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Rainha do Mafioso

Romance de Casamento Arranjado

Jolie Damman
Direitos autorais © 2021 Jolie Damman

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Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com
pessoas reais, vivas ou falecidas, é coincidência e não é intencional por parte do autor.

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fotocópia, gravação ou outro, sem a permissão expressa por escrito da editora.

1ª edição

Design da capa por: Jolie Damman


Índice
Página do título
Direitos autorais
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Epílogo da Elsa
Epílogo do Eduardo
Pós-Epílogo
Continue Lendo Esta Série
Série Clube da Máfia e Mais
Sobre Jolie Damman
Capítulo 1
Eduardo

Peguei minha arma e a verifiquei. Tudo bem, realmente tinha que fazer
isso. O momento que iria definir minha vida de agora em diante. Eu não
queria fazer isso, mas não tinha outra escolha. Tio... por que você teve que
trair todo mundo?
O prédio em que ele morava parecia deserto, como se ninguém nunca
tivesse vivido nele. Eu sabia que ele estava lá, provavelmente fumando seu
cigarro favorito e se perguntando quando sua vida mudaria para melhor.
Bem, aqui estava eu. Eu seria a mudança que sua vida precisava.
Eu respirei fundo antes de abrir a porta do seu prédio e entrar. Fui
assaltado pela familiaridade do lugar. Já tinha estado nele várias vezes
quando era mais jovem. Muito mais jovem, para ser mais preciso.
Lá fora, o silêncio penetrava em tudo. Meus ouvidos captavam sons
fracos de carros dirigindo lá longe, mas não muito mais do que isso. Eu
sabia porque fui escolhido para isso. Minha primeira missão real. Mesmo se
errasse feio demais, ainda poderia fugir.
Mas eu precisava fazer isso. Esta única coisa. Acabar com tudo o que
fez, sua carreira, sua vida. Isso era o que era preciso para vencer na vida.
Fui pelas escadas até o andar em que ele estava. Eu não queria
anunciar minha chegada, e ao ouvir os meus passos, provavelmente estava
pensando que era apenas mais um morador do condomínio. E eu estava me
perguntando agora: será que ele pelo menos saía do seu quarto de vez em
quando?
Passei pelo corredor e fiquei parado na frente da porta dele. Mais uma
vez, chequei minha arma. Eu precisava ter certeza de que não a havia
deixado trancada, como em algumas vezes antes.
O corredor era como algo vindo de um filme de terror. Não havia
lâmpadas, e a única luz que entrava vinha de uma janela do outro lado. As
paredes e pisos imploravam para ser repintados, consertados, e eu me
perguntei quantos anos este edifício ainda tinha antes de desmoronar.
Eu sabia o número do seu quarto. Como eu não poderia? Eu estive
aqui tantas vezes antes. Não mais, mas mesmo eu tendo mudado muito,
meu tio não mudou, e ele ainda vivia neste mesmo lugar, onde as memórias
do meu passado me assombravam.
Respirei profundamente, ainda estando na frente da sua porta. Eu
tenho que fazer isso. Eu tenho que acabar com a vida dele. Eu precisava
disso e de tudo que eu iria tirar disso. Eu não conseguia mais continuar
pensando que ele era uma boa pessoa.
Meu tio nunca foi um homem bom, e quanto a mim ...
Dei um passo para trás e estava prestes a chutar sua porta quando notei
uma brecha e luz passando por ela. Ele a deixou aberto. Meu tio não se
incomodou em trancar a porta esta noite. Isso era muito conveniente.
Lentamente, abri a porta e o encontrei sentado em sua enorme e
confortável poltrona. Parecia quase tão velho quanto ele.
Meu tio parecia velho. Rugas infestavam seu rosto, seu cabelo havia
sumido há muito tempo e seus olhos lutavam para permanecer abertos. Mas
ele não estava morto e com certeza nunca iria desistir de continuar
vivendo. Ele não foi pego desprevenido. Ele sabia que eu estava chegando.
Em sua mão, ele tinha uma arma e estava apontando-a para mim.
Meu tio não achava que esse seria o seu último dia, e havia outra coisa
que eu não entendi muito bem antes, mas que agora estava
percebendo. Seus olhos estavam cheios de uma raiva poderosa. Tinha
pensado que ele não se importaria nem um pouco em ser assassinado, mas
parecia que eu... havia estado errado.
Ele sabia que seu dia estava chegando. Ele sempre soube que alguém
viria por ele. Ele tentou acabar com sua vida tantas vezes antes. Ele era um
covarde e, ainda assim, eu o havia admirado antes, quando era criança. Que
merda estava pensando então?
Fechei a porta devagar e ele disse – Eduardo, que surpresa ver você
aqui.
Um momento de pausa excruciante. – Não é nenhuma surpresa na
verdade, não é?
Eu virei meus olhos para sua arma e depois de volta para seus olhos
frios. Ele sorriu. – Você sabe que nunca morreria sem antes lutar pela minha
vida.
– Acabou, tio. Você traiu a todos.
– Você não sabe nada.
– Eu sei o suficiente.
Um momento de silêncio enquanto minha mente ruminava o que
fazer. Não podia simplesmente apontar minha arma e atirar nele. Ele tinha
vantagem nisso. Eu precisava mantê-lo falando, e então ele cometeria um
erro. Eu sabia que ele iria. Afinal, ele era um homem muito velho.
Ele sorriu. – Olhe para você. Você cresceu muito.
– Cale-se.
– Você se tornou um homem.
– Cale-se.
– E estou tão orgulhoso de você.
– Cale-se! Cale a boca!
Ofegante, quase apontei meu Colt e cometi o pior erro da minha
vida. Eu poderia ter feito isso, poderia ter anunciado a todos na vizinhança
que algo terrível estava acontecendo aqui, e que eles deveriam chamar a
polícia.
– Você não é homem para isso, Eduardo. Vire-se, volte para seus pais e
me deixe aqui.
Eu me acalmei um pouco. Eu precisava. Eu não poderia deixá-lo me
tirar do sério.
– Eu não vou embora até terminar minha missão aqui.
– Então o que você está esperando? Me mate de uma vez.
Um momento de pausa. Ele estava brincando comigo. No momento
em que eu levantasse minha arma, ele atiraria. Eu sabia que ele iria. Meu tio
poderia ter me amado antes, mas todo aquele amor agora se foi. Apesar de
ser um velho que já tentou acabar com a sua própria vida antes, ele era
diferente e não ia deixar ninguém o matar.
– Você sabe de uma coisa? Eu não acho que você tem coragem para
fazer isso. Você não pode nem matar alguém como eu. Não consegue nem
apontar essa Colt em mim – ele riu.
– Você não sabe nada sobre mim. Eu mudei.
– Pode ser. Um pouco. Você nem tem barba nesse seu rosto. É quase
como a pele de um bebê...
– E você está a um passo de ir para o túmulo.
Ele deu uma risadinha. – Vejo que se tornou um pouco mais perceptivo
também.
Ele tossiu, e depois tossiu mais um pouco, abaixando a arma,
apontando-a para longe de mim e me dando a chance de fazer o que
queria. Imediatamente, levantei minha arma e apontei para ele. Eu ia puxar
o gatilho, mas os segundos dados a mim não foram suficientes para isso.
– Meu Deus, Eduardo. Você não achou que seria tão fácil assim, não é?
– Eu só preciso puxar o gatilho. Eu poderia fazer isso mais rápido do
que você.
– Então, por que não faz de uma vez?
Um momento de silêncio e ele continuou – Eu sei por quê. Você ainda
gosta de mim, não é? Você gosta do homem que traiu sua família. Você acha
que posso ser redimido ou alguma besteira assim?
– Não, eu não acho que você pode.
◆◆◆

Eu terminei o que vim fazer. Terminei minha missão e recebi a única


coisa de que precisava para provar que fiz isso. Seu anel de ouro. Uma
coisa preciosa e que meu chefe adoraria ver.
Parei o carro na frente do seu prédio, onde ele mantinha seu quartel-
general e comandava a maior parte das suas operações. Romano Russo
estava esperando todo esse tempo pela minha chegada e ele ia ficar feliz por
eu já ter o comprovante.
De agora em diante, eu faria parte da família dele e nunca mais seria
como todo mundo. Sua família era o que eu precisava. A única coisa que eu
tinha. A única coisa que ia garantir comida para mim e para os meus pais.
Olhei pela janela lateral do meu carro. Seu prédio estava meio que em
ruínas, embora em melhores condições do que aquele em que o meu tio
havia morado. Meus olhos avistaram alguns membros dos Russos
patrulhando o perímetro, e eu sabia que ele estaria acordado. Desde que
cheguei aqui, ele achava que eu tinha potencial e, por isso, esperava
ansiosamente pela minha volta.
Saí do carro, fechei a porta e entrei no prédio. Eu assenti e acenei com
a minha mão para alguns dos caras no prédio. Eles eram pessoas que eu
conhecia bem. Não era a primeira vez que vim aqui.
Entrei no elevador e ele me levou ao último andar do prédio. Cheguei
à sua porta, onde dois guardas a protegiam. – Sou eu, Eduardo – eu disse, e
eles assentiram, dando um passo para o lado.
Abri a porta e meus olhos pousaram nele. Romano estava sentado em
sua cadeira, fumando seu cigarro e olhando pelas grandes janelas do seu
quarto.
Ele virou sua cadeira para me encarar, revelando-me seu sorriso uma
vez que seus olhos pousaram no anel que eu segurava em minha mão. –
Chefe, está feito. Ele está morto.
– Bom – ele disse, seus olhos fixos nos meus. – Então, você é um dos
nossos agora. Volte para os seus pais. Eles vão adorar ouvir as boas novas.
◆◆◆

Parei o carro na frente de uma casa velha e pequena. Havia uma


pequena luz passando pelas janelas. Eu olhei a hora no meu relógio de
pulso, descobrindo que era pouco depois das duas da manhã. Puxa, eu
precisava dormir um pouco agora.
Depois de fazer o que fiz (concluir a minha missão) eu não tinha
certeza se conseguiria dormir. Havia tantas memórias que compartilhei com
o meu tio, e agora, ele se foi. Como se ele nunca nem tivesse existido... Sua
existência nunca significou muito para o mundo, e sua ausência significava
ainda menos.
Mamãe e papai ficariam surpresos, e eu já estava imaginando como
seus rostos ficariam quando descobrissem o que consegui fazer. Eu era um
Russo agora, e tudo ficaria bem de agora em diante. Afinal, os Russos
governavam Milão.
O que eu precisava, eu sempre conseguia. Nunca fui do tipo de homem
que desistia, e depois de saber que a vida normal não era para mim, que
acabaria trabalhando em um emprego sem futuro por anos sem ganhar o
suficiente, tudo que sabia era que precisava de outra coisa.
E essa outra coisa era se tornar membro dos Russos, da máfia italiana.
Eu respirei profundamente. Mamãe e papai não sabiam muito sobre o
que estava acontecendo, embora soubessem o suficiente para entender que
eu não trabalhava de noite. Nunca disse a eles muito sobre o que estava
fazendo, que estava trabalhando para a Máfia, e assim estava fazendo
porque queria mantê-los seguros.
Não sabia se Romano me aceitaria como um dos seus, mesmo depois
de acabar com a vida do meu tio. Agora que eu sabia que era um Russo, e
com a graça do próprio patrão, não tinha mais motivos para continuar
escondendo a verdade dos meus pais.
Eu sabia que eles não ficariam surpresos, mas também sabia que eles
ficariam felizes em saber que dinheiro nunca mais seria um problema para
nós.
Papai sempre foi um mecânico. Ele não ganhava muito dinheiro, mas
ganhava o suficiente para manter nossa família de pé. Mamãe já trabalhou
como empregada doméstica antes, mas não conseguia outro emprego. Nós
realmente precisávamos do dinheiro da família Russo e iríamos recebê-lo.
Saí do carro e abri a porta. Mamãe e papai estavam assistindo TV, e ela
foi desligada no momento em que perceberam que eu havia voltado. Eles
poderiam estar compartilhando um momento agradável e íntimo se não
estivessem tão preocupados com o que eu estava fazendo a esta hora da
noite.
Mamãe e papai pegaram suas mãos quando perceberam que eu estava
entrando, e eu só sabia que essa era a última vez que os estava deixando tão
preocupados.
Abri um sorriso largo e vitorioso. – Mamãe e papai, consegui!
Papai se levantou e se aproximou de mim, mamãe ficando no sofá. –
Eu entrei na família Russo. Eu faço parte da Máfia – complementei.
Seu rosto empalideceu. – Você fez o que?
– Vou trazer-nos dinheiro, todos os dias, e nunca mais teremos que nos
preocupar com isso de agora em diante. Vamos ficar ricos pra caralho!
◆◆◆

Achei que eles ficariam felizes com o que eu fiz, mas eles estavam...
preocupados que eu morreria. – Sua vida, meu filho, não é o que eu queria
para você – disse minha mãe, e não pude evitar de pensar que ela estava
errada.
Eles estavam errados. Todos estavam pensando que eu estava fazendo
algo terrível. Mas a máfia não era como as outras gangues. A Máfia era
diferente e eles eram os melhores dos melhores. Mesmo que mamãe e papai
não gostassem, eu ainda iria trazer dinheiro para eles.
– Pai e mãe, não acho que vocês entendam. Nós vamos ficar ricos pra
dedéu!
– A que custo? – Meu pai estava dizendo – você sabe o tipo de coisas
que vai fazer por eles?
– Eu sei o suficiente e trabalho para eles já há muito tempo, embora
sem ser considerado um deles.
– Se sim então, onde está o dinheiro que você vive mencionando o
tempo todo?
– Eu não fazia parte deles antes, como expliquei. Eu terminei uma
missão para eles esta noite, e agora o chefe me tornou parte da sua família.
Meu pai olhou para baixo, quase com vergonha. – Eu não posso
acreditar que você escolheu esta vida para você. Achei que tinha te ensinado
melhor.
– E assim fez – eu disse, colocando minhas mãos em seus ombros. –
Você me ensinou que não posso viver uma vida sem sentido.
Suas mãos empurraram as minhas para o lado e ele deu um passo para
trás, se distanciando de mim. – Não gosto nem um pouco disso, mas gosto
mais de você do que desaprovo da sua escolha. Não vou continuar esta
discussão.
E com isso dito, ele entrou em seu quarto. Minha mãe se levantou e se
aproximou de mim. – Filho, acho que você não entende. A máfia é perigosa
demais para você...
– Mãe…
– Eu já disse o que queria. Eu vou com seu pai. Estou apenas... feliz
por ele não ter te expulsado. Pense sobre isso. Ele te ama muito, e se você
puder, escolha outra coisa para sua vida.
Ela se virou e caminhou para o quarto deles, deixando-me sozinho
com meus pensamentos. Eu achei que eles ficariam contentes. Achei que
eles ficariam exultantes por eu finalmente ter um emprego de verdade. Eu
estava tão cansado dos que eu tive antes. Trabalhar em uma mercearia,
consertar eletrônicos, ligar para pessoas em um call center. Essas coisas não
eram para mim.
Fiquei olhando enquanto ela fechava a porta. Eu não os odiava por
isso. Como eu até poderia? Eu sabia que eles iriam mudar de opinião,
eventualmente. Mamãe e papai me amavam e nada iria mudar isso. Eu
deveria ter sido mais cauteloso e menos feliz com o meu anúncio, mas isso
não importava mais, e eu tinha algo mais importante para fazer agora, de
qualquer maneira.
Minha vida de agora em diante seria totalmente diferente, e eu
precisava de uma boa noite de sono antes de aparecer lá novamente. Eu
tinha certeza de que Romano tinha muitos planos para mim.
◆◆◆
Meus olhos se abriram e fui agraciado por uma manhã morta lá
fora. Sem sol, apenas nuvens. Mais e mais nuvens, todas se juntando para se
tornar uma, bloqueando a maior parte da luz do sol. Todas as cores
pareciam desbotadas, como se o mundo me odiasse.
E eu tinha algo a confessar. Sentei-me na beira da cama em que estava
dormindo, e ao meu lado estava a mulher da minha vida. Eu a amava, mas
não podia continuar com isso. Ela não sabia o mais importante sobre mim.
Era algo que estava escondendo. Anos se passaram desde que entrei na
Máfia, acabei com a vida do meu tio e, desde então, descobri que tinha
câncer de pulmão. Não deveria ter fumado tanto quanto fiz. Mas como não
poderia ter caído na tentação?
A vida de um idiota da máfia, que era o que eu era, não era fácil. Fui
enganado por alguns dos meus ‘amigos’. Todos disseram que eu teria todo o
dinheiro que pudesse desejar e que nunca mais teria com que me preocupar.
Eles eram idiotas. O dinheiro sangrento tinha uma maldição, e eu já o
odiava.
O câncer não passou de um castigo pelo que fiz. Meu tio morreu
acreditando que eu seria um grande homem. Ele sorriu quando atirei nele,
quase parecendo aliviado e grato por eu ter feito isso.
Felizmente, fui curado, mas a um grande custo. Eu nunca mais poderia
engravidar uma mulher. Meus testículos ainda produziam esperma, mas não
era suficiente. O volume e a densidade não foram suficientes para fazer uma
mulher ter um filho meu.
E Ileana não merecia um homem como eu. Ela disse repetidamente
que queria um filho nosso. Sempre evitei o assunto. Era muito doloroso
para mim, mas agora que fizemos sexo sem preservativo pela primeira vez,
eu estava olhando para ela e pensando que ela precisava saber a verdade.
Seus olhos começaram a se abrir e eu tomei uma decisão. Eu contaria
tudo a ela hoje. Só não agora, mas hoje, ela aprenderia a verdade e eu iria...
terminar com ela.
Ela se sentou na cama lentamente e disse – Amor, por que você parece
tão preocupado com algo?
Eu sorri e acariciei sua coxa. – Nada. Vou fazer um café da manhã para
nós.
Levantei-me e fui para a cozinha, abri a geladeira e vi o que tínhamos
para o café da manhã. Eu precisava pensar um pouco mais. Se eu ia dizer a
ela que precisávamos nos separar, ela precisava ter certeza de que não era
por causa dela. Minha explicação tinha que ser perfeita.
Terminei de preparar o café da manhã e fui para o quarto dela. Ela
tinha bochechas pálidas, parecendo com muita fome. Enquanto isso, dei
pequenas mordidas na comida em meu prato. Eu não tinha estômago para
comer muito agora, e Ileana percebeu isso.
– Querido, há algo de errado?
Coloquei o prato em cima da mesa de cabeceira e disse – Tenho algo
importante para lhe contar.
Capítulo 2
Elsa

Abri a porta e a encontrei. Minha garotinha. Ela era tão bonita e estava
dormindo profundamente agora. Que coisa incomum, no entanto. Ela
sempre fazia um pequeno barraco em noites calmas como essa.
A sala estava escura, assim como o corredor atrás de mim. Acordei no
meio da noite para tomar um copo de leite. Minha garganta estava tão
seca. Eu odiava sempre que acordava e tinha que sair da cama. Eu preferia
dormir por horas a fio, mas sabia que o meu corpo não funcionava assim.
Aproximei-me do berço e coloquei minhas mãos no topo da
grade. Minha filhinha usava um macacão rosa, e a sua chupeta tinha
escorregado da boca. Eu não a via tão em paz assim há muito tempo.
Desejei que seu pai ainda estivesse conosco, e só de pensar nele já
sentia o meu coração apertado. Ele morreu alguns anos atrás, antes mesmo
de ela nascer. A vida de uma família da máfia não era fácil. Era horrível, na
verdade. Se havia uma coisa que eu mais desejava agora, era ficar longe de
tudo.
Para viver uma vida normal, sem todas as mortes, extorsões e coisas
do tipo. Eu precisava de um ar novo e fresco em minha vida, e também de
alguma luz no fim desse túnel existencial em que me encontrava. Não
conseguia continuar vivendo assim. Para o bem da minha filha, eu iria, um
dia, encontrar uma maneira de fugir desta vida mafiosa.
Eu acariciei sua testa suavemente. Eu não queria acordá-la
agora. Minha garotinha parecia estar tão em paz. Ela era tão inocente, e eu
queria que ela nunca mudasse. Eu queria que ela sempre fosse inocente,
para que ela nunca tivesse nada com que se preocupar.
Mas isso era mais fácil dizer do que fazer. Com um pai como o meu,
eu nunca poderia mantê-la a salvo de sua vida, de seus inimigos e de todas
as pessoas que queriam nos machucar.
Meus ouvidos captaram um ruído estranho que soou do lado de
fora. Eu estava em minha casa e, como não tínhamos paredes ao redor, o
som poderia ter sido de qualquer coisa. Estava pensando que era apenas um
esquilo buscando o que comer. Não seria a primeira vez, afinal de contas.
Eu acariciei a testa da minha garotinha mais uma vez, e meus ouvidos
captaram o mesmo barulho, mas foi mais alto desta vez. Endireitei minha
espinha, me perguntando se algo estava acontecendo. Será que alguém
estava lá fora?
Mas ninguém sabia que eu morava aqui. Meus vizinhos e pais sim,
mas ninguém que pudesse nos machucar. Meu pai nos mantinha seguros. Eu
sabia que a vida dele era perigosa, mas ele nunca vinha aqui e, quando
queria nos ver, sempre nos fazia ir até ele.
A janela foi quebrada de repente, me fazendo dar um grito. Um
homem pulou através dela e ele usava uma máscara de esqui preta. Meu
Deus, ele veio aqui para matar a mim e a minha filha bebê, não foi? Não
podia ficar aqui sem fazer nada. Eu precisava matá-lo o mais rápido
possível.
Peguei uma vassoura que estava perto de mim e, apontando para o
homem, disse – Afaste-se de mim! Afaste-se desta casa agora, ou eu...
– Vai fazer o quê, princesa? Eu sei que você não é forte o suficiente
para fazer qualquer coisa agora.
O que aconteceu com os guardas que protegiam minha casa? Eles
foram mortos? Meu Deus, eu deveria saber que isso iria acontecer um
dia. Eu deveria ter exigido que meu pai me deixasse ir, para me deixar
encontrar um novo lugar para morar.
Mas estava claro que ele nunca teria concordado com isso. Ele tinha
outros planos para mim, para minha filha bebê e, embora eu o amasse,
também o odiava da mesma forma. Seus planos para o que eu deveria me
tornar... Eu nunca deveria ter deixado o meu amor por ele falar mais alto.
E agora, tudo estava acabado, a menos que eu encontrasse uma
maneira de deixar esse homem inconsciente ou matá-lo.
– Vou proteger minha família! – Eu gritei, ofegante.
Ainda apontando a vassoura para o homem cuja máscara de esqui
cobria seu rosto, me aproximei dele. Eu estava feliz que minha filhinha,
minha Regina, ainda não tinha acordado. Eu não queria ver ela
chorando. Não agora. Isso seria terrível.
– Mulher, eu não me importo com você nem um pouco. Eu vim aqui
por ela, e você vai se afastar agora.
– Eu não vou-
E então, algo pesado atingiu minha cabeça, fazendo com que uma
escuridão envolvesse minha visão. Lutei para manter o equilíbrio, para
continuar segurando a vassoura, mas meu corpo inteiro agora parecia tão
pesado e minha cabeça doía tanto...
Eu finalmente caí, meu corpo incapaz de responder às minhas ordens
agora, mas não antes de notar algo terrível. O homem que entrou em minha
casa não estava sozinho...
◆◆◆

Acordei com a minha cabeça ainda doendo muito. Eu me levantei e


meus olhos pousaram no vazio e no berço sem a minha bebezinha. Eles a
pegaram. Eles roubaram minha Regina de mim, e eles iam pagar por
isso. Eu precisava fazer algo. Eu precisava ligar para meu pai.
Corri para fora do quarto dela e peguei o telefone. Eu disquei seu
número e esperei que ele atendesse a ligação, meu pé batendo no chão. Ele
tinha que saber sobre isso, e ele tinha que admitir que precisava me deixar
sair da sua vida na máfia. O que aconteceu foi a gota d’água.
Ele atendeu a ligação finalmente e disse – Elsa, aconteceu alguma
coisa?
– Pai, eles a sequestraram! Eles roubaram Regina de mim!
– O que?!
– Eles a pegaram. Eles invadiram minha casa e a sequestraram.
– Como assim? Quem fez isso?
– Eu não sei. Alguns homens com máscaras de esqui pretas. Você
precisa fazer alguma coisa. Você precisa salvá-la!
– Eu vou. Droga! Deveria ter colocado mais homens para protegê-la...
– Eles estão todos mortos, pai. Você deveria ter me deixado viver
longe de você. A morte de Alberto não foi o suficiente para te fazer
entender isso?
Ele respirou profundamente. – Elsa, já conversamos sobre isso e não
vou começar essa discussão com você agora. Eu vou encontrá-la. Não se
preocupe.
Eu sacudi minha cabeça. – Você não tem ideia do que está acontecendo
e nem consegue descobrir quem foi. Já estou acabando com isso agora. Não
sou mais um Zettici – disse antes de encerrar a ligação e colocar o fone de
volta no gancho.
Estava tudo perdido, não estava? Como eu iria descobrir quem fez
isso? Quem sequestrou minha filha? Quem poderia ter feito uma coisa tão
terrível? Qualquer um poderia ter feito isso. Minha família tinha tantos
inimigos.
E meu pai ainda insistia em me manter como parte disso tudo. Ele
tinha um plano para mim e eu tinha certeza de que estava apaixonado por
ele. Ele estava alucinando com isso. Eu o amava, mas ele deveria saber que
isso iria acontecer um dia. Ele pensou que eu ficaria segura aqui, e ele
estava errado. Nunca estive segura neste lugar.
Encostei-me na parede e deslizei, sentando-me no chão. Eu chorei, e
chorei demais. Eu não sabia o que fazer agora. A única coisa que me
impedia de me matar neste exato momento era pensar que, talvez, eles
ligassem.
Talvez quem fez isso ligaria logo. Talvez eles fossem pedir dinheiro ou
algo do tipo e, então, dariam a minha filhinha de volta. Lembrei-me de
todos os bons momentos que tive com ela, pensando que precisava, mais do
nunca, tê-la de volta comigo.
Eu me levantei e saí de lá, meus olhos avistando os cadáveres dos
meus guardas. Eu não iria deixá-los escapar impunes. Eu iria encontrá-los,
fossem quem fossem, e iria matá-los.
◆◆◆

Parei o carro na frente do seu prédio decadente. Já havia passado


algum tempo desde o sequestro e me sentia um pouco melhor. Não melhor a
ponto de ignorar o que aconteceu, mas eu senti que podia me controlar um
pouco agora.
A memória do que aconteceu ainda me assombrava, e eu nunca iria
superar isso. No entanto, se havia uma maneira de ter minha garotinha de
volta, era ficando calma e pensando melhor sobre o que aconteceu.
Entrei no prédio e ignorei seus homens. Todos eles estavam me
chamando, tentando me impedir. Mas ninguém iria me impedir de
verdade. Eu tinha uma missão agora e eu era uma parte importante
dela. Papai e eu íamos salvá-la.
Eu ignorei mais alguns de seus homens e empurrei-os para poder abrir
caminho. Ninguém iria me impedir. Eles poderiam continuar tentando o
quanto quisessem, mas meu pai não iria me ignorar. Eu tinha que fazê-lo
entender. Se havia um momento para fazer isso, era agora.
Eu bati a porta do seu escritório decadente, e ele girou sua cadeira para
me ver. – Elsa, o que você está fazendo aqui?
– Pai, o que você está fazendo agora? Você não deveria estar tentando
resgatar minha filha?
– Meus homens já estão procurando por ela. Eles vão encontrar a
Regina sim. Estou tão preocupado quanto você.
– Isso não é suficiente! – Eu soquei sua mesa.
Seus guardas correram para a sala e um rápido olhar do seu chefe os
acalmou. Melhor assim. Eu não precisava de ninguém interferindo nisso,
ficando no meu caminho agora. Papai iria concordar comigo, e ele não iria
apenas encontrar a Regina. Ele também nos deixaria viver uma vida mais
segura.
– É o suficiente por agora. O que você quer que eu faça? Invadir todas
as casas de Milão e matar todo mundo?
– Você precisa fazer mais! Essas pessoas-
E seu telefone fixo tocou. Sua mão saltou para ele, e ele levou o fone
ao ouvido. – Sim, quem é?
Um momento de pausa e pude ouvir alguém falando do outro lado da
linha. Eu não consegui entender as palavras, mas considerando a vida dele,
a reputação do meu pai, poderia ser qualquer um, e o homem que
sequestrou Regina poderia ter feito isso com uma única intenção. Para me
machucar, para fazer meu pai sentir dor e também para fazê-lo entender que
ele estava tão vulnerável quanto todo mundo.
Seus olhos ficaram ferozes. – Quanto?
Outra pausa enquanto ouvia a pessoa do outro lado. Porra, quem
era? Eu precisava saber, e ele manteve seu rosto sério demais, como se isso
fosse nada mais do que um simples telefonema para um membro da máfia,
e como se não tivesse nada a ver com minha filha ...
– Ok, assim será feito – disse ele antes de colocar o fone de volta no
gancho.
– Pai, quem era!? Eu preciso saber. Eu preciso salvar minha Regina!
– Foram eles. Eles querem dinheiro. Nada mais do que isso. Mas eles
querem... muito dinheiro.
– Você não pode estar pensando que não vai dar a eles o que eles
querem!
Ele se levantou e colocou o braço em volta dos meus ombros. – Elsa,
isso é mais complicado do que está pensando.
Eu o empurrei. – E-eu não posso acreditar nisso. Você está dizendo que
o dinheiro é mais importante do que a vida da minha filha!?
– Elsa- Ele disse, mas eu já estava girando nos meus calcanhares e
correndo para fora do seu escritório. – Elsa! – Ele gritou, mas eu o ignorei.
Eu estava irada quando cheguei aqui, e agora estava desmoronando por
dentro. Achei que poderia contar com ele para uma coisa, mas estava
errada. Papai estava mais preocupado com sua vida, sua carreira e seus
capangas da máfia, em vez de tentar salvar minha filha.
Eu estava por aqui com ele. Eu iria encontrá-la de alguma forma. Eu
estava...
Alguém agarrou meu braço com força, me fazendo virar a cabeça para
descobrir quem era. Meus olhos pousaram em ninguém menos que meu pai,
cuja preocupação permeava seu rosto. Eu sacudi meu braço. Não conseguia
parar de sentir ódio por ele. Ele me traiu.
– Elsa, você não me deixou terminar.
◆◆◆

