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Jolie Damman
Direitos autorais © 2022 Jolie Damman
Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com
pessoas reais, vivas ou falecidas, é coincidência e não é intencional por parte do autor.
1ª edição
Fiquei muito chocada que ele estava falando comigo assim online,
sorrindo como se isso fosse algo que significasse mais para ele do
que realmente significava. Ele de fato não podia estar pensando que
isso poderia algum dia ser mais do que era, certo?
Eu respirei profundamente, mantendo meu sorriso de orelha a
orelha no meu rosto. Seu rosto esculpido, sua barba por fazer, seu
cabelo loiro e a riqueza com que ele se cercava – tudo isso me
lembrou da vida que eu estava procurando ter desde que nasci.
Eu sabia que ele estava fingindo aquela reação, no entanto. A
maioria dos meus clientes considerava importante iniciar um
relacionamento comigo com o pé direito, e eu não podia culpá-lo por
ter essa mesma reação.
Eu ainda não podia deixar de pensar que ele tinha todos os
atributos certos e a riqueza necessária para conseguir qualquer
mulher no mundo, entretanto.
– Então, há uma razão específica para você estar procurando
por alguém como eu? Sou a única pessoa em toda a cidade que
trabalha como esposa de aluguel, afinal de contas.
– Nunca tive tempo para relacionamentos, se é isso que está
perguntando.
Seu sorriso continuou me cativando, me fazendo desejar poder
conhecê-lo pessoalmente imediatamente. Se ao menos eu não
tivesse que esperar até que ele dissesse as palavras certas...
Sempre era a decisão certa deixar o cliente tomar a iniciativa.
Eu não queria parecer insistente, e eu precisava continuar
tomando pequenos passos. Era como ferver um sapo em uma água
até que fosse tarde demais…
– Sério? Não achei que esse era o caso. Você parece ser o tipo
de homem que todas as mulheres do mundo cairiam de joelhos pela
chance de se casar com você, para ser honesta. Até já sinto uma
pequena atração por você, só deixando claro.
– Você já me quer na cama assim, sem mais nem menos?
Cuidado, posso realizar esse seu desejo – brincou.
Eu não pensei que era possível, mas ele estava realmente se
comportando como se isso fosse algo para o qual ele estava se
preparando durante toda a sua vida. Seus olhos estavam fixos nos
meus através da câmera, o fundo atrás dele me fazendo desejar
poder levar minha vida para o apartamento dele imediatamente. E
ele não tinha mentido sobre morar em um arranha-céu, notei. Meus
olhos podiam perceber os outros arranha-céus e as ruas abaixo
através de sua janela.
Eu ri. – Talvez devêssemos...
– Hmmm, até poderíamos. Amanhã eu tenho muito tempo livre,
então acha que já poderíamos marcar um encontro?
– Pode ser – eu respondi, minha mente mal registrando o
barulho dos garfos, facas e colheres vindo da sala. A coisa boa
sobre este inverno era que a maioria dos meus vizinhos tendia a
dormir depois do escurecer, então eu tinha toda a paz e sossego
que eu precisava na maior parte dos dias.
Efrem não usava garfos ou facas para comer, então era o único
usando uma colher. Os sons de sua tagarelice também fizeram
cócegas em meus ouvidos, mas, novamente, não prestei muita
atenção a isso.
Eu não precisava fazer isso. Eu estava absorta nessa conversa
com ele, só precisando confirmar seu nome verdadeiro.
– Perfeito então, Nia. Não achei que seria tão fácil encontrar a
mulher certa para a minha necessidade, para que meus pais não
pensem que sou um fracassado.
– Eles nunca poderiam pensar algo assim de você – afirmei,
respirando profundamente e parecendo mais sensual do que o meu
eu habitual. Seu crush por mim era mais do que visível pela
gravação, e eu podia até notar sua mão se movendo para cima e
para baixo. Ele estava se masturbando, sem dúvida. – Seu nome é
o que mesmo?
– Ah, me perdoe. Acho que ainda não disse qual era, e nem me
lembro se você já tinha perguntado antes. É Steven Gove. Eu
controlo uma empresa de extração de petróleo.
– Você não vai me dizer qual é? – Eu perguntei, ansiosa para
saber tudo sobre essa parte de sua vida. Eu precisava saber tanto
sobre ele quanto eu pudesse.
– Eu vou deixar você descobrir isso por conta própria.
