele
faria isso?

Josiah bufou e descartou minha preocupação. — Isso não é


nada. Shay sempre... — Josiah bateu o dedo no jornal. — O que
eles chamam? Quando eles fazem todo o... você sabe, por atenção.
A adrenalina. É... você sabe.

— Ele é um viciado em adrenalina?

— É isso que eu estou dizendo.

Eu dei uma olhada no artigo novamente. Pessoas assim me


confundiam. Era como se eles tivessem nascido sem medo. Shay
era um rosto familiar perto de Jasper, mas eu não sabia que ele era
assim. Dobrando o papel de novo, empurrei-o de volta para Josiah.
— E ele não anunciou isso?
Josiah balançou a cabeça, os olhos verdes brilhando por trás dos
óculos de armação escura. Deixe para Josiah correr com notícias
que pisoteavam a glória de outras pessoas.

— Você é um perturbador de merda.

Ele encolheu os ombros. Josiah não se importou.

Inclinei-me do outro lado do bar ao lado dele, examinando a sala.


Knox havia terminado sua bebida e se dirigia para a porta, as mãos
enfiadas nos bolsos, o queixo abaixado, o corpo curvado. Ele não
olhou em volta. Ele apenas se afastou, olhando para seus pés como
se o mundo ao seu redor tivesse acabado.

Josiah chamou minha atenção desviada e olhou por cima do


ombro antes de olhar para trás com uma sobrancelha arqueada.

Eu balancei minha cabeça. — Algo está acontecendo com ele.


Você sabe algo?

O olhar de Josiah se voltou para dentro, e eu o imaginei


examinando seu banco de memória de fofocas suculentas. Ele era
como todo mundo em Jasper. Um colecionador de fofocas,
especialmente porque trabalhava para o jornal. — Não sei. Ele não
está no meu radar.

— Está bem.

— Dê-me um dia.

— Não. Você não vai olhar em seu negócio. Deixe.


— Ele nem vai saber. Vou só fazer algumas… Verificar algumas
coisas… sabe? Ver o que posso descobrir.

— Deixe.

Josiah revirou os olhos e terminamos em um olhar fixo que


resultou em nós dois caindo na gargalhada.

Isso chamou a atenção de Anka e ela gritou do outro lado do bar.


— Termine, Josiah. Estamos fechados. Você quer beber e conversar,
venha mais cedo.

Josiah mandou um beijo para ela, ganhando um sorriso de


escárnio, enquanto se virava e bebia sua cerveja. — Ela é sempre
tão... você sabe?

— Você tira o melhor das pessoas.

Ele riu. — Eu tento. Venha quando terminar? Eu fiz algumas


investigações sobre isso — ele acenou com a cabeça — você sabe.
Encontrei sua resposta.

Minha coluna se endireitou e uma cócega de apreensão deslizou


sobre minha pele. — Você fez? Como? Você está falando sério?

Não tinha como.

— Você sempre duvida de mim. Eu conheço as pessoas certas.


Fiz algumas ligações e... sim. Sem problemas. — Ele piscou.

— Mas como? Eles não me contaram nada quando liguei. Eu


estive com eles por anos.
— Eu tenho um pau mágico, querido, e ele me dá tudo o que eu
quero. — Ele ajustou os óculos com a expressão mais arrogante e
presunçosa em todo o rosto. Provavelmente foi a coisa mais
verdadeira que ele já disse.

Eu olhei para ele com uma expressão inexpressiva, e Josiah riu


novamente.

— Bem. Eu tenho um em quem... bem, é tudo meio secreto. Você


não pode dizer nada. Pode não ser legal... sabe? Não posso divulgar
meus segredos. Mas eu tenho um nome para você. Um nome
completo. Você poderia apenas... eu não sei. De nada?

— É um em com quem você dormiu?

Ele deu de ombros, mas o sorriso lento assumindo seu rosto foi
toda a confirmação que eu precisava. — Os médicos têm um amplo
conhecimento do corpo humano. Eles sabem todos os lugares
certos para me fazer...

— OK. Pare. TMI 3.

Ele riu. — Venha quando terminar.

Minha frequência cardíaca aumentou. Importava como Josiah


conseguiu a informação? A questão era que ele encontrou um nome
para mim. Um nome completo. Eu não queria ter muitas esperanças,
não podia, mas se Josiah estava falando sério. Se ele descobriu...

3 Demasiada Informação.
Ele apertou meu braço enquanto se levantava para ir embora. —
Respira. Sorria. Eu sei que é tudo... mas é uma coisa boa.

Josiah podia ter armadilhas que o tornavam uma pessoa difícil de


gostar na maioria dos dias, mas ele tinha muitos contatos - amigos
de foda - e sabia como descobrir coisas. Quando ele se ofereceu
para me ajudar a encontrar minha mãe biológica, eu encolhi os
ombros, sabendo que a probabilidade de ele chegar a qualquer
lugar era pequena.

Eu bati em uma parede anos atrás e desisti. Havia muita


burocracia e merda legal no meu caminho toda vez que eu me
virava. Ninguém iria me ajudar, e a informação que meus pais
adotivos me deram foi lamentável na melhor das hipóteses. Nunca o
suficiente para encontrá-la. Se alguém ia me ajudar a resolver esse
quebra-cabeça, era Josiah.

E parecia que ele tinha feito progresso.


Capítulo Três
Knox

Jasper adorava realizar festivais. Como funcionário do serviço


público da cidade, eles foram a ruína da minha existência. Quando
um terminava, outro começava. Passei muito tempo montando e
desmontando estruturas de eventos - como o palco onde nossa
banda country local tocava as mesmas dezenas de músicas
repetidas ano após ano - limpando parques e feiras, paisagismo,
pintura, preenchendo a infinita variedade de buracos na estrada
principal que os arados abriram no inverno, e garantindo que nossa
cidade estivesse apta para o fluxo constante de turistas que vinham
de todos os cantos para participar dos eventos.

O Festival Feira de Outono aconteceria no fim de semana


seguinte, seguido pelo Bem-vindo ao Festival de Inverno em meados
de novembro, então o Festival de Natal em dezembro, o Festival
Homem das Neves em janeiro, o Festival de Esqui em fevereiro e
assim por diante. Era interminável.

Eu arranhei minha barba com os dedos enquanto estudava as


pilhas de madeira e tábuas que tínhamos descarregado do
armazenamento naquela manhã. — Por que diabos não podemos
continuar com essa coisa? É a maior dor de cabeça que temos.
Minnie cruzou os braços sobre o colete de segurança e balançou a
cabeça, o rabo de cavalo apertado balançando os cabelos cor de
palha sobre os ombros. — Sou só eu ou essa coisa é cada vez mais
difícil de decifrar toda vez que temos que colocá-la?

— Eu estava pensando a mesma coisa. Devíamos ser capazes de


fazer isso durante o sono.

A roupa de Minnie espelhava a minha. Nós dois usávamos jeans


desbotados, botas de trabalho e flanelas grossas sob nossos coletes
de segurança exigidos. Olhando para ela, você nunca imaginaria
que Minnie era uma garota feminina que gostava de maquiagem e
joias quando não estava no trabalho. Ela até ganhou o título de
Princesa do Festival de Outono de Jasper quando tinha dezoito
anos. Frequentemente éramos parceiros para tarefas na cidade, e
eu gostava dela bastante, mas ela me incomodava. Era como sair
com os garotos legais do colégio quando você sabia que não era o
seu lugar.

Ela tinha quase trinta anos, era bonita, alta e esguia. O tipo de
mulher que nunca olhou duas vezes para um cara como eu. Mesmo
que ela nunca tivesse falado nada de ruim sobre mim, não pude
deixar de me sentir constrangido em sua presença. Ela me julgou?
Ela foi para casa e contou a seu namorado viciado em exercícios
sobre o cara baixo e gordo com quem ela tinha que trabalhar todos
os dias? Provavelmente.
Eu suguei minhas entranhas e inflei meu peito enquanto
balançava em meus pés, examinando o projeto deitado aos nossos
pés. — Tem certeza de que pegamos todas as peças do
armazenamento?

— Isso é tudo.

Nós dois suspiramos, mas não nos movemos. Talvez se olharmos


para ele por tempo suficiente, ele se construa sozinho.

— Eu digo que devemos fazer uma petição para um novo


estagiário depois disso. Deve haver alguém na cidade que esteja
disposto a criar algo mais... atualizado. — Disse Minnie.

— Menos desmoronamento?

— Exatamente. — Outro suspiro. — Vamos? Não vai se


construir sozinho.

— Eu estava pensando, seria bom se pudesse.

Peguei um par de luvas de trabalho na parte de trás da pick-up


da cidade que tínhamos dirigido para o recinto da feira, e as
coloquei. Minnie fez o mesmo. Joguei para ela um capacete de
segurança e ela prendeu o rabo de cavalo por baixo.

Então começamos a trabalhar, construindo o palco pela


milionésima vez naquele ano. Você poderia pensar que seríamos
bons nisso, mas não foi nada além de uma dor de cabeça. As peças
desapareciam no armazenamento o tempo todo. As placas precisam
ser substituídas ou reparadas. Nada se encaixava bem. Sempre
tivemos que debater ideias para dar às áreas fracas mais apoio ou
descolar quando ficamos sem placas antes de estar completo. No
final, sempre confundíamos nosso caminho através dele.

— Ouvi dizer que East e Lach vão se casar no Festival de Natal


deste ano. Sean disse que eles solicitaram o uso dos arcos e do
estrado do concurso. Eles querem que tudo seja montado na árvore
de Natal da grande cidade e enfeitado com luzes. Acho que eles
estão cavalgando e tendo um grande banquete em tendas aquecidas
logo ali no parque. Não é adorável?

Meu estômago deu um nó. Acho que eles marcaram oficialmente


uma data. Provavelmente era oficial quando Easton me contou na
semana passada, mas ele cobriu os detalhes para amortecer a
explosão, inventando histórias de ter que olhar para as coisas.

— Não sabia que permitíamos coisas assim.

Não foi surpreendente. O prefeito Sean Croucher era um grande


defensor LGBTQ.

— Por que não? Sean achou ótimo. Easton é um membro


importante da comunidade. Além disso, mostra Jasper como um
lugar diverso e receptivo para se viver, sabe? Sean adora essas
coisas. Tenho certeza de que existem todos os tipos de cidadezinhas
por aí que não gostariam de receber um casamento gay,
especialmente no meio de um festival. A cidade inteira é bem-vinda,
eu acho. Parece realmente incrível.
Dei de ombros e coloquei outra placa no lugar, usando a
furadeira para prendê-la sem verificar se estava alinhada
corretamente. Quando o parafuso estava apertado, eu me levantei e
olhei o que tinha feito. Inclinando minha cabeça para o lado, eu
gemi.

— Você está bem? — Minnie perguntou, humor em sua voz. Ela


estava me olhando com ceticismo.

— Sim, eu estou bem.

— Então, estamos apenas adicionando peças aleatoriamente


onde elas não pertencem? Porque eu pensei que estaríamos
perdendo um dia inteiro construindo-o corretamente.

Eu não pude lutar contra o sorriso que surgiu no meu rosto.

Minnie soltou uma risada, gesticulando para a placa aleatória que


eu prendi e que se projetava meio metro além da borda do palco. —
Isso é para o caso de a banda querer andar na placa?

— Cale-se. — Mas a risada dela era contagiosa e, em pouco


tempo, nós dois estávamos rindo forte o suficiente para que a
nuvem negra que havia descido sobre minha cabeça desaparecesse.

— Argh... acho que devemos mantê-lo aí, cara. — Brincou


Minnie.

E o fizemos, por um tempo, porque era divertido e precisávamos


de um pouco de diversão no nosso dia.
Minnie não tocou em Easton ou seu casamento novamente, e nós
trabalhamos o resto da tarde, conversando sobre todos os outros
trabalhos mundanos que tínhamos que cuidar antes do festival
neste fim de semana.

Trabalhar para a cidade tinha suas vantagens. Nossos dias


terminavam às quatro horas em ponto, e qualquer coisa fora de
nossas oito ou quatro horas normais exigia que eles nos pagassem
uma quantidade significativa de horas extras. Portanto, isso não
acontecia com frequência. As exceções eram nos meses de inverno,
quando tínhamos que sair e arar as estradas às cinco da manhã,
após uma forte nevasca. Mas mesmo naqueles dias, eles nos
mandaram para casa mais cedo para compensar.

Era um trabalho decente. Eu não amava ou odiava. Pagava as


contas e me deu um contato com a comunidade. Não havia uma
pessoa em Jasper que eu não conhecesse, e todos eles me
conheciam.

Depois de terminarmos a construção do palco, ainda faltavam


quarenta minutos para o nosso dia de trabalho. Deixamos a
madeira extra e o equipamento no depósito da cidade e nos
dirigimos ao Jasper Café e Padaria para pegar uma bebida e matar
o tempo antes de acabar o tempo. Não havia sentido em começar
um novo trabalho que não terminaríamos antes da hora de sair.

Nally Robinson dirigia o Jasper Café e Padaria desde que eu


conseguia me lembrar. Ela tinha alguns funcionários familiares que
ajudavam os clientes no balcão da frente enquanto ela ficava na
parte de trás e assava algumas das coisas mais deliciosas que eu já
provei na minha vida. Sua equipe incluía sua irmã, Belinda, e uma
de suas sobrinhas adolescentes, Kelsey, que vinha depois da escola
e estava sempre lá nos fins de semana.

Kelsey estava atrás do balcão hoje, servindo os famosos bolinhos


de Nally para Gordon, o velho dono da loja da esquina. Quando ela
nos viu entrar, ela nos lançou um sorriso radiante, seus aparelhos
refletindo a luz.

— Ei, Minnie. Oi, Knox. Só vou demorar um minuto.

O cheiro de massa de pão com fermento e guloseimas açucaradas


encheu o ar, fazendo meu estômago roncar. Essa maldita padaria
era minha fraqueza.

Minnie bateu no meu ombro e se curvou para sussurrar no meu


ouvido. — Ela tem aqueles cookies de aveia e cranberry de
chocolate branco de novo. Veja. Temos que ter um.

Eles eram bons. Tão. Tão bom. Foi tentador.

Antes que eu pudesse responder, o carrilhão da porta soou atrás


de nós. Minnie e eu olhamos ao mesmo tempo que Timothy, o
namorado de Minnie, entrava com um sorriso radiante no rosto.

— Eu pensei ter visto vocês entrando. — Ele abriu os braços e


Minnie caiu neles, aceitando o abraço oferecido. Timothy beij ou o
topo de sua cabeça - porque ele podia, o cara tinha mais de um
metro e oitenta e seu corpo ameaçava as costuras de sua camisa.
Os banqueiros não tinham o direito de se parecer assim.

Eu me encolhi diante do casal lindo e feliz, questionando minha


necessidade de cookies.

— Você terminou o trabalho? — Minnie perguntou a ele.

— Nah, apenas escapuli por alguns minutos para que eu


pudesse roubar um beijo da minha garotinha. Como está a correr o
teu dia?

— Knox e eu passamos as últimas quatro horas preparando o


palco novamente.

Timothy gemeu e me prendeu com um sorriso simpático. — Isso


sempre é uma merda. Minnie me contou tudo sobre essa coisa. Eu
sinto por vocês dois.

— Estávamos pegando um café e um petisco para matar a última


meia hora de trabalho. Você quer alguma coisa? — Minnie
perguntou a ele.

Timothy deu uma olhada rápida no mostrador antes de balançar


a cabeça com uma careta. — Eu não deveria. Eu tenho que correr.
Tenho uma sessão de treino esta noite depois do trabalho, por isso
estarei em casa tarde.

— OK. Vejo você então.

Ele beijou sua bochecha, me deu um aceno e voltou para a porta.

— Sessão de treinamento? — Eu perguntei.


— Sim, eles aceitaram sua inscrição como um dos bombeiros
voluntários da cidade. Ele passou no treinamento físico com louvor
e agora ele tem um monte de outros treinamentos para completar.
É uma loucura, mas ele está emocionado.

Bombeiro? Isso faria sentido. Eu tentei passar no treinamento


físico deles alguns anos atrás com o mesmo objetivo em mente, mas
falhei miseravelmente.

— Vocês estão recebendo o de costume? — Kelsey perguntou


atrás do balcão.

Minnie se virou para ela e sorriu. — Sim, e eu vou comer um


daqueles cookies de chocolate branco com cranberry. Knox?

Eu balancei minha cabeça. — Só um café, obrigado. — Timothy e


seu físico impecável eram apenas um lembrete de por que eu não
deveria comer cookies por capricho.

Mesmo quando eles tinham um gosto bom e satisfaziam algo que


faltava dentro de mim. O problema era que eu precisaria de cerca
de trinta cookies para preencher esse buraco.

Minnie inclinou a cabeça para o lado, um sorriso preocupado no


rosto. — Sem cookies? Vamos.

Eu dei de ombros e desviei o olhar. — Não estou com fome.

Minnie olhou para mim por mais um segundo antes de se voltar


para Kelsey. — Coloque um naquela sacola para Knox. Adicione-o
à minha conta. Ele pode ficar com ele mais tarde, se não quiser
agora. — Então ela cutucou meu lado. — Eu sei que eles são seus
favoritos.

Fechei meus olhos e reprimi um suspiro. Minnie era doce e minha


força de vontade era tanta que eu sabia que comeria aquela maldita
coisa antes de chegar em casa.

Kelsey colocou nossas bebidas e guloseimas no balcão e pagamos.


Bebendo nossas bebidas quentes, vagamos de volta para fora. O sol
tinha desaparecido há muito tempo atrás das montanhas e estava
esfriando rapidamente. O inverno estava chegando e chegou cedo
para Jasper, já que estávamos no meio das montanhas e em uma
altitude tão elevada. Outubro marcou os últimos dias de outono. A
neve era iminente no Halloween. Frequentemente, acontecia muitas
semanas antes.

Ficamos parados na calçada para desfrutar de nossas bebidas,


nos deleitando com a beleza da cidade que ajudamos a manter.

Minnie colocou o copo em cima da caixa de correio próxima e


tirou o cookie da sacola de papel. Tinha facilmente dez centímetros
de diâmetro e meio centímetro de espessura. Ela o segurou entre os
dentes e pegou minha mão, entregando o segundo cookie na minha
palma.

— Coma. — Ela disse, sua fala comprometida por seu cookie,


mas seu tom não tolerava nenhum argumento. — Eles são
gostosos, e você sabe disso.
Me submetendo, mordi o cookie e saboreei a doce mistura de
chocolate com frutas secas. Eles não eram apenas bons. Eles eram
celestiais.

— Então, amanhã, provavelmente devemos cuidar da


manutenção do gramado e trazer as latas de lixo extras. — Ela
falou.

— E as cabines. Sean disse que tem um novo arranjo para elas.


Temos que pegar seus planos antes de decolar. Não me deixe
esquecer.

— Certo.

Enquanto conversávamos sobre as tarefas do dia seguinte, uma


pessoa conhecida do outro lado da rua chamou minha atenção.
Lachlan estava saindo do banco. Lachlan de Easton. Ele estava ao
telefone, um sorriso iluminando seus olhos enquanto ele
conversava alegremente com quem estava na outra linha.

Eu não precisava ser vidente para saber com quem ele estava
falando. A única pessoa que faz aquele idiota sorrir daquele jeito é
Easton.

Minnie continuou falando, mas eu não conseguia mais processar


suas palavras. Eu estava muito envolvido com o homem que
arruinou minha vida. O cookie virou cinza no meu estômago
enquanto eu examinava o próprio Sr. Perfeição, enquanto ele
caminhava em direção ao seu veículo. Seu veículo caro, sofisticado
e brilhante. Esse cara tinha a capacidade de me deixar abertamente
ciente de cada uma das minhas falhas.

Só quando Lachlan saiu dirigindo pela estrada, percebi que


Minnie não estava mais falando. Eu virei meu olhar de volta em sua
direção.

— Você não é fã do noivo do Easton, é?

Joguei meu copo de papel vazio no lixo e limpei as migalhas de


cookie da minha jaqueta de lã xadrez. — Eu nunca disse isso.

— Você não precisa. Está em todo o seu rosto. Além disso, você e
East não estão mais saindo juntos. Vocês costumavam ser colados
no quadril.

— Acho que é isso que acontece quando você encontra alguém


mais importante. Você está pronta para ir?

— Certo. — Ela jogou o lixo fora e voltamos para a caminhonete.


— Você está vendo alguém? — Ela perguntou enquanto nos
acomodávamos.

Eu vacilei e fiz uma careta. — Não. Por quê?

Minnie nunca havia se aprofundado na minha vida pessoal antes,


então isso era novo.

— Só uma pergunta. Você não fala muito sobre ninguém mais.


Houve um tempo em que você conversava sobre o que você e East
faziam no fim de semana, ou falava sobre sair com os caras depois
do trabalho, mas ultimamente você tem estado calado. Acho que
você nunca me contou sobre alguma garota com quem namorou.

Isso porque eu raramente namorava.

Minhas bochechas coraram e corri para ligar o motor enquanto


bufava uma risada nervosa. — Eu não... eu não tenho... por que
você quer saber sobre isso, afinal?

— Eu não sei. Trabalhamos muito juntos. Você sabe tudo sobre


Timothy e eu. Eu sinto que não te conheço. Então, você não está
namorando ninguém? Você quer? Eu tenho algumas...

— Não. Não, não, não. Tudo bem. Eu só... prefiro que você não
tente armar para mim. Não tenho boa sorte com... quero dizer. Só...
podemos conversar sobre outra coisa?

Ela sorriu e deu um tapinha na minha perna. — Você é fofo,


Knox. Você não se dá crédito suficiente.

Eu bufei uma risada sem humor. — Sim, não, eu definitivamente


não sou fofo. Longe, longe de ser fofo. Eu só... não sou o que as
garotas procuram.

Enquanto eu dirigia em direção à prefeitura, onde nossos veículos


de serviço público ficavam estacionados todas as noites, Minnie não
desistiu.

— E o que exatamente as garotas estão procurando?


Meu peito apertou enquanto eu continuava focado na estrada. —
Você sabe. Caras como Lachlan e Timothy. Eu não. Sou muito...
deixa pra lá.

— Eu acho que você entende mal as mulheres se é isso que você


pensa. Não somos todas assim. Eu pegaria um cara que me trata
bem em vez de um modelo GQ qualquer dia. Agora responda a esta
pergunta. Quando foi a última vez que você teve um encontro?

Eu apertei minhas mãos ao redor do volante. — Eu não sei. Um


ano atrás. Mais.

A verdade era que namorar era uma tortura. Não havia nada pior
do que sentir-se constantemente nervoso a respeito de cada
pequena coisa e se preocupar com o que a outra pessoa pensava de
você. Esqueça as coisas de intimidade. Esse era um outro saco de
vermes que eu não queria pensar.

— Um ano?

— Talvez. Não me lembro. Seu nome era Caitlyn, mas foram


apenas dois ou três encontros. Não foi nada.

— E você não vai me deixar te arrumar com ninguém?

— Não, obrigado. Não estou realmente procurando por isso


agora.

— OK. Avise-me se mudar de ideia.

Nós dirigimos o resto do caminho em silêncio. Atrás da prefeitura,


estacionei a caminhonete da cidade e entrei com Minnie para bater
o ponto e ter uma ideia do que mais estava em nossa agenda para o
dia seguinte.

Eu estava nervoso por dentro, e a última coisa que queria fazer


era ir para um apartamento vazio, especialmente depois da
lembrança flagrante de como eu era um grande fracasso. Era uma
daquelas noites em que eu não teria pensado duas vezes antes de ir
para o East e tomar uma cerveja enquanto estávamos sentados
falando merda sobre nada. Ele sempre sabia como me fazer sentir
melhor. Apenas estar perto dele era um bálsamo para minhas
inadequações gritantes.

Esses dias se foram.

Mesmo que ele tivesse me dito cem v ezes que eu era bem-vindo
para ir e sair com ele, eu não poderia fazer isso. Aqueles sorrisos
que ele costumava compartilhar comigo agora pertenciam a outra
pessoa. Quando ele ria, ele sempre olhava para Lachlan para
compartilhar seu bom humor. Eu era uma terceira roda. Vice-
campeão.

O não tão melhor homem.


Capítulo Quatro

Lucky

Rolei meu palito sobre a língua, mudando-o para o outro lado da


boca, onde o mastiguei implacavelmente. Tinha perdido o sabor há
muito tempo, mas eu precisava de distração e não conseguia tirar
os olhos do papel e do nome que estive estudando a noite toda para
conseguir um novo.

Josiah estava certo. Podia ser nada ou podia ser tudo. Este único
pedaço de papel continha a resposta que eu havia buscado em toda
a minha vida adulta. Um nome completo. O nome da minha mãe
biológica. O medo ondulou sob minha pele enquanto eu lia
repetidas vezes. Kimberly O'Conner. O'Conner. Então, talvez eu
fosse irlandês. Minha herança sempre foi um buraco negro. Eu não
tinha nada além de minha pele pálida e cabelo vermelho para
continuar, mas nunca soube de onde vim ou onde me encaixava.
Não tinha certeza.

O'Conner. Kimberly O'Conner.

Como Josiah havia dito, ter um nome completo não tornava mais
fácil encontrá-la, mas me deu uma direção melhor. Eu poderia
bater em uma nova parede, ou poderia acabar na porta dela.

— Estou trabalhando sozinha? — Anka disparou.


Eu levantei minha cabeça e fui recebido com aquele famoso olhar
de irritação que ela geralmente reservava para seus clientes menos
favoritos.

A cervejaria voltou ao foco, junto com o estrondo de conversas


abafadas e o tilintar de louças. Eu estava tão perdido em
pensamentos, tão oprimido, que tinha esquecido que estava no
trabalho. Felizmente, não parecia haver ninguém esperando por
bebidas no bar. A única pessoa que eu parecia ter deixado
pendurada foi Anka.

— Desculpe. Minha mente está em outro lugar.

— Obviamente. Quer atender meu pedido ou devo fazer isso


sozinha?

Eu examinei a sala de jantar novamente. As segundas-feiras eram


os nossos dias mais calmos e havia apenas algumas mesas
ocupadas. Ela poderia ter servido suas próprias bebidas, mas Deus
me livre.

— Eu consigo. O que você precisa? — Joguei meu palito no lixo e


dobrei o papel com o único nome, gravado a caneta, enfiando no
bolso.

— Dois copos de vinho tinto da nossa casa e meio litro de Tail.

— É isso aí? Duas taças de vinho e uma cerveja?

— Foi o que eu disse.


Estudei a expressão de Anka, mas não me incomodei em
argumentar que ela poderia ter cuidado disso rápido o suficiente.
Os outros garçons costumavam pular para trás do bar e se servir.
Anka nunca saía de seu caminho por nada.

Fixei seu pedido e coloquei na bandeja de espera. Ela se afastou


sem agradecer.

Quando ela se foi, encontrei meu telefone e mandei uma


mensagem para Josiah.

Lucky: Você está ocupado?

Já que o homem ficava colado ao telefone metade do tempo, não


fiquei surpreso que sua resposta veio instantaneamente.

Josiah: Sim e não. E aí?

Lucky: Venha tomar uma cerveja?

Josiah: Dê-me 10.

Guardei meu telefone e suspirei. Josiah não me diria nada


diferente do que disse na outra noite. Eu não sei por que me
incomodei em mandar mensagens para ele. Era agitação e uma
necessidade inquieta de discutir minha caçada com a única pessoa
que sabia o que eu estava fazendo.

Inquieto, limpei meu balcão já limpo e reorganizei minhas bases


para copos, copos limpos e guardanapos extras. Eu preferia quando
estava mais ocupado. Havia menos tempo para pensar. Tirou minha
mente dos meus próprios problemas e me permitiu focar nos
outros.

Tirei um novo palito de meu copo, tirei-o da embalagem e enfiei-o


entre os molares, onde o mastiguei implacavelmente. O toque de
hortelã fresca era bom, de certo modo calmante. Eu nunca usei as
malditas coisas para o propósito pretendido, mas anos atrás fiquei
viciado em seu sabor. Deu-me algo para brincar enquanto
trabalhava e saciou algo dentro de mim que estava em constante
estado de inquietação.

Não havia ninguém esperando pelas bebidas, e Anka estava


conversando com nosso cozinheiro, Greg, então eu sabia que não
havia necessidade desesperada de meus serviços no momento.
Puxei o papel do bolso novamente, olhando para o nome dela.
Quem era ela? Como ela era? Ela alguma vez pensou em mim? Ela
teve mais filhos?

Teria sido mais fácil se eu tivesse mais coisas para continuar,


mas meus pais sabiam pouco, e arrancar deles o que eles sabiam
era como arrancar dentes. Eles se recusaram a responder a
qualquer uma das minhas perguntas sobre minha adoção até os
meus dezoito anos, então, eles pareceram desanimados quando eu
disse a eles que queria encontrar minha mãe biológica. Eu não
estava tentando machucá-los ou desacreditar tudo o que eles
fizeram por mim. Eles me amaram até a morte, e eu também os
amei. Mas eu não conseguia descrever o que era não saber quem eu
era ou de onde vim. Como era ter uma mancha escura em minha
alma onde minha linhagem, minha história pertencia. Eu tentei
respeitar os desejos de meus pais durante anos. Mas as pequenas
informações que eles tinham sobre minha mãe biológica nunca
foram suficientes. Quando não consegui me estabelecer, não
importava onde morasse, descobri que era por não saber a que
lugar pertencia. Não era que eu estivesse procurando um
relacionamento com a mulher, mas eu queria desesperadamente
entender minha identidade.

Kimberly O'Conner tinha quinze anos quando deu à luz um bebê


prematuro. Eu. Quando ela viu quanta intervenção médica eu
precisava, isso assustou a jovem, que tomou a decisão naquele
momento de me entregar para adoção. Os formulários de adoção
que solicitei revelavam apenas seu primeiro nome, conforme seu
pedido, o hospital onde ela deu à luz e o dia em que nasci. Vinte e
um de janeiro. Ela não tinha assinado um aviso de não contato,
então legalmente nada me impedia de procurá-la.

— Ei. Você está…? Isso não te bagunçou, não é? Eu só estava...


estava com medo de que isso pudesse acontecer.

Olhei para cima e encontrei Josiah do outro lado do bar,


preocupação em seus olhos verdes, o que era contrário ao seu
comportamento geralmente arrogante e autoconfiante. Não era
sempre que ele era afetado pelos sentimentos de outras pessoas.
Josiah era um cara bonito, mas eu nunca diria isso na cara dele
porque seu ego poderia explodir. Ele tinha seu próprio estilo que
existia muito além das caixas da maioria das pessoas. Josiah não
era um seguidor de tendências. Seu cabelo castanho estava
penteado em um estilo ao vento que ele tirava bem. Às vezes, ele se
barbeava, e outros dias ele mantinha uma quantidade áspera de
barba no rosto. Ele nunca ficava sem aqueles óculos estúpidos de
armação escura, desnecessários já que o cara tinha uma visão
perfeita. Ele me disse uma vez que os usava para fins estéticos.

Todos os dias vi um novo blazer combinado com jeans de grife.


Eles eram sua obsessão. Sua assinatura. Ele possuía um para cada
cor do arco-íris e era de alguma forma a única pessoa que eu
conhecia que poderia usa-los sem parecer ridículo. Hoje era laranja
enferrujado.

Eu olhei para o nome e de volta para Josiah, analisando sua fala


quebrada. — Eu não estou chateado. Isso é ótimo. É esmagador.
Engraçado como descobri um pequeno pedaço de informação e isso
abriu a porta para um mundo que eu nunca pensei que conheceria.
O'Conner é irlandês. Então, eu sou irlandês. Mesmo que nunca a
encontre, pelo menos aprendi algo sobre mim.

— Eu sempre achei que você fosse... quero dizer, olhe para isso.
— Ele se inclinou e bagunçou meu cabelo até que eu o afastei com
uma risada.
Ele estava brincando, fazendo tudo que podia para aliviar o clima,
e eu respeitei isso.

Josiah me observou com atenção. Verificando seu telefone, ele


deslizou em um banquinho e inclinou o queixo para a torneira. —
Não posso ficar muito tempo, mas...

— Sem problemas.

Servi uma caneca para ele e coloquei em uma base para copos.

Ele deu um longo gole e ergueu uma sobrancelha. — Você vai


adotar um sotaque agora? Vá todo... você sabe, com o sotaque?

Eu balancei minha cabeça, mas não pude evitar o sorriso. —


Não, mas vou começar a comprar Lucky Charms e ter ainda mais
motivos para estar entusiasmado com o Dia de São Patrício.

— Cerveja verde.

— Sempre. Chega dessa merda de âmbar.

Nós compartilhamos um sorriso, mas eu me acalmei rápido.

— Então, para onde devo ir a partir daqui? — Eu agitei o papel


no ar.

Josiah deu um gole em sua bebida, ponderando. — Eu estava


pensando... eu poderia fazer uma lista de todos os... — Ele acenou
com a cabeça para o papel. — Na área. Você sabe. Dividir um
pouco até tudo... então ver onde estamos.

— Todas as Kimberly O'Conners?

— É só... Sim. Aquelas que se enquadram na faixa etária.


— Ela pode ter se casado. Mudado o nome dela. Mudado para
outro lugar.

— Exatamente. Mas... nós poderíamos restringir. Ela tinha... —


Josiah ergueu o queixo enquanto apertava os olhos e murmurava
números. — O que significa que ela nasceu em sessenta e cinco.

— Tudo certo. Então, fazemos uma lista das Kimberly O'Conners


nascidas em 1965 em Ontário?

— Vamos mantê-lo mais... — Ele acenou um círculo mais


apertado com as mãos. — Pelo menos por agora.

— OK. Portanto, nasci em St. Joseph's em Toronto. Continuamos


a busca em Toronto?

— Acho que sim. A menos que não... então iremos mais longe.

— Aposto que é uma longa lista.

— Deixe isso comigo. Vou ver se consigo... sim, vou cuidar disso.
Sem problemas.

As portas da cervejaria se abriram, chamando minha atenção.


Olhei por cima do ombro de Josiah a tempo de ver Knox entrar, as
mãos enfiadas nos bolsos, o queixo abaixado, mas os olhos atentos
e examinando a sala por baixo dos cílios escuros. Quando ele olhou
na minha direção, nossos olhares se encontraram por um breve
segundo. Eu ofereci a ele um sorriso caloroso. Ele devolveu,
hesitante, mas seus ombros subiram até as orelhas quando ele
desviou o olhar novamente e encontrou uma mesa vazia perto das
janelas da frente.

Examinando, garantindo que Anka tivesse notado sua chegada,


fui até a torneira para servir a cerveja que sabia que ele queria.
Alguns dias, Knox pedia o jantar. Outros dias, ele não o pedia, mas
ele sempre tinha um litro de sua Red Tail Ale favorita.

Deixei a cerveja no balcão para Anka pegar e me virei para


Josiah, que também notou a chegada de Knox. Ele girou de volta
em seu banquinho com aquele sorriso malicioso que recebia
quando estava de posse de uma notícia suculenta.

Ele ajustou os óculos e se aproximou. — Eu fiz algumas


cutucadas.

— Eu disse para você não fazer isso.

— Os rumores são que...

Empurrei a cerveja de Josiah para frente e apertei seu nariz antes


que ele falasse mais. — Não. Eu não me importo com rumores e
tenho a sensação de que qualquer coisa que as pessoas digam
sobre Knox por aqui não é favorável, então guarde isso para você.

Josiah esfregou o nariz. — Ai, isso foi...

— Sim. Você é intrometido e fofoqueiro.

— Eu só estou fazendo o meu... eu tenho que ser. É minha praia.

— Bem, mantenha seu negócio fora dos negócios de Knox.


Josiah ergueu uma sobrancelha quando um sorriso lento
apareceu em seu rosto. — Muito defensivo? — Ele me estudou,
aquele sorriso maligno crescendo. — Ah eu vejo. Assim, não é?
Interessante. — Ele olhou para Knox e de volta, inclinando-se mais
perto. — Eu não acho que Knox... quer dizer, ele pode, mas eu
duvido. Se ele fizesse, eu saberia.

— Porque você sabe tudo?

— Obviamente.

— Eu me preocupo com você.

Ele revirou os olhos e riu. — Ok, eu não sei tudo, mas East teria
me contado. Ele e Knox são... — Ele cruzou os dedos — ...sabe?
Exceto não assim, porque Knox não é... eu apostaria qualquer
dinheiro.

— E como você sabe que eles não fizeram?

Josiah riu como se eu tivesse dito a coisa mais estúpida. — Por


favor. Knox?

— Devo lembrar a você que seu gaydar falhou comigo.

— Sim, mas isso não é justo. Você é todo... — Ele acenou com a
mão.

— Pan-demi e confuso?

— Totalmente.

Eu abri um sorriso e apontei meu palito para sua caneca. —


Termine sua bebida e guarde suas fofocas sobre Knox para você.
Além disso, pensei que você tinha trabalho a fazer? Por que você
está aqui arrebentando minhas bolas?

— O que? Mas você... eu estava... eu não posso com você.

Nós rimos, e Josiah me deu sua expressão falsa magoada


enquanto pegava sua cerveja. Depois de esvaziá-la, ele se levantou,
empurrando a caneca de lado. Olhando para a bebida que eu servi
para Knox e que Anka não viera buscar, Josiah ergueu uma
sobrancelha. Ele examinou a cervejaria, observou-a conversar com
outros clientes e olhou para mim.

— Ela não gosta dele. Você vai ter que... — Ele ergueu o queixo
na direção de Knox antes de balançar as sobrancelhas. — Não que
você se importe.

— Cai fora. Eu irei, assim que você se for e não estiver


pendurado no meu ombro, dissecando tudo que eu digo e faço.

— Você gosta dele?

— Vá.

— Vamos. Conte-me.

— Saia do meu bar.

Com um sorriso malicioso, Josiah olhou para Knox, que folheava


um menu. — Não tem jeito. Ele não é... Quer fazer apostas?

— Cai fora, Josiah, antes que eu mesmo jogue sua bunda


magrinha no meio-fio. Não estou apostando com você sobre
sexualidade de alguém.
Rimos muito e Josiah jogou dinheiro no balcão. — Bem. Mais
tarde. Dê-me alguns dias com isso. — Ele acenou com a cabeça
para o meu bolso, onde eu coloquei o papel com o nome da minha
mãe biológica.

— Obrigado.

— E minha bunda é perfeita, não magra. — Ele piscou e se


dirigiu para a porta.

Depois que ele saiu, olhei ao redor em busca de Anka. Ela estava
deliberadamente ocupada em outro lugar e fazendo Knox esperar, o
que me irritou. Como não tinha ninguém no balcão, larguei meu
palito, peguei a cerveja que havia preparado e fui até a mesa de
Knox.

Ele olhou para cima quando eu estava a poucos metros de


distância, endireitou-se e examinou a sala. — Ei. — Sua voz falhou
e coaxou um pouco.

— Ei. — Eu coloquei sua cerveja na mesa. — Seu de sempre.


Você vai comer esta noite?

Knox mudou de posição na cadeira e puxou a orelha antes de


esfregar a nuca. — Hum... sim. Hambúrguer com batatas fritas, eu
acho. Greg sabe do que eu gosto.

— Perfeito. Eu vou deixá-lo saber. — Eu fui me virar, mas parei


e girei para trás. — Tem sido uma noite lenta. Quer se juntar a
mim no balcão? Podemos bater um papo. Compartilhar materiais
lamentáveis. Fofocar como todas as galinhas velhas. — Eu ri,
esperançosamente aliviando o clima. — Se você quiser. Estou meio
entediado, só isso, e não me importaria com a companhia.

Knox ainda carregava aquele peso sempre presente de tristeza


esta noite, e pensei que me mataria vê-lo afogar suas mágoas na
cerveja mais uma vez, sem pelo menos oferecer um ouvido , ou
companhia, ou algo assim.

— Oh... legal. Hum... Ok. Obrigado.

Eu vacilei em sua aceitação. No fundo, eu esperava que ele me


rejeitasse. Ele era tímido e eu era mais ou menos um estranho. Nós
nos conhecíamos, mas não nos conhecíamos.

Um sorriso encheu meu rosto, que ele não conseguiu ver porque
ainda evitava fazer contato visual. Passei o dedo por cima do ombro.
— Deixe-me fazer seu pedido.

Passei por Anka a caminho da cozinha. Ela me deu uma


expressão plana. — Obrigado por pegar minha mesa. Não o notei
entrando.

Mentiras.

O que ela quis dizer foi, obrigado por salvá-la de uma conversa
estranha com Knox que ela não queria ter. Eu não me incomodei
em responder.

Assim que fiz o pedido de comida de Knox e retornei com


antecedência, fiquei feliz em ver que Knox se moveu para o balcão,
apenas porque eu não queria que ele tivesse que lidar com nossa
garçonete ranzinza esta noite.

Knox girou sua cerveja em sua base para copos e olhou


profundamente para a rica bebida, perdido em pensamentos. Por
um segundo, eu o avaliei. Ele usava jeans desbotados, uma jaqueta
de flanela grossa sobre uma camiseta de trabalho da cidade e botas
de trabalho marrons. Suas roupas habituais, pois geralmente
sempre vinha do trabalho. Seu cabelo escuro, com suas notas
secretas de ruivo, estava bagunçado pelo vento depois de um dia
passado ao ar livre. Knox não era o tipo de cara que se importava
com moda ou aparências, e eu gostava disso nele. Ele tinha uma
bela barba que mantinha bem cuidada e que acentuava suas
bochechas redondas.

Imaginando que já havia passado tempo suficiente estudando-o


do lado de fora, deslizei para trás do bar e me servi de um copo
grande de água gelada antes de selar o balcão em frente a ele. Ele
se libertou de seu medo e me deu um sorriso tenso.

— A comida não deve demorar muito.

— Obrigado. — Ele tomou um gole de cerveja, encontrando meu


olhar, então desviou o olhar com a mesma rapidez.

— Como foi o trabalho? — Eu perguntei. Era um dos meus três


principais quebra-gelos para qualquer pessoa que entrasse na
cervejaria e parecia que precisava conversar. Era perguntar sobre
seu trabalho, comentar sobre o tempo ou falar sobre os destaques
recentes no Jasper Times, porque todos liam o jornal de Josiah,
então isso deu à maioria dos residentes um terreno comum. Se meu
cliente fosse um turista, minha pergunta de preferência era de onde
ele era. As pessoas adoravam falar sobre si mesmas, então eu as
deixava falar.

— Ocupado esta semana. O Festival da Feira de Outono é neste


fim de semana, então temos muito trabalho de preparação para
cuidar.

Fiz um gesto para seus dedos recém-esfolados. — Parece que


você estava construindo aquele palco novamente. Estou certo?

Meu comentário me rendeu o primeiro sorriso verdadeiro que vi


em Knox em muito tempo. — Odeio essa porra de palco. — Ele
estudou os nós dos dedos esfolados, balançando a cabeça. — Essa
coisa é uma vadia maior cada vez que temos que colocá-lo.

— Mas onde mais os Fifty-Foursomes tocarão senão no seu


famoso palco? Acho que eles estão ansiosos por uma gravadora,
não é?

— Você está de brincadeira? Com aquelas dez canções


matadoras que eles tocam há duas décadas? Não consigo descobrir
como eles ainda não foram descobertos.

Nós dois rimos, sabendo que os quatro velhos da pequena banda


country, que já tinham passado dos cinquenta anos, não eram nada
mais do que um gostinho da cidade. Eles raramente aprendiam
novas canções e ficavam com os dez ou mais sucessos countries
populares que haviam sido famosos décadas atrás. Eles cantaram
repetidamente. A menos que alguma banda de garagem do colégio
se oferecesse para subir ao palco - o que acontecia de vez em
quando - o Fifty-Foursomes estava lotado para quase todos os
eventos. O pessoal da cidade os amava. Posso nunca ter me
aventurado a um festival para assistir, mas sua música ecoou pelas
ruas da cidade. Era impossível perder, não importava onde você
estivesse.

A tensão que sentia por Knox se dissipou com aqueles poucos


comentários curtos. Embora seu foco estivesse na cerveja, ele
relaxou alguns graus.

— Você já foi ao Festival da Feira de Outono? — Ele perguntou.


— Você é bastante novo na cidade, não é?

— Estou aqui há dois anos. Eu nunca fui. Quase sempre acabo


trabalhando. Essas são noites ocupadas aqui. Está frio lá fora e as
pessoas entram por um litro para se aquecer. Acho que poderia
pedir folga, mas nunca tive um motivo. As gorjetas são boas demais
para deixar passar.

Ele assentiu. — Faz sentido. Dois anos? Realmente?

— Sim.

— Bom, os festivais não são nada espetaculares, ou pelo menos


perderam um pouco do sabor para mim, mas os frequento desde
criança. Você deveria tentar escapar daqui por uma hora pelo
menos na sexta ou sábado à noite e caminhar por aí. É algo que
todo residente deve experimentar pelo menos uma vez.

— Verei o que posso fazer.

Knox se concentrou em sua cerveja enquanto eu me concentrei


nele. Eu queria cavar mais fundo, mas sabia que era melhor agir
com cuidado com Knox. Ele era arisco e tímido. — Você ainda vai
todos os anos?

Ele encolheu os ombros e passou um dedo para cima e para baixo


em sua caneca através da condensação. — Na maioria das vezes. É
algo para fazer. Melhor do que ficar em casa sozinho.

— Certo. Seus amigos não vão com você?

Seus dedos pararam em seu copo, e ele mordeu o lábio antes de


encolher os ombros. — Pessoas mudam. Não penso que faremos
isso mais.

— Oh. — O abismo de silêncio após sua declaração aumentou.


Havia um peso em suas palavras, e eu tive a sensação de que
estava caminhando em algum lugar que ele não queria que eu
fosse.

— Vou verificar seu pedido. Deve estar pronto.

Ele não me reconheceu enquanto eu me afastava.

Tive que esperar mais alguns minutos enquanto Greg servia a


comida de Knox, o que me deu tempo para considerar minha
abordagem. Eu não cavaria, eu não era essa pessoa, mas queria
garantir que Knox entendesse que ele poderia falar comigo sem
risco. Eu não seria aquela pessoa que espalharia seus problemas
por toda a cidade. Não era meu estilo.

Quando voltei para a frente, a cerveja de Knox tinha acabado e ele


estava perdido em pensamentos, olhando pela janela da frente. A
noite caiu e a cidade estava quieta. Não havia muito para ver. Mas
eu não acho que ele estava olhando além de sua mente perturbada.

Pousei a comida e encontrei talheres e ketchup. — Outra


cerveja?

— Obrigado.

Ele olhou para sua comida, carrancudo.

— Está tudo bem?

Ele lançou seu olhar para cima, então de volta para seu
hambúrguer. — Sim. Está bem. — Ele enfiou uma batata frita na
boca e mastigou, mas as rugas profundas nunca deixaram sua
testa.

Com sua nova cerveja na frente dele, procurei em meu cérebro


por outro quebra-gelo ou algo para falar que não disparasse
alarmes. Mas Knox me surpreendeu e me venceu.

— Posso te perguntar uma coisa?

— Certo.

Tirei um novo palito de dente do copo embaixo do balcão e joguei


a tampa de plástico no lixo. Knox observou enquanto eu o enfiava
entre os dentes e mastigava, rolando de um lado para o outro da
boca. Quando nossos olhos se encontraram, ele desviou o olhar,
voltando a se concentrar em seu prato.

— Será que... hum... Easton vem muito mais? Quer dizer, você
sabe, não com os caras, mas com... aquele namorado dele?

— Lachlan?

Knox fez uma careta para o jantar. — Sim, ele.

— De vez em quando. Principalmente para o jantar. Ouvi dizer


que Easton desistiu de beber, mas não sei por quê. Eu não escuto
rumores. Bem, eu tento não fazer. Algumas pessoas gostam de
enfiá-los na garganta até que você engasgue com eles.

Knox não conseguiu resistir ao pequeno sorriso com o meu


comentário, mas não demorou muito. Ele brincou com uma batata
frita. — Easton tem epilepsia. Aparentemente, beber faz com que
os remédios não funcionem direito. — Ele encolheu os ombros. —
Pelo menos é o que ele afirma.

— Isso é válido. Você não acredita nele?

Knox colocou uma batata frita na boca e não respondeu até


engolir. — Não, eu entendo.

— É por isso que o grupo de vocês, que costumava vir o tempo


todo, parou?

Knox comeu mais algumas batatas fritas e eu senti que poderia


ter o magoado. Ele mordeu o hambúrguer, engoliu mais cerveja e
olhou para o prato antes de dizer: — East tem coisas mais
importantes em sua vida agora.

Eu esperei, sentindo que havia mais coisas que ele queria dizer,
mas ainda não tinha encontrado coragem.

Knox mexeu algumas batatas fritas no prato, sem comê-las mais.


Ele suspirou. — Éramos melhores amigos. Desde a escola
primária. — Sua voz tornou-se sombria e distante. — Então
Lachlan apareceu e... — Ele lançou seu olhar para o meu rosto uma
vez antes de desviar o olhar. — Você sabe o que. Isso é estúpido.
Deixa pra lá. Eu vou calar a boca. East já disse que eu parecia uma
criança de nove anos, choramingando porque perdi meu melhor
amigo quando não perdi. Ele disse que não há motivo para não ter
um melhor amigo e um amante, mas... — Knox passou a mão pelo
rosto e olhou para sua refeição como se ela o tivesse insultado
antes de afastá-la. — Mas eu não posso competir com o Sr. Perfeito
Lachlan Montgomery, posso?

Sua declaração final foi um soco. Eu absorvi isso, notando as


ondas de dor rolando de Knox. Esse desgosto estava na superfície
novamente. Havia algo mais naquela amizade que ele não estava
admitindo? Josiah parecia inflexível que Knox era honesto e que
nunca houve nada mais do que amizade entre ele e East. Ainda
assim, eu tinha minhas dúvidas, especialmente porque a raiz de
sua angústia parecia estar centrada em Easton.
— Nunca tive muitos amigos. — Admiti. — Muito menos um
melhor amigo, mas eu posso imaginar que seria chato ser jogado de
lado quando alguém novo aparecesse inesperadamente. East não
quer mais sua companhia?

Knox puxou sua cerveja para mais perto, segurando-a como um


colete salva-vidas. — Nah, ele diz que eu sempre sou bem-vindo
para sair, mas... O maldito do Lachlan está sempre lá, e agora eles
vão se casar, e East quer que eu seja seu padrinho. — Ele bufou
com escárnio. — Fodido padrinho.

— É uma grande honra.

— Realmente? Parece um tapa na cara. — Então ele murmurou


baixo o suficiente que eu não pensei que deveria ouvir, mas eu ouvi.
— Eu não posso competir com Lachlan. Não sei porque tento.

Ele bebeu sua cerveja em alguns goles longos, sua garganta


balançando. Quando ele colocou o copo na mesa, suas
sobrancelhas uniram-se, sua carranca se aprofundou. — Foda-se.
— Ele puxou o prato para frente e começou a comer vorazmente.

Eu o deixei ter um momento, meus pensamentos girando em


torno de uma pergunta que eu tinha certeza que sabia a resposta.
Mesmo se eu perguntasse, imaginei que assustaria Knox e ele iria
embora. Então, depois que ele limpou a maior parte de seu prato,
eu busquei algo um pouco mais aberto.

— O East sabe como você se sente?


Knox limpou a boca em um guardanapo enquanto terminava de
mastigar um bocado. — Eu disse a ele que Lach não era bom o
suficiente para ele, mas ele não se importou. Eu disse que ele
poderia fazer melhor, mas ele disse que não queria melhor. Ele
disse que está feliz, então eu deveria estar feliz por ele, certo?

— Se ele é seu amigo e está dizendo que está feliz, então sim.

Knox ficou imóvel. Seu corpo cedeu. Mais uma vez, ele empurrou
o prato. Desta vez, ele enterrou o rosto nas mãos. — Então por que
não posso estar? Por que essa coisa toda me torce assim? Eu me
sinto um péssimo amigo, mas não consigo estar mais do que
zangado e magoado por isso, e não sei por quê? Eu só o quero de
volta.

Eu congelei, assistindo Knox se afogar em sua angústia. Foi uma


dessas vezes em que pude ler tudo o que uma pessoa não estava
dizendo. Exceto que desta vez, acho que nem mesmo Knox entendia
seus próprios sentimentos.

Devo dizer isso? Ouvir o motivo pelo qual doía tanto o ajudaria ou
pioraria? Porque era flagrantemente óbvio para qualquer pessoa
que estivesse ouvindo essa história que Knox estava completamente
apaixonado por seu melhor amigo. Mas eu tive a sensação de que
Knox estava alheio, ou em uma negação tão severa que ele não
seria capaz de ver a verdade mesmo se ela fosse colocada bem na
sua frente.
— Droga. — Ele baixou as mãos, as bochechas redondas
rosadas. Ele se empurrou de seu banquinho e pescou sua carteira
do bolso de trás com as mãos trêmulas. Ele jogou dinheiro no
balcão e estava prestes a se afastar.

— Knox...

— Esqueça. Eu sou apenas um perdedor patético do caralho.


Olhe para mim. Não é à toa que não importa o que faço. Com quem
estou brincando? Você não precisa me ouvir choramingar a noite
toda. Desculpe, eu joguei isso em você. Eu deveria ter mantido
minha boca fechada. Mais tarde.

Então ele se foi.

De todas as pessoas com quem entrei em contato, de todas as


histórias que ouvi ao longo dos anos, nenhuma delas me afetou
tanto como a de Knox. Essa depressão que eu observava crescer
nos últimos meses. A solidão que ele irradiava. A dor de esmagar a
alma que emanava dele em ondas. Eu entendia sua dor no coração
agora, provavelmente mais do que ele. Uma pequena parte de mim
parecia que tinha falhado como barman. Com o passar dos anos,
tornei-me bom em fazer as pessoas falarem. Eu sabia dançar
delicadamente em torno de tópicos complicados e ler a linguagem
corporal bem o suficiente para entender quando eu estav a
empurrando com muita força ou não com força suficiente.

Com Knox, não fui capaz de descobrir a melhor abordagem antes


de ele escapar pela porta, e isso me incomodou. Eu odiava ver sua
solidão dia após dia enquanto ele se sentava, bebia e pensava em
sua cabeça. Ver seu desgosto, sua tristeza e sua confiança em
declínio me incomodaram mais do que eu imaginava. Eu queria
animá-lo e ver mais daqueles sorrisos que ele raramente
compartilhava com o mundo.

Isso foi estranho. Eu não me conectava emocionalmente com as


pessoas facilmente. Eu era um solitário à minha maneira, e estava
tudo bem com isso. A atração era algo inconstante que geralmente
demorava muito para se desenvolver. Foi por esse motivo que tive
poucos amantes na vida. Era algo que Josiah não conseguia
entender, não importava quantas vezes eu tentasse explicar.

Mas Knox solitário e com o coração partido se enfiou sob minha


pele e estava continuamente puxando aquele pequeno fio dentro do
meu peito que poucas pessoas eram capazes de acessar. Ele
capturou minha atenção meses atrás, e eu queria conhecê-lo
melhor. Ele era diferente de todas as outras pessoas que conheci na
vida, e eu não poderia explicar a necessidade que crescia dentro de
mim que só queria acalmar sua alma torturada. Se ele era hétero
ou gay ou nenhuma das opções acima, não importava. Seu coração
frágil e ferido parecia querer falar. E eu queria desesperadamente
ouvir. Eu queria dar a Knox um local seguro para deixar sair toda a
angústia que ele guardava dentro de si e que o estava devorando
vivo lentamente.

Então eu fiz um plano. Eu estaria pronto para a próxima vez.


Exceto que ele não voltou pelo resto da semana.
Capítulo Cinco

Knox

Estava muito frio. Minha respiração congelava a cada expiração


enquanto eu saltava na ponta dos pés, olhando ao redor do parque
de exposições lotado. A temperatura estava quase congelando agora
que o sol havia se posto, mas ninguém parecia notar.
Provavelmente precisava de mais do que minha flanela forrada, mas
era minha jaqueta favorita, e sempre odiei guardá-la no inverno.

Era sexta-feira, noite de abertura do festival anual da Feira de


Outono de Jasper. A noite mais popular desde que tinha música ao
vivo e passeios pela metade do preço. O sábado era reservado para
os estandes de artesanato, concursos, o desfile e competições bobas
que mudavam de ano para ano. Este ano, eles estavam tendo uma
competição Jasper's Got Talent, da qual todos na cidade estavam
falando desde que anunciaram meses atrás. Pessoas jovens e velhas
planejavam participar. Prometia ser um entretenimento sólido.

Puxei meu gorro de lã para baixo nas orelhas e coloquei as mãos


de volta nos bolsos. A fila de chocolate quente era extensa, ou eu já
estaria esquentando as mãos em uma caneca há muito tempo. Do
jeito que estava, eu era um picolé. A ponta do meu nariz parecia
gelo, e fiquei grato pela barba espessa, que era a única coisa que
mantinha a maior parte do meu rosto quente.
Eu não tinha ideia de por que me incomodei em vir, exceto que
não poderia passar outra noite em casa sozinho. Desde que
choraminguei para Lucky na cervejaria na segunda-feira, eu estava
com vergonha de voltar. Em vez disso, eu me isolei em meu
pequeno apartamento, onde ninguém poderia me ver lamentar.
Quão lamentável eu era? Lucky deve ter dado uma boa risada
depois que eu saí. De qualquer forma, eu não poderia mais mostrar
meu rosto ali. Meu único lugar para escapar e eu o arruinei. Não
admira que as pessoas falassem sobre mim pelas minhas costas.

Então, em vez de ficar sozinho em casa, de mau humor e tendo


uma festa de piedade, decidi vagar pelo parque de diversões.
Minhas irmãs me disseram que viriam, então imaginei que acabaria
encontrando-as. Sair com a família era quase tão triste quanto
estar sozinho, mas eu precisava de contato humano, e elas eram as
únicas pessoas que o ofereciam incondicionalmente. Crescer como o
único menino em uma casa cheia de meninas foi difícil, mas nos
tornamos adultos mais próximos, e eu gostava de passar o tempo
com minhas irmãs malucas. Minha sobrinha e sobrinho, Mya e
Noah, eram uma alegria, e eu nunca rejeitei a chance de estar com
eles.

Olhando ao redor, não pude vê-los em nenhum lugar nas


proximidades, mas todos na cidade tinham aparecido, então seria
necessário procurar se eu quisesse encontrá-los.
Lexi, a mais velha das minhas irmãs, provavelmente estava
alinhada com as crianças em um dos passeios - as xícaras
giratórias, se eu conhecia meu sobrinho. Nova e Zoey, minhas
irmãs mais novas, estavam sem dúvida levantando poeira e
dançando ao som da versão horrenda de ‘Achy Breaky Heart’ que os
Fifty-Foursomes estavam cantando no palco. Seus noivos
provavelmente estavam assistindo e dando boas risadas.

Por falta de algo melhor para fazer, eu me dirigi para a dança,


imaginando que iria caçar minhas irmãs mais novas, já que pelo
menos eu poderia ficar perto de suas contrapartes e não me sentir
como a única pessoa andando sozinho na feira. Darren e Neil eram
caras ótimos e eram bons amigos antes de começarem a namorar
minhas irmãs.

O cheiro de cachorro-quente e comida frita era forte quando


passei por algumas cabines, ziguezagueando pela multidão que se
reunia. Lady Mallory, a médium de nossa cidade, tinha uma tenda
ricamente decorada e estava surpreendentemente movimentada.
Era engraçado quantas pessoas procuravam o conselho de uma
velha maluca que muitas vezes previa desgraça e tristeza. Lady
Mallory era divertida, mas eu não tinha certeza se ela poderia ser
levada a sério. Suas previsões eram selvagens e malucas ou tão
enigmáticas que você não conseguia decifrá-las. Além disso, por que
pagar por uma leitura quando ela vagava pelas ruas de Jasper e
deixava escapar suas projeções para quem quisesse ouvir. Revirei
os olhos e continuei.
Finalmente consegui atravessar o parque de diversões até o palco
que Minnie e eu tínhamos erguido na segunda-feira. Eu ri,
lembrando da placa pirata que tínhamos removido relutantemente
depois de rir dela a maior parte do dia.

Os Fifty-Foursomes ainda cantavam com Billy Ray Cyrus. A pista


de dança, que nada mais era do que um pedaço de chão
empoeirado à frente, estava lotada de gente da cidade, jovens e
velhos, dançando e cantando junto. Era um bom e velho casco
rural, se é que eu já tinha visto um.

Foi difícil não sorrir. Não importava se esta era provavelmente a


terceira vez que a banda tocava essa música hoje à noite ou que
eles a tocavam em todos os festivais nos últimos vinte anos, as
pessoas adoraram.

Meu sorriso desapareceu quando avistei Easton no meio da


multidão. Ele era a definição de um garoto do campo com seu
chapéu, botas e uma jaqueta de couro marrom sobre a camisa
xadrez. Mas foi aquele sorriso caloroso que conquistou o coração de
garotas e garotos desde que éramos adolescentes que roubou o
fôlego dos meus pulmões.

E aquele sorriso estava por todo lado em Lachlan, que parecia


querer estar em qualquer lugar, menos dançando.

Esse cara tinha alguma ideia do que ele tinha?

Por mais que eu não quisesse assistir, não conseguia me


convencer a desviar o olhar. Easton, o cara que alegou que odiava
dançar, estava quebrando o ritmo como o resto, se divertindo,
balançando seu parceiro girando e girando. Lachlan tropeçou em
seus pés quando Easton riu e o puxou contra seu peito, movendo -
se com a batida. Lachlan enterrou o rosto no pescoço de Easton, e a
dupla continuou dançando, indiferente por estarem cercados por
outras pessoas, embora sendo abertamente afetuosos. Sem se
importar que a visão fosse como uma faca no meu peito.

A poucos metros de distância, Percy também saltitava com a


música enquanto enchia o rosto de algodão doce rosa fofo. Seu
sorriso era tão grande quanto o de Easton enquanto ele tentava
copiar seus movimentos. Easton estendeu a mão e chamou Percy
em seu círculo. Os três seguiram em frente com a música.

