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Copyright © 2021 por Juliana Dantas

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exceto no caso de breves citações incluídas em revisões críticas e alguns
outros usos não comerciais permitidos pela lei de direitos autorais.

Esse é um trabalho de ficção. Nomes, personagens, lugares, negócios,


eventos e incidentes são ou os produtos da imaginação do autor ou usados
de forma fictícia. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas,
ou eventos reais é mera coincidência.

Título Original: Box Wall Street


Revisão: Sheila Mendonça
Capa: Jéssica Gomes
Sumário

O LEÃO DE WALL STREET


CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4

CAPÍTULO 5

CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8

CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12

CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14

CAPÍTULO 15

CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17

CAPÍTULO 18

CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23

CAPÍTULO 24

CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26

CAPÍTULO 27

CAPÍTULO 28

CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30

CAPÍTULO 31

CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34

CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36

CAPÍTULO 37

EPÍLOGO
ESPERA

PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3

CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5

CAPÍTULO 6

CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8

CAPÍTULO 9

CAPÍTULO 10

O SEGURANÇA DE WALL STREET


CAPÍTULO 1

CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4

CAPÍTULO 5

CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7

CAPÍTULO 8

CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11

CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14

CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16

CAPÍTULO 17

CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19

CAPÍTULO 20

CAPÍTULO 21

CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23

CAPÍTULO 24

CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26

CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29

CAPÍTULO 30

CAPÍTULO 31
EPÍLOGO

LIAM
Arquivos de Amy Grant para a biografia de Liam Hunter

GRAVAÇÃO 1
AMY GRANT

LIAM HUNTER
GRAVAÇÃO 2

GRAVAÇÃO 3

GRAVAÇÃO 4
GRAVAÇÃO 5

GRAVAÇÃO 6

AGRADECIMENTOS

SOBRE A AUTORA
O Leão de Wall Street
Capítulo 1

— Wall Street, por favor.


O táxi percorre as ruas de Manhattan apinhadas de gente enquanto
começo a me sentir nervosa.
— O senhor pode ir mais rápido?
O motorista indiano responde algo que não entendo, mas torço para
que tenha me ouvido. Estou muito atrasada.
Espio pela janela, ansiosa e amedrontada quando o táxi entra no
trânsito lento de Wall Street.
Wall Street não é apenas uma rua. É o distritito do dinheiro. É o lar
da Bolsa de Valores de Nova York.
A rua de caras como o tal de Liam Hunter.
Um nome que não tinha ouvido falar até ontem à tarde quando meu
editor, Matt Thomas, me chamara em sua sala, para comunicar que eu fui
designada para participar de uma coletiva de imprensa.
Eu estagiava há seis meses e sempre era designada apenas para
ajudar em matérias fáceis e sem nenhum prestígio, isso quando não passava
o dia tirando cópias, organizando arquivos ou simplesmente servindo café.
Então dei de ombros, me perguntando mentalmente quem diabos era Liam
Hunter.
— Sabe quem é Liam Hunter, não é? — Matt percebeu que eu
estava perdida.
— Eu deveria?
— Ele é o investidor mais jovem de Wall Street a ganhar um bilhão
de dólares.
— Uau... — Continuava sem me impressionar.
— O cara parece que lê mentes ou algo assim. A empresa dele está
crescendo rapidamente assim como sua conta bancária e influência. E ele
nem tem trinta anos ainda.
— Hum, sei... Entendi. E tem certeza que quer que eu vá... Erica
não seria mais adequada?
Eu era a novata. Erica Steves com sua boca grande e riso histérico
era a estrela do nosso pequeno jornal. Talvez tivesse a ver com o fato de ela
dormir com Matt Thomas.
— Erica continua em Washington para aquela pauta das eleições.
Não temos outra opção, Emma.
— Claro que não. — Tentei não ficar chateada, mas o que eu
queria?
— Então, tudo certo? A coletiva está marcada para amanhã as duas,
não se atrase.
— Tá, já entendi. — Levantei-me para sair e Matt me chamou.
— Ei, Emma.
— Sim?
— Acho que deveríamos jantar qualquer dia desses e conversar
sobre seu futuro no jornalismo.
Ah Deus, ele continuava dando em cima de mim? Sério?
— Certo, um dia destes — desconversei com um sorriso amarelo e
saí da sala.
Zoe, minha colega de apartamento, quase teve uma síncope quando
cheguei em casa e contei que iria entrevistar um tal de Liam Hunter.
— Um tal de Liam? Meu Deus, Emma, em que país você vive?
— Não é nada demais...
Ela havia bufado dizendo que faria o favor de pesquisar tudo sobre
Liam na internet para eu me preparar.
E agora, finalmente abro a pasta com os e-mails para ler as
informações de Zoe, porém, quando vou começar, o carro breca com
violência.
— Chegamos, senhorita.
— Oh, claro...
Pago e pulo do táxi exatamente em frente ao famoso touro.
Alguns turistas se digladiam para tirar uma foto defronte ao animal
e uma japonesa até ousa segurar na genitália da estátua e estou me
perguntando que porra é aquela quando meu celular vibra no bolso.
“Onde você está? Vamos almoçar juntas? Z”
Rolo os olhos com a mensagem de Zoe e, aproveitando que a
japonesada tarada dispersou, tiro uma self em frente à obra e encaminho a
minha curiosa amiga.
“Adivinha?” Escrevo e acrescento a foto.
Sua resposta não demora.
“Não brinca! Você segurou no saco dele?”
“O quê? Não! Eca! Tinha uma turista fazendo exatamente isso e
foi bem bizarro.”
“Diz a lenda que dá sorte. Aproveita!”
“Cala a boca”.
“Espera, estou aqui dando um zoom e reparando na sua roupa.
Emma, por favor, não pode ir vestida assim para encontrar Liam
Hunter!”
Baixo os olhos para mim mesma. Ora, não estou tão mal assim.
Sou uma estudante de jornalismo da Universidade de Nova York e
me visto desse jeito há quatros anos: jeans, camiseta e tênis é meu estilo
habitual. E nunca foi um problema.
No entanto, para minha amiga Zoe, que se veste na última moda
sem um fio de cabelo castanho com mechas estratégicas fora do lugar,
entrevistar um dos caras mais ricos da cidade usando jeans velho e de cara
lavada é um sacrilégio.
“Qual o problema com a minha roupa?”
“Todos! Você está toda errada. Está indo encontrar Liam
Hunter.”
Consigo imaginar ela ralhando comigo com a voz estridente e altiva
como se estivesse explicando a uma criança que não pode usar pijamas para
ir à escola.
“Fala como se eu fosse a um encontro com ele, quando vou
apenas a uma coletiva com dezenas de outros jornalistas!”
“E daí? Por isso tem que ir parecendo um cordeirinho? Desse
jeito ele vai te engolir viva! Sabe como chamam Liam Hunter nos meios
financeiros? O Leão de Wall Street! E você saberia disso se tivesse feito
sua lição de casa e lido o relatório que te mandei por e-mail ontem em
vez de ficar lendo Jane Austen pela enésima vez.”
Fico vermelha como se Zoe estivesse diante de mim me acusando.
“Eu li sim...”
“Leu nada.”
“Ok, ok, não li, esqueci! Aliás, já estou atrasada e tenho que
correr porque o Senhor Leão não vai admitir atraso da parte de um
pobre cordeiro como eu.”
Começo a andar pela rua, digitando rapidamente.
“Tem certeza que não dá pra trocar de roupa?”
Solto uma risada, andando mais rápido quando passo pelas portas
giratórias do prédio elegante.
“Eu vou ficar bem, Zoe, não se preocupe. É só uma coletiva
para uma matéria de um jornal medíocre. Certamente ele nem vai me
notar.”
“Que decepcionante. Eu já achando que ia ser amiga do cara
mais rico do país!”
“Ele não é o mais rico do país.”
“Ainda não, mas vai ser. Jackson diz que o cara é uma
verdadeira fera, com um faro sobre-humano para bons investimentos.”
Jackson é o namorado de Zoe e estudante de Direito em Harvard.
Os dois namoram há um século ou algo assim. Alguma coisa a ver com
almas gêmeas, amores predestinados ou qualquer coisa do tipo que Zoe
suspirava com olhos brilhantes enquanto eu rolava os olhos fingindo achar
tudo uma baboseira, quando na verdade estava morrendo de inveja.
Eu duvidava que um dia encontraria um amor como esse.
“Ainda não entendo porque tanto barulho em cima desse cara.
Não vejo qual a graça de endeusar um nerd das finanças com cara de
quem baba na gravata.”
— Por favor, onde está acontecendo a coletiva de imprensa com
Liam Hunter? — indago à moça bonita e tão impecável em sua aparência
que parece de plástico na recepção.
— Sala de conferência à direita — responde com sua voz quase
robótica, embora não me passe despercebido o olhar curioso que ela lança
em minha direção.
Certamente ela deve estar se perguntando o que a garota grunge vai
fazer numa coletiva com um importante empresário.
— Obrigada — agradeço indo em direção a tal sala de conferência e
volto minha atenção para o celular para ver a resposta de Zoe.
“Nerd com cara de quem baba na gravata? Você nunca viu uma
foto desse cara? Espera, vou te mandar uma."
“Não precisa eu já estou entran...”
Meu celular de repente é arremessado de minhas mãos quando
colido com uma parede, que aparece do nada na minha frente. O susto me
faz perder o fôlego e me preparo para ir ao chão. Milagrosamente, uma mão
firme alcança meu pulso e me segura no lugar. Vacilo por alguns segundos,
tentando me firmar, meu coração ainda em uma disparada febril.
— Wow — murmuro quando finalmente consigo levantar o olhar e
meus sentidos são atingidos por várias coisas ao mesmo tempo.
Fios de meu longo cabelo castanho revolto cegam meus olhos e os
varro para fora do rosto, encarando meu salvador. Ou melhor, encaro a
parede com a qual havia colidido.
Obviamente não é uma parede. É um homem.
Alto, cabelos num tom que ia entre o ruivo e o loiro que pareceria
bizarro em qualquer outro ser humano. Não neste. Este é lindo.
— Wow — volto a sussurrar, desta vez num tom mais deslumbrado.
— Cuidado.
A voz é tão perfeita quanto seu rosto. E seu cabelo.
E puta que pariu, meus olhos deslizam por seu terno escuro. E caro.
E com um caimento perfeito.
Tão, tão perfeito...
— Pode sair da minha frente, por favor? — ele exige secamente e
agora reparo em seu tom de voz. É duro. Impaciente. Irritado.
Prendo minha atenção em seu rosto novamente e percebo com um
estremecimento que seus olhos são como um mar revolto em dia de
tempestade.
Tão atraente quanto perigoso.
Dou um passo atrás, sentindo um arrepio de medo.
Aquele definitivamente não é um cara legal. Não mesmo.
— Vê se olha por onde anda! — rosna ao passar por mim e entrar
no elevador, deixando uma rajada de vento para trás.
Ainda observo seus cabelos revoltos antes de ele desaparecer.
— Que imbecil! — praguejo quando finalmente saio do transe.
Aquele cara é um idiota!
Ok, eu estava distraída e tropecei nele e em seu terno caro. E bonito.
Mas precisa falar daquele jeito comigo? Tão rude? Nem uma palavra gentil
e educada como “está tudo bem"?
Ele agiu como se eu fosse uma pedra no seu sapato que sacudiu
deixando na rua.
Bufo e mergulho no chão para resgatar meu pobre celular, rezando
para que esteja funcionando e fico aliviada ao ver que o pobrezinho ainda
respira.
Mais tranquila, resolvo esquecer o cara lindo, porém imbecil, e
entro na sala de conferência, distraída, verificando a última mensagem de
Zoe e vejo que é uma imagem. Ela enviou a foto do Leão de Wall Street e...
E o rosto é o mesmo do cara lindo em que eu tropecei há pouco!
— Puta que pariu!
Escuto cadeiras rangendo no chão de madeira e algumas
exclamações abafadas. Levanto o olhar do celular para notar vários olhos
presos em mim.
— Puta que pariu — sussurro baixinho agora, bem diferente do meu
grito anterior que causou a vergonhosa comoção. Limpo a garganta e tento
um sorriso culpado que espero ser fofo. — Me desculpem. Continuem.
Os rostos se voltam para frente novamente e algumas coisas me
ocorrem: estou dentro da sala de conferência cheia de jornalistas e na mesa
diante de mim há um senhor de terno que, embora tenha toda pinta de
empresário ricaço, definitivamente não é Liam Hunter, mesmo porque eu
acabei de tropeçar no dito-cujo antes de entrar.
— Ei. — Cutuco um cara de óculos e terno malpassado que me
lança um olhar impaciente. — Quem é esse aí?
Seu olhar passa de impaciente para incrédulo.
— Warren Buffet. — Sua voz ao dizer o nome do homem foi a
mesma de quando Matt me disse o nome de Liam Hunter, como se fosse
uma heresia eu não saber quem é.
Mas essa não é minha preocupação no momento.
— Não era uma coletiva com Liam Hunter?
— A coletiva com o Senhor Hunter acabou há cinco minutos.
— Porra! — De novo os olhos agora irritados se voltam para mim e
percebo que externei minha consternação mais alto do que deveria. — Foi
mal! — Aceno, juntando minha vergonha e o que resta da minha dignidade
dando o fora dali.
E agora? O que vou fazer? Eu me atrasei para a merda da coletiva e
perdi Liam Hunter.
Na primeira chance verdadeira que eu tinha no meu trabalho para
mostrar o meu valor e quem sabe conseguir uma efetivação quando me
formasse dentro de dois meses.
Eu estraguei tudo.
Mais uma vez me pergunto por que deixei meu pai me convencer a
fazer jornalismo em vez de literatura inglesa que era meu verdadeiro sonho.
Tom, meu pai, estava preocupado com o fato de literatura ser algo muito
vago e começara uma campanha para que eu estudasse algo que me
permitisse ter um “emprego de verdade” segundo suas próprias palavras.
E cá estou eu, no coração financeiro do mundo, quase me formando
em uma profissão na qual tenho sérias dúvidas se serei boa o suficiente para
ter o tão sonhado “emprego de verdade” almejado por Tom.
O estágio no Jornal New York Morning, um jornaleco de pouca
circulação e prestígio, até que não foi difícil de conseguir, graças, eu não
posso negar, à boa influência de Zoe, que conhecia Deus e o mundo.
— Precisa de ajuda? — A voz do robozinho da recepcionista me tira
do devaneio autocomiserativo e, pensando rápido, me aproximo da
recepção. Talvez ainda pudesse salvar o dia se tivesse um pouco de cara de
pau.
— Sim, vim para a coletiva com o Senhor Hunter, mas acabei me
atrasando e o perdi. — O rosto da garota não esboça nenhuma reação e me
pergunto se ela não é mesmo um cyborg. — Preciso realmente entrevistá-lo.
Será que eu não conseguiria, sei lá, dez minutos com ele? Prometo ser
rápida. — Merda, cyborgs não tinham nem um pouquinho de sentimento?
Noto seu nome do crachá. — Sally, por favor. Meu chefe vai me matar se eu
não fizer essa entrevista. — Faço minha melhor cara de coitadinha.
E finalmente noto alguma empatia no rosto da recepcionista.
— Qual o seu nome? — Ela pega o telefone.
— Emma Jones. Do Jornal New York Morning.
— Verei o que posso fazer. Se puder se sentar e aguardar.
Respiro aliviada e me instalo em um dos sofás da recepção. Pego o
celular, verificando que as mensagens de Zoe acabaram, o que significa que
acabou sua hora do almoço, ou a bateria do celular.
— Senhorita Jones — a moça me chama e me levanto. Ela me
estende um crachá de visitante. — Vigésimo andar. O Senhor Hunter irá lhe
conceder dez minutos.
Sorrio, pegando o crachá de sua mão de unhas bem feitas.
— Valeu, Sally!
Ela não sorri. Que se dane. Eu consegui minha entrevista! E nem
seria uma coletiva, e sim uma exclusiva!
Sou mesmo uma jornalista fodona!
Quando chego ao vigésimo andar, uma moça de beleza insípida com
um sorriso também insípido me diz que o Senhor Hunter irá me receber e
pede para acompanhá-la.
De repente me dou conta, enquanto a sigo pelo corredor de mármore,
que vou entrevistar o cara lindo e grosso em quem havia tropeçado lá
embaixo. E entro em pânico.
A garota abre a porta de carvalho e faz um sinal para eu entrar.
Com o coração aos pulos, obrigo meus pés a entrarem na sala e solto
o terceiro wow do dia.
O cara mal-educado no qual tropecei está sentado na grande mesa
de carvalho olhando para mim com os mesmos olhos frios e duros.
Os mesmos cabelos revoltos num tom estranho de cobre. Como um
leão.
Inferno!
Eu sou mesmo um cordeiro.
E vou ser engolida inteira por aquele cara.
Capítulo 2

— Tenho dez minutos, Senhorita Jones, não o dia inteiro. — Suas


palavras bruscas me tiram do estupor em que me encontrava desde que
entrara na sala, o pânico me deixando paralisada e de boca aberta olhando-o
em choque.
Pisco, fechando a boca e obrigando meus pés a se moverem. Quase
tropeço no tapete persa no processo, finalmente consigo chegar à mesa onde
ele está sentado, os dedos tamborilando impacientemente sobre o carvalho.
Mordo os lábios ao notar que os dedos são compridos e elegantes.
Paro sem saber se devo sentar ou ficar onde estou e minha confusão
o deixa ainda mais impaciente, e acho que vislumbro um leve rolar de olhos
quando ele levanta o braço e aponta a cadeira diante dele para eu me sentar.
Eu me sento e limpo a garganta, com os dedos trêmulos abro meu
bloco de anotações no colo e acho as perguntas preparadas por Matt.
— Nove — sibila e estremeço inteira agora.
Sou uma mistura bagunçada de medo e ansiedade e algo mais
sinistro que tem a ver com o tom perfeito de sua voz autoritária e com os
dedos longos batendo na mesa.
— Claro, eu... — balbucio e sei que também estou corando
ridiculamente — só preciso ligar... — Pego o gravador e demoro mais uns
preciosos segundos para conseguir ligá-lo e coloco na mesa.
Respiro fundo e, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha,
finalmente ergo o olhar e o encaro.
— Podemos começar? — Tento soar profissional e não um ratinho
acuado por um gato.
— Já deveria ter começado.
É sua resposta num tom crítico e abaixo o olhar para as questões.
Se fosse Erica ali certamente estaria tirando tudo de letra, com suas
risadinhas e tiradas irônicas.
Deus, acho que não nasci pra isto, definitivamente.
Obrigo-me a manter a cabeça baixa, lendo a pergunta.
— O senhor estudou na Universidade de Nova York há alguns anos,
como essa experiência contribuiu para o seu sucesso?
— Em nada.
Levanto o olhar, pasma com a resposta lacônica.
— Nada? — Certamente não era o que os leitores gostariam de ler.
Ele dá de ombros, os dedos longos seguram uma caneta.
— Sequer terminei meu curso, fiquei naquela merda dois anos e
pulei fora.
Ele chamou a universidade de Nova York de merda?
— Por quê?
— Eu já era rico, por que iria ficar lá aguentando aqueles putos?
Putos?
Coro, chocada por ele chamar os professores de uma renomada
universidade de putos.
— Certo — murmuro, voltando às perguntas. — O Senhor obteve
seu primeiro milhão com 19 anos, pode nos contar como conseguiu esse
feito?
Um sorriso de lado distende seus lábios.
Um sorriso arrogante e perfeito.
Um sorriso sexy. Demais.
Mexo-me na cadeira, meu pulso acelerando e um calor começa a
ferver na superfície da minha pele.
— Apenas sei onde investir, é muito simples.
— Como assim você “sabe”? — Ele faz parecer algo sobrenatural.
— Acho que é um talento natural para ler o universo, como o
mundo vai girar e se transformar — diz com um olhar distante, como se já
tivesse dito a mesma coisa um milhão de vezes antes e esse fato o
entediasse.
Eu não era uma entendida em investimentos, porém, para mim todo
aquele papo de ler o universo mais parecia algo saído de um livro de
autoajuda do que as palavras de um poderoso empresário.
— Digamos que eu sei que uma empresa que, apesar de parecer
com qualquer outra, vai se transformar numa fonte de milhões em pouco
tempo e é nela que eu tenho que investir.
— Alguns atribuem seu sucesso à sorte. — Leio a próxima
afirmação de Matt.
Seu sorriso se desfaz.
— Não tem nada a ver com sorte. Não sou um homem de sorte. A
sorte me abandonou há muito tempo. Se é que um dia eu a tive. — Suas
palavras soam tão amarguradas que me deixam curiosa. Como se tivesse
uma história por trás daquela afirmação.
— Então a que atribui o seu sucesso?
— Ao talento. Ao trabalho. E a seguir minha intuição.
— Intuição? Parece arriscado.
— Entenda uma coisa sobre mim, Senhorita Jones. Eu gosto de
correr riscos. E amo um desafio. A emoção de uma boa caçada.
— Caçada?
— Investir em ações para mim é como uma caçada. Eu escolho a
presa. Eu a persigo. Estudo seus movimentos, me preparando para o ataque.
— Ele se inclina para frente. Mais perto de mim. Seus olhos verdes contêm
um brilho perigoso e desafiador. Como um predador. Um leão prestes a
atacar sua presa.
Engulo em seco. Levemente arfante. Não consigo evitar.
Naquele momento me sinto dominada pela emoção da caçada
também.
Só que eu não sou o predador. Eu sou a presa.
Sei que preciso fugir, porém meu instinto de desafio me faz ficar e
enfrentar meu caçador.
Pegue-me se for capaz.
Sou um estúpido cordeiro desafiando um leão.
— Então tudo se resume a isso? Ao desafio da caçada? — indago
rouca, sem conseguir desviar o olhar.
Liam Hunter está inclinado na mesa, sua posição parece de ataque.
Será que ele sente isso agora?
— Sim, Senhorita Jones. A caçada me excita.
Sua resposta me fez arquejar e sinto uma descarga de adrenalina
percorrer meu sangue, que corre numa velocidade vertiginosa por minhas
veias e se instala num pulsar urgente no meio das minhas pernas.
Puta Merda!
No espaço de um segundo, penso em me levantar e fugir. Instinto de
sobrevivência.
No entanto permaneço ali, desafiando-o com meu olhar. Com meu
sangue quente tingindo meu rosto de vermelho. Com o coração disparado
no peito. Eu espero.
Porém não estou preparada para suas palavras a seguir.
— Quer ser caçada por mim, Senhorita Jones?
Capítulo 3

Perco a voz por alguns segundos.


Meus lábios se abrem em choque assim como meus olhos. Até
minha respiração está presa na garganta.
Inferno, com certeza até o mundo parou de girar por alguns
momentos depois da pergunta impertinente de Liam Hunter.
O leão de Wall Street acabou de perguntar se eu quero ser caçada
por ele.
P.O.R.R.A!
Fico ali, encarando-o estarrecida, tentando fazer algum som sair da
minha garganta. Um riso nervoso, um palavrão, ou um simples “que
diabos...”.
E, enquanto meu cérebro vai voltando a funcionar lentamente,
começo a processar a situação. Talvez estivesse esperando que ele risse a
qualquer momento e dissesse que estava brincando.
Apesar de conhecer Liam Hunter há menos de dez minutos já notei
que ele não é o tipo de homem que se presta a brincadeiras.
E se fosse um teste? Um fodido teste para me fazer cair, o que
permitiria que ele me colocasse para fora de sua sala rosnando o quanto eu
era antiprofissional?
Em vez disso, ele se recosta na cadeira. Os olhos franzidos e
atentos. Observando-me.
Estudando-me.
Finalmente consigo fechar a boca e mordo os lábios com força.
Meu rosto que devia ter empalidecido agora está vermelho em fogo.
— Não está fugindo.
É uma afirmação e percebo em sua voz um tom sarcástico, satisfeito
e um tanto surpreso.
Meus dedos apertam a caneta.
— Sabe, Senhorita Jones, hoje não foi um bom dia para mim —
começa a falar depois de alguns instantes de silêncio. — Ontem eu estava
em Tóquio. Viajei vinte horas para chegar e descobrir que perdi muito
dinheiro. Oscilações da bolsa. Lembra o que falamos sobre riscos?
Sacudo a cabeça afirmativamente, ainda sem conseguir achar minha
voz perdida em algum lugar dentro de mim.
— Claro, eu gosto dos riscos. Apesar disso odeio perder. E perder
vinte milhões me deixou puto.
Ele disse vinte milhões?
— Eu sei, alguns diriam que não é nada para quem tem bilhões.
Bilhões?
— Eu estava irritado, Senhorita Jones.
De novo ele se inclina na cadeira. Mais perto. Não me movo,
embora sinta um desejo absurdo de me mover em sua direção.
— Sabe o que eu gosto de fazer quando estou irritado? — Sua voz
adquire um tom baixo. Quase íntimo. — Sexo.
Oh. Oh. Oh.
Wowww!
Começo a ofegar, o ar a minha volta se torna rarefeito. Acho que
vou sufocar.
— Quente — continua num tom mais baixo ainda, quase um
rosnado. Meu coração acelera — rápido — começo a hiperventilar — e
duro.
Meu cérebro se derrete e tenho certeza que acontecerá o mesmo
com meu corpo, porque já sinto meus ossos se desintegrando.
Ele se recosta de novo, o rosto ficando mais feroz, os olhos
brilhando de fúria.
— Mas eu não podia. Eu tinha que vir para a maldita coletiva. E
quando penso que estarei livre, me deixo convencer a conceder uma
entrevista a uma repórter de um jornal de merda qualquer.
Em algum lugar de minha mente, sei que deveria ficar irritada por
ele se referir a mim como uma reporterzinha de merda. Entretanto meu
cérebro está muito ocupado, processando a informação de que ele gostaria
de estar fazendo sexo neste momento. Que deveria estar fazendo sexo neste
momento.
Manter meu corpo funcionando sem cair desintegrado no chão passa
a ser a próxima função do meu cérebro assoberbado.
— E isso me deixou ainda mais irritado. Muito. E, enquanto eu
concedia meu precioso tempo a esta entrevista, me deparo com algo muito
interessante. — Sorri. Astutamente.
Eu me arrepio. Medo e ansiedade se digladiando dentro de mim.
— Uma presa em potencial. Então o dia que estava sendo uma
merda se torna uma agradável surpresa.
Ele acabou de me chamar de agradável surpresa?
— Olhos castanhos que me desafiam a caçá-la. Quer fugir, mas não
consegue. Você quer a adrenalina da caça também. Saber como é ser
caçada. Ter a opção de se virar e correr e mesmo assim não se mexer. Quer
saber até onde pode ir. Até onde pode resistir sem ser pega. Dominada e por
fim abatida.
E assim, ele consegue traduzir em palavras o que eu sou neste
momento.
Eu deveria achar assustador o fato de ele me ler mais facilmente do
que eu mesma.
E ele só me conhecia há... quantos minutos estamos ali? Parecem
horas, ou dias. Anos-luz.
Estamos em outra dimensão onde o tempo não existe.
— E isso, Senhorita Jones, é definitivamente um desafio do qual eu
não posso declinar — conclui.
— Eu não, eu... — De repente sinto a necessidade de tentar sair
daquela armadilha, Liam me interrompe.
— Faça um favor a nós dois, Senhorita Jones. Não tente mentir pra
mim. Outra coisa em que sou muito bom é em detectar uma mentira. Você
está aí sentada, com seu bloquinho de perguntas inúteis e seu olhar que,
embora pareça assustado, no fundo está cheio de cobiça. Não lhe disseram o
quanto é perigoso cobiçar seu predador? Eu sou atraente a você, não é? Está
curiosa, fascinada. Deslumbrada.
— Não. Eu...
— Não... O que conversamos sobre mentiras? — Ele fala comigo
como um professor repreendendo um aluno. — Não me deixe com vontade
de puní-la, Senhorita Jones.
Punir?
Jesus!
Minha mente é invadida por imagens da minha própria bunda
inclinada sobre o colo de Liam Hunter enquanto suas mãos de dedos longos
desferem fortes palmadas na minha pele branca que se tinge de vermelho.
E o mais assustador é que me excita.
Aperto minhas coxas uma contra a outra com força.
Ele percebe. Não sei como, mas percebe.
— Oh, você gostou da ideia. — Sorri. — Ah, Senhorita Jones, que
grata surpresa está me saindo.
Meu Deus, o que ele está fazendo comigo?
Que feitiço está jogando sobre mim para me transformar nesta presa
fácil e dócil?
Mordo meus lábios nervosamente e desvio o olhar na vã tentativa de
me livrar do seu domínio.
— Você está vermelha. Está nervosa. E este seu rubor... É delicioso.
A palavra delicioso em seus lábios parece feita de mel e me
acaricia.
Sem conseguir me conter, volto a fitá-lo. A intensidade de seu olhar
me deixa prostrada.
— E suas mãos estão segurando com força a caneta, mesmo assim
estão trêmulas. Onde mais está tremendo, Senhorita Jones?
Suas palavras sussurradas me fazem estremecer inteira.
— Estou tremendo inteira.
Cubro minha boca traidora com as mãos.
Ele sorri mais e se levanta.
Meu Deus, ele é tão alto! Seu terno escuro tem um caimento
perfeito e eu só posso imaginar como é debaixo daquele tecido caro e
macio.
Minha boca se enche de água enquanto ele dá a volta na mesa.
— Levante-se, Senhorita Jones!
A hesitação, assim como a surpresa, duram apenas alguns poucos
segundos.
Já está bem claro que minha fascinação com aquela situação é maior
que meu instinto de preservação.
Eu me levanto devagar colocando minhas coisas sobre a cadeira.
— Venha até mim.
Faço o que pediu.
Como uma vítima indo para seu sacrifício.
Mal consigo respirar.
A sala está em silêncio enquanto ele caminha ao meu redor.
Avaliando-me.
Estudando a sua presa.
— Tão simples... Preciso tirar esta pele que não faz jus a seu corpo.
O... Quê?
Suas mãos tocam a barra da minha camiseta.
— Levante os braços!
O grito de “não” dentro de mim é sobrepujado pelo sussurro
trêmulo de “sim” e me vejo erguendo os braços para que ele passe a
camiseta por minha cabeça.
Estou usando um sutiã branco e simples. Engulo em seco, ao
abaixar os braços, para me cobrir automaticamente.
— Não mandei se cobrir, Senhorita Jones.
— Por que, por quê...
— Eu quero vê-la. Descruze. Os. Braços. Agora!
Obedeço.
Ele ergue as mãos e os dedos percorrem o algodão tão de leve como
uma brisa soprando sobre o tecido, o toque apenas desliza em volta por
alguns instantes, antes de, finalmente, roçar nos meus mamilos
esperançosos. Solto um gemido tímido, quando ele enche as mãos com
meus seios e fecho os olhos, meus lábios se abrindo num suspiro sem
fôlego.
— Perfeitos para as minhas mãos.
Antes que me recobre, o toque desce por meu estômago. Puta
merda, seus dedos tocando minha pele são como ferro quente me marcando.
Sinto meu ventre sendo sugado quando o toque passa por ali, ainda tão leve
como uma pluma e pousa no meu jeans.
Abro os olhos, esperando e rejeitando o próximo movimento.
Encontro seus olhos de fera brilhando perigosamente perto dos
meus. Seu hálito banha meu rosto. É doce como o mais mortal veneno.
Intoxicando-me.
Fico tonta.
Não me movo, enquanto seus dedos abrem meu jeans.
Mergulham dentro.
Dentro de mim.
Perco o ar. O prumo. A sanidade.
Sou apenas sensação. E calor. E eletricidade.
Ele solta um gemido rouco, como um rosnado feroz de satisfação e
prazer e retira os dedos levando-os aos lábios.
Provando-me.
— Hum... doce. — Sorri.
Meu rosto tinge-se de vermelho-sangue com o choque e a excitação
pura e simples.
Minhas pernas estão bambas. Um pulsar doloroso e carente
permaneceu onde ele tocou e abandonou.
Ah, por favor, todas minhas células gritam. Imploram.
Tenho certeza que meus olhos estão dizendo tudo o que minha boca
não ousa. Ele toca meu rosto corado, passa os dedos que estiveram há
pouco dentro de mim em meus lábios, que se entreabrem num convite.
— Quero morder você inteira. Quero provar você inteira. —
Inclina-se até que sinta seu ronronar quente em meu ouvido, me arrepiando.
— Quero fazer tudo o que seus olhos estão implorando, Senhorita Jones.
Fecho os olhos, perdida.
Sinto-me mergulhando em um mar revolto em dia de tempestade,
com ondas gigantes que me puxam cada vez mais pra baixo, enquanto luto
para voltar à superfície e meu corpo simplesmente não tem forças para
tanto. Ele quer continuar a descida.
Cada vez mais fundo.
Estou tão tonta, que quase nem sinto suas habilidosas mãos
retirarem meu jeans e minha calcinha sendo puxada através dos meus
quadris.
O sutiã desapareceu há algum tempo, nem tenho noção de quando
foi.
Só quero que continue. Minha vida depende disso.
Preciso que ele faça aquela dor em meu íntimo parar.
Meu corpo está doendo. Minha alma está doendo.
Seus dedos passeiam por minha pele, bem de leve, causando
pequenos tremores.
— Sua pele é tão macia, tão branca. Quero. Marcá-la. Inteira.
Sim. Sim. Sim.
— Talvez eu faça uma marca aqui. — Toca minha cintura. — E
outra aqui — Outro dedo toca um ponto acima do meu mamilo. — E este
seu pescoço... — Cinge minha garganta com as mãos enormes. — Quero
vê-lo vermelho por causa de meus dentes. Todos vão saber que você foi
marcada.
Nem sei como ainda continuo respirando. Ou como continuo de pé.
Quase com alívio, o sinto me empurrando contra a mesa.
Escuto barulhos de objetos indo ao chão. O frio do vidro em minhas
costas. Meus braços acima da cabeça.
Abro os olhos e vejo o Leão de Wall Street olhando pra mim.
Faminto.
E eu estou ali, deitada e indefesa.
Nua.
Esperando.
Pelo ataque.
Serei abatida.
Capítulo 4

— Está com medo?


O bom senso me diz que eu deveria estar apavorada.
A percepção do perigo penetra lentamente em mim, o medo e o
anseio se entrelaçam numa dança perigosa. Será que é assim que as presas
se sentem antes do ataque final?
Temerosas e desejosas ao mesmo tempo?
Sacudo a cabeça negativamente a sua pergunta.
Seus olhos brilham mais. Hipnóticos e mortíferos. Passeiam sobre
meu corpo lentamente. Sinuosamente.
— Você está pronta para ser devorada, Senhorita Jones?
Cerro minhas pálpebras novamente.
Sim.
Eu. Estou. Pronta.
O único som que ouço na sala, enquanto espero é o ribombar do
meu coração acelerado no peito.
— Vista-se, Senhorita Jones! A entrevista acabou.
O quê? Ainda hesito em abrir os olhos, quando ouço passos se
afastando e uma porta batendo. Só então pisco desorientada, ainda sentindo
meu corpo latejando e minha mente rodando.
Sento-me rápido e olho em volta.
Estou sozinha na sala.
Por alguns instantes não consigo me mexer. Ainda estou presa
naquele doce torpor intoxicante de sua presença. Naquele momento em que
nada importava a não ser a perspectiva de sentir mais do seu toque, de sua
voz, de seu olhar.
Nada importava a não ser o que ele estava me fazendo sentir.
Agora de repente começo a voltar à realidade e meus olhos se
arregalam horrorizados ao ver minhas roupas jogadas no chão.
Visualizo a mim mesma sentada na mesa de Liam Hunter. Nua.
Quando deveria estar apenas fazendo uma entrevista de dez
minutos.
Puta que pariu, que diabos eu estava pensando?
Em pânico, pulo da mesa e começo a me vestir rapidamente,
tremendo, não de excitação como antes, e sim de pavor e repulsa por minha
atitude bizarra de minutos atrás.
Aonde ele teria ido? Onde Liam Hunter está depois de me seduzir,
subjugar e por fim humilhar?
Uma onda de vergonha banha meu rosto e gemo em desalento ao
pegar o gravador e meu bloco de anotações, jogando tudo dentro da bolsa e
saio quase correndo da sala.
Não olho para os lados e nem para trás.
Literalmente corro pelos corredores de mármore até estar livre na
rua, onde continuo a andar rápido. Finalmente caí em mim e estou fugindo.
Algo que eu deveria ter tido o bom senso de fazer quando Liam Hunter
começou a falar comigo com sua voz hipnótica e sedutora.
Estou sem fôlego quando entro no metrô cheio.
As portas se fecham e o trem anda, me levando para longe.
Respiro aliviada.
Estou a salvo.
Não fui abatida pelo Leão de Wall Street.
“Claro que não, ele te rejeitou.”, uma vozinha zombadora sussurra
dentro de mim e eu gemo desalentada de novo, apertando os olhos.
Ao abri-los um homem está me encarando e eu coro, desviando o
olhar para o chão.
De repente sinto como se todos soubessem. Todos sabem o que eu
fiz.
Sabem que deixei um homem que conhecia há míseros minutos tirar
minha roupa e me tocar intimamente.
E que eu gostei.
E que eu estava louca por mais. Muito mais.
Não. Eu não quero pensar nisso. Porque ainda sinto seus dedos em
mim. Se fechar os olhos verei seus olhos de predador me perscrutando. E o
pior, sinto um pesar vergonhoso por ele ter me deixado lá, sozinha.
Saio do metrô e caminho as poucas quadras até o apartamento que
divido com Zoe no Village, me sentindo desnorteada. O apartamento está
silencioso quando chego. Jogo minhas coisas no sofá e vou para a cozinha.
Como um robô, preparo um chá.
É o que vou fazer. Voltar à normalidade.
Voltar a ser eu mesma. A doce, comum e um tanto destrambelhada
Emma Jones.
Aquela que gosta de literatura e chá inglês. Que até hoje nunca teve
um namorado sério porque estava esperando por algo que tinha dúvidas de
que realmente existia.
Quantos caras já tinham tentado tirar minha calcinha sem sucesso?
Nunca tive dificuldade para me livrar das suas tentativas de sedução.
Inúmeros encontros de amassos quentes que acabavam invariavelmente em
minha perda de interesse por algo mais profundo. Sempre no controle.
Sempre na esperança de que com o próximo seria diferente.
Que eu poderia me sentir diferente.
Só que nunca imaginei que me sentiria diferente justamente com
Liam Hunter.
E me sento no sofá, admirando a tarde que vai escurecendo
lentamente prenunciando uma tempestade. Naqueles poucos minutos com
Liam Hunter, tinha sentido mais emoção do que em minha vida inteira.
Nada. Até hoje. Se comparava às sensações que ele provocou em
mim.
Foi como estar fora da minha própria pele.
E ao mesmo tempo sentir que nunca fui tão eu mesma.
Suspiro dolorosamente.
Nada disso anula o fato de que fui uma idiota me deixando levar por
aquela atração inesperada e avassaladora. Ele tinha brincado comigo. Tinha
brincado com sua presa, assim como alguns predadores faziam.
Tinha se divertido com minha total falta de senso de preservação.
E eu havia permitido.
Teria deixado muito mais se ele não tivesse dado a entrevista por
encerrada e saído sem olhar para trás.
E o que eu faço agora?
Esqueço?
Será que consigo?
Será que ele vai esquecer? Ou fui apenas um divertido passatempo
para ele se distrair num dia difícil?
— Emma?
Olho para o lado e vejo Zoe me fitando curiosa.
— O que está fazendo aqui no escuro, parecendo um fantasma?
Sacudo a cabeça tentando afastar os pensamentos do meu delírio
com Liam Hunter.
Afinal, acho que não passou disso mesmo: um delírio.
Um desatino momentâneo. Uma ilusão.
— Estou tomando chá — digo parvamente.
— Está esquisita, tudo bem? — Ela franze o olhar, me estudando.
Eu me levanto.
— Estou apenas cansada... — Arrasto-me até a cozinha e largo a
xícara na pia.
— Como foi a entrevista? — Zoe indaga quando volto à sala.
Estremeço ao lembrar.
Posso contar a Zoe?
Ela é minha melhor amiga desde o primeiro ano de faculdade e sabe
tudo sobre minha vida. Só que aquilo eu decido que não quero que ela
saiba.
Tanto o prazer quanto a vergonha são somente meus.
Um nó fecha minha garganta e dou de ombros.
— Dez minutos. Vou tomar um banho.
Pego minha mochila e me tranco no quarto.
Estou tirando a roupa quando meu celular toca e vejo o nome de
Erica piscando.
Penso em ignorar. Como conheço Erica, sei que ela não vai me
deixar em paz enquanto não conseguir falar comigo.
— Oi Erica. — Atendo torcendo para que seja breve.
— Oi, como foi a entrevista com o gatão? Sabe que eu te odeio por
ter ido e eu não? Me conta, como foi? Ele é mesmo tudo aquilo de perto?
— Erica... — Rolo os olhos. Se ela soubesse... — Você não está em
Washington?
— Acabei de chegar e Matt me contou que pediu pra você ir à
coletiva. Sabe que como estagiária não pode assinar nenhuma matéria.
Olha, me manda a gravação da entrevista, eu cuido de tudo...
Arregalo os olhos ao me dar conta de repente que o gravador esteve
ligado durante todo o tempo em que Liam Hunter me cercava em sua sala.
Merda!
— Erica, é... Preciso desligar, nos falamos depois, ok?
E antes que ela insista, desligo o celular e jogo todo o conteúdo da
minha mochila na cama e lá está, o bendito gravador.
Com as mãos trêmulas, me sento sobre a cama e ligo.
— Podemos começar?
— Já devia ter começado.
Oh Deus. Eu devia desligar.
E depois apagar tudo. Dane-se a entrevista de Erica.
Nunca ninguém ia ouvir aquilo.
Masoquistamente, continuo ouvindo.
— Quer ser caçada por mim, Senhorita Jones?
Fecho os olhos ao ouvir sua voz. A aspereza de seu tom tem um
efeito acariciante em meus ouvidos.
E ele continua a falar. A ordenar.
A me cercar.
E eu estava lá. Submissa aos seus comandos. Subjugada por seu
fascínio. Mesmo agoa, eu sinto como se ele estivesse ali, sussurrando em
meu ouvido.
— Você está pronta para ser devorada, Senhorita Jones?
— Sim — murmuro, sentindo todo meu corpo de novo tomado por
aquela antecipação doce e urgente.
Então, ele encerra tudo e depois há somente o barulho da minha
torpe fuga.
Abro os olhos, respirando com dificuldade. Meu estômago girando.
Meu coração martelando.
Acabou.
Com mãos trêmulas, pego o aparelho e aperto para apagar a
gravação.
Agora sim acabou de verdade.
Nenhuma prova do meu desatino.
Apaguei os indícios da sedução de Liam Hunter. Agora, apagar as
marcas que ele deixou em meu corpo e em minha alma vai ser algo muito
mais difícil.
Vencida, entro no chuveiro quente e deixo a água levar os rastros
dos dedos de Liam Hunter do meu corpo.
Agora, só tenho meus próprios dedos para preencher o vazio de seu
toque perfeito. Apenas minha memória para recriar a magia de sua sedução.
Estremeço de um prazer que se dissolve como fumaça, efêmera e
fugaz.
Seu nome em meus lábios ressoa muitas vezes no vapor que me
envolve, como um lamento.
Liam... Liam... Liam...
***
— Eu fiz o jantar — Zoe diz quando volto à sala horas depois.
— Devo ter medo? — Sorrio com sarcasmo.
Eu me sinto melhor. Quase eu mesma de novo.
Posso superar aquela cena bizarra. Vou fingir que nada daquilo
aconteceu.
E pronto.
— Sei que cozinha melhor que eu, como demorou demais no
chuveiro, pensei que teria que chamar os bombeiros.
Coro, enquanto coloco os pratos na mesa, ignorando seu
comentário.
— E ainda não me contou como foi com o Hunter — insiste quando
nos sentamos.
— Ele é um grosso. Um idiota egocêntrico e sem coração — rosno
maltratando meu bife no prato.
— Nossa! Foi tão ruim assim?
— Como disse não foi nada. — Dou de ombros, mantendo os olhos
baixos. — Foram apenas dez minutos e estou feliz por não precisar vê-lo de
novo.
— Certo, que decepção então. Lógico que já ouvi sobre sua
reputação — continua alheia ao meu desconforto. — Ele é uma fera em
Wall Street. Um verdadeiro predador! Faz dinheiro como ninguém, fareja
bons negócios. E claro, é lindo. Um cara de 28 anos lindo e solteiro
obviamente coleciona muitas mulheres — suspira — Ah, se eu não fosse
comprometida e feliz... Bem que eu deixaria aquele leão me caçar por...
— Zoe, chega! Não estou interessada em ouvir sobre esse cara!
— Nossa, pelo jeito a impressão foi péssima mesmo. Ele foi tão
grosso assim com você?
Hesito. Novamente penso em contar tudo a ela, porém me calo.
— Como eu disse, não foi nada. — Levo os pratos para a pia. — Eu
lavo a louça.
— Que ótimo! Vou ligar para o Jackson!
Ela sai saltitando da cozinha e respiro aliviada.

***
Explicar ao Matt que eu não consegui absolutamente nada na
entrevista não é fácil.
— Como assim não conseguiu nada?
— Aquele cara é um babaca arrogante e estúpido!
— Ei, como assim? Ele foi um babaca numa coletiva?
— Então, na verdade, não participei da coletiva. — Penso em contar
meu mico do atraso, mas decido enfeitar. Já estava lascada mesmo. —
Consegui algo melhor. Uma entrevista exclusiva.
Matt arregala os olhos miúdos.
— Sério? Como assim? Acabou de falar que não conseguiu nada.
— Porque as respostas dele não foram boas! Acho que ele estava de
mau humor ou com um toco enfiado na bunda sei lá! Ele é insuportável!
— Não acredito que estragou tudo, Emma!
— Ele estragou não eu!
— Ele é Liam Hunter e lhe concedeu uma entrevista exclusiva e
você me diz que não conseguiu nada!
— Ele só me deu dez minutos!
— Dez minutos é o suficiente para conseguir alguma coisa.
— Ele não disse nada que se possa aproveitar! Perguntei sobre o
que aprendeu na universidade e disse que nada! E ainda que a faculdade é
uma merda dentre outras coisas que tenho certeza que não poderíamos usar
nunca. — O que não é absolutamente mentira.
— Que saco! — Matt passa a mão nos cabelos, todo nervoso. —
Sabia que não devia ter enviado você pra uma coletiva tão importante.
Tento não me sentir humilhada.
— Sinto muito, Matt, sinceramente, não estamos perdendo nada não
publicando sobre Liam Hunter, ele não vale a pena, confie em mim. —
Sorrio tentando parecer charmosa.
Sim, eu estou usando a quedinha que Matt tem por mim para me
safar sem a menor vergonha. Afinal, o que era um flerte com o chefe depois
do que eu tinha feito na sala de Liam?
— Certo, vou confiar em sua opinião. Erica vai ficar furiosa. Ela já
tinha dito que queria escrever a matéria.
Claro, típico daquela bruxa pegar todo o crédito.
Eu me levanto.
— Tenho certeza que vai passar.
— Ei Emma, que tal a gente sair para almoçar hoje?
Hesito.
Matt sempre me convida e nunca aceito. Hoje sinto que estou lhe
devendo uma.
— Tudo bem.
Ele arregala os olhos surpreso e estou sorrindo quando saio da sala.
Ah, lidar com um cara como o Matt é fichinha para alguém que se
envolveu com um leão.
A manhã passa rápido, com todos os arquivos para serem
organizados e cafés que não se servem sozinhos tomando meu tempo e
minha mente, estou tentando não dormir enquanto reviso um texto chato na
minha baia, quando meu celular vibra.
Disfarçadamente, o retiro da bolsa e solto um grito ao abrir a
mensagem de um número desconhecido e ver minha imagem nua sobre a
mesa de Liam Hunter.
“Minha mesa nunca mais será a mesma depois de você, Senhorita
Jones.” é o que está escrito na mensagem.
— Jones? — Um colega me encara assustado e só então eu me dou
conta que a redação parou e que todos me encaram.
Coro violentamente.
— Me desculpem...
— Está se sentindo bem?
— Eu... não — balbucio me levantando e saindo da sala.
Encosto na parede do corredor, sentindo que vou desmaiar.
Como ele descobriu meu número?
E como ele tirou aquela foto? Como?
— Emma? Tudo bem? — Abro os olhos e vejo Amanda olhando
pra mim preocupada.
Amanda é a outra estagiária e é uma garota muito legal.
Diferentemente de mim, ela é boa no que faz e provavelmente ficará com a
vaga para efetivação.
— Só uma tontura...
— Precisa de ajuda?...
— Não, estou bem. — Eu me obrigo a sorrir.
— Nesse caso, o Matt está pedindo que vá a sala dele.
— Claro, o Matt. Obrigada, Amanda.
Passo por ela e me arrasto até a redação pensando numa maneira de
me livrar de nosso encontro.
Ao chegar lá eu vejo Erica na sala de Matt através do vidro.
Ela sorri para alguém que está sentado diante de Matt que eu não
reconheço por estar de costas.
Penso em dar meia-volta e aproveitar para fugir sorrateiramente,
quando noto uma atmosfera estranha.
A redação está silenciosa e todos encaram um homem que até então
não tinha percebido, parado à porta de Matt.
Ele é alto e tem cabelos pretos e usa um terno escuro. Parece um
mafioso ou um segurança de boate. Sua postura é ameaçadora.
— Senhorita Jones, presumo? — Ele me encara e eu paro assustada.
— Sim, esse ainda é meu nome — respondo com cuidado.
Ele apenas abre a porta de Matt para mim e faz sinal para eu entrar.
Que diabos está...
Paro na porta da sala horrorizada ao ver quem está ali recebendo os
olhares cobiçosos de Erica e um sorriso abobalhado de Matt Thomas.
Ninguém menos que Liam Hunter.
— Aí está ela. — Matt denuncia minha presença.
Liam se vira pra mim.
Seus olhos brilham perigosamente.
Como eu me lembrava.
Como meu corpo traidor se lembrava.
— Senhorita Jones, eis que nos encontramos novamente.
Capítulo 5

E eu achando que receber a minha própria foto nua no celular em


pleno horário de trabalho tinha sido o fato mais assustador daquele dia.
Eu estava enganada.
Muito. Muito enganada.
Eu vejo agora a mim mesma parada na porta da sala de Matt
Thomas como uma estátua de sal congelada pela cruel medusa, enquanto
Erica se abana fazendo cara de maravilhada atrás de Liam Hunter que me
fita como se eu fosse seu suculento almoço que acabara de chegar servido
numa bandeja de prata.
E que ele não via a hora de devorar.
Me. Devorar.
Por um momento aquela constatação permeia meu cérebro e
explode em milhões de minúsculas partículas de calor que invadem minha
corrente sanguínea derretendo minha pele transbordando sensações por
onde passa.
Ele. Quer. Me. Devorar.
Sim...
Não!
Dou um passo para trás, horrorizada com aqueles pequenos
segundos de submissão ridícula e irracional.
Aquele cara é o mesmo que tinha me seduzido e me abandonado
nua e humilhada em sua mesa e que havia acabado de me mandar uma foto
que eu nem fazia ideia de como ele havia tirado para meu celular.
Que diabos estou pensando ao me deixar deslumbrar de novo?
Tem alguma coisa muito errada comigo, não é possível!
Mudo o foco do meu olhar amedrontado e Matt continua sorrindo
como um cachorrinho feliz. Erica continua babando e agora está do lado de
Liam jogando os cabelos de um jeito que ela considera sexy e o brutamonte
de cabelos pretos está bem atrás de mim, sério e impassível.
— Emma, não é fantástico que o Liam tenha vindo nos visitar? —
Erica diz animada e sorri para Liam. — Não se importa que o chame de
Liam, não é? Você é tão jovem, não me parece certo chamá-lo de senhor...
— Erica, não exagera. — Matt lança a ela um olhar de advertência.
— O Senhor Hunter foi mesmo muito atencioso nos prestigiando, apesar de
seu escasso tempo, com sua visita ao nosso jornal...
Ah Deus, por que Erica e Matt estão competindo para decidir quem
é o mais idiota? Será que eles não percebem que Liam Hunter é um cretino
egocêntrico?
Respiro fundo e o encaro, fazendo um esforço para manter minha
expressão inabalável. Mesmo que meus joelhos estejam um tanto trêmulos.
— Claro, o Senhor Hunter é mesmo muito ocupado. Deve ter muito
trabalho sobre a sua mesa — ironizo.
— Na verdade, deixei um trabalho inacabado sobre minha mesa
ontem, lembra-se Senhorita Jones?
Coro violentamente.
Ah, inferno.
— Não faço ideia do que está falando... Senhor Hunter.
— Da nossa entrevista, claro. Eu estava com meu tempo limitado,
com... muitas... distrações. Eu fico assim quando estou... faminto.
— O almoço estava sobre a mesa, por que não comeu? — rebato
sem pensar, entrando naquele jogo de palavras.
— Porque eu não queria apenas um aperitivo rápido. Bastou ver o
que me era oferecido para eu decidir que queria um banquete completo.
Com muito, muito tempo para degustação, Senhorita Jones.
— Talvez devesse ter aproveitado aquele momento, agora é tarde.
Acredito que a refeição não esteja mais disponível para o senhor.
— Acho que temos opiniões diferentes sobre esse assunto. Na
verdade, estou me sentindo faminto novamente neste momento...
Puta. Que. Pariu!
Engulo em seco. Meu coração disparado.
Preciso fugir. Agora.
Eu me viro para fazer exatamente isso, dando de cara com a parede
de tijolos vestida de terno preto, que parece estar sorrindo para mim com
certa malícia.
Jesus!
— Emma, o Senhor Hunter se mostrou muito contrariado por não
ter conseguido lhe conceder a entrevista ontem e está disposto a fazê-la
hoje, durante um almoço — Matt explica.
Ah! Até parece que vou cair nessa armadilha de novo depois de
todo aquele papo de duplo sentido! Não importa se meu corpo traidor está
queimando em lugares estratégicos.
Eu não vou deixar Liam Hunter me humilhar de novo.
Uma vez foi suficiente para me traumatizar por uma vida inteira.
— Isso é ótimo — falei me virando e apontando para Erica. —
Acho que Erica ficaria muito feliz em acompanhá-lo.
Erica bate palminhas e até dá alguns pulinhos ridículos.
— Sim, sim!
— Não! — A negativa categórica de Liam Hunter quase estronda os
vidros da sala.
Erica murcha com um olhar de cachorrinho confuso.
— Prefiro que a Senhorita Jones continue a entrevista.
— A Erica é a repórter. Eu sou apenas a estagiária.
— Nós já começamos a... entrevista. — Ele pega o celular no bolso
do terno caro. — Acho que tenho até um registro... posso mostrar a seus
colegas...
— Não! — Desta vez é minha voz que assusta a todos.
Liam levanta uma sobrancelha perfeita, cheio de razão.
Filho. Da. Puta.
Não duvido nem por um segundo que ele fosse capaz de mostrar
aquela maldita foto ao Matt e à Erica. E até para o brucutu atrás de mim. Se
é que ele já não viu, penso enojada.
— Então, podemos ir senhorita? — Liam guarda o celular.
Ele está seguro da minha resposta.
Ainda hesito, procurando em minha mente alguma saída para aquela
situação na qual eu mesma tinha me deixado enredar.
Então me dou por vencida.
— Claro que a Emma vai — Matt responde por mim. — Mais uma
vez estamos muito agradecidos, Senhor Hunter...
Liam já não escuta enquanto passa por todos e sai da sala.
Como um rei deixando seus súditos. Nem um olhar ou um até logo.
O grandalhão de preto faz um sinal para eu passar.
Rendida, o acompanho.
Arregalo os olhos para o carro parado em frente ao prédio, onde
Liam Hunter está encostado me esperando. Nunca vi aquele modelo na
vida, parece ser absurdamente caro.
— Por que essa cara de quem está indo para o sacrifício, Senhorita
Jones? — indaga com um sorriso de lado.
— Porque nós sabemos que é exatamente para onde estou indo,
Senhor Hunter.
Seu sorriso se alarga, causando um furor em meu ventre.
Droga!
Ele desencosta do carro, tirando a mão do bolso e abrindo a porta
traseira, fazendo um sinal para eu entrar.
— Não se preocupe, Senhorita Jones, ao final da refeição eu
prometo que estará viva.
Hesito antes de entrar no covil do meu predador.
Ainda posso fugir? Posso correr sem olhar para trás e tentar me
salvar?
E nos segundos que estamos ali, Liam Hunter com seus cabelos
exóticos lindamente despenteados brilhando no sol pálido da manhã que
finda, me dou conta que o problema é que eu não quero fugir.
Estou ansiosa para saber aonde ele vai me levar.
Estou ansiosa para saber até onde eu irei.
Entro no carro e meus olhos se arregalam para o interior
impecavelmente branco. Couro e sofisticação por toda parte.
Liam senta ao meu lado.
— Ethan, podemos ir — ordena para o grandão mal-encarado que
dá partida.
O motor é praticamente silencioso quando seguimos pelas ruas
apinhadas.
— Impressionada?
Fico vermelha e dou de ombros.
— Sem dúvida nunca vi um carro desses.
— É um Maybach Landaulet, tem um motor biturbo que oferece
620 cv de potência.
— Claro, faz todo sentido pra mim — ironizo — aposto que deve
ser ridiculamente caro.
— 1, 35 milhões.
Meus lábios se abrem horrorizados.
É muito dinheiro para apenas um carro!
De repente estou com medo até de tocar no couro macio.
— Eu gosto de saber que posso ter o melhor, Senhorita Jones.
Não posso deixar de medi-lo.
Liam parece fazer parte daquele carro exclusivo e elegante. Tudo
nele grita dinheiro e sofisticação. Suas roupas, sua beleza, suas atitudes.
Ele passa os dedos pelos cabelos. Estão sempre despenteados,
percebo. E seus olhos estão sempre inquietos, como se tivesse explorando o
ambiente à procura da próxima oportunidade, do próximo negócio. Da
próxima presa.
Há algo selvagem nele. Algo indomado. Como se a qualquer
momento fosse pular em posição de ataque rosnando e mostrando os dentes
como um verdadeiro leão.
Sim, o apelido lhe faz jus.
— Percebo que gosta do melhor. Por isso não entendo o que estou
fazendo aqui.
Ele me encara franzindo o olhar.
Posso ver pequenos pontos dourados em sua íris verde.
— Por quê?
— Olhe para mim. Não acho que posso ser colocada na categoria de
“melhor”. Acho que “comum” seria a categoria certa.
— Acredite em mim, Senhorita Jones, está bem longe de ser
comum. — Ele se inclina em minha direção.
Ofego de susto e excitação súbita. Tão perto. Tão... a meu alcance.
Porém, Liam é como um daqueles animais selvagens nos safáris.
Até podemos chegar perto, só não podemos fazer nenhum movimento
brusco porque corremos o risco de eles nos atacarem.
Por outro lado, o que acontece quando a gente deseja muito ser
atacada?
Ah, eu estou tão, tão ferrada!
— Por que parou ontem? — Faço corajosamente a pergunta que me
atormenta desde então.
— Achei que estaria curiosa para saber por que comecei. — Estuda
meu rosto, como se quisesse ler minha mente. — Ou será possível que eu
me enganei e que entrou na minha sala com o intuito de me seduzir,
Senhorita Jones?
— Não! Eu nem te conhecia!
— Acredite, não colocaria nenhum empecilho. — Ele se afasta para
seu lugar de novo, arrumando a gravata.
Ah, que arrogante.
— Certo. Então por que começou?
— Porque você queria. — Ele me encara desafiando-me a negar.
Faço um favor a nós dois e não nego.
Liam esboça um pequeno sorriso satisfeito.
— Estou vendo que a lição sobre mentira foi aprendida. É uma
pena. Estava quase ansiando para abaixar suas calças e lhe dar algumas
palmadas para aprender.
Engulo em seco. Horrorizada e excitada.
Será que fala sério? Ou está só brincando comigo?
Tenho até medo de descobrir!
— Como sabia? — indago num fio de voz.
— O que você queria? Estava escrito em seus olhos. Está escrito em
seus olhos agora. — Levanta a mão e passa o dedo por meus cílios.
Fecho os olhos, respirando com dificuldade.
E ele só tocou os meus cílios!
— E sua boca... — Abro os olhos quando o dedo toca meu lábio
inferior. Ele mira diretamente meus lábios com um olhar semicerrado. “Por
favor, me beija.” é o que eu quero gritar. É o que mais desejo. E espero.
Anseio. Inteira.
Cruzo minhas pernas numa vã tentativa de aplacar o pulsar ansioso
do meu desejo.
— E esse seu rubor... — Sua mão toca meu rosto numa leve carícia
que deixa meu rosto em fogo — é delicioso. — Seu toque desce por meu
queixo até meu pescoço, onde uma veia pulsa enlouquecidamente. — Seu
coração está disparado. Está com medo?
— Estou — confesso num fio de voz.
— Não estava com medo ontem. Achei que fosse fugir correndo
com meu ataque, mas você ficou. Que tipo de presa se coloca a mercê de
seu caçador tão docilmente? — Há uma áspera surpresa em sua voz.
— Por que parou? — Minha pergunta é quase um lamento. Não me
importo nem um pouco naquele momento.
Estou de novo além do bom senso.
— Por um mísero segundo, enquanto estava ali, deitada sobre
minha mesa, nua e a minha disposição, eu me perguntei se bastaria apenas
um ataque breve. Apenas satisfazer a minha fome. Só que eu estava
curioso... intrigado. Você, Senhorita Jones, era um mistério. Era uma...
possibilidade. Eu poderia foder você e mandá-la embora para sempre. Seria
rápido e fácil. No entanto, queria mais.
— Mais? — Minha voz sai trêmula. Meu cérebro repleto de
sensações lutando para encontrar alguma lógica. — Eu não entendo. —
Sacudo a cabeça, tentando dissipar a névoa de desejo que embaralha minha
mente.
E então, o ataque termina.
Ele recolhe as garras. Afasta suas mãos de mim e volta a sua
posição.
Fico olhando para ele toda confusa, enquanto o vejo pegar o celular
digitando furiosamente.
Que diabos foi aquilo?
— Ethan, vamos ao Del Posto.
A gente ia mesmo a um restaurante?
Arregalo os olhos. Posso bem me lembrar de Zoe implorando para
Jackson a levar ao Del Posto, o restaurante que no mês passado ganhou
quatro estrelas do Times. E Jackson dizendo que ela era louca se achava que
ele ia gastar dinheiro num restaurante tão caro e exclusivo.
— Eu não estou vestida para ir num restaurante desse nível —
murmuro preocupada, tendo um surto de Zoe Brandon olhando para meu
jeans velho e rasgado no joelho e meu suéter azul puído.
Liam apenas me lança um olhar despreocupado.
— Podemos facilmente dar um jeito nisso. — Pega de novo o
celular. — Ethan, Quinta Avenida primeiro. Precisamos deixar a Senhorita
Jones apresentável.
Apresentável?
Ele está falando sério?
Tenho vontade de mandá-lo à merda, mas me calo.
De qualquer maneira, deve ter algum furor jornalístico em mim que
explica a curiosidade para ver o que ele pretende dizer com “tornar a
Senhorita Jones apresentável”.
O carro para e Liam desce. Eu o sigo e fico estarrecida ao ver que
estamos em frente à Chanel.
Eu nem tenho tempo de esboçar nenhuma reação, pois Liam segura
meu braço e me puxa para dentro.
Confesso que até aquele momento, pensava que ele não estava
falando sério. Não acreditava nem que estávamos indo a um restaurante de
verdade, quanto mais que eu precisava me vestir de acordo com o ambiente
antes.
Observo confusa uma solícita vendedora se aproximar com os olhos
brilhando.
— Olá, em que posso ajudá-lo?
Liam se apresenta e a mulher arregala os olhos de forma sutil,
possivelmente reconhecendo o nome. Enquanto lança um olhar curioso e
invejoso para mim.
— A Senhorita Jones precisa ser vestida.
A moça sorri de orelha a orelha. Imagino que ela ganhe por
comissão?
— Por favor, me acompanhem. Eu os levarei até o nosso salão
privativo.
Contemplo a minha volta imaginando Zoe ali. Seria como o Natal
para a pobre Zoe, certamente. Isso se ela sobrevivesse até o final, antes de
cair dura no chão com a emoção por ter um bilionário dizendo que vai
“vesti-la” numa loja exclusiva daquelas.
A moça que se apresentou como Kate pede para outra garota que se
chama Cristina nos acompanhar até a tal sala privativa e estou começando a
ficar com medo quando ela nos deixa em uma espécie de sala de estar com
confortáveis poltronas marfim, cortinas de seda e tapetes persas.
— Fiquem à vontade, desejam beber alguma coisa?
Liam nega com a cabeça.
— Apenas nos traga as roupas para a Senhorita Jones.
— Claro. Se o senhor nos disser o que gostaria — ela não pergunta
para mim, e sim para Liam.
Não que eu saiba o que responder, o que me deixa um tanto irritada.
— O que você tiver de melhor. E lingeries.
Arregalo os olhos e, quando estou pronta para dizer um “nem
pensar”, a garota já desapareceu porta afora.
— Realmente não é necessário... — Consigo dizer depois de alguns
segundos de completo atordoamento.
— Disse que não estava vestida adequadamente para nosso almoço.
— Eu nem achei que fôssemos almoçar de verdade!
— Não seja impertinente, Senhorita Jones.
— Concordei em sair com o senhor para uma entrevista para o
jornal e não...
— Ainda terá sua entrevista. Quando almoçarmos no Del Posto.
Depois que estiver vestida adequadamente.
— Aqui está. — Cristina e Kate entraram no recinto empurrando
uma arara cheia de roupas — Podemos ajudá-la e explicar...
Liam a interrompe.
— Deixem-nos a sós. — Ele as dispensa com um aceno.
As moças se apressam em sair sem questionar.
— Não tenho o dia inteiro, Senhorita Jones — diz impaciente com a
minha inércia e o encaro confusa.
— O que quer que eu faça?
— Que experimente as que lhe agradarem.
— Na sua frente? — quase grito.
Ele sorri. Perigosamente.
— Eu já a vi nua, Senhorita Jones. E quero ver de novo.
Sua voz acaricia minha pele fazendo-a arrepiar.
Por alguns instantes apenas nos encaramos. Seu olhar me
desafiando a dizer não. Procuro as palavras de negação dentro de mim e não
as encontro.
Eu me levanto e vou até a arara cheia de roupas. Há alguns cabides
com lingeries. Passo os dedos por um conjunto branco de renda e seda.
— Não sou um homem paciente, Senhorita Jones. Você não vai
querer que eu me levante para colocar essa roupa em você. — Estremeço
com a ameaça velada e o encaro.
Ele continua sentado, esperando.
Desvio o rosto para baixo e tiro minha blusa com um puxão firme
sobre a cabeça. Meu jeans segue o mesmo caminho. Mordo os lábios ao
retirar meu sutiã de algodão e hesito ao enganchar os dedos na calcinha.
Arrisco um olhar em sua direção, perdendo o ar ao ver que ele tem a mão na
sua óbvia ereção por cima da calça, se acariciando lentamente.
Oh. Meu. Deus.
Seu olhar ansioso sobre mim me deixa em brasa. Ele quer me ver.
Está ansiando por isto. Essa constatação age como droga em minha
mente. Sinto-me linda de um jeito que nunca imaginei ser possível. E tem
tudo a ver com aquele cara na minha frente. Tão diferente de mim como
água e vinho.
Arrogante. Autoritário. Dominador.
Tudo o que em sã consciência eu abominaria.
E por quem me sinto estranhamente atraída.
A única coisa que eu sei é que nunca, nunca me senti assim antes. E,
por mais que meu instinto de autopreservação esteja gritando para eu me
afastar e fugir, há algo nele que me leva em sua direção. Direto para o
perigo.
Eu sou a presa e ele é o predador.
O leão e o cordeiro.
Caminho em sua direção. Sinuosamente. Seu olhar está preso em
meu corpo.
Paro na sua frente. Sinto seu hálito quente em meu ventre.
Como um animal, ele me aspira. Sente o cheiro de sua presa. Sinto
seu nariz na pele da minha barriga, me inalando, deslizando por minha
cintura. Vejo seus cabelos de fogo e meus dedos coçam para tocá-los.
Levanto minhas mãos para fazer exatamente isso, porém, antes que elas
encontrem seu destino, ele segura meus pulsos e os leva para trás das
minhas costas.
— Por que estou aqui. De verdade?
— Eu quero você. Você quer que eu queira você. — Sua voz sai
abafada contra meu ventre.
Estremeço.
— Eu não... — Eu me lembro o que ele disse sobre a mentira.
— Ah, você entendeu. — Ele me encara. Quase furiosamente.
Pergunto-me se é com aquele olhar que ele fecha um negócio. — Então
vamos ser honestos. Você não pensou nisso? Não imaginou como seria? Eu
e você?
— Eu tive muitos orgasmos pensando em você — confesso. —
Tantos que nem posso contar. É o que queria ouvir?
Rosna e morde minha barriga. Dói.
Ele lambe onde mordeu.
Excita.
Forço meus braços para me libertar. Ele segura com mais força e
volta a me encarar.
Estou ofegante. Trêmula. Excitada.
— Esse seu olhar ainda vai ser a sua morte, Senhorita Jones. Ou a
minha. — Solta meus braços. — Agora vá se vestir como uma boa menina.
E para minha completa confusão, se levanta e pega o celular que só
agora percebo que está vibrando. E, para minha surpresa, vislumbro a
minha foto em sua proteção de tela.
O quê?
— Nós nos encontraremos para o jantar.
E assim, pela segunda vez em 24 horas, Liam Hunter me deixa
quase nua e sozinha.
Qual é o problema desse cara?
Capítulo 6

Ainda estou parada no meio do elegante salão, tentando entender


que diabos tinha acontecido para Liam Hunter, de novo, ter me deixado
plantada depois de quase me seduzir, quando escuto um pigarro e me viro
para ver as duas vendedoras bonitinhas me encarando curiosas.
— O Senhor Hunter pediu para verificar se precisa de ajuda —
Cristina diz.
— Ele disse que pode escolher o que quiser e para não se preocupar
com o preço. — Kate tem um tom de inveja e admiração na voz enquanto
me mede, certamente tentando entender o que um homem como Liam
Hunter viu em mim.
— Precisa de ajuda? — Cristina insiste diante do meu silêncio
aparvalhado. Sua voz já um tanto áspera, o que a faz levar um olhar de
advertência de Kate.
— Estamos à disposição, caso prefira escolher sozinha sinta-se à
vontade...
— Não! — Finalmente consigo encontrar minha voz. — Na verdade
eu não faço ideia do que escolher. — Engulo o orgulho, limpo a garganta e
sorrio amarelo. — Aceito ajuda.
As duas sorriem satisfeitas.
— A que tipo de evento irão?
Como elas sabiam?...
— Um jantar.
Devo dizer que sou uma repórter e que este jantar é apenas para
uma entrevista?
A quem eu quero enganar?
A entrevista, assim como o jantar, é apenas uma desculpa para que
eu possa ficar à mercê de Liam novamente, seja lá para o que fosse.
Só espero que ele não desapareça como uma figura mítica criada
pela minha imaginação fértil.
Eu preciso desesperadamente que ele fique.
Que ele me mostre...
Não consigo nem concluir o pensamento, tamanha a minha euforia e
ansiedade.
— A senhorita está vermelha, sente-se bem? — Cristina indaga
curiosa e sorrio sem graça.
— Está um pouco quente aqui...
— Acho que esse é apropriado. — Kate me mostra um vestido
verde. — Vai ficar bem em você.
Aceito a sugestão e coloco o vestido. Curto e justo na medida certa
para deixar meu corpo interessante. Com certeza nunca vesti algo tão lindo
e caro na minha vida. E certamente não tão sexy.
— Vocês têm bom gosto. Ficou ótimo.
— E a lingerie?
Coro violentamente.
Deus! Devia estar escrito no meu rosto “virgem idiota” neste
momento.
— Qualquer uma. — Faço um aceno de descaso com a mão e as
duas trocam olhares que parecem dizer “ela é louca”?
Já me apressando a vestir minhas roupas comuns.
Quando saio da Maison sou surpreendida mais uma vez naquele dia
por encontrar o lindo carro de Liam Hunter e seu motorista, ou seja lá o que
o tal Ethan era, me esperando.
— Senhorita. — Estende a mão e pega as sacolas colocando-as no
banco traseiro e faz um sinal para eu entrar.
— Não sei se devo ir com você — digo ressabiada como uma
criança sendo seduzida por um senhor mal-intencionado para entrar no seu
carro oferecendo um pirulito.
— Liam deixou ordens expressas para que fosse levada para casa.
— Hum... Liam é bem mandão, não é? — Rosno entre irritada e
indulgente e, para minha surpresa, Ethan solta uma sonora e gostosa
gargalhada.
— Sim, ele é. E ele também fica bastante furioso quando suas
ordens não são cumpridas, então faria um grande favor a mim se entrasse
no carro e me deixasse levá-la para casa.
— Certo Ethan... É este seu nome, não é?
— Sim, senhorita.
— Emma. Meu nome é Emma, não me chame de senhorita.
Ele meneia a cabeça.
— Emma. Um belo nome para uma bela moça.
— Está flertando comigo, Ethan? — Franzo os olhos, divertida.
— Eu gosto muito do meu pau, senhorita.
Franzo ainda mais meu cenho, horrorizada com a observação e
Ethan explica divertido.
— Liam cortaria meu pau fora se eu desse em cima da garota dele.
— Garota dele?! — Meu rosto cai de incredulidade. — Foi o que
ele disse?
— Não precisava dizer.
— Eu não sou a garota dele! — rebato.
Ethan sorri indulgente. Como se soubesse de algo que eu não sei.
Certamente quem não sabe de nada é ele!
— Não sei o que o seu chefe te disse, mas sou apenas uma repórter,
vou fazer uma entrevista e...
— Não me deve explicações, Senhorita Jones. — Ethan faz sinal de
novo para eu entrar no carro. — Vou somente levá-la pra casa.
Eu bufo e, em vez de entrar, dou a volta e abro a porta da frente,
sentando no banco do passageiro, ao lado do motorista.
Vejo Ethan hesitando e tenho certeza que o desconcertei, então ele
se dá por vencido e toma seu lugar.
Ficamos em silêncio enquanto ele dá partida. O trânsito já está
caótico naquela hora e suspiro. Será um longo caminho com todo aquele
congestionamento.
— Será que tem um rádio neste carro? — pergunto enquanto Ethan
mexe em alguns botões e levo um susto com o som do rock pesado que
começa a tocar.
— Jesus Cristo, que diabo é isso? — Aperto os botões tentando
abaixar.
Ethan ri divertido e abaixa o som.
— Não gosta de Nine Inch Nails?
— Nunca ouvi falar.
— Liam gosta.
Fico curiosa de repente.
— Sério? Então vocês percorrem as ruas da Manhattan ouvindo
rock experimental? Que curioso.
— Mais ou menos isso. Pode mudar se quiser. Só apertar o botão da
direita.
Mexo e acho uma música da Sia.
Sorrio satisfeita ao ver o olhar de tédio de Ethan.
Garotos!
Eu o observo de soslaio. Ele chamava Liam pelo primeiro nome e
parecia conhecê-lo bem.
— O que você é realmente? O motorista?
— Também.
— Quando o vi na porta do Thomas achei que fosse o segurança.
— Também.
— Então você é um misto de segurança e motorista?
Ele não responde.
— Há quanto tempo conhece Liam?
— Há muito tempo.
— Quanto?
— Muito.
Eu bufo e cruzo os braços desistindo de fazer perguntas. Sou mesmo
uma péssima jornalista, definitivamente.
O trânsito para e escuto meu estômago roncar, o que me faz lembrar
que nem almocei. Que ótimo!
— Com fome? — Ethan pergunta solidário e sacudo a cabeça
afirmativamente, e lanço a ele um sorriso esperançoso.
— Acho que tem um drive-thru logo à frente.
Sua expressão é de “nem pensar”, então uno minhas mãos numa
súplica quase infantil.
— Por favor! Liam não vai gostar nada de saber que me deixou com
fome.
— Puta merda, Liam está ferrado com você, garota! — Desvia o
carro para a entrada do drive-through e sorrio toda feliz.
Minutos depois estou saboreando um milk-shake de morango e
batatas fritas enquanto Ethan tenta costurar o trânsito.
— Obrigada. Você é um cara legal. — Percebo que por mais que
queira ficar sério, seu rosto se distende num sorriso. Eu lhe passo meu milk-
shake e ele aceita. — Diga-me Ethan, como um cara legal como você
aguenta alguém como Liam Hunter? Ele parece ser um pé no saco!
Ethan engasga com o milk-shake.
— É sério! Eu o conheço há tipo 24 horas e ele foi grosso, mandão
e mal-humorado comigo tantas vezes que nem consigo contar!
— Então o que está fazendo aqui? — Ethan pergunta suavemente
me encarando com um olhar astuto.
Coro desviando o olhar.
— Já disse. Uma entrevista — respondo, nós dois sabemos que é
uma mentira. — E, depois desta noite, provavelmente ele nunca mais vai
querer me ver novamente.
Mordo os lábios, sem saber lidar com o peso no meu estômago que
aquela constatação me causa.
— E você gostaria de vê-lo novamente?
Gostaria?
Eu mal sei o que estou fazendo ali, me colocando à mercê de um
cara sedutor e irascível, que num minuto me atraía e no outro me
dispensava sem a menor explicação.
Como posso saber o que eu quero realmente?
A única coisa que sei é que nunca me senti assim antes. E que ainda
não estou preparada para voltar a ser a Emma racional e sensata de sempre.
Quando Liam está perto de mim eu me sinto viva.
Como irei me sentir amanhã, quando tudo tiver acabado?
Ele vai sugar toda vida para fora do meu corpo e o que vai sobrar?
Estremeço subitamente amedrontada.
Dali para frente, dou nossa conversa por encerrada, permanecendo
em silêncio, perdida em meus próprios pensamentos.
Ethan estaciona em frente ao meu prédio algum tempo depois e abre
a porta pra mim. Eu saio e ele me entrega as sacolas. Tenho vontade de
recusar. Deixar tudo para trás, até mesmo Liam Hunter e a loucura que se
apossou de mim desde que o conheci.
— Sua cara é de quem pretende fugir.
Encaro Ethan, sem esconder a confusão de meu olhar assustado.
Ethan coloca as sacolas em minhas mãos.
— Eu gosto de você, Emma, por isso devo alertar que o melhor a
fazer é mesmo correr e se esconder. Por outro lado, também conheço Liam
Hunter. Ele é um caçador. Ele vai te caçar. E vai te encontrar. Não adianta
nada tentar fugir. Ele já está além da razão.
— O que quer dizer com estar além da razão? — indago baixinho.
Ethan sorri e abre a porta do carro. Eu penso que ele não vai
responder e, assim como seu chefe, vai me deixar ali pregada sem respostas,
então ele me encara antes de entrar no carro.
— Quero dizer que quem deveria tentar fugir é ele. O caçador vira a
caça quando menospreza sua presa. Boa tarde, Senhorita Jones.
E assim, com essas palavras enigmáticas, Ethan entra no carro me
deixando parada ali sem entender nada.
— Onde diabos se meteu? — Zoe pergunta quando entro em casa e
jogo as sacolas no sofá. — Eu te mandei várias mensagens, não viu?... Oh
meu Deus, é uma sacola da Chanel?
Apenas vejo braços estendidos passando por mim e atacando as
sacolas, enquanto me sento lentamente, tentando respirar.
— Estava na Chanel? Como conseguiu? Ai meu Deus, que vestido
lindo... — Ela me encara com os olhinhos fashionistas arregalados,
rapidamente sua expressão muda para preocupada. — O que foi?
Só então eu percebo que estou chorando.
— Emma, querida, está me assustando. Você... Ai meu Deus, você
entrou na loja e roubou estas roupas é isso?
Solto um riso engasgado, enxugando o rosto.
— Não seja tola, Zoe!
— Então por que está chorando?
Respiro fundo.
— Sim, eu estava na Chanel. E eu ganhei essas roupas... de Liam
Hunter.
O queixo dela cai no chão.
— Cala a boca! — grita chocada. E então começa a rir. — Ah,
quase me enganou! Agora conta a verdade...
— É sério. É muito sério, Zoe.
— Está querendo me dizer que o Leão de Wall Street, um dos caras
mais ricos da cidade, o lindo e inalcançável Liam Hunter te levou na
Chanel?
— Sim é basicamente isso.
— Como pode... você fez uma entrevista com ele ontem e... Wow,
foi isso? Ele ficou tão a fim de você que te levou pra fazer compras hoje?
Porra, Emma, estou... passada!
— Não é bem assim... Na verdade ele apareceu na redação hoje
dizendo que ia me conceder a entrevista porque ontem... — Coro sem saber
o que dizer a Zoe. — Bem, não deu muito certo e então ele disse que
podíamos sair para um almoço.
— E como foram parar na Chanel?
— Eu disse que não estava vestida adequadamente para ir ao Del
Posto.
— Ele te levou no Del Posto? — ela grita.
— Não... tudo acabou na Chanel.
— Está me dizendo que ele te achou malvestida, algo com o qual
não posso deixar de concordar e te levou para comprar este vestido fabuloso
numa das lojas mais caras da cidade?
— Exatamente.
— Não é só isso não! — Ela segura meu rosto. — Não tente me
enganar. Eu já entendi tudo. Ele está interessado em você.
— Talvez — respondo com cuidado, me afastando um pouco —
haja algum interesse... Ele disse que vai me levar para jantar.
— Wow, ele quer foder você!
— Provavelmente — concordo corando.
— Isso tudo é tudo tão... surreal! Quer dizer, olhe pra você...
— Eu sei... — Eu me encolho.
— Não estou dizendo que é feia, sua boba! Sabe muito bem que é
bonita! Mas... É tão inocente! Você nunca nem transou de verdade com um
cara, Emma. Um homem como Liam Hunter vai te devorar viva e jogar os
restos fora!
— Está exagerando...
— Então vai me dizer que ele não está fazendo tudo isto... — ela
roda a calcinha rendada preta na minha frente — para te levar pra cama?
— É só... eu me sinto atraída por ele, ok?
— Quão atraída?
— Muito — confesso — demais. Muito mesmo. — Nem ouso
contar a Zoe as coisas que eu tinha feito, como ficar nua na sala dele e
deixá-lo me tocar ontem e hoje. Ela certamente me daria uns tapas na cara
para eu deixar de ser vadia, ou algo assim.
— Ah, Emma, nem sei o que dizer — diz com voz de pena. — E se
fosse outra garota, eu diria “vá em frente, transe com o milionário gostoso,
ganhe presentes caros e me dê alguma coisa, claro.”. Porém... tenho medo
por você.
— Por quê? Por que eu não posso ser igual a qualquer garota pelo
menos uma vez na vida?
— Porque Liam não é qualquer homem. E você estava chorando
agora porque sabe muito bem disso.
— Eu me sinto... diferente com ele. Eu sei que tipo de homem ele é.
Ao mesmo tempo não consigo me afastar. É quase... Uma compulsão.
— Ai, amiga! — Ela aperta minhas mãos. — O que vai fazer?
— Eu sei que o Liam não é um cara pra mim e que tudo isso é
loucura. E ele é tão estúpido, grosso e mandão! Eu devia odiá-lo! Acho que
tem uma parte de mim que odeia mesmo.
— É, mas sua perseguida pensa diferente da sua cabeça.
— Zoe! — Eu rio ficando vermelha.
— Sabe o que eu acho? Que deveria sim ser uma garota como
qualquer outra! Só que não com Liam Hunter.
— Não?
— Não! Se ele é tão cretino como diz, não devia sair com ele! Nem
por um Chanel!
— Acho que tem razão...
— Acho que deveríamos sair hoje. Sim, é isso. — Ela se anima. —
Vamos a uma boate! Vou deixar você linda. Você vai se divertir, dançar e
flertar com todos os garotos bobos como todas nós fazemos uma vez na
vida!

***

Eu me sinto nervosa enquanto Zoe me puxa por entre as pessoas


numa boate exclusiva da cidade até uma mesa onde estão alguns amigos
dela.
— Ei, gente, esta é minha amiga Emma!
Nós nos sentamos e eu dou um oi geral.
Zoe me apresenta a um cara chamado Paul que abraça uma moça
morena que se chama Rachel e do lado deles há um rapaz bonito que Zoe
apresenta como Tristan.
Ele me mede com óbvio interesse.
Eu me sinto incomodada.
— O que vão beber? — Tristan pergunta.
— Cosmo para nós duas! — Zoe grita.
— E então Emma, o que faz? — ele pergunta enquanto Paul e
Rachel estão se amassando e Zoe olha sua imagem num pequeno espelho.
— Eu sou estagiária no New Your Morning. Falta pouco para eu me
formar.
— Sério? Eu sou jornalista também.
— Pensei que trabalhasse com Zoe. — Zoe era consultora de
compras da Bloomingdale’s, desde que se formou no ano anterior.
— Ah, Rachel é colega da Zoe, eu sou colega do Paul no Times.
— Times? Sério? Uau!
— Ótimo partido — Zoe sussurra no meu ouvido o garçom se
aproxima com nossas bebidas.
Brindamos e tomo tudo rápido, pedindo outra.
Tristan é um cara legal e está nitidamente flertando comigo. E eu
estou rindo de suas piadas e tentando demonstrar que estou interessada
também, enquanto bebo mais e mais para me soltar.
Só tem um probleminha e ele deve estar muito puto comigo naquele
momento por eu ter simplesmente mandado um curto e grosso “Jantar
desmarcado. E.” para o seu número sem maiores explicações. E claro,
depois eu desliguei o celular para evitar retaliações.
Eu me senti muito corajosa naquele momento, tomando margaritas
com Zoe, enquanto ela me maquiava e fazia um penteado selvagem no meu
cabelo.
— Vai usar o Chanel — Ela sugerira.
— Nem pensar!
— Vai sim! Foi um presente, oras!
E assim, eu me deixara convencer não só a usar o vestido como
também a lingerie caríssima e sexy que Liam me coagira a comprar. Para
ele.
E agora ele não iria ver nada disso.
Tento controlar o vazio no meu peito que este pensamento traz.
Eu tinha feito a coisa certa. Demonstrei atitude!
Posso ser inocente naquele jogo, mas não vou deixar Liam Hunter
me mastigar e jogar fora como um cordeirinho qualquer.
Tomo mais um gole da minha bebida para aplacar a dorzinha no
meu peito. Que porra!
Por que em vez de estar me divertindo, estou pensando como teria
sido se eu tivesse ido jantar com Liam? Será que ele me levaria para sua
casa depois? Provavelmente não. Ele me levaria para algum hotel caro e
luxuoso. E tiraria minha roupa como fez em seu escritório e me tocaria
como...
— Emma, estou falando com você! — Volto à realidade com o grito
de Zoe.
— Me desculpe, o que foi?
— Estou dizendo que tem uns recados no seu celular que talvez
gostasse de ver...
Pisco horrorizada ao ver o meu celular bem ligado em sua mão.
— Me dá isso aqui, por que ligou?
— Eu te pedi, não ouviu? Acabou a bateria do meu, e quero ligar
para o Jackson...
— Oh Droga... — Desbloqueio e vejo o número. Dele. Claro.
Penso em desligar de novo, a curiosidade é mais forte.
Mal respiro ao abrir a primeira mensagem.
“Espero que não esteja querendo dizer que está cancelando
nosso jantar, Senhorita Jones. Eu não gosto que cancelem os meus
compromissos.”
Ah, que presunção!
“Passarei às 21h na sua casa.”
Tenho vontade de rir.
“Senhorita Jones, estou em frente a sua casa, por favor, não me
faça ir até aí te buscar. Não irá gostar disso.”
Imagino Liam Hunter furioso e bufando de impaciência em seu
lindo carro.
“Seu porteiro é um cara legal, Senhorita Jones. Para sua
segurança, talvez sua amiga devesse ser mais discreta e não mencionar
onde estariam indo esta noite.”
— Zoe, você disse ao John para onde estávamos indo? —
interrompo sua conversa sobre shampoo com Rachel.
— Claro que sim, sempre digo, é quase uma medida de segurança.
Oh Merda. Merda. Merda.
Volto para as mensagens e quase desfaleço com a próxima.
“Está bebendo muito, Senhorita Jones. E sorrindo muito.
Embora eu deva admitir que está deslumbrante com esse vestido.”
Corro o olhar em volta, apavorada. Não vejo nada a não ser um rio
de pessoas desconhecidas.
“Estou muito, muito furioso com você, Senhorita Jones. Lembra
sobre o que eu disse a respeito de punição?”
Oh Deus!
Meu coração começa a martelar no peito.
Olho em volta de novo. Nada.
Uma nova mensagem pisca. Com as mãos trêmulas eu aperto para
ler.
“Não te contaram que não se deve provocar um predador,
Senhorita Jones? Não pense só por um minuto que eu desisti de caçá-la.
Sua vã tentativa de fuga apenas tornou a caça mais... interessante.”
E agora? O que eu respondo?
Bebo meu copo de cosmo quase inteiro. Minha cabeça roda.
— Vamos dançar Emma! — Zoe me puxa pela mão e não ofereço
resistência seguindo-a para o meio da pista.
Em algum lugar naquela boate meu predador me observa. Se
preparando para o ataque. Estou com medo.
Também estou aguardando por isso ansiosamente.
Deixo Zoe e Rachel me guiarem. Meus passos são meio incertos,
lânguidos. Enquanto me movimento na pista, me pergunto se ele está me
vendo. Meus olhos passeiam febris em volta, querendo encontrá-lo.
Precisando encontrá-lo.
Acima de nós há um palco e duas garotas riem e dançam em volta
de um poste de pole dance.
— Vamos subir — grito para Zoe e Rachel e elas riem.
— Não, está maluca?
— Eu vou! — Estendo o braço e uma das garotas me puxa, me
encorajando a dançar com elas.
Sorrio, minha mente cheia de álcool entorpece qualquer vergonha
que eu possa ter e me movimento ao som da música.
Então sinto como se um ímã invisível me puxasse e arrasto o olhar
na direção do magnetismo.
E lá está ele. O meu leão de cabelos cor de cobre e olhar desafiador.
Sentado em um camarote exclusivo, ele reina sozinho em seu
espaço onde ninguém ousa se aproximar.
Vestido todo de preto e os olhos brilhando em minha direção.
E é como se todo mundo desaparecesse e restasse só ele.
Eu não percebo quando as garotas a minha volta desistem e saem do
pequeno palco. continuo dançando ao som da música que fala sobre
monstros, anjos e inocência perdida. Quero que ele me veja. Que saiba que
não estou fugindo mais. Não me importo nem um pouco com a minha
inocência perdida.
Estou me rendendo à perdição.
A música muda subitamente e abro os olhos e ele não está mais lá.
Que diabos?...
— Ei, Emma, vamos voltar pra mesa — Zoe me chama e pulo do
palco, procurando a minha volta. Não há nenhum sinal.
— Vá na frente eu vou ao banheiro.
— Quer que eu vá com você?
— Não, eu já volto.
Eu me enfio no meio da multidão, procurando, sem encontrar nada
até que de repente as luzes se acendem. A multidão grita e o DJ fala com
voz tensa.
— Por favor, a casa está fechando. Temos um problema técnico.
Pedimos que todos se retirem. Os seguranças os ajudarão a encontrar a
saída mais próxima.
As pessoas começam a passar por mim, ansiosas para saírem
enquanto reclamam. Tento voltar à mesa de Zoe, mas de repente, uma mão
de aço segura meu braço.
Fico surpresa e aliviada ao ver Ethan.
— Você vem comigo...
— Mas...
Ignorando minha confusão, ele me leva até perto do bar no fundo da
boate.
— Sente-se e espere.
— Preciso encontrar minha amiga Zoe...
— Cuidaremos disto. — É sua resposta fria.
Eu fico ali, esperando.
Ainda me sinto bêbada e zonza.
E mais confusa agora.
Muito rápido, a boate vai se esvaziando até não restar mais ninguém
a não ser Ethan e eu.
E agora já imagino o que está acontecendo, quando as luzes voltam
a baixar. O som volta a tocar e Ethan segura meu braço e me leva de volta
para a pista.
— Boa noite, Senhorita Jones — diz de forma solícita, apesar de
muito sério, e se afasta.
— Ethan...
Mas ele já se foi e quando olho em volta, vislumbro Liam sentado
no mesmo lugar de antes.
Me esperando.
— Você mandou esvaziar a boate. — Não é uma pergunta.
Ele segura um copo de uísque levando-o à boca.
— Estava apreciando seu show.
Engulo em seco.
— Eu dancei só pra você — murmuro.
Ele sorri lentamente. Perigosamente.
— Eu sei. Embora não tenha gostado de ver outros apreciando o
mesmo que eu. O seu corpo, Senhorita Jones, é só para meus olhos a partir
de agora.
Começo a arfar, estremecendo de choque e prazer.
Ele se recosta no sofá. Apreciando. Esperando.
Me sinto hipnotizada.
Minhas pernas se mexem quase que automaticamente em sua
direção.
Sinto a música em meus ouvidos.
Liam me chamando. Seu olhar me percorre.
Paro diante dele e fecho meus olhos, seguro meus cabelos e me
movo para ele.
— Você é a criatura mais bonita que eu já vi. — A sua voz
sussurrada entra em meu ouvido como uma carícia, esquentando por onde
passa, me entorpecendo mais que o álcool que já domina meu sangue.
De repente suas mãos grandes estão na minha cintura e quase
bruscamente, ele me vira.
Eu continuo a me mover, abaixando meus quadris sinuosamente até
seu colo.
Sua ereção me recebe com um gemido de Liam.
Puta. Que. Pariu!
Inclino-me para trás, me segurando no sofá, não me rendendo
totalmente.
— Está gostando de me provocar, Senhorita Jones? — Seu hálito
quente, esquenta minha orelha. Ele está ofegante e respondo roçando ainda
mais nele.
Sua excitação está me deixando louca e estou derretendo de dentro
para fora. Eu me afasto de seu colo e o encaro por sobre meus cílios.
— Não deveria me tocar. Não há regras para este tipo de dança? —
sussurro e seus olhos brilham.
— Então é essa brincadeira? — Ele se recosta, as mãos longe de
mim. — Confesso que é inesperado. Eu vou permitir que brinque comigo
hoje, Senhorita Jones. Só esteja ciente que cobro em dobro depois.
Estremeço com sua ameaça velada e também de excitação.
Liam Hunter é meu esta noite. Vai me deixar brincar com ele.
O problema é que ele já está brincando comigo desde antes de eu
saber que estávamos naquela brincadeira.
E por mais que ele esteja se submetendo a mim agora, sei que ele é
um mestre neste jogo, mas nem esse pensamento me faz recuar. Faz
somente com o que o pulsar entre minhas pernas e o bater desenfreado do
meu coração fique mais forte. Mais intenso.
Mordendo os lábios, me movo para seu colo...
Capítulo 7

Estou deslumbrada com sua proximidade.


Já estive perto antes, mas não assim, com ele tão subordinado ao
meu escrutínio. Seus olhos brilham em desafio, porém, como numa lap
dance tradicional, suas mãos estão longe.
Por um momento, sinto-me meio perdida com aquela inversão de
papéis, minha hesitação dura apenas alguns segundos, pois a constatação de
que ele está ali, a meu dispor, embriaga meus sentidos.
Sentindo-me destemida, levo as mãos ao seu rosto magnífico.
— Você é lindo — murmuro quase num fervor religioso,
assombrada com sua beleza perfeita e toco as manchas escuras embaixo de
seus olhos. — Você não dorme.
— O dinheiro nunca dorme.
— Todo mundo precisa dormir.
— Não sou todo mundo. — Sua voz presunçosa vibra entre nós e
estremeço.
Desço meus olhos para sua boca. Quero que ele me beije. Tanto que
sinto meus lábios se entreabrindo e passo a língua entre eles, quase
salivando.
Será que ele sente também? Essa eletricidade estranha e ao mesmo
tempo sublime que faz com que eu feche os olhos e me aproxime querendo
sentir mais do seu hálito em minha língua?
No entanto, antes que o beijo aconteça, me vejo sendo retirada do
seu colo bruscamente e jogada sem a menor cerimônia para o lado,
enquanto o observo, estupefata, atender ao celular.
Puta que pariu. Sério? De novo?
Liam escuta sabe Deus o que estão dizendo do outro lado e sinto um
fio de raiva percorrer meus nervos.
Pego um copo em cima da mesa e tomo de uma vez só, não me
importando com a queimação em minha garganta.
— Eu quero que resolva. — Sua voz está seca e fria, eu teria medo
se fosse a pessoa do outro lado. — Se quiser estar vivo amanhã — completa
e estremeço.
O que vai acontecer? Ele vai dizer que tem alguma coisa muito
importante para fazer e me deixar plantada ali como sempre?
— Não quero saber de suas desculpas — ele continua —, não te
pago para me dar desculpas, e sim resultados, porra!
Engulo em seco e olho em volta. A boate vazia. As luzes fracas
tremulando a nossa volta. A música sexy tocando. E para o homem ao meu
lado.
Ele murmura impropérios ao telefone, cheios de uma irritação fria.
Será que a pessoa do outro lado não sabe que Liam Hunter é um predador
implacável que consegue tudo o que quer sempre?
Ele me queria e aqui estou.
Esperando.
A questão é que eu nunca fui conhecida como uma pessoa muito
paciente. Uma vez quando eu tinha seis anos, Margot, minha mãe, se
atrasou para me buscar na escola e fui embora sozinha. Eu morava a cinco
quarteirões e me perdi.
Eu estava tão cansada de esperar que preferi correr o risco de me
perder do que continuar esperando.
É assim que me sinto agora.
Com uma determinação nascida do álcool, me movo para seu colo
de novo. Liam se desconcerta com meu ato impensado e aproveito de sua
desorientação momentânea para enganchar meus braços em volta de seu
pescoço, lançando meus quadris audaciosamente contra os dele.
Seus olhos brilham de excitação, mas eu sei que ele não vai me
deixar desconcentrá-lo de seja lá o que esteja rolando com o pobre coitado
ao telefone.
No entanto, estou determinada a conseguir mais do que um “até
logo, Senhorita Jones” desta vez.
Então, me inclino e mordo sua orelha, rolando meus quadris contra
sua ereção de novo. A fricção é deliciosa.
— Desliga o telefone — sussurro petulante.
— Porra — ele rosna, eu sorrio secretamente, me embriagando com
seu cheiro único que aspiro contra seu pescoço.
Sua mão livre segura meu quadril e sei que ele quer me tirar dali,
enrosco meus dedos nos seus cabelos e o encaro.
Ele está com raiva.
E excitado.
E eu estou além da razão.
— Por favor, Liam — sem perceber, digo seu nome pela primeira
vez — por favor... — meus quadris estão se movendo por vontade própria
agora, não para mantê-lo cativo, e sim porque a fricção é deliciosamente
viciante e faz um fogaréu se espalhar por meu ventre.
Por alguns segundos eu espero temerosa que tudo acabe.
Com um rosnado raivoso, Liam segura meus quadris com mais
força e me aperta contra ele.
— Sim — murmuro fechando os olhos e jogando a cabeça para trás,
perdida de prazer.
— Brady, nos falamos depois.
Escuto Liam dizer como se estivesse vindo de muito longe, não me
importo, estou caindo numa doce inconsciência.
Então, sinto sua mão rudemente em minha nuca, puxando meus
cabelos me puxando para perto de novo. Abro os olhos para encontrar sua
expressão feroz, embora incontestavelmente excitada.
— É isso que deseja, Senhorita Jones? — Sua outra mão está no
meu quadril, apertando e ditando um ritmo mais forte.
Puta Merda. Sinto o roçar de sua ereção em minha parte mais
íntima, mesmo por cima do tecido da calcinha de renda e de sua calça cara e
é o suficiente para me deixar à beira do precipício.
— Oh, inferno, sim! — gemo incapaz de parar. É como se minha
mente se desligasse do corpo. Sinto-me hipnotizada por seu olhar selvagem,
seu aperto rude em meus quadris e sua mão puxando meus cabelos. Estou
embriagada pelo o que ele me faz sentir.
Nossos movimentos se tornam mais agressivos, mais urgentes, seu
olhar mais ferino. Ah sim. Ele está no mesmo ritmo que eu. Sente o mesmo
que eu.
E eu sei que ele também vai gozar comigo quando seu aperto se
torna mais brutal e arquejo, fechando os olhos, incapaz de conter a onda de
espasmos que tomam meu corpo de assalto. E gozo forte e
inesperadamente.
Estou tonta e alguns tremores de prazer ainda reverberam por meu
corpo quando abro os olhos e encontro o rosto de Liam. Ele está ofegante
igual a mim e seu olhar é obscuro.
Não consigo decifrar sua expressão. O que deixa meu estômago
enjoado.
Aquilo foi... inesperado.
Meu coração ainda bate descontrolado e minha cabeça gira me
fazendo constatar o quanto estou bêbada.
— Oh Deus — murmuro.
Por que ele não fala nada?
Eu nunca estive numa situação como essa. Eu já saí com caras
antes. Já dei muitos amassos antes, mas nunca, nunca deixei chegar a...
isso!
E agora eu não sei como agir.
Sinto-me constrangida, perdida e com uma necessidade urgente de
me afastar e tentar me recompor.
— Eu preciso... — Saio do seu colo me arrastando no sofá, sentindo
tudo girar. — Oh Droga, estou muito bêbada...
— Sim, você está bêbada, Senhorita Jones — ele finalmente diz
num tom que eu também não consigo definir, que pode ser reprovação e...
aborrecimento?
Ele está bravo... comigo?
Eu o encaro, a fim de dizer uns bons desaforos, então sinto minha
cabeça rodando ainda mais e a última coisa que vejo antes de tudo escurecer
é o olhar estranho de Liam Hunter.
***

Sinto-me desorientada ao acordar.


Abro meus olhos devagar. A luz do dia incomoda minha retina e
solto um gemido, me sentando penosamente e avalio em volta.
Estou num quarto estranho.
Estranho e lindo.
Estou na casa de Liam Hunter.
Essa constatação bate em mim e me deixa alerta. Olho para os
lados. Estou sozinha. Não há ninguém no quarto bonito, muito menos na
cama comigo.
Tento me lembrar do que aconteceu ontem, meu rosto se tingindo de
vermelho quando me lembro das bebidas na boate. Da minha dança, de
Liam Hunter aparecendo e esvaziando o local para que eu dançasse somente
para ele.
E eu dancei. E muito mais.
Oh. Meu. Deus! Cubro o rosto com as mãos, envergonhada e
estupefata com o meu descaramento.
Nunca mais vou beber nada vida. Nunca mais.
E que diabos aconteceu depois? Eu me lembro vagamente de me
sentir tonta e insegura com a falta de reação de Liam.
E depois... nada.
Eu tinha apagado?
Por que Liam tinha me trazido para sua casa?
E o que havia acontecido? Sinto um calafrio de medo e olho para
mim mesma, notando que ainda uso a lingerie cara da Chanel.
E só.
Onde estão minhas roupas e como elas tinham saído do meu corpo?
Coro de novo com todas as possibilidades e o pior não é o
constrangimento que sinto por imaginar Liam tirando minha roupa, e sim o
quanto lamento por não me lembrar!
Ah, eu estou tão ferrada!
E onde Liam estaria agora?
A porta está entreaberta e escuto uma música muito parecida com
aquela que Ethan colocou no carro. Nine Inch Nails, presumo.
Com cuidado, saio da cama e caminho até uma porta lateral que,
como eu presumi, é um banheiro.
Enorme e elegante.
Encaro minha imagem no espelho e solto um gemido consternado.
Estou pálida e abatida.
— Nunca mais vou beber. Nunca mais — repito.
O chuveiro parece tentador. Será que Liam se importaria?
Bom, eu me importo de encontrá-lo parecendo uma bruxa de
ressaca, então retiro a lingerie e entro no chuveiro.
Quase me sinto humana de novo após o banho e uso meus dedos
para escovar os dentes. Reluto em colocar de novo a lingerie, então aperto a
toalha em volta do corpo e saio do quarto.
Encontrarei Liam, perguntarei onde está meu vestido e, depois de
estar vestida, eu vou... embora?
É o que quero?
Caminho hesitante pelo corredor, seguindo o som da música que se
torna mais alta quando chego numa sala enorme e iluminada por uma visão
maravilhosa do Central Park mais abaixo.
E lá está ele. De costas pra mim, usando apenas uma calça de
pijama folgada no quadril. Os cabelos são uma bagunça e está falando com
alguém através de um fone preso em sua orelha.
— Quando chegar em 18 compre tudo... sim, vai levar uns cinco
anos para ela dar lucro, as coisas boas às vezes levam tempo... este índice
fechou em alta de noventa ontem, o mercado dobrou... — Ele se vira e me
vê.
Aperto a toalha novamente, me perguntando se foi uma boa ideia
aparecer assim na sua frente. O que é ridículo, considerando-se que ele já
me viu nua.
— O quê? Venda logo pelo amor de Deus! Não quero saber da sua
opinião... É um lucro expressivo, então dê um jeito! — continua falando ao
telefone e eu não sei o que fazer.
Com minha visão lateral eu vejo uma cozinha e me dirijo para lá.
Liam não me impede e acho que ele talvez até prefira terminar sua ligação
de negócios antes de lidar comigo.
Lidar comigo? Estremeço pensando no que poderia acontecer.
Ontem não aconteceu nada. Eu acho.
Como hoje é outro dia...
Sinto borboletas sobrevoarem meu estômago e sorrio ao chegar à
enorme e clara cozinha.
Não há sinal de comida ali, então abro a geladeira e pego alguns
ovos.
De onde estou, continuo ouvindo a música alta e a voz de Liam
proferindo vários jargões financeiros.
Estou terminando de colocar meus ovos mexidos no prato, quando
ele surge. Os fones sumiram e ele me encara com uma expressão
indecifrável.
Fico vermelha. Ainda não faço ideia de como lidar com ele.
Principalmente depois de ontem e da minha total incapacidade de me
lembrar do que aconteceu depois.
— Bom dia. — Sorrio timidamente, mastigando minha comida. —
Fiz ovos.
— Estou vendo.
— Você pode comer...
— Eu não como de manhã. — Cruza os braços. — Que bom saber
que está viva, Senhorita Jones.
Ah! Ainda aquela formalidade?
Levanto uma sobrancelha, confusa.
Não tenho nenhuma experiência em dias seguintes e muito menos
sei como lidar com um cara como Liam Hunter, embora não ache que este
tom de voz e esta formalidade sem cabimento façam parte do protocolo.
— Eu... Desmaiei? — indago buscando respostas.
— Escolha certa de palavras. — Ele se aproxima.
Lindo!
Meu pulso acelera.
— Oh, que vergonha, eu sinto muito... não faço ideia de como vim
parar aqui...
— Apesar de não ser um bom samaritano, não te deixaria caída num
bar, Senhorita Jones.
— Podia ter me levado para casa. Afinal, sabe onde eu moro.
— Sim, eu poderia.
Ele se inclina sobre a mesa. Sinto-me encurralada.
E sem a menor vontade de fugir.
— Aquele quarto onde acordei... é o seu quarto, nós... dormimos
juntos?
— Dormir também é a palavra correta.
Ah, que droga. Estive a noite inteira ao lado de Liam Hunter e
estava completamente desmaiada. É muito azar.
— Então... Por que estou aqui? — pergunto baixinho.
— Por que você acha que está aqui? — Ele se inclina em minha
direção. Ah, aquele brilho em seus olhos. Ferino.
Mordo os lábios, ao relancear os olhos por seu peito.
Lembra-me uma estátua grega em sua perfeição. Liso, claro e com
músculos sutis nos lugares certos.
Um arrepio atravessa minha espinha. Antecipação e medo.
Meu coração dispara no peito.
— Me responda! — exige ante a minha mudez.
— Nós vamos transar.
— Tire a toalha, Senhorita Jones.
— Pare de me chamar de Senhorita Jones.
Se vou mesmo perder minha virgindade com ele, é melhor que pare
de me chamar daquele jeito.
Oh Deus, vou realmente perder minha virgindade hoje? Com Liam
Hunter? Sinto um princípio de pânico e seguro com força a toalha contra o
peito.
— Emma — ele finalmente diz meu nome. — Tire a tolha! —
ordena de novo.
Meus dedos apertam com mais força.
— Será que eu posso... Eu preciso... Preciso de um momento —
murmuro.
Por um instante acho que vai partir para cima de mim e tirar a toalha
à força, porém ele apenas assente.
Quase corro para o banheiro quando chego lá, estou respirando por
arquejos, meu coração falhando miseravelmente. Minhas mãos estão suadas
e meu rosto no espelho sem cor.
Oh droga, eu estou com medo.
Aterrorizada.
O que é ridículo. Eu tinha deixado aquele cara tirar a minha roupa,
me tocar intimamente me dando ordens e havia deitado em sua mesa muito
disposta a fazer qualquer coisa que ele pedisse.
Tinha entrado em seu carro e me sentido muito tentada a transar
com ele lá, se quisesse, assim como quando estávamos naquele provador da
Chanel.
Ontem eu tinha dançado para ele descaradamente e feito uma lap
dance como a mais experiente das dançarinas sem vergonha alguma.
Tudo bem que eu estava muito bêbada, mas eu queria aquilo.Como
uma parte minha que quer muito agora. Quero saber como é fazer sexo com
Liam Hunter. Estou deslumbrada e atraída por ele, além da razão.
Então por que eu estou sentada no chão, com minha cabeça entre as
mãos, me sacudindo pra frente e para trás num ataque de pânico?
Tenho que parar com isso agora!
— Que diabos?... — Escuto a sua voz irritada e levanto a cabeça,
vendo-o na porta me fitando num misto de exasperação e preocupação. —
Está passando mal? Por que não me disse...
Eu me obrigo a levantar e encará-lo. Chega de covardia.
— Não estou passando mal eu... — Respiro fundo e o encaro. —
Nunca fiz isto antes — digo num fio de voz.
Liam franze o olhar, confuso.
— Como é?
— Quero dizer que eu... nunca fiz sexo antes.
— Você é virgem?
Sacudo a cabeça, incapaz de falar. Meu rosto deve estar muito
vermelho.
O que ele está pensando? Não me parece nada bom. Sei que devo
ter dado a entender outra coisa, tendo em vista tudo o que fiz desde que nos
conhecemos. Será que ser virgem é tão ruim assim?
Eu só nunca fiz sexo antes. E vou fazer agora e pronto, questão
resolvida.
De repente, Liam sai das minhas vistas e o sigo. Ele pega algo em
uma cadeira e joga para mim.
— Vista-se, Senhorita Jones!
Seguro o meu vestido entre as mãos.
— O quê?
— Vou pedir para Ethan levá-la para casa.
— Está me mandando embora? — Não consigo acreditar!
— Sim, estou. — Sua voz é fria como o gelo.
— Por quê? Eu pensei que...
— Isso tudo é um erro.
— Um... erro?
— Sim. Por favor, vista-se — repete e sai do quarto.
Estou tremendo tanto, que mal consigo colocar o vestido.
Talvez eu ainda esteja dormindo. Talvez tudo seja um sonho. Eu vou
acordar e nada daquilo terá acontecido...
A música cessa. Um silêncio pesado cai sobre o ambiente.
Não estou sonhando.
Liam Hunter acabou de me dispensar.
Simples assim.
Capítulo 8

Sozinha no quarto sou inundada por uma onda esmagadora de


vergonha. E raiva.
Sentindo-me humilhada, calço meus sapatos e saio, querendo
desesperadamente fugir dali.
Na porta, encontro Ethan, sério e em seu modo guarda-costas fodão.
— Vou te levar para casa, Senhorita Jones.
Não há sinal de Liam Hunter. Eu me pergunto, enquanto acompanho
Ethan para fora do apartamento luxuoso, se é algo bom ou ruim.
Não quero vê-lo nunca mais.
Nunca mais vê-lo... Fecho os olhos com força e engulo o nó na
minha garganta.
No elevador, Ethan permanece num silêncio impassível. Só me dou
conta de que o elevador parou quando sinto seus dedos em meu braço, me
guiando. Meus olhos enevoados registram vagamente que estamos num
estacionamento subterrâneo, quando paramos em frente ao carro já familiar.
Ethan abre a porta frontal do passageiro e eu entro, me encolhendo
inteira. Ele senta do meu lado e dá a partida. O carro é inundado pela luz
cinza-chumbo da manhã fria de Manhattan e ainda luto contra a vontade de
chorar.
— Sei que talvez não faça nenhuma diferença, mas sinto muito.
— Sente pelo quê? Por seu chefe ser um filho da puta?
— Liam é mais do que meu chefe. Ele é meu amigo.
— Amigo filho da puta então.
— Eu não sei o que aconteceu...
— Pergunte a ele.
— Eu sabia que este envolvimento ia acabar mal. Eu só não
imaginava que seria tão rápido.
— Todos os “envolvimentos” de Liam acabam mal? Quantas
garotas você levou pra casa depois de serem enxotadas por ele?
— Nenhuma antes de ele levar pra cama, certamente.
Meu rosto se inunda de vermelho. A dor da rejeição volta a perfurar
meu peito.
Até o motorista, guarda-costas, ou sei lá o que este cara é, sabe que
Liam tinha me dado um fora sem nem ao menos ter me levado pra cama.
Jesus, que vergonha!
— Devo me sentir bem por isso?
— Você não está bem com isso.
Não respondo.
O resto do caminho é percorrido em silêncio, até que ele para o
carro em frente ao meu prédio.
— Obrigada — murmuro um agradecimento.
— Não precisa agradecer.
Sorrio com amargor.
— Claro. Está cumprindo ordens.
— Teria te trazido mesmo que Liam não tivesse ordenado.
— Por que está sendo legal comigo? — Minha voz vacila. Estou me
sentindo tão pra baixo que falta pouco para eu pular no colo de Ethan e
chorar feito uma criancinha.
Porém Ethan não é um urso bonzinho, e sim o capanga de Liam
Hunter.
— Você é uma garota legal, Emma. E por um momento eu
realmente acreditei que você poderia ser... deixa pra lá. — Ele para seja lá o
que ia falar. — Apenas saiba que se precisar de alguma coisa, estamos aí.
E apenas meneio a cabeça e saio do carro. O nó na minha garganta
se apertando até quase me sufocar, então, finalmente, entro em meu
apartamento e só tenho tempo de me arrastar para o quarto e desabar na
cama, chorando por toda humilhação que eu havia passado.
É assim que Zoe me encontra, e depois de gritar coisas do tipo “está
machucada?”, “Que diabos aconteceu ontem?”, “Liam Hunter te estuprou
ou algo assim? Vou chamar a polícia agora...”, finalmente me sento e
começo a contar a ela entre soluços o que tinha acontecido e, ao final, Zoe
continua querendo chamar a polícia.
— Não, melhor eu mesma resolver com aquele filho da puta! Eu
vou entrar naquele apartamento que tenho certeza é super luxuoso e vou
quebrar aquele nariz bonito dele! Não, melhor, vou cortar seu pau fora! Ha!
Quero vê-lo foder alguém de novo...
Toda essa sua epifania só me faz chorar ainda mais, ao me lembrar
novamente que ele não quis transar comigo.
— Ah, Emma, não chore. — Zoe me abraça, passando a mão em
minhas costas. — Vem, vamos tomar um banho. Vai se sentir melhor...
Consigo parar de chorar depois do banho e me sinto quase humana
enquanto Zoe me obriga a comer, embora seu pão sem glúten, que
habitualmente já não tinha gosto de nada, parecesse bem pior na minha
atual situação de desgosto total.
— Vai ficar tudo bem — ela tagarela — pense que foi melhor assim.
— Por que ele não me quis? O que há de errado comigo?
Zoe revira os olhos.
— Ele é um babaca egocêntrico! A culpa não é sua! Você só foi
sincera.
— Eu devo ter algum problema... Não deve ser normal ser virgem
com quase 22 anos... Você mesma me disse tantas vezes...
— Eu estava enganada! Não há problema nenhum em ser virgem. A
minha avó perdeu a virgindade com 27 anos!
— Sua avó viveu na década de quarenta, Zoe!
— E daí? E a Jane Austen que morreu virgem? Bem pior!
— Ótimo, agora está dizendo que vou morrer virgem? Estou me
sentindo bem melhor, obrigada!
— Não foi o que eu disse!
— Talvez este seja meu carma... Talvez eu vá morrer virgem. Vou
viver sozinha e serei encontrada morta com meu corpo em estado de
putrefação, sendo comido pelos cachorros...
— Não seja tão dramática, pelo amor de Deus! Acho que você
precisa de sorvete e um filme bem engraçado. E aposto que até o término
deste fim de semana, você nem vai se lembrar que Liam Hunter existe!
Aceito a sugestão de Zoe rezando para que tenha razão.
Zoe gruda em mim o fim de semana inteiro, me enchendo de
sorvete, e filmes românticos que só me fazem pensar que eu nunca vou me
apaixonar por ninguém.
Não que eu achasse que havia alguma possibilidade de eu me
apaixonar por um cara como Liam Hunter. Na verdade, não tinha parado
para pensar em sentimentos quando estava sendo seduzida por ele. Apenas
me deixei levar, como se minha mente estivesse totalmente desconectada do
meu corpo. Eu nunca tinha sido atingida por aquela tempestade de
sensações avassaladoras e incontroláveis antes. Era tão novo e tão
maravilhoso que só queria um pouco mais.
E eu sabia, apesar da minha inexperiência, que Liam tinha o poder
de me fazer sentir muito mais.
Assim, joguei fora a sensatez, me deixando levar naquela viagem
dos sentidos... Até que ele me chutou para fora do vagão.
E agora me sinto traída. Frustrada. Humilhada.
Que diabos fiz de errado?

A segunda-feira chega e evito a todos no jornal, para não ter que


dizer a Matt que não consegui sua preciosa entrevista e que eu duvidava que
a gente ainda fosse conseguir depois de tudo.
Tento me concentrar nas últimas aulas e me escondo em casa no
tempo livre. Assisto aos filmes bobos de Zoe, me pego chorando com finais
felizes e me entupo de sorvete.
Ao final de alguns dias assim, Zoe chega do trabalho e desliga a TV.
Fungo e enxugo o rosto na manga do pijama. Zoe se aproxima e
arranca o pote de sorvete da minha mão.
— Por que está chorando?
— Porque o filme era triste.
— Você estava assistindo Cinderela. Não é triste.
— É, se você pensar que eu nunca vou ter um final feliz!
— Ai pelo amor de Deus, até quando vai ficar mal por causa de
Liam Hunter? Ele não era um príncipe e não ia te levar para o castelo dele
no final!
— Eu sei, só... — Dou de ombros, minha voz se quebra. — Deve
ter algo errado comigo... Deveria ter feito alguma coisa...
Sou surpreendida por um tapa na minha cara seguido de um
chacoalhão.
— Pare com isto! Você não passou 21 anos fugindo dos homens
para ficar se martirizando por causa do primeiro babaca que aparece! Liam
Hunter é um cretino! A culpa não é sua! Pare de ter pena de si mesma e
reaja! Ou te bato de novo!
Fungo e sacudo a cabeça positivamente, realmente com medo de
Zoe.
— E chega de sorvete e filmes românticos. — Aponta o dedo para
meu rosto. — E se eu te vir chorando pelos cantos de novo, juro por Deus
que eu ligo para o Tom e a Margot e conto o que aprontou...
— Não, não faça isto! — Eu me assusto de verdade com sua ameaça
de ligar para meus pais.
— Então levanta sua bunda daí e vai fazer alguma coisa de útil!
Nenhum homem merece tanto sofrimento. E você é melhor que isso,
Emma.
— Certo. — Respiro fundo deixando suas palavras entrarem em
minha mente entorpecida de açúcar e autocomiseração. — Tem razão.
Eu me levanto e vou para o quarto. Meu celular está tocando e vejo
que é Erica.
— Saco — resmungo ignorando a chamada.
Eu não sei qual desculpa dar por não ter feito a entrevista. Matt
ficará furioso comigo. Aquela é realmente a primeira matéria importante
que tinham me dado e eu não fui capaz de cumprir com minha obrigação.
Eu me deixo afundar na cama, de novo rendida por uma sensação de
impotência. Enxugo uma lágrima solitária. É aquele tipo de pessoa que
quero ser? Aquela que sempre se sentiu inadequada e insuficiente para
qualquer coisa? A que teve notas medianas, beleza comum e nunca se
destacou realmente em nada?
Que prestes a se formar não sente firmeza na profissão escolhida e
leva o estágio na brincadeira?
A que tinha chamado a atenção de um cara como Liam Hunter e não
foi capaz de levar a história até o fim?
Ok, foi ele quem me chutou, porém, o que uma garota como Erica,
por exemplo, teria feito? Ela no mínimo teria tentado com mais afinco, se
ela estivesse realmente a fim. Ela seria sedutora, tentaria usar todas as
armas para convencê-lo.
E se ele fosse babaca o suficiente para resistir, ela com certeza iria
sair por cima. Não ficaria escondida choramingando, uma semana depois,
se perguntando o que fez de errado.
Percebo de repente o quanto estou errada.
Não exatamente do jeito que eu pensava estar.
Respirando fundo, decido deixar pelo menos parar de ter pena de
mim mesma e seguir em frente. Zoe tem razão. Sou melhor que isso.
Decidida, ligo meu computador e logo na internet. Digito o nome
Liam Hunter e várias matérias aparecem linkadas a seu nome.
Mordo os lábios, ainda um tanto mexida, porém disposta a seguir
em frente. Entro numa matéria feita pelo Times de três anos atrás.
Foi nela que o chamaram pela primeira vez de Leão de Wall Street,
destacando seu faro matador para caçar boas ações e fazer dinheiro. Ele já
estava há três anos na lista dos milionários do país. Encontro uma mais
recente de três meses atrás, onde ele fala sobre seus novos investimentos em
ações de empresas japonesas.
Agora ele faz parte da lista dos bilionários do país. Nada mal para
quem conseguiu seu primeiro milhão com menos de vinte anos.
Rolo a página em busca de alguma matéria sobre sua historia de
vida e encontro uma breve biografia que não fala muito. Ele tem 28 anos.
Estudou na Universidade de Nova York e antes disso em um colégio
católico renomado de família rica. Seus pais são ricos? Na biografia diz que
seu pai é médico e sua mãe professora.
Continuo buscando informações, o que é bem difícil, e acabo
encontrando uma matéria da Revista People. Lá ele está na lista dos
cinquenta homens mais bonitos do ano. Quem sou eu pra dizer o contrário?
Ele é realmente tão lindo quanto um modelo e poderia ter seguido essa
carreira sem precisar esquentar a cabeça com investimentos se quisesse.
E então não resisto e vou à procura de imagens. Há várias fotos suas
de terno e em eventos corporativos, com outros engravatados. Não demora
muito para eu começar a ver fotos suas em festas e noitadas exclusivas da
cidade e fora dela.
Nova York, Los Angeles, Las Vegas...
E, como não poderia deixar de ser, há mulheres. Muitas. De todos
os tipos. Loiras, morenas, ruivas, altas, baixas, com peitões, ou magrelas
modelos anoréxicas e até algumas bem exóticas, como uma negra
lindíssima e uma latina estilo Salma Hayek.
Todas lindas e vestindo poucas roupas. Às vezes acompanhado de
mais de uma até, em mesas de boates, saindo de algum cassino em Las
Vegas, ou entrando em algum restaurante exclusivo. Reconheço pelo menos
umas duas atrizes e umas três modelos da Victoria’s Secret.
Todas elas têm em comum o fato de não aparecerem acompanhadas
por ele em mais de uma foto.
Parece que o Leão de Wall Street não namora.
Ele caça, devora e em seguida parte para a próxima conquista.
Bom, às vezes ele só mastiga e joga fora sem devorar, penso com
ironia. Este pensamento ainda me deixa meio deprê, então eu repudio o
sentimento.
Já chega de me sentir mal por causa de Liam Hunter.
Continuo stalkeando meu ex-quase-amante até altas horas da
madrugada tentando descobrir quem é de verdade o Leão de Wall Street.
O dia amanhece e ainda não descobri.
Mas na minha mente se desenvolve um plano.
Tomo um banho demorado e saio de casa antes que Zoe me veja.
Pulo do táxi do outro lado da rua. Wall Street está acordando. Tomo meu
café, ignorando o frio e arrumo meus óculos escuros no rosto. Meu coração
dispara quando o famoso carro se aproxima do outro lado da rua e para em
frente ao prédio. Liam Hunter desce sem olhar para os lados, entra e
desaparece pelas portas de vidro. Percebo os olhares interessados de duas
mulheres a suas costas e quase rio. Típico.
No entanto, não é com Liam que quero falar hoje. Assim que ele
some, atravesso a rua correndo no mesmo instante em que Ethan está saindo
do carro.
— Olá, Ethan.
Ele dá um pulo, assustado com a minha presença e meu sorriso
presunçoso.
— Jesus Cristo, Emma, de onde saiu? — Seu olhar procura Liam
dentro do prédio, ele já desapareceu. — Puta merda você veio atrás do
Liam?
— Não hoje. Vim falar com você.
— Comigo? — Eu lhe estendo o outro copo de café que seguro. —
Antes de mais nada, bom dia.
Ele pega o café me olhando desconfiado.
— Tem laxante ou algo parecido? Se colocou veneno de rato no
meu café, devo ressaltar que o cara mau nesta história não sou eu.
Retiro os óculos e o encaro.
— Pode beber tranquilo, ursão. Eu sei que você é o cara legal, é
exatamente por isso que estou aqui.
— Ursão?
— Você disse que se eu precisasse de algo poderia pedir.
— Eu disse?
— Preciso me encontrar com Liam Hunter.
— Ah Jesus Cristo, você é louca — murmura depois de alguns
minutos de silêncio.
Eu rio. Talvez um riso cheio de maldade. Ou só um pouquinho. E
explico a Ethan o que preciso.
Ele hesita, diz não, eu continuo insistindo até que acaba cedendo e
me dando exatamente o que quero.
Recoloco os óculos, sorrindo satisfeita.
— Obrigada, ursão! Você é mesmo um cara legal.
— E talvez um cara morto depois de amanhã. Embora deva admitir
que Liam não faz nenhuma ideia de onde se meteu.
Eu pisco e me afasto enquanto o escuto resmungando.
— Como eu disse, o caçador se torna a caça quando menospreza a
sua presa. O Liam está tão ferrado...

***
— Me conta de novo onde está indo — Zoe pergunta desconfiada
enquanto vasculha seu closet abarrotado.
— Eu já disse que vou fazer uma entrevista para o jornal. Um autor
novo, na área de negócios ou algo assim — respondo aleatoriamente.
— Hum, e vai ser onde mesmo?
— Em uma conferência. Por isso preciso de alguma coisa formal e
elegante para vestir — repito o que tinha dito a ela quando entrei no seu
quarto.
Ela retira um terno preto.
— Acho que este vai servir então. É elegante e formal.
— Se você diz... Eu só quero parecer profissional e... poderosa —
divago.
Ela levanta a sobrancelha.
— Você? Poderosa?
— O quê? Não me zoa! Não é você que vive me colocando pra cima
e dizendo para eu ter mais autoconfiança?
— Nossa, parece que finalmente está ouvindo meus conselhos
então. E o que acha desta camisa?
— Ótima.
— E deve usar meus sapatos Louboutin.
— Os de saltos ridículos?
— Saltos perfeitos para mulheres poderosas — ela corrige.
— Tudo bem. — Eu a deixo me convencer. Se existe uma pessoa
que sabe o que vestir em cada ocasião é Zoe.
Coloco as roupas que ela me deu e me olho criticamente no espelho.
— Uau, muito sexy!
— Não quero parecer sexy! — resmungo olhando o quanto a calça
cigarrette é apertada, principalmente na minha bunda. E a camisa tem um
tom de verde muito chamativo.
— Qual o problema em parecer sexy?
— Quero parecer profissional e não uma vadia!
Ela ri.
— Coloca o blazer do conjunto que vai se sentir melhor.
Visto o casaquinho preto, que não cobre parte da minha bunda, mas
que, pelo menos, dá um ar mais formal ao traje e calço os sapatos
ridiculamente altos.
— Agora sim, perfeita! Parece uma destas repórteres poderosas —
Zoe garante e eu respiro fundo, torcendo para que ela tenha razão. — Agora
deixe-me cuidar do seu cabelo e maquiagem!

***
Eu saio do táxi em frente ao Rockfeller Center e verifico novamente
minha imagem no espelho do prédio. Meu cabelo continua preso num rabo
de cavalo bem feito e a maquiagem continua no lugar.
Respiro fundo algumas vezes e luto para não entrar em pânico agora
que estou perto.
Quando arquitetei aquele plano parecia tudo muito mais fácil e
simples. Agora, tenho minhas dúvidas se conseguirei ir até o fim.
A última vez em que eu tentei entrevistar Liam Hunter, terminei nua
em sua mesa. Estremeço ao me lembrar. Horror e pesar se mesclando
perigosamente dentro de mim.
Não! Não e não!
Não vai acontecer desta vez.
Estou prestes a entrar em um bem organizado evento de negócios,
que consiste em um almoço executivo, onde estarão reunidos alguns dos
mais importantes investidores da cidade.
Dentre eles, Liam Hunter.
É a oportunidade perfeita.
Ele não terá como fugir e nem como tentar algo engraçadinho na
frente de tanta gente. E eu terei finalmente a minha entrevista.
Decidida, caminho para dentro do prédio e encontro Ethan na porta
do centro de convenções, paquerando a recepcionista bonitinha, que sorri
toda derretida para ele.
Rolo os olhos e ele sorri meio a contragosto quando me vê.
— Então você realmente pretende levar seu plano até o fim.
— Fico ofendida por ter duvidado de mim.
Ele suspira.
— Tudo bem. — Ele se vira para a recepcionista bonitinha que
acompanhava nosso diálogo com interesse — Kelsy, a Senhorita Jones pode
entrar.
— Ela não tem o nome na lista...
— Ela veio encontrar o Senhor Hunter para uma entrevista.
— Hum, tudo bem. — Ela não parece muito certa, porém não se
opõe quando Ethan abre a porta de vidro para mim.
Percorro o ambiente, lotado de homens em seus ternos caros e
algumas mulheres bem vestidas com terninhos executivos.
Tento parecer segura e confiante, enquanto o procuro com o olhar
até que o avisto sentado em uma poltrona entretido numa conversa com
dois homens.
Levanto o queixo e obrigo minhas pernas a seguirem em frente.
— Senhor Hunter. — Paro a sua frente.
Tanto ele como os homens interrompem a conversa e se viram para
mim.
Seus olhos vão da surpresa à consternação em segundos.
Tento imaginar o que se passa em sua mente naquele momento.
— Senhorita Jones — ele diz meu nome pausadamente, como se
estivesse procurando o que dizer a seguir.
— O senhor me deve dez minutos.
Capítulo 9

Dou um passo à frente e me sento no lugar vago no sofá em que um


senhor grisalho está sentado.
— Ah, me desculpe, interrompi alguma coisa? — Esboço um
sorriso de desculpas para o homem mais jovem diante de mim. — Sou
Emma Jones. Trabalho para o Jornal New York Morning e o Senhor Hunter
nos concederá uma entrevista. Como sabem o Senhor Hunter é muito
ocupado e é difícil encontrar algum tempo livre em sua agenda, nós
chegamos a iniciar a entrevista, mas não foi possível terminá-la, tivemos
alguns... contratempos... no decorrer. — Eu olho diretamente para Liam que
parece querer me matar com seu olhar. Não recuo — E aqui estamos. Afinal
o senhor termina tudo o que começa, não é? — questiono cheia de
sarcasmo.
— Algumas vezes abortar a missão é o mais indicado — ele diz
friamente, mantendo meu olhar e eu vacilo.
Filho. Da. Puta!
— Oh, claro, sem problemas. — O homem jovem sorri e percebo
que ele me mede sutilmente, enquanto se levanta. — Sou Felix Firestone e
este é meu pai, Milo.
— Das empresas Firestone? — pergunto sem me conter e seu
sorriso se alarga, quando me levanto para segurar a mão estendida para
mim.
— Senhorita Jones, eu só tenho dez minutos e eles estão passando
enquanto está bajulando os Firestones. — Liam rosna friamente, e percebo
que ele também se levantou.
— Liam Hunter realmente não perde tempo. — O Firestone mais
velho esboça um sorriso astuto. — Foi um prazer conhecê-la, Senhorita
Jones, vamos deixá-la fazer o seu trabalho, afinal só tem dez minutos — ele
brinca enquanto se afasta com o filho, que ainda me lança mais um olhar
interessado.
— Parece que tem um admirador, Senhorita Jones.
Eu me viro para Liam e seguro seu olhar.
— Eu tenho muitos, na verdade. Teria descoberto se tivesse ficado
mais cinco minutos! — Oh droga, preciso parar de dar indiretas ressentidas.
Eu não estou aqui para isso.
Só bastou estar perto de Liam para eu me lembrar do fora que ele
me deu e ter vontade de estrangulá-lo.
Ou beijá-lo.
Oh, inferno, eu tinha me esquecido como ele é bonito pra cacete. E
não adianta nada ele me tratar mal. Parece apenas acrescentar ainda mais
lenha na fogueira que arde dentro de mim.
Ah, que Deus me ajude!
— É por isso que está aqui? É algum tipo de vingançazinha por eu
tê-la dispensado?
Engulo em seco, evitando lidar com a lembrança da humilhação.
— Não. Estou aqui porque me deve uma entrevista — digo
calmamente e me sento, retirando o gravador da bolsa, colocando-o na
mesa de centro. — Dez minutos, não é? Melhor começarmos, porque como
o senhor mesmo disse, o tempo está passando.
Por alguns segundos, penso que Liam vai me mandar à merda e me
deixar plantada ali sozinha de novo. Talvez chame os seguranças para me
expulsar. Ou ele mesmo me arraste dali.
Em vez disso, ele passa os dedos pelos cabelos, parecendo nervoso,
frustrado e lindamente irritado, devo reconhecer, e se senta a minha frente.
— Irei lhe conceder sua entrevista, Senhorita Jones, satisfeita?
— Longe disso — murmuro para mim mesma, sem ter a certeza de
que ele ouviu, respiro fundo e me atenho ao plano.
— O que o motivou a investir na bolsa?
Um sorriso amargo se distende em seu rosto, como se ele tivesse
achado a pergunta irônica e mais: como se a pergunta o tivesse feito lembrar
algo ruim.
— O que motiva a todos, Senhorita Jones. Dinheiro. Eu apenas
queria ganhar dinheiro.
Percebo na mesma hora que essa não é a resposta completa. Sinto-
me muito curiosa imediatamente.
— O seu pai é médico e sua mãe é professora. Não era de uma
família pobre.
Ele fica sério.
— Sim, meus pais adotivos não são pobres, acho que podemos dizer
que são de uma boa classe média.
— Adotivo?
— Ah, vejo que o Google ainda é falho em minha biografia. Sim,
David Hunter e Nora Hunter me adotaram quando eu tinha 16 anos.
— O que aconteceu com seus pais verdadeiros?
— Morreram. — Sua voz não demonstra nenhuma emoção.
Mesmo assim sinto pena.
— Sinto muito... Quantos anos tinha?
— Dez.
— Você disse que foi adotado com 16 pelos Hunter...
— Passei por muitos lares adotivos fodidos antes disso.
— Ah, entendo. E o que os seus pais verdadeiros faziam?
— Não tenho certeza da relevância dessa pergunta, em todo caso,
meu pai era contador e minha mãe assistente social — responde a
contragosto.
— Contador? Talvez tenha herdado dele o fato de gostar de mexer
com dinheiro. — Dou-lhe um pequeno sorriso que ele não corresponde.
— Não herdei nada do meu pai.
Oh. Oh. Assunto difícil? Tenho vontade de insistir no assunto, mas
decido recuar. Algo me diz que já fui mais fundo em seu passado do que ele
gostaria de permitir.
Mesmo assim, insisto mais uma vez.
— E de sua mãe, não herdou nada também? — pergunto
suavemente.
— Ela era bonita — diz quase como se a tivesse vendo neste
instante.
— Isso explica muita coisa — digo com um sorriso sarcástico.
Provavelmente ele tinha herdado a beleza da mãe, então.
— E você, Senhorita Jones. A quem puxou mais, sua mãe ou seu
pai?
Eu levanto a sobrancelha.
— Sério?
— É só uma pergunta.
— Meu pai é policial numa cidadezinha fria de Washington e minha
mãe uma dona de casa natureba da Califórnia.
— Divorciados?
— Sim. Desde que eu tinha cinco anos. Passei meus anos de
infância e adolescência me dividindo entre os dois.
— Como veio parar em Nova York?
— Faculdade. Foi onde me aceitaram. Meu pai insistiu em
jornalismo, embora eu quase tenha entrado em Literatura. Ele achou que eu
fosse morrer de fome sendo uma professora ou algo assim.
— Minha mãe é professora de literatura.
— Ah — eu exclamo interessada — acho que já gosto da sua mãe.
— Ela iria gostar de você — diz pensativo e um tanto contrariado.
Coro sem saber exatamente o porquê.
Talvez pelo fato de ele ter dito que sua mãe adotiva gostaria de
mim? Quer dizer que existe alguma possibilidade remota de eu conhecê-la
algum dia?
Quem está sendo sonhadora e sem noção agora?
— Bem, sua mãe não morreu de fome — brinco — direi isso ao
meu pai.
— Minha mãe se casou com um médico. Ela trabalha num bom
colégio católico.
— Por isso estudou num colégio católico — concluo e ele acena
positivamente.
— Sim, eu era bolsista. Tive que aprender a me comportar para as
freiras não me expulsarem. Não que eu me importasse com aquelas putas,
porém Nora ficaria arrasada.
Tento não me chocar por ele ter chamado as freiras de putas.
— Você era um garoto terrível? — pergunto curiosa para saber
como Liam adolescente deve ter sido.
— Fui criado praticamente nas ruas. Não se pode dizer que tinha a
melhor educação. Eu era mal-educado e boca suja.
— Era? — ironizo e sou brindada com o primeiro sorriso
genuinamente divertido de Liam Hunter.
Derreto-me toda por dentro e me seguro para não suspirar.
— Algumas coisas não mudam.
— Imagino que não — murmuro meio embevecida.
Ele para de sorrir, me encarando fixamente. Desconcerta-me, me faz
derreter mais um pouquinho e também me deixa nervosa. Pigarreio e olho
para minhas anotações.
— Acredita que o colégio católico lhe deu a formação necessária
para ser quem é hoje, já que a faculdade não lhe serviu de muito como me
disse anteriormente?
— Ah, eu aprendi muitas coisas num colégio católico misto... —
sua voz sai carregada de veludo e eu levanto a cabeça para ver seu olhar
cheio de malícia. — Aprendi que gosto de garotas de uniforme. Meias três
quartos são muitos sensuais. Gostava de imaginar que tipo de roupa íntima
as garotas usavam por baixo da saia. Consegui descobrir boa parte delas e
convenci uma boa parcela a não usar nada, enquanto estivesse comigo...
Engulo em seco, com os olhos arregalados em choque com suas
palavras.
— Aprendi também que algumas garotas acham estimulante alguns
tipos de punição.
Meus olhos se arregalam ainda mais.
— Já apanhou de palmatória, Senhorita Jones?
Sacudo a cabeça em negativa. Que diabos?!
Ele sorri maldosamente.
— As freiras costumam usar no colégio para punir os infratores.
Roubei uma delas um dia e usei numa garota que precisava de uma lição.
— Você bateu numa garota? — Minha voz sai esganiçada.
— Ela gostou. Muito. Principalmente quando eu a fiz gozar depois.
— Oh. Meu. Deus. — Pego o gravador com as mãos trêmulas e
tento desligá-lo, sem sucesso.
— Minhas palavras a chocam, Senhorita Jones? — pergunta agora
numa voz séria, não respondo e continuo tentando desligar o maldito
gravador. Minhas mãos trêmulas não ajudam. — Está pensando em quão
horrível eu sou neste momento?
Por fim, desisto de desligar o gravador e o encaro.
— Você ainda faz isso? — pergunto num fio de voz. — Você
ainda... Bate em mulheres?
— Tudo para o prazer.
— Você quer dizer seu prazer — rebato com ironia.
— Eu poderia lhe mostrar o quão prazeroso pode ser este jogo,
Senhorita Jones.
— Você me mandou embora — soo mais ressentida do que deveria.
Lá se vai meu disfarce de repórter fodona.
A quem eu quero enganar? Estou aqui para me mostrar pra ele. Para
mostrar que não tinha me quebrado, que não sou aquela idiota completa da
qual ele fazia e desfazia enxotando-a da sua vida quando não lhe convinha
mais.
Estou aqui para que Liam Hunter perceba que sou uma mulher, não
uma menina. E, quem sabe assim, olhasse pra mim com outros olhos.
Oh, Deus, como sou patética.
Mantenho os olhos baixos, voltando a mexer no gravador que
finalmente consigo desligar.
— Você não é quem eu pensava que fosse — ele diz por fim, num
tom acusatório. Como se o tivesse enganado ou algo assim!
Respiro uma longa golfada de ar, guardo tudo na minha bolsa e o
encaro.
— E você é exatamente quem eu pensava. — Eu me levanto. —
Obrigada pela entrevista, Senhor Hunter. Adeus!
Caminho sem olhar para trás com o único intuito de fugir.
Foi um erro. Um erro enorme achar que eu podia encarar Liam
Hunter friamente.
— Senhorita Jones, junte-se a nós. — Paro quando Felix se
materializa na minha frente.
— Oh, me desculpe, eu... — Mas ele já segura meu braço e me leva
a uma mesa onde seu pai se encontra sentado com mais dois homens.
— Senhorita Jones, que bom que se juntou a nós — Milo sorri —,
por favor, nos brinde com sua companhia durante o almoço.
Sorrio amarelo e não consigo pensar em nenhuma desculpa, então
sento ao lado do homem mais velho.
— O Hunter não te comeu viva, presumo? — Felix faz piada, eu
coro pensando no fato de que realmente não.
— Pois é... acho que o leão não é tão feroz assim, afinal. — Entro
na brincadeira e todos riem.
— Algo engraçado? — Estremeço ao ouvir a voz irritada de Liam
se sentando justamente na minha frente.
Não. Pode. Ser.
Seu olhar me perfura do outro lado da mesa.
— A Senhorita Jones estava dizendo que o Leão de Wall Street não
é tão feroz quanto dizem — Milo responde.
— Realmente, Senhorita Jones? — Ele fala devagar e eu sustento
seu olhar.
— Felix comentou que eu não fui devorada pelo leão, tive que
concordar com ele!
A expressão de Liam se fecha ainda mais.
— Hum, já estão se tratando pelo primeiro nome?
— Oh, me desculpe. — Coro olhando para Felix. — Senhor
Firestone.
— Imagina, pode me chamar de Felix. Sempre acho que estão
chamando meu pai, quando me chamam assim, faz eu me sentir velho.
— Pode me chamar de Emma, então.
— Que lindo nome — Milo Firestone comenta. — Insisto que me
chame de Milo também, mesmo sendo um velho.
— O senhor não é velho!
O homem se desmancha em sorrisos.
— É muito bom ouvir isso de uma linda jovem mulher como você,
Senhorita Jones!
— Emma, eu insisto.
— Não deixe o velho flertar com você, Emma — Felix brinca —,
senão terei que flertar também.
— Oh Deus, por favor, não briguem por mim. — Coloco a mão no
coração fingindo pesar e sorrio. Flertando muito mesmo! Liam Hunter que
se dane!
Se ele não quer, tem quem queira!
Não que eu esteja disposta a fazer qualquer tipo de sacanagem com
Felix Firestone, ou Deus me livre, o pai dele. Ou os dois juntos, eca!
Mas é bom ver dois homens poderosos apreciando a minha presença
e me tratando bem. Ainda mais na frente de um cavalo feito Liam Hunter.
Que tinha me dispensado e ainda me tratava muito mal.
O garçom aparece com os pratos e todos se concentram na comida
por um instante. Relanceio o olhar para Liam e ele está me encarando
fixamente com um olhar de raiva.
Desvio a atenção para meu prato.
— Nos fale de você, Emma — Milo pede. — Disse que é repórter?
— Estagiária na verdade. Estou no último ano de jornalismo. Vou
me formar dentro de dois meses.
— E já pensou no que vai fazer depois? Vai continuar no jornal?
— Eu confesso que ainda não pensei sobre o assunto...
— Ela não gosta da profissão que escolheu — Liam comenta
enfiando um pedaço de pão italiano na boca e fico um tanto distraída com
sua boca enquanto ele mastiga.
— É verdade? — Felix pergunta intrigado.
Eu coro.
— Não é bem assim.
— Não é verdade que gostaria de fazer literatura? — Liam insiste.
Que idiota!
— Sim, este foi um sonho adolescente — desconverso — eu vim
pra Nova York me formar em Jornalismo.
— Você é de onde? — Félix indaga.
— Aberdeen, Washington.
— Que interessante. Temos uma filial da empresa em Washington
— Felix sorri. — E meu pai e eu gostamos de pescar naquela região.
— Sério? Meu pai ama pescar! Acho que é o que ele mais gosta de
fazer.
— Olha só que interessante, filho. Se formos para lá nos próximos
meses podemos visitar o pai da Emma e pedir a mão dela em casamento, o
que acha Felix? Estou mesmo querendo netos antes de morrer.
Ah meu Deus.
— Papai, por favor. — Felix cora mais do que eu, o que seria até
fofo se eu não estivesse mais interessada na reação de Liam.
Ele aperta a haste da taça de bebida com tanta força que eu acho que
poderia quebrá-la a qualquer momento.
— Não acho uma boa ideia — ele diz alto o suficiente para cessar
os risos. — O pai da Senhorita Jones é policial.
— Nossa! Pode ser perigoso, pai. — Felix ri.
— Não seja frouxo. Homens Firestone honram as calças que
vestem!
Todos riem de novo, até eu. Menos Liam, claro.
— Talvez antes de fazer planos devesse perguntar a Emma se ela
não tem um namorado, papai — Felix diz um tanto curioso e eu volto a
corar, bebendo um longo gole de água, enquanto todos me encaram em
busca de uma resposta.
— Diga-nos Emma, existe um homem sortudo que devemos tirar do
páreo? — Milo pergunta divertido.
Não posso deixar de olhar para Liam.
Ele me encara intensamente, também esperando uma resposta.
— Até poderia haver — respondo por fim, mantendo meu olhar no
dele —, embora eu acredite que ele não me queira.
— Como assim? Este homem é louco? — Milo ri. — Não querer
uma linda jovem como você? Bonita, educada, inteligente e simpática?
Liam continua impassível.
— Parece que nada disso é o bastante para alguns homens. —
Desvio o olhar para o guardanapo com o qual brinco na minha mão. — Na
verdade eu não sei o que ele quer de mim.
— Homens são criaturas simples, senhorita — um senhor sentado
do outro lado da mesa diz. — Ou eles querem ou não querem.
— Então talvez ele não me queira mesmo... — murmuro apertando
o tecido em minhas mãos e sentindo um nó apertar minha garganta.
— Talvez ele queira, mas a senhorita seja inocente demais para ele.
— A voz de Liam me faz levantar a cabeça e ele me encara, seu rosto é uma
máscara impassível para os outros na mesa, embora seus olhos estejam
fervilhando.
— Inocência era um prêmio na minha época — Milo diz e eu acho
que ele está meio bêbado, sinceramente. — Já hoje em dia...
— Papai! — Felix ralha.
— Eu fiquei interessada em sua opinião, Senhor Hunter — digo por
cima da discussão de Felix com o pai saudosista. Os outros dois homens
entraram num debate e não estão prestando atenção em nós —, explique-se
— peço seriamente. Quero ver até onde ele vai. Ou se vai recuar.
— Alguns homens jogam com as mulheres. Talvez ele acredite que
a senhorita não se encaixe neste jogo.
— Como ele pode saber se eu não estou interessada em jogar?
— A senhorita está?
Engulo em seco.
— Ele poderia me mostrar. — Minha voz vacila. — Talvez eu
queira muito... que ele me mostre...
— Duvido que esteja preparada para o que ele gostaria de fazer com
você.
Meus olhos pousam em seus dedos, que seguram o guardanapo com
força, enquanto faz pequenos nós no tecido.
Arfo. Um calor insidioso se instala entre minhas pernas e meu rosto
cora miseravelmente.
— O que estão dizendo? — Felix volta para a conversa e tomo um
longo gole d’água para acalmar meu ânimo. Noto Liam fazendo o mesmo.
— Nada importante — respondo com um sorriso forçado.
— A senhorita estava nos contando sobre o homem burro que a
dispensou — Milo ri. Sim, ele está bêbado.
— Na verdade, eu preciso ir. — Eu me levanto. Felix se levanta
comigo.
— Já?
— Eu tenho um compromisso — minto.
— Fique com meu cartão. Talvez possamos marcar um jantar
qualquer hora.
— Claro. — Sorrio e guardo o cartão que ele põe em minhas mãos.
Não ouso olhar para Liam.
Aceno para todos e marcho para longe.
Para longe de Liam Hunter.
Ethan não está à vista quando saio, o que é bom.
Corro para o toalete mais próximo e respiro aliviada, enquanto
retiro da bolsa meu jeans e camiseta que havia trazido para me trocar e ir
estudar na biblioteca da faculdade à tarde. E estou acabando de me vestir
quando o telefone estremece na minha bolsa.
Eu o retiro e fico chocada com a mensagem.
“Você acha que flertar com a família Firestone inteira é um bom
negócio, Senhorita Jones? Tem noção de como eu quis te punir por me
fazer sentir ciúme daqueles babacas babando em cima de você? Me
imaginei te colocando em meu colo na frente de todas aquelas pessoas,
tirando sua linda calça preta justa e deixando a marca dos meus dedos
na pele branca do seu traseiro.”
Estou vermelha e sem ar quando termino de ler.
Que diabos?
Por que ele faz isso comigo?
Leio e releio a mensagem, ainda abismada com a parte que ele diz
querer me punir e em como a imagem que ele evocou me deixa
amedrontada e ao mesmo tempo muito excitada.
Também sinto meu coração bater mais rápido quando me atenho à
parte que ele diz que sentiu ciúme de mim.
Eu respiro fundo e mando uma mensagem.
“Você sentiu ciúme de mim?”
É só com o que eu consigo lidar. O que me deixou mais intrigada. E
empolgada.
Espero impaciente por uma resposta que não vem.
Oh, inferno!
Irritada, mando outra mensagem.
“Está com medo de responder, não é? Por que nós dois sabemos
que você se arrepende de ter me dispensado. Você sabe que estou livre
para aceitar convites de homens como Felix Firestone e até do pai dele
se eu quiser.”
Eu sei que estou cutucando o leão com vara curta, não me importo.
Em menos de dez segundos pisca a resposta.
“Não sabia que gostava de ménage em família, Senhorita
Jones.”
Ora, seu...
“Você é um grande babaca, cretino, egocêntrico, filho da
puta...”
Nenhuma resposta.
Eu continuo.
“Como ousa me dizer este tipo de coisa? Eu não sou uma de
suas putas!”
Dessa vez ele responde.
“Eu sei que você não é. Creia-me, eu sei.”
E apenas isso. É como se eu estivesse escutando ele dizendo ali, do
meu lado. Com um olhar pesaroso e conformado que significaria “por isso
que eu não te quis”.
Eu sou diferente.
E não me faz “uma delas”.
Deveria me sentir lisonjeada, no entanto só sinto pesar.
Não quero ser uma puta de Liam Hunter, ao mesmo tempo em que
não quero me sentir tão rejeitada por ele.
Quão paradoxal pode ser?
Saio do toalete disposta a ir embora o mais rápido possível, passo
pelas portas giratórias da recepção e paro ao ver Liam em frente ao seu
carro.
Ele está me esperando?
Sinto meu coração disparar no peito, numa mistura de angústia e
alegria.
Por que ele fica me perseguindo se não quer ficar comigo?
— É melhor que fique longe de mim — responde minha pergunta
muda, como se tivesse ouvido meus pensamentos.
— Talvez eu não queira.
— Você enumerou todos os motivos em sua mensagem.
— Talvez eu não me importe.
Os primeiros pingos de chuva começam a cair, enquanto
permanecemos travando uma luta silenciosa com nosso olhar.
De repente, não consigo mais. Sinto um nó fechar minha garganta e
aquela velha dor de rejeição se alastrando em meu peito.
— Eu me importo.
Eu me surpreendo por ficar irritada com sua resposta.
— Vá pro inferno! — Eu me afasto quase correndo pela rua. Minha
visão embaçada pela chuva e por minhas lágrimas.
— Emma! — Escuto meu nome e paro, me virando lentamente.
Ele se aproxima e segura meu rosto.
— É uma merda que eu não consiga evitar querer você...
Respiro suas palavras como o ar que preciso para viver.
— Então fica comigo... — Fecho os olhos e sinto seus lábios sobre
os meus.
Liam Hunter está me beijando.
Capítulo 10

Liam Hunter está me beijando.


Esta constatação maravilhosa ainda volta a minha mente de tempos
em tempos, entorpecendo meus sentidos e enchendo meu ser de um prazer
que vai além do toque físico dos seus lábios — e língua — e dentes —
contra os meus. Sinto-me flutuando numa bolha de contentamento e euforia
desde que ele tinha me agarrado na rua, sob a chuva.
Quanto tempo havia se passado?
Eu tinha mergulhado numa doce quase inconsciência desde então.
Lembro-me vagamente de ele ter afastado seus deliciosos lábios dos
meus para xingar algum engraçadinho que assoviara maliciosamente para
nós ao passar na rua.
Eu apenas rio, meus dedos crispados em sua camisa e ele voltou sua
atenção para mim e parecia lindamente consternado.
— Porra, Emma, você está toda molhada!
Por um momento achei de verdade que estava fazendo algum
comentário de duplo sentido, deixei este pensamento de lado quando ele me
puxou para perto e cobriu minha cabeça com seu paletó me levando em
direção ao carro.
Registrei vagamente por entre os braços de Liam e seu paletó me
cobrindo que Ethan estava sorrindo mais do que eu ao abrir a porta do carro
e me vi sendo empurrada para dentro, rindo feito uma idiota até que Liam
entrou e me puxou para ele, começando a me beijar de novo.
Ah, era o paraíso.
Em meio ao meu enlevo, escutei a risadinha de Ethan e a voz
irritada de Liam resmungando algo contra meus lábios que eu julguei ser
um “pervertido filho da mãe”, ouvi o barulho da divisória entre o motorista
e o passageiro se erguendo, então ele estava me beijando novamente e eu
me esqueci de tudo o mais.
Todos os meus sentidos concentrados nele.
Seu gosto em minha língua, seu cheiro único intoxicando meu
espírito, seus dentes mordiscando meus lábios enquanto eu lutava para
respirar.
O toque de seus dedos que seguram meu rosto enquanto a boca
deixa marcas na minha, muito mais profundas do que um beijo deveria
deixar.
Meu corpo inteiro está despertando e sussurrando timidamente: Por
favor... Por favor... que não seja mais uma de suas seduções que acabarão
sem aviso. Eu simplesmente não poderei suportar se ele fizer isso mais uma
vez...
— Eu não estaria te beijando para te deixar novamente — ele
responde e me dou conta de que confessei meu medo em voz alta.
Abro os olhos e encontro os dele brilhando de excitação contra os
meus.
— Você disse que queria que eu te mostrasse.
— Sim. — Meu coração dispara no peito. — Eu quero.
Ele me beija de novo. Um beijo profundo e intenso que me faz
gemer e ansiar por mais.
Sinto a necessidade deste mais através de um aperto em meu ventre
e solto um gemido impaciente em seus lábios, erguendo minhas mãos e
infiltrando os dedos em seus gloriosos cabelos.
De repente ele interrompe o beijo e se afasta, retirando minhas mãos
de seus cabelos e me colocando no lugar.
Abro os olhos, ofegante e ainda em êxtase e o encontro recostado
em seu lugar no assento.
— Como consegue fazer isto? — pergunto chocada. Como ele
parece perder o controle num momento e no outro pode estar desse jeito,
como se nada tivesse acontecido?
— Precisa aprender a ser paciente, Senhorita Jones. — Ergue a mão
e varre uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha, me fazendo
tremer.
— Não me chame de Senhorita Jones!
— Eu gosto de chamá-la assim quando está sendo impertinente. —
Sorri perversamente. — Aceite como sua primeira lição. A paciência é uma
virtude, Senhorita Jones.
— Eu não sou muito paciente...
— A espera valerá a pena, baby. — Seus dedos tocam meus lábios.
Derreto.
Ah, por favor!
O carro para e ele abre a porta me puxando para fora. Percebo que
estou em frente ao meu prédio.
— Está entregue. Suba e, por favor, livre-se dessa roupa molhada.
— Poderia subir comigo.
— O que eu disse sobre paciência?
Rolo os olhos e ele me puxa para perto, suas mãos em minha
cintura.
— Não seja impertinente. Não acho que esteja preparada para uma
punição, Senhorita Jones.
Bebo suas palavras ameaçadoras como uma carícia e ergo os lábios
para o beijo rápido e insuficiente que ele me dá.
— Não se toque. Seu prazer agora pertence a mim — diz antes de
me soltar.
Eu me afasto a contragosto e ainda estou tonta quando entro em
meu apartamento silencioso.
Zoe está no trabalho àquela hora e eu caminho até a janela. O carro
está se afastando neste momento e sinto um medo irracional de que ele não
vá mais voltar. Que aquele interlúdio no carro não tenha passado de um
delírio da minha imaginação.
Minha campainha toca me tirando do meu princípio de pânico e
franzo a testa ao caminhar até a porta me perguntando quem será. Arregalo
os olhos em choque ao ver Liam Hunter diante de mim.
Reparo que seus cabelos estão úmidos da chuva assim como os
meus e seus olhos sérios e intensos.
— Você não foi embora...
— Não.
— O que aconteceu com a lição sobre paciência e virtude?
— Eu nunca fui bom em seguir regras. — Ele dá um passo à frente
e eu um passo atrás para dentro da sala.
Escuto-o bater a porta, sem desviar os olhos dos meus.
— Onde é seu quarto?
Engulo em seco, meio medrosa, meio excitada e sigo para meu
quarto com o Leão de Wall Street em pessoa no meu encalço.
Oh, Deus. Está realmente acontecendo.
O dia está escuro lá fora, uma chuva forte começa a cair de novo,
deixando o quarto numa suave penumbra.
Meu quarto é um espaço muito meu e gosto de pensar que quem
entra aqui conhece um pouco de mim pelos detalhes.
Minha cama de ferro branca, escolhida num brechó no meu
primeiro ano de faculdade, com sua colcha de retalhos costurada pela minha
mãe. Minha estante cheia de livros velhos e gastos de tanto eu ler e reler, a
maioria clássicos. As cortinas de renda que Zoe me ajudara a colocar depois
que descobri que nosso vizinho do prédio em frente era um tarado em
potencial que gostava de nos vigiar.
Assim como todos meus objetos pessoais aqui e ali, meus óculos de
leitura largados em cima da escrivaninha, o porta-retratos com minha foto
de formatura, onde estou com meu pai e minha mãe, ao lado do meu velho
notebook.
Sinto-me tímida ao saber que Liam está observando tudo, que está
adentrando num lugar tão íntimo, que até então ninguém, além de Zoe,
havia entrado.
— O que acontece agora?
Meu coração está disparado no peito.
— Vamos tirar esta roupa molhada. — Ele se aproxima e eu deixo
que tire minha blusa.
A situação é tão parecida com a cena em seu escritório quando nos
conhecemos que sou inundada por um déjà-vu.
Nossos olhos se encontram e eu sei que ele está pensando o mesmo.
— Quando decidiu que queria tirar a minha roupa? — indago num
sussurro, quando sinto seus dedos meio frios da chuva me livrando do sutiã.
— Quando me olhou com estes olhos incrivelmente deslumbrados
— responde se abaixando para tirar o meu jeans. — Nunca tinha visto um
desejo tão transparente nos olhos de alguém.
Ele me livra do jeans com facilidade, assim como do meu sapato e
meia e me faz sentar na beira da cama, se erguendo a minha frente,
acariciando meu rosto.
— Seus olhos estavam me chamando como agora. Estavam pedindo
para eu tirar sua roupa, como agora. Para entrar em você, como vou fazer
agora.
Perco o ar, sentindo todo meu corpo se desmanchando de prazer e
antecipação.
— Deite-se — ordena numa voz firme e eu obedeço, retirando a
colcha da minha mãe do caminho no processo.
Meu coração está martelando furiosamente no peito e eu mal
consigo respirar, enquanto o observo tirar a roupa, sem desviar o olhar de
mim. Fica só de cueca boxer preta e retira de uma carteira de couro um
pequeno envelope dourado. Coro ao perceber o que é quando caminha até
meu criado-mudo e o coloca lá.
Ele é lindo em sua perfeição pálida, como uma escultura de Davi de
Michelangelo.
Meus olhos febris percorrem seu peito de mármore e minha boca
fica seca quando tira a cueca boxer preta, revelando-se em toda sua grande,
rija e arrogante ereção.
Oh Deus. Começo a hiperventilar.
Ele caminha pelo quarto e sou brindada com a bela visão de sua
bunda, quando ele fecha a porta suavemente e se volta, subindo na cama e
se ajoelhando diante de mim.
— Está com medo?
Hesito pensando se respondo sim ou não.
— Não. — Decido ser corajosa.
— Não minta pra mim.
— Não estou mentindo. O único medo que eu tenho é de você
desaparecer. — Minha voz vacila.
— Venha aqui!
Eu me ajoelho na sua frente.
— Você vai me bater ou algo assim? — Quando a pergunta sai da
minha boca, fico um tanto consternada por aquele pensamento não me
assustar.
Ele sorri.
— Não hoje. Hoje eu vou nos livrar de sua inconveniente
virgindade.
— Inconveniente?
— Não é algo agradável.
— Como sabe? Já tirou a virgindade de muitas garotas?
— A primeira garota com quem eu transei era virgem.
— Quantos anos tinha?
— Nós tínhamos 14.
— Nossa...
— Não foi algo... agradável. Não tive vontade de causar aquela dor
a alguém novamente.
— Achei que gostasse de punir...
— É bem diferente. Eu prefiro mulheres que saibam onde estão se
metendo.
— E eu não sei.
— Não, ainda não sabe, mas saberá em breve — murmura
roucamente e vem para cima de mim, abocanhando meu seio em seus lábios
sem aviso e solto um pequeno arquejo sobressaltado caindo para trás,
enquanto sua língua desliza em volta do meu mamilo antes de usar os
dentes para puxá-lo quase rudemente.
Sinto um prazer dolorido que começa onde sua boca está e se
espalha como fogo líquido por minha pele, se concentrando num pulsar
urgente entre minhas pernas.
Contorço-me e gemo, meus dedos crispados no lençol e o tormento
passa para o outro seio, aumentando o frenesi em meu íntimo.
Ele sobe beijando minha clavícula, e coloca um chupão no meu
pescoço, antes de beijar meus lábios entreabertos e escorregar a mão pelo
meu ventre até pousar entre minhas coxas, acariciando devagar, enquanto
observa meu rosto.
Choramingo, arqueando os quadris em busca de mais contato e
fecho os olhos.
— Goze para mim — ordena roucamente, aumentando o ritmo de
seus dedos.
— Oh Deus... — Sinto meu ventre sendo sugado e gozo rápido e
forte, estremecendo e gemendo contra ele.
Quando volto à realidade, abro os olhos para vê-lo escorregando o
preservativo em si mesmo e se ajoelhando no meio das minhas pernas.
Seu olhar é de um predador, prestes a abater sua presa, quando ele
vem pra cima de mim, com ares de conquistador supremo e absoluto.
Ainda estou ofegante e tonta do orgasmo incrível, com pequenos
tremores ainda reverberando em meu corpo lânguido, quando o sinto
deslizando sua ereção do meu clitóris até minha entrada úmida e pulsante.
Prendo a respiração e fecho os olhos com força.
Então ele empurra e solto um gemido ofendido com a fisgada de
dor.
— Abra os olhos — pede e encontro seu olhar perscrutando meu
rosto. — Tudo bem?
Sacudo a cabeça afirmativamente, mesmo sem ter muita certeza, só
não quero que pare. Não agora, que o sinto recuando e depois
impulsionando dentro de mim de novo. E de novo.
E mais uma vez.
É estranho e maravilhoso ao mesmo tempo, se sentir consumida
desse jeito. Estar tão perfeitamente encaixada em outra pessoa, no enlace
mais íntimo que existe.
— Me diga o que fazer — peço, tentando deixar a dor incômoda de
lado e me concentrar na sensação de plenitude que era senti-lo se movendo
dentro de mim.
Seu rosto continua rijo, embora eu veja a excitação presa em seu
olhar, como se ele tivesse se contendo enquanto se move com lenta
precisão.
— Continua doendo?
— Um pouco — ofego —, mas quero mais.
Liam geme e me beija intensamente. Seus quadris batem no meu
com mais força. Tremo de dor e prazer.
Ah sim. Por favor.
Sem aviso, ele passa os braços por baixo de mim e nos vira na
cama, até que eu esteja em cima dele.
Arquejo surpresa encarando-o por entre os fios dos meus cabelos
revoltos.
Ele está sorrindo.
— Vamos improvisar...
Suas mãos varrem minhas costas e pousam em meus quadris e solto
outro grito surpreso quando me bate ali.
— Olhe pra mim.
Obedeço para então seus dedos apertarem minha pele, me ensinando
o movimento.
E com meu olhar preso no dele, vejo o exato momento em que nos
movemos no mesmo ritmo. Ele grunhe roucamente nos erguendo, até que
eu esteja em seu colo e seus dedos tiram meu cabelo do caminho para que
seus beijos encontrem minha garganta. Enfio minhas mãos em seu cabelo,
puxando ao sentir um prazer insidioso renascer em meu ventre.
— Isso é bom? — Morde minha orelha e eu me arrepio.
— Sim...
— E isso? — Ele escorrega o dedo entre nossos corpos e acaricia
meu clitóris.
Perco o ar e me contorço toda em seu colo, enfiando minhas unhas
em seus ombros.
— Oh Deus, sim...
Ele me joga na cama de novo sem aviso, me prensando contra o
colchão e segurando minhas mãos acima da minha cabeça e investe seu
quadril contra o meu com fúria e velocidade agora.
Mal sinto a dor, absorta pelo prazer que se espalha pela minha pele
como ferro em brasa, queimando e me fazendo gemer e suspirar.
Tento manter meus olhos abertos, me concentrar em tudo, querendo
gravar cada toque, cada sensação, cada nuance daquele momento, porém
me perco numa doce inconsciência e tudo se torna demais para me manter
no controle. Cerro minhas pálpebras, um grito mudo preso em meus lábios,
quando meu corpo inteiro se desmancha embaixo dele, no mais perfeito e
sublime prazer.
Volto à realidade, ofegante e atordoada e abro os olhos para
encontrar Liam Hunter lindo e suado pairando em cima de mim.
— Preciso perguntar se está bem?
Não tenho certeza se ele está realmente preocupado ou se eu
continuo delirando.
Sorrio languidamente percebendo que ele liberou minhas mãos
quando consigo movê-las para tirar uma mecha de cabelo suado de sua
testa.
— Acho que nunca estive tão bem... — Passo os braços em volta do
seu pescoço, pronta para um beijo, porém ele me afasta e sai da cama.
— Ótimo — rosna, quase friamente, enquanto ruma na direção do
meu banheiro.
Ainda estou desnorteada com aquela mudança brusca quando escuto
a torneira se abrir e fechar e, no instante seguinte, ele volta para o quarto e
começa a se vestir.
— Vai embora? — Eu me sento puxando o travesseiro para frente
do corpo. Não posso evitar meu tom queixoso.
— Eu nem deveria estar aqui, Senhorita Jones.
Rolo os olhos, meio irritada ao ouvi-lo me chamar daquele jeito.
Ele veste a camisa e pega o celular, digitando algo furiosamente.
Eu não sei o que fazer.
Pedir que fique certamente não vai adiantar nada.
Também não quero choramingar e dizer que me sentia usada. No
fundo, eu não me sinto usada.
Eu me sinto mais confusa do que nunca.
Liam tinha feito amor comigo e agora o que vai acontecer?
Não podia ser só isto, podia?
Sinto um arrepio de medo traspassar minha espinha. Lembro-me
das fotos daquelas mulheres na internet. Nunca a mesma. Nunca uma
repetição.
— Eu queria que ficasse. — Decido pela sinceridade.
Ele se vira para mim já totalmente vestido.
Já não é mais Liam Hunter, meu amante.
É Liam Hunter, o temido Leão de Wall Street.
Ele era fogo num minuto e gelo no outro.
Prendo a respiração quando ele avança em minha direção e levanta
meu queixo.
— Tenho mais uma lição para você, Senhorita Jones. — Sua mão
acaricia meu rosto. — Sou sempre eu quem dita as regras.
— Tenho que concordar com elas? — arrisco. Sua mão envolve
minha nuca.
— Lembre-se que foi você que pediu para eu mostrar...
— Então vamos continuar com isso? — Não posso evitar a minha
voz esperançosa.
— Pode ter certeza que sim. — Ele me beija com força e me solta.
— Ainda nem comecei com você, Senhorita Jones. — Sorri perigosamente
quando se apruma.
— Emma, me chame de Emma — resmungo, mas ele já está indo
embora.
Em poucos segundos, escuto a porta batendo.
Estou sozinha.
Não sei o que sinto enquanto me levanto e me visto, sem tomar um
banho, porque quero continuar sentindo seu cheiro na minha pele. Observo
pela janela a chuva lá fora e espreguiço meu corpo dolorido e saciado.
Eu não sou mais virgem.
Fiz sexo com o Leão de Wall Street e ele foi embora sem maiores
explicações, e agora não sei o que esperar.
Só sei que o mundo parece ter novas cores. Cada pedacinho de mim
está vivo e vibrando.
E tem tudo a ver com ele.
De repente meu telefone vibra e eu o pego.
“Hoje à noite. Na minha casa. Ethan irá buscá-la.”
Apreensão e excitação borbulham dentro de mim numa mistura
inebriante.
Que os jogos comecem.
Capítulo 11

Estou quase saltitando quando saio do meu prédio para encontrar o


lindo carro de Liam Hunter e seu motorista me esperando naquela noite.
Ethan está encostado no capô, com os braços fortes cruzados sobre
o peito largo e um sorriso divertido no rosto enquanto me mede. Ele faz
uma careta e coça os cabelos.
— O que foi? — Eu o encaro, intrigada, sem conseguir parar de
sorrir. Acho que nem a notícia da morte de alguém iria me fazer parar de
sorrir hoje.
Estou assim desde que recebi a mensagem de Liam.
Aquela mensagem havia jogado para longe o meu medo de que
Liam não me quisesse mais.
Tomei um longo banho e passei a tarde tentando decidir o que
vestir. Depois de horas infrutíferas em frente ao meu closet e de invadir
sorrateiramente o de Zoe, decidi que não faria diferença alguma. Liam
havia escrito “minha casa”. Eu podia supor que não iríamos sair. E essa
constatação fazia alguns arrepios descerem deliciosamente pela minha
espinha, antevendo o que viria.
Ah, ele ia me mostrar...
Apesar de ser a mais inexperiente das garotas, podia bem imaginar. E
por mais que existisse certo medo do desconhecido, a vontade que eu tinha
de deixar Liam me levar para o mundo dele era maior que qualquer receio.
Então, eu esperei. Olhando meu celular de cinco em cinco minutos
desejando que ele me mandasse mais alguma mensagem, mas recebi apenas
uma mensagem de Zoe dizendo que ia sair com seus amigos do trabalho e
me perguntando se eu queria ir. Respondi que não, hesitando em dizer que
ia me encontrar com Liam. No final, preferi não dizer nada. Sabia que teria
que contar tudo a Zoe em breve, não hoje.
No fundo, sabia que Zoe ficaria preocupada com este envolvimento.
E não queria que ela viesse com críticas que me tirassem do meu mundinho
de felicidade.
Não ainda.
Agora, vendo o olhar crítico de Ethan, me pergunto se deveria ter
roubado algum vestido requintado de Zoe, afinal.
— Nada, só observando suas roupas — ele responde por fim, se
desencostando do carro e abrindo a porta de trás para mim.
Não hesito em abrir a porta da frente.
— Não há nada de errado com as minhas roupas, Zoe! — Bato a
porta na sua cara.
Ethan dá a volta sentando no banco do motorista.
— Quem diabos é Zoe?
— Minha amiga. Ela sempre critica minhas roupas. E eu até posso
entender. Agora, você? — De repente eu o encaro com os olhos
arregalados. — Você é gay?
Ethan solta uma sonora gargalhada enquanto dá partida.
— Não, senhora.
— Então por que está criticando minha roupa?
— Acho que é a primeira garota que levo até Liam que usa algo
tão... trivial.
A menção a outras garotas me faz fechar a cara e eu me viro no
banco olhando a rua sentindo um mal-estar.
Por mais ridículo que seja não posso evitar.
Liam já saiu com um sem-número de mulheres, eu mesma vi as
fotos na internet, por que isso me feria?
— Ei, me desculpe, Emma. — Ethan toca meu braço. — Sou um
idiota... Merda! — Bate no volante, parecendo realmente frustrado.
— Tudo bem, não falou nenhuma mentira, não é? — Sorrio sem
graça.
— Eu te chateei.
— Não posso evitar. Mas está tudo bem. De verdade! — É minha
vez de tocar seu braço.
Ethan liga o rádio e eu me preparo para ouvir algo pesado, mas
escuto Sia encher o ambiente e abro um sorriso genuíno.
— Só me redimindo, Senhorita Jones.
— Ah, por favor, me chame de qualquer coisa menos Senhorita
Jones! — imploro.
Só Liam me chama assim. Outra pessoa me chamando soava
esquisito, como se só Liam pudesse fazer isso, mesmo aquele tratamento
me deixando irritada.
Ethan apenas ri e cantarola a música o que me faz cantar também.
Porém, quando ele estaciona o carro em frente ao prédio de Liam,
sinto minha barriga se contorcer de ansiedade.
Ethan me acompanha pelo elevador e abre a porta para mim. Como
eu me lembro, o apartamento de cobertura continua sendo o lugar mais
incrível que já vi. A decoração parece saída de uma revista. E a vista
deslumbrante do Central Park continua lá.
Mas onde está Liam?
Escuto passos e meu coração dá um pequeno salto no peito. Quando
me viro não é Liam quem vejo, e sim um homem oriental vestido todo de
preto.
— Esse é Eric Chon — Ethan apresenta e o homem faz apenas uma
mesura.
— Senhorita...
— É... Oi. — Sorrio confusa.
Quem diabos é ele?
Ethan percebe minha confusão e sorri.
— Eric é quem cuida da casa para Liam, digamos assim.
— Cuida da casa, tipo... um mordomo?
Os dois homens riem.
— Também — Eric fala num perfeito inglês. E eu achando que ele
podia ser algum oriental legítimo ou algo parecido.
— Eric é um excelente cozinheiro, Emma, você poderá comprovar.
— Sim, espero que a senhorita aprecie o jantar — o rapaz fala
gentilmente.
— Sei... E onde está Liam? — Começo a ficar inquieta.
Ethan coça o cabelo e parece hesitante.
— Liam não está aqui... agora.
— Não? Ele ainda não chegou do trabalho? — Tento não ficar
decepcionada. Não são nem oito horas da noite e conhecendo Liam é bem
capaz de ele estar enfiado em alguma negociação da bolsa ou algo do tipo.
— Digamos que sim...
— Como assim? Está ou não?
— Ele tem um jantar de negócios.
— Ah... — Meu humor murcha completamente e tento driblar a
decepção mesclada com a frustração e até mesmo certa irritação.
Se ele tinha um compromisso por que mandou me buscar?
— E por que eu estou aqui se ele tem este jantar? — expresso minha
dúvida a Ethan.
— Porque ele mandou eu te buscar. Terá que perguntar a ele.
— Claro. Você só cumpre ordens e blá-blá-blá! — Eu rolo os olhos.
— Bem, se terei a oportunidade de perguntar pessoalmente é porque ele
chegará em algum momento desta noite, não é?
— Obviamente.
Começo a me sentir muito irritada e frustrada.
Não foi assim que eu imaginei aquela noite. Esperando até sabe
Deus que horas Liam Hunter se dignar a aparecer. Ele podia muito bem ter
me informado que tinha um compromisso.
Pergunto-me se ele é tão displicente em todos os seus encontros. Ou
se essa falta de consideração é somente comigo.
— Eu tenho que ir — Ethan interrompe meu debate interior.
— Como assim tem que ir? Vai me deixar sozinha?
— Assim você ofende o Eric, Emma.
— Não entendo por que tenho de ficar se Liam não está! Acho
melhor me levar embora.
— Nem pensar. Liam me mataria.
— Esse é um problema seu!
— Olha, sei que esperava encontrar o Liam, mas você quer ir
embora? De verdade? Se quiser realmente, eu te levo, não posso obrigá-la a
ficar, mas o Liam pediu que a trouxesse. Ele quer que fique esperando por
ele. Entende?
Hesito, digerindo suas palavras e começando a entender. Liam é um
maníaco por controle, ao que parece. De alguma maneira, ele queria saber
que eu estaria ali, esperando.
É irritante e excitante ao mesmo tempo.
— E então? — Ethan insiste.
Não, eu não quero ir embora.
Sacudo a cabeça negativamente, ele sorri e se vai.
Eu encaro Eric.
— Então somos somente nós dois.
Ele sorri meio vermelho e eu acho uma graça.
Na verdade, ele é bonitinho e não é tão mais velho do que eu.
Onde Liam tinha arranjado aquele cara para aquela função bizarra?
— Servirei o jantar na sacada, por favor, me acompanhe.
Eu o sigo até a sala de jantar que se abre para um terraço e arfo
maravilhada com a visão dos prédios da cidade com o crepúsculo.
— É lindo...
— Posso te servir alguma bebida antes ou gostaria de jantar,
senhorita?
— Por favor, corta esse senhorita, pode me chamar de Emma.
— Certo... Emma — ele concorda corando de novo.
— Eu acho que estou com fome.
Eric arrasta a cadeira de uma mesa de ferro para eu me sentar.
— Claro, eu vou servir o jantar.
Enquanto ele se afasta, meu celular vibra e me pergunto se seria
Liam, mas murcho ao ver que é Zoe indagando onde estou. Seu
compromisso acabou mais cedo, ao que parece. Hesito, mas acabo optando
pela verdade.
“Estou na casa de Liam Hunter.”
“Puta que Pariu Emma, enlouqueceu? Que diabos está fazendo
aí? Achei que o combinado fosse nunca mais ver este idiota.”
“Eu sei. Te explico depois, ok?”
“Depois quando?”
“Provavelmente só amanhã.”
Eu não sei se vou passar a noite na casa de Liam, mas espero que
sim, então é melhor não deixar Zoe preocupada.
Antes que ela possa responder, eu desligo o celular.
Eric volta com pratos fumegantes e lindamente decorados. Eu salivo
ao ver o filé suculento.
— Como sabe se eu não sou vegetariana?
— Ethan me disse que comeu hambúrguer com fritas.
— Ah, sei.
Ele me deixa sozinha, depois de servir vinho na minha taça e eu
devoro a comida como se não comesse há dias, se bem que, basicamente é
isso mesmo.
— Ethan tem razão. Cozinha muito bem — eu o elogio quando ele
volta ao fim da refeição perguntando se eu quero algo mais.
Raspo o prato de sobremesa, o crème brûlée mais gostoso que comi
na vida e certamente não caberá mais nada no meu estômago naquele
momento.
— Eu explodiria se comesse mais alguma coisa. Não sei como Liam
não é um cara barrigudo comendo essa comida tão deliciosa!
Eric ri, recolhendo os pratos.
— Liam pratica luta com Ethan periodicamente, além de corrida.
— Como assim luta? — Eu me levanto e começo a ajudá-lo.
— Não faça isto, senhorita — Eric tenta me impedir.
— Não me chame de senhorita. Eu vou morrer de tédio se ficar
esperando sem fazer nada. Fora a minha ansiedade! Então deixa eu te
ajudar.
— Tudo bem.
Eu o venço, o siguindo para a cozinha.
— O que quis dizer com luta? Eles praticam luta marcial, boxe?
— Briga de rua, acho.
Arregalo os olhos.
— Jesus, sério?
— Uma vez eu assisti, é divertido.
— Se você diz...
Imagino Ethan e Liam brigando a socos e pontapés e não consigo
ver como aquilo pode ser divertido.
— Como o Liam pode lutar com o Ethan? Ethan parece ser muito
bom e muito forte!
— Eles se conhecem desde a adolescência e parece que sempre
fizeram isso.
Eu me sinto subitamente curiosa para saber mais. Então Ethan
conhece Liam antes de ele ser rico?
— Você quer dizer antes de Liam ser adotado pelos Hunter?
— Acho que sim...
Começo a lavar a louça, me perguntando se Eric saberia mais sobre
o passado de Liam.
— A senhorita não precisa fazer isso... — Ele tenta tirar os pratos da
minha mão. Eu o ignoro e continuo.
— Fez um jantar delicioso, nada mais justo que eu lave a louça.
— É o meu trabalho lavar a louça também, senhorita.
— É Emma! Me diz uma coisa, estou curiosa para saber como veio
trabalhar para o Liam...
Ele suspira, vencido, e pega um pano de prato.
— Eu era cozinheiro num restaurante que Liam frequentava. Um
dia, ele pediu para me conhecer e disse que eu preparava o melhor filé da
cidade e queria que eu cozinhasse só pra ele.
— Ah Deus, isso é tão Liam Hunter!
Nós dois rimos.
— Eu fiquei chocado e declinei, aí ele me ofereceu um salário tão
bom que foi impossível recusar.
— Ethan disse que você é tipo um faz-tudo.
— Sim, Liam tentou ter várias empregadas, nenhuma deu certo...
— Por quê?
— Você já deve saber como Liam é. Não é fácil lidar com ele e
mulheres tendem a ser muito sensíveis.
— Ah, acho que entendo. Ele é muito estúpido.
— Não é bem assim. Ele apenas espera que as pessoas tenham
determinado tipo de comportamento para que tudo funcione exatamente
como ele planeja. Nem todo mundo consegue lidar com suas expectativas.
Será que conseguirei ter o comportamento que Liam espera de
mim? Hoje devia ser uma espécie de teste, não é? Eu tinha que estar onde
ele queria, na hora que ele queria.
“Sou sempre eu quem dita as regras” ele havia dito.
Eu estava começando a perceber.
Porém, até onde estarei disposta a seguir suas regras?
— Você mora aqui?
— Não. Eu tenho um apartamento alguns andares abaixo.
— Sério? Você mora neste prédio chique? Seu salário deve ser
muito bom mesmo!
Ele ri.
— Na verdade este prédio é do Liam.
— Wow! — Eu arregalo os olhos.
— Tanto eu quanto o Ethan moramos aqui. Ethan é meu vizinho.
— Nossa! Isso é o que eu chamo de controle.
— É bem prático, na verdade.
Eu me pergunto para quantas garotas mais Eric já cozinhou. Se
Liam faz esse mesmo ritual de iniciação com todas.
Se as faz esperar por ele, testando sua paciência.
— Que diabos está acontecendo aqui?
Nós dois nos viramos surpresos ao ouvir a voz irada e nos
deparamos com Liam na porta da cozinha nos encarando com cara de
poucos amigos.
— Liam! — exclamo, não conseguindo conter minha empolgação.
Que não se arrefece nem com sua fria inspeção de mim para Eric.
— Você estava lavando a louça? — ele pergunta pausadamente,
como se seus olhos estivessem enganados. Ora, qual o problema em se
lavar uma louça?
Enxugo minhas mãos no pano de prato que Eric me passa.
— Sim, achei justo já que Eric fez o jantar — respondo docemente.
— Eu disse a ela que não precisava, porém a Senhorita Jones parece
ser um tanto teimosa — Eric esclarece.
— Sim, ela é — Liam responde com os olhos fixos em mim. —
Eric, você pode ir.
Eric faz uma mesura discreta e me lança um sorriso contido antes de
sair da cozinha.
— Por favor, não fique bravo com ele. Fui eu que pedi para ajudá-
lo... — eu caminho em sua direção.
— Eu não estou bravo com ele, Senhorita Jones.
Ah, lá está. Não Emma. Apenas o grave e cerimonioso Senhorita
Jones. Sinto um arrepio de medo percorrer minha espinha.
— Estou bravo com você.
Engulo em seco. Parando meus passos.
Estou encrencada? Ele vai finalmente me punir como vinha
ameaçando?
De repente sinto um medo real de que tenha me metido em uma
encrenca maior do que eu poderia enfrentar.
Porém, não posso negar que ele me deixa excitada com suas
ameaças que, acompanhadas de sua voz sexy, sempre me parecem mais
promessas sensuais do que algo ruim ou doloroso.
Por outro lado, o que conheço sobre aqueles jogos?
— Vai me punir? — pergunto num fio de voz.
Sinto meu coração bater rápido no peito.
— Me espere no meu quarto, Senhorita Jones.
Ele marcha para fora da cozinha me deixando sozinha, sem saber o
que fazer.
Fugir?
Certamente ele não pode me impedir de sair porta afora.
Eu poderia ir embora, parar com aquela loucura e nunca mais voltar.
Nunca mais ver Liam? Nunca mais sentir seu toque? Nunca mais
ouvir sua voz. Brava ou sedutora, fazendo meu corpo derreter em qualquer
uma das circunstâncias?
Não, não posso fugir.
Eu quero ficar.
Com meu coração disparado no peito, caminho para o covil do
Leão.
A caça acabou.
Quando eu estive ali anteriormente, estava tão grogue e confusa que
não me ativera a detalhes, agora deixo meu olhar vagar por tudo.
É um quarto espaçoso e moderno, com uma parede de vidro que dá
uma vista noturna de Manhattan que é de tirar o fôlego.
Tudo em cinza, branco e preto.
A cama enorme domina o ambiente quase espartano apesar de
luxuoso. Um tapete branco macio leva até uma lareira de aço fabulosa.
Além disso, apenas uma cadeira vitoriana completa o ambiente.
Permaneço parada sem saber o que fazer até que sinto sua presença
atrás de mim. Eu me arrepio.
Ele passa por mim e coloca uma caixa decorada com um lindo laço
rosa sobre a cadeira.
— É pra você.
Arregalo os olhos, enquanto ele tira a gravata.
Seu paletó já havia desaparecido.
— Um presente?
— Eu adivinhei que viria com essas suas roupas mundanas.
— Roupas mundanas? Eu achei que não teria a menor importância a
roupa que eu usasse já que você iria tirá-la. E eu gosto das minhas roupas e
odeio presentes.
Ele levanta uma sobrancelha.
— Está realmente me desafiando, Senhorita Jones?
— É só... Estou sendo sincera. Não quero que fique me dando
presentes. Não estou aqui por esse motivo.
Liam estuda minhas palavras por um momento e eu me pergunto se
juntei mais uma transgressão à minha coleção de falhas a serem punidas.
Então ele se inclina sobre a caixa e tira o laço.
— Você é a criatura mais estranha que eu já conheci, Senhorita
Jones.
— Isso é algo bom ou ruim? — arrisco.
— Ainda estou avaliando — responde vindo em minha direção. —
Me dê suas mãos.
— O quê? — Lanço-lhe um olhar atordoado.
— As mãos, Senhorita Jones — insiste impaciente e eu estendo
minhas mãos, que, para minha surpresa, ele começa a amarrar num laço
elaborado.
Oh. Meu. Deus.
Liam está me amarrando!
De repente várias possibilidades e perguntas passam por minha
mente confusa. Eu sabia que ele gostava de jogos sexuais. Podia imaginar
alguns, afinal, eu não tinha experiência em nada disso, porém não era
idiota. Só nunca tinha parado para pensar em quão profundo era seu
envolvimento naquele tipo de prática.
— Você é tipo um... um... — Tento articular minha pergunta
curiosa.
Ele tira os olhos do seu trabalho com o laço e me encara.
— Pergunte, Senhorita Jones.
— Eu não entendo muito do assunto, mas como você vive dizendo
que quer me punir, que gosta de bater em mulheres, é maníaco por controle
e agora está me amarrando, por acaso você é o que chamam de Dominador?
E isso faria de mim uma espécie de submissa ou algo parecido?
Ele testa o laço, puxando-o de minha mão e volta a me encarar.
— Quer saber se eu sou um praticante de BDSM?
— Basicamente. — Eu coro. Não sei se quero saber a resposta.
— Eu gosto de jogos, Senhorita Jones. Gosto de ver a dor se
misturar ao prazer. Não tem noção de como um está próximo do outro.
Gosto de testar esses limites. Gosto de estar no controle. E sim, eu estive
envolvido no mundo BDSM por um tempo, mas não estou mais. Então não,
não sou um dominador.
— Por que não está mais?
Ele sorri perigosamente.
Meu ventre se contrai.
— Eu não sou bom com regras.
Engulo em seco.
— Devo me preocupar ou ficar aliviada?
— Vá para a cama. E irá descobrir.
Obedeço sem pensar, me sentando sobre o colchão.
Ele vem até mim e toca meu rosto, colocando uma mecha de cabelo
atrás da minha orelha. Inclina-se até que seus lábios toquem minha
bochecha e faz um caminho vertiginoso ao meu ouvido.
— Quando se trata de sexo, Senhorita Jones, eu faço minhas
próprias regras.
Eu arfo.
— Deite-se. — Ele coloca as mãos no meu ombro e me faz deitar
no centro da cama jogando meus braços para cima da minha cabeça.
Ainda estou toda vestida quando ele se afasta.
Tento controlar minha respiração. Suas últimas palavras dançam na
minha mente.
Ele não curte regras.
Ele gosta de jogos.
Gosta de punir.
De controle.
Ele não está naquele mundo BDSM porque não gosta de suas
regras.
Do pouco que sabia sobre aquele assunto, cortesia de uma colega de
faculdade que gostava de ler literatura relativa ao tema e havia comentado
comigo uma vez, eu sabia que, do mesmo jeito que havia punições,
submissão e controle, também havia muitas regras para garantir a segurança
de quem praticava esse tipo de sexo.
Só que Liam Hunter não gostava delas.
Puta. Que. Pariu!
Onde diabos estou me metendo?
Capítulo 12

Estou me perguntando de novo se devo levantar e correr quando


Liam surge no meu campo de visão.
Sua camisa desapareceu e eu me perco por alguns instantes,
admirando seu peito de estátua grega. Sinto um frêmito de prazer percorrer
minha espinha, ansiando e temendo o que está por vir.
Será que ele vai me machucar?
Começo a tremer e fecho os olhos.
— Abra os olhos, Emma!
Abro imediatamente quando percebo que ele me chamou de Emma
e não de Senhorita Jones. Prendo meus olhos nos seus.
Escuros e perigosos.
Ele senta na cama, se inclinando sobre mim. E noto que ele tem
uma tesoura em suas mãos.
— Eu não vou te machucar, confia em mim?
Ele está falando sério? Estou amarrada e indefesa e ele está
segurando um objeto cortante, porra!
Meu coração bate tão forte contra minhas costelas que acho que
pode ser ouvido do outro lado do Central Park. Por alguns ínfimos segundos
a luta dentro de mim toma ares de final do mundial de MMA, tamanha a
força com que minha atração tenta matar o meu medo.
— Emma? — ele me chama novamente e sinto a impaciência em
sua voz. — Quer ir embora? Basta uma palavra e eu desamarro você e
nunca mais precisamos nos ver.
É aquele nunca mais que faz meu coração falhar não mais de medo
do que vai acontecer e sim de nunca mais vê-lo. Sacudo a cabeça em
negativa.
— Não, eu não quero ir embora.
Ele sorri e eu vejo que também segura uma gravata.
— Vou perguntar de novo. Confia em mim?
Confio?
Não tenho muita certeza, embora já tenha ido longe demais para
recuar.
Sacudo a cabeça em afirmativa.
Então ele coloca a gravata sobre meus olhos, amarrando atrás da
minha cabeça.
O mundo escurece.
Meu coração volta a disparar.
— Não se mexa — ordena e praticamente paro de respirar.
Calafrios atacam minha espinha quando sinto a ponta fria sobre
minha pele e percebo que ele está cortando as minhas roupas.
Puta que pariu, ele vai mesmo cortar as minhas roupas?
Tento me mexer, querendo ver o que ele está fazendo.
— Eu mandei não se mexer. Não gostaria de cortar esta sua pele
branca e perfeita, Senhorita Jones. — Sua voz ressoa ameaçadora em meus
ouvidos e eu paro amedrontada.
Assim, com somente o som da tesoura destruindo minhas roupas
através de suas hábeis mãos e a minha respiração entrecortada, vou sentindo
o frio da noite maculando minha pele, conforme o tecido que me cobre vai
desaparecendo.
Minha blusa se foi. Meu sutiã toma o mesmo rumo.
— Você tem seios lindos. — Sua voz acaricia minha pele e eu tremo
ao senti-la em meu mamilo que se eriça quando Liam assopra e deposita um
beijo quase casto sobre ele.
Deixo escapar um gemido baixo e me mexo ansiosa. Uma mordida
forte e dolorida me faz gritar.
— Não mandei se mexer — exclama friamente e agora sinto a
tesoura na minha calça jeans.
Eu gosto mesmo desta calça, comprada numa promoção ótima no
ano anterior. E agora ela está sendo picotada, lamento.
Sinto-o retirando meu tênis e minha meia. E por último a tesoura
está na minha calcinha.
Estou nua. E minha roupa destruída.
E agora? O colchão se move e escuto passos. Ele está se afastando.
Apuro os ouvidos e acho que ouço o farfalhar de tecido. E o crepitar
do fogo.
Acho que ele ligou a lareira.
— Não sabe como fica deslumbrante assim — diz com sua voz
perfeita me fazendo estremecer. — Nua e amarrada na minha cama.
O colchão se move e sei que ele está ali comigo. Quase posso sentir
o calor de sua pele. Aproximando-se. É incrível como todos os sentidos se
tornam mais apurados quando estamos privados da visão.
Eu não posso ver, então aspiro forte e sinto seu cheiro. É másculo e
profundo. Algo como perfume masculino e suor. É delicioso e faz minha
boca salivar.
Serpenteio o corpo inquieta e sinto seu peso sobre minhas pernas e
uma mão em minha barriga, me segurando no lugar. Liam está nu.
Completamente nu. Sobre mim.
Começo a hiperventilar.
— Não se mova. — Sua voz na escuridão parece mais perfeita ainda
aos meus ouvidos inesperadamente aguçados. — Respire. Devagar —
ordena.
Forço minha respiração a ir mais devagar. Não é fácil. Assim como
não é fácil me manter quieta, quando tudo o que eu quero é me jogar em
cima dele, com mãos e lábios, tê-lo de novo perto de mim como hoje cedo.
— O que está esperando? — questiono impaciente.
Seus dedos acariciam minha cintura.
— O que eu te falei sobre paciência? — Sua voz está na minha pele
quando lambe minha barriga, tão lentamente que sinto meu ventre
ondulando com os tremores.
Fecho os olhos, mesmo sem precisar. É apenas... demais.
— O que acha que vai acontecer agora? — ele pergunta.
Forço minha boca subitamente seca a falar.
— Você disse que ia me punir.
— Eu disse? Sim, eu deveria. — Ele se move mais para cima. Sinto
pelo deslizar de sua respiração em minha pele. — Você é tão impertinente.
— Seus lábios tocam meu estômago. — E teimosa e... — Seu respirar se
move para meu pescoço — insolente — respira em meus lábios. — Eu
tenho vontade de bater em você desde que tropeçou em mim naquele
saguão.
Puta merda, é sério? Como? Ele nem me conhecia!
Seus lábios roçam os meus. Sua ereção roça em mim.
Arqueio o corpo com um gemido angustiado e ansioso.
— Não — Ele me beija de novo — se — de novo — mexa — e de
novo.
Obrigo-me a ficar quieta. Ah Deus, ele está me torturando. Pura e
simplesmente.
Sinto seus lábios se movendo por meu rosto agora. Beija minha
têmpora, meus olhos por cima da venda improvisada, meu queixo.
— Você cheira tão bem. — Enterra o rosto em meu pescoço,
aspirando. — Quero cheirá-la inteira... Como cocaína... — Morde minha
orelha e se move tão rápido para baixo, que nem percebo, apenas sinto seu
respirar na minha barriga. E descendo. E lambendo.
— Ah, por favor... — suplico.
Então suas mãos estão separando minhas coxas e sua respiração está
ali, entre elas.
Eu vou morrer. Agora. Amarrada nesta cama, com Liam respirando
em mim.
— Isso... Implore — pede contra meu clitóris. Minhas pernas
começam a tremer. Ele não faz nada, só fica ali, respirando.
— Por favor... — imploro num gemido, quero me mexer de
ansiedade, ele segura minhas coxas com força. — Por favor... — Se ao
menos eu pudesse ver. Ou mover minhas mãos...
Mas estou ali, presa e indefesa, à espera de seu comando.
Então ele me lambe uma vez.
Oh Deus.
— Diga meu nome...
— Liam...
Ele faz de novo, desta vez demorando um pouco mais. Sinto meu
ventre se contrair.
— De novo... — pede usando os dentes.
— Oh Deus, Liam... — minha voz é só um sussurro ofegante.
Então ele chupa com força e eu grito. Desta vez ele não para.
E sinto toda energia do meu ser se concentrar naquele pequeno
ponto que ele possui com sua língua, lábios e dentes. Todo meu corpo vibra
e se move no rítmo de suas investidas. É um tipo de prazer diferente de tudo
que já senti.
É intenso e profano.
Estimula todas as minhas terminações nervosas, que vibram e
queimam num curto-circuito iminente.
Estou derretendo de dentro para fora. Estou desfalecendo e me
desfazendo numa massa trêmula e submissa de prazer.
E Liam está ali, provocando todas aquelas sensações.
Quando sinto que não vou aguentar mais, arqueio meus quadris em
sua direção, gemendo forte e ruidosamente, enquanto ele aumenta o ritmo
de sua tortura, até que eu gozo com violência, numa onda de prazer que me
faz gritar e levitar num mundo totalmente novo e colorido.
Quando minha respiração vai voltando ao normal assim como
minha mente à realidade, sinto Liam ali, me beijando devagar, absorvendo
meus últimos tremores.
— É isso que chama de punição?
Ele ri e sobe beijando minha barriga e surpreendentemente tira a
gravata do meu rosto.
Eu pisco, a luz fraca do quarto me cegando momentaneamente.
Ele está do meu lado. Lindo e despenteado, não mais sorrindo,
infelizmente.
Seu olhar é aquele de predador. Perigoso e letal.
Acho que não me importo.
— Este foi somente um aquecimento, Senhorita Jones.
Franzo a testa, enquanto ele começa a retirar a fita do meu pulso.
— Não sei se entendi. — Meus pulsos finalmente estão livres e
Liam os leva para frente, massageando minha pele sem circulação.
— Tudo tem o seu tempo.
Sinto certo fio de esperança. Tempo.
Ele disse que tínhamos tempo.
Ok, tempo para começar a me bater ou seja lá o que ele queria dizer
com punição.
Também, mais tempo com ele.
Isso me deixa cheia de uma felicidade quase infantil. E eu sorrio
sem querer, enquanto ele continua a massagear meus pulsos.
Ainda sinto sua ereção em minha coxa.
Oh. Oh.
— Você vai fazer amor comigo agora?
Ele me encara e me solta.
O quê?
— Não hoje.
— Mas... — Tento tocá-lo e ele segura meus braços — Você disse
que foi apenas um aquecimento, eu pensei...
Sem aviso, ele me joga de costas na cama de novo, com uma mão
segura meus pulsos acima da cabeça e a outra desce até o meio das minhas
coxas e enfia dois dedos em mim.
Eu gemo ao sentir uma dor inesperada.
— Não vou foder com você hoje porque ainda esta sensível — ele
retira os dedos e sai da cama.
Fico vermelha ao perceber que eu nem tinha me tocado sobre este
detalhe. Claro que estou dolorida. Perdi minha virgindade faz poucas horas.
— Então... o que acontece agora? — Eu me sento em meio aos
tecidos picados do que foi a minha roupa.
— Vou tomar um banho. Você pode se vestir que eu chamarei Ethan
para te levar.
Ir embora? Não quero ir!
— Vestir o quê? Você picotou minhas roupas, Liam mãos de
tesoura! — Jogo para cima os tecidos picotados.
Ele não poderá me mandar embora porque não tenho o que vestir,
penso com esperança.
— Eu lhe trouxe uma roupa. — Aponta para a caixa, enquanto se
afasta desaparecendo dentro do banheiro.
Bufo frustrada e irritada.
E agora?
Levanto-me e pego todos os retalhos das minhas roupas junto num
bolo e os coloco num canto, para serem jogadas no lixo.
Abro a caixa e retiro de lá um lindo vestido preto de renda. Olho a
etiqueta. Gucci.
Deve ter custado uma fortuna. Como será que Liam o comprou?
Será que ele mesmo foi até a loja? Ou mandou alguém comprar?
Eu fico ali, olhando o vestido sexy. Será que se eu o estivesse
usando como Liam queria, ele teria o cortado também?
De repente algo me ocorre.
A tesoura continua sobre a cama e eu a pego. Então começo a
picotar o vestido inteiro.
Se Zoe me visse naquele momento, arrancaria a tesoura da minha
mão e a usaria contra mim.
Nem me importo.
Quando o vestido Gucci é apenas um monte de retalhos de renda
sobre o chão, caminho até o banheiro e empurro a porta, entrando no
interior esfumaçado e me aproximo do boxe abrindo-o e...
Arfo, abalada.
Liam, nu e excitado, está de olhos fechados, se masturbando sob o
chuveiro.
Ele abre os olhos e me encara surpreso e furioso.
Dou um passo em sua direção e cubro sua mão com a minha.
— Deixe que eu faço... — fico na ponta dos pés e sussurro em seu
ouvido — senhor.
Por um momento, ele não se mexe e penso que vai me empurrar e
me mandar sair. Espero com a respiração presa na garganta, então ele retira
sua mão deixando só a minha.
— Sabe como fazer, Senhorita Jones? — Sua voz tem uma
rouquidão excitada deliciosa.
Eu o encaro, mordendo os lábios, com receio de não saber fazer
direito.
— Me ensine...
Liam cobre minha mão com a sua e impõe um rítmo. Nossos olhos
não se desgrudam, nem mesmo quando os dele escurecem de prazer.
Sinto minha própria excitação aumentando junto com a dele, que
enfia os dedos em meus cabelos. Puxa. Machuca. Não me importo. Seus
dentes encontram meus lábios, mordem, beijam, gemem.
Gemo com ele.
— Mais rápido — ordena bruscamente e acelero o ritmo. Ele
encosta a testa na minha e fica tenso. — Porra, Emma! — Geme e goza em
minhas mãos.
Ficamos ali, trêmulos e ofegantes. Liam do orgasmo e eu da
experiência inimaginável, até que ele se afasta segurando minha mão
levando-a para debaixo do chuveiro para que a água lavasse os resquícios
de seu gozo. Eu fico olhando meio fascinada.
Liam está sério.
— Estou encrencada? — indago baixinho.
— Acha que está?
Eu dou de ombros.
— Não sei. Não é você quem dita as regras?
— Você é uma criatura muito absurda, Senhorita Jones.
— Isso é bom ou ruim? — arrisco.
— Ainda não me decidi.
Acho que vejo a sombra de um sorriso em seu rosto, antes de ele se
virar para desligar o chuveiro. Porém o soriso some quando ele me encara
novamente fazendo sinal para eu sair.
Eu fico meio sem graça de me enxugar na frente dele, o que é um
tanto ilógico tendo em vista o que eu estava fazendo no banheiro há poucos
minutos, mas não consigo evitar. Então fico ali, apenas agarrada à toalha,
olhando para o nada, enquanto ele se enxuga numa velocidade
surpreendente. Não sei se percebeu minhas reservas, quando me lança um
de seus olhares irascíveis e rosna um “enxugue-se e vista-se!” — antes de
sair.
Vestir?
Droga, começo a me enxugar velozmente, já não me sentindo tão
esperta agora que ele ia descobrir o que eu fiz com o vestido.
— Que diabos significa isso? — Sua voz ecoa no banheiro num
estrondo ameaçador e me encolho, enquanto passo a toalha em volta do
corpo.
Caminho para o quarto devagar e Liam está parado usando apenas a
toalha ao redor dos quadris enquanto fita os pedaços de tecido no chão.
Agora sim eu tenho certeza que estou muito encrencada.
Ele me encara entre furioso e chocado.
— Você fez isso?!
— É... sim.
— Por que demônios faria algo assim?
Dou de ombros, muito vermelha.
— Você cortou minhas roupas também...
— Por isso cortou o vestido? É algum tipo de revide? — Sua voz é
fria como o gelo. Oh Deus, ele está realmente bravo.
— Não, eu... só... — gaguejo sem saber o que dizer. — É só um
maldito vestido e não vi você ter a mesma consideração com minhas
roupas! — dardejo.
Seus olhos escurecem de ira.
Dou um passo atrás quase imperceptivelmente.
— Está me provocando, Senhorita Jones? Está tão ansiosa por sua
punição que quis me irritar?
— Não, eu...
— Certo. Eu estava sendo paciente com você. Esperando que se
acostumasse ao jogo. Você está passando do limite. E eu não gosto que
passem dos limites comigo, Senhorita Jones. Não nos meus jogos. — Ele se
aproxima e para na minha frente como um anjo vingador. — Nos meus
jogos ninguém quebra as regras a não ser eu.
Ele se afasta e senta na cadeira vitoriana.
— Venha aqui!
Eu penso em não ir. Ele não pode me obrigar, pode?
Porém me vejo caminhando e parando diante dele. Liam arranca a
toalha com um movimento rápido do meu corpo. Solto um gritinho de
susto. Ele não se abala. E me puxa colocando-me deitada atravessada em
seu colo.
Sinto seus dedos acariciando minha bunda nua.
— Eu vou te bater, Senhorita Jones.
Oh Droga!
É agora.
Chegou a hora da minha tão proclamada punição.
— Apenas para que saiba que não gosto de ser provocado.
Seguro a respiração.
Liam desfere um tapa ardido em minha nádega.
— Ai!
Outro.
Tento não gemer desta vez.
Mais um.
Ok, já chega, né?
Outro.
— Porra, isso dói — reclamo.
Ele bate mais uma vez, surpreendentemente não dói tanto desta vez.
Acho que minha bunda já está amortecida, penso.
Quando sua mão encontra minha pele de novo, não é para bater, e
sim para acariciar. Continuo quase sem respirar, temendo que recomece.
Tinham sido cinco tapas. Quantos ele pretendia dar? O que uma submissa,
ou sei lá como ele ia me chamar, merecia por aquela transgressão?
Ele continua a me acariciar.
— Está vermelha. Sua pele é sensível.
Claro, eu acabei de tomar uns tapas, o que ele queria?
Mordo a língua para não responder com ironia. Sei que é melhor
não abusar mais de sua paciência hoje.
Então, seus dedos descem para o meio das minhas pernas e eu gemo
surpreendida por ficar excitada.
Com um movimento ágil, Liam me gira e em segundos estou
sentada em seu colo, de frente para ele, que afasta com cuidado meu cabelo
do rosto.
— O que está sentindo?
Sério?
Franzo a testa, confusa.
O que quer que eu responda?
— Dor? — Levanto a sobrancelha.
— Não pode estar doendo tanto. Foram somente cinco tapas,
Emma.
— Não pode saber o que eu sinto!
— Por isso perguntei.
— E eu estou respondendo!
Ele desce as mãos e acaricia de novo minhas nádegas.
— Cinco tapas com minha mão não são nada.
Eu me arrepio, perguntando-me com o que ele pretende me bater da
próxima vez.
E vai haver próxima vez? Eu vou permitir que ele faça isso comigo
de novo? Tento analisar meus sentimentos em relação ao que acabou de
acontecer. Sinto-me molestada de alguma maneira?
Não. Não sinto.
Eu havia concordado com aquilo. Com aquele jogo de prazer,
punição e controle. Eu tinha pedido para ele me mostrar. E, até aquele
momento, eu não saberia dizer com certeza se eu seria mesmo capaz de
passar por aquilo.
Aparentemente estou passando nos testes.
Se eu tinha gostado que ele tenha me batido por que estava bravo
comigo por causa de um vestido picotado? Não, eu não tinha gostado.
No entanto, gosto como me acariciava agora. De como tinha tirado
o cabelo do meu rosto e me perguntado o que estava sentindo.
E sei que, se me levantar e pedir para ir embora, não vai me
impedir.
A questão é que eu não quero ir.
Só de pensar em me afastar de Liam Hunter sinto como se uma faca
estivesse sendo enfiada em meu peito. Isso é o que mais me assusta. E não a
possibilidade de tomar uns tapinhas na bunda.
Eu começo a descobrir que estou disposta a muito para poder ficar
perto deste homem.
— Por que picotou o vestido? — Ele me fita curioso.
— Porque eu não queria que me mandasse embora — confesso.
É a vez de ele se espantar.
— Está falando sério?
Sacudo a cabeça afirmativamente.
Sem aviso, ele me beija. Intensamente. Lentamente.
Deliciosamente.
Faz meu coração se encher de contentamento.
Então, me vejo sendo erguida. Ele me leva para a cama e me coloca
lá, me cobrindo.
Sinto-me subitamente sonolenta. Toda a agitação daquele dia
cobrando seu preço.
— Não vou mais embora? — Bocejo.
— Não, não vai.
— Aonde vai? — indago quando ele se afasta.
— Apenas durma, Senhorita Jones.
A luz se apaga.
— É Emma — ainda murmuro, antes de cair no sono. — Por favor,
me chame de Emma...
Capítulo 13

Quando acordo, estou sozinha.