– Ah, não seja assim – brinquei, pensando em levar essa
conversa com ele para o próximo nível. – Você mora sozinho,
então?
– Não, tenho algumas pessoas que cuidam do apartamento.
Não tenho paciência para limpá-lo e mantê-lo arrumado, então
tenho algumas empregadas e um mordomo para isso.
– Você está me fazendo pensar que mora em algum tipo de
mansão em vez de um apartamento.
– Bem, é bem grande.
– Mais de um andar?
Ele acenou com a cabeça, mantendo seu sorriso largo, seus
olhos verde-esmeralda me fazendo pensar que ele não era humano,
mas sim alguém que veio de outro mundo. Queria tanto estar com
ele pessoalmente. Não adiantava adiar mais isso, e ele disse que
iria se encontrar comigo amanhã, de qualquer maneira. Só
precisava escolher um local antes que ele pensasse em me pegar
aqui ou fazer algo igualmente inconveniente.
Eu não podia deixar isso acontecer. Eu precisava que ele
pensasse que eu era do mesmo tipo de ambiente que ele, que eu
não era apenas uma pobre mulher tentando vencer na vida.
– Mais de um andar, claro, e aqui você pode ter uma boa vida.
– Espere, e os vizinhos não são barulhentos ou algo assim, ou
são? Eu tenho um ódio mortal de pessoas assim e não consigo
dormir quando há muito barulho.
– Você não precisa se preocupar com barulho aqui – ele
respondeu, sua mão ainda se mexendo atrás de sua mesa. Eu
estava ciente de que ele estava se sentindo bastante excitado
agora, mas não pensei que ele fosse se masturbar enquanto
estávamos tendo essa conversa.
E acima de tudo, era muito interessante que Diamond e Efrem
ainda não entraram no meu quarto. Eles sempre ficavam muito
curiosos e animados toda vez que um novo cliente aparecia.
Eu tinha que ser honesta aqui comigo mesma, no entanto. Se
não fosse pelo fato de ambos estarem sentados na sala, estaria
fazendo a mesma coisa. Eu estaria fazendo nada demais, pensando
em Steffen envolvendo seus braços em volta de mim e me
carregando até o seu apartamento.
Conversamos mais um pouco, e quando olhei para o relógio
perto do canto inferior direito da tela do computador, finalmente
percebi que era hora de escolher o local para a reunião de amanhã.
Steffen já tinha gozado também, notei, sua mão esfregando contra
sua calça. Ele estava limpando para que eu não notasse, mas era
em vão.
– Então, onde você vai se encontrar comigo amanhã?
– Que tal o salão de baile dentro do Outlook Hotel? Eu poderia
alugá-lo para amanhã à tarde, às 14h. Não quero que você acorde
cedo demais, e eu posso ir lá a qualquer hora. Como eu disse, não
tenho muito o que fazer no escritório.
– Eu gostaria de poder ter uma vida assim um dia – disse,
beijando o ar.
Ele não fez mais nada, apenas dizendo – Te vejo amanhã,
então.
Ele encerrou a ligação, deixando-me sem mais o que fazer
quando a porta foi aberta de repente. Era Diamond, olhando para
mim com uma expressão que eu já conhecia bem. Já estava
morando com ela há muito tempo, então aquele sorriso e brilho em
seus olhos eram coisas com as quais eu já estava bastante
familiarizada.
– Você encontrou outro cliente, certo?
Eu assenti, ainda sentindo o nervosismo de ter falado com um
homem tão imponente e impressionante online. Gostaria de poder
fazer isso com mais frequência.
– Sim, encontrei, e vamos nos encontrar com ele amanhã à
tarde. Ele disse que vai pagar por tudo, incluindo o local e a...
– A comida? – Diamond perguntou, colocando a mão no peito e
arregalando seus olhos. Às vezes, era como se ela pudesse pensar
apenas em comida, o que podia me deixar um pouco irritada.
– Sim, incluindo a comida.
– Então, mal posso esperar para vê-lo pela primeira vez.
– Sabe, um dia desses você vai ter que dar um jeito em sua
vida – apontei.
Eu me levantei e pensei em expulsá-la do meu quarto quando
meu pequenino surgiu atrás dela. Seus olhos eram brilhantes como
de costume.
– Finalmente vamos sair desse lixo de lugar?
– Ah sim, parece que vamos, meu pequeno príncipe. No
entanto, ainda é um pouco cedo para dizer isso.