O espaço em meu coração onde minha amizade com Easton vivia


doía e latejava. Quando decidi que já tinha visto o suficiente,
quando o nó na minha garganta cresceu o suficiente para obstruir
minha capacidade de engolir, me virei para sair apenas para parar
antes de dar de cara com Lucky, que estava diretamente atrás de
mim, carregando duas canecas fumegantes de chocolate.

— Uau. — Lucky riu e cambaleou um passo para trás enquanto


eu engasgava e enterrava minhas botas no chão para não o
derrubar. Estávamos a centímetros de uma colisão.

— Lucky? O que você está fazendo aqui? Achei que você


trabalhasse esta noite.
Ele examinou a multidão, demorando-se um minuto na banda e a
dança antes de voltar seu foco para mim com um sorriso enorme.

— Alguém me disse que eu deveria ir ao festival pelo menos uma


vez enquanto morasse em Jasper, então pedi alguns favores e
consegui tirar a noite de folga. Eu vi você aqui e pensei em me
juntar a você. Você parecia com frio. Chocolate quente?

Lutei para manter o contato visual e olhei para todos os outros


lugares, em vez de seu rosto. Por um lado, o cara me deixou
nervoso. Além disso, ele tinha olhos incomuns, e eu achei rude ficar
olhando para eles. Por mais que eles me fascinassem, eu nunca
quis me demorar e explorá-los por mais de um segundo de cada
vez. Um era marrom e o outro era azul. Nunca tinha visto nada
parecido em minha vida.

Além disso, Lucky sempre foi tão alto? Ele era como um gigante
ao meu lado. Ele tinha pelo menos um metro e oitenta ou mais.
Minha falta de altura nunca foi tão aparente. Eu estava
acostumado a estarmos em diferentes campos de jogos na
cervejaria. Eu sentado; ele atrás do bar. Uma onda de
constrangimento me atingiu. Foi uma combinação do que havia
acontecido na cervejaria na segunda-feira, pontuado por nossa
grande diferença de altura que era mais do que perceptível agora.

— Você quer um desses?

Ele ainda estava segurando o chocolate, me oferecendo um,


parecendo cada vez mais inseguro quanto mais eu não reagia.
— Oh. Um... Sim. Obrigado. — Eu aceitei, mudando meus pés e
piscando meu olhar para ele mais uma vez.

Suas bochechas e as pontas das orelhas estavam rosadas. Ele


não estava usando chapéu. Seu cabelo ruivo-loiro balançava com o
vento, e eu não pude deixar de me concentrar no fio de branco na
frente. Outra coisa que me fascinou em Lucky. Seu sorriso trouxe o
sentido de volta para mim, e mudei para assistir a dança mais uma
vez.

‘Achy Breaky Heart’ foi finalizado, e a banda estava fazendo sua


interpretação de ‘Boot Scootin Boogie’. Outra favorita do público
baseado no volume de gritos e pessoas cantando junto.

Eu trouxe o chocolate quente para a minha boca e Lucky se


inclinou para o meu espaço, sussurrando de forma que sua
respiração soprou em meu ouvido. — Apenas um aviso. Então você
não ficará chocado. Eu coloquei alguns produtos no seu chocolate.

Eu lancei meu olhar para seu rosto sorridente tão perto do meu,
mas ele estava focado na dança. Quando provei minha bebida,
meus olhos se arregalaram. — Isso é Baileys4?

Lucky bateu em seu nariz. — Mum é a palavra certa. — Então


ele tomou um gole de sua própria bebida e lambeu os lábios,
cantarolando.

Eu ri e balancei minha cabeça. — Agradável. Não há queixas


aqui. Costumávamos fazer isso quando éramos adolescentes.

4 Baileys e Mum são marcas de bebida alcoólica.


Esgueirar bebida para a feira. Então nós ficaríamos bem e bêbados
e montaríamos o Zipper. East perdeu o estômago um ano e acabou
vomitando enquanto estava no auge, em cima dessas crianças
abaixo de nós. Todos falaram sobre isso nos seis meses seguintes.
Foi hilário. O pai dele deu a ele uma merda que você não
acreditaria.

Com a menção de Easton, eu não pude deixar de procurar na


multidão de dançarinos por ele e Lachlan novamente. Eles não
estavam lá. Uma sensação de perda e pânico cresceu em meu peito,
e eu balancei minha cabeça para um lado e para outro tentando
encontrá-lo novamente. Não parecia importar o quanto eu me
machucava quando estava perto dele, eu não queria que ele fosse
embora. Apertando os olhos, eu vasculhei a multidão até que o
avistei.

Eles estavam em uma mesa de piquenique ao lado. Easton e


Lachlan estavam sentados lado a lado com Percy no colo de Easton.
Percy estava alimentando os dois com algodão doce. Eles pareciam
felizes. Aqueles dias em que nós dois éramos estúpidos na feira já
haviam passado. Aqueles dias de ter Easton para mim também
foram.

Assim que o peso do desespero desceu, Lucky cutucou meu lado,


me tirando do meu estupor. Eu olhei e o peguei assistindo Easton
também, alguns sulcos profundos marcando sua testa.
Ele se virou para mim, seu sorriso simpático. — Que tal você me
mostrar a cidade?

— Oh. — Voltei meu olhar para o casal feliz e depois para Lucky.

— Vamos. Melhor que o inferno de assistir seu coração se partir.

— O que? — Eu fiz uma careta, confuso. — Espera. Não. Meu


coração não está... Isso não é.

Ele me cutucou com o ombro novamente. — Deixa pra lá.


Vamos. Nunca fiz essa coisa de feira antes. Seja minha escolta?

Eu não tinha certeza do que ele quis dizer sobre desgosto, então
deixei passar. — Certo. — De qualquer forma, era melhor do que
assistir Easton seguir em frente com sua vida. — Onde você quer
começar?

Virei as costas para o casal feliz, examinando o parque de


diversões movimentado, enquanto estava ciente de que Lucky
estava ao meu lado. Ele ficou perto, e eu não pude deixar de notar o
toque de menta que chegou ao meu nariz. Eu teria imaginado que
ele estava roendo um palito de dente não muito tempo atrás. O
homem raramente ficava sem um na boca.

— Que tal fazermos um circuito para que eu possa ver tudo.


Talvez quando esta dose forte de coragem líquida entrar em minha
corrente sanguínea, você também possa me convencer a andar em
algo, mas até então, não tenho certeza.

Eu ri e balancei minha cabeça. — Não é um cara de passeio?


— Passeios de feira me deixam nervoso. Um cara, cujo nome é
provavelmente Vern, os monta em menos de meio dia, e eles
parecem todos frágeis e instáveis. Você sabe que Vern fuma
maconha desde os quatorze anos. Inferno, ele provavelmente cultiva
em seu quintal. Ou uma mini estufa que ele construiu em seu
porão. Eu não confio em Vern. Além disso, a última coisa que quero
é vomitar. Ou vomitar em alguém. Você sabe o que. Vamos evitar os
passeios.

Eu não pude conter minha risada. Lucky se juntou a mim.


Quando recuperei o fôlego, disse: — Então, nada de carrinhos
erguidos por Vern que fuma maconha. Entendi você. Vamos por
aqui. Há outras coisas a fazer.

Caminhamos lado a lado, bebericando nossas bebidas fortificadas


e absorvendo a comoção sem dizer muito. Quando me lembrei da
segunda-feira e da quantidade embaraçosa de vômito de palavras
que joguei em Lucky, quis desaparecer. Para piorar as coisas, ele
me pegou de mau humor por causa de Easton novamente. Eu
estava disposto a apostar que essa sugestão de um passeio de feira
era um meio de me distrair, porque ele sentia pena de mim.

Perfeito. Exatamente o que eu precisava.

Eu empurrei isso de lado e tentei não pensar sobre isso. Se eu


pudesse pelo menos fazer o meu melhor para não ser constrangedor
com Lucky, seria um começo.
Visamos a seção da feira onde vários estandes foram montados
com jogos de feira. Havia arremesso de argolas, tiro, pesca e dardos
- todos os tipos de jogos idiotas em que você pode ganhar prêmios
idiotas como bichos de pelúcia e explodir brinquedos. Nada d e
valor, mas as pessoas despejavam seu dinheiro suado neles, mesmo
assim, por diversão.

Lucky parou de andar em frente ao jogo de tiro, onde observou


alguns adolescentes mirando nos balões numerados na parede. —
Você já experimentou esses jogos? — Ele perguntou.

— Anos atrás. Este não é tão ruim. Meu pai me ensinou a atirar
enquanto eu crescia, então sei como lidar com uma arma. Os
outros jogos fazem minha cabeça girar. Não posso jogar um anel em
torno de uma garrafa para salvar minha vida.

Lucky estendeu seu copo de papel com chocolate quente


enquanto olhava ao redor. — Segure isso para mim? Estou
comprando ingressos para nós.

— Seriamente?

— Eu quero ver você atirar, Sr. Grande Conversa.

Peguei seu chocolate quente enquanto ele se dirigia a uma


bilheteria. Minhas entranhas estremeceram. Por que eu tive que
abrir minha boca grande? Agora eu me faria parecer estúpido se eu
fosse uma droga. Eu não jogava esses jogos há anos. Eu não atirava
com uma arma há anos. Meu pai pensava que eu seria um caçador
como ele, mas descobri que não podia atirar em animais indefesos
para salvar minha vida. A única vez que ele me levou para caçar
quando eu tinha quatorze anos, chorei grandes lágrimas em soluços
porque ele me dizia para atirar no coelho, e eu não queria. Não
apenas perdi o respeito dele, mas também perdi todos os interesses
em armas depois disso.

Lucky se alinhou na bilheteria e olhou para trás, capturando meu


olhar. Ele piscou e esfregou as mãos em antecipação com um
sorriso bobo no rosto que parecia ser só para mim e mais ninguém.
Eu gostei. Combinava com ele. O homem tinha um bom
temperamento. Ele era amigável, gentil e falava comigo como se eu
fosse um ser humano normal e não um rejeitado.

Ao contrário do sorriso de Easton que vincava os lados de sua


boca, o sorriso de Lucky vincou os lados de seus olhos. Foi tão
cativante - senão mais porque acentuou aqueles olhos intrigantes
que eu não conseguia parar de querer olhar. Desta distância, suas
cores únicas eram impossíveis de distinguir. Mesmo assim,
demorei-me um pouco mais em seu rosto do que deveria, estudando
aquele sorriso e absorvendo toda a sua atenção, que parecia estar
reservada apenas para mim.

Outra batida se passou e aquele sorriso mudou de bobo e


brincalhão para algo mais suave. Mais íntimo. O calor líquido
envolveu minha barriga e, em um instante, eu estava suando como
se tivesse caído no Saara. Minha frequência cardíaca disparou.
Eu desviei meu olhar e foquei no chão aos meus pés. Aquilo foi
estranho. Eu não tinha certeza do que fazer com a reação interna
do meu corpo. Ninguém tinha me dado esse tipo de sentimento
estranho antes, exceto Easton. Mas Easton era meu melhor amigo,
e eu o conhecia desde sempre, então isso era normal, não era? O
que quer que tenha me feito reagir daquela forma com Lucky deve
ter sido porque eu estava muito sozinho ultimamente. Isso
explicava. Eu estava sentindo falta da companhia de Easton e de
um melhor amigo. Fazia todo o sentido. Isso me tornou
desesperado? Que patético.

Quando foi a vez de Lucky comprar os ingressos, dei uma olhada


furtiva em suas costas, imaginando sua chegada repentina à feira e
seu desejo de sair comigo. Foi uma espécie de alívio. Ele era uma
boa distração dos meus problemas, e me perguntei se eu poderia
fazer um novo amigo aos 36 anos sem ter Easton como suporte.
Lucky seria um bom amigo.

Eu me livrei de todos aqueles sentimentos questionáveis que me


confundiam quando Lucky voltou com uma série de ingressos na
mão.

Ao meu lado novamente, ele contou um monte, arrancou-os e


entregou-os. — Agora me mostre essa habilidade selvagem.
Cuidado todos, temos Knox aqui, o infame pistoleiro de Jasper.

Eu bufei. — Não exatamente. Eu vou ser péssimo agora, você


sabe. Você não pode me colocar no centro das atenções assim.
— Você não vai estragar tudo. E você merece todos os holofotes.

Eu o encarei por um minuto, mas ele fingiu não notar.

Lucky pegou nossas duas bebidas, liberando minhas mãos para


que eu pudesse jogar. Esfreguei minha nuca e olhei para os
adolescentes que estavam terminando sua vez. Foi uma
configuração fácil e difícil de sair sem um prêmio. Havia uma
parede de balões numerados. Os prêmios correspondiam a quantos
balões você conseguia estourar com seus cinco tiros atribuídos.

A mulher que comandava a cabine acenou para que eu


avançasse. Ela estava vestida como uma pistoleira, como se tivesse
caído em Jasper do Velho Oeste Selvagem. Minhas mãos ficaram
suadas quando entreguei os ingressos e aceitei a arma do jogo.

Claro, não era nada como manusear uma arma de verdade, mas o
conceito era o mesmo, e apliquei todas as lições que meu pai me
ensinou há muito tempo.

Lucky se posicionou ao meu lado, aumentando a pressão para


executar. Eu examinei a parede de balões coloridos, molhando
meus lábios enquanto decidia em qual deles acertar. A maioria das
pessoas atirava ao acaso, mas se eu pretendia ser uma exibição,
precisava de um alvo.

— Qual número? — Eu perguntei, acenando para a tela.

— Dezessete. É da sorte5, como eu.

5 Lucky significa sorte, afortunado...


Trocamos um olhar rápido, mas eu quebrei o contato visual
primeiro quando seu olhar me penetrou, desenterrando aqueles
sentimentos estranhos novamente.

— Tudo certo. Agora ou nunca. Número dezessete. — Apontei


para o balão e me posicionei no balcão.

Mirando, soltei a respiração lentamente, esvaziando meus


pulmões até que estivessem vazios. Então, alinhei e disparei. O
balão explodiu, enviando pedaços de látex roxo para todo lado, e eu
sorri quando a mulher atrás da cabine gritou: — É um sucesso.

— Próximo número?

— Três. — Disse Lucky sem pausa.

Outro golpe sólido e o balão desapareceu em uma explosão de


borracha vermelha dessa vez.

Olhei para Lucky, cujos olhos brilharam enquanto observava a


parede de balões. — Quando é seu aniversário, Knox? — Ele
perguntou.

— Vinte e um de dezembro.

— Então vá para vinte e um o próximo. — Ele apontou.

Mirei e o balão amarelo com o número vinte e um gravado não


existia mais.

Lucky riu e bateu no meu ombro. — Você é bom nisso. Doze


agora.
Doze era um balão azul. Molhei os lábios, olhei para baixo na
longa linha da arma do jogo e puxei o gatilho. O balão azul não
existia mais.

— Quatro acertos. — A mulher anunciou. — Último tiro.

— Vou começar a chamá-lo de Billy the Kid 6.

Eu ri e bati em seu braço. — E agora?

Quando ele não respondeu, olhei para Lucky, que estava me


observando de perto. Nós dois desviamos o olhar ao mesmo tempo,
voltando a nos concentrar nos balões.

— Eu não sei. Você escolhe desta vez.

Eu examinei a parede, refletindo sobre as possibilidades até que


fui atraído por um balão específico. O número treze era verde. Isso
me chamou como um sinal. Eu mirei. — Lucky treze, Lucky. Você
está pronto? — Eu perguntei.

— Faça. — Essas duas palavras saíram ofegantes e em um


sussurro. Elas arrepiaram os cabelos da minha nuca, roubando
minha atenção.

Seu braço roçou meu ombro e, por um minuto, meu coração


pulou na minha garganta. Abaixei a arma, meu aperto deslizando
sob minhas palmas suadas.

— Você está bem?

— Sim. Só preciso me concentrar.

6 William "Billy The Kid" Bonney foi um pistoleiro e ladrão de gado e cavalos norte-americano.
Antes que ele pudesse questionar meu comportamento, afastei os
sentimentos estranhos e mirei novamente. Quando disparei, o
número treze verde não teve chance. Lucky gritou ao meu lado,
batendo no meu ombro, e eu não conseguia parar de sorrir.

— Você é incrível. Puta merda. Você acertou em cada um deles.


Porra! Passa por cima do Wyatt Earp7, temos um novo pistoleiro na
cidade.

Meu peito inchou com seu elogio, e não pude deixar de ficar um
pouco mais alto. Minhas bochechas esquentaram com a atenção
quando a mulher pegou a arma de volta.

— Você pode escolher qualquer coisa da linha superior ali. — Ela


acenou com a mão em direção aos prêmios maiores pendurados ao
longo da borda da cabine.

Eu os examinei e balancei minha cabeça. O que eu queria com


um bicho de pelúcia idiota? — Você é o novato da feira. —Eu disse
a Lucky. — Faça sua escolha. Todo seu.

— Tem certeza? — Sua pergunta foi tranquila enquanto ele


estudava meu rosto. Ele fazia muito isso - olhava para mim como se
estivesse tentando decifrar alguma coisa.

7 Wyatt Berry Stapp Earp é mais conhecido como o temido xerife de fronteira que trabalhou nas cidades

de Wichita e Dodge City (Kansas), e em Tombstone, Arizona, onde sobreviveu ao tiroteio do Curral OK. Faz
parte dos vultos reais que se tornaram lendários pelos seus feitos registrados na História do Velho Oeste
americano.
Eu dei de ombros, olhando para todos os lugares, menos para
aqueles olhos incomuns dele. — Certo. Eu não preciso disso. Foi
divertido jogar.

— OK. — Ele me devolveu minha bebida quente e se virou para


examinar os prêmios. — Aquele. O urso na jaqueta de lã xadrez. —
Disse ele à mulher.

— Este?

— Esse é o único.

A mulher entregou a Lucky seu urso de pelúcia bobo, que ele


enfiou embaixo do braço com aquele sorriso de enrugar os olhos. —
Foi divertido. Eu não tinha ideia de que você poderia atirar assim.
Onde é a próxima?

— Quer continuar fazendo um circuito?

— Certo.

Caminhamos em silêncio, terminando nossas bebidas que


estavam esfriando rapidamente. A forte bebida de Baileys aqueceu
minha barriga e me acalmou. Não foi o suficiente para me
embebedar, mas foi o suficiente para amenizar os sentimentos de
ansiedade que eu tive enquanto saía com Lucky. Sua presença me
deixou agitado e um pouco confuso.

Jogamos nossos copos de papel em uma lata de lixo perto do


passeio Octopus e ficamos parados observando as pessoas sendo
sacudidas por todo o lugar enquanto riam e gritavam.
— Tem certeza que não quer experimentar? — Bati no ombro de
Lucky dessa vez, me sentindo um pouco mais relaxado.

Ele me deu um empurrão no ombro, aquele sorriso suave


voltando ao seu rosto, seus olhos brilhando. — Sem chance. É uma
armadilha mortal. Além disso, nós realmente confiamos em Vern?

— Nós não.

Rimos juntos e seguimos em frente.

Quando chegamos à tenda de Lady Mallory, Lucky parou de


andar, um pouco de travessura brilhando em seu rosto. — Quer
ver sua sorte?

— Você está de brincadeira? Essa senhora é uma charlatã. Você


não pode me dizer que em dois anos você não a viu pela cidade.

— Oh, eu vi. Ela entra na cervejaria de vez em quando,


hostilizando os clientes. Mas é divertido. Eu sei que não é sério.
Vamos. Ainda temos ingressos para gastar, vamos usá-los aqui.

Eu gemi, odiando a ideia de dar à mulher estranha qualquer tipo


de atenção. Ela era uma piada da cidade. As pessoas a toleravam,
mas ninguém levava seus discursos a sério.

Lucky estava animado, então eu o segui, sua energia contagiante.


Havia uma fila do lado de fora de sua barraca, então entregamos
nossos ingressos e esperamos pela nossa vez. Ombro a ombro,
minha mente inevitavelmente vagou para o porquê de Lucky ter
vindo para a feira e por que ele decidiu sair comigo. Minha mente
era boa em invocar todos os tipos de razões.

Eu não podia ignorar como ele era tudo que eu não era. Caras
como ele nunca quiseram ser meus amigos. Ele era alto, forte e
atraente de uma maneira que eu não era. Ele me lembrava Lachlan
e Timothy, exceto pelo cabelo loiro morango e sardas. Ele era um
cara bonito - se é que eu podia dizer isso sobre outro cara - e
provavelmente tinha todos os tipos de garotas desmaiando por ele o
tempo todo. Além disso, aqueles olhos e aquele fio de branco que
cortava à frente de seu cabelo eram memoráveis e fascinantes. Ele
era o tipo de cara que estaria entre a multidão popular no colégio.
Alguém que não teria olhado duas vezes na minha direção.

Ao lado dele, eu me sentia deslocado. Um pedaço de carvão sem


graça ao lado de um diamante brilhante. História da minha vida.
Alargar meus ombros e sugar minha barriga não ajudou. Eu era
muito baixo e atarracado. Eu não tinha rugas de músculos e
centímetros de altura em excesso. Eu também não conseguia fingir,
quantas vezes tentei.

Um grupo de moças em uma barraca próxima ficava espiando em


nossa direção. Elas estavam em seus vinte e poucos anos e eram
bonitas o suficiente para me deixar desconfortável na minha
própria pele, o que era típico. Elas estavam olhando para Lucky ou
rindo de mim. Novamente, típico. Easton sempre me disse que eu
imaginava coisas, mas eu sabia que era alvo de muitas piadas. Eu
sabia que as pessoas sussurravam nas minhas costas e riam da
minha altura lamentável e falta de jeito.

Abaixei minha cabeça, ignorando os olhares das garotas


enquanto estudava meus pés, desejando poder desaparecer. Havia
dias em que me sentia preso no colégio, mesmo quando estava livre
daquela tortura por quase vinte anos.

Quando chegou a nossa vez, Lucky entrou na tenda, entrando


através de uma cortina de contas que se agitava e tilintava como
música. Eu estava planejando ficar do lado de fora, respeitando sua
privacidade, mas ele pegou meu braço e me arrastou atrás dele
enquanto sussurrava em meu ouvido. — Vamos. Talvez se eu não
conseguir entender suas divagações, você será capaz de juntar as
peças para mim. Pelo menos podemos rir disso mais tarde. E eu
terei uma testemunha se ela me transformar em um sapo.

Eu suprimi uma gargalhada.

O interior da tenda era pequeno e mal iluminado. Pedras e tecido


cintilante cintilavam na luz fraca. Uma mesa circular estava no
meio e foi coberta com uma toalha de renda roxa e preta. Lady
Mallory estava sentada do outro lado, luxuosamente vestida com
sedas coloridas e um lenço em volta do cabelo louro -branco. Ela
não estava com seus óculos de armação azul padrão hoje, mas sua
maquiagem era intensa e ousada. O ar cheirava a algo picante.
Vinha das dezenas de velas acesas nas mesinhas que rodeavam a
sala. Tinha toda aquela vibração que você esperaria de uma pseudo
cartomante ou como ela gostasse de ser chamada. Eu sufoquei uma
risada e me afastei do lado da sala enquanto Lucky foi primeiro.

Lady Mallory deu uma olhada em Lucky quando ele se sentou e


murmurou: — Chamas vermelhas, um sinal de coragem e
sensualidade. Um homem forte com opiniões fortes. — Então ela
fechou os olhos e cantarolou, braços estendidos, palmas para
cima.

Lucky olhou em minha direção com uma sobrancelha levantada.


Eu dei a ele meu melhor olhar de ‘isso foi ideia sua’ enquanto eu
recuei, suavizando meu sorriso.

Quando Lady Mallory abriu os olhos, ela acenou para que Lucky
lhe desse a mão. Hesitante, ele estendeu a mão. Ela agarrou com as
suas, alisando os polegares sobre a palma da mão, ainda
cantarolando enquanto estudava a superfície de sua pele pálida. —
Um escuro. Uma luz. Falta um. Um certo. Dois caminhos. Uma
decisão o aguarda em seu futuro. O que você procura, você não
encontrará. Mas você obterá o que precisa no final. Prossiga com
cautela para as sombras se assustarem facilmente. Ele teme a
verdade interior.

Ela soltou a mão de Lucky e dobrou a dela sobre a mesa,


colocando o queixo no peito e fechando os olhos.

Eu bufei. Não pude evitar e coloquei a mão na boca para abafar a


risada que estava prestes a explodir do meu peito.
Foi só isso? Não fazia sentido, pelo menos não para mim. Pela
expressão no rosto de Lucky, ele estava tão confuso. Ele piscou
para ela, esperando por mais, mas ele não iria conseguir. Bem-
vindo ao mundo excêntrico de Lady Mallory, meu amigo.

— Hum... obrigado? Isso foi... esclarecedor. — Lucky se afastou


da mesa, mantendo um olho em Lady Mallory enquanto ele se
aproximava de mim. — Isso não foi esclarecedor, foi... intrigante.
Boa sorte. —Ele sussurrou, dando um tapinha no meu ombro
enquanto eu me dirigia para a mesa para minha vez.

O que ele esperava da charlatã da cidade? Uma previsão real?


Algo que faz sentido?

Sentei-me em frente a Lady Mallory, lançando um olhar cético


para Lucky, que pairava por perto. Sua diversão brilhou em todo o
seu rosto. Com minha sorte, a mulher iria prever algo incrivelmente
embaraçoso, e eu teria que me esconder pelo resto da minha vida.
Essa tinha sido uma ideia terrível.

Assim que me acomodei, Lady Mallory ainda não se mexeu. Seus


ombros subiam e desciam com sua respiração, e quase acreditei
que ela tinha adormecido sentada. Então, o zumbido começou
novamente. Ela balançou para frente e para trás, os olhos fechados
como se ela estivesse em algum tipo de transe, os dedos ainda
entrelaçados na frente dela. Ela era muito bizarra.
Isso continuou por um minuto sólido antes que ela estendesse a
mão. Eu aceitei obedientemente e prendi a respiração, me
preparando para o pior.

Ela abriu os olhos e acariciou minha palma da mesma forma que


fizera com Lucky alguns minutos atrás, olhando profundamente
nas rugas de sua superfície como se procurasse as respostas sob a
minha pele. Foram dez tipos de estúpido, mas eu a deixei fazer suas
coisas.

— Hmm... — Ela balançou a cabeça e franziu a testa. Eu sabia.


Ela ia prever minha morte prematura. Ela ia me dizer que a razão
de eu ter calosidades era porque eu me masturbava demais. Ela iria
deixar escapar algo sobre pênis pequenos, o que seria horrível e
falso, e não me deixaria escolha a não ser provar que ela estava
errada ou desocupar o planeta. Ouvi dizer que Marte era adorável
nesta época do ano. Eu estava fazendo minhas malas e dando
desculpas na minha cabeça quando ela falou.

— Você está sofrendo por dentro. Uma ferida que deixou seu
coração sangrando. Ele não era para você, criança. Outro aguarda
de lado para quando você estiver pronto para tirar o véu de seus
olhos.

Essa mesma onda de calor me atingiu novamente. Minhas veias


inundaram com lava quente líquida. Minhas bochechas queimaram
enquanto eu pisquei para a mulher louca na minha frente. — Que
diabos você está falando? Ele? Ele quem? Eu não... não há ele. O
que você quer dizer com ele...

— Pois é você que está nas sombras. — Ela interrompeu. —


Cegado pela verdade. Uma verdade que nem mesmo seu coração
reconhece. Ainda não. Mas vai acontecer, e logo. Você está
sufocando, pobre criança. Seu coração partido precisa de conserto.
Deixe-o trazer você para a luz. Deixe-o mostrar a você que não há
nada a temer.

— O que você quer dizer? Por que você fica dizendo ele?

Meu coração bateu em um ritmo doloroso contra minhas costelas.


Flashes de Easton cruzaram minha mente. A dor intensa que eu
não conseguia livrar-me sempre que pensava nele seguindo em
frente com sua vida sem mim. Ele era ele? Mas ela fez soar... não.
Isso não fazia sentido. Meu coração não estava partido por causa de
Easton. Isso foi ridículo. Isso significaria...

— A confusão dentro de você vem do medo do que você verá se


olhar bem de perto. É hora de abrir os olhos, pois só as coisas boas
virão quando você retirar as camadas que o cercam. Ouça com
atenção, criança. Quando a tempestade terminar, você encontrará
um arco-íris de luz e, no final, seu pote de ouro o aguarda. A
felicidade que você anseia não se parece com o que você esperava,
mas você o reconhecerá quando chegar a hora. Ele será paciente.

Quem diabos era ele? Que diabos!


— Olha, senhora. Acho que você confundiu meu futuro com
outra pessoa. Havia um monte de ele em torno que teria feito mais
sentido se fosse ela. Quer dizer, eu não quero dizer a você como
fazer seu trabalho, mas isso estava muito errado.

Eu puxei minha mão da dela, a bile agitando meu estômago


enquanto um tremor ansioso me sacudiu até o fundo. Estava
errado? O calor do olhar de Lucky queimou minhas costas.

Eu fiz uma careta e rolei as palavras de Lady Mallory em minha


cabeça repetidamente, tentando ouvi-las de forma diferente. Foi um
total absurdo. Não foi? Besteira. Tinha que ser. De que diabos ela
estava falando? Ele? Eu não era... assim. Meu coração não...
Easton não estava... eu precisava sair de lá.

Lady Mallory piscou para mim algumas vezes. Era enervante e


assustador. Então ela caiu de volta naquele transe estúpido,
deixando cair o queixo no peito, terminando a sessão sem outra
palavra.

— Você e Vern precisam de um hobby diferente.

Empurrei minha cadeira para trás e fiquei de pé com as pernas


trêmulas, perturbado pelas previsões absurdas da mulher estranha.
Porque era isso que elas eram. Absurdas. Exceto, mesmo quando
elas não faziam sentido, elas ondulavam desconfortavelmente sob
minha pele. O significado delas aumentou minha ansiedade por um
motivo que não consegui descobrir. Por que ela fica dizendo 'ele'? E
o que ela quis dizer quando disse que eu não estava vendo a
verdade?

Eu não gostei. Nada disso. A vontade de correr era feroz. A


coceira da ansiedade no meu âmago estava perturbando meu
estômago. Mas o olhar de Lucky na minha nuca me manteve no
lugar. Eu tinha que jogar com calma e descartar essa sessão de
adivinhação como se fosse nada. Porque não foi nada.

Não há nenhum ele que quebrou meu coração. A menos que ela
quisesse dizer Easton, mas isso significava... foda-se. Ela era uma
charlatã e não sabia do que estava falando. Não havia ele.

Peguei o braço de Lucky e o arrastei para fora da tenda o mais


rápido que pude. Eu tinha que jogar isso fora. — Bem, isso foi
estranho. — Eu disse uma vez que estávamos livres da tenda. —
Eu disse que seria idiota. Foi tudo idiota. Apenas um disparate sem
sentido. Completamente idiota. — Eu esfreguei minha nuca, meu
foco pulando em torno da multidão de pessoas que circulavam. —
Eu acho que ela estava queimando algumas flores engraçadas lá.
Você podia sentir o cheiro? Eu poderia. Provavelmente explica as
leituras imprecisas.

Lucky não respondeu. O silêncio entre nós continuou e continuou


até que eu não aguentava mais. Quando olhei para cima, ele estava
me dissecando de uma forma que me deixou aberto e vulnerável.
Eu engoli em seco, mexi os pés e molhei os lábios antes de desviar o
olhar.
— O que? P-por que você está me olhando assim? Não existe ele,
aliás. Ela estava confusa. Eu não sou…

Da minha visão periférica, vi Lucky balançar a cabeça e abaixar o


queixo com um leve sorriso tocando o canto dos lábios. — Nada
disso fez sentido para mim também. A mulher apenas divagou.

— Sim. Foi tudo confuso. — Eu concordei muito rápido e me


arrependi. Eu respirei trêmulo. — Ela é apenas uma artista. Um
ato de circo para os crédulos, certo? Eu não sou ingênuo. Eu não
tenho ideia do que ela estava falando. — Enfiei minhas mãos nos
bolsos e embaralhei novamente. — Você... você sabia do que ela
estava falando?

Uma pausa. — Não. Foi tudo um absurdo.

— Bom.

— Bom. — Lucky suspirou e se mexeu enquanto olhava ao redor.


— E agora?

— Eu não sei.

Continuamos andando, sem rumo, pois não decidimos a direção.


Em pouco tempo, acabamos voltando ao palco onde a banda estava
terminando seu intervalo e tomando seus lugares novamente.

— Estamos de volta ao ponto de partida. — Eu disse. — Espere


por isso. Isso será em volta sabe-se lá o quê de seu único conjunto.
Você está animado?
Lucky deu uma risadinha. — Mal posso esperar. Você é
dançarino, Knox?

Eu bufei. — Não. A última vez que dancei foi... — Eu lancei meu


olhar ao redor da área, mas ele não estava por perto. — Foi no
casamento da irmã de Easton. Há mais de um ano. Uma das damas
de honra era... — Minhas bochechas queimaram e eu embaralhei
meus pés.

— Era o que?

— Ela... Gah, isso é estúpido.

— O que? Ela gostou de você? Ela arrastou você para dançar?

— Sim.

— O que há de errado nisso? Você faz parecer a pior coisa do


mundo.

— Nada. Não foi.

Exceto que foi típico de mim naquela noite. Estranho e


desconfortável. Ela voltou para o meu apartamento comigo depois
que a recepção acabou, e passamos a noite juntos. Nunca mais ouvi
falar dela depois disso. Eu só poderia especular por quê. Em algum
lugar ao longo do caminho, devo ter bagunçado as coisas, dito a
coisa errada ou feito algo estúpido. Talvez eu fosse uma merda na
cama. Talvez uma vez que ela me viu nu - embora eu tenha mantido
as luzes apagadas - ela se arrependeu de tudo. Quem sabia? Eu
havia repassado isso cem vezes sem nenhuma resposta.
Lucky bateu no meu ombro, algo que estava se tornando um
hábito entre nós. — Então. Você ficou com ela?

Dei de ombros, olhando ao redor novamente, procurando por


Easton. Ele me perguntou a mesma coisa na manhã seguinte, e eu
mal fui capaz de olhar nos olhos dele, então menti. Por todas as
vezes que Easton me encorajou a namorar, eu não podia fazer isso
sem sentir que estava fazendo uma injustiça com ele.

Claramente, ele não se sentia da mesma maneira. Foi um mês


após o casamento de sua irmã que ele se encontrou com Lachlan, e
eu era história.

— Por que você está evitando a pergunta? Ela era bonita?

— Sim, ela era bonita. Nós ficamos, mas ela nunca ligou depois,
então, você sabe. Não devo tê-la impressionado.

— Algumas pessoas preferem assim. Uma noite e nada mais.

— Eu acho.

A banda começou a tocar e nós os observamos por um tempo em


silêncio.

— Você tem namorada? — Lucky perguntou depois que uma


música terminou.

Olhei em sua direção, mas ele estava focado em um grupo de


pessoas que estavam dançando.

— Não. Eu... não tenho muita sorte para namorar.

— Não?
Dei de ombros. — Você?

— Não. Não namorando ninguém. As pessoas tendem a evitar


aberrações com olhos estranhos e cabelos ruivos.

Eu vacilei e o prendi com um olhar confuso. — Do que você está


falando? Você é a coisa mais distante de uma aberração.
Realmente?

— Sim.

— Isso não faz sentido. Você é... — Quando percebi que estava
prestes a dizer a outro cara que ele era atraente, mordi minha
língua. Eu provavelmente não deveria notar coisas assim. Só fiz isso
porque tinha o péssimo hábito de me comparar a outros caras o
tempo todo, vendo o que eles tinham e eu não. Não era como se eu
os tivesse verificado só por verificar. Eu não fiz.

— Eu sou o que?

— Hã?

— Você disse: Você é... e então parou.

— Oh. Nada. Simplesmente não faz sentido.

Lucky encolheu os ombros. — Está bem. Eu sou meio seletivo


com quem eu namoro de qualquer maneira. A maioria das pessoas
não me entende.

Eu queria perguntar sem dar a ele a ideia errada. Felizmente,


alguém gritando meu nome no meio da multidão interrompeu
minha ansiedade.
— Knox! Knox!

Olhei ao redor e encontrei minhas irmãs mais novas, Nova e Zoey,


vindo em nossa direção. Nova tinha trinta e um e Zoey vinte e oito.
Muitas pessoas pensavam que eram gêmeas com a forma como
agiam. Elas estavam presas no quadril, o mesmo cabelo cor de
mogno escuro, os mesmos olhos castanhos escuros, a mesma
estrutura alta e magra que herdaram de papai. Eu era o único
MacKenzie que herdara os genes curtos e a constituição mais
robusta de mamãe. Sorte minha.

Nova e Zoey trabalhavam para o Conselho Escolar de Jasper e


ambas estavam prestes a se casar. Seus noivos também eram
melhores amigos. Eu não ficaria surpreso se minhas irmãs
planejassem um casamento conjunto. Eu já tinha ouvido rumores
de que elas queriam engravidar e ter bebês ao mesmo tempo.

— Nós estávamos procurando por você. Não achei que você


estivesse aqui. — Disse Nova. — Então Lexi disse que viu você com
o cara da cervejaria. — Ela sorriu para Lucky. — E aí está você.

— Lucky, minhas irmãs, Nova e Zoey. E ele não é o cara da


cervejaria. O nome dele é... — Eu não tinha ideia de qual era seu
nome verdadeiro, mas presumi que não fosse Lucky. Era isso?

— Chester. Prazer em conhecê-las. Todo mundo me chama de


Lucky. — Ele estendeu a mão e apertou as das minhas irmãs.
Chester? Isso definitivamente não era algo que eu sabia. O desejo
de olhar para ele e decidir se o nome se encaixava era difícil de
resistir.

— O que vocês têm feito? — Zoey perguntou, olhando o urso de


pelúcia de Lucky debaixo do braço. — Jogando, eu vejo.

— Fizemos nossas rondas. — Disse Lucky. — Jogamos alguns


jogos, descobrimos nosso futuro e evitamos passeios como uma
praga por causa de Vern.

— Vern? — Zoey perguntou.

Eu bufei. — Ninguém.

Nova concordou. — Você também não vai me levar nesses


passeios. Darren e Neil estão no Zipper agora. — Ela estremeceu.

— Darren e Neil são os noivos. — Expliquei.

— Passamos por East. — Disse Nova, me estudando com um


pouco de intensidade demais. — Ele estava procurando por você.

— Oh. — Dei de ombros. — Eu o vi. Ele parecia ocupado.

— Ele disse que se topássemos com você para avisá-lo que eles
estariam nas atrações por um tempo.

— Sim. OK.

A tensão encheu o ar. Minhas irmãs sabiam que as coisas


estavam complicadas com Easton ultimamente, mas eu me recusei
a falar sobre isso. Elas não podiam entender a rejeição que eu
sentia. Era um pouco grande e doloroso até mesmo para eu
entender.

Você está sofrendo por dentro. Uma ferida que deixou seu coração
sangrando. Ele não era o cara para você, criança.

Eu sacudi minha cabeça. Eu definitivamente não precisava me


lembrar das bobagens de Lady Mallory agora também.

Um assobio agudo encheu o ar e todos nós olhamos ao redor em


busca de sua fonte. Neil, o noivo de Zoey, acenou com a mão no ar
de um lugar a alguns metros de distância.

— Estamos indo comer alguma coisa. Vocês vêm?

Nova gritou de volta que elas estavam a caminho. — Vocês


querem se juntar a nós?

Eu considerei por dez segundos. — Nah, você continua. Estou


mostrando a Lucky o lugar. É a primeira vez dele na feira.

— OK. Divirta-se. Prazer em conhecê-lo.

Era bobo, mas não tinha vontade de compartilhar a atenção de


Lucky quando era a primeira vez que me divertia em muito tempo.
Tinha sido uma boa noite - apesar da leitura da sorte - e não recebi
muitas. Na verdade, passei horas sem pensar em Easton enquanto
jogávamos e fazíamos turnê. Só depois que Lady Mallory me
despertou é que as coisas ficaram complicadas de novo. Lucky
havia me tirado da minha queda e eu não estava pronto para abrir
mão de uma coisa boa.
Ainda não.

Em vez disso, encontramos um banco vago e observamos as


pessoas dançando enquanto os Fifty-Foursomes tocavam as
mesmas músicas repetidamente pela hora seguinte.

Não conversamos muito, mas o silêncio era confortável. Eu roubei


olhares para Lucky de vez em quando, tentando ver melhor seus
olhos, mas ele me pegava todas as vezes e eu desviava o olhar.

Na terceira vez que aconteceu, ele me agraciou com aquele


mesmo sorriso suave que fez algo estranho nas minhas entranhas.
Meu corpo ficou vermelho com o calor e me mexi no banco,
desconfortável. O pânico fez meu coração palpitar e eu o pisoteei o
mais rápido possível enquanto o medo lambia um caminho pela
minha espinha. O que diabos havia de errado comigo? O cara ia
ficar com a ideia errada se eu continuasse olhando para ele assim.
A confusão dentro de você decorre do medo do que verá se olhar
de perto.

Esfreguei a mão no rosto, minhas entranhas dando um nó cada


vez mais apertado.

Deus, aquela mulher tinha me fodido. Que diabos?

Eu não queria estragar o primeiro novo amigo que fiz em anos


porque não conseguia parar de olhar para ele como um estranho.

Já era o bastante. Eu me concentrei na banda e me recusei a


olhar para qualquer outro lugar pelo resto da noite.
Capítulo Seis

Lucky

Não tirei muito tempo da cervejaria. Além dos domingos de folga,


trabalhava seis dias por semana regularmente, das quatro até a
meia-noite, o que tornava sagradas minhas manhãs e início da
tarde. Era quarta-feira e Josiah deveria vir com mais informações
para ajudar na minha busca sem fim por minha mãe biológica.
Aparentemente, ele fez uma lista de Kimberlys cujos nomes de
solteira eram O'Connor, que nasceu na época certa e morava em
Toronto. Não perguntei o quão extensa era essa lista, porque o
pensamento me enervou.

Mas Josiah estava atrasado.

Teria me incomodado mais se eu não estivesse sonhando


acordado desde que rolei para fora da cama naquela manhã. Por
mais importante que essa tarefa fosse para mim, não conseguia
parar de pensar em Knox.

Eu não o via desde que nos separamos na feira na sexta à noite.


Algo me disse que ele estava me evitando. Ele era um cliente regular
da cervejaria que de repente não era mais tão regular.

Nosso tempo juntos na feira foi ótimo. Eu pensei que Knox estava
saindo de sua concha, e foi bom ver. Ele sorriu e riu e ficou mais e
mais relaxado conforme a noite avançava. Até visitarmos Lady
Mallory. Depois disso, Knox ficou quieto e retraído.

Eu ouvi sua leitura e entendi tudo o que a mulher não estava


dizendo. Eu pensava que Lady Mallory era alguma vidente? Não, de
jeito nenhum. Mas ela não era estúpida, e imaginei que ela
observasse as pessoas na cidade tanto quanto eu. E como a maioria
das pessoas em Jasper, ela estava sem dúvida a par das fofocas
locais. Knox era um livro aberto no que me dizia respeito. Sua
linguagem corporal contava a triste história de um homem que
havia perdido o coração para o melhor amigo há muito tempo sem
saber.

A questão era: Knox entendeu as palavras de Lady Mallory


também? Foi por isso que ele teve um mini surto quando saímos da
tenda?

Depois de nossa visita com a cartomante, eu andei na ponta dos


pés cautelosamente perto dele, sem saber o quão exposto ele se
sentiu após a leitura. Não tenho certeza se ele estava ciente de sua
atração por homens ou não. Com base em sua confusão e nas
poucas exclamações de choque que ele lançou em Lady Mallory,
presumi que não.

Além disso, eu o peguei olhando para mim algumas vezes de uma


maneira que nenhum homem hétero olhava para um cara. Não
achei que Knox tivesse ideia.
Tínhamos ouvido a banda tocar por uma hora perto do final da
noite. O tempo todo, Knox estivera tenso e quieto. Depois, ele
recusou minha oferta de pegar algo para comer. Quando ele alegou
que estava cansado e voltaria para casa, não discuti. Algo o estava
incomodando. Alguma coisa estava girando em sua cabeça e ele não
estava pronto para falar sobre isso. Eu estava bem em deixá-lo
resolver isso sozinho. Ele precisava. Isso não era algo que uma
pessoa deveria forçar.

Knox precisava fazer um exame de consciência. Como Lady


Mallory havia dito, ele precisava remover o véu de seus olhos e
reconhecer quem ele era. Isso não era algo que alguém pudesse - ou
deveria - fazer por ele. Ele tinha que fazer isso sozinho.

O que ele precisava era de um amigo com quem se sentisse


seguro. Alguém em quem ele pudesse se apoiar quando toda essa
realidade o acertasse no rosto. Porque aconteceria um dia. Eu temia
que o golpe saísse do campo esquerdo e o deixasse sem fôlego.

Uma batida rítmica na minha porta me tirou do meu estupor.


Meu café estava frio. O cereal que servi no café da manhã tardio
estava encharcado. A folha de papel com o nome da minha mãe
biológica que eu estava pensando estava exatamente no mesmo
lugar de uma hora atrás, quando me sentei.

— Estou entrando. — Gritou Josiah. — Então, se você está


ocupado... você sabe... coloque roupas.
—Idiota. Onde diabos você estava? — Eu gritei de volta
enquanto me empurrava para longe da mesa e levava meu café frio
e despejei o café da manhã na pia.

Josiah entrou na cozinha enquanto eu estava de costas. — Bem,


eu tive um pouco... hum... foi tudo... De qualquer forma, parece que
o cabeça quente tem um gancho de esquerda perverso e não está
satisfeito com a minha intromissão.

Eu me virei e encontrei meu melhor amigo com um saco de gelo


em sua bochecha direita, seu sorriso brilhando tão brilhante como
sempre fazia, mesmo ele ostentando um olho roxo.

— O que diabos aconteceu com você?

— Shay.

— Shay? — Procurei em minha mente tentando descobrir quem


era. Era familiar, mas nada funcionou. Eu balancei minha cabeça.
Eu não tinha tomado meu café, então não estava acordado o
suficiente para processar.

— Aquele que... — Josiah acenou com a mão. — Você sabe. Em


novembro. Filho da puta louco. Vai fazer aquele Ciclo da Morte.

— Oh, certo. Aquele que está trazendo o Guinness Book of World


Records.

— Sim. O twink não gosta de ser chamado de twink. Ele tem


tudo... — Josiah ergueu o gelo para me mostrar. — Desgraçado.
Quebrou meus óculos.
— Você não precisa desses óculos. Você deveria estar mais
preocupado se ele quebrou sua cara.

Meu comentário me rendeu um sorriso de escárnio. — Eu


gostava daqueles óculos. Eles me fazem… Você sabe como é. Tenho
que ter uma certa aparência para que as pessoas... — Ele
suspirou. — Por que você me incomoda? Eles custam uma fortuna.
Merda.

Divertido, inclinei-me contra o balcão enquanto Josiah cutucava


sua bochecha sensível, estremecendo. — Parece ruim?

Para um homem cuja imagem era importante para ele, parecia


rude. — Pode assustar todos os meninos por agora. Mas talvez eles
gostem desta nova vantagem durona. Faça uma tatuagem, tire o
blazer, talvez fure seu pau. Você estará pronto.

Josiah encostou a palma na virilha, parecendo horrorizado. —


Isso é... Por que você diria isso?

— Coloque o gelo de volta em seu rosto. Vai ajudar no inchaço.


Café?

— Sim. Mas sério, meu pau? Nunca. Eu prefiro... qualquer outra


coisa. E o que há de errado com... — Ele alisou sua mão livre pelo
blazer carmesim.

— Nada. É adorável.

— Melhor com meus óculos.


Encontrei algumas canecas limpas enquanto Josiah se sentava à
mesa, deixando cair sua bolsa de ombro no chão e cavando seu
telefone. Enquanto eu preparava algumas canecas, ele examinou
suas redes sociais com um dos olhos quase inchado.

— Então o que você fez para irritar Shay? Foi o artigo? Isso foi há
mais de uma semana. Você o chamou de twink na cara dele?

— Foi o artigo. Ele estava fora da cidade em... não sei onde... e
então quando ele voltou, eu estava apenas... você sabe... então lá
estava ele, e foi tudo, 'Que porra é essa?' e 'Quem te dá o direito?' e
mesmo quando eu dizia 'tanto faz', ele simplesmente não desistia.
Então eu disse a ele para tirar sua bunda novinha do meu
caminho, e ele ficou com tudo... eu não sei. Eu ri, então ele me deu
um soco. Idiota.

— Você tem um jeito de irritar as pessoas.

— É guerra. Agora eu vou... O que for preciso. O rosto lindo e


brilhante de alguém vai estar em minha primeira página de agora
até novembro. Ele pode apenas... eu não me importo.

Trouxe nossos cafés para a mesa e me juntei a ele. — Por que ele
estava tão chateado? É uma notícia empolgante, não é?

Josiah encolheu os ombros. — Ele estaria fazendo uma grande


revelação em suas redes sociais. Ele queria que fosse tudo... você
sabe. Disse que me precipitei e estraguei tudo.

— Não seria melhor se você trabalhasse com ele nisso? Você


poderia ajudá-lo a aumentar a publicidade. Entrevistá-lo. Cobrir
cada etapa disso. Preparar a cidade e todos os que estão por perto e
se empolgarem. Junte forças em vez de tentar irritá-lo.

Josiah não respondeu. Franzindo o nariz, ele bebeu seu café e


puxou a folha de papel com o nome de Kimberly para mais perto.
Eu deveria saber melhor. Josiah não trabalhava amigavelmente
com ninguém. Pelo que eu sabia, eu era a única pessoa na cidade
que ele não provocou. Muitas vezes me perguntei se ele era capaz
de jogar bem com os outros.

— Você fez uma lista?

— Um pouco. — Ele largou o gelo e enfiou a mão dentro da bolsa.


Ele deslizou um novo papel ao lado do antigo. — O problema é que
não posso ter certeza de que é... você sabe? Poderíamos estar
olhando... há muitas. — Ele balançou sua cabeça. — Eu sinto
muito. Eu fiz o meu melhor.

— Eu sei.

— Comece com estas. Talvez quem sabe. Ela poderia ser uma
delas.

A lista tinha mais de duas dúzias de nomes e números de


telefone. Talvez uma delas fosse minha mãe, mas talvez nenhuma
delas fosse. Eu não tinha certeza de como exatamente abordar
essas mulheres. Ligar para elas e perguntar se elas deram à luz um
bebê prematuro há quarenta e um anos e o entregaram para adoção
parecia intrusivo. Mas era minha vida. Eu imaginei a dor que
sentiria quando cada uma delas me dissesse não. Então tentei
imaginar como reagiria se uma delas dissesse sim.

Não ousei ter esperanças.

Sem nossos cafés e uma direção vaga para minha busca, levantei-
me e fiz um novo saco de gelo para Josiah, já que seu inchaço havia
piorado na última hora, e o dele não era mais do que um saco de
água. Ele aceitou e estremeceu ao pressioná-lo contra o rosto
machucado.

— Eu tive meu futuro lido na feira no fim de semana. — Eu soltei


na sala silenciosa. — Eu sei que é ridículo, mas por alguma razão,
isso ressoou em mim. — Eu não tinha contado a Knox, mas
algumas das coisas que Lady Mallory me disse foram objetivas.

Josiah inclinou a cabeça, a diversão dançando em seus olhos. —


Lady Mallory?

— Sim.

— E?

— Eu sei que o que ela disse provavelmente é um disparate


absoluto, mas não posso deixar de sentir que é um sinal de que eu
não deveria me preocupar com tudo isso. — Eu acenei com a mão
para a lista que Josiah tinha feito para mim.

Ele esperou, o olhar em seus olhos me encorajando a explicar.

Passei os dedos pelo meu cabelo e fiz uma careta. — Bem, a


maior parte do que ela disse não fazia sentido, e eu realmente não
consigo me lembrar de tudo palavra por palavra. Algo sobre dois
caminhos, certo e errado. Eu não sei. Tomar uma decisão. Mas ela
mencionou que eu não encontraria o que estava procurando. Ao
mesmo tempo, ela disse que vou conseguir o que preciso.

Não contei a Josiah sobre as partes que pensei pertencerem a


Knox ou sobre como toda a leitura de Knox era assustadoramente
precisa. Eu tinha me questionado tantas vezes que estava
convencido de que estava projetando meus sentimentos em tudo
que ouvi, e era tudo besteira. Mas não era assim que essas coisas
funcionavam? As mensagens eram intencionalmente enigmáticas
para que você pudesse adaptá-las à sua vida, independentemente
da loucura que fosse dita?

Exceto, como ela sabia que eu estava procurando alguma coisa?


Ninguém sabia da minha busca fora Josiah e meus pais. Eu o
mantive apertado no peito.

O olhar de Josiah tornou-se introspectivo, então ele balançou a


cabeça e riu. — Você sabe que eu acho que ela... — Ele fez um
círculo com o dedo perto da orelha. — Você está lendo
profundamente em uma declaração ampla. Todo mundo está
procurando alguma coisa.

— Sim. Eu sei que é adaptável à pessoa, mas...

— Exatamente. Então você não pode... você sabe. Mas direto ao


ponto. Por que você estava na...? — Ele passou o dedo por cima do
ombro.
— A feira? Nunca fui. Pensei em dar uma olhada. Ouvi dizer que
estava na moda.

Josiah bufou. — Okaaaay. Mas por que você não... — Ele bateu
na tela do telefone. — Eu teria ido com você. É uma fossa para
fofocas ricas.

— Talvez eu estivesse procurando um tipo diferente de


companhia.

Isso chamou sua atenção. Ele colocou sua bolsa de gelo para
baixo e se endireitou com aquela peculiaridade reveladora em seu
lábio que estava meio arruinada por seu rosto machucado. Eu
praticamente podia ver sua mente correndo. — Você não pode
simplesmente... — Ele acenou com a mão entre nós. — Assim e
não me dizer nada.

— Você ganha a vida espalhando os segredos de todos na


primeira página do jornal. Por que eu te contaria alguma coisa?

— Vamos. Eu não... eu não faria isso com você.

— Não é comigo que estou preocupado. — Quanto mais eu


considerava, menos eu queria dizer a ele. — Não. Definitivamente
não. Além disso, agora não é nada. Pode nunca ser nada. Você sabe
como eu sou. — E era melhor colocar o peso sobre meus ombros
em vez de sobre o pobre Knox, que ainda não sabia quem era.

Josiah mordeu o lábio. Eu sabia que isso o estava deixando


louco. — Eu juro que vou mantê-lo quieto. Eu sei como... — Ele
fez um movimento de zíper em seus lábios. — Quando eu quero.
— Ainda não. Me dê tempo.

Ele apertou os olhos e estudou meu rosto, e eu sabia que ele


estava dissecando todas as pessoas que eu encontrei em um
determinado dia, decidindo se alguém se destacava. Prendi a
respiração porque tínhamos conversado recentemente sobre Knox e
a possibilidade de ele balançar para os dois lados. Não foi um
esforço para...

Os olhos de Josiah se transformaram em pires e ele estremeceu


quando a ação o machucou, mas não o impediu de balançar o dedo
na minha cara. — De jeito nenhum.

Fiquei perfeitamente imóvel, esperando para ver se ele adivinhou,


mas tive a sensação de que meu disfarce foi descoberto.

— Mas ele... não tem como. Knox? Você está falando sério?

Suspirei. — Eu não acho que ele mesmo saiba disso.

— Eu disse a você, ele não é.

— Você está errado. Eu sei que é difícil de acreditar, mas você


está.

— O que você quer dizer?

Suspirei e examinei minha cozinha, sem saber como proceder. Eu


não tinha outros amigos, mas essa coisa de Knox estava me
consumindo desde sexta-feira.

— Ok, jure para mim que isso não sai desta mesa. Estou falando
sério, Josiah. Estou dizendo isso em segredo porque você é meu
amigo. Se eu descobrir que você levou isso para qualquer lugar,
nunca mais falarei com você. Eu não dou uma segunda chance.

Um flash de dor cruzou seu rosto, mas ele assentiu. — Nenhuma


palavra. — Ele estendeu o punho para bater - o meio de Josiah de
fechar um acordo.

Nós batemos e ele estudou meu rosto. — Você gosta dele. — Não
foi uma pergunta.

— Eu gosto. Na qualidade de amigos no momento. Ele é quieto,


tímido, constrangido e reservado. Ele não é um bastardo arrogante
como você.

O sorriso de Josiah floresceu quando ele abriu as mãos. — O que


você pode fazer?

— Acho que ele é muito duro consigo mesmo.

— Mas como você sabe que ele... — as sobrancelhas de Josiah se


ergueram e ele inclinou a cabeça, permitindo que o gesto encerrasse
a frase.

— Eu posso ver isso. Eu posso ler nas entrelinhas. A maneira


como ele fala sobre Easton. A dor que ele projeta e o abandono que
sente. Ele o ama, mas não acho que ele tenha a menor ideia. Então,
na feira, eu o peguei me observando.

— Dessa forma??

— Sim. Novamente, ele não pareceu perceber. Ou não


completamente. Acho que Lady Mallory deu uma alusão a isso com
bastante força durante sua leitura, era difícil não perceber. Knox
pode ter percebido. Isso o assustou. Ele ficou distante depois disso.
Perdido em sua cabeça.

— Uau. Isso é... eu nem sei. Quando você pensa que alguém tem
um jeito e eles são todos... fica difícil entender. Cristo... uau. Knox?

— Você não pode dizer nada.

— Eu não vou.

— Estou confiando em você.

Josiah riu. — Pare. Eu já te disse…

— OK.

Mas Josiah não tinha acabado de cavar. Ele me examinou da


maneira que gostava de fazer quando estava tentando me entender.
Minha sexualidade o confundia. Josiah era uma criatura sexual.
Ele procurava homens na cidade, usava para seu próprio ganho, se
divertia com isso, saía raramente, fodia muito, mas era feliz. Eu não
era nenhuma dessas coisas.

— Então ele acordou o... — Ele agitou os dedos sobre o peito. —


Aqui, não é? Você quer dar para Knox agora? Merda. Isso é... eu
não sei. — Josiah pensou sobre isso por um minuto e fez uma
careta, enviando minhas defesas ao limite. — Ele não é
exatamente...

— Vou sugerir que você cale a boca antes de ter dois olhos roxos.
Josiah ergueu as mãos em uma oferta de paz, seu sorriso nunca
vacilou. — Calando a boca. Mas, eu pensei que era difícil gostar...
eu não sei... desarmar seu interruptor. Acelerar seu motor. Mexer
na sua fenda, sabe?

— Mexer meu o quê? Não estou dizendo que estou “acelerado”.


Eu não tenho nenhuma vontade de jogá-lo na cama e transar com
ele. Eu disse a você, eu gosto dele na qualidade de amigo agora. Eu
não sou você.

Josiah ergueu um dedo. — Ninguém é eu. Eu sou único, querido.


Mas, para que conste, Knox nunca esteve na minha lista de
heterossexuais. E há muitos homens heterossexuais que eu
gostaria de me inclinar e... você sabe. Ele é apenas...

— Você está falando ou eu estou?

Josiah apertou os lábios novamente com aquela expressão


presunçosa e acenou para que eu continuasse, sem se preocupar
em suprimir o rolar de olhos, o que o fez estremecer novamente. Eu
esperava que doesse.

— Eu quero conhecê-lo. Quero saber quem ele é e o que o move.


Há uma conexão aí. Acho que vai para os dois lados, mas ele está
longe de perceber. Além disso, ele desligou o Easton agora. Sei que
é um conceito difícil para você, mas não costumo ficar com tesão só
por colocar os olhos em um pedaço de bunda quente. Eu me
apaixono pela mente e pelo coração de uma pessoa. Eu nem me
importo se eles têm um pau ou não. As aparências significam pouco
para mim, mas, dito isso, Knox é muito atraente à sua maneira.
Nem todo mundo é fã de academia com abdominais duros como
pedra. Você é mais fútil e superficial quando se trata de homens, e
não tente negar.

— Seus socos verbais doem tanto quanto... — Ele acenou com a


mão em seu rosto ferido.

— Besteira. Ninguém tem a pele mais grossa do que você. Eu


poderia insultá-lo o dia todo, e você riria disso.

E se eu pensei por um segundo que tinha machucado o ego do


pobre Josiah, sua risada relaxada me garantiu que não. Josiah não
tinha problemas com quem ele era e o que gostava quando se
tratava de homens. Nos dois anos que o conheço, ele namorou
minimamente, preferindo suas viagens frequentes à cidade, onde
me informou que havia homens que sabiam o que ele precisava e
deram a ele sem questionar. Eu também não ficaria surpreso se ele
usasse sua boa aparência e olhos ‘venha me foder’ para obter
informações quando lhe convinha. Na verdade, eu sabia que sim. A
prova estava bem ali na mesa.

— Então qual é o plano? Você vai... você sabe.

— Dizer a ele? De jeito nenhum. Além disso, ele está me


evitando. Eu acho que, se ele está começando a perceber coisas
sobre si mesmo, ele provavelmente está um pouco assustado agora.

— Isso explica por que ele fica todo, você sabe, quando Easton
namora. Agora o cara vai se casar. Knox deve estar todo... Merda,
isso é uma merda. Não admira que eles estejam... — Josiah cerrou
os punhos.

— Eu não sabia que eles não estavam se dando bem.

— Porque você não me deixou falar outro dia. Eu estava tudo... e


você me fechou.

— Porque às vezes você é tão ruim quanto Anka.

Josiah dispensou meu comentário antes de verificar seu telefone.


Nossa conversa terminou aí, quando algo no Instagram de Josiah
roubou seu foco. Aquele brilho pesado familiar encheu seus olhos, e
eu sabia que ele não ouviria nada do que eu dissesse se eu falasse.

Peguei nossas canecas vazias e verifiquei a hora. Eu tinha que me


preparar para o trabalho. Reunindo a lista de números que Josiah
havia me dado, suspirei. Talvez eu começasse a fazer ligações neste
fim de semana.

Ou talvez não.