Pergunto-me se Liam dormiu comigo. Onde mais ele dormiria se
aquele era o quarto dele?
Espreguiço-me saindo da cama e meus pés descalços afundam no
tapete macio. Minha bolsa, que nem lembrava onde tinha deixado ontem à
noite, repousa sobre a cadeira vitoriana.
Apanho meu celular e verifico as horas. Ainda é muito cedo, pouco
mais de sete horas. Apuro os ouvidos, o apartamento está no mais absoluto
silêncio. Onde Liam se meteu tão cedo?
Dou mais uma olhada no celular e há algumas mensagens de Zoe.
Sinto-me culpada e lhe mando uma mensagem dizendo que estou bem.
Espero que sirva para acalmá-la por enquanto.
Meu estômago ronca e eu mordo os lábios olhando para mim
mesma, nua. Minhas roupas estão todas picotadas no lixo. Oh droga!
Hesitante, abro a porta do closet de Liam, sentindo-me culpada e
curiosa ao mesmo tempo. É enorme. Com prateleiras e gavetas brancas e
sóbrias.
Tudo muito arrumado por categorias. Ternos, calças, camisas,
gravatas. Tediosamente elegante e com etiquetas de grifes.
Abro as gavetas e sorrio ao ver que são cuecas boxer.
Ah sim, eu posso usar uma destas.
Continuo a fuçar nas gavetas e começo a achar roupas mais comuns,
como moletons e camisetas. Acho uma preta escrito NIN Setembro 2013 —
Troubadour - LA. É uma camisa de um show daquela banda de rock pesado
que ele escuta. Tento imaginar Liam num show de rock. Não consigo. Pego
a camiseta e a visto.
Sentindo-me apresentável, saio do quarto e, enquanto caminho pelo
corredor em direção à sala, começo a ouvir vozes. Uma é de Liam. E a
outra é feminina.
Intrigada, apresso o passo e paro aturdida ao ver Liam todo
arrumado num dos seus ternos escuros andando de um lado para o outro em
frente à grande parede de vidro com o Central Park ao fundo recitando
furiosamente coisas que não entendo nem a metade, usando jargões
financeiros e uma garota elegante digitando muito rápido em um laptop em
seu colo.
Ela é a primeira a me ver, quando levanta o olhar da tela e arregala
os olhos, surpresa com a minha presença.
— Me desculpe — murmuro, ficando vermelha e é então que Liam
se vira e me vê.
Ele não parece surpreso obviamente. Na verdade sua expressão é
uma máscara impassível. Muito parecida com aquela de quando entrei na
sua sala pela primeira vez.
Não consigo dizer se ele está irritado com minha interrupção ou
não. Mesmo assim me sinto em apuros, meu cérebro lembrando-se das
palmadas que levei na noite passada.
Por um momento me sinto meio ridícula, por estar parada ali,
perguntando-me se serei punida por mais uma transgressão. É quase como
se eu estivesse num mundo paralelo diferente do meu mundo real e normal.
No mundo real não existiam amantes que puniam com sonoros
tapas no traseiro. Também não existiria Liam Hunter.
Eu tinha ultrapassado a barreira do que eu considerava normal e
aceitável e entrado num mundo totalmente novo, diferente e um tanto
bizarro. E pior: eu não queria sair dele, porque dizer que tudo aquilo era
insano e ir embora sem olhar para trás, significava deixar Liam.
E um mundo sem Liam Hunter era impensável para mim agora.
Oh, inferno, eu estou tão ferrada.
— Desculpe-me — repito — Não queria atrapalhar, eu... Vou
procurar alguma coisa pra comer... — E me afasto rapidamente na direção
da cozinha, antes que qualquer um deles esboce alguma reação.
Quem será aquela garota?
Certamente, ela trabalha para Liam. Puta que pariu, são sete da
manhã e ela está na casa dele trabalhando? Liam deve ser mais carrasco
com seus funcionários do que comigo, penso com certo divertimento
maldoso enquanto abro a geladeira e procuro o que fazer para comer.
Será que ele também ameaça punir os funcionários caso eles não
estejam disponíveis para seus desmandos na hora em que ordena?
Sem querer, sinto-me mal ao formar em minha mente a indigesta
imagem da garota de terninho no colo de Liam levando tapas na bunda.
Quão longe estou da sanidade ao sentir ciúme de Liam batendo em
alguém que não seja eu?
De repente me pergunto onde foi parar todo o pensamento feminista
que minha mãe me ensinou durante a vida inteira. E de novo me sinto mal
por Margot sequer desconfiar do tipo de relacionamento que estou vivendo.
Ela certamente ficaria furiosa. Se bem que não tem porque minha mãe
saber. Afinal, é minha vida sexual. Quem é que conta para a própria mãe o
que faz na intimidade com o namorado? Eu, logicamente, que não! Não que
eu tivesse alguma coisa de útil para contar antes de Liam, penso com ironia,
decidindo fazer muffins ao ver uma tigela de mirtilo.
Enquanto junto os ingredientes tento ouvir o que se passa na sala,
não consigo escutar nada. Bocejo sonolenta e ao ligar o liquidificador noto
que a tomada fica ao lado de um painel de parede, daqueles que controlam
som ambiente. Uau!
Animada, começo a mexer, pensando que seria legal ouvir um som
enquanto bato a massa, mas dou um pulo quando uma música
ensurdecedora começa a tocar na casa toda.
— Porra! — Aperto todos os botões sem sucesso até que uma mão
com unhas pintadas à francesa se interpõe à minha e o som desaparece
milagrosamente.
Olho para o lado para ver a moça de terninho cinza com um sorriso
polido.
Eu poderia agradecê-la ou perguntar por que Liam não veio desligar
o maldito aparelho, mas franzo a testa desconfiada ao me dar conta que ela
sabia muito bem como mexer em algo na cozinha de Liam. Como assim?
— Liam pediu que eu viesse ajudá-la — ela diz ainda com o sorriso
polido — A propósito, eu sou Sarah. Assistente do Liam.
Liam. Não Senhor Hunter.
— Olha, se quiser colocar o som só na cozinha é este botão aqui da
direita. — Ela liga novamente. — Aqui abaixa o som e aqui você pode
escolher a música, ou mudar para alguma estação de rádio.
Continuo encarando-a desconfiada até que ela para, percebendo
meu olhar. Seu rosto cora e ela fica visivelmente desconcertada.
— Você sabe mexer bem nisso tudo, não?
— Já aconteceu comigo — justifica.
— Sério? Então você perambula por aqui ouvindo música enquanto
o Liam lhe dita ordens?
Ela finalmente percebe meu tom sarcástico e fica séria.
— Sou apenas uma funcionária.
— Eu não perguntei.
— Sarah, não temos o dia inteiro! — Liam rosna de algum lugar da
casa e ela apenas meneia a cabeça e se afasta.
Eu a acompanho com um olhar ameaçador.
— Uau! Até eu fiquei assustado — Ethan surge sabe Deus de onde
todo suado e vestindo agasalho.
— De onde você saiu?
— Estava correndo. — Abre a geladeira e pega uma garrafa de
água, levando à boca.
— Percebo...
Ele ri, enquanto limpa o rosto.
— Você assustou a Sarah.
Faço uma careta, começando a bater a massa e percebo que não
estou com ciúme da tal Sarah apenas por Liam, por Ethan também.
— Sarah é uma intrometida — resmungo.
— Está com ciúme de uma funcionária do Liam?
— Não! — nego com desdém, colocando a massa nas forminhas. —
Só acho estranho que uma secretária ou sei lá o que ela é, saiba mexer em
tudo na casa. Quer dizer que ela vem sempre aqui?
— Muito.
— Muito quanto? — Coloco as formas no forno. — Devo pedir
ajuda para ligar a lareira do quarto do Liam ou algo assim?
Ele ri ainda com mais vontade.
— Liam não transa com suas funcionárias, Emma.
— Hum, eu não estou preocupada com isso — minto, ligando a
cafeteira. Não sei se Ethan acreditou. De repente algo me ocorre.
— E você, transa?
— Não. — Ele ri colocando a garrafa na geladeira.
— Você tem namorada, Ethan? — Ethan segue Liam para todos os
lugares, será que sobrava espaço e tempo para uma vida pessoal? Ele era
um cara tão legal que eu esperava que tivesse alguém.
— Não, eu não tenho.
— Sei... — Sinto-me um tanto decepcionada. — Por que não? Sei
que deve ser difícil para você, tendo que correr atrás do Liam o tempo todo,
mas...
— Não corro atrás do Liam o tempo todo...
— Corre sim! Liam é um tirano, ou algo assim! Não pode deixá-lo
fazer isso com você! Tem que ter tempo para namorar!
— Talvez ele me compense dividindo as suas mulheres comigo —
pisca e é a minha vez de rir.
— Ah é? Vou perguntar a ele.
Ethan fica preocupado.
— Por favor, não faça isto, como eu te disse uma vez, gosto do meu
pau, não quero que Liam o arranque fora.
Eu rio mais ainda. Ethan era mesmo um cara muito divertido.
Recordo-me de Eric dizendo que Liam conhece Ethan há muitos anos e fico
curiosa.
— Você é tão engraçado, como conseguiu trabalhar com o Liam?
Eric me disse que se conhecem há muitos anos...
— Nosso papo tá bom, porém tenho que tomar um banho. — Acena
e simplesmente sai pela porta, sem se dignar a me responder.
Enquanto tiro os muffins do forno me pergunto se ele fez de
propósito. Será que não quer me contar como conheceu Liam? Seria algum
segredo?
Falando em Liam... Apuro os ouvidos, não consigo ouvir nada que
vem da sala. Será que a secretária metida já foi embora? Penso em ir até lá
verificar, mas tenho receio de atrapalhar.
Uma coisa que já percebi é que Liam não curte muito ser
interrompido quando está trabalhando e, pra falar a verdade, não estou com
humor ou clima para seus joguinhos de punição a essa hora da manhã.
Sirvo-me de uma xícara de café. Como farei para ir embora, já que
não tenho roupa nenhuma depois de o Senhor Liam mãos de tesoura tê-las
picotado ontem?
— Parece preocupada.
Levanto o olhar e o vejo entrando na cozinha, seguido por Ethan,
agora já em modo segurança fodão, todo de preto. E nada da secretária
espertinha. Ótimo.
— Na verdade eu estou preocupada com minhas roupas. Ou a falta
delas. — Só depois de falar é que me lembro da presença de Ethan e fico
vermelha feito pimentão.
— Ethan lhe trouxe roupas — Liam responde simplesmente.
— Ah... — Tomo um gole de café, sem conseguir encarar Ethan e
me pergunto o que Liam lhe contou. Espero que não muito, de verdade.
De repente algo mais me ocorre: e se o costume de cortar as roupas
é algo corriqueiro por ali e Ethan já estiver até acostumado a buscar roupas
para as namoradas de Liam?
Ah Deus, realmente não gosto de pensar nisso. Não mesmo.
— Obrigada, Ethan — murmuro, finalmente conseguindo levantar o
rosto e sorrir, mesmo estando vermelha. — E eu preparei o café. Fiz
muffins — digo bem orgulhosa, o que mantém o olhar impassível no rosto
de Liam, para meu desgosto.
— Eu disse que não como de manhã.
— Tudo bem. — Sem perder o sorriso, pego um saquinho e coloco
diante dele. — Fiz um lanche pra você levar para o trabalho. E este é para o
Ethan — completo apontando para o outro pacote. — Vou me arrumar para
não atrasar vocês. — Ainda consigo ver o olhar desconcertado de Liam,
com o saco de muffins na mão, enquanto me afasto.
— Ele só pode estar brincando! — Entro no quarto e em cima da
cama está uma sacola da Gucci. Dentro dela o mesmo maldito vestido de
renda preta que picotei na noite passada. Será que é algum tipo de piada?
Ou está me testando para ver se vou pirar e cortá-lo em mil pedaços de
novo?
E se eu fizer isso? Ficaria furioso e me daria uns tapinhas? Ou algo
pior?
Suspiro, começando a ter dor de cabeça com todas aquelas
suposições. Será que todas as garotas também se sentiam meio perdidas
sem saber o que fazer no dia seguinte à primeira noite passada com o
amante? Ou seriam somente aquelas que dormiam com Liam Hunter e seu
comportamento estranho?
Cansada de pensar, opto pela simplicidade e coloco o famigerado
vestido, ajeito os cabelos e pego minha bolsa.
Liam está defronte à parede de vidro e se vira ao ouvir meus passos.
Seu olhar me mede de cima a baixo e sinto meu pulso acelerar.
Posso confessar a mim mesma agora que estava esperando ele olhar
assim para mim desde a hora que acordei.
— Sabia que este vestido ficaria incrível em você.
Dou de ombros.
— Sim, é um vestido bonito. Até me sinto meio mal por ter
picotado o outro.
— Não parecia arrependida ontem. — Vem em minha direção.
Minha respiração acelera.
Ele para na minha frente, com as mãos no bolso, me fitando de um
jeito que eu não entendo. Há intensidade, interesse e algo mais que não
consigo definir... E não parece bom. Me deixa com um frio no estômago.
De medo.
Engulo em seco. E minhas mãos querem tocar seu rosto. Minha
boca quer perguntar o que está errado.
Eu não ouso.
Há algo naquele olhar que está me repelindo.
E dói de uma maneira que não estou preparada para admitir.
Faz um nó se formar na minha garganta.
— Podemos ir? — pergunto por fim, não aguentando mais aquele
silêncio estranho.
— Sim — responde friamente e eu reparo que ele segura o pacote
de Muffin.
Sorrio secretamente.
Eu ando na sua frente até o carro e Ethan abre seu sorriso divertido
quando me vê, instantaneamente eu percebo seu sorriso se desfazer quando
fita Liam.
— Sarah parece ser uma funcionária eficiente — comento depois de
alguns minutos de silêncio, enquanto Liam digita furiosamente em seu
celular.
— Todos os meus funcionários são eficientes.
— Ela me ajudou com o som. Disse que já passou pela mesma
situação.
Ele levanta a cabeça.
— Quer dizer alguma coisa com isso?
— Não, claro que não. — Dou de ombros, desviando o olhar, não
quero que ele saiba que eu fiquei com ciúme. Não acho que iria gostar. —
Há quanto tempo conhece o Ethan? — pergunto depois de mais alguns
minutos de silêncio em que ele volta à atenção para o celular. A divisória
entre o motorista e o passageiro está levantada.
— Muito tempo.
— Muito tempo quanto?
— Desde quando éramos adolescentes.
— Antes dos Hunter?
— Sim, antes dos Hunter.
— Ah... É realmente muito tempo. — Começo a entender um pouco
do relacionamento dos dois. Óbvio que eram amigos, antes de serem patrão
e empregado. Quer dizer que Ethan deve saber muito sobre Liam, penso
animada.
Minha empolgação se arrefece um pouco quando lembro que ele
deve ser muito leal também. E se Liam não quiser que eu saiba sobre sua
vida, não será Ethan que irá me contar.
O carro para em frente a minha casa e não me sinto preparada para
deixá-lo.
Sinto medo, reconheço.
Um medo que estava crescendo dentro de mim desde o estranho
silêncio em seu apartamento.
— O que acontece agora? — Tento não soar insegura. Não foi Liam
que disse que quem ditava as regras era ele?
Ele parece hesitar, como se não soubesse a resposta, enquanto
desliga o celular.
— Vai me ligar? — insisto, odiando o tom carente da minha voz.
— Sim, eu entrarei em contato — afirma ainda num tom frio.
Ethan abre a porta.
Então vai ser assim?
O bolo no meu estômago pesa de forma quase dolorosa.
Por um momento tenho vontade de bater na sua cara. Ou começar a
gritar, ou fazer qualquer coisa estúpida para chamar sua atenção tirando-o
daquela impassibilidade.
— E se eu quiser te ligar? — desafio.
E talvez tenha algo em meu rosto que diga o quão insegura estou.
Ou com medo. Por que enfim ele ergue a mão e toca meu rosto.
E minha pele exulta. Meu coração acelera.
Quando foi que seu toque se tornou tão vital pra mim?
Fecho os olhos, saboreando aquele alívio. E quase me sobressalto
quando sinto o toque dos seus lábios sobre os meus, num beijo breve,
porém intenso, que percorre minha bochecha até minha orelha.
— O que eu disse sobre regras, Senhorita Jones?
Sorrio. Lá está o fatídico Senhorita Jones. Sou mesmo um caso
perdido, por ficar feliz por ele me chamar assim?
Liam me chamar de Senhorita Jones significa que ainda estamos
jogando.
Ele não está me dispensando, ou algo assim.
Quando me solta, ainda estou sorrindo.
— Eu vou esperar ansiosamente!
Saio do carro e Ethan me recebe do lado de fora, depois de fechar a
porta.
— Obrigado pelos muffins, estavam realmente bons.
— Tenha um bom dia, Ethan!
— Tenha um bom dia, Emma!
Estou sorrindo quando entro no meu apartamento e sou recebida por
Zoe e sua carranca.
De braços cruzados, ela bate os pequenos pés no chão.
— Acho que me deve uma explicação bem longa e... Isso é um
Gucci? — Seu queixo cai enquanto se aproxima e me vira sem a menor
cerimônia para ver a etiqueta.
— Sim, é um Gucci. — Nem ouso dizer que cortei outro igual em
pedaços.
— Acho que tem mais a me contar do que eu imaginava! Como
assim passou a noite com Liam Hunter? Quer dizer que dormiu com ele de
verdade?
— Sim, eu transei com ele — confesso me jogando no sofá.
— Ai meu Deus! Você perdeu a virgindade!
— Zoe, não faz essa cara, parece que estamos no século passado!
— Você vivia no século passado até poucos dias!
— É, acho que tem razão.
— Tem que me contar tudo, tudo! — Ela se senta na minha frente,
ansiosa. — Como diabos isso foi acontecer? Lembro-me de você sair ontem
de manhã para fazer uma entrevista com um autor... Ah, não era autor
coisíssima nenhuma, era o Liam!
— Sim, era.
— Sua mentirosa! E aí?
Conto a ela meus planos e como entrevistei Liam no almoço de
negócios e me saí bem, até a hora que comecei a falar aos Firestone sobre
meu quase amante.
— Eu não aguentei mais e saí praticamente correndo. Fui pro
banheiro, troquei de roupa e estava indo embora quando Liam apareceu. —
Conto o resto até a parte em que ele me beija.
— Nossa, e aí?
Eu fico vermelha.
— E aí que viemos aqui pra casa e... aconteceu.
— Aqui? Liam Hunter, Leão de Wall Street esteve aqui?
— Sim...
— Uau... como foi? Foi legal? Ele foi gentil com você?
Não sei se gentil é a palavra certa para explicar, mas prefiro deixar
Zoe feliz.
— Sim, foi... maravilhoso. — Não deixa de ser verdade. Foi mesmo
maravilhoso durante. Depois que ficou estranho. Mesmo assim não consigo
deixar de sorrir feito uma idiota.
— A primeira vez nunca é maravilhosa! A minha foi uma merda!
— Achei que sua primeira vez tivesse sido com o Jackson.
— E foi, o que não impediu que fosse horrível. Acho que só
consegui gostar lá pela quarta vez! E você aí com essa cara de presunção!
— Claro que doeu, mas foi bom também.
— Esse Liam Hunter deve ser de outro mundo mesmo.
Eu sorrio. Zoe não faz ideia...
— Então e... depois?
— Depois ele foi embora. — Não conto que fiquei meio chateada e
nem sobre o negócio das regras. — E fui jantar na casa dele. Ele tem um
cozinheiro ou sei lá... um faz-tudo chinês.
— Imagino! E daí? Como ganhou esse Gucci?
Hesito em responder. Não quero contar a Zoe todos os detalhes
sórdidos. Não acho que ela entenderia. Provavelmente mandaria prender
Liam por agressão.
— Só mais um presente do Liam. — Opto pela casualidade.
— Você odeia presentes! — Ela me encara desconfiada.
— Eu não gosto mesmo, só é praticamente impossível dizer não ao
Liam, acredite. — Não deixa de ser verdade.
— É um Gucci. Eu posso entender.
— Pois é. E eu acho que é melhor eu tirá-lo.
— Posso experimentar?
— Claro!
Ela pula de alegria.
— A gente poderia sair hoje à noite e eu posso usá-lo! Ah, já sei!
Tristan nos convidou para uns drinks, ele está louco por você e... Ah, você
não deve estar interessada.
— Não, não estou. — Tristan até era um cara interessante,
comparado a Liam, ele perdia toda a graça.
— É uma pena, ontem ele não parou de perguntar sobre você.
Mesmo assim a gente pode sair hoje. Você diz que só quer ser amiga dele e
pronto. E aí eu poderei usar o Gucci.
— Eu não quero sair, você pode ir e usar o Gucci, é claro. — Não
quero dizer a ela que Liam pode ligar e ter outros planos.
Naquela tarde, Zoe insiste em irmos a um salão de beleza e pela
primeira vez eu a acompanho sem reclamar. Fazer as unhas, colocar lama
na cara e alguma máscara de fruta nos cabelos nunca foi algo que eu
apreciasse. Eu cortava os meus cabelos quando eles ficavam grandes
demais e odiava o tagarelar das manicures. E nunca tinha entendido porque
diabos alguém colocaria aquelas melecas no cabelo e na pele.
No entanto hoje tenho vontade de acreditar em Zoe e a sigo em seus
tratamentos de beleza. E devo dizer que foi divertido. Meus cabelos
realmente ficaram com um brilho incrível e a pele do meu rosto bem macia.
Depois ela insiste para eu acompanhá-la até o bar com seus amigos,
eu declino.
— Vai sair com o Liam? — pergunta enquanto faz sua maquiagem.
— Estou esperando ele ligar — respondo casualmente e ela me fita
através do espelho.
— Por que não liga pra ele? Se não forem sair, pode ir comigo.
— Já falei que não quero ir com vocês, não insista! — Eu a deixo
sozinha e vou para o meu quarto, checar meu celular pela décima vez.
Não tem nenhuma mensagem.
Na manhã seguinte, Zoe está de ressaca e me encara com os olhos
de maquiagem derretida por cima do café preto que lhe servi.
— E aí, Liam não ligou?
— Não. — Tento não deixar transparecer minha decepção.
Fiquei acordada até tarde lendo e esperando que ele me ligasse.
O que não aconteceu.
— Hum... Eu vou dormir de novo... acho que antes eu preciso
vomitar. — Ela se arrasta para o banheiro e eu pego o celular novamente.
Meus dedos coçam para mandar uma mensagem que seja. Eu resisto
bravamente. Posso provar a Liam que consigo seguir as suas malditas
regras. Porque ele vai me ligar.
Eu sei que vai.

Passo o domingo escrevendo a matéria e mando para Matt. Com a


sensação de dever cumprido, checo de novo o celular.
Ainda o silêncio.

— A matéria até que não ficou ruim, Emma. — Matt diz na sua
sala, segunda-feira de manhã e tento não rolar os olhos. — Erica vai
escrevê-la e melhorá-la.
— Claro que vai.
— Talvez precise se dedicar mais. O que acha de a gente sair pra
jantar hoje e falar sobre esse assunto?
Eu me levanto, dando a conversa por encerrada.
— Hoje eu não posso.
— Ah, tem um compromisso?
— Talvez sim...
Porém, enquanto caminho pela redação olhando o celular silencioso
me questiono se terei mesmo.
E não tenho. Nem naquela noite. Nem na seguinte.
Nem na outra.
— Emma, que merda está acontecendo? — Zoe pergunta durante o
jantar.
— Como assim? — resmungo remexendo a comida de um lado para
o outro no prato.
— Primeiro estava toda ansiosa, olhando o celular de cinco em
cinco minutos. Nem dorme direito e está aérea e ausente! Não quer fazer
nada, não quer sair, só sai de casa para ir à faculdade e trabalhar, agora está
toda triste e depressiva! Eu sei bem o que isto significa: Liam Hunter
sumiu!
Eu respiro fundo a encarando.
— Ele não sumiu!
— Sumiu sim! Por que não liga pra ele? Sei que todas as revistas
femininas dizem pra gente não ligar e tal, que devemos esperar que eles
corram atrás, acho tudo isso uma besteira!
— Não estou seguindo nenhuma revista feminina, Zoe!
— Então liga pra ele!
— Ele disse que ia me ligar...
— E não ligou! — grita.
— Eu sei! — grito de volta e paramos.
Pisco para conter a vontade insana que estou de chorar.
Sim, Liam não me ligou.
Nem uma vez.
Zoe segura minha mão.
— Olha, sei que estava empolgada, até eu estava, afinal, é um cara
que presenteia com Gucci e Chanel, mas precisa encarar a realidade,
querida. Talvez ele não vá ligar nunca mais. Talvez... ele não esteja mais
interessado.
As palavras de Zoe caem em meu peito como tijolos de concreto e
sinto dificuldade para respirar.
— Acha que fui idiota?
— Quem nunca foi? — Ela sorri ternamente. — Sinto muito,
Emma, acho que não deveria ter se empolgado tanto assim com um cara
como Liam Hunter.
Eu me lembro de novo de todas aquelas mulheres nas fotos. Nunca
as mesmas. Será que fui apenas mais uma delas? Eu ainda não consigo
acreditar que tudo acabou. Ainda não estou pronta para o fim!
Naquela noite, ligo para minha mãe e tento disfarçar meu estado de
ânimo, no entanto ela percebe minha voz triste.
— O que está acontecendo com você, parece tão triste.
— Eu conheci alguém, mãe...
— Ah, eu sabia! Por que está triste?
— Porque ele sumiu.
— Ah, quer falar sobre isto?
— Eu não sei se... entenderia.
— Ah, Emma...
— Ele é tão diferente de mim. Ele é diferente de tudo!
— E você está apaixonada?
— Eu não sei — digo baixinho. Como posso saber? Amor pra mim
era apenas um sentimento descrito nos livros românticos que eu lia.
Eu me sentia atraída por Liam Hunter. Não somente pelo sexo, por
tudo nele.
Eu queria ser possuída e possuí-lo.
Era quase assustador.
E pensar que nunca mais iria vê-lo era como uma faca perfurando
meu peito.
— Talvez seja cedo para eu saber — murmuro. — E aí? Me fale
sobre você. — Mudo o rumo da conversa deliberadamente.
Depois da conversa com minha mãe, fico pensando se ainda haveria
alguma chance de eu poder dizer a Liam exatamente o que eu pensava
daquele chá de sumiço.
Sim, eu podia ter algumas malditas regras também. E uma delas
seria colocada à prova hoje. Se Liam não me ligasse, eu ligaria pra ele e lhe
diria umas boas verdades. Que se danassem suas regras!
Eu posso estar louca por ele. Posso estar disposta a abrir mão de
várias coisas para estar com ele. Posso sentir como se tivessem arrancando
meu coração só de pensar em não vê-lo mais. Mas tudo tem limite.
E meu limite era sua ausência. Simples assim.
Acordo naquela manhã e visto um vestido que ganhei de Zoe no
Natal e que estava esquecido no fundo meu armário.
— Nossa, nem lembrava mais desta roupa! — ela comenta quando
me vê e eu sorrio.
— Está calor.
— Nunca usa vestido...
— Estou usando agora, satisfeita? — respondo enquanto arrumo
minha mochila.
— Liam ligou? — ela pergunta meio ressabiada e eu fecho a cara.
— Não, não ligou. Podemos não falar sobre isso?
— Tudo bem. Hoje é sexta. Podemos tomar uns drinks...
— Tudo bem, eu vou.
Ela parece surpresa
— Posso chamar o Tristan?
— Claro que sim, por que não? — Seria ótimo tirar umas fotos com
a língua de Tristan na minha garganta e mandar para o Liam.
Naquela tarde, mais uma vez eu tenho que parar as investidas de
Matt, que são cada vez mais insistentes enquanto ele devora minhas pernas
quando seguimos no mesmo táxi para uma coletiva de imprensa.
— Tem certeza que não era a Erica que deveria vir contigo?
— Erica já está lá. E eu achei que você queria uma chance de
participar mais das pautas.
— Do que adianta se eu estarei fora do jornal assim que me formar.
— Isso depende de você.
— Achei que a vaga era da Amanda.
— Sim, a Amanda já tem vaga garantida, mas nós podemos
conversar...
Luto para não revirar os olhos em frente àquele descaramento e
felizmente o táxi para em frente ao Rockfeller Center.
Matt segue em frente, mas eu paro sentindo um frio na barriga ao
ver o carro caro estacionado em frente ao prédio com um conhecido cara
alto encostado nele.
— Ei, Emma — Ethan meneia a cabeça em minha direção com um
sorriso contido, como se tivesse medo da minha reação.
Não é Ethan quem deve estar com medo. Ah, não mesmo.
Todo meu ressentimento está direcionado a outra pessoa. E se o
carro e o guarda-costas estão ali, significa que Liam também.
Surpreendo-me com o misto de raiva e ansiedade que toma conta de
mim com esta constatação. Meu corpo vibra. Algo que estava nocauteado
dentro de mim, desperta, espreitando, procurando.
— Liam está aqui?
— Acho que sabe a resposta.
Sem pensar, eu entro no prédio e sigo Matt quase correndo. Passo
pelo mundo de pessoas e finalmente consigo avistá-lo.
Vestindo seu terno caro e falando para a plateia hipnotizada.
— Ei — Erica chama sentada no meio do auditório. — Guardei
lugar para vocês!
Matt segura meu braço e me leva para lá e nos sentamos ao lado de
Erica.
— Ele não é lindo? — Erica suspira.
— Você concorda, Emma? — Matt pergunta e eu desvio os olhos
quase hipnotizados de Liam para Matt e sussurro em seu ouvido.
— Prefiro tipos mais acessíveis.
Matt cora miseravelmente e sorri de orelha a orelha quando me
afasto.
— Por que ele parou de falar? — Erica murmura e eu volto minha
atenção ao palco e Liam está em silêncio olhando diretamente para nós.
Ah sim, ele me viu.
Eu sorrio para ele com presunção.
A raiva borbulha dentro de mim, temperada pela semana de tortura
que ele me fez passar.
— E esta aquisição alinha-se aos planos como um de seus pilares
estratégicos de crescimento.— Ele continua finalmente. — Estou aberto a
perguntas.
Escuto alguns murmúrios confusos.
— Já acabou? — Matt pergunta.
— Não sei. Ele está apresentando a fusão com a gigante japonesa
RNK — Erica responde.
— Depois das perguntas é o fim — alguém comenta a nossa frente
com voz de decepção.
Um monte de gente levanta a mão, inclusive Erica.
Um rapaz franzino de óculos que deve ser o RP que controla tudo
aponta para um jornalista que faz uma pergunta boba sobre mercado
financeiro no Japão que Liam responde rapidamente.
Outro jornalista pergunta como se faz para ficar milionário. Eu não
consigo prestar atenção na resposta de Liam, dá para perceber, pela sua
expressão, que sua paciência está se esgotando.
Tenho vontade de rir, quando ele se inclina para o RP e resmunga
algo e o pobre homem diz à plateia que será a última pergunta.
Eu levanto a mão sem pensar.
Liam olha direto para mim.
— Senhorita Jones — diz e algo dentro de mim reconhece aquela
voz e vibra.
Eu me levanto, enquanto todos olham pra mim.
— Senhor Hunter, o que o senhor diria se estivesse interessado em
um investimento e, por um motivo qualquer, o senhor recuasse e o
perdesse?
— Eu nunca perco um investimento. Eu escolho a hora de
abandoná-los e não o contrário, Senhorita Jones.
— Isso só seria possível se o investimento ainda estivesse
disponível não concorda? — digo com ironia. — De qualquer forma
obrigada pela resposta, Senhor Hunter. — Eu me sento e Erica murmura um
“não entendi nada”.
O diretor dá a palestra por encerrada e um bando de jornalistas cerca
o palco para ter a chance de falar com Liam.
Eu me levanto e, balbuciando algumas desculpas para Matt e Erica,
me esgueiro por entre as pessoas, até que uma parede humana se interpõe
entre mim e minha fuga.
— Ethan. — Nem preciso levantar o olhar para saber que é o Leão
de chácara de Liam que veio fazer o trabalho sujo por ele.
— A senhorita pode me acompanhar? — ele pergunta entre
divertido e duvidoso.
Certamente ele sabe o patife que o chefe dele está sendo comigo por
isso está se questionando se eu ainda estou disposta a segui-lo.
Por um momento, eu hesito.
Sim, o que eu quero realmente? Ethan não pode me obrigar a segui-
lo. Eu posso sair dali e mandar Liam Hunter para o inferno.
No entanto, só de pensar em nunca mais vê-lo, já sinto aquele vazio
horrível no peito que tira meu ar.
Suspirando, concordo e acompanho Ethan para fora do prédio. Ele
abre a porta para mim e em seu rosto há um sorriso encorajador.
— Estou apostando todas as minhas fichas em você, viu?
— O que quer dizer?
— Que eu gosto de apostar no vencedor, só isso. — E com essas
palavras enigmáticas, ele fecha a porta.
Infelizmente a divisória está fechada e eu não posso conversar com
Ethan enquanto espero.
Não demora muito para a porta se abrir novamente e Liam sentar do
meu lado. Por um momento ele apenas me encara com aquele seu
semblante indefinido. Eu sempre achava estranho quando lia nos livros que
o personagem estava com o rosto esculpido em granito. Agora eu sabia
exatamente o que queria dizer.
Um coquetel de sentimentos está borbulhando dentro de mim. Estou
com medo do seu olhar. Estou com raiva por ele ter sumido sem me dar
satisfação.
Estou eufórica por estar perto dele depois do que me pareceram mil
anos.
A sua ausência dói em meus ossos.
E a sua presença é como um sopro de vida em minha alma.
— Explique-se — ele exige por fim, eu franzo o cenho.
Como é?
— O que quis dizer lá dentro? — insiste.
Jogo as mãos para cima, incrédula. A raiva começando a se
sobrepor aos outros sentimentos.
— Que merda você pensa que está fazendo? Sumiu por uma semana
e acha que eu é que devo alguma explicação?
— Eu não sumi. — Sua voz está tão irritantemente controlada que
me deixa mais nervosa ainda.
— Não sumiu? Então chama o fato de não dar notícias por uma
semana inteira do quê?
— Eu te disse que as regras...
— Fodam-se as suas regras! — grito e acho que finalmente vejo
alguma emoção em seu rosto. E é irritação. Ah, sim, ele pode ficar bravo,
porque eu estou enfurecida! — Em que mundo você vive que este tipo de
comportamento é normal? Acha mesmo que eu iria ficar a semana inteira
sofrendo ao lado do telefone esperando você ligar? — grito e cruzo os
braços olhando para o vidro e só agora percebo que o carro está em
movimento.
— E o que você fez nessa semana, Emma?
Não sei se foi o fato de ele ter me chamado de Emma, ou por eu não
reconhecer aquele tom de voz que me fez encará-lo e responder.
— Eu fiquei sofrendo ao lado do telefone, esperando você ligar —
respondo a verdade, vencida.
E então suas mãos estão nos meus cabelos, me puxando em sua
direção até que sinto seus lábios esmagando os meus.
Ah, ele está me beijando.
E eu o beijo de volta, lançando minha língua contra a sua,
precisando sentir seu gosto.
Quantas vezes naquela semana, eu havia sonhado com isto? Com
suas mãos me puxando para seu colo, com sua boca devorando a minha,
com sua ereção entre minhas pernas?
Ah, é o paraíso, bem no meio do inferno...
Esqueço-me de tudo em seus braços. De sua ausência, de sua frieza
anterior. Da minha raiva.
Liam está aqui. Ao alcance das minhas mãos saudosas. Mapeando
meu corpo com seu toque, que desliza por cima do meu vestido para
alcançar meus quadris me puxando para mais perto. Apertando. Marcando.
Apossando-se de mim. De novo.
E eu gemo contra seus lábios. Mordo. Lambo. Chupo. Seu gosto é
perfeito para meu paladar.
Quero prová-lo inteiro. Todos os dias.
Para sempre.
Esta constatação me enche de uma emoção tão grande e
inexplicável, excessiva demais para manter dentro de mim e eu paro de
beijá-lo, segurando seu rosto lindo entre meus dedos, respirando sua
presença.
Quero tanto dizer que senti sua falta. Que cada minuto que não
ligava era como aquela sua tesoura picando meu coração em pedacinhos
como ele fizera com minhas roupas.
Que agora eu sinto que estou inteira de novo.
Antes que eu consiga falar o que quer que seja, ele me beija mais
uma vez. Intensa e selvagemente. Seus dedos puxam meu vestido para
baixo e o ar frio toca minha pele, antes que suas mãos me agasalhem.
Gemo baixinho, lançando meus quadris contra os seus enquanto ele
tortura meus mamilos, apertando-os entre os dedos.
Sua boca deixa a minha para percorrer meu rosto quente, até minha
orelha que ele morde como uma iguaria.
— Eu vou foder você agora, aqui — rosna em meu ouvido e só
consigo balbuciar um “sim, por favor,” antes de ele me tirar do seu colo e
me jogar de quatro no banco, levantando meu vestido.
Eu grito entre assustada e excitada quando minha calcinha é
arrancada sem a menor cerimônia. Fecho os olhos, sentindo dois dedos me
invadindo e ouso olhar para trás, para vê-lo tirar os dedos molhados de
dentro de mim e prová-los com um olhar selvagem e intenso que derrete
meu ventre.
Ah Deus. Eu preciso dele dentro de mim. Agora. Aqui.
Rapidamente, ele abre as calças e fico meio surpresa de ver que ele
tem um preservativo que desenrola em volta de sua ereção, antes de segurar
meus quadris e me penetrar com força.
Grito uma, duas, várias vezes, enquanto as estocadas de seus
quadris contra os meus vão se intensificando, assim como os espasmos de
prazer dentro de mim. Nossos gemidos se misturando dentro do carro em
movimento, enquanto meu corpo se contorce e eu me seguro como posso
contra o banco e o vidro do carro, sendo lançada para frente a cada batida
dentro de mim.
Até que gozo forte, meu interior se convulsionando de prazer e
êxtase, me deixando fraca e exaurida contra o banco de couro.
Muito vagamente, percebo que Liam saiu de dentro de mim e,
instantes depois, ele me puxa para que eu me sente e arruma minhas roupas,
recolocando minha calcinha que nem sei como continua inteira.
Seus dedos retiram alguns fios de cabelo do meu rosto.
— Está doendo? — Eu abro os olhos, estranhando seu tom entre
preocupado e irritado.
— O quê? — pergunto ainda meio ausente.
Ele toca minha testa.
— Acho que você bateu a testa no vidro.
— Oh! — Toco minha testa. Não sinto nada e nem me lembro de ter
batido a cabeça e solto uma risada.
— Não é engraçado, Emma — Liam me repreende.
— É sim. Você está preocupado que eu tenha me machucado,
quando quer me bater com chicote ou sei lá o quê!
— Quem disse que eu uso chicote?
— Usa? — Mordo os lábios.
— Descobrirá em breve. — Ele se afasta, arrumando as próprias
roupas.
Seu cabelo está um tanto suado e ele me parece lindo com aquele
aspecto desleixado de pós-foda.
Suspiro.
Ele disse “em breve”.
Meu coração está cantando.
O carro para e eu vejo que estamos defronte ao meu prédio.
Liam sai e abre a porta pra mim. Fico feliz que Ethan não tenha
saído do carro. Eu acho que ele sabe o que estávamos fazendo e eu ficaria
extremamente sem graça de encará-lo agora.
— Tenho que voltar ao trabalho. — Passa os dedos pelos cabelos
desgrenhados. Há certa frustração em sua voz.
— E vai me dizer algo como “eu ligarei para você, não me liga.” —
Esboço um sorriso. Sei que deveria estar brava, mas não estou.
É uma merda, mas é essa a verdade.
— Sim — responde sorrindo também.
Será que ele entende o que significa para mim?
Será que entende o quanto está me custando entrar naquele tipo de
jogo com ele?
— Eu preciso ir. — E, para minha surpresa, me beija intensamente,
depois toca minha testa com um olhar contrariado. — Não gosto quando te
machuco.
— Mesmo assim quer me machucar — murmuro.
— Eu te disse que não seria bom pra você. — Seu olhar parece
atormentado.
— E eu que não me importava. — Ele não pode estar pensando em
se afastar. Ele não pode se afastar. — Posso lidar com algumas escoriações,
Liam — garanto. — Acho que estou até ansiando por algumas...
Sim, eu anseio por tudo o que ele ainda tem para mostrar. E quero
saber se serei capaz de aguentar.
Eu o beijo de novo e me afasto, mas quando estou entrando eu me
viro.
— Liam — eu o chamo, ele se vira, com a porta do carro aberta. —
Estou descobrindo que sou capaz de aguentar muitas coisas vindas de você.
Mas também descobri que há um limite. E meu limite é a sua ausência. —
Respiro fundo. — Se você sumir de novo, melhor nem voltar. Eu não
estarei mais disponível. Nunca mais.
Capítulo 14

A mensagem chega antes mesmo que eu feche a porta atrás de mim.


Estou sorrindo ao pegar o celular.
“Ethan a pegará as cinco.”
Só isso, Liam? Retruco mentalmente.
“O que vamos fazer?” . Pergunto, arrancando os sapatos no
processo e chutando-os para o canto.
A resposta me faz continuar sorrindo, de tão rápida que chega.
“Algo que você odiará, mas que não terá escolha em fazer.”
Ah! Mordo os lábios, cheia de curiosidade e certo receio. Será que
estamos falando de punições?
Será que ele ficou bravo pelo meu ultimato e me castigará com
alguns tapas ou algo pior?
“Não sei se estou disposta a ir de livre e espontânea vontade fazer
algo que vou odiar.”
Sento-me e espero ansiosa a resposta que vem em seguida.
“Tenho mais uma lição para você, Senhorita Jones: Não há nada
que eu faça com você que não lhe trará prazer em algum momento.
Mantenha isto em mente.”
Meu rosto esquenta, assim como outras partes do meu corpo e eu
me pergunto que diabos este cara tem pra me tirar do prumo apenas com
uma mensagem sugestiva.
“Pensarei no assunto. Não sou tão fácil de dobrar como pensa,
talvez deva se preparar para um desafio”
Respondo por fim.
“Eu já disse que amo um desafio, Senhorita Jones, por que supõe
que fugiria deste? Estou ansioso para provar a você que eu tenho razão.
Eu sempre tenho razão.”
Deus, que arrogante convencido!
“Eu também estou ansiosa por isto, Senhor Hunter.”
Respondo com meu coração acelerado de anseio.
“Não se atrase.”
É sua resposta lacônica que me faz revirar os olhos de novo.
“Não pode dar nenhuma dica? Preciso saber o que vestir. E
também preciso de alguma garantia que não teremos uma tesoura
envolvida. Não quero perder mais uma roupa.”
“Não sou eu que sou perigoso com tesouras, se não se lembra.”
“Você começou.”
“A lei do pagar na mesma moeda não se aplica aqui, Senhorita
Jones.”
“Ah que pena. Eu posso pensar em uma ou duas coisas que fez
comigo que eu poderia retribuir muito bem. Mantenha isso em mente”
Repito suas palavras, me regozijando com minha recém-descoberta
malícia.
A resposta demora uns segundos a mais para aparecer e fico meio
apreensiva. Fui longe demais? Ou será que ele não viu graça nenhuma?
“Não tenha dúvidas que isto não sairá da minha mente, Senhorita
Jones. E pode vestir o que quiser. Eu não levarei uma tesoura.”
Eu sorrio.
E as mensagens terminam.
Corro para tomar um banho, com a minha mente cheia de doces
expectativas e meu estômago repleto de borboletas.
Exatamente às cinco horas, Ethan emerge do Maybach e sorri ao
abrir a porta pra mim. A da frente. Acho que ele aprendeu.
Eu o surpreendo passando a mão por sua cintura e o abraçando.
Poxa, ele é realmente forte e cheira a algo como doce.
Eu estou rindo quando o largo. Seu sorriso é desconfiado.
— Que diabos foi isso e por que está rindo?
— Foi um abraço e você tem cheiro de rosquinha!
— Puta merda, onde o Liam arranjou você? Entra logo no carro e,
por favor, não me agarre desse jeito na frente do chefe...
— Ah claro, você gosta muito do seu pau e Liam vai arrancá-lo
fora, já entendi — completo divertida entrando no carro.
Ethan dá a volta e senta do meu lado. Eu já liguei o rádio.
Está tocando Sia. Sorrio satisfeita.
— E então, para onde vamos? Para a casa do Liam? Por que ele não
está aqui? Não me diga que de novo ele tem algum jantar de negócios ou
algo assim e eu terei que jantar sozinha com seu cozinheiro bonitinho.
— Garota, você gosta mesmo de brincar com perigo e pior, colocar
os outros nele! Ouse chamar Eric de bonitinho na frente do Liam...
— E ele vai fazer o quê? Arrancar as partes baixas do Eric também?
— Algo assim. Talvez com alguma tortura antes.
— Você não respondeu minhas perguntas.
— Não estamos indo para a casa do Liam.
— Não?
— Não.
— E para onde vamos?
— Você verá!
— Ah que saco! Eu odeio surpresas, por que fazem isso comigo?
Ethan apenas ri e aumenta o volume da música.
E fico realmente de boca aberta quando o carro para na 5th Avenue,
exatamente em frente a Gucci.
— Ah, ele só pode estar brincando!
É quase como na nossa famigerada visita à Chanel há duas semanas.
Desta vez apenas uma vendedora com cara de quem não come há semanas,
com um cabelo loiro impecável, me leva a uma sala fechada e diz toda
solícita e educada que “O Senhor Hunter pediu que lhe trouxesse alguns
vestidos e orientou no sentido de que a senhorita poderia escolher o que
quisesse.”.
Arregalo os olhos e ela sorri calculista, acho que até vi alguns
cifrões em seus olhos, como nos desenhos animados, quando ela continuou
sua explanação “Também deverá escolher sapatos, bolsas e acessórios.”.
Puta. Que. Pariu!
Liam agora tinha passado de todos os limites!
Bem que disse que eu ia odiar!
A moça começa a trazer várias araras de roupas e me explicar coisas
do tipo “este pertence a última estação, mas ficará bem em seu tom de pele
e temos um colar incrível que combinará perfeitamente”. Minha mente roda
com todas aquelas informações inúteis, e eu penso que aquela garota seria
uma melhor amiga para Zoe muito melhor que eu. Na verdade eu estou
quase acreditando que elas são almas gêmeas.
— Então, vamos começar? — pergunta por fim, segurando um
vestido laranja que provavelmente me deixará com cara de abóbora de
Halloween.
Por um momento penso em dizer que não, não estou pronta pra
começar, porque eu definitivamente não preciso daquelas roupas. E Liam é
mais presunçoso do que eu pensava por achar que eu ia aceitar presentes
dele.
Esta definitivamente não sou eu.
— Será que você pode... me dar um minutinho? — peço pegando o
celular.
“Eu odiei”. É minha mensagem sucinta, antes de fechar o celular
com um sorriso sarcástico para a vendedora.
— Ok, vamos em frente.
Ela me veste com o abóbora de Halloween e insiste que eu fiquei
ótima.
— Definitivamente não — afirmo.
— Esta cor é tendência...
Meu celular toca e eu o pego ao ver que é Zoe.
— Onde se meteu?
Hesito por alguns segundos, cogitando se direi a verdade ou não.
A primeira opção vence.
— Estou na Gucci.
— O quê? — Seu grito faz meus ouvidos quase explodirem.
— Gucci. E antes que pergunte, sim, é coisa de Liam Hunter. E não,
eu não estou nem um pouco feliz com isso.
— Ai caramba! Então ele voltou? É inesperado.
— Eu sei.
— E ele está comprando roupas fabulosas para você na Gucci.
— Ele não está comigo.
— Hum, poderia ter me chamado para ir junto com você, estou
muito magoada, Emma!
— Eu não sabia que iria parar aqui! E definitivamente nem sei por
que estou provando todas essas roupas se não vou ficar com nenhuma
delas!
— Não se menospreza um Gucci, querida. Vamos lá, me mande
fotos do que está vestindo e eu lhe darei minha opinião profissional.
Eu rolo os olhos, embora faça o que ela pediu.
— Que horror, tira isso agora! Cadê a vendedora? Coloque-a no
telefone!
Eu rio e passo o celular para a vendedora com expressão confusa.
Imagino o que Zoe está dizendo a ela, porém nem me importo.
Ela suspira e me passa o aparelho e pesca um vestido com saia roxa
e parte de cima verde. Tem um decote que vai até o meu umbigo, que a
princípio parecia muito estranho e que, surpreendentemente, ficou muito
bem em mim, devo dizer.
— Este decote... não tenho certeza... — reclamo, Zoe diz que fiquei
sexy.
— Aposto que seu Leão vai amar.
Isso me convence.
E eu passo a hora seguinte como algo do tipo “Barbie namorada de
milionário”, sendo vestida por Zoe e a vendedora que certamente poderá se
tornar uma milionária com sua comissão se Liam me obrigar a ficar com
todas aquelas roupas e sapatos.
Ah sim, ainda temos os sapatos.
E bolsas.
A vendedora finalmente me dá um minuto de sossego para ir buscar,
obviamente, mais sapatos e eu consigo desligar Zoe por alguns instantes.
Coloco o próximo vestido, um modelo dourado curto, de mangas compridas
com um decote enorme, me perguntando qual a razão de todo aquele
trabalho se eu realmente não tenho a menor intenção de aceitar aquelas
roupas.
Pergunto-me se Liam faz isso com todas as suas amantes, aquelas
mulheres que apareciam com ele, muito bem vestidas nas fotos dos
paparazzi.
De repente me sinto sufocada. E desejo tirar aquele vestido
imediatamente e parar de vez com aquele circo fashion do horror.
Fecho os olhos e respiro fundo algumas vezes, quando escuto
passos.
— Que bom que voltou, me ajuda a tirar isto...
Então mãos que não são da vendedora loira deslizam por minhas
costas, colocando meus cabelos para frente e pousando em meus ombros.
— Deve usar este, definitivamente. — A voz que eu reconheceria
em qualquer lugar do mundo me faz abrir os olhos, sobressaltada.
Os olhos do meu predador me encontram através do espelho.
Todos os meus sentidos ficam alerta. O ar se enchendo de
eletricidade. Suas mãos parecem produzir faíscas em mim enquanto
percorrem o tecido dourado. Seus olhos continuam nos meus no espelho.
Sei que tenho um monte de coisas a dizer. Sei que tenho que estar
brava com alguma coisa, só não consigo me lembrar com o quê. A única
coisa que eu sei é que Liam está aqui, com seu corpo alto e elegante colado
no meu, os dedos mornos ultrapassando o tecido do vestido e tocando a pele
desnuda entre meu decote enorme.
Começo a ofegar miseravelmente, enquanto seus dedos deslizam
pela parte dos meus seios que está descoberta, chegando ao meu estômago,
que se contrai, e descem até minha cintura.
— Gosto de poder fazer isto... — Ele retorna pelo mesmo caminho,
fazendo minha pele formigar e arder.
E então suas mãos grandes invadem o decote e seguram meus seios,
apertando com força e me fazendo gemer. Um calor intenso traspassa meus
poros e se espalha como fogo por meu sangue, se alojando num úmido
pulsar entre minhas pernas.
Cerro os olhos quando seus lábios encontram meu pescoço,
vagando preguiçosamente por ali, sem pressa, com pequenos beijos
molhados, enquanto as mãos abandonam meu decote e começam levantar o
vestido.
— E isso... Ele é perfeito para isso...
Solto um arquejar surpreso quando dedos audaciosos entram na
minha calcinha, me encontrando ávida e pronta para seu toque lento e
explorador.
Ah Deus...
Encosto-me mais contra ele e sinto o roçar de sua ereção.
Mexo meus quadris contra seus dedos, querendo mais e ele rosna
em meu ouvido.
— Quero foder você com este vestido.
Ah, por favor, meu corpo inteiro exulta.
Abro os olhos, meio perdida, quando me solta e sinto minha
calcinha sendo retirada do caminho. Eu me seguro no espelho para não cair,
porque minhas pernas parecem gelatina.
Respiro rápido e com dificuldade, meus olhos enevoados e minha
mente rodando. Observo ansiosa, Liam abrir a calça e retirar um
preservativo do bolso.
Ah, sim.
Fecho os olhos novamente quando sou agarrada por trás e o sinto
me invadir.
— Abra os olhos — ordena com uma voz tão rouca de desejo que
arrepia até minha alma.
Seus olhos estão cravados em mim através do espelho, quando ele
se retira e depois me penetra de novo.
Com força.
Grito.
De novo.
Luto para ficar com os olhos abertos.
Quero vê-lo enquanto ele entra e sai, num ritmo preciso. Nem
rápido nem lento demais, apenas perfeito para me deixar à beira de um
precipício, sentindo o vento quente roçar minha pele, me convidando a
pular.
Mais um pouco... Mais um pouco...
— Mais... — peço, perdendo a luta e fechando os olhos, enquanto
levanto um braço e toco seus cabelos, puxando-os.
Então, ele leva uma mão ao meio das minhas pernas e me toca ali,
no mesmo ritmo de suas investidas.
E é o que basta para eu me desmanchar em volta dele, num clímax
sublime, que perdura por segundos efêmeros enquanto ele me segura
estocando duro, gozando em seguida, grunhindo em meu ouvido.
Levo um tempo para voltar a terra e apenas uma parte do meu
cérebro está alerta quando o sinto recolocando minha calcinha no lugar,
retirando o preservativo e jogando numa cesta de lixo.
Depois ele me leva para o sofá, onde nos recostamos ainda meio
ofegantes e em um agradável silêncio pós-foda.
Só depois de alguns minutos é que eu me lembro de onde estamos.
— A vendedora? — Eu me sento alerta, olhando em volta.
— Ela tem ordens para só voltar quando for chamada.
— Ah, que alívio.
— Ela me disse que escolheu muitas coisas — fala com um sorriso
meio presunçoso que me faz lembrar porque eu deveria estar brava com ele.
— Não vou ficar com nada — retruco, tentando aparentar seriedade,
mesmo sabendo que seria bem difícil parecer assim nesse momento, com
meu cabelo pós-foda e meu rosto vermelho e meio suado.
— Você estava experimentando.
— Estava enviando fotos para minha amiga fashionista pelo celular
— argumento e ele franze a esta.
— Fotos? Talvez eu queira vê-las.
— Achei que preferisse minhas fotos nuas! — rebato me lembrando
da infame foto que ele me enviara pelo celular. — Aliás, como tirou aquela
foto?
— Do mesmo jeito que tirou as suas. No celular.
— Eu teria percebido se tivesse batido uma foto minha!
Liam sorri, tocando meu rosto.
— Você fica extraordinariamente distraída quando sua atenção está
em outra parte.
Eu coro violentamente.
Acho que ele tem razão.
— E não aprecio apenas fotos nuas — continua.
— Tirou mais fotos minhas? — Arregalo os olhos. — Quero ver!
— Não! — responde enquanto ajeita os cabelos suados.
— Ah, por favor...
— Não.
Deveria deixar prá lá, mas ele atiçou minha curiosidade.
— Se me mostrar, eu te deixo tirar mais — negocio.
Liam me encara com aquele seu olhar de quem é o Leão de Wall
Street.
— Eu não preciso de sua permissão.
Não retruco. Quem sou eu nesta altura daquele jogo para dizer que
ele não iria conseguir tirar fotos minhas se quisesse?
Decido recuar e voltar à questão principal.
— Liam, sério mesmo, não quero presentes. Estes vestidos, todas
essas coisas... Eu não preciso de nada disso.
— Irá precisar quando sair comigo — ele responde, então saca o
celular, estudando qualquer coisa lá, enquanto eu fico tentando continuar a
conversa.
Tento não ficar irritada.
— Como assim?
— Eu compareço a muitos eventos, Emma. Precisará desses
vestidos para me acompanhar.
Eu abro a boca, meio estupefata.
— Você quer dizer eventos...
— Festas, jantares, reuniões, comemorações e toda essa porra social
que existe.
— Ah... — Estou realmente surpresa.
Não sei o que esperava do meu relacionamento com Liam. Eu nem
sei se estamos num relacionamento para começo de conversa.
Nós transamos no meu quarto, depois de uma caçada meio estranha
na qual ele me rejeitou e eu corri atrás dele.
Depois passei a noite em seu apartamento, tendo uma amostra grátis
do tipo de sexo que ele curtia, e passei no teste das palmadas, com algum
louvor devo dizer, para depois ele me rejeitar de novo e sumir por uma
semana inteira.
Sumiço para o qual, até agora, ele não havia dado nenhuma
explicação plausível e eu começava a duvidar que desse algum dia. Afinal,
como ele mesmo gostava de frisar, as regras eram dele.
Eu também impus a minha própria regra e, até agora cinco horas
depois, ele parecia estar cumprindo a sua parte.
Então, estamos em um relacionamento?
Minha mente ainda navega nas águas turvas da dúvida.
Eu esperava que ele me levasse para a cama. Que fizesse amor
comigo. Esperava que ele me mostrasse seu jogo.
No entanto não estava esperando que ele fosse realmente sair
comigo.
E isso era... Deliciosamente agradável.
Um sorriso idiota se distende em meu rosto e eu mordo os lábios
para conter a minha vontade de lançar os braços em volta de seu pescoço e
encher seu rosto de beijos.
Ele continua com a atenção no celular e não viu minha pequena
epifania.
De repente algo que ele disse quando chegou me vem à mente.
— Você disse que eu devia usar este...
Finalmente ele levanta os olhos do celular.
— Será perfeito para um coquetel que iremos amanhã.
— Coquetel? Onde?
— Waldorf-Astoria.
Ah claro, o mesmo hotel do Lide Business Meeting, onde eu o
entrevistara.
Eu ia perguntar a ele se tinha alguma coisa a ver quando a
vendedora solícita aparece.
— Senhor Hunter, precisa de mais alguma ajuda? — pergunta.
— A Senhorita Jones vai levar tudo o que provou.
— Não, eu...
Ele crava seu olhar frio em mim que me diz claramente que não vai
aceitar minha recusa.
— Inclusive este que está vestindo? — a moça pergunta e eu coro,
me lembrando do que nós dois estivemos fazendo há alguns minutos.
— Sim — Liam responde e se levanta. — Eu vou dar alguns
telefonemas e te aguardo no saguão.
Eu dou de ombros, meio emburrada por ter sido vencida.
Retiro o vestido e recoloco meu jeans e suéter e encontro Liam no
saguão, conversando com uma mulher ruiva de trinta e poucos anos que tem
pinta de ser a gerente da loja ou algo parecido. E ela sorri toda derretida
enquanto fala com ele, inclusive tocando seu braço sempre que possível.
Apresso o passo e ao chegar passo meus braços em volta de sua
cintura.
— Vamos? — ignoro totalmente a ruiva oferecida de propósito.
— Sim, vamos. — Se ele ficou surpreso por minha demonstração
pública de afeto, não alterou sua expressão. — Muito obrigado, Antonella
— diz para a mulher que me mede curiosa, e me puxa porta afora.
Alguma coisa me incomoda e eu não consigo definir o quê.
Ethan está colocando várias sacolas no porta-malas, quando
entramos no carro.
— E o que vamos fazer agora? — eu faço a pergunta que já está se
tornando habitual para mim.
— Eu vou te levar pra casa.
— Pra casa? Eu pensei... — Não consigo disfarçar minha decepção.
— Não hoje — ele rebate simplesmente.
— Por que não? — Sei que pareço uma criança insistente, não me
importo.
Liam se inclina e toca meu rosto, com aquele olhar dominador.
— O que eu disse sobre regras?
Eu recuo. Realmente tinha deixado meio implícito que estava
concordando com aquelas regras dele, não é?
— Certo. — Retiro sua mão do meu rosto. — Contanto que você
não se esqueça das minhas regras, estamos de acordo.
— Eu estou aqui não estou? — Não consigo definir o tom de sua
voz.
Sim, ele está aqui.
Terá que ser o bastante por enquanto.
— Achei que você fosse me levar pra jantar — resmungo, sentindo
meu estômago roncar.
— Está com fome?
— Claro que sim! Acho que me deve pelo menos um hambúrguer.
Escuto uma risada no banco da frente e só agora percebo que a
divisória está aberta e Ethan está ouvindo nossa conversa.
— Você quer... hambúrguer? — Liam pergunta entre surpreso e
horrorizado.
— Sim, eu quero. — Eu me inclino para Ethan. — Ethan, você para
naquele drive-through?
— Seu desejo é uma ordem, madame.
Eu sorrio satisfeita ao fitar Liam que me encara sério.
— Desde quando o Ethan responde a suas ordens?
— Desde que eu sou a garota do chefe, não é Ethan? — brinco,
embora no fundo saiba que estou testando meus pés em águas profundas.
— Pode crer, madame — Ethan responde entrando no drive-through
e eu começo a fazer o pedido.
— Quero o meu com bacon — Liam diz do meu lado e é a minha
vez de encará-lo surpresa. — Por que essa cara? Eu também gosto de
hambúrguer.
Cravo nele um olhar incrédulo.
— Você tem seu próprio chef gourmet em casa! Não consigo
imaginá-lo comendo algo tão trivial como um hambúrguer!
— Às vezes o trivial tem um gosto melhor do que o excepcional —
ele sorri audaciosamente.
— Espera... está por acaso fazendo uma analogia onde eu seria o
trivial?
Seus dedos tocam meu rosto e me puxa para perto, sinto seus lábios
nos meus, me provando.
— Não... Você é excepcional, definitivamente.
— Ei, vocês, é hora de usar a boca para comer hambúrguer. —
Ethan nos passando nossos hambúrgueres, fritas e refrigerante.
— Cala a boca, Ethan — Liam resmunga me fazendo rir.
É realmente um deleite ver Liam comer, meu Deus! E de bom
grado, eu nem comeria o meu para ficar observando-o e me deslumbrando.
Como estou realmente com fome sou obrigada a tirar meus olhos de
Liam para comer meu hambúrguer.
— Eric provavelmente faz hambúrgueres também, se quer saber —
ele diz de repente e eu o fito, divertida.
— Eric é um ótimo cozinheiro pelo o que pude comprovar.
— Sim, ele é fantástico. O melhor.
— E você tinha que ter o melhor, é claro.
— O que eu quero, eu tenho.
— Estou percebendo...
Rápido demais o carro para em frente a minha casa e Liam salta
comigo.
Ethan vai até o porta-malas e pega minhas sacolas levando-as para
dentro sem eu pedir.
— Amanhã temos um compromisso? — pergunto com os braços
cruzados em frente ao peito.
— Sim, eu passarei para te pegar às nove.
— Entendido, senhor — respondo divertida e ele me puxa para mais
perto beijando minha boca rapidamente.
Deixando um gosto de quero mais.
Estou incompleta quando ele me solta.
Ethan retorna e acena pra mim, entrando no carro, Liam faz o
mesmo.
Entro no prédio e Zoe está surtando, abrindo sacolas quando entro.
— Puta que pariu Emma, isto aqui é... Parece Natal! E quem é o
bonitão que te trouxe?
— Motorista do Liam, ou guarda-costas... ou algo parecido. O nome
dele é Ethan e é muito legal.
Ela para de retirar roupas e acessórios das sacolas e me encara.
Estou meio largada no sofá com um sorriso bobo no rosto.
— Você viu o Liam. — Não é uma pergunta. Mesmo assim eu
aceno simplesmente. — Claro, essa sua cara de quem acabou de transar
com o Deus do Sexo diz tudo.
Eu fico vermelha.
— E então? — Ela coloca as pequenas mãos na cintura, cravando
um olhar interrogador em mim. — Ele simplesmente voltou, você o
perdoou e ficou tudo por isso mesmo?
— Não faça drama, Zoe. — Eu me levanto. Não quero que ela
estrague minha felicidade com suas verdades. Não hoje. Nem nunca.
— Emma, me desculpe, eu só... — Ela toca meu braço. — Tudo
isso é muito legal. — Aponta para as roupas. — Só que estou preocupada
com você.
— Não tem com o que se preocupar — garanto, mesmo sabendo
que não é verdade.
— E se ele sumir novamente? Você ficou sem chão e mal tinham se
conhecido! E se você se envolver mais e ele te magoar?
Eu mordo os lábios, desconsertada. Zoe está externando meus
piores medos.
— Arrume tudo isto, ok? — Ignoro sua pergunta e vou para meu
quarto.
Tomo um banho demorado e quando me deito, pego o celular,
digitando uma mensagem para Liam.
“Por favor, durma.”
A resposta vem segundos depois.
“Digo o mesmo, apesar de saber que dorme feito uma pedra todas
as noites, embora resmungue coisas sem sentido o tempo inteiro.”
O quê?
“Você me observou dormir?”
Em resposta, recebo uma imagem.
É uma foto minha. Dormindo.
E apenas uma mensagem.
“Boa noite.”
Capítulo 15

Observo minha imagem no espelho com um olhar crítico. Meu


cabelo está com algum tipo de penteado que o deixa volumoso e chique ao
mesmo tempo. A maquiagem marca meus olhos, os deixando grandes e
expressivos e ainda assim destacando meus lábios brilhantes de gloss cor de
rosa.
E o vestido dourado, curto, justo e muito decotado, envolve meu
corpo como uma embalagem elegante e sexy.
Ah sim, estou definitivamente muito sexy o que é algo novo pra
mim.
Não só toda aquela produção e sim o próprio fato de eu estar tão
preocupada com a minha aparência. Há duas semanas eu teria rido se me
dissessem que eu estaria em frente a um espelho me periciando
atentamente.
Até o olhar de Zoe sobre mim é diferente.
Eu me viro para encará-la, sentada na minha cama, depois de ela me
maquiar e pentear.
— O que foi? Por que está me olhando desse jeito? — Calço os
sapatos, de saltos tão altos que eu tenho medo de cair em algum momento.
— Você parece diferente.
— Diferente como? — Ando pelo quarto, testando meu equilíbrio.
— Tão... adulta.
Eu rio, pegando a bolsa, também um presentinho Gucci, colocando
meu celular e documentos dentro.
— Tenho quase 22 anos, Zoe, eu sou adulta. — Checo de novo
minha imagem no espelho. Liam deve chegar a qualquer momento.
— Não, está diferente. Você cresceu Emma. Acho que antes do
Liam você era só... uma garotinha e agora... é uma mulher crescida.
Algo em seu tom de voz me deixa orgulhosa e temerosa ao mesmo
tempo.
Sim, eu sei do que minha amiga está falando. Por um lado, eu
sempre fui muito sensata para minha idade. Por outro, eu era apenas uma
garota inexperiente. Não só em se tratando de sexo e relacionamentos,
acredito que havia uma parte de mim que permanecia adormecida, ou
escondida. Uma parte de mim mesma que tinha medo de viver.
Agora, sinto que estou aqui. Completa e amadurecida. Finalmente.
E tudo tem a ver com aquele cara que eu conheci há menos de um
mês.
O Leão de Wall Street, com seu faro e suas garras, me caçou e me
prendeu. Entretanto eu nunca me senti tão viva e livre como agora.
A campainha toca me tirando dos meus devaneios e estremeço de
ansiedade.
— Finalmente eu vou conhecer o tão famoso Leão de Wall Street —
Zoe se diverte, enquanto saímos do quarto.
— Por favor, não o ameace com coisas do tipo “se magoar minha
amiga corto suas bolas!”. Não vai funcionar com o Liam, ok? — advirto.
— Tudo bem, eu tenho um olhar muito contundente!
Zoe abre a porta e respiro fundo ao ver Liam Hunter parado no
corredor.
Todo de preto. Os cabelos cor de cobre numa linda bagunça
brilhante se destacam na escuridão de seu traje. Ele parece sombrio e
indecoroso ao mesmo tempo enquanto seu olhar dourado me percorre
inteira numa avaliação belicosa, que me deixa quente.
— Olá — Zoe acena em frente a seu rosto, quebrando nosso contato
e Liam pousa um olhar curioso e mordaz em sua pequena figura. — Sou
Zoe. E você deve ser Liam Hunter, tenho ouvido falar muito de você
ultimamente.
Ah, Zoe.
— Realmente? — Os olhos dele se franzem, num quase
divertimento. — Talvez possamos ficar por aqui para você me contar o que
a Emma tem dito a meu respeito.
Zoe sorri empolgada, levando a sério aquela sugestão, que a mim,
mais parece uma ameaça, então decido acabar logo com a conversa.
— Eu prefiro ir a este coquetel importante, afinal não me vesti
assim à toa! — Eu me aproximo de Liam, segurando minha bolsa.
— Ah que pena! — Zoe faz um muxoxo. — Acho que teremos que
deixar nossa conversa para outra hora, Senhor Hunter. Aposto que eu tenho
muitas coisas interessantes a dizer...
Lanço-lhe um olhar ameaçador e puxo Liam para fora.
— Até mais, Zoe!
Ainda escuto seu riso enquanto seguimos pelo corredor.
— Realmente estou curioso para saber o que conta a sua amiga
sobre mim — Liam comenta e eu sinto a ameaça em sua voz.
— Não se preocupe. Ela não sabe de nada. — Jamais contaria a Zoe
o tipo de relacionamento que estou envolvida com Liam, mesmo sendo
minha melhor amiga. Ela nunca entenderia.
Liam para e segura meu braço, me forçando a encará-lo.
— Admito que foi um lapso de minha parte não falarmos sobre isso,
mas sou um homem discreto, Senhorita Jones, não gostaria de ter que usar
algum tipo de represália para calar uma garota intrometida como sua amiga
parece ser.
Eu puxo meu braço, incomodada.
— Zoe é minha amiga e guardaria segredo sobre qualquer coisa que
eu que lhe contasse, como eu disse, ela não sabe de nada. Não sobre seus...
jogos pelo menos.
Sigo em frente e encontro Ethan com um sorriso nos lábios ao abrir
a porta para mim.
— Senhorita Jones, está admirável esta noite.
— Obrigada, Ethan. — Sorrio de volta. — Pelo menos alguém
notou — completo acidamente quando Liam entra no carro.
Ethan solta uma risadinha, mas não diz nada enquanto dá a volta e
senta no banco do motorista, arrancando com o carro.
Sinto-me tensa agora. Além de meio irritada e frustrada. Eu tinha
muita expectativa quanto àquela noite que, com certeza, não envolvia Liam
ameaçando minha melhor amiga.
— Você está absolutamente linda esta noite — Liam diz, quebrando
o silêncio e eu o encaro na semiescuridão do carro, voltando a sentir a
magia percorrer minha pele com o olhar que ele me lança.
— Obrigada — murmuro satisfeita.
Liam segura minha mão enquanto percorremos o ambiente repleto
de homens de terno e mulheres bonitas que os acompanham.
E todas elas, sem exceção, cravam seus olhares curiosos em mim.
E não posso negar que alguns homens também. Estes são mais
discretos, ou têm medo de Liam, porque só me admiram rapidamente, antes
de desviarem o olhar.
Pego uma taça de espumante e beberico, enquanto Liam conversa
com um homem que ele me apresentou como sendo presidente de um banco
e que eu já esqueci o nome, numa linguagem financeira que também não
entendo muito coisa.
Desde que chegamos muitos homens se aproximaram de nós e eu
fui apresentada a um sem-número deles.
Quando o primeiro nos abordou, um homem de meia-idade calvo,
diretor de uma corretora de ações, prendi a respiração esperando para ver
como Liam ia me apresentar, ele apenas dissera um sucinto “Esta é Emma”.
E pronto.
Confesso que fiquei meio decepcionada. Depois me senti ridícula.
Liam em nenhum momento havia dito que eu era sua namorada, ou algo do
tipo.
Mesmo assim era esquisito não saber como denominar nosso
relacionamento.
O que eu diria quando alguém perguntasse quem era Liam pra mim?
Meu namorado? Meu amante? Meu “amigo”?
E se não houvesse motivo para nosso relacionamento ter algum
rótulo porque nem duraria tempo suficiente para ser preciso usá-lo?
De repente me sinto meio mal com este pensamento.
— Emma?
Volto ao presente para ver Liam me encarando com um olhar
exasperado.
— Oi?
Eu forço um sorriso para o homem moreno a nossa frente. Ele está
de braços dados com uma loira estonteante com cara de enfado.
— Olá, muito prazer. — Não faço ideia de qual seja seu nome.
— Esta é Chelsea.
Claro. A garota linda era Chelsea e eu era Emma. Gartoas sem
sobrenome que seriam descartadas como aqueles copos de champanhe a
qualquer momento. E trocadas por outra com a mesma facilidade.
— Com licença, preciso ir ao toalete. — Eu me afasto antes mesmo
que Liam possa tentar me impedir e abro caminho pelo mar de gente no
salão.
Sinto os olhos sobre mim com mais força agora que Liam não está
comigo.
— Liam sempre consegue as mulheres mais bonitas. — Escuto uma
voz masculina atrás de mim e apresso o passo, respirando aliviada quando
entro no banheiro elegante.
Coloco minha bolsa sobre a pia de mármore branco e me encaro no
espelho.
Algumas mulheres estão retocando a maquiagem e penso em fazer o
mesmo, retirando o batom da bolsa. Pelo menos eu posso passar um tempo
ali e tentar me recompor.
— Você está com Liam Hunter?
Eu me viro para uma morena baixa usando um vestido que deixa
seus seios quase à mostra.
— O Leão? — uma outra pergunta com voz admirada e eu paro
com o batom no meio do caminho, constatando, de repente, vários pares de
olhos curiosos me encarando.
E se aproximando cada vez mais.
Limpo a garganta fingindo uma indiferença que estou longe de
sentir.
— Sim, estou.
Um burburinho se forma a minha volta. Sinto-me cercada.
— Que inveja, eu até já tentei, ele nem olhou pra mim duas vezes!
— Uma garota ruiva vestindo vermelho comenta.
— O que você fez pra fisgá-lo? — a morena de peitão pergunta de
olhos franzidos.
— Fisgá-lo? — outra que nem consigo ver quem é diz com desdém.
— Você fala como se ele fosse sair com ela de novo!
— Eu já saí com ele.
De repente escuto uma voz melodiosa uns três espelhos adiante e
fico curiosa para ver quem falou.
— E ele me ligou de novo...
Ah Deus. Eu me inclino para tentar ver quem é e visualizo uma
garota alta de cabelos castanhos-claros e vestindo preto. Ela passa blush no
rosto bonito.
— Karen! — alguém adverte.
— Mas é verdade! — A tal Karen continua, nem um pouco
preocupada em ferir meus sentimentos.
Agora todas elas olham de uma para outra aguardando o que virá a
seguir.
— Não, deixe-a falar. Estou curiosa... — eu me vejo dizendo
enquanto finjo indiferença e continuo a passar o batom. — Então já saiu
com o Liam?
— Se quer saber, foi mais ou menos há um mês.
Um mês? Puta merda, um pouco antes de eu conhecer Liam.
— Eu estava com outro homem, quando vi Liam. E claro que ele
me viu também. Juro que tentei resistir, não sou uma vagabunda, então ele
veio atrás de mim. E quando eu digo veio atrás... Uau! Não tem como
resistir.
Minha mão segura o batom com tanta força que acho que vou
quebrá-lo.
— E como ele é? — alguém pergunta enquanto as outras
praticamente salivam de curiosidade.
— Pergunte pra nossa garota da noite! — Karen sorri ferinamente
enquanto guarda sua maquiagem. Seu olhar encontra o meu pelo espelho.
— Quer dizer, se é que vocês já...
— Já — corto secamente.
Ela fica surpresa.
— Então isso é um segundo encontro?
Ela parece babar por informações. Acho que não está tão indiferente
como quer aparentar.
— Não estou contando. — Dou de ombros. Não vou facilitar
também.
— Wow... Você quer dizer que está namorando Liam Hunter?
Todas as outras cochicham entre si, com expressões incrédulas e
curiosas.
— Não é tão estranho assim — uma delas comenta. — Eu conheci
uma garota que saiu com ele por duas semanas antes de ser descartada.
Duas semanas. Mais ou menos o tempo que eu conhecia Liam.
Fazia tão pouco tempo assim?
— Então você só saiu uma vez com o Liam? — continuo para
Karen.
— Ele me mandou uma mensagem, depois de voltar de uma
viagem. Disse que queria me ver de novo, só que teria um compromisso
antes, uma entrevista ou algo assim, então ele desmarcou.
Ai. Meu. Deus.
As palavras de Liam voltam a minha mente.
“Eu estava irritado, Senhorita Jones. Sabe o que eu gosto de fazer
quando estou irritado? Sexo. Mas eu não podia. Eu tinha que vir para cá
para a maldita coletiva. E quando eu penso que estarei livre, eu me deixo
convencer a conceder uma entrevista a uma repórter de um jornal de merda
qualquer.”
A mulher que ele ia encontrar era Karen.
— E então não saíram mais?
— Não. E agora acho que sei por que. — Ela fecha sua bolsa e me
encara ao passar por mim. — Boa sorte com o Leão. Acho que vai precisar.
Mas talvez já saiba disto, não é? — E sem mais ela sai do banheiro e o
burburinho recomeça, mas eu já não estou interessada.
Estou exausta. Arrumo minha própria bolsa e saio também.
Que diabos foi aquilo?
Obviamente eu sabia que Liam já saíra com uma infinidade de
mulheres. Porém nunca imaginei que encontraria uma delas no banheiro de
uma festa! E ainda com todas aquelas outras garotas curiosas e invejosas
em cima de mim. Quanto mais eu teria que aguentar deste tipo de situação?
— Não parece muito feliz.
Paro ao ouvir a voz conhecida e me deparo com o sorriso elegante
de Felix Firestone.
— Felix! — exclamo e seu sorriso aumenta.
— Emma Jones, está muito bonita esta noite.
Eu coro.
— Estou surpresa de vê-lo aqui.
— Estou percebendo.
— Estou com Liam — explico.
— Estou sabendo.
— Não parece surpreso.
— Claro que não estou.
Eu coro mais ainda.
— Você... Sabia que eu estaria aqui com Liam?
— Eu deduzi, já que estão juntos.
— Sabia disso?
— Seria meio difícil ignorar já que o Hunter me disse bem
claramente para ficar longe de você.
O quê?
Eu arregalo os olhos.
— Como é? Liam disse isso? Quando? Onde...
Ele sorri.
— Eu e Liam temos negócios, Emma. Obviamente percebi que
vocês, digamos... se conheciam mais do que era esperado de uma repórter e
um entrevistado naquele almoço.
— Eu não estava com ele naquele dia, quer dizer, nós não...
— Então eu disse a Liam que a achava deslumbrante e que a
chamaria pra sair.
Wow!
Eu não sei o que dizer. Felix ia me chamar pra sair?
O que estava acontecendo no universo que não só um, mas dois
milionários da cidade se interessaram por mim de uma hora pra outra?
— Eu não achei que ele se importaria, afinal Liam nunca sai com
uma mulher mais do que algumas vezes. E já é muito. No entanto ele se
importou. E me disse para ficar longe de você, porque estava com ele, acho
que as palavras exatas foram: “Fique longe do que me pertence, Firestone.
Emma Jones é minha.”.
Eu estou tão atônita com aquela revelação que nem consigo esboçar
reação imediata, apenas fico ali, de olhos arregalados e rosto vermelho
encarando Felix Firestone. O cara bonito e muito rico que queria sair
comigo se Liam Hunter não tivesse dito a ele com todas as letras que eu era
uma espécie de propriedade sua.
— Alguém está me chamando — Felix diz alheio à fúria crescente
dentro de mim. — Foi bom ver você, Emma. Até mais.
Ele se afasta ao mesmo tempo em que vejo a sombra escura de
Liam Hunter se aproximando com ar ameaçador.
— O que Felix Firestone queria com você?
Eu o encaro, indignada.
— Por que ele não pode falar comigo? Tem algo a ver com o fato de
você tê-lo ameaçado para ficar longe de mim, sua “propriedade”? —
despejo e os olhos de Liam escurecem.
— Está brava porque mandei que ele ficasse longe de você? Por
acaso queria o contrário?
— E se quisesse? — Sei que estou provocando sua ira, mas não
consigo evitar. Não gostei de ele ter dito aquelas coisas a Felix, quando
sequer me assumia corretamente diante de todas aquelas pessoas. E eu
ainda tinha que ser lembrada do jeito que ele tratava suas companhias
femininas depois do encontro contundente com uma delas no banheiro. Sem
contar todas as outras que estavam loucas para que eu fosse dispensada para
tomarem meu lugar, nem que fosse só por uma noite.
— Não me provoque, Senhorita Jones — ele rosna baixinho. —
Não quer ver a minha ira.
Eu seguro seu olhar, enquanto penso em como retrucar.
Continuar ou recuar? Não quero que ele pense que estou interessada
em Felix ou algo assim, também não quero ele me trate como sua
propriedade quando pode me chutar a qualquer momento.
Ou aquilo também tinha a ver com o seu jogo?
Seu olhar muda de repente assumindo um brilho diferente, apesar de
continuar ameaçador, e é então que percebo que meu próprio olhar também
mudou e ele notou.
— Ou é o que você quer? Minha fúria?
— Eu quero ir embora — digo de repente.
E é a mais pura verdade. A noite perdeu o brilho e estou aborrecida.
— Vamos embora — Liam concorda segurando meu braço e me
conduzindo para fora.
Ethan abre a porta e ele deve ter percebido nossa tensão, pois não
faz nenhum comentário e está muito sério.
O carro arranca pelas ruas escuras e Liam se inclina para mim, sua
boca procurando a minha e, pela primeira vez no curto período de nosso
relacionamento, eu o afasto.
— Não! — Viro o rosto. Não quero que me beije. Não ainda. Não
agora, quando estou nervosa com ele. Eu sei o que vai acontecer quando
Liam me beijar. Vou ceder e esquecer.
Por alguns segundos, continuo assim, então sinto algo vibrando no
ar.
Uma tensão quase palpável emana em minha direção. Vem de Liam
e atravessa minha pele, arrepiando meu interior e eu o encaro.
E não estou preparada para a raiva que vejo em seu olhar.
E eu achava que já tinha visto Liam furioso. Estava enganada.
— Ethan, pare o carro. — Sua voz estronda nas paredes do veículo.
Encolho-me, quando Ethan joga o carro no acostamento.
Só agora percebo que a divisória estava aberta.
— Liam, o quê?... — começo a indagar, ele me ignora.
— Ethan — rosna, com o olhar fixo em mim, antes de se virar e sair
do carro, batendo a porta.
Eu olho para Ethan.
— Ethan?
— Fique aqui — Ethan pede com um olhar sério e sai do carro
fechando a porta.
Espio pelo vidro e vejo os dois trocando palavras que não escuto.
Parecem discutir. Quando penso em sair do carro, Liam vira as costas para
Ethan e entra novamente sentando no banco do motorista.
Eu olho pra fora e Ethan fica lá parado, me encarando com um olhar
grave, enquanto Liam arranca cantando pneus.
— O Ethan?... — balbucio, aturdida.
— Ele não é mais necessário — Liam responde pisando no
acelerador. Vejo a paisagem escura passando rapidamente por mim. As ruas
àquela hora estão vazias, permitindo que Liam acelere cada vez mais.
— Achei que não dirigia...
— Não gosto do trânsito caótico. Gosto de velocidade, Senhorita
Jones.
— Aonde vamos?... — arrisco-me a perguntar.
Ele não responde e liga o rádio. Nine Inch Nails preenche o
ambiente com seu som pesado e soturno.
Quando para o carro, percebo que estamos em frente a um local que
parece ser um clube noturno e, quando olho para Liam, ele está retirando o
paletó e a gravata.
A porta do carro se abre e eu saio, para me deparar com um
segurança alto, que apenas meneia a cabeça. Liam se aproxima e segura
minha mão depois de dar a chave do carro para o homem.
Entramos no interior escuro, seguindo por um corredor e ao longe
escuto uma batida hipnótica. Quando o corredor termina, espero meus olhos
se ajustarem à pouca luz e noto que realmente estamos num clube noturno.
Mas é diferente.
Posso sentir no ar. Posso sentir a atmosfera opressiva e sedutora.
Estamos num Clube de BDSM.
— Você disse que não era deste mundo — murmuro atordoada
quando Liam me encara.
— E você disse que ia obedecer. — Sua voz está repleta de ameaça.
— Não me lembro de ter dito isso. — Solto minha mão da sua.
— Disse que queria que eu te mostrasse meu mundo. No meu
mundo você obedece, Senhorita Jones, independentemente do jogo que eu
queira jogar.
— E se eu não quiser obedecer?
— Pode ir embora e nunca mais nos veremos.
O tempo parece suspenso entre nós enquanto nossos olhares se
prendem numa luta silenciosa.
Sim, eu havia concordado com seu jogo. Mais do que isso, havia
praticamente implorado para entrar nele.
E agora Liam está me colocando à prova.
Por um momento, acho que ele quer exatamente isso. Que eu recue.
Que desista.
Que seja a menininha covarde que ele pensa que sou.
Mas não vou recuar ou desistir.
E vou provar a ele.
Não é uma questão de submissão.
E sim de força.
— Eu quero ficar. — Meu coração dispara alarmantemente no peito.
Tento entender o olhar de Liam que desvia os olhos rapidamente.
— Mantenha a cabeça baixa — diz quando segue em frente e eu o
acompanho, fazendo como ele mandou.
Nos sentamos numa mesa de canto e um garçom aparece. Liam
pede duas bebidas.
Mordo os lábios, sem saber o que fazer.
— Vai me fazer ficar ajoelhada ou algo assim? — pergunto incerta.
— Já falei que não gosto dessas regras idiotas.
— Me mandou ficar de cabeça baixa.
Ele segura meu queixo, forçando-me a encará-lo. Há certa aspereza
em seu toque agora e seu olhar continua tempestuoso.
— Não quero que vejam seus olhos, são tão transparentes. Eles
iriam ler sua mente.
— Você consegue? Ler minha mente?
Ele me solta.
— Não. E confesso que é um problema, mas podemos dar um jeito
nisso até o fim da noite.
Quero perguntar o que quer dizer, mas me calo. Em vez disso, deixo
meu olhar vagar em volta, cheia de curiosidade.
Paredes pintadas de uma cor escura, com luzes de várias cores
profundas, cantos cheios de sombra, não consigo ver direito as pessoas a
nossa volta. Olhando com mais atenção, distingo em todo lugar, contra as
paredes, alguns equipamentos.
Puta. Que. Pariu.
— Aquilo ali é... — balbucio aturdida olhando na direção de um
banco de couro.
— Banco de couro próprio para espancamento — Liam responde
calmamente.
O garçom silencioso coloca nossa bebida sobre a mesa e continuo a
olhar em volta.
Vejo adiante um par de grandes peças esquisitas de madeira.
— São usadas para atar as pessoas com cordas — Liam diz, notando
meu olhar, enquanto degusta seu uísque.
— E aquele X? — Aponto para o X em uma parede.
— Cruz de Santo André.
Nem ouso perguntar para o que serve. No fundo, eu já intuo de
alguma maneira que irei descobrir em algum momento. E pode ser naquela
noite.
Estremeço de medo e antecipação.
De repente, Liam se inclina e segura meu queixo, obrigando-me a
encará-lo de novo.
— Está assustada?
Engulo em seco.
— Apenas absorvendo tudo isso... é tão...
— Amedrontador?
— Diferente.
Ele continua a me observar.
Mordo os lábios e tomo a minha bebida. Queima minha garganta,
mas preciso dela.
Liam está com raiva. Ele me trouxe num clube de sadomasoquismo
quando disse que não participa desse mundo porque não concorda com as
regras.
Regras feitas para proteger quem se submete a isso.
Eu sei que deveria estar fugindo correndo, no entanto continuo ali.
Sim, talvez eu seja mesmo algum tipo de sadomasoquista, por saber
que estou numa enrascada e permanecer nela.
É isso que Liam faz comigo. Ele me atrai para sua escuridão.
E eu vou porque não consigo seguir em outra direção.
— Ainda pode ir embora, Senhorita Jones — fala em desafio.
— Você disse que queria jogar — murmuro — aqui estou.
Seus olhos brilham na penumbra.
Desejo.
Algo mais que não consigo definir, porque já estou flutuando
naquela onda de frenesi que Liam causa em mim quando me olha deste
jeito. Como se eu fosse a única criatura do mundo. Sua última caça.
Mal consigo respirar quando ele se levanta e estende a mão.
Eu a seguro e Liam me puxa por entre as mesas. Mantenho a cabeça
baixa. Não olho para os lados, mas sei que eles estão ali. Não consigo
deixar de corar.
Liam para em frente à parede que tem alguns apetrechos
pendurados. Acho que vejo um chicote. Estremeço.
Ele se aproxima e pega algo entre as mãos.
— Feche os olhos.
Engulo em seco e obedeço.
Liam coloca uma venda em mim. Estou na escuridão total agora.
Nada acontece por um tempo. Não ouso me mexer.
Ainda escuto a suave música de fundo. Passos. Vozes abafadas.
De repente a música muda.
Reconheço Nine Inch Nails
Quase sorrio. Aquilo é muito Liam. É quase seguro.
Mesmo com meu cérebro meio entorpecido, ainda me lembro de
onde estamos.
E que não estamos sozinhos.
— Ainda quer estar aqui, Senhorita Jones? — pergunta no meu
ouvido.
Estremeço, um arrepio percorrendo minha espinha. Meu coração
retumba em meu ouvido.
Eu posso me negar. Posso retirar aquela venda e ir embora.
“Pode ir embora e nunca mais nos veremos”, sua voz ressoa como
uma lembrança insidiosa.
Liam me deu uma opção. E eu aceitei ficar. No seu jogo. Com suas
regras. Sacudo a cabeça afirmativamente. Eu consigo, digo a mim mesma.
Medo e excitação se enroscavam e se retraem dentro de mim numa
dança sinuosa, quando sinto minhas mãos sendo erguidas e algo metálico se
fechando em meu pulso.
Estou presa.
Sinto um princípio de pânico, os dedos de Liam percorrem meu
rosto e seu hálito queima minha boca.
— Nunca mais negue seus lábios para mim — murmura
mordiscando meus lábios que se abrem, submissos para a invasão de sua
língua, num beijo intenso e dominador. — Gosto de você assim.
Impossibilitada de se afastar. — Os dedos deslizam lentamente por meu
pescoço, chegam à fenda do vestido, que ele afasta, revelando meus
mamilos. Sinto um beliscão e gemo alto, o interior das minhas coxas se
inundando de calor.
— Por favor...
— Shi... — Ele morde meus lábios. — Você não vai falar. A não ser
que eu mande. — As mãos seguem para baixo. Meu ventre se contrai com
seu toque. — Você e essa sua boca me provocam de um jeito muito
irritante, Senhorita Jones. Será que devo amordaçá-la?
Puta merda, não! Quero gritar, nem ouso depois dessa ameaça.
Mordo os lábios.
Então sinto seu beijo em meu pescoço... As mãos descendo por
meus quadris e erguendo meu vestido.
Aperto as pernas com força.
Não estou preparada para o tapa ardido em meu traseiro e arfo num
grito silencioso de surpresa.
— Basta. — Sua voz dura e seca me faz tremer. — Você me deixou
furioso, Senhorita Jones. E acho que merece sentir alguma dor.
Ah. Puta. Merda.
Sinto que se afasta.
Mal consigo respirar. A tensão domina meu corpo.
E agora o que vai acontecer?
Algo desliza sobre a pele do meu seio. Sedoso e instigante. E, antes
que meu cérebro entorpecido conseguisse processar suas palavras, um golpe
desce na bunda.
Arquejo, assustada e surpresa.
— Vou punir você, Senhorita Jones. — Sua voz é áspera e sedutora
ao mesmo tempo. Recordo-me daquele tom em seu escritório, quando
sucumbi a ele pela primeira vez.
Será que naquele momento ele havia me imaginado assim?
Amarrada e vendada a sua disposição?
Arfo, quando o sinto deslizando a calcinha por meus quadris.
— Não... — Eu me lembro tardiamente de novo onde estamos e me
retorço contra as amarras, atordoada de constrangimento.
— O que eu disse sobre falar, Senhorita Jones?
Mordo os lábios com mais força. Meu coração é um ribombar
ensurdecedor em meu ouvido, enquanto aguardo.
— Não sabe o quanto está linda — sussurra e sinto de novo o golpe
em minha pele.
Não é uma dor insuportável. Não faço ideia do que está usando para
me bater, parece macio. Sinto outros golpes e gemo alto quando atinge meu
clitóris. Meu corpo se contorce, inflamado. Escuto a batida forte da música
e os golpes açoitando minha pele sensível, me excitando e me machucando
ao mesmo tempo.
Meu cérebro lentamente se desconecta da realidade, mas mesmo em
meio àquela névoa de atordoamento, ainda sei onde estou. Ainda sinto a
aflição de estar sendo observada e meu interior estremece de humilhação. E
mesmo assim não consigo conter a excitação pelo o que ele está fazendo.
De repente, tudo termina.
Estou respirando com dificuldade e meu corpo está tremendo
inteiro, zonza e aturdida sinto o braço de Liam me cingindo pela cintura e
seu beijo em minha boca. Com a mão livre, ele me solta das algemas.
Então, para de me beijar e retira a venda num movimento rápido.
Pisco meio tonta, meus olhos lutando para se acostumar com a luz e
focalizo Liam me contemplando sombriamente.
— Você está chorando?
Estou?
Com as mãos agora livres, toco meu rosto molhado e percebo que
sim, estou chorando.
— Puta que pariu Emma, eu não bati com força! — esbraveja
irritado e perturbado. Olho em volta e percebo, para meu assombro, que não
há absolutamente ninguém. O local está completamente vazio.
A realidade cai em mim. Liam havia esvaziado o clube assim como
esvaziara a boate na outra noite.
Sinto alívio e raiva ao mesmo tempo.
— Não é possível que eu tenha te machucado! Emma, fale comigo,
você está machucada? — Liam continua e finalmente o encaro.
— Você me fez pensar que estávamos sendo observados! — acuso e
o empurro, ele não me solta. — Me fez acreditar que estava fazendo tudo
isso na frente de todas aquelas pessoas...
Liam entende o motivo do meu choro.
— É por causa disso que está chorando?
— O que você queria? — Finalmente consigo me afastar, e enxugo
meu rosto molhado com fúria. — Acha que não devo ficar perturbada por
me expor desse jeito?
Seu rosto se aproxima do meu, agora também furioso.
— Acredita realmente que eu a exporia?
O que posso responder? Eu acho que Liam era capaz de tudo.
E percebo agora que isso me assusta. Não pelas coisas que ele é
capaz de fazer e sim pela minha incapacidade de dizer não.
Abraço meu próprio corpo como um escudo e não consigo
responder.
— Vamos embora — diz bruscamente e me puxa pela mão para a
saída.
O segurança entrega as chaves do carro e nós entramos. Eu me
sento me retraindo para perto do vidro, ainda sem conseguir encará-lo.
Estou brava não só com Liam, também comigo mesma. Por ter
fraquejado.
Eu não sou forte. Sou uma menininha assustada.
Viro a cabeça para a janela para não ver que estou chorando.
O que vai acontecer? Ele vai me levar para casa e nunca mais vai
aparecer? Serei como Karen e tantas outras? Será que elas se sentiram
assim na iminência de perder Liam?
Só que elas não o estavam perdendo. Elas nunca o tiveram. E eu,
tive?
Fecho os olhos, e tento não pensar. Esvazio a minha mente de
qualquer pensamento e só me dou conta que o carro parou quando Liam
abre a porta do passageiro e estende a mão para mim.
Deixo que ele me puxe para fora, esperando ver meu prédio, em vez
disso estou numa garagem subterrânea. Eu o sigo por entre os carros, ainda
confusa e noto que estamos em seu prédio quando entramos no elevador.
Liam não segura mais minha mão e está tenso.
Cruzo meus braços em frente ao peito, sentindo sua tensão me
dominar também, me deixando ansiosa e nervosa, junto com a necessidade
de manter minha mente em branco.
Não quero pensar. Não quero avaliar o motivo de ele ter me trazido
para sua casa e não me largado na minha.
Não quero me sentir aliviada.
Não quero me sentir feliz.
O elevador para e seguimos pelo curto saguão privado enquanto ele
abre a porta e faz sinal para eu passar.
Eu entro na sua frente, sem saber o que fazer em seguida.
A sala está mal iluminada, as luzes da cidade fazem as sombras
dançarem sobre a sala através da parede de vidro.
Liam bate a porta com força e eu o encaro.
Sua expressão é de raiva. Seu olhar esconde uma tempestade.
— Acha mesmo que eu ia deixar qualquer um ver você? — Sua voz
está carregada de mal contida fúria, enquanto se aproxima. — Não
compartilho o que é meu, Senhorita Jones. — Seus dedos seguram minha
nuca, e me puxam em sua direção. — E você é minha. — Sua boca desce
com força, machucando meus lábios e calando os protestos que se
formavam em minha mente.
E como eu tinha temido no carro, quando ele quis me beijar e eu
recuei, derreto totalmente sob seu beijo.
Sim, naquele momento, daquele jeito, eu sou dele.
Completa e irrevogavelmente.
E não há mais qualquer ideia ou resquício de protesto, quando
nossas línguas se unem numa luta muito mais agradável do que ferroadas
verbais.
Gemidos de prazer e dor escapam de minha garganta enquanto seus
dedos puxam meus cabelos. Contorço-me para ficar ainda mais perto,
sentindo meu corpo queimando de um desejo traiçoeiro que percorre meu
sangue e pulsa ferozmente em meu ventre.
— Minha! — Ele aparta os lábios dos meus para percorrer meu
rosto, minha têmpora, minha garganta, com beijos urgentes, famintos e
possessivos.
Fecho os olhos me entregando à sensação intensa que faz meu
coração disparar em júbilo, mal percebendo quando sou retirada do chão,
apenas obedecendo meus instintos, colocando minhas pernas em volta de
sua cintura, enquanto seguimos pelo corredor.
Sou jogada na cama sem a menor cerimônia, não me importo nem
um pouco.
Fico ali, ofegante e ansiosa, enquanto Liam começa a retirar suas
próprias roupas com rapidez alucinante e vem nu e lindo para cima de mim
de novo, com mãos em garras, arrancando meu vestido. Num movimento
ágil, me vira de costas, dando um tapa na minha bunda no processo. Seus
dedos seguram meu cabelo e sua língua percorre minha nuca, desce por
minhas costas, quente e molhada na minha espinha, me contorço debaixo
dele, perdida de prazer. Ainda estou sem calcinha que não sei onde Liam
colocou, o que facilita para seus dedos se apossarem de mim numa carícia
indecorosa. Jogo minha cabeça para trás, gemendo alto e ruidosamente e
mal percebo, quando ele se afasta rapidamente para pegar um preservativo
em sua mesa de cabeceira, e, segurando meus quadris no ar, ele me penetra
com força.
Grito, o prazer se espalhando em meu corpo como uma corrente
elétrica. Suas estocadas são duras e ásperas, deixo que ele me leve naquele
ritmo violento, vertiginoso, enquanto as sensações vão se avolumando em
meu ventre, até que não reste nada em meu mundo a não ser Liam e seu
sexo pulsando dentro do meu, rápido e forte, cada vez mais profundo, mais
intenso.
E gozo fortemente, gritando e arquejando, sentindo-o perder o
controle também e se retesar dentro de mim, numa última estocada firme,
gemendo, enquanto puxa meus cabelos e aperta meu quadril.
E desabamos juntos e ofegantes sobre o colchão.
Estou fraca e sonolenta quando sinto que sou tirada da cama.
Não sei quanto tempo se passou, muito remotamente percebo que
Liam saiu da cama e agora voltou, me tomando em seu colo.
Penso em protestar e pedir que me deixe dormir, então minha pele
estremece agradavelmente em contato com a água morna, quando sou
colocada na banheira.
Suspiro, sentindo parte da tensão daquela noite interminável se
dissipar sob a água, quero manter meus olhos fechados, mas não consigo.
Eu os abro quando sinto os dedos de Liam prendendo meus cabelos num
coque alto para não molhá-los.
Estreito o olhar, confusa quando ele pega uma esponja macia e
passa por minha pele cuidadosamente.
Uma parte de mim quer protestar, dizer que posso muito bem tomar
banho sozinha, outra quer fechar os olhos e deixar que ele cuide de mim.
E ainda há aquela que quer recomeçar a briga. Só que eu não
consigo me lembrar dos motivos. A única coisa que sei, bem lá no fundo é
que eles existem. E são muitos.
A parte que está apenas cansada vence e fecho os olhos, deixando
que ele me dê banho.
Liam está silencioso e eu também.
E isso é bom, neste momento.
Estou quase dormindo, quando ele me tira da banheira, me seca e
leva para o quarto. Sinto uma camiseta sendo deslizada em mim e mãos
gentis me colocando sob as cobertas.
E a última coisa que sinto, antes de deslizar para o sono, é que ele
está me deixado sozinha.
De novo.

Acordo com o sol pálido da manhã banhando o quarto.


Espreguiço-me sentindo uma ligeira dor em meus membros.
“Estive amarrada ontem”, eu me recordo e isso faz com que todas as
lembranças da noite anterior voltem a minha mente numa enxurrada.
Sento-me olhando em volta. Estou no quarto de Liam. Sozinha.
Jogo as cobertas para o lado e me levanto, indo até o banheiro.
Ao passar pelo espelho, noto que estou vestindo a camiseta do Nine
Inch Nails que usei da outra vez que dormi ali.
A constatação de que depois de tudo Liam me trouxe pra sua casa e
fez amor comigo me deixa atordoada.
Eu achei que ele ia me chutar. Eu surtei em meio a um clube de
sadomasoquismo, depois de ele me mostrar um de seus joguinhos eróticos
de punição.
Recordo-me do que senti. Foi excitante e perturbador ao mesmo
tempo.
Eu achava que Liam estava me expondo e, apesar de uma parte de
mim se sentir humilhada, eu permiti.
Até onde eu seria capaz de ir por aquele cara?
Isso me deixa assustada. Estar com Liam era uma montanha-russa
de emoções que eu desconhecia até agora.
Confusa, saio do quarto a sua procura, sem saber qual Liam vou
encontrar nesta manhã. No outro dia, ele estava vestido de Leão de Wall
Street sabatinando uma de suas funcionárias bonitinhas e intrometidas. Ele
não está na sala silenciosa desta vez. Continuo até a cozinha e estaco
surpresa ao ver a mesa do café posta e Liam sentado do outro lado em
frente a um notebook.
Ele levanta o olhar e me vê e eu definitivamente nunca tinha visto
aquele Liam.
— Bom dia, Emma. — Sua voz está mais suave do que eu já ouvi,
mesmo assim contém aquela nota áspera que lhe é característica, enquanto
ele se levanta. Ele está sem camisa e veste uma calça de pijama solta nos
quadris
— Bom dia — Mexo os pés, sem saber o que dizer e aponto para a
mesa. — Achei que nunca tomasse café.
— Eu fiz para você.
— Para mim? — Por esta eu não esperava.
Ele dá de ombros, assumindo aquele tom meio arisco que conheço
bem.
— Não sei fazer muffin, espero que goste de ovos.
Um pequeno sorriso se quebra em meus lábios, enquanto eu me
sento, encarando os ovos no prato.
— Parece bom, obrigada.
Ele me observa enquanto começo a comer e eu fico tensa.
— Está brava comigo?
A pergunta me pega de surpresa e eu o encaro. Suas mãos estão nos
bolsos da calça de moletom e seu olhar é intenso. Como se não saber o que
estou pensando o frustrasse.
— Não agora.
— Mas ontem a noite sim.
— Qual parte? — pergunto numa suave ironia.
— Você não quis que eu a tocasse no carro.
Nossa isso realmente o deixou irritado.
— Eu estava brava por causa do que disse ao Felix.
A expressão de Liam se fecha ainda mais.
— Felix está deslumbrado por você.
— Você disse a ele para ficar longe de mim.
— E você não gostou.
— Não.
— Por quê?
— Acha que estou de alguma maneira interessada nele?
— Está?
— Estou aqui com você, não estou?
— Não leio sua mente.
— É um alívio saber.
— Isso me frustra.
— Você me frustra também.
— Por quê? Você sabe o que eu quero, sabe minhas regras.
Eu me encolho, desviando o olhar.
— Mesmo sabendo minhas regras você ficou com raiva pelo o que
eu fiz ontem — continua.
Mordo os lábios com força, incapaz de negar.
— Olhe para mim, Emma — pede com firmeza.
Eu o faço. E sei que meus medos estão claramente expostos em
meus olhos.
Vejo em sua expressão que ele sabe.
E não gosta.
— Eu estou confusa. Tudo o que aconteceu me deixou confusa —
confesso.
— Você quer ir embora?
Meu coração ameaça parar de bater.
Sei que ele não está se referindo simplesmente ao fato de ir embora
nesse momento. Está falando de ir embora para sempre.
De acabar com nossa breve e tempestuosa relação.
Luto contra a vontade de me levantar, me agarrar a ele e dizer que
não, que não quero ir, nunca. Que estou disposta a fazer qualquer coisa que
ele queira para ficarmos juntos.
Nesse momento descubro que ainda há algo da Emma sensata
dentro de mim. Da Emma que sabe que está se apaixonando rápido e
irrevogavelmente por aquele homem.
Eu quero Liam com cada célula viva do meu corpo, com cada
átomo de minha alma, com cada pedacinho ínfimo do meu coração.
Porém, se eu não tentar tomar alguma atitude para me preservar
agora, temo estar me entregando a uma situação com a qual não serei capaz
de lidar mais tarde.
— Tudo é intenso demais para mim, acho que preciso de um tempo
— respondo por fim.
Ele sacode a cabeça afirmativamente.
— Tudo bem.
— Não parece surpreso.
— Eu esperava que dissesse algo desse tipo depois de ontem. Eu
sabia desde o começo que poderia ser demais para você. — Ele parece estar
falando consigo mesmo, enquanto passa os dedos pelos cabelos.
— Eu... — Sinto necessidade de me explicar, Liam me corta.
— Apenas tome seu café. Eu vou pedir que Ethan a leve em casa.
E sem mais ele se afasta.
Eu fico ali, mais confusa do que nunca e me perguntando se, ao
recuar, poderei estar perdendo-o pra sempre.
Perco o apetite e me levanto, tirando os pratos da mesa, tentando
não me lembrar das palavras venenosas das garotas naquele banheiro e
então meus olhos recaem sobre o seu notebook aberto e vejo que Liam
estava vendo uma receita de muffin antes de eu entrar na cozinha.
Um sorriso relutante surge em meus lábios. Ele iria mesmo fazer
muffin pra mim?
Pergunto-me se ele fez muffin pra alguma garota antes.
— Bom dia, madame.
Levanto o olhar e vejo Ethan entrando na cozinha.
— Ethan! Que bom que achou o caminho de casa, fiquei
preocupada.
Ele dá de ombros.
— Eu sempre acho.
— O que foi aquilo ontem?
— Coisas de garotos — desconversa e vem até mim, fechando o
notebook de Liam. Fico vermelha, porque ele me pegou espionando.
— Eu não mexi em nada! — eu me defendo.
— Se diz... — ele pisca — agora porque não vai se vestir para eu te
levar pra casa, até que fica bem com esta camiseta, mas...
— Eu vou — digo meio desanimada.
— E, antes que pergunte, Liam já saiu.
— Já?
— Ele foi correr.
Eu fico magoada por ele nem ter se despedido de mim.
E se aquele fosse o fim?
Ethan percebe minha expressão.
— Eu não pensaria assim se fosse você.
— Como sabe o que estou pensando? — pergunto tristemente.
— Eu não sei o que você pensa, mas sei o que Liam pensa. —
Apanha uma maçã e a morde ruidosamente.
— Posso te fazer uma pergunta?
— Sim?
— Liam já fez café da manhã para alguma garota antes?
Ele joga a maçã já quase comida com suas mordidas monstruosas
fora e sorri, pegando outra.
— Liam nunca deixou nenhuma garota dormir aqui antes, Emma,
quanto mais fazer café da manhã!
Eu me viro e estou sorrindo enquanto caminho para o quarto.
Ainda há uma esperança.
Não é um fim.
Capítulo 16

— Jackson, para com isso! — O grito estridente de Zoe reverbera


pelas paredes do apartamento e rolo os olhos me desconcentrando pela
enésima vez naquela tarde.
Tiro os olhos da tela do meu notebook, onde tento, sem sucesso,
estudar para uma prova e observo entre exasperada e divertida Zoe rolando
por cima de seu namorado no sofá, enquanto ele ri e mantém o controle
remoto longe de seu alcance.
— Estou falando sério, me dá este maldito controle agora! — Zoe
esbraveja, depois começa a rir descontroladamente, quando Jackson solta o
controle e passa a fazer cócegas em suas axilas, o que faz Zoe gritar ainda
mais alto e, no segundo seguinte, eles estão rolando pelo chão em uma
espécie de luta corpo a corpo, que pode tanto parecer infantil quanto sexy,
entre risos e provocações.
Convivendo há anos com Zoe e, consequentemente com seu
namorado, eu já havia presenciado aquele tipo de interação centenas de
vezes. Geralmente, eu apenas ria, rolava os olhos e me afastava. Agora,
observo com interesse e inveja a interação entre eles e não consigo deixar
de me perguntar se haveria alguma chance, mesmo que remota, de um dia
eu ter um relacionamento assim com Liam.
Uma dorzinha fina se alastra por meu peito ao pensar nele. Desvio
os olhos dos namorados no chão da sala e olho para meu celular mudo.
Já faz uma semana que pedi um tempo que ele me concedeu sem
reclamar. Naquele momento, depois de tudo que já havia rolado e envolvida
até os ossos naquela confusão de sentimentos, tinha certeza que estava
tomando a melhor decisão. Eu sentia uma necessidade quase instintiva de
me preservar. De recuar e estudar a situação de uma distância segura que
me permitisse ver com clareza o tipo de relação na qual eu estava entrando
ao ficar com Liam. O problema era que eu não contava com o fato de que
talvez estivesse envolvida demais para conseguir ficar longe sem causar
nenhum dano ao meu coração. E ao meu corpo.
Tentei voltar a minha vida normal, antes de o furacão Liam Hunter
passar por ela, destruindo toda e qualquer tranquilidade. Concentrei-me nas
aulas. Dediquei-me ao meu chato trabalho no jornal, até saí para assistir
alguns filmes com Zoe, que por sua vez, parecia bem aliviada por eu ter
pedido um tempo a Liam.
Porém a normalidade era apenas aparente. Se por fora eu tentava
simplesmente deixar as horas correrem como antigamente, por dentro
estava em agonia.
Tudo o que eu conseguia pensar era que devia estar louca por
preferir aquela vida morna e sem graça a estar com Liam.
Simplesmente não havia comparação. Tudo parecia mais colorido e
vibrante com ele por perto. Eu me sentia viva com Liam por perto.
Sem ele, eu apenas... existia.
Então eu me lembrava de que, para Liam, tudo não passava de um
jogo.
Um jogo que ele jogava há muito tempo, com diversas parceiras
diferentes e no qual eu era meramente uma aprendiz.
Quando estávamos juntos, tudo era muito intenso. Era tudo demais.
Como uma injeção de adrenalina num coração em coma. Um choque de
eletricidade de mil volts em minha pele. Um sopro de vida e luz em minha
alma.
Então, o que aconteceria se eu continuasse a me alimentar de toda
aquela vida e ele se cansasse de mim? Eu não conseguia deixar de pensar
em como me senti exposta e confusa naquele clube. De como não tive
forças para detê-lo, mesmo me sentindo daquele jeito.
De como tive medo de que ele simplesmente desistisse de mim, por
achar que não era capaz de ser o que ele queria que eu fosse.
Mesmo agora, longe, ainda sentia aquele medo terrível gelar meu
coração. Os medos de Zoe, as palavras invejosas das garotas naquele
banheiro. Karen. Todas as mulheres das fotos de paparazzi.
O temperamento tempestuoso e confuso de Liam. Hora gelo. Hora
fogo.
O desejo de caçar. De controlar. De punir.
Nunca dormindo comigo. Nunca deixando eu me aproximar demais.
Sempre se afastando quando eu sentia que estava chegando perto o
suficiente do verdadeiro Liam por baixo da superfície fria e controladora de
leão.
O quanto este relacionamento poderia durar?
O quanto disso eu aguentaria?
— Zoe, eu quero ver o futebol! — A reclamação queixosa de
Jackson me tira dos devaneios e bufo ao encará-los. Zoe está bem satisfeita
com o controle remoto na mão vendo uma reprise do desfile da Victoria’s
Secret.
— Vocês poderiam parar de graça e me deixar estudar? — reclamo.
Jackson olha pra mim.
— Está enrolando aí que eu sei! Por que não faz um daqueles
muffins gostosos, depois poderíamos convencer Zoe a deixar a gente
assistir um filme em vez desses desfiles chatos?
— Achei que gostasse de mulheres vestindo lingerie — Zoe
provoca.
— Essas mulheres parecem esqueléticas.
— Assim que se fala amor. — Ela beija sua bochecha e depois me
encara. — O Jackson tem razão, seria fantástico comer muffin agora...
Com um suspiro, me levanto da mesa, desistindo de trabalhar.
— Tudo bem, vocês venceram. Mas eu escolho o filme depois!
— Por isso que eu te amo, Emma! — Jackson joga um beijo para
mim.
Começo a pegar os ingredientes para fazer a massa. E me lembro
Liam de novo. Sorrio comigo mesma ao recordar que ele estava procurando
uma receita de muffin naquela manhã em que nos vimos pela última vez.
Por que ele não me ligou desde então? Eu tinha me segurado
naquela semana para não mandar nenhuma mensagem quando percebi que
Liam realmente estava dando o tempo que eu pedi.
O que aquilo significa? Que eu terei que dar o primeiro passo para
uma reaproximação? E se eu não der? Liam simplesmente entenderia que
eu tinha terminado tudo?
Eu coloco os bolinhos no forno e pego o celular. Hesito apenas
alguns segundos, antes de os meus dedos começarem a deslizar sobre a
tecla, digitando a receita de muffin de mirtilo que eu sei de cor desde minha
adolescência.
E com um sorriso eu envio para Liam.
Borboletas sobrevoam meu estômago enquanto espero uma
resposta. O que ele vai entender?
O que diabos eu quero que ele entenda?
No entanto a tarde passa sem nenhuma resposta.
E vou dormir me perguntando se hesitei demais. Se para um homem
como Liam, que pode ter a mulher que quiser, um tempo significa um fim
definitivo.
Na manhã seguinte, eu me despeço de Jackson, que voltará a Boston
depois de passar o fim de semana na cidade e vou para o estágio, sentindo
meu coração pesado.
— Emma, tudo bem com você? — Matt pergunta quando passo na
sua sala para deixar a pesquisa que ele me pediu.
— Tudo. — Sorrio sem animação.
— Não parece. Algum problema? Se quiser, podemos sair para
almoçar e você me conta...
— Olha, Matt, eu realmente não estou a fim de falar sobre... — Eu
me levanto e ele faz o mesmo.
— Podemos só almoçar então. Eu prometo que não te pressionarei.
Apenas um almoço. Como amigos.
Ele me encara como um cachorrinho tentando agradar. Eu hesito.
Qual o problema com um almoço? E preciso mesmo me distrair.
— Tudo bem — concordo e Matt fica atordoado por um momento.
— Sério?
— Sim, Matt. É sério.

Matt balbucia sobre um restaurante chinês novo quando saímos do


prédio, só que eu não estou mais escutando porque, parado em frente a seu
lindo e caro carro está Liam Hunter, olhando fixamente pra mim.
— Aquele não é Liam Hunter? — Matt pergunta quando eu paro
abruptamente nos primeiros degraus, incapaz de me mexer.
Sinto como se meu coração estivesse batendo pela primeira vez em
dias, enquanto estou ali, encantada com sua presença, seu olhar intenso
sobre mim, me chamando. Me clamando.
Qualquer racionalidade vai escapando de minha mente que vai se
desligando do meu corpo, agora dominado por minhas emoções.
E mal sinto o sorriso radiante se formando em meu rosto.
— Sim, é Liam Hunter — murmuro, sem conseguir desviar o olhar.
— O que ele está fazendo aqui? — Matt parece confuso.
Finalmente consigo romper o magnetismo que me prende ao olhar
de Liam momentaneamente para encarar o pobre Matt.
— Ele veio me buscar. — Teria rido da cara de total espanto de
Matt, se não tivesse ocupada me livrando dele. — Desculpe, Matt, eu
preciso ir.
— Mas... nosso almoço...
Eu já não o escuto.
Estou respondendo ao chamado do meu predador.
Meu leão veio me pegar.
Eu me aproximo, perdendo o fôlego com sua beleza. Já devia estar
acostumada com isso agora, mas não estou. Acho que nunca irei me
acostumar com o quanto ele me afeta.
— Olá, estranho. — Paro a sua frente. Quero me jogar em cima
dele. Quero derreter nele. Mas não ouso.
Fui eu quem criou aquela barreira?
— Estava indo a algum lugar com seu chefe? — Sua voz é quase
um rosnado feroz e eu espero que Matt tenha ido embora, para seu próprio
bem.
— Matt me chamou para almoçar. — Opto pela sinceridade. Os
olhos de Liam queimam.
— E aonde ele foi agora?
— Eu... meio que disse a ele que eu precisava ir... com você —
vacilo. E se tirei conclusões apressadas? E se Liam não estava ali para me
levar com ele?
Meu estômago se contorce miseravelmente.
— O que está fazendo aqui, Liam? — pergunto sem conseguir mais
conter minha angústia.
— Acho que seu chefe e eu tivemos a mesma ideia. Eu vim te
buscar para almoçarmos.
Contenho um suspiro de alívio.
— Almoçar? — Olho para mim mesma. Estou vestindo jeans e uma
camisa de flanela. — Não sei se estou vestida para almoçar com o Leão de
Wall Street.
Um sorriso de lado se forma no rosto de Liam. Meu pulso acelera.
— Não importa. — Ele se afasta o suficiente para abrir a porta pra
mim.
Ethan sorri do banco da frente, enquanto Liam senta do meu lado e
fecha a porta.
— Olá, Emma.
— Olá, Ethan — respondo sem parar de sorrir feito uma boba.
O carro desliza pelas ruas de Manhattan e eu mordo os lábios, ao
encarar Liam.
Ele está me olhando. Daquele jeito intenso e perturbador.
Que me envolve numa espécie de feitiço do qual eu não tenho
forças para sair.
Meu pulso está acelerado, meu coração disparado no peito e minha
pele começa a formigar lentamente, como se eu estivesse perto demais das
chamas, deixando-as apenas me roçar, porém, sabendo que basta um passo
para me envolverem completamente, me consumindo por inteiro.
Quero falar tantas coisas. Quero perguntar tantas coisas. Mas prefiro
me contentar com aquela conversa silenciosa de nosso olhar. Sentindo a
tensão da nossa separação se dissipando e em seu lugar outro tipo de tensão
sendo construída devagar.
— Chegamos. — A voz de Ethan quebra o silêncio e pisco aturdida,
percebendo que o carro parou.
Liam sai e estende a mão pra mim. Eu olho em volta curiosa e
percebo que estamos em frente ao Mandarin Oriental.
— Qual a graça? — Liam pergunta quando dou uma risadinha.
— Asíate? — Cito o nome do famoso e caro restaurante do Hotel
Mandarim, para onde Liam me leva. — Matt ia me levar pra comer num
restaurante chinês. Não que tenha alguma comparação — acrescento,
enquanto Liam me puxa para dentro do ambiente elegante, decorado em
tons fortes de rosa e com uma vista deslumbrante.
Somos levados a uma mesa discreta e um garçom nos traz o
cardápio. Fazemos nosso pedido e nossas bebidas chegam quase sem
espera.
— Realmente acho que não deveria estar usando jeans — comento.
— Eu disse que isso não importa.
— Importava da primeira vez que nos encontramos para almoçar e
você inventou de me levar à Chanel!
— Foi você quem disse que não estava vestida adequadamente.
— Achei que ia me levar em um lugar mais casual e não para
comprar roupas na Chanel!
— Eu queria te ver nua — ele confessa sem a menor culpa na voz e
eu mordo os lábios para não suspirar.
— Eu deveria ficar brava, mesmo porque você nem me levou para
almoçar e me deixou plantada lá.
— Ia te levar para jantar, aí você decidiu me desafiar indo para
aquela boate.
— Pelo menos me compensou com um jantar maravilhoso com o
seu chef particular.
— Você também impressionou o Eric. Ele me perguntou quando
terá a oportunidade de cozinhar para você de novo.
— Ah é? E o que respondeu? — indago suavemente, ansiando pela
resposta.
— Eu disse que você preferia hambúrguer em vez de cozinha
sofisticada. Ele ficou desapontado.
— Você me disse que ele sabe fazer hambúrguer...
— Ele pode fazer o que você quiser, Emma — é sua resposta
enigmática e nossa refeição chega.
— Está delicioso, embora ache que seu chef cozinha melhor — digo
depois de provar.
— Eric trabalhava aqui.
— Sério? E você nem se sente culpado de ter roubado o chef deles?
— Eu quis comprar o restaurante também, não estava à venda.
— Que pena. Quer dizer que não serei surpreendida com o local
sendo esvaziado de repente para que fiquemos sozinhos...
— Se é o que deseja, posso providenciar. — Seu olhar acaricia meu
rosto.
Engulo em seco, hipnotizada.
— Não será necessário...
— Por quê? Não quer ficar sozinha comigo?
— E você quer? — pergunto baixinho, a comida esquecida no prato,
enquanto ele me fita com intensidade.
O tempo parece suspenso enquanto espero.
— Você me pediu um tempo. Eu te dei um tempo.
E assim, ele voltou às indagações.
— E você não me ligou nenhuma vez. Nenhuma mensagem —
lamento num sussurro queixoso.
— Nem você.
— Eu te mandei a receita.
— Ontem. Sete dias depois.
— O que pensou? Que eu tinha realmente desistido?
— Eu não leio seus pensamentos. Não sei o que se passa na sua
mente e isso é extremamente confuso pra mim. — Sua voz está cheia de
uma feroz frustração.
— Eu não... desisti — murmuro, me afundando em minha desordem
interior, abaixando o olhar para minhas próprias mãos. — Eu... ainda não
sei como lidar com tudo... com você... com seus jogos... eu só...
— Eu quero que fique.
Sua voz me impede de afundar. Então eu consigo emergir. Respiro.
Vivo. Ergo o olhar para encontrar o dele. Dourados. Ardentes. Há algo mais
ali além do desejo.
Algo que eu não consigo compreender.
Algo que me perturba.
— Eu deveria deixar você ir. Já tivemos esta conversa antes. — Ele
parece irritado.
Eu ouso sorrir.
Sim, fui eu que pedi para ele ficar.
— Eu estou partindo.
— O quê? — Por um momento não compreendo o que ele quer
dizer.
Como assim partindo?
— Estou partindo em uma viagem de negócios.
— Ah! — Respiro quase aliviada.
— Eu não sei quanto tempo ficarei fora. Talvez 15 dias, um mês.
— Ele está de novo em seu modo investidor frio.
— Para onde você vai?
— Japão, primeiro. Tenho alguns negócios na Europa também. —
Ele passa a mão pelos cabelos, num gesto frustrado e irritado.
— Então... é uma despedida? — Sinto meu coração afundar no
peito. Não consigo evitar. Pensar que ele vai estar tão longe, tão fora do
meu alcance, me deixa angustiada.
O que temos aqui? Moramos na mesma cidade, e nos encontramos
num impasse.
— Acho que terá mais tempo, afinal — responde quase duramente.
— É... — Disfarço minha aflição, voltando a comer.
O garçom aparece para perguntar se queremos mais alguma coisa,
eu respondo que não.
Quando ele se afasta, já me arrependi. Não quero que aquele almoço
termine.
Não quero me afastar de Liam ainda.
— Eu trouxe uma coisa para você — Liam diz de repente e coloca
uma caixa em cima da mesa.
— Oh meu Deus! — A caixa tem a logomarca da Tiffany.
Puta. Que. Pariu!
Ele não pode... Ele não iria...
— Liam... — balbucio, aturdida.
Ele faz um sinal firme para que eu abra.
— É apenas um presente.
Abro a caixa e arregalo os olhos quando a joia mais extravagante
que já vi na vida se revela lá dentro.
É um colar de cinco voltas com diamantes e pérolas escuras. É...
surreal.
— Eu não posso aceitar!
— Emma, é um presente.
— É... lindo — Passo os dedos pelos diamantes que ofuscam meus
olhos.
— Você combina com coisas bonitas.
— Não sei se posso aceitá-lo. — Eu o encaro indecisa.
— Quando o vi, imaginei você só com ele. Quero vê-la usando
somente isso.
Suas palavras adentram meu ouvido e percorrem minha pele como
uma carícia. Derreto. Lentamente.
De repente eu já não preciso mais de tempo. Ou de espaço.
Eu preciso do Liam.
Dentro de mim.
Enquanto ele está aqui, a meu alcance. E não do outro lado do
mundo.
Fecho a caixa devagar, sem deixar de fitá-lo.
— Você perguntou se eu quero ficar sozinha com você. — Minha
voz não passa de um sussurro ansioso. — A resposta é sim, eu quero ficar
sozinha com você. Agora.

***
A suave luz do sol da tarde se infiltra pelas paredes de vidro da suíte
presidencial do Mandarim e reflete no meu corpo nu, sobre a cama. Mas
nada queima mais do que os olhos dourados do meu amante, enquanto me
veste apenas com a joia exuberante em meu pescoço.
— Linda. — Sua voz arrepia minha pele e fecho os olhos enquanto
seus dedos deslizam por meu rosto numa suave carícia, descendo por meus
seios, minha cintura. — Abra os olhos, Emma.
Respondo a sua ordem. Seu olhar sobre mim tem um brilho quase
saudoso, enquanto me deita sobre a cama. Ele também já esta nu. Tão lindo
como as lembranças que embalaram meus sonhos noturnos naquela semana
solitária.
Permaneço com os olhos abertos para memorizar sua perfeição,
porque ele estará me deixando novamente em pouco tempo.
Engancho meus dedos em seus cabelos gloriosos enquanto seus
lábios percorrem minha pele. Quentes sobre meus seios. Úmidos sobre meu
umbigo. Ávidos sobre meu sexo.
Deixo as sensações se avolumarem, transbordarem, se perderem
dentro de mim.
— Por favor... — imploro por uma libertação que consigo visualizar
e que só ele pode me dar, Liam se afasta e coloca um preservativo.
— Quando você gozar, eu estarei dentro de você — diz roucamente,
enquanto se ajoelha e me puxa para perto, enroscando os dedos nos meus
cabelos e colando nossos lábios, num beijo que contém línguas, dentes e o
infinito.
Eu me enrosco nele, nossos corpos se buscando, se encaixando,
como se fôssemos duas peças perdidas de um mesmo ser.
Suas mãos firmes me guiam para cima dele, depois para baixo, em
direção a sua ereção.
Arquejo, toda trêmula quando nos unimos, finalmente.
O prazer se expande e cresce em meu ventre, enquanto nos
movemos numa dança cadenciada. Fecho os olhos e enterro minhas unhas
em seus ombros, me guiando por suas mãos que me apertam forte, seus
gemidos roucos em meu ouvido e seu coração batendo velozmente no
mesmo ritmo que o meu.
— Goze Emma, goze para mim...
O seu comando numa voz arfante e áspera faz meu corpo explodir
num orgasmo intenso eu perco o rumo por instantes sem fim, gemendo e me
apertando em volta dele.
Então, me vejo jogada sobre a cama e Liam se enterra em mim com
força agora, enquanto ainda flutuo numa nuvem de prazer. Mesmo assim,
meu sexo sensível acolhe o dele. Sinto outro clímax se aproximando e gozo
junto com ele, estremecendo intensamente, ouvindo seus gemidos graves
em meu pescoço.

— Emma, precisamos ir.


Abro os olhos e percebo que em algum momento eu havia
adormecido.
Liam já está todo arrumado ao lado da cama. Eu me sento, puxando
o lençol sobre mim e tento me orientar.
— Quanto tempo dormi?
— Umas duas horas. — Ele ajeita a gravata e pega o celular,
parecendo ocupado.
Não é mais meu amante.
É o Leão de Wall Street.
É o meu Leão de Wall Street.
Sorrio, mordendo os lábios, enquanto me levanto nua e procuro
minhas roupas.
Elas estão dobradas em cima de uma cadeira. Recordo-me,
vagamente de que quando chegamos ao quarto Liam tinha me despido.
Pelo menos não houve tesouras desta vez.
Eu acho a caixa do colar e o retiro guardando-o e entrego a Liam.
— Isto é seu Emma.
— Eu não posso aceitar...
Seu rosto se fecha.
— É um presente.
Eu suspiro cansadamente e, rolando os olhos, o coloco na minha
mundana mochila de faculdade.
— Quando você vai viajar? — pergunto, depois de passar no
banheiro e me ajeitar da melhor maneira possível.
— Amanhã. Pronta? — pergunta impacientemente.
Aceno positivamente e saímos da suíte.
Sinto meus pés pesados a cada passo que damos.
Ethan aguarda na porta do carro e eu fico vermelha, sem conseguir
evitar. Ele apenas pisca e não fala nada.
O carro segue em silêncio até a minha casa.
Meu coração pesa como chumbo quando saltamos em frente ao meu
prédio. As sombras do crepúsculo invadem a tarde.
Não falamos nada por alguns instantes. A despedida pesa sobre
nosso silêncio.
— Não gosto disso — ele diz quase rispidamente.
— Do quê?
— Não ver você. Me deixa angustiado.
— Você vai me ligar? — pergunto por fim num fio de voz — Vai
me mandar mensagens? Eu fico angustiada de não ver você também.
Sua mão toca meu rosto.
— O que aconteceu com o tempo?
Dou de ombros.
— O tempo não importa — murmuro. — É tarde demais.
É a mais absoluta verdade.
Capítulo 17

“Esta dormindo? L”
“São quatro horas da manhã. Sim, eu estava dormindo, senhor
dinheiro não dorme! Aliás, deveria estar dormindo já que viaja daqui a
pouco para o Japão. E”
“Eu não durmo muito. Não preciso. E como disse daqui a pouco
estarei embarcando. Durmo menos ainda antes de uma viagem de
negócios como essa. L”
“Então o que está fazendo? Por que me acordou? Ao contrário de
você, eu uso as noites para dormir. E”
“Estou pensando em você. L”
“Eu preferia que estivesse dormindo e sonhando comigo. E”
“Se eu pudesse sonhar, eu gostaria de sonhar com você. Agora vá
dormir, Senhorita Jones. Eu irei trabalhar, afinal o dinheiro não dorme.
L”
“É uma ordem, Senhor Hunter? E”
“Essa é sua tentativa de me deixar excitado, Senhorita Jones? L”
“Você quem me acordou, Senhor Hunter. E”
“Não seja impertinente, Senhorita Jones. E por mais que eu
apreciasse ter uma conversa sacana com você ao telefone, realmente
estou trabalhando no momento. L”
“Conversa sacana? Nunca fiz sexo por telefone. E”
“Vá dormir, Emma! L”
“Tem certeza? E”
“É uma ordem! L”
“Tudo bem... Faça uma boa viagem então. E volte logo. E”

***
“O que está fazendo agora? L”
“Acho incrível essa sua vontade de me controlar mesmo estando
do outro lado do mundo, Senhor Hunter. E”
“Estou só curioso, Senhorita Jones. Ou é algum segredo que não
pode me contar? L”
“Não acho que fazer as sobrancelhas seja algo secreto. Na
verdade é bem mundano, assim como ir às aulas, o que eu respondi todos
os dias da semana em que me mandou mensagem perguntando o que eu
estava fazendo, ou trabalhar nas tarefas chatas que o Matt me passa, a
resposta que dei umas três vezes, ou assistir filme romântico com a Zoe, o
que eu respondi ontem à noite. E”
“Seu chefe continua chato com você? Eu posso conseguir que ele
seja demitido. L”
“Acho que não será necessário. Eu tenho poucas semanas de
aula. Então eu terei que arranjar um emprego de verdade. E”
“Você me deixa irritado quando fala que odeia a profissão que
escolheu. Deveria ter estudado outra coisa então. L”
“Eu já te disse, meu pai insistiu e eu não odeio minha futura
profissão, para sua informação. E”
“Então me diz o que pretende fazer quando se formar? L”
“Eu não sei. Agora preciso desligar o celular. Vou para a
depilação. E”
“Depilação. L?”
“Sim, é um troço bem dolorido e que eu odeio, a Zoe me
convenceu que é algo legal, você sabe... depilar tudo lá embaixo... não
acredito que estou dizendo isso a você. E”
“Na verdade, você está me dando muitas ideias agora, Senhorita
Jones. L”
“Tenha certeza que estou completamente vermelha agora, Senhor
Hunter, quer dizer que o sacrifício valeria a pena? E”
“Eu te mostrarei o quanto valeu, quando voltar, pode ter certeza.
L”

“Puta Merda, Liam, é melhor você fazer mesmo valer a pena,


porque doeu pra caramba! E”

***
— Emma, larga este celular e responda quando eu falar com você!
Com um suspiro, tiro os olhos do celular e olho para a Zoe vestida
com um lindo Gucci azul e dourado que ela certamente tirou do meu
armário.
— E aí, como estou?
— Linda, se já sabe disso, por que pergunta?
Ela abre um sorrisinho presunçoso e começa a colocar os sapatos.
Volto a olhar para o celular, esperando a resposta de Liam.
Desde a nossa última mensagem à tarde, quando eu estava no salão
de beleza com Zoe, ele não me respondia. Eu devia estar acostumada, já
que ele estava sempre sumindo, afinal estava trabalhando. Saber disso, no
entanto, não diminuía minha ansiedade.
— Você está tão chata depois que o Liam viajou! Só fica pendurada
neste celular. Para cima e para baixo! — Zoe reclama, olhando sua imagem
no espelho.
Eu me ajeito sobre os travesseiros, onde já estou com meu pijama e
apenas esboço um sorriso.
Faz dez dias que Liam viajou e desde então mantínhamos contato
através de mensagens no celular. E essa troca de mensagem me faz sentir
mais próxima dele. Não só porque ele estava do outro lado do mundo, mas
de alguma forma, eu sentia que nesses dias de afastamento, tínhamos nos
conectado de uma maneira diferente.
Quando Liam estava perto, todos nossos encontros eram marcados
por aquela atração quase obsessiva que sentia. Eu simplesmente não tinha
controle sobre meu corpo e nem sobre minhas emoções, quando ele se
aproximava de mim. Era como estar numa montanha-russa constante,
subindo e descendo, meu estômago revirando, minha mente rodando, meu
coração na boca.
Agora, com ele longe e ao mesmo tempo perto com suas mensagens
impertinentes, sentia certo frescor em nossa relação. Algo novo e quase
pueril.
Não era mais como subir e descer num looping incessante. Era
como boiar em águas calmas. Meu estômago não revirava. Apenas um frio
na barriga me fazia suspirar. E se minha cabeça continuava girando, meu
coração se aquecia.
E a verdade que me fora revelada naquele crepúsculo, quando ele se
despedira, apenas se solidificava ainda mais dentro de mim, a cada dia:
Eu estava incondicional e irrevogavelmente apaixonada por Liam
Hunter.
Essa verdade me maravilhava e amedrontava ao mesmo tempo.
Afinal, ele continuava sendo o Leão de Wall Street. Um caçador.
Um dominador.
Como saber se existiria a menor possibilidade de aquele coração
frio de jogador e controlador se apaixonar por mim também?
— Tem certeza que não quer vir? — Zoe pergunta, ao pegar a bolsa.
— Tenho, vou ler um livro e dormir.
Ela me encara com aquele seu olhar perspicaz e, mesmo antes de
falar, eu sei o que está pensando.
— O fato de você não querer ir numa boate comigo não tem nada a
ver com alguma proibição do babaca do seu namorado, não é?
— Namorado... Nem sei se ele é meu namorado, Zoe!
— Por isso mesmo! Ele exerce um poder meio bizarro sobre você!
Mesmo estando do outro lado do mundo!
— Está exagerando!
— Não estou e sabe disso!
— Por favor, Zoe, não me faça usar a carta “meta-se com a sua
vida”.
— Ok, ok! Só estou querendo que se divirta!
— Não estou a fim de sair hoje, só isso!
— Se está dizendo... Não vou insistir. Eu só acho que devia
aproveitar que seu namorado, amante, sei lá como chama o seu Leão está do
outro lado do mundo e sair, conhecer gente, paquerar, quem sabe não
encontra um cara mais acessível, mais normal...
— Não, obrigada.
— Certo. Desisto. — Ela joga as mãos pra cima e desaparece porta
afora, deixando um rastro de perfume e suas palavras que perfuram minha
mente nada segura.
Zoe tem razão.
Bem no fundo eu sei que aquela história não pode acabar bem. No
mínimo, estarei com o coração partido em algum momento.
Infelizmente eu não posso recuar. Não consigo.
Como disse para Liam naquela tarde, é tarde demais.
Eu sou uma presa que está indo de bom grado em direção ao
predador.

***
Em algum lugar obscuro da minha mente, sei que estou sonhando.
Mesmo assim, a devastação que sinto em meu peito é tão real, que dói
fisicamente, enquanto caminho pelo apartamento vazio.
A casa de Liam.
Ele não está ali.
Chamo seu nome por todos os cômodos. Não há móveis, não há
nada. Apenas o vazio, o eco da minha voz desesperada e o barulho dos
meus pés descalços sobre o chão.
Até que chego a seu quarto e o vejo. A lareira está acesa e as
chamas dançam em sua pele e em seus olhos que queimam em minha
direção.
— Venha até aqui, Senhorita Jones.
— Me chame de Emma, por favor — peço, mesmo sabendo que
estou errada.
E Liam também sabe. Seu olhar é feroz em sua expressão fria e
controlada.
— É uma ordem. Venha até aqui, ou vá embora para sempre.
Caminho até ele, porque sei que prefiro qualquer coisa que Liam
tenha a me dar do que ir embora.
Sento sobre a cadeira e sinto suas mãos frias como gelo prenderem
tiras de couro em meus pulsos atrás do assento.
Meu coração está disparado no peito, enquanto ele me rodeia, como
um leão em volta da presa.
— Vai me punir?
— Não é para isso que está aqui? — Ele se inclina e toca meu rosto.
Fecho os olhos e suspiro.
— Estou aqui porque eu te amo — respondo, sentindo todo o
sentimento fluir do fundo do meu coração.
— Abra os olhos, Senhorita Jones.
Eu o encaro, sentindo meu peito se apertar de medo. Ele não me
chamou de Emma.
Eu era apenas a Senhorita Jones.
— Não há lugar para sentimentos em nossos jogos, Senhorita Jones.
Deveria saber.
E então, ele coloca a venda sobre meus olhos.
Quero falar, porém um nó fecha minha garganta.
Sinto a dor de um chicote sobre meu peito.
Uma lágrima cai sob a venda. A dor das batidas do couro em minha
pele não é nada comparada à dor no meu coração.
Ele não me ama.
Grito para que tudo acabe.
— Não! — Acordo com o som do meu próprio grito.
Sento-me sobre a cama, suando e tremendo e acendo a luz do
abajur. Olho a hora no celular. São quatro da manhã.
Meio da tarde no Japão.
O sonho me volta à mente e estremeço. Foi só um pesadelo.
Com os dedos trêmulos, disco os números, algo que eu nunca fiz.
Em nenhum momento em todos aqueles dias, ele ligara pra mim, ou eu
ousara ligar pra ele.
Chama quatro vezes, enquanto vou sentindo meu coração se
afundando no peito de angústia.
— São quatro da manhã, por que não está dormindo? — Sua voz
linda e cheia daquela exasperante impaciência que eu bem conhecia enche
meus ouvidos. Acaricia minha pele. Aquece meu peito.
— Eu tive um pesadelo — murmuro. E sei que estou parecendo
uma garotinha medrosa e que talvez tenha sido um erro ligar para Liam.
— Espere um minuto.
Eu escuto algumas vozes abafadas por alguns instantes me
perguntando o que ele estaria fazendo.
— Ok, eu já me livrei dos japoneses chatos, agora me diz por que
está me ligando às quatro da manhã depois de um pesadelo.
Mordo os lábios, subitamente sem saber o que dizer. Não quero
contar a ele sobre meu pesadelo. Sobre meus medos. Sobre meus
sentimentos.
Suspiro pesadamente.
— Não me diga que atrapalhei algo muito importante —
desconverso.
— Sim, estava numa negociação importante.
— Ops, me desculpe. Talvez eu devesse desligar para você poder
voltar a sua negociação...
— Emma, não me faça perder a paciência. Você está acordada às
quatro da manhã e me disse que teve um pesadelo.
— Ah, não é nada. só... perdi o sono.
— Você não quer me dizer o que estava sonhando. Deixe-me
adivinhar, era sobre mim.
— Talvez.
— Era um pesadelo.
— Sim.
— E por que me ligou?
— Talvez eu quisesse que você cantasse para eu dormir — brinco e
rimos.
De repente a tensão está se dissipando.
— Deveria ter me ligado antes. Eu gosto de ouvir sua voz — Liam
diz e eu sorrio na semiescuridão do quarto.
— Eu me lembro de algumas regras...
— Eu te disse uma vez que odeio regras.
— Das que impõe a mim você gosta.
— Por isso mesmo posso revogá-las a qualquer momento.
— Então essa foi revogada?
— Decididamente.
Meu sorriso se alastra ainda mais.
— Não vai mesmo me contar sobre seu pesadelo? — insiste.
— Talvez um dia — digo suavemente e ficamos em silêncio por
alguns instantes.
— Você tem muitos pesadelos? — ele pergunta de repente.
— Não, claro que não.
— Eu tenho.
— Tem?
— Naquela madrugada em que te mandei mensagem, eu tinha
acordado de um.
— Por isso não dorme. — Não é uma pergunta. E nem preciso que
ele responda. Interpreto seu silêncio como um sim.
Sinto meu coração apertado por ele.
— Quer me contar sobre eles? — pergunto baixinho, apesar de
saber a resposta.
— Talvez um dia.
— Talvez eu cante para você dormir, então.
— Quer dizer que tem o poder de afastar os meus pesadelos?
— Talvez — sussurro.
Não sei o que o atormenta. Quais são seus medos mais secretos.
Aqueles que o fazem ter pesadelos que o fazem ter medo de dormir. Eu me
pergunto se ele confiaria em mim para me contar algum dia.
Bocejo, começando a me sentir sonolenta.
— Você está com sono. Deve ir dormir.
— Não, eu não quero dormir. Quero continuar conversando com
você.
Ele ri.
— Sobre o que quer falar?
— Qualquer coisa. Conte-me sobre o Japão.
— É um país cheio de gente maluca que está me deixando mais
rico.
Eu rio, bocejando de novo e fecho os olhos.
— Eu nunca estive aí, aliás, eu nunca saí dos Estados Unidos.
— Nunca?
— Não...
— Eu deveria tê-la trazido comigo.
— Eu gostaria de ter ido com você... Eu iria com você para qualquer
lugar...
— Eu gostaria que estivesse aqui também... — Sua voz ficando
cada vez mais longe.
Até desaparecer.

***
“Você fala dormindo. L”
Fico vermelha e um tanto preocupada ao ler a mensagem no celular
de manhã. Na verdade eu nem me lembro quando peguei no sono.
— Emma, eu convidei a Amanda para jantar aqui na sexta — Zoe
abre a porta do quarto e entra sem cerimônia. E para ela não ficar enchendo
meu saco, eu deixo para responder Liam depois. Em vez disso, jogo as
cobertas para o lado e me levanto.
— Amanda? Não sabia que ainda era amiga da Amanda.
— Na verdade fazia algum tempo que não conversava com ela,
desde que terminei a faculdade, ontem eu a encontrei com uns amigos na
boate, coitada, ela terminou com o Brian, você sabia?
— Não, não fazia ideia.
— Poxa, vocês fazem estágio juntas e nem conversam?
— Ela sempre está fora ajudando em alguma matéria ultimamente.
Eles estavam juntos há bastante tempo, não é?
— Sim, três anos. Ela está arrasada! Achou que iam casar e tudo!
Então eu a chamei para jantar com a gente. Não se preocupe, eu faço o
jantar.
Eu a encaro, incrédula, antes de entrar no banheiro.
— Você?
— Não me olhe assim, eu sei fazer comida!
— Acho melhor a gente pedir uma pizza...
— Nada disso! Eu cuido de tudo!

***
— Emma, hum, faz algum tempo que queria te perguntar. — Matt
rodeia na tarde de sexta, depois que eu lhe entrego a matéria que ele me
pediu.
Eu vinha evitando ficar sozinha com Matt, hoje eu não consegui
escapar.
— Sim?
— Você está saindo com o Hunter?
— Estou — respondo simplesmente o que faz o queixo de Matt cair.
— Sério? Nossa...
— Por que o espanto, Matt?
— Nada, quer dizer... Nossa!
Eu me levanto.
— Até, Matt...
Bem, pelo menos assim, Matt me deixaria em paz. Eu espero.
Estou chegando em casa, quando meu celular vibra e eu sorrio.
Liam está me ligando.
— Senhor Hunter — atendo com um sorriso na voz.
— Como vai, Senhorita Jones?
Como sempre sua voz me tira do prumo e me faz suspirar.
Levanto o olhar e Zoe está me olhando com um uma expressão
irônica, em meio ao caos na cozinha.
— Eu estava bem, até me lembrar que minha colega de
apartamento, que não sabe nem fritar um ovo, inventou de fazer um jantar.
— Estão esperando visitas?
— Sim, quatros strippers que irão nos saciar com seus corpos
besuntados em óleo — brinco, Liam rosna do outro lado da linha me
fazendo rir. — É uma brincadeira, claro.
— Você tem um estranho senso de humor, Senhorita Jones.
— Na verdade, nós convidamos uma amiga que acabou de terminar
um relacionamento e está deprimida. Sabe como são essas coisas...
— Como sabe que eu sei sobre o assunto?
Rumo para o meu quarto, fujindo do olhar curioso de Zoe.
— Na verdade eu não sei. Já levou algum fora na vida?
Ele fica em silêncio.
Meu coração para.
Puta merda. Liam Hunter já levou um fora?
— E você já? — ele devolve a pergunta e tenho vontade de insistir
para que ele responda, mas nem tento, sei que é inútil.
— Eu tive uma paixão platônica por meu colega de laboratório,
quando tinha 13 anos e ele disse não quando eu arranjei coragem e o
convidei para o baile da primavera. Partiu meu coração.
— Esse cara era um imbecil por te dispensar.
— Eu era uma adolescente desengonçada. Aposto que não sabe
nada sobre isso. Posso imaginar que sempre foi lindo e confiante, sem
aquela fase terrível das espinhas e braços compridos.
— Confiança não tem nada a ver com beleza.
— Então sempre foi confiante?
— Era preciso para se viver nas ruas.
— Como assim nas ruas? Você não viveu em lares adotivos?
— É a mesma coisa — diz cheio de amargor. — Aprendi muito
cedo que o mundo devora os inseguros e fracos. Confiança e determinação
são a base de tudo.
Tento imaginar um Liam adolescente, órfão, vivendo em lares
adotivos e sendo obrigado a endurecer para sobreviver sozinho. E mesmo
assim sendo arrogante e cheio de si.
— Deve ter sido fácil para você então... — murmuro.
Ele ri sem o menor humor.
— Nada nunca foi fácil pra mim, baby. Isso não quer dizer que eu
não consiga tudo o que eu quero.
— Essa me parece a fala de um menino mimado, na verdade.
— Sou apenas alguém determinado a alcançar seus objetivos.
— Foi assim que ficou rico? Você queria ficar rico e perseguiu esse
objetivo?
— Dinheiro é simplesmente o caminho mais rápido para se obter o
que mais desejamos...
Franzo a testa, tentando entender aquela colocação, porém, antes
que consiga perguntar o que ele quer dizer, Zoe grita meu nome.
— Emma, pode vir me ajudar, acho que queimei alguma coisa!
Eu rolo os olhos.
— Liam, eu preciso desligar, antes que Zoe ponha fogo na casa.
— Tudo bem. Eu liguei para avisar que estou em Londres agora.
— Ah, sempre quis conhecer Londres... — invejo, e ele ri.
— Quem sabe este dia esteja próximo, Senhorita Jones...
Eu desligo e corro para ajudar Zoe.
A cozinha está cheia de fumaça e Zoe olha tristemente para algo
torrado numa assadeira.
— Que diabos está tentando fazer, pôr fogo na casa? — Eu começo
a abrir as janelas.
— Era pra ser um assado incrível...
— Vamos nos livrar dessa porcaria... — Pego a assadeira e jogo
tudo no lixo. — Vai dar um trabalho limpar...
A campainha toca 15 minutos depois e ainda estamos tentando
limpar quando Amanda aparece.
Entre risos, explicamos o que aconteceu.
— Não deveria ter tido todo este trabalho, poderíamos sair pra
comer alguma coisa...
— Ou a gente pode pedir uma pizza — sugiro quando a campainha
toca de novo e nos entreolhamos.
— Espera mais alguém? — pergunto e Zoe dá de ombros.
Abro a porta e fico boquiaberta ao ver Eric, o cozinheiro de Liam
sorrindo pra mim segurando duas grandes sacolas.
— Eric, o que está fazendo aqui?
— Ordens do chefe. Eu vim fazer o jantar.
Começo a rir feito louca.
***
— Eu falei que ele fazia os melhores hambúrgueres! — Liam diz
naquela noite, quando ligo para ele antes de dormir, depois de ter passado a
noite comendo os melhores hambúrgueres do mundo feitos pelo seu chef
particular, bem ali, no meu humilde apartamento.
— Eu realmente preciso te agradecer. Zoe e Amanda ficaram
encantadas. Aliás, eu acho até que rolou um clima entre o Eric e a
Amanda... — Rio me lembrando que Amanda bebeu umas margaritas a
mais e ficou bem soltinha fazendo insinuações para o chef de Liam.
— Sério? Você é uma espécie de cupido, Senhorita Jones?
— Acho que nunca fui cupido de ninguém, mas gosto do Eric e a
Amanda está precisando de um flerte para esquecer o ex-namorado. Então
eu posso ser um cupido neste caso sim. Só não me diz que ele tem uma
namorada!
— Não que eu saiba...
— Falando em namorada, o Ethan não tem uma?
— Você está bem curiosa sobre meus empregados hoje, Senhorita
Jones.
— Estou mesmo. Ethan é um cara muito legal, odiaria pensar que
ele nunca poderá ter uma namorada porque vive grudado em você.
— Eu não o impeço de foder ninguém.
— Não estou falando de foder! Estou falando... — Eu me calo, de
repente achando meio difícil explicar o conceito de um namoro para Liam.
— Ele gosta de uma garota — Liam me surpreende.
— Como é? Ele gosta de quem?
— É uma modelo.
— Ah... — Fico meio decepcionada. Quero dizer a Liam então que
ele e Ethan têm o mesmo gosto, se levar em conta as antigas amantes de
Liam.
— Parece decepcionada.
— Hum... E por que Ethan não namora com essa modelo?
— Porque ele é cuzão.
— Como assim?
— Ele não tem coragem de chegar nela.
— Então ele nunca saiu com ela?
— Não. Ela já esteve em alguns eventos em que eu estive. Ele fica
babando nela cheio de tesão, embora nunca se aproxime.
— Ele devia convidá-la para sair.
— Ele devia fodê-la e acabar logo com isso.
Eu rolo os olhos.
— Nossa, Liam, quanta delicadeza.
— Não sou delicado, baby, ainda não aprendeu?
— Não estamos falando de você, e sim do seu amigo Ethan que, ao
contrário de você, é um cara legal.
— Não sou um cara legal? — ele instiga meio divertido, meio
irritado. — Mandei meu chef fazer hambúrgueres para você.
— Não é o bastante para ser legal.
— E o que eu tenho que fazer para ser legal aos seus olhos?
— Quer que eu te considere um cara legal?
— Quero saber apenas o que preciso fazer. Você disse que Ethan é
legal, o que ele faz para você?
— Hum... Ele deixa eu me sentar na frente no carro.
— Ele deixa é?
— Não fique bravo com ele. Também me deixa escolher a música.
Nada daquele rock pesado que escutam.
— Qual o problema com Nine Inch Nails?
— É pesado! Prefiro algo como Sia.
— Vou te mandar algumas músicas deles. Vai ver como são bons.
— Eu gosto daquela sua camiseta deles. Deveria ter roubado.
— Eu tenho várias.
— Então não sentiria falta.
— Agora eu sou legal?
Eu sorrio, me ajeitando no travesseiro.
— Não precisa ser legal, não é por causa disso que estou com
você...
— E por que é então? — Sua voz chega até meus ouvidos como
uma carícia. Esquenta minha pele.
A resposta está na ponta da minha língua “porque eu estou
perdidamente apaixonada por você”. Em vez de dizer a verdade eu suspiro:
— Porque eu gosto como me sinto quando está dentro de mim.
Seu rosnado do outro lado da linha me arrepia e eu mordo os lábios
para não gemer alto, começando a sentir uma carência exatamente onde eu
gostaria que ele estivesse.
— Eu sinto falta de estar dentro de você — ele diz com sua voz
viciante e desta vez eu deixo o gemido escapar por entre os lábios e minha
mão descer entre minhas pernas.
— E eu sinto falta de você dentro de mim... tanta falta... —
sussurro.
— Você está se tocando? — ele pergunta com a voz excitada.
— Sim...
— Puta que pariu, Emma...
— Não pare de falar...
— Sabe como me deixa louco? Como eu queria estar com você
agora beijando esta sua boca impertinente e engolindo seus gemidos?
Fodendo você?
Eu gemo em resposta e Liam rosna ofegante também.
— Eu não sei quanto tempo mais aguentarei... ficar longe de você...
Eu estremeço com a força de suas palavras, que acariciam meus
sentidos.
— Ah, Liam, você vai me fazer gozar... tão forte...
— Porra, Emma... goze baby... goze pra mim...
Eu solto um longo e angustiante gemido de libertação, quando o
clímax me domina, ao som de sua voz perfeita e adormeço assim, flutuando
num mar de satisfação suprema.

***
— Emma, tem uma entrega pra você — Zoe joga um pacote em
minhas mãos quando saio do quarto naquela manhã.
— Quando chegou? — murmuro ainda sonolenta me jogando no
sofá.
— O cozinheiro bonitinho do seu namorado deixou aqui. Aliás, ele
foi muito legal, também deixou estes brioches! — Ela sorri feito boba e de
boca cheia.
Abro o pacote e agora sou eu que sorrio feito boba ao ver a camiseta
do Nine Inch Nails.
— Acho que deveria se casar com o cozinheiro sabe? — Zoe diz e
eu já não a escuto, vou para o quarto, tirando meu pijama e colocando a
camiseta. Tiro uma foto minha no espelho e mando para Liam.
Quando eu saio do chuveiro encontro uma mensagem.
“Mais uma para minha coleção. Agora só falta escutar as
músicas. Estou te enviando minha preferida. L”
Eu vejo que ele mandou um arquivo com a música, chamada
“Closer”.
“O que quer dizer com coleção? E”
“De fotos suas. L”
E em resposta ele manda uma foto minha que nunca tinha visto, eu
estou dormindo o lençol mal cobre meus seios e o colar de diamantes e
pérolas brilha em meu pescoço.
“Ainda acho meio assustadora essa sua mania de tirar fotos
minhas quando não estou vendo. E”
“Tanta coisa para te assustar em relação a mim é isso que
escolhe? L”
Coloco a música que ele mandou para tocar e começo a me vestir.
Jesus, que letra é aquela?
Coisas do tipo “me deixe te penetrar”, “quero foder você como um
animal” se mistura com versos profundos que falam sobre “estar mais perto
de Deus” e “você é a razão de eu estar vivo".
— Que música é essa? — Zoe pergunta entrando no quarto.
— Nine Inch Nails.
— Nunca ouvi... é meio sombrio e... sexy também.
— É, acho que isso define tudo.
— Ainda bem que já está se arrumando. Vamos sair.
— Para onde?
— É uma surpresa!
Eu acabo de me arrumar e mando uma mensagem a Liam.
“Por que esta música? E”
“Porque ela me lembra de você. L”
Eu não soube o que responder.
***
— Zoe, o que estamos fazendo numa loja de vestidos de noiva? —
pergunto quando entramos numa butique exclusiva da cidade, onde vejo um
mar de vestidos brancos a perder de vista.
— Eu preciso começar a escolher o meu vestido de casamento!
— Você e Jackson nem estão noivos! Aliás, achei que fossem casar
só depois que ele saísse da escola de Direito e acho que para isso acontecer
ainda falta quase dois anos!
— Sim, você sabe quanto tempo demora para encontrar o vestido
perfeito? Vamos, venha me ajudar. Vai ser divertido.
Eu gemi, desalentada, seguindo-a.
Vai ser uma longa tarde.
***
Como eu previ, Zoe está enlouquecendo experimentando vários
vestidos e me fazendo tirar fotos dela com todos.
— Zoe, até que horas vamos ficar aqui? Já estou cansada!
— Não seja chata! Olha, por que não experimenta um também? —
Ela me joga um modelo de renda.
— Claro que não!
— Vai, será engraçado! Podemos tirar fotos juntas!
Eu rolo os olhos, mas acabo fazendo o que mandou.
Olho-me no espelho com o lindo vestido branco e me sinto
estranha.
Claro que eu já havia pensado em como seria meu casamento, mas
sempre como um sonho distante, assim como encontrar um homem com
quem eu quisesse passar o resto da vida.
Imediatamente meus pensamentos vão para Liam e eu sinto meu
coração martelando, instável.
Penso se seria possível. Parece tão surreal que eu mal consigo
imaginar.
Sacudo a cabeça, tentando tirar aquelas ideias idiotas da mente.
Eu conheço Liam há menos de dois meses. E mesmo que toda nossa
história não fosse tão complicada e frágil, seria um absurdo eu ter aquele
tipo de aspiração.
Zoe me chama e eu saio do provador.
Ela ri animada, vestindo um modelo gelo.
— Você está linda. Deixe-me fotografá-la! Acho que eu poderia
usar algo assim...
Ela pega meu celular e começa a tirar fotos, até que eu me canso.
— Chega Zoe! Vou tirar o vestido e vamos embora!
Eu me troco rapidamente e enquanto espero Zoe espio meu celular.
Não há nenhuma mensagem.
“Ocupado? E”
Alguns minutos depois ele responde.
“Infelizmente sim. Ingleses mais pé no saco do que os japoneses.
L”
Sem pensar muito, escolho uma das fotos que Zoe tirou de mim e
mando pra ele.
“Duvido que sua tarde tenha sido pior que a minha. Zoe me
obrigou a passar a tarde numa loja de vestidos de noiva e até me fez
experimentar um. Pelo menos posso te mandar mais uma foto pra sua
coleção. E”
— Vamos? — Zoe sai do vestiário e nós vamos embora.

***
— Por favor, vem com a gente! — Zoe insiste naquela noite.
Permaneço impassível, enquanto fuço na internet.
— Não estou a fim.
— Só acho que não tem nada demais você sair para se divertir, é só
um bar, Emma.
— Não posso, vou aproveitar para fazer pesquisa para uma
matéria... — Entro no meu e-mail e vejo que tem um de Matt Thomas. —
Olha só, meu chefe me mandando e-mail, aposto que é trabalho...
— Mentira! Você vai ficar esperando o Liam ligar!
— E se for? Problema meu!
— Eu sei que é problema seu, acha que Liam não está se divertindo
também? Eu aposto que sim e acho que devia fazer o mesmo...
Ela sai do quarto, eu mal noto, pois acabei de abrir o e-mail de Matt
e meus olhos estão vítreos, presos na mensagem.
“Oi Emma, tudo bem? Acabei de ver isso aqui. Acho que já deve
ter visto, só achei interessante. Não sabia que Liam Hunter estava na
Europa.”
Há um link embaixo e eu clico.
E sinto uma vertigem.
São fotos de Liam. Tiradas por paparazzi.
Ele está entrando em uma boate. Naquela noite. Com duas mulheres
a tiracolo.
Duas mulheres lindas. E uma delas eu conheço bem.
É Karen.
Há uma legenda abaixo.
“O milionário americano investidor da bolsa de valores, Liam
Hunter em solo Londrino com duas Angels da Victória's Secret, Nicole
Zorn e Karen Morgan.”
Sinto meu coração se partindo em mil pedaços.
Capítulo 18

Todo o ar desaparece a minha volta.


Eu luto para continuar respirando enquanto meus olhos começam a
perder o foco, ainda grudados naquelas imagens.
Liam. Karen. E a tal Nicole.
Liam com outras mulheres. Sinto como um déjà-vu.
Há algumas semanas eu estava exatamente ali, em frente à tela de
um computador, vendo fotos de Liam com todas aquelas mulheres.
Todas. Aquelas. Mulheres.
Sinto meu coração parando de bater lentamente, morrendo.
Estou em choque.
Minha mente entorpecida não quer acreditar em meus olhos. Minha
razão e emoção se digladiam dentro de mim como inimigas ferozes.
Como um tornado que chega sem aviso, sinto todos os sentimentos
bons sendo varridos para longe, deixando em seu lugar apenas devastação e
ruína.
Ofego fortemente, quando o ar volta aos meus pulmões e consigo
escutar as batidas do meu coração ferido, retumbando em meus ouvidos.
— Que porra é esta? — praguejo entredentes, começando a sentir
um fogo queimar em meio às ruínas.
Um fogo lento e tímido, que rapidamente se espalha por tudo e
explode em fúria.
Como ele ousa fazer isso comigo?
Agora sinto dificuldade de respirar, só que de raiva.
Liam me deixou sozinha, esperando por ele.
Eu não fazia nada a não ser ansiar por sua volta e sentir sua falta.
Vivendo através de suas mensagens. Só me sentindo completa quando ouvia
sua voz.
E ele estava se divertindo com aquelas modelos. Uma delas a
mesma que ele já caçou e levou pra cama uma vez.
Meu Deus, como eu pude ser tão idiota?
Com as mãos trêmulas, apanho o telefone e disco seu número. Ele
não atende. Em nenhuma das incontáveis tentativas que eu faço. Será que
está com ela? Com Karen? Ou com as duas? Sinto vontade de vomitar com
a imagem que se forma em minha mente e uma onda de ciúme e dor me faz
gritar.
Frustrada, jogo o celular na parede, que se quebra em dois pedaços.
Eu não me importo.
A dor voltou e só me faz querer chorar e me encolher em meu
desespero.

***
— Emma, está tudo bem?
Escuto a voz de Zoe como se viesse de muito longe e me movo,
sentindo meu corpo dolorido e meu travesseiro ainda molhado.
O quarto está escuro e Zoe espia da porta.
— Que horas são?
— Já está anoitecendo, passou o dia todo na cama? Não acredito!
Eu dormi na casa da Rachel ontem, porque a gente bebeu além da conta e
cheguei agora...
— Minha cabeça dói... — murmuro procurando o celular, não o
encontrando, então eu me lembro. E um soco atinge meu peito.
Liam. E suas vadias.
Fecho os olhos e gemo, desalentada.
— Você está se sentindo bem? Está doente? — Zoe faz menção de
acender a luz.
— Não, não faça isto. Minha cabeça está doendo. Eu vou tomar um
banho.
— Tem certeza que é só isso? Está me deixando preocupada...
— Zoe, depois conversamos, eu preciso de um banho.
— Certo. Eu vou esperar então.
Ela sai do quarto fechando a porta atrás de si e eu me levanto. Acho
meu celular no chão, destruído e suspiro. Não tem mais conserto.
Entro no chuveiro e deixo mais algumas lágrimas caírem.
Será que eu fui ingênua demais ao esperar que um homem como
Liam ficasse somente comigo? Afinal, nunca tínhamos conversado sobre
exclusividade. Inferno, eu nem sabia se ele era mesmo meu namorado!
E agora, o que iria acontecer? Será que ele simplesmente
continuaria conversando comigo, me seduzindo por telefone sem eu saber
de nada? Muito provavelmente. Talvez já tivesse levado até algumas
asiáticas para a cama enquanto trocava mensagens comigo.
E o que eu vou fazer?
É o que eu me pergunto quando volto para o quarto e me olho no
espelho. Sinto-me triste. Também estou indignada. Enganada.
Como se alguém tivesse me acordado de um sonho perfeito.
E o pior é que eu acho que Liam nem era o maior culpado de tudo.
Eu que fui uma boba iludida. O Leão de Wall Street era um predador, um
sedutor. Um jogador. E na minha inocência, eu o havia transformado num
príncipe de conto de fadas.
E me apaixonei por minhas próprias ilusões.
— Toc-toc! — Zoe brinca da porta, segurando uma tigela de cereal
— Continua aí? Está esquisita, aconteceu alguma coisa? Espera, tem
alguma coisa a ver com o Liam?
Eu mordo os lábios, hesitando em contar a Zoe.
Ela é minha melhor amiga. Conto tudo a ela sempre, porém desta
vez... Zoe sempre criticou minha relação com Liam. Na verdade, acho que
de alguma maneira, ela até tentou me alertar, mesmo eu estando cega. No
fim, acho que ela tinha alguma razão.
Eu não quero ver seu olhar de pena agora ou suas palavras “eu
sabia”.
Ainda não sei como tudo vai acabar. O que vai acontecer comigo e
Liam. Ele está em outro continente e eu quebrei meu telefone, o que de
certa forma foi uma benção. Não sei se conseguiria conversar com ele
agora. Não saberia o que dizer.
Eu só quero continuar respirando.
— Vamos sair — digo de repente.
É isso. Preciso sair. Espairecer. Esquecer. Pelo menos por enquanto.
— Sair? — Zoe franze a testa. — Como assim?
— Vamos beber, dançar, sei lá! — Começo a procurar uma roupa
freneticamente.
— Hum... Por que essa súbita vontade de sair?
— Porque eu estou a fim! Ei, vamos, levanta daí e vai se arrumar,
depois volta pra me maquiar! — Eu a empurro para fora do quarto.
Ela ainda fica parada à porta me olhando com uma expressão
curiosa, depois dá de ombros e vai fazer o que eu pedi.

***
— De tantos lugares que poderíamos ir tinha que ser justo aqui? —
grito por cima da música e Zoe ri me puxando pela mão por entre as
pessoas.
— Este é um dos melhores lugares da cidade, o Tristan e o Paul
adoram!
Eu bufo, tentando desviar a mente das minhas lembranças
inconvenientes. Foi naquela boate que eu dancei para o Liam. Aquele lugar
que ele havia mandado esvaziar para me ter só pra ele.
O único problema é que eu não contava que Liam não seria só meu,
penso irônica. E basta pra me deixar com raiva de novo, sobrepujando a
mágoa.
— Olha quem finalmente resolveu aparecer! — Tristan sorri quando
nos aproximamos da mesa onde estão reunidos os amigos de Zoe.
— Eu consegui tirar o cordeirinho da toca! — Zoe brinca, quando
nos sentamos.
— Nós já estamos bebendo. — Rachel ergue uma bebida de cor
cítrica.
— Eu não vou beber, Deus me livre! — Zoe faz careta. — Fiquei
péssima ontem.
— Eu vou — chamo o garçom que se aproxima. — Me traz o que
tiver de mais forte.
— Wow, assim que se fala! — Rachel se anima enquanto Zoe me
encara com o cenho franzido.
Eu a ignoro.
E em pouco tempo minha mente está rodando e estou rindo das
piadas toscas de Paul. Até Zoe desistiu de ser a única sóbria e decidiu beber
também.
Sinto-me leve, alegre e quero continuar me sentindo assim
eternamente.
Às vezes, sinto um fio de dor querendo se alastrar em meu peito,
então eu me encho mais de álcool e me sinto animada novamente.
— Pensei que não ia te ver mais. — A voz de Tristan está muito
próxima, não me importo. Ele é divertido. E hoje eu só quero me divertir.
Zoe e Rachel estão dançando com Paul, eu não quis, não acho que
minhas pernas aguentariam dançar neste momento.
— Por quê? — Minha língua está pesada dificultando a fala e eu
acho engraçado.
— Você sumiu. Eu sempre perguntava a Zoe sobre você, ela me
disse que você estava saindo com alguém.
Droga, por que Tristan tem que me lembrar?
— Pois é... o que não significa que não posso sair e me divertir!
Não é como se fôssemos exclusivos... — Eu rio bobamente. —
Exclusividade, até parece... eu posso fazer o que eu quiser! O que eu quiser!
— E o que você quer fazer agora?
Eu o encaro. Tristam está muito próximo. E é bem bonito. Seus
dedos acariciam meu rosto.
Eu me inclino e o beijo.

***
— Emma, a gente precisa ir embora... — Escuto a voz de Zoe como
se viesse de muito longe.
Aliás, tudo parece distante, até o cara que está me beijando.
— Ela parece estar se divertindo — Paul diz.
— Ela está bêbada, isso sim! — Zoe esbraveja.
— Você também. — Rachel ri muito alto.
— Ela está muito mais e eu tenho certeza de que não está em seu
juízo perfeito hoje não... Emma, vamos... — Zoe me puxa e eu descolo
minha boca de Tristan.
— Ei, eu não quero ir, não vê que estou me divertindo?
— Nunca pensei que diria isso, mas está se divertindo até demais e
algo me diz que vai se arrepender depois...
— Deixa ela, Zoe, eu a levo pra casa. — Tristan me puxa de volta.
— Sei muito bem a que casa que vai levá-la e ela está tão bêbada
que nem vai se opor, não vou deixar você se aproveitar dela! Vem, Emma!
E, com mais força do que eu poderia prever, Zoe me coloca de pé e
sai me puxando por entre as pessoas até que chegamos à rua.
O vento sopra frio em meu rosto e eu sinto minha cabeça girando.
— Está tudo girando. — Eu rio descontrolada e Zoe ri também, me
segurando.
— Você está tão bêbada! Meu Deus!
— Você também!
— Mas não saí por aí traindo meu namorado...
— Traindo? Eu não traí ninguém! Se ele pode se divertir com
aquelas modelos magrelas eu também posso!
— Como é?... Ai, eu sabia que tinha alguma coisa acontecendo...
Venha, vem vindo um táxi.
Alguns minutos depois nós conseguimos, não sem dificuldade e
algumas gargalhadas bobas sair do táxi em frente ao nosso prédio e Zoe está
tentando me levar para dentro, quando eu paro ao ver o carro branco do
outro lado da rua e Liam Hunter em carne e osso saindo dele.
Por um momento eu acho que de tão bêbada estou tendo
alucinações.
— É o Liam Hunter que está vindo em nossa direção ou eu estou
louca? — Zoe questiona com a voz grogue.
— Não está louca — Liam responde friamente para Zoe, olhando
diretamente pra mim.
— Você não pode estar aqui — balbucio.
— Estou percebendo que não deveria estar aqui. É assim que está
passando o seu tempo? Bebendo até ficar nesse estado?
Ele está bravo?
Eu começo a rir.
Zoe ri junto e tenho certeza que ela nem sabe do quê.
— Está brincando, não é? Seu... Grande filho da puta!
Eu me desvencilho de Zoe, que me solta ainda rindo e cai para trás.
Eu mesma teria caído se Liam não me segurasse.
— Você está completamente bêbada, Emma, puta que pariu! — Ele
parece mais bravo agora e eu tento me desvencilhar dele, irritada.
— Tira suas mãos de mim! Quem você pensa que é para vir até aqui
sabe Deus como e ainda brigar comigo?
— Não vou levar em consideração o que está dizendo... Ethan,
vamos levá-las pra dentro.
Eu olho em volta e vejo Ethan segurando Zoe, que continua rindo.
— Nossa, a baixinha está bastante bêbada também.
— Não estou tão bêbada assim, ei, essa é minha bolsa! — Ela sai
andando atrás de Ethan que mexe em sua bolsa.
Liam praticamente me arrasta para dentro do prédio e nós todos
subimos as escadas, com Zoe resmungando.
— Quero que vá embora agora! — consigo dizer quando entramos
no apartamento.
Zoe joga os sapatos e cai sentada no sofá, rindo.
— Eu não vou a lugar nenhum, Emma — Liam me segura enquanto
eu tento me soltar.
— Você é um cretino! E eu te odeio! Por que está aqui? Não estava
se divertindo em Londres com aquelas putas? — Eu vejo seu cenho
franzindo, e ele finalmente me solta. Dou três passos trôpegos para trás. —
Ah, pensou que eu não sabia? Você é nojento! Tudo bem, eu também me
diverti muito essa noite! Conte a ele, Zoe! Conte sobre o cara lindo que eu
estava beijando e eu teria ido pra cama com ele se a chata da Zoe não
tivesse me arrastado pra casa, eu devia mesmo ter ficado com ele...
— Emma, para com isso. — Zoe parece séria agora.
Eu começo a rir, já não consigo focar meu olhar, que está
embaçado, assim como meus pensamentos.
Meu estômago começa a girar.
— Acho que vou vomitar...

***

Acordo com uma dor de cabeça terrível. Meu cérebro parece que vai
explodir e solto um gemido sofrido quando me mexo.
— Ei, finalmente voltou para o mundo dos vivos.
Abro os olhos e o quarto está na semiescuridão e, sentado numa
cadeira ao lado da cama, está Ethan.
— O quê?... Ai — gemo, quando me sento.
Ethan ri e está ao meu lado na mesma hora.
— Não tente movimentos bruscos, tagarela, depois do porre de
ontem, vai se sentir mal por algum tempo ainda. Tome, beba isso que ajuda.
— Coloca um copo d’água em minhas mãos e um comprimido.
Eu bebo obedientemente. Tomaria qualquer coisa neste momento
que me fizesse sentir viva de novo.
Ethan ajeita os travesseiros atrás de mim e eu me recosto.
Vagamente os acontecimentos da noite passada vão voltando a
minha mente.
Liam com as modelos. A dor. A revolta.
A boate com Zoe. Minha sobriedade cada vez mais ausente. O beijo
em Tristan.
Eu solto um gemido, fechando os olhos com força ao me lembrar.
Que diabos eu estava pensando ao beijar Tristan?
Ainda bem que me lembro de Zoe me tirando de lá.
E então...
Eu abro os olhos, minha mente começando a ficar borrada a partir
daí.
— Liam está aqui?
— Aqui agora? Não — Ethan responde calmamente.
— Mas ele está na cidade! Eu o vi ontem não é? Não posso estar tão
louca a ponto de ter imaginado! Quando chegamos ele estava vindo em
minha direção, parecia muito bravo... Nossa, eu não consigo me lembrar
muito bem! — Minha cabeça dói enquanto alguns fragmentos voltam a
minha mente. — Tenho medo de perguntar por que está aqui.
— Não se lembra de nada?
— Devo me lembrar? — pergunto com cuidado, começando a sentir
medo. — Onde está o Liam?
Eu sei que deveria estar com raiva dele. Uma parte de mim ainda
está.
Enquanto outra parte está feliz por ele estar perto. Por ter voltado,
seja lá qual for o motivo.
— Eu pedi que ele fosse embora ontem.
— Ontem? Que horas são agora?
— Já é meio da tarde, Emma.
— Wow. Eu dormi tudo isso...
— Na verdade, desmaiada seria a palavra mais apropriada.
— Por que pediu que o Liam fosse embora? — Muito vagamente eu
me lembro de ter gritado. — Oh Deus, eu briguei com ele não foi? Por
causa das fotos...
— Fotos?
— As fotos dele com aquelas duas vadias entrando numa boate —
digo amargamente. — Eu vi as imagens na internet.
— Ah, isso explica muita coisa. — Ethan coça os cabelos curtos. —
Garota, eu sempre soube que você era encrenca, só não imaginava que fosse
tanto.
— Eu? O seu chefe é um filho da puta e me deixou aqui esperando
por ele enquanto se divertia como sempre faz com suas modelos!
— Por isso beijou o tal cara ontem?
Eu empalideço.
— Como sabe?
— Você mesma contou.
Eu sinto meu estômago revirar.
— Eu contei... Para o Liam? — Sinto um nó fechar minha garganta.
— Sim.
— Ah Meu Deus... E... O que aconteceu depois?
— Ele ficou branco feito papel. Eu achei que ele fosse explodir a
casa com seu olhar, então você praticamente desmaiou e ele te pegou e
levou para o banheiro, onde começou a vomitar, enquanto ele te segurava.
Eu cuidei da sua amiga, porque ela estava meio incoerente também, e a
coloquei na cama.
— Meu Deus... — É só o que consigo gaguejar.
— Eu fui até o banheiro e você estava muito mal, chorando e
pedindo desculpas.
— E o Liam?
— Ele estava furioso e soltando palavrões, enquanto te colocava
debaixo do chuveiro. Eu pedi que ele fosse embora. Ele não queria ir. Disse
que te queria sóbria para poder brigar com você.
— Ai meu Deus!
— Eu o mandei embora porque do jeito que estavam nada de bom
iria sair dali. E ele foi. E aqui estamos.
Fecho os olhos lutando contra as lágrimas.
— Sinto muito, Emma, o negócio foi feio.
Eu abro os olhos, já sem conseguir segurar as lágrimas.
— O Liam não deveria ficar bravo! Ele estava com aquelas garotas!
Ethan suspira.
— Vou te contar o que aconteceu realmente e você vai entender...
— Vai defendê-lo, claro, ele é seu amigo!
— Se o Liam tivesse feito merda, eu não o defenderia! E olha que
nós nos conhecemos há anos e eu já vi o Liam fazer algumas merdas e
talvez a pior merda que ele já tenha feito foi se envolver com você.
A veemência nas palavras de Ethan me deixou em silêncio.
— Eu sabia desde o começo que este envolvimento seria encrenca
na certa — ele diz como se para si mesmo.
— O que aconteceu em Londres? — insisto. — Porque eu vi as
imagens. Ninguém me contou. E uma delas era a Karen, a garota que ele
transou antes de ficar comigo.
— Como sabe?
— Eu a encontrei num banheiro no evento em que fomos há
algumas semanas e ela me esclareceu. Aliás, todas as garotas ali estavam
loucas para ficar com o Liam. E ele já ficou com muitas, não é? Eu vi as
imagens. Mulheres lindas de todos os estilos. Eu devia saber que ele não
ficaria só comigo, só pensei que ele pelo menos me dispensaria antes de
partir para outras... — resmungo com amargura.
— Sim, Karen estava em Londres. É a semana da moda por lá e ela
tinha vários desfiles. Nós fomos convidados. Um dos negócios de Liam lá
era justamente este. Ele também investe neste universo.
Eu faço uma careta ao imaginar a linda Karen desfilando e Liam
babando.
— E sim, depois do desfile, Liam convidou Karen para ir àquela
boate.
Eu sinto vontade de vomitar.
— Então... — Eu me preparo para o resto.
— Karen é amiga de Nicole Zorn. Ela também é modelo.
— Sim, eu vi a foto dessa daí também. Muito loura e tal... — falo
com nojo.
— Liam me disse que você perguntou a ele se eu tinha uma
namorada. E que ele me chamou de cuzão por eu ser a fim de uma modelo.
— O que isto tem a ver?
— Nicole é a modelo.
Eu arregalo os olhos.
— Aquela loura é a garota que você gosta?
— Sim. — Ele fica vermelho e eu teria rido se não estivesse tão
arrasada. — E parece que você deu alguma espécie de ideia para ele forçar
uma aproximação. Karen é amiga de Nicole. Por isso ele chamou a Karen
para sair.
— Não faz o menor sentido! Ele poderia ter chamado a tal Nicole
para sair com vocês! Mas não com a ex-amante dele junto!
— Você disse que todas as mulheres querem sair com Liam, não é?
Eu o encaro sem entender e ele parece frustrado.
— Nicole também já quis sair com ele.
Eu abro a boca, surpresa.
— Liam já saiu com a sua Nicole?
Ethan ri, sem humor.
— Ela não é minha Nicole. E não, ele não saiu com ela. Embora
pareça que Liam saía com todas as mulheres que cruzam seu caminho, não
é bem assim. Na verdade, ele é um caçador. Ele gosta de escolher suas
vítimas e não de ser escolhido.
Eu engulo em seco e começo a entender.
— Então por isso nunca chamou Nicole para sair?
— Liam nem sabia que eu a admirava até aquele dia. Ela era só...
uma modelo por quem eu tinha tesão. Naquele dia, ela estava tão próxima
que eu achei realmente que poderia ter uma chance, então ela chegou em
mim e pediu para eu ajudá-la a ficar com Liam.
— Nossa, que vadia! — Eu não consigo me conter.
Ethan sorri tristemente.
— Eu fiquei puto e chamei-a exatamente disso. Ela ficou furiosa e
foi falar com Liam mesmo assim.
— E você não fez nada? E se Liam ficasse com ela?
— Que diferença faria? Ela não me queria.
— Isso é triste.
— Ela levou um fora e nunca mais nos falamos. Eu fiquei meio
puto naquele dia e Liam me pressionou. Eu acabei contando a ele. Desde
então nós nos cruzamos por aí, sem nos falarmos. Por isso Liam não
poderia pedir direto para ela. Aí pediu para Karen. Eu nem fazia ideia do
que estava rolando. Parece que você transformou o temido leão num cupido
alcoviteiro! — Ele ri. — Ele me pediu que o esperasse na boate, que nem
precisava buscá-lo e qual não foi a minha surpresa quando ele chegou com
Nicole e Karen.
— E o que aconteceu? — pergunto baixinho. — Liam ficou com a
Karen?
Ele me encara fixamente. Eu já sei a resposta.
Puta. Que. Pariu.
— Nem perto disso. Claro que Karen esperava por isso. Mas Liam
já tinha lhe dito que a estava convidando para que levasse a amiga junto,
porque queria que eu ficasse com ela.
Eu sinto meu coração afundando no peito.
— E você e Nicole?
— Eu fiquei puto com aquela armação, e depois... — ele fica
vermelho — eu fiquei com medo.
— Medo?
Ele ri, embaraçado.
— Eu fodi muitas garotas, Emma, muitas mesmo... Porém eu nunca
conheci nenhuma que me fizesse sentir o que Nicole Zorn faz. — Ele dá de
ombros — Acabou não rolando nada, ela estava de mau humor, assim como
a tal Karen. Elas não demoraram a ir embora. E Liam brigou comigo
depois.
Eu suspiro, me sentindo pior do que ontem, quando vi as imagens e
me deixei levar pela raiva.
— Tentei ligar para o Liam ontem, ele não atendia... — Se eu
tivesse conseguido falar com ele, talvez as coisas não tivessem chegado
àquele extremo.
Eu não teria estragado tudo ficando com outro cara e esfregando
isso na cara dele depois.
Oh Deus, como vou consertar a merda que fiz?
— Liam também tentou te ligar e não conseguiu.
Eu coro.
— Eu quebrei meu celular... fiquei com tanta raiva que taquei ele na
parede.
Ethan ri.
— Menina, você e o Liam combinam direitinho! São dois malucos!
Parecem calmos e controlados, os donos da razão, então quando se deixam
levar pela emoção, sai de baixo! Ficam irracionais! Ontem ele tentou falar
com você várias vezes e quando não conseguiu, decidiu que ia voltar para te
encontrar pessoalmente.
— Só por isso voltaram?
— Eu disse que ele era maluco... Agora vamos, levanta daí! Vou
fazer alguma coisa para você comer, antes que desmaie de novo.

Ethan coloca um prato de sanduíche na minha frente, no balcão da


cozinha.
— Não sou tão bom quanto o japinha, só dá para o gasto.
Eu tento sorrir.
— Obrigada, Ethan. Você é um cara muito legal.
— É o que dizem. — Ele pisca.
— Sinto muito que a tal Nicole não consiga enxergar isso. Se ela é
tão vadia, por que não desiste dela?
Ele crava um olhar perspicaz em mim.
— O Liam é um babaca, você vai desistir dele?
Eu suspiro.
Eu vou? Eu quero?
Não, definitivamente. Acho que nem quando estava fervendo de
raiva achando que ele tinha saído com outras mulheres, eu queria.
E agora o que vai acontecer?
Fui eu que ferrei com tudo no final das contas.
— Liam é um babaca e eu sou uma idiota — resmungo, engolindo a
vontade de chorar.
— Olha, Emma, as pessoas não são perfeitas. Elas são como são. E
nós nos apaixonamos por elas.
— Como sabe que estou apaixonada pelo Liam? — indago
baixinho.
Ele sorri.
— Eu tenho olhos, tagarela.
— E do que adianta? Se ele não... — Quero dizer “ele não me ama”,
porém nem consigo continuar.
— Emma, Liam deixou Londres no meio de uma importante
negociação porque você não atendeu ao telefone.
Eu respiro fundo, absorvendo todas as palavras de Ethan. Então
talvez eu não fosse tão ingênua, afinal. Haveria a possibilidade de Liam
gostar de mim, ou pelo menos estar a caminho disso.
O Leão de Wall Street tinha um coração?
E ele poderia ser meu?
Eu sinto vontade de chorar ao pensar que tinha jogado tudo fora
com meu comportamento infantil e irracional.
— Eu estraguei tudo. Ele deve me odiar agora...
— É uma boa colocação — Ethan diz com cuidado — O Liam... Ele
não lida bem com este tipo de... situação. Ele...
— E quem lidaria? — digo cheia de ironia
— É, quem lidaria? — Ethan diz e por um momento eu tenho a
impressão que ele ia dizer mais coisas quando eu o interrompi, ele continua.
— Ele com certeza está bem puto e com vontade de socar alguma coisa.
Fique longe até que tudo se acalme e então quem sabe...
De repente algo me ocorre.
Uma luz se acende na minha cabeça. Algo parecido com esperança.
Uma camicase e irracional esperança. O que eu tenho a perder?
— Você vai me levar até ele.
— O quê? Não ouviu o que eu acabei de dizer?
Eu sorrio, começando a me sentir viva pela primeira vez naquele
dia.
— Eu ouvi. Eu ouvi muito bem, Ethan. Eu sei o que tenho que
fazer.
Eu vou tentar consertar as coisas com meu leão.
Da única maneira que ele sabe.

***
Ethan parece mais nervoso do que eu quando entramos no
apartamento de Liam naquela noite.
O lugar está silencioso, porque Ethan já se certificara de que Liam
estava em seu escritório em Wall Street. Eu pensei em pedir para Ethan me
levar lá, depois desisti.
— Tem certeza do que está fazendo? — Ethan pergunta mais uma
vez.
Eu sorrio para tranquilizá-lo.
— Só tenho certeza de que não vou deixá-lo escapar.
— Garota... — Ethan coça os cabelos. — Como eu disse a você
uma vez, o caçador vira a caça quando menospreza sua presa. E Liam
deixou de ser o predador faz tempo nesta história, só não percebeu ainda.
Ele sai me deixando sozinha e eu caminho com meus saltos fazendo
barulho no chão de mármore. Estou usando o mesmo vestido verde da
Chanel que ele comprara pra mim naquele dia.
Não sei por que decidi vesti-lo. Talvez fosse a vontade de me sentir
segura, mesmo que estivesse tremendo por dentro.
Zoe ficaria orgulhosa de minha escolha, penso. Ela estava dormindo
ainda de ressaca quando eu saí e não fazia ideia do que eu estava fazendo.
Entro no quarto de Liam e está tudo como eu me lembrava. A linda
lareira acesa. As luzes da cidade iluminando o quarto através da parede de
vidro.
Caminho pelos domínios do leão e me sento sobre a cadeira
vitoriana, aguardando.
Não sei quanto tempo se passou quando escuto seus passos ecoando
pelo apartamento.
Meu coração dispara no peito.
O Leão está se aproximando. E ele está furioso comigo.
Nunca me senti tão cordeiro, tão indefesa, como naquele momento.
Mesmo assim não me mexo.
Eu espero.
Capítulo 19

Meu coração está disparado no peito quando o vejo entrar no quarto.


Seus olhos vão direto para onde estou. Sombrios. Frios. Temíveis.
Não surpresos.
Ele sabia que eu estaria ali. Possivelmente Ethan me delatou. Eu
nem poderia culpá-lo. Já bastava que eu estivesse com a ira do leão sobre
mim esta noite.
Seguro aquele olhar, mesmo que esteja tremendo inteira. Medo e
excitação me norteiam, lutam por um lugar em minha mente e meu coração.
Seus passos são lentos, enquanto ele se aproxima. Como um leão
em volta de sua presa, ele me rodeia.
Respiro fundo quando sai do meu foco de visão e decido quebrar o
silêncio.
— Liam — digo seu nome como um chamado. Será que ele entende
que por dentro eu estou gritando? Que estou ajoelhada, implorando para
que me perdoe?
— Realmente não tem nenhum senso de preservação vindo aqui
essa noite, Senhorita Jones. — Noto que tirou a gravata quando se coloca
de novo no meu campo de visão. Ele já não me encara. Seu olhar preso na
gravata que manuseia entre suas mãos tensas.
— Perdi meu senso de preservação quando tropeçou em mim em
Wall Street — respondo.
Ele para e me encara com a cabeça levemente levantada. É um tanto
assustadora sua expressão feroz.
— Hoje seria um bom dia para encontrá-lo, Senhorita Jones.
— Eu sei que está com raiva...
Sua risada seca e ferina me interrompe.
— Raiva não chega nem perto do que estou sentindo neste
momento!
Engulo em seco, decidindo continuar. Eu sabia que não seria fácil. E
eu estava no lucro já que ele não havia me enxotado como temia. Isso me
dá esperança.
Apesar da raiva Liam ainda me quer ali. Nem que seja para me
punir.
E é o que planejo dar a ele.
— Eu sei que está com raiva — continuo corajosamente. — Posso
me explicar...
— Foi o que veio fazer aqui? Se explicar? Acho que foi bastante
eloquente em meio a seu vômito, Senhorita Jones.
— Eu lamento muito por aquilo, apesar de não me lembrar — não
consigo evitar de corar —, mas fui sincera. Eu realmente queria pedir
desculpas e não significou nada. Foi somente... álcool e rancor.
Ele se aproxima e coloca as duas mãos sobre a cadeira, me
prendendo.
Lindo e perigoso. Posso sentir a raiva e a tensão emanando de seu
corpo.
E sinto algo mais. Sei que ele também sente aquela atração
magnética quase fazendo faíscas voarem a nossa volta.
— Então realmente está aqui porque acha que irei ouvir suas
explicações, Senhorita Jones?
— Não. — Sustento seu olhar. — Eu vim jogar.
Liam franze os olhos e sei que ele não esperava essa resposta.
Talvez esperasse que eu chorasse e implorasse? Que eu balbuciasse
desculpas que ele poderia jogar de volta na minha cara?
Eu estaria perdendo meu tempo.
Liam está com raiva. E ele precisa extravasá-la.
Era assim que ele era.
E eu intuía que era o único jeito de tê-lo naquele momento.
— Você quer jogar? — Suas palavras acariciam minha pele.
Tremo inteira, porém não me movo.
— Você quer me punir. — É uma afirmação. — Eu estou aqui.
Por um momento que me parece infinito, escuto apenas o som do
meu coração descontrolado em meus ouvidos. Um silêncio tenso flutua
entre nós.
Eu espero. Ele pode me mandar embora. Então estaria tudo
acabado.
Eu estaria acabada.
— Lembre-se que foi você quem escolheu ficar, Senhorita Jones —
diz por fim ao mesmo tempo que sinto suas mãos como garras segurando
meus pulsos amarrando-os com a gravata atrás da cadeira.
Meu coração falha uma batida e depois volta a bater, a adrenalina
faz minha mente girar.
Sim. Sim. Sim.
Eu me pus naquela situação. Eu quis.
Estou com medo.
E também estou com o meu leão.
Esta constatação faz uma estranha calma sobrepujar meus temores.
Ele se afasta e começa a tirar a blusa.
Oh Deus!
Engulo em seco diante da visão de seu peito perfeito, só que meu
deleite dura pouco, pois ele usa a camisa para vendar meus olhos.
Estou no escuro.
— Espero que não tenha medo de escuro — diz com sua voz fria de
dominador.
Respiro fortemente.
— Eu não tenho.
Sinto suas mãos em meu rosto, descendo até meu pescoço,
rodeando minha garganta.
— Não tem medo de nada, não é?
— Não é verdade.
— Do que tem medo? Tem medo de mim?
— Tenho medo de alguns de seus lados.
— De quais? — Suas mãos apertam um pouco.
— Daqueles que não conheço. Daqueles que esconde de mim.
— O único lado meu que deve temer é aquele que não tolera dividir
o que lhe pertence. — Seus dedos tocam meus lábios. — A quem pertence
essa boca, Senhorita Jones?
— A você... — sussurro entreabrindo os lábios.
Ele enfia um dedo dentro. Eu chupo. Ele enfia outro.
Amo o gosto de sua pele.
— Sim, sua boca me pertence e você deixou outro tocá-la. Acha que
devo deixá-la passar impune?
Sinto seu hálito em minha língua. Ele está próximo.
— Não... — Quero que me beije, quero que apague da minha
memória todas as lembranças de outros beijos.
Ele se afasta. Não sinto mais seu toque.
— Não vou beijá-la, Senhorita Jones. Não merece um beijo esta
noite.
Sinto meu coração afundando e escuto passos se afastando.
Continuo respirando. Ansiosa.
Aonde Liam foi?
Há apenas o silêncio por um tempo. Sinto medo de que ele tenha me
abandonado ali.
Inferno, será que teria coragem? Obrigo-me a manter a calma
enquanto os minutos passam. Então ouço o barulho de água.
O chuveiro foi ligado.
Ele está tomando banho.
Puta que pariu! Ele me deixou amarrada e foi tomar banho!
Por um momento a revolta me faz ter vontade de me desamarrar e
gritar. Mas sei que não posso. Estamos num jogo.
Num jogo em que eu me coloquei à mercê de seu controle.
E eu tenho que esperar.
Não sei quantos minutos se passam até que escuto seus passos
novamente. Fico alerta.
Meu corpo sente sua presença. Minha pele se ouriça.
Dou um pulo de susto quando sinto um metal frio em minha coxa e
Liam ri.
— Não se preocupe, estou apenas me livrando do vestido. Embora
eu tenha vontade de te machucar, eu não usaria uma tesoura. — Ele está
cortando o vestido.
Puta Merda.
— Apreciou o seu castigo, Senhorita Jones? Foi uma boa menina e
pensou em suas travessuras?
— Sim, senhor — respondo com ironia.
— Eu deveria amordaçá-la para deixar de ser impertinente.
Em poucos minutos, estou apenas de calcinha e sutiã de renda preta.
Sinto Liam me observando. Isso me excita.
Faz minha pele arrepiar e esquentar.
Mordo os lábios e espero.
A tesoura passa pelo sutiã. O frio do quarto atinge meus seios.
Em seguida sinto dedos quentes sobre eles, a princípio num toque
leve, apenas deslizando, atiçando.
— Por favor, mais... — imploro.
Liam recua.
— Não me dê ordens, Senhorita Jones. Não é desse jeito que o jogo
funciona, será que tenho que ensiná-la? Quem é o mestre aqui?
— Você.
— Sim, e a quem pertencem seus seios?
— A você.
— Sim...
Sinto a tesoura na calcinha e em segundos, estou nua.
Estremeço.
— Abra as pernas.
Obedeço. Sei que meu rosto está corado em vários tons de
vermelho. Aliás, acho que todo o meu corpo está ruborizando.
Solto um gemido quando sinto seus dedos descendo por meu ventre
e me tocando entre as pernas, onde estou úmida e pulsante. Ele me acaricia
perversamente. Estou derretendo de dentro pra fora.
Ah sim, a maldita depilação valeu muito a pena!
— Doeu? — ele pergunta e teria visto meus olhos rolando se eu não
estivesse vendada.
— Sabe que sim.
— Está se tornando mais resistente à dor, Senhorita Jones?
Eu não consigo responder. Estou concentrada em seus dedos
causando um dano delicioso em mim.
— Vamos conferir. — O toque cessa e solto um resmungo frustrado,
em seguida a venda é retirada e pisco algumas vezes, focalizando meu olhar
em volta do quarto à meia-luz enquanto Liam solta meu braço.
Eu finalmente consigo olhar para ele. Nu, lindo e muito excitado de
pé do meu lado.
É o paraíso. No meio do inferno.
— Vá até o closet — ordena. — Último armário à direita. Eu
deixarei você escolher.
Ainda confusa, eu me levanto, meio zonza e caminho até o closet,
curiosa para saber de que porra ele estava falando.
Abro o último armário e meus olhos se arregalam.
Há uma infinidade de chicotes pendurados lá dentro.
Puta. Que. Pariu!
Como assim ele tinha um armário somente de chicotes no seu
closet?
E como é que eu poderia escolher?
— Senhorita Jones, eu estou esperando — ele diz ameaçadoramente
e pego o primeiro que vejo. Não faz diferença nenhuma pra mim mesmo.
Só espero que este não seja o mais doloroso.
Volto para o quarto, tentando não demonstrar meu receio e entrego o
chicote nas mãos dele.
— Hum, pele de coelho. Você é esperta, Senhorita Jones.
— Sou?
— De quatro. Na cama. Agora — ordena e eu caminho até a cama,
contendo a vontade de perguntar o que ele pretende.
Espero. Ainda estou excitada e agora o medo causa um furor
delirante em minhas emoções.
Sinto seu peso sobre o colchão atrás de mim. Sua mão em minha
bunda. Acariciando.
— Eu vou te dar uma surra, Senhorita Jones.
Oh Deus! Sua mão escorre para o meio. Gemo, molhada e ansiosa
por mais.
— Depois vou te foder até que eu consiga expulsar da minha mente
outras mãos tocando em você.
E sem aviso ele belisca meu clitóris, ao mesmo tempo em que o
chicote desce sobre minha pele.
— Ai — reclamo, estremecendo.
— Quieta — ele diz duramente.
E desce de novo. Puta merda. Doía sim e muito.
De novo.
Porém não é insuportável. É ardido. E nunca no mesmo lugar.
Estremeço e solto gemidos, dor e prazer se misturando num
coquetel mortal em meu íntimo. Esvaziando minha mente de qualquer coisa
que não seja sensações.
Até que termina e escuto o rasgar do invólucro de uma camisinha.
Ah sim. Agora. Com força. Eu preciso.
Minhas entranhas se contraem de ansiedade. Preciso daquele
contato. Preciso dele dentro de mim.
— Da próxima vez eu farei você contar — rosna e sinto seus dedos
puxando meu cabelo, até que sua boca esteja em meu ouvido. — A quem
você pertence?
— A você, Liam... Só você.
Ele me penetra.
Meus lábios se abrem num grito sem som, meu corpo inteiro sendo
possuído.
Ele me joga de bruços na cama e começa a estocar forte dentro de
mim. Uma. Duas. Muitas vezes. Fazendo-me gritar alto desta vez.
E não demora para eu estremecer em gozo em volta dele, que rosna
em meu ouvido, os dedos puxando meus cabelos, até que o sinto se retesar,
grunhir e desabar em cima de mim.
Ficamos ali, unidos, ofegantes, seu peso meio que me sufocando, eu
não reclamo.
Eu o quero todo em mim, assim, para sempre.
Sorrio no travesseiro e levanto a mão para tocar seu cabelo, Liam
segura minha mão tirando-a e se afasta, levantando-se da cama.
Eu me viro para encará-lo.
Ele está sério e frio. Distante.
— Vista-se! Eu vou pedir para Ethan levá-la embora.
E sem mais ele sai do quarto me deixando sozinha, com meu
coração afundando no peito.
E agora? Ele vai me mandar embora afinal?
Para sempre? Será que o que eu tinha feito não tinha conserto?
Achei que jogando seu jogo, encontraríamos um jeito de voltar aos
trilhos.
Liam estava bravo e eu deixei que me punisse. Não era o que ele
gostava de fazer?
E inferno, eu também gostei. Pode ser a coisa mais estúpida do
mundo, entretanto não posso negar que me sinto viva. E sei que no fundo,
não tem tanto a ver com os jogos sacanas de sexo e punição. Tem tudo a ver
com o fato de estar com ele. Jogando com ele. Meu leão. Meu amor.
Qualquer coisa que fizéssemos juntos seria perfeita.
Porém sua raiva não se dispersou. Ainda está pairando sobre nós.
Afastando-o de mim.
E eu não sabia mais o que fazer.
Levanto-me da cama e entro em seu closet. Abro a gaveta de suas
camisetas e coloco uma delas.
Olho-me no espelho. Eu poderia ir atrás dele e dizer o que eu sinto.
Apesar de saber que não posso. Não ainda.
Há ainda um resquício de preservação dentro de mim. Eu preciso
resguardar ao menos uma parte minha. A parte que não sabe como amar um
cara como aquele.
E também preciso fazer alguma coisa.
Caminho pelo apartamento a sua procura e visualizo sua silhueta
solitária na sacada. Respiro fundo e vou ao seu encontro. Ele está vestido
numa calça de pijama e olha a cidade.
Paro a alguns passos seguros de distância.
— Eu sinto muito. Sei que fiz merda, eu vi você com aquelas
garotas e pensei...
Ele não se volta.
— Ethan já me contou todo o seu delírio, Senhorita Jones. Pensei
que não tivesse vindo aqui para se desculpar e sim para jogar.
— E eu achei que me punindo você conseguiria me perdoar.
Ele se volta para mim. Olhos ferozes.
— Sou conhecido por ser impiedoso.
— Eu sei. — Engulo o nó na minha garganta. — O que vai
acontecer agora? É o fim? Simples assim? — Luto contra o pânico e a
vontade de chorar.
Ele se recosta. O olhar preso em mim é o de Leão de Wall Street.
Impiedoso sim. Um investidor sem coração avaliando suas chances de obter
lucro em algum negócio.
Por outro lado ele não era só isto. Quem prevaleceria esta noite?
O caçador que me atraiu nua apenas com palavras para cima de sua
mesa?
O sedutor que esvaziou uma boate para me ter só pra ele?
O dominador que dá prazer e pune com a mesma intensidade?
O amante que reverência meu corpo nu como uma joia?
Sempre atraindo e repelindo. Fogo e Gelo.
— Eu tenho uma proposta para você, Senhorita Jones.
— Proposta?
Ele caminha em minha direção.
Predador.
— Sim, uma proposta. — Para diante de mim. — Case-se comigo.
Capítulo 20

Por um momento acho que não ouvi direito. Suas palavras ressoam
em meu ouvido e explodem em minha mente.
Case-se comigo, case-se comigo.
O ar desaparece a minha a volta e sinto dificuldade em continuar
respirando. Meus joelhos tremem com o impacto do assombro daquele
pedido surpreendente. Surreal.
Será que estou sonhando? Algum tipo de pesadelo estranho do qual
vou acordar a qualquer momento, ainda na cama de Liam sofrendo porque
ele me mandou embora?
Os segundos passam lentos enchendo o ar de tensão a cada vagar
silencioso do tempo. E sei que estou bem acordada e que aquilo está
realmente acontecendo. Aquelas palavras insólitas saíram mesmo da boca
de Liam.
Não pode ser sério!
Eu o encaro sem piscar, lutando para respirar, esperando alguma
reação sua comprovando que tudo não passa de alguma brincadeira. Algum
jogo sórdido que eu desconhecia.
No entanto Liam continua sério olhando para mim. Também
esperando.
Puta. Que. Pariu!
É sério?
Sinto que posso desmaiar e dou um passo à frente, segurando a
cadeira.
— É uma brincadeira, não é? — pergunto confusa.
Ele cruza os braços em frente ao peito. Sua postura é de um jogador
que não quer perder. Astuto. Sagaz. Incisivo.
— Pareço estar brincando, Senhorita Jones?
— Para com este “Senhorita Jones”, inferno! Trata-se de mais
algum dos seus joguinhos? Acho melhor parar e me explicar as regras antes,
estou completamente perdida!
— Não é um jogo, Emma Jones.
Ah Deus!
— Não pode estar falando sério! Está realmente me pedindo pra
casar com você? De verdade?
— Que outro tipo de casamento conhece sem ser o de verdade?
— Isso é tão absurdo! Não faz nem dois meses que nos
conhecemos!
— É o suficiente.
— Suficiente? É loucura... O que pretende, Liam? De verdade? Há
um minuto estava com raiva de mim, me punindo porque eu... — Não
consigo continuar. — E agora quer que eu me case com você!
Ele dá alguns passos na minha direção e para diante de mim. Apesar
da minha confusão e terror, sua beleza ainda me ofusca.
E, por um momento, eu me pergunto o que fiz para aquele cara
perfeito querer ficar comigo.
Casar comigo.
Meu coração ameaça sair pela boca devido ao tamanho e o
significado daquela proposta.
Se eu aceitar... Estarei mudando tudo. Toda a minha vida.
Fala sério. Estou mesmo cogitando aquela proposta absurda?
Não há duvidas de que estou tão apaixonada que chega a doer.
Desde que o conheci fiz coisas que nunca me julguei capaz.
Daí a casar?
Liam toca meu rosto. Estremeço.
— Quero que se mude para cá. Quero que viva comigo. Todos os
dias. Todas as noites. Quero ser o dono das suas horas. Da sua vida.
Eu arfo com a força de suas palavras.
O entendimento finalmente me faz sentir tontura, clareando tudo.
— Quer me controlar. — É uma afirmação.
Ele sorri.
— Nunca disse o contrário, baby.
Puta Merda, ele faz uma ameaça parecer uma carícia.
E, apesar de toda a minha razão estar rejeitando aquela insensatez,
meu corpo se derrete inteiro.
— Então é disso que se trata? Dominação?
— Sim, trata-se de controle. É assim que eu sou, Emma. Nunca
menti sobre quem sou e quais as minhas intenções com você. Eu pedi que
se mantivesse longe. Pediu para jogar. E agora estou pedindo que se case
comigo.
— Já não concordei em jogar o seu jogo? Não é necessária uma
proposta de casamento para continuarmos. — Dou um passo atrás, me
livrando do seu toque sedutor. — Quer me amarrar nessa mesa e me foder?
Vai em frente!
— Não é mais o suficiente. — Seu olhar parece querer perscrutar
minha alma. — É para você? É só o que quer que eu seja? Um dominador
para te punir? Para continuar saindo com sua amiga, indo a boates e
beijando estranhos?
Eu recuo assustada com suas palavras agressivas.
— Se for o que deseja, Senhorita Jones, já acabamos por hoje.
E sem mais, ele sai pisando firme da sacada, me deixando sozinha
no frio com suas palavras fortes tumultuando minhas emoções.
Então é o que Liam pensa de mim? Que sou uma garota em busca
de experiências sexuais sem medir as consequências?
Será que ele não percebe que está se tornando o meu mundo?
Posso entrar lá e jogar isso na sua cara, só que tenho medo.
Como também tenho medo de perdê-lo. Amedrontada, entro a sua
procura. Percorro os corredores a sua procura até notar uma luz acesa.