– Por que? – Ele perguntou, fazendo beicinho.
– Porque ainda não sei como ele é pessoalmente e quero ter
certeza de que ele é um bom homem antes de decidir.
– Não é uma escolha muito difícil – Diamond retrucou,
estreitando seus olhos. – Estou cansada de viver neste lixo de lugar.
Ainda sinto falta de todos os pratos à base de caviar e dos
diferentes vinhos de quando morávamos na enorme mansão do
Scott.
– Ele é um bom homem, mas você sabia que eu nunca iria me
casar com ele. Com esse cara, não vai ser diferente, também.
– Você nem vai me dizer qual é o nome dele?
– É Steven Gove, e quando o conhecer pessoalmente amanhã
à tarde, por favor, se comporte. Não quero sair daquele hotel
sentindo vergonha de você.
Capítulo 6
Steven
Eu nunca achei que tudo ia ocorrer tão bem como foi. Era verdade
que mamãe e papai ainda achavam tudo um pouco estranho, mas o
olhar de satisfação em seus olhos não podia ser ignorado ou
confundido com outra coisa.
Eu estava deitado na minha cama, ouvindo o som da água
caindo dos buracos no chuveiro do banheiro. Com mamãe e papai
morando conosco agora, isso significava que ela não podia mais
ficar no quarto de hóspedes.
Nia tinha que dormir comigo agora. Agora que eu estava
pensando sobre isso, a “Nia dormindo no quarto de hóspedes” tinha
sido um erro de novato. Fiquei surpreso por ela não ter tocado no
assunto quando deveria. Ela deveria ter pensado que mamãe e
papai viriam, um hora ou outra, vindo em nosso quarto – nosso
suposto quarto de casal feliz – e achado estranho que parecia que
não dormia comigo.
Eu sabia que viriam aqui uma hora ou outra, mas eu não tinha
pensado que seria um pouco mais cedo também. Eles mencionaram
várias vezes que viriam em outro dia. Eu deveria ter me preparado
melhor, de qualquer forma, sem dúvida.
Nia, ainda assim, lidou com a situação com facilidade e
gentileza, fazendo com que mamãe e papai tivessem boa opinião
sobre ela desde o início. Não era à toa que ela era muito cara. Que
seus serviços eram, eu corrigi.
Tivemos que esconder as coisas dela no quarto de hóspedes
em questão de minutos. Foi sua irmã, Diamond, que cuidou disso.
Sabia que sua perspicácia era uma das grandes razões pelas quais
estava morando conosco agora e não em sua antiga casa.
Não só Diamond e Nia trabalhavam como uma equipe, elas
sabiam o que fazer sem ter que usar palavras. Quando mamãe e
papai passaram pela frente do quarto de hóspedes, a maioria das
coisas da Nia já havia sido retirada de lá.
Escondendo-as em um quarto esquecido que não era usado
para nada, ela fez isso para que minha mãe e meu pai nunca
pudessem encontrá-la. Eles nem sequer se lembram que aquele
quarto existe por uma razão que fazia bastante sentido, que era que
já tinham vindo aqui antes e que pensavam que lá não tinha nada
demais.
Eu não tive uma briga com eles ou qualquer coisa do tipo. Eu
estava apenas focado em ganhar dinheiro, ficar mais rico e buscar o
tipo de vida que poderia me fazer sentir realizado.
Efrem era uma coisinha fofa também. Ele conquistou o coração
da minha mãe e do meu pai desde o início, brincando com eles,
sendo todo doce, e dizendo a eles que eu era seu pai. Eu não podia
acreditar no quão inteligente ele era. Eu pensei que ele levaria muito
mais tempo para processar todas as informações que ele precisava
manter em mente.
Não era por nada que ele fazia parte da encenação. Algumas
pessoas poderiam achar sua inclusão um pouco estranha e errada,
mas como alguém poderia esperar que Nia se separasse de seu
único filho para morar comigo? E isso sem mencionar que ele não
parecia ter um pai com ele. Nia não tinha falado sobre ele. Eu me
perguntava o que tinha acontecido entre eles. Eles tiveram algum
tipo de desentendimento, terminando logo depois disso?
A partir de agora, Nia era outra mulher. O mesmo com sua irmã,
que estava muito feliz por estar morando aqui. Eu não tinha certeza
disso no momento, mas parecia que antes viviam em condições
muito piores. O fato de estarem aqui, sob meus cuidados, me deixou
orgulhoso por estar ajudando-as.