Eu finalmente tinha uma liderança forte e não tinha certeza se


tinha coragem de seguir em frente.
Capítulo Sete

Knox

A semana seguinte à feira foi tão movimentada quanto à semana


anterior a ela. Minnie e eu tivemos que desconstruir o palco, limpar
o parque, colocar as latas de lixo excedentes e as cabines alugadas
de volta no armazenamento, tudo isso enquanto realizávamos
outras tarefas regulares na cidade. Éramos parte de uma equipe de
oito pessoas, mas raramente havia um dia em que não nos
esbarrássemos.

Eu estava grato por estarmos ocupados, na maior parte do tempo,


porque isso impedia minha mente de vagar por lugares que não
deveria. Desde sexta-feira à noite na feira, eu estive no limite do
pânico enquanto fugia das pequenas percepções em minha cabeça o
mais rápido que podia. As noites eram as piores porque eu não
conseguia desligar esses pensamentos, e eles me alcançavam,
deixando-me inquieto e totalmente acordado em pânico suado até o
amanhecer.

Levou uma semana, mas descobri uma explicação plausível para


tudo.

Talvez.

Possivelmente.
Mudava a cada hora.

Na quinta, eu estava derrotado. A falta de sono, juntamente com


dias longos, significava que eu estava arrastando os pés quando
paramos a caminhonete no estacionamento atrás da prefeitura no
final do dia.

A última coisa que eu precisava era um confronto com Easton,


mas lá estava ele, encostado na minha caminhonete, os braços
cruzados sobre o peito, olhando por baixo de seu Stetson. Ele me
ligou a semana toda e eu o evitei. Ele deixou uma dúzia de
mensagens, mas eu me recusei a ligar de volta.

Pela expressão em seu rosto, ele não estava muito feliz comigo.

— Este é East? — Minnie perguntou, erguendo os olhos do livro


de registro que estava preenchendo.

— Sim.

— Quer que eu marque o ponto para você?

— Nah, eu vou cuidar disso. Isso não vai demorar. Obrigado. —


Era melhor eu ter uma desculpa para manter nossa conversa curta.
Minhas entranhas já estavam torcendo o suficiente para eu querer
vomitar.

Minnie me olhou e deu de ombros, enfiando o livro de registro no


porta-luvas antes de pular para fora. — Te vejo amanhã. Mais um
dia e teremos um fim de semana.
Acenei quando saí da caminhonete e tranquei com o chaveiro.
Minnie entrou e esperei até que ela saísse antes de me aproximar
de Easton. Com um longo suspiro, retomei minha decisão e cruzei o
estacionamento em direção a ele. Ele não estava sorrindo hoje, e eu
possuía cada centímetro da raiva flutuando dele em ondas.

Parei a alguns metros de distância e cavei minhas mãos mais


fundo nos bolsos do meu casaco, meus ombros subindo até minhas
orelhas enquanto eu estudava o asfalto em vez dos olhos duros de
âmbar de Easton.

— Por que diabos você não está respondendo às minhas


ligações?

Minha garganta travou e meu peito apertou. O sangue pulsando


em minhas veias aqueceu e formigou.

Era verdade. Era tudo verdade.

Estar na presença de Easton trouxe à tona todos aqueles


sentimentos e emoções que eu nunca tinha entendido ou sido capaz
de identificar. Doeu no fundo do meu peito. Machucou. A solidão
com a qual tenho lidado por mais de um ano se ampliou. A tristeza
aumentou.

Não era possível, mas o que mais poderia ser?

Lady Mallory disse que meu coração estava sangrando. E sua


descrição era precisa. Mas se meu coração estava sangrando ou
quebrado, então isso significava...
Ela estava errada. Mesmo que eu o amasse, era estritamente
como amigo. Estávamos perto. Éramos melhores amigos há anos e
anos. Só fazia sentido que meus sentimentos fossem profundos,
certo? Isso era normal.

— Knox? O que diabos está acontecendo com você?

Seu tom mais suave chamou minha atenção, e eu arrisquei um


olhar rápido para meu melhor amigo, precisando ver ou entender
essas emoções confusas. Rotula-las pelo que eram. E foi um soco
no estômago. A sensação de perda foi profunda. O vazio era
absoluto. O anseio...

Nós somos apenas amigos!

Minha respiração ficou presa em meus pulmões e dei um passo


para trás, tonto e confuso e mais consciente do que jamais estive
em minha vida.

Apenas Amigos. Bons amigos. Amigos próximos. Isso foi tudo. Era
cem por cento normal.

— Ei. — Ele tocou meu braço. — Você está bem?

Em pânico, encolhi os ombros, dando mais um passo para trás.


— Só não estou me sentindo tão bem. Posso ter comido algo ruim.
Tipo... sushi. Você pode ficar doente com sushi, ouvi dizer. É cru e
cheio de bactérias que às vezes deixam uma pessoa doente. Como
talvez agora. Sim. Não estou me sentindo muito bem.

— Onde diabos você está comendo sushi em Jasper?


— Oh... hum... na... padaria? — Eu me encolhi. — Sabe,
pensando bem, talvez foram os biscoitos de Nally. Eu comi um
pouco demais. Provavelmente é isso. Muitos biscoitos. Eu deveria
saber melhor.

— Você está pálido. Você quer se sentar?

— Nah. Estou bem. Foram os biscoitos... depois do sushi. Hum…


também tenho estado ocupado. Você sabe, correndo por aí.
Trabalhando. Você não deve correr atrás de tantos biscoitos e
peixes crus. Isso é o que eles dizem. Além disso, a feira acabou de
terminar. Você sabe como é. Ocupado, ocupado. Correndo,
correndo. E você sabe como eu sou com os exercícios físicos. Não
combinam comigo. — Eu esfreguei a mão na minha nuca. — De
qualquer forma, eu não estava evitando você. — Eu apertei minha
mandíbula, percebendo que estava divagando algo horrível.

Easton franziu a testa.

Eu não conseguia afastar o desejo desesperado de apagar a raiva,


a mágoa e a tristeza que causei a Easton sem saber. Isso foi minha
culpa. Éramos amigos e acidentalmente comecei a sentir muito por
ele, e outras pessoas notaram e pensaram que era algo mais. Eles
fizeram disso uma coisa. Não era uma coisa. Foi um acidente. Eu
esperava que Easton não achasse que era uma coisa também.

— Sinto muito. — Eu soltei, sem saber o que mais dizer.

— Eu estava ligando porque vamos dar uma festa de despedida


de solteiro amanhã à noite na cervejaria. Apenas alguns caras. Eu
preciso do meu padrinho lá, mas é como se você não quisesse mais
falar comigo. Knox, não sei como consertar as coisas conosco. Eu
gostaria de entender por que você estava tão bravo.

Uma despedida de solteiro. Padrinho. A cervejaria.

Esfreguei meu rosto, fazendo tudo o que pude para lavar a


turbulência que fui incapaz de me livrar por uma semana. Como eu
poderia colocar isso em palavras se eu mesmo não entendia
totalmente? Como eu poderia admitir tal absurdo para meu melhor
amigo? Ele me olharia como se eu tivesse seis cabeças. Inferno, ele
podia estar bravo que eu nunca disse a ele antes. Mas eu não sabia.
Eu não sabia que havia cultivado esses sentimentos confusos.
Agora que entendi, poderia nos colocar de volta nos trilhos. Foi tudo
um engano.

Eu sacudi minha cabeça, fazendo tudo que podia para me


desligar dessas realidades aterrorizantes.

— Knox? Você está me enlouquecendo. Vem cá. Sente-se por um


segundo.

Eu o deixei me arrastar para a minha caminhonete, onde nos


sentamos lado a lado na porta traseira. Meu peito estava apertado e
precisei de todo o meu foco para arrastar o ar para dentro e para
fora dos meus pulmões.

— Eu vi você na feira na sexta. — Eu disse. — Dançando com


Lachlan.

— Você estava lá?


— Sim.

— Por que você não veio dizer oi?

Eu pressionei meus lábios, apertando minhas mãos em punhos.


Em vez de responder, eu disse: — Vocês dois ficam bem juntos.
Felizes.

Houve uma pausa antes de Easton dizer: — Estamos felizes. Eu


simplesmente não consigo entender por que meu melhor amigo não
pode estar feliz por mim.

Eu encarei minhas mãos, inquieto e tomando uma decisão. —


Você o ama?

— Com todo meu coração.

— Isso é bom. Ele trata você bem?

— Como um príncipe. — Easton riu e bateu no meu braço. — É


aqui que você me provoca?

Forcei uma risada, minhas mãos úmidas. — Estou feliz por você,
East.

— Você está?

Eu balancei a cabeça, mas Easton se virou para me encarar. O


calor de seu olhar queimou. Não consegui encontrar os olhos dele.
— Ei. — Ele disse, me cutucando. — Eu espero que você saiba, se
você precisar conversar, estou aqui para você. Não importa o que.

Eu lancei meu olhar para ele. — O... o que você quer dizer?
— Quer dizer, sempre seremos amigos e você pode me dizer
qualquer coisa.

Eu balancei a cabeça evasivamente e olhei para o chão. — Então.


Amanhã na cervejaria?

— Sim. É de última hora agora, mas eu liguei para você a


semana toda.

— Eu estarei lá. Sinto muito ter sido um idiota. Eu vou... ficar


melhor.

Uma longa pausa de silêncio se estendeu entre nós. Não


conseguia tirar os olhos do chão. Meu cadarço esquerdo estava
desamarrado e olhei para o padrão que ele fazia na terra.

— Você odeia Lachlan?

— Não.

— Ele quer conhecer você.

— OK. Vou tentar.

— Obrigado. Vamos nos encontrar às seis amanhã à noite. Tenho


uma mesa reservada. O irmão de Lach está pagando a conta para
todos, então traga você mesmo.

— Certo. — Eu esfreguei minha bota no chão e olhei para a porta


dos fundos da prefeitura. — Eu provavelmente deveria ir. Tenho
que bater o relógio e colocar essas chaves dentro.

— OK.
Outra longa pausa, então Easton se levantou e bateu no meu
ombro antes de ir para sua caminhonete. Ele foi embora, deixando-
me sozinho no estacionamento.

Movi meus lábios ao redor das palavras que eu não poderia dizer,
provando-as, testando-as.

Com o suor frio do pânico subindo e descendo pela minha


espinha, sussurrei: — Acho que aquela vidente idiota estava certa,
East. Em algum lugar ao longo do caminho, meus sentimentos por
você ficaram muito grandes. Eu não quis isso. Eu resolverei isso.
Eu gostaria de poder contar para que você pudesse me ajudar, mas
estou envergonhado. Eu vou parar de incomodar você. Eu prometo.
Talvez eu te ame, mas sei que não estou apaixonado por você
porque não sou assim. Eu sinto muito. Eu estava confuso, mas
agora não estou.

Eu me agachei no meio do estacionamento e pressionei minhas


mãos nos olhos enquanto meu corpo inteiro tremia. Como minha
mente pode fazer algo assim comigo?

Eu não sabia o que fazer com essa bagunça dentro de mim, mas
sabia que era hora de limpar minha cabeça e seguir em frente. Eu
estava cansado de descontar em Easton e Lachlan. Meu melhor
amigo já havia sofrido o suficiente com minha atitude. Mesmo se ele
fosse solteiro, não havia nenhuma maneira na terra de eu agir de
acordo com esses sentimentos porque eu não sou gay. Não era
assim. Esses sentimentos foram um acaso. Um acidente. Uma coisa
única. Eu iria passar por eles, celebrar a felicidade de Easton e
nunca, nunca me deixar ficar confuso assim novamente.

Sim, essa foi a resposta.

Tive outra noite sem dormir na quinta-feira. Eu não estava


apenas lidando com essa recente descoberta em torno de Easton,
mas concordei em ir à cervejaria para sua coisa de solteiro, o que
significava ver Lucky novamente. Eu tinha saído do meu caminho
para evitá-lo durante toda a semana. Ele testemunhou minha
sessão com Lady Mallory. Ele tinha ouvido tudo da mesma maneira
que eu? Que conclusões ele tirou da leitura dela?

Eu não sabia nada sobre Lucky, além do fato de que tin ha


gostado de sua companhia na feira. Ele tinha todo o potencial para
ser um amigo incrível, e eu precisava de um agora mais do que
qualquer coisa. Mas eu temia que ele pudesse pensar que eu era
gay ou algo assim depois de ouvir aquela mulher maluca falar. Ele
estava me julgando agora? Eu não queria que ninguém pensasse
algo que não era verdade.

Depois do trabalho na sexta-feira, passei muito tempo


examinando meu guarda-roupa, decidindo o que vestir. Easton não
era um tipo de cara formal, então presumi que fosse um caso
descontraído, apesar de Lachlan ser seu oposto. Escolhi uma
camisa jeans e usei aberta sobre uma camiseta branca. Os jeans
que escolhi eram os que eu tinha sem buracos ou tinta. Cortei a
barba, coloquei um pouco de creme no cabelo e fiquei frustrado
quando ele se recusou a cooperar. Quando me considerei pronto,
olhei para meu reflexo no espelho.

Minhas bochechas eram redondas, mas a barba ajudava a cobri-


las um pouco. Gostei da sensação e passei meus dedos por ela por
um minuto. Quando a raspei, não pude deixar de notar o peso extra
no meu rosto, então a usei grande por anos. Eu não era obeso, mas
era mais carnudo do que gostaria, o que só era enfatizado pela
minha escassa altura.

Eu fiz uma careta, sugando meu estômago e estufando meu peito


enquanto posava por um segundo, me considerando em todos os
ângulos. Pelo menos meus braços estavam tonificados. Era a única
parte do meu corpo que mostrava qualquer definição muscular.
Provavelmente eram meu recurso favorito. Anos de trabalho pesado
e trabalhoso na comunidade ajudaram a mantê-los sólidos. Mas foi
só isso. Foi aí que minha lista de atributos positivos terminou.

Eu murchei e franzi a testa para a minha aparência. Eu odiava


noites como esta em que tinha que sentar-me com pessoas que
eram muito mais bonitas do que eu. História da minha vida. Depois
de todos esses anos, eu deveria estar acostumado a ser o patinho
feio da esquina. As meninas raramente olhavam para mim duas
vezes, e a única razão pela qual eu tinha qualquer posição no
ensino médio era porque eu era o melhor amigo de Easton. Mesmo
se eu gostasse de caras, não haveria nenhuma maneira de competir
com caras como Lachlan.
Peguei minhas chaves e carteira, encontrei uma jaqueta, já que
estava abaixo de zero, e saí. Meu apartamento ficav a em cima de
uma pequena livraria usada por um ucraniano chamado Oleksiy
Gonch - uma coisa ou outra que não conseguia pronunciar. Ele era
o dono do prédio e estava alugando o espaço para mim desde que
saí de casa quando tinha 21 anos. Era um curto passeio pela
estrada para a cervejaria, então planejei caminhar. Se a noite fosse
como eu esperava, eu não seria capaz de dirigir para casa de
qualquer maneira.

Saí pela porta dos fundos e atravessei o pequeno beco entre os


prédios até chegar à estrada principal. Eu não estava nem meio
metro descendo a rua quando o Sr. G colocou a cabeça para fora da
porta da frente de sua loja, seus óculos de armação dourada
escorregando pela ponta do nariz. — É você, Knox? — Seu sotaque
era forte, embora ele afirmasse estar no país há mais de quarenta
anos.

— Ei, Sr. G. Como vai?

— Um rapaz forte poderia me ajudar com algumas caixas. Você


está ocupado?

Seu cabelo grisalho estava ralo no topo, mas suas sobrancelhas


grossas e os tufos crescendo em suas orelhas compensavam. Ele
era um homem magro que preferia casacos de lã e calças cinza. Eu
nunca o tinha visto em nada além disso. Com o passar dos anos,
seu arquear das costas havia se tornado mais pronunciado e ele se
arrastava ao caminhar.

— Eu tenho alguns minutos. — Eu o segui para dentro de sua


loja.

O ar na livraria de usados estava viciado e bolorento. Tinha


aquele cheiro revelador de livro antigo que costumava fazer meu
nariz enrugar quando criança. Minha mãe adorava aquele cheiro, e
eu a vi enfiar o nariz entre as páginas empoeiradas dos velhos livros
grossos ao longo dos anos, quando me arrastava para cá nos fins de
semana quando eu era criança. Eu não era muito leitor, mas fingi
para o Sr. G porque o simples pensamento de uma pessoa que não
lia o deixava horrorizado.

Estava atravancado por dentro, com prateleiras altas que


chegavam ao teto, todas transbordando de livros. As fileiras eram
compactas e sempre cobertas por um pouco de poeira. Toda e
qualquer superfície, incluindo o balcão na frente, tinha pilhas de
livros com dez e vinte de altura, suas lombadas alinhadas para que
o Sr. G pudesse consultá-las em um flash e encontrar qualquer
coisa que uma pessoa estivesse procurando.

O Sr. G me levou através do labirinto de prateleiras para a sala


dos fundos, onde ele tinha pilhas e mais pilhas de caixas contra as
paredes e mais prateleiras cheias de livros que ele não conseguia
encontrar espaço para exibir na sala principal.
— Por aqui. Essas. — Ele cutucou algumas caixas. — Você pode
colocá-las na mesa para mim? Minhas costas não gostam de dobrar
tanto e tenho que passar por elas. Ganhei esse lote em um leilão na
semana passada. A velha ficou feliz em entregá-los, mas eu não
tinha outro lugar para colocá-los na hora e disse a ela para colocá-
los lá. No chão. Tolo da minha parte. Voltei aqui esta manhã porque
estava tranquilo, veja, e maldição se eu pudesse levantar esses
insetos.

— Sem problemas. Apenas em cima da mesa?

— Se você puder. Sabe, posso ter alguns que sua mãe gostaria.
Tem mais daqueles que ela gosta. Os ardentes com bonitões nas
capas. Você conhece esses?

— Sim, ela gosta dessa porcaria de obscenidades.

O Sr. G deu uma risadinha. — Agora, não seja assim. Existem


livros para todos.

Eu levantei as quatro caixas onde ele queria, alinhando-as para


que ele pudesse pegar cada uma sem problemas. Elas pesavam
uma tonelada, então eu entendi sua situação.

— Você é um bom rapaz. Se você me der um minuto, posso


desenterrar aqueles para sua mãe. Eu sei que eles estão aqui.

— Está bem. Que tal você colocá-los de lado. Posso pegá-los


outro dia para ela. Sem pressa.
— Ah ok. Isso funciona. Com pressa, não é? — Com as mãos
nos quadris, ele estreitou os olhos para as caixas como se as
separasse antes mesmo de abri-las. —Saiu arrumado para a noite.
Você tem um encontro com uma garota legal, não é?

— Não, sem encontro.

— Você ainda encontrará um? Será como um dos livros de sua


mãe. Atraente e romântico. — Ele pegou a primeira caixa,
colocando um punhado de livros de lado, apertando os olhos e
lendo os títulos enquanto trabalhava.

Eu ri, abaixando minha cabeça. — Não estou realmente


procurando por uma garota legal agora.

— Ah, entendo. Um bom rapaz, então?

Eu vacilei e me mexi desconfortavelmente, enfiando as mãos nos


bolsos. O que aconteceu com as pessoas ultimamente? — Eu...
não. Eu não sou...

O Sr. G ergueu os olhos pela primeira vez, registrando meu


choque, e ergueu a mão apaziguadora. — Eu não quis dizer nada
com isso. É que seu amigo vai se casar com aquele garoto de
Edmonton, não é? Minha neta sempre me diz que não posso sair
por aí presumindo nada. Isso é tudo. É por isso que disse o que
disse. Os tempos não são como quando eu era menino.

— Oh. OK. Sim. Não... nenhum cara também. Sem encontro.


— Algum dia você encontrará alguém que agrade sua
imaginação. Você saberá. O velho relógio vai te dizer. — Ele bateu
no peito.

— Tenho certeza que sim. Se for isso, tenho que correr. Vou
encontrar um grupo para jantar na cervejaria. — Passei o dedo por
cima do ombro.

— Sem problemas. Vá em frente agora. Divirta-se. Obrigado por


ajudar um velho.

— A qualquer momento. Tome cuidado, Sr. G. Guarde esses


livros para a mamãe, eu sei que ela vai querer.

— Eu vou. Você se divirta, garoto.

Eram cinco e meia quando cheguei à cervejaria. Ninguém mais na


festa de casamento tinha aparecido ainda. Cheguei meia hora
adiantado, apesar de ter sido parado pelo meu senhorio. Havia um
lugar reservado para nós, mas eu não queria ser a única pessoa
sozinha em uma mesa tão grande.

Lucky estava cuidando do bar, mas ele estava ocupado


conversando com um grupo de mulheres mais velhas no final, que
estavam tendo suas taças de vinho recarregadas.

O sorriso de Lucky era caloroso e enrugou a pele ao lado de seus


olhos. Ele usava uma camiseta preta da cervejaria que se ajustava
confortavelmente em seu peito. Eu nunca tinha percebido como
seus braços eram tonificados até aquele momento. Seus bíceps
eram bem torneados e se destacavam enquanto ele manipulava a
garrafa de vinho, fazendo uma exibição de encher as taças com
habilidade. Seu cabelo ruivo-loiro e pele pálida se destacavam sob a
luz fraca que cercava o bar.

Eu corri meu olhar ao redor da sala. Por que diabos eu estava


checando-o? Eu estava me testando agora? Vendo se eu reagia a
outros homens? Eu descartei o pensamento com a mesma rapidez.
Toda minha vida, eu me comparei a outros homens. Sempre olhei
para eles e decidi como me classificaria. Foi só isso. Eu não estava
checando Lucky porque o achava atraente. Ele era atraente. Era um
fato. Mas eu percebi, porque sua atratividade ofuscava minha falta
dela.

A cervejaria estava movimentada esta noite, então felizmente


ninguém parecia ter notado minha atenção excessiva no barman.
Afastando-me da ideia ridícula de que minhas palmas estavam
suadas por qualquer outro motivo, contornei algumas mesas e
encontrei um lugar vago longe de outras pessoas no bar.

Lucky olhou para o lado e seu rosto se iluminou quando me viu.


Ele acenou, reconhecendo minha chegada. Eu retornei seu sorriso,
mas não consegui manter contato visual e, em v ez disso, olhei para
minhas mãos entrelaçadas, rolando meus polegares juntos
enquanto tentava me controlar. Eu estive tão desequilibrado a
semana toda, que estava ansioso por uma bebida gelada.
Depois de alguns minutos, Lucky deslizou uma cerveja na minha
frente, pairando perto. Quando ele falou, sua voz era baixa o
suficiente, era apenas para mim. — Ei estranho. Onde você esteve?

Puxei a cerveja para mais perto e dei uma olhada rápida em


Lucky, aquela sensação de contorção sob minha pele aumentando.
Ele estava roendo um palito, mas sorria como um idiota. Ele sabia
de alguma coisa? Os discursos estúpidos de Lady Mallory foram tão
claros para ele quanto foram para mim? Devo corrigir o que ele
estava pensando?

Eu soltei um suspiro e ri. — Estive ocupado. Desculpe.

— Está tudo bem. Não vou mentir. Senti falta da sua companhia.
Eu me diverti na sexta-feira passada e estava ansioso por você vir
esta semana.

— Oh. — Eu rolei na minha cabeça. Ele não estava agindo


estranho comigo, então talvez eu tenha me preocupado sem motivo.
Olhei por cima do ombro para a mesa ainda vazia com os
marcadores reservados e de volta para Lucky.

— Você está aqui para a despedida de solteiro, não é? — Ele


disse.

— Sim. Eu acho. Estou adiantado.

Lucky ficou quieto e encostou-se ao seu lado do bar, trazendo


meu foco de volta para ele. — Como você está com tudo isso? — Ele
acenou com a mão na mesa que a festa de casamento logo
ocuparia.
Uma pontada de medo me fez sentar direito. — O que você quer
dizer? Estou bem. Por que eu não estaria bem?

— Bem, na outra semana, você não parecia muito feliz em ser o


padrinho.

Eu afundei, bebendo minha cerveja para me dar um minuto para


responder. Isso foi o que ele quis dizer. Eu ainda me arrependia de
derramar meu coração ferido aos pés de Lucky, mas não podia
mudar isso agora. Pelo menos ele não estava se referindo ao que
Lady Mallory havia dito. Isso teria sido devastador.

— Está bem. Eu estou bem. Estou feliz que Easton esteja feliz.
Isso é o que importa, certo?

— Certo. Mas seus sentimentos também importam.

— Sentimentos? Eu não tenho sentimentos. Por que eu teria


sentimentos? Quer dizer, eu tenho sentimentos, mas não assim. —
Dei de ombros, visando casual e falhando miseravelmente. — Eu
estou bem. Então, sim, nenhum sentimento aqui. Como está sua
semana? — Eu perguntei, mudando de assunto e desejando que o
chão se abrisse e me engolisse.

Ele me estudou por um momento, em seguida, encolheu os


ombros, olhando para o outro lado do bar um minuto antes de
responder. — Honestamente. Tem sido difícil.

— Difícil?
Todo o meu constrangimento desapareceu com sua confissão
suave. Olhando para cima, nossos olhares se conectaram e eu senti
o peso de suas palavras em seu tom. Seus olhos, agora que eu
finalmente fui capaz de encará-los, estavam preocupados. Foi Lucky
quem desviou o olhar primeiro dessa vez.

— Nada importante. Estou lidando com algo pessoal, e isso está


me deixando um pouco chateado porque não sei o que fazer a
respeito. Está fazendo minha cabeça uma bagunça.

E aqui estava eu egoisticamente focado em mim mesmo,


presumindo que ele não teria mais nada em sua vida em que
pensar, exceto o que Lady Mallory tinha dito sobre mim na sexta-
feira. Eu era um idiota às vezes.

Lucky rolou o palito de um lado para o outro da boca e voltou,


mastigando-o implacavelmente.

— Quer falar sobre isso? Você ouviu minhas merdas na outra


semana. Eu não me importo em emprestar uma orelha. — E eu
quis dizer isso.

Lucky tirou o palito da boca e passou a língua pelo lábio superior


enquanto considerava minha oferta, olhando para o nada. Talvez eu
tenha empurrado onde não deveria. Deixe comigo ziguezaguear
quando deveria ter corrido. Não sabíamos muito um sobre o outro
e, por mais que eu estivesse começando a considerá-lo um amigo,
talvez não fosse para os dois lados.
Um movimento na extremidade do bar tirou Lucky de seus
pensamentos e seus ombros caíram. — Eu tenho que cuidar de
alguns pedidos. — Ele acenou para os clientes. — Mas... eu
gostaria de aceitar essa oferta. Se você quis dizer isso.

Nossos olhos se encontraram por um segundo antes de me


distrair com minha cerveja. — Claro que sim. A qualquer momento.
Provavelmente estarei ocupado com a despedida de solteiro a maior
parte da noite, mas estarei de folga o fim de semana todo, então...

Uma pausa. — Ótimo. Hum… eu já volto. Me dê um minuto.

Ele largou o palito em uma lata de lixo atrás do balcão e foi até os
clientes que esperavam. Observei sua forma recuando, me
perguntando que tipo de problema tinha o poder de limpar o sorriso
de Lucky de seu rosto. Não gostei de vê-lo perturbado. Ele parecia
um cara tão feliz na maioria das vezes.

Eu o observei trabalhar, uma enorme sensação de alívio saindo


do meu peito. Ele não parecia incomodado com o encontro da
última sexta-feira com Lady Mallory. Isso estava apenas em meus
ombros. Quaisquer sentimentos estranhos que eu desenvolvi por
Easton eram meus e apenas meus. Ninguém jamais saberia sobre
eles, e eu estava preparado para deixá-los ir e seguir em frente. Não
foi minha culpa eu ter ficado confuso, mas definitivamente não
estava mais confuso.

Lucky acabou ocupado por um longo tempo. Havia três servidores


no chão, todos trazendo pedidos contínuos ao balcão. Ele os encheu
com uma fluidez que vinha de anos trabalhando em um bar. Em
algum momento, ele encontrou um novo palito para mastigar, e eu
não pude lutar contra o sorriso que ele trouxe aos meus lábios.

Duas vezes na semana passada eu senti o cheiro de hortelã


enquanto Minnie e eu estávamos trabalhando, e instantaneamente
pensei em Lucky e seus palitos de dente idiotas.

Antes que ele voltasse para a minha extremidade do bar, Easton,


Lachlan e alguns outros caras que eu conhecia apareceram e se
reuniram na mesa reservada. Austin era o cunhado de Easton,
Allen e Rich eram dois velhos amigos com quem havíamos
estudado, e o terceiro cara, o que estava com roupas mais chiques,
era o irmão de Lachlan de Edmonton. Christian, se eu me lembrava
bem. Não era como se eu tivesse prestado muita atenção quando
Easton falava sobre Lachlan ou sua família. Mas era hora de fazer
um esforço. Meu corpo não estava mais confuso. Lady Mallory me
corrigiu. Eu não gostava de caras, não importava como isso tenha
acontecido. Era hora de voltar para a zona de amizade e livrar-me
dessa estranheza.

Esvaziei minha cerveja e dei uma última olhada em Lucky, que


estava ocupado servindo bebidas e conversando com uma multidão
do outro lado do bar. Achei que nosso tempo tinha acabado, o que
era uma pena, porque eu quis dizer o que disse sobre emprestar
uma orelha a ele.
Deixei minha caneca vazia e fui em direção ao grupo de caras que
estava com Easton, determinado a fazer o meu melhor para não ser
um idiota. Easton me viu primeiro, e aquele sorriso que eu não
tinha visto ontem iluminou seu rosto. Ele não estava de chapéu
esta noite, e não pude deixar de notar seus cachos indomáveis que
se enrolavam em suas orelhas e brincavam com a gola de sua
camisa.

— Estou feliz que você veio.

Eu puxei um sorriso mesmo quando doeu. — É um grande


negócio para você. Eu não vou perder isso. Somos melhores amigos,
não somos?

— Droga, certo. — Em vez de um aperto de mão, ele me puxou


para um abraço de tapinhas nas costas, o que sempre era estranho,
já que Easton ficava acima de mim. — Significa muito que você
está aqui. — Ele sussurrou em meu ouvido.

O último lugar disponível era no final da mesa. Austin estava de


um lado e Lachlan - sorte minha - estava do outro. Sentei-me,
dando a cada homem um sorriso respeitável. Anka veio anotar
pedidos de bebidas e entregar cardápios.

Ela deu a Lachlan seu olhar frio de rainha do gelo quando chegou
a vez dele e nem se incomodou em perguntar se eu estaria bebendo
o meu habitual. A mulher me odiava desde o colégio, então não
fiquei surpreso. Depois que ela desapareceu, Lachlan se inclinou
para mais perto de mim, seus olhos grudados no corpo de Anka se
retirando.

— Essa mulher me despreza. Então, se você ficar com o ombro


frio residual, peço desculpas antecipadamente.

Eu ri, olhando para Anka. — Não se preocupe. Ela também não


gosta muito de mim, então não será nada novo.

Lachlan olhou para mim, surpresa iluminando seus olhos verdes.


Minha resposta amigável deve tê-lo chocado. Todas as vezes que
nos encontramos no passado, eu não fiz nada além de ser difícil
para ele.

— Acho que sentamos nos lugares certos então. Podemos nos


unir e dificultar muito a ela.

— Combinado. — Ofereci meu punho para bater, o que também


o chocou. Ele levou um segundo, então retribuiu o gesto. Parecia
estranho para o outrora cara da cidade, mas eu não zombei dele.

Lachlan mudou de posição em sua cadeira e checou seu noivo,


que estava conversando profundamente com os outros caras. Ele
esfregou as mãos na calça jeans e se mexeu para me encarar
novamente. — Olha, Knox — disse ele, baixando a voz. — Eu sei
que você não gosta muito de mim, mas obrigado por fazer um
esforço. Por Easton. Significa muito para ele.

Eu abaixei meu queixo, a culpa me inundando. — Eu não te


odeio. Eu nem te conheço. Eu só… sinto muito ter sido um idiota.
Eu realmente não consigo explicar. — E não era verdade. Como
uma pessoa dizia oh, eu acidentalmente comecei a ter sentimentos
pelo meu melhor amigo, então me lembrei que não sou gay, então
sim, me ignore e vamos continuar como se nunca tivesse acontecido.

— Bem, eu sinto muito por ser um idiota também. Se isso


significar alguma coisa. Eu só quero o que é melhor para Easton.
Eu odeio que minha presença em sua vida tenha causado uma
divisão entre vocês dois.

— Você é o melhor para ele, Lachlan? — Eu perguntei antes que


eu pudesse me impedir.

Lachlan olhou para seu noivo novamente, um sorriso suave em


seu rosto. — Acredito que sim. Sua felicidade é minha preocupação
número um. Ter seu melhor amigo de volta em sua vida com certeza
ajudaria com isso. Você acha que há alguma maneira de
estabelecermos uma trégua?

Eu assisti Easton rir de algo que Austin disse. O som era algo que
eu sempre valorizaria. A última coisa que eu queria era deixar
aquele homem miserável. E por mais de um ano, foi exatamente o
que eu fiz. Tudo por causa de algo que não fazia sentido no grande
esquema das coisas. — Sim. Eu acho que podemos.

Um peso visível foi retirado dos ombros do homem. Talvez eu


estivesse com o coração partido por Easton, mas o que mais
importava era que Lachlan o fazia feliz. Mesmo que não desse certo,
Easton e eu nunca seríamos mais do que amigos. Não era quem eu
era. Era melhor reconhecer que existiam como um casal feliz e
seguir em frente. Eu não queria mais ser responsável pelo estresse,
raiva ou decepção de Easton. Engraçado como Lachlan e eu
concordamos em uma coisa. Tudo o que importava era que Easton
estava feliz.

Anka entregou bebidas e anotou nossos pedidos de comida. Eu


relaxei e comecei a conversar com os outros caras.

Em um ponto durante o jantar, Lachlan se inclinou novamente,


um sorriso no rosto. — Você ouviu que East falou em andar a
cavalo e casarmos na frente de toda a cidade?

— Eu ouvi, mas não estou surpreso. É o que ele quer. Você está
ficando animado ou ele te convenceu a usar jeans também?

Lachlan suspirou, baixando o queixo em derrota. Estava de bom


humor e ele riu. — Jeans e camisas xadrez combinando.

— Não tenho certeza se disse isso ainda, mas bem-vindo a


Jasper, Lachlan. Você está se tornando um v erdadeiro garoto do
campo.

Ele balançou a cabeça em descrença. Nós brindamos nossas


cervejas e bebemos. Easton nos pegou conversando e rindo, e o
olhar satisfeito em seu rosto era tudo.

Algumas vezes ao longo da noite, meu olhar vagou para o bar


para ver o que Lucky estava fazendo. Ele estava ocupado, correndo
e atendendo pedidos, mas cada vez que ele me pegava olhando para
ele, ele piscava e me dava um sorriso caloroso.
E a cada vez, aqueles sorrisos calorosos conseguiam me acalmar
e me manter com os pés no chão. Era como se Lucky soubesse que
aquele jantar era difícil para mim e, como o bom amigo que ele
estava começando a ser, seus sorrisos talentosos me tranquilizaram
mesmo quando não podíamos conversar. A turbulência com a qual
estive lidando a semana toda se dissipou.

Eu conversei muito com os caras, contribuindo quando podia,


mas na maioria das vezes, eu assistia as interações entre Easton e
Lachlan. Eles não eram tímidos sobre quem eles eram e beijav am
abertamente e beijos na frente de todos.

Anka veio e entregou outra rodada de bebidas. Quando ela


colocou a minha para baixo, ela deslizou um guardanapo dobrado
na minha frente e saiu andando sem dizer uma palavra.

Eu o peguei e abri. É bom ver você relaxado e se divertindo.


Continue sorrindo - fica bem em você.

Lancei meu olhar para o bar onde Lucky estava rolando um palito
na boca, sorrindo como um idiota em minha direção. Não houve
como impedir que meu próprio sorriso assumisse o controle do meu
rosto. Minhas bochechas esquentaram e eu enfiei o guardanapo no
bolso antes que alguém visse. Peguei minha cerv eja nova e me
levantei.

Ninguém percebeu quando saí da mesa e me dirigi para uma vaga


no bar. Lucky me encontrou lá, inclinando-se do outro lado quando
me sentei.
— Como está indo? — Ele perguntou, palito sempre em
movimento.

Eu olhei de volta para Easton e todos os outros. — Está indo. Foi


uma boa noite, mas ainda tenho muito em que pensar.

— Para alguém que está trabalhando em sua sexta cerveja, —


Ele tilintou os dedos contra minha caneca. — você não deveria estar
pensando tanto. Você deve estar pronto para vomitar a história de
sua vida aos meus pés.

Eu ri, virando as costas para a despedida de solteiro e encarando


Lucky novamente. Era mais fácil encontrar seus olhos agora, e não
pude evitar de observar suas cores fascinantes. Ambos tão
contrastantes. Um marrom e um azul. Eu estava morrendo de
vontade de olhar para eles há muito tempo. — É isso que você
quer? Minha história de vida aos seus pés?

Lucky deu de ombros, mas não desviou o olhar. — Só se você


quiser compartilhar.

— Não há muito para contar. Eu vivo uma vida chata.

— Eu duvido disso. Diga-me algo que não sei sobre você.


Qualquer coisa.

Tímido de repente, abaixei minha cabeça e girei minha caneca na


base para copos. — Você não está ocupado?

Ele verificou a multidão ao redor do bar e seus garçons, que


estavam no chão. — Estou bem agora. Não desvie. Não precisa ser
estonteante. Apenas algo aleatório. Uma cor favorita. Sorvete de
baunilha ou chocolate. Qualquer coisa. Não pense muito sobre isso.

Eu abri minha boca algumas vezes, mas fiquei em branco, certo


de que qualquer coisa que eu dissesse iria soar estúpido, e ele
olharia para mim como todo mundo em minha vida.

— OK. Que tal agora? Vou fazer perguntas rápidas para você, e
você diz a primeira resposta que vem à sua cabeça.

— Merda. — Eu ri e tomei um grande gole de cerveja para ter


coragem. — Isso vai acabar mal.

— Não, não vai. — Lucky olhou para o final do bar. — OK.


Rápido, porque meu tempo é limitado. Pronto?

Eu estalei minhas bochechas e me endireitei na cadeira,


esfregando minhas mãos. — Comece.

— Você tem algum animal de estimação?

— Não, mas eu amo animais.

— Filme favorito?

— Star Wars.

— Doce ou salgado?

— Um... — Eu balancei minha cabeça. — Doce.

— Verão ou inverno?

— Sempre inverno. Eu odeio verão.

— Concerto ou uma noite tranquila?


— Noite tranquila.

— Country ou Rock?

— Que tipo de pergunta é essa? Country ou você não pode viver


aqui em Jasper.

Lucky riu e foi contagiante. — Podemos discordar disso. — Ele


bateu com os nós dos dedos na barra e o polegar por cima do
ombro. — Eu voltarei. Deixe-me cuidar daquela enjoada ali.

Não fiquei surpreso ao ver Anka esperando impacientemente a


uns quatro metros do balcão.

Lucky se afastou para servir as bebidas, e eu não pude deixar de


observar cada movimento seu. Sua inquietação de antes não
apareceu, mas eu queria perguntar a ele sobre o que o estava
incomodando. Talvez não fosse a hora ou o lugar. A última coisa
que eu queria fazer era aborrecê-lo.

Olhando de volta para o grupo de caras com quem eu deveria


estar saindo, peguei Easton me olhando do outro lado da sala. Ele
mudou sua atenção para Lucky, em seguida, de volta para mim, e
sorriu. Ele não parecia chateado por eu ter abandonado sua
festinha, então sorri e me mexi na cadeira.

Lucky voou de volta, os olhos ainda do outro lado da sala. Ele me


deslizou uma bebida fresca, em seguida, me prendeu com um
sorriso malicioso. — Pronto?

— Manda. — Eu não estava, mas isso não importava.


— Café ou chá?

Eu fiz uma careta. — Café.

— Canhoto ou destro?

— Destro.

— Pesca ou futebol?

— Pesca, mas realmente, nenhum. Eu não sou uma pessoa que


gosta de esportes.

— Ação ou comédia?

— Ação.

— Tetas ou bunda?

Eu vacilei e bufei, meu corpo inteiro explodindo em chamas. —


O... o quê?

— Tetas ou bunda? — Seu sorriso cresceu quando ele lançou seu


olhar para o bar novamente. — Responda rápido. Eu tenho uma
fila.

— Hum... bunda. — Minhas palmas ficaram escorregadias em


um piscar de olhos e eu me contorci.

— Agradável. Eu voltarei. — E ele se foi novamente com uma


piscadela e um sorriso malicioso.

Arrastei minha cerveja nova para frente, precisando dela mais do


que nunca. Eu não estava acostumado a falar sobre coisas assim.
Easton e eu não fomos lá, principalmente porque ele era gay, e eu
não, e as conversas eram estranhas.

Eu as deixei estranhas? Isso foi por minha conta? Easton falou


merda sobre coisas assim com seus outros amigos? Talvez ele
soubesse que eu não tinha muito a contribuir e não queria me
envergonhar. Isso já era constrangedor por si só.

Mais uma vez, dei uma olhada rápida na mesa da despedida de


solteiro. Os caras estavam rindo e conversando. Eles não pareciam
estar sentindo minha falta, então decidi ficar onde estava.

Durante a noite, Lucky escapuliu quando pôde e ficou na minha


ponta do bar. Trocamos rodadas relâmpago de vinte perguntas
enquanto ele tinha que trabalhar, e quando as coisas se
acalmaram, eu tinha bebido mais do que o meu quinhão de cervejas
e estava me sentindo tonto. Mas rimos e aprendemos coisas
aleatórias um sobre o outro no processo.

Lucky estava atendendo um grupo quando uma mão pousou nas


minhas costas, e uma voz rouca e arrastada sussurrou em meu
ouvido. Eu reconheceria essa voz em qualquer lugar. — Estamos
decolando. — Disse Easton, deslizando para o banquinho ao meu
lado e me cutucando com o joelho. — É bom ver que você está se
divertindo. Não vejo você rir assim há anos. Lucky é um cara ótimo.
Não sabia que vocês dois eram amigos.

— Oh. Começamos a conversar algumas semanas atrás. Acho


que passo muito tempo aqui.
Easton olhou para o bar para Lucky e o estudou por um
momento. — Contanto que a sua razão de estar aqui não seja para
beber seus problemas. — Ele encontrou meus olhos novamente. —
Nós estamos bem?

— Estamos ótimos. Eu me diverti. Eu só... — Eu não sabia como


explicar minha necessidade de me mudar para o bar e conversar
com Lucky em vez disso.

— É legal. Obrigado por dar uma chance a Lachlan esta noite.

— Ele parece legal.

— Ele é.

— Vou fazer melhor. Eu prometo.

— Você já parece estar. — Novamente, ele lançou um olhar para


Lucky. — Algum dia, teremos uma longa conversa agradável, você
e eu.

Eu fiz uma careta, mas Easton se levantou e deu um tapa no meu


ombro antes que eu pudesse entender o que ele disse.

— Venha em casa algum dia? Não saímos cavalgando há muito


tempo.

— Sim. Sim, tudo bem. Devíamos fazer isso.

— Legal. — Ele estendeu a mão e me puxou para um abraço de


tapinhas nas costas. Ele segurou uma batida extra, falando no meu
ouvido. — Venha me encontrar quando estiver pronto. Não seja um
estranho.
Então ele se foi.

Era quase meia-noite, e eu sabia que a cervejaria fecharia suas


portas a qualquer momento. Eu sabia que deveria vagar para casa,
mas não sabia como deixar Lucky saber que eu estava disponível
para conversar fora da cervejaria, se ele quisesse. Todo aquele
assunto foi abandonado, mas eu não tinha esquecido disso. O
homem era especialista em se esconder atrás de um sorriso.

No momento em que ele conseguiu voltar para a minha


extremidade do bar, eu coloquei meu casaco e estava demorando,
sem saber como me aproximar ou dizer o que tinha a dizer.

— Você está decolando?

— Eu deveria. A senhora assustadora ali vai me expulsar logo se


eu não for por conta própria.

Lucky tirou um novo palito de uma embalagem e o colocou entre


os lábios. Ele rolou para frente e para trás de um lado para o outro.
Pego olhando, eu lancei meu olhar para longe quando a ação
floresceu em minha barriga.

— Assim. Sei que não conversamos sobre aquilo com que você
estava lutando esta semana, mas só queria que soubesse que falei
sério.

— Sim?

— Sim. Se você quiser. Para falar, quero dizer.


Por um instante, Lucky olhou para meu rosto e eu olhei para
todos os outros lugares. Ele agarrou um guardanapo debaixo do
balcão e encontrou uma caneta. Com algumas pinceladas rápidas,
ele escreveu algo e dobrou o guardanapo ao meio.

— Aqui. Meu número. Eu trabalho amanhã, mas estou de folga


no domingo. Se você quiser sair, me avise. Eu adoraria companhia.

Peguei o guardanapo, incapaz de ignorar como o gesto me fazia


sentir. Talvez eu não estivesse acostumado a fazer novos amigos.
Mesmo com todas as cervejas que bebi, não pude evitar a forma
como meus nervos saltaram e se contraíram sob a superfície da
minha pele.

— Legal. Vou mandar uma mensagem para você ou algo assim.

— Agradável. Ah, a propósito, sua conta foi coberta.

Olhei para a mesa vazia onde a despedida de solteiro de Easton


havia acontecido. — Certo. OK. Então, te vejo mais tarde, eu acho.

— Até mais.

Senti o calor do olhar de Lucky me seguir até a porta. Uma vez


que estava fora de vista, abri o guardanapo e olhei para a escrita
dentro. Seu número estava gravado no topo, mas ele também
escreveu uma pequena mensagem embaixo.

Obrigado por ficar no bar comigo esta noite. Me diverti. -Lucky


Capítulo Oito

Lucky

Knox não estava no bar na noite de sábado. Eu tinha deixado a


bola em seu campo e não teria meus sentimentos feridos se ele não
me contatasse no domingo. Ele tinha bebido algumas cerv ejas
quando fez a oferta, tão sóbrio e com sua cabeça notoriamente
ocupada falando com ele sobre isso, eu suspeitei que meu telefone
permaneceria em silêncio durante todo o fim de semana.

Na manhã de domingo, quando acordei com uma luz de


mensagem piscando, fiquei chocado ao descobrir que tinha uma
mensagem de texto de Knox esperando.

Correção, eu tinha cinco mensagens esperando de Knox. O pobre


coitado ia ter uma úlcera.

Knox: Estou disponível hoje se você ainda quiser sair.

Knox: Mas não precisamos se você tiver outros planos.

Knox: Ou se você mudou de ideia. Eu não vou ficar ofendido.

Knox: Apenas me ignore. Provavelmente estou incomodando você.

Knox: Desculpe por todos os textos. Estou calando a boca agora.

Grogue e com os olhos turvos, li suas div agações mais de três


vezes, incapaz de lutar contra o sorriso. Elas foram enviadas há
mais de duas horas, uma atrás da outra. Já passava das dez, mas
Knox não sabia que eu costumava dormir até tarde nos dias de
folga. Ele provavelmente pensou que eu o estava ignorando. Inferno,
conhecendo Knox, ele provavelmente estava se preocupando com
cada palavra que compartilhamos na outra noite, sem saber onde
ele errou.

Eu bocejei e rolei para fora da cama, decidindo se eu deveria fazer


café e mandar uma mensagem de volta quando eu estivesse mais
coerente, ou mandar uma mensagem de volta agora e tirar o pobre
rapaz de sua miséria. Olhei para minha cômoda e para o ursinho de
pelúcia que coloquei em cima. O urso que Knox venceu naquele
jogo de tiro na feira. Isso me lembrou dele, especialmente porque
usava uma pequena jaqueta xadrez como a de lã que Knox usava
com frequência.

Abri a caixa de bate-papo no meu telefone e digitei, não me


importando por estar meio dormindo.

Lucky: Apenas abrindo meus olhos. Eu adoraria companhia hoje.

Apertei enviar e esperei até a contagem de cinco antes de uma


mensagem de Knox chegar ao meu telefone. O pobre rapaz
provavelmente andou em um buraco no chão a manhã toda.

Knox: Merda. Eu te acordei? Eu sinto muito.

Eu ri.
Lucky: Não é possível. Eu durmo como um morto. Você achou algo
melhor para fazer no seu dia ou ainda está no jogo?
Knox: Não tenho nada planejado.

Knox: Se você quiser.

Knox: Mas sem pressão.

Lucky: Que tal meio-dia. Eu deveria estar mais vivo então.

Knox: Perfeito.

Knox: Oh, não sei seu endereço.

Enviei-lhe meu endereço e ele me agradeceu. Duas vezes.

Eu disse que o veria mais tarde. Ele disse que me veria mais
tarde.

Enviei uma figurinha. Ele mandou uma figurinha.

Então tive a sensação de que Knox era uma daquelas pessoas que
sempre tinha que enviar a última mensagem em uma conversa.

Isso foi fofo.

Eu tropecei na cozinha e coloquei o café para preparar enquanto


eu entrava no chuveiro. Depois que terminei, me vesti, tomei
cafeína e fui alimentado, eram onze horas. Peguei a lista de
números que Josiah havia compilado para mim e olhei para ela pela
centésima vez.

Eu ainda não tinha feito uma única ligação.

Quanto mais eu olhava para ela, mais torcido minhas entranhas


se tornavam. No final, disquei o número dos meus pais. Eles
moravam em Thunder Bay, Ontário, três províncias de distância.
Eu não ia para casa há muito tempo.

Mamãe atendeu no terceiro toque e ouvir sua voz trouxe um


sorriso ao meu rosto. Mesmo ligando para casa pelo menos uma vez
por semana, não havia nada mais calmante para a ansiedade do
que ouvir a voz de minha mãe e seu sotaque fraco.

— É o meu dia de sorte. — Sempre a mesma saudação, e nunca


falhou em me fazer rir.

— Ei mãe. Como você está?

— Oh, mesma idade, mesma idade. Seu pai está guardando a


mobília do pátio. Primeiro dia sem chuva durante toda a semana.
Como está Jasper?

— Frio. Temos neve na previsão.

— Antes do Halloween?

— Sempre. Estamos muito altos aqui, lembra?

— Certo. Sim. Sim. Por que você não encontra um lugar mais
quente para se acomodar, eu nunca saberei.

— Talvez algum dia. Jasper é legal.

— Você está aí há mais tempo do que nos outros lugares. Você


deve gostar.

— Eu gosto. — Durante todo o tempo em que conversamos, olhei


para a lista de números de telefone, indeciso e inseguro sobre
compartilhar minha descoberta com ela. Eu não tinha escondido
meu plano dos meus pais, mas sabia que eles não estav am
totalmente a bordo. — Mãe?

— Sim, amor.

Uma coceira incessante sob minha pele me fez querer procurar


um palito de dente, pelo menos para ter algo para mexer. Permaneci
sentado e me fortaleci para compartilhar minhas novidades. —
Encontrei novas informações. Um sobrenome. O'Conner.

Silêncio. Mamãe não precisou perguntar do que eu estava


falando. Ela sabia.

— O'Conner.

— Provavelmente significa que sou irlandês. É um nome irlandês.

— Eu sempre soube que meu garoto Lucky provavelmente era


irlandês.

Eu sorri. — Sim. Mas nunca houve uma garantia.

— O que você vai fazer agora?

— Eu não sei. Eu tenho uma lista de números de telefone. Um


deles pode ser ela. Ou talvez não.

— Você não saberá até ligar.

— Exatamente. Mas…

— Mas e se ela não quiser conhecer você?

Eu soltei um suspiro e caí de volta no sofá, aquela sensação


inquietante fazendo cócegas perto do meu coração. — Exatamente.
— Então você seguirá em frente. E você vai se lembrar do quanto
essa mãe te ama.

— Eu sei que você ama. E eu te amo também. Eu não estou


fazendo isso para...

— Eu sei, Baby.

— Vai te machucar se eu continuar? Se eu ligar para elas?

— A única coisa que temo é que você não encontre nada mais do
que um coração partido no final desta aventura maluca. Mas você
fará o que precisa fazer. Você sempre fez. Você sempre terá seu pai
e eu, Lucky. Não se esqueça disso.

Meus olhos se encheram de lágrimas. — Eu sei. Eu só... tenho


que fazer isso.

— Eu sei.

— Eu te amo, mãe.

— Eu também te amo. Você é meu Lucky Garoto de Sorte.

Eu ri, piscando a névoa dos meus olhos. — Eu sei. Eu não posso


falar muito. Eu tenho um amigo vindo. Diga ao papai que o amo.

— Eu vou. Beijos. Mantenha-me informada sobre o que você


encontrar.

— Eu vou.

Por mais que eu soubesse que esse desejo insaciável que eu tinha
de encontrar minha mãe biológica a machucava, ela fez o seu
melhor para me apoiar. Ela entendeu meu raciocínio o melhor que
pôde. Sua cultura e herança eram importantes para ela, então ela
podia ver por que seriam importantes para mim também.

Refleti sobre a lista de números novamente antes de colocá-los de


lado e me levantar para preparar um novo bule de café. Era quase
meio-dia e eu esperava Knox a qualquer hora.

Houve uma tentativa de bater na minha porta às dez para o meio-


dia. Quando respondi, Knox estava fazendo tudo o que podia para
evitar parecer uma bola de nervos, o que ele falhou. Ele estava tão
tenso que parecia prestes a entrar em combustão.

Suas mãos estavam enfiadas nos bolsos da jaqueta, seus ombros


iam até as orelhas e havia linhas de preocupação pintando sulcos
em sua testa.

— Ei. — Até mesmo sua saudação de uma única palavra saiu um


pouco rouca.

— Oi. Bom te ver. Entre.

Ele entrou e olhou ao redor. — Uau. Este é um lugar fofo.

— Obrigado.

Gostava da minha casinha em estilo chalé. Quando cheguei a


Jasper e encontrei um aluguel por um preço razoável, não pude
recusar. Os proprietários me informaram várias vezes que, se eu
quisesse comprá-lo, eles me fariam um acordo. Um dia, eles
decidiriam colocá-la no mercado e eu precisaria encontrar outro
lugar para morar. Foi quando planejei desenraizar e seguir em
frente. Dois anos em um lugar era muito para mim. Desde que saí
de casa, morei em dezenas de cidades e vilas em todo o Canadá,
nunca encontrando um lugar que ressoou comigo ou me fez sentir
em casa.

Eu era um errante, um nômade, um andarilho, e nunca vi isso


mudar. A coceira para embalar tudo e fugir estava sempre presente.
Às vezes, eu morava em um lugar por um ano, às vezes apenas
alguns meses antes de crescer o desejo insaciável que me dizia que
era hora de colocar os pés em movimento. Era minha vida.

O chalé era todo de um nível com um conceito aberto. A cozinha e


a sala principal eram separadas por um balcão tipo bar com bancos
de cada lado. O único quarto e banheiro ficavam fora da sala de
estar e a lavanderia ficava em um corredor curto. As paredes eram
de um azul-acinzentado suave e os armários embutidos eram
elegantes. Tinha um pequeno quintal voltado para um terreno
aberto com vista para as montanhas ao longe. Era pitoresco e
acolhedor de uma forma que eu gostei.

— Eu te daria um passeio, mas não há muito para ver. Cozinha.


Sala de estar. O banheiro é a segunda porta ali. E é isso, o fim. —
Acenei minha mão de um local para o outro. — Posso pegar um
café ou algo assim? Eu tenho cerveja, mas não estou pronto para
mergulhar nisso ainda. Não estou acordado há tempo suficiente.

— Café é bom. Obrigado.


Fui em direção à cozinha, mas Knox ficou como uma estátua na
porta da frente, rígido como sempre. — Fique à vontade. Eu
colocaria uma música, mas você deixou sua posição sobre o rock
conhecida na outra noite, e infelizmente sou alérgico a ouvir
country.

Olhei para trás e recebi um sorriso tímido quando Knox


encontrou um lugar para sentar no sofá. — Eu posso lidar com um
pouco de rock, desde que concordemos que você tomará alguns
comprimidos para alergia da próxima vez e tomará uma boa dose de
country para mim.

— Eu acho que posso lidar com isso. O que você toma no seu
café?

— Creme e açúcar, obrigado.

Levei nossos cafés para a sala e os coloquei na mesa antes de


encontrar algumas músicas para o ruído de fundo. Eu mantive
baixo, considerando que não era o favorito de Knox. Quando me
virei, o peguei olhando para a lista de Kimberlys e números de
telefone com uma expressão intrigada.

Ele empalideceu quando percebeu que eu o observava e


pigarreou, parecendo se desculpar por ler algo que achava que não
deveria.

Deve ter parecido estranho para alguém que não sabia o que era.
Todos com o mesmo nome, mas com informações de contato
diferentes.
Se eu quisesse manter isso em segredo, não teria omitido. Knox
me perguntou o que estava me incomodando algumas noites atrás,
e se ele realmente queria saber, eu não tinha nenhum problema em
dizer a ele.

— Pesquisa. — Eu expliquei, sentando. Peguei o papel e o


examinei pela milionésima vez. — Eu fui adotado. Tenho tentado
encontrar minha mãe biológica. O nome dela é Kimberly O'Conner.
— Eu acenei para o papel. — Esta é uma lista de mulheres que
podem ser ela, mas ainda não tive coragem de ligar para elas.

— Você foi adotado?

Knox se mexeu no sofá para me encarar, sua tensão havia


sumido agora que tínhamos um lugar para focar nossa conversa.

— Sim.

— Eu não sabia disso. — Ele estudou o papel em minha mão. —


É essa a causa da sua semana difícil?

— Isto é. É engraçado. Sempre tive curiosidade sobre minha mãe


biológica durante toda a minha vida. Até os meus dezoito anos,
minha mãe e meu pai - meus pais adotivos - não queriam que eu
soubesse nada sobre ela. Eles queriam que eu fosse mais velho
antes de tomar decisões precipitadas sobre procurá-la. Isso
costumava me irritar porque eu pensava, como eles ousam
esconder isso de mim.

— Você sempre soube que era adotado?


Eu ri baixinho e baixei a página, pegando meu café em vez disso.
— Eu soube. Meus pais são malaios, então não somos nem um
pouco parecidos. Não havia como eles esconderem isso de mim, não
que eles teriam. Eles não são assim. Eu entendo por que eles me
fizeram esperar, mas quando criança, eu ficava furioso. Queria
saber quem eu era e de onde vim.

— Não consigo imaginar como seria.

Knox parecia preocupado de novo, mas eu não queria que ele


sentisse pena de mim.

Eu continuei — Bem, adolescentes são merdinhas ingratas. Em


vez de ser grato pelas duas pessoas que me acolheram e me
amaram incondicionalmente e me deram tudo que eu sempre
poderia querer ou precisar, passei anos odiando-os porque eles não
me contaram o que sabiam sobre minha mãe biológica. Eu disse
um monte de merda que não posso voltar atrás. Não é uma
sensação boa. Eu sei que eles não levaram isso a sério, mas sempre
saberei que o que eu disse não estava certo.

Knox largou o café e tocou minha perna para chamar minha


atenção, então retirou a mão tão rápido que você pensaria que ele
se queimou.

— Desculpe. — Ele murmurou, olhando para baixo e se


recusando a encontrar meus olhos. — Eu... ia apenas dizer, todos
nós dizemos merdas estúpidas para nossos pais quando somos
adolescentes. Nossos pais nos perdoam. Graças a Deus. Meu pai foi
alvo de uma série de maldades quando eu era adolescente.

— Não consigo imaginar você sendo assim.

Knox encolheu os ombros e um pequeno sorriso apareceu,


escondido em sua barba. — Eu era um adolescente miserável. A
escola era um inferno. Eu descontava nos meus pais porque eles
estavam seguros. Às vezes descontava nas minhas irmãs, mas foi
um erro. As meninas são cruéis e têm memória longa.

Nós compartilhamos uma risada. Foi bom ouvir Knox falar e


compartilhar. O cara estava em um estado constante de incerteza,
como se esperasse que eu fosse contra ele a qualquer momento. Ele
adivinhou cada coisa que disse e fez. Foi a razão pela qual eu fiz
perguntas rápidas a ele na outra noite, para que eu pudesse
encorajá-lo a falar sem analisar tudo em excesso. Eu adicionei
questões de confiança à lista de coisas que descobri sobre ele
recentemente. Então, assumi a missão de provar a Knox que era
um amigo confiável nesse aspecto.

— Você tem três irmãs, certo?

— Sim. Uma mais velha e as duas mais novas que você conheceu
na feira. Nem preciso dizer que me perdi na confusão em casa. Já
fui a mais festas de princesa do que gostaria de admitir. Minha
irmã mais velha, Lexi, ela tem gêmeos de cinco anos. Um menino e
uma menina. Você nunca viu alguém se alegrar como eu quando
Noah nasceu. Outro menino na família era tudo. Você tem irmãos?
— No minuto em que a pergunta saiu de seus lábios, ele fechou a
boca e fez uma careta.

— Eu não. Que eu saiba, de qualquer maneira. Mas não é uma


pergunta estúpida, então pare de parecer assim. Meus pais não
podiam ter filhos, e foi por isso que me adotaram. Mas eu era o
único que eles queriam. Eles me disseram que nunca adotaram
mais porque queriam me dar todo o seu amor. Eu era o Lucky
Garoto de Sorte.

O olhar de Knox se moveu para meu rosto. Era raro ele conseguir
ou manter contato visual, então eu saboreei e aproveitei aquele
momento para estudar os olhos castanhos quentes do homem.

— Eles o apelidaram de Lucky?

— Sim. Por alguns motivos, me disseram. Eu nasci


prematuramente. Dez semanas antes. Minha mãe biológica tinha
quinze anos na época, e a responsabilidade de um prematuro
assustava-a pra caralho. Ela me deu para adoção imediatamente, e
acho que as primeiras famílias na lista que esperavam para adotar
recusaram a oferta de um bebê prematuro. Eu estava tendo uma
experiência difícil, ouvi dizer. Acabei com uma infecção e as coisas
não pareciam bem por um tempo. Meus pais esperavam por um
filho há muito tempo e, quando ouviram falar de mim, ficaram
chocados que alguém pudesse dizer não a um bebezinho tão
pequeno quando eu mais precisava de alguém. Eles aceitaram a
adoção, indiferentes ao fato de que minha saúde estava melhorando
e diminuindo.