Hesito apenas um instante à porta antes de ir em frente. Liam está


sentado à mesa de um escritório, concentrado em seu notebook.
O Leão de Wall Street em seus domínios.
Entro e me sento diante dele.
— A raiva em sua voz me machuca mais do que seus tapas.
Ele levanta o olhar.
Finalmente tenho sua atenção.
— Não quero que fique o tempo inteiro com raiva de mim. —
Minha voz embarga.
— Não tenho raiva de você.
— É o que parece. Você me pune o tempo inteiro...
— Eu te dou prazer o tempo inteiro.
— E depois age como se não se importasse. — Começo a chorar
sem conseguir evitar.
— Venha aqui.
— Não. — Fungo tentando parar de chorar, obviamente não
consigo.
— Por favor, não me faça implorar, baby.
Eu o encaro através das lágrimas, sua mão estendida.
E, como naquela primeira vez em seu escritório, vou em sua
direção. Que escolha eu tenho?
Liam me puxa para seu colo e me embala como uma criança,
enquanto eu choro feito uma.
Se eu pudesse ficar sempre assim, escondida em seus braços, eu
ficaria?
Claro que eu sei a resposta.
— Não tenho raiva de você — ele repete contra meus cabelos.
— Do que tem raiva então?
— Você não entenderia.
Eu me afasto o suficiente para encará-lo.
— Eu quero tentar entender...
— Você não gosta do que faço com você?
— Eu não gosto de como me trata depois. Gosto de deixar o
controle em suas mãos, gosto de como me faz sentir. Por outro lado... eu
nunca sei o que esperar de você. Como este pedido de casamento...
— É minha maneira de lidar com meus interesses, Emma. Eu quero.
Eu tenho.
— Como nos seus negócios — murmuro num fio de voz.
— Eu sempre consigo o que eu quero. E eu quero você. Embora
ache que precisa ir embora agora...
Ele nos coloca de pé. E de novo estou tonta com sua mudança de
comportamento.
— Então é assim? Me pede em casamento e me manda embora?
Ele ri.
— Devia considerar minha atitude como uma prova de que nem sou
tão controlador assim. Hoje foi um longo dia. Não vai me responder agora,
eu sei muito bem.
Sim, isso ele tem razão.
Ele digita algo em seu celular.
— Ethan já está subindo para te levar.
— Vou ter que ir embora com sua camiseta, já que destruiu meu
vestido.
Ele me mede com um olhar divertido.
— Fica bem em você, melhor que o vestido. Se vier morar comigo,
poderemos dividir.
Ah, Deus, por que ele consegue fazer aquela proposta absurda
parecer tão tentadora?
Morar ali, o tempo inteiro com Liam.
Respirar Liam.
Quase posso jogar toda a sensatez pela janela e aceitar.
Quase.
Suspiro, tentando manter a sanidade.
— Posso pedir uma coisa antes de ir?
Ele levanta uma sobrancelha.
— Um beijo.
Eu mordo os lábios, meio insegura e me aproximo, parando diante
dele.
— Você disse que eu não merecia um beijo hoje, ainda pensa assim?
Suas mãos enquadram meu rosto. Seu olhar derrete minha
insegurança.
— Por favor, me beija... — fico na ponta dos pés e fecho os olhos,
sinto seu gosto em minha língua antes que finalmente o beijo me consuma.
Cheio de uma doce possessividade, varrendo para longe qualquer
lembrança que eu pudesse ter de outros beijos.
— Nunca mais vai beijar ninguém além de mim — ele sussurra
mordendo meu lábio inferior.
— Eu não quero beijar ninguém a não ser você... só você...
Liam rosna e me beija mais forte, me privando do ar. Roubando
mais um pouquinho meu coração.
Cedo demais ele me solta e eu já me preparo para implorar, quando
escuto uma batida na porta.
— Foi aqui que pediram o serviço de motorista? Ou estou
dispensado?
Ethan fala com seu sorriso habitual, segurando um copo de
energético.
— Estará dispensado depois de levar a minha noiva até sua casa —
Liam diz casualmente, voltando a se sentar em frente ao notebook.
Eu não sei quem está mais surpreso, eu ou Ethan, que está sem fala
pela primeira vez na vida, engasgando com o energético.
— Não me lembro de ter aceitado... — digo com ironia.
Liam sorri, abrindo seu notebook.
— Apenas formalidades...
Eu rolo os olhos e saio do escritório, seguida por Ethan.
— Que diabos foi isso?
— Pergunte a seu patrão. Eu sinceramente nem estou a fim de falar
sobre o assunto no momento.
Entramos no elevador e Ethan me mede.
— Bonito traje.
— Não pergunte sobre isso também.
Estamos no carro quando Ethan volta a falar.
— Devo entender que toda a confusão foi resolvida?
— É... mais ou menos...
— Posso te fazer uma pergunta? Liam sabe quem é o cara que
beijou?
Eu o encaro sem entender, repassando minhas conversas com Liam.
— Não, ele não perguntou.
— Então nunca diga.
— Por quê?
— Porque será melhor para todos os envolvidos.
— Pensando bem é realmente estranho que Liam não tenha
perguntado do jeito que é controlador...
— Liam tem a completa noção de que se ele souber quem é não vai
sossegar enquanto não ferrar com a vida deste cara.
Eu estremeço de medo.
— Não acho que Tristan mereça isso, fui eu que o beijei, ele apenas
se aproveitou da situação.
— Liam não pensaria desse jeito. Afinal, este tal Tristan ousou tocar
em algo que lhe pertence e para o Liam é a única coisa que importa.
— Eu não pertenço ao Liam!
— Não? — Ethan levanta uma sobrancelha. — Pensei ter ouvido ele
te chamando de noiva.
— Isso ainda é unilateral, eu não aceitei nada.
— Liam nunca perdeu uma negociação.
— Talvez perca. Tudo tem uma primeira vez.
Ethan ri com vontade e eu bufo.
— Acho que preciso comprar um terno novo.
***
Acordar no dia seguinte em que Liam Hunter me fez a proposta
mais inusitada e inesperada da minha vida foi estranho.
Quando cheguei em casa na noite anterior, sinceramente pensei que
não iria conseguir dormir, tamanho o alvoroço do dia. Ao contrário das
minhas sombrias expectativas, bastou eu botar a cabeça no travesseiro para
praticamente desmaiar de exaustão.
— E então, acho que ontem você foi ver o Liam.
Contemplo minha melhor amiga do outro lado da mesa, enquanto
comemos cereal no café da manhã.
Há um lado meu que quer contar tudo a ela, porém Zoe não é a
maior fã do meu relacionamento com Liam e se eu contar que ele me
propôs casamento ela vai enlouquecer.
E a última coisa que quero agora é me sentir pressionada. Seja
positiva ou negativamente.
Estou tentando manter minha mente sã.
— Sim, eu fui. — Opto pela simplicidade.
— É só o que vai me contar? — Ela desfaz a expressão blasé que
tentava manter desde que nos encontramos na cozinha para o café da
manhã. — Depois de toda aquela confusão no domingo à noite?
— Aquilo foi lamentável...
— Lamentável? Foi horrível! Tem noção do quanto eu surtei?
Eu rio, rolando os olhos. Era típico de Zoe, colocar a situação toda
como se ela fosse a principal prejudicada.
— Eu já desconfiava que tivesse acontecido alguma coisa para você
querer sair e beber todas, a ponto de se atracar com o Tristan. Aliás, me
deve uma por ter te tirado de lá antes que fosse pra casa dele, aí sim o seu
leão teria motivos para te devorar viva!
Estremeço com suas palavras. Sim, eu me safara de uma confusão
maior ainda. Se tivesse dormido com Tristan, teria destruído de vez
qualquer chance minha com Liam.
— Sim, obrigada por me impedir. Eu estava mesmo fora de mim...
— Eu sei muito bem! Você às vezes é meio imprudente e, depois
que conheceu Liam Hunter, este seu lado impulsivo está piorando cada vez
mais. Se colocar naquela situação foi realmente suicida! E tudo isso porque
viu o Liam com outras garotas?
— Ele não estava com outras garotas! — eu o defendo. — Foi tudo
um mal-entendido!
— Eu sei, o Ethan me contou.
— Quando?
— Quando estava desmaiada ontem. Aliás, ele é um cara bem legal
até.
— Sim, ele é.
— Confesso que, depois do seu show na madrugada vomitando tudo
em cima de Liam, literalmente, sinceramente pensei que estava tudo
acabado entre vocês, fiquei surpresa quando intuí que tinha ido atrás dele.
— Eu precisava me explicar. — Opto por meias verdades
novamente. Se Zoe soubesse que eu tinha ido atrás de Liam para ele me
punir, literalmente, ela ia surtar.
— E aí? Você simplesmente se desculpou e ele te perdoou?
— Digamos que as coisas estão meio... nebulosas no momento.
— Então vocês continuam juntos?
“Na verdade, Liam insiste que estamos noivos” penso em responder,
descarto esta hipótese rapidinho. Acho que também seria muito para Zoe
absorver no momento.
Dou de ombros e me levanto, pegando minha bolsa.
— Eu preciso ir...
— Está sendo evasiva... Aí tem — Zoe comenta perspicaz e
constato que não poderei fugir dela por muito tempo.
— Ontem eu faltei à aula e preciso me dedicar nestas últimas
semanas antes das provas finais, se pretendo me formar.
***
Saio da aula naquela tarde e tomo um susto ao ver Liam me
esperando no corredor.
Encostado na parede ele é uma figura insólita, com seu terno de alta
costura e sua beleza surreal, contrastando fortemente com os estudantes
comuns que transitam pelo local àquela hora.
Eu estou sorrindo e seguindo em sua direção, antes de sequer
cogitar que diabos ele estaria fazendo ali.
Ver Liam sempre faz meu dia melhorar cem por cento.
Um milhão por cento.
— Matando a saudade dos corredores de sua antiga faculdade? —
pergunto ao me aproximar o suficiente para sentir seu cheiro intoxicante
que me deixa com água na boca.
Ele sorri de lado, deixando meus joelhos fracos.
— Matando as saudades de você.
Mordo os lábios para não suspirar alto.
— Ah é? Por que acho que na verdade isso faz parte de seus planos
maquiavélicos de controlador?
Seu sorriso astuto o deixa sexy como o diabo. E eu sorrio de volta
não me importando realmente com isso.
— Na verdade eu vim dizer que estou viajando esta tarde.
Meu sorriso se desfaz instantaneamente.
— De novo?
— Esqueceu que não era nem para eu ter voltado?
Isso faz com que eu me sinta ligeiramente culpada.
— Eu esqueci.
Seus dedos se infiltram nos meus cabelos. Ergo meus olhos tristes
para ele.
— Vou sentir sua falta.
— Se você não estivesse entrando em provas finais, eu me sentiria
tentado a levá-la comigo.
— Claro que sim. Aposto que seus planos teriam a ver com me
manter amarrada e amordaçada esperando por você em um quarto de hotel,
para eu não fazer nenhuma besteira.
— Isso me parece deliciosamente tentador. — Seus dedos puxam
meu cabelo e solto um gemido de dor e prazer, enquanto sua boca se
apodera da minha num beijo de despedida que fala de posse, controle e
sedução.
Eu adoro tudo.
— Quando você volta? — pergunto enquanto caminhamos de mãos
dadas para fora do prédio. Já me sinto incompleta.
— Apenas mais uma semana, provavelmente.
— Terei que me preparar para alguma surpresa na internet? —
questiono ironicamente e ele esboça um sorriso astuto, quando chegamos
defronte ao carro.
— Poderia fazer a mesma pergunta.
— Por que não faz? — Sei que estou brincando com fogo, mas algo
me instiga a continuar. Também sei que Liam não fez nada demais com a tal
Karen, porém o fato continua sendo uma pedra no meu sapato. Do mesmo
jeito que ele também não vai esquecer tão cedo a minha escorregadela com
Tristan.
— Não sou surpreendido uma segunda vez. Eu cuido do que me
pertence. Tenha isso em mente.
— Eu ainda não respondi sobre essa coisa de pertencer, mantenha
isso em mente...
— Como eu disse anteriormente, formalidades. — Ele se aproxima
e me beija rápido, porém profundamente.
Estou ofegante quando me solta. E quase implorando para me levar
com ele. Que se danem as provas, quem precisa da porra de um diploma?
— Até mais ver... — Seus lábios acariciam minha pele num último
beijo em minha testa. — Noiva.
E sem mais entra no carro.
— Olá, noiva. — Ethan aparece do nada atrás de mim, segurando
dois copos de café. E me oferece um.
— De onde você saiu? E por que não está no carro com Liam?
— Liam está indo para o aeroporto com outro motorista.
— Não vai com ele?
— Não, eu ficarei à disposição da noiva dele esta semana.
— Ah... — Arquejo ao entender. — Ele te deixou aqui pra me
vigiar! Que filho da puta!
Ethan ri e me puxa para um carro preto estacionado do outro lado da
rua.
— Aonde vamos? Estou morrendo de fome.
Ele dá partida ligando o carro.
— Sim, eu posso te alimentar madame, mas antes tenho ordens
expressas de levá-la para comprar um celular novo. Fiquei sabendo que
houve um acidente...
Solto um gemido desalentado e Ethan ri.
Sim, eu precisava mesmo de um novo celular.
***
A semana foi, no mínimo, interessante.
Ethan me buscava em casa pela manhã e me trazia café, íamos para
a faculdade ouvindo música alta, revezando entre as que eu gostava e as
dele.
Eu assistia às aulas me esforçando para concluir o semestre e depois
almoçava com ele que, todo dia me levava ao Central Park, onde comíamos
uma marmita feita por Eric antes de me deixar no jornal.
— Você precisa de sol e ar puro pra deixar de ser tão pálida,
vampira — ele dizia. — É o que eu vivo dizendo ao Liam, no entanto ele
prefere manter a bunda branca enquanto ganha dinheiro.
— Por sinal uma bela bunda branca — eu rebatia e Ethan rolava os
olhos.
Eu ria destes seus comentários e ficava curiosa com outros que ele
deixava escapar sobre Liam, que aguçavam a minha curiosidade de saber
mais sobre ele.
— Liam também odeia pepino, ele vomitou em um McDonalds
quando tínhamos 15 anos e fomos expulsos — comentou uma vez quando
eu joguei o pepino do meu lanche fora com cara de nojo.
— Vocês se conhecem há muito tempo, não é? — perguntei como
quem não quer nada uma tarde enquanto ele me levava pra casa.
— Sim, desde os 15 anos...
— Como se conheceram? Na escola?
— Moramos no mesmo lar adotivo por um tempo...
Arregalei os olhos, surpresa.
— Então eram tipo... irmãos?
Ele riu como se estivesse com a mente cheia de lembranças.
— Não por isso.
— O que aconteceu? Liam foi adotado pelos Hunter...
— Ah garota, se quer saber sobre o Liam, pergunte a ele...
— Estou perguntando sobre você! Por que vivia em lares adotivos?
— Eu nunca conheci minha mãe, ela foi embora quando eu tinha
três anos, acho... Fiquei sabendo que morreu num acidente de carro muitos
anos depois...
— E seu pai?
— Meu pai era um safado. Era o cafetão dela.
— Wow! Cafetão, sua mãe era...
— Sim, uma vadia. — Ele riu. Como é que ele podia rir de algo
assim? — Eu morava com ele e as suas prostitutas, ele não estava nem aí
pra mim, e eu nem aí pra ele. Tive que aprender a me virar sozinho bem
cedo. Ele morreu numa briga com uma vadia. Eu tinha 13 anos.
— Nossa, eu sinto muito.
— Não sinta. Uma hora algo assim iria acontecer.
— E então você conheceu o Liam?
— Assim como o Liam, eu passei por alguns lares adotivos de
merda. Essa gente é pior do que traficantes, acredite. Só cuidam das
crianças pra receber o dinheiro do governo. Eu conheci o Liam num destes
lares quando tínhamos 15 anos. Era um casal fodido, Tim e Megan, dois
irlandeses do caralho. Liam chegou quando eu estava lá há três fodidos
meses. No começo a gente se odiou. Brigamos até um arrancar sangue do
outro, no fim, resolvemos que seria melhor nos unirmos.
— E o que aconteceu? Liam foi para os Hunter com esta idade, não
é?
— Depois de alguns meses nos metemos numa briga de gangue.
— Briga de gangue? — Fiquei chocada.
— Digamos que não morávamos na melhor vizinhança. E a gente
tinha que se virar. Fazíamos o que era preciso e protegíamos um ao outro.
Eu fui preso, porque não fiquei muito machucado, me levaram pra porra de
uma instituição para menores infratores. Fiquei lá dois anos.
— E Liam?
— Ele se machucou mais seriamente do que eu e foi parar no
hospital do bom Doutor Hunter e o resto é história.
Eu percebi que ele não ia me falar de Liam.
— E como se reencontraram?
— Alguns anos depois... já falei demais noivinha. Está entregue. —
Ele parou em frente a minha casa, dando o assunto por encerrado.
Naquela noite, eu fiquei com vontade de contar sobre minha
conversa sobre o passado dos dois ao Liam, porém desconfiava que ele não
iria se abrir com facilidade.
Ele sempre se mantinha calado e distante sobre o seu passado.
Eu queria mais que qualquer coisa saber tudo sobre ele. Sabia que
não se tornara o homem que é hoje sem motivo. Havia muitas incógnitas
em seu passado obscuro.
Como teria sido sua infância? Quem foram seus pais verdadeiros e
como eles morreram?
O que aconteceu nos anos em que ele viveu nos lares adotivos eu
podia imaginar através do que o Ethan contou só que ainda era pouco. E
como eram os Hunter? Liam os amava? Nunca falava sobre eles, a não ser
quando o entrevistei, ele os citou pela primeira vez, dizendo que a mãe
adotiva era professora de literatura e o pai médico. Logo em seguida ele
havia levado o assunto para o tema sexual quando disse que descobriu que
gostava de bater nas garotas do colégio católico para seduzi-las.
E o maior de todos os enigmas: o que o motivara a ser o bilionário
que é hoje. Ainda me lembrava bem que ele tinha dito que havia um
motivo, embora não me dissesse qual.
Quando ele me ligou naquela noite, eu apenas me limitei a nossa
conversa habitual, que consistia nele me interrogando como foi meu dia, eu
o chamando de controlador, para ele terminar a conversa com doces
ameaças de punição por minha impertinência que só serviam para excitar a
ambos e acabávamos transando por telefone numa repetição do acontecido
na sua viagem anterior.
Nada era dito sobre a proposta ou sobre algo mais profundo.
Agíamos como se tivéssemos combinado uma trégua mutua.

***
— Então é aqui que você mora! — Eu entro no inconfundível
apartamento de solteiro de Ethan, olhando em volta muito curiosa.
— Sim, senhora. — Ele fecha a porta atrás de nós.
— É bem legal. — Obviamente não tão grande quanto o
apartamento de cobertura de Liam, ainda assim é muito espaçoso e claro. E
também muito bem decorado, embora eu possa ver uma infinidade de fios
entrelaçados no tapete em frente à TV ligados a um aparelho de Xbox,
algumas roupas jogadas aqui e ali, bem como algumas garrafas de cerveja
na mesa de centro. — Você é bem bagunceiro, Ethan!
— Você que insistiu em vir, não reclame, dondoca.
— Eu queria saber onde morava. Já conhece a minha casa e até
assistiu filme comigo, comendo inclusive da minha pipoca! — comento
sobre a noite anterior, quando Zoe o convidara pra assistir filme romântico
com a gente. Foi realmente hilário vê-lo assistindo o “Diário de uma
Paixão”, enquanto eu e Zoe chorávamos na cena final.
— Eu moro sozinho, doçura. É a casa de um homem! — Ele mexe
os músculos do peito me fazendo rir.
Pego as garrafas de cerveja de cima da mesa e levo para o lixo da
cozinha, que tem uma pizza aberta sobre a mesa e louça suja pra lavar.
— Meu Deus, Ethan, você precisa cuidar disso ou vai atrair ratos!
— Jogo a caixa de pizza no lixo.
— Não curto muito essa coisa maricas de limpar casa...
— Eric limpa a casa do Liam e não é maricas!
— Eric é muito bem pago, aliás, deve estar lá agora lavando as
cuecas do seu noivo!
— Por que não pede que ele limpe a sua casa também?
— Ele limpa quando vem jogar comigo. Aquele japonês tem um
estranho senso de limpeza, acho que tem aquela doença, COP.
— É TOC! — Eu rio e arregaço as mangas do meu suéter.
— O que está fazendo?
— Vou lavar esta louça, apesar de não ter TOC, isso já ultrapassou
os limites! Se não gosta de limpar, arranje uma empregada! Ou uma
namorada boazinha, pelo menos! Assim não precisará que a namorada do
seu patrão venha limpar a casa pra você.
— Não precisa fazer isso, sua enxerida, se Liam descobrir que está
na minha casa bancando a escrava branca eu tô lascado!
— Problema seu e do Liam, não estou nem aí.
Ele rola os olhos e se afasta quando o celular vibra.
Eu continuo a lavar a louça.
— Preciso ir. Vamos, deixa isso aí que eu vou te levar embora.
— Não, me deixa aqui. Eu vou terminar. Aonde vai?
— Trabalho, querida.
— Tudo bem, eu posso esperar. Quando voltar me leva embora.
— Ah, inferno, não sei como o Liam te aguenta! — ele resmunga e
eu estou rindo quando escuto a porta bater.
Termino de lavar a louça e recolho as roupas, jogando no cesto de
roupa suja e então algo me ocorre.
Sem pensar, saio do apartamento de Ethan e entro no elevador,
subindo até o apartamento de Liam.
Eric está absolutamente surpreso quando abre a porta e me vê.
— Oi Eric!
— Emma, o que faz aqui?
Eu entro no apartamento antes de dar a ele chance de me impedir.
— Eu estava na casa do Ethan, e aí tudo bem?
Ele fecha a porta e me encara desconfiado.
— Ainda não entendo o que está fazendo aqui
— Relaxa, Eric! — Eu bato no seu ombro. — Só me deu vontade de
vir dar um oi. A casa do Ethan estava uma bagunça e eu me ofereci pra
lavar a louça e dar uma arrumada, enquanto ele teve que sair a trabalho.
Eric ri.
— Sim, Ethan é nojento. Sou eu que sempre acabo limpando tudo
quando ele me chama pra jogar. Na verdade acho que ele me chama só pra
eu limpar sua bagunça.
— Pobre Eric! Homens, sempre nos usando! São uns escrotos, não
é? — brinco.
— Você falando deste jeito me sinto um gay, Emma.
— Eu levanto a sobrancelha.
— Eu sei que você não é gay, vi como olhou para minha amiga
Amanda.
Ele fica vermelho e eu rio mais ainda, lhe dando outro tapinha no
ombro.
— Ah meu Deus, você é uma graça! Diga-me, o que estava
fazendo? — pergunto curiosa.
— Eu estava limpando.
— Posso te ajudar?
— Claro que não!
— Por favor, eu juro que sei fazer! Limpo minha própria casa, sabe?
Ele ri.
— Você quer mesmo me colocar em maus lençóis, não é?
— Eu não conto ao Liam, será nosso segredinho sujo!
Ele suspira.
— Tudo bem, vamos ver se é boa em limpeza mesmo!
Ele me dá um espanador e me manda tirar o pó dos móveis.
— Pelo menos liga uma música pra animar! Eu gosto de Sia! —
grito quando ele se afasta pra fazer o que eu pedi e começo a cantarolar,
quando “Chandelier” enche o ambiente.
Enquanto limpo, aproveito para deixar meus olhos curiosos
varrerem as coisas de Liam.
Não há muito a dizer. Há muitos móveis caros e arrojados e obras
de arte bonitas e insípidas.
Não há porta-retratos, reparo. Nenhum. Nada.
Eric passa o aspirador sobre o caro tapete do escritório quando eu
digo que terminei e ele diz que posso recolher as roupas passadas na
lavanderia.
Animada, vou para a lavanderia e recolho as roupas secas de Liam e
as levo para seu closet.
Coro ao me lembrar da última vez em que estive aqui, quando Liam
pediu para eu escolher um chicote. Jesus! É tão bizarro pensar que ele tem
um armário de chicotes!
Tentando não pensar, começo a guardar suas camisas, sorrio ao
pensar que se eu aceitar me casar com ele, isso pode vir a ser algo habitual.
Será que estou preparada para assumir tudo o que implica ser casada
com um homem como Liam Hunter?
Eu poderia viver ali com ele? Me deixar ser totalmente controlada
por ele?
Aquele bilionário de Wall Street com um passado obscuro que
escondia chicotes em seu closet?
Mordendo os lábios, caminho até o armário dos chicotes e o abro.
Ainda parece algo saído de algum conto erótico obscuro, aquele
monte de açoites pendurados. Passo meus dedos por eles. O de pele de
coelho que ele usara em mim. Sinto um tremor de excitação ao me lembrar.
Não foi tão doloroso como eu pensava que seria.
Também há outros. De couro, de camurça e outros que sequer sei
descrever. Me pergunto que sensação provocariam.
Então reparo que há gavetas também, curiosa, eu as abro e arregalo
os olhos.
— Puta que pariu! — exclamo ao ver a infinidade de brinquedos
sexuais que ele guarda nelas. Alguns eu reconheço, corando até a raiz dos
cabelos, ao pegar em vibradores, algemas e grampos de mamilos. Outros
que eu nem faço ideia de para que servem! Fecho a gaveta devagar ao ouvir
passos no quarto e encontro Eric trocando os lençóis. Corro para ajudá-lo e
ele me encara, eu desvio o olhar vermelha, me perguntando se ele já viu o
armário da perversão do Liam.
Provavelmente sim, afinal não tem nenhuma chave lá, me dou conta
mortificada.
— Algum problema? — ele pergunta quando terminamos e saímos
do quarto indo para a cozinha.
— Não, nada — respondo evasiva.
O crepúsculo está surgindo lá fora.
— Terminamos por hoje. Com fome?
— Agora que falou...
— Certo, vou fazer um jantar para você então já que me ajudou.
Eu sorrio.
— Seria muito legal, só se eu puder ajudar, assim me ensina alguma
de suas receitas incríveis!
E algum tempo depois estamos rindo e cozinhando enquanto Eric
me conta sobre suas experiências inusitadas nos restaurantes que trabalhou,
quando escuto passos se aproximando e nós dois olhamos para a porta ao
mesmo tempo para ver Liam surgindo na nossa frente.
— Liam! — exclamo extasiada e surpresa.
Seus olhos varrem o ambiente: a música alta, a cozinha recendendo
a temperos, Eric usando seu avental e eu usando outro igual.
— Vejo que estão se divertindo.
Tento entender o que se passa em sua mente, embora ele seja um
mestre em esconder suas emoções.
Ele olha de mim para Eric que continua a cozinhar como se nada
demais estivesse acontecendo.
— Eu estava ajudando Eric a fazer o jantar.
— Estou percebendo. Eric, continue o que estava fazendo. — Ele
me encara. — Você, me acompanhe.
E sem mais, ele dá meia-volta e sai da cozinha.
Vou atrás sem pensar.
— Não parece muito surpreso em me ver.
— Ao contrário de você que parece surpresa em me ver.
Entramos no quarto e Liam começa a tirar a gravata.
— Sim, estou. — Paro subitamente tímida. — Ethan! — Finalmente
entendo. — Por isso Ethan teve que ir. Ele ia te buscar! Por que ele não me
disse?
— Ethan não diz o que não está autorizado a dizer.
Eu rolo os olhos.
— Claro que não!
— Ele me disse que você estava na casa dele, lavando a louça. —
Ele tira o paletó e começa a desabotoar a camisa.
— Sim, ele mora num chiqueiro.
— Ethan que arranje sua própria garota para limpar pra ele —
resmunga tirando a camisa e eu solto um risinho.
— Eu lhe disse algo parecido.
Ele vai para o banheiro e liga a banheira. Eu o sigo.
— E como foi que veio parar aqui? — ele questiona tirando a calça.
Começo a salivar, quando o vejo nu.
— O quê? — balbucio distraída.
— Como veio parar aqui? — pergunta de novo entrando na
banheira.
Eu me recosto na pia e suspiro, ao ver o corpo perfeito desaparecer
sob a água.
— Eu fiquei curiosa.
— Curiosa? — Ele se recosta, me olhando fixamente.
Devo estar vermelha feito um pimentão.
— Ethan me contou que Eric estava aqui e eu resolvi vir... só isso.
— Eu gostei de chegar e ver você.
Minhas pernas tremem.
— Gostou?
— Tire a roupa.
— Mas... o Eric... — Meu coração dispara no peito.
— Não me faça repetir, Senhorita Jones.
Engulo em seco e começo a tirar a roupa enquanto ele me observa.
Estou toda trêmula e excitada quando caminho até a banheira e ele
estende a mão.
— Vem.
Seguro sua mão e entro, escorregando entre suas pernas e sinto seus
braços me envolvendo. Seu queixo encosta em meu ombro enquanto ele me
cheira.
— Agora sim. Estou em casa.
Percebo que sua ausência causou um pequeno buraco em meu peito
e que agora o sinto se fechando, devagar, me deixando completa de novo.
E por um momento infinito, é o bastante, estar ali, envolvida por
seus braços.
Eu também estou em casa.
— Você vê como é perfeito? — ele diz em meu ouvido. — Pode ser
sempre assim. Basta aceitar o meu pedido. E será para sempre.
Meu coração dá um pulo no peito e eu me viro para encará-lo.
— Para sempre? — sussurro.
— Aprecio negócios a longo prazo, Senhorita Jones — ele diz me
beijando em seguida.
A palavra negócio e o irritante Senhorita Jones fazem meu coração
voltar a bater no ritmo normal.
Liam pode ser doce e intenso num momento e um dominador
irascível no seguinte.
E se eu aceitar ficar com ele, terei que conviver com estes dois
lados.
O prazer e a dor.
O prazer... suspiro, quando sinto sua língua acariciando meus lábios
e desejo mais, porém ele se afasta.
Resmungo frustrada e já estamos saindo da banheira.
— Vamos comer agora. — Ele me estende uma toalha e não
disfarço minha frustração, fazendo-o sorrir. — Uma fome de cada vez,
baby.

***
Estou ligeiramente sem graça, quando Eric nos serve o jantar na
linda sacada de Liam.
Tanto eu quanto Liam estamos vestindo apenas um robe atoalhado.
Eric não comenta nada.
— Estava delicioso, Eric — elogio sorrindo quando terminamos.
— Fico feliz que tenha gostado, Senhorita Jones...
— Pelo amor de Deus não me chame de Senhorita Jones! —
reclamo e Liam ri.
— Sim, Eric, Emma gosta que somente eu a chame de Senhorita
Jones.
— Uma ova que gosto — resmungo, Liam me ignora.
— Pode ir Eric, boa noite.
— Boa noite, Liam... Emma.
Eric se afasta silenciosamente e Liam me encara.
Tão lindo. Tão perto.
Tão meu.
— Então, o que acontece agora?
— Acho que podemos tratar dos assuntos pendentes.
Ele se levanta e estende a mão, eu me apresso a pegá-la e ele me
puxa na direção do quarto.
Estou delirando de expectativa quando chegamos lá.
Ele retira o meu robe. Eu me arrepio.
Sua mão desliza por meu rosto, meu pescoço, chega a meus seios,
que intumescem.
— O que eu farei com você hoje, Senhorita Jones? — indaga, os
dedos atrevidos varrendo minha pele para baixo, meu ventre estremece.
Meu sexo umedece em doce expectativa. No entanto ele para, me
encarando muito sério.
Oh. Oh.
— Você foi uma garota curiosa hoje não foi?
Ops.
Ele sabe. Como é que ele sabe?
— Fui?
— Me diz o que encontrou no meu closet.
— Já havia me pedido para mexer lá antes — justifico-me.
— Sim, mas pedi hoje?
— Eu apenas fiquei curiosa... Não fazia ideia de que guardava todas
aquelas coisas pervertidas.
Ele ri.
— Você fala como se fossem instrumentos de tortura.
— Podem ser, até onde eu sei. Algumas coisas eu não faço a menor
ideia para que servem... — Coro.
Seu toque está no meu rosto de novo.
— Quando cora deste jeito tenho vontade de te morder.
— Devo ficar com medo, Senhor Leão?
— Eu ainda vou usar todas aquelas, como foi que disse? Coisas
pervertidas, em você. Gostaria disso?
Engulo em seco, a excitação fluindo através de mim.
— Hoje?
Ele sorri suavemente, e me empurra para a cama e para o lado,
tirando o robe.
— Não hoje, baby. Hoje eu quero foder você e só você.
Arquejo de prazer, quando ele vem com seu bem-vindo peso para
cima de mim. Não há necessidade de palavras ou de jogos esta noite. Ele
está pronto pra mim. Eu estou pronta para ele.
Rapidamente, ele coloca um preservativo e afasta meus joelhos,
corre o nariz por meu queixo, beija minha orelha, me penetrando.
Movemo-nos juntos. Dentro e fora. Impulso e recuo.
Me agarro a ele com força, quase com desespero. A sensação que
cresce em meu intimo é tão profunda, tão forte que me faz soluçar e sentir
que vou derreter inteira.
Deixo-me deslizar numa delirante inconsciência, onde existe apenas
Liam e seu gemido rouco em meu ouvido. Liam e suas mãos se
entrelaçando nas minhas. Liam e seu coração batendo no mesmo ritmo que
o meu enquanto estremecemos juntos num gozo perfeito.
E depois ele se move para o lado, ainda nos ajeitando ofegantes
sobre os lençóis revirados e me sinto sonolenta e satisfeita. Mas fico alerta,
quando percebo que Liam vai sair da cama, como sempre faz.
— Não! Fique comigo... — peço, esfregando meus lábios em seu
ombro.
— Estou sem sono, Emma — ele resmunga meio mal-humorado. —
Não durmo cedo.
— Eu vou fazer você dormir... — Estendo a mão e toco seus
cabelos, começando a acariciar os fios suados.
Talvez seja o cansaço da viagem ou talvez eu possa sonhar que algo
tenha finalmente mudado em nosso relacionamento, mas ele permanece ali,
fechando os olhos e deixando que afague seus cabelos, então eu o sinto
deslizar para o sono.
***
Acordo sozinha.
Sento-me, desorientada e o sol pálido da manhã banha o quarto.
Nem sinal de Liam, sorrio ao pensar que ele tinha conseguido dormir. Eu só
me pergunto se ele permaneceu a noite inteira. Eu não faço ideia porque
adormeci depois de velar seu sono por alguns minutos.
Volto a me recostar e fico ali, sentindo um misto de alegria e medo.
Parece que tudo o que envolve Liam sempre tinha a ver com dois
sentimentos contrários.
A pergunta era: o que eu iria fazer sobre isso?
Levanto-me encontrando minhas roupas da noite anterior no
banheiro.
Tomo uma chuveirada rápida para terminar de acordar e saio do
quarto à procura de Liam, surpreendendo-me ao encontrar Sarah na
cozinha.
Ela fica vermelha quando me vê, está mexendo em alguns papéis
enquanto toma café. Eric está lá também, cuidando de algo no fogão.
— Bom dia, Emma, já conhece a Sarah?
— Sim — respondo.
A moça sorri, ainda parecendo meio apreensiva e eu me recordo que
não fui muito legal com ela a primeira vez que a vi.
— Como vai, Emma?
— Tudo bem... Cadê o Liam?
— Ele já está no escritório. Eu passei aqui para buscar alguns papéis
que ele trouxe de Londres e se esqueceu de levar.
— Ah, entendi...
— Emma, sente-se e tome café — Eric pede.
Sarah serve café pra mim, sorrindo amigavelmente.
Eu noto uma aliança em seu dedo.
— Você é noiva?
— Sim. — Ela sorri.
— O noivo da Sarah, Peter, também trabalha com Liam — Eric
comenta.
— Sério?
— Sim, nos conhecemos no trabalho há alguns anos e vamos nos
casar em breve.
— Ah, meus parabéns... — Sinto certa inveja da felicidade que
irradia dela.
Eu queria ser assim. Queria ser uma noiva feliz.
Eu posso ser?
Mesmo com um cara como Liam, numa relação nada convencional?
— Eu fico feliz que Liam esteja finalmente com uma garota legal
como você — ela comenta de repente e eu fico vermelha.
— Como sabe que eu sou legal?
Ela ri.
— Ethan e Eric têm certeza que é.
Eric pisca pra mim.
— Eu sei que Liam parece ser um cretino controlador a maior parte
do tempo — ela diz sem meias palavras, me surpreendendo. — Porém no
fundo, ele é um cara legal.
— Estou tentando... — Sorrio tristemente e então enquanto
tomamos café em silêncio, uma resolução vai se formando em minha
mente.
— Sarah, será que pode me dar uma carona?
— Claro, para onde?
— Para Wall Street. Antes preciso que me ajude com mais umas
coisinhas...
Eric ri.
— Cuidado, Sarah, essa garota costuma nos colocar em apuros com
o chefe, só estou avisando...
***
Caminho resoluta pelos corredores de mármore, meus saltos
batendo no chão.
Sorrio ao pensar o quão diferente estou da primeira vez que estive
ali.
Naquele dia eu era apenas uma estudante de jornalismo perdida,
querendo dez minutos com o leão de Wall Street.
E agora eu o quero pela vida inteira.
— Você pode entrar — Sarah diz, ao sair da sala e piscar pra mim.
Olho para mim mesma, vestindo um elegante vestido Gucci e
apertando o envelope no peito.
Respiro fundo e entro no escritório de Liam.
Ele franze a testa surpreso por me ver.
— Senhorita Jones, que surpresa. Veio fazer uma entrevista?
Avanço até sua mesa e coloco o envelope na sua frente.
— Temo que não possamos resolver meu assunto em apenas dez
minutos, Senhor Hunter, portanto espero que tenha mais tempo desta vez.
Ele me lança um olhar intrigado ao pegar o envelope e tirar de lá um
documento.
Eu me sento diante dele, apreensiva e resoluta então sorrio
astutamente.
— Isso é um contrato. Você tem suas regras e eu algumas condições
para aceitar o seu pedido.
Capítulo 21

CONTRATO DE NOIVADO

Liam Mathew Hunter, solteiro, empresário, doravante designado o NOIVO,


e Emma Marie Jones, solteira, estudante, doravante conhecida única e
exclusivamente como a NOIVA, têm entre si justo e acertado o presente
contrato de relacionamento que será regido pelas cláusulas a seguir
expostas:

Título 1 — Do regimento do contrato

Primeira — Toda e qualquer disposição não escrita neste contrato, o


NOIVO e a NOIVA, definirão o que fazer pela sua consciência e
imaginando como reagiria se estivesse no lugar do companheiro.

Segunda — Esse contrato passa a valer no dia de sua assinatura pelas duas
partes.

Terceira — Esse contrato não poderá ser modificado, seja com o acréscimo
ou com a exclusão de alguma cláusula, a menos que haja a concordância
das duas partes, mediante aditamento ao presente instrumento.

Quarta — Este contrato serve como sustentação ao bom andamento do


noivado.
Título 2 — Dos princípios gerais

Primeira — O NOIVO compromete-se em prover sexualmente única e


exclusivamente à NOIVA;

Segunda — A NOIVA compromete-se em prover sexualmente única e


exclusivamente ao NOIVO;

Terceira — O NOIVO e a NOIVA comprometem-se, desde já, a NUNCA


trair um ao outro com nenhuma mulher ou homem;

Quarta — Fica estabelecido que a NOIVA somente se mudará para a


residência do noivo quando assim o desejar, não podendo ser pressionada,
coagida ou punida;

Quinta — O NOIVO compromete-se a ter algumas horas de sono todas as


noites;

Sexta — O NOIVO compromete-se a dormir na mesma cama que a NOIVA


quando esta estiver em sua residência;

Sétima — Fica estabelecido que presentes, tais como roupas, acessórios,


joias e afins somente serão aceitos pela NOIVA se ela os desejar. Caso
contrário terá o direito de recusá-los. Sem que haja punições;

Oitava — O NOIVO compromete-se a somente destruir a roupa da NOIVA


caso tenha sua prévia autorização;

Nona — O NOIVO compromete-se a responder todas as perguntas sobre


seu passado determinadas pela NOIVA com o objetivo de que ambos
possam se conhecer melhor.

Parágrafo único — Caso alguma pergunta não possa ser respondida pelo
NOIVO de imediato, ele se compromete a retomar o assunto, quando se
sentir confortável e seguro, porém nenhum questionamento poderá ficar
sem esclarecimento.

Décima — O NOIVO concorda com um noivado longo, por tempo


indeterminado. O casamento somente será realizado quando a NOIVA
assim o determinar;

Décima Primeira — Para dirimir qualquer controvérsia, as partes devem


conversar de forma honesta e direta, em território neutro, não se admitindo,
para tanto, que essa conversa seja realizada na residência dos Noivos;

Décima Segunda — Na hipótese de descumprimento de qualquer uma das


cláusulas acima, o contrato de noivado pode ser desfeito.
Por estarem assim justos e contratados, firmam o presente instrumento, em
duas vias de igual teor.

Data:

-------------------------------------------------------------------------------------------
----------
Emma Marie Jones Liam Mathew
Hunter

***
Acho que nunca me senti tão nervosa na minha vida, como neste
momento enquanto vejo Liam pegar o envelope sobre a mesa e retirar de lá
o contrato que redigi com a ajuda de Sarah.
Mordo os lábios nervosamente e aperto minhas mãos uma na outra,
estudando, ansiosa, suas reações enquanto passa os olhos pelas cláusulas do
contrato. Liam é o mestre em esconder seus sentimentos, então é difícil
saber o que está se passando na mente dele neste momento.
Quando tive aquela ideia, que até poucos segundos considerava
brilhante, eu me achei muito esperta e desafiadora.
Toma essa seu leão controlador duma figa!
Se ele pensou que eu fosse ser sua noivinha submissa, esperando
que ditasse todas as regras de nosso relacionamento, estava muito
enganado.
Sim, eu estava loucamente apaixonada. Sim, eu podia deixar que ele
fizesse o que quisesse com meu corpo, este sim, muito submisso, só que eu
queria mais.
No entanto, até aquele momento, uma coisa que eu havia aprendido
na nossa breve relação é que Liam era o cara mais fechado da face da Terra.
Era por isso que ele sentia tanta necessidade de ser controlador. Era por isso
que transformava seus relacionamentos amorosos, se é que se podia chamar
caçar e foder mulheres assim, em breves e efêmeros jogos de perversão.
Como é que eu podia aceitar seu polêmico e inesperado pedido de
casamento? Qualquer outra pessoa com o mínimo de bom senso talvez
estivesse fugindo correndo sem olhar para trás. Não eu.
Eu era aquela que tirou a roupa e deitou na mesa dele, indefesa e
entregue, instantes depois de ele ter estado sob seus olhos de predador
mortífero.
Eu era aquela que, mesmo depois de Liam ter dito com todas as
letras que não era feita para seus jogos, correu atrás dele e insistiu em
aprender a jogar.
Aquela que depois de traí-lo, ainda foi atrás, se colocando à
disposição de sua furiosa punição.
Então, em qual momento eu realmente achei que diria não?
Eu era um estúpido cordeiro pronto para ser devorado.
Todavia, isso não quer dizer que esteja pronta para simplesmente
me deixar levar para sua toca e permitir que ele me consuma conforme suas
preciosas e controversas regras.
Eu posso até ser um maldito cordeiro, mas também tenho uma ideia
bem clara do que eu quero dele. Do que eu preciso dele.
E o que eu quero e preciso neste momento está naquele contrato.
Será que eu tinha sido ingênua e esperançosa demais ao esperar que
Liam simplesmente aceitasse meus termos sem contestar?
Finalmente, ele levanta o olhar e me encara por cima do contrato.
Eu quase nem respiro.
— Estes são seus termos, Senhorita Jones? — indaga friamente.
Eu respiro fundo.
— Sim, Senhor Hunter, estes são meus termos. Alguma dúvida?
Liam coloca o papel sobre a mesa e se inclina, me estudando.
Mantenho o contato visual, sem vacilar. Até que ele segura uma caneta e
volta a atenção para o contrato.
— Vamos ver... “O Noivo compromete-se em prover sexualmente
única e exclusivamente à Noiva” — lê a primeira cláusula e não consigo
deixar de corar, quando ele fixa os olhos especulativos em mim.
— Algum problema quanto a isso? — Levanto minha sobrancelha
ao mesmo tempo em que tento não entrar em pânico. — Por acaso pensou
que eu ia entrar numa relação séria e você poderia continuar saindo com
outras mulheres?
É a sua vez de levantar a sobrancelha.
— Defina saindo.
— Trepando. Caçando. Jogando ou sei lá como chama!
— Por que achou que eu faria isso, sendo que te pedi em
casamento?
Percebo que ele está bravo pelo tom de voz que podia congelar o
inferno.
Ah, isso me agrada, devo dizer.
— É essa a questão. Eu não sei, Liam.
— Não fui eu que traí.
Ah, esta doeu. Tento manter a compostura, mesmo sabendo que
meu rosto se tingiu de um vermelho culposo.
— Por isso temos a segunda cláusula. E a terceira — acrescento —
é o suficiente?
Liam não responde por alguns instantes enquanto me estuda e quero
muito poder ler seu pensamento naquele momento. Ele respira fundo e volta
sua atenção ao documento.
— “Fica estabelecido que a noiva somente se mudará para a
residência do noivo quando assim o desejar, não podendo ser pressionada,
coagida ou punida.”
— Eu sei que disse que gostaria que eu me mudasse para seu
apartamento para controlar meus horários, vida e tudo mais, isso está fora
de cogitação no momento — explico.
— Por quê?
— Preciso mesmo explicar? A parte do quero controlar sua vida não
soa muito assustador pra você? Porque pra mim soa!
— E o que vai acontecer quando nos casarmos? Por acaso vai fazer
outro ridículo contrato dizendo que quer ter sua própria casa?
— Meu contrato não é ridículo! E se é o que pensa sobre ele por que
o estamos discutindo?
— Porque estes são os seus termos e eu quero conhecê-los. O que
não significa que estou de acordo.
Começo a sentir medo.
— Essas cláusulas não estão abertas à discussão. Como disse, são
meus termos e são importantes para mim.
— É importante para mim que você viva comigo.
Ah Deus, se ao menos eu não sentisse suas palavras escorrendo
como mel em meu íntimo...
Luto para me lembrar do porquê de eu estar colocando aqueles
termos.
— Eu não disse que nunca irei me mudar. Só disse que me mudarei
quando me sentir preparada — afirmo suavemente.
— E quando será? — ele insiste.
— Eu não sei — confesso — só não acho que vai dar certo agora.
Ele bufa e volta a ler o documento.
Ganhei esta? Ainda é cedo para respirar aliviada.
— “O Noivo compromete-se a ter algumas horas de sono todas as
noites.”
— Eu estou seguramente convencida que boa parte do seu mau
humor deve-se à falta de sono — asseguro.
— Isso é ridículo, eu durmo algumas horas por noite!
— Não o suficiente!
Ele abre a boca apra continuar a discussão e eu levanto a mão para
impedir.
— Nem discuta. Eu poderia ter colocado todas as horas que eu
quisesse, no entanto coloquei o suficiente.
— E quem vai saber quanto é suficiente?
— Eu digo o quanto.
— E como vai saber se não quer morar comigo?
Inferno, ele tem razão.
— Tenho certeza que com a próxima cláusula poderemos assegurar
isso, pelo menos boa parte das noites.
— “O noivo compromete-se a dormir na mesma cama que a noiva
quando esta estiver em sua residência”. Então quer dizer que haverá muitas
noites? — Sua voz baixa alguns decibéis e me arrepia.
Meu pulso acelera.
— Contanto que a cláusula sobre dormir comigo seja respeitada,
todas que quiser — sussurro no mesmo tom sugestivo.
Em um instante o ar entre nós se torna cheio de eletricidade, assim
como seu olhar intenso sobre mim. Começo a respirar com dificuldade e me
remexo na cadeira, sentindo um calor insidioso entre minhas pernas.
Ah, sou tão previsível!
Será que Liam sabe que bastaria ele ordenar e com apenas uma
palavra eu estaria de novo nua sobre a sua mesa implorando por qualquer
coisa que ele quisesse, sem nem ao menos lembrar que existia contrato?
É melhor que ele não saiba por enquanto.
— E então?
— Eu não tenho... — de repente sua expressão muda sutilmente, me
confundindo, enquanto ele passa os dedos sobre os cabelos e desvia o olhar
— o que se poderia chamar de noites tranquilas de sono. Para mim não é
fácil dormir.
Eu me lembro de ele ter me contado sobre um pesadelo que teve
antes de viajar. Será que acontecia sempre? Será que era esse o motivo de
ele não se permitir dormir direito?
Tenho vontade de pressioná-lo, me contenho, sei que não é o
momento.
— Ontem você adormeceu comigo — digo suavemente. — Então,
podemos trabalhar esse problema, o que acha?
Eu espero com a respiração suspensa. De novo me pergunto que
diabos ele está pensando. Parece cético. Eu me sinto levemente
esperançosa, quando ele volta a ler o contrato, passando para o próximo
tópico.
— “Fica estabelecido que presentes, tais como roupas, acessórios,
joias e afins somente serão aceitos pela noiva se ela os desejar. Caso
contrário a noiva terá o direito de recusá-los. Sem que haja punições."
— Sem discussão — corto, antes que faça algum comentário.
Ele continua.
— “O noivo compromete-se a somente destruir a roupa da noiva
caso tenha sua prévia autorização”.
— Sei que curte usar aquela tesoura nas minhas roupas...
— Você também curte.
— Tá, eu sei. Acho bem excitante quando faz, mas eu realmente
gosto de algumas roupas e não quero vê-las destruídas.
— Posso comprar outras. Posso comprar a loja inteira. É só escolher
a grife. Ou mais de uma, que seja.
— Esta é a razão de termos a cláusula anterior, senhor milionário
dispendioso! Não quero que fique me dando presentes aleatoriamente. É
absurdo!
— Você é absurda!
— Só porque não estou com você por dinheiro ou pelas coisas que
pode me dar? — rebato. — Não sei que tipo de mulher conheceu até agora,
eu não sou assim e é bom que saiba desde já, se pretende casar comigo. Não
posso ser conquistada com joias e roupas bonitas.
— Agora você vai dizer que preferia que eu fosse pobre — ele fala
cheio de ironia.
— Não faz diferença pra mim.
— Eu duvido — diz ferozmente, me lembrando de sua entrevista
contundente no primeiro dia que nos conhecemos.
De novo me pergunto por que ele quis ser rico daquele jeito. E isso
nos leva à próxima e talvez a mais difícil cláusula do contrato.
— Não vou entrar em discussão com você sobre esse assunto agora.
Quero saber se tem alguma objeção ao próximo tópico. “O noivo
compromete-se a responder todas as perguntas determinadas pela noiva
sobre seu passado com o objetivo de que ambos possam se conhecer
melhor” — repito o que já sei de cor. O que mais temo que ele não queira
concordar. E, de certa forma, o mais importante.
— Não vejo como meu passado poderia afetar nosso
relacionamento, ele está morto — responde com frieza.
É, eu já deveria esperar algo desse tipo.
— Não teremos um futuro se eu não puder conhecer você de
verdade, Liam. E, se não está disposto a se abrir pra mim, a me deixar
descobrir quem você é realmente, nada disto... — faço um gesto
abrangendo nós dois — vai fazer algum sentido.
— Nós fazemos sentido. — Sua voz está repleta de fúria.
— Sexualmente? Pode ser. Para um casamento? Não, Liam. Eu sei
que é um cara que joga conforme suas próprias regras em todos os aspectos
da sua vida, mas, mesmo você deve saber que um casamento implica em
muito mais. E me perguntou se eu faria mais algum contrato quando nos
casássemos. Se quer saber, estou aqui agora com este contrato com as
condições para que eu concorde em ser sua noiva porque não quero que seja
preciso algo assim quando nos casarmos. Quando nos casarmos eu quero ter
certeza que nada mais vai importar, porque nós... faremos todo o sentido do
mundo. O que nos leva à cláusula do longo noivado. Eu preciso estar segura
de que vai dar certo. — Abaixo minha voz e tenho certeza que meu olhar
reflete toda minha insegurança. — Eu quero que dê certo. Muito.
Liam me encara por longo tempo. Aquele seu olhar indecifrável.
E rezo para que um dia aquele olhar não exista mais. Pelo menos
para mim.
— Não posso negar que estou muito surpreso com sua audácia,
Senhorita Jones.
Tenho vontade de rir ao notar a contrariedade em sua voz.
— Aposto que quer me punir por esta audácia neste momento,
Senhor Hunter — rebato. — E eu não me oponho, contanto que o contrato
esteja assinado.
É isso. Tudo ou nada.
— Então devo entender que assinando este contrato você estará se
comprometendo a casar comigo?
— Sim, quando eu determinar, não se esqueça. — Meu coração
começa a bater forte.
— E se eu não concordar?
Meu coração falha uma batida.
— Eu vou entender que não sou importante o suficiente para que
perceba o que é importante pra mim. Eu estou fazendo isso porque você é
importante pra mim — eu vacilo. Aquilo é o mais perto do que cheguei de
uma declaração de amor para ele. — Eu quero ficar com você. A questão é:
você quer ficar comigo? Se não assinar... Não acho que queira o suficiente.
E, naquele momento, enquanto minhas palavras contundentes
pairam sobre nós como uma nuvem que precede a tempestade, eu me dou
conta do que estou fazendo. Do que está em jogo.
Posso perdê-lo para sempre. Serei capaz de me manter firme até o
fim?
Ir embora e não olhar para trás se Liam não quiser aceitar meus
termos?
Dói até para respirar ao pensar nisso.
Liam não existir mais pra mim... É como morrer.
Então, com minha vida em suas mãos, eu espero.
Até que, finalmente, ele pega a caneta e assina.
— Isso é o bastante pra você?
Puta. Que. Pariu!
Ele assinou!
— Isso responde a sua pergunta, Senhorita Jones? — insiste se
levantando e dando a volta na mesa.
Estou tremendo inteira e ainda sem reação.
Inferno! Acho que no fundo eu esperava uma grande discussão
antes que conseguíssemos uma conciliação. Se é que conseguiríamos.
Mas isso?
Eu me sinto como uma criança que havia insistido em entrar na
piscina sem saber nadar, se debatendo nas águas profundas que tanto queria
experimentar e que não faz ideia de como se manter à tona.
Liam para e gira minha cadeira até que eu esteja de frente para ele.
— Agora, Senhorita Jones, a sua punição. Levante-se!
Eu nem penso em questionar a ordem.
Sim, senhor!
E lá estamos nós. Do mesmo jeito em que nos conhecemos. Do
mesmo jeito que começamos aquele louco relacionamento.
Com o Leão Wall Street me rondando, me dominando.
Só que agora existe uma sutil diferença. Ele é o meu. O meu leão. O
meu noivo.
Liam para atrás de mim. Sinto sua respiração em meu ouvido. Sua
mão escorregando em direção à barra do lindo vestido Gucci, erguendo-o.
— A sua impertinência não tem limites, Senhorita Jones — sussurra
em meu ouvido, mal respiro enquanto sinto seus dedos quentes abaixando
minha calcinha. — Vou deixar algumas marcas nesta sua pele branca, como
deveria ter feito naquele primeiro dia, assim você não teria se tornado tão
insolente. — Puxa meus quadris e eu me seguro na mesa, um misto de
expectativa e receio fazendo meu sangue ferver. — Conte — ordena e
desfere um sonoro tapa na minha bunda.
— Um — sussurro — mais um — dois...
Conto até dez tapas. Estou ofegante e minha pele ardida, quando
sinto sua mão puxando minha calcinha para cima e em seguida colocando o
vestido no lugar. E então ele se afasta e volta a sua mesa.
O quê? Que diabos...
E o encaro, confusa e atordoada e, puta merda, excitada.
— Liam?
Ele coloca o contrato no envelope e me entrega.
— Acho que sua missão foi cumprida.
— O quê? Eu achei que fôssemos... — Fico ridiculamente
vermelha.
Estou frustrada, confusa e decepcionada.
Não era assim que eu esperava terminar aquela contenda.
Ok, quando entrei naquela sala não fazia a mínima ideia do que iria
acontecer. Liam podia não aceitar meus termos. Tudo poderia terminar.
Mas, depois que ele assinou acreditei que não haveria mais limites.
Eu tinha concordado em ser sua noiva. E ele era meu noivo.
Seria pedir muito uma boa trepada de comemoração e, inferno,
algum carinho também?
Então por que ele apenas tinha me dado uns tapinhas, me chamado
de impertinente, em seu velho papel de dominador e agora está me
dispensando sem mais nem menos?
— Você tem os seus termos e eu os meus, Senhorita Jones. Acho
que ainda se lembra. As regras são minhas.
Ah...
Uma luz acende em minha mente começo a compreender.
Eu o tinha vencido hoje.
Eu obriguei a sair de seu papel seguro e confortável de dominador e
em total controle de sua vida.
Eu fiz concordar em seguir os meus termos para que eu aceitasse ser
sua noiva.
Agora ele está inseguro. Fora do seu habitat natural.
O leão foi coagido pelo cordeiro. Embora ele ainda estivesse
lutando. Da maneira que sabia.
Eu fui ingênua em comemorar antes da hora. Eu venci apenas uma
pequena batalha. A guerra estava apenas começando.
— Não, eu não me esqueci. — Seguro o contrato. — Presumo que
essa seja minha deixa para ir embora? Dessa vez pelo menos durou mais do
que dez minutos. — Eu me viro para sair e ele me segue abrindo a porta da
sala antes que eu o faça. — Obrigada.
A secretária nos olha um tanto curiosa.
— Gillian, ligue para Ethan e peça que ele encontre minha noiva no
saguão.
Não sei quais olhos se arregalaram mais se os meus ou os da pobre
Gillian. Recompondo-se rápido ela pega o telefone enquanto Liam me leva
até o elevador.
Ah Deus.
Aquele cara agora é meu noivo.
O Leão de Wall Street é meu noivo!
Eu estou sorrindo sem perceber.
Tento conter meus lábios, porra, é impossível.
— Posso saber o que é tão engraçado? — Liam pergunta ao mesmo
tempo em que o elevador abre as portas.
Eu entro e o encaro sorrindo.
Nós estamos noivos.
E, para minha surpresa, um sorriso de lado se distende em seus
lábios bonitos.
— Até mais... noiva — ele se despede.
E eu estou gargalhando quando as portas se fecham.
***
— A Gillian estava quase surtando quando me ligou dizendo que
era pra eu encontrar a noiva do chefe e levá-la para casa — Ethan comenta
quando estamos no carro. Eu ainda não consigo parar de sorrir.
— Agora é oficial — confirmo e Ethan levanta a sobrancelha com
um olhar incrédulo.
— Então é sério? Eu achei que a Gillian estivesse exagerando...
— Não, é sério mesmo.
— Porra, eu vivi pra ver isso! — Ele bate com os punhos no volante
o que me faz rir mais. — E aí? Como vai ser daqui para frente? Pra quando
é o casório?
— Não espere que eu me mude e passe a fazer todas as vontades de
Liam a partir de agora. Na verdade as coisas vão acontecer bem devagar...
eu tenho alguns pontos para acertar primeiro antes de subir ao altar e todas
essas coisas... — Nem consigo imaginar como vai ser realmente. Casar com
Liam. Casar! Colocar vestido de noiva, trocar alianças, e morar com ele pra
sempre.
Sinto meu estômago revirando de uma forma boa e ruim ao mesmo
tempo. Como sempre, medo e ansiedade se misturam no meu interior, como
tudo o que se refere a Liam.
Pelo menos consigo respirar tranquila quando penso que nós temos
um contrato que me garante tempo para que tudo entre nos eixos.
Ainda há uma longa jornada pela frente até domar o Leão de Wall
Street.
***
— E aí, está sorrindo feito boba porque o Liam voltou de sua
viagem? — Zoe comenta ao entrar na cozinha naquela noite, quando estou
terminando de fazer nosso jantar.
— Sim, ele voltou. — Meu sorriso se alarga.
— Pelo menos não teve drama desta vez, né? — Ela se inclina sobre
a bancada roubando pepino do prato de salada.
Não curto o sarcasmo em sua voz, mas ignoro.
— Não, muito pelo contrário... — cantarolo colocando nossos
pratos de massa na mesa.
Zoe levanta a sobrancelha bem feita.
— Espera... O que está rolando?
Hesito. Eu tinha me perguntado a tarde inteira como contar a Zoe e,
para falar a verdade, embora estivesse com certo receio de contar a ela que
tinha concordado em me casar com Liam, também estava empolgada para
dividir o acontecimento com a minha melhor amiga.
— Hum, eu tenho algo pra contar. — Tento ficar séria.
Zoe está quase saltando por cima da bancada de tanta curiosidade.
— Contar o quê?
— Liam me pediu em casamento.
Os olhos dela se arregalam e seu queixo vai ao chão.
— Como é que é?
— Sim, pediu! — Já não consigo esconder o sorriso de novo.
Zoe parece horrorizada, como se eu tivesse contado a ela que a
semana de moda de Nova York nunca mais aconteceria.
— Puta que pariu! Isso é... Esse cara é realmente sem noção!
— Sei que é inesperado, eu fiquei chocada também quando ele
propôs, mas...
— Espera... você não está sequer cogitando aceitar este absurdo,
não é?
— Bem, na hora eu meio que tive essa reação, afinal nos
conhecemos há tão pouco tempo e é tudo tão complicado, mas... eu aceitei.
— Não! — Ela dá um pulo para trás, furiosa. — Enlouqueceu? Você
não pode acreditar que seja uma boa ideia casar com esse cara!
— Zoe, não surta, concordo que esteja surpresa...
— Surpresa? Estou apavorada por você! Eu sabia que estava
apaixonada por ele, porém eu achei que fosse algo temporário, que a
qualquer momento iria perceber que este relacionamento não daria em
nada...
— Como assim pensou que não fosse dar em nada? Você deveria
estar torcendo por mim e não o contrário! — Começo a ficar brava também.
— Não torço contra você, muito pelo contrário! Por isso que estou
em choque com essa sua decisão absurda! Casar com Liam Hunter? Emma,
você pirou!
— Não acredito no que está fazendo! Eu achei que ficaria feliz por
mim!
— Feliz? Há quanto tempo conhece esse cara? Não sabe
praticamente nada sobre ele, e o pouco que sabe é de arrepiar! Ele é rico,
arrogante, controlador e desde que começou a sair com ele sua vida virou
uma bagunça!
— Não é verdade!
— É verdade e sabe muito bem! Está se enganando, no fundo sabe
que eu tenho razão! Não pode aceitar se casar com um cara desses sem
pensar nas consequências!
— Está sendo exagerada! Eu sei que se preocupa comigo, mas não
devia, eu sei exatamente o que estou fazendo! E Liam não é esse monstro
que está pintando!
— Você não sabe nada sobre ele, por acaso vai me dizer que
conhece sua família, por exemplo?
Eu fico vermelha, recuando.
— Ainda não, mas...
— E o que sabe sobre seu passado? Você me disse na semana
passada que conhecia mais Ethan, o motorista, do que seu namorado, isso
lhe parece normal?
— Eu posso conhecê-lo a partir de agora...
— Acredita mesmo que ele vai permitir? Liam é um escroto
controlador! Ele faz o que quer com você e você permite!
— Não sabe de nada sobre nosso relacionamento, Zoe, cale a boca!
— Eu posso muito bem imaginar, acha que sou idiota? Acha que
não sei a fama dele? Todos estes joguinhos sexuais que ele gosta. Ah,
pensou que eu não soubesse? Eu conheço muita gente, Emma, e as pessoas
comentam! Liam nunca fica com uma mulher por muito tempo! Ele caça,
usa e depois joga fora e o máximo que elas têm como lembranças são joias
e roupas de grife!
— Liam me pediu em casamento, não está me jogando fora!
— Ele fez isso porque você o traiu! Não acha bizarro? Ele quer te
prender, quer te dominar e você está deixando!
Eu respiro fundo, tentando impedir que as palavras cruéis de Zoe
me contaminem.
— Zoe, eu sei que parece insensato, mas não é! Por favor, eu estou
feliz, será que não pode ficar feliz por mim?
— Eu acho que você é louca, sinceramente! Que deveria dizer não a
Liam Hunter! Está pensando que conseguirá mudá-lo, mas está errada.
Homens como Liam não foram feitos para garotas como nós! Sei que tudo o
que ele te dá pode parecer maravilhoso, mas... isso vai acabar mal pra você!
— Está sendo cruel e maldosa! — Eu começo a chorar. — Está me
magoando! Eu achei que ia ficar feliz por mim! Mas não pode, não é? Por
que faz isso?
— Estou só tentando fazê-la enxergar a realidade! — insiste. —
Liam é um cara rico que te presenteia com todas essas roupas, acredito que
esteja se iludindo...
— Ah para! Acha que eu me importo com essas coisas? Acha que
sou você? Ah, espera... Por acaso toda essa objeção é porque está com
inveja?
— Claro que não! Por que eu teria inveja de você? Na verdade eu
começo a pensar que é você que tem inveja de mim! Eu sempre fui muito
feliz com o Jackson, este sim, um homem incrível e que em breve vai se
casar comigo, enquanto você nunca conseguiu um namorado e...
— Ah, cala a boca! Nunca tive inveja de você e Jackson!
— Mentira, tinha sim! Sempre quis o que nós tínhamos!
— E você está se roendo de inveja de mim e Liam! Não pode
aceitar que eu, a garotinha sem graça, conseguiu ficar noiva de um
milionário que a enche de presentes! Era tudo o que você queria não é
mesmo? Fica torrando a paciência do Jackson para te levar a lugares caros
quando ele nem pode! Por isso não se casaram até hoje, você vive dizendo
que o Jackson precisa ter um bom emprego para poder dar a você as coisas
fúteis que preza tanto!
— Que maldade Emma! É o que pensa de mim? Que bela amiga
você é! Acho que o asqueroso do Liam Hunter já está mudando você!
— Você que é asquerosa! Não quer que eu seja feliz! Não quer que
eu tenha mais do que você! Mais roupas, mais dinheiro, mais amor!
— Chega! Não sou obrigada a ficar ouvindo essas coisas! Retire o
que disse!
— Não retiro nada! Estou de saco cheio de você me colocando pra
baixo! Estou farta!
— Então vá embora! Se muda para o castelo do príncipe Liam
Hunter! E seja muito feliz com todas aquelas roupas e joias, eu não me
importo!
— É exatamente o que eu vou fazer! Não consigo mais ficar aqui
aturando uma invejosa como você!
Corro para o quarto, ignorando minhas lágrimas e pego uma mala
jogando coisas dentro sem me importar com o que estou colocando.
Zoe aparece na porta.
— Espero que não volte chorando, dizendo que eu tinha razão,
quando Liam te chutar!
— Vá para o inferno, sua vaca! — grito, fechando a mala e
passando por ela. — Aposto que vai sentir falta de usar minhas roupas
caras! Eu deixei algumas pra você se divertir, é só o que te importa, não é?
Tomara que o Jackson veja a vadia interesseira que você é e a chute pra
longe!
— Ah, não serei eu a chutada, pode apostar!
Bato a porta e saio do apartamento sem olhar pra trás.

***
Eu não sei há quanto tempo estou chorando, encolhida na cama de
Liam, quando escuto passos se aproximando.
Eu tinha chegado no começo da noite e, para minha sorte, Eric
estava lá e me autorizou a subir, ficando horrorizado com a minha cara
inchada de choro.
Ele me levou para dentro e me deu um copo de água, enquanto
soluçava e tentava explicar a briga horrorosa que aconteceu entre minha
melhor amiga e eu.
Ex melhor amiga.
Só de pensar nisso, sinto meu coração voltar a doer e começo a
chorar de novo.
— Emma?
Abro os olhos e Liam está sentado ao lado da cama me olhando com
uma expressão preocupada.
— Por que está chorando? O que diabos aconteceu?
Eu fungo e me sento.
— Eu briguei com Zoe.
— O quê?
— Quando eu contei a ela que tinha aceitado me casar com você,
ela surtou. Ela... — Soluço, ainda não conseguindo repetir as palavras
cruéis de Zoe.
O pior é que, embora eu me sinta horrível com a reação de Zoe, não
posso negar que muitas das suas acusações tinham deixado uma marca de
insegurança e incerteza em meu peito.
Porque, por mais que eu esteja feliz, sei que não estou totalmente
segura da minha decisão. Sei que Zoe tinha alguma razão em ter medo por
mim.
Eu não conheço Liam de verdade.
E que garantia eu tenho que ele vai me deixar conhecer?
— Por isso está assim? — Ele passa a mão por meu rosto, secando
minhas lágrimas. — Se soubesse que estava aqui teria vindo mais cedo. Por
que não me ligou?
— Eric me contou que chegaria mais tarde porque estava numa
reunião de negócios. Não queria atrapalhar e eu estava tão mal que só
queria me encolher e chorar.
— O que sua amiga disse para ficar deste jeito?
Eu o encaro. Sem querer dizer.
— Liam, eu quero conhecer seus pais — digo de repente.
— O quê?
— Agora. Por favor. Eu preciso disso, preciso começar a te
conhecer de verdade, porque não quero que Zoe tenha razão. Por favor...
Está na hora de eu começar a fazer valer os termos do meu contrato.
Capítulo 22

Espero a resposta de Liam segurando minha respiração. No fundo,


sei que talvez esteja sendo precipitada e temerária e muito influenciada pela
briga com Zoe que, além de ter me magoado, serviu também para acabar
com a segurança que eu havia adquirido depois que Liam assinou o
contrato.
— Emma, eu assinei a porcaria do seu contrato — diz devagar,
usando aquele tom frio que eu tanto conhecia misturado com uma leve
impaciência e ironia.
— Não chame o contrato de porcaria... — defendo.
Ele continua no mesmo tom.
— Eu assinei a porra do seu contrato.
— Nosso contrato de noivado — corrijo ignorando seu tom de voz.
— Assinou e espero que não esteja voltando atrás quando eu exijo que os
termos sejam cumpridos e...
— E agora você está surtando porque sua amiga te pressionou.
— Eu não...
— Vamos ter que voltar ao tópico das mentiras? Achei que já
tivesse entendido que não gosto disso. — Ele se inclina, com o olhar
incisivo, como se estivesse falando com uma adolescente birrenta. Não sei
porque, por um breve momento, me faz lembrar daquela sua história sobre
punir garotas no colégio católico. Meu rosto esquenta. Foco Emma!
— Tá. Eu surtei. Ela disse que eu nem te conheço! Como eu posso
dizer o contrário? — Olho para minhas próprias mãos enquanto resmungo
meu ponto de vista com a voz queixosa.
— Olhe pra mim. — É uma exigência. Naquele tom ríspido que só
ele sabe usar. Eu deveria ignorar, mas quem sou eu?
Eu o encaro com meus olhos chorosos.
— Você sabe quem eu sou.
— Eu não sei...
— Quem eu sou, Emma? — insiste. Exige.
— O Leão de Wall Street. Controlador, manipulador, arrogante e
poderoso bilionário que todos temem...
Ele se inclina até que seu rosto perfeito esteja a centímetros do meu.
Seus olhos dourados duas bolas de fogo de contrariedade.
— Você entrou na minha sala com um maldito contrato de noivado
fazendo valer todas as suas vontades. Com os seus termos. E diz que ainda
não me conhece?
Não consigo responder, desvio o olhar, intimidada com sua força. É
muito. É pouco.
É perturbadoramente atraente de uma forma que me deixa perdida
dentro de mim mesma. Assim como suas penetrantes palavras. Todo meu
ser rejeita esta nova e fascinante teoria que sai de sua boca. Seus dedos
enquadram meu rosto, forçando meus olhos a se fixarem nos dele. Suave e
furioso ao mesmo tempo, numa antítese de sentimentos que só poderia vir
dele.
— Você me conhece mais do que qualquer pessoa.
Eu me desnorteio, quando ele se afasta e começa a tirar a roupa
enquanto vai em direção ao closet.
— Agora desfaça esta cara de choro e vamos jantar, Eric disse que
não comeu nada. — Escuto-o antes de entrar de vez no closet e eu fico ali,
atordoada, tentando lembrar se, em algum momento, ele respondeu meu
questionamento sobre conhecer seus pais.
Puta que pariu, ele tinha mudado totalmente o foco numa
reviravolta de 360 graus e me deixado sem fala.
Eu me levanto e vou para o banheiro. Ao me olhar no espelho tomo
um susto. Estou horrorosa!
— Droga — resmungo, mortificada enquanto procuro uma escova
para pentear meus cabelos, obviamente não encontro. Realmente, Liam não
tinha jeito de quem passava horas penteando os cabelos cor de cobre pela
manhã.
Bufando, opto por prendê-los num coque alto e lavo meu rosto
inchado de choro com água gelada.
Ao voltar para o quarto, Liam ainda está no closet. Eu corro para
minha bolsa e pego um gloss, passando rapidamente. Isso deve servir para
melhorar minha aparência sofrida. Então me questiono se devo trocar meu
pijaminha estilo baby-doll por algo mais recatado.
Entro no closet para perguntar a Liam se Eric ainda está na casa, já
que não faço ideia de que horas são agora e paro ao surpreendê-lo vestindo
apenas uma calça folgada de pijama, que se sustenta precariamente em seu
quadril, deixando o torso de estátua grega à mostra.
Ah sim, cada pedacinho do meu ser que estava arrasado, deprimido,
cabisbaixo se anima imediatamente, todas as minhas células acordando e se
espreguiçando.
Ele está procurando algo na gaveta e sei que é uma camiseta. Nada
justo.
— Ei! — Ele se vira e me pega o observando. — Sentindo-se
melhor?
— Estava parecendo uma bruxa.
Ele ri.
— Não gostei de vê-la chorando e triste, embora não vá dizer que
parecia uma bruxa.
— Está sendo legal. Sim, estou me sentindo melhor agora. — Não
quero dizer que é mais por ter me deliciado com sua visão perfeita do que
por ter dado um up no meu visual.
— Venha aqui — ordena suavemente. Parece esquecido da missão
de procurar uma camiseta. Gosto disso e me aproximo sem demora até
parar diante dele. Mais perfeito ainda.
Como ele consegue? Meu pulso acelera, só com aquela proximidade
inebriante.
Então, suas mãos estão em meu rosto e seus olhos me sondam.
— Isso é gloss? — Levanta a sobrancelha num misto de
divertimento e incredulidade e seus dedos tocam meus lábios cor de rosa
brilhante.
— Uma garota pode tentar parecer bonita mesmo depois de ter
chorado a tarde inteira. — defendo-me, perdendo um pouco do ar quando
ele leva o dedo à própria boca.
— Morango.
— Sabe que pode provar direto da minha boca, não? — provoco,
enquanto quero gritar “porra, me beija forte. E não pare”.
— Gostei do seu cabelo assim. — Desce os dedos por meu pescoço,
ignorando minha provocação. — Consigo fazer isso. — E sem aviso, me
vira e deposita um beijo em minha nuca, me arrepiando da ponta dos
cabelos até os dedos dos pés.
Assim. Mesmo.
Fecho os olhos e suspiro alto, enquanto seus lábios continuam
deslizando em meu pescoço, até alcançar minha orelha.
— Não gostei do seu gloss de morango, Senhorita Jones.
Ah, quando ele me chama assim... Manda um milhão de mensagens
de pura sacanagem para o meio das minhas pernas. É vergonhosamente
impossível evitar.
— Então terei que beijá-la de outras maneiras esta noite.
— Não me oponho... — murmuro fracamente, relaxando meu
corpo, que começa a ter ideias próprias com as promessas dos lábios dele. E
termino de perder o resto de contato com a realidade quando sinto sua
ereção bem desperta atrás de mim. Ah, por favor...
Porém, justo quando estou começando a deslizar para uma bem-
vinda inconsciência, Liam me solta.
Não sei como não desmoronei no chão acarpetado do closet.
— Vamos jantar, Eric deixou massa pronta.
Jantar? Como ele pode pensar em comer alguma coisa quando estou
ali me oferecendo como prato principal, sobremesa e cafezinho?
Engulo minha frustração seguindo-o para fora do quarto.
— Eric já foi embora?
— Eu o dispensei assim que cheguei.
— Ah, era justamente sobre isto que eu ia perguntar quando entrei
no closet e me distraí com... enfim, ia perguntar se eu devia trocar de roupa.
Liam lança um olhar para meus trajes.
— Assim está ótima pra mim.
— Se Eric estivesse aqui ia me fazer trocar de roupa? — provoco,
me sentando na bancada.
Ele franze os olhos perigosamente.
— Você iria gostar de se exibir para meu chef?
Eu fico vermelha.
— Apesar de Eric ser uma graça, acho que não.
Oh, oh. Os olhos de leão se fecham ainda mais enquanto ele vem
em minha direção.
Estou encrencada?
Ele se apoia na mesa, me estudando. Mantenho o contato visual.
— Então Eric é “uma graça”. Defina.
— Definindo em uma palavra, eu quis dizer que ele é bonitinho.
— E como você me definiria?
Ah, Liam, como se fosse fácil definir você em uma palavra!
Ele cruza os braços em frente ao peito diante do meu silêncio.
— Vamos, tente. Uma palavra.
— Perigoso — murmuro.
— Foi o que pensou quando entrou na minha sala a primeira vez?
— Ele se afasta e começa a mexer nas panelas.
— Não, daquela vez eu pensei “insuportavelmente chato e grosso”.
Liam ri.
— São três palavras.
Faço um sinal de descaso com a mão e me levanto, pegando os
pratos e colocando-os na mesa, em seguida os talheres.
— Que seja. É a verdade. E também pode acrescentar lindo, aos
adjetivos.
Ele levanta uma sobrancelha, enquanto pega um vinho na geladeira
e começa a abri-lo.
— Não faça essa cara, sabe muito bem que é lindo! Pelo amor de
Deus! Você é deslumbrantemente bonito. Agora me diz. — Eu me sento de
novo, enquanto ele serve duas taças de vinho tinto. — O que você pensou
quando me viu pela primeira vez? Pode usar quantas palavras quiser.
Ele pega a taça e bebe um gole. Maravilhosamente lindo.
— Eu pensei “quero colocá-la nua sobre meu colo e dar umas boas
palmadas neste traseiro perfeito”.
— Traseiro perfeito? — É a minha vez de levantar a sobrancelha.
Nunca tinha achado minha bunda grande coisa, confesso.
— Eu te digo que gostaria de dar uns tapas e você só comenta sobre
eu gostar da sua bunda?
— Acho que nunca lido bem com elogios... Sempre fui a garota
legal, esquisita e de beleza comum.
— Acredite, você está muito longe de ser comum — ele diz tão
casualmente enquanto começa a nos servir a massa de talharim com molho
vermelho de Eric, que eu acho que ouvi errado. Mesmo assim suas palavras
me deixam loucamente corada e com o coração derretido de satisfação
boba. É possível se apaixonar mais ainda por alguém?
— E como me definiria agora. Uma palavra — peço.
Ele para e me encara. Seguro a respiração.
— Problemas.
Eu engulo em seco, surpresa com sua resposta. Ou nem tanto.
Liam parece perdido em seus próprios pensamentos quando se
afasta para devolver a panela ao fogão e fica por lá. Propositalmente? Não
sei.
Eu me sinto grata por ele se afastar enquanto organizo meus
pensamentos.
Sinto medo. Sinto certo pesar. Sinto-me desafiada, inferno!
Se eu sou um problema, quer dizer alguma coisa, não é?
Eu sou um transtorno, um incômodo, um obstáculo.
Também sou um enigma, um quebra-cabeça, um mistério a ser
resolvido.
Bom, eu posso afirmar que a recíproca era verdadeira.
Liam volta a se sentar diante de mim.
— Espero que goste de massa. Ou eu posso demitir Eric amanhã.
Eu rio começando a comer.
— Hum, está delicioso. Sim, eu gosto de massa e você não precisa
demitir o pobre do Eric.
— O Eric que é uma graça. — Ele completa com ironia. — Ainda
estou pensando se devo mantê-lo aqui com a minha noiva usando baby-
dolls sexy pelo apartamento. — Então ele levanta o olhar e me encara. —
Isso quer dizer que vai ficar, não é?
Sua pergunta soa um tanto insegura. Quase um desafio.
Eu mordo os lábios e me lembro do motivo de eu estar ali. A
horrível briga com Zoe. E isso me deixa triste de novo. Mexo a comida no
prato de um lado para o outro, já não sentindo fome.
— Emma? — Liam insiste.
Eu suspiro.
— Que opção eu tenho? — Eu sorrio amarelo ao encará-lo. — Se de
jeito nenhum eu vou voltar para o apartamento da Zoe agora!
— Tentarei não ficar puto por você estar considerando morar
comigo como única e sofrível opção.
— Não é bem assim, você sabe todos os meus motivos, eu já te
disse hoje à tarde!
— Certo. Então o que você quer? Eu posso ligar e conseguir um
apartamento para você neste prédio. Eu não vou com a cara do russo do
sétimo andar mesmo. Acho que ele é mafioso.
— Oh Deus, não vai fazer isso, é ridículo!
— Quer que eu compre um apartamento para você bem longe
então?
— Claro que não!
— O que você quer?
— Nada que envolva você gastar dinheiro comigo, certamente.
— Sabe que você será rica quando se casar comigo, não sabe?
Arregalo os olhos. Certo, Liam é absurdamente rico. Eu nunca tinha
pensado que minha vida iria mudar bruscamente quando me casasse com
ele.
— Esse casamento ainda pode demorar muito, lembra? — Minha
resposta o faz fechar a cara e se manter focado no macarrão.
E me faz focar nele, que fica inesperadamente bonitinho comendo
massa.
Eu sorrio.
— Você é uma graça também, Senhor Hunter — comento voltando
a comer meu próprio macarrão e sinto Liam me observando.
— Agora estou na mesma categoria do meu chef que você acha
bonitinho, mas que não quer transar?
Eu o encaro.
— Você está na categoria “transável”, definitivamente.
— Ah é? — Ele levanta a sobrancelha. — Existe mais alguém nesta
categoria?
— Me deixe pensar... — Mastigo devagar o encarando enquanto ele
nem pisca aguardando minha resposta. — Hum... — Sacudo a cabeça
negativamente e tomo um gole de vinho.
— Não está comendo nada — ele diz como se não estivesse
preocupado um segundo atrás com a minha resposta sobre com quem eu
gostaria de transar.
Era realmente um exercício de atenção acompanhar suas mudanças
bruscas de humor.
— Não estou com fome na verdade. — Ainda me sinto levemente
deprimida por causa da briga. E também insegura sobre o meu futuro
imediato, depois de Liam questionar se eu ficaria ali com ele.
O que vou fazer?
Mandar meus planos de ir com cuidado naquele noivado as favas e
me mudar de vez para a toca do leão?
— Está franzindo a testa — ele comenta e eu bufo o encarando.
Tão lindo com seus cabelos bagunçados, seu peito nu para minha
apreciação e seu olhar entre preocupado e exasperado.
E de repente eu sei do que preciso. Pelo menos por agora.
— Eu quero jogar — digo com firmeza. É a sua vez de franzir a
testa. — Agora. Por favor?
Espero sua resposta, nervosa e insegura agora que as palavras
tinham saído da minha boca. Não era assim que as coisas funcionavam?
Liam havia dito. Eram suas regras.
Mas preciso do poder que ele tinha de me fazer esquecer totalmente
da realidade hoje.
— É o que deseja, Senhorita Jones? — ele pergunta naquela voz...
aquela que faz até o meu útero estremecer.
Sacudo a cabeça afirmativamente, sentindo meu rosto corado e
quente.
— Venha aqui.
Obedeço sem demora, dando a volta na mesa e Liam me puxa para
seu colo. Estou tremendo quando sinto sua mão deslizando para dentro do
meu short.
— Vamos ver o quanto você deseja, Senhorita Jones — Ah, sim.
Seus dedos me encontram molhada e ansiosa. Fecho os olhos gemendo
baixinho.
Ele rosna em meu ouvido, beijando a pele atrás da minha orelha.
Começo a respirar por arquejos.
— O que você quer? — Sua voz no meu ouvido combinada com
seus dedos em mim, causam um curto-circuito em meu ventre.
— Você...
— E o que mais?
Abro os olhos, pesados e confusos.
Tão perto. Tão lindo.
Quero beijá-lo. Miro sua boca e passo a língua por meus lábios
sequiosos.
Antes que eu possa tomar qualquer atitude quanto a esta vontade ele
retira os dedos e eu quero xingar de frustração.
Então o vejo levar os dedos à boca e lamber.
— A melhor sobremesa de todas.
Ai Meu Deus. Começo a pulsar de novo e ele nem está mais me
tocando.
De repente estamos levantando e me vejo sendo puxada em direção
ao quarto.
Oba!
— Para a cama.
Nem precisa pedir duas vezes! Eu me deito sem demora e o observo
se afastar para o closet.
Que diabos?
Fico ali, ansiosa e sem saber o que fazer. Tiro a roupa?
Ou ele pretende cortar como costuma fazer? Hum, espero que se
lembre do nosso trato, eu gosto deste baby-doll, foi presente da minha mãe
no último Natal. Não quero vê-lo picotado de jeito nenhum.
Liam volta para o quarto e prendo a respiração em expectativa me
esquecendo do meu diálogo interior sobre roupas de dormir.
Percebo que tem algumas coisas em suas mãos que ele deixa na
mesa de cabeceira, continuando com algo metálico quando se aproxima.
Arregalo os olhos ao ver uma algema.
Algemas!
— Está com medo?
— Não — respondo corajosamente.
Ele chega perto e franze o olhar.
— O que devo fazer com este seu lindo baby doll?
— O corte está vetado — digo rápido e ele sorri.
— Tudo bem. Eu também gosto dele.
Então se ajoelha na cama e puxa o meu short me desnudando da
cintura para baixo e, quando sobe, deposita um beijo em meu umbigo antes
de puxar minha blusa.
Estremeço quando fico nua, a sua mercê. Minha pele já está
arrepiada e quente.
— Me dê suas mãos.
Obedeço e em seguida meus pulsos estão atados à cama.
Tento me mover, sem sucesso e sinto um leve pânico.
— Você tem a chave, não tem?
— Acho que sim...
— Liam...
Ele ri e se inclina para me beijar de leve.
— Relaxa, baby. Eu estou no controle.
— Devo ficar relaxada usando isto? — pergunto com ironia.
— Se não fizer o que eu mando posso te aplicar um castigo. E não
será com a pele de coelho. Daquela vez você teve sorte. Que tal o couro? —
Ele pega algo que deixou na cabeceira.
Uma venda.
— Feche os olhos — ordena e, quando eu o faço, desliza a venda
sobre minha cabeça.
Estou na escuridão. Algemada.
Meu coração dispara no peito de pura adrenalina.
Sinto as mãos de Liam deslizando sobre meus braços até
alcançarem meus seios.
— Seu coração está disparado. — Ele se inclina e sinto seu hálito
em meu ouvido. — Confia em mim?
Hesito um instante, antes de sacudir a cabeça em afirmativa e ele ri
suavemente, beijando minha boca de leve.
— Eu vi sua hesitação.
E então se afasta.
Fico ali, tentando desacelerar meu pulso, é impossível.
Uma música começa a tocar.
Nunca ouvi antes. Tem uma batida sexy. Forte. Isso me relaxa um
pouco. Concentro-me na batida, no som que desliza em meus ouvidos.
Escuto passos e volto a ficar tensa. Embora seja uma tensão boa. É
Liam que está ali, me sondando. Rodeando. Apreciando.
— Gosto de vê-la assim.
Surpreendo-me ao ouvir sua voz em minha barriga.
Como ele se movia daquele jeito tão sorrateiro e silencioso, como
um gato?
Um gato não, um leão, corrijo.
Então ouço algo e não sei o que é. Apuro os ouvidos e meus pulsos
presos se remexem.
— Quieta! Ou vai se machucar — Sinto sua mão sobre meus pulsos,
me aquietando. — Shi... — A boca está sobre a minha. Seu gosto em minha
língua.
— Que barulho é esse?
Ele ri. Morde meu queixo e depois lambe.
Escuto o barulho agora no meu ouvido... parece...
Arregalo os olhos ao reconhecer.
— Lembra-se de que esteve fuçando nas minhas coisas como uma
garota curiosa? O que eu lhe disse naquele dia?
— Que usaria todas aquelas coisas sacanas em mim. — Mal
consigo respirar agora, só ofego.
— Sim, baby.
O barulho se afasta e sinto a vibração em meu seio.
Puta. Que. Pariu.
E desce. No meu estômago.
Minha barriga se contrai. Mexo minhas pernas em expectativa
quando desce mais.
— Ainda não.
O barulho cessa.
Mas o quê...
Algo desliza por meu seio. É como um metal. Frio. Com pontas.
Por baixo da venda, franzo o olhar curiosa. Tento me recordar de
tudo o que tinha visto na gaveta de perversão de Liam. Um monte de coisas
esquisitas e...
— Ahhhhhh — gemo alto quando a coisa com pontas rola por meu
mamilo, causando uma sensação incrível que reverbera em meu corpo.
— Gosta? — Liam pergunta e sacudo a cabeça afirmativamente.
— Sim, embora não faça ideia do que seja...
Ele ri.
Então sinto a tortura em meu outro seio. São dois agora?
Sim, são dois! Arranhando e provocando, até que sinto a língua
quente e úmida de Liam rodeando meu mamilo em vez dos metais. E é tão
bom quanto.
— Seus seios são extraordinários... — Ele passa a sugar meu outro
mamilo. — O que mais eu poderia fazer com eles, Senhorita Jones?
Eu me contorço embaixo dele, em expectativa, então o sinto deitar
do meu lado. Seu corpo nu e excitado roçando o meu. Seus lábios fazem um
caminho até minha orelha, enquanto suas mãos se enchem com meus seios.
— Um dia muito em breve eu vou foder com eles, o que acharia
disso, Senhorita Jones?
Oh Deus...
Eu não consego nem imaginar, mas tenho certeza que vou gostar.
— Sabe de uma coisa, eu mudei de ideia — diz de repente,
retirando a venda dos meus olhos, que piscam tentando se acostumar com a
sutil claridade do quarto. — Quero que veja o que vou fazer com você.
E eu o vejo lindo e nu, pairando sobre meu corpo cativo. Seus beijos
descem por meu ombro, passam por meus seios e chegam a meu umbigo.
Ele desliza a língua para dentro. Arqueio o corpo, me oferecendo.
— Você sempre soube que estes jogos são de prazer e dor. — Sua
voz é quase hipnótica e vibra em meu ventre. — Hoje, será sobre o prazer...
Então desce mais e escuto de novo o barulho do vibrador e antes
que eu possa me preparar, ele está deslizando-o para dentro de mim. E Liam
está ali, ajoelhado entre as minhas pernas abertas, acompanhando
atentamente minha reação.
Oh. Meu. Deus.
— Está gostoso? — pergunta com aquele sorriso sacana e eu sacudo
a cabeça.
— Quero que responda.
— Sim... — gemo — Ah, por favor...
— Por favor, o quê? — Ele se inclina sobre mim, beija meu clitóris.
Wow...
— Isso...
— Assim? — Sua língua me contorna.
Eu só consigo me retorcer e gemer. As sensações se avolumando no
meu interior de maneira alarmantemente rápida. O vibrador entrando e
saindo pelas mãos de Liam.
A boca de Liam me torturando de maneira pecaminosa. A língua de
Liam me acariciando perversamente...
— Porra! — eu grito um palavrão quando explodo num orgasmo
alucinante que faz meus olhos rolarem e meu corpo trepidar sob o duplo
tormento de Liam.
E ainda estou sentindo as ondas de prazer, quando ele se move
como um felino, retira as algemas numa rapidez desconcertante me virando
bruscamente na cama, depositando um tapa ardido no meu traseiro.
— Eu vou foder você com força agora, Senhorita Jones — diz com
sua voz rouca de tesão enquanto escuto o barulho do pacote de preservativo
se rasgando.
— Tudo bem — digo, fazendo-o rir ao se inclinar e me penetrar.
Gememos juntos, quando ele se move devagar dentro de mim. Sua
respiração pesada em meu ouvido, seus dedos percorrendo a lateral do meu
corpo e se infiltrando embaixo para tocar onde seus lábios estiveram antes.
— E isso, é gostoso? — indaga mordendo minha orelha.
— Sim...
— Melhor que o vibrador?
— Está com ciúme do seu brinquedinho? — provoco.
Ele estoca com mais força, fazendo-me gritar de susto e prazer.
— Ainda não descartei a punição, Senhorita Jones. — Morde meu
ombro.
— Sim, você é... — respondo por fim, começando a sentir o prazer
se construindo de novo, com as batidas ferozes das estocadas de Liam, cada
vez mais rápidas. Cada vez mais fundo. Até sua estocada final, que o faz me
apertar mais forte e grunhir em meu ouvido, gozando e me levando com ele.

***
Acordo de repente e sinto-me meio assustada, tentando ajustar meus
olhos à escuridão do quarto e me localizar.
Não estou no meu quarto, meu cérebro adormecido se lembra dos
acontecimentos do dia anterior quando reconheço o quarto de Liam.
Olho para o lado da cama procurando-o e encontro apenas o vazio.
Estou sozinha. Tento me lembrar do que aconteceu depois que
transamos, eu devo ter adormecido porque não me recordo de nada.
Liam deveria estar ali. Ainda está escuro lá fora, pelo amor de
Deus! E ele tinha prometido que ia dormir.
E mais: que ia dormir comigo quando eu estivesse lá. E trato é trato.
Havia um maldito contrato para comprovar.
Jogo as cobertas para o lado e percebo que estou usando o meu
pijama. A que horas tinha acontecido? Não me lembro. Liam havia acabado
literalmente comigo, penso com um sorrisinho devasso.
Se eu ficasse morando com ele naquele apartamento... poderia se
tornar uma rotina.
Um arrepio percorre minha espinha com as inúmeras possibilidades
pervertidas que rondam minha mente.
Não é segredo para mim que a parte sexual do nosso relacionamento
seria a parte fácil. Nem ligo mais para os jogos depravados de Liam. Na
verdade estou descobrindo que gosto deles. Muito.
Gosto do controle dele sobre mim na cama. Gosto de me submeter a
ele. É excitante saber que ele tem aquele poder sobre mim. Que pode me
dominar inteiramente.
Dor e prazer. Eu posso lidar com isso sem o menor problema.
E saber que estamos só começando e que ainda há tanta coisa que
Liam pode me ensinar... eu mal posso esperar.
Mas infelizmente a vida não é só sexo.
Liam me pediu em casamento e eu aceitei.
Estamos noivos e estou por um triz para concordar em morar com
ele. Em dividir uma vida com ele. E por mais que o sexo seja incrível. Liam
precisa deixar que eu entre em sua vida. Assim como tenho que deixar que
ele entre na minha.
E essa será a parte difícil.
Com um suspiro, saio da cama e eu vou atrás do meu leão arredio.
Eu o encontro na sala escura, sentado no sofá. Tem um laptop sobre
o colo e digita furiosamente.
Antes que me veja, eu fico observando. Por um momento parece
compenetrado, percebo linhas de tensão em sua testa franzida e seus dedos,
às vezes, deixam o teclado e passam inquietos pelos cabelos bagunçados.
— Ei — chamo me fazendo notar e ele parece confuso ao me ver,
quase aéreo.
— O que está fazendo acordada? — De novo seus dedos passam
pelos cabelos e depois pelos olhos. Droga, ele está com sono? Por que não
dorme?
Eu me aproximo e sento do seu lado.
— Na verdade sou eu que devo fazer essa pergunta.
Ele volta a digitar.
— Volte a dormir.
— Eu estou aqui para lembrá-lo que tenho um contrato dizendo que
você deve dormir.
— Emma, eu estou ocupado.
— Você precisa dormir.
— Eu dormi.
— Aposto que é mentira e, se você não gosta de mentiras, muito
menos eu — digo petulante. Liam não vai se livrar de mim facilmente. —
Então, por favor, pode desligar este laptop e voltar para a cama comigo? —
Passo minhas pernas por cima das suas. — Temos um tópico que diz que
deve dormir comigo quando eu estiver aqui, então...
— Não vou conseguir dormir.
— Por que não?
Ele bufa e fecha o computador com um baque jogando-o quase de
qualquer jeito na mesa de centro.
— Por que eu já tentei, ok? E eu tive um maldito pesadelo.
— Oh. — Finalmente entendo. — Por isso não quer dormir? Por
que está com medo de ter outro pesadelo? — pergunto com cuidado.
— Porra, não tenho medo! Não sou uma criança que não pode
dormir por causa de um pesadelo ridículo, Emma!
Ele se irrita e tenho vontade de dizer que ele parece exatamente
isso, mas sei que ficará ainda mais irritado. E quero entendê-lo. Pelo visto
Liam não dorme direito não apenas porque tem que ficar trabalhando e
ganhando dinheiro.
Tem muito mais coisa ali. Começando pelos pesadelos.
A questão é que ninguém tem pesadelos à toa.
Por outro lado, será que hoje estaria disposto a falar comigo sobre
eles? Eu duvido muito.
— Certo — recuo. — Então pode ir dormir agora.
— Estou com dor de cabeça, não vai funcionar.
— Toma um analgésico.
— Eu odeio essas drogas.
Eu rolo os olhos.
Puta merda, pior que criança!
— Tudo bem — falo com suavidade e estendo a mão tocando seus
cabelos. — Então eu vou fazer carinho em você, até que durma.
Ele se vira pra mim e parece ainda zangado, percebo também um
toque de vulnerabilidade em seus olhos.
— Não vai funcionar.
— Funcionou antes — murmuro tirando as pernas das dele e me
ajeitando no sofá. — Vem aqui.
— Emma... — resiste, porém insisto puxando-o até que sua cabeça
esteja deitada em meu colo.
— Shi... Apenas relaxe, baby.
— Eu só vou ficar aqui para que você me deixe em paz —
resmunga fechando os olhos.
Sorrio e continuo com meus dedos em seus cabelos.
Enquanto estou acalentando-o em meu colo me dou conta que, Liam
Hunter pode ser o Leão de Wall Street, o bilionário e implacável investidor
da bolsa de valores, porém escondia do mundo que dentro dele havia uma
criança que não dormia por causa dos pesadelos e eu desconfiava que eles
tinham alguma coisa a ver com o fato de ele ser tão fechado
emocionalmente.
E, quando finalmente adormece, pergunto-me se vai permitir que eu
descubra sobre seus medos.
E o mais importante, serei capaz de libertá-lo deles?
Capítulo 23

Sou acordada por um som alto de rock pesado.


E estou sozinha na cama. De novo!
De alguma maneira eu tinha ido parar na cama, depois de adormecer
acariciando os cabelos de um Liam envolto num sono tão tranquilo quanto
o de um bebê. Isso me faz sorrir enquanto jogo as cobertas para o lado e me
levanto.
Não estou brava por Liam ter saído da cama, pelo menos eu tinha
certeza que ele conseguira dormir boa parte da noite depois do tal pesadelo.
Também devo confessar que me sinto mais tranquila por saber que o motivo
de Liam não dormir tem a ver com pesadelos e não comigo.
Bem no fundo eu tinha uma insegurança tola de que ele tivesse
alguma coisa contra ficar comigo numa cama. Quer dizer, não que houvesse
alguma dificuldade de ele estar em uma cama comigo para fins sexuais,
porém dormir com alguém era algo infinitamente mais íntimo e tinha tudo a
ver com confiança e carinho. Liam se recusar a dormir comigo me deixava
com uma séria sensação de rejeição que eu não conseguia evitar.
Agora sei que meu receio era infundado. As questões de Liam com
o sono eram algo mais profundo e antigo o que me deixava inquieta e
bastante curiosa para saber por que ele era assim.
E, quando chego à cozinha e o vejo compenetrado em seu notebook,
me pergunto o quanto ele estaria disposto a falar sobre o assunto comigo.
— Nine Inch Nails é realmente um despertador eficiente — observo
sorrindo, o sorriso congela em meu rosto, quando Liam me encara muito
sério, quase aborrecido, antes de voltar a atenção para o computador
novamente.
— Não quis te acordar. Se a incomoda, pode desligar e voltar a
dormir.
Wow. Ele está de mau humor? Imaginei que uma boa noite de sono
faria bem para seu mau gênio, pelo visto não o suficiente.
— Não, eu preciso mesmo acordar e ir pra faculdade... — respondo
casualmente, ignorando a vontade de me aproximar e bater sua cabeça dura
nas teclas do notebook.
Ele não responde e tento manter minha serenidade.
— Dormiu bem? — indago com suavidade para ver se surte algum
efeito.
Em resposta, o vejo levar às mãos aos cabelos. Franzo o cenho
analisando-o.
Ele parece nervoso. Talvez frustrado.
Algo o está incomodando, certamente.
Eu?
Eu ter descoberto sobre seus pesadelos o incomoda?
— Não deveria ter ficado no sofá, estava toda torta quando eu
acordei. — É sua resposta seca.
— E a que horas foi isso? Não pode ter sido tanto tempo assim —
especulo para saber quanto tempo ele dormiu.
— O dia já estava claro. Não me admiraria se estivesse com um
torcicolo do caralho — continua, ainda com o mesmo mau humor,
massacrando as pobres teclas.
Disfarço um sorriso. Ele havia dormido a noite inteira então.
— Podia ter ido pra cama comigo.
— Eu precisava trabalhar. Aliás, eu ainda tenho.
Ok, entendi o recado. Ele estava obviamente me dispensando.
Ainda tento mais uma manobra.
— Certo, vou tomar um banho então. Cadê o Eric?
— Ainda não chegou.
— Ah que pena, estou mesmo me sentindo um pouco dolorida no
pescoço, seria ótimo uma massagem e ouvi dizer que os orientais são
fantásticos... — Pisco e dou meia-volta, aproveitando para tirar a blusa no
corredor, sabendo muito bem que Liam ainda pode me ver.
Eu mal piso no quarto quando escuto passos fortes atrás de mim e
sorrio quando me viro e um Liam transbordando fúria me puxa bruscamente
para perto. Enterrando os dedos como garras afiadas em meus braços de um
jeito que eu sei que deixará marcas roxas depois, ataca meu sorriso
malicioso com um beijo duro e punitivo, que faz minha cabeça girar e meu
corpo tremer por inteiro.
Não posso dizer que era o que eu estava esperando quando acordei.
Eu desejava um pouco de conversa franca e um certo carinho também não
seria nada mal.
Mas, porra, Liam todo bruto, fincando os dedos com força nos meus
quadris, me apertando contra sua furiosa ereção, enquanto me beija e me
arrasta em direção à cama é muito melhor! Pelo menos é o que o prazer
incandescente que pulsa entre minhas pernas e se espalha como ferro em
brasa pelo resto do meu corpo está dizendo.
Muito rápido, me vejo jogada na cama e solto um gemido frustrado
quando Liam se afasta. Abro os olhos, confusa e o vejo xingando enquanto
luta contra um pacote de preservativo.
Ah que inferno! A gente precisa dar um jeito nisso.
Finalmente ele tem sucesso em seu intento e volta pra cama, se
ajoelhando na minha frente e tirando meu short.
— Que diabos está pensando ao querer massagem do meu chef de
cozinha, hein Senhorita Jones? — pergunta baixinho, quase num rosnado,
enquanto retira a própria calça e começa a colocar o preservativo. Ah, é
uma visão e tanto. — Queria me provocar? — Ele se acaricia lentamente.
Engulo em seco, começando a tremer e fecho os olhos.
— Queria me deixar bravo? — Eu o vejo se inclinar e segurar meus
braços acima da cama, me mantendo cativa. — Ser punida? Responda! —
exige contra meus lábios.
Sinto meu ventre sendo sugado, ao senti-lo afastar meus joelhos e
ficar ali, pairando sobre mim.
— Todas as alternativas anteriores — respondo abrindo os olhos e
movendo meus quadris sinuosamente.
— Porra, Emma — ele xinga e me penetra com força.
Eu grito.
Dor e prazer. E Liam.
A melhor combinação do mundo.
Ele se move furiosamente dentro de mim, mantendo meus pulsos
presos acima da cabeça e devorando meu pescoço com beijos, chupões e
mordidas que apenas tornam o prazer mais intenso, me fazendo gemer alto,
cada vez mais perto de perder o controle. E não demora muito para que eu
esteja gozando forte, meus gritos sendo esmagados por sua boca, poucos
segundos antes de ele mesmo enterrar o rosto em meus cabelos e estremecer
em seu próprio gozo, finalmente libertando meus pulsos. E eu não pestanejo
ao envolvê-lo com meus braços mantendo-o bem perto, enquanto nossas
respirações voltam ao normal. Não quero mais soltá-lo, penso ao cerrar
minhas pálpebras pesadas. Liam pode ser um chato mal-humorado, mesmo
assim eu o quero.
É “o meu chato mal-humorado”.

***
Não queria dormir, no entanto acabo pegando no sono e acordando
mais uma vez sozinha.
Desta vez nem estou surpresa. Entro no banheiro para tomar um
banho e ao sair coloco um jeans e camiseta, desanimo ao pegar meu celular
e ver que estou muito atrasada para a aula. Solto um suspiro cansado e
digito uma mensagem para Matt, dizendo que estou adoentada e não vou à
redação hoje. Uma mentirinha não vai fazer mal a ninguém. Pelo menos eu
sei que em duas semanas minhas aulas terminarão e também estarei livre de
toda chatice daquele trabalho com Matt.
O que me faz lembrar que preciso fazer planos para depois da
formatura. Até aquele momento eu vivia a minha vidinha mais ou menos,
com meus pais pagando a maioria das minhas contas, enquanto me
dedicava àquele estágio sem graça.
Agora em poucas semanas estarei formada e precisarei arranjar um
emprego de verdade. Estremeço ao pensar que não poderei mais fugir do
meu futuro. Escolhi aquela profissão que nem tinha certeza se ia mesmo me
fazer feliz, e agora terei que me certificar que havia acertado na minha
escolha. Espero que meu pai tenha razão. Senão, terei perdido quatro anos
da minha vida.
Suspirando, saio do quarto e encontro Eric na cozinha servindo uma
linda mesa de café da manhã, que mais parece saida de um filme.
— Uau!
— Bom dia, Senhorita Jones, sente-se e tome seu café.
— Já falei que não é para me chamar de Senhorita Jones, Eric!
— Certo, Emma. — Ele coloca uma xícara de café na minha frente
e reparo que tem muffins de mirtilo. — Hum, eu adoro estes — comento
pegando um e mordendo.
— Deve gostar, é a sua receita.
Levanto a sobrancelha, confusa.
— Liam me passou e disse que você gosta. Espero que tenha ficado
tão bom quanto o seu.
Sorrio.
— Ficou sim, está muito bom! Estamos trocando receitas,
chinesinho? Quero que me passe as suas também!
— Estou sabendo que agora vai morar aqui e ser minha patroa.
— Hum, isso não está muito certo não... — Faço uma careta.
— Não? Liam pareceu ter certeza. — Eric me lança um olhar
divertido.
— Liam é cheio de razão! — exclamo meio irritada.
— Sim, ele é. — Eric ri. — Vai ser divertido ter alguém aqui para
desafiá-lo.
— Ethan o desafia o tempo todo.
— Ethan sabe exatamente quando parar e quando provocar. Eles se
conhecem há séculos. Agora você... não tem o menor senso de preservação.
— Acha mesmo que não?
— Não estou dizendo que é ruim. — Eric fica sério. — Apenas que
é algo interessante de assistir.
— E como acha que tudo vai acabar? — pergunto baixinho.
Ele dá de ombros.
— Acho que é você quem deve saber.
— Eu queria saber, Eric, eu queria muito saber... — Volto a tomar
meu café.
Quando termino, me sinto indecisa sobre o que fazer em seguida.
— Precisa de ajuda, Eric?
Ele ri, retirando a mesa.
— Não. E não vai me enrolar e me deixar em apuros com o chefe.
— Eu não te deixo em apuros.
— Eu tive que ouvir um aviso irritado sobre eu nem sequer pensar
em usar meus dotes de massagista em você.
Solto uma gargalhada.
— Liam te avisou?
— Ameaçou seria o mais correto a dizer.
— A culpa é minha, eu fiz uma brincadeirinha — confesso.
— Foi o que imaginei. Agora eu ficaria grato se daqui pra frente não
usasse a minha pessoa para provocar seu namorado. Eu gosto do meu
emprego sabe?
— Tudo bem, Eric, não vai mais acontecer, prometo!
— Ah, antes que me esqueça. Liam pediu que eu marcasse uma
hora para você num SPA.
— SPA?
— Sim, para fazer a tal massagem. Algo sobre estar com dor no
pescoço ou algo assim. Marquei às 15h, tudo bem? Ethan virá buscá-la.
— Nossa, agora eu tenho três homens controlando minha vida, que
legal! — ironizo e vou para o quarto e quando chego lá meu celular está
tocando.
Corro para atender e não reconheço a voz feminina.
— Emma Jones?
— Sim, sou eu?
— Meu nome é Samantha Arden. Você não me conhece, estou te
ligando porque seu nome foi sugerido para uma vaga de repórter.
— Sério? — Nunca tinha ouvido falar desta tal de Samantha.
A moça ri do outro lado da linha.
— Sim, você foi muito bem indicada.
— Obrigada — digo meio sem graça.
— Estou no projeto de um novo portal sobre o mundo financeiro e
de negócios e queria entrevistá-la para uma vaga. Estaria interessada?
— Claro, por que não? — respondo meio incerta. Aquele
telefonema me oferecendo um emprego é realmente uma surpresa.
— Que bom, podemos almoçar juntas amanhã?
— Tudo bem...
Marcamos o local e horário e de repente algo me ocorre.
— Você disse que alguém me indicou?
— Sim, um amigo com quem trabalhei no Times, Tristan Chase.
Ah, droga!
— Então está marcado! Até amanhã, Emma!
Ela desliga e permaneço estática ainda atordoada.
Tristan havia me indicado a uma vaga de emprego? Justo Tristan?
Como é que eu contaria a Liam? Ok, ele não sabia que Tristan era o
cara que eu havia beijado, mas eu sabia!
Por outro lado, foi apenas uma indicação. Eu não ia trabalhar com
Tristan, ele trabalhava no Times e eu trabalharia com a tal Samantha. Se é
que a entrevista ia dar certo. Ela poderia não gostar de mim. Ou eu não
gostar dela.
— Você tem visitas — Eric aparece na porta do quarto
interrompendo meus pensamentos.
Franzo a testa.
— Visita? Eu? — Eu me levanto e vou para a sala e paro surpresa
ao ver quem está lá.
Zoe.
Eu mordo os lábios nervosamente, sem saber como agir. Na minha
mente vem toda a briga de ontem, as coisas que Zoe disse ainda muito
recentes, me enchendo de ressentimento.
Cruzo os braços e levanto o queixo.
— O que veio fazer aqui? — questiono com rancor.
Eu estava preparada para uma nova briga, talvez Zoe tivesse vindo
tentar me dissuadir novamente da ideia de casar com Liam, só não esperava
que ela começasse a chorar. Isso me desconcerta.
— Eu vim pedir desculpas — ela funga.
Pisco, também sentindo vontade de chorar, não por estar comovida
com o pedido de desculpas de Zoe e sim por ainda estar magoada pela
forma como ela agiu ontem.
— Desculpas?
— Eu sei, eu sei. Jackson me disse que estaria com ódio de mim,
mas eu não podia deixar de tentar... — choraminga se aproximando, eu faço
um gesto para ela parar.
— Zoe, pare com isso agora! Ontem você foi a pior amiga que
poderia existir! Você não só se recusou a me apoiar, como ainda me disse
coisas que eu nunca achei que ouviria de você! E agora vem me pedir
perdão? O que acha que devo fazer? Sim, estou morrendo de raiva de você
neste momento e nem sei se um dia vai passar! — desabafo.
Ela se senta, enxugando os olhos inacreditavelmente sem
maquiagem com um lencinho branco.
— Eu estraguei tudo...
— Ah, por favor, pare de chorar! Está se fazendo de vítima agora?
Você sempre foi a rainha do drama e deveria saber que seu teatro não vai
me convencer!
De repente, ela respira fundo e me encara. Percebo, agora que está
com os olhos mais secos que está totalmente sem maquiagem, algo inédito
de se ver em Zoe. Acho que ela até dorme com blush de tanto que se
preocupa com a aparência.
— Tem razão. — Sua voz sai mais firme, mas com um toque de
seriedade que eu nunca tinha visto nela antes. — Eu estava com inveja.
Eu me surpreendo tanto com esta confissão que nem sei o que dizer.
Acusei Zoe de ter inveja de mim, só porque ela me acusou primeiro
de ter inveja dela!
— Eu tenho um namorado há cinco anos — continua — e sou
apaixonada por ele. Mas sempre esperei mais. Fiz planos para nós dois, nos
casaríamos quando ele fosse sócio de algum renomado escritório de
advocacia e, finalmente, eu poderia ter o casamento dos meus sonhos. Um
sonho que eu tenho há nem sei quanto tempo!
Sim, eu sei de todos os sonhos mirabolantes de Zoe. Ela tem até
uma pasta de cor lavanda cuidadosamente guardada cheia de planos para
seu casamento fantástico.
— Jackson nunca me propôs casamento. Às vezes ele fala sobre o
assunto, ele sabe que ainda é um sonho distante... E, de repente você, que
conhece este cara há apenas dois meses, é pedida em casamento? — Ela faz
um gesto de frustração que me faria rir em outra ocasião.
— Eu não planejei nada... — Tento me defender, mesmo sabendo
que não preciso.
— Eu sei! É justamente esse o problema! Nunca planeja nada! Você
nunca se esforça! E então um cara rico e lindo entra na sua vida e você está
pronta pra se casar com ele!
— Se vamos entrar nesta discussão de novo...
— Não, não é mais sobre isso, não vê? Ontem eu não percebi, na
verdade eu não percebi o que eu sentia desde que vi que estava
apaixonada... Eu fiquei com medo. Medo por você. Emma, a minha amiga
ingênua que nunca teve um namorado sério, envolvida com um homem
daqueles... Eu juro que temi de verdade, tinha certeza que ia sair magoada
desta história.
— Não tem como você saber...
— Emma, você mesmo sabia que Liam Hunter não levava nenhuma
mulher a sério! Não diga que estou falando bobagens porque sabe que não é
verdade.
Não consigo negar. Ela continua.
— Esperei que caísse na real em algum momento. Torci para que
acontecesse antes de o Liam te chutar. Eu tinha certeza que iria acontecer
mais dia menos dia.
— Obrigada por ser tão otimista — ironizo.
— Sinto muito, infelizmente era o que eu pensava — ela confessa.
— Achei que uma hora tudo voltaria ao normal. Você poderia sofrer um
pouco, como todas nós sofremos com algum caso de amor malsucedido e
seguiríamos em frente, como sempre acontece. E então você chega em casa
dizendo que vai casar...
— E você não perdeu tempo em me magoar quando eu esperava que
ficasse feliz por mim — acuso.
— Sim, eu assumo que foi exatamente o que fiz. Eu dizia a mim
mesma que estava só preocupada com você, com medo que o Liam fosse te
magoar e ainda agora eu não posso dizer que tenho certeza que tudo vai
acabar bem...
— E quem tem, Zoe? — eu a interrompo. — Já discutimos antes...
— A questão é que ontem, depois que foi embora, eu estava tão
brava e tão magoada com você...
— Você, magoada comigo? — ironizo.
— Você me ofendeu também, Emma! Eu fiquei puta quando disse
que eu tinha inveja de você...
— Sim, eu disse porque você falou primeiro que eu tinha inveja de
você. Disse da boca pra fora, agora percebo que eu estava com a razão, não
é?
Ela não nega.
— Sim, eu estava com medo por você e também estava motivada
pela inveja que nem percebia que estava sentindo...
— Não entendo como pode ter inveja de mim... é por causa das
roupas?
Ela ri entre lágrimas.
— Também — confirma envergonhada. — No entanto não é este o
ponto principal. O fato de o Liam ser fabulosamente rico e dar a você tudo
o que eu sempre sonhei ter é apenas uma parte do que me faz invejar você.
É que você vai se casar e eu continuarei esperando. — Ela soluça.
— Ah Zoe, isso é tão idiota!
— Eu sei — ela choraminga. — Liguei para o Jackson ontem à
noite e ele brigou comigo. Disse que eu deveria ter vergonha de como agi
com você.
— Deveria mesmo.
— Ele disse que eu estava com ciúme porque você ia se casar antes
de mim e ainda por cima com um cara super rico, coisa que ele nunca seria.
Aí eu acabei brigando com ele porque não concordava com nada do que
estava me dizendo. — Ela funga. — Ainda estamos brigados.
— Não devia ter brigado com ele.
— Eu sei. Depois eu... — ela respira fundo — compreendi que ele
tinha razão. Eu me senti tão mesquinha, tão má... Sou uma amiga horrível.
Por alguns momentos nem uma de nós diz nada e percebo que
também estou chorando.
Zoe foi por quatro anos uma boa amiga. Nós nos conhecemos
quando eu estava no primeiro ano e ela no segundo, numa matéria que
fizemos juntas. Com seu jeito atrevido e mandão, ela criticara minha roupa
e eu rira, dizendo que não me importava. Aí ela me convidou para tomar
um café e quando eu disse que estava de saco cheio da república que
morava com mais três garotas, ela ofereceu um lugar em seu apartamento.
Desde então morávamos juntas e, apesar de sermos muito diferentes, eu a
considerava minha melhor amiga.
Será que nós eramos amigas mesmo, ou apenas companheiras de
quarto?
Será que eu havia superestimado nossa amizade?
— Sei que deve estar com muita raiva de mim neste momento, mas
estou realmente te pedindo desculpas sinceras.
— Você não quer que meu relacionamento com o Liam dê certo —
acuso com rancor.
— Não! — Ela nega. — Disse que achava que não poderia dar
certo, eu não desejo seu mal!
— Como poderei ter certeza?
— Eu não sou uma bruxa, Emma! Sei que está com raiva, mas bem
lá no fundo sabe que eu gosto de você de verdade e eu que estou realmente
preocupada... Porém, não vamos discutir mais. Você já deixou claro que
tomou sua decisão e eu decidi apoiá-la.
— Me apoiar? E toda a inveja que sente?
Ela dá uma risadinha, passando a mão pelo nariz cheio de catarro.
— Vou ficar feliz se você também estiver. É para isso que as amigas
servem, não é?
Será que ela está sendo sincera? Eu conseguiria perdoá-la?
— Olha, ainda estou muito ressentida. Acho que deveríamos dar um
tempo, para esfriarmos a cabeça e avaliarmos se podemos realmente
continuar sendo amigas.
Zoe assente.
— Tem razão. — Ela olha em volta. — Vai mesmo morar com
Liam?
— Sim, eu vou. — Decido por fim. Do jeito que as coisas estão
estremecidas com Zoe, sem prazo para voltar ao normal, não poderia voltar
a morar com ela.
E estou mesmo ansiosa para passar mais tempo com Liam.
— Tudo bem — ela concorda e fico surpresa. Achei que iria tentar
me dissuadir, aparentemente Zoe está mesmo tentando mudar sua opinião
sobre meu relacionamento com Liam. — Então quer ir comigo buscar suas
coisas?
— Já? — Eu me sinto um tanto pressionada. — Quer se livrar de
mim tão rápido?
Ela ri.
— Não, sua boba! Acontece que se não tirar todas aquelas roupas
lindas de lá vou acabar pegando todas pra mim. Lembre-se sou uma
invejosa em reabilitação.
Não consigo evitar o riso.
É, talvez as coisas tivessem uma remota chance de ficar bem um dia
afinal.

***
Zoe me ajuda a empacotar tudo, com seu ótimo senso de
organização, que é bem falho em mim e até nos divertimos. Por algumas
horas esquecemo-nos das desavenças recentes e é como se nada tivesse
acontecido, ficamos simplesmente rindo e tagarelando sobre nada
realmente importante enquanto trabalhamos. Ela consegue que o motorista
da Bloomingdale’s nos busque com a van da loja e nos leve até o
apartamento de Liam.
Eric abre a porta para nós e ri quando vê todas as caixas.
— Então não está de mudança, hein? Imagina se estivesse.
— Guarde sua opinião para você, Eric!
— Ok, patroa!
— Onde eu devo colocar? — O motorista chega carregando duas
caixas e fico indecisa.
No apartamento tão elegante de Liam haveria lugar para todas as
minhas tralhas?
— As caixas de roupas pode levar para o closet do Liam — Eric
responde por mim. — O restante pode deixar em algum quarto de hóspedes
até que decida como vai organizar tudo.
Eu e Zoe seguimos para o closet de Liam e ela arregala os olhos.
— Uau, que demais.
Eu rio.
Zoe, sempre, Zoe!
— Não sei como minhas coisas vão se encaixar aqui — confesso
insegura.
— Ah, eu saberia muito bem o que fazer com esta belezura, baby —
ela brinca, rapidamente fica séria. — Ai meu Deus, tenho que parar com
isso não é? Não pense que continuo com ciume ou algo assim, quer dizer,
talvez um pouquinho. Estou tendo uma forte recaída vendo este closet tão
espaçoso!
— Ei, toc-toc! — Ethan aparece na porta todo sorridente. — Olha
só quem está aqui, a amiga tagarela.
— Oi bonitão! — Zoe sorri de volta. — Eu vim ajudar a Emma a
trazer sua mudança.
Ele levanta a sobrancelha.
— Ainda bem que não apostei com o Liam.
— Ah, por favor! De que lado estava?
— Liam disse que você já tinha se mudado e eu disse que você era
fodona e que deixaria ele esperando uns bons meses...
— É, você iria perder!
— Estou percebendo. E então, preparada para o SPA?
— SPA? — Zoe indaga.
— Liam marcou hora pra eu fazer massagem.
Ela geme.
— Ah, isso não é justo! Pare de esfregar sua nova vida de dondoca
rica na minha cara! — A expressão dela é tão engraçada que eu rio.
— Você pode vir comigo, se quiser.
— Sério? — Ela parece empolgada feito uma criança.

***

Ethan nos leva ao SPA, onde somos tratadas como realeza por um
bom par de horas. E de novo é bem fácil esquecer a briga terrível do dia
anterior e a conversa cheia de confissões difíceis de horas atrás e
simplesmente aproveitar o momento.
Talvez não fosse tão dificil perdoá-la afinal. Zoe é apenas humana.
E eu gosto dela de verdade, mesmo sendo aquela pessoinha meio fútil e
intrometida. E um tanto quanto invejosa.
Porém quem sou eu para reclamar? Também não sou perfeita.
Quantas vezes eu tinha sentido inveja dela e de Jackson quando eu era
apenas a amiga solteira e sozinha, sonhando com um amor como o deles?
— Sabe, Zoe — digo, quando estamos saindo do SPA, e ela me
encara —, eu tinha inveja de você também. De você e Jackson. Queria viver
um amor como o de vocês.
— E está vivendo agora? — ela pergunta com cautela.
Estou?
— Eu não sei... Estou tentando descobrir.
Ela sorri e saímos para o crepúsculo.
E Liam está parado em frente ao carro, me esperando.
Mal reparo em Ethan do seu lado porque meu noivo está sorrindo
pra mim. Meu lindo noivo com seus cabelos dourados brilhando na luz do
final de tarde.
Sim, Zoe. Eu estou vivendo agora.
— Ei, noivo. — Não paro até me aconchegar em seus braços, como
se fizesse anos que não nos víamos. Não paro para pensar que hoje de
manhã ele estava com seu mau humor habitual, me tratando secamente, até
mesmo quando estava me prensando na cama.
Agora é aquele outro Liam que está aqui, aquele que ele me deixa
ver de vez em quando e que eu tenho a esperança de que vai aparecer cada
vez mais a partir de agora.
Não que eu tenha algo contra o Liam rude. As marcas na minha pele
não me deixam esquecer o quanto gostei dele hoje de manhã. Marcas que
me fizeram ruborizar quando a massagista me viu sem roupa.
— Oi noiva — ele responde com seus braços me enlaçando sem
cerimônia, me mantendo perto, sua boca descendo sobre a minha num beijo
de tirar o fôlego.
Até que escuto um assovio e nos desgrudamos para ouvir Ethan
rindo.
— Arrumem um quarto!
Escuto mais um risinho e me lembro que Zoe continua lá bem atrás
de mim.
Liam acompanha o meu olhar e parece notar Zoe só agora. Seu
sorriso desaparece.
Oh. Oh.
— Oi Liam — Zoe o cumprimenta toda sorridente, Liam não
retribui sua cordialidade.
— Parece que a briga foi esquecida — ele estuda meu rosto e dou
de ombros.
— Nós conversamos...
— A Emma ainda está com raiva de mim, embora eu já tenha
pedido desculpas — Zoe diz rápido.
— Eu disse a ela que a gente deve dar um tempo e acho que tudo
vai se resolver...
— Vai voltar para a casa dela? — Liam indaga e percebo que sua
cara fechada não é só pela animosidade em relação a Zoe, e sim porque
pensa que vou voltar a morar com ela.
— Na verdade, fiz a minha mudança hoje à tarde — falo
suavemente.
Ele parece cético por um tempo enquanto me encara.
— Aliás, eu amei o seu closet — Zoe se intromete. — Terá que
pensar em um closet novo pra Emma, e...
— Zoe, cala a boca! — Eu a corto e ela põe a mão na boca.
— Ah, desculpa. Bem, eu acho que já vou indo...
— O Ethan vai te levar. — Liam segura minha mão e me puxa em
direção a um carro preto.
— Não vamos com eles?...
Liam abre a porta do passageiro.
— Não, temos outro compromisso.
— Vai dirigir?
Ele apenas fecha a porta na minha cara e dá a volta, sentando no
banco do motorista.
— Como disse, temos um compromisso.
— Compromisso?
Ele não responde e eu reviro os olhos.
Será que o Liam carinhoso tinha ficado lá na rua?
— Não conheço este carro... — comento.
— É um Audi.
— Ah... — Não me diz muita coisa. Não entendo nada de carros —
quantos você possui, afinal?
— Eu parei de contar.
— Por que ainda me surpreendo? — ironizo e sinto meu estômago
roncando. — Por acaso este compromisso tem a ver com comida?
Ele ri.
— Não, por enquanto. Posso te levar para jantar depois.
— Ok, eu não quero jantar. Você terá que me levar para comer um
doce bem grande para me compensar.
— O que você quiser, baby.
Eu sorrio satisfeita e ainda curiosa para saber onde raios estamos
indo.
Até que o carro para e, antes mesmo de saltar, reconheço a fachada
da loja.
Meu queixo cai.
Liam abre a porta para mim e me puxa para fora.
— Tiffany, sério?
— Eu te devo um anel de noivado.

***
Nunca pensei em como seria meu casamento. Diferente de Zoe, que
planejava o seu desde que tinha cinco anos de idade, eu imaginava e até
ansiava por um dia conhecer alguém e me apaixonar, mas casar? Eu não
estava certa de que o casamento tinha algo a ver com amor. Meus pais
casaram apaixonados e se separaram após alguns anos. Minha mãe se
apaixonou tantas vezes depois que eu até parei de contar e agora ela estava
tentando um segundo casamento que eu tinha sérias duvidas se ia realmente
dar certo.
Sim, eu sonhava com um amor como nos livros de romance que eu
lia, só não sonhava necessariamente com um casamento.
E cá estou eu, na loja mais cara e exclusiva da cidade, acompanhada
do meu noivo lindo e rico, tentando escolher meu anel de noivado.
Meu estômago está revirando. Tudo parece acontecer tão rápido
agora. Percorro os corredores elegantes com Liam me seguindo como se
estivéssemos num ônibus desenfreado indo ladeira abaixo em alta
velocidade sem saber onde iríamos parar.
— E então, senhorita, algum lhe agrada? — A vendedora mais
solícita do que o normal nos acompanha, ansiosa.
Claro. Ela sabe quem é Liam. Sabe que ele é absurdamente rico e já
deve estar contabilizando sua comissão.
Faço uma careta.
— São todos lindos... eu não sei — respondo, indecisa e me viro
para Liam. — Tem certeza que precisamos fazer isso agora?
Ele me encara duramente.
— Sim, precisamos.
— Liam, eu não acho, sinceramente, é apenas uma joia...
— É importante. Você vai usar o meu anel, Emma. Isso não está
aberto a discussão.
— Ok, então se é tão importante para você, pode escolher.
— Não tem medo que eu escolha algo ridiculamente grande e
espalhafatoso? — ameaça.
— Tá, eu escolho! Que cara chato! — reclamo e paro em frente a
uma prateleira repleta de anéis de diamantes.
Pareciam todos iguais na verdade.
Nunca fui uma aficionada por joias e realmente não conseguia
distinguir uma pedra da outra. De repente penso em Zoe. Ela estaria
delirando.
Só que não é Zoe quem está aqui agora.
Sou eu. E Liam. E ele quer que eu use seu anel.
Aquele anel seria o símbolo do nosso compromisso.
Então eu percebo que estou pirando, e não é porque não conheço
joias.
Eu sei que quando colocar aquele anel no dedo será definitivo.
Estarei realmente noiva. Estarei me comprometendo pra valer com Liam.
Respiro fundo e aponto para um solitário.
— Este.
A vendedora parece aliviada quando pega o anel e me mostra.
É bonito e simples.
Eu olho para Liam.
— Acho que deve fazer as honras — brinco e ele pega o anel da
vendedora e coloca no meu dedo.
Parece perfeito.
Como eu pude duvidar que fosse?
— Tem certeza que quer este? Pode escolher uma pedra maior.
— Liam, não me importo com o tamanho da maldita pedra! Eu
gostei deste. — Admiro minha própria mão. — É bem leve pelo menos.
É a vez dele bufar.
— Tanta coisa pra dizer e é isso que você diz.
Eu sorrio.
— Acho que me deve uma sobremesa.

***
— Sobremesa favorita? — indago enchendo minha boca do sorvete
maravilhoso da Serendipity.
Eu amava aquele lugar e não hesitei em pedir a Liam que me
levasse quando perguntou onde eu queria ir.
— Eu te mostrei ontem — responde com um sorriso de lado e eu
coro violentamente ao me lembrar dele lambendo os dedos depois de retirá-
los de mim.
— Não, de verdade!
— É de verdade.
— Dá para parar de transformar tudo em perversão?
Já está difícil me concentrar em meu sorvete de morango, vendo-o
lamber uma colher com petit gateau de chocolate.
— Você gosta de perversão, Senhorita Jones.
— Não aqui... — Olho em volta como se todos pudessem notar meu
rosto corado e o pulsar entre minhas pernas.
— Gosto de te provocar. — Seus dedos tocam meu rosto. — Fica
vermelha. Amo este rubor. Me diz, onde mais está quente?
— Liam, para... — reclamo, derretendo mais do que o sorvete
esquecido na taça.
— Eu devia te obrigar a me chamar de senhor.
Rolo os olhos.
— Vai sonhando! — Retiro sua mão do meu rosto e volto ao
sorvete, tentando esfriar pelo menos meus lábios.
— Eu posso obrigá-la, sabe disso — Liam provoca.
— Não tenho tanta certeza.
— E posso fazer você gostar. — Seu sorriso agora é presunçoso.
— Não duvido, agora pare.
— Por quê?
— Está me deixando envergonhada. E nem pense em mandar
esvaziar a Serendipity!
— Isso nem me passou pela cabeça — nega, enquanto seu sorriso
diz outra coisa.
Por um momento nem o frio do sorvete abranda o calor em meu
rosto e penso que talvez não fosse má ideia esvaziar o local...
Ele ri e segura minha mão onde se encontra o anel.
— Está realmente tudo bem entre você e Zoe?
— Mais ou menos. Por enquanto eu ainda estou um pouco chateada.
Essa briga me fez pensar que nossa amizade não é tão forte assim.
— Pareciam bem hoje. Ela te pediu desculpas?
— Pediu, mas...
— Não quero que continue chateada. Aquela gnomo é uma chata
intrometida, mas eu pensei que fosse importante pra você. Se ela ainda a
chateia, deve ficar longe. Eu posso...
— Ei, espera aí, do que está falando?
Ele cora. Puta que pariu. Liam Hunter está corando!
— Liam, você tem alguma coisa a ver com o pedido de desculpas de
Zoe?
— Sim, eu fui falar com ela. Além de te magoar, ela queria que
você me abandonasse. Eu não ia deixar aquela duende invejosa levar a
melhor.
— Meu Deus Liam! — Mal posso acreditar. — O que disse a ela?
— Eu simplesmente disse umas boas verdades.
— Ah, isso é tão... Por que ela não me contou?
— Eu pedi que não o fizesse.
— Está me contando agora.
— Você descobriu. — Ele dá de ombros.
— Não sei se deveria ter ido. É um assunto meu.
— Qualquer pessoa que te magoa se torna assunto meu! E isso não
está em discussão.
Eu não sei o que pensar.
Liam se intrometendo, indo brigar com Zoe e falar sabe Deus o que
para ela é irritante. Por outro lado ele me defender é reconfortante.
A verdade é que eu já estou começando a me cansar daquele assunto
da briga com Zoe. Quero deixar aquilo para trás.
— Tá, deixa pra lá. Da próxima vez seria legal me perguntar
primeiro!
Ele faz um gesto de descaso com a mão e sei que não está
concordando com nada.
Decido não discutir.
Terminamos nossa sobremesa e vamos embora. É uma sensação
estranha pensar que “ir embora” significa ir para a casa do Liam e não para
o apartamento que dividia com Zoe até o dia anterior.
Sinto um frio no estômago. Medo e expectativa.
— O que está pensando? — Liam pergunta quando entramos no
elevador.
— Em como é esquisito pensar que agora esta é minha casa —
confesso com um sorriso inseguro.
Então, para minha surpresa, quando as portas se abrem , ele me
puxa para seu colo.
— Ei, o que está fazendo?
Liam ri, saindo do elevador e entrando no hall que leva direto a sua
cobertura.
— Não é a tradição?
— Não estamos casados!
— Apenas formalidades, Senhorita Jones. Você já é minha em todos
os sentidos.
Quem sou eu pra negar?
Estou sorrindo quando o leão finalmente me carrega para sua toca.
Sua casa.
Nossa casa agora.
A caçada estava entrando em sua reta final.
Capítulo 24

Liam me coloca no chão assim que entramos na sala. Sinto-me


subitamente tímida, como uma noiva virgem em sua noite de núpcias. Este
pensamento me diverte e levanto a cabeça para fitá-lo, o sorriso morre em
meu rosto ao surpreendê-lo com os olhos fixos no chão e os dedos
castigando os cabelos.
— Tudo bem? — pergunto com cuidado.
— Preciso trabalhar.
Sua resposta seca me frustra um pouco e eu o deixo ir, observando
enquanto se afasta pelo corredor escuro na direção do seu escritório.
Com o parco conhecimento que tenho sobre Liam, tento descobrir o
que se passa em sua cabeça. Parece preocupado? Perturbado? Angustiado?
Todas as alternativas? Não sei dizer, então tento engolir a súbita
perturbação, angústia e preocupação que vê-lo desse jeito me causa por
dentro.
Até poucos momentos tudo parecia perfeito.
Estava perfeito. Não estava?
No entanto, se havia algo que eu sabia sobre Liam é que ele era
assim: num momento fogo, no outro gelo.
Uma hora era meu leão de estimação, todo paixão e risos. Meu.
E em outras como essa, é um leão selvagem e arisco. E eu o sentia
distante, inalcançável. Como se houvesse realmente um animal selvagem
dentro dele, que corria assustado quando alguém tentava tocá-lo, mesmo
que este alguém só quisesse lhe dar carinho.
E o que eu posso fazer? O que eu devo fazer? Existiria algum livro
de autoajuda que explicasse como lidar com um namorado arredio? Ou
talvez eu devesse apelar para algum livro que ensinasse a domar animais
selvagens?
Eu rio sozinha deste meu pensamento absurdo e estudo o anel
brilhando eu meu dedo.
Liam Hunter pode até ser um leão selvagem e arredio, porém agora
é meu noivo. E por mais que eu esteja morrendo de medo do que poderá
acontecer daqui para frente, preciso enfrentar e encarar o destino que
escolhi.
Com um suspiro profundo, caminho na direção do seu escritório.
Não sei como serei recebida, Liam pode me enxotar de lá e eu devo estar
preparada. Só preciso decidir se vou enfrentá-lo, ou se vou me afastar
aguardando que ele venha a mim quando estiver pronto.
Paro à porta e o observo compenetrado em seu notebook.
— Ganhando muito dinheiro? — pergunto suavemente e, para
minha surpresa, ele estende uma mão em minha direção, enquanto a outra
continua nas teclas.
Eu a seguro e sou puxada para perto, seu braço envolvendo minha
cintura.
— Tenho realmente que verificar todos estes malditos números esta
noite.
Nossa! Ele está se explicando! É bom que ele não veja minha
expressão de incredulidade.
— Claro, eu me lembro “o dinheiro nunca dorme”. — Tento imitar
sua voz e ele ri, embora ainda pareça estar em outro lugar, todo
compenetrado no que acontece em alguma bolsa de valores do mundo.
— O Eric já foi, presumo? — Acaricio seus cabelos, tentando
pensar no que vou fazer em seguida.
— Sim. Está com fome? Posso chamar aquele chinês folgado pra
vir fazer algo pra você se quiser. Contanto que não invente de pedir para
que ele faça massagem.
— Não se preocupe, fiquei satisfeita com a massagem de hoje à
tarde. Aliás, obrigada. E não precisa chamar o pobre Eric, deixe-o
descansar. Eu não estou com fome. Ia perguntar se você está.
Ele me encara com um olhar entre divertido e desafiador.
— Vai cozinhar para mim, Senhorita Jones?
— Por que essa cara? Eu sei cozinhar! Muito bem, aliás!
— Então devo dizer ao Eric que comece a procurar emprego?
— Quem disse que vou ser sua criada? — rebato também em tom
de desafio. — Foi para isso que insistiu para que eu viesse morar com você?
Para economizar com a criadagem?
— Não sei se Eric vai achar divertido que o chame de criadagem.
— Não me respondeu, Senhor Hunter...
Sua mão em minha cintura desce até a minha bunda e me dá um
apertão.
— Na verdade, eu imaginei você de quatro limpando o chão da
minha cozinha vestindo algo bem pequeno.
Um arrepio desce por minha espinha com suas palavras sacanas.
— Sabia que havia planos pervertidos por trás! Típico! — Rolo os
olhos e em resposta recebo um sonoro tapa no traseiro antes que me solte.
— Como se eu não soubesse que essa sua cabecinha esconde muitas
perversões, Senhorita Jones...
Ah, ele tem absoluta razão. Agora mesmo eu posso imaginar várias
delas envolvendo sua mão, alguns tapinhas e outras coisas mais.
— Agora mova sua bunda atrevida daqui, preciso trabalhar.
O arrepio que estava na minha espinha começa a se espalhar pelo
corpo inteiro.
E então Liam está compenetrado de novo, os dedos que poderiam
muito bem estar em mim, estão massacrando as teclas do computador.
É, parece que perdi sua atenção por ora.
— Não quer mesmo que eu cozinhe algo pra você? — insisto, ele
sacode a cabeça em negativa
— Não estou com fome.
— Certo. Eu vou levar a minha bunda atrevida para tomar um
banho então.
Saio do escritório e vou para o quarto. Meu celular está tocando e eu
vejo que é uma ligação da minha mãe. Mordo os lábios, hesitando em
atender.
Faz dias que não falo com ela. Na verdade, que não falo nem com
ela e nem com meu pai. E agora eu me dou conta que terei que contar a eles
sobre meu súbito noivado com alguém cuja existência nem fazem ideia.
Além de revelar que estou morando com esse cara.
Ai, não vai ser fácil.
Então, deixo a ligação cair e depois digito uma mensagem de texto,
apenas pra tranquilizá-la, dizendo que estou muito ocupada estudando para
as provas finais e que ligarei para ela daqui a alguns dias.
Até lá pensaria em como contar a novidade.
Também tem um recado da Zoe, perguntando se está tudo bem e se
podemos almoçar juntas no sábado. Daqui a quatro dias. Respondo que terei
que ver com Liam, afinal, ele poderia ter algum plano para nós.
Isso me faz sorrir. Nunca tive um namorado com quem fazer planos.
Ainda sorrindo, entro no chuveiro e me distraio um pouco pensando
nos meus pais e em como não será fácil contar a eles sobre Liam.
Meu pai vai ficar louco, com certeza, penso estremecendo de medo.
De repente, sou tirada do meu devaneio por um corpo quente me
prensando por trás e ofego de susto, derretendo logo em seguida com a boca
em meu pescoço.
— Liam!
Ele ri contra minha pele, arrastando o nariz por meu queixo e as
mãos até meus seios. Apertando meus mamilos. Mordendo minha orelha.
Arquejo, num gemido embevecido.
— Achei que tivesse que trabalhar... — Levanto a mão para tocar
seu cabelo. — Ganhar dinheiro e tudo o mais...
Ele me gira rapidamente até que esteja me abraçando de frente. Sua
ereção roçando exigente em meu ventre. Ah sim. Dentro de mim. Agora.
Por favor.
Todo meu corpo grita.
— Preferi vir dar uma lição a esta sua bunda atrevida. — Desce a
mão até meus quadris e aperta. Meu gemido é engolido por sua boca na
minha, num beijo quente e possessivo.
Eu me esfrego toda nele. Meus mamilos doem. O pulsar entre
minhas pernas é uma tortura.
Mordo seus lábios e puxo seus cabelos.
— Me toca... — exijo.
— Onde?
Pego sua mão e levo até o meio das minhas pernas. Gememos
juntos quando seus dedos longos encontram minha umidade que nada tem a
ver com a água do chuveiro.
E ele me acaricia lentamente, fazendo meus olhos revirarem e
minha cabeça tombar para trás, girando tonta de prazer.
— Você está tão molhada...
Solto um risinho.
— Nós dois estamos... — brinco, e sinto um beliscão.
— Ai! Isso dói!
— Dói? — Ele me belisca de novo, em outro ponto e perco o ar, me
contorcendo. Deus, como isso pode ser bom? — Gostoso? — pergunta
estudando minha reação.
— Sim... isso... assim... — sussurro perdida quando o sinto
introduzir um dedo em mim.
A água escorrendo sobre nós nos deixando ainda mais quentes,
perdidos no meio do vapor.
Estou a ponto de gozar quando ele para e me vira bruscamente, me
levando em direção ao box e pressionando o corpo excitado no meu. As
mãos seguram meus quadris e estou tão ansiosa e enlevada que só percebo a
falta de algo quando ele está dentro de mim. Abro os olhos, meio em
pânico.
— Liam, estamos sem proteção...
Ele xinga em meu pescoço, mas continua se movendo. Ah Deus, se
parar agora vou morrer e não parar seria arriscar demais...
— Tudo bem.... eu gozo fora... — Ele morde meu ombro e desliza
uma mão para meu clitóris.
Deixo de pensar. Que se dane...
Seus quadris batem nos meus com força, enquanto ele me penetra,
num vai e vem rápido e preciso. Seus dedos completando a equação
perfeita, girando... apertando... beliscando... girando de novo...
Mais um pouco... quase lá...
— Ah Deus, Liam...
— Goze, baby, goze pra mim... — pede em meu ouvido e deixo o
orgasmo me levar em sua onda gigantesca, me afogando em suas águas
profundas e quentes.
Ainda estou sentindo os últimos espamos de prazer, quando ele sai
de mim e com um gemido áspero, goza em minhas costas.
Depois, me leva para debaixo do chuveiro e me lava inteira. Ainda
estou meio aérea quando saímos do boxe e ele me passa uma toalha.
Enquanto me enxugo, penso que preciso ir urgentemente a um
ginecologista.
— O que foi? — Ele me encara totalmente nu. Eu me enrolo na
toalha fitando-o. Ainda não tenho coragem, mesmo depois de ter transado
com ele no chuveiro, sinto-me tímida para ficar andando nua.
— Estava pensando que eu preciso começar a tomar pílulas —
confesso meio vermelha. O que é ridiculo. Aquilo tudo é tão novo pra mim
que alguns assuntos ainda me deixam sem graça. Passo por ele e entro no
quarto indo em direção ao closet. — Onde diabos estão minhas coisas?
Ele ri e abre uma parte do seu closet.
— Eric arrumou para você.
— Ah, claro. — Procuro uma roupa de dormir.
O que vestir para dormir com O Leão de Wall Street? De repente
tenho vontade de ser uma daquelas garotas que veste lingeries super
sensuais e elegantes.
Como não é o meu caso, pego uma velha camiseta.
Lanço um olhar para Liam que está vestindo uma calça de pijama.
Por que tudo fica perfeito nele? Não é justo! Eu olho pra mim mesma com
minha camiseta velha.
— Está franzindo a testa de novo — comenta divertido. — Se está
preocupada com o que aconteceu no banheiro...
— Não tenho motivos para me preocupar. Quer dizer, você gozou
fora, só não acho que devemos continuar fazendo este tipo de coisa. Aí sim
eu ficaria preocupada. Quer dizer, tudo bem, não é? Vai ser melhor se eu
tomar pílula, assim não precisará usar preservativo.
— Sim, é definitivamente uma boa ideia — ele responde vestindo
uma camiseta. — Acho que nunca tinha transado com ninguém assim antes.
— Assim como?
— Sem camisinha. — Ele me fita com um sorriso de lado.
Meu rosto esquenta.
— Ah. E gostou?
Seu sorriso se alarga.
— Definitivamente deve tomar logo essas malditas pílulas,
Senhorita Jones.
Meu sorriso se alarga também.
— Verei um ginecologista amanhã mesmo, Senhor Hunter.
Volto ao banheiro e encontro todos os meus cremes, desodorante,
perfumes e outros itens arrumadinhos em um lado do armário de Liam.
Eric era realmente muito eficiente.
Estou escovando os dentes quando Liam entra no banheiro, sorrindo
ao passar por mim e, sem aviso, para em frente ao vaso sanitário e começa a
fazer xixi.
Coro até a raiz dos cabelos e desvio o olhar.
Cuspo a pasta de dente e começo a lavar a boca rapidamente e
quando levanto o rosto Liam está parado do meu lado.
— Está vermelha, Senhorita Jones.
— Você estava fazendo xixi na minha frente! — Acuso e ele ri
pegando sua escova.
— Já fiz coisa pior na sua frente — começa a escovar os dentes —
ou nas costas.
— Ah... — Rolo os olhos. — Não pense que vou fazer xixi na sua
presença!
Ele ri ainda mais e me puxa pelos cabelos, depositando um beijo
cheio de creme dental na minha bochecha.
— Adoro seu rubor.
— Urg! — reclamo empurrando-o, porém estou rindo quando lavo
o rosto e saio do banheiro.
Eu me deito e segundos depois Liam sai do banheiro. Eu me
pergunto se virá se deitar comigo ou se vai voltar para o escritório com
aquela carranca que surge do nada que lhe é habitual. Para meu
contentamento ele se deita do meu lado.
O quarto está na semiescuridão, as chamas da lareira acesa dançam
sobre seu perfil de estátua grega.
Ainda parece inacreditável que aquele apartamento fabuloso agora
será a minha casa. Aquele lindo quarto é o lugar onde eu vou dormir todas
as noites e que aquele cara do meu lado é meu noivo.
Meu lindo e poderoso noivo, que me deixa com o pé atrás com toda
sua complexidade.
Ele estende a mão e toca minha testa.
— Está preocupada.
— Não, só pensando... — Se é um bom momento para fazer
algumas perguntas. Tenho medo.
Medo de afastá-lo se exigir mais do que ele pode dar.
A questão é que paciência nunca foi uma das minhas virtudes. Pelo
visto teria que exercitá-la.
— Pensando no quê? Está arrependida de estar aqui? — É
insegurança que noto em sua voz?
— Não — nego rápido. — Só foi um longo dia. Muita coisa
mudou... eu falei sério quando disse que queria levar tudo devagar. Para
mim, estar aqui... é um grande passo.
— Que você deu. Acho que o próximo seria o casamento.
— Não tente me apressar, não é assim que as coisas funcionam!
— Sou um excelente negociador, Senhorita Jones. Veja, você disse
ontem que não ia se mudar para cá tão cedo e 24 horas depois está na minha
cama.
— Só vim porque briguei com a Zoe, seu convencido! E posso
mudar de idéia se ficar me provocando.
Ele rosna e me puxa pelos cabelos, até que estejamos grudados e
seu rosto a centímetros do meu.
— Nem pense em ir embora, Senhorita Jones.
— Vai fazer o quê? Vai me amarrar?
— Sabe que eu tenho muitas cordas e algemas. Talvez não seja má
idéia...
— Não precisa ficar todo dominador. Não vou embora. — Eu me
aconchego a ele e seu aperto se torna mais leve, embora ainda presente.
— Eu te caçaria e traria de volta, então nem adianta fugir.
— Eu sei. Acho que já passamos dessa fase, não?
— E em qual fase estamos?
Sorrio e bocejo.
— Noivado... E não se esqueça: um longo noivado. Está no meu
contrato.
— Deveria ter feito você assinar um contrato também. Já que fez o
de noivado, eu poderia fazer o de casamento, tenho algumas ideias...
Estendo a mão e acaricio seus cabelos.
— Podemos dormir? Estou morrendo de sono e amanhã não posso
faltar a faculdade... Ah, esqueci de te contar, tenho uma entrevista de
emprego amanhã... — Bocejo de novo, começando a sentir minhas
pálpebras pesadas.
— Entrevista?
— É... depois eu te conto...
***
Estou nervosa quando o carro para em frente ao restaurante no Soho
naquele começo de tarde.
— Chegamos Senhorita... Jones, quer dizer, Emma — o motorista
gagueja no banco da frente e eu teria rido se não estivesse começando a
sentir meu estômago enjoado com a entrevista iminente.
O nome dele é Owen. Fiquei surpresa quando Eric me avisou que
Liam havia pedido pra um motorista me buscar. Eu havia acordado
ligeiramente atrasada naquela manhã para descobrir que não só Liam não
estava na cama como já saíra para trabalhar.
Teria lhe mandado uma mensagem bem irritada por não ter me
acordado, no entanto estava mais preocupada em me vestir e sair rápido
para não perder nenhuma aula.
Owen abrira a porta do carro pra mim, todo formal me chamando de
Senhorita Jones e eu pedi que me chamasse de Emma, o que ele vinha
tentando fazer sem sucesso.
Eu preferia mil vezes Ethan.
Salto do carro e me repreendo mentalmente por estar usando um
jeans casual. Hoje é um ótimo dia para vestir uma das roupas fabulosas que
Liam me deu.
Estava com tanta pressa de manhã que peguei a primeira roupa que
vi pela frente.
Bem, agora é tarde. Respirando fundo, entro no restaurante e digo
ao maître que vim encontrar Samantha Arden.
Ele me leva até uma mesa onde está sentada uma ruiva fabulosa,
que acena e sorri pra mim, se levantando.
— Você deve ser Emma Jones... — a moça diz e percebo que há um
homem sentado em frente a ela que se vira quando me aproximo. E eu me
surpreendo ao ver que o homem é Tristan.
Oh. Oh.
Capítulo 25

— Oi, Emma.
Abro a boca várias vezes, sem saber o que dizer.
Que diabos Tristan está fazendo aqui, sorrindo para mim enquanto
se levanta e arrasta uma cadeira para eu sentar?
— O Tristan você já conhece. — Samantha parece alheia à tensão
ao me dar dois beijos estalados jogando um pouco daquela juba ruiva em
meu rosto.
— Ah, sim, claro, eu... — Eu me viro para Tristan. — Só não
entendo o que ele está fazendo aqui.
Samantha me conduz até a mesa, obrigando-me a sentar, ainda
atordoada.
— Ah, acho que me esqueci de dizer que o Tristan também vai
trabalhar com a gente.
Meus olhos se arregalam e meu estômago dá uma volta inteira em si
mesmo. Putz, eu tinha ficado um tanto quanto empolgada com aquele
trabalho, agora...
— É, realmente não tinha mencionado este detalhe. — Encaro
Tristan com um olhar que não deixa dúvida que não estou nem um pouco
feliz.
O sorriso some do seu rosto e ele pigarreia.
— Preferi deixar os detalhes para dizer pessoalmente... — Samantha
se explica. Um celular vibra sobre a mesa a interrompendo. — Desculpe, eu
preciso atender, já volto. Vão fazendo seus pedidos, por minha conta, claro!
Ela se afasta e fito Tristan com mal disfarçada raiva.
— Não sei que diabos está pretendendo! Se toda essa história de
entrevista for um ardil para tentar me conquistar ou algo assim...
— Ei, Emma, calma. — Ele levanta as mãos em sinal de rendição.
— Não é nada disso!
— O que quer que e eu pense? Na última vez que o vi, estava com a
lingua na minha garganta tentando me levar para cama!
— Eu não estava te obrigando a nada...
— Eu estava totalmente bêbada e aposto que não iria levar isso em
conta se Zoe não tivesse me tirado de lá!
— Não vou negar que eu estava a fim de você e que teria te levado
pra cama sim, mas já sei que está namorando.
Eu recuo.
— Sabe?
— Sim. Liguei para Zoe e pedi seu telefone. Eu ia te chamar pra
sair, Zoe me disse pra pular fora porque você estava apaixonada por Liam
Hunter e que eu não teria a menor chance.
— Sim, é isso mesmo. Estamos noivos, na verdade. — Praticamente
esfrego meu anel em seu rosto.
— É, ela me disse também.
— Então por que estamos aqui?
— Porque eu te indiquei para Samantha.
— Só isso? — Continuo desconfiada.
— Sim, só isso.
Eu o observo, ainda intrigada. Devo acreditar nele?
Entretanto, a questão maior nem são as intenções de Tristan, escusas
ou não. A questão é: vou aceitar aquele emprego, agora que sei que terei
que trabalhar com um cara com o qual eu já me envolvi?
Sóbria, não vejo a menor graça em Tristan. Jamais passaria pela
minha cabeça ficar com ele de novo. Não há uma tentação ali.
Em outras circunstâncias, o fato de eu tê-lo beijado não
influenciaria tanto. Só que, se Liam descobrir, será um grande problema
com certeza.
Por outro lado, Liam pode não descobrir nunca. Então, não terá
problema. Terá?
— Voltei, e aí, pediram? — Samantha interrompe meu dilema
interior, olhando de mim para Tristan.
— Ainda não. — Tristan pega o cardápio e os dois começam a
debater sobre o que comer e eu entro no jogo, embora com a cabeça ainda
longe.
O que vou fazer?
— Então, Emma, vamos à proposta — Samantha diz quando já
estamos na sobremesa.
Enquanto comíamos, ela havia feito várias perguntas sobre minha
experiência profissional, o que no meu caso se resumia ao estágio no jornal,
além de alguns empregos medíocres em Aberdeen na adolescência. E
também sobre as minhas aspirações profissionais, o que eu tentara
responder, usando todos aqueles clichês sobre “trabalhar com algo criativo
onde eu pudesse aprender e blá-blá-blá” típico de quem no fundo não tem a
menor ideia do que deseja de verdade.
— Eu estou formando a melhor equipe para um portal sobre
finanças que será realmente grande. E eu queria que você fizesse parte.
— Eu não tenho experiência... não entendo nada de finanças.
— Você pode aprender.
— Não acho que seja tão fácil assim...
— Tudo se resume à pesquisa e bons contatos. Eu também não fazia
idéia de como tudo funcionava quando entrei no Times, mas aprendi. Tanto
que agora terei meu próprio portal.
— E eu escrevo sobre esportes, Emma — Tristan diz —, e estou
entrando nesta também.
— Está vendo? — Samantha sorri pra mim. — Acredito no seu
potencial, Emma. Assim como acredito no do Tristan.
— Eu realmente não sei...
— Não tem que me dar uma resposta agora. Sei que precisa de
tempo para pensar, mas será incrível se aceitar. Estou montando a melhor
equipe. Gente jovem e cheia de vontade de crescer como vocês. Juntos
iremos abalar o mundo das finanças, baby! Pense nisso!

***
— Para onde vamos, senhorita... quer dizer, Emma? — Owen
gagueja quando entro no carro depois do almoço com Samantha e Tristan.
— Para casa, Owen.
Casa. Que esquisito falar isso!
Eu ainda estou confusa. E ao mesmo tempo empolgada.
Droga, Samantha tinha mesmo me contaminado com seu
entusiasmo. Até aquele momento eu nem tinha certeza se queria ser
jornalista. Se tinha o necessário para trabalhar neste ramo. Samantha
acreditava que sim. E trabalhar em algo novo e cheio de possibilidades
parecia interessante demais para jogar a oportunidade fora.
Claro que havia Tristan. Ao final do almoço eu já nem achava que
era um problema tão grande assim. Ele realmente não tentara nada e havia
sido bastante profissional.
Meu celular vibra e eu sorrio ao ver que é uma mensagem de Liam.
“Como foi sua entrevista?”
“Como sabe que eu estava em uma entrevista?”
“Eu tenho minhas fontes, Senhorita Jones.”
Eu olho para Owen.
— Disse ao Liam onde eu estava?
O rapaz me lança um olhar confuso através do espelho retrovisor.
— Ele perguntou, senhorita...
— Arg!
Volto a digitar.
“Eu deveria saber que a oferta de um motorista estava ligada a
alguma obsessão de controle!”
“Que perspicácia, Senhorita Jones. Ainda não me respondeu
como foi. Gostaria de saber detalhes.”
Ai, e agora?
Penso por um instante e decido ser evasiva por enquanto.
“Foi legal.”
“Só isto? Legal? Você costuma ser mais eloquente pessoalmente.”
Sorrio, de repente sentindo uma vontade imensa de ser eloquente
agora.
“Posso pensar no que fazer quanto a isso...”
Desligo o celular e me inclino sobre Owen.
— Owen, mudança de planos, vamos para Wall Street.
— Sim, senhorita... quer dizer, Emma.

***
Meu primeiro pensamento quando contemplo o elegante prédio em
Wall Street é que nunca passou pela minha cabeça que voltaria ali algum
dia como noiva daquele cara lindo e rude em quem eu havia tropeçado no
saguão.
Tanta coisa mudou em pouco mais de dois meses.
A verdade irrefutável é que as coisas haviam mudado exatamente
naquele mesmo dia. Eu entrara naquele prédio uma pessoa e saíra outra.
— Boa tarde, Senhorita Jones. — A secretária bonita sorri toda
solícita para mim assim que piso no saguão.
Faço um esforço para lembrar seu nome.
— Boa tarde... Gillian? — cumprimento, em dúvida, ela parece não
se importar. — O Liam está por aí?
— Sim, a senhorita pode aguardar um instante? Ele está numa
reunião, não vai demorar.
— Tudo bem. — Eu me sento no confortável sofá e pego uma
revista. É a Bloomberg Businessweek, uma revista financeira. Eu me
pergunto se serei capaz de escrever matérias como aquelas. Não entendo
nada de finanças, como poderia funcionar? Conseguiria aprender?
Escuto uma porta se abrindo e coloco a revista de lado quando Liam
surge com um homem jovem do seu lado.
Seu olhar vai direto para mim quando me levanto, com um sorriso
contido, pois ele está todo sério enquanto o executivo que o acompanha
também me encara curioso.
— Olá, Senhor Hunter. — Eu me aproximo, meu corpo reagindo
automaticamente ao seu olhar me escaneando. Ele precisava mesmo fazer
isso em público?
— Senhorita Jones, espero que não tenha esperado demais.
— Quase nada. Gillian me disse que estava numa reunião. — Eu
olho para o executivo. — Aliás, não vai nos apresentar?
Posso aproveitar e fazer amizades por ali. Como Samantha diria,
“contatos”. Vai saber, se eu aceitar aquele emprego poderei precisar.
— Brady Nelson, um dos nossos diretores. Brady, esta é Emma
Jones, minha noiva.
Os olhos do rapaz se arregalam ligeiramente, acho que ele não
esperava que fôssemos íntimos depois de nos ver brincando de senhor e
senhorita.
Tenho vontade de rir, mas me contenho e apenas estendo a mão.
— Oi, Brady, muito prazer.
— O prazer é meu, Senhorita Jones.
— Ah, por favor, não me chame de senhorita.
Ele fica vermelho.
— É só Emma — continuo e Liam está meio que rangendo os
dentes do meu lado.
— Brady, você não tem trabalho para fazer? — Rosna segurando
meu braço.
— Claro, claro. — O rapaz se afasta e Liam me leva para sua sala.
— Por que foi grosseiro com ele? Você trata todos seus funcionários
desse jeito? — comento quando fecha a porta atrás de si.
— Seria interessante se parasse de flertar com meus empregados,
Senhorita Jones. — Ele me solta e senta atrás de sua mesa imponente. Todo
Leão de Wall Street, enquanto abre seu notebook.
Eu suspiro. Lá vamos nós.
Largo minha bolsa na cadeira, dou a volta na mesa e, sem pedir
licença, sento em seu colo.
— Porra, Emma — Liam reclama, eu não me importo.
— Eu não flerto com seus funcionários.
Ele segura minha mão, onde meu anel brilha majestoso.
— Eles podem pensar diferente, embora acredite que nenhum teria
coragem de pôr as mãos no que é meu.
Eu me viro para encará-lo. Tão perto. Tão carrancudo. Tão lindo.
— Eu não flerto com eles — repito — É sério. O fato de ser cordial,
não significa que esteja com segundas intenções! E eles também não têm
segundas intenções comigo.
— Você não tem noção do quanto é desejável, Senhorita Jones.
— Deveria ter ficado noivo de alguém menos desejável então.
— Aí não seria você — rebate com um sorriso de lado que tira meu
fôlego por alguns instantes. — Agora me diga como foi sua entrevista.
Eu me viro, rompendo nosso contato visual, meio hesitante.
— Foi legal.
— Está sendo evasiva de novo... — diz no meu ouvido.
Estremeço.
— Não é nada demais realmente. Só um site de finanças.
— Qual site? — Sua voz está bem interessada agora.
— É um site novo. Uma repórter do Times está à frente, seu nome é
Samantha.
— Hum, Samantha de quê? — Ele nos move para que seus dedos
toquem de novo no notebook. Seguro suas mãos o impedindo.
— Nem pense! Não vai se intrometer!
— Só ia pesquisar o nome dela na internet. Se você não fez isso
ainda deveria fazer. Não vai aceitar uma proposta de emprego sem ter
alguma informação sólida.
— Eu nem sei se vou aceitar!
— Por que não?
— Sério? Olhe pra mim, não entendo nada de finanças. Eu acho que
ela só pode ser louca por me oferecer esse trabalho. — Não falo que eu
também não estou muito certa sobre trabalhar com Tristan, o cara que havia
me beijado e Liam nem fazia ideia de quem era.
— Você pode aprender se é realmente o que deseja.
Franzo os olhos, cética.
— Não estou bem certa...
— Esse não parece ser o único empecilho. — Liam me estuda e eu
fico vermelha, desviando o olhar novamente. — Sei que não dá a mínima
para seu estágio. E que também não era o curso que queria fazer...
Ele segura meu rosto para que eu o encare.
— É esse o problema?
— Não sei... Na verdade nunca pensei muito no que faria depois
que me formasse. Embora tenha certeza que meu pai ficaria muito feliz se
eu saísse da faculdade empregada!
— Você não precisa aceitar esse emprego se não quiser. E nem
qualquer outro, sabe disso, não?
— O que quer dizer? Eu preciso de um trabalho. Vida adulta é assim
não é? Trabalhar e pagar as contas.
— Que contas? Você estará casada comigo, baby. E eu sou
bilionário. Não precisa trabalhar nunca mais.
— Ah, eu nunca pensaria desse jeito! — Tento me afastar, mas seus
braços me seguram forte.
— Achei que já tivesse entendido, Emma. — Ele está sério agora.
— Como minha esposa não terá mais se que se preocupar com dinheiro.
— Isso é absurdo! Você é bilionário, não eu!
— Formalidades, baby. — Liam nos movimenta de novo, enquanto
sua mão alcança uma gaveta e ele a abre retirando um envelope lá de dentro
e me entregando. — Eu ia te dar quando chegasse em casa, mas já que me
deu a honra de sua visita...
Abro o envelope e arregalo os olhos ao retirar de lá de dentro um
contrato de abertura de conta no meu nome e junto com ele um cartão de
crédito daqueles escuros, que até uma pobre estagiária como eu sabia que
significava crédito ilimitado.
— Que porra é essa, Liam?
— Um cartão de crédito. E abri uma conta pra você também.
Obviamente, eu também já transferi uma pequena soma...
Meus olhos correm para o valor que ele depositou e tenho um
principio de taquicardia.
— Pequena soma? Aqui diz que tem cinco milhões de dólares!
— Não é nada.
— Nada? Enlouqueceu? O que eu vou fazer com tanto dinheiro?
— O que você quiser. Pode começar indo fazer compras na Gucci.
— Suas mãos passeiam por minha barriga, até se infiltrarem sob o algodão
da blusa que estou usando. — Assim não me sentirei culpado ao cortar estas
suas roupas velhas...
Eu me arrepio com a voz sugestiva no meu ouvido, embora ainda
esteja tonta com todo aquele papo de cartão de crédito e milhões.
— É realmente um exagero, Liam...
— Esse assunto não está em discussão, Senhorita Jones. — Suas
mãos alcançam a frente do meu sutiã. Meus mamilos traidores intumescem.
Remexo-me em seu colo, ansiosa e começo a sentir sua ereção
despertando embaixo de mim. Liam geme em meu ouvido, apertando mais
meus seios.
— Está me seduzindo para que eu concorde, não vai adiantar, ainda
estamos discutindo sim — murmuro com toda a sensatez que consigo
juntar, dadas às circunstâncias. Afinal, não é fácil manter a sanidade quando
uma das mãos do Leão de Wall Street está dentro do seu sutiã e a outra está
abrindo o zíper da sua calça.
— Já disse que adoro discutir com você, Senhorita Jones? —
sussurra em meu ouvido, a mão deslizando para dentro da minha calça e
mais além, a barreira da minha calcinha não sendo páreo para a invasão
sacana de seus dedos.
Derreto imediatamente e cerro as pálpebras, gemendo alto ao senti-
lo me acariciando tão intimamente.
— Oh, porra, Liam, não é justo. — Eu me movo em seu colo,
sentindo-o ficar ainda mais duro.
— Nunca disse que seria. — Morde meu pescoço e depois chupa a
área atingida.
Os dedos continuam a me torturar. Ah, tão bom... Jogo a cabeça
para trás, me entregando à sensação.
— Eu quero te foder aqui — grunhe em meu ouvido, mandando um
milhão de agulhadas de pura antecipação para meu ventre.
— Sim...
— Quem ganhou a discussão, Senhorita Jones? — Ele me provoca,
parando de me acariciar.
Resmungo frustrada.
— Estou esperando — insiste.
— Você... — Que se dane. Eu só quero que ele continue a me foder
daquele jeito.
Liam solta um som de aprovação e me puxa pelos cabelos, até que
sua boca esteja colada a minha, devorando meus lábios num beijo
avassalador, que termina numa mordida.
Gemo de dor e prazer, totalmente perdida.
— Tire a roupa — ordena asperamente, me fazendo levantar e não
perco tempo, começando a tirar a minha roupa atrapalhadamente.
A blusa, o sutiã, os sapatos, a calça junto com a calcinha para
poupar tempo e em segundos estou nua e ofegante diante dele.
Liam também não perdeu tempo, e está com a calça aberta,
escorregando um preservativo por sua ereção latejante.
Oh Deus, preciso dele dentro de mim de um jeito que chega a doer.
— Venha aqui. — Ele me puxa de costas e me senta em seu colo de
novo, desta vez deslizando para dentro de mim, até me preencher
totalmente. Perco o ar, todo o meu corpo estremecendo, tomado de prazer,
enquanto Liam segura meus quadris com força, me fazendo subir e descer
sobre sua ereção.
Rapidamente firmamos um ritmo preciso. Subindo. Descendo. De
novo. Mais rápido. Seus gemidos roucos fazendo eco com os meus.
Perco o contato com a realidade, me concentrando na sensação
crescente que lateja em meu ventre, ameaçando explodir a cada estocada.
Então ele desliza uma mão entre minhas coxas e me acaricia e o que era
apenas uma ameaça, explode em forma de fogos de artifício sob minha
pele, espasmos deliciosos de prazer puro e incandescente me estremecendo
inteira, enquanto vou ao céu e volto, flutuando num orgasmo perfeito. E
Liam goza dentro de mim com um grunhido rouco, me apertando forte e
mordendo meu ombro.
Nós dois permanecemos, ofegantes e largados em cima da cadeira,
com Liam acariciando minha barriga e enquanto mantenho meus olhos
fechados e minha cabeça pendendo sobre seu pescoço.
— Já disse que adoro discutir com você? — repete e solto uma
risada.
Ah, eu riria de qualquer coisa agora.
— Acho que eu também gosto.
— Vem, vamos limpar você e nos livrar dessa porcaria. — Ele me
tira do seu colo e me leva até o lavabo adjacente a sua sala.
Ainda estou meio zonza e deixo que ele me limpe e depois se livre
do preservativo. Quando voltamos para a sala, faço menção de colocar a
minha roupa, mas Liam me impede, sentando de novo em sua mesa e me
puxando para o colo novamente.
— Se vou ficar nua, eu poderia exigir que se despisse também,
Senhor Hunter.
— Estou em horário de trabalho, não seja impertinente. Senhorita
Jones. — Belisca meu seio.
— Não estou vendo você trabalhando. — Relanceio o olhar para seu
computador, onde há uma tela piscando com números os quais não entendo.
— Poderia aproveitar e me ensinar como ganha dinheiro.
— Eu poderia ensiná-la a investir. Tem muito dinheiro na sua conta
agora.
Bufo ao me lembrar.
— Ainda acho que...
— Ei, lembre-se que eu ganhei a discussão.
— Claro, jogando sujo!
— Não ganhei milhões jogando limpo, Senhorita Jones.
— Ah, você é tipo o lobo de Wall Street?
— Não quis dizer este tipo de jogo sujo!
— É um alívio, já que ele acabou na cadeia!
Ele ri divertido.
— Fique tranquila. Posso ser impiedoso, porém não sou um idiota.
Construí minha fortuna com trabalho duro e não ia perder tudo com jogos
sujos, como alguns babacas em Wall Street fazem, como insider trading,
por exemplo.
— Que merda significa isso?
— É uma negociação baseada no conhecimento de informações
privilegiadas que ainda não são de conhecimento público, para conseguir
vantagem no mercado.
— Não sei se entendi.
— Se eu fosse comprar ações de uma determinada empresa e
soubesse de alguma informação que nenhum outro investidor tem
conhecimento, que faria, por exemplo, os preços dessas ações aumentarem
depois, eu estaria praticando um insider trading, entendeu?
— Ah, acho que entendi.
— Muitos caras se fodem por causa disso.
— E o que acontece se alguém é pego fazendo algo desse tipo?
— Multas milionárias, prisão... Em 2008 Warren Buffett comprou
bilhões de dólares da Goldman Sachs. Todo o mercado o acompanhou e as
ações da empresa dispararam. Acontece que um cara chamado Raj
Rajaratnam soube antecipadamente dessa transação e comprou papéis do
banco para vender logo em seguida. Ele foi condenado a 11 anos de prisão
quando descobriram.
— Nossa! Então é sério mesmo.
— É uma idiotice.
— Fico feliz que aja dentro da lei, Senhor Hunter. — Beijo seu
rosto. — Não acho que ia gostar de visitá-lo na prisão.
— Não me faria visitas íntimas?
— Hum, prefiro fazer visitas íntimas no seu escritório.
— Podemos negociar isso.
— Negociar? Por que fala como se eu fosse a maior beneficiada
quando é você quem deveria estar implorando para me ter?
— Eu sempre tiro vantagens das minhas negociações, baby,
aprenda.
— Ah claro, tão inescrupuloso. — Rolo os olhos. — E o que eu
teria que fazer para ter o privilégio de ficar nua com você em seu escritório,
Senhor Hunter?
— Poderia vir trabalhar para mim.
Franzo a testa, sem saber se ele está falando sério ou brincando.
— Ah é? E eu seria sua assistente nua?
— Não acho má ideia.
— A pobre Gillian perderia o emprego.
— Não, você seria minha assistente apenas para meus olhos.
— Ah, nada de reuniões com Brady Nelson?
— Não me provoque, Emma. — Ele fecha a cara.
Mas isso só me faz rir, passando o braço por seu pescoço e o
beijando. Somos interrompidos pela campainha do telefone.
Levo um susto, quando Liam aperta um botão e a voz de Gillian
surge no viva-voz.
— Senhor Hunter, sei que pediu para não ser interrompido, mas
Ethan avisou que terão que partir agora para o aeroporto.
— Tudo bem, Gillian, diga ao Ethan que estarei pronto em 15
minutos.
Ele desliga e eu o encaro.
— Aeroporto?
— Sim, preciso ir a Washington.
— Hoje? — Meu coração afunda.
— Agora. — Ele coloca uma mecha de cabelo atrás da minha
orelha.
— Quando iria me contar?
— É uma questão de última hora. — Sou tirada do seu colo, e ele
me ajuda a vestir as roupas.
— Quanto tempo vai ficar fora?
— Não sei ao certo. Uns três dias, possivelmente. Pode vir comigo
se quiser.
— Está falando sério?
— Claro. Embora eu vá trabalhar a maior parte do tempo. Você
pode assumir seu papel de assistente nua.
— Não seja bobo!
— Pode vir comigo mesmo assim.
— Tenho provas, não posso, sabe muito bem.
— Em breve suas aulas acabarão e você poderá viajar comigo
sempre. — Seus dedos acariciam meu rosto.
— Eu possivelmente estarei trabalhando...
— Eu disse que não precisa.
— Ainda não chegamos a um acordo...
— As negociações continuam em aberto então... — Beija minha
testa. — Agora vá. Owen irá levá-la.

***
— Fiquei surpresa por ter me convidado para jantar — Zoe diz
naquela noite enquanto tomamos vinho na sacada depois de termos nos
deliciado com um jantar perfeito preparado por Eric. — Achei que ia querer
distância de mim depois da nossa briga, pelo menos por enquanto.
— Eu também — confesso. Eu tinha chegado em casa naquela tarde
me sentindo muito sozinha com a perspectiva de não ter Liam voltando pra
ficar comigo à noite. Eric era legal, apesar de ainda se manter um tanto
distante, naquela coisa “empregado patroa".
Então decidi ligar pra Zoe e convidá-la para jantar comigo. Assim,
além de ter companhia, eu também poderia conversar com ela sobre a
proposta de Samantha.
— E aposto que estou aqui porque o Liam viajou.
— É esquisito ficar sozinha neste apartamento enorme.
— O Eric é legal.
— Ele é o empregado do Liam, não é meu amigo. E eu queria
conversar com você.
Seus olhos brilham interessados.
— Sobre o quê? Oh meu Deus, não me diga que vai pedir pra eu
organizar seu casamento?
— Não, de onde tirou essa ideia?
— Ah, não? Sabe que eu andei folheando meu livro de planos de
casamento e eu poderia adaptar muitas das minhas ideias para você. Na
verdade eu ia adorar...
— Zoe, não viaja. Já te falei que não vou me casar agora! Que tipo
de maluca bipolar você é, até poucos dias estava me xingando por eu aceitar
casar com o Liam e agora está toda empolgada querendo organizar a
cerimônia?
— Pensei que ia ficar feliz por eu ter decidido te apoiar! Então não
faça a louca bipolar você!
— Tá legal, não vamos discutir. O que eu ia falar na verdade é sobre
a proposta de emprego que recebi.
Conto a ela sobre Samantha e Tristan.
— Hum, pode se complicar se o Liam souber...
— E eu não sei? Por outro lado a proposta me pareceu interessante.
Quer dizer, é a única proposta que eu tenho no momento. Sabe que não fui a
aluna mais aplicada na faculdade e não sei se terei muitas oportunidades
como essa batendo na minha porta.
— Achei que nem fosse trabalhar depois que se casasse...
— Ah, você também?
— Por que o espanto? O Liam é bilionário, fala sério!
— Simplesmente não consigo lidar com isso ainda! É muito
bizarro! Sabe que hoje ele me deu um cartão de crédito e depositou uma
soma exorbitante numa conta que abriu pra mim?
— Uau! Acho que vou ter um surto de inveja de novo, pare de me
contar estas coisas, agora! — Zoe tapa os ouvidos.
— Não é tão legal quanto parece! Nem sei o que fazer com todo
aquele dinheiro! É quase sufocante!
— Eu saberia, com certeza.
— Tenho certeza que sim! Namorar um bilionário investidor não é
tão divertido assim.
— Não? Por favor, Emma!
— Onde é que ele está neste momento? Estou aqui sozinha e
começo a temer que suas ausências sejam contínuas. Eu o conheço há dois
meses e parece que a metade deste tempo ele esteve viajando!
— Você pode viajar com ele.
— Não sei se isso será viável se eu tiver um emprego, como todo
mundo.
— Não será todo mundo, será a esposa do Leão de Wall Street,
acostume-se, querida!
— É fácil falar...
***
— Por que não respondeu minhas mensagens? — A voz irritada de
Liam me faz revirar os olhos quando atendo o telefone naquela noite.
— Deixei o celular no quarto e estava jantando com Zoe. Ela
acabou de ir embora.
— A gnomo já está enfurnada aí?
— Liam, não fale assim.
— Espero que ela mantenha a linha, se magoar você de novo eu a
mando para Nárnia sem passagem de volta.
Eu rio alto.
— Desde quando Nárnia tem gnomo?
— Não tem?
— Aposto que sequer viu o filme, quanto mais ler o livro, não é?
— Sou um cara muito ocupado, Senhorita Jones, não tenho tempo
para essas merdas.
— E o que você faz para relaxar então?
— Sexo.
— Além de sexo, Senhor Hunter. Não gosta de ver um filme, ou ler
um livro? Por favor, diz que já leu algum livro na vida!
— Eu leio livros de negócios.
— Isso não vale! Vou fazer uma lista de leitura para você.
— Não me lembro que me transformar numa menininha leitora
compulsiva seja uma das cláusulas do seu contrato.
— Ler não é coisa de menina, Liam, para de ser idiota.
— Vai me obrigar a ler Nárnia?
— Crônicas de Nárnia — corrijo —, deveria ter lido quando
criança. Sua mãe não incentivava a leitura?
Assim que as palavras saem da minha boca, sei que acabo de pisar
em terreno perigoso.
— Está tarde, vá dormir Emma. Ainda tenho trabalho a fazer.
Droga. Quero insistir no assunto, mesmo sabendo que ele não vai
permitir.
— Tudo bem. Deveria ir dormir também.
— Boa noite, Emma.
E sem mais ele desliga.

***
Meu pai me liga na tarde seguinte quando estou saindo da clínica do
ginecologista.
— Emma, até que enfim consigo falar com você!
— Pai, não exagera, estou ocupada nestes últimos dias de aula.
Tenho que me sair bem nas provas, sabe disso.
— Espero mesmo que se saia bem! E, falando nisso, já pensou no
que vai fazer depois?
— Claro que sim — minto —, na verdade eu tenho uma proposta de
emprego muito boa!
— Sério?
Conto sobre o novo portal de finanças e que o emprego é meu se eu
quiser.
— E por que ainda não aceitou?
— Eu quero pensar direito...
— Pensar no quê? Não seja boba, filha. Não vá perder a
oportunidade.
— Eu sei, se bem que, podem surgir outras não concorda?
— Bem, se surgir me conte. Posso ajudá-la a escolher o que for
melhor.
— Claro pai.
— E vê se liga para sua mãe. Ela me mandou uma mensagem
perguntando sobre você. E ela quer saber quando será sua formatura.
Precisamos planejar nossa viagem.
— Eu vou ligar, pode deixar.

***
Naquela noite, fico em casa sozinha e aproveito para estudar.
Mandei uma mensagem para Liam, ele respondeu que estava ocupado numa
reunião.
Era impressão minha ou ele estava me evitando?
À tarde, depois de falar com meu pai, eu lhe enviei uma mensagem
maliciosa dizendo que em breve estaria tomando pílula e que não via a hora
de transarmos livremente de novo sem preocupação nenhuma desta vez. E
ele não respondera nada.
Minha cabeça está cheia de preocupação. Por que Liam não quer
falar sobre sua infância? O que de tão sombrio pode existir em seu passado,
que ele não quer dividir comigo?
Cansada de tentar estudar, desisto e vou dormir.
Sou acordada pelo som estridente do celular e tateio na mesa de
cabeceira, sonolenta até atender.
— Alô?
— Emma.
É Liam.
Abro os olhos, ficando mais alerta.
— Liam? Nossa, que horas são? — Eu me sento, esfregando os
olhos.
— Três da manhã.
— Que diabos está fazendo acordado a essa hora?
— Tive um pesadelo.
Fico preocupada no mesmo instante.
— Um pesadelo? Por isso está acordado?
— Queria ouvir sua voz.
Ele parece... desamparado. Meu coração se aperta.
— Eu sinto muito. Quer conversar sobre o pesadelo?
— Não.
Solto um suspiro.
— Por que me ligou se não quer dividir comigo?
— Contar a você sobre meus sonhos fodidos não vai ajudar em
nada.
— Não tem como saber. Às vezes tudo o que precisamos é falar.
— Eu queria que estivesse aqui.
Abro um sorriso.
— Iria tentar obrigá-lo a falar.
— Não. Eu ia foder com você até esquecer.
— Sexo não é a solução para tudo. Você ia esquecer na hora, depois
os sonhos iriam voltar.
— Eles não vêm quando você está comigo.
Oh Deus, Liam.
Eu queria tanto, tanto estar perto dele para abraçá-lo neste
momento. E quem sabe eu não conseguiria que ele se abrisse comigo.
— Por favor, Liam, me diga sobre o que são seus pesadelos. Diga-
me do que tem medo.
— Eu não tenho medo de nada. — Parece uma criança teimosa
falando.
— Tem sim! — Decido arriscar. — É sobre seus pais? Seus sonhos
são sobre eles?
Apenas silêncio em resposta. Mas ele não desliga.
Respiro fundo.
— Se você não vai falar, eu vou desligar.
— Certo, volte a dormir — ele diz friamente.
— Não fique bravo comigo, eu quero apenas...
— Esqueça, Emma. Não deveria ter te acordado. Vá dormir.
— Vá dormir você também.
— Eu vou trabalhar. Boa noite.
E sem mais ele desliga.
Fico olhando para o celular por um bom tempo, meio atordoada e
muito preocupada com Liam.
Ele não pode continuar assim. Uma pessoa não pode viver
plenamente quando é atormentada por pesadelos, principalmente quando
não quer falar sobre um passado que claramente o machuca.
Como poderei ajudá-lo se nem sei quais são suas feridas?
O dia amanhece e eu ainda estou acordada.
Então eu tomo uma decisão repentina.

***
Owen para o carro em frente à casa de tijolos aparentes com um
bonito jardim bem cuidado.
Ele não sabe onde estamos e é melhor que não saiba. Desconfio que
ele conte a Liam todos meus passos e não quero que ele saiba deste. Não
ainda.
— Owen, não sei se vou demorar, se quiser dar uma volta...
— Eu vou esperar.
— Claro, tudo bem.
Saio do carro e subo os degraus que levam à porta, tocando a
campainha. Sinto-me apreensiva.
Uma mulher bonita de meia-idade abre a porta e me encara entre
solícita e curiosa.
— Senhora Hunter?
— Sim, sou Nora Hunter.
Eu sorrio timidamente.
— Eu sou Emma Jones, sou... noiva do Liam.
Capítulo 26

A expressão de perplexidade no rosto da mãe de Liam diz tudo


sobre qualquer dúvida que eu pudesse ter a respeito de Liam ter falado
sobre mim aos pais adotivos. Definitivamente ela não fazia ideia de que eu
existia até aquele momento.
De repente sinto-me um tanto inconveniente por estar ali, na porta
da casa daquela mulher, sem prévio aviso.
Não faço ideia do tipo de relação que Liam mantém com os pais.
Ele só falara deles naquela remota entrevista e tudo o que sei é que os
Hunter o adotaram quando ele tinha 16 anos, que Nora Hunter é professora
e David Hunter médico. Inferno, eu só sei o endereço deles porque caçei na
internet e descobrir não foi fácil.
No entanto, é justamente por isso que estou aqui, não? Quero
desesperadamente saber mais sobre a família do homem com quem divido o
teto. Do homem com quem vou me casar e que não me diz nada sobre os
pais. Sejam adotivos ou não. Não faz diferença. É sua família.
— Desculpe. — Nora Hunter sacode a cabeça com um olhar
confuso e vacilante. — Você disse noiva?
Tento sorrir, o que sai mais parecido com uma careta. Tenho certeza
que estou ficando vermelha feito um pimentão.
— Sim, foi o que eu disse, mas... desculpe-me, eu não deveria estar
aqui, está claro que a senhora não fazia ideia da minha existência, acho que
deveria ir embora... eu sinto muito...
— Não, por favor, sou eu que devo pedir desculpas. — Ela sorri,
com muito mais sucesso do que eu. Nora Hunter é uma daquelas mulheres
finas, que tem a educação e o traquejo social que muitas de nós só
sonhamos ter. — Você disse que seu nome é Emma, não é?
— Sim, Emma Jones, senhora.
— Ah, por favor, não me chame de senhora. Emma, por que não
entra? Já que veio até aqui, acho que podemos nos conhecer melhor não
concorda? Estou realmente muito surpresa e agora curiosa também.
Sorrio, um pouco mais tranquila embora ainda um tanto tímida e a
sigo para dentro da casa.
É uma casa elegante e simples, com móveis antigos e clássicos que
dão uma sensação de paz e acolhimento.
Como teria sido para Liam crescer ali? Ele tinha 16 anos, um
adolescente. Como teria visto aquela casa e a mulher diante de mim?
— Por favor, sente-se Emma. — Nora aponta para uma longa mesa
de carvalho repleta de papéis. — Ah, me desculpe. — Ela começa a
recolhê-los. — Estava corrigindo provas, não esperava visitas.
— Não precisa se desculpar. Está tudo bem, eu que estou te
atrapalhando.
— Bobagem. — Ela sorri. — Precisava mesmo de uma pausa.
— Liam me disse que é professora de literatura.
— Disse? — Ela levanta uma sobrancelha. Seu olhar é cuidadoso
quando me encara. — Ele sabe que está aqui?
Fico vermelha de novo e certamente meu olhar culpado diz tudo.
— Não faz ideia. Está viajando. — Opto pela verdade.
— Eu imaginava. Vou fazer um chá e nós podemos conversar. Você
gosta de chá?
— Sim, mas não precisa se dar ao trabalho.
— Claro que preciso! — Ela pega uma chaleira e enche de água. —
Se eu soubesse que iria receber a noiva do Liam, teria preparado um belo
café da tarde. Bem, se eu ao menos soubesse que Liam tinha uma noiva.
Meu Deus!
— Eu sei. Deve ser esquisito. — Não consigo evitar o tom culpado
em minha voz.
— Não se sinta culpada. Nós sabemos de quem é a culpa, não é? —
Há um toque de censura em sua voz, mesmo assim, continua doce. Como se
ela tentasse ter raiva de Liam e não conseguisse.
— Eu realmente não sabia se Liam havia falado sobre mim a vocês
ou não...
— Deve saber que Liam só conta aquilo que quer.
— Eu sei — concordo amargamente e Nora me lança um olhar
perspicaz enquanto serve o chá em uma linda xícara de porcelana.
— Por isso está aqui sem ele saber?
— Também... — Seguro a xícara sem saber por onde começar
quando ela se senta.
Por um momento nós saboreamos o chá em silêncio.
Sinto-me observada e até mesmo estudada. O que será que ela está
pensando? Será que toda garota se sente assim no primeiro encontro com a
sogra? Sendo inspecionada e querendo desesperadamente passar nessa
inspeção?
E eu me sinto meio insegura e até ligeiramente deprimida por Liam
não ter falado uma palavra a meu respeito aos pais.
— Então você e Liam vão se casar — Nora começa com um sorriso
encorajador.
— Não agora — respondo rápido. — Nós combinamos que iríamos
esperar até que, quer dizer, eu meio que impus essa condição para aceitar
seu pedido.
— Você impôs?
— Uma garota tem que ter suas garantias.
Ela ri.
— Olha, garota, eu te conheço há um momento... Mas quando a vi
na minha porta dizendo que era noiva do meu filho eu pensei, “ela não se
parece em nada com as garotas com quem Liam costuma sair”, agora acho
que estou começando a entender...
— Garotas com quem o Liam sai? — Eu me atenho a este trecho em
especial. — Ele já trouxe muitas garotas aqui? — questiono entre ciumenta
e insegura.
— Não nos últimos dez anos, certamente. Mas quando morava aqui
era um festival de garotas passando por essa porta.
— Ah, posso imaginar... — Deviam ser as tais garotas do colégio
católico que gostavam de apanhar. Jesus!
— Ele saiu de casa quando foi para a faculdade e desde então eu só
fico sabendo de seus encontros, se é que podemos chamar assim, pelos
tabloides.
— Entendo... eu realmente não me pareço com aquelas modelos...
— comento insegura.
— Fico muito feliz que não se pareça. Apesar de todas serem muito
bonitas, nenhuma aparentava ter qualquer coisa que pudesse fazer Liam
pedi-las em casamento.
— Na verdade, não faço a mínima ideia do que o fez me pedir em
casamento — confesso.
— Há quanto tempo estão juntos?
— Pouco mais de dois meses...
— Hum, não é muito tempo.
— Eu sei.
— E ele a pediu em casamento.
— Eu sei!
— Talvez eu não deva ficar surpresa. Liam é muito obstinado. E
muito teimoso. Quando ele quer algo... ele consegue.
— Eu sei disso também.
— E estou bastante curiosa, como se conheceram? Como você
mesma disse não se parece com as garotas que Liam costuma seduzir.
Enrubesço, me lembrando de como Liam me seduziu quando nos
conhecemos. Porém a mãe dele não precisa saber dos detalhes sórdidos.
— Eu o entrevistei para o jornal que faço estágio.
— É jornalista?
— Estou me formando.
— Que interessante. Então foi assim que começaram a namorar.
— Mais ou menos — digo devagar. — Não foi um processo fácil...
ainda não é.
Nora percebe meu desconforto.
— E estão noivos mesmo se conhecendo há tão pouco tempo.
— Fiquei chocada quando ele me pediu em casamento... Não
tínhamos o que se pode chamar de um relacionamento convencional...
— Liam não é um homem convencional. — Ela sorri.
— Nem um pouco.
— E mesmo assim você o ama?
Sinto todo um peso em sua pergunta. E não posso mentir.
— Eu o amo demais. E é esse o motivo de eu estar aqui... Liam
precisa de ajuda. — Não consigo mais esconder minha angústia. O
verdadeiro motivo de eu ter ido procurá-la.
O sorriso de Nora morre em seu rosto, substituído por um olhar
apreensivo.
— Liam está com problemas?
— Não sei qual é o problema do Liam essa é a questão! Ele não me
conta nada. Eu sei tão pouco sobre ele e sua história! Ele só me contou que
os pais morreram quando ele era criança e que viveu em lares adotivos até
ser adotado por você e seu marido. O pouco que sei sobre o período antes
de vir pra cá foi o Ethan que contou...
— E, conhecendo Ethan e sua amizade por Liam, aposto que foi
quase nada.
— Pode apostar!
— Ethan é muito leal ao Liam.
— Já percebi. Não saber nada é tão frustrante! Eu disse ao Liam que
teria que se abrir comigo, responder as questões que eu fizesse sobre seu
passado, sua família...
— E você fez?
— Quando eu pedi para conhecer vocês, ele desconversou! Eu
estava tentando ser paciente. Tentando dar tempo para que se sentisse à
vontade para contar sua história. Imagino que não deva ser fácil perder os
pais tão jovem e ser obrigado a viver em lares adotivos. Ele tem esses
pesadelos... — Abaixo a voz. — Ele não dorme... Não sei o que fazer.
Quero que me conte e ele se fecha! Isso está me matando!
Nora respira fundo, apertando os lábios.
— Sim, Liam não teve uma vida fácil.
— Ele já tinha pesadelos quando morava aqui?
— Sim. Eu e David insistimos para que consultasse um terapeuta.
Nós víamos que ele não dormia direito. Claro que Liam não concordou. Ele
disse que ia melhorar. E melhorou, pelo menos acreditei que tivesse
melhorado. Os pesadelos ainda o acordavam de vez em quando, porém não
com a mesma frequência.
— Ele tem pesadelos agora é só o que eu sei. E por causa deles não
dorme. Fica trabalhando e diz que está acordado por causa do trabalho, eu
sei que é só uma desculpa!
— Eu não fazia ideia...
— Como pode não saber?
— Emma, Liam não mora conosco há dez anos.
— Mas continua sendo seu filho.
Ela sorri com tristeza.
— Sim, ele é meu filho. Eu disse isso a ele quando chegou. Um
garoto machucado por dentro e por fora. Porém Liam nunca deixou que eu
me aproximasse totalmente. Sempre arredio, até mesmo agressivo. David
disse que devíamos ter paciência. Ele não teve quem o amasse nesses lares
em que viveu. Ele não acreditou que David e eu podíamos amá-lo como
filho. Todos esses pais adotivos eram pessoas interesseiras que só queriam
saber do dinheiro pago pelo governo. Liam cresceu sem ter alguém que
realmente se importasse com ele. Por viver assim, teve que aprender a
contar apenas consigo mesmo. Não confiar em ninguém.
— Mas ele passou a confiar em vocês, não é?
— Gostaria de dizer que sim, eu até acreditei nisso por um tempo.
Depois de alguns meses ele melhorou. Eu o coloquei no colégio em que eu
trabalhava e confesso que fiquei temerosa de que fosse causar problemas
tendo em vista seu histórico e personalidade, mas não aconteceu.
— Ele não queria decepcioná-la. — Eu me lembro da entrevista,
quando disse que teve que aprender a se comportar, senão Nora ficaria
arrasada. — Tenho certeza disso.
— Liam pode parecer não ter coração, embora tenha um jeito muito
peculiar de demonstrar que se importa. — Seu sorriso ainda é cheio de
pesar. — Gostaria que ele demonstrasse mais, mesmo do seu jeito peculiar.
Não o temos visto muito ultimamente.
— Ultimamente?
— A quem quero enganar? Desde que se mudou Liam foi se
afastando cada vez mais. Primeiro a faculdade, eu tentei aceitar que era
normal. Quando um garoto sai de casa ele quer aproveitar a liberdade
recém-adquirida. Nós ainda o forçamos a almoçar com a gente todos os
domingos. — Ela sorri saudosa. — Apesar de ele faltar em alguns, vinha na
maioria das vezes. Me ajudava com a louça, pedia desculpas quando dizia
algum palavrão e eu o olhava de cara feia. Conversava com meu marido
sobre investimentos. David o ensinou a investir.
— Sério?
— Sim. Quando o pai de David morreu deixou um pouco de
dinheiro e essa casa. Ele gostava de fazer investimentos. Era uma espécie
de hobby. Adorava explicar sobre a bolsa de valores ao Liam. Acho que
nunca imaginamos que Liam ia ficar milionário através disso. David
depositava uma soma em dinheiro todo mês para seus gastos, Liam nunca o
usava. Ele arranjava trabalhos e dizia que podia se sustentar. Foi com esse
dinheiro que ele começou a investir algum tempo depois. Ficamos
imensamente orgulhosos quando ele apareceu aqui em casa trazendo de
presente um carro para David e uma linda joia pra mim. E disse que havia
ganhado um milhão de dólares. E eu nunca deixei de me preocupar. Eu e
David somos pessoas simples. Vivemos bem, nunca nos faltou nada,
vivemos do nosso trabalho e é o suficiente. E ver Liam cada vez mais rico...
Eu me perguntava onde tudo ia parar. Ainda mais com ele ficando cada vez
mais distante. Os almoços de domingo começaram a rarear. Nos últimos
anos nos vimos apenas nos feriados praticamente. A última vez que eu o vi
foi no Natal.
— Faz mais de seis meses...
— Sim, provavelmente nós nos veríamos de novo em seu
aniversário — diz divertida, mas dá para perceber que isso a magoa —, que,
aliás, é daqui a três dias. Nós geralmente conseguimos marcar um jantar ou
algo assim.
— Liam faz aniversário em três dias? Ele não me disse.
— Ele não gosta de comemorar — diz com cuidado. — Apenas nos
encontramos e conversamos. Embora ele não goste muito. Sei que preferia
que fosse diferente, mas eu não o deixaria sozinho nesta data.
— Claro! Ninguém deve ficar sozinho em seu aniversário.
— É o que eu penso.
De repente a porta da frente bate e escuto passos subindo a escada.
— Seu marido chegou? — Eu me animo ao pensar que posso
conhecer David Hunter.
— Não, provavelmente é meu filho.
— Filho?
Nora se levanta.
— Venha conhecê-lo.
Eu a sigo escada acima.
— Eu e David resolvemos adotar outro garoto há mais ou menos
um ano.
— Vocês não têm filhos biológicos?
— Não, eu não pude ter filhos — explica enquanto bate em uma
porta abrindo-a em seguida.
— Querido, temos visita — ela chama a atenção do garoto jogado
na cama segurando um controle de videogame.
Ele é moreno e tem cabelos compridos, parcialmente cobertos por
um boné de baseball.
— Oi, visita — cumprimenta sem tirar os olhos da TV onde uma
sangrenta luta se desenrola.
Nora caminha exasperada para dentro do quarto e desliga a TV.
— Ei, estava ganhando!
— Seja educado como eu te ensinei e diga oi para Emma.
Ele finalmente me encara e então sorri me medindo. Deve ter no
máximo 15 anos, embora eu constate que é bem alto e forte quando se
levanta vindo em minha direção.
— Olá, bonita.
— Jeremy, não seja engraçadinho. Essa é Emma Jones, Emma este é
meu filho Jeremy.
— Muito prazer, Jeremy. — Seguro o riso porque tenho certeza que
ele está flexionando os músculos por baixo da camiseta para me
impressionar.
— O prazer foi meu, linda.
— Jeremy, a Emma é noiva do Liam.
Ele solta um palavrão.
— O quê? Aquele puto tem noiva? Achei que ele só saísse com
modelos de perna fina ou aquelas gostosas da playboy com peitões e...
— Ei, olha a língua! — Nora o repreende.
— Por quê? É a verdade!
Nora rola os olhos e liga a TV de novo.
— É melhor voltar a jogar e parar de falar besteira. Vamos, Emma.
— Ei, gracinha, quando se cansar do bilionário bobão, sabe onde
me encontrar.
Eu sorrio.
— Vou manter isso em mente.
Saímos do quarto e Nora pede desculpas.
— Sabe como são os garotos. Eu tento lhe dar educação, porém é
difícil. É uma idade terrível.
— Deveria adotar crianças menores — digo divertida.
— Eu não planejo. Simplesmente acontece de saber que estes
garotos precisavam de nós. Liam precisava e nós o encontramos. E Jeremy
também.
— Qual a história de Jeremy?
— A mãe morreu quando ele era criança num acidente de carro, e o
pai dele ficou numa cadeira de rodas. Ele morreu de problemas cardíacos há
uns dois anos. Jeremy morava com a irmã Tate, que era menor de idade.
— Isso é permitido?
— Não, foram descobertos no ano passado quando a irmã foi para a
universidade e ele quis ficar sozinho. Sofreu um acidente de moto, por
causa disso descobriram que ele vivia sozinho e quiseram mandá-lo para
um orfanato. David cuidou dele no hospital e interferiu.
— Como Liam.
— Sabe como Liam veio morar com a gente? Ele te contou?
— Claro que não! Ethan me contou por alto.
— Sim, David cuidou de Liam depois que ele se encrencou naquela
briga de gangue.
— Ele teve muita sorte por encontrá-los e não ir pra um
reformatório. Uma pena não ter encontrado vocês antes, quando tinha dez
anos.
— Sim, é realmente uma pena.
— Acha que Liam seria diferente? Se vocês tivessem cuidado dele?
Acredita que não seria este cara fechado emocionalmente que sofre com os
pesadelos?
— Não sei, Emma, o trauma que sofreu com a morte dos pais, não
sei se teria conserto de qualquer maneira.
— O que aconteceu com os pais dele?
Nora hesita. E fico com medo do que vou ouvir.
— Os pais do Liam foram assassinados.
— O quê? — Estremeço de horror. — Como... Por quê?...
— A mãe, era assistente social e trabalhava numa ONG, ajudava
pessoas vitimas de violência. Ela foi atacada por um homem que não gostou
do fato de ela ter ajudado a mulher e os filhos a fugirem dele. Ele
simplesmente descobriu onde ela morava, tocou a campainha e, quando o
pai de Liam, John, atendeu, ele atirou. Depois atirou na mãe de Liam,
Martha. Este era o nome dela.
— E Liam... — Começo a sentir náuseas.
Eu acho que já sabia a resposta.
— Liam assistiu tudo. Teve sorte de o homem fugir quando ouviu
sirenes próximas.
— Meu Deus... — murmuro sentindo meu coração se
despedaçando.
Os traumas de Liam são muito piores do que eu podia imaginar.