Uma coisa que fazia, mas não contava a ninguém, era doar
para pessoas pobres na África e outros continentes. Eles
precisavam de ajuda praticamente o tempo todo, e eu estava muito
feliz por poder fornecê-la. Tinha mais dinheiro do que eu sabia o que
fazer com ele.
Lá fora, o céu nublado, com todas as suas nuvens, me fez
desejar que não estivéssemos ainda no inverno e que a lua ainda
estivesse pairando no céu, iluminando a cidade com sua luz
brilhante.
Estava escuro lá fora, postes de luz acesos e iluminando as
calçadas e estradas. Me dava vontade de ir até lá, fazer bolas de
neve e arremessá-las em direção aos meus amigos.
Isso era de um passado que nunca voltaria, pensei. A maioria
dos meus amigos já havia se mudado daqui e encontrado melhores
oportunidades em outros lugares, incluindo em outros países.
Suspirei, meus ouvidos ouvindo algo que eu não achava
possível. O banheiro estava conectado ao meu quarto, mas as
paredes ainda tinham que ser grossas o suficiente para abafar a
maioria dos ruídos vindos do outro lado.
Será que havia alguém... chorando?
Eu não sabia, mas aquele som não era algo que eu pudesse
ignorar. O sistema de aquecimento dentro do apartamento me
permitia ficar sem camisa, mantendo o frio do lado de fora e o calor
do lado de dentro. Era quase melhor do que se as temperaturas
estivessem mais elevadas, pensei com um sorriso no rosto.
Fui até a porta do banheiro, o barulho ficando cada vez mais
alto. Eu não poderia estar errado sobre isso. Nia estava chorando,
mas por qual motivo? Não fazia sentido para mim que estivesse.
Ela era uma mulher tão forte e com muita autoestima. Ela era a
razão pela qual eu não estava enlouquecendo por mamãe e papai
estarem morando aqui agora. Nós ainda tínhamos que decidir sobre
tantas coisas em relação ao casamento, mas considerando tudo,
estávamos bem.
Parei na frente da porta do banheiro, me inclinando e
descansando minha cabeça nela. Pressionando meu ouvido contra
a porta, agora eu podia ouvir melhor o barulho vindo de dentro. Ela
não estava apenas chorando, mas também conversando com
alguém?
Quem poderia ser?
– Eu gostaria que tudo fosse diferente, que eu estivesse
vivendo uma vida em que não precisasse estar mentindo o tempo
todo sobre o que está acontecendo nela.
Mentir o tempo todo sobre sua vida? Percebi que manter algo
assim, seu suposto casamento e marido escondidos de outras
pessoas, nunca poderia ajudar a fazê-la se sentir feliz, mas ainda
não tinha pensado…
Eu não podia acreditar que viver aqui estava fazendo ela se
sentir deprimida. Eu comprava tudo o que ela queria, fazendo ela
cada vez mais parte da minha vida. Eu só precisava fazer com que
mamãe e papai continuassem pensando que eu estava feliz com
ela, que não podia ser a mentira que era.
Ainda não podia acreditar que tinha chegado a isso. Eu pensei
que teria mais tempo e encontraria a mulher certa, uma que eu
cortejaria e viria a amar, e então ofereceria a oportunidade de se
casar comigo pelo resto de sua vida.
– Steven é legal e tudo, mas ele não é meu marido de verdade
– ela disse novamente, fungando. O barulho vindo do chuveiro já
tinha parado, e eu diria que ela estava se secando e se preparando
para vestir uma camisola.
Eu não sabia se ela se sentia confortável com isso, mas como
mamãe e papai ainda moravam aqui e dormiam no quarto em frente
ao nosso, agora tinha menos liberdade andando pelo apartamento.
Eu estava feliz que ela disse que eu era legal, mas isso ainda
não mudava nada. Eu não queria que ela pensasse que estava
sendo forçada a viver aqui ou algo assim. Em seu contrato, não
tinha lido o que poderia ser feito se ela desaparecesse.
Eu tinha notado isso na época, mas ainda tinha decidido não
tocar no assunto. Eu não queria criar mais problemas com ela. Se
ela pensasse que não aguentaria mais, então eu apenas diria a ela
que não havia problema em ir embora.
Seus passos se aproximaram da porta, me fazendo correr para
longe dela em um piscar de olhos. Quando ela a abriu, seus olhos
arregalados brilharam em minha direção.