— Eu acho que os papéis foram finalizados em 17 de março. Dia


de São Patrício. Como eu era um ruivinho minúsculo, eles me
chamavam de Lucky Garoto de Sorte. Meu nome de batismo é
Chester, mas raramente fui chamado assim em quarenta e um
anos. Os professores da escola sim, mas principalmente porque se
recusaram a reconhecer um apelido bobo. Caso contrário, fui Lucky
toda a minha vida.

— Isso é muito legal. Eu gosto disso.

— Tive alta quando tinha dois meses. 19 de março. Meus pais


decidiram que, como eu era prematuro, eles iriam comemorar meu
aniversário no dia da minha adoção, em vez do meu aniversário
real. Uma maneira de eles comemorarem quando eu oficialmente
me tornei deles. Portanto, embora legalmente minha data de
nascimento seja 21 de janeiro, não oficialmente chamamos isso de
17 de março.

— Dezessete de março. Você escolheu três e dezessete quando eu


estava atirando nos balões.

— Sim eu fiz. E então eu usei seu aniversário.

Knox acenou com a cabeça, percebendo o que eu tinha feito na


outra noite. Quando seus olhos pousaram no papel sobre a mesa,
ele o pegou. — Então, uma dessas Kimberlys poderia ser sua mãe
biológica?
— Talvez. Até algumas semanas atrás, eu não sabia o sobrenome
dela. Josiah foi uma grande ajuda. Ele descobriu tudo isso para
mim recentemente. Eu nasci em Toronto. Então, ele fez uma lista
de mulheres com nomes de solteira de Kimberly O'Connor que
moram na região de Toronto e que tinham quinze anos quando
nasci. É possível que ela não esteja na lista. Ele poderia facilmente
ter perdido uma, ou ela poderia ter se afastado. É impossível saber.

— Ou ela poderia estar bem aqui.

— Sim. — Foi a minha voz que grasnou daquela vez.

— Você está com medo de descobrir?

— Acho que estou com medo de que algo que desejei e questionei
em toda a minha vida possa acabar me decepcionando ou me
machucando. A possibilidade de rejeição me impediu de ligar para
esses números. Não tenho certeza se posso explicar isso.

Knox pousou o papel. — Entendo. — Ele fez uma pausa e


sacudiu a cabeça, beliscando a ponta do nariz antes de olhar para
mim. — Quer dizer, eu obviamente não entendo, mas eu sei tudo
sobre não fazer algo porque você tem medo de ser aceito ou não
aceito. Então... Deus, isso parecia estúpido.

— Eu sei o que você quer dizer.

Knox esfregou a nuca e estudou tudo ao redor da sala para que


ele não tivesse que olhar para mim. — Não tenho certeza se sou
bom com toda essa coisa de conselho. Acho que tudo o que posso
dizer é, talvez tome um minuto com isso. Deixe-o absorver e veja
como você se sente em uma ou duas semanas, assim que isso se
encaixar. Você esperou tanto tempo, então não se deixe levar por
uma decisão em cinco minutos. Talvez, assim que tiver tempo para
pensar nisso, você esteja pronto para fazer algumas ligações. Ou
talvez você decida que não é algo para o qual está pronto.

Minha garganta travou de emoção. Eu não respondi, o que eu


sabia que faria Knox questionar tudo o que ele disse, mas eu não
podia no momento. Ele estava certo. Eu deveria sentar e não pular
impulsivamente nesta lista só porque finalmente descobri algo. O
medo me segurou, mas a determinação me levou até aqui. Eu
precisava de mais alguns dias para absorver e deixar isso se
estabelecer.

Knox ficou inquieto. Ele apertou os punhos abertos e fechados em


seu colo enquanto seu joelho balançava. Eu precisava quebrar a
tensão que causei.

Mudei para a beira do sofá. — Outro café?

Knox ficou imóvel. — Oh sim. Certo.

Levei nossas canecas para a cozinha. Com um café fresco em


ambos, tirei alguns palitos de hortelã de uma gaveta e os coloquei
no bolso para depois. Ter um ao alcance ajudou.

— Pessoa da manhã ou coruja da noite? — Eu perguntei


enquanto me sentava novamente.

Knox não perdeu o ritmo. Um sorriso surgiu em seu rosto quando


ele disse: — Pessoa da manhã.
— Você gosta de cronograma ou espontaneidade?

— Cronograma.

— O emprego mais nojento que você já teve?

— Zelador em tempo parcial na Jasper Elementary. Eu demorei


uma semana. Naquela época, eu tinha quatro banheiros cheios de
merda transbordando em mim e a gripe estava passando pela sala
do jardim de infância. Depois de ser chamado para limpar vômito
seis vezes em um dia, eu estava feito.

Eu estremeci. — Cara. Bruto.

— Exatamente.

Nós dois rimos. Eu estava pegando meu café, mas mudei de


ideia.

— Minha vez. — Knox lançou dois olhares em minha direção, um


largo sorriso no rosto enquanto pensava. — Férias dos sonhos?

— Peru. Eu quero escalar Machu Picchu algum dia.

Suas sobrancelhas se ergueram, mas ele permaneceu focado em


suas mãos. — Agradável. Sabor favorito de sorvete?

— Menta e chocolate.

— Isso não me surpreende. — Ele me deu outro sorriso, que eu


devolvi. — Se você pudesse se tornar um especialista em qualquer
assunto, qual seria?

— Geografia.
— Sim?

— Eu sou uma espécie de nômade. Eu não fico em um lugar por


muito tempo, então viajar é minha coisa. Até agora, fiquei no
Canadá, mas acho que um dia vou decolar e ver o mundo. Eu
nunca estive acomodado.

— Uau. — Um pequeno lampejo de decepção cruzou seu rosto,


mas ele enterrou e seguiu em frente. — Você era o garoto legal da
escola ou o palhaço da classe?

— Nenhum. Era a mim que todos eles escolheram por ser


diferente.

Isso chamou a atenção de Knox. Seus lábios se separaram como


se ele estivesse pronto para lançar outra pergunta para mim, mas
ele parou. Ele inclinou a cabeça e olhou até meu ombro antes d e
parar. — Realmente? Você?

— Sim. Eu não cabia nos rótulos das pessoas. Cabelo ruivo,


meus pais eram de uma raça diferente, heterocromia e poliose. Eu
era uma aberração. Quando eu era mais velho, em idade escolar,
eles costumavam me provocar e me chamar de X-Man.

— Crianças são uma merda. — Essas duas palavras foram


faladas baixo o suficiente para que eu soubesse que acertaram em
cheio. — Hetero... o que foi que você disse?

— Heterocromia. É o termo que eles usam para designar meus


olhos.
— E a outra palavra?

— Poliose? Falta de pigmento. Esta bela faixa branca de cabelo


na frente. Esse é o termo técnico. Essa era uma das razões pelas
quais eu queria tanto encontrar minha mãe biológica. Quando nasci
com essas duas coisas, os médicos fizeram todos os tipos de testes
genéticos em mim. Ter os dois é um sintoma da síndrome de
Waardenburg, uma doença genética rara. Mas os testes provaram
que não era o caso. Foi um golpe de sorte para mim.

— Uau.

— Então eu sou apenas diferente. Está bem. Eu me aceitei, então


quando outras pessoas são rudes, posso ignorar agora. Não me
incomoda como quando eu era adolescente. — Fiz uma pausa e
estudei Knox. — Você não gosta de me olhar nos olhos, não é? —
Eu não costumava chamar as pessoas sobre isso, e eu não quis
dizer isso de forma negativa. Com Knox, era mais uma observação.

A culpa que inundou seu rosto me fez sentir mal. Ele me olhou
nos olhos depois disso, mas foi uma luta. — Não. Deus, não. Não é
por isso que... quero dizer... acho que seus olhos são... o que quero
dizer é... — Ele baixou o queixo até o peito e esfregou a nuca. —
Deus, eu pareço um idiota. Eu gosto dos seus olhos. Eu não quero
dizer como gosto. Eles são apenas... eles são... fascinantes? Porra.
Vou calar a boca e não falar agora.
E essa simples admissão tirou o fôlego dos pulmões de Knox. Ele
ficou sentado imóvel, como se o mundo pudesse explodir se ele
apenas se contraísse ou respirasse.

— Obrigado. — Mas ainda havia algo que ele não estava dizendo.
Todas as pausas e hesitações eram palavras que ele não conseguia
encontrar porque ainda não conseguia admiti-las para si mesmo.
Eu vi através dele. Eu o senti. Mas ele não estava lá.

Eu precisava matar a tensão. — Super-herói favorito e por quê?

Houve uma pausa. Knox hesitou um minuto enquanto


encontrava sua resposta, o que me disse que ele estava nadando
fundo naqueles pensamentos preocupantes novamente.

— Hum... fácil. Capitão América. Ele sempre faz o que é certo.


Ele defende quem não pode, e não importa quantas vezes ele seja
espancado, ele se levanta e segue em frente.

Antes que eu pudesse lançar outra pergunta para ele, ele tocou
minha perna brevemente, me parando. — A mesma pergunta para
você.

Eu sorri com o contato, mesmo que estivesse lá e desapareceu em


um flash. — Fácil. Deadpool. Ele não se desculpa, é impróprio e
hilário. Mas principalmente porque ele é pansexual, e eu também,
então me identifico com ele.

— Ele é? Eu não sabia disso. — Knox franziu a testa e molhou


os lábios, parecendo repentinamente tímido. — N-na verdade, não
tenho certeza do que é.
— Pense nisso como cego ao gênero. Eu me apaixono pela mente
e pelo coração de uma pessoa, independentemente do que ela tenha
entre as pernas.

— Oh. — Pela segunda vez em cinco segundos, Knox ficou


imóvel. — Oh. — Ele respirou, a compreensão do que eu disse
afundando.

Não imaginei que a notícia da minha sexualidade o assustasse.


Seu melhor amigo era abertamente gay. Mas Knox levou um minuto
para se livrar dessa informação também.

Embora houvesse mais uma centena de perguntas repentinas que


eu queria fazer a ele - mais pessoais - achei melhor guardá-las para
outro dia. Knox sobrecarregava facilmente e eu não o queria muito
desconfortável.

— Então, eu estava indo para o mercado na parte alta da cidade


e comprar algumas abóboras para a cervejaria. Eu disse ao chefe
que faria uma pequena exibição ao longo do bar na noite de
Halloween. Quer se juntar a mim?

Algo brilhou nos olhos de Knox. — Essa é uma ótima ideia. Eu


não me importaria de pegar algumas para minha sobrinha e
sobrinho. Eu disse a Lexi que iria mais tarde hoje. Talvez eles
gostariam de esculpi-las. Isso seria divertido, certo? Crianças
gostam disso. — Seus ombros caíram. — Mas eles provavelmente
já fizeram isso. Deixa pra lá.

— Quantos anos eles têm?


— Cinco.

— Então você nunca terá abóboras suficientes para esculpir.


Confie em mim. — Eu bati em sua perna e pulei do sofá. — Vamos.
Vamos lá.

Ele pegou minha mão quando eu a estendi e me deixou puxá-lo


para seus pés, então ele a enfiou rapidamente no bolso, e suas
bochechas ficaram rosadas enquanto ele olhava para todos os
lugares, menos para mim.
Capítulo Nove

Knox

Enquanto Lucky foi pegar sua carteira e as chaves, levei um


segundo para me concentrar. Por que eu estava lutando tanto com
essa coisa toda nova de amizade? Eu nunca estive tão
desequilibrado com meus outros amigos. E Lucky era ótimo. Ele
não olhova para mim como a maioria das pessoas, mas em vez de
relaxar perto dele, eu estava me contorcendo por dentro, sem saber
onde me colocar.

— Pronto? — Ele perguntou quando saiu de seu quarto.

— Sim.

— Você quer levar meu carro ou sua caminhonete?

— Oh. — E por que a menor e mais estúpida pergunta fazia meu


coração trabalhar três vezes mais? — N-nós podemos pegar o
caminhão se você quiser. Muito espaço na parte de trás para
abóboras.

— Perfeito.

Lucky me encontrou na porta, e eu fiquei um pouco mais alto,


odiando o quão baixo eu era comparado a ele. Era melhor quando
estávamos sentados.
A casa de Lucky ficava a apenas alguns quarteirões do centro da
cidade. Poderíamos ter caminhado, mas não se estivéssemos
pegando abóboras. Na verdade, uma pessoa poderia viajar a pé de
uma ponta a outra de Jasper sem suar muito. Jasper era tão
compacto.

Eu encontrei um lugar para estacionar perto do mercado da


pequena cidade, e Lucky e eu vagamos até as latas gigantes de
abóboras na frente da loja. Elas estavam cheias de uma variedade
em todas as formas e tamanhos diferentes. Os fazendeiros locais as
entregavam todas as manhãs.

— Quantas você queria? — Eu perguntei, fuçando em uma lata.

— Eu estava pensando em quatro ou cinco médias ou menores.


Pensei em colocá-las decorativamente ao longo do bar e espero que
ninguém as derrube.

— Você estará esculpindo-as? — Eu dei uma olhada no meu


amigo e seu sorriso cresceu.

— Eu não ia. Nunca foi minha coisa favorita quando criança. A


parte de entalhar é bom, mas remover as entranhas viscosas... —
Lucky estremeceu. — Não, obrigado.

Uma ideia cutucou meu cérebro e eu me embaralhei,


constrangido. Seria estúpido sugerir entalhar e fazer isso juntos?
Abóboras esculpidas decorando o bar para o Halloween seria bom.
As pessoas iriam adorar, e eu não me importava em limpar as
abóboras.
Eu peguei minha unha do polegar, me preocupando com a ideia.
Lucky subiu ao meu lado e olhou para a lata, batendo no meu
ombro como ele tinha feito várias vezes na feira. — O que está em
sua mente? Eu posso ver sua atividade cerebral daqui.

Enfiei minhas mãos nos bolsos e balancei meus pés. — Eu só


estava... Bem... E se eu retirasse o interior e você as esculpisse?
Não sou artista, mas não me importo de sujar as mãos. Então,
podemos leva-las para a cervejaria e configurá-las.

Eu derreti no pavimento com a observação silenciosa que se


seguiu. Foi uma ideia idiota. Eu deveria ter mantido minha boca
fechada. Não éramos crianças. Quem diabos esculpia abóboras
quando adulto? Merda, por que ele não estava dizendo nada?

Eu arrisquei uma espiada rápida e peguei um dos sorrisos


calorosos de Lucky direcionado em minha direção. Seus olhos se
suavizaram quando ele sorriu assim, o que tornou difícil me
concentrar. Também tornava difícil desviar o olhar. Eu realmente
gostava dos seus olhos. Eles eram tão únicos e gentis.

— Eu acho que parece um plano incrível. — Ele disse quando eu


desviei meu olhar, o coração batendo em um ritmo frenético. Mas
Lucky não o teria. Ele bateu no meu ombro novamente, forçando
minha atenção de volta. — Tem certeza que não se importa em
ajudar?

— Não, eu... acho que seria divertido.

— Então vamos pegar algumas abóboras.


Passamos os próximos quinze minutos vasculhando as latas
gigantes e retirando alguns tamanhos e formas diferentes que
pensamos que ficariam bem exibidos no bar. Nós as alinhamos no
chão. Depois de selecionar as que queríamos, escolhi as duas
maiores que pude encontrar para minha sobrinha e meu sobrinho,
porque as crianças têm tudo a ver com tamanho. Eu fiz o meu
melhor para pegar duas que fossem tão semelhantes quanto
possível para que não brigassem por elas.

Entramos para pagar e eu estacionei a caminhonete na frente do


mercado para que pudéssemos empilhar as abóboras atrás.

Uma por uma, enchemos o caminhão. Quando coloquei a última


abóbora dentro, fechei a porta traseira. Olhei para Lucky, que
estava esperando na porta do lado do passageiro da caminhonete,
mas sua atenção foi desviada para a rua. Segui seu olhar e
encontrei Lady Mallory, Josiah e Shay reunidos do lado de fora do
Jasper Café e Padaria.

Os cabelos dos meus braços se arrepiaram, vendo a vidente


novamente. Eu mal terminei de digerir suas palavras ridículas. Elas
ainda me mantinham acordado à noite, mesmo quando eu me
convenci de que ela era uma lunática delirante que não tinha a
menor ideia do que ela estava falando.

Josiah parecia presunçoso como sempre, os dedos voando sobre o


telefone enquanto seu sorriso crescia cada vez mais. Ele estava se
esforçando ao máximo para se esquivar de Shay, que estava na cara
dele, fazendo tudo o que podia para tirar o dispositivo de suas
mãos. Lady Mallory estava alheia a ambos e aparentemente não
falava com ninguém, como sempre fazia quando estava fora de seu
pequeno estúdio. Shay estava dizendo algo a Josiah, mas eles
estavam muito longe para entender.

— Ah não. Tenho a sensação de que o problema está se


formando. — Disse Lucky.

— Sempre há problemas no que diz respeito a Josiah. Não tenho


certeza porque você é amigo do cara, para ser honesto. Ele é um
idiota.

— Eu sei como lidar com ele. Parece que ele está irritando Shay
de novo. Ele não deve ter aprendido a lição.

Subi ao lado de Lucky para ver melhor o que estava acontecendo.


Eles estavam atraindo uma multidão, o que não era difícil de fazer
nesta cidade. A palavra viajava na velocidade da luz. Quando algo
divertido acontecia, as pessoas saíam de lojas e casas para dar uma
olhada. Na hora do jantar, todos saberiam sobre isso.

Shay era cerca de dez anos mais novo do que eu, então eu não o
conhecia bem como pessoa, mas ele vinha crescendo uma
reputação na cidade desde os dezesseis anos como o temerário de
Jasper. — Eu não li no jornal que Shay estava planejando alguma
proeza para o Festival de Inverno do mês que vem? — Vasculhei
minhas memórias, tentando lembrar o que tinha lido. Como a
maioria das coisas que Josiah imprimia, nem sempre eram
verdadeiras ou, na maioria das vezes, eram embelezadas ao
enésimo grau. Sempre foi melhor levar qualquer coisa que você lia
no Jasper Times com um grão de sal.

— Sim. O Guinness Book está chegando e tudo mais.

— Não me diga. Eu li isso. Achei que era tudo besteira. Eles


estão vindo aqui? Para Jasper?

— Eu acho. Josiah descobriu prematuramente e imprimiu. Shay


estava puto. Acho que ele planejou uma revelação inteira ou algo
assim, mas Josiah estragou tudo. O garoto escureceu o olho de
Josiah.

Eu bufei, em seguida, mordi meu punho para abafar uma risada.


— Puta merda, o pequeno Shay Lee fez isso com Josiah? Achei que
ele irritou alguém, mas Shay? Aquele garoto tem uns noventa quilos
todo molhado.

— E estava muito chateado.

— Uau. Sinto muito, eu sei que ele é seu amigo, mas isso é
incrível. Há anos espero que alguém dê um soco nele.

Shay pegou o telefone de Josiah e atirou-o rua abaixo antes de se


virar para a vidente ambulante e gritar alto o suficiente para que a
cidade inteira pudesse ouvir. — Você pegaria uma vida e pararia
já? Não vou cair no esquecimento por uma debandada de vacas,
sua aberração. Agora, esse idiota vai fazer disso sua história de
primeira página. Deus, às vezes odeio essa cidade. O que há de
errado com vocês? — Então ele saiu furioso.
Lady Mallory, imperturbável, vagou para o café como se nada
estivesse errado e ela não tivesse apenas gritado ou sido o centro de
alguma briga.

— Para ser justo. — Eu disse depois que Josiah pegou seu


telefone no chão e o estava verificando. — Shay está certo. Esta
cidade é meio que fodida às vezes.

Lucky deu uma risadinha. — Eu amo isto aqui. Melhor lugar em


que morei em muito tempo.

Josiah olhou para a plateia reunida e revirou os olhos. Ele ajeitou


a alça de ombro de sua bolsa e câmera - que ele carregava aonde
quer que fosse - e franziu a testa para o telefone. Ele olhou em volta
novamente e, quando nos notou perto da caminhonete, marchou
em nossa direção com sua habitual arrogância prepotente. Eu
nunca gostei do cara, especialmente quando Easton perdeu a
cabeça e decidiu sair com ele por três semanas, alguns anos atrás.

— Merda. — Murmurei com a abordagem de Josiah.

Também não ajudou o fato de que Josiah nunca foi amigável


comigo. Ele olhou para mim por baixo do nariz e ofereceu
comentários mordazes no que me dizia respeito mais de uma vez.
Fomos para a escola juntos e algumas coisas nunca mudaram.

O olhar de Josiah saltou de mim para Lucky. Sempre em jeans de


grife, a cor do blazer de hoje era um azul safira. Ele usava uma
camisa gola alta branca por baixo. Estava pairando perto de zero e
o vento soprava do Norte. Ele devia estar congelando sem um
casaco.

Josiah parou na nossa frente, examinando seu telefone mais uma


vez com uma carranca. — Você viu o que aquele pequeno… A tela
do meu telefone está rachada. Eu só estava tentando... — Ele
rosnou. — Eu deveria chutar seu traseiro esquelético.

— Você nunca aprende, meu amigo. — Disse Lucky, batendo-lhe


no ombro.

— Tanto faz. A velha maluca era... quero dizer, não posso deixar
passar quando ela está distribuindo coisas boas, certo? O que ele se
importa? É meu maldito trabalho. Veja isso.

Ele empurrou o telefone quebrado para Lucky, que o pegou, mas


quase o deixou cair. — Bem, entre seus óculos e seu telefone, eu
diria que este é um sinal de que você precisa ficar fora do caminho
do Shay.

Foi só então que percebi que Josiah estava sem seus óculos de
armação escura reveladores. O que eu soube de Easton, ele nem
mesmo precisava, mas usava como parte de sua declaração de
moda. Quem fazia isso? Quem usava óculos quando não era
necessário?

— O que? Ficar longe de... e perder... você está louco? Ele


poderia parar de ser tão difícil e talvez... eu não sei.

— Você não vai realmente publicar sobre sua morte prematura


por uma debandada de vacas, vai? É ridículo. — No minuto em que
as palavras saíram da minha boca, eu me arrependi. Eu sabia que
não devia chamar a atenção de Josiah.

Josiah mudou, seu olhar pousou em mim, um sorriso de escárnio


enrugando seu nariz. — Knox MacKenzie. — Ele me examinou de
cima a baixo, e eu não pude deixar de me contorcer e sugar meu
estômago, ficando tão alto quanto minha altura estúpida permitia,
mas não deixando sua crueldade chegar até mim. — Interessante.
Você sabe, eu ouvi...

Antes que Josiah pudesse dizer mais alguma coisa, Lucky bateu
com a mão em seu peito e guiou Josiah um passo para trás. — Não
ouse. Você quer ser um idiota, seja um idiota em outro lugar.

Quando o olhar de Josiah se voltou para Lucky, uma


peculiaridade apareceu no canto de sua boca. — Isso ainda me
fascina.

— Não é da sua conta. Deixe isso pra lá. Você prometeu.

— Realmente? Quero dizer... — Ele apontou na minha direção.


— Eu não posso... por quê? O que você faz…? Quer dizer, vamos.

— O suficiente. Pegue seu telefone e vá ver se David consegue


consertá-lo.

— David? David Lee? Pai de Shay? Você acha mesmo…?

— Então talvez você devesse ter considerado isso antes de irritar


Shay.
David Lee é dono da única loja de consertos eletrônicos e de
computadores da cidade. Ele também lidava com questões menores
de telefone celular. O homem era um mago da computação e um
gênio prático. Não havia mais ninguém, e Josiah deve ter percebido
isso.

Josiah estreitou os olhos para Lucky, em seguida, lançou seu


olhar para mim e de volta. — Então, você... — Ele acenou com a
cabeça na minha direção, sem terminar a frase, como de costume.

— Não. Ainda não. Tínhamos um acordo, lembra?

— Eu sei.

— Esse acordo inclui manter sua armadilha fechada em


momentos como este também.

Eu assisti os dois conversando para frente e para trás, sem ter a


menor ideia do que eles estavam falando. Josiah era enigmático o
tempo todo, mas Lucky parecia estar acompanhando sem
problemas. Tive a sensação de que eles estavam falando sobre mim,
mas sempre pensei isso com todos quando sussurravam ao meu
redor. Easton me disse centenas de vezes que nem sempre foi o
caso. Ele alegou que eu era apenas paranoico. Mas desta vez
parecia mais.

Eu fiquei quieto.

A conversa mudou para Shay e Lady Mallory. Por que Josiah


aceitou tudo o que aquela mulher disse sem explicações, eu não
tinha ideia.
A mulher estava cheia de merda o tempo todo. Inferno, ela me
convenceu por dez segundos quentes de que talvez eu fosse gay ou
algo assim. Ou amava Easton. O que talvez eu tenha feito. Mas não
assim. Não, a mulher não fez nada além de causar problemas. Tudo
o que ela dizia era besteira.

Na maioria das vezes.

Eu me livrei das memórias horríveis da minha leitura na feira


assim que Josiah bateu no braço de Lucky. — Me ligue quando...
— Ele inclinou a cabeça em minha direção. — Eu quero detalhes.

— Fique longe de problemas.

Josiah me ofereceu um sorriso forçado e desfilou pela estrada em


direção à loja, onde dirigia o Jasper Times. Uma vez que ele estava
fora do alcance da voz, eu balancei minha cabeça.

— Detalhes.

— Detalhes. — Murmurou Lucky.

Eu fiz uma careta. Lucky se virou para mim quando Josiah


desapareceu dentro do prédio, parecendo querer entrar na
caminhonete, mas eu estava bloqueando seu caminho.

— Detalhes? Sobre o que? Eu? Por que ele quer detalhes sobre
mim? Que tipo de detalhes?

— Ele está apenas sendo um idiota. Não é nada.

Não parecia nada. Eles falaram sobre mim nas minhas costas? A
gentileza de Lucky foi um ardil? Eu me senti um idiota.
Lucky tocou meu braço, me puxando do pânico que piscava para
a vida na minha cabeça. —Ei, não é nada ruim, OK? Eu juro.
Josiah está apenas sendo Josiah e não cuidando da própria vida.

— Então me diga o que ele quis dizer.

Lucky hesitou, sua mão demorando no meu braço. — Eu... não


quero ainda.

— Por quê? — Eu me livrei de seu aperto e cruzei os braços sobre


o peito. — Eu tenho lidado com idiotas como Josiah minha vida
toda. Se você é como ele, diga-me agora e poupe-me da humilhação.
Estou muito velho para essa merda.

Lucky suspirou e estudou seus pés por um minuto antes de


encontrar meus olhos. — Sim, ele pode ser um asno. Eu sei. Eu
serei o primeiro a admitir. Mas ele nem sempre é. Em algum lugar
lá, ele tem um bom coração. Ele nem sempre sabe como expressá-
lo. Não sou como ele e não estou me preparando para nada, exceto
para ser seu amigo. Eu juro. Por favor acredite em mim.

Eu considerei sua honestidade, esperando não estar sendo


enganado. — OK. Você apenas tem que entender, aquele cara
tornou minha vida miserável no passado.

— Eu acredito nisso. — Nenhum de nós falou por um minuto,


então Lucky acrescentou: — Quer ir esculpir abóboras comigo?

Eu apertei meu lábio inferior entre meus dentes, perdendo o


poder de sustentar seu olhar. — Sim. Eu quero. — Mais do que eu
poderia expressar. Era algo que estava me deixando quase tonto por
dentro.

— Então vamos.

Uma vez de volta à casa de Lucky, carregamos as abóboras para


seu quintal, onde ele tinha uma mesa de piquenique e muito espaço
para trabalhar em uma tarefa tão complicada.

— Vou ver o que posso encontrar para facas. Você precisa de


algo específico para se livrar das entranhas? — Lucky fez uma
careta.

— Uma colher grande e talvez alguns sacos plásticos?

— Nisso. Volto logo. Queres alguma coisa para beber?

— Nah, eu estou bem. Obrigado.

Ele correu para dentro e voltou com os poucos itens de que


precisávamos para começar a trabalhar. Enquanto Lucky cortava a
parte de cima das poucas abóboras que compramos, comecei a
trabalhar para remover as entranhas. Era um dia frio e meus dedos
se transformaram em gelo rapidamente, ficando dormentes.
Lembro-me de que era algo que acontecia todos os anos em que
esculpíamos abóboras quando eu era criança.

Lucky me observou trabalhar, com as mãos afastadas e uma


expressão de nojo no rosto, o que me fez rir.

— Eu estava pensando, — Disse ele. — quando terminarmos,


talvez possamos entregá-las e comer algo enquanto estivermos lá.
Não é sempre que sou cliente da cervejaria. Achei que seria bom. O
que você acha?

— Sim claro. Isso parece ótimo.

Mas então pensei muito sobre isso nos próximos cinco minutos, e
minha pele coçou e formigou enquanto eu debatia e questionava
tudo. Ele estava me perguntando como amigo, certo? Amigos faziam
esse tipo de coisa o tempo todo. Não foi estranho. Foi? Por que eu
me sentia tão desequilibrado com Lucky? Eu estava ansioso para
sair com ele, mas questionei cada pequena ação e palavra falada o
dia todo.

Terminei de retirar as entranhas da primeira abóbora e a


apresentei a Lucky. — Tudo pronto para um rosto.

— Perfeito. — Ele pegou o marcador que havia trazido para fora e


trabalhou no esboço de um contorno. — Traje favorito de
Halloween enquanto crescia. — Disse ele.

Olhei em sua direção enquanto começava a trabalhar na próxima


abóbora. — Astronauta. Eu ajudei meu pai a fazer isso. Passamos
por um rolo inteiro de papel alumínio, mas foi incrível.

— Quantos anos você tinha?

Eu soltei um suspiro, fazendo meus lábios vibrarem. — Dez,


talvez nove. Não consigo lembrar. E você?
— Power Ranger. O vermelho. Implorei a mamãe e papai por um
ano inteiro por aquela fantasia. Eles argumentaram no início que
era muito violento, mas trabalhei com eles até que cedessem.

Eu ri. — Isso foi antes do meu tempo.

— Não, eles não foram. Não minta. Os Power Rangers sempre


existiram. Você não é muito mais jovem do que eu, Knox. Não fique
convencido. Lago ou oceano?

— Lago. Nunca fui ao oceano.

— Nome da sua primeira namorada?

Minhas mãos ficaram suadas, apesar da temperatura lá fora e do


fato de que há muito tempo havia perdido a sensibilidade nos
dedos. — Hum... Sally. Sally Rhodes.

— Quantos anos você tinha?

Eu raspei a colher grande contra a lateral da abóbora, me


recusando a deixar Lucky ver como essa linha de questionamento
me balançou. Eu odiava falar sobre namoro e garotas. Toda vez que
Easton tocou no assunto no passado, eu desviei, evitei e então
fiquei bravo se ele pressionasse. — Esqueça. Você vai rir.

— Eu não vou. Eu prometo.

— Bem. Dezenove. Você?

— A primeira pessoa com quem namorei foi uma garota chamada


Irene. A conheci no acampamento de verão quando eu tinha quinze
anos. Aparentemente, eu beijava mal, e ela me largou depois de
cinco horas em nosso novo relacionamento.

— Duro.

Nós dois rimos.

— Eu nunca tinha beijado ninguém antes daquele dia, então eu


não sabia o que diabos eu estava fazendo. Ela enfiou a língua na
minha boca e eu entrei em pânico e empurrei novamente usando
minha língua.

Eu bufei, então abaixei meu queixo, apertando meus lábios. —


Desculpe, isso foi apenas...

— Eu sei. Não foi um dos meus melhores momentos. Não


conseguia entender o que diabos ela estava fazendo comigo. Gosto
de pensar que melhorei desde então. Fiz questão de compreender e
aperfeiçoar o beijo francês para não me envergonhar duas vezes. A
boa notícia é que não tive reclamações desde então.

Eu queria dizer algo inteligente e astuto de volta, mas analisei


minhas palavras por muito tempo, perdendo o momento.

Quando o Lucky começou a esculpir a abóbora, eu olhei para ele.


E ele não colocou a língua para fora apenas um pouco, enquanto
ele se concentrou no que ele estava fazendo. E eu não me deixei
deslumbrar com essa pequena ação.

Observei a maneira como esfregou a mesma seção de seu lábio


superior. Observei a trilha molhada que deixou para trás. Eu pensei
sobre ele aperfeiçoando o beijo francês e aquela língua entrelaçada
com a outra. Quando uma onda de calor aqueceu minha barriga, eu
desviei meus olhos, minhas bochechas queimando no dia frio. O
que diabos eu estava fazendo?

Eu precisava mudar de assunto. Rápido. — Programa de


televisão favorito?

Ele balançou sua cabeça. — De jeito nenhum. Muita munição.


Eu já te disse que meu beijo falha. O programa de TV está fora dos
limites.

— Bem, agora eu tenho que saber.

— Sem chance.

— Vamos. Sou um nerd de ficção científica. Não pode ser pior do


que isso.

— E daí? Gosta de Star Trek?

— Sim. Vi todos eles, do original a cada spin-off que eles fizeram.


Neste momento, estou assistindo Babylon 5 pela quarta ou quinta
vez.

— Não assisti isso. — Lucky recostou-se e examinou o rosto que


ele esculpiu em sua abóbora antes de virar para mim. — Meh, eu
não sou um artista.

— É bom. — Ele tinha feito uma lanterna genérica de olhos


triangulares e dentes afiados, mas funcionou. Eu não poderia ter
feito melhor. — Não pense que você está escapando sem me
responder.

Eu empurrei uma nova abóbora para ele.

Lucky deu uma risadinha. — Bem. Sem rir. Eu sou uma


aberração por reality shows. Eu amo todos eles. Não consigo o
suficiente. O drama e assistir a maneira como as pessoas são umas
com as outras, examinando seus motivos internos e seus
pensamentos, eu adoro. As pessoas me fascinam.

— O que há de errado nisso? Eu vi alguns. Eles não são tão


ruins. A menos que você esteja assistindo The Bachelor ou algo
assim. Então eu vou rir.

— Eu te disse. Todos eles. O The Bachelor é o melhor de todos


porque essas pessoas são cruéis. — Compartilhamos uma risada, e
Lucky ergueu o olhar, travessura em seus olhos. — Personagem de
desenho animado favorito?

— Homer Simpson. Você?

— He-Man.

— De jeito nenhum.

— Eu não brinco sobre He-Man.

A tarde continuou com uma centena de perguntas aleatórias


enquanto eu destripava as abóboras e Lucky as esculpia. Quando
terminamos e limpamos, eram quase cinco da noite e estávamos
nos preparando para ir à cervejaria para entregá-las e comer
alguma coisa.

— Ah Merda. — Eu parei quando percebi que tinha ficado tão


amarrado em meus dias que tinha esquecido as promessas que fiz a
outras pessoas. — Eu disse a minha irmã que iria hoje. Esqueci
completamente. — Eu não queria abandonar Lucky. Este foi o
melhor dia que tive em muito tempo, mas eu estava dividido. — Me
dê um segundo. Vou ligar para ela e dizer que não posso ir. Vou
deixar as abóboras que comprei para as crianças no nosso caminho
para a cervejaria, se estiver tudo bem?

— Certo. Se você tiver que ir, tudo bem. Eu não queria amarrar o
seu domingo inteiro.

— Não, não, estamos bem. De qualquer forma, está ficando tarde


para visitar as crianças. — Além disso, não conseguia explicar
como a ideia de cancelar nossos planos de jantar evocou essa
sensação de inquietação dentro de mim.

Enquanto Lucky empurrava as abóboras na parte de trás da


minha caminhonete, liguei para minha irmã.

— Tio Knox, onde você está? — Noah disse quando atendeu o


telefone da minha irmã.

— Ei amigo. Eu estou ocupado hoje. Lamento não ter


conseguido.

Ele gemeu. — Você não vem? Mas íamos jogar Minecraft juntos.
Você prometeu.
— Eu vou compensar você. Eu juro. Posso falar com a mamãe?

Houve uma confusão quando ouvi Noah anunciar: — Ele não


vem. — Em seguida, seus pezinhos saíram como uma tempestade,
desaparecendo no fundo.

— Olá. — Disse Lexi quando ela atendeu.

— Ei, desculpe, não liguei antes.

— Está tudo bem. Achei que você estav a ocupado.

— Eu estava. Tenho ajudado um amigo hoje. Perdi a noção do


tempo.

— Quem? East?

— Não. Outro amigo. Comprei algumas abóboras para as


crianças. Posso deixá-las aí? Achei que elas gostariam de ter mais
para esculpir.

Ao fundo, eu ouvi enquanto minha irmã lidava com Mya, minha


sobrinha, que falava em cima de mim, sem saber ou se importar
que sua mãe estava ao telefone. — Desculpe. Sim, traga-as. Você
está muito ocupado para ficar para o jantar?

— Na verdade, eu tenho planos. Mas obrigado.

— OK. Sem problemas.

— Estarei aí em cerca de cinco. Diga a Noah e Mya que vou


passar por aí esta semana depois do trabalho.

— Que tal você aparecer na quarta-feira e ser um bom tio e levá-


los para doçuras ou travessuras para mim.
Eu ri. — Assim, não é?

— Eles ficariam emocionados.

— Eles ou você?

— Algo parecido. — Ela riu.

— Verei o que posso fazer.

Quando desliguei o telefone, Lucky estava pronto e esperando. —


Vamos passar pela sua irmã?

— Sim. Vou largar as abóboras e fugir. Assim, as crianças não


vão nos atacar e nos prender por muito tempo.

— Sem problemas.

Minha irmã morava do outro lado da cidade, mas ainda estava a


apenas alguns passos da casa de Lucky. Demorou menos de cinco
minutos para chegar lá e, quando parei a caminhonete na viela,
Lexi saiu, prendendo um casaco de lã pesado em torno de seu corpo
esguio.

— Essa é sua irmã? — Lucky perguntou. — Ela se parece com


as outras duas.

— Sim. Todas as minhas irmãs têm a altura e a estrutura esguia


do meu pai. Não nos parecemos muito. Eu puxo minha mãe. Me dê
um minuto.

Saltei do caminhão e juntei as abóboras, uma embaixo de cada


braço, levando-as para minha irmã na varanda. Eu as coloquei para
baixo e coloquei minhas mãos nos bolsos. Lexi estava examinando
Lucky.

— Esse é o cara da cervejaria?

— Sim. Lucky. Temos saído um pouco.

Lexi concordou. — Nova me disse que você estava com ele na


feira.

— Nós nos encontramos.

Ela desviou o olhar da caminhonete e olhou para as abóboras. —


Obrigado. Eles vão adorar.

— Sem problemas. Olha, eu tenho que correr, mas eu voltarei


para você na quarta-feira.

— Tudo bem se você não puder. — Ela olhou para Lucky


novamente. — Você também pode ter uma vida. Estou feliz que
você não esteja sentado em casa ainda de mau humor. Você e East
estão conversando?

— Sim, estamos bem. Fui para sua festa de solteiro na sexta-


feira. Eu conversei com Lachlan um pouco sem matá-lo, então é
isso.

O sorriso de Lexi foi simpático quando ela olhou para mim. —


Você está bem?

— Sim. O East está feliz, então… A vida continua, certo? Somos


adultos agora. Talvez seja hora de me lembrar disso.

Lexi estremeceu. — Você também pode ser feliz, Knox.


— Estou bem. Vá para dentro. Está muito frio aqui para estar
vestida assim.

Ela abriu os braços e nós compartilhamos um abraço apertado.


Ela beijou o topo da minha cabeça, o que eu odiei porque enfatizava
nossa diferença de altura, mas meu rosnado com a ação só me
rendeu um sorriso maroto.

— Tenha uma boa noite, baixinho. Te amo.

Eu rosnei, mas não pude evitar o sorriso. — Você também,


pirralha. Eu vou te ligar.

Lucky e eu não falamos muito em nosso caminho para a


cervejaria. Quando chegamos lá, levamos as abóboras entalhadas
para dentro e eu me afastei enquanto Lucky conversava com alguns
colegas de trabalho e arrumava as abóboras no balcão.

A ideia de jantarmos juntos parecia cada vez mais estranha


quanto mais eu ficava sozinho, esperando por ele. Antes que meus
pensamentos pudessem fugir de mim, ele estava lá e me guiando
para uma mesa tranquila nos fundos.

Acontece que eu não tinha nada com que me preocupar. O jantar


foi divertido. Compartilhamos uma conversa leve sobre o trabalho e
minha família, lançamos mais uma dúzia de perguntas aleatórias
rápidas um para o outro e bebemos algumas cervejas caseiras.

A cervejaria fechava no início das noites de domingo e, antes que


eu percebesse, eram oito horas e as coisas estavam fechando.
— Bem. — Disse Lucky com um sorriso suave. — Eu acho que
isso é tudo.

— Sim. Acho que sim.

— Você se importa de me levar para casa? Eu poderia andar,


mas está congelando.

— Claro que sim.

Pela primeira vez em toda a noite, o ar entre nós estava cheio de


incertezas. Talvez tenha sido só eu, mas senti calor e frio por todo o
lado, e as minhas entranhas estavam num liquidificador. Eu dirigi
Lucky para casa, mas quando estacionei em sua garagem, ele não
pulou para fora imediatamente. Ele olhou para sua casa com um
olhar distante em seu rosto.

Minhas mãos estavam escorregadias no volante e, por mais que


me esforçasse, não conseguia entender por que era tão difícil
respirar ou por que estava tão nervoso.

— Tive um ótimo dia hoje. — Disse Lucky, sua voz vindo de


longe.

— Eu também.

— Devíamos sair novamente algum dia.

— Sim. Gostaria disso.

— Eu também.

Em seguida, aqueles dois olhos de cores diferentes estavam


olhando para mim, e eu não pude encontrar seu olhar pesado para
salvar minha vida. Eles estavam fazendo minha barriga tremer e
girar.

— Estou de folga todos os domingos.

— Estou de folga todo fim de semana. — Eu soltei. —


Deveríamos. Quero dizer…

— Eu tenho seu número. Tudo bem se eu ligar para você algum


dia?

— Sim. Isso é legal.

— Bom. Boa noite, Knox.

— Boa noite.

Eu não poderia me afastar até que ele desapareceu dentro de sua


casa. Mesmo assim, um tremor constante em meus dedos tornou
difícil virar a chave e ligar o caminhão.

Eu dirigi para casa, recusando-me a examinar qualquer coisa,


embora eu estivesse caminhando à beira do pânico, e não tinha
ideia do porquê. Já fazia muito tempo que não desenvolvia uma
nova amizade. Todos esses sentimentos eram normais ou não?
Capítulo Dez

Lucky

Não conseguia descrever a alegria que senti quando Knox


apareceu no bar depois do trabalho na segunda-feira. Depois do
nosso dia juntos no domingo, achei que ele iria pirar e não
aparecer. Então, quando ele entrou e deu um sorriso tímido em
minha direção que durou dez segundos antes de ele examinar o
lugar, fiquei emocionado.

Ele se sentou no bar e, como as segundas-feiras eram


terrivelmente lentas e chatas, conversamos a noite toda.

Ele estava lá na terça-feira também, mas me informou na quarta-


feira que não poderia estar lá, pois era noite de Halloween e ele
prometeu à irmã que levaria as crianças para passear por doces ou
travessuras.

O Halloween acabou sendo uma noite maluca na cervejaria de


qualquer maneira, e de jeito nenhum eu seria capaz de passar
muito tempo conversando com ele de qualquer maneira. Éramos o
ponto forte da cidade. Qualquer pessoa que não tivesse a
responsabilidade de levar as crianças de porta em porta apareceu
em um momento ou outro.
Todos os clientes vieram vestidos com fantasias, e eu
relutantemente concordei em me vestir bem também. Eu encontrei
pedaços de uma fantasia de pirata e fui alvo de muitos elogios
naquela noite. Engraçado como um simples tapa-olho era suficiente
para ajudar as pessoas a se sentirem confortáveis em me olhar nos
olhos.

Crianças saltavam da rua, gostando de comer doces ou


travessuras com os pais, e eu tinha tigelas cheias de doces para
distribuir enquanto tentava atender aos pedidos de bebidas. Foi um
caos, mas foi divertido.

Assistir as crianças correndo para cima e para baixo na rua me


divertiu. Havia zumbis e palhaços, super-heróis e animais de todos
os tipos. Por volta das sete, Easton, Lachlan e Percy entraram. Os
três estavam vestidos como Homens de Preto com seus ternos
combinando e óculos escuros. Percy ainda carregava o
neutralizador que ele acenava e piscava para qualquer um que
olhasse em sua direção.

Às oito horas, Josiah caiu em um banquinho em frente a mim,


parecendo exausto. Era cedo para ele estar por perto, mas eu servi
sua bebida padrão e coloquei na frente dele.

— Onde está sua fantasia? — Eu perguntei.

— Eu odeio tudo isso. — Ele acenou com a mão em toda a


comoção do Halloween. — Me dá dor de cabeça. — Então ele olhou
para minhas roupas de pirata, o olhar deslizando para cima e para
baixo em meu corpo, da minha blusa branca ondulada até meu
calção e parando no meu tapa-olho e no papagaio de pelúcia que eu
tinha empoleirado no meu ombro.

— Argh. — Eu disse com um sorriso, posando.

— Um pirata?

— Pelo menos eu não sou um desmancha-prazeres como você.


Melhor que eu poderia inventar.

Ele adotou um olhar malicioso enquanto olhava para a


protuberância na frente do meu calção, que era apertado demais
para o meu gosto. — Você está apenas procurando alguém para...
você sabe. Knox não fará isso. Você ficará muito desapontado. Ele é
muito... Deus, mesmo se ele se superasse. Não, você terá que
encontrar outra pessoa para saquear seu tesouro lá, garoto pirata.

Estendi a mão para golpear Josiah no topo da cabeça, mas ele se


esquivou de mim com uma risada. — Você é um idiota. E fique
longe do meu tesouro.

— Eu não tenho nenhum interesse na sua... — Ele inclinou a


cabeça, com o objetivo de dar uma olhada na minha bunda. — Tão
bom quanto é.

— Bom. — Eu o golpeei novamente, acertando-o daquela vez, já


que sua atenção foi desviada para onde não deveria estar. — Então
pare de olhar para minha bunda. Não haverá saquear. Por qualquer
um.
— Okay, certo. — Josiah olhou para a multidão. — Ele não está
aqui?

— Não. Ele tinha outras coisas para fazer esta noite.

— Hmm. — Josiah deu um gole em sua cerveja, cutucando seu


novo telefone, sua atenção desviada por alguns minutos pelas redes
sociais. — Como está... você sabe... indo com sua mãe? — Ele
perguntou quando empurrou o telefone de lado novamente.

Suspirei e olhei para o bar para a multidão reunida, notando um


par de caras esperando para serem servidos. — Eu não fiz
nenhuma ligação ainda. Ainda deixando isso afundar. Espere. Eu
voltarei.

Pesquei um palito de dente de um copo sob a caixa registradora


enquanto me dirigia para os homens que esperavam. Depois de
mastigar bem o palito de madeira e o sabor de menta saturar
minhas papilas gustativas, me acalmei. Eu estive adiando aqueles
telefonemas durante toda a semana, seguindo o conselho de Knox
de simplesmente sentar e ver como me sentiria assim que
entendesse.

Não importava quantos dias se passaram, eu não me sentia mais


confiante sobre o que queria fazer.

Enchi as bebidas, organizei alguns pedidos para os outros


servidores e verifiquei novamente com Josiah, que estava mais
interessado em seu feed do Twitter do que em conversar. Quando
ele terminou o que estava fazendo, anunciou que não poderia ficar,
mas me convidou para passar em sua casa depois do trabalho.

Embora tenha concordado, por volta das onze horas daquela


noite, eu estava cansado demais para pensar em sair com Josiah.
Tudo que eu queria era minha cama. A noite de Halloween me fez
perder o equilíbrio.

No entanto, quando Knox passou pelas portas às vinte para a


meia-noite, toda a exaustão persistente desapareceu.

Fiquei surpreso ao vê-lo. Sabendo que ele trabalhava de manhã


cedo e corria atrás de gêmeos de cinco anos a noite toda, presumi
que ele estava em casa dormindo, então fiquei emocionado ao vê-lo.

Ele andou até o bar, não sentando, mas inclinando-se do lado


oposto quando me aproximei. Ele estudou meu rosto com um
sorriso no rosto.

— Pirata Lucky. — Ele riu. — Eu não sabia que você se vestia


para o Halloween.

Dei de ombros, retirando meu tapa-olho pela primeira vez em


toda a noite e colocando-o no topo da minha cabeça. — Só estou
entrando no espírito. Essas calças são um pouco justas demais
para o meu gosto. Elas estão atraindo muito mais atenção do que
eu gostaria. Mal posso esperar para me livrar delas. Como foi a tua
noite?
Knox lançou um olhar para a peça de roupa ofensiva, mas
desviou os olhos com a mesma rapidez, as bochechas ficando
rosadas sob a barba.

— Minha noite? Louca. Tenho pena da professora dos gêmeos


amanhã. Aqueles dois desmaiaram há cerca de uma hora, depois de
girar o açúcar desde o jantar.

— Caramba.

— Estou exausto. Não sei como minha irmã faz isso todos os
dias.

— Então por que você não está em casa na cama? — Inclinei-me


do outro lado do bar, estudando o perfil de Knox, nem um pouco
triste por ele ter decidido aparecer e visitar.

Quando ele não respondeu e abaixou o queixo, brincando com os


dedos, eu me perguntei se talvez ele tivesse sentido falta da nossa
conversa esta noite tanto quanto eu.

— Você teve uma noite agitada? — Ele perguntou.

— Sim. Foi uma loucura. Doces e álcool. — Eu ri. — É uma


mistura e tanto. Os adultos às vezes são tão ruins quanto as
crianças. Quer uma bebida?

Ele não se sentou, então eu não tinha certeza de que ele iria ficar.

— Nah. Só queria dizer oi antes de ir para casa. Eu... hum. Eu...


— Ele passou os dedos ao longo do bar, umedecendo os lábios
repetidamente enquanto lutava para encontrar as palavras.
Toquei sua mão, não demorando, mas o suficiente para chamar
sua atenção e encorajá-lo a cuspir o que quer que ele quisesse
dizer.

— E aí?

— Eu só… Não é sempre que eu tenho que trabalhar até tarde,


mas o conselho vai ter reuniões nas próximas duas noites na
prefeitura, e eu acho que tenho que estar lá. Tem algo a ver com
aquele garoto Shay e o Guinness Book chegando. Temos muito
trabalho de preparação para o Festival de Inverno, e agora com o
evento dele, dobrou o que temos que fazer. De qualquer forma,
talvez eu não consiga aparecer, então estava pensando... se você
gostaria de ir na minha casa no domingo. Sem pressão. Foi só um
pensamento. Você pode dizer não. — Ele cerrou os punhos, depois
cutucou as unhas e cerrou os punhos novamente. — Quero dizer,
você não precisa. Não estou desesperado para sair nem nada. Eu só
pensei... Eu me diverti no último fim de semana e... Eu estava
apenas...

Toquei sua mão novamente. Desta vez, não a soltei. Seu punho
continuou enrolado, mas todo o seu corpo parou com o contato. Ele
não se afastou. — Eu adoraria sair. Sério. Eu também me diverti
muito.

Ele assentiu. Knox estava visivelmente se desintegrando diante


dos meus olhos. Ele estava a dez segundos de entrar em pânico e
provavelmente fugir, então eu soltei sua mão e me afastei do balcão
para dar a ele algum espaço, agindo como se não fosse grande
coisa.

— Deve nevar neste fim de semana. Você quer ficar em casa e


assistir filmes ou algo assim? — Eu sugeri.

Knox lançou seus olhos em minha direção antes de enfiar as


mãos nos bolsos, o ombro ainda alto. — Sim. Isso é legal. Eu gosto
de filmes.

— Ótimo. Eu também.

Ele acenou com a cabeça, o movimento brusco, enquanto fazia


uma lenta retirada em direção à porta. — Vejo você mais tarde.

— Domingo ou antes.

Então ele se foi.

Eu não pude deixar de sorrir para mim mesmo. Aquele pequeno


convite, por mais doloroso que Knox fizesse, significava muito. Eu
vacilei mais do que algumas vezes, pensando que poderia estar
errado sobre ele, pensando que estava vendo o que eu queria ver e
não a verdade, mas então houve momentos como aquele que
provaram que eu estava certo. Knox estava bem trancado, mas sua
linguagem corporal falava muito.

Coloquei meu tapa-olho de volta no olho, tirei um palito novo de


meu copo e comecei a trabalhar com minhas obrigações de
encerramento. O fim de semana estava parecendo cada vez mais
brilhante.
***

No domingo, parei na cervejaria a caminho do Knox e peguei


algumas de nossas cervejas mais legais, especificamente aquela que
eu sabia que ele gostava. Achei que se fôssemos ficar em casa
assistindo filmes, seria bom ter algo para ajudá-lo a relaxar.

Tínhamos mandado mensagens algumas vezes naquela manhã e


planejamos nos encontrar por volta das três. Ele morava em cima
da livraria de usados na rua principal, então estacionei nos fundos
e fiz meu caminho até a entrada, onde ele disse que eu poderia
acessar as escadas de seu apartamento.

Eu nunca tinha estado nos apartamentos acima das vitrines


antigas, mas ouvi que eles eram legais. Josiah me disse que eram
em estilo estúdio e ridiculamente espaçosos. Mas quando Knox me
deixou entrar, eu ainda estava chocado com a quantidade de espaço
que ele tinha em comparação com a minha casinha.

Os tetos tinham mais de seis metros de altura e as elegantes


paredes externas de tijolos eram rústicas, mas convidativas.
Combinaram com o piso de madeira escura e o conceito aberto. Era
tudo um cômodo gigante, mas o quarto de Knox era separado por
algumas telas dobráveis em um canto distante. Seu espaço de vida
era lindo, com tons de terra quentes, móveis e plantas. Fiquei
agradavelmente surpreso. De alguma forma, tive a impressão de
que o solteiro Knox teria uma configuração mais simplista.

Estava claro que ele tinha orgulho de sua casa e se esforçou para
torná-la sua.

Havia um rack de cozinha baixo suspenso acima de uma ilha com


tampo de granito maciço, onde várias panelas e frigideiras de aço
inoxidável estavam penduradas. Um lindo lustre estava acima de
uma pequena mesa de jantar de quatro peças, afastada ao lado. Os
eletrodomésticos eram antiguidades, mas brilhavam em branco e
cromado na sala com pouca luz. Tudo estava arrumado e em bom
estado.

— Este lugar é incrível. Eu não tinha ideia de como era bom


acima das lojas na estrada principal, mas uau.

— Sim, o segredo mais bem guardado de Jasper. Já estou aqui


há algum tempo. O Sr. G, meu senhorio, dono da livraria no andar
de baixo, ofereceu-me há anos. Minha mãe é uma de suas clientes
favoritas e ela estava falando sobre seu filho querer se mudar, e
quando eu sei, meu pai está jogando meus pertences em sua
caminhonete, e é tchau, Knox.

Eu ri. — Quantos anos você tinha quando se mudou?

— Vinte e um. Quer dizer, isso não é ruim, certo? Não era como
se eu planejasse ficar em casa para sempre, mas mamãe e papai
acharam que era a hora. Acho que com tantos filhos quanto eles
criaram, eles estavam prontos para começar a abandonar alguns.
— Quando saí de casa, minha mãe chorou por uma semana.
Acho que ela teria me mantido no bolso de trás até eu ter oitenta
anos se dependesse dela.

Knox riu e abaixou a cabeça. Sempre tímido. — Ela parece ótima.

— Ela é. Aqui. — Estendi a coleção de cervejas que trouxe. —


Achei que íamos querer uma bebida mais tarde.

— Impressionante. Obrigado. — Ele as levou para a geladeira


enquanto eu olhava ao redor.

As janelas que davam para a rua principal eram compridas e


finas que começavam no nível do chão e iam além dos meus dois
metros. Havia quatro delas com vista para o centro de Jasper. —
Você tem as janelas de espionagem perfeitas aqui. Aposto que
aquela senhora de suéter fofoqueira ficaria com ciúmes como o
inferno se soubesse disso.

Knox riu. — Fofoqueira Gal Randaleigh? Sim, sem dúvida. Ela


provavelmente ficaria lá com seus binóculos o dia todo. Josiah
também.

Eu ri. — Não vou contar a ele que você disse isso, mas você está
certo.

— É ótimo para coisas como o desfile do Papai Noel. Posso


assistir daqui de cima e não me preocupo em congelar minhas
nádegas ou ter que lutar contra a multidão.

— Perfeito. Eu sei para onde ir este ano, então.


— A qualquer momento.

Voltei para a sala e encontrei um lugar em seu sofá marrom


macio. Sua enorme TV de tela plana estava escura e pendurada na
parede na minha frente. Ao redor, havia prateleiras flutuantes que
subiam de cada lado da parede de tijolos. Ele mantinha uma
enorme coleção de filmes de um lado e jogos para o que parecia ser
dois ou três sistemas de jogos diferentes do outro.

— Você é um jogador?

— Um sim. Meio. É... eu gosto deles. — Knox enrubesceu ao se


sentar em uma cadeira de pelúcia que estava em um ângulo em
relação ao sofá, e uma pontada de arrependimento me atingiu. Eu
esperava que ele se juntasse a mim. — E quanto a você. Você joga?

— Nunca realmente entrei nisso. Meus pais eram do tipo que


pensavam que os videogames eram a causa dos comportamentos
violentos em crianças, então eles os desencorajavam. Não queria
que eu me transformasse em um assassino em série, eu acho.

Knox deu uma risadinha.

Nossos olhares se encontraram por um segundo, e Knox correu


as palmas das mãos nas calças. — Então, hum... você quer uma
bebida agora? Achei que poderíamos pegar comida para viagem ou
algo assim. Se você quiser. Ou posso cozinhar. Ou não. Eu não sou
ruim na cozinha, mas eu só... não sabia do que você gostava... de
qualquer forma, eu só percebi. — Ele esfregou a nuca, franzindo a
testa.
— Comida para viagem é ótima e eu adoraria uma cerveja. —
Além disso, pensei que Knox também precisava de uma. O pobre
homem teria um enfarte se não se lembrasse de respirar. —
Alguma ideia do que você quer assistir esta noite? Eu topo qualquer
coisa.

Knox pegou algumas cervejas e, quando voltou, sentou-se ao meu


lado. Escondi meu sorriso, aceitando a cerveja mesmo quando
queria fazer uma dança alegre.

— Eu ia sugerir Deadpool, já que você alegou gostar.

— Você não disse que era fã de Star Wars?

— Eu sou, mas isso é...

— Que tal uma maratona?

— Realmente?

— Por que não? Eu amo Star Wars e não tenho nada além disso
planejado para hoje.

Então foi isso que fizemos. Ajudou o fato de que eram filmes
familiares para nós dois, então quando entramos e saímos da
conversa enquanto ele tocava ao fundo, não importava.

Depois que o primeiro filme acabou, pedimos pizza para o jantar.


Foi um grande elogio às cervejas que desciam com facilidade. Assim
que a comida acabou, estávamos no segundo filme. A noite havia
caído sobre Jasper, e Knox não se incomodou em levantar para
acender a luz, então, quando o segundo filme acabou, estava escuro
na sala. A única iluminação vinha da TV e dos sinais de iluminação
da rua que passavam pelas janelas descobertas.

Os créditos rolaram, mas nenhum de nós se moveu. Em algum


ponto durante o filme, nós dois nos acomodamos no sofá com os
pés apoiados na mesa de centro. Nossos ombros estavam quase se
tocando e nossas coxas estavam a menos de uma polegada de
distância. Eu podia sentir o calor do corpo de Knox tão perto do
meu e não pude deixar de notar como ele cheirava a um banho
fresco e um toque de spray corporal.

Eu estava ciente de que Knox estava ao meu lado. E com base em


sua respiração controlada e a tensão em seus músculos, achei que
ele também estava muito ciente de mim.

A escuridão deu à atmosfera uma sensação de privacidade e


reclusão. Isso sugeria intimidade, o que me perguntei se Knox
notou.

Eu me arrisquei a dar um passo mais ousado, sabendo que Knox


poderia pular do sofá e decidir que estava muito assustado para
tudo isso, mas tive a sensação de que ele estava curioso.

Em voz baixa, com os olhos nos nomes rolando na tela, perguntei:


— Você dorme de barriga para cima ou de costas?

Ele fez uma pausa antes — Para cima.

— Você dorme nu?


Ele bufou uma risada, o que era um bom sinal de que ele não se
apavorou instantaneamente. Sua coxa bateu na minha enquanto
ele ajustava seu assento, mas ele se afastou novamente. — Não.
Em roupas íntimas.

— Boxers ou cuecas?

Inclinei minha cabeça para o lado para que pudesse observar sua
expressão. Seu olhar permaneceu grudado na TV, mas suas
bochechas estavam redondas e cheias com seu sorriso de tirar o
fôlego. Ele molhou os lábios e engoliu em seco. — Boxers. — Sua
voz estava leve. Tímida.

— Quantas garotas você já namorou?

Seus dedos se contraíram em sua perna e sua coxa bateu na


minha novamente. Eu poderia dizer que ele estava tentando não se
inquietar. — Apenas quatro. — Ele suspirou. — Isso é
constrangedor, não é? — Ele fechou os olhos antes de balançar a
cabeça e abri-los novamente.

— Não, não é.

Peguei alguns palitos de dente do bolso. Eles eram aqueles que eu


peguei no bar em algum momento, então eles estavam embrulhados
em plástico e não estavam cobertos com fiapos de bolso. Eu ofereci
um para Knox. Ele olhou para mim antes de pegá-lo, com um leve
sorriso nos lábios.

— Você ama essas coisas bobas, não é?


— Eles me dão algo para fazer quando não consigo ficar parado
ou fazer minha cabeça parar de girar.

Ele não questionou essa confissão, mas tirou o palito da


embalagem e enfiou na boca, roendo da mesma forma que eu.

— Menta.

— Eu sei. Cuidado, eles são viciantes.