***
Três dias depois, eu me sinto apreensiva quando entro na cozinha.
— Tem certeza que está tudo certo? — pergunto a Eric e ele sorri.
— Sim, fique tranquila.
— Impossível.
De repente o interfone toca e estremeço quando Eric o atende. Eu
sei o que significa. Liam está subindo.
— Sim, obrigada — Eric desliga e sorri corajosamente pra mim. Eu
não consigo sorrir de volta. — Liam chegou.
Meu estômago embrulha quando volto pra sala.
Olho para as pessoas em volta.
Zoe está linda, usando seu vestido novo que eu comprei de presente
com o ridículo cartão de Liam. É um Balenciaga. Assim como o meu. Ela
tinha ficado em êxtase quando liguei há três dias contando meus planos e
prontamente concordou em me ajudar e, claro, disse que era imprescindível
que eu usasse uma roupa nova.
Jackson também estava ali, com a mão ao redor de sua cintura. Eles
conversavam com Amanda, que eu convidei só pra provocar o Eric. Ele
ficou muito vermelho quando a viu. Era realmente bonitinho.
Mais à frente estava Sarah e seu noivo Peter. Eu o conheci somente
hoje, mas já gostava dele. Formavam um lindo casal, ao lado deles está
Brady. Quando perguntei a Sarah se devia convidar mais alguém do
escritório, alguém que Liam gostaria que estivesse presente, ela disse que
Liam não era íntimo de ninguém, mas que às vezes saía para jantar com
Brady. Então eu o convidei, mesmo Sarah dizendo que provavelmente estes
jantares fossem para falar de negócios.
Meu olhar recai para o adolescente jogado no sofá, entretido com
algum jogo no celular. Jeremy parece entediado, depois de ter jogado meia
dúzia de cantadas batidas em mim que não surtiram o menor efeito. E logo
atrás deles, parecendo também um tanto apreensivos, estavam Nora e
David.
David Hunter é um dos homens mais lindos que já vi com seus
cabelos platinados e aparência distinta. Ele poderia ser pai de Liam de
verdade, se levássemos em conta a beleza.
Naquele dia quando a visitei, Nora me convenceu a ficar para o
jantar e me apresentou David. Ele ficou tão surpreso quanto ela por eu ser
noiva de Liam, mas foi muito gentil. Infelizmente, nada mais foi dito sobre
o terrível assassinato dos pais de Liam.
Eu fiquei muito chocada quando Nora me contou e, antes que ela
pudesse continuar com o assunto, Jeremy descera as escadas reclamando
que estava com fome. Assim, nossa conversa foi interrompida.
Depois que Jeremy subiu novamente, não sem antes ficar dando em
cima de mim, atitude típica de um garoto cheio de hormônios, eu até tentei
introduzir o assunto de novo, mas Nora já não parecia tão receptiva.
— Emma, sinto que já falei demais. Na verdade, eu também não
tenho muitos detalhes. Sei apenas o que constava nos relatórios do Liam. E
ele nunca quis conversar sobre o assunto.
— Ele nunca vai querer falar comigo sobre isso também!
— Vocês vão se casar. Espero que em algum momento ele se sinta
confiante o suficiente para te contar.
— Acha que essa é a causa dos pesadelos?
— Provavelmente.
Então eu fiquei para jantar e não fiz mais nenhuma pergunta sobre
meu traumatizado noivo.
O tempo inteiro a história terrível do assassinato dos pais de Liam
rondou minha mente. Eu sentia uma dor imensa em meu peito ao imaginá-
lo, um garoto de dez anos, vendo os pais serem brutalmente assassinados.
Era óbvio que essa era a causa dos seus pesadelos.
E agora que eu sabia, como poderia ajudar? Eu não fazia ideia.
Como fazê-lo confiar em mim? Como fazê-lo aceitar meu amor, se
ele nem aceitava o de Nora e David? Se nunca confiara neles totalmente?
Mesmo assim eu precisava tentar.
Naquela noite, quem não conseguiu dormir fui eu. Eu chorei pelo
garoto que perdeu o pai e mãe de uma só vez. Que presenciou uma
violência da qual nem uma pessoa adulta poderia sair imune. E que, além
disso, foi jogado em lares adotivos, com pessoas que não se importavam
com ele.
Chorei pelo homem que tinha se tornado, frio, emocionalmente
distante e que acreditava que o dinheiro poderia resolver tudo. Um homem
que tinha o amor de duas pessoas maravilhosas como os Hunter e não
conseguia se abrir para esse amor.
Um homem que tinha o meu amor e não confiava em mim para
contar seus medos.
Então, ao amanhecer, eu tive uma ideia.
Achei que podia ser uma boa ideia. Mostrar um pouco de amor.
Rodeá-lo de pessoas que realmente se importavam. Começaria assim e veria
no que iria dar.
Agora, me pergunto se não fui precipitada.
A porta se abre e eu vejo Liam surgir no meu campo de visão.
— Mas que... — Ele olha para todas as pessoas reunidas e me
encara.
Antes que decifre sua expressão, abro um sorriso.
— Feliz aniversário!
Capítulo 27

As minhas palavras ressoam pela sala por alguns segundos,


enquanto todos esperam a reação de Liam.
Eu não estou sorrindo. Não consigo forjar uma alegria que soará
forçada quando eu nem mesmo sei se é para eu estar feliz, já que tudo
depende da reação de Liam. Que vamos convir, tem grandes chances de ser
bem negativa. Como herdei o lado otimista da minha mãe, acredito que
basta manter o pensamento positivo e o universo se encarrega de fazer a sua
parte.
E estou contando muito com o universo nesse momento, enquanto
meu coração parece que vai sair pela boca de tanta ansiedade, numa mistura
de medo e esperança.
Então, mesmo não sorrindo alegremente, tento manter um olhar
sereno, entre seguro e acolhedor para Liam perceber que aquela situação
pode até parecer uma arapuca, mas não é.
— Ei, eu tinha esquecido que hoje era seu aniversário, chefe —
Ethan quebra o silêncio com sua voz amistosa, surgindo ao lado e Liam.
Embora seu olhar esteja gritando “você está fodida” quando encontra o
meu.
Putz, minha falsa segurança começa a desmoronar.
— Parabéns! — Ethan bate nas costas de Liam e sei o que está
pretendendo. Ele está ganhando tempo, tentando distrair Liam de sua
crescente fúria.
Ah, e, embora seu rosto seja uma máscara de impassibilidade, sei
que ele está fervendo por dentro. Que a qualquer momento aquele leão
selvagem e raivoso que vive dentro dele vai pular em meu pescoço.
— Querido... — Nora também vem em meu socorro, caminhando
na direção de Liam. — Meus parabéns.
Fico apreensiva quando Nora segura o rosto de um Liam feito
estátua e o beija.
— Uhuu! — Ethan aplaude
E Zoe bate uma taça na outra.
— Que comece a comemoração, já que o aniversariante chegou!
Eu não sei se ela está fazendo isso para aliviar a tensão, ou se é falta
de noção mesmo.
Todos fazem algum barulho, entre erguer a taça ou soltar um riso,
ou gritar algum encorajamento como “ao aniversariante".
Acho que mesmo a música que até aquele momento estava em som
ambiente aumentou.
Respiro fundo e me aproximo de Liam. Meus saltos ridículos
batendo no chão, Nora está sussurrando algo em seu ouvido e eu espero que
seja “não bata na Emma na frente de todo mundo”.
Liam crava seu olhar feroz em mim quando ela se afasta para o
lado.
Estremeço de medo. Caramba, estou muito fodida. Apesar disso não
vou recuar. Não vou deixá-lo estragar tudo o que fiz.
Liam pode não perceber, mas tudo o que eu faço é por ele. Por nós.
Quero ter a chance de dizer-lhe antes que estrague tudo na frente
daquelas pessoas.
— Gostou da surpresa?
Ele não responde. É como se estivesse tão estupefato que lhe
faltavam palavras. Ou então está tentando se controlar para não me matar na
frente dos seus pais.
Ou quem sabe esteja pensando em todas as formas com as quais
poderá me punir.
— E aí, Liam, gostou? — Ethan brinca e Liam desvia sua atenção
para ele, me dando uma chance de respirar.
Nora sorri para mim encorajando-me, o que me dá alguma força.
— Você sabia? — A voz de Liam deixa claro que Ethan estaria
muito ferrado se soubesse.
— Eu não! Estou tão surpreso quanto você!
— Exatamente, Ethan não sabia de nada. Não ia querer que te
contasse, ele é um linguarudo!
— Eu gostaria que alguém tivesse me contado.
— Aí não seria surpresa.
— Quem disse que eu gosto de surpresas?
Lá vamos nós.
— Querido, por que você não vai se trocar para o jantar que seu
chef, que ouvi dizer que é fantástico, está preparando? — Nora intervém. —
Emma pode ir ajudá-lo. Nós ficaremos bem aqui com nossos drinks.
Ele hesita por um momento e eu tomo a dianteira.
— Boa ideia, Nora! — Eu me afasto, esperando que Liam me siga.
Não tem outra opção no momento. Ele quer me esfolar viva e acho que é
algo que iria preferir fazer em particular.
Mal sabe ele que hoje eu deixei a submissa guardada na gaveta.
Caminho pelo corredor, sentindo sua presença perturbadora atrás de
mim e, quando entramos no quarto, escuto a porta bater com força e me
viro para encarar sua fúria.
— Que merda estava pensando?
— Não grite. As pessoas podem ouvir...
— Que se danem, porra!
Mantenho a compostura, mesmo querendo me encolher.
— Não sei porque está tão bravo! As pessoas costumam ficar felizes
quando ganham uma festa surpresa. Aliás, eu é que deveria estar brava por
não ter me contado que era seu aniversário.
— Eu não comemoro essa maldita data!
— Se me contasse alguma coisa sobre você, talvez eu soubesse e
evitaríamos este tipo de equívoco!
— Então é assim? Está fazendo para me provocar? Só porque eu
não entro no seu joguinho de perguntas e respostas?
— Não sou eu que faço jogos! E não estou querendo te provocar!
Eu queria comemorar seu aniversário, simples assim!
— Quer que eu acredite? Como foi que Nora e David vieram parar
aqui?
— Eu os procurei, qual o problema? São seus pais e, se dependesse
de você, eu só iria conhecê-los nas nossas bodas de prata!
— Isso não pode estar acontecendo, porra. Merda! Puta que pariu!
— Ele puxa seus cabelos como se fosse arrancá-los, cada vez mais furioso.
Condoo-me com seu desespero por um momento.
— Liam sinto muito por ter ido conhecer seus pais sem que você
soubesse, mas eu tinha que fazer isso. Você não me conta nada, eu
precisava...
— Não tinha que fazer porra nenhuma! Eu não te dei permissão
para invadir minha vida e não te dou permissão para invadir minha mente,
caralho!
Sinto como se tivesse levado um tapa na cara.
Respiro fundo pra não explodir também.
— Quer saber, eu estava mesmo esperando algo assim e saiba que
não é só você que está furioso! No entanto, este não é o momento mais
adequado para uma briga. Nós temos convidados para o jantar.
— Uma ova que temos!
— Temos sim!
— Não vou comemorar merda de aniversário nenhum, não vou
participar desse circo que você armou!
— Ah vai sim. São seus pais lá fora. São seus amigos! E meus
amigos! Pessoas que se importam com você e comigo! E que estão aqui
para um jantar de comemoração. Já está passando da hora de você olhar
além do seu próprio umbigo e perceber que existem pessoas a sua volta que
se importam e querem se aproximar de você! Você não se importar com
seus pais nem com seus amigos me levará a crer que não se importa comigo
também. Que não é capaz de se importar com ninguém!
— Não me venha com toda esta baboseira fodida de autoajuda!
Você vai acabar com aquela merda agora!
— Não, Liam! Se você mandar aquelas pessoas embora, eu também
irei. É o que quer? Quer que eu vá embora?
— Não me faça ameaças.
— Não são ameaças. É exatamente o que vai acontecer! Se não tem
um pingo de sensibilidade ou pelo menos educação, se não é homem o
suficiente para encarar uma simples festa de aniversário, eu não faço a
mínima questão de continuar com você!
Ele não fala nada, apenas me encara furioso, como se estivesse
avaliando se estou mesmo falando sério.
Eu estou? Não sei.
A única coisa que sei é que eu preciso fazê-lo entender que não vou
recuar.
— Vou sair desse quarto agora e vou esperar que você venha para a
sala e seja educado com as pessoas que estão aqui por sua causa. Se não
vier, Liam, eu juro por Deus que desisto desse noivado, entendeu?
Finalmente noto um lampejo de incerteza em seus olhos. Ele respira
fundo e dá um passo em minha direção.
— Porra, Emma...
— Não, a discussão acabou! Vou te esperar na sala.
Saio do quarto tremendo tanto que me encosto à parede por um
instante, tentando fazer minhas emoções entrarem nos eixos.
Eu até esperava que Liam ficasse puto, bem no fundo eu realmente
tinha esperança de que ele ao menos me escutasse e eu conseguisse fazê-lo
entender que não fazia por mal. Que era perfeitamente normal que duas
pessoas que pretendiam se casar, duas pessoas que moravam juntas
conhecessem suas respectivas famílias, que soubessem de suas histórias,
mesmo que fossem trágicas e traumáticas, como a de Liam.
E mil vezes inferno, qual o problema com uma festa surpresa?
— Ei, você continua viva?
Abro os olhos e vejo Ethan se aproximando. Apesar de suas
palavras irreverentes, seu olhar é de preocupação.
— Por enquanto...
— Ele está furioso, não é?
— Acho que deveria estar preparada para uma reação como essa,
porém... Ah, Ethan, por que Liam faz isto? Eu só queria...
— Queria problemas, como sempre!
— Ei, não fale assim, Liam que é uma pessoa intratável!
— Liam odeia comemorar aniversários, Emma.
— Ele poderia ter me contado! Como se ele contasse alguma coisa
sobre a sua vida! Mas claro, eu nunca sei de nada! Sequer conhecia seus
pais!
— Ele deve estar puto com isso também.
— Não me importa — minto. — Ele terá que entender que se quiser
ficar comigo, vai ter que ser assim. Pelo menos precisará tentar ser uma
pessoa normal. Que trata bem os pais e os amigos e agradece pela festa
surpresa organizada por sua noiva.
— Garota, você é dura na queda, hein? — Ethan ri, entre admirado
e ressabiado. — Entendo sua vontade de domar o leão ali dentro, só vá com
calma. O Liam teve que enfrentar muita coisa fodida na vida, você sequer
faz ideia do quanto.
— Nora me contou sobre os pais dele.
— Contou? Liam sabe? Puta que pariu...
— Não, nem entrei neste assunto. Não é o momento. Não quando
ele já está irritado pela festa e por eu ter ido conhecer seus pais adotivos.
Acredito que parte de sua ira é porque deve desconfiar que já estou sabendo
de alguma coisa. Só não entendo o motivo de ele não querer dividir
comigo! — Um nó fecha minha garganta.
— Ei, tudo bem. — Ethan toca meus ombros. — Respire fundo e
volte a sorrir. Eric avisou que o jantar está quase pronto e vou entrar aí e,
mesmo perigando levar uns socos, prometo que vou tentar acalmá-lo e levá-
lo de volta para a festa, ok?
Abro um sorriso, agradecida.
— Obrigada, Ethan. Apenas... faça com que ele fique bem, tá? Eu
fico preocupada em como Liam deve estar se sentindo. Quero apenas que
fique feliz. Tudo o que eu faço é para que fique bem. Para que nós fiquemos
bem.
— Eu sei, venha aqui — Ele me puxa pra um abraço desajeitado e
afundo a cabeça em seu peito, quando o sinto beijando meus cabelos. —
Agora mova sua bunda muito gostosa neste vestidinho caro para a sala e
seja uma boa anfitriã. Você tem que impressionar os seus sogros e estas
coisas.
Eu rio e torço para que ele consiga convencer Liam enquanto volto
para a sala.
— Está tudo bem? — Zoe me aborda, quase sussurrando enquanto
estica o olhar para trás de mim, como se esperasse ver Liam surgir
segurando um machado ou algo assim.
— Está — respondo casualmente. Zoe não parece acreditar.
— Tem certeza? Liam não me pareceu muito feliz...
— Liam não gosta de festas surpresa ,o que eu só descobri agora.
Vai ficar tudo bem.
— Sério? Liam não parece o tipo de cara que faz o que não quer...
— Zoe chega! Eu disse que está tudo bem, ok? — Eu me afasto
vendo Nora repreendendo Jeremy, pedindo que ele saia do celular.
— Por quê? Essa festa está uma droga! — ele resmunga.
— Jeremy, não fale assim com a Nora — David o repreende, o
garoto apenas bufa mais uma vez.
— Eu só vim pela comida e cadê? Mais fácil ligar e pedir uma
pizza!
Eu me aproximo.
— Tem razão, Jeremy, vou verificar com o Eric se já está pronto.
Eu me afasto lançando sorrisos aos convidados e me perguntando se
Liam se dignará a aparecer e se juntar a nós.
Eric está retirando algo do forno e sorri quando me vê.
— E aí, tudo pronto?
— Sim, já irei servir se quiser encaminhar todos para a sala de
jantar... Ethan disse que o Liam já chegou.
Vejo uma pergunta muda em seu olhar.
— Chegou sim... Precisa de alguma ajuda?
— Não, fique tranquila e vá cuidar de seus convidados.
Volto para a sala e sinto um peso ser tirado do meu coração quando
vejo Liam conversando com Brady, Sarah e seu noivo.
Por causa da música e das risadas de Zoe, que está gargalhando com
algo engraçado que Jeremy estava contando, não sei do que estão falando,
um breve estudo me diz que não parece algo temerário do tipo “vocês três
estão demitidos por terem compactuado com essa merda de festa”.
Seu olhar encontra o meu por cima da cabeça dos amigos e arrisco
um sorriso. Ele não sorri de volta, apenas desvia o olhar para seus
funcionários.
Meu coração afunda no peito de novo.
— Emma, precisa de alguma ajuda? — Amanda se aproxima
solícita. Desvio o olhar de Liam e tento sorrir.
— Não, talvez queira verificar se Eric precisa?
Ela fica vermelha imediatamente.
— Emma!
— Hum, sei muito bem que acha ele uma graça, não se faça de
boba!
-—Tá, ele é mesmo. Acha que ele pode estar a fim de mim
também?
— Eu acredito que sim.
— Mas ele não faz nada! Nem olha pra mim direito...
— Tome a iniciativa então! Convide-o pra sair.
— Acha mesmo que devo? Não vou aparecer atirada?
— Nós só temos aquilo que pedimos. Se não pedir, nunca vai saber
— eu a encorajo.
— Boa ideia.
Ela se afasta e me viro para os convidados.
— Gente, o jantar será servido!
— Até que enfim! — Jeremy bufa, se levantando e indo na frente de
todo mundo para a sala de jantar.
Os outros convidados fazem o mesmo e eu me aproximo de Liam,
quando ele fica para trás.
— Obrigada por ter voltado.
Por um momento, acho que vai simplesmente me ignorar e seguir
em frente, mas em vez disso, com dois passos ele está na minha frente.
Prendo a respiração. Medo e ansiedade se misturam em minha expressão,
quando se inclina sobre mim.
— Não estou nada satisfeito com essa sua transgressão, Senhorita
Jones. Estarei sentado àquela mesa, pensando em sua punição enquanto
comemos.
Puta Merda!
Eu estremeço, sentindo um desejo insidioso percorrer meu corpo,
que se lembra de como é ser punida por Liam.
Então, quando ele me encara de novo, a frieza em sua expressão e a
fúria em seu olhar me fazem gelar. Pela primeira vez, acho que Liam está
falando realmente sério quando diz que vai me punir. Que não estamos
tratando somente de um jogo sexual, uma brincadeira que envolve a
fantasia de dominador e submissa.
Ele está com raiva de mim. Muita.
Liam já esteve com raiva de mim antes, naquela noite em que eu
disse que podia me punir por eu ter beijado outro homem. Dessa vez é
diferente. É mil vezes mais intenso.
E, enquanto ele se afasta seguindo os convidados, algo se revela sob
meus olhos.
É assim que Liam se protege. É assim que ele irá fugir de qualquer
discussão realmente séria que deveríamos ter sobre o que eu fiz.
Ele irá me amarrar e me dominar. Irá extravasar a sua fúria em
forma de sexo duro e agressivo.
E, como na noite em que ele estava com raiva pela minha infração
com Tristan, tudo seria esquecido depois.
A pergunta agora é: eu vou concordar com sua atitude? Vou me
entregar a seus jogos e deixar que Liam varra os verdadeiros problemas
para debaixo do tapete?
Eu os sigo, tentando empurrar minhas preocupações para o fundo da
mente e me sento à mesa com as outras pessoas.
— Eu estava com saudade da sua comida, Eric — Sarah sorri para o
chef que entra na sala e começa a servir as entradas.
— Sarah disse que só se casará comigo se eu contratar um chef
como você — Peter brinca.
— Claro, você cozinha muito mal, querido! A Emma tem sorte.
— Sim eu tenho, para ser sincera só me mudei pra cá por causa da
comida do Eric, com certeza — brinco e Liam fecha a cara.
— Ei, Liam vai deixar isso passar? — Ethan provoca.
Liam me lança um olhar de advertência.
— Pensei que tivesse se mudado porque sua amiga aqui a expulsou
de casa.
Zoe se engasga com o vinho e Jackson bate em suas costas.
Abro a boca várias vezes chocada, Ethan solta uma gargalhada
como se Liam tivesse contado uma piada. E todos riem também. Se eles
soubessem...
— Zoe fez um mau negócio, a Emma cozinha bem pra caralho —
Ethan continua.
— Ei, olha a boca, mocinho — Nora o repreende em tom de
brincadeira.
— Desculpe-me, Nora. Mas é verdade.
— Você cozinha Emma? — David pergunta.
— Não tão bem quanto o Eric, certamente, mas sim, eu sei cozinhar.
Liam inclusive ameaçou demitir o Eric. — Olho pra Eric que está servindo
mais para Jeremy que resmunga “põe mais aí, japa, este pouquinho não dá
pra nada”. — Desculpe-me, Eric.
— Hum, talvez eu deva ir trabalhar para Sarah e Peter nesse caso.
— Não, essa comida está tão boa que acho que pedirei para o David
contratar você — Nora diz e todos concordam que a comida de Eric é
realmente boa então o assunto começa a girar em torno de culinária.
Lanço olhares para Liam de tempos em tempos por cima do meu
prato, ele apenas responde quando algo lhe é perguntado, ri quando todos
riem e se mostra interessado quando alguém fala, enquanto os assuntos vão
se sucedendo. Passando de comida, para política, que Jackson e David
discutem e chegando a investimentos, como era de se esperar.
Durante todo esse tempo, ele não olha pra mim uma única vez.
Ethan toca meu braço.
— Ei, desfaça esta cara de preocupada — sussurra e eu forço um
sorriso, levando o copo aos lábios.
— Ele continua com raiva de mim — murmuro no meu copo, para
que só Ethan possa ouvir.
— Fique fria, está tudo sob controle.
— Por enquanto — ironizo.
— Eric, essa carne estava incrível — Amanda elogia, quando Eric
retorna. Estamos comendo o prato principal.
Ele fica corado e eu Zoe rimos.
— Acho que mais alguém quer levar o Eric pra casa. — Zoe cutuca
Amanda, cheia de malícia e ela também fica vermelha. Deve estar um tanto
alta por causa do vinho porque continua a flertar com Eric.
— Eu ia gostar mesmo... se tiver algum tempo livre na próxima
semana, poderia cozinhar para mim, o que acha?
— Acho que terei um dia de folga na próxima semana — ele
responde e tenho vontade de dar pulos de empolgação com aquele casal
quase formado.
Amanda realmente está bem assanhadinha essa noite, porque se
levanta e, com a desculpa de ajudar Eric a recolher os pratos, vai com ele
para a cozinha.
— Parece que está rolando um clima ali, hein? — Brady comenta.
— Vão formar um lindo casal — Nora diz. — E você, Brady tem
namorada?
— Eu sou solteiro — o rapaz responde.
— Brady é um garanhão — Ethan provoca. — Sempre com uma
conquista diferente.
— Ah, uma hora dessas vai encontrar uma linda garota para levar
para casa, como Liam. — Nora sorri toda satisfeita e eu olho pra Liam.
Ele está com a atenção em sua bebida.
— E você, Ethan, quando vai sossegar? — Nora continua seu
questionário casamenteiro e Ethan faz uma careta coçando o cabelo.
— Ethan está apaixonado — solto e ele fica bravo.
— Não estou não!
— Está sim. — Sorrio e me inclino na direção de Nora. — É uma
modelo e ele está apaixonado sim!
— Sério, querido? Então está namorando? — Nora pergunta
interessada.
— Que nada! Ele nem tem coragem de chamá-la pra sair.
— Ei, dá pra parar de me provocar? — Ethan reclama. — Aliás, eu
pensei que fosse um aniversário, cadê o bolo?
— Boa ideia, eu vou buscar. — Fico de pé em um segundo. Eu
mesma havia feito um bolo naquela tarde.
Porém, antes que eu alcance a cozinha, sinto mãos firmes, puxando
meu braço e quando olho para cima, Liam está me encarando furioso.
— Já chega!
— O quê? Mas nós ainda temos que cortar o bolo e...
— Eu disse que já chega! — repete entredentes, seu aperto se
intensificando.
— Liam, para com isso! Nós combinamos que você iria se
comportar.
— Não sou uma maldita criança para ter que me comportar!
— Está sendo ridículo! Estava correndo tudo bem até agora, só
vamos cortar o bolo e depois todos irão embora, ok? Sei que está puto
comigo, mas...
— Ei, vocês — Ethan surge no corredor. — David e Nora querem
se despedir.
Liam finalmente solta meu braço, embora a tensão permaneça.
Nós voltamos para a sala de jantar e estão todos se levantando.
— Se despedir? Nós ainda não cortamos o bolo... — balbucio meio
aturdida com o comportamento agressivo de Liam.
— Nós precisamos ir, Jeremy tem aula cedo amanhã.
— Mas...
— Nós também — Sarah e Peter fazem coro, seguidos de Brady.
Que porra está acontecendo? Todos decidiram concordar com
Liam?
Ou será que estão fugindo por perceberem a aversão de Liam a um
simples bolo de aniversário?
— Se todos estão de saída nós também... — Jackson se junta ao
coro de despedida.
— Mas a Emma disse que ainda tem o bolo — Zoe discorda,
Jackson sussurra algo em seu ouvido, ela parece querer continuar insistindo,
então desiste.
Amanda surge com um sorrisinho bobo no olhar e também se
despede ao ver todos partindo.
Nós seguimos até a porta e continuo atordoada pela mudança de
planos, pensando com pesar em meu lindo bolo que levei a tarde inteira
para fazer.
— Acho que também estou dispensado não é, chefe? — Ethan
questiona e quero gritar para não me abandonar, mas fico quieta vendo
Liam dizer para ele passar pela cozinha e levar Eric também.
Ah Deus, é agora.
Assim que Ethan se afasta, Liam me encara. Sustento seu olhar.
Ele não diz nada, fica só me encarando com seu olhar de predador
faminto por carne e sangue.
Parte de mim quer simplesmente escorregar para aquele subespaço,
onde existe apenas uma necessidade a ser preenchida e aguardar a sensação
avassaladora que virá a seguir. O frisson de ansiedade, a expectativa pela
dor e pelo prazer.
Ah, o prazer. Eu já sinto meu corpo se preparando lentamente, se
aquecendo e derretendo, minha mente girando, aquela névoa de desejo
diáfana e quente me deixando zonza e embevecida, minha consciência
querendo se desligar totalmente...
No entanto, hoje existe uma outra parte que se mantém alerta, que
se recusa a cair naquele abismo tão ardente quanto escuro em que Liam me
empurra com um simples olhar.
Hoje eu quero mais.
Quero a verdade. Quero a dura realidade de sua imperfeição. Quero
que ele me mostre todas as malditas nuances de seus pesadelos.
Em algum lugar do apartamento uma porta bate e eu sei que isso
que dizer que Ethan e Eric se foram.
Estou sozinha com o leão.
— Agora somos somente eu e você, Senhorita Jones. — Liam
caminha até mim enquanto retira o paletó e joga sobre o sofá, depois
começa a tirar a gravata.
Respiro fundo, lutando contra a vontade de simplesmente deixá-lo
tirar a roupa e continuar...
Só que, se eu deixar, tudo continuará como antes.
Reúno toda minha força e cruzo o braços o encarando séria.
— Acho que precisamos conversar.
— Não é o que tenho em mente. — Ele para diante de mim. — Me
dê suas mãos.
— Não!
— Esqueceu quem dita as regras nesse jogo, Senhorita Jones?
— Eu não quero jogar.
Seu olhar gela.
— Não te dei essa opção.
Saio da sua frente e me afasto alguns passos.
— Uma ova que não tenho opção! — explodo.
— Emma, eu não estou brincando — sibila mal contida fúria.
— Nem eu! Eu sei por que está fazendo isso! Você quer fugir do
verdadeiro motivo de sua raiva! Está puto pelo fato de eu ter procurado seus
pais adotivos, porque sabe que eu descobri a razão daqueles malditos
pesadelos!
As minhas palavras gritadas flutuam como balas de revólver entre
nós e atingem a nós dois.
Eu pensei que já tivesse visto Liam enfurecido, estava enganada.
— Você não sabe de nada! — Sua voz sai ameaçadoramente baixa,
como se ele estivesse se contendo para não explodir. Essa reação me dá
mais medo do que gritos, porém não posso voltar atrás.
— Sei sim, mas eu quero ouvir da sua própria boca — digo no
mesmo tom.
Liam caminha em minha direção, sua respiração é um ofegar
sofrido. O rosto está pálido e uma veia pulsa violentamente em seu pescoço.
— Não vou mandar de novo. Me dê suas malditas mãos, porra!
— Eu disse que não ia jogar. — Minha voz engasga de raiva,
frustração e medo. — Você se esconde atrás desses seus jogos para fugir da
realidade! Quer me punir e depois foder comigo como se fosse a solução de
todos os problemas e adivinha só? Não é! Não vai adiantar nada, Liam,
todos os pesadelos não vão desaparecer, todos os seus traumas continuarão
te atormentando...
— Isso é problema meu! Droga! — grita socando a parede.
— É problema nosso! Será que não vê que eu só quero te ajudar?
Por que não podemos discutir como duas pessoas normais? Porque não
pode se abrir comigo e contar...
Ele se aproxima de novo, tão rápido e feroz que por um momento
acho que ele vai me bater de verdade.
— Porque eu não sou normal! A merda da normalidade foi tirada de
mim há muito tempo! Eu sou o desumano e cruel leão de Wall Street, tenho
mais dinheiro do que qualquer um nessa cidade e posso te dar o mundo,
aparentemente isso não é o bastante para você, não é? Você quer também a
minha alma e eu não tenho uma! Se era isso que acreditou que iria
conseguir devo informar que se enganou. Eu sou o cara que gosta de te
amarrar e punir. Que sente prazer fazendo isso. Que te proporciona prazer
fazendo isso. Por que não pode ser o suficiente para você?
Eu mal consigo respirar, sinto uma estocada no coração a cada
palavra cruel que sai dos seus lábios. Porque eu sei que ele se sente
miserável do mesmo jeito.
E que ele sempre se sentiu assim.
Liam realmente acredita que não tem nada mais a oferecer ao
mundo a não ser o que o dinheiro pode comprar e alguns jogos pervertidos
de prazer como substitutos para sentimentos verdadeiros.
Ele joga a gravata no chão e se afasta, me deixando sozinha.
Então vai ser assim? Mais nenhuma palavra? Nenhuma ameaça ou
exigência?
Liam não cedeu e nem eu. Continuávamos num impasse.
Sinto como se meu coração estivesse se esfacelando a cada passo
que Liam dá para longe de mim.
Todo o meu ser está se dilacerando, se desmanchando.
Hoje eu quis mais dele do que ele estava disposto a dar. Na ânsia de
trazê-lo para perto apenas o afastei mais.
O que posso fazer?
Eu posso ir embora. Posso desistir.
Porém só o fato de pensar em Liam não existindo na minha vida,
sinto como se fosse o fim da minha existência também.
Simples assim. Não posso ir embora, porque desistir de Liam é
como desistir de mim mesma.
Enxugo uma lágrima solitária, a percepção da inevitabilidade se
instaurando no meu interior. Calmamente, eu me levanto pego a gravata que
ele deixou no chão e caminho para o quarto.
Liam está de costas, sem camisa, olhando a cidade através da parede
envidraçada.
— Você quer jogar? — pergunto, fazendo-o se virar. — Aqui estou.
— Estendo a gravata em minhas mãos.
Por um momento acho que vai me mandar sair, ainda parece com
raiva, no entanto há algo mais. Ele está frustrado também. Está dilacerado
também.
Constato apenas com o olhar.
Sinto-me mais triste por sua tristeza.
Se jogar vai fazê-lo se sentir melhor, que assim seja.
Talvez eu tenha sido precipitada. Tenha dado um passo maior que
minhas pernas, afinal.
Eu não vou desistir. Estou apenas dando essa batalha por vencida.
Ele se aproxima de mim, como um leão em volta da presa. Meu
lindo e ferido leão.
Sinto vontade de chorar porque ele está vindo para mim.
Suas mãos rodeiam minha garganta. Estão frias.
— O que eu faço com você, Senhorita Jones?
— O que você quiser — sussurro.
Ele retira a gravata das minhas mãos e extendo os pulsos
automaticamente.
— Não. Tire sua roupa primeiro.
Dou um passo atrás e deixo o vestido cair, ficando apenas de
calcinha e sutiã pretos de renda.
Seu olhar me percorre. É intenso, mas tem algo mais. Ainda tem
dor.
Eu quero tirar essa dor dele. Quero tirar toda sua dor.
— Toda a roupa — ele continua naquele tom dominador, embora
seu olhar esteja quebrado.
Deslizo a alça do meu sutiã para baixo e desnudo meus seios, depois
retiro minha calcinha, ficando nua diante dele.
Ele me rodeia. Sai do meu campo de visão.
Para trás de mim. Sinto suas mãos tocando minhas costas, afastando
meus cabelos. Estremeço. Quero que me abrace.
Sinto vontade de chorar quando seu nariz desliza por minha nuca.
Ele está me cheirando.
Fecho os olhos e tento segurar o nó na minha garganta.
Seus dedos deslizam pela minha barriga atingindo meu ventre.
— Vire-se e me dê suas mãos — ordena como na sala e desta vez eu
obedeço.
Ainda tenho os olhos fechados. Se eu olhar para ele vou chorar. Vou
desmoronar.
Suas mãos tocam as minhas apenas por um momento.
Abro os olhos confusa quando percebo que está demorando demais.
Vejo suas mãos com as minhas. Está tremendo. E eu também.
Começa a me amarrar. Eu levanto o olhar para seu rosto.
Ele está olhando para baixo, concentrado em me prender, porém eu
vejo seu olhar. Vejo sua dor.
Sua dor se torna minha dor.
As lágrimas que eu vinha segurando se rompem em meus olhos.
Tudo se rompe dentro de mim.
— Eu te amo — murmuro e, por um momento, não tenho certeza se
as palavras foram realmente ditas, se não foram um eco dos meus mais
profundos pensamentos.
Liam paralisa. As mãos ainda na gravata me prendendo.
Finalmente ele ergue seu olhar para mim.
A expressão em seu rosto é de incredulidade e dor.
— Eu te amo — repito baixinho, chorando.
Por favor, por favor, aceite meu amor – todo meu ser grita – não
fuja. Fique.
Fique comigo.
Me ame também.
Por favor.
Por um momento, tudo se silencia. Até nossas respirações. Até
nossos corações.
Então, sua mão volta à ativa. Ele está retirando a gravata do meu
pulso.
— Liam?...
— Eu não posso — ele diz cheio de angústia enquanto desfaz o
complicado nó.
O que ele não pode? Jogar ou me amar?
Finalmente minhas mãos estão soltas e ainda sem me encarar, joga a
gravata no chão.
— Eu... Simplesmente não posso. Não agora não... Inferno, isso é
demais pra mim... — Suas mãos torcem os cabelos de fogo. Ele sai do
quarto e eu me deixo deslizar para o chão.
Eu não posso fazer mais nada. Eu tinha dado o último passo em
direção a Liam. Em direção a nós. E Liam havia simplesmente fugido.
Ele não deixou Nora e David amá-lo. Ele não vai permitir que eu o
ame.
Deus, como aquele relacionamento poderá dar certo?
Em algum momento Liam irá se abrir para mim?
Enxugo minhas lágrimas, sinto-me frustrada e encurralada.
Eu sei que posso ir embora. Mas também sei que não quero ir. O
único que poderá me fazer ir embora é Liam. E ele não havia me expulsado.
Bem, ainda posso tentar mais uma vez.
Quantas vezes um coração pode ser quebrado?
Eu me levanto do chão e vou até o closet. Escolho uma camiseta e a
visto. Um pouco mais calma, vou ao banheiro, lavo meu rosto e escovo
meus dentes.
Não há sinal de Liam no quarto. Eu sei que ele não quer voltar. Sei
que deve estar em algum lugar daquele apartamento remoendo seus
demônios.
Respirando fundo, saio do quarto. Eu o encontro no seu escritório,
no escuro mexendo em seu laptop. Tenho quase vontade de rir do quão
clichê isso se tornou.
— Eu vou dormir. Quero que venha também — digo com
suavidade, embora com um toque de firmeza na voz. — E quero que durma
comigo. Se tiver algum pesadelo, você poderá me acordar. E eu vou te
ajudar a dormir de novo. Prometo que não farei nenhuma pergunta. E não
vou exigir nenhuma resposta. Quero apenas que se deite comigo naquela
maldita cama. Se quando eu acordar de manhã você não estiver comigo, eu
irei embora.
Finalmente ele me encara.
— Não é uma ameaça. É apenas uma constatação. Eu não quero ir a
nenhum lugar que você não esteja. Mas também não quero estar aqui se não
estiver comigo. Boa noite.
E sem mais, eu lhe dou as costas e saio do escritório, voltando para
o quarto.
Eu me deito e fecho os olhos. Não tenho mais vontade de chorar.
Sinto apenas um fio de medo pesando em meu estômago.
E um fio de esperança em meu coração.
Há um anel pesando em meu dedo. Eu estou dormindo em sua
cama. Ele me pediu em casamento. Disse que podia ser pra sempre.
Eu quero o para sempre.
Quero tudo. Quero Liam por inteiro e não só as partes que ele está
disposto a me dar.
Antes de deslizar para o sono, rezo para que ele esteja comigo
quando eu acordar.

***
Acordo me sentindo meio sufocada. Um peso em meu peito.
E não é mais a dor.
É Liam.
Abro os olhos para ver que o dia já amanheceu e que ele está com a
cabeça em meu peito, ressonando lentamente, uma perna entrelaçada na
minha.
Sorrio sonolenta. E acaricio seus cabelos.
— Não vá embora — ele sussurra contra minha pele e percebo que
está acordado.
Meu peito se aperta.
— Eu não vou — respondo, beijando seus cabelos.
— Você disse que ia.
— Eu menti. Eu nunca irei embora.
É verdade. Eu sabia bem no fundo que eu não poderia ir.
— Nunca mais diga isso. Me assustou — reclama.
— Você me assusta também, não percebe? — falo baixinho.
— Eu sinto muito.
Eu sei que ele está pedindo desculpas não só pelo o que estamos
falando agora.
— Vai ficar tudo bem. Apenas... Fique comigo.
— Eu sei que preciso contar sobre aquela noite.
Fico alerta quando ele começa a falar. Eu não esperava por isso. Ele
está falando sobre a noite da morte dos pais dele.
— Não precisa falar se não se sente preparado. Eu errei em
pressioná-lo.
— Apenas, tenha paciência, ok? Eu joguei todas as lembranças para
o lugar mais escuro da minha mente, falar sobre elas não é fácil. São
dolorosas demais.
— Tudo bem.
— Não quero que vá embora por causa disso.
— Eu prometo que não vou. — Eu o aperto mais forte. — Prometo
que não vou a lugar nenhum.
Capítulo 28

— Liam?
— Hum?
— Estou sufocando.
Ele ri e sai de cima de mim, mantendo o braço em minha cintura e a
cabeça enfiada no meu pescoço.
— Você tem um cheiro bom de manhã.
— Você não sentiu meu hálito.
— É um desafio, Senhorita Jones?
— Melhor manter alguma ilusão de que eu sou uma donzela com
hálito de flores quando acordo. — Acaricio seus cabelos.
Eu adoraria ficar o dia inteiro enroscada no corpo quentinho de
Liam, com ele ronronando na minha pele como um leão mansinho,
infelizmente tenho uma prova em poucas horas.
— Liam?
— Hum?
— Preciso levantar.
— Por quê?
— Porque tenho prova daqui a pouco.
— Ok, então vai.
— Me solta.
— Não consigo. — Seu braço em minha cintura me aperta mais e
sinto sua atrevida ereção matinal em meu quadril e suspiro.
— É melhor que me deixe sair dessa cama antes que eu decida
trocar um diploma por sexo.
— Acho que seria uma ótima troca. — Sua mão se imiscui embaixo
da minha camiseta.
— Meu pai não pensaria assim.
— Porra, é golpe baixo colocar seu pai na conversa. — Ele me solta
finalmente, saindo da cama e eu fico rindo. — Venha, vamos te alimentar,
Senhorita Jones. — Ele me puxa e seguimos para a cozinha.
Bocejo me sentando na bancada meio sonolenta enquanto Liam liga
a cafeteira elétrica.
— Cadê o Eric?
— Ainda é cedo. E eu não como de manhã, esqueceu?
— Mas eu como! — resmungo.
— Eu sei, por isso vou preparar seu café da manhã. — Ele pisca,
parecendo tão relaxado quando caminha até a geladeira que, por um
momento, penso no constraste gritante entre este Liam encantador e o Liam
raivoso de ontem.
Estremeço ao pensar no quão perto estive de perdê-lo para seu lado
obscuro, o quão perto cheguei de pensar que eu realmente tivesse perdido.
Agora ele está aqui comigo, adorável e acessível, me deixando com
uma sensação de borboletas na boca no estômago, uma espécie de sensação
doce e inebriante de que isso vai durar. Nós vamos durar.
Para sempre, oras! Eu quero a porra do para sempre.
Então noto que ele está há algum tempo parado em frente à
geladeira aberta e seguro o fôlego ao ver que está contemplando o bolo de
aniversário que fiz ontem todo enfeitado com as velinhas que eu e Eric
havíamos colocado.
— Você encontrou o bolo. Me deu muito trabalho fazer para ficar
intocado — Passo por ele e o tiro da geladeira colocando-o sobre a mesa.
Liam fecha a porta com força, se afastando e já não está com aquela
expressão relaxada.
— Você quem fez?
— Sim, fui eu! E não sabia que um bolo podia ser motivo de tanta
discórdia! — comento um tanto azeda. Tinha dado realmente muito
trabalho fazer aquele bolo e pensar que foi trabalho perdido me deixa
chateada.
— Eu não sabia. — Seus dedos castigam o cabelo e um olhar
angustiado tolda seu rosto.
Eu dou de ombros.
— Tudo bem, só pensei que você iria gostar.
— A noite em que eles morreram era meu aniversário.
Levo um susto com aquela relevação.
Meu Deus! Então esse foi o motivo de Liam ficar tão puto ontem,
tão fora de si! Eu nunca poderia imaginar.
Com o coração apertado, me aproximo e retiro suas mãos que
castigam os cabelos e as envolvo com as minhas.
— Sinto muito. Quer falar sobre isso?
— Eu queria poder esquecer. Tenho passado todos os malditos anos
me lembrando.
Eu o puxo para a mesa, fazendo-o sentar.
— Acredito que esteja na hora de criarmos novas lembranças. —
Sorrio docemente e acendo as velas.
Fico com medo que ele pire como ontem à noite, em vez disso ele
pega minha mão, me puxando para sentar do seu lado.
— Faça um pedido — murmuro, eu mesma fazendo um pedido
silencioso para que este homem tão complicado e com um passado tão
triste, possa enfim passar por cima de todos aqueles traumas terríveis e ser
feliz.
Ele assopra as velas.
— O que você pediu?
Ele sorri com uma certa melancolia de quem carrega muitas
lembranças tristes.
— Que a partir de agora, eu me lembre apenas deste momento.
Engulo o nó na minha garganta e o beijo, tentando transmitir
naquele simples beijo toda a minha esperança de que seu pedido se realize.
Abro os olhos e suspiro quando o beijo termina e ele está sorrindo
pra mim.
— Você tinha razão sobre o hálito.
— Ah! — Bato em seu braço, fazendo-o rir mais e me agarrar de
novo. — Não, me solta, você reclamou do meu hálito, seu... — Liam cala
meus protestos com outro beijo e desta vez é um de tirar o fôlego e derreter
minha calcinha e eu nem sei como, mas, quando o beijo termina, estou em
cima de uma bancada, com minhas pernas trêmulas em volta de seu quadril,
enquanto ele se esfrega em mim desavergonhadamente.
— Achei que meu hálito fosse horrivel!
Ele ri e morde meu queixo.
— Eu não me importo.
Esboço um sorriso, toda indolente, adorando sentir sua barba por
fazer machucando meu pescoço, me excitando mais. Puxo seus cabelos e
ronrono, me esfregando nele desavergonhadamente também, fazendo-o
gemer contra minha pele e me beijar com força de novo. Nosso atrito
provoca faíscas e me faz lembrar dos longos dias desde que transamos de
verdade. E esta constatação me deixa mais empolgada e, já estou preparada
para pedir que ele me leve para a cama, muito disposta a trocar o diploma
pelo sexo, quando seu celular estremece em cima da mesa.
— Mas que porra — ele xinga me soltando. — Desculpa, baby,
pode ser importante — resmunga enquanto atende. — Brady, espero que
tenha boas notícias...
E lá se foi meu namorado quente e em seu lugar surge o Leão de
Wall Street, todo preocupado em ganhar mais alguns milhões.
Apenas mais um dia da minha vida, penso.
Com um sorriso conformado e um tremor insatisfeito entre as
pernas, eu pulo do balcão e, ao passar por Liam, aperto sua bunda
recebendo um olhar irado em resposta, enquanto ele dardeja termos
financeiros com o pobre Brady do outro lado da linha. E saio rindo, me
perguntando se aquele olhar bravo vai me render alguma punição mais
tarde.
Definitivamente espero que sim.
Entro no chuveiro me perguntando se Liam se juntaria a mim para
uma rapidinha matinal, o que não acontece.
Não há sinal dele quando saio do banheiro e entro no closet, me
troco rapidamente e saio a sua procura.
Ele continua no telefone, desta vez não mais na cozinha e sim na
varanda do apartamento.
Encontro Eric e Ethan na cozinha e Ethan está olhando o bolo com
um olhar de cachorro pidão.
— Ei, noivinha, a gente pode comer o bolo agora?
— Claro que sim, acho que o Liam não vai se importar.
Ethan e Eric trocam olhares ressabiados e eu sei que eles devem ter
conhecimento dos traumas de Liam com aniversários, ou pelo menos Ethan
deve saber.
— E ele está ok com isso?
Eu o tranquilizo com um sorriso pegando uma faca e começando a
cortar o bolo.
— Ele vai ficar.
***
Não era para a noite ser assim.
Eu resmungo tentando encontrar uma posição confortável no sofá
da sala de TV que até poucas horas eu nem sabia que existia.
Como tudo naquele apartamento, a sala é incrível com um sofá
enorme e uma TV moderníssima que me fez lembrar do meu pai. Tom se
mijaria todo de felicidade se tivesse uma daquelas para assistir baseball.
Será que Liam assistia baseball?
Não havia nenhum DVD nas estantes, o que indicava que ele não
gosta de filmes. Talvez eu pudesse trazer alguns que ficaram com Zoe.
Embora todos fossem em sua maioria filmes românticos os quais Zoe
adorava e, com certeza, ela ficaria brava se eu os trouxesse.
Sinto uma pontada e solto um gemido frustrado de dor.
Definitivamente não era assim que eu pretendia passar aquela noite.
— Ei, o que faz encolhida aqui? — Liam se aproxima e senta do
meu lado, retirando os cabelos do meu rosto pálido. — Está doente? — Seu
olhar agora é preocupado.
Fecho os olhos, escondendo o rosto de novo. Na TV, algum chef
explica a receita de uma Panna cotta de frutas, abafando a minha voz
quando eu respondo.
— O quê? Emma, não estou ouvindo nada, olha pra mim. — Ele me
faz virar para encará-lo e tenho certeza que meu rosto está em mil tons de
vermelho.
É incrível, sim, eu estou morrendo de vergonha de confessar algo
tão íntimo a Liam.
— Nada — desconverso.
— Emma, o Eric disse que você chegou à tarde, não quis comer
nada e se enfiou aqui toda encolhida e não disse a ele qual era o problema.
Se não me disser vou deduzir que está doente e vou carregá-la até um
hospital nem que esperneie todo o caminho.
— Não estou doente, quer dizer... — Sinto de novo a pontada dos
infernos no útero. — É só cólica, pelo amor de Deus.
— Cólica? Está com dor? Precisa mesmo de um hospital então...
— Não, não estou doente eu estou... menstruada. — Diminuo a voz
e Liam franze a testa.
— Está o quê?
— Menstruada — repito rápido e escondo o rosto na almofada de
novo.
— Ah. — É a resposta sucinta de Liam, como se não fosse o que ele
esperava ouvir.
Por um momento nada acontece, até que sinto sua mão de novo,
puxando meu rosto das almofadas.
— É só isso então?
— Só? — resmungo irritada. — Isso dói pra cacete! É como se
estivessem esfaqueando meu útero!
Ele ri.
— Não ria, é sério! Queria que os homens pudessem menstruar pra
ver como é bom!
— Ei, tudo bem, não vou rir mais.
Eu dou de ombros, voltando ao meu sofrimento.
— O que eu posso fazer?
— Apenas me deixe sofrendo, graças a Deus este inferno só dura
três dias e essa dor é só hoje, no primeiro dia, amanhã estarei melhor.
Ele se levanta, saindo da sala e tenho vontade chamá-lo de volta,
porém, realmente, meu humor não está dos melhores e Liam não é obrigado
a aguentar.
Mudo de canal, procuranto algo mais divertido do que receitas de
panna cotta de algum chef gordinho e paro quando encontro uma reprise de
Friends.
E já estou começando a me sentir um pouco melhor para até rir com
as piadas quando me surpreendo ao ver Liam voltando pra sala.
Ele tirou o terno de executivo fodão e está vestindo um moletom
cinza que o deixa bem gostoso, até na minha atual situação de quase morte
por esmagamento de útero eu posso reconhecer.
Ele senta do meu lado e estende um copo com água e um
comprimido.
— Tome isso.
Eu pego meio desconfiada. Odeio tomar remédios.
— Toma — ordena quando vê minha careta. — É para dor. Sarah
disse que ia fazer você melhorar.
— Sarah? Você ligou pra Sarah e contou que estou menstruada?!
— Claro. Ela é a única mulher próxima a quem eu pensei em
perguntar o que fazer por você.
Tento não ficar envergonhada, afinal, Sarah é legal e é mulher
também.
Tomo o comprimido e devolvo o copo a Liam.
— Imagino a cara da Sarah ao te ouvir.
— Eu espero que este remédio ajude, senão eu a demito.
— Meu Deus, Liam, coitada!
— Não ganhei milhões trabalhando com gente que não sabe me dar
a resposta que eu quero na hora que eu quero.
— Claro, saber qual o melhor remédio para curar a cólica da sua
namorada ranzinza vai constar do currículo da Sarah a partir de agora!
— Está se sentindo melhor? — ele pergunta, tocando minha testa.
Seguro sua mão e beijo seus dedos.
— Vou ficar. Obrigada por se preocupar.
— O jantar chegou. — Eric entra na sala carregando uma bandeja e
coloca no meu colo.
— Não estou com fome... — Faço careta para a sopa.
— Mas vai comer. — Liam me lança um olhar que deve fazer
executivos de Wall Street tremerem de medo. — Eric fez especialmente pra
você.
— Conselhos da Sarah também?
— Não, este foi da Nora.
— Você contou para Nora que estou menstruada também? —
Arregalo os olhos.
— É a minha mãe, achei que ia ficar feliz de eu estar restaurando
contatos e tudo o mais.
— Podia ter escolhido outro assunto que não fosse meu ciclo
menstrual — resmungo, pegando a colher e começando a comer. — Hum,
está realmente boa. Agradeça ao Eric — peço, já que o chef já esgueirou
para a cozinha.
— Então eu devo também agradecer ao Ethan por ter ido em tempo
recorde até a farmácia buscar seu remédio.
— Ah, que ótimo, mais um! — ironizo.
— Tome sua sopa.
— Estou tomando! Você não vai comer?
— Comi enquanto Eric fazia a sopa.
Liam pega o controle e começa a zapear, parando num canal de luta
e parece bem entretido.
— Seria tão legal se eu pudesse comer sem ver dois homens se
agarrando e tirando sangue um do outro...
— Não gosta de luta? Então é melhor não saber que eu e Ethan
praticamos luta de vez em quando.
— Sério? Vocês tipo ficam como estes dois caras na TV se
agarrando...
— Lutando — ele me corrige.
— Isso é bem erótico na verdade...
— Na verdade, nós praticamos algo mais parecido com boxe. Socos
e estas coisas.
— Ah, que alívio! — exclamo irônica.
— Nós fazemos isso desde adolescentes. Sabe que Ethan lutou pra
ganhar dinheiro uma época? Ele é bom.
— Então ele bate em você?
— Eu me garanto... Terminou?
— Sim, terminei.
Ele pega a bandeja e leva para a cozinha.
Eu me ajeito de novo sobre o sofá e Liam retorna com um cobertor
e uma bolsa de água quente.
— Cortesia do Ethan também — explica me entregando e eu a
coloco sobre minha barriga.
— Ethan é um anjo...
Liam deita do meu lado e eu roubo o controle remoto, voltando para
Friends.
— Você podia ter alguns DVDs, não acha um desperdício ter uma
sala como essa e nenhum filme pra assistir? — Eu me aconchego em seu
ombro.
— Não tenho tempo pra essas merdas.
— Ah, por favor! Todo mundo tem tempo pra ver um filme. Vou
comprar alguns pra você. Que tipo de filme você gosta?
— Já disse que não tenho tempo...
— Fala sério, Liam! Você vai ao cinema pelo menos?
— Acho que já fui a algumas premiéres.
— Ah claro, você namorava atrizes de Hollywood.
— Eu fodia atrizes.
— Que sutil — ironizo, embora não deixe de ficar ligeiramente
satisfeita.
Não estou em condições de me comparar a atrizes de Hollywood.
— Eu gosto de filmes românticos — bocejo e Liam acaricia meus
cabelos — vou obrigar você a assistir todos comigo.
Ele ri e sinto meus olhos se fechando.
— Tudo o que quiser, baby.
Tenho a impressão de ouvir antes, apesar de não ter certeza, de
deslizar para o sono.
***
Quando acordo já é dia e estou deitada de lado na cama e um braço
morno está sobre minha barriga.
Sorrio ao constatar duas coisas. A cólica diminuiu bastante, embora
ainda sinta aquele desconforto típico da situação e meu namorado aninhado
de conchinha atrás de mim, está bem animado.
Ah, que pena que estou sob sinal vermelho, realmente uma lástima!
— Bom dia — ele ronrona em meu pescoço e eu me viro para
encontrar seu olhar pesado de sono. Tão, tão lindo.
Não resisto e passo a perna por seu quadril, e enterro o rosto em seu
pescoço, adorando sentir seu cheiro único e inconfundível.
— Baby, estou tentando lembrar que não podemos transar, então é
melhor parar de se esfregar em mim deste jeito.
Eu rio, me afastando um pouco.
— Eu também estou tentando lembrar... é realmente uma droga que
eu tenha ficado menstruada justo agora! Eu tinha planos muito bem
elaborados para ontem à noite.
Seu olhar brilha de interesse.
— Descreva.
— Na verdade nem eram tão elaborados assim, mas envolviam
alguma punição por ter sido impertinente com você na cozinha de manhã.
Ele rosna se afastando de vez.
— Você está me deixando irritado agora, Senhorita Jones, por ser
uma provocadora.
Mordo os lábios, um pensamento se formando em minha mente e eu
me pergunto se terei coragem de verbalizá-lo.
— Na verdade, eu posso te dar uma amostra prática do que estava
em minha mente — murmuro indo para cima dele.
— Emma, sério, melhor parar. — Há uma reprimenda provocadora
em sua expressão e eu não consigo resistir.
Sorrio e beijo seu queixo.
— É só uma amostra... — Levo a mão até a sua camiseta e a tiro.
— Porra, Emma — reclama, sem impedir que meus dedos passeiem
sobre seu estômago e que deslize meus lábios por ali também.
Em resposta tenho apenas um gemido rouco.
Sinto um pouco de temor enquanto continuo, pensando que eu
nunca fiz isso antes e pode ser um total desastre, controlo minha
insegurança e continuo descendo.
Ao chegar ao cós da calça eu o encaro por sobre meus cílios.
— Eu nunca fiz antes. — Deixo transparecer um pouco do medo e
da insegurança em minha voz.
Os olhos de Liam brilham de excitação.
— Eu podia ser um cavalheiro e dizer que não precisa fazer, mas
estou tão duro que não conseguiria ser um cara legal neste momento, então
vá em frente, Senhorita Jones.
Meu rosto esquenta com suas palavras e eu o acaricio por cima da
calça, ouvindo-o gemer e fechar os olhos.
Mordendo os lábios, eu o liberto da calça e hesito por um instante.
— Me avise se estiver fazendo errado...
Liam abre os olhos cravando-os em mim, selvagens e tempestuosos.
Perco o fôlego.
— Você me excita até com essas suas palavras de virgenzinha
inocente, Senhorita Jones, tenho certeza que vai me excitar quando sua boca
estiver no meu pau também.
Puta. Merda.
Respirando fundo, eu o tomo na minha boca.
E é como uma daquelas coisas que a gente tem tanto medo de fazer
pela primeira vez e depois que faz pensa: Ah, mas isso é muito fácil!
Apenas me deixo guiar por seus gemidos roucos, suas mãos que
seguram meus cabelos e ditam o ritmo, sua voz áspera e quente que ora
murmura ordens do tipo “mais forte” “mais rápido” “use um pouco dos seus
dentes agora” “não tão forte, porra, baby” e exclamações de prazer “você
tem um boca deliciosa” “ah, sempre imaginei que seria assim foder essa sua
boca impertinente, Senhorita Jones.”
E tudo isso só faz eu me sentir realmente a rainha do sexo oral e
estou tão empolgada na minha performance, que tomo um susto quando
Liam puxa meu cabelo, me fazendo parar e só me toco quando ele goza em
sua barriga.
Ah, sim. Não sei se eu estava preparada para tanto.
— E aí? — questiono, ofegante e ruborizada, quando ele abre os
olhos, também ofegante.
— Eu sabia que seria incrivel, baby — responde com um sorriso
sacana.
E ainda estou rindo feito boba depois de muito tempo que ele saiu
da cama para o banho.
Sim, eu sou a rainha fodona do sexo, baby.

***
— Devo entender que está se sentindo bem melhor?
Sorrio e me viro ao ouvir a voz de Liam ressoar na cozinha e
encontro seu olhar divertido.
Eu estava em frente à geladeira pensando no que poderia cozinhar
naquela noite.
— Sim, eu disse que aquela cólica infernal era só no primeiro dia.
Ele levanta a sobrancelha, se aproximando.
É incrivel como eu continuo sentindo minhas pernas bambas e meu
estômago afundando no peito cada vez que ele me olha desse jeito, como se
estivesse com fome e eu fosse a última refeição sobre a Terra.
— Não se anime continuo menstruada — digo rápido, alertando não
só a ele como a mim mesma. — Infelizmente — completo com desgosto.
Liam para diante de mim e eu fico na ponta dos pés e beijo seus
lábios.
É possível sentir saudade de uma boca? No meu caso parece que
sim.
Solto um suspiro quando o beijo termina e Liam cinge minha
cintura e me mantém próxima, deslizando os lábios por meu rosto
afogueado até minha orelha.
— No próximo mês, vou foder você desse jeito. Não haverá
desculpas.
Estremeço, excitada e mortificada ao mesmo tempo.
— Isso seria meio nojento...
— Baby, não sou um homem que se abala fácil. — Ri, me soltando.
E eu me pergunto se eu teria coragem.
Teria?
Ah Deus, acho que sim!
E por muito pouco eu não peço a ele para a gente tentar agora
mesmo.
— Cadê o Eric?
— Eu o dispensei hoje.
Liam levanta uma sobrancelha.
— Ele tinha um encontro com a Amanda — explico.
— Ah, o chinês vai se dar bem hoje então.
— Eu espero que minha amiga se dê bem se ele for um cara legal
mesmo! — rebato, seguindo-o para fora da cozinha. — Não sei o que fazer
para o jantar, confesso. Estou meio insegura de cozinhar pra você, afinal
como substituir a comida de um chef renomado?
— Não foi você quem disse que cozinhava muito bem?
— E eu cozinho! Só que hoje realmente estou sem ideias.
Nós chegamos ao quarto e Liam começa a tirar a roupa.
— Podemos comer fora se preferir, não precisa fazer nada.
Faço uma careta.
— Acho que não estou com ânimo pra sair.
— Então podemos ligar para o Eric e pedir pra ele vir trabalhar —
provoca.
— Não seja idiota! Que tal uma pizza?
Liam ri.
— O quê? Muito simplório para o Leão de Wall Street? —
questiono.
— Isso me fez lembrar que Ethan disse que comeria pizza hoje.
— Ah, podemos ir comer com ele então! Poupamos uma grana!
Liam ri ainda mais, desaparecendo no closet.
— Claro, ficaremos mais pobres se pedirmos nossa própria pizza.
— Não sei você que é rico, mas eu sim! Economizar é sempre bom.
— Você tambem é rica agora — Liam comenta casualmente
voltando para o quarto vestindo um jeans e camiseta.
— Não sou não...
Ele cala meus protestos, me puxando para perto e esmagando seus
lábios nos meus.
— Baby, vá se acostumando. Você é bilionária agora.
Eu estremeço, um tanto incomodada com essa constatação.
— Agora vamos roubar um pouco de pizza do Ethan.

***
— Baby, vamos pra casa. — Liam me acorda e eu olho em volta
sonolenta para ver Ethan carregando pratos e copos sujos para a pia.
— Que horas são? — pergunto, me espreguiçando.
Liam me puxa do sofá onde eu tinha me aninhado depois de tentar
jogar com eles no Xbox, sem muito sucesso, afinal, eram dois garotos. E eu
tinha descoberto, não sem algum espanto, que Liam vinha com frequência
jogar esses joguinhos violentos com seu motorista/segurança quando não
estava ocupado ganhando mais dinheiro ou comendo alguma modelo/atriz.
— Eu achei o cúmulo ele não ter um filme sequer naquela sala de
TV incrível. — Eu tinha reclamado com Ethan quando Liam se afastou para
pedir a pizza mais cedo.
Sim, eu também estava um tanto espantada que o Leão de Wall
Streett soubesse pedir pizza. E até tinha o número de uma pizzaria salvo em
seu celular.
Ah Liam, cheio de surpresas!
Ethan riu.
— Ele assiste algum filme comigo às vezes.
— Sério? Achei que ele só assistisse em premiéres luxuosas com
alguma atriz que ele fosse foder depois — disse cheia de sarcasmo.
— Também. Não que essa seja nossa distração preferida...
— E qual seria? Não me diga que é a tal luta livre, boxe ou sei lá o
quê!
— Ah, ele te contou?
— Contou, achei meio gay na verdade.
Ethan se dobrou de tanto rir.
— Gay? Disse isso a ele?
— Acho que disse algo do tipo... se bem que até que você é gostoso,
Ethan. Acho que vou pedir ao Liam para participar dessa luta entre vocês
— brinco e Ethan arregala os olhos, olhando para onde Liam estava na
varanda, sem ouvir nossa conversa.
— Garota, eu já falei, gosto muito do meu pau. Não diga isso na
frente do chefe.
Foi a minha vez de rir.
— Eu estava brincando, seu idiota! Sim, você é gostoso mesmo e
deve saber disso, só não curto essas coisas de ménage.
— Bom saber, porque seu noivo possessivo mataria qualquer um
que colocasse os olhos em você.
Liam voltou para a sala e eu descobri que o que eles gostavam de
fazer era jogar Xbox.
E depois de me empanturrar de pizza e desistir de jogar eu acabei
adormecendo no sofá.
— Que fraquinha hein, tagarela? — Ethan me zoa e eu mostro o
dedo do meio.
— Da próxima vez eu escolho o que vamos fazer e será assistir
algum filme romântico, já vou dizendo.
— Eu prefiro ter minhas bolas arrancadas do que assistir novamente
algum filme com você — Ethan responde.
— Eu posso pedir ao meu noivo, que por acaso é seu chefe, te
obrigar. — Lanço-lhe um olhar presunçoso.
— Você poderia era lavar essa louça que sujou — reclama levando
mais copos para a pia.
— Arranje sua própria garota, Ethan — Liam diz me puxando pra
fora.
— Boa noite pra vocês também! — Ethan grita de dentro do
apartamento.
Eu me encosto em Liam sonolenta no elevador.
— Preciso arranjar uma namorada para o Ethan.
Liam ri.
— Se bem te conheço, você não vai sossegar até conseguir, não é?
Eu sorrio em seu peito.
— Pode ter certeza.
***
Eu acordo na manhã seguinte, com Liam me sacudindo.
— Emma, acorda.
— Hum? — Eu abro os olhos e Liam está me estendendo o celular.
— Seu celular está tocando. É o seu pai.
Eu me sento imediatamente e mal noto que Liam já está todo
vestido para trabalhar. Pego o aparelho de sua mão e atendo.
— Oi, pai.
— Emma, onde se meteu? Estou tentando falar com você há dias! E
você só me manda recados, já disse que não gosto disso!
— Calma, pai, está tudo bem...
— Sua mãe também diz que não liga mais pra ela! Quando ligo
para sua casa Zoe sempre me dá alguma resposta evasiva.
— É porque estou fazendo provas e estudando! Estou ocupada, pai,
eu te disse!
— Tão ocupada que não pode falar com seu pai e sua mãe?
— Não faça drama, Tom.
— Eu acho que tem alguma coisa errada acontecendo...
— O que poderia estar errado? Está tudo perfeitamente normal.
Você não me encontra em casa porque estou sempre na faculdade
estudando. Não quer que eu leve bomba, não é?
— Claro que não. Falando nisso, precisamos combinar sobre sua
formatura...
— É cedo ainda.
— Lá vem você...
— Eu só quero me concentrar nas provas, pai, pode ser? Eu prometo
ligar com mais frequência quando acabar, ok?
Ele não precisava saber que hoje era o último dia de prova.
E muito menos que eu estava evitando suas ligações assim como as
de Margô porque ainda não sabia como contar que estava morando com um
cara. E noiva.
Eu estava ferrada.
Eu me despeço de Tom e desligo.
E encontro o olhar de Liam fixo em mim.
— Eu entendi direito ou seus pais não sabem a meu respeito?
Ai meu Deus.
Capítulo 29

— Eu... eu... — Sinto meu rosto esquentando e minhas mãos suando


tentando achar uma resposta plausível. O que é bem dificil com Liam me
esperando responder por que eu tinha insistido tanto em conhecer os pais
dele, enquanto nem sequer contara aos meus sobre sua existência. — Eu
vou contar, claro... só ainda... enfim, é bem recente, estava esperando, sei
lá... ter um tempo para fazer meus pais entenderem porque a gente ficou
noivo tão rápido...
— Está morando comigo, Emma. E seu pai não sabe. Nem sua mãe.
Eles sabem ao menos que eu existo?
Fico mais vermelha ainda desviando o olhar.
— É... não... quer dizer, eu contei alguma coisa para minha mãe
quando te conheci, mas...
— Eles não fazem ideia de que estamos noivos.
— Não, como eu já disse, eu vou contar, no momento certo.
— E quando vai ser? Quando completarmos bodas de prata? — Ele
usa minhas próprias palavras contra mim.
— Não exagera!
— Quando então?
Eu começo a ver que ele está furioso.
— Você insistiu em conhecer meus pais adotivos. Você me
pressionou e, quando eu não fiz o que queria, foi conhecê-los por conta
própria. E agora me diz que seus pais nem sabem que existo.
— Eu sei que parece...
— Sabe mesmo o que parece? Parece que você não está levando
nosso relacionamento a sério.
Arregalo os olhos.
— Não! Não é bem assim! Por favor, entenda eu sou filha única,
meu pai é meio superprotetor e careta e minha mãe faz o estilo feminista
que acredita que a mulher só deve se casar depois dos trinta e essas coisas...
— Não, eu não entendo, Emma.
Respiro fundo tentando não entrar em pânico.
— Não sei por que está tão irritado! Eu vou contar a eles quando
achar que é o momento certo!
— Se não entende porque estou furioso com você lembre-se de
como se sentiu quando eu não quis que conhecesse Nora e David. — E sem
dizer mais nada, ele dá meia-volta e sai do quarto.
Ainda fico por ali, remoendo suas palavras cheias de rancor.
Não é a mesma coisa, é?
Não é como se eu não quisesse que ele conhecesse meus pais, ou
esteja com o pé atrás em nosso relaciomento como insinuou.
Só tenho receio da reação deles com esse noivado tão repentino. Se
Zoe que era só minha amiga tinha surtado, imagina como Tom e Margô
reagiriam? Liam deveria ter medo, isso sim. Tom é policial!
Preciso fazer Liam entender. Eventualmente eu terei que contar a
Margô e Tom que estou noiva, só que ainda não é o momento.

***
— Finalmente estou livre! — esbravejo ao me sentar na sala de
Matt naquela tarde, após fazer minha última prova.
— Fico feliz por você. — Ele sorri. — E aí, já pensou no que vai
fazer depois de formada?
— Eu recebi uma proposta, ainda não me decidi...
Eu havia recebido uma ligação de Samantha naquela manhã e não
atendi, porque sabia que ela queria uma resposta e eu não tinha uma.
— E por que está indecisa?
— Questões pessoais. — Sou evasiva. Não vou contar ao Matt que
se aceitar terei que trabalhar com o cara com quem eu traí meu namorado e
que, se o namorado em questão descobrir, estarei muito ferrada.
Pensar em Liam me faz lembrar de novo da nossa discussão essa
manhã e eu me sinto meio mal.
— Falando em questões pessoais... Você continua saindo com Liam
Hunter? — ele pergunta tentando disfarçar o seu interesse.
Mostro minha mão.
— Isso responde sua pergunta?
Matt arregala os olhos, boquiaberto.
— Você está noiva?
— Sim. E estamos morando juntos.
— Isso é... Uau!
— Eu sei.
— Não foi um tanto... rápido demais?
— Rápido? Com certeza. Estou muito apaixonada, então...
— Bom, o Leão de Wall Street realmente não perde um negócio,
não é?
— Não seja invejoso, Matt, não combina com você! — Brinco e me
levanto. — Bem, se não tem nada pra mim, eu vou embora.
Saio do prédio e pego meu celular. Nenhuma mensagem de Liam.
Eu digito algo rapidamente.
“Continua com raiva de mim?”
A resposta não demora.
“E você, continua escondendo nosso relacionamento dos seus
pais?”
Reviro os olhos.
“Podemos conversar sobre esse assunto hoje à noite? Sua reação
está sendo extremamente exagerada.”
“Sim, ainda estou furioso. E hoje à noite eu tenho um jantar.”
“Eu devo vestir o quê?”
“Não estou te convidando, Senhorita Jones. Deus me livre de ter
algum paparazzi na porta e você ser flagrada comigo.”
Desligo o celular xingando baixinho. Inferno, ele está mesmo bravo
e ressentido.
Cogito a possibilidade de ligar agora para meus pais e contar de
uma vez sobre nós, mas recuo, amedrontada. Além do mais, não quero
contar algo tão importante por telefone.
Vou dizer a Liam que contarei aos meus pais quando eles vierem
para minha formatura, em algumas semanas. Acho que podemos chegar a
um acordo.

***
— O que devo fazer para o jantar, madame? — Eric brinca quando
eu entro na cozinha naquela noite e abro a geladeira, pegando um enorme
pote de sorvete e me sentando à mesa.
— O que quiser não me importo. — Enfio a colher na massa de
chocolate e levo à boca.
Eric levanta a sobrancelha.
— Está naqueles dias ainda?
— Puta que pariu, até você? — esbravejo. — Não, estou saindo
daqueles dias, se está interessado em saber!
— Então por que está sentada aqui com essa cara de poucos amigos
e comendo sorvete direto do pote como se estivesse com TPM?
Eu não respondo.
— Se não se importa com o jantar, o Liam ao menos deixou alguma
instrução?
— Liam vai jantar fora.
— Ah, estou começando a entender.
— Sim, ele vai num maldito jantar de negócios.
— É, ele participa de muitos.
— Acha que nunca serei convidada? — pergunto insegura.
Eric dá de ombros.
— São negócios. Talvez ache chato.
— Ele está bravo comigo — confesso. — Porque eu não disse a
meus pais sobre ele.
— Sério? Seus pais não sabem que mora aqui?
— Não... ainda.
— Emma, sabe que é absurdo, não é?
— Não é tão absurdo assim! Eu vou contar a eles, só estou dando
um tempo...
— Amanda já disse que quer me levar pra almoçar com a mãe dela
no próximo fim de semana.
— Ah, é diferente!
— Sim, é diferente. Você está noiva e morando com o Liam e seus
pais nem sabem que ele existe. Não acha que ficar adiando pode tornar tudo
pior?
Eu suspiro.
— Eu quero contar pessoalmente. Quando eles vierem para minha
formatura.
— É, Emma, acho que só está com medo e isso vai te botar em
confusão.
Ignoro seu comentário, embora tenha estremecido de medo de estar
realmente adiando o inevitável e piorando as coisas.
— E como foi seu encontro ontem? Não me contou.
Ele sorri todo bobo e começa a me contar sobre o quanto acha
Amanda linda e incrível.
E eu não posso deixar de sentir um pouco de inveja de o
relacionamento deles ser tão simples, fácil e certo.
Quem dera que o meu fosse assim também...

***
Naquela noite eu vou dormir sozinha, cansada de esperar a volta de
Liam. Penso em mandar uma mensagem, porém não quero parecer aquelas
namoradas grudentas e cheias de cobranças. É só um jantar de negócios,
pelo amor de Deus. É normal que ele vá sozinho.
No entanto eu me sinto cada vez mais preocupada que tivesse a ver
com o fato de ele estar puto comigo e me pergunto até quando sua raiva vai
durar.
Quando acordo, está escuro e eu sozinha na cama. Olho o relógio e
me surpreendo ao ver que são três horas da manhã.
Será que Liam não chegou ainda?
Levanto-me e ando pelo apartamento, respirando aliviada ao
encontrá-lo no escritório mexendo em seu laptop. Está usando uma calça de
pijama e os cabelos estão uma bagunça, o que significa que ele já dormiu e
acordou por algum motivo.
E, se eu bem conhecia Liam, ele só ficava acordado à noite por um
motivo.
Pesadelos.
— Ei — eu o chamo e ele me olha com cara de poucos amigos. —
O que faz aqui?
— Vá dormir, estou trabalhando — responde de forma ríspida,
voltando sua atenção ao laptop.
— Teve um pesadelo? — pergunto com cuidado e seu olhar
escurece.
— Já disse pra ir dormir, estou ocupado.
Sim, ele teve um pesadelo e não me quer por perto.
Suspiro e entro no escritório, contrariando suas ordens.
— Eu sei que continua bravo comigo.
Nenhuma resposta.
— Eu vou contar a meus pais. Só quero que seja pessoalmente. Vai
ser difícil para eles entenderem, quero que tenham a oportunidade de
conhecer você primeiro. E então eles saberão que estamos juntos.
Ele me encara finalmente.
— O que quer dizer?
— Que eles virão para minha formatura e então nada mais de
segredos.
Liam fica me encarando e eu me pergunto o que se passa na sua
cabeça. Não me parece nada bom.
— Vá dormir, está tarde. — Não há mais tanta frieza em sua voz.
Será que está me perdoando?
— Por que está acordado? Não me disse se teve um pesadelo...
— Eu já disse, estou ocupado!
— Você não tinha mais pesadelos, achei que tivesse melhorado e...
— Emma, falando sério, está me atrapalhando. Por favor, me deixe
trabalhar.
Eu bufo e me levanto.
— Certo, se não quer falar não posso te obrigar!
Volto para o quarto e pego uma coberta e um travesseiro e marcho
de volta para o escritório e sem nem ao menos olhar para Liam, deito no
sofá que fica ao lado de uma estante cheia de livros.
— Que diabos está fazendo? — Liam observa meus movimentos e
eu lhe lanço um olhar inocente.
— Não quero ficar sozinha e, se você vai ficar aqui, é onde vou
ficar também.
Ele solta um palavrão baixo e eu rio internamente, fechando os
olhos e me ajeitando.
— Acostume-se, querido, não vai se livrar de mim tão facilmente.
Não vou a lugar nenhum.
***
Acordo com meu celular tocando em algum lugar e abro os olhos,
confusa noto que estou de volta à cama e que já é dia.
Arrasto-me até achar o celular e vejo que é uma ligação de
Samantha. Hesito, mas acabo atendendo.
— Olá, Emma, como vai?
— Oi Samantha, estou bem.
— E aí, já tem alguma resposta pra mim? Estou entrevistando
vários profissionais esta semana e devo dizer que há alguns de olho na vaga
que reservei pra você.
— Eu ainda não sei. — Decido pela sinceridade.
— Tudo bem, eu te entendo, só não poderei continuar esperando por
muito tempo, ok?
— Claro, eu te darei uma resposta em breve.
Eu me despeço e desligo.
Realmente, agora que praticamente já concluí a faculdade, não
posso mais esperar para decidir o que fazer da minha vida profissional. E se
não vou aceitar a proposta de Samantha, preciso correr atrás de outra coisa
pra fazer.
Eu me levanto e encontro Eric na cozinha.
— O café está servido, madame.
— Não me chame de madame — resmungo, me sentando. — Cadê
o Liam?
— Saiu pra trabalhar faz tempo.
— Nossa, que horas são?
— Passa das dez.
— Eu dormi tudo isso? Ele poderia ter me acordado.
— Liam pediu que não a acordasse.
— Ah é? — Eu me pego pensando a que horas ele foi dormir e em
qual momento ele me levou de volta pra cama. Isso me faz lembrar que ele
voltara a ter pesadelos, o que me preocupava. Eu realmente pensei que
tivéssemos passado desta fase, que eu o havia ajudado a dormir melhor.
Aparentemente eu estava enganada.
Penso em ir conversar com Nora de novo, mas não sei se ela poderia
me ajudar quanto a isso. Liam não se abrira com ela antes e com certeza ela
não saberia o que o afligia agora.
Só havia uma pessoa que poderia me ajudar.
Eu pego o celular e lhe mando um recado que ele não demora pra
responder.
— Eric, não se preocupe com o almoço. Eu vou almoçar com o
Ethan hoje.
— Como quiser, madame!
Jogo um pão em sua cabeça e ele ri.

***
Eu sorrio ao entrar no carro e encarar Ethan.
— Como conseguiu se livrar do seu patrão?
— Não tive que me livrar dele. Contei que ia almoçar com a sua
noiva.
— Você contou? Não era pra contar!
— Acredita realmente que ia mentir pro Liam, Emma? Ao contrário
de você eu não gosto de cutucar o leão desnecessariamente.
— Então você simplesmente disse que íamos sair e ele ficou de
boa?
— Eu disse que você queria conversar comigo.
— E o que ele falou?
— Ficou curioso e me contou que tinham brigado porque você não
contou a seus pais sobre ele.
— É basicamente isso.
— Então me diz, aonde quer ir?
— Quero comer hambúrguer, claro!
— Ah, adolescentes!
— Não fale assim comigo... Não sou adolescente.
— Às vezes parece uma, sabe disso. E que história é essa de
esconder o namorado dos pais. Fala sério, Emma!
— Eu tenho meus motivos.
Ele ri.
—Tão adolescente!
Ethan me leva a uma lanchonete e pedimos hambúrgueres, enquanto
eu tento explicar a ele sobre o fato de ainda não ter contado a meus pais
sobre Liam.
— Você já tem tudo esquematizado dentro dessa sua cabeça
absurda, então não adianta eu falar nada, se nem o fato de ter deixado o
Liam puto e todo inseguro te convenceu que está errada.
— Inseguro?
— Esperava o quê? Claro que ele fica inseguro.
— Não tem motivos pra se sentir!
— Liam está noivo de uma garota que não quer contar aos pais
sobre ele, acha isso legal?
— Liam pode ser tudo, menos inseguro, está sendo ridículo! E sabe
que eu sou louca por ele, inferno, eu até disse que estou apaixonada, apesar
de ele não ter dito o mesmo pra mim.
— Você tem alguma dúvida sobre os sentimentos dele?
— Não! Eu deveria? Ele te disse alguma coisa? — questiono
preocupada e Ethan ri com a boca cheia de bacon.
— Vocês são realmente um casal hilário! Com certeza o Liam vai
me bombardear de perguntas sobre esta conversa depois.
— Acho que estou fugindo do verdadeiro motivo de estarmos aqui.
Ontem ele teve um pesadelo. Eu sei que deve ter sonhado com os pais,
achei que tivesse melhorado, que eu o tivesse ajudado, no entanto aconteceu
novamente ontem... Não sei o que fazer.
Ethan fica sério.
— Eu não quero me intrometer neste relacionamento maluco de
vocês e você sabe que Liam cortaria minha garganta se eu falasse demais.
Pense apenas no que eu te disse sobre insegurança.
— Eu não entendo...
— Você disse que o ajudou. Por que acha que isso aconteceu?
— Porque ele se sentiu seguro comigo... — Então algo estrala na
minha cabeça. — Ah, entendi. Ele está inseguro agora. Sobre mim.
— Esse é o caminho, noivinha. — Ethan pisca e dá mais uma
mordida. — Acho que vou querer mais um.

***
Fico pensando nas palavras de Ethan enquanto ele me leva de volta
e me sentindo culpada. Liam voltou a ter pesadelos por minha culpa.
Eu não sabia que o fato de ter escondido nosso relacionamento dos
meus pais iria afetá-lo tão seriamente. Pelo jeito eu subestimei as questões
emocionais de Liam.
Suas feridas emocionais são muito mais profundas do que eu
poderia prever. Eu devia ter imaginado. Ele era um cara que não se abria
emocionalmente com ninguém. A única pessoa que podia ser considerada
realmente próxima era Ethan e eles resolviam as coisas na porrada, como
bons garotos que eram.
Penso em como, apesar de tudo o que estamos vivendo, de eu estar
usando um anel de noivado e morando em sua casa, continuo me sentindo
insegura em alguns momentos. Ainda me sinto incerta sobre ser o suficiente
para um homem como ele. Nunca sei quando estou indo muito rápido,
como no caso do aniversário, ou muito devagar, como no caso dos meus
pais.
E entendo como Liam deve se sentir quando eu pareço não estar
totalmente comprometida.
Só que eu estou e preciso mostrar isso a ele.
— Ethan, leve-me para Wall Street — peço.
— Tem certeza?
— Tenho sim.
***
— Oi. — Sorrio meio insegura quando entro na sala de Liam.
Ele parece cansado quando passa a mão pelos cabelos, noto as
olheiras embaixo dos seus olhos e isso aperta meu coração.
— E então, como foi seu almoço com meu segurança?
— Comemos hambúrgueres e estavam realmente deliciosos. Devo
ter engordado uns dois quilos só neste almoço... E... não me contou como
foi seu jantar de negócios ontem.
— O mesmo de sempre... o que me faz lembrar que temos um
coquetel hoje.
— Hoje? Por que não me disse antes? Eu nem sei o que usar...
— Tem um monte de roupa nova, use o que quiser. É apenas o
coquetel de uma revista. Ou compre algo novo.
— Tudo bem... Na verdade eu vim fazer uma coisa.
Eu pego meu celular.
Minhas mãos estão trêmulas e eu estou morta de medo com o que
vou fazer, mas sei que é preciso.
— Ei Emmy — meu pai atende do outro lado da linha e eu respiro
fundo.
— Oi, pai. — Encaro Liam, que me olha impassível. — Pai, eu te
liguei pra contar algo.
— O que foi?
— Estou namorando.
— Como é?
Ignoro a voz dele ficando exaltada.
— Sim, o nome dele é Liam Hunter e estamos juntos há quase três
meses. Você vai conhecê-lo quando vier para minha formatura.
— Como assim namorando? Que conversa é essa? Sua mãe sabe?
Já faz três meses e só me conta agora? O que este rapaz faz? Por isso anda
sumida, não é? Espero que esse namoro não tenha atrapalhado suas provas
finais...
— Pai, não surta! Está tudo bem, ok? Só queria que soubesse. Eu...
— encaro Liam — estou muito apaixonada e é sério.
— Apaixonada, em apenas três meses?
— Tchau, pai. — Desligo, ignorando os resmungos indignados do
outro lado da linha e encaro Liam. — Isso te diz alguma coisa sobre
comprometimento?
— Não ouvi nada sobre o fato de estar morando comigo ou sobre
nosso noivado.
— Por favor, eu nunca apresentei um garoto a meu pai, porque eu
nunca tive um namorado de verdade, vamos devagar, tá? Dizer a ele que
estou apaixonada já o deixará enlouquecido por um tempo.
— Você é mesmo impossível, Senhorita Jones.
Sorrio, mordendo os lábios.
— Significa que estou perdoada?
— Significa que eu quero te dar uma boa surra para aprender a ser
menos absurda.
Estremeço, num misto de medo e excitação.
Ah sim, lá está meu leão.
— E por que não dá?
Ele franze os olhos, tão escuros quanto uma tempestade se
formando no céu.
Perco o fôlego.
— Não tem medo de nada? — Ele parece perplexo e deliciado ao
mesmo tempo.
Eu me levanto.
— Não quero atrapalhá-lo mais, Senhor Hunter. E eu tenho que
comprar uma roupa nova. Então até mais tarde.
Estou sorrindo e cheia de ideias quando saio de Wall Street.

***
A tarde está caindo quando escuto a porta abrir e coloco de lado o
livro que eu estava lendo, me levantando do sofá.
Liam arregala os olhos ao me ver e eu mordo os lábios, me
excitando só com aquele olhar.
— Que diabos está vestindo? — Ele caminha até mim tirando o
paletó. — Isso parece...
— Um uniforme de colégio católico?
Era incrível o que se podia fazer com uma saia xadrez e uma camisa
branca.
Eu havia comprado um lindo e sexy vestido para o tal coquetel de
hoje e também aquele traje com ideias bem específicas...
— Sim, parece uma deliciosa aluna de colégio católico, Senhorita
Jones. — Ele retira a gravata.
— Daquelas que você gostava de punir quando estudava?
— Porra, sim! — Ele se aproxima e eu mal consigo respirar.
— Você disse que queria me punir.
— Sim, eu disse.
— Eu sempre quis saber como aquelas garotas se sentiam com você
— sussurro e ele sorri.
Perversamente.
Meu pulso acelera.
— De joelhos, Senhorita Jones. Parece que hoje você vai conhecer a
palmatória.
Ai. Meu. Deus.
Eu me ajoelho, abaixando a cabeça para esconder um sorriso e
mordo os lábios, numa mistura de medo e expectativa que faz a adrenalina
correr por meu sangue como uma droga.
Sinto-o me rodeando, me sondando. Sei que está pensando sobre o
que fará comigo. Em como vai expor minha pele branca a seus olhos
cobiçosos e suas mãos ávidas.
Na minha mente enevoada de desejo e temor eu recordo suas
palavras naquela longínqua entrevista, como sua voz aveludada revelara
suas perversões juvenis envolvendo palmatórias e garotas católicas. De
como bem no fundo eu sentira inveja e ciúme de todas elas.
Eu queria ser uma delas. Uma das garotas de Liam.
E agora eu era sua única garota.
Eu sinto meu coração acelerado e meu corpo energizado, cheio de
eletricidade naquele jogo de espera, de repente escuto o barulho
inconfundível de um maldito celular tocando e levanto o olhar para vê-lo
atender.
— Não se mova.
Escuto-o se afastando em direção ao escritório.
Que inferno! Cruzo os braços, bufando.
Quanto tempo terei que ficar esperando? Liam esqueceu que
paciência não é o meu forte?
Aborrecida de ficar ali esperando, eu me levanto e caminho até o
quarto. Sei que estou desobedecendo suas ordens, mas isso provavelmente
tornará tudo mais interessante.
Entro no closet e abro seu armário de brinquedinhos sacanas e
procuro a tal palmatória.
— Nossa isso é pesado — murmuro comigo mesma, me
perguntando se vou me arrepender de ter começado aquele jogo. Mesmo
assim, eu sei que não vou recuar. Por que há uma confiança intrínseca
dentro de mim de que Liam nunca me machucaria de verdade.
Com isso em mente, marcho para o escritório, e Liam, ainda ao
telefone, franze o cenho perigosamente quando me vê.
Eu sorrio e entro na sala, me aproximando da mesa e colocando a
palmatória na sua frente.
— Sim, Brady, eu entendi. Nos falamos amanhã então. — Desliga
com os olhos ferozes fixos em mim. — Ordenei que não se movesse.
Eu dou de ombros.
— Parece que não sou muito obediente.
— Você gosta, não é? De me provocar? Gosta de ser uma garota
desobediente para que eu puna você.
Ah Deus, aquela voz... aquele olhar perigoso... causa um estrago
enorme dentro de mim.
Começo a ofegar e esfrego minha coxa uma na outra.
— Responda, Senhorita Jones, eu devo punir você?
Sacudo a cabeça afirmativamente.
— Venha aqui. — É uma ordem e eu nem ouso desobedecer desta
vez quando paro em pé entre a mesa e a cadeira em que está sentado. Suas
mãos erguem-se para se imiscuírem embaixo da minha saia xadrez e eu
tremo de antecipação ao sentir seu toque quente em minha coxa.
Cerro as pálpebras, lutando para respirar, enquanto o toque desliza
por minha pele, subindo, tão perto... então desvia até alcançar minha
calcinha.
— Abra os olhos.
Obedeço, vendo-o escorregá-la para baixo.
— De costas, Senhorita Jones.
Ah Deus.
Engulo em seco e me viro.
— Incline-se sobre a mesa.
Faço o que mandou e ele se levanta ao mesmo tempo em que ergue
minha saia, expondo meu traseiro.
Caramba, vou apanhar de verdade.
Meu sangue corre mais rápido nas veias e meu coração está
descontrolado em meu peito.
Sua mão acaricia minha pele e então desfere um sonoro tapa.
— Ai! — Solto um gemido de susto.
— Doeu, Senhorita Jones? Ainda nem comecei.
Puta merda!
Fecho os olhos com força.
De repente, seus dedos estão entre meus cabelos, me puxando para
ele, sua voz em meu ouvido.
— Está com medo?
Estou?
Claro que sim!
Também estou ansiosa. E excitada.
— É só um jogo, sabe disso não é, baby? — ele sussurra em meu
ouvido quebrando o momento submissa e dominador, então eu me recordo
que da última vez em que estivemos nesse papel, nós surtamos.
E entendo que Liam está hesitando. Que não está tão à vontade
assim com aquele joguinho de punição e dor.
E não é só isso. Ele mesmo tinha me mostrado que era basicamente
sobre prazer. Sobre permitir-se confiar tão profundamente no outro para
estarmos em contato com aquele lado mais primitivo de nós mesmos.
Não era à toa que eu nunca tinha me sentido à vontade para ir muito
longe com outros homens e com Liam eu me despira de todas minhas
inibições me entregando totalmente no momento em que eu o conheci. Eu
era assim. E Liam era o único que podia me levar além de qualquer razão.
Com ele eu sentia que podia ir a qualquer lugar, não havia limites.
Eu só queria ir mais fundo, mais longe, naquela viagem de
autodescobrimento.
Agora e para sempre.
Eu viro a cabeça e o encaro com um sorriso ofegante.
— E você está estragando o jogo, baby.
Ele sorri de volta e me beija. Com força. Com fome.
E ah, Deus, eu posso jurar que ali também existe amor.
E ainda estamos sorrindo quando ele se afasta e pega a palmatória.
— Então vamos a sua punição, Senhorita Jones.
— Devo chamá-lo de senhor?
— Deve parar de me provocar. Vamos, incline-se.
Faço o que ele mandou e solto um gemido de dor quando sinto a
palmada
— Puta que pariu, essa coisa dói de verdade!
Ele ri e sua mão acaricia onde bateu.
— É assim que as garotas desobedientes são tratadas, Senhorita
Jones.
Sinto seus dedos escorregarem para o meio das minhas pernas e
agora o meu gemido é de puro prazer quando encontra minha umidade.
Ah sim. Isso é mil vezes melhor.
— Eu deveria te bater de verdade, no entanto, como estou muito a
fim de foder você desse jeito, vou poupá-la por hoje.
Escuto o barulho de sua calça abrindo assim como o barulho de um
preservativo. E nos segundos seguintes, ele está dentro de mim.
Fecho os olhos, me segurando na borda da mesa enquanto ele me
enche de prazer agora.
Só prazer.
***
Eu me sinto subitamente nervosa quando Ethan para o carro em
frente a um prédio iluminado cheio de fotógrafos a postos e gente elegante
caminhando entre eles.
Olho pra mim mesma usando um Gucci rendado cor de vinho me
perguntando se estou bem vestida.
— Por que essa cara de quem está indo para uma sessão de tortura?
— Liam indaga.
— Tem certeza que estou bem vestida? Eu deveria ter perguntado a
Zoe...
— Você está ótima, pare de se torturar.
Ethan abre a porta e Liam me puxa pra fora. Os flashes me cegam
momentaneamente.
— Não sei se gosto disso — murmuro insegura. Toda aquela
exposição e atenção faz parte do mundo de Liam, até aquele momento eu
não tinha me dado conta de que teria que fazer parte dele.
— Relaxa, baby. É apenas diversão. — Ele passa o braço a minha
volta e me puxa através da horda de fotógrafos, que gritam em nossa
direção. Ethan nos segue com cara de poucos amigos, assumindo seu papel
de segurança, o que me deixa um pouco mais calma.
Todos nos encaram com curiosidade e uma repórter que tenho
certeza já ter visto em um daqueles programas de fofocas que Zoe adorava
assistir grita:
— Ei, Liam Hunter, uma palavrinha para nosso programa, por
favor...
— O Senhor Hunter não dá entrevista — Ethan diz, afastando-a
para que possamos passar.
— E quem é a garota com ele? Não a conhecemos...
— É a noiva dele, Emma Jones — Ethan responde e eu arregalo os
olhos, enquanto finalmente saímos do meio dos fotógrafos e entramos no
saguão do salão.
— Ele deveria ter dito meu nome?
Liam ri.
— Claro que sim. Eu não costumo dar entrevistas para este bando
de urubus fúteis, obviamente eles ficariam curiosos sobre você. — Ele pega
duas taças de um garçom e me dá uma.
— Ah que ótimo, preciso relaxar. — Bebo um longo gole da minha
taça.
— Devagar, não quero carregá-la bêbada em meio aos paparazzi —
comenta divertido enquanto me guia por entre os olhares curiosos.
— Hunter...
Nós nos viramos ao ouvir a voz chamar e nos deparamos com Felix.
— E... Senhorita Jones, que surpresa.
Eu sorrio genuinamente feliz em rever Felix.
— Olá, Felix, acho que pode me chamar de Emma.
— Mesmo porque em breve ela será Senhora Hunter — Liam diz.
Felix não disfarça a surpresa.
— Uau, isso foi rápido, até mesmo pra você, Liam.
— Eu não perco um bom negócio, Felix, sabe muito bem.
— Estou adorando ouvir você me chamar de bom negócio, querido
— resmungo com ironia, fazendo Felix rir.
— Então devo dar os parabéns. Meu pai ficará desapontado, ele
realmente pensou que eu teria alguma chance com você.
— Eu adorei seu pai! Realmente uma pena que não possa ser sua
nora! — Liam me aperta um pouco mais, sua mão descendo da cintura para
minha bunda, a apertando, bem no local que ele me bateu hoje à tarde que
está levemente dolorido.
— Contenha-se, baby.
— O que foi, querido? — Eu dou ênfase ao querido. — Estou
apenas brincando. Vou adorar ser a nora do Doutor David, claro!
— Acho melhor eu me afastar desta iminente briga de casal. —
Felix ri. — Embora, eu queira aproveitar para tratar de alguns assuntos com
você, Liam...
— Faça isso, Felix. — Eu me desvencilho de Liam. — Preciso
mesmo ir ao toalete e aproveitarei para dar uma circulada. Tudo bem?
— Não vá muito longe. — Ele beija meu rosto e eu sorrio.
— Ok, papai.
— Não me provoque.
Estou rindo quando me afasto sentindo todos os olhos me
acompanharem.
Entro no banheiro e verifico minha maquiagem. Ainda está perfeita.
— Ei, é a garota que estava com Liam naquela festa, não é? — Eu
olho para o lado e vejo Karen.
Ah, de novo?
Forço um sorriso.
— Sim, sou Emma. E você é Karen, não é?
Ela também força um sorriso.
Outras garotas no banheiro acompanham nossa conversa. Acho que
algumas eram as mesmas da outra noite.
— Sim, sou Karen. E aí, com quem está hoje?
— Ora, Karen, não viu? Ela está com o Liam! — outra garota diz.
Karen parece realmente surpresa.
— Sério? Vocês continuam saindo juntos? Por isso ele sumiu de
circulação...
— Na verdade... — levanto minha mão, onde meu anel de noivado
brilha — estamos noivos.
Tenho a satisfação de ver o queixo de Karen cair, assim como os de
todas as garotas.
Tomem esta, vadias!
— Isso é... Nossa...
— Eu sei. Repentino, não é? Espere até eu contar que estamos
morando juntos.
— Morando juntos? — outra garota com cílios postiços gagueja —
Fala sério?
— Sim, queridinha. Bem, eu preciso voltar para a festa e achar meu
noivo. Foi bom te ver Karen.
Dou meia-volta e então vejo que há uma garota ali, meio distante
das outras, me encarando.
Aquela é diferente. Seu cabelo é muito loiro e seus olhos são claros.
Assim como todas, seu vestido preto é justo e lindo e sua maquiagem é
impecável.
Porém, há algo nela, em seu olhar que me mede com interesse, que
me deixa arrepiada. Como quando sentimos um vento frio e não sabemos de
onde vem, apenas sentimos o tremor quase como o presságio de uma
tempestade se formando.
— Olá — ela sorri —, então você é noiva do Liam.
Do Liam.
O jeito que pronuncia o nome dele me alerta antes mesmo que ela
confirme.
Ela o conhece.
— Desculpe-me, quem é você? — Eu tento me recompor.
— Vanessa Vanderbilt. — Ela estende a mão.
Vejo um anel de noivado e uma aliança de casamento.
Aquela linda mulher é casada. Quase suspiro de alívio. Por um
momento, pensei que poderia ser uma das coleguinhas de cama de Liam,
como Karen.
— Você conhece o Liam? — Não consigo deixar de perguntar.
— Quem não conhece o Leão de Wall Street?
— Vanessa é casada com um homem super-rico também, Elliot
Vanderbilt, já ouviu falar? — Karen se aproxima sorrindo pra Vanessa. —
Oi, eu sou Karen, nossa amei seu vestido. Aliás, eu adoro tudo o que você
usa. Adoro ver suas fotos, em Los Angeles. — Karen se vira para mim,
parece ser uma grande fã de Vanessa. — Vanessa tem uma casa fabulosa em
Los Angeles. O marido dela tem negócios até no meio cinematográfico!
— Ah, que interessante — afirmo, com vergonha por Karen. —
Com licença, eu preciso ir. — Passo por elas e saio do banheiro, achando
toda aquela conversa muito bizarra.
Eu procuro Liam por entre as pessoas sem encontrá-lo. Pego mais
uma taça e fico pasma quando Samantha se materializa na minha frente.
— Oi Emma.
— Samantha, o que faz aqui?
— Eu sou jornalista, esqueceu?
— Ah, claro.
— E aí, está aqui com seu namorado?
— Noivo — eu mostro a aliança.
— Que sortuda. Acho que é por isso que está hesitante em aceitar
minha proposta. Você vai ser muito rica, não precisará trabalhar se não
quiser.
— Não é isso...
— Entendo você. Se quer um conselho, siga sua carreira. Não
dependa de nenhum homem, mesmo ele sendo o Leão de Wall Street. Você
é tão jovem, não deveria se casar e ficar apenas em casa, por Deus!
— Eu não vou me casar agora...
— Mais um motivo para aceitar minha proposta.
— Eu ainda estou pensando... — Começo a me irritar com aquela
insistência de Samantha.
— Claro, eu sei. Olha lá, aquela não é Vanessa Vanderbilt com seu
noivo?
Eu me viro e vejo a poucos metros de distância, a linda Vanessa
conversando com Liam.
Sinto de novo aquele arrepio na espinha. Aquela estranha presença
de algo ruim. O que é ridículo! E nem conheço aquela moça, além disso,
observando os dois, Liam não parece nada feliz por estar conversando com
ela.
— Com licença, Samantha.
Deixo Samantha e sigo na direção de Liam e Vanessa. Eles veem
minha aproximação. Liam está com cara de poucos amigos e Vanessa
sorrindo pra mim.
— Olá de novo, Emma.
— Oi, Vanessa.
— Eu estava dizendo a Liam que conheci sua linda noiva.
Liam me puxa para seu lado, mantendo a mão num aperto firme em
minha cintura.
— De onde se conhecem? — pergunto curiosa.
— Nos conhecemos há muito, muito tempo... — Vanessa diz.
— Ah, seu marido tem negócios com Liam, presumo.
Vanessa continua sorrindo.
— Uma pena ele não ter vindo hoje. Está numa viagem de negócios.
— Ah que pena. Eu gostaria de conhecê-lo. Não conheço muitos
amigos do Liam.
— Não somos amigos — Liam responde de forma ríspida e eu
lanço a ele um olhar irritado pela grosseria. Vanessa não parece se importar.
— Bem, foi ótimo conhecê-la, Emma. Até mais, Liam. — Ela acena
e se afasta.
— Que porra foi essa? — Eu encaro Liam.
— O quê? — Ele toma um gole de algo que parece whisky.
— Essa tal Vanessa, toda simpática e você sendo grosso dizendo
que nem é amigo do marido dela! Não entendi nada!
— Não há nada para entender. Eu falei sério, não sou amigo deles.
— Ela disse que te conhece há bastante tempo.
— Eu conheço um monte de gente há bastante tempo. — Ele
termina a bebida. — Vamos embora?
— Já?
— Quer ficar mais? Não parece estar se divertindo.
Eu suspiro. Ele tem razão. Não está sendo divertido. Samantha
continua por aí e pode aparecer de novo insistindo para que eu tome uma
decisão e o encontro com esta tal Vanessa foi muito esquisito, sem contar a
invejosa da Karen e suas amigas.
— Sim, vamos embora.

Deito a cabeça em seu ombro, quando entramos no carro e ele


mantém a mão em minha perna, silencioso.
Não parece bravo, apenas... Circunspecto.
— Tudo bem?
E ele se vira para mim e sorri na semiescuridão do carro.
— Sim, baby.
— Está tão sério...
Ele passa a mão pelos cabelos.
— Somente cansado.
— Não deveríamos ter vindo, você não dormiu direito ontem.
Quando chegarmos vou fazer você dormir.
Ele sorri e beija meus dedos.
— É tudo que preciso.

***

Acordo de repente sentindo frio. Liam não está do meu lado na


cama e eu vejo o dia amanhecendo lá fora.Sonolenta, eu me levanto e o
encontro todo vestido na cozinha.
Hoje ele não veste um de seus ternos caros, e sim uma calça escura
e uma camiseta branca.
— Bom dia. — Sorri vindo na minha direção.
Eesfrego os olhos.
— Por que está todo vestido tão cedo, hoje é sábado. Vai trabalhar?
— Não. Nós vamos viajar.
— Como é?
— Vá tomar um banho e se arrumar. Nosso voo sai em uma hora.
— Para onde vamos?
Ele sorri e me beija levemente.
— É uma surpresa.

Por mais que eu insista, Liam não diz para onde estamos indo, nem
no caminho até o aeroporto, onde descubro que nós vamos embarcar em seu
avião particular.
E nem Ethan que embarca conosco quer me dizer.
— Ethan, por favor, eu odeio surpresas! — resmungo e ele coloca
os fones de ouvido e se acomoda na poltrona.
— Não insista. Minha boca é um túmulo.
— Que saco!
Desisto e sento ao lado de Liam.
Estamos voando há alguns minutos e ele me encara.
— Tudo bem?
— Não vai mesmo me dizer para onde estamos indo?
Ele sorri diabolicamente.
— Para Aberdeen. Você vai me apresentar a seu pai.
Ai. Merda!
Capítulo 30

— Então foi aqui que você cresceu. — Liam dirige pela fria e
chuvosa cidade de Aberdeen em um carro que faz todos nas calçadas
pararem para olhar enquanto tento dominar o medo crescente dentro de
mim, quanto mais perto ficamos da casa do meu pai.
— Ainda acho uma péssima ideia. E sim, foi aqui que eu cresci.
Embora eu passasse o ano letivo com a minha mãe na Califórnia, eu acho
que sempre considerei Aberdeen como meu lar. Margô vivia se mudando de
uma cidade para a outra. Minha mãe deu o fora dessa cidade quando eu
tinha apenas cinco anos de idade.
— Posso entender sua mãe — comenta bem-humorado enquanto
buzina para um trator atravessando a rua. Uma merda de um trator. É a cara
de Aberdeen.
— Ela odiava o frio, as pessoas, tudo.
— Odiava seu pai tambem?
Sinto uma pontada de dor com suas palavras e me encolho.
— Não sei se ódio é a palavra correta, ela era muito jovem... não
estava preparada para se casar — respondo, sem conseguir deixar de me
perguntar se havia alguma chance de eu estar cometendo os mesmos erros
da minha mãe. De repente eu me sinto feliz por estar indo ver Tom e não
Margô. Ela ia pirar quando soubesse do meu noivado.
Não que Tom não teria sua própria versão de piração. Só seria mais
violenta.
O carro sai da cidade e entra na autoestrada e sinto um toque de
nostalgia com o cheiro de mato molhado no ar.
— É uma bela paisagem. — Liam abre o vidro do carro, fazendo o
vento entrar com maior intensidade.
— Sim, é.
— Você é como sua mãe e odeia Aberdeen?
— Eu não curto muito o frio e a chuva, devo dizer, porém este era o
lugar em que eu podia ficar com meu pai. Sentia falta dele o resto do ano,
então não me importava com a umidade contanto que estivéssemos juntos.
— No entanto escolheu Nova York para morar.
— Para estudar — eu o corrijo.
Liam me lança um olhar especulativo.
— Não pretendia permanecer em Nova York depois de formada?
— Não sei. Eu nem sabia o que ia fazer depois de formada. — Solto
uma risada sem humor.
Sua mão atravessa o espaço entre nós e segura a minha.
— Agora você sabe.
Meu sorriso se torna genuíno agora, enquanto levo sua mão até o
meu rosto.
— Eu gosto muito de você para vê-lo levar um tiro. — Tento mais
uma vez dissuadi-lo daquela ideia maluca de conhecer Tom. Eu vinha
tentando convencê-lo do absurdo dos seus planos desde que contou sobre
eles no avião. Infelizmente, Liam não se tornara um bilionário de Wall
Street deixando-se ser convencido a desistir dos seus objetivos.
Eu sei que continuo ferrada quando ele acaricia meu rosto antes de
afastar a mão de volta para o volante e pisar no acelerador.
— Quem está sendo absurda agora?
— Estou falando sério, o Tom é policial. Deveria ter medo!
— Seu pai não vai atirar em mim, baby.
— Depois não diga que não avisei! — Cruzo os braços emburrada.
— Devia ter trazido Ethan para te defender. Alías, onde ele se meteu?
— Ele estará aqui em breve. Achei que seria mais fácil se isso
ficasse apenas em família.
Familia! É esquisito demais pensar que este cara lindo e rico do
meu lado vai realmente fazer parte da minha família. Assim como Tom e
Margô.
Deus, onde eu estava com a cabeça quando pensei que este
casamento daria certo?
Gemo desalentada quando o carro estaciona em frente à casa do
meu pai.
Meu estômago está revirando agora.
— Ainda dá tempo de desistir — resmungo quando Liam segura
minha mão e me puxa em direção à porta.
— Desistir de me apresentar a seus pais, significa que você quer
desistir de nosso noivado?
— Claro que não!
— Então não adianta protelar.
— Ok, confesso que estou morrendo de medo, mais por mim do que
por você, satisfeito? Meu pai vai me matar!
— Eu não vou permitir. O único que pode te punir de agora em
diante sou eu, se esqueceu, Senhorita Jones?
Sorrio e ele me beija. O que faz meu corpo relaxar contra o dele e
minhas mãos se crisparem em sua camisa.
Até que escuto um pigarro e me afasto com um pulo me virando
para ver meu pai nos encarando com cara de poucos amigos.
— Oi pai. — Minha voz sai num sussurro apagado e tenho certeza
que estou branca como um papel e, acredito que teria caído de tanto que
meus joelhos tremiam, se Liam não estivesse me segurando.
E mesmo sabendo que posso desmantelar no chão, ainda tento
empurrá-lo para longe quando vejo os olhos de Tom fixos na mão de Liam
em minha cintura.
Está ruim e ficando cada vez pior.
— É, pai, este é... hum — pigarreio agora. — O cara de quem eu te
falei, o...
— Olá, Senhor Jones, eu sou Liam Hunter. — Liam estende a mão
livre para meu pai que hesita por alguns segundos.
Tom olha de mim para Liam, para a mão de Liam e de novo para
mim, antes de aceitar o cumprimento. Isso não me deixa mais à vontade.
— Parece que alguém ainda tem alguma coerência, aqui. Entrem,
está começando a chover de novo.
Entramos seguindo meu pai até a sala de estar que continua
exatamente como eu me lembro e Liam me puxa para um sofá.
Tom se senta diante de nós, todo sério.
— Isso me lembra aquela vez quando você tinha 13 anos e fugiu
pela janela para ir tomar sorvete com suas amigas sem minha permissão e a
mãe de uma delas veio te trazer, Emma — Tom resmunga e olha para Liam.
— Ela tremia tanto de medo que achei que fosse se mijar inteira.
— Pai! — Meu rosto se tinge de um vermelho humilhante,
principalmente pela risada de Liam.
— Achei que ela fosse vomitar quando contei no avião que viríamos
para cá.
— Confesso que eu tenho grande parte de culpa nisso. Eu realmente
tacava o terror nessa menina para ela não me desobedecer. Sabe como é,
não é fácil educar uma filha somente durante três meses por ano e não podia
contar muito com Margô, aquela tem a cabeça nas nuvens.
— Pai, por favor, não estamos aqui pra falar mal da mamãe.
— Claro! Você está aqui para me apresentar o seu namorado. Parece
que, se não fosse por iniciativa dele, isso não estaria acontecendo, não é?
— Iniciativa dele?
— Não contou a ela? — Tom pergunta diretamente a Liam e tenho a
medonha impressão que estou perdendo alguma coisa.
— Contar o quê?
— Liguei para o seu pai ontem, assim que você saiu do meu
escritório depois de falar com ele.
Arregalo os olhos, estupefata.
— Como é?
— Eu sabia que ele deveria estar furioso e preocupado, então me
apresentei e disse que viríamos para que eu pudesse me apresentar
corretamente.
— Então você já sabia que íamos chegar hoje? — pergunto a Tom,
ainda incapaz de acreditar.
— Sim, eu sabia. Parece que seu namorado tem mais consideração
comigo do que você. Francamente Emma, onde já se viu esconder um
namorado do seu pai?
— Você sempre disse que ia encher de tiro o primeiro que ousasse
me pedir em namoro, pelo amor de Deus!
— Você tinha 15 anos quando eu disse e precisava garantir que
aqueles moleques cheios de hormônios, que a olhavam como se fosse um
pedaço de carne de primeira cada vez que aparecia nos verões, ficassem
longe!
— Então você não vai atirar no Liam?
— Eu fiquei muito preocupado mesmo quando me disse que estava
namorando há três meses e nem me contou nada, então, quando ele me
ligou se apresentando, dizendo que estava disposto a trazê-la para que eu
pudesse conhecê-lo, fiquei mais tranquilo.
— Aposto que pretende investigá-lo, não é?
— Pode apostar nisso, eu sou seu pai! Ninguém vai namorar a
minha filha se tiver ficha na polícia! — Ele olha para Liam. — Desculpe-
me, rapaz, eu tenho que fazer isso. E espero que não exista nenhum
esqueleto no armário, senão as coisas ficarão feias para o seu lado.
— Pai, por favor!
— Não se preocupe, Senhor Jones — Liam se intromete na nossa
conversa pela primeira vez. — Eu mesmo posso lhe fornecer todas as
informações que julgar necessárias.
— Assim é que se fala. Está vendo Emma, seu namorado tem mais
decência em não esconder as verdades de mim do que você.
— Bem, já que estamos falando de verdades... — Respiro fundo.
Vamos ver se papai vai continuar adorando Liam depois do que vou
anunciar. — Liam não é meu namorado. — Mostro minha mão com o anel
de noivado brilhando. — Nós somos noivos.
É a vez de Tom arregalar os olhos de surpresa.
— Como é que é? Você me disse que se conhecem há apenas três
meses, como podem estar noivos?
— Senhor Jones, Emma e eu estamos morando juntos — Liam diz
com a voz calma, como se não tivesse medo de morrer.
Tom se levanta movendo-se ameaçadoramente, Liam não move uma
sobrancelha.
— Três meses e já foi morar com um homem, Emma, você
enlouqueceu?
A raiva dele era direcionada a mim e não a Liam?
Eu me encolho.
— Pai...
— Nem se formou ainda! Você foi pra Nova York para estudar e ter
uma carreira, não era o que queria?
— Eu queria fazer literatura na verdade... — Eu me levanto. É a
verdade que ele quer, é o que vai ter.
— Ah, não vem com esse papo de novo! Não mude o foco da
discussão! Você está morando com um homem que mal conhece e ainda por
cima escondeu da sua família!
— Eu disse que era melhor ter contado a eles desde o começo, baby.
— Liam toca meu ombro. E olha pra Tom. — Eu também não sabia que ela
não havia contado aos pais, Senhor Jones. Por causa disso achei melhor
virmos pessoalmente contar que vamos nos casar.
— Casar? — Tom respira com dificuldade e temo que ele tenha um
troço.
— Pai, se acalma! — Eu me aproximo.
— Me acalmar? Está namorando há três meses e vai casar?
— Na verdade são dois meses... — Liam corrige e eu lanço a ele um
olhar mortal.
— Liam, pare!
— Sem mentiras, baby.
— Espera... — Tom olha de mim para Liam muito branco. — Você
está grávida?
— Não! — Desta vez eu e Liam respondemos em uníssono.
— Então qual o motivo para esse casamento tão repentino?
— Pai, me deixe explicar. Nós não vamos casar agora. Sim, aceitei
o pedido do Liam, mas será um noivado longo, justamente porque eu sei
que tudo está indo rápido demais...
— Rápido? Está morando na casa dele!
— Porque eu briguei com a Zoe.
— Brigou com a Zoe? Mais essa agora!
— Ela ficou brava com o meu noivado e eu não gostei, então a
gente quebrou o pau e eu fui embora da casa dela.
— E foi morar com seu namorado.
— Noivo — Liam corrige mais uma vez.
— E você, rapaz? O que tem a dizer? Já sei que é rico e todas essas
coisas, o que não lhe dá o direito de pressionar minha filha para casar com
você!
— Ele não está me pressionando, pai. — Eu me vejo correndo em
defesa de Liam. Embora não possa negar que ele me pressionou sim, só que
Tom não precisa saber. — Eu quis ir morar com ele.
— Ah, eu sabia que isso um dia ia acontecer, só esperava que fosse
daqui a uns dez anos...
— Pai, eu não sou mais criança. Apesar de ter sido muito rápido, é o
que eu quero. Por favor, entenda.
— Senhor Jones, será que podemos conversar em particular? —
Liam se aproxima e eu olho pra ele com o cenho franzido.
— Liam, não sei se é uma boa ideia... — Tento intervir, Tom me
corta.
— Sim, acho que podemos ter uma conversa de homem pra homem.
Por que não vai preparar nosso almoço, querida?
— Eu?
— Sim, quem mais? Estou com muita saudade de comer comida de
verdade.
Eu bufo e saio da sala me perguntando se terei que limpar o sangue
de alguém do chão depois.
Entro na cozinha de Tom e começo a preparar o almoço, como ele
pediu, sentindo uma leve nostalgia por estar ali. Tento escutar o que estão
falando na sala, mas não consigo. Pelo menos não escuto gritos. Ou tiros.
E estou acabando de colocar uma massa no forno, quando ouço a
porta se abrir e me deparo com Margô entrando.
— Mãe, que diabos está fazendo aqui?
Ela se aproxima e me abraça.
— É assim que cumprimenta sua mãe depois de meses?
Eu olho através dela e vejo Ethan entrando.
— Fiquei no aeroporto esperando sua mãe.
— Ah, este rapaz é adorável, Emma! Mas o que eu quero mesmo é
conhecer o seu namorado! Eu vi as fotos na internet e, meu bem, que
homem é aquele?
— Ainda não sei como veio parar aqui...
— Liam Hunter me ligou ontem a noite e disse que queria que eu e
Tom estivéssemos juntos para conhecê-lo. Ah, isso não é excitante? Eu
sempre quis conhecer um namorado seu!
Ethan ri enquanto abre a geladeira como se estivesse na sua casa e
pega uma cerveja de Tom.
— E aí, o que está fazendo? Oh, Lasanha! Adoro sua lasanha! Já
cozinhou para Liam? Sabe que os homens a gente pega pelo estômago...
— Mãe, escuta. Eu não sei o quanto Liam te contou...
— Sobre o casamento? Ah, sim, ele me disse. Na verdade eu tive
que pressioná-lo bastante. Achei meio estranha toda essa insistência em me
trazer pra cá.
— E você não está surtando?
— Ah, eu fiquei chocada, só que de um jeito bom.
— Jeito bom?
— Claro! Eu achei que você fosse uma dessas mulheres frígidas ou
que gostasse de meninas... Não que eu tenha algum preconceito. Eu te
aceitaria do jeito que é, eu mesma tive uma experiência no colégio e...
— Mãe, pare! — Coloco a mão no ouvido não querendo ouvir
qualquer relato de experiências lésbicas da minha mãe. — Eu acho que
quem vai surtar sou eu! Pensei que ia odiar tudo isso!
— Ah querida, não seja boba! — Ela segura minhas mãos. — Só
quero saber se está certa sobre o que realmente quer. Porque, se quiser
apenas se divertir, está tudo bem. Não precisa se casar para...
— Eu não vou me casar agora.
— Vocês estão morando juntos, ele me disse.
Liam, que linguarudo!
— Sim, tudo foi acontecendo...
— Mas você quer que aconteça, não é?
— Sim, eu quero.
— Então está tudo certo. Viva a sua vida do jeito que quiser, é o
mais importante. E cadê esse homem maravilhoso? Não vejo a hora de
conhecê-lo.
— Com Tom, numa conversa de homem pra homem.
— Ah, Tom. Deve estar surtando porque vai perder sua garotinha.
Aposto que ele pensa que ainda é virgem.
— Bom, eu era há dois meses — resmungo, voltando a preparar a
salada. E Margô me ajuda.
Eu olho para Ethan acompanhando nossa conversa com um sorriso
divertido, enquanto toma a cerveja com o pé na mesa.
— Tire este pé daí! — ordeno.
— Calma noivinha!
— E aí, como e quando vai ser o casamento? — Margô indaga.
— Não vou me casar agora, já disse! Eu pedi a Liam um longo
noivado.
— Hum, é prudente. Precisa ter certeza de que é realmente o que
quer.
— Exatamente. Está tudo tão quieto. Acha que Tom o matou e está
enterrando o corpo no quintal?
— Não seja idiota. Nós ouviríamos o tiro.
— Ah, eu já cansei de esperar. — Limpo minhas mãos no pano de
prato e vou até a sala, ver se ainda tenho um noivo, ao chegar lá paro
boquiaberta ao ver Tom com uma arma na mão.
E Liam com outra.
Eles estão defronte ao armário de armas do meu pai.
— Essa espingarda eu tenho desde que a Emma nasceu. Foi minha
primeira arma de caça. Já matei muito cordeiro com ela.
— Essa Rossi Pioneer 27 é da edição especial de 86? — Liam
pergunta manuseando facilmente o revolver na sua mão.
— Sim, uma das poucas.
— Eu estou atrás de uma dessas. Poderia me vender Tom.
Tom? Onde foi parar o respeitoso “Senhor Jones”?
O Tom ri, pegando outra arma.
— Minhas belezinhas não estão à venda, Liam.
— Posso pagar o que for. Ano passado eu paguei 800 mil por uma
Taurus RT44.
Tom assobia.
— Essa sim é das boas.
— Você está convidado a ir à minha casa conhecer minha coleção,
embora não seja tão extraordinária quanto a sua.
Desde quando Liam coleciona armas?
— Está sendo modesto, tenho certeza que com seu dinheiro deve ter
uma coleção admirável. — Ele levanta o olhar e me vê. — Ei filha, o rango
está pronto?
— Sim e mamãe já chegou.
— Ah, tinha esquecido que teria que aguentar a Margô hoje — Tom
resmunga, fechando o armário. — Não me diga que ela trouxe o bocó do
marido dela.
— Não, Sean não veio.
— Menos mal. Bem, vamos comer!
Ela sai andando à frente e eu me aproximo de Liam.
— O que foi isso?
Ele sorri.
— Seu pai tem uma bela coleção de armas.
— E você coleciona armas também?
— Eu e Ethan colecionamos.
— Ah, garotos e seus brinquedos.
— Pelo menos tenho algo em comum com seu pai. Vamos ter
assunto para conversar nos jantares de família.
— Jantar de família, isso é tão... surreal.
Liam me abraça.
— Está mais tranquila agora?
— Minha mãe está nas nuvens! Ela achava que eu era lésbica ou
algo assim.
As mãos de Liam descem para minha bunda.
— Isso me faz ter algumas imagens interessantes.
— Ah, por favor, não seja pervertido! — Eu me desvencilho dos
seus braços. — Vamos comer. Meu pai e minha mãe não são amorosos um
com o outro, então é melhor acabar logo com isso. — Eu o puxo em direção
à cozinha.
— Hum, algo está cheirando muito bem.
Eu sorrio orgulhosa.
— Lasanha, baby.
— Parece delicioso.
Chegamos à mesa, que Ethan e Margô estão servindo.
Ethan até usa um avental ridículo.
— Hoje você vai comprovar que cozinho melhor do que o Eric.
— Quem é Eric? — meu pai pergunta, quando todos nos sentamos à
mesa.
— Meu cozinheiro — Liam responde.
— O Chef particular do Liam — corrijo —, ele é sensacional.
— Uau, que incrível! — Margô exclama empolgada. — Pelo menos
você não vai ter que ficar com a barriga no fogão todo o tempo.
— Mãe, eu gosto de cozinhar.
— Ter um chef em casa deve ter suas vantagens!
— Você deveria ter um, Margô, sua comida é horrível.
— Cale a boca, Tom! Você também não cozinha nada! Aposto que
obrigava a Emma a vir pra cá todo ano pra ela cozinhar pra você!
— Eu não obrigava a Emma...
— Chega vocês dois! — ordeno — Vão assustar o Liam com essas
brigas sem sentido.
— Sim, vamos nos focar em vocês. — Margô sorri. — E então
Liam, fale sobre seu trabalho. Aposto que é incrível!
Liam começa a falar sobre Wall Street e Margô e Tom parecem
interessados até se arriscam a fazer algumas perguntas.
— Por que escolheu trabalhar com isso? — Tom questiona.
— Tipo, um dia você acordou e pensou “vou investir na bolsa”? —
Margô ri.
Tento me lembrar do que ele me disse naquela entrevista, quando
lhe fiz a mesma pergunta, infelizmente não me recordo.
— O que motiva a todos: dinheiro. — Liam dá de ombros e eu
percebo que há algo tenso em sua voz, como se houvesse mais e ele não
quisesse dizer.
— Dinheiro não é tudo na vida — Margô argumenta e eu me
preparo para mais um dos seus discursos natureba, Tom a corta.
— Mas ajuda muito! Fico feliz que não terei que me preocupar com
o futuro da Emma.
— Pai, eu não estou com o Liam por causa do dinheiro! — Rolo os
olhos, um tanto irritada. — Não esqueça que eu terei um diploma em breve
e pretendo ter um bom emprego também.
— Ah sim, você me disse que recebeu uma proposta, e aí?
— Eu ainda não dei uma resposta.
— Agora não tem tanta pressa para responder...
— Ah que ótimo, insistiu tanto para eu escolher uma carreira que
me daria um emprego e, de repente, não está mais preocupado!
— É diferente, Liam vai cuidar de você agora...
Eu encaro Liam.
— Que diabos andou dizendo a meu pai? — Posso imaginar que
Liam fez algum tipo de lavagem cerebral em Tom, para ele estar tão
tranquilo quanto a meu futuro.
— Apenas o que você já sabe, baby. Que eu vou cuidar de você e,
se escolher trabalhar, que seja em algo que goste. Se não quiser trabalhar,
pode fazer o que quiser.
— Liam tem razão, filha, você tem tempo para escolher o que quer
fazer — Margô completa toda satisfeita e eu me pergunto que tipo de droga
Liam deu para meus pais.
Eles estão totalmente rendidos ao Leão de Wall Street.
— E como se conheceram? Quero todos os detalhes. — Margô
muda de assunto e eu fico vermelha me lembrando exatamente como eu e
Liam nos conhecemos.
— Emma foi me entrevistar — Liam responde calmamente, eu
tomo um susto quando sua mão toca minha coxa, apertando.
— E aí, conta mais? — Margô insiste e me encara. — Você se
apaixonou a primeira vista?
— Liam foi um ogro horrível. — Eu sorrio docemente para ele.
— Do qual você gostou, já que chegamos até aqui. — Ele sustenta
meu olhar.
— Na verdade eu detestei.
— Não me lembro desse detalhe. — Ele se volta pra Margô. — Na
verdade, a Emma se despiu totalmente...
Engasgo com o suco.
— ... De suas emoções, naquele momento. — Liam continua com
um sorriso maldoso para mim, quando bate nas minhas costas e Ethan ri
baixinho.
— Ah, que lindo — Margô se enternece alheia a nossa ironia. Ainda
bem que Tom parece estar mais focado em sua lasanha. — E você, Ethan,
tem namorada?
Respiro aliviada quando o foco sai de mim e pego a mão de Liam
tirando-a da minha perna.
— Para de ser engraçadinho — murmuro entredentes.
Ele apenas sorri. Cretino!
Está se divertindo com meu flagelo.
— Todos terminaram? — Eu me levanto. — Vou lavar a louça.
— Não, querida, deixa que eu lavo. — Margô também se levanta
seguida de Ethan.
— Eu ajudo a Margô.
— Ah, que gentil! Temos que arranjar uma namorada para você! —
Os dois seguem conversando para a cozinha e Tom também se levanta.
— Eu queria muito ficar, mas, como expliquei a você ontem, Liam,
eu tenho que voltar à delegacia agora à tarde.
— Eu entendo. Fique tranquilo, haverá tempo para conversarmos
melhor quando for a Nova York para a formatura da Emma.
— Mal posso esperar para conhecer suas armas, Liam.
— E eu achando que mal podia esperar para minha formatura! —
resmungo e Tom ri, me abraçando.
— Por isso também.
Ele se despede e eu encaro Liam.
— Parece que eu sobrevivi.
Ele se aproxima todo presunçoso.
— O Leão de Wall Street é bem esperto, não é? Você podia ter dito
que já havia combinado com meus pais!
Seus braços me puxam para perto.
— Foi engraçado ver você surtando.
— Ah, eu devia estar puta com isso! Porém estou tão aliviada de
meus pais não terem me matado que até relevo seu planinho diabólico.
— E eu achando que estava preocupada comigo.
— Deveria saber que meus pais ficariam deslumbrados com você!
Ele sorri e beija meu nariz.
— O que acontece agora? — pergunto relaxada pela primeira vez
naquele dia.
— Poderia me levar para conhecer seu quarto.
— Liam!
— O que foi? Trata-se somente de curiosidade.
— Eu duvido! Não vou transar com você na casa do meu pai!
— Não seja maldosa, Senhorita Jones, eu só pedi para conhecer seu
quarto.
— Tudo bem, mas não banque o engraçadinho!
Eu o levo para o andar superior e abro a porta do meu quarto,
convidando-o a entrar.
A decoração ainda é a mesma, com meu mural contendo fotos
vergonhosas de quando eu era criança, até a fase adolescente desengonçada,
minha velha estante com alguns livros que eu deixei por ali e minha cama
de ferro com o edredom musgo medonho escolhido por Tom.
— Então era aqui que você dormia... — Liam observa tudo e eu me
sinto tímida.
— Eu nunca fui muito ligada em decoração.
— Dá para perceber. — Ele sorri, olhando pela janela. — Foi por
aqui você fugiu pra tomar sorvete...
— Nem me lembre disso. — Sento na cama. — Na verdade essa foi
a única vez que Tom descobriu, eu devo ter fugido mais algumas vezes.
— Ah, Emma, que garotinha travessa você era.
Sinto um arrepio com a maneira que ele diz essas palavras enquanto
se aproxima.
— Eu era muito boba na verdade.
— O que você fazia quando fugia?
— Sabe que não tem nada a ver com sexo...
Ele para na minha frente, suas mãos tocam meu rosto.
— Não vou fingir que não aprecio isso. Porém devo ressaltar que os
garotos daqui deviam ser uns idiotas por deixar você escapar.
— Eles não eram como você — sussurro, segurando sua mão e
beijando seus dedos delicadamente.
— Eu queria ter te conhecido naquela época.
Eu sorrio.
— O que você faria comigo se me conhecesse naquela época?
Ele retribui meu sorriso, sentando ao meu lado e me puxando para
seu colo.
— Eu iria usar essa sua janela para entrar quando o Senhor Jones
não estivesse por perto.
Estremeço de excitação com suas palavras sugestivas.
Ah, se Liam fosse de Aberdeen eu certamente teria perdido minha
virgindade há muitos anos.
— Então, eu iria deitá-la nessa sua cama de virgem. — Ele faz
exatamente isso, me estirando sobre o edredom horrendo e se ajeitando do
meu lado. — E te tocaria assim. — Sua mão escorrega do meu rosto para
meu seio e eu solto um gemido fraco, enquanto sinto a carícia. — Você
gostaria? — pergunta em meu ouvido.
— Sim, muito... — Eu me viro e passo a perna por seu quadril e
Liam me beija.
Ah, minha vida teria sido muito diferente se o tivesse conhecido há
alguns anos.
Muito, muito melhor.
Seus lábios acariciam meu queixo, descendo por meu pescoço e
ondulo meu corpo excitado para perto do dele.
— E, quando você estivesse assim, toda trêmula e fraca em meus
braços, eu faria isso. — Ele escorrega a mão para baixo da minha blusa e
toca meu seio por baixo do sutiã, torcendo meu mamilo e gemo alto. —
Shiiiii, baby, não queremos que sua mãe apareça, queremos?
— Minha mãe... — Tento me afastar, usando um resquício de
sanidade, Liam me impede.
— Ethan está distraindo ela. — Ele sobe minha blusa e beija meu
mamilo eriçado.
Puta merda. Não dá pra resistir.
Ainda mais quando sinto um chupão forte.
— Porra, Liam. — Puxo seus cabelos, meus quadris buscando os
dele, querendo atrito. Estou enlouquecendo. E ele sabe. E adora.
— Shiiiiii... — A boca volta à minha e eu me derreto totalmente,
com sua língua acariciando a minha. Eu tinha beijado alguns garotos
quando morava em Aberdeen, porém nada se comparava aos beijos de
Liam. Nada.
— Liam, por favor...
— Por favor, o quê? — Ele parece feliz em me torturar. Mantendo
aquele ritmo lento como se fôssemos dois adolescentes que não poderiam
passar da segunda base.
Só que eu sou a travessa Senhorita Jones e estou a fim de toda a
diversão que me foi negada quando adolescente.
Com um gemido rouco, rolo por cima dele, beijando-o com força,
roçando minha pélvis contra sua ereção num rítmo cadenciado e é a vez
Liam de gemer.
— Pensei que não fosse transar comigo na casa do seu pai.
Mordo seu lábio, aumentando meus movimentos, sua ereção
roçando bem ali onde eu estava pulsando por ele. Ah, tão bom...
— Quem falou em transar?
Ele sorri daquele jeito que me arrepia até a ponta dos pés.
Tão lindo e sexy que dói meu coração. E faz meu estômago revirar
de um jeito bom.
— Que safada você é, Senhorita Jones!
— Só com você. — Eu o beijo de novo, nós dois gemendo no
mesmo ritmo, enquanto nossos quadris se movimentam à procura de
satisfação.
E estou começando a ofegar e perder o controle, quando Liam me
vira sem aviso e prende minhas mãos acima da cama, ainda movimentando
em cima de mim.
— Eu preciso foder você.
— Aqui não...
— Aqui sim. — Ele começa a tirar minha calça e tento impedir, mas
não tenho forças suficientes. Nem física nem emocionalmente. Ainda mais
quando ele se inclina e deposita um beijo em minha calcinha molhada.
Eu grito e Liam ri.
— Terá que ser mais silenciosa, baby.
— Então pare de me provocar — resmungo quando ele tira minha
calcinha e estou ocupada tirando minha blusa e sutiã, jogando-os longe,
então o ajudo a tirar a camisa e beijo seu peito perfeito, quando ele está
abrindo a própria calça, para imediatamente soltar um palavrão.
— O que foi?
— Não tenho preservativo.
Sorrio e enfio a mão dentro de sua cueca boxer.
— Ah, eu me esqueci de te dizer baby, estou tomando pílulas.
Liam solta um grunhido me jogando na cama e eu rio alto, quando
ele acaba de tirar a calça e a cueca num único movimento e se aproxima.
— Seja uma boa menina e abra estas suas pernas perfeitas,
Senhorita Jones.
Obedeço e perco o fôlego, quando finalmente o tenho em cima de
mim. Dentro de mim.
Gememos juntos e ficamos assim, sem nos mexer por um momento.
Saboreando a sensação de pele contra pele. Minha quente umidade em volta
de sua dureza.
Perfeição.
Ele me encara, retirando os cabelos do meu rosto afogueado.
— Pronta, Senhorita Jones?
— Sempre...
— Assim? — Ele se mexe dentro de mim, retirando e estocando
com força e eu tento não gritar, enterrando as unhas em seu ombro.
— Mais. — Cinjo sua cintura com minhas pernas.
Meus gemidos crescem conforme ele aumenta o ritmo de suas
estocadas, cada vez mais fortes, mais profundas. Mordo seu ombro para não
gritar alto, sentindo o prazer crescendo em um espiral de calor dentro de
mim, até explodir em meu ventre em espasmos que me fazem perder o ar
por alguns instantes, quando reina somente sensação com Liam também me
apertando forte e perdendo o controle.
Depois ele me fita com um sorriso preguiçoso e beija meu nariz.
— Estes moleques de Aberdeen não sabem o que perderam.
Eu rio e afasto os fios suados de sua testa.
— Isso valeu por todos os anos de celibato, com certeza.

***
Eu me sinto sonolenta quando desembarcamos em Nova York
naquele fim de tarde.
Apesar de ter sido um longo dia passou bem rápido.
— Cansada? — Liam pergunta, quando saímos do aeroporto.
— Um pouco. Cadê o Ethan? — Eu me dou conta que Ethan tinha
ficado para trás quando desembarcamos.
Liam retira uma chave do bolso.
— Não precisamos dele. — Abre a porta de um carro preto para
mim.
Este é um carro mais simples do que os que eu já conhecia, noto, ao
escorregar para o banco do passageiro.
Liam senta do meu lado e dá partida.
— Não conheço este carro... Parece diferente dos outros.
Ele sorri.
— Sim, ele é. Ele é o mais adequado para o local aonde vamos.
— E para onde vamos? Achei que estivéssemos indo para casa.
Ele apenas dá partida e não responde.
Eu me pergunto se aguento mais surpresas naquele dia e estou
ligeiramente apreensiva, quando percebo que estamos atravessando a ponte
do Brooklin.
O crepúsculo está caindo quando Liam para em frente a uma casa
simples de dois andares.
Ele sai do carro e abre a porta pra mim e eu o encaro, sem entender
nada.
— Que lugar é este, Liam?
Ele aperta minha mão, olhando para a casa.
— Essa era a casa dos meus pais. Onde eu nasci. Cresci. Onde eles
morreram.
Capítulo 31

Liam segura minha mão, enquanto me puxa num vagar silencioso


pelos cômodos vazios. Não há móveis à vista, embora tudo esteja
impecavelmente limpo. Pergunto-me se Liam alguma vez voltou ali depois
da morte dos pais. Meu coração estava afundando no peito desde que ele
me disse onde estávamos.
Quis tanto chegar àquele momento. O momento em que Liam
estaria pronto para dividir sua história comigo. Porém agora, vendo sua
expressão de tormento e dor, não sei o que estou sentindo. É uma mistura de
sentimentos. Sinto alegria por ele estar se abrindo, também sinto pesar pela
sua dor ao revisitar aquele lugar do seu passado.
Nós chegamos a uma iluminada cozinha vazia e Liam para, seus
olhos vagando pelas paredes nuas até o teto manchado.
— Há tantas lembranças aqui — murmura como se sua mente
estivesse recordando os dias passados naquele lugar.
Envolvo seu braço, recostando minha cabeça em seu ombro, sem
dizer nada.
É um momento dele. Será Liam quem determinará o ritmo da
conversa.
— Havia balões coloridos que sobrevoavam o teto como um céu de
fantasia. Ou ao menos assim me parecia. Acho que eu era um pouco infantil
demais para um garoto que estava comemorando dez anos.
Wow. Liam está me contando sobre seu aniversário. Aquele no qual
os pais tinham sido assassinados.
— Meus olhos se prendiam em todas aquelas cores, maravilhados.
E havia sempre o riso dela, claro e cristalino. E seus braços com cheiro de
pacholi e baunilha rodeando meu pequeno corpo, me inundando de calor.
“É tudo para você, meu amor”, Sua voz era a mais perfeita do mundo. Ela
era o meu mundo.
Ele não precisa me explicar que está falando sobre sua mãe.
— “Venha cortar o seu bolo”, suas mãos me puxavam na direção da
mesa na qual havia um bolo com muitas velas. “Faça um pedido”, meu pai
falou empolgado e eu pedi “Que nada nunca mude.”.
— Mas tudo mudou exatamente naquela noite. — Sua voz agora é
sombria e fico apreensiva com o que está por vir. — Eu ainda estava
soprando as velas quando a campanhia tocou. Eu era criança demais para
entender realmente as implicações do trabalho da minha mãe. Para mim, ela
era uma espécie de heroína que combatia os homens maus. Era o que meu
pai dizia quando ela demorava a chegar e nós tínhamos que comer sozinhos.
E talvez não tenha entendido a troca de olhares entre eles. Fiquei
contrariado porque meu pai disse que ia atender, enquanto ela sorriu e me
puxou pela mão até o andar de cima. Eu só queria saber por que tínhamos
parado a comemoração antes de receber meu presente. “Fique aqui e não
desça, entendeu?”, ela pediu e eu assenti. Porém, eu era teimoso. Quando
ela gritou, corri para ver o que estava acontecendo. Fiquei paralisado no
meio da escada enquanto via o homem com a arma atirar e seu corpo indo
ao chão. Meu grito abafado pelo grito do meu próprio pai, antes de ele
também cair... A sirene do carro da polícia passando pela rua naquele
momento... Os gritos dos vizinhos... O homem correndo e desaparecendo na
noite escura... Eu ainda escuto tudo isso em meus pesadelos.
Aperto seu braço, com o coração dilacerado por aquele relato.
— Eu queria descer, porém ela havia dito que eu deveria ficar ali —
ele continua —, sabia que eles tinham morrido, antes de o policial me
encontrar. Sozinho. Todos que eu amava estavam mortos. Eu só pensava
que estaria para sempre sozinho.
— Eu sinto muito, Liam. — Intensifico meu aperto para ele
entender que não está sozinho, nunca mais vai estar.
Ele não diz nada pelo longo momento em que permanecemos ali,
naquele cômodo repleto de lembranças.
— O que aconteceu com o... homem que os matou?
O rosto de Liam se fecha.
— Ele foi preso e condenado à prisão perpétua. Eu soube que
morreu há uns dez anos, numa briga na cadeia.
— Você o odeia? — pergunto baixinho.
— Eu o odiei por muitos anos. Quis saber o que havia acontecido
com ele, quando comecei a ganhar dinheiro. Ainda tinha raiva. Então soube
que estava morto. Acho que me senti aliviado. Eu não voltei aqui durante
muito tempo.
— E quando foi que voltou? — indago com cuidado.
— Depois que fui morar com Nora e David. Tinha estes pesadelos e
David insistiu que eu deveria ir a um terapeuta e eu me recusei. Ele disse
que talvez ajudasse eu vir aqui e tentar lembrar das coisas boas que
aconteceram antes de...
— Antes de tudo se transformar em lembranças ruins — completo
—, mas os pesadelos continuaram...
— Entrei aqui e só conseguia me lembrar deles mortos.
Seguro seu rosto entre as mãos, forçando seus olhos em minha
direção.
— No entanto houve coisas boas... Você viveu aqui por dez anos!
Há muito mais do que perda nessa casa. São as lembranças da sua infância.
Dos seus verdadeiros pais.
Ele toca minha mão, estreitando o olhar cheio de angústia.
— Não quero mais me lembrar somente de coisas ruins.
Sorrio e o beijo de leve.
— Não precisa. Sinto-me grata por ter me contado o que aconteceu
de ruim na sua vida, por ter dividido comigo. Agora eu quero que me
mostre as lembranças boas. Pode fazer isso?
Liam suspira pesadamente e segura minha mão de novo, me
puxando para outros cômodos.
Eu o sigo e me surpreendo ao ver um piano.
— Um piano?
— Era da minha mãe. Ela tocava muito bem.
— Deve ser fantástico ter um músico na família. Minha mãe tentou
tocar, como era ruim demais eu a obriguei a vender o piano, antes que eu
enlouquecesse. — Corro os dedos pelas teclas. — Todos os móveis
desapareceram, por que só ficou este piano?
— Depois que eles morreram, fui para um abrigo e uma colega de
trabalho da minha mãe ficou encarregada de cuidar das nossas coisas. Ela
disse que minha mãe iria gostar que tudo fosse doado para a caridade.
Como ela sabia que minha mãe amava o piano disse que o deixaria aqui
para mim. Esta é a única lembrança que me restou dela. — Ele se senta e
toca as teclas, diferentemente de mim, Liam sabe o que está fazendo e me
surpreende tocando muito bem.
— Você toca! — Sento ao seu lado.
Seu rosto se distente em um sorriso triste.
— Ela me ensinou. Fazia-me sentar aqui por horas a fio, todos os
domingos depois que voltávamos da igreja até que eu estivesse bem
afinado. Como toda boa irlandesa, minha mãe era muito católica.
— Sua mãe era irlandesa?
— Sim. Ela veio com o pai morar na América ainda criança.
— E seu pai?
— Um legítimo americano de Chicago.
— Como ele era?
— Ele era calado. Um cara dos números. Muito diferente da minha
mãe, que era esfuziante.
— Como eles se conheceram?
— Minha mãe morou um tempo em Chicago, depois que se formou
e seu pai morreu ela precisou de um contador e encontrou meu pai. Se
casaram um ano depois e se mudaram para Nova York quando minha mãe
arranjou um emprego na cidade.
— Acha que eles eram felizes, embora fossem tão diferentes?
— Eles brigavam muito, principalmente por causa do trabalho da
minha mãe. Ela se envolvia demais. E meu pai tinha razão, não é? Olha
como tudo terminou — declara amargo.
— Ela amava o que fazia, por isso se envolvia tanto. Acho que era
um trabalho admirável.
— Sim, ela era admirável.
— Eu gostaria de tê-la conhecido. Acha que ela iria gostar de mim?
Ele para de tocar e me encara.
— Ela iria odiá-la.
Meu rosto se contrai.
— Sério?
Liam ri.
— Ela iria querer que eu me casasse com uma boa garota irlandesa
também.
— Hum, provavelmente eu teria algum trabalho para convencê-la
então, porque eu iria querer casar com você de qualquer jeito... — Minhas
palavras são engolidas por sua boca sobre a minha quando ele me beija de
repente. E quando se afasta, seu rosto é sério e determinado perto do meu.
— Case comigo.
Sorrio com duçura.
— Eu já disse que sim...
— Agora. — Suas mãos enquadram meu rosto.
Eu me afasto um pouco, confusa.
— O quê?...
— Quando aceitou meu pedido você pediu um tempo. Um tempo
para que tivesse certeza. Quero saber se já tem essa certeza sobre nós.
Porque eu tenho. Você é a coisa mais importante pra mim agora. Por isso a
trouxe aqui. Quero deixar tudo para trás. Não quero mais estar sozinho.
Quero ter uma família de novo. Quero que você seja minha família.
Respiro suas palavras, que entram em meu corpo como o oxigênio,
essencial para me manter viva. E meu coração explode no peito de tanto
amor por aquele homem que no fundo continua sendo o mesmo menino
solitário que perdeu os pais brutalmente e nunca mais foi capaz de aceitar o
amor de ninguém.
No entanto ele está aceitando o meu. Está pedindo o meu.
Um sorriso radiante se alastra em meu rosto.
— Sim, vamos nos casar. Não preciso mais de tempo... Você não
está mais sozinho. Nunca mais vai estar. Estamos juntos agora. E para
sempre.
Ele sorri de volta, me puxando para seu colo enchendo minha boca
de beijos. Doces, intensos, com gosto de eternidade.
— Esta acaba de se tornar minha melhor lembrança desta casa —
ele diz em meu ouvido e eu o abraço com força, fazendo uma promessa
silenciosa para os pais de Liam, seja lá onde eles estejam. Eu vou fazê-lo
muito feliz. Mesmo não sendo uma boa moça irlandesa.
Capítulo 32

Eu o observo dormir.
O sol está se infiltrando lentamente no quarto, iluminando sua pele
de estátua grega deixando os cabelos cor de cobre tão claros quanto a
penugem de um verdadeiro leão.
Sorrio me aproximando, esfregando o nariz ali e aspirando seu
cheiro único. Ainda me parece incrível que vou acordar assim, ao lado do
Leão de Wall Street, para sempre. O mesmo cara em quem eu havia
tropeçado na rua há três meses e que me desconcertara totalmente naquela
bizarra entrevista.
Aquele cara lindo e irascível, dono de bilhões que sentia prazer em
caçar tudo a sua volta, inclusive mulheres. Ninguém sequer imaginava que
aquela fachada de investidor bilionário escondia um menino perdido e
traumatizado que havia perdido os pais, assassinados, aos dez anos de idade
e que, desde então, não confiava no amor de ninguém.
Isso está mudando. Tenho certeza que já mudou comigo, porém eu
ainda preciso que Liam perceba que há outras pessoas a sua volta que
também se importam.
— Ei, o que está fazendo?
Meu sorriso se alarga quando ele resmunga e passa um braço em
torno de mim, me prendendo mesmo em seu estado de sonolência.
— Precisamos levantar, já é tarde. — Deposito um beijo em seu
rosto e acaricio seus cabelos bagunçados, me mantendo firme na intenção
de me afastar.
— Hoje é domingo, não precisamos fazer nada, Senhorita Jones.
— Liam, é sério... — Devia prever que meu leão não ia ceder tão
facilmente assim e não consigo impedir meu riso quando me vejo prensada
embaixo do seu corpo morno, com meus braços presos acima da cabeça.
— O que estava dizendo? — Sorri diabolicamente e tenho muita
vontade mesmo de mandar meus planos para o domingo para o inferno e
ficar ali com meu lindo e excitado noivo fazendo muitas coisas sacanas
comigo.
Aquela semana nós tínhamos ficado, desde que ele me pedira em
casamento de novo, envolvidos numa bolha cor-de-rosa de felicidade. Ou
talvez rosa fosse um eufemismo, porque viver com o Leão de Wall Street
nunca seria o mar de rosas dos romances de conto de fadas. Mas quem está
reclamando? Não trocaria os tons vibrantes de nossa relação por nada.
Aquela é minha ideia particular de felicidade, mesmo que envolva
algumas palmadas de vez em quando e um pouco de dor, sempre acaba em
prazer absoluto. É assim que a gente é feliz, independentemente do fato de
que, para alguém de fora, possa parecer maluquice.
Liam é louco. E eu também. E nós dois fomos feitos um para outro.
Simples assim.
— Você sabe por que precisamos levantar — insisto em ficar séria,
embora seja bem difícil, ainda mais quando ele afasta minhas pernas com o
joelho para acomodar sua atrevida ereção ali, onde eu já começo a sentir
uma necessidade inconveniente.
Sua boca toca meu pescoço.
— Eu já levantei.
Solto um gemido, entre irritada com a brincadeira e inebriada pela
barba por fazer roçando minha pele sensível.
— Você prometeu Liam, por favor. — Luto para manter a sanidade,
pensando que é para um bem maior.
Ele roça os quadris nos meus. Oh porra, se ao menos ele parasse
com isso...
— Quero passar o dia inteiro na cama com você. — Seus lábios
mordem minha orelha.
Cerro as pálpebras suspirando.
— Nós já fizemos isso domingo passado não se lembra?
Tinha sido realmente um dos melhores dias da minha vida, o dia
seguinte, em que voltamos da casa da sua infância. Naquela noite eu me
encontrava tão cansada que estava praticamente dormindo quando
chegamos em casa, no entanto, o dia seguinte, ah, o dia seguinte...
Eu tinha perdido a conta de quantas vezes eu disse o nome de Deus
em diferentes tons de gritos de êxtase. Ou em quantas posições Liam havia
me possuído.
Sim, possuir era bem a palavra.
Eu me sentia possuída de corpo, alma. E coração.
E também foi o dia em que eu descobri que transar demais pode
deixar a gente dolorida de forma bem incômoda em lugares estratégicos.
Não que não valesse a pena, claro.
Também não era este o motivo pelo qual eu queria sair da cama
hoje.
Eu havia convencido Liam de que deveríamos ir almoçar com seus
pais adotivos e eles estavam nos esperando.
Então, eu junto toda a minha força e empurro Liam para o lado, me
livrando de sua sedução matinal.
— Porra, Emma — resmunga, passando a mão pelos cabelos.
Levanto da cama rapidamente, apesar de seus resmungos.
— Vou tomar um banho. Depois você vai fazer o mesmo. Não quero
me atrasar para o encontro com seus pais.
— Eles vão entender se não formos.
— Eu já disse que vamos, não vou desmarcar!
Sabia que Liam ainda tinha certa resistência em voltar a conviver
com os Hunter, ele precisava entender que os pais adotivos o adoravam e só
queriam uma chance de demonstrar.
Com isso em mente, marcho para o banheiro e, antes de entrar, eu
me viro e o encaro ainda na cama.
— E nem pense em se juntar a mim, entendeu?

***
— Seja legal, ok? — Seguro sua mão quando Liam estaciona em
frente à casa dos Hunter, mas ele se esquiva.
— Não sei que diferença faz estarmos aqui.
— Toda diferença! Eles são seus pais!
— Morei somente dois anos aqui...
— Eles te adotaram.
— Eu morei com muitos pais. — Sua voz é cheia de sarcasmo.
— Sabe que eles são diferentes! São pessoas incríveis...
— Você os conhece há dois segundos, Emma...
— E quero conhecer mais. Sei que os conheço pouco, mas esse
pouco já deu pra perceber que são muitos especiais. Só pelo fato de terem
acolhido você.
Ele sorri com ironia.
— Claro! Quem iria aguentar um adolescente sem educação de 16
anos?
— Sim, é isso mesmo! — Não discordo dele. — A maioria das
pessoas que decide adotar prefere bebês que possam moldar como eles
próprios. Mas os Hunter escolheram você, um cara que estava envolvido
com gangues, fala sério! Deveria se sentir muito grato.
— Certo, Senhorita Jones, está começando a me fazer sentir culpa
agora. É esta a sua intenção?
— Que bom que está funcionando!
Ele suspira pesado e me encara.
— Eles não são meus pais de verdade. Não posso tratá-los como se
fossem.
De repente eu entendo parte do problema. Liam não queria
substituir seus pais verdadeiros pelos Hunter. Talvez ele acreditasse estar
cometendo uma espécie de traição ou algo parecido.
Seguro sua mão de novo.
— Não precisa substituir. Você teve pais biológicos incríveis até os
dez anos. E eles se foram, infelizmente. Então você teve a chance de
encontrar pessoas maravilhosas que vão te apoiar e estar com você, como os
Hunter, por que não desfrutar? Todo mundo quer ter uma família.
— Você vai ser minha família.
— Os Hunter também são sua família. Afinal, eles te deram até um
nome. E querem que você se aproxime. Que sejam mais próximos.
— Eles têm outro filho agora, não acho que se importem tanto.
— Oh, está com ciúme do Jeremy? — pergunto divertida.
— Porra, não! Aquele menino chato!
Continuo rindo.
— Ele é legal, apenas adolescente. Agora vamos, eles estão
esperando.
Saímos do carro e Liam segura minha mão. David e Nora abrem a
porta sorrindo.
Acho que vejo até certo alívio em suas expressões. Certamente eles
achavam que Liam não iria aparecer.
— Olá, sejam bem-vindos! — Nora me abraça empolgada. —
Obrigada, querida — sussurra em meu ouvido e eu esboço um sorriso
satisfeito. Com o canto do olho noto que Liam retribui o abraço de David.
Nora também o abraça e segura seu rosto, num gesto típico de mãe.
— Hum, está comendo direito, Liam? Sempre acho que está muito
pálido querido.
— Nora, ele trabalha demais isso sim! — eu me intrometo. — Mas
ele come direitinho.
— Claro, esqueço que tem aquele chef particular. — Nora sorri.
— Emma cozinha muito bem também — Liam me puxa pela
cintura e eu fico vermelha.
— Sério? Então pode ir ajudar a Nora, a comida da minha mulher,
às vezes, deixa a desejar — David brinca e Nora lhe dá um tapa de
brincadeira.
— Não dê ouvidos a ele, Emma, no entanto eu gostaria da sua
ajuda.
— Claro!
Ela passa os braços por meu ombro.
— Vamos deixar os garotos com seus assuntos de garotos.
Sigo Nora, torcendo para que a conversa flua entre Liam e David.
— Hum, que cheiro bom. — Aspiro quando chegamos à cozinha.
Nora sorri.
— Estou fazendo bife Wellington, espero que coma carne.
— Eu como sim. Preciso de ajuda em quê?
— Pode fazer a salada? — Ela aponta para algumas folhas na mesa.
— Com certeza.
— Realmente estou surpresa por ter convencido o Liam a vir. — Ela
sorri para mim, retirando a carne do forno.
-— Também estou. — Retribuo seu sorriso.
— Você realmente está fazendo bem a ele, querida. Continue assim.
— Estou tentando. Ele me levou na casa dos pais semana passada.
— Jura? E como foi?
Começo a contar a Nora tudo o que conversamos e ela fica
emocionada.
— Fico tão feliz. Liam era muito fechado, precisa deixar o passado
para trás.
— Sim, ele nem teve mais pesadelos, o que é maravilhoso. E no
fim, eu acabei concordando em marcar a data do casamento.
— Ah, parabéns! E seus pais já sabem?
Conto a ela sobre a surpresa de Liam me levando a Aberdeen e
Nora ri com vontade.
— É a cara do Liam... Bem, acho que está tudo pronto. Você chama
David e Liam? Vou tentar tirar o Jeremy do Xbox!
Caminho até a sala e encontro Liam e David comentando uma
corrida de Fórmula 1. É bom vê-lo relaxado como qualquer ser humano
comum.
— O almoço está pronto, rapazes!
— Finalmente, eu e Liam já estávamos pensando em pedir comida
chinesa — David brinca indo para cozinha e eu sento no colo de Liam,
envolvendo seu pescoço com meus braços e o beijando com entusiasmo.
— Ei, o que foi isso?
— Minha maneira de demonstrar que estou muito feliz por você
estar sendo legal com seus pais.
Ele faz uma careta.
— Você fala como se eu fosse um monstro desalmado.
— Só um pouquinho não é, Senhor Hunter?
Ele rosna e me dá um tapa na bunda.
— Não seja impertinente, Senhorita Jones, ainda posso te dar uma
bela surra antes do almoço.
— Você não ousaria!
— Está me provocando?
— Não! — Eu me desenrosco dele o puxando para a cozinha. —
Vamos comer como as pessoas normais que seus pais acreditam que somos.
Quando entramos na cozinha, Jeremy já está resmungando algo
sobre não querer tirar o boné da cabeça para almoçar, David acaba
convencendo-o.
Ele sorri ao me ver.
— Oi, bonita!
— Não dê em cima da minha noiva, fedelho — Liam reclama.
— Por quê? Tem medo da concorrência? Acha que ela pode trocá-lo
por mim?
— Jeremy, não provoque o Liam — Nora pede.
— Devia ter medo é do guarda-costas do Liam, Jeremy — David
comenta.
— Não, eu mesmo quebraria seus ossos — Liam continua
casualmente e eu aperto seu braço.
— Acho que o Jeremy já entendeu, amor. Sem ameaças.
— Eu posso vencê-lo numa luta. — Jeremy aperta os bíceps.
— Você só deve saber lutar nos videogames, pirralho.
— O Liam também gosta de videogame, por que não fazem uma
competição após o almoço? Aposto que Nora ficaria feliz de salvar seu
tapete persa do sangue que iria jorrar se lutassem de verdade — encorajo.
— Ah, eu também venço ele em qualquer jogo de Xbox! — Jeremy
insiste.
— Eu posso apostar que não — Liam resmunga e eu e Nora
sorrimos uma para outra.
Garotos. Tão fáceis de manipular.

***
Depois do almoço David diz que vai lavar a louça e eu lembro a
Liam que ele prometeu jogar com Jeremy, que já havia voltado para o
quarto.
— Eu não estava falando sério.
— Por que não? Você gosta de jogar com o Ethan. E acho que
adoraria provar ao fedelho que é muito bom em jogos eletrônicos também.
— Eu gostaria de provar a ele que sou bom de soco também.
— Não assuste sua mãe!
— Obrigada, Emma — Nora diz voltando à sala. — Agora vá jogar
com Jeremy, Liam. Eu cuido da Emma. Gosta de jogar baralho, querida?
— Claro que sim! Minha mãe era quase uma viciada em jogos.
— Ah, então somos duas. Tenho certeza que nos daremos bem.
Liam se afasta ainda meio contrariado indo para o quarto de Jeremy
e Nora sorri toda satisfeita.
— Jeremy não admite na frente do Liam, mas é louco pra ser seu
amigo. Ele vive contando vantagem sobre ele aos colegas de escola.
— Tenho certeza que o Liam também vai gostar, só não sabe ainda!

***
David se junta a nós no jogo de canastra, mas horas depois é
chamado para uma emergência. Nora diz que vai fazer um bolo para o café
da tarde e eu decido dar uma passada no quarto de Jeremy para ver se
continuam vivos.
Eu me surpreendo ao vê-los entretidos com o jogo, gritando
palavrões para a tela com empolgação.
Sorrio e me afasto sem querer me intrometer e encontro um banco
na varanda de trás, me sentando ali, admirando a tarde que cai.
— Belas pernas, Senhorita Jones.
Sorrio quando Liam se aproxima e senta do meu lado. Eu me sento
direito, puxando meu vestido florido para baixo, tentando cobrir minhas
coxas, com falso recato.
— Que atrevimento, Senhor Hunter.
Ele sorri e me puxa para seu colo, embrenhando os dedos em meus
cabelos e me beijando lentamente.
— E aí, já terminou a sessão de Xbox com seu irmãozinho?
Ele faz uma careta.
— Aquele pirralho me venceu em quase todos.
Gargalho com vontade.
— Isso eu queria ver! O Leão de Wall Street sendo vencido em
algo!
— Ele é só um garoto punheteiro que nem tem namorada, claro que
tem tempo de treinar e se tornar invencível nos jogos.
— E você é bom em outros jogos. — Eu me insinuo, beijando-o de
novo e adoro ouvi-lo gemer e me fazer montar em seu colo, insinuando as
mãos por minhas coxas por baixo do vestido.
Eu o afasto.
— Não faça isso, Liam! Alguém pode aparecer!
Ele ri.
— Nora está ocupada na cozinha e Jeremy acabou de sair com um
amigo. Ele ficou feliz por ganhar mil dólares.
— Mil dólares?
— É, nós apostamos. Eu perguntei quanto queria apostar e o idiota
disse mil. Acho que ele nem tem noção que poderia pedir um milhão.
— Até parece que teria apostado um milhão!
— Sabe que eu gosto do risco, baby!
— Você é maluco...
Ele me beija de novo, eu interrompo, ainda com medo de sermos
pegos.
— Sério, para com isso. Sua mãe pode aparecer, eu ia morrer de
vergonha.
— Nora sabe que não deve se intrometer quando estou com uma
garota. Ela me pegou uma vez.
— Mentira!
— Sério! Eu estava bem aqui com uma garota e ela já estava sem
blusa, quando Nora apareceu.
— Meu Deus! E o que aconteceu?
— Ela pediu desculpas e saiu sem falar nada. E nunca mais me
interrompeu de novo.
— Agora fiquei curiosa. Você teve muitas namoradas quando era
adolescente?
— Nenhuma delas eu poderia chamar de namorada.
— Nunca teve uma namorada séria? Por que não? — Era difícil de
acreditar que nenhuma garota tivesse conseguido segurar um cara como
Liam.
— Porque eu nunca me apaixonei por ninguém.
— Nunca? — sussurro, meu coração batendo forte com todas as
implicações daquela afirmação.
Desejo que ele continue. Que diga o que eu mais gostaria de ouvir.
Em vez disso, ele me beija de novo.
E desta vez, não paro sua inspeção libertina por baixo do meu
vestido. E solto um gemido surpreso, quando os dedos encontram minha
calcinha.
— Era isso que fazia com suas garotas?
— E isso também. — Morde meu pescoço e desliza uma mão até
meu seio, por baixo do sutiã e eu rolo os quadris sob os seus, me excitando
ainda mais ao sentir sua ereção se insinuando.
— Ah Deus, era desse jeito que você as persuadia a transar com
você?
— Estou conseguindo te convencer?
Mordo seus lábios e escorrego a mão para o cós da sua calça
abrindo-a.
— Isso responde?
Ele sorri e me beija com força.
E fechando os olhos, deixo que Liam faça amor comigo bem ali, no
quintal da casa dos Hunter.
E para minha sorte, Nora Hunter não o interrompe desta vez.

***
— Ai caramba, como assim marcaram o casamento para daqui a
dois meses? — Zoe arregala os olhos quando eu conto a ela que Liam e eu
havíamos decidido finalmente a data do casamento.
Na verdade, foi Liam quem decidiu e me comunicou naquele fim de
tarde enquanto comíamos bolo com sua mãe e ela perguntou sobre quando
iríamos casar e ele respondeu, calmamente, que já estava marcado na igreja
daqui a dois meses.
Fiquei meio contrariada. Não demonstrei na frente de Nora,
entretanto expressei meu descontentamento quando chegamos em casa.
— Não entendo porque está brava. Você concordou... — Ele andava
tranquilamente pelo quarto tirando a roupa.
— Eu concordei, mas podia ter me consultado! Passou pela sua
cabeça que eu gostaria de escolher o dia em que vou me casar?
— Por quê? Tem algum compromisso especial nesse dia?
Irritada, joguei o meu sapato em sua direção. Ele desviou e o sapato
foi parar na lareira.
— Não seja engraçadinho, Liam!
Ele riu e se aproximou me segurando enquanto eu tentava me
desvencilhar.
— Me solta, estou brava com você...
Mas ele segurou meu rosto.
— Ei, olhe pra mim.
Eu bufei e o encarei amuada.
— Só quis ser prático. Pedi que Sarah verificasse uma data em
que...
— A Sarah? Puta que pariu Liam! — Tentei de novo me soltar, ele
continuou me segurando com força.
— Uma data em que pudéssemos viajar em lua de mel.
— Ah — Eu me desconcertei um pouco. — Viajar? — Eu não tinha
pensado por aquele ângulo.
— Sim. — Ele sorriu acariciando meu rosto. — Acho que um dia
falou que gostaria de conhecer Londres.
Arregalei os olhos surpresa.
— Londres? Nós vamos pra Londres?
— Sim, baby. Londres.
Soltei um grito e pulei em seu pescoço, tão empolgada com aquela
perspectiva que esqueci meu desagrado por não ter me convocado para
decidir a data.
Afinal, que importância tinha mesmo?
Eu ia pra Londres em dois meses com meu lindo noivo. Que até lá,
seria meu lindo marido.
Aquilo aconteceu há quatro dias e desde então eu me sentia
flutuando numa nuvem de felicidade.
— E por que não me contou antes? — Zoe saca um bloquinho e
uma caneta da bolsa. — Sabe o trabalho que dá organizar um casamento?
Rolo os olhos e olho o cardápio do restaurante.
— Hum, não sei o que quero comer...
— Me dá atenção! — Zoe arranca o cardápio da minha mão. —
Concentre-se! Nós temos dois meses para organizar um casamento, Emma!
— Ei, não seja maluca! São dois meses!
— Dois meses não são nada! Nada! Tem que escolher vestido, fazer
lista de convidados, escolher o local da festa, o cardápio...
— Tá legal já entendi! Agora está me deixando com medo!
— Não precisa ter medo, basta deixar tudo em minhas mãos. — Ela
sorri diabolicamente e isso sim me deixa mais amedrontada. Esta é a Zoe e
ela é louca por qualquer organização de evento. Ainda mais um casamento.
— Tudo bem, tem carta branca pra fazer o que bem entender!
— Ah que maravilha! E dinheiro não é problema, não é?
— Claro que não.
Zoe começa a murmurar em algum dialeto do país dos gnomos
malucos enquanto escreve freneticamente e eu escuto meu celular tocar.
Faço uma careta ao ver que é uma ligação de Samantha.
Preciso tomar uma decisão logo sobre sua oferta de emprego e
vinha adiando, ignorando suas ligações insistentes.
— Quem era? Por que não atendeu? — Zoe pergunta curiosa.
— Era Samantha.
— Ah, sei. E você não a atendeu por quê...
— Porque eu ainda não sei o que fazer com sua oferta de emprego!
— Ainda não deu uma resposta a ela? Pensei que tivesse decidido
não aceitar!
— Acha que não devo? É uma boa oferta, Zoe. Além disso, minha
formatura é daqui a dois dias e eu ainda não sei o que fazer da minha vida
profissional.
— Como se isso fosse um problema para a noiva do Leão de Wall
Street! Por favor, Emma!
— Não tem nada a ver! Eu preciso ter uma ocupação na vida! E não
viver a custa de Liam, estamos no século XXI!
— Você está vivendo com o Liam e não te vejo reclamando!
Mordo os lábios, pensando naquelas duas semanas, desde que
minhas aulas terminaram. Eu acordava todos os dias com Liam e fazia
questão de tomar café da manhã com ele. Sim, eu o estava obrigando a
fazer uma refeição de manhã. Às vezes ele ia correr e um dia eu insisti em
acompanhá-lo, o que foi um desastre. Corri três quarteirões e já estava
morta, Liam precisou ligar pro Ethan me buscar.
Depois que Liam saía para o trabalho, eu ficava ajudando Eric nos
serviços domésticos, o que Liam nem sonhava que eu fazia. Eric fazia
questão que fosse assim, porque jurava que Liam ia matá-lo se descobrisse
que sua noiva estava se sujeitando a limpar o chão. Eu não contei ao Eric
que Liam tinha uma fantasia de me ver esfregando o chão usando roupas
íntimas. Vendo por este prisma, acho que ele não ia se importar, afinal.
Como eu não queria contrariar os medos de Eric e Liam era realmente
imprevisível, este era nosso segredinho sujo.
Também era ótimo ter tempo para ler meus livros, que eu havia
deixado de lado em prol dos livros da faculdade. Quando Liam chegava nós
jantávamos e depois eu o obrigava a assistir um filme comigo. Eu tinha
gastado uma boa grana comprando muitos DVDs pela internet. Tudo bem,
que nem todos os filmes nós conseguíamos ver inteiro, porque, bastava
Liam começar a deslizar aquelas mãos atrevidas em mim, e então já era
qualquer aspiração cinéfila.
Às vezes, as mãos atrevidas entravam em ação antes do jantar.
Como no dia em que ele me convenceu a tomar banho com ele e Eric
reclamou que o jantar havia esfriado, depois de passarmos algumas horas
bem sacanas movimentando a água da banheira.
Também convidávamos Ethan para comer com a gente algumas
vezes e eu continuava tentando bolar um plano para que ele arranjasse uma
namorada. Só não estava muito certa de que ele havia esquecido a tal
Nicole.
Sim, a vida era boa com Liam. Por enquanto. Porque tudo era muito
novo, no entanto eu sabia que uma hora teria que tomar um rumo. Com
certeza ia ter um momento em que eu me sentiria inútil por ficar o dia
inteiro sem ter nada pra fazer.
Trabalhar com Samantha e consequentemente com Tristan seria
uma opção?
— Emma, acho de verdade que deveria esquecer esse assunto —
Zoe diz bem séria. — O Liam ficou puto com aquele lance do Tristan e ele
não vai gostar nada de saber que está trabalhando com ele.
— Acho que tem razão...
— Então liga pra Samantha e diz que não aceita e pronto. E vamos
no concentrar na organização do casamento!

***
— Finalmente eu consigo falar com você! — Samantha me dá dois
beijos estalados, quando eu chego à redação do portal naquela tarde.
Sentindo-me um pouco culpada por tê-la enrolado durante tanto
tempo e no final dar uma resposta negativa eu tinha resolvido marcar uma
reunião para informá-la pessoalmente da minha decisão e Samantha me
convidara para ir até a recém-inaugurada redação.
— Eu peço mil desculpas, estava meio ocupada...
— Claro, não tem problema, vem, vou te apresentar todo mundo.
Antes que consiga declinar, ela me leva através das baias, onde
alguns repórteres me cumprimentam entusiasmados.
— Essa vai ser sua mesa, quando resolver se juntar a nós. —
Aponta para uma mesa com vista para o Rio Hudson.
Deixo meu olhar vagar em volta, toda aquela movimentação
frenética. Um televisor ligado na CNN em um canto. Os repórteres
ocupados digitando em seus laptops ou ao telefone à procura de notícias.
Tudo parece tão empolgante e glamoroso.
Eu poderia estar ali, entre aquelas pessoas. Passando meus dias
fazendo um trabalho instigante e promissor. Os quatros anos passados na
faculdade paga com tanto sacrifício pelo meu pai não teriam sido em vão.
Eu ainda poderia ser algo além de a esposa do Leão de Wall Street.
— E aí, empolgada? — Samantha insiste e eu a encaro.
— Onde está Tristan?
— Viajando.
Deixo a ideia de me juntar a Samantha e sua equipe me tentar.
Apesar de Tristan não estar ali agora, eu ainda iria topar com ele em algum
momento. E se Liam descobrisse...
— Olha, Samantha, eu realmente não poderei aceitar.
Ela me olha com decepção.
— Sério? Por quê? Olha, eu posso aumentar o salário, se este for o
problema...
— Claro que não é...
— Ah, certamente! Olha este anel no seu dedo! O problema é este?
Seu casamento com o Liam Hunter?
— Não é bem...
— Eu acho que deveria vir trabalhar comigo. Sei que pode parecer
empolgante o fato de estar casada com um cara como ele, porém você é
muito jovem e talentosa, Emma. Não desperdice seu talento.
— Eu sei, acredite, realmente me sinto tentada, mas...
— Por que não fazemos assim, eu te passo algumas matérias. Você
pode realizar algum trabalho freelance com a gente. Sem vínculo algum. E
então terá a chance de decidir se é mesmo o que deseja. Vamos testar. O que
acha?
— Hum, isso pode funcionar... — Começo a me sentir empolgada
de novo.
— Então está fechado! — Samantha me abraça. — Tenho certeza
que vai se sair tão bem que vai querer se juntar a nós em pouco tempo.
— Vamos ver... — Sorrio ainda incerta, apesar de me sentir aliviada
por ter resolvido aquela questão, pelo menos por enquanto.

***
Eu sorrio secretamente enquanto ligo o som na cozinha de Liam
naquele fim de tarde e Nine Inch Nails com seus acordes pesados e
estranhos enche o ambiente.
Eric havia saído há algum tempo, depois de eu convencê-lo que sim,
eu tinha todo o direito de lhe dar uma noite de folga para sair com sua nova
namorada Amanda.
— Liam não está sabendo...
— Eu moro aqui e também sou sua chefe, Eric. Então me obedeça!
— Nem fiz o jantar...
— Eu faço. Sabe que eu também cozinho...
— Por que desconfio que está aprontando alguma?
Eu pisquei.
— Cuide da sua vida!
Sim, estou aprontando, só que Eric não precisa saber dos detalhes
sórdidos que passam pela minha cabeça neste momento, enquanto uso
apenas uma camiseta do Nine Inch Nails e espero Liam chegar.
Quando escuto a porta bater, ajoelho e me inclino, começando a
passar o pano no chão, fazendo questão que meu traseiro esteja bem
empinado na direção da porta.
— Emma — Liam chama em algum lugar e eu solto uma risadinha.
— Aqui! — grito e continuo a esfregar ao som da música.
Escuto seus passos se aproximando e então param à porta.
— Que diabos está fazendo aí? — indaga e eu inclino a cabeça para
trás para vê-lo na porta, a gravata já frouxa no pescoço e os cabelos
lindamente despenteados.
— Faxina, querido — continuo a esfregar e vejo os olhos surpresos
passeando por meu corpo gradativamente se transformando em olhos
famintos.
Ah sim, Senhor Hunter.
Ah sim!
— Onde está o Eric? Não é serviço dele?
— Eu lhe dei folga. Mas este chão precisava ser limpo... —
Escorrego meus joelhos um pouco para frente, sabendo que assim a
camiseta vai subir ainda mais, revelando que estou bem à vontade, por
assim dizer, por baixo da camiseta.
Escuto um rosnado baixo saindo da garganta de Liam e sorrio
secretamente, minha pulsação acelerando, meu corpo esquentando e
amolecendo.
— Parece que não é só o chão que está sujo, Senhorita Jones. Minha
mente está bem suja neste momento — Liam diz enquanto se aproxima.
Lanço-lhe um olhar divertido.
— Tenho certeza que sim, Senhor Hunter... Minha mente também
está bem suja neste momento...
Ele sorri e começa a desabotoar a camisa.
— Venha aqui, Senhorita Jones. — Tira a camisa e arquejo com a
visão do seu peito perfeito.
Liam é tão lindo que sempre me tirava o fôlego.
— Continue ajoelhada — ordena.
Rastejo na sua direção, parando diante dele. Ele toca meu rosto, os
dedos adorando meus lábios.
— Abra a minha calça.
Faço o que pediu e passo a língua sobre os lábios ao libertar sua
ereção imponente.
Liam infiltra os dedos nos meus cabelos, puxando de leve.
— Use esta sua boca suja, Senhorita Jones — ordena com rispidez e
eu me excito imediatamente, não hesitando nem um segundo antes de
segurá-lo entre meus dedos levando-o à boca.
Adorando vê-lo fechar os olhos e gemer longamente, enquanto eu o
excitava com meus lábios.
O seu prazer me deixando molhada e pronta para recebê-lo.
Ele abre os olhos e crava-os em mim, selvagens e tempestuosos.
— Você é tão linda... — Puxa minha cabeça, libertando minha boca.
— De quatro, Senhorita Jones... Eu quero te foder com força.
Ofego, me virando, soltando um pequeno grito, quando ele desfere
um tapa ardido na minha bunda antes de enfiar dois dedos em mim sem a
menor cerimônia.
— Porra, você está muito molhada baby.
— Sim... — eu me viro para encará-lo, meu rosto vermelho de
excitação — Só pra você, baby... só pra você.
Liam rosna e me penetra com força.
Seus quadris batendo em mim várias vezes. Nossas respirações
acelerando assim como nossos corações enquanto estoca em mim no chão
da cozinha, a música alta se misturando com nossos gemidos, o desejo
aumentando conforme ele aumenta o ritmo de suas investidas, até a
estocada final, que me faz gritar seu nome me contorcendo em espasmos de
puro prazer que transbordam em meus poros e explodem em meu ventre,
me deixando prostrada no chão, ofegante e com um sorriso bobo e saciado
no rosto, com Liam do meu lado tão exaurido e sorridente quanto eu.
— Preciso te contar uma coisa. — Eu o encaro depois de minha
respiração ter voltado ao normal.
Ele me puxa e me beija, com força.
— Hum, eu não posso falar se ficar me beijando — reclamo, sem
me afastar.
Ele ainda me beija por mais alguns instantes antes de enfim liberar
meus lábios.
— Eu só me toquei que eu ainda não tinha te beijado.
Sorrio, derretida e é a minha vez de beijá-lo.
— Você não queria me dizer algo?
Suspiro e me afasto e ficamos deitados um de frente para o outro no
chão da cozinha.
— Fui conversar com a Samantha hoje.
— Quem diabos é Samantha?
— A repórter que me ofereceu o emprego.
— Eu pensei que tivesse desistido. — Ele nem disfarça que não
concorda que eu aceite aquele emprego.
— Você não quer que eu trabalhe?
— Não me pareceu muito empolgada. E eu já disse que não precisa
trabalhar se não quiser, Emma.
— Eu quero! Não vou ficar sem fazer nada e jogar quatro anos de
faculdade no lixo.
— Então vai aceitar?
— Você ficaria muito bravo se eu aceitasse? — Eu o testo.
— Eu quero que esteja feliz.
Sorrio e o beijo de novo, cheia de amor.
— Eu fui dizer a ela que não ia aceitar — falo por fim. — Então ela
me fez uma proposta diferente. Disse que eu poderia fazer alguns trabalhos
freelance. E se eu gostar, veremos no que dá.
— E você aceitou?
— Me pareceu bem sensato, não acha?
— Vou tentar confiar em você para tomar uma boa decisão quanto a
este assunto, Senhorita Jones.
— Ah, quem mais tomaria uma decisão em relação a minha vida
profissional além de mim, Senhor Hunter? Não seja mandão!
— Não seja impertinente, Senhorita Jones, não me faça lembrá-la de
que faz algum tempo que eu não sou mandão com você...
Eu me excito de novo imediatamente e em resposta, rolo por cima
dele.
— Eu amo este seu lado mandão, Senhor Hunter, só prefiro que o
use comigo apenas para me dar ordens de cunho sexual... — Passeio minhas
mãos por seu peito e ele me lança um daqueles sorrisos pervertidos que
deixa meu coração disparado e meu corpo arrepiado.
— Venha aqui, Senhorita Jones, é uma ordem... — Pousa suas
grandes mãos em meus quadris e me puxa.
Solto um grito de surpresa ao perceber sua intenção, quando me
vejo sentada sobre seu rosto.
Nunca me senti tão feliz ao obedecer a uma ordem.

***
Finalmente chegou o dia da minha formatura.
Eu me sento entre os formandos da turma de jornalismo da
Universidade de Nova York esperando meu nome ser chamado.
Quando chamam meu nome, escuto os assovios bobos de Zoe e
sorrio meio envergonhada enquanto caminho sobre o palco e, ao voltar, vejo
Liam sentado com os meus pais que aplaudem orgulhosos.
Ele também está sorrindo pra mim e não posso deixar de ficar
vermelha ao me lembrar de que ele tinha me fodido enquanto eu usava
aquela beca antes de sair de casa.
— Filha, foi tão lindo!
Margô me abraça, seguida de Tom, que é mais contido. E
finalmente estou nos braços de Liam de novo.
— E aí, podemos ir? — Zoe aparece de mãos dadas com Jackson
que veio para a ocasião e encaro Liam.
— Ir pra onde?
— Para a festa, claro! — Zoe rola os olhos.
— Que festa?
— A festa que eu organizei!
— Você organizou uma festa? Como eu não fiquei sabendo?
— Na verdade tive essa ideia há dois dias e apenas liguei para o
Liam e ele disse que seria uma ótima ideia e me deixou organizar! Seria
uma surpresa pra você!
Encaro Liam.
— Surpresa, é?
Ele sorri e me beija.
— Relaxa, baby. Eu tive que concordar com a gnomo maluca, antes
que ela me enlouquecesse.
— Eu ouvi isso! — Zoe reclama.
— Ei, vamos? — Ethan aparece e não tenho outra opção a não ser
segui-los.
A festa é no salão do Waldorf Towers e Zoe me leva para uma suíte
para me apresentar a um vestido Givenchy preto e sapatos Manolo Blahnik.
— Poderia ter me contado! — resmungo enquanto ela arruma meus
cabelos.
— Apenas detalhes! Pronto, está linda. Vamos!
Descemos para o salão e arregalo os olhos ao vê-lo lotado. Há
vários colegas de faculdade, entre eles, Erica e Matt que parecem
deslumbrados. Alguns amigos de Zoe que eu conhecia vagamente e até
colegas de trabalho de Liam como Sarah e Brady.
— Meu Deus, Zoe, quanta gente!
— Você merece, não é todo dia que nos formamos!
— Eu ficaria feliz com um jantar — murmuro procurando Liam
com o olhar, não o vejo em lugar algum. — Cadê o Liam?
— Deve estar por aí! Vá circular e deixe o Liam! Todo mundo quer
falar com você!
Tento me equilibrar nos sapatos, enquanto recebo abraços
entusiasmados. Até que me vejo em frente a Samantha e ninguém menos
que Tristan.
Puta que pariu o que Tristan está fazendo ali?
Capítulo 33

— Olá, meus parabéns... — Samantha me envolve num abraço


entusiasmado, porém não consigo tirar os olhos de Tristan, que sorri para
mim de um jeito culpado, o que me faz pensar que ele está ciente de que
não deveria estar ali.
— Ah, obrigada — respondo, olhando em volta me sentindo
aliviada por não ver Liam.
— Nossa você está linda! — Ela aponta para meu vestido. — E essa
festa? Incrível! E aí, cadê seu tão famoso noivo? Estou louca para conhecê-
lo...
— Ele está por aí. — Eu olho para Tristan. — Realmente estou
surpresa com sua presença Tristan. Aliás, eu estou surpresa pela presença
de vocês dois. — Tento disfarçar minha irritação.
Vou matar Zoe. Lentamente. Com requintes de crueldade.
— Como assim? Zoe convidou Paul e Rachel, que comentaram com
Tristan, obviamente eu entendi que é provável que sua amiga ainda não
saiba que está trabalhando conosco e por isso não nos encaminhou o
convite, também ouvi dizer que foi uma decisão de última hora e o Paul
comentou algo sobre a Zoe ter pedido para convidar todos que te
conheciam...
— Emma, me desculpe. — Tristan para de sorrir quando percebe
meu desconforto. E eu me pergunto se Samantha faz ideia do que aconteceu
entre nós, embora não pareça. Ou então ela é uma ótima atriz.
— Ei? Está rolando alguma coisa que eu deva saber? — Samantha
olha de mim para Tristan.
— Emma, até que enfim encontrei a mais nova jornalista do pedaço.
— Eu me viro ao ouvir a voz de Brady Nelson, o executivo de Liam. —
Meus parabéns!
— Obrigada, Brady. — Tento sorrir em meio ao meu surto de
pânico.
— Não vai nos apresentar, Emma? — Samantha indaga, olhando
com interesse para Brady.
— Claro. Este é Brady Nelson, ele trabalha com Liam. Brady, essa é
Samantha Arden e esse é Tristan Chase.
— Somos colegas de profissão da Emma — Samantha completa,
estendendo a mão para Brady e Tristan faz o mesmo.
— Olha só que interessante, jornalistas? Tem muitos de vocês por
aqui hoje. — Brady também parece interessado em Samantha.
Quem não estaria? Ela é linda e está olhando para Brady com um
indisfarçável olhar de flerte.
— O que está bebendo, Brady? Pode arranjar um desses pra mim?
— Claro.
Samantha gruda no braço de Brady e os dois desaparecem no meio
da multidão deixando Tristan e eu sozinhos.
— Que diabos está fazendo aqui? — pergunto entredentes, sem
disfarçar meu nervosismo.
— Samantha insistiu para que viéssemos.
— Você não deveria ter vindo, é um erro...
— Ei, calma, Emma. Não precisa ficar nervosa. Eu já entendi que
não rolará mais nada entre nós. E na verdade não rolou nada, não é? Eu só
flertei com você e nos beijamos quando estava bêbada. E agora vai se casar.
Eu já entendi. Não quero causar problemas...
— Aí está ela! — Minha mãe se materializa ao meu lado e eu fico
branca ao ver Liam e meu pai logo atrás.
Liam franze o olhar ao ver Tristan.
Ele não sabe, não é? Eu tento me tranquilizar.
Não tem como ele saber.
— Estávamos a sua procura, filha — Tom diz segurando uma taça e
eu acho que está meio bêbado. — Bebida realmente boa. Ótima!
Liam me enlaça imediatamente, me puxando para perto, numa
demonstração de posse. E ele nem faz ideia...
Tento respirar normalmente.
— Tom, não vá ficar bêbado, por favor! — Margô reclama e então
olha pra Tristan. — E quem é seu amigo, Emma?
— Sim, Emma, quem é seu amigo? — Liam repete a pergunta num
tom que a qualquer outro poderia parecer tranquilo, porém eu sabia bem
que continha todo tipo de ameaça.
— Tristan Chase — Tristan responde. — Eu sou jornalista também.
— Ele estende a mão amigavelmente para meus pais e para Liam.
— E de onde conhece a Emma? Da faculdade? — minha mãe
pergunta.
— Na verdade, eu trabalho com Samantha Arden, também sou
amigo da...
— Samantha foi quem me ofereceu o emprego, lembra-se Liam? —
Eu o corto, sem permitir que acrescente que é amigo de Zoe. Tenho medo
que Liam some dois mais dois e...
— Lembro-me sim. Só não me lembro de que tenha falado sobre
Tristan.
Ah Droga.
— Tem um monte de repórteres trabalhando com a Samantha, não
dá pra fazer um relatório sobre cada um deles, Liam!
— Bem, eu vou procurar Samantha — Tristan diz percebendo a
tensão. Ou talvez meus olhos gritando “suma daqui se quiser continuar
vivo”. — Até mais.
Tristan se afasta e eu relaxo um pouco.
Meus pais estão discutindo sobre a bebida de novo e Liam me
encara com o cenho franzido.
— Está nervosa. — Não é uma pergunta.
— Eu não gosto dessas festas grandes. Não sou fã de homenagens a
minha pessoa. Zoe sabe disso. — Bem, não deixa de ser verdade.
— Não é culpa de Zoe desta vez. Fui eu que insisti em uma grande
festa.
— Difícil acreditar que não foi ideia dela!
— Ela sugeriu que fizéssemos um jantar, na verdade. Eu disse que
minha noiva merecia uma grande festa.
Sorrio enternecida e, ficando na ponta dos pés, eu o beijo.
— Obrigada.
Ele sorri.
— A raiva passou?
— Estou bem. Digamos que devemos evitar as surpresas daqui pra
frente.
Ele sorri astutamente.
— Temo que seja tarde demais...
— Ah, Liam! — gemo desalentada. — O que mais vocês
aprontaram?
Ele me beija de novo.
— Vem, vamos exibir você um pouco e depois podemos ir embora.
— Devo ficar aliviada, ou preocupada?
Ele apenas ri e somos abordados por Sarah e Peter, me fazendo
esquecer momentaneamente das surpresas.

***
— Que vergonha, Tom, está trançando as pernas! — Margô
reclama, quando chegamos em casa, eu e Liam rimos, porque, embora
minha mãe esteja reclamando, ela também está bem alegrinha.
— Não seja chata, Margô! Você é sempre chata demais, por isso me
separei de você! — Tom retruca.
— Eu que fui embora, se não se lembra! E agora acho que me
recordo do motivo!
Rolo os olhos e decido acabar com aquela briga idiota. Eu tinha me
esquecido que meus pais nunca davam muito certo juntos.
— Ei, vocês dois, que tal ir cada um para seu respectivo quarto para
curar a bebedeira?
Os dois se afastam resmungando e eu e Liam caímos na risada.
— Eles são sempre assim?
Tiro os sapatos ridiculamente caros, jogando-os longe.
— Felizmente moram bem distante um do outro! — Bocejo,
subitamente cansada. — Acho que agora só quero um banho e cama
também.
— Ainda não, baby. — Liam segura minha mão e eu me lembro.
— Ah, não, a tal surpresa...
Ele sorri e me puxa pelo corredor, passando por seu escritório e
seguindo em frente.
— Eu não te dei seu presente de formatura.
— Presente, Liam? Sério? Eu não quero presente...
Ele para diante de uma porta que nunca tinha notado antes.
Que novidade, aquele apartamento é tão grande que certamente
devia ter muitos cômodos ainda desconhecidos para mim.
— Fiquei pensando no que poderia te dar para celebrar. Uma joia
seria muito banal...
— Ah claro, uma joia é algo bastante banal — ironizo.
— Um carro em Nova York não seria seguro. Além disso, tenho
muitos carros, você pode escolher qualquer um. E já tem até seu próprio
motorista. — Ele cita o pobre Owen que era minha babá como eu gostava
de brincar.
— Então eu pensei em algo realmente diferente. — Retira uma
chave do bolso e insere na fechadura. Seguro sua mão e o fito com olhos
arregalados.
— Puta que pariu não me diga que você fez igual àquele cara do
livro cinza e montou um quarto vermelho da dor?
Liam joga a cabeça para trás e solta uma sonora gargalhada.
— Baby, você é realmente hilária.
— Se não é isso... — Começo a ficar impaciente.
Ele destranca a porta e abre.
— Sei que adora uma perversão, mas devo dizer que pensei em algo
mais erudito, Senhorita Jones.
Acende a luz e eu perco o ar com a sala diante de mim.
Muitas estantes. Livros do chão ao teto.
Estou de boca aberta quando entro na sala, olhando em volta. As
duas janelas enormes numa parede, com vista para o Central Park, uma
poltrona marrom que parece muito confortável. Uma mesa de mogno num
canto. O lindo chão acarpetado...
E os livros. Muitos.
— Isso é... Uma biblioteca!
Liam ri atrás de mim.
— Sim, eu fiz pra você. Sua própria biblioteca.
— Isso é... Nossa, estou sem palavras!
— Zoe disse que seu sonho sempre foi ter sua própria biblioteca.
Embora ela tenha tentado me convencer a fazer um closet.
— Ah sim, esse é o sonho dela!
— Então você gostou? — Liam parece meio inseguro. — Se não
gostou pode mudar qualquer coisa.
Eu o calo, me aproximando e o beijando.
— Liam, eu amei.
Ele sorri, me enlaçando.
— Não sei como não desconfiei de nada!
— Você é bem distraída, baby.
— O que é um prato cheio para você e suas surpresas!
Ele sorri e me beija derretendo minhas defesas.
— Você gostou desta.
— Sim, gostei. No entanto admito que prefiro que não me esconda
nada, a partir de agora...
— Ok, anotado. — Ele me beija de novo e eu mergulho os dedos
em seus cabelos gloriosos.
— Liam? — chamo com a mente rodando e meu corpo começando
a esquentar.
— Hum? — Ele beija meu queixo e faz um caminho até meu
pescoço.
— Acha que podemos transar agora? — Aperto sua bunda e ele
geme.
— Aqui? — Seus dentes causam um dano delicioso em meu ombro.
— Qualquer lugar, apenas... se apresse!
Liam ri deliciosamente em minha pele e no minuto seguinte
estamos rindo juntos, enquanto tiramos as roupas do caminho para ele me
jogar em cima do sofá começando a fazer amor comigo devagar, quase
preguiçosamente, me fazendo suspirar e me apaixonar um pouco mais. Se é
que é possível.
Ele se move quase com delicadeza dentro de mim, me adorando
com seu corpo, perguntando contra meus lábios se está muito devagar e
sorrindo quando eu respondo que está perfeito.
Sim, eu me apaixonei de novo. Mais.
Mais forte. Mais profundo.
Entreguei mais um pedaço de mim. O único que restava.
Agora era tudo dele.
Cada parte do meu ser.
E então, depois que tudo termina, e ele está ali, respirando ofegante
contra meus seios, com minhas mãos em seus cabelos suados, eu entendo
que não posso mais esconder nada dele.
Eu vinha me enganando dizendo que o que aconteceu com Tristan
poderia ficar no passado. Porém, hoje à noite, ficou comprovado que o
destino estava brincando comigo. Desafiando-me a continuar fingindo que
eu poderia esconder coisas de Liam e sair impune.
Eu não iria sair impune.
— O que foi? Está com frio? — Liam pergunta, me fitando.
Eu tento sorrir, mas não consigo.
Ele franze a testa.
— O que houve, Emma? — Ele se afasta e eu me sento, abraçando a
mim mesma.
— Acho que estou precisando me vestir.
Liam me passa sua camisa e eu a visto, enquanto ele veste a calça.
— Liam, eu preciso te contar uma coisa.
Ele para diante de mim, o rosto grave, como se intuísse algo.
Eu respiro fundo.
— O cara que eu beijei... naquela noite em que eu bebi demais... Era
o Tristan.
Por um momento, ele não fala nada. Como se processasse minhas
palavras e tenho certeza que em sua mente analítica, está revendo cada
palavra minha, cada ato meu.
Sinto como se fosse uma ré e o computador na cabeça de Liam
estivesse juntando todas as provas para me incriminar.
Então me pergunto como pude ter sido tão idiota.
— Eu sinto muito... não foi nada... — balbucio em minha defesa. —
Aquela noite não significou nada...
— Então por que está chorando? Por que está me contando agora?
— Sua voz é fria como gelo, assim como seus olhos.
Tão diferentes dos olhos calorosos de momentos atrás. De quando
fazíamos amor.
E eu enxugo meu rosto, percebendo que realmente estou chorando.
— Porque eu sei que está bravo comigo. Eu sei que não deveria ter
escondido isso de você.
— Escondido o quê? Há algo mais que não me contou?
— Não! — Eu me levanto. — Claro que não! Eu disse que não foi
nada...
— Você está em contato com este cara desde quando? Meses, não
é?
— Não é bem assim!
— Você está trabalhando com ele.
— Não! Eu disse que não iria aceitar, seria só um trabalho
freelance...
— Por que não me disse que era com ele que estava trabalhando?
— Porque eu sabia que iria ter essa reação!
— E queria que eu ficasse como, Emma? Inferno! — ele grita e eu
me encolho. — Deixei essa merda de assunto de lado! — Seus olhos
raivosos quase me perfuravam. — Deixei que Ethan me convencesse a não
ir atrás do cara que pôs as mãos em você! A não tentar descobrir quem era e
acabar com ele, como gostaria de fazer.
Puta merda, eu mal consigo respirar.
— Foi apenas a porra de uma noite. A porra de um beijo! E você
estava bêbada e com raiva. Eu tentei entender! Te entender!
— Foi exatamente isso...
— Não foi! — grita e eu começo a tremer. — Porque não se trata de
um cara que você nunca mais viu. Você o reencontrou. Você estava se
encontrando secretamente com ele...
— Não! Está distorcendo tudo! Eu não me encontrava secretamente
com Tristan, foi apenas uma vez...
— Apenas uma vez? Então houve um encontro?
— Não do jeito que está pensando! Droga, Liam, eu só beijei o
Tristan naquela noite! E ele é amigo de uma amiga de Zoe! E foi ele que me
indicou à Samantha...
— E você escondeu este “pequeno detalhe” de mim.
— Eu não sabia! Só descobri quando fui fazer a entrevista e ele
estava presente.
— E então você resolveu mentir.
Dou de ombros, derrotada. Por que ele tinha razão, não é?
Eu escolhi omitir. Ou mentir. Era quase a mesma coisa.
— Eu fiquei confusa — murmuro.
— Por que ficou confusa? Ele mexeu com você?
— Oh, Deus, não! — Começo a chorar de novo. — Não é possível
que realmente acredite que eu sinto algo pelo Tristan! Ou que eu sou
leviana e escondo coisas de você com algum propósito escuso! Escondi o
fato de o Tristan estar envolvido na proposta de emprego porque tive medo
que ficasse bravo como está agora! E eu nem sabia se iria aceitar!
— Mas aceitou.
— Não aceitei. Eu te contei que fui lá dizer não!
— Por causa dele?
— Quer saber? Sim! Eu sabia que seria confusão na certa se
descobrisse! Mesmo não havendo nada entre mim e Tristan.
— E ele sabe que não está interessada? Ele não te indicou apenas
para ficar perto? Para te conquistar de novo?
— Ele não vai tentar me reconquistar, porque nunca me conquistou!
Foram apenas alguns beijos numa boate com alto teor de álcool envolvido
aliado à minha raiva por ter visto você naquelas fotos. E eu me arrependi
muito! Eu queria poder voltar no tempo e nunca ter feito o que eu fiz,
infelizmente não posso! — É a minha vez de gritar e Liam passa os dedos
pelos cabelos, num gesto frustrado e nervoso, se afastando.
Eu só consigo chorar.
— Você me odeia? — pergunto com medo.
Medo de ser tarde demais. De ter esperado demais para contar a
verdade.
— Sabe o que eu odeio, Emma? — Ele está próximo à janela, de
costas pra mim. Seus ombros tensos. — Odeio que tenha demorado todo
este tempo para me contar. Que tenha cogitado trabalhar com este cara e
continuar mentindo pra mim.
Fecho os olhos, sentindo o peso da culpa.
— Sinto muito.
Eu me aproximo e estendo a mão, tocando seus ombros.
Liam se afasta.
— O que vai acontecer agora?
— Eu não sei. Eu apenas... Não posso lidar com isto neste
momento. — E, sem dizer mais nada, ele sai da biblioteca. Me deixando
sozinha.
Há poucos minutos eu achava que éramos a perfeição. Pelo visto era
tudo somente aparência.
Não há nada perfeito neste momento.
E mais uma vez eu me pergunto se estraguei tudo.
Capítulo 34

Não sei quanto tempo eu passei sem conseguir me mexer. Um medo


frio paralisando meus pensamentos junto com um arrependimento amargo
de não ter sido sincera desde o começo.
Quão burra eu tinha sido? E o quanto desta burrice iria afetar o meu
relacionamento com Liam?
Ele estava com raiva de mim quando se afastou. E doía tanto que eu
tinha dificuldade para respirar.
O que eu devia fazer agora? Ir atrás dele, tentar desfazer toda aquela
confusão e fazê-lo voltar pra mim?
Afinal, foi tão grave assim o que eu fiz? Sei que beijar Tristan não
foi a decisão mais acertada que eu tomei na vida, só aconteceu porque eu
estava bêbada e muito chateada com Liam. Não tinha como saber naquele
momento que o fato de ele aparecer numa foto entrando numa boate com
duas mulheres não queria dizer que estava transando com as duas.
Foi apenas um erro de julgamento que não tivera maiores
consequências. E, inferno, eu mesma havia confessado tudo!
E ele tinha me punido depois.
De repente uma chama de esperança se acende em meu corpo.
Lembro-me daquela noite. Em como encontrei um jeito de me
reconectar com ele pedindo que me punisse. Usando o sexo duro e
agressivo ele extravasou a raiva que sentia me amarrando e me dominando.
Era um jogo de dor. Que também incluía prazer. E havia nós dois.
Juntos.
E tudo ficou bem depois.
Ainda um tanto desolada e com um resquício de confiança eu saio
da biblioteca.
Escuto o barulho do chuveiro assim que entro no quarto. Liam está
no banho. Mordo os lábios, insegura se devo entrar lá ou se o espero sair.
Antes da nossa briga eu não teria hesitado nem um segundo. Porque
eu sabia que seria bem-vinda.
Agora? Eu não faço ideia.
Só que eu não posso esperar. Sinto como se cada minuto que o
deixasse alimentar sua raiva, eu o estivesse perdendo um pouco mais.
Com as mãos trêmulas tiro sua camisa e entro no boxe.
Ele abre os olhos quando sente minha presença e engulo o nó na
minha garganta quando sinto seu olhar ainda frio em mim.
— Acho que deveríamos jogar.
E estou sem respirar enquanto espero sua resposta.
Espero seus olhos brilharem de excitação e sua voz rude de
dominador me chamar de Senhorita Jones e então eu saberia que finalmente
estávamos de volta ao jogo e que tudo ia ficar bem.
Liam continua impassível o que faz meu coração começar a rachar.
— Liam? — Minha voz sai trêmula. — Não é o que você quer? Me
punir? — Eu abro os braços que caem. — Estou aqui.
— Não, não vamos jogar, Emma.
Emma.
Não Senhorita Jones.
Mordo os lábios com força, tentando não desabar.
— Não foi desse jeito que lidamos com o problema da outra vez? É
o que precisamos, eu sei que... Eu sei que as malditas regras são suas,
porém...
— Emma, pare. — Ele ergue a mão para eu parar. Não há mais
frieza em seu olhar. Há apenas... Desolação.
Sinto lágrimas quentes rolando dos meus olhos, mesmo tentando
contê-las. E minhas esperanças se esvaindo pelo ralo assim como a água
que desliza por seu corpo perfeito. Tão ao meu alcance e tão distante.
— Por que não?
— Não foi você mesma que me ensinou que nossos verdadeiros
problemas não se resolvem com jogos?
Ah, sim. Eu quase tenho vontade de rir.
Sim, no dia do seu aniversário ele quis jogar. Ele quis de novo
extravasar sua raiva através do sexo punitivo.
E eu disse não. Eu queria mais. Queria que Liam encarasse seus
demônios de frente. Queria provar que nós dois éramos mais do que apenas
companheiros de sexo e submissão.
E agora Liam usava minhas palavras contra mim.
Devo me sentir orgulhosa de ele estar sendo tão maduro. Mas a que
custo?
Não sei como resolver aquele problema desta vez.
— Eu sinto muito. — Enxugo as lágrimas e me aprumo saindo do
banheiro.
Eu me enrolo numa toalha, um medo oprimindo meu coração
quando coloco uma das camisetas de Liam. Não demora muito escuto o
chuveiro sendo desligado e Liam surgindo no closet.
Cruzo os braços e o observo enquanto ele se veste em silêncio.
— Por que está se arrumando? — indago surpresa quando vejo que
não está vestindo roupas de dormir.
— Vou viajar.
— Agora? — Meu coração afunda no peito.
— Sim.
— Por causa da nossa briga?
— Estou só antecipando.
Tento não entrar em pânico, é impossível.
— É isso que chama de maturidade? Viajar e desaparecer para não
ter que me encarar? Não seja imaturo, Liam!
— Entenda como quiser.
— Eu não quero entender como quiser.
Seu soco na madeira do armário me assusta.
Ele me encara com raiva.
— O que você quer, Emma?
— Quero que a gente converse e resolva o problema! Estamos
noivos e vamos nos casar e você é incapaz de me perdoar por algo que não
significou nada!
— E ainda me chama de imaturo, foi você quem escondeu o fato de
estar trabalhando com o cara com quem me traiu. E o pior acha
completamente normal!
— Eu sei que errei, mas você precisa conseguir lidar com isso!
— Eu não sei lidar, ok? Odeio pensar que você o deixou te beijar.
Que ele continuou por perto a te rodear. E não venha me dizer que foi
inocentemente, porque não foi! E você sabia, por isso escondeu! Como
posso confiar em você?
Sinto como se tivesse levado um soco na cara.
— Oh Deus... — Minhas mãos estão trêmulas, quando eu começo a
procurar uma roupa para vestir.
— O que está fazendo? — Mal escuto a voz de Liam do meu lado.
— Eu vou embora — respondo colocando um jeans.
— Não vai a lugar nenhum. Seus pais estão aqui.
Paro meus movimentos, o encarando.
— Eu estou indo, Emma — Sua voz agora é apenas amarga.
Então de repente eu entendo.
Liam não está conseguindo lidar com o fato de não confiar em mim.
Dói muito chegar a essa conclusão, é como abrir um buraco no meu
peito.
E eu me pergunto se é somente ciúme. Se Liam é uma pessoa
possessiva por natureza ou se algo aconteceu para deixá-lo desse jeito. Eu
nunca estive em um relacionamento sério. Não sei até que ponto algo assim
afetaria um relacionamento normal.
Por outro lado, o que há de normal em mim e Liam?
Ainda estou perdida em considerações quando seu celular toca e ele
o pega e digita algo.
— Preciso ir.
— Tudo bem. — Enxugo meu rosto.
Liam sai do closet e escuto seus passos se afastando e depois a porta
batendo.
E eu sei que não posso deixá-lo ir assim.
Corro até meu celular e digito algo rapidamente enquanto saio do
apartamento.
Quando chego à garagem um Liam impaciente pressiona Ethan.
— Vamos logo, Ethan! — Ele abre a porta de passageiro do banco
da frente e entra.
Ethan me vê e sorri nervoso quando me aproximo.
Eu estendo a mão.
— Me dê as chaves.
— Emma...
— Agora — exijo e ele me passa as chaves. — Você pode ir no
banco de trás se quiser!
Ele solta um palavrão e faz o que pedi. Abro a porta e sento no
banco do motorista.
É quase divertido ver Liam incapaz de reagir rapidamente.
Eu dou partida no carro.
— Vou te levar ao aeroporto.
Ligo o som e Nine Inch Nails preenche o ambiente me dando um
tempo para pensar enquanto dirijo pelas ruas vazias.
Já está na hora de eu ser madura também.
Não sou a heroína de um romance erótico em que tudo se resolve
com sexo. Isso é a vida real. Somos pessoas reais.
Eu não sei se Liam vai conseguir superar e seguir em frente, só sei
que eu deveria dar o tempo que ele necessita para pensar e assimilar tudo.
A mancada foi minha dessa vez. E só me resta esperar e confiar que
ele volte para mim.
Que o que temos é mais do que um bom sexo.
É amor de verdade e vai durar pra sempre.
Para isso, Liam precisa confiar em mim.
Estaciono o carro em frente ao aeroporto e respiro fundo, abaixando
o som.
— Vamos chamar essa sua viagem do que ela realmente é. Um
tempo. — Eu o encaro. Posso ver que ainda há rancor em seu olhar. — Eu
vou estar aqui. Prometi que estaria. Não vou a lugar nenhum até que me
peça para ir. Boa viagem.
Destravo as portas e fico esperando que ele fale algo, embora bem
lá no fundo, sei que não vai falar.
Eu o observo sair do carro e conversar com Ethan antes de se
afastar.
Ethan entra no carro ao meu lado.
— Achei que fosse junto.
— Ele não a deixaria dirigir sozinha pelas ruas de Nova York, não é
tagarela?
Solto um soluço e no minuto seguinte estou nos braços de Ethan
chorando feito um bebê.
— Ele vai voltar não vai?
Ethan acaricia meus cabelos.
— Liam é complicado, Emma, mas, se tem alguém capaz de fazê-lo
voltar é você.