Por um momento, houve apenas silêncio. Eu estava me
perguntando se ela iria descobrir que eu a estava espionando. Eu
esperava que não, mas Nia era uma mulher mais inteligente do que
parecia ser. Ela poderia perceber que algo estava errado, sem
dúvida.
– Você por acaso não está escondendo nada de mim, ou está?
– Ela perguntou, ainda parada na porta.
– Eu pensei ter ouvido você chorando.
– Ah, não foi nada demais – ela afirmou, balançando a mão em
desdém. – Eu não estava chorando.
– Tem certeza? Porque não acho que ouvi errado e parecia que
você estava falando com alguém ou sozinha.
– Eu falo comigo mesmo o tempo todo. Tenho o costume de
fazer isso... – Ela estava dizendo, mas então se interrompeu.
Ela acabou de confirmar isso, o que significava que ela também
acabou de estabelecer que estava tendo problemas com algumas
das coisas que aconteciam em sua vida.
– Eu sinto muito. Não queria te preocupar.
Aproximei-me dela, colocando-me a nada mais do que um pé
de tocá-la. Eu poderia estender a mão, segurar seu queixo e beijá-
la. Eu queria fazer isso, mas sem uma confirmação de que poderia,
não faria nada.
– Não me preocupou. Eu apenas pensei que havia algo errado
acontecendo com você, e então fui ver se podia ajudar.
– Você não precisa se preocupar com o que está acontecendo
na minha vida – ela disse, mas eu podia dizer que ela estava
escondendo algo profundo e assustador de mim. Eu precisava que
ela se sentisse segura o suficiente para me dizer o que era.
Se ela não fizesse isso, tinha medo do que poderia acontecer
com ela. A última coisa que eu precisava era ter ela surtando de
repente, culpando a mim pelos problemas que tinha.
Nia tentou passar por mim e se afastar, mas eu me mantive
firme na frente dela.
– Não quero impor nada a você, mas quero que saiba que se
precisar de mim para alguma coisa, estou aqui. Eu sempre estarei
aqui para você, Nia.
Ela arregalou seus olhos, seu rosto ficando mais pálido. – Você
não deveria estar falando meu nome verdadeiro enquanto eles
ainda estão aqui. Podem pensar que algo está fora de lugar, que
estamos escondendo a verdade.
– Eles já sabem que há muitas coisas que tenho mantido
escondidas deles. Não se preocupe. Mais uma não vai fazer
diferença.
– Sim, faria sim. É o que mantém nosso contrato vivo. Se eles
perceberem que algo não faz sentido... não quero pensar no que
aconteceria.
– Estou ouvindo isso certo? Você está me dizendo que
realmente se importa comigo? – Eu perguntei, dando um passo à
frente até que suas costas estivessem pressionadas contra a
parede.
– Não, não é nada disso. Mais uma vez, estou apenas
preocupada, e acima de tudo, quero ter certeza de que minha
reputação não será manchada.
Estava tudo parando ao nosso redor. De pé na frente dela
assim, eu podia examinar cada pequeno detalhe do seu rosto. O
cheiro floral do seu xampu penetrava em meus pulmões e me fazia
ter vontade de fazer coisas indescritíveis com ela.
Eu não sabia qual seria a reação dela, então eu estava
ganhando tempo. Eu estava verificando para ter certeza de que ela
sentia o mesmo por mim, que seu corpo estava implorando pelo
meu tanto quanto o meu estava implorando pelo dela.
– Você vai me dizer o que realmente está acontecendo em sua
vida? – Eu questionei, sussurrando.
– O que você quer dizer?
– Não é normal alguém chorar no banheiro, e nem tente mentir
para mim sobre isso. Eu sei que estava.
Ela abriu a boca novamente, pronta para me responder, mas
então ela a fechou. Houve uma contração logo abaixo do olho
direito, e então uma lágrima caiu e rolou por sua bochecha. Não tive
tempo de reagir.
Ela simplesmente desabou, me abraçando e enterrando a
cabeça no meu peito. Eu estava nu, e ela estava descansando a
cabeça no meu peito. Eu não tinha ideia do que estava acontecendo
nos bastidores, em sua mente, mas sabia que precisava de mim.
Nós não nos conhecíamos por tanto tempo ainda, mas agora eu
sentia essa conexão instantânea e poderosa que nunca pensei ser
possível. Ela poderia ser a mulher certa para mim, se ao menos
pudéssemos derrubar a mentira que colocamos entre nós.