Ele riu.

Eu sabia que eles eram uma pequena obsessão da minha parte.


Eles ajudaram à sua maneira, e pensei que talvez ajudassem Knox
também, já que eu o estava empurrando para territórios
desconhecidos. Eu o deixei apenas ficar sentado por alguns
minutos. A tela da TV ficou preta e ainda não nos mexemos.

— Quantos anos você tinha quando perdeu a virgindade?

Knox tirou a pequena vara de madeira da boca e a rolou entre os


dedos uma vez antes de colocá-la de volta entre os dentes. — Vinte
e quatro. — Seu nariz enrugou e ele balançou a cabeça como se o
pensamento o incomodasse.

— Não é uma boa experiência?

— Apenas constrangedora.

— Por quê?

— Porque a maioria das pessoas que eu conheço eram muito


mais jovens quando fizeram isso.

— Não há nada de errado em ser mais velho.


— Diz o cara que provavelmente tinha dezoito anos quando
perdeu a virgindade.

— Não. Eu tinha vinte e dois anos.

Ele olhou para mim e então para longe. Aproximei minha perna e,
quando nossas coxas entraram em contato, deixei minha perna
contra a dele. Knox não se afastou.

— Diga-me algo que você ama sobre você.

O sorriso de Knox se transformou em uma carranca profunda.


Ele bufou uma risada sem humor. — Não há muito para gostar.

Tive a sensação de que ele diria isso. Suas inseguranças


apareceram.

— Claro que existe. Que diabos você está falando?

— Vamos. Olhe para mim. Sou tão baixo que é constrangedor.


Eu sou gordo. Sou estranho. É uma maravilha como consegui fazer
com que quatro garotas namorassem comigo. Não se importaram
em dormir comigo.

Bati em sua perna e olhei para sua expressão abatida. —


Primeiro de tudo, cale a boca e pare de falar sobre você desse jeito.
Você está longe de ser gordo. Nem mesmo perto. Você já se olhou no
espelho? E daí se você não tem um pacote de seis? A maioria dos
caras não o tem. Certamente não. E sim, você não é alto, mas quem
se importa. Além disso, se as pessoas não conseguem ver além do
que está do lado de fora, não vale a pena saber delas. Você tem um
coração bom, Knox. Você é engraçado. Respeitoso. Educado. Gentil.
Você não é arrogante ou pretensioso. Eu gosto disso. E você não é
estranho, você é tímido. Por favor, não diminua meu amigo. Vou ter
que chutar o seu traseiro, e não quero fazer isso. Eu sou péssimo
em lutar. Meus pais me protegeram, lembra?

Fiquei feliz quando meu comentário me rendeu um dos sorrisos


incertos de Knox. Ele corou facilmente e eu adorei.

— Agora, você terminou de ser um deprimente? — Eu perguntei.

— Sim. Eu acho.

— Você acha, ou você terminou?

— Terminei.

— Agora, a mesma pergunta, exceto desta vez, ouça atentamente


o que estou perguntando. Diga-me algo que você ama sobre você, e
não precisa ser um atributo físico. No entanto, há muitas coisas
bonitas sobre você que você poderia ter listado e não listou. Apenas
dizendo. — Então eu segurei minha boca fechada e esperei que ele
surtasse porque eu ousei mencionar que o achava bonito.

Ele não correu, mas ficou sentado muito quieto, sua respiração
superficial e o corpo tenso.

Permanecemos conectados, nossas pernas apoiadas uma na


outra. O peito de Knox subia e descia enquanto ele brincava com o
palito que eu lhe dei. — Eu sou útil, eu acho. Lexi diz isso.

— Você é. E?
— Você disse uma coisa.

— Eu menti. Diga-me outra.

Quando ele lutou por muito tempo, eu falei. — Que tal sua
barba? Nem todo mundo consegue ter pelos faciais bonitos. Você
tem uma barba matadora. Você está falando com um cara que tem
ciúmes aqui.

— Não, você não tem.

— Eu tenho. Quer lutar comigo? Você deveria ver o que acontece


quando tento deixar crescer pelos faciais. É tudo irregular e
estranho.

Ele riu e balançou a cabeça. — Pare. Podemos tentar perguntas


diferentes agora e parar de focar tanto em mim? Eu não gosto de
falar sobre mim.

— Tudo certo. Sua vez de perguntar.

Ele ficou sentado por alguns minutos em contemplação. Eu o


estudei, só percebendo então que nossos ombros estavam
pressionados juntos também. Eu tinha feito isso ou Knox?
Independentemente disso, agora estávamos perto o suficiente para
que todo o comprimento de nossos corpos estivesse em contato.

— Quantos anos você tinha quando percebeu que não era


hétero?

Oh, agora isso foi interessante.


Levei um segundo para responder, sabendo que isso era mais do
que apenas Knox estar curioso sobre mim. Ele estava fazendo sua
própria busca da alma ultimamente, e eu tive a sensação de que
tudo o que ele estava vendo o assustava um pouco. Ele não tinha
dezoito ou dezesseis. Ele não tinha nem vinte anos tentando
resolver sua sexualidade. Knox tinha trinta e poucos anos e
provavelmente acabou de descobrir que pode não ser tão hétero
quanto pensava. E isso pode ser assustador para qualquer um.

— Eu tinha dezessete anos. — Eu disse com toda a seriedade. —


Eu não estava indo bem na aula de matemática do último ano do
ensino médio. Eu precisava aumentar minha nota se eu quisesse
entrar na faculdade, então meus pais me contrataram este tutor.
Ele tinha vinte e um. Tímido, mas super inteligente. E super sexy
para meu cérebro hormonal de dezessete anos. Ele veio três noites
por semana durante alguns meses, e eu desenvolvi a pior paixão
por ele. Obviamente, não deu em nada. Ele era muito mais velho do
que eu e tinha namorada, mas eu sabia que minha atração por
outras pessoas não se restringia apenas às mulheres. Isso me
colocou no caminho para explorar o que tudo isso significava e
descobrir quem eu era.

— Seus pais sabem?

— Eles sabem e são muito favoráveis.

Ele assentiu. — Então, você já namorou caras antes disso, certo?


— Um pouco. Honestamente, eu não namorei muito. Estou
sempre em movimento. Não costumo ficar em lugares por tempo
suficiente para desenvolver relacionamentos sólidos e não estou
interessado em aventuras. Levo muito tempo para me sentir
confortável o suficiente para prosseguir em um relacionamen to. É
apenas quem eu sou.

— Oh. — Ele ficou imóvel, franzindo a testa enquanto


considerava tudo o que eu disse.

Foi a minha vez e agradeci a Deus pela escuridão, porque não


podia lutar contra a vontade de empurrar um pouco mais. Era
como se estivéssemos em uma bolha intocável e fui compelido a
perguntar coisas que sabia que poderiam assustar Knox.

— Descreva o beijo perfeito em três palavras. — Eu sussurrei,


incapaz de tirar meus olhos de seus lábios entreabertos. Ele tinha
lábios bonitos. Não muito cheios, não muito finos, mas pareciam
macios.

Ele respirou fundo e piscou algumas vezes. — Hum... eu... eu


não sei. — Suas bochechas ficaram mais coradas e, em vez de usar
o palito como eu faria para aliviar o estresse, ele o deixou de lado.
— Hum... macio? Eu gosto quando eles são macios. Uma vez, beijei
uma garota que gosta de mordiscar e morder. Acho que não sou fã
disso. Muitos dentes fazem isso... eu não sei. Eu prefiro... mais
suave, eu acho. Gentil. — Ele esfregou a nuca.
Ele estava dolorosamente desconfortável, então eu esfreguei meus
dedos contra sua coxa e ele parou de se contorcer, inclinando a
cabeça para olhar para mim. Nossos olhos se encontraram por
alguns minutos intensos, e eu não conseguia respirar. Tudo que
Knox pensava ter escondido estava lá na superfície. Tudo que ele
lutou para ver e admitir para si mesmo derramou daqueles olhos
castanhos bonitos enquanto ele estudava meu rosto.

Já fazia muito tempo que eu era atraído por alguém. Isso me


assustou um pouco porque eu sabia que Knox não estava e talvez
nunca estivesse pronto. Eu deixei minha mão em sua perna, meu
sangue estourando e chiando. Meu coração disparou.

Quando o olhar de Knox deslizou para minha boca, senti a


atenção direto para o meu núcleo. Eu o deixei olhar. Recusei-me a
avançar ou mover ou fazer qualquer coisa que pudesse assustá-lo.
O olhar foi breve. Como se percebesse o que tinha feito, ele limpou a
garganta e se mexeu, sentando-se no sofá para que não nos
tocássemos mais. Ele olhou para a TV em branco por um minuto
inteiro antes de encontrar sua voz.

— Quer assistir ao próximo filme?

Sabendo que o tinha levado ao seu limite, fui com ele. — Certo.
Parece bom.

E minhas palavras eram como uma válvula de escape. O ar saiu


dos pulmões de Knox e ele pulou do sofá. — Legal. Vou configurá-
lo.
Eu o observei correr, colocar o próximo filme e desaparecer em
sua cozinha, onde ele buscou outra cerveja para nós dois.

Quando ele voltou, ele se sentou na cadeira, não mais ao meu


lado. Não consegui me concentrar no filme quando ele passou. Tudo
que eu podia fazer era me perguntar o que Knox teria feito se eu o
beijasse.

Infelizmente, tive a sensação de que ele teria me empurrado e


fugido para as colinas.
Capítulo Onze

Knox

— Oooiiii? Você está comigo, Knox?

Eu empurrei minha cabeça na direção de Minnie, fazendo um


rápido levantamento dos meus arredores, confuso por ter ficado
perdido na minha cabeça a maior parte do dia. Eu era inútil e sabia
disso.

Cada vez que eu parava de trabalhar por um segundo, estava de


volta naquele momento na noite de domingo com Lucky ao meu
lado no sofá, nossas pernas se tocando, sua mão na minha coxa e
aquele olhar em seu rosto. Perguntas sobre beijos, sexo e atração
encheram o ar entre nós, tornando difícil respirar. Eu estive em um
constante estado de pânico desde então.

E toda vez que eu voltava para aquele momento, meu sangue se


transformava em fogo, minha barriga se contraía e minhas mãos
ficavam escorregadias. Em seguida, meu coração tentava bater seu
caminho através da parede do meu peito.

Eu não sabia o que tudo isso significava. Mas, mais ainda, era
como isso me fez sentir que estava me fodendo.

— Knox!

Merda.
Eu sacudi. A neve me atingiu no rosto, jogando-me de volta ao
presente quando olhei em direção a Minnie. Estávamos na base de
uma das colinas de esqui mais avançadas de Marmot Basin, a vinte
minutos de Jasper. A primeira tempestade de neve da temporada
havia chegado antes do amanhecer e não tinha diminuído. Era pior
nas montanhas, e Minnie e eu estávamos congelando nossas
bundas, tentando levantar a cerca de segurança laranja para o
evento em algumas semanas.

O resort não estava oficialmente aberto até o fim de semana do


Festival de Inverno, então a cidade estava emprestando corpos para
se preparar para o desafio da morte de Shay e, com sorte, quebrar
recordes.

— O que você disse? — Perguntei a Minnie pela centésima vez,


gritando na tempestade. Eu ficaria em dívida com ela depois disso.

— Eu disse, precisamos movê-lo mais dessa forma ou as pessoas


simplesmente vão se esgueirar.

Eu olhei para trás, protegendo meu rosto com a mão enquanto


olhava para longe. Minnie estava certa. Eu precisava ir com isso. A
única razão pela qual ainda estávamos lutando com esta cerca
estúpida era porque eu estava muito perdido na minha cabeça para
pensar em soluções com ela.

Eu segurei minha ponta da cerca de plástico e à estaca de


madeira que eu joguei no chão e a arrastei enquanto caminhava
para trás através do meio pé de neve reunido. Fiquei feliz por ter
tido a premeditação de pegar meu uniforme de inverno adequado
naquela manhã. Minha barba estava coberta de flocos grossos e
meu nariz pingava de frio.

Depois de viajar uns bons seis metros, coloquei minha boca em


concha e gritei. — Como está isso?

Ela acenou com a cabeça, levantando o polegar enquanto


apertava os olhos contra a neve que soprava em seu rosto. —
Coloque seu pino lá e nós trabalharemos desta maneira, puxando-o
com força. Então podemos combinar o outro lado.

Eu balancei a cabeça e trabalhei por alguns minutos, cravando


minha estaca de madeira no chão, usando o martelo do meu cinto.
Depois, usei laços e fixei a cerca de plástico no lugar.

Demorou mais ou menos uma hora para levantar toda a cerca e


mais três lembretes de Minnie para parar de viver dentro da minha
cabeça e ajudar.

Assim que entramos no caminhão de propriedade da cidade,


ambos estávamos cobertos de neve e tremendo. Eu liguei o
aquecedor e ajustei a ventilação do meu lado para que visasse meu
rosto. Tirando minhas luvas com os dentes, joguei-as no painel
enquanto olhava para Minnie, sentindo-me com cinco centímetros
de altura. — Desculpe. Tenho muito em que pensar hoje.

— Eu posso ver isso.

— Deixe-me pagar um café ou algo assim. Devo-lhe.


— Parece bom. Você está bem?

— Estou bem.

Eu não estava bem.

Eu coloquei a caminhonete em tração nas quatro rodas enquanto


voltávamos para a cidade. Com a nossa sorte, teríamos pouco
tempo para saborear nossos cafés antes de ter que pegar os arados
e começar a limpar a neve das estradas principais. A menos que a
outra equipe já estivesse trabalhando nisso.

— Quer falar sobre isso? — Minnie perguntou enquanto eu


dirigia.

— Sobre o que?

— Sobre o que você está pensando.

— Não é nada.

— Bem, isso é uma mentira.

A última coisa que eu queria fazer era contar a Minnie sobre a


noite de domingo com Lucky. Minha mente e meu corpo estavam
me traindo. Eu nunca me senti mais em desacordo na minha vida.
Meus pensamentos estavam se aventurando em lugares que não
deveriam. Lucky havia invadido meus sonhos a noite toda, e eu
acordei sentindo coisas que não faziam sentido. Ansiando por algo
que eu nunca havia desejado antes. Coisas que me assustaram.

Lucky admitiu que não era hétero. Eu estava bem com isso. Meu
melhor amigo era gay. Não era grande coisa.
Mas eu não era gay. Eu gostava de garotas, mesmo quando elas
não gostavam de mim com frequência. Claro, o casamento de
Easton me deixou confuso e a leitura de Lady Mallory tinha sido um
pouco vacilante. Mas eu não me apaixonei por Easton. Não era
assim. Era apenas um tipo de amigo próximo. Além disso, eu
superei isso.

Então, eu certamente não deveria estar obcecado com a boca, a


língua e os olhos de Lucky do jeito que estava. Eu não deveria estar
sentindo formigamento em lugares que só doíam para as mulheres.
O que estava errado comigo?

Eu estive em espiral o dia todo, fazendo tudo o que podia para


desculpar a traição do meu corpo de uma forma ou de outra. Estava
confuso, só isso. Eu não fazia sexo há muito tempo. Talvez minha
mão não estivesse mais sendo o suficiente.

Porra.

Esfreguei meu rosto, tentando me concentrar na estrada.

As lembranças da leitura de Lady Mallory continuavam voltando e


me deixando louco. Eu já tinha rejeitado seus discursos estúpidos,
então por que eles não me deixavam em paz? Eu puxei minha
merda junta e recalibrei meus sentimentos por Easton para que
eles se alinhassem mais apropriadamente com o homem hétero que
eu era. Ele era meu melhor amigo, então fazia sentido eu ter me
aproximado dele e ter pensamentos confusos que cruzavam as
linhas, mas Lucky era novo na minha vida. Sentimentos estranhos
por Lucky simplesmente não faziam sentido. Por que acordei meio
nervoso esta manhã com o rosto de Lucky em minha mente? Seus
lábios. O calor de suas mãos em mim.

— Knox!

Os pneus do caminhão escorregaram para o lado e eu saí disso a


tempo de corrigir a quase perda de controle antes de cairmos em
uma vala. — Merda. Merda, sinto muito.

— Desacelere. Essas estradas são ruins.

Afastei os pensamentos importunos e tentei me concentrar. Eu


iria nos causar problemas nesse ritmo. — Desculpe.

— Você não está bem.

— Estou bem.

— Você não está. Eu conheço você. Fale comigo.

— Eu só... tive uma noite difícil. Pesadelos.

Ou eles eram bons?

Eu sacudi a ideia e agarrei o volante com mais força. Nós


dirigimos em silêncio por mais cinco minutos antes que eu não
aguentasse.

— Você já teve uma leitura de Lady Mallory? — Eu perguntei.

Minnie soltou uma risada. — Sim, uma vez. Ela é incrível, não é?

— Fez sentido? Ela estava certa?


— Hum... não vou dizer que fazia sentido, mas eu poderia aplicá-
lo à minha vida, então fazia sentido. Você sabe o que eu quero
dizer?

— Oh. Sim.

— Por quê? Você a viu?

Dei de ombros. — No Festival da Feira de Outono. Para me


divertir. Mas foi um monte de bobagens. Eu não entendi nada
disso.

Exceto que, quanto mais eu vagava nessas águas confusas, mais


sentido eu conseguia entender de sua leitura. Foi ridículo. Eu
estava repetindo a mim mesmo que a tinha interpretado mal, mas
será que foi? A verdade era que suas palavras estavam se tornando
mais e mais claras, e seu significado me assustou pra caralho.

— O que ela disse? — Minnie perguntou.

Eu ri, foi alto e meio louco. — Nada. Deus não. Não vale a pena
repetir. Confie em mim. Mas acho que ela mexeu com a minha
cabeça. Isso esteve no fundo da minha mente e agora está me
dando pesadelos. — Isso me deixou suando frio de tanto tesão.

— Isso não é bom. Ela é conhecida por dizer às pessoas que elas
vão morrer de uma forma maluca, mas é besteira. Você não pode
deixar isso te afetar.

— Eu sei. Easton está esperando por aquele meteoro há anos.

Minnie riu. — Veja. Leve-a com um grão de sal.


— Eu sei.

— Você está bem, Knox? Estou meio preocupada com você.

— Eu vou ficar bem. Realmente.

— OK. Estou aqui se você mudar de ideia.

— Obrigado, Minnie.

De volta à cidade, Minnie e eu nos separamos quando fui enviado


para a remoção da neve, e ela recebeu outras tarefas. Pelo menos
arar as ruas secundárias de Jasper me deu tempo para ficar
sozinho para que eu pudesse controlar meus pensamentos.

Mas não funcionou. Quanto mais eu pensava, pior ficava.


Quando terminei o dia, tive três minis ataques de pânico em que
tive que sair da estrada e ordenar minha cabeça.

Isso tudo era culpa de Lady Mallory. Antes de sua leitura, eu


estava satisfeito com minha sexualidade. Então ela decidiu apontar
que eu estava com o coração partido ou alguma merda por causa de
Easton. O que eu não estava. Eu consertaria minha maneira de
pensar e seguiria em frente o melhor que eu pudesse. Meu vínculo
com Easton poderia facilmente ter confundido a mulher. Eu a
perdoei por isso.

Minha amizade com Lucky era estritamente amizade.

Mas o que diabos a Lady Mallory quis dizer com ele sendo o único
a me mostrar a luz? Quem era ele? Não Easton. Isso não fazia
sentido. E que luz? Eu estava confuso. Ela disse que eu estava
confuso. Mas eu não tinha estado até ela dar a entender.

Eu estava andando em círculos.

Esfreguei meu rosto enquanto me sentava em minha


caminhonete no estacionamento da prefeitura depois do trabalho,
sem saber o que fazer ou para onde ir. Não havia como ir à
cervejaria. Não assim. Deus, aquela mulher. Isso era tudo culpa
dela.

Se ela não fosse tão enigmática, eu não estaria questionando


tudo. Eu liguei meu caminhão e fui para casa. Seu pequeno estúdio
ficava a apenas meio quarteirão do meu apartamento, então, assim
que estacionei, desci a estrada para ver se ela ainda estava aberta.
Ela começou isso, agora ela poderia muito bem consertar. O vento
frio não penetrou na minha raiva.

Se ela fosse me dar uma leitura estúpida, ela poderia pelo menos
me explicar o que significava em inglês claro, para que eu pudesse
parar de me sentir confuso.

A mulher me convenceu que eu era secretamente gay ou algo


assim, e isso não era possível. Eu tinha trinta e seis, pelo amor de
Deus. Se eu fosse gay, saberia que sou gay. Ou bi. Como queiras.
Eu não era.

Mas de que outra forma eu deveria ler sua mensagem? Além


disso, estava atrapalhando minha amizade com Lucky. Eu passei
nosso tempo juntos no domingo hipnotizado demais por seus olhos
e me perguntando qual era o gosto de sua língua depois que ele
mastigou um de seus palitos de dente com sabor de hortelã.

Eu apertei minhas mãos e rosnei. — Pare com isso. Você está


tornando tudo pior.

Uma velha saindo do banco, assustou-se com a minha


exclamação e colocou a mão em seu peito.

— Você não. Eu sinto muito. Estou falando comigo mesmo. Eu


não sou louco, eu só... me ignore.

Eu olhei ao redor para garantir que não tinha mais público. Era
tudo que eu precisava, rumores se espalhando de que eu tinha
esquizofrenia ou algo assim. Josiah teria um apogeu com isso.

Enfiei o queixo dentro do casaco e desviei da velha, continuando


para o estúdio de Lady Mallory. A neve na calçada estava se
acumulando rapidamente. Nossa primeira tempestade de inverno
estava longe de terminar. Pela manhã, eu seria o encarregado de
desenterrar a cidade, e não estava ansioso por isso.

Quando cheguei à loja chique com a placa pintada na janela,


informando que ‘A Imagem Espelhada’ ainda estava aberta, respirei
fundo algumas vezes e empurrei a porta da frente. Eu nunca tinha
estado na casa de Lady Mallory antes. Na verdade, ela estava por
perto desde que eu estava no colégio, e eu não conhecia ninguém
que já se aventurou a entrar. Circulavam todos os tipos de boatos e
ninguém sabia muito sobre a mulher mais velha, exceto que ela
afirmava ver o futuro. Alguns a chamavam de bruxa ou Wiccan.
Outros a chamavam de charlatã. Ela lia a palma da mão e
provavelmente tinha uma bola de cristal em algum lugar onde todas
as suas visões insanas ganhavam vida.

Ninguém a levava a sério.

Exceto, aparentemente, eu.

A iluminação lá dentro era fraca. Um lustre de cristal pendurado


no teto com bolinhas e joias intrincadas que refratavam a luz
colorida por toda a sala. Havia cortinas de miçangas e joias
penduradas nas paredes. Estatuetas estranhas se alinhavam nas
prateleiras junto com livros e pôsteres misteriosos. Frascos cheios
de itens incomuns que eu não conseguia distinguir estavam
reunidos em um canto. Havia um círculo de velas e símbolos em
uma mesa que eu poderia jurar que tinha visto antes em um dos
meus jogos de fantasia. Havia uma música peculiar tocando ao
fundo, e um cheiro sinistro pairava no ar. Incenso? Velas picantes?
Ervas queimadas? Corpos mortos? Eu não sabia dizer.

Uma vitrine estava perto da parede com itens mais incomuns


dentro que me deu arrepios. Lady Mallory não estava por perto.
Estava quieto, exceto pela música e uma sensação de mau
presságio que provavelmente estava na minha cabeça.

— Olá? — Falei. A única palavra foi sugada para dentro da sala


como se tivesse atingido uma bolsa de ar morto.

Eu deveria ter ido para casa. O que eu esperava ganhar ao


confrontar essa mulher?
— Tem alguém aqui?

Um tilintar de sinos veio de outra sala, e Lady Mallory apareceu


de trás de uma cortina de miçangas. Como de costume, ela estava
vestida com sua saia esvoaçante colorida, blusa ondulada e uma
quantidade excessiva de joias de miçangas.

Ela me encarou por um momento antes de uma luz brilhar em


seus olhos. — Ah. O problemático está pronto.

Eu fiz uma careta. — Eu preciso falar com você. Você me disse


algumas coisas na feira e agora minha cabeça está uma bagunça.

Ela assentiu como se entendesse minha reclamação. Bom, então


ela poderia consertar. — Venha, criança. — Ela abriu a cortina de
miçangas, convidando-me para a sala além. — Devemos sentar.

Hesitei, apertando meus lábios. — Contanto que você saiba que


eu não pagarei por mais absurdos enigmáticos. Vim aqui para obter
explicações sobre a merda que você disse antes. Eu quero que você
fale inglês neste momento. Sem mais jogos.

Imperturbável, a mulher esperou que eu a seguisse.

Eu resmunguei baixinho e entrei na sala dos fundos. Estava


cheio de mais bugigangas e curiosidades. Essa sala tinha uma
mesa redonda coberta com tecido, muito parecida com a da feira.

Lady Mallory acenou para uma cadeira vazia e se sentou do outro


lado.
Abri o zíper do meu casaco e me sentei, olhando para a mulher,
não querendo deixá-la me bagunçar mais do que eu já estava. Eu
não seria feito de idiota desta vez. Cruzando os braços sobre o peito,
fiz uma careta, esperando que ela começasse.

Ela bateu na mesa com seus longos dedos cobertos de anéis e


acenou para minha mão.

— Não. Nenhuma porcaria de leitura de mão. Apenas explique.

— Devemos ler nas entrelinhas.

— Não dessa vez. Eu darei a você minha mão, e você receberá


todo o hocus pocus em mim novamente, e eu sairei daqui tão
confuso. Talvez pior. Isso não está acontecendo.

Ela semicerrou os olhos por trás dos óculos de armação azul, me


olhando de cima a baixo. Quando ela estalou e começou a mexer no
ar ao meu redor e jogar algo invisível ou outro de lado, eu
instintivamente me esquivei, embora ela não estivesse me tocando.

— Que diabos está fazendo?

— O véu. O véu ainda está atrapalhando sua visão. Remova.


Está na hora. Vá. Tire os antolhos desagradáveis. Tire! Tire!

Ela continuou mexendo no ar.

— Pare com isso. Que diabos? Não há véu, sua louca. Porque
você faz isso?

— Oh, é grosso. Não admira que você não possa ver, pobre
criança.
Quando ela continuou e agarrou o ar mais perto do meu rosto, eu
golpeei sua mão. — Deus, pare de fazer isso. Não há véu.

Ela parou, carrancuda enquanto se acomodava em sua cadeira.


Duas vezes seu olhar cintilou para o ar ao meu redor como se ela
pudesse ver o véu ofensivo.

Então seus olhos brilharam e ela apertou os olhos acima da


minha cabeça, sem estudar nada. Eu, sendo o idiota crédulo, ergui
os olhos para ver o que ela estava olhando.

— Houve uma mudança. — Disse ela. — Sua aura está


vibrando. Sim. Isso é bom. É tocado, mas não tocado. É doloroso
ver e saber a verdade. Seu caminho está à sua frente.

— Ok, veja, é disso que estou falando. Isso não faz sentido.
Talvez para você sim, mas para nós, pessoas normais, é um jargão.
O que você quer dizer? Qual caminho? Como posso ser tocado e não
tocado? Que verdade?

Lady Mallory levantou uma última vez no ar com aborrecimento.


— Tão espesso o véu. Pois mesmo quando lhe é mostrado o
caminho, você não sabe onde pisar.

Eu belisquei a ponta do meu nariz. — Não sei porque vim aqui.


Isso é estúpido. Você disse coisas e eu quero saber exatamente o
que significava. Por favor. Isso está me consumindo e eu preciso
saber.

— Uma criança tão problemática.


— Ok, você sabe o quê? Eu não sou criança. Eu tenho trinta e
seis. Pare de me chamar de criança.

— O medo consome você.

— Espera. Pare. Ali. Isso. Você disse isso antes. Você disse que
ele me mostraria o caminho. Quem é ele?

— Aquele que estará ao seu lado quando o fogo chover do céu.


Um beijo de sorte vai mudar você para sempre. O véu não existirá
mais. As respostas que você buscou brilharão em um novo dia.
Nunca tema a tempestade, pequenino, pois ela só se enfurece
dentro de você. Quando clarear, ele o guiará para a luz. Nas
tempestades nascem lindos arco-íris e a sorte estará do seu lado.
— Ela piscou.

Um arrepio percorreu minha espinha enquanto eu olhava para


ela, com muito medo de me mover. O ar em meus pulmões ficou
estagnado enquanto eu absorvia seu absurdo, separando-o.

Lady Mallory pegou minha mão novamente, mas eu a puxei e


coloquei dentro do bolso do meu casaco. Em vez de discutir, a
mulher continuou a tirar meu véu invisível, resmungando so bre
cegueira e sombras e abrir meus olhos para ver.

Eu terminei. Isso não melhorou as coisas, mas piorou.

Um beijo de sorte vai mudar você.

A sorte estará do seu lado.


Essas palavras se repetiam continuamente em minha mente
enquanto eu saía da loja para a rua. Minha bota escorregou na
calçada nevada em minha necessidade desesperada de escapar, e
quase caí de bunda. Tudo o que eu podia ver era Lucky no meu
sofá, seu palito de menta rolando ao longo de seus lábios. Tudo que
pude sentir foi o calor de sua mão na minha coxa.

Um beijo de sorte vai mudar você.

Meu sonho voltou, partes dele eu esqueci, e por um momento, eu


pensei que poderia prová-lo. Aquelas necessidades de desejo que
estavam coçando sob minha pele vieram à tona com uma vingança,
e eu não sabia o que fazer ou o que pensar. Isso não estava
acontecendo. Isso não poderia acontecer. Eu não era gay.

Corri rua abaixo, alheio a tudo, exceto meu próprio tumulto.

Eu estava tão perdido em minha cabeça que esbarrei em um


corpo duro que saiu de uma loja inesperadamente. Nós dois quase
caímos no chão, mas conseguimos nos endireitar antes que isso
acontecesse. Quando encontramos nossos pés novamente, eu olhei
para cima.

Josiah.

Pensei. De todas as pessoas.

Tentei contorná-lo, mas quase escorreguei de novo na minha


pressa. Ele agarrou meu braço, me pegando e me puxando para
cima.
— Uau. Por que você está... mais devagar.

— Apenas saia do meu caminho. — Tentei me libertar, mas ele


aumentou seu aperto. Uma carranca se formou em seus lábios.

Seu olhar saltou por todo o meu rosto, e eu desejei que ele m e
soltasse. Eu não conseguia respirar. Eu estava com muito calor.
Queimando por dentro. Meu coração ia desistir em cerca de dez
segundos, e eu não tinha tempo para Josiah.

— Você está todo... — Ele acenou com a mão sobre o rosto, um


sulco profundo em sua testa. — Você está bem?

— Estou bem. Apenas... deixe ir. — Tentei libertar meu braço


novamente, mas ele não me soltou.

De todas as vezes que Josiah decidiu mostrar qualquer tipo de


preocupação por outro ser humano, tinha que ser quando eu estava
desesperado para fugir do país. Do planeta.

Meu estômago embrulhou e, por um segundo, tive certeza de que


vomitaria.

— Knox?

Minha visão ficou turva. O mundo se inclinou. Meus ouvidos


zumbiram.

— Knox?

Josiah me deu uma sacudida, colocando tudo de volta na linha.


Pisquei com força, não querendo que ele me visse desfeito.

— Onde está Lucky? — Ele perguntou.


— C-como eu vou saber? Não sei onde Lucky está. Por que eu
saberia?

Josiah verificou a hora em seu telefone. — Vamos. Ele já... — Ele


apontou com o queixo rua abaixo em direção à cervejaria.

A última pessoa que eu queria ver era Lucky.

Uma audiência estava se formando na rua. Nada impedia os


curiosos cidadãos de Jasper de espalhar a sujeira da vida de outras
pessoas. Nem mesmo uma tempestade de neve. Se eu não me
livrasse de Josiah logo, as pessoas falariam. Não sabia o que
diriam, mas me senti muito exposto.

— Ele é seu amigo, certo? Ele pode... eu não sei. Deixe-me levá-lo
lá. Lucky vai...

— Não. Eu não quero vê-lo. Eu estou bem. Eu juro. A-apenas


não me sentindo muito bem. Vou para casa me deitar. Por favor.

Nunca pensei que chegaria um dia em que imploraria a Josiah


que tivesse misericórdia e me deixasse em paz. Mas em algum lugar
lá dentro, ele devia ter um coração. Meu desespero deve ter sido
registrado.

Josiah soltou meu braço, mas seu olhar atento nunca deixou
meu rosto. Se Josiah soubesse metade do que se passava na minha
cabeça, minha vida estaria arruinada. Ele me tornaria notícia de
primeira página no Jasper Times. Eu seria uma zombaria.
Eu me virei para fugir na outra direção, apenas precisando fugir,
mas Lady Mallory estava parada do lado de fora na rua agora,
mexendo no meu estúpido véu invisível e jogando-o fora com
maldições murmuradas.

— Ele não pode ver. Ele não pode ver. — Ela gritou. — Vá
embora. Remova as vendas, meu filho.

Jesus, era como assistir a um acidente de trem em câmera lenta,


e eu estava no centro de tudo isso. Eu empurrei Josiah e corri em
direção ao meu prédio, desviando de uma cidade digna de olheiro s
que tinham saído para ver o que estava acontecendo. Antes que eu
pudesse me esgueirar pelo pequeno caminho entre os edifícios, o Sr.
G entrou na minha frente, a neve espalhando poeira em seu cabelo
grisalho.

— Oh, Knox. Bom te ver. Você pode ajudar um velho?

Antes que eu pudesse protestar, ele me arrastou para sua loja.

Eu estava tremendo tanto que mal conseguia ver direito, mas


consegui soltar meu braço. — Eu não posso. Hoje não. Desculpe,
Sr. G. Eu tenho que ir.

— Eu encontrei aqueles livros que sua mãe gosta. Eles estavam


no fundo daquelas caixas, vai entender. Tive que cavar. São oito ao
todo. Vou fazer um acordo com ela. Eu os coloquei em uma boa
pilha. Podemos dar uma olhada. Talvez você saiba qual daqueles
homens bonitões nas capas ela leu antes. Meu velho cérebro nunca
se lembra.
Meu sangue foi drenado para os dedos dos pés. — Eu não olho
para aqueles homens. — Eu gaguejei. — Eu não faria isso. Por que
você diria isso?

Ele se encolheu e examinou meu rosto. — Nossa, você parece


positivamente assustado. Você está bem, garoto? — Ele estendeu a
mão, colocando as costas da mão na minha testa.

Eu o enxotei. — Estou bem. — Nada bom. Então, não está bem.


— Vou pegar esses livros mais tarde, ok?

Corri ao redor dele e corri pelo beco entre os edifícios, os cantos


de Lady Mallory ainda ecoando atrás de mim. Em vez de entrar,
entrei na minha caminhonete e acelerei o motor. Então eu dirigi,
pegando a estrada secundária para fora da cidade. Fugindo.
Fugindo. Mas não havia para onde correr.

A verdade seguiu em meus calcanhares.

Acabei no lugar de Easton de todos os lugares. A noite havia


caído quando eu estacionei na frente de sua nov a casa chique.
Havia luzes acesas além das janelas, e tanto o dele quanto os
veículos de Lachlan estavam estacionados sob a garagem.

Fiquei sentado na minha caminhonete, incapaz de parar de


tremer.

Easton sempre esteve lá para mim. Desde o colégio, éramos


melhores amigos. Por mais apavorado que eu estivesse, não havia
mais ninguém no mundo com quem eu pudesse conversar. Easton
estava seguro. Não importava que tivéssemos passado um ano em
desacordo - o que eu sabia que era tudo culpa minha - eu sabia que
ele era alguém com quem eu poderia conversar sobre qualquer
coisa.

Desliguei o motor e me recompus o melhor que pude. Na varanda


da frente, eu bati, ouvindo a risada aguda e estridente de uma
criança lá dentro. Percy.

A porta se abriu e Lachlan olhou para mim da casa bem


iluminada. O choque cruzou seu rosto, mas ele controlou suas
feições e me ofereceu um sorriso caloroso.

— Knox. Ei. Entre.

Eu não me mexi. Balançando em meus pés, eu olhei além de


Lachlan para a casa. — O East está aqui?

— Ele está. — Lachlan franziu a testa. — Você está bem? Você


não parece muito bem.

— Eu preciso falar com ele, se ele não estiver ocupado.

Easton apareceu atrás de seu noivo. Quando ele me viu, ele se


encolheu, mas sorriu. — Ei. Isso é uma surpresa.

— Hum. Você tem um minuto?

Seu sorriso desapareceu e a preocupação encheu seu rosto. —


Sim. Você quer entrar?

Eu balancei minha cabeça, cerrando meus dentes para que não


batessem. — É... eu quero conversar, mas é privado. Desculpe. —
Eu disse a Lachlan.
— Ei, não se preocupe.

Easton olhou para seu futuro marido, em seguida, de volta para


mim. — Me dê um segundo para colocar meu equipamento. Muito
frio lá fora esta noite.

Eu dei um passo para trás e toquei por cima do ombro. — Vou


esperar na minha caminhonete.

Easton inclinou a cabeça em um aceno.

Passaram-se uns bons cinco minutos antes que ele saísse de casa
e se aproximasse da minha caminhonete. Eu mantive o calor
explodindo enquanto esperava, mas não estava fazendo nada para
parar meus arrepios. Easton entrou no lado do passageiro e levou
alguns minutos para me estudar.

— Aconteceu alguma coisa? Parece que você tem más notícias.


Sua família está bem?

— Nah. Nada como isso. Eles estão bem. Eu... — Eu soltei um


suspiro e agarrei o volante. — Porra. Não sei por onde começar.

Easton se virou em seu banco e me encarou. — É sobre o que?

— Como você soube que era gay? — Eu soltei, temendo que se eu


pensasse nisso por muito tempo, eu nunca seria capaz de dizer as
palavras.

Easton não respondeu de imediato, mas pelo menos não riu.


Minha ansiedade triplicou.
— E agora vou ter um ataque cardíaco. — Murmurei. — Merda.
Meu peito dói. Eu não consigo respirar. Por que você não está
respondendo?

A mão de Easton pousou na minha coxa, me assustando. —


Knox? Olhe para mim.

Eu balancei minha cabeça. — Não. Não posso fazer isso. Se eu


fizer isso, nunca poderei ter essa conversa. E se eu não tiver essa
conversa, vou para casa e ficarei doente de tanto pensar. East, me
responda. Por favor.

— Sempre soube que era gay.

— Não. — Eu rosnei e esfreguei meu rosto. — Isso não é o que


você deveria dizer. Você precisa me dizer que foi uma coisa
repentina. Saiu do nada e você não esperava. Um minuto você tinha
dezesseis anos e estava felizmente hétero, olhando as garotas, e
então bam, você fez dezessete e começou a perceber o quão
fascinante... — Eu parei, umedecendo meus lábios. — Vamos
chamá-lo de John. Você começou a perceber como os olhos de John
eram fascinantes. Eles o intrigaram. Fizeram coisas com a sua
barriga, como aquela sensação de arrepio quando você perde o
estômago, só que cem vezes melhor. Então, era tudo sobre os lábios
de John. Então você começou a imaginar o sabor daqueles lábios.
No momento seguinte em que você soube, John era o papel
principal em seus sonhos, e você acordou duro e confuso e
desejando algo que nunca havia considerado antes. Isso é o que
você precisa me dizer agora, East. Não me diga que você sempre
soube.

— Exceto que não foi assim que aconteceu. — Sua voz era muito
gentil, muito compreensiva.
Muito conhecedora.

Eu não conseguia parar de balançar minha cabeça. — Não. Tem


que ser.

— Não foi. Mas isso não significa que seja igual para todos. Há
algo que você não está me dizendo?

Abaixei minha cabeça no volante, apertando meus olhos com


força. — Não. Tudo está bem aqui. Apenas mais um maldito dia no
paraíso.

— Knox?

— Eu só estou confuso, ok, só isso. Meu corpo e minha mente


estão misturados, mas vou consertar. Não é nada. Deixa pra lá.
Esqueça o que eu disse.

Easton me deu um minuto, mas eu conhecia meu melhor amigo e


sabia que ele não iria desistir. E graças a Deus porque eu precisava
dele mais do que nunca.

— Lucky tem olhos incríveis. — Ele disse após um minuto.

— Eu sei. — Eu murmurei, derrotado. — Quero olhar para eles


o tempo todo, mas não posso.

— Por que não?


— Porque eles fazem meu estômago revirar, e eu fico tonto e com
medo.

— E então você não consegue pensar direito?

— Sim! É exatamente isso. E se eu olhar para seus olhos, quero


olhar para seus lábios, e isso é perigoso. Admirando a boca de um
cara e me perguntando como seria... — Eu balancei minha cabeça,
incapaz de terminar a frase.

— Knox?

— Sim. — Eu murmurei, a cabeça ainda enterrada no meu


volante.

— Você já pensou que pode ser bissexual?

— Não. Não em trinta e seis anos. Não até Lady Mallory colocar a
ideia na minha cabeça. Agora é tudo que consigo pensar.

Easton riu. — Do que diabos você está falando?

— Eu estava felizmente alheio até que Lucky e eu fomos ao seu


estande na feira e tivemos nosso futuro lido. É culpa dela. Ela
arrancou meu véu invisível sem minha permissão. Talvez eu não
precisasse ver toda essa merda ainda. Eu não estava pronto.

— Ou talvez fosse a hora, e você estava.

— O que você sabe? Você tem sido felizmente gay há anos.


Aparentemente, toda a sua vida. Deve ser bom ter tudo resolvido.

Easton riu. — Essa constatação assusta você?


— Sim, isso me assusta. Estou apavorado pra caralho. Eu não
sei onde me colocar. — Esfreguei meu rosto e me sentei
novamente, espiando meu melhor amigo. — O que eu faço? Como
isso está acontecendo agora?

— Eu realmente não posso responder isso. Mas eu sei que Lucky


é um cara decente. E... — Easton demorou muito para continuar,
então eu olhei para ele.

— E o que?

— E eu vi o jeito que vocês dois estavam juntos na minha festa


de solteiro. Sinto muito, mas eu meio que tive um palpite de que
algo estava se formando entre vocês dois.

— Como isso é possível? Eu nem sabia. Deus, eu quero meu véu


de volta. Isso era muito mais fácil quando eu estava alheio. — Fiz
uma pausa, considerando algo, então me sentei ereto. — Espera.
Você pensou que algo estava se formando entre nós? Isso significa
que você suspeitou que eu era… Isso não o chocou? Quero dizer...
sabendo que possivelmente estava... você sabe. Como aquilo.

Easton apertou os lábios e eu não pude determinar se ele estava


lutando contra um sorriso ou se debatendo muito sobre o que ele
queria dizer.

Eu fiz uma careta. — Você suspeitou que eu era...? — Minha


garganta apertou. Por que era tão difícil dizer? — Que eu era... que
eu poderia... gostar... que eu poderia gostar de caras também? —
Eu soltei um suspiro. Puta merda, isso foi difícil.
— Suspeito há pouco mais de um ano.

— O que? — Minha voz aumentou cerca de uma oitava acima e


meus olhos se arregalaram com sua confissão. — Como? Quando?
Por quê? Você está falando sério?

— Lachlan colocou a ideia na minha cabeça.

— E aqui estava eu começando a gostar daquele cara.

— Ele pensou que talvez você estivesse chateado com nosso


relacionamento porque estava com um pouco de ciúme.

— Eu não estava! Como ele ousa... — Exceto que eu não


conseguia manter contato visual com Easton e olhei para o painel
em vez disso. — Porra. Bem. Talvez eu estivesse. Um pouco. Eu
não sabia, ok? Eu não vi. — Eu esfreguei meu rosto novamente. —
Estúpido, estúpido, estúpido véu. Deus, isso é constrangedor.
Estou me mudando para a Austrália, assim como aquele garoto no
livro que minha mãe leu para mim quando criança.

— Relaxa. — Easton tocou minha perna novamente. — Esqueça.


Nada demais.

— Nada demais... — Eu ri. — Esquecer? Esqueça, ele diz. Sim.


Tenho 36 anos e, no último mês, descobri que não apenas fui como
um cachorrinho apaixonado perto de você durante a maior parte de
nossas vidas adultas, mas agora tenho desejos ridículos por outro
cara, e não, não sei o que fazer sobre isso.

— Como Lucky se sente?


— Como diabos eu saberia? — Fiz uma pausa, lembrando do
nosso tempo juntos. — Na verdade, tenho certeza que ele estava a
dez segundos de me beijar no domingo à noite. Posso ter entrado
em pânico. Não falei com ele desde então. Ele me mandou uma
mensagem mais cedo, mas eu não o respondi. Eu não sei o que
fazer ou o que dizer, e oh meu Deus, como é que eu não consigo
parar de pensar nos malditos lábios dele.

Easton sufocou uma risada, e eu queria derrotá-lo.

Ele ergueu as mãos quando eu dei a ele um olhar mortal.

— Desculpe. Você me quebrou.

— Estou tão feliz que minha angústia o diverte.

— O que você quer fazer sobre isso?

— Você quer dizer além de beijá-lo? Eu não sei. Cada vez que
penso nisso, eu surto.

— Não é uma pergunta difícil. Você gosta dele?

Eu acalmei. — Sim, mas...

— Mas o que? — Easton perguntou quando eu não continuei.

— Eu nunca... fiz coisas com um cara antes. Não sou nem muito
bom com mulheres. Sou todo estranho e constrangido.

— Sabe, tenho a sensação de que Lucky não é o tipo de cara que


vai empurrar você mais rápido do que você está disposto a ir.

— East?
— Sim?

— Eu não acho que estou pronto para que todos saibam. Você
pode…

— Só entre você e eu. Eu não vou dizer nada. Eu juro.

— Obrigado. Apenas... deixe-me descobrir isso.

— Leve o tempo que precisar.

Peguei meu telefone para verificar a hora. Outra mensagem de


Lucky esperava por mim. Fora enviado vinte minutos antes.

Lucky: as segundas-feiras são muito lentas. Espero que você esteja


tendo uma boa noite.

Era quase sete. Tinha muito tempo para ir para a cervejaria,


exceto que eu não achava que estava pronto para enfrentá-lo ainda.
Eu precisava ir para casa e processar como me sentia e que direção
queria seguir.

— Você quer entrar um pouco? Não saímos há muito tempo.

— Sim. Acho que gostaria disso. Lachlan não se importará?

— Acho que ele ficará emocionado.

— OK.

Pela primeira vez em mais de um ano, aproveitei uma noite com


Easton. Lachlan nos deu espaço, mesmo quando o convidamos
para se juntar a nós. Estava bem. Já devia ter passado e, enquanto
nos visitávamos, percebi que qualquer paixão ciumenta que eu
tinha desenvolvido sem querer por meu melhor amigo havia
desaparecido.

Cheguei em casa tarde e deitei na cama no escuro, olhando para


o teto por um longo tempo, pensando em Lucky e em todos os
sentimentos estranhos que desenvolvi por ele. Tentei enfrentá-los
desta vez, em vez de fugir deles. Eles ainda me assustavam, mas
sob o medo havia uma pontada de excitação que eu não sentia há
muito, muito tempo.

Faltando quinze para a meia noite, quando sabia que Lucky


fecharia o bar, enviei-lhe uma mensagem.

Knox: Tinha algumas coisas para cuidar esta noite. Te vejo


amanhã. Poupe-me uma cerveja.

Assim que eu estava caindo no sono, meu telefone apitou.


Lucky: Mal posso esperar.
Capítulo Doze

Lucky

Meu telefone tremia em minhas mãos enquanto tocava e tocava e


tocava na outra linha. Não seria minha sorte? No dia em que decidi
criar coragem para fazer alguns telefonemas e a primeira mulher
que contatei não atendeu.

Talvez fosse melhor assim. Eu não estava cem por cento certo de
que estava pronto para isso.

Eu estava prestes a desligar quando ouvi um clique e alguém


atendeu. Prendi a respiração.

— Olá? — Era a voz de uma mulher. Não era familiar.

Era estúpido, mas na minha cabeça, muitas vezes me perguntei


se a voz da minha mãe biológica seria familiar de alguma forma.

— Um... Oi. Desculpe incomodá-la, mas gostaria de saber se você


teria um minuto para conversar?

— Você está vendendo alguma coisa? Porque se você está


vendendo alguma coisa, vou desligar.

— Não, não. — Mudei para a beira do sofá, com medo de que


essa mulher encerrasse nossa ligação quando eu finalmente
cheguei tão longe. — Não estou vendendo nada. Estou procurando
Kimberly O'Conner. Você é ela?
— Sou. Quem é você? O que você quer?

Meu peito apertou, mas me forcei a continuar. — Meu nome é


Lucky Karim. Eu sei que isso é pessoal, mas espero que você me
escute. Gostaria de saber se você deu à luz um menino prematuro
chamado Chester, quarenta e um anos atrás. Um menino que você
deu para adoção.

Por um momento, a mulher na outra linha não disse nada. Esse


silêncio se expandiu e eu prendi a respiração, temendo o que isso
significava.

— Sinto muito. — Disse ela, sua voz muito mais suave do que
antes. — Eu nunca dei à luz. Eu não tenho filhos. Adotado ou não.

— Oh. — Eu não esperava a onda paralisante de decepção que se


seguiu àquela simples declaração. Ela tirou o vento da minha vela e
fiquei feliz por estar sentado. — Entendo. OK. Hum… Lamento ter
incomodado. Me perdoe.

A mulher falou de novo como se conhecesse minha tristeza e dor.


— Não se preocupe. Boa sorte. Espero que você a encontre.

— Obrigado.

Desliguei e enterrei meu rosto em minhas mãos. Lágrimas


queimaram meus olhos, mas recusei sua presença, empurrando-as
para longe. Um telefonema para baixo. Um. E parecia que eu tinha
dado dez rodadas em um ringue de boxe. A exaustão agarrou meus
ossos, e eu estava tão cansado. Como eu iria ligar para todas essas
pessoas? E se todas terminassem do mesmo jeito? Eu poderia lidar
com más notícias continuamente? Eu poderia lidar com a notícia se
a mulher dissesse que sim, ela deu à luz um menino e o deu?

Meu coração batia tão rápido que agarrei meu peito. Por muito
tempo, tudo que pude fazer foi ficar ali no sofá enquanto o mundo
voltava à ordem.

Assim que fiquei mais estável, peguei a caneta que havia trazido
comigo para a sala e risquei o primeiro nome da lista. Uma para
baixo. Incapaz de encontrar energia para fazer outra ligação,
desabei no sofá, olhando para o meu telefone. Eu puxei o nome de
Knox e nossa linha de mensagens nos últimos dias.

Algo mudou. Desde o dia do nosso filme no domingo, Knox estava


diferente, por falta de uma palavra melhor. Na terça-feira, quando
ele veio para a cervejaria depois do trabalho, ele estava mais
ansioso do que o normal. Ele se sentou no bar, e eu o peguei me
encarando com um olhar de contemplação em seu rosto mais de
uma vez. Mas essa contemplação foi misturada com uma forte dose
de medo.

Nós conversamos quando eu não estava ocupado preparando os


pedidos de bebidas, mas a cada vez, ele tinha uma expressão no
rosto como se quisesse me perguntar algo, mas não conseguisse
encontrar coragem para expressar sua pergunta. Eu não empurrei.
Depois de seu surto no domingo, eu disse a mim mesmo para
recuar e deixar Knox ser o guia.
Na quarta-feira, ele me mandou uma mensagem e me disse que
não poderia ir à cervejaria naquela noite, pois tinha uma obrigação
de jantar em família. Mais tarde naquela noite, recebi uma pergunta
aleatória dele. Era um texto simples, mas o tom falava muito mais
do que o pobre e tímido Knox podia no momento.

Ele iniciou nossas perguntas rápidas, para trás em formato de


mensagem e deu o tom, reciclando as perguntas que eu fiz a ele no
domingo. Boxers ou cuecas? Você dorme nu? Então as seguiu com
as suas. O lugar mais louco que você já fez sexo? Qual é o atributo
que você procura em um parceiro? E eu respondi a cada uma delas
honestamente. Achei que Knox achava mais fácil perguntar por
texto. Ele estava sentindo algo que talvez fosse muito difícil de
reconhecer cara a cara. Passos de bebê.

Depois que ele iniciou o jogo, eu mesmo fiz algumas perguntas.


Embora às vezes demorasse a responder, ele sempre respondia.
Nunca mencionamos o jogo enquanto estávamos na companhia um
do outro na cervejaria na quinta e sexta à noite, embora tenha
continuado no minuto em que nos separamos.

Era sábado e eu precisava trabalhar em algumas horas. A última


mensagem que compartilhei com Knox foi no dia anterior, depois
que cheguei em casa do trabalho. Foi uma boa noite rápida, algo
que se tornou parte de nossos rituais noturnos.

Abri a caixa de mensagem e digitei.

Lucky: afago. Sim ou não?


Ele não estava trabalhando hoje, então quando ele respondeu
imediatamente, não fiquei surpreso.

Knox: Sim. Você?

Lucky: Com certeza. Preliminares, sim ou não?

Knox: Sempre. As pessoas não gostam de coisas assim?

Knox: Não responda. Segurar a mão, sim ou não?

Eu sorri.

Lucky: Sim. Você?

Knox: Sim. Você consegue tirar folga do trabalho na próxima sexta-


feira?

Fiz uma pausa, lendo sua pergunta duas vezes.


Lucky: Provavelmente. Por quê?

Knox: Primeiro dia do Festival de Inverno. Aposto que você nunca


foi. Achei que poderia ser seu guia turístico.

Ele pode ter escrito as palavras guia turístico, mas o subtexto


dizia encontro, e não havia como eu recusar.

Lucky: Quando Shay está fazendo suas coisas?

Knox: sábado ao meio-dia.

Lucky: Vou tirar o fim de semana de folga. Uma condição.

Knox: ?

Lucky: Você gasta tudo comigo.


Houve um longo momento em que ele não respondeu, então meu
telefone apitou.

Knox: Eu gostaria disso.

Lucky: Eu também.

Eu estava prestes a colocar meu telefone de lado quando outra


mensagem veio, e floresceu o maior sorriso no meu rosto.

Knox: Vamos passar este domingo juntos novamente ou você está


ocupado?

Lucky: sou todo seu.

Saber que veria Knox novamente no dia seguinte me deu a


energia de que precisava para passar a noite de trabalho. Eu
empurrei meu esforço fracassado de fazer ligações para o lado, não
querendo me preocupar com elas agora.

***

— Você riscou um.

Eu tinha deixado minha lista na mesa de centro novamente,


então estava em aberto quando Knox apareceu. Foi a primeira coisa
que ele viu quando se sentou no sofá.

— Sim. Ontem. Sem sorte. Mas esgotou toda a minha energia em


um flash. Não tenho certeza se algum dia conseguirei passar po r
essa lista nesse ritmo. Demorou mais de meia hora para me
preparar para fazer aquela ligação. Quando ela me disse que não
era a pessoa que eu procurava, foi como se ela tivesse estourado
meu grande balão vermelho.

Knox olhou em minha direção. Ele ainda lutava com o contato


visual prolongado, mas sua simpatia soava alta e clara. — Eu sinto
muito. Deve ter sido difícil de ouvir.

— Está tudo bem. — Eu assegurei a ele, soltando um suspiro. —


Eu vou voltar para isso. Quando conseguir reunir forças. Acho que
não percebi o grande volume de energia que isso exigiria.

— Quer ligar agora? Talvez seja mais fácil se você tiver alguém
com você para lhe dar apoio. Quer dizer, não que eu saiba o que
você está passando, mas... posso... sentar ao seu lado e... Não se
preocupe, isso é estúpido, não é? Esqueça que perguntei. — Knox
abaixou o queixo, esfregando a nuca.

— Está bem. É gentil da sua parte oferecer, mas você não quer
ficar sentado aqui enquanto eu faço um monte de telefonemas
estúpidos.

— Eles não são estúpidos, e eu sei que isso deve ser difícil para
você. Não consigo imaginar como seria. Eu só queria poder ajudar a
tornar isso mais fácil de alguma forma. Tirar um pouco da pressão.

Difícil não começava a descrever. Sua oferta era atraente, mas


não achei justo sujeitá-lo aos meus problemas.
Knox veio ao meio-dia e eu passei a hora anterior com meu
telefone na mão, tentando reunir coragem para fazer mais uma
ligação. A luta foi real. O medo era real. A decepção foi real.

Em vez disso, liguei para a casa dos meus pais e conversei com
minha mãe por quase uma hora.

— Só estou me oferecendo para estar aqui como apoio se isso


facilitar. Eu não me importo. Realmente. Se você quiser ligar para
uma ou duas ou para toda a lista, estou bem com isso.

— Você faria isso? Por mim?

— Claro que sim. Por que não?

Josiah também se ofereceu, mas eu recusei imediatamente. Ele


tinha me apoiado à sua própria maneira e além de útil quando se
tratava de desenterrar informações, mas Josiah não era o tipo em
que eu poderia me apoiar quando meu coração estava em um
aperto.

A oferta de Knox parecia genuína, e seus olhos cheios de


preocupação puxaram para algo dentro de mim.

— Que tal isso, — Ele disse, batendo na minha perna, mas não
retirando a mão depois. — você faz uma ligação ou duas, quantas
você se sentir confortável em fazer, então, eu trato você com
chocolate quente da padaria. Um biscoito também, se você precisar
se animar. Nally faz os melhores biscoitos de aveia do planeta. Me
pergunte, eu sei.
Mal sabia Knox que a única animação que eu precisava era estar
perto dele.

— Tudo certo. Parece um acordo. — Mas olhar para a lista


novamente me deu um nó. — Exceto... e se eu acertar o alvo e a
mulher que eu chamar for ela? Então o que?

A mão de Knox na minha coxa apertou e esfregou levemente. —


Então você definitivamente ficará feliz por eu estar sentado ao seu
lado, certo?

Peguei meu telefone e a lista, e me sentei ao lado dele no sofá, um


pouco mais perto do que era considerado amigo. Knox não se
afastou. Ele tirou a mão da minha perna, mas pressionou seu
ombro contra mim, uma forma silenciosa de apoio. Era
reconfortante tê-lo por perto.

Eu encarei e encarei e encarei o próximo número, então gemi.

— Ou podemos simplesmente ir buscar chocolate quente agora.

— É isso que você quer? — Ele perguntou cautelosamente.

— Não. Não, eu posso fazer isso. — Eu digitei o próximo número


da lista e apertei conectar, fechando meus olhos enquanto a ligação
era completada.

Knox colocou a mão de volta na minha perna. Se eu não estivesse


lidando com tal turbulência interior, teria absorvido o gesto e me
alegrado. Foi um grande passo para ele, e eu sabia disso.
O toque parou e uma mulher atendeu. Novamente, não era uma
voz familiar.

— Olá?

Limpei a garganta e instintivamente peguei a mão de Knox sem


considerar as consequências de minhas ações, apenas precisando
de algo para me aterrar. Ele não se retirou e, em vez disso,
entrelaçou seus dedos nos meus.

— Hum, olá. Eu estava me perguntando... Hum... Esta é


Kimberly O'Conner?

— Sim, é. Quem é?

— Meu nome é Lucky Karim. — Decidi usar o apelido que meus


pais me deram, então, se eu encontrasse minha mãe biológica,
minha apresentação não a assustaria. — Desculpe incomodá-la em
um domingo, estou procurando por Kimberly O'Conner que deu à
luz um menino em 1979. O nome do bebê era Chester, e ela o deu
para adoção. Você é ela?

Prendi a respiração e esperei.

— Eu sinto muito. Não, eu não sou. Você é aquele bebê? Uau. E


você está procurando por sua mãe.

A onda de decepção que me atingiu foi violenta. Knox deve ter


percebido porque seu aperto aumentou em torno do meu.

— Eu sou. Obrigado pelo seu tempo. Lamento ter incomodado


você.
— De modo nenhum. Me desculpe, eu não posso ajudar.

Desliguei e afundei no sofá, deixando cair meu telefone no meu


colo.

— Não? — Knox perguntou.

— Não.

Seu polegar acariciou um caminho ao longo da minha mão. Era


calmante, e me concentrei nisso, em vez do peso esmagador da
rejeição tentando me afogar. Era disso que minha mãe estava
falando. Ela não queria que eu continuasse com isso porque ela não
queria me ver magoado. Ainda assim, eu tinha uma lista inteira de
ligações que potencialmente fariam exatamente isso.

Knox não disse nada. Ele me deixou absorver as notícias e o


processo.

Ele percebeu que estávamos de mãos dadas?

Ele se importava?

Depois de alguns minutos, soltei um suspiro e abri os olhos.

— Outra? — Ele perguntou, sua voz cautelosa e baixa.

— Mais uma.

— Então você merece um deleite.

Inclinei minha cabeça, rolando-a contra o encosto do sofá e


encontrando seus olhos. Ele fez o mesmo. Estávamos perto o
suficiente para que eu pudesse distinguir os diferentes tons de
marrom em seus olhos. Havia um fio de preocupação marcando sua
testa, e estendi a mão, esfregando-o com o polegar.

Knox não se moveu quando o toquei. Eu não tinha certeza se ele


respirava.

Seus olhos permaneceram fixos nos meus, seus lábios se


separaram um pouco.

— Você sabe, — Sussurrei, temendo que se falasse mais alto


pudesse assustá-lo. — você normalmente não me olha nos olhos
por tanto tempo.

— Eu sei. — Sua voz era tão suave. Hesitante. — Eu sinto


muito.

— Por quê?

— Eu estava com medo.

— De?

— O que eu veria.

— E?

— Ainda estou com medo, mas... — Ele fez uma pausa, sua
determinação se esvaindo. Ele quebrou o contato visual e olhou
para nossas mãos unidas. Achei que ele fosse se afastar, mas não o
fez. Seu aperto aumentou como se estivesse roubando minha força.

— Mas?
Ele engoliu em seco. Molhou seus lábios. Balançou a cabeça. —
Mas... estou tentando ser mais corajoso. — Ele murmurou
apressado. — Então, você quer fazer outra ligação?

— Sim. OK.