***
Tento acreditar nas palavras de Ethan nos dias que se seguem.
Meus pais ficam espantados quando conto na manhã seguinte que
Liam teve uma viagem de negócios urgente para fazer, claro que eu não
conto nada sobre nossa briga. Iria só deixá-los preocupados.
Ethan viaja alguns dias depois para encontrar Liam e eu me vejo
recebendo uma alucinada Zoe com preparativos não só de um casamento
iminente como também uma festa de noivado.
— Festa de noivado?
— Liam não te contou? Ele quer uma grande festa! Vai acontecer
exatamente um mês antes do casamento e será fabulosa! Precisamos
escolher vestidos à altura.
Eu me pergunto se devo contar a Zoe que não tenho muita certeza
se ainda haverá um casamento, quanto mais uma festa de noivado.
Acabo contando a ela que eu e Liam brigamos depois que eu contei
sobre Tristan e Zoe me abraça e diz que tem certeza que é apenas uma briga
boba e que tudo vai ficar bem.
— Liam está muito apaixonado por você, não vai terminar tudo por
causa daquele idiota do Tristan!
— Não sinto que se trata apenas disso. Às vezes fico pensando se
sua reação não é muito exagerada...
— Sim, ele é um cara possessivo, você já sabia disso, não? Quer
dizer que ele gosta de você, devia te deixar mais segura, agora vamos ver
alguns tecidos para as mesas...
Eu me pergunto se Zoe tem razão e eu não estou me preocupando à
toa.
Por causa da maneira que nos separamos quando ele viajou, eu não
liguei ou enviei mensagens. Enquanto estava com Ethan eu sabia que eles
se comunicavam e que estava tudo bem, decidi deixar que ele fizesse o
primeiro contato quando quisesse.
E me surpreendo quando, dois dias depois de Ethan viajar para
encontrá-lo, escuto meu telefone tocar em uma noite e vejo seu número.
Sinto meu coração bater forte quando atendo.
— Oi — murmuro quase timidamente.
— Oi, baby.
Fecho os olhos ao ouvi-lo me chamar tão carinhosamente. Meu
corpo se aquecendo e um peso sendo tirado do meu coração.
E de novo eu tenho certeza que sou toda dele.
— Emma? — Escuto sua voz preocupada e me dou conta que estou
chorando e sem responder por alguns instantes.
— Oh, me desculpe. — Enxugo o rosto.
— Você está chorando?
— Claro que sim! — Fungo. — Não sabe o inferno que é ficar sem
ouvir sua voz.
Sua risada é um balsamo em minhas feridas.
— Eu entendo um pouco de inferno, baby.
— Sinto muito. Sei que te fiz sofrer também...
— Eu estou tentando... — escuto sua respiração profunda — deixar
tudo para trás. Você tem razão, não podemos ficar juntos se eu não confiar
em você.
— Eu te dei motivo para ficar bravo. Deveria ter te contado tudo,
eu... Não sou perfeita, Liam. Sei que ainda tenho que amadurecer muito e
eu quero fazer isso junto com você.
— Eu também, baby.
— Ah, é tão bom ouvir tua voz... Nunca mais vou deixá-lo bravo
comigo, eu prometo! Nunca mais eu vou mentir pra você. Alias, acho que é
uma boa hora para contar que eu faço faxina junto com o Eric.
Liam ri.
— Eu já sabia, Emma. Eric não é louco de mentir pra mim.
— Que pequeno traidor.
— Você sabe que não precisa ajudá-lo.
— Eu não gosto de não ter nada pra fazer.
— Esse é o motivo de querer trabalhar com esta tal Samantha?
Eu me surpreendo por ele ter voltado ao assunto.
Depois da nossa briga eu nem cogitava mais voltar lá.
— Acho que pela primeira vez eu senti que seria capaz de fazer
alguma coisa importante com essa profissão.
— Nunca vi você empolgada com o jornalismo, Emma.
— O que acha que eu deveria fazer? Não posso ficar sem fazer
nada. Eu estudei quatro anos para alguma coisa!
— Você pode escolher fazer o que quiser agora. Me diz o que quer?
Eu compro pra você.
Solto uma risada.
— As coisas não funcionam assim. Se eu não tivesse te conhecido,
eu teria que me virar.
— Mas conheceu. Você tem o tempo que quiser pra decidir o que
fazer da vida.
— Não gosto de pensar que eu perdi quatro anos.
— Então faça este trabalho.
Eu me surpreendo.
— O quê? Está falando sério?
— Sim, estou. Se você realmente quer, vá em frente.
— Esse trabalho foi o motivo da nossa briga, não acho que...
— Você ficou chateada por eu não confiar em você. Eu quero que
saiba que eu confio. Confio em suas escolhas. Apenas preciso saber que vai
confiar em mim para ser sincera sempre. Se um dia eu não for mais o que
você quer...
— Liam, eu sempre vou querer você. Sempre! — Minha voz está
cheia de um fervor quase religioso porque eu realmente tenho essa
convicção.
— Eu também, baby — É sua resposta quente e suave que me faz
fechar os olhos e desejar que ele esteja comigo naquele momento.
— Vai demorar a voltar pra casa?
— Não posso voltar ainda. Estou realmente resolvendo questões de
trabalho.
— Hum... Vai me ligar sempre então?
— Todos os dias. Agora vá dormir.
— Onde você está? — Ethan tinha me dito que Liam estaria
viajando para algumas cidades da Europa.
— Estou em Paris.
— Ah, que horrível — ironizo.
— Voltarei em breve. Vai me esperar?
— Sempre.
***
Na manhã seguinte, eu me arrumo e vou até o escritório de
Samantha.
Ainda não sei se realmente quero trabalhar lá, mesmo com o aval de
Liam. Eu preciso reavaliar tudo.
Samantha me recebe com beijos efusivos e me leva até sua sala.
— Estou surpresa por vê-la aqui. Achei que você não iria nem fazer
trabalho freelance.
— Por que não? Por que está dizendo isto? Tristan te contou algo?
— Teve que contar, não é? Depois daquele brutamonte que trabalha
para o seu noivo aparecer por aqui quebrar o nariz dele e dizer que Liam
Hunter pediu que o demitisse ou iria fechar o meu site...
Eu arregalo os olhos, estupefata.
— Espera... Ethan esteve aqui?
— Não sabia? Você e o Tristan deviam ter me contado desse rolo!
Sim, o tal Ethan chegou aqui, deu uma surra no Tristan e, quando eu exigi
saber o que estava acontecendo, ele disse que era para eu demitir o Tristan,
que era um pedido de Liam.
— Meu Deus! E o que você fez?
— Eu o demiti é claro!
Eu realmente estou sem fala depois de Samantha me contar tudo
aquilo.
Porém, de alguma forma, eu acho que nem estou tão surpresa. Era
para se desconfiar que Liam me deixasse trabalhar junto com Tristan tão
tranquilamente!
Agora que Tristan não trabalha mais com Samantha eu poderei
trabalhar com ela.
— E então, você ainda está com a gente?
— Eu não sei, eu...
— Bem, se o problema era o Tristan, ele não existe mais!
— Eu não queria que o Tristan perdesse o emprego...
— Não se preocupe! Ele é esperto e vai conseguir outra colocação
rapidinho. Vem, vou te apresentar a turma e já pode assumir sua mesa!
— Agora eu não posso Samantha, eu preciso ir. — Eu me levanto.
— Tudo bem, claro! Não precisa começar imediatamente, eu espero
até que esteja disponível...
Eu me despeço ainda meio zonza e saio do prédio. Espero entrar no
carro e peço para Owen me levar pra casa louca para ligar para Ethan.
Deveria ligar para Liam, mas desisto, sinceramente, eu não queria
estragar a nossa reconciliação.
— Ei, noiva! — Ethan atende bem-humorado. — Fiquei sabendo
que está tudo bem no reino...
— Ah, cala a boca! Posso saber que merda você fez com o Tristan?
— Ah, ficou sabendo?
— Bem que eu deveria ter desconfiado do fato de Liam concordar
que eu trabalhasse com a Samantha!
— Acreditou realmente que ele ia deixar você trabalhar com o cara
que te pegou?
— Não aprovo violência, Ethan! E nem sei se fico feliz por ele ter
perdido o emprego, Tristan não tem culpa de nada, afinal.
— Não defende o merdinha, Emma! Ele apenas levou alguns
murros. Se fosse o Liam teria ficado aleijado! Ele tem sorte de eu ter
conseguido convencê-lo a deixar que eu resolvesse o assunto!
— Meu Deus, vocês são o quê? A máfia?
Ethan ri.
— Apenas cuidamos do que é nosso, Jones!
— Eu não sei o que pensar sobre isso... É medieval!
— Apenas fique feliz que sua briga com o Liam tenha acabado.
Eu suspiro.
— Acho que deveria deixar pra lá, não é?
— É o meu conselho. E vê se não vai brigar com Liam por causa da
surra!
— Eu deveria, mas não vou. Chega de briga por um tempo.
— Então estou perdoado?
Uma ideia se forma na minha mente de repente.
— Acho que poderei te perdoar se me ajudar com uma coisinha...
— Hum, essa coisa vai me encrencar com o chefe?
— Talvez... Acha que pode tomar as providências necessárias para
eu ir para Paris esta noite?
Desligo depois de acertar tudo com Ethan e sorrio satisfeita.
Talvez eu possa ser como a heroína de um romance afinal.
Capítulo 35

Paris é linda.
Pelo menos o que eu via pela janela panorâmica do hotel, enquanto
tento conter meu nervosismo. Ou minha empolgação.
Sou uma confusão ansiosa desde que decidi que iria encontrar Liam
em Paris na tarde anterior. Ethan soltou um palavrão e deu uma gargalhada
quando contei meus planos, não exatamente nessa ordem. Porém não
hesitou em me ajudar a providenciar a viagem, mesmo quando eu insisti em
embarcar num avião comum, já que o avião particular de Liam estava em
Paris e eu, decididamente, não queria esperar.
Ele também foi corajoso ao concordar em não contar nada a Liam.
— Eu sei que vocês, lacaios do Liam, sempre contam tudo a ele,
mas, por favor, só desta vez, eu quero mesmo que seja uma surpresa, Ethan.
De novo ele riu soltando vários palavrões antes de concordar e eu
prometi que faria qualquer coisa que ele quisesse se me ajudasse.
— Qualquer coisa, tagarela? Deixa o patrão ouvir isso...
— Você entendeu! Só espero que não quebre sua promessa. Porque
se o fizer eu vou atazaná-lo pelo resto da vida.
E agora aqui estou eu, no hotel mais caro de Paris, esperando o
Leão de Wall Street que não faz a menor ideia da minha presença. Ele ficará
furioso.
Ah sim, eu estou contando com isto.
Um clique na porta me faz aprumar o corpo e prender a respiração,
meu coração disparando feito louco no peito quando Liam levanta o olhar e
me vê.
Um sorriso lento se distende em meus lábios pintados de vermelho e
eu cruzo minhas pernas cobertas de cetim preto até as coxas.
Ah, e eu estou coberta apenas com isto.
Sinto-me corando por toda extensão de minha pele desnuda quando
o olhar de Liam desliza por mim.
— Olá, Senhor Hunter — murmuro docemente e, finalmente, seu
olhar está em meu rosto corado e eu me arrepio quando vejo um brilho de
perigo nele.
— Que surpresa, Senhorita Jones.
Quase me desmancho de prazer com suas palavras.
Ah sim, o jogo vai começar.
Ele fecha a porta atrás de si e dá alguns passos para dentro do quarto
jogando o celular que está em sua mão em cima de um aparador e retirando
o paletó.
Cada célula do meu corpo o observa com saudade.
Os cabelos estão uma bagunça perfeita, as olheiras escuras dizem
muito sobre noites maldormidas.
Por um momento sinto meu coração se apertar de preocupação e
tenho vontade de sair do modo submissa sexy e correr para ele, apertá-lo
em meus braços protetores e perguntar se tinha voltado a ter pesadelos.
Então Liam escolhe aquele momento para retirar a gravata e cravar
os olhos de caçador em mim.
E meu corpo saudoso de uma boa punição domina meu coração
inquieto.
Haveria tempo para abraços carinhosos depois. Agora preciso
restabelecer aquela conexão mais básica, mais primitiva com o meu leão.
Minha respiração acelera quando o vejo se aproximar.
— A que devo a honra de sua visita, Senhorita Jones? — Seus
dedos castigam a seda da gravata.
Não pestanejo ao encará-lo.
— Sempre quis conhecer Paris.
— E posso saber por que eu não fazia ideia de que a encontraria
aqui?
Dou de ombros, descruzando e cruzando as pernas no processo. Não
me passa despercebido o seu olhar acompanhando o movimento.
— Queria fazer uma surpresa.
— Achei que não gostasse de surpresas.
— Não quando sou eu a surpreendida.
— E quem disse a você que eu gosto de surpresas?
Levanto a sobrancelha.
— Estou em apuros?
— Já deve saber a resposta.
— Eu imaginei, Senhor Hunter. Por isso tomei a liberdade de trazer
alguns apetrechos. — Aponto para a mala aberta sobre uma poltrona e me
lembro de como me diverti tentando escolher qual “instrumento de
trabalho” levar para Liam.
— Isso soa muito impertinente, Senhorita Jones.
— Apenas quis ser proativa.
— Desejo que meus funcionários sejam proativos. Só que, em meus
jogos, o único que pode ser proativo sou eu. Você achou que este era um
comportamento aceitável?
— Não, senhor.
— E o que devo fazer?
— Eu não ousaria dizer. São suas regras.
— Refresque minha memória. Você foi impertinente. O que devo
fazer com você?
Passo a língua pelos lábios enquanto respondo.
— Eu devo ser punida.
— Me dê suas mãos, Senhorita Jones.
Estendo as mãos e sem hesitação ele me amarra.
— Na cama. Agora. De quatro.
Meu coração dispara, enquanto minha pele arrepia com seu tom de
voz.
Somente Liam consegue ser doce em sua rudeza.
Eu já estou toda trêmula de ansiedade quando me levanto e caminho
até a cama graciosamente. Enquanto ele me observa se aproxima da mala.
— Vejamos o que temos aqui...
Mordo os lábios enquanto espero. Mais sinto do que vejo enquanto
Liam me rodeia.
Fecho os olhos quando algo macio me acaricia. Pele de coelho
recordo.
O mesmo chicote que eu tinha pegado quando ele me pediu para
escolher, naquela primeira noite.
Suas mãos alcançam meus cabelos, afastando os fios do meu rosto,
até que sua respiração quente alcança meu ouvido.
— Senti saudade dessa sua impertinência, Senhorita Jones.
Sorrio e grito quando o primeiro golpe atinge minha pele.
Então sua mão está onde bateu, acariciando a pele vermelha da
minha bunda.
— Senti falta de como sua pele fica vermelha quando eu bato. —
Mais um golpe e seus dedos deslizam para o meio das minhas pernas e eu
solto um gemido surpreso. — Senti falta de como você fica molhada
quando eu te bato assim.
Ah Deus.
Mais um golpe.
Enfia um dedo em mim.
— Porra, Liam! — eu gemo.
Outro golpe. Mais forte desta vez.
E sua mão puxa meus cabelos, obrigando-me a encará-lo.
— O que disse, Senhorita Jones?
— Eu, eu...
Ele sorri diabolicamente.
— Você parecia bem eloquente antes. — Seus dedos voltam a me
torturar. Devagar. Escorregando. Saindo. Penetrando de novo.
Aprofundando. Rodando.
— Liam, por favor... — Fecho os olhos, meus quadris se movendo
por vontade própria contra suas carícias sacanas.
Ah, é tão bom, tão perversamente perfeito... Se ele continuar assim,
eu vou gozar rápido. E forte.
Eu preciso...
— É isso que deseja, Senhorita Jones?
— Sim...
Mais um golpe.
Eu grito, à beira de um precipício.
E de repente os movimentos cessam.
Abro os olhos, frustrada e confusa, Liam está caminhando
calmamente pelo quarto mexendo no celular.
— Liam?...
Ele me fita com um sorriso perverso.
— Você pode ter instigado este jogo, Senhorita Jones, mas ainda
sou eu quem dita as regras.
Eu pisco, tentando voltar à realidade.
Mas que diabos?
— Serviço de quarto, por favor. — Ele entra no banheiro e começa
a falar em francês e eu arregalo os olhos, surpresa por ele falar tão bem, até
que termina a ligação.
— Nós vamos jantar? — pergunto me sentando na cama, não sem
certo esforço, estando com as mãos presas.
— Sim, Senhorita Jones. Estou faminto. — Ele retorna ao quarto.
— Achei que estivesse faminto de outra coisa, Senhor Hunter. —
Não consigo evitar meu sarcasmo.
Ele vem na minha direção e toca meu queixo.
— Só por essa sua resposta malcriada, eu não vou desamarrá-la,
Senhorita Jones.
— O que quer dizer?... Eu posso não estar a fim de jantar —
desdenho.
— Devo lembrá-la de quem dita as regras?
Eu podia mandá-lo à merda e enfiar as regras onde o sol não bate.
Como fui eu quem começou aquele jogo. Quem atravessou o oceano em
busca disto, é melhor eu me manter dentro dele. Pelo menos por enquanto.
Eu me levanto e sento à mesa da suíte.
— Espero que faça valer a pena o fato de eu estar sendo obediente,
Senhor Hunter.
Ele sorri e eu me arrepio inteira em antecipação.
Quando batem na porta, Liam se afasta voltando com o carrinho de
comida.
O cheiro é bom e me lembra de que não comi direito o dia inteiro,
fazendo meu estômago roncar.
Liam senta e começa a se servir. Passo a língua sobre os lábios e ele
me encara divertido.
— Com fome, Senhorita Jones? Achei que tivesse dito que não
queria jantar. — Ele enfia um pedaço suculento de filé na boca.
Maldito!
— Acho que me enganei. — Sorrio docemente mostrando minhas
mãos amarradas, Liam sacode a cabeça em negativa.
— Não tão fácil.
Eu bufo.
— Como pretende que eu coma com as mãos atadas?
Ele estende o garfo para minha boca e levanto a sobrancelha
incrédula.
— Está falando sério?
— Hoje eu vou alimentá-la, Senhorita Jones.
Vencida, abro a boca e pego o que me oferece.
— Hum, isso é bom — aprecio.
— Boa menina!
Rolo os olhos e Liam me dá outra garfada, desta vez me encarando
com avidez.
É o que basta para a atmosfera mudar. Meu rosto fica vermelho e
me mexo excitada na cadeira, enquanto Liam enche uma taça de vinho e me
oferece depois de beber. Nossos olhares presos um no outro numa conversa
silenciosa sobre desejo. Até que a refeição termina.
— Não sabia que apreciava tanto a culinária francesa, Senhorita
Jones.
— E eu não sabia que falava francês.
— Tenho facilidade com línguas.
— Ah eu não duvido...
— Maintenant je veux un dessert — ele diz em francês.
— O que disse ? — questiono curiosa e quase pedindo que ele fale
mais em francês, porque, puta merda, é bem sexy !
— Eu disse que agora eu quero sobremesa.
— Ah — Fico um tanto decepcionada, por ele não ter dito nenhuma
frase sacana, então me surpreendo com sua pergunta seguinte. — Você
lembra qual a minha sobremesa favorita, Senhorita Jones?
Eu franzo a testa.
— Hum?
— Levante-se.
Faço o que mandou e Liam me puxa para sua frente, me arrepio
com suas mãos em minha cintura, quando se inclina e me aspira.
— O quê...
Ele me encara com um sorriso indecoroso.
— Mon dessert préféré est vous, Senhorita Jones.
E antes que eu consiga perguntar o que diabos ele está dizendo, com
um movimento rapido, eu me vejo deitada sobre a mesa com as mãos de
Liam abrindo minhas pernas.
Ah, puta merda!
Agora eu me lembro.
Quando sua boca me prova com um suspiro de prazer que faz eco
com o meu ao senti-lo.
— Minha sobremesa preferida é você, Senhorita Jones. — Respira
em minha pele e deixo de pensar enquanto sou devorada por Liam.
Sou pura sensação. Gemidos de prazer escapam dos meus lábios
entreabertos e cada terminação nervosa se concentra onde sua língua me
acaricia. Saboreando-me.
Sinto suas mãos deslizando sobre minha barriga e desamarrando
meus pulsos. E, finalmente livre, eu me sento sobre a mesa abrindo os olhos
e me excitando ainda mais com a imagem de seus cabelos de fogo entre
minhas pernas.
É tão depravado e obsceno que faz minha alma corar, meus ossos
derreterem e meu coração explodir de paixão.
Eu podia morrer naquele momento, com Liam Hunter se
banqueteando em mim.
Estendo minha mão e toco seus cabelos quando a sensação de fogo
em meu ventre aumenta e começo a arquejar e mover os quadris com
sofreguidão contra sua boca, querendo mais, ansiando pelo êxtase
avassalador que começa a se avolumar dentro de mim, num crescente
vertiginoso que me faz tremer e gritar, até que, todas as sensações
acumuladas explodem e eu gozo forte em sua boca, puxando seus cabelos e
gritando seu nome.
— Liam!
— Isso, baby, goza pra mim. — Escuto-o dizer ainda flutuando em
arrebatamento.
E estou tão tonta que quase nem sinto Liam me retirando da mesa e
me levando pra cama, me colocando sobre os lençóis.
Quando o colchão se mexe, abro os olhos e sorrio ao vê-lo nu e
lindo deitando seu corpo sobre o meu e automaticamente me enrosco nele,
suspirando, quando desliza para dentro de mim com facilidade. Penetrando-
me fundo. Várias vezes. Em busca do seu próprio prazer, segura meu rosto
e beija meus lábios.
— Senti falta de estar dentro de você, assim... tanta falta...
— Eu também... Eu também... — Eu o abraço forte e nos movemos
juntos no sexo mais perfeito.
Ele é perfeito. Gozando em mim. Para mim.
Tão meu que dói.
Fecho os olhos e gozo de novo também. Deslumbrada com nossa
perfeição.
— O jogo acabou? — pergunto quando minha respiração volta ao
normal. Liam está deitado de bruços ao meu lado e eu me movo para mais
perto, aspirando seu cabelo.
— Quer apanhar mais, Senhorita Jones? — Ele sorri
preguiçosamente de olhos fechados e boceja.
Eu me lembro de minha preocupação por sua aparência cansada.
Toco suas pálpebras.
— Você não está dormindo direito.
— Estou aqui para trabalhar, não para dormir.
— Não teve pesadelos?
Liam abre os olhos sonolentos e se vira, saindo do meu alcance e
passando os dedos inquietos pelos cabelos.
— Alguns.
Suspiro, me aproximando de novo e me ajeitando em seu peito.
— Achei que tivessem parado.
— Você não estava aqui. — Sua resposta me faz lembrar do motivo
de ele ter viajado tão abruptamente e sinto um aperto no peito.
— Estava bravo comigo.
Sua mão acaricia meu rosto e coloca uma mecha de cabelo atrás da
minha orelha.
— Estava bravo comigo mesmo também.
Franzo a testa sem entender.
— Por quê?
Ele solta um suspiro pesado. Seus olhos turbulentos parecem muito
longe.
— Velhos fantasmas, abrindo velhas feridas que eu nem sabia que
ainda existiam.
Fico ainda mais confusa, porém Liam me gira bruscamente, me
prensando no colchão.
— Hum, está sendo muito enigmático, Liam...
— Quero fazer amor com você de novo. — Ele me beija engolindo
minhas palavras.
Eu estremeço, quero continuar aquela conversa, porém, Liam já
desliza os lábios por meu seio, abocanhando um mamilo, enquanto sua mão
se encaixa no meio das minhas pernas e cerro as pálpebras, suspirando,
perdida de prazer e esquecida de qualquer coisa que não seja ele.

***
Quando acordo, estou sozinha no quarto, escuto os movimentos de
Liam na sala da suíte.
Sorrindo feliz, eu me espreguiço e me levanto, colocando sua
camisa que está jogada em cima da cadeira e rumo para a sala atrás do meu
leão.
Ele está sentado à mesa, vestindo um de seus ternos elegantes, com
os olhos muito sérios presos num jornal.
— Bom dia. — Com poucas passadas eu me estatelo em seu colo,
cingindo seu pescoço com meus braços ansiosos e beijando sua boca com
gosto de café francês.
Escuto o jornal indo ao chão, quando Liam me envolve em seus
braços, me beijando pervertidamente de volta.
— Eu nunca mais vou deixar você viajar — murmuro quando
finalmente interrompemos o beijo para respirar e Liam sorri. Tão lindo. Tão
meu.
— Não me lembro dessa cláusula em seu contrato, Senhorita Jones.
Saio de seu colo, sentando na cadeira ao lado começando a fuçar
nas travessas sobre a mesa. Hum, tudo parece muito bom.
— Eu ainda posso acrescentar essa cláusula no nosso contrato de
casamento, sabe disso? — Pisco presunçosamente mordendo um brioche.
Liam pega o jornal do chão.
— Achei que seria eu a ter o controle sobre o contrato de
casamento, Senhorita Jones.
— Não sei se concordo. E, por favor, não me chame de Senhorita
Jones se não vai jogar.
— Quem disse que não estamos jogando?
Relanceio os olhos por seu terno escuro, enquanto me sirvo de café.
— Você está vestido de Leão de Wall Street, então deduzi que
joguinhos sacanas estariam fora de cogitação no momento.
— Eu gosto de jogar com você quando estou no modo leão, como
gosta de dizer, ainda mais quando você está nua. — É a sua vez de descer o
olhar atrevido sobre mim.
Eu coro. No corpo todo.
— Não estou nua! — nego passando manteiga no pão.
— Podemos resolver isso muito rapidamente...
Mastigo o pão delicioso e suspiro.
— Por favor, não amarre minhas mãos, eu quero mesmo tomar este
café, estou morrendo de fome.
Ele ri e se inclina para beijar meus lábios sujos de manteiga.
— Não se preocupe, baby. Eu tenho que sair em cinco minutos,
poderá passar o dia comendo se quiser.
Minha expressão cai com a notícia de que ele estará fora do meu
alcance em breve, antes que consiga reclamar a porta se abre.
— Olha só quem está por aqui. — A voz brincalhona de Ethan
chega até mim e eu me levanto, indo em sua direção e o abraçando forte.
— Eu estava com saudade de você e esta sua boca grande, Ethan!
— Nossa, que recepção, noivinha!
Escuto o rosnar as minhas costas.
— Emma, pelo amor de Deus, vai colocar uma roupa, antes que eu
decida me atrasar apenas para te aplicar um corretivo por estar abraçando
meu guarda-costas nua!
Eu rio, quando Ethan me solta e coloca as mãos pra cima.
— Eu não fiz nada, patrão! Aliás, vou esperar lá fora antes que
sobre pra mim!
— E eu não estou nua! Tudo bem vou me vestir. Embora não esteja
nada contente por ter que ficar sozinha!
Liam se levanta.
— Por isso Ethan está aqui. Ele vai levá-la aonde quiser até que eu
esteja disponível.
— E quando será?
— Não seja impertinente, Senhorita Jones.
— Eu realmente não posso ficar com você? — pergunto amuada.
Ele se aproxima e deposita um beijo em meu nariz.
— Seja boazinha com o Ethan.
Eu seguro sua gravata, roçando nele.
— Eu não posso ser boazinha com o Ethan, como posso ser com
você.
Liam ruge e segura meu traseiro com força.
Respiro em sua boca.
— Ele não ousaria.
— Você confia muito no Ethan, para um cara tão possessivo!
— Ethan é meu irmão. Já passamos por muitas coisas juntos. Eu
confiaria minha vida a ele.
— Bom, eu não sou sua irmã, mas pode confiar a sua vida a mim
também — afirmo esperançosa de que sinta que pode me contar qualquer
coisa. Liam já se abriu comigo sobre parte de seu passado, no entanto, sinto
que ainda há muito a descobrir.
Ele sorri e segura minhas mãos, soltando-as de sua gravata e beija
meus dedos.
— Eu preciso ir, baby.
Suspiro, vencida, me afastando.
Liam pega seu celular e pasta. Eu o observo caminhar até a porta, já
saudosa, de repente, ele se vira e me encara.
— Você é minha vida agora, Emma.
Quando ele se vai, deixa borboletas felizes sobrevoando meu
estômago.

***
— Sério, eu estou pensando seriamente em pedir demissão.
Solto uma gargalhada com a reclamação de Ethan enquanto saímos
da Torre Eiffel. A tarde está caindo e o pobre Ethan tem razão de estar
reclamando. Eu o fiz perambular comigo por todos os pontos turísticos de
Paris, tirando selfs com a Monalisa no Museu do Louvre, no Arco do
Triunfo e até a Catedral de Notre Dame.
— Não seja reclamão, preferia estar pajeando o Liam?
— Com certeza!
— Pois amanhã iremos fazer compras! Tenho uma lista enorme da
Zoe e ela me mataria se não levasse o que pediu.
Ethan solta um palavrão.
— Mais um motivo para eu pedir demissão ainda hoje. Já chega!
— O que vamos fazer agora? Podemos ir à Praça da Concórdia?
— Você não cansa mulher?
— Eu nunca estive em Paris! Me deixa!
Ele ri.
— Você está parecendo uma criança na Disney.
— Nunca estive na Disney também! Acha que Liam me levaria lá se
eu pedisse?
— Liam te levaria à lua se pedisse, noivinha!
Eu sorrio, segurando seu braço, enquanto caminhamos.
— E você faz tudo o que ele pede também, não é? Até bater no
pobre Tristan.
— Ei! — Ethan para. — Não era o pobre Tristan. Ele mexeu com a
mulher errada!
— Nossa! Quanta macheza! Você e Liam são tão exagerados! Em
que século acha que vivemos? O Tristan não tem culpa de nada, na verdade!
E ele foi demitido, não acho certo!
— Liam nunca ia ficar feliz com você trabalhando com aquele cara,
aceita, Emma.
— Até posso entender! Por este motivo eu estava bem propensa a
não aceitar o emprego. E eu acho que preferia não aceitar a tirar o emprego
de Tristan.
— Tristan é bem grandinho, vai conseguir outro emprego rapidinho.
Espero que não fique defendendo este cara na frente do Liam. Já foi bem
difícil convencê-lo a não ir pessoalmente dar uma sova no imbecil.
Eu arregalo os olhos.
— Liam queria bater nele?
— Claro que sim! Por isso achei melhor eu fazer o serviço. Porque
eu deixaria o cara vivo, pra começo de conversa.
— Meu Deus! Ainda bem que você o impediu.
Ethan sorri astutamente.
— Pode me agradecer agora.
— Eu continuo achando tudo meio bárbaro.
— Esquece, Emma. Você e Liam estão bem agora.
— É, acho que tem razão.
— E desfaz esta cara, porque seu noivo vem vindo aí.
Eu olho para onde Ethan aponta e Liam está realmente se
aproximando. Meu coração se aquece e eu me enrosco nele como se fizesse
dias e não horas que não nos víamos.
— Ei, baby. — Ele beija meu rosto e eu suspiro toda feliz.
— Acho que é minha deixa. — Ethan bate uma continência e se
afasta.
— E então, a conversa parecia estar animada — Liam diz.
— Ethan na verdade disse que vai pedir demissão se continuar
sendo meu guia turístico.
Liam ri.
— Prefere que eu arranje um guia de verdade pra você?
— Não! Eu adoro o Ethan. E amanhã vamos fazer compras.
Ele levanta uma sobrancelha.
— Você quer fazer compras?
— Para Zoe na verdade.
— Essa gnomo é muito folgada
— Não fala assim, Liam. — Eu me pergunto quando esta birra entre
Liam e Zoe vai passar.
— Aonde quer ir agora? Voltar ao hotel?
— Na verdade, eu queria ir à Praça da Concórdia, podemos?
Ele sorri.
— Claro, baby. Onde você quiser.

***
Os dias com Liam em Paris são como um sonho perfeito.
Eu passo boa parte do dia na companhia de Ethan que, apesar de
suas constantes ameaças, não pede demissão e suporta bravamente me
ciceronear pela cidade, onde ele já esteve inúmeras vezes com Liam.
Era quase como uma lua de mel. Ok, a três, fato com o qual eu não
me importava nem um pouco.
Ficar longe de Liam fazia com que eu apreciasse mais os momentos
em que ele podia estar comigo.
E estes eram meus momentos preferidos, embora eu percebesse que
tinha mais a ver com Liam segurando minha mão, beijando meus lábios
sempre que possível ou apenas me fitando com aqueles olhos incríveis, do
que com os lugares que visitamos. Simplesmente porque estou com ele,
todo o resto fica em segundo plano.
E claro, embora Paris fosse fabulosa, ainda tínhamos nossos
momentos. Aqueles em que não precisávamos de mais nada a não ser
nossos corpos muitos dispostos a tirar e dar prazer um ao outro.
E devo dizer, todos os apetrechos sacanas de Liam da minha mala
foram muito bem utilizados, afinal.
E não houve mais pesadelos, ou palavras enigmáticas, ou sequer
uma briga. Às vezes eu tinha vontade de instigá-lo a uma conversa mais
séria, acabava desistindo, com medo de estragar aquele momento tão
perfeito.
Eu não poderia exigir que Liam, um cara que nunca esteve em um
relacionamento como o nosso, um compromisso tão sério e profundo, se
tornasse totalmente aberto e disponível emocionalmente de uma hora pra
outra.
Essas coisas levam tempo. E, se ele ainda não havia dito que me
amava, demonstrava de outras maneiras.
Claro, eu era uma mulher e sempre iria desejar que ele me dissesse
com toda as letras, porém eu podia esperar. No fundo, tudo aquilo era tão
novo pra Liam quanto pra mim. Ele estava me ensinando sobre o quão
físico pode ser o amor.
E eu podia esperar para mostrar que amor poderia ser de alma
também.

***
Nós voltamos para Manhattan duas semanas depois e estava feliz ao
ver a paisagem urbana e cinzenta da cidade de novo.
Viajar era bom, voltar pra casa era ainda melhor.
— Parece bastante satisfeita, Senhorita Jones. — Liam brinca com
meu cabelo no carro dirigido por Owen que foi nos buscar.
— Estou feliz por estar em casa. E de você estar aqui também. —
Beijo seu queixo. — Vai demorar para você viajar de novo, não é?
— Não nas próximas semanas.
— Você viaja demais! — reclamo. — Não deveria ficar mais no
escritório?
— Tenho pessoas de confiança aqui, como Brady.
— Brady parece ser um cara legal.
— Ele é ambicioso. Tem demonstrado um bom faro pra
investimentos e está louco para me agradar.
— E quem não está?
Sua mão desce até minha cintura apertando levemente.
— Gosto de ser agradado, Senhorita Jones.
— Quer que eu o agrade agora, Senhor Hunter? — Deslizo minhas
mãos por seu peito até a frente de sua calça e sou premiada com um gemido
rouco. Abro o zíper, sorrindo maliciosamente. — Este tipo de agrado o
Brady não pode te dar, querido. — E, ainda sorrindo eu abaixo minha
cabeça, muito satisfeita por agradar o leão de Wall Street.

***
Na manhã seguinte, sou acordada por uma visita de Zoe.
— Zoe, você poderia dar um tempo não acha? Eu estou cansada da
viagem!
— A festa é amanhã, esqueceu? Precisamos escolher um vestido pra
você e tem que ser agora!
— Hum, eu tinha até me esquecido desta festa! Temos mesmo que
fazer isto?
Zoe rola os olhos, impaciente.
— Claro que sim, passei estas duas semanas cheia de trabalho,
enquanto você deitava e rolava em Paris!
— Ah, eu deitei e rolei mesmo! — Suspiro, o que só deixa Zoe mais
impaciente.
— Eu quero saber todos os detalhes e também quero conferir todas
as minhas encomendas. Eu deveria era ter ido com você e escolheríamos
um vestido lá.
— Até parece!
— Tudo bem, vamos agora!
Estou no carro com Zoe, quando recebo uma ligação de Samantha.
— Oi Emma, tudo bem? Eu estive tentando falar com você há dias!
— Estava viajando, me desculpe.
— Tudo bem, não liguei pra te dar bronca. Poderia vir aqui hoje
para eu te passar uma matéria? É importante.
Hesito um pouco. Mas agora é tarde pra hesitação, não é? Tristan
não esta mais lá e Liam está ok com aquele trabalho.
— Tudo bem, vou passar agora.
Desligo e Zoe me encara com um olhar especulativo quando eu
peço a Owen que nos leve para o escritório de Samantha.
— Espero que não vá demorar muito!
— Não reclama, acho que vai ser rápido.
— Vai mesmo trabalhar com eles?
— Acho que sim. Por enquanto.
Zoe insiste em subir comigo e eu a apresento à Samantha.
— Tristan me falou sobre você, trabalha com moda, não é?
— Sim, trabalho, eu e Emma estamos indo comprar o vestido para
sua festa de noivado amanhã. Eu vou deixar vocês à vontade, por favor, seja
rápida Emma!
Zoe sai da sala e eu encaro Samantha.
— Amanhã é sua festa de noivado? Espero que consiga me entregar
esta matéria até amanhã.
— Amanhã?
— Sim, eu sei que está em cima da hora, mas temos urgência. Eu
preciso que escreva sobre as especulações a respeito da venda das ações do
Goldman Sachs.
— O banco? — Faço um esforço para me lembrar de algo sobre o
assunto, porém, além de saber que o Goldman Sachs é um banco eu não sei
mais nada.
— Sim, o banco. Está rolando uma especulação sobre a venda
dessas ações no mercado. — Ela me entrega uma pasta. — Aqui tem tudo o
que precisa saber, não fique com essa cara preocupada. Eu sabia que não
haveria tempo hábil para pesquisar.
— Ah, isso me deixa mais aliviada. Embora eu ainda acredite que
não sou a pessoa mais...
— Bobagem! É uma matéria fácil, é só você usar as informações
que tem sobre os possíveis compradores e motivos.
— Certo. Eu farei o possível.
— Pode me enviar amanhã de manhã?
— Acho que sim.
— E Emma, o que tem nesta pasta é confidencial. Nem preciso
pedir que não conte a ninguém, não é? Nem mesmo ao seu noivo.
— Ah claro, fique tranquila. — Coloco a pasta na minha bolsa. —
Agora eu preciso realmente ir antes que Zoe entre esbravejando.
Samantha sorri.
— Eu entendo. Estou convidada para festa?
— Claro, pedirei para Zoe lhe mandar um convite.
— Até amanhã então.
— Não fui com a cara desta Samantha — Zoe comenta quando
entramos no carro.
— Zoe, não seja chata, ela é amiga do Tristan.
— O que não quer dizer nada. Ela parece aquele tipo de pessoa
simpática demais para ser sincera sabe?
— Eu sei que ela parece meio forçada, para seu conhecimento nem
todo mundo gosta de ser verdadeira como você e afugentar as pessoas a sua
volta.
— Pelo menos eu não sou falsa! Aqui estamos! Chanel!
Zoe praticamente me arrasta para dentro da Maison, onde duas
vendedoras, mais do que solícitas, nos conduzem através da loja quando
Zoe diz de quem eu sou noiva.
— Emma, eu vou com elas, para garantir que tragam o que pedi.
Não saia daqui, hein? — Ela me deixa numa elegante sala, muito parecida
com aquela em que Liam me levou em nosso primeiro encontro.
— Aonde mais eu iria? Eu quero acabar logo com isso.
Zoe se afasta e penso que seria muito mais divertido ter vindo
comprar o vestido com Liam.
Sorrio comigo mesma ao me recordar de como ele havia me despido
num provador como aquele. Duas vezes.
— Emma Jones?
Levanto o olhar ao ouvir meu nome e arregalo os olhos surpresa ao
ver Vanessa Vanderbilt.
— Sim, este ainda é meu nome — murmuro e a moça sorri entrando
na sala.
— Que coincidência encontrá-la aqui. Achei que estivesse em Paris.
Eu franzo os olhos. Como ela soube?
— Ah, não fique surpresa. O mundo dos investimentos é muito
pequeno e todos sabiam que Liam estava lá.
— Sim, eu estava com ele.
Ela senta do meu lado e eu percebo que segura um celular numa
mão e uma taça de espumante em outra.
— Ah, claro. Liam continua sendo um cara possessivo? Achei que
tivesse mudado com a maturidade.
Eu me movo para encará-la, mais do que intrigada agora.
— O que disse?
Ela sorri, seus lindos olhos azuis brilham. Ela está bêbada? Parece
lânguida demais.
— Eu disse que esperava mais de Liam hoje em dia.
— Como assim? Você... Você conhece Liam há muito tempo?
Ela de repente me encara como se só agora se desse conta de algo
importante.
— Oh, você não sabe? Eu e Liam somos mais do que velhos
conhecidos, minha querida. Nós moramos juntos. Há muito tempo. Usei até
um anel muito parecido com este que você está usando agora. Embora o
meu fosse maior.
Sinto a cor fugir do meu rosto, enquanto Vanessa toma mais um
gole de seu espumante depois de soltar aquelas bárbaras novidades sobre
mim, completamente alheia ao meu dissabor.
Capítulo 36

Liam foi noivo de Vanessa Vanderbilt?


Tinha morado com ela?
Tenho vontade de vomitar.
— Vocês... — Tento formular minha pergunta e Vanessa me encara
de novo, ainda com aquele sorriso bobo nos lábios.
— Fomos noivos? Sim. Moramos juntos? Sim para essa pergunta
também.
— Eu não acredito em você. — Deve ser tudo invenção da mente
bêbada e louca daquela mulher.
— Oh, acha que estou inventando. — Ela pega o celular e digita
rapidamente antes de praticamente socar a tela no meu rosto. — Ainda
tenho algumas lembranças...
Sinto o resto do sangue que havia em meu rosto desaparecer ao ver
a foto que Vanessa me mostra.
Um Liam muito mais novo abraçado a uma Vanessa bem mais nova
também.
Puta. Que. Pariu.
É verdade.
Pisco para afugentar a vontade de chorar, enquanto Vanessa tira o
celular do meu rosto e bebe mais um gole de sua bebida.
Ex-noiva de Liam. Ainda parece surreal demais para acreditar.
— Foi há muito tempo, claro. Acho que deveria me agradecer por
ser noiva de um homem tão rico. Sabe que ele quis ganhar dinheiro para me
conquistar não sabe?
— O quê? — Do que diabo aquela louca estava falando?
— Quando nos conhecemos na universidade eu falei que jamais iria
ficar com um homem pobre. Nem adiantava ele tentar me conquistar. Eu
tinha meus padrões e disse que se ele ganhasse um milhão de dólares
poderia voltar. E voilà! — diz quase saudosamente. — Nunca poderia
imaginar que Liam realmente ganharia um milhão pra me conquistar. Mas
ele fez. Então se tornou o Leão de Wall Street. — Ela me encara com
indisfarçável presunção. — Por mim.
Recordo-me claramente do dia em que o entrevistei pela segunda
vez, quando perguntei por que tinha decidido investir na bolsa e em como,
naquele momento, sua resposta simples alegando que fora apenas vontade
de ganhar dinheiro, me pareceu incompleta, assim como seu sorriso amargo
havia me intrigado.
Agora tudo faz um doloroso sentido.
Fora por amor.
Por ela. Aquela mulher.
Sinto meu coração despedaçar.
Liam não era um cara inacessível emocionalmente porque nunca
tinha se apaixonado.
Ele era assim porque já tinha amado muito. Tanto que este amor
havia sido o responsável por ser quem era hoje. Um dos homens mais ricos
do país. O Leão de Wall Street.
E por que ele nunca me disse? Por que manteve aquela informação
tão bem escondida?
— Oh, estou te deixando abalada, querida. — A voz divertida de
Vanessa mesclada com uma falsa preocupação me faz encará-la novamente.
Estudo seu rosto bonito agora por outro ângulo. Pergunto-me o que
o jovem Liam Hunter viu nela. Posso entender porque ele caíra de paixão.
Vanessa continuava sendo deslumbrante, com seus cabelos loiros e olhos
azuis, imagina aos 19 anos?
Quase a minha idade hoje. Só que eu não tinha nem um terço da
beleza dela.
Eu, a comum Emma Jones.
Que porra Liam vira em mim afinal? Ele, que já teve aquela mulher,
que ganhou milhões apenas para conquistá-la.
Só que eles não estão mais juntos. Uma voz corajosa murmura
dentro de mim, fazendo a fumaça escura que tomava meus pensamentos se
dissipar um pouco.
— Isso aconteceu faz muito tempo — debocho corajosamente,
ignorando a vontade de chorar. — E você se casou com outro, não?
— Sim, eu me casei com outro — Vanessa responde com ironia.
— E por que não ficaram juntos? — pergunto muito curiosa para
saber o motivo de eles não estarem mais juntos, já que a história foi tão
intensa.
— Talvez você se faça essa mesma pergunta daqui a alguns anos.
— O que quer dizer?
— Quando não estiverem mais juntos também.
— Por que está dizendo isso? Você não sabe de nada! Nem me
conhece! — Quem aquela bruxa pensa que é para insinuar que eu e Liam
não duraríamos assim como eles dois não duraram?
— Ah, eu conheço o Liam.
— Não conhece mais!
Ela sorri cheia de certezas.
— Homens como Liam não mudam sua essência.
— E você acha que conhece a essência do Liam?
— Você não me ouviu? Nós vivemos juntos. Ele era apaixonado por
mim. Me pediu para casar com ele! Claro que eu o conheci intimamente.
— As pessoas mudam. Liam era muito jovem quando te conheceu.
Ele não é o mesmo homem.
— Como sabe? Você está aqui hoje. Não estava há dez anos, eu
estava.
— Eu não sou você. E não sei por que você o deixou ir, mas eu não
pretendo fazer o mesmo.
— Ah, os corações jovens e tolos!
Ela se levanta, sacudindo a taça vazia.
— Ops, acabou minha bebida, acho que é minha deixa.
Eu me levanto também.
— Por que vocês terminaram? — insisto, engolindo meu orgulho.
Preciso saber o que aconteceu. — Se você era apaixonada por ele, por que o
deixou? — Eu não consego entender como alguém abria mão de Liam.
— Eu queria mais. Liam estava se tornando um homem muito rico.
Só que ainda não era o bastante. Elliot já era um milionário... — Sorri com
astúcia. — No final Elliot ganhou, quem pode me culpar?
— Está dizendo que desmanchou o noivado com o Liam para trocá-
lo por um cara mais rico?
— Isso e o fato de Liam estar ficando obcecado por aqueles
investimentos chatos! — diz, rolando os olhos. — Eu sabia que se nos
casássemos teria que dividi-lo com seu trabalho por um bom tempo, até que
ele finalmente ficasse tão rico quanto eu desejava. E Elliot estava ali, muito
apaixonado por mim. Eu não resisti.
Eu a encaro com total horror. Imaginando um Liam dez anos mais
novo sendo trocado por outro mais rico.
Aquela mulher é realmente louca.
— Não me olhe assim. Eu sou uma mulher muito objetiva! Claro
que fiquei triste por magoar o Liam. Ah, ele ficou tão bravo quando
descobriu sobre Elliot. O pobre Elliot levou uns bons murros na cara numa
briga terrível. Ele até queria processar o Liam, eu o dissuadi. Liam estava
apenas chateado por me perder, não merecia ser processado. Algum tempo
depois, Liam ultrapassou a fortuna do Elliot... Obviamente ele ainda queria
me reconquistar.
Eu me sinto enjoada.
— Mas ainda continua com seu marido.
Ela dá de ombros, rodando a aliança de casamento.
— O nosso tempo já havia passado. Eu tenho outra vida agora. E
como eu disse, Liam é muito obcecado por ganhar dinheiro. Ele ainda não
dorme e fica farejando investimentos na madrugada? — Sorri em tom
conspiratório. — Era tão irritante! Prefiro um homem como Elliot, que sabe
aproveitar a vida!
— Ei, voltei! — A voz estridente de Zoe nos interrompe e ela para,
com uma vendedora atrás, empurrando uma arara cheia de vestidos. —
Quem é essa?
— Eu já estou de saída! — Vanessa se afasta batendo os saltos no
chão, sem se dar ao trabalho de falar com Zoe, que me encara confusa.
— Que merda aconteceu aqui e por que está pálida que nem um
fantasma?
— Aquela era a Senhora Vanessa Vanderbilt, esposa do milionário
de Hollywood, Elliot Vanderbilt — a vendedora responde no meu lugar.
Zoe arregala os olhos.
— Jura? Não a reconheci! Emma, por que não nos apresentou? Eu
adoro essa mulher, ela é tão estilosa! Sempre é uma das mais bem vestidas
nos tapetes vermelhos e... Emma, o que você tem? — Ela se aproxima e
toca minhas mãos trêmulas, finalmente percebendo que há algo errado. —
Você pode nos deixar a sós, por favor — pede à vendedora que fica meio
decepcionada por ser dispensada.
Quando a moça sai da sala, Zoe me encara.
— O que aconteceu? Por que está tão transtornada?
— Vanessa Vanderbilt foi noiva do Liam — respondo e Zoe fica
chocada.
— Mentira? Que filha da puta sortuda, como ela conseguiu fisgar
não um, mas dois milionários?
— Zoe, é sério! Estou surtando aqui! — reclamo puxando-a de seu
desvario.
— Oh, me desculpa! Por que está surtando? Ciúme? Ela está
casada, então presumo que a história com o Liam deve ter rolado há muito
tempo, já que nem está nos tabloides.
— Eles estavam na faculdade, tinham 19 anos — conto a Zoe o que
Vanessa havia me contado.
— Uau! Essa garota é poderosa mesmo, hein? Quem diria que ela
fabricou o Leão de Wall Street e ainda deu o pé na bunda dele!
— Zoe, não está me ajudando!
— Mas é a verdade!
— Eu odeio essa mulher e estou morrendo de raiva do Liam por não
ter me contado sobre ela!
— Bom, ele podia mesmo ter te contado, mas, Emma, isso
aconteceu há milhões de anos! Eu mesma nem me lembro com quem estava
transando há dez anos!
— Com ninguém, já que tinha 13 anos, Zoe! O Liam foi noivo!
Apaixonado por ela. Morou com ela! Ah Deus, deve ter sido no mesmo
apartamento que moramos. Na mesma cama! Eles podiam estar casados
hoje se a Vanessa não fosse uma bruxa gananciosa!
— Ah, para de ser dramática! — Ela se levanta e pega um vestido.
— Eu me recuso a entrar nessa sua paranoia. Vem, vamos começar a
experimentar este vestido para sua fabulosa festa de noivado! — Ela me
puxa, até que fico de pé. — Esquece a ex do Liam.
Suspiro e deixo que Zoe me vista como sua Barbie, passo o tempo
inteiro com as palavras de Vanessa Vanderbilt atormentando minha mente.
E em vez de melhorar minha angústia só piora quanto mais eu
penso sobre a história de Liam com ela.
O fato de ter sido tão importante pra ele, de querê-la tanto a ponto
de ficar obcecado por ganhar dinheiro. Ela deve ter sido sua primeira
caçada. O prêmio mais cobiçado. E porque ele era o leão, o rei de todos os
predadores, ele a conseguiu. Apenas por um tempo. Só que Liam não sabia
que Vanessa era uma raposa. Esperta e dissimulada. Ela fizera com que se
apaixonasse e depois o dispensara trocando-o por outro mais poderoso.
E então Liam se tornara ainda mais obcecado em enriquecer. Para
sobrepujar o seu concorrente. Ganhar a presa de volta.
Só que ela não estava mais disponível para o seu dinheiro.
Então ele se tornara o homem que eu conheci naquele escritório.
Ainda um caçador. E, dessa vez, seu coração não estava mais disponível.
Por que ainda era de Vanessa?
Sinto meu próprio coração se apertando de insegurança.
Eu acreditei que Liam me amava, mesmo ele nunca tendo dito em
voz alta. Será que eu estava enganada o tempo inteiro?
Maldita Vanessa que havia plantado aquela semente horrível de
dúvida na minha mente.
Agora, eu já não tinha mais certeza de nada.
***
Depois de Zoe finalmente escolher meu vestido, porque eu
realmente não me importava com o que ia vestir, volto pra casa e Eric
pergunta se quero comer algo, eu recuso e vou direto para o quarto.
Sento-me sobre a cadeira vitoriana. Encolhendo as pernas perto do
corpo, olhando o crepúsculo se transformar em noite, enquanto mergulho
em meus medos e inseguranças.
— Emma, o que faz no escuro? — Abro os olhos ao ouvir a voz de
Liam, quando ele acende a luz do quarto e me encara, enquanto tira a
gravata.
Tão lindo.
Tão meu?
Seus olhos se estreitam e ele para os movimentos, algo em minha
expressão denunciando meu estado de espírito.
— Emma?
— Quando ia me dizer que foi noivo de Vanessa Vanderbilt?
Liam congela.
E, se eu tinha alguma dúvida que a história de Vanessa fosse uma
mentira, eu teria confirmado naquele momento, pela expressão de Liam que
não era.
Ela parece estar organizando seus pensamentos.
Organizando suas mentiras?
Por que ele precisaria mentir sobre algo que aconteceu há tanto
tempo?
— Como...
— Como eu sei? — Eu me levanto, começando a sentir uma raiva
fria se apossando de mim. — Como eu descobri que você ganhou todo o
seu dinheiro para poder conquistar uma mulher? Uma mulher de quem foi
noivo e que morou com você?
— Parece bem informada. — Seu tom de voz está tão frio quanto o
meu. No entanto o dele contém certa defensiva.
— Não por você, certamente. Por que, Liam? Por que escondeu de
mim? Não me julgou importante o suficiente para saber sobre estes detalhes
do seu passado?
— Como você mesma está dizendo, passado.
— Não é passado! — grito, perdendo a paciência. — Sabe como eu
me senti quando aquela cobra da Vanessa me abordou e começou a contar a
linda história de amor de vocês? — Um nó fecha minha garganta, me
fazendo parar.
— Vanessa falou com você?
— Sim, nós nos esbarramos na loja onde fui com Zoe comprar meu
vestido para a festa de noivado! Me diz, você também fez questão de dar
uma festa para a Vanessa?
— O que ela te contou, afinal? — Ele se aproxima, sua voz
perigosamente baixa contendo toda a fúria do mundo. Se ele está furioso, eu
também estou.
— Contou que você se apaixonou, mas que ela disse que só sairia
com um cara rico. E aí você começou a investir. É mentira?
— Não, é basicamente isso.
— Então é verdade, ficou rico por causa dela? — Minha voz treme.
— E daí? Não foi nada!
— E daí? Este fato tornou você quem é hoje! — Quase cuspo as
palavras cheias de despeito. — Acha que qualquer outro homem faria o que
fez? Você estava apaixonado por ela!
— Faz dez anos, Emma!
— Então por que não me contou?
— Porque faz parte da merda de um passado que eu não faço a
menor questão de me lembrar!
— Por que ela te magoou? Foi isso? Vocês estavam juntos e ela te
deixou pra ficar com um homem mais rico!
Ele solta uma risada amarga.
— Parece que ela te contou a história inteira!
— Nem tudo. E eu queria muito, muito mesmo, que fosse você a me
contar.
— Que diabos quer saber, Emma? Que eu era um idiota que pousou
os olhos na garota mais bonita e mais gananciosa da faculdade? — rosna,
com os olhos em chamas e tento não sentir ainda mais ciúme por vê-lo se
referir a Vanessa como a garota mais bonita. — Que ela riu na minha cara
quando eu a chamei pra sair? Dizendo que eu era apenas um cara sem
importância que não tinha grana para bancá-la? Que ela provavelmente
achou que tinha se livrado de mim quando disse que eu podia voltar e
chamá-la pra sair de novo quando eu tivesse um milhão na minha conta
bancária e, que, apenas seis meses depois eu não só tinha um milhão na
minha conta, mas também uma fodida Ferrari e um apartamento neste
prédio? Que eu fiz questão de levá-la na loja mais cara da cidade e também
no restaurante mais caro que o dinheiro podia pagar apenas pra ter o prazer
de levá-la pra cama depois?
Eu estou tremendo inteira com suas palavras. Uma confusão de
sentimentos me bombardeava.
Ciúme. Ressentimento. Inveja.
Como eu posso ter todos aqueles sentimentos ruins por algo que
aconteceu há dez anos?
A resposta surge clara como água para mim.
— E ainda diz que não foi nada... — retruco. — Você estava
apaixonado. Você dizia a ela? Dizia que a amava?
— Eu disse e fiz muitas coisas para Vanessa Vanderbilt naquela
época.
Fecho os olhos, para conter a tempestade que quer se formar em
meus olhos.
— Você nunca disse que me amava — murmuro enquanto abro os
olhos e o encaro cheia de dor. — Por causa dela?
Liam retribui meu olhar.
— Sim, por causa dela.
Oh Deus. Meu coração falha por um segundo, quando Liam
continua.
— Sim, eu dizia o tempo inteiro coisas que ela queria ouvir.
Inclusive que a amava, assim como ela dizia que me amava. Palavras vazias
assim como nossas intenções. — Ele se aproxima e eu quero me mexer e
correr, mas não consigo. Estou petrificada enquanto minhas lágrimas
finalmente caem e desaparecem no chão. — Ela te contou como acabou?
Contou que depois que ela estava comigo, linda e disponível, muito feliz
usufruindo do meu dinheiro enquanto eu usufruía do seu corpo, eu percebi
que ganhar dinheiro era mais interessante do que estar dentro dela?
Eu engulo um soluço.
— Ela me disse que ficou obcecado em ganhar dinheiro. Que isso a
fez ir embora com outro que já era rico o bastante.
Ele ri sem humor.
— Sim, ela foi.
— E você quis ganhar mais dinheiro também. Para tê-la de volta.
— Sim, eu fiquei obcecado em ganhar dinheiro. Mas tê-la de volta?
Isso só é verdade dentro da cabeça narcisista dela.
— Você a deixou ir depois de tudo o que fez por ela? Eu não
entendo!
Ele soca a parede atrás de mim e eu me assusto, porém não me
movo.
— Porra, Emma, que parte você ainda não entendeu? Sim, eu estava
obcecado em conquistar Vanessa Vanderbilt, tanto que me tornei milionário
porque ela queria um. No entanto, assim que eu a tive, percebi que o
processo de ganhar dinheiro era infinitamente mais divertido do que estar
com ela.
— Mesmo assim a pediu em casamento...
— Sim, eu pedi. Por acaso ela te contou que foi ideia dela? Que
assim que ficou notório para todos quando saí da faculdade que eu estava
nadando na grana, outras mulheres começaram sua própria caçada ao novo
milionário? Vanessa era esperta e rapidamente tratou de se assegurar que eu
não iria dispensá-la. Acho que ela já tinha sacado que meu interesse não era
mais tão grande. E o que eu posso dizer? Vanessa podia ser bonita, porém
era chata pra caralho. E o sexo nem era tão bom. Só que eu era jovem e
idiota. Gostava de exibi-la. Ela era inteligente e parecia uma perfeita esposa
de milionário. O que eu não podia imaginar era que ela já estava de olho em
outro. Um belo dia ela me contou que estava dormindo com ele.
— Você bateu nele.
— Sim, eu bati naquele babaca. Não se rouba o que é meu assim.
Eu fiquei puto, mesmo depois de 24 horas e uma bebedeira, quando eu
estava batendo na bela bunda de uma modelo e percebendo que eu ficaria
muito melhor sem a vaca da Vanessa Vanderbilt. Eu tinha dinheiro. Eu
podia ter a mulher que eu quisesse. Ela me fez um grande favor, fazendo
crescer em mim a vontade de ganhar dinheiro. Ela que fosse para o inferno.
— E você nunca mais se apaixonou.
Então Liam se aproxima ainda mais e segura meu rosto. Há fúria em
seus olhos. Força em suas mãos. Tensão em todo seu corpo.
— Não importa o que aquela vaca disse. Não importa o que ela foi.
Eu posso ter acreditado por algum tempo que estava apaixonado por ela.
Mas se eu amei algo foi a ideia de conquistá-la. De caçá-la. Eu sou um
caçador, baby, sabe disso, não? E Vanessa era a presa mais difícil de todas.
— Eu fui a mais fácil — digo com certo desgosto.
— Você foi a última — ele me interrompe, seus dedos apertando
meus cabelos. Seu olhar tão intenso que chega a me assustar. — Esqueça a
Vanessa Vanderbilt. Ela é uma história que já acabou.
— É difícil pensar que tudo o que você tem ganhou por causa dela...
— murmuro ainda com algum resquício de insegurança.
— O que você quer? Que eu doe tudo? Que queime todo meu
dinheiro? Porque eu farei se você pedir. Eu fiquei rico pela Vanessa, posso
ficar sem nada por você.
Eu mal consigo respirar, quando ele continua.
— Nada... é importante se eu não tiver você. Esta é a grande
diferença. Eu queria a Vanessa, porém, quando eu tive o dinheiro, eu o
achei muito mais interessante do que ela. Assim como ela sempre quis o
dinheiro e não a mim.
— Eu não quero seu dinheiro...
— Então é isso? Devo achar alguma instituição e doar tudo? Vai
acreditar em mim se eu ficar pobre por você?
Eu rio, entre minhas lágrimas e Liam me beija.
Eu me agarro a ele, querendo esquecer as últimas horas. E voltar ao
tempo que era somente nós dois. Sem passado obscuro. Sem ex-noivas
gananciosas. Sem brigas. Apenas eu e Liam.
Nós dois e nada mais.
— Eu te amo — murmuro contra seus lábios, sentindo meu coração
voltar a bater no ritmo normal. A escuridão indo embora lentamente, como
se sua mão quente a afastasse pra longe, assim como afasta as lágrimas do
meu rosto.
— Na riqueza e na pobreza. — Ele sorri, beijando o resto de
lágrima em meu rosto e eu sorrio.
— Não precisa ficar pobre por mim.
— Eu ia ganhar tudo de novo, baby.
— Ah, eu não duvido.
— Estamos bem? — ele pergunta meio inseguro, enquanto me
encara e sacudo a cabeça em afirmativa.
— Eu só te peço uma coisa.
— Qualquer coisa.
— Nunca mais me esconda nada. Pode ser o segredo mais sujo, eu
quero saber.
— Eu nunca te contei sobre a Vanessa porque é um assunto que eu
realmente não gosto de falar, Emma.
— Não interessa. Eu quero saber tudo. Qualquer coisa. Prometa —
exijo e ele sorri, vencido.
— Ok, baby, eu prometo.
— Acho que vou acrescentar essa cláusula em nosso contrato,
noivo.
Ele ri e me beija, antes de me soltar.
— Por que me soltou? Achei que ia me levar pra cama — reclamo.
— Eu prefiro te levar para o chuveiro. — ele diz começando a tirar
a roupa e indo para o banheiro. — Preciso mesmo de um banho, baby.
— Tudo bem por mim... — antes que eu possa me juntar a ele, meu
celular toca — vou só atender esta ligação!
Eu pego o aparelho e vejo um número desconhecido.
— Alô?
O chuveiro é ligado no banheiro.
— Emma, é o Tristan.
Tristan?
— Não desliga! — ele diz, adivinhando meus pensamentos.
Decididamente eu não queria ter mais uma briga com Liam hoje. — Liguei
pra te falar algo importante. É sobre a Samantha.
— O que tem a Samantha?
— Sim, você precisa saber o que ela está aprontando. E isso
envolve seu noivo, Liam Hunter.
— Do que está falando, Tristan? — Eu me sinto cada vez mais
confusa.
— Samantha está pretendendo fazer uma matéria denúncia contra a
empresa do Liam.
— O quê? Como assim?
— Ela conseguiu informações com um tal de Brady.
— O que ela poderia ter contra o Liam? Isso é loucura!
— Eu não sei de detalhes, mas o que eu sei é que a Samantha está
desesperada, Emma. O portal não está dando o lucro esperado e os
investidores estão putos. Ela vai se dar mal se não conseguir que o portal
tenha sucesso. O motivo de ter insistido tanto em ter você na equipe foi
esse. Ela achava que o fato de você ser noiva do Liam iria ajudá-la a
conseguir boas informações do mundo financeiro. Então ela começou a
dormir com Brady Nelson para conseguir contatos e hoje ela me disse que
tem um furo enorme na manga.
— Eu que apresentei Brady para ela, inferno! Que merda ela
pretende?
— Eu realmente não sei de mais nada. Só achei que precisava te
contar. A Samantha enlouqueceu, eu tentei convencê-la a não fazer nada,
mas ela disse que tem que agir.
— E por que está me contando isso agora?
— Porque eu não acho justo o que ela está fazendo. Nós
começamos o portal com boas intenções, no entanto a Samantha não
contava com o fracasso. Agora está disposta a qualquer coisa. Sei que ela
pode prejudicar seriamente alguém.
— Está certo. Obrigada, Tristan.
Eu desligo e disco rapidamente para Samantha, enquanto procuro na
minha bolsa a pasta que me deu hoje. Será que tinha algo a ver?
O telefone só chama e cai na caixa postal.
Eu desligo irritada e começo a mexer nos papéis, não tem nada ali, a
não ser informações sobre possíveis vendas das ações do banco.
Tenho a impressão que estou deixando passar algo, só não sei o que
é.
— Emma, está tudo bem? — Eric entra na sala. — Você e o Liam
vão jantar agora?
— Liam está no banho. — Tento pensar no que fazer.
Será que Tristan estava mesmo falando sério e que Samantha iria
prejudicar o Liam com essa tal matéria?
Só tem uma maneira de descobrir.
Pego minha bolsa e coloco os papéis dentro.
— Eric, avisa o Liam que eu tive que dar uma saída.
— Aonde vai?
— Algo sobre meu trabalho, é urgente.
— Devo chamar o Owen, ou o Ethan?
— Não, eu pego um táxi — explico, enquanto saio, ignorando Eric,
que diz algo sobre não ser seguro.
Eu chego à rua rapidamente e chamo um táxi, dando o endereço de
Samantha. Tento ligar em seu número de novo, ninguém atende.
Meu celular toca e eu vejo que é Liam. Inferno, ele deve estar
furioso com a minha súbita saída.
Pensando melhor agora, percebo que deveria tê-lo esperado sair do
banho e explicado o que estava acontecendo. Na verdade estou começando
a sentir que eu tinha sido feita de idiota o tempo inteiro.
Briguei com Liam por causa daquele maldito emprego. E agora
seria culpada se Samantha publicasse alguma matéria que o prejudique.
Só que não vou deixar. Samantha está louca se pensa que eu vou
permitir que prejudique Liam sem tentar impedir.
Pego de novo a pasta de Samantha e começo a ler. Então algo me
vem à mente. Informações privilegiadas. Liam tinha me falado sobre isso.
A forma que as pessoas se prejudicavam por terem informações sigilosas
sobre vendas de ações antes de todos.
O que Samantha pretendia fazer? Inventar que Liam ia comprar
aquelas ações?
O táxi para em frente ao prédio e eu salto indo direto para o andar
de Samantha. Há poucas pessoas por ali, quando eu passo direto para sua
sala.
— Emma, o que faz aqui? — Ela sorri do seu jeito falso.
— É verdade que você vai publicar uma matéria que vai prejudicar
o Liam?
— O quê? De onde tirou isso?
— Tristan me contou.
— Ah, eu vou matar o Tristan!
— Então é verdade? Você enlouqueceu?
— Claro que não é verdade...
— E o que são essas informações que deixou comigo? Como as
conseguiu?
— Do que está falando? Eu só pedi para escrever uma matéria...
— Para de me fazer de idiota, Samantha! Tristan me contou que está
desesperada! Que seu site é um fracasso e que só me queria aqui por causa
das minhas conexões. Eu só me pergunto como posso ter sido tão burra! Eu
deveria ter mandado você à merda há muito tempo!
— Ok, vamos conversar, já que insiste. — Ela pega o telefone sobre
a mesa e disca quatro números — Alef, vocês e os outros podem ir
embora... Apenas faça o que estou mandando.
Ela desliga e eu a encaro, irritada, quando tranca a porta e se volta
pra mim.
— Pronto, agora estamos sozinhas. O que quer saber?
— Quero que me conte que porra está pretendendo fazer.
— Não estou fazendo nada de errado, apenas cumprindo meu dever
de jornalista.
— Ainda não entendo. Você vai inventar que Liam tem informações
privilegiadas? Desde quando inventar mentiras não é errado?
— Não são mentiras. A empresa de Liam tem mesmo estas
informações. E elas, inclusive, estão aí com você.
— É mentira!
— Não é. As informações existem.
— Eu não sei como você conseguiu isso, mas não tem nada a ver
com Liam e, quando eu contar a ele... — Eu pego meu celular e começo a
discar. Já chega de conversa fiada com aquela filha da puta. Antes que eu
consiga terminar, o celular é arrancado da minha mão e eu assisto chocada
Samantha jogando-o contra a parede, onde ele se despedaça.
— Ei, está louca?
— Já chega, Emma! Não vai contar nada ao Hunter, antes que eu
consiga colocar a matéria no ar.
Eu me levanto.
— Acha que eu não vou contar? Eu vou contar sim e você não vai
fazer matéria nenhuma! Não adianta dar uma de psicopata e quebrar meu
celular!
— Psicopata? Você não viu nada! — Ela se senta à mesa e abre seu
notebook. — É melhor se sentar. Eu já esperei demais. Acha que dormi com
Brady por nada? E olha que eu tenho que te agradecer. Eu não esperava que
ele fosse um garotinho ganancioso e que me daria essas informações sem
nem ao menos perceber. Eu ia esperar até que as ações estivessem à venda
amanhã de manhã e então, depois que seu namorado lucrasse milhões, eu
soltaria a bomba! Ia ser bem mais interessante. Tudo bem, já que não quer
colaborar, eu faço agora...
Eu sou tomada por um pânico real. Eu me lanço sobre Samantha e
bato o notebook, fechando-o quase sobre sua mão, que ela tira no último
segundo.
— Quem enlouqueceu agora? Solta! — ela rosna pra mim, quando
eu pego o notebook e, sem pensar, corro na direção da porta.
Samantha vem atrás de mim e tenta me pegar enquanto eu destranco
a porta com uma mão e seguro o notebook com a outra. Seria até engraçado
se não fosse a urgência da situação quando eu lhe dou uma cotovelada no
nariz e corro.
— Emma, você não vai a lugar nenhum! Me devolve isso!
Ignoro os gritos de Samantha e continuo correndo, até chegar aos
elevadores e, apavorada, vejo que ainda estão muito longe.
— Droga! — xingo e corro para as escadas de incêndio.
Samantha é rápida e faz o mesmo me alcançando no primeiro
degrau, tentando arrancar o note de minhas mãos.
— Para, Samantha! Eu não vou deixar você fazer o que pretende!
— Acha mesmo que vai conseguir me deter? Eu coloquei muito em
jogo pra perder por causa de uma repórter incompetente como você! —
grita e para mim já é demais. Com um safanão, arranco o note de suas mãos
e arremesso contra ela com força.
— Sua vadia louca! — grito e Samantha me empurra no afã de se
defender da minha fúria.
Meus pés de repente se embaralham nos degraus e eu grito quando
começo a cair, rolando os degraus, enquanto bato minha cabeça com força
no mármore e sinto meu corpo sendo machucado. Escuto os gritos de
Samantha em algum lugar.
A última coisa que percebo com alguma alegria antes de apagar é
que o notebook está do meu lado, também destruído.
Eu venci vadia!
***
— Emma? — A voz de Liam surge em minha mente como num
sonho.
Forço minhas pálpebras a se abrirem e a luz que atinge meus olhos é
ofuscante.
— Liam? — murmuro com a voz grogue, tentando entender o que
está acontecendo e a imagem de Liam surge acima de mim. Ele tem a
expressão preocupada e tensa ao mesmo tempo.
— Porra, baby, nunca mais me assuste desse jeito! — ele rosna,
enquanto retira alguns fios de cabelo do meu rosto e beija minha testa.
Eu levanto o braço para tocá-lo e solto um gemido ao ver que há um
soro em minha mão. Arg, odeio agulhas.
Que diabos estou fazendo num hospital?
— Liam, o quê... — Então tudo volta a minha mente. Samantha. A
fuga. O tombo. — Merda, Samantha estava louca, ela... — eu falo rápido,
tentando me mover, Liam me impede.
— Não se preocupe com nada, você está no hospital.
— Isso mesmo, Senhor Hunter. — Um homem vestido de branco
surge, junto com uma moça também de branco. — Nós precisamos levar a
Senhorita Jones para enfaixar o seu tornozelo quebrado e já temos todos os
exames que foram feitos para verificar se havia mais algum problema...
— Quebrei o tornozelo? Droga, Zoe vai me matar, não vou
conseguir usar aquele salto Loboutin na festa...
— Foda-se a gnomo — Liam resmunga e se vira para o médico. —
Tudo bem nos exames? Apenas um tornozelo quebrado? Preciso de tudo
detalhado para processar aquela repórter filha da puta...
O médico segura uma prancheta e coloca os óculos.
— Sim, fizemos ressonâncias e ultrassons e está tudo bem com a
Senhorita Jones e o bebê.
— Bebê? — eu e Liam falamos juntos.
O médico sorri.
— Sim, a gravidez de cinco semanas da Senhorita Jones está
perfeitamente segura.
Oi?
Eu e Liam nos encaramos em total horror.
P.O.R.R.A.
Capítulo 37

— Bebê? — eu e Liam voltamos a falar ao mesmo tempo.


O médico sorri, alheio a nossa estupefação, enquanto faz anotações
em meu prontuário e a enfermeira se posiciona atrás da minha maca
começando a me empurrar.
— Como eu falei, não há motivo para preocupação, já realizamos
todos os exames pertinentes, no entanto, se sentir qualquer desconforto
deve nos avisar. Apenas por medida de precaução a manteremos aqui esta
noite, terá alta amanhã. Stacey a levará para colocar o gesso no tornozelo,
ficará com ele por pelo menos quatro semanas e quando o retirarmos, caso
seja necessário, fará algumas sessões de fisioterapia. Tenham uma boa
noite.
E assim, como se não tivesse atirado sobre nós a maior bomba de
todos os tempos, o médico sai do quarto.
Eu e Liam continuávamos em um silêncio chocado.
Bom, pelo menos eu estou em choque total.
Gravidez?
Gravidez?
Meu cérebro repete sem parar, tentando sair do torpor e fazer
alguma associação que desse algum sentido àquela expressão.
Não parece haver nenhum sentido!
— Absurdo — murmuro e olho pra Liam, que parece estar passando
pelo mesmo processo que eu.
— Senhorita Jones, preciso levá-la agora — a enfermeira diz e
começa a empurrar a maca, enquanto sorri para Liam.
E eu teria rido do quanto ela parece alheia ao fato de já ter passado
dos quarenta há um bom tempo ao piscar toda faceira para Liam, se não
fosse meu estado semicatatônico pós notícia absurda.
— Senhor Hunter, nós a colocaremos em um quarto assim que
terminarmos e o avisaremos em seguida, não se preocupe.
Eu vejo Liam ficando para trás, ao ser levada pelo corredor e quero
gritar que não posso ir a lugar algum sem antes esclarecer aquele...
O quê?
Mal-entendido?
Sim, é isso. Só poder ser um engano. Não existe gravidez.
Eu. Não. Estou. Grávida.
— Ei, será que pode chamar o médico de novo? — reencontro a
minha voz e tento me virar para a enfermeira.
— Algum problema? Está sentindo dor? Eu posso pedir para lhe
prescreverem um analgésico. Existem alguns remédios que são permitidos
às grávidas.
— É exatamente sobre isso que desejo falar. Acho que está havendo
algum engano...
— O que temos aqui, Stacey? — Um rapaz negro nos recebe em
uma sala com cheiro de esparadrapo.
— Max, assim que terminar com a Senhorita Jones, pode levá-la ao
quarto 202?
— Claro que sim! — Ele sorri pra mim, olhando meu prontuário,
enquanto a tal Stacey desaparece de vista.
Eu bufo e me resigno ao ser engessada como uma múmia até as
canelas, pensando como raios vou sobreviver por quatro semanas com
aquela coisa.
Finalmente sou levada ao quarto e outra enfermeira aparece,
verificando meus sinais vitais.
— Será que pode chamar o médico? É realmente urgente.
— Não está se sentindo bem?
— Não — minto. Parece que só assim vão me levar a sério.
A moça sai do quarto e não demora muito para o mesmo médico
aparecer.
— O que está sentido, Senhorita Jones? — Ele olha o monitor ao
meu lado, enquanto mede meu pulso.
— Eu estou bem, na verdade eu preciso que o senhor repita o que
disse sobre gravidez, porque acho que não ouvi direito...
Ele sorri.
— Eu disse que não há nenhum problema com sua gravidez e...
— Mas eu não estou grávida!
— Senhorita Jones, nós fizemos todos os exames quando chegou
desacordada. Inclusive um de sangue, foi assim que constatamos seu estado,
realizamos um ultrassom para nos assegurar que estava tudo bem.
— Não pode ser possível... — começo a hiperventilar.
— Devo entender que não sabia sobre a gravidez?
Sacudo a cabeça negativamente, tentando me lembrar de como se
respira.
— Eu estava tomando pílula...
— A pílula é um método seguro, contanto que seja tomada
corretamente.
Eu fico vermelha.
— Eu tomava direitinho... Quer dizer, quase sempre. Posso ter
esquecido um ou outro dia, não pensei que poderia ter problemas...
O olhar do médico é condescendente.
— A senhorita não é a primeira a pensar assim. Porém não há
nenhuma dúvida, está realmente esperando um bebê.
Esperando um bebê. As palavras do médico se repetem na minha
mente e eu volto a ter dificuldade para respirar.
Puta merda!
Eu estou mesmo grávida.
— Olá, Senhor Hunter.
Levanto a cabeça ao ouvir a voz do médico e Liam está parado à
porta do quarto. Não consigo decifrar sua expressão, enquanto o médico o
cumprimenta e nos deixa a sós.
— Você ouviu? — Minha voz não passa de um murmúrio medroso.
Ele sacode a cabeça e entra no quarto lentamente, passando os
dedos nervosos pelos cabelos mais bagunçados do que o habitual e eu me
recordo de todos os acontecimentos daquela noite que culminaram nesse
momento.
A canalhice de Samantha parece incrivelmente abstrata agora que
eu tenho que lidar com a notícia bizarra da minha gravidez.
Puta que Pariu! Eu estou grávida! Meu cérebro está gritando agora.
E eu estou morrendo de medo da reação de Liam.
Afinal, eu tinha me comprometido a tomar as precauções
contraceptivas e garantido que ele não precisava mais usar preservativo.
E fui idiota e negligente neste processo. E agora? Surpresa!
— Como explica isso, Senhorita Jones? — Sua expressão ainda é
uma incógnita e eu mordo os lábios, indecisa sobre o que responder.
— Eu não sei... — murmuro me perguntando se esse é o momento
em que ele diz que eu fui uma garota irresponsável e mereço ser punida.
É claro que não estamos num joguinho bobo. Aquilo é a porra da
vida real. E a vida real está gritando para mim e me sacudindo
histericamente.
— Eu achei que não era possível, eu estava tomando pílula, droga!
Pensei que fosse algum engano.
— Não é um engano — Liam completa gravemente e eu me
encolho, com uma careta desesperada.
— O que pensa sobre isso? — eu me arrisco a dizer.
Liam respira fundo, os dedos agora castigando os cabelos.
— É... inesperado.
Ele parece tenso. Está bravo. Eu posso sentir. Porra, eu ferrei tudo
desta vez.
— Você está bravo?
— O que você pensa sobre isso, Emma? — ele devolve minha
pergunta.
Que porra eu posso pensar?
— Não faço ideia. — Decido pela sinceridade. — Acho que me
sinto culpada. Acho que sinto muito, eu... — Dou de ombros, sorrindo com
ironia. — Fiz uma confusão sem tamanho, não é? Aposto que está muito
bravo comigo por causa da Samantha e agora mais isso...
— Emma, pelo amor de Deus, que susto! — Zoe irrompe no quarto
como um furacão cheirando a Chanel nº 5, interrompendo meu surto de
autocomiseração.
Atrás dela, está Ethan, que parece um tanto pálido, quando se
posiciona ao lado de Liam e os dois se afastam cochichando, depois de ele
acenar pra mim num cumprimento rápido.
— Você está bem? Meu Deus! Pensei que tivesse morrido ou algo
assim — Zoe toca meu rosto e eu afasto suas mãos.
— Não seja ridícula, Zoe, estou bem!
— Está bem? Eu liguei para seu celular e o grandalhão ali atendeu
me dizendo que estava no hospital porque tinha sido agredida pela sua
chefe! Que palhaçada é essa? Eu sabia que aquela Samantha era uma vadia!
— Zoe, deixa a Emma respirar. — Ethan a afasta de mim e eu lanço
a ele um olhar agradecido. — Ei, tagarela, que susto nos deu, hein? Quase
matou meu chefe do coração!
O telefone de Zoe começa a tocar e ela atende.
— Tom, está tudo bem, estou com ela... Espera, tem uma ligação na
espera... Margô? Querida, pare de gritar, não sou surda. Sim, estou com a
Emma, ela está bem... com uma perna engessada, mas acho que ficará
bem...
— Zoe, você ligou para meus pais? Vou matar você! — grito
irritada e Zoe rola os olhos.
— Margô, espera, vou sair do quarto, duas gritando ao mesmo
tempo não dá...
Ela sai do quarto e eu encaro Ethan.
— Deus, que confusão!
— Devia ter pensando melhor antes de fugir e tentar dar uma de
super-heroína.
Eu solto um gemido desalentado.
— Eu sei que fiz merda... nunca poderia imaginar que Samantha se
transformaria numa louca psicótica!
— A sua chefe está muito ferrada, pode ter certeza.
— O que aconteceu? Eu só me lembro de estar caindo da escada e
então tudo apagou.
— Quando saiu, Liam ficou tentando te ligar e, depois de uns 15
minutos, ele desistiu e me ligou dizendo que precisávamos ir atrás de você.
Não tínhamos nem certeza de que estava com a Samantha, mas sabe como
Liam é. Eric disse a ele que você parecia muito perturbada. Quando
chegamos ao prédio, os paramédicos estavam te tirando de lá. A tal
Samantha estava chorando e não dizia coisa com coisa. Parece que ela
pensou que você tivesse morrido. — Ele ri. — Foi quando estávamos a
caminho daqui que Brady ligou e jogou a merda no ventilador. Samantha
tinha ligado pra ele e confessado que ia publicar a matéria e que você tentou
impedir e caiu da escada depois de brigarem pelo notebook. Brady percebeu
que tinha feito merda e ligou para o Liam.
— Ah merda, Liam deve ter ficado muito puto!
— Ele estava mais preocupado com você naquele momento. Mas,
agora que sabe que está fora de perigo, as coisas vão ficar feias para o lado
de Brady e Samantha, pode apostar.
— Onde ele está? Deve estar tão bravo comigo... — Eu me remexo,
agitada, Ethan toca meu braço, tentando me acalmar.
— Está tentando resolver este assunto. Deve se acalmar agora.
— Não posso! Eu quero falar com o Liam...
— Liam não está aqui, Emma. Apenas descanse, ok? Vai ficar tudo
bem...
— Não vai. — Começo a chorar descontroladamente. — Você não
vê? Eu estraguei tudo...
A enfermeira entra no quarto naquele momento e Ethan cochicha
algo pra ela, que mexe no soro ligado ao meu braço.
— Isso vai acalmá-la, querida...
— O que está fazendo? — indago me sentindo sonolenta, então a
última coisa que vejo é a mão de Ethan acariciando meu rosto.

***
Quando eu acordo a luz do dia ilumina o quarto. E passo os olhos,
pela primeira vez, pelo ambiente que me cerca e fico surpresa ao ver como
o quarto do hospital é elegante.
Por que me surpreendia? Sou a noiva do Leão de Wall Street e
aquele deve ser tipo a suíte cinco estrelas dos hospitais.
Pensar em Liam me deixa um tanto aflita de novo enquanto eu me
recordo amargamente dos acontecimentos desastrosos da noite anterior.
Ainda fico transtornada com Samantha e seu plano maquiavélico
que poderia prejudicar Liam e seus negócios, só que o meu outro deslize
também me deixa preocupada.
Eu estou grávida e não faço ideia do que vai acontecer agora.
Eu nunca pensei seriamente em ter filhos. A ideia da maternidade
era algo totalmente subjetivo e muito remoto. Algo a se pensar num futuro
bem distante, onde eu seria uma pessoa diferente desta que sou hoje.
Alguém que seria suficientemente madura, que faria planos bem delineados
ao se sentir preparada para ser mãe.
Mas porra, eu tinha somente 21 anos, mal saíra da faculdade. A
minha primeira chance de ter uma carreira havia sido arruinada pela má
escolha do meu primeiro emprego de verdade e eu estava vivendo meu
primeiro relacionamento amoroso e sexual de verdade há apenas três meses.
Como posso estar grávida?
Isso vai mudar tudo.
— Ei, dorminhoca.
Ethan emerge de algum lugar do quarto e parece todo amassado.
— Passou a noite aqui? — indago, olhando em volta, esperando ver
Liam aparecer também. Porém só Ethan está no quarto.
— Sim, eu não ia te deixar sozinha. Está se sentindo melhor?
Tento mexer a perna engessada e faço uma careta.
— Ficarei quando me livrar disso.
— O médico virá te dar alta em alguns minutos. Eu vou sair e fazer
uma ligação. Volto para te buscar, ok?
Aceno positivamente e penso em perguntar onde está Liam, mas
opto por me calar.
O médico me dá alta algum tempo depois e uma enfermeira me
ajuda a me vestir e me coloca numa cadeira de rodas.
— É mesmo necessário? — Eu me mexo incomodada e Ethan volta
ao quarto, se colocando atrás de mim.
— Pronta para ir embora?
Quando ele me coloca no carro, tendo o bom senso de ser no banco
da frente, eu espero até que estejamos em movimento para perguntar sobre
Liam.
— Ele está em casa.
— Por que ele não voltou? — Eu me queixo, sentindo-me
abandonada. Afinal não parece tão preocupado, já que não hesitara em me
deixar sozinha com apenas seu motorista para me vigiar.
— A sua chefe fez um pequeno estrago, tagarela.
— O quê? Ela não conseguiu enviar a matéria, não é? Eu vi a droga
do notebook daquela louca todo estraçalhado no chão junto comigo!
— Ela disse à polícia.
— Polícia?
— Liam ficou puto e a acusou de agressão. Claro que ela foi parar
na polícia e teve que se explicar. E ela contou toda a verdade.
— Oh meu Deus, e agora?
— Acho melhor que o Liam lhe conte o resto.
Eu fico em silêncio até chegarmos em casa. Temerosa e ansiosa ao
mesmo tempo.
Ethan me leva no colo, apesar de meus protestos e me ajeita sobre
uma cadeira na cozinha, antes de um sorridente Eric colocar um prato de
panquecas na minha frente.
— Ethan disse que ainda não comeu. — Ele aponta para a mesa
posta e eu sorrio de volta, apesar de meu nervosismo.
— Obrigada, Eric, acho que não quero comer agora...
— Vai comer sim — os dois dizem ao mesmo tempo.
— Nossa, tudo bem, eu como! — Começo a comer, meio assustada
com o olhar dos dois sobre mim e percebo que estou mesmo com fome.
Ethan desaparece e Eric me serve suco de laranja.
— Está muito bom, Eric, obrigada.
— A comida de hospital deve ser horrível.
— Eu sequer tive tempo de comer, devido a toda esta confusão...
Nem percebi que estava faminta.
Ethan volta à cozinha e eu franzo a testa, achando-o meio esquisito.
Limpo minha boca com o guardanapo e o encaro.
— Pronto, já comi. Cadê o Liam? Ele não está em casa?
— Ele está sim. Vem, vou levá-la até ele.
Lanço-lhe um olhar especulativo, enquanto me leva no colo pela
casa de novo.
— Você está muito estranho, o que está acontecendo, Ethan? Liam
está puto comigo? — Começo a sentir um medo frio dominar meu coração.
E se eu tivesse ferrado com tudo de verdade? — Me diz a verdade, o Liam
quer terminar comigo?
Ethan finalmente me encara.
— É isso? Ah droga, ele está bravo porque eu ferrei com tudo
apresentando o Brady a Samantha e não tomei direito a maldita pílula e...
— Emma, cala a boca — responde por fim, quando paramos.
Eu o encaro, abalada.
— Oh, merda, você me odeia agora também.
Ethan joga a cabeça para trás, solta uma gargalhada e me coloca no
chão.
— De todas as merdas que já disse, essa foi a mais engraçada,
tagarela. — Ele abre a porta e eu estou tão confusa e aflita que nem reparo
onde estamos. — E antes que me esqueça. Parabéns pelo leãozinho a
caminho.
— O que, eu... — finalmente eu acompanho seu olhar através da
porta que abriu e meus olhos se arregalam em choque, percorrendo o
interior do quarto, totalmente atordoada.
Eu não sei o que havia naquele quarto antes. Na verdade acho que
nunca nem tinha estado ali para saber.
Agora, eu observo perplexa, as paredes revestidas de papel de
parede com desenhos infantis, formando uma pequena floresta colorida com
animais de todos os tipos, entre os quais eu reconheço um leão.
Os móveis impecavelmente brancos, desde a cômoda num canto,
uma poltrona que parece bem confortável e por fim, o berço.
E então, antes que eu possa achar minha voz, eu o vejo.
Liam caminha em minha direção, fazendo meu coração disparar no
peito, numa enxurrada de emoções.
— Eu assumo a partir daqui, Ethan — ele diz quando se aproxima o
bastante para me tocar.
Apenas percebo de relance, Ethan saindo do quarto e fechando a
porta atrás de si.
— Liam... — Mal consigo formular um pensamento coerente
quanto mais falar.
— Você perguntou o que eu pensava sobre a gravidez. Esta é sua
resposta — ele diz com um sorriso que eu nunca tinha visto em seu rosto,
enquanto suas mãos seguram as minhas, que estão trêmulas.
Eu ainda não sei o que dizer, quando ele se afasta para o lado e eu
olho tudo de novo, dessa vez começando a absorver seu verdadeiro
significado.
Um quarto de bebê.
Liam havia, sabe Deus como, feito um quarto de bebê se
materializar em nosso apartamento.
Puta merda, aquilo é mesmo real?
Sim, é. Uma vozinha sussurra dentro de mim. Assim como a minha
gravidez.
Cinco semanas, o médico tinha dito. Há cinco semanas, eu e Liam
tínhamos concebido um bebê. Um pequeno ser crescia dentro de mim. Meu
e de Liam.
E em algum momento, daqui a alguns meses ele estará ali. Naquele
quarto.
Um bebezinho.
Fecho os olhos, deixando aquela imagem tomar forma dentro de
mim.
Uma pessoinha de cabelos cor de cobre e olhos dourados como o de
Liam. Um filho. Meu filho. Nosso filho.
Minhas mãos vão automaticamente para meu ventre, como se eu
pudesse tocá-lo.
E eu soube, naquele momento, que já o amava.
E quando meus olhos se abrem de novo, o mundo tem novas cores.
Por que um amor todo novo está crescendo dentro de mim.
Eu olho para Liam.
Tão lindo. Tão meu.
Nada mais importa.
— Isso está realmente acontecendo? — Sorrio e ele sorri de volta
quando me pega no colo e em poucas passadas se aconchega comigo em
seu colo na confortável poltrona defronte à janela.
Seguro seu rosto, a coerência começando a voltar a meu cérebro.
— Não está bravo comigo?
— Pareço bravo? — Ele está rindo ainda.
— Eu juro que achei que estava tomando as pílulas corretamente.
— Depois que este bebê nascer precisaremos pensar em outro
método contraceptivo. Você é muito esquecida, baby.
Escondo o rosto em seu ombro, gemendo em desalento.
— Tem razão.
Ele me faz encará-lo.
— Você ainda não respondeu como se sente sobre a gravidez —
Liam parece preocupado e eu mordo os lábios.
— Fiquei chocada, claro. Eu não esperava. E nós nem planejamos
nada. Acredito que fiquei em negação e também estava com medo que
estivesse bravo comigo. E você ficou esquisito ontem...
— Eu fiquei chocado também. Eu estava muito preocupado com
você e puto com toda a situação que aquela repórter vadia e o idiota do
Brady armaram e, de repente, isso! — tento começar a me explicar sobre
Samantha, mas Liam continua: — Eu fiquei em choque. Saí do quarto
quando Ethan chegou porque precisava falar com meus advogados. O
tempo inteiro, eu só conseguia pensar que tínhamos feito um bebê. E a cada
minuto que passava o que parecia chocante se transformava em algo
incrível.
— Acha mesmo incrível? — Sorrio emocionada e ele sorri de volta,
daquele jeito novo, que agora eu sabia ser cheio de uma ternura diferente. E
percebo que assim como é para mim é para Liam também. Ele já o ama.
— Eu nunca pensei sobre esse assunto, Emma — ele diz
subitamente sério. — Nem mesmo quando a pedi em casamento. No
entanto agora... Eu mal posso esperar para vê-lo crescer dentro de você.
Para tê-lo aqui.
— Eu também me sinto assim. Quando vi este quarto... Foi como
uma revelação. Tudo pareceu fazer sentido.
— Eu queria te mostrar como eu estava me sentindo.
— Funcionou perfeitamente. — Eu olho em volta. — Liam, você
sabe que é um exagero, não é? Eu só estou grávida de cinco semanas!
— Pode mudar tudo se quiser, então.
— Não se trata disso, está perfeito, muito lindo! Aliás, nem sei
como conseguiu arrumar tudo em tão pouco tempo.
Ele se movimenta e me coloca sentada sobre a poltrona se
levantando.
— Eu tive ajuda de um gnomo — diz abrindo a porta do guarda-
roupa e eu fico chocada pela segunda vez no dia.
Zoe sai de lá com os braços amarrados e a boca amordaçada e chuta
a canela de Liam, que apenas ri e retira a venda de sua boca.
— Seu filho da puta! — grita enquanto ele retira o que parece ser
fita crepe de seu pulso.
— Liam, que diabos significa isso? — indago abismada.
— Ela não queria calar a boca e nem ir embora — ele se justifica.
— Ele é louco, Emma! Eu só queria ver sua reação, acho que tenho
direito, já que fui eu que fiz tudo!
— Com o meu dinheiro, duende irritante. E este era um momento
meu e da Emma, não queria uma cobrinha minúscula como você
atrapalhando!
— Ah! Seu cretino! Devia me agradecer! Quando me pediu, em
plena madrugada para dar um jeito, eu o fiz e muito bem!
— Meu Deus! Parem de gritar vocês dois! — reclamo. — Zoe,
ficou realmente bonito, obrigada.
Zoe sorri, satisfeita e me abraça.
— Ficou perfeito mesmo! Pena que não tive tempo para fazer mais,
podemos acrescentar mais coisas, ainda precisamos cuidar do enxoval e...
— Zoe, não seja apressada, tenho nove meses!
— Oito agora! O tempo passa rápido! E oh, droga, olha seu pé! Será
que vai ficar boa até o casamento? Temos dois meses, não é? Talvez
tenhamos que fazer ajustes no vestido e...
— O casamento vai ser antes — Liam se intromete.
— O quê? — eu e Zoe falamos ao mesmo tempo.
— Está grávida. Não vamos esperar mais. Acho que duas semanas
são o suficiente. Você concorda, baby?
Eu dou de ombros. Que diferença faz agora? Eu só quero me livrar
de Zoe o mais rápido possível. Duas semanas de preparativos chatos seria
bem melhor que dois meses.
— Acho perfeito.
— Não! — Zoe reclama. — Não pode! Como vai casar usando essa
porcaria de bota no pé?
Liam solta um palavrão e puxa Zoe pelo braço.
— A hora de visita acabou.
— Ei, eu ainda tenho que conversar com a Emma...
Liam a ignora e a coloca pra fora do quarto.
— Ethan, leva a gnomo pra casa, por favor.
— Pode deixar, chefe.
Ainda escuto Zoe reclamando quando Liam vem em minha direção
e me pega no colo.
— Acho que precisa descansar, Senhorita Jones.
— Gostaria de conversar sobre Samantha antes... — Fico séria.
Liam me coloca sobre a cama, se sentando ao meu lado.
— Eu sinto muito por ter sido tão burra! Devia ter percebido que ela
não valia nada.
— Não se culpe. Eu a investiguei, quando disse que estava
interessada em você e não havia nada suspeito. Até agora, Samantha era
apenas uma jornalista ambiciosa, iniciando um novo jornal virtual.
— Tristan me disse que ela estava sofrendo pressão porque não
estava obtendo lucro.
— Tristan? — Liam levanta uma sobrancelha e eu fico vermelha.
— Foi ele quem me ligou contando tudo. Eu fiquei transtornada por
isso fui atrás dela.
— Devia ter me contado e não tentado resolver sozinha.
— Eu sei, eu fiquei com medo que ficasse bravo.
— Eu ficaria mais puto se tivesse acontecido alguma coisa com
você.
— Me desculpe, eu só queria consertar as coisas... E piorei tudo!
Consegui evitar que ela colocasse a matéria no ar, no entanto ela contou
tudo a polícia!
— Pelo menos o que aconteceu serviu para desmascarar Brady.
— Ele estava mesmo se valendo de informações privilegiadas?
— Sim — Liam diz cheio de desgosto. — Ele confessou.
— Nossa, e cheguei a pensar que Samantha estava inventando.
— Não. Brady era ambicioso e estava disposto a tudo para me
impressionar. Eu achava que ele era só um cara com um bom faro e ele
estava sendo inescrupuloso.
— E agora, o que vai acontecer?
— Um inquérito foi aberto para investigar. Brady confessou e vai
responder a um processo. Eu e minha empresa estaremos sob investigação
também.
— E o que vai acontecer?
— Eu não estava a par de nada, eles irão apurar se fomos
beneficiados em algum momento com as falcatruas de Brady e, se for
comprovado, teremos que pagar a multa estabelecida, na melhor das
hipóteses.
— Oh, Liam, a culpa é minha!
— A culpa é do Brady, Emma, não sua!
— Você pode perder milhões, não é?
Ele toca meu rosto.
— Eu te disse que não me importo de perder alguns milhões por
você.
— Me desculpe, eu sou mesmo uma péssima jornalista.
— Não baby, são eles que não prestam.
— Não quero mais... — decido por fim. Aquela péssima
experiência seria a minha última no jornalismo. — Você tinha razão, eu não
sirvo pra essa profissão.
Liam me abraça.
— Não deve decidir nada neste momento. Eu vou apoiar qualquer
coisa que queira fazer. Se quiser, eu compro um jornal pra você. Ou uma
revista se preferir.
— Liam! — Eu rio de sua lógica absurda de menino rico.
— Pode ser uma emissora de TV. Preciso diversificar meus
negócios.
Eu o encaro com um sorriso maroto.
— Vamos adiar esses planos megalomaníacos, afinal em breve
estarei ocupada com fraldas e mamadeiras! — Meu sorriso se transforma
em uma careta. — Oh Deus, e se eu for péssima nisso também?
— Não seja dramática, baby.
— Hum, é fácil pra você falar. Quero ver se vai me ajudar a trocar
fraldas!
— Eu sou um homem de múltiplos talentos, Senhorita Jones.
— Ah, isso eu quero ver e vou cobrar, tenha certeza! Bebês dão
muito trabalho, você nem tem ideia.
— E você tem?
— Não, por isso mesmo estou começando a ficar apavorada!
— Não se preocupe. Podemos contratar as melhores babás que
existem.
Eu franzo a testa.
— Não sei se quero uma babá cuidando do meu bebê!
— Então pare de ser absurda, temos nove meses para nos
prepararmos para sermos os melhores pais do mundo.
Eu sorrio.
— Vamos ser os melhores pais do mundo, não é?
— Pode apostar, baby. Aliás, como vamos chamá-lo?
— Como posso saber? Como disse, temos tempo e nem sabemos o
sexo ainda!
— Podemos escolher dois nomes.
— Eu não faço ideia, Liam!
— Por favor, só não invente algo ridículo como juntar o nome de
nossas mães!
Eu rio daquele absurdo, até que ele me beija e eu esqueço de tudo,
derretendo em seus lábios.
Quando começo a esquentar e a grudar nele cada vez mais, Liam se
afasta.
— Precisa descansar...
— Mas eu quero ficar cansada com você... — murmuro contra seu
pescoço, passando a perna boa por cima de seu quadril.
— Emma, você acabou de voltar do hospital... — Ele tenta se
desvencilhar, eu não deixo, mordendo sua orelha e rindo quando o sinto se
arrepiar.
— Por favor... — Beijo seu queixo e esfrego meus quadris contra os
seus, gemendo quando sinto sua ereção. — Por favor, Liam...
Com um grunhido, ele finalmente se rende, me girando na cama
com cuidado e se ajoelhando na minha frente, tirando a camisa.
— Fica realmente difícil dizer não pra você quando me pede desse
jeito, Senhorita Jones.
Eu sorrio satisfeita, mordendo os lábios.
— Vai me punir por isso, Senhor Hunter?
Ele me lança um olhar irado, quando retira minha calça com
cuidado para não tocar meu tornozelo engessado.
— Nada de punições pelos próximos nove meses, Senhorita Jones.
Eu faço um bico de desagrado.
— Ah...
— Não reclame. — Ele retira minha blusa, se inclina beijando
minha barriga ainda plana e sorri pra mim. — Não se preocupe, Senhorita
Jones, nove meses passam rápido... — Seus lábios descem e eu fecho os
olhos, estremecendo de antecipação, quando ele desliza minha calcinha por
minhas pernas. — E meu lado bonzinho vai ser divertido para você
também.
Ah sim, e ele me provou que o Liam bonzinho podia ser tão bom
quanto o Liam mau.
E o que posso dizer?
Eu era apaixonada pelos dois.

***
Em meio aos arranha-céus de Wall Street ergue-se majestosa a
Igreja da Trindade. Respiro fundo olhando para suas torres góticas enquanto
Zoe me cerca cheia de dedos cuidadosos ajeitando meu véu, antes de
entregar o buquê, quase me sufocar com um abraço lacrimoso e sumir igreja
adentro.
— Pronta, noivinha tagarela? — Ethan me encara e aceno
positivamente.
Ele me ergue nos braços e é assim que sou carregada para dentro da
igreja.
Escuto os sinos e os primeiros acordes da marcha nupcial
anunciando que sim, este é meu casamento. Estremeço de nervoso e Ethan
sorri.
— Ele está te esperando.
Eu viro a cabeça e lá, no final da nave está Liam Hunter, o Leão de
Wall Street.
Meu predador. Meu noivo. Meu amor.
Eu sorrio para Ethan.
— Então me leve até ele, Ethan.
— É pra já, madame.
Os convidados se levantam, enquanto Ethan me carrega pelo
corredor florido. Alguns riem da cena inusitada, da noiva com o pé
engessado e vestindo renda sendo carregada por um brutamonte através da
igreja.
Passo por meu pai, Tom não parece incomodado por ter sido
substituído por Ethan, já que certamente seria um desastre se tentasse me
levar no colo pela igreja. Margô do seu lado enxuga uma lágrima, enquanto
mais adiante, David e Nora sorriem orgulhosos, ao lado Jeremy que parece,
como sempre, entediado num terno apertado para seu tamanho.
Porém eu não me apego a nada disso, porque Ethan está me
colocando no chão, e eu sorrio para a perfeição que é o homem que segura
minha mão. Quando a música termina, os convidados se aquietam e Liam e
eu nos colocamos de frente um para o outro.
— Senhorita Jones. — Ele sorri para mim. Lindo e meu.
— Por enquanto...
Palavras são ditas, votos são feitos.
E por fim, estamos casados.
Liam segura meu rosto para o beijo.
— Eu te amo, Emma. — Sua voz é apenas um sussurro contra meus
lábios, sinto vontade de chorar, mas estou sorrindo quando ele me beija.
E a igreja explode em aplausos para o Leão e sua presa.
Aquela caçada terminou com um final feliz.
Epílogo

Estou a um passo da mudança mais irreversível da minha vida.


— Ainda não chegou a hora! — reclamo, mas a horda de pessoas a
minha volta não parece tão preocupada quanto eu com o fato de eu ter
entrado em trabalho de parto um mês mais cedo.
Um mês! Eu não estou preparada ainda!
Como sabemos que estamos preparados para momentos como este?
Eu queria que Liam estivesse aqui, enquanto mãos estranhas me preparam
para o parto, indiferentes e alheias aos meus medos. Liam foi convidado a
se retirar, por enquanto. Era o procedimento, eles informaram.
Ele iria voltar, eles disseram.
Eu apenas o vi sair, me garantindo que voltaria, nem que fosse
necessário comprar o hospital inteiro ele estaria do meu lado durante a
cirurgia.
Cirurgia. Só o nome já me dá calafrios.
O Dr. Cameron, meu médico, havia conversado comigo sobre o
parto quando eu cheguei, dizendo que teríamos de fazer uma cesariana.
Agora eu fora jogada naquela situação cirúrgica, que envolveria anestesia e
cortes sem estar preparada.
Meu corpo estava se rebelando contra mim.
Eu sinto certa ironia neste pensamento. Lembro-me daquela tarde
longínqua em Wall Street, quando olhei nos olhos de um Leão e deixei de
ser dona do meu corpo.
Aquele foi o primeiro momento de uma mudança irreversível e eu
nem fazia ideia.
Foi onde tudo começou, não foi? Parece que uma vida inteira se
passou desde aquele dia.
— Senhora Hunter, estamos quase prontos — uma enfermeira
solícita diz enquanto verifica meu soro.
Já não sinto minhas pernas. É assustador.
O Dr. Cameron aparece em seguida e sua presença em vez de me
deixar mais tranquila me deixa mais nervosa.
— Onde está o meu marido? Vocês disseram que ele poderia voltar...
— eu não quero dizer a eles que, se não deixassem Liam voltar, ele com
certeza causaria mais problemas do que poderiam imaginar.
— Não se preocupe o Senhor Hunter já está retornando — o Doutor
Cameron me tranquiliza e, alguns segundos depois, um Liam vestido com
aquelas roupas verdes próprias para cirurgias, surge no meu campo de
visão.
— Ei, baby. — Ele segura minha mão.
— Você voltou.
— Onde mais eu estaria?
— Nós vamos começar, Senhora Hunter. Apenas relaxe — o médico
diz e eu respiro fundo e olho pra Liam.
— Me distraia — peço e ele sorri.
Tão lindo. Tão meu.
Naquele momento tenho certeza de que pode passar uma vida e eu
ainda me deslumbraria com sua perfeição.
Mesmo quando não tinha certeza de nada, como agora, eu ainda me
sentia perdida como na primeira vez que ele falou comigo.
— Eu te amo — ele diz baixinho acariciando meu rosto e eu sentiria
minhas pernas bambas se a anestesia não as tivesse paralisado.
— Não este tipo de distração, droga! — resmungo. — Acho que vou
morrer de ansiedade...
— Ei, cala a boca — é a sua vez de rosnar com um olhar
subitamente sério. — Nada desta palavra agora. — Ele engole em seco e
seu olhar é tão intenso que me deixa sem fôlego. — Tudo bem?
— Sim... — confirmo num fio de voz. Não vou dizer a ele que estou
com medo.
— Você sempre foi mais forte do que eu imaginava. Eu achava que
ia sair correndo quando eu te dominei na minha sala. E você ficou. E desde
então vem me surpreendendo.
— É você que me faz ser assim, Senhor Hunter — sussurro —, você
desperta o melhor em mim.
— Melhor? Tenho minhas dúvidas.
— É, eu também. — Nós rimos e, em meio ao nosso riso, outro som
se interpõe.
Um choro de bebê.
Nós paramos de rir. Paramos de respirar.
De onde estávamos não dava para vermos nada. Apenas a
movimentação dos médicos e o som mais lindo do universo.
O choro do meu bebê.
— Ele nasceu! — exclamo e Liam sorri.
— Sim, baby. Você conseguiu.
— Onde ele está? Ele está bem?
Uma enfermeira se aproxima e o mostra pra mim. Ainda sujinho e
chorando. Muito pequeno e com um tufo de cabelos cor de cobre na
cabecinha.
Meu leãozinho finalmente está em meus braços.
— Ele é incrível, Emma — Liam diz e eu sorrio.
— E já está bravo...
— Nós precisamos levá-lo. — A enfermeira se afasta com ele. É
cedo demais. Eu não passei quase nove meses esperando para o levarem
embora depois de dois minutos! — Ele precisa ser levado para a UTI — ela
explica e meu coração se aperta.
— UTI? Alguma coisa errada com ele?
— Senhora Hunter, o bebê precisa de cuidados — o médico explica
enquanto eu vejo a mulher desaparecer porta afora. — Ele nasceu
prematuro e precisamos nos certificar que ganhe peso e se desenvolva
corretamente até que possa ir pra casa com vocês.
Eu olho para Liam, sentindo vontade de chorar.
— Eu sinto muito, Liam. Eu devia ter sido mais forte e conseguido
esperar a gravidez completar para ele nascer...
— Ei, esta tudo bem, baby. — Ele beija minha testa. — Nosso bebê
é como você. Ele vai nos surpreender.
Eu só posso rezar para que Liam tenha razão.

***
Eu acordo de um sono profundo e demoro alguns instantes para me
situar. No quarto escuro apenas as sombras das luzes da cidade dançam
sobre as paredes.
A lareira está apagada, deixando o ar gelado em seu lugar.
Estremecendo, eu me aproximo de onde sempre há calor. Encontro apenas
os lençóis frios e vazios.
Pisco algumas vezes, meus olhos se acostumando com a
semiescuridão, constatando que estou realmente sozinha no quarto.
Por um instante, sou atingida por um déjà-vu. Relembro a sensação
de vazio que a ausência de Liam me causava. A incerteza e a angústia de
querê-lo junto a mim o tempo inteiro e tê-lo apenas quando lhe convinha.
Mas acordar e não encontrá-lo a meu lado neste momento só faz um sorriso
se distender em meus lábios. E eu só penso “Muito obrigada, Liam!".
Com um suspiro, saio da cama e caminho descalça para fora do
quarto à procura do meu leão.
Não preciso procurar muito, o encontro na sala, com um laptop
sobre os joelhos e um bebê sobre seu peito.
— Porra, Liam, deveria fazê-lo dormir de novo e não distraí-lo! —
reclamo, me aproximando, incapaz de disfarçar e esconder o sorriso no meu
rosto ao ver nosso lindo bebê de pouco mais de dois meses muito à vontade
encostado no peito do pai, sacudindo suas mãozinhas como se realmente
estivesse gostando daqueles malditos números da bolsa na tela do
computador.
— Ele não quer dormir. Leo sabe que o dinheiro nunca dorme. Ele
fez seu primeiro milhão hoje.
— Jura? Que incrível, seu primeiro milhão com dois meses de
idade! — Eu rolo os olhos.
— É realmente incrível! — Liam ignora meu sarcasmo e Leo boceja
em seu colo.
— Me dá ele aqui. — Eu o tiro de Liam. — Ele só precisa mamar e
dormir. Deveria ter me acordado.
— Nós estávamos muito bem sozinhos, Senhora Hunter — Liam
resmunga digitando distraído.
— Isso você não poderia fazer por ele, querido! — Eu abro minha
blusa e o bebê suga meu seio avidamente.
Liam ri e continua distraído em suas transações financeiras.
Eu sento do seu lado e admiro meu bebê mamando. Passo os dedos
por seus cabelos tão parecidos com os de Liam e sinto meu coração inchar
daquele tipo de amor que era assustador e lindo ao mesmo tempo.
Ainda parece incrível que ele esteja aqui. O parto inesperado e o
nascimento prematuro de Leo nos deixara apreensivos naquelas primeiras
semanas de sua breve vida.
Leo havia passado três semanas na incubadora e apesar de eu ter
tido alta, me neguei a ir embora. Liam causara uma pequena revolução no
hospital, praticamente o transformando num hotel cinco estrelas. Não que
eu me importasse com qualquer coisa desse tipo, eu só me preocupava com
meu bebê e rezava para que ele pudesse sair de lá comigo.
E o dia em que o médico disse que ele estava bem e que poderíamos
levá-lo pra casa, foi o mais feliz da minha vida.
Eu nem me importei com a festa descabida que Zoe tinha
organizado para nos receber com a presença de todos nossos amigos e
parentes.
Agora, eu o observo adormecido em meus braços e beijo seu
rostinho macio.
— Vou colocá-lo pra dormir — sussurro, assim que me movimento,
ele começa a chorar alto. — Sério, Leo? — reclamo e Liam ri.
— Eu disse que ele prefere ganhar dinheiro. Está no sangue, baby.
— Ok, eu me rendo! São dois contra um!
— Venha aqui, eu deixo você ganhar dinheiro também. — Liam me
puxa para perto e eu me enrosco entre suas pernas com Leo parando de
chorar imediatamente quando fixa os olhinhos nos números luminosos.
Liam beija meus cabelos e continua a trabalhar, falando naquele
jargão complicado, que eu finjo entender, apenas para me manter em seus
braços, com sua voz em meu ouvido.
Meu leãozinho quietinho também presta atenção. Eu não me
admiraria se ele realmente estivesse entendendo.
Meu pequeno leão de Wall Street.
Eu estou em casa com meus dois leões.
Eu estou feliz.
Espera
Um conto de O leão de Wall Street
Juliana Dantas
Vocês conhecem minha história com o Leão de Wall Street. Eu era
aquela destrambelhada Emma Jones, que implorou por dez minutos com
Liam Hunter acreditando que seria só mais uma entrevista, sem ter a menor
noção de que aqueles dez minutos mudariam toda sua vida.
Poucos meses depois, contrariando todas as expectativas, estava me
casando com o Leão de Wall Street e havia até um bebê a caminho.
Parecia o final perfeito, não é?
Só que tem algo que não contei a vocês...
Talvez fosse esperar demais que o caminho fosse fácil assim.
Tudo começou a ruir no dia de Ação de Graças. Iríamos viajar no
jato de Liam, levando Ethan e Eric a tiracolo até a casa do meu pai, em
Washington, onde minha mãe também estaria acompanhada de seu novo
marido. O que poderia ser considerado um milagre de natal antecipado, já
que Margô e Tom não passavam um feriado juntos desde que se
divorciaram há mais de quinze anos.
E o único problema que eu esperava ter, além de evitar que Margô e
Tom se matassem com as facas da cozinha, era convencê-los de que o natal
seria na minha casa.
Em vez disto estava sozinha no meu quarto, com o rosto inchado de
tanto chorar, sem fazer ideia de onde Liam tinha se metido depois de
termos a pior briga de nossa vida de casados.
Eu devia saber que não poderia guardar segredos do Leão de Wall
Street.
Prólogo

Eu o observo do outro lado da sala vazia.


Os movimentos inquietantes dos dedos longos castigando os cabelos
acobreados, o som angustiado de sua respiração fazendo subir e descer o
peito perfeito.
Como chegamos àquele momento?
Em todas as nossas crises, sempre encontrei uma saída. Sempre
encontrei um jeito de voltarmos para nosso lugar.
Juntos.
No entanto não sei como resolver esta. Eu não sei.
— Liam. — Meus lábios trêmulos o chamam mais uma vez.
Por favor, por favor. Olhe para mim. Volte para mim.
Quero que ele olhe em meus olhos e acredite. Mas será que eu
acredito?
Houve um dia em que acreditei que éramos invencíveis.
Inquebráveis. Imortais.
E agora havia somente a incerteza.
Finalmente Liam me encara e deixo de respirar ao ver em seus olhos
o que mais temia.
Ele não acredita.
— Como pôde tomar uma decisão tão séria sozinha? Como pôde
pensar que eu iria concordar com a possibilidade de perder você?
Suas palavras quebram meu coração.
Como foi que chegamos a aquele momento?
Se tudo começou com perfeição...
Capítulo 1

Três meses antes


Oito semanas de gravidez

Nunca havia sonhado com o dia do meu casamento. Certamente,


nem se tivesse dedicado todas as minhas horas sonhando acordada com este
dia, como Zoe, teria imaginado que estaria no Plaza Hotel dançando com
um dos caras mais ricos do país, com meus pés (um deles engessado!),
firmemente alocados em cima dos seus enquanto ele me guiava através dos
rostos sorridentes dos convidados que vieram testemunhar o casamento do
Leão de Wall Street.
— Posso saber o que está se passando em sua cabeça, senhora
Hunter?
Faço uma careta ao ouvi-lo me chamar de senhora Hunter.
Aparentemente não haveria mais senhorita Jones. Iria sentir falta.
Sorrio, embrenhando os dedos em seus cabelos.
— Pensando que sentirei falta de ser chamada de senhorita Jones.
Senhora Hunter parece tão... formal.
Liam sorri, me girando. É realmente irritante que ele seja tão bom
dançarino, além de todas as coisas nas quais é perfeito.
Se eu não tivesse a desculpa do pé engessado, estaria passando
vergonha na presença dos convidados, tropeçando na barra do vestido e
caindo de boca no chão na melhor das hipóteses.
— Estou adorando chamá-la de senhora Hunter.
— Hum, não consigo imaginá-lo me chamando de senhora Hunter
quando quiser me punir...
Liam fica sério.
— Nada mais de punições para você, baby. Já conversamos a esse
respeito.
Reviro os olhos, decepcionada.
— Como se já não bastasse este gesso maldito!
Liam ri e beija meu rosto.
— Não seja reclamona.
— Ah, ainda não viu nada. Não sabe que os hormônios deixam as
grávidas loucas?
— Não acho que possa piorar ainda mais sua personalidade, baby.
— Vou fingir que não ouvi em respeito ao dia do nosso casamento,
quero que tudo seja perfeito — esboço um sorriso que reflete toda a
felicidade que estou sentindo naquele momento.
Mesmo com Zoe me puxando momentos depois com a desculpa de
que tenho que jogar o buquê, deixando bem claro que devo jogar em sua
direção (o que não obedeço jogando para Amanda, que fica muito vermelha
ao lado de Eric). Meus pais discutindo como sempre, dessa vez para ver
quem iria ganhar a mais nova disputa “Aonde Liam e Emma irão jantar no
dia de Ação de Graças”, apesar de ainda faltarem três meses para o feriado.
Ou a porcaria do gesso no meu pé, que fazia eu me sentir uma inválida,
sendo carregada de um lado para o outro por Liam ou Ethan.
No entanto ainda era o dia do meu casamento com Liam Hunter. O
que significava que era o primeiro dia do nosso para sempre.
E para sempre era apenas o começo.
— Cansada? — Liam me carrega para dentro do apartamento
silencioso naquele fim de noite e suspiro encostando a cabeço em seu
ombro.
— Um tanto aliviada porque finalmente acabou. Se ouvisse a voz de
Zoe exigindo minha presença mais uma vez iria enlouquecer e quebrar este
gesso na cara dela.
— A gnomo se superou, devo reconhecer.
— Ah, um elogio? Vou contar a Zoe que ela está conquistando você.
— Não exagere. Sua amiga pode ser chata, porém sabe organizar
um evento.
— É verdade.
— Neste momento estou muito feliz por ter terminado e, por sermos
somente eu e você, senhora Hunter. — Liam me beija, enquanto adentra no
quarto e, por um momento, me deixo levar pelo gosto dos seus lábios, que
hoje recende a champanhe caro e esqueço de minha mais recente resolução
até que ele me coloca sobre a cama.
Aí eu me lembro e o afasto.
— Não, Liam, pare.
— Por quê? — Seus dedos rápidos já estão no botão do meu
vestido.
— Porque não quero que a nossa noite de núpcias seja assim...
— Assim como? — Suas mãos espalmam a pele nua das minhas
costas. Como ele pode ser tão rápido e preciso?
— Sério Liam. — Fecho os olhos e tento afastar o arrepio que
trespassa minha espinha com seu toque quente, ao mesmo tempo que sinto
o ar da noite de outono que entra pelas janelas enrijecer meus mamilos mal
cobertos pela lingerie de renda branca.
Como? Cadê o vestido?
Arregalo os olhos para ver os cabelos de Liam deslizando por minha
barriga, enquanto o vestido desaparece sob meus pés.
Que porra?
— Hum, baby, isso é muito sexy. — Escuto sua voz rouca contra
minha coxa, onde a meia sete oitavos termina soltando um gemido quando
sinto seus lábios bem ali. E subindo.
Respiro fundo, afastando a vontade de puxar seus lábios um
pouquinho mais para cima.
— Liam, me escuta, não vou transar com você assim!
Ele finalmente me encara, confuso.
— Como é?
— Você escutou! Não foi desse jeito que sonhei que seria minha
noite de núpcias!
— Porra, Emma — Ele dá um murro na cama. — Falei que podia
fazer o que quisesse, que podíamos ir para a suíte do hotel mais caro, você
disse que não queria nada disso...
— Sim, não queria porque hoje não vai rolar nada!
— Por que porra não?
Aponto impaciente para meu pé engessado.
— O que o gesso tem a ver?
— Tudo! Quero que nossa primeira noite depois de casados seja
perfeita!
— Estava sendo perfeita até você começar com esses absurdos.
— Não são absurdos! E qual o problema de esperar? Daqui a três
dias, vou tirar essa merda e...
— Três dias? Faz uma semana que a gente não transa, você quis que
esperássemos pelo casamento.
— Eu sei, já que esperamos até agora, podemos esperar mais alguns
dias! Por favor, Liam, por favor! — Imploro, torcendo para não estar
pedindo demais.
Inferno, posso não ser lá a garota mais sonhadora do mundo, mas
seria pedir demais ter uma noite de sexo perfeito com meu marido sem
aquela coisa ridícula no pé que me faz sentir tão sexy quanto uma múmia
num sarcófago?
— Tudo bem, senhora Hunter, vamos esperar — Liam resmunga e
sorrio satisfeita.
Quer dizer, satisfação talvez não seja a palavra certa no momento,
ainda mais quando ele se afasta e não tenho mais o seu bem vindo peso
sobre mim.
— Obrigada, marido! — brinco e estendo o braço. — Agora pode
me ajudar a tirar este vestido e entrar na banheira? Ninguém me contou que
as grávidas ficavam cansadas tão facilmente.
Capítulo 2

Dois meses antes


Doze semanas de gravidez

— Você não pode contar nada hein? — Escuto a risada de Liam do


outro lado da linha e faço cara feia. — É sério. Ethan é muito cagão! Não
pode contar nada para ele.
—Tudo bem, baby.
— Sei que não escondem nada um do outro como se fossem duas
universitárias de irmandade ou algo assim!
A risada de Liam fica mais alta.
— Prometi que não contaria. E sei que Ethan seria um cuzão como
sempre se soubesse de seus planos.
— Muito bem. É bom mesmo manter a boca fechada, senão será
punido, senhor Hunter.
— Punido?
— O quê? Talvez eu esteja cansada de sexo baunilha e resolva dar
um jeito — sorrio, me ajeitando na cama pegando a caderneta onde estou
anotando as ideias para o jantar que darei quando Liam voltar de viagem.
Será meu primeiro jantar como casada e, se isso não é motivo suficiente
para ficar nervosa, também estou apreensiva porque pretendo convidar
Nicole Zorn, a garota do Ethan. Ou melhor, a garota pela qual Ethan é
apaixonado há tempos e não tem coragem de convidar para sair.
— Baunilha? De onde tirou este palavreado?
— Não é assim que falam? — Não consigo deixar de ser irônica.
— Emma, já conversamos sobre...
— Eu sei, estava brincando. Gosto de sexo baunilha, baby. —
Abaixo o tom de voz e escuto Liam respirar fundo.
— Antes que comece com a conversa sacana, preciso avisar que
entro numa reunião em cinco minutos.
— Droga, nada de sexo por telefone hoje? — reclamo, lamentando
mais uma vez que Liam esteja viajando.
Nós havíamos planejado que eu viajaria com ele sempre que
possível, porém, o problema nos investimentos de Liam numa empresa em
Toronto, surgiu de repente não houve tempo para me preparar para
acompanhá-lo desta vez.
— Não hoje.
— Estou com saudade.
— Volto em breve, baby.
— Eu poderia ir me encontrar com você.
— Estou trabalhando, Emma. Prefiro saber que está em casa
tomando suas vitaminas e se cuidando.
Reviro os olhos.
Às vezes sentia saudade do Liam frio que só queria sexo. Aquele
Liam superprotetor era um pé no saco quando tudo o que eu queria era
pegar o primeiro avião e encontrá-lo como fiz em Paris. Ah, os bons
tempos...
— Tudo bem. Tenho mesmo que cuidar do jantar de debutante do
Ethan.
Liam ri com vontade.
— Ah, já ia me esquecendo, convide também Emiliano Colombo e
sua esposa.
— Quem diabos são esses?
— Ele é um novo rico, dono de uma rede de restaurantes espalhadas
pelo mundo entre outras coisas e estamos fazendo negócios.
— Ok, e como faço pra encontrá-los?
— Veja com a Sarah. Agora preciso realmente desligar, baby.
— Ok, vá trabalhar, Senhor Leão.
— Eu te amo.
Sorrio.
— Eu também.
Desligo e olho para a caderneta.
Não consigo pensar em nada realmente interessante. Talvez seja
melhor dar o braço a torcer e pedir que Eric decida o cardápio.
Entediada, pego de novo o celular e passo uma mensagem para Zoe,
convidando-a para jantar comigo naquela noite. É muito ruim ficar sozinha.
Sei que ela está trabalhando e pode demorar para responder, então decido
tomar um banho.
No banheiro, tiro a blusa e olho minha imagem no espelho. Passo a
mão por meu ventre. Não tem quase nada. Apenas uma leve saliência.
Como será quando estiver enorme? Isso ainda me assusta pra
caramba.
Mordo os lábios tentando conter a ansiedade enquanto retiro o resto
das roupas, e é quando vejo a mancha na minha calcinha.
Vermelha.
Sangue.

***

— Síndrome do Anticorpo Antifosfolípede.


Franzo a testa ao ouvir aquelas palavras que não significam nada
para mim.
Eu tinha estado relativamente calma desde que saí do consultório do
Dr. Cameron há quatro dias depois de ele dizer que estava tudo bem com o
bebê. Os exames seriam apenas para cobrirmos todas as possibilidades,
então fiquei tranquila. Se o bebê estava bem, não havia motivos para
preocupação.
Agora o que ele está dizendo com aquele olhar grave?
— Não entendi? O que significa?
— Foi o que descobrimos em seu exame, Senhora Hunter.
— O senhor falou que estava tudo bem com o bebê!
— Não há nada de errado com seu bebê. É um problema com a
gestante.
— O que significa? Estou doente?
— Síndrome do Anticorpo Antifosfolípede é um distúrbio de
coagulação onde a gestante corre um risco elevado de derrame, infarto e
embolia pulmonar, podendo levar à óbito se não for tratada.
Por um momento não consigo entender totalmente o que o médico
diz.
— Continuo não entendendo.
O Dr. Cameron retira os óculos, me encarando com cuidado.
— Senhora Hunter, significa que corre muito risco se mantiver a
gravidez.
Sinto dificuldade de respirar.
— Está dizendo que... que... — Não consigo formular as palavras.
— Nestes casos, o mais aconselhável é interromper a gestação.
— Não! — A negativa sai da minha boca sem que eu consiga me
conter.
— Senhora Hunter, sei que é inesperado, porém, sempre que a mãe
corre risco, por qualquer motivo, o obstetra tem a opção de interromper a
gravidez.
Levo as mãos à barriga, num gesto protetor.
— Não! Não pode me obrigar! Vou ter meu bebê!
— A senhora precisa entender o risco que está correndo. Preciso
alertá-la. Se prosseguir a possibilidade de que sofra algo como um derrame,
infarto ou embolia pulmonar é muito grande, como já disse, pode não
sobreviver.
— Você quer dizer que posso morrer a qualquer momento? —
pergunto, sentindo algo se partindo dentro de mim.
— Ainda podemos interromper a gravidez...
— E se eu optar por interromper? Poderei tentar de novo?
— Não é aconselhável.
— Então não poderei engravidar novamente? — Minha voz não
passava de um murmúrio. — E se eu não quiser interromper? Não há nada
que possa ser feito?
— A senhora tem a decisão final, claro. Caso decida prosseguir, há
um tratamento. Durante toda a gestação terá que fazer uso de injeções de
heparina anticoagulante, para que os riscos diminuam. Deve começar a
tomá-la imediatamente. Mesmo assim, não há uma garantia de cem por
cento. E, depois do parto não deve tomar anticoncepcional. Na verdade, a
senhora nem deveria ter tomado pílulas tendo este problema, teve sorte de
não ter ocorrido nenhuma complicação.
Não consegui falar mais nada. Minha garganta está fechada.
— Senhora Hunter, vá para casa. Converse com seu marido. Sei que
é algo repentino e grave. Porém precisa tomar uma decisão e rápido.
Capítulo 3

Dois meses antes


Treze semanas de gravidez

Liam está chegando.


Finalmente, depois de vários dias, ele estará de volta, ao alcance dos
meus olhos. Das minhas mãos.
Eu deveria estar radiante. Deveria estar ansiosa.
Em qualquer outra circunstância estaria pensando somente em todas
as maneiras que ele poderia me foder com força e acabar com a dor que sua
ausência causa em mim.
Não hoje.
Hoje, junto com a saudade há o medo. A incerteza.
Faz apenas uma semana que o médico me deu o ultimato. Pareciam
anos. Séculos.
Eu não dormi. Mal comi.
Apenas me questionava o que tinha feito de errado para chegar
àquele ponto. Nunca pensei em ser mãe antes de descobrir que estava
grávida. Agora a simples ideia de interromper aquela pequena vida que
cresce dentro de mim, já faz minha própria vida perder o significado.
Como posso tirá-lo? Meu leãozinho?
Conforme as horas passavam e o momento de estar com Liam de
novo ia chegando, me perguntava como iria contar a ele.
Tinha medo de contar.
Porque bem no fundo, sabia que, por mais que Liam também já
amasse nosso bebê, não hesitaria em pedir que eu o abortasse. E nós nunca
mais teríamos um filho. Nunca mais.
Fecho os olhos com força, lutando contra a vontade de gritar.
Queria poder voltar no tempo. Um tempo em que não existiam
incertezas. Um tempo em que eu era apenas uma garota esperando para ser
caçada pelo Leão de Wall Street.
Ainda queria ser esta garota quando a porta se abre e deixo os
pensamentos sombrios de lado, pulando em seu colo. Travando meus braços
em volta do seu pescoço, embrenhando meus dedos em seus cabelos e
atacando-o com meus lábios ansiosos.
Liam me aperta com força, levando embora com sua presença toda a
preocupação. Só existimos nós dois no mundo nesse momento e a saudade
que sinto de sua risada em meu ouvido, enquanto me carrega para dentro, só
parando quando estamos sobre nossa cama, num emaranhado muito
familiar de braços, pernas e beijos saudosos.
Dedos subitamente calmos retiram os fios desordenados de cabelo
do meu rosto vermelho e não posso evitar o suspiro vindo do fundo do meu
coração ao vê-lo sorrindo pra mim.
Tão lindo.
Tão meu.
A saudade que senti dele dói em meus ossos. Nunca vou me
acostumar com sua ausência. É meu limite.
— Ei, baby. — Aua voz, como sempre, faz arrepios percorrerem
minha pele.
— Ei — murmuro, erguendo a mão para tocar seus cabelos
bagunçados puxando-o de volta para mim.
Liam me impede, segurando minhas mãos acima da cabeça.
— Não tão rápido, Senhora Hunter — ele ri maldosamente, quando
luto para me soltar. Sua mão livre viaja até meu ventre quase plano. — Não
me disse como foram os exames.
Engulo em seco. Havia lhe contado sobre meu pequeno
sangramento e o deixado bem preocupado. Tentei tranquilizá-lo com as
garantias do médico de que estava tudo bem com o bebê e que os exames
seriam apenas rotina.
Agora ele quer uma resposta.
Que eu não quero dar. Não posso.
— Como disse, tudo ok — minto descaradamente, ondulando meu
quadril contra o seu. — Pode me foder agora, Senhor Hunter?
Seu gemido faz meu corpo acender como pisca-pisca natalino e
regozijo quando finalmente me beija com força.
Não demora para estarmos ocupados retirando as roupas do
caminho, numa bagunça de mãos afoitas, toques saudosos e gemidos
sufocados.

— Mais força — sussurro em seu ouvido.


— Porra, baby — Liam rosna, aumentando a intensidade de suas
estocadas.
É sempre perfeito quando estamos nos movendo juntos, respirando
juntos. Apenas o prazer crescendo numa espiral de sensações que se
espalham como larva quente por nossas peles transbordando em gemidos,
arranhões e suor.
Fecho os olhos deixando meu corpo dominar minha mente.
Não quero nada além de sentir que tudo está do jeito que sempre foi.

***
— Vou conseguir?
Encaro minha imagem pálida no espelho e repito a pergunta que
venho me fazendo desde que fui jogada naquele dilema sobre manter ou
não a gravidez.
O que vou decidir? Coloco a mão na minha barriga ainda quase
plana e sinto meu peito apertar com uma dorzinha que já está se tornando
companheira desde que soube que para vê-la crescer terei que colocar
minha própria vida em risco permanente.
Tento não pensar em como tudo aquilo é injusto. Em como é triste
precisar escolher entre mim e meu filho.
— Baby, venha aqui. — A voz de Liam faz meu peito se apertar
ainda mais. Sei que deveria lhe contar tudo para decidirmos juntos o que
fazer, no entanto temo que este dilema seja mais fácil de ser resolvido para
ele do que para mim.
Meu temor é que Liam não hesite em pedir para eu interromper a
gestação. E simplesmente não sei se estou preparada para fazer isso.
Como é que se fica pronta para algo assim?
— Baby, vou ter que te buscar? — repete com a voz cheia de
impaciência e meus lábios se distendem num sorriso divertido. Depois que
fizemos amor, Liam disse que havia uma surpresa na mala para mim.
Resmunguei dizendo que ele sabia muito bem que eu odiava presentes,
então Liam havia deixado a cama com um sorriso travesso garantindo que
deste eu iria gostar. Rolei os olhos aproveitando para ir ao banheiro quando
ele saiu para resgatar a mala na sala.
Foi fácil esquecer todo o drama que se desenrolava em minha vida
enquanto estava me deixando consumir pela saudade de Liam, rolando com
ele em nossa cama. Agora não posso mais fugir da realidade. O sorriso do
meu rosto se desfaz e respiro fundo saindo do banheiro.
— Liam preciso te contar uma coisa... — Interrompo minha frase e
arregalo os olhos ao ver Liam sentado sobre a cama e a sua volta uma
profusão confusa de cores pastéis, enquanto suas mãos tiram mais coisas da
mala aberta. — O que é isso? — Eu me aproximo e reconheço a confusão.
São minúsculas roupas de bebê.
— Como disse, não são presentes para você. — Liam me puxa para
me sentar na cama também, enquanto termina de espalhar os pequenos
tecidos diante de nós — passei em frente a uma destas lojas em Toronto e
pensei em lhe fazer uma surpresa. A ideia era comprar apenas uma
roupinha, então pensei por que parar? — Ele me brinda com sorriso
culpado.
— Liam...? — Um nó se fecha minha garganta e levo a mão à boca.
Seu sorriso se desfaz.
— Ei, o que foi? Não vai me dizer que está puta? São coisas para o
bebê, Emma. E nem é tanta coisa assim... queria ter comprado bem mais, o
Ethan me impediu, dizendo que nem que a criança trocasse de roupa sete
vezes ao dia conseguiria usar tudo que eu pretendia levar. Além do mais
parece que elas crescem bem rápido também e perderia a maior parte. Ou
você não gostou? Podemos devolver e comprar outras. Talvez seja uma boa
ideia a gente sair amanhã e comprar...
— Liam, pare — peço incapaz de continuar ouvindo-o falar com
tanta empolgação de algo que pode nem acontecer.
— Porra, está mesmo brava? — Ele franze a testa e percebo que sua
mente já se prepara para uma negociação, não consigo me impedir de sorrir.
— Não estou brava, eu... — Pego um macacão creme com um
ursinho marrom bordado na frente e mordo os lábios para não chorar. —
Achei lindo. Tudo — fungo.
— Então por que está chorando, merda?
É agora. Eu posso falar. Revelar a Liam que não seria tão fácil a
gente ver nosso bebê usando aquelas roupas.
Ou talvez...
Talvez Liam pudesse. Ele poderia ver nosso leãozinho que seria
todo parecido com ele que me encara com seus cabelos numa linda bagunça
e seu olhar feroz pronto para briga.
Só que há uma possibilidade de eu não ver.
— Ainda são a porra dos hormônios? — Ele ri divertido.
Por um momento imagino as fatídicas palavras que revelarão o
horrível diagnóstico saindo da minha boca. Imagino seu divertimento se
transformando numa preocupação devastadora.
Conheço Liam suficientemente bem para saber que, apesar de toda
sua surpreendente empolgação com minha gravidez, não hesitará em exigir
que eu me desfaça dela caso coloque minha vida em risco.
E, enquanto meus dedos ainda seguram a roupinha do meu bebê,
decido que não posso deixar acontecer.
Há algo mais importante do que a minha vida agora.
Então sorrio e dou de ombros.
— Até consigo imaginá-lo usando essas roupas — murmuro e o
sorriso lindo de Liam se alarga, fazendo meu coração aquecer.
— Sim, baby. Também imagino.
Nós sorrimos um para o outro e simplesmente sei que tomei a
decisão certa.
Decidi pelo meu bebê.
Capítulo 4

Quatorze semanas

— Emma, vai dar tudo certo, pare de se preocupar e curta seu jantar
— Eric diz quando volto à cozinha pela enésima vez perguntando se está
tudo bem com o menu.
— Preciso que pelo menos a comida esteja boa para que algo se
salve neste maldito jantar! — Eu me abano, querendo ter vestido algo mais
leve do que aquele vestido de veludo preto Balenciaga escolhido por Zoe.
Eric ri, retirando algo do forno.
— A tal modelo continua hostilizando o Ethan?
— Não sei o que ele viu naquela chata! O coitado até está tentando,
ela só dá patada nele!
— Vai ver ela realmente não está a fim dele.
— Como alguém pode não gostar do Ethan? Ele é lindo, gostoso,
engraçado e um doce!
— Não aguento quando chama Ethan de doce! — Eric diz divertido.
— Ele é! E aquela bruxa descobriria se desse uma chance!
— Se ela é uma bruxa como diz, o melhor seria deixá-lo esquecer.
Que tal apresentar outras garotas a ele?
— Duvido que dê certo! Ele está caído por ela! Precisa ver a cara
dele quando a viu entrando, Eric. Achei que fosse gozar nas calças!
Eric ri alto.
— Imagino. Ela é muito gata. Até eu ficaria caído se não tivesse
namorada. Que a Amanda não me ouça!
— Que eu não ouça o quê? — Amanda entra na cozinha naquele
momento e Eric fica vermelho feito o pimentão que jogava na salada.
Deixo que ele se explique e volto para a sala.
Liam e o tal Emiliano parecem na mesma discussão animada sobre
política que eu tinha tentado entender antes de ir para cozinha. Zoe está
conversando com Ariana Colombo, que gesticula com a mão falando muito
alto sobre uma viagem de compras que fez a Paris.
Sinceramente estes Colombos são dois malucos. Italianos, Ethan
havia explicado, quando me assustei com os gritos de Emiliano. Ok, ele é
um cara até bem gato, alto, moreno e forte, assim como sua esposa, que
poderia ser facilmente uma destas modelos brasileiras, cheias de curvas e
peitão com um cabelo armado de laquê.
Suspiro, procurando por Nicole e Ethan. Ela está num sofá mexendo
em seu celular e Ethan ao lado dela, bebendo cerveja, praticamente babando
em cima e sendo ostensivamente ignorado.
Qual o problema daquela garota?
Sinto-me tensa e de repente me preocupo por estar exagerando nas
emoções. Não pode ser bom para mim. O que me faz lembrar que ainda não
tive coragem de aplicar as malditas injeções.
Aproveitando que todos estão distraídos me esgueiro para o
banheiro, abro o armário, pegando a seringa e o medicamento com as mãos
trêmulas. Como vou conseguir? Sinto tontura só de imaginar.
— Oh, me desculpe.
Eu me assusto ao ouvir a voz altiva na porta do banheiro e subo o
olhar para encontrar Ariana Colombo me encarando
— Estava procurando o banheiro. — Seu olhar curioso recai em
minhas mãos, ainda segurando a seringa. — Precisa de ajuda? — Eu me
surpreendo ao ouvir sua pergunta.
Tento achar uma explicação plausível e nada me vem à mente.
— Fiz seis meses de um curso de enfermagem antes de conhecer
Emiliano e, graças a Deus, poder me casar com um homem rico — ela ri
como se fosse muito engraçado. — Tenho o estômago forte para essas
coisas. — Ela dá de ombros. — Ou a frieza, alguns diriam.
— É, eu... eu gostaria de poder dizer o mesmo — murmuro com um
sorriso sem graça.
Sem hesitar, Ariana entra no banheiro, fechando a porta atrás de si.
Se aproximando com seus saltos ridiculamente altos batendo no chão,
estende a mão com unhas enormes pintadas de vermelho em minha direção.
Vacilo por alguns segundos, analisando a situação surreal, aquela
mulher que mais parece saída de um episódio das Real Housewives de New
Jersey querendo me ajudar em algo tão peculiar.
Como realmente preciso de ajuda, passo a ela o medicamento e a
seringa, observando fascinada a facilidade com que ela prepara a injeção e
me encara com um olhar decidido.
Não sei se estou com medo daquela mulher ou deslumbrada.
— Onde aplico?
— O médico disse que pode ser na barriga — respondo incerta.
— Certo, vamos lá.
Meio vermelha, abro o zíper do vestido, até que minha barriga esteja
à mostra e, como uma enfermeira profissional, Ariana enfia a agulha na
minha pele. Gemo levemente, com a dor da picada que felizmente dura
menos tempo do que eu imaginava, até que ela dá o serviço por terminado e
me encara.
— Pronto. Está feito.
— Obrigada.
Ela joga tudo no lixo e lava as mãos enquanto arrumo o vestido.
— Por que precisa tomar essas injeções de heparina anticoagulante?
Sua gravidez é de risco?
— Como sabe?...
Ela dá de ombros.
— Pode não até parecer, mas eu era uma boa aluna. Estudei um
bocado, achando que conseguiria estudar medicina. Eu era realmente
inteligente para tanto, só não tinha dinheiro suficiente, então entrei na
faculdade comunitária de enfermagem. Por isso reconheci o medicamento.
Não sei de todos os detalhes só que está grávida, então imagino que seja
algo relacionado à gravidez.
— Sim é.
— E ficará tudo bem se tomar estas injeções? Deve tomar todos os
dias? Não é assim que funciona?
— Sim. Todos os malditos dias e nem sei como vou conseguir.
— Posso ajudá-la. Moro aqui perto. — Ela se prontifica e arregalo
meus olhos.
Aquela mulher não vai parar de me surpreender?
— Não posso aceitar...
— Por que não? Pelo que percebi ou eu faço ou terá que pedir ao
seu marido para ajudá-la.
— Não! — nego veementemente, o que faz Ariana levantar uma
sobrancelha. — Liam não sabe que preciso tomar estas injeções.
— Oh... Entendo. Acho.
Fico mais vermelha ainda.
— Não é nada demais — minto e não sei se ela está acreditando,
então continuo. — Liam é ridiculamente superprotetor, achei melhor não
envolvê-lo.
— Sua amiga Zoe não poderia te ajudar?
— Ela não sabe também.
— Alguém sabe?
— Ninguém — confesso implorando com meus olhos que não faça
mais perguntas.
— Sei... hum, enfim, minha oferta está de pé.
— Por favor, não conte a ninguém.
— Por que eu contaria?
— Só não quero preocupá-los.
— Tudo bem. Eu tenho uma filha. Sei que faria a mesma coisa que
você está fazendo por ela — sorri se virando para sair, mas para na porta. —
Ah, aquela loira magrela foi embora.
Gemo desalentada.
— Que merda!
— O seu guarda-costas gostoso ficou bem chateado.
— Pois é. Ele está a fim dela, por isso a convidei. Começo a achar
que não vai dar em nada. Que... vadia!
Ariana ri alto.
— Ele é solteiro? Com todo aquele tamanho? Imagina o tamanho
do...
— Sim, é solteiro. — Eu a interrompo. — E é tão legal, só queria
que tivesse alguém, sabe?
— Quer saber? Tenho a mulher perfeita para ele! É minha irmã de
criação. Ela é incrível! Tenho certeza de que formariam um casal
maravilhoso!
— Eu não sei... tentei juntá-lo com a tal Nicole e veja no que deu.
Acho melhor aposentar minhas habilidades de cupido.
— Tudo bem. A oferta continua de pé.
Retoco a maquiagem e volto à sala. Zoe me aborda curiosa.
— Onde se meteu? Já ia te procurar, a Nicole foi embora! Até tentei
segurá-la, ela simplesmente me deu um gelo, disse que estava de saco cheio
e desapareceu.
— Fiquei sabendo. Ela é uma vaca mesmo.
— Que droga hein? Tadinho do Ethan está todo caidinho.
— Vou falar com ele.
Eu me aproximo de Ethan com um sorriso culpado.
— E aí tagarela. Cada vez mais gorda hein?
— Me desculpe pela Nicole.
Ele ri, tomando um longo gole de cerveja.
— Não se culpe. Ela é uma vadia.
— Mas você gosta dela.
— Porque sou um idiota. Quer saber, deixa pra lá.
Toco seu ombro.
— Tenho certeza de que em algum lugar desta cidade existe alguém
feita pra você.
— Ah, eu só quero uma boa foda, tagarela. Essa coisa de amor não é
pra mim.
Rolo os olhos.
— Homens!
Capítulo 5

Vinte semanas

Abro os olhos para ver o outro lado da cama vazio e meu coração se
aperta. Lembro-me de outra época. De quando ele me deixava
constantemente sozinha. Nunca dormia do meu lado. Nunca acordava
comigo.
Parecia outra vida.
Suspiro, jogando as cobertas para o lado, apuro o ouvido quando me
levanto e encosto minha testa na parede de vidro. Nada. Apenas o silêncio e
a neve caindo lá fora, transformando o verde majestoso do Central Park
num branco triste.
Tudo parece triste hoje. Nem parecia Ação de Graças.
Uma lágrima quente escorre por meu rosto frio. Sinto frio mesmo
com a lareira de aço aquecendo o quarto. Seu calor não chega até meu
peito.
Só uma coisa me aqueceria e não sei como fazê-lo vir até mim.
Não depois de ontem à noite.
Eu estraguei tudo.
Meu ventre se contrai, mordo os lábios com força levando a mão
automaticamente para sentir seus movimentos e uma parte da dor se esvai.
Não estraguei tudo.
Fiz tudo por ele.
Não há arrependimento dentro de mim. Não há opções pra mim.
Liam não entende.
Respiro fundo e enxugo as lágrimas em meu rosto aflito, uma
resolução quase tranquila guia meus passos quando saio do quarto e o
procuro pela casa silenciosa.
Eu deveria saber que não estaria em nenhum lugar.
Pego meu celular e digito a mensagem. Para a única pessoa que
pode me ajudar nesse momento.
Uns cinco minutos depois ouço a campainha, seu olhar está
sombrio quando me fita.
— Sinto muito. — Sua voz quase sempre altiva é baixa, receosa.
Carregada de pena.
Sorrio de leve.
— Não sinta. Foi minha escolha — respondo caminhando para o
banheiro e ela me segue sem questionar.
Era nossa rotina fazia algumas semanas. Nosso pequeno segredo.
Entro no banheiro grata por sua praticidade e quase frieza para fazer
o que é necessário. Eu nunca fui capaz de fazer. E hoje não seria diferente.
Observo-a lavar as mãos. Suas unhas hoje estão rosa escuro. Tão
perfeitas quanto suas roupas.
— Acha que sou horrível?
Ela me encara, pegando o material dentro do armário.
— Não. Você é uma mãe — Ariana é sempre direta nas palavras.
Enquanto alguns dão voltas, preocupados em ferir sentimentos, ser
educados, ou algo do tipo, ela simplesmente diz na lata o que está
pensando. Gosto disso nela. — Como ele descobriu?
— Ontem à noite ele encontrou o envelope que escondi na
biblioteca.
— Burra. — Seu olhar é acusador. Ela não vai facilitar.
— Foi horrível. — Respiro com dificuldade ao me lembrar da briga
terrível.
— E agora?
Dou de ombros.
Como posso saber?
— Sinto muito, Emma. — Ela toca minha mão por um momento e
aperto seus dedos. Luto contra a vontade de chorar. Não vai adiantar nada.
— Obrigada — murmuro, quando ela se abaixa na minha frente e
miro seus cabelos escuros perfeitamente armados.
Ariana me fita com seus grandes olhos verdes. Ela é deslumbrante e
sabe disso. Posso bem ver por que tinha conquistado um cara como
Emiliano Colombo.
Porém, ela é mais do que um lindo rosto. Foi num momento no qual
não tinha ninguém em quem confiar que descobri que, aquela garota
aparentemente fútil, podia guardar meu maior segredo. E ficar do meu lado.
— Apenas faça — peço, fechando os olhos. A fisgada da agulha me
faz perder o fôlego, escuto outro fôlego se extinguindo e abro os olhos
assustada.
Liam nos observa na porta do banheiro.
Está ali olhando fixamente para o ponto em que Ariana aplica a
injeção.
Vejo vários sentimentos refletidos em sua expressão. Raiva, medo,
dor. E corta meu coração.
Assim, como o olhar acusador quando ele finalmente me fita.
Vi todos estes sentimentos em seus olhos ontem à noite, quando não
pude mais esconder a verdade.
A verdade que lutei para manter escondida por todo aquele tempo.
Justamente para não ver essa expressão de desolação misturada à fúria em
seu semblante.
Agora é tarde.
E me pergunto se não foi sempre assim.
Ariana finalmente percebe Liam, quando termina sua missão e se
levanta. Tenho que admirá-la. Consegue manter a expressão neutra, como
se a tensão no recinto não pudesse ser cortada com uma faca.
Não sei o que dizer. É como se todas as minhas palavras tivessem
sido roubadas da minha boca. Minhas mãos que descem a blusa sobre o
ventre estão trêmulas. Talvez Liam também não saiba o que dizer. Ou não
quer dizer nada. A impressão que tenho é que ele vai começar a gritar a
qualquer momento.
— Oi Liam. — Ariana finalmente quebra o silêncio enquanto joga a
seringa no lixo e lava as mãos.
— Ariana. — Ele pronuncia o nome dela naquele tom. Aquele que é
quase um rugido feroz. O tom do Leão de Wall Street.
Qualquer outra pessoa fugiria correndo, menos Ariana.
Ela termina de secar a mão calmamente.
— Acho que não vai perguntar o que estou fazendo, porque é
bastante óbvio, não é?
— Não tão óbvio assim — Liam continua no mesmo tom. Ou um
pouco pior. Olhando diretamente pra mim. Quem quer correr agora sou eu.
Ariana cruza os braços em desafio.
— Vai querer uma explanação?
— Não é você quem me deve explicações.
Oh Deus!
— Liam — Finalmente busco algum resquício de coragem dentro de
mim para falar.
A coragem de enfrentar o temido leão, adquirida a duras penas ao
longo de nosso relacionamento, quase havia se extinguido depois da noite
passada. Quando percebi que deveria ter mantido minha promessa de não
mais mentir para ele.
Eu deveria saber desde que tomei aquela decisão que, se Liam
descobrisse, não me perdoaria.
Agora estou pagando o preço.
— Bem, preciso ir buscar minha filha na casa da minha irmã. E
ainda tenho um jantar de Ação de Graças para coordenar.
Ariana passa por Liam e escuto seus passos se distanciando, louca
para chamá-la de volta. Sei que não posso.
Tenho que sair sozinha da enrascada em que me meti.
— Há quanto tempo vem acontecendo? — Liam pergunta friamente.
— Desde que eu soube — respondo respirando fundo, tentando
encontrar as palavras certas para explicar — Liam, eu...
— Vista-se! Vamos sair. — Ele me corta e entra no banheiro,
começando a tirar as roupas.
Eu o observo sem me mexer, ainda desnorteada.
Ele está horrível. As roupas descartadas são as mesmas da noite
passada, os cabelos uma bagunça desordenada de fios acobreados e há
olheiras escuras em seus olhos atormentados.
Tenho vontade de me aproximar e tocá-lo embora saiba que não
serei bem vinda. Então permaneço estática, enquanto ele desaparece boxe
adentro e liga o chuveiro.
Assim, que está fora da minha vista deixo cair os ombros tensos e
cato as roupas do chão jogando-as no cesto, enxugando uma lágrima
fortuita.
Não quero chorar. Não vai adiantar nada.
Volto para o quarto e me visto, perguntando-me onde estamos indo.
Quero questioná-lo, no entanto, sinceramente? Discutir com Liam
neste estado de nervos não é a melhor opção. E quero evitar mais
dissabores.
Volto para o quarto, já arrumada, quando ele passa por mim e entra
no closet, vestindo-se quase com fúria.
— Aonde vamos? — Pergunto tentando demonstrar uma calma que
estou longe de sentir.
— À clínica.
— Clínica? Liam é dia de Ação de Graças! Não há ninguém lá!
— O seu médico estará.
— O Doutor Cameron está na Flórida para o feriado!
— Não mais — rosna e mordo os lábios com força, lamentando pelo
pobre doutor Cameron sendo obrigado a interromper suas férias com a
família.
Eu gosto muito do doutor Jared Cameron. Foi o terceiro médico a
me atender no começo da gravidez e já estava achando que nunca ia achar
um em quem confiasse. Primeiro optei por uma médica. A doutora Carmen
Castillo parecia ser centrada e amigável. Até eu descobrir que podia ser
amigável até demais quando Liam foi a uma consulta comigo e ela se
mostrou mais preocupada em flertar com meu marido do que em prestar
atenção em mim. Depois foi o Doutor Stefan, um sexagenário que deveria
ter se aposentado há muito tempo e me dava arrepios. O Doutor Cameron,
um médico de trinta e tantos anos, foi quem me atendeu naquela fatídica
tarde em que descobri um sangramento.
Estava apavorada e ele havia me acalmado, dizendo que era normal
algum sangramento no começo da gravidez, que faríamos todos os exames
para nos certificar de que estava tudo bem com o bebê.
O que eu não imaginava era que, quatro dias depois, iria descobrir
que o problema não estava no bebê.
Era comigo.
Estou aguardando Liam na sala quando Ethan entra.
— Ei, todos prontos?
Seus olhos não encontram os meus.
Eu me levanto, aproximando-me e tocando seu peito.
— Olhe pra mim, Ethan.
Ele finalmente me encara e vejo algo que nunca vi.
Ethan está bravo comigo.
— Você me odeia também? — Não posso aguentar que Ethan tenha
raiva de mim. Não ele.
Então algo mais surpreendente ainda acontece. O gigante brincalhão
desmorona.
— Odiar você? Estou apavorado, ok? — Sinto seu peito tremer
debaixo de minhas mãos e sua voz engasgar, fito incrédula as lágrimas em
seus olhos — De todas as merdas que fez essa foi a pior de todas, Emma!
— Eu não podia fazer de outro jeito — murmuro, querendo que ele
entenda. Ethan sempre me entendeu. Ele tem que entender. Ficar do meu
lado.
— Ele não vai te perdoar. Sabe disso, não é?
É a minha vez de engasgar, então escuto os passos de Liam se
aproximando.
— Ethan, precisa ser forte. Por ele. Por mim. Por favor. Por favor —
imploro baixinho, o vejo respirar fundo algumas vezes e colocar os óculos
escuros, ocultando a dor em seus olhos.
Quando Liam aparece na sala, Ethan está recomposto.
Eu disfarço minhas emoções.
Tenho feito isso muito bem nos últimos dois meses.

***

O silêncio no carro é sepulcral.


Liam não olha para mim e isso machuca.
— Realmente acho desnecessário, Liam, te contei ontem...
Ele finalmente me encara e talvez preferisse que não o tivesse feito.
Seu olhar é tão feroz que me faz encolher.
— Estou farto de você achar desnecessário me informar sobre uma
doença que pode tirar sua vida.
O carro para em frente a clínica e nós saltamos.
Lanço um olhar de desculpas ao Dr. Cameron quando entramos no
consultório. Não faço ideia do que Liam fez para convencê-lo a voltar a
Nova York em pleno feriado, certamente, assim como a maioria das pessoas
no mundo, ele foi incapaz de dizer não ao Leão de Wall Street.
— Senhor Hunter, Senhora Hunter, sentem-se, por favor — o
médico diz solícito e me sinto mais culpada ainda.
— Obrigada por nos receber, Dr. Cameron, sei que estava em
viagem...
— Preciso que me explique tudo sobre o problema da minha esposa.
— Liam me corta e mordo os lábios com força.
O médico olha para mim e fico vermelha. Eu não havia mentido
apenas para Liam. O Dr. Cameron acreditava que, certamente, meu marido
tinha conhecimento do meu diagnóstico.
Ele não emite nenhuma opinião sobre minha omissão quando
começa a repetir exatamente o que me havia dito antes.
Liam escuta tudo em silêncio e, para mim, ouvir novamente meu
terrível diagnóstico só causa mais dor.
Finalmente o médico termina o relato e Liam me encara.
— O senhor está me dizendo que alertou minha esposa sobre a
possibilidade de interromper a gravidez?
Estremeço com o tom ameaçador de sua voz.
Havia contado a ele ontem sobre o que se tratava o exame que eu
tinha cuidadosamente escondido. Contei que era uma doença que me
deixava vulnerável, contei sobre os riscos.
Só havia deixado de fora a parte em que poderia ter acabado com
tudo.
O Dr. Cameron acena positivamente.
— Sempre há a possibilidade de interromper a gestação em caso de
riscos para a mãe.
Liam me encara. Se eu achava que estava furioso antes, não tinha
ideia de como poderia ficar pior.
— Eu não podia. Liam, precisa entender. É nosso bebê,
simplesmente não podia...
Ele se volta para o médico.
— E o que podemos fazer agora?
— A senhora Hunter está tomando as injeções. É a única coisa que
pode amenizar os sintomas. Como disse antes, o risco ainda existe.
Sinto a tensão em Liam e toco seu braço, ele me afasta.
— Espere lá fora.
— Liam...
— Não discuta — rosna e me levanto, saindo do consultório.
Na sala de espera, pego meu celular. Há várias mensagens de
Ariana. Respondo apenas que Liam está conversando com o médico. E me
pergunto o que estariam falando.
Cansada de esperar, volto para o carro onde Ethan nos aguarda.
— Cadê o Liam?
— Conversando com o médico.
Ethan sacode a cabeça com um sorriso triste, antes que possa dizer
alguma coisa, Liam ressurge e nós entramos no carro.
Ele está mais furioso do que nunca e não fala comigo.
— Liam, sinto muito...
Ele crava seu olhar dardejante em mim.
— Por que não me contou?
— Porque sabia que iria pedir para eu abortar.
— Sim, eu pediria, inferno. — Sua mão soca a divisória fechada. —
Acha mesmo que a deixaria passar por isso? Que iria deixá-la morrer?
— Não vou morrer! Você viu as injeções. Está tudo sob controle.
Repito as palavras que venho dizendo a mim mesma há dois meses.
— Vou conseguir.
Capítulo 6

A guerra fria que Liam declarou a mim continua a todo vapor.


Quando chegamos em casa ele simplesmente se tranca no escritório
ignorando minha presença.
Ontem eu estava cheia de esperança hoje tudo é incerteza.
Como se sentisse meu desânimo o bebê chuta minha barriga e
sorrio, mesmo com o coração carregado de tristeza. Preciso me lembrar que
há um motivo para todo aquele sofrimento. Aquele pequeno ser dentro de
mim precisa que eu seja forte. Estou aqui por ele. Liam ainda não entende,
mas é a única coisa que importa. Me manter forte até que meu bebê possa
conhecer o mundo.
Com passos inseguros, apesar de firme em minha convicção, rumo
para minha biblioteca e me deito sobre um divã. Fecho os olhos e forço
minha respiração a se acalmar, assim como a ansiedade. Pouco a pouco
sinto a paz voltar, o bebê se acalma e resvalo para um sono repleto de
sonhos com momentos mais felizes.
— Emma, precisa acordar — a voz persistente de Ariana me tira da
imobilidade tranquila dos sonhos e abro os olhos sonolentos para perceber
que a luz do dia foi substituída pelas sombras do crepúsculo.
— O que está fazendo aqui?
— Fiquei preocupada com você.
— Ah, Ariana, não precisava.
— Você almoçou?
— Não, dormi a tarde inteira.
— Sabe que não pode pular refeições, não é?
— Nem percebi que dormi tanto, só me deitei para relaxar um
pouco. Deus sabe o quanto estava precisando.
— Sei bem. Mas não é desculpa para se descuidar! Mulheres
grávidas realmente dormem demais, deveriam ter te acordado e cuidado de
você. — Ela lança o olhar irado para algo atrás dela, enquanto me apoio em
seu braço para conseguir levantar e estaco ao ver Liam sentado em uma
poltrona com cara de poucos amigos.
Há quanto tempo ele estava ali?
— Já que tem gente que prefere ser um idiota a cuidar de você, vou
preparar algo para você comer!
— Ariana! — Encaro Liam, esperando que ele dê uma resposta
irritada a ela, mas ele apenas passa a mão nervosa pelos cabelos encarando-
a com uma fria placidez.
— Fique à vontade, Ariana. Preciso mesmo conversar com a Emma.
Em particular, claro. — Sua voz ganha um tom de ironia no final, Ariana dá
de ombros e desaparece porta a fora. Quero pedir que volte e seja meu
escudo, porque sei que nenhuma conversa com Liam será fácil a partir de
agora.
Aliso meus cabelos bagunçados e o encaro, esperando que comece a
falar, rezando para que seja algo agradável de ouvir. Algo tipo “eu sei que
tomou a decisão certa ao optar por manter a gravidez”. No entanto, sei que
é muito cedo para que Liam volte a pensar racionalmente.
Só me pergunto se este dia vai chegar. Preciso que chegue.
Senão por mim, pelo menos pelo bebê que vai nascer. Porque, por
mais que eu torça e esteja fazendo tudo para sobreviver, ainda existe a cruel
possibilidade de que algo possa dar errado.
E então meu leãozinho terá que contar apenas com aquele que agora
me encara como se eu fosse a maior traidora do mundo.
— Pedi para seus pais virem.
Arregalo os olhos, surpresa.
— Por quê? Liam...
— Você sabe o porquê.
— Você contou a eles? — Sinto meu coração se encher de pesar ao
imaginar meus pais desesperados com a revelação da verdade sobre minha
gravidez.
— Você contou? — Liam devolve com ironia e ruborizo.
— Não, claro que não.
— Então se prepare para contar. Devem chegar amanhã à tarde. —
Sem mais ele se levanta e sai da sala.
Inferno!
Eu tinha esperanças de manter meus pais de fora daquele problema.
Agora terei que lidar não só com a consternação de Liam como a deles
também.
Aborrecida, rumo para a cozinha, meu estômago roncando ao sentir
o cheiro de algo que Ariana está cozinhando.
Eric havia sido dispensado por Liam, ao que parece. Acho que deve
ter ficado feliz por poder passar o feriado com Amanda e a família dela.
Gostaria que ele estivesse ali. Assim como Zoe, que tinha
viajado para a casa dos pais de Jackson. O que me faz lembrar que Zoe
também não sabe do meu segredo.
Respiro fundo, me preparando para mais confrontos iminentes.

***

— E então? Liam já deixou de ser um cretino? — Ariana pergunta,


enquanto lava as mãos depois de me aplicar a injeção.
Abaixo a blusa com um suspiro cansado e nossos olhares se
encontram no espelho. Os de Ariana, límpidos e claros, margeados pela
maquiagem impecável. Os meus escuros e atormentados, margeados por
olheiras proeminentes de mais uma noite mal dormida.
— Ele não é cretino, Ariana — defendo e ela revira os olhos se
virando para mim.
— Não o defenda!
— Ele está puto comigo e com razão. — Uso o argumento que
venho repetindo a mim mesma desde que acordei e vi que Liam, de novo,
não tinha dormido comigo.
Eric me informou, com a discrição que lhe é habitual, que Liam
havia saído cedo para o trabalho quando perguntei a ele se sabia onde
estava meu marido, tentando não parecer patética.
— E você está bem? — Perguntou cuidadosamente, servindo-me
café e tentei sorrir.
— Acho que já sabe sobre a confusão que está rolando, não é?
— Sim, Ethan me atualizou.
— E você também acha que sou uma espécie de vilã de novela?
Ele sorriu tristemente.
— Não acho agiu certo ao esconder sua condição do Liam. Embora
entenda que tenha escolhido proteger seu bebê.
— Só queria que Liam também entendesse.
— Ele vai. Está apenas com raiva e ferido.
— Espero que tenha razão — falei me forçando a comer os ovos
mexidos.
Ariana me encara com uma expressão irritada de quem não aceita
este argumento.
— Compreendo sua raiva, mas, até quando vai te tratar desse jeito?
— Ele está sofrendo...
— E você também! Só não o confronto porque Emiliano disse para
eu ficar de fora, senão...
— Seu marido tem razão. Confrontar Liam nesse momento de nada
iria adiantar. Só preciso dar tempo ao tempo.
— Se você diz...

***

Naquela tarde recebo meus pais que me encaram confusos e


cansados da viagem.
— Emma, querida, o que está acontecendo? — Minha mãe
questiona com um olhar preocupado.
— Sim, que diabos estão aprontando agora? — Meu pai está
impaciente — Da última vez que vocês nos sequestraram deram a notícia
que estava grávida! Isso depois de me garantirem que não estavam se
casando por causa de uma gravidez!
— Tom, não seja grosseiro com a Emma! — Margô reclama. —
Embora deva dizer que é bem estranho! Não entendi por que cancelaram o
jantar de Ação de Graças...
Olho para Liam. Ele está taciturno no canto da sala sei que espera
que seja eu a dar as más notícias a meus pais.
— Sinto muito que tenham precisado vir assim de repente, tenho
que contar algo a vocês.
— Vai finalmente o que aconteceu para cancelarem o jantar de Ação
de Graças na minha casa? Tive que comer o peru sozinho! Estou comendo
aquela merda até hoje! — Tom insiste.
— Querida, o que foi? — Margô percebe minha consternação. —
Está me preocupando! O que de tão grave tem pra nos dizer...
— Grave? — Tom agora também está preocupado.
Fecho os olhos e respiro fundo, quando os abro, começo a contar
sobre minha gravidez de risco.
Quando termino, minha mãe está às lagrimas e Tom quase tão
furioso quanto Liam ficou.
— Ah querida, como pôde nos esconder algo tão sério?
— Sim, o que passou pela sua cabeça oca ao achar que não era
importante? — Tom grita.
— Eu sinto muito — murmuro me sentindo péssima. — Não queria
preocupar ninguém...
— Somos seus pais, Emma, por Deus!
— Eu sei, mas...
— Liam, você sabia? — Margô pergunta e Liam me lança um olhar
acusador.
— Eu não sabia de nada até descobrir os exames.
— Meu Deus, Emma, até do seu marido você escondeu? — Tom
agora está ainda mais zangado.
— Tive medo de que ele me obrigasse a tirar o bebê!
— Era exatamente o que deveria fazer se fosse sensata!
Eu me encolho com as palavras duras do meu pai.
— Tom, não fale assim! — Margô se aproxima e segura minhas
mãos. — Estamos falando de uma criança!
— E a Emma corre risco para tê-la!
— Chega! Não fale desse jeito! — Margô me abraça e me sinto
horrível por toda preocupação que estou causando.
— Me desculpe mãe — sussurro e ela se afasta me encarando. — Só
queria ter meu bebê.
— Não peça desculpas, filha. Eu te entendo.
Saber que minha mãe está comigo alivia um pouco minha dor.
Tom parece concordar com Liam, a julgar pelo seu olhar furioso.
— Pai, sinto muito. Jamais quis causar qualquer sofrimento a vocês.
Mas é do meu filho que estamos falando. Nunca iria abrir mão dele.
— Você perdeu a cabeça! — Ele grita e aponta Liam. — Posso ver
que Liam não concorda com sua decisão! Não pensou nisso? Ele é o pai e
seu marido, deveria ser parte ativa em suas decisões.
— A Emma sabe exatamente o que penso — Liam diz friamente. —
Não posso concordar que coloque sua vida em risco.
— Ainda está em tempo de fazer alguma coisa? — Tom indaga e
estremeço de horror.
— O quê? Não! — Levo a mão a minha barriga automaticamente
encarando Liam. — Meu Deus Liam foi por isso que trouxe meus pais? Era
este seu plano? Quer que eu me livre do bebê?
Ele desvia o olhar para o chão. Puxando os cabelos cheio de
frustração e nem precisou dizer nada para eu obter minha resposta.
— Ah Meu Deus — balbucio sem forças.
Margô me envolve com seus braços.
— Vocês dois enlouqueceram? Não há mais tempo de tirar o bebê!
— Margô, ela pode morrer! Não podemos perder a nossa filha!
— É do meu filho que estamos falando! — Grito e encaro Liam. —
É do nosso filho! Como pode querer que eu me livre dele?
— Acha que estou tranquilo? Acha que não estou sofrendo? Sim, é
do meu filho que estamos falando, mas não posso perder você!
— Não vai me perder, estou tomando as malditas injeções, estou
bem até agora, faltam praticamente quatro meses para ele nascer. Você
deveria estar feliz e ansioso como eu!
— Está pedindo que eu passe quatro meses em agonia, sem saber se
você vai sobreviver? Como posso estar ansioso por isso? Como posso estar
feliz? — Sua voz se alquebra num soluço seco e minha vontade é abraçá-lo
e dizer que tudo vai ficar bem. Mas sei que ele não acredita em mim.
Terei que esperar e mostrar.
Terei que rezar para que minha esperança seja o suficiente para me
manter viva no final de tudo.
Enxugo minhas próprias lágrimas e encaro as três pessoas que me
são mais caras no mundo. Não é justo que eu tenha que escolher. Que para
acrescentar mais uma pessoa importante a minha vida, tenha que causar
tanto sofrimento a eles.
— Pai, sinto muito por decepcioná-lo. Sei que não compreende e
que está furioso porque me ama e não quer me perder. Porém eu sou adulta
agora e faço minhas próprias escolhas. E escolhi ter meu bebê apesar dos
riscos. Não espero que me perdoe nesse momento, só torcer para que me
perdoe um dia. — Então me viro para minha mãe. — Não quero que a
senhora fique preocupada.
— Está pedindo algo impossível! — Sorri tristemente. — Vou ficar
aqui com você...
— Não. Você vai voltar para seu marido. Para sua vida e vai vivê-la
normalmente.
— Mas, querida...
— Por favor. Faça isso por mim. Prometo que a chamarei se
precisar. Tenho certeza de que tudo vai dar certo. — Coloco uma segurança
na minha voz que estou longe de sentir. Preciso tranquilizar minha mãe. —
Estou tomando a medicação direitinho. Meu médico disse que tudo vai
correr bem até o parto se continuar nesse ritmo.
— Claro. Você sempre foi uma menina muito saudável.
— Vou pedir ao Ethan para levá-los de volta. Não há necessidade de
permanecerem aqui.
Eu a abraço e também meu pai, que continua muito sério, embora
me abrace forte.
Então quando eles se vão, encaro Liam.
Quero sentir raiva dele. Quero agredi-lo, quero gritar por ele sequer
imaginar que conseguiria me convencer a me livrar do nosso bebê.
Não consigo. Entendo sua dor.
— Queria que tivesse um pouco mais de fé em mim — digo por fim.
— Você pode olhar nos meus olhos e dizer com certeza que tudo vai
acabar bem? — Ele pede e sei que quer ouvir um sim.
Por outro lado sei que não posso mais mentir.
Estamos naquele impasse porque eu havia mentido durante muito
tempo. Menti para ele porque sabia de todos os riscos. Não havia garantias.
Essa é a verdade.
Eu estou dando um salto no escuro.
— Não, não posso. Estou agindo assim por algo maior, Liam. É
nosso bebê. E ele merece viver.
— Você também merece viver, merda!
— Não me importo de morrer se for por ele — confesso e Liam
solta um palavrão baixo.
— Não posso continuar, não posso... — ele diz por fim me
encarando com os olhos cheios de dor antes de se afastar.
Quando sai, toco meu ventre fazendo uma prece silenciosa para que
Liam não tenha que me perder.
Nunca.

***

Naquela noite durmo sozinha novamente. Liam se trancou no


escritório desde que meus pais foram embora e não ouso me aproximar.
Quando acordo na manhã seguinte, ele já partiu para o trabalho e
Eric me dá bom dia com um sorriso triste.
Essa rotina se repete por dias seguidos.
Ariana aparece para as injeções e sempre tem algo ferino para
proferir contra Liam na ponta da língua, depois de alguns dias, peço
rispidamente que ela pare.
Ela dá de ombros e não insiste.
A verdade é que estou começando a me cansar da atitude fria e
distante de Liam. Eu o deixei se afastar. Deixei que remoesse sua raiva.
Entendia sua fúria, sua frustração. Se fosse o contrário, se fosse a vida dele
que estivesse em risco eu também perderia o chão.
Só que esperava que, mais dia menos dia, ele voltaria para mim.
Que partilharia a minha fé no futuro, que também estaria preparado para
aceitar que iríamos ter um bebê e que, se algo desse errado no final, nosso
filho iria precisar de um pai.
Ele aparecia todas as noites muito tarde, eu ainda tentava me
aproximar, a única reação que recebia dele eram olhares rancorosos,
respostas frias e sua ausência.
Ele se trancava no escritório e eu ia dormir sem saber se ele viria
para a cama ou não.
Ele nunca vinha. Perguntei-me se ele estava conseguindo dormir.
Até que numa noite, acordo e percebo seu lado da cama vazio. Olho
o relógio e são três da madrugada. Esse fato me faz lembrar as primeiras
noites que passei ali. Quando ele se recusava a dormir comigo, sempre
acordado até tarde com a mente focada no trabalho. Ou dormindo e tendo
pesadelos sobre seu passado.
Levanto-me da cama, caminho pelo apartamento silencioso e meu
coração se aperta ao vê-lo deitado no sofá da sala.
O laptop ainda está ligado em seu colo, imagino que dormiu de pura
exaustão.
Caminho até lá e fecho o laptop, colocando-o sobre a mesa de
centro. Liam resmunga algo em seu sono e me sento do seu lado. Ele parece
agitado balbuciando coisas sem sentido. Estaria tendo um pesadelo? Toco
seus cabelos com carinho.
Há quanto tempo não o toco deste jeito? A sua distância dói em
meus ossos.
— Shi, estou aqui — murmuro, me aproximando e deitando sobre
seu peito, sentindo seu cheiro único impregnar minha alma. Me aqueço com
sua presença e suspiro, sentindo-me completa e quase em paz pela primeira
vez em dias.
Liam ainda resmunga um pouco, então finalmente se acalma. Escuto
seu ressonar profundo e cheio de paz também. Como se em seu
subconsciente soubesse que não há nada mais certo do que estarmos assim,
grudados. Almas gêmeas.
Fui eu que causei nossa separação com minha mentira? Ou foi ele
com sua incapacidade de me entender?
Fecho os olhos pedindo a Deus que aquela tempestade passe.
Quando acordo estou em nossa cama sozinha.
Espreguiço me perguntando a que horas teria acontecido.
Levanto-me e Ariana está na cozinha tomando café com Eric
quando me aproximo.
— Bom dia, está se sentindo bem esta manhã?
— Sim... Eric, o Liam já saiu para o trabalho, presumo.
Os dois trocam um olhar e eu franzo a testa.
— O que foi?
— Liam e Ethan viajaram — Eric diz e sinto meu coração afundar.
— Para onde? Eu não fui informada de nada...
— Hum, não é de estranhar que o babaca do Liam não tenha te
avisado, não é? — Ariana dardeja.
— E para onde foram?
— Ethan não me disse — Eric responde baixinho.
Solto um suspiro conformado.
Liam tinha fugido. Simples assim.
— Sinto muito, Emma — Ariana toca minha mão e sorrio
tristemente.
— Tudo bem. Vou ficar bem — afirmo mais pra mim mesma.
— A Zoe ligou. Ela voltou de viagem — Eric avisa.
Faço uma careta. Teria que contar a Zoe. E também não seria algo
fácil.

***

— Emma, como pôde me esconder algo tão grave? — Zoe grita em


seu sofá, segurando a xícara de chá entre as mãos, depois que conto sobre
meu estado de saúde.
— Me desculpe, não contei a ninguém...
— Contou a Ariana! Pensei que fôssemos melhores amigas!
Reviro os olhos. Era típico de Zoe se colocar como a principal
prejudicada na história.
— Ela descobriu sem querer!
— Mesmo assim devia ter me contado!
— Não queria que ninguém soubesse. Ariana só me ajudou com as
injeções.
— Aquela Barbie New Jersey bronzeada artificialmente, além de
milionária é médica? Faça-me o favor!
— Enfermeira, estudou enfermagem. Até pensou em ser médica.
— Ah, que metida! Falando sério, Emma, não consigo aceitar que
tenha confiado mais numa estranha do que em mim!
Bufo e me levanto do sofá, pegando minha bolsa.
— Ok Zoe, pense o que quiser! Só queria que soubesse de tudo
agora que todo mundo já sabe. Se for ficar com picuinhas vou embora.
Eu me encaminho para porta, Zoe me chama.
— Emma!
Eu me viro, impaciente e me surpreendo ao vê-la chorando.
— Você vai morrer?
Mordo os lábios.
— Claro que não.
— Não quero que morra. É minha melhor amiga. Minha única
amiga — ela soluça, me aproximo e a abraço.
— Shi, vai ficar tudo bem.
— Me desculpe por ser uma vaca — ela sussurra e eu rio.
— Não desculpo sempre?
Ela me encara fungando.
— Posso aprender a dar injeções também, ok?
Sorrio e enxugo suas lágrimas.
— Eu sei.

***

Cinco dias depois ainda não tive notícias de Liam quando chego a
clínica para minha consulta mensal com o doutor Cameron.
Sento-me na sala de espera, aguardando para ser atendida e verifico
meu celular. Há dias espero que Liam entre em contato. Nem que seja uma
simples mensagem.
Hesito por um momento então digito uma mensagem com dedos
trêmulos, apagando-a em seguida.
Repito o gesto algumas vezes, indecisa sobre o que dizer. Ser prática
e perguntar onde ele está e quando volta? Mostrar que estou furiosa com
sua fuga e lhe dizer poucas e boas?
Sim, eu deveria. A verdade é que estou farta. Quero dar a ele tempo
e espaço, mas até quando?
Minha barriga cresce rapidamente. Tomo as malditas injeções todos
os dias e espero que tudo continue bem. Que eu permaneça forte até o fim.
Mas estou sozinha nisso tudo.
— Senhora Hunter — a enfermeira chama meu nome, me desligo de
minhas divagações e a acompanho até o consultório.
Ela me ajuda a deitar sobre a maca e diz que o Doutor Cameron já
virá me atender.
Relaxo à espera do médico acariciando minha barriga, quando a
porta se abre o doutor Cameron não está sozinho.
Arregalo os olhos surpresa ao ver Liam com ele.
Capítulo 7

— Liam!
Por dentro sou uma mistura confusa de sentimentos.
Estou aliviada por ele estar de volta. Estou feliz por ver seu rosto,
mesmo tendo que encarar sua expressão carrancuda.
Estou com medo dos motivos de ele estar ali.
Ainda me lembro de sua sugestão afrontosa quando meus pais
estavam na cidade. Ainda me lembro que ele preferiria que nosso bebê não
existisse o que me deixaria a salvo.
Levo a mão à barriga automaticamente me preparando para brigar se
fosse necessário.
— O que faz aqui?
— O Doutor Cameron me informou que faria um exame. — É sua
resposta simples.
Como é? Encaro o médico que sorri compassivo enquanto prepara
os equipamentos para o ultrassom.
— O senhor Hunter pediu que o andamento de sua gestação lhe
fosse informado.
Mordo os lábios tentando não ficar nervosa com aquela medida de
controle da parte de Liam. Afinal, ele tinha o direito, não é?
O que me irrita é o fato de ele estar ali bancando o preocupado na
frente do médico quando havia me deixado sozinha por uma semana sem a
menor explicação.
Tenho vontade de gritar e sacudi-lo exigindo respostas, mas me
contenho. O doutor Cameron não precisa presenciar nossos
desentendimentos mais do que o necessário.
— Vamos lá, Senhora Hunter — O médico começa a
ultrassonografia, passando o aparelho pela minha barriga.
Não consigo visualizar Liam que está em algum lugar atrás de mim,
então me concentro no exame.
— A senhora está na vigésima primeira semana. Seu bebê está no
tamanho correto para o período, que é aproximadamente 34 centímetros e o
peso também está dentro do previsto, 1 kg.
Sorrio, animada.
— E está tudo bem com a Emma? — Escuto a voz de Liam e me
irrito.
— O bebê está bem e é o que interessa — corto.
— Você precisa estar bem para ele estar bem, não concorda? —
Liam responde no mesmo tom.
— Verificarei a saúde de sua esposa assim que terminar o ultrassom,
senhor Hunter. Fique tranquilo — o médico responde cordialmente
ignorando a tensão entre Liam e eu. — Tudo está perfeitamente bem com
seu bebê. — Ele termina o exame. — Agora vamos verificar se está tudo
bem com a mamãe — sorri e eu continuo séria.
— Eu prefiro que ele saia — resmungo sem olhar pra Liam.
Estou com raiva dele neste momento. Estou irritada por ele estar ali,
me recordando que não importa só o bebê estar bem.
— Não vou sair, Emma — Liam retruca e o encaro friamente.
— Se você não sair eu saio e não faço exame nenhum!
— Ei, tudo bem. — O médico encara Liam com um olhar
conciliador, apesar de firme. — Por favor, seria melhor que o senhor saísse,
senhor Hunter. Eu o informarei sobre os exames quando terminarmos.
Espero que Liam discuta, no entanto ele apenas solta um palavrão
baixo e se afasta fechando a porta atrás de si.
— Pensei que ele fosse insistir.
O médico sorri.
— Tenho conversado muito com o senhor Hunter e explicado a
necessidade de ele tomar cuidado para não a deixar nervosa.
Abro a boca surpresa.
— Ele está muito preocupado com o risco que você está correndo.
Me colocou em contato com alguns especialistas, para saber se há algo mais
que possamos fazer para diminuí-los.
— Sério? Quando aconteceu?
— Nesta última semana. Há um especialista nessa síndrome em
Boston. O senhor Hunter cogitou a hipótese de levá-la até ele, nós
chegamos à conclusão que não será necessário. Ele concorda comigo que as
injeções são as únicas medidas que podemos tomar.
Deixo que o médico me examine e respondo a todas as suas
perguntas com o pensamento longe.
Então era o que Liam estava fazendo? E, por que cargas d’água, não
me contou?
— A senhora está muito bem. Mantenha as vitaminas e as injeções.
E, por favor, tente não se irritar desnecessariamente.
— Estou tentando.
Saio da sala e encontro Liam no corredor.
O ignoro passando por ele sem dizer nada. Sei que vai entrar para
conversar com o Doutor Cameron, só não sou obrigada a esperar. Sigo para
o carro, esperando encontrar Owen, estaco ao ver Ethan.
— Cadê o Owen?
— Dispensado.
— Claro, se o chefe está aqui, o lacaio preferido também — dardejo
e Ethan ri.
— Está me lembrando seus primeiros dias com Liam. Como era
arisca!
— E eu devia ter previsto que uma vez cretino, sempre cretino! —
resmungo, entrando no carro quando Ethan abre a porta.
— Não acho que seja bom ficar nervosa deste jeito, hein?
— Vai se foder! — Bato a porta e ele dá a volta se sentando no
banco do motorista ligando o som. Escutar minha música preferida da Sia
não ajuda em nada.
— Quero ir embora.
— O Liam não deve demorar.
— Que se dane o Liam. Sou sua chefe também e quero ir embora
agora!
— O Liam...
— Achei que a ideia era não me deixar nervosa!
Ethan suspira e liga o carro.
— O Liam sabe o caminho de casa — ele diz por fim e me leva.
Liam vai ficar furioso, não me importo nem um pouco.
Cansei de ficar pisando em ovos com ele, quando deveria ser o
contrário.
Chego em casa e encontro Zoe me esperando.
— Zoe, o que faz aqui?
— Vim almoçar com você. — Sorri empolgada e me puxa pela mão.
—também trazer os presentes que comprei!
Ela me faz sentar no sofá da sala e arregalo os olhos ao ver um
monte de sacolas que começa a remexer.
— Não faça essa cara, são coisas para o bebê!
Ela coloca em meu colo um macacão azul claro e não consigo evitar
meu sorriso.
— Ah Zoe, é lindo, está exagerando! Esta criança já tem roupa
demais nem sei como vai usar tudo!
— Eu sei, não pude resistir era tudo tão lindo! — Ela retira mais
roupinhas das sacolas me explicando que é a última moda, eu sequer sabia
que existia última moda para bebês, mesmo assim sorrio indulgente. Essa
empolgação de Zoe me faz lembrar Liam fazendo a mesma coisa. Quando
voltava de alguma viagem trazia algo para o bebê na mala, sempre com a
mesma desculpa de que não conseguiu resistir.
Será que ele trouxe algum presente desta vez? Duvido muito, penso
com tristeza.
— Garotas, o almoço está servido — Eric me salva dos delírios
fashionistas de Zoe e ela se contenta em guardar tudo na sacola.
— Ah, preciso te contar uma novidade. — Ela mostra o dedo onde
brilha um lindo solitário. — Estou noiva.
— Que boa notícia, parabéns!
— Oi Liam! — Ela olha através de mim.
Levanto a cabeça e o vejo entrando na cozinha.
Estudo sua expressão. Não é nada animadora, também não parece
irritado.
Parece meio comedido na verdade.
— Oi Zoe, não sabia que tinha voltado de viagem.
— Estava com saudade da comida do seu chef! Você vai almoçar
com a gente?
Observo-o hesitar, então se senta ao lado de Zoe e na minha frente,
começando a se servir.
Zoe continua a tagarelar alheia à tensão.
— Estava contando a Emma que Jackson finalmente me pediu em
casamento! Quero me casar no próximo ano.
— Ah sim, e quando será o grande dia? — Pergunta educadamente.
O que é esquisito de se ver. Liam nunca raramente é educado com Zoe.
O Liam em seu estado normal a estaria alfinetando por mal ter
voltado de viagem e já estar enfiada em nossa casa comendo da nossa
comida.
— No máximo um ano. E é bom a Emma ir se preparando porque
será minha madrinha! Já estou pensando em que vestido fabuloso vai usar
e... — De repente ela para e coloca a mão na boca e crava em mim um
olhar assustado — Nossa, não parei para pensar que você pode não estar
aqui.
Oh Deus!
Largo o garfo no prato, com dificuldade para engolir.
— É, quer dizer, eu... — Zoe começa a gaguejar. — Sou uma tola,
claro que vai...
— Sim, tem razão, Zoe — Liam diz me encarando com aquele seu
olhar acusador ao qual estava me acostumando. — Ela realmente pode não
estar, não é?
A dor em sua voz me tira o ar.
Sinto lágrimas quentes tentando fugir dos meus olhos, faço um
esforço enorme e as seguro.
O nó na minha garganta se intensifica quase me sufocando.
Quero gritar que eles não têm nenhuma razão. Que estarei presente
daqui há um ano.
Porém, que certeza posso ter?
Mordendo os lábios com força para não explodir, empurro o prato e
me levanto.
— Perdi a fome.
Saio da cozinha sem olhar para trás, ainda escuto a voz fina de Zoe.
— Me desculpe Liam, eu não deveria, eu...
Sua voz fica para trás quando chego à sala, respiro fundo várias
vezes tentando me acalmar.
Olho para as sacolas e me sento no sofá pegando as roupinhas
novamente o que começa a acalmar minha dor.
Não sei quanto tempo se passa até que escuto passos se
aproximando.
— Você precisa comer.
Levanto o olhar e Liam está parado na minha frente.
— Zoe foi embora. Ela sente muito por deixar você nervosa.
Solto um riso sem humor, voltando a dobrar as roupinhas
cuidadosamente.
— Não é a Zoe que me deixa nervosa.
Ouço um palavrão baixo.
— Porra, Emma, eu... — ele respira fundo — sinto muito.
Eu o encaro.
— Sente mesmo?
— Nunca foi minha intenção deixá-la mal. Inferno! Pensei que
ficando fora do seu caminho...
— O quê? Pensou que você indo embora com sua raiva ia ficar tudo
bem? — Percebo meu tom de voz aumentando e respiro fundo, me
lembrando que não devo me alterar. Embora seja bem difícil. Olho para o
casaquinho branco entre meus dedos. — Veja o que Zoe trouxe. Não são
lindos? Me fez lembrar a quantidade de presentes que você trazia de suas
viagens para o bebê. — Eu o encaro. — Trouxe algo desta vez?
Liam desvia o olhar para o chão, passando os dedos frustrados pelos
cabelos e sei sua resposta.
— Como pode não o amar mais? — As lágrimas que eu vinha
tentando conter finalmente jorram livres por meu rosto.
Liam se aproxima e vejo a dor em seu olhar. Vejo sua frustração
quando se aproxima e toca minha barriga.
— Acha que é fácil para mim? Acha que não o amo? Eu quis este
bebê tanto quanto você. E pensar que porque ele existe você pode me
deixar. Não consigo lidar com isso, Emma...
Afasto sua mão, subitamente cansada de tudo aquilo.
— E eu não consigo mais lidar com você, Liam! Para mim chega!
Não posso ficar aqui aguentando sua raiva! Eu te dei tempo, esperei que
caísse em si e entendesse que vou ter este bebê e que nada nem ninguém vai
mudar minha decisão! Sei do risco e o escolhi mesmo assim!
— Sozinha quando deveríamos ter escolhidos juntos!
— Para você escolher se livrar do nosso filho?
— Não quero perder você.
— Está perdendo — digo me afastando e abrindo a porta.
— Emma, aonde vai? — Escuto a voz assustada de Liam e me
volto.
— Agora se importa? Não tem mais este direito. — Bato a porta,
deixando Liam e sua fúria para trás.

***

— Melhor?
Ethan pergunta do outro lado da mesa, depois de me servir um prato
de macarrão.
Bati em sua porta depois de fugir da briga com Liam e Ethan me
abraçou forte assim que viu meu estado.
— Deus do céu, o que está acontecendo, Emma?
— Deixei o Liam falando sozinho. Não aguento mais, Ethan.
— Ei, calma. Respire. Não pode ficar deste jeito, lembra?
— Vou ficar bem. Só precisava sair de lá. Estávamos almoçando e
Zoe fez um comentário idiota, saí da mesa sem terminar de comer, depois
eu e Liam discutimos de novo e...
— Calma. Uma coisa de cada vez. Venha, se não comeu, precisa
alimentar este leãozinho. Depois me conta tudo.
Tento comer, mesmo não sentindo fome enquanto Ethan me encara
de braços cruzados.
Me lembrando de quando bebi demais e ele cuidou de mim porque
Liam estava com muita raiva por eu ter beijado outro cara.
Nossa, parece ter acontecido em outra vida.
— Não sei mais o que fazer. Liam não consegue aceitar. Ainda está
com raiva de mim e não acho que queira mais nosso filho.
— Está dizendo bobagens. Claro que Liam quer o filho de vocês.
— Ele acha que eu deveria ter abortado. Não entende minhas
escolhas!
— Você deveria ter contado assim que soube sobre os riscos. Essa
merda toda não estaria acontecendo agora.
— Se tivesse contado Liam teria me convencido a abortar. Eu não
podia.
— Você não pode ter certeza. Liam estava tão feliz quanto você.
— Não está mais. E não posso mais lidar com isso. Preciso de paz.
Preciso ficar bem, não dá para ficar bem naquela casa com Liam.
— Ele está sofrendo como nunca vi antes, Emma.
— Eu sei! Por isso deixei que ele se afastasse. Que remoesse sua
raiva, só não consigo mais!
— Entenda uma coisa, tagarela. Liam viu os pais morrerem na
frente dele quanto tinha dez anos. Ele não amou mais ninguém depois. Nem
Nora e David. Nem aquela vadia da Vanessa e nenhuma mulher.
— Nem você?
Ele ri.
— É diferente. Protegemos um ao outro. Mas Liam não precisa de
mim. Ele nunca se permitiu precisar de ninguém, até você aparecer. E agora
ele tem que encarar o fato de que você, assim como seus pais, pode ser
tirada dele. Não está sabendo lidar com a situação. Está surtando.
— Está me afastando. O que não resolve nada, só piora tudo!
— É como se ele estivesse dessensibilizando. Blindando suas
emoções, ficando imune ao sofrimento. É como sua mente funciona. Foi o
que fez quando os pais morreram.
— Nunca quis que ele sofresse. Não quero deixá-lo também. Nada
vai acontecer. Estou me cuidando. Vou conseguir.
— Só que ninguém tem certeza, não é?
Não consigo responder. Apenas volto a comer, tentando não pensar
em como minha vida se encontra numa encruzilhada.
— Obrigada pela comida — digo quando termino e percebo que
Ethan está digitando no celular imagino que esteja avisando Liam que estou
com ele.
No entanto, não estou preparada para lidar com Liam ainda.
— Você pode me levar a um lugar?
— Não vai voltar para casa?
— Não posso, não agora.
— Vai ficar com Zoe?
— Não, Zoe não tem noção às vezes e só me deixaria mais nervosa.
— Pode ficar aqui se quiser...
— Não. Muito perto. Sei para onde quero ir.

***

— Tem certeza que posso ficar aqui? — Pergunto para Nora,


segurando uma xícara de chá quente entre as mãos.
— Claro que sim — David responde com um olhar compreensivo.
Não sei bem o porquê de ter escolhido a casa dos pais adotivos de
Liam como refúgio. Mas foi lá que pedi a Ethan para me levar.
Não fazia ideia do que eles sabiam sobre minha gravidez e, sabendo
como Liam era meio reticente com os pais adotivos, não tinha certeza se
contou sobre o meu problema.
Para minha surpresa, David me falou que Liam o havia procurado
quando descobriu sobre os riscos da gestação pedindo conselhos.
— Ele estava muito preocupado. Perguntou se eu conhecia algum
especialista, embora eu tenha lhe dito que o Doutor Cameron é um dos
melhores médicos obstetras da cidade.
— Nós ficamos muito preocupados, querida — Nora explicou com
um olhar maternal. — Pensei em visitá-la, David me convenceu a ficar de
fora depois que tive uma discussão com Liam.
— Vocês brigaram?
— Sim. Eu disse a ele que entendia sua determinação para levar a
gravidez até o fim em vez de fazer um aborto.
— Sim. Posso imaginar o motivo da briga...
— Sei que está sendo muito difícil querida. — Ela toca minha mão.
— mas tenho certeza que vai ficar tudo bem.
— Queria ter a sua confiança.
Ela sorri.
— Você tem. Não tem mantido o bebê seguro até agora?
Sorrio de volta.
Sim, tomei a decisão certa vindo ficar com Nora e David.
Eles estão sendo muito compreensivos e sensatos, nunca me
acusaram, se limitando a me manter calma e segura.
É o que eu preciso nesse momento.
Nora me leva para o andar de cima e abre a porta do quarto de
Jeremy.
— Se importa de ficar aqui? Nós temos um quarto de hóspedes, mas
Jeremy o transformou numa academia.
— Não quero tirá-lo de seu quarto.
— Não se preocupe com ele. Adolescentes dormem em qualquer
lugar. Eu ajeito uma cama para ele no escritório de David.
— E onde ele está? Não ficará bravo?
— Ele não vai se importar, tenho certeza. Está jogando na casa de
um amigo, deve chegar para o jantar. Descanse um pouco. Me chame se
precisar de algo.
— Obrigada Nora.
— Fique à vontade. Sabia que este quarto também foi do Liam?
Sorrio.
— Sério? É esquisito imaginá-lo aqui.
— Ele mudou muito, não é? Deve saber que a principal mudança
dele ocorreu depois de conhecer você. Então fique tranquila, querida. Ele
vai deixar a raiva de lado mais dia menos dia.
— Espero que não seja tarde demais — murmuro para mim mesma,
depois que Nora se afasta fechando a porta atrás de si.
Permaneço no quarto, tentando dormir o resto da tarde, porém
minha cabeça está cheia de pensamentos.
Será que Liam já sabe que estou aqui? Com certeza. Ethan deve ter
lhe contado.
Eu me pergunto se virá me buscar. Se exigirá que eu volte para casa.
Talvez não se importe. Ou prefira que eu fique longe. Deve ser o arranjo
perfeito para sua maldita dessensibilização.
Longe dos olhos, longe do coração. Não é o que diz o ditado?
Se quer deixar de me amar para sofrer menos, estou tornando o
processo mais fácil para ele. Este pensamento faz meu coração se apertar.
Como posso viver com o fato de Liam não me amar mais?
Por outro lado, se eu realmente não conseguir sobreviver... não será
melhor? Ele tinha vivido bem sem mim, não é? Penso nas garotas que
devem ter passado por aquele quarto. Garotas do tal colégio católico. Eu me
recordo do dia em que eu mesma me vesti de estudante católica. Em como
tínhamos nos divertido a nossa maneira nem um pouco ortodoxa.
Será que um dia voltaríamos a ser dois amantes despreocupados,
focados apenas em jogos de prazer?
Ou ele continuaria se afastando cada vez mais até colocar outra
garota em meu lugar, voltando a ser o Liam caçador de antes?
Nem quero pensar nessa possibilidade. Não posso imaginar outra
mulher com Liam. Não consigo.
Mesmo assim... Existe aquela pequena parte dentro de mim que o
ama tanto que deseja que ele volte a ser feliz. E talvez sua felicidade não vá
mais depender de mim, se eu não estiver presente.
— Oi. — Abro os olhos ao ouvir a voz na porta e vejo Jeremy
entrando — E aí, bem instalada?
— Oh, me desculpe Jeremy. Não queria roubar seu quarto.
— Devo dizer que até imaginei bastante você aí, só que não haveria
essa barrigona, estaria com menos roupa e...
— Ei, acho que devia me poupar dessas suas fantasias, ok? — Eu o
interrompo.
— Está certo. Mesmo porque seu marido me encheria de porrada se
soubesse.
— Não contarei a ele. — Afinal, eu nem teria como contar mesmo,
não é?
Jeremy fica sério.
— A Nora me contou do problema com sua gravidez. Que merda
hein?
— Pois é, acho que essa é a palavra correta.
— Vai ficar tudo bem, não vai?
Sorrio.
— Claro que sim.
— Ah, Nora pediu para te chamar para jantar.
— Obrigada, já vou descer.
Janto naquela noite com os Hunter que são muito cuidadosos e
amorosos comigo. Até Jeremy, se esforça para me deixar a vontade, dizendo
que posso acordá-lo de madrugada se eu sentir vontade de comer algo
bizarro.
— Conheço todos os lugares que vendem comida de madrugada,
posso dar um jeito!
— Manterei isso em mente.
— E se quiser jogar no meu Xbox, fique à vontade. Posso até te
ensinar se quiser.
— Acho que vou passar...
— Deixe a Emma em paz, Jeremy — Nora pede. — Acho que ela só
quer ir dormir.
Bocejo.
— Sim, estou com sono.
— Aproveite enquanto ainda consegue dormir bem. No último
trimestre vai ficando cada vez mais difícil — Nora avisa.
— Eu sei. Já sinto algumas dores nas costas.
— Ah, coloquei no quarto uma mala que a Ariana trouxe.
— Ela esteve aqui?
— Sim, veio trazer umas roupas para você. Disse que são roupas
novas porque não queria ir a sua casa. Também avisou que virá amanhã
cedo.
— Ah, obrigada.
Subo para o quarto, e abro a pequena mala, grata por Ariana tê-la
trazido e visto o pijama, me deitando sob as cobertas.
Passo a mão pela barriga, o bebê está mexendo e sorrio.
— Durma meu amor. Você está seguro aí. Eu juro.
Como se entendesse, minha barriga se acalma e fecho os olhos.
Meu último pensamento é para Liam.
Penso em como sinto falta de seus braços a minha volta.
Será que voltarei a senti-los?

***

Estou sonhando. Com Liam.


Com seus braços me envolvendo.
Seu corpo morno grudado a minhas costas sua respiração regular em
meu pescoço.
Meu coração se aquece. Não me movo, com medo de acordar. Com
medo de o sonho terminar e a realidade fria e dura me envolver novamente.
— Você prometeu que nunca iria embora.
Abro os olhos quando escuto sua voz. Rouca, linda, inconfundível
em meu ouvido.
Seus braços ainda estão a minha volta.
E meu coração falha uma batida quando percebo que não estou
sonhando.
Liam realmente está ali.
Capítulo 8

Liam está aqui. A realidade invade meus sentidos aos poucos, como
um rio que encontra finalmente o mar, se misturando a sua infindável
beleza.
E aquela beleza se espalha por meus poros, meu corpo, minha alma.
E, onde antes havia apenas vazio, agora existe a presença de Liam. Com
seus braços a minha volta, seu cheiro em minhas narinas, sua voz em meu
ouvido.
Fecho os olhos e deixo que sua presença leve embora a dor que sua
ausência havia causado em mim.
— Você me deixou ir — afirmo, minha mão já está a caminho da
sua, que repousa em minha barriga.
A barriga que tinha sido o começo de toda a discórdia. Lembrar faz
a dor voltar a apertar meu coração.
Acho que Liam percebe minha inquietação, pois retira sua mão de
mim, se afastando.
— Você tinha o direito de me odiar.
Eu me viro para encará-lo.
Mesmo com sua aparência cansada me parece tão lindo.
— Não te odeio Liam. Como poderia? — Toco seu rosto, puxo seus
cabelos. — Eu te amo mais do que tudo.
— Você decidiu me deixar. — Sei que ele está falando da minha
gravidez.
— Este bebê é seu. Como poderia não escolher tê-lo? Não existia
outra opção.
Seu olhar é cheio de tormenta na semiescuridão do quarto, quando
segura minha mão e beija meu pulso.
— Não posso mais perder ninguém, porra.
Tenho vontade de chorar.
— Não tenho como garantir que não vai acontecer. — Engulo o nó
na minha garganta ao ver seu olhar se tornar ainda mais escuro. Não é o
Leão de Wall Street que está ali na cama comigo. E sim um garotinho
sozinho no mundo aos dez anos. — Também não posso mais ficar sozinha.
Não quero estar sozinha, Liam. Já me sinto morta só de não ter você perto
de mim...
— Cale a boca, merda — rosna me puxando para junto de si, o rosto
cheio de uma raiva angustiante. — Você não vai morrer!
Rio e fungo.
— É o que venho tentando te dizer, idiota... — Minhas palavras são
engolidas por sua boca.
Ah a sua boca. Fecho os olhos e me alimento do seu gosto.
Tem gosto de amor. Misturado com lágrimas. Minhas. Dele. Nossas.
E isso me deixa feliz. Posso lidar com qualquer coisa desde que
estejamos juntos.
Quando o beijo termina estou sorrindo.
— Volte para casa — ele pede encostando a testa na minha.
— O fato de estar sorrindo não significa que estou feliz com você,
senhor Hunter.
— Volte para casa — insiste.
— Pra você continuar sendo cretino?
Ele rosna e se afasta. Eu vou junto.
— Estou muito bem aqui, sabia? O Jeremy foi bastante gentil
comigo. Disse inclusive que poderia buscar comida de madrugada se eu
sentisse desejo.
— Não precisa daquele punheteiro para fazer nada para você.
— É, isso ele deve ser mesmo. Disse que teve fantasias comigo,
quando me viu na cama dele.
— Aquele filho da puta devia respeitar mulheres grávidas.
— Ah, fique tranquilo. Nas fantasias dele ainda sou bem magrinha...
— Vai me dizer que me trocaria por aquele merdinha?
Dou de ombros.
— Ele é bonito. E todo musculoso. Reparou? E sabe que
adolescentes são bem resistentes, aposto que ele consegue manter uma er...
Paro de falar e solto um pequeno grito de susto quando Liam me
prensa na cama, com as mãos acima da minha cabeça, seu olhar furioso me
devasta.
Porra. Estou grávida, não morta. Com o perdão do trocadilho.
Liam com aquela cara de Leão de Wall Street me deixa com um
tesão dos infernos.
— Porra, não vou ficar ouvindo você falar do pinto pequeno daquele
bombado.
Ah sim. Ah sim.
— Adoraria me punir, não é? — Pergunto e, instantaneamente,
Liam entende o que se passa na minha mente suja.
Vejo a mudança em seu olhar por um átimo de segundo. Mas ele
continua sério.
Eu já começo a desanimar. Típico.
— Se não estivesse grávida realmente te daria uma lição, Senhora
Hunter.
Sorrio.
— Sabe que não precisa se conter, não é Senhor Hunter? —
Sussurro na minha melhor voz de travesseiro.
Então algo se move entre nós e prendo a respiração ao sentir o chute
suave na minha costela.
Liam segue meu olhar, também com a respiração suspensa.
— O bebê está mexendo. — Sua voz sai estranha.
Suas mãos soltam as minhas.
Eu as levo até meu ventre.
— Ele costuma se mover cada vez com mais frequência agora.
Saberia se dormisse comigo. Ou pelo menos ficasse perto de mim o
suficiente. — Não consigo evitar o tom ressentido da minha voz.
Liam se senta, passando a mão pelos cabelos.
Ele ainda está todo vestido, reparo.
Eu me sento também.
— Precisamos falar sobre ele se quer que eu volte pra casa.
Percebo a luta em seu semblante. Ainda o machuca. Ainda o
aterroriza.
Por outro lado, também sei que quer ficar comigo.
Ele está comigo agora, não está?
— Eu entendo você, Liam. Entendo que esteja com medo. Também
estou. — Puxo sua mão para minha barriga e ele não se afasta. Só tem outra
vez aquele olhar de garoto perdido no rosto que estraçalha meu coração. —
Nunca vou poder voltar no tempo e escolher te contar. Ou mesmo para
escolher não ter o bebê. No entanto, estamos aqui. E não sou mais só eu que
preciso de você. Nosso filho também precisa.
Ele não diz nada por um momento. Apenas acaricia meu ventre com
um carinho que não vejo desde que soube sobre os riscos que aquela
gravidez trouxe para minha vida.
— Eu nunca pensei seriamente em ter um filho, porém, desde o dia
em que soube que estava grávida, eu o quis. — Sua voz sai baixa como um
rosnado ferido e mordo meus lábios para conter o nó se formando em minha
garganta. — Contra todas as possibilidades quis ser um pai. Então descubro
que, para que aconteça, corro o risco de perder você. — Seu olhar cruza
com o meu e mal consigo respirar. — Nunca senti tanto ódio do mundo
como naquele momento. Acho que nem quando meus pais foram tirados de
mim. E imaginei por um instante o que teria feito se tivesse me contado
antes.
Ele para, respirando com dificuldade.
— Se você tivesse me contado... naquela época... tem razão. Eu teria
pedido para tirá-lo.
Ouvi-lo dizer, embora já soubesse, faz um novo buraco no meu
peito.
— Isso faz de mim um monstro?
— Ah, Liam, você não é um monstro. É apenas humano. Também
sinto raiva do mundo. Nada disso é justo.
— O que vamos fazer? — É estranho ouvir aquela pergunta vinda
de Liam. Ele sempre foi o dono da maioria das respostas em nossa relação.
— Nós fazemos nossas escolhas com o melhor que temos e
seguimos em frente.
— Você escolheu!
Sorrio tristemente.
— Sim, escolhi nosso bebê. Deveria ter feito esta pergunta meses
atrás, mas estou fazendo agora. O que você escolhe?
Espero com a respiração presa na garganta. Sei que se Liam for
contra minha decisão, será nosso fim. Não tem como ser diferente.
— Escolho o que você escolheu — diz por fim. Há resignação em
sua voz. Também há convicção. Tudo misturado com um pouco de
tristeza. — Escolho ficar com você. Escolho cuidar de você. Escolho o que
tiver que ser, contanto que esteja com você. Seja qual for o fim.
Sorrio jogando meus braços a sua volta. Adorando senti-lo perto, me
apertando.
— Só nunca mais vá embora. — Sua voz sai abafada contra meu
pescoço.
— Nunca mais me deixe ir embora.
Permanecemos abraçados sem nos preocuparmos com o tempo.
Apenas sentindo as batidas dos nossos corações se acalmando. No mesmo
ritmo.
— Vai me levar pra casa agora? — Pergunto, quando começo a me
sentir sonolenta.
— Não. Vamos dormir. — Ele se aconchega a mim na cama e
boceja — estou um lixo depois de ficar sem dormir direito todos estes dias.
— Então durma. Na cama do Jeremy...
— Essa cama foi minha antes de ser dele.
— Fiquei sabendo... Era onde fodia as garotas católicas.
— Não comece com este papo sujo, baby. Vamos dormir.
— Ah, que pena. Podia me contar como era, talvez até me mostrar...
— Boa noite, Emma. — Boceja de novo e desisto de provocá-lo
porque também estou morrendo de sono.
Estou quase dormindo quando escuto sua voz sonolenta.
— Sinto muito por ter te deixado sozinha.
— Sinto muito por ter te deixado de fora.
— Somos dois idiotas, não é?
Solto uma risada, me aconchegando mais.
— Esse é o motivo de sermos perfeitos juntos.
Capítulo 9

— Bom dia, bonita. — Jeremy pisca para mim com a boca cheia de
cereal quando entro na cozinha pela manhã.
— Você parece bem, querida — Nora sorri. — Sente-se e tome café
conosco.
— Sim, minha cama fez bem pra você hein? — Jeremy ri
maliciosamente e rolo os olhos, servindo-me de uma xícara de chá.
— Sim, dormi muito bem. Sua cama é realmente ótima, Jeremy. —
Sorrio com o mesmo jeito malicioso o que faz Jeremy corar. Rapidamente
ele se recupera e incha o peito se inclinando em minha direção.
— Você pode ficar com ela quanto tempo quiser...
— Saia de perto da minha mulher, pirralho — O rosnado de Liam ao
entrar na cozinha, faz meu sorriso se alargar e Jeremy se afastar na mesma
hora olhando de mim para Liam surpreso.
— O que está fazendo aqui?
Liam pega a xícara de café que Nora lhe serve e beija sua testa antes
de se aproximar e sentar do meu lado.
— Minha mulher dormiu aqui, onde mais eu estaria? — Ele segura
minha mão, levando meu pulso aos lábios. Sorrio feito boba.
Jeremy relanceia o olhar de mim pra Liam e sua expressão de
confusão vira uma careta.
— Argh, vocês transaram na minha cama?
— Jeremy! — Nora o repreende e solto uma gargalhada.
— Não é da sua conta, pentelho — Liam responde, mas não parece
bravo.
E, por um momento, me regozijo com aquele Liam mansinho que
não via há tanto tempo. Ontem acreditava que nunca mais iria vê-lo
novamente. E agora ele está aqui. Entrelaçando os dedos nos meus,
beijando meus cabelos, sorrindo pra mim como antes.
Antes de descobrir sobre minha mentira.
Antes de saber que minha vida poderia estar com os dias contados.
Esta lembrança incômoda tira um pouco do brilho dos meus olhos,
porém continuo sorrindo, não querendo estragar aquela tão almejada trégua.
Não agora que meu Liam está de volta.
— Bom dia, família. — A voz estrondosa de Ethan interrompe o
fluxo sombrio do meu pensamento e me viro para vê-lo entrando com
Ariana na cozinha.
Ele está sorrindo animado, enquanto ataca o bolo sobre a mesa e
imagino que Liam lhe contou que fizemos as pazes. Já Ariana parece não
ter tanta certeza e nos lança um olhar cauteloso e desconfiado.
— Hum, isso é bom! — Ethan diz de boca cheia e Ariana faz cara
de nojo.
— Ainda bem que não apresentei minha irmã pra você! Que mal
educado!
— Nós estamos acostumados com ele, querida — Nora intervém. —
aliás, por que também não se senta e toma café conosco?
— Obrigada. Só vim ajudar a Emma com a injeção tenho que sair
logo para levar minha filha ao balé.
— Não se preocupe, eu como a parte dela! — Ethan responde o que
faz Ariana revirar os olhos.
— Vamos, Emma?
— Vamos. — Eu me levanto e não consigo encarar Liam, antes de
seguir Ariana até o banheiro.
— Obrigada por se lembrar de trazer meu medicamento. — Digo
quando chegamos ao banheiro. — Aliás, obrigada por ter trazido roupas,
também.
— Não precisa agradecer. — Ela prepara a seringa e me encara com
um olhar curioso. — Então, está mesmo tudo bem? Seu marido parou de ser
um babaca egoísta?
— Ariana, não fale assim!
— Deixe-a falar, era verdade. — Nós duas nos viramos para ver
Liam na porta do banheiro e quase rio ao notar que Ariana ficou vermelha.
Sua expressão vai de sem graça a confusa quando Liam estende a
mão.
— Deixe-me fazer.
— O quê?
— A injeção.
Agora nós duas estamos surpresas.
— Você vai aplicar injeção na Emma?
— Achei que você fosse uma mulher inteligente, Ariana. — Liam
retruca impaciente. — Ouviu muito bem o que eu disse. Eu mesmo irei
aplicar as injeções na minha esposa a partir de agora.
— Mas...
— Ethan está te esperando para levá-la — Liam continua com a
mão estendida e Ariana me encara.
— Tudo bem, Ariana.
Ela dá de ombros vencida, entrega a seringa a Liam saindo do
banheiro.
Liam fecha a porta atrás dela e me encara.
— Não precisa fazer isso.
— Devia ter contado comigo desde o começo. — É sua resposta
simples.
Eu não contesto. Um tanto sem graça, levanto a blusa e o vejo
aplicar a injeção sem nenhuma hesitação.
— Você é bom.
— Sou bom em muitas coisas, baby — diz jogando a seringa no
lixo.
— É, sei muito bem.
Ele estuda meu rosto.
— Você está bem?
— Sim, agora estou ótima. — Sorrio me aproximando até que esteja
colada nele. — O Ethan não teria que levá-lo ao trabalho também?
— Hoje não vou trabalhar.
Levanto a sobrancelha.
— Não? O que aconteceu com “o dinheiro nunca dorme”?
Ele sorri e abre a porta do banheiro.
— Acho que tenho que começar a me redimir por ter sido um
babaca egoísta, não é?
Eu não discordo.

***

— Liam, que diabos estamos fazendo aqui? Armani, sério? — Olho


espantada para a fachada da loja na Quinta Avenida, enquanto ele me puxa
pra dentro.
Obviamente, uma vendedora muito educada se aproxima com um
sorriso calculado.
— Senhor Hunter, em que posso ajudá-lo?
— Minha esposa e eu queremos ver roupas de bebê.
— Ah claro. — Finalmente a mulher parece me notar e sorri toda
solícita — Por favor, venham comigo. Vou levá-los até a Armani Junior.
— Armani Junior? Nem sabia que existia — cochicho atrás de
Liam.
Liam dispensa a vendedora quando chegamos ao departamento
lotado de roupas de bebê que devem custar uma fortuna.
— Liam, nós não precisamos de mais roupas de bebê!
— Você ficou chateada quando não trouxe nenhum presente das
minhas viagens.
— Ah, estava chateada com um monte de coisas. Realmente nem sei
onde enfiar mais roupinhas! Teremos que arrumar um quarto extra!
— Pode ser uma boa ideia — Liam fala distraído enquanto verifica
os cabides minúsculos. — Tenho certeza que Zoe adoraria arrumar.
— Nem tenha ideias! — Dou-me por vencida e me aproximo de
uma prateleira cheia de roupas azuis, um sorriso se forma em meus lábios.
— Lembra quando descobrimos que seria um menino?
Ele sorri também. O que aquece meu coração.
Sei que está se lembrando de quando voltou de uma viagem de
negócios depois que fiz o ultrassom em que pude ver o sexo do bebê e lhe
contei que, diferentemente do que ele vivia dizendo aos quatro ventos, não
teria que conviver com uma mini senhorita Jones. Ao contrário, eu que teria
um leãozinho feroz para cuidar.
— Falei que da próxima vez seria uma senhorita Jones. — Ele
relembra e então me encara sério. — Não haverá próxima vez, não é?
— Não. — Eu me sinto triste ao pensar que não poderia engravidar
de novo. Neste momento só quero conseguir levar essa gravidez até o fim.
Já seria uma dádiva. Então sorrio pegando um pequeno casaco azul e mudo
de assunto. — Acho que um desses está bom por hoje. O que acha?
— Só?
— E já é muito.
— Não seja chata. Vamos levar este também. — Acrescenta um
sapatinho branco e não discuto. Quando a vendedora volta para perguntar se
precisamos de ajuda, Liam já havia separado uma dúzia de roupinhas que
provavelmente nunca seriam usadas.
Não me importo realmente. Estou tão feliz por termos voltado
àquela espera ansiosa por nosso bebê.
— E o que gostaria de fazer agora? — Ele pergunta quando
chegamos ao carro e Ethan, que havia trocado de posto com Owen depois
de levar Ariana, abre a porta para nós.
— Hum, podemos ir pra casa? — Eu me aconchego a ele no carro.
— O que você quiser, baby.
Ethan dá partida, liga o som e os acordes sombrios de Nine Inch
Nails enchem o carro. Não reclamo. Naqueles meses de convivência com
Liam havia aprendido a amar as músicas que ele gostava. Infelizmente,
ainda não consegui fazê-lo ouvir Sia. Eu não perdia a esperança.

***

Surpreendo-me nos dias que seguem com a presença quase


constante de Liam a meu redor.
No dia em que voltei pra casa, passou o dia inteiro comigo,
deixando que eu ditasse o ritmo das horas. Escolhi simplesmente passar o
dia encolhida com ele no sofá da sala de TV assistindo filmes bobos com
finais felizes, ansiando intimamente que o meu final também fosse feliz.
Liam não reclamou nem uma vez, embora eu soubesse que não via a
menor graça naqueles filmes. Ficou comigo, me abraçando, mexendo em
meu cabelo e acariciando minha barriga quando o bebê se mexia fazendo-
me gemer desconfortavelmente.
Nos dias que se seguiram, não ficou tão grudado em mim quanto eu
gostaria, embora passasse a maior parte do tempo em casa, digitando
furiosamente em seu laptop e falando ao telefone com algum pobre coitado
do escritório de Wall Street.
Zoe aparecia constantemente para almoçar e sempre trazia coisas de
bebê, não adiantando de nada minhas súplicas para que parasse com aquelas
compras descontroladas e desnecessárias. Liam não ajudava em nada,
dizendo que Zoe podia comprar o que quisesse, até deu um cartão de
crédito a ela.
— Liam, é um absurdo! Não tem medo que ela gaste seu dinheiro
com coisas para o casamento dela? Zoe é louca e é bem capaz de algo desse
tipo!
— Não me importo. — respondeu ainda com a atenção na tela do
computador. — Eu disse a ela que podia gastar no que quisesse, inclusive
com o casamento. Sabia que ela quer realizar a cerimônia num castelo?
— Ah Deus! O que aconteceu com vocês? Antes se detestavam!
— Ainda a detesto — ele riu.
— Mas está dando dinheiro pra ela!
— É só dinheiro, baby, e tenho um monte — respondeu
simplesmente, fechando o laptop e se levantando da mesa. — E então o que
quer para o jantar? Emiliano e Ariana virão também.
Sim, às vezes Liam dispensava Eric e fazia ele mesmo nossas
refeições. Também parou de viajar a negócios.
— Não vou mais viajar até o bebê nascer. — Ele me disse quando
perguntei depois de permanecer semanas em casa. Liam viajava
praticamente todo mês antes. — Também tentarei diminuir as viagens
depois que ele nascer.
Eu havia engolido em seco, pensando que seria bem útil se ele por
acaso ficasse sozinho com o bebê.
Embora o medo persistisse, minha saúde continuava estável.
Liam aplicava as injeções religiosamente todos os dias e eu
consultava toda semana, sempre acompanhada por ele.
O bebê continuava a crescer saudável e o médico dizia que se
continuássemos naquele ritmo tudo daria certo até o final.
Eu rezava todas as noites para que o que ele dizia se concretizasse.