Estava ali mesmo, insistindo que ela não era nada mais do que
minha esposa falsa.
Meu pau estava duro, mas eu não estava pensando em fazer
amor com ela. Eu nunca faria isso com alguém em um estado
vulnerável.
Nia ainda estava chorando e soluçando. Eu ficaria continuando
dando apoio até que ela conseguisse se recompor.
E finalmente parecia que isso ia acontecer.
Ela se afastou de mim, esfregando os olhos e secando as
lágrimas. – Sinto muito por isso. Não deveria estar fazendo isso.
Estou agindo fora da minha personagem. Não vai acontecer de
novo.
– O que diabos você está falando? Eu sei que algo está
incomodando você, e eu quero descobrir o que é.
– Não é nada com que você deva se preocupar – ela
argumentou, se afastando de mim. Depois de sua demonstração de
depressão e tristeza, não pude impedi-la. Eu precisava dar um
tempo a ela.
Esta noite não era o momento certo para tentar fazer qualquer
coisa com ela.
Ela se sentou na cama, recusando-se a olhar para mim.
– Mas estou preocupado, e isso não tem nada a ver com nosso
casamento e nossa vida juntos. Ainda não nos casamos, mas logo
faremos isso.
– Exatamente. Você não precisa se preocupar. Quando se trata
de mostrar à sua família – seus pais – que estamos felizes e que
não há nada de errado conosco, eu estarei lá e o dinheiro que
investiu em mim valerá a pena sim.
– Não é disso que estou falando – afirmei, agarrando sua mão.
– O que você quer dizer? – Ela perguntou, finalmente virando a
cabeça para mim, me olhando nos olhos.
– Quero dizer que estou preocupado com você. Eu gosto de
você, Nia, e acho que há algo que aconteceu no seu passado que
você precisa contar. Efrem…
À menção de seu nome, ela virou a cabeça para o outro lado da
sala. – Acho que não há nada sobre ele que precisa ser dito ou
explicado. Ele mora comigo. Por que você precisa saber mais sobre
ele?
– Nia, ele tem um pai. Estou apenas curioso sobre isso e acho
que o que aconteceu com ele ainda dói demais.
– Você é o pai dele agora.
Eu sorri, me aproximando dela. – Eu sei que ele me vê como
seu pai atual, mas ele teve muitos, e parece que… ele nunca
conheceu seu pai original.
Ela virou a cabeça para mim novamente, outra lágrima saindo e
rolando pelo seu rosto. – Eu sinto muito. Eu não quis dizer...
Ela enxugou a lágrima com a mão, balançando a cabeça.
– Não, está tudo bem. Eu sei que você apenas quer o meu
bem. Obrigada.
Seguiu-se um momento de silêncio.
– Houve algo que aconteceu.
– Uhm?
– Efrem não deveria ter nascido. Ainda me sinto envergonhada
do que fiz.
– E o que você fez?
Ela sorriu sem mostrar os dentes. – Fui numa orgia com o pai
dele e um amigo dele. Algum tempo depois, comecei a ter sintomas
de gravidez e logo soube que estava grávida de Efrem.
– Como o pai dele reagiu? E você tem certeza de que ele é o
verdadeiro pai, ou o outro cara com quem você transou? – Eu
perguntei, curvando um canto dos meus lábios e esperando que eu
tinha ponderado bem a pergunta. Eu não queria que ela pensasse
que eu não estava levando isso a sério o suficiente. Estava sim.
Este era o momento de fortalecer nossos laços, meu entendimento
com ela que eu estava esperando todo esse tempo.
Nia balançou a cabeça.
– Eu fui uma idiota. Uma boba, e muito jovem também. Jovem e
estúpida – ela respondeu, fungando. – Eu nem sei se o verdadeiro
pai é o Brayton ou seu amigo. Eu nem me lembro mais do rosto do
amigo dele.
– Sinto muito por você, Nia. Não pensei que fosse tão
complicado.
– Há algo mais. Brayton queria abortar Efrem, mas não deixei.
Eu o amava e jamais teria abortado.
Eu escovei as costas de sua mão com meu polegar, sentindo-o
passando por seus dedos.
– Você fez a coisa certa. Efrem é um bom menino, e é assim
graças a você. Ele é muito inteligente também. Adoro tê-lo por perto.