Eu me encontrei dentro de seu escritório novamente. Tudo bem, ele ia


dar o dinheiro a eles, mas havia outra coisa que ele iria me dizer. Eu estava
com os meus braços cruzados sobre o meu peito, mostrando a ele que eu
não mudaria de ideia. Eu faria parte de tudo o que aconteceria de agora em
diante, e ele faria todo o possível para salvá-la.
– Elsa, você não pode ir conosco.
– Por que não? Eu quero estar lá.
– Você só pode estar de brincadeira. Você não tem ideia do tipo de
coisa que vai acontecer lá.
– Eu sei o suficiente. Eu só quero salvá-la.
– Regina vai ficar bem. Não se preocupe. Vou garantir que ela volte sã
e salva.
– Não vou ficar aqui sem fazer nada.
– Elsa...
– Já tomei minha decisão e você não vai mudar isso.
– Deus, você está complicando tudo ainda mais.
Ele respirou profundamente e continuou – Tudo bem, vou deixar você
vir, mas não vou deixar você sair do carro. Eles não podem saber que você
vai vir junto.
Descruzei meus braços, respirando mais devagar agora. – Ok, assim
está melhor. Eu só a quero de volta.
Ele me abraçou e, enquanto acariciava minha nuca, disse – Vou fazer
todo o possível para trazer Regina de volta.
◆◆◆

Fiquei dentro de um carro, pensando no que iria acontecer. Eu estava


roendo minhas unhas. Isso estava acontecendo no dia seguinte, e estava
chovendo do lado de fora. Ontem à noite foi um pouco tranquila, mas esta
seria completamente diferente.
Eu deveria saber que eles viriam atrás dela um dia. Eu ainda não sabia
quem eles eram, mas deviam ser de outra família da Máfia. Essa era a única
explicação que fazia sentido.
Eu não poderia simplesmente ficar aqui sem fazer nada, e meu pai não
trouxe homens suficientes com ele. Ele deveria ter trazido todos eles. Ele
deveria ter dado a eles a ordem de matar os seus inimigos assim que
aparecessem. Mas eu sabia por que ele estava sendo cauteloso e jogando o
jogo deles. Ele não queria colocar a vida de Regina em risco.
O homem sentado ao meu lado disse – Elsa, não se preocupe. Eu sei
que não te conheço, mas ela vai ficar bem. Ele a trará de volta.
– Cale-se! Você não tem o direito de dizer como deveria estar me
sentindo agora.
Talvez aquele cara tinha boas intenções, mas eu não deixaria ninguém
dizer como deveria estar me sentindo. Eu estava farta de tudo isso. Mesmo
que papai não me permitisse sair da Itália, eu faria isso de qualquer
maneira. Eu iria encontrar um novo lar em outro lugar, e então a Máfia não
seria nada além de uma memória do meu passado.
Papai e seus homens desceram dos carros e foram em frente. A reunião
estava ocorrendo em um parque desolado e esquecido em um bairro
pobre. A maioria das casas e prédios eram velhos demais, e seus residentes
estavam dormindo profundamente agora, sonhando e não tendo a menor
ideia sobre o tipo de coisa que estava acontecendo aqui.
Meu pai e seus homens abriram seus guarda-chuvas e caminharam em
direção ao ponto de encontro. Enquanto isso, eu estava preocupada demais
com tudo. O que iria acontecer aqui? Meu pai tinha seus homens, e eles
carregavam suas malas com o dinheiro, mas eu ainda estava preocupada.
A última coisa que eu precisava aqui era um tiroteio. Eu queria matar
aqueles homens, e especialmente matar aquele que roubou meu bebê, mas
também sabia que um tiroteio seria ruim. Os homens que a haviam tirado de
mim ainda não vieram, mas eu tinha certeza que eles iriam usá-la como
escudo. Eles sabiam que meu velho tentaria matá-los aqui e agora.
O tempo passou e meu coração batia rápido demais. Continuei a roer
minhas unhas. Porra, eu precisava fazer algo que não fosse ficar esperando
aqui, como se nada de importante fosse acontecer.
E quando pensei que teria que ficar aqui, sem fazer nada, por alguns
minutos até que eles finalmente aparecessem, meus olhos avistaram um
carro dobrando uma esquina do parque. Parou e de lá saíram homens
vestidos com ternos escuros.
Tinha que ser eles. Quem mais viria aqui vestido assim, com rostos
sérios, e trazendo suas armas com eles? Eram eles, e quando notei um deles
levando minha filha junto, todas as minhas dúvidas se dissiparam.
O homem ao meu lado agarrou meu braço e disse – A reunião já
começou e não posso deixá-la sair do carro. Logo terá sua filha de volta.
Eu puxei meu braço até que estivesse livre. – Não fale comigo de
novo. Te odeio. Eu odeio todos vocês.
Eles caminharam com minha garota em uma cesta, e mesmo daqui
com essa chuva torrencial, eu podia vê-la. Minha filhinha estava com eles, e
eu só queria saber se ela estava bem mesmo.
Graças a Deus eles também tinham guarda-chuvas e a estavam
protegendo da chuva. Eu me perguntei se eles a alimentaram bem, deram-
lhe leite e a acalmaram quando percebeu que sua mãe não estava com ela.
Eu queria estrangular aqueles homens. Eles não eram nada mais do
que idiotas que pensavam que poderiam se safar de qualquer coisa. Bem,
disso não iriam. Meu pai descobriria quem eles eram e depois iria matar
eles, um por um.
Eles pararam e a reunião começou. Eu estava orando por apenas uma
coisa. Eu queria que a reunião fosse curta. Sem discussões, sem arranjos
engraçados, apenas trocando o dinheiro pela minha garota.
Eles conversaram um pouco mais e eu gostaria de estar lá com
eles. Guarda-chuva ou não, chuva ou não, eu queria estar fazendo parte
daquilo. Mas eu confiava no meu pai. Achei que ele não se importava com
minha filha, mas me enganei. Ele estava fazendo de tudo para tê-la de volta.
Eu bati no painel frontal do carro com o meu pulso. Eu não podia
esperar que isso continuasse mais.
– Calma, Elsa. Ela está voltando. Olha.
Ele apontou para eles e eu levantei minha cabeça, descobrindo que ele
estava certo. Meu pai estava com a cesta dela e a estava trazendo de
volta. O tempo ficou mais curto de repente. Ela estava voltando. Eu mal
conseguia me controlar quando...
Um tiro cortou a chuva e o ar, matando um dos homens que traziam a
minha filha.
Meus olhos avistaram um gesto de mão do meu velho, e outro tiro
distante soou novamente, derrubando outro de seus homens. Eu estava
longe deles, mas ainda conseguia ouvir seus gritos e ordens.
O tiroteio estava tornando tudo isso em um caos e a minha filha estava
em perigo. Esses homens estavam reagindo e atirando de volta. Árvores e
paredes protegiam meu pai e a Regina, mas tudo podia acontecer, e tudo
que eu sabia agora era que precisava fazer algo.
Saí do carro rapidamente, evitando a mão do homem ao meu lado. Ele
tentou me impedir, mas fui rápida demais. A chuva estava encharcando as
minhas roupas enquanto disparava até o meu pai.
Seus olhos me encontraram, sua boca se abrindo para dizer algo
quando um tiro cortou o ar e ele caiu. Eu deveria ter parado no meio do
caminho, deveria ter me escondido, mas continuei correndo da forma que
podia.
Sua mão agarrou seu peito e sangue escorreu por entre os seus
dedos. Alguém atirou nele, e não foi alguém que estava próximo. Foi uma
outra pessoa muito, muito longe. Eu ouvi o tiro e realmente não veio de
perto.
Eu o segurei e percebi que os seus homens ainda estavam lutando
contra os seus inimigos, aqueles que roubaram a minha filha. Ele
gentilmente colocou a cesta com a minha filhinha no chão e, em seguida,
estendeu a mão para mim.
– Elsa, me desculpe, mas tive que fazer isso assim.
– Calma, não fale agora. Vou te levar ao hospital e vai ficar tudo bem.
Sangue jorrou de sua boca, me fazendo ofegar. Ele estava
morrendo. Eu precisava fazer algo para salvá-lo.
Eu ia me levantar quando ouvi uma bala atingindo a parede perto de
mim. Meu coração deu um salto. Se eu não fizesse algo agora, seria morta e
todos os meus esforços para salvar a minha filha seriam em vão.
– Elsa, vá embora! – Ele gritou, gesticulando com a sua mão para que
seus homens fizessem algo. Mais deles avançaram, suas armas disparando
em todas as direções. Ele trouxe mais de seus homens com ele e planejou
tudo isso desde o início, percebi.
Meu pai não esperava que ele fosse baleado. Ele achava que tinha tudo
sob controle. Esse era o seu plano. Consistia em trazer Regina de volta e
matar as pessoas que pensavam que poderiam escapar sem consequências
terríveis.
Notei alguns de seus homens fugindo, suas mãos pegando as malas
com dinheiro. Eles iam fugir e eu sabia que o dinheiro dele era importante
para meu pai. Ele precisava dele para manter sua família mafiosa pujante.
Sem esse dinheiro, eles poderiam perder toda a força que tinham.
Mas não havia nada que eu pudesse fazer a respeito do dinheiro, então
me concentrei em tirá-lo de lá. Coloquei seu braço por cima do ombro e,
segurando a cesta do bebê, levantei-o, sentindo o peso do seu corpo, mas
não a ponto de me fazer pensar que não conseguiria voltar para o carro.
Quando levantei minha cabeça para olhar para frente, meus olhos
avistaram o motorista do carro, que estava correndo em minha direção, sua
arma disparando contra todo mundo. Ele chegou até mim e disse – Vou
levar o chefe ao hospital. Fique perto de mim e cuide dela.
Coloquei a cesta do bebê na minha frente e corri com ele, balas
cortando o ar, quase matando a mim e a ele. O tiroteio era intenso e, embora
a polícia não viesse muito aqui, eu sabia que, desta vez, viria.
Luzes nos prédios e casas se acenderam, e eu tinha certeza que aquelas
pessoas estavam cagando de medo do que estava acontecendo aqui. E,
quanto a mim, tudo que eu sabia era que precisava dar o fora da Itália e
nunca mais voltar.
Eu vou...
E uma bala cortou o material da cesta de repente, matando o choro da
minha bebê. Eu olhei para baixo. Não, não, não. Isso não poderia estar
acontecendo.
Sangue escorria do buraco feito na cesta, e tudo que eu estava orando
agora era para que ela chorasse de novo. Mas quando eu olhei para ela, seu
lindo rosto angelical, eu vi o que aconteceu e a minha visão ficou turva.
Perdi a força que tinha. Isso não poderia estar acontecendo. Não, não,
não. Não aqui, não agora. Assim não. Eu fiz de tudo para salvá-la. O que
estava acontecendo aqui? Isso não poderia-
E eu perdi a última gota de força que eu tinha, caindo no chão, meu
corpo se tornando algo que eu não tinha mais controle sobre. Ouvi alguém
gritar, mas não me importei se eles estavam preocupados comigo.
Senti um par de mãos em mim, me arrastando para algum lugar, mas,
neste momento, não me importava com quem estava me levando e para
onde.
Eu só queria morrer.
Capítulo 3
Elsa

Meus olhos se abriram e me vi dentro de um quarto de hospital frio e sem


graça. Virei minha cabeça para o lado e encontrei meu pai.
Calma aí, meu pai estava vivo?
Ah, e sendo esse o caso, devia ter sonhado com o que aconteceu. Mas
então, meus olhos avistaram as bandagens que foram colocadas em seu
torso, cobrindo o local onde ele foi baleado. Como ele sobreviveu?
Minha bebezinha.
Sentei-me na cama rapidamente e meu coração deu um salto.
– Ei, ei, Elsa. Acalme-se – ele disse, suas mãos tentando me deixar
menos nervosa com isso.
– Onde está minha filha?!
Seus olhos baixaram e ele não disse nada. Essa era a única resposta
que eu precisava. Tinha realmente acontecido. Eles a mataram. Perdi a
única coisa que ainda importava na minha vida.
Senti uma sensação enorme e dolorosa no meu coração, como se
alguém o estivesse apertando com as duas mãos. Não poderia ter
acontecido. Não com a minha filhinha. Não com ela. Ela era a única razão
pela qual eu ainda estava viva e não pensava em cometer suicídio quando
meu marido fosse morto.
Senti meus olhos lacrimejarem e meu pai procurou pela minha
mão. Mas eu esbofeteei sua mão. Eu não queria falar com ele agora. Depois
do que aconteceu, não havia mais nada que eu pudesse fazer. Estava tudo
perdido. Minha bebezinha se foi.
E isso aconteceu graças ao que ele fez. Ele atirou neles quando não
precisava. Ele colocou o bem-estar da sua família mafiosa acima do meu e
da minha filha. Ele pensou que poderia matar todos eles e que seria fácil
assim.
– Elsa, deixe-me explicar...
– Não. Saia daqui. Eu não quero falar com você.
Lentamente, com relutância, ele se levantou e foi embora. Eu ouvi a
porta se fechando e então enterrei minha cabeça nos travesseiros. Minha
bebezinha se... foi. O que vou fazer da minha vida agora?
◆◆◆

Eu estava no prédio mais alto de Milão, o vento soprando com força e


jogando meu cabelo para cima. O céu noturno estava claro e eu podia ver as
estrelas como nunca as tinha visto antes. Havia paz e tranquilidade agora.
Lembrei-me da minha Regina. Ela não tinha nem 3 anos quando a
tiraram de mim. Não foi o suficiente que a sequestraram, eles tiveram que
matá-la também. Bem no momento em que a estava trazendo de volta na
cesta, quando pensei que conseguiria escapar daquele tiroteio terrível...
Mas eles não tiveram compaixão quando cometeram aquele
crime. Bem, para ser mais honesta comigo mesmo, provavelmente foi uma
bala perdida que a atingiu. Eles provavelmente nunca quiseram matar a
minha filha. O alvo deles era meu pai, que felizmente sobreviveu.
Fui ao enterro dela e não conseguia nem me lembrar mais de como
morreu. Foi horrível, mas pelo menos não sentiu nenhuma dor. Apenas um
tiro, e isso a matou rapidamente e sem fazê-la sentir nada.
Essa era a única coisa que me confortava agora, mas eu já tinha
desistido da minha vida. Eu não poderia mais viver assim. Eu precisava
morrer, encontrar um pouco de paz e não existir mais. Eu não acreditava em
religião e não achava que iria para o céu.
Mais provavelmente, eu iria para o inferno. Esse era um lugar
adequado para alguém como eu. Eu deveria ter sido mais corajosa. Deveria
ter escapado do meu pai e ido com meu marido onde ele disse que iria me
levar.
Mas eu não fiz isso. Eu não pude abandonar o meu pai, mesmo já o
odiando desde então. A verdade era muito simples. Eu o amava.
Bem, isso foi naqueles tempos. Eu não tinha nada além de
ressentimento por ele agora. Ele foi o principal responsável pela morte da
minha Regina, teve sorte e sobreviveu.
Quão injusto era este mundo, e por que eu deveria continuar a viver
nele?
Olhei para a rua abaixo e um pensamento tentador passou pela minha
cabeça. Eu poderia acabar com meu sofrimento agora. Só precisava ter
certeza de que minha cabeça bateria no chão primeiro, e então eu não
sentiria dor.
Bem, mesmo que eu sentisse dor, não seria por muito tempo. Disso eu
tinha certeza.
E então, tomei uma decisão.

Eduardo

A familiaridade desta estrada e da cidade à distância assaltou minha


mente. Fazia anos que eu não pegava essa estrada para ir a lugar
nenhum. Era o tipo de estrada que muitas pessoas não usavam mais, e sabia
porque isso era assim. Eles construíram uma rodovia não muito longe
daqui, e era possível ir muito mais rápido nela.
Quanto a mim, preferia seguir por este caminho às vezes. Era meio
rural e muito tranquilo. Neste lugar, eu poderia pensar sobre minha vida.
Eu terminei com Ileana, e isso ainda me consumia por dentro. Nunca
pensei que ficaria infértil, mas também não podia continuar sendo seu
namorado. Ela achava que teríamos uma ótima vida juntos. Casada, com
filhos e tudo, mas essa última coisa eu nunca poderia dar a ela.
Eu tinha dinheiro e me esforçava na vida da máfia. Eu era muito bom
no que fazia. Por muito tempo, eu odiava ficar temendo tanto pela minha
vida, mas acabei aprendendo que esta vida era para mim.
Eu tinha dinheiro mais do que suficiente agora, embora não o
suficiente para dizer ‘foda-se’ para a máfia aqui em Milão e encontrar um
lugar melhor para morar. Eu precisaria encontrar um lugar onde a máfia
nunca seria capaz de me encontrar.
De qualquer forma, esse era o tipo de coisa que eu não podia fazer
agora. Eu gostava dessa vida e queria servir ao meu chefe. Romano era um
bom homem e sabia o que era necessário para ter sucesso neste mundo.
Virei em uma esquina e ia continuar dirigindo por esta estrada quando
meus olhos encontraram um carro parando. Uma mulher (e muito bonita,
aliás) saiu de lá e parecia perturbada, seu pé chutando vento.
Eu parei ao lado dela e saí. Ela me notou e, depois de colocar os
punhos na cintura, disse – Ei, você pode me ajudar com isso?
– Claro – eu disse antes de abrir a frente do seu carro, uma nuvem de
fumaça branca saindo dele.
– Acho que é um caso perdido – disse ela, verificando o motor.
– Não, acho que não, e acho que posso consertar.
– Sério? – Ela perguntou com olhos arregalados.
– Sim, sim – respondi, sorrindo.
Ela era uma mulher de beleza notável, e até pensei em perguntar o
nome dela, mas deixaria isso para depois. Eu disse que ia consertar o motor
dela e não menti.
Fucei no motor por alguns minutos, chegando a um ponto em que tive
que limpar o suor da minha testa. O sol estava muito quente. Tinha que
agradecer ao verão por ser assim, pensei antes de retomar o meu trabalho.
– Tem certeza que não vai demorar muito? – Ela perguntou.
Eu sorri e disse – Não, não vai demorar muito.
Minutos se passaram e eu finalmente consertei seu motor. Fechei o
capô e, com um sorriso no rosto, disse – Pronto. Tudo terminado.
Ela caminhou até mim e disse, parecendo um pouco envergonhada de
alguma coisa – Eu nem me apresentei. Me chamo Elsa.
Ela estendeu sua mão, que eu peguei e apertei. – E eu sou o Eduardo.
Capítulo 4
Elsa

Fiz o aperto de mão durar um pouco mais do que deveria. Esta não era uma
introdução normal. Eu não sentia algo assim por um homem há muito
tempo, e havia algo nele que o tornava diferente dos outros homens que
viviam aqui.
Terminamos o aperto de mão e eu disse – Obrigado por me ajudar com
isso, mas não posso deixar você ir agora assim. Que tal tomar algo
comigo? Quero te agradecer.
Ele esfregou a sua nuca. – Não precisa fazer isso.
– Mas eu insisto. Venha comigo. Eu conheço um bom lugar aqui.
Ele parecia um tanto hesitante, mas concordou mesmo assim. Entrei no
carro e dirigi com ele até um restaurante pequeno e agradável a alguns
quarteirões da estrada. O lugar não tinha uma atmosfera romântica nem
nada do tipo, mas parecia muito amigável. Era uma das poucas coisas que
ainda gostava daqui de Milão.
Desde que fui convencido a não acabar com a minha vida, fui ficando
cada vez menos jubilosa. Só não tentei me matar porque meu pai parecia
muito preocupado naquele dia. Ele chorou na minha frente, e isso era algo
que eu não o via fazendo há muito tempo.
Eu tinha que parecer feliz para o Eduardo. Ele parou e consertou meu
carro quando não precisava. Ele não tinha nenhum motivo para me ajudar, a
não ser pelo fato de que era um cavalheiro.
Mesmo estando deprimida, não pude deixar de admitir que ele era
bonito. Eduardo não era apenas um homem culto que sabia como uma
mulher deveria ser tratada, ele também tinha a aparência para complementar
isso. Apesar disso, havia algo em seus olhos que me contava uma história
diferente.
Todos nós tínhamos nossas feridas, nossos problemas, mas os dele
pareciam ser muito profundos. Talvez era algo que pudéssemos
compartilhar, mas ele sendo um estranho tornava impossível para mim falar
sobre meu passado agora.
Pedi as bebidas e me sentei na frente dele. Conseguimos uma bela
mesa com apenas duas cadeiras, e ele tentou parecer estar feliz. Eu sabia
que era só de fachada, no entanto. Ele só não queria parecer triste quando
deveríamos estar compartilhando um momento agradável e amigável juntos.
– Então, você mora aqui? – Eu perguntei.
Eu não sabia para onde isso estava indo, mas não ia falar sobre nada
sério com ele. Eu estava curioso. Nada mais do que isso.
– Sim.
Conversamos um pouco, até que o conheci um pouco melhor, mas ele
evitou alguns assuntos que pareciam magoá-lo muito. Não dei muita
importância e decidi me levantar e dizer – Foi um prazer conhecê-lo e
muito obrigada por me ajudar com o meu carro.
Ele sorriu, tirou o pó das calças e disse – Não foi nada. Estou indo
agora, mas você se cuida.
– Da mesma forma, Eduardo. – Dei um beijo em sua bochecha, o que o
deixou mais animado.
Eu me sentia diferente com ele por perto, pensei enquanto ele saía e
entrava no carro. Havia algo sobre aquele homem que me fez pensar certas
coisas. Sacudi minha cabeça então. Eu não deveria estar tendo esse tipo de
pensamento. Jamais poderia amar outra pessoa.
Suspirei e saí também. Entrei no carro e, enquanto dirigia, pensei sobre
uma coisa que precisava fazer. Eu não me matei, mas meu pai teria que
entender que não poderia continuar fazendo o que estava fazendo.
Tinha que me proteger de tudo que poderia me machucar.

Eduardo

Eu estava voltando para a cidade, pensando naquele encontro


incomum que tive com ela. Ela era uma mulher e tanto. Não havia como
negar isso. Ainda assim, havia algo sobre ela que ela não me contou, o que
me deixou muito curioso sobre sua vida.
Eu deveria ter perguntado a ela o que estava acontecendo. Deveria ter
sido mais corajoso, mas ela também era só uma estranha. Talvez eu a visse
novamente, mas isso era improvável. Ela não vivia a mesma vida que eu, e
considerando que eu não queria ter outra namorada nunca mais (não sentia
vontade de partir o coração de outra pessoa dizendo a ela que eu era infértil)
seria melhor fingir que nunca nos conhecemos.
Ainda assim, que mulher interessante. Havia algo sobre ela que eu não
entendi direito quando estava com ela. Algo que eu não conseguia descobrir
mesmo agora... Ela tinha um passado profundo e complicado, e era do tipo
que ela preferia não contar a ninguém.
Fiz a escolha certa e agora era hora de olhar para frente. Afinal, eu
tinha algo muito importante para fazer pelo meu chefe.

Elsa

Abri a porta e encontrei meu pai sentado em sua cadeira grande e


confortável. Ele estava fumando um charuto e parecia preocupado com
alguma coisa. O que era esse algo, eu logo descobriria.
– Elsa, estou feliz que você veio.
– Pai, semanas atrás nós conversamos sobre isso e eu ainda penso da
mesma forma. Eu estou indo para outro lugar. Vou para os Estados Unidos e
vou esquecer que sou a sua filha.
Ele suspirou. – Não me diga algo assim. Falamos sobre isso, mas não
decidimos nada. Você sabe quem é este homem aqui?
Ele me mostrou alguém a quem eu nem prestei atenção quando
cheguei aqui. Eu estava muito mais preocupada em fazê-lo entender que eu
queria morar em outro lugar e que não havia nada que ele pudesse fazer
para mudar isso.
Era alguém do seu nicho, da sua vida. Outro chefe da máfia. Ele usava
um terno escuro com uma gravata vermelha. Todos tentavam parecer que
eram cidadãos comuns, mas não eram. Nunca podiam ser. Eram todos
bandidos, e a polícia e o governo caçavam por eles todos os dias.
– Eu não me importo quem ele é. Estou aqui para lhe dizer que estou
indo. Depois disso, não serei mais sua filha.
– Ela é meio atrevida, não é, Gabriel? – O homem perguntou, seu rosto
pintado com um sorriso.
Meu pai olhou longamente para o outro homem e disse – Elsa, temos
algo mais importante para discutir e garanto que você vai morar nos
Estados Unidos, mas não... do jeito que você está pensando.
– O que você tem em mente? Não vou mudar de opinião e você não
pode mais me manter trancada em casa. Já pensei sobre isso e não há nada
que eu queira fazer mais do que isso.
– Você vai morar nos Estados Unidos e, por um tempo, vai até
esquecer que eu existo. Algo grande vai acontecer aqui em Milão. Não
podemos continuar morando aqui. Não vou morar aqui para sempre. Eu
estou indo para um lugar para me esconder.
– Para se esconder de quem?
Ele bateu a ponta do seu charuto no cinzeiro, onde algumas das cinzas
caíram. – Outras famílias. Eles já perceberam que estamos
enfraquecidos. Desde... o sequestro da minha netinha, alguns deles
descobriram que não estamos indo muito bem e estão fazendo planos para
nos exterminar. Elsa, isso é para sua própria segurança.
Sua explicação me assustou, uma linha de calafrio percorrendo minha
espinha. As consequências do que aconteceu naquela noite ainda estavam
acontecendo, ainda afetando nossas vidas. Olhando em seus olhos, pude ver
que ele estava preocupado.
– Pai, é perfeito, então. Eu vou morar nos Estados Unidos, você vai
morar em outro lugar e...
– E deixe-me terminar. Você não vai morar sozinha. Vou deixar
algumas pessoas lá com você, para sua proteção.
– Mas eu quero esquecer completamente da máfia!
– Eu não posso deixar você sozinha e desprotegida!
Suas palavras me assustaram. Isso importava demais para ele, e seus
olhos eram tão ferozes que comecei a pensar que não havia nada que eu
pudesse dizer para fazê-lo mudar de ideia. Eu ainda amava meu pai, afinal
de contas. Eu pensei, um dia, eu não gostava mais dele, mas não foi o caso.
Alguém abriu a porta e eu girei nos meus calcanhares. Fiquei tão
assustada que quase dei um grito.
Quando meus olhos pousaram nele, foi como se alguém tivesse socado
o meu rosto. Era o mesmo cara de antes. Eduardo. Aquele que consertou
meu motor e bebeu um copo de suco comigo. Que porra estava
acontecendo?
O que ele estava fazendo aqui? Isso não podia estar acontecendo. Não,
não e não. Mas ele estava aqui sim. Era mais um membro da máfia, e eu
tinha pensado que era uma pessoa comum. Fui enganada de novo.
Capítulo 5
Eduardo

Eu disse – Chefe, aqui estou.