***
Capítulo 10

Não tenho muitas lembranças boas do natal.


Ter crescido com uma mãe com tendências hippies não contribuiu
muito para que eu aproveitasse as festas natalinas como uma criança
normal. Margô inventava uma religião a cada ano, além de ser contra entrar
na “orgia consumista” como ela chamava. E eu sequer sabia o que
significava uma orgia até os treze anos de idade, quando roubei um livro
sobre sexo da biblioteca da escola.
E Tom era desligado demais para se importar. Depois de adulta
costumava alternar passando-os, ora com Margô, ora com Tom, para que
eles não brigassem. Quando estava com Margô, ela sempre comprava
algum pacote de viagem para uma praia com muito sol, onde tomávamos
margueritas e tentávamos ficar bronzeadas, o que era inútil dado o tom
branco vampiro de nossas peles. Com Tom, tentava fazer alguma comida
decente e depois assistíamos filmes natalinos antigos na TV, até ele dormir
e eu ter que arrastá-lo para a cama.
Então cresci não me importando muito com os feriados de final de
ano.
Até agora.
O que tinha tudo a ver com duas coisinhas que mudaram na minha
vida no último ano.
Meu Leão de Wall Street e o leãozinho que crescia na minha
barriga.
Com um sorriso, passeio os dedos por meu estômago dilatado
enquanto olho a neve caindo através da parede de vidro da janela do meu
quarto.
Tanta coisa havia mudado em tão pouco tempo, às vezes eu achava
surreal que em menos de um ano eu tivesse me transformado da Emma
universitária, sem namorado e sem grandes perspectivas, nesta Emma,
casada com um dos homens mais ricos do país e grávida de seis meses.
Aquele ano foi especial. E eu quero que o natal seja especial
também.
No entanto... A incerteza aperta meu peito e fecho os olhos, soltando
um suspiro. Não, não vou pensar em nada hoje a não ser na minha primeira
ceia de natal.
O que já é uma preocupação suficiente.
— Toc, toc — Sorrio ao escutar a voz de Zoe e me viro, vendo-a
entrar no quarto batendo seus saltos Manolo Blahnik no chão.
— Ah meu Deus, você está enorme!
Reviro os olhos ao me levantar.
— E ainda faltam quase quatro meses!
— Nossa você vai explodir. Nem sei como entrou neste vestido.
Quando escolhemos você estava bem menor — ela começa a medir minha
cintura disforme com os dedos nervosos por cima do vestido vermelho
Chanel.
— Pare! — Bato em suas mãos afastando-a.
— Ei, aonde vai? — Ela me segue quando saio do quarto. A casa
resplandece com o aroma das comidas de natal e sorrio para Eric ao entrar
na bagunça criativa que é a cozinha.
— Hum Eric, que cheiro bom!
Ele sorri maliciosamente, o sorriso não é para mim e sim para sua
ajudante nesta noite, sua namorada Amanda que está retirando um peru do
forno.
— Hoje tive uma ajuda.
— E eu falei que você é convidada, Amanda — reclamo roubando
uma cereja de cima de um lindo bolo. Eric bate na mão de Zoe quando ela
tenta fazer o mesmo.
— Ai, a Emma pegou uma e não apanhou!
— A Emma come por dois.
— Tudo agora é desculpa — Zoe reclama.
— Emma, eu gosto de ajudar o Eric, sabe muito bem. Aprendo
muitas coisas — Amanda diz sorridente e eu pisco.
— Sei muito bem o que você aprende!
Amanda fica vermelha eu ia zoar mais um pouquinho, quando Ethan
entra na cozinha.
— E aí tagarela, conseguimos subir o seu presente.
— Sério? — Corro no ritmo que me é permitido e salto animada
quando vejo meu presente para Liam no canto da biblioteca.
— Uau! É lindo, Emma — Nora se aproxima admirada, seguida de
David.
— Acha que ele vai gostar? — Pergunto insegura, David aperta
meus ombros em encorajamento.
— Claro que sim, querida.
— Tom, acho que já bebeu demais! — A voz da minha mãe desvia
minha atenção e rumo para a sala. Não sei se rio ou fico brava vendo Margô
e Tom discutindo diante do bar onde Sean prepara mais um Martini para
meu pai.
— Deixe ele se divertir, amor — Sean tenta ser solidário e Tom ri.
— Olha só, seu marido parece ser mais simpático do que você. Um
conselho amigo, não se deixe contaminar pela chatice desta mulher — Tom
cochicha para o novo marido da minha mãe enquanto eu puxo Margô pelo
braço, para evitar que perca as estribeiras com Tom.
— Mãe, por que não conta a Nora sobre seu curso de jardinagem?
Nora também adora plantas e flores.
Deixo as duas conversando e relanceio os olhos para Zoe e Jackson
conversando com Jeremy que, como sempre, parece bastante desconfortável
usando um terno. Mais cedo eu havia elogiado seu novo corte de cabelo,
bem curtinho e ele não perdeu a oportunidade de flertar comigo.
Vendo que tudo está sob controle rumo para o escritório.
Somente Liam para inventar de trabalhar na véspera de natal, penso
entre divertida e consternada ao parar na porta do escritório e observá-lo, os
dedos nervosos massacrando as teclas do laptop, os olhos focados em
alguma bolsa de valores.
— Vai ficar me stalkeando o dia todo?
Rolo os olhos.
— Já é noite e o jantar será servido. Estamos esperando você.
— Estou ganhando dinheiro, baby. — Estende a mão para mim e
vou até ele.
Sempre vou.
— Será que já não tem dinheiro suficiente? — Meus dedos
encontram os seus, se entrelaçando e me enrosco em seu colo.
— Tenho que pensar no leite das crianças agora — ele pisca e eu
rio, envolvendo seu pescoço com meus braços.
— Criança no singular, baby — corrijo.
— Tem certeza que não são dois? — Sua mão acaricia minha
barriga. — Pelo tamanho desta barriga poderia dizer que são três.
— Está me chamando de gorda, senhor Hunter?
— Só me certificando que não está escondendo mais nada de mim.
Desvio o olhar, um pouco de culpa afligindo meu íntimo.
Liam finalmente fecha o laptop se levantando também.
Fico na ponta dos pés e beijo seu queixo.
Sorrio com prazer quando ouço um rosnado e suas mãos apertando
minha bunda, me puxando para que sua boca possa encontrar a minha.
— Não seja impertinente, baby — sussurra contra meus lábios,
quando se afasta e suspiro.
— Sinto saudade de ser chamada de Senhorita Jones.
— Agora é a Senhora Hunter, esqueceu?
— Você sabe o que eu quis dizer! — Resmungo e Liam me solta.
— E você sabe que não adianta me provocar porque não vou punir
você...
— Enquanto eu estiver grávida, tá, entendi!
Liam me puxa de novo, enquanto saímos do escritório.
— Paciência, baby, paciência...
Eric nos chama para jantar e como sempre é tudo perfeito.
Claro, se eu relevar Jeremy reclamando de como os adultos são
chatos porque não o deixam ficar mexendo no celular, ou Margô e Tom
discutindo por qualquer coisa, além de Zoe com seus papos fúteis sobre
moda e as piadas idiotas de Ethan.
Mas aquela é minha família e meus amigos. Sinto-me abençoada por
tê-los em minha vida. Somos perfeitos em nossas imperfeições.
Passo a mão em minha barriga, fazendo uma oração silenciosa para
que tudo continue exatamente assim.
Depois do jantar nós vamos para a sala trocar presentes. Resolvemos
fazer hoje porque amanhã Margô e Tom vão viajar. Amanda levará Eric
para almoçar com seus pais, Zoe e Jackson viajarão para a casa dos pais
dele.
Obviamente não poderiam faltar alguns presentes absurdamente
caros de Liam, a surpresa de Eric para Amanda que, ao abrir seu presente,
perde a fala ao ver um lindo anel de noivado. Fico emocionada por ela. Eric
havia me contado no começo da semana que iria pedi-la e me chamou para
ajudá-lo a escolher o anel.
Só depois que todos foram embora que finalmente levo Liam até a
biblioteca para mostrar a ele o meu presente.
— Quando me disse que me mostraria meu presente mais tarde,
imaginei outra coisa. — Ele ri atrás de mim, aliviando um pouco a tensão
que eu sentia.
— Seu pervertido!
— Não era eu que estava reclamando por não levar umas palmadas
há algumas horas...
Respiro fundo quando entramos na biblioteca e o encaro.
— Feliz natal!
Liam olha para o piano sem dizer nada por alguns instantes e fico
com medo de ter errado feio. Ainda me lembro daquele Liam fechado e
reticente sobre seu passado que me fez sofrer um bocado, até que
finalmente se abriu. Fazia muitos meses que não via aquele Liam e achei
que tivesse desaparecido pra sempre, porém, em se tratando de Liam,
poderia esperar tudo.
— Você não gostou?
Ele se vira para mim sorrindo.
— Você é realmente muito boa com surpresas, baby.
Sorrio aliviada, Liam me puxa até o piano, sento-me ao seu lado e
ele começa a tocar.
— É realmente uma droga que você seja bom em tudo o que faz
senhor Hunter — digo quando a música termina e Liam sorri.
Tão lindo. Tão meu.
Faz meu coração se apertar de mil maneiras diferentes. Todas
maravilhosas.
— Obrigado por estar aqui — murmura, de repente vejo um lampejo
de tristeza em seu olhar. — Os natais... Sempre foram difíceis depois...
— Eu sei. — Aperto seus dedos beijando sua mão e apertando-a
contra minha barriga. — Agora eles serão mais fáceis.
O bebê se mexe.
— Fale com ele, Liam.
Na nossa última consulta o médico havia dito que neste estágio da
gravidez o bebê já reconhece a voz do pai e da mãe.
— É esquisito falar com ele quando ainda nem temos um nome.
Nós nos debruçamos sobre os livros de nomes de bebês nas últimas
semanas sem conseguir chegar a um consenso. Não ajudava que Zoe e
todos os outros quisessem ter voz ativa na escolha.
Minha mãe me mandou um e-mail enorme cheio de nomes hippies
bizarros, enquanto meu pai havia dito que ficaria muito honrado se tivesse o
nome dele. Até parece!
— Não faz diferença! Ele só quer ouvir sua voz.
Liam acaricia minha barriga.
— Se ele pudesse me escutar eu pediria desculpas por ter dito que
pediria para você desistir dele — diz baixinho fazendo meu coração se
apertar.
— Liam, não... — Seguro sua mão.
— Eu diria que o amo muito, embora me apavore pensar que você
pode não estar aqui para criá-lo comigo.
Meus olhos se enchem de lágrimas, aperto sua mão, o nó em minha
garganta me impedindo de falar.
— O que eu vou dizer a ele? O que vai sobrar para ele, Emma?
Toco seu rosto apreensivo.
— Eu estarei aqui. Eu não prometi? Nunca irei embora.
Ele segura meu rosto beijando minha boca com uma força que não
existiu naqueles últimos meses. O Liam dos últimos tempos era só carinho e
cuidado, nada dominador. Eu o provocava o quanto podia, mas ele dizia que
sexo era só uma parte do que nós tínhamos e que naquele momento preferia
me manter protegida. De nada adiantava eu falar que não havia nenhum
perigo. No fim, já começava a me sentir muito cansada e dolorida para
tentar ser sexy então desisti. Liam tinha razão. Haveria tempo.
Eu espero ardorosamente que existisse um depois. Principalmente
agora, quando ele me beija com uma fome que revela toda sua
vulnerabilidade.
— Eu te amo — murmura em meus lábios e sorrio beijando-o uma
última vez.
— Também te amo, baby.
Um pouco mais de drama do que vocês esperavam, não é? Pelo
menos tudo acabou bem. Leo nasceu um mês antes do esperado e, como
havia prometido a Liam, não fui a lugar nenhum. Apesar de todo medo e
apreensão, eu era mais forte do que se esperava. Depois de três semanas
na incubadora, como qualquer bebê prematuro, nosso pequeno leão veio
para casa com a gente.
Aconteceu faz quase seis meses.
A vida não é perfeita, mas quem se importa? Sou casada com o
Leão de Wall Street, porra!

Ps. Ainda não arranjei uma namorada para o Ethan, mas estou com
bons pressentimentos. Lembram-se de Ariana Colombo? Ela parou de falar
da tal irmã adotiva, mas nos indicou sua babá, Amy.
Amy é linda, ruiva e totalmente hipster! Ando vendo algumas
faíscas entre ela e o Ursão...
Será?
Esta é uma história para outro livro...
O Segurança de Wall Street
Capítulo 1

Amy

Finalmente, Wall Street.


E cá estou eu, prestes a entrar na cova dos leões por livre e
espontânea vontade. Quer dizer, há apenas um leão, mas é o suficiente para
me meter medo.
Quem não tem medo do Leão de Wall Street?
A expressão matar um leão por dia parece bem propícia agora.
Meu estômago está embrulhado enquanto admiro o prédio à minha
frente. O medo faz a palma das minhas mãos suarem e os passos
fraquejarem enquanto tomo uma respiração profunda e me obrigo a seguir
em frente. Há muito em jogo para desistir agora.
A recepcionista me fita com um olhar entediado.
— Olá, tenho uma entrevista marcada com L... — Engasgo sem
querer e pigarreio. — Liam Hunter.
Vamos lá. Vamos encarar o leão de frente.
Ethan

Observo Amy Grant pelo monitor na sala de segurança.


Ela caminha pela recepção de um lado para o outro parecendo
apavorada, como se tivesse uma entrevista marcada com o próprio diabo.
Bem, não poderia culpá-la por estar com medo.
Liam mete medo em qualquer um. E mesmo que agora, pelo menos
para as pessoas mais próximos, ele esteja mais manso, o que posso dizer?
Um leão domesticado ainda é um leão.
Observar a garota esperando para entrar no covil do leão me lembra
uma outra garota na mesma situação há mais de um ano. Emma Jones. Ou
melhor, Emma Hunter.
Não que haja alguma similaridade física entre as duas. Enquanto
Emma tem os cabelos escuros e pele clara, aquela garota ostenta cabelos
ruivos, presos num coque alto, e roupas elegantes e sóbrias. A roupa a faz
parecer mais velha do que seus vinte e cinto anos, revelados no currículo à
minha frente.
Amy Grant, vinte e cinco anos, natural da cidade de Nova Jersey,
dois anos de experiência comprovados na casa de Ariana Colombo, a rica
esposa do milionário Emiliano Colombo, dono de uma rede de restaurantes
italianos espalhados pelo país. Foram eles que a indicaram e era por isso
que ela está ali, para ser entrevistada para trabalhar para Liam. Não
exatamente para Liam, mas...
Meu celular vibra ao mesmo tempo em que a recepcionista pede que
Amy Grant suba até o andar de Liam para a entrevista.
Solto um palavrão ao ler a mensagem.
“Que merda está acontecendo, Ethan? O Liam está louco? Eu vou
matá-lo assim que chegar aí, ele não escutou nada do que eu disse?”
Porra, ela descobriu.
Merda. Merda. Merda.
Lá se vai um dia tranquilo. Bufando, pego meu café e disco uma
mensagem rápida para Liam, que se resume em “Fodeu, a Emma descobriu
e está vindo para cá”. Volto a atenção ao monitor, agora observando a
câmera no elevador onde a candidata acabou de entrar.
E cuspo todo o líquido quente da boca ao ver a cena inusitada à
minha frente: Amy Grant está com a saia levantada até os quadris. Uma
calcinha vermelha de renda me diz oi ousadamente, enquanto ela abaixa a
meia calça que contém um furo enorme na canela direita, o que explica o
motivo dela estar se livrando da peça estragada, porém...
Ela não sabe que tem câmeras no elevador?
Rapidamente, ela se desfaz da meia e a joga dentro da bolsa,
descendo a saia de testemunha de jeová bege que vai quase até os joelhos.
Mas agora é tarde. Já vi a calcinha vermelha de renda e só consigo pensar
em algum motivo para fazê-la levantar a saia para que eu possa dar uma
olhadinha de novo.
E, para completar, quando o elevador para no vigésimo andar, ela
desfaz o coque e deixa os cabelos ruivos mais incríveis que eu já vi na vida
caírem por seus ombros.
Porra, aquela ruiva é quente.
Sem pensar, saio da sala de controle e corro para a sala de Liam.
Dane-se, sou a segurança máxima ali e nada mais normal que eu
desça e cheque com meus próprios olhos a candidata, antes que chegue em
Liam.
Amy

Mil vezes inferno. Nada está dando certo.


Eu me vesti com esmero para aquela entrevista. Sabia que, para o
cargo que almejava, precisava parecer profissional, discreta e de confiança.
Sendo assim, deixei de lado meu visual hipster habitual, e fui às compras
com o intuito de achar algo que não tinha nada a ver comigo, mas que me
deixaria mais perto de conseguir um cargo ao lado dos Hunter.
Esse era meu objetivo e nada ia me desviar dele.
Nem que para isso eu tivesse saído de casa me sentido uma
balzaquiana frígida e assexuada. Até domei meus cabelos num coque,
porque eles chamavam muito a atenção. No entanto, agora observo minha
imagem no vidro enquanto espero, sentada, na sala da secretária que havia
me olhado de cima abaixo. Ela havia pedido para que eu esperasse,
enquanto atendia um telefonema e continuava olhando para mim e
cochichando sabe lá com quem ao telefone. Enquanto isso, eu me sentia
toda errada.
Minhas pernas brancas estão sem a meia fina porque a mesma
rasgou sem que eu percebesse. Só me toquei desse fato quando estava no
elevador e tive que tirá-la ali mesmo. O esforço para retirá-la, antes que
alguém visse, fez com que o coque elaborado do meu cabelo começasse a
se desfazer e tomei a decisão repentina de soltá-lo. Agora meus cabelos
caem sobre os ombros, totalmente despenteados.
Jesus, é assim que vou me colocar em frente a Liam Hunter?
O cara é conhecido como o mais implacável investidor de Wall
Street, o que lhe valeu a alcunha de Leão. Ele definitivamente não é
conhecido por ser piedoso. Muito pelo contrário.
Se eu estava nervosa antes, agora estou apavorada. Talvez deva me
levantar e sair discretamente dali, e desistir daquela ideia maluca.
E chego a me levantar para fazer exatamente isso, quando uma
parede se interpõe em meu caminho. Meus olhos focam primeiro o terno
todo escuro. E, quando levanto a cabeça, estou olhando para o cara mais
alto que já vi na vida.
Olhos de lince, pretos e insondáveis, perscrutam meu rosto com
frieza.
— Senhorita Grant. — A voz é um ressoar profundo, como um
trovão, e quase espero ouvir relâmpagos à nossa volta. Encolho-me
automaticamente.
— Sim? — Tento não revelar meu medo.
— Me acompanhe, por favor.
Oi? Minha primeira reação é dizer um sonoro “Nem pensar”.
Não vou acompanhar aquele cara ameaçador, que mais parece um
mafioso russo de uma série de TV, sabe Deus para onde. Mas ele dá meia
volta, deixando-me com a visão de seu cabelo preto bem cortado enquanto
se afasta, não me restando alternativa a não ser acompanhá-lo.
Os prédios de Wall Street são, em sua maioria, antigos e sóbrios,
todavia os domínios de Liam Hunter são bem diferentes do que eu
imaginava. Tudo ali é moderno, de aço e vidro. Elegante e arrojado, assim
como seu dono.
Ali é o castelo do Leão de Wall Street. O rei.
E estou me perguntando quem é aquele cara, quando ele para em
frente a uma porta dupla e a abre, fazendo sinal para eu entrar.
Faço o que manda, sem hesitar desta vez, porque né? Até parece que
vai adiantar tentar correr agora. Ainda mais com estes saltos ridículos que
estou usando.
O homem fecha a porta atrás de nós e olho em volta. Estamos numa
sala com alguns sofás espalhados e uma mesa ao fundo. Um escritório?
— Senhorita Grant, sou Ethan Coen. Sou o segurança de Liam
Hunter e preciso me certificar de que sua presença aqui não ameaça a
segurança.
— O... o quê? — gaguejo de novo, um tique nervoso medonho que
surge sempre que fico nervosa.
— Eu tenho que revistá-la.
Aquele grandalhão vai me revistar?
— É mesmo necessário? Não sou uma mulher bomba ou algo do
tipo, acho que já percebeu.
Um risinho se forma em seus lábios e, porra, ele tem uma boca até
bonita. Bem desenhada, meio carnuda. Boca para se beijar.
Espera, de onde saiu aquilo? Estou doidona ou o quê? Nem tinha
fumado hoje! E Tiziano jurou que aquele chá que tomamos de manhã não
era alucinógeno. Daquela vez.
— É procedimento padrão. Ninguém chega perto de Liam Hunter
sem que nos certifiquemos de que seja seguro.
— Não é necessário, não sou uma ameaça... — Oh Deus, faça com
que eu não esteja vermelha. Isso não pode estar acontecendo.
— Isso nós veremos.
Sem alternativa, passo a bolsa para ele.
Ethan Coen a pega e, sem cerimônia, inicia o procedimento de tirar
as coisas de dentro. Começa com minha carteira, onde verifica os
documentos, e depois a descarta na mesa ao lado. Em seguida, pega minha
nécessaire. E, vermelha, eu o vejo abrir o zíper e tirar de lá minha
maquiagem, um OB e uma camisinha.
Quero que um buraco se abra e me leve para a primeira estação de
metrô possível, de onde eu poderia partir no primeiro trem para a puta que
pariu!
Felizmente, ele descarta esses objetos vergonhosos e pega meu
celular, que também não ganha muito atenção. E, por fim, a meia rasgada.
Ethan levanta a sobrancelha para mim.
— Não pergunte.
— Ok.
Ele coloca tudo dentro da bolsa de novo.
— Como viu, nada suspeito.
— Agora por favor, fique de pé, de costas, perto da cortina.
— Oi?
— Eu disse que ia revistá-la.
— Me revistar, você quer dizer...
— Sim, até onde sei você ainda pode ter alguma bomba entre suas
coxas.
— Ah... — perco a fala.
— Estou esperando, senhorita Grant.
— Não é absolutamente necessário...
— Sou eu quem decido. Se não colaborar, a senhorita será escoltada
para fora do prédio e descartaremos seu currículo.
Oh, merda!
Mordendo os lábios com força, me viro e me posiciono como ele
pediu. Fecho os olhos e me preparo para a humilhação.
Quase dou um pulo quando sinto o toque em meus ombros e
descendo por meus braços cobertos pelo algodão do suéter rosa. E então, as
mãos estão na minha cintura e permanecem ali por alguns segundos. Porra,
as mãos dele são tão grandes que quase fecham na minha cintura!
Quando elas sobem pelas laterais do meu corpo algo estranho
começa a acontecer. É como se o tempo tivesse mais devagar, como se ele
me tocasse em câmera lenta. Os dedos são como pluma, subindo até
roçarem nas laterais dos meus seios e prendo a respiração quando os
traidores intumescem de repente, acordando e cutucando meu sutiã.
Mas que porra?
Elas param ali, roçando, e ainda nem respiro, esperando e achando
realmente que elas iam a qualquer momento tocar meus seios.
Eu estava quase ansiando por isso.
Como assim?
Meu cérebro entra em curto circuito. E não consigo me mover.
Minha respiração volta por arquejos, ofegante.
Então, ele retira as mãos.
Tenho certeza de que ouvi meus mamilos praguejarem.
Agora sinto as mãos dele em minhas costas, descendo pela espinha,
e me arrepio inteira. Da ponta dos pés até o último fio de cabelo quando
elas chegam aos quadris e, sem aviso, apalpam minha bunda.
Espera. Ele está me apalpando? É realmente necessário? Será que
achava que eu poderia estar guardando uma granada no meio das minhas
nádegas?
E, de repente, antes que comece a me refazer, ele está agachado na
minha frente. Desço os olhos para seus cabelos negros brilhantes. Ele tem o
olhar baixo, compenetrado, e as mãos rodeiam meu tornozelo e sobem pelas
laterais.
Mais arrepios. Agora eles sobem mais rápido que as mãos e param
no meio das minhas pernas.
Oh. Oh.
Estremeço. Enfraqueço.
As mãos migram para trás do meu joelho.
Porra, ele não poderia adivinhar que era uma área sensível, poderia?
Eu tinha colocado isso no meu currículo?
E suas mãos continuam seu caminho antes que eu possa pedir que
fique mais ali. Mas paro de me importar quando sinto seu toque no interior
das minhas coxas.
Ah, bom jesus.
Isso. Isso. Isso.
Ethan se ergue na minha frente, maravilhosamente alto e, puta que
pariu, ele cheira bem, como é que não tinha reparado antes?
Algo como almíscar e homem.
Nossos olhares se encontram e um calor abrasador aquece meu
rosto. Meu corpo. Tudo ao redor. O mundo está em chamas.
Suas mãos param na minha coxa nua, bem pertinho de onde eu estou
começando a sentir um pulsar ansioso e úmido.
Ah, por favor. Só mais um pouquinho. Se ele mover os dedos alguns
milímetros ele vai sentir.
Vai me sentir.
E eu vou senti-lo.
E...
Uma batida na porta afasta meus loucos devaneios e dou um pulo de
susto ao mesmo tempo em que as mãos grandes de Ethan deixam minha
pele.
No instante seguinte, a porta se abre e a secretária está ali.
— Ethan, o senhor Hunter está aguardando a senhorita Grant.
— Sim, eu só estava checando algumas definições de segurança.
Ele me encara como se nada demais tivesse acontecido.
— Está liberada, senhorita Grant, pode acompanhá-la.
Eu nem sei como é que consigo me mover e seguir a secretária de
volta pelo corredor. O segurança de Liam Hunter tinha tocado em mim
como um amante e não como alguém procurando uma bomba relógio.
Aquilo realmente aconteceu? Ou imaginei?
— Pode entrar, senhorita Grant.
Deixo meus pensamentos de lado e entro na sala do Leão de Wall
Street.
Capítulo 2

Amy

Estou na toca do leão.


Ele vai me devorar viva.
E sou uma idiota por estar aqui.
São os únicos pensamentos que norteiam minha mente enquanto dou
alguns passos para dentro da sala de Liam Hunter e meus olhos focalizam a
figura quase mítica sentada atrás da mesa imponente.
— Senhorita Grant, aproxime-se, não tenho o dia inteiro — rosna
impaciente com uma voz que pode ser descrita com apavorantemente
bonita. Se é que isso existe.
Respiro fundo e, tentando deixar meus medos inúteis de lado,
precipito-me até a mesa no fundo da sala, onde o Leão, quer dizer, Liam
Hunter, está me esperando.
Ele me observa.
Inferno, ele está me medindo?
Sim, ele está claramente me escaneando com os olhos de predador.
É a palavra que me ocorre. Liam Hunter está me avaliando como um
predador avalia a presa antes de devorá-la.
Oh, baby jesus, a cada passo eu me convenço mais de que é um
grande erro estar li. Onde eu estava com a cabeça?
Bem, eu sabia bem onde.
— Sente-se, senhorita Grant. — Aponta para a cadeira em frente à
mesa quando me aproximo o suficiente, ainda bem corajosa, sem desmaiar,
ou dar meia volta e sair correndo, ou então começar a chorar como uma
criancinha num safári com medo do animal que poderia comê-la com uma
só mordida.
Contrariando meu interior apavorado, faço o que mandou,
sentando-me na confortável cadeira, e finalmente o encaro. E assim, de
perto, ao vivo e a cores, era ainda mais impressionante do que nas fotos dos
jornais de finanças ou nos closes dos paparazzi.
Os cabelos eram de um inusitado tom de cobre, selvagem e quente,
que lembrava mesmo a juba de um leão. Os olhos que continuam me
analisando eram dourados e intensos.
Ok, Liam Hunter é bonito pra cacete, tenho que admitir. Mas isso
não faz com que ele seja menos ameaçador para mim. Estou mais
amedrontada do que atraída.
Hum, isso é bom. Não vai ser nada inteligente ficar me contorcendo
de tesão pelo cara que seria meu chefe.
Quer dizer, se eu passar em sua inspeção minuciosa.
A expressão “inspeção minuciosa” me faz lembrar do segurança de
Liam, Ethan Coen. Ah, sim, aquele me deu tesão. Ainda posso lembrar de
suas mãos grandes em mim, me inspecionando, seus olhos me vistoriando...
— Está vermelha, senhorita Grant. — A voz de Liam Hunter me tira
do devaneio sensual em que eu mergulhara por alguns segundos e me
estapeio mentalmente por ser tão distraída. É um defeito terrível que nem a
yoga ajudou. — Algum problema?
Eu pisco, ruborizando ainda mais, mas agora de consternação.
— Não, senhor, eu... quer dizer... só estou um tanto nervosa com... a
entrevista — balbucio como uma adolescente e me estapeio novamente,
agora com mais força. Com certeza Liam Hunter deve achar que sou
alguma garota boboca e não uma candidata à altura do cargo oferecido.
— Está nervosa? — questiona devagar, os dedos longos tamborilam
na mesa de vidro, seu olhar ainda é aterrorizante, quando ele se inclina.
Como se fosse atacar. Obrigo-me a ficar no lugar e não correr desabalada
porta afora sem olhar para trás. — Por que estaria nervosa? É apenas uma
entrevista de emprego, para a qual, julgo eu, está preparada, já que está
aqui. Ou não tem certeza que é qualificada para o cargo?
— É, eu...
— Por que se é esse o caso, poupe meu tempo, e desapareça da
minha frente. Não tenho tempo a perder com gente incapacitada.
Senhor, ele está me expulsando? Forço meu cérebro subitamente
vazio a funcionar. Concentre-se, Amy! — Minha consciência me sacode
com força. — Você se preparou para estar aqui. Lembre-se de tudo o que
está em jogo.
Engulo em seco e ergo a cabeça, tentando demonstrar uma
segurança que estou longe de sentir.
Sim, muita coisa está em jogo.
— Apenas tenho noção da seriedade da situação, senhor Hunter.
Acredito que é um cargo que exige não só qualificação, mas extrema
confiança do candidato. E, sim, se estou aqui eu acredito que seja apta a
assumir a incumbência.
Liam Hunter franze o olhar, a expressão impassível.
Oh, Deus, faça com que ele não chame o grandalhão bonitão
chamado Ethan para me pôr para fora. Não que eu não apreciaria aquelas
mãos grandes e atrevidas em mim de novo, mas... Inferno, quero mesmo
aquele emprego.
Eu preciso.
— Certo, vamos ao seu currículo. — Ele se recosta na cadeira e os
dedos bonitos atacam os teclados do notebook e acredito que está
verificando meu currículo. Faço uma prece silenciosa para que não tenha
errado nada. Não pode haver nenhum furo na minha história.
— Então a senhorita nos foi indicada pelos Colombo.
Certo. Vamos ao jogo.
— Sim, trabalhei com eles por alguns anos.
— É o que diz aqui... Mas a senhorita se formou em jornalismo,
correto?
Oh, droga, eu devia ter tirado aquela informação, mas fiquei com
medo de ele descobrir de qualquer maneira. Sem contar que talvez
apreciasse alguém com formação superior.
— Sim, correto, na universidade de Nova York.
— Hum... que coincidência... — Ele esboça um sorrisinho estranho
que não entendo. Mas em vez de deixá-lo mais humano, só faz parecer mais
assustador. Como um daqueles palhaços assassinos dos filmes, que davam
gargalhadas sinistras enquanto matavam suas vítimas com uma
machadinha.
— Coincidência?
— Minha esposa é formada em jornalismo pela mesma universidade
— comenta, e me lembro das informações que li sobre ele, que Liam
Hunter é casado, há pouco mais de um ano, com Emma Jones, agora Emma
Hunter. Só não fazia ideia de que ela era formada em jornalismo. — E por
que não exerce a profissão?
Abro a boca para responder exatamente o que estava na ponta da
língua e já tinha ensaiado em frente ao espelho e até com a ajuda de
Tiziano, mas a porta se abre de repente.
— Ela está subindo.
Olho para trás e Ethan Coen, em toda sua gostosura, está parado ali,
com o semblante fechado.
— Porra, como ela ficou sabendo? — Liam Hunter passa os dedos
pelos cabelos, exasperado.
— Não faço ideia, mas eu te avisei...
— Que grande merda!
Ops! O que será que está acontecendo?
— O que eu faço? Sabe que não vou conseguir segurá-la aí fora.
— Traga ela aqui.
Ethan sai da sala e Liam Hunter volta a atenção para mim.
— Senhorita Grant, pode esperar na recepção, por favor. Tenho uma
pequena... contenda para resolver antes de podermos continuar a nossa
entrevista.
— Claro — murmuro, confusa, e me levanto e saio da sala. O local
onde a secretária de Liam Hunter deveria estar se encontra vazio. Sem saber
o que fazer, me acomodo no confortável sofá da recepção e pego o celular
para me distrair.
Uma comoção me faz levantar o olhar e vejo uma moça passando
como um furacão por mim e entrando na sala do Sr. Hunter. Ainda
vislumbro seus longos cabelos castanhos, antes de ela fechar à porta com
tanta violência, que a mesma apenas bate, mas não fecha, deixando uma
fresta aberta.
Fico ali, paralisada no lugar, quando escuto a voz feminina irada.
— Que porra pensa que está fazendo?
— Emma... — A voz de Liam Hunter é um misto de exasperação e
comedimento.
— Eu te falei que eu mesma ia fazer as entrevistas! E por que diabos
fico sabendo que está entrevistando uma babá para meu filho bem aqui, e
sem a minha presença?
Oh, aquela é a esposa de Liam Hunter! Eu havia visto fotos dela na
internet, mas em todas estava muito elegante e bem maquiada,
acompanhando o marido em algum evento. Ela parecia mais velha naquelas
fotos. Aquela garota, de jeans, que entrou ali, parecia uma adolescente.
— Não entendo por que está brava. Claramente eu preciso
entrevistar as candidatas à babá do meu filho.
— Não tem nada! Sou a mãe dele! Sou eu que devo saber quem
seria apropriada para cuidar do meu filho!
Liam Hunter ri e a garota solta um palavrão.
— Emma... — De repente ele está falando mais baixo e não posso
ouvir.
Droga! Quero muito ouvir o que estão falando. Quase posso sorrir
para mim mesma. É uma situação perigosa, mas me levanto e espio para
dentro da sala.
Liam Hunter está sentado no mesmo lugar e sua esposa, inclinada
sobre a mesa, com as mãos apoiadas no tampo de vidro.
— Não começa com seus joguinhos, estou puta com você e não vai
adiantar nada... — ela esbraveja, ainda irritada, mas Liam apenas sorri de
novo. — Estou furiosa por achar que deve controlar isso como tenta
controlar tudo.
— Querida, eu controlo tudo.
— Ah, seu grande filho da puta!
— Emma, não me deixe irritado.
— Quem tem que estar irritada sou eu!
— É para isso que está aqui? Para me deixar irritado?
— Senhorita Grant?
Dou um pulo de susto e me viro ao ouvir a voz estrondosa atrás de
mim e lá está Ethan Coen, me encarando com um olhar de quem sabe
exatamente o que eu estava fazendo. Espiando o casal Hunter.
— Senhor Coen, eu...
Afasto-me rapidamente da porta e me sento de novo, como se assim
pudesse apagar o que ele tinha visto. Oh, inferno, como posso ter sido tão
descuidada?
— Estava espiando, senhorita Grant? — Com pouco passos, ele
atravessa a sala e fecha a porta que eu estava espiando.
— Claro que não. Eu fui... fechar a porta que estava entreaberta.
— Senhorita Grant, sabe que temos câmeras por todo o prédio, não?
— Oh, eu...
— Não, claro que não sabe, senão não teria tirado sua meia em
nosso elevador.
— Oh, meu Deus, você viu aquilo?
Ele sorri. Um sorrisinho de lado.
— Sim, senhorita.
Fico vermelha ao imaginá-lo me espionando pelas câmeras de
segurança. Parecia até mesmo um tanto...
— Pervertido — sussurro.
— O quê?
— Nada. Pensei alto.
— Me chamou de pervertido.
— Bom, se fica espiando as mulheres em momentos íntimos...
— A senhorita estava num elevador. Deveria saber.
Engulo a vergonha.
Sim, ele tem razão. Claro que existe câmera de segurança em todos
os prédios de Nova York.
— Mas queria saber porque estava espionando os Hunter.
— Eu não estava...
— Se a senhorita ficar, vai aprender que não adianta mentir pra
mim. E, pior, não adianta mentir para Liam Hunter.
— Vai me dedurar? — questiono, corajosa.
— Vou pensar no seu caso.
— Eles estavam discutindo. Por minha causa.
— Não era por sua causa. Emma ficou brava porque Liam decidiu
entrevistar a babá ele mesmo.
— Acho que não lhe tiro a razão.
Antes que continue, seu celular vibra e ele olha o visor, encarando-
me em seguida.
— A senhorita deve ir embora agora.
Droga, eu tinha perdido a chance.
— Por favor, eu a acompanharei até a portaria.
Eu me levanto, suspirando, vencida. E o acompanho para fora do
prédio.
Entramos no elevador e me recordo de Ethan dizendo que me viu
trocando a meia. Que vergonha!
Toda aquela produção e para quê? Para nada. Para não conseguir
meu intento. Sou uma lástima. Respiro fundo para conter o soluço que quer
romper minha garganta e o cheiro de Ethan invade minha narina.
Bem, pelo menos eu tive o prazer de conhecer aquele cara gostoso.
E ele colocara aquelas mãozonas atrevidas em mim. Era mais ação do que
eu tinha visto o ano inteiro. Algo para se comemorar.
Oscar teria muito trabalho hoje...
De repente me pergunto se Ethan aceitaria sair comigo.
Eu posso tentar...
— Pelo menos aproveitou? — arrisco.
— Quê?
— A visão. Aposto que deu para ver bastante...
Ele fica desconcertado.
— Ah, senhor Coen, quer dizer, Ethan acho que podemos deixar a
formalidade pra lá agora que estraguei tudo aqui mesmo, mas que se dane!
Quer saber, agora que não vamos mais ser colegas de trabalho...
— Do que está falando? Liam pediu que amanhã a senhorita esteja
preparada para ir até sua casa para ser entrevistada pela senhora Hunter.
Oh. Dou um passo atrás, confusa.
— Sério? Achei que tinha levado um fora.
— Não, Emma exige que seja ela a te entrevistar.
O elevador para no térreo e saímos para o saguão iluminado.
— Esteja preparada amanhã. Irei buscá-la para levá-la até Emma.
— Certo. Até amanhã então, senhor Coen.
— Achei que já estava me chamando de Ethan.
Eu fico vermelha.
— Que seja! — E me afasto.
— E, senhorita. — Ethan me chama e eu me volto —, cuidado para
não rasgar mais nenhuma meia.
Ele acena e desaparece novamente dentro do elevador.
Enquanto fico com uma estranha sensação de irrealidade, parada ali,
em Wall Street.
Capítulo 3

Ethan

O inconfundível cheiro de muffins assando invade minhas narinas


assim que piso na cozinha dos Hunter naquela manhã.
Com um sorriso feliz e o estômago roncando, vistorio o ambiente e
meus olhos famintos pousam nos bolinhos sobre a mesa, recém-saídos do
forno.
— Hum, aí sim... — Minhas mãos se esticam para tocá-los, a boca
já salivando quando dedos magrinhos seguram meu pulso e tomo um susto
ao me deparar com Emma me encarando furiosa.
— Nem pense nisso!
— Ei, é só um muffin e de onde você saiu? Virou ninja agora, pelo
amor de Deus, mulher! — Tento pegar de novo o muffin, mas agora ela me
dá um tapa, até bem forte para alguém que pesa cinquenta quilos e mede um
metro e sessenta.
— Eu falei que não!
— Ei, calma. — Dou um passo atrás, levantando os braços no ar em
sinal de rendição, enquanto Emma pega a forma e leva de volta ao fogão
com um olhar maligno preso em mim. — Está na TPM ou o Liam dormiu
de calça jeans? — Desisto do muffin e pego uma maçã na fruteira.
— Ainda estou bem brava com você! — Ela rosna com a mão
na cintura e solto uma risada, abocanhando a maçã. Emma acha que botava
medo em alguém?
— E vai me punir me privando de muffins pelo resto da minha
existência?
— Não banque o engraçadinho! Você e o Liam mancomunados para
escolher a babá do Leo sem a minha presença, é bem típico de vocês.
— Ah, isso. — Termino a maçã com uma última mordida, jogando o
caroço no lixo.
— Ah, isso? Acha pouco? Eu fiquei furiosa!
— E como foi que descobriu?
— Você e o Liam podem se sentir muito espertos com essa coisa de
macho que sabe tudo, mas não sou idiota! Bastou uma ligação para o
escritório para a secretária abrir a boca.
— Você contou isso ao Liam? Pobre Gillian...
— Não, não contei, porque a Gillian não merece ser demitida! Na
verdade, eu devia exigir que você fosse demitido.
— Quem vai ser demitido? — Liam entra na cozinha segurando o
bebê conforto em uma mão e um celular que digita furiosamente na outra.
— A Emma disse que você deveria me demitir.
Ele levanta o olhar o celular.
— O quê?
Emma rola os olhos.
— Deixa pra lá! — resmunga indo pegar o bebê que começa a
chorar.
Mas antes que ela se aproxime, chego antes e o tiro do bebê
conforto.
— E aí, cara? — Jogo o bebê para cima e o choro cessa na hora,
sendo substituído por um sorriso banguela.
Leo é uma cópia escarrada de Liam, embora ainda tenha apenas um
tufo de cabelo cor de cobre na cabeça. E o que posso dizer? Sou totalmente
apaixonado pelo pequeno leãozinho. Assim como todos ali.
Desde que ele nasceu, há quase seis meses, a vida gira em torno do
pequeno leãozinho de Wall Street. Mas parece que o reino do reizinho
daquela floresta está com os dias contados, pelo menos é o que Emma
declarou há algumas semanas quando decretou que voltaria a trabalhar.
Obviamente uma pequena guerra civil foi instalada no luxuoso
apartamento dos Hunter. Liam Hunter não esperava de maneira alguma que
sua jovem esposa, que havia engravidado antes mesmo de contraírem
matrimônio na celebre Igreja da Trindade, tivesse a intenção de se sujeitar a
algo tão mundano quanto ter um emprego. Afinal, Emma agora era a esposa
de um dos homens mais ricos do país — o Leão de Wall Street.
No entanto, mesmo Liam Hunter sendo um dos homens mais duros
e intransigentes de que se tem notícia, a pequena Emma Hunter tinha
conseguido dobrar o temível Leão em suas exigências e, após algumas
discussões a portas fechadas e outras não tão fechadas assim, Liam tinha
concordado com a volta de Emma ao mercado de trabalho.
Eu só espero que agora ela tenha a perspicácia de escolher um
emprego melhor do que sua última incursão no mundo do jornalismo, que
acabara com ela brigando com sua pseudochefe sacana e rolando pelas
escadas, o que lhe custara uns dias no hospital e quase um ataque cardíaco
em Liam. Tudo isso já estando grávida.
Eu ainda não entendia como Liam podia confiar em Emma para
conseguir um trabalho depois da presepada que ela fizera ao se envolver
com Samantha Arden. Ele apenas me comunicou ontem que entrevistaria
uma candidata a babá, que lhe fora indicada pelo extravagante casal
Colombo. Liam jogava golfe de vez em quando com Emiliano, um
descendente de italiano, que fizera fortuna com uma rede de restaurantes
espalhados pelo país. E Ariana tinha se tornado amiga de Emma quando
esta descobriu que estava numa gravidez de risco, e Ariana se tornou sua
aliada. Eu nem gostava de lembrar daqueles dias sombrios quando Liam
descobriu que Emma escondeu a gravidez de risco dele. Mas felizmente
tudo acabou bem e tanto Emma quanto Leo estavam ali para provar isso.
E eu fiquei realmente surpreso por descobrir que Emma tinha
vencido aquela batalha épica. Não que eu duvidasse que ela tinha um poder
sobre Liam que ninguém mais no mundo tinha, visto que eles se
apaixonaram e se casaram em três meses de um nada tradicional
relacionamento.
Até se envolver com Emma, Liam era um cara que não se envolvia
emocionalmente com nenhuma mulher, não depois da vagabunda da
Vanessa. Essa, hoje respeitável senhora Vanderbilt, fodeu com seu
psicológico quando se conheceram na faculdade. O relacionamento durou
poucos meses e começou quando Liam, até então um estudante qualquer,
que saiu das ruas depois de ser adotado pelo respeitável casal Hunter, foi
desafiado pela ambiciosa Vanessa a fazer fortuna e depois convidá-la para
sair.
Certamente, Vanessa não conhecia Liam Hunter. Ela lançou um
desafio e ele venceu. Inteligente e perspicaz, Liam usou sua expertise para
investir na bolsa de valores e, em poucos meses, ganhava seu primeiro
milhão.
Foi assim que começou a saga do Leão de Wall Street, um dos mais
notórios investidores da bolsa de Nova York.
Liam trocou sua paixão por Vanessa pela paixão por ganhar
dinheiro. E preterida, Vanessa o trocou por um figurão mais rico.
Bem, eu resolvi essa questão para Liam, o ajudando a socar a cara
daquele almofadinha de Hollywood. Era uma questão de orgulho e não de
dor de cotovelo. Liam Hunter já estava acima daqueles sentimentos
ordinários.
Ele o havia reencontrado depois de anos, justamente numa fatídica
noite, bebendo e se metendo em brigas sem sentido num escuro bar no
Brooklin, onde a gente se conheceu na adolescência.
Embora não acreditasse em destino e essas baboseiras tolas, era
certo que algo havia conspirado para que eu encontrasse Liam justamente
na noite em que ele reencontrou o tal sujeito. Eu não via Liam desde que fui
para a instituição para menores depois da briga de gangue em que nós dois
nos metemos alguns anos antes. E desde que eu me livrei dos tiras e
assistentes sociais dos infernos, vinha tentando ganhar a vida no que eu
sabia fazer de melhor: usar meus punhos. Assim, eu me envolvi no
submundo das lutas clandestinas de Nova York.
E qual não foi meu susto ao ver aquele cara de cabelo maluco e bem
vestido tentando ficar em pé e socar um grandalhão tatuado.
Eu não pensei duas vezes antes de ir lá resgatá-lo, não sem antes dar
uns bons socos de esquerda no idiota que queria bater no meu amigo.
Liam estava meio incoerente naquele momento, mas ficou feliz em
me ver e pegamos algumas garotas para comemorar e fomos para seu
apartamento.
E, porra, eu nunca podia imaginar que Liam tinha se dado bem
daquele jeito, claro que ele ainda não era o leão de Wall Street, dono de
bilhões, mas aquele apartamento em Manhattan era muito mais do que eu
podia imaginar que qualquer um de nós conseguiria um dia.
E, quando amanheceu, cuidamos das feridas um do outro, como
fazíamos quando éramos crianças perdidas e ele me contou que tinha virado
um investidor e que levou o pé na bunda de sua noiva vadia. Foi divertido
tocaiar o idiota do Vanderbilt e certamente nós o deixamos com medo o
bastante para dizer que tinha caído e batido a cara na calçada.
Eu não sei dizer quando foi que me tornei oficialmente a sombra do
Leão de Wall Street. O segurança. O guarda-costas. Motorista. Conselheiro.
Amigo. Irmão, mas, a partir daquele dia, não nos desgrudamos mais, e
quanto mais rico Liam se tornava, mais nosso laço se estreitava.
Eu daria a minha vida por ele. E tenho certeza de que ele faria o
mesmo por mim.
Era simples assim.
E como sua sombra, segui de perto a aproximação da destemida e
inocente Senhorita Emma Jones.
E percebi, antes mesmo que Liam sequer desconfiasse, que aquela
garota não era uma presa do leão. Ela era a verdadeira caçadora e nem fazia
ideia de que tinha chegado onde nenhuma outra, nem a vaca da Vanessa
Vanderbilt chegara: no coração do leão de Wall Street.
Não foi surpresa para mim quando ela se mudou para casa dele,
depois de algumas conturbadas semanas de jogos sexuais e nem que
aceitasse seu pedido de casamento logo depois. Eles foram feitos um para o
outro. É, destino e essa merda toda talvez existisse.
E agora nós tínhamos uma pequena rainha por ali, medindo forças
com o rei da selva e, pelo que podia constatar, com essa última batalha
sobre o emprego, ela tinha mais poder do que eu imaginava.
Eu só espero que tenha mais lucidez, agora, em escolher seu
trabalho, não estou a fim de bater em mais ninguém por um tempo. Porque
no tal emprego com a chefe filha da puta que só desejava usá-la para
conseguir matérias sobre investimentos que iriam prejudicar Liam, ainda
habitava um cretino com quem ela tinha trocado alguns amassos em uma
boate quando já estava com Liam. Enfim, uma longa história que causou
um pequeno tsunami naquela relação — que de tranquila não tinha nada —
e que acabou comigo tendo que usar meus punhos na cara do pobre coitado.
Eu acreditei que Liam não ia deixar Emma sair de casa, mas
obviamente eu estava enganado e Emma estava pisoteando no bom senso
do leão.
Isso me leva de ao assunto do momento: a contratação da nova babá.
Imediatamente eu me recordo das pernas de Amy Grant, agora não
só quando ela tirava a indefectível meia no elevador, mas também quando a
tive em minhas mãos, quando a chequei.
Ok, eu fui um tremendo filho da puta exigindo que ela fosse
revistada por mim e isso era errado em tantos níveis que nem conseguia
imaginar o quão ferrado eu estaria se decidisse contar a alguém ou se
decidisse me processar por assédio ou algo assim. Mas, inferno, ela poderia
ter tido um pouco de discernimento e dizer não. Poderia ter no mínimo
exigido uma segurança feminina. Ou até mesmo dar meia volta e fugir.
Mas ela ficou. Ela permitiu.
Ah sim, eu posso não ter a lista astronômica do leão de Wall Street,
mas também não sou nenhum celibatário em se tratando de mulheres.
Eu gostava delas. Conhecia elas.
Sabia quando elas estavam querendo o mesmo que eu.
E Amy Grant definitivamente estava na minha.
Puta que pariu. Ainda recordo do momento em que a toquei. Seu
estremecimento sutil. Seu rosto corado, sua respiração ofegante. Seu olhar
faminto que se juntou ao meu quando minhas mãos estiveram tão perto
daquele lugar que eu já estava salivando para tocar. Lamber. Provar. Foder.
As possibilidades eram infinitas e eu tinha certeza de que estaria dobrando a
candidata a babá dos Hunter sobre a mesa e a fodendo com força se Gillian
não tivesse escolhido aquele momento para entrar na sala e dizer que Liam
a esperava.
Ah, foi uma pena.
— Onde está o Eric? — Liam senta na bancada apenas para abrir
seu laptop.
Emma coloca alguns muffins à sua frente.
— Ele está de folga.
— Ainda?
— Eu te disse! Falei que ele podia ficar mais um dia com a Amanda
em Vermont. — Suspira, citando Amanda, a amiga de Emma que agora
namora o chef de cozinha de Ethan, Eric. — Amanda disse que Vermont é
tão romântico — ela se coloca atrás de liam e toca seu ombro. — A gente
podia ir passar um fim de semana lá. Sozinhos, assim que tivermos uma
babá...
— Você não estará trabalhando?
— Hum, não nos fins de semana, acredito.
— Nunca se sabe, agora se desistir dessa ideia...
Eu rio, olhando para Leo no meu colo, que está distraído brincando
com minha gravata. Ou comendo ela. Por que as crianças levam tudo à
boca?
— Vamos começar essa discussão de novo? — Emma levanta a
sobrancelha. — Achei que já tínhamos chegado a um consenso?
— Eu cansei de brigar com você, apenas isso.
— Mas concordou com a babá.
— Eu sempre quis ter uma babá, ou duas, três. Ou sei lá quantas as
pessoas ricas têm, foi você quem sempre quis cuidar de Leo sozinha.
— Claro que sim, ele é meu bebê! — Emma o tira do meu colo.
Eu olho para a minha gravata toda babada.
— Mas quer deixar o seu bebê com uma estranha e ir trabalhar.
Quando nem precisa — Liam salienta fazendo Emma bufar.
— Cansei de discutir com você também!
É a vez de ele rolar os olhos e se levantar, fechando o laptop com
um estrondo.
— Vamos, Ethan.
— Ei, e quando a tal candidata virá? — Emma pergunta antes de
sairmos.
— Ethan irá trazê-la ainda hoje, satisfeita? — Ethan resmunga.
Emma sorri com uma falsa docilidade e se aproxima, beijando Liam
no rosto.
— Sim, querido.

Entramos no carro e Liam liga o som. Nine inch Nails explode nos
alto-falantes e relanceio o olhar para sua carranca quando dou partida.
— Ainda está puto com essa ideia da Emma, não é?
— Ela vai desistir mais dia menos dia.
Solto uma risada alta e ele me encara com a sobrancelha levantada.
— O quê?
— Se você diz... Se bem que eu estava realmente achando estranho
ter concordado. Já imagino que tem algo em mente.
Ele suspira.
— Emma é teimosa quando quer, mas também é um tanto volúvel
em suas resoluções. E ela vai fazer o quê? Ela odeia ser jornalista!
— Então não tem nada armado para fazê-la desistir?
— Eu deixarei que minha querida esposa se enforque com a própria
corda que lhe dei. — Ele sorri astuto. Chegando a dar medo.
— Não sei não...
— Desde quando eu erro uma previsão, Ethan? Além do mais,
Emma não vai deixar Leo sozinho. Ela vai contratar essa babá e ficará cheia
de ciúmes e, em pouco tempo, a pobre coitada correrá para longe ou a
Emma a colocará para fora. E tudo vai voltar ao de sempre.
— Vamos ver.
— E, falando em babá, quero que vá até a casa de Amy Grant e
descubra tudo o que puder descobrir sobre ela. Colombo garantiu que ela
foi uma excelente babá para sua filha, e que Ariana a adora até hoje, mas
precisamos fazer nossa própria investigação.
Eu sorrio devagar.
Investigar Amy Grant?
Ah, eu vou gostar muito daquela incumbência.
Capítulo 4

Amy

Acordo com um mantra entoando em algum lugar do apartamento.


— Oh, Tiziano, que merda! — Desistindo de dormir, levanto
tropegamente e vou até a sala. Como previ, encontro Tiziano na posição do
cachorro trepando, ou sei lá como chama aquela posição de yoga, a última
mania do meu colega de apartamento.
— Não tem outro horário para fazer essa droga? — resmungo, e ele
olha para mim sorrindo.
Ok, o sorriso dele é lindo, mesmo através daquela barba hipster que
o deixa ainda mais irresistível. Sem contar que nesse exato momento ele
está sem camisa e o peito perfeito brilha cheio de suor. Uma pena que ele
seja tão gay. Realmente uma pena.
— Vai continuar me comendo com os olhos, querida? — Pisca para
mim e rolo os olhos me arrastando até a cozinha.
— Fez café pelo menos?
— Nada de cafeína. Tem suco verde.
— Ah, não! — Por que Tiziano tinha virado aquele ser natureba nos
últimos meses? Estava ficando cada vez pior.
— E, aí, como foi a entrevista? — Ele desiste da yoga e abre a
geladeira.
Sento na bancada.
— Um desastre.
— Sério? Como ele é? O leão? É mesmo gostoso?
— Gostoso? Acho que não usaria esse adjetivo. Mas ele é lindo com
certeza, para quem gosta de caras dominadores...
— Oh, adoro!
— Para seu azar ele é hétero.
— Ninguém é totalmente hétero para Tiziano, meu bem. — Ele me
serve um copo de suco verde.
— O que tem aqui dentro? — Faço uma careta.
— Saúde!
Bufo e tomo o líquido asqueroso que, para minha surpresa, está bem
gostoso. Tem gosto de laranja e agrião. Espero que seja só isso mesmo.
— Hum, até que é bom.
— O gengibre vai fazer maravilhas para o seu metabolismo. Está
precisando perder um pouco deste culote. — Ele belisca meu quadril.
— Ai, não tenho culote.
— Se você diz. Só não venha choramingar no meu ouvido quando
algum cara lindo preferir a mim, sua gorda.
— Ah, sua bicha má!
Ele ri.
— Estou brincando, baby! Você é linda, mesmo com esse cabelo do
Pennywise. E aí, me conta, conseguiu o emprego?
— Não ainda.
— Como assim?
— Cheguei lá e estava no meio da entrevista quando fomos
interrompidos pela esposa dele.
— Ah, eu já a vi num site de fofoca. É bonita, usando um Gucci
divino.
— Ela parece muito mais nova pessoalmente, se quer saber.
— Mas já é mãe.
— Pois é. E então a entrevista foi remarcada para hoje com a
senhora Hunter. Parece que ela ficou brava pelo marido ter tomado as
rédeas da situação. Eu não lhe tiro a razão. Ficaria puta também.
— E vai continuar insistindo nisso?
Deixo escapar um suspiro, estremecendo.
— Eu preciso, Tiz.
— Boa sorte então.
Nossa conversa é interrompida pelo som da campainha e Tiziano
levanta a sobrancelha.
— Esperando alguém? — Ele abre a porta e não sei quem está mais
chocado, se eu ou Tiziano, quando me deparo com a figura alta, forte e viril
de Ethan Coen.
— Uau! — Tiziano recupera a voz antes de mim, medindo o recém-
chegado com interesse. Nisso, eu pulo da bancada e vou até a porta.
— Bom dia, senhorita Grant — Ethan me cumprimenta com aquela
voz grossa e rouca que faz arrepiar dos pés à cabeça.
E não consigo deixar de medi-lo com olhos pidões, como uma
criança em uma loja de doces, me deliciando com a visão de seus quase
dois metros de altura revestidos num terno preto sob medida e os óculos
escuros que o deixam com um ar de segurança da KGB.
Puta merda, ontem eu estava nervosa e já o achara maravilhoso,
hoje, depois de uma tranquila noite de sono eu estou achando espetacular.
— Passei na inspeção? — ele indaga com um tom entre divertido e
irônico e coro feito uma colegial virgem em frente ao quarterback mais
gostoso da escola. Será que ele jogou futebol na escola? Com todos aqueles
músculos e aquela altura...
— Ei, Amy, não vai nos apresentar? — Tiziano também mantém os
olhos presos no nosso visitante.
E Ethan parece notar só agora que há outra pessoa na sala, pois
desvia o olhar de mim para meu colega.
E percebo uma mudança sutil em sua expressão. Ele tira os óculos
escuros e inspeciona Tiziano com um olhar que mataria qualquer um de
medo. Mas não meu amigo, certamente. O mais provável era que ele
estivesse de pau duro. Assim como eu deveria estar se tivesse um.
Meu Deus, de onde estavam surgindo todos aqueles pensamentos
libidinosos insanos?
— O que está fazendo aqui? — Consigo achar minha voz perdida
em meio à onda gigantesca de tesão dentro de mim.
— Eu vim te buscar para levá-la até a senhora Hunter.
— Oh, claro! Mas não marcamos nenhum horário ainda. Não é
muito cedo? Acabei de acordar!
— Eu estou vendo. — Ele me mede agora, e eu olho pra mim
mesma, meus pés descalços com as unhas pintadas de um roxo halloween
descascando e minha camiseta velha de dormir, com um buraco bem grande
no ombro.
Mil vezes porra!
Começo a corar de novo.
— Amy... — Tiziano cantarola do meu lado e suspiro, tentando
achar alguma sensatez dentro de mim.
— Tiziano esse é Ethan Coen. Ele trabalha para Liam Hunter.
— Você é tipo o guarda-costas do leão? Meu Deus, se até o rei da
selva precisa de um segurança, em que mundo estamos? — Tiziano ri da
própria piada idiota, e eu bufo.
— Senhor Coen, este é Tiziano, nós moramos juntos.
— Moram juntos?
— Não desse jeito — eu corto no mesmo momento. Não quero que
ele pense de maneira alguma que estou envolvida com Tiziano.
— Certamente que não — Tiziano continua —, ela não faz meu
tipo. — Ele sorri, passando a mão pelos músculos de sua barriga sarada.
Ethan levanta a sobrancelha e tenho certeza de que ele começa a
entender qual é a praia de Tiziano.
— Tiz, você não tinha que tomar banho para sair? — Lanço lhe um
olhar de “some daqui agora”, que ele entende e se faz de desentendido.
— Está tão divertido aqui! Por que não entra, senhor Coen, estamos
tomando suco verde, mas posso preparar qualquer coisa que quiser,
enquanto nossa garota vai se arrumar para a entrevista.
Antes que possa impedir, a figura imponente de Ethan está dentro da
minha sala. Eu fecho a porta me dando por vencida.
— Tudo bem! — Corro para o banheiro e olho minha imagem no
espelho antes de ir para o chuveiro e vejo que meu cabelo está um show de
horror, despenteado e armado como se eu tivesse tomado um choque
elétrico. Foi assim que Ethan Coe me viu? Que merda!
Entro no chuveiro e tomo um banho rápido e me pergunto o que
vestir quando entro no quarto.
Meu estilo é mais indie e descolado, com a maioria das minhas
roupas compradas em brechós e feirinhas do Brooklin, o bairro onde moro.
A roupa que usei ontem foi uma tentativa equivocada de parecer mais
madura e séria. E sinceramente acho que não tinha adiantado nada.
— Que se dane! — murmuro, tirando uma saia xadrez do guarda-
roupa, uma camisa branca, combinando com uma bota de cano curto. Nada
de meias hoje.
Passo o secador no cabelo, conseguindo domá-los, e arremato o
visual com um lenço vermelho para alisar a franja.
Quando saio do quarto, arregalo os olhos ao ver Ethan fuçando nos
meus discos.
— Que diabos está fazendo?
Onde estaria Tiziano?
— Tem bastante disso aqui...
— Isso chama-se disco. Vinil. Acho que já ouviu falar.
— Já ouviu falar de I-pod?
Eu reviro os olhos.
— Sim, tenho dois.
— Que moderna... Hum, vamos ver... Edward Sharpe and Magnetic
Zeros, Fleet Foxes, Bombay Bicycle Cub, Two Door Cinemas Club, Marina
and the Diamons, Bom Iver... acho que nunca ouvi falar de nada disso.
— Não me admira, aposto que escuta Taylor Swift — alfineto.
Ele gargalha.
— Algo mais pesado.
— Como o quê?
Ele tira um outro disco da pilha.
— Lana Del Rey?
— Minha preferida, deveria ouvir.
— E o que mais recomenda?
— Sinceramente, você nem deveria estar mexendo nas minhas
coisas.
— Preciso fazer uma vistoria na sua casa.
— Como é?
— Eu te falei. Ninguém se aproxima da família Hunter sem antes
ser investigado.
— Investigado? — Engulo o medo e levanto o queixo. — Vocês
sabem quem eu sou. Fui indicada pela Ariana Colombo. Deve saber quem
é...
— Sim, eu sei. Mas isso não diz muita coisa. Acho que já acabamos
por aqui. — Sem a menor cerimônia, ele caminha até a porta que leva até o
terraço do prédio. — O que temos aqui em cima?
— Nada que seja da sua conta. — Minha resposta malcriada não
surte o menor efeito, pois continua escada acima, e a mim não resta
alternativa a não ser segui-lo.
— É uma horta? — Ele caminha pela laje onde eu e Tiziano
tínhamos orgulho de ter enchido de verde e vida. Era para onde nos
refugiávamos domingo de manhã para torrar ao sol no verão ou nas noites
solitárias para encher a cara.
Ethan se abaixa tocando uma folha e cheirando.
— Plantamos tomates e manjericão.
— Nada de marijuana?
— Claro que não! — refuto rápido demais.
— Então vai dizer que não curte um pega? — Ele me encara como
se soubesse todos os meus segredos. Imagino que deve ser assim que os
bandidos se sentem naquelas salas de investigação da polícia enquanto um
tira grandão os faz confessar todos os seus crimes.
— Não enquanto estou trabalhando.
Oh, merda. Resposta errada. Graças a Deus Tiziano tinha levado
nossa plantinha mágica para a casa do seu último namorado, Slavro. Um
artista performático romeno.
— Olha, eu podia ter mentido, mas preferi dizer a verdade. Eu
nunca, jamais levaria qualquer erva ou alucinógeno, balinha ou... — Deus,
estou piorando! — Enfim. Nada ilegal para a casa dos Hunter. Em se
tratando do meu trabalho sou a pessoa mais careta do mundo. Será que pode
deixar isso fora do seu relatório? — arremato com uma careta.
Ele se levanta, limpando as mãos.
— A lista de informações que eu tenho que deixar fora do meu
relatório está só aumentando, senhorita Grant.
— Não me chame de senhorita Grant!
— Por que não?
— É tão formal e ridículo!
— Ok, Penny.
— Oi?
— Amy.
— Você disse Penny?
— Disse? Me confundi... Isso é uma galinha? — Ele se aproxima de
um pequeno chiqueiro.
— Tiziano só come coisas orgânicas agora e ele pega seus próprios
ovos. Só não conte a senhora Kostapoulos, nossa senhoria. É proibido ter
animais aqui em cima.
— Vocês hipster são estranhos.
— Não faz isso, não me rotule, é tão irritante.
— Só estou fazendo meu trabalho.
— Certo, se já terminou o trabalho de me investigar ou sei lá o que
está fazendo, acho que podemos ir.
— Certo. Terminei aqui. Agora seu quarto? — Ele passa por mim,
descendo as escadas e o sigo, horrorizada.
— Meu quarto?
— Quer o emprego ou não senhorita? — Ele para na porta do meu
quarto.
Abro a porta, fazendo um sinal para ele entrar.
E não posso negar que é tremendamente instigante ter aquele cara
ali, no meu quarto. Ethan é tão alto e forte que parece preencher todos os
espaços. Seu olhar varre o ambiente, concentrado e atento.
Se prende em meus quadros na parede. Pôsteres de filmes antigos e
frases irônicas, uma foto de Frida Kahlo e até algumas imitações de Andy
Warhol.
— Gosta de arte. — Não é uma pergunta.
— Quem não gosta? — Ele me lança um olhar sarcástico. — Ah
claro, aposto que você gasta seu tempo livre malhando os bíceps e tomando
whey protein.
Ele ri.
— Você é bem divertida, Penny.
Eu rolo os olhos quando me chama pelo nome errado de novo, mas
por dentro estou começando a derreter lentamente só porque parece que ele
me fez um elogio. Na verdade, nem sei direito se foi um elogio ou uma
ironia. Mas quem se importa, quando ele tem aquele tom rouco na risada e
duas covinhas no rosto anguloso e bonito que o torna ainda mais
irresistível?
E, porra, ele está no meu quarto. Assim, bem perto da minha cama,
enquanto caminha de lá para cá espiando minhas coisas. E o que eu posso
dizer? Sou só uma garota na seca há muito tempo e muito suscetível a caras
com quase dois metros de altura e com ombros largos capazes de preencher
um colchão inteiro.
Será que ele caberia na minha cama? Será que era daqueles que
gostava de ficar por baixo, enquanto eu o escalava todinho como meu
Everest particular? Ou seria um daqueles caras dominadores que
prenderiam meus pulsos com uma mão só, enquanto com a outra me
inspecionaria, de forma sacana, como fez lá em Wall Street?
— Ora, ora o que temos aqui?
Eu volto à realidade depois da minha epifania erótica, arregalando
os olhos ao notar Ethan abrindo minha gaveta de roupas íntimas e, como
um pesadelo em câmera lenta, o vejo pegar uma calcinha de oncinha.
— Ei, que pensa que está fazendo?
— Hum, original. — Ele me ignora e continua a fuçar.
— Não devia estar mexendo nas minhas coisas! — Eu me
aproximo, disposta a acabar com aquela invasão de privacidade e, antes que
consiga chegar perto o suficiente, meu pior medo vira realidade quando ele
assovia mergulhando a mão no fundo da gaveta e tirando de lá, nada menos
do que Oscar, meu vibrador.
Por todos os santos protetores dos clientes de sex shops!
— Ora, ora, senhorita Grant! — Ele sorri, sacudindo o dito cujo na
minha frente e estendo os dedos em garra para arrancá-lo de suas mãos.
Meu rosto mais vermelho que pescoço de galo coió.
— Me dá isso aqui! — Consigo resgatar meu brinquedinho
vergonhoso preferido e o soco de novo na gaveta, fechando-a com um
estrondo.
Ethan ainda está rindo como se fosse muito engraçado.
— Quer parar de rir? Não sei o que é engraçado. — Levanto o
queixo. — Saiba que toda mulher bem resolvida tem um desse! É
perfeitamente natural!
— Eu não estou dizendo nada.
— Mas está rindo!
— Me diga, senhorita Grant, o seu namorado aprova seu amiguinho
secreto?
— Meu... o quê?
— Namorado.
— Não tenho um namorado.
— Não tem um namorado? — ele repete.
— Não.
— Tem certeza?
— Acho que eu lembraria se tivesse. Mas por que pergunta? Isso é
particular. O que tem a ver com o emprego?
— Melhor eu perguntar do que Liam. Talvez ele não queira alguém
trabalhando na sua casa que esteja constantemente ocupada com encontros.
— Meu último namoro foi há mais de um ano.
— E sexo?
— O quê? — Coro de novo, e dessa vez acho que nem é bem de
vergonha. Ouvir a palavra sexo da boca linda daquele cara é muito
instigante, para dizer o mínimo. — Isso é realmente necessário?
— Não estaria perguntando se não fosse.
— Já faz mais de um ano que eu não faço sexo, ok? — respondo e
ele levanta a sobrancelha. — Eu não tenho tido muitos encontros casuais —
explico.
— Isso explica seu brinquedinho — fala devagar. — Me diga,
senhorita Grant, isso é suficiente pra você?
O quê? Ele tinha mesmo feito aquela pergunta capciosa? Ou meu
inesperado tesão está me fazendo delirar?
E ele estava mesmo tão perto antes?
Respiro fundo, tentando desanuviar minha mente subitamente
confusa e é um erro tremendo pois aspiro seu cheiro delicioso, o que me
deixa ainda mais tonta. Quando o encaro, percebo seus olhos em minha
boca.
Puta merda. Ele quer me beijar.
Ele vai me beijar?
Minha boca se abre, esperando pela dele. Ansiando.
Meu corpo inteiro tomado de expectativa e desejo.
— Ei, Amy, seu celular está tocando. — A voz de Tiziano na porta
do quarto me tira do torpor erótico em que me encontrava e dou um passo
atrás, assombrada.
Ethan ainda está me encarando, mas agora sua expressão é uma
incógnita.
Ele é o temível guarda-costas fodão de novo.
Será que eu tinha imaginado aquele momento de segundos atrás?
De repente a porta se abre e Tiziano irrompe no quarto jogando o
celular na minha mão.
— Sabe que odeio essa merda tocando, meu bem. — E então ele
olha para Ethan. — Hum, ainda aqui?
Relanceio o olhar para o visor e o nome “Carl Cretino” pisca para
mim. Empalideço e desligo o telefone sem atender.
— Carl Cretino? — Ethan pergunta, curioso, e dou um sorriso
amarelo.
— Não pergunte.
— Assunto difícil?
— Acho que deveria me levar até a casa dos Hunter, não? Está
ficando tarde. — Pego minha bolsa e saio do quarto, esperando que me
siga.
Solto o ar, que não tinha percebido que estava segurando, ao chegar
à calçada e meu olhar recai sobre o carro reluzente.
— Uau.
A sorte parece ter voltado à minha vida porque no instante seguinte
Ethan está abrindo a porta do carro incrível para mim.
— Senhorita.
Eu me acomodo no banco do passageiro e Ethan dá a volta para
sentar ao meu lado no banco do motorista e dá partida.
— Eu não deveria estar lá atrás?
— O banco de trás é para os patrões.
— Ah, claro, eu sou só uma empregada.
— Não ainda.
— É, não ainda.
Ele liga o rádio e o som explode com Nine inch Nails.
— É disso que eu gosto — ele diz, e eu sorrio.
— Combina com você.
Ele levanta a sobrancelha.
— É uma música forte e sexy ao mesmo tempo — respondo e me
viro para a paisagem da ponte do Brooklin.
Nada mais é dito até que ele estaciona em frente a um elegante
prédio em Upper East Side.
Nós saltamos e caminhamos pelo saguão elegante até o elevador e
quando as portas se fecham começo a me sentir muito nervosa.
— O que foi?
Eu encaro Ethan e percebo que estou respirando rápido.
— Acho que estou nervosa.
— Não fique, se encarou Liam, Emma será fácil.
— Ela pode ser pior que ele. É a mãe, afinal.
— A tagarela é meio maluca, mas é gente boa. — Faz sinal para eu
sair quando as portas se abrem num bonito hall.
— Estou bem? — pergunto, insegura, começando a me arrepender
das minhas roupas informais.
Ele me mede e me brinda com um daqueles seus sorrisos bonitos.
— Está incrível, Amy.
E eu fico ali, parada feito uma estátua, enquanto a porta do
apartamento dos Hunter se abre, apenas derretida porque, pela primeira vez,
ele disse meu nome. E eu adorei ouvi-lo dos lábios de Ethan Coen.
Capítulo 5

Amy

— Finalmente estão aqui. Emma estava ansiosa.


Eu olho para o dono da voz e me surpreendo ao ver um oriental
bonitinho, todo vestido de preto, sorrindo para nós.
— Essa é a candidata? — Ele também me mede, surpreso. — Acho
que não esperava por isso.
— Sim, Eric esta é Amy Grant. Amy esse é Eric, o cozinheiro do
Liam.
— Chef dos Hunter. — A correção vem da porta do corredor, de
onde a mesma moça que eu havia visto de relance no escritório em Wall
Street ontem surge. A esposa de Liam Hunter.
Ela sorri amigavelmente para mim, enquanto se aproxima.
Ainda é surpreendente como parece jovem sem maquiagem alguma
e usando um coque alto na cabeça. Suas roupas também são simples e
despojadas. Um jeans skiny e uma camisa xadrez folgada. Parece mais uma
adolescente grunge do que a esposa de um dos homens mais ricos do país.
— Amy, essa é Emma Hunter — Ethan nos apresenta. — Emma,
esta é Amy Grant.
— Eu sei quem ela é, Ethan, quanta formalidade! — Emma reclama
e rola os olhos. — Olá, Amy, estou feliz de te conhecer finalmente.
— Eu digo o mesmo. Aliás, eu a vi ontem, mas acho que não
percebeu minha presença.
— Ah, sim. A palhaçada do Liam. Espero que ele não a tenha
assustado com aquela entrevista sem noção.
— Talvez eu tenha ficado um pouco assustada — confesso, e ela ri.
— Eu posso imaginar. Liam é bastante assustador quando quer.
Ainda me lembro quando fui entrevistá-lo... Foi bem assustador. Embora
tenho certeza de que não foi pelo mesmo motivo — ela diz, como se para si
mesma. — Bom, eu espero que não! — E ri de uma piada que só ela parece
entender e lembro de Ethan a chamando de maluca. — Mas venha se sentar,
por favor. — Ela me guia pela sala mais linda que eu já vi na vida, com uma
espetacular vista do Central Park.
— Nossa, é lindo aqui.
— Sim, eu também adoro. Liam anda com umas ideias de nos
mudarmos para uma casa, mas, sinceramente, onde mais teríamos essa
vista? E eu amo Manhattan.
— Eu moro no Brooklin.
— Realmente? Eu não conheço muito. Sabe, não sou de Nova York.
Me mudei para cá para estudar e ainda não conheço todos os lugares.
— Aposto que gostaria do Brooklin. É um lugar incrível.
— Sim, Liam foi criado no Brooklin, aliás. Estive lá com ele uma
vez, mas não conheci muita coisa.
— Sério? Não fazia ideia. — Tento não parecer muito interessada.
— Sim, ele morou lá quando criança, até o...
— Emma, tenho certeza de que a senhorita Grant não está aqui para
isso. Precisa entrevistá-la para a vaga de babá do Leo, esqueceu? — Ethan a
corta, para a minha consternação.
— Ah, claro! Amy, você quer beber alguma coisa? Um suco, um
café, chá talvez?
— Eu aceitaria um café.
— Ethan, pede para o Eric servir um café pra Amy e você pode ir.
— Eu acho que deveria ficar...
— Por quê?
— Eu vou levar a Senhorita Grant de volta.
— Então espere em outro lugar. Quero conversar sozinha com a
Amy e pare de chamá-la de senhorita Grant, é ridículo!
Eu olho para ele com um sorriso convencido que quer dizer “eu
disse”.
Ele se afasta, um tanto contrariado.
— Não ligue para o Ethan, ele e o Liam são da mesma laia!
— Bem, Ethan é o guarda-costas do seu marido.
— Ah, nem sei se podemos chamá-lo assim. Ele na verdade é amigo
do Liam, de adolescência. E eles são tipo irmãos siameses ou algo meio
esquisito assim. Essa coisa de lealdade masculina, sabe?
Hum... Então Ethan Coen não é só um empregado de Liam Hunter?
É amigo pessoal? Aquilo é interessante...
Explicaria porque estava tão preocupado em me investigar. Talvez
não fosse uma preocupação só de empregado para o patrão, e sim algo mais
pessoal.
Eric retorna com uma bandeja com café e quando ele se afasta não
consigo deixar de comentar:
— Achei inusitado esse seu chef.
Emma esboça um sorriso.
— Eu também achei quando o conheci. Mas se ficar por aqui, vai
descobrir muita coisa inusitada.
Eu me remexo, quase empolgada e muito mais relaxada.
Emma Hunter parece uma pessoa muito acessível. E falante.
— Eu espero ficar.
— Espero que fique também. Não terei paciência para ficar
procurando babá! Liam queria que contratássemos uma velha chata, mas eu
disse que queria alguém jovem e descolada. Afinal, a babá do meu bebê vai
participar de nossa vida e é importante que eu me identifique. Então
comentamos com Emiliano e Ariana, e eles te indicaram.
— Sim, eu amei trabalhar com os Colombo.
— Ariana pareceu muito empolgada em indicá-la, muito feliz em
falar sobre você. Disse que fez um trabalho fenomenal com a filha dela...
— Sim, Penélope. Ela tem quatro anos agora. Eu cuidei dela desde
que nasceu.
— E como Ariana te contratou?
— Nós nos conhecemos desde adolescentes. — Opto por um pedaço
da verdade.
— Realmente? Não me lembro se ela comentou isso.
— Nós estudamos juntas em New Jersey.
— Cresceu lá?
— Sim, e me mudei para cidade para fazer faculdade.
— Li no seu currículo que estudou jornalismo. Eu também estudei
jornalismo.
— Seu marido comentou.
— E por que não está seguindo a carreira?
— É difícil conseguir um bom emprego nessa área. Você deve saber.
Quer dizer...
— Sim, claro que eu sei. Na verdade, só tive um trabalho nessa área.
Fui estagiária num jornaleco ridículo e era horrível.
— Sei o que está dizendo. Servir café, passar fax e arrumar
arquivos.
— Sim! — Nós rimos juntas.
E ali eu percebo que conquistei a simpatia de Emma Hunter.
Mas conquistar a simpatia da esposa do Leão de Wall Street não
queria dizer que conseguiria o emprego do babá do filho deles.
— Eu gostei de você, Amy, mas tenho que levá-la para conhecer
meu Leo. Se ele gostar de você, o emprego é seu.
Tento não ficar apavorada quando sigo Emma Hunter para conhecer
Leo Hunter, rezando para que ele goste de mim.
Ethan

— Ouvindo atrás da porta? — Eric ri, quando passa por mim no


corredor. Eu estava espiando Amy e Emma. Eu o sigo para a cozinha.
— Eu deveria estar lá.
— Por quê? É a Emma quem tem que saber se a garota é boa ou
não.
— Emma é meio sem noção para julgar as pessoas. Você bem
lembra do que aconteceu com a tal jornalista psicopata.
— Era uma situação diferente. Emma agora é a chefe. E estamos
falando do filho dela, acha que arriscaria escolher alguém que não serviria?
Mas por que está preocupado? Não gostou na moça?
Eu suspiro pesadamente sentando na bancada, enquanto Eric bate
algo numa tigela que cheira a canela. O que me lembra do cheiro da casa de
Amy Grant. O descolado apartamento no Brooklin exalava especiarias.
Provavelmente proveniente de algum incenso indiano ou outra baboseira
cósmica que ela e o tal colega barbudo seminu deviam curtir.
Ainda me lembrava de como senti um ciúme ridículo e descabido
quando o hipster descamisado abriu a porta. Realmente achei que ele seria o
namorado dela. Mas e se fosse? Não tinha nada a ver com isso. E claro que
toda aquela conversa que inventei sobre Liam não querer que a babá tenha
um namorado ou vida sexual foi mais para sanar a minha crescente
curiosidade sobre a atraente candidata a babá.
E eu me vi ridiculamente satisfeito quando ela revelou que não tinha
sequer alguém para trepar.
Porra!
Como é que eu podia dizer ao meu pau que ela era território
proibido quando lhe era apresentada uma situação tão promissora quanto
aquela? Ele já estava a postos, com o currículo na mão se candidatando para
preencher a vaga nas calcinhas da senhorita Grant. Aquela calcinha
vermelha que eu entrevi no elevador. Ou aquela de oncinha que tive em
minhas mãos ao mexer em sua gaveta. Aliás, todas as lingeries da provável
babá eram bem estimulantes.
— Mas o que achou da garota? Aposto que Liam pediu que a
verificasse. — Eric questiona e coço meu cabelo me lembrando que a
primeira coisa que fiz naquela manhã foi encontrar com Ariana Colombo.
Ariana Colombo era a jovem, bonita e excêntrica esposa de
Emiliano Colombo e parecia satisfeita em dizer que Amy Grant foi uma
excelente babá no tempo que trabalhou em sua casa, mas quando lhe
perguntei por que a havia demitido, ela parecera confusa, sem saber o que
responder. Aquilo foi estranho. Depois de um pouco de hesitação acabou
dizendo que Amy pediu para sair porque estava procurando novos ares.
Muito vago para meu gosto.
E depois eu invadi a casa de Amy, bisbilhotando seu apartamento,
enquanto seu colega tomava banho, não sem antes me convidar para entrar
na banheira com ele ou algo assim.
Por que demônios os gays gostavam tanto de mim, eu não entendo.
— Ela parece ok. Tem boas referências — respondo a Eric. — Eu
chequei com sua antiga patroa, Ariana Colombo, e ela disse que adorava o
trabalho de Amy.
— Mas por que parece que você está desconfiado da pobre garota se
está tudo ok?
— Eu não sei. Realmente não há motivos aparentes...
— Wow... — Eric ri e eu o encaro confuso. — Você está a fim dela.
— O quê? Não!
— Ok, se você diz, mas acho que está pensando que, se ela for
trabalhar aqui, terá que lidar com a atração que sente e isso pode acarretar
alguma confusão.
— Não fala merda, chinês — contesto, sem querer assumir a Eric
que ele tem razão.
Eu estou muito atraído pela candidata a babá e hoje, no quarto dela,
provavelmente a teria beijado e talvez até prosseguido para alguma
atividade mais sacana se o amigo dela não tivesse nos interrompido.
E eu tinha certeza de que ela não teria me interrompido.
Alguma coisa estava rolando ali.
E eu me perguntava onde iria dar.
De repente um choro de bebê se faz ouvir pelo aparelho em cima da
mesa e eu me levanto.
— Deixa que eu cuido disso.
Passo pelo corredor e Emma e Amy ainda estão conversando, então
sigo até o quarto de Leo.
O bebê agita os braços ao me ver, parando de chorar assim que o
pego no colo.
— E aí, cara, já está sabendo que tem uma gata querendo vir cuidar
de você? Você é um garoto de sorte, é o que eu digo...
Emma e Amy entram no quarto nesse momento e Emma me fita
surpresa.
— O que está fazendo aqui?
— Ele estava chorando.
— Oh, ele não gosta de ficar sozinho, não é, meu amor? — Ela o
retira do meu colo e passa para Amy. — Vamos ver se ele gosta de você!
Amy arregala os olhos e parece um tanto apavorada, mas segura o
bebê com segurança.
Leo a encara curioso, provavelmente se perguntando quem é aquela
que ele nunca viu. Mas certamente ele é um cara esperto, porque em
seguida segura os cabelos vermelhos de Amy com os dedinhos curiosos,
levando-os à boca.
Emma sorri enternecida.
— Wow, ele já gosta de você.
Amy retribui o sorriso.
— Ele é muito lindo.
— Não é?
— Quantos meses ele tem?
— Quase seis meses.
— E nunca teve uma babá?
— Não senti necessidade até agora. Gostava de cuidar do meu bebê
eu mesma.
— Isso é incrível. Muitas mulheres nas suas condições têm até mais
de uma babá para não ter nenhum trabalho e...
De repente ela interrompe a fala quando Leo abre a boca e vomita
todo o leite do seu café da manhã na blusa branca de Amy.
— Oh, Leo, não! — Emma geme e eu seguro a vontade de rir. —
Me desculpe, Amy, oh, Meu Deus, sua blusa...
Amy também parece consternada.
— Oh, não é nada...
— Parece muito para mim! — Solto uma risada e Emma me fuzila
com o olhar.
— Amy, tem um banheiro duas portas a direita. Onde pode se
limpar. Eu vou lhe emprestar uma roupa minha, não se preocupe. Tenho
tantas mesmo que nunca nem usei.
Amy sai do quarto e Emma me encara preocupada.
— Será que ela vai fugir e não vai mais voltar?
— Não seja boba. Ela é babá. Deve estar acostumada.
— E por que você riu?
— Por que foi engraçado!
— Idiota!
Leo escolhe aquele momento para abrir o berreiro e Emma suspira.
— Ele se sujou também. Preciso trocá-lo. Será que pode ir no meu
closet e pegar uma blusa para Amy, por favor? Diga a ela que eu volto para
a sala para encerrarmos nossa conversa assim que terminar com Leo.
— Ok, madame!
Saio do quarto do bebê e rumo para o quarto de Emma, escolhendo
uma camisa aleatoriamente e levando para Amy no banheiro. Bato a porta
que está apenas encostada e a abro. E paro, surpreso ao ver Amy Grant de
costas vestindo apenas um sutiã preto e sua hipster saia xadrez.
Capítulo 6

Amy

Sabe aqueles momentos em que temos a sensação de estarmos


dentro de algum sonho maluco, porque o que está acontecendo geralmente
não costuma acontecer na vida real? É assim que me sinto quando escuto a
porta abrir e olho através do espelho para ver o segurança de Liam Hunter
me espreitando.
Mas que porra!
Por um instante não me mexo, mesmo minha mente gritando para
que recoloque a blusa. Sim, aquela mesma blusa cheia de vômito de bebê.
Eca. Nem pensar. Mas por que ele não pede desculpas, fecha a porta e me
deixa sozinha com a minha vergonha?
Ah, eu sei porque. Pelo mesmo motivo que estou paralisada ali,
esperando que seu olhar, que agora percorre lentamente minha pele, volte
ao meu. Eu gosto do jeito que Ethan está me olhando. Muito. Faz todos os
pelos do meu corpo se arrepiarem e se ouriçarem de vontade de sentir
aquelas mãozonas atrevidas de novo.
Ah, eu estou tão... tão ferrada!
— Você tem muitas sardas... — ele comenta por fim, e engulo em
seco. Oi? É só isso que ele vai dizer?
De repente me sinto um tanto irritada. Esse cara é muito descarado,
isso sim! Primeiro me revista daquele jeito totalmente abusivo e agora ousa
abrir a porta do banheiro, quando sabe que estou sem blusa, e ficar me
secando?
— Qual o seu problema? — solto com a voz mais brava que
encontro.
Ethan levanta a sobrancelha e, em vez de entender a deixa e vazar, o
vejo dar um passo para dentro do banheiro e fechar a porta atrás de si.
O quê?
Meu coração dispara.
Não. Isso não está acontecendo.
É, talvez eu esteja mesmo sonhando. Um daqueles sonhos eróticos
malucos. Era bom saber que eu tinha deixado para trás as fantasias com o
meu professor de defesa pessoal.
— O que disse?
— Que diabos está fazendo?
— Vim trazer essa blusa. — Mostra a mão onde segura uma camisa
branca.
— Não precisa entrar!
— Está envergonhada?
Oh Inferno, eu nem estou. E ele sabe.
— Eu deveria! Mas isso não está em discussão e sim essa sua mania
de... de... invadir meu espaço!
Ele levanta a sobrancelha de novo. E devo dizer que são bem
bonitas. Escuras, bem desenhadas. Não daquelas feitas com hena,
medonhas, que estão na moda, acho que de um jeito mais natural, másculo,
embora...
Concentre-se, Amy!
— Eu invado seu espaço?
— Havia realmente necessidade de me revistar daquele jeito? —
Decido colocar em discussão sua abusada inspeção em Wall Street.
— Por que não me impediu?
Sim, é uma boa pergunta.
Por que não impedi? Eu sabia o que estava acontecendo, não podia
negar. E, mesmo assim, deixei que ele colocasse suas mãos em mim. Em
todos os lugares. Em quase todos os lugares, me corrijo, não sem um pouco
de pesar.
Bem, eu poderia me fazer de boba e dizer que ele fora um abusador
filho da puta. Mas se tem algo sobre mim é que eu gosto de ser sincera
comigo mesma. E a verdade é que eu tinha gostado do segurança de Liam
Hunter. Muito.
Então simplesmente dou de ombros e o encaro através do espelho.
— Suas mãos em mim foi mais ação do que eu vi em um ano —
confesso.
Por um momento, ele não fala nada. E eu sei que não esperava por
isso. Quase posso rir, mas estou ocupada demais contendo as batidas
desenfreadas do meu coração, que fazem minha pulsação ir a mil, numa
louca expectativa. E, de repente, o vejo dar alguns passos em minha direção
e estender a mão roçando meu ombro. Oh. Meu. Deus.
Se isso for um sonho, por favor, que eu não acorde.
— É realmente uma pena que estas lindas sardas em seus ombros,
em suas costas... — Os dedos deslizam com delicadeza por minha pele,
fecho os olhos, estremecendo quando tocam meu ventre — em sua barriga
— Oh, Deus, seu toque deixa um rastro de fogo por onde passa, fazendo
minha pele arder como se mil sóis estivessem sobre mim. E um fogo
líquido se espalha por meus poros, corre por minhas veias até se instalarem
como uma pulsação ansiosa no meio das minhas pernas — estejam tão
carentes de atenção.
— Elas estão adorando a atenção que recebem agora — murmuro.
Ele ri.
Ah... Tão sexy.
Abro as pálpebras e nossos olhares se encontram no espelho.
A tensão sexual no ar é tanta que temo que vá incendiar as ricas
cortinas do toalete chique dos Hunter.
— Todas elas? — questiona de novo, erguendo aquelas sobrancelhas
magníficas.
Sacudo a cabeça afirmativamente.
— Cada uma delas? E onde mais tem sardas, senhorita Grant?
— Em lugares que não pode nem imaginar.
Ele dá um passo atrás, tirando as mãos de mim. Minha pele
choraminga.
— Mostre-me.
Eu me viro, ficando de frente para ele.
— Veja você mesmo. — Encosto na pia atrás de mim.
— É um convite?
— Não gosta tanto de me revistar? — desafio.
E ele sorri lentamente. Sensualmente, aceitando o desafio. E, puta
que pariu, Ethan tem um sorriso matador. Que faz coisas incríveis em meu
âmago.
E, de repente, ele está tão perto que sinto todo aquele corpo enorme
roçando em mim, enquanto mantém o olhar preso no meu, como se quisesse
ver bem de perto a minha reação. A respiração sai por arquejos ansiosos de
minha garganta, e sou toda expectativa quando seu toque desce pela lateral
do meu corpo, até a saia e mais abaixo. E minha pele exulta quando recebe
a visita daqueles dedos de novo. Subitamente ele se abaixa e, ainda me
olhando, levanta minha saia e só então descansa o olhar nas minhas coxas.
— Ah, Senhorita Grant, encontrei algumas sardas aqui. — Os dedos
mapeiam minhas sardas quase com rigor científico. — E onde mais?
Prendo a respiração quando ele se levanta, e de novo seu rosto está
próximo. Sinto a respiração quente. Será que iria me beijar? Será?
Mas a ação em seguida faz todos os pensamentos fugirem para
longe e solto um gemido baixinho ao sentir a inspeção sacana chegando à
junção das minhas pernas.
Ah, por favor...
— Tudo bem aí? — A voz de Emma atrás da porta me faz dar um
pulo, alarmada. E eu teria rido da cara assustada de Ethan se não estivesse
morrendo de medo de que Emma Hunter me pegasse no toalete chique de
sua casa, praticamente me esfregando em seu segurança. Bem, se ela não
tivesse interrompido, certamente era isso que estaria acontecendo agora.
Que inferno, onde eu estava com a cabeça?
— Sim, está — respondo por fim.
Ethan deu vários passos para trás.
— Certo, vou te esperar na sala então. Ethan te trouxe a blusa?
— Sim, ele trouxe. — Eu o encaro com ironia.
— Ótimo. — Emma parece satisfeita, e escuto seus passos se
afastando. Só então volto a respirar.
— Que merda! — Ethan passa os dedos pelos cabelos, como se
também tivesse se dado conta do perigo da situação.
E olha que, com certeza, ele não tem tanto a perder como eu.
Afinal, já é empregado de Liam Hunter sabe Deus há quanto tempo.
E, se o que Emma disse é verdade, ele é muito mais que isso.
De repente algo passa pela minha mente. Será que aquilo é um
teste?
Bem, se fosse, com certeza fui reprovada.
— Acho melhor sair daqui. — Apanho a blusa que ele pousara na
bancada e a visto rapidamente.
— Sim, tem razão.
Sem falar mais nada ele se vai, fechando a porta atrás de si. Olho
minha imagem no espelho. Meu rosto corado, meus olhos brilhantes.
— Você é tão burra, Amy!
E agora, o que será que vai acontecer?
Ajeito meu cabelo e respiro fundo, saindo do banheiro e indo
encontrar Emma Hunter na sala.
— Hum, ficou bem em você — Ela comenta e tento sorrir.
— Obrigada. Acho que nunca usei um camisa dessa marca tão cara.
Ela sorri.
— Espero que não tenha ficado assustada com o Leo, tenho que
pedir desculpas.
— Ah, não se preocupe. Ele é só um bebê e essas coisas acontecem.
— Paro de falar, ficando tensa quando Ethan surge na sala.
— Que bom que não ficou assustada. Enfim, eu gostei de você,
Amy — Emma continua e olha para Ethan. — Ethan vai te levar para casa.
Não posso te dar uma resposta agora porque prometi conversar com o Liam
antes. Ele cismou que temos que resolver isso juntos. — Ela faz uma careta
de descaso. — Agora ele quer resolver juntos, sendo que estava disposto a
decidir tudo sozinho!
— Certo. — Eu me levanto, querendo dar aquela situação por
encerrada. — Eu entendo, claro. Mas acho que o Ethan não precisa me
levar, posso pegar o metrô.
— Imagina! Ele te leva sim!
Engulo a vontade de insistir, é melhor não deixar Emma desconfiada
de nada, então forço um sorriso.
— Tudo bem.
Para minha surpresa, Emma me abraça ao me levar até a porta.
— Te darei a resposta em breve!
Sigo Ethan, em silêncio, sem saber o que dizer depois da cena no
banheiro. E ele também está bem calado, quando abre a porta do passageiro
para mim e dá a volta, sentando no banco do motorista e dando partida.
Mordo os lábios, pensativa. Ao que parece, estou a um passo de
conseguir o emprego na casa da Liam Hunter. E, sinceramente, me deixar
levar pela atração pelo segurança, que não por acaso é o melhor amigo do
Leão, não será uma boa ideia.
É a pior ideia de todas as piores ideias.
Respiro fundo e decido cortar logo aquele mal pela raiz.
— Escuta, o que aconteceu no banheiro... não deveria ter
acontecido.
— Não aconteceu nada, se bem me lembro. — Oh, droga, ele tem
que usar aquele tom de pesar? Só me faz lembrar do meu próprio pesar.
— E não deve acontecer, porque... não seria legal, a gente
trabalhando junto e rolando esse clima.
— Clima?
— Ah, você sabe muito bem! — Não consigo evitar de corar, o que
é ridículo.
— É, acho que tem razão, Penny.
Eu nem me dou ao trabalho de corrigir meu nome. Estou mais
ocupada em não demonstrar minha decepção por ele não ter insistido mais.
Ethan parece a fim, não? Ou será que é só uma brincadeira agir assim
comigo? Será que age assim com todas as mulheres?
De repente, na minha imaginação, vejo várias mulheres fazendo fila
na porta do escritório de Wall Street para serem apalpadas pelo segurança
gostoso de Liam Hunter.
— Então é isso?
Volto à realidade e percebo que já estamos em frente ao meu prédio.
Um pesar descabido me toma.
— Acha mesmo que vou conseguir esse trabalho?
— Emma pareceu gostar de você. E Leo também.
— Ele me atacou com vômito, não chamaria isso de gostar.
Ethan ri.
— Ele já fez o mesmo comigo também. — Há tanto carinho em sua
voz que chega a ser estranho. Um cara daquele tamanho capaz de ser terno
com um bebê.
— Mas enfim, quem vai definir tudo é Liam Hunter.
— Emma vai ter voz ativa, não se preocupe.
Mordo os lábios, incerta. Sinto medo. Já não tenho certeza de nada
do que estou fazendo. Agora que estou tão perto de conseguir o que almejo,
começo a duvidar de minhas convicções.
— Acho que não deve se preocupar. Ser babá não parece o melhor
emprego do mundo. — Ethan me estuda e temo ter transparecido algo na
minha expressão.
— Eu sei. Mas quero muito esse emprego.
— Por que é Liam Hunter?
Desvio o olhar.
— Com certeza dizer que trabalho com os Hunter é algo grande, há
de convir. Não pode me culpar por almejar isso.
— Não, não posso. Mas já deve saber que estar sob o domínio de
Liam não será fácil.
— Sob o domínio? Que isso? — Solto uma risada, sem querer
parecer assustada. — Ele é um mafioso ou algo assim que não estou
sabendo?
Ethan ri.
— Não, mas ele é um cara difícil.
— Posso imaginar, porém acho que terei que conviver mais com a
Emma, e ela parece uma pessoa fácil de lidar.
— Sim, a tagarela é louca a maior parte do tempo, mas é gente boa.
— Então acho que está tudo bem.
— Se conseguir o emprego.
— É... Se conseguir.
— E vamos ignorar esse clima.
Oh, ele voltou ao assunto. E agora seu olhar já não parece amigável,
e sim cheio de cobiça. E malícia. E...
Engulo em seco.
— Mas ainda não sou empregada dos Hunter.
— E o que isso quer dizer?
— Que podemos fazer algo... com esse clima.
Ah, que se dane!
— E o que sugere?
— Apareça para jantar hoje à noite e podemos descobrir. —
Destravo a porta, abrindo-a. — Ah, e não use esse terno, você fica bem
gostoso com ele, mas acho que tem algo mais informal, não?
Um sorriso sacana se distende em seu rosto.
— Até à noite, Amy Grant.
Eu salto e fico observando o carro se afastar, com um sorriso bobo
no rosto, até que o celular vibra e eu o pego na bolsa. É uma mensagem de
Emma Hunter.
“O emprego é seu! Começa segunda-feira.
Muito animada! E o Leo também!”

— Wow! — exclamo, meio surpresa.


Eu tinha mesmo conseguido? Ainda era difícil de acreditar!
Sinto um misto de alegria e apreensão.
De repente o celular toca e vejo o nome Carl brilhando na tela.
Penso em não atender, mas sei que será pior.
— E aí? — Sua voz é impaciente.
— Eu consegui.
— Conseguiu? — Percebo que não esperava por isso.
Bem, ele ia ver.
— Sim, consegui o emprego na casa de Liam Hunter. O primeiro
passo foi dado.
— Espero que não estrague tudo.
— Você disse que eu não ia nem conseguir entrar lá e olha só? Deve
confiar mais em mim, Carl.
— Bem, veremos.
— Você vai ver. — Desligo e respiro fundo.
Agora não tenho mais como voltar atrás.
Ethan

— Cara, onde diabos está com a cabeça? — A voz debochada e


irritada de Liam é a primeira coisa que escuto quando abro os olhos, ainda
atordoado depois de voar pelo tatame, nocauteado por um belo soco em
meu abdome.
Os alto-falantes da sala de ginástica quase estouram com um hip hop
pesado e quando abro os olhos, Liam está inclinado sobre mim, suado, com
aquele cabelo descabelado, e me encarando com os olhos franzidos.
— Acho que faz uns quinze anos que não consigo ganhar uma briga.
Solto uma risada, segurando a mão que ele estende, ficando de pé e,
só para não perder o hábito, viro um soco em seu rosto bonito, fazendo-o ir
ao chão.
E é a minha vez de me inclinar sobre ele.
— Acho que ganhei dessa vez.
— Seu filho da puta! — rosna, mas aceita minha mão estendida,
ficando de pé, massageando o rosto. — A Emma vai me matar se ficar roxo,
caralho!
Eu rio ainda mais, afastado-me e pegando uma toalha.
— Problema seu!
— Ela já está puta comigo por causa da tal babá! — Liam
resmunga, bebendo um longo gole de água de sua garrafa, enquanto enxugo
o rosto.
— Eu disse que ia dar merda, não quis me ouvir. Aliás, achei que
decidiram bem rápido sobre a contratação — comento, como quem não
quer nada.
Eu realmente achei que havia possibilidade de Amy Grant não ser
contratada, mesmo Emma tendo gostado dela. Bem, a quem eu queria
enganar? Como Amy tinha dito no carro, não seria nada aconselhável dar
continuidade aquele flerte entre nós se ela trabalhasse para os Hunter.
Inferno, eu não tinha muitas regras em se tratando de foder
mulheres, mas algo que eu nunca fazia era pegar alguém que trabalhasse
para Liam. Porque sabia que era confusão.
— Ela apenas me ligou e comunicou que tinha aprovado Amy
Grant. Nem sequer me perguntou o que eu achava! — Liam parece
indignado e eu rio por dentro. É engraçado pra cacete ver os embates de
Emma e Liam. Eu e Eric até organizamos um pequeno banco de aposta para
ver quem ganhava as brigas.
— Ela ficou brava porque quis decidir sem ela, Liam.
— Eu sei, por isso decidiu sem mim!
— Mas você ia barrar Amy Grant? — pergunto com cuidado.
— E o que eu sei sobre aquela garota? Nem conversei com ela
direito quando esteve em meu escritório!
— Disse isso a Emma?
— Ela nem quer ouvir! — Ele se levanta. — Vou tomar um banho.
— E nos encaminhamos para o elevador. — Vai jantar com a gente? Zoe já
está socada lá em casa com a Emma e, certamente, aquela duende
intrometida vai ficar até tarde falando sobre o casamento demoníaco, e não
estou a fim de aguentar. Podemos jogar depois... — diz, referindo-se à
melhor amiga de Emma, com quem ele implica desde que a conheceu. Zoe
está de casamento marcado e, se já era irritante antes, agora está beirando a
insuportável. Pelo menos na opinião de Liam. Eu não me importo. Até a
acho divertida.
Em qualquer outro dia, eu aceitaria o convite de Liam, tanto do
rango quanto do jogo depois. Mas eu já tinha recebido um convite para
jantar.
Amy Grant e suas sardas me voltam à mente. Minha língua chega a
coçar só de lembrar a vontade que tive de lamber todas elas, cada uma. As
que tinha visto e as escondidas... Eu tinha passado a tarde inteira pensando
no que teria acontecido se Emma não tivesse nos interrompido no
banheiro...
— Eu passo hoje — respondo por fim.
Liam me lança um olhar enviesado, quando o elevador para no meu
andar e eu salto.
— Aonde vai?
Eu também não teria problema algum em dizer a Liam que eu ia
trepar, mas primeiro: nem sabia se a noite acabaria tão bem assim, o convite
era para jantar e, sim, podia dizer que eu a senhoria Grant estávamos nas
preliminares desde que nos conhecemos, mas eu não era tão convencido
assim. Até podia passar dos limites às vezes, e tinha passado todos com a
senhorita Grant, mas eu não era Liam, eu não forçava nenhuma barra.
E segundo e mais importante: certamente Liam não vai gostar nada
de ouvir que eu estou indo a um encontro com a sua mais nova funcionária.
Ainda mais sendo a pessoa que vai cuidar de Leo. Ainda mais que ele está
puto por ter sido contratada sem seu aval.
Não. É melhor manter meu flerte com a senhorita Grant como meu
pequeno segredinho sujo.
— Um encontro — respondo evasivo e saio do elevador, antes que
possa insistir no assunto.
Estou entrando em meu apartamento quando vejo Eric saindo
carregando um cesto de roupa suja.
— Está roubando minhas roupas, chinês?
— Devia agradecer por eu lembrar de lavar sua roupa, Coen! Vai
jantar com os Hunter?
— Não, estou saindo...
Eric sorri maliciosamente.
— Você vai transar.
Eu não nego.
— Cuida da sua vida.
— Espero que não seja aquela chata da Nicole.
Eu fecho a cara.
Não gosto de lembrar de Nicole Zorn. E como fui idiota por tanto
tempo.
— Claro que não. Não tenho o que tipos como a Nicole querem.
— Que merda, hein? Espero que esqueça aquela vadia.
Eric fecha a porta atrás de si e vou para o chuveiro, tentando apagar
o mal-estar que falar de Nicole me causa ainda.
Eu passei tempo demais fantasiando com Nicole. Mais tempo do
que era saudável para minha sanidade. E hoje me pergunto: por que diabos
eu fui tão trouxa?
Mas Nicole é coisa do passado. E hoje eu tenho um encontro.
Então Nicole Zorn que vá para o inferno com seu orgulho.
E estou muito satisfeito comigo mesmo, antevendo todas as
sacanagens que terei a oportunidade de fazer com a senhorita Grant, quando
saio do banheiro e estaco ao ver Emma sentada na minha cama.
— Oi, ursão.
— Que diabos está fazendo aqui? — Vou para meu closet pegar uma
roupa, lembrando que Amy pediu que eu não vestisse terno. Opto por um
jeans e camiseta preta. — Já não falei que ser esposa do chefe não te dá o
direito de invadir minha casa quando bem entende?
— Fiquei sabendo que tem um encontro? — Escuto sua voz ainda
no meu quarto e bufo irritado. Eric e sua língua grande.
— E daí?
— E daí que faz um tempo que não sai com ninguém.
— Emma, não tenho que fazer relatórios de todos as minhas fodas
para você.
— Mas faz para o Liam que eu sei.
— E agora quer que eu acredite que Liam te conta. — Sei que ela
está blefando.
— Ele não conta porque eu não pergunto, não me interessa com
quem transa.
— Tagarela, você é a pior mentirosa que existe. Se não te interessa o
que está fazendo aqui? Aliás, não tem visitas em casa? Liam falou que a
Zoe veio jantar com vocês.
— Zoe não para de falar do casamento e até eu já estou de saco
cheio, por isso fugi. E Liam está bravo comigo por causa da Amy.
Volto para o quarto já vestido e a encaro, agora deitada na minha
cama. Folgada pra cacete.
— Ele está puto porque você não conversou com ele sobre a
contratação da senhorita Grant.
— Ele ia fazer o mesmo!
— Os dois estão errados.
— Mas amei a Amy. Ela vai ser perfeita, eu sei.
— Você não é uma boa julgadora de caráter, tagarela, não admira o
Liam ficar com medo.
— Medo do quê? Amy foi indicada pela Ariana, não tem nada
errado com ela!
— Como pode ter tanta certeza tão rápido?
Ela franze olhar.
— Você não gosta da Amy ou é impressão minha?
— Não disse isso. — Desvio o olhar, ajeitando o cabelo.
— Espero que seja legal com ela!
Não posso deixar de sorrir maliciosamente. Sim, serei muito legal
com a senhorita Grant. Felizmente Emma não vê meu sorriso, enquanto
levanta da minha cama.
— Não vai me dar detalhes do seu encontro? — Ela me segue para
fora do quarto e eu pego a chave do carro.
— Cuida da sua vida, tagarela.
Saio do apartamento, deixando Emma e sua curiosidade para trás.
Capítulo 7

Amy

— Hum, está maquiada querida? — Tiziano me lança um longo


olhar especulativo, quando entro na cozinha e desvio o rosto. Merda.
— O que está fazendo? — desconverso, espiando os ingredientes na
bancada. Tiziano virou vegano há alguns meses, e desde então ele vem
experimentando várias receitas e me usando como cobaia. Nem sempre o
experimento acaba bem. Uma vez, cheguei a parar no pronto socorro com
intoxicação alimentar. Mas ele vinha melhorando.
— Hambúrguer — responde, e eu franzo a testa.
— Sério? Acabou a onda vegana?
— É hambúrguer vegano, meu bem!
— Hum... Talvez eu peça alguma coisa — resmungo, olhando pela
enésima vez meu celular. Será que Ethan vai aparecer como sugeri?
Eu quero e não quero ao mesmo tempo.
Se pensasse com sensatez, deveria desejar que não aparecesse.
Certamente a essa hora ele já devia saber que eu tinha sido contratada. E se
ele fosse mais sensato que eu, deixaria para lá.
Mas só por precaução, estou usando uma lingerie bonitinha.
— Hum, o que está rolando? — Levanto o olhar e Tiziano está me
estudando com uma expressão preocupada.
Tiziano com expressão preocupada me assusta pra cacete. Porque
isso quer dizer que ele vai ficar me analisando até tirar coisas de mim que
eu não estou disposta a compartilhar.
Mil vezes merda.
— Nada. — Abro a geladeira e pego uma cerveja.
— Já recebeu a resposta dos Hunter? — insiste.
Suspiro, sentando na bancada e pegando um aipo.
— Já. Consegui.
Ele levanta a sobrancelha.
— Vai fazer isso?
— Eu já falei que sim!
— Você é louca, se quer saber.
Desvio o olhar. Era o que a minha consciência vinha sussurrando
para mim mesma, e eu vinha tentando ignorar.
— Sabe os meus motivos.
— Claro que sim, tenho ouvido esse seu lamento há anos! Mas acha
que essa é a maneira certa de conseguir o que quer?
— Eu tenho que arriscar! E acho que, agora, Carl nem ia me deixar
recuar.
— Esse Carl é um cuzão.
— Eu sei.
— E mesmo assim está envolvida nisso com ele, você é tão sem
noção às vezes, Amy!
— Não sou! Estou indo atrás do que eu quero! E vou conseguir,
estou sentindo. — Se dissesse isso a mim mesma muitas vezes, talvez eu
me convencesse.
— Não tem medo de Liam Hunter?
— Não! — minto descaradamente. Se fechasse os olhos ainda
poderia ver Liam Hunter me espreitando atrás de sua imponente mesa,
como se estivesse pronto a pular na minha jugular. Estremeço de horror.
— E do segurança dele, Ethan Coen, é esse o nome do gostosão, não
é?
Agora estremeço de novo. Mas não é mais de medo.
— Ele não me mete medo também!
Tiziano solta uma risadinha.
— Eu achei que estava rolando alguma coisa quando entrei no seu
quarto...
Coro sem conseguir me conter.
— Não estava rolando nada!
— Vai dizer que não acha ele um tesão? Que não deseja escalar
aquele Everest com a língua?
— Ok, ele é gato, e daí?
— E daí que vai trabalhar ao lado dele...
— Não vou trabalhar ao lado dele! Ethan trabalha com Liam Hunter,
meu trabalho será com Emma e o bebê. Aposto que nem vou ver Ethan
direito. — Infelizmente.
— Eu acharia uma pena! Mas é melhor mesmo ficar longe do
segurança do Liam Hunter. Se ele descobre o que está fazendo, está morta.
— Credo! Eles não são da máfia!
— Só estou dizendo! Acha que vão ficar felizes quando
descobrirem?
— Ninguém vai descobrir!
— Uma hora vão.
— Eu estarei bem longe daquela casa quando isso acontecer — digo
seriamente, porque é isso que eu espero.
O som da campainha nos interrompe e meu coração dá um pulo no
peito porque eu sei bem quem deve ser.
Tiziano levanta a sobrancelha.
— Esperando alguém?
— Hum.. Mais ou menos...
Vou até a porta e a abro e, como esperava e temia, é Ethan quem
está ali, em toda a sua altura e gostosura, vestindo e jeans e camiseta preta,
ainda mais delicioso do que com o terno preto, se é que isso é possível!
— Você veio.
— Você convidou.
— Achei que talvez... já deve saber que consegui o emprego com os
Hunter.
— Fiquei sabendo. — Sua voz carrega um quê de desaprovação que
me incomoda.
— Não parece estar feliz com isso.
— Por que não estaria?
— Não sei. Me diga você.
— Acho que já disse os motivos no carro, mais cedo.
Ah... então eu entendo.
Eu disse que não seria legal a gente se envolver se eu fosse
funcionária dos Hunter.
Bem. Ele tinha razão.
Mas é só um jantar, não é? Não há problema nenhum nisso. E
Tiziano estará junto. Não há nenhum problema em sermos amigos. Na
verdade, eu vou precisar de sua amizade para ter mais sucesso na minha
missão.
— Entendo — digo por fim — mas ainda podemos ser amigos e
posso te oferecer um jantar. Não foi para isso que veio?
Ele responde com um sorriso que faz algumas borboletas
sobrevoarem meu estômago.
Eu o convido para entrar e Tiziano, que se ocupa em pôr a mesa,
olha de mim para Ethan com um olhar malicioso.
— Não me disse que tínhamos convidado, querida.
— Lembra do Ethan, não? — Eu me apresso em ajudá-lo, lançando
lhe um olhar de “presta atenção no que vai falar”.
— Como esquecer? — ele cantarola, aproximando-se de Ethan, que
estende a mão educadamente, mas Tiziano desconhece a palavra limite
quando se trata de caras bonitos, e abraça Ethan que arregala os olhos,
surpreso.
— Que prazer em revê-lo, Ethan — Tiziano completa ao soltá-lo,
não sem antes passar a mão em seu peito.
Ah, eu tenho inveja da cara de pau de Tiziano, às vezes.
— É, percebi. — Ethan coça o cabelo, desconsertado, e posso jurar
que ele está levemente corado.
— Tiziano, não seja insolente! — reclamo, mas estou sorrindo. —
Acho que podemos comer. Estou faminta.
— Espero que goste de comida vegana, Ethan — Tiziano comenta, e
Ethan parece meio incerto do que responder, quando senta à mesa.
— Eu já fui parar no hospital uma vez por causa da comida do
Tiziano —conto. E Ethan parece assustado depois do meu comentário. —
Mas ele melhorou, devo dizer. Acho.
— Não deixe que a nossa garota o assuste — Tiziano me
interrompe, montando um hambúrguer para Ethan.
— Você é vegana? — Ethan me pergunta.
— Não. Eu já tentei, mas não deu certo.
— Que bom. Eric, o chef de Liam faz uma carne incrível. — Ele
estuda o hambúrguer, à sua frente, com um olhar incerto.
— Sério? Acho muito fino que Liam Hunter tenha seu próprio chef.
— Liam é assim. Ele quer, ele tem... Que diabos é isso?
— Guaca Burger — Tiziano explica. — Quinoa, feijão e guacamole.
Vai adorar, querido. Coma!
Respirando fundo, Ethan dá uma mordida no hambúrguer, e eu não
consigo desviar o olhar. Ele tem as mãos tão grandes e, devo dizer, nunca
reparei que um cara pode ser tão sexy ao comer.
— Querida, acho que caiu uma baba na mesa — Tiziano sussurra e
eu limpo a garganta, ficando vermelha, ocupando-me em comer meu
hambúrguer.
— E aí? Aprovado? — Tiziano pergunta a Ethan.
Obviamente ele está pouco se lixando para minha opinião hoje.
— É bom — Ethan fala de boca cheia, dando outra mordida. Desta
vez eu e Tiziano suspiramos ao mesmo tempo. — Nem parece que não é
carne.
— Eu disse. — Tiziano sorri com presunção. — Deveria virar
vegano, querido. Eu posso te ajudar no processo. Tenho ótimas receitas,
conheço restaurantes incríveis, posso ir na sua casa cozinhar...
— Tiz... — Toco sua mão. — Menos!
— Não seja ciumenta!
É a vez de Ethan me encarar com um sorriso.
— Está com ciúme?
— Do Tiziano?
— De mim.
— Por que teria?
— É, por que teria? — Tiziano se intromete. Obvio que já percebeu
o clima rolando e está se divertindo com o meu infortúnio.
— Eu perguntei primeiro — Ethan insiste.
— É uma pergunta sem sentido. — Tomo um gole da minha cerveja.
Talvez devesse ficar bêbada. — Então, Tiziano, me conta onde conseguiu
essa receita — mudo o foco da conversa. Sei que Tiziano ama ser o centro
das atenções e na hora seguinte ele discorre sobre suas descobertas veganas.
Finjo prestar atenção no meu amigo, mas meus olhos vagam toda
hora para Ethan. Eu simplesmente não consigo evitar. E às vezes eu o flagro
fazendo o mesmo. Sinto vontade de deixar Tiziano falando sozinho e
arrastar o segurança de Liam Hunter para meu quarto e fazer coisas bem
pervertidas...
Mas não posso. A cada minuto que passa, vou percebendo que
estou, sim, atraída demais por aquele cara, e me dou conta de que posso
estar me metendo numa enrascada bem maior do que era previsto.
Eu não posso mesmo me envolver com o segurança dos Hunter. Não
só porque iríamos ser colegas de trabalho, mas porque ele não faz ideia das
minhas reais intenções. E se descobrir não vai gostar nem um pouco.
Sinceramente? Estou começando a gostar muito das olhadelas
safadas de Ethan Coen e não estou preparada para ver seu olhar de cobiça
ser trocado por aversão.
— Bem, meus queridos, deixo a louça para vocês! — Volto à
realidade quando Tiziano se levanta da mesa.
— Onde vai? — indago, confusa. E com um certo medo, mas
empolgada também.
— Tenho um encontro! — Ele sorri e passa a mão nos cabelos de
Ethan. — Adorei tê-lo como companhia, Ethan. Volte mais vezes!
Eu e Ethan observamos Tiziano se afastar em silêncio, até que a
porta é fechada. Estamos sozinhos.
Completamente sozinhos.
Oh. Oh.
E quando volto minha atenção para Ethan, sei que por sua cabeça
está passando a mesma coisa.
Começo a me mexer na cadeira, incomodada.
Bem, incomodada não é a palavra correta.
— Tem sobremesa? — Ethan quebra o silêncio.
— Por favor, não diga que isso é algum tipo de metáfora idiota em
que está questionando se sou a sobremesa.
Ele ri.
— Você que está dizendo, Penny.
— Pare de me chamar de Penny!
— Ok, Penny. — Ele continua sorrindo. Tão, tão sexy.
Faz coisas incríveis acontecerem na região sul do meu corpo, que
não entende que se envolver com Ethan está fora de cogitação.
E eu preciso tomar o controle daquela situação antes que seja tarde
demais.
— Olha, o que eu disse mais cedo... Continua valendo. Não acho
que a gente deva transar — explico.
— Quem falou em transar?
Por que demônios ele continua com aquele sorriso no rosto, como se
soubesse algo que eu não sei? Como se... ele soubesse exatamente que estou
blefando.
— Escuta, Ethan, a gente pode ser sincero, não é? Você sabe e eu
sei, que nós dois queremos isso. Muito.
— Você vai direito ao assunto.
Eu me inclino.
— Não faço joguinhos, Ethan Coen.
— Gosto disso. — Ele se inclina também. Seu rosto está tão
próximo que posso sentir o hálito em minha língua. Dá água na boca. —
Gosto de você, Penny.
Oh, Deus.
Preciso mesmo daquele emprego?
Sim, eu preciso.
Não sem algum esforço, volto ao meu lugar, tomando um longo gole
de cerveja.
— Então, acho que podemos ser amigos.
— Vai voltar ao seu amiguinho? — Franzo a testa, encarando Ethan,
sem entender. — Aquele que encontrei na sua gaveta.
Engasgo com a cerveja quando entendo.
Puta que pariu!
Ethan apenas ri, enquanto bate nas minhas costas.
— Calma, Penny. Não quis te constranger.
Claro que queria, mas não fico constrangida facilmente. Ou tento
não ficar e dou de ombros.
— É um bom amigo. O nome dele é Oscar.
— Chama seu vibrador de Oscar?
— Sim. Talvez eu compre outro para lhe fazer companhia. O
chamarei de Ethan.
— Me sinto envaidecido.
Ficamos em silêncio por um instante, entretidos com nossos
pensamentos e nossas cervejas.
— Eu gostaria de ver — diz de repente.
— Quê?
— Você e Oscar.
Oh. Meu. Deus.
Perco a fala por um momento. Mas minha mente está trabalhando
rápido. Imaginando. E tenho certeza que ele também imagina. E de repente
o ar está tão carregado de tensão e expectativa que quase me sufoca.
Eu deveria mandá-lo à merda. Deveria levantar da mesa, abrir a
porta e dar a noite por encerrada. Segunda-feira seríamos apenas colegas de
trabalho. E todo aquele flerte sacana seria esquecido.
Mas em vez disso, eu me levanto e vou para o meu quarto.
Não olho para trás para saber se Ethan está me seguindo.
Eu sei que ele está porque escuto o barulho de seus passos atrás de
mim, rivalizando com o barulho das batidas do meu coração. Porém,
quando escuto a porta do quarto sendo fechada, isolando nós dois do mundo
lá fora, tudo silencia.
Até minha consciência.
Agora somos só nos dois.
Quer dizer, nós três, me corrijo com um arrepio de prazer perverso.
Eu, Ethan e Oscar.
Oh. Meu. Deus.
Capítulo 8

Amy

O ar está tomado de eletricidade quando me volto para Ethan.


Admiro por um momento como ele é grande e parece ocupar todo o
espaço, não só com sua estatura, mas com sua aura de autoridade. É uma
autoridade diferente da de Liam Hunter, pautada no dinheiro e poder.
Ethan não precisa disso. É algo natural. Ele mete medo apenas com
o olhar.
Percebo que, em vez de me assustar, isso me deixa ainda com mais
tesão, o que é algo estranho para mim. Não sou uma garota que faz o tipo
indefesa e inocente, que gosta de ver os caras dominando e subjugando.
Muito pelo contrário, eu gosto de caras divertidos, inteligentes e até um
pouco franzinos, porque não curto me sentir ameaçada numa relação. Não
que eu seja uma dominadora, só acredito que sempre deve ter um equilíbrio.
É, talvez seja por isso que esteja há tanto tempo solteira. Os caras são
mandões demais ou frouxos demais para mim.
Mas cá estou eu, tremendo de tesão por um cara enorme,
praticamente um brutamontes, que tinha me revistado sem nenhum pudor,
usando um poder que lhe fora concedido pelo Leão de Wall Street.
Eu deveria estar correndo sem olhar para trás, mas em vez disso,
mordo os lábios, ansiosa, quando ele se aproxima.
Ah, por favor.
Mal respiro de ansiedade.
— O que vai acontecer? — sussurro. — Vai mesmo ficar aí me
olhando, enquanto... — Toda a situação parece muito surreal.
Ele sorri. Tão sacana. Tão maravilhoso.
— Você brinca com o Oscar... — completa e, sem que eu possa
impedir, caminha até minha gaveta de calcinhas e quando se vira de frente
para mim de novo, arregalo os olhos ao ver Oscar entre seus dedos.
— Sério, mesmo? — indago, muito vermelha. Sim, estou com
vergonha, mas também estou muito ansiosa por saber o que ele pretende.
Qualquer coisa parece muito interessante vinda de Ethan.
Ele estende o vibrador.
— Mostre-me o que faria se eu não estivesse aqui...
— Você é um maldito voyeur ou o quê?
Ele ri. Cara, até o riso dele faz meu ventre tremer.
— Se quiser que eu vá embora, eu vou, senhorita Grant. É só pedir.
Ir embora? Ele está louco?
Engulo em seco. E estendo a mão, pegando Oscar com os dedos
trêmulos.
— Boa menina — Ethan sussurra em meu ouvido, enquanto passa
por mim, afastando-se e sentando-se em uma poltrona em frente à cama.
Subo no colchão, sem conseguir desviar o olhar.
— Devo tirar a roupa ou...
— Não. Apenas levanta a saia e tira a calcinha
Caramba!
— Não quer me ver nua?
— Não acho que seja esse o objetivo.
— Não entendi.
— Não vamos transar, senhorita Grant. Não foi isso que
combinamos?
Sim, ele tem razão. Melhor manter algum controle.
Ok, eu consigo fazer isso, penso, enquanto enfio a mão por baixo da
saia e tiro a calcinha. E num átimo de atrevimento, a jogo para Ethan
Ele ri e a pega no ar.
— Está me fazendo sentir como se eu fosse uma stripper.
Ele ri mais ainda.
— Se fosse estaria dançando no meu pau.
Ai, cara, por que ele tinha que me dar ideias?
— Não descarto essa possibilidade.
— Não brinque comigo, senhorita Grant.
— Não sou eu que estou brincando.
— Faça — ordena de repente, num tom mais imperativo que arrepia
até minha alma.
Eu me recosto nos travesseiros atrás de mim, levantando a saia.
— Abra as pernas! — ordena de novo. Minha respiração acelera.
Sei que estou tão quente que poderia entrar em combustão
instantânea.
Ligo o vibrador e o som enche o ar. Ethan sorri. Sinto o estômago
sendo sugado, enquanto levo a mão livre até o meio das minhas pernas,
sentindo meu corpo. Um gemido trêmulo escapa de meus lábios e posso
jurar que o mesmo gemido, mas num tom mais rouco, sai da garganta de
Ethan também.
— Você já está molhada, senhorita Grant?
Fecho os olhos, derretendo de prazer com sua voz rouca cheia de
desejo.
— Eu estou constantemente molhada desde o dia em que nos
conhecemos.
Ele geme mais alto agora e levo o vibrador até onde anseio que
Ethan toque.
— Isso, Senhorita Grant... — encoraja, e basta para mais um tremor
forte assolar meu corpo. Embalo os quadris para a frente, ditando um ritmo,
enquanto deslizo o aparelho para dentro de mim, abrindo ainda mais minhas
pernas e porra... é tão bom, como nunca foi.
Eu amo Oscar e ele sempre foi satisfatório para mim, mas ter Ethan
ali, em algum lugar, me observando, faz tudo ganhar uma dimensão
extraordinariamente obscena.
— Parece gostoso — ele diz. Sua voz é quase um rosnado, baixa e
íntima. Queria que ele se aproximasse e sussurrasse dentro do meu ouvido,
quem sabe entre minhas pernas.
Ah, só de imaginar...
— Em que está pensando?
Abro os olhos, focalizando os dele, que são duas bolas de fogo,
escuras e brilhantes.
— Em você.
— Seja mais específica. — Abaixo o olhar quando a mão dele se
move e cobre a frente de sua calça, onde uma ereção enorme desponta.
Ah, meu Deus...
— Quero ver você — murmuro, entre gemidos cada vez mais altos.
— Não foi esse o combinado, senhorita Grant.
— Por favor, Ethan...
Eu quase desfaleço quando o vejo abrir a calça e se acariciar, ao
vivo e a cores na minha frente.
Puta. Que. Pariu.
Ele era grande. Grosso. Lindo.
— Nossa! — não consigo deixar de exclamar, maravilhada. E ele
sorri com presunção. Bem, ele pode mesmo ser metido.
— Olha o que faz comigo, senhorita Grant.
— Caramba... — Movo o vibrador mais rápido, usando a outra mão
para acariciar meu clitóris, estou a ponto de explodir.
— Está próxima? — ele pergunta, tenso, o olhar duro preso em
mim.
Sacudo a cabeça afirmativamente, sem conseguir falar, minha
garganta está seca e todo meu corpo está tenso, apenas concentrado naquele
prazer incrível que está crescendo e se enroscando em meu ventre.
E então eu explodo, com um longo gemido de libertação, fechando
os olhos e deixando as ondas de um clímax fabuloso inundar meu corpo. E,
em algum lugar da minha mente, percebo que Ethan também gemeu e
gozou e, infelizmente, eu não vi isso porque estou muito ocupada em fazer
o ar sair dos meus pulmões e em fazer meu corpo mole e sem forças voltar
à vida depois de um orgasmo daqueles.
— Uau! — murmuro, abrindo os olhos depois de um tempo que não
sei definir.
A visão de Ethan, ainda com a calça aberta e aquele pau magnífico
entre as mãos, enquanto ele respira pesado me deixa com tesão de novo.
Estendo a mão, pego um pacote de lenços no criado mudo e jogo
para ele.
— Obrigada! — Ele ri, pegando o pacote no ar.
Fico observando, fascinada, ele limpar a mão.
— Devo dizer, senhorita Grant, o Oscar é um cara de sorte.
— Eu sou uma moça de sorte por tê-lo.
— Que romântico — responde com ironia.
Isso me incomoda um pouco, mas, sinceramente, não quero começar
a analisar nada agora.
Então me levanto e vou até o banheiro me recompor.
Quando retorno, Ethan está de pé em frente à porta.
— Posso usar seu banheiro?
— Claro.
Ele entra no banheiro e eu mordo os lábios, incerta do que fazer.
A cena anterior parece ter sido criada por minha imaginação.
Quando ele retorna, com um meio sorriso, me assusto com a
vontade louca e súbita de beijá-lo.
Talvez convidá-lo para passar a noite, talvez...
— Isso foi divertido, senhorita Grant — ele diz, quebrando meu
devaneio insano.
Em que eu estava pensando?
— Digo o mesmo — cruzo os braços em frente ao peito —, mas
acho que já é hora de ir embora — completo. Embora aquela pequena
pessoa insana dentro de mim esteja me cutucando e dizendo “peça para ele
ficar”.
Abro a porta e saio do quarto, com Ethan me seguindo, indo até a
porta do apartamento. Melhor acabar logo com aquilo, antes que seja tarde
demais.
Sim, foi divertido, quente e meio doido, mas foi só isso.
E apenas isso.
Estou focada em uma missão muito específica e não posso me
distrair com aquele tesão descabido pelo segurança de Liam Hunter e pôr
tudo a perder.
— Isso... vai ser esquecido, não é? — Eu me vejo na obrigação de
dizer quando abro a porta. — Nosso trato ainda está de pé... Somente
colegas de trabalho, certo?
Ethan sorri, daquele jeito meio sacana dele, que me deixa de pernas
bambas e que estou começando a odiar e a adorar.
Levantando a mão, ele coloca um fio de cabelo atrás da minha
orelha.
— Esquecer vai ser difícil, Amy. — Ele deixa de usar o “senhorita
Grant” e isso me desconcerta. — Mas você tem razão. Apenas amigos. — E
estende a mão para mim, num claro sinal para selar nossa amizade.
Ok, que opção eu tenho?
— Amigos. — Deixo que segure minha mão, que desaparece dentro
da dele.
E, por um momento, enquanto nos olhamos, tenho a sensação de
que quer dizer alguma coisa. E espero. Anseio. Meu coração batendo rápido
no peito.
Mas Ethan apenas solta a minha mão e acena, desaparecendo porta
afora.
****

— Parece que alguém transou... — A voz debochada de


Tiziano me tira do devaneio erótico em que me encontro desde que acordei
de manhã. E até mesmo agora, enquanto tomo um iogurte com granola
artesanal que Tiziano comprou na feirinha perto de casa, ainda não consigo
tirar a imagem do segurança de Liam Hunter da cabeça.
— Eu não transei! — desconverso, e Tiziano continua sorrindo sem
acreditar em mim.
— Minha querida, se não transou é uma idiota, qualquer um vê que
aquele segurança gostoso está louco para entrar nas suas calcinhas.
— Não sou idiota, sou precavida! Nós vamos trabalhar juntos e você
sabe muito bem no que estou metida, não posso me envolver com Ethan. De
jeito nenhum. Nunca.
— Claro, se repetir bastante para si mesma talvez se convença.
Somos interrompidos de repente pela porta se abrindo e um pequeno
furacão de cabelos cacheados irrompe na sala, pulando em meu colo.
— Tia Amy!
— Penélope! — Consigo salvar o iogurte por pouco, enquanto
observo Ariana entrando atrás da filha, com seus saltos agulha batendo no
chão. Hoje ela usa uma calça de estampa de zebra tão colada ao corpo que
parece que foi costurada a vácuo. Os cabelos estão escovados e armados
com tanto laquê, que não sei como ainda não congelou o próprio rosto.
— Bom dia!
— Bom dia, gata. — Tiziano a beija no rosto e aspira. — Hum, que
perfume fabuloso!
— Eu sempre sou fabulosa, e você está muito gostoso. — Ela passa
a mão pelo tanquinho desnudo de Tiziano, que sorri satisfeito.
— Não para seu bico, minha cara!
— E você ainda não está arrumada por quê? — Ela estuda minha
aparência com ares críticos. Ainda estou com uma camiseta de dormir,
coque no alto da cabeça e remela nos olhos.
— Está cedo!
— Não quero pegar trânsito para New Jersey. Então levanta sua
bunda daí e vá se arrumar! — Ela arranca Penélope do meu colo.
— Não grita comigo que não sou sua filha! — resmungo enquanto
vou me levantando.
— Às vezes é pior que Penélope e sabe bem! Falando nisso, Emma
Hunter me ligou ontem e disse que adorou minha antiga babá — ela diz
com ironia, — E que a contratou.
— Sim, consegui o emprego — confirmo rápido, virando em
direção ao quarto, mas Ariana vai atrás de mim. — Ei, um pouco de
privacidade seria bom.
— Ainda não estou certa se agi corretamente mentindo por você.
Não gosto dessa situação.
Retiro um vestido florido do armário.
— Já conversamos sobre isso, Ari.
— Não use essa merda! — Tira o vestido da minha mão. — Algo
mais decente para visitar o papai, por favor!
Rolo os olhos, pegando um jeans.
— Decente? Olha sua roupa!
— Não estou mostrando minha bunda!
— Nem eu!
— Mas não desconversa. Ainda não engoli essa sua história de
querer ser babá dos Hunter.
— Qual o problema? — Começo a me vestir. — Sabe que odiava
meu trabalho! E o salário oferecido pelos Hunter é incrível!
— Mas babá? Você é formada, pelo amor de Deus! Quando contei
para o papai ele ficou passado! Prepare-se para ouvir um sermão hoje.
— O Vini não é meu pai!
— Nossa, pra que falar assim? Espero que não diga isso para ele!
Papai te considera como filha!
Sim, Ariana tem razão. De todos os cinco maridos da minha mãe,
Vini Valastro, o pai de Ariana, foi o único que se preocupou em ser um pai
para mim. Nem mesmo meu pai de verdade, um irlandês que minha mãe
conheceu num festival de música e que eu não via há anos, se preocupou
com isso. Talvez pelo fato de Vini ser viúvo e ter uma filha da minha idade,
Ariana. Na época em que ele se casou com a minha mãe, nós tínhamos
quinze anos. Infelizmente o casamento durou pouco, e não por culpa do
Vini, um dono de pizzaria com descendência italiana de New Jersey, mas
pela incapacidade da minha mãe de ser fiel. Eles se divorciaram três anos
depois e Vini continuou me recebendo em sua casa, como filha, mesmo
depois que fui para a faculdade. E o mesmo acontecia com Ariana, que me
considerava uma irmã.
E agora eu pedi para ela mentir por mim. Eu nunca fui babá de
Penélope, embora a adore e já tenha cuidado dela muitas vezes. Mas eu
preciso que os Hunter pensem o contrário.
Eu não gostei de pedir algo assim à Ariana e ela não faz ideia das
minhas verdadeiras intenções.
— O que você está aprontando, Amy? — Ariana insiste e dou de
ombros, indo pentear os cabelos.
— Nada! Apenas achei interessante mudar de profissão. Não quer
dizer que vou ser babá para sempre, mas trabalhar com os Hunter, mesmo
sendo babá, vai me abrir muitas portas. Eu preciso desse tempo, só isso.
— Sei... Espero que não esteja aprontando nada. Gosto muito da
Emma, embora aquele marido dela seja meio casca grossa.
— Ele não é diferente do Emiliano.
— Emiliano está a anos luz de Liam Hunter, por favor!
— Está bem, acho que tem razão. — Eu gosto do marido de Ariana,
um cara que fez fortuna com uma rede de restaurantes. Ele é italiano
também e os dois são extravagantes e exagerados. Feitos um para o outro.
— Espero mesmo que não esteja aprontando das suas.
— Aprontando das minhas? — Pego minha bolsa, jogando o celular
dentro.
— Sim, aprontando! E ainda me ferrando junto, como quando papai
pegou aquele cigarro de maconha no nosso quarto e você disse que era
meu!
— Nossa, que memória, eu nem lembrava mais disso...
— Mas eu lembro! E você adora fazer as coisas sem pensar direito,
tomara que não esteja fazendo isso desta vez. Não quero que se encrenque.
— Não seja dramática. Nada demais está acontecendo! Agora
vamos — desconverso.
Eu só espero que Ariana não tenha razão.
Capítulo 9

Amy

Não posso negar que estou ligeiramente nervosa na manhã de


segunda-feira. Para minha consternação ou alívio, não é Ethan quem
aparece para me buscar e sim um motorista que nunca vi antes.
— Olá, senhorita, eu sou Owen. Motorista da senhora Hunter — ele
se apresenta quando desço para a calçada.
— Cadê o Ethan?
— Ethan está ocupado com o senhor Hunter. Como vai trabalhar
diretamente com a senhora Hunter, eu cuidarei do seu trajeto.
— Ah. — Tento conter a decepção quando entro no carro e Owen
sai dirigindo pelas ruas do Brooklin em direção a Manhattan. Será que o
fato de ser este outro cara e não Ethan a vir me buscar era proposital depois
daquela safadeza toda de sexta à noite? Ok, nós combinamos que seríamos
amigos, mas será que conseguiríamos esquecer aquele ménage com o
Oscar?
Da minha parte, a resposta é um grande não. Passei o fim de semana
inteiro divagando sobre isso. E até tive bons momentos com o Oscar para
homenagear aquelas lembranças. E claro, a cada hora que passava, eu me
via ansiando pela chegada da segunda-feira, quando veria Ethan de novo.
Todavia, sei que estou me iludindo. Não vai rolar mais nada. Ethan é
meu colega de trabalho. Um trabalho que é mais importante do que se
supõe. E eu não quero e não posso falhar.
Com isso em mente, saio do carro no prédio dos Hunter, dizendo a
mim mesma que agora estou no modo profissional. Não há margem para
erros. Preciso fazer um bom trabalho na casa dos Hunter. Preciso que eles
confiem em mim.
— Bom dia! — Emma me abraça de forma efusiva quando entro na
cozinha que recende a muffin de maçã.
Emma veste uma calça jeans rasgada nos joelhos e uma camisa que
não parece dela. Será que ela é dessas que gosta de usar roupas do marido?
Olho para minhas próprias roupas. Hoje estou usando um vestido
florido vintage até os joelhos e uma bota curta. Será que Emma Hunter me
fará usar uniforme?
Não gosto nem um pouco daquela opção. Mas também sei que não
poderia dizer não se essas forem as ordens.
— Bom dia, que cheiro gostoso!
O chef oriental bonitinho não está por perto e Emma retira uma
fornada de muffin do elegante forno.
— São muffins! — Ela sorri.
Hum, Emma Hunter gosta de cozinhar?
— Parecem deliciosos.
— E são! Olha, Leo, quem está aqui! — Aponta para o bebê que
brinca com um mordedor no carrinho que deve custar o aluguel da minha
casa.
— Oi, Leo! — Eu me aproximo com certo receio. Ainda me lembro
de como ele me recebeu da outra vez em que ali estive. Com vômito azedo.
Eca!
— Está com medo que ele vomite em você de novo? — Emma
brinca e fico vermelha. Droga. Não é legal eu me comportar como se
tivesse nojo do mini Hunter.
— Claro que não! — O pego no carrinho e ele me olha com os
olhinhos desconfiados. São idênticos aos de Liam Hunter. — Ele se parece
muito com o senhor Hunter.
Emma revira os olhos, enquanto arruma os muffins em uma bandeja.
— Sim, ele é uma cópia do Liam!
— Ele é lindo. — Brinco com sua bochecha e ele sorri para mim. Eu
me derreto um pouco. Isso, bebê, goste de mim e mostre para sua mamãe
como eu sou boa babá.
— Ele gosta de você. Isso é bom.
— Aposto que é um bebê bonzinho.
— Às vezes, sim. Bem, só vou terminar aqui e te mostrarei a casa e
seu quarto.
— Quarto? — Um alarme soa na mina cabeça.
— Oh, eu não te disse que precisaria dormir aqui?
— Hum... Não.
— Me desculpe, devia ter falado sobre isso. Vai haver algum
problema?
Eu quero dizer que sim, tem muito problema. Mas claro que não
digo nada. Então visto meu melhor sorriso de empregada satisfeita.
— Eu vou amar ficar aqui o tempo inteiro. — Eu quero correr e
pular pela janela com essa opção, mas preciso pensar que será muito bom
para meus planos se ficar bastante tempo na casa dos Hunter.
— Na verdade, eu disse ao Liam que não precisava, mas ele foi
incisivo. Disse que já que íamos ter uma babá, seria legal ela estar
disponível no período noturno. Afinal o Leo ainda acorda durante a noite. E
às vezes saímos para eventos, e tenho que contar com o coitado do Eric para
cuidar dele. E também, você sabe. — Ela fica um pouco vermelha. — A
vida sexual fica bastante comprometida com um bebê.
Oh. Não sei se quero ouvir, penso. É esquisito ouvir Emma Hunter
falando de sua vida sexual com o Leão de Wall Street.
E quero logo mudar de assunto, mas de repente me lembro o que
estou fazendo ali e a encaro com um sorriso conspirador.
— Imagino. Deve ser difícil.
— Não é fácil! — Ela ri, aproximando-se e pegando Leo do meu
colo. — Venha, vou te mostrar tudo.
Ela me leva por todos os cômodos do apartamento muito espaçoso
e, como não poderia deixar de ser, tudo é maravilhoso e grita riqueza.
E, enquanto Emma Hunter tagarela sobre o que gosta no lugar, me
vejo observando que ela não combina nada com aquele ambiente. Como é
que veio parar ali? Eu sabia pouco sobre ela. Emma Jones tinha vinte e dois
anos quando conheceu Liam Hunter, estudava jornalismo e se casaram em
pouco tempo, ao que parece. De repente me sinto muito curiosa sobre a
história deles. Como alguém como ela, uma garota ainda, que vestia jeans
rasgado e tinha a cara limpa, caíra no radar de um cara como Liam Hunter.
Lindo, rico e implacável.
É uma incógnita.
— Esse é meu quarto. — Aponta para um cômodo espaçoso com
uma lareira fabulosa de aço ao fundo.
— Imponente.
Ela ri e me leva em frente.
— Aqui é o quarto do Leo, você já viu. — Ela passa para uma porta
adiante e a abre e nós entramos em um lindo quarto decorado em tons
pastéis muito feminino. — E este é seu quarto.
— Nossa, é lindo! — Jesus, mais parece o quarto de uma princesa e
não de uma babá.
Quando Emma disse que eu teria que dormir no trabalho imaginei
que iria ser colocada em um quarto de empregada.
— Gostou? Se quiser decorar de sua maneira. — Ela mede minha
reação. — Penso que talvez prefira algo mais vintage, ou colorido.
— Não, está lindo! — Ela tem razão. Eu iria preferir algo diferente,
mas ali não é minha casa. E acho que será divertido fingir que sou uma
herdeira rica por um tempo.
Uma herdeira rica apaixonada pelo motorista da família.
Ops. Apaixonada? Isso é um exagero. Com tesão seria mais
apropriado.
— Ethan também mora aqui? — Aproveito para perguntar, como
quem não quer nada.
— Não, ele tem um apartamento alguns andares abaixo.
— Nossa, ele deve ganhar bem. — Isso me surpreende.
— Você sabe, Ethan é muito mais do que só o segurança do Liam.
— É, acho que ouvi algo sobre isso.
— Mas se quer saber, Eric também mora no prédio.
— Meu Deus, sério?
Emma ri.
— Liam é o dono do prédio.
— Entendi agora.
Será que se eu ficasse tempo suficiente também iria ganhar um
apartamento? Poxa, Tiziano ia gostar de morar em Manhattan.
O que eu estava pensando? Eu não ficaria tempo suficiente.
De repente essa alternativa não parece muito divertida para mim.
— Você acha que consegue ficar sozinha com o Leo agora à tarde?
Eu? Sozinha com aquela pequena bola de vômito?
— Claro que sim. — Meu sorriso doce não condiz com meu horror.
— Ah, que bom. Estava preocupada. Eu não faria isso, queria que se
acostumasse com Leo primeiro, mas Zoe me intimou para ir a uma
degustação de bolos de casamento. — Ela bufa. — Acho uma chatice, mas
quando conhecer Zoe vai entender, ela é meio tirana e você nem imagina
como está sendo a preparação do seu próprio casamento.
— Zoe é uma amiga?
— Sim, minha melhor amiga. Moramos juntas antes de eu me casar.
— Sim, estou ansiosa para conhecê-la. — Até parece.
— Eu vou me arrumar, pode ficar com Leo?
— Claro! — Eu o pego do seu colo.
— Eric foi fazer algumas compras, mas deve chegar antes do
almoço, então não ficará sozinha.
— Fico mais tranquila.
Emma sorri e se afasta, e eu olho para Leo em meu colo. Agora ele
está ocupado chupando meu cabelo. Ah que beleza.
— Hum, amiguinho, parece que seremos só eu e você, então seja
bonzinho comigo, ok? Pode me avisar se for vomitar?
Ele emite sons ininteligíveis.
— Que bom que nos entendemos.
Olho em volta. E percebo que é um bom momento para eu andar
pelo apartamento.
Emma havia me mostrado quase tudo, porém tinha percebido
algumas portas fechadas. Resolvo me encaminhar para a primeira delas, no
fim do corredor, e me deparo com um escritório.
Wow. O território de Liam Hunter.
Meus olhos brilham e minha pulsação dispara de ansiedade e de um
certo medo.
— Olá. — Quase dou um pulo ao ouvir a voz atrás de mim e me
viro para ver o chef bonitinho me encarando com um sorriso.
— Oi. — Tento não parecer culpada, enquanto sacudo Leo.
— Vejo que já assumiu seu posto.
— Sim, estava... conhecendo a área.
— Cadê a Emma?
— Foi se arrumar, ela vai sair com uma amiga. Zoe.
— Ah, sim, a degustação de bolo. Eu estarei na cozinha se precisar.
Deseja algo para almoço?
— Eu?
Ele sorri para mim.
— Sim, você.
— Não creio que meu gosto tem alguma prioridade aqui.
— Mas você será a única que almoçará aqui hoje, então pode se
sentir a dona da casa. — Ele pisca e eu o acompanho para a cozinha.
Acho que vou gostar deste Eric.

No fim, a minha tarde até que foi bem agradável. Leo dormiu assim
que tomou sua mamadeira e, como Eric estava ocupado de um lado para o
outro limpando o apartamento, decidi ficar no quarto que me foi designado,
fingindo lindamente que era uma princesa. Até fiz um facetime com
Tiziano, mostrando minhas dependências a ele, que perguntou se não tinha
uma vaga no staff dos Hunter.
— Fazendo o quê? Aqui já tem um cozinheiro incrível, superchique,
que além de fazer comidas fabulosas ainda limpa tudo! Tem o Ethan que é
tipo segurança e motorista e ainda um tal de Owen, que é o motorista e
segurança da Emma.
— E, você, a babá quase perfeita.
— Eu sou perfeita, meu bem.
— Quero ver quando eles descobrirem...
— Shi! — eu o advirto, olhando para a porta que deixei encostada
como se pudesse ter alguém escutando atrás dela, o que é absurdo. —
Ninguém vai descobrir nada. Pelo menos, não enquanto eu estiver aqui.
— E já definiu qual seu prazo?
— Ainda não. Mas espero conseguir tudo sem demorar muito.
Quanto menos ficar melhor.
— E acha que vai ser fácil?
— Sinceramente, terei que tomar cuidado. O Eric parece estar em
todos os cantos, fico com medo que desconfie.
— E o tal Ethan?
— Ele fica o tempo inteiro com Liam Hunter. — Não consigo evitar
o tom decepcionado na minha voz e Tiziano percebe.
— E aposto que preferiria que ele ficasse o tempo inteiro aí, para o
seu deleite, não?
— Não vou negar. Ele é o cara mais gostoso que conheci na vida.
— Você é muito enrolada, Amy. Faz tempo que não te vejo
empolgada com um cara e vai arrastar asa justamente para o segurança de
Liam Hunter.
— Pois é, eu não poderia ser mais azarada mesmo.
— Só espero que tome cuidado — ele fala, mais sério do que lhe é
habitual.
— Pode deixar. Eu não vou fazer nada nesta primeira semana,
preciso estudar o ambiente, mostrar serviço. Deixar que cofiem em mim.
— Certo. Faça o que tem que fazer. Eu já esgotei meu estoque de
bons conselhos.
— Eu sei o que estou fazendo, Tiziano — garanto.
Mas depois que desligo, fico me perguntando se sei mesmo.
Agora que o plano está em prática, não posso deixar de sentir um
certo medo. Ou um medo enorme.
Porém, não vou voltar atrás.

Emma retorna no começo da noite e diz que Owen está me


esperando lá embaixo para me levar até em casa para buscar as minhas
coisas.
Fico decepcionada de novo por não ser Ethan.
— Leo se comportou direitinho? — Ela abraça o filho, com
saudade.
— Um anjinho. — Sorrio. Porque é verdade. E nem precisou que eu
desse calmante a ele ou algo assim.
Eu me despeço e desço para encontrar Owen e buscar minhas
coisas.
Quando retorno, me ocupo em guardar minhas roupas no closet,
pois Emma disse que cuidaria de Leo.
Fico me perguntando se eu terei mesmo que cuidar do garotinho,
porque Emma parece muito apegada ao bebê.
Quando termino, rumo para a cozinha e Emma anuncia que
jantaremos sozinhas porque Liam foi a um jantar de negócios e Eric já foi
dispensado para encontrar sua namorada, Amanda.
— O que foi? — Ela me estuda, quando vê que fiquei meio
hesitante, enquanto ela põe os pratos na mesa. Leo está ressonando em seu
carrinho.
— Não achei que comeríamos juntas, afinal sou apenas a babá.
Emma sorri.
— Ah, não temos essas formalidades aqui, vai ver.
— Seu marido pensa o mesmo? — insisto quando sentamos à mesa
para comer um delicioso peixe com legumes.
— Liam trabalha demais, vai ver que nem sempre ele estará por aqui
— ela diz, distraída, e eu franzo a testa.
Será que ela está mesmo ok com essa ausência do marido?
Claro que é de se esperar que um cara poderoso como Liam Hunter
seja bem ocupado, mas ele é casado e tem um bebê pequeno.
Mordo os lábios contendo a vontade de me aprofundar no assunto,
mas a curiosidade vence a cautela.
— Como vocês se conheceram?
Emma levanta o olhar e eu finjo vergonha.
— Ah, me desculpe, estou sendo invasiva.
— Não, não é nenhum segredo. Eu era estagiária em um jornal, e fui
substituir uma colega numa coletiva com o Liam. Cheguei atrasada, mas
mesmo assim consegui dez minutos com ele.
— E se apaixonaram?
Ela ri.
— Não foi bem assim. Foi um pouco mais... complicado.
— Desculpa, mas... é difícil imaginar como foi isso. Você é tão...
— Sem graça?
— Não! Não é sem graça. Você é linda, não me entenda mal, mas,
bem, eu via todas aquelas mulheres com quem ele saía.
— Ah, sim, eu também achei bizarro. E acho que nunca me
imaginei me envolvendo com alguém como o Liam, mas foi... instantâneo,
sabe? Como se tivesse que ser.
— E demorou quanto tempo para se casarem, parece que foi pouco
tempo.
— Uns três meses.
— Meu Deus, não foi muito rápido?
— Eu estava grávida.
— Ah, entendo.
— Mas nós já íamos nos casar, na verdade eu vim morar com ele
menos de dois meses depois que nos conhecemos e ele já tinha pedido
minha mão.
— Uau. Isso foi rápido.
— Liam disse que não queria perder um negócio.
— Negócio?
— É, temos até um contrato.
— Vocês têm um contrato? — Caramba, que casal bizarro é aquele?
— E fui eu que redigi! Se Liam achava que ia ditar todas as regras
estava muito enganado.
— E deu certo?
— Sim, olha onde estamos.
Sim, ela está jantando com a babá.
— E você não achou rápido demais?
Ela dá de ombros.
— Parece meu pai falando.
— Desculpa, é só um comentário.
— Tudo bem. Todo mundo acha isso.
Leo começa a chorar e Emma se ocupa do filho.
— Não acha que eu que deveria fazer isso?
— Não, continue a comer.
— Mas eu sou a babá. Se vai cuidar dele, qual o intuito de eu estar
aqui?
— A contratei porque quero voltar a trabalhar.
— Ah, isso é novidade, não pensei...
— Liam queria uma babá desde que Leo nasceu e eu não via
porque, se eu estava em casa, mas quero um trabalho.
— Isso é admirável.
— Você também acha que sou boba?
— Por que seria?
— Porque não preciso trabalhar, e mesmo assim eu fico insistindo.
— Claro que não. Você é muito nova para ficar enterrada em casa
com um filho... — De repente me dou conta da merda que estou dizendo e
me calo, muito vermelha. Droga. — Oh, me desculpe, eu não quis dizer...
Emma sorri, mas percebo que o que eu falei a afetou um pouco.
— Tudo bem, algumas pessoas pensam assim mesmo.
— Eu não quis aborrecê-la e nem a criticar. Desculpe, não é da
minha conta.
— Não se preocupe. — Ela abre um sorriso mais genuíno agora. —
Não estou brava.
Ela olha para Leo, que adormeceu em seus braços.
— Vou colocá-lo para dormir. Fique à vontade, ok?
Antes que consiga responder que eu posso colocar o bebê para
dormir, afinal é meu trabalho, Emma já desapareceu corredor afora.
Termino de comer e decido lavar a louça, e quando estou acabando
de secar os copos levo um susto ao me virar e ver Liam Hunter, parado,
olhando para mim.
Capítulo 10

Amy

Jesus Cristo protetor das babás falsas, me ajude — rogo, sentindo


minhas pernas trêmulas de medo. Liam Hunter fica parado ali, no alto de
seu terno escuro e olhar ameaçador como um leão prestes a pular em seu
jantar e engulo em seco.
Devo correr? Ajoelhar e pedir desculpas por... sei lá, estar
maculando sua cozinha?
— Então você é a babá.
Eu limpo a garganta.
— Sim, senhor... Hunter, quer dizer... sim, eu sou Amy, quer dizer,
acho que sabe meu nome e...
— Sim, eu me lembro do seu nome, senhorita Grant. E achei que
tivesse sido contratada para cuidar do bebê e não lavar a louça.
— Ah! — Solto um riso nervoso. — Eu só queria ajudar. Emma,
quer dizer, a senhora Hunter insistiu em colocar o bebê para dormir. Insistiu
muito, mesmo eu dizendo que era minha obrigação — justifico.
Vai que ele ache que eu sou supérflua e me demita?
Ele solta um rosnado, passando os dedos pelos cabelos, num sinal de
exasperação.
— Emma não toma jeito. Ela é muito apegada ao Leo.
— Bem, é o filho dela — eu me vejo defendendo Emma.
— Mas temos uma babá agora. — Ele olha para mim de novo, como
se quisesse ler meu pensamento. Ele não pode ler pensamentos, pode?
Porque se puder eu estou frita.
— Certo, seja bem-vinda, senhorita Grant — diz, agora de um jeito
mais agradável, mas ainda assim ameaçador.
— Obrigada, Senhor Hunter. E... obrigada... pela confiança.
— Ainda não sabemos se devo agradecer por isso, não?
Oh, merda. Merda. Merda!
Eu rezo para não me mijar inteira.
— Boa noite, senhorita Grant.
Ele dá meia volta e desaparece no corredor, e eu volto a respirar
normalmente.
Meu Deus, eu preciso me controlar! Não posso agir como se fosse
uma criminosa a cada vez que Liam Hunter olhar para mim. Ele não é um
dos caras mais ricos do país à toa. Ele é esperto. E impiedoso.
E eu tenho que tomar muito cuidado.
Termino de limpar a cozinha, levando mais tempo do que o
necessário, com medo de encontrar Liam de novo. Depois vou para o quarto
de Leo.
Emma está ali, velando seu sono com um olhar de mãe zelosa.
— Oi, ele dormiu?
— Sim, como um anjinho. — Sorri — Pode ser que acorde daqui a
algumas horas. — Ela pega a babá eletrônica, mas eu retiro de sua mão.
— Acho que posso cuidar disso.
Emma hesita e vejo que quer arrancar da minha mão, mas, com um
suspiro, acaba cedendo.
— Certo. Acho que posso tentar me acostumar — diz ela, com um
olhar de quem está deixando o filho para sempre. Contenho meu riso.
— Eu prometo que te chamo se precisar, está bem? — eu a
tranquilizo. — Precisa aprender a confiar em mim. Estou aqui para isso.
— Ok. O Liam já passou por aqui e disse a mesma coisa. E você já
vai dormir? Está cedo ainda e não precisa ficar aqui velando o sono do Leo,
ele vai dormir por umas boas horas. Se quiser, temos uma sala de TV
enorme no fim do corredor e também temos uma academia no subsolo do
prédio. Pode usá-la.
— Hum, acho que vou tentar a academia. — Lembro de Tiziano
dizendo que estou com culotes.
— Divirta-se então.

Volto para o quarto e me troco, colocando um legging e uma regata.


Ao passar pelo apartamento, tudo está silencioso e, por um momento, eu
hesito. Será que é um bom momento para ir até o escritório de Liam
Hunter? Não. Melhor seria eu esperar para fuçar por lá quando o leão não
estivesse por perto. Então desisto e desço até a academia no subsolo. Devo
confessar, não estou nem um pouco empolgada por essa atividade, malhar
não é o meu forte, porém, quando adentro na sala cheia de aparelhos, mudo
de opinião rapidinho ao ver Ethan Coen malhando os bíceps.
Sem camisa.
Suado.
Eu acho que amo malhar.
Ethan

Eu estava deliberadamente evitando a casa dos Hunter e só havia um


motivo para isso: eu não queria colocar meus olhos na nova babá. Porque
tinha certeza de que, assim que pousasse meus olhos na sua figura ruiva e
sexy, eu ia querer botar todos os meus dedos e mais algumas partes de
minha anatomia também.
Partes que estavam muito putas comigo desde que eu a vi fodendo
com o tal do Oscar e as privei de participar da festa.
Eu deveria saber que não era uma boa ideia ter provocado aquela
situação. Não quando já tinha dito a mim mesmo que a nova babá seria
apenas isso. A babá.
Mas pensar e fazer eram coisas bem diferentes e, agora, enquanto eu
malho tentando me cansar tanto a ponto de não ter forças para nada, me
vejo perguntando até quando vou conseguir evitar a casa de Liam e Emma.
Por enquanto parecia que nenhum dos dois desconfia de nada. Não fazem
ideia da sacanagem que rolou solta entre mim e a babá ruiva de Leo. E acho
que deveriam continuar assim. Até mesmo porque não ia rolar mais nada.
Nada.
— Olá.
Levanto o olhar assim que escuto a voz melodiosa a poucos metros
e, por um momento, acho que meu tesão recolhido está me fazendo ter
sonhos estranhos. Porque só assim faria sentido estar vendo Amy Grant
caminhando em minha direção, com os cabelos vermelhos presos no alto da
cabeça e vestindo uma calça que parecia ter sido costurada a vácuo em seu
corpo e uma regata que não deixa muito à imaginação.
Cacete.
Que merda ela está fazendo aqui? Veio me perturbar?
Solto o peso no chão e, por pouco, não pega no meu dedão.
— Que diabos está fazendo aqui? — Ok, acho que fui mais duro do
que precisava. O que faz Amy franzir a testa, meio confusa e até um tanto
ultrajada.
— Emma disse que eu poderia usar a academia. — Sua voz agora
tem um tom defensivo. — Não sabia que estava aqui. — De repente parece
que algo lhe ocorre. — Acha que eu vim atrás de você? Te perseguir ou sei
lá o quê?
Solto uma risada. Não tem humor. Quer dizer. Só um pouco,
enquanto me ocupo pegando o peso no chão e colocando sobre a prateleira.
— Se a chefe disse, então está ok.
— Você está esquisito...
Passo os dedos pelos cabelos molhados de suor, fazendo uma careta.
É, aquilo estava esquisito pra caramba.
E não era para ter ficado.
Mas de quem é a culpa?
— Ok, me desculpe, estou sendo um idiota.
— Ah... está estranho depois do...
— Ménage com o Oscar — completo, e ela ri.
Eu acabo rindo junto.
— Pronto, não está mais tão esquisito — diz ela com humor. —
Amigos, lembra? — Pisca, pegando um peso e, então, o solta. — Caralho
que troço pesado!
— Penny, você já malhou alguma vez?
Embora ela tenha um corpo incrível, não parece que academia seja
seu forte.
— Não gosto dessa coisa de academia. Um monte de cara hétero
bombado medindo os bíceps...
— Ei, está ofendendo. — Apanho um peso menor e passo para ela.
— Vai dizer que não fica em frente ao espelho se achando
supergostoso? — Ela levanta o peso, e acho que pretende, com aquele
movimento, malhar o tríceps, mas só vai conseguir uma lesão.
— Me acha gostoso? — Pisco e ela rola os olhos.
— Está vendo? É disso que estou falando!
— Está fazendo tudo errado! — Seguro seus braços para cima e me
posiciono às suas costas e mexo suas mãos nos movimentos certos.
Percebo quando ela prende a respiração, e automaticamente dou um
passo atrás.
Melhor não brincar com a tentação. Mas, porra, ela fica bem gostosa
naquela calça. E eu sou apenas um cara.
Talvez devesse subir para o meu apartamento e tomar um banho
frio.
Sozinho.
Mas, em vez disso, me vejo puxando assunto, enquanto a observo.
Olhar não tira pedaço.
— E como foi seu primeiro dia de trabalho?
— Emma é legal. Mas ela não está muito disposta a desgrudar do
Leo.
Eu disfarço um sorriso.
— Já imaginava.
— E seu chefe me assusta.
— O quê?
— Liam Hunter. Não consigo ficar na mesma sala que ele. Me dá
calafrios!
Agora eu rio com vontade.
— Liam não morde.
— Tenho minhas dúvidas!
Ela muda o exercício e começa a fechar e abrir os braços, malhando
o peito.
Aí. Sim.
Eu me coloco de frente agora.
— O Liam é meio intratável às vezes.
— Às vezes?
— Ok, a maior parte do tempo, é porque ele é tipo viciado em
trabalho ou algo assim, é como ele funciona. Mas é um cara legal.
Ela me encara com um risinho.
— Você gosta dele, não?
Cruzo os braços em frente ao peito.
— Por que não gostaria? Somos amigos.
— Sei... Desde adolescentes. Poderia me contar essa história.
— Você é curiosa, não? — Uso o mesmo tom de sua pergunta.
Ela se afasta, colocando o peso no lugar, e vai para a bicicleta.
— Apenas puxando assunto. Qual o problema de me falar como foi
sua adolescência?
— Não tem muita coisa bonita para se dizer. — Faço uma careta,
lembrando dos anos de merda depois que meu pai morreu. Não que antes
fosse uma sucessão de dias ensolarados. Jack Coen, meu pai, era um
vagabundo durão que ganhava dinheiro fácil aliciando garotas na
prostituição. E que não era muito amoroso e responsável, por assim dizer.
Então, cedo eu tive que aprender a me virar sozinho. Algumas garotas que
ele trazia para casa eram legais e ficavam por um tempo e eu me apegava a
elas, mas sempre iam embora. Um dia percebi que era melhor não me
apegar. Só podia contar comigo mesmo. E, quando Jack morreu, em
decorrência de uma briga com outro cafetão, fui mandado para uma
sucessão de lares adotivos fodidos e, sinceramente, não foi tão diferente do
que morar com meu pai. Alguns lugares eram até melhores. Porém, eu já
sabia. Não podia me apegar a ninguém. Eu só tinha um lema: seja mais
forte que os outros, assim ninguém lhe passa a perna. Ou acaba com sua
vida, como foi com meu pai.
E eu vivia bem assim, sozinho, até conhecer Liam.
— Não parece ter boas lembranças... — Amy me estuda.
Dou de ombros, forçando um sorriso, enquanto me coloco na
bicicleta ao lado dela.
— Podia ter sido pior.
— Como conheceu o Liam? Sei que os pais dele morreram quando
era criança, embora não tenha ideia de como... E ele foi adotado pelos
Hunter, não? Não sei onde se encaixa nisso.
— Eu e Liam vivemos em lares adotivos por quase toda nossa
adolescência.
— Você também?
— Sim, e num desses lares, nós nos esbarramos. E nos tornamos
amigos.
— Sei... — Ela morde os lábios como se quisesse perguntar mais.
Por que demônios as mulheres são tão curiosas? — Então, satisfeita?
— Você está sendo bem evasivo, mas tudo bem.
— O que mais quer saber?
— Vocês brincavam de troca-troca?
— O quê? — Quase grito e ela ri com malícia.
— Você sabe, essa coisa de garoto “mostra o seu que eu mostro o
meu”. “Primeiro eu, depois você”.
— Você tem uma mente muito pervertida, senhorita Grant. Isso te
excita? Dois homens juntos?
— Está bem, se não quer contar. Acho que tem a ver com lealdade
masculina né? Então vamos tentar mais uma pergunta, já dividiram a
mesma mulher?
Porra, que diabos se passava na mente daquela garota?
— Liam é meio possesivo nesse departamento, se quer saber. Se ele
tem interesse em alguma mulher, é melhor que ela olhe só para ele.
— Hum, mas agora ele tem a Emma.
— Sim, ele tem a Emma. E ela já se enfiou em alguma confusão por
causa disso.
Os olhos de Amy brilham de curiosidade, mas eu defino que já falei
demais.
— Bem, o papo está maneiro, mas preciso ir para casa.
Ela parece decepcionada e, por um momento, tenho vontade de
convidá-la para ir comigo. Mas sei que não posso.
Quase consigo escutar meu pau suspirar quando aceno para Amy
Grant e me afasto, voltando sozinho para meu apartamento vazio.
Capítulo 11

Amy

Uma semana se passou e eu sobrevivi.


Os dias na casa dos Hunter eram mais tranquilos e interessantes do
que eu supunha no começo.
Emma era uma garota muito divertida e Leo um bebezinho
bonzinho. E não tinha mais vomitado em cima de mim. A comida era boa
pra cacete e eu realmente não sentia falta nenhuma das baboseiras veganas
de Tiziano.
Só havia duas questões que faziam meus dias não serem tão
fascinantes. Eu morria de medo de Liam Hunter e, justamente por isso, não
tinha feito praticamente nada para pôr meu plano em andamento. Além
disso, não via Ethan com a frequência que eu desejava.
Depois da noite na academia, quando eu pude constatar que a
química entre nós ainda era tão poderosa quanto antes (eu tinha alguma
esperança que o fogo tivesse se extinguido depois do episódio com o
Oscar), ele praticamente não aparecia no apartamento dos Hunter. Claro que
seus dias eram passados à volta de Liam Hunter e acredito que à noite ele
deveria ter coisa melhor para fazer. Eu até fui na academia todas as noites,
querendo reencontrá-lo “casualmente” por lá, mas ele não deu as caras.
E todo dia eu voltava para o apartamento dos Hunter e pensava em
entrar no escritório de Liam, mas me faltava coragem. Porém, eu sabia que
Carl não iria esperar para sempre. Até agora tinha conseguido enrolá-lo
com alguma informação que conseguia com Emma Hunter, que, graças a
Deus, era muito falante.
E foi para ela que eu perguntei sobre Ethan e Liam.
— Ah, eles se conheceram em um lar adotivo, quando tinham
dezesseis. E se tornaram amigos — ela tinha dito em um dia em que
arrumávamos o closet fabuloso de Leo.
Sim, Leo Hunter tinha um closet só seu, cheio de roupinhas
minúsculas pendurados nos cabides dourados. Emma disse que aquilo fora
obra de sua amiga Zoe, que era um tanto descompensada quando se tratava
em gastar dinheiro, ainda mais dinheiro que não era dela.
— E como foi que Liam foi parar na casa do Hunter? — Fingi
perguntar casualmente.
— Eles se meteram em uma briga. E Ethan foi preso.
— Sério?
— Sim, e ficou em uma instituição para menores.
— Liam também? — Deus, isso era melhor do que eu esperava.
— Não, Liam se machucou e foi parar no hospital de David Hunter.
E ele decidiu adotá-lo.
— Nossa, que sorte a dele.
— Sim, ele teve muita sorte, mesmo porque os Hunter são pessoas
incríveis. E olhe todas essas roupas aqui? — Ela apontou para uns
macacões muito pequenos. — Nada disso serve mais! Ele está crescendo
tão rápido, acho que precisamos sair para fazer compras.
E assim o assunto foi desviado e, pelo menos por enquanto, eu não
quis mais fazer perguntas.
— Nós vamos viajar esse fim de semana, Amy, tudo bem para você?
— Emma me comunica numa manhã, quando chego com Leo na cozinha.
Liam Hunter está ali ainda, violentando os teclados de seu laptop com cara
de poucos amigos, e eu não posso evitar de sentir um arrepio de medo,
quando levanta o olhar para mim.
Tenho que conter a vontade de balbuciar coisas como “me desculpe
por existir, senhor”. Mas logo percebo que ele não olha para mim e sim para
Leo, como se certificando de que o menino está em segurança em minhas
mãos. Graças a Deus, eu e Leo somos amigos agora, e ele apenas faz
barulhos de nenê com a boca grudada nos meus cabelos.
— Tudo bem, Amy? — Emma insiste. Ela está sentada à bancada
também, tomando uma grande xícara de café.
— É, tudo bem — concordo, mas não curtindo muito a ideia. Viajar
com os Hunter? Oi?
Mas será que Ethan ia também? — eu me pergunto e a tal viagem
ganha uma nova perspectiva com essa alternativa.
— Nós vamos para Idaho.
— Idaho? — Que diabos vamos fazer em Idaho?
— Tem uns negócios lá de debate e seminários, de gente rica, esse
povo do Liam. — Emma claramente não faz ideia do que está falando e
Liam bufa.
— É uma série anual de debates e seminários, organizados pelo
banco Firestone & Co. Grandes fusões são feitas nessas ocasiões e, sim, só
são convidados seletos.
— Gente metida — Emma corrige com uma careta de nojo.
— Você não precisa ir se não quiser — Liam resmunga.
— Ah, claro, para você ficar falando no meu ouvido uma semana,
poupe-me! Eu quero ir! Amy e Leo estarão comigo e será divertido. — Ela
sorri para mim. — Parece que o lugar é um resort fino nas montanhas e, se
tivermos sorte, vai ter até algum ator de Hollywood por lá para gente
apreciar. — Ela pisca, e parece não notar ou não se importar com o olhar
ameaçador de Liam em sua direção.
De repente nossas atenções vão para a porta, quando Ethan entra. E
luto para nãos suspirar. Ele está bem apetitoso essa manhã com seu terno
escuro.
— Bom dia, família. — Ele sorri.
Ah, tão sexy.
— Amy. — Ele relanceia o olhar rápido para mim e percebo que faz
muito isso, apenas me olhar rápido, como se não quisesse ou não pudesse
fixar sua atenção em mim.
Sim, eu entendo o que está fazendo.
— Ethan também vai nessa viagem? — indago, sem me conter,
enquanto Liam se levanta pegando o laptop.
— Você ainda não entendeu, Amy? Onde o Liam está o Ethan está
atrás! — diz Emma, divertida, aproximando-se e pegando Leo do meu colo.
— Sim, claro que ele vai. — Liam passa por Emma, lhe dá um beijo
na testa e acaricia o cabelo de Leo. Ele ficava quase humano assim, quando
eu via o carinho que dedicava ao filho e à Emma.
Mas mesmo assim, eu me cagava de medo.
Ethan me lança um sorriso antes de sair e eu prendo um gemido.
Ah, sim, essa viagem vai ser bem interessante.
****

— Uau — murmuro quando saímos do carro no aeroporto e me


deparo com um avião maravilhoso. Branco e reluzente.
— É um Gulstream IV — Ethan diz, como se isso significasse algo
para mim.
Até parece. Eu só ando de classe econômica e quando tem
promoção.
Nem o marido de Ariana possuí um avião assim.
Sigo Emma e Liam, que vão na frente de mãos dadas. Liam está
levando o bebê-conforto com Leo e eu me sinto meio supérflua ali.
— Tudo bem? — Ethan indaga.
— Só estou um tanto apreensiva, sem saber o que esperar desta
viagem.
— Relaxa. Liam vai tratar de negócios e você vai poder ficar com a
Emma torrando na piscina ou algo assim.
Eu sorrio para ele.
— E você? Vai poder torrar na piscina também?
Ah, seria divino poder ver Ethan de sunga. Bronzeado. Nadando,
pingando água...
— Quem sabe? — Ele devolve meu sorriso. Tão cheio de
promessas...
Entramos no jato, que por dentro é ainda mais incrível.
Emma e Liam se acomodam nas poltronas de couro creme e Liam
ajeita o bebê conforto de Leo na frente deles.
Tenho vontade de perguntar se querem que eu cuide do bebê durante
a viagem, mas tenho medo de falar até com Emma quando Liam está por
perto.
Para meu deleite, Ethan senta ao meu lado.
A aeromoça bonita e solícita nos traz bebidas e tira-gostos. Liam
liga o laptop e Emma, que usa óculos escuros não sei por que, parece já
estar adormecida. Será que ela está bem? Ela parecia bem calada hoje. Ou
sonolenta.
— Acha que Emma está bem? — pergunto baixinho para Ethan.
— Claro que sim.
— Ela parece meio aérea.
— Só me parece com sono. Deixe-a descansar.
— Acha que devo pegar Leo?
— O Liam está com ele, não se preocupe. Relaxa e curta a viagem.
— Sorri, colocando fones de ouvido.
Suspiro e tento fazer o que ele falou.
E, para minha surpresa, consigo dormir boa parte da viagem
também.
Acordo com o capitão dizendo que estamos nos preparando para
pousar e bocejo, meio dolorida.
— Você é bonitinha dormindo, Penny.
Eu me viro e Ethan está me estudando.
Ele está muito perto. Muito... delicioso.
— Mas baba.
— Eu não babo!
— E ronca um pouco.
— Não ronco, não!
Ele ri e claramente está me provocando.
— Ei, Amy, olha essa paisagem! — Emma me chama de sua
poltrona e percebo que agora ela parece mais animada. Tirou os óculos
escuros e, aparentemente, o cochilo lhe fez bem.
— Sim, muito bonito. — Olho para as montanhas abaixo. Era tudo
verde e lindo.
O avião pousa minutos depois e somos conduzidos por funcionários
bonitos e bronzeados da Firestone & Co, que nos chama pelo nome, como
se nos conhecesse há anos, e se apressam a levar nossas bagagens até
utilitários esportivos ali mesmo na pista.
— Como eles sabem o nosso nome? — indago quando entramos em
um carro.
Emma e Liam seguem no outro com Leo.
Ethan ri.
— Eles decoram tudo.
— Nossa. Para onde mesmo estamos indo?
— O mais lendário resort nas montanhas, o Sun Valley.
— Sério? Ainda não entendi direito que diabos é isso.
— O banco de investimento Firestone & Co organiza esse evento
anual, para amigos e clientes. Grandes fusões são feitas aqui. E só é
convidado quem é muito próximo ou aqueles com quem eles querem fazer
negócio. Magnatas, investidores, banqueiros...
— Liam já foi convidado antes?
— Ele sempre é convidado, mas nem sempre vem. Liam não é
muito sociável. Ele gosta de ser direto em seus negócios e não ficar se
pavoneando no meio de figurões.
— Se é negócio, por que a Emma veio junto?
— Não são só negócios. Os debates são entremeados por atividades
recreativas ao ar livre. Os figurões são convidados com suas famílias.
Esposas, filhos, namoradas, netos. Vem todo mundo.

Nós chegamos ao resort e somos levados a um chalé próximo à


piscina e à quadra de tênis. E o que dizer do lugar? É a porra de um chalé,
mas dá para colocar três apartamentos em que eu dividia com Tiziano ali. A
decoração tem um tom de sofisticação casual, como tudo o que permeia o
lugar.
Eu sou colocada no menor quarto, mas, fala sério. Eu estou me
sentido a princesa Kate. Há um banheiro lindo com uma banheira fabulosa,
que eu não vejo a hora de experimentar, e um kit com o logo da Firestone &
Co me aguarda em cima da cama.
— Estou me sentindo muito rica! — murmuro para mim mesma.
Escuto uma batida na porta e Ethan entra segurando minha mala.
Eu sinto um friozinho na barriga ao vê-lo.
— Gostou?
— Eu amei, estou me sentindo milionária! — Pulo na cama.
E antes que Ethan possa tecer algum comentário, Emma entra no
quarto com Leo no colo.
— Pelo visto já está aproveitando! — Ela ri do meu entusiasmo e eu
me sento na cama no mesmo instante, vermelha.
— Oh, me desculpe.
— Desencana! Também achei tudo lindo.
— Amy disse que estava se sentindo rica — Ethan diz, divertido, e
eu o fuzilo com o olhar.
— Ah é? — Emma ri, divertida.
— Sim, talvez eu arranje um investidor bilionário neste fim de
semana — comento, mordaz, e Ethan franze o olhar.
— Sabe que podemos dar um jeito nisso — Emma se anima,
sentando ao meu lado e colocando Leo sobre a cama.
— O que está dizendo, Emma? — Ethan pergunta.
— Amy tem razão, está cheio de figurões aqui, e tem uns solteiros.
Se Amy quer um namorado rico, podemos arranjar.
— Eu estava brincando — digo, apavorada, mas Emma parece
muito excitada com a ideia.
— Félix!
— Quem é Félix?
— Félix Firestone!
— Félix Firestone? Tem a ver com o banco que organiza esse
evento?
— Ele é o filho do dono do banco, meu bem!
— Emma, não seja maluca — Ethan resmunga.
— Não estou maluca!
— Ethan tem razão, Emma. Eu sou só a babá aqui! Acorda!
— E daí? Felix não vai se importar com isso. Amy, você vai adorá-
lo. Vou te apresentar a ele no jantar de hoje! Ele é lindo, educado e tão
gentil! Sabe que ele deu em cima de mim?
— Ai, meu Deus.
Emma ri.
— Eu ainda nem namorava com o Liam.
— Mas o Liam ficou puto — Ethan completa, e Emma rola os
olhos.
— Liam fica puto com tudo!
— E você acha que esse Félix...
— Vou apresentá-los e vamos ver no que dá!
Ela se levanta.
— Vou trocar de roupa e ir para a piscina. Vamos Amy?
— O que o Liam está fazendo? — Ethan pergunta.
— Está checando a tal agenda social com tudo o que tem pra fazer
aqui! Parece que ele estará muito ocupado o tempo inteiro.
— Vou ver se precisa de mim — Ethan diz com voz mal mal-
humorada e se afasta.
Emma pega Leo.
— Ele ficou bravo por quê?
— Não faço ideia — desconverso. — Vamos mesmo para a piscina?
— Claro que sim. Vamos levar Leo para aproveitar o sol.
Encontro Emma meia hora depois e vamos para a piscina. Já tem
algumas pessoas por lá, sobretudo mulheres. Muitos seios falsos e botox.
Joias que poderiam sustentar um pequeno país do terceiro mundo e muita
ostentação.
— É impressionante — murmuro, e Emma ri.
— Você se acostuma. — Ela se acomoda em uma espreguiçadeira, e
eu faço o mesmo.
Um garçom latino bonitinho se aproxima, muito solícito, e pergunta
se queremos bebidas ou qualquer coisa que solicitarmos e me pergunto se
ele também está na lista. Ele é bem bonitinho mesmo.
— Quero uma pina colada — Emma pede e eu levanto a
sobrancelha.
— Estou de férias! E não amamento mais!
— Acho que não devo beber, estou em horário de trabalho, não?
— Deixa de ser idiota, um Cosmo para minha amiga. — Ela pisca
para mim.
E não sei porque, mas isso me deixa com uma sensação estranha por
dentro. Por que eu sei que Emma não me chamou de amiga por uma
maneira de dizer e sim porque realmente está começando a me considerar
assim.
E ela não faz ideia de quais são meus verdadeiros objetivos.
Sorrio amarelo e volto a atenção para Leo no meu colo, me
ocupando em passar protetor solar em sua pele sensível.
Nossas bebidas chegam minutos depois e a minha está realmente
deliciosa. Emma faz um brinde.
— À nossa diversão!
— Não posso deixar de concordar! — Bato o copo no dela,
enquanto ela se recosta, colocando os óculos escuros e suspirando.
— Acho que estava precisando disso. — Suspira, mas de repente ela
se senta muito ereta e tira os óculos do rosto, olhando fixo em direção ao
outro lado da piscina, onde uma mulher loira e deslumbrante surge usando
um maiô vermelho chamativo. — Mas que diabos essa vagabunda está
fazendo aqui?
— O quê? — balbucio sem entender. Está na cara que Emma se
refere à mulher que agora também olha para nós. Mas seu olhar é diferente
do de Emma, que está dardejando fogo. A mulher sorri e até acena. —
Quem é aquela?
Emma desvia o olhar para mim, muito pálida.
— Vanessa Vanderbilt. A ex-noiva de Liam.
Oh. Oh.
Capítulo 12

Amy

Volto a atenção para a mulher loira e linda do outro lado da piscina,


cumprimentando algumas outras mulheres. Hum, aquilo vai ser realmente
interessante...
— Eu não sabia que ela estaria aqui — Emma sibila ao meu lado, e
eu a encaro. Ela está claramente furiosa.
— Não sabia que o Liam tinha sido noivo antes — comento. O que
não é totalmente verdade. Eu sabia alguma coisa sobre isso, sim, mas não
muito. Afinal, aparentemente Liam e a senhora em questão tiveram algum
tipo de compromisso há muito tempo. Sabia-se muito pouco sobre o Liam
antes dele se tornar o Leão de Wall Street.
— Foi há milhões de anos, mas ela ainda me irrita totalmente —
Emma responde, ainda com o olhar mortal fixo na ex de seu marido.
Bem, eu não a culpo. Qual atual tem simpatia pela ex?
— Vanessa Vanderbilt... Tem alguma coisa a ver com Elliot
Vanderbilt, o magnata da indústria de comunicação em Hollywood?
— É a esposa dele.
— Nossa!
— E é uma grande interesseira, isso sim! Ai, merda, ela está vindo
pra cá. — Emma se apruma e, sem aviso, retira Leo do meu colo, como se
eu fosse de alguma maneira entregar o garoto em oferenda à Vanessa
Vanderbilt.
— Emma Jones, que surpresa — Vanessa exclama com a voz
melodiosa e um sorriso calculado. Ela é realmente bonita, embora pareça
que sua maquiagem pesada esteja um tanto over para aquela hora da tarde.
— Emma Hunter — Emma corrige. — E posso dizer o mesmo, que
surpresa vê-la por aqui. — O tom de Emma não disfarça sua insatisfação.
— Eu sabia que Liam estaria aqui, mas não tinha certeza se você
viria junto, afinal, acabou de ter esse lindo bebezinho! — O sorriso de
Vanessa fica mais doce, enquanto ela se inclina com a mão estendida em
direção a Leo.
Emma se levanta de um pulo, impedindo que Vanessa toque no
bebê.
Eu faço o mesmo, preocupada com a animosidade que aumenta a
cada segundo.
A mulherada em volta da piscina acompanha o diálogo com
interesse. Bando de abutre!
— Meu filho tem seis meses!
— Sério? Achei que tivesse menos, afinal não voltou à forma ainda.
— Vanessa mede Emma, que veste um maiô preto. E, porra, Emma não está
gorda! Óbvio que a loira com cimento na cara disse isso para irritar Emma.
E conseguiu, porque vejo os olhos de Emma se arregalarem de ultraje.
Seguro seu braço.
— Emma, acho que devemos entrar, está ficando com muito sol para
o Leo.
— E você quem é? — Vanessa volta a atenção para mim, me
medindo.
— Amy Grant — Emma responde por mim —, minha babá.
— Ah, claro. Imagino que você deve ter um monte delas. Se eu
tivesse filhos também teria um monte de vocês à minha volta.
— Mas não tem e acho que deveria pensar em nunca ter, se acha que
devem ser criados por babás! — Emma praticamente rosna.
Meu Deus. Quase posso ver laser saindo de seus olhos como nos
desenhos animados.
— Ah, querida, mas não sou como você, quantos anos tem? Vinte?
E já com um bebê, realmente não é vida para mim, gosto de manter meu
corpo em forma e o interesse do meu marido.
Wow.
— É bom mesmo que se preocupe com seu marido e não perca
tempo olhando para o marido das outras — Emma dardeja.
— O que está querendo dizer? — Vanessa ri. — Que eu tenho
interesse no Liam? Sabe muito bem que isso é ridículo! Eu larguei o Liam,
não o contrário, e, aliás, eu poderia estar com ele até hoje se quisesse.
— Ora, sua...
Seguro Emma com mais força agora.
— Emma, vamos entrar! — Praticamente a arrasto pela área da
piscina até o chalé.
Emma está possessa quando entramos, e tiro Leo do colo dela
quando o bebê começa a chorar, possivelmente assustado com a fúria da
mãe.
— Aquela... aquela...
— Emma, se acalma!
— Acalmar? Se não fosse terrível encontrar aquela vaca aqui, ela
ainda ficou me provocando, você viu!
— Sim, eu vi. Mas era o que ela queria, provocar. Mulheres como
Vanessa Vanderbilt vivem para isso.
— Mas ela me irrita tanto!
— Bem, não posso te culpar por ter ciúme.
— Eu não tenho ciúme.
— Ok, se diz!
— Não é isso. Você não sabe a história toda.
— Hum, pode me contar então. — Eu sorrio, encorajando.
Mas Emma sacode a cabeça.
— Não, quer saber, não quero falar sobre isso! Não vou deixar essa
piranha da ex do Liam afetar meu fim de semana.
— É, tem razão. — Tento não parecer desapontada. Porém, uma
outra ideia se forma em minha mente.
— Eu vou dormir. Não dormi muito na noite passada... — Emma
diz por fim.
— Claro, vá descansar.
— Você pode ficar com o Leo?
— Emma, não seja boba, é para isso que estou aqui.
Ela sorri agradecida.
— Obrigada. E obrigada por ter me segurado lá na piscina. Teria
arrancado cada fio do cabelo da Vanessa se não tivesse me impedido.
— Aposto que seria fácil, boa parte daquela juba é aplique. Tenho
certeza.
Emma ri com mais vontade agora, e vai para o quarto.
Eu olho para Leo.
— Então amiguinho, que tal a gente voltar para a piscina?
Eu me encaminho com o bebê de volta à área da piscina, rezando
para que Vanessa Vanderbilt continue por lá.
E, para meu deleite, ela ainda está. Esparramada em uma
espreguiçadeira, mexe em seu celular com uma mão e segura um drink
vermelho em outra.
Eu respiro fundo e me aproximo.
— Não conte a sua mãe, hein? — murmuro para Leo e sento ao lado
de Vanessa, como quem não quer nada.
— Ei, não é a babá da Emma Jones?
Eu sorrio para ela, com falsa timidez.
— Sim, senhora.
— Ah, não me chame de senhora, credo! Me chame de Vanessa.
— Claro, Vanessa.
— Sua patroa está mais calma? Achei que ia me jogar na piscina.
Ela precisa se controlar, ou essa coisa agressiva tem a ver com hormônios
da gravidez? Acho que ouvi falar algo sobre isso.
Eu me seguro para não rolar os olhos.
— Ela só ficou um pouco chateada por você estar aqui — finjo um
tom entre culpado e conspiratório.
— Ah, é? — Vanessa retira os óculos de sol. — Não sabia que ela
me detestava tanto.
— Você é a ex do marido dela, acho que entende, não é?
Vanessa ri.
— É, não posso culpá-la, mas não é como se eu quisesse alguma
coisa com o Liam. Pelo amor de Deus, terminamos há séculos.
— Sério? E como foi?
Vanessa toma um gole de bebida e se vira para mim, e ali eu percebo
que Vanessa é daquelas que gostam de falar. E muito.
Eu tirei a sorte grande.
— Nós estávamos na mesma faculdade. E ele me chamou pra sair,
mas era um pobretão.
— Liam Hunter, pobretão?
Ela sacode a cabeça afirmativamente.
— Sim, querida. E, quer saber? Foi o fato de eu ter dito a ele que só
lhe daria uma chance se fosse rico, que o motivou a ganhar dinheiro.
— Sério?
— Sim — ela confirma com orgulho. — Eu fiz o Leão o de Wall
Street.
Wow. Por essa eu não esperava.
— Enfim, ele foi investir na bolsa e, o que posso dizer? O filho da
mãe é bom nisso! E voltou com um milhão na conta! Aí eu não podia
recusar, não é?
— Então Liam era apaixonado por você.
— Claro que sim. Demais! — Ela esboça um sorriso debochado. —
Nós fomos morar juntos num apartamento incrível em Upper East Side e
ficamos noivos, mas comecei a me cansar de sempre ficar sozinha enquanto
ele ganhava mais dinheiro.
— E por isso terminou tudo? — Ela era louca ou o quê, por terminar
com Liam Hunter? Bem, Emma que teve sorte.
Ela dá de ombros.
— Eu era jovem e ambiciosa. E também impaciente, quando o Elliot
apareceu e quis me conquistar, eu fui. Ele era muito mais rico que o Liam
na época. Um homem mais velho que não precisava provar nada a ninguém,
e muito menos perder anos em trabalho árduo para conquistar uma fortuna.
— Como o Liam.
— Exatamente.
— E o Liam aceitou assim, fácil?
— Fácil? Imagina. Ele e aquele segurança dele deram uma sova no
Elliot.
— Ethan?
— É esse o nome dele? Aquele guarda-costas bonitão?
— Sim, é esse o nome dele.
— Esse mesmo. Eu convenci o Elliott a não prestar queixa, senão
Liam e o tal Ethan estariam em maus lençóis.
— Nossa, que história... Então Emma sabe de tudo isso e te odeia?
— Na verdade, ela não sabia de nada sobre mim. Pouca gente sabe.
Quando nos envolvemos, Liam ainda não era o Leão de Wall Street. Então
eu estava em Nova York e encontrei Emma em uma festa com Liam, ficou
claro que ela não sabia sobre mim e eu tinha que desfazer esse mal-
entendido.
— Você contou a ela?
— Contei. E ela ficou muito brava. Achei até que ia terminar com o
Liam.
— Você queria isso? — indago com cuidado.
— Pouco me interessa na verdade. Mas foi divertido.
Hum, então Vanessa não tem nenhum interesse real em Liam. Nisso
Emma pode ficar tranquila. Mas a mulher é provocadora.
— E eles não terminaram, em vez disso se casaram. Mas parece que
Emma não superou. Deve ser a idade, não é? Ela é muito nova. E aguentar
um cara como Liam, não é para qualquer uma. Eu, sinceramente, acho que
esse casamento não vai longe. E sei como Liam pode ser.
— Liam pode ser como?
Ela abaixo o tom.
— Ainda não sabe?
— Sei o quê?
— Vanessa, querida, vamos para a sauna? — Uma mulher com um
seio tão grande que parecia uma bexiga e um cabelo armado de laquê a
chama, e Vanessa se levanta.
— Preciso ir. Adorei conversar com você. — E sem mais, ela se
afasta seguindo algumas mulheres.
Droga!
Volto com Leo para o chalé e me tranco no quarto. Leo está
sonolento e eu o troco, dou mamadeira e o coloco para dormir facilmente.
E, então, passo um recado para Carl, apenas para me exibir.
“Você não sabe o quão interessante está essa viagem.”
E antes que ele possa responder, eu pego meu laptop.

Acabo dormindo depois e quando acordo já é noite, e Leo não está


mais do meu lado na cama.
Levanto, assustada, e vejo que no lugar da criança há um bilhete e
um vestido dourado.
Por um momento louco, eu acho que o rei dos duendes levou o bebê
e deixou um vestido no lugar, tipo aqueles pactos.
E nem fumei nada hoje! Penso, me estapeando mentalmente e
pegando o bilhete.

Amy, levei Leo comigo para que possa se arrumar para o jantar
hoje à noite. Não sei se trouxe algum vestido, então estou lhe emprestando
um meu. Espero que sirva.
Emma.

Ela está louca ou o quê?


Como é que eu ia a algum jantar com aquela gente metida se tinha
que cuidar do bebê? Antes que eu possa ir atrás de Emma e perguntar se ela
tinha fumado algum, escuto uma batida na porta, antes da mesma ser aberta
e uma garota morena e bonita aparecer no meu campo de visão. Ela se veste
de branco, embora seja quase informal, um conjunto de camiseta e short e
um logo do hotel do lado direito da camiseta polo.
— Olá, eu sou Marina. — Sorri, cordial, e reparo que ela segura o
bebê conforto de Leo com uma mão. Graças a Deus ele não foi levado pelo
David Bowie. — Eu sou uma das babás do resort, cuidarei do bebê hoje.
— Ah, agora começo a entender...
— Eu vim pegar os brinquedinhos que ficaram aqui.
— Claro! — Aponto para a cômoda onde tem alguns mordedores de
Leo.
A moça sorridente pega os brinquedos e sai, fechando a porta atrás
de si.
Eu suspiro, meio tonta da soneca. Ainda acho um tanto maluco a
Emma querer que eu participe de um jantar chique, mas, por outro lado,
acho que será muito divertido. Colocar uma roupa bonita, beber bons drinks
e pagar de rica por um dia. Que mal tem? E pode ser bom para minha
missão...
Com essa nova perspectiva, entro no chuveiro e algum tempo depois
saio do quarto, trajando o vestido de Emma, maquiada e de salto alto.
Consegui até fazer um penteado elaborado no meu cabelo.
— Espero que aquele demônio não apareça na minha frente de
novo. — Escuto a voz alta de Emma dardejar quando chego a sala do chalé.
Ela usa um vestido verde lindo, embora sua maquiagem esteja um tanto
errada. Está tentando colocar uma sandália no pé, enquanto Liam bebe um
whisky e Ethan está parado na porta, todo de preto.
Uau.
Assim que meus olhos pidões se prendem nele, derreto inteira e
esqueço o drama de programa da tarde rolando entre o casal na sala.
Ethan está delicioso. Mais do que nunca. Se é que isso é possível. E
o jeito que me olha... faz uma cascata descer para minha calcinha.
Ah, estou perdida.
E estou amando.
Quem liga?
— Você poderia parar de ser ridícula! — Liam diz com uma fúria
controlada e Emma fica de pé, finalmente conseguindo colocar a sandália.
— Ah, claro, para você está tudo bem. Mas eu já aviso, se aquela
piranha chegar perto de mim, arranco o aplique dela. Não quero nem saber.
Ethan disfarça um riso. Liam revira os olhos e eu juro por Deus que,
se não me cagasse de medo de Liam Hunter, eu lhe daria um soco no
estômago. Ele não tinha sensibilidade nenhuma?
— Emma. — Eu me aproximo.
Ela olha para mim e então sorri.
— Oh, você está linda.
— Obrigada. Realmente não esperava ser convidada, ainda não
tenho certeza se é uma boa ideia.
— Ah, é sim! Tem essa babá do resort que pode ficar com o Leo e
acho que preciso de uma amiga hoje. — Seus olhos imploram e eu tenho
pena.
Era fácil esquecer que Emma tinha apenas vinte e três anos e estava
casada com Liam há pouco tempo. Ela era só uma menina comum jogada
na cova dos leões.
— Quem fez sua maquiagem? — pergunto, vendo o tanto de sombra
verde que ela jogou no olho.
— Eu mesma. Está horrível?
— É, não... Mas eu posso ajeitar.
— Ah, obrigada! Zoe sempre me ajuda, ou eu contrato alguma
maquiadora profissional, não sou boa para essas coisas.
— Tudo bem, eu sou boa! — Pego sua mão e a levo para o
banheiro, ajeitando sua maquiagem até que ela fique deslumbrante.
Assim, com um lindo vestido de grife e maquiagem pesada dá para
entender o que Liam Hunter via nela. Não que ela não seja uma moça
bonita e de uma personalidade vibrante. Mas, fala sério, o marido dela ‘r
Liam Hunter. Lindo, poderoso e assustador Leão de Wall Street. Não é à toa
que ela seja ainda toda insegura.
— Ah, ficou ótimo! — Ela aprecia sua imagem no espelho e se vira
para mim, agradecida, e me dá um abraço.
De novo me surpreendo com a sensação opressora no meu
estômago.
Não quero gostar de Emma Hunter. Mas ela está tornando minha
missão de não me apegar muito difícil.
— Agora vamos nos divertir!
— Não fique preocupada com a Vanessa — me vejo dizendo.
— Vou tentar! — Faz uma careta e eu sorrio para ela.
— Vanessa é uma vaca, mas nunca vai roubar o Liam de você.
Ninguém vai.
— Ela poderia tentar, mas eu acabaria com ela antes.
Eu rio.
— Eu te ajudo, se precisar.
Seguimos de mãos dadas e passamos pelos homens na sala, que
apenas trocam um olhar, como se dizendo “melhor nem perguntar”, e
seguimos para a sede do resort, através do caminho iluminado por belas
tochas douradas.
Sinto-me quase como a cinderela na noite do baile.
Uma cinderela que finge ser uma babá, mas que nesta noite está
fingindo ser rica.
Que finge não estar curtindo muito seguir de mãos dadas com
aquela garota incrível, que por acaso é a esposa do Leão de Wall Street, e
que está facilmente se tornando uma amiga.
Que finge ser apenas amiga de um cara que está deixando seu
mundo de cabeça para baixo.
E que pode botar tudo a perder.
Ah, essa cinderela está muito enrolada...
Capítulo 13

Amy

Nós só damos alguns passos, quando Liam surge e puxa Emma para
perto.
— Ei, o quê? — Emma fica confusa, mas Ethan já puxa o meu
braço para seguirmos.
— Vamos andando.
— Mas a Emma...
— Liam quer falar com ela.
— Ah, entendi. É bom mesmo!
Ethan me lança um olhar enviesado. E então reparo que seus dedos
estão ainda cingindo meu pulso.
E me arrepio.
— Ah, ele foi meio safado com esse lance da Vanessa.
— Você acha é?
— Não se faça de idiota. A Emma estava brava e com certa razão.
— Liam terminou com a Vanessa faz uma vida! Ela não significa
nada para ele.
— Todos nós sabemos disso, mas é difícil para a Emma. Porque
Vanessa fica provocando.
— O que você sabe?
— Emma não falou? Eu estava com ela na piscina. E a Vanessa é
bem venenosa.
— Vanessa faz isso por diversão. Emma tem que aprender. Ela vai
ter que lidar com muitas mulheres que passaram pela vida do Liam por aí.
— Isso é cruel.
— Ela sabia disso quando casou com Liam.
— Não faz ser mais fácil.
De repente ele solta meu braço, pegando o celular, que vibra no
bolso. Lê algo antes de guardá-lo novamente.
— Devemos seguir. Talvez Liam e Emma demorem um pouco.
— Eles estão brigando?
— Não é da nossa conta, não é?
— Tem razão.
Ele me mede de novo.
— Você está linda, aliás.
Coro de satisfação, um prazer quente se enroscando em meu ventre.
— Você também, aliás.
Ele sorri de lado e me dá vontade de ficar na ponta dos pés e beijar
seu rosto. Ou morder. Ou lamber. Enfim...
Chegamos no grande e elegante salão e nos misturamos aos
convidados Vips. Ethan pega duas taças de espumante e passa uma para
mim.
— Hum, isso é bom! — Experimento um gole. Maravilhoso. Nossa,
ser rico é mesmo um negócio bom.
— Tudo aqui é de primeira linha.
— Estou vendo.
Circulamos e Ethan me explica um pouco como funciona aquelas
ocasiões.
— Não se engane quando vê todo mundo circulando, parecendo
muito à vontade. Existe uma hierarquia tácita estabelecida. A distância
entre os chalés de cada hóspede e a pousada onde as reuniões acontecem, os
almoços ou jantares aos quais cada um é convidado, e com quem se sentam.
Tudo é milimetricamente orquestrado.
— Devo entender que vamos ser convidados para jantar nos
estábulos?
Ele solta uma sonora gargalhada. Estremeço.
— Estamos com o Leão, não se preocupe.
Quando somos chamados à mesa para o jantar, Emma e Liam
chegam também e estudo Emma para ver se ela está brava ou algo assim,
mas eles parecem relaxados. Graças a Deus eu não vi Vanessa em lugar
algum.
Emma se adianta e me puxa pela mão.
— Amy, vem aqui, quero te apresentar alguém.
E noto que estamos indo em direção a um homem alto e magro,
porém elegante.
— Félix! — Emma o chama e me dou conta de que aquele era o
ricaço que ela queria me apresentar.
O homem sorri ao vê-la.
— Emma, que bom revê-la.
— Eu digo o mesmo. E quero lhe apresentar uma amiga. Esta é
Amy Grant.
Félix me mede com claro interesse masculino. E eu quero dizer que
senti qualquer coceirinha. Mas nada.
Acho que não é hoje que eu vou me apaixonar por um bilionário.
— Muito prazer. — Félix segura minha mão, educado. Ele parece
ser um cara gentil.
— O prazer foi meu. Aliás, que bela reunião. — Sorrio. Quem sabe
eu conseguisse fazer amizade com ele. Seria bom. Muito bom.
— Meu pai que tem todo o crédito.
— Sim, cadê seu pai? — Emma pergunta animada. — Vai adorar o
pai do Félix, Amy.
Oh, Deus.
— Emma, vamos! — Liam aparece e segura o braço de Emma. —
Félix, já está monopolizando minha esposa? — ele fala em tom de
brincadeira, mas há um fundo de ameaça ali.
Recordo-me de Emma dizendo que Félix já deu em cima dela.
— Eu estava apresentando Amy a Félix, querido. — Ela lança a
Liam um olhar de “hoje eu sou cupido, me deixa." Liam apenas rola os
olhos impacientes.
— Claro, agora que já foram apresentados, podemos ir comer. Estou
faminto.
Ele acena e leva Emma para longe.
E eu fico na companhia de Félix.
— A senhorita daria a honra de me acompanhar no jantar?
— Claro — respondo. Por que não?
Felix é mesmo um cara muito gentil e educado. Não é daqueles que
ficam passando do limite ou se achando dono da mulher apenas porque ela
está disponível. Ele é simpático e atencioso, embora às vezes seus olhos
recaiam sobre meu decote e sua mão toca minha pele para chamar minha
atenção para algo.
Seria realmente agradável e interessante se eu não sentisse um olhar
na mesa vizinha me queimando. Toda vez que olho para a mesa onde os
Hunter estão, vejo Ethan nos encarando com uma expressão de assassino
em série.
E não vou negar. Isso me deixa com um tesão danado.
Eu nunca fui esse tipo de garota. Que gosta de provocar um cara,
causar ciúme e acha atraente o fato dele ficar todo possessivo. Mas com
Ethan estou descobrindo que amo todo esse lance.
E cada vez que ele olha para mim, eu me inclino mais para Félix,
toco seu braço, digo algo em seu ouvido, e quase posso ouvir Ethan rosnar.
Sim, ele está com raiva. E eu estou achando divertido.
Quando o jantar termina, os convidados se espalham pelo salão com
seus drinks para terminar de curtir a noite e contar vantagem. Vejo Liam
conversando com dois senhores de meia idade e parece ser assunto de
negócio. Ethan está à sua volta, alerta, mas o seu olhar está em mim,
enquanto sigo com Félix.
— É uma pena que estou com todas as minhas horas preenchidas —
Félix diz —, mas essa noite estou livre.
Seu olhar é cuidadoso, todavia a expressão não deixa dúvida.
Bastava eu sorrir e segurar seu braço e estaria na sua cama no fim da noite.
Claro que não quero ir para cama com Félix, mas quero muito passar mais
horas com ele, conversar mais...
E estou pensando se será prudente aceitar o convite, apenas para dar
o fora antes do fato consumado, quando uma sombra se coloca ao meu lado.
— Amy, precisa voltar ao chalé. — A voz de Ethan reverbera quase
no meu ouvido.
Eu estremeço de susto. E algo mais.
— O quê?
— Me desculpe, Firestone — continua, com a atenção em Félix —,
mas deve saber que Amy está aqui para cuidar do filho do Liam e da
Emma, e ela precisa voltar.
— Tem uma babá com o bebê — balbucio confusa.
— Ele está chorando e ela não o conhece. Liam pediu que eu a
levasse.
Ah, merda!
Lanço a Félix com um olhar de desculpa.
— Me desculpe.
— Tudo bem. Nos vemos outra hora, com certeza. — Ele sorri.
Ethan segura meu braço e me arrasta porta afora.
— Leo está bem? — pergunto, agora um pouco preocupada.
Ethan não responde, ele me arrasta mais apressadamente e reparo
que não estamos indo para o chalé e sim para um ponto escuro atrás da
piscina.
— O que...
— Cala a boca, senhorita Grant, já falou demais — rosna com fúria.
Então me vejo sendo puxada para uma parede de musgo e Ethan me prensa
nela. No instante seguinte sua boca está me calando.
Oh. Meu. Deus.
Não vou negar que já tinha fantasiado muitas vezes com como seria
beijar Ethan Coen. Mas, puta merda, aquilo é muito, muito melhor do que
qualquer fantasia.
Ele tem um beijo duro, sua língua força a entrada e arrebata a minha
com maestria, enquanto a mão grande segura minha cabeça no lugar,
puxando meus cabelos sem delicadeza alguma. E quem se importa? Eu
certamente que não. Nem dá para se preocupar com o meu coque se
desfazendo por seus dedos, quando arrepios sucessivos de prazer
traspassam o limite dos meus lábios sendo beijados e varrem meu corpo
inteiro, derretendo tudo por onde passa, me deixando fraca e entregue, só
suspirando e querendo mais.
Ah, por favor.
E então o mais está ali, quando a outra mão enorme escorrega por
cima do vestido, pelas minhas costas e pousa em minha bunda, com um
aperto daqueles bem dados, me levando para mais perto dele, nossos
quadris se roçando, buscando um ao outro, e, oh, eu sinto sua ereção.
Sim. Sim. Sim.
O prazer agora vem direto daquele ponto no meio das minhas
pernas, e não hesito em abri-las. Descendo minhas próprias mãos ansiosas,
agarro sua bunda e o puxo para mim. Ah, isso! O gemido que nós dois
soltamos, se mistura na noite escura e a boca descola da minha para traçar
um caminho quente e úmido por meu rosto afogueado, e chegar até minha
orelha, que ele morde.
— Oh, Deus — sussurro, com as pernas feito geleia, me esfregando
nele desavergonhadamente e não é suficiente. Ainda mais quando Ethan
puxa minha cabeça para trás, para que sua boca pecaminosa alcance meu
pescoço, que ele lambe, beija, morde, como uma iguaria rara, e só consigo
gemer cada vez mais alto, contorcendo-me de ansiedade. A mão que estava
no meu cabelo, desce e agarra um seio, apertando, enquanto ele geme
roucamente de satisfação.
— Porra, você é muito gostosa, senhorita Grant.
Sorrio na escuridão, percebendo que estou muito perto de deixar que
me foda bem ali, no cantinho escuro, contra o muro... basta eu pedir...
— Eu quero foder você! — Ele volta a boca para a minha,
mordendo meus lábios, e estremeço de expectativa quando roça sua ereção
em mim, despudoradamente, deixando claras suas intenções sacanas, os
dedos achando um caminho por entre meu decote para encontrar meu
mamilo.
— Ah, sim — murmuro, infiltrando uma mão em seus cabelos e
lambendo seus lábios. — Quer dizer... não acho uma boa ideia. — Ainda
resta um pouco de sanidade em mim. Em algum lugar da minha mente, há
um sussurro dizendo que aquilo não vai acabar bem... que tenho coisas mais
importantes para pensar no momento, mas, inferno, Ethan está esfregando
seu pau em mim. Pelo amor de Deus, quem liga para qualquer outra coisa
que não seja o fato de que ele quer me foder bem fundo e forte até meus
olhos rolarem para fora das órbitas?
— Não? — ele pergunta lentamente, fazendo um arco completo com
o quadril e, porra, ele é bom nisso. Fecho os olhos e solto um gemido longo,
enquanto ele continua a me matar devagar, a mão descendo para meu
quadril e puxando meu vestido para cima, começo a sentir o vento nas
minhas pernas, relevadas lentamente, enquanto Ethan continua a me torturar
com seus beijos.
Então, como se vindo de muito longe, escuto vozes alteradas e
passos. Reteso-me, abrindo os olhos, ao mesmo tempo em que Ethan para
os movimentos e levanta a cabeça. Abro os olhos para olhar na mesma
direção que ele, que solta um palavrão ao ver a cena.
Perto da piscina Emma está gritando com Vanessa. Que também
grita de volta, embora a gente não consiga escutar o quê.
— Merda — Ethan rosna e me solta.
Eu cambaleio, ainda tonta.
Começando a sentir um ódio mortal de Vanessa Vanderbilt.
Quem aquela vaca pensa que é para atrapalhar o que estava
começando a ser a foda da minha vida?
— Preciso parar isso. — Ethan relança um olhar de desculpa para
mim e eu faço uma careta.
— Vá em frente!
Ele sai apressadamente e eu apenas ajeito meu vestido no lugar,
antes de ir atrás dele. Isso dura poucos segundos, mas quando levando o
olhar novamente, Emma está agarrada ao cabelo de Vanessa, que tenta
unhá-la e grita impropérios.
— Me solta, sua louca!
— Eu vou arrancar este cabelo falso, sua piranha! — Emma grita e
Ethan agora corre e eu faço o mesmo, e com horror, antes que Ethan
consiga alcança-las, as duas mulheres engalfinhadas caem na piscina com
um estrondo.
— Caralho! — Ethan pula atrás e eu não sei o que fazer.
As pessoas, alertadas pelos gritos, começam a se aproximar e eu só
me pergunto onde diabos está Liam Hunter.
Ethan retira Emma que ainda está xingando de dentro da piscina. O
vestido arruinado e os cabelos pingando.
— Me solta, eu vou acabar com essa vaca! — ela grita.
— Emma, para com isso! — Ethan tenta contê-la.
Vanessa é retirara da piscina por um segurança. Um homem que
parece ser seu marido, um cara de uns quarenta anos trajando um bigode
espeço coloca seu paletó em cima do vestido bege que está totalmente
transparente.
— Vanessa, pelo amor de Deus, que foi isso?
— A culpa não é minha! É daquela ninfeta que Liam arranjou!
O homem olha para Emma.
— Ah, agora entendo, essa é a esposa de Liam Hunter.
— Que diabos... — Escuto uma voz atrás de mim e congelo.
Liam Hunter está se aproximando.
— Que porra está acontecendo aqui? — Seu olhar preocupado varre
Emma. — Emma, você está bem?
— Você devia segurar sua esposa, que agrediu a minha —
Vanderbilt dardeja e Liam se vira para o homem com um olhar mais frio
que o iceberg que afundou o Titanic.
Vanessa está chorando agora, numa interpretação digna de Oscar,
enquanto os convidados esperam pelo próximo ato como se estivessem
numa sala de cinema. Só faltou a pipoca.
— Está acusando minha esposa do quê? — Liam sibila.
— Sim, Emma me agrediu! — Vanessa choraminga com voz de
mártir.
— Ela que começou! Ela me provocou! — Emma grita.
Liam agora lhe lança um olhar exasperado.
— Sério isso?
— Liam — Ethan diz, numa voz que claramente pede calma.
— Acho melhor todo mundo entrar — Félix vem em socorro.
E um senhor, que acho que é o pai dele, também diz o mesmo, com
uma voz mais firme, e todo mundo anui. E a plateia, insatisfeita ao ser
privada do fim do dramalhão, começa a dispersar.
— Acho melhor levar as senhoras para se secarem — o Firestone
mais velho diz.
— Sim, concordo — Ethan pega Emma no colo, sem cerimônia, e
segue com ela em direção ao chalé.
Deixo meus olhos descansarem em Liam Hunter, que está
claramente contendo sua fúria. Seu olhar segue Emma e Ethan
desaparecendo e então sua atenção recai no casal Vanderbilt.
Elliot está consolando a esposa, passando o braço em volta de seu
corpo trêmulo, pronto para levá-la em direção ao próprio chalé, mas Liam
se coloca na frente deles.
Oh. Oh!
— Você. — Ele aponta o dedo longo para Vanessa. — Se eu vir
você de novo perto da minha esposa, se falar com ela, se sequer olhar pra
ela, eu arranco seus olhos.
— Ei, Hunter, foi sua esposa quem começou — Elliot intervém.
— E, você. — Aponta o dedo em riste agora para Vanderbilt. E não
passa despercebido a mim o medo nos olhos do homem. — Segure sua
esposa. Se ela chegar perto da Emma da novo, vou responsabilizar você
também.
— Você e o brutamontes do seu segurança vão me bater de novo?
Eu processo vocês!
— Isso se você estiver vivo para tentar! — Liam resmunga e, dando
a conversa por encerrada, segue com passos duros em direção ao chalé.
Eu ainda fico paralisada ali, enquanto os Vanderbilt se afastam em
outra direção.
Nossa, aquilo parecia filme de máfia!

