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Jolie Damman
Direitos autorais © 2021 Jolie Damman
Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com
pessoas reais, vivas ou falecidas, é coincidência e não é intencional por parte do autor.
1ª edição
Peguei minha arma e a verifiquei. Tudo bem, realmente tinha que fazer
isso. O momento que iria definir minha vida de agora em diante. Eu não
queria fazer isso, mas não tinha outra escolha. Tio... por que você teve que
trair todo mundo?
O prédio em que ele morava parecia deserto, como se ninguém nunca
tivesse vivido nele. Eu sabia que ele estava lá, provavelmente fumando seu
cigarro favorito e se perguntando quando sua vida mudaria para melhor.
Bem, aqui estava eu. Eu seria a mudança que sua vida precisava.
Eu respirei fundo antes de abrir a porta do seu prédio e entrar. Fui
assaltado pela familiaridade do lugar. Já tinha estado nele várias vezes
quando era mais jovem. Muito mais jovem, para ser mais preciso.
Lá fora, o silêncio penetrava em tudo. Meus ouvidos captavam sons
fracos de carros dirigindo lá longe, mas não muito mais do que isso. Eu
sabia porque fui escolhido para isso. Minha primeira missão real. Mesmo se
errasse feio demais, ainda poderia fugir.
Mas eu precisava fazer isso. Esta única coisa. Acabar com tudo o que
fez, sua carreira, sua vida. Isso era o que era preciso para vencer na vida.
Fui pelas escadas até o andar em que ele estava. Eu não queria
anunciar minha chegada, e ao ouvir os meus passos, provavelmente estava
pensando que era apenas mais um morador do condomínio. E eu estava me
perguntando agora: será que ele pelo menos saía do seu quarto de vez em
quando?
Passei pelo corredor e fiquei parado na frente da porta dele. Mais uma
vez, chequei minha arma. Eu precisava ter certeza de que não a havia
deixado trancada, como em algumas vezes antes.
O corredor era como algo vindo de um filme de terror. Não havia
lâmpadas, e a única luz que entrava vinha de uma janela do outro lado. As
paredes e pisos imploravam para ser repintados, consertados, e eu me
perguntei quantos anos este edifício ainda tinha antes de desmoronar.
Eu sabia o número do seu quarto. Como eu não poderia? Eu estive
aqui tantas vezes antes. Não mais, mas mesmo eu tendo mudado muito,
meu tio não mudou, e ele ainda vivia neste mesmo lugar, onde as memórias
do meu passado me assombravam.
Respirei profundamente, ainda estando na frente da sua porta. Eu
tenho que fazer isso. Eu tenho que acabar com a vida dele. Eu precisava
disso e de tudo que eu iria tirar disso. Eu não conseguia mais continuar
pensando que ele era uma boa pessoa.
Meu tio nunca foi um homem bom, e quanto a mim ...
Dei um passo para trás e estava prestes a chutar sua porta quando notei
uma brecha e luz passando por ela. Ele a deixou aberto. Meu tio não se
incomodou em trancar a porta esta noite. Isso era muito conveniente.
Lentamente, abri a porta e o encontrei sentado em sua enorme e
confortável poltrona. Parecia quase tão velho quanto ele.
Meu tio parecia velho. Rugas infestavam seu rosto, seu cabelo havia
sumido há muito tempo e seus olhos lutavam para permanecer abertos. Mas
ele não estava morto e com certeza nunca iria desistir de continuar
vivendo. Ele não foi pego desprevenido. Ele sabia que eu estava chegando.
Em sua mão, ele tinha uma arma e estava apontando-a para mim.
Meu tio não achava que esse seria o seu último dia, e havia outra coisa
que eu não entendi muito bem antes, mas que agora estava
percebendo. Seus olhos estavam cheios de uma raiva poderosa. Tinha
pensado que ele não se importaria nem um pouco em ser assassinado, mas
parecia que eu... havia estado errado.
Ele sabia que seu dia estava chegando. Ele sempre soube que alguém
viria por ele. Ele tentou acabar com sua vida tantas vezes antes. Ele era um
covarde e, ainda assim, eu o havia admirado antes, quando era criança. Que
merda estava pensando então?
Fechei a porta devagar e ele disse – Eduardo, que surpresa ver você
aqui.
Um momento de pausa excruciante. – Não é nenhuma surpresa na
verdade, não é?
Eu virei meus olhos para sua arma e depois de volta para seus olhos
frios. Ele sorriu. – Você sabe que nunca morreria sem antes lutar pela minha
vida.
– Acabou, tio. Você traiu a todos.
– Você não sabe nada.
– Eu sei o suficiente.
Um momento de silêncio enquanto minha mente ruminava o que
fazer. Não podia simplesmente apontar minha arma e atirar nele. Ele tinha
vantagem nisso. Eu precisava mantê-lo falando, e então ele cometeria um
erro. Eu sabia que ele iria. Afinal, ele era um homem muito velho.
Ele sorriu. – Olhe para você. Você cresceu muito.
– Cale-se.
– Você se tornou um homem.
– Cale-se.
– E estou tão orgulhoso de você.
– Cale-se! Cale a boca!
Ofegante, quase apontei meu Colt e cometi o pior erro da minha
vida. Eu poderia ter feito isso, poderia ter anunciado a todos na vizinhança
que algo terrível estava acontecendo aqui, e que eles deveriam chamar a
polícia.
– Você não é homem para isso, Eduardo. Vire-se, volte para seus pais e
me deixe aqui.
Eu me acalmei um pouco. Eu precisava. Eu não poderia deixá-lo me
tirar do sério.
– Eu não vou embora até terminar minha missão aqui.
– Então o que você está esperando? Me mate de uma vez.
Um momento de pausa. Ele estava brincando comigo. No momento
em que eu levantasse minha arma, ele atiraria. Eu sabia que ele iria. Meu tio
poderia ter me amado antes, mas todo aquele amor agora se foi. Apesar de
ser um velho que já tentou acabar com a sua própria vida antes, ele era
diferente e não ia deixar ninguém o matar.
– Você sabe de uma coisa? Eu não acho que você tem coragem para
fazer isso. Você não pode nem matar alguém como eu. Não consegue nem
apontar essa Colt em mim – ele riu.
– Você não sabe nada sobre mim. Eu mudei.
– Pode ser. Um pouco. Você nem tem barba nesse seu rosto. É quase
como a pele de um bebê...
– E você está a um passo de ir para o túmulo.
Ele deu uma risadinha. – Vejo que se tornou um pouco mais perceptivo
também.
Ele tossiu, e depois tossiu mais um pouco, abaixando a arma,
apontando-a para longe de mim e me dando a chance de fazer o que
queria. Imediatamente, levantei minha arma e apontei para ele. Eu ia puxar
o gatilho, mas os segundos dados a mim não foram suficientes para isso.
– Meu Deus, Eduardo. Você não achou que seria tão fácil assim, não é?
– Eu só preciso puxar o gatilho. Eu poderia fazer isso mais rápido do
que você.
– Então, por que não faz de uma vez?
Um momento de silêncio e ele continuou – Eu sei por quê. Você ainda
gosta de mim, não é? Você gosta do homem que traiu sua família. Você acha
que posso ser redimido ou alguma besteira assim?
– Não, eu não acho que você pode.
◆◆◆
Achei que eles ficariam felizes com o que eu fiz, mas eles estavam...
preocupados que eu morreria. – Sua vida, meu filho, não é o que eu queria
para você – disse minha mãe, e não pude evitar de pensar que ela estava
errada.
Eles estavam errados. Todos estavam pensando que eu estava fazendo
algo terrível. Mas a máfia não era como as outras gangues. A Máfia era
diferente e eles eram os melhores dos melhores. Mesmo que mamãe e papai
não gostassem, eu ainda iria trazer dinheiro para eles.
– Pai e mãe, não acho que vocês entendam. Nós vamos ficar ricos pra
dedéu!
– A que custo? – Meu pai estava dizendo – você sabe o tipo de coisas
que vai fazer por eles?
– Eu sei o suficiente e trabalho para eles já há muito tempo, embora
sem ser considerado um deles.
– Se sim então, onde está o dinheiro que você vive mencionando o
tempo todo?
– Eu não fazia parte deles antes, como expliquei. Eu terminei uma
missão para eles esta noite, e agora o chefe me tornou parte da sua família.
Meu pai olhou para baixo, quase com vergonha. – Eu não posso
acreditar que você escolheu esta vida para você. Achei que tinha te ensinado
melhor.
– E assim fez – eu disse, colocando minhas mãos em seus ombros. –
Você me ensinou que não posso viver uma vida sem sentido.
Suas mãos empurraram as minhas para o lado e ele deu um passo para
trás, se distanciando de mim. – Não gosto nem um pouco disso, mas gosto
mais de você do que desaprovo da sua escolha. Não vou continuar esta
discussão.
E com isso dito, ele entrou em seu quarto. Minha mãe se levantou e se
aproximou de mim. – Filho, acho que você não entende. A máfia é perigosa
demais para você...
– Mãe…
– Eu já disse o que queria. Eu vou com seu pai. Estou apenas... feliz
por ele não ter te expulsado. Pense sobre isso. Ele te ama muito, e se você
puder, escolha outra coisa para sua vida.
Ela se virou e caminhou para o quarto deles, deixando-me sozinho
com meus pensamentos. Eu achei que eles ficariam contentes. Achei que
eles ficariam exultantes por eu finalmente ter um emprego de verdade. Eu
estava tão cansado dos que eu tive antes. Trabalhar em uma mercearia,
consertar eletrônicos, ligar para pessoas em um call center. Essas coisas não
eram para mim.
Fiquei olhando enquanto ela fechava a porta. Eu não os odiava por
isso. Como eu até poderia? Eu sabia que eles iriam mudar de opinião,
eventualmente. Mamãe e papai me amavam e nada iria mudar isso. Eu
deveria ter sido mais cauteloso e menos feliz com o meu anúncio, mas isso
não importava mais, e eu tinha algo mais importante para fazer agora, de
qualquer maneira.
Minha vida de agora em diante seria totalmente diferente, e eu
precisava de uma boa noite de sono antes de aparecer lá novamente. Eu
tinha certeza de que Romano tinha muitos planos para mim.
◆◆◆
Meus olhos se abriram e fui agraciado por uma manhã morta lá
fora. Sem sol, apenas nuvens. Mais e mais nuvens, todas se juntando para se
tornar uma, bloqueando a maior parte da luz do sol. Todas as cores
pareciam desbotadas, como se o mundo me odiasse.
E eu tinha algo a confessar. Sentei-me na beira da cama em que estava
dormindo, e ao meu lado estava a mulher da minha vida. Eu a amava, mas
não podia continuar com isso. Ela não sabia o mais importante sobre mim.