Meus olhos pousaram nela e fiquei chocado. Achei que nunca mais
encontraria essa mulher. Lembrava-me do nome dela, de seu rosto e de
como ela foi doce comigo naquele dia. Achei que ela era como qualquer
outra mulher por aí, com amigos e uma vida normal, mas sua presença aqui
significava que ela era uma das nossas. Um membro da máfia. Bem, talvez
a palavra ‘membro’ fosse muito forte para descrever sua presença aqui, mas
ela definitivamente não era estranha a tudo isso.
Seus olhos estavam arregalados e em choque. Ela também não
esperava me ver aqui.
Eu não sabia o que dizer, então simplesmente levantei minha mão com
a palma aberta para dizer a ela que estava ciente da sua presença e que a
conhecia.
Romano disse – Considerando a expressão nos seus olhos, filho, acho
que não seria errado dizer que você conhece essa mulher.
– Eu conheço sim…
Elsa disse – Sim, mas não somos nada mais do que conhecidos. Ele
consertou meu carro não muito tempo atrás.
O homem sentado em uma grande cadeira, cujo bigode me chamou a
atenção, disse – Acho que vou explicar tudo. Eu sou o chefe desta
família. Meu nome é Gabriel Zettici e tenho um plano. Sente-se vocês dois
e deixe-me explicar. Romano aqui já concordou com tudo.
Duas cadeiras em frente à sua mesa ocupavam o lugar, e nos sentamos
nelas. Eu podia sentir que Elsa não estava nada confortável com o que
estava acontecendo aqui. Não era nada que eu pudesse fazer algo a respeito,
mas gostaria de poder confortá-la de alguma forma.
Suspirei e Gabriel começou a explicar – Vou mandar vocês dois para
Chicago. Você vai morar lá por um tempo. Uma grande guerra vai acontecer
aqui em Milão, e não só aqui, mas na Itália também. A maioria das pessoas
não vai ouvir nada sobre isso, a não ser um aumento nos tiroteios e
assassinatos.
Elsa interrompeu – Pai, eu...
Ele era o pai dela? Eu não tinha esperado por essa. Achei que não
havia nada que pudesse me deixar mais preocupado, mas aconteceu mesmo
assim.
– Elsa, deixe-me explicar. Precisarei fundir nossa família com a de
Romano. Vai ser algo que vai demorar um pouco e, por algum tempo, as
outras famílias vão pensar que a nossa sumiu para sempre. Para que isso
aconteça, você... terá que se casar com ele.
Que porra era essa? Eu teria que me casar com ela? Eu virei minha
cabeça para Elsa, que fez o mesmo, e ela parecia tão surpresa quanto. Eu
vim aqui esperando outra missão, não algo que iria definir como minha vida
seria de agora em diante.
A mão de Romano pousou no meu ombro. – Eu sei que você não é o
meu filho verdadeiro. Não compartilhamos o mesmo sangue, mas você é o
único em quem posso confiar com isso.
– Nós realmente precisamos deles para a guerra que se aproxima? – Eu
perguntei.
Ele assentiu. – Temo que sim.
Eu tinha ouvido falar sobre famílias da máfia se fundindo e se
tornando uma. Pela aparência das coisas, parecia que a família deles não
seria combinada com a nossa. Eles seriam absorvidos. Quando Gabriel
disse que sua família desapareceria, isso significava que eles se tornariam
Russos também.
Gabriel continuou – Haverá guardas e pessoas para protegê-lo lá na
América. Você vai morar lá por um tempo, e Eduardo, você vai ter uma
importante missão a cumprir naquele país.
– Que missão?
– Você nos ajudará a encontrar aliados. Isso é algo muito importante
que você precisa fazer por nós. Se você falhar... poderia ser a nossa
morte. Sem mais famílias para nos ajudar, não teremos a menor chance.
– Mas espere, que tipo de guerra vai acontecer, e por que acontecerá?
– É complicado. Tudo que você precisa saber é que isso acontecerá
aqui e que preciso manter minha filha segura. Não me deixe na mão.
– Pai, mas não quero mais viver nessa vida de merda.
Seus olhos ficaram tristes. – Elsa, eu não acho que você tem muito a
dizer sobre isso. Estou fazendo isso para o seu próprio bem.
– E eu não quero nada disso. Estou fora.
Elsa se levantou rapidamente e tentou sair, mas dois homens da família
Zettici se puseram em seu caminho. – Desculpe, senhorita, mas eu não
posso deixar você sair – um deles explicou, seu rosto não exibindo
nenhuma emoção.
– Pai!
– Elsa, sente-se nessa cadeira e vamos continuar nossa conversa. Você
vai conseguir o que deseja, mas não em breve.
Ela suspirou e pude ver que ela estava prestes a chorar. Eu não queria
que ela se sentisse tão perturbada com isso, mas também não havia nada
que eu pudesse fazer para confortá-la. O que eu poderia fazer? Pegar a mão
dela e acariciá-la? Não éramos íntimos um com o outro. Eu mal sabia o
nome completo dela.
Elsa recostou-se na cadeira e Romano disse – Como se sente a respeito
disso, filho?
Eu olhei para ele e depois para Elsa. Como eu me sentia sobre
isso? Essa foi uma boa pergunta. Eu poderia contar a ele meus verdadeiros
sentimentos, mas isso o irritaria.
– Eu estou bem com isso. Farei tudo o que puder para ajudar a família.
Ele assentiu, sorrindo sem mostrar seus dentes. Gabriel continuou –
Agora que vocês dois sabem o plano e por que ele precisa acontecer,
precisamos discutir algumas coisas antes de enviar vocês dois lá.
◆◆◆

Romano parou na minha frente, enquanto todos estavam saindo do


escritório de Gabriel.
– Filho, você está realmente de acordo com isso? Sei que é muito para
você.
– Estou bem, chefe. Estarei ainda melhor quando a guerra acabar.
Sua mão agarrou meu ombro, e ele parecia tão feliz. Eu sabia por que
ele estava se sentindo assim. Eu era seu único filho, de certa forma. Seus
filhos morreram ou o abandonaram. Ele foi o homem que me colocou sob
sua proteção, sustentou meus pais, e eu não podia desistir dele.
Ele acenou com a cabeça ligeiramente e depois se afastou.
Não demoraria muito até que tivéssemos que pegar um avião e ir até os
Estados Unidos - uma terra inexplorada da qual eu não sabia nada. Haveria
pessoas lá que conheciam bem o país e estariam me ajudando, mas, mesmo
assim, a minha missão seria difícil.
E casar com alguém como Elsa. Era uma espécie de piada, e uma
péssima nisso. Eu a conheci naquela estrada, em um dia que foi tão normal
que era meio estranho para mim, e nós nos divertimos muito, mas eu não
pensei que a encontraria de novo.
Eu sabia que ela não queria se casar comigo e também estava relutante
em me casar com ela. Mas o que eu poderia fazer a respeito disso? Eu fazia
parte desta vida e não queria nada mais do que continuar a fazer parte
dela. Eu nunca desistiria da máfia.
Elsa, por outro lado, tinha apenas um objetivo em mente. Ela queria
sair desta vida e encontrar algo melhor para seu futuro. Isso era algo que
uma vez pensei ser possível. Não mais. Eu sabia que essa vida era a melhor
que eu poderia ter.
Seria um casamento de interesse e a única coisa que eu poderia fazer
sobre isso era fingir que não iria amá-la. Eles não mencionaram nada sobre
termos um filho, mas eu já imaginava que isso era parte do acordo.
Bem, não adiantava dizer a eles que eu era infértil. Eu sabia que o
casamento provavelmente não duraria muito de qualquer maneira; apenas o
suficiente para unir as famílias ou absorver os Zettici. Depois que a guerra
acabasse e pudéssemos ter nossas vidas normais de volta, tudo seria como
se nada disso tivesse acontecido.
Suspirei e me reclinei na parede. Elsa saiu e olhou para mim. Nossos
olhares permaneceram um no outro por um longo tempo até que ela disse –
Eduardo, não quero forçar nada em você.
– Você não está. Não se preocupe com isso. Vamos fingir que tudo está
bem e quando voltarmos, vamos nos separar.
Ela assentiu e disse – Sabe, para alguém de uma família mafiosa, você
não é tão ruim.
Eu ri. – Você não sabe muito sobre mim.
Talvez eu não devesse ter dito isso, porque a atingiu com força. Ela
olhou para baixo mais uma vez e, ao levantar a cabeça, disse – Te vejo no
aeroporto, então.
Eu assenti e ela se afastou, meus olhos apreciando as curvas perfeitas
do seu corpo. Ela não era gorda, mas era meio cheinha. Havia algo sobre ela
que me disse que havia passado por algo muito pior do que o nosso
casamento, refleti.
Casar-me com uma mulher que eu nunca poderia fazer totalmente
feliz. Bem, isso seria ótimo. Eu me perguntei como ela se sentiria quando
descobrisse que eu era infértil.
Bem, não adiantava pensar nisso agora. Eu tinha algumas coisas
importantes a fazer antes de ir para a América.

Elsa

Casar com o homem que conheci por talvez meia hora antes de
encontrá-lo no escritório do meu pai... Eu não podia acreditar que isso iria
acontecer, e que nosso casamento não iria acontecer porque nos amávamos,
mas porque era necessário graças a uma guerra que aconteceria aqui não
muito tempo mais tarde.
Suspirei e entrei no carro. Meu pai iria me levar para casa. Seus olhos
permaneceram nos meus por segundos antes de dizer – Elsa, estou fazendo
isso para o seu melhor.
– Tudo que eu queria era fingir que você não é meu pai.
Ele abriu a boca para dizer mais alguma coisa, mas decidiu não fazer
isso. Seu pé pisou no pedal e o carro começou a andar pela estrada. Fiquei
observando os prédios e as pessoas passando enquanto ele me levava para
casa uma última vez.
A viagem para Chicago não demoraria muito, e havia algo nela que eu
não gostava nem um pouco.
– Eu não posso viver lá como um animal. Vou querer sair de vez em
quando.
– Não, eu não posso permitir isso. Haverá pessoas por lá querendo
matar você ou fazer algo pior.
– E eu acho que você se preocupa mais com seus homens do que
comigo.
– Eles são diferentes. Preciso deles para nos manter vivos.
– Você está preso a esta vida e não consegue enxergar nada além dela.
– Estou fazendo tudo isso por você. Por favor, me entenda.
Pensei em contar outra coisa a ele, mas decidi não fazer isso. Já não
queria discutir mais nada com ele. Ele fez sua escolha, eu fiz a minha e eu
iria me casar com um completo estranho.
Bem, o casamento não aconteceria agora, mas tudo ainda estava tão
fodido. Eu não tinha certeza se ia gostar do Eduardo. Ele era um homem
bom quando consertou meu carro, mas isso foi naquele dia, quando não
sabíamos quem realmente éramos.
Papai parou e eu saí. – Elsa...– ele disse, me forçando a me virar para
encará-lo.
– Não me odeie.
– Eu não posso prometer nada – eu disse antes de entrar em minha
casa e trancar a porta atrás de mim. Eu esperei até que seu carro tivesse ido
embora, então me deixei cair no chão.
Minha vida mudou muito em tão pouco tempo. Eu ainda podia sentir o
cheiro do meu filho na minha casa e não... nem tirei as coisas dela do
quarto. Eu deveria ter feito isso há muito tempo, mas não tive coragem. Eu
fui uma covarde.
Havia tantos sentimentos horríveis em minha mente sempre que eu
abria aquela porta. Eu a mantinha trancada sempre e fingia que não estava
lá. Era a única maneira de lidar com o que aconteceu.
Uma lágrima saiu, depois outra e outra. Eu pensei tantas vezes em me
matar, e quase fiz isso naquela noite em que estava no topo do prédio mais
alto aqui em Milão. Meu pai me convenceu, me mudou de ideia e, desde
então, tenho tentado levar uma vida normal.
Bem, agora minha vida seria tudo menos isso.

Eduardo

Eu estava no aeroporto, meus olhos examinando as pessoas e os


guardas que passavam por ele. Eu precisava prestar atenção às pessoas
aqui. Qualquer coisa poderia acontecer aqui, especialmente em uma manhã
chuvosa e triste como esta, onde nuvens espessas bloqueavam a maior parte
da luz do sol.
As cores do ambiente pareciam desbotadas e queria vomitar o meu
café da manhã, o que não foi muito. Elsa e eu combinamos de nos encontrar
aqui, depois de passar pela segurança do aeroporto.
Eu tinha uma arma comigo. Eu nunca poderia ir a algum lugar sem
ela. Me sentir seguro era sempre importante demais.
Olhei para o meu relógio de pulso e descobri que ela estava alguns
minutos atrasada. Ela não iria vir, afinal de contas? Bem, meu chefe e seu
pai teriam muito o que conversar com ela se ela não aparecesse.
Esperei mais um tempo, ficando entediado. Eu sabia que deveria ficar
alerta o tempo todo aqui, mas realmente não havia muito acontecendo neste
aeroporto. Fiquei olhando alguns aviões indo e chegando, pensando em
como se deu a sua invenção.
Foi quando eu percebi que ela estava chegando. Elsa não ia tentar
escapar de nós, afinal de contas. E ela não estava sozinha. Seu pai veio com
ela.
Eu mantive um olhar sério no meu rosto quando eles pararam na
minha frente. Eu estava entediado até este ponto e não queria que seu pai
pensasse que eu era o cara errado para casar com ela. Eu até era, mas não
pelos motivos que ele inventaria.
– Pronto para ir? – Eu perguntei.
Ela assentiu, quase parecendo como se ela não pudesse acreditar que
isso estava acontecendo. Eu compartilhava dos seus sentimentos. Eu
também preferia estar em outro lugar agora.
A mão de Gabriel agarrou meu braço e ele disse – Preciso falar com
você em particular.
Elsa não se importou com isso, e ele me levou a um lugar onde
ninguém poderia nos ouvir. – Eduardo, ela é a minha filha e a única coisa
que peço é que a mantenha segura sempre.
Ele soltou meu braço e eu disse – Não se preocupe. Eu vou protegê-la.
Seus olhos me estudaram por um segundo e então ele disse –
Ótimo. Eu acredito em você.
Conversamos um pouco mais sobre outras coisas que diziam respeito à
nossa estadia em Chicago, e ele se certificou de que eu entendesse o quanto
nosso casamento significava para ele. Parecia que era a primeira vez que ele
estaria tão longe de sua filha.
Elsa significava muito para ele, e ele fez me importar ainda mais com
ela.
Voltamos para Elsa, que segurava a mala nas suas mãos. Ela estava
deslumbrante, como sempre. Quando a conheci quando seu carro quebrou,
ela não estava tão bem vestida. Suas roupas a faziam parecer muito mais
bonita agora.
Eu quase poderia me deixar apaixonar por ela. O problema era que eu
não queria ferir seus sentimentos quando ela finalmente descobrisse a
verdade sobre mim.
Seu pai agarrou a mão dela e, segurando-a na sua, disse – Elsa, ligarei
para você sempre que puder. Você tem meu telefone. Você pode me ligar
também.
Ela assentiu. – Obrigada, pai.
E com isso, esperamos a chegada do avião e depois partimos. Fiquei
observando a paisagem enquanto partíamos. Eu nunca tinha voado e toda a
turbulência e altitude me deixaram um pouco assustado, e não deixei Elsa
perceber isso. A última coisa que eu precisava era ela pensar que eu era um
covarde.
Não conversamos muito, a não ser uma conversa ocasional sobre o
avião, os outros passageiros e as diferentes terras que nossos olhos
viam. Ela estava sendo casual sobre nosso casamento, o fato de estarmos
em um país diferente e as mudanças em sua vida.
Eu tinha certeza que ela estava escondendo seus verdadeiros
sentimentos de mim, mas não havia nada que eu pudesse fazer sobre isso.
Assim que chegamos em Chicago, fiquei impressionado com a
cidade. O seu horizonte não era nada do que eu esperava. Por algum
motivo, pensei que a cidade seria bem menor, mas era muito parecida com
Milão e talvez até maior.
Elsa também falou sobre o quanto a cidade a impressionou. Fomos
levados para fora do aeroporto por alguns dos nossos homens que já tinham
vindo aqui muito antes de nós e conheciam Chicago melhor. Eu estava
animado com outra coisa agora, que era ver o lugar em que viveríamos e
onde planejaria nossas operações.
O trajeto até o referido local não demorou mais do que vinte minutos
e, quando finalmente pudemos o ver, fiquei impressionado. A mansão era
de tirar o fôlego, e eu nunca tinha estado em nada parecido.
Eu morava em um lugar melhor do que a casa dos meus pais em
Milão, mas não era nada assim. Para começar, não tinha três andares como
a mansão que se erguia à nossa frente. O jardim em frente a ela já era, por si
só, maior do que minha antiga casa.
Os olhos de Elsa também estavam arregalados de choque. Ela não
achava que o lugar em que estaríamos morando, por enquanto, seria tão
bom. Era branco com detalhes em ouro e prata, e a arquitetura lembrava
muito a Itália renascentista.
Homens abriram o portão duplo da frente e o carro parou na frente da
mansão, onde uma porta dupla de madeira nos permitiria entrar. Saímos do
carro e Elsa disse – Uau, é linda demais.
– É mesmo – eu disse.
Isso começou melhor do que eu pensava. Eu estava imaginando que
Elsa não gostaria de morar aqui, mas com ela já ficando impressionada
assim, então talvez poderíamos morar aqui com uma certa tranquilidade. A
última coisa que eu precisava era ela tentando fugir.
Um dos mordomos abriu a porta e disse – Vou lhes mostrar o interior
da casa.
Ele nos conduziu por vários cômodos do prédio, chegando a nos
mostrar a lavanderia e a cozinha. Conhecemos alguns dos residentes e todos
sabiam o que estavam fazendo aqui e quais eram os seus deveres. Ninguém
que morava aqui era inocente e isso era bom. Eu precisava de pessoas em
quem pudesse confiar.
Deixei Elsa em seu quarto, que era enorme e tinha tudo o que ela
poderia desejar. Eu a fiquei admirando uma última vez antes de ir para o
meu próprio quarto, minha mente já traçando planos para conseguir apoio
das famílias mafiosas de Chicago.
Romano precisava de mim para ter sucesso aqui.
Capítulo 6
Elsa

Ele estava certo. Este lugar era perfeito. Quase perfeito demais. Fiquei
impressionada com isso, mas não havia nada como a familiaridade de
minha casa em Milão. E mesmo não querendo admitir isso, estava pelo
menos um pouco grata que não mais precisava ficar lembrando da minha
filha. Pensar nela já fazia o meu coração doer muito.
Desempacotei minhas coisas e deitei na cama. Não era como a que eu
tinha em Milão, mas era confortável o suficiente. Fechei meus olhos e tirei
uma soneca. Eu estava cansada demais depois daquele longo voo e já
começava a sentir um pouco de jet lag.
Eduardo era um homem legal, mas tinha algo dele que eu não
conseguia tirar da minha cabeça. Ele era um homem da máfia e isso o
tornava muito perigoso para mim. Ele estava sendo legal comigo agora, mas
se eu o irritasse... Isso me fazia perguntar o quão calmo ele era.
◆◆◆

Algumas semanas se passaram e eu desejei sair pela primeira vez. Não


conhecia a língua, não conhecia a cidade, mas Chicago estava me
convidando a explorá-la. Eu já estava acostumado a esta mansão e agora
precisava fazer algo que não fosse nadar na piscina, brincar na sala de
jogos, ler livros e conversar com algumas das empregadas que se tornaram
minhas amigas.
Saí do meu quarto e fui até o escritório de Eduardo. Ele estava quase
sempre ocupado, mas arranjaria um tempo para mim, imaginei. Bati na
porta e ele disse – Entre.
Eu abri e seus olhos me encontraram. Por um momento, não soube o
que dizer. Seu corpo e atitude estavam me deixando um pouco louquinha só
para ver ele, e eu não conseguia fazer nada a respeito disso. Eu não
conseguia parar de pensar em como ele era bonito. Eu sabia que não deveria
ter esses pensamentos sobre ele, mas desde quando eu podia controlar essa
parte de mim?
Aproximei-me dele e perguntei – Eduardo, posso sair?
Seus olhos se arregalaram um pouco. – Você quer dizer... para fora da
casa?
– Sim, estou cansada de ficar aqui o tempo todo.
– Não. – Seu tom era um tanto rude. – Você sabe que seu pai quer você
aqui o tempo todo e não vou desobedecê-lo.
Eu meio que esperava uma resposta como essa, mas não vim aqui para
desistir no primeiro obstáculo que apareceu. – Não tem perigo
nenhum. Posso levar alguns guardas para me manter segura.
Seus olhos me estudaram, e então ele disse – A resposta ainda é não.
– Como assim? Eu-
– Você não vai mudar minha mente.
– Mas...
– Mas nada. Tenho coisas mais importantes com que lidar agora.
Que merda de vida era essa a minha em Chicago. Se ele não fosse
fazer da maneira mais fácil, eu precisava pensar em um plano. Ele não iria
me manter aqui para sempre, como um animal enjaulado. Eu precisava...
E foi quando meus olhos pousaram em suas chaves, que estavam bem
ao meu lado. Se eu fizesse isso rapidamente, ele não saberia de nada. Claro,
ele iria procurá-las logo e descobrir que haviam desaparecido, mas ele não
pensaria que eu as peguei. Não até que fosse tarde demais para ele fazer
qualquer coisa a respeito, de qualquer maneira.
Rapidamente, peguei suas chaves e disse – Ok, acho que não consigo
te convencer, afinal de contas.
Ele não disse nada quando eu saí e fechei a porta, seus olhos e atenção
focados nas folhas de papel em cima da sua mesa. Eu respirei
profundamente. Eu estava nervosa. Achei que ia funcionar, mas não tinha
certeza. E a última coisa que eu queria era descobrir o quão bravo ele
poderia ficar comigo.
Silenciosamente, desci as escadas e fui até o portão da frente. Eu não
podia dirigir um dos carros, e não deveria fazer isso de qualquer
maneira. Eu não ia muito longe. Eu só queria passear pelo bairro, explorá-lo
um pouco. Nada complicado, realmente.
Falei com um dos homens que guardavam o portão e ele disse –
Desculpe, senhorita, mas sem permissão, não posso deixá-la sair.
– Mas eu tenho permissão. Eduardo me deu as chaves.
Eu as balancei levemente na frente dele, seus olhos se arregalando. –
Ok... vou acreditar em você dessa vez, então, mas somente porque está
pedindo com carinho. – E também porque ele tinha uma queda muito forte
por mim.
O portão se abriu e eu saí. Eu respirei profundamente, apreciando o ar
fresco. Não era nada diferente do ar que eu já conseguia respirar na mansão,
mas estar fora pela primeira vez em semanas ainda era uma coisa
importante, e eu queria aproveitar isso ao máximo.
Eu estava caminhando para o próximo quarteirão quando ouvi um
grito. Ah não, não tão cedo. Tentei correr, mas não estava usando
sapatos. Eu ouvi seus passos apressados chegando até mim, e então seus
braços enquanto ele me envolvia neles.
– Elsa, que porra você está fazendo? – Eduardo questionou, sua voz
ecoando com preocupação.
Ele desembrulhou seus braços quando percebeu que eu não iria fugir
novamente. Eu girei nos meus calcanhares e bati em seu rosto com força. –
Eu não quero mais ficar presa.
Sua mão acariciou a bochecha em que eu bati. – Você sabe o que seu
pai disse.
– E eu não me importo com ele agora.
– Não aja como uma criança. Você sabe que a mansão é para a sua
proteção. Tem muita gente em Chicago querendo matar você.
Com a menção de que eu estava agindo como uma criança, eu ia dar
um tapa na cara dele de novo, mas ele agarrou meu braço de repente. Seu
aperto era forte e firme. Ele estava quase me machucando e, ao tentar
libertar meu braço, seu aperto ficou ainda mais firme.
Eu olhei em seus olhos e encontrei apenas uma escuridão
neles. Lembravam muito a melancolia que encontrei nos olhos do homem
que roubou minha Regina naquela noite. Me mexi com tudo, tentando me
libertar dele, mas ele não estava me deixando ir.
– Deixe-me ir, seu merda! – Gritei, chamando a atenção de alguns dos
homens que guardavam o portão.
Eu ia berrar de novo quando ele finalmente soltou meu braço. Eu olhei
em seus olhos e encontrei a mesma escuridão de antes neles. Ele não se
arrependeu nem um pouco do que acabou de fazer e, se havia outra coisa a
aprender com isso, era que ele levava seu trabalho a sério. Muito a sério.
Seus olhos clarearam e ele disse – Vamos. Vamos voltar para dentro.

Eduardo

Meu Deus, aquela mulher seria sempre um pé no saco para mim o


tempo todo de agora em diante? Alguns dias se passaram desde seu
‘episódio’ e ela se acalmou, mas eu não conseguia tirar os olhos dela e
precisava ser menos descuidado de agora em diante. Como ela conseguiu
minhas chaves?
Meu trabalho aqui já era difícil o suficiente sem ela tornando-o ainda
mais complicado. Eu precisava entrar em contato com algumas famílias
aqui e torná-las aliadas dos Russos. Esse ainda era um trabalho em
andamento e eu precisava de toda a minha atenção devotada a ele.
Estava escuro lá fora, a lua brilhando intensamente. Eu estava olhando
pela janela quando um pensamento estranho passou pela minha cabeça. Não
era tarde demais agora, e se havia uma coisa que eu poderia fazer para
refazer as pazes, era dizer a ela que eu sentia muito se a machuquei quando
ela tentou escapar.
Quando agarrei seu braço, algo estranho aconteceu em minha mente,
como se eu pudesse tê-la matado ali mesmo sem me sentir mal por isso. Eu
não queria que ela ficasse pensando que eu era uma pessoa ruim. Afinal,
íamos nos casar.
Abri a porta e entrei no corredor, encontrando o quarto dela segundos
depois. Bati em sua porta e um momento de silêncio se seguiu. Ela já estava
dormindo?
Virei para voltar para o meu quarto quando ouvi a porta se abrindo. Eu
me virei para ela e, quando meus olhos pousaram nela, meu coração deu um
pulo. Que porra era essa? Como ela conseguiu isso?
Suas mãos estavam segurando minha arma agora, e quando ela saiu do
quarto, ela estava apontando-a para mim.
– Elsa, o que você está fazendo?
– Você não pode mais me manter aqui como um animal.
– Abaixe essa coisa. Você vai se machucar.
Ela riu. – Eu sei como usar uma arma.
Ela se aproximou de mim e percebi que ela mentiu sobre saber como
usar uma arma. Não era assim que alguém deveria segurar. E, havia algo
que ela estava esquecendo também. Nunca poderia disparar. A arma estava
com o tranco ainda.
Quando ela deu mais um passo, eu rapidamente bati em sua mão com
força, jogando a arma para longe antes de atingir a parede. Ela engasgou e
se jogou no chão, mas não antes que eu a estivesse abraçando por trás.
– Me solte! Não vou viver assim para sempre.
– As coisas vão melhorar logo – eu estava dizendo quando senti sua
mão socando minha virilha, fazendo uma onda de dor invadir meu corpo.
Eu a soltei, e quando ela tentou chegar ao seu quarto, eu rapidamente a
abracei por trás novamente, desta vez me certificando que ela não seria
capaz de usar suas mãos para nada.
– Elsa, acalme-se.
Ela ainda estava jogando seu corpo contra o meu, e algo em minha
mente estava me deixando com tanta raiva dela. Uma raiva que eu não
conseguia controlar.
Pare de uma vez, sua vadia.
Eu a virei e a empurrei contra a parede, seus olhos se
arregalando. Quando ela pensou em fugir novamente, dei um tapa em seu
rosto, fazendo sua cabeça virar. Seus olhos me encontraram novamente e
agarrei seu pescoço.
– Não vou mais tolerar isso.
– Eduardo...– Ela estava dizendo, mas sua voz era quase inaudível.
Eu estava apertando seu pescoço com tanta força, sentindo meus dedos
enquanto eles afundavam em sua pele. Seus olhos estavam ficando
vermelhos, e eu sabia que ela estava com medo, como deveria estar. Ela
nunca deveria ter me deixado tão bravo com ela.
E agora, ela iria pedir desculpas. Tinha que fazer isso, ou tudo seria
pior para ela.
Meu Deus, que merda estou fazendo?
Eu afrouxei o meu aperto, Elsa rapidamente entrando em seu quarto e
fechando a porta. Eu segurei minha mão na minha frente, meus olhos
percebendo como ela estava tremendo agora.
Aconteceu novamente. Eu não pensei que ficaria tão bravo com ela de
novo. Fiquei ainda mais zangado do que quando a peguei na frente da
mansão, quando ela ia dar um passeio como se fosse como todas as outras
mulheres desta cidade.
Peguei minha arma do chão e a enfiei na cintura, minha mente
pensando em uma coisa apenas agora. Deveria eu?
Bati na porta de seu quarto e esperei. Um longo momento de silêncio
se passou e ela não disse nada. Encostei o ouvido na porta e tentei ouvir o
que estava acontecendo ali. Captei alguns soluços, mas foi só isso.
Ela não iria falar comigo agora. Não depois do que eu acabei de fazer.
Puta merda, eu era um monstro, e lá se foi qualquer chance que
tínhamos de fazer isso funcionar. Ela seria minha esposa, íamos salvar
nossas famílias, mas ela iria me odiar pelo resto da sua vida agora.
Lentamente, voltei para o meu quarto. Eu tinha muito em que pensar.

Elsa

O que ele fez, eu nunca iria esquecer. Ele não apenas agarrou meu
pescoço; ele ia me matar. Algo aconteceu para que isso não ocorresse, mas
mesmo assim pude sentir sua força e seu desejo de acabar com a minha
vida.
Estava tudo muito claro para mim e aprendi uma lição importante
aqui. Além das criadas, eu não tinha outros amigos. Eduardo não era
alguém em quem pudesse confiar e eu viveria para sempre aqui como um
animal enjaulado.
Dias e noites transcorreram desde aquele incidente, e eu o evitei o
máximo que pude. Fazer isso era bastante fácil. Ele sempre estava em seu
escritório ou em algum lugar de Chicago, trazendo mais famílias para a
nossa causa.
Olhei pela janela e encontrei uma bela manhã ensolarada lá
fora. Verifiquei o relógio na parede e descobri que era hora do café da
manhã. A mesa estaria cheia de travessas com bacon, ovos e algumas outras
coisas que eu não tinha costume de comer. Eu estava ficando cada vez mais
acostumado ao estilo de vida americano e até aprendia a língua deles agora.
Tomei banho, me vesti, penteei meu cabelo e saí. A mansão estava
silenciosa, exceto algumas pessoas conversando aqui e ali, e algumas indo
de um cômodo para o outro. Estar aqui era quase como viver em um lugar
abandonado onde não deveria estar.
Desci as escadas e cheguei à cozinha, meu coração pulando quando
percebi quem estava tomando café da manhã agora. Eduardo, claro. O
desgraçado. O homem que batia em mulheres. Meu futuro marido.
Ele estava comendo um pedaço de bacon quando me encontrou
chegando, sua boca não mastigando mais a comida. Parei bem na porta e
não pude acreditar que tomaria meu café da manhã com ele hoje.
Achei que não teria que encontrá-lo novamente até que precisássemos
discutir algumas coisas sobre o casamento, mas parecia que não. Eu teria
que comer com ele agora, a menos que decidisse me virar e fingir que tinha
outra coisa para fazer.
Mas eu não ia agir como uma mulher covarde agora. Eu iria provar a
ele que não sentia medo. Não mais, pelo menos.
Lentamente, puxei a cadeira e me sentei suavemente, sua boca
voltando a mastigar a comida. Eu enchi um prato e comecei a comer. Isso
não iria demorar muito, e eu poderia fingir, na maior parte do tempo, que
ele não estava aqui comigo.
– Elsa – disse ele, fazendo-me congelar minhas mãos.
Ele continuou – Sinto muito pelo que aconteceu.
Voltei a mastigar meu bacon, engolindo-o logo em seguida. Eu não
tinha que falar com ele. Não agora. Eu poderia fingir que ele não era ela-
– Lamento profundamente.
Merda. Ele não ia deixar isso pra lá e fingir que não aconteceu. Ele
queria meu perdão e jamais daria isso para ele.
Mas eu tinha que dizer algo a ele. Estávamos tomando café da manhã e
esta sala de jantar era linda, mas ele não iria estragar as pequenas coisas que
eu estava apreciando agora.
Eu levantei minha cabeça e disse – Você acha que vou esquecer o que
fez?
Ele suspirou, parecendo preocupado. – Eu não estou dizendo isso. Só
estou dizendo que me sinto mal. Eu não queria te machucar.
– E mesmo assim, você fez aquilo. Você acha que me sinto bem em
casar com alguém como você?
– Não é isso que estou dizendo.
– Talvez você não devesse ter dito nada.
Mais um momento de pausa enquanto voltávamos a comer a comida, o
som de talheres e das criadas retirando as travessas vazias preenchendo o
ambiente.
Quando ficamos sozinhos novamente, ele disse – Você me deu muita
raiva.
– Eu não dou a mínima para isso.
– Estou aqui para te proteger e me preocupo com você. Estou fazendo
o meu melhor para deixar o seu pai feliz.
– Você não sabe nada sobre ele.
– Eu sei que ele se preocupa muito com você.
Dei uma risadinha. – Você deveria pensar melhor sobre isso.
Ele exalou. – Olha, podemos chegar a um meio termo.
Eu olhei em seus olhos, minha mão segurando o garfo. – Ah é, como
assim?
– Vou levar você para sair. Posso fazer pelo menos isso para te
ajudar. Comigo ao seu lado, eu sei que você estará segura.
– Seria como levar seu cachorro para passear... – Refleti.
– Não é nada disso.
Eu o estudei por um segundo e então disse – Tudo bem.
– Sério mesmo?
– Sim, tudo bem. Eu estou indo com você, mas melhor me levar para
um lugar que eu goste.
Seus lábios se curvaram para formar um sorriso tenso e unilateral, e ele
disse – Você não vai se arrepender disso.
Continuamos a conversar, embora o café da manhã ainda fosse
silencioso. Não tinha vontade de falar com ele e sentia que, quanto mais
falávamos, menos ele parecia saber mais coisas sobre mim.
E isso era bom. Mesmo que Eduardo estivesse tentando ser melhor
agora, eu sabia que ele nunca mudaria. Ele era só mais um gado da máfia,
como cada um deles, incluindo o meu pai.
Fiquei feliz por termos conversado. Eduardo estava um pouco mais
suportável agora, embora ainda fosse um idiota. E eu só queria uma coisa
do nosso casamento: paz. Eu não queria nada mais do que um pouco de paz
em minha vida.
Assim que terminamos de tomar o café da manhã, ele disse – Vejo
você na garagem.
Eu assenti e me afastei dali, minha mente finalmente animada com
algo que envolvia esta minha nova vida. Eu estava finalmente sendo
liberada deste lugar, e eu estava morrendo por dentro para ver algo
diferente.
Eduardo ainda não passava de um estúpido violento, mas era um
pouco mais tolerável.