Ela exalou ar de seus pulmões.
– Está tudo no passado agora, ou pelo menos estou tentando
dizer isso a mim mesma. Tudo o que importa agora...
– É que você está aqui, que seu filho te ama, e que você está
vivendo uma boa vida comigo, apesar de todas as coisas que
aconteceram naquela época – eu terminei para ela.
Ela não disse que eu estava errado. Nia continuou olhando para
mim, me fazendo pensar no que ela ia fazer agora. Eu precisava
que ela pensasse que isso era mais do que seu trabalho, sua
profissão, que ela era realmente bem-vinda em meu apartamento.
O tempo ao nosso redor parou novamente, minha cabeça se
inclinando para ela, fechando meus olhos e... selando meus lábios
com ela. Faíscas explodiram em minha mente, meus braços a
envolvendo e depois a puxando para mim. Eu precisava sentir seu
calor, me banhar nele, e então continuar com isso para sempre.
Ela retribuiu o beijo, pressionando seus lábios contra os meus,
esfregando-os, e então também envolvendo seus braços em volta
de mim.
Mas quando eu pensei que ela estava se abrindo totalmente
para mim, ela rompeu o beijo e se levantou da cama em uma
piscadela.
De costas para mim, não pude deixar de me preocupar com ela
novamente. Havia mais alguma coisa que ela estava escondendo?
Ela balançou a cabeça, dizendo – Sinto muito. Eu não deveria
estar fazendo isso. Isso não vai atrapalhar nosso acordo.
Eu me levantei, passando meus braços ao redor dela e
sussurrando em seu ouvido – Nia, se há alguém por quem estou
apaixonado agora, é você.
Ela girou em meus braços, fechando seus olhos em mim. Eu a
beijei novamente, me banhando no fato de que ela não estava
lutando. Ela estava indo ao fluxo dos meus desejos, entregando-se
a mim.
Eu estava apaixonado por ela.
Estava obcecado.
Quando o beijo foi rompido novamente, foi uma decisão mútua
nossa. Eu precisava que ela me dissesse o que estava acontecendo
em sua mente, o que estava pensando sobre mim e isso.
Eu não ia continuar beijando alguém cuja mente ainda estava
passando por tanta coisa.
– Eu nunca me apaixonei por um marido falso antes – ela
revelou.
– Bem, talvez agora seja a hora de deixar isso acontecer, não
acha? – Eu perguntei, beijando-a mais uma vez.
Ela sorriu. – Talvez você esteja certo. Talvez eu devesse deixar
tudo para lá.
– Nia – eu disse, ronronando em seu pescoço. – Eu sei que
isso é um pouco repentino, mas sinto que conheço você melhor do
que a maioria das pessoas, e quero fazer isso acontecer. Eu quero
deixar isso rolar. Eu amo você e Efrem.
– E não há espaço para Diamond nisso? – Ela perguntou com
uma pitada de humor, curvando o canto de seus lábios.
– Claro que ela pode fazer parte sim – eu respondi, puxando-a
e, em seguida, empurrando-a para a cama. Se havia um momento
bom e apropriado para fazer isso acontecer, então era agora.
Eu ia fazer amor com Nia pela primeira vez em nossa vida.
Capítulo 9
Nia
Estou indo, estou indo foi o que Efrem disse, correndo de seu
quarto para mim, e então pulando e pousando em meus braços. Ele
era um menino maior agora, mas eu ainda era forte o suficiente para
segurá-lo. Eu sentiria falta disso um dia.
Sentia falta, entretanto, da sensação de não ter que me
preocupar com nada, a sensação de saber que minha vida estava
seguindo o caminho certo, e que a partir de agora tudo ia ser
melhor.
Acontece que acabei tendo que explicar para a mãe e o pai de
Steven algumas das coisas que aconteceram. Nosso casamento
aconteceu sem problemas, embora não no mesmo dia. Tivemos que
escolher outra data para isso.
Mas quando o casamento aconteceu, foi como se eu estivesse
vivendo outro sonho meu. E para ser honesta, eu estava. O
casamento foi cênico, espetacular, o tipo de evento que eu iria
lembrar para sempre.
Steven correu para a sala de estar, sua mão segurando sua
prancha de surf. Seus olhos se arregalaram, largando a prancha e
correndo até mim.
– Amor, você não acha que carregá-lo em seus braços é um
pouco demais? Pense no nosso pequeno Mark. Não queremos que
nada de ruim aconteça com ele enquanto ele ainda estiver na sua
barriga.