Era algo que estava escondendo. Anos se passaram desde que entrei na
Máfia, acabei com a vida do meu tio e, desde então, descobri que tinha
câncer de pulmão. Não deveria ter fumado tanto quanto fiz. Mas como não
poderia ter caído na tentação?
A vida de um idiota da máfia, que era o que eu era, não era fácil. Fui
enganado por alguns dos meus ‘amigos’. Todos disseram que eu teria todo o
dinheiro que pudesse desejar e que nunca mais teria com que me preocupar.
Eles eram idiotas. O dinheiro sangrento tinha uma maldição, e eu já o
odiava.
O câncer não passou de um castigo pelo que fiz. Meu tio morreu
acreditando que eu seria um grande homem. Ele sorriu quando atirei nele,
quase parecendo aliviado e grato por eu ter feito isso.
Felizmente, fui curado, mas a um grande custo. Eu nunca mais poderia
engravidar uma mulher. Meus testículos ainda produziam esperma, mas não
era suficiente. O volume e a densidade não foram suficientes para fazer uma
mulher ter um filho meu.
E Ileana não merecia um homem como eu. Ela disse repetidamente
que queria um filho nosso. Sempre evitei o assunto. Era muito doloroso
para mim, mas agora que fizemos sexo sem preservativo pela primeira vez,
eu estava olhando para ela e pensando que ela precisava saber a verdade.
Seus olhos começaram a se abrir e eu tomei uma decisão. Eu contaria
tudo a ela hoje. Só não agora, mas hoje, ela aprenderia a verdade e eu iria...
terminar com ela.
Ela se sentou na cama lentamente e disse – Amor, por que você parece
tão preocupado com algo?
Eu sorri e acariciei sua coxa. – Nada. Vou fazer um café da manhã para
nós.
Levantei-me e fui para a cozinha, abri a geladeira e vi o que tínhamos
para o café da manhã. Eu precisava pensar um pouco mais. Se eu ia dizer a
ela que precisávamos nos separar, ela precisava ter certeza de que não era
por causa dela. Minha explicação tinha que ser perfeita.
Terminei de preparar o café da manhã e fui para o quarto dela. Ela
tinha bochechas pálidas, parecendo com muita fome. Enquanto isso, dei
pequenas mordidas na comida em meu prato. Eu não tinha estômago para
comer muito agora, e Ileana percebeu isso.
– Querido, há algo de errado?
Coloquei o prato em cima da mesa de cabeceira e disse – Tenho algo
importante para lhe contar.
Capítulo 2
Elsa
Abri a porta e a encontrei. Minha garotinha. Ela era tão bonita e estava
dormindo profundamente agora. Que coisa incomum, no entanto. Ela
sempre fazia um pequeno barraco em noites calmas como essa.
A sala estava escura, assim como o corredor atrás de mim. Acordei no
meio da noite para tomar um copo de leite. Minha garganta estava tão
seca. Eu odiava sempre que acordava e tinha que sair da cama. Eu preferia
dormir por horas a fio, mas sabia que o meu corpo não funcionava assim.
Aproximei-me do berço e coloquei minhas mãos no topo da
grade. Minha filhinha usava um macacão rosa, e a sua chupeta tinha
escorregado da boca. Eu não a via tão em paz assim há muito tempo.
Desejei que seu pai ainda estivesse conosco, e só de pensar nele já
sentia o meu coração apertado. Ele morreu alguns anos atrás, antes mesmo
de ela nascer. A vida de uma família da máfia não era fácil. Era horrível, na
verdade. Se havia uma coisa que eu mais desejava agora, era ficar longe de
tudo.
Para viver uma vida normal, sem todas as mortes, extorsões e coisas
do tipo. Eu precisava de um ar novo e fresco em minha vida, e também de
alguma luz no fim desse túnel existencial em que me encontrava. Não
conseguia continuar vivendo assim. Para o bem da minha filha, eu iria, um
dia, encontrar uma maneira de fugir desta vida mafiosa.
Eu acariciei sua testa suavemente. Eu não queria acordá-la
agora. Minha garotinha parecia estar tão em paz. Ela era tão inocente, e eu
queria que ela nunca mudasse. Eu queria que ela sempre fosse inocente,
para que ela nunca tivesse nada com que se preocupar.
Mas isso era mais fácil dizer do que fazer. Com um pai como o meu,
eu nunca poderia mantê-la a salvo de sua vida, de seus inimigos e de todas
as pessoas que queriam nos machucar.
Meus ouvidos captaram um ruído estranho que soou do lado de
fora. Eu estava em minha casa e, como não tínhamos paredes ao redor, o
som poderia ter sido de qualquer coisa. Estava pensando que era apenas um
esquilo buscando o que comer. Não seria a primeira vez, afinal de contas.
Eu acariciei a testa da minha garotinha mais uma vez, e meus ouvidos
captaram o mesmo barulho, mas foi mais alto desta vez. Endireitei minha
espinha, me perguntando se algo estava acontecendo. Será que alguém
estava lá fora?
Mas ninguém sabia que eu morava aqui. Meus vizinhos e pais sim,
mas ninguém que pudesse nos machucar. Meu pai nos mantinha seguros. Eu
sabia que a vida dele era perigosa, mas ele nunca vinha aqui e, quando
queria nos ver, sempre nos fazia ir até ele.
A janela foi quebrada de repente, me fazendo dar um grito. Um
homem pulou através dela e ele usava uma máscara de esqui preta. Meu
Deus, ele veio aqui para matar a mim e a minha filha bebê, não foi? Não
podia ficar aqui sem fazer nada. Eu precisava matá-lo o mais rápido
possível.
Peguei uma vassoura que estava perto de mim e, apontando para o
homem, disse – Afaste-se de mim! Afaste-se desta casa agora, ou eu...
– Vai fazer o quê, princesa? Eu sei que você não é forte o suficiente
para fazer qualquer coisa agora.
O que aconteceu com os guardas que protegiam minha casa? Eles
foram mortos? Meu Deus, eu deveria saber que isso iria acontecer um
dia. Eu deveria ter exigido que meu pai me deixasse ir, para me deixar
encontrar um novo lugar para morar.
Mas estava claro que ele nunca teria concordado com isso. Ele tinha
outros planos para mim, para minha filha bebê e, embora eu o amasse,
também o odiava da mesma forma. Seus planos para o que eu deveria me
tornar... Eu nunca deveria ter deixado o meu amor por ele falar mais alto.
E agora, tudo estava acabado, a menos que eu encontrasse uma
maneira de deixar esse homem inconsciente ou matá-lo.
– Vou proteger minha família! – Eu gritei, ofegante.
Ainda apontando a vassoura para o homem cuja máscara de esqui
cobria seu rosto, me aproximei dele. Eu estava feliz que minha filhinha,
minha Regina, ainda não tinha acordado. Eu não queria ver ela
chorando. Não agora. Isso seria terrível.
– Mulher, eu não me importo com você nem um pouco. Eu vim aqui
por ela, e você vai se afastar agora.
– Eu não vou-
E então, algo pesado atingiu minha cabeça, fazendo com que uma
escuridão envolvesse minha visão. Lutei para manter o equilíbrio, para
continuar segurando a vassoura, mas meu corpo inteiro agora parecia tão
pesado e minha cabeça doía tanto...
Eu finalmente caí, meu corpo incapaz de responder às minhas ordens
agora, mas não antes de notar algo terrível. O homem que entrou em minha
casa não estava sozinho...
◆◆◆
Eduardo
Fiz o aperto de mão durar um pouco mais do que deveria. Esta não era uma
introdução normal. Eu não sentia algo assim por um homem há muito
tempo, e havia algo nele que o tornava diferente dos outros homens que
viviam aqui.
Terminamos o aperto de mão e eu disse – Obrigado por me ajudar com
isso, mas não posso deixar você ir agora assim. Que tal tomar algo
comigo? Quero te agradecer.
Ele esfregou a sua nuca. – Não precisa fazer isso.
– Mas eu insisto. Venha comigo. Eu conheço um bom lugar aqui.
Ele parecia um tanto hesitante, mas concordou mesmo assim. Entrei no
carro e dirigi com ele até um restaurante pequeno e agradável a alguns
quarteirões da estrada. O lugar não tinha uma atmosfera romântica nem
nada do tipo, mas parecia muito amigável. Era uma das poucas coisas que
ainda gostava daqui de Milão.
Desde que fui convencido a não acabar com a minha vida, fui ficando
cada vez menos jubilosa. Só não tentei me matar porque meu pai parecia
muito preocupado naquele dia. Ele chorou na minha frente, e isso era algo
que eu não o via fazendo há muito tempo.
Eu tinha que parecer feliz para o Eduardo. Ele parou e consertou meu
carro quando não precisava. Ele não tinha nenhum motivo para me ajudar, a
não ser pelo fato de que era um cavalheiro.
Mesmo estando deprimida, não pude deixar de admitir que ele era
bonito. Eduardo não era apenas um homem culto que sabia como uma
mulher deveria ser tratada, ele também tinha a aparência para complementar
isso. Apesar disso, havia algo em seus olhos que me contava uma história
diferente.
Todos nós tínhamos nossas feridas, nossos problemas, mas os dele
pareciam ser muito profundos. Talvez era algo que pudéssemos
compartilhar, mas ele sendo um estranho tornava impossível para mim falar
sobre meu passado agora.
Pedi as bebidas e me sentei na frente dele. Conseguimos uma bela
mesa com apenas duas cadeiras, e ele tentou parecer estar feliz. Eu sabia
que era só de fachada, no entanto. Ele só não queria parecer triste quando
deveríamos estar compartilhando um momento agradável e amigável juntos.
– Então, você mora aqui? – Eu perguntei.
Eu não sabia para onde isso estava indo, mas não ia falar sobre nada
sério com ele. Eu estava curioso. Nada mais do que isso.
– Sim.
Conversamos um pouco, até que o conheci um pouco melhor, mas ele
evitou alguns assuntos que pareciam magoá-lo muito. Não dei muita
importância e decidi me levantar e dizer – Foi um prazer conhecê-lo e
muito obrigada por me ajudar com o meu carro.
Ele sorriu, tirou o pó das calças e disse – Não foi nada. Estou indo
agora, mas você se cuida.
– Da mesma forma, Eduardo. – Dei um beijo em sua bochecha, o que o
deixou mais animado.
Eu me sentia diferente com ele por perto, pensei enquanto ele saía e
entrava no carro. Havia algo sobre aquele homem que me fez pensar certas
coisas. Sacudi minha cabeça então. Eu não deveria estar tendo esse tipo de
pensamento. Jamais poderia amar outra pessoa.