Eduardo

Eu me senti muito mal com o que aconteceu. Eu não deveria ter feito o
que fiz. Ela seria minha esposa e eu precisava ser gentil com ela. Dirigindo
por esta estrada com ela agora, tudo que eu sabia era que deveria fazer o
meu melhor para refazer as pazes.
Eu a estava levando para a Willis Tower, o prédio mais alto de
Chicago. Era um segredo para ela. Ela não sabia nada sobre o prédio, e ela
iria amar a vista lá de cima. Ela disse que queria ser surpreendida, afinal de
contas.
– Para onde você está me levando? – Ela perguntou.
– Não vou responder até que seja a hora certa – eu disse.
As coisas não melhoraram exatamente entre nós desde aquele café da
manhã, e isso não aconteceria tão cedo. Levaria muito tempo e tomaria
muito esforço para mudar a opinião de alguém como Elsa. Tudo o que eu
sabia, por enquanto, era que precisava continuar sendo legal com ela.
Virei em uma esquina e encontrei o prédio. Willis Tower. Era tão alta
que não conseguia parar de me questionar como eles a construíram. Mas
assim fizeram, e no momento em que seus olhos pousaram nela, ela sabia
que era para onde eu iria levá-la.
Ela não disse nada, mas eu sabia que ela estava surpresa.
Saímos do carro e pegamos o elevador até o último andar, de onde
pudemos ter uma vista privilegiada da cidade. Ainda havia muitas
construções em andamento em Chicago, mas a cidade já parecia bastante
madura.
Estávamos vendo a cidade e o que havia além dela, os olhos de Elsa
incapazes de piscar. Eu já sabia a resposta para essa pergunta, mas precisava
perguntar de qualquer forma – Então, gostando?
– Sim, é tudo muito bonito daqui de cima.
Não fiz outra pergunta, embora quisesse dizer a ela novamente que
sentia muito pelo que aconteceu. Nunca foi minha intenção machucá-la ou
fazê-la ficar com medo de mim.
Ficamos ali, só admirando a cidade do último andar do prédio até nos
cansarmos. Ao voltar para o carro, nossos homens posicionados do lado de
fora para o caso de alguém tentar fazer algo contra nós, ela disse –
Obrigada... por me trazer aqui.
– Sem problemas – eu disse antes de ligar o motor e dirigir de volta
para casa.
Talvez ela quisesse dizer mais, mas já era um bom começo, então não
a pressionei. Eu precisava ir bem devagar com ela. A última coisa que eu
queria era Elsa me odiando por toda a nossa vida, e eu nem sabia por
quanto tempo ficaríamos casados.
As coisas estavam mudando e, em breve, eu teria que aprender coisas
que ela estava escondendo de mim.
Capítulo 7
Eduardo

Era uma manhã normal e ensolarada do lado de fora quando eu estava


andando na frente de seu quarto e meus olhos avistaram a fresta da sua
porta. Tinha deixado ela parcialmente aberta, e meu primeiro instinto foi ir
lá e falar com ela.
Tínhamos saído mais vezes e eu estava meio que conquistando o
coração dela. Não fui rude com ela novamente desde aquela noite em que
ela apontou uma arma para mim, o que estava fazendo sua opinião sobre
mim mudar. Isso era muito bom. Eu estava começando a conhecê-la melhor.
Pensei em bater na porta quando, pela fresta, avistei outra coisa. Elsa
estava tirando sua roupa e na cama eu pude ver as novas que ela colocaria
em breve. Eram peças que compramos há não muito tempo.
Eu não deveria estar espionando-a assim, mas era a primeira vez que
via minha futura esposa apenas com sutiã e calcinha. E uau, ela estava
deslumbrante demais. Sua pele parecia ser suave como seda e brilhava sob a
luz do sol que entrava pelas janelas.
Ela poderia virar a cabeça a qualquer momento agora e descobrir que
eu a estava espionando, mas essa possibilidade não me preocupava
muito. Eu sabia que ela era uma mulher bonita, mas subestimei sua
beleza. Ainda assim, havia algo na maneira como ela fazia as coisas agora,
movia seu corpo, que me dizia que ela tinha uma ferida profunda da qual
preferia não contar a ninguém.
E isso era normal. Eu também tinha algumas coisas que escondia de
todos.
Elsa tinha pernas perfeitas e me vi querendo tocá-las neste mesmo
instante. Eu queria deslizar minha mão sobre elas, sentir seu calor, a
suavidade da sua pele, e então ir todo o caminho até a sua buceta.
Eu queria sentir aqueles pés, que eram tão bonitos e convidativos
quanto o resto do seu corpo. Eu queria brincar com os dedos dos seus pés,
fazendo-a arquear suas costas. Ela estaria sentindo tanto prazer que não
seria capaz de resistir a mim.
E eu senti meu pau ficar duro, formando uma sombra na minha
calça. Ainda assim, permaneci onde estava, meus olhos treinados nela,
recusando-me a piscar.
A barriga e o torso de Elsa pareciam ser tão perfeitos. Ela se mantinha
em forma e seus braços pareciam magros, mas esbeltos. Havia algo na
maneira como ela os movia que mostrava que não tinha vergonha da mulher
que era.
Olhei nos olhos dela e encontrei a mesma coisa que me dizia que ela
tinha uma ferida profunda sobre a qual preferia não falar com ninguém. Ela
estava triste. Eu me vi desejando que ela não fosse tão reservada.
Seu cabelo preto complementava o resto do seu corpo. Descia até a
parte média das suas costas e parecia ser muito suave, como se fosse
sempre assim, sem qualquer produto.
Eu estava meio duro, mas tinha que sair daqui, e foi o que fiz. Eu não
podia deixar ela me ver espionando-a. No início, pensei que não me
importava, mas, eventualmente, as possíveis consequências disso mudaram
minha mente.
Enquanto me afastava dali, pensei que, talvez, se eu pudesse fazer com
que ela gostasse de mim, tudo seria muito melhor.
Mas mesmo que as coisas estivessem melhorando entre nós, eu me
perguntei se ela algum dia me perdoaria.

Elsa

Eu estava indo para a quadra de tênis quando ouvi o som de alguém


jogando lá. Quem poderia ser? O lugar não era muito frequentado por
muitas pessoas e eu nunca tinha visto ninguém jogando tênis
lá. Estranho. Minha curiosidade foi aguçada, no entanto.
E então, eu fui lá. Talvez eu não devesse ter feito isso, mas aqui, além
de estudar inglês, eu não tinha muito o que fazer.
Virei uma esquina e o encontrei. Encontrei Eduardo, que estava
jogando tênis com um de seus guardas. Eles estavam se divertindo
muito. Risos e sorrisos preenchiam o ambiente. Eles pareciam tão diferentes
dos seus eus normais.
Eu me escondi atrás de alguns arbustos. Eu não queria que eles
descobrissem que eu os estava espionando enquanto jogavam tênis. Os
arbustos eram grossos e altos o suficiente para esconder a maior parte de
mim e, portanto, me sentia segura aqui.
Eduardo parecia tão feliz que quase podia pensar que ele não era o
maldito que quase me estrangulou naquela noite. Eu sabia que era melhor
não pensar que ele havia mudado, mas não havia como negar que, o que eu
estava vendo agora, era um lado dele que eu nunca tinha testemunhado
antes.
E havia algo sobre ele que eu não tinha notado até agora também. Ele
não era apenas belo, não só tinha um rosto bonito que poderia fazer tantas
mulheres como eu babar por ele, mas também seu corpo era muito
musculoso e perfeito demais.
Ele continuou batendo na bola, enviando-a para o outro homem do
outro lado da quadra. Todo o seu corpo se movia com um ritmo difícil de
ser igualado por qualquer pessoa. Ele era muito bom em jogar tênis. Até
mesmo seu amigo, que estava se divertindo muito aqui, mal conseguia
acompanhá-lo.
Continuei admirando seu corpo, minha mente não pensando em mais
nada agora. Esses bíceps, peitorais, torso, abdômen e ... tudo mais. Eu sabia
que não deveria ter esses sentimentos, mas como poderia fazer isso? Eu não
transava há anos.
Achei que jamais transaria com outro, mas Eduardo tinha potencial
para mudar isso. Ele seria meu marido e, embora eu me sentisse deprimida
na maior parte do tempo, talvez fosse melhor do que odiá-lo o tempo todo.
Eu não achava que mudaria minha opinião, mas havia de fato uma
atração inicial. Se iria se tornar algo mais do que o que eu estava sentindo,
eu não tinha ideia, mas parte de mim gostaria que fosse.
Eu o observei jogar tênis por mais algum tempo, meus olhos secando
sua pele suave e também seu suor. Suas roupas grudavam ao seu corpo,
realçando as linhas dos seus músculos. Eu gostaria de poder deslizar minha
mão sobre eles agora, mas não podia fazer isso.
Quando eles deixaram as raquetes e deram um aperto de mãos, resolvi
sair de lá. E foi o que fiz, sentindo que estava ficando um pouco
molhada. Eu fui uma idiota por deixar alguém como ele me fazer sentir tão
excitada, mas mais uma vez, eu me lembrei que não conseguia controlar
meus sentimentos completamente.
Talvez Eduardo se tornasse um homem decente um dia, mas eu não
tinha muitas esperanças quanto a isso.
◆◆◆

Eu andei pelo corredor, meus olhos avistando a porta aberta do quarto


de Eduardo. Agora que eu estava pensando melhor sobre isto, eu não tinha
entrado em seu quarto desde que cheguei aqui. O único lugar que eu não
tinha permissão para explorar...
Ele não disse que eu não poderia entrar aqui, mas imaginei que ele não
gostaria de me encontrar bisbilhotando suas coisas. Era onde ele guardava
seus documentos, planos e coisas assim.
Meus ouvidos captaram o som de um carro se afastando e, olhando
pela janela, percebi que era Eduardo quem estava partindo. Isso era
perfeito. Quase perfeito demais, e eu não iria deixar passar esta
oportunidade de aprender coisas sobre ele que de outra forma ele não me
contaria.
Abri a porta parcialmente aberta e entrei em seu quarto. Havia algo
meio familiar com o ambiente. Não tinha nada muito caro. Era quase como
o quarto do meu ex-marido, exceto que este tinha muito mais coisas da
máfia nele.
Em cima de sua mesa, pude ver alguns mapas e plantas. Eduardo era
um homem bastante descuidado. Não estava me espantando que eu
consegui pegar as suas chaves e a arma. Ele não prestava muita atenção ao
que estava fazendo certos dias.
Talvez eu pudesse usar isso a meu favor mais vezes, pensei antes de ir
para sua mesa e abrir uma gaveta.
Eu não estava interessado no que a sua família mafiosa fazia aqui. Eles
eram problema dele, e eu desejava a ele tudo de bom. Se ele não
conseguisse alcançar seus objetivos, a guerra em Milão ficaria muito mais
dura para meu pai.
Não vim aqui para roubar nada do Eduardo, só para saber mais sobre
ele. Ele me contou sobre seu passado, como se tornou um membro da máfia
e também uma coisa de que não gostei nem um pouco. Ele gostava de ser
gado do Romano. Ele faria qualquer coisa por ele. Seu único objetivo era,
um dia, cuidar da sua família mafiosa.
Considerando o quão duro ele lutava por ele, o quanto ele se esforçava
para fazer seu ‘pai’ feliz, eu sabia que um dia ele seria escolhido para se
tornar o líder da família Russo. Por enquanto, porém, ele tinha que lidar
comigo.
Abri mais gavetas, encontrando mais alguns documentos nelas, mas
não muito sobre a vida dele. Isso era bastante decepcionante. Eu esperava
poder descobrir quem eram seus pais verdadeiros. Eu sabia que eles eram
italianos pobres e humildes, mas ele nunca me disse muito mais do que isso
sobre eles.
Abri outra gaveta de sua escrivaninha e quando pensei que não ia
encontrar nada de interessante aqui, meus olhos pousaram em uma folha de
papel que despertou minha curiosidade. No topo da folha eu li ‘Teste de
infertilidade’ e logo abaixo, encontrei o nome dele.
Espera, ele era infértil? Ah, então isso significava... ele e eu nunca
poderíamos ter um filho. Outra mulher teria ficado arrasada com aquela
notícia, mas eu não. Desde que minha pequena Regina faleceu, decidi
nunca mais engravidar de novo.
Cada criança que eu pudesse conceber provavelmente me faria lembrar
muito dela, e mesmo agora, alguns anos depois do seu enterro, eu ainda
derramava lágrimas por ela. A última coisa que eu queria na minha vida era
outro bebê, mesmo tendo pensado muito diferente antes de ter ela. Naquele
tempo, eu só queria ter uma família.
Mas então, a Máfia me arrebatou. Não matou apenas meu marido, mas
também a minha filha.
Eu estava segurando a folha de papel em minhas mãos com tanta força
que a estava amassando. Merda, Eduardo voltando e a encontrando nesse
estado, ele ia ligar os pontos e descobrir que alguém havia mexido nas
coisas dele.
E então, ele iria concluir que fui eu que fui ao seu quarto e bisbilhotou
as suas coisas.
Eu respirei, tentando me acalmar, e aliviei meu aperto na folha de
papel. Li mais, reafirmando o que o título dizia. Eduardo era infértil e
mantinha isso escondido de mim. Bem, não mais, mas mesmo assim, não
gostava de mentiras.
Ele deveria ter me contado, mas então imaginei que Romano Russo
não o teria escolhido para se tornar o meu marido, se soubesse. Talvez ele
estava apenas enrolando até que a verdade aparecesse.
E então eu ia colocar a folha de papel de volta na gaveta quando meus
olhos pousaram nele.
Tinha esquecido de fechar a porta.

Eduardo

Eu tinha esquecido algo importante no meu quarto. Droga, como fui


descuidado. Não esperava, porém, encontrá-la aqui. No meu quarto, suas
mãos segurando uma folha de papel.
Ela estava segurando o documento que nunca deveria ter
encontrado. O conhecimento dela sobre esse fato poderia trazer
consequências terríveis para o nosso casamento. Mesmo que eu não
quisesse me casar com ela, a última coisa que eu queria era que Romano
descobrisse que eu era infértil.
Ele não iria apenas terminar este casamento imediatamente; ele
também me expulsaria da sua família. E trabalhei muito para me tornar seu
braço direito. Eu simplesmente não podia permitir que isso
acontecesse. Simplesmente não podia.
– Eduardo-
– O que você está fazendo?
– Eu sinto muito. Eu estava apenas...
– Você estava bisbilhotando minhas coisas. Eu nunca fiz isso com
você. Você acha que isso é justo?
Ela largou o documento que estava segurando e se aproximou de mim.
– Eu sei sobre tudo.
Corri minha mão pelo meu cabelo, fechando a porta atrás de mim. Ela
sabia disso, mas outras pessoas não deveriam.
– Você vai contar ao seu pai?
– Não, claro que não.
Eu respirei profundamente. Eu olhei em seus olhos e descobri que ela
estava dizendo a verdade. Melhor assim.
Peguei o documento e usando um isqueiro, queimei-o. Joguei o papel
em chamas pela janela, para o choque de Elsa. – Ninguém mais precisa
saber disso.
Isso era algo que eu deveria ter feito há muito tempo.
– Você é infértil – disse ela, afirmando o óbvio.
Eu assenti, admitindo a única coisa que me machucava muito. – Sim,
eu sou. Nunca teremos nossos próprios filhos.
Elsa e eu tínhamos ficado mais próximos, então quando ela se
aproximou de mim e pareceu estar preocupada com o que aprendeu, não
fiquei surpreso. O que me chocou, porém, foi Elsa pegando a minha mão de
repente. Ela estava segurando-a com muito cuidado.
– Sinto muito, Eduardo.
– Você não deveria. Aconteceu porque eu mereci.
– O que você quer dizer?
Eu olhei em seus olhos. – Você tem alguma ideia do tipo de coisa que
tive de fazer para entrar na Máfia?
Ela sacudiu sua cabeça. – Eu tive que matar meu próprio tio. Tornar-
me infértil foi a maneira de Deus me punir.
Ela engasgou, mas não antes de cobrir sua boca, seus olhos
esbugalhados. – Sinto muito, Eduardo. Eu não fazia ideia…
– Sim, realmente não tinha, e não se desculpe agora.
Ela apertou minha mão. – Mas isso não significa que você não pode
ser pai.
– Você quer dizer que eu deveria adotar uma criança? Não acho que
Romano gostaria disso. Ele vai morrer em breve. Talvez ele até... morra
naquela guerra em que o estou ajudando, mas não posso deixá-lo saber da
minha infertilidade. Não posso deixá-lo descobrir que nunca serei capaz de
engravidar você.
E Jesus, só de falar sobre esse tipo de coisa agora era terrível. Parecia
falso e forçado, e Elsa aqui não deveria estar tendo essa conversa comigo.
Coloquei minha mão em suas costas e comecei a guiá-la para fora da
sala. – Elsa, deixe-me um pouco em paz. Eu preciso pegar algo aqui, e
então vou sair novamente.
Mas ela parou e colocou sua mão no meu peito. – Não faça isso com
você mesmo. Você está pensando que pode ignorar esse problema, mas
você precisa superá-lo, na verdade.
– E como você propõe que eu faça isso? Eu não posso me tornar fértil.
Seus olhos me estudaram e eu senti algo mudando nela, como se ela
finalmente tivesse encontrado algo que vinha tentando encontrar há muito
tempo.
– Com isso – ela disse antes de me beijar de repente, fazendo meu
coração pular.

Elsa
O beijo não durou muito. Apenas o suficiente para fazê-lo entender
uma coisa muito importante que seus olhos não podiam ver. Eu não tinha
percebido até agora, mas aquela pequena coisa sobre ele, que não era nada,
me fez ver a verdade.
Eduardo nunca foi como os outros capangas da máfia. Uma vez pensei
que ele era, mas embora ele tenha sido rude e agressivo comigo algumas
vezes nos primeiros dias depois que chegamos aqui, ele parou de ser
assim. Ele mudou, e tudo porque percebeu que precisava ser outra pessoa
para mim.
Eu me apaixonei por ele. Certa vez, disse a mim mesma que nunca
permitiria que tal coisa acontecesse novamente, mas aqui estava eu, prestes
a fazer a única coisa que nunca pensei que faria.
Dei outro par de beijos em seus lindos lábios e então começamos a nos
beijar mais profundamente. Este momento foi o culminar de tudo o que
esperávamos. Toda a tensão, o amor e tudo o mais sendo liberado.
◆◆◆

Muito tempo passou desde então, e ele e eu ficamos mais


próximos. Ele me disse, ou acabou tendo que contar, a única coisa que
pensou que nunca poderia compartilhar comigo.
Eu também tinha uma coisa que precisava dizer a ele, e isso era algo
que me machucou muito. Mesmo agora, segurando a foto dela em minhas
mãos, eu estava pensando que não deveria fazer isso.
Eduardo estava no meu quarto e, apesar do sol e do céu sem nuvens lá
fora, ele podia sentir o quanto aquele momento significava para mim. Eu
não falava sobre isso há muito tempo. Anos, até.
Sua mão procurou a minha e seus olhos me encararam. – Está tudo
bem, Elsa. Você não precisa me contar sobre isso se não precisar.
– Mas eu preciso sim.
Eu precisava contar a ele porque era a única coisa que eu não tinha
contado a ele ainda. Meu segredo mais profundo. A coisa que eu sempre
mantinha longe dele, de todos. A morte da minha filha e o que esse
momento significava para mim.
Eu não tinha superado sua morte ainda. Como eu poderia ter? Mas
neste momento agora estava finalmente deixando para trás a coisa que
quase me matou. Regina não estava mais comigo. Eu estava aqui e estava
começando um novo capítulo da minha vida.
Sua mão apertou a minha um pouco, e ele disse – Eu quero saber tudo.
Mostrei a foto a ele e disse – Essa era minha garotinha. Ela foi morta
durante um tiroteio entre gangues da máfia. Desde então, a única coisa que
sempre quis para minha vida era começar de novo. Não quero mais viver
com a máfia.
– Você sabe que isso não será possível se você se casar comigo, certo?
Eu concordei. – Eu sei que você é diferente. Você vai me manter
protegido. Meu marido também morreu, mas não era como você. Eu sei que
você pode me manter seguro.
Eu estava chorando, lágrimas rolando pelo meu rosto. Percebendo o
que eu precisava, Eduardo me puxou para si e me fez enterrar minha cabeça
em seu peito largo e confortável. Ele vestia sua camisa de terno branco, e eu
podia sentir seu calor, o tom do seu perfume e lembrar o quanto eu queria
que ele completasse minha vida.
Eu me afastei dele depois de ficar assim por minutos, minhas lágrimas
agora secando. Apenas ter abraçado ele e sentido a sua presença foram
suficientes para me acalmar. Eu olhei em seus olhos mais uma vez e
encontrei apenas o que eu sabia há algum tempo desde que vim aqui.
Este homem era o certo para mim. Tínhamos alguns obstáculos e de
forma alguma pensei que teríamos uma vida fácil, mas com ele, sabia que
ficaria segura e que poderíamos até continuar morando aqui em Chicago.
Eu continuaria a fazer parte da Máfia, mas estava tudo bem. Eu estava
tentando começar de novo, de qualquer maneira. E eu estava pensando que
já havia encontrado a nova vida de que precisava. Eu já estava imaginando
que a tinha. Com ele e mais ninguém.
– Estou feliz que você me contou sobre isso. Posso ver que significa
muito para você.
Usando as costas da minha mão, limpei o que restou das minhas
lágrimas. Meus olhos estavam pesados, como se estivessem em chamas. Eu
ri e coloquei de lado uma das muitas fotos que eu tinha da minha
filha. Pensei em queimá-las uma vez. Era a única maneira de esquecê-la de
uma vez por todas, mas decidi não fazer isso.
Agora que estava pensando sobre isso, fiquei feliz por ter tomado essa
decisão.
Sua mão procurou meu queixo e ele inclinou minha cabeça para
cima. – Elsa, você não tem nada a esconder de mim, e desde que nos
conhecemos, eu sabia que você era uma mulher especial. Só não achei que
era tão perfeita assim para mim. Sabe de uma coisa? Acho que eles estavam
certos o tempo todo sobre esse casamento.
Eu ri, nem mesmo sabendo o que dizer a ele agora. Este momento era
tudo para mim, e Eduardo aqui acabara de se tornar muito mais do que o
homem da minha vida.
Olhei em seus olhos, encontrando não apenas a certeza neles de que
aquele momento significava tudo para ele, mas também que ele esperava
que eu lhe contasse uma coisa pequena, mas importante, que ele queria
ouvir.
Beijei seu lábio inferior e disse – Case comigo, Eduardo.
Ele me deu um sorriso de boca fechada e disse – Como quiser, minha
rainha.
E nós nos beijamos. Enquanto fazíamos isso, não pensei em nada mais
do que fazer o casamento acontecer aqui e agora. A única coisa de que
precisávamos para tornar nossa vida inteira. Eu sabia que ele nunca seria
capaz de me engravidar e, para ser franca, eu estava de bem com isso. Eu
não tinha certeza se queria outro bebê. As memórias que tinha de Regina
ainda me machucavam muito.
Beijei-o mais um pouco e comecei a despi-lo, primeiro tirando sua
camisa. Seu torso aparecendo na minha frente, suas linhas preenchendo
minha visão. Mordi meu lábio inferior. Eu não me sentia assim há muito
tempo.
Corri minhas mãos sobre seu abdômen, em seus peitorais e senti seu
torso e braços. Ele era tão musculoso, e eu também não pude deixar de
notar as cicatrizes que tinha. Eram cicatrizes que chamavam minha atenção
e que me fizeram lembrar que este não era um homem normal. Não, era
Eduardo, e ele era o braço direito de um dos chefes da máfia italiana mais
importante do mundo.
Eu deslizei minha mão para baixo, Eduardo ficando parado. Eu
encontrei seu cinto, desabotoei-o e então o tirei, minha mão se abrindo para
deixá-lo cair. Eu me esforcei para puxar suas calças para baixo, e então,
diante de mim, estava o homem com a constituição mais perfeita que eu já
tinha visto em minha vida.
Eu beijei seu corpo, deixando-o mais louco por mim. Ele inclinou sua
cabeça e sussurrou em meu ouvido – Você é tudo para mim.
Isso não veio do nada. Já fazia muito tempo que vínhamos nos
aproximando desse momento. Sua missão aqui estava indo bem e ele estava
ajudando muito a máfia em Milão. Tudo estava indo de acordo com os seus
planos, inclusive neste exato momento.
Ele me fez dele. Eu era sua rainha agora e, em breve, estaria
comandando Milão com ele. Bem, talvez não administrando como uma
parte ativa de suas operações, mas ainda ajudando muito. Eu faria
companhia a ele. Eduardo nunca mais precisaria de ninguém em sua vida.
Suas mãos tiraram minha camisa e ele então desabotoou meu sutiã. Ele
o tirou de mim e o deixou cair de sua mão. Eu o beijei novamente, sentindo
todo o seu corpo reagir a isso. Ele estava respirando tão devagar agora, e
apesar do céu claro e do sol quente lá fora, eles não tornavam este momento
menos do que o que era.
Eduardo brincou com meus seios, fazendo-me arquear minhas
costas. Ele sabia como acertar os pontos certos, como me fazer enlouquecer
por ele. Eu joguei minha cabeça para trás, meu cabelo voando, e seus lábios
agora beijando a frente e os lados do meu pescoço.
Suas mãos deslizaram para baixo, e ele sentiu meu corpo nu, sua
presença toda sobre a minha, insaciável. Se havia uma palavra para
descrevê-lo agora, era essa.
Senti todo o meu corpo perder as forças e sabia que não aguentaria
muito mais. Acabei de me lembrar de uma coisa sobre ele. Ele era mais
velho que eu por 7 anos e tinha tanta experiência que exalava dele.
Eu senti o cheiro do seu perfume. Era muito parecido com ele e enchia
as minhas narinas. Beijei seus peitorais, brinquei com seus mamilos e os
senti endurecer sob o toque de meus lábios.
Suas mãos trabalharam rápido e ele tirou minha saia tão rapidamente
que não vi isso acontecendo. Tudo o que senti foi o ar de repente entrando,
roçando pela minha pele e me fazendo abrir bem meus olhos. Quase tive
medo dele, mas então encontrei seus olhos escuros e confiantes e soube que
não havia nada que temer.
Ele me abraçou, me deixando louca por ele. Pensei cada vez mais
nesse momento, quando finalmente estávamos deixando sair tudo o que
pensávamos um sobre o outro.
Minhas mãos deslizaram por seu abdômen e eu encontrei o cós de sua
cueca boxer. Talvez estava me precipitando, mas não conseguia pensar em
mais nada. Eu o queria e nada mais. Eduardo era o homem da minha vida.
Eu deslizei para baixo sua cueca, revelando para mim seu pau duro. Eu
nunca tinha visto ele antes, e vendo-o agora, percebi o quanto estive
querendo Eduardo esse tempo todo. Havia algo nele que eu não podia
encontrar em outro homem, e ele era tão diferente de todos os outros.
Mas eu estava me adiantando, e ele também. Seu sorriso se alargou e
ele tirou minha calcinha, finalmente me deixando totalmente nua na frente
dele. Achei que ele fosse fazer outra coisa, mas ele logo me puxou para ele
e colocou um dos meus mamilos duros em sua boca.
Eu assisti com admiração enquanto ele o chupava, seus olhos ainda
focados e treinados nos meus. Talvez eu não devesse ficar surpresa por ele
estar com tanta sede, mas o fato é que eu também me sentia assim. Nunca
estive com um homem tão sedento por mim.
Por enquanto, tínhamos esquecido nossos problemas e, com a porta
trancada e a espessura das paredes, sabíamos que tínhamos a privacidade de
que precisávamos.
Sua boca se moveu para o outro mamilo, enquanto minha mão
procurava seu cabelo e eu o agarrei. Quase não conseguia sentir mais
minhas pernas. Não conseguia sentir meu corpo e, no entanto, não ia cair,
não ia perder meu equilíbrio.
Ele continuou chupando meu mamilo, me deixando ainda mais louca
por ele. Eu gemi alto e pedi que ele continuasse. Suas mãos foram para
minhas costas e ele as deslizou lentamente, procurando minha bunda. Ele a
encontrou e deu um aperto suave, fazendo-me sentir uma onda de prazer
por todo o meu corpo.
Agarrando seu cabelo ainda, eu o fiz se mover para baixo, e sua boca
encontrou minha boceta. Ele brincou com minhas dobras usando seus dedos
e, quando se cansou disso, fez o mesmo com meu clitóris, fazendo meus
joelhos vacilarem.
O tempo todo, em minha mente, um furacão de pensamentos embaçou
minha visão. Seu cabelo era a única coisa que ainda me mantinha neste
mundo, embora logo perderia seu poder também. Eduardo era implacável e
sua experiência era quase palpável.
Eu gemia tão alto que pensei que um dos empregados viria aqui para
verificar o que estava acontecendo, mas ninguém bateu na porta. Sua língua
ainda devorava minha boceta, me trazendo para mais perto de um ponto
sem volta.
E senti meu corpo estremecer e tremer, chegando ao ponto
mencionado. Tudo caiu no rosto dele. Seus olhos se arregalaram e talvez ele
estivesse pensando que isso não teria acontecido tão cedo.
Ele acalmou seu ataque e me segurou contra ele. Senti meu corpo
relaxar, minha respiração se tornando mais controlada. Olhei em seus olhos,
encontrando-os escuros mais uma vez, e sussurrei – Por favor, continue.
Um largo sorriso substituiu a seriedade em seu rosto, e ele me abraçou
ainda mais perto dele, seu pau ainda parecendo muito duro. Ele estava ereto
esse tempo todo, esperando que eu dissesse certas palavras.
Eu me sentia incapaz de fazer qualquer coisa agora, suas mãos
deslizando por todo o meu corpo, seus beijos não apenas dominando minha
boca agora, mas também meu pescoço e seios. E eu senti a mesma coisa
crescendo, mais e mais, dentro de mim. Se ele continuasse assim, eu
chegaria ao clímax mais uma vez.
Sua mão encontrou meu queixo, e ele fixou a posição e o ângulo da
minha cabeça para que eu pudesse olhar em seus olhos
novamente. Lembrei-me de como fiquei impetuosa o tempo todo quando
cheguei aqui, pensando que não seria dele. Eu não pensei, naquela época,
que ele iria ganhar meu coração do jeito que ele fez.
Sua mão encontrou a minha, e ele a levantou na frente dele. Sua
cabeça se moveu para baixo e ele beijou o topo dela, sugerindo o quanto ele
me amava. Eu não conseguia pensar direito agora. Era quase como se eu
estivesse bêbada.
– Case-se comigo, Elsa – disse ele.
Não era um pedido, não era uma pergunta. Era uma declaração. Ele
apenas disse que nada mais seria suficiente para ele. Era eu, ou toda a sua
vida estaria arruinada.
– Vou me casar com você e quem pensou que não daríamos certo terá
que engolir as próprias palavras. Isso é o que as pessoas pensam sobre
casamentos arranjados.
Ele sorriu. – Bem, eles não poderiam saber que você era tão incrível.
Seus lábios me encontraram de novo, e ele disse – Você está se
sentindo tão tensa aí embaixo. Estou percebendo isso. Eu não preciso enfiar
meus dedos aí para ter certeza.
– Estou louquíssima por você.
– E esta não é a sua primeira vez.
Eu balancei minha cabeça.
– Droga, só posso imaginar como foi para o seu primeiro homem.
Eu beijei seus lábios. – Certamente não tão bom quanto está sendo
agora.
Seus beijos percorreram meu corpo, e quando pensei que ele iria
atormentar minha boceta mais uma vez, seus braços foram atrás de mim, e
ele me pegou, seu corpo nem mesmo exercendo muita força.
– Eduardo!
– Ponha-me no chão.
– Agora não.
Achei que ele ia fazer a loucura de me tirar da sala e ir para outro lugar
(e quem sabia onde seria), mas isso ele não fez. Ele caminhou até a cama e,
depois de parar na frente dela, me deitou suavemente no colchão.
Eu respirei durante os segundos que o levou para subir na cama, e
então ele se jogou bem em cima de mim, com suas mãos e seus beijos por
toda parte. Eu me contorci ao sentir meu orgasmo crescendo mais uma
vez. Achei que não chegaria ao meu clímax pela segunda vez consecutiva,
mas Eduardo estava determinado a refutar isso.
Sua mão brincou com minhas dobras, provocou-as e então ele enfiou
um dedo dentro. – Não posso engravidar você e, pelo que eu sei, não há
perigo então em fazer isso sem camisinha. O que você acha?
Suas palavras soaram como se tivessem vindo de muito longe. Lenta e
dolorosamente, abri meus olhos e encontrei os dele, minha mente ainda
pensando em uma resposta para dar a ele.
Eu sorri e tinha certeza de que parecia como uma idiota agora e disse –
Quem se importa com esse tipo de coisa agora?
Antes desse momento com ele, eu havia deixado a depressão de lado,
mas ainda era um perigo constante para mim. Sempre tive medo de cair
naquele poço de escuridão, descobrindo-me incapaz de sair dele como
naquela época em que quase pulei do prédio.
Agora, porém, Eduardo curou minha depressão completamente. Se
havia uma coisa que resultaria disso, era que eu não tinha mais nada com
que me preocupar em relação à minha depressão. Eu havia encontrado outro
motivo forte para continuar vivendo, e ele estava muito feliz por continuar
comigo. Tornar-me sua cativa acabou se transformando em uma das
melhores coisas que aconteceram em minha vida.
– Eu vou fazer isso direito, Elsa – disse ele antes de enfiar seu pau em
minha boceta, me abrindo por dentro todinha.
Eduardo começou a meter em mim com força e pedi a ele que
continuasse assim. Não havia necessidade disso, entretanto. Ele iria
continuar me devorando, e não havia nada que pudesse impedi-lo.
Minha mente estava em uma onda de felicidade, meus pensamentos
tão calmos agora. Achei que ficaria nervosa, mas tudo menos isso estava se
passando. Eu estava em paz comigo mesmo, com o que estava acontecendo,
e tudo estava acontecendo tão rápido. Eduardo era o remédio que eu
procurava desde que Regina foi morta.
Envolvi minhas pernas em torno dele, precisando mais deste
homem. Seu sorriso estava bem na frente dos meus olhos enquanto ele
continuava metendo em mim, sempre com mais força.
O som dos meus gemidos encheu a sala, e todo o meu corpo estava tão
quente que quase podia pensar que ia explodir a qualquer momento. Quanto
mais ele me enchia de si mesmo, mais eu desejava que ele nunca parasse.
– Caralho... Porra... – Ele disse lentamente, sua voz soando baixa.
E eu senti que estava chegando. A segunda onda de orgasmo então me
atingiu como um trem, e eu convulsionei sob ele, seus lábios encontrando
os meus logo depois. Eduardo nunca ficava cansado de me beijar. Beijei-o
mais uma vez ainda e disse – Não pare nunca.
Meu corpo se acalmou, mas eu sabia que algo mais estava para
acontecer. Seu pau começou a pulsar e seu sorriso se alargou. Ele me beijou
mais uma vez antes de começar a gozar dentro de mim.
Ele saiu de mim, meu útero sentindo alguns de seus espermatozoides
irem com ele. Eduardo deitou-se ao meu lado e seu corpo procurou o
meu. Ficamos abraçados por algum tempo, apenas sentindo um ao outro e
nossos corpos se unindo.
Mas nenhum de nós queria dormir ainda. Seus olhos procuraram os
meus e ele disse – Espero que tenha gostado.
Comecei a rir por alguns segundos. Então, depois de me acalmar e
voltar ao normal, eu disse – Você fez muito mais do que isso.
Seus lábios se alargaram, e então, ele me beijou, selando meu destino
com ele.
Capítulo 8
Eduardo