Eu ri, achando sua preocupação infundada. Ele estava sendo
paranóico, novamente.
– Eu sei. Não se preocupe com isso, no entanto. Efrem pode
ser mais alto e maior agora, mas ele ainda é apenas meu garoto –
eu afirmei, confortando-o.
O que também o confortou foi ver que eu não estava tendo
dificuldade em abraçar Efrem e segurá-lo em meus braços.
Colocando-o de volta no chão, seus pés tocando a madeira, ele
correu de volta para sua sala, fechando a porta com um baque alto
e rindo e pegando seu telefone novamente. Ele estava mandando
mensagens para seus amigos, se gabando do fato de estar
morando aqui em Akasa e não mais em Lost Hope.
Havia também mais uma coisa que o mantinha feliz, sorrindo e
dando risadinhas o tempo todo, e era o fato de que não tínhamos
planos de sair daqui. O tempo estava sempre bom, quente sem
nunca ser insuportável. Nós suavamos um pouco ao caminhar lá
fora, mas isso não nos incomodava.
Isso sem falar em todos os morros que podíamos subir,
caminhar, as praias para visitar e descansar, as pessoas
sorridentes, os vizinhos sempre dispostos a fazer amigos e etc.
Estávamos vivendo uma vida boa, e eu não conseguia imaginar
nenhum de nós indo para outro lugar para fazer algo que não fosse
temporário.
Eu também estava grávida dele. Nosso pequeno Mark. Eu o
amava tanto, e mal podia esperar até que ele nascesse. Eu era uma
mãe grávida de oito meses, então não ia demorar muito para ele vir.
Ainda me lembrava de como foi dar à luz a Efrem, então sabia
que seria uma experiência dolorosa. Desta vez, no entanto, haveria
um pai adequado e responsável ao meu lado.
Ele estaria segurando minha mão, brincando comigo e dizendo
palavras para acalmar meu coração acelerado. Quanto mais eu
pensava nisso, mais forte eu me sentia conectada a ele. Nosso
vínculo, nosso amor era algo que nunca poderia ser quebrado.
Não tinha como negar isso.
Steven passou os braços em volta de mim, murmurando em
meu ouvido direito – Você é o amor da minha vida, você sabe, não
é? Eu vou fazer você tão feliz.
– Eu sei, e penso da mesma forma. Assim que o nosso
pequeno Mark sair, Efrem vai ter um irmãozinho para cuidar, e vai
ser ótimo. Teremos mais um sorridente conosco.
Ele riu. – Efrem vai ser o garoto mais feliz desta cidade inteira,
mesmo tendo uma coisa que ele precisa melhorar.
– Huh? Que tipo de coisa? – Eu perguntei, sentindo seu nariz e
queixo acariciando meu pescoço.
– Fazer suas lições de casa. Está sempre evitando-as, e ele
está pensando que viver aqui é apenas diversão e ficar brincando.
Se ele não começar a levar a escola a sério, ficará atrasado e não...
– Calma, amor. Você está apenas sendo paranóico sobre isso.
Efrem vai ficar bem. Eu sempre o lembro de sua lição de casa.
– Realmente faz isso ou está apenas dizendo coisas para
limpar a barra dele?
Eu ri. – Não estou tentando salvar ninguém. Estou apenas
contando como é, só isso.
– Você sabe bem – ele disse, deslizando sua mão para baixo e
segurando uma das minhas bochechas – que está me deixando tão
excitado agora. Estou meio que pensando que seria bom se nós...
não sei, fechássemos a porta do nosso quarto e depois
esquecêssemos todo o resto.
Eu sorri, roçando minha cabeça contra a dele, sentindo seus
músculos me mantendo presa no lugar e segura.
– Agora você está me fazendo pensar que você nem quer sair e
ensinar nosso pequeno Efrem a nadar e surfar.
– Ele não precisa aprender nenhuma dessas coisas, e também
temos tempo para isso. Não há necessidade de se preocupar com
nada agora. É tão bom pensar que nossa vida está seguindo esse
caminho, reivindicando esse momento e definindo-o.
– Steven... – eu disse, inalando ar.
– O que? – Ele questionou, colocando a cabeça no meu ombro,
me banhando com seu calor.
– Você me convenceu. Vamos entrar e fechar a porta.
Epílogo do Steven
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Imani
Yegor
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