Suspirei e saí também. Entrei no carro e, enquanto dirigia, pensei sobre
uma coisa que precisava fazer. Eu não me matei, mas meu pai teria que
entender que não poderia continuar fazendo o que estava fazendo.
Tinha que me proteger de tudo que poderia me machucar.
Eduardo
Elsa
Elsa
Casar com o homem que conheci por talvez meia hora antes de
encontrá-lo no escritório do meu pai... Eu não podia acreditar que isso iria
acontecer, e que nosso casamento não iria acontecer porque nos amávamos,
mas porque era necessário graças a uma guerra que aconteceria aqui não
muito tempo mais tarde.
Suspirei e entrei no carro. Meu pai iria me levar para casa. Seus olhos
permaneceram nos meus por segundos antes de dizer – Elsa, estou fazendo
isso para o seu melhor.
– Tudo que eu queria era fingir que você não é meu pai.
Ele abriu a boca para dizer mais alguma coisa, mas decidiu não fazer
isso. Seu pé pisou no pedal e o carro começou a andar pela estrada. Fiquei
observando os prédios e as pessoas passando enquanto ele me levava para
casa uma última vez.
A viagem para Chicago não demoraria muito, e havia algo nela que eu
não gostava nem um pouco.
– Eu não posso viver lá como um animal. Vou querer sair de vez em
quando.
– Não, eu não posso permitir isso. Haverá pessoas por lá querendo
matar você ou fazer algo pior.
– E eu acho que você se preocupa mais com seus homens do que
comigo.
– Eles são diferentes. Preciso deles para nos manter vivos.
– Você está preso a esta vida e não consegue enxergar nada além dela.
– Estou fazendo tudo isso por você. Por favor, me entenda.
Pensei em contar outra coisa a ele, mas decidi não fazer isso. Já não
queria discutir mais nada com ele. Ele fez sua escolha, eu fiz a minha e eu
iria me casar com um completo estranho.
Bem, o casamento não aconteceria agora, mas tudo ainda estava tão
fodido. Eu não tinha certeza se ia gostar do Eduardo. Ele era um homem
bom quando consertou meu carro, mas isso foi naquele dia, quando não
sabíamos quem realmente éramos.
Papai parou e eu saí. – Elsa...– ele disse, me forçando a me virar para
encará-lo.
– Não me odeie.
– Eu não posso prometer nada – eu disse antes de entrar em minha
casa e trancar a porta atrás de mim. Eu esperei até que seu carro tivesse ido
embora, então me deixei cair no chão.
Minha vida mudou muito em tão pouco tempo. Eu ainda podia sentir o
cheiro do meu filho na minha casa e não... nem tirei as coisas dela do
quarto. Eu deveria ter feito isso há muito tempo, mas não tive coragem. Eu
fui uma covarde.
Havia tantos sentimentos horríveis em minha mente sempre que eu
abria aquela porta. Eu a mantinha trancada sempre e fingia que não estava
lá. Era a única maneira de lidar com o que aconteceu.
Uma lágrima saiu, depois outra e outra. Eu pensei tantas vezes em me
matar, e quase fiz isso naquela noite em que estava no topo do prédio mais
alto aqui em Milão. Meu pai me convenceu, me mudou de ideia e, desde
então, tenho tentado levar uma vida normal.
Bem, agora minha vida seria tudo menos isso.
Eduardo
Ele estava certo. Este lugar era perfeito. Quase perfeito demais. Fiquei
impressionada com isso, mas não havia nada como a familiaridade de
minha casa em Milão. E mesmo não querendo admitir isso, estava pelo
menos um pouco grata que não mais precisava ficar lembrando da minha
filha. Pensar nela já fazia o meu coração doer muito.
Desempacotei minhas coisas e deitei na cama. Não era como a que eu
tinha em Milão, mas era confortável o suficiente. Fechei meus olhos e tirei
uma soneca. Eu estava cansada demais depois daquele longo voo e já
começava a sentir um pouco de jet lag.
Eduardo era um homem legal, mas tinha algo dele que eu não
conseguia tirar da minha cabeça. Ele era um homem da máfia e isso o
tornava muito perigoso para mim. Ele estava sendo legal comigo agora, mas
se eu o irritasse... Isso me fazia perguntar o quão calmo ele era.
◆◆◆
Eduardo
Elsa
O que ele fez, eu nunca iria esquecer. Ele não apenas agarrou meu
pescoço; ele ia me matar. Algo aconteceu para que isso não ocorresse, mas
mesmo assim pude sentir sua força e seu desejo de acabar com a minha
vida.
Estava tudo muito claro para mim e aprendi uma lição importante
aqui. Além das criadas, eu não tinha outros amigos. Eduardo não era
alguém em quem pudesse confiar e eu viveria para sempre aqui como um
animal enjaulado.
Dias e noites transcorreram desde aquele incidente, e eu o evitei o
máximo que pude. Fazer isso era bastante fácil. Ele sempre estava em seu
escritório ou em algum lugar de Chicago, trazendo mais famílias para a
nossa causa.
Olhei pela janela e encontrei uma bela manhã ensolarada lá
fora. Verifiquei o relógio na parede e descobri que era hora do café da
manhã. A mesa estaria cheia de travessas com bacon, ovos e algumas outras
coisas que eu não tinha costume de comer. Eu estava ficando cada vez mais
acostumado ao estilo de vida americano e até aprendia a língua deles agora.
Tomei banho, me vesti, penteei meu cabelo e saí. A mansão estava
silenciosa, exceto algumas pessoas conversando aqui e ali, e algumas indo
de um cômodo para o outro. Estar aqui era quase como viver em um lugar
abandonado onde não deveria estar.
Desci as escadas e cheguei à cozinha, meu coração pulando quando
percebi quem estava tomando café da manhã agora. Eduardo, claro. O
desgraçado. O homem que batia em mulheres. Meu futuro marido.
Ele estava comendo um pedaço de bacon quando me encontrou
chegando, sua boca não mastigando mais a comida. Parei bem na porta e
não pude acreditar que tomaria meu café da manhã com ele hoje.
Achei que não teria que encontrá-lo novamente até que precisássemos
discutir algumas coisas sobre o casamento, mas parecia que não. Eu teria
que comer com ele agora, a menos que decidisse me virar e fingir que tinha
outra coisa para fazer.
Mas eu não ia agir como uma mulher covarde agora. Eu iria provar a
ele que não sentia medo. Não mais, pelo menos.
Lentamente, puxei a cadeira e me sentei suavemente, sua boca
voltando a mastigar a comida. Eu enchi um prato e comecei a comer. Isso
não iria demorar muito, e eu poderia fingir, na maior parte do tempo, que
ele não estava aqui comigo.
– Elsa – disse ele, fazendo-me congelar minhas mãos.
Ele continuou – Sinto muito pelo que aconteceu.
Voltei a mastigar meu bacon, engolindo-o logo em seguida. Eu não
tinha que falar com ele. Não agora. Eu poderia fingir que ele não era ela-
– Lamento profundamente.
Merda. Ele não ia deixar isso pra lá e fingir que não aconteceu. Ele
queria meu perdão e jamais daria isso para ele.
Mas eu tinha que dizer algo a ele. Estávamos tomando café da manhã e
esta sala de jantar era linda, mas ele não iria estragar as pequenas coisas que
eu estava apreciando agora.
Eu levantei minha cabeça e disse – Você acha que vou esquecer o que
fez?
Ele suspirou, parecendo preocupado. – Eu não estou dizendo isso. Só
estou dizendo que me sinto mal. Eu não queria te machucar.
– E mesmo assim, você fez aquilo. Você acha que me sinto bem em
casar com alguém como você?
– Não é isso que estou dizendo.
– Talvez você não devesse ter dito nada.
Mais um momento de pausa enquanto voltávamos a comer a comida, o
som de talheres e das criadas retirando as travessas vazias preenchendo o
ambiente.
Quando ficamos sozinhos novamente, ele disse – Você me deu muita
raiva.
– Eu não dou a mínima para isso.
– Estou aqui para te proteger e me preocupo com você. Estou fazendo
o meu melhor para deixar o seu pai feliz.
– Você não sabe nada sobre ele.
– Eu sei que ele se preocupa muito com você.
Dei uma risadinha. – Você deveria pensar melhor sobre isso.
Ele exalou. – Olha, podemos chegar a um meio termo.
Eu olhei em seus olhos, minha mão segurando o garfo. – Ah é, como
assim?
– Vou levar você para sair. Posso fazer pelo menos isso para te
ajudar. Comigo ao seu lado, eu sei que você estará segura.
– Seria como levar seu cachorro para passear... – Refleti.
– Não é nada disso.
Eu o estudei por um segundo e então disse – Tudo bem.
– Sério mesmo?
– Sim, tudo bem. Eu estou indo com você, mas melhor me levar para
um lugar que eu goste.
Seus lábios se curvaram para formar um sorriso tenso e unilateral, e ele
disse – Você não vai se arrepender disso.
Continuamos a conversar, embora o café da manhã ainda fosse
silencioso. Não tinha vontade de falar com ele e sentia que, quanto mais
falávamos, menos ele parecia saber mais coisas sobre mim.
E isso era bom. Mesmo que Eduardo estivesse tentando ser melhor
agora, eu sabia que ele nunca mudaria. Ele era só mais um gado da máfia,
como cada um deles, incluindo o meu pai.
Fiquei feliz por termos conversado. Eduardo estava um pouco mais
suportável agora, embora ainda fosse um idiota. E eu só queria uma coisa
do nosso casamento: paz. Eu não queria nada mais do que um pouco de paz
em minha vida.
Assim que terminamos de tomar o café da manhã, ele disse – Vejo
você na garagem.
Eu assenti e me afastei dali, minha mente finalmente animada com
algo que envolvia esta minha nova vida. Eu estava finalmente sendo
liberada deste lugar, e eu estava morrendo por dentro para ver algo
diferente.
Eduardo ainda não passava de um estúpido violento, mas era um
pouco mais tolerável.
Eduardo
Eu me senti muito mal com o que aconteceu. Eu não deveria ter feito o
que fiz. Ela seria minha esposa e eu precisava ser gentil com ela. Dirigindo
por esta estrada com ela agora, tudo que eu sabia era que deveria fazer o
meu melhor para refazer as pazes.
Eu a estava levando para a Willis Tower, o prédio mais alto de
Chicago. Era um segredo para ela. Ela não sabia nada sobre o prédio, e ela
iria amar a vista lá de cima. Ela disse que queria ser surpreendida, afinal de
contas.
– Para onde você está me levando? – Ela perguntou.