Quando chego ao chalé, Ethan está na sala, dispensando a babá que


cuidou de Leo.
— O bebê está dormindo. Eu o deixei no quarto da Amy, tudo bem?
— a moça avisa.
— Claro, eu cuido dele agora, obrigada — respondo, entrando na
sala.
A moça sai do chalé e eu encaro Ethan.
— Nossa, que noite hein?
Ele passa os dedos pelos cabelos. Ele ainda está todo molhado.
— Pois é. A tagarela perdeu a cabeça.
— Vanessa deve ter provocado — defendo Emma.
— Eu sei.
— Liam ameaçou os Vanderbilt. Parecia um mafioso siciliano!
Ethan ri, ainda meio tenso.
— Esse é o Liam. Espero que eu não tenha que dar uma prensa
naquele pateta de novo.
— Então você é tipo um mafioso também — digo, com um
sorrisinho que ele retribui e então nós dois estamos de novo naquele lugar
só nosso, relembrando o que rolou antes de sermos interrompidos pela briga
de Emma e Vanessa.
E eu sei que pela cabeça dele está se passando a mesma coisa que na
minha.
O que será que teria acontecido? Acho que era muito óbvio...
— Amy...
— Ethan...
Nós dissemos ao mesmo tempo, mas antes que consigamos
prosseguir, Leo chora.
— Oh, acho melhor eu ir vê-lo.
— Pode ficar com ele? Liam está lá dentro com a Emma e acho que
eles terão que resolver essa contenda entre eles hoje.
— Claro que sim. É meu trabalho. Você acha que a Emma está em
mal lençóis?
— Não se preocupe com a Emma e o Liam, eles se entendem.
— Ok, boa noite.
Eu vou para o quarto, pego Leo e o acalmo.
É, parece que o meu feitiço de Cinderela tinha acabado antes mesmo
da meia noite.
Capítulo 14

Amy

Acordo cedo na manhã seguinte e Leo não está no seu carrinho.


Imagino que tenha sido Emma que o levou em algum momento. Mas que
bela babá eu estava me saindo, se nem via o bebê sendo levado.
Levanto-me e tomo um banho e me arrumo, aproveitando para
refletir sobre os acontecimentos da noite passada. Ou melhor, todo o
episódio de pegação com Ethan.
E que pegação! Só de lembrar já sinto um frenesi pelo corpo. Devia
imaginar que, quando eu e Ethan parássemos de correr em círculo, o
negócio ia pegar fogo.
Espera: em que momento eu tinha decido parar de correr em
círculo?
Bem, quando a boca de Ethan estava desbravando a sua, querida!
Ou quando a mão grande e cheia de dedos espertos dele estava em várias
partes estratégicas de seu corpo, ou quando você decidiu se esfregar nele
bem desavergonhadamente! Minha consciência grita.
Ok. Aquilo foi inesperado. E muito diferente da decisão que
tínhamos tomado juntos de não ultrapassar a linha “somos colegas de
trabalho e nada mais”.
No entanto, tinha rolado. E foi incrível. E eu não podia negar que
estava ansiosa por mais. Muito, muito mais...
Mas será que eu devo esquecer minhas resoluções e me jogar em
cima de Ethan na próxima oportunidade? Ou devo fingir que nada tinha
acontecido?
E o que será que Ethan pensa de tudo isso?
O que eu não posso esquecer é que, para Ethan, sou apenas a babá
de Leo, sua colega de trabalho. Mas para mim, ele é o cara que poderá botar
a perder toda a minha missão naquele emprego.
Ah, inferno. Eu estou tão, tão ferrada.
E, quando saio do quarto, ainda não tenho uma decisão tomada
quanto ao assunto.
— Bom dia! — Quase dou um pulo quando escuto a voz de Liam
Hunter surgir de trás de um sofá, seguida de um gritinho de Leo. O que
impede minhas pernas de darem meia volta e correr para as montanhas.
Engolindo o medo, me aproximo e, sim, o dono da porra toda está
sentado no sofá, vestindo o que parece ser um moletom de corrida, tomando
um copo que acredito ser de café. Com a outra mão ele segura Leo, que
brinca com seu celular que, tipo, deve custar uns três meses do meu aluguel.
— Bom dia — sussurro. — O senhor quer... quer dizer, quer que
cuide do bebê? — consigo terminar a sentença. Liam continua a me fitar
daquele jeito predador de ser, como se estivesse avaliando qual o gosto da
minha carne fresca em seus dentes.
— Está com medo, senhorita Grant? — ele diz de repente, e
arregalo os olhos.
Ai, Deus. Ele sabe. Sei lá como, mas sabe que estou aprontando
alguma e talvez agora ele me mate e me jogue em alguma vala entre as
montanhas e...
— Pare de assustar a pobre garota, Liam. — Ethan surge na sala e
eu tenho que me conter para não correr e me agarrar a ele, pedindo que me
proteja.
Mesmo assim, lanço-lhe um olhar agradecido, enquanto me afasto
para a cozinha, que é em estilo aberto, então ainda não dá para me livrar
totalmente de Liam Hunter. Começo a preparar panquecas.
— Não precisa muito para assustá-la — Liam resmunga.
— Cadê a Emma? — Ethan indaga.
— Ainda dormindo — Liam diz. E subitamente eu me dou conta de
que, se não foi Emma quem tirou Leo do meu lado, foi Liam que entrou lá
sorrateiramente.
Oh, santo Deus protetor das babás falsas. Só de imaginar aquele
homem ameaçador me olhando dormir já me deixa com náusea. Talvez eu
devesse comprar uma arma e colocar embaixo do travesseiro.
— Amy, tudo bem? — Desta vez eu pulo de susto quando escuto a
voz de Ethan quase dentro do meu ouvido.
— Meu Deus, que susto! — resmungo, enquanto ele ri. E toca meu
braço suavemente.
— Ei, está assustada.
— Você me assustou! — Não digo que já estava com medo por
causa do chefe dele.
— Liam também te assusta, não é?
Dou de ombros, desviando o olhar, enquanto coloco uma panqueca
sobre o prato, e lanço um olhar para a sala para ver se Liam não consegue
nos ouvir, mas ele já desapareceu.
Infelizmente não era para sempre.
— Acho que Liam Hunter assusta até o diabo! — respondo, e Ethan
ri.
E eu já disse que a risada dele é incrível? E que ele tem covinhas
como um garoto travesso?
— Não vou discordar. — É sua resposta simples, quando se
aproxima, pega uma panqueca e passa geleia de morango em cima.
— Não sabia que comia porcaria. — Não consigo deixar de
comentar, enquanto a panqueca desaparece dentro de sua boca em
segundos. Nossa.
Aquela boca...
— Você é cheia de tirar conclusões não é, senhorita Grant? — ele
diz devagar, pegando outra panqueca, mas seu olhar fica em mim, avaliador.
Mordo os lábios, para não me aproximar e limpar o resto de geleia de sua
boca com minha língua.
— Parece que alguém mais está com fome.
Oh, Deus, minhas pernas viram gelatina.
Ele não disse isso...
— Estou pensando no que não terminamos ontem — continua,
estudando minha reação.
Luto para respirar. E encontrar a voz em algum lugar dentro de mim.
— Eu estou tentando entender ainda...
Ele levanta a sobrancelha.
— Tenho que explicar? Achei que ensinassem na escola. Fugiu das
aulas de educação sexual?
Solto uma risadinha boba.
Sei que estou vermelha e é ridículo. Não consigo evitar.
— Nós combinamos em sermos apenas colegas de trabalho e de
repente você está me levando para um canto escuro com segundas
intenções.
— Eu tinha todas as intenções.
— Más intenções?
— As piores...
Ai. O calor que estava no meu rosto, move-se pela minha pele. Pega
fogo. Instala-se num pulsar úmido e urgente em meio às minhas pernas.
Merda. Cacete.
Porque ele tinha que ser tão gostoso? E falar daquele jeito?
— O que acontece agora... — sussurro, minha voz cheia daquelas
más intenções que ele tinha citado.
Ah, que se dane.
Noto seu olhar escurecer. E, em um segundo, ele está de pé, vindo
em minha direção. Ah, inferno.
Vou ser o café da manhã do segurança. E estou amando isso.
— Bom dia. — A voz de Emma rompe o círculo de tensão sexual
em que nos encontramos. E Ethan para de se mover.
E noto uma veia pulsar em sua testa.
Eu quase choro de frustração, ao vê-lo se virar e se afastar, enquanto
Emma se aproxima. Ela está meio pálida e sorri, desanimada, para mim.
— Bom dia, Amy, cadê o Leo? Passei no seu quarto e ele não estava
lá.
— Está com o Liam.
Emma suspira, servindo-se de café.
Ela parece estar com os pensamentos longe.
Troco um olhar com Ethan. O que será que aconteceu ontem depois
da briga?
— Devem estar se perguntando por que perdi a cabeça e me sujeitei
a brigar com a Vanessa — diz ela.
— Acho que imagino — respondo com um sorriso solidário. Posso
bem imaginar o tipo de provocação de Vanessa.
— Aquela mulher me irrita tanto! Não posso evitar querer pegar
uma tesoura e cortar todo aquele cabelo e deixá-la nem um pouco atraente.
Ethan ri, ignorando o olhar ameaçador de Emma.
— O que você tem com o cabelo da Vanessa?
— Não sei, ele é todo... perfeito! Acha que ela é loira natural?
— Eu sei lá. Mas pergunta ao Liam, ele deve saber...
— Ora, seu... — Emma joga um pedaço de panqueca em Ethan, que
ri, afastando-se para a varanda. — Idiota!
— Eu entendo — digo, e Emma me encara. — Sua fissura com o
cabelo da Vanessa. Ela é aquele tipo de mulher que não ia ficar bem sem
cabelo. Tenho certeza.
Emma ri, um pouco mais bem-humorada.
— Acha que sou ridícula?
— Claro que não!
— O Liam acha — ela diz baixinho.
— Vocês brigaram? — pergunto com cuidado.
— Ele ficou bravo porque acha que eu tenho ciúme da Vanessa.
— E não tem? — Levanto a sobrancelha e Emma dá de ombros,
culpada.
— E não é para ter? Eles moraram juntos e ele ficou rico para se
aparecer para aquela lambisgoia!
Ah, então a história de Vanessa era verdadeira? Confesso que tive
minhas dúvidas.
— Sério? — Puxo uma cadeira, encorajando Emma a continuar.
— Pois é. Ok, foi há muito tempo, mas sabe, foi ela quem deu o pé
na bunda do Liam. E não o contrário.
— Então não tem o que temer. Ela não queria o Liam. Casou com
outro, fim de história.
— Então por que ela fica me provocando? É quase como se ela
quisesse me provar que poderia ter Liam quando quisesse.
Ah, ali está a raiz do problema. A insegurança de Emma.
— E você acha que ela tem razão?
Emma solta um suspiro pesado.
— Não. Quer dizer... quando estamos só nós dois eu nem lembro
que qualquer outra pessoa existe. Mas aí a gente se depara com ela de novo
e é como se toda minha insegurança voltasse.
— É, entendo que deve ser difícil ser casada com um cara como o
Leão de Wall Street.
— Você nem imagina. — Sorri com desânimo.
— Mas ele é casado com você.
— Sim, ele é — concorda, o pensamento longe. E me pergunto o
que vai na sua mente.
Emma ainda é muito nova. Um casamento como aquele deveria ser
difícil até para uma mulher mais experiente. Para alguém como ela devia
ser bem pesado.
— Eu vou tomar um banho. — Ela coloca a xícara na mesa e se
afasta.
Termino de comer e vou até a varanda, para pegar Leo, mesmo não
querendo me aproximar de Liam de novo, mas sei que Ethan está com ele e
isso me acalma um pouco. Quando me aproximo das portas duplas, os dois
estão sentados no sofá na varanda de frente para as montanhas.
— Então que diabos é essa sua palestra? O que é dito lá? — Ethan
pergunta, curioso.
— Coisas que não se pode dizer diante da imprensa porque são
diretas demais ou muito fáceis de serem mal interpretadas.
Opa. Eu paro, alerta.
— Preciso mandar a Emma embora — Liam diz, mudando de
assunto.
— Acha uma boa ideia? — Ethan pergunta devagar.
— Tenho negócios para fechar e não quero ficar pensando que ela
estará por aí com uma tesoura cortando os cabelos de alguém.
Ah, Ethan era um linguarudo e tinha contado o desabafo de Emma
para Liam.
— Vamos bater no Vanderbilt de novo? Porque eu não acho uma
boa ideia — Ethan questiona, corroborando a história de Vanessa de novo,
Ethan tinha mesmo ajudado Liam a dar uma surra em Elliot Vanderbilt.
— Não vale a pena — Liam responde se levantando. E eu me
escondo rápido. — Vou levar Leo para Emma e contar que ela vai embora.
— Boa sorte com isso — Ethan ri.
Liam passa para o quarto e Ethan vem atrás.
Eu saio do meu esconderijo com cara de quem acabou de chegar.
— Está tudo bem? Vim pegar o Leo.
— Liam o levou para Emma.
— Certo.
— Acho que deve se preparar para partir.
— Por quê? — finjo inocência.
— Liam acha melhor a Emma ir embora, para evitar confusão.
— Acha isso justo?
— Não questiono as decisões do Liam.
— Você faz qualquer coisa por ele, não é?
— O que quer dizer?
— Ouvi dizer sobre o pau que deram no Vanderbilt.
Ele franze o olhar.
— Escutando conversa atrás da porta Penny?
Eu coro. Merda. Merda!
— Quê? Não entendi. Ontem você comentou sobre ter que dar uma
prensa nele de novo. — Eu me faço de desentendida. — E na verdade, ouvi
a Vanessa dizendo isso ontem lá na piscina. Sabe que ela gosta de abrir
aquela boca metida.
— Sim, imagino que ela goste de contar essas merdas para se exibir.
— Devo acreditar que ela e o marido estão em maus lençóis pela
briga de ontem?
— Liam não perde mais tempo com aqueles dois. Mas... — Ele se
aproxima e desta vez seu olhar tem um brilho duro como aço que nunca vi
antes. Estremeço pela primeira vez com um certo medo. — Você tem razão.
Faço qualquer coisa pelo Liam. Eu o defendo de qualquer coisa.
Engulo em seco.
E Ethan está se afastando.
Porra, que foi isso?
Ele desconfia de mim?
Será?
Eu estou ficando paranoica?

Liam consegue mesmo convencer Emma a partir e eu nem quero


saber como, já que imaginei que ela não arredaria pé dali e deixaria Vanessa
perto de Liam.
Assim, horas depois, observo Liam e Emma entrarem em um carro
com Leo seguro em seu bebê-conforto, já que ele e Ethan nos
acompanhariam até o aeroporto, e entro em outro carro com Ethan.
Ainda me pergunto que diabo foi aquela cena mais cedo, mas decido
ignorar. Afinal, se Ethan sequer desconfiasse das minhas intenções ele
jamais me deixaria chegar perto dos Hunter. Devo estar mesmo ficando
paranoica.
Mas agora, enquanto o carro percorre a estrada em direção ao
aeroporto, estudo seu perfil bonito, aproveitando que ele está com o olhar
fixo no celular.
— Procurando alguma coisa? — ele diz, devagar, sem me olhar e eu
sorrio.
— Apenas admirando a vista.
Ele olha para mim. Oh, agora tenho sua atenção.
— Você gosta de provocar não é, Grant?
— O que aconteceu com o “senhorita”?
— Acho que podemos deixar de lado as formalidades depois de
ontem.
Aspiro com força.
De repente o ar parece rarefeito no carro.
— Então me chame de Amy — murmuro baixinho.
E, como em câmera lenta, vejo sua mão subir e seus dedos quentes
tocarem meu rosto, acariciando. Queria fechar os olhos e suspirar, mas não
consigo parar de olhar para ele.
— Por que às vezes vejo uma sombra em seu olhar... Amy? — ele
diz meu nome com todas as letras.
Droga.
Eu não estava tão paranoica assim. Mas, para meu alívio,
aparentemente era só uma desconfiança. Que não deveria ser forte, haja
vista que eu continuo ali e não em uma vala no meio das montanhas.
— É difícil fingir que não quero que tire minha calcinha e me foda
com força. — Opto por uma parte da verdade.
E, com um rosnado, sua mão migra para minha nuca, me puxando
com ímpeto para perto, até que a boca se choca com a minha, com aspereza.
Ah, sim.
De repente, o carro dá uma guinada brusca e o motorista solta um
palavrão, ao mesmo tempo em que somos jogados contra o vidro.
E encontramos o olhar arregalado do homem nos fitando pelo
espelho, como se estivesse assistindo um pornô dos bons.
Porra, esqueci do motorista!
E, pelo jeito, Ethan também.
Ele me solta com uma imprecação e me ajeito no banco, vermelha
feito pimentão.
— Olha a estrada! — Ethan grunhe para o pobre motorista, privado
de sua diversão.
Bem, não foi só ele!
Nem olho mais para Ethan, prendendo minha atenção no meu
próprio celular.
O carro não demora para chegar ao aeroporto e antes que eu salte,
Ethan segura meu braço e cola a boca em meu ouvido.
— Daqui a três dias, estarei de volta a Nova York, Grant. E vamos
acabar logo com isso. Não vai mais precisar esperar para eu te foder com
força.
Uau.
Saio do carro tropeçando em minhas grandes expectativas.
Capítulo 15

Ethan

Estou ansioso pra cacete quando o avião de Liam pousa no


LaGuardia, finalmente, depois de cinco longos dias enfurnado naquele
evento amaldiçoado. Geralmente não me importava de acompanhar Liam a
qualquer lugar que fosse. Liam era um filho da puta viciado em fazer
dinheiro e sua vida era uma sucessão de viagens a lugares onde ele pudesse
exercer essa atividade. E, estar ao seu lado, certificando-me de que nada o
atrapalhasse era meu trabalho. Que eu exercia com uma precisão e
dedicação quase militar. E não era nenhum sacrifício. Aquela vida ao lado
de Liam não foi algo que eu planejei. Mas, para um cara como eu, que tinha
crescido sem família, sem grana e sem qualquer perspectiva para o futuro,
contando apenas com meus punhos para sobreviver, reencontrar Liam no
meu caminho foi como ganhar na loteria. Ou como aquela gente que
entrava para a igreja depois de uma vida desgarrada, e passava a seguir
cegamente uma religião que lhe acalentava.
Liam Hunter não era só meu chefe. Era meu amigo. Meu irmão.
Minha religião.
Então, passar meus dias o seguindo cegamente, como um dos
apóstolos de Jesus o seguia, era a única maneira que eu sabia viver.
Mesmo quando Liam encontrou Emma e se casou, nada tinha
mudado, eu apenas agreguei mais uma pessoa à lista que antes tinha apenas
Liam. Emma também passou a ser como uma irmã, para ser protegida e
amada. Ok, pode parecer meio sentimental demais essa palavra vinda de um
cara como eu. Mas eu não tinha vergonha de dizer que eu amava Liam e
Emma. Eles eram como minha família. E a vida era boa, até agora.
Eu não sabia dizer o que era, mas naqueles dias em Sum Valley,
enquanto Liam passava suas horas pulando de reunião em reunião, entretido
com seus joguinhos de poder e dinheiro, eu senti uma espécie de
inquietação que nunca tinha sentido antes. Nunca foi problema achar algo
para me entreter enquanto Liam estava ocupado e não precisava de mim.
Não raro nessas viagens, eu encontrava alguma distração prazerosa, falando
mais claramente, uma garota para foder. E em Sum Valley não foi diferente,
o lugar estava enfestado de esposas entediadas, enquanto os maridos
brincavam de monopólio. Elas estavam loucas para achar sua própria
diversão. Em outros tempos, eu não hesitaria em pegar o que me era
oferecido. Essas mulheres não eram perigosas, elas apenas queriam prazer e
discrição, afinal, não estavam dispostas a perder seus casamentos
vantajosos.
Porém, dessa vez, eu não estava nem um pouco interessado. E o pior
é que eu sabia o motivo: era tudo culpa de uma ruiva hipster que estava me
deixando louco. Eu juro que tentei ficar longe, manter a promessa do
“apenas colegas de trabalho”, mas quando a vi naquela festa com Félix
Firestone, eu decidi que estava pouco me importando com minhas antigas
convicções. Eu queria Amy Grant e não podia mais esperar.
E não foi surpresa quando ela se mostrara muito disposta naquele
cantinho escuro. Foi realmente uma pena que Emma tenha nos interrompido
com aquela briga sem noção com Vanessa Vanderbilt. Que, devo
acrescentar, havia me lançado alguns olhares prolongados no último jantar
no resort. Ela estava muito louca se achava que eu ia colocar meu pobre
pinto para dentro daquela boceta interesseira.
Assim, eu apenas contara as horas para o retorno a Manhattan. E
tentava não analisar o fato de que aquele tédio e ansiedade que sentira nos
últimos dias tinha alguma coisa a ver com Amy Grant.
Meu lance com a babá era apenas tesão. Um desejo não satisfeito,
mas que seria resolvido muito em breve.
— Ei, está surdo? — Liam chama minha atenção quando entramos
no carro, que Owen já tinha deixado no aeroporto.
— O quê? — Dou partida, relanceando o olhar para Liam, que está
com a testa franzida.
— Estou falando com você há um tempo e parece que está tão
envolvido com as próprias merdas que nem me ouviu!
Eu não consigo deixar de rir, enquanto o carro sai do
estacionamento para a rodovia.
— Tenho direito às minhas próprias merdas de vez em quando,
Liam.
— Que diabos está falando? Estou te achando meio estranho esses
dias. É falta de sexo? Reparei que não fodeu ninguém lá no resort.
— Acha que todos os problemas se resumem à falta de sexo?
— Geralmente, sim. Eu fico puto, eu trepo. Estou feliz, eu trepo.
Estou triste, eu trepo.
Nós rimos, enquanto Liam liga o rádio e Nine Inch Nails enche o
carro com seus acordes agressivos.
— Por que não quis pegar ninguém? Provavelmente estaria de
melhor humor.
De repente eu penso em contar a Liam sobre Amy. Mas me calo, e
não é só porque ela é a babá do filho dele. Sei que Liam, apesar de não
gostar nada de misturar negócios com prazer, ia me entender no final das
contas se eu quisesse pegar a sua babá. Merda, acredito até que ele a
demitisse apenas para que eu pudesse fodê-la sem problemas. Era assim que
Liam agia. Ele era prático e direto ao assunto. Seja lá qual fossem as
consequências.
E eu não tinha pudor para contar qualquer coisa que fosse a ele.
Desde que éramos adolescentes contávamos tudo um ao outro. Mas de
alguma maneira, queria guardar Amy só para mim.
— Que tal falarmos do fato de que provavelmente Emma estará um
tanto puta por você tê-la mandado embora do resort? — Mudo de assunto.
Liam solta um palavrão.
— Por que ela estaria? Ela entendeu quando eu disse que devia
voltar.
— Entendeu? Ou você não deixou espaço para outra coisa?
— O que está querendo dizer?
— Sabe bem. Você é controlador pra caralho e sobretudo com a
Emma.
— Eu não... que merda é essa? Eu apenas quero protegê-la,
inclusive dela mesma. Sabe que Emma é impulsiva e, se ela ficasse no
resort, era uma questão de tempo para dar merda de novo.
— A culpa é da Vanessa, não da Emma.
— Eu não controlo a Vanessa.
— Aí está! — Ele percebe que caiu na minha armadilha e me lança
um olhar raivoso. Mas Liam sabe que aqueles olhares não funcionam
comigo, o que não o impede de tentar.
— Aí está o caralho! Emma sempre acaba fazendo o que bem quer!
O que me deixa puto a maior parte do tempo! Eu controlo tudo à minha
volta e, sim, eu tento controlar a minha esposa, porque ela é a coisa mais
importante pra mim, e é assim que eu ajo com o que me é precioso. Mas
sabe muito bem que ela torna isso bem difícil.
Eu rio do seu desabafo.
— Talvez devesse tentar ser menos controlador?
— Por que diabos eu faria isto?
Ah, jesus. Às vezes Liam parece uma criança rabugenta.
— Certo, então ao menos tente entender que Emma se sente
insegura às vezes. Principalmente em relação a esse lance com a Vanessa.
— Isso é ridículo.
— Não é ridículo para ela. Lembre-se de como se sentiu com o tal
do Tristan.
— Por que está citando esse filho da puta de novo?
— Ei, calma. É apenas uma comparação. Imagina que fosse Tristan
que estivesse lá no resort.
— Eu o colocaria para fora do meu caminho.
— Errado. Pediria para eu colocá-lo.
— Não pense que eu também não sei usar meus punhos quando é
preciso.
— Não duvido.
— E não pense que percebi que mudou de assunto — ele diz de
modo astuto. — Tem alguma coisa passando na sua cabeça de merda e acho
melhor me contar.
— Não tem nada na minha cabeça, além de cabelo.
— Nossa, que engraçado! Só não me diz que é a vagabunda daquela
modelo de novo.
— Não, não é — respondo, meio sombrio. Então me dou conta de
que realmente já faz um tempo que eu sequer pensava na existência de
Nicole.
Para quem passou tanto tempo obcecado, eu devia me sentir aliviado
por estar me livrando daquele mal.
“Claro, agora você tem outra obsessão!”
Ah, inferno. Ignoro minha consciência. Nicole e Amy não poderiam
ser mais diferentes. Mesmo porque Nicole nunca esteve ao meu alcance.
Agora Amy...
É uma questão de tempo, e eu espero que muito pouco tempo.

Quando chegamos, sei que deveria ir para meu próprio apartamento,


mas subo com Liam, com a desculpa de que quero dar um alô para Emma e
ver Leo.
Claro que é uma mentira deslavada. Emma estaria com sua atenção
toda em Liam, seja para brigar ou para foder, e eu poderia ir procurar a
babá.
Meu pau bateria palmas se tivesse mãos.
— Emma! — Liam chama quando entramos na sala. Eric está
passando aspirador no chão e acena alegremente.
— Ei, bem-vindos!
Escuto passos correndo e, no minuto seguinte, Emma está pulando
em cima de Liam e enganchando as pernas em sua cintura. Eu percebo que
se tivesse apostado com Liam que ela estaria brava teria perdido, pois agora
ela está enfiando a língua na sua garganta.
Eric ri, desligando o aspirador e se dirigindo para fora da sala.
— Ei, cadê a Amy? — pergunto, sem me conter. Eric levanta a
sobrancelha.
— Está de folga.
— Folga hoje?
— Parece que ela ia para a casa de um parente, aniversário da mãe
dela ou algo assim.
— Ah. — Tento conter minha decepção.
— Oi, Ethan. — Emma finalmente desgruda a boca da de Liam e
sorri para mim.
— Baby, o Ethan disse que estaria brava comigo — Liam diz com
sarcasmo para mim, o que me faz revirar os olhos. — Isso, revire os olhos
como uma mocinha. — Ainda zoa comigo.
— Vá se foder!
— O que foi? Eu estaria brava por quê? — Emma franze a testa.
— Nada, enfia a língua de novo na boca do seu marido para ele se
calar. Eu tenho mais o que fazer.
Os dois estão rindo, enquanto Liam a coloca no chão, perguntando
como está Leo e eu sigo para fora do apartamento.
Ao que parece Emma tinha resolvido suas questões de insegurança
em relação a Vanessa, ou assim eu espero. É sempre melhor que a paz reine,
pelo menos por um tempo, no reino dos Hunter.
Assim, posso sair de fininho e ir atrás de resolver meus próprios
problemas. Um problema urgente de uma parte específica de minha
anatomia.
Em vez de ir para casa, volto para o carro. Se tiver sorte, Amy Grant
ainda estará em casa.
Amy

Eu queria dizer que em todos aqueles dias depois que eu e Emma


voltamos do resort, eu tinha aproveitado para pensar e colocar a cabeça no
lugar. Porém, quando sua vagina resolve tomar o controle de sua mente,
num golpe de estado bem baixo e suicida, fica difícil pensar em outra coisa
a não ser em quando Ethan Coen vai voltar e acabar com sua agonia.
Então, quando eu, já arrumada para ir ao almoço na casa da minha
mãe em Hampton, abro a porta após ouvir a campainha tocar e me deparo
com os quase dois metros de gostosura do segurança que tinha virado
minha cabeça, meu coração quase salta no peito de emoção.
Espera. Coração? Emoção?
Desde quando eles fazem parte do golpe?
Ah, inferno.
Eu estou perdida.
— Olá, senhorita Grant. — Ele sorri, daquele jeito que faz as
covinhas safadas aparecerem. Os dentes muito brancos à mostra, me
lembrando o que eles eram capazes de fazer com meus lábios, o que me faz
pensar no que mais ele é capaz de fazer quando tiver acesso ao resto do meu
corpo.
Ah, aquela parte rebelde no meio das minhas pernas está chorando.
Vocês entenderam.
— Ethan Coen. — Saboreio seu nome, derretida.
Os olhos dele faíscam para mim. Ele sabe o que faz comigo.
Malditamente sabe e eu não me importo. Aliás, já estou pensando em
esquecer o almoço com a minha mãe para ser a refeição de Ethan Coen.
— A que devo a visita? — questiono com uma falsa inocência
calculada.
— Eu te disse que tínhamos negócios inacabados.
Oh, doce jesus, minha vagina está quase saltando do meu corpo e
pulando em cima dele.
Mas, de repente, vejo o rosto da minha mãe se interpondo na minha
frente. Faz dois meses que eu não a vejo e, embora a gente não seja muito
apegada uma à outra nessa altura da minha vida, afinal, somos muito
diferentes e minha mãe é bem ocupada entre um casamento e outro, sem
contar os casos extraconjugais, hoje é aniversário dela, e eu realmente não
posso decepcioná-la.
Ah, que merda.
— É, eu... adoraria te convidar a entrar para... conversamos sobre,
mas... eu tenho um almoço com a minha mãe. E é em Hampton e eu já
deveria ter saído. Sinto muito. Mesmo. Nem faz ideia — completo
rapidamente ao ver a sombra de decepção em seu olhar.
Mas essa sombra é logo substituída por um brilho obstinado.
Pelo amor de Deus, que ele não me agarre aqui e agora e me leve
como um homem das cavernas para a cama, porque eu não tenho força
alguma para resistir.
— Eu te levo.
Minha boca se abre em assombro.
— Quê?
— Eu te levo de carro para os Hamptons. Você iria de ônibus?
— De que mais?
— Então, está resolvido.
— Eu não acho.... eu não sei... — ainda hesito, e nem sei por quê.
— Eu não vou ficar e estragar o momento mãe e filha ou sei lá o que
planejou com sua mãe, Penny.
— Ah, não é isso. — Claro que é! Não quero Ethan metido com
minha família. Afinal, ele nem faz ideia que Ariana faz parte dela.
Mas que mal tem em ele me levar até a porta da casa da minha mãe.
Seria realmente muito melhor do que ir de ônibus.
— OK, vou pegar minha bolsa.
Ele sorri, satisfeito, e não posso evitar de sorrir da mesma maneira.

Quando chego à calçada Ethan está abrindo a porta para mim, bem
cavalheiro, e eu me acomodo no banco creme com um sorriso bobo no
rosto.
— Você é meu motorista hoje? — pergunto, quando ele senta ao
meu lado e dá partida.
— Está com alguma fantasia motorista-madame, Penny? Eu deveria
vestir uniforme e quepe?
— Não preciso de nenhuma fantasia boba quando se refere a você
— sussurro sem me conter, e Ethan desvia o olhar do trânsito para grudar
aqueles olhos escuros nos meus. Engulo em seco, com minha pulsação indo
a mil, quando ele desvia de novo os olhos para o trânsito.
— Gosta de brincar com fogo não é, Grant?
— Nem imagina — respondo, ligando o rádio. — Posso colocar
meu Ipod aqui?
— Por quê? Acha que não tenho músicas de que você gosta?
— Tenho certeza.
— Ok, vamos ver que esquisitice hipster vai me fazer ouvir.
Rolo os olhos para as críticas ao meu gosto musical e Lana del Rey
enche o carro com sua voz melodiosa e triste.
— Meu Deus, é para eu pegar no sono enquanto dirijo?
— Cala a boca!
Ele ri.
— Ok, essa música é sexy.
Ah, quando ele fala sexy... é tão... nhami!
Suspiro e fecho os olhos, deixando a música envolver meus
sentidos. Mesmo assim, com os olhos fechados sinto o olhar de Ethan em
mim. Não sei como ele faz isso, já que tem que manter a atenção na estrada,
mas ele faz.
E isso faz minha pele arrepiar de expectativa.
Deixamos a música ser o único som dentro do carro, até que
entramos na rodovia. Abro os olhos e Ethan sorri de lado.
— Achei que tinha dormido.
— Estou apenas curtindo a música. Não curte isso? Fechar os olhos
e deixar a música entrar em você?
— É assim que você reage?
— O quê?
— Quando algo entre em você.
Ah, puta merda.
— Tenho certeza de que quando você entrar em mim vai ser bem
diferente de uma música.
— Porra, Penny — ele xinga, e eu mordo os lábios.
— Desculpa.
— Desculpa, nada. Você é uma provocadora.
— Você que quis me dar carona!
— Estou vendo que talvez não tenha sido uma boa ideia.
— Por quê?
— Porque estou aqui, duro, e querendo exatamente entrar em você
neste momento.
— Ah...
Suas palavras vão direto para o meio das minhas pernas.
Meu rosto esquenta, um tanto envergonhado. Um tanto excitado.
— Quem está provocando agora?
— Dois podem jogar este jogo, baby.
— Não estou jogando. Eu te disse, não faço jogos.
— Você é uma tremenda de uma mentirosa — ele diz devagar. Seu
olhar está sempre preso na estrada. Da minha parte, eu já estou sentada de
lado, sem conseguir parar de olhar para ele.
Sua mão segura com força o volante. E eu não consigo deixar de
abaixar o olhar e ver que sim, ele tem uma ereção.
Wow.
O calor do carro se torna quase sufocante. Respiro por arquejo.
— Então somos dois — respondo.
— E o que vamos fazer com isso?
— Eu não sei... Mas está bem quente aqui. — Eu me abano. Parece
que o carro vai pegar fogo a qualquer momento de tão quente.
— Não duvido que o calor que vem de você possa incendiar o carro.
— Só meu?
Ele relanceia o olhar para minhas pernas. Estou usando um vestido
curto e florido de verão. Não me parecia ousado. Até agora.
— Eu posso sentir daqui, Amy.
— Ah, ok. Estou mesmo me sentindo quente — sussurro.
— Talvez devesse ficar mais à vontade.
— Ah é? — Ok, dois podem jogar aquele jogo, como ele disse.
Com um suspiro, levo a mão à barra do meu vestido e, com um
único movimento, o tiro pela minha cabeça.
Ethan olha para mim e o carro sai da estrada por um instante.
— Cacete, Penny! — Ele segura o carro.
— Pare de me chamar de Penny e olha a estrada! Não quero morrer
hoje.
Ele faz o que pedi, afinal, aposto que também não é a intenção dele
nos matar.
— Você que está me matando.
Eu solto um risinho.
E levo a mão ao meu sutiã.
Que se dane.
Ethan olha para mim, com os olhos arregalados, sem saber se
mantém a atenção nos meus peitos ou na estrada. Seria engraçado, ver seus
olhos pulando de um lado a outro como um desenho animado.
— Porra!
Eu levo a mão a calcinha e a escorrego pelas minhas pernas.
E em segundos, Ethan está jogando o carro no acostamento e me
puxando para ele.
Ah, sim.
Capítulo 16

Amy

No momento em que os lábios de Ethan se chocam com os meus, eu


enlouqueço
Sim, essa era uma boa palavra para descrever o que se apodera de
mim. Uma pura e deliciosa loucura. Ainda mais quando aquelas mãos
grandes me levam para cima dele e começam um passeio atrevido por
minha pele em fogo.
Solto um longo e gutural gemido dentro de sua boca, quando nossas
línguas se encontram e se acariciam sem a menor delicadeza e enterro os
dedos nos cabelos escuros, ao mesmo tempo que ondulo meus quadris com
força contra os dele e, desta vez, nós dois gememos juntos, com aquela
fricção mundana. Eu nua e ele ainda de calça preta. Mesmo assim, posso
sentir o inegável desejo dele entre minhas pernas, o que faz minha excitação
aumentar a um nível estratosférico.
— Porra, Amy — grunhe quando os lábios soltam dos meus, e
aproveito para respirar e morder sua boca gostosa enquanto ele segura meus
seios em concha, olhando para o que faz com grande satisfação. — Eu
quero foder você. Agora.
Ah, por favor...
— A gente está no meio da estrada — sussurro, com um restinho de
coerência, rezando para que ele não tivesse mais nenhuma.
— Ah, que se dane! — É sua resposta rouca que me faz exultar e,
sem demora, levar a mão à calça, abrindo-a enquanto lambe e morde meu
pescoço.
— Aqui! — Um preservativo surge na mão dele e eu o pego,
rasgando a embalagem com a boca. Ethan arranca da minha mão e o coloca
ele mesmo naquela ereção magnífica. Caramba. Ele é lindo até ali!
Fecho os olhos, esperando ansiosa, enquanto levanta meus quadris e
sinto a ponta do seu pau roçar na minha entrada. Prendo a respiração, tudo
se revirando em meu íntimo em expectativa de tê-lo finalmente dentro de
mim.
— Abra os olhos. — Pede com uma inesperada suavidade, como se
agora tivéssemos todo o tempo do mundo. E eu obedeço, perdendo-me nas
profundezes escuras de seu olhar. — Quero te foder assim desde a primeira
vez que te vi.
— Sim... — É a única coisa que consigo dizer, quando o sinto
deslizando lentamente para dentro de mim. — Ah, sim. — Jogo a cabeça
para trás, tomada pela sensação sublime que é sentir Ethan me fodendo
daquele jeito, suas mãos subindo e descendo meus quadris num ritmo
preciso para enlouquecer, os bicos dos meus seios roçando em seu peito
forte, seus lábios deixando uma trilha molhada e quente por minha boca,
meu queixo, meu pescoço.
E só consigo gemer e me perder um pouquinho mais a cada
estocada, apressando meus quadris contra os dele, buscando mais daquele
prazer perverso, ofegando e arquejando, enquanto sinto todo meu corpo
tremer em cima dele.
— Porra, Amy! — grunhe de repente, uma mão se infiltrando em
meus cabelos e me puxando e outra indo para o meio das minhas pernas e
tocando meu clitóris.
— Oh, sim, aí — imploro. Sentindo o clímax se aproximando
sorrateiramente, mexo meus quadris com fúria, querendo e precisando de
uma libertação. E então ela vem, em ondas violentas de puro prazer,
fazendo-me gritar e estremecer, arranhando seus ombros e perdendo o
fôlego.
Como vindo de muito longe, ainda o sinto estocando mais um pouco
dentro de mim, até seu corpo tensionar e as mãos grudarem em meus
quadris com força, quando ele explode em seu próprio gozo.
— Caramba! — murmuro, quando consigo achar minha capacidade
de falar. Ainda estou toda suada e grudada em Ethan.
Ele ri, e levanto a cabeça de seu ombro, fitando-o meio chocada.
— A gente acabou de transar?
— Penny, o que te ensinaram na aula de educação sexual?
Eu rio também e ele me beija. Ah, tão doce, tão...
Errado!
De repente uma sombra envolve meus pensamentos delirantes pós-
foda.
Aquilo não devia ter acontecido. Ethan é o segurança de Liam
Hunter. E pode ser um grande problema para mim, levar aquele trabalho a
um nível pessoal.
Saio de cima dele e vou para o banco do motorista, sentindo-me
meio tonta. Não quero olhar para Ethan, mas sei que ele está se limpando e
se livrando do preservativo e ele me passa um lenço para eu fazer o mesmo.
— Obrigada! — respondo, meio envergonhada, o que é ridículo
dada a situação. E começo a me vestir.
E só então, quando ambos estamos vestidos e mais ou menos
arrumados, Ethan toca meu queixo me obrigando a encará-lo.
— Não estou curtindo muito esse seu olhar.
— Que olhar?
— Como se tivéssemos feito uma grande merda.
— E não fizemos?
— Penny, isso não foi nada mais do que uma boa e inevitável foda.
Não leve tão a sério.
Ah, ok.
Ele está levando tudo na brincadeira?
Eu deveria ficar aliviada.
Mas porque eu estou meio... chateada?
Ah, merda. Grande merda!
Eu dou de ombros.
— Certo, tem razão. Acho que estávamos nas preliminares há um
tempo, não?
Ele sorri de lado. Aquele sorriso que ainda dá nó no meu estômago e
dá partida no carro.
Nenhum de nós fala mais nada até que ele estaciona em frente ao
exótico jardim da casa minha mãe.
Saio do carro e Ethan faz o mesmo. Preparo-me para me despedir
dele com um simples e singelo “Obrigada pela carona”, quando minha mãe
abre a porta e vem saltitando em nossa direção.
— Querida, você chegou!
— Ah, droga!
Eu não queria que minha mãe visse Ethan, por motivos óbvios.
Com um sorriso forçado me viro para minha mãe. Helena Cooper
ainda é uma mulher bonita. Com seus cabelos loiros, lábios de colágeno,
muito botox para parecer menos do que seus cinquenta anos e calças
coladas brancas, o que faz jus à sua última lipoaspiração. Tudo pago com o
cartão de crédito de seu quinto marido, de quem acaba de se divorciar.
Estou só esperando quem será o próximo.
— Oi, mãe. — Ela me abraça e me faz tossir com a onda de perfume
Chanel número 5. Vejo quando seu olhar descansa em Ethan.
Lá vamos nós.
— E não me disse que ia trazer um... amigo?
— Ethan veio apenas me dar uma carona — respondo rapidamente.
— E não vai nos apresentar? Cadê seus modos? — Ela sorri para
Ethan. — Sou Helena, mãe da Amy, e você?
— Ethan Coen, senhora. — Ethan estende a mão, mas minha mãe o
abraça sem cerimônia.
— Não me chame de senhora, por favor. Nossa, mas você é forte,
não?
Ela me lança um olhar de “vai me contar tudo, nos mínimos
detalhes” e eu rolo os olhos.
— Mãe, o Ethan, precisa voltar...
— Imagina, não pode ficar conosco? Somos só nos duas e Maria fez
uma lasanha espetacular.
— Mãe...
— Claro que eu aceito. Não dispenso uma lasanha. — Ethan sorri,
derretendo minha mãe, que se engancha nos braços de Ethan e o leva para
dentro, para meu desespero.
— Adoro conhecer os amigos da Amy — ela diz, quando nos
acomodamos em sua sala toda branca. — Por que Tiziano não veio,
querida?
— Ele tinha trabalho — minto. Eu não tinha convidado Tiziano.
Ninguém além de mim era obrigado a aguentar a minha mãe.
— Ah, que pena, ele ainda é modelo?
— Às vezes. — Tiziano, na verdade, nunca tinha um trabalho fixo.
Ele fazia desde trabalhos de modelo, a bicos de garçom.
— E você, Ethan? O que faz e como conheceu minha filhinha?
— Ethan é segurança dos Hunter — explico. — Lembra, o casal
para qual estou trabalhando de babá.
Assim como Ariana, minha mãe não faz ideia de minhas verdadeiras
intenções. Eu acho melhor que continue assim.
— Ah, sim, esse seu trabalho de babá, ainda não entendo nada, Ar...
— Mãe, que tal me levar para pegar umas bebidas? Aposto que o
Ethan quer uma cerveja.
— Claro, mas não precisa ir comigo, eu pego...
Eu a puxo pela mão, impedindo que continue.
— Ah, querida, que homem é esse? Meu Deus! — Ela começa a
tagarelar assim que chegamos na cozinha. Sua empregada latina, Maria,
está cantarolando uma salsa enquanto retira uma lasanha do fogo.
— Hola, Amy.
— Oi, Maria.
— Amy, anda logo, me conta tudo! — minha mãe insiste.
— Não tem nada pra contar, eu já falei, ele é o segurança de Liam
Hunter.
— Sim, aquele figurão, milionário! Mas não venha querer me dizer
que não tem nada entre vocês, eu posso ver a química! Conheço essas
coisas.
— Mãe...
— Ele veio te trazer aqui, naquele carrão.
— O carro é do Liam!
— Ainda não entendo que diabos está fazendo trabalhando de babá,
até pensei que tinha começado a seguir meus conselhos e tinha ido atrás de
um marido rico! Veja Ariana...
— Mãe, sobre a Ariana, não cite o nome dela para o Ethan.
— Por que não?
— Os Hunter não sabem que Ariana é minha irmã adotiva.
— Não? Não foi ela quem te indicou?
— Foi, mas para não ficar muito tendencioso, ela apenas disse que
eu fui a babá da Penélope. E os Hunter, e isso inclui o cara lá na sala, não
podem saber o contrário. Entendeu?
— Claro, se quer assim.
— Eu quero, obrigada. — Abro a geladeira e pego duas cervejas.
— Não quer vinho?
— Prefiro cerveja e tenho certeza de que o Ethan também.
Volto para a sala e dou a cerveja para Ethan.
— Desculpa por isso — digo, aproveitando que minha mãe ainda
não retornou.
— Ah, Penny, eu amo lasanha.
— Mas não conhece minha mãe, ela vai ficar te atormentando. Por
isso que nem convidei o Tiziano.
Ele apenas ri.
Minha mãe retorna e nos chama para a sala de jantar.
— Sua casa é linda, Helena — Ethan elogia.
— Ah, sim, meu ex marido foi generoso em deixá-la para mim,
afinal eu a decorei.
— Ex-marido, o pai de Amy? — Ethan indaga. Ah, que merda.
— Claro que não. Roger foi meu quinto!
Nós sentamos à mesa.
— Minha mãe coleciona maridos. — Não consigo evitar a ironia na
minha voz.
— Amy é um tanto crítica com a minha vida, mas o que posso
dizer? Não gosto de viver sozinha.
— E o pai de Amy foi qual número? — Ah, mas que grande curioso
Ethan está se saindo!
— Meus pais não foram casados — respondo de má vontade.
— Sim, eu conheci o pai da Amy em um festival na Irlanda.
— Seu pai era irlandês?
— É o que minha mãe diz!
Mamãe sorri, passando a travessa de batata para Ethan.
— Olha os cabelos dela? Claro que é irlandesa. Mas o pai dela era
apenas um safado de quem pouco ouvi falar durante todos esses anos.
— Você conheceu seu pai? — ele pergunta, e vejo um certo cuidado
no seu olhar.
— Conheci, mas não temos mais contato. Nunca fomos muito
próximos.
— Amy nasceu na Irlanda. Ficamos juntos por um tempo, mas não
deu certo. Eu voltei para casa dois anos depois e me casei. Meu primeiro
casamento. Ronan veio visitá-la algumas vezes.
— O que seu pai fazia?
— Ele era músico, tocava guitarra.
— Legal.
— E você, querido, o que seus pais fazem?
Eu me aprumo, querendo ouvir.
— Ambos estão mortos.
— Ah, não diga... — Helena acaricia a mão de Ethan com um olhar
maternal. — Pobre querido. Como eles morreram?
— Minha mãe foi embora quando eu tinha três anos. Fiquei sabendo
que ela morreu anos depois em um acidente de carro. E meu pai morreu em
uma briga, quando eu tinha treze.
— Uma briga?
— Sim, ele era... um cafetão por assim dizer e minha mãe... ela era
uma das suas prostitutas.
— Oh, que horrível! — Mamãe só falta colocar Ethan em seu colo.
Eu ainda estou meio chocada com aquelas informações. Sim, eu sabia que
os pais dele tinham morrido, afinal, ele conheceu Liam em um lar adotivo,
mas não sabia destes detalhes sórdidos e chocantes.
— Uma criança não devia viver essas coisas. E onde viveu depois?
— Minha mãe continua.
— Eu vivi em lares adotivos.
— Foi em um desses lares que ele conheceu o Liam Hunter — digo.
— Sim, isso mesmo — ele concorda com o pensamento longe e se
cala. Percebo que está se dando conta de que falou demais. Não parece que
Ethan goste de falar do seu passado. Bem, eu também não gostaria se fosse
trágico assim.
Fico observando ele comer, suas mãos grandes e fortes. Ele é tão
forte, sempre me parece indestrutível. O segurança do leão.
Pergunto-me o quanto do que ele é hoje foi moldado por aquela
criança que cresceu sem mãe e com um pai com aquela profissão. Ainda
mais perdendo este mesmo pai e tendo que viver em lares adotivos. De
repente sou eu que quero colocá-lo no meu colo e dizer que está tudo bem.
— Esse médico é incrível, o melhor, embora custe os olhos da cara!
— minha mãe diz, quando Maria volta com uma bandeja que parece ser
torta de morango. Percebo que minha mãe estava tagarelando sobre ela
mesma, algo sobre sua viagem a Miami para a última cirurgia e Ethan a
escuta com atenção.
— Foi um dinheiro bem empregado, você está linda, Helena —
Ethan elogia, galante, e minha mãe se derrete.
— Gostei do seu namorado, querida.
— Mãe, Ethan não é meu namorado! — Coro, indignada.
— Se não são namorados deveriam ser, formam um lindo casal.
— Ethan, desculpa minha mãe, ela é louca.
Mas Ethan está rindo.
— Posso me acostumar com uma sogra como sua mãe — ele diz,
divertido, e eu bufo. O desgraçado está rindo da minha cara! Mas minha
mãe está adorando.
Graças a Deus ela volta a tagarelar agora sobre seu jardim, e até
arrasta Ethan para ver suas novas petúnias vindas do Colorado.
Eu os sigo de longe, observando que Ethan tem muita paciência com
as futilidades da minha mãe e até faz comentários espirituosos, o que faz
Helena rir feito uma colegial.
Ah, ela já está encantada com Ethan. Mas quem não fica?
De repente me pego pensando sobre o papo do namorado. E fico
imaginando como seria se Ethan fosse mesmo meu namorado. Se ele me
acompanharia até a casa da minha mãe como hoje e, como agora, ele
lançaria olhares por sobre os ombros de Helena, piscando para mim e
fazendo minha pulsação acelerar, me lembrando de toda interação sacana
que tinha rolado no carro e que poderia muito bem rolar de novo...
Mas não vai rolar.
Estou bem certa disso. Só preciso achar meu autocontrole que está
perdido em algum lugar entre meu tesão por Ethan e meu medo de ser
descoberta.
Finalmente Ethan diz que precisa voltar e pergunta se quero uma
carona de volta.
Eu digo que não, posso pegar o ônibus e minha mãe diz que é um
absurdo, Ethan concorda. E não me resta alternativa a não ser abraçar
minha mãe e entrar no carro. Vejo minha mãe abraçando Ethan e
sussurrando algo no ouvido dele antes que ele entre no carro. Ele dá partida
e eu o fito de esguelha.
— O que minha mãe te disse?
— Que adoraria ter netos tão altos quanto eu.
— Oh... que merda!
Ele ri com vontade.
— Calma, Penny.
— Me desculpa mesmo pela minha mãe. Como todas as mães, ela é
louca para que eu case e tudo o mais.
— E você, não está louca para se amarrar?
— Faço a mesma pergunta?
— Isso não é para mim. — Dá o assunto por encerrado.
Foco minha atenção na estrada e me questiono se essa vida que
Ethan leva, sendo a sombra de Liam Hunter é o que ele quer fazer para
sempre. Será que ele não deseja mais do que ser um anexo do Leão de Wall
Street?
Tenho vontade de perguntar, mas sei que não devo. E, também, sei
que não é da minha conta.
Fecho os olhos e, embalada pela música, acabo adormecendo.
Acordo quando Ethan está estacionando em frente ao meu prédio.
A tarde está caindo e um vento frio assola meus cabelos, quando
saltamos e eu olho para Ethan.
E sou surpreendida pela vontade insana que eu tenho de beijá-lo
quando ele ergue a mão e coloca uma mecha de cabelo atrás da minha
orelha. Por que sinto que não é algo só físico. É algo que faz meu coração
pular ansioso no peito. Borboletas sobrevoam meu estômago e todo aquele
clichê de livros românticos.
Ah, merda.
— Tudo continua igual — digo rapidamente, assustada comigo
mesma. O jeito que Ethan me faz sentir. Aquilo está se tornando perigoso.
— Não sei se estou satisfeito com isso, Penny.
— O que quer dizer?
— Que eu quero foder você de novo.
— Só foder?
— Tem algo melhor?
— Não acha um grande erro?
— Não discordo que seja, mas porque vamos mentir dizendo que
não vai mais rolar?
— Não acho uma boa ideia.
Por favor, não insista, sei que não serei capaz de resistir.
De repente escuto passos e olho através de Ethan e congelo ao ver
Carl se aproximando.
Oh. Oh.
Capítulo 17

Amy

Ethan acompanha meu olhar.


— Quem é aquele?
Carl para e sei que ele quer virar e fingir que não me conhece, mas
Ethan já percebeu que não é verdade.
— É, eu...
Ethan franze a testa.
— Está com medo por que, Penny? Qual o problema?
Ele fica alerta e não sei dizer a que conclusão está chegando, mas
sei que preciso desfazer seja lá qual desconfiança que passa pela cabeça
dele.
— Carl! — chamo o homem de cabelos loiros ralos e óculos pretos
que me encara confuso. Imploro com o olhar para ele manter a calma.
— Quem é esse cara? — Ethan insiste.
Pense, Amy, pense!
— Ei, Amy! — Carl se aproxima e posso ver que está se cagando de
medo de Ethan. Sim, ele deve mesmo ficar com medo.
— O que está fazendo aqui?
— Eu...
Eu faço minha melhor cara de brava.
— Eu já falei para me deixar em paz, Carl. Porque fica rondando a
minha casa?
— Eu não fiz isso!
— Por que outro motivo estaria aqui? Disse que não queria nada
contigo!
— Esse cara está te importunando, Amy? — Ethan adquiri uma
postura ameaçadora e acho que Carl vai mijar nas calças. Certo, talvez
fingir que Carl era algum paquera stalker não tenha sido uma boa ideia.
— Não, eu apenas... estava passando — Carl gagueja.
— Quem é esse cara, Amy? — Ethan agora está com um olhar
mortal.
— Ninguém! Quer dizer. A gente se conheceu em um bar e tivemos
um encontro e eu disse que não ia rolar nada, mas ele parece que não
entendeu.
— Acho que é melhor deixar a Amy em paz, Carl. Se eu o vir
rondando a casa dela de novo, quebro suas pernas.
Caramba.
— Sim, eu... me desculpe. Eu... Nunca mais vai me ver... Amy —
Carl gagueja e se afasta quase correndo virando a esquina, e eu respiro
aliviada.
— Por que não me disse que tinha um cara te perseguindo? — Ethan
questiona e eu rio.
— Carl não é um perseguidor! Ele só é um dos insistentes.
— Você parecia com medo quando o viu.
Eu dou de ombros.
— Só é chato. Mas tenho certeza de que, depois de sua ameaça, ele
jamais vai voltar aqui.
— Se quiser eu posso dar um jeito nisso...
— Não! Sério, é bobagem. Vamos esquecer. Bem, eu preciso entrar.
Amanhã tenho que estar cedo na casa dos Hunter.
— Claro. — Ele parece relaxado de novo. Graças a Deus. Mas agora
percebo que talvez a gente precise falar sobre o que rolou no carro. E eu
não estou preparada para isso ainda.
— A gente se vê amanhã! E obrigada pela carona. — Aceno e entro
no prédio, antes que Ethan tenha chance de me impedir.
Quando entro em casa, escuto Tiziano cantando lá em cima no
terraço e vou para lá. O crepúsculo está caindo e me sento sobre uma de
nossas cadeiras de praia, observando Tiziano cuidar de um vaso de tomate.
— Olá, garota, que cara é essa?
Eu solto um grande suspiro.
— Acho que me envolvi numa enrascada, Tiz.
— Hum, eu te falei.
— Eu transei com o Ethan.
Ele agora se vira para mim com um sorriso mais que interessado.
— Sério? E qual o tamanho da coisa dele? Estilo astro pornô, eu
aposto que é! Ainda pode sentar?
— Ah, fala sério, eu aqui toda encrencada e você quer saber de
piroca?
— Querida, tem coisa melhor?
Eu rolo os olhos.
— Ok, está bem. Qual o problema além daquele que a gente sabe
muito bem?
— Justamente este! Eu estou naquela casa com segundas intenções!
Não posso me envolver com o melhor amigo do Liam Hunter que ainda por
cima é seu segurança.
— Então leva tudo como deve ser. Apenas sexo.
— É fácil falar!
— Vocês mulheres complicam tudo. Aposto que o grandão está
querendo apenas umas boas horas entre essas suas lindas pernas, meu amor.
— Acha que é só isso? — Não posso evitar minha voz
decepcionada.
— Está vendo? É você quem está complicando. Ele não te pediu em
casamento, meu anjo. Então, apenas curta aquele corpo divino e se divirta.
— Ele vai me odiar quando descobrir.
— Não só ele — Tiziano cantarola e eu me encolho de frio, mas que
não tem nada a ver com a temperatura.
De repente a campainha toca e eu me arrasto escada abaixo para
atender, me perguntando se pode ser Ethan. Isso faz meu coração se animar.
Mas quando abro a porta é Carl quem está ali.
— Que merda foi aquela? — Ele entra sem pedir licença e respiro
fundo.
— Que merda foi aquela pergunto eu! Que diabos veio fazer aqui?
Quer que eu seja descoberta?
— O que estava fazendo com o segurança de Liam Hunter?
— Eu trabalho com ele!
— Isso eu sei! Mas não pareceu trabalho o que eu vi! Você está
trepando com ele?
— Carl!
— Bem, não que não seja uma boa ideia. Assim, se tiver mais
íntima pode conseguir muito mais informação.
— Carl, que nojo. Acha que eu ia transar com um cara por isso?
— Então o que está fazendo? Eu vim aqui para saber como anda
tudo. Você não me passou quase nada.
— Porque não consegui quase nada! Estou a menos de um mês na
casa dos Hunter!
— Já devia ter conseguido algo! Não pode se arriscar ficando muito
tempo naquela casa. É perigoso.
— Acha que não sei? Mas está tudo sob controle. Na verdade, estou
ficando bastante íntima de Emma Hunter. E consegui uma ótima história
com a ex noiva do Liam, Vanessa Vanderbilt. Já ouviu falar?
— Uau, você conseguiu Vanessa Vanderbilt?
— Sim, e é uma história ótima!
— Acha que ela pode marcar uma entrevista formal?
— Não duvido que consiga. Aquela lá gosta de ver o circo pegar
fogo! Mas não creio que deva entrar em contato com ela agora. Vamos
primeiro terminar a pesquisa na casa dos Hunter.
— Acho que deveria ser mais ousada. — Ele pega um pequeno
gravador do bolso.
— O quê? Não!
— Sim!
— Eu estou fazendo relatórios sobre tudo o que descubro.
— É pouco. Precisa documentar tudo. E tirar foto. Muitas delas.
Tenho certeza de que tem acesso a tudo no apartamento. E já fuçou no
escritório?
— Não. Fiquei com medo. Acho que preciso de mais tempo.
— Amy, Amy... Você que se ofereceu para isso. Quer que eu me
arrependa?
— Do que está falando? Sem mim você não tem nada! De que outra
maneira ia conseguir entrar na casa do Leão? Eu tinha os contatos e disse
que ia entrar lá. E entrei! Então confia no meu trabalho!
— Eu quero confiar. — Ele estende de novo o gravador e eu o pego
de má vontade.
— Isso não é uma boa ideia. Preciso ser discreta. Se me descobrem
lá, está tudo perdido.
— Por isso deve ser mais rápida!
— Deixe-me fazer do meu jeito!
— Esqueceu-se de que eu ainda sou seu chefe, Grant?
— Eu era tratada como uma merda de estagiária! E você me fazia
servir café e tirar cópia! Em vez de confiar em mim para um trabalho
decente! Eu tive que dizer que ia conseguir informações preciosas sobre a
biografia do Leão que você está escrevendo para me dar algum valor! —
explodo.
Eu odiava Carl Davis. Eu tinha passado dois malditos anos como
sua assistente, servindo café, passando fax e organizando arquivos,
esperando o dia em que ele ia me dar uma chance. Meu sonho era ser uma
grande editora e mesmo a Simon&Davis não sendo a melhor editora do
mercado, era onde eu tinha conseguido um emprego. E eu tentei. Por dois
anos, tentei de tudo para que Carl me notasse, que me desse uma chance de
provar meu valor. Tudo inútil. Ele era um cretino pretensioso.
Mas, há alguns meses, Carl havia decidido escrever uma biografia
do mais novo proeminente membro dos bilionários americanos. Ninguém
menos que o Leão de Wall Street. Mas Carl estava muito enganado se achou
que seria uma tarefa fácil. Liam Hunter estava blindado. Ele não curtia essa
coisa de celebridade e de ter sua vida devassada. E bateu as portas de seu
escritório em Wall Street para Carl e a Simon&Davis.
Carl decidiu seguir em frente, secretamente começando a organizar
uma biografia não autorizada. Mas ele não tinha nada. E foi então que eu
lhe dei algo: Eu percebi ali minha chance de provar meu valor. Eu disse que
minha irmã adotiva frequentava a casa dos Hunter e que iria conseguir um
jeito de fazer o mesmo. Carl não acreditou, mas quando Ariana comentou
que Emma Hunter precisava de uma babá eu percebi minha chance e
convenci Carl de que eu iria conseguir entrar na casa dos Hunter como babá
do filho deles. E, para tanto, eu exigi ser a coautora do livro.
Eu sabia que era arriscado. Sabia que Liam Hunter poderia engolir
todos nós quando descobrisse. Mas eu tinha certeza de que, com a biografia
pronta, mesmo que não fosse lançada, eu conseguiria alguma notoriedade
profissional. Eu seria aquela que escreveu uma biografia do Leão de Wall
Street.
E isso seria só o começo.
Já estava cansada de esperar as coisas acontecerem para mim. Eu
tinha que tomar meu destino em minhas mãos. E era isso que estava
fazendo infiltrada na casa do Hunter.
— Certo. Vou confiar em você. Deixarei em suas mãos a maneira
como vai conseguir as informações. Mas quero relatórios diários e é bom
que tenha sempre algo interessante. Esse livro sobre o Leão tem que ser
bombástico.
— Eu sei. Ou esqueceu que meu nome estará lá também?
— Claro que não esqueci. Mas para isso o livro tem que sair, não é?
— E ele vai — digo com convicção.
Carl finalmente vai embora e eu caio em um sofá, esgotada.
— Vou perguntar de novo — Tiziano surge no meu campo de
visão — Que diabos está fazendo se envolvendo neste tipo de negócio com
esse cara, Amy?
Exalo uma respiração profunda.
— Você sabe muito bem. Estou dando o pontapé inicial na minha
maravilhosa carreira de jornalista. Eu sou a próxima Kitty Kelly.
— Quem? KitKat?
— Kitty Kelly — corrijo, como se tivesse falando com uma criança
—, a jornalista especializada em biografias não autorizadas. Que escreveu a
biografia da Oprah!
— Acha mesmo que o Leão de Wall Street vai deixar você e aquele
seu chefe escroto sair impune quando descobrir? Não tem medo de um
processo? Isso para dizer o mínimo?
— Em 1983, Frank Sinatra abriu ação para impedir sua biografia
não autorizada, alegando invasão de privacidade. Ele retirou a ação meses
depois porque não deu em nada e teve que engolir o livro sobre sua vida
vinte e duas semanas na lista de mais vendidos! Liam Hunter pode tentar,
mas não vai dar em nada!
— Pela lei americana, todo cidadão não tem direito à privacidade?
— Tiziano insiste.
— Sim. Mas a primeira emenda garante liberdade de expressão. É aí
que entram as biografias não autorizadas!
— Esperto...
— Como disse a Kitty “A vida de uma pessoa pública pertence a
todos nós, cidadãos americanos”.
— Então não tem medo de ser processada pelo Leão de Wall Street?
— Kitty nunca perdeu uma ação — respondo de forma petulante,
levantando-me para dar um basta naquela conversa.
— E não tem medo do segurança dele?
Eu me volto para encará-lo.
— O que quer dizer?
— Vocês estão envolvidos.
— Não estamos envolvidos! — refuto, mas sei que meu rosto está
vermelho feito pimentão.
— Ok, querida. Se quer se enganar. Fique à vontade.
Eu rolo os olhos e me refugio em meu quarto para remoer as
palavras de Tiziano.
Eu estou envolvida?
Gostaria muito de dizer que Tiziano está redondamente enganado,
mas não posso enganar a mim mesma.
Capítulo 18

Amy

Eu disse a Tiziano que não estava preocupada com as consequências


do que estava fazendo, me infiltrando na casa dos Hunter, conquistando a
confiança deles para depois apunhalá-los pelas costas, quando usasse tudo o
que descobrisse para escrever uma biografia bombástica do Leão de Wall
Street. Mas, no fundo, a realidade era bem diferente.
Quando eu não conhecia Liam Hunter e as pessoas que o cercavam,
eles eram apenas um punhado de gente rica e metida, muito preocupados
com seus próprios umbigos e carteiras cheias de dinheiro e que mereciam
ter suas vidas devassadas e exploradas para a satisfação dos pobres mortais,
que, como eu, nunca chegariam nem perto de uma vida de glamour e
riqueza como a que o Leão ostentava.
Porém, agora que estou vivendo na toca do leão, começo a perceber
que minha missão pode ser muito mais difícil do que eu pensava a
princípio. E o principal empecilho que começa a se imiscuir na minha
determinação férrea para cumprir meu objetivo, é o fato de que agora
enxergo os que cercam Liam Hunter como pessoas como eu. Ok, gente que
não se preocupa em pagar os boletos, mas, mesmo assim, com sentimentos,
medos, inseguranças e incertezas. Como Emma Hunter, uma moça doce e
até um tanto ingênua ainda, mesmo sendo casada com um dos caras mais
sexys e poderosos do mundo. E que, justamente por isso, sofre com sua
insegurança. Uma garota que me considera uma amiga, embora eu seja
apenas uma empregada e a conheça há tão pouco tempo.
E o que dizer de Ethan Coen, o misto de guarda-costas, motorista e
melhor amigo de Liam Hunter? Ele é o cara mais incrível que já conheci.
Sem contar o mais sexy. E não consigo parar de pensar nele e no que mais a
gente pode fazer se tiver uma segunda oportunidade. E sei que não deveria
rolar mais nada. Que eu deveria estar satisfeita pela transa rápida e
maravilhosa no carro, mas quem disse que consigo convencer a mim
mesma?
A verdade é que estou me sentindo andando em uma corda bamba.
Ainda quero demais aquela chance que Carl me deu. Ainda quero provar a
todo mundo que eu não sou uma fracassada, que posso ter uma carreira
incrível no jornalismo, sendo a coautora da biografia não autorizada do leão
de Wall Street. Mesmo morrendo de medo do que ele fará comigo quando
vier à tona meus verdadeiros objetivos. Porque, por mais que esteja louca
por seu segurança e adorando a minha pseudo-amizade com sua esposa,
ainda não estou certa de que o leão tem um coração batendo naquele peito
de aço.
Sem dúvida alguma, convivendo mais de perto, é fácil entender o
medo que ele mete nas pessoas. Ele é duro, inflexível e impiedoso. Um
homem de negócios frio e calculista. Não foi à toa que se tornou um dos
caras mais ricos da América em tão pouco tempo, mesmo sendo tão jovem.
Mas esse mesmo cara que conduz seus negócios com mãos de ferro,
é o cara que conquistou Emma Hunter, aquela moça doce e divertida, que
orbita a sua volta com um olhar apaixonado de devoção e desejo. Sem
contar o amor e lealdade incondicional de Ethan.
Quem é na realidade Liam Hunter?
Não posso negar que essa pergunta também é bem intrigante. Já está
claro que eu terei muita coisa a contar ao mundo sobre ele. Liam Hunter
tem mais nuances do que se podia imaginar. E, inferno, eu quero contar isso
ao mundo! Será que eu estou tão errada?
Bem, certamente Ethan, quando descobrir, vai achar que você está
cometendo o pior dos crimes.
Estremeço ao pensar nessa possibilidade. Nunca imaginei que eu
teria que me preocupar com isso quando entrei naquela casa. Eu achava que
ia pegar minhas informações e partir sem olhar para trás.
Agora, sinto vontade de chorar ao imaginar o olhar de desejo de
Ethan sendo substituído pelo olhar de ódio.
Ah, estou tão ferrada.
— Que cara é essa? — Levanto o olhar e Eric está me fitando com
uma expressão curiosa. Não o tinha visto entrar na cozinha, onde eu tentava
me concentrar em uma revista, mas sem sucesso, enquanto Leo dormia
tranquilo em seu carrinho ao meu lado.
Eu tinha passado o dia sozinha na casa, a não ser pela companhia de
Eric, que estava bem ocupado no seu dia de faxina, pois Emma havia saído
cedo para ajudar sua amiga Zoe com os preparativos do casamento que
aconteceria em menos de um mês. Eu estava curiosa para conhecer essa tal
Zoe. Ela me parecia uma louca varrida, além de uma interesseira de marca
maior. Já tinha entendido, pelo que Emma deixava escapar, que era Liam
quem estava pagando o casamento suntuoso dela com um recém-formado
advogado sem um tostão. E que o casamento seria em um castelo na
Irlanda. Puta merda, castelo na Irlanda? Sério? E ela era só a melhor amiga
de Emma, e Liam nem ia com a cara dela.
Caramba, era bom ter dinheiro para distribuir assim!
— O quê? — Volto a folhear a revista, enquanto Leo resmunga algo
e sacudo o carrinho com meu pé.
— Estava com a expressão de quem tem um problema sem solução.
— Nada não...
Ele continua me inspecionando.
— Tem a ver com o Ethan?
Eu coro até a raiz do cabelo.
— Ethan? Por que teria alguma coisa a ver com o Ethan?
— A Emma e o Liam parecem ainda não terem percebido, mas eu já
saquei que tem alguma coisa rolando.
— Ah, que absurdo, nada a ver!
Ele ri, voltando a mexer nas panelas no fogão.
— Ok, se quer assim. Eu não tenho nada a ver com isso mesmo.
— Olá! — Emma entra na cozinha, toda sorridente, e vai direto para
o carrinho de Leo. — E como está meu bebê?
— Muito bonzinho, como sempre.
— Sério? Ele não dormiu bem. Acha que são os dentes?
— Pode ser. Penélope chorava demais quando começou a nascer os
dela.
— Já está quase na hora do jantar, acho que vou dar banho nele.
— Eu posso fazer isso.
— Você pode assistir. Estou com saudade do meu bebê!
Emma pega Leo no colo. E nós seguimos para o quarto do bebê.
— Como foi lá com a sua amiga?
Emma bufa, colocando Leo no trocador.
— Zoe está insuportável! Hoje fomos ver os vestidos das madrinhas
e ela não sabe que cor escolher. Para que tanta frescura?
— Você não ficou assim no seu próprio casamento também?
— Eu? Claro que não! Primeiro que detesto essas coisas de
organizar evento, segundo que estava com meu pé quebrado.
— Acho que vi uma foto de seu casamento numa revista.
— Sim, eu caí da escada brigando com minha ex-chefe.
— O quê? — Caramba que história é aquela agora?
— Pois é! — Emma leva Leo para o banheiro e vou atrás. —
Samantha Arden me ofereceu uma vaga de repórter no site sobre finanças
dela e fui bem trouxa de acreditar que era só isso. — Emma coloca Leo na
banheirinha e eu me apresso em pegar o seu shampoo. — Mas, na verdade,
ela queria me usar para conseguir informações sobre Liam.
O shampoo escorrega da minha mão, espalhando o líquido branco
pelo chão.
— Merda! — Não consigo evitar o palavrão e Emma ri, sem ter
noção do que me tirou do prumo.
— Não é uma merda mesmo? Muito vadia! Ela chegou a dormir
com um funcionário de Liam! Que era outro filho da puta que estava
fazendo inside training. E quando eu descobri o que ela estava fazendo, fui
atrás para tentar detê-la. Nós brigamos e tudo acabou comigo rolando da
escada.
— Nossa, que confusão — murmuro, entregando-lhe o shampoo.
— Sim, uma baita confusão. E tive que me casar com o pé
engessado. Zoe ficou puta.
— O que o Liam fez com essa mulher? — pergunto num fio de voz.
— A última vez que ouvi falar de Samantha Arden ela tinha se
mudado para o Canadá. Parece que nunca mais conseguiu emprego decente,
ou algo assim. Liam queria acabar com ela.
— E não acabou?
— Bem, para a ambição dela, de ser uma repórter fodona que ia
abalar o mundo das finanças, ela se lascou, não é?
Engulo em seco.
— E o tal funcionário, como ele chama? — pergunto como quem
não quer nada, pegando a toalha e envolvendo Leo quando Emma o tira da
banheira.
— Brady? — Ela parece incerta. — Sim, Brady Nelson.
— O que aconteceu com ele?
— Ele foi processado e está preso. Felizmente não conseguiram
provas de que Liam tivesse de algum modo se beneficiado das falcatruas de
Brady. Ainda bem!
Cacete, Brady Nelson tinha mesmo se ferrado, mas como é que
aquela história tinha ficado escondida?
— Acho que não li nada sobre esse assunto nos jornais... —
Comento como quem não quer nada, seguindo Emma para o quarto.
— Porque Liam se certificou disso. Ele não queria escândalo
envolvendo seus negócios e não me pergunte como foi que ele conseguiu
manter toda a imprensa de fora.
É, eu posso bem imaginar, penso sombriamente, pegando uma fralda
e passando para Emma colocar em Leo.
— E me conta, como foi seu fim de semana? — Ela muda de
assunto e resolvo não insistir mais por hora. Pelo menos tenho um nome
agora. Ou melhor, dois! Samantha Arden e Brady Nelson. Não posso negar
que fiquei bastante empolgada com aquele novo capítulo sobre a história de
Liam Hunter.
— Foi tranquilo — respondo, enquanto me ocupo em trocar Leo. —
Fui almoçar com a minha mãe. Ela mora nos Hamptons.
E não consigo evitar corar feito uma adolescente que acabou de
perder a virgindade. Como se Emma pudesse ler na minha testa que transei
desavergonhadamente com seu segurança.
— Sério? Sua mãe mora nos Hamptons? — Sei porque Emma está
surpresa. Afinal, Hampton é um lugar de gente rica.
— O quinto marido da minha mãe era bem rico. E ela ficou com a
casa no divórcio.
— Sua mãe casou cinco vezes?
Eu rio do seu assombro.
— E aposto que ainda terá a sexta.
— Uau! E seu pai?
Conto a versão editada do meu nascimento que conto a todo mundo
e aproveito para virar as perguntas para ela.
— E sua família? — questiono, pegando Leo limpinho e
arrumadinho no colo. Eu o coloco no carrinho e seguimos de volta à
cozinha, que recende a tempero, fazendo meu estômago roncar.
— Meus pais são divorciados. Minha mãe casou de novo há algum
tempo e meu pai é um solteirão. Ele é policial numa cidadezinha no interior
de Washington.
— Seu pai é policial?
— Sim, e pode imaginar que eu morri de medo de contar que estava
namorando o Liam. E tipo, em dois meses eu estava morando com ele e de
casamento marcado.
— Posso imaginar!
— Mas tirando um assombro inicial, meu pai caiu de amores pelo
Liam.
Faço uma cara de descrença e Emma me fita divertida.
— Por que fez essa cara?
— Nada, é que... É difícil imaginar alguém caindo de amores por
seu marido.
— Eu já percebi que você tem medo do Liam.
Fico vermelha.
— É que quando o senhor Hunter olha pra mim eu tenho a
impressão de que ele quer me bater — confesso.
— O quê? — Emma arregala os olhos.
— Oh, eu não devia ter falado isso. — Relanceio um olhar para
Eric, que parece estar segurando o riso.
Emma senta à minha frente com um olhar inquisidor. Ah, merda.
Merda! Por que disse aquilo? Agora Emma vai ficar brava comigo.
De repente escutamos passos se aproximando e Liam Hunter em
pessoa aparece na cozinha.
— Boa noite — ele diz de forma tranquila.
— Hum, interessante isso... — Emma desvia o olhar para Liam, que
se aproxima dela e beija sua testa. — Acho que devemos perguntar ao
senhor Hunter.
— Perguntar o quê? — Liam franze o olhar e sinto meu estômago
doer.
— Emma, não...
— A Amy acha que você quer bater nela, Liam.
Ah, cacete!
— O quê? — Liam desvia o olhar de Emma para mim e começo a
tremer. Talvez eu mije nas calças.
— Você quer? — Emma insiste.
E Liam volta a atenção para Emma. E parece estar rolando algo
mais ali que não consigo entender. Ou talvez eu já esteja delirando perdida
em meu pavor.
— Você acha que eu quero? — Ele devolve a pergunta a ela. Sua
voz é fria como gelo. Ah, caramba.
— Estou perguntando — Emma insiste. E acho que nunca vi Emma
assim tão séria.
— Não gostei disso. — É a resposta de Liam.
Eu chego a abrir a boca para me desculpar, dizer que não tinha dito
por mal, que eu não pensava realmente que Liam Hunter ia me agredir ou
algo assim.
— Acho que devemos ter uma conversinha, senhora Hunter — Liam
diz, interrompendo meus pensamentos caóticos.
Engulo em seco, esperando a reação de Emma, porque há uma clara
ameaça na voz de Liam.
Espera, a ameaça era para Emma e não para mim?
Eu quase respiro aliviada, mas então me preocupo com Emma.
Eu devo?
— Agora — ele completa e, dando meia volta, sai da cozinha.
E, para meu assombro, Emma o segue sem falar nada.
Que diabos?
— O que foi isso? — balbucio para Eric, que continua a mexer em
suas panelas alheio ao estranho diálogo. — Ai, eu não deveria ter dito nada.
Eu falei sem pensar. Acha que a Emma ficou brava?
— Desencana.
— Mas eu disse que o marido dela queria me agredir e tipo, não quis
dizer isso, só tenho um medo danado do Liam, como se ele fosse... merda,
realmente quebrar meu pescoço!
Eric coloca um prato com algo que parece lasanha na minha frente.
— Acho melhor comer.
— Mas a Emma... — Eu geralmente jantava com a Emma.
Todavia, isso era quando Liam não estava em casa. Emma já tinha
me convidado para jantar com eles, mas eu evitava a todo custo, por
motivos de que se eu comesse com Liam me fitando, provavelmente, teria
uma congestão.
E como Liam geralmente chegava tarde do trabalho, nós
invariavelmente comíamos juntas.
— Acho que deve comer e deixar os patrões resolverem suas...
pendências — ele diz, ainda se divertindo, e resolvo fazer o que sugere,
afinal, a lasanha tem mesmo uma cara boa.
E me pergunto se Ethan vai aparecer.
Depois de jantar, coloco Leo para dormir e ponho minha roupa de
academia para malhar. Ou melhor, fingir que estou malhando para ver se
Ethan aparece. Mas ele não dá as caras.
Tenho vontade de perguntar a Eric qual o apartamento de Ethan, que
é em algum lugar do prédio. E se eu fosse até lá?
Bem, talvez essa não fosse uma boa ideia. Ethan bem podia estar me
evitando de novo depois do que aconteceu no carro no fim de semana. E eu
devia fazer o mesmo. Porém, quando vou dormir, não consigo evitar de
sentir uma dorzinha no peito.

Na manhã seguinte, quando entro no quarto de Leo, Emma já está lá


com ele.
— Bom dia, Amy! — Parece animada, e a estudo com cautela.
Devo tocar no assunto da conversa bizarra de ontem?
Emma não parece nem um pouco preocupada sobre aquilo agora e
talvez eu deva esquecer.
— Bom dia Emma, dormiu bem?
Ela sorri bem animada.
— Muito bem! Eu vou ter que sair hoje e acho que ficarei fora o dia
inteiro de novo. Zoe ainda não escolheu a porcaria do vestido e tenho
certeza de que vai me alugar até acabar com minha paciência!
— Tudo bem, eu e Leo ficaremos bem.
— Ah, eu queria levá-lo comigo, mas ele vai ficar chatinho se
passar muito tempo fora. Prefiro que fique.
— Sem problema, é para isso que estou aqui. — Sorrio, solícita.
— Ah, você é tão legal! Por que Zoe não é assim como você, toda
zen?
— Eu não sou zen.
— Comparando com a Zoe, você é o Dalai Lama! Liam tem razão,
ela é uma duende psicopata. — Eu rio daquela colocação. — Bem, preciso
ir! — Ela beija Leo, passando-o para meu colo.
Então sua blusa sobe e eu vejo marcas arroxeadas em seu pulso.
— O que foi isso?
— O quê?
— Seu pulso. Está roxo, você se machucou?
Ela fica vermelha.
— Ah, acho que bati em algum lugar.
— Emma, tem certeza? — pergunto com cuidado, porque a
desconfiança que se delineia em minha mente me deixa horrorizada, mas
Emma sorri e apenas pega sua bolsa e acena. O movimento faz sua blusa
levantar, e como ela está usando uma calça de cintura baixa, meus olhos
descem para a pele nua de suas costas à vista e há marcas ali também.
— Sim, não lembro onde! — responde de forma distraída, sem
perceber meu olhar de horror, e sai do quarto.
Eu me sento, abraçando Leo.
Mas que porra era aquela agora?
Liam Hunter tinha agredido Emma?
Que filho da puta abusivo do cacete!

Passo o dia remoendo aquele novo fato aterrorizante sobre Liam


Hunter e com vontade de quebrar alguma coisa. De preferência na cabeça
de abusador filho da puta de Liam Hunter.
Como Emma suporta aquilo? Eu não consigo entender. Ela devia dar
o fora dali. Ou melhor, denunciar Liam Hunter à polícia!
E será que Ethan sabe? Ah, eu não posso acreditar. Que sujeira toda
é aquela no reino nos Hunter?

Já anoitece quando Emma volta para casa e ela está com Liam.
Estudo os dois, que parecem relaxados e até mesmo amorosos um com o
outro.
Será que era assim que ele agia? Eu já tinha ouvido falar de homens
abusivos. Eles pareciam dóceis, mas no fundo eram filhos da puta, e muitas
vezes a mulher nem percebia.
— Oi, Amy, como está meu bebê? — Emma se aproxima e tira Leo
do meu colo. Liam apenas segue em frente para o quarto com um aceno
rápido em minha direção.
— Tudo bem... e você? — Lanço-lhe um olhar de pena.
Mas ela sorri de volta.
— Estou cansada, afinal, como eu previ, a Zoe me esgotou, mas
pelo menos os malditos vestidos foram escolhidos! Graças a Deus, ela viaja
em poucos dias para a Irlanda e fica lá até o casamento e eu serei poupada!
— Que bom pra você — Será que Zoe sabe o que Emma passa?
— Vou ficar com Leo agora à noite, então se considere de folga. —
Ela pisca e se afasta para o quarto.
Vou para a cozinha e pergunto a Eric onde é o apartamento de Ethan
e tenho que aguentar ele responder com um sorriso malicioso que decido
ignorar.
O apartamento de Ethan é alguns andares abaixo e rezo para ele
estar em casa quando toco a campainha. Ele abre a porta alguns segundos
depois e, por um momento, eu me permito perder o fôlego com sua visão
incrivelmente máscula. Ele usa apenas uma calça e está descalço.
— Amy Grant. — Saboreia meu nome, enquanto me mede da
cabeça aos pés.
Luto para me lembrar o que eu vim fazer ali, em vez de pular em
cima dele e pedir para me foder de novo até arrancar aquele desejo quase
insano de dentro de mim.
Mas tenho algo mais importante para tratar com Ethan Coen hoje,
então passo por ele e entro sem cerimônia na sala de seu apartamento.
Por um momento, deixo meus olhos curiosos percorrerem o
ambiente muito masculino. A sala, quase tão espaçosa quanto a dos Hunter,
porém menos arrumada.
É claro que um homem mora ali sozinho. Há algumas roupas
espalhadas, uma TV enorme em uma das paredes e, próximo, um aparelho
que deve ser algum videogame de última linha.
— A que devo essa visita inesperada? — Seu risinho safado não
deixa dúvida de que ele acha que estou ali para ser seduzida. Ou seduzi-lo.
Enfim...
Respiro fundo e volto ao foco.
— Você sabe que Liam Hunter bate na Emma?
Ele arregala os olhos, surpreso, e então de repente começa a rir.
Capítulo 19

Amy

— Por que está rindo? Isso é sério! Demais! Não acredito que sabe e
acha engraçado. Ou eu estou louca? Eu acho que não! Quer dizer, tenho
quase certeza de que ele bate nela sim!
— Provavelmente — Ethan responde indo até sua geladeira e
pegando uma cerveja. — Quer uma, Penny?
— O quê? E você confirma com essa calma? Meu Deus!
Quem era aquela gente?
— Calma, Penny. — Ele me passa uma cerveja que eu pego ainda
meio em choque. Tenho vontade de quebrar a garrafa na cabeça dele, se é o
tipo de cara que encoberta aquele comportamento do seu chefe.
— Não posso ter calma! Você está rindo dessa situação horrível!
Pobre Emma! Seu chefe é um abusivo filho da puta!
Ignorando meu ataque, Ethan pega meu braço e me faz sentar ao seu
lado no sofá.
— Acho que já está na hora de saber de uma coisa.
— O que? Que Liam Hunter é um cretino abusador de mulheres? E
que você dá risada disso?
— Penny, Liam não é um abusador e muito menos a Emma uma
vítima inocente — diz ele, como se estivesse falando com uma criança.
Ah, ok!
— Eu vi as marcas roxas na pele dela! E ela ainda veio com aquele
papo de que bateu em algum lugar!
— Penny, não é o que está pensando.
— E é o que então?
— Já ouviu falar de BDSM?
Franzo a testa, sem entender aonde ele quer chegar.
— Quê?
— BDSM. Bondage, disciplina, dominação, submissão, sadismo e
masoquismo.
Arregalo os olhos, ainda confusa.
— O que isso tem a ver... Oh! — De repente começo a entender
aonde ele quer chegar.
— Sim, acho que começa a entender. Liam é um dominador. E
Emma é uma submissa. É o lance entre eles.
— Oh... Não! — exclamo, chocada em cristo.
— Isso aí. — Ethan toma um gole de sua cerveja. E faço o mesmo
com a minha, tomando quase inteira para acalmar meus pensamentos
caóticos.
BDSM? Aquele lance sexual esquisito de sadismo e masoquismo?
Liam Hunter é um dominador?
Caralho!
Por que nunca pensei nisso antes? Faz todo sentido!
Combina muito com ele, ser um cara que gosta de sexo punitivo,
mas... Emma? A doce e angelical Emma?
Puta que Pariu!
— Quer dizer que Liam e a Emma praticam essa coisa de se vestir
de couro e ficar batendo com o chicote?
Ethan ri.
— Não me pergunte detalhes, Penny. Não me intrometo na vida
sexual do Liam e da Emma. Não é da minha conta. Se eles gostam de
brincar de submissa e dominador entre eles, se Emma leva umas palmadas
de vez em quando e parece gostar... É problema deles. Só queria que
entendesse que Liam não é um homem que bate em mulheres. Quer dizer,
ele bate, mas é porque elas gostam disso.
— Isso é uma surpresa. Ou nem tanto.
— Parece chocada. — Ele estuda meu rosto — Nunca ouviu falar
disso?
— Sim, claro! Mas acho que nunca conheci alguém tão próximo e a
Emma é tão...
— Não julgue as pessoas, Penny. Entre quatro paredes, vale tudo.
Bem, ele não deixa de ter razão. Quem sou eu para julgar o que
alguém gosta de fazer na cama? Mesmo achando um lance bizarro demais
gostar de apanhar. Caramba!
— Eu não sei se permitiria algo assim. Alguém me batendo... Nem
pensar.
— Prefere dominar? — Ele levanta a sobrancelha e um arrepio
transpassa minha espinha.
Ele está perguntando sobre minhas preferências sexuais?
Oh.
— Talvez sim? Alguns homens certamente merecem levar uma
sova. — Tomo um gole de cerveja e minha pulsação acelera com a risada de
Ethan muito próxima ao meu ouvido.
— Estou à disposição, Penny.
Eu me viro devagar. E Ethan está sorrindo, daquele jeito safado e
lindo.
Que faz aquele ponto entre minhas pernas umedecer em expectativa,
se contraindo de ansiedade para senti-lo de novo.
— Está dizendo que seria meu brinquedinho, Ethan? Meu escravo
sexual?
Ele se levanta e, ah, ele tem uma ereção bem grande que não faz a
mínima questão de esconder.
Eu começo a hiperventilar quando ele me estende a mão.
E o que eu posso dizer? Deixo que ele me puxe para o quarto.
Meu coração batendo forte no peito em expectativa.
Caralho. Isso está mesmo acontecendo?
— Não sabia que esse era seu lance — comento, e ele sorri para
mim.
— No momento meu lance é você, Penny.
— Ah...
— E vejo esses seus olhinhos pidões brilhando de curiosidade. Todo
o papo sobre a vida sexual do Liam e da Emma mexeu com você.
— Já falei que não quero um cara me batendo.
— Mas quer me bater?
Oh, Deus.
— Talvez amarrar você e tê-lo à minha disposição possa ser bastante
divertido.
Acho que ele vai recuar. Mas, porra, Ethan sorri e desaparece dentro
do seu closet e quando volta me entrega uma algema.
— Você tem uma algema?
— Não sou santo, Penny. Posso não ser um dominador como o Liam
e muito menos um submisso como a Emma, mas gosto de todo tipo de sexo.
Ainda mais se for como uma ruiva deliciosa como você.
— Está falando sério que vai me deixar fazer isso? — Começo a
sentir até tontura. Tenho certeza de que meu rosto está pegando fogo.
Ele sorri lentamente.
— É só mandar, Penny.
Ah, meu Deus.
— Deite-se! — Peço. Ainda sem saber muito bem o que fazer.
Nossa, é como largar uma criança dentro de uma loja de doce e dizer “pode
pegar, é tudo seu”.
Respiro uma longa golfada de ar e esse ato só piora tudo porque
sinto seu cheiro maravilhoso, enquanto ele se deita na cama. Ethan é tão
grande que o colchão é quase pequeno demais para ele.
E, hoje, esse cara enorme (em todos os sentidos) é todo meu. Para
brincar.
Para algemar e fazer o que eu bem entender.
O natal tinha chegado mais cedo esse ano!
Ethan tem um risinho de lado no rosto, que faz uma covinha
aparecer. Mordo os lábios, contendo meu próprio sorriso safado.
Eu me sinto muito, muito safada neste momento.
— Está esperando o que, Penny? — Ele estica a mão, fazendo seu
peito aumentar de tamanho e acho que está esperando que eu o algeme na
cama.
Ai, caramba.
— Não me chame de Penny.
Ele levanta uma sobrancelha.
— E como devo te chamar?
— Deixe-me ver. — Eu me aproximo e seguro seu pulso,
prendendo-o na cama e o encaro enquanto deslizo minhas mãos por seu
braço, adorando sentir seu bíceps tremer. Posso sentir a respiração dele se
acelerando.
Assim como a minha.
Aproximo minha boca da dele. Seu olhar está inquieto e pidão.
Beijo seus lábios de leve e ele empurra a língua para buscar a minha, mas
me afasto.
— Me chame de senhora.
Ele sorri enquanto eu me levanto e ando em volta da cama
apreciando seu corpo.
— Está gostando disso não é, Penny?
— Ei! — Faço cara feia. — Como deveria me chamar?
— Você está gostando disso, senhora?
— Na verdade acho que está vestido demais... — Eu me aproximo
de novo e me ajoelho na cama ao seu lado, levando minha mão ao seu jeans
e abrindo. Ethan prende a respiração, ansioso.
É minha vez de sorrir com presunção.
— Está impaciente... escravo?
— Vai mesmo me chamar de escravo, P... quer dizer, senhora?
Dou de ombros, deslizando o jeans por sua perna. Deixo a cueca
box preta de propósito.
— Não é o que você é?
Termino meu trabalho com a calça e o admiro.
Ethan é realmente uma visão. Quase dois metros de músculos e
força esparramados sobre o colchão. À minha mercê.
Coloco uma perna de cada lado do seu corpo e deslizo a mão por
suas coxas firmes, cheias de pelo escuro até o quadril estreito coberto pela
cueca. Seu pau se ergue ainda mais em expectativa.
— Não acha que está muito vestida? — pergunta com a voz rouca, o
que me deixa mais louca ainda.
Olho para mim mesma por um instante. Estou usando um vestido
curto florido de verão, o que vem bem a calhar.
— Sou eu que dito o ritmo aqui, esqueceu? — E deixo minhas mãos
afoitas correrem pelo peito maravilhoso, sua barriga de tanquinho. Abaixo a
cabeça e beijo os caminhos de pelos que seguem até desaparecer na boxe.
— Está me matando, Penny...
Levanto de um pulo.
— Está me desobedecendo!
Ah, cara, isso é tão divertido!
Ele rola os olhos e solta um palavrão.
— Me desculpe, senhora.
— Assim é melhor... Agora vamos ver... Acho que essa boxe já pode
ir embora.
Estico a mão e retiro a boxe, minha boca ficando seca com a visão
de sua poderosa ereção se erguendo majestosa e exigente.
Minhas partes íntimas se contraem em expectativa, salivando... se é
que me entendem.
— Você é tão lindo... Ah, o que eu poderia fazer com você, Ethan
Coen...
— Eu tenho direito a um pedido, senhora?
— Não sei... você pode tentar!
— Quero te foder.
Eu rio.
— Não tão fácil assim... — Levanto minha saia, devagar,
provocando. — Mas se fizer algum pedido mais razoável posso atender.
— Quero ver seus seios... senhora.
— Ok. Vou ser boazinha. — Abaixo a parte de cima do meu vestido
e tiro meu sutiã. Adoro seu olhar intenso em mim e toco meus seios,
apertando.
— Gosta deles?
— Muito, senhora.
— Quer sentir o gosto deles?
— Não só deles, senhora.
Ah, puta merda!
— Tira a calcinha — ele pede, impaciente.
— Não pode mandar em mim!
Seus olhos estão vidrados em mim e isso me deixa ainda mais
excitada.
— Tire a calcinha! — Sua voz adquire um tom imperioso agora que
confunde minha personagem dominadora. Eu quero fazer o que ele manda,
porque, porra, ele sabe pedir com aquela voz de trovão.
Então, engolindo em seco, eu retiro minha calcinha e me acaricio.
— Cacete — ele sibila.
— Isso é tão pervertido — murmuro. — Parece que eu estou
abusando de você.
— Não estou sendo abusado o suficiente — reclama, e eu rio,
divertida, mas muito, muito ansiosa para atendê-lo.
Subo em cima dele e deslizo devagar, até estar de joelhos pairando
em cima do seu rosto.
— Me beija! — ordeno e desço devagar, estremecendo inteira
quando ele obedece, a boca me encontrando quente, úmida e ansiosa,
depositando um beijo quente de língua e dentes ali.
— Ah — solto um longo gemido, jogando a cabeça para trás,
perdida naquele prazer mundano que é ter Ethan Coen me saboreando.
Eu podia deixar ele ficar ali o dia inteiro, até eu gozar forte muitas
vezes. Mas a brincadeira está apenas começando, então reúno todo meu
controle e me afasto, sentando em seu peito.
— Cansei dessa brincadeira.
— Por favor — ele pede, impaciente.
— O quê?
— Deixa eu foder você.
— O quê? — Estapeio seu rosto. — Fala direito, escravo.
— Senhora — ele corrige.
— Talvez eu me divirta com outras partes deste seu corpinho,
segurança. — Acaricio seu peito, descendo meu corpo.
— Quero que foda meu pau, senhora.
— Talvez eu te vire de costas e foda sua bunda!
— Com o quê? — ele desafia com escárnio.
— Com os meus dedos pra começar. Tenho certeza de que eu
acharia algo interessante depois.
— Onde estaria a graça para você?
— Talvez só goste de ver você sofrer.
— Eu já estou sofrendo. — Ele geme quando toco sua ereção,
deixando meus dedos subirem e descerem devagar.
— Oh, pobrezinho. Tão forte e tão indefeso.
— Você está me matando...
Eu me inclino até que meus mamilos estejam na altura de sua boca.
— Lamba! — ordeno, e ele faz como eu pedi, a língua deslizando
por meu mamilo, rodeando e terminando com um chupão forte e uma
mordida que me faz gemer de dor.
— Ai! Como se atreve?
— Desculpa, senhora.
— Vou soltar você e vai pagar dez flexões por isso!
— Como quiser, senhora.
Eu me inclino e solto a algema, mas, sem aviso, Ethan parte para
cima de mim, me segurando e me girando sobre a cama. E em questão de
segundos, estou de bruços sobre o colchão, com o corpo forte de Ethan me
prendendo lá, com uma mão segurando meus pulsos atrás das costas e outra
em meu cabelo.
— Quem está fodendo por trás agora? — Ele rosna em meu ouvido.
Sinto sua ereção na minha bunda.
Ai, merda.
— Quem é o senhor agora?
Sinto sua mão indo para o meio das minhas pernas e deslizando com
perícia.
Gememos juntos.
— Porra! — Ele solta um grunhido. — Tão molhada. Me dominar te
deixou assim?
— Ver seu pau duro por mim me deixou assim...
Ele me solta por um momento e escuto o barulho de uma gaveta se
abrindo e o inconfundível barulho de um preservativo sendo retirado da
embalagem. Nem me passa pela cabeça fugir.
Ele volta rapidamente, as mãos grandes subindo meus quadris e
então está me fodendo fundo e com força. Não deixo de sentir um certo
alívio por ser no buraco habitual, se é que me entende.
Fecho meus olhos e apenas deixo as sensações incríveis dominarem
meu corpo e meus sentidos, enquanto Ethan estoca de forma quase bruta, os
quadris batendo nos meus sem delicadeza, os dedos puxando meus cabelos
e me fazendo gemer alto e ruidosamente, um prazer quente se enroscando
dentro de mim.
— Porra, vou gozar logo. — Ethan grunhe atrás de mim — Merda!
É o que basta para o meu próprio clímax explodir e gozo forte,
sentindo que Ethan também está perdido em seu próprio gozo, agarrando-
me forte e tensionando dentro de mim.
Caímos na cama, lado a lado, arfando e rindo no minuto seguinte.
Acho que nunca ri tanto na minha vida. E a risada de Ethan é uma
delícia, uma gargalhada ruidosa e rouca que me faz rir mais ainda.
— Ah, temos que fazer isso mais vezes — consigo dizer, enxugando
as lágrimas dos meus olhos, enquanto Ethan retira o preservativo e puxa um
lençol para cima de nossos corpos ainda suados.
— Ethan! — De repente nós dois paramos de rir ao ouvir a voz de
Liam Hunter.
Que merda ele está fazendo aqui?
— É o Liam? — Empalideço no mesmo instante. E seria engraçado
ver a cara de pavor de Ethan se eu mesma não estivesse preocupada no
momento.
— Merda! — Ethan me empurra, fazendo com que eu role no chão.
— Se esconde, ele vai ficar puto se te pegar aqui!
Os passos estão ficando cada vez mais perto da porta e eu não penso
duas vezes em me levantar e correr para o banheiro da suíte, fechando a
porta com um estrondo e me encostando nela.
Rezando para que não seja pega.
Capítulo 20

Ethan

Assim que Amy desaparece dentro do banheiro, tendo o bom senso


de fechar a porta, Liam surge no quarto.
— Que porra, Liam? — reclamo, sabendo que de nada ia adiantar.
Liam Hunter é assim. Ali pode ser minha casa, mas ele tem acesso a
tudo como se fosse o rei em seu reinado. E vou dizer, até hoje eu nunca me
importei. Liam até já tinha me pegado pelado com alguma mulher vez ou
outra, a que ele apenas fazia alguma observação irônica e me deixava
terminar. Pelo menos ele respeitava as minhas fodas e adiava seja lá qual o
assunto para depois que eu terminasse com a mulher em questão.
Mas, desta vez estou realmente puto.
O olhar analítico de Liam passeia pelo quarto por um instante. O
vestido de Amy ainda está jogado pelo chão.
— Está com uma mulher, seu filho da puta?
— O que acha? — Bufo irritado. — Agora dá o fora.
— Cadê ela? Já estava na hora mesmo de transar, estava de muito
mal humor...
— Some daqui! Ela está no banheiro e com certeza ia morrer de
vergonha se a visse.
— Desde quando se preocupa com isso? — Ele dá de ombros. —
Quando vai acabar aqui? Ia te chamar pra jogar.
— Por que não está trepando com sua esposa e me deixando em
paz?
— Porque a Emma apagou. E eu ainda tive que fazer o Leo dormir
porque a babá sumiu. Parece que a Emma deu folga para ela ou algo assim.
— Liam aparentemente não percebe meu olhar nervoso para o banheiro,
como se ele fosse juntar dois mais dois e sacar que era Amy Grant quem
está ali do outro lado da porta.
— Eu não estou disponível hoje.
Liam levanta a sobrancelha.
— Hum, a noite inteira hein?
— Cuida da sua vida, caralho! — Levanto-me, empurrando Liam
para fora e fechando a porta na sua cara, ignorando sua risada.
Ainda espero os passos se afastarem até ouvir a porta da frente
batendo, antes de ir até o banheiro à procura de Amy.
Ela está no chuveiro e um sorriso se forma nos meus lábios antes de
entrar no box e abraçar seu corpo molhado por trás. Adorando pra cacete
quando ela suspira e cola aquela bunda gostosa em meu pau muito disposto
novamente.
— Seu chefe intrometido foi embora? — ela pergunta e eu rio,
mordendo sua orelha. Ela estremece.
— Olha como fala! — ameaço, o que a faz apenas rir.
Gosto disso. Gosto de como ela soa tão irreverente às vezes, como
se não estivesse nem aí para todo aquele nosso estilo de vida ali no reino de
Liam Hunter. Aliás, às vezes parece que ela não está nem aí para Liam
Hunter. É um sopro de ar fresco, não posso negar.
— Por quê? Vai me punir? Achei que eu que mandava aqui...
Subo as mãos para seus seios, apertando ambos e a fazendo gemer
de dor e prazer.
Sim, eu não sou dominador e muito menos submisso, mas sei bem
como utilizar os dois para uma combinação muito interessante. E vou
mostrar isso a Amy Grant. Ela já tinha brincado de senhora, agora eu é que
ia brincar de senhor e escrava.
— Não tem medo? — sussurro em seu ouvido.
— Confesso que tenho medo do seu chefe.
— Isso eu já percebi. Só espero que não tenha o mesmo tipo de
medo que Emma.
De repente me passa pela cabeça que Amy pode ter algum tesão em
Liam e isso me irrita.
Claro que eu convivo com um cem número de mulheres que dariam
tudo para estar na cama de Liam. E muitas delas tinham realmente estado,
antes dele se casar com Emma. E não me importava. Até catei algumas
depois de ele se cansar.
A única que tinha me irritado foi Nicole. Embora, essa Liam tivesse
rejeitado. E certamente por minha causa.
Pensar em Nicole, faz algo escuro sombrear meu peito e solto Amy.
Ela se vira, franzindo os olhos.
— O que foi?
— Devo me preocupar? — insisto, mais duro do que deveria.
Sei que no fundo estou sendo ridículo. Amy não é Nicole.
Mesmo porque o interesse de Nicole em Liam não era sexual e sim
financeiro.
— Se preocupar com o quê? Que eu tenha medo do Liam... Oh... —
De repente ela parece entender. — Ah, foi por isso que Emma ficou brava
quando eu disse que achava que Liam queria me bater!
— Você disse isso a Emma?
— Eu disse, mas foi sem pensar e eu não entendi na hora as
implicações do que estava dizendo! Que se Liam quisesse me bater... deste
jeito que ele costuma fazer com a Emma, seria algo sexual ou qualquer
coisa assim! Por isso Emma ficou brava! E Liam também!
— Liam ouviu?
Ela rola os olhos.
— Foi uma bobagem! Eu disse isso e Emma perguntou a ele, que
ficou todo bravo e os dois tiveram um diálogo maluco que eu não entendi
nada na hora e foram para o quarto. Agora eu sei bem por quê! — Ela ri.
— Então não tem nenhum interesse que Liam faça esse lance de
dominador em você?
Ela me encara agora com um olhar divertido.
— Está com ciúme, segurança?
— Deveria? — Eu a prendo contra o vidro do box, e ela morde os
lábios, com os olhos brilhando de desejo.
— Não tenho nenhum interesse no Leão de Wall Street. A única
coisa que ele incita em mim é um medo do cão e nem é esse tipo de medo
sexual aí que a Emma tem! Credo! — ela estremece e ri. Eu a beijo,
engolindo seu riso.
— De mim, tem medo? — Deslizo a boca por seu pescoço e a mão
para no meio de suas pernas, a encontrando molhada. E não é da água do
chuveiro. — Vai deixar eu ser o senhor agora?
Ela geme alto, ondulando os quadris contra meus dedos.
— Só se eu puder fazer um pedido?
— Posso ser bonzinho. Por enquanto.
Ela abaixa o olhar, como uma menina tímida, que tenho certeza de
que nunca foi, e quando me encara novamente, sei que aceitaria qualquer
coisa que ela pedisse.
— Posso chupar o seu pau... senhor?
Cacete!

***
Amy

Estou com um sorriso bobo no rosto na hora do almoço no dia


seguinte e Eric com um sorriso malicioso quando me serve um suculento
filé com batatas.
— Alguém teve uma boa noite de... sono? — ele cantarola.
A noite passada realmente tinha sido memorável para dizer o
mínimo!
Acho que nunca tinha me divertido tanto na cama com um cara
antes. Ou no chuveiro, relembro com um arrepio, ao me recordar de como
foi bom deixar Ethan virar o jogo e brincar um pouco de dominador
comigo. Obviamente ele foi esperto o suficiente apenas para ser mandão e
se absteve da parte das palmadas, porque sinceramente eu não sei como
reagiria a isso não. Mas pensando bem, se fosse com Ethan... talvez eu
deixasse ele passar um pouco dos limites se fosse acabar com todos aqueles
orgasmos que ele tinha me proporcionado ontem, antes de eu finalmente
voltar para casa de madrugada, tentando não fazer barulho, como se fosse
uma adolescente, depois de Ethan dizer que ele e Liam iriam viajar a
Washington de manhã e só voltariam no dia seguinte. Hum, infelizmente eu
não poderia fugir para o quarto dele hoje...
— Alguém devia cuidar da própria vida?
— Alguém deveria ter bastante cuidado com o chefe, que não vai
gostar nada disso — ele diz, me fazendo estremecer de medo.
— Você não vai contar nada, não é?
— Claro que não. Isso é problema seu e do Ethan. Só estou... dando
uma dica.
— É, eu sei. Obrigada.
— De nada.
— Mil vezes inferno! — Emma entra na cozinha esbaforida.
— O que foi? — Eu e Eric perguntamos ao mesmo tempo.
Ela havia saído cedo para degustar bolo ou algo assim com Zoe.
— Eu esqueci que a Zoe viaja depois de amanhã para a Irlanda.
— Você me disse que ela ia viajar por esses dias e achei até que
estava contando as horas para se livrar dela.
— Sim, mas hoje de manhã ela veio com um papo assustador sobre
uma festa de despedida de solteira! Aparentemente eu estaria organizando
uma festa incrível para ela e tipo, eu nem faço ideia porque teria que fazer
algo assim!
— Oh, deixa ver se entendi: Zoe acha que você vai dar uma festa de
despedida de solteira e você na verdade não organizou nada?
— Sim! E ela disse “espero que seja hoje, porque amanhã eu estarei
toda ocupada”
— E o que disse?
— Eu disse “claro que vai ser hoje” e ela riu e me abraçou dizendo
que eu sou a melhor amiga do mundo.
— Acho que ela vai descobrir quando não tiver festa nenhuma que
você é a pior amiga do mundo — Eric comenta.
Emma começa a chorar e eu abraço.
— Ei, não fica assim, vamos dar um jeito!
— Como?
— Ora, você é rica! Ricos podem tudo!
Ela ri enxugando o rosto.
— Não acho que seja tão fácil assim! Eu precisaria arranjar uma
festa para poucas horas e convidar um monte de gente e ...
— Calma! A gente vai conseguir. — Seguro suas mãos — Vamos
ver: precisamos de um local, por que não aqui no seu apartamento?
— Aqui?
— Sim, esse lugar é incrível e teríamos controle de tudo! Melhor do
que conseguirmos fechar um lugar em poucas horas.
— O Liam ia conseguir isso.
— Liam está viajando e, fala sério, quer pedir para seu marido
organizar uma festa para sua amiga?
— Não, ele não faria isso. Ele já está pagando o casamento, ia
mandar eu me lascar se pedisse algo mais.
— Então, nós vamos conseguir sem ele!
— Falar é fácil.
— Então está decidido. Vamos fazer aqui!
— Eu não sei...
— Liam está viajando e volta amanhã, não é?
— Sim.
— Então está perfeito. Continuando. Precisamos de comida e
bebida. — Encaro Eric. — Acho que o Eric pode conseguir, não?
— Posso dar um jeito.
— Ótimo, uma questão a menos.
— E como vamos convidar as pessoas? — Emma ainda parece
incerta.
— Hum... Zoe tem facebook?
— Sim, ela vive para isso.
— Então vamos entrar no facebook dela e convidar suas amigas lá!
— E eu conheço uma garota do trabalho dela... Rachel.
— Ótimo, ligue para essa Raquel e peça pra trazer todo mundo.
— Acha que vão vir assim, em cima da hora?
— Querida, uma festa open bar na casa do Leão de Wall Street?
Quando a notícia se espalhar vai ter gente se estapeando para receber um
convite! — garanto.

— Graças a Deus a Amanda não pôde vir nessa festa — Eric


pragueja, voltando para cozinha naquela noite e colocando a bandeja cheia
de copos vazios na bancada, antes de enfiar a mão no cós da calça e tirar
várias notas de dólar. Eu o tinha obrigado a ficar sem camisa para servir as
garotas famintas por diversão na sala dos Hunter.
— Amanda passa bem com você, Eric, que peito incrível! — brinco,
e ele ri, enquanto volta a encher as taças de espumante. — Como estão as
coisas na sala? — indago, colocando um camarão na boca. Tinha fugido
para a cozinha depois de verificar se Leo continuava dormindo tranquilo,
alheio à bagunça na sala dos Hunter, lotado de mulheres barulhentas e
bêbadas.
— Elas estão ficando cada vez mais bêbadas e mais atrevidas —
Eric reclama.
— Ou seja, um sucesso! — Que orgulho!
Emma tinha duvidado até o último minuto de que íamos conseguir
organizar a despedida de solteira de Zoe. Mas Eric conseguiu organizar,
sem problemas, a parte de bebidas e comidas, melhor que qualquer buffet
caríssimo da cidade. Como eu previ, as amigas de Zoe tinham corrido em
massa para a cobertura dos Hunter, afinal, não era todo dia que se era
convidado para uma festa no covil do Leão de Wall Street.
E quando Zoe apareceu, fazendo cara de surpresa, em meio a gritos
e lágrimas, Emma respirou aliviada e eu liguei o som muito alto, enquanto
Eric servia espumante caro e canapês chiques para a horda ávida de
mulheres.
— Emma, está tudo incrível! — Zoe abraçara Emma, que piscou
para mim, levando o crédito e me fazendo rir. — Não vejo a hora da
chegada do stripper!
Emma arregalou os olhos para mim e eu fiz uma careta.
Porra, tinha esquecido do stripper!
— O que vamos fazer? — Emma correu para a cozinha atrás de
mim, depois de deixar Zoe se embebedando na sala.
— Eu não sabia que sua amiga ia querer um stripper... — Olhei para
Eric, que já estava sem camisa e ele sacudiu a cabeça negativamente.
— Nem pensar! Não vou rebolar o traseiro na cara daquelas loucas
na sala.
Mas de repente algo me ocorreu e eu peguei o celular.
— Não se preocupe, eu vou dar um jeito. Zoe quer um stripper? Eu
vou conseguir um! — garanti à Emma.
E quando a campainha toca, corro para atender, ansiosa.
As mulheres na sala estão em diferentes níveis de embriaguez, mas
todas ficam alerta.
— É o stripper! — alguém grita, fazendo as outras gritarem atrás,
ouriçadas.
Abro a porta e arregalo os olhos ao ver Tiziano vestindo um
uniforme de policial.
— Caramba, onde conseguiu isso? — Não consigo conter a
gargalhada.
— Querida, Tiziano consegue qualquer coisa. Eu saí com um
policial meses atrás e ele me emprestou o uniforme. Tive que pagar um
boquete, mas não foi sacrifício... — Ele pisca. — Quem é a noiva?
— Aquela morena de cabelos com luzes e vestido dourado. —
Aponto para Zoe, que tem os olhos brilhando de expectativa. Assim como
todas as mulheres na sala.
— Ok, hora do show! — Tiziano entra e eu faço um sinal para Eric
aumentar o som. — Recebi uma reclamação de barulho neste apartamento.
— Tiziano usa sua voz máscula, e posso ver o nível de feromônio
explodindo na sala.
— Me desculpe, senhor policial — entro na brincadeira —, mas
estamos dando uma festa para aquela moça ali. — Aponto para Zoe.
Emma está ao seu lado de olhos arregalados.
— Então já temos uma culpada. — Ele se aproxima de Zoe. —
Acho que terei que revistá-la, senhorita.
— Ai, meu Deus! — Zoe suspira e passa a taça que segura para
Emma, que toma tudo de um gole só.
Tiziano puxa Zoe e começa a passar a mão nela, ao som da música.
A garota ri feito boba, e as amigas, à sua volta, soltam gritinhos a cada
investida mais sacana de Tiziano.
— Acho que tenho que pedir desculpas por isso, senhorita — ele
diz. — Parece que não encontrei nada suspeito. Mas como sou um cara
legal, posso fazer um show pra você e suas amigas.
— Sim! — elas gritam em coro.
— Tira a roupa! — alguém mais atrevida grita e arregalo os olhos
ao ver que foi Emma.
Tiziano coloca Zoe em uma cadeira e começa a dançar, mexendo os
quadris sensualmente e tirando a blusa, mostrando seu peito incrível e o
tanquinho sarado, para a alegria da plateia feminina.
— Onde foi que você encontrou esse cara? — Emma pergunta
quando paro ao lado dela.
— Não conta pra ninguém, mas ele é meu colega de apartamento —
cochicho.
— Sério? Você mora com esse gostoso?
Eu rio.
— Ele é gay.
— Oh. — Ela faz uma careta decepcionada, mas logo se anima de
novo — Bem, se é assim, acho que é até melhor, não é como se eu pudesse
transar com ele ou algo assim — ela diz e eu me pergunto quanto daquelas
taças ela já tomou. — A gente pode aproveitar!
E ela vai para o lado de Zoe, que agora tem suas mãos presas por
Tiziano que faz ela abrir sua calça.
— Cara, isso está muito engraçado — Eric comenta, passando ao
meu lado, e tenho que concordar.
Tiziano tira a calça a joga para a mulherada, que está delirando com
sua sunga pequena de oncinha.
Caralho, que diabos é aquilo?
Agora elas se revezam colocando dinheiro em sua sunga ridícula,
enquanto aproveitam para passar a mão em seu corpo sarado.
— Amy — Emma me abraça —, você é incrível! Estou amando
tudo!
— Eu disse que íamos conseguir!
Ela ri, suada e bebendo mais espumante.
— Acho que nunca fui numa festa assim!
— Não teve uma despedida?
— Eu estava grávida e tinha acabado de sofrer aquele acidente, com
o tornozelo engessado e tudo! — Ela dá de ombros. — Eu saia com a Zoe
quando era solteira, mas depois... Acho que até agora não tinha percebido
como sinto falta de um tipo de diversão assim, beber e apenas me divertir.
Eu sorrio com pena.
— Você é nova demais para estar casada e com um bebê. É normal
se sentir assim. — Não consigo evitar de falar e Emma me encara aturdida.
Merda. Acho que falei demais. — Então agora aproveita para se divertir! —
Eu a puxo para o meio da sala, agora transformada em pista de dança, onde
Tiziano é o rei da noite.
Ele puxa Emma, que não se faz de rogada e ri, enquanto ele a gira.
— Mas que merda é essa?
Paro de dançar e olho para porta onde Liam Hunter está encarando a
bagunça na sua sala com cara de poucos amigos, com Ethan tão surpreso
quanto ele, logo atrás.
Ai, agora lascou.
Capítulo 21

Ethan

Por um momento estou tão estupefato quanto Liam, olhando a horda


feminina dançando e rindo ao som de uma batida alta, enquanto um cara
sarado vestindo tanga de oncinha rebola grudado em ninguém menos que
Emma Hunter.
— Ai, droga! — Amy se aproxima e não posso deixar de apenas
admirá-la por um momento, trajando um minivestido preto. Seu olhar é de
surpresa e medo e, quando volto minha atenção a Liam, começo a ficar com
medo por ela, porque já está claro para mim que, embora a tagarela seja
meio louca, ela não teria como armar aquela boate na sala.
Isso é obra de Amy Grant.
— Emma — Liam grita ao meu lado, indo na direção da esposa e eu
o seguro, ao mesmo tempo em que o cara que está sarrando Emma se vira e
eu reconheço o colega de apartamento gay de Amy, Tiziano.
Emma está rindo e dançado e ainda não viu Liam.
— Calma, cara — sibilo para Liam, que está prestes a cometer um
assassinato.
— Que porra está acontecendo aqui? — ele grita. — E que merda
Emma está fazendo se esfregando naquele cara?
Amy está perto agora, branca feito papel.
— Não deveriam estar aqui — gagueja, olhando de mim para Liam.
Liam agora prende a atenção nela.
— Isso é obra sua? — Seu tom é frio como gelo, porque ele já
percebeu o que eu percebi.
— Liam! — A voz de Emma se faz ouvir por cima do burburinho e
agora ela segura a mão de Tiziano e vem em nossa direção. Tiziano está
rindo e secando Liam, alheio ao perigo que corre.
— Que porra é essa? — questiono a Amy, ainda segurando Liam,
que agora está rosnando.
— É a festa de despedida de solteira de Zoe — Amy explica rápido.
Ah, agora eu entendo.
Emma, muito provavelmente bêbada e sem noção do que está
causando, se joga em cima de Liam, atracando os braços em seu pescoço e
o beijando.
— Você voltou!
— E você está bêbada, caralho! — ele grunhe, e Emma apenas ri.
— Sim, eu estou! E estava dançando, você viu? Já conhece Tiziano?
Ele não é gostoso? Opa, lindo? Quer dizer...
— Emma, melhor calar a boca — Amy sussurra.
— Eu preciso me apresentar, sou Tiziano, uma honra conhecer o
leão de Wall Street, uau! — Tiziano sorri.
— Quem diabos é você e por que estava se esfregando na minha
esposa?
— Ele é amigo de Amy — explico rápido, antes que Liam parta
para cima de Tiziano, que não parece nem um pouco preocupado. Talvez
ele até curta levar uma sova de Liam, pelo olhar de cobiça que lança a ele.
— Querido, ele não estava se esfregando em mim. — Emma ri. —
Quer dizer, eu estava me esfregando nele. — Ela ria mais ainda.
O que faz Liam soltar um grunhido ainda mais alto.
— Emma, porra, pare de piorar a situação! — peço, embora saiba
que ela está além da razão nesse momento. Ela fica ainda mais tagarela
quando está bêbada. Haja vista quando chegamos em sua casa, quando
ainda namorava Liam e ela confessou, tão bêbada quanto agora, que tinha
beijado outro cara, o que fez uma pequena crise se instalar entre eles.
— Ah, não fica com ciúme, querido! Ele é gay. Infelizmente. — Ela
ri alto.
E Liam franze a testa.
— Sim, este é Tiziano. — Amy agora se coloca na frente do amigo.
— Nós moramos juntos, e ele apenas se prontificou em ser nosso stripper
hoje porque estava muito em cima da hora para contratar um e... quer dizer,
claro que eu não ia contratar um stripper de verdade para se esfregar na sua
esposa...
— Amy, já chega. — Eu a impeço de continuar. — Acho que o
Liam já entendeu o que está rolando aqui. É uma festa para Zoe. — Eu olho
para cima e vejo Zoe pulando no sofá com uma garrafa de champanhe na
mão.
— Por que diabos eu não estava sabendo disso? — Liam indaga,
cuspindo fogo.
— Nós aprontamos tudo em cima da hora. — Amy me encara. —
Achei que iam voltar só amanhã.
Ah, agora ela está brava?
— E decidiram fazer uma festa desse nível com meu filho em casa?
Aliás, você não devia estar cuidando dele, Amy Grant?
Caralho.
Amy fica vermelha e começa a gaguejar.
— Leo está dormindo...
— Vem, Liam, vamos dançar! — Emma continua rebolando e
tentando levar Liam para o meio da sala.
— Liam! Você chegou! — Zoe grita agora. — Galera, o leão está
aqui! Levanta a mão quem quer que o leão faça stripper para a gente! — E
toda a mulherada grita eufórica.
Eu teria rido da cara de horror de Liam se a situação não tivesse
passando dos limites.
Vejo Eric vindo pelo corredor com uma bandeja e sem camisa. Ele
arregala os olhos ao nos ver e volta correndo para a cozinha.
Caramba!
O que mais eu vou ver por ali?
— Acho que vou vomitar — Emma diz de repente e Liam a segura,
antes que ela vá ao chão.
— Bem, acho que já chega. — Ele a pega no colo e me lança um
olhar exasperado. — Vou levá-la para o quarto. Cuida dessa bagunça aqui.
— Ele olha para Amy que se encolhe. — E, com você, eu me entendo
amanhã.
— Ai, merda — Amy choraminga.
— Que porra estava pensando, Penny?
— Eu achei que iam voltar amanhã! Zoe queria uma festa e Emma
esqueceu de organizar!
— E você achou uma boa ideia dar uma festa com seu amigo
peladão ali. — Aponto para Tiziano que agora está dançando em cima do
sofá com Zoe. — Aqui na casa do Liam? Enlouqueceu?
— Não era para estarem aqui! Agora Liam vai me demitir...
Eu bufo, olhando em volta.
— Acho melhor começar a dispersar essa galera. Antes que o Liam
volte e decida fazer isso ele mesmo.
— Acha que ele vai me demitir?
— Eu não duvido, hein. Ele não gostou nada de ver Emma no meio
da bagunça e ainda se esfregando naquele seu amigo.
— Ela não estava fazendo nada demais! Caramba, ela estava se
divertindo muito. Liam devia ficar feliz!
— Feliz?
— Ah, quer saber? Você e Liam Hunter são dois escrotos!
Machistas! Estão bravos só porque a gente estava se divertindo, rindo,
bebendo e dançando.
— Hei... — Eu percebo que ela está ficando brava e não sei por quê.
Ela não conhece Liam e não entende que ele é muito possessivo
com Emma?
— Não, não quero discutir! Estou cansada e tem razão, precisamos
acabar agora com essa bagunça. Vou pedir para o Eric desligar a música e
ajudar a pôr essa gente para fora.
— Amy — eu a chamo, mas ela já está indo para cozinha.
Zoe escolhe esse momento para cair do sofá e eu vou em seu
socorro com um suspiro.
****
Eu entro na cozinha na sala dos Hunter na manhã seguinte e
milagrosamente tudo está limpo como se não tivesse rolado uma festa de
arromba no dia anterior.
E me pergunto se Liam já despediu Amy. De verdade, eu estava
preocupado com ela depois de ontem. E esperava que tivesse a chance de
conversar com Liam e tentasse ao menos defendê-la antes que ele a
enxotasse dali. Eu não queria que Amy fosse embora. Tinha certeza de que
ela apenas quis ajudar Emma, e realmente eu e Liam não íamos voltar
naquela noite. Mas desde que se casara, Liam vinha tentando diminuir seu
tempo de viagens para ficar em casa com Emma e Leo. Nem sempre era
possível, mas quando conseguia, ele voltava correndo para Manhattan. E
chegar em casa e encontrar uma boate instalada em sua sala e a esposa
bêbada se esfregando num cara seminu não tinha sido a melhor recepção.
Não seria para nenhum cara, e para alguém como Liam era mil
vezes pior.
Dirijo-me para a cozinha e encontro Emma sentada à bancada com o
rosto pálido, com uma xícara de café nas mãos.
— Bom dia, tagarela, ressaca? — Acho divertido o olhar de fúria
que me lança.
— Cala a boca. E não fala alto perto de mim. Minha cabeça parece
que vai explodir.
— Você estava se divertindo muito ontem...
Ela esboça um sorriso.
— Ah, sim, isso não posso negar.
— Seu marido ficou bem puto quando te viu esfregando esse seu
traseiro gostoso na sunga de oncinha do Tiziano.
Ela geme com uma careta.
— Não me lembre! Por que diabos chegaram mais cedo?
— Liam estava com saudade.
— Ah, merda.
— Sim, uma grande merda, tagarela.
— Eu só queria dar uma festa legal para a Zoe.
— E Amy que deu a ideia?
— Ela apenas quis ajudar e a festa foi um sucesso. A Zoe já me
ligou agradecendo e dizendo que sou a melhor amiga do mundo!
Provavelmente ela não lembra que pediu para Liam fazer stripper pra ela.
— Você lembra disso?
— Liam me lembrou tudo hoje de manhã! E sabe muito bem com
que humor!
— Ele está muito bravo?
— Ele queria demitir Amy para ter uma ideia.
Eu fico alerta.
— Demitir Amy?
— Ah, mas eu não deixei. Mandei-o parar com isso, porque Amy é
minha empregada e não dele.
— E ele concordou?
— Não tem que concordar com nada. Eu mando aqui também. E,
em se tratando de Amy, sou eu quem tomo as decisões. E ela vai é ter um
aumento.
Eu rio, mais aliviado.
— Você é dura na queda, hein tagarela?
— Eu tento. — Ela sorri, mas de repente fica séria. — Você acha
que eu casei muito rápido?
— O quê? — Eu a encaro sem entender de onde tinha surgido
aquele papo.
Ela dá de ombros.
— É algo que fico pensando às vezes... Eu só tenho vinte e três e as
garotas da minha idade, tipo a Amy, estão por aí curtindo a vida, e eu estou
aqui com um bebê.
— Nunca achei que isso fosse problema para você. Achei que era
louca pelo Liam e estava feliz com sua vida.
— Eu sou, mas...
— Por que está pensando nisso agora? De onde surgiu? — indago,
desconfiado.
— Amy me disse algo.
Ah, de repente eu entendo.
— Amy andou colocando caraminholas na sua cabeça.
— Não! Ela só comentou e tipo, é verdade! Eu realmente me casei
rápido.
— Bom dia. — Antes que eu possa dizer algo, Amy surge com Leo
no colo. Ela também está um tanto pálida. E deve ser de ressaca.
Eu a encaro com certa raiva. Porque ela anda colocando besteiras na
cabeça de Emma?
— Meu bebê! — Emma pega Leo no colo e se levanta, se afastando
em seguida.
— Ei! — Amy se serve de café me encarando, ressabiada com meu
olhar frio. — Está bravo ainda por causa de ontem.
— Não. Estou bravo porque anda colocando besteiras na cabeça de
Emma.
— O quê? — Ela me fita, confusa.
— Emma disse que você comentou que ela casou cedo demais.
— Ué, mas é verdade!
— Emma e Liam são felizes. Emma é feliz aqui, por que a está
deixando confusa?
— Ei, como assim? Eu só fiz um comentário! Um comentário
verdadeiro e que provavelmente Emma concorda, se está refletindo sobre o
assunto! É realmente muito nova para estar casada e com um bebê! É
normal ela se sentir presa aqui.
— Emma não se sente presa aqui, que merda é essa?
— Pois eu acho que sim! — Ela para na minha frente, não recuando.
— Você e Liam são dois machistas! Acham que Emma deve se sentir feliz e
agradecida por Liam ter casado com ela! Pelo amor de Deus! Há muito
mais na vida do que isso! Ela deve almejar mais do que viver a vida em
torno de Liam Hunter!
— Você não sabe o que está dizendo...
— Sei, sim! E não é só a Emma que vive assim! Todo mundo vive a
vida do Liam! Como se ele realmente fosse o rei e vocês os súditos! Tudo
tem que correr conforme suas vontades! Não pode negar! Até você! Não
tem uma vida, vive a vida do Liam, correndo atrás dele e fazendo suas
vontades! É assim que quer viver o resto da vida? Talvez a Emma já tenha
acordado para o fato de que ela pode fazer o que quiser, independentemente
do Leão de Wall Street gostar ou não!
— Você está aqui há cinco minutos e acha que sabe muito sobre
todos nós! Talvez devesse deixar Liam te demitir, se odeia tanto o que
temos aqui — digo friamente, irritado com suas opiniões.
— O que está dizendo?
— Emma disse que Liam queria te demitir.
Ela empalidece e eu continuo.
— Mas ela não deixou. Emma gosta muito de você. Mas ela não é
muito boa em julgar caráter.
— O que quer dizer?
— Que talvez não devesse dizer a ela essas merdas que disse a mim.
Porque ela não vai gostar de ouvir, Emma ama o Liam, assim como eu.
Talvez você não entenda e nunca vai entender esse tipo de conexão. Então
não deve ficar aqui.
E eu lhe dou as costas saindo da cozinha, indo esperar Liam no
carro.
Estou puto com Amy Grant.
Quem ela pensa que é?
“Mas ela não tem razão, você não vive mesmo a sombra do Leão de
Wall Street”?
Minha consciência me alerta e eu a rechaço.
Sim, é verdade, mas é a vida que eu escolhi viver. Liam é mais que
meu patrão. É meu amigo. Meu irmão. Ele me tirou de uma vida de merda.
Por que eu ia querer ter uma vida diferente daquela que vivia com ele?
— Que cara é essa? — Liam entra no carro. — Está de ressaca
também, porra? Já basta a cara de merda da Emma.
Eu rio, dando partida enquanto ele liga o rádio.
— Estava só pensando.
Ele me fita, franzindo a testa.
— Não pareciam bons pensamentos.
— Todos nós temos nossas merdas.
— Está com algum problema? — ele insiste, sério.
— Não, claro que não — desconverso. — Emma disse que queria
demitir Amy Grant.
— Eu devia! Mas Emma disse que não sou eu que devo tomar essa
decisão e sim ela.
— Achei que ia insistir. — Não é do feitio de Liam ser contrariado.
— Emma gosta muito de Amy.
— E você está ok com isso?
— O que quer dizer? Não é como se eu proibisse Emma de ser
amiga de quem bem entende!
Eu rio e Liam refaz a colocação.
— Ok, eu fico de olho em Emma, porque você sabe que ela tem um
histórico de se envolver com gente que não vale nada.
Ele está falando da ex-chefe de Emma.
— E, pode não parecer, mas às vezes eu me preocupo de ela se
sentir sozinha.
É minha vez de o fitar com a testa franzida.
Liam é louco por Emma. Tinha sido assim desde que ele pousara os
olhos nela e ele não sossegou enquanto não a trouxe para casa, primeiro lhe
propondo casamento com apenas um mês de relacionamento e depois
aproveitando da gravidez inesperada para adiantar o casamento, mesmo
Emma tendo dito que seria ela a escolher quando iam se casar e até afirmou
que o noivado seria longo, afinal, eles mal se conheciam. Mas mesmo com
tudo tendo rolado rápido demais, eles são felizes pra caralho juntos. Eu não
tenho dúvida de que foram feitos um para o outro. E, Leo, embora tivesse
chegado cedo, apenas viera completar a felicidade dos dois. E eu achei que
Liam estava satisfeito e tranquilo por Emma estar ali, ao seu lado. Não me
passava pela cabeça que ele pudesse ter alguma dúvida de que ela fosse
totalmente feliz com ele.
— O que quer dizer?
— Eu não gostei desse papo dela querer trabalhar — confessa.
— Eu sei, mas achei que tinha concordado. Afinal, não foi por isso
que contrataram uma babá?
— Sim, concordei. Porque mesmo Emma não precisando trabalhar,
entendo que ela pode se sentir sozinha e sem ter algo útil para fazer em
casa.
— Sério? Achei que era feliz com Emma vivendo a sua volta.
Ele ri.
— Isso é o que eu gostaria de imaginar como perfeição. Mas ela é
inteligente e muito jovem. Eu não liguei quando quis deixar a profissão de
jornalista de lado porque sabia que ela não gostava, só estudou isso porque
seu pai insistiu. E teve aquela confusão com Samanta Arden. E depois Leo.
Mas entendo que ela pode querer mais do que ficar em casa criando Leo.
Meu trabalho toma muito tempo e mesmo tentando ficar mais em casa, é
impossível. Então é natural que ela queira fazer alguma coisa com seu
tempo.
— E o que Amy Grant tem a ver com isso?
— Elas se tornaram amigas, dá pra perceber. E parece que Emma
fica mais feliz com Amy por perto. Então talvez o problema não fosse o
trabalho e sim falta de companhia.
— Zoe também é amiga de Emma.
— Zoe é um gnomo interesseiro e fútil. Nem sei como elas
conseguem ser amigas.
Eu rio. Liam nunca foi com a cara de Zoe.
— E mesmo assim está bancando o casamento suntuoso dela.
— Eu faço para deixar Emma feliz.
Sim, Liam é capaz de qualquer coisa para fazer Emma feliz. E agora
ele acha que Amy faz Emma feliz. E por isso está deixando que fique por
perto.
Como será que ele reagirá quando souber que estou fodendo a babá
bem debaixo do seu nariz?
Será que vai se importar?
Eu não sei dizer. Mas por enquanto é melhor que Liam continue
assim, sem saber de nada.

Quando voltamos para casa naquela noite, já passa das nove da noite
e sigo com Liam para sua casa, com a desculpa de que quero dar um alo
para Emma e Leo, mas na verdade quero ver Amy.
A verdade é que a raiva que eu estava sentido de manhã já tinha
arrefecido e agora o tesão tomou conta dos meus pensamentos de novo. E
tudo o que almejo é levar Amy Grant de volta para a minha cama, para mais
algumas horas de sacanagens.
Mas o apartamento está silencioso quando entramos e seguimos para
a cozinha, onde apenas Eric está.
— Ei, Eric, cadê a Emma? — Liam pergunta.
— Ela saiu com Amy.
— A essa hora? Com Leo?
— Não. Leo está aqui. — Ele aponta para o carrinho de Leo, onde o
bebê dorme tranquilo.
— E onde diabo elas foram?
Eric me lança um olhar que eu entendo como “segura essa agora”.
— Elas foram a uma boate.
Ai, cacete.
Agora o bicho vai pegar.
Capítulo 22

Amy

— Uau, devíamos fazer isso sempre! — Emma diz ao meu lado, e


sorrio de seu entusiasmo.
Eu tinha ficado surpresa quando ela disse, naquela tarde, que queria
sair para dançar. Depois da surpresa nada agradável de ontem à noite,
quando Liam chegou e nos flagrou no meio da festa de Zoe, com direito a
Emma bêbada e se esfregando em Tiziano, eu achava que ela ia me passar
algum sermão ou me culpar por toda a confusão. Mas em vez disso ela me
chamou para sair.
— Tem certeza? — Eu franzi a testa, tentando entender de onde
surgira aquela ideia.
— Claro! Eu me diverti tanto ontem! E agora eu percebo que estou
há muito tempo trancada em casa, sem fazer algo realmente louco!
— Louco? — Caramba ela queria mesmo confusão. Tive vontade de
dizer a ela que se queria fazer coisas loucas, não deveria ter engravidado e
casado com um cara como o Leão de Wall Street. Mas me calei. A
discussão com Ethan ainda estava fresca na minha mente. Pensar naquilo
me deixava com o estômago revirado. Eu odiei brigar com Ethan. Mas
deveria saber que ele ficaria puto por eu questionar o estilo de vida que eles
viviam ali, endeusando Liam Hunter.
Mas agora ele estava bravo comigo e eu não gostava nada daquela
situação.
— Sim, dançar, beber, rir, me divertir! — ela disse. — Vou deixar
você escolher a boate, eu não conheço muitas!
Cogitei seriamente me recusar a participar daquela pequena rebelião
de Emma Hunter, mas, poxa, eu gostava de Emma e realmente queria vê-la
feliz. Se ela estava querendo sair um pouco daquela sua rotina de mãe e
esposa de Liam Hunter, eu podia ajudá-la.
Agora eu olho para ela, usando um vestido justo e dourado e
maquiagem pesada nos olhos, que eu mesma fiz, enquanto ela bebe
avidamente seu Cosmopolitan e me pergunto em que tipo de enrascada me
meti dessa vez. Para quem morre de medo do leão e está infiltrada na vida
dele com objetivos escusos, tentando passar despercebida e sair viva, estou
arriscando demais meu pescoço.
Ainda me lembro de Ethan dizendo que Liam queria me demitir e
que Emma tinha vetado. Até tinha agradecido a ela e pedido desculpas por
tê-la colocado naquela situação com o marido.
— Não peça desculpas! Eu amei o que fez.
— Mas o Liam ficou tão bravo que queria me demitir.
— Ele não vai te demitir, eu não vou deixar! — Ela me abraçou e eu
senti um aperto de culpa no peito.
Emma era tão legal e eu estava sendo uma filha da puta.
— Adoro essa música! — ela grita ao meu lado, enquanto se
levanta. — Vamos dançar!
Eu me divirto com seu entusiasmo, mas meu celular vibra naquele
momento.
— Vai indo, tenho uma mensagem.
Ela se afasta, sumindo no meio da horda de corpos em movimento e
eu gelo ao ver a mensagem no meu celular.
“Liam está indo buscar Emma”, E.
Caralho. Cacete. Merda. Todos os palavrões possíveis e
imagináveis!
Agora sim estou lascada.
Levanto e vou para a pista encontrar Emma, mas começo a me
desesperar ao não a encontrar em lugar nenhum.
Volto para mesa e percebo que o celular dela está tocando dentro da
bolsa Gucci que ela largou ali. Puta merda, certeza que deve ser Liam.
E, justamente quando estou cogitando atender e ao menos tentar
acalmá-lo, vejo Ethan vindo em minha direção com cara de poucos amigos
e Liam logo atrás não com uma expressão melhor.
Será que dá tempo de levantar e correr até o Canadá?
— Oi. — Sorrio em vez disso, como se encontrasse velhos amigos
na balada. — Vocês por aqui!
— Onde diabos está minha mulher? — Liam passa à frente de Ethan
e engulo em seco.
— Liam, calma aí. — Ethan toca seu peito.
— Ela está dançando — respondo rápido.
Liam olha em volta, como que farejando.
— Cara, relaxa. — Ethan tenta de novo. — Emma é bem grandinha,
ela deve apenas estar se divertido.
— Você conhece a Emma e sabe muito bem que ela não é muito
coerente quando inventa de se divertir. — Liam rosna e me pergunto que
porra Emma andou aprontando no passado para deixar Liam desconfiado
daquele jeito. Ou ele é só um cara possessivo demais mesmo?
— Senta aí, e toma um drink, eu vou encontrá-la — Ethan continua,
mas Liam já está andando para o meio da pista.
— Não, eu mesmo vou encontrá-la.
Ethan bufa e volta a atenção para mim. Eu me encolho quando ele
senta ao meu lado com o olhar fuzilando em minha direção.
— Que merda pensa que está fazendo?
— Eu?
— Sim, você. Emma não teria ideia de vir aqui sozinha. Sei muito
bem que anda colocando ideias na cabeça dela e...
— Eu, ei... pare aí! — Levanto a mão me defendendo. — Foi Emma
quem me chamou para sair e não o contrário! Ela disse que queria dançar e
se divertir. Que percebeu ontem que sente falta disso. Então, como te disse
hoje de manhã, ela pode não estar tão feliz assim em ser a esposinha feliz
do Leão do Wall Street!
Ethan solta um palavrão e parece irritado e frustrado. Toco seu
braço, tentando acalmá-lo.
— Eu não quero causar confusão entre a Emma e o Liam.
— Mas é só o que vem acontecendo depois que você surgiu. — Ele
me encara com frieza e empalideço, como se Ethan pudesse descobrir
minhas reais intenções.
Eu não tenho a menor intenção de causar qualquer problema entre
Emma e Liam. Claro que tenho minha opinião sobre o tipo de
relacionamento que eles vivem. Realmente tenho minhas dúvidas se é
saudável. Liam é um cara muito intenso e possessivo e Emma, uma garota
doce e muito nova ainda. Sem contar aquele lance todo do BDSM que eu
não entendo muito bem. Mas no final das contas, quem sou eu para
questionar como as pessoas decidem viver?
Eu só acho que Emma tem o direito de questionar e se rebelar contra
algo que lhe fora imposto e não escolhido. É óbvio que ela é louca por Liam
e, justamente por causa disso, mudou toda sua vida para estar do lado dele.
Mas ela ainda é uma mulher e tem direito a sua individualidade. De viver
seus sonhos, de poder sair e se divertir quando quer, sem que o marido
enfurecido vá buscá-la e levá-la à força para casa.
Se Ethan não entende isso, começo a achar que ele não é um cara
para mim.
Opa, o que diabos estou pensando?
Desde quando penso em Ethan naqueles termos? Em alguém que eu
quero para mim?
Engulo em seco, esvaziando o resto da minha taça com o coração
afundando no peito. Ethan não é para mim. Ou melhor. Eu não sou para ele.
Inferno, ele nem sabe de verdade quem eu sou. E vai me odiar
quando descobrir.
Assim como Emma, penso, quando a vejo se aproximar com o braço
de Liam a sua volta. Eu os encaro, preocupada. O que será que aconteceu?
Liam ainda parece bravo, mas pelo menos Emma está sorrindo.
Será que já está tão bêbada que nem percebeu toda a tensão à sua
volta?
— Ei, Ethan, você também está aqui! — Ela se joga no sofá do meu
lado. Liam continua em pé.
— Emma, eu disse que íamos embora.
— E eu disse que íamos ficar — rebate com um sorriso no rosto,
mas percebo uma determinação diferente em sua voz.
Wow. Ela não está bêbada não. Emma sabe muito bem o que está
fazendo!
Eu olho a cena à minha frente, como se fosse uma novela mexicana,
muito interessada no desenrolar da trama.
Ethan está alerta e Liam solta um palavrão.
— Emma — ele sibila.
— Eu preciso de uma bebida! — Ela faz sinal para o garçom que
está passando. — Alejandro, mais um Cosmo pra mim!
— Emma, não vai mais beber — Liam diz agora, e percebo um tom
de preocupação em sua voz exasperada.
— Vou sim! Vou beber até cair se quiser — ela desafia. — Estou me
divertindo, Liam. Hoje é a noite das garotas! — Ela olha para mim e tenho
vontade de dizer “não me coloca em mais confusão não”. — Aliás, se
acostume que acho que vou estabelecer um dia todo mês para isso!
Caramba, ela está cutucando o Leão com vara curta.
— Então, acho melhor você e o Ethan darem o fora! — continua. —
Nós sabemos nos cuidar.
— Você lembra muito bem o que acontecia quando decidia sair e
beber em suas noites de garota.
Emma arregala os olhos e agora vejo que ela também está
enfurecida
— Não acredito que está jogando isso na minha cara! Sério, Liam?
— Seu tom é furioso e magoado ao mesmo tempo. — Acha mesmo que é
para isso que estou aqui, vá se foder! — Ela se levanta, eu me movo para
fazer o mesmo, mas Ethan me segura, ao mesmo tempo que vejo Liam
fazendo o mesmo com o braço de Emma.
— Não se intrometa! — Ethan sussurra ao meu lado.
— Me desculpa. — Escuto Liam dizendo e fico muito surpresa. Não
esperava que ele fosse recuar assim com aquela voz arrependida. Vejo que
os olhos de Emma estão brilhando de lágrimas.
Caramba, que diabos tinha acontecido?
— Está sendo irracional! Quando a única coisa que eu quero é uma
noite para me divertir e você não parece se importar com o que eu quero!
— Não é verdade! Não achei que queria isso, que sentia falta deste
tipo de coisa... Não sabia que estava infeliz por ser minha esposa e mãe do
Leo. Achei que estava feliz.
— Eu sou feliz, só... Às vezes me sinto entediada! Gosto de ser mãe,
mas não acho que é um pecado tão grande querer apenas ser eu mesma de
vez em quando, até com um pouco de inconsequência.
— Não sabia que se sentia assim! — Liam parece frustrado.
— Eu devia ter dito — ela sussurra.
— Bem, acho que aqui não é o lugar para DR. — Ethan se intromete
finalmente, levantando-se e me levando junto. — Que tal irmos embora?
— Emma não quer ir — Liam diz, nos surpreendendo — E se minha
esposa quer se divertir, eu posso me divertir também. Se ela não se importar
de trocar a noite de garotas por uma noite comigo.
Emma sorri, colando nele.
— Eu até prefiro — sussurra e o beija.
Ethan olha para mim.
— Acho que fomos dispensados?
— Sim, eu assumo por aqui — Liam leva Emma para a mesa e me
encara. — Acho que a babá devia estar trabalhando também.
Ai, merda. Coro de vergonha.
— É, eu...
— Não seja chato, Liam! Eu que convidei a Amy! Mas tudo bem,
ela pode ir. Não se importa, Amy?
— Claro que não! Divirtam-se!
Ethan também se despede e nós seguimos para fora da boate.
Ele está silencioso quando entramos no carro e é fácil perceber que
ainda está bravo comigo.
— Não vai falar nada? — arrisco perguntar.
— O que quer que eu diga?
— Está puto comigo. Acha que a culpa é minha por ter trazido a
Emma.
— E não é?
— Você ouviu a Emma! Eu tinha razão afinal!
— O que sei é que, até você chegar, nada disso a perturbava.
É a minha vez de bufar, irritada.
— Sério, que está colocando a culpa dos problemas conjugais da
Emma e do Liam em mim?
— Não disse isso!
— Acho que a verdade é que está bravo porque eu questionei esse
culto ao Liam Hunter do qual você faz parte!
Ele para o carro no estacionamento subterrâneo com um tranco,
jogando-me para a frente.
— Por que está tão pronta a criticar o que não entende?
— Eu não entendo mesmo! Olhe pra você, vive a vida do Liam,
preocupando-se com os problemas conjugais do Liam como se fossem seus!
E adivinha? Não é problema seu!
— Nem seu!
— Eu sei! Mas só estou aqui de passagem, sou apenas uma babá,
este é apenas um emprego. E você? Ser a sombra do Leão de Wall Street é
tudo o que quer da vida?
— E se for?
— Eu acharia muito triste! — respondo por fim.
Estou percebendo agora que os laços que unem Ethan a Liam são
mais profundos e estranhos do que eu imaginava.
E ele tem razão, talvez eu devesse ficar de fora e não me intrometer.
O problema é que há algo em toda aquela devoção de Ethan a Liam
Hunter que me incomoda. E não é só porque eu tenho medo do que ele vai
pensar quando descobrir minhas reais intenções, percebo agora. Tem algo a
ver com o fato de eu desejar Ethan para mim.
Mas ele não é meu e nunca será.
Ele pertence ao Leão de Wall Street.
— Como disse, você está aqui só de passagem — ele responde por
fim e entendo, com uma pontada no peito e uma inesperada vontade de
chorar.
— Sim, tem razão. — Saio do carro e ele me segue pelo elevador.
Noto que ele aperta o botão do seu andar. Faço o mesmo, apertando para ir
para a cobertura. Não falamos nada no rápido trajeto.
E quando ele sai sem olhar para trás, percebo que uma lágrima
solitária está rolando por meu rosto.
Mas que grande merda!

Quando entro no quarto de Leo na manhã seguinte, surpreendo-me


ao ver Liam Hunter ali. Ele está trocando o bebê com suas mãos
inesperadamente hábeis.
— Bom dia, não é tarde para a babá acordar? — resmunga sem me
encarar e engulo o medo me aproximando.
— Ainda são seis da manhã... senhor — murmuro, e ele relanceia o
olhar dourado para mim.
— Seu horário tem que seguir o horário do bebê.
— Eu sei disso.
— Então por que ele chorou e você não ouviu?
— Ele não chorou... — balbucio, perguntando-me se a babá
eletrônica tinha pifado. — Eu teria ouvido a babá eletrônica.
— Talvez ele não tenha chorado, mas podia ter. — Liam pega o
bebê no colo.
Ah, que merda, ele estava me testando!
— Saiba que não estou nada feliz com o que aconteceu ontem. E
nem na tal festa de despedida de Zoe.
— Eu imagino. Mas só quis ajudar.
— Eu pago para que ajude com o bebê e não para organizar festas
com homens pelados e levar minha esposa para boates.
Ai, caralho!
— Apenas segui as ordens da Emma. — Tento esclarecer.
— Sim, ela me disse. Mas Emma é um tanto inconsequente às
vezes.
— Devia confiar mais nela. — Mordo a língua assim que as
palavras saem da minha boca. Liam Hunter franze os olhos.
Porra, que merda estou fazendo provocando Liam Hunter?
— Está questionando o jeito como trato minha esposa, senhorita
Grant?
— Ah, eu... quer dizer... claro que não, mas... bem, se quer saber...
eu só acho que Emma é adulta e tem direito a... enfim. Acho que
conversaram sobre isso ontem, não preciso repetir — consigo termina meu
gaguejo.
— Emma te disse algo? Ela por acaso anda reclamando com você?
Acha que ela não está feliz aqui? — De repente ele parece um tanto curioso
e até mesmo inseguro?
Sério?
Eu devia recuar, colocar um sorriso plácido no rosto e dizer um
“claro que não”. Mas reúno toda minha coragem para dizer exatamente o
que penso. Quer dizer, pelo menos uma parte, ainda quero manter aquele
emprego e todos os dentes na minha boca.
— Eu acho que ela é feliz. Emma é louca por você, disso não há
dúvida e é totalmente devotada ao Leo, mas... Ela também é jovem e o
relacionamento de vocês evoluiu muito rápido. É normal ela se sentir um
tanto perdida, ou até mesmo se perguntar se quer apenas ser esposa e mãe.
Ela pode sentir necessidade de mais. E isso é muito normal. Como marido
dela deveria apoiá-la.
Ai. Será que falei demais? Liam Hunter me encara num silêncio só
quebrado pelo balbuciar de Leo, que agita os bracinhos em minha direção.
— E você descobriu tudo isso estando aqui há poucas semanas? —
Ele está sendo irônico? Não consigo dizer. Liam Hunter deveria jogar
pôquer.
— Às vezes a visão de alguém de fora é muito mais clara de quem
está dentro — respondo, dando de ombros e pegando Leo do seu colo. —
Vou alimentá-lo.
Saio do quarto, deixando Liam Hunter para trás e me perguntando se
ainda teria um emprego por muito tempo.
Mas me sinto bem por ter dito o que penso. Acho que devia isso à
Emma.

Quando chego à cozinha vazia, ocupo-me em preparar a mamadeira


de Leo, e algum tempo depois Emma surge com Liam.
— Bom dia, Amy. — Emma sorri animada e isso me deixa um tanto
mais tranquila. — E como está meu bebê? — Ela pega Leo e o abraça.
— Muito bem. — Eu relanceio o olhar para Liam, que apenas digita
algo, distraído, no celular.
— Eu e Liam vamos fazer uma pequena viagem no fim de semana,
você se importa de ficar com Leo?
Eu engulo minha surpresa.
— Claro que não. É para isso que estou aqui.
— Eric está de folga o fim de semana, mas Ethan está em casa se
precisar de algo.
— Ele não vai levar vocês? — pergunto, surpresa. Ethan é
praticamente o terceiro elemento na relação de Emma e Liam.
— Ele apenas vai nos levar ao aeroporto. Seremos só eu e Liam
desta vez.
— Onde vão?
— Liam diz que é surpresa e ele sabe que eu odeio surpresas! — ela
rola os olhos.
— Você vai gostar desta, baby. — Ele se aproxima, pegando Leo e
beijando seu cabelo de forma carinhosa. E eu ainda me surpreendo às vezes
com como ele pode ser carinhoso com o filho.
Quase me faz acreditar que o Leão de Wall Street tem um coração.
Ele coloca o bebê no carrinho e puxa Emma, que está meio chorosa
por deixar Leo.
— Vamos, Emma, Amy nos ligará se precisar de algo. — Ele me
lança um olhar ameaçador que diz claramente “é melhor que mantenha meu
filho seguro se quiser permanecer viva”.
— Claro que sim. Divirtam-se.
Eles finalmente partem e eu solto um suspiro.
Hum, estaria o fim de semana inteiro sozinha com Leo.
Mas Ethan estaria por ali também. Será que ele falaria comigo? Ou
iria me ignorar?
Eu me pergunto se o que tínhamos acabou de vez. Certo, eu sabia
que não ia durar, como poderia? Mas não esperava que acabasse assim tão
rápido.
De repente não quero que Ethan continue com raiva de mim. Não
ainda.
Mas o que eu posso fazer?
Capítulo 23

Ethan

— Está tudo bem? — pergunto a Liam no aeroporto naquela manhã,


enquanto Emma está afastada ao telefone, falando com Amy. Ao que parece
ela não está segura de deixar Leo para viajar sozinha com Liam pela
primeira vez.
— Ainda estou me fazendo a mesma pergunta — Liam responde um
tanto incerto.
Eu havia acordado hoje de manhã com uma mensagem de Liam
dizendo que ele e Emma iam viajar no fim de semana, sozinhos, sem Leo e
que eu não deveria ir junto.
Era algo estranho, já que onde Liam estava, eu também estava junto.
— Que diabos é essa viagem?
— Fiquei pensando no que vem rolando. Dela insistir em ter uma
babá, sendo que antes abominava o assunto.
— Ela disse que queria trabalhar.
— Essa é outra questão. Eu já te disse o que penso, mas acabei
concordando. No fundo achei que fosse desistir, e acho que tinha razão
porque até agora ela não tocou mais no assunto. Mas fiquei preocupado
com essa súbita vontade de sair e... curtir sozinha por aí.
— Ela não estava sozinha, estava com Amy Grant.
— Óbvio que eu estava culpando a babá hipster também. Achei que
ela estava enfiando merdas na cabeça de Emma. E ainda não estou muito
certo se confio naquela garota.
— O que quer dizer?
Eu levanto a sobrancelha ao ouvir que Liam não confia em Amy.
— Apenas que tem algo nela que não me inspira confiança total.
Acho que o fato dela quase mijar de medo quando me aproximo.
Eu solto uma risada.
— Um monte de gente tem medo de você.
— Mas ela tem mais. Como se estivesse escondendo algo.
— O que diabos Amy Grant pode esconder? Ela foi babá dos
Colombo por anos. A própria Ariana a indicou.
— Talvez seja apenas uma cisma.
— Acha que ela está influenciando a Emma e talvez não vá com a
cara dela por isso.
— Cheguei a pensar, mas... Acho que ela tem razão.
— Como assim?
— Não dormi essa noite, pensando nas confissões de Emma ontem.
Eu fiquei realmente preocupado dela estar infeliz.
— Emma não é infeliz! Amy te disse isso?
— Não, mas ela abriu meus olhos para o fato de que talvez eu esteja
um pouco cego para a realidade de Emma. Ela é jovem e pode querer mais
do que ser apenas esposa e mãe.
— Amy te disse isso? — Caralho, ela era louca? — Quando?
— Tivemos uma espécie de conversa hoje de manhã no quarto de
Leo.
— Sério?
— Bem, talvez eu a tenha repreendido um pouco e depois acabei a
coagindo a dizer o que pensava.
— E não ficou puto?
— Ela apenas disse algo que eu já estava desconfiando.
— E o que significa?
— Significa que a felicidade de Emma é coisa mais importante pra
mim e eu não quero que ela acorde um dia a perceba que perdeu seu tempo
comigo, que se arrependa de algo.
— Não consigo imaginar a Emma se arrependendo de ficar com
você.
Ele sorri.
— Eu não vou deixar que aconteça. Por isso estou tomando algumas
precauções.
Lá está, o Leão em sua arrogância.
— É isso que essa viagem significa?
— Para começar. Acho que precisamos nos afastar e ficarmos
juntos, sozinhos. Eu sei que às vezes trabalho demais e que Emma pode
estar cansada também com Leo.
— E onde estão indo?
— Para Las Vegas.
— Acha que Las Vegas é o lugar para ter uma DR?
Ele ri.
— Acho que posso matar dois coelhos com uma cajadada só e lhe
proporcionar alguma diversão mundana também. Se ela quer se embebedar
e fazer loucuras, que seja comigo.
— Claro, assim você pode controlar todos os passos da loucura dela.
— Não disse que ia mudar meu modus operandi, irmão.
— Liam sendo Liam — ironizo.
— Apenas cuido do que é meu.
— E qual o próximo passo?
— Vamos ver. Talvez ela queira mesmo trabalhar.
— Vai deixá-la escolher?
— Que alternativa tenho? Embora este seja meu sonho, eu não
posso controlar todas as suas vontades. E se deixar ela ter uma carreira, ou
dar alguns passos sozinha para deixá-la feliz, que assim seja. Eu aguento
qualquer coisa se ela ficar para sempre comigo. Ela é minha vida agora.
Ele prende o olhar em Emma, que percebe e sorri de volta, com a
mesma devoção e, de repente, eu sinto uma certa inveja, quando Liam se
levanta e vai em sua direção, como se uma linha invisível os unisse.
Eles seguem para a área de embarque, onde o avião particular de
Liam os espera. E eu me sinto estranho sendo deixado para trás.
O que eu faço agora que não preciso seguir Liam?
De repente as palavras de Amy voltam à minha mente.
Era assim que eu quero viver pelo resto da vida?
A resposta vem rápido: sim.
Mas será que Liam pensa do mesmo jeito? Ele precisa mesmo de
mim da mesma maneira que antes, quando não havia Emma?
Ele e Emma são uma família agora. Eu posso dizer que também faço
parte daquela família, mas sei que não é a mesma coisa.
No final, não tenho minha própria família. E nunca vou ter?
Observo o casal seguindo pela pista, abraçados. E de novo sinto um
vazio por dentro. Eu nunca parei para pensar que poderia querer algo assim,
o mesmo relacionamento que Emma e Liam tinham. Achava que não era
para mim. Que eu era feliz apenas seguindo os dois. Porém, agora, sinto que
talvez Amy tenha razão.
Talvez eu almeje mais.
Talvez ter alguém a quem amar, não apenas foder e mandar embora,
seja algo que eu possa querer.
Volto para casa, sentindo-me estranho comigo mesmo e com meus
novos pensamentos. Abro a porta do meu apartamento e hesito. Sinto
vontade de ir ver Amy. Percebo que não estou mais com raiva dela. E queria
lhe dizer isso.
Mas, ao mesmo tempo, me pergunto se ela quer o mesmo.
De repente sou surpreendido ao sentir um cheiro diferente no ar.
Que diabos? Caminho até a varanda, seguindo o inconfundível cheiro de
churrasco, e arregalo os olhos surpreso ao ver Amy Grant com Leo em um
braço enquanto vira a carne na grelha com outro.
— Que porra é essa?
Ela se vira ao ouvir minha voz.
Caramba, ela está linda. O cabelo vermelho preso numa trança, o
rosto limpo cheio de sardas e sorrindo pra mim.
— Oi.
— O que está fazendo aqui? — Eu queria estar bravo pela invasão,
mas, porra, quem poderia reclamar de uma gostosa usando um minivestido
branco e fazendo churrasco?
— Acho que essa é minha tentativa de pedir desculpas. — Ela pega
uma cerveja e joga pra mim. — Perdoada?
Puta merda, de onde saiu aquela mulher?
— Como adivinhou minhas coisas preferidas? — Abro a cerveja e
tomo um longo gole.
— São as minhas também. — Ela pisca, sacudindo Leo, que
resmunga.
Eu fico olhando aquela cena tão doméstica. Amy Grant fazendo
comida para mim, segurando um bebê e, por um momento, fantasio que é
algo permanente. Que aquela garota ruiva atrevida pertence a mim e que
aquele bebê em seu colo até poderia ser nosso.
E aquela fantasia parece tão certa que sinto como se todo o mundo
mudasse de repente, num piscar de olhos.
Eu poderia transformar a fantasia em realidade? Ousar querer uma
vida diferente daquela que vivia até agora, sendo o segurança do Leão de
Wall Street?
Uma vida só minha, com uma garota ao meu lado e até, quem sabe,
alguns bebês?
Caralho, eu quero!
Amy

— O que foi? — pergunto, insegura, enquanto Ethan fica olhando


para mim de forma esquisita.
Será que eu exagerei?
Desde que Emma e Liam partiram eu só pensava em descer até a
casa de Ethan e pedir desculpas. Retomar aquele flerte descompromissado e
sacana que tínhamos. Ver ele olhando de novo para mim com desejo em vez
de raiva.
E então me veio a ideia de fazer algo para ele. Para pedir desculpas.
E o que um cara como Ethan poderia querer? Minha mãe dizia que homem
a gente prende com sexo e comida. Então optei pela desculpa mais
inocente. O sexo podia vir depois, claro. Eu estava ansiosa para chegar
nesta parte, na verdade.
— Você é realmente uma visão, Amy Grant — sussurra.
Com desejo.
E algo mais que me deixa arrepiada e faz meu coração disparar no
peito.
Fico vermelha como uma colegial virgem.
— Então, perdoada? — insisto. Ele se aproxima e, segurando minha
nuca, deposita um beijo quente na minha boca.
Caramba. Ele sabe beijar!
Quando seus lábios descolam dos meus, estou com as pernas
bambas, a carne está queimando na grelha e Leo Hunter está esperneando
no meu colo.
— Acho que precisa de ajuda! — Ele retira Leo dos meus braços e
consigo salvar nosso almoço. Levando a carne para a mesa na enorme
varanda.
— Ei, amigo, está reclamando porque beijei sua garota? — Ele
brinca com Leo que vai parando de chorar, encarando-o com os olhinhos
iguais ao de Liam Hunter.
— Acho melhor a gente comer. — Estendo a mão para pegar Leo e
colocá-lo no carrinho.
— Não, deixa ele aqui — Ethan diz, segurando Leo com uma mão e
comendo com a outra.
— Você sabe fazer isso. — Fico admirada.
— Eu e Leo já nos entendemos há algum tempo.
— Estou vendo.
O menino parece mesmo bem à vontade no colo de Ethan.
— Sabe onde Emma e Liam foram?
— Para Las Vegas.
— Sério? Uau! Estranhei um pouco essa viagem repentina.
— Fiquei sabendo que andou conversando com Liam — ele diz,
estudando minha reação.
Eu bebo um longo gole de cerveja.
— Ele está bravo comigo? Eu só quis ser sincera.
— Sei que acha que Liam é um cretino ou algo assim...
— Não acho isso...
Ethan ri, sabendo que estou mentindo.
— Tudo bem, a maioria das pessoas pensam. Não espero que
entenda todas as nuances do Liam de uma hora para outra. Mas ele é louco
pela Emma. E ficou realmente inseguro com a possibilidade de ela não estar
feliz com ele.
— Eu disse a ele que Emma era feliz, só... talvez precise mais de
espaço, de fazer suas próprias coisas.
— Sim, acho que ele está começando a entender isso.
— Ele é possessivo demais.
— É o jeito do Liam. Ele perdeu os pais muito novo, nunca se
permitiu amar ninguém de verdade até a Emma.
— Ele amou você.
— É diferente, somos feitos do mesmo barro.
— Dois garotos perdidos — murmuro.
Ele sorri.
— Liam só não quer perdê-la.
— A deixar ter suas próprias escolhas e experiências não é perder.
— É difícil para Liam entender isso, ele é muito protetor com
Emma, ainda mais depois de tudo o que sofreram na gravidez do Leo.
— O que aconteceu?
— Emma teve um problema sério. Escondeu do Liam que, para
manter a gravidez, podia morrer. Liam ficou puto quando descobriu, ela já
estava de seis meses.
— Nossa.
— Foi um pequeno filme de terror. Liam ficou perdido. E apavorado
de perdê-la.
— Mas tudo deu certo — murmuro, sentindo pena de Emma e até
de Liam.
— Sim, porém Emma não pode mais ter outro bebê.
— Pelo menos ela tem essa coisinha fofa. — Eu aperto as bochechas
de Leo que sorri, banguela.
— Sim, ele é o pequeno milagre de Emma e Liam.
— E Liam levou Emma para Las Vegas para terem uma DR?
Ethan ri.
— Esse é o Liam.
Leo começa a fechar os olhinhos de sono.
— Acho que ele precisa dormir.
Eu o tiro do colo de Ethan e o levo para dentro. Leo dorme
rapidamente e eu o coloco no carrinho. Quando saio do quarto, encontro
Ethan sentado no sofá tomando cerveja. Ele estende a mão para mim.
— Vem aqui, Penny.
Seguro sua mão e ele me puxa para seu lado, passando o braço a
minha volta e me mantendo perto, os olhos fixos em um jogo de futebol na
TV.
E percebo que estou apreciando demais este gesto tão simples.
Apenas ficar ali, sentada ao seu lado, enquanto ele assiste um jogo qualquer
na TV, usa uma mão para acariciar meu braço de leve, a boca de vez em
quando beija meu ombro.
Eu poderia ficar para sempre ali. Com os braços de Ethan me
prendendo perto.
E isso me assusta pra caramba. Porque eu sei que minhas horas ali
estão contadas. Ele pode estar feliz comigo agora, mas quando descobrir o
que estou fazendo, vai me odiar.
E isso faz meu coração doer de um jeito que nunca doeu antes.

— Ei, Penny. — Escuto a voz de Ethan em algum lugar e abro os


olhos. E me dou conta de que estou deitada no sofá e uma manta cobre meu
corpo. A luz do dia já se foi e um cheiro de molho de tomate e especiarias
flutua pelo ambiente.
Levanto meio desorientada e encontro Ethan na cozinha. Ele sorri
para mim, usando um avental branco enquanto tira algo que parece
macarrão do fogo.
— Achei que estava desmaiada.
— Eu dormi demais? — Faço uma careta.
— A tarde inteira.
— Leo!
— Calma, ele está aqui.
Só então eu vejo que o bebê está no carrinho ao lado de Ethan.
— Você o alimentou?
— Claro que sim, Penny!
— O que está fazendo?
— Pasta.
— Precisa de ajuda?
— Você fez o almoço, eu faço o jantar. — Pisca e o acho muito
delicioso naquele momento.
— Posso me acostumar com isso — murmuro, sentando-me à
bancada enquanto ele me serve um prato de talharim com molho vermelho.
— Eu posso ter segundas intenções.
Levanto a sobrancelha.
— Só segundas?
— Acho que não usei a expressão correta, quis dizer, más intenções.
Sinto um calor insidioso tomar meu corpo.
— Hum, isso é bom. — Experimento a comida e o encaro com
malícia. — Acho que pode se dar bem.
Ele sorri daquele jeito que me faz esfregar uma coxa na outra.
— Mal posso esperar.
Nem eu. Nem eu!
Depois do jantar, insisto em lavar a louça e Ethan leva Leo para
fazê-lo dormir.
Apresso-me em lavar os pratos e panelas, rezando para que Leo
durma rápido hoje.
E estou terminando de secar tudo, quando sinto um braço forte
rodear minha cintura e uma boca quente deslizar em meu pescoço.
— Wow! — Enfraqueço totalmente, antes de Ethan me rodar e colar
os lábios nos meus, num beijo de tirar o fôlego.
— Estou querendo fazer isso o dia inteiro — ele rosna, erguendo-me
facilmente e me colocando sobre a bancada.
— Sim... — É meu gemido incoerente, porque Ethan já está
escorregando aquela mão grande e cheia de dedos para o meio das minhas
pernas, encontrando minha calcinha pronta para ser tirada.
Porra, eu estou pegando fogo e nem passa pela minha cabeça o
impedir, quando o sinto escorregá-la por minhas pernas. Estou muito
ocupada, abrindo sua calça e ele ri, ajoelhando-se na minha frente e
percebo, entre surpresa e animada, que ele tem outras ideias.
Ah, sim. Por favor...
Sua boca encontra meu clitóris e ele faz a festa ali, com língua,
dentes e saliva, levando-me ao delírio. Jogo a cabeça para trás, gemendo
alto, ondulando os quadris em sua direção, sentindo as ondas de prazer
quente e delicioso se espalharem do ponto em que ele acaricia para todos os
poros da minha pele em fogo.
— Porra, não para... — imploro e ele ri, aproveitando para enfiar
dois dedos dentro de mim e começar um impulso e recuo com a ajuda de
sua língua girando, o que me faz gritar todos os palavrões do mundo em
alto e bom som, até um orgasmo alucinante transpassar meu corpo, em
ondas gigantes de prazer incrível, me fazendo desmanchar em sua boca.
Tenho certeza de que estou morta, caída sobre a bancada, respirando
por arquejos, quando Ethan sobe beijando minha barriga e aproveitando
para arrancar meu vestido e meu sutiã, depositando dois beijos castos nos
meus seios, até encontrar minha boca.
— Acho que você me matou — sussurro, incoerente, e ele ri
enquanto se afasta.
Abro os olhos para vê-lo se despindo e arregalo os olhos quando o
observo colocando um preservativo.
— Não, acho que não tenho forças — reclamo, mas já sinto minhas
entranhas se apertando de novo.
— Vai ter que ter, Penny! — Ele ri, puxando meus quadris e me
penetrando com força.
As mãos encontram meus mamilos que ele castiga com os dedos e
depois se inclina para fazer o mesmo com a língua.
Gemo, começando a sentir o prazer crescer de novo,
correspondendo suas investidas. Ethan estoca forte em mim, morde meu
pescoço e geme em meu ouvido.
— Vai gozar de novo, Penny? — desafia, indo mais fundo em mim.
— Cacete, você é bom nisso...
— Você tem uma boca suja, Penny... — Ele ri e beija minha boca,
me erguendo com ele e, sem aviso, ele me joga na parede, metendo com
mais força ainda.
Grito a cada estocada, adorando Ethan rosnar e grunhir em minha
pele, me apertando tanto que tenho certeza de que vai ficar roxo depois,
mas não me importo. Ethan está gozando dentro de mim e me levando junto
naquele delírio.
Ele me leva para o chuveiro depois e o banho é rápido porque
estamos ambos mortos dessa vez e eu não me oponho quando ele me coloca
em sua cama e me abraça antes de puxar a coberta sobre nós.
Ah, eu podia mesmo me acostumar com isso.

Quando acordo, Ethan ainda está grudando em mim e, por um


momento, apenas aprecio aquele idílio. O corpo forte e quente de Ethan
atrás do meu. Seus braços me rodeando enquanto ele ressona.
O dia amanhece e me dou conta de que passei a noite inteira ali, em
seus braços. E tinha adorado cada minuto do nosso dia anterior, desde
almoçarmos juntos e até ficar simplesmente assistindo jogo ao seu lado.
Assim como ele fazendo o jantar para mim, depois me foder daquele
jeito incrível e dormir agarrado comigo.
Ah, merda.
Eu quero isso para sempre.
Quão ferrada eu estou?

Desvencilho-me de seus braços e vejo meu vestido dobrado


direitinho sobre a cadeira. Ethan o tinha colocado ali em algum momento da
noite, percebo, enquanto coloco novamente o vestido.
Olho Leo no carrinho. O bebê acordou, mas está quietinho.
Eu o pego no colo e Ethan acorda, me procurando na cama.
— Penny, onde vai? — pergunta, sonolento e, porra, muito lindo.
— Preciso cuidar de Leo.
— Vem aqui — ele pede e eu sorrio, indo em sua direção, segurando
Leo. Ele me puxa para um abraço, me colocando entre suas pernas e
ligando a grande TV na frente da cama.
Está passando uma luta livre e ele boceja.
— Vai me manter aqui? — pergunto, divertida.
— Por que não?
— Leo pode ter outras ideias?
O bebê apenas brinca com meu cabelo.
— Ele está de boa.
De repente o celular de Ethan toca e ele solta um palavrão.
— Ei, Liam... O quê?
Ele me solta e eu aproveito para sair da cama de novo.
— Mas que merda... Não, tudo bem. Eu busco vocês.
Ele desliga contrariado.
— Liam e Emma estão voltando.
— Já? Não iam passar o fim de semana lá?
— Parece que Emma não consegue ficar longe do Leo.
— A gente devia imaginar... Bem, acho que precisa se arrumar para
buscá-los. Vou subir para casa e cuidar de Leo.
Ele me acompanha até a porta, mas, antes que eu saia, segura meu
braço.
— Antes de ir...
— Sim?
— Queria te convidar para sair.
Eu arregalo meus olhos.
— Como assim?
— Um encontro. — Sorri, quase tímido, e não posso deixar de sorrir
também.
— Sério?
— Sério, Penny... Você quer?
Ah, Deus, eu devia acabar agora com aquela insanidade, mas não
consigo.
Não ainda.
— Sim, eu quero. Quero muito.
Muito mais do que devia.
Capítulo 24

Amy

— Las Vegas é tão incrível! — Emma tagarela de manhã na segunda


feira, enquanto dou papinha para Leo.
Ela e Liam haviam chegado de viagem no dia anterior e me
dispensado, depois de Emma fazer mil perguntas de como Leo tinha ficado
naquelas vinte e quatro horas sem ela. Depois de afirmar umas duzentas
vezes que Leo ficara perfeitamente bem e que não deveria ter abortado sua
viagem com Liam no meio, ela finalmente pareceu mais tranquila e
aproveitei para ir almoçar com Tiziano.
Não vou negar que o que eu queria mesmo era voltar para a cama de
um certo segurança, mas Emma comentou que Liam havia convidado Ethan
para almoçar com eles. Ao que parece, não era só Emma que tinha sentido
falta de alguém que deixara para trás, não pude deixar de pensar com ironia,
aparentemente Liam Hunter tinha sentido falta de seu anexo de quase dois
metros! Mas quem podia culpá-lo? Eu só tinha pulado da cama de Ethan há
algumas horas e já estava louca para voltar para lá.
Assim, eu me contentei em voltar para casa e comer a gororoba
saudável de Tiziano.
— Se estava tão incrível por que voltou correndo para Manhattan?
— provoco Emma.
— Não vai me deixar em paz por isso, não é? — Solto uma risada
divertida de sua consternação. — Você é igual ao Ethan, vai ficar pegando
no meu pé por ser uma mãe agarrada com meu filhote. — Ela beija a
bochecha de Leo, cheia de sopa de cenoura.
— Ele estava seguro comigo!
— É fácil falar! Foi a primeira vez que eu passei a noite longe dele!
Eu tive um pesadelo horroroso, onde Leo estava chorando e gritando meu
nome e eu não estava aqui.
Agora eu gargalho alto, levantando-me e levando o pote de sopa até
a pia.
— Leo gritou seu nome com apenas seis meses de idade?
— Pode rir! Pesadelos não fazem sentido! Mas acordei com tanta
dor no coração e só conseguia implorar para o Liam me trazer de volta para
casa. — Ela abraça Leo, como se ele fosse desaparecer a qualquer
momento.
— Aposto que o Liam deve ter ficado puto por ter sua noite
romântica interrompida! — Pego um pano de prato e molho para limpar a
boca de Leo.
— Ele tentou me dissuadir! Mas sabia que não ia adiantar! E ele já
tivera sua dose de romantismo naquela noite. Três doses para ser mais
exata. — Ela ri com malícia, e eu limpo sua boca que também está suja por
ter beijado Leo.
— Hum, então está tudo bem no reino do Leão de Wall Street?
Ela suspira.
— Ninguém disse que ia ser fácil morar com um leão, não é? — Há
um tanto de amargor em sua voz, mas também há um sorriso amoroso em
seus lábios.
— Era assim que imaginava sua vida com ele? — Não consigo
evitar a pergunta. — Você é feliz aqui?
— Eu sou feliz o tempo todo? Claro que não! Mas quem é? Achei
que ia ser feliz o tempo inteiro quando caminhei em sua direção na igreja de
trindade? Claro que sim! Mas percebo a cada dia em que acordo ao seu lado
que a vida não é assim. Que se quero ser feliz tenho que lutar todo dia para
isso. E vou ter dias bons, vou ter dias horríveis. E alguns vão ser
maravilhosos e vão fazer tudo valer a pena. O dia de ontem com Liam em
Las Vegas foi um desses momentos. O incrível é que tenho um homem pelo
qual eu sou louca do meu lado. E ele é louco por mim. Liam é minha vida.
Eu escolhi assim. Eu o escolhi. E não trocaria Liam por nada neste mundo.
— Nem por um Liam menos possessivo? — arrisco, e ela ri.
— Eu sabia que ele era assim. E foi por esse Liam que eu me
apaixonei. Ele é perfeito? Não! Eu também não sou e ele me ama desse
jeito. Juntos nós somos perfeitos. Ou tentamos ser. Às vezes a gente acerta,
em outras, erramos feio, mas seguimos assim. Juntos. E mesmo que as
pessoas não entendam nosso modo de vida, é assim que a gente é feliz. Sei
que estamos juntos há tão pouco tempo e tanta coisa já mudou, mas amor
não é uma questão de tempo e sim de conexão. Você vai entender quando
encontrar um cara que, com apenas um olhar, um toque, vai virar seu
mundo e suas crenças de cabeça pra baixo e aí, minha querida Amy, você
estará tão perdida quanto eu.
Não consigo evitar de pensar em Ethan, em sua inspeção sacana
quando nos conhecemos em Wall Street e em como eu deixei ele me tocar
de um jeito que nunca achei que seria possível. Fora uma situação
hipoteticamente errada, mas que parecera tão certa.
— Agora, vou levar este garotinho para tomar um banho! — Ela se
afasta com Leo e me deixa sozinha com meus assustadores pensamentos.
— Amy, telefone para você. — Eric entra na cozinha e me entrega o
aparelho sem fio e eu o fito, confusa.
— Pra mim? Tem certeza? — Quem me ligaria naquele telefone dos
Hunter?
— Sim, Amy Grant, é Ariana Colombo.
— Oh, entendo. — Coloco o aparelho no meu ouvido. — Oi,
Ariana, por que está me ligando aqui na casa dos Hunter?
— Porque precisava falar com você e não atende o celular!
Eu bufo, lembrando que deixei meu celular desligado o fim de
semana inteiro, porque não queria ser encontrada por Carl. Ele estava me
deixando mensagens cada vez mais insistentes.
— O que quer?
— Liam Hunter ligou para Emiliano perguntando de você!
Gelo dos pés à cabeça.
— O quê? Está falando sério? — Percebo o olhar curioso de Eric e
me levanto, saindo da cozinha. — Como assim? O que ele queria?
— Como assim pergunto eu! Que porra está aprontando aí? Por que
Liam Hunter está desconfiado de você?
— Ai, meu Deus, que... Merda! — Respiro fundo para conter a onda
de puro horror que toma meu corpo. Como assim Liam estava desconfiado
de mim? Desde quando? Como?
— Merda mesmo! Você disse que queria apenas trabalhar aí, mas eu
devia ter desconfiado que estava aprontando alguma...
— Não estou aprontando nada! Se acalma — eu a corto. — Me diga
exatamente o que foi que rolou. Liam ligou para seu marido e perguntou o
quê? E pelo amor de Deus não me diz que Emiliano contou que nunca fui
babá de vocês!
— Ele ligou ontem à tarde, sorte que estávamos juntos. Ele queria
saber de novo sobre como foi o tempo que trabalhou com a gente! O que
Emiliano sabia sobre você!
— Caralho! Mas ele sabia que não podia contar a verdade, não é?
— Sabia sim, mas ele disse que não ia se intrometer quando eu disse
o que ia fazer. Eu contei a ele apenas que queria uma chance de trabalhar na
casa dos Hunter e ele nem se importou! Só que agora que Liam Hunter
ligou, ficou todo nervosinho!
— Mas o que ele disse, me conta logo!
— Emiliano não era nem louco de me desmentir!
Eu quase respiro aliviada e Ariana continua.
— Ele confirmou que você foi babá de Penélope e que, se Liam
queria saber mais detalhes, era melhor falar comigo. E teve o bom senso de
me passar o telefone.
— E aí?
— E aí que eu menti de novo por você! Mas não pense que estou
satisfeita com isso!
— E Liam acreditou?
— Por que não acreditaria? Eu perguntei se não estava satisfeito
com você e ele não quis dizer nada, apenas que estava checando. Mas ele é
o Leão de Wall Street, não é? Ele não dá ponto sem nó e se farejou alguma
merda sua é melhor que vaze daí antes que ele te coma viva!
Estremeço de medo de novo, porque Ariana tem toda razão. Liam
Hunter está desconfiado de minhas intenções e estou ferrada.
— Fique calma. Eu prometo que vai ficar tudo bem. — Uso minha
voz de irmãzinha querida chapada que usava com Ariana quando ela ficava
louca comigo quando éramos adolescentes.
— Ah, sabe que não vai adiantar nada usar este tom comigo, não é?
— Apenas... Fique na sua, ok?
— Ficar na minha? Por favor, Amy, diz pra mim que não está
aprontando nada.
Fecho os olhos, engolindo em seco.
— Não posso.
— Porra, Amy! Eu sabia! Que merda está fazendo aí? Pelo amor de
Deus, seja lá o que pretende, pare agora! Não sabe com quem está
mexendo...
Vejo Eric vindo na minha direção com um olhar curioso de novo.
— Ariana, preciso desligar...
Ariana continua gritando e desligo na cara dela.
— Problemas? — Eric indaga.
— Nada da sua conta — corto. Ele levanta a sobrancelha, surpreso
com minha rispidez, e me arrependo.
— Desculpa. Só...
— Tudo bem, não é da minha conta. Ariana não era sua antiga
patroa?
— Era.
— Pelo visto, assim como ficou amiga da Emma, também se tornou
amiga de Ariana?
— Algo assim. — Eu lhe lanço um sorriso amarelo e vou para o
meu quarto.
Pego meu celular e o ligo. Como imaginei, está repleta de
mensagens cada vez mais ameaçadoras de Carl.
Com um suspiro cansado, respondo que vou encontrá-lo naquela
tarde.
Preciso ter uma conversa muito séria com Carl sobre nosso plano.
Porque ele está lentamente indo por água abaixo.

Entro no escritório da editora naquela tarde com o estômago


doendo. Sabia que Carl estava esperando que eu tivesse grandes novidades,
mas enquanto estava no Uber a caminho, eu me dera conta de que tivera
todo o fim de semana sozinha no apartamento de Liam Hunter e, em vez de
aproveitar e fuçar todos os cantos, inclusive seu escritório, eu havia passado
todo meu tempo livre trepando com o segurança.
Confesso que até o momento em que liguei para Carl e disse que
queria encontrá-lo e ele me respondera dizendo que estava ansioso para
minhas novidades, eu não tinha me dado conta de que passara os últimos
dias sem me preocupar um minuto que fosse em conseguir qualquer tipo de
informação sobre os Hunter. Eu esquecera da minha missão. Era simples
assim. Até o tal gravador que Carl pedira para eu usar, estava esquecido
dentro da minha bolsa.
Claro que eu podia dizer que estava morrendo de medo de Liam
Hunter, afinal, não seria tão mentira assim. Ainda mais agora que ele
claramente estava desconfiado de mim. Não creio que fazia ideia ainda do
que eu estava aprontando, mas ele era o leão de Wall Street caramba, claro
que se eu não fizesse nada para dissuadi-lo do fato de que não era de
confiança, ele iria descobrir algo.
E aí, sim, eu estaria morta. E, pior, sem nenhuma informação que
prestasse.
E se Liam não me matasse, eu seria morta por Carl, meu chefe
escroto que agora me encara em sua mesa horrorosa de vidro fumê cafona
com um sorriso diabólico.
— Minha cara Amy, espero que o fato de ter me ignorado por dias
tenha um bom motivo.
— Sim, eu tenho. Liam Hunter está desconfiando de mim.
— O quê? O que você fez?
— Eu não fiz nada! Mas ele é o maldito Leão de Wall Street, Carl,
acha que é idiota?
— Ele iria descobrir uma hora, claro, mas esperava que já tivesse
conseguido bastante coisa para nós.
— Sinceramente acha que eu podia ficar futricando na casa dele
sendo que está de olho em mim?
— Está querendo dizer que não descobriu mais nada?
Penso na história que Ethan me contou sobre Emma e sua gravidez
complicada. Seria um prato cheio. Eu poderia usar para Carl ficar um pouco
feliz comigo. Mas algo me impede de falar.
De repente não me sinto bem em usar a história de Emma daquele
jeito
“Por que tanto pudor agora, sendo que está ajudando a escrever uma
biografia para devastar a vida do marido dela e consequentemente a dela
mesma?”
Engulo a vontade de vomitar que esse pensamento me causa.
— Tudo bem, estou de bom humor. — Ele se levanta. — Você
chegou na hora certa.
Segura meu braço e me leva para fora da sala.
— O que foi?
— Sabe que não podíamos usar simplesmente as coisas que ia
descobrir infiltrada na casa de Liam Hunter, seria apenas um norte para
seguirmos mais a fundo e conseguirmos histórias legítimas.
— Sei... — Eu o sigo pelo corredor, tentando entender aonde queria
chegar.
— E já estou me adiantando e conseguindo entrevistas para
documentar todas as informações. Assim, com gravações e autorizações
devidamente assinadas, Liam Hunter não terá muito o que fazer contra nós.
Finalmente entramos na sala de reunião e eu entendo o que Cal quer
dizer.
Quem está ali nos esperando no alto de seu Labotim e cabelos loiros
devidamente penteados é ninguém menos que Vanessa Valderbilt.
— Acho que já conhece a senhora Valderbilt — Carl diz, com
pompa, e eu ainda não consigo acreditar.
— Então é mesmo verdade que você é uma espiã? — Vanessa joga
os cabelos para trás rindo com vontade. — Eu só quero ver a cara daquela
pirralha chata do Liam quando descobrir.
— O que você está fazendo aqui? — balbucio, com vontade de
pegar a tesoura no porta-lápis e cortar não só o cabelo como a cara escrota
de Vanessa Valderbilt.
— Sente-se, Amy — Carl pede. — Vanessa Vanderbilt concordou
em nos conceder uma entrevista, contando toda sua história com Liam
Hunter.
— Sério? — Mal posso acreditar na coragem daquela bruxa.
— Por que o espanto? — Vanessa acende um cigarro. — Eu devia
mesmo desconfiar que queria saber muito mais do que devia naquele dia na
piscina do resort. Mas tudo bem, não se preocupe. Eu estou com vocês! —
Ela bate na minha mão com um sorriso conspirador.
Tenho vontade de cuspir na cara dela de tanto nojo.
— Por que está fazendo isso?
— Como assim? Seu chefe aqui me disse que está escrevendo uma
biografia do Liam e nada mais justo de que eu, a criadora do Leão de Wall
Street, esteja nessa biografia. E com destaque!
Meu Deus, ela é mais vagaba do que eu imaginava.
Emma tinha toda razão em odiá-la.
— Não, seus verdadeiros motivos! Sabe que Liam vai abominar
tudo isso, não? Por que depois de tanto tempo ainda quer chamar a atenção
dele? Por acaso ainda é apaixonada por ele ou algo assim?
— O quê? — Ela ri, ultrajada. — Por que está me questionando?
Estou aqui para ajudar vocês, devia me agradecer!
— Amy... — Carl se intromete com um olhar de ameaça.
— Não, deixa ela falar — Vanessa o interrompe. — Vamos, parece
bem eloquente em suas opiniões! Aposto que foi a pirralha mal saída das
fraldas do Liam que encheu sua cabeça contra mim, foi isso? Aposto! Ela
me odeia, morre de ciúme de mim, porque sabe que Liam nunca me
esqueceu.
Dessa vez sou eu que solto uma risada.
— Está louca? Acredita mesmo no que está dizendo? Liam Hunter é
louco pela Emma!
— Eu criei Liam Hunter, minha querida, eu sei o que estou dizendo!
— Agora só falta você dizer que se criou pode destruir!
— Hum, é uma boa frase. — Ela olha pra Carl. — Pode usar no seu
livro. Ficaria incrível.
— Pelo amor de Deus!
— Amy, chega, o que está fazendo? Vanessa está aqui para nos
ajudar e não para ser insultada por você. Se não tem nada a acrescentar, saia
da sala.
Eu me levanto.
— Sim, é melhor mesmo.
Eu saio da sala e Carl sai atrás de mim, furioso.
— Que merda pensa que está fazendo?
— Eu pergunto a mesma coisa. Se unindo aquela cobra...
— Vanessa é nosso trunfo! Ela vai nos contar tudo, prometi
inclusive deixar o foco quase todo nela e acho que o público vai adorar.
— O público quer Liam Hunter e não uma loira falsa pretensiosa e
metida a besta querendo cinco minutos de fama.
— Que porra está dizendo? Por que esse ódio de Vanessa Valderbilt?
— Ela infernizou a vida da Emma!
— Ah, está defendendo a Emma Hunter por quê?
— Qual o problema, eu tenho consideração pelas pessoas, Carl!
— Tem tanta que está na casa dela, mentindo para conseguir
informações para escrever uma biografia não autorizada! Você não é
diferente de Vanessa Vanderbilt!
— Não me compara àquela demônia!
— Amy, qual o seu problema? Está arrependida? Está dando para
trás em nosso plano?
Engulo em seco.
O questionamento de Carl batendo forte em mim, porque eu sei que
ele tem razão.
Estou mesmo repensando toda aquela história.
Está claro que eu já saí do foco faz tempo. E realmente me sinto
doente só de pensar em decepcionar Emma.
E Ethan.
Merda, Liam Hunter não é o primeiro na minha lista de
consideração, mas com certeza é na do medo. O que é um motivo mais do
que válido para eu desistir de vez daquela trama.
— Sim, estou.
Carl segura meu braço com força.
— Nem pense nisso.
— Carl, está me machucando!
Ele me solta, mas continua a apontar para mim o dedo em riste.
— Não vai desistir! Estamos juntos nessa.
— Não vou continuar! Não vê que não vai dar certo? Liam Hunter
está desconfiado de mim!
— Vai dar um jeito de ficar lá e descobrir o que puder antes que isso
aconteça.
— Não!
— Amy, não brinca comigo!
— Eu digo que eu não quero continuar, eu... me demito!
— E o que vai fazer? Por acaso pensa em contar alguma coisa ao
Hunter ou a mulherzinha dele?
— Não, claro que não. — Minha coragem não chega a tanto.
Eu simplesmente não quero mais continuar a fazer parte daquela
farsa com Carl. Não só porque estou morrendo de medo de Liam Hunter.
Mas sobretudo porque não consigo mais conceber prejudicar Emma.
E também não quero decepcionar Ethan. Só de pensar que ele pode
me odiar eu tenho vontade de morrer.
E é exatamente por isso que eu não posso contar a verdade. Mas
pelo menos posso pular fora daquela trama antes que seja tarde demais.
— Então escuta bem o que eu vou te dizer. Vai continuar na casa do
Hunter até que eu diga o contrário!
— Não pode me obrigar!
— Ah, eu posso! Se não continuar na casa dos Hunter e me
ajudando, vou fazer com que o Leão descubra da pior maneira possível
quem é a babá do filho dele.
— Não faria isso! — Estremeço de horror e Carl ri de forma
diabólica.
— Ah, vai pagar para ver? Não tem nenhuma serventia para mim se
quiser pular fora!
— Não tem como me entregar sem se ferrar também! Vai ficar sem
sua preciosa biografia do leão?
— Acho que tem muito mais a perder do que eu! Ou acha que não
percebi que está trepando com o segurança?
— Claro que não...
— Não tente negar. Vi muito bem o clima entre vocês no carro
aquele dia... E acho que o fato de querer pular fora tem muito a ver com
essa sua súbita paixão, não é?
— Por favor, Carl, desista...
— Não! Não vou desistir e nem você! Então estamos combinados!
— Ele me dá espaço finalmente. — Volte para a casa dos Hunter e siga com
nosso plano. Ainda temos muito coisa para descobrir! E vou voltar para
Vanessa Vanderbilt e pedir desculpas por você!
Ele se afasta e corro para o elevador e só quando estou lá dentro
estuprando o botão do térreo que percebo que estou chorando.
Mas que grande merda!
O que é que vou fazer agora?
Capítulo 25

Amy

Nunca me senti tão mal na minha vida como naquele trajeto de volta
à casa do Hunter depois da reunião com Carl. Como é que eu tinha deixado
minha vida se transformar em um episódio ruim de Melrose Place?
Quando me envolvi naquela trama, tudo o que queria era uma
chance de provar ao mundo que eu era capaz de fazer um trabalho incrível.
Era só entrar na casa do Leão de Wall Street, conseguir algumas
informações bombásticas e pular fora com tudo o que era preciso para
escrever junto com Carl a biografia do século. E a partir daí minha vida ia
mudar e eu seria uma profissional de respeito, não mais a maluca da Amy
Grant que não conseguia um emprego decente e pagava os boletos em
atraso.
Mas eu não tinha contado com um detalhe: que iria me envolver
tanto com as pessoas que cercavam Liam Hunter, a ponto de não querer
mais prejudicá-los de maneira alguma.
A questão era que agora estou metida até o pescoço em mentiras e
não sei como sair da lama que eu estou chafurdada. Ainda por cima, Carl
está enfiando suas botas malcheirosas em minha cabeça e me afundando
ainda mais na sujeira.
Como é que vou sair daquela confusão?
Subo desanimada para a cobertura, arrastando meus pés cheios de
culpa e me pergunto se o melhor a fazer não seria pedir logo minha
demissão e sumir da vida dos Hunter sem deixar rastro. Será que tem
dinheiro suficiente na minha conta para uma passagem para a Venezuela?
Ainda estou tentando achar uma saída para aquele dilema, quando
alguém puxa minha mão e me vejo prensada contra a parede do hall de
entrada dos Hunter por um corpo sarado, enquanto uma boca muito gostosa
devora a minha.
Ah, caramba. Minhas pernas viram geleia e, por um momento, deixo
todo e qualquer pensamento ruim de lado para apenas apreciar o quanto
gosto de estar assim, me amassando com Ethan Coen.
— Ei, Penny — Ethan sussurra contra meus lábios e não consigo
evitar um sorriso lânguido, quando ele esfrega seus quadris nos meus. Ah,
sim. Eu não teria problema em ser demitida por transar com o segurança ali
mesmo no hall.
Já estava lascada mesmo!
Pensar nisso tira um pouco do meu tesão e um frio percorre minha
espinha.
— O que foi? — Ethan estuda meu rosto, afastando-se um pouco, e
eu tento sorrir.
— Nada. Apenas continue fazendo isso — murmuro o beijando de
novo e é a vez de Ethan gemer dentro da minha boca.
Deixo minhas mãos agarrarem seus ombros, querendo mantê-lo ali
para sempre. Mas sei que meu tempo com Ethan está se esgotando.
Assim como meu tempo na casa do Leão.
Eu não queria que isso me deixasse tão triste.
Um barulho dentro do apartamento faz Ethan me soltar e eu volto à
realidade contra a vontade.
— Acho melhor entrar...
— Antes de ir, queria te lembrar que concordou em sair comigo.
Eu sorrio.
— Sim, nosso encontro... — Que se dane, eu ainda posso me manter
mais um pouquinho naquele idílio.
— Eu tinha programado algo realmente legal para hoje à noite...
— Sério? Isso envolve poder te algemar de novo?
Ele ri, apertando minha bunda.
— Isso a gente podia negociar depois do que eu tinha programado.
— E por que está dizendo no passado?
— Por que Liam tem um evento hoje e preciso acompanhá-lo.
— Ah... — Não disfarço meu desapontamento.
De repente a porta do elevador começa a se abrir e Emma aparece
segurando uma caixa enorme.
— Ei, olá para vocês, o que fazem aqui?
Eu e Ethan nos olhamos sem saber o que dizer, como dois
adolescentes pegos se esfregando nos corredores.
— Estava dizendo a Amy que você e Liam vão a um evento hoje.
— Você também vai? — indago, curiosa, quando Ethan abre a porta
do apartamento e nós entramos.
— Sobre isso, eu tenho novidades! — Emma larga a caixa em cima
do sofá. — Você também vai, Amy!
— Eu? — Arregalo os olhos, surpresa, e Emma pula e bate palmas,
muito excitada.
— Sim, não vai ser o máximo?
— Emma, que diabos está falando? Por que eu iria em um evento
com você e Liam?
— Porque eu quero!
— Ainda não é uma resposta satisfatória.
— Ah, por favor, esses eventos são tão chatos! Cheio de gente
metida a besta, e ter você lá comigo vai ser divertido!
Eu olho para Ethan em busca de socorro e Ethan ri muito satisfeito.
— Acho que a tagarela tem razão.
— Ah, mas quem vai cuidar do Leo?
— Eric e Amanda. Ela está vindo para cá. Só espero que eles não
transem sobre minha bancada, credo! — Emma faz uma careta.
— Eu ainda não sei... — tento argumentar, mas Emma já segura
minha mão e me puxa para seu quarto.
— Vem, achei um vestido lindo para você! E quero que me ajude
com minha maquiagem e cabelo, sabe que não sou boa nisso.
Eu deixo Emma me levar, ainda relanceando um último olhar para
Ethan, que pisca para mim.
E, assim, algumas horas depois, estou usando um Gucci verde e
recebendo um olhar de admiração de Ethan quando chego à sala.
— Uau! — Ele me mede com indisfarçável interesse, e sinto
borboletas sobrevoarem meu estômago, assim, como naqueles romances
açucarados de banca.
— Devia parar de me olhar assim se não quer que ninguém descubra
que quer tirar minha roupa.
— Mas eu quero tirar sua roupa.
O meço também e ele não está nada mal, usando aquele terno todo
preto.
— Eu também quero tirar a sua, mas podemos deixar isso para o fim
da noite?
— Promete?
— Qualquer coisa — sussurro, recebendo um sorriso malicioso em
resposta, que faz a temperatura aumentar uns bons graus.
— Prontos? — Emma aparece segurando Leo. Ela usa um vestido
vermelho de brocado e está deslumbrante.
Liam Hunter vem logo atrás, checando sabe-se lá o que no seu
celular, com cara de poucos amigos.
Fico me perguntando como foi que Emma conseguiu convencê-lo a
me levar junto hoje. E ainda tenho dúvidas de que ele está totalmente de
acordo com isso. O que me faz lembrar que ele ligou para Ariana para me
checar. Só espero que tenha ficado satisfeito por enquanto.
Ainda não estou pronta para devolver meus sapatos de Cinderela.

A festa é no Waldorf Astoria e, como Emma dissera, está cheio de


gente rica e metida.
Mas a bebida é boa e eu estou divertindo Emma com meus
comentários mal-educados sobre a roupa dos outros, enquanto Liam Hunter
conversa com homens engravatados como ele, usando jargões financeiros.
Ethan nos segue de perto e é realmente uma delícia a doce
expectativa em que me encontro, com cada olhar demorado que ele me
lança.
Ah, sim. No fim da noite. Nós dois. Sozinhos. Sem roupa.
E eu nem ia exigir uma algema. Não ia ter tempo para isso.
— Ethan consegue mais deste pra nós! — Emma sacode a taça vazia
de prosecco.
— Não bebeu demais?
— Ela só bebeu esta taça — eu digo. — Estou contando, não se
preocupe.
— Desde quando é minha babá, Amy? — Emma brinca.
— Só me assegurando de que seu marido não me culpe por nenhum
problema hoje.
Emma gargalha quando Ethan se afasta para buscar mais bebida.
— Ah, você é tão engraçada! Liam gosta de você!
— Sério? — Eu levanto a sobrancelha descrente. — Acho que Liam
só me suporta porque você exige. Ele já teria me demitido faz tempo.
— Você não conhece o Liam, ele mantém essa cara de que tem um
toco enfiado no rabo para meter medo nas pessoas, mas, no fundo, ele é um
leãozinho manso.
— Fala sério, Emma.
— Ok, talvez seja um exagero, mas o que quero dizer é que... Ei, o
que aquela vadia está fazendo aqui? — Sigo seu olhar indignado e vejo uma
moça loira alta e magra conversando com Ethan. E na mesma hora sinto
ciúme.
— Quem é aquela? Você conhece?
— Aquela é Nicole Zorn.
— Eu deveria saber quem é a tal Nicole? Ah, acho que sei quem é.
Uma modelo. Desfila para Victoria Secret e tal.
— O Ethan foi apaixonado por ela por um tempão.
O quê?
Sinto meu estômago dando uma volta, olhando de novo para Ethan e
a modelo loira.
Ethan era apaixonado por aquela garota linda?
Modelo de lingerie?
Sinto todo o ar sendo sugado do meu pulmão, tamanha é a dor que
sinto no peito.
— Não acredito que Ethan está conversando com ela! — Emma
continua.
— Ele é apaixonado por ela? — sussurro.
— Espero que não seja mais! Porque ele já passou muito tempo
correndo atrás daquela piranha frígida!
— Eles... tinham um caso ou algo assim?
— Nada! Claro que era tudo o que Ethan queria, mas ela deu o fora
nele. E mais de uma vez! Até tentei ajudar, mas não adiantou.
— Como ela pode não querer o Ethan? — questiono, chocada, sem
saber se o fato de Ethan nunca ter dormido com a tal Nicole me fazia sentir
melhor ou não.
— Né? É o que me pergunto! Como alguém pode não amar o
Ethan? Ela é uma vaca interesseira, ou algo assim, que preferiu dar em cima
do Liam.
— Espera... Ela queria ficar com o Liam?
— Pois é! Mas o Liam sabia que o Ethan era louco por ela, e a
enxotou!
— E mesmo assim o Ethan continuou atrás dela?
— Eu achei que ele já tinha superado, mas não entendo o que está
fazendo ali batendo papo com ela.
Eu volto de novo minha atenção para Ethan e a tal Nicole e tento
entender o que diabos está se passando. Ela tem cara de fresca, mas é linda,
sem dúvida. Será que Ethan ainda está tentando conquistá-la? Será que sou
apenas uma substituta para ele passar um tempo, enquanto sonha em foder
Nicole Zorn?
— A gente devia ir lá atrapalhar seja lá o que está rolando... —
Emma se adianta, mas seguro seu braço.
— Não — murmuro mortificada.
— Não ouviu o que eu falei? Nicole é uma vadia interesseira, não
quero o Ethan com ela!
— Mas se ele a quer, não devemos nos intrometer. — O nó fecha
minha garganta e respiro fundo para conter a onda de choro que está
surgindo, vinda do fundo do meu coração.
Emma me fita com os olhos franzidos.
— O que há com você?
— Comigo, nada — choramingo, fungando —, só acho que se o
Ethan prefere aquela loira sem peito, ele deve ficar com ela...
— Mas o que está dizendo, por que está chorando por causa disso?
Wow! — Os olhos de Emma se arregalam. — Você está chateada por que o
Ethan está com a Nicole porque... Wow... Você está a fim do Ethan?
— Não, claro que não.
— Está sim! Oh, meu Deus, como não percebi? Como assim? Por
que não me disse? Por quê? Espera... está rolando alguma coisa entre
vocês?
Eu quero negar, mas sei que a verdade está escrita em meu rosto.
— Cacete! Como assim? Desde quando? Como... Onde... Por que eu
não sabia disso?
— Porque não é nada — confesso por fim. — É só... Sexo, acho,
mas...
— Mas você está apaixonada por ele!
— Não estou!
— E por que está arrasada por vê-lo com a Nicole? Ai, eu não devia
ter dito aquelas coisas sobre eles, não foi bem assim...
— Acho que foi exatamente assim! Mas não se preocupe, eu e
Ethan... Não é nada. É apenas...
— Sério que estavam trepando todo esse tempo e ninguém sabia de
nada?
— Talvez Eric saiba.
— Ah! E o Liam? Ele sabe?
— Duvido muito. Ele já me odeia. Se souber que estou transando
com o Ethan vai me odiar mais ainda.
— Claro que não! O que o Liam tem a ver com quem o Ethan
transa?
— Sério que ainda pergunta?
— Ok, eles são tipo, duas irmãs siamesas, mas o Liam não pode
impedir o Ethan de ficar com quem quiser!
— Não acho que este ainda seja um problema, já que ele está lá
agora se esfregando na tal modelo...
Nós duas olhamos para onde Ethan e Nicole estão e os dois
desapareceram de vista.
— Ah, não estavam se esfregando! — Emma diz.
— Então aonde é que eles foram?
— Se o Ethan está com você, ele não ia te largar aqui para se atracar
com quem quer que fosse.
— Mesmo que seja Nicole, a garota dos seus sonhos?
— Escuta, Nicole foi o alvo do desejo do Ethan, mas não é mais.
— Como sabe?
— É melhor que não seja! Eu prefiro você! — Ela sorri, toda
animada agora. — Ah, isso é tão incrível! Sempre quis que o Ethan achasse
uma garota legal! Ah, vocês formam um casal tão lindo!
— Não somos um casal! — refuto, mas Emma continua delirando.
— Vocês podiam se casar! Seria maravilhoso! Já sei, tenham uma
filha, assim ela pode namorar com o Leo, quão perfeito seria?
— Emma, não viaja, já está bêbada?
— Aí estão vocês. — Liam aparece e vejo como num filme de terror
Emma abrir a boca para contar a ele sobre mim e Ethan, mas seguro sua
mão, a puxando em direção ao banheiro.
— A gente já volta!
— Ei, Amy, aonde vamos? — Emma me segue confusa.
Eu paro apenas quando chegamos ao banheiro.
— Não pode contar ao Liam sobre mim e Ethan!
— Por que não?
— Porque é melhor assim.
— Mas o Liam vai saber uma hora...
— Emma, por favor. Não acha que quem deve contar é o Ethan, se
ele assim quiser?
— É, acho que tem razão. Mas vou ter que esconder do Liam?
— É só fingir que não sabe.
— Ok, se quer assim...
Ethan

Aquela estava sendo uma noite relevadora, para dizer o mínimo.