Meses se passaram desde aquele momento maravilhoso com ela, quando


ela se tornou uma parte importante da minha vida. Desde então, Elsa ficou
mais próxima de mim e eu fiquei mais próximo dela. Nós fizemos tantas
coisas juntos agora, fazendo a mansão parecer tão viva. Era quase como se
mais pessoas morassem com a gente agora.
Saíamos juntos com mais frequência, explorando mais de
Chicago. Havia algo nesta cidade que me deu certeza de que deveria morar
aqui, com ela, e pensar em não voltar para Milão. Veríamos se eu
continuaria vivendo assim no futuro, mas por enquanto, não queria nada
mais do que continuar com ela.
Eu compartilhei muitos outros momentos com Elsa, e agora,
estávamos fazendo algo que não tínhamos feito desde que chegamos à
América. Havia uma sorveteria boa e escondida não muito longe da
mansão, e decidi levá-la lá.
Elsa enlaçou seu braço com o meu, e a brisa fresca e a lua tornaram
este momento ainda mais inesquecível. Atrás de nós estava a mansão, em
toda a sua glória e com a maioria das luzes acesas, quase parecendo um
farol neste bairro.
Eu estava caminhando com ela e pedi aos meus homens que não
viessem comigo. Todos eles entenderam meu pedido e não fizeram queixas
a respeito. Eles eram leais a mim, mas não eram cegos. Eles sabiam que eu
estava correndo um risco.
No entanto, assumir um pequeno risco era exatamente o que eu
precisava agora. Por ela, eu poderia fazer qualquer coisa.
Ela caminhou comigo, seu braço ainda ligado ao meu, e ela não usava
nada de especial, assim como eu. Não fazia sentido usar nada chique para
isso. A sorveteria, ou sorveteria, era uma das coisas que mais sentíamos
falta em nossa vida anterior na Itália.
Nenhum de nós tinha comido gelato desde que vim aqui, e isso era um
pecado. Precisávamos fazer algo a respeito disso.
Elsa parecia mais gorda agora, mas não fiz nenhum comentário sobre
isso. Eu sabia como as mulheres podiam ficar bravas com esse tipo de
coisa.
Ela virou sua cabeça, olhando para mim, e eu olhei para seus lindos
olhos. Eles brilhavam sob a luz da lua, as lâmpadas da rua se juntando a ela.
– Mal posso esperar para comer um sorvete agora.
– Eu também – eu disse antes de dar-lhe um beijo, o que fez seu rosto
corar.
Ela e eu fomos à loja de sorvetes mencionada e pedimos algumas
casquinhas para nós. Os sabores de sua casquinha eram baunilha com uva, e
o meu era maçã verde. O que mais gostei nessa loja, pensei, foi que ela
tinha uma coleção enorme de sabores.
Eu já estava pensando em vir aqui novamente, e eu sabia que ela iria
gostar também. Dada a expressão em seus olhos, eu sabia que nem
precisava perguntá-la sobre isso agora.
Sentamo-nos a uma mesa de madeira. Era pequena, e a falta de gente e
o silêncio inusitado desta parte da cidade tornavam este momento muito
romântico.
Ela terminou de comer sua casquinha e disse – Tenho boas notícias
para você.
Ah, merda. Sempre que ela dizia isso, era porque estava se preparando
para lançar uma bomba e, agora, eu não precisava desse tipo de coisa.
Também terminei de comer minha casquinha e, depois de limpar a
boca com um guardanapo descartável, disse – Espero que não seja nada
sério como aquela coisa que você me fez fazer semana passada.
Ela riu e sorriu. Procurando minha mão, ela disse – Estou grávida.
O que?!
Como ela estava grávida?!
Eu me levantei, quase tombando sobre a mesa. – Amor, você deve
estar enganada.
– Mas eu não estou. Eu fiz o teste e deu positivo. Você vai ser pai.
Eu trouxe minha mão à minha testa, me recusando a acreditar no que
ela estava me dizendo. Como ela estava grávida quando eu sabia que era
infértil com certeza?
Me acalmando um pouco, eu disse – Você deve estar enganada. De
forma alguma te engravidei.
Ela franziu sua testa, parecendo um pouco irritada, e então tirou da
bolsa um daqueles kits de autoteste para gravidez. Tinha sido usado e do
lado pude ler a confirmação do que ela me disse.
O resultado do teste foi um sonoro Sim, e agora... agora minha vida
inteira havia virado de cabeça para baixo.
Procurei sua mão e me afastei dali, voltando para a
mansão. Precisávamos de um pouco de privacidade agora.
– Elsa – eu disse, olhando profundamente em seus olhos – Eu estou tão
feliz! Nunca pensei que isso fosse acontecer. Eu tinha tanta certeza...
Sua mão procurou meu queixo e ela segurou minha mão nele. –
Realmente aconteceu e é o único presente que pedi desde que conheci quem
você é de verdade. Eu também pensei que isso não aconteceria, mas
aconteceu, e agora temos outra coisa pela qual esperar, assim que voltarmos
para Milão.
Eu apertei um pouco a mão dela. Eu ia mudar o assunto desta
conversa. – Sobre isso, acho que precisamos conversar sobre nosso futuro
aqui.
Seus olhos se arregalaram. – Você não quer dizer... você quer viver
aqui para sempre?
Eu assenti. – Quero sim. Este é o melhor lugar para mim, você e
aquele pequenino ou pequenina dentro da sua barriga.
Os cantos de seus lábios se curvaram para formar um sorriso tenso, e
ela disse – Eu não poderia ter pedido um lugar melhor. Depois de conhecer
esta cidade, comecei a pensar que quero viver o resto da minha vida aqui, e
agora acho que sei melhor a língua deles.
Olhei nos olhos dela e dei outro beijo profundo em Elsa. As coisas
haviam mudado para melhor e nosso futuro parecia mais brilhante do que
nunca.

Elsa

A noite estava silenciosa lá fora, a lua subindo no céu. Era uma espécie
de lua do último quarto e, com as estrelas atrás dela, o próprio céu escuro
parecia tão bonito. Eu não conseguia parar de olhar para ele por muito
tempo.
Minha mente estava pensando. Não havia passado muito tempo desde
que chupamos sorvete naquela sorveteria e, desde então, ainda não
tínhamos decidido um nome para o nosso bebê. Era algo que discutiríamos
em uma data posterior.
Eu ouvi um som fraco, mas não pensei muito nisso. Afinal, sons fracos
ocorriam aqui o tempo todo. Este lugar era bem escondido o suficiente para
que esse tipo de coisa não me preocupasse também.
Eu estava lendo um livro em inglês sobre como cuidar de bebês e, de
vez em quando, parava de ler para admirar o céu.
Quando olhei mais uma vez, foi quando algo pequeno, mas pesado,
quebrou a janela. Eu engasguei e deixei cair meu livro no chão. Saí da cama
e descobri o que acabara de quebrar minha janela.
Uma pedra, e isso significava que...
Eu ouvi outro som fraco ao longe e, olhando pela janela, descobri
quem estava fazendo isso. Ou melhor, encontrei mais de uma pessoa
invadindo a mansão, mãos segurando armas com silenciador.
Caralho, eles estavam invadindo a mansão e vieram aqui para matar o
meu Eduardo! Eu precisava sair daqui e avisá-lo.
Corri para a porta e a abri, mas logo descobri que era tarde demais. Os
homens já estavam na mansão, e alguns deles vinham direto na minha
direção, suas armas apontadas para meu rosto. Se eu fizesse algo
precipitado, eles não hesitariam em acabar com a minha vida.
E então, eu me acalmei e levantei meus braços, mostrando a eles que
eu não representaria nenhuma ameaça.
Eles vieram até mim e um deles disse – Você vem com a gente.
Ele carregava algo em suas mãos. Algemas. Ele me fez virar de costas
para ele e depois de colocar meus braços atrás dele, ele me algemou.
Eu estava apavorado, meu coração disparado como um trem em alta
velocidade. Eu não conseguia pensar direito e, o tempo todo, ficava
pensando para onde Ed tinha ido. Eles mataram a maioria dos homens da
casa, e alguns estavam até mesmo entrando pela janela que eles quebraram.
Eles estavam entrando por todas as janelas e portas. Era uma operação
limpa e cirúrgica, e eles falavam a língua local, mas seu sotaque mostrava
suas verdadeiras origens. Eles também eram italianos, e imaginei que já
moravam aqui muito antes de nós chegarmos.
Ed, o meu querido Eduardo, deve ter feito algo terrível para irritá-
los. Eles vieram aqui porque sabiam que eu era importante. Afinal, meu pai
faria qualquer coisa para me ter de volta.
Eu pensei no bebê. Nós nem mesmo demos um nome ainda (e já
sabíamos que seria um menino) e ele já estava sendo colocado em perigo
por causa dessa porra de vida na máfia da qual eu não conseguia fugir.
Achei que, com Ed, eu estaria segura, mas parecia que não era o
caso. Não para sempre. Ele não era o homem imbatível que uma vez pensei
que era. Pelo contrário. Ele era humano como todo mundo.
Eles estavam começando a me tirar de lá quando ouvi um tiro alto e
penetrante. Um dos homens que estava me levando caiu morto no chão, e
quando olhei para a direção de onde veio o tiro, eu o encontrei.
Ed. Ele estava aqui para me salvar.

Eduardo

Eu deveria saber que isso iria acontecer. Como eles estavam fazendo
isso com tanta perfeição, matando a maioria dos meus homens? Eles não
pegaram todos eles, mas quando isso acabasse, e se eu sobrevivesse à
invasão, precisaria pedir a Romano para enviar mais homens aqui, se
pudesse. A guerra pela qual ele lutava em Milão, embora os meios de
comunicação aqui não falassem quase nada sobre isso, já estava sendo
sangrenta. Tudo o que eles estavam relatando era um aumento de pessoas
sendo mortas lá. Eles não tinham ideia do que realmente estava
acontecendo.
Meus homens estavam comigo, dentro do meu quarto. Consegui que
alguns deles viessem comigo e tranquei a porta para que os invasores não
encontrassem o caminho por aqui. Também coloquei meu guarda-roupa
atrás da janela, impedindo os que haviam colocado escadas e iam subir para
dentro de casa por lá.
Eles sabiam que eu ainda estava vivo. Eu não poderia saber quem eles
eram com certeza, mas seus sotaques eram inconfundíveis. Eu tinha
algumas suspeitas, mas sem mais provas, não poderia fazer acusações, por
enquanto.
E de qualquer forma, isso não era uma preocupação minha neste
momento. Eu precisava encontrar um ponto fraco em sua operação e,
embora eles soubessem que havia pessoas nesta sala, eu poderia fazer uso
de algo para apoiá-los.
Havia uma passagem secreta que eu poderia usar para surpreendê-
los. Eu sabia que um dia seria útil. Só não pensei que hoje, de todos os dias,
uma ou mais famílias italianas aqui em Chicago viriam à minha mansão
para matar a mim e aos meus homens.
Meus pensamentos estavam com Elsa. Ela estava sozinha. Nunca
pensei que deveria ter colocado alguns homens ao lado de seu quarto para
mantê-la protegida, mas aproveitando este momento para refletir sobre o
que estava acontecendo aqui, cheguei a uma conclusão importante que fez
meu coração afundar.
Ela iria morrer ou ser sequestrada se eu não fizesse um milagre
acontecer agora.
E um milagre era tudo o que eu esperava neste exato
momento. Quando olhei pela janela e antes de bloqueá-la com um guarda-
roupa, avistei muitos homens vindo aqui. Eles devem ter encontrado uma
maneira de pular as paredes e abrir o portão principal. A maioria dos meus
homens lá fora provavelmente já estava morta.
Não sabia se existiam alguns sobreviventes ainda, mas de qualquer
forma, eles não poderiam me ajudar muito.
Fiquei impressionado com a forma como eles simplesmente
apareceram aqui. Quando percebi o que estava acontecendo, já era tarde
demais. Agora, tudo que eu tinha era eu, esses homens, a minha coragem e
astúcia para acabar com seus planos.
Eu segurei minha arma e disse – Vamos sair agora.
Expliquei o plano para eles. Eles precisariam ser rápidos e agir sem
hesitação. Éramos tão poucos, e a mansão estava tão silenciosa que me
perguntei se, mesmo se fizéssemos tudo certo, seríamos capazes de sair
disso com vida e salvar Elsa.
Seguimos a passagem secreta para fora do quarto, e depois de passar
por alguns túneis, acabamos na porta da mansão. Em seguida, fechei a saída
da passagem secreta depois que meus homens usaram a escada para subir
até o chão.
Arbustos e árvores nos esconderam, e a grama escondia a saída do
túnel que nos trouxe até aqui. Aqueles homens podiam até saber como era
essa propriedade, mas não sabiam todos os segredos que ela
continha. Fiquei tão feliz que Romano construiu aquela série de túneis no
caso de algo como esse ataque acontecer.
Olhei para meus homens e disse – Não desperdice uma única bala, e
fiquem em silêncio. Não podemos deixá-los saber que saímos da sala.
Todos eles assentiram e prepararam suas armas. Isso ia ser difícil, mas
sabíamos que poderíamos sair vitoriosos.
Um após o outro, atiramos neles. Dividi o grupo em dois para que
pudéssemos cobrir mais terreno. Eu perdi a conta de quantos capangas
encontraram seu fim pelas minhas mãos no meio do caminho. Para ser
honesto, isso não importava nem um pouco para mim. Eu só precisava
chegar até Elsa e encerrar a operação aqui de forma que eles nunca
considerassem outro ataque.
Lenta e dolorosamente, matamos todos fora da mansão e agora só
precisávamos chegar até Elsa. Eu não tinha ideia se ela ainda estava dentro
do seu quarto, ou se aqueles homens já a estavam levando para algum lugar.
Entrei na mansão e subi as escadas. Matamos mais de seus homens,
seus corpos caindo no chão. O elemento surpresa ainda era nosso, mas me
perguntei por quanto tempo isso iria durar.
O homem por trás disso, o líder do ataque, logo descobriria que algo
muito errado estava acontecendo.
Ouvi alguém dizer algo no andar de cima e, em seguida, passos
apressados vindo até nós. Merda, eles sabiam que as coisas não estavam
mais de acordo com seus planos. Eles devem ter tentado falar com alguns
de seus homens lá fora, não obtendo nenhuma resposta.
Eu precisava agir rápido e evitar que isso se transformasse em uma
batalha direta. Eu não sabia quantos deles ainda estavam aqui, e se
poderíamos acabar com eles em um tiroteio.
– Homens, dispersem-se! Eu disse, determinação em minha voz,
esperando estar fazendo a escolha certa.
Capítulo 9
Elsa

Outro tiro ecoou pela casa. O que quer que tenha acontecido com Ed e
seus homens, deve ter sido terrível. Ele tinha sangue por todo o corpo e
parecia cansado e arrasado. Mais dos homens que estavam me sequestrando
caíram no chão, seus olhos uma expressão clara de choque.
Mas ainda assim, ele fez o que teve que fazer. Ele conseguiu me salvar,
às custas de seus homens, que agora estavam todos mortos. Se
continuássemos a viver aqui, teríamos que construir tudo do zero.
Apenas um homem estava me mantendo em cativeiro, e era o que
segurava meus braços algemados, impedindo-me de ajudar Ed. Eu queria
ajudá-lo, mas me sentia tão impotente e minha mente continuava pensando
no bebê.
Eu não poderia perdê-lo. Eu não poderia ter um aborto espontâneo,
mas também estava muito nervosa. Meu coração estava batendo tão rápido,
e eu sentia minha visão embaçar de vez em quando.
Essa invasão, esse ataque estava me afetando, e eu não conseguia parar
de pensar no que aconteceu naquela noite, quando minha pequena Regina
foi tirada de mim. Eu não poderia deixar isso acontecer
novamente. Simplesmente não podia. Não iria.
Senti uma dor imensa na minha barriga, fazendo-me agarrá-la e me
curvar um pouco. O homem com a máscara de esqui preta me endireitou
imediatamente, sua mão tão áspera que pensei que ele não hesitaria em
fazer algo muito pior comigo.
– Mulher, fique quieta.
E ele estava certo. Dor ou não, eu precisava ser forte e ficar
quieta. Mas aquela intensa pontada de dor não era algo que eu podia
ignorar. Meu bebê estava bem? Ele tinha que estar. Eu não aguentaria se
perdesse outro filho.
Achei que tivesse superado sua morte, mas esse ataque e aquela
pontada de dor me fizeram lembrar de cada pequeno detalhe de sua
morte. Quando eu estava fugindo com ela, seus gritos, seu silêncio
repentino e meus olhos pousaram na linha de sangue que saía do buraco na
cesta do bebê ...
Senti outra sacudida de dor, minhas pernas tremendo e minha mão
indo para minha barriga novamente. Isso não poderia durar muito mais
tempo. Eu não iria resistir.
– Mulher, você está- Ele estava dizendo antes de outra bala cortar o ar,
seu sangue espirrando no meu rosto. Olhei para trás e o encontrei caindo,
perdendo o equilíbrio, um buraco sangrento na sua testa.
Eu ouvi seu corpo caindo ao lado dos seus amigos. Ed veio correndo
até mim depois de enfiar a arma por debaixo da calça, seus braços me
envolvendo enquanto ele perguntava – Você está bem?
Eu olhei em seus olhos e me lembrei do quanto ele me amava. – Eu
acho-
Eu gritei quando outra explosão de dor atingiu minha barriga, me
fazendo curvar um pouco novamente. Meu rosto se enrugou.
– Elsa!
Eu respirei lentamente, me acalmando. O pior já passou. Esses homens
estavam todos mortos e agora podiam se concentrar no que fazer. Mas eu
ainda estava preocupado. O pensamento de que eu estava prestes a abortar
ou de que o filho havia sido profundamente afetado pelo ataque eram coisas
que eu preferia esquecer.
Minha vida não voltaria a ser o que era antes de eu conhecê-
lo. Simplesmente não iria.
Seus olhos estavam olhando nos meus enquanto esperava que eu me
orientasse de volta. Eu me endireitei e, quando ia contar a ele que me sentia
melhor, outra explosão de dor explodiu na minha barriga e uma escuridão
rapidamente envolveu minha visão ...

Eduardo

Elsa não morreu. Por horas, porém, pensei que ela iria. O bebê também
estava bem. Eu realmente pensei que ele não sobreviveria. Ela ainda estava
no hospital, as máquinas ao redor dela apitando e fazendo alguns ruídos
estranhos.
Os médicos e enfermeiras permitiram que eu me sentasse com ela,
para lhe fazer companhia. Eu segurei sua mão na minha na maior parte do
tempo sempre que estava aqui. Ela não entrou em coma nem nada parecido,
mas sofreu muito e precisava descansar agora.
Este momento agora, sozinho, me fez pensar em algumas coisas. Eu
não ia deixar de fazer parte da máfia; era a única coisa que eu sabia ser,
afinal de contas. Porém, não podia continuar sendo amante dela, mesmo
depois do casamento.
Eu sabia que pensar isso era loucura, mas aquele ataque clareou
algumas coisas em minha mente. Eu era um perigo para ela, mas mais do
que isso, se ela perdesse o bebê por qualquer motivo, se ele fosse morto, eu
nunca seria capaz de engravidá-la novamente.
Eu a engravidei uma vez, mas foi por pura sorte. Uma chance em um
milhão. Havia apenas uma coisa que poderia fazer uma mulher como ela
feliz, e isso era um homem que não era como eu. Ela precisava de um filho
para completar sua vida.
Por enquanto, as coisas voltariam ao normal, mas não conseguia
ignorar o medo de perder o nosso bebê e nunca mais poder lhe dar
outro. Talvez eu pudesse ignorar todas as coisas que estavam acontecendo,
aconteceram até agora e me concentrar na minha vida com ela, mas aquele
ataque abalou coisas que pensei ter esquecido há muito tempo.
Eu apertei um pouco a mão dela e quando pensei que seria outro dia
que ela não iria acordar, seus olhos finalmente se abriram.