– Não vou responder até que seja a hora certa – eu disse.
As coisas não melhoraram exatamente entre nós desde aquele café da
manhã, e isso não aconteceria tão cedo. Levaria muito tempo e tomaria
muito esforço para mudar a opinião de alguém como Elsa. Tudo o que eu
sabia, por enquanto, era que precisava continuar sendo legal com ela.
Virei em uma esquina e encontrei o prédio. Willis Tower. Era tão alta
que não conseguia parar de me questionar como eles a construíram. Mas
assim fizeram, e no momento em que seus olhos pousaram nela, ela sabia
que era para onde eu iria levá-la.
Ela não disse nada, mas eu sabia que ela estava surpresa.
Saímos do carro e pegamos o elevador até o último andar, de onde
pudemos ter uma vista privilegiada da cidade. Ainda havia muitas
construções em andamento em Chicago, mas a cidade já parecia bastante
madura.
Estávamos vendo a cidade e o que havia além dela, os olhos de Elsa
incapazes de piscar. Eu já sabia a resposta para essa pergunta, mas precisava
perguntar de qualquer forma – Então, gostando?
– Sim, é tudo muito bonito daqui de cima.
Não fiz outra pergunta, embora quisesse dizer a ela novamente que
sentia muito pelo que aconteceu. Nunca foi minha intenção machucá-la ou
fazê-la ficar com medo de mim.
Ficamos ali, só admirando a cidade do último andar do prédio até nos
cansarmos. Ao voltar para o carro, nossos homens posicionados do lado de
fora para o caso de alguém tentar fazer algo contra nós, ela disse –
Obrigada... por me trazer aqui.
– Sem problemas – eu disse antes de ligar o motor e dirigir de volta
para casa.
Talvez ela quisesse dizer mais, mas já era um bom começo, então não
a pressionei. Eu precisava ir bem devagar com ela. A última coisa que eu
queria era Elsa me odiando por toda a nossa vida, e eu nem sabia por
quanto tempo ficaríamos casados.
As coisas estavam mudando e, em breve, eu teria que aprender coisas
que ela estava escondendo de mim.
Capítulo 7
Eduardo
Elsa
Eduardo
Elsa
O beijo não durou muito. Apenas o suficiente para fazê-lo entender
uma coisa muito importante que seus olhos não podiam ver. Eu não tinha
percebido até agora, mas aquela pequena coisa sobre ele, que não era nada,
me fez ver a verdade.
Eduardo nunca foi como os outros capangas da máfia. Uma vez pensei
que ele era, mas embora ele tenha sido rude e agressivo comigo algumas
vezes nos primeiros dias depois que chegamos aqui, ele parou de ser
assim. Ele mudou, e tudo porque percebeu que precisava ser outra pessoa
para mim.
Eu me apaixonei por ele. Certa vez, disse a mim mesma que nunca
permitiria que tal coisa acontecesse novamente, mas aqui estava eu, prestes
a fazer a única coisa que nunca pensei que faria.
Dei outro par de beijos em seus lindos lábios e então começamos a nos
beijar mais profundamente. Este momento foi o culminar de tudo o que
esperávamos. Toda a tensão, o amor e tudo o mais sendo liberado.
◆◆◆
Elsa
A noite estava silenciosa lá fora, a lua subindo no céu. Era uma espécie
de lua do último quarto e, com as estrelas atrás dela, o próprio céu escuro
parecia tão bonito. Eu não conseguia parar de olhar para ele por muito
tempo.
Minha mente estava pensando. Não havia passado muito tempo desde
que chupamos sorvete naquela sorveteria e, desde então, ainda não
tínhamos decidido um nome para o nosso bebê. Era algo que discutiríamos
em uma data posterior.
Eu ouvi um som fraco, mas não pensei muito nisso. Afinal, sons fracos
ocorriam aqui o tempo todo. Este lugar era bem escondido o suficiente para
que esse tipo de coisa não me preocupasse também.
Eu estava lendo um livro em inglês sobre como cuidar de bebês e, de
vez em quando, parava de ler para admirar o céu.
Quando olhei mais uma vez, foi quando algo pequeno, mas pesado,
quebrou a janela. Eu engasguei e deixei cair meu livro no chão. Saí da cama
e descobri o que acabara de quebrar minha janela.
Uma pedra, e isso significava que...
Eu ouvi outro som fraco ao longe e, olhando pela janela, descobri
quem estava fazendo isso. Ou melhor, encontrei mais de uma pessoa
invadindo a mansão, mãos segurando armas com silenciador.
Caralho, eles estavam invadindo a mansão e vieram aqui para matar o
meu Eduardo! Eu precisava sair daqui e avisá-lo.
Corri para a porta e a abri, mas logo descobri que era tarde demais. Os
homens já estavam na mansão, e alguns deles vinham direto na minha
direção, suas armas apontadas para meu rosto. Se eu fizesse algo
precipitado, eles não hesitariam em acabar com a minha vida.
E então, eu me acalmei e levantei meus braços, mostrando a eles que
eu não representaria nenhuma ameaça.
Eles vieram até mim e um deles disse – Você vem com a gente.
Ele carregava algo em suas mãos. Algemas. Ele me fez virar de costas
para ele e depois de colocar meus braços atrás dele, ele me algemou.
Eu estava apavorado, meu coração disparado como um trem em alta
velocidade. Eu não conseguia pensar direito e, o tempo todo, ficava
pensando para onde Ed tinha ido. Eles mataram a maioria dos homens da
casa, e alguns estavam até mesmo entrando pela janela que eles quebraram.
Eles estavam entrando por todas as janelas e portas. Era uma operação
limpa e cirúrgica, e eles falavam a língua local, mas seu sotaque mostrava
suas verdadeiras origens. Eles também eram italianos, e imaginei que já
moravam aqui muito antes de nós chegarmos.
Ed, o meu querido Eduardo, deve ter feito algo terrível para irritá-
los. Eles vieram aqui porque sabiam que eu era importante. Afinal, meu pai
faria qualquer coisa para me ter de volta.
Eu pensei no bebê. Nós nem mesmo demos um nome ainda (e já
sabíamos que seria um menino) e ele já estava sendo colocado em perigo
por causa dessa porra de vida na máfia da qual eu não conseguia fugir.
Achei que, com Ed, eu estaria segura, mas parecia que não era o
caso. Não para sempre. Ele não era o homem imbatível que uma vez pensei
que era. Pelo contrário. Ele era humano como todo mundo.
Eles estavam começando a me tirar de lá quando ouvi um tiro alto e
penetrante. Um dos homens que estava me levando caiu morto no chão, e
quando olhei para a direção de onde veio o tiro, eu o encontrei.
Ed. Ele estava aqui para me salvar.
Eduardo
Eu deveria saber que isso iria acontecer. Como eles estavam fazendo
isso com tanta perfeição, matando a maioria dos meus homens? Eles não
pegaram todos eles, mas quando isso acabasse, e se eu sobrevivesse à
invasão, precisaria pedir a Romano para enviar mais homens aqui, se
pudesse. A guerra pela qual ele lutava em Milão, embora os meios de
comunicação aqui não falassem quase nada sobre isso, já estava sendo
sangrenta. Tudo o que eles estavam relatando era um aumento de pessoas
sendo mortas lá. Eles não tinham ideia do que realmente estava
acontecendo.
Meus homens estavam comigo, dentro do meu quarto. Consegui que
alguns deles viessem comigo e tranquei a porta para que os invasores não
encontrassem o caminho por aqui. Também coloquei meu guarda-roupa
atrás da janela, impedindo os que haviam colocado escadas e iam subir para
dentro de casa por lá.
Eles sabiam que eu ainda estava vivo. Eu não poderia saber quem eles
eram com certeza, mas seus sotaques eram inconfundíveis. Eu tinha
algumas suspeitas, mas sem mais provas, não poderia fazer acusações, por
enquanto.
E de qualquer forma, isso não era uma preocupação minha neste
momento. Eu precisava encontrar um ponto fraco em sua operação e,
embora eles soubessem que havia pessoas nesta sala, eu poderia fazer uso
de algo para apoiá-los.
Havia uma passagem secreta que eu poderia usar para surpreendê-
los. Eu sabia que um dia seria útil. Só não pensei que hoje, de todos os dias,
uma ou mais famílias italianas aqui em Chicago viriam à minha mansão
para matar a mim e aos meus homens.
Meus pensamentos estavam com Elsa. Ela estava sozinha. Nunca
pensei que deveria ter colocado alguns homens ao lado de seu quarto para
mantê-la protegida, mas aproveitando este momento para refletir sobre o
que estava acontecendo aqui, cheguei a uma conclusão importante que fez
meu coração afundar.
Ela iria morrer ou ser sequestrada se eu não fizesse um milagre
acontecer agora.
E um milagre era tudo o que eu esperava neste exato
momento. Quando olhei pela janela e antes de bloqueá-la com um guarda-
roupa, avistei muitos homens vindo aqui. Eles devem ter encontrado uma
maneira de pular as paredes e abrir o portão principal. A maioria dos meus
homens lá fora provavelmente já estava morta.
Não sabia se existiam alguns sobreviventes ainda, mas de qualquer
forma, eles não poderiam me ajudar muito.
Fiquei impressionado com a forma como eles simplesmente
apareceram aqui. Quando percebi o que estava acontecendo, já era tarde
demais. Agora, tudo que eu tinha era eu, esses homens, a minha coragem e
astúcia para acabar com seus planos.
Eu segurei minha arma e disse – Vamos sair agora.
Expliquei o plano para eles. Eles precisariam ser rápidos e agir sem
hesitação. Éramos tão poucos, e a mansão estava tão silenciosa que me
perguntei se, mesmo se fizéssemos tudo certo, seríamos capazes de sair
disso com vida e salvar Elsa.
Seguimos a passagem secreta para fora do quarto, e depois de passar
por alguns túneis, acabamos na porta da mansão. Em seguida, fechei a saída
da passagem secreta depois que meus homens usaram a escada para subir
até o chão.
Arbustos e árvores nos esconderam, e a grama escondia a saída do
túnel que nos trouxe até aqui. Aqueles homens podiam até saber como era
essa propriedade, mas não sabiam todos os segredos que ela
continha. Fiquei tão feliz que Romano construiu aquela série de túneis no
caso de algo como esse ataque acontecer.
Olhei para meus homens e disse – Não desperdice uma única bala, e
fiquem em silêncio. Não podemos deixá-los saber que saímos da sala.
Todos eles assentiram e prepararam suas armas. Isso ia ser difícil, mas
sabíamos que poderíamos sair vitoriosos.