Eu disse a mim mesmo que não iria pressioná-lo, então peguei o


que ele disse e guardei. Passos de bebê. Recuperando meu telefone,
disquei o próximo número da lista. Não tive melhor sorte. Foi outro
não. Outra facada no meu peito. Outra onda de decepção.

Isso foi o suficiente por um dia.

Knox cumpriu sua promessa e nos levou para comer chocolate


quente e biscoitos de aveia no Jasper Café e Padaria. Apesar do frio,
decidimos perambular pela rua principal com nossas bebidas,
sentindo o efeito do inverno em nossa pequena cidade.

As poucas tempestades consecutivas que haviam passado pela


área haviam deixado cair cerca de meio metro de neve. Ela se
agarrava aos galhos das árvores e brilhava à luz do sol. Nós
vagamos em um ritmo preguiçoso, absorvendo o tráfego lento de
pedestres de domingo. Os habitantes de Jasper não se assustaram
com um pouco de neve. As pessoas circulavam como de costume.
Os pequenos restaurantes estavam lotados com a multidão da
igreja, e as crianças, vestidas até os dentes com roupas de neve e
roupas de inverno, carregavam tobogãs em direção às suas colinas
favoritas nos arredores da cidade.
Não conversamos muito, mas entre minhas ligações falhadas e os
pequenos avanços de Knox, minha mente estava ocupada demais
para palavras. Talvez a dele também. Cada vez que eu olhava em
sua direção, ele parecia perdido em pensamentos. Ele manteve as
mãos enfiadas nos bolsos do casaco, mas me lembrei do calor de
seus dedos com os meus.

— Você joga jogos de tabuleiro? — Eu perguntei quando


atingimos os limites da cidade. A estrada do condado se estendia
deserta e vazia à nossa frente.

— Alguns. Não sou fã de Banco Imobiliário. Esse jogo leva uma


eternidade, e fui submetido a muitos jogos dele enquanto crescia. É
o favorito de Nova.

Eu sorri. — Que tal Scrabble8?

Ele fez uma careta e inclinou a cabeça de um lado para o outro.


— Eu não sou muito bom nisso. Minhas palavras nunca têm mais
do que três ou quatro letras, mas é um jogo bom.

— Eu também não sou um profissional. Que tal voltarmos para


minha casa e jogarmos. Não precisa ser sério, apenas algo para
fazer.

O que eu queria era mais tempo juntos e temia que ele fosse
embora se eu não tivesse uma sugestão.

8 Mais conhecido no Brasil com o nome de Palavras cruzadas, é um jogo de tabuleiro em que dois a quatro
jogadores procuram marcar pontos formando palavras interligadas, usando peças com letras num quadro
dividido em 225 casas.
— Certo. — Knox girou, olhando para a estrada vazia enquanto
balançava em seus pés. — Hum... O que você quer fazer no jantar?
Quero dizer, posso ir para casa, se você não quiser... — Ele olhou
para o céu e exalou. — Eu só estava... quero dizer...

— Que tal pararmos no mercado e cozinharmos algo esta noite?

Ele olhou em minha direção, com a sobrancelha levantada e um


sorriso no rosto. — Sim?

— Certo. Se você não se importa com minha companhia, eu não


me importo com a sua.

— Perfeito.

Então foi isso que fizemos. No mercado, compramos os


ingredientes para fazer um bom ensopado de cevada e voltamos
para minha casa para prepará-lo. Trabalhamos juntos em um
silêncio sociável, cortando legumes e preparando um jantar farto.

Depois que o ensopado estava fervendo, montamos nosso jogo e


jogamos com regras vagas, rindo e provocando um ao outro por
palavras inventadas ou gírias que nunca seriam permitidas se
estivéssemos jogando um jogo mais sério. Knox era o mestre das
palavras de três letras. Ele não estava brincando.

Não houve mais contato durante o jogo ou jantar, não como


quando nos sentamos no sofá antes, mas mais do que alguns
olhares foram trocados entre nós. O subtexto era claro como cristal.
Havia algo lá. Knox estava reconhecendo isso de sua própria
maneira tímida, mesmo quando não conseguia encontrar palavras
para se expressar.

Depois do jantar, pousamos no sofá novamente, lado a lado


enquanto assistíamos a um filme até tarde da noite. Knox tinha um
vasto conhecimento de todas as coisas de super-heróis, quadrinhos
e ficção científica, e quando ele começou a falar sobre qualquer um
desses tópicos, ele se libertou de sua concha tímida. Adorei e
escutei com atenção sempre que sentia necessidade de
compartilhar.

Mas à medida que a noite se aprofundava, a conversa morreu.


Sentamos perto.

Eu estava mais ciente de cada respiração de Knox do que do que


estava passando na TV. Correndo o risco, ansiando por contato,
descansei minha mão em sua perna. Ele ficou tenso, mas não a
removeu. Dez minutos depois, sua mão encontrou a minha e,
novamente, nossos dedos se entrelaçaram.

Talvez fosse simples e bobo. Crianças de 12 anos na escola


primária davam as mãos e chamavam isso de namoro. Mas tive a
sensação de que isso era muito importante para Knox. Imenso. Eu
queria que ele ficasse mais confortável com nossa conexão. Ficamos
assim pelo resto do filme.

Depois, no silêncio que se seguiu, debati o que fazer. Com meu


coração batendo forte, inclinei minha cabeça e olhei em sua
direção. Ele fez o mesmo. Estava escuro e eu pensei que ele se
sentia mais seguro assim, como se isso lhe desse um espaço
escondido para explorar algo que ele não tinha certeza.

— Knox?

— Sim.

— Eu realmente gosto disso. — Eu apertei sua mão, enfatizando


nossa conexão.

— Eu também. — Seus olhos escuros encontraram os meus. —


Hum... divulgação completa... estou... um pouco inseguro agora.
Isso é novo para mim.

— Eu sei.

— Estou muito nervoso. Quero dizer... muito nervoso. Meu


coração está batendo tanto que espero ser muito jovem para um
ataque cardíaco porque estou seriamente estressado.

Eu sorri. — Eu sei. Eu posso dizer.

— Posso te dizer uma coisa? — Ele inspirou. Senti um leve


tremor irradiando de seu corpo, mas ele estava se esforçando para
esconder.

— Você pode me dizer qualquer coisa.

— Eu realmente gosto dos seus olhos.

Meu coração inchou. — Obrigado. A maioria das pessoas tem


medo deles.
Ele balançou sua cabeça. — Eu não. Quero ficar olhando para
eles o dia todo, mas temia que você visse... — Ele umedeceu os
lábios. — Que você pudesse ver o que eu sinto por você.

— Eu vi mesmo assim.

— Você viu?

— Eu sinto.

— Eu... eu nunca estive com um cara antes.

— Eu sei. — Fiz uma pausa e fiz uma pergunta importante. —


Você quer estar?

Sua respiração engatou e seu olhar caiu, mas ele assentiu.

— Podemos ir devagar.

— OK. Eu preciso disso.

Tudo em mim queria puxar seu rosto e beijá-lo. No entanto, isso


foi muita exposição para Knox, e eu pensei que talvez fosse melhor
se eu não o sobrecarregasse nos primeiros cinco segundos em que
ele conseguiu falar sobre seus sentimentos por mim. Ele
reconheceu algo que eu não tinha certeza se ele já disse em voz alta
antes. Foi enorme.

— Você quer assistir outro filme? — Eu perguntei, dando a ele


uma fuga.

Knox encontrou seu telefone, verificando a hora. Já passava das


onze.
Ele suspirou. — Eu quero, mas provavelmente devo ir. Eu
trabalho bem cedo e, se nevar mais durante a noite, meu telefone
vai tocar às quatro da manhã.

— Eu sei.

— Posso passar na cervejaria depois do trabalho?

— Gostaria disso.

— E... você vai tirar folga no próximo fim de semana?

— Você está de brincadeira? Quando um cara gostoso te convida


para ser seu par no Festival de Inverno, você não diz não.

Ele riu, mas suas bochechas ficaram vermelhas e ele abaixou o


queixo.

Eu o acompanhei até a porta e ficamos parados sem jeito. — Vejo


você amanhã. — Eu disse.

— Sim.

Ele hesitou um minuto, mas decidiu ir embora. Eu o observei sair


para a rua e ir embora. Tive a sensação de que o cara não iria
pregar o olho esta noite.
Capítulo Treze

Knox

— Pare de rir de mim. Eu não convidei você para rir. Estou


enlouquecendo. Eu preciso de suporte.

— Eu não estou rindo. — Disse Easton, abafando a risada. —


Deus, você é engraçado como o inferno. Eu nunca vi você assim
antes.

— Cale-se.

Eu liguei para meu melhor amigo no minuto em que cheguei em


casa do trabalho na sexta-feira, precisando de apoio, reforços, uma
caixa de ressonância, algo assim. Eu não fazia ideia. Eu estava
suando e girando e não conseguia me acalmar.

— Ele me chamou de gostoso e disse que era um encontro. Não


chamei de encontro, mas foi o que quis dizer. Então ele viu através
de mim. Eu não tenho um encontro há muito tempo. Você se
lembra daquela garota, Caitlyn? Ela foi a última pessoa com quem
namorei. Durou cinco minutos. Ok, talvez três semanas. O que
quero dizer é que nunca namorei um cara. Eu vou bagunçar tudo.
Ele vai me ver todo úmido e nervoso, e vai mudar de ideia. — Eu
olhei para o meu reflexo no espelho, odiando tudo o que vi.

Easton não estava levando isso a sério.


— Vocês vão ao festival juntos. Não é grande coisa. Todo mundo
vai ao festival. Não é diferente de quando vocês saíram na feira de
outono. Exatamente a mesma coisa.

— Não é a mesma coisa. — Eu rebati. — Naquela época, eu não


tinha ideia que havia algo entre nós. O véu, lembra? Então aquela
bruxa o pegou, e minhas axilas não param de suar. Eu odeio essa
mulher. São menos quinze lá fora. Quem transpira com um tempo
assim? Eu vou te dizer quem. Eu. Minhas roupas estão grudadas
em mim. É tão pouco atraente. Quanto mais penso sobre tudo isso,
pior fica. Puta merda, estou nervoso. Eu pareço bem? Devo mudar
minha camisa? Existem marcas de suor? — Eu suguei meu
estômago e corri a mão sobre minha barriga. Então minha mente se
afastou de mim e eu empalideci. — Oh meu Deus. Ah Merda. Foda-
me. Não.

— E agora?

Eu balancei minha cabeça. — Eu não posso fazer isso. Eu


preciso cancelar.

— Por quê?

— Porque eu acabei de perceber que se continuarmos indo nessa


direção, provavelmente vamos acabar nos beijando em algum
momento, o que é bom, e estou meio animado com essa parte
porque tenho pensado muito nisso. Não sei se sou o melhor
beijador do mundo, mas não me acho terrível. Nunca lidei com a
barba de outro homem antes, mas não vai me assustar o suficiente
para me impedir. Mas beijar pode levar a outras coisas. Coisas
sobre as quais nada sei. Coisas que exigem que fiquemos mais nus
e... — Eu fiz uma careta para o meu reflexo. — Olhe para mim. Eu
odeio ficar nu com as pessoas. Eu gosto da parte do sexo, não me
entenda mal, mas odeio a parte do nu.

— Sabe, nos cerca de vinte anos em que somos amigos, você


nunca falou comigo sobre seus relacionamentos com outras
pessoas até agora? Não tenho certeza se já ouvi você dizer a palavra
sexo. Eu te perguntei centenas de vezes sobre garotas e coisas
assim, e você me calou. Agora, você acabou de vomitar palavras
sobre beijar e foder. Quem é você?

Eu me virei e olhei para Easton, que estava descansando na


minha cama, folheando uma revista de jogos que eu estava len do
na outra noite. Como ele podia estar tão relaxado?

— Então? Onde você quer chegar? Só porque não falo sobre isso,
não significa que não goste. Eu gosto. Muito.

— Bom saber. Mas veja, para mim, isso quer dizer que Lucky é
muito mais importante do que qualquer outra pessoa com quem
você tenha namorado.

Eu considerei isso. — Talvez. Isso não ajuda minha situação.

— Você não tem uma situação difícil. Não conheço Lucky muito
bem, mas não acho que ele seja raso ou superficial assim. Ele gosta
de você. Você é a única pessoa que tem problemas com sua
aparência, Knox. Venho dizendo isso há anos. Ninguém mais
percebe. Ninguém se importa.

— Eu não acredito nisso.

Easton encolheu os ombros. — Você sabe o que é mais atraente


do que ter um metro e oitenta de altura e uma camada de
músculos?

— O que? — Parecia uma pergunta capciosa.

— Confiança.

— Confiança?

— Sim.

— Diz o cowboy de um metro e oitenta de altura, sexy pra


caralho. Dane-se. O que você sabe?

O sorriso de Easton cresceu. — Sexy pra caralho, sou?

— Cale-se. Eu não disse isso. Por que você está aqui, afinal?
Estou tendo uma crise e você está lendo sobre a próxima edição do
Skyrim. Você odeia videogames.

— Você me ligou porque estava pirando e precisava da minha


companhia.

— Eu mudei de ideia. Você é um amigo de merda.

Exceto, Easton era um grande amigo, e já era hora de


encontrarmos nosso caminho de volta a um normal confortável.
Havíamos passado mais de um ano sem esse nível fácil de
comunicação e eu senti falta.
— Então, acho que nada aconteceu ainda.

Incapaz de ter essa conversa cara a cara, voltei a me estudar no


espelho, inclinando meu corpo para ter uma visão lateral. — Não
muito. Nós meio que demos as mãos. E cale-se. Sei que parece
juvenil, mas foi um grande negócio para mim. Eu gostei. Achei que
ele fosse me beijar no domingo passado, depois que terminamos um
filme. Estava escuro e estávamos perto e outras coisas, mas ele não
fez.

— Ele provavelmente sabe que você está pirando por dentro.

— A questão é... eu gostaria que ele tivesse. Acho que não


consigo reunir coragem para ser o único a iniciá-lo.

— Ele vai.

Eu deixei cair minhas mãos ao meu lado e soltei um longo


suspiro exausto. — Eu sou ridículo? Não consigo deixar de pensar:
Lucky deve me ver como um adolescente nervoso.

— Acho que Lucky entende que tudo isso é novo para você.

— Eu disse a ele que era.

— Veja.

Voltei-me para Easton e sentei-me aos pés da minha cama. —


Estava pensando em como contaria a meus pais e irmãs. Quer
dizer, eu deveria, certo? A fábrica de fofocas desta cidade é nojenta.
Se uma pessoa descobrir ou até mesmo suspeitar, tudo estará
acabado. Eu não acho que eles vão ficar estranhos sobre isso. Eles
provavelmente ficarão surpresos como o inferno. Nova vai me
provocar, mas não seria de forma maldosa. Papai pode ter um
problema. Eu meio que fui uma péssima desculpa para um filho
minha vida inteira. Não caço, odeio esportes, tudo o que ele queria
que eu aprendesse não me interessava. Mas…

— Mas ele ainda te ama.

— É o suficiente?

— Aposto que é. Lembra quando eu disse ao meu pai que era


gay? Ele ficou desconfortável por um tempo, mas foi o choque.
Assim que tudo se acalmou, ele sentou comigo e disse que estava
bem e que me amava. O seu também.

Meu telefone tocou na mesa de cabeceira. Easton o agarrou com


um sorriso e verificou minha mensagem. — É o seu ruivo sexy.

— Dê-me meu telefone, idiota. Por que você está lendo minhas
merdas? Isso é privado.

Ele o jogou na cama com uma risada e se levantou da minha


cama. — Estou indo para casa. Parece que seu encontro está quase
pronto. Deixei o trabalho para você, lembre-se disso. Mas eu tenho
coisas para cuidar agora antes desta noite. Eu prometi a Percy que
iríamos às celebrações de inauguração também. Eles estão fazendo
fogos de artifício esta noite, e Percy nunca viu os fogos de artifício
antes. Ele está todo animado.
— Talvez eu te veja lá. — Então eu considerei isso e lancei
punhais para o meu melhor amigo. — E se eu fizer isso, você não
pode me envergonhar.

— Eu não faria isso. Tente relaxar e se divertir. Para que conste,


beijar rapazes é o meu objetivo. Só um cara agora, mas posso
prometer a você, é muito legal.

— Em seguida, você vai me pedir detalhes, como duas garotas de


dezesseis anos compartilhando fofoca.

— Não em sua vida.

Ele se dirigiu para a porta e eu voltei a encarar meu reflexo n o


espelho.

— Você está bem, Knox. Pare de se preocupar. Além disso, você


estará embrulhado em um casaco de inverno e um chapéu, e todo
esse esforço não importará.

Ele estava certo. Eu não tinha pensado nisso.

Quando Easton foi embora, me sentei com meu telefone e sorri


para a mensagem que Lucky havia enviado.

Lucky: A comida do Festival de Inverno é boa? Devo comer antes


de ir?

Sorrindo, eu digitei de volta.

Knox: A comida do festival faz parte da experiência. O jantar é por


minha conta. Você vai amar.
Minha pele zumbiu depois de clicar em enviar. Fazia muito tempo
que eu não ficava tão animado com alguém.

Lucky: Estou confiando em você. Chegarei logo. Saindo agora.

Decidimos caminhar até o local da feira, já que ficava a apenas


alguns quarteirões de distância e estacionar seria uma loucura. Eu
sabia todos os detalhes e onde tudo estaria localizado, já que passei
a maior parte da semana organizando todo o evento.

Também me deu uma vantagem para coisas como fogos de


artifício. Havia áreas que eu poderia acessar que não eram
acessíveis ao público em geral que seriam ideais para nós dois
assistirmos à exibição mais tarde esta noite. Especificamente, eu
planejava levar Lucky para um local fora da área cercada da feira.
Seria escuro e isolado, longe de olhos curiosos. Caso contrário,
estaríamos cercados por toda a cidade, e eu não estava pronto para
que o mundo conhecesse meu negócio.

Lucky apareceu quinze minutos depois. Coloquei meu casaco e


meu chapéu de inverno e saímos juntos em direção ao parque de
exposições. Estava iluminado à distância e a música viajou por todo
o caminho até a estrada principal de Jasper. Os carros estavam
estacionados de cada lado da rua, tanto quanto a vista alcançava. A
noite de abertura era uma noite popular.

Ao contrário da feira de outono, não havia brinquedos e os Fifty-


Foursomes não estava tocando. A música foi tocada e controlada
por DJ. Havia jogos de inverno e vários estandes temáticos que
vendiam coisas turísticas de Jasper e lembranças da feira.

Quando nos aproximamos da cabine de pedágio para entrar, um


cara chamado Randy acenou para que eu entrasse. Como
trabalhava para a cidade, recebia passes gratuitos todos os anos.

— Ele está comigo. — Acenei para Lucky.

Randy olhou para Lucky, depois de volta para mim e deu de


ombros.

Lucky passou pelo portão e ficamos ombro a ombro enquanto


observávamos o movimentado festival estendido diante de nós. Não
importava se você tinha oito ou oitenta anos, não havia ninguém
por perto que não conseguisse encontrar algo de que gostasse. O ar
vibrou com energia. As pessoas riam, as crianças gritavam e o
cheiro de frituras enchia o ar.

— O ambiente é diferente da feira de outono. Não sei como, mas


posso sentir. — Lucky disse enquanto olhava ao redor.

— Sim. Cada festival é um pouco diferente. Eles são tipo uma


coisa de Jasper. Não posso acreditar que você nunca os
experimentou antes do mês passado.

— Bem, estou compensando isso. Por onde começamos?

— Alguma coisa parece interessante? Ou devo apenas mostrar a


você como da última vez? A boa notícia é que Lady Mallory não vem
para este aqui.
Lucky deu uma risadinha. — Aw, que pena. Ela era uma
bagunça.

Ela virou meu mundo de cabeça para baixo, mas eu não disse
isso.

— O que você gostaria de fazer? — Lucky perguntou.

— Bem. — Eu fiz a varredura, pensando. O sol havia se posto há


um tempo, mas toda a área estava iluminada. — Eles mudaram a
competição de escultura em gelo para esta noite, já que a coisa de
Shay ocupou uma grande parte de amanhã. Quer dar uma olhada?
Esses caras vêm de lugares distantes como Edmonton e Calgary
para competir. É muito legal.

— Lidere o caminho.

Os escultores de gelo já estavam lá havia muitas horas quando


chegamos. Suas criações estavam nos estágios finais, e os artistas
adicionavam os retoques finais e detalhes mais finos ao seu
trabalho.

— Puta merda. São incríveis. — Lucky ficou boquiaberto,


mudando seu olhar de um para o outro.

— Não são?

Encontramos um lugar para ficar perto do cara que estava


trabalhando em um urso polar em tamanho real e seu filhote. O
urso tinha mais de 2,10 metros de altura, e o artista estava em um
banquinho com sua ferramenta de entalhe na mão enquanto
trabalhava nos detalhes de pele ao redor do rosto do urso.

— O que me impressiona é a rapidez com que eles podem fazer


essas coisas. Eu não poderia fazer isso se tivesse uma semana, mas
esses caras gastaram algumas horas e fizeram uma arte brilhante.

— É incrível.

— E pensar que simplesmente derrete. Eles também não podem


mantê-lo.

— Isso é uma vergonha.

Observamos o cara do urso polar trabalhar por mais meia hora,


encantados. Ele respondeu a perguntas para o público e nunca
ficou sem um sorriso no rosto. Depois, fomos até uma barraca de
venda de comida e comprei uma boa comida para o jantar. Lucky
escolheu o Chillin 'Chili enquanto eu pedi as Rosti Potatoes
cobertas com queijo.

— Eu prometo a você, não há nada como comida de feira.

Lucky parecia cético enquanto comia seu chili. No minuto em que


passou por seus lábios, seus olhos se arregalaram e ele os apontou
em minha direção. — Puta merda. É errado dizer que nunca comi
um chili melhor na minha vida?

— É bom, não é? Eu te disse.

Ofereci a ele um pedaço da minha mistura de batata direto do


garfo, sem pensar duas vezes em como isso poderia parecer para as
pessoas que passavam. Lucky deu a mordida e seus olhos rolaram
para trás enquanto ele gemia e ria ao mesmo tempo. — Oh meu
Deus. Esse é o paraíso cafona. Por que eu não sabia que comida de
feira era tão boa? E aqui eu insistindo em pegar os turnos no
trabalho das feiras e perdi dois anos seguidos. Eu sou um idiota.

— Agora você sabe. Acho que é a atmosfera ou algo assim. Faz a


comida ter um sabor diferente. Mais tarde, vou comprar um bolinho
de maçã quente para compartilhar. Nally, dona da padaria, os
fabrica. Ela tem um estande todo ano. Essa mulher vai ser a minha
morte. Quer saber por que tenho carne extra no meio? Ela é o
porquê. Entre seus biscoitos de aveia e aquele maldito bolinho de
maçã, estou destinado a ficar por aqui para sempre. Apenas espere.
Você vai pensar que morreu e foi para o céu quando provar isso.

Lucky comeu mais uma colher de seu chili, em seguida, lambeu


os lábios de uma forma tão provocante que tive que desviar o olhar.
Ele se encostou ao meu lado e sussurrou tão perto do meu ouvido
que seu hálito quente soprou no meu lóbulo, me fazendo
estremecer. — Eu acho você incrivelmente bonito, só para constar.
Pare de se rebaixar.

As palavras de Easton voltaram para mim. A confiança é atraente,


ele disse. Isso não era algo que eu já tive em abundância. Eu tentei
não sugar meu estômago ou estar abertamente ciente de que não
tinha abdominais duros como pedra ou outro meio pé de altura.
Não era fácil quando eu passei minha vida inteira me encarando
nos espelhos, odiando tudo que via.

Encontrei um sorriso para Lucky e acenei para seu chili. — Se


importa em compartilhar outra mordida? Eu amo essas coisas.

Ele me alimentou com uma colher cheia e eu dei a ele uma das
minhas. De um lado para o outro, ríamos e comíamos nossa comida
juntos, sem nos preocupar com o que poderia parecer aos de fora.
Tudo que me importava naquele momento era Lucky, aquele sorriso
em seu rosto e o brilho em seus olhos fascinantes.

Depois que terminamos, vagamos um pouco mais. Vimos um


grupo de crianças experimentar o caramelo de bordo na neve, mas
decidimos que estávamos cheios demais para tentarmos nós
mesmos. Lucky nunca tinha visto tal coisa antes. Com seus
pequenos copos de xarope de bordo líquido, as crianças usaram
varas de madeira para derramar sobre a neve em padrões
divertidos, onde endureceu como caramelo. Em seguida, elas
comiam, esticando-o por muito tempo e arrancando pedaços
mastigáveis com os dentes.

Lucky decidiu tentar o jogo de lançamento de bola de neve.


Depois de cinco arremessos sem sucesso, ele zombou de
brincadeira em minha direção. — Não haverá ursinho de pelúcia
para você. Eu não posso jogar uma merda.

Eu ri e o puxei junto, indiferente.


A certa altura, Lucky encontrou um palito de dente no bolso e o
mordeu enquanto caminhávamos. Minha mente imediatamente se
concentrou nas dicas de menta que viajaram para o meu nariz, e
mais de uma vez, eu me perguntei como poderia ser o gosto em sua
língua.

Meu sangue esquentou e, em um piscar de olhos, eu estava


suando de novo - apesar da temperatura fria.

Às nove e meia, um anúncio foi feito pelo sistema de alto-falantes,


avisando a todos que os fogos de artifício começariam em meia hora
e que eles deveriam se reunir na área dos fundos e se instalar. Em
anos anteriores, eu me juntei à multidão, sentei em um cobertor
com amigos ou minha família e assisti à exibição colorida. Este ano
seria diferente. Este ano, tinha um encontro.

Cutuquei o braço de Lucky. — Vamos. Vou comprar uma


guloseima de maçã, e então tenho um lugar secreto onde podemos
assistir aos fogos de artifício sem uma multidão.

Ele me seguiu sem questionar, olhando para mim com um largo


sorriso que vincou os lados de seus olhos. — Lugar secreto? Onde?

— É confidencial. Eu não posso te dizer.

— Eu tenho que usar uma venda para não saber para onde você
está me levando?

— Eu nunca pensei nisso. É possível.

Ele bateu no meu ombro e nós compartilhamos uma risada.


Havia uma longa fila para comprar um dos bolinhos de maçã de
Nally, mas valeu a pena esperar. Quando Lucky pôs os olhos no
monte de maçã frita, salpicada de caramelo e servida com uma
enorme bola de sorvete de baunilha, achei que seus olhos fossem
saltar das órbitas.

— Jesus. — Ele inspirou. — Eu acho que apenas babei em mim


mesmo.

— Espere até você provar. Inacreditável.

Eu o guiei em direção às colinas nos fundos do recinto de feiras,


onde os fogos de artifício eram disparados todos os anos.
Atravessamos a multidão que começou a se formar. Carrinhos de
bebê, cadeiras de jardim e famílias em cobertores. Estava agitado,
movimentado e cheio de entusiasmo. Isso só iria piorar quanto mais
perto das dez horas chegássemos.

Durante a semana, um grupo de trabalhadores da cidade colocou


cercas ao redor do recinto da feira. Havia saídas de emergência em
algumas áreas diferentes, caso eles tivessem que evacuar por
qualquer motivo. Uma dessas áreas ficava perto da cerca do canto
dos fundos. Um policial da polícia de Jasper estava de guarda,
observando a multidão no caso de haver problemas ao evitar que as
crianças entrassem sem pagar. Eu conhecia todo mundo em nossa
pequena força policial. Tinha ido para a escola com metade del es.
John Bygrove não foi uma exceção.

— Ei, Bygrove. — Eu disse ao policial, ganhando um sorriso.


— Mackenzie. Como vai você?

— Não é ruim. Só curtindo a feira. Vamos escapar do portão, se


não se importar. Vou assistir das colinas.

O sorriso do policial Bygrove tornou-se arrogante. — É mesmo?


— Ele olhou para Lucky e voltou sua atenção para mim.

— Sabe, talvez eu tenha que verificar os painéis elétricos.


Certificar de que está tudo funcionando bem.

Bygrove revirou os olhos. Ele queria uma desculpa, então dei-lhe


uma. — Claro, claro. Não iria querer um problema. — O policial
deu um passo para o lado, deixando-nos escapar da zona de beleza
e entrar na noite escura além.

Ele deu um tapa no ombro de Lucky ao passar. — Vejo você por


aí, Lucky. Mackenzie. — Ele acenou.

— Tenha uma boa noite. — Gritei atrás dele, subindo a colina


nas sombras. Uma vez fora da área isolada, não havia mais
iluminação. Estava escuro como breu, pior porque nossa visão
noturna ainda não estava desenvolvida.

Lucky ficou alguns metros atrás de mim enquanto eu nos levava


para um local tranquilo na colina, a uma curta distância da feira
lotada. Mais cedo naquele dia, eu arrumei algumas caixas
quebradas na neve para nós sentarmos, sabendo que queria ficar
sozinho com Lucky para os fogos de artifício. Afinal, era um
encontro. Por mais nervoso que estivesse, queria mostrar a Lucky
que isso era algo em que eu estava interessado.
Ele se sentou ao meu lado, um sorriso brilhante em seu rosto
enquanto olhava ao redor para a área isolada que eu tinha
escolhido. A multidão barulhenta e a música agradável não
passavam de um sussurro à distância. Estávamos sozinhos.

— Achei que poderíamos usar nosso próprio show privado esta


noite. — Meus nervos dispararam e, de repente, tive menos certeza
de que era uma boa ideia. — Isso está bem?

— Eu gosto. — Ele admitiu com um sorriso que me acalmou


novamente. — Muito... íntimo.

Eu engoli e dei a ele um sorriso tímido antes de me concentrar em


nossa sobremesa. Íntimo. Isso estava realmente acontecendo. —
Aqui. Você tem que tentar isso. Sou especialista em sobremesa e
não há nada melhor. Eu juro.

Lucky sorriu, e eu não pensei duas vezes antes de alimentá-lo


com uma grande porção. Ele gemeu e fechou os olhos quando o
bolinho quente e o sorvete frio se juntaram em sua boca.

Eu ri quando ele derreteu na minha frente.

— Estou arruinado para todas as outras sobremesas.

— Certo? É uma categoria só para si.

Ele lambeu uma gota de caramelo de seus lábios e eu estremeci,


me perguntando o quão melhor o sabor da sobremesa sairia de sua
boca.
Nós compartilhamos o bolinho de maçã enquanto esperávamos os
fogos de artifício começarem. Quando o prato acabou, coloquei o
lixo de lado e nos encostamos um no outro, olhando para a
escuridão.

O silêncio entre nós tinha substância. Ele falava de antecipação.


As borboletas no meu estômago dançaram da melhor maneira, e eu
não pude deixar de estar hiperconsciente de tudo de Lucky.

Cercado pelas silhuetas das montanhas e pelo burburinho


distante da feira, era exatamente o que eu esperava. Era nossa
pequena bolha de privacidade. Um lugar onde eu pudesse me sentir
seguro explorando o que quer que estivesse crescendo entre nós. E
eu estava pronto para explorar. De qualquer maneira.

— Tive uma ótima noite. — Disse Lucky depois de um tempo,


interrompendo meus pensamentos.

— Eu também. Foi divertido. Obrigado por vir comigo.

— Obrigado por me convidar. — Ele moveu a mão para minha


perna e esfregou para cima e para baixo. Seu toque foi abrasador e
fez meu sangue ganhar vida. — Isso está bem? — Ele sussurrou.

— Sim. — Observei o movimento por um minuto antes de dar


uma espiada em seus olhos no escuro, desejando poder distinguir
suas cores diferentes.

Foi enquanto estávamos perdidos nos olhares um do outro que os


fogos de artifício começaram. Nenhum de nós se moveu ou desviou
o olhar um do outro. Fomos cativados por algo muito mais
emocionante. Algo muito mais urgente. Meu sangue pulsava alto
em meus ouvidos e eu estava ciente de cada respiração que entrava
e saía de meus pulmões.

Raios de explosões coloridas irromperam no alto, mas Lucky era a


única coisa que eu podia ver. A única coisa com que me importava.
Tudo em mim queria fazer um movimento, mas eu não sabia como.

Ele estendeu a mão e segurou meu queixo, acariciando com o


polegar sobre minha barba e deixando-o descansar no meu lábio
inferior. Nós respiramos. Encaramos.

Fiquei perfeitamente imóvel, com medo de destruir o momento.


Fiquei apavorado e animado ao mesmo tempo.

— Knox? — Ele inspirou.

— Sim?

— Como você se sentiria se eu te beijasse agora?

Minha pele zumbiu. — Bom. Acho que gostaria disso. Muito.


Você definitivamente deveria. Beijar-me, quero dizer. — Eu
precisava parar de falar.

Outra explosão acima e faíscas vermelhas e amarelas de fogo


cintilante choveram sobre nós. Lucky se moveu e fechei os olhos
quando seus lábios tocaram os meus. Meu coração explodiu como o
céu acima. Foi suave e gentil, hesitante, mas exatamente como eu
descrevi aquele beijo perfeito quando jogamos aquele jogo de
perguntas. Sua língua roçou a minha, e isso enviou aquelas
borboletas no meu estômago em um frenesi vibrante. Senti seu
beijo por todo o meu corpo.

Foi bom. Foi mais do que bom. Foi fantástico.

Sentindo-me mais corajoso, pressionei contra ele e movi minha


mão para sua perna, segurando, segurando para salvar minha vida.
Nós derretemos um no outro, esquecendo tudo sobre fogos de
artifício.

Depois de alguns minutos de tirar o fôlego, Lucky se afastou,


olhando profundamente nos meus olhos. — Ainda está bem?

— Tremendo, mas estou bem. Isso foi bom. Podemos fazer de


novo?

E ele estava lá, me beijando novamente. Eu estendi a mão,


segurei sua nuca e o mantive exatamente onde eu o queria. Eu me
preocuparia com outras coisas mais tarde. Agora, tudo o que
importava era isso.
Capítulo Quatorze

Lucky

Acrescentei leite às duas xícaras de café. — E então, depois dos


fogos de artifício, eu o acompanhei para casa.

— É isso aí? Você não... você sabe. Nada mais aconteceu?

— Eu não sou você. Beijar foi um grande passo, e eu não o


empurraria para mais. Você está de brincadeira?

Josiah desabou no meu sofá com um gemido, como se eu o


tivesse insultado pessoalmente. — Eu não posso acreditar que você
apenas... uau. É isso aí. Mas você está vendo-o de novo por... — Ele
acenou com a mão, o que eu sabia que significava o evento de Shay
hoje mais tarde.

— Sim. Como fica fora da cidade, vamos juntos. — Coloquei o


café de Josiah na mesa de centro e me joguei no sofá ao lado dele.
— Você falou com Shay para uma entrevista?

Josiah esfregou os olhos, parecendo exausto. — Eu perguntei.


Ele… É uma longa história. Acho que toda a cobertura da mídia
está sendo cuidada por... você sabe. Não sou privilegiado o
suficiente. Mas posso entrar e... — Ele apontou para a bolsa da
câmera que estava ao lado da bolsa de ombro no chão.

— Mesmo que você seja local?


— Sim. Ugh... se ele apenas... por que ele faz isso comigo? Não
estou tentando... não está certo.

— Você sabe, eu realmente não consigo ver você conduzindo uma


entrevista de qualquer maneira.

Eu estava brincando, mas meu comentário me rendeu um sorriso


de escárnio.

— Eu posso falar direito se eu quiser. E Shay, ele é apenas... —


Josiah balançou a cabeça, descartando o que quer que ele estivesse
tentando dizer. Não era comum que alguém fosse capaz de ferir os
sentimentos de Josiah. Mesmo assim, ele levava seu trabalho a
sério - independentemente do tipo de notícia que informava no
jornal da cidade - e não gostava quando alguém insinuava que ele
era incapaz de fazê-lo direito. Essa coisa com Shay atingiu um
ponto sensível. Ele tinha ficado especialmente mal-humorado e
calado. Era como se houvesse mais coisas que ele não estava me
contando.

— Então por que você não fala direito? Prove às pessoas que você
pode.

Ele deu de ombros e pegou seu café.

As pessoas podiam rosnar e ficar ofendidas com as coisas que


Josiah publicava, mas o Jasper Times era o assunto da cidade.
Mesmo que as pessoas não concordassem com tudo o que Josiah
escrevia, elas compravam suas cópias todas as semanas como pão
quente. Eles mal podiam esperar para absorver todas as novas
fofocas. O jornal fazia parte do tempero da cidade e ninguém
gostava de ficar de fora.

As peculiaridades de Josiah faziam parte desse sabor. Muitas


vezes pensei que ele mantinha a fachada de fala quebrada apenas
para entreter as pessoas - ou irritá-las. Mas não explica por que ele
faz isso comigo. Houve um punhado de vezes nos últimos dois anos
em que nossas conversas tomaram um rumo sério e ele abandonou
o ato e parecia tão humano e pé no chão como surgiu. Não era
sempre, e eu tinha a sensação de que isso o deixava vulnerável.

Havia muitas camadas em Josiah que eu não entendia, mas tive a


sensação de que por trás de todas havia um homem que não sabia
mais ser ele mesmo. Ele estav a sempre se apresentando. Um
homem que talvez tivesse um pouco de medo de que as pessoas não
gostassem dele por quem ele realmente era.

— É sábado. — Anunciou Josiah.

— Isso foi aleatório. Sim, é.

— Você deveria... quero dizer, você não trabalha amanhã, e nem


ele. É perfeito. Enrole-o com cerveja e então... você sabe. — Ele
balançou as sobrancelhas. — Knox gosta de sua cerveja. Ele passa
muito tempo... como todas as noites.

— Que tal ficar fora da minha vida amorosa e se preocupar com


a sua.

— Porque a minha é toda... Deus, esta cidade é muito pequena.


As pessoas são muito críticas. Mesmo quando tento... não importa.
— Parece que você precisa de uma viagem para Edmonton.

— Nah. Eu não quero... — Ele olhou ao redor da sala e encolheu


os ombros.

— Não quer o quê?

— Não é nada. Não posso explicar. — Ele tomou um gole de café.


— Além disso, se for... — Ele beliscou a ponta do nariz, deixando
cair suas palavras novamente antes que eu pudesse entender.

— Você não está fazendo sentido, mesmo para mim.

— Eu te disse. Não posso explicar.

— Claramente. A que horas você vai para as pistas?

Josiah verificou seu telefone. — Uma hora. — Então ele abriu


sua mídia social e rolou a página, os olhos vidrados. Passaram-se
sólidos cinco minutos antes que ele virasse o telefone na minha
direção. — Veja.

Na tela havia uma postagem feita naquela manhã por Shay. A


foto que veio com ela foi tirada na base da montanha ao lado do
laço gigante onde ele realizaria sua acrobacia. Ele estava engrenado
até os dentes e parado com um grupo de pessoas em casacos longos
com um ar profissional. Shay estava perdido em pensamentos,
olhando para a engenhoca que ele deveria conquistar. Havia alguns
policiais de Jasper no fundo, equipes de câmera e equipamentos.

— Ele está se aquecendo desde o amanhecer. Fui verificar porque


queria... bem, eu esperava conseguir algumas fotos decentes, mas
eles... — Ele fez um movimento de enxotar com a mão. — Idiotas.
Shay nem mesmo... Ele me disse que eu poderia voltar às dez.

— Com quem ele está? — Eu olhei para a foto, tentando ver o


emblema no casaco de um cara.

Josiah encolheu os ombros. — Tripulação do Guinness? Eu não


sei. Eles parecem todos... com suas roupas extravagantes.

— Sério? Eles parecem. Espera. Você é amigo de Shay no


Facebook?

Josiah puxou o telefone de volta. — Sim. Então?

— O cara bateu em você algumas semanas atrás. A última coisa


que eu esperava era que vocês fossem amigos no Facebook.

Outro encolher de ombros digno de Josiah, descartando minha


pergunta. — Ele tem muitos seguidores. Não é como se ele tivesse
notado quando eu... não importa. Eu pego a sujeira.

— Ainda não consigo acreditar que ele está fazendo isso. Espero
que eles tenham uma ambulância de prontidão. Ele vai se matar ou
quebrar o pescoço.

— Nah. Shay está sempre... com tudo. — Josiah inclinou-se


para a frente e logo se perdeu no telefone novamente, uma
expressão distante em seus olhos. — Veja.

Ele virou o telefone, mostrando-me mais fotos do Facebook do


garoto. Havia fotos dele pulando de bungee jump, paraquedismo,
escalada, penhasco, tudo. Se era emocionante e perigoso, parecia
que Shay havia tentado.

— Ele é um viciado em adrenalina.

— Sim.

— Não torna isso mais seguro. Deus, você pode imaginar? A


cidade inteira de Jasper aparece, e esse garoto cai e quebra a
cabeça ou algo assim. — Eu estremeci. — Por que estamos tão
animados com isso? Por que eles estão permitindo isso?

Josiah riu. — O Guinness Book está aqui. Shay está fazendo


notícia nacional. É... sua façanha... todo mundo vai querer vir para
Jasper agora.

— Como isso é uma coisa boa? Eu gosto quando está quieto


aqui, não invadido por turistas.

— Então talvez seja um sinal de que você precisa... — Ele agitou


os dedos. — Você nunca se estabeleceu por tanto tempo.

— Eu sei. — E eu não tinha, mas Jasper era diferente.


Normalmente, uma coceira crescia sob minha pele depois de alguns
meses, me dizendo que era hora de seguir em frente. Essa coceira
estava ausente. A ideia de empacotar minhas coisas e voltar para a
estrada não me agradou pela primeira vez em toda a minha vida.
Talvez tenha sido Knox. Talvez fosse a nova informação que Josiah
havia encontrado para mim sobre minha mãe biológica. Eu não
sabia.
Tudo que eu sabia era que ainda não era hora.

Josiah terminou seu café e brincou com seu telefone um pouco


mais antes de anunciar que estava decolando. — Eu quero chegar
cedo. Você nunca sabe se... — Ele suspirou. — Talvez Shay
esqueça que me odeia e nós podemos... não sei. Isso é digno de
primeira página. Ele é um local. Eu gostaria de... — Em vez de
terminar, ele pegou suas coisas do chão e se dirigiu para a porta.

Josiah parecia frustrado hoje. Mais cansado e magoado do que o


normal. As pessoas geralmente não o afetavam assim. Isso era
estranho.

— Boa sorte. Seja legal. Não leve um soco.

Outro olhar digno de Josiah seguiu meu comentário provocador,


mas então ele revirou os olhos. — Vou tentar não o fazer.

Eu ri e o vi sair.

Depois de limpar as canecas de café vazias, pensei em mandar


uma mensagem de texto para Knox. Ainda era cedo, mas eu sabia
que ele estaria acordado. Nossa noite foi maravilhosa. Tínhamos
compartilhado muitos beijos íntimos na encosta enquanto os fogos
de artifício explodiam no céu. Era nosso paraíso pessoal. Quando a
exibição terminou, o momento mudou ligeiramente e os nervos de
Knox voltaram.

Em vez de pressioná-lo ainda mais, sabendo que ele estava em


seu limite, deixei-o ter tempo para assimilar o que tínhamos
compartilhado. Tínhamos voltado para a casa dele, mas recusei sua
oferta de entrar para uma bebida antes de dormir. No
estacionamento escuro atrás de seu prédio, eu o deixei com um
último beijo carinhoso. Uma promessa.

O evento de Shay estava acontecendo ao meio-dia de hoje, então


eu esperava que ele concordasse em passar um tempo juntos antes.

Lucky: Bom dia.

Knox: Bom dia.

Eu contemplei meu próximo texto.

Lucky: Já está correndo para as colinas?

Knox: Lol. Absorvendo. Ainda um pouco em estado de choque, mas


no bom sentido. Não dormi muito.

Eu ri. Nem eu. Deitado na cama sozinho, revivi aqueles beijos que
compartilhamos uma e outra vez até que estava enrolado em meus
cobertores e ansiando por algo muito mais profundo.

Lucky: Meus lábios têm esse efeito nas pessoas.

Knox: Eles são incríveis.

Lucky: Então eu não assustei você ainda?

Knox: Não. Vai ter que se esforçar mais se esse for seu objetivo.

Eu sorri, feliz que Knox não parecia estranho hoje.

Lucky: Posso lhe fazer companhia antes de irmos para a coisa de


Shay mais tarde? Café? Comida? Mais desses lábios incríveis?
Knox: Como posso dizer não a isso? Mas eu já comi. Mas para o
café é sempre um sim. E acho que esses seus lábios podem ser
minha nova coisa favorita. Você quer vir?

Tive a sensação de que talvez ele se sentisse mais confortável em


seu próprio território, e não me importei.

Lucky: Claro. Estarei aí em instantes.

Knox: Traga esses lábios.

Eu ri.

Lucky: Sim, senhor.

Quando cheguei, estava claro que Knox estava em pânico desde a


nossa conversa por mensagem de texto. As rugas marcando sua
testa eram sulcos profundos, suas bochechas estavam vermelhas,
suas têmporas suadas e seu apartamento estava impecável.

— Ei. — Ele não sabia onde colocar as mãos, esfregou-as,


enxugou-as na calça e enfiou-as nos bolsos.

— Ei. — Eu olhei ao redor. — Você estava limpando por causa


do estresse?

Um rubor subiu por seu pescoço, e suas bochechas ficaram mais


rosadas, se isso fosse possível. — Oh. Hum... sim. Eu quero dizer,
não. Eu só estava certificando-me de que estava arrumado para a
companhia. — Ele acenou para que eu entrasse. — Fiz café. Você
ainda quer um?

— Certo.
Knox correu para a cozinha, e eu demorei um segundo,
observando suas mãos tremerem enquanto ele fazia duas canecas
antes de me aproximar. Ele se virou quando eu estava a poucos
metros de distância e estendeu uma caneca fumegante.

Eu aceitei, mas coloquei de volta ao lado dele, então peguei seu


rosto entre minhas mãos e o prendi contra o balcão. — Relaxe. —
Conectando nossas testas, eu olhei profundamente em seus lindos
olhos castanhos. — Respira.

Ele estendeu a mão e segurou meus antebraços como se


precisasse se estabilizar. — Desculpe.

— Eu não vou te apressar em nada, ok? Eu prometo.

— Então, você pode ver totalmente o quão assustado eu estou,


não é? Minha mensagem confiante não te enganou?

— Você é um livro aberto, Knox. Mas está tudo bem. Esperava


que você ficasse um pouco assustado.

— Merda. — Ele fechou os olhos com força. — Estou tentando


não ser. Eu quis dizer o que disse. Seus lábios eram... incríveis.
Melhor do que incrível. Eu não preguei o olho porque eles eram
tudo em que eu conseguia pensar, mas então, comecei a imaginar
para onde íamos a partir daí, e me dei um nó. Não que eu não
queira fazer mais, mas nunca fiz mais com um cara. Nunca fiz nada
com um cara. Inferno, minha experiência com mulheres é
embaraçosamente fina e embaraçosamente constrangedora.
— Knox. — Sua boca estava correndo a mil por hora. Inclinei-me
lentamente para que ele pudesse antecipar minha abordagem e
beijei seus lábios - um beijo suave que prometia, mas não era
invasivo ou assustador.

— Não estou pressionando você. Você é o guia aqui, ok? Não irei
mais rápido do que você pode aguentar.

Ele acenou com a cabeça, sua testa ainda colada na minha. — O


beijo é bom. Eu gosto muito disso. Na verdade, estou ficando louco,
esperando para fazer isso de novo.

Eu sorri. — Eu também.

— Então... deveríamos? Você sabe, fazer de novo?

— Eu acho que devemos.

— Eu também.

Eu o beijei mais profundamente, com um toque de minha língua


em seus lábios. Ele abriu e me encontrou com seu próprio toque
leve como uma pena. Não havia nada melhor do que o roçar suave
de sua barba contra meu rosto ou a maneira como ele se agarrou a
mim, segurando para salvar sua vida. Nós nos beijamos mais um
pouco antes de Knox cantarolar e se afastar um pouco.

— Mmm. — Ele abriu os olhos lentamente, e eu não pude evitar


o orgulho florescendo em sua expressão lânguida. — Você tem
gosto de hortelã. Eu sabia que você iria depois de mastigar aqueles
palitos.
Eu ri. — Destruí um no meu caminho.

— Eu gosto disso.

— Sim?

Ele assentiu e tomou a iniciativa de mais uma rodada de beijos,


desta vez com um pouco mais de substância, um pouco mais de
bravura. Não pude deixar de acariciar sua barba com os dedos e
segurá-la, mantendo-o no lugar. Era incrível sob meus dedos, e eu
desejei tocá-lo assim por um tempo.

Quando subimos para respirar, as bochechas de Knox estavam


rosadas e seus lábios visivelmente maltratados.

— Você está bem para ser o guia nisso? — Perguntei de novo.

— Eu posso tentar. Eu me sinto meio envergonhado. É estúpido,


eu sei. Quando penso em... outras coisas, eu só...

Eu parei suas palavras com um selinho. — Então não pense


nisso ainda. Não há pressão para fazer mais do que isso. Você não
precisa se sentir envergonhado e isso não é estúpido. É novo.
Vamos devagar.

Ele assentiu.

— Você sabe, — Acrescentei. — eu não sou um daqueles caras


que é viciado em sexo. Na verdade, eu levo um pouco mais de tempo
para chegar a esse estágio do que muitas pessoas. Eu sei que disse
que sou pansexual. Bem, também sou demi, o que basicamente
significa que preciso formar um vínculo ou uma conexão bastante
sólida com alguém antes de me tornar ou sentir a necessidade de
ser sexual com essa pessoa. — Dei de ombros. — Não sei se isso
ajuda a acalmar seus nervos, mas é a verdade.

Knox parecia absorver isso. — OK. É bom saber.

Pelos próximos três ou quatro minutos, nós compartilhamos um


beijo mais íntimo enquanto Knox se recuperava, e recuperava sua
confiança.

— Devíamos beber esses cafés antes que esfriem. — Eu disse na


próxima vez que nos separamos.

— Eu realmente não precisava de mais café. Foi um estratagema


para fazer você trazer seus lábios aqui.

Eu ri e cutuquei seu nariz com o meu. — Você deveria apenas ter


dito isso.

Nós nos mudamos para a sala de estar, trazendo nossos cafés


gelados conosco. Quando encontrei algumas revistas de jogos em
sua mesa de centro, eu o provoquei, mas felizmente ouvi enquanto
Knox me regalava com um conhecimento de jogos que eu nada
sabia. As questões sobre nosso frágil e novo relacionamento - se é
que é assim que o chamávamos - e quais etapas viriam a seguir
ficaram em segundo plano. Knox estava a bordo, ele só precisava de
uma orientação gentil para seguir em frente.

Quando chegou a hora de partir para o evento de Shay, pegamos


o caminhão de Knox, pois as estradas para as montanhas estavam
cobertas de neve e eram mais fáceis de manobrar com tração nas
quatro rodas, algo que meu carro não tinha.

Chegamos por volta das onze e meia, meia hora antes do evento
de Shay. Ainda assim, a área de estacionamento isolada já estava
lotada de carros e havia uma multidão reunida. Parecia que toda a
população de Jasper tinha comparecido ao evento.

— Puta merda. — Exclamei enquanto Knox estava ocioso,


procurando por um lugar para estacionar no estacionamento. —
Alguma chance de você trabalhar com o cartão 'Sou um trabalhador
municipal e recebo privilégios especiais' aqui também?

Ele sorriu, mas deu ré no caminhão. — Na verdade, acho que


posso.

Knox deu meia-volta e dirigiu para o outro lado, onde parecia que
outra área de estacionamento havia sido designada para as pessoas
envolvidas no evento. Havia viaturas policiais e vans de notícias
junto com algumas dezenas de carros que davam a impressão de
que não eram locais. Muito caro. Limpo demais. Eles pertenciam ao
tipo de negócios, provavelmente os homens com casacos longos das
fotos que Josiah tinha me mostrado.

Knox diminuiu a velocidade e examinou as pessoas na área antes


de decidir pegar um lugar aleatoriamente.

— Vamos ter problemas por estacionar aqui? — Eu perguntei,


percebendo que o Chefe de Polícia já estava de olho em nós.
— Não. Windsor é um amigo. Veja como eu faço isso. — Knox
sorriu e saiu da caminhonete.

Eu segui.

— Ei, chefe. Ouvi dizer que vocês têm um problema com a cerca.
Só vim dar uma olhada.

— É assim mesmo? — O chefe de polícia sorriu. — Eles não


devem ter me contado.

Knox encolheu os ombros. — Recebi um telefonema para vir e


cuidar disso. Você sabe que odeio trabalhar nos fins de semana.
Você está bem se eu estacionar aqui enquanto vou dar uma olhada,
certo?

— Que tal vocês pararem de me enganar e eu vou virar as costas


e fingir que não os vi quebrando minhas regras?

— Isso também funciona.

O chefe me olhou uma vez e inclinou o queixo em um aceno de


cabeça. — Cuidado, Lucky, esse é um problema.

— Não é?

O chefe se virou e protegeu os olhos enquanto examinava a seção


superior da encosta onde Shay estaria descendo.

— Ele já está aí? — Knox perguntou.

— Ainda não. — Ele apontou para uma área onde as pessoas


estavam reunidas. — Não posso dizer que estou de acordo com
isso. — O chefe balançou a cabeça. — Não o convencendo disso,
entretanto. A criança come, dorme e respira para esse tipo de
aventura.

O chefe de polícia foi puxado por uma equipe de notícias que


procurava informações. Knox agarrou meu braço e me encorajou a
segui-lo.

— Tenho uma cerca para verificar. Nesta direção.

— Você não gosta de regras, não é?

Ele riu. — Eu cresci aqui. Eu sei como contorná-las. Trabalhar


para a cidade me dá uma desculpa para tudo.

— Você abusa do seu poder.

— Você está reclamando?

— De modo nenhum.

Knox nos levou pelo lado errado da cerca laranja que deveria
manter a multidão contida. Havia uma área montada perto da base
da montanha onde uma equipe de noticiários de televisão tinha
uma plataforma inteira e câmeras posicionadas em um círculo
gigante de 360 graus que Shay tentaria conquistar.

O teleférico estava próximo e, à distância, Shay estava na frente


de mais câmeras fazendo uma entrevista. Josiah estava lá e eu
fiquei feliz. Se ele não pudesse fazer parte deste grande evento, eu
sabia que ele ficaria com o coração partido.
Bati no braço de Knox, apontando para onde Shay e a equipe de
notícias estavam. Paramos e observamos, embora estivéssemos
longe demais para ouvir qualquer coisa.

Shay não era alguém que eu conhecia pessoalmente. Ele não se


aventurou na cervejaria, então eu não tive a chance de falar com ele
no passado. Ele tinha um nome e reputação na cidade. Pelo que
percebi, ele não era particularmente pessoal. Ele estava um pouco
alto em seu cavalo e tendia a desprezar a maioria das pessoas - pelo
menos era o que Josiah afirmava. Não que eu acreditasse em algo
que saiu da boca de Josiah.

O cara era pequeno. Compacto. Sua herança asiática se mostrou


em seu tom de pele ligeiramente mais quente e olhos amendoados.
Ele usava seu cabelo preto um pouco mais longo, mas em um
penteado estiloso para o lado. Embora minúsculo, ele estava
extremamente em forma. Eu ri para mim mesmo quando me
lembrei de Josiah dizendo que ele o chamou de twink e foi recebido
pelo punho do cara. Imaginei que esse não era um termo preferido
por Shay.

A entrevista terminou, e um homem alto com um casaco


comprido entregou a Shay seus esquis. Houve uma explosão de
atividade, e Shay empurrou a multidão de jornalistas e se dirigiu
para a área onde o gigantesco corrimão tinha sido erguido.

Ele deu a volta, medindo e estudando. A certa altura, ele pegou


um pedaço e sacudiu, verificando sua vitalidade. Uma vez satisfeito,
ele acenou com a cabeça para um de seus tripulantes e se dirigiu
ao elevador que levaria Shay ao seu ponto de lançamento colina
acima. Aparentemente, ele precisava ganhar a quantidade certa de
impulso para realizar a proeza, ou tudo iria falhar.

Josiah dirigiu-se para a área preparada para a equipe de notícias.


Ele estava com sua câmera e estava tirando fotos enquanto
caminhava.

Knox me pegou olhando para ele e dei de ombros. — Ele é uma


boa pessoa no coração. Eu sei que a maioria das pessoas pensam
que ele é um idiota. Eles o colocaram de lado durante um dos
eventos mais emocionantes da história de Jasper. Ele não vai
admitir, mas doeu. Eu meio que me sinto mal por ele.

Knox seguiu meu olhar novamente. — Eu não acredito que você


poderia ser amigo de alguém que não tivesse boas qualidades por
dentro. Só não o conheço como você, eu acho.

— Lamento que ele tenha sido um idiota no passado.

— Não é seu pedido de desculpas.

— Verdade.

— Vamos. Este é um bom local com uma visão clara.

Knox e eu ficamos ao longo da cerca, o mais perto que podíamos


chegar da frente, onde a alça foi erguida. A cidade inteira estava
abarrotada como sardinhas do outro lado da cerca.
— Aposto que você está feliz por estar namorando um
trabalhador municipal agora, não é? — Knox estremeceu com suas
próprias palavras, percebendo o que ele disse ao me lançar um
olhar cauteloso.

Inclinei-me mais perto e baixei minha voz. — Estamos


namorando?

— Eu não quis insinuar... estamos?

— Eu gosto da ideia. E quanto a você?

Seus ombros desceram de suas orelhas. — Eu também.

— Bom. Nesse caso, gosto muito de estar namorando um


trabalhador municipal. — Eu bati em seu ombro e olhei para o
outro lado do terreno nevado, sorrindo como uma idiota.

O grupo de casacos longos vagou em direção a um pódio. O chefe


Windsor e o prefeito da cidade o seguiram. O prefeito, Sean
Croucher, ligou um microfone, e o sistema de alto-falantes que
havia sido instalado na área gemeu e guinchou antes de se
estabelecer em um zumbido alto.

Sean olhou ao redor para se assegurar de que estava pronto para


começar, então se inclinou sobre o microfone e se dirigiu à
multidão.

— Bom dia. Que resultado incrível neste lindo dia. — O prefeito


ergueu um braço e o ergueu no ar, gesticulando para o céu azul
claro.
— É incrível ver a demonstração de apoio quando um dos nossos
enfrenta um desafio bastante perigoso que nunca foi feito antes em
esquis. Se for bem-sucedido, este evento será registrado no
Guinness Book of World Records.

A multidão murmurou e algumas pessoas aplaudiram.

— Shay Lee, de 25 anos, um atleta extremo nascido em Jasper e


esquiador habilidoso, decidiu conquistar esse truque, popularmente
conhecido como Ciclo da Morte. Apenas um punhado de pessoas
conseguiu completar este desafio. A lenda do skate, Tony Hawk,
conseguiu um ciclo completo em 2001. Outra tentativa mais tarde
em sua carreira terminou em uma fratura no crânio. O mountain
bike profissional, Matt Macduff, saiu de sua tentativa com mais de
doze ossos quebrados. Ninguém se atreveu a experimentá-lo em
esquis antes de hoje.

— Esse garoto é louco. — Eu disse pela centésima vez.

— Em uma entrevista anterior, Shay compartilhou que esse


truque requer extrema precisão. Um elemento errado, seja alguns
graus fora do curso, velocidade insuficiente ou a menor variação na
forma, pode resultar em uma queda. Então, hoje, vamos enviar
todas as nossas vibrações de boa sorte e orações para Shay
enquanto ele assume este desafio e deixa Jasper orgulhoso.

O tumulto foi ensurdecedor.

O prefeito se afastou do pódio e o burburinho de expectativa que


se instalou na plateia era palpável. Um dos homens de casaco
escuro falou em um walkie-talkie enquanto olhava para o alto da
encosta.

A equipe de filmagem estava posicionada e os cavalheiros


estavam por perto, esperando para fazer a ligação oficial. Não era
como se estivessem medindo o tempo ou a velocidade. Se Shay
falhasse, seria óbvio.

O homem com o walkie-talkie gesticulou para um membro da


tripulação que fez um sinal de positivo com o polegar. O homem se
inclinou sobre o microfone e falou.

— Estamos prontos para começar. Se puderem fazer silêncio na


plateia, por favor.

Nem uma única pessoa falou. O silêncio que caiu sobre a


multidão foi imediato. Você podia ouvir o vento nas árvores
distantes e o canto de um pássaro a meia milha de distância.

Knox se encostou ao meu lado e nós dois olhamos encosta acima,


esperando. A expectativa era densa. A cidade inteira prendeu a
respiração coletiva.

Não demorou muito para que um borrão escuro aparecesse na


encosta, descendo a uma velocidade vertiginosa. Havia marcadores
para Shay seguir para ajudar a mantê-lo no caminho certo. De onde
eu estava, era difícil dizer se ele estava batendo neles ou fora do
curso. A grade não era larga, e eu não poderia imaginar acertá-la da
maneira certa enquanto ia tão rápido.
Cliques de câmeras chegaram aos meus ouvidos enquanto as
pessoas registravam cada etapa do evento. Ele estava quase no sopé
da encosta. O ciclo foi montado em um trecho plano de solo bem na
base da montanha. Eu balancei minha cabeça, mal conseguindo
olhar enquanto Shay voava mais e mais perto, seu corpo firme e
sua forma perfeita para meus olhos destreinados.

A façanha parecia impossível. A grade era muito fina e mal


parecia larga o suficiente para ele viajar com sucesso. Eu queria
fechar meus olhos, mas não fechei.

Knox deve ter sentido o mesmo porque se agarrou ao meu braço,


pressionando o rosto contra meu ombro enquanto espiava.

— Ah Merda. Aí vai ele. — Sussurrei enquanto Shay descia ao pé


da colina.

Tudo parecia estar indo bem. Ele ia fazer isso.

Ele bateu no trilho e a coisa toda pareceu acontecer em câmera


lenta.

Conexão.

Um deslizamento suave para cerca da marca de três quartos.

Então tudo deu errado.

Um suspiro irrompeu da multidão quando Shay voou da


amurada, caindo e girando com a velocidade ridícula que ganhou.
Seus esquis voaram enquanto ele rolava em alta velocidade pela
neve. Ele não era nada mais do que uma pilha de membros,
quicando e se espatifando no chão.