Elsa

Ed me pegou de volta e eu deitei na cama, pensando. Ele saiu e eu


tinha muito em que pensar. Uma vez pensei que poderia me casar com ele e
fingir que ele não era um membro da Máfia, mas agora, eu sabia
melhor. Não importava o quão bom ele era em seu ‘trabalho’; sua vida
sempre seria um perigo para mim.
E eu não poderia perder outro bebê. Ele não. Foi a única coisa que
implorei.
Ed me salvou e eu ainda o amava, mas precisávamos pensar se nossa
vida de casal iria funcionar. Esse ataque não foi o primeiro que sofri e
certamente não seria o último.
O tempo passou e a maioria das feridas daquele ataque foram
curadas. Eu me senti melhor, mas um pouco distante de Ed.
Estávamos sentados em frente à lareira, chamas crepitando. Ele tomou
um gole de um copo meu, e eu continuei a observar as chamas enquanto
queimavam a lenha. Eu não tinha parado de pensar no nosso futuro, mas
Ed, por outro lado, agora parecia determinado. Ele sabia o que queria.
Achei que o ataque também abalou seus alicerces em relação ao nosso
casamento, ao bebê e à nossa vida de casal, mas o que quer que tenha
acontecido nos primeiros dias desde que passamos por isso, agora tinha
acabado. Em seus olhos, eu só pude ver o olhar de um homem disposto a
fazer tudo o que fosse possível para fazer tudo do seu jeito.
Seu braço estava em volta dos meus ombros, sua mão acariciando meu
braço. Ele me mantinha perto dele e não estava disposto a me deixar sair da
mansão novamente desde a tentativa de me sequestrar e matá-lo.
Seu chefe mandou mais homens para cá dias depois do ataque, e agora
era como se nada tivesse mudado. Mesmo que ele estivesse agindo como se
agora tivéssemos uma vida normal de novo, eu não poderia fingir que me
sentia da mesma forma.
Eu estava determinada sobre uma coisa agora. Eu precisava convencê-
lo a largar essa coisa de máfia e ficar longe de tudo, e eu estaria sempre ao
seu lado. Poderíamos ter uma vida normal juntos em algum lugar aqui na
América. Eu não me importava se não viveríamos em uma mansão como
esta, mas eu precisava disso. Eu precisava de um motivo para pensar que
meu bebê estaria seguro.
Mas eu também não poderia dizer isso a ele agora. Eu sabia que isso
iria irritá-lo e não queria estragar este momento aconchegante. A noite lá
fora estava silenciosa e eu não queria fazê-lo pensar que eu não gostava
mais dele.
Mas mesmo que ele me acariciasse agora, tentando me fazer pensar
que as coisas estavam bem, eu não conseguiria ficar em paz com a minha
vida atual.
O fogo crepitava mais alto do que o normal agora, e ele se mexeu,
colocando sua taça de vinho ainda cheia até a metade na mesa ao lado do
nosso sofá.
– Eu acho que é hora de começarmos a planejar a chegada de Valter –
ele disse, olhando para a lareira.
Tínhamos decidido o nome do nosso filho, e parecia que tínhamos
feito isso há muito tempo. Não se passou muito tempo desde o ataque, e
ainda estávamos tentando descobrir quem o ordenou, no entanto.
Mas já havia passado tempo suficiente para que nossas mentes se
acalmassem, e tivemos uma noite livre, onde escolhemos o nome do
bebê. Também tínhamos feito alguns planos para o casamento, que
aconteceria assim que a guerra na Itália acabasse.
Este momento era um pouco estranho. Eu tinha algo muito mais
importante para dizer a ele, mas como poderia fazer isso quando ele parecia
tão certo sobre o que precisava fazer?
Mas ainda assim, eu precisava dizer algo. Ele iria descobrir que algo
me incomodava se eu não fizesse isso.
– Vamos sair amanhã para comprar algumas coisas para ele.
Sua cabeça virou para mim, seus olhos alertas e arregalados. –
Não. Não posso arriscar que essas pessoas sequestrem você. Você estará
segura aqui.
Suspirei. Eu não aguentava ficar trancada aqui de novo. Eu sabia que
ele tinha boas intenções, mas nada mudaria minha opinião sobre uma
coisa. Aqui ou lá fora, estaria sempre em risco.
– Amor, eu acho que você entendeu errado. Se você realmente quer me
manter segura, precisamos sair daqui.
O ambiente já estava meio tenso e quente, me fazendo odiar para onde
estava indo.
E então eu disse – Tudo bem, não vou sair, mas você precisa me
prometer que nunca mais se colocará em perigo.
Sua mão envolveu a minha. – Como você quer que eu viva aqui,
trabalhe aqui, sem fazer todas as coisas que preciso fazer?
Eu olhei em seus olhos. Ele não estava bêbado. Ele estava lúcido e
muito ciente das coisas que estava me contando.
– Eu não sei. Tudo que sei é que não posso viver assim pelo resto da
minha vida.
Não conversamos muito depois de chegar aqui, sentados neste
sofá. Não tivemos um momento íntimo e ardente como os que nos
acostumamos depois daquele incidente, e eu sabia o que isso
significava. Algo profundo e pessoal mudou em nós, e agora, eu precisava
descobrir para onde levar minha vida.
Eu não podia continuar fingindo que as coisas ainda estavam bem
entre nós, embora eu não fosse me levantar e ir embora agora. Pensei em
esperar para ver se ele iria melhorar e perceber que precisava mudar. Sua
vida o estava oprimindo e, em breve, iria destruí-lo.
E assim, os minutos se passaram e finalmente terminamos de beber a
garrafa de vinho juntos. Era muito antigo e bom. Um dos melhores do
mercado, eu tinha certeza. Fiquei feliz por ele ter comprado só para nós,
mas não me ajudou muito. Minha mente ainda estava pensando em como
lidar com minha vida atual.
Nós nos levantamos e eu me icei com os dedos dos meus pés para
beijá-lo. Seus lábios procuraram os meus e, enquanto ele me beijava
impacientemente, não pude fazer o mesmo. Continuei pensando que outra
coisa terrível aconteceria em nossas vidas.
Ainda assim, quando o beijo terminou e eu parei de ficar na ponta dos
pés, olhei em seus olhos. – Boa noite, amor.
– Boa noite – ele disse, sua mão acariciando a minha.
E eu me afastei dele. A compreensão de que nosso fogo de amor estava
se tornando menos intenso com o passar do tempo apertou meu coração
com força. Eu não queria pensar que o estava perdendo, mas esse conflito
ainda consumia minha mente. Eu precisava fazer algo para fazê-lo mudar
sua decisão, mas ele faria isso?
Ou ele mudaria a minha de novo? Não achava que isso fosse possível,
mas também não sabia o que o futuro reservava para mim.
Voltei para o nosso quarto e sentei na cama. Ele dormia comigo agora,
mas ele tinha coisas de trabalho para se preocupar esta noite.
Fechei meus olhos e me acalmei, minha mente pensando em apenas
uma coisa. O único assunto em que eu conseguia pensar agora, aquele que
me consumia e me fazia sentir a mulher mais horrível do mundo inteiro.

Eduardo

Eu sabia que ela estava ficando distante de mim, embora eu não fosse
deixar isso continuar acontecendo sem que eu fizesse nada sobre
isso. Desde aquele ataque, ela mudou. Ela pensou que eu não poderia
mantê-la segura. Ela não achava que eu poderia continuar sendo quem eu
era e que precisava mudar.
Mas mudar para quê? Torne-se quem? Essa era minha vida. Eu nunca
decepcionaria Romano.
Suspirei e escrevi algumas notas nas folhas de papel à minha
frente. Sentei-me à minha escrivaninha, pensando também em alguns
planos que precisava colocar em prática. Havia outra coisa que me
incomodava. Eu precisava descobrir quem enviou aqueles homens aqui para
nos matar.
Era mais fácil pensar do que fazer, mas eu sabia que encontraria alguns
links. Ninguém era indetectável.
Mas, voltando ao assunto de Elsa, eu estava pronto para encontrá-la
novamente e iria compensar isso por ela. Eu ia fazê-la ver que eu era tudo
de que ela precisava, sem incluir nosso querido Valter, que viria daqui a
alguns meses.
Sua barriga estava maior agora, mas ela ainda estava
deslumbrante. Elsa nunca deixaria de ser a mulher por quem me
apaixonei. Disso eu tinha certeza.
O tempo passou, continuei a trabalhar nesses planos e depois fui
dormir. Eu ainda pensava nela e amanhã iríamos nadar juntos. Tínhamos a
piscina e tudo mais pronto. Decidi tirar o dia de folga e focar apenas nela.
Capítulo 10
Elsa

A água se mexia tão preguiçosamente, quase me dizendo que eu não tinha


nada com que me preocupar. Minha barriga não estava enorme, embora
estivesse claro que, daqui a alguns meses, eu daria à luz nosso querido
Valter.
Eu estava usando meu biquíni rosa e Ed, seu calção de banho
preto. Não eram nada de especial e nem precisavam ser para deixar o meu
dia perfeito. Só de estar com ele, sozinho e lembrar que ele tirou esse dia de
folga era o suficiente para deixar uma coisa bem clara para mim.
Ed ainda era o mesmo homem que agarrou meu coração e ele faria
qualquer coisa para me proteger. A única coisa que me preocupava era que
provavelmente isso não era o suficiente, mas ainda assim, esse momento me
fez sentir vontade de afastar esses pensamentos e focar nele.
– Pronto para uma corrida de natação? – Ele questionou, balançando as
sobrancelhas e parecendo muito diferente de seu eu normal.
Eu sorri. – Eu não posso vencer contra você. Você sabe disso.
Ele sorriu, pegou minha cabeça e me beijou por um minuto. Seus olhos
olharam nos meus antes de dizer que me amava, e então ele pulou na água,
espirrando gotas em todas as direções.
Eu ri. Ele tentava me impressionar sempre que podia e, quando
mergulhou na água, me impressionou de novo. Quase parecia que ele era
um nadador profissional e que já tinha feito esse tipo de mergulho muitas
vezes na vida.
Sentei-me perto da água e mergulhei os pés nela. Eu podia ver onde ele
estava agora, vindo até mim, nadando sob a superfície da água. O sol não
estava quente e eu poderia ficar aqui, assim, sem ter que me preocupar em
passar protetor solar.
Ele emergiu, sua cabeça saindo da água, e um sorriso pintou uma
expressão de alegria em seu lindo rosto. Eu gostaria de poder estar feliz e
despreocupada agora, mas isso... não mudaria a menos que ele fizesse uma
escolha melhor para nós.
E eu me odiei mais uma vez, mordendo meu lábio inferior até doer. Eu
não podia acreditar que estava pensando sobre isso agora. Este deveria ser
um momento em que ele e eu não nos preocuparíamos com nada e, ainda
assim, continuei fazendo o contrário.
Seu sorriso desapareceu e eu sabia que ele leu o que eu estava
pensando.

Eduardo

Não havia como negar que algo estava consumindo seus


pensamentos. Eu coloquei minha cabeça para fora da água, pensando que
tudo estava bem, mas havia algumas coisas sobre o comportamento dela
que me incomodavam agora.
Ela não entrou comigo na água. Não passou muito tempo desde que
chegamos aqui, mas ela devia estar parecendo feliz. Ela não estava. Eu
sabia que ela estava fingindo.
Elsa precisava que eu fizesse isso por ela. Ela queria que eu dissesse a
Romano que não era mais seu subordinado e que iria fugir com ela para tão
longe que ninguém nos encontraria. Mas ela não sabia o quanto estar na
Máfia significava para mim. O perigo não era ter alguém querendo nossas
cabeças. Eu sabia que fazia parte desta vida e nunca fingi que não era.
Agora, eu estava apenas fingindo. Eu estava fingindo que estava 100%
feliz com a forma como as coisas estavam entre nós. E de repente me
peguei odiando o fato de estar tendo esses pensamentos. Eu não deveria tê-
los!
Mas eu não conseguia me controlar e havia algo sobre o qual precisava
conversar com ela. Hoje à noite, quando ela se sentisse melhor...
Eu sorri e disse – Tem certeza que não quer vir?
– Agora não – disse ela, sacudindo levemente a cabeça.
Eu nadei para trás, fazendo todas as coisas que sabia para impressioná-
la. A água estava quente e confortável, acalmando meus pensamentos. Eu
não estava preocupado com as outras gangues da máfia na cidade, mas sim
com ela deixando de ser a mulher legal que aprendi a amar.
Algum tempo se passou e lentamente, quase como se tivesse medo, ela
entrou na água. Senti seu corpo se mexer e então nadei até ela. Seus olhos
encontraram os meus, e eu quase poderia jurar que seu amor por mim
exalava do seu corpo.
Abracei-a e começamos a brincar na água, fazendo-a espirrar e
acabando com a serenidade que antes nos fazia companhia. Ela ria e sorria,
e eu a beijava sempre que podia. Nunca ficava cansado dela. Elsa era o
amor da minha vida.
De repente, ela me empurrou para dentro da água, obviamente
fingindo que estava me afogando. Eu olhei para cima e encontrei seu
sorriso. Ela estava apenas brincando e fingindo que era mais forte do que
eu.
Eu rapidamente me levantei e a empurrei de volta para dentro da
água. Mas, em vez de empurrá-la ainda de novo, mergulhei na água até que
meu rosto estivesse no nível do dela. Sua expressão chocada me disse uma
coisa. Ela não achou que eu faria isso.
Elsa abriu a boca, pensando que ela poderia realmente dizer algo para
mim na água, quando eu a puxei para mim e a beijei. Seus olhos se
arregalaram tanto que pensei que fossem pular de sua cabeça.
Eu a beijei avidamente, com fome, dizendo a ela uma coisa que ela
precisava saber. Eu não desistiria dela. Se ela pensava que eu não a amava o
suficiente, eu estava mostrando o contrário agora.
O beijo durou um minuto até ela se afastar e nadar de volta à
superfície. Eu a persegui e, enquanto segurava sua mão, disse – Não pense
por um momento que eu não faria nada por você.
Ela sorriu, beijando-me novamente, mas desta vez, havia algo
diferente sobre isso. Algo que ela não queria revelar para mim
imediatamente.

Elsa

– Eu te amo, e você é o único homem de que preciso neste mundo – eu


verbalizei.
Apontando o dedo sob a água para minha barriga crescendo, ele disse
– E Valter. Não se esqueça dele.
Eu ri, beijando-o mais uma vez. – E ele. Ele é a coisa mais preciosa
neste mundo para mim.
Mesmo que estivéssemos assim, amáveis e brincando um com o outro
na piscina, não havia como controlar o nosso fogo.
Continuamos brincando na piscina até que nossos olhos notaram o sol
se pondo no horizonte. Uau, não pensei que acabaria passando horas nesta
piscina com ele.
Quando saí da água, minha pele em meus dedos parecia enrugada. Ed
veio até mim e disse – Essas rugas vão demorar um pouco para desaparecer.
Eu quase poderia dar um tapa nele agora. Uma coisa tão idiota e
aleatória - mas muito parecida com ele - para me dizer agora isso foi.
Ainda assim, eu olhei para ele e beijei seus lábios muito macios. –
Cuidado com essa boca, ou vou cortar sua língua fora.
Ele sorriu e quando fomos para os chuveiros ao lado da piscina, ele
disse – Droga, e aqui estava eu pensando que deveria me preocupar com as
outras famílias que viriam aqui para nos matar.
Em outras circunstâncias, teria sido uma piada de mau gosto, mas
agora parecia diferente. Na verdade, me fez sorrir e esquecer um pouco
daquele dia terrível em que quase fui sequestrada.
Ed e eu tomamos banho, nos enxugamos e depois fomos para a sala de
jantar. Já tinha sido tudo preparado para nós, as travessas com comida me
fazendo babar. Depois de nadar e brincar com Ed, como se fôssemos
crianças novamente, estava com muita fome.
E com tanta fome que não pensei sobre o quão perigosa minha vida
ainda continuava a ser, e como eu precisava encontrar uma maneira de sair
daqui com ele e convencê-lo de que era a única maneira de termos uma vida
normal.
◆◆◆

Ed deitou-se na cama ao meu lado, com o corpo pesado. Ele ainda


cheirava a cloro, a piscina, e nenhuma dessas coisas me fazia querer estar
menos perto dele agora. Eu estava apaixonada por ele, e talvez isso fosse
uma falsa alta na minha vida, mas agora, eu só sabia que precisava dele
cada vez mais, e sempre comigo.
Sua mão procurou a minha, e depois que ele a trouxe até seu rosto, ele
a beijou. – Minha Rainha, estou tão feliz por você ter me contado tudo.
Havia algo em seus olhos que tornava difícil para mim dizer a
verdade. Sim, ele me fez amá-lo ainda mais, mas ainda me preocupava para
onde isso iria nos levar.
Eu beijei seus lábios, puxando-o para mim e sentindo o quão segura
ele me fazia sentir. Não havia como negar que eu estava apaixonada por ele,
mas ainda assim, continuar morando aqui não era a melhor escolha para
mim. Quando ele entenderia isso?
– E fico feliz que você esteja sempre aqui comigo – eu disse, tentando
convencê-lo, mas ele um dia seria? Ele podia ser tão teimoso às vezes.
Seus olhos me estudaram por alguns segundos e ele disse – Você ainda
está preocupado.
Suspirei. Precisávamos discutir o que estava acontecendo em nossas
mentes no momento.
– Não posso continuar morando aqui, com você ainda sendo membro
da família Russo. O que aconteceu naquela noite não foi só aquilo. Eles vão
tentar o mesmo novamente.
– E é por isso que Romano colocou mais homens aqui para nos
proteger. Não se preocupe. A guerra vai acabar em breve, e então seremos
capazes de viver uma vida mais normal aqui.
– ...com você ainda trabalhando para ele.
Seus olhos se arregalaram, ficando um pouco ferozes. – E você tem
uma escolha melhor para nós? Porque não sei quem mais poderia ser. A
máfia é tudo o que tenho.
– Isso não é verdade. Você me tem.
– Eu tenho você e eles, e não estou com vontade de dizer adeus a
nenhum deles agora.
Suspirei, compreendendo mais uma vez que não havia nada que eu
pudesse fazer para mudar sua opinião. Me virei na cama e fingi que ia
dormir. Eu não tinha mais nada para dizer a ele. Talvez um dia ele se
convencesse ou talvez eu morresse.
Tudo que eu sabia era que tentei, e o que quer que fosse acontecer...
Bem, eu só esperava que meu Valter não fosse assassinado. Ele era uma das
coisas que mais importavam para mim.
Capítulo 11
Eduardo

Pensei que, ao tirá-la, estaria consertando as coisas entre nós, mas tudo
piorou muito. Ela apenas se virou na cama sem me dizer boa noite e foi
dormir. Eu poderia ter insistido, mas decidi não fazer isso. Ela deixou seus
desejos claros. Ela não queria falar comigo, e tudo bem.
O tempo passou e fomos ficando mais distantes, embora não distantes
a ponto de não falarmos mais. O fogo que pensei ter reacendido quando
estávamos nadando na piscina estava quase apagado.
Passei cada vez menos tempo com ela. Fizemos planos para a chegada
de nosso bebê, nosso Valter, e também para o casamento, mas eu sabia que
ela ainda estava pensando em encontrar uma maneira de me convencer. Ela
veio uma e outra vez com o mesmo assunto em sua mente.
– Quando você vai entender que eu sempre estarei em perigo, desde
que você seja um Russo?
Ela me disse isso um dia, quando tivemos uma discussão um tanto
mais calorosa do que o normal sobre nosso futuro. Eu tinha bebido um
pouco mais do que deveria, assim como ela. Não se tornou nada mais do
que isso, mas outra ruga foi, naquele dia, moldada em nosso
relacionamento.
Voltei para casa depois de beber com alguns dos meus amigos no bar,
sem saber o que esperar quando ela me visse. Eu não estava muito bêbado,
mas qualquer um que tentasse cheirar meu hálito agora saberia que engoli
um pouco mais do que deveria.
Ainda assim, voltei para casa, minha mente pensando nela. Eu amava
muito a Elsa.
Abri a porta e a encontrei. Elsa estava sentada na cama, com as mãos
na barriga.
O que ela estava fazendo? Não conseguia mais reconhecer a mulher
que tanto amava. Eu sabia que estávamos cada vez mais distantes, mas
nunca pensei que um dia ela faria isso comigo.
– O que você está fazendo? – Eu questionei, meus olhos correndo para
seu rosto, então para suas mãos.
– Estou saindo – disse ela antes de caminhar até a porta, mas em vez
de fazer nada, coloquei meu braço na frente dela, impedindo-a.
– De onde vem isso? – Ela não poderia me deixar agora. Tudo estava
indo bem. Eu iria consertar as coisas ruins que a faziam pensar que ela não
poderia mais viver comigo.
– De tudo o que aconteceu na minha vida. Perdi uma filha uma vez, e
Valter... Não vou deixar o mesmo acontecer com ele.
Eu agarrei seu braço e olhei profundamente em seus olhos. – Nada vai
acontecer com ele.
Eu podia sentir que ela estava pronta para me dar um tapa ou começar
a chorar, mas de qualquer forma, ela se conteve. Ela largou a mala e disse –
Solte meu braço.
E eu fiz o que ela pediu. A única coisa que eu iria forçá-la a fazer era
permanecer aqui. Eu mudaria sua opinião, de uma forma ou de outra.
Ela parecia confusa, frustrada e um tanto irritada. Ela passou a mão no
seu rosto e disse – Não posso continuar morando aqui. Não assim, não com
essas pessoas, e não com o você atual. Quando você vai entender isso?
– Elsa, não há vida melhor do que esta. Você pode morar em outro
lugar com ele quando a guerra acabar e nós nos casarmos.
– E você acha que isso vai funcionar?
– Eu tenho certeza. Vai funcionar sim.
Ela parecia, mais uma vez, pronta para dar um tapa na minha cara, mas
mesmo que ela quisesse fazer isso agora, ela conteve o seu desejo mais uma
vez.
– Não, eu cansei de ter esse tipo de conversa com você. Eu te amo,
mas não posso continuar morando aqui.
– Para onde você iria? Não há ninguém aqui nesta cidade capaz de
mantê-la seguro como eu.
– Talvez você esteja certo, mas agora eu não me importo mais. Uma
das empregadas é minha amiga e vou morar com ela.
Eu estava bêbado. Eu não deveria ter bebido tanto e senti meu sangue
começar a ferver. Não era a primeira vez que ela me fazia sentir assim. Esse
ódio não me pertencia. Eu o estava contendo para o seu próprio bem e o
meu.
Mas quando ela agarrou a mala pela alça e foi até a porta novamente,
reiterei minha escolha de não ser a besta que poderia ser. Não para ela, não
de novo.
Ainda um pouco bêbado, eu a deixei ir, e eu sabia que os homens no
portão não seriam um problema para ela. Eles a deixariam sair, e então, ela
voltaria direto para mim.
Não havia como ela sobreviver lá fora sozinha.

Elsa

Fiquei surpresa que ele não simplesmente trancou meu quarto e


escondeu a chave. Talvez ele tenha pensado que eu estava melhor sem
ele. Ele mencionou isso várias vezes. O fato de ser infértil, na maior parte, o
fazia pensar que não valia para nenhuma mulher no mundo.
Ele poderia ser o marido perfeito para qualquer mulher lá fora, mas
para mim, depois de tudo o que aconteceu, eu não poderia fingir que as
coisas iriam dar certo. E não era que eu só temesse pela vida do meu
pequeno Valter; eu também não queria encontrá-lo morto em seu
quarto. Meu ex-marido teve esse destino, e sua morte quase destruiu minha
vontade de viver.
Peguei um táxi e me dirigi ao apartamento de uma de minhas
empregadas. Ela trabalhava o dia todo, o que significa que eu teria a casa
dela só para mim na maior parte do tempo. Ela disse que isso não seria
problema nenhum. Eu não poderia estar mais feliz por ter alguém como ela
como amiga minha aqui em Chicago.
Quanto a Ed... eu ligaria para ele assim que as coisas se
acalmassem. Eu precisava de tempo para pensar. Eu não ia deixar o país e a
cidade. Eu meio que menti durante toda a cena que fiz lá. Eu não poderia
fugir desta minha vida sem ele.
Isso não era eu terminando com ele. Eu estava apenas procurando um
lugar onde pudesse morar e dormir sem ter medo o tempo todo.
O táxi parou e agradeci ao motorista antes de pagar. Não foi uma
viagem muito barata, mas nem estava pensando nisso. Fiquei feliz que meu
pai me deu dinheiro suficiente para o caso de eu me encontrar em situações
como esta.
A noite estava silenciosa e os carros subiam e desciam na estrada. Eu
olhei para trás, meus olhos avistando o belo horizonte de Chicago à
noite. Pessoas passavam, suas conversas enchendo o ambiente e fazendo
com que eu me sentisse mais em casa.
Nunca pensei que sentiria falta desse tipo de ambiente. Em Milão, os
edifícios foram construídos mais próximos e as estradas eram mais
estreitas. Esse bairro em particular se parecia com minha antiga cidade
natal.
Bati na porta e ela se abriu, o sorriso que eu conhecia tão bem me
cumprimentando. Ela me ofereceu sua mão, que eu peguei, e então me
guiou para dentro do prédio.
A luz quente e dourada da pequena lâmpada me agraciou com sua
presença, e isso era outra coisa que eu já estava gostando de vir morar
aqui. Todas as luzes da mansão eram diferentes; mais frias e menos
acolhedoras.
Ela me deu um quarto e logo me deitei na cama. Eu teria meu próprio
quarto. Ela disse que era uma honra ter-me em seu lugar, e também que, se
eu precisasse falar sobre alguma coisa, ela sempre estaria aqui.
– Obrigado, Calliope – eu disse, trazendo um sorriso para seu rosto
velho e desgastado. Ela parecia cansada. Trabalhar naquela mansão não era
uma tarefa fácil. Eu me senti mal por ela. Talvez um dia eu encontraria um
lugar e trabalho melhor para ela, mas por enquanto, eu tinha algo mais
importante com que lidar.
Encontrar este lugar aqui para passar alguns dias foi apenas o primeiro
passo que decidi dar para fazê-lo mudar de ideia. Com o tempo, tive certeza
de que ele perceberia que precisava mais de mim do que Romano, que era
um homem que não merecia sua devoção em absoluto.
As pessoas me contaram sobre as coisas que ele fazia e tendia a
fazer. Saber isso deixou meu estômago frio. Eu sabia que Ed gostava muito
dele, mas isso não mudava o que ele significava para mim. Eu tinha certeza
de que, um dia, ele perceberia que a influência de Romano era má.
Fechei meus olhos e comecei a dormir. Os dias que viriam prometiam
muitas coisas boas e ruins. Tudo dependia de Ed agora e de como ele
reagiria à minha partida temporária.

Eduardo

Meus olhos se abriram, meus braços procurando por ela. Elsa não
estava mais comigo e eu desejei que isso fosse diferente. Ela acabou de ir
para a casa de uma empregada na noite passada. Eu sabia onde estava. Eu
poderia ir até ela, mas agora, eu precisava dela aqui, comigo.
Meus braços encontraram apenas o vazio. Havia apenas ar onde Elsa
deveria estar. Por um momento, quase pude imaginá-la ainda aqui, mas
sabia que isso não era possível.
Meu corpo estava tão frio. Sem ela, eu não era nada.
Lentamente, reclamando, saí da cama e me vesti. Não tinha vontade de
tomar banho, como sempre fazia pela manhã. Esta não era uma manhã
normal, e o tempo lá fora também não estava ajudando as coisas.
Não choveu, mas as nuvens escureceram o céu, escondendo o
sol. Olhando pela janela, pensei apenas nela. Elsa, minha linda menina, a
única capaz de complementar a minha vida, de me fazer sorrir novamente.
Eu gostaria de poder dormir agora. Sonhar era bom e me faria esquecer
tudo. Eu nunca seria capaz de esquecê-la e de forma alguma pensei que sua
partida fosse definitiva, mas as coisas que ela disse e a maneira como foram
reiteradas me disseram tudo que eu precisava saber. Seus sentimentos não
eram indefinidos. Elsa sabia o que estava fazendo.
Ela se cansou de eu não ter dito a ela a única coisa que ela queria
ouvir. Sua mente estava focada apenas nisso. Elsa nos queria fora daqui,
fora desta vida, custasse o que custar.
Mas, novamente, como eu poderia fazer isso? Eu devia muito a
Romano. Ele me deu a chance de que eu precisava para mudar minha vida,
o que de fato aconteceu. Eu a agarrei como se fosse a única coisa que eu
jamais teria ...
Eu balancei minha cabeça, tentando esclarecer meus pensamentos. Eu
iria até Elsa e a convenceria. Ela viria aqui e perceberia que poderíamos
continuar a viver esta mesma vida sem que nenhum de nós tivesse que
mudar.
Saí do meu quarto e encontrei meu braço direito. – Chefe, você parece
preocupado.
– Sim, há algo que eu preciso que você faça. Lembra de Calliope, uma
das empregadas?
Ele assentiu e eu continuei – Peça a alguns homens para fazer a
segurança da casa dela. Elsa está lá.
Seus olhos se arregalaram. Achei que ele fosse perguntar por que ela
estava lá e não aqui, mas ele manteve a boca fechada. Ótimo, pensei. A
última coisa que eu precisava era ter que me explicar para ele.
– Assim será feito, chefe – ele disse antes de se curvar levemente e se
virar para sair.
Eu tinha outra coisa para fazer agora, então saí. Uma família da máfia
se juntaria à nossa e nos ajudaria na luta que ainda acontecia meses depois
de virmos para a América.
Capítulo 12
Elsa

Olhei pela janela e notei algo estranho. Esses homens não eram como os
cidadãos normais que povoavam este bairro. Eu não os conhecia bem, mas
achava que conseguia me lembrar de seus rostos. Eles deviam ter vindo da
mansão.
E se isso fosse verdade, eles foram enviados aqui por Ed para me
manter a salvo. Era um dia depois que deixei a mansão e ele ainda não tinha
vindo. Isso era bom. Significava que ele entendeu o verdadeiro propósito da
minha vinda aqui.
Fechei a cortina e me sentei na cama. Eu tinha algumas coisas para
fazer hoje, e nenhuma delas envolvia sair. A verdade é que eu estava com
medo de me encontrar em outra tentativa de sequestro. Ed colocou muitos
homens aqui para me manter segura, e fiquei feliz por ele ter feito isso, mas
não havia como negar que sempre estaria em perigo.
Mesmo fora da mansão, onde as outras famílias da máfia aqui em
Chicago não seriam capazes de me encontrar, provavelmente, eu ainda era
um alvo. Crescer sob os ‘ensinamentos’ do meu pai me fez sentir um pouco
paranoica com as pessoas. Até mesmo vir aqui e confiar em Calliope foi
difícil.
Eu me empurrei para fora da cama e caminhei até a porta, abrindo-a
logo depois. Tinha muitas coisas a fazer, mas a primeira coisa que queria
realizar esta manhã era agradecer a Calliope por me permitir morar aqui.
◆◆◆

Voltei para casa, tirei os sapatos e subi as escadas para o apartamento


de Calliope. Assim que cheguei ao corredor e, em seguida, à porta dela, abri
e entrei no meu quarto. Estava escuro lá fora. Eu verifiquei meu relógio de
pulso e descobri que já passava da meia-noite.
Eu não deveria ter ficado fora tão tarde. Calliope, entretanto, não se
importou com isso. Ela tinha sono pesado. Caminhando na frente de seu
quarto, meus ouvidos captaram seus roncos pesados. Ela dormia como uma
pedra e, sempre que mencionava isso, assim fazia com um grande sorriso
no rosto.
Ao sentar na minha cama, um sentimento vasto e penetrante tomou
conta de minha mente. Era quase algo estranho. Quando foi a última vez
que senti algo assim antes? Eu não conseguia pensar, não conseguia
lembrar, e então, seu rosto apareceu em minha visão de repente.
Ed, o homem que era o pai deste menino que eu carregava dentro de
mim. Quando ele viria aqui? Não passou muito tempo desde que saí da
mansão, mas ele já deveria ter aparecido aqui, certo? Se ele realmente me
amava, isso era.
Outra lágrima escapou do canto do meu olho, rolando pela minha
bochecha e queixo um instante depois. Eu deveria ser mais forte do que
isso. Eu não deveria estar implorando por sua presença, mas o fato era que
eu sentia um pouco a falta dele agora.
Porra, o que se passava na minha mente? Eu não poderia estar fazendo
isso, então, em vez de fazer o que pensei em fazer depois de voltar para cá,
fechei meus olhos, tirei os sapatos e adormeci. O sono me faria esquecê-lo.
E ainda, quando adormeci, sonhei com ele. Ed era uma constante em
minha mente. Eu poderia esquecê-lo um dia? Nem um pouco provável, e eu
não queria que isso acontecesse.
Eu esfreguei meus olhos abertos e os encontrei com dor. Eu chorei
durante meu sono. Essa foi a primeira vez que tal aconteceu. Não era nada
incomum, no entanto. Esta também foi a primeira vez que me apaixonei
tanto por um homem.
Adormeci mais uma vez e, quando acordei, havia apenas a luz da lua
entrando pela janela ainda aberta. Saí da cama e, olhando para fora, vi
aqueles homens novamente. A presença deles me manteve segura aqui
ainda. Ed não desistiria tão cedo, e eu duvidava que ele pudesse um dia.
Já se passou algum tempo desde que cheguei aqui, e estava pensando
em quando as coisas iriam melhorar para mim. Eu precisava manter apenas
uma coisa em mente, e isso era convencê-lo de que sua escolha era a errada.
Eu desci e caminhei sem direção específica pelas ruas. A vida noturna
de Chicago era bastante excitante. Passei por algumas casas noturnas e após
escolher uma, cruzei a porta.
O lugar estava lotado, e simplesmente andar nele era uma tarefa difícil
de realizar. Mesmo assim, quando meus olhos avistaram o bar, dirigi-me a
ele, sentando-me em um dos poucos bancos desocupados.
O barman chamou minha atenção, suas mãos secando um copo. – Quer
alguma coisa, senhorita? – Ele questionou, seus olhos me mostrando que
minha presença o preocupava.
Mas preocupado que eu fosse fazer algo precipitado aqui? Não, ele não
poderia estar. Eu não ia beber muito.
– Dê-me o pior que você tem aqui – eu disse, colocando algumas notas
de um dólar em cima do bar chique. Suas mãos as recolheram e ele então
me serviu de um copo com o que eu imaginei ser, de fato, a pior bebida que
ele tinha aqui.
Eu não sabia seu nome, no entanto. Não bebia muito.
Eu bebi um copo após o outro, a expressão do barman mudando para
uma de choque. Eu sabia que não deveria beber tanto, mas agora não podia
fazer mais nada sobre isso.
Eu me senti má por ter saído da mansão sem dizer um adeus
apropriado a Ed. Ele estava preso em sua vida e não sabia como sair
dela. Ele nunca tentaria encontrar algo melhor para ele. Eu me peguei
desejando poder fazer algo a respeito disso, mas o que poderia ser feito de
qualquer maneira?
Nada.
Todo esse tempo, pensando que deveria sair desta vida, apenas para me
encontrar chegando a uma conclusão de que não gostava. O estilo de vida
da Máfia também era o único que eu conhecia.
Talvez eu devesse aceitar que não poderia mudar nada e que tinha que
fornecer a segurança que meu filho precisaria. Ele não me odiaria. Eu tinha
certeza que ele poderia se tornar um chefe da máfia como seu avô,
tornando-o um dos homens mais durões do mundo.
Esvaziei outro copo e saí do banquinho. O barman estendeu a mão, sua
boca dizendo algo, mas eu não estava prestando atenção nele agora. Eu
andei no meio da multidão, encontrando-me profundamente nisto, uma mão
apalpando minha bunda ...
Em outras circunstâncias, eu teria dado um tapa no homem que fez
isso, mas não conseguia sentir aquele ódio dentro do meu coração no
momento presente.
Lentamente, dolorosamente, caminhei dentro do meio da multidão e
me encontrei do lado de fora do estabelecimento, seu barulho e canções
ainda perceptíveis mesmo aqui. O segurança veio até mim e ia me dizer
algo quando outros homens me cercaram.
Eles o empurraram e um deles disse – Não se preocupe,
senhorita. Vamos levá-la de volta para casa.
Eles me carregaram até o carro e, ao ver seus rostos, percebi quem
eram. Não os homens de Ed. Não, eram de uma família diferente. Onde
estavam os homens de Ed? Provavelmente mortos. Esses homens os
mataram.
Eles me tiraram de lá e, mais uma vez, desejei que Ed estivesse aqui
comigo. Ele poderia me encontrar agora? Esses homens me matariam?
Tantas perguntas e tão poucas respostas. Eu precisava dormir mais
uma vez ...