Um após o outro, atiramos neles. Dividi o grupo em dois para que
pudéssemos cobrir mais terreno. Eu perdi a conta de quantos capangas
encontraram seu fim pelas minhas mãos no meio do caminho. Para ser
honesto, isso não importava nem um pouco para mim. Eu só precisava
chegar até Elsa e encerrar a operação aqui de forma que eles nunca
considerassem outro ataque.
Lenta e dolorosamente, matamos todos fora da mansão e agora só
precisávamos chegar até Elsa. Eu não tinha ideia se ela ainda estava dentro
do seu quarto, ou se aqueles homens já a estavam levando para algum lugar.
Entrei na mansão e subi as escadas. Matamos mais de seus homens,
seus corpos caindo no chão. O elemento surpresa ainda era nosso, mas me
perguntei por quanto tempo isso iria durar.
O homem por trás disso, o líder do ataque, logo descobriria que algo
muito errado estava acontecendo.
Ouvi alguém dizer algo no andar de cima e, em seguida, passos
apressados vindo até nós. Merda, eles sabiam que as coisas não estavam
mais de acordo com seus planos. Eles devem ter tentado falar com alguns
de seus homens lá fora, não obtendo nenhuma resposta.
Eu precisava agir rápido e evitar que isso se transformasse em uma
batalha direta. Eu não sabia quantos deles ainda estavam aqui, e se
poderíamos acabar com eles em um tiroteio.
– Homens, dispersem-se! Eu disse, determinação em minha voz,
esperando estar fazendo a escolha certa.
Capítulo 9
Elsa
Outro tiro ecoou pela casa. O que quer que tenha acontecido com Ed e
seus homens, deve ter sido terrível. Ele tinha sangue por todo o corpo e
parecia cansado e arrasado. Mais dos homens que estavam me sequestrando
caíram no chão, seus olhos uma expressão clara de choque.
Mas ainda assim, ele fez o que teve que fazer. Ele conseguiu me salvar,
às custas de seus homens, que agora estavam todos mortos. Se
continuássemos a viver aqui, teríamos que construir tudo do zero.
Apenas um homem estava me mantendo em cativeiro, e era o que
segurava meus braços algemados, impedindo-me de ajudar Ed. Eu queria
ajudá-lo, mas me sentia tão impotente e minha mente continuava pensando
no bebê.
Eu não poderia perdê-lo. Eu não poderia ter um aborto espontâneo,
mas também estava muito nervosa. Meu coração estava batendo tão rápido,
e eu sentia minha visão embaçar de vez em quando.
Essa invasão, esse ataque estava me afetando, e eu não conseguia parar
de pensar no que aconteceu naquela noite, quando minha pequena Regina
foi tirada de mim. Eu não poderia deixar isso acontecer
novamente. Simplesmente não podia. Não iria.
Senti uma dor imensa na minha barriga, fazendo-me agarrá-la e me
curvar um pouco. O homem com a máscara de esqui preta me endireitou
imediatamente, sua mão tão áspera que pensei que ele não hesitaria em
fazer algo muito pior comigo.
– Mulher, fique quieta.
E ele estava certo. Dor ou não, eu precisava ser forte e ficar
quieta. Mas aquela intensa pontada de dor não era algo que eu podia
ignorar. Meu bebê estava bem? Ele tinha que estar. Eu não aguentaria se
perdesse outro filho.
Achei que tivesse superado sua morte, mas esse ataque e aquela
pontada de dor me fizeram lembrar de cada pequeno detalhe de sua
morte. Quando eu estava fugindo com ela, seus gritos, seu silêncio
repentino e meus olhos pousaram na linha de sangue que saía do buraco na
cesta do bebê ...
Senti outra sacudida de dor, minhas pernas tremendo e minha mão
indo para minha barriga novamente. Isso não poderia durar muito mais
tempo. Eu não iria resistir.
– Mulher, você está- Ele estava dizendo antes de outra bala cortar o ar,
seu sangue espirrando no meu rosto. Olhei para trás e o encontrei caindo,
perdendo o equilíbrio, um buraco sangrento na sua testa.
Eu ouvi seu corpo caindo ao lado dos seus amigos. Ed veio correndo
até mim depois de enfiar a arma por debaixo da calça, seus braços me
envolvendo enquanto ele perguntava – Você está bem?
Eu olhei em seus olhos e me lembrei do quanto ele me amava. – Eu
acho-
Eu gritei quando outra explosão de dor atingiu minha barriga, me
fazendo curvar um pouco novamente. Meu rosto se enrugou.
– Elsa!
Eu respirei lentamente, me acalmando. O pior já passou. Esses homens
estavam todos mortos e agora podiam se concentrar no que fazer. Mas eu
ainda estava preocupado. O pensamento de que eu estava prestes a abortar
ou de que o filho havia sido profundamente afetado pelo ataque eram coisas
que eu preferia esquecer.
Minha vida não voltaria a ser o que era antes de eu conhecê-
lo. Simplesmente não iria.
Seus olhos estavam olhando nos meus enquanto esperava que eu me
orientasse de volta. Eu me endireitei e, quando ia contar a ele que me sentia
melhor, outra explosão de dor explodiu na minha barriga e uma escuridão
rapidamente envolveu minha visão ...
Eduardo
Elsa não morreu. Por horas, porém, pensei que ela iria. O bebê também
estava bem. Eu realmente pensei que ele não sobreviveria. Ela ainda estava
no hospital, as máquinas ao redor dela apitando e fazendo alguns ruídos
estranhos.
Os médicos e enfermeiras permitiram que eu me sentasse com ela,
para lhe fazer companhia. Eu segurei sua mão na minha na maior parte do
tempo sempre que estava aqui. Ela não entrou em coma nem nada parecido,
mas sofreu muito e precisava descansar agora.
Este momento agora, sozinho, me fez pensar em algumas coisas. Eu
não ia deixar de fazer parte da máfia; era a única coisa que eu sabia ser,
afinal de contas. Porém, não podia continuar sendo amante dela, mesmo
depois do casamento.
Eu sabia que pensar isso era loucura, mas aquele ataque clareou
algumas coisas em minha mente. Eu era um perigo para ela, mas mais do
que isso, se ela perdesse o bebê por qualquer motivo, se ele fosse morto, eu
nunca seria capaz de engravidá-la novamente.
Eu a engravidei uma vez, mas foi por pura sorte. Uma chance em um
milhão. Havia apenas uma coisa que poderia fazer uma mulher como ela
feliz, e isso era um homem que não era como eu. Ela precisava de um filho
para completar sua vida.
Por enquanto, as coisas voltariam ao normal, mas não conseguia
ignorar o medo de perder o nosso bebê e nunca mais poder lhe dar
outro. Talvez eu pudesse ignorar todas as coisas que estavam acontecendo,
aconteceram até agora e me concentrar na minha vida com ela, mas aquele
ataque abalou coisas que pensei ter esquecido há muito tempo.
Eu apertei um pouco a mão dela e quando pensei que seria outro dia
que ela não iria acordar, seus olhos finalmente se abriram.
Elsa
Eduardo
Eu sabia que ela estava ficando distante de mim, embora eu não fosse
deixar isso continuar acontecendo sem que eu fizesse nada sobre
isso. Desde aquele ataque, ela mudou. Ela pensou que eu não poderia
mantê-la segura. Ela não achava que eu poderia continuar sendo quem eu
era e que precisava mudar.
Mas mudar para quê? Torne-se quem? Essa era minha vida. Eu nunca
decepcionaria Romano.
Suspirei e escrevi algumas notas nas folhas de papel à minha
frente. Sentei-me à minha escrivaninha, pensando também em alguns
planos que precisava colocar em prática. Havia outra coisa que me
incomodava. Eu precisava descobrir quem enviou aqueles homens aqui para
nos matar.
Era mais fácil pensar do que fazer, mas eu sabia que encontraria alguns
links. Ninguém era indetectável.
Mas, voltando ao assunto de Elsa, eu estava pronto para encontrá-la
novamente e iria compensar isso por ela. Eu ia fazê-la ver que eu era tudo
de que ela precisava, sem incluir nosso querido Valter, que viria daqui a
alguns meses.
Sua barriga estava maior agora, mas ela ainda estava
deslumbrante. Elsa nunca deixaria de ser a mulher por quem me
apaixonei. Disso eu tinha certeza.
O tempo passou, continuei a trabalhar nesses planos e depois fui
dormir. Eu ainda pensava nela e amanhã iríamos nadar juntos. Tínhamos a
piscina e tudo mais pronto. Decidi tirar o dia de folga e focar apenas nela.
Capítulo 10
Elsa
Eduardo
Elsa
Pensei que, ao tirá-la, estaria consertando as coisas entre nós, mas tudo
piorou muito. Ela apenas se virou na cama sem me dizer boa noite e foi
dormir. Eu poderia ter insistido, mas decidi não fazer isso. Ela deixou seus
desejos claros. Ela não queria falar comigo, e tudo bem.
O tempo passou e fomos ficando mais distantes, embora não distantes
a ponto de não falarmos mais. O fogo que pensei ter reacendido quando
estávamos nadando na piscina estava quase apagado.
Passei cada vez menos tempo com ela. Fizemos planos para a chegada
de nosso bebê, nosso Valter, e também para o casamento, mas eu sabia que
ela ainda estava pensando em encontrar uma maneira de me convencer. Ela
veio uma e outra vez com o mesmo assunto em sua mente.
– Quando você vai entender que eu sempre estarei em perigo, desde
que você seja um Russo?
Ela me disse isso um dia, quando tivemos uma discussão um tanto
mais calorosa do que o normal sobre nosso futuro. Eu tinha bebido um
pouco mais do que deveria, assim como ela. Não se tornou nada mais do
que isso, mas outra ruga foi, naquele dia, moldada em nosso
relacionamento.
Voltei para casa depois de beber com alguns dos meus amigos no bar,
sem saber o que esperar quando ela me visse. Eu não estava muito bêbado,
mas qualquer um que tentasse cheirar meu hálito agora saberia que engoli
um pouco mais do que deveria.
Ainda assim, voltei para casa, minha mente pensando nela. Eu amava
muito a Elsa.
Abri a porta e a encontrei. Elsa estava sentada na cama, com as mãos
na barriga.
O que ela estava fazendo? Não conseguia mais reconhecer a mulher
que tanto amava. Eu sabia que estávamos cada vez mais distantes, mas
nunca pensei que um dia ela faria isso comigo.
– O que você está fazendo? – Eu questionei, meus olhos correndo para
seu rosto, então para suas mãos.
– Estou saindo – disse ela antes de caminhar até a porta, mas em vez
de fazer nada, coloquei meu braço na frente dela, impedindo-a.