Quando ele parou, houve uma pausa, uma calmaria, um


momento em que o tempo parou de avançar.

A queda foi devastadora e todos os espectadores devem ter


pensado a mesma coisa naquele momento.

Shay estava bem?

— Foda-se. — Knox sussurrou em meu ombro. — Oh merda.

Então Shay se moveu, e foi como se o tempo avançasse mais uma


vez.

Ele bateu com o punho contra o solo coberto de neve


repetidamente. Com o rosto enterrado na neve, Shay permaneceu
em uma bola apertada, descontando sua frustração no chão. Se ele
estava ferido, não devia ser muito sério, ou ele ainda não tinha
reconhecido. A adrenalina tinha um jeito de mascarar coisas assim.

Os repórteres se lançaram para frente, ignorando a linha do


perímetro que eles deveriam passar. O chefe de polícia correu. Os
atendentes da ambulância dispararam pelo chão coberto de neve
com uma maca e equipamento jogado sobre os ombros. O pessoal
do Guinness perdeu imediatamente o interesse desde que Shay
falhou, e eles estavam conversando entre si como se nada disso
importasse mais.
Mas a pessoa cuja reação mais me surpreendeu foi Josiah. Ele
empurrou todo mundo, correndo em direção a Shay e chamando
seu nome com uma nota de pânico em seu tom que eu nunca tinha
ouvido do meu amigo nos dois anos que o conhecia. Ele não tinha
sua câmera ou bolsa de ombro que ele carregava aonde quer que
fosse. Quando olhei de volta para onde ele estava, eles estavam
jogados na neve.

A enormidade do que eu estava testemunhando não era bem


compreendida.

A encosta da montanha ficou caótica nos vinte minutos


seguintes. Os participantes da emergência verificaram Shay da
cabeça aos pés. Mesmo que ele estivesse sentado e falando, sua
derrota apareceu. Pelo jeito, ele não estava gravemente ferido, mas
eles insistiram em levá-lo ao hospital. Enquanto ajudavam Shay a
chegar a uma ambulância, ele mancou e sua cabeça pendeu em
decepção. Eu não conseguia imaginar o quão arrasado ele devia se
sentir.

O prefeito voltou ao pódio, mas suas palavras se perderam no


barulho da multidão. Knox se virou para mim com as sobrancelhas
levantadas. — Isso foi meio ruim para Shay. Estou feliz que ele
esteja bem. Isso foi brutal.

— Sim. Assustador.

Olhei em volta, percebendo que Josiah não estava à vista, mas


suas coisas ainda estavam no chão molhado de neve.
— Me dê um segundo. — Corri para pegá-las e mandei uma
mensagem para Josiah para que ele soubesse que eu estava com as
coisas dele. Ele não respondeu. Nunca em dois anos eu tinha visto
Josiah abandonar sua câmera e bolsa de ombro. Eles faziam parte
dele. Eles eram o seu propósito. O trabalho da sua vida. Mesmo
assim, ele desapareceu, deixando-os para trás sem se importar.

Esperamos que as coisas diminuíssem enquanto todos corriam


em direção ao estacionamento improvisado e voltavam para a
cidade. A feira ainda estava a todo vapor e não havia mais nada
para se ver nas encostas.

Quando o tráfego diminuiu o suficiente, subimos na caminhonete


de Knox e seguimos os últimos carros em direção a Jasper.

— Você quer fazer mais coisas de feiras hoje? — Ele perguntou.

— Na verdade, que tal voltarmos para a sua casa, e você pode


chutar minha bunda em videogames ou algo assim. Meus dedos
estão frios e estou cansado de ficar fora de casa.

— Combinado. Devemos deixar as coisas de Josiah em algum


lugar? Para onde ele foi?

— Nenhuma ideia. — Peguei meu telefone, mas não houve


resposta à minha mensagem. — Ele sabe que eu as tenho. Não vou
me preocupar com isso.

Então fomos para a casa de Knox e, apesar da decepção que


envolveu a cidade há pouco tempo, não pude deixar de ficar
animado para passar um tempo com ele novamente.
Capítulo Quinze

Knox

No minuto em que estávamos de volta à minha casa, trancados


por dentro, sozinhos, meus nervos ausentes retornaram com força
total. Foi divertido subir a montanha e assistir Shay tentar fazer
esse ciclo acontecer. Infelizmente ele não foi bem-sucedido, mas
fiquei feliz por ele não ter se machucado seriamente. O cara era
como um elástico. Se fosse eu, eles ainda teriam colecionado partes
do corpo.

Os últimos dois dias com Lucky foram incríveis, e quanto mais


tempo passamos juntos, mais eu queria explorar com ele. O que eu
não tinha dito antes, foi como minha noite sem dormir resultou em
várias sessões de punheta enquanto eu imaginava o próximo passo
com ele. Em algum lugar sob todo o meu medo, fiquei empolgado
para explorar mais.

Nunca na minha vida eu pensei em assistir pornô gay, mas na


noite anterior eu tinha esgotado todos os sites que pude encontrar,
aprendendo sobre algo que nunca havia feito antes. Se formos mais
longe, eu queria ter uma ideia do que estava fazendo.

No começo, eu estava preocupado que a pornografia gay iria me


deixar estranho e que talvez eu estivesse errado sobre tudo, mas o
primeiro vídeo que encontrei apagou todas as minhas
preocupações. Saber que essas eram coisas que eu poderia
experimentar com Lucky me deixou tão fodidamente duro que eu
era como um adolescente, insaciável, inquieto e com tesão a noite
toda. Era como se uma porta tivesse sido aberta e eu não sabia que
tinha estado fechada a vida toda. Ou um véu - obrigado, Lady
Mallory - foi tirado de meus olhos.

Mas minha noite de fantasias, pornografia e punheta tinha


terminado, e à luz brilhante de um novo dia, diante de Lucky em
carne, todos esses medos retornaram, juntamente com cerca de
cem perguntas.

Lucky me disse que eu era o guia, mas eu nunca tinha falado


sobre sexo. Qualquer discussão sobre sexo normalmente me
deixava querendo rastejar em um buraco e me esconder. Ele não
conseguia ler minha mente, então eu sabia que teria que vestir
minhas calças grandes se quisesse nos mudar para o próximo nível.

— Não posso competir com comida de feira, mas tenho o material


para fazer tacos, se você quiser ficar para jantar mais tarde. — Eu
disse.

— Oh, eu amo tacos.

— Eu também. — Fiz uma pausa e dei de ombros. — Ok, para


ser honesto, eu amo toda comida.

Lucky apenas sorriu. — Você tem algo para beber? Eu poderia


correr para a cervejaria e nos pegar algo do bom.
Examinei a prateleira de baixo da geladeira. — Eu tenho algumas
cervejas. Devemos ficar bem, a menos que você queira se preparar e
correr contra mim em Mario Kart. Isso é sempre divertido.

Lucky riu. — Você não precisa me embebedar para ter uma


vantagem. Garanto-lhe que não vou conseguir conduzir em linha
reta totalmente sóbrio.

— Anotado. Então acho que estamos bem com cerveja. Mas


mudei de ideia, não vamos jogar Mario. Você foi privado quando
criança. Vamos nos juntar e jogar um jogo de zumbi. Algo
sangrento e violento. Explodir algumas cabeças e espalhar tripas
por uma cidade deserta após outra, enquanto coletamos a fórmula
para curar o mundo dos mortos-vivos.

— Uau, parece aterrorizante e um pouco nojento.

— Fique comigo, e você ficará bem. Eu tenho habilidades loucas


com uma adaga e uma arma.

— OK. Estou dentro. Só para você saber, se você me transformar


em um serial killer, minha mãe vai ficar puta.

Nós compartilhamos uma risada enquanto nos acomodamos no


sofá.

Sabendo que as habilidades de jogo de Lucky eram inexistentes,


passei um pouco de tempo examinando os controles e conduzindo-o
pelo tutorial. Quando lançamos nosso primeiro jogo, eu mal
conseguia me concentrar de rir. Lucky não era um jogador. Ele
saltou em tudo. E quando ele saltou, ele disparou sua arma ao
acaso, paralisando meu personagem momentaneamente.

— Cara! Tente não atirar na perna do seu parceiro. Isso doeu,


cara.

— Oh Deus, eu sinto muito. Este jogo está me enlouquecendo.


Crianças jogam isso? Isso é horrível.

— Me siga. Veja aquela torre. Temos que escalar. Há um prédio


do outro lado da cerca do monstro, onde podemos nos abrigar.
Mole-mole.

— Sim, sim. Fácil, ele diz. Vá! Estou atrás de você.

Eu fiz meu personagem correr, e Lucky estava fora do sofá, em


pé, apertando os botões e dirigindo seu controle como um volante
enquanto fazia seu cara me seguir. Um zumbi agarrou seu pé
quando ele começou a escalar a torre, e foi isso, ele lançou seu
controlador pela sala com um grito e cobriu os olhos.

— Esqueça. Eu não consigo fazer isso. Deixe-os me comerem.

Eu desabei de lado no sofá onde ele estava sentado e ri tanto que


bufei nada atraente.

Nossos dois rapazes acabaram se transformando em comida de


zumbi, mas não achei que Lucky se importasse. — De verdade,
você é dono do Mario Kart? Estou com vergonha de mim mesmo.
Tenho 41 anos e quase fiz xixi nas calças. Isso é demais. Vou ligar
para minha mãe amanhã e agradecê-la por nunca me permitir jogar
coisas como esta. Eu vou ter pesadelos agora.

Quando consegui respirar novamente, encontrei Mario Kart - que


era um sistema de jogo totalmente diferente - e fiz Lucky controlar
novamente. Ele tinha um mínimo de medo dos personagens
divertidos e coloridos dos desenhos animados, mas ainda estava
nervoso por causa do jogo acelerado e dos cascos de tartarugas
voadoras tentando derrubá-lo. Eu adorei o quão ativo ele era
quando jogava. Nem uma vez ele ficou sentado. Ele jogava os braços
para cima sempre que fazia seu personagem pular e se inclinava
para os lados enquanto fazia as curvas.

Definitivamente, não era um jogador.

Corremos uma dúzia ou mais de percursos, ambos rindo das


habilidades ruins de Lucky até que nossas barrigas roncaram por
comida.

Juntos, fizemos tacos. Era doméstico e confortável. Eu não tive


isso com uma única pessoa com quem namorei no passado. E eu
gostei.

Houve várias pinceladas de mãos e troca de olhares entre nós.


Lucky me deu um tapinha no quadril uma vez quando eu estava
ralando queijo e, quando olhei para cima, ele roubou um beijo,
sorrindo como um idiota. Eu amei aquele sorriso nele. Não houve
pressão. Foi divertido e íntimo, e eu aproveitei cada segundo.
— Shay deve estar se sentindo muito mal agora. — Eu disse
enquanto nos sentávamos à mesa para saborear nossa refeição. —
A cidade inteira e alguns se prepararam para observa-lo. A
imprensa estava lá. O Guinness Book. — Eu balancei minha
cabeça. — Isso deve ser um golpe duro para sua autoestima.

— Estou feliz que ele não se machucou seriamente. Você o viu


cair?

— Sim. Josiah vai ter um bom dia com isso. Eu meio que me
sinto mal por Shay.

Lucky olhou para onde havia deixado as coisas de Josiah e


franziu a testa. — Me dê um segundo. — Ele se levantou e pegou
seu telefone na mesa de centro, folheando-o enquanto se sentava.
— Nenhuma resposta ainda, e tenho certeza que o inferno congelou.

— O que você quer dizer? — Eu mordi outro pedaço do meu taco.

— Josiah não posta em suas redes sociais há seis horas.

— É muito tempo para ele? Eu não postei na minha mídia social


provavelmente por seis semanas.

— Josiah posta várias vezes por hora. Ele é viciado nisso. Veja. —
Lucky virou o telefone para me mostrar. Em seguida, ele acessou o
Instagram e o Twitter e balançou a cabeça. — Ele é viciado em
redes sociais, mas não há nada.

Eu balancei a cabeça para seu telefone. — Shay postou uma


atualização para seus fãs?
Lucky levou um minuto para encontrar o Instagram de Shay, mas
ele balançou a cabeça. — Não. Tudo está tranquilo em suas
páginas também.

— Ele parecia bastante derrotado antes. Talvez ele precise de um


minuto para se recompor antes de enfrentar o fato de que não teve
sucesso.

— Eu acho. — Lucky colocou o telefone de lado e continuamos


comendo.

Meu prato estava vazio. Peguei alguns pedaços de queijo ralado


que haviam caído do meu taco e comi enquanto olhava para Lucky.
Eu não estava pronto para ele ir embora, mas a noite parecia que
estava terminando.

— Você quer assistir um filme depois? A menos que você tenha


que ir. Isso é legal.

— Não tenho planos. E amanhã é meu dia normal de folga.


Então, filmes funcionam para mim.

Eu balancei a cabeça enquanto considerava apenas como


perguntar se Lucky queria passar a noite. Algumas vezes ao longo
do dia, pensei em convidá-lo, mas será que ele assumiria
automaticamente que isso significava que eu estava comprometido
com tudo?

Eu estava?

Como me sinto por compartilhar minha cama com um cara?


— Você está pensando muito. E aí?

Meus nervos zumbiam, mas lutei contra eles. — Eu só estava me


perguntando... se você gostaria... — Esfreguei minha nuca. — De
ficar esta noite.

Minhas bochechas esquentaram, mas Lucky sorriu. — Sim?

— Sim. Se você quiser.

— Eu adoraria.

Um momento se passou entre nós. Seu sorriso me aqueceu


profundamente e mexeu com algo dentro de mim.

Eu fiz isso. Eu convidei um cara para compartilhar minha cama.


Puta merda, eu teria um homem na cama ao meu lado. E se…

Recusei-me a ir para lá. Poderíamos aguentar aos poucos, e eu


veria como me sentia à medida que avançávamos.

Nós limpamos o jantar e nos acomodamos no sofá com Guardiões


da Galáxia, um dos meus filmes favoritos. Lucky não tinha visto
isso antes e me fez prometer três vezes que não iria assustá-lo, já
que ele teve o suficiente por uma noite, muito obrigado.

Começamos com nossos ombros e pernas se tocando e, na


metade do caminho, estávamos de mãos dadas. Antes que os
créditos rolassem, perdemos o interesse no filme a favor do beijo.
Eu gostei muito dessa parte. As poucas garotas com quem estive
não beijaram como Lucky. Sempre havia estranheza ou muitos
dentes envolvidos. Os beijos de Lucky eram ternos e cuidadosos.
Sua língua varreu a minha e enviou arrepios por todo o meu corpo.
Além disso, a sugestão de hortelã do palito que ele estava roendo
durante o filme me iluminou.

Viramos um em direção ao outro, e a mão de Lucky acariciou um


caminho ao longo da parte externa da minha coxa, parando
algumas vezes na minha cintura. Seus dedos brincaram na barra
da minha camisa. Ele se libertou da minha boca e lambeu os lábios.
— Posso te tocar? Eu não quero te assustar.

Eu hesitei. Desta vez, não tinha nada a v er com Lucky me


tocando e tudo a ver com a autoconsciência sempre presente que eu
sentia sobre meu corpo. Mas tudo o que estava acontecendo entre
nós parecia bom, e eu sabia que seus dedos contra minha pele nua
seriam ainda melhores. Eu queria isso.

Então eu balancei a cabeça e iniciei outro beijo.

A mão de Lucky deslizou sob minha camisa e explorou. Eu não


era virgem, mas me sentia como um. Cada toque e cada beijo me
incendiava como se fosse a primeira vez.

Acabamos ficando na horizontal, nos beijando como adolescentes.


Quando notei sua ereção dura pressionando contra minha coxa,
tive um pequeno momento de pânico. Eu nunca toquei um pau
duro, além do meu, e era um pouco assustador. O que era pior, o
meu estava igualmente duro, esticando minha calça jeans e
apertando contra sua coxa também. Ele deve ter sentido isso.
O instinto, um desejo irresistível de fricção contra meu pau
dolorido me fez mover meus quadris. Com a ação, Lucky gemeu em
nosso beijo. Ele se libertou da minha boca, lábios inchados pelo
beijo, ofegante.

— O que você quer? O que você pode aguentar?

Eu abri minha boca, mas nenhuma palavra saiu. Eu não podia -


não sabia como me expressar. — Eu não sei. Mais. — Isso foi o
suficiente? Como pedir coisas sobre as quais não sabia nada?

— Que tal irmos para a sua cama?

Eu balancei a cabeça, gostando da ideia. Além disso, a


iluminação do apartamento foi se tornando uma preocupação mais
significativa à medida que avançávamos. Eu precisava apagar as
luzes.

Lucky desceu do sofá e me ofereceu a mão. Não perdi o inchaço


na frente de nossas calças.

Ele deve ter percebido meus nervos. Talvez tenha sido porque eu
congelei com meus olhos esbugalhados.

Lucky parou na minha frente, erguendo meu rosto para encontrar


seus olhos - seus lindos olhos de cores diferentes. — Isso é
demais? Podemos desacelerar.

— Não.

— Você quer tentar mais?


Eu balancei a cabeça e minha voz falhou quando eu disse: —
Muito.

— OK. Você vai me impedir se eu for longe demais?

— Eu vou.

— Prometa-me.

— Eu prometo.

Ele pegou minha mão e me puxou em direção à área protegida


que funcionava como um quarto. Antes de irmos longe demais,
liberei seu aperto e desliguei todas as luzes do apartamento. Então
eu o encontrei ao lado da minha cama. Estava escuro lá fora e as
luzes da rua que passavam pela janela não alcançavam muito.

— Bem, como é que eu vou ver alguma coisa agora? — Lucky


disse.

— Essa é a questão.

Ele me puxou para baixo na cama e nos esparramamos lado a


lado, um de frente para o outro. Sua mão pousou no meu quadril,
acariciando. — Vamos trabalhar nisso, porque não acho que você
acredita em mim quando digo o quão atraente eu acho que você é.

Eu abaixei meu queixo, mas ele não me deixou fugir me


escondendo. — Estou falando sério, Knox. Eu cresci minha vida
inteira odiando ter dois olhos de cores diferentes e esse pedaço de
cabelo branco que ninguém mais tinha. As crianças me
ridicularizaram. Eu não conseguia me olhar no espelho. Eu me
odiava. — Lucky balançou a cabeça. — Levei muito tempo para
parar de me importar com o que as outras pessoas pensavam e
olhar para mim mesmo sem aversão. As pessoas ainda evitam olhar
para mim por causa dos meus olhos.

— Eu sinto muito.

— Pare de pedir desculpas. Você está sempre se desculpando.

— Eu sou canadense. Nós fazemos isso. É o nosso negócio.

Ele riu, acariciando minha bochecha. — O que estou dizendo é


que você me disse o quanto gosta deles.

— Eu gosto.

— E você me disse como a luta para olhar para mim se originou


de outra coisa.

— Porque eles fizeram algo comigo. Me fez sentir como nunca


antes.

— Vejo. A questão é que nem todo mundo na minha vida olha


para mim e vê o que você faz. E talvez você tenha tido babacas
nojentos a vida inteira dizendo coisas para você também. Mas nem
todo mundo é assim. Quando eu olho para você, todo você, isso faz
coisas engraçadas nas minhas entranhas também. Faz-me sentir
coisas que não sentia há muito tempo. Você é sexy e lindo e puta
merda, é difícil manter minhas mãos longe de você às vezes. — Sua
mão voltou para o meu quadril e deslizou pela minha camisa -
carne com carne. — Eu amo tocar em você. E eu quero conhecer
todo você, e ver todo você, e estar com todo você. Eu te desejo.
Estou atraído por você. E eu quero que você acredite em mim. Eu
quero que você veja o que eu vejo.

— Eu acredito em você.

As costas de seus dedos roçaram minha barriga, para cima e para


baixo. Ele me observou de perto no escuro enquanto parava perto
do topo da minha calça. Lentamente, provavelmente preocupado
que eu o rejeitasse ou corresse para as colinas, ele moveu a mão
sobre a ondulação mais abaixo.

Eu respirei fundo e parei. Meu pau pulsou com o toque de seus


dedos.

— Posso cuidar disso para você?

Eu engoli e molhei meus lábios. Tudo que eu tinha que fazer era
acenar. Isso não era difícil. Mas minha cabeça correu entre todas as
diferentes maneiras que ele podia decidir cuidar de mim, e eu
parei.

Ele moveu seus dedos ao longo da minha ereção novamente, nada


mais do que um toque suave, mas meus olhos se fecharam e eu
gemi enquanto arrepios corriam pelos meus braços

— Knox?

— P-por favor. Sim.

Lucky se inclinou e me beijou, me rolando de costas. Ele virou a


mão e apertou meu pau através da minha calça, acariciando e me
deixando mais duro do que eu estive em minha vida. E puta merda,
era incrível pra caralho.

Demorou alguns minutos até eu encontrar alguma coragem para


tocar Lucky de volta. Primeiro sob a camisa, sobre a pele lisa e o
peito nu. Seus quadris se moveram um pouco enquanto ele
esfregava sua ereção contra minha perna. Eu gostava disso, senti-lo
tão duro e sabendo que era eu quem estava fazendo isso com ele.

Em um flash, sua mão deixou meu pau e ele se moveu por cima
de mim. Então quase gozei quando ele esfregou seu pau contra o
meu. Estávamos totalmente vestidos, mas a ideia do pau de outro
cara esfregando contra o meu foi o suficiente para jogar todo o meu
sistema offline. Eu joguei minha cabeça para trás em um suspiro
quando meu corpo inteiro vibrou com a necessidade. — Ah merda.
Santo... uau.

Lucky mergulhou na minha boca, beijando-me profundamente,


arrastando sua língua ao longo da minha enquanto nos colocava
juntos. O atrito era tudo. Eu tremi. Minhas bolas formigaram. Eu
corria o risco de gozar nesse ritmo, o que seria horrível. Eu nunca
iria sobreviver.

Lucky se libertou da minha boca, levantando-me o suficiente para


que pudesse colocar a mão entre nós. Ele esfregou meu pau coberto
mais uma vez antes de passar para o meu botão e zíper. E eu sabia
que se ele me tocasse nu, seria o fim do jogo.
Eu orei por controle. Com respirações irregulares, eu o vi abrir o
botão e deslizar meu zíper para baixo.

Quando minhas calças estavam abertas, Lucky molhou os lábios


e chamou minha atenção. — Ainda está bem?

— Sim. Tenho... medo de me envergonhar se você me tocar. Já


estou muito perto.

Ele riu, mas bicou meus lábios. — Tudo bem. Temos a noite
toda. Podemos tirar um do caminho, então vou levar meu tempo
para levá-lo lá novamente.

— Ah Merda. Isso parece... uau. — Meu pau pulsou com suas


palavras e senti a mancha úmida na frente da minha cueca
crescer.

Lucky me beijou mais uma vez e se ajoelhou na cama ao meu


lado. Ele puxou minha calça e cueca para baixo e, apesar da
escuridão, cobri meus olhos com as palmas das mãos.

— Não se atreva a se esconder de mim, Knox.

Foi uma coisa boa que ele não pudesse ver minhas bochechas
aquecidas no escuro. Descobrindo meus olhos, olhei para baixo
enquanto Lucky se movia entre minhas pernas. Ele correu as mãos
para cima e para baixo na parte interna das minhas coxas, olhando
para minha ereção oscilante.

Lentamente, ele moveu uma mão mais perto e escovou os dedos


ao longo de minhas bolas, em seguida, meu eixo.
Eu assobiei e não pude evitar que meus quadris se sacudissem.

Lucky se curvou e, quando vi o que ele estava prestes a fazer,


amaldiçoei.

Sua língua quente e úmida traçou um caminho da raiz às pontas,


e era uma maravilha como eu não gozei ali mesmo. Quando ele
alcançou a cabeça do meu pau, ele circulou sua língua uma vez e
me chupou em sua boca quente e úmida.

Eu agarrei seu cabelo, gritando. — Lucky. Merda. Eu nunca vou


durar.

Ele pulou. — Então, deixe ir.

Na próxima vez que sua boca me rodeou, ele me chupou por todo
o caminho até sua garganta e subiu novamente. Sua boca era
maravilhosa. A sucção. O calor.

Eu cerrei meus dentes, fechando meus olhos enquanto fazia tudo


ao meu alcance para segurar por pelo menos um minuto para que
pudesse desfrutar dessa sensação incrível. Eu tive muito poucos
parceiros sexuais, e das poucas garotas com quem namorei ou
dormi, apenas uma esteve disposta a me chupar. Isso foi há muito,
muito tempo.

Eu tinha esquecido como era incrível.

Lucky golpeou, chupou e rodou sua língua na minha ponta. A


pressão cresceu em proporções que não pude mais controlar.
Quando ele me levou para baixo em sua garganta novamente, eu
arqueei e gritei, meu orgasmo batendo como um caminhão.

Lucky me conduziu em cada onda e não me soltou até que eu


fiquei mole. Ele rastejou pelo meu corpo e me beijou
profundamente, compartilhando o sabor de sua língua.

— Meu Deus, você é incrível. — Ele soprou em nosso beijo.

Queria dizer que ele era incrível, mas não conseguia falar. Eu mal
fui capaz de coordenar o beijo.

Enquanto compartilhamos o momento, Lucky apertou seus


quadris contra minha perna. Ele ainda estava totalmente vestido.
Meus sentidos voltaram o suficiente, eu sabia que deveria cuidar
dele também, mas a ideia de fazer um boquete estava um pouco
além do que eu estava pronto. Eu nem tinha tocado nele ainda.

Mas eu queria.

Enquanto trocávamos beijos preguiçosos, movi minha mão para a


frente da calça de Lucky. Ele ergueu os quadris, permitindo -me o
acesso. Eu desabotoei sua calça jeans e baixei o zíper. Minhas mãos
tremiam, meu coração galopava, mas baixei suas calças o máximo
que pude.

Lucky as chutou, deixando-as cair no chão.

Em cuecas boxer, sua ereção era mais definida quando ele a


esfregou contra minha perna. Eu o incentivei a deslizar ao meu
lado. Quando ele o fez, levei minha mão ao inchaço em sua cueca,
tocando-o pela primeira vez. O calor dele, a dureza, era alucinante.
Lucky engasgou e perdeu o ritmo, saindo da minha boca.

Minha mão parou, mas ele trouxe a sua e colocou em cima da


minha, me encorajando, me mostrando que estava tudo bem.

Continuei tocando-o, esfregando minha mão em seu pau


enquanto pequenos arrepios de eletricidade dançavam em minha
pele. Eu estava quase duro de novo só de ouvi-lo gemer e suspirar.

Ele estremeceu e apoiou a testa no meu ombro, a mão no meu


quadril enquanto eu continuava a explorar por conta própria.

Não foi o suficiente.

No cós de sua cueca, fiz uma pausa.

— Você não precisa. — Lucky ofegou.

— Eu quero.

Deslizei minha mão para dentro, segurando seu pau duro. Ele
pulsou ao meu toque, quente, pesado e pronto.

Envolvi meus dedos em torno dele e acariciei para cima e para


baixo.

— Sim. — Ele assobiou. — Tão bom.

Com essas poucas palavras de encorajamento, continuei. Cada


movimento que fiz causou uma reação de Lucky. Ele empurrou em
minha mão, gemeu e me agarrou com mais força enquanto se
aproximava cada vez mais do orgasmo.
Sua cabeça vazou e, em resposta, meu próprio pau ficou mais
duro novamente.

— Knox. Estou perto.

— Eu quero que você…

Abaixei a cueca dele e continuei acariciando. A mão de Lucky


deslizou ao redor do meu pau também, e ele me acariciou ao
mesmo tempo.

Então, ele nos rolou e nos alinhou. Foi a coisa mais incrível que
eu já senti. Ele empurrou contra mim, esfregando nossos
comprimentos duros e nus. Minha pele estava pegando fogo. Nós
ofegamos, nos movemos, trememos.

— Vamos. — Lucky sussurrou, movendo seus quadris mais


rápido. — Knox…

Então seu corpo estremeceu, e um calor úmido se espalhou entre


nós. Foi isso. Eu estava acabado. Eu gozei novamente, nós dois
montando um ao outro enquanto tínhamos espasmos e gemíamos
de prazer.

Quando acabou, Lucky caiu ao meu lado. Meu corpo ainda estava
tremendo.

Depois de alguns minutos, Lucky passou os dedos sobre a poça


molhada no meu estômago. Eu tentei muito não sugar meu
intestino e me afastar dele, mas ele registrou meu pânico, no
entanto. — Você está bem?
— Sim. — Eu sorri para tranquilizá-lo. — Isso foi incrível.

— Bom.

Inclinei minha cabeça para o lado, observando-o no escuro. — Foi


bom para você? Tenho certeza de que não foi tão satisfatório, pois
sou como um adolescente novamente e hesito em todas as etapas.

Lucky se inclinou e me beijou. — Foi incrível, porque era você.

— Sim?

— Sim. Sua camisa está um pouco úmida.

Eu ri. Não havia sido puxada o suficiente e agora estava coberta


por nosso sêmen combinado. — Ah bem.

— Posso tirar de você?

Outra hesitação, mas assenti. Lucky também removeu a dele, e


como a minha já estava uma bagunça, nós a usamos para nos
limpar o resto do caminho.

Nu no escuro, uma onda de apreensão rolou sobre mim. Lucky se


aproximou até estarmos compartilhando um travesseiro. — Relaxa.

— Estou bem.

— Eu fiz você ficar com sono o suficiente, ou você tem outro em


você?

— Não tenho certeza se conseguiria nov amente se tentasse.


Ainda não.
Quando Lucky se mexeu contra mim, aconchegando-se no meu
pescoço com seu corpo nu pressionado contra o meu, era bom o
suficiente para o meu pau discordar.

— Ok, durma então.


Okay, certo.

Eu o aninhei de volta, me perguntando se havia alguma maneira


de eu conseguir dormir depois do que tínhamos acabado de
compartilhar.
Capítulo Dezesseis

Lucky

Acordei diante de Knox na manhã seguinte, o que não esperava,


já que ele era notoriamente madrugador. Ele rolou de bruços em
algum momento, e as cobertas pelas quais rastejamos nas
primeiras horas da manhã estavam assentadas em torno de sua
cintura. Suas mãos estavam enfiadas sob o travesseiro embaixo da
cabeça, e ele parecia pacífico. Contente. De modo algum como a
bola de nervos emaranhados que ele esteve na noite anterior.

A luz do sol atravessando as janelas iluminou o quarto, e tomei


um minuto silencioso para examiná-lo, sabendo que ele
provavelmente se esconderia no minuto em que acordasse. O fato
de ele não ter músculos em cima dos músculos e ser um pouco
mais suave ao redor era atraente para mim. Eu odiava que ele não
visse o quão atraente ele era. Eu não estava brincando quando
disse que queria tocá-lo o tempo todo.

— Você está olhando para mim? — Ele murmurou, com os olhos


ainda fechados.

Eu sorri. — Talvez. Você vai se esconder agora?


Ele enterrou o rosto no travesseiro, mas eu peguei as bordas
curvas do seu sorriso. — Não, mas eu não estou abrindo meus
olhos.

— Bem. Mantenha-os fechados.

Passei a mão por sua espinha e empurrei as cobertas, revelando o


inchaço de sua bunda coberto com uma pitada de penugem de
pêssego. Eu beijei suas omoplatas e me movi até que minha nudez
estivesse contra ele como tinha sido na noite anterior.

Ele gemeu e se contorceu, esfregando seu pênis contra o colchão.

— Você está duro de novo? — Eu perguntei, beijando sua orelha,


rindo.

— Quem quer saber?

Eu ri. — Eu.

— Nesse caso, sim. Muito duro. Muito excitado.

— Role.

— Não. Muito brilhante.

— Supere, Knox. Role.

Suas bochechas estavam rosadas, mas ele ouviu. Juntei nossas


bocas para que ele não pudesse protestar e explorei cada
centímetro dele com minhas mãos, mapeando-o e memorizando o
que ele sentia.

Quebrando o beijo, eu arrastei meus dedos pelos cabelos do seu


peito, admirando-o, e os movi pelo estômago, circulando seu
umbigo e seguindo o caminho para seu pênis. Eu segurei suas
bolas e ele gemeu, espalhando mais as pernas.

— Você gosta disso?

— Mmhmm.

Acariciei-o algumas vezes antes de encorajá-lo a deitar de lado.


Em pouco tempo, éramos uma bagunça emaranhada de lábios e
membros e ereções inchadas. Peguei nós dois na mão e nos
bombeei até o orgasmo.

Com nossas testas juntas, nós ofegamos e recuperamos nossa


respiração. Knox se agarrou a mim, pequenos tremores ainda
balançando seu corpo. — Isso é muito bom. — Disse Knox quando
pôde falar novamente.

— Só vai melhorar.

— Toda… parte do sexo. Estou um pouco…

— Nós chegaremos lá. Só para constar, não tenho pressa e,


quando estiver pronto, também estou disposto a seguir o caminho.
O que for mais confortável para você.

— Tudo bem. — Disse ele. — Talvez precise de um tempo. Deixe-


me me acostumar com isso primeiro.

— Por quanto tempo você precisar. Isso é o suficiente para mim.

Nós compartilhamos mais alguns beijos preguiçosos antes de


sugerir: — Nós provavelmente deveríamos tomar banho.

— Juntos? — A cor sumiu do rosto de Knox.


— Eu deveria fazer você tomar banho comigo. — Eu parei. —
Mas eu não vou. — Fiz questão de me afastar e admirá-lo
novamente, nu e em plena luz do dia. Ele se contorceu, mas me
deixou.

Eu o toquei, passando minhas mãos sobre seu corpo, absorvendo


cada centímetro. — Eu amo o que vejo.

— Ok. — Ele chiou novamente.

— Quero dizer. Você é incrível. Você me excita muito.

Ele riu, mas era tímido, e ele enterrou o rosto na dobra do meu
pescoço.

— Vá tomar banho. — Eu sussurrei em seu ouvido. — Que tal


irmos para a lanchonete tomar café da manhã antes da saída da
igreja e não conseguirmos chegar perto do lugar? Está com fome?
Eu poderia tomar café.

— Soa como um plano. — Knox me beijou mais uma vez e saiu


da cama. Foi preciso muito autocontrole para ele não esconder
automaticamente seu corpo. Eu vi tudo escrito em seu rosto. Antes
de caminhar em direção ao banheiro, ele se virou, hesitante. Ele
umedeceu os lábios ao mesmo tempo que um rubor subia por seu
pescoço. — Você... você... quer tomar banho comigo?

— Muito. Você quer que eu tome banho com você?

— Sim, acho que sim.


***

Acabamos chegando tarde demais, pois nosso banho esquentou e


durou até a água esfriar. A multidão era grande, então sugeri ir
para a minha casa, pois sabia que tinha uma caixa de ovos e outras
coisas para fazer omeletes. Knox concordou e, novamente, nos
vimos trabalhando lado a lado na cozinha.

— Você fez mais ligações? — Knox perguntou, me olhando de


soslaio enquanto decidia por alguns temperos para adicionar aos
ovos.

— Ainda não.

— Você quer abordar mais algumas hoje?

Considerei sua oferta, sabendo que sua presença tinha ajudado


tremendamente da última vez.

— Eu não me importo. — Ele acrescentou. — Mas sem pressão.

— OK. Talvez uma ou duas. Ajuda ter você por perto.

Cada pequeno detalhe contava e eu ainda tinha muitos nomes


para ligar. — Vou ter que ligar para meus pais em algum momento
hoje. Sempre ligo no domingo, quando estou de folga. Se eu não
fizer isso, mamãe vai se preocupar.

— Sim, eu provavelmente deveria entrar em contato com minha


família também. Eles gostam de fazer uma refeição em família uma
vez por semana ou uma vez a cada duas semanas. Estamos
atrasados e sei que devo fazer uma verificação.

Knox trabalhou em silêncio por um tempo, sacudindo um pouco


de alho, sal e pimenta sobre os ovos, mas a maneira como ele
mordeu o lábio inferior me disse que havia uma ponta de ansiedade
o consumindo. Quando voltou a falar, foi com aquele tom inseguro
que usava quando estava contemplando profundamente um
assunto. — Ainda não descobri como contar a eles. Sobre isso.
Nós. Eu.

— Não há pressa.

— Eu sei. Eu quero ser justo com você, no entanto. Se estamos


namorando, não deve ser segredo. Lembro-me de Easton dizendo o
quanto ele odiava ser o segredinho sujo de alguém, e ele parou de
namorar caras enrustidos por causa disso. Eu não quero fazer isso
com você. Além disso, não acho que eles vão me renegar nem nada.
Meus pais nunca tiveram problemas com East. Acho que estou
mais preocupado em deixar toda a cidade saber. A reação deles me
preocupa mais. No minuto em que minha família souber, isso
estará lá fora. Minhas irmãs não são boas com segredos.

— Você está preocupado com a cidade evitando você?

— Não. Isso não. — Ele esfregou a nuca, as linhas de


preocupação em sua testa se aprofundando. — Eu não sei. Tipo, e
se Josiah decidir me fazer notícia de primeira página? Ele faria isso.
Eu não quero estar no centro das atenções. Isso me deixa
desconfortável.

Toquei o braço de Knox, encorajando-o a olhar para cima. — Eu


vou cuidar de Josiah. Você não precisa se preocupar com isso. Isso
não vai acontecer.

— Você tem certeza? É de Josiah que estamos falando.

— Confie em mim.

Como se tivesse sido convocado, meu telefone tocou e uma


mensagem de Josiah chegou. Foi a primeira vez que ouvi falar dele
desde o caso de Shay no dia anterior.

Knox ergueu uma sobrancelha enquanto eu lia a mensagem.


Josiah: Você está em casa? Posso pegar minhas coisas?

— Você se importa se Josiah vier e pegar suas coisas?

Knox acenou com a cabeça, mas a preocupação ainda estava


presente.

— Eu não vou deixá-lo sair assim. Mesmo que você saia, não vou
deixá-lo divulgar ou manchar o seu nome. Eu prometo.

— OK. Acho que ele já suspeita.

— Ele faz. Mas eu o mantive sob controle.

Knox soltou um suspiro e apontou o queixo para o meu telefone,


pedindo que eu respondesse.

Lucky: estou em casa. Venha a qualquer hora.


Ele apareceu enquanto comíamos, entrando como sempre fazia
depois de uma batida. Quando ele nos encontrou na cozinha, ele se
encolheu e olhou para Knox algumas vezes antes de gaguejar —
Oh... eu não... — Seu olhar patinou para mim. — Você poderia ter
dito.

— Está bem. — Eu me levantei e encontrei suas coisas.

— Obrigado. — Ele verificou a câmera e pendurou a bolsa no


ombro.

— Para onde diabos você desapareceu ontem?

— Eu tive que... — Josiah mordeu o lábio e olhou para Knox uma


vez antes de encolher os ombros. — Obrigado por cuidar disso. —
Ele ergueu a câmera. — Tudo apenas... no momento em que
percebi que tinha deixado para trás... — Ele soltou um suspiro. —
Sim, então, eu vou decolar. Me ligue mais tarde. — Então ele girou
nos calcanhares e saiu pela porta sem olhar para trás.

— Isso foi... estranho.

— Esse homem é sempre um pouco estranho.

— Sim, mas com Josiah, normalmente se ele não termina suas


frases, é porque ele está optando por não terminar. Parecia... que
ele não sabia como.

Eu sacudi minha cabeça. Não fazia sentido tentar resolver Josiah.


Algo estava acontecendo, mas eu teria que falar com ele e ver se
conseguia descobrir.
Terminamos de comer e limpamos a cozinha. Knox pegou minha
mão e me puxou para mais perto. — Então, alguns telefonemas?

Eu soltei um suspiro. — OK.

— Onde está sua lista?

— Meu quarto.

Knox olhou para a única porta da sala que estava sempre


fechada. — Aquele?

— Sim.

Ele me puxou pela mão e nos levou para o quarto. O sol brilhou
pela janela. Era limpo e arrumado, embora lhe faltasse móveis e
toques pessoais. Era o que acontecia quando uma pessoa não se
acomodava em um lugar por longos períodos de tempo. Não havia
sentido em comprar coisas frívolas que não eram necessárias.

Knox olhou em volta e seu olhar pousou no urso de pelúcia que


ele ganhou na feira no mês anterior. Ele ficava em um lugar
especial em cima da minha cômoda, onde eu podia ver quando me
arrastava para a cama à noite.

— Você o manteve?

— Claro que sim. Por que não? Ele me lembra você.

Knox largou minha mão e se aproximou da cômoda, pegando o


ursinho de pelúcia com o casaco de lã xadrez. Ele o virou nas mãos,
um sorriso suave no rosto. — A jaqueta dele parece com a que
tenho em casa.
— Sim. É por isso que o escolhi. Você estava usando aquela
jaqueta naquela noite. — Eu fui por trás de Knox e passei meus
braços em torno de sua cintura, descansando meu queixo em seu
ombro. — Eu sabia então, você não era como as outras pessoas em
minha vida. Eu senti que havia uma conexão entre nós. Aquela
noite foi um momento crucial para mim.

— Para mim também. — Ele mexeu na jaqueta do urso. — A


leitura de Lady Mallory me assustou naquela noite. Ela disse
coisas... elas bateram perto de casa.

— Eu sei.

— Eu estava confuso.

— Eu também sei disso. — Eu beijei seu pescoço, acariciando e


respirando-o.

Ele colocou o urso para baixo e se virou em meus braços. — Não


estou mais confuso, então você sabe.

— Bom.

Eu levantei seu queixo e nos beijamos. Seus lábios, suas mãos


instáveis na minha cintura, o arranhão suave de sua barba, eu
amei tudo isso. Mas antes que pudesse significar mais, eu nos
separei e guiei Knox para minha cama. Sentamos enquanto eu
puxava a lista de nomes da minha mesa de cabeceira. Eu olhava
para ele todas as noites antes de dormir.

— Pronto? — Ele perguntou.


— Não. Sim. — Eu esfreguei meu rosto. — Eu não sei. Às vezes
me pergunto por que estou me torturando assim.

— Se você não quiser.

— Eu sei. Eu preciso saber.

Sentamos na cabeceira da cama e encostamos contra ela


enquanto eu pegava meu telefone e digitava o próximo número da
lista.

Tocou meia dúzia de vezes antes do correio de voz entrar em ação.


Desliguei, sem querer deixar recado. Eu pulei esse nome e mudei
para o próximo. Quando Kimberly O'Conner respondeu, ela não era
tão receptiva e amigável quanto as que estavam diante dela. Ela era
rude e desligou na minha cara. Pelo menos eu fui capaz de
confirmar que ela não era minha mãe biológica primeiro.

— Sinto como se tivesse esquivado de uma bala com essa.

Knox riu, mas moveu a mão para a minha coxa, me


tranquilizando quando eu chamei o próximo nome.

— Olá? — A voz na outra linha parecia mais jovem que uma


mulher na casa dos cinquenta anos.

— Oi, hum, estou procurando falar com Kimberly O'Conner. Fui


levado a acreditar que esse era o número dela. Ela está disponível?

Houve uma longa pausa, e olhei para Knox, que estava inclinado
para perto para que ele pudesse ouvir.

— Sinto muito, posso perguntar quem está ligando?


— Sim, meu nome é Lucky Karim. Se ela não estiver por perto,
talvez eu possa deixar meu número para que ela possa me ligar de
volta?

A voz da mulher suavizou. — Você é um amigo?

Abri minha boca, mas não sabia como responder a isso. — Eu


não sou. Eu só tenho algumas perguntas para ela. Na verdade, não
nos conhecemos. Estou tentando encontrar uma mulher chamada
Kimberly O'Conner com quem eu possa estar relacionado, só isso.
Se ela pudesse me ligar de volta, seria muito apreciado. Não
pretendo ter nenhum problema.

— Acho que não posso fazer isso.

— Oh. — Meu coração afundou.

— Minha mãe morreu no mês passado. Ela não retornará as


ligações.

Ofegando, agarrei o telefone com mais força. Sentindo minha


agitação, Knox esfregou minha perna, franzindo a testa e estudando
meu rosto.

— Eu sinto muito por ouvir isso. Minhas condolências.

— Obrigado. — Houve uma pausa e embaralhamento. — Você


disse que estava possivelmente relacionado a ela? Posso ajudar em
alguma coisa? Vou ser sincera, não conhecia minha mãe muito
bem. Ficamos afastadas por um longo tempo. Eles entraram em
contato comigo quando ela faleceu, já que não havia outra família, e
estou cuidando de seus negócios e limpando seu apartamento. Não
posso prometer que tenho as respostas que você está procurando,
mas... posso tentar.

— Hum, está bem. Bem, isso pode parecer estranho, mas você
sabe se... — Foi então que percebi que se era a Kimberly O'Conner
que eu estava procurando, estava conversando com uma mulher
que era minha irmã.

— Olá?

Eu soltei uma respiração instável. A probabilidade era pequena,


mas eu precisava saber antes que eu pudesse seguir em frente. —
Desculpe. Hum, você sabe se sua mãe deu à luz um bebê em 1979
e o deu para adoção?

Houve um pequeno suspiro do outro lado da linha e minha visão


ficou turva.

— Chester. — Ela sussurrou.

Busquei a mão de Knox enquanto meu mundo se inclinava e


segurei-a para salvar minha vida. — Sim. Esse é o nome que ela
me deu. Chester.

— Oh meu Deus. Você é ele. Eu preciso me sentar. — Ela disse


para ninguém. Houve movimento, mais barulho, uma torneira
correndo. — Oh, uau. Eu sinto muito. Eu só preciso absorver por
um segundo.

Ela e eu, ambos.


Minha garganta se apertou e eu não tive palavras. Knox colocou o
braço em volta do meu ombro e ele me puxou contra seu lado,
beijando minha têmpora. Eu não conseguia respirar fundo. Eu não
sabia o que dizer.

— Eu só descobri sobre você semana passada. — Disse a


mulher. — Ela nunca disse nada durante todo o meu crescimento.
Quando eu estava mexendo nas coisas dela, encontrei formulários
legais que declaravam que ela teve um filho prematuro antes de eu
nascer e o havia dado para adoção. Eles estavam no fundo de seu
armário, junto com duas fotos de um bebê em uma ala neonatal.

— Esse seria eu. Qual o seu nome? — A pergunta era quase


inaudível.

— Shiloh. Shiloh O'Conner. Você disse que seu nome é Lucky?

— Legalmente, ainda é Chester, mas meus pais adotivos me


chamam de Lucky. Você... você é minha irmã.

— Uau.

Isso resumiu tudo. Nós dois não falamos muito pelos próximos
minutos. Quando encontrei minha voz novamente, perguntei: —
Como ela morreu?

Shiloh suspirou. — Overdose. Mamãe era viciada. É por isso que


saí quando tinha quinze anos e nunca mais olhei para trás. Sei que
isso pode parecer cruel ou insensível, mas você se esquivou de uma
bala.
Eu não sabia o que dizer sobre isso. Eu sabia que minha busca
poderia terminar em decepção, mas isso não estava na lista de
coisas para as quais eu tinha me preparado.

— Quantos anos você tem?

— Vinte e oito e você tem quarenta e um se minha matemática


estiver certa.

— Sim. Nós... presumo que provavelmente não temos o mesmo


pai.

— Não é provável. Não sei quem é meu pai, e o nome do seu pai
também não está na papelada que encontrei. Desculpe, não sei
mais. Eu sei que mamãe nunca teve um relacionamento. Ela teve
uma série de namorados perdedores - viciados em drogas - minha
vida inteira. Quando perguntei sobre meu pai, ela não me
respondeu. Nem mesmo com um nome possível. Não tenho certeza
se ela sabia, para ser honesta.

— Uau. Não tenho certeza do que fazer com essa informação. Eu


sinto muito. Isso é tudo...

— Chocante?

— Sim.

— Eu sei. Quando descobri que tinha um irmão lá fora, fiquei


chateada, animada e confusa, talvez até com um pouco de ciúme
por você provavelmente ter a família que eu sonhei ter toda a minha
vida. Sinto muito, provavelmente não é isso que você quer ouvir.
Ainda estou um pouco ciumenta.

— Está bem. Estou absorvendo também.

Passamos os próximos vinte minutos conversando, deixando o


choque de nossa descoberta afundar. Shiloh não podia ficar mais
ao telefone, pois ela tinha muitos recados para fazer, mas trocamos
números e planejamos conversar novamente. Eu queria saber mais
sobre minha mãe e a irmã que eu não sabia que tinha, e ela queria
saber mais sobre mim.

Quando desliguei, fiquei olhando o espaço por um longo tempo. A


única coisa que me manteve com os pés no chão era a mão de Knox
esfregando minhas costas. Lembrei-me das palavras de Lady
Mallory de um mês atrás. O que você procura, você não encontrará.
Mas você vai conseguir o que precisa no final. Eu estava começando
a achar que aquela mulher era mais precisa do que as pessoas
acreditavam.

— Eu tenho uma irmã. — Eu disse depois de um longo momento


de silêncio.

— Eu ouvi.

— Minha mãe biológica faleceu. Ela foi viciada a vida toda.

— Eu sinto muito. — Eu empurrei e incitei as emoções que a


descoberta causou, decidindo como me sentia, e se a morte de
Kimberly O'Conner me afetou.
A verdade era que eu não a conhecia, não o suficiente para ser
prejudicado pelas notícias. Eu queria saber quem eu era e de onde
vim, e esse telefonema hoje abriu uma porta de possibilidades. Eu
tinha uma irmã. Eu tinha um meio de explorar meu passado e
obter respostas para perguntas sobre as quais me perguntei
durante toda a minha vida. Uma pequena parte de mim doía pela
mulher que nunca tive a chance de conhecer, mas tinha sido sua
escolha me deixar ir há muitos anos e, sabendo o que eu sabia
sobre a vida que ela vivera, fiquei agradecido por ela ter reconhecido
como uma menina de quinze anos de idade que ela não podia
cuidar de um bebê. Tive a melhor oportunidade com pais que me
amavam e cuidavam.

— Você está bem? — Knox perguntou.

— Sim. Eu acho que estou. Eu tenho uma irmã. Vai demorar um


minuto para afundar. Eu tenho que contar para minha mãe. Ela
não vai acreditar.

— Você acha que ela é alguém que você quer conhecer?

— Acho que sim. Quero dizer, estou esperançoso. Ela também


parecia curiosa sobre mim.

— Bom. — Knox beijou minha têmpora e eu exalei, inclinando-


me contra o lado dele, absorvendo seu apoio.

Ficamos assim por muito tempo.


Eu tinha respostas agora. O buraco que tinha sido uma parte tão
grande de mim desapareceu na respiração de um único telefonema.
Então, por que me senti tão ansioso?

Por que meu peito estava vibrando, minhas mãos suando, minhas
entranhas tremendo?

Sentei-me à frente, me retirando do abraço de Knox e esfregando


meu rosto. — Eu preciso dar um passeio ou algo assim. Estou
realmente ansioso.

Eu precisava fugir. Escapar. Era assim que me sentia toda vez


que arrancava minha vida e pegava a estrada.

— OK. Vamos.
Capítulo Dezessete

Knox

Eu sentei na minha caminhonete do outro lado da rua da casa da


minha irmã Lexi. Era quinta-feira e jantar em família. Como os
gêmeos eram indisciplinados, passamos a nos reunir na casa de
Lexi para as refeições, e não na de mamãe e do papai. Dessa forma,
se as crianças estivessem se comportando mal, ela poderia enviá-
las para seus quartos ou para brincar fora onde eles tinham uma
abundância de brinquedos e não incomodavam os adultos.

Meu coração disparou quando eu me convenci a entrar. Eu fui o


último a chegar. Todo mundo estava aqui, incluindo noivos, pais e
maridos. Era uma grande multidão e a razão do meu estado de
ansiedade.

Por todos esses anos, eu fui a jantares em família como um


homem solteiro. Era raro eu ter uma namorada para levar. Lucky
estava trabalhando hoje à noite, ou eu o teria trazido, mas como
estava, planejei usar essa reunião para informar minha família que
havia alguém na minha vida. Alguém que eu estava namorando.
Alguém que não era mulher e com quem eu estava falando sério.

Eu brinquei com a palavra bissexual na minha cabeça durante


toda a semana, rolando e decidindo como me sentia sobre isso. Era
estranhamente reconfortante. Ajustando de uma maneira que eu
não tinha percebido. Foi engraçado como eu passei toda a minha
vida até esse ponto convencido de que eu era hétero, mas no
minuto em que removi o estúpido véu de Lady Mallory, tudo ficou
muito mais claro. Coisas que eu não sabia que estavam
perturbadas dentro de mim ficaram calmas. Eu encontrei uma
sensação de paz interior.

Pude pensar várias vezes em minha vida em que notei homens ou


senti uma atração especial por eles, mas afastei esses sentimentos,
convencido de que estava enlouquecendo. Easton em particular.
Mas eu sempre inventei desculpas pelo que sentia, temendo a
verdade, sabendo profundamente, profundamente que era mais.

Eu tinha escondido tão bem que me enganei por trinta e seis


anos.

Agora eu estava confessando tudo aos meus pais e ao resto da


minha família. Eu nunca esqueceria a dor por trás dos olhos de
Easton anos atrás, quando ele me disse como era terrível ser o
segredo sujo de alguém. Naquela época, eu disse a ele que ele
merecia coisa melhor, e eu quis dizer isso. Eu odiava vê-lo tão
arrasado por uma pessoa com quem ele deveria ter um
relacionamento. Lucky também merecia um relacionamento
honesto, e eu gostava dele o suficiente para lhe dar exatamente
isso. Ele nunca seria meu segredo. Talvez eu ainda estivesse me
descobrindo, mas valorizava a honestidade e não o decepcionaria.
Antes que alguém chegasse à porta da frente, perguntando-se por
que estava tendo um colapso na minha caminhonete, saí, peguei as
tortas que comprei de Nally na padaria e entrei.

Os jantares em família eram sempre barulhentos. Minhas irmãs


sempre falavam umas sobre as outras, e seus entes queridos
ficavam grudados na TV, assistindo a qualquer jogo de esportes que
encontrassem. Hoje foi o hóquei. O volume foi aumentado e seus
gritos ecoaram pela casa cada vez que seu time marcou um gol.

Quando entrei, Noah e Mya correram da cozinha e bateram em


minhas pernas, quase me derrubando com o abraço. — Cuidado
com as tortas, ou não teremos sobremesa, seus patifes.

— Tio Knox está aqui. — Mya gritou para dentro da casa. — Ele
trouxe a melhor sobremesa de todos os tempos.

Eu baguncei suas cabeças combinando de cabelo castanho


encaracolado enquanto equilibrava as caixas de sobremesas fora de
alcance. — Deixem-me tirar meu casaco e guardar isso, então eu
vou abraçar vocês dois apropriadamente.

Eles se afastaram, mas Mya não ficou por perto. Ela pulou de
volta para a cozinha, onde as mulheres estavam reunidas, gritando
o caminho todo. — Eu disse, o tio Knox está aqui! Ninguém
escuta?

Eu coloquei as tortas em uma mesa lateral enquanto pendurava


meu casaco e tirava meus sapatos. Noah esperou pacientemente,
balançando nos pés e mexendo o novo dente solto com a língua. Ele
era mais quieto do que a irmã e tínhamos um vínculo especial.

— E aí, garotão? Você parece taciturno.

— Mya quebrou meu avião que fizemos. O de madeira.

— Eu não! — Mya gritou da cozinha.

— Sim, você fez! Eu vi você quebrá-lo.

— Precisamos ir até a loja de pechinchas para comprar um novo?

Noah acenou com a cabeça, seu cabelo caindo em seus olhos. Ele
tocou o dente e fez uma careta.

— Vamos planejar um dia de caras, ok. Não se preocupe com


isso.

— Podemos pintar juntos de novo também?

— Absolutamente.

— Eu odeio quando ela quebra minhas coisas. Eu gostaria de


nunca ter tido uma irmã estúpida.

Eu ri e baguncei seu cabelo novamente. Quantas vezes eu disse


essas palavras enquanto crescia?
Amigo, experimente três.

Quando pensei em Lucky e na maneira como ele quase desabou


quando descobriu que tinha uma meia-irmã lá fora no mundo,
sorri. As pessoas sempre desejav am o que não tinham e às vezes se
esqueciam de ser gratas pelo que recebiam.
— Como está aquele dente mole? Parece que está pronto para
sair imediatamente.

— Nunca vai cair. Papai disse que pegaria o alicate, mas isso vai
doer muito.

— Foi assim que meu pai arrancou todos os meus dentes quando
eles ficaram moles. Às vezes, eles mal se mexiam, e eu o fazia
arrancá-los porque eu odiava quando eles estavam se movendo
assim.

Noah fez uma careta e estremeceu. — Acho que vou esperar. —


Ele mexeu novamente com a língua. A coisa estava por um fio.

— Vamos. Queixo para cima. Vamos levar essas tortas para a


vovó.

Noah se agarrou ao meu lado como sempre enquanto


caminhávamos para a cozinha. Eu ficava mais em casa com as
mulheres turbulentas do que falando sobre esportes com os
rapazes. Eu não poderia me importar menos com o hóquei, mas
Deus me livre, eu dizer isso em voz alta. Nenhum canadense vivo
ousaria proferir essas palavras, não se soubesse o que era bom
para eles.

Mamãe estava ocupada no fogão, Nova estava colocando a enorme


mesa da sala de jantar, Lexi e Zoey estavam tendo uma conversa
em voz alta, discutindo sobre alguma coisa, e papai estava pairando
entre a cozinha e a sala de estar, olhando furtivamente para a TV e
o jogo, indeciso se ele queria ficar com os caras ou a comida.
Quando ele me viu, ele sorriu. — Ali está ele. Teve um dia
agitado, não é?

Verifiquei a hora no fogão. Devo ter ficado sentado na minha


caminhonete por muito tempo, pensando em como contar à minha
família sobre Lucky. Eu estava dez minutos depois do planejado.

— Temos limpado as coisas do festival a semana toda. É uma


tarefa árdua.

— Eu juro, você mal tem um festival terminado e outro se arrasta


para dentro.

— Acredite em mim, eu sei. Você acha que eu já estaria


acostumado com isso.

Mamãe se aproximou e roubou um abraço e um beijo, me


livrando das tortas. — Obrigado, querido. — Ela as levou ao balcão
e as tirou de suas caixas, colocando-as no forno para esquentar.

— Eu ouvi que East está dando o nó após o acendimento da


árvore de Natal no próximo mês? — Papai perguntou.

— Está certo. Na frente de toda a cidade.

— Incrível. Bom para ele. Erwin deve estar muito orgulhoso de


seu filho.

Você está orgulhoso de mim, pai? Você ficará desapontado


novamente quando eu disser que estou namorando um homem?

Tudo que pude fazer foi sorrir, mas estava trêmulo. Minhas
entranhas se torceram mais e mais.
— OK. Todos na mesa. Isso está pronto. — Mamãe anunciou com
um bater de palmas. — TV desligada, rapazes. Hora de comer.

Os caras na sala da frente gemeram, mas a TV ficou muda.

Onze de nós se reuniram em torno da mesa da sala de jantar.


Lexi, Nova e mamãe trouxeram vários pratos de comida. Batatas,
uma salada de macarrão, uma salada verde, uma salada de feijão,
frango, cenoura assada, aspargos grelhados, nabos, pãezinhos
crocantes e queijo grelhado para Noah e Mya, que eram os
comedores mais exigentes conhecidos pela humanidade. Suas
dietas consistiam em cerca de três alimentos e leite de morango.

Mamãe e Lexi discutiam sobre isso sem parar, mas, no final,


mamãe sempre quebrava suas regras constantes e deixava os
gêmeos comerem suas próprias refeições.

Papai e eu nos sentamos lado a lado e esperamos em meio ao


caos de braços estendidos e pratos tilintando enquanto as pessoas
mais agressivas terminavam de se servir. Depois, enchemos nossos
próprios pratos e todos comeram. A conversa nunca parava.
Comida e conversa eram a base de minha família. Foi um even to
confuso e barulhento.

A fofoca da cidade sempre foi discutida em primeiro lugar. Era


muito ‘Você ouviu falar de...?’ e ‘Você pode acreditar...?’ Naquela
noite, era sobre Shay, o outono, o festival de inverno e o maldito
boletim meteorológico. Neve, neve, neve.
Darren e Neil, noivos de Nova e Zoey, falaram sobre o jogo de
hóquei.

Então a conversa se voltou para os casamentos das minhas


irmãs. Noah e Mya se empurraram e se atiraram um no outro até
Lexi ter que avisá-los para parar ou perderiam torta e sorvete. Mas
no minuto em que os adultos voltaram a conversar, eles voltaram.

Quando houve uma pausa, mamãe se serviu de mais salada verde


enquanto olhava através da mesa em minha direção. — Você está
quieto esta noite.

Eu sempre fui o mais quieto do grupo.

— Desculpe. Apenas cansado, eu acho.

— Eu estava na antiga livraria conversando com Oleksiy na


terça-feira. Eu tinha um pedido para atender.

— Oh sim?

— Ele disse que você anda muito com aquele senhor que
trabalha na cervejaria, ultimamente. Qual o nome do jovem? Você
sabe de quem estou falando. O ruivo.

A gola da minha camisa de repente ficou muito apertada quando


eu engoli. Sentei-me ereto e empurrei uma batata no meu prato. —
Lucky?

— É isso aí. Oleksiy disse que o viu em sua casa algumas vezes.
Pensei que talvez vocês dois tivessem se tornado amigos.
— Sim, nós somos... — Esta foi a abertura que eu precisava. Se
eu dissesse que éramos apenas amigos, estaria fechando uma porta
que queria abrir. Mas eu não estava preparado. — Estamos…

Coloquei o garfo para baixo e torci as mãos. Sentindo que havia


algo que valia a pena ouvir, todos pararam suas conversas. Num
piscar de olhos, havia muitos olhos em mim. Minha pele estava
muito tensa. Minha boca secou.

— Estamos... com Lucky... estamos namorando. — Eu disse


rapidamente, incapaz de levantar o olhar e avaliar as reações nos
rostos de todos. — Ele é meu namorado.