Eduardo

Eu estava trabalhando em meu escritório, minha mesa cheia de


documentos em cima dela, quando batidas na porta chamaram minha
atenção. – Entre – eu disse.
Ele era um dos meus homens e passou pela porta com as mãos
trêmulas. Elas seguravam algo. Outro documento. Não, muito mais do que
isso, descobri após uma inspeção mais detalhada. Era uma foto, e ela
retratava uma mulher.
Ele se aproximou de mim e disse – Chefe, acho que temos problemas.
O homem me entregou a foto e eu pedi que ele saísse fazendo um
gesto com a mão. Eu não conseguia pensar com ele aqui. Virei a foto e meu
coração disparou ainda mais quando meus olhos pousaram em seu lindo
rosto angelical.
Não era mais tão angelical, no entanto. Havia hematomas e cortes
nele. E não apenas nele, mas também no resto do seu corpo. Ela não usava
nada. Elsa estava nua e eles a torturaram. Eles provavelmente queriam saber
mais sobre mim, nossa operação aqui, e ela decidiu não contar nada a eles.
O rubor em suas bochechas chamou minha atenção para eles, assim
como a preguiça em seus olhos. Esta foto retratava uma fração de seu bem-
estar atual, mas eu sabia o que esses sinais significavam. Ela estava
embriagada. Ela bebeu demais e foi então que a pegaram.
Meus homens não foram suficientes para detê-los. Senti meus dedos
enrugando a foto. Eu fiquei desesperado. Eu deveria ter feito mais para
mantê-la segura. Estava tudo bem, ela precisava de algum espaço e tempo
para si mesma, mas o que aconteceu foi meu erro. Eu permiti que tudo isso
acontecesse.
Virei a foto e encontrei algo escrito nela. Uma data, hora e um local, e
também... números. Uma soma em dinheiro que eles queriam que eu
entregasse a eles para tê-la de volta. Amassei ainda mais a folha de papel,
não acreditando na ousadia deles.
Quem foram os homens que a sequestraram e o que eles achavam que
estavam fazendo? Eles pensavam que eu iria fingir que nada estava
acontecendo e que iria pagá-los? Sem chance. Eu ia trazer dinheiro para
eles, mas eu nunca os perdoaria. Eles mataram meus homens uma vez e eu
não cometeria o mesmo erro.
Eu afrouxei meus dedos na foto antes de me levantar, minha mente
focada em apenas um objetivo. Todos iam morrer, mas antes disso, eu ia
fazê-los sofrer.
◆◆◆

Nós paramos, a chuva caindo do lado de fora. Eu pensei que esta era a
cidade do vento, não a chuvosa, mas tanto fazia isso. Eu tinha coisas mais
importantes em que pensar agora. O clima e a localização do ‘arranjo’ não
iriam ajudar, mas tudo bem. Eu não os considerei sendo de ajuda agora de
qualquer maneira.
Abri a porta do carro e saí dele. Meus homens me seguiram. Eu tinha
um guarda-chuva, mas decidi não o usar agora. Alguns dos meus homens
pegaram os deles, suas mãos segurando as malas falsas.
Pensei no plano e fiz alguns ajustes. Eu não ia trazer nenhum dinheiro
para eles. Esta seria uma operação limpa. Eles não tinham ideia do quão
letais meus homens eram.
Esses não eram capangas normais da máfia, mas sim assassinos
profissionais e bem treinados. Eles vieram aqui com uma intenção em
mente. Quem a sequestrou estava a apenas alguns segundos de deixar este
mundo para sempre.
Um beco escuro encheu minha visão - a única coisa em que eu
conseguia pensar agora, a única coisa que merecia minha atenção neste
exato momento. Meus homens me seguiram, suas armas prontas para
qualquer coisa fora do comum que pudesse acontecer.
Coloquei homens no topo de todos os edifícios que cercavam este
lugar e, até agora, nenhum me disse nada que pudesse me
preocupar. Nenhum sequestrador no topo dos ditos edifícios, ninguém com
rifles de precisão para me matar e ninguém menos que os idiotas parados a
alguns metros de mim.
Esses eram os sequestradores e eles a tinham com eles. Suas mãos
estavam garantindo que ela não iria tentar fugir. Seus braços estavam presos
por fita adesiva. Eles também calaram a boca dela, colocando a mesma
coisa nela. Ela se esperneava, querendo gritar alguma coisa, mas tudo o que
saiu foram gritos confiscados.
Malditos da porra. Eu ia matar cada um deles.
Eu deveria ter sido mais esperto sobre uma coisa. Eu deveria ter me
concentrado menos em trazer aliados para a nossa causa e mais em
descobrir onde eles moravam. Bem, logo eles não seriam mais importantes
para mim, então afastei esses pensamentos de mim.
Hematomas e cortes em seu corpo me fizeram odiá-los ainda
mais. Uma coisa era vê-los naquela foto mal tirada, e outra era testemunhá-
los pessoalmente. Eles não apenas a espancaram, como a atormentaram,
reiterei.
E outra coisa me fez detestá-los ainda mais. Eles sabiam muito bem
que ela estava grávida. Mais uma vez, isso aconteceu e tive certeza de que
ela abortaria. Se isso acontecesse, eu não sabia ... porra, eu não sabia o que
seria capaz de fazer.
Tinha minha Colt na mão, pronto para disparar. Assim que suas mãos
tivessem minhas malas com nada além de dinheiro falso e minha querida
Elsa estivesse de volta comigo, eles não existiriam mais. Seus corpos
encontrariam o solo frio, e a próxima coisa que seus olhos mortos veriam
seriam os veículos do legista vindo aqui para prepará-los para seus enterros.
Eu ri. – Você cometeu o pior erro da sua vida, canalha.
Eu não sabia o nome dele, não tinha ideia de quem ele era. Eu estava
aqui apenas para uma coisa. Eu estava aqui para trazê-la de volta e acabar
com suas vidas lamentáveis.
– Temos um acordo, então? – Ele questionou, sua voz profunda.
Ele tentou me assustar com isso, mas não funcionou. Eu vim aqui por
ela, para não deixar suas estratégias me irritarem.
– Temos sim – eu disse antes de fazer um gesto para meus homens
jogarem as malas muito antes que eles pudessem abri-las. E quando eles
estivessem abrindo-as, seria quando eu faria minha jogada, acabando com
eles aqui mesmo.
Alguns de seus homens avançaram, suas armas ainda apontadas para
mim. Eram muitos, mas pude ver que não estavam preparados para esse
tipo de coisa. Um dos meus homens acabou de entrar em contato pelo rádio
e, mesmo com ele não dizendo nada, eu sabia que isso significava que eles
estavam sozinhos e que estavam mirando nesses desgraçados.
Eu esperei que eles fizessem isso. Eu precisava ganhar algum tempo
antes de matá-los. Todos esses caras aqui achavam que os topos dos prédios
que nos cercavam eram inacessíveis. Eu estava prestes a provar que
deveriam ter sido mais completos em sua avaliação.
Suas mãos pegaram as malas, seus músculos flexionando bastante. Eu
sabia o que eles estavam pensando agora. Eles pensavam que a honestidade
de minha parte definiria nossa transação.
Mal sabiam eles que, assim que abrissem as malas, eu abriria fogo
contra eles, com sorte acabando com esta família de uma vez por todas.
Suas reações e quanto tempo isso levaria eram elementos-chave
aqui. Precisava ser feito quando eles estivessem distraídos e quando uma
arma não estivesse sendo apontada para a cabeça de Elsa.
Olhando para ela agora, eu sabia o quanto ela estava com medo. Eu
gostaria de poder contar a ela todos os detalhes para que ela não tivesse
nada com que se preocupar. Usando meus olhos, tentei fazer isso, mas ela
não entendeu a mensagem.
Os canalhas começaram a abrir as malas e quando ouvi alguns cliques
familiares, fiz um gesto rápido com meus dedos, meu braço ainda em sua
posição de repouso. Do topo dos edifícios que nos cercavam, balas
choveram sobre aqueles idiotas, rompendo o silêncio enervante.
Por um momento, quando sua arma não estava apontada para a cabeça
de Elsa, uma bala o atingiu. Sua arma ainda disparou, mas ele estava muito
chocado com o incidente repentino para apontá-la corretamente. Seu corpo
caiu com um baque e Elsa correu para mim.
Eu a abracei e disse – Você está segura agora e não há mais ninguém
nesta cidade capaz de machucá-la novamente.
Meus homens correram para frente, atirando e matando mais daqueles
desgraçados. Assim que o tiroteio diminuísse, um dos meus homens
roubaria seus documentos e os traria para mim. Ao tê-los, eu descobriria
quem eles eram.
Entrei no carro e fui embora, alguns dos meus homens me seguindo
em seus veículos. Eu consegui! Eu a salvei e acabei com a única família da
cidade que estava, esse tempo todo, tentando nos fazer mal. Haveria mais
ameaças de outras batalhas, como sempre havia, mas por enquanto, eu tinha
um pouco de paz em uma coisa de que me orgulhava.
Elsa estava comigo e agora tinha todos os motivos para viver o resto
de sua vida comigo.
Capítulo 13
Elsa

Estávamos no carro dele. Embora não muito tempo atrás eu tinha sido alvo
de pessoas que me torturaram, agora eu me sentia em paz com minha
vida. Eu sabia que não deveria estar me sentindo assim, mas sua insistência
em me salvar novamente, quando pensei que estava a salvo de sua vida, me
fez pensar que nunca encontraria uma maneira melhor de construir uma
família.
Sim, ele era perigoso. Sim, ele era membro da família Russo. Sim, o
perigo o seguiria aonde quer que fosse, mas ainda assim... Achei que
poderia encontrar segurança ficando longe dele. Esse foi o último erro da
minha vida. Nunca mais.
Havia uma lição importante a tirar de tudo isso. Eu nunca estaria
seguro. As pessoas sabiam quem eu era e que poderia estar acostumada a
chegar aos homens que queriam me manter segura. Meu pai e Ed estavam
certos o tempo todo. Uma vez que você faz parte da Máfia, não há como
escapar.
Seria difícil construir uma família como essa, mas haveria uma solução
melhor? Não, não havia. Mesmo se eu mudasse meu nome, me tornasse
outra pessoa, eles ainda me encontrariam.
Eu não queria testar isso. A única maneira de ficar um pouco segura
era ficar com Ed e os Russos.
Eu descansei minha cabeça em seus ombros enquanto ele dirigia seu
carro. Eu me virei para encontrar seus olhos. Alguns minutos se passaram
desde que ele me salvou, e a estrada à frente era silenciosa. Poucos carros
estavam dirigindo conosco.
Olhei para seu rosto, em seus olhos, e pensei em uma coisa que me
deixou ainda mais segura disso. Eu o amava. Como eu poderia não me
sentir assim? Ele fez muito para me salvar duas vezes.
Mudei minha cabeça em seus ombros, trazendo sua atenção para
mim. – Você está acordado –, disse ele, sua voz suave e lenta.
– Graças a você – eu murmurei.
Ele sorriu e desceu sua cabeça para me beijar. O beijo não durou mais
do que cinco segundos, mas foi o suficiente para me lembrar o quanto ele
me amava também.
– Eu vou te levar para casa, Elsa, e desta vez, ninguém será capaz de
machucá-la novamente.

Elsa

Ed poderia ter pedido a outra pessoa para fazer isso, mas com seu kit
de primeiros socorros em mãos, ele me mostrou outra coisa sobre ele que eu
não sabia até este momento. Ele poderia ser muito atencioso e teimoso ao
mesmo tempo.
Ele estava curando minhas feridas, sua mão segurando uma bola de
algodão. Ele esfregava de vez em quando nos meus hematomas e cortes
enquanto limpava o sangue. Meu corpo inteiro doía, e o que eles fizeram
comigo foi horrível, mas eu podia encontrar consolo no fato de não estar
mais sozinha.
Eu estava com ele e não tinha mais razão para pensar em deixá-lo
novamente.
– Sinto muito, Ed.
Ele parou de limpar um hematoma na minha coxa e disse, seus olhos
olhando para mim – Você não tem do que se desculpar. Fique
quieta. Preciso ter cuidado agora.
– Não, eu quero dizer isso. – Eu engoli em seco. Isso não foi fácil para
mim. – Eu pensei durante toda a minha vida que eu precisava sair desta
vida. Quando finalmente fiz isso, me vi em perigo novamente. Eu não posso
fugir.
– Elsa, você não precisa me dizer isso agora. Apenas descanse e fique
quieta.
– Mas eu preciso. Você estava certo o tempo todo.
Ele suspirou e disse – Tudo que eu queria era mantê-la segura. Eu
deveria ter colocado mais homens para vigiar você.
Inclinei-me e beijei sua testa. – Não se culpe por causa disso. Você não
poderia ter imaginado que haveria tantos.
Ele não disse nada, mas pude ver que ele sabia que eu estava
certa. Quem poderia imaginar que aquela família ainda poderia nos
machucar?
O tempo passou enquanto ele curava minhas feridas sozinho. Quando
ele se levantou, procurei sua mão e segurei-a na minha. – Onde você está
indo agora? – Eu perguntei.
Ele se sentou ao meu lado e com um sorriso tímido no rosto, ele disse
– A lugar nenhum. Você precisa de mim agora, e isso é tudo que me
importa.
Eu não pude me conter quando ele disse essas palavras, puxando seu
rosto para mim e beijando-o. Ele me beijou de volta, sua língua indo fundo
em minha boca, e a partir de então, eu sabia que só podia esperar o melhor
vindo dele.
◆◆◆

Ed ficou comigo em seu escritório, sua mesa cheia de papéis e


planos. Só que, desta vez, os planos não eram para uma missão dele, mas
para o nosso casamento. Íamos nos casar e não demoraria muito para que
isso acontecesse.
Ele ficou com as mãos sobre a mesa, sua cabeça olhando os
documentos e as plantas da igreja na qual íamos nos casar. Seus olhos
examinaram cada detalhe, cada dado, e eu continuei pensando em como
poderia ajudá-lo.
– Querida, há algo que você gostaria que eu fizesse? – Eu perguntei.
– Não, acho que vou ficar bem por agora – ele disse sem olhar para
mim. Ele estava tão focado nesses planos.
– Há uma coisa importante de que você não se lembra – falei, depois
de esperar para ver se ele se afastaria um pouco desses planos.
– O que? – Ele perguntou, suas mãos agarrando algumas folhas de
papel e substituindo-as por outras.
– O buquê. Ainda nem começamos a falar sobre isso.
– Por que isso é importante agora? Acho que a posição das flores
dentro da igreja é um assunto muito mais importante para se ponderar
agora.
Com minha mão atrás das minhas costas, eu grunhi enquanto tentava
me sentir mais confortável. Deus, minha barriga estava tão grande.
– Porque o buquê será jogado no final do casamento, e a garota que o
receber vai pensar que terá uma vida maravilhosa e se casará com alguém
como você.
Ele balançou a cabeça em negativa, suas mãos movendo mais folhas
de papel sobre a mesa. – Eu realmente não vejo como isso é importante
agora.
Suspirei. Ele estava tão concentrado na posição e no layout das flores
na igreja que não conseguia falar comigo direito no momento.
Sorri e, ao colocar a mão em suas costas, disse – Vou buscar algo para
comer.
Ele me deu um beijo repentino e poderoso e então retomou o que
estava fazendo, suas mãos movendo mais folhas de papel. Dei uma última
olhada nele antes de descer para a garagem, onde entrei em um dos carros.
Com o fim da guerra, decidimos continuar morando aqui. Meu pai
ficou muito feliz por eu não ter objeções ao casamento ainda. Da mesma
forma, gostei da perspectiva de viver uma nova vida com novas pessoas
para me fazer companhia.
Sem a guerra, eu poderia viver uma vida aqui sem ter que me
preocupar em ser sequestrada novamente ou morta.
Dirigi o carro até o portão da frente e disse a um dos homens – Abra-o
para mim.
Ele apertou um botão e os portões se abriram. Agora era automático,
embora o material ainda fosse antigo. Talvez um dia Ed e eu pudéssemos
fazer algo a respeito, mas, por enquanto, isso não me preocupava.
Eu dirigi até uma das lojas que conhecia um pouco bem. Eles vendiam
buquês e tinham muitas flores para vender, desde as de plástico às reais. A
visão do pequeno estabelecimento com flores não só dentro, mas também
fora, já me fez sentir um pouco melhor.
Quando entrei na loja, o cheiro de flores enfeitou meu nariz, fazendo-
me parar e absorver o ambiente, meus olhos fechados.
Eu os abri novamente e caminhei até a recepção, onde uma mulher
com um sorriso largo e cabelos ruivos chamativos estava atrás dela. Eu
disse – Estou procurando flores específicas para compor um buquê. Eu vou
me casar e realmente queria deixar isso perfeito também, sabe?
Sua voz era bastante enérgica quando ela falou, suas sardas chamando
minha atenção também – Que maravilhoso isso é. Que tipo de flores você
está procurando?
Eu me senti bem-vinda por sua alta energia repentina. – Vamos ver –
eu disse, colocando meus dedos no queixo e olhando para baixo, pensando
– Vou precisar de um par de campions, orquídeas fantasmas e alguns
cosmos chocolate.
Sua energia diminuiu um pouco, embora ela ainda parecesse
radiante. – Vou ver se as tenho aqui comigo.
De uma das partes da mesa, ela pegou um livro de catálogo e o
abriu. Suas mãos deslizaram pelas páginas, seus dedos procurando as flores
que mencionei. Nesse ínterim, olhei ao redor de sua loja, para ver se
conseguia encontrar as espécies mencionadas sozinha.
Encontrei uma coleção de orquídeas fantasmas, mas não havia
vestígios das outras flores. Eu poderia ir a outras lojas, mas isso daria mais
trabalho do que o buquê valia.
A mulher atrás da mesa me chamou e eu disse – Então, realmente tem
elas?
– Não mais, me desculpe. Algumas foram roubadas há não muito
tempo por uma criança. Ela levou muitas das minhas flores com ela, e
algumas delas são as que você mencionou.
Merda. Não podia acreditar que tinha tanto azar, mas se foi uma
criança que roubou essa loja, então talvez eu podia fazer algo a respeito.
– Você se lembra de como aquela menina era? Onde ela foi?
Ela olhou para baixo, mais de sua energia se dissipando. – Eu a
conheço, na verdade.
– Sério mesmo? Então, por que você não foi atrás dela?
Ela olhou nos meus olhos. – Olha, prefiro não falar sobre isso, mas se
você puder encontrá-la e me devolver aquelas flores, farei seu buquê sem
cobrar nada.
Suspirei. Eu não podia acreditar que teria que perseguir uma criança e
recuperar as flores que ela roubou.
– Tudo bem. Apenas me diga onde ela mora.
◆◆◆

A mulher me deu o endereço e voltei para o carro, sentado ao


volante. Com uma barriga tão grande como esta, não seria capaz de correr
atrás de qualquer criança. Suspirei e olhei para a janela, pensei no buquê,
lembrei-me de como eram aquelas flores.
Apesar do obstáculo, eu não desistiria. Eu queria fazer do casamento
algo que nunca seria capaz de esquecer.
Dirigi até o endereço, que ficava a apenas alguns quarteirões de onde
estacionei. Em outras circunstâncias, eu teria caminhado todo o caminho até
aqui, mas mais uma vez, com esse enorme peso extra no meu corpo, não
conseguia andar por 10 minutos sem me sentir cansada.
Fechei a porta do carro e caminhei até uma pequena casa de apenas um
andar. Parecia o tipo de lugar que eu nunca pisaria em outras circunstâncias.
Bati na porta e esperei. Sem resposta. Considerando que ela era uma
criança, ela tinha que estar vivendo com um adulto, certo?
Andei e olhei pelas janelas para o interior da casa, mas estava
escuro. Nenhuma luz estava acesa. A maioria das cortinas também estava
fechada.
Pensei em desistir e encontrar outras flores para o meu buquê quando
ouvi um barulho vindo de dentro da casa. Lentamente, como meu corpo
sentia muita dor, caminhei até a porta, que agora estava sendo aberta.
Uma garota muito baixa e tímida saiu. Parecia que ela tinha acabado
de passar pelo pior momento da sua vida. Seu cabelo estava uma bagunça,
assim como seu rosto. Ao chegar perto dela, questionei-me quando foi a
última vez que ela tomou banho.
– Ei, qual é o seu nome? – Eu perguntei.
Tímida e olhando para o chão na frente de sua casa, ela disse –
Francine.
– Eu sou Elsa. Prazer em conhecê-la. – Eu estendi minha mão para ela,
mas ela não a pegou.
Depois de deixar minha mão cair para o meu lado, eu disse – Por acaso
você tem algumas flores com você?
Ao cruzar as pernas, ela disse – Sim...
– Posso vê-las? Eu preciso levá-las de volta para uma amiga minha.
Eu tive pena dela. Onde estava a mãe dela?
– Tudo bem – ela começou a dizer – mas pelo menos deixa algumas
comigo, por favor? Eu preciso delas para a minha mãe.
– Ela está aqui com você?
Ela assentiu e eu disse – Posso falar com ela?
Ela acenou com a cabeça mais uma vez e me levou para dentro e, em
seguida, para um quarto. Quando meus olhos avistaram sua mãe, quase dei
um grito.
Sua mãe estava na cama e ela parecia muito velha. Um pedaço de pano
molhado estava em sua testa e, apesar de ter pensado que ela poderia estar
morta, seu peito subindo e descendo me dizia o contrário.
– Francine, sinto muito. Eu não tinha ideia... – Eu disse, minhas
palavras parecendo pesadas de repente.
Ela prontamente me ignorou, indo até sua mãe e acariciando sua
bochecha. Fui até ela e disse: – Você precisa de ajuda? Posso chamar uma
ambulância.
– Mas não temos dinheiro para isso ...
– Foda-se o dinheiro – Eu disse, fazendo seus olhos dispararem para
mim, um olhar de surpresa em seu rosto. – Eu não posso ficar parada
enquanto a mãe de uma garota como você morre aqui.
Fui ao telefone fixo dela e pedi que viesse uma ambulância. Ela estava
olhando para mim quando eu me virei – Eles estarão aqui em breve. Eu
deixei meu número neste pedaço de papel aqui – eu disse, entregando-o a
ela. – Se precisar de alguma coisa, não hesite em me ligar.
Seus olhos se arregalaram. Ela ficou chocada por eu estar ajudando
tanto, mas para ser honesto, como não poderia?
Peguei as flores que ela roubou, deixei algum dinheiro na mesa da
cozinha dela e depois voltei para o carro, o peso da minha barriga se
manifestando mais uma vez.
Eu grunhi quando me sentei no banco do motorista e ao olhar para as
flores no banco traseiro do meu carro, um leve sorriso apareceu no meu
rosto. Eu não iria apenas pegar meu buquê para o casamento, mas também
acabei fazendo duas coisas boas hoje.
Ufa. Não pensei que fosse demorar tanto para conseguir as flores de
que precisava, mas no final, o que fiz valeu a pena.