– De onde vem isso? – Ela não poderia me deixar agora. Tudo estava
indo bem. Eu iria consertar as coisas ruins que a faziam pensar que ela não
poderia mais viver comigo.
– De tudo o que aconteceu na minha vida. Perdi uma filha uma vez, e
Valter... Não vou deixar o mesmo acontecer com ele.
Eu agarrei seu braço e olhei profundamente em seus olhos. – Nada vai
acontecer com ele.
Eu podia sentir que ela estava pronta para me dar um tapa ou começar
a chorar, mas de qualquer forma, ela se conteve. Ela largou a mala e disse –
Solte meu braço.
E eu fiz o que ela pediu. A única coisa que eu iria forçá-la a fazer era
permanecer aqui. Eu mudaria sua opinião, de uma forma ou de outra.
Ela parecia confusa, frustrada e um tanto irritada. Ela passou a mão no
seu rosto e disse – Não posso continuar morando aqui. Não assim, não com
essas pessoas, e não com o você atual. Quando você vai entender isso?
– Elsa, não há vida melhor do que esta. Você pode morar em outro
lugar com ele quando a guerra acabar e nós nos casarmos.
– E você acha que isso vai funcionar?
– Eu tenho certeza. Vai funcionar sim.
Ela parecia, mais uma vez, pronta para dar um tapa na minha cara, mas
mesmo que ela quisesse fazer isso agora, ela conteve o seu desejo mais uma
vez.
– Não, eu cansei de ter esse tipo de conversa com você. Eu te amo,
mas não posso continuar morando aqui.
– Para onde você iria? Não há ninguém aqui nesta cidade capaz de
mantê-la seguro como eu.
– Talvez você esteja certo, mas agora eu não me importo mais. Uma
das empregadas é minha amiga e vou morar com ela.
Eu estava bêbado. Eu não deveria ter bebido tanto e senti meu sangue
começar a ferver. Não era a primeira vez que ela me fazia sentir assim. Esse
ódio não me pertencia. Eu o estava contendo para o seu próprio bem e o
meu.
Mas quando ela agarrou a mala pela alça e foi até a porta novamente,
reiterei minha escolha de não ser a besta que poderia ser. Não para ela, não
de novo.
Ainda um pouco bêbado, eu a deixei ir, e eu sabia que os homens no
portão não seriam um problema para ela. Eles a deixariam sair, e então, ela
voltaria direto para mim.
Não havia como ela sobreviver lá fora sozinha.
Elsa
Eduardo
Meus olhos se abriram, meus braços procurando por ela. Elsa não
estava mais comigo e eu desejei que isso fosse diferente. Ela acabou de ir
para a casa de uma empregada na noite passada. Eu sabia onde estava. Eu
poderia ir até ela, mas agora, eu precisava dela aqui, comigo.
Meus braços encontraram apenas o vazio. Havia apenas ar onde Elsa
deveria estar. Por um momento, quase pude imaginá-la ainda aqui, mas
sabia que isso não era possível.
Meu corpo estava tão frio. Sem ela, eu não era nada.
Lentamente, reclamando, saí da cama e me vesti. Não tinha vontade de
tomar banho, como sempre fazia pela manhã. Esta não era uma manhã
normal, e o tempo lá fora também não estava ajudando as coisas.
Não choveu, mas as nuvens escureceram o céu, escondendo o
sol. Olhando pela janela, pensei apenas nela. Elsa, minha linda menina, a
única capaz de complementar a minha vida, de me fazer sorrir novamente.
Eu gostaria de poder dormir agora. Sonhar era bom e me faria esquecer
tudo. Eu nunca seria capaz de esquecê-la e de forma alguma pensei que sua
partida fosse definitiva, mas as coisas que ela disse e a maneira como foram
reiteradas me disseram tudo que eu precisava saber. Seus sentimentos não
eram indefinidos. Elsa sabia o que estava fazendo.
Ela se cansou de eu não ter dito a ela a única coisa que ela queria
ouvir. Sua mente estava focada apenas nisso. Elsa nos queria fora daqui,
fora desta vida, custasse o que custar.
Mas, novamente, como eu poderia fazer isso? Eu devia muito a
Romano. Ele me deu a chance de que eu precisava para mudar minha vida,
o que de fato aconteceu. Eu a agarrei como se fosse a única coisa que eu
jamais teria ...
Eu balancei minha cabeça, tentando esclarecer meus pensamentos. Eu
iria até Elsa e a convenceria. Ela viria aqui e perceberia que poderíamos
continuar a viver esta mesma vida sem que nenhum de nós tivesse que
mudar.
Saí do meu quarto e encontrei meu braço direito. – Chefe, você parece
preocupado.
– Sim, há algo que eu preciso que você faça. Lembra de Calliope, uma
das empregadas?
Ele assentiu e eu continuei – Peça a alguns homens para fazer a
segurança da casa dela. Elsa está lá.
Seus olhos se arregalaram. Achei que ele fosse perguntar por que ela
estava lá e não aqui, mas ele manteve a boca fechada. Ótimo, pensei. A
última coisa que eu precisava era ter que me explicar para ele.
– Assim será feito, chefe – ele disse antes de se curvar levemente e se
virar para sair.
Eu tinha outra coisa para fazer agora, então saí. Uma família da máfia
se juntaria à nossa e nos ajudaria na luta que ainda acontecia meses depois
de virmos para a América.
Capítulo 12
Elsa
Olhei pela janela e notei algo estranho. Esses homens não eram como os
cidadãos normais que povoavam este bairro. Eu não os conhecia bem, mas
achava que conseguia me lembrar de seus rostos. Eles deviam ter vindo da
mansão.
E se isso fosse verdade, eles foram enviados aqui por Ed para me
manter a salvo. Era um dia depois que deixei a mansão e ele ainda não tinha
vindo. Isso era bom. Significava que ele entendeu o verdadeiro propósito da
minha vinda aqui.
Fechei a cortina e me sentei na cama. Eu tinha algumas coisas para
fazer hoje, e nenhuma delas envolvia sair. A verdade é que eu estava com
medo de me encontrar em outra tentativa de sequestro. Ed colocou muitos
homens aqui para me manter segura, e fiquei feliz por ele ter feito isso, mas
não havia como negar que sempre estaria em perigo.
Mesmo fora da mansão, onde as outras famílias da máfia aqui em
Chicago não seriam capazes de me encontrar, provavelmente, eu ainda era
um alvo. Crescer sob os ‘ensinamentos’ do meu pai me fez sentir um pouco
paranoica com as pessoas. Até mesmo vir aqui e confiar em Calliope foi
difícil.
Eu me empurrei para fora da cama e caminhei até a porta, abrindo-a
logo depois. Tinha muitas coisas a fazer, mas a primeira coisa que queria
realizar esta manhã era agradecer a Calliope por me permitir morar aqui.
◆◆◆
Eduardo
Nós paramos, a chuva caindo do lado de fora. Eu pensei que esta era a
cidade do vento, não a chuvosa, mas tanto fazia isso. Eu tinha coisas mais
importantes em que pensar agora. O clima e a localização do ‘arranjo’ não
iriam ajudar, mas tudo bem. Eu não os considerei sendo de ajuda agora de
qualquer maneira.
Abri a porta do carro e saí dele. Meus homens me seguiram. Eu tinha
um guarda-chuva, mas decidi não o usar agora. Alguns dos meus homens
pegaram os deles, suas mãos segurando as malas falsas.
Pensei no plano e fiz alguns ajustes. Eu não ia trazer nenhum dinheiro
para eles. Esta seria uma operação limpa. Eles não tinham ideia do quão
letais meus homens eram.
Esses não eram capangas normais da máfia, mas sim assassinos
profissionais e bem treinados. Eles vieram aqui com uma intenção em
mente. Quem a sequestrou estava a apenas alguns segundos de deixar este
mundo para sempre.
Um beco escuro encheu minha visão - a única coisa em que eu
conseguia pensar agora, a única coisa que merecia minha atenção neste
exato momento. Meus homens me seguiram, suas armas prontas para
qualquer coisa fora do comum que pudesse acontecer.
Coloquei homens no topo de todos os edifícios que cercavam este
lugar e, até agora, nenhum me disse nada que pudesse me
preocupar. Nenhum sequestrador no topo dos ditos edifícios, ninguém com
rifles de precisão para me matar e ninguém menos que os idiotas parados a
alguns metros de mim.
Esses eram os sequestradores e eles a tinham com eles. Suas mãos
estavam garantindo que ela não iria tentar fugir. Seus braços estavam presos
por fita adesiva. Eles também calaram a boca dela, colocando a mesma
coisa nela. Ela se esperneava, querendo gritar alguma coisa, mas tudo o que
saiu foram gritos confiscados.
Malditos da porra. Eu ia matar cada um deles.
Eu deveria ter sido mais esperto sobre uma coisa. Eu deveria ter me
concentrado menos em trazer aliados para a nossa causa e mais em
descobrir onde eles moravam. Bem, logo eles não seriam mais importantes
para mim, então afastei esses pensamentos de mim.
Hematomas e cortes em seu corpo me fizeram odiá-los ainda
mais. Uma coisa era vê-los naquela foto mal tirada, e outra era testemunhá-
los pessoalmente. Eles não apenas a espancaram, como a atormentaram,
reiterei.
E outra coisa me fez detestá-los ainda mais. Eles sabiam muito bem
que ela estava grávida. Mais uma vez, isso aconteceu e tive certeza de que
ela abortaria. Se isso acontecesse, eu não sabia ... porra, eu não sabia o que
seria capaz de fazer.
Tinha minha Colt na mão, pronto para disparar. Assim que suas mãos
tivessem minhas malas com nada além de dinheiro falso e minha querida
Elsa estivesse de volta comigo, eles não existiriam mais. Seus corpos
encontrariam o solo frio, e a próxima coisa que seus olhos mortos veriam
seriam os veículos do legista vindo aqui para prepará-los para seus enterros.
Eu ri. – Você cometeu o pior erro da sua vida, canalha.
Eu não sabia o nome dele, não tinha ideia de quem ele era. Eu estava
aqui apenas para uma coisa. Eu estava aqui para trazê-la de volta e acabar
com suas vidas lamentáveis.
– Temos um acordo, então? – Ele questionou, sua voz profunda.
Ele tentou me assustar com isso, mas não funcionou. Eu vim aqui por
ela, para não deixar suas estratégias me irritarem.
– Temos sim – eu disse antes de fazer um gesto para meus homens
jogarem as malas muito antes que eles pudessem abri-las. E quando eles
estivessem abrindo-as, seria quando eu faria minha jogada, acabando com
eles aqui mesmo.