A sala ficou em silêncio. Muito quieto. O rugido nos meus ouvidos


lavou todos os outros ruídos. Por que ninguém estava falando? Por
que parecia que as paredes estavam se fechando?

— Eu sinto muito. O que? — Nova. Se alguém ia abrir a boca, era


ela. — Acabei de ouvir isso certo? Ele disse namorado, certo? —
Ela perguntou a Zoey.

— Lucky da cervejaria? O ruivo? — O marido de Lexi perguntou,


lançando seu olhar ao redor da mesa para confirmação.

— Cara. — Darren e Neil disseram juntos em uma respiração


silenciosa.

O mundo zumbia nas bordas, e eu percebi que estava prendendo


a respiração. Meu peito doeu. Eu precisava de ar. Eu precisava me
afastar disso por um minuto para poder respirar. — Desculpe-me.
Eu preciso…
Afastei-me da mesa e corri para a porta do pátio da cozinha. Foi a
fuga mais próxima. Havia um pátio coberto além, e, embora
estivesse bem abaixo de zero, pude ficar ao ar livre de meias. O ar
frio me atingiu no rosto, e minha visão clareou quando eu
engasguei e chupei em meus pulmões, mas eu não conseguia parar
de tremer.

Olhando através do quintal, pisquei algumas vezes enquanto as


lágrimas ameaçavam vir à tona. Meus dentes bateram, e náusea
coagiram meu jantar. Quando as portas do pátio se abriram atrás
de mim, fechei meus olhos, sem saber se estava pronto para
enfrentar alguém ainda. E se eu estivesse errado? E se eles não me
aceitassem?

A pessoa que veio para fora enrolou um cobertor de malha em


volta dos meus ombros antes de falar. — Sua mãe está preocupada
que você pegue um resfriado.

Papai.

Agarrei-me ao cobertor quando ele veio ao meu lado, olhando


através do quintal. Ele não disse nada por um longo tempo. De
todos, era a reação do papai com a qual eu mais me preocupava.

— Você está decepcionado comigo? — Eu perguntei, minha voz


quase inaudível.

Sem perder o ritmo, ele respondeu. — Eu nunca fiquei


decepcionado com você. Nem um único dia na sua vida, e eu com
certeza não estou começando agora. Ele te faz feliz?
Eu inclinei minha cabeça, olhando para papai discretamente. —
Sim. Ele faz. Eu não sabia, pai. Fiquei confuso por muito tempo. Eu
não estava escondendo de ninguém, eu só...

— Ei. Relaxe, garoto. — Ele colocou o braço em volta de mim e


me puxou contra o seu lado. — Ninguém aqui pensa diferente de
você. E olhe pra você. Você não está mais confuso. — Era uma
afirmação, não uma pergunta. — Não me leve a mal, mas você
sempre foi um pouco mais frágil do que suas irmãs. Você tem um
coração mais gentil, Knox. Um que já foi pisoteado muitas vezes, eu
acho. Você é sensível à sua altura e peso, e se rebaixa muito.
Sempre desejei que você pudesse ver a pessoa incrível que todos
nós vimos. Você não é extrovertido como aquelas garotas por
dentro, e estou preocupado que você nunca encontre alguém com
quem se sinta confortável ou que permita que você fique à vontade
com quem você é.

— Ainda é muito novo, mas Lucky é diferente. Ele... me faz sentir


bem comigo mesmo.

Papai deu um tapinha no meu ombro. — Então estou feliz por


você, filho. Você nunca terá vergonha de quem você é nesta casa.
Você me escuta?

Eu balancei a cabeça, incapaz de encontrar minha voz.

— Então, quando vamos conhecer esse seu namorado?


Eu ri. Foi muito fácil, mas fiquei aliviado. — Talvez da próxima
vez que nós jantarmos juntos. Mas teríamos que planejar para um
domingo. Ele não tira muitos dias de folga.

— Feito. Agora entre em casa. Está muito frio para ficar aqui.

— Eu vou ser bombardeado com um milhão de perguntas?

— Claro que você vai. Quando foi a última vez que você namorou
alguém?

— Eu nem sei.

— Exatamente. E suas irmãs são como cães de caça. Deixe-as


perguntar. Elas te amam.

Com o braço em volta de mim, papai me guiou de volta para a


casa. Não houve vergonha da minha família. Houve provocação, no
entanto. Muitas provocações. Porque, se eu fosse bissexual, isso
significava que eu poderia discutir homens sensuais quentes com
minhas irmãs agora, e quão legal era isso? E como é que eu não
contei a eles antes? Eu ri e fugi com Noah para jogar Xbox.

O pobre Lucky teria que conhecer minha família maluca em


breve. Eu esperava que ele soubesse o que estava acontecendo.

***

O sol brilhava na neve recém-caída, agarrando-se aos galhos nus


das árvores acima. Os pássaros de inverno cantavam em galhos
altos e os esquilos demoravam a cavar túneis em busca das nozes
que haviam enterrado no outono. A trilha estava lotada pelos
muitos cavaleiros que vieram antes de nós, o que fez um bom
passeio. Já fazia muito tempo desde que Easton e eu tínhamos
conseguido montar os cavalos juntos.

Hoje, sábado, decidimos aproveitar o adiamento do tempo.

Percy, filho de Easton, sentou-se na frente dele, preso entre suas


coxas. Ele não tinha parado de conversar o tempo todo sobre o
casamento de Easton e Lachlan. Ele estava animado para participar
como portador do anel.

— Eu consigo andar sozinho e ser o primeiro da fila. Quando eu


chegar aos arcos, tenho que esperar, certo, East?

— Está certo. E por que assim?

— Porque se eu tentar descer sozinho, provavelmente vou


estourar minha cabeça.

— Exatamente.

Eu ri. — Então, quem pode ajudá-lo a descer? — Eu sabia a


resposta, mas o estava interrogando.

— Você pode. East disse que você será o próximo na fila, então
Tio Christian, então Lachlan e East virão juntos. Tio Christian não é
muito bom em montar, então você pode ter que ajudá-lo a descer
também. Pelo menos ele não está com medo. Lembra quando Lach
costumava ter medo dos cavalos? — Percy perguntou, inclinando a
cabeça para olhar para Easton.

— Oh, eu me lembro.

— Nós brincamos muito com ele. — Percy me informou. — Ele


costumava ter medo de Logan também, e isso é bobagem. Quem
tem medo de cachorro?

Easton balançou a cabeça e me olhou com um olhar de


desculpas. Percy não tinha parado de falar desde que saímos de
casa quase uma hora atrás. Eu não me importei.

Quando houve uma pausa na conversa, eu falei. Eu estava


esperando por um momento livre para contar a East sobre Lucky e
tudo o que aconteceu desde que conversamos algumas semanas
atrás.

— Eu tenho notícias.

— Oh sim? — Easton olhou por cima, sobrancelha franzida.

Eu olhei Percy e fui em frente. — Lucky e eu estamos


namorando. Eu disse à minha família.

As sobrancelhas de Easton atingiram a linha do cabelo, mas o


sorriso em seu rosto era amplo, destacando aquelas rugas no canto
da boca.

Percy bateu com a mão dramática na testa e gemeu. — Oh cara.


Não me diga que você também não gosta de garotas.

Easton riu.
— Eu gosto de garotas muito bem. — Eu disse a Percy. — Mas
acho que também gosto de meninos. Tudo bem?

— Sim. — Ele parecia derrotado. — Eu sou a única pessoa no


planeta com uma namorada.

— Você tem uma namorada? — Eu perguntei, pegando o rolar de


olhos de Easton.

— Heather Jesup da escola disse que eu era o namorado dela.


Ela contou a todos os meninos e a todos os seus amigos. Agora toda
a escola sabe.

— Você não gosta disso?

— Está tudo bem, desde que ela saiba que eu não vou beijá-la.

— Porque beijar é nojento. — Easton me informou.

— É. — Disse Percy. — Mas ela me fez ficar ao lado dela quando


tivemos que ir para a biblioteca. Achei que íamos ter que dar as
mãos, mas o Sr. Hislop não é assim. Ele disse que agora somos
grandes o suficiente para nos comportarmos sem dar as mãos. Foi
por pouco.

— Esquivei uma bala lá. — Eu ri e Easton balançou a cabeça.

Nós cavalgamos até um lago congelado e Percy saiu para brincar


no gelo. Easton e eu recuamos e assistimos.

— Então, namorado, hein? Acho que v ocê já resolveu as coisas


aqui então. — Ele bateu na minha têmpora e eu o empurrei, rindo.
— Sim, eu resolvi - mais ou menos. Estamos indo devagar. Tudo
isso é novo para mim.

— Mas você gosta disso? Você está feliz?

— Sim. Minha família também estava bem com nisso. Até papai.
— Lembrar da aceitação calorosa que recebi fez meu coração
inchar.

— Então, isso significa que você tem um parceiro para o


casamento agora?

Eu vacilei e olhei para Easton. — Droga. Eu não pensei nisso.


Meu convite incluía um parceiro?

— Não enviamos convites.

— Oh.

— Mas sim, inclui mais um.

— Vou perguntar a ele.

— Você está bem em estar na cidade?

Dei de ombros. — Por que não? Eu não vou fazê-lo se esconder.


Lembro-me de como você se sentiu sobre aquele cara, Jake, alguns
anos atrás. Eu não quero ser aquele cara.

— Bom.

— Você está pronto para o casamento?

— Sim. Elaina continua tentando complicar, mas mantivemos


tudo o mais simples possível.
— Irmãs fazem isso. Eu deveria saber. Deus me ajude se algum
dia eu me casar. Eu tenho três delas.

Easton riu. — Ei, Percy! — Ele chamou. — Você está pronto


para continuar cavalgando?

— Eu pareço pronto? — Percy ficou com as mãos nos quadris no


meio do gelo. Ele estava construindo um forte pelo que parecia.

— Atitude, meu jovem. Jogue fora. Você tem dez minutos, então
vamos embora, com ou sem você.

Percy deu um grunhido petulante e voltou a jogar neve em uma


pilha. Easton apenas riu e balançou a cabeça. — Deus me ajude
quando ele for um adolescente. Posso não sobreviver.

Eu dei um tapinha no ombro dele. — Você vai descobrir.


Capítulo Dezoito

Lucky

Peguei a correspondência da minha caixa de correio enquanto


estava saindo para o trabalho. Devo ter perdido o correio antes.
Essa mulher era definitivamente discreta. Ela era rápida e eficiente,
e eu juro que ela fez todo o possível para entregar a
correspondência sem fazer barulho. Eu há muito decidi que ela não
era social e preferia não parar em todas as outras portas para
conversas extensas. Eu imaginei que ela tinha muito isso nesta
cidade.

Havia uma pilha de correspondência hoje; contas, folhetos,


anúncios e algumas cartas. Inclinando-me para dentro de casa,
joguei a pilha na mesinha e estava prestes a fechar e trancar a
porta atrás de mim quando a escrita no envelope superior chamou
minha atenção.

Eu parei, abri a porta novamente e peguei a carta com a escrita


cursiva na frente. Era do meu senhorio. Por um segundo, eu parei,
tendo um mini ataque de pânico enquanto decidia que dia era e se
eu perdi o primeiro dia do mês sem perceber. Não, era a última
semana de novembro. O aluguel só venceria por mais alguns dias.
Eu fiz uma careta.
Meu senhorio raramente se correspondia por meio de cartas
escritas. Embora não conversássemos muito, já que eles não
moravam na área, conversamos algumas vezes por telefone nos
últimos dois anos e uma ou duas vezes por e-mail. Eles eram boas
pessoas. Idosos. Portanto, seu domínio da tecnologia não era como
o da geração mais jovem.

Rasguei o envelope e tirei alguns papéis de dentro. Estava


endereçado a Chester Karim, meu nome legal. Eles eram
documentos oficiais, o que quer que fossem.

Eu fiz a varredura, meu coração caindo quando entendi seu


significado.

— Aviso de três meses. Merda.

Eu examinei a carta novamente. Não deveria ter sido uma


surpresa. Eu sabia há muito tempo que eles queriam vender sua
pequena cabana em Jasper. A responsabilidade de manter um
aluguel estava começando a ser demais para eles. Eles ofereceram
para eu comprá-la a uma taxa reduzida mais de uma vez, e eu
recusei. Era a sua antiga casa de férias. Eles não tinham filhos,
então não havia família para quem transferi-la. Eu sabia que esse
dia chegaria. Eu estava preparado. Eu tinha um plano. Agora esse
dia havia chegado.

Três meses.
Eu disse a mim mesmo que, quando meu senhorio decidisse que
era hora de vender, era minha hora de seguir em frente. Contente
com essa decisão, eu não tinha pensado nisso por um longo tempo.

Mas as coisas mudaram.

Desde que saí de casa há tantos anos, um nervosismo interior me


acompanhava aonde quer que fosse. Uma sensação de
deslocamento. Uma sensação de estar inquieto. É por isso que eu
estava sempre em movimento. Nenhum lugar em que pousei tinha o
poder de apagar essas sensações de ansiedade que cresciam do
fundo do meu núcleo.

Procurei esses sentimentos agora, mas eles estavam ausentes.


Em vez disso, a ideia de desenraizar minha vida fez minhas palmas
suarem.

Eu só soube recentemente da existência de Shiloh. Família.


Origens. Seria possível que um pouco de conhecimento fosse
suficiente para acalmar meu coração inquieto? Não era como se eu
tivesse aprendido muito sobre mim até agora, mas a oportunidade
estava à minha frente.

Eu tinha uma meia-irmã.

Eu tinha uma história que estava aprendendo, pouco a pouco, a


cada conversa que compartilhamos.

Mas não era só isso.


Eu tinha Knox. Um namorado. Alguém com quem me importava
mais e mais a cada dia. Era raro alguém ultrapassar minhas
barreiras grossas. Principalmente eu não permitia que as pessoas
se aproximassem, sabendo que isso nunca poderia durar. Mas com
Knox, eu não vacilei ou debati ou mesmo tentei mantê-lo fora.

E quanto mais eu o conhecia, mais profundos e complexos esses


sentimentos se tornavam.

Fazia cerca de duas semanas desde que tornamos oficial. Duas


semanas para nos conhecermos em um nível mais íntimo. Foi lento,
mas era exatamente assim que eu preferia as coisas. Tínhamos
compartilhado a cama algumas vezes, explorando beijos e os corpos
um do outro até altas horas da manhã. Houve muita conversa de
travesseiro e alguns orgasmos alucinantes. Tínhamos feito as coisas
no ritmo de Knox, mas quanto mais compartilhamos, mais
confortável ele ficava e mais eu caía.

Eu encarei a carta. Li isso novamente. Duas vezes.

Três meses.

Jasper foi minha casa por dois anos. Foi o máximo que estive em
um lugar durante toda a minha vida adulta. Eu estava pronto para
chamar isso de permanente? Essa inquietação voltaria se eu
ficasse? Eu poderia ficar em um só lugar? Podia deixar Knox para
trás?

Uma pequena dose de apreensão correu por minhas veias. Eu


não gostei desse pensamento.
A razão pela qual eu vaguei foi porque sempre me senti perdido.
Como se estivesse procurando onde pertencia. Eu tinha encontrado
minha casa para sempre? Meu relacionamento para sempre?

As perguntas do meu passado foram respondidas. Mas o que isso


significava para o meu futuro?

Eu soltei um suspiro. Eu ia me atrasar para o trabalho.

Eu coloquei a carta de lado.

Fechando a porta, saí para o mundo nevado, fazendo tudo o que


podia para deixar aquelas perguntas sem fim para trás.

***

O palito se desintegrou em minha boca, deixando-me cuspindo


lascas de madeira pela terceira vez consecutiva. Eu encontrei um
novo e o coloquei entre os dentes enquanto retomava minha
mastigação agressiva.

Anka olhou para mim, revirando os olhos ao se aproximar do bar.


— Quer me pegar duas amostras quando tiver um segundo? Eu
também preciso de dois litros. Um vermelho e um peak.

Ignorando sua atitude, pesquei os copos apropriados e as placas


de amostra atrás do bar, alinhando-os no balcão. Eu enchi as
canecas e as coloquei em seus pontos ranhurados nas bandejas,
mas quando parei para olhar o arranjo, eu sabia que tinha
estragado tudo. Dois anos trabalhando atrás do bar significava que
eu conhecia cada bebida pela cor. Quando alinhados corretamente,
eles faziam uma espécie de arco-íris de cerveja. Eles não pareciam
certos. As cores estavam misturadas, mas não consegui conectar as
peças na minha cabeça para consertar e continuei a olhar confuso.

— Você as colocou na ordem errada. — Disse Anka, deslizando o


tabuleiro para longe de mim e mexendo nas canecas. — Você está
bem? Já são duas vezes.

— Estou bem.

— Bem, isso é uma mentira. Você já está brigando com o


namorado?

Eu fiz uma careta. — Não. Por quê?

— Porque você está de mau humor. Você está praticamente


comendo palitos de dente de madeira, e seu rosto está em um
sorriso de escárnio perpétuo.

— Não está. Eu disse que estou bem.

— Ele não está querendo sexo? Não que eu queira saber sobre
sua vida sexual com Knox, porque não quero, mas você está
surpreso? Ou ele é apenas uma merda no saco? Isso também não
me surpreenderia.

— Você não tem algo melhor para fazer? Não estou discutindo
minha vida sexual com você. E deixe-me em paz. Knox é dez vezes a
pessoa que você jamais será.
Anka encolheu os ombros e saiu para entregar suas bebidas.
Normalmente, eu tinha mais paciência com Anka. Ela sempre foi
mal e rude. Ela sempre dizia o que pensava, mesmo que você não
perguntasse. Hoje, eu não poderia levá-la. Ela nunca tinha sido
legal com Knox, e isso me incomodava muito. Agora que ela sabia
que estávamos juntos, seus comentários chegaram ao ponto em que
decidi que não toleraria mais ela.

Como suspeitávamos, depois que Knox contou à família que


estávamos namorando, demorou menos de dois dias para que a
notícia se espalhasse por toda a cidade. Ele não havia jurado
segredo a ninguém, e suas irmãs eram membros importantes da
fábrica de fofocas de Jasper. Nem um único residente não tinha
ouvido falar de Knox MacKenzie. E você sabia que ele era gay? Ouvi
dizer que ele era bissexual. E ele está namorando aquele cara da
cervejaria. Aquele com os olhos? O mesmo.

Trabalhar na cervejaria me colocou em uma posição única de


estar na frente e no centro quando a notícia se espalhou. Eu estava
acostumado a fofocas, mas era quase demais para mim lidar dia
após dia. As pessoas não perceberam como isso foi difícil para
Knox. Mas não, para eles, era apenas mais um boato e não a vida
de alguém. A fofoca era um jogo justo para as pessoas em Jasper.
Pelo menos Josiah tinha me ouvido e mantido fora do jornal.
Surpreendentemente, o fracasso de Shay na colina também não
tinha sido mencionado, mas essa era outra história, e Josiah
parecia calado quando perguntei.

Knox estava levando a fofoca melhor do que eu esperava. Ainda


assim, eu podia ver sua ansiedade subjacente nas poucas noites em
que ele entrou na cervejaria depois do trabalho para tomar uma
cerveja. Ouvir os sussurros silenciosos e saber que éramos o centro
dessas conversas tinha sido difícil. Nessas noites, eu convidei Knox
para voltar à minha casa para que pudesse lembrá-lo de que o que
tínhamos era uma coisa boa e que valia a pena manter. Ninguém
deve ter o poder de estragar isso. Isto acabaria eventualmente.

Nem por um minuto pensei que Knox iria desistir, mas sabia que
ele levava as coisas a sério e passaria a noite toda em uma bola
emaranhada de preocupação se eu não o tranquilizasse.

Depois que Anka saiu com seu novo pedido, fiquei o mais
ocupado possível, andando atrás do bar, limpando e me distraindo
enquanto esperava Knox sair do trabalho. Eu estava inquieto e
precisava continuar andando. A carta do meu senhorio me fez
tropeçar.

Há dois anos esperava esse aviso, preparado para pegar a estrada


quando chegasse. Mas agora, a ideia de sair não parecia certa. Na
verdade, a ideia de me afastar de Jasper me deu uma ansiedade
pior do que qualquer coisa que eu já conheci.
Knox me enviou uma mensagem às seis, e eu desabei contra o
bar de alívio apenas por tê-lo na ponta dos dedos, sabendo que ele
estava do outro lado da linha.

Knox: Cheguei em casa tarde. Vou tomar um banho. Estarei aí em


breve.

O nó em meu peito se afrouxou. Eu não tinha percebido o quão


ferido eu estava até que ele confirmou que estava vindo.

Lucky: Mal posso esperar para te ver. Sentindo sua falta esta noite.

E eu estava. Mais do que tudo, eu só queria ter Knox em meus


braços e nunca o deixar ir. A carta, sem saber, abriu meus olhos
para a seriedade do que eu sentia por ele e por nosso
relacionamento. Era muito cedo para sentir essas emoções? Meu
coração não pensava assim.

Ele entrou uma hora depois, recém-banhado, barba aparada e


vestindo sua jaqueta de lã inadequada para o frio. Aquela no
mesmo estilo que o ursinho de pelúcia usava e que ele ganhou na
feira de outono.

Quando ele caminhou em direção ao bar, seu sorriso vibrou com


as borboletas na minha barriga, e eu não pude deixar de devolvê-lo.
Eu era um caso perdido para Knox MacKenzie. Não havia como
disfarçar e negar como eu me sentia. Para onde diabos eu poderia
correr para me deixar mais feliz do que eu estava aqui em Jasper?

Ele deslizou para um banquinho e levou tudo de mim para não


agarrar seu rosto e puxá-lo para um beijo. Eu queria o gosto dele
na minha língua e seu cheiro quente e masculino em meus
pulmões. Mas concordamos que não seríamos afetuosos
publicamente. Pelo menos ainda não. Knox era tímido, e o povo de
Jasper já tinha o suficiente para conversar sem que lhes déssemos
mais combustível.

Tê-lo por perto acalmou meu coração ansioso, e uma calma


tomou conta de mim pela primeira vez desde que eu tinha aberto
aquela carta antes do trabalho.

— Bom te ver. — Eu joguei meu palito de dente destruído no lixo


e me inclinei na barra em frente a ele, vendo tudo dentro.

— Você também. — Ele examinou meu rosto por um instante,


então franziu a testa. — Você está bem?

— Melhor agora. Muito, muito melhor.

Ele me estudou. — Mas você não estava antes de eu chegar


aqui? Quer falar sobre isso?

Verifiquei o final do bar para ter certeza de que ninguém estava


esperando por bebidas antes de voltar para Knox. — Posso pegar
uma cerveja para você primeiro?

— Certo. Apenas uma esta noite. Não vou demorar muito. Esta
cidade inteira vai começar a pensar que sou um alcoólatra nesse
ritmo. Eu praticamente moro aqui.

Eu ri e encontrei uma caneca limpa. Depois de enchê-la e colocá-


la em uma base para copos, Knox ergueu uma sobrancelha.
Minha escuridão deve ter aparecido em meu rosto. Knox sabia
que havia algo que eu não estava dizendo.

— Recebi uma carta pelo correio. Abri antes de vir trabalhar.


Meu senhorio enviou um aviso oficial. Eles querem vender o chalé.
Tenho três meses antes de ter que sair.

Knox levou um segundo e assentiu. Eu fiz menção nos estágios


iniciais de conhecer Knox, sobre como eu me mudava muito. —
OK. E o que isso significa?

— Isso significa... — Eu encarei seus olhos castanhos calorosos.


Meu coração disparou cada vez que Knox conseguia sustentar meu
olhar por mais de um minuto. Já se foram os dias em que ele
desviou o olhar ou se escondeu de mim. Ele era um livro aberto. Ele
colocou seu coração aos meus pés e confiou em mim para cuidar
disso. — Eu sempre disse a mim mesmo que quando eles
decidissem vender, era um sinal de que era hora de eu seguir em
frente. Deixar Jasper, sabe?

— Oh. — O sorriso de Knox desapareceu e seu olhar pousou em


sua cerveja. Rugas apareceram em sua testa. — Eu estava meio
com medo de que isso pudesse acontecer. Eu sei que você não fica
por muito tempo em um lugar e...

Quebrando nossas regras, estendi a mão e peguei a mão de Knox,


encorajando-o a olhar para mim novamente. Eu acariciei meus
dedos sobre sua palma e, em seguida, estendi a mão e embalei seu
rosto. — Eu não acho que estou pronto para sair. Pela primeira vez
na vida, me sinto bem. Acho que temos algo aqui, Knox, e eu seria
um tolo se fosse embora e não ver o que está acontecendo.

Ele molhou os lábios, procurando meus olhos. — Se isso


significa alguma coisa, eu prefiro que você não vá ainda.

— Sim?

— Sim. Eu meio que gosto de você. Muito. Talvez... talvez mais


do que muito.

— Eu meio que gosto de você também. Talvez mais do que muito.

Ele cobriu minha mão com a dele e se inclinou para o toque. —


Nunca me senti assim com ninguém antes. — Admitiu. — É novo e
assustador, mas também é emocionante. Todos os dias, acordo e
mal posso esperar para falar com você e vê-lo e passar mais tempo
conhecendo você. É apenas…

— Eu sei.

A atração entre nós era intensa. Compartilhamos um momento de


silêncio, perdidos nos olhos um do outro antes que Anka arruinasse
tudo.

— Se vocês dois já pararam de flertar e serem todos pombinhos


amorosos, então talvez eu pudesse pegar algumas bebidas aqui?

— Estou começando a realmente desgostar daquela mulher. —


Eu disse enquanto me afasta de Knox, deixando cair minha mão e
olhando para o outro lado do bar. — Eu voltarei.

— Seja legal. Ela está com ciúmes.


Pisquei e peguei outro palito antes de ir encher as bebidas.

Atendi os pedidos de Anka e servi uma caneca nova para um cara


que apareceu e se sentou no bar. Ele queria comida, então corri
para a cozinha para fazer o pedido também. Assim que voltei para
Knox, ele estava no meio de sua cerveja.

— Então, você não vai ficar por aqui esta noite? — Tentei
esconder minha decepção e falhei.

— Estou cansado. Mas... — Ele deslizou uma única chave pela


barra. — Eu não odiaria se alguém aparecesse depois da meia-
noite e se enfiasse na cama ao meu lado. — Seu sorriso era tímido
e, embora eu soubesse que ele se sentia muito mais confortável com
o que estávamos compartilhando, suas bochechas ainda
anunciavam seu constrangimento.

Peguei a chave, rolando o palito na boca de um lado para o outro.


— Vou garantir que Anka receba.

Knox riu. — É melhor você não.

— Tem certeza que quer que eu perturbe seu sono? Você tem que
acordar cedo.

— Não me importo. Gosto de ter você ao meu lado à noite.

Olhei para o final do bar antes de me inclinar mais perto, os


cotovelos apoiados na superfície para que eu pudesse sussurrar no
ouvido de Knox. — Posso te acordar quando eu chegar lá?

— Eu esperava que você o fizesse.


— Você não se importa?

— De modo nenhum.

— Bom. Estive em todo lugar esta noite e preciso de você.

Knox virou a cabeça e beijou minha testa. — Você me tem.

Eu me afastei e olhei meus dedos sobre sua mão antes de inclinar


meu queixo em direção ao outro lado da sala. — Tenho que
verificar aquele cara e ver se a comida dele está pronta.

Knox acenou com a cabeça e esvaziou sua cerveja antes de se


levantar. Ele tirou a carteira do bolso de trás e deixou dinheiro no
bar antes de dar uma pequena pancada. — Vejo você em breve.

— Mal posso esperar.

***

Era quase uma da manhã quando entrei silenciosamente no


apartamento de Knox em cima da livraria de livros usados. Estava
escuro e silencioso - o zumbido de sua geladeira era o único som.
Até a rua principal de Jasper abaixo estava deserta.

Tirei meus sapatos e pendurei meu casaco antes de me mover


pela sala agora familiar em direção ao banheiro. Fechei a porta
antes de acender as luzes. Eu cheirava a uma cervejaria e não
queria rastejar para a cama ao lado dele antes de tomar banho.
Eu me despi e tomei meu tempo lavando sob o fluxo quente.
Minha ansiedade havia se acalmado, mas a realidade do que eu
estava considerando ainda parecia um sonho.

Sequei com a toalha e me inclinei contra o balcão enquanto me


examinava no espelho embaçado. Sempre foi assim que meu futuro
apareceu quando eu tentei olhar para ele. Nebuloso. Embaçado.
Não estava claro. Quanto mais tempo eu ficava em Jasper, quanto
mais tempo passava com Knox, menos incerto meu futuro parecia.

Seria possível que meu futuro estivesse dormindo no quarto ao


lado, esperando que eu rastejasse para a cama?

Escovei os dentes e não perdi mais um minuto.

Eu apaguei a luz do banheiro e me atrapalhei e tateei meu


caminho até a área separada do quarto de Knox. Levei um minuto
para deixar meus olhos se ajustarem novamente e o observei
dormir, esparramado de barriga para baixo com as mãos cruzadas
sob o travesseiro.

Por que eu iria querer estar em outro lugar?

Este lugar aqui era onde eu pertencia.

Livrando-me da toalha que envolvi em minha cintura, eu


cuidadosamente me arrastei para a cama. Sua pele estava quente
ao dormir. Beijei ao longo de suas omoplatas enquanto puxava os
cobertores para baixo. Ele inalou profundamente e cantarolou
enquanto eu escovei meu nariz em direção a sua orelha e chupei
seu lóbulo em minha boca. — Você é perfeito. Não consigo tirar
minhas mãos de você.

— Você está aqui. — Sua voz estava rouca de sono.

— Estou aqui. — Eu alisei a mão por suas costas e sobre a curva


de sua bunda nua. — Você está nu.

Ele riu. — Estive esperando por você. Espero que você também
esteja.

— Eu estou.

Eu empurrei os cobertores para longe e montei nele, beijando ao


longo de seu pescoço e para baixo, plantando um após o outro ao
longo de sua coluna. Tomei meu tempo, adorando seu corpo
enquanto o mapeava com minhas mãos, boca e língua.

Knox gemeu e estremeceu quando me concentrei nos globos de


sua bunda.

— Lucky?

— Sim? — Outro beijo no topo da rachadura de sua bunda.

Ele se moveu como se quisesse rolar, então eu movi para dar-lhe


espaço. Ele estendeu a mão para mim, puxando-me para baixo em
cima dele e juntou nossas bocas. Nossos pênis se alinharam e
juntos nos movemos, aumentando o atrito.

Foi bom. Tínhamos gozado dessa maneira várias vezes. Embora


eu adorasse cair em cima dele, Knox ainda não se sentia confortável
o suficiente para fazer o mesmo comigo - pelo menos até o clímax.
Ele explorou algumas vezes com a língua e me levou direto ao
limite, mas sentindo seu desconforto, eu sempre o parei antes da
liberação e o deixei me empurrar até o clímax em vez disso.

Nossos beijos se tornaram intensos, e o deslizamento suave entre


nós se tornou mais frenético no cio. Knox agarrou minha bunda,
me puxando para baixo enquanto ele se levantava. Em um ponto,
ele espalhou minhas bochechas e explorou com um único dedo ao
redor da minha entrada.

Eu gemi e quebrei nosso beijo. Ele nunca tinha ido a qualquer


lugar perto de lá antes, mas a determinação que vi brilhando em
seus olhos no escuro era nova.

— Dê-me seu dedo. Eu quero sentir isso.

Nossos quadris e ritmo pararam quando Knox trouxe seu dedo à


minha boca. Eu chupei o único dígito, girando minha língua em
torno dele uma vez e o fazendo gemer e estremecer. Quando estava
bom e úmido, eu o tirei e balancei a cabeça. Ele sabia exatamente o
que eu quis dizer.

Ele voltou para minha bunda e circulou minha entrada com o


dedo escorregadio. Meus olhos se fecharam com a sensação.

— Deus, sim. Isso é realmente bom.

Quando ele aplicou um pouco de pressão e depois recuou, eu o


encorajei.

— Coloque dentro de mim. Lentamente.


Knox me observou com atenção enquanto enfiava aquele dedo
molhado em meu buraco. Estava bem. Já fazia muito tempo que eu
não tinha ninguém perto de mim lá em baixo. Muito tempo, e meu
corpo instantaneamente queria mais.

— É bom. Mais profundo.

Ele seguiu minhas instruções, enfiando um dedo dentro e fora,


indo um pouco mais longe a cada vez.

Quando ele parou e se retirou, abri os olhos, tentando recuperar


o fôlego e ler sua expressão no escuro.

— Você está bem?

Ele assentiu.

— Muito longe?

— Não. Eu... — Ele olhou para a mesa de cabeceira. — Eu


comprei suprimentos. Preservativos, lubrificante. Eu pensei... eu
realmente gostaria de...

— Knox?

Ele lutou para encontrar meus olhos.

— Eu daria qualquer coisa para ter você dentro de mim. Isso é


algo que você também quer?

Ele encontrou meu rosto no escuro, e eu soube instintivamente


que ele provavelmente estava vermelho como uma beterraba.

— Muito. Tenho pensado muito nisso.


Eu o beijei, tranquilizando-o e estendi a mão para a mesa de
cabeceira. Dentro da gaveta, encontrei o lubrificante e uma nova
caixa de preservativos.

Eu os joguei na cama e foquei no lubrificante. — Aqui. Estenda


sua mão. — Ele o fez, e eu coloquei um pouco em sua palma. —
Continue fazendo o que você estava fazendo. Precisamos me
preparar. Já faz muito tempo que não faço isso.

— OK.

Eu o beijei então, moendo nossos pênis enquanto ele lev ava


algum tempo para se familiarizar com minha bunda. Quanto mais
eu gemia em resposta, mais corajoso ele ficava.

— Outro. — Eu disse contra seus lábios. — Dê-me dois dedos.

Ele o fez, e eu os empurrei enquanto também cavalgava para


frente, moendo-nos juntos.

— Role. — Ele disse depois de um minuto. — Meu ângulo não é


bom.

Eu caí de costas e trouxe meus joelhos para cima. Knox se


ajoelhou ao meu lado e observou meu pau estremecer enquanto ele
reinseria dois dedos, empurrando-os profundamente. Ele abaixou a
cabeça, lambendo a gota de pré-sémen que se acumulou na ponta.

Eu assobiei e arqueei minhas costas. — Ah Merda. Isso é bom.

Com a outra mão, ele me puxou, trazendo sua língua para minha
fenda e lambendo minha cabeça de vez em quando. Cada vez ele era
mais corajoso. Ele me sugou uma vez e ganhou outro gosto.
Quando ele cantarolou e seus dedos encontraram aquele ponto
doce na minha bunda, eu tive que agarrá-lo e dizer-lhe para parar
ou o jogo terminaria.

— Preservativo. — Eu disse enquanto ele lambia os lábios e me


observava.

Ele encontrou um e o enrolou, adicionando uma boa camada de


lubrificante antes de olhar para mim para obter instruções. Mudei
para minhas mãos e joelhos. — Devagar e sempre, ok?

Ele acenou com a cabeça e se moveu atrás de mim. Por alguns


minutos, ele deslizou seu comprimento sobre minha fenda,
provocando e provavelmente encontrando coragem.

Ele massageou minha bunda, passando as mãos pela minha


espinha e para baixo. Quando ele encontrou seu centro, ele se
alinhou e pressionou contra mim. Eu engasguei quando ele violou
minha entrada. Ele se acalmou, mas eu o encorajei.

Centímetro por centímetro, ele continuou. Quando ele estava


sentado lá dentro, seus dedos cravaram em meus quadris e ele
soltou um forte suspiro. — Puta merda. Isso é... Puta merda. Você
se sente tão bem.

— Você também, mas Knox, preciso que você se mova agora. Por
favor.

E ele fez. Cada impulso o fazia gemer e me abraçar com mais


força. Eu me agarrei aos lençóis, balançando para trás com seus
movimentos e encontrando aquele ângulo perfeito. — Assim. É
bom.

Com minha segurança, ele se moveu com mais confiança. Não


demorou muito para que ele se esquecesse de se preocupar e ficar
nervoso. Knox envolveu seu corpo sobre o meu, beijando ao longo
da minha espinha enquanto ele se movia dentro de mim. — Tão
bom. — Ele respirou. — Não vai durar.

— Não se segure.

Nosso ritmo mudou. Mudei a mão para o meu pau dolorido e me


sacudi no ritmo de seu ritmo acelerado. Eu estava bem ali, e não
havia como parar. Quando meu orgasmo atingiu, eu gritei, meu
corpo inteiro apertando de uma vez, minha bunda apertando-o com
força.

O aperto de Knox aumentou na minha cintura, e eu não ficaria


surpreso se ficasse com hematomas depois. Ele engasgou e
empurrou mais duas vezes antes de gemer com sua liberação, seu
corpo inteiro estremecendo e vibrando. Quando nossos orgasmos
nos libertaram, nós dois entramos em colapso, ofegando e o coração
batendo forte como um só. Knox se deitou em cima de mim,
acariciando meu cabelo suado e beijando minha têmpora.

— Isso foi incrível.

Tudo que eu pude fazer foi suspirar contente. Assim que nos
acalmamos, ele rolou de cima de mim e se esgueirou para o
banheiro. Ele voltou com um pano quente, e nos limpamos antes de
encontrar nosso caminho para os braços um do outro.

Knox deitou-se de costas e eu me coloquei sobre ele, o rosto


aninhado na curva de seu pescoço e uma perna jogada sobre a dele.

— Você não está indo embora, está? — Ele perguntou depois de


um tempo.

— Não. Não há nenhum outro lugar que eu prefira estar do que


bem aqui com você.

— Gosto do que temos e para onde está indo.

— Eu também.

— Onde você irá morar?

Eu embaralhei, levantando a cabeça e olhando para ele no


escuro. — Não tenho certeza ainda. Mas aposto que se eu quisesse
comprar a casa, eles ainda me deixariam.

— Três meses?

— Sim.

Ele ficou quieto novamente.

— Knox?

— Sim?

— Eu não estou indo a lugar nenhum.

— Eu sei.

— Você ainda está preocupado.


— Não posso evitar. Sinto que, pela primeira vez na vida,
encontrei alguém que me faz realmente feliz, e deve ser bom demais
para ser verdade. Sinto que estou esperando que dê errado. Você
sempre se mudou. Talvez você pense que vai ficar, mas em mais um
mês, a ideia não parecerá certa e você mudará de ideia.

Eu me apoiei em um cotovelo e acariciei sua bochecha. — Você


me ouça. Pela primeira vez na minha vida, sinto-me com os pés no
chão. Eu me sinto feliz. Me sinto em casa. Você é uma grande parte
disso. Não é sempre que consigo fazer os relacionamentos
funcionarem. Eu não me encaixo com todos, mas não houve
nenhum esforço com você. Era como se estivéssemos destinados a
ficar juntos. Cada dia com você está cada vez melhor. — Eu o beijei
e me afastei, baixando minha voz. — Talvez seja muito cedo para
admitir, mas estou me apaixonando muito por você, Knox
MacKenzie. É preciso muito autocontrole para não o oprimir,
apressá-lo ou pedir-lhe para morar comigo porque odeio quando
estamos separados. Eu quero passar todas as noites enrolado ao
seu lado, e todas as manhãs beijando você até acordar. Quero fazer
amor com você e compartilhar todos esses novos momentos com
você. E estou assustando você agora, não estou?

Seus lábios se separaram e seus olhos brilhavam no escuro. —


Não. — Ele inspirou. — De modo nenhum.
Mas ele continuou olhando para mim como se não pudesse
acreditar que eu existia, ou talvez ele simplesmente não pudesse
acreditar que eu teria a ousadia de admitir essas coisas tão cedo.

— Knox?

Ele pressionou um dedo nos meus lábios, me calando. — Acho


que me apaixonei por você desde o dia na cervejaria, quando eu
deveria fazer parte da despedida de solteiro de Easton, mas passei
toda com você.

Foi a minha vez de ficar sem palavras.

— E... Se você comprar uma pequena cabana e ficar em Jasper,


não há nenhum lugar que eu prefira estar do que ao seu lado todas
as noites e beijar você todas as manhãs.

— Você pode ficar doente de mim.

— Não é possível.

— Tem certeza?

— Você pegou a parte em que eu me apaixonei por você?

Eu sorri e ri. — Você pegou a parte em que eu me apaixonei por


você também.

— Sim, eu fiz.

— Você é um homem incrível, Knox.

— Eu sou apenas eu.

— E eu amo você.
— Eu te amo. — Ele me atraiu para um beijo longo e profundo
que continuou. O sono foi superestimado. Acabamos nos
enroscando novamente, fazendo amor até as primeiras horas da
manhã. Saboreando essa coisa que era toda nossa.
Capítulo Dezenove

Knox

— Eu sinto muito.

— Pare de pedir desculpas.

— Eu sou canadense. Espera-se uma certa quantidade de


desculpas, se não for necessário, ao arrastar seu namorado para
um jantar em família, onde você sabe que ele será emboscado por
quatro mulheres, um cunhado, dois futuros cunhados e um pai.
Jesus, por que estamos fazendo isso? — Passei a mão pelo cabelo e
desviei o olhar da estrada, pegando o rosto sorridente de Lucky de
onde ele estava sentado no banco do passageiro.

— Vai ficar tudo bem.

— Tudo bem, ele diz. Bem. Eu tenho três irmãs que estiveram em
um grupo de texto comigo nos últimos cinco dias, aproveitando
tanto o quanto estou disposto a compartilhar. E, eu não evitei tão
discretamente todas e quaisquer perguntas sobre nossa vida
sexual, porque esse parece ser o tópico número um de interesse e,
merda, não posso ir lá com minhas irmãs. Eu acho que elas estão
secretamente emocionadas por eu namorar um cara. É
perturbador.

— Você está suando.


— Claro que estou suando. Estou enlouquecendo.

A mão de Lucky pousou na minha coxa. Era para ser


reconfortante, mas nada iria impedir meu estômago de dar saltos
altos, contanto que continuássemos com toda a charada do jantar.

Quando parei em frente à casa de Lexi e estacionei a


caminhonete, sentei-me por um momento, olhando para a
encantadora casa de tijolos vermelhos de dois andares que antes
parecia tão convidativa.

— Estou animado por conhecer sua família. Além disso, você não
pode parar de me contar sobre os gêmeos, e eu quero conhecê-los
também.

— Posso apenas dizer mais uma vez?

— Isso vai fazer você se sentir melhor?

— Sim.

— Continue.

— Me desculpe.

— Melhor?

— Nem um pouco. Quer ir para casa e fazer sexo? Isso me faria


sentir melhor.

— Você está realmente nervoso. Acho que você nunca foi tão
franco.
— Isso foi um sim? — Peguei a chave, com a intenção de dar
partida no caminhão e sair dali quando a mão de Lucky cobriu a
minha.

— Depois do jantar, voltaremos para sua casa e faremos todo o


sexo que você quiser. Mas agora, vamos jantar e você vai me
apresentar à sua família.

— Bem. — Tirei a chave e saí do caminhão. Lucky fez o mesmo e


me encontrou no final da garagem. — Não diga que eu não avisei.

Deslizei meus dedos entre os dele e segurei firme enquanto o


guiava até a porta. Ela se abriu em nossos rostos, Nova, Zoey e
Lexi, todos espiando por dentro com sorrisos iguais. Os gêmeos
espiaram por trás das pernas de Lexi e, no fundo, Neil, Darren e
Michael pairavam.

— Por favor, sejam gentis.

— Ei, Lucky. — Disse Nova.

— Oi. — Lucky deu um pequeno aceno.

Ninguém se moveu. Era um monte de rostos sorridentes olhando


para frente e para trás.

— Bom Deus, deixe-os entrar em casa. — Mamãe cantou de


algum lugar dentro da cozinha. — Longe da porta. Todos vocês.

Lentamente, o rebanho entrou e nos deu espaço para entrar.


Assim que conseguimos entrar no corredor da frente, Zoey se
adiantou e se ofereceu para levar nossos casacos. Em todos os anos
em que participei de jantares em família, nunca me ofereceram esse
serviço.

Suspirei. — Bem. Vocês todos conhecem Lucky. Lucky, esta é


minha família intrometida. São Zoey, Nova e Lexi, minhas irmãs.

Todos elas se revezaram dizendo oi. Lexi ofereceu um pequeno


abraço. — É bom ver você, Lucky. Bem-vindo.

— Obrigado. Isso é... esmagador.

Os homens deram um passo à frente, Neil oferecendo uma mão.


— Neil. Um dos futuros cunhados.

Darren copiou, e Michael tremeu por último.

— Eu sou Noah. — Noah passou um braço em volta da minha


perna enquanto olhava para Lucky desconfiado.

— Prazer em conhecê-lo, Noah. Sou Lucky.

— Esse é um nome estranho.

— Isto é. Meu nome verdadeiro é Chester, mas minha mãe e meu


pai me apelidaram de Lucky quando eu nasci, e ficou preso.

— Oh. Minha irmã me apelidou de cara de salsicha, mas não


ficou preso porque mamãe disse que era rude.

Eu ri e baguncei o cabelo de Noah.

— E você deve ser Mya. — Disse Lucky, dirigindo-se a Mya, que


estava escondida atrás das pernas de sua mãe.

— Você é o namorado de Knox?


— Eu sou.

— Papai disse que às vezes os meninos gostam de meninos e às


vezes as meninas gostam de meninas, e tudo bem.

— Isto é.

— Vovó fez espaguete para o jantar.

— Parece incrível.

— E se todo mundo deixasse esses dois entrarem em casa, talvez


pudéssemos aproveitar. — Mamãe apareceu da cozinha, enxugando
as mãos em um pano de prato. — Está pronto. Lavem-se e sentem-
se. Vão em frente, todos vocês.

O rebanho se afastou, deixando Lucky e eu na porta com Noah


ainda abraçado em volta da minha perna. Mamãe se aproximou e
levou Lucky para um abraço caloroso. — É bom ver você, Lucky.

— Obrigado, Senhora.

Todo mundo conhecia Lucky ou conversara com ele uma ou duas


vezes na cervejaria, mas isso era diferente. Agora eles o
encontravam como meu parceiro.

— Espero que essa equipe não o domine. Knox não traz um


encontro para jantar há muito tempo, e suas irmãs estão agradadas
por ele ter encontrado alguém que o faz feliz.

Minhas bochechas ardiam e Lucky apenas sorriu. — Ele também


me faz feliz.
— Venha agora. O jantar está pronto para ir, e se eu deixar meu
marido em paz com ele na cozinha por muito tempo, ele será
queimado ou comido.

— Papai está na cozinha?

— Ele está. Que tal você e Lucky virem me ajudar a reunir tudo.
Você pode fazer apresentações.

Eu balancei a cabeça, procurando a mão de Lucky novamente.

— Noah, sente-se, eu estarei lá em breve.

— Você vai se sentar ao meu lado?

— Se houver um lugar.

— OK.

Ele pulou, olhando uma vez para Lucky antes de desaparecer na


outra sala.

— Já estou exausto. — Anunciei.

— Eu tentei lembrá-los para não sobrecarregar você. Mas você


sabe como são suas irmãs. — Disse mamãe.

— Eu sei. Pronto para conhecer o papai? — Eu perguntei a


Lucky.

— Absolutamente.

Fomos para a cozinha, onde papai estava comendo um pãozinho.


Mamãe deu um tapa nele e bateu na mão dele quando ele pegou
outro. — Clive, pare com isso. Seu filho tem alguém para você
conhecer.

Papai se virou e olhou para Lucky antes de desviar o olhar para


mim. Sua expressão era calorosa.

— Hum... Pai, você conhece Lucky da cervejaria.

— Eu conheço Lucky da cervejaria, mas me disseram que você


estava trazendo o namorado chamado Lucky.

Eu resisti a revirar os olhos, mas não pude deixar de rir. — Pai,


conheça Lucky, meu namorado.

— Isso foi tão difícil?

Papai apertou a mão de Lucky e bateu no ombro dele. — É um


prazer conhecê-lo, filho. Vou lhe contar a mesma coisa que contei a
todos os namorados de minhas filhas.

— Pai, não.

Ele riu. — Estou brincando. Fico feliz que as meninas não


tenham assustado você. Vamos. Hora de comer.

Nós nos reunimos à mesa. Eu avisei Lucky que era ocupado e


alto, e a conversa poderia fazer a cabeça de uma pessoa girar, mas
ele não demonstrou nenhuma preocupação.

Depois que os pratos foram servidos, o tema do jantar da noite foi


todo Lucky. Minhas irmãs se revezavam fazendo perguntas. Há
quanto tempo ele está em Jasper? E de onde ele era? Quando
descobriram que ele morava em muitos lugares do país, ele tentou
se lembrar de cada um. Foi fascinante para eles. Minha família não
tinha viajado ou deixado Alberta, então eles estavam ansiosos para
aprender sobre os diferentes lugares que Lucky havia ficado. Claro,
deixe para Noah perguntar sobre os olhos de cores diferentes de
Lucky.

— Você tem algum irmão? — Mamãe perguntou quando houve


uma pausa na conversa.

Eu não sabia como Lucky lidaria com essa pergunta. O tópico


dele sendo adotado não havia surgido. Sua busca por sua mãe
biológica e raízes parecia privada, então eu não a compartilhei com
minha família.

— Hum... eu tenho, na verdade. Meia-irmã. Acabei de saber


sobre ela há algumas semanas. Fui adotado quando bebê e, nas
minhas pesquisas, a encontrei. Conversamos um pouco e nos
conhecemos. Da próxima vez que estiver visitando meus pais,
esperamos nos encontrar.

— Isso é fascinante. — Disse mamãe.

— Você acha que voltará para Ontário algum dia? — Zoey


perguntou, seu olhar passando para mim e de volta para Lucky.

Lucky não hesitou e encontrou minha mão debaixo da mesa,


apertando-a. — Não. Na verdade, estou pensando em comprar uma
casa aqui em Jasper. Acabei de descobrir que meu senhorio está
vendendo. É hora de resolver, eu acho.
O objetivo era que eu me mudasse com Lucky em janeiro, quando
ele assumisse a propriedade. Ele tinha falado com o seu senhorio e
eles estavam negociando uma venda. Lucky tinha coisas para
organizar com o banco, mas imaginamos que em janeiro a casa
estaria em seu nome. Eu precisava avisar meu senhorio de
qualquer maneira. Depois que as coisas fossem finalizadas, eu
compartilharia minhas notícias com meus pais. Não antes.

***

Passava das nove antes de conseguirmos escapar e voltar para


minha casa. Caímos no sofá lado a lado, exaustos com a visita.

— Sua família é incrível.

— Eles estão na sua cara.

— Eles amam você.

— Eu sei. — Suspirei. — Eles gostam, e realmente gostam de


você. Eu posso dizer.

— Estou feliz porque pretendo fazer parte da sua vida. Talvez


quando visitar meus pais na primavera, você gostaria de ir junto?

— Eu adoraria. Eu nunca estive em um avião, no entanto.


Voaríamos?

— Nós poderíamos dirigir pelo país. Poderia ser divertido.

— Eu gosto dessa ideia.


Nós nos inclinamos um contra o outro, mãos unidas, pés
entrelaçados na mesa de café, a escuridão ao redor. Foi pacífico.

— Posso te perguntar uma coisa? — Virei minha cabeça,


procurando o rosto de Lucky.

— Qualquer coisa.

— Você será meu acompanhante no casamento de Easton e


Lachlan?

O sorriso de Lucky cresceu. Ele se inclinou e me beijou. — Eu


adoraria.

— Tenho que fazer parte da cerimônia, mas depois há o jantar e


outros enfeites. Eles têm enormes tendas aquecidas subindo no
parque para que todos possam ficar por lá e aproveitar a festa
depois. — Esfreguei meu rosto e ri. — Eles convidaram o Fifty-
Foursomes para ir tocar. Acho que Easton só queria me ver lutando
com o palco maldito no frio congelante.

— Você vai dançar comigo?

— Provavelmente não. Dois pés esquerdos e tudo.

— Poderia ser divertido.

Eu gemi. — Talvez. Veremos.

Nós nos beijamos novamente. — Vem para a cama comigo? —


Lucky perguntou.

Eu sorri em seu próximo beijo, meu sangue esquentando. —


Lidere o caminho.
***

Era início de dezembro. A neve tinha caído constantemente nas


últimas semanas, enterrando Jasper enquanto todos se preparavam
para o feriado que se aproximava. Minnie e eu passamos a semana
pendurando luzes de Natal por toda a cidade e nos preparando para
o festival de inverno e para acender as luzes do parque.

Nós arrastamos o estrado e arcos para fora, montando-os


também desde que a cidade estava hospedando seu primeiro
casamento gay. Um longo caminho foi aberto da estrada através do
parque até a árvore onde as celebrações aconteceriam.

Minnie cantarolou canções de Natal o tempo todo em que


decoramos, me deixando maluco. Nós dois rimos muito quando ela
me pegou cantarolando sem saber, nem cinco minutos depois de
reclamar. O palco foi o pior de tudo. Se eu pensava que era um pé
no saco ficar ereto em um clima melhor, era um inferno quando não
conseguia sentir meus dedos.

Nally mandou a sobrinha nos trazer chocolate quente duas vezes


naquela semana, sabendo que estávamos trabalhando duro no frio
e que merecíamos um presente.

No fim de semana, tudo estava pronto para ir. Sábado à tarde era
o desfile do Papai Noel. À noite era a iluminação das luzes do
parque, seguida pelo casamento e depois da festa. Jasper estava
equipada e pronta para um dia inteiro de diversão.

Lucky e eu vimos o desfile da janela do meu apartamento. Depois,


nos vestimos com roupas casuais, já que o casamento era um caso
de jeans, as regras de Easton, e saímos para a velha casa de
fazenda onde todos que faziam parte da festa de casamento
estavam reunidos. Levei Lucky desde que sabia que seria um dia de
convívio com os amigos até a hora do casamento.

O terreno em frente à antiga fazenda estava cheio de carros. As


portas do estábulo mais próximo estavam totalmente abertas e
acenei para um dos trabalhadores dos estábulos de Easton
enquanto ele trabalhava.

Percy nos cumprimentou na porta, vestindo seu próprio Levi e


uma camisa xadrez que eu sabia que combinava com a que Easton
planejava usar. Ele bloqueou a porta enquanto nos examinava de
cima a baixo.

Quando passamos pela inspeção, ele nos deixou passar, gritando


dentro da casa. — Knox está aqui com o namorado. Eles se
vestiram direito. Eu os deixei entrar.

— Você é o inspetor? — Eu perguntei.

— Pode apostar. East disse sem ternos e gravatas ou devo


mandar você fazer as malas. Apenas jeans e sem camisas chiques.
Lachlan disse que camisas chiques estão bem. Então eles
discutiram, e Lachlan ameaçou fazer Easton se casar em uma igreja
com um smoking. Então East disse que as camisas chiques
estavam bem, mas então ele me disse em segredo que não.

— Nós não discutimos, e eu lhe disse, você não é o porteiro. —


Disse Easton, entrando na sala. — Pare de inventar histórias. Volte
para a cozinha e ajude Elaina com a preparação de alimentos como
você deveria.

— Oh cara. Eu odeio o trabalho de preparação de alimentos. Eu


quero ser o inspetor. — Mas Percy marchou para a cozinha.

— E não me deixe te pegar comendo essas sobremesas.

Percy resmungou algo antes de desaparecer.

— Sua irmã precisa de uma mão? — Lucky perguntou.

— Ela tem uma cozinha cheia de ajudantes, para ser sincero.


Entre o grupo de amigos que ela contratou para ajudá-la, a mãe de
Lachlan e a namorada de Christian, ela está bem. Nally está
preparando a maior parte da comida para mais tarde em sua
própria casa. — Easton estendeu a mão para Lucky. — Mas é bom
ver você. Estou feliz que você veio.

— Obrigado. Parabéns.

Easton sorriu. — Dia cheio. Quem sabia que um casamento


descontraído seria tanto trabalho?

— Você está arrependido da minha oferta de levá-lo para uma


ilha tropical, não é? — Lachlan veio atrás de Easton e cutucou-o
antes de inclinar a cabeça para mim. — É bom ver você, Knox.
— Você também. Parabéns.

— Obrigado. Entre. Existem lanches e bebidas. Estamos apenas


pedindo aos convidados do casamento que evitem ficarem bêbados
cedo demais, já que não queremos que ninguém caia do cavalo.

Eu manuseei Lachlan, mas falei com Easton. — Ele não percebe


em quantas trilhas bêbados estivemos, não é?

— Eu disse a ele.

Nós nos juntamos à multidão reunida na sala de estar e visitamos


até a hora do jantar, quando era hora de nos prepararmos para ir à
cidade.

A tripulação de Easton já havia levado os cavalos necessários


para a cidade, para que sua jornada não fosse longa no frio. Puxei
Lucky para o lado e roubei um beijo enquanto ninguém estava
olhando. — Encontro você no parque após a cerimônia.

— Tudo certo. Você parece bem, por falar nisso. Bonito.

Eu olhei para mim mesmo. Jeans, uma bela camisa de botão e


um casaco melhor para me manter aquecido. Estava demorando
para aceitar que Lucky olhou para mim e gostou do que viu. —
Obrigado.

Outro beijo rápido e ele apertou minha mão e foi para o meu
caminhão.

Digitalizei e encontrei os convidados do casamento. Easton e


Lachlan também estavam compartilhando um momento de silêncio.
A alegria que irradiava do meu melhor amigo não me deixou mais
perturbado. Na verdade, isso me deixou feliz. Talvez um dia eu
tenha isso também. Eu comecei a duvidar que eu era digno de
amor, casamentos e filhos, mas Lucky mudou tudo isso.

***

A multidão estava reunida no parque quando chegamos. A cidade


inteira apareceu. Percorremos um caminho iluminado por luzes de
coloridas em direção à árvore gigante e aos arcos onde Lachlan e
Easton trocariam seus votos. Música suave encheu o ar e, quando o
casamento estava prestes a começar, flocos de neve flutuavam ao
nosso redor. Uma agitação suave que aumentou a noite mágica.

Eu desmontei e ajudei Percy a desmontar também. Pegamos


nossos lugares com Christian e assistimos como Easton e Lachlan
cavalgavam juntos, de mãos dadas, cavalos marchando um contra o
outro. As pessoas gritaram e aplaudiram, e o casal não poderia ter
parecido mais feliz.

Josiah estava lá, tirando fotos com a câmera do lado de fora.


Easton e Lachlan seriam notícia de primeira página amanhã. Lady
Mallory tinha um lugar lá atrás, os óculos azuis empoleirados no
nariz, a saia esvoaçante ondulando na brisa. Eu esperava que ela
não começasse a gritar suas previsões para o futuro até pelo menos
depois que a cerimônia estivesse terminada.
O Sr. G estava lá, meus pais e irmãs, Nally e sua sobrinha, a
rainha da fofoca, Randaleigh, com seu suéter excessivamente
vistoso, Minnie, Timothy e a equipe dos correios, do mercado, da
lanchonete, até mesmo o prefeito estava há. Jasper inteira veio
comemorar.

A cerimônia oficial foi curta e doce. Um aplauso rolou pela


multidão quando Easton e Lachlan foram declarados casados.
Instantaneamente, o Fifty-Foursomes começou a tocar, e um
anúncio foi divulgado pelo sistema de alto-falantes de que as tendas
aquecidas teriam comida para todos, caso quisessem ficar por lá e
aproveitar.

Antes que ele pudesse ser sugado pelo clamor de simpatizantes,


peguei Easton e o puxei para um abraço apertado. — Parabéns.
Estou feliz por você.

Todo o parque brilhava sob as luzes de Natal, e as pessoas se


movimentavam, pegando comida e enchendo a pista de dança.

Eu procurei por Lucky e fiz o meu caminho em direção a ele.

Havia uma sensação de mágica no ar que sempre acompanhava


os casamentos. Eu me importava cada vez menos com o que as
pessoas pensavam de nós como casal e andei direto nos braços de
Lucky. Suas mãos subiram automaticamente e seguraram minhas
bochechas, e estávamos nos beijando ali mesmo na frente de quem
quisesse assistir.

— Te amo. — Ele respirou contra a minha boca.


— Amo você também. Estamos esperando comida e dançando?

— Você está de brincadeira? Claro que estamos. Esta é a minha


banda cover favorita.

Eu ri.

De mãos dadas, fomos a uma tenda aquecida para coletar comida


e nos misturar com a multidão. A noite foi interminável, e Lucky me
fez dançar. Nunca me senti mais feliz e mais eu mesmo em toda a
minha vida.

Mais tarde na noite, voltamos para minha casa pelas ruas


festivamente iluminadas de Jasper. Uma vez lá, levamos um tempo
para aliviar um ao outro de nossas roupas. Mãos vagavam, bocas
fundidas, e nos encontramos emaranhados juntos na cama. Em
algumas semanas, estaríamos compartilhando uma casa juntos,
nossas vidas avançando como um casal.

Fizemos amor e conversamos até altas horas da manhã, até


adormecermos nos braços um do outro.

Domingo de manhã, acariciei a pele quente do sono de Lucky e o


beijei uma vez antes de sair da cama. Em vez de fazer um bom café
da manhã, decidi correr pela rua até a padaria e pegar cafés e os
famosos bolinhos de Nally.

Foi enquanto esperava na fila que uma cópia do Jasper Times,


descartada em uma mesa, chamou minha atenção. Easton e
Lachlan estavam na frente e no centro, cavalgando pelo parque em
cavalos, de mãos dadas. O casamento deles foi notícia de primeira
página. Mas foi a foto menor no canto que me levou a pegar o
jornal.

As mãos de Lucky estavam no meu rosto e estávamos nos


beijando. A manchete dizia: — Talvez Jasper celebre casamentos
mais diversos no futuro próximo.

Em vez de ser incomodado pelo artigo de Josiah, sorri. Meu


coração esquentou com as possibilidades. Sim, Josiah, talvez sim.

Coloquei o papel debaixo do braço e fiz meu pedido. Dois cafés e


dois bolinhos e um namorado lindo esperando por mim em casa. Às
vezes, a vida o leva onde você menos espera, mas quando você
chega lá, você percebe que é exatamente onde você deveria estar.

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