Eduardo

Elsa estava diante de mim. A mulher mais bonita do mundo. Seu


vestido de noiva foi feito na cor branca que me chamou a atenção no
momento em que ela me mostrou. Agora, parecia ainda mais
adorável. Cabia como uma luva em seu corpo.
– Você está olhando demais para mim – disse ela, dando uma risadinha
tímida.
– Como poderia não estar? – Eu questionei, mas sem realmente
perguntar algo a ela.
A igreja parecia tão linda, tão perfeita. Passei horas desenhando a
posição das flores, onde elas precisavam estar. Eu também me esforcei
demais em outros itens de decoração, como as velas e esse tipo de coisa.
Pensei tanto neles, por tantos dias, que a última coisa que queria era
pensar neles mais uma vez.
A igreja estava lotada. Fiquei surpresa por ter conseguido fazer com
que tantas pessoas viessem para o meu casamento. Olhando furtivamente
para um dos cantos da sala, encontrei Romano, e ele parecia sério e
sereno. Ele nunca mudaria.
Ainda tínhamos tempo para conversar um com o outro agora. – Diga-
me, Elsa, como você se sente sobre se tornar uma Russo?
– Me parece ser algo maravilhoso.
Não estávamos unindo nossas famílias. Depois desse casamento, os
Russos se tornariam uma das famílias da máfia mais importantes do mundo.
Mais do que já éramos, até.
Este evento era importante, razão pela qual homens e mais homens o
protegiam de qualquer pessoa que pudesse ter ideias engraçadas sobre
invadir para nos matar. Até a polícia ajudava a manter a igreja segura.
Nossas vidas seriam para sempre perigosas e, ainda assim, eu agora
podia tolerar isso.
Seu pai veio também. Sem ele, esse casamento nunca estaria
acontecendo. Meus pais estavam sentados em um dos bancos da frente, seus
olhos brilhando de alegria. O filho deles, que tanto os envergonhou quando
eu disse que havia entrado para a Máfia, agora estava se casando.
Eu estava longe de ser o bebê deles agora, mas ainda assim, aos olhos
deles, eu sempre seria isso.
O pastor começou a recitar suas palavras e o casamento
continuou. Depois que ele terminou de pronunciá-las, havia apenas uma
última coisa que precisava ser feita.
Com seu anel em minha mão, eu o coloquei em seu dedo, seus olhos
brilhando de alegria. Ela fez o mesmo com meu dedo, e então, quando o
pastor disse suas palavras mágicas, eu a puxei para outro beijo poderoso
que selou nossos destinos juntos.
Epílogo da Elsa

Abri a porta e o encontrei. Pequeno Valter, nosso filho. Ele nasceu tão
gordo e grande. Ele era maior do que a maioria dos bebês de sua idade. O
silêncio lá fora me lembrou que era de noite e que ele deveria estar
dormindo.
E, no entanto, ele ainda estava acordado. Valter era um bebê agitado,
sempre cheio de energia e com vontade de comer algo diferente.
Eu fiz cócegas em sua barriga, fazendo-o rir e sorrir para mim. Ele
tinha apenas um dente na boca e alguns fios de cabelo na cabeça.
Eu olhei pela janela e fechei-a. Pensei em Regina. Ela morreu há muito
tempo, e eu ainda tinha pesadelos curtos, mas insuportáveis, sobre o que
aconteceu com ela.
Ed ainda não voltou. Provavelmente algo o mantinha ocupado
agora. Sua ausência era estranha, mas não me preocupava. Diferentemente
do meu pai, ele mantinha tantos homens patrulhando a área em que
morávamos que não havia chance de alguém nos fazer mal novamente.
Mas talvez eu estivesse me enganando sobre isso. Estar totalmente
seguro o tempo todo não era algo que podia ser realizado. Eu não me sentia
em perigo neste bairro aqui em Chicago, e isso era bom o suficiente para
mim.
Nós não morávamos mais na mansão. Vivíamos lá durante a guerra e
até nos casarmos. Depois de cumprir seu propósito, encontramos um lugar
melhor para onde nos mudarmos. Precisávamos fugir das lembranças ruins
que infestavam aquele lugar.
Eu fiz cócegas no meu pequeno Valter mais uma vez antes de me virar
para sair, suas risadas ecoando na sala. Foi quando ouvi um barulho
estranho lá fora. Pensei imediatamente naquela noite em que minha querida
Regina foi tirada de mim e então, peguei minha arma, esperando para ver se
o barulho soaria novamente.
Mas nada aconteceu. Além do chilrear dos grilos. Eu gostaria de poder
viver uma vida tão despreocupada como eles.
Coloquei minha arma de volta sob o cós da minha calça e saí da
sala. A porta da sala se abriu rapidamente, e peguei minha arma mais uma
vez, mas em vez de encontrar um criminoso que tinha vindo aqui para me
fazer mal, eu o encontrei.
Ed. Ele voltou para casa, e ao ver seu sorriso aparecendo em seu lindo
rosto, corri para ele, meus braços abertos para um abraço. Ele me abraçou
de volta, minha cabeça apoiada na curva de seu pescoço.
Por um momento, fiquei com medo. Com medo de que o mesmo
pudesse acontecer aqui, mas sua presença constante em minha vida me
garantiu que eu podia confiar nele para me manter segura. Por quanto
tempo? Para sempre. Ele era perigoso demais. Todos em Chicago que o
conheciam temiam seu nome.
Afastei-me dele um pouco e disse – Estou tão feliz por você estar
aqui. Achei que você chegaria ainda mais tarde.
– Sim, acabei perdendo um pouquinho de tempo com algo. Enfim, isso
acabou e estou aqui agora. É isso o que importa.
Segurando sua mão e dando a ele um olhar travesso, eu disse – Então
venha comigo. Você me prometeu isso.
Ele sorriu, me seguindo até o nosso quarto, que fechamos. Esta seria
uma noite inesquecível.
Epílogo do Eduardo

Eu olhei para meus homens. Eles estavam todos prontos, segurando as


pistolas Colt e as metralhadoras Tommy. O olhar sério em seus rostos me
disse que eles não temiam isso nem um pouco. Bem, talvez alguns deles
estivessem com medo, mas não estavam permitindo que isso os impedisse
de fazer a coisa certa.
Quase sussurrando, eu disse – Pessoal, isso vai ser difícil, mas sei que
posso contar com vocês.
Eles estavam todos atrás de mim e na minha frente havia uma
porta. Eu iria invadir o prédio através dele e, ao colocar os pés nele, tudo
seria um caos.
Todos nós usávamos ternos escuros com gravatas diferentes. Nós
olhamos para o lado. Esses eram nossos trajes, como nos certificamos de
que homens inferiores não pensassem em se colocar no nosso
caminho. Esses homens aqui, neste prédio, feriram minha esposa duas vezes
antes, e agora, eu estava acabando com eles de uma vez por todas.
Engatei meu Colt e chutei a porta, homens atrás de pilares e paredes
gritando. Meus homens correram para dentro do prédio atrás de mim, e eu
procurei por cobertura atrás de um pilar de suporte. Balas e tiros voaram
por todas as partes. Um pequeno erro aqui poderia custar minha vida, mas
isso não iria acontecer.
Talvez eu estivesse sendo bobo, mas era o tipo bom de bobagem. Meus
pensamentos estavam com Elsa e meu pequeno Valter. Eles significavam o
mundo para mim, e eu nunca iria deixar nada de ruim acontecer com eles
novamente.
Eu saí do canto e puxei o gatilho, meu Colt mirando em alguns
daqueles idiotas. Quem eles estavam pensando que eram quando
sequestraram minha esposa e a machucaram? Eles estavam loucos. Morrer
por minhas mãos era o que eles mereciam.
Minha arma disparou, atirando mais balas, fazendo com que mais de
seus homens caíssem como moscas no chão. Meus homens correram à
frente, cobrindo mais terreno. Essa gangue mafiosa que morava neste
prédio era uma sombra do seu antigo eu.
Não me admirava que não eram uma grande ameaça para nós.
Eu avancei com meus homens, matando mais daqueles idiotas. Mais e
mais sangue foi derramado por toda parte, enchendo minha
adrenalina. Nunca falei sobre isso com Elsa, mas ver homens como esses
morrendo sempre me fez sentir muito feliz.
Eu era um assassino. Eu tinha uma esposa, mas era um assassino. Eu
gostava de ser um membro da máfia e nunca teria escolhido nada diferente
para minha vida.
Cheguei ao segundo andar do prédio degradado e, ao me esconder
atrás de uma parede, encarei meus subordinados. Eles ainda tinham
completa certeza do que estavam fazendo. Eles ainda estavam decididos a
acabar com essa gangue de uma vez por todas.
Eu chutei a enorme porta dupla e disparei meu Colt. Matei tantos
homens assustados na sala que seus gritos de socorro se fundiram em um,
tornando-se um som que entrou em minha mente por um ouvido e saiu pelo
outro.
O tiroteio nesta sala não durou muito. Abaixei minha arma
ligeiramente, apontando-a para um homem velho e um tanto careca que
estava na outra parede, tentando se apequenar.
Meus homens se acalmaram, embora suas armas Tommy ainda
estivessem apontadas para ele. No caso de ele fazer algo estúpido, ele iria se
arrepender, e muito.
Eu caminhei até ele. Seu relógio de ouro em seu pulso me disse que ele
era rico e provavelmente o líder desta gangue agora morta. Eu fiquei na
frente dele, elevando-me sobre ele, e então o levantei do chão.
Seu rosto fez uma careta quando ele olhou para o lado. – Olhe nos
meus olhos, idiota! – Eu gritei, cuspindo um pouco da minha saliva em seu
rosto.
Ele fez uma careta ainda mais forte, sua expressão de medo
absoluto. Lentamente, mas com segurança, ele se virou para olhar para
mim. Ele estava assustado e temia apenas uma coisa. Ele não queria
morrer. Eu tinha outros planos para ele, de qualquer maneira.
E quem quer que ele pensasse que era, não importava nada para
mim. Esse homem era meu e eu iria torná-lo um exemplo.
Pós-Epílogo
Gabriel Zettici

Sentado na minha mesa, peguei o retrato com a foto dela. Minha querida
Elsa estava tão linda. Sua foto de casamento. Uma de muitas. Tinha muitas
fotos dela quando ela se casou com o seu ex-marido. Ele havia sido um
homem bom, mas o destino decidiu que ele não poderia viver por muito
mais tempo conosco.
Sua morte foi brutal. Acidente de carro, mas acabou se tornando mais
do que isso. Ele lutou, usou sua arma para se certificar de que seus
assassinos não poderiam acabar com ele facilmente. Mas já era tarde
demais. Eu estava perto quando aconteceu, mas não pude fazer muito.
Eu os peguei. Matei seus assassinos, mas não pude salvar sua
vida. Com meus braços segurando seu torso e cabeça, ele falou suas últimas
palavras para mim. – Sempre esteja ao lado de Elsa.
Achei que poderia manter minha promessa, mas no final, me vi tão
sem esperança quanto ele naquela noite em que nos deixou para sempre. Eu
chorei e soquei a parede tantas vezes depois que ele morreu.
Não pude conter minhas lágrimas quando tive que contar a ela a
terrível notícia. – Sinto muito, Elsa, mas ele não sobreviveu.
Ela desabou na minha frente e eu a abracei. Eu a consolei da melhor
maneira que pude, mas desde então ela se tornou uma mulher mais reclusa.
Elsa costumava ter muito poder e energia nela. Ela falava de uma
forma que atraia a atenção de todos para ela, e agora isso não existia
mais. Ela não era o que foi antes. Elsa era uma mulher diferente agora.
Reclinado na cadeira, pensei nela e no filho de Romano. Eduardo
parecia um bom homem, mas era de fato? Eu não sabia. Não tive muito
tempo para conhecê-lo, embora ele me fizesse pensar que iria sim mantê-la
segura.
Lá em Chicago, ela estaria segura, na maior parte do tempo. Não
existia algo como estar 100% seguro o tempo todo. O perigo a encontraria
de uma forma ou de outra. Eu sabia de uma coisa que me dava paz quando
pensava nela. Eduardo, por ser filho de Romano, era um homem sádico e
astuto. Ele saberia como mantê-la longe do perigo.
Quanto a ele, não tinha medo de que fosse perigoso para ela. Ele nunca
levantaria a mão para ela. Romano costumava ensinar bem os seus filhos,
mesmo os adotivos. Eles eram duros e violentos com outros homens da
Máfia, mas nunca com inocentes e mulheres como ela.
Levantei da cadeira e olhei pela janela, minhas mãos acendendo um
cigarro. Uma das melhores marcas do mundo o fez e, para ser honesto
comigo mesmo, não poderia me contentar com nada de qualidade menor. O
produto era bastante caro e, no entanto, valia a pena.
Exalei uma nuvem de fumaça e pensei na guerra. Iria acontecer em
breve. Todas as gangues da máfia estavam lutando por apenas uma
coisa: controle de território. Depois que soubemos que um bairro específico
aqui em Milão se tornaria muito valorizado em um futuro próximo, todos
nós voltamos nossa atenção para ele.
Havia uma espécie de reunião marcada para acontecer amanhã. Eu me
perguntei como seria, embora eu não tivesse grandes esperanças para
isso. Ou sairíamos dali sem nada nas mãos ou morreríamos nos matando.
As famílias principais estavam fechando negócios para garantir que o
encontro fosse tranquilo, mas, mais uma vez, lembrei-me de que a máfia
italiana não obedecia a nenhuma regra.
Exalei outra nuvem de fumaça e, em seguida, respirei o ar fresco da
noite. A lua era um espetáculo para olhos cansados como os meus. Quando
foi a última vez que contemplei o céu dessa forma?

Romano Russo

A reunião estava marcada para acontecer em alguns minutos a partir de


agora. A tensão era quase palpável e preenchia todo o ambiente aqui nesta
sala. E era grande. Parte do teto era de vidro e, portanto, não precisávamos
de luz artificial.
Esperei que mais chefes de família viessem. Convidamos a todos para
virem aqui, e como minha família era uma das mais importantes não só em
Milão, mas em toda a Itália, eu tinha que garantir que as pessoas aqui
estivessem protegidas.
Mas eles não sabiam que eu vim aqui disposto a aceitar apenas uma
proposta. Ou melhor, que eu faria todos aqui aceitarem meu plano. A
família Russo deveria ficar com 50% do território do bairro Bergano.
Olhei pela janela e notei o carro de Gabriel Zettici
encostando. Ótimo. Ele estava vindo. Ele não sabia quais eram meus planos
para esta reunião, e ele não deveria. Pelo menos, não até o momento certo.
Todos vieram e nos sentamos à mesa redonda e enorme. A tensão era
ainda maior agora, e depois de examinar todos os que estavam aqui comigo,
certificando-me de que não estava me esquecendo de ninguém, comecei a
falar.
– Precisamos discutir como devemos distribuir o novo bairro. Sabemos
que se tornará uma parte importante de Milão e, por isso, todos queremos
nossas devidas partes.
Deixei um dos chefes das outras famílias falar primeiro. A reunião iria
funcionar assim: todos iriam explicar quais eram suas proposições e então,
iríamos discuti-las até encontrarmos um ponto em comum.
Gabriel estava sentado bem ao meu lado. Sua família e a minha se
tornaram mais íntimas e eu gostava da sua filha. Elsa seria uma ótima
esposa para meu filho.
Sua família estava em processo de extinção, no entanto. Assim que se
casassem, os Zettici não existiriam mais. Era uma coisa humilhante, mas
eles não tinham escolha melhor. Ou se tornariam parte da nossa ou
minguariam.
O tempo passou e ouvi explicações de todos. Todos queriam
porcentagens absurdas do terreno, e isso eu jamais poderia aceitar. Fingi
não sentir nada em particular sobre seus interesses, mas no fundo, estava
odiando cada uma de suas palavras.
Assim que o último cara explicou sua proposta, eu estiquei meus
braços sobre minha cabeça e disse – Okay, mas não estou concordando com
nenhuma dessas condições. Vocês terão que aceitar as minhas.
Achei que íamos discutir algumas coisas antes de contar a eles minhas
intenções, mas não havia nada a ser dito agora. Sua falta de vontade e
relutância em chegar a um acordo eram palpáveis. Havia uma razão pela
qual sempre havíamos brigado um com o outro.
Todos nós nos desprezávamos aqui.
O velho sentado do outro lado da mesa levantou-se rapidamente e
gritou – O que está querendo dizer com isso? Você mesmo já tinha
explicado antes. Você queria que chegássemos a um acordo!
Todos olharam para ele e depois para mim. Não me levantei, apenas
sugeri com a mão que ele se sentasse, o que ele fez. Seu peito ainda estava
subindo e caindo quando eu disse – Desculpe, mas eu tenho a vantagem
aqui. Vocês não podem fazer nada.
Todos se levantaram, um instante depois apontando suas armas para
mim. Eles fazendo isso não me preocupou. Eu sabia que eles não confiavam
um no outro.
Era a razão pela qual eu ri quando eles apontaram suas Colts um para o
outro um segundo depois, se esquecendo de mim por um segundo.
Levantei-me lentamente e, ao sorrir, disse – Calma, pessoal. Todos
vocês querem morrer aqui? Se vai haver guerra em Milão, vamos, pelo
menos, nos dar alguns segundos para nos prepararmos.
Gabriel cutucou meu ombro e perguntou – O que diabos está
acontecendo aqui, Romano? Achei que você queria fazer um acordo com
eles.
Eu dei uma cutucada em seu ombro, meus olhos olhando nos dele. –
Relaxe e faça o que eu estou fazendo.
Ele abriu sua boca, obviamente pensando em dizer outra coisa, quando
eu o ignorei e falei com todos na sala de novo – Vocês nem me deixaram
explicar o que eu tinha em mente. Tenho certeza de que vocês vão gostar do
plano.
Meu sorriso não os enganou. Eu era mais jovem do que a maioria
dessas pessoas e todas elas achavam que eu não merecia minha posição
como chefe da família Russo. Bem, meu pai não deveria ter morrido tão
cedo.
Depois que eles se sentaram novamente, comecei a explicar qual era
meu plano. Eu não era louco o suficiente para pensar que poderia pegá-los
todos aqui de uma vez. Essas famílias, mesmo não sendo tão poderosas
quanto a minha, ainda eram muito importantes e poderiam causar sérios
danos a mim.
Eu iria ganhar a guerra que se aproximava. Eu sabia que eles não se
curvariam diante de mim facilmente. Eu precisava encarar isso devagar e
com cuidado. Pensei que encher este prédio com meus homens tornaria
fácil matar todos eles, mas as coisas não eram assim.
Foi enquanto pensava nisso que continuei a explicar-lhes a minha
proposta e, apesar de dizerem que teria 50% do Bergano, não reclamaram
muito. Fiz um acordo com eles e talvez seria mantido, ou talvez não.
O fato era que era improvável que eles não começassem uma
guerra. Eles não iriam unir forças para lutar contra mim, no entanto. Eles
não confiavam um no outro, mesmo que agora eu fosse seu inimigo
comum. Bergano valia a morte de algumas pessoas, mas uma guerra total?
Aí nesse caso não valia a pena. Não queríamos que nossas famílias se
tornassem tão fracas que as autoridades pudessem nos varrer e acabar
conosco.
Seria uma espécie de guerra fria, mas ainda assim mais quente e mais
pessoal do que a que agora envolvia a América e a Rússia.
De qualquer forma, iria me preparar para o que estava por vir.
Quando todos saíram, Gabriel parou na minha frente. Eu sabia que ele
tinha algumas perguntas.
– Por que fingiu tanto? Eu realmente pensei que você iria matar todo
mundo aqui.
– Não, eu nunca faria isso. Você sabe que eu não sou tão louco.
Ele olhou para os homens que ainda estavam saindo do
prédio. Colocamos tantos subordinados para protegê-los que a polícia nem
pensou em invadir para nos prender.
Gabriel me ofereceu sua mão e eu a apertei. – Boa sorte – ele começou
a dizer – isso vai ser difícil. Não há como essas famílias obedecerem ao
pacto que todos concordamos hoje.
– Eles não vão e precisamos estar prontos para quando a guerra
começar. Pode-se dizer que já até começou...

Fim

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1. Nas Garras do CEO: Uma Virgem para o Mafioso


2. Presa ao Mafioso: Romance de Casamento Arranjado
3. A Noiva Virgem do Mafioso: Romance de Casamento Arranjado
4. O Bebê Inesperado do Mafioso: Romance de Gravidez Indesejada
5. Noiva Fugitiva do Mafioso: Romance de Casamento Arranjado
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Nas Garras do CEO: Uma Virgem para o Mafioso


Livro 1 desta série

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Imani

Tomei as escadas, chegando ao primeiro andar da mansão e depois


virei para a direita, prosseguindo para onde estava a cozinha. A esta hora da
noite, com os grilos chilreando lá fora, não podia haver ninguém lá.
Teria ela toda para mim, pensei com um sorriso suave no meu rosto.
Apesar dos diferentes obstáculos que muitas vezes apareciam na minha
vida, era um sorriso verdadeiro. Mas hoje à noite também era um pouco
diferente. Não conseguia dormir, preocupada com meus próximos testes e
se eu estava ou não preparada para eles.
Eu precisava estudar mais, mas era sempre tão difícil encontrar bons
companheiros de estudo. Eu tinha alguns amigos. Eu gostava deles e tal,
mas eles estavam mais empenhados em festejar, ficar bêbado, e beijar seus
namorados ou namoradas.
Desci pelo corredor, achando a mansão um pouco sinistra - como
sempre - à noite. Todas estas salas com as luzes apagadas, a ausência de
risos e pessoas conversando, e o silêncio inquebrantável não ajudavam a
fazer com que parecesse mais convidativa.
Havia guardas aqui e ali, mas não era como se houvesse assassinos
tentando nos matar ou algo parecido. Meu pai era um senador do estado da
Virgínia, mesmo morando aqui em Washington.
Sua vida era bastante emocionante. Ele sempre se reunia com todos os
tipos de pessoas.
Ficando acordado até tarde algumas noites, ele sempre me lembrava
que tudo o que tínhamos era possível graças a ele. Se não fosse pela forma
como ele se comercializava e seu charme, ele não teria sido eleito.
Parei em frente à porta da cozinha, virando um pouco minha cabeça
para a direita quando vi um dos guardas vindo aqui.
Na maioria das vezes, eu gostava de imaginar que eles não estavam
aqui. Às vezes me faziam pensar que estávamos vivendo num país que
estava em guerra. Na verdade, a América estava sempre em guerra, mas não
era como se estivéssemos sendo bombardeados diariamente, também.
Eu sabia que eles estavam aqui para nos manter seguros, mas com eles
sempre por perto, eu nunca podia ficar na piscina com apenas o meu biquíni
vestido, e sempre tinha que ter vários amigos juntos.
Pelo menos eles conseguiam me fazer esquecer que havia sempre
guardas me observando... como neste momento.
Eles entendiam o quão importante eu era para meu pai. Se algo
acontecesse comigo, ele despediria todos eles, e muitos desses homens
dependiam dele para sustentar suas famílias, claro.
Eu tinha vestido apenas um pijama rosa claro hoje à noite. Às vezes eu
gostava de vestir uma camisola, mas não hoje à noite.
Entrei na cozinha, ignorando o guarda que estava vindo e o outro atrás
de mim que me seguia. Um assunto que já havia conversado com meu pai
antes era sobre a sua obsessão em me manter sempre sob sua proteção.
Nunca me sentia só. Mesmo quando estava em meu quarto, com a
porta e as cortinas fechadas, sempre tinha uma sensação incômoda de que
havia alguém me vigiando.
Parei em frente à geladeira, abrindo uma de suas portas e depois
olhando para toda a comida que tínhamos dentro dela. Esta não era a única
geladeira que tínhamos na mansão, mas era a única que não parecia ter
vindo de um restaurante militar.
Além disso, esta cozinha era usada apenas por nós - a família
proprietária desta mansão. Minha mãe também morava aqui, embora a esta
hora da noite ela provavelmente estivesse dormindo. Ao contrário de meu
pai, ela não era o tipo de pessoa que gostava muito de trabalhar.
Mas eu supunha que ela não tinha que trabalhar muito, de qualquer
maneira. Ela era uma CEO. Ela tinha funcionários que faziam o trabalho
pesado para ela.
Havia algumas sobras de comida na geladeira, uma torta, frutas,
legumes, fatias de pão, queijo e presunto. Lambi meus lábios quando me
lembrei do sabor de um sanduíche, quando bem preparado e temperado.
Pensando nisso, já havia algum tempo desde a última vez que comi um
deles.
Eu assenti com os meus olhos fechados e sorri suavemente, minhas
mãos encontrando as fatias de pão, o presunto e o queijo. Fechei a porta da
geladeira com o peso do meu corpo e depois prossegui para a mesa.
Virei-me, abri alguns armários e gavetas até finalmente encontrar o
que estava procurando. Uma faca pequena e afiada para me ajudar a
espalhar um pouco de maionese sobre as fatias de pão.
Peguei-a e girei meu corpo quando meu braço derrubou, do balcão,
uma tigela com um monte de tomates dentro, fazendo com que todos eles
fossem rolando no chão.
Porra! Não preciso disso agora, pensei, já caindo de joelhos para pegar
todos os tomates.
E foi então que uma mão apareceu no meu campo de visão, fazendo
meu coração pular uma batida quando meus olhos se alargaram.
Eu levantei minha cabeça, encontrando o rosto de um homem que eu
nunca havia visto antes - e ele também não parecia ser um dos guardas. Não
olhava para seus rostos com frequência, mas este trazia consigo uma aura
espessa de confiança que eu nunca havia visto antes.
E, ao contrário deles, ele ainda estava vestindo um terno esta noite.
Um conjunto escuro e luxuoso que eu nunca tinha visto antes. Feito sob
medida. Ele deve ter encomendado este terno especificamente para ele.
Comecei a achar que ele era o tipo de homem que passava bastante tempo
tentando parecer o seu melhor, mesmo não precisando fazer isso porque era
perfeito.
Seus olhos verdes me olhavam com uma intensidade que eu nunca
tinha visto antes. Era como se ele tivesse acabado de conhecer a mulher de
sua vida, mesmo que isso não fizesse o menor sentido.
Seu cabelo, do tipo pimenta e sal, curto e bem definido, era de um
estilo muito comum que eu tinha visto em muitos homens, mas nele era
ainda melhor, e com muito mais glamour também.
Havia algumas rugas em seu rosto, embora sua barba aparada e
perfeita parecesse esconder a maior parte dela. Eu não sabia seu nome, mas
uma coisa eu tinha certeza - quem quer que ele fosse, ele era muito mais
velho do que eu. Por pelo menos uma década, eu diria.

Yegor
Ela estava deslumbrante. Ah, eu estava cansado de encontrar sempre
os mesmos tipos de mulheres todos os dias. Não sabia o que havia com elas,
mas todas tinham a mesma aparência. Olhos falsos, sorrisos falsos, e
mentiras em cima de mentiras.
Mas Imani... Ah, ela era diferente. Sua pele de chocolate foi a primeira
coisa que me roubou a atenção dos olhos, mas foi sua personalidade
ensolarada e inocente que me prendeu a ela como se ela fosse uma vara de
pescador e eu fosse apenas um peixe em um lago raso.
A inocência era algo a que eu não estava mais acostumado.
Ela parecia ser bem jovem. Pelo menos uma década mais jovem que
eu, e uma presa fácil. Eu não sabia que Efrem tinha uma filha tão bonita,
tão ingênua que ela podia roubar o coração de qualquer homem com
facilidade.
E ela podia fazer isso sem mesmo estar ciente disso.
Seu cabelo era curto, caindo aos seus ouvidos. Era preto como uma
noite romântica sob a luz de velas. Seus olhos estavam pintados com um
tom de coco que tornava quase impossível para mim olhar para qualquer
lugar que não fossem eles, a simples menção de tentar fazer algo diferente
daquilo parecendo um pecado para minha mente.
O corpo de Imani era um pouco magro, mas ela ainda tinha todas as
curvas que uma mulher como ela deveria ter.
Um par de pés que entrou na sala me tirou do meu transe, fazendo-me
virar meus olhos para a direita.
– Você não é um dos guardas. Quem é você e o que está fazendo aqui?
– Um homem com um boné e um uniforme de guarda perguntou, entrando
na sala.
– Entrei pela porta da frente e pedi permissão para vir, se é com isso
que você está preocupado – disse eu, recusando a ir mais longe de Imani.
Eu ainda tinha tanto para falar com ela.
Ele estava segurando uma M4, como se estivesse pronto para ir para
uma guerra.
– Veremos sobre isso – afirmou ele, estreitando seus olhos e fazendo
minha mão atirar ao punho da minha arma que estava enfiada na minha
cintura. Eu não a peguei e não planejava criar confusão na casa de Efrem,
mas se ele não podia ter homens melhores protegendo sua propriedade,
então ele não me deixava muita escolha.
Um homem apareceu na cozinha pelo corredor escuro, com os olhos
bem abertos quando percebeu o que estava acontecendo aqui.
Diferentemente do homem que estava segurando a espingarda M4, ele só
tinha uma pequena pistola com ele, e não tinha um boné na cabeça. Por que
alguém estaria usando um boné dentro de casa, a menos que ele fosse
careca e estivesse inseguro sobre sua falta de cabelo?
O homem que correu para a sala usava o mesmo uniforme escuro, com
o sobrenome da família Imani gravado nele. Ele era um dos guardas,
embora ainda fosse um mistério para mim porque ele veio aqui de repente.
O cara segurando o M4 virou a cabeça para ele, perguntando, – Você o
conhece?
– Sim, ele é um dos Gorbunov. Ele veio aqui para falar com o chefe.
Seu amigo, cujo nome era Noah Watson, alargou seus olhos com
verdadeira surpresa. Até mesmo seu aperto sobre o rifle ficou menos
intenso, com ele deslocando seu peso enquanto me mostrava que, de todas
as coisas que ele havia assumido que eu era, ele nunca pensou que eu fosse
um Gorbunov.
– Estou vendo – disse ele de repente, com sua voz soando mais como
um murmúrio.
Dando a volta, ele saiu da cozinha com seu amigo seguindo-o,
conversando com ele enquanto ele era ignorado. Noé compreendeu o peso
daquele momento em que ele teve um pouco de cara-a-cara comigo. Se ele
tivesse me irritado mais, ele sabia que eu não teria hesitado antes de fazer
toda a sua família sofrer.
A voz de Imani roubou minha atenção novamente, arrancando-me dos
meus pensamentos.
– Bem, pelo menos isso confirma que você não é um espião ou um
assassino tentando assassinar toda a minha família – disse Imani, abrindo
um sorriso largo e brilhante.
Eu também sorri, embora sem mostrar meus dentes. Eu simplesmente
não estava acostumado a sorrir e rir, mesmo que ela me fizesse sentir
vontade de fazer isso o tempo todo com ela. Nós éramos tão certos uns para
os outros.
– Sim, acho que sim. Então, você é a filha do Efrem?
– Meu pai? Ah, sou sim – ela respondeu, passando a mão sobre a mesa
da cozinha e quase fazendo cair a faca pequena que ela colocou em cima
dela.
– Cuidado aí – aconselhei, agarrando não só a faca, mas também as
fatias de pão, o presunto e o queijo antes de afastá-los dela. – Acho que
você precisa de alguém que olhe por você.
Ela esfregou a parte de trás de sua cabeça, fechando seus olhos
enquanto ria, mostrando-me o quão envergonhada ela estava.
– Acho que sim – disse ela, seus olhos se abrindo e olhando para mim
enquanto ela achava impossível não mostrar seus sentimentos por mim. Se
não fosse pelo fato de eu precisar ir ver o pai dela, eu ficaria aqui e
aprenderia mais sobre ela.
– Deixe-me fazer um sanduíche para você – eu ofereci sem perguntar a
ela se ela queria ou não. Eu não precisava fazer isso, já que era óbvio que
ela tinha vindo aqui para um sanduíche e estava fazendo uma bagunça
porque ela era muito desajeitada na cozinha.
– Ah, você não precisa fazer isso – ela estava dizendo antes de fechar a
boca, seus olhos se alargando enquanto me via espalhar um pouco de
maionese sobre as fatias de pão. Eu não podia ter certeza disso, mas
imaginei que meu profissionalismo a estava impressionando.
Afinal, Imani não parecia ser o tipo de garota que estava acostumada
com cozinhas, mesmo querendo fazer um simples sanduíche de presunto e
queijo.
Não demorou muito para colocar uma fatia de presunto e outra de
queijo em uma das fatias de pão, fechando o sanduíche com a outra fatia.
Seus olhos ainda estavam bem abertos quando terminei de fazer o
sanduíche, embora houvesse mais uma coisa que eu precisava fazer antes
que ele estivesse realmente pronto para ela.

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duas coletâneas.

1. Entregada ao Mafioso: Romances de Casamento Arranjado


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Sobre Jolie Damman

Jolie Damman tem apenas uma obsessão: escrever mais e mais livros
sobre mafiosos. Ao encontrar sua paixão com bilionários obsessivos,
sheiks, máfia russa e italiana, ela escreve todos os dias. Seus livros são
repletos de cenas picantes e ela prefere escrever romances dark a qualquer
outro.
Se você está buscando homens com excesso de confiança dominando
virgens, você vai encontrar isso aqui. Se está querendo se deitar em sua
cama enquanto mergulha em uma história com um CEO gato, elegante e
sexy, você já encontrou tudo o que precisa.

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