Alguns de seus homens avançaram, suas armas ainda apontadas para
mim. Eram muitos, mas pude ver que não estavam preparados para esse
tipo de coisa. Um dos meus homens acabou de entrar em contato pelo rádio
e, mesmo com ele não dizendo nada, eu sabia que isso significava que eles
estavam sozinhos e que estavam mirando nesses desgraçados.
Eu esperei que eles fizessem isso. Eu precisava ganhar algum tempo
antes de matá-los. Todos esses caras aqui achavam que os topos dos prédios
que nos cercavam eram inacessíveis. Eu estava prestes a provar que
deveriam ter sido mais completos em sua avaliação.
Suas mãos pegaram as malas, seus músculos flexionando bastante. Eu
sabia o que eles estavam pensando agora. Eles pensavam que a honestidade
de minha parte definiria nossa transação.
Mal sabiam eles que, assim que abrissem as malas, eu abriria fogo
contra eles, com sorte acabando com esta família de uma vez por todas.
Suas reações e quanto tempo isso levaria eram elementos-chave
aqui. Precisava ser feito quando eles estivessem distraídos e quando uma
arma não estivesse sendo apontada para a cabeça de Elsa.
Olhando para ela agora, eu sabia o quanto ela estava com medo. Eu
gostaria de poder contar a ela todos os detalhes para que ela não tivesse
nada com que se preocupar. Usando meus olhos, tentei fazer isso, mas ela
não entendeu a mensagem.
Os canalhas começaram a abrir as malas e quando ouvi alguns cliques
familiares, fiz um gesto rápido com meus dedos, meu braço ainda em sua
posição de repouso. Do topo dos edifícios que nos cercavam, balas
choveram sobre aqueles idiotas, rompendo o silêncio enervante.
Por um momento, quando sua arma não estava apontada para a cabeça
de Elsa, uma bala o atingiu. Sua arma ainda disparou, mas ele estava muito
chocado com o incidente repentino para apontá-la corretamente. Seu corpo
caiu com um baque e Elsa correu para mim.
Eu a abracei e disse – Você está segura agora e não há mais ninguém
nesta cidade capaz de machucá-la novamente.
Meus homens correram para frente, atirando e matando mais daqueles
desgraçados. Assim que o tiroteio diminuísse, um dos meus homens
roubaria seus documentos e os traria para mim. Ao tê-los, eu descobriria
quem eles eram.
Entrei no carro e fui embora, alguns dos meus homens me seguindo
em seus veículos. Eu consegui! Eu a salvei e acabei com a única família da
cidade que estava, esse tempo todo, tentando nos fazer mal. Haveria mais
ameaças de outras batalhas, como sempre havia, mas por enquanto, eu tinha
um pouco de paz em uma coisa de que me orgulhava.
Elsa estava comigo e agora tinha todos os motivos para viver o resto
de sua vida comigo.
Capítulo 13
Elsa
Estávamos no carro dele. Embora não muito tempo atrás eu tinha sido alvo
de pessoas que me torturaram, agora eu me sentia em paz com minha
vida. Eu sabia que não deveria estar me sentindo assim, mas sua insistência
em me salvar novamente, quando pensei que estava a salvo de sua vida, me
fez pensar que nunca encontraria uma maneira melhor de construir uma
família.
Sim, ele era perigoso. Sim, ele era membro da família Russo. Sim, o
perigo o seguiria aonde quer que fosse, mas ainda assim... Achei que
poderia encontrar segurança ficando longe dele. Esse foi o último erro da
minha vida. Nunca mais.
Havia uma lição importante a tirar de tudo isso. Eu nunca estaria
seguro. As pessoas sabiam quem eu era e que poderia estar acostumada a
chegar aos homens que queriam me manter segura. Meu pai e Ed estavam
certos o tempo todo. Uma vez que você faz parte da Máfia, não há como
escapar.
Seria difícil construir uma família como essa, mas haveria uma solução
melhor? Não, não havia. Mesmo se eu mudasse meu nome, me tornasse
outra pessoa, eles ainda me encontrariam.
Eu não queria testar isso. A única maneira de ficar um pouco segura
era ficar com Ed e os Russos.
Eu descansei minha cabeça em seus ombros enquanto ele dirigia seu
carro. Eu me virei para encontrar seus olhos. Alguns minutos se passaram
desde que ele me salvou, e a estrada à frente era silenciosa. Poucos carros
estavam dirigindo conosco.
Olhei para seu rosto, em seus olhos, e pensei em uma coisa que me
deixou ainda mais segura disso. Eu o amava. Como eu poderia não me
sentir assim? Ele fez muito para me salvar duas vezes.
Mudei minha cabeça em seus ombros, trazendo sua atenção para
mim. – Você está acordado –, disse ele, sua voz suave e lenta.
– Graças a você – eu murmurei.
Ele sorriu e desceu sua cabeça para me beijar. O beijo não durou mais
do que cinco segundos, mas foi o suficiente para me lembrar o quanto ele
me amava também.
– Eu vou te levar para casa, Elsa, e desta vez, ninguém será capaz de
machucá-la novamente.
Elsa
Ed poderia ter pedido a outra pessoa para fazer isso, mas com seu kit
de primeiros socorros em mãos, ele me mostrou outra coisa sobre ele que eu
não sabia até este momento. Ele poderia ser muito atencioso e teimoso ao
mesmo tempo.
Ele estava curando minhas feridas, sua mão segurando uma bola de
algodão. Ele esfregava de vez em quando nos meus hematomas e cortes
enquanto limpava o sangue. Meu corpo inteiro doía, e o que eles fizeram
comigo foi horrível, mas eu podia encontrar consolo no fato de não estar
mais sozinha.
Eu estava com ele e não tinha mais razão para pensar em deixá-lo
novamente.
– Sinto muito, Ed.
Ele parou de limpar um hematoma na minha coxa e disse, seus olhos
olhando para mim – Você não tem do que se desculpar. Fique
quieta. Preciso ter cuidado agora.
– Não, eu quero dizer isso. – Eu engoli em seco. Isso não foi fácil para
mim. – Eu pensei durante toda a minha vida que eu precisava sair desta
vida. Quando finalmente fiz isso, me vi em perigo novamente. Eu não posso
fugir.
– Elsa, você não precisa me dizer isso agora. Apenas descanse e fique
quieta.
– Mas eu preciso. Você estava certo o tempo todo.
Ele suspirou e disse – Tudo que eu queria era mantê-la segura. Eu
deveria ter colocado mais homens para vigiar você.
Inclinei-me e beijei sua testa. – Não se culpe por causa disso. Você não
poderia ter imaginado que haveria tantos.
Ele não disse nada, mas pude ver que ele sabia que eu estava
certa. Quem poderia imaginar que aquela família ainda poderia nos
machucar?
O tempo passou enquanto ele curava minhas feridas sozinho. Quando
ele se levantou, procurei sua mão e segurei-a na minha. – Onde você está
indo agora? – Eu perguntei.
Ele se sentou ao meu lado e com um sorriso tímido no rosto, ele disse
– A lugar nenhum. Você precisa de mim agora, e isso é tudo que me
importa.
Eu não pude me conter quando ele disse essas palavras, puxando seu
rosto para mim e beijando-o. Ele me beijou de volta, sua língua indo fundo
em minha boca, e a partir de então, eu sabia que só podia esperar o melhor
vindo dele.
◆◆◆
Eduardo
Abri a porta e o encontrei. Pequeno Valter, nosso filho. Ele nasceu tão
gordo e grande. Ele era maior do que a maioria dos bebês de sua idade. O
silêncio lá fora me lembrou que era de noite e que ele deveria estar
dormindo.
E, no entanto, ele ainda estava acordado. Valter era um bebê agitado,
sempre cheio de energia e com vontade de comer algo diferente.
Eu fiz cócegas em sua barriga, fazendo-o rir e sorrir para mim. Ele
tinha apenas um dente na boca e alguns fios de cabelo na cabeça.
Eu olhei pela janela e fechei-a. Pensei em Regina. Ela morreu há muito
tempo, e eu ainda tinha pesadelos curtos, mas insuportáveis, sobre o que
aconteceu com ela.
Ed ainda não voltou. Provavelmente algo o mantinha ocupado
agora. Sua ausência era estranha, mas não me preocupava. Diferentemente
do meu pai, ele mantinha tantos homens patrulhando a área em que
morávamos que não havia chance de alguém nos fazer mal novamente.
Mas talvez eu estivesse me enganando sobre isso. Estar totalmente
seguro o tempo todo não era algo que podia ser realizado. Eu não me sentia
em perigo neste bairro aqui em Chicago, e isso era bom o suficiente para
mim.
Nós não morávamos mais na mansão. Vivíamos lá durante a guerra e
até nos casarmos. Depois de cumprir seu propósito, encontramos um lugar
melhor para onde nos mudarmos. Precisávamos fugir das lembranças ruins
que infestavam aquele lugar.
Eu fiz cócegas no meu pequeno Valter mais uma vez antes de me virar
para sair, suas risadas ecoando na sala. Foi quando ouvi um barulho
estranho lá fora. Pensei imediatamente naquela noite em que minha querida
Regina foi tirada de mim e então, peguei minha arma, esperando para ver se
o barulho soaria novamente.
Mas nada aconteceu. Além do chilrear dos grilos. Eu gostaria de poder
viver uma vida tão despreocupada como eles.
Coloquei minha arma de volta sob o cós da minha calça e saí da
sala. A porta da sala se abriu rapidamente, e peguei minha arma mais uma
vez, mas em vez de encontrar um criminoso que tinha vindo aqui para me
fazer mal, eu o encontrei.
Ed. Ele voltou para casa, e ao ver seu sorriso aparecendo em seu lindo
rosto, corri para ele, meus braços abertos para um abraço. Ele me abraçou
de volta, minha cabeça apoiada na curva de seu pescoço.
Por um momento, fiquei com medo. Com medo de que o mesmo
pudesse acontecer aqui, mas sua presença constante em minha vida me
garantiu que eu podia confiar nele para me manter segura. Por quanto
tempo? Para sempre. Ele era perigoso demais. Todos em Chicago que o
conheciam temiam seu nome.
Afastei-me dele um pouco e disse – Estou tão feliz por você estar
aqui. Achei que você chegaria ainda mais tarde.
– Sim, acabei perdendo um pouquinho de tempo com algo. Enfim, isso
acabou e estou aqui agora. É isso o que importa.
Segurando sua mão e dando a ele um olhar travesso, eu disse – Então
venha comigo. Você me prometeu isso.
Ele sorriu, me seguindo até o nosso quarto, que fechamos. Esta seria
uma noite inesquecível.
Epílogo do Eduardo
Sentado na minha mesa, peguei o retrato com a foto dela. Minha querida
Elsa estava tão linda. Sua foto de casamento. Uma de muitas. Tinha muitas
fotos dela quando ela se casou com o seu ex-marido. Ele havia sido um
homem bom, mas o destino decidiu que ele não poderia viver por muito
mais tempo conosco.
Sua morte foi brutal. Acidente de carro, mas acabou se tornando mais
do que isso. Ele lutou, usou sua arma para se certificar de que seus
assassinos não poderiam acabar com ele facilmente. Mas já era tarde
demais. Eu estava perto quando aconteceu, mas não pude fazer muito.
Eu os peguei. Matei seus assassinos, mas não pude salvar sua
vida. Com meus braços segurando seu torso e cabeça, ele falou suas últimas
palavras para mim. – Sempre esteja ao lado de Elsa.
Achei que poderia manter minha promessa, mas no final, me vi tão
sem esperança quanto ele naquela noite em que nos deixou para sempre. Eu
chorei e soquei a parede tantas vezes depois que ele morreu.
Não pude conter minhas lágrimas quando tive que contar a ela a
terrível notícia. – Sinto muito, Elsa, mas ele não sobreviveu.
Ela desabou na minha frente e eu a abracei. Eu a consolei da melhor
maneira que pude, mas desde então ela se tornou uma mulher mais reclusa.
Elsa costumava ter muito poder e energia nela. Ela falava de uma
forma que atraia a atenção de todos para ela, e agora isso não existia
mais. Ela não era o que foi antes. Elsa era uma mulher diferente agora.
Reclinado na cadeira, pensei nela e no filho de Romano. Eduardo
parecia um bom homem, mas era de fato? Eu não sabia. Não tive muito
tempo para conhecê-lo, embora ele me fizesse pensar que iria sim mantê-la
segura.
Lá em Chicago, ela estaria segura, na maior parte do tempo. Não
existia algo como estar 100% seguro o tempo todo. O perigo a encontraria
de uma forma ou de outra. Eu sabia de uma coisa que me dava paz quando
pensava nela. Eduardo, por ser filho de Romano, era um homem sádico e
astuto. Ele saberia como mantê-la longe do perigo.
Quanto a ele, não tinha medo de que fosse perigoso para ela. Ele nunca
levantaria a mão para ela. Romano costumava ensinar bem os seus filhos,
mesmo os adotivos. Eles eram duros e violentos com outros homens da
Máfia, mas nunca com inocentes e mulheres como ela.
Levantei da cadeira e olhei pela janela, minhas mãos acendendo um
cigarro. Uma das melhores marcas do mundo o fez e, para ser honesto
comigo mesmo, não poderia me contentar com nada de qualidade menor. O
produto era bastante caro e, no entanto, valia a pena.
Exalei uma nuvem de fumaça e pensei na guerra. Iria acontecer em
breve. Todas as gangues da máfia estavam lutando por apenas uma
coisa: controle de território. Depois que soubemos que um bairro específico
aqui em Milão se tornaria muito valorizado em um futuro próximo, todos
nós voltamos nossa atenção para ele.
Havia uma espécie de reunião marcada para acontecer amanhã. Eu me
perguntei como seria, embora eu não tivesse grandes esperanças para
isso. Ou sairíamos dali sem nada nas mãos ou morreríamos nos matando.
As famílias principais estavam fechando negócios para garantir que o
encontro fosse tranquilo, mas, mais uma vez, lembrei-me de que a máfia
italiana não obedecia a nenhuma regra.
Exalei outra nuvem de fumaça e, em seguida, respirei o ar fresco da
noite. A lua era um espetáculo para olhos cansados como os meus. Quando
foi a última vez que contemplei o céu dessa forma?
Romano Russo
Fim
Leia-o AQUI
Imani
Yegor
Ela estava deslumbrante. Ah, eu estava cansado de encontrar sempre
os mesmos tipos de mulheres todos os dias. Não sabia o que havia com elas,
mas todas tinham a mesma aparência. Olhos falsos, sorrisos falsos, e
mentiras em cima de mentiras.
Mas Imani... Ah, ela era diferente. Sua pele de chocolate foi a primeira
coisa que me roubou a atenção dos olhos, mas foi sua personalidade
ensolarada e inocente que me prendeu a ela como se ela fosse uma vara de
pescador e eu fosse apenas um peixe em um lago raso.
A inocência era algo a que eu não estava mais acostumado.
Ela parecia ser bem jovem. Pelo menos uma década mais jovem que
eu, e uma presa fácil. Eu não sabia que Efrem tinha uma filha tão bonita,
tão ingênua que ela podia roubar o coração de qualquer homem com
facilidade.
E ela podia fazer isso sem mesmo estar ciente disso.
Seu cabelo era curto, caindo aos seus ouvidos. Era preto como uma
noite romântica sob a luz de velas. Seus olhos estavam pintados com um
tom de coco que tornava quase impossível para mim olhar para qualquer
lugar que não fossem eles, a simples menção de tentar fazer algo diferente
daquilo parecendo um pecado para minha mente.
O corpo de Imani era um pouco magro, mas ela ainda tinha todas as
curvas que uma mulher como ela deveria ter.
Um par de pés que entrou na sala me tirou do meu transe, fazendo-me
virar meus olhos para a direita.
– Você não é um dos guardas. Quem é você e o que está fazendo aqui?
– Um homem com um boné e um uniforme de guarda perguntou, entrando
na sala.
– Entrei pela porta da frente e pedi permissão para vir, se é com isso
que você está preocupado – disse eu, recusando a ir mais longe de Imani.
Eu ainda tinha tanto para falar com ela.
Ele estava segurando uma M4, como se estivesse pronto para ir para
uma guerra.
– Veremos sobre isso – afirmou ele, estreitando seus olhos e fazendo
minha mão atirar ao punho da minha arma que estava enfiada na minha
cintura. Eu não a peguei e não planejava criar confusão na casa de Efrem,
mas se ele não podia ter homens melhores protegendo sua propriedade,
então ele não me deixava muita escolha.
Um homem apareceu na cozinha pelo corredor escuro, com os olhos
bem abertos quando percebeu o que estava acontecendo aqui.
Diferentemente do homem que estava segurando a espingarda M4, ele só
tinha uma pequena pistola com ele, e não tinha um boné na cabeça. Por que
alguém estaria usando um boné dentro de casa, a menos que ele fosse
careca e estivesse inseguro sobre sua falta de cabelo?
O homem que correu para a sala usava o mesmo uniforme escuro, com
o sobrenome da família Imani gravado nele. Ele era um dos guardas,
embora ainda fosse um mistério para mim porque ele veio aqui de repente.
O cara segurando o M4 virou a cabeça para ele, perguntando, – Você o
conhece?
– Sim, ele é um dos Gorbunov. Ele veio aqui para falar com o chefe.
Seu amigo, cujo nome era Noah Watson, alargou seus olhos com
verdadeira surpresa. Até mesmo seu aperto sobre o rifle ficou menos
intenso, com ele deslocando seu peso enquanto me mostrava que, de todas
as coisas que ele havia assumido que eu era, ele nunca pensou que eu fosse
um Gorbunov.
– Estou vendo – disse ele de repente, com sua voz soando mais como
um murmúrio.
Dando a volta, ele saiu da cozinha com seu amigo seguindo-o,
conversando com ele enquanto ele era ignorado. Noé compreendeu o peso
daquele momento em que ele teve um pouco de cara-a-cara comigo. Se ele
tivesse me irritado mais, ele sabia que eu não teria hesitado antes de fazer
toda a sua família sofrer.
A voz de Imani roubou minha atenção novamente, arrancando-me dos
meus pensamentos.
– Bem, pelo menos isso confirma que você não é um espião ou um
assassino tentando assassinar toda a minha família – disse Imani, abrindo
um sorriso largo e brilhante.
Eu também sorri, embora sem mostrar meus dentes. Eu simplesmente
não estava acostumado a sorrir e rir, mesmo que ela me fizesse sentir
vontade de fazer isso o tempo todo com ela. Nós éramos tão certos uns para
os outros.
– Sim, acho que sim. Então, você é a filha do Efrem?
– Meu pai? Ah, sou sim – ela respondeu, passando a mão sobre a mesa
da cozinha e quase fazendo cair a faca pequena que ela colocou em cima
dela.
– Cuidado aí – aconselhei, agarrando não só a faca, mas também as
fatias de pão, o presunto e o queijo antes de afastá-los dela. – Acho que
você precisa de alguém que olhe por você.
Ela esfregou a parte de trás de sua cabeça, fechando seus olhos
enquanto ria, mostrando-me o quão envergonhada ela estava.
– Acho que sim – disse ela, seus olhos se abrindo e olhando para mim
enquanto ela achava impossível não mostrar seus sentimentos por mim. Se
não fosse pelo fato de eu precisar ir ver o pai dela, eu ficaria aqui e
aprenderia mais sobre ela.
– Deixe-me fazer um sanduíche para você – eu ofereci sem perguntar a
ela se ela queria ou não. Eu não precisava fazer isso, já que era óbvio que
ela tinha vindo aqui para um sanduíche e estava fazendo uma bagunça
porque ela era muito desajeitada na cozinha.
– Ah, você não precisa fazer isso – ela estava dizendo antes de fechar a
boca, seus olhos se alargando enquanto me via espalhar um pouco de
maionese sobre as fatias de pão. Eu não podia ter certeza disso, mas
imaginei que meu profissionalismo a estava impressionando.
Afinal, Imani não parecia ser o tipo de garota que estava acostumada
com cozinhas, mesmo querendo fazer um simples sanduíche de presunto e
queijo.
Não demorou muito para colocar uma fatia de presunto e outra de
queijo em uma das fatias de pão, fechando o sanduíche com a outra fatia.
Seus olhos ainda estavam bem abertos quando terminei de fazer o
sanduíche, embora houvesse mais uma coisa que eu precisava fazer antes
que ele estivesse realmente pronto para ela.
CLUBE DA MÁFIA
LIVROS EM INGLÊS
Jolie Damman tem apenas uma obsessão: escrever mais e mais livros
sobre mafiosos. Ao encontrar sua paixão com bilionários obsessivos,
sheiks, máfia russa e italiana, ela escreve todos os dias. Seus livros são
repletos de cenas picantes e ela prefere escrever romances dark a qualquer
outro.
Se você está buscando homens com excesso de confiança dominando
virgens, você vai encontrar isso aqui. Se está querendo se deitar em sua
cama enquanto mergulha em uma história com um CEO gato, elegante e
sexy, você já encontrou tudo o que precisa.
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