Eu fiquei puto quando Liam disse que teríamos aquele evento, o que
estragou meus planos para o encontro com Amy hoje à noite. Porém, Emma
inventou de trazer Amy para a festa, o que acabou melhorando bastante a
noite que estava fadada a ser uma chatice, pajeando Emma e Liam em mais
um evento maçante. Talvez até pudesse levá-la para algum canto escuro em
algum momento.
O que eu não esperava era encontrar Nicole Zorn zanzando por ali.
Fazia meses que não topava com Nicole em lugar algum, na verdade desde
o jantar em que a Emma tivera a má ideia de convidá-la com o intuito de
bancar o cupido. O que foi uma ideia estúpida, pois ficou claro que Nicole
não tinha mesmo o menor interesse em mim. E depois daquele dia comecei
a entender que era melhor desistir daquela minha paixão sem sentido.
E encontrei outras mulheres para foder e passar meu tempo, até
encontrar uma certa ruiva que virou minha vida de ponta cabeça. E que,
além de ser a mulher mais incrível com quem eu já tinha transado, ainda é
inteligente, divertida e está me deixando louco colocando em xeque todo
meu estilo de vida. Principalmente o fato de eu viver a vida de Liam
Hunter, o que não era nenhum problema até aquele momento.
E eu a acusei de meter caraminholas na cabeça de Emma, quando eu
mesmo estava começando a rever todos os meus conceitos de uma vida
perfeita. O que agora incluía ter Amy Grant a meu dispor a maior parte de
tempo possível e não só na minha cama. De repente comecei a fantasiar de
ter aquela ruiva ao meu lado por um bom tempo. Sim, eu queria ter Amy
Grant como minha namorada, com tudo o que tinha direito. Mas como é
que eu ia encaixar uma namorada em minha vida de sombra de Liam
Hunter na mesma equação. Eu ainda não sabia dizer.
Mas encontrar Nicole e perceber que não sentia o menor tesão por
ela fora muito revelador. Naquele momento, em que ela estava na minha
frente, falando de si mesma, eu me perguntava o que foi que tinha visto nela
afinal. Eu passara um tempão fantasiando com aquele ser fútil e tinha sido
uma total perda de tempo. E de repente percebi, enquanto dava um chega
pra lá no papo chato de Nicole, que não queria mais perder tempo. Queria
aproveitar o que a vida estava me oferecendo agora. E já estava na hora de
Liam saber. Ele sempre seria meu melhor amigo, meu irmão, e o cara que
pagava meu salário, claro. Mas não era mais prioridade. Eu queria começar
a viver a minha própria vida.
— Eu te vi com a Nicole Zorn, o que é isso agora? — Liam me
interrompe, quando finalmente consigo me livrar de Nicole.
— Nada, ela só queria mais uma vez acenar com o que nunca vai me
dar.
— Ainda está caído por aquela vadia?
— Não, nem um pouco.
— Sério? De verdade?
Eu rio do seu espanto.
— Sério. Não sinto mais nada por ela.
— Emma vai gostar de saber.
— Na verdade eu estou com outra pessoa.
Agora o olhar de espanto de Liam é maior ainda.
— Como é?
— Sim, é isso que ouviu.
— Como assim, está se dando bem e nem me contou, seu filho da
puta? Espera... você disse que está com uma mulher? Você quer dizer... em
um relacionamento? — Agora parece que contei para ele que tenho três
mamilos.
— Não sei se posso chamar de relacionamento, mas é o que eu
quero que seja.
Liam fica parado e me olhando como se tivesse virado uma estátua
de sal.
— Está falando sério? — Finalmente ele parece ter achado sua voz.
— Sim, estou.
— Está me dizendo que está apaixonado e toda essa baboseira
romântica?
— Você fala como se não tivesse apaixonado também.
— É diferente.
— Diferente como? — Desta vez eu não consigo parar de rir. — Por
que o espanto?
— Eu não consigo entender, nunca vi você com ninguém assim...
romanticamente envolvido, é esquisito.
— Então se acostume.
— E quem é essa mulher? Quando vou conhecê-la... Caramba,
quando eu contar a Emma, ela vai enlouquecer. Se prepara... Ah, ali vem ela
e a babá — ele diz, e eu acompanho seu olhar para ver Emma e Amy
retornando do banheiro.
— Acho que já conhece essa mulher... — digo, admirando Amy.
— O quê? Não entendi... — Então de repente ele entende. — Que
diabos, está dizendo que está fodendo a babá com o cabelo do Pennywise?
— Quem tem o cabelo do Pennywise? — Emma se aproxima com
Amy um pouco atrás. Percebo que seu olhar está receoso.
— Sério? Sério? — Liam continua sua epifania.
— Liam...
— O que foi? — Emma nos fita confusa.
— Sabia que Ethan está fodendo com a babá?
— Ah, você contou a ele? — Emma tem um sorriso animado no
rosto e percebo que de alguma maneira ela já sabia sobre Amy e eu.
— Você sabia? — Liam agora está quase gritando.
Amy está pálida, como se fosse vomitar, e me apresso em passar por
Emma e segurar sua mão.
Agora ela me fita com os olhos arregalados de surpresa.
— Ah, eles são tão lindos! — Emma suspira.
— Você sabia e não me contou? — Liam insiste e Emma revira os
olhos.
— Segura sua onda! Eu acabei de descobrir! Mas não é o máximo?
— Não posso acreditar que estava fodendo a babá bem debaixo do
meu nariz...
— Bem, já que esclarecemos este ponto, tenho um lugar para levar a
Amy... — Eu me adianto, pegando meu celular e deixando um recado para
Owen vir buscar Emma e Liam no fim da noite.
— Onde vão, que história é essa? — Liam não parece nem um
pouco satisfeito e sinceramente não estou preocupado com isso no
momento.
— Owen está vindo buscá-los. Nos vemos amanhã. — Aceno,
puxando Amy pela mão. Ainda consigo ver Emma enxugando os olhos.
— Não é lindo? Sempre quis ver o Ethan apaixonado...
— Ah, não gostei nada disso, ele não pode ir embora e me deixar
aqui...
— Ah, supera! Para de ser carente! Deixa-o ir viver a vida dele!
Eu não escuto a resposta de Liam porque já estou deixando a festa
para trás com uma Amy muito surpresa.
— O que foi aquilo? — Ela sussurra. — Você deixou o Liam lá
sozinho e, tipo, por que diabos contou a ele sobre nós? Ele vai me matar!
Pior, vai me demitir!
Eu rio e a beijo, engolindo suas palavras sem sentido.
— Relaxa, Penny.
— Ah... — De repente ela franze a testa. — Penny... Pennywise! É
por isso que me chama de Penny? Por causa do palhaço assassino?
Desta vez eu gargalho com vontade, levando Amy para o carro e
abrindo a porta para ela entrar.
— Podemos discutir isso depois?
— Você me chama de it, a coisa! — ela grita, e eu a ignoro, dando a
volta e sentando no banco do motorista. — Sério mesmo? — ela insiste.
Dou partida do carro.
— Sério é que eu te devo um encontro.
— Ah... — ela aquiesce. — Não acredito que isso está
acontecendo...
Eu sorrio, segurando sua mão.
— Nem eu, mas estou achando incrível.
Ela sorri de volta.
— Eu também.
Capítulo 26

Amy

— Sério que você acha que pareço o palhaço Pennywise? — Quebro


o silêncio do carro depois de alguns minutos, e Ethan solta uma gargalhada
divertida.
Mordo os lábios para não suspirar alto, como uma colegial boba às
voltas com o primeiro amor.
Amor?
Meu coração dá um pulo no peito rejeitando aquela ideia insana,
mas, cacete, Ethan está olhando para mim agora, com aquele sorriso safado
e de covinhas lindas, fazendo um tsunami agitar minha barriga. E não posso
mais fugir da verdade irrefutável: eu estou loucamente apaixonada pelo
segurança do Leão de Wall Street.
É como disse Emma, amor é uma questão de conexão e não de
tempo.
Ah, merda. O que vou fazer agora? Quero chorar e gritar e pular no
colo dele e sussurrar em seu ouvido tudo o que sinto e torcer para que ele
diga que sente o mesmo.
Mas aí eu teria que contar os reais motivos que me fizeram entrar na
vida de todos que rodeavam o Leão de Wall Street. E ele iria me odiar.
Engulo o nó na minha garganta, quando Ethan toca meu rosto e
aproxima os lábios dos meus, beijando-me devagar.
— É esse seu cabelo, Penny.
Eu consigo rir, apesar da dorzinha que começa a se alastrar no meu
peito. Porque sei que meu tempo está correndo agora.
Só mais algumas horas, peço, só mais alguns instantes com este cara
maravilhoso, antes que eu tenha que abrir mão dessa ilusão.
Quando Ethan para o carro em frente ao Terminal 5, solto um grito,
porque eu sei quem está fazendo show lá esta noite.
— Não acredito! Você me trouxe no show de minha cantora
preferida?!
— Eu andei ouvindo também e, às vezes, eu caí no sono, mas...
Eu lhe dou um tapa no ombro.
— Lana não é para dormir! Para de ser chato!
Ethan sai do carro e me puxa em direção a entrada, ignorando toda a
galera que deve estar na fila desde muito cedo.
— A gente não vai pegar fila?
— O nome Liam Hunter abre qualquer porta, baby.
Eu tenho que concordar, muito empolgada, que sair com o
segurança do Leão tem suas vantagens, quando entramos na casa de show e
vamos direto a um camarote com uma visão muito perto do palco. E mal
consigo segurar a euforia quando o show começa, cantando todas as
músicas e tendo Ethan bem atrás de mim, rindo da minha vibração.
E quando o show termina, lanço meus braços a sua volta e o beijo
com vontade, demonstrando todo meu agradecimento por aquela noite
incrível.
— Obrigada, eu amei! — Sorrio feliz e ele aperta minha bunda e me
puxa para fora, até que estejamos dentro do carro.
— Vai poder demonstrar quando chegarmos na minha casa, Penny.
— Ele pisca, dando partida.
— Talvez até antes. — Deslizo a mão por sua coxa até chegar na
frente da calça apertando de leve, mas na pressão certa para fazê-lo grunhir.
— Você é muito atrevida, Penny.
— Não viu nada, segurança... — Abro a calça e abaixo a cabeça, o
tomando em minha boca e demonstrando com muito prazer o tanto que
estou agradecida.

— Ah sim, Ethan — grito pela terceira vez naquela noite, meu


corpo tremendo e se desmanchando em mais um orgasmo incrível, desta
vez pela boca habilidosa de Ethan, que agora desliza por meu corpo, até
estar sorrindo acima de mim, muito satisfeito.
Não sei dizer há quanto tempo estamos ali, na cama de Ethan, muito
ocupados em uma maratona de agradecimentos mútuos, que tinha
começado no carro e continuado no elevador, onde Ethan me fodeu antes
mesmo que chegássemos no seu apartamento. E depois ele tirou minha
roupa e demonstrou que a segunda vez podia ser ainda melhor quando me
colocou na cama, de quatro e não parou até que eu gritasse seu nome de
novo, dessa vez fazendo eco com meu próprio nome em sua boca. A mesma
boca que ele tinha usado a pouco para me fazer gritar. Pela terceira vez.
Ah, eu amo esse cara. Muito.
— Mais uma vez? — Ele esfrega seu pau em mim, demonstrando
que já está pronto para outra e arregalo os olhos.
— Não sei se reparou, mas eu tenho só uma vagina.
Ele ri, mordiscando meu pescoço.
— Mas tem um outro lugar que podemos usar... — Ele vai descendo
a mão para a minha bunda e eu lhe dou um tapa.
— Não tão rápido, mocinho!
— Vai dizer que ainda é virgem daí, Penny?
— Não é a minha maneira preferida...
— E qual a sua preferida?
Eu sorrio e o beijo, virando e me colocando em cima dele.
— Lá vem você querendo me dominar de novo!
— Não lembro de ouvi-lo reclamar.
— Com você eu gosto de qualquer jeito.
Sorrio, satisfeita com a resposta e de repente me vem algo
desagradável na lembrança. Nicole Zorn.
— Emma me contou que era apaixonado por Nicole Zorn.
Ele fica sério.
— Emma é uma linguaruda.
— É mentira?
— Foi apenas uma merda de um tesão — resmunga ele.
— Você parecia bem animado conversando com ela hoje.
— Sim, e sabe o que eu descobri?
— O que?
— Que eu não sinto mais nada por ela.
— Sério?
— Estava com ciúme, Penny?
— E se disser que estava?
— Eu ia dizer que não precisa. Que eu prefiro as ruivas agora.
— Ruivas?
Ele me vira de novo e prende meus braços acima da cabeça, me
penetrando bem devagar, fazendo meus olhos revirarem nas órbitas.
— Uma ruiva — sussurra em meu ouvido, e se move dentro de mim
com força, me fazendo gemer, excitada de novo.

Acordo quando já é dia e solto um palavrão, tentando abrir os olhos,


preocupada. Eu não deveria estar ali e sim cuidando de Leo!
Liam Hunter vai me matar!
Ainda sonolenta, levanto e percebo que a cama está vazia ao meu
lado. Consigo achar o celular e respiro um pouco mais aliviada quando vejo
que ainda nem são seis horas.
Visto uma camisa de Ethan e vou a sua procura, o encontrando na
cozinha, todo arrumado.
— Por que não me acordou?
Ele sorri, enquanto digita algo em seu celular.
— Hoje Pennywise teria ciúme de você.
Rolo os olhos, levando os dedos ao meu cabelo que, com certeza,
deve estar terrível.
— Vá se foder, Ethan!
Ele apenas ri mais ainda, largando o celular e apontando para a
bancada.
— Senta aí, acho que precisa de um café.
Me arrasto até a bancada e largo o celular na mesa.
— Por que já está todo arrumado?
— Porque eu e Liam vamos viajar daqui a pouco.
— Sério?
— Sim, surgiram uns assuntos urgentes para ele resolver na Europa.
— Hum, isso é longe.
— Pois é. — Ele coloca uma xícara na minha frente e aspiro o
cheiro bom de café.
— Ah, isso é tudo de que preciso. Mas acho que é melhor eu ir para
casa. Se Liam Hunter já te recrutou, isso quer dizer que ele está acordado e
Deus me livre de Leo acordar e ele perceber que não estou lá! — Eu me
levanto, apressada. — Vou pôr meu vestido.
— Amy. — Ethan segura minha mão, impedindo que eu me afaste.
— Sim?
— Quando eu voltar... queria te perguntar uma coisa.
Esboço um sorriso.
— É uma pergunta safada?
— Também.
— Ah... — Tento conter as batidas erráticas do meu coração.
— Eu sei que você não vai ser a babá do Leo para sempre, mas com
certeza você não está aqui só de passagem. — Ele me beija devagar,
fazendo minhas pernas virarem gelatina e meu peito se apertar. — Então, vá
pensando nisso.
Ele me solta e vou para o quarto sem olhar para trás, porque sei que
se me virar irei vê-lo me olhando com paixão e expectativa e que, antes de
qualquer plano que Ethan faça para nós, tenho que contar a verdade.
E quando eu contar... Tudo estará acabado, para dizer o mínimo.
Coloco meu vestido, com uma imensa vontade de chorar e prometo
a mim mesma que, assim que Ethan voltar de viagem, eu contarei tudo.
Volto para a cozinha, tomando o cuidado de recolocar o sorriso no
meu rosto, mas ele se apaga quando vejo Ethan segurando meu celular e me
encarando com um olhar estranho.
— Ariana Colombo é sua irmã?
A cor foge do meu rosto.
Ah, inferno.
— O quê? — Tento ganhar tempo.
— Uma mensagem piscou no seu celular. Ariana Colombo dizendo
que o pai de vocês está perguntando se vai almoçar no domingo.
Eu abro a boca várias vezes, tentando achar uma resposta
satisfatória. Tentando me safar. Mas de repente percebo que não quero fazer
isso.
Não quero mais mentir.
Eu respiro fundo.
— Sim, ela é minha irmã de criação. O pai de Ariana foi casado
com a minha mãe por um tempo.
— E você foi babá da filha dela? Por que Ariana não disse isso
quando te indicou?
— Eu nunca fui babá da filha de Ariana.
Ethan franze a testa, confuso, tentando entender as implicações do
que estou dizendo.
— Como é?
— Eu pedi para Ariana me indicar. Pedi que ela mentisse para eu
conseguir esse trabalho.
Os olhos de Ethan agora são duas bolas de gelo quando finalmente
percebe que estou falando sério.
Que sou uma mentirosa. Uma farsa.
Ethan já está bravo e nem ouviu ainda o pior.
— Por quê?
Fecho os olhos, lutando contra a vontade de chorar. Ou de rir e dizer
que estou brincando. Que ele não precisa me olhar com essa expressão de
frieza e desconfiança. Mas sei que é tarde para mim.
Abaixo o olhar para o chão, como a pessoa cheia de culpa que sou.
— Eu sou uma jornalista. Trabalho em uma editora. Meu chefe quer
escrever uma biografia sobre o Leão de Wall Street. — Minha voz embarga
sem que consiga evitar e levanto a cabeça para encarar Ethan, vendo sua
desconfiança se transformar em fúria quando finalmente percebe as
implicações de tudo o que estou contando. — Sinto muito.
— Está me dizendo que mentiu naquele seu currículo, Ariana
Colombo mentiu ao te indicar para cuidar do filho de Liam e Emma? Que
você só queria entrar aqui para conseguir informações como uma espiã ou
algo assim? — Sua voz está perigosamente baixa e engulo em seco, antes
de acenar confirmando.
— Sim, Carl não conseguiu a colaboração do Liam. Ele estava em
um beco sem saída e eu me dei conta de que podia ajudar, porque Ariana
conhecia Emma e contou que ela estava procurando uma babá... —
Caramba, começo a chorar, notando o quanto fui idiota em entrar naquela
farsa com Carl.
Eu achava mesmo que ia sair impune?
Ethan solta um palavrão e anda pela sala como um bicho enjaulado.
Sua fúria silenciosa chega até mim como labaredas que queimam minha
pele e me deixa com vontade de gritar.
Ele soca a parede com força e volta a me encarar com ódio.
— Quem diabos é você?
— Você sabe... — sussurro e ele se aproxima, segurando meu braço
e me sacudindo com força.
— Sei? Você é uma maldita de uma mentirosa! O tempo inteiro....
— Ele me solta, com nojo e eu soluço.
— Sinto muito, eu...
— Que porra achou que estava fazendo? — Ri, totalmente sem
humor. — Achou que ia entrar na casa do Leão e simplesmente pegar
informações sobre a vida dele, de Emma, de Leo... — Ele para, enojado, e
choro ainda mais, sentido nojo de mim mesma também.
— Eu sei que é horrível, mas não conhecia o Liam e nem Emma...
— Caralho... A Emma! Ela confiava em você! Ela se tornou sua
amiga e você...
— Eu nunca quis prejudicar ninguém.
— Não? E achou que estava tudo bem entrar na casa de Liam e
Emma, mentir, usar o filho deles para isso e depois pegar todas as
informações que conseguiu de forma escusa, colocar em um livro com esse
tal Carl e que ia sair impune?
— Sim, eu achei — murmuro minha culpa. — Não medi as
consequências do que estava fazendo. Liam Hunter era apenas um cara
famoso, um empresário bilionário e inescrupuloso! Eu era só uma assistente
qualquer, odiava meu trabalho e queria ser alguém! E vi como a minha
chance de mostrar o meu valor...
— Mostrar o valor? Sério?
— Isso é mais comum do que imagina! Muitas biografias são
escritas assim...
— Não me interessa!
— Então eu pedi que Ariana mentisse.
— A vaca da Ariana! — ele explode.
— Por favor, não a culpe. Ela não sabia dos meus objetivos.
— E mentiu!
— Eu pedi que ela mentisse dizendo que queria apenas um trabalho
com os Hunter. Ela não faz ideia da biografia. Nem Emiliano.
— Não sei se Liam vai pensar assim quando descobrir... Inferno, ele
vai acabar com a sua vida quando... — Ethan solta mais alguns palavrões.
— Eu sei. Merda, eu sei!
— Se sabia porque foi idiota de entrar nisso?
— Achei que quando ele descobrisse eu já estaria longe daqui.
Conseguiríamos entrevistas e autorizações e mesmo se houvesse um
processo, o livro seria um sucesso.
— Acha que Liam ia se contentar com um processo?
Eu me encolho.
— Sim, acho que fui inocente...
— Inocente é tudo o que você não é! Eu devia ter percebido, mas
estava ocupado demais pensando em como tirar sua calcinha! Caralho, foi
por isso que deu em cima de mim? O tempo inteiro estava tentando me
ludibriar para que eu não desconfiasse?
— Não! Claro que não! A atração que surgiu entre a gente foi
inesperada.
— Desculpa se é difícil acreditar! Sou o segurança do Leão de Wall
Street. Eu devia saber que você não valia nada!
Eu me encolho, arrasada com suas palavras duras.
— Devia saber que estava mentindo, devia te impedir de se
aproximar dele e de sua família! E em vez disso eu deixei você entrar! E
ainda a levei para minha cama! — Ele ri de novo com amargor. — Ouvi as
merdas que me disse! Comecei a acreditar que tinha razão, que podia querer
mais. Eu quis você, Amy.
Ele me encara agora com tanto pesar e decepção que meu coração se
quebra de vez.
— Eu me apaixonei por você... — sussurro. Rezando para que ele
acredite, mesmo sabendo que é tarde demais.
— Não...
— Sei que não acredita.
— Cala a boca...
— Mas eu realmente me apaixonei e... estraguei tudo. Agora você
me odeia, vai contar ao Liam e ele vai, sei lá, me matar ou quebrar minhas
pernas como nos filmes de máfia, e deixar a cabeça de um cavalo morto na
cama dos Colombo...
— Eu mandei calar a boca!
— Mas não posso mentir mais! — insisto — Sei que fui idiota. Que
fui uma escrota, com todo esse plano ridículo. Hoje eu me arrependo muito
de ter enganado a Emma, que é uma pessoa maravilhosa. E até o Liam
Hunter. Ele é esse cara que parece tão frio e impiedoso no mundo dos
negócios de Wall Street, mas eu sei que ele também é humano e que ama
sua família. E sobretudo, eu me odeio por ter decepcionado você... Eu só
queria... voltar no tempo e nunca ter feito nada disso.
Eu não queria pensar que se não tivesse mantido o plano de entrar
na vida dos Hunter, nunca teria conhecido Ethan e nem vivido os melhores
momentos da minha vida com ele.
Ethan não diz nada. Parece perdido em seu próprio sofrimento.
E o sofrimento dele me faz sofrer ainda mais. Eu só queria me
aproximar, tocar seu cabelo e dizer que sentia muito.
— O que vai acontecer agora? — murmuro.
Ele me encara colocando uma máscara de frieza no rosto.
— Eu deveria subir e contar ao Liam exatamente quem você é e
deixar que ele acabe com você.
Não posso negar que a ideia de ter Liam Hunter descobrindo quem
eu sou me assusta, mas sinceramente, no momento estou muito mais
assustada com a possibilidade de Ethan me odiar para sempre.
— Mas eu te darei uma chance de se safar. — Levanto o olhar,
surpresa, mas Ethan não me encara nos olhos. — Estou saindo com Liam
em alguns minutos. Nós voltaremos em uma semana. É exatamente o tempo
que você tem para desaparecer de nossas vidas. Você vai pedir demissão a
Emma e partir. Porque se eu voltar e ainda estiver aqui, deixarei que Liam
decida o que fazer e acho que já deve ter entendido que vai ser bem pior.
— Por que está fazendo isso? Achei que não perderia tempo em me
entregar ao Leão.
— Não quero que Emma se decepcione com você. Ela já tem um
histórico por se envolver com gente que não presta. — Sinto suas palavras
como tapas no meu rosto. — E isso pode causar mais problemas entre ela e
Liam.
— Simples assim, vai me deixar ir? — Por que eu não estou
pegando minhas coisas e correndo sem olhar para trás?
— Liam é impiedoso e não vai sossegar até acabar com você e esse
tal Carl.
— Eu não posso impedir o Carl de continuar com os planos dele...
— É bom que você o avise para parar. Porque eu não vou ter com
ele a mesma piedade que estou tendo com você.
— Piedade...
— Apenas... Faça o que estou mandando. E não magoe a Emma,
porque aí sim, não te darei uma segunda chance.
Tenho vontade de gritar que não quero nada disso. Que quero subir
lá na casa dos Hunter e confessar todos meus pecados, mas de certa forma
eu entendo Ethan.
Emma vai ficar arrasada se souber que a usei, mesmo que agora eu
esteja arrependida e não tenha a menor intenção de continuar a ajudar Carl.
Ethan pega a chave do carro e fecha a porta, que bate com um
estrondo, me fazendo tremer.
Eu fico ali, paralisada, ainda sem acreditar que há apenas poucas
horas estava o paraíso e que agora tudo tinha virado inferno.
Capítulo 27

Amy

Eu nunca me senti tão miserável em toda a minha vida.


Como é que eu tinha deixado tudo se transformar naquele
emaranhado de dor e arrependimento?
Depois que Ethan se vai, ainda permaneço ali, sozinha em seu
apartamento, tão cheio de lembranças sexys e doces de nós dois. Choro por
tudo o que poderíamos ter sido e que nunca mais seria possível porque sou
a criatura mais burra do universo.
Por que, demônios, eu tinha achado que podia entrar naquela trama
com Carl e sair ilesa? Ok, talvez estivesse ciente de que o Leão poderia
descobrir e me escorraçar dali. Era claro que eu sabia que ele ia descobrir
de qualquer jeito quando a biografia ficasse pronta. Porém, nunca ia
imaginar que poderia me apaixonar pelo cara que simplesmente dava a vida
por ele. Contrariando todas as possibilidades, foi exatamente o que
aconteceu.
E agora Ethan sabe. E me odeia.
E eu não consigo nem respirar direito.
Com muito esforço, levanto e praticamente me arrasto para a
cobertura dos Hunter. Graças a Deus, Emma não está no meu caminho
quando rumo para o quarto e entro no chuveiro, chorando mais um pouco
minha miséria.
E quando saio de lá e me visto, tomando cuidado de passar um
pouco de maquiagem, me pergunto como vou encarar Emma.
Tenho vontade de lhe dizer toda a verdade. Mas sei que Ethan tem
razão. Ela não merece essa decepção. O melhor que posso fazer agora é
arranjar uma boa desculpa para pedir demissão e desaparecer da vida do
Leão e de todos que o rodeiam.
Respiro fundo, conjurando força e vou para a cozinha. Emma está
ali, com Leo no colo. Eric cozinha algo no fogão e os dois sorriem ao me
ver. Não consigo retribuir.
— Ei, olha quem apareceu, ainda consegue andar? — Emma ri,
animada com sua piada maliciosa. — Quero que me conte tudo! Ethan é tão
bom de cama quanto parece? Ele é bruto? Ou tipo...
— Ei, Emma, acho que a Amy não está bem. — Eric percebe antes
de Emma que estou prestes a vomitar. Ou algo assim.
— O que.... O que foi? — O olhar de Emma se torna apreensivo.
Leo começa a chorar e agita os bracinhos para mim.
Aí eu desabo. Eu nunca mais vou ver Leo. E nem tinha reparado que
me apegara tanto ao pequeno Hunter.
— Meu Deus, Amy, o que foi? — Emma balbucia, apavorada com
meu choro.
Eric se aproxima e me coloca sentada. Não consigo parar de tremer
e de soluçar.
Emma está apavorada, e tenta acalmar Leo.
Eric coloca um copo de água em minha mão e pega Leo do colo de
Emma, o levando dali.
— Eu o acalmo. Veja o que aconteceu com Amy — diz, e choro
ainda mais ao sentir a preocupação em sua voz.
Ah, Eric, você é tão legal e eu sou um monstro.
— Jesus, Amy, está me assustando! — Emma se aproxima e respiro
fundo várias vezes, tomando uns goles de água e me obrigando a ficar
calma.
Preciso seguir em frente. Fazer o que Ethan pediu.
— Que diabos aconteceu? É algo com Ethan? Vocês estavam bem
ontem, eu achei...
Então percebo que já sei qual será minha desculpa.
— Eu e o Ethan terminamos — sussurro. E nem tenho que fingir
que estou arrasada porque é verdade.
Terminar com Ethan tinha me quebrado de uma maneira que nunca
julguei ser possível. Eu já tive outros relacionamentos. Já estive apaixonada
antes, mas nunca fiquei assim. Nunca achei que podia ficar assim.
Emma está consternada agora.
— Como assim? Ele contou ao Liam ontem e vocês passaram a
noite juntos, e... Não entendo!
— Eu sei. Nós estávamos bem, mas algo aconteceu.
— O que aconteceu? Não me diga que é por causa da Nicole?
— Não, quer dizer...
— Ah, eu sabia... Não vem dizer que o Ethan te disse que ainda
gosta daquela vadia? Porque eu vou matar o Ethan!
— Não, a culpa não é dele...
— Mas você está arrasada.
— Sim, estou.
— Você estava apaixonada?
— Sim, muito — confesso.
— Ah, Amy, não entendo o que pode ter acontecido. Nicole não foi
nada...
— Eu sei, não tem nada a ver com a tal Nicole.
— Então o que foi?
— Acho que não entenderia...
— Mas quero entender! Eu estava tão feliz com vocês dois juntos e
agora... — Ela começa a chorar.
— Emma, não chora.
— É horrível que não estejam mais juntos.
— Às vezes isso acontece.
— Sim, claro. — Ela funga e me encara esperançosa. — Mas você
gosta dele. E tenho certeza de que se Ethan te assumiu para o Liam, que
aliás está todo puto, morrendo de ciúmes...
— Liam com ciúmes?
Ela ri por entre as lágrimas.
— Você sabe como eles são ligados. Acho que Liam nunca se tocou
que um dia Ethan poderia encontrar alguém, que pudesse ter um
relacionamento sério...
— Quanto a isso ele não precisa se preocupar mais. Eu e Ethan não
temos mais nada.
— Mas pode ter sido só uma briga.
— Não foi só uma briga, Emma. Foi pra valer e acabou.
— Não dá pra entender...
— Não tente. A vida é assim, não deu certo.
— Isso é tão triste. Como vai ser agora, vocês dois aqui...
— Então, sobre isso, tem mais uma coisa. Eu... acho melhor pedir
demissão.
— Não!
— Sim, vai ser melhor. Ethan vai se sentir mal comigo aqui, uma
situação estranha.
— Não, não pode ir embora.
— Eu preciso, Emma.
— Por favor, não faça isso. Entendo que talvez seu caso com o
Ethan não tenha dado certo, mas... Se ficar aqui, talvez...
Eu sorrio tristemente.
— Não vai rolar. E estou bem triste agora, para falar verdade. Não
vou aguentar ver o Ethan todo o dia. Não consigo. Por favor, entenda.
— Não acredito que isso está acontecendo.
— Você vai arranjar outra babá.
— Não vai ser a mesma coisa.
— Eu sinto muito. Não quero decepcioná-la. Mas entenda, imagina
se terminasse com o Liam e tivesse que conviver com ele, como seria?
— Eu não consigo nem imaginar.
— Então só espero que me entenda. Eu preciso ir. Antes que o Ethan
retorne dessa viagem.
— Ah, Amy, fique!
— Não posso. Desculpa.
— Tudo bem — ela anui finalmente. — Não posso te prender aqui.
Sei que deve ser difícil.
— Obrigada por tudo. — Eu a abraço e choramos mais um pouco.
Eu realmente gosto demais de Emma. Por isso estou partindo sem
que ela saiba de nada.
Vai ser melhor assim.
Retorno ao meu quarto e começo a arrumar minhas coisas.
Eric aparece e me ajuda sem dizer nada.
— Vai ficar bem? — questiona, quando guardo a última roupa na
mala e ele me ajuda a levar para a sala.
— Um dia. — Dou de ombros.
— Sinto muito. Owen vai te levar. — Ele passa a mala para Owen
que leva para fora, com seu jeito silencioso.
— Cadê a Emma?
— Ela não quer se despedir. Está com Leo no quarto.
Seguro a vontade de começar a soluçar de novo.
— Obrigada por tudo, Eric. — Eu o abraço e ele me acompanha até
o elevador.
Consigo segurar a vontade de chorar até chegar em casa.
Tiziano me espera na porta do apartamento, com o rosto apreensivo
e um olhar de “eu te disse que ia dar merda”.
Eu tinha conseguido digitar uma mensagem para ele no carro,
comunicando que pedi demissão com algo do tipo “fodeu tudo”.
Ele me abraça e me leva para dentro.
— Por favor, não diga nada — balbucio, e ele apenas me
acompanha até o quarto, se acomoda na cama comigo e me embala
enquanto choro. Demora um pouco até que me torne coerente e consiga
contar tudo.
— Eu não quero ser aquele que vai te dizer “eu avisei”.
— Fui tão idiota, Tiziano.
— Ah, querida, você foi uma cretina.
Eu rio por entre as lágrimas.
— O que eu vou fazer?
— Agora? Vai chorar, vai sofrer e vai deixar o tempo passar. Tudo
passa, querida, e o tempo cura tudo, vai ver.
— Acha que vou esquecer o Ethan?
— Quem pode dizer? Mas você vai tentar.
— Ele me odeia e conviver com isso está sendo horrível.
— Teve sorte, Ethan deve gostar mais de você do que imagina.
— Sério?
— Claro. Ele tinha que ter te entregado ao Liam e não o fez. Ethan
te protegeu, acima da lealdade que tem com Liam Hunter.
Essa conclusão de Tiziano faz outra onda de choro sacudir meu
corpo.

Cinco dias depois estou deitada no terraço. Escutando Lana Del Rey
a todo volume e lamentando que Tiziano tenha levado nossa plantinha
mágica para a casa do seu último namorado, porque só assim para eu sair
daquele buraco de tristeza e culpa em que me encontro.
— Ah, também queria estar morta...
Eu tinha desligado o celular e sabia que Carl devia estar louco atrás
de mim, mas não me importava. Ele que fosse para o inferno com sua
biografia.
Aliás, que todos fossem para o inferno, não me importava.
Infelizmente, com Ariana não tive a mesma sorte, ela apareceu no
dia seguinte em que deixei a casa dos Hunter, cobrando satisfação, com o
dedo em riste.
— Posso saber que diabos está acontecendo?
— Por que está gritando? — Reaji com uma careta, aumentando o
som, e ela bateu na minha mão, desligando.
— Emma me ligou toda chorosa dizendo que você pediu demissão
depois de transar com o segurança dos Hunter, é verdade?
— Sim, é!
— E é por isso que está aqui com essa cara de quem não toma banho
há dois dias e nem penteia esse cabelo medonho?
— Ah, Ariana, eu fui tão idiota! — Comecei a chorar e ela me
abraçou e até deixou que eu ligasse o som de novo, tendo Lana como trilha
sonora para confessar, enfim, todas as merdas que tinha aprontado.
— Eu sabia que estava fazendo merda! E dessa vez foi longe
demais, Amy! Você enlouqueceu, enganar o Leão de Wall Street? Meu
Deus, e ainda envolver a mim e ao meu marido nisso!
— Me desculpe...
— Caramba, como pode ser tão burra?
— Burra?
— Sim, burra!
— Só queria ter uma chance de ser alguém!
— Enganando os outros?
— Nem pensei nisso...
— Claro, esse é seu problema, nunca pensa!
— Você me odeia agora também?
— Não, não te odeio. É minha irmã! Mas fico preocupada com
você. Já tem vinte e cinco anos, precisa parar de agir sem pensar! Precisa
crescer, Amy, já chega dessas palhaçadas inconsequentes! Eu entendo que
queria crescer na sua profissão, não é pecado ter ambição, mas se tivesse
parado para pensar um minuto nas consequências do que estava fazendo
não tinha entrado nessa.
— Eu sei. Agora eu sei. Não vou mais ajudar o Carl. Eu já tinha
decidido.
— Só que agora é tarde. Sorte sua que o Ethan apenas a mandou
embora e não contou nada ao Liam, porque se contasse estava ferrada! E
coitada da Emma, sabe que ela me ligou e pediu que eu conversasse com
você e a convencesse a voltar?
Eu sorri por entre as lágrimas.
— Emma é tão legal.
— Sim, ela é. E o que pretende fazer agora?
— Eu não sei. Só quero sofrer em silêncio.
— Bem, acho que o melhor que faz é realmente pensar na vida por
um tempo. — Ela se levantou e depois me abraçou para ir embora, não sem
antes me fazer prometer tomar banho e lavar o cabelo.
E agora eu tento achar algum sentindo para levantar e seguir em
frente, mas não encontro.
Só consigo pensar em Ethan. Em quando ele esteve ali me
investigando. Ou quando fizemos o ménage com o Oscar. Eu devia ter
aproveitado para transar com ele naquele dia. Se soubesse que nosso tempo
juntos seria tão breve, teria aproveitado todos os minutos.
Agora eu estou sozinha. Apenas com minhas lembranças.
E a culpa que ainda esmaga meu peito.
O pior é que não sinto falta apenas de Ethan. Sinto falta de Emma,
sinto falta de Leo. Até do Liam Hunter.
— Que lugar legal! — Abro os olhos, atordoada ao ouvir a voz de
Emma, achando que estou delirando, mas fico mais aturdida ainda quando
percebo que não comecei a delirar e sim que a esposa de Liam Hunter está
ali na minha frente.
— Emma?
Ela olha para todos os lados, animada.
— Muito legal esse espaço! E essa vista! Uau!
Sim, a vista é linda e, com o começo do verão, o sol está se pondo
refletindo uma luz incrível no terraço.
— Emma, que diabos faz aqui?
Ela finalmente me encara e retira os óculos de sol.
— Oi, você parece horrível. — Faz uma careta.
— Ainda não entendo o que está fazendo aqui?
— O casamento da Zoe é neste fim de semana.
— E? — Sim, eu me lembro que o casamento da amiga interesseira
dela é neste fim de semana. Na Irlanda.
— E eu estou indo para lá agora.
— E...
Ela sorri.
— E você vai comigo.
Ai, Deus, Emma Hunter tinha enlouquecido ou o quê?
— Como é?
— E nem pense em dizer não! Uma das damas de honra da Zoe
comeu camarão estragado ou ao algo assim, e está com intoxicação. E ela te
convidou, porque ainda está toda encantada com a festa de despedida de
solteira.
— Contou a ela que não sou mais sua babá?
— Claro que sim, e quem se importa? Está sendo convidada como
amiga!
— Emma, isso é ridículo...
— Não é! Vamos, levanta sua bunda daí!
Ela me puxa da cadeira e sai me arrastando escada abaixo, onde um
Tiziano sem camisa segura Leo em uma mão, enquanto leva minha mala
com a outra.
— O que é isso?
— Eu fiz sua mala! — ele responde sorridente.
— Como assim, quando...?
— Eu liguei para Tiziano hoje de manhã e pedi que ele
providenciasse isso para mim.
— Sério? — Encaro Tiziano chocada. — E não me disse nada!
— Ordens da senhora Hunter, querida, quem sou eu para contestar?
De repente Owen entra na sala e pega minha mala, levando-a
embora. A presença do outro segurança enche meu coração de apreensão.
— Emma, não pode estar mesmo falando sério. Sabe que não posso
ir com você, Ethan...
— Ethan não tem nada a ver com isso!
— Mas ele estará lá.
O que será uma grande merda. Ethan não quer me ver. E ficará puto
de eu estar com Emma.
— E daí? — Ela se aproxima de Tiziano e pega Leo. — Olha, Leo,
quem vai viajar com a gente? Ele estava com saudade de você! Vamos?
— Não...
Mas Tiziano já está praticamente me carregando porta afora,
seguindo Emma até o carro.
— Tiziano, me ajuda, sabe que não posso ir...
— Querida, relaxa.
— Não! Isso vai ser uma grande confusão.
— Que eu adoraria ver, mas infelizmente não posso ir.
Ele me joga dentro do carro e coloca minha bolsa no meu colo.
— Boa viagem!
— Tiziano... — Minha voz morre, amortecida pelo ronco do motor,
quando Owen dá partida e ainda vejo Tiziano rindo e acenando antes do
carro virar a esquina.
— Relaxa, Amy — Emma diz ao meu lado, e eu a encaro, pálida e
com dor de barriga.
— Relaxar? Você está me sequestrando!
Ela ri e Leo escolhe aquele momento para sacudir os bracinhos em
minha direção.
Eu o pego sem pensar, tentando me acalmar, porque minha mente só
pensava em uma coisa.
Emma Hunter é louca e está me levando para a Irlanda.
Para um casamento onde Ethan estará.
Rechaço o pequeno pulo de alegria que meu coração dá. Porque o
medo do que pode acontecer é bem maior.
Sinto a mão de Emma sobre a minha e a encaro. Ela está sorrindo.
— Amy, não se preocupe. Eu tenho um plano!
Oi?
Capítulo 28

Ethan

A vida é mesmo uma merda. Principalmente quando você descobria


que a mulher que o tinha feito mudar todos seus pensamentos sobre amor e
compromisso, simplesmente é uma maldita de uma mentirosa.
Agora, tudo o que eu desejo é nunca ter deitado meus olhos na
figura linda e ardilosa de Amy Grant.
Como fui tão idiota? Justo eu, que achava que levar vários foras
sucessivos de Nicole Zorn fora o fundo do poço.
Inferno, Nicole Zorn e sua arrogância não era nada em frente às
promessas doces e traiçoeiras de Amy. A maldita babá. Embuste!
Devia ter acreditado nos meus instintos iniciais. Devia ter mantido a
mente alerta. Mas não, deixei meu pau tomar conta da situação, muito feliz
e saltitante em brincar com a babá dissimulada. E baixei totalmente a
guarda quando permiti que ela entrasse aonde nenhuma outra entrara até
então. No meu coração.
E doía. Porra, doía pra cacete! Mesmo agora, vários dias depois,
ainda não consigo lidar com a decepção de que Amy não é quem eu
pensava ser.
E pior que lidar com meu próprio coração partido, como se fosse um
adolescente ridículo, ainda tenho que lidar com o fato de que ela entrou em
nossas vidas para prejudicar Liam.
Cara, ainda é difícil de acreditar que ela foi tão sacana a esse ponto.
Mentir e enganar. Forjar uma amizade com Emma para conseguir sua
confiança, apenas para obter informações para um maldito livro!
Bato no volante com força, tentando conter a fúria. Mas tudo bem,
em poucos minutos eu não precisaria mais conter a vontade de socar algo.
Ou alguém. Eu tinha remoído a minha dor e a minha raiva por uma semana.
Seguindo Liam em suas negociações na Europa, e tendo que engolir a
vontade de contar toda a verdade a ele. Mas sabia o que ia acontecer se
contasse. Liam ia ficar puto e não iria sossegar enquanto não acabasse com
Amy Grant e o tal chefe escroto.
Ok, eu podia deixar que ferrasse com o tal Carl, mas havia algo em
mim que não queria ver Liam prejudicando Amy. Era uma merda, mas
mesmo sabendo o tipo de pessoa que ela era e o que tinha feito, ainda
queria protegê-la de alguma maneira. O que era, no mínimo, sem sentido.
Devia deixar que Liam fizesse o que quisesse com Amy e não estar
nem aí. Bem, quem sabe um dia eu conseguisse. Depois que a tirasse do
coração.
Cacete, para de ser idiota! Minha consciência grita em meu ouvido.
O que ela vinha fazendo muito nessa última semana, sempre que eu deixava
que Amy voltasse a meus pensamentos. E se fosse apenas para ter raiva,
seria fácil. Mas era difícil encarar a saudade. Cacete, eu estava tão ferrado...
Bato no volante de novo, pronto para atacar alguém. Torcendo para
que o que eu viera fazer ali fosse o bastante para acalmar minha ira.
Deixei Liam em casa, depois de voltarmos a Nova York, onde
ficaríamos apenas um dia, antes de retornarmos à Europa, desta vez para
encontrar Emma que já tinha ido há dois dias para a Irlanda, ajudar nos
últimos preparativos para o casamento de Zoe, que aconteceria amanhã.
Liam poderia ter ido direto, mas ele não queria ter que aguentar Zoe e sua
chatice megalomaníaca mais do que necessário.
Aperto o olhar, estudando a entrada do prédio em que estou de
tocaia há algum tempo. Nada do cretino ainda.
Meu telefone toca e vejo que é Emma. Não atendo.
Ela tinha me ligado chorosa e suplicante quando Amy pediu
demissão, usando a desculpa, pelo o que eu tinha entendido, de que não
poderia ficar depois que “terminamos”.
— Você tem que voltar com ela! — Emma gritara no meu ouvido e
eu respirara fundo, lutando contra a vontade de começar a chorar como um
bebezão e dizer que Amy não passava de uma mentirosa embusteira que
tinha quebrado meu coração.
— Emma, pare de chorar. Vai arranjar outra babá — eu havia dito,
com a melhor voz fria de macho superior que encontrara dentro de mim.
— Mas vocês estão apaixonados, eu não entendo...
— Porque não é da sua conta!
— Ei! — Ela soara magoada e eu soltara um palavrão.
— Me desculpe. Sei que gostava da Amy, mas... Foi melhor assim.
Você vai esquecer — dissera as palavras que vinha repetindo a mim mesmo.
— E você vai? — ela questionara e eu me fizera a mesma pergunta.
— O tempo vai se encarregar disso, tagarela.
Eu consegui desligar um tempo depois apenas para aguentar Liam
me atazanando depois.
Quando eu entrei no carro na manhã em que deixei Amy no meu
apartamento, meu humor estava terrível e só queria sair quebrando tudo.
— Está de mal humor porque te tirei do meio das pernas da babá?
— Vá se foder! — resmunguei e Liam foi esperto o bastante para
saber que não queria falar sobre isso.
Mas depois que Emma lhe contou que Amy tinha ido embora, não
foi tão fácil me livrar de suas perguntas.
— Que porra aconteceu?
— Nada. Apenas acabou. — Tentei ser sucinto.
— Simples assim? Ontem estava todo apaixonado, fazendo
discursos românticos e hoje diz que acabou e que a babá foi embora?
— Achei que ia ficar feliz.
— Por que, porra, eu ficaria feliz com sua infelicidade?
— Não estou infeliz!
— Não? Parece que tem um toco enfiado no rabo! Eu sabia que
tinha alguma coisa errada!
— Olha, Liam, apenas... deixa para lá. Sim, eu estava com a Amy, e
não deu certo. Acabou. Às vezes as coisas acabam e a vida segue.
— Não parece tão simples...
Eu fiz o meu melhor para ignorar, assim, como as ligações de
Emma, que, até que enfim, parecia que eles tinham entendido.
Liam até disse na noite anterior que tinha sido melhor.
— Não entendo que porra aconteceu, mas... não posso deixar de
ficar aliviado.
— Aliviado?
Ele fez uma cara culpada.
— É, Emma me disse que era melhor começar a me acostumar em
não ter mais você comigo.
Eu ri, sem o menor humor.
— Por que eu faria isso?
Ele deu de ombros.
— Emma estava convencida de que Amy era a garota certa, palavras
dela. Tipo... que Amy seria a sua Emma.
— Amy não é Emma.
— É, vejo agora.
Eu fingi não me incomodar com as palavras de Liam, porém a
verdade é que Emma tinha razão. Eu estava mesmo começando a achar que
Amy era minha Emma.
Estava tão enganado.
Agora aqui estou eu, saindo do carro, quando vejo aquela barata
nojenta do chefe de Amy saindo do prédio, sem saber que está prestes a
levar a maior surra de sua vida.
Eu posso ter poupado Amy Grant. Mas esse tal de Carl não terá a
mesma sorte. Ele vai aprender como eu lido com quem tenta prejudicar o
Leão de Wall Street.
Amy

Eu nunca estive tão nervosa em minha vida.


Observo minha imagem no espelho, usando um lindo vestido lilás,
os cabelos presos em um intricado coque na nuca e a maquiagem perfeita.
— Você está linda! — Emma exclama ao meu lado e eu tento sorrir
ao encará-la. Ela está usando um vestido igual ao meu.
— Você também não está nada mal!
Ela ri.
— Mas parece que está com dor de barriga.
Desisto de tentar sorrir e faço uma careta.
— Ainda acho que é um grande erro estar aqui... — externo mais
uma vez meu medo à Emma. Mas, como das outras vezes, não adianta nada.
Emma sorri, colocando os sapatos ridiculamente altos. Estamos em
um dos elegantes quartos do castelo que Zoe escolheu para ser palco de seu
casamento ostentação.
Eu e Emma chegamos há dois dias e desconfio que a único motivo
dela ter insistido em me trazer foi para poder se safar de Zoe, que, como a
maioria das noivas, passava as horas correndo de lá para cá, certificando-se
de que tudo ia ser perfeito no seu grande dia.
E quando Zoe gritava alguma ordem absurda como “preciso que
alguém conte todos os ramos de orquídeas de novo porque tenho certeza de
que não está correto!”, Emma sorria, sacudindo Leo e perguntava se eu
podia ajudar Zoe, já que ela estava ocupada com o bebê. Ahan, sei.
Emma tinha sorte de duas coisas: eu tinha uma puta paciência com
gente louca, vide que era irmã de Ariana e minha mãe também não ficava
atrás, tendo sido casada cinco vezes, o que significava cinco cerimônias
ridiculamente bregas. E eu estava me sentindo muito culpada ainda por
todas as mentiras que contara a ela no período que estive em sua casa.
Então, apenas sorria de volta e concordava em ajudar Zoe com as malditas
flores, ou seja lá qual loucura ela inventava.
O bom de tudo isso era que eu me distraía da ideia de que, em pouco
tempo, Ethan estaria chegando com Liam e, quando me visse ali, não ficaria
nada contente. Talvez ele me levasse até o penhasco mais próximo e me
empurrasse de lá para se livrar de mim de vez.
Quando tentava dizer a Emma que Ethan ia ficar muito furioso
quando me visse ali, ela apenas batia na minha mão com um sorriso
matreiro.
— Vai dar tudo certo, querida. Lembra do nosso plano?
Ah, sim, o plano maluco de Emma de que, quando Ethan me visse,
ele ia cair de amores por mim e de novo.
Só que Emma não sabia os motivos de Ethan ter me dado o fora e eu
não podia contar.
— Não vai! Eu e Ethan não terminamos nada bem, ele não vai
querer me ver... Acho que deveria ligar para ele agora e contar que estou
aqui. Vai ver que vai pedir para se livrar de mim antes que chegue.
— Não seja boba! Não vou ligar para o Ethan! Ele não manda no
casamento da Zoe e ela te convidou!
— Acha que sou burra, Emma? Você que inventou de me trazer!
— Tudo bem, inventei mesmo e por isso vai continuar aqui!
Agora, a poucas horas da cerimônia, Liam já tinha ligado para
Emma e avisado que estava a caminho.
— Espero que Liam não atrase! — Emma reclama, enquanto
seguimos para fora do quarto.
— Aí estão vocês. — A mãe de Zoe, uma discreta senhora com
sorriso bondoso surge no corredor segurando Leo, que está lindinho em seu
mini smoking.
— Ah, que lindo! — Emma pega o bebê, o esmagando em seus
braços. — Obrigada por cuidar dele enquanto nos arrumávamos.
— Eu adorei, querida, é um bebê tão bonzinho. Porém, acho melhor
não entrar no quarto da Zoe agora.
— O que foi?
— Leo vomitou no vestido da festa de Zoe.
— Ah, meu Deus! — Emma parece horrorizada e eu me seguro para
não rir. — Ela deve estar querendo me matar!
— Ela está prestes a matar qualquer um de nós, na verdade —
Jackson, o noivo de Zoe aparece. — Uau, estão lindas.
— Acho que preciso ir ver Zoe — Emma diz, preocupada. — Deve
estar surtando! Pode ficar com Leo pra mim? — ela me pergunta e estou
prestes a dizer que sim, quando Jackson se interpõe.
— Na verdade eu vim te chamar porque o Liam e o Ethan
chegaram.
Sinto meu estômago embrulhar.
Ai, senhor. É agora.
Eu ainda estava rezando para que alguma coisa os atrasasse para
além da cerimônia, quem sabe assim eu pudesse fugir. Mas a sorte não está
comigo hoje, ao que parece.
— Liam chegou! — Emma sorri feliz. — Pode dizer a ele que vou
ajudar Zoe e que já desço?
— Não! — exclamo, e ela franze a testa, confusa. — Quer dizer,
porque não desce e vai ver o Liam e eu cuido da Zoe?
— Tem certeza? — Percebo que ela amou a ideia, o que é ótimo
para mim. Assim, posso evitar Ethan e minha morte iminente mais um
pouco.
— Claro que sim!
Apresso-me em ir na direção do quarto de Zoe. E quando lá chego,
arregalo os olhos ao ver uma Zoe, surtada, andando de um lado para o
outro, enquanto o maquiador a segue tentando terminar a maquiagem que,
percebo, foi feita apenas em um olho. Pelo menos o cabelo já está pronto.
— Tudo bem aqui? — Visto meu melhor sorriso enfermeira de
hospício.
Zoe me encara e começa a chorar.
— Ei, o que foi? — Eu me aproximo e a seguro pelos ombros.
— Está tudo dando errado!
— Não! De onde tirou isso? — Eu a levo até uma poltrona e o
cabeleireiro rola os olhos, fumando um cigarro suspeito perto da janela.
— Ei, isso é maconha?
O rapaz, que ostenta um cabelo roxo e maquiagem punk sorri com
ironia
— Claro que não, querida!
É minha vez de rolar os olhos. Zoe continua a chorar, balbuciar e
mexer as mãos, enquanto tenta me explicar tudo o que apenas na sua mente
insana está dando errado.
— E o Leo vomitou no meu vestido da festa, sabe quanto custou
aquela merda?
— Não chame um Vera Wang de merda, Zoe — digo, e ela ri
histérica.
— Um Vera Wang arruinado!
— Mas esse seu vestido da cerimônia está lindo, nem precisa
trocar...
— Não era isso que eu tinha imaginado — ela grita como uma
criança birrenta e eu bufo.
— Eu preciso maquiá-la — o maquiador, um senhor de meia idade
efeminado e sem paciência resmunga e eu sorrio para tranquilizá-lo.
Eu tenho uma ideia.
— Ei, Gunther, é esse seu nome, não? — indago ao cabeleireiro.
Ele assente ainda com cara de enfado.
— Pode me emprestar seu cigarro?
— O quê?
— Por favor, temos uma emergência aqui!
Ele se aproxima e me estende o baseado e eu passo para Zoe.
— Acho que precisa disso, Zoe. — Sorrio docemente como quem
está oferecendo balinha na porta da escola a uma criança inocente. Mas isso
é por uma boca causa.
— Eu não fumo! — Ela me encara, confusa.
— Só para relaxar, querida, eu prometo, vamos, só uma tragadinha...
Ela pega o cigarro e aspira e sorrio para a plateia composta pelo
maquiador e o cabeleireiro, enquanto Zoe parece ficar mais calma a cada
tragada.
— Não é tão ruim... — balbucia com um sorrio remelento e suspiro
aliviada, pegando o cigarro de sua mão e passando para o cabeleireiro.
— Obrigada.
— Você me dá medo! — ele resmunga e volta ao seu posto perto da
janela.
Ignoro a observação e convenço Zoe a lavar o rosto, antes de o
maquiador finalmente conseguir terminar seu trabalho com uma Zoe dando
risadinhas tolas.
— E aí, tudo bem por aqui? — Emma aparece quando Zoe já está
pronta. — Wow, você está maravilhosa, Zoe! — Ela se emociona e Zoe
apenas ri, doidona.
— Não sou mesmo linda? Hum, acho que estou com fome... Já sei,
vamos comer o bolo do casamento?
— Agora? Está louca? — Emma ri para mim, confusa, e eu apenas
faço um sinal com a mão para relevar. — Vamos descer, Zoe, seu pai já está
aí fora para te levar!
Sigo Emma para fora do quarto, voltando a sentir meu estômago
doer.
Agora não tenho mais como fugir.
Descemos para o caminho para fora do castelo, onde todo o local da
cerimônia está arrumado como um conto de fadas, com o sol se pondo no
oceano dando uma bela visão do penhasco a beira mar que estamos.
A marcha nupcial começa e Emma sorri animada para mim, mas
não consigo retribuir, pois acabei de avistar Ethan.
Capítulo 29

Amy

Ele está mais afastado dos convidados. Vestido todo de preto, como
sempre. O semblante esculpido em granito e o olhar mortal preso em mim.
Quero desviar meus olhos, mas não consigo. De repente penso só
em como está lindo e em como senti falta de apenas descansar meus olhos
em sua figura incrível.
Por que estraguei tudo? Por que o universo tinha sido tão cruel
comigo, que, justamente quando decido fazer a maior merda da minha vida,
ele me coloca um cara tão maravilhoso como Ethan no meu caminho. Para
me apaixonar. E depois perder.
Não era nem um pouco justo.
Eu me posiciono ao lado de Emma, e Zoe aparece desfilando linda
em seu vestido caríssimo, ainda sorrindo, acenando e jogando beijos no ar
para os convidados. Jesus, ela está doidona!
Jackson franze a testa, confuso, e olha para mim e para Emma, em
busca de resposta para o comportamento bizarro da noiva. Eu apenas dou de
ombros e ele sorri, fazendo o mesmo, certamente está pensando que uma
Zoe ligadona é melhor do que uma Zoe psicopata.
A cerimônia começa com o céu de fim de tarde explodindo em cores
e, devo dizer, Zoe acertou em cheio em escolher aquele local para o
casamento. É mesmo lindo de se ver.
Quando a cerimônia termina e Jackson beija uma Zoe às
gargalhadas, os convidados seguem para a área da recepção no jardim do
castelo, e penso que esse é um momento ótimo para fugir. Procuro Emma
com o olhar e ela está com Liam, que segura Leo no colo.
Aproximo-me deles, ainda com um pouco de receio de Liam Hunter,
mas percebo, por sua expressão, que Ethan não lhe contou nada mesmo.
— Amy Grant, que surpresa.
Eu me pergunto o que se passa na sua cabeça. O que será que Ethan
contou sobre nosso término.
— Olá, senhor...
— Acho que não precisa mais me chamar de senhor, já que não sou
mais seu patrão — diz com uma voz extraordinariamente macia, seguida de
um sorriso, quase humano.
Ah?
— Nunca foi, na verdade — Emma se interpõe. — Eu era a patroa
de Amy! — E de repente ela olha para além de nós. — Ethan, venha aqui!
Ah, droga! — Gelo da cabeça aos pés.
Ethan se aproxima, colocando-se ao lado de Emma, que se engancha
em seu braço.
— Não está feliz de ver a Amy? — pergunta com um sorriso.
E Emma é realmente muito sem noção se não percebe o olhar irado
de Ethan em minha direção.
— Estou surpreso. Achei que nunca mais ia vê-la entre nós — ele
acentua o “nunca mais” e engulo a vontade súbita de chorar.
Sim, ele ainda está com raiva.
E eu que tinha a esperança de que sua raiva tivesse diminuído,
estava enganada.
— Emma insistiu que eu viesse — digo em um fio de voz. Preciso
sair dali. Ficar perto de Ethan, agora, sabendo que ele me odeia, está
acabando comigo.
— Olha, vão servir a comida, estou faminta! — Emma segura meu
braço e me puxa em direção à mesa. Não ouso olhar para Ethan, mas sei
que ele está nos seguindo com Liam.
Comer é uma tortura. A comida que, pelo preço que eu vi Zoe
dizendo que custou, devia ser deliciosa (ou feita de ouro), parece papel na
minha boca.
Às vezes, relanceio o olhar na direção de Ethan, apenas para flagrá-
lo me encarando com raiva. O que faz um bolo se formar em minha
garganta.
Os noivos se levantam para a dança do casal e, depois de matar a
larica, acho que Zoe está mais calminha. Ou bêbada, pelo jeito que tropeça
no vestido. Realmente o vestido vomitado ia ser bem melhor para dançar.
— Eles formam um casal tão lindo! — Emma deita a cabeça no
ombro de Liam, suspirando. — Amo casamentos. Espero em ir outro muito
em breve...
Ah caramba. Emma é sutil como um elefante.
— Desde quando você é tão romântica? — Liam questiona,
ajeitando um Leo quase adormecido no colo.
— Desde que me apaixonei por você! — Ela o beija. — Dança
comigo?
Leo resmunga entre os dois e eu aproveito para tentar escapar,
levantando-me para me oferecer para cuidar do bebê.
Mas acho que Ethan teve a mesma ideia que eu, pois já estende os
braços na minha frente.
— Deixe que eu fico com Leo.
Liam não hesita em passar o bebê para o colo do segurança e se
levantar, levando Emma pela mão.
Fico olhando os dois se afastarem, com um olhar de inveja.
Eu poderia ter tido minhas dúvidas com aquele bizarro
relacionamento, mas é obvio que Liam e Emma são muito apaixonados e
felizes um com o outro.
E é duro pensar que eu nunca terei algo assim.
— Que diabos está fazendo aqui? — Ethan rosna à minha frente e
eu o encaro, tentando soar calma e não começar a chorar e implorar por
perdão.
Não ia adiantar nada. É difícil falar em dignidade na minha situação,
mas podia tentar.
— Emma insistiu.
— Quer que eu acredite?
— Acredite no que quiser, Ethan — digo, cansada. — Você me
odeia.
— Acha que não tenho motivos... — Sua voz é cheia de acusação e
algo mais que parte meu coração. É decepção.
— Sim, você tem! — Mordo os lábios com força. Não vou chorar.
Merda.
— E eu não falei que era para sumir da vida dos Hunter?
— Sim, e fiz o que mandou! Pedi demissão no mesmo dia. Fui
embora da casa deles sem olhar para trás.
— Mas está aqui.
— Já disse que a Emma praticamente me sequestrou!
Ele solta um palavrão, passando a mão livre pelos cabelos.
Ah, quanta saudade daquelas mãos...
— Sinto muito por tudo — murmuro.
Ele não me encara. Está perdido em seus próprios pensamentos
sombrios.
De repente quero aproveitar aquele último momento para tentar me
redimir mais uma vez, mesmo sabendo ser em vão.
— Eu sei que me odeia agora, mas quero que saiba que me
arrependo muito do que fiz, porém, de alguma maneira, não lamento.
Ele volta a me encarar e eu continuo.
— Eu nunca vou lamentar ter te conhecido... Ter ficado com você
foi a melhor coisa que fiz na vida — digo com toda seriedade do meu
coração. E rezo para que ele acredite. Ao menos nisso. — E estraguei tudo
sendo cretina. Então, só espero que um dia você consiga pensar em mim
sem ser com raiva. Por que eu vou guardar nossos momentos no meu
coração e na minha memória para sempre.
Deixo minhas palavras se assentarem no espaço entre nós, enquanto
olho para os casais dançando, com uma sensação de conformidade tomando
minha alma.
É isso. O fim.
O fim de algo que poderia ter sido incrível.
— Sim, eu odeio você! — ele diz por fim, e eu volto minha atenção
para seu rosto. Está furioso enquanto continua. — Te odeio por ter sido tão
burra e entrado em uma trama para enganar o Liam, achando que ia acabar
bem. Odeio por ter enganado a Emma, que é uma pessoa doce e ingênua. E
odeio sobretudo por ter feito com que eu me apaixonasse por você, quando
o tempo inteiro estava apenas se divertindo em seu planinho diabólico!
Porra! — Bate na mesa e não sei como Leo não acorda. Meu coração está
aos pulos.
Ele tinha dito mesmo que se apaixonara por mim?
Por que de todas as coisas terríveis que ele me disse eu só me apego
a isso?
— Hora de trocar de par! — Emma retorna e me puxa pela mão. —
Vá dançar com Liam, Amy.
O... quê?
Mas Liam Hunter já segura minha mão e me puxa para o meio da
pista.
Que mundo estranho é aquele em que eu vivo agora, em que danço
calmamente uma música romântica com o Leão de Wall Street?
— Ei, não vou te engolir — Liam diz, e eu finalmente tomo
coragem de encará-lo.
Caramba, ele é bonito assim, não o aterrorizante Leão de Wall
Street.
— Por que tem tanto medo de mim? — Ele franze a testa, o olhar
tornando-se perigoso.
Ah, lá está. O leão de novo.
— Acho que todo mundo tem! — murmuro, e ele ri. Gargalha na
verdade.
Será que ele também tinha dado um pega no baseado do
cabeleireiro?
— É verdade. E é divertido.
— Divertido?
— Sim, é muito bom para os negócios.
— Imagino. — Faço uma careta.
— Por que terminou com o Ethan? — Ele me pega de surpresa com
sua pergunta.
— Ah, foi isso que ele disse?
— Não. Ele não me disse muita coisa. O que me deixou curioso.
— Ah, claro. São tão próximos que deve ser esquisito Ethan não te
contar algo.
— Sim, somos muito próximos. Ele é como um irmão. E fiquei puto
por vê-lo magoado.
Arregalo os olhos. Liam Hunter estava tirando satisfação comigo?
— Minha vez! — Antes que consiga responder a voz de Ethan nos
interrompe e, no momento seguinte, me vejo sendo trocada de braços. Do
leão para o segurança.
E já nem lembro mais de Liam Hunter, quando Ethan me segura
firme. Seu cheiro maravilhoso invadindo minhas narinas, trazendo todo tipo
de lembrança olfativa para meu sistema.
Seu braço em volta da minha cintura é tudo o que quero para sempre
e minha mão sendo engolida pela sua é o paraíso, enquanto deixo meu
braço livre matar a saudade de sua nuca.
De repente suas últimas palavras voltam à minha mente, fazendo um
frisson percorrer minha espinha.
— Por que não me entregou ao Liam? — pergunto num fio de voz.
As palavras de Tiziano reverberando em minha memória.
— Você sabe por quê. Pelo mesmo motivo que estou aqui, dançando
com você. Por que só consigo pensar em como está linda, em como senti
sua falta, Penny. E isso é uma merda! — Sua voz sai derrotada e eu quero
chorar. E choro. Uma lágrima silenciosa rola por meu rosto.
Ah, Ethan.
— Porque você é uma mentirosa. E eu só consigo me achar um
idiota por ainda te querer, quando devia estar te entregando para os leões.
— Seu braço me aperta mais e um desejo saudoso percorre meu corpo.
Rouba meu fôlego.
Aperto minha própria mão em seu ombro, querendo
desesperadamente que ele me beije e encha meu mundo de paixão.
E sei que ele quer o mesmo. Conheço o jeito que seu olhar feroz
mira minha boca quando quer me beijar. Como seus braços me pressionam
quando querem me tomar.
E então tudo mais desaparece, restando apenas Ethan e seu desejo.
E eu queria que aquele momento fosse eterno. Que nada fosse mais
forte do que seu desejo por mim. Seu amor por mim.
Assim como meu amor por ele.
Mas de repente a música termina e a voz de Zoe se faz ouvir em
meio ao burburinhos dos convidados.
— Eu vou jogar o buquê, cadê as solteiras!
Ethan me solta com cara de poucos amigos, como se tivesse se
tocado de que tinha feito algo muito errado e só consigo lamentar.
Mas, merda, ele gosta de mim. Será que eu não posso ter nem um
pouquinho de esperança?
— Vai, Amy — Emma grita e olho para onde ela está com Liam ao
lado. E Liam olha de mim para Ethan com um olhar especulador.
E entendo que, por mais que eu queira e até por mais que Ethan
queira também, nada entre nós é possível agora, porque eu estraguei tudo
com minha intenção de prejudicar a pessoa a quem Ethan devia mais
lealdade no mundo.
O Leão de Wall Street.
E de repente eu sei que não posso mais mentir.
Nem para Emma e nem para Liam.
Sei que posso estar cavando minha própria sepultura, mas não tem
outra maneira de terminar aquela história, eu preciso contar toda a verdade
a Liam e Emma.
E dou um passo para fazer exatamente isso, quando de súbito duas
coisas acontecem, um buquê é jogado diretamente na minha mão e Ethan
está me puxando através dos convidados que aplaudem e gritam pelo meu
feito.
— Ethan... — eu o chamo, aturdida.
— Cala a boca! — Grunhe, enquanto entramos no castelo e ele abre
a primeira porta que aparece. É uma sala muito elegante, com armas na
parede... e é só o que meus olhos confusos conseguem captar antes de ser
puxada com toda força para os braços de Ethan e sua boca esmagar a
minha.
E por um momento maravilhoso meu coração e meu corpo exultam.
Quantas vezes naquela semana eu sonhei em estar com Ethan
exatamente assim, com sua boca devorando a minha, com as mãos puxando
meu cabelo, com seu corpo excitado pressionando o meu com desejo?
Eu sei o que ele quer. O que ele precisa. Porque é a mesma coisa que
eu quero e preciso.
É mais que desejo. É necessidade.
É saudade.
Então, deixo que me coloque sobre uma mesa e se infiltre entre
minhas pernas muitos saudosas em cingi-lo e trazê-lo para perto. Deixo que
a boca masculina deslize por meu pescoço, lambendo, mordendo,
marcando, enquanto seus gemidos fazem eco com os meus na sala vazia.
E minhas próprias mãos descem afoitas por seu peito e abrem o
cinto apressadamente. Não precisa de palavra. Ele toma minha boca de
novo com um rosnado, descendo as mãos para subir meu vestido e não
perde tempo nem em despir a calcinha, apenas a tira do caminho antes de
me penetrar com força, fazendo um grito escapar da minha garganta.
Ah, sim. Bem assim. Rápido. Com força. Com vontade.
Encosto minha testa na dele e me agarro a seus ombros. Me movo
junto, nossas respirações pesadas se misturando, nossos olhos bem abertos,
enquanto o prazer vai crescendo vertiginoso, intenso, esmagador.
Até tudo desaparecer e restar apenas sensação. Doce. Sublime.
Perfeita.
Nós somos perfeitos juntos.
E eu o abraço forte, enquanto goza dentro de mim e me desmancho
de amor.
Só amor.
Depois ficamos em silêncio. Enquanto nossas respirações vão
voltando ao normal.
Ainda mantenho meus braços firmemente agarrados a ele, negando-
me em soltá-lo, porque sei que quer se soltar, pode ser para sempre.
E não quero.
Não posso.
Mas um barulho de alguém passando no corredor faz com que Ethan
se retese e se afaste, obrigando-me a soltá-lo.
E só quando se vai é que percebo que também estava me agarrando
com força.
Ele abaixa meu vestido no processo, tirando-me da mesa e se
virando para fechar a própria roupa.
— Me desculpe! — diz, com uma voz que não entendo.
Ou estou muito confusa para entender.
— Não peça desculpa por isso — rebato, e ele me encara.
Não tem mais raiva em seu olhar.
Mas tem pesar.
Meu coração quebra mais um pedacinho.
— Por que as coisas não podiam ser simples, Penny? — Sua
pergunta vem com um sorriso triste. — Por que você não podia ser apenas
uma hipster maluca por quem eu me apaixonei? Apenas uma garota que eu
posso amar?
— Mas eu sou essa garota. O problema é que essa garota fez uma
merda muito grande, e justamente contra o cara que você protege e ama
também. E é com isso que você não consegue lidar. — Respiro fundo. — E
eu não sei o que vai acontecer. Se um dia vai me perdoar, ou vai me
esquecer. Mas só quero que saiba que eu te amo. De verdade. E vou contar
toda a verdade a Liam e Emma.
— Que verdade? — A voz de Liam irrompe na sala e eu e Ethan
olhamos para a porta para vê-lo parado com um olhar ameaçador.
— Nada — Ethan diz rápido, mas eu dou um passo à frente.
— A verdade é que eu não era uma simples babá... — começo.
— Amy — Ethan tenta me deter, mas sei que não posso mais.
— Eu menti. Sou uma jornalista e me infiltrei na sua casa para
conseguir informações e escrever uma biografia sobre você.
— Como é? — É a voz da Emma que escuto agora, quando ela
aparece ao lado de Liam, que está me fitando como se estivesse levando em
consideração o que eu acabei de dizer.
E percebo exatamente o segundo em que ele entendeu.
Quando o olhar do Leão de Wall Street recai mortal sobre mim.
Capítulo 30

Amy

Eu achava que tinha vivido um inferno quando Ethan descobriu


minhas mentiras. Mas ver a cara confusa de Emma e a fúria fria nos olhos
de Liam Hunter está sendo mais terrível ainda.
— Me desculpe, Emma — murmuro — mas é o que ouviu. Eu
nunca fui babá da Ariana. Ela é minha irmã de criação. Minha mãe foi
casada com o pai dela e...
— Não quero saber a árvore genealógica da sua família, quero que
explique essa história de ter mentido — Liam me corta.
— É sério? — Emma ainda parece desconcertada.
— Amy — Ethan tenta me impedir ainda.
— Não, Ethan, tenho que contar — continuo. — Eu sou uma
jornalista.
— Isso eu já sabia! — Liam explode.
— O que não contei é que eu trabalhava em uma editora. Era
assistente e não tinha nenhuma perspectiva...
— Você contou isso pra mim — Emma diz.
— Mas eu menti em dizer que tinha sido há muitos anos e que
trabalhei como babá. A verdade é que meu chefe, Carl Davis, queria
escrever uma biografia...
— Espera... Carl Davis da Simon&Davis? — A voz de Liam soa
perigosamente baixa.
— Sim.
— Aquele filho da puta me procurou algumas vezes há alguns
meses insistindo na merda de uma biografia... Espera... Então é isso que
estava fazendo na minha casa, estava me espionando?
Ah, merda. Ele já tinha entendido.
Ethan solta um palavrão ao meu lado.
Emma ainda parece confusa.
— Claro que não! A Amy não ia fazer uma merda dessa... ia? — Me
encara, ainda querendo entender, e não consigo negar.
— Me desculpa, mas foi exatamente o que fiz. Liam bateu a porta
na cara do Carl e eu sabia que Ariana era sua amiga e comentou que queria
uma babá. E pedi que ela mentisse.
— Ariana sabia? — Emma parece desolada.
Sinto-me mais culpada ainda.
— Não! Nem ela nem Emiliano sabiam qual o meu objetivo. Eu
apenas disse que queria mudar de ares. Ela não tem nada a ver com isso...
queria só me ajudar e...
— Ajudar a me enganar! — Liam esbraveja e dou um passo atrás,
começando a ficar mesmo com medo.
— Eu não queria prejudicar ninguém, só uma chance de fazer algo
grande, e a biografia ia ajudar muito a minha carreira.
— Amy, como pôde fazer isso? — Emma murmura. — Por que não
pediu para nós? A gente te ajudava.
— Ajudar, você ficou louca? — Liam grita, furioso, e aponta o dedo
em riste para mim. — Você entrou na minha casa, mentiu para mim, usou
minha esposa, meu filho... — Ele está andando em minha direção agora.
Começo a tremer.
Mas Ethan se coloca na minha frente.
— Liam, se acalme.
Liam franze a testa parando.
— Você sabia.
O olhar de culpa de Ethan diz tudo.
— Porra, você ajudou essa vadia a me enganar?
— Não, cara...
— Ethan só descobriu no dia em que pedi demissão. — Eu me
interponho ao ver que Liam não está entendendo. — Eu lhe contei, por isso
brigamos e ele pediu que eu fosse embora.
Liam encara Ethan.
— Você descobriu e deixou ela ir? Deixou que se safasse?
— Eu dei uma surra no tal Carl. Ele não vai mais continuar com
essa merda de ideia de biografia. E talvez não ande direito também...
— Porra, mas foi ela que entrou na minha casa e enganou a minha
mulher usando meu filho! — Liam grita.
— Acabou, Liam. Ela está fora da sua vida.
— Acha que devo deixar assim?
— Amy se arrependeu.
— Você está protegendo essa mentirosa? Defendendo ela?
— Estou apenas fazendo o que é certo.
Liam ri sem humor.
— Não acredito que está do lado dessa...
— Olha como fala — Ethan diz, de um jeito tão frio como nunca vi
antes. E Liam também fica sério. Os dois se encarando como se nunca
tivessem se visto antes.
Caramba. Que diabos eu tinha feito?
— Vai mesmo ficar do lado dessa mentirosa, irmão? — Liam sibila
baixo. E sinto um desgosto frio em sua voz.
— Sei que ela fez merda. E por isso que mandei que fosse embora.
Porque sabia que você ia querer destruí-la.
— E por que não pode deixar? Não é o que ela merece?
— Precisa esfriar a cabeça, Liam.
— Eu preciso é acabar com essa...
— Não. Não vou deixar você fazer qualquer coisa contra a Amy —
Ethan diz, sério.
— Que porra, Ethan! — Ele empurra Ethan e desta vez Emma se
coloca entre os dois.
— Ei, Liam, chega!
— O quê? Ele está defendendo essa vadia que invadiu nossa casa,
pôs a mão no nosso filho!
— Ethan está defendendo a mulher que ele ama! — Emma grita.
— Ah, vá! — Liam se exaspera. — Ele não está pensando direito!
Essa mulher entra na vida dele e ele defende o que ela fez? Contra mim?
— O quê? — Emma continua. — Está com ciúme porque Ethan
ama alguém mais do que a você? Fala sério! A lealdade do Ethan também
está com outra pessoa agora, e daí? Supere! Uma hora ia acontecer! Não
estou defendendo a Amy, aliás... — Ela se vira para mim e sem que
qualquer um de nós espere, vira um soco na minha cara e eu teria caído se
Ethan não me segurasse, totalmente estupefato. — Isso foi por mentir pra
mim!
Ela sacode a mão encarando Liam.
— E você pare de ser ridículo!
— É ridículo ficar puto por alguém ter nos enganado?
— Eu também estou puta! Mas como deve ter percebido, já resolvi a
questão por nós. Vai fazer o quê? Agredir uma mulher? Sabe que eu não ia
permitir que botasse a mão em alguém que não seja eu!
— Não ia bater nela, eu... — Liam parece confuso.
Caralho, que diabos? Não sei se estou tonta por toda aquela cena ou
pelo soco. Massageio meu rosto, que certamente ficará roxo.
— Agora não vai fazer mais nada! Amy errou, mas sei que ela não é
uma pessoa ruim!
— Você nunca acha que ninguém é ruim!
— Dessa vez eu sei. E sabe como eu sei, porque Ethan nunca ia se
apaixonar e muito menos defender alguém que, bem no fundo, ele sabe que
é gente boa. E ele já deu uma surra no tal chefe safado, então nenhuma
biografia vai ser feita.
— Ei, a Zoe e o Jackson estão indo embora! — A mãe de Zoe entra
na sala, segurando Leo, mas para ao ver a tensão. — Hum, algum problema
aqui, crianças?
— Nada que não possa ser resolvido! — Emma se adianta e pega
Leo. — Diga a Zoe que já vamos. — Ela olha para nós três. — Vocês vão
sair e se despediram de Zoe. E acho que chega de briga por hoje!
Ethan ainda está me segurando, muito sério. Ele e Liam não se
olham.
Ah, que merda. Agora eles estão putos um com o outro por minha
causa!
Emma sai da sala e Liam olha para Ethan, sei que quer dizer alguma
coisa. Ou gritar. Mas segue Emma para fora.
Eu respiro aliviada e encaro Ethan, que agora toca meu rosto.
— Está doendo? Precisa de gelo.
Sorrio tristemente e tiro suas mãos de mim.
Embora isso seja muito difícil.
— Preciso ir embora daqui.
— Amy...
— Sabe que vai ser melhor assim. Liam e Emma estão putos
comigo. Com razão. E Liam está bravo com você. Por minha culpa.
Ele abre a boca para discordar, mas continuo.
— Por favor, Ethan. Apenas... Vou subir, pegar minhas coisas e peça
para Owen me levar até o aeroporto. Vou fazer o que você me mandou
antes. Vou sumir da vida de vocês. O que eu fiz foi demais para ser
perdoado, e você sabe disso, não é?
Ele me encara em silêncio por um tempo.
Torço para ele me deixar ir.
Torço para ele me impedir.
— É isso mesmo que quer?
— Sim.
Ele assente, sem olhar para mim.
— Certo. Acho que tem razão. Vou pedir para Owen te levar.
E sem falar mais nada, ele se afasta.
Sinto como se tivesse levado meu coração junto.
Ethan

Aguentar o resto do circo que era o casamento de Zoe foi uma


pequena tortura depois de Liam e Emma descobrirem a verdade sobre Amy.
Liam estava puto e sem falar comigo e Emma, fingindo que tudo
estava bem enquanto os últimos convidados iam embora e finalmente nós
estávamos livres para voltar para o hotel em Dublin, onde ficaríamos até a
partida na manhã seguinte.
Dirigi ao lado de Liam com cara de merda e Emma brava por ele
não estar falando comigo. Mas o que ela esperava?
Liam tinha razão de estar bravo. Eu deveria ter contado a ele sobre
Amy. Mas escolhi protegê-la.
Eu podia mentir para mim mesmo, mas já estava de saco cheio.
Fiquei decepcionado pra cacete com as mentiras de Amy, mas ainda gostava
dela. Essa era a verdade. E não queria que Liam fizesse nada que pudesse
prejudicá-la.
E quando chegamos no hotel e Liam e Emma foram para a suíte,
pude ficar sozinho com meus pensamentos. E meu sofrimento.
Eu tinha observado de longe a Amy partir, levada por Owen,
contendo a vontade de ir atrás dela. Como fui depois que ela pegou o
buquê.
E o que eu podia dizer? Eu estava com saudade. Estava com tesão.
Estava morrendo para senti-la de novo. Nem que fosse uma última vez. O
problema foi que depois que acabou, eu só pensava que não queria que
fosse a última vez. Queria que ela voltasse para mim.
Mas como seria possível?
Eu ia perdoá-la pelo que tinha feito?
Por que não? Uma voz sedutora sussurrava em meu ouvido. Amy
podia ter feio uma grande confusão se envolvendo naquela farsa, mas eu
acreditava quando ela dizia que estava arrependida.
E acreditei quando disse que me amava.
E tudo o que queria era acreditar que um futuro juntos ainda era
possível.
Mas Liam entrara e descobrira tudo e ficara puto como era de se
esperar. E ficara furioso comigo porque ter defendido Amy.
Nunca fiquei tão dividido na minha vida. Mas sentia que estava
fazendo a coisa certa defendendo Amy. Eu já passara tempo demais
defendendo Liam. A merda é que eu sentira como se tivesse que escolher
um lado, quando só queria que todos estivéssemos juntos na mesma
equação.
Liam era minha família.
E eu queria que ele aceitasse Amy também. Assim como aceitei
Emma.
De repente escuto uma batida na porta e me levanto da cama, onde
estava deitado olhando o teto desde que cheguei.
E me deparo com Emma.
— Ei, tudo bem? — Ela parece preocupada e eu sorrio.
— Sim, tagarela.
— Não parece.
— Eu vou ficar.
Ela entra sem ser convidada. Típico.
— Que diabo de música é essa? — Ela apura os ouvidos e fico
vermelho.
— É Lana Del Rey.
Era uma merda que Amy tivesse razão e a música fosse realmente
boa. Ainda mais para fossa.
— É bom... — Emma resmunga e deita na cama.
— O que veio fazer aqui?
— Liam está chateado.
Eu rio, deitando-me ao seu lado.
— Chateado?
— É, não sei se essa é a palavra.
— E você, não está? Com as mentiras da Amy?
— Claro que sim, mas... acho que de alguma maneira entendo ela,
sabe? Essa coisa de querer ser alguém, de provar ao mundo que é capaz.
— Ela não agiu certo.
— Claro que não. Mas... Ela não é uma pessoa ruim.
— Eu sei.
— Sabe mesmo? Liam acha que estou sendo ingênua de novo.
— Por causa da Samantha.
— Não é a mesma coisa! E você também gosta da Amy.
— Isso não apaga o que ela fez.
— Sim, é verdade. Mas foi bem legal o jeito como a defendeu. —
Emma sorri.
— E isso deixou o Liam puto.
Emma rola os olhos.
— Liam não está acostumado em ver você sendo leal a outra pessoa.
Mas ele tem que se acostumar.
— Acho que não vai precisar.
— Então não vai mais ver a Amy?
— Ela quis ir embora.
— Você a deixou ir.
— Tagarela, acha que ainda tinha alguma chance? Toda essa
confusão, foi melhor assim, ela tem razão. Acabou.
— É uma pena...
De repente alguém bate na porta de novo e, dessa vez, com mais
violência, e nós sabemos que é Liam.
Emma se levanta e eu a sigo quando ela abre a porta.
Liam está parado na soleira com cara de poucos amigos, segurando
Leo.
— Só vim te chamar porque o Leo estava chorando — ele diz, e eu
seguro um riso.
— Claro que sim. — Emma pega Leo e pisca para mim. — Vou para
meu quarto e espero os garotos para jantarem comigo depois de fazerem as
pazes, ok?
Ela desaparece e Liam continua parado na porta, como uma criança
birrenta.
— Continua tão bravo comigo que nem vai entrar?
Ele solta um palavrão e entra na suíte.
Pego duas cervejas no frigobar e jogo uma para ele, que está na
janela olhando o movimento na rua.
— Gosto daqui — resmunga depois de um tempo. Eu me posiciono
ao seu lado.
— Será que tem parente ainda por aqui?
— Duvido muito.
— O pai da Amy é Irlandês.
Ele me encara.
— Sério? Será que somos parentes?
— Os cabelos são parecidos.
— Vai me deixar para ficar com ela?
— Que porra é essa? — exclamo, surpreso com o rumo da conversa.
— Quer que eu pense o quê? Você a defendeu e...
— Sim, a defendi. E sei que está puto por eu ter escondido o que
descobri de você, mas eu sabia que ia ficar furioso e sabemos como age
quando é passado para trás.
— Você sempre me ajudou a agir exatamente assim.
— Sim, desde que tínhamos quinze anos e eu quebrei o nariz
daquele idiota que roubou seu lanche na escola.
Ele ri.
— E eu te defendi quando foi suspenso. Tive que dar uma boa grana
para aquele diretor mercenário para não ligar para os nossos pais.
— Não eram nossos pais.
— Não, não eram — resmunga me fazendo me lembrar de Megan e
Tim, o casal que só cuidava de órfãos porque recebiam dinheiro do
governo.
Eu passei por muitos lares fodidos depois que meu pai morreu. E
Liam também. Mas desde que nos encontramos, protegíamos um ao outro.
Até a fatídica briga de gangue que me levou ao reformatório, e Liam à casa
dos Hunter.
— Tive que te escutar lamentar por semanas a perda daquela grana.
— Mesmo quando éramos dois órfãos sem eira nem beira, Liam já gostava
de ganhar dinheiro se metendo em apostas na escola.
— Eu ganhei mais depois. — Ele ri e eu rio junto.
— Por que achou que eu ia te deixar pela Amy?
— Você está claramente apaixonado por ela.
— Nós terminamos depois do que ela fez.
— Vocês estavam trepando no casamento da Zoe.
Eu não nego. Liam tinha um sexto sentido para essas coisas.
— Não foi nada...
— Parecia muito.
— Fiquei puto com ela quando descobri. Estava realmente achando
que... era para valer. Que ela era a minha Emma, entende?
— Sim, entendo. Por isso que achei que estava indo.
— É isso que veio fazer aqui? Veio me dar um ultimato, me pedir
para escolher.
— Emma me mataria se fizesse isso.
Eu rio, mas Liam continua sério.
— Estou puto de verdade com o que Amy Grant fez. E lamentando
que não tenha me chamado para dar uma surra no tal Carl. Existe um lado
meu que quer caçar Amy Grant e fazê-la pagar. Talvez até que ela se
esconda no Canadá como a tal Samantha Arden.
Pobre Samantha. Da última vez que ouvi falar dela, ela trabalhava
no Mcdonald’s.
— Aí eu lembro que você a defendeu. Que tem fé em seu caráter.
— Eu posso estar pensando com a cabeça errada, você sabe.
Desta vez ele ri.
— Sei como é isso. Mas você não é assim. Você pensa com o
coração.
— Cara, que porra de baboseira é essa?
— Sabe que tenho razão. E, se não confiar no seu julgamento, tenho
que confiar em Emma.
Dessa vez levanto a sobrancelha surpreso.
— Desde quando confia no julgamento de Emma?
— Desde que ela está exigindo que seja assim — ele resmunga. —
Mas ela tem razão. Não posso protegê-la de tudo e todos. Tenho que confiar
que Samantha foi só um caso isolado. Porque Emma me disse que gosta da
Amy e acredita que ela não fez por mal.
— Eu sei que a Amy agiu mal. E também fiquei puto. Brigamos, e
eu a expulsei da minha vida e pedi que pedisse demissão. Não queria que
contasse a Emma, e nem a você. Sabia que Emma ficaria magoada e que
você ficaria irado. Mas também sei agora que queria protegê-la.
— Protegê-la de mim.
— E talvez dela mesma.
— É, acho que entende agora o que eu falo quando quero proteger
Emma?
— Pois é, acho que Amy também tem uma tendência a um certo
comportamento kamikaze.
— E o que vai fazer?
— Primeiro, não vou te deixar ou qualquer coisa assim. Você é meu
irmão. Meu melhor amigo. E em nenhum lugar eu receberia o salário que
me paga.
— É, com certeza é o segurança mais rico do mundo — Liam
ironiza e eu não posso discordar.
— E quanto a Amy... — eu suspiro. Como poderei dizer a Liam o
que nem eu sei. — Eu não sei. Ela pediu para ir e... acho que realmente
acabou.
— Tem certeza?
Dou de ombros e tomo um gole da minha cerveja.
Eu não tenha certeza de nada.
Capítulo 31

Amy

— Amy, cadê as cópias do contrato que pedi faz duas horas? — A


voz irritada do meu mais novo chefe atravessa as várias camadas de
depressão que compõe meus pensamentos. Levanto o olhar dos rabiscos
sem sentido, que me ocupava em fazer para não enlouquecer e enfiar o lápis
na minha mão ou nos olhos do Bob Babaca.
Era mesmo uma ironia do destino que tivesse terminado exatamente
do jeito que tinha começado. Tirando cópia e passando fax em uma editora
medíocre. E com um chefe tão escroto e folgado como Carl.
Pelo menos não era Carl. Eu ficara sabendo que ele tinha se mudado
com sua perna quebrada para o Canadá. Será que estava trabalhando no
mesmo Mcdonald’s que a tal Samantha Arden?
Bem, ter conseguido aquele emprego medíocre de assistente não
parecia tão horrível, comparando com o que podia ter acontecido comigo
depois de ousar mexer com o Leão de Wall Street.
— Ei, escutou o que eu falei? — Bob Babaca grita de novo, de sua
sala, com a voz estridente, e reviro os olhos, levantando-me e pegando as
cópias que, sim, eu tinha tirado há duas horas e levado para sua mesa.
Ele me olha através dos óculos cafonas, e engulo o nojo do cabelo
oleoso cheio de caspa.
E pensar que ele tinha ousado flertar comigo quando assumi meu
cargo, há alguns dias. Misericórdia! Bob conseguia em muitos aspectos ser
mil vezes pior que Carl Cretino.
Mas sempre que ele gritava com sua voz de gralha, ordenando que
eu fizesse alguma coisa idiota como servir café, buscar seu almoço, ou
digitar algum memorando pela milésima vez, engolia a vontade de cuspir na
sua cara e mandar enfiar aquele emprego onde o sol não batia.
Porque eu sabia que merecia aquilo. Eu tinha cavado minha própria
sepultura ao me meter nos planos ardilosos de Carl. E estava pagando o
preço.
E podia ser pior, podia estar desempregada. Ou trabalhando de
garçonete em um dos restaurantes do marido de Ariana, que fora o que ela
“gentilmente” me oferecera dizendo que eu “devia agradecer por ela ainda
falar comigo” e me sentir “feliz por ela estar me oferecendo um trabalho
para não morrer de fome”.
Eu sabia que ela estava fazendo aquilo apenas para me punir, porque
ficara realmente puta por tê-la envolvido naquela farsa. Pelo menos ela não
contou nada ao pai dela, ou Deus me livre, à minha mãe.
E Tiziano me salvara do trágico destino servindo mesas, quando
conseguiu que seu ex namorado, Slavro, me indicasse para aquele cargo.
— Como é que ele conhece gente de editora? — eu perguntei a
Tiziano quando ele interrompeu minha sessão fossa, ouvindo música deprê
no nosso terraço, para onde eu tinha voltado depois da confusão na Irlanda.
Devia saber que a ideia estapafúrdia de Emma de me levar só ia
piorar tudo. Embora eu tivesse me permitido um fio de esperança quando
transei com Ethan de novo. Quando senti que ele estava sofrendo tanto
quanto eu. E ele tinha me defendido para Liam Hunter. O cara que ele mais
venerava no mundo. Eu devia ter ficado feliz, mas só me sentira péssima
por ser o motivo de uma briga daquelas, de estremecer o alicerce de uma
amizade tão antiga. Por isso tomei a decisão de partir. De sair da vida de
todos eles para sempre.
Ethan ia me esquecer. Assim como Emma, Liam e até Leo.
Eu só me perguntava se eu ia esquecer também. Por enquanto, eram
só lembranças e lágrimas.
— Slavro conhece todo mundo, minha querida — Tizano me
respondeu. — Agora levanta daí, toma um banho, penteia este cabelo, pelo
amor de Deus, e vá fazer essa entrevista.
Isso fora há uma semana.
E eu só me sentia cada dia pior.
— Mais alguma coisa? — resmungo para Bob.
— Sim, traga meu café.
Forço um sorriso.
— Claro. O café!
Dou meia volta para sair dali, me perguntando se ele perceberia se
eu cuspisse no café, quando Bob me chama de novo.
— Vou entrevistar um candidato para o cargo de editora Junior.
Eu me volto, interessada.
— Tem uma vaga aberta?
Seria realmente maravilhoso ter outro cargo mais independente.
Editor Junior tinha uma sala própria e trabalho de verdade que não envolvia
servir café e tirar cópia.
— Sim, Fred está saindo. Os candidatos chegarão esta tarde. O RH
marcou duas entrevistas.
— Eu tenho interesse — falo rápido, e ele me olha com escárnio.
— Você não tem qualificação necessária. Agora vá buscar o café!
Saio da sala com vontade de passar direto e não voltar mais. Mas
paro quando vejo, entrando na sala, ninguém menos que Emma Hunter.
— Emma! — balbucio, surpresa.
— Oi, Amy. — Ela se aproxima com um sorriso incerto. Como se
não soubesse como eu a receberia.
— O que está fazendo aqui? Você veio... falar comigo? Como sabe...
O que... — gaguejo, aturdida.
— Bem, não vim falar com você, e sim com Bob Basset.
— Bob Babaca? Quer dizer... — Sacudo a cabeça, tentando
organizar meus pensamentos. — Você conhece o Bob...
— Não. Eu vim para o cargo de editor Junior. — Mostra o currículo
que segura.
— Oh... — Por isso eu não esperava.
— Parece bem surpresa em me ver.
— Não deveria? Mas você não parece em me ver.
Ela esboça um sorriso culpado.
— É, eu sabia que trabalhava aqui.
— Como assim? Eu... Não estou realmente entendendo.
— Bem, andei conversando com Tiziano.
— Ah... — Não posso acreditar que Tiziano estava mantendo
conversas secretas com Emma Hunter sem me contar nada!
— Não fique brava com ele, pedi que não falasse nada. Porque
parecia que, quando foi embora da Irlanda, queria ficar longe.
— Achei que desejasse o mesmo — falo com ironia. — Fiquei com
o olho roxo até alguns dias.
Ela ri divertida.
— Você mereceu.
— É, não posso discordar.
— Ah, então, depois que passou toda aquela confusão e nós
voltamos, fiquei com vontade de conversar com você.
— Para quê? Achei que me odiasse.
— Eu não te odeio! Claro, foi uma cretina, mas acho que até te
entendo. E realmente não acho que fez por mal, apenas...
— Fiz merda.
— É, bem colocado. E por isso liguei para o Tiziano há alguns dias
para saber como estava. Ele me contou que estava trabalhando aqui.
— Ainda não explica o que está fazendo aqui e se candidatando para
trabalhar!
— Fiquei curiosa sobre o que estaria fazendo. E acabei descobrindo
que eles estavam contratando e pensei “por que não? Estou mesmo
querendo voltar a trabalhar e seria legal trabalhar com a Amy”.
— Você é louca? Isso é absurdo!
Ela ri.
— Não acho! Eu contei que queria trabalhar!
— O Liam sabe que está aqui?
— Sabe.
— E concordou?
— Ele disse que podia comprar a editora, que era mais fácil. E eu
disse que já vi isso em algum lugar e que é extremamente sem cabimento e
ridículo.
— Mas ele sabe que eu trabalho aqui? O... Ethan sabe? — O
coração dói só de dizer o nome dele.
Ela faz uma cara culpada.
— Talvez eu tenha omitido esse pequeno detalhe.
— Ai, meu Deus, Emma!
— Vou contar depois!
— Amy, cadê meu café? — A voz de Bob nos interrompe vinda da
sala.
— Merda! Cara chato! — resmungo.
— Quem é esse idiota? — Emma pergunta, curiosa.
— Meu chefe. Bob Basset.
— Ah, é com esse cara que vim falar!
— Pois é. Então acho melhor eu dizer a ele que você está aqui.
— Ótimo — Emma sorri. — Você pode falar bem de mim, por
favor? Acho que pode ajudar se tive alguma referência.
— Emma, tem certeza? Acho que deveria ir embora, não quero que
se meta em confusão...
— Não seja boba. Eu vim para a entrevista. Estou bem? — Aponta
para si mesma. Hoje ela está muito elegante trajando um vestido cinza que,
com certeza, é de alguma marca muito cara e chique.
— Está ótima.
— Que bom! Fiquei meio sem saber o que vestir.
— Bem, se quer mesmo continuar com isso, me dê seu currículo.
— Obrigada! Estou tão animada!
Eu me encaminho à sala de Bob, anunciando Emma.
— Ah, sim. — Ele pega o currículo e me pergunto se não sabe quem
Emma é. Melhor que não saiba mesmo. — Peça para ela entrar e não
esqueça do café, que inferno!
— Sim, senhor — sibilo com raiva, que não é percebida por ele e,
quando volto à sala, levo o segundo susto do dia quando Ethan surge do
corredor carregando um Leo Hunter esperneando a todo pulmão no colo.
— Ethan. — Empalideço. Meu coração para por alguns segundos,
quando os olhos escuros de Ethan pousam nos meus.
— Amy. — Meu nome em seus lábios é maravilhoso de ouvir e meu
peito se aperta fazendo meu coração voltar a bater, agora num ritmo
disparado e errante.
Ah, Deus, é Ethan que está ali na minha frente. Sua figura alta de
ombros largos preenchendo todo o ambiente com sua força e magnetismo
e...
Foco, Amy!
Leo dá um pequeno grito fazendo com que eu volte à realidade,
quando Emma o retira do colo de Ethan.
— Que diabos está fazendo aqui, Ethan?
— Achou mesmo que o Liam não ia verificar onde estava se
metendo, tagarela? — Ele desvia o olhar de mim para Emma.
— Ah... — Ela faz uma careta.
— E claro que quando ele descobriu quem é que trabalhava aqui...
— Volta a me encarar e é minha vez de desviar o rosto, vermelha.
— Amy não tem nada a ver com isso, deve saber! E quero mesmo
este emprego, então se me der licença, eu tenho uma entrevista. — E ela
entra na sala de Bob, levando Leo.
Um silêncio tenso recai sobre nós quando a porta se fecha atrás de
Emma.
Tomo coragem de encarar Ethan de novo e ele também está me
encarando.
Ah, Deus, ele continua lindo. E eu senti tanta saudade. Tudo o que
quero agora é romper a distância e...
— Ei, Penny — ele diz e é o que basta para o nó se romper em
minha garganta e eu começar a chorar.
O rosto, até então sem expressão de Ethan, se desfaz, substituído por
um olhar preocupado.
— Penny... — E no segundo seguinte estou em seus braços. — Shi,
não chora — sussurra em meus cabelos e suas palavras ditas com tanto
carinho me fazem chorar mais ainda.
— Me... desculpe. — Soluço em seu terno caro e ele ri.
Ah, era o som mais perfeito do mundo.
— Por que está chorando?
Eu me afasto para encará-lo.
— Porque achei que nunca ia te ver e... eu senti tanto a sua falta...
Ele toca meu rosto e eu fecho os olhos. Ah, se eu estiver sonhando
que nunca acorde.
— Também senti sua falta, Penny. Muita.
Volto a fitá-lo e o amor que vejo refletido em seu olhar faz meu
coração se encher de uma esperança tola e suicida, mas não posso evitar.
— Não está furioso comigo?
— Eu estive.
— Não está mais?
Ele sorri. Agora com malícia. Com aquelas covinhas comestíveis
aparecendo. E uma onda inesperada de desejo faz meu ventre se contrair de
expectativa.
— Eu te amo, Penny — diz de repente, e eu acho que em algum
momento naquela semana devo ter sucumbido e morrido de tédio e agora
estou no céu. Só isso explica Ethan estar ali, agarrado a mim, dizendo que
me ama.
— Você pode dizer o mesmo agora — ele diz, meio inseguro em
vista do meu silêncio pasmo.
— Está falando sério? Ainda me ama depois...
— Eu te amo apesar de toda merda que fez? Sim.
— Puta merda! — Sem me conter mais, o beijo com todo amor, com
toda paixão que vinha guardando no fundo do meu coração.
É tudo dele.
Meu coração. Meu corpo. Minha alma. E toda a merda que eu tenho
dentro de mim.
— Isso quer dizer que vai me dar mais uma chance? — ele diz,
quando finalmente separo minha boca da dele. Suas mãos já estão na minha
bunda. Graças a Deus!
— Sou eu que devo pedir uma chance e não o contrário!
— Tanto faz!
Eu sorrio, infiltrando meus dedos em seus cabelos.
— Ah, tem certeza de que você me ama mesmo? Sabe que às vezes
eu faço umas merdas...
Ele ri, me apertando mais.
— Amy, isso é o amor. Amar apesar de tudo. E eu aguento o Liam e
a Tagarela. Acho que posso aguentar você também.
— Ah, Deus, o Liam! Ele nunca vai aceitar que eu fique com você...
Ethan ri.
— O Liam que cuide da vida dele...
De repente a porta da sala de Bob se abre e Emma sai de lá aos
berros.
— Isso é um absurdo!
— Absurdo é a senhora achar que pode trazer uma criança se
esgoelando para minha sala! E ainda achar que iria contratá-la — Bob
esbraveja e Emma fica roxa de raiva.
— Ah, seu... quer saber? Enfia essa merda de emprego no seu rabo!
— grita e eu coloco a mão sobre a boca para não rir alto. Jesus! Bob agora
parece que vai explodir. — Sabe que eu posso comprar tudo isso aqui, não
é?
Emma pega o celular, enquanto embala Leo que choraminga em um
braço.
— Eu vou mostrar pra você... Liam, querido? Mudei de ideia,
compra essa merda e demite todo mundo! Principalmente um tal de Bob
Babaca! É... É um imbecil de cabelo ensebado e pinto pequeno!
Ela desliga e sai marchando do escritório.
— Vamos embora!
— Que diabos está acontecendo aqui? — Bob esbraveja comigo
agora, ao me ver agarrada a Ethan. — E quem é esse?
Ethan se afasta, mas continua segurando minha mão.
— Eu sou Ethan, namorado da Amy e segurança de Liam Hunter, o
leão de Wall Street, marido da Emma.
Bob empalidece.
— Liam Hunter?
— Que, aliás, está lá embaixo agora. Você vem comigo? —
ele indaga e eu sorrio e olho para Bob.
— Bob, eu me demito!
— Mas o que...
Apenas pego minha bolsa e sigo Ethan para fora.
Encontramos Emma quando entramos no elevador.
Ela olha para mim e Ethan e seu rosto, até então enfurecido, se
transforma com um sorriso.
— Hum, estão juntos de novo? — indaga esperançosa.
— Sim, senhora — Ethan responde, beijando minha mão.
Eu não consigo parar de sorrir.
— O que o Liam vai dizer disso? — Ela levanta uma sobrancelha,
divertida.
— Ele vai ter que aceitar minha namorada. — Ethan pega o próprio
celular e sei que deve ter alguma ordem de Liam. — Aliás, vamos embora
que ele está pronto para subir aqui.
— Liam está aí também?
— Tagarela, até parece que não conhece seu marido.
— Típico!
O Elevador para no térreo e seguimos para o carro, onde Liam está
encostado com os braços cruzados e com cara de poucos amigos.
Confesso que sinto uma pontinha de apreensão.
Estou feliz de ter mais uma chance com Ethan, mas não quero que o
fato de estarmos juntos se transforme em problema com Liam Hunter.
— Que diabos aconteceu lá em cima?
— O cara era um idiota! Acredita que ficou bravo porque Leo
estava chorando? — Emma dardeja indignada.
— Você levou um bebê a uma entrevista de emprego? Eu faria a
mesma coisa! — Liam assume a postura de empresário, o que faz Emma
apenas bufar e rolar os olhos.
— Ele gritou comigo e assustou Leo.
— Eu te disse que seria bem mais fácil comprarmos uma editora...
— Fala sério! Não quero que seja condescendente comigo!
— Ei, vocês dois, vamos embora que aqui não é lugar de DR. —
Ethan se adianta e abre a porta do carro para o casal em crise.
Só então Liam Hunter parece notar minha presença.
— Olá, Amy — cumprimenta com naturalidade —, fiquei sabendo
que acabou de perder mais um emprego? — Ok, agora tem um certo
divertimento ali. Olho para Ethan, me perguntando como Liam já sabe disso
e imagino que ele deve ter avisado pelo celular enquanto descíamos.
— Como Emma disse, Bob era um cretino.
Seu olhar se prende na mão de Ethan, que segura a minha.
— E ao que parece, está voltando ao nosso convívio.
Fico sem saber o que dizer. Sua voz não tem entonação. Olho para
Ethan e ele parece relaxado. O que me tranquiliza um pouco.
— E eu estou muito feliz com isso — Emma diz, sorrindo. — Senti
muito a sua falta, Amy.
— Mas não pense que a Amy vai voltar a ser babá de vocês —
Ethan diz, divertindo-se.
— Por que não? Ela não tem mais emprego mesmo e o Leo a adora
e...
— Entra no carro, baby — Liam pede para Emma, cortando-a, e
olha para Ethan. — Você também. Quero trocar uma palavrinha com Amy
Grant.
Olho para Ethan, apreensiva. Mas que merda? Era agora que Liam
ia tipo me prometer uma milhão caso eu me afastasse de Ethan, como
naquelas novelas da tarde?
Bem, eu ia gostar de ganhar um milhão, mas...
Ethan solta minha mão e beija meu rosto.
— Está tudo bem — diz em meu ouvido. — Nada vai mudar o que
sinto. Estamos juntos agora.
Eu sorrio, deixando de lado o medo que ainda sentia de Liam Hunter
se intrometer entre nós.
Ethan se afasta e entra no carro.
Encaro o Leão de Wall Street.
— É o seguinte. Eu fiquei puto com você pelo o que aprontou. E
não só pelo plano ridículo com seu ex-chefe, mas sobretudo por ter
magoado meu irmão.
— Eu amo o Ethan. E nunca mais quero fazer nada que o magoe.
— É bom mesmo. Porque eu te mando para o Canadá. Acho que
tem vaga em algum Mcdonald’s por lá.
— Fiquei sabendo — respondo corajosamente.
— E Emma confia em você, portanto, estou admitindo que agora faz
parte de nossa vida.
— Obrigada — digo com sinceridade. — Isso é importante para o
Ethan. Não quero jamais ficar entre vocês.
— E, como Ethan disse, acho que não cabe mais ser nossa babá.
— Nunca foi essa minha intenção. Embora ame o Leo.
— Enfim, depois de toda essa confusão, eu pensei muito e acho que
talvez ter uma biografia não seja tão ruim assim.
Agora eu abro a boca, chocada.
— Como é?
— Contanto que eu tenha total controle sobre tudo... Acho que pode
ser bom para os negócios.
— Está falando sério?
— Então a minha proposta é que você seja a pessoa a escrevê-la. O
que acha, Amy Grant?
Puta que pariu!
Epílogo

Ethan

— Não acredito que finalmente está pronta! — Emma exclama


aproximando-se com Leo no colo, que se contorce todo, irritado, até que ela
o coloca no chão e o pequeno leãozinho sai correndo pela livraria. — Leo,
volta aqui!
— Deixe que Tiziano cuide disso! — Liam resmunga, enquanto
ataca as teclas de seu celular, provavelmente dando ordem para algum
coitado sobre alguma bolsa de valor pelo mundo.
Tiziano, que agora nas horas vagas, cuidava de Leo, já que Emma,
apesar de não ter um trabalho fixo, como almejara um dia, tinha ficado
bastante ocupada ajudando Amy naquele ano, prontifica-se a correr atrás do
herdeiro dos Hunter.
— Estou nervosa... — Amy murmura ao meu lado, e eu descanso
meus olhos em sua figura perfeita. Hoje ela está tão elegante quanto Emma,
usando um vestido preto, sensual e sóbrio ao mesmo tempo, se é que isso
existe. Mas é assim que ela parece a mim. Linda e inteligente. Hoje ela está
realizando um sonho. É o dia do lançamento da biografia do Leão de Wall
Street, à qual ela vinha se dedicando há um ano.
Um ano em que ela se tornara também, assim como eu, a sombra de
Liam Hunter, grudada nele, enquanto desvendava toda a história por trás do
Leão de Wall Street. E até Emma tinha se envolvido, tornando-se uma
espécie de assistente de Amy. E, assim, nós quatro formamos um bom time
no ano que passou.
Mas agora, o livro está pronto e será lançado ao mundo. E uma nova
fase começa.
Amy tinha conseguido uma editora de renome para lançar seu livro
e, nos próximos meses, estará ocupada com entrevista e turnê de
divulgação. Afinal, como ela previu, ela se tornou a mais quente jornalista
do momento, ao lançar a biografia de Liam Hunter.
Emma e Liam, em contrapartida, estão envolvidos em uma nova
discussão, desta vez, sobre o fato de Emma querer ter mais um bebê.
Depois da gravidez de risco de Leo, ela não podia mais engravidar, mas ela
insistia que podiam contratar uma barriga de aluguel. E eu e Amy
acompanhávamos aquela nova briga, nos perguntando quem ia vencer no
final.
E eu, bem, também estava pronto a entrar em uma nova fase.
— Acho que podemos começar? — Zoe aparece nos chamando para
a coletiva de imprensa que marcará o aguardado lançamento. Obviamente
Zoe está amando se envolver em todo o processo de divulgação.
— Sim, vamos logo com isso que tenho mais o que fazer! — Liam
resmunga, segurando a mão de Emma e os dois seguem na frente.
Eu me viro para Amy e seguro sua mão, a impedindo de ir.
— Está feliz?
Ela sorri com um suspiro.
— Muito! Nem acredito que este dia chegou. Está tudo perfeito.
— Não acha que poderia ficar mais perfeito?
Ela levanta a sobrancelha.
— Acha possível? Estou prestes a me tornar uma lenda do
jornalismo, tenho um namorado gostoso e...
— Que tal — coloco a mão no bolso e tiro de lá o anel que tinha
escolhido com Emma na semana anterior — um noivo perfeito?
Os olhos de Amy se arregalam.
— Porra!
— Você tem uma boca suja, Penny! — Seguro sua mão. — Mas,
posso conviver com isso. Quer se casar comigo?
— Claro que sim! — Ela sussurra, emocionada, enquanto escorrego
o anel por seu dedo.
Ela pula em mim em seguida e eu a recebo em meus braços. Por
cima de seus cabelos flamejantes, vejo Emma chorando e Liam sorrindo.
Tiziano faz gestos obscenos antes de correr atrás de Leo, que foge
de novo, derrubando alguns livros no processo.
E, neste momento, percebo que não escolheria outra vida.
Eu tenho a vida perfeita.

Fim
Liam
“Se você não pode controlar suas emoções.
Você não pode controlar seu dinheiro.”

Warren Buffet
Arquivos de Amy Grant para a biografia de Liam Hunter
Gravação 1
A noite era sempre pior.
Eu podia aguentar toda aquela merda interminável enquanto a
claridade dos dias ardia em minha pele e queimava os pensamentos fodidos
da minha mente.
Conseguia passar pelas malditas horas, naquele colégio infernal,
saturado de crianças com rostos e vidas iguais. Pais relapsos, lares
desfeitos, violência doméstica. Frutos de uma sociedade que as marginaliza
que, sem ao menos se importar, estava criando seus futuros delinquentes
juvenis, viciados em heroína e ex-detentos, no melhor dos casos.
Eu era um deles agora.
Meu futuro era uma roleta-russa. O destino apontando uma arma
para minha cabeça, onde eu teria o desprazer de poder escolher entre as
maravilhosas opções de traficante, assaltante ou um fodido subemprego
qualquer, como Lonnie. E então eu poderia seguir os passos de meu
honorável pai adotivo e adotar alguma criança órfã e viver da pensão do
governo.
Mas seja qual futuro decadente o destino me reservasse, pelo menos
eu estaria livre daqueles sanguessugas.
— Que diabos, esta criança não dorme? — A voz irritada de Susan
chegou até mim seguida de um palavrão de Lonnie.
— Ei, seu pestinha, pare com esses gritos de bicha, que preciso
dormir! — Lonnie gritou batendo na porta do meu quarto e eu me encolhi
sob as cobertas, suando frio.
As noites eram as piores, porque elas me traziam pesadelos.
Lonnie e Susan Wheeler. O quarto lar adotivo em três anos. Eu me
perguntava quando eles se cansariam de mim e me mandariam para o
quinto.
Não que eu me importasse. Eles não eram meus pais. Nem um
daqueles malditos sanguessugas era. Nem minha primeira “mãe”, Donna
Sullivan, uma senhora de sessenta anos que tinha uma casa velha cheia de
gatos e a paciência de uma carcereira. Que acordava à noite tão irritada
como Lonnie estava agora depois de ouvir meus gritos, e me mandou
embora quatro meses depois.
Então viera Pastor Sloan e sua Bíblia. Éramos seis crianças, de
diferentes idades e cedo aprendi que era melhor seguir as regras do Pastor
Sloan, se não quiséssemos sentir a ira do seu cinto. Eu tomei minha
primeira surra ao defender Caroline, a garota de apenas seis anos que iria
ser punida por deixar cair um copo de vidro no chão.
Foi a primeira de muitas surras que tomei até o momento em que
decidi fugir.
Eles me encontraram horas depois e sobre as marcas no meu corpo
não tinham desculpas. E todas as crianças foram tiradas de Sloan e sua ira
divina.
Eu nunca mais vi Caroline.
Então viera Moira e Ross. Nem me lembro do sobrenome deles.
Eles eram jovens e pareciam legais. Pareciam.
Não se importavam com meus pesadelos. Aliás, eles não se
importavam com nada, a não ser o dinheiro que receberiam no fim do mês e
poderiam manter seu padrão de vida, sem muito esforço. Eles não se
importavam se eu estava em casa ou não. Se eu comia ou não. Se ia para
escola ou se cabulava a maioria das aulas.
Parecia um bom acordo para mim. Eu só queria ficar sozinho.
E eles me deixaram em paz até Moira engravidar e não achar mais
conveniente ter que cuidar de uma criança arisca e taciturna de 13 anos.
Fazia seis meses que eu estava com Lonnie e Susan, e minha
definição de inferno que tanto o Pastor Sloan pregara era aquela casa.
Lonnie e Susan eram um casal modelo para quem visse de fora. Nos
seus quarenta anos, eles mantinham o sorriso no rosto e a casa limpa para os
assistentes sociais.
Mas quando a porta se fechava, eles não passavam de um casal
insensível e interesseiro.
Eles deixaram bem claro que eu deveria seguir na linha, porque não
queriam perder a pensão. Seu último “filho”, tinha sido preso roubando a
loja de conveniência da esquina.
E eu tentava ser invisível. Eu tentava.
Mas eu estava naquela idade em que o mundo começa a parecer
algo vivo e em movimento. E se antes eu me contentava em ser apenas um
espectador omisso, agora começava a ter vontades próprias. A me
questionar porque a vida era tão ferrada a minha volta.
Eu comecei a me revoltar.

Fim da gravação
Amy Grant

— E aí?
Encaro o homem à minha frente, quando ele para o relato do nada,
sem conseguir esconder o quanto ele ainda me intimida.
Liam Hunter é um soberano em seu reino.
Estamos em seu escritório e passa das duas da manhã.
Contenho um bocejo enquanto desligo o gravador e o observo
passar os dedos longos pelo cabelo acobreado que lhe confere um ar
selvagem e lhe rendeu a alcunha de Leão de Wall Street.
Ele ainda veste um de seus indefectíveis ternos caros enquanto se
recosta na cadeira com um olhar vago e irritado.
Não quer estar aqui. Sente-se acuado. Pronto para atacar.
Isso me dá um certo medo, confesso.
Óbvio que é um pensamento ridículo, afinal, Liam é chamado de
leão, mas é uma coisa metafórica. Ele não vai pular por cima da mesa com
os dedos em garras e rasgar minha pele com seus dentes.
Embora, certamente, ele deva desejar isso em algum lugar de sua
mente intrigante.
Intrigante é uma boa palavra para descrevê-lo.
Liam mal tem trinta anos, fez sua fortuna do nada, contando com
um faro quase sobrenatural para investir em Wall Street. Tornou-se rico
com apenas 19 anos. Bilionário não muito tempo depois.
Conhecido por ser implacável, frio e amedrontador, sua figura se
tornou quase mítica, não só nos meios financeiros, mas também para os
reles mortais que seguem admirados e intrigados por sua passagem pelos
sites de fofoca. Afinal, ele não é só podre de rico. Ele é bonito, sexy como
um modelo e ainda com um passado nebuloso e traumático, que pouco se
conhece a respeito.
Justamente por isso, o desejo de que ele conte sua trajetória de
sucesso em uma biografia está deixando o mundo em polvorosa.
E serei eu, Amy Grant, quem vai realizar esse feito.
Ainda tenho vontade de me parabenizar com batidinhas camaradas
no meu próprio ombro toda vez que me dou conta disso.
Claro que não foi fácil chegar onde cheguei: sentada no escritório de
Liam Hunter em sua cobertura maravilhosa no Upper East Side, com meu
gravador e meu bloco de notas, esperando que ele conte, finalmente, toda a
sua vida pra mim.
A ideia de escrever sobre Liam Hunter não foi minha, e sim do meu
ex-chefe cretino, Carl, editor da Carl&Davis. Porém, Liam não estava nem
um pouco disposto a ter sua vida dissecada por um repórter em uma
biografia e bateu a porta na cara amassada de Carl. E foi aí que eu, até então
uma assistente sem nenhuma perspectiva de sucesso na carreira, tive a
brilhante ideia de ajudar Carl a conseguir informações, já que minha meia-
irmã, Ariana Colombo, e o marido frequentavam a casa de Liam Hunter.
Claro que foi um plano burro e suicida. Convenci Ariana a me
indicar como babá e entrei na casa do casal Hunter para cuidar do bebê
deles, com o único intuito de espioná-los, e em troca, Carl me deixaria ser a
coautora da biografia do Leão de Wall Street, o que mudaria minha vida.
Só que no meu caminho tinha um certo segurança sexy, que não só
protegia Liam com unhas e dentes como também era seu melhor amigo.
E no final não foi Liam Hunter quem mudou minha vida, e sim
Ethan Coen, o segurança.
Agora meu lindo namorado — relanceio o olhar para a mensagem
no celular — que já deve estar de saco cheio de me esperar em sua
cama, está perguntando por que Liam está me prendendo ali até tão tarde.
Ora! Ethan, mais do que ninguém, conhece Liam Hunter e sabe que
é ele quem dita as regras.
Suspiro, tentando não demonstrar impaciência.
Afinal, eu sou muito, muito sortuda de Liam não só não ter me
matado e me jogado em uma vala depois que descobriu minha presepada,
como também no fim ter concordado em contar sua vida pra mim, me
dando a oportunidade de escrever — sozinha — sua biografia. Agora
autorizada.
Depois de toda a confusão que criei, Ethan tinha me perdoado,
assim como Emma, a esposa de Liam, de quem eu me tornei amiga.
E para o meu assombro, Liam também me perdoou e deu carta
branca para escrever sobre ele.
Isso foi há algumas semanas e depois de uma merecida lua de mel
com meu segurança preferido, eu tinha contatado Liam e indagado sobre
quando poderíamos começar.
Ele não parecia muito feliz e, obviamente, nem se deu ao trabalho
de responder, resmungando algo sobre estar ocupado demais para dar
atenção a uma jornalista fofoqueira como eu.
Ok, eu deveria ficar ofendida, mas já começava a conhecer Liam,
agora que eu era uma das melhores amigas de sua esposa e namorava seu
melhor amigo. Embora ainda me tremesse de medo às vezes. Ethan e Emma
riam dos meus receios, afirmando que Liam só rosnava, mas não mordia.
Eu tinha minhas dúvidas.
Então, quando ele mandou uma mensagem sucinta hoje pouco mais
de meia-noite, dizendo, ou melhor, ordenando, que eu subisse até a
cobertura, deixei meu namorado na cama e não hesitei em correr ao
chamado do leão, munida do meu gravador e de minha animação por
finalmente começar a minha tão sonhada carreira de biógrafa fodona.
Liam havia chegado de uma reunião de negócios há mais ou menos
uma hora, sei disso porque Ethan como sempre estava com ele e foi a hora
que chegou, e não imaginava que Liam iria me chamar justamente àquela
hora, afinal, ele deveria estar com Emma e o filho do casal, Leo, de pouco
mais de sete meses.
E com certo receio, eu entrei na cobertura e indaguei onde Emma
estava. Liam não parecia de bom humor e disse que não fazia ideia
enquanto se sentava atrás da imponente mesa e perguntava se eu queria
“começar logo aquela merda”.
Eu suspirei e liguei o gravador, pedindo que ele me contasse sobre
sua infância.
Eu achei que ele iria me contar sobre os pais, que haviam morrido
de forma trágica quando ele tinha apenas dez anos, mas ele me surpreendeu
começando aquele relato sombrio sobre seus primeiros anos nos lares
adotivos.
E obviamente não era um assunto fácil para ele, eu podia sentir a
tensão que emanava de sua figura imponente e deduzi com certa
preocupação que não seria tarefa fácil fazer Liam se abrir pra mim.
E como é que eu ia conseguir lidar com aquele cara?
Eu não faço ideia.
— Quer parar por hoje? Está tarde. Deve estar cansado e querendo
dormir — arrisquei.
— Eu não durmo.
Soltei uma risada.
— Como assim? Todo mundo dorme.
— O dinheiro nunca dorme.
— Você não é dinheiro.
Ele me lança um olhar impaciente que me faz engolir o riso.
— Me desculpe. — Não consigo me conter em me desculpar,
receosa. E é sua vez de soltar um suspiro cansado.
— Tudo bem. Acho que não estou no meu melhor humor.
Quero dizer que ele sempre parecia de mau humor, mas não é
verdade.
Eu aprendi que mesmo quando parecia irritado, Liam podia estar
bem-humorado. Era o jeito dele.
Ele ficava quase manso quando estava com Leo, por exemplo. Ou
divertido com Ethan.
E claro, amoroso com Emma.
Mas comigo a coisa ainda é meio tensa.
E eu não posso culpá-lo por isso. Ainda não sei se ele confia em
mim totalmente.
— Fiquei surpresa por me chamar aqui hoje. A essa hora.
— Eu e Emma tivemos uma briga.
Opa.
Ele vai me fazer confissões sobre a Emma? Isso é inédito.
Na verdade, Emma e eu somos amigas, mas seu relacionamento
com Liam não é algo sobre o qual ela me conta e eu até agradeço por isso.
Eles são aquele tipo de casal bizarro e estranho que por mais que eu
tentasse entender, era difícil.
— Vocês tiveram uma briga ou você brigou com ela? — A censura
está impressa no meu tom, por mais que eu tente me conter.
Liam me lança um olhar enviesado que pode congelar o inferno.
Ah merda.
— Você não entende, não é?
Eu sei do que ele está falando.
Quero negar, mas decido ser honesta.
Acho que vamos precisar de uma boa dose de honestidade ali —
minha e de Liam — se quiser ver aquela biografia pronta.
E seu relacionamento com Emma certamente é algo que estará
presente no livro, embora ainda não tenhamos decidido o quanto.
— Desculpa, eu realmente não entendo — confesso.
Certo, agora Liam vai se enfurecer com minha honestidade e me pôr
pra fora a pontapés. Talvez chame o Ethan para fazer isso.
Eu quase tenho vontade de rir do absurdo — ou nem tanto assim.
— É, muita gente não entende — ele resmunga e percebo uma certa
incredulidade.
— Eu nunca achei que se importasse.
— Eu não deveria, mas me preocupo em como isso pode afetar
Emma. Não gosto que pessoas como você a julguem.
— Eu não...
— Senhorita Grant, não comece com mentiras. Sabe que odeio.
— Claro, é só que... Eu não quero julgar. Mas é o que as pessoas
fazem quando não entendem. E tenho certeza que, embora você não se
importe, isso afeta sua imagem também. As pessoas especulam e tiram suas
próprias conclusões de acordo com suas crenças e ideologias. E aí vem o
julgamento e até mesmo o tão temido cancelamento, que está na moda.
— Que porra está dizendo? Cancelamento?
Eu solto uma risada.
— Não agora, mas vamos combinar que eu só posso desconfiar de
todas as coisas que vai me contar e que estarão na sua biografia e é óbvio
que vão falar sobre isso.
— E me cancelar.
— Bem... talvez. Não que isso importe, claro. Você é bilionário.
Pode comprar uma reputação se quiser.
— E o que quer que eu faça? Que invente um monte de merda pra
dourar a pílula no seu livrinho?
— Não. Eu quero que você seja honesto.
— Honesto? E contar tudo?
— Claro.
— E me diga, Amy Grant, o que você está esperando que eu conte?
— Sua história. Quem é o verdadeiro Liam Hunter.
— Talvez eu não esteja disposto a contar nada.
— Então teremos um problema.
— Eu não... me sinto à vontade com certas partes da minha vida.
Noto uma vulnerabilidade inédita em seu tom de voz que me
desconcerta.
Recordo-me de que aquele homem imponente já foi um garoto
órfão. Sozinho.
Sinto uma certa pena.
E percebo que é isso que eu quero. Quero humanizar O Leão de
Wall Street.
Mas sei que não será fácil. Desconfio que Liam Hunter vá resistir e
dificultar muito meu trabalho e preciso dar um jeito de lidar com o Leão
sem ser engolida por ele.
— Olha, vamos fazer assim.
Eu me levanto e coloco o gravador em sua mesa.
— Vou deixar o gravador aqui. Você grave quando quiser, quando se
sentir à vontade. Apenas... deixe as memórias virem.
— E acha que vai ser mais fácil sem a sua presença de Pennywise
me atazanando?
Rolo meus olhos por ele me chamar de palhaço assassino. Maldito
Ethan que inventou aquele apelido.
— Eu sei que não vai ser fácil. Talvez deva começar com algo mais
agradável, em vez de começar pelos tempos difíceis.
— E o que sugere?
— Quando conheceu Emma, por exemplo — arrisco, e os lábios de
Liam se distorcem levemente.
Ah. Acho que consegui.
— Pode ser...
Certo.
Arrumo minhas coisas e agora não consigo conter o bocejo ruidoso,
o que faz Liam Hunter me encarar com censura.
— Eu vou dormir. Boa noite, Liam.
— Boa noite, Senhorita Grant.
Eu me afasto do apartamento silencioso, suspirando cansada.
Espero que Liam consiga lidar com seus demônios a ponto de eu ter
material para aquela biografia.
Fazê-lo começar com Emma Jones foi uma boa tirada.
É, eu sou mesmo uma biógrafa fodona.
Liam Hunter

Assim que a Senhorita Pennywise deixa a sala, solto um suspiro


profundo e abro meu laptop. Deixar minha atenção se voltar para os
números de alguma Bolsa de Valores me acalma mais do que qualquer
coisa.
Quer dizer. Sexo também me acalma, mas se levar em conta que
minha esposa está puta comigo porque prometi chegar cedo para uma
merda de jantar que ela inventou, sexo está fora de questão.
Inferno.
Eu deveria ter me casado com uma submissa de verdade. Que porra
de Dom eu sou que aceito que batam a porta na minha cara?
A risada de Paul Red vem a minha mente. Ele gosta de ouvir minhas
reclamações sobre Emma. Isso o diverte, e depois de escutar meus
impropérios, ele sempre diz a mesma coisa: “Você não é um dominador de
verdade, eu bem que tentei te ensinar, mas você não tem a disciplina
suficiente. Por isso não está no cenário, e sim à margem. Vive conforme
suas próprias regras e não aceita que seja diferente. É claro que ia arranjar
uma submissa tão indisciplinada quanto você.”.
Certo. Paul tinha razão. E eu ainda me casei com ela.
Paul esteve presente no meu casamento, há mais de um ano, quando
não fazia nem seis meses que eu vi Emma pela primeira vez. Eu e ele
éramos sócios em algumas boates, voltadas ao público BDSM. Eu entrava
com o dinheiro e Paul com seus conhecimentos. Ainda era bizarro pensar
que ele, além de um dominador conhecido na cena SM, também era um
respeitado professor universitário.
Olhei a hora e pensei em ligar para Paul agora, mas era tarde. O
gravador que Amy deixou sobre a mesa parece me chamar, mas,
sinceramente, voltar ao passado não é algo divertido pra mim.
Lembro de sua sugestão de começar com o relato de como conheci
Emma. Um sorriso relutante se distende em meus lábios.
A inocente e inconsequente Senhorita Jones.
Péssima jornalista, vestida como uma grunge faminta, e sem noção
alguma de onde estava se metendo quando entrou na minha sala para uma
entrevista de dez minutos.
Dez minutos, que foram suficientes para eu perceber que ela estava
ansiosa por aquele tipo de dominação que eu amava exercer sem nem
mesmo perceber.
Gravação 2
Volto para a realidade com um solavanco do avião e abro os olhos,
percebendo que estou naquele momento nebuloso entre o sono e a vigília.
Em que não estava exatamente sonhando, mas era assim que eles vinham.
Quando eu baixava a guarda, deixava minha mente divagar e ir para aquele
lugar proibido, acessando os arquivos da memória, onde se guardavam as
mais remotas lembranças. Aquelas em que não me permito pensar quando
estou acordado e dono dos meus pensamentos.
Não, eles vinham quando eu dormia.
Sempre vinham. Há fodidos 18 anos.
Eu estava fodido há 18 anos.
— Senhor Hunter, está tudo bem?
A melodiosa voz feminina me faz voltar de vez ao presente e
focalizo meus olhos na comissária de bordo.
E com algum assombro noto que ela está muito perto, com seu
corpo inclinado sobre mim, o rosto de sorriso polido emoldurado por
cabelos loiros elegantemente presos num coque.
— O senhor precisa de algo? — repete em meio ao meu silêncio
ainda meio sonolento. — Senhor?
Então eu desperto. Com aquela simples palavra saída dos lábios
vermelhos da comissária, começo a assimilar a atmosfera além das
palavras.
— Obrigado, Stacy. — Quase me regozijo ao lembrar o nome da
funcionária. Era a segunda vez que ela voava comigo. A primeira fora na
ida para o Japão há alguns dias.
Eu não havia olhado mais do que o necessário para a bonita e
eficiente comissária. Ela era uma funcionária. E se havia uma regra que eu
seguia à risca era a de jamais me envolver com membros do meu staff.
Uma vez foi o suficiente para perceber o erro que era misturar
negócios e prazer.
Então a loira e educada Stacy poderia ser uma ex-miss Alabama e
ter posado para um catálogo de calcinha ou algo do tipo, eu não dava a
mínima. Mulheres bonitas e disponíveis existiam em todos os lugares. Eu
não precisava criar problemas desnecessários com funcionárias.
Stacy deveria ter sido avisada disso.
Eu já tive meu quinhão de garotas iludidas à minha volta. Mulheres
que achavam que ao trabalharem para mim, iriam se transformar numa nova
Ivana Trump.
Eu ignorava seus avanços sutis, ou nem tão sutis assim. Se
insistissem, e acredite, não eram poucas as que prosseguiram com seus
planos, deixava claro em poucas palavras que o tipo de trabalho que eu
esperava delas nada tinha a ver com tê-las de quatro na minha frente. E para
aquelas que ainda se apegavam à malsucedida ideia, eu demitia.
Então depois de perder algumas promissoras funcionárias, pedi ao
meu gerente de RH, Hugh Price, que deixasse claro as regras para todas
aquelas que lidariam comigo.
E até agora, parecia que elas tinham entendido que era melhor
garantir um bom salário trabalhando para a Hunter Enterprises, do que
serem demitidas sem prévio aviso.
Mas a garota a minha frente não parecia ter entendido isso. Agora já
não estava inclinada sobre mim, com seu indefectível uniforme escuro, que
não conseguia esconder porque ela figurava num catálogo de calcinhas.
Stacy Buono tinha todos os atributos, certamente. Mas continuava com seu
sorriso sedutor, talvez o mesmo que usava nos concursos de Miss América.
E porra. Estava me irritando pra caralho.
Eu perdi um punhado de grana no Japão. Milhões para ser mais
exato. E se tinha algo que me deixava puto era perder dinheiro.
E não fazer sexo quando tinha vontade.
E inferno, eu estava bem disposto agora, olhando para o rosto
ansioso de minha comissária, que não deixava dúvida que também estava
bem disposta.
Por um momento, minha mente analítica começou a catalogar todas
as possibilidades.
Todos os prós e contras de levar o negócio adiante. Perdas. Danos.
Lucros.
Era assim que a vida era.
Uma questão de enxergar o que se poderia ter de vantagem no final.
Eu poderia inclinar a eficiente Stacy sobre um banco e fodê-la com
força. Talvez lhe deixe algumas marcas roxas em seu traseiro de
propaganda de lingerie, por ter sido insolente.
Hoje estou me sentindo especialmente maldoso.
— O senhor tem certeza de que não posso ajudá-lo em algo? Eu
estou... totalmente a seu dispor.
Aí está. Mais claro que água.
Seria fácil. Rápido.
Um negócio que não levaria a lugar algum.
— Quer manter seu emprego, Stacy? — Tive certeza em imprimir
na minha voz o timbre ameaçador e frio que fazia meu staff se mijar.
Stacy percebeu seu erro na hora e ajeitou o corpo, sacudindo a
cabeça em afirmativa.
— Perdão, Senhor Hunter, não queria incomodá-lo.
E quase tive vontade de rir por ver a pobre Stacy se afastando como
um coelhinho assustado.
— Você é cruel. — Ethan riu há alguns bancos à frente.
— Nunca disse que era bonzinho — resmungo abrindo o celular
para verificar minha agenda.
Merda.
Tudo o que eu queria era ir direto para meu apartamento em Upper
East Side e afogar minha fúria com sexo punitivo da melhor qualidade.
Cheguei a enviar uma mensagem a Karen, a última mulher com
quem saí antes de ir para o Japão, mas observando agora minha agenda,
noto que esqueci a maldita coletiva de imprensa marcada para aquela tarde.
Eu terei que desmarcar com Karen, embora ela tenha dito que
estaria à minha disposição. Muito bem. Karen não havia se assustado com
os roxos que deixei em sua bela bunda, embora fosse um tanto previsível na
cama.
Inferno. Ela foi fácil demais. E continua sendo. Na verdade,
ultimamente, todas pareciam fáceis demais, sempre dispostas a se dobrarem
a mim ao meu menor sinal.
Onde está a emoção da caçada?

Observo Wall Street pela janela do carro com apreciação.


Ali é minha casa.
Meu reino.
Meu habitat natural. O lugar onde eu caço, mato e venço.
Ethan bate os dedos no volante cantando junto com Trent Reznor e
eu lanço um olhar impaciente. Ethan não canta bem.
— Não parece de bom humor. — Ele ri ao notar meu olhar enquanto
estaciona em frente ao prédio onde estão os escritórios da Hunter
Enterprise.
— Perdi dinheiro. Claro que estou de mau humor.
— E aposto que preferia estar dando uns tapas na bunda da tal
Karen em vez de encarar os jornalistas financeiros.
— Acertou. Lembre-me de demitir Gillian por ter me colocado
nessa enrascada.
— O que sua secretária tem a ver com isso? Foi você quem
concordou com essa coletiva, Liam.
Saio do carro ignorando o comentário assertivo de Ethan, assim
como a horda de turistas histéricas que se digladiam para pegar no saco do
touro, na ilusão de que conseguirão dinheiro fácil como diz a lenda.
Mas o dinheiro não vem fácil.
Ele é conquistado.
Com fúria e sangue.
Eu sei disso por experiência própria de quem veio do nada e
conquistou tudo.
Adentro no recinto onde acontecerá a coletiva e todos já estão lá me
aguardando. Gillian balbucia instruções e guardo minha raiva por enquanto,
porque Ethan tem razão e ela não tem culpa se o Japão não foi como eu
esperava. E nem tinha culpa se eu preferia estar trepando agora.
Respondo as perguntas de forma objetiva e rápida, deixando claro
que ficarei ali apenas uma hora e nem mais um segundo.
Cumprimento Warren Buffet, um dos homens mais ricos do mundo
e quem eu admiro e sigo os passos, e que vai entrar na coletiva depois de
mim, e saio da sala disposto a dar as caras no escritório por alguns instantes
antes de ir embora.
Fiquei fora alguns dias e é bom dar as caras para meus funcionários
saberem que estou por perto novamente e de olho neles. Ethan dizia que eu
gostava de apavorar as pessoas e que isso poderia ser considerado abuso de
poder, mas eu mandava ele se foder com sua opinião.
Não ganhei bilhões sendo bonzinho.
O dinheiro tinha suas próprias regras e eram as únicas que eu seguia
além das minhas.
De repente, sou tirado dos meus pensamentos quando me choco
contra alguém. A colisão é rápida e inesperada, uma onda de cabelos
escuros bate em meu rosto, antes de começar a se afastar, indo ao chão,
como se estivesse em câmera lenta.
Pensando rápido, seguro o braço da pessoa, antes que caia, a
equilibrando no lugar, escutando o som de algo batendo no chão de
mármore atrás de mim.
Que porra — rosno mentalmente, irritado por aquele ser ousar se
colocar no meu caminho.
E enquanto o indivíduo leva alguns segundos para se aprumar,
varrendo do rosto a cortina de cabelos revoltos eu analiso a situação.
É uma mulher.
Uma garota. Pálida e de assustados olhos castanhos como um corvo
que agora me encara enrubescendo enquanto sussurra uma interjeição
surpresa.
— Cuidado — aviso com frieza, a soltando, enquanto a garota
desliza os olhos, agora curiosos, pela minha figura, sem se dar ao trabalho
de pedir desculpas ou de pelo menos sumir à minha frente.
— Pode sair da minha frente, por favor? — exijo impaciente.
Ela volta a prender os olhos em mim, enquanto dá um passo atrás.
Há algo mais ali agora do que o susto e a confusão.
Algo que reconheço de pronto e que sem que eu consiga evitar me
faz desejar curvar a senhorita desastrada sobre meus joelhos e puni-la por
sua desatenção.
Esta imagem se forma e se desfaz na minha mente em questão de
segundos, me irritando ainda mais.
— Vê se olha por onde anda! — rosno ao passar pela garota e entrar
no elevador, ainda com Ethan em meu encalço.
— Assustou a menina, Liam. — Ele ri.
— Odeio gente distraída. Ainda mais as que se colocam no meu
caminho.
Saio do elevador e sigo para minha sala cumprimentando com frios
acenos de cabeça os funcionários pelo caminho.
— Achei que iria embora — Ethan observa.
— Vou apenas checar algumas coisas e já vamos. No máximo dez
minutos.
— Ok, eu te espero lá embaixo então.
Entro na minha sala e abrindo o laptop digito um e-mail para minha
equipe, marcando uma reunião geral para o próximo dia. Gillian poderia
fazer isso, mas gosto de fazer pessoalmente para deixar claro que não estou
satisfeito com alguma coisa.
E estou abrindo as informações da Bolsa de Valores quando Gillian
entra na sala.
— Sr. Hunter, me desculpe, mas uma jornalista chamada Emma
Jones do New York Morning está solicitando uma entrevista.
— O quê? Quem é essa?
— Ela alega que perdeu o horário para a coletiva e está pedindo para
ser atendida agora. Eu disse que não seria possível, mas ela está insistindo
muito lá embaixo.
Enquanto Gillian fala, já estou digitando Emma Jones New York
Morning no Google, para ver a cara da incompetente que nem conseguia
chegar a um compromisso profissional no horário, e qual não é a minha
surpresa ao ver que Emma Jones é a garota grunge desastrada que colidiu
comigo lá embaixo.
Ora, ora. Se pela segunda vez a tal Senhorita Jones não está testando
minha paciência?
De repente sinto um frêmito de antecipação.
O mesmo que sinto quando estou prestes a iniciar uma caçada. Seja
por um bom negócio. Ou uma conquista.
Eu amo este prazer de perseguição.
E Emma Jones é minha mais nova presa.
— Peça para ela subir e avise que tenho apenas dez minutos.
Que a caçada comece.

Alguns minutos depois, a garota grunge entra na sala, depois de um


sinal de Gillian, que fecha a porta atrás dela.
Ela parece um coelho assustado, parada ali com os grandes olhos
castanhos arregalados.
Meu Deus, que vontade de mandar ela ajoelhar e vir rastejando até
mim. Quase posso salivar ao imaginar a assustada Senhorita Jones se
insinuando para baixo da minha mesa, abrindo minha calça e tirando a
ereção que já começa a se formar exigente entre minhas pernas, colocando-
a entre seus lábios vermelhos.
Inferno. Estou de pau duro e faz apenas alguns segundos que ela
está na minha presença.
— Tenho dez minutos, Senhorita Jones, não o dia inteiro — alerto
de forma brusca.
Ela sai do estupor e avança de forma incerta até minha mesa,
enquanto tamborilo os dedos impacientes sobre a mesa. Para, como se
estivesse confusa se deve sentar ou não e com um rolar de olhos, e aponto
para a cadeira em frente.
Minha nossa, ela está realmente assustada e isso me enerva e me
delicia ao mesmo tempo.
A fera em mim está rosnando de fome e a Senhorita Jones parece a
refeição mais suculenta que eu poderia provar em muito tempo.
Eu a observo sentar-se.
— Nove. — Sibilo, sabendo que a estou assustando ainda mais e me
divertindo com isso.
— Claro, eu... — balbucia, corando. — Só preciso ligar...
Pega um gravador e noto que os dedos que se atrapalham para ligar
o aparelho estão trêmulos.
Ela respira profundamente, colocando uma mecha de cabelo atrás da
orelha, finalmente ergue o olhar, me encarando.
— Podemos começar? — Sei que ela tenta soar profissional, mas
acho que também tem noção que não está adiantando.
Em outras circunstâncias, eu teria enxotado alguém incompetente
como a Senhorita Jones da minha sala. Não tenho a menor paciência com
gente que não sabe fazer bem o que é pago pra fazer.
Mas, já não me importo com as habilidades profissionais de Emma
Jones.
Estou no modo fera agora. Puro instinto.
— Já deveria ter começado. — Minha voz gelada não condiz com o
fogo que está queimando meu íntimo.
Esse sou eu, uma combinação perigosa de gelo e fogo que a
Senhorita Jones estava prestes a experimentar.
Ela abaixa o olhar para o bloquinho ridículo de questões à sua
frente.
— O senhor estudou na Universidade de Nova York há alguns anos,
como essa experiência contribuiu para o seu sucesso?
— Em nada.
— Nada? — Ela me encara confusa.
— Sequer terminei meu curso, fiquei naquela merda dois anos e
pulei fora.
Eu não tinha tempo a perder com regras e professores fodidos,
quando já tinha dinheiro para comprar metade daqueles prédios.
— Por quê?
— Eu já era rico, por que iria ficar lá aguentando aqueles putos?
— Certo. — Ela parece chocada, mas volta às perguntas. — O
senhor obteve seu primeiro milhão aos 19 anos, pode nos contar como
conseguiu esse feito?
Não contenho um sorriso arrogante.
Modéstia é para gente medíocre.
— Apenas sei onde investir, é muito simples.
— Como assim você “sabe”?
Não me passa despercebido que algo brilhou nos olhos assustados
da Senhorita Jones.
Um lampejo de interesse que combinou com o seu discreto mover-se
na cadeira.
Ela está inquieta.
Eu a estou inquietando.
Ah sim.
O jogo está em curso.
— Acho que é um talento natural para ler o universo, como o
mundo vai girar e se transformar — respondo quase entediado. Já estou
ficando de saco cheio daquelas perguntas de trabalho de quinta série da
Senhorita Jones. — Digamos que eu sei que uma empresa, que apesar de
parecer com qualquer outra, vai se transformar numa fonte de milhões em
pouco tempo e é nela que eu tenho que investir.
“Assim como sei quando uma mulher quer ser dominada por mim,
sem nem mesmo abrir a boca e dizer, cara Senhorita Jones.”
— Alguns atribuem seu sucesso à sorte.
E lá vem. A explicação simplista de pessoas sem um pingo de
ousadia para mudar o próprio caminho. Sorte.
Eu nunca tive sorte.
Cunhei meu nome nas paredes de Wall Street com minhas garras
afiadas.
Garras que o menino que eu fui ganhou nas ruas depois de descobrir
que a sorte não existia.
E se um dia existiu me abandonou muito cedo.
— Não tem nada a ver com sorte. Não sou um homem de sorte. A
sorte me abandonou há muito tempo. Se é que um dia eu a tive. — Minha
voz sai com amargura e eu me irrito com isso.
Eu me irrito com a Senhorita Jones que com uma simples pergunta
idiota me fez lembrar de coisas que não gosto de lembrar.
— Então a que atribui o seu sucesso?
— Ao talento. Ao trabalho. E a seguir minha intuição.
— Intuição? Parece arriscado. — Hum, a Senhorita Jones está
ficando corajosa?
Vamos acabar logo com isso.
— Entenda uma coisa sobre mim, Senhorita Jones. — Eu me inclino
para frente. — Gosto de correr riscos. E amo um desafio. A emoção de uma
boa caçada.
— Caçada?
— Investir em ações para mim é como uma caçada. Eu escolho a
presa. Eu a persigo. Estudo seus movimentos me preparando para o ataque.
— Minha voz adquire um tom de desafio.
Os olhos da Senhorita Jones estão mais próximos agora e ela ofega.
Com regozijo, noto o exato momento em que ela percebe a
verdadeira natureza de nossa conversa.
Não estamos em uma entrevista.
Ela não é a jornalista e eu o entrevistado.
Ela é a presa.
Minha caça. E eu, seu caçador.
Suas pupilas se dilatam e o rosto se tinge de vermelho.
Por alguns segundos, aguardo em suspense.
Aguardo se ela vai se levantar e fugir do desafio.
Ou vai ficar, como suspeito.
Se vai desafiar seu predador.
Fuja, Senhorita Jones.
Se for capaz.
— Então tudo se resume a isso? Ao desafio da caçada? — ela
indaga e meu pau se contorce ao tom rouco da voz que ela não consegue
disfarçar.
Seu olhar sustenta o meu.
Há temor ali, mas também há desafio.
Curiosidade.
Excitação.
Submissão.
Eu me inclino ainda mais.
Tenho certeza que tudo o que quero fazer com ela está escrito em
meus olhos, mas também tenho consciência de que ela não entende a
magnitude.
Ainda.
— Sim, Senhorita Jones. A caçada me excita.
Ah sim, Senhorita Jones.
Renda-se a seu caçador.
Observo sua respiração começar a sair por arquejos.
Minha própria respiração está curta e dura.
Porra, sim!
Então, com seu olhar incrível ainda preso no meu, eu ataco.
— Quer ser caçada por mim, Senhorita Jones?
Eu me recosto na cadeira, os barulhos de Wall Street fervilhando
atrás de mim enquanto Emma Jones me contempla em choque.
Ainda espero, com certo temor que me surpreende, que ela vá se
levantar e correr. Como qualquer pessoa normal com o mínimo de senso de
preservação. Porém, se meus instintos estiverem corretos — e eles quase
sempre estão — Emma Jones não vai fugir.
— Não está fugindo. — É uma constatação.
O rosto bonito está em brasa.
Sim, Emma Jones é bonita. Embora isso, no fundo, não faça
diferença.
Gosto de coisas belas.
Quando se tem muito dinheiro, é fácil nos cercar de beleza. Isso nos
confere um certo status de poder.
Obras de arte, carros, casas.
Mulheres.
Só que quando se adquire tudo isso com apenas um piscar de olhos,
o prazer da posse se torna um tanto enfadonho.
Há algum tempo comecei a olhar além da estética.
Um carro bonito também tinha que ser veloz. Uma casa incrível tem
que me dar uma sensação de lar, pertencimento. Uma mulher bonita tem
que ter atributos escondidos para prender meu interesse por mais de uma
noite. Aí que está. Quando se busca algo além da superfície, percebemos
que a maioria das coisas e pessoas não têm profundidade suficiente. Não
passam de um lago raso que, quando ousamos mergulhar, quebramos a
cabeça.
Talvez por este motivo, ultimamente eu sinto mais tesão por ganhar
dinheiro do que gastá-lo.
Há poucas coisas que vejo graça em gastar dinheiro hoje em dia.
Eu gastaria um bom dinheiro transformando a Senhorita Jones em
uma mulher deslumbrante, por exemplo.
Ela se veste como uma estudante morta de fome e não há um pingo
de maquiagem em seu rosto. Embora a falta de maquiagem me permita ver
o rubor delicioso em sua face. Os cabelos compridos são incríveis, devo
admitir, seriam perfeitos para puxá-los com força por meus punhos quando
estivesse a tomando de costas.
— Sabe, Senhorita Jones, hoje não foi um bom dia para mim. —
Solto um longo suspiro. — Ontem eu estava em Tóquio. Viajei vinte horas
para chegar e descobrir que perdi muito dinheiro. Oscilações da Bolsa.
Lembra o que falamos sobre riscos?
Ela sacode a cabeça em afirmativa.
— Claro, eu gosto dos riscos. Apesar disso, odeio perder. E perder
milhões me deixou puto... Eu sei, alguns diriam que não é nada para quem
tem bilhões. E eu estava irritado, Senhorita Jones.
Eu me inclino para mais perto dela de novo e dessa vez sinto seu
perfume. Não parece nada caro, apenas... shampoo e sabonete.
— Sabe o que eu gosto de fazer quando estou irritado? Sexo. —
Observo sua reação com cuidado.
Ela ofega, ficando ainda mais vermelha, se é que isso é possível.
Será que ela percebe que seus olhos são transparentes? Que eles
sussurram para mim?
— Quente. — Agora estou quase rosnando. — Rápido... e duro. —
Eu me afasto, estou me sentindo quase feroz agora ao me lembrar dos meus
planos desfeitos por aquela entrevista idiota. — Mas eu não podia. Eu tinha
que vir para a maldita coletiva. E quando penso que estarei livre, me deixo
convencer a conceder uma entrevista a uma repórter de um jornal de merda
qualquer. E isso me deixou ainda mais irritado. Muito. E, enquanto eu
concedia meu precioso tempo a esta entrevista, me deparo com algo muito
interessante. — Sorrio. Astutamente. — Uma presa em potencial. Então o
dia que estava sendo uma merda se torna uma agradável surpresa.
Ela morde os lábios, ansiosa e confusa.
Excitada e amedrontada.
Uma combinação que está fazendo meu pau pulsar dentro da calça.
— Olhos castanhos que me desafiam a caçá-la. Quer fugir, mas não
consegue. Você quer a adrenalina da caça também. Saber como é ser
caçada. Ter a opção de se virar e correr e mesmo assim não se mexer. Quer
saber até onde pode ir. Até onde pode resistir sem ser pega. Dominada e por
fim abatida. E isso, Senhorita Jones, é definitivamente um desafio do qual
eu não posso declinar.
— Eu não, eu... — Ela finalmente encontra sua voz, numa vã
tentativa de me contradizer.
Só por isso ela merecia umas cinco chibatadas.
— Faça um favor a nós dois, Senhorita Jones. Não tente mentir pra
mim. Outra coisa em que sou muito bom é em detectar uma mentira. Você
está aí sentada, com seu bloquinho de perguntas inúteis e seu olhar que,
embora pareça assustado, no fundo está cheio de cobiça. Não lhe disseram o
quanto é perigoso cobiçar seu predador? Eu sou atraente a você, não é? Está
curiosa, fascinada. Deslumbrada.
— Não. Eu...
— Não... O que conversamos sobre mentiras? — Porra, ela quer ser
punida tão cedo? — Não me deixe com vontade de puni-la, Senhorita
Jones.
Ao ouvir a palavra punição seu olhar se arregala.
E tenho certeza que está se imaginando inclinada sobre meus
joelhos enquanto defiro duros golpes com minha mão em sua pele branca.
Estudo sua expressão para ver o resultado disso e quase rosno de
satisfação quando vejo seu rosto corar de lascívia. E embora eu não possa
ver, tenho certeza que ela está apertando suas coxas uma contra a outra para
aplacar a súbita vontade de ter meu pau entre elas.
Ah sim.
Eu também estou ansioso por isso, Senhorita Jones.
Mas tudo a seu tempo.
— Oh, você gostou da ideia. — Não consigo conter o sorriso. —
Ah, Senhorita Jones, que grata surpresa está me saindo.
Ela desvia o olhar, meio envergonhada.
— Você está vermelha. Está nervosa. E este seu rubor... É delicioso.
Seu olhar volta a capturar o meu como se fosse impossível agora
desviá-los. Suas pequenas mãos apertam o bloquinho ridículo e a caneta
com força.
— E suas mãos estão segurando com força a caneta, mesmo assim
estão trêmulas. Onde mais está tremendo, Senhorita Jones?
— Estou tremendo inteira.
Sua resposta sincera surpreende a nós dois.
Meu sorriso de predador se alarga, divertido.
Ela tapa os lábios traidores com a mão.
Mas é tarde. Parece que a boca gostosa da Senhorita Jones está
traindo seu cérebro que tenta se manter no comando.
Em breve ela vai perceber que o único no comando ali sou eu.
Eu me levanto, dando a volta na mesa.
Chega de conversa.
Vamos ao ataque.
— Levante-se, Senhorita Jones!
Ela hesita por alguns segundos, antes de colocar as coisas que
segura sobre a mesa e se levantar.
— Venha até mim — ordeno.
E ela vem.
Caminho a sua volta, avaliando minha presa.
Ah minha nossa.
Ela é perfeita para o que eu tenho em mente.
Seu olhar amedrontado e excitado.
Sua submissão silenciosa.
Ah sim.
Vou me refestelar com a Senhorita Jones.
Mas primeiro preciso ver o que ela esconde.
— Tão simples... Preciso tirar esta pele que não faz jus a seu corpo.
Levante os braços! — Ela faz como mandei e tiro a camisa barata por sua
cabeça, revelando a mim sua pele branca como leite, o sutiã simples de
algodão cobrindo os seios que antes mesmo de eu tocá-los já sei que serão
perfeitos para minha mão.
Porém, eu me irrito quando ela tenta se cobrir.
— Não mandei se cobrir, Senhorita Jones.
— Por que, por quê...
— Eu quero vê-la. Descruze. Os. Braços. Agora! — exijo.
Ela obedece.
Ergo as mãos e a toco sobre o tecido, meus dedos roçando
levemente, fazendo seu mamilo enrijecer e a Senhorita Jones me brindar
com seu primeiro gemido tímido.
O suficiente para que eu sinta um desejo quase ruidoso percorrer
meu sangue e encher minhas mãos com seus seios.
Como eu previ. Perfeitos para mim.
— Perfeitos para as minhas mãos.
Emma fecha os olhos, os lábios entreabertos. Gosto de ficar olhando
para ela, ver sua expressão de excitação enquanto meu toque desce por seu
estômago, por sua pele quente e convidativa, até pousar na cintura do jeans
horrível.
Ela abre os olhos enquanto hesito por um momento, esperando um
consentimento que a fera em mim não concorda.
A fera toma aquilo que quer.
Porém, ainda há um resquício de humanidade dentro de mim,
mesmo nesse momento em que o instinto impera.
Eu jamais domino uma mulher que não quer ser dominada.
Emma quer. Porém, preciso que saiba exatamente que eu vou tomar
o que ela está oferecendo.
E quando ela não me interrompe, abro seu jeans, ainda com meus
olhos presos nos seus, e mergulho meus dedos dentro de sua calcinha.
E como eu previ, encontro calor.
Umidade.
E reciprocidade.
É quase como se Emma Jones fosse um condutor de energia que
causa um choque em meus dedos, a eletricidade percorrendo meu braço,
minha pele, tomando meu sangue de assalto.
Seu gemido rouco faz eco com meu rosnar feroz e retiro os dedos,
levando-os aos lábios e provando o gosto de Emma Jones.
— Hum... doce. — Abro um sorriso em vista a seu rubor de choque,
prazer e contrariedade.
Ela está sentindo falta dos meus dedos dentro dela.
E isso me enche de uma satisfação furiosa.
Toco seus lábios que se abrem num convite. E decido naquele
momento que ainda quero ver meu pau dentro deles.
— Quero morder você inteira. — Inclino-me perto do seu ouvido.
— Quero provar você inteira. Quero fazer tudo o que seus olhos estão
implorando, Senhorita Jones.
— Sim... — Ela solta um gemido de rendição que acho que nem
percebe.
Ela está além da razão agora. Está naquele subespaço perfeito, onde
apenas as minhas ordens importam.
E isso me deixa inebriado de poder.
E eu uso esse poder para tirar suas roupas mundanas do caminho. O
jeans velho, a calcinha tão sem graça quanto o sutiã. Até que Emma Jones
se revela inteira para minha apreciação.
Perfeita.
Eu me levanto, aspirando seu cheiro no caminho, meus instintos
gritando para debruçá-la contra minha mesa e fodê-la vezes sem fim com
força.
Mas há muito eu aprendi a controlar aqueles instintos.
Um bom dominador, domina primeiro a si mesmo.
Eu estou no controle.
Não só da Senhorita Jones, mas, sobretudo, sobre o que ela me faz
sentir.
Com uma respiração profunda, toco seu pescoço alvo, sinto sua
pulsação acelerada.
— O que você quer, Senhorita Jones?
— Preciso que faça essa dor em meu íntimo parar... — ela sussurra e
sei que nem se deu conta.
— Eu sei, está doendo, não é?
Meus dedos passeiam por sua pele, bem de leve, causando pequenos
tremores.
— Sua pele é tão macia, tão branca. Quero. Marcá-la. Inteira.
Ela ficaria maravilhosa cheia de marcas roxas dos meus dentes.
Dos meus tapas.
— Talvez eu faça uma marca aqui. — Toco sua cintura. — E outra
aqui. — Toco um ponto acima do seu mamilo. — E este seu pescoço... —
Minhas mãos rodeiam sua garganta. — Quero vê-lo vermelho por causa de
meus dentes. Todos vão saber que você foi marcada.
Então eu a empurro em direção à mesa e num movimento ágil passo
os braços sobre os objetos em cima da mesa, que vão ao chão, numa
bagunça ruidosa.
Como se antevendo meu pedido, Emma se inclina para trás, os
braços erguidos, numa pose submissamente graciosa.
Os olhos ainda fechados, os lábios entreabertos e ofegantes, os seios
empinados e implorando, a umidade entre as pernas denunciando sua
excitação.
Nunca vi algo tão lindo na vida.
E sem pensar, pego meu celular e eternizo aquela imagem com uma
foto.
Ela abre os olhos.
Escuros e maravilhosos.
Submissos.
À espera.
E eu tenho certeza de que, poderiam se passar mil anos, e eu nunca
esqueceria o momento em que Emma Jones se transformou na presa mais
perfeita de todas.
E eu nem tinha noção que seria a última.
— Está com medo?
Ouso perguntar, embora já saiba a resposta.
Sim, ela está com medo. Mas o desejo é mais forte que qualquer
receio que Emma Jones sinta.
E essa constatação me inebria.
Porém, ela sacode a cabeça em negativa.
Ah, ela não tem medo? Está me desafiando com sua pequena
mentira?
Deixo meus olhos percorrerem suas formas perfeitas me
perguntando se ela continuaria dizendo que não tem medo se a obrigasse a
se virar enquanto eu tirava meu cinto.
Umas dez cintadas seriam suficientes, creio.
— Você está pronta para ser devorada, Senhorita Jones? — indago
sentindo meu pau quase doendo, implorando por alívio em alguma cavidade
da Senhorita Jones.
Por qual eu começaria?
Cerro minhas pálpebras novamente.
Toco meu pau por cima da calça.
Ela está pronta. Eu estou pronto.
Então escuto como se vindo de muito longe o som além das portas
fechadas da minha sala.
Merda.
Terei que ser rápido.
Preciso.
Insuficiente.
Não.
Inferno.
Demoro alguns segundos para decidir, ouvindo a respiração curta de
Emma Jones, seu corpo me esperando. Implorando.
Certo. Às vezes é preciso recuar. Recalcular a rota. Fazer novos
planos de negócios e mudar as estratégias.
Não era uma derrota, apenas um adiamento.
Eu ainda estou no controle.
Respiro fundo.
— Vista-se, Senhorita Jones! A entrevista acabou.
Com essa ordem, eu me viro e me afasto, entrando no meu banheiro.
Ainda escuto os sons de Emma Jones através da porta. Agora ela
estará se vestindo rapidamente. Talvez esteja acordando da sedução
hipnótica que eu a coloquei. Talvez esteja chocada consigo mesma. Ou não.
O que eu sei sobre a Senhorita Jones, afinal?
Nada, dou-me conta e me surpreendo por isso me irritar.
Não gosto de agir no escuro. Não gosto de não saber com o que ou
quem estou lidando.
Escuto seus passos se afastando.
Meu pau reclama. Dói.
— Merda.
Com um grunhido quase furioso, abro minha calça, tomando minha
ereção entre os dedos, movendo meu punho com força sobre ela.
O desejo ainda é urgente. Ainda sinto o cheiro da submissão da
Senhorita Jones impregnado em mim.
Sei que não vou esquecer tão cedo.
E gozo com um rosnado feroz.
**
— Você parece de bom humor.
Ethan me olha pelo espelho retrovisor quando entro no carro na hora
do almoço no dia seguinte.
Eu ignoro seu olhar de malícia.
— Para onde vamos?
Ele dá partida, o carro deslizando pelas ruas apinhadas de
Manhattan.
— Vamos ao Del Posto. Mas antes, passaremos no New York
Morning.
Ethan franze a testa.
— Onde?
— New York Morning, ponha no GPS que deve ser fácil de achar.
Ethan faz o que pedi, mas continua com um olhar intrigado.
— Hum, é um jornal? Não sabia que tinha alguma reunião antes do
almoço. Gillian não me informou de nada.
Gillian era orientada a passar toda a minha agenda para Ethan,
porém, deste compromisso ela não estava a par.
Sorrio com meu humor aumentando consideravelmente. Quase
posso salivar ao imaginar que eu comeria muito mais do que um bom bife
naquele almoço.
A Senhorita Jones hoje será abatida.
E ela nem faz ideia. Isso me deixa mais empolgado ainda.
É divertido imaginar a surpresa dela, por eu estar indo caçá-la no
seu empreguinho de merda.
Pego o celular, apreciando a foto que tirei ontem, e com um sorriso
divertido resolvo enviar para a Senhorita Jones com uma mensagem.
“Minha mesa nunca mais será a mesma depois de você,
Senhorita Jones.”
— Está rindo? — Ethan questiona. Ele ri também, embora não faça
ideia do que estou rindo. — Me conta a piada?
— Não sou o piadista aqui.
— Alguma coisa está divertindo você e só pode ser duas coisas: a
iminência de ganhar dinheiro ou a iminência de foder.
— Segunda opção. — Guardo o celular.
— New York Morning?
Eu suspiro. Ok, posso divertir Ethan um pouco também.
— Vamos encontrar a Senhorita Emma Jones.
Ethan franze a testa.
— Quem? Espera, não é a jornalista que você recebeu ontem. A que
perdeu a hora?
— A mesma. Você a viu. A garota malvestida que tropeçou em mim
no saguão.
— Ah... Ela? Está me dizendo que vai trepar com a jornalista?...
— Não seja indiscreto, Ethan.
— Só estou curioso. Ela não me pareceu o seu tipo, se bem me
lembro. Na verdade ela parecia... — Então de repente ele entende. — Claro.
Acho que entendi.
Ele estaciona o carro em frente ao prédio onde estão localizados os
escritórios do New York Morning. Não preciso pedir que me acompanhe,
Ethan sabe quando eu quero sua presença e quando não quero.
As pessoas ficam olhando para nós quando me dirijo à recepção.
Penso numa abordagem.
O que deixaria a Senhorita Jones mais propensa a aceitar seu
destino? Sim, ontem ela estava muito disposta a qualquer coisa, mas tenho
que estar preparado para o caso de ela reagir não tão receptiva em um outro
ambiente.
Talvez ela não tenha gostado de ter sido dispensada sem maiores
explicações, e confesso que me arrependo um pouco disso.
Eu poderia ter pedido para ela se vestir e marcado um jantar. Posso
ser minimamente cordial e educado quando preciso, e até alimentar minha
presa com boa comida em um restaurante fino regado a uma boa conversa.
Na verdade, eu estava até um pouco ansioso para conhecer um pouco mais
da Senhorita Jones.
— Preciso falar com o editor do New York Morning, Matt Thomas.
A recepcionista demora alguns segundos para fechar a boca
enquanto me encara.
— A senhorita é surda? — indago impaciente a fazendo sacudir a
cabeça.
— Oh, certo, me desculpe. A quem devo anunciar.
— Liam Hunter.
Ela abre a boca de novo, mas dessa vez tem o bom senso de pegar o
telefone e me anunciar.
— Certo. Quinto andar, Senhor Hunter. — Desliga e me fita com
um sorriso que ela considera sedutor.
Eu não retribuo.
Ethan me segue ainda com um olhar divertido.
— Às vezes eu tenho pena das pessoas que são obrigadas a lidar
com você.
— Cale a boca.
— Às vezes eu tenho pena de mim, na verdade.
As portas do elevador se abrem no andar e escuto os barulhos da
redação do jornal em plena atividade e um homem jovem loiro vem em
minha direção muito vermelho.
— Sr. Hunter, que... surpresa. Sou Matt Thomas.
Ele estende a mão e eu o cumprimento.
— Obrigado por me receber, preciso conversar com você sobre
Emma Jones.
Os olhos de Matt se arregalam, confusos.
— Emma? Algum problema?
— Podemos ir até sua sala?
— Claro.
Matt lança um olhar acuado a Ethan, que está sério como um
segurança de máfia agora, enquanto seguimos para a sala de Matt Thomas.
Ethan se posiciona na porta, e posso sentir os olhares e sussurros
curiosos.
Quando entramos, noto que há uma moça lá.
— Matt, preciso falar com você sobre... — ela interrompe o que ia
dizer ao me ver e seu queixo cai. — Minha nossa senhora, Liam Hunter.
— Erica, por favor. — Matt quase engasga.
— Uau — A tal Erica se recompõe logo e vem em minha direção
estendendo a mão. — Muito prazer em conhecê-lo. Sou Erica Steves.
Repórter...
Eu a cumprimento enquanto ela joga os cabelos de forma
espalhafatosa.
— Erica, pode nos dar licença? O Senhor Hunter tem assunto para
tratar... enfim, eu estou confuso. Emma me disse que você lhe concedeu dez
minutos e somos muito gratos. E claro, eu já peço desculpa pelo atraso dela.
Entenda que Emma é uma estagiária aqui e infelizmente não tínhamos
ninguém para mandar à coletiva. Ela me disse que a entrevista não ocorreu
como deveria...
— Eu deveria ter ido — Erica se intromete.
— Sim, infelizmente Emma Jones se atrasou e perdeu a coletiva.
Um fato desagradável — concordo.
— Nós vamos demiti-la! — Erica quase gritou.
Meu Deus, ela tem uma voz de gralha bem irritante.
— Foi inconcebível se atrasar e tomar seu tempo.
— Será que pode chamar a Senhorita Jones aqui? — Decido que já
deu pra mim aqueles dois palhaços.
— Claro, claro. — Matt pega o telefone e pede que chame Emma
Jones. — De novo eu peço desculpas pelo comportamento da Emma. Ela é
só inexperiente. Mas se preferir, podemos demiti-la. Na verdade, ela nem ia
continuar conosco, já que não conseguiu a vaga para ser efetivada.
— Ela é péssima. — Erica se intrometeu de novo.
— Mas o senhor não precisava ter vindo aqui, apenas para isso.
Sinto-me péssimo que tenha usado seu tempo que deve ser precioso e..
— Na verdade, gostaria de conceder uma entrevista à Senhorita
Jones, já que ontem não foi possível.
Matt e Erica arregalam os olhos surpresos.
— Por isso estou aqui. Acho que não será problema conceder hoje
mesmo em um almoço.
Antes que eles possam responder, escuto passos e Matt olha através
de mim.
— Aí está ela.
Eu me viro e vejo a Senhorita Jones parada na porta da sala de Matt
Thomas com um olhar assustado.
E isso me deixa mais satisfeito ainda.
Tenha medo, Senhorita Jones.
— Senhorita Jones, eis que nos encontramos novamente.
Emma dá um passo para trás, e tenho a impressão que ela vai correr.
— Emma, não é fantástico que o Liam tenha vindo nos visitar? —
Erica diz animada. — Não se importa que o chame de Liam, não é? Você é
tão jovem, não me parece certo chamá-lo de senhor...
— Erica, não exagera. — Matt lança a ela um olhar de advertência.
— O Senhor Hunter foi mesmo muito atencioso nos prestigiando, apesar de
seu escasso tempo, com sua visita ao nosso jornal.
— Claro, o Senhor Hunter é mesmo muito ocupado. Deve ter muito
trabalho sobre a sua mesa. — Emma parece ter recuperado a voz e a
coragem.
— Na verdade, deixei um trabalho inacabado sobre minha mesa
ontem, lembra-se Senhorita Jones? — Decido brincar um pouco, só para ela
saber exatamente quem está no comando ali.
Seu rosto se tinge de vermelho.
— Não faço ideia do que está falando, Senhor Hunter.
— Da nossa entrevista, claro. Eu estava com meu tempo limitado,
com... muitas... distrações. Eu fico assim quando estou... faminto.
— O almoço estava sobre a mesa, por que não comeu?
Wow! Isso me surpreende.
Ela pode brincar com as palavras também?
— Porque eu não queria apenas um aperitivo rápido. Bastou ver o
que me era oferecido para decidir que queria um banquete completo. Com
muito, muito tempo para degustação, Senhorita Jones.
— Talvez devesse ter aproveitado aquele momento, agora é tarde.
Acredito que a refeição não esteja mais disponível para o senhor. — Hum,
como eu imaginava, ela não gostou de ser dispensada.
— Acho que temos opiniões diferentes sobre este assunto. Na
verdade, estou me sentindo faminto novamente neste momento...
Ela empalidece e se vira, como se realmente fosse fugir, mas se
depara com Ethan.
Desista, cara Senhorita Jones.
— Emma, o Senhor Hunter se mostrou muito contrariado por não
ter conseguido lhe conceder a entrevista ontem e está disposto a fazê-la
hoje, durante um almoço. — Matt Thomas esclarece minhas intenções.
— Isso é ótimo — Ela se vira para Erica. — Acho que Erica ficaria
muito feliz em acompanhá-lo.
Erica se anima tanto que dá alguns pulinhos ridículos.
— Sim, sim!
— Não! Prefiro que a Senhorita Jones continue a entrevista.
— A Erica é a repórter. Eu sou apenas estagiária.
— Nós já começamos a... entrevista. — Eu pego o celular no bolso.
Certo. Se ela quer me provocar, vou lhe mostrar como se faz uma
verdadeira provocação. — Acho que tenho até um registro. Posso mostrar a
seus colegas...
— Não! — Sua negativa sai desesperada.
Levanto a sobrancelha com ironia.
— Então, podemos ir senhorita? — Guardo o celular.
Emma ainda hesita, mas ela sabe que não vai adiantar.
— Claro que a Emma vai — Matt responde por ela. — Mais uma
vez estamos muito agradecidos, Senhor Hunter...
Mas eu já não escuto e caminho para fora.
Não preciso olhar para saber que Emma e Ethan estão me
acompanhando.
E certamente não podem ver meu sorriso arrogante de satisfação.
Emma Jones parece um coelho acuado quando eu me viro ao chegar
ao carro.
— Por que essa cara de quem está indo para o sacrifício, Senhorita
Jones? — Não consigo parar o sorriso. Emma Jones e sua ridícula tentativa
de resistência me divertem.
— Porque nós sabemos que é exatamente para onde estou indo,
Senhor Hunter.
Eu abro a porta traseira para ela.
— Não se preocupe, Senhorita Jones, ao final da refeição eu
prometo que estará viva.
Tomo meu lugar ao seu lado.
— Ethan, podemos ir — aviso antes que Ethan suba a divisória,
isolando a mim e a Senhorita Jones.
Observo o olhar agora deslumbrado de Emma passear pela
sofisticação do carro.
— Impressionada?
Ela enrubesce e dá de ombros.
— Sem dúvida nunca vi um carro desses.
— É um Maybach Landaulet, tem um motor biturbo que oferece
620 cv de potência.
— Claro, faz todo sentido pra mim — rebate com ironia. — Aposto
que deve ser ridiculamente caro.
— 1, 35 milhões.
Seu queixo cai.
— Eu gosto de saber que posso ter o melhor, Senhorita Jones —
explico, quase impaciente, enquanto Ethan dirige pelas ruas apinhadas da
cidade.
— Percebo que gosta do melhor. Por isso não entendo o que estou
fazendo aqui.
— Por quê?
— Olhe para mim. Não acho que posso ser colocada na categoria de
“melhor”. Acho que “comum” seria a categoria certa.
Ela está de brincadeira?
Emma pode ser tudo menos comum.
Na verdade, é um poço de contradições ambulantes que me deixa
ávido para desvendar, como um complexo problema matemático.
Ela se veste como uma mendiga e não parece se importar se está
sexy ou não — e devo frisar que hoje sua calça desbotada com um grande
rasgo no joelho e seu suéter azul que já teve dias melhores é quase um
clássico do mau gosto. Porém, seu rosto limpo é como um sopro de ar
fresco. Gosto de vê-lo se tingir de rubor quando está excitada, amedrontada
ou com raiva. Gosto de saber que poderei beijar os lábios que ela passa o
tempo mordiscando sem me preocupar em pedir que limpe o batom. Há
pequenas sardas em seu nariz pequeno e os olhos são dois poços escuros e
tão expressivos que quase posso imaginar ser possível ler sua mente.
Quase, infelizmente.
Eu tenho muitas habilidades, mas ler mentes é uma que ainda não
domino.
Ainda.
Porém, sou bom em ler pessoas e seus sinais.
Emma Jones pode ainda nem saber, mas está louca para ser
espancada.
E fodida.
Não necessariamente nessa ordem.
— Acredite em mim, Senhorita Jones, está bem longe de ser
comum. — Eu me inclino em sua direção, aspirando seu cheiro único
contendo a vontade de enfiar meu nariz em sua pele e farejar feito um
animal faminto.
Sou premiado por seu ofegar surpreso e excitado.
— Por que parou ontem? — ela questiona.
— Achei que estaria curiosa para saber por que comecei. Ou será
possível que eu me enganei e que entrou na minha sala com o intuito de me
seduzir, Senhorita Jones?
Confesso que isso me passou pela mente.
Não seria a primeira vez. Porém, havia algo em Emma Jones e suas
roupas horríveis que não combinavam com uma sedução premeditada.
— Não! Eu nem te conhecia!
— Acredite, não colocaria nenhum empecilho. — Sua resposta me
satisfaz porque estava certo em meu julgamento.
E gosto muito de estar certo.
Eu me afasto, voltando ao lugar.
— Certo. Então por que começou? — ela insiste.
— Porque você queria. — Eu a encaro, desafiando-a a negar.
E não consigo conter um sorriso quando ela não nega.
— Estou vendo que a lição sobre mentira foi aprendida. É uma
pena. Estava quase ansiando para abaixar suas calças e lhe dar algumas
palmadas para aprender.
Ela parece ligeiramente chocada com minha sugestão.
— Como sabia?
— O que você queria? Estava escrito em seus olhos. Está escrito em
seus olhos agora. — Ergo a mão e toco seus cílios. São lindos e longos.
Emma Jones não precisa de truques de maquiagem para isso.
Ela é um diamante bruto. Para ser esculpido por mim.
Por minhas mãos.
Meus dentes.
Ela fecha os olhos, sua respiração saindo com dificuldade. Seu
hálito doce banha meu rosto. Sinto seu gosto na minha língua, excitando
meus sentidos e toco seu lábio inferior.
— E sua boca...
Ela abre os olhos. Famintos e ansiosos.
Ela quer ser beijada.
Gosto de saber que ela está ansiosa. Excitada com as possibilidades
infinitas de prazer que eu posso lhe dar.
E eu vou dar.
Muito.
Mas vou tirar também.
Tudo.
— E esse seu rubor... — Acaricio seu rosto em fogo — é delicioso.
— Desço o toque até a veia que pulsa selvagem em sua garganta. — Seu
coração está disparado. Está com medo?
— Estou — confessa num fio de voz.
— Não estava com medo ontem. Achei que fosse fugir correndo
com meu ataque, mas você ficou. Que tipo de presa se coloca à mercê de
seu caçador tão docilmente?
— Por que parou? — seu questionamento deixa claro que ela
lamenta.
E quase me sinto arrependido agora.
— Por um mísero segundo, enquanto estava ali, deitada sobre minha
mesa, nua e a minha disposição, eu me perguntei se bastaria apenas um
ataque breve. Apenas satisfazer a minha fome. Só que eu estava curioso...
intrigado. Você, Senhorita Jones, era um mistério. Era uma... possibilidade.
Eu poderia foder você e mandá-la embora para sempre. Seria rápido e fácil.
No entanto, queria mais.
— Mais? Eu não entendo. — Sua voz está cheia de confusão, assim
como sua expressão.
Isso me dá uma certa impaciência.
Ela não entende mesmo?
Não pode ser tão inocente assim, senão não estaria aqui.
Irritado, eu me afasto, pegando o celular e fazendo uma reserva no
Del Posto e depois mando uma mensagem de voz a Ethan.
— Ethan, vamos ao Del Posto — ordeno.
— Eu não estou vestida para ir num restaurante desse nível.
— Podemos facilmente dar um jeito nisso. — Pego de novo o
celular. — Ethan, Quinta Avenida primeiro. Precisamos deixar a Senhorita
Jones apresentável.
Ela parece afrontada agora, mas não me importo.
Emma Jones está mesmo precisando de um banho do que de melhor
o dinheiro pode proporcionar a uma mulher.
E ela pode estar irritada, mas toda mulher gosta de ganhar presentes,
isso eu posso garantir. Eu tinha grana e experiência suficiente para saber
que ter um homem gastando dinheiro com elas era um dos maiores fetiches
femininos.

— Em que posso ajudá-lo? — A vendedora se aproxima solícita


quando entramos na loja.
— Olá, sou Liam Hunter.
A mulher arregala os olhos ao reconhecer meu nome.
— A Senhorita Jones precisa ser vestida.
— Claro. Meu nome é Kate. Por favor, me acompanhem. Eu os
levarei até o nosso salão privativo.
Uma outra vendedora se junta a nós, também mais solícita do que o
normal e nos leva até uma sala privativa.
— Fiquem à vontade, desejam beber alguma coisa?
— Apenas nos traga as roupas para a Senhorita Jones — exijo.
— Claro. Se o senhor nos disser o que gostaria.
— O que você tiver de melhor. E lingeries.
— Realmente não é necessário... — Emma finalmente encontra sua
voz, quando as vendedoras se afastam.
— Disse que não estava vestida adequadamente para nosso almoço.
— Eu nem achei que fôssemos almoçar de verdade!
— Não seja impertinente, Senhorita Jones.
— Concordei em sair com o senhor para uma entrevista para o
jornal e não...
— Ainda terá sua entrevista. Quando almoçarmos no Del Posto.
Depois que estiver vestida adequadamente.
— Aqui está. — As vendedoras entram no recinto empurrando uma
arara cheia de roupas. — Podemos ajudá-la e explicar...
— Deixem-nos a sós. — Eu as dispenso com um aceno.
As moças se apressam em sair sem questionar.
— Não tenho o dia inteiro, Senhorita Jones.
Ela me encara atordoada.
Sinceramente, achei que Emma Jones estaria pulando de alegria pela
oportunidade de ganhar algumas roupas caras para substituir aqueles trapos
que usava, mas ela apenas parece confusa e perdida.
— O que quer que eu faça?
— Que experimente as que lhe agradarem.
— Na sua frente? — Seu olhar é de horror e não consigo evitar o
sorriso com sua surpresa.
Óbvio que não perderia a oportunidade de vislumbrar o corpo
perfeito da Senhorita Jones novamente.
— Eu já a vi nua, Senhorita Jones. E quero ver de novo.
Percebo que o tom de desejo em minha voz a instiga.
Mesmo assim ela ainda hesita, o olhar sustentando o meu enquanto
eu a vejo lutar contra seus instintos.
Por fim, ela se levanta e caminha até a arara cheia de roupas,
passeando os dedos pelas lingeries finas.
— Não sou um homem paciente, Senhorita Jones. Você não vai
querer que eu me levante para colocar essa roupa em você. — Ameaço
apenas porque isso me diverte.
Então assisto Emma Jones se despir, ainda timidamente.
Deus, ela é mesmo perfeita como eu me lembrava e apenas
vislumbrar seus seios empinados faz meu pau se agitar de um desejo quase
urgente e levo a mão à frente da calça, observando Emma me lançar um
olhar receoso quando engancha os dedos na calcinha, hesitando por alguns
segundos.
Eu me acaricio lentamente e o olhar tímido dela é substituído por
uma chama que queima diretamente em mim.
E simples assim, acontece de novo, estamos naquela mesma onda
magnética que nos atraiu ontem e com uma certa surpresa, a observo
avançar em minha direção, vestindo apenas uma calcinha. Não consigo
desviar o olhar de sua pele alva e perfeita. Os cabelos escuros e grossos
dançando em volta dos seios que quero abocanhar até deixar marcas.
Quero deixar marcas em todos os cantos de Emma Jones.
Ela para na minha frente, eu me inclino, meu nariz deslizando por
seu ventre, e aspiro seu cheiro, como um animal. Ou como um drogado
aspirando a droga mais viciante do mundo.
E por um momento estranho, sinto-me vulnerável ali, à mercê
daquele vício inesperado.
Seguro seus pulsos e os levo para trás de suas costas, quando ela
tenta me tocar.
— Por que estou aqui. De verdade? — ela indaga e sei que também
está chocada, talvez até mais do que eu, com o que está acontecendo.
É rápido demais. Intenso demais. Até para mim.
— Eu quero você. Você quer que eu queira você. — Minha voz sai
abafada contra seu ventre macio e a sinto estremecer.
— Eu não... — Ela ia negar mas parou a tempo, desistindo de tentar
mentir.
— Ah, você entendeu.
Levanto a cabeça, a encarando.
— Então vamos ser honestos. Você não pensou nisso? Não
imaginou como seria? Eu e você?
— Eu tive muitos orgasmos pensando em você. Tantos que nem
posso contar. É o que queria ouvir?
Sua confissão sussurrada num tom de desejo proibido faz um
rosnado feroz escapar da minha garganta e mordo sua barriga, adorando
ouvir seu gemido de dor e prazer.
Lambo onde mordi, seu gosto se espalhando pela minha língua.
Ela força os braços para se libertar.
E eu a encaro, inebriado com a força do desejo que emana dela.
Uma força inesperada e irresistível que faz com que, por um
instante, me sinta destituído do meu controle.
E eu não gosto de perder o controle.
— Esse seu olhar ainda vai ser a sua morte, Senhorita Jones. Ou a
minha. — Solto seus braços, sentindo uma súbita necessidade de me afastar
dela. — Agora vá se vestir como uma boa menina. Nós nos encontraremos
para o jantar — aviso, me levantando e pegando meu celular que vibra no
bolso.
Gillian querendo que eu confirme a reunião das 15 horas com
Brady.
Hum, meus pensamentos se voltam para os negócios, já se afastando
da tentação da Senhorita Jones e sem nem me dignar a me despedir, eu a
deixo sozinha no provador, respondendo para Gillian no caminho e pedindo
que Brady me encontre no Del Posto.
A perspectiva de fazer bons negócios desanuviando minha mente
caótica e me dando a suave sensação de poder sobre mim mesmo de novo.
— Senhor Hunter, algum problema? — A vendedora me intercepta.
— Eu tenho que ir. A Senhorita Jones talvez precise de ajuda. Ela
pode escolher o que quiser e diga que não precisa se preocupar com o
preço. Meu segurança cuidará do resto.
— Claro, nós cuidaremos dela — a moça garante, provavelmente
muito feliz com a comissão que vai ganhar.
Ethan levanta a sobrancelha quando me vê.
— Cadê a Senhorita Jones?
— Mudanças de planos. Me leve ao Del Posto, e depois volte e
espere a Senhorita Jones terminar suas compras.
Ele senta ao volante e ainda parece intrigado.
— Terminou? — Sei o que ele está perguntando.
— Ainda não.
— O que tem essa garota que o interessa tanto? Ela parece um
coelhinho assustado.
— Talvez a perspectiva de pegá-la numa armadilha. De vê-la se
contorcendo para fugir.
Ethan solta uma risada.
— Seu filho da puta.
— Terei que cancelar nosso treino hoje.
— Por quê?
Eu e Ethan nos encontrávamos regularmente na academia do prédio
que sou dono e onde tenho uma cobertura, e Ethan ocupa um apartamento
alguns andares abaixo do meu, para trocarmos socos.
— Tenho um jantar com a Senhorita Jones.
— Ah, começo a entender.
Meu celular vibra e vejo uma mensagem de Karen, a garota com
quem eu deveria ter saído ontem.
Bem, agora ela é a garota com quem não vou sair nunca mais,
decido, lhe mandando uma mensagem curta de adeus.
Karen perdeu totalmente a graça pra mim. No momento, meu único
interesse é a Senhorita Jones e sua submissão inesperada e deliciosa.
Mal posso esperar para hoje à noite.

Porém, quando estou saindo do meu escritório naquele começo de


noite me surpreendo ao receber uma mensagem de Emma Jones
desmarcando comigo.
Não, ela não pode estar falando sério.
Não é ela quem diz que já chega.
Sou eu.

“Espero que não esteja querendo dizer que está cancelando


nosso jantar, Senhorita Jones. Eu não gosto que cancelem os meus
compromissos. Passarei às 21h na sua casa.”

Ela não responde, mas acredito que tenha entendido o que quis
dizer, só que sou surpreendido novamente quando Ethan volta ao carro,
onde eu o aguardo ir buscar a Senhorita Jones em seu apartamento, e ele diz
que o porteiro avisou que ela não está em casa.
— O quê?
— Foi o que o cara disse.
Irritado, saio do carro e marcho para a portaria com Ethan ao meu
encalço.

“Senhorita Jones, estou em frente a sua casa, por favor, não me


faça ir até aí te buscar. Não irá gostar disso.”, digito, para o caso dela ter
ousado mentir que não está.
Porém, quando interrogo o porteiro, ele afirma que Emma e uma tal
de Zoe, provavelmente uma amiga com quem ela divide o apartamento,
saíram a cerca de uma hora e não é difícil persuadir o homem a contar
exatamente em qual boate elas estão.
Uma boate?
Boate?
Emma Jones me deu um bolo para ir dançar com sua amiga em uma
merda de boate?
— E aí, vamos embora? Talvez ligar para a tal Karen? — Ethan
sugere e eu lhe brindo com um sorriso astuto e raivoso.
— Não. Vamos até a boate que a Senhorita Jones está.
— Liam, sinceramente, essa garota está zoando com a sua cara...
— Ninguém zoa com a minha cara.
— Eu sei. Mas ela está. — Ethan quase se dobra de rir. — É
engraçado ver alguém te desafiando pra variar. Sabe o que ela me disse
hoje? Que você é grosso e mandão e não sabe como eu te aguento.
— Emma Jones é muito impertinente.
E ia levar uma boa surra por isso, defino.
Digito uma mensagem para ela.

“Seu porteiro é um cara legal, Senhorita Jones. Para sua


segurança, talvez sua amiga devesse ser mais discreta e não mencionar
onde estariam indo esta noite.”
Quando chegamos à boate, vou até o bar e peço uma bebida, Ethan
rastreia o lugar em busca da fujona Senhorita Jones.
— Ela está com alguns amigos. — Ele retorna alguns minutos
depois. — Vai até lá?
— Não. Me consiga uma mesa próxima.
Não é difícil conseguir um camarote onde eu tenho uma visão
privilegiada da Senhorita Jones bem diferente do que estou acostumado a
ver.
Ela usa um vestido verde, provavelmente comprado hoje, e me
pergunto se também está usando uma das lingeries caras.
Seu cabelo está mais brilhante e volumoso e o rosto bonito está
maquiado de forma sexy.
Há uma garota morena com luzes no cabelo ao seu lado e mais outra
que beija um cara. Além delas, há outro homem ao lado esquerdo da
Senhorita Jones que ri o tempo inteiro de algo que ele sussurra em seu
ouvido enquanto ela dá longos goles em sua bebida.
— A Senhorita Jones parece estar se divertindo. — Ethan ri.
Eu não estou rindo enquanto digito uma mensagem.

“Está bebendo muito, Senhorita Jones. E sorrindo muito.


Embora eu deva admitir que está deslumbrante com esse vestido.”

Demora alguns minutos para que ela pegue o celular e mesmo


àquela distância posso ver que ela está nervosa quando lê minhas
mensagens, até a última, que a faz olhar em volta, apavorada.
Tenha medo, Senhorita Jones.
— Acha que fomos notados? — Ethan continua se divertindo.
— Ainda não. Mas ela vai notar.
Digito outra mensagem.

“Estou muito, muito furioso com você, Senhorita Jones. Lembra


sobre o que eu disse a respeito de punição?”

Ela procura em volta de novo.


Agora eu começo a me divertir, imaginando todos os jeitos que
posso punir a Senhorita Jones.

“Não te contaram que não se deve provocar um predador,


Senhorita Jones? Não pense só por um minuto que eu desisti de caçá-la.
Sua vã tentativa de fuga apenas tornou a caça mais... interessante.”

Ela lê a mensagem e pega sua bebida a tomando quase inteira.


Então uma de suas amigas a puxa pela mão e as duas desaparecem
no meio da pista de dança.
— Já se divertiu o suficiente apavorando a pobre Senhorita Jones?
— Ethan indaga.
— Ainda nem comecei.
Eu me inclino e lhe explico o que deve fazer.
Ethan hesita.
— Liam...
— É uma ordem, Ethan.
— Ok, chefe.
Ele se levanta e vai fazer o que mandei.
Sinto-me ansioso agora que não consigo distingui-la na horda de
corpos suados na pista, mas de repente ela surge. Há um pequeno palco com
um poste de pole dance e algumas garotas se divertiam ali e é onde Emma
Jones começa a dançar também.
E percebo que ela sabe que estou ali. Observando-a. Está escrito no
sorriso lânguido e alcoolizado em seu rosto. Em seus movimentos sinuosos
e sensuais e não demora para que seu olhar encontre o meu.
E mesmo àquela distância, ela está dizendo sem palavras que se
rende.
Estou vencendo a caçada.
A adrenalina percorre minhas veias quando a música para de súbito
e as luzes se acendem.
— Por favor, a casa está fechando. Temos um problema técnico.
Pedimos que todos se retirem. Os seguranças os ajudarão a encontrar a
saída mais próxima — a voz do DJ anuncia.
Ethan está cumprindo minhas ordens.
As pessoas começam a passar por mim, ansiosas para saírem
enquanto reclamam, inclusive os amigos da Senhorita Jones, que ainda não
voltou à mesa. Espero que Ethan tenha a encontrado.
Quando não há mais ninguém na boate, as luzes voltam a se apagar
e a música retorna. E Ethan caminha em minha direção com uma surpresa
Senhorita Jones ao lado.
— Você mandou esvaziar a boate. — Não é uma pergunta.
Levo meu copo de uísque à boca enquanto faço um sinal para Ethan
nos deixar a sós.
— Estava apreciando seu show.
— Eu dancei só pra você...
Não contenho um sorriso lento.
— Eu sei. Embora não tenha gostado de ver outros apreciando o
mesmo que eu. O seu corpo, Senhorita Jones, é só para meus olhos a partir
de agora.
Eu me recosto no sofá, apreciando quando ela vem em minha
direção. Sexy pra caramba naquele vestido que molda suas curvas.
Eu sabia que a Senhorita Jones ficaria deslumbrante com as roupas
certas. Roupas que meu dinheiro podia comprar.
A sensação de posse me extasia.
Ela para na minha frente, fechando os olhos e começando a se
mover ao som da música, os braços erguendo os cabelos gloriosos.
Ela me hipnotiza.
— Você é a criatura mais bonita que eu já vi. — Eu a puxo pela
cintura, a obrigando a se virar de costas, para que eu aprecie os movimentos
de seus quadris.
Linda.
Ela continua a se mover, abaixando os quadris sinuosamente até
meu colo. Meu pau se ergue instantaneamente e solto um gemido rouco.
Puta. Que. Pariu!
— Está gostando de me provocar, Senhorita Jones? — sussurro em
sua orelha em resposta e ela roça ainda mais em mim.
Mas de repente ela se afasta quando tento segurá-la.
— Não deveria me tocar. Não há regras para este tipo de dança? —
Seus olhos brilham em desafio.
— Então é essa brincadeira? — Eu me recosto. — Confesso que é
inesperado. Eu vou permitir que brinque comigo hoje, Senhorita Jones. Só
esteja ciente que cobro em dobro depois.
Sim, posso deixar que se divirta um pouco, que pense que tem
algum poder sobre mim, apenas para virar o jogo e mostrar exatamente
quem manda na hora certa.
Ela hesita por um momento, mas em seguida morde os lábios e
desliza para o meu colo.
Como prometido, mantenho minhas mãos longe, deixando que
toque meu rosto.
— Você é lindo. — Ela toca as olheiras embaixo dos meus olhos. —
Você não dorme.
— O dinheiro nunca dorme.
— Todo mundo precisa dormir.
— Não sou todo mundo.
Seu olhar desce ávido para minha boca, antes que ela cerre as
pálpebras, os lábios se aproximando dos meus. O beijo paira entre nós por
alguns segundos, enquanto nós respiramos.
Mas meu celular vibra no bolso.
Contendo um palavrão, retiro a Senhorita Jones do meu colo e pego
o aparelho, o nome de Brady brilha no visor.
Negócios sempre primeiro.
— Estamos com problemas com as ações da Spirit — Brady
comunica.
Brady Furly é um investidor jovem e ambicioso que está salivando
para me agradar. E eu tinha lhe deixado a cargo de conseguir o melhor
negócio com os papéis da Spirit Airlines Inc., que estavam decolando nos
últimos meses, e previ um retorno de 1, 486% de lucros para os acionistas.
— Ao que parece Carlton não está disposto a negociar suas ações,
como tinha alardeado. Provavelmente está querendo ver a melhor oferta
e...
— Eu quero que resolva — eu o interrompo. Inferno, eu lhe dei
apenas uma ordem. — Se quiser estar vivo amanhã — completo.
Óbvio que não vou assassinar Brady, mas se ele não conseguir
aqueles papéis, pode dar adeus a Hunter Interprises.
— Me desculpe, mas...
— Não quero saber de suas desculpas, não te pago para me dar
desculpas, e sim resultados, porra!
— Liam, seja razoável. Talvez devamos esperar. Eu sei que quer
essas ações ao seu portfólio e... — Brady continua a dar suas desculpas
ridículas, como se houvesse alguma maneira de saber mais do que eu o
momento certo de agir, quando me surpreendo com Emma Jones se
movendo novamente para meu colo.
Que Porra?...
Ela aproveita minha desorientação momentânea para enganchar seus
braços em volta do meu pescoço, lançando os quadris audaciosamente
contra meu pau, que acorda novamente.
Tento manter a concentração em Brady, embora o que ele diga seja
uma bobagem que irei refutar depois, mas Emma parece determinada a
provar um ponto, quando se inclina e morde minha orelha, rolando os
quadris contra minha ereção de novo. Engulo um gemido.
— Desliga o telefone — sussurra com uma petulância que não lhe
permiti ter.
— Porra — rosno, irritado e excitado.
Sua língua quente e úmida desliza por meu pescoço, arrepiando
minha nuca.
Levo a mão livre a seu quadril, ainda sem saber se devo apertá-la
contra mim, ou empurrá-la e ela me encara em desafio, nem um pouco
preocupada com meu olhar raivoso.
— Por favor, Liam — ela percebe que disse meu nome pela primeira
vez? — Por favor...
Seus quadris estão se movendo num ritmo alucinante agora, e ela
fecha os olhos, perdida no prazer que aquela fricção lhe dá.
E observar a Senhorita Jones se esfregando em mim em busca de
saciedade, os lábios entreabertos, a respiração pesada e os dedos puxando
meu cabelo define tudo.
Com um rosnado raivoso, seguro seus quadris com mais força e
aperto contra mim, desejando que não houvesse a barreira das roupas.
— Sim — ela joga a cabeça para trás, gemendo de prazer.
— Brady, nos falamos depois.
Desligo o telefone, já começando a ofegar também.
Enrosco meus dedos em seu cabelo e ela abre os olhos.
— É isso que deseja, Senhorita Jones?
Minha outra mão continua em seu quadril, apertando e ditando um
ritmo mais forte.
E a fricção de nossos sexos poderia causar um pequeno incêndio.
— Oh, inferno, sim!
Ela se move com mais avidez, quase feroz, os olhos presos nos
meus, enquanto seu rosto demonstra todo o prazer que tira de mim.
E basta para que eu rosne e me embriague com seu hálito, seus
gemidos, seu roçar libidinoso em meu pau que adoraria estar dentro dela
agora.
E eu estarei em breve. Ainda não sei se antes ou depois de lhe dar
uma bela sova por ser tão impertinente.
Imaginar minha mão desferindo tapas ardidos na bunda da Senhorita
Jones faz com que meus movimentos se tornem mais agressivos, mais
urgentes.
E gozo forte e inesperadamente, puxando seu cabelo e ouvindo-a
gozar também, seus lábios entreabertos em um grito mudo, o suor cobrindo
seu rosto.
Porra, que foi isso?
Encosto a testa na dela, nós dois sem ar, o mundo parecendo
desintegrado por um momento.
Ela abre os olhos, surpresa e ofegante.
— Oh Deus — murmura. Parecendo constrangida de repente e se
afasta.
Eu a deixo ir.
— Eu preciso... — Ela se senta ao meu lado e observo seu rosto
empalidecer. — Oh Droga, estou muito bêbada...
— Sim, você está bêbada, Senhorita Jones. — Noto somente agora
que ela não está só um pouco bêbada.
Ela está muito embriagada.
Eu a observo se recostar e fechar os olhos. Talvez por isso a
coragem de vir pra cima de mim.
Sinto-me enfurecido agora.
Primeiro que não gosto que ditem as regras no meu lugar. Segundo
que Emma Jones parece que vai desmaiar ou vomitar a qualquer momento.
E se ela passar mal isso vai arruinar meus planos.
Não posso bater numa mulher desmaiada.
— Senhorita Jones? — eu a chamo, mas ela continua de olhos
fechados.
Toco seu rosto, agora um pouco preocupado.
— Emma?
Ela não responde, nem quando eu lhe dou alguns inocentes tapinhas
no rosto.
Merda.
Ela desmaiou.
Pego o celular e digito uma mensagem para Ethan que aparece
minutos depois.
— O que aconteceu aqui?
— Ela está bêbada. Vamos embora.
Ethan ri, mas se aproxima e pega Emma no colo como se ela não
pesasse nada. Seguimos para o carro e ele a coloca no banco traseiro, eu me
sento no banco da frente e Ethan me lança um olhar intrigado e divertido.
— Não pergunte — resmungo.
— Devo levá-la para a casa dela?
— Não. Vamos pra casa.
Ethan levanta a sobrancelha, mas não questiona.
Em outras circunstâncias eu estaria despachando a senhorita
embriagada para sua própria casa, mas ainda não quero me desfazer dela.
Posso esperar algumas horas, afinal.
Quando chegamos ao meu prédio, Ethan estaciona na garagem
subterrânea e carrega a Senhorita Jones para meu apartamento.
— Onde eu a coloco?
— No meu quarto.
Ele a coloca sobre minha cama.
— Vai querer que eu jogue um balde de água na cara dela?
— Boa noite, Ethan — dispenso, ignorando sua piadinha.
Porém, ele hesita.
— Ela é uma garota legal, Liam.
Eu me surpreendo com sua defesa da Senhorita Jones.
E me irrito um pouco.
— Está falando como se eu fosse violentá-la bêbada ou algo assim.
— Não disse isso. Sei que não vai. Mas também sei que quando
quer algo, não hesita até conseguir, a qualquer custo.
— Eu quero a Senhorita Jones acordada e de posse de suas
faculdades mentais, Ethan. Não precisa se preocupar com sua virtude. Eu
vou deixá-la dormir. Talvez segurar seu cabelo se ela vomitar e eu espero
que não seja no meu tapete.
— Certo, se precisar de algo, me chame.
— Não vou precisar. — Eu lhe garanto.
Ethan se vai e eu olho para a garota adormecida na minha cama. Eu
me aproximo e retiro seus sapatos e depois retiro o vestido apertado.
Ela não acorda em nenhum momento, completamente apagada.
Eu a cubro com um lençol e abaixo a luz, saindo do quarto.
Tiro minhas roupas e entro no chuveiro, deixando a água morna
deslizar por meus ombros cansados. A conversa com Brady me volta à
mente, assim como minhas outras conversas do dia. É sempre assim, ao fim
do dia eu retomo meus movimentos, analiso minhas ações e posso ficar
satisfeito ou não com meus objetivos cumpridos.
Não foi um dia de cem por cento de aproveitamento, desligo o
chuveiro contrariado. Brady está com dificuldade com os papéis da Spirit.
E Emma Jones desmaiou antes que eu pudesse concluir nossa
transação.
Escovo os dentes e vou para meu closet, achando uma calça de
moletom, depois volto ao meu escritório, abrindo o laptop e verificando os
movimentos das Bolsas de Valores. Porém, os movimentos dos números
hoje me deixam sonolento e bocejo, surpreso.
Eu não gosto de dormir. Por isso controlo minhas horas de sono,
para apenas o necessário e meu corpo se acostumou com apenas algumas
horas de descanso.
Ainda é cedo para eu ter sono, mas talvez o fato de saber que a
Senhorita Jones está na minha cama seja uma distração.
Irritado, fecho o laptop e volto ao quarto. Emma está inquieta na
cama, as cobertas jogadas, quando me deito ao seu lado.
Sua pele está gelada de frio e puxo as cobertas para cima dela de
novo, a cobrindo direito para que não congele.
Ela resmunga algo no sono e eu a observo.
— Não, Matt... Eu não acho uma boa ideia...
Caramba, ela fala dormindo?
— Eu não quero chá, mãe...
Rolo meus olhos, o sono me abandonando.
Pego o celular, verifico meus e-mails e minha agenda enquanto
Emma continua a tagarelar coisas sem sentido em seu sono.
— Liam...
Eu paro o que estou fazendo quando escuto dizer meu nome com
um suspiro.
O que será que ela está sonhando?
Gosto de fantasiar que é um sonho erótico.
Um sonho bom.
E tenho inveja de Emma Jones por poder dormir e sonhar.
Pesadelos é tudo o que eu consigo quando tento me desligar do
mundo.

Porém, acabo dormindo um sono sem sonhos naquela noite.


Talvez pela quantidade de álcool que ingeri.
Acordo cedo, o dia mal amanheceu e deixo a cama, lançando um
olhar curioso para Emma Jones que ainda dorme profundamente. Os lábios
entreabertos e os cabelos em desalinho. Ela empurrou as cobertas para
longe de novo e deixo meu olhar percorrer seu corpo vestido apenas com a
lingerie de renda e seda.
Faz meus dedos coçarem de vontade de retirá-la do caminho para
vê-la por inteiro de novo, agora sobre meus lençóis.
Será que ela estaria tão faminta quanto eu se a acordasse agora?
Eu poderia ser um cavalheiro e fodê-la devagar para começar,
respeitando sua ressaca.
E deixaria para depois a fúria guardada para os jogos de dominação
que eu adoraria fazer com a Senhorita Jones. Onde eu lhe mostraria
exatamente quem tinha o poder e como eu usaria este poder para domá-la e
submetê-la.
Para meu prazer.
E o dela também.
Eu amei ver o gozo dominando seu corpo e quero ver muitas vezes
ainda.
Até me cansar.
Porém, ela parece ainda desmaiada e decido que posso esperar.
A Senhorita Jones em breve iria acordar e então não haveria mais
para onde fugir. Ela está nos meus domínios.

Uma hora depois, Nine Inch Nails está tocando alto enquanto eu
ando de um lado para o outro na minha sala, observando o Central Park lá
embaixo, com meu headset no ouvido, dando ordens a minha equipe na
Bolsa de Valores.
— Quando chegar em 18 compre tudo...
— Vai demorar para dar lucro — meu corretor deduz.
— Sim, vai levar uns cinco anos para ela dar lucro, as coisas boas às
vezes levam tempo. Este índice fechou em alta de noventa ontem, o
mercado dobrou...
Então eu me viro e a vejo.
Emma Jones está parada na porta da sala. Os cabelos recém-lavados,
uma toalha em volta do seu corpo enquanto os grandes olhos capturam os
meus.
— E as ações da Air Group? Caíram dez por cento, ainda quer
vender? — o corretor continua.
— O quê? Venda logo pelo amor de Deus!
— Talvez devêssemos esperar...
— Não quero saber da sua opinião... É um lucro expressivo, então
dê um jeito!
O corretor continua a falar e observo Emma caminhar até a cozinha.
Suspiro e embora meu instinto seja ir atrás dela, farejando seu
cheiro de banho tomado, arrancar a toalha ridícula de seu corpo e fodê-la
sobre a bancada, eu me controlo e dou atenção aos negócios.
Negócios e dinheiro primeiro.
Prazer depois.

Quando finalmente termino a ligação, vou até minha presa preferida.


Ela está colocando ovos mexidos em um prato. Quando nota minha
presença, enrubesce.
— Bom dia. — Sorriu timidamente, mastigando a comida. — Fiz
ovos.
— Estou vendo.
— Você pode comer...
— Eu não como de manhã. Que bom saber que está viva, Senhorita
Jones. — Cruzo os braços, deixando claro minha censura por sua bebedeira
de ontem que estragou meus planos.
Ela parece confusa.
— Eu... Desmaiei?
— Escolha certa de palavras.
— Oh, que vergonha, eu sinto muito... não faço ideia de como vim
parar aqui...
Eu me aproximo.
— Apesar de não ser um bom samaritano, não te deixaria caída num
bar, Senhorita Jones.
— Podia ter me levado para casa. Afinal, sabe onde eu moro.
— Sim, eu poderia.
Eu me inclino sobre a mesa. Até que nossos rostos estejam
próximos.
— Aquele quarto onde acordei... é o seu quarto, nós... dormimos
juntos?
— Dormir também é a palavra correta.
— Então... Por que estou aqui? — pergunta baixinho.
— Por que você acha que está aqui? — Respiro Emma Jones, me
deliciando com seu cheiro fresco. Meu desejo renasce forte e exigente.
Eu a observo morder os lábios.
— Me responda! — exijo ante sua mudez.
— Nós vamos transar.
Ah, Senhorita Jones. Sim, para começar...
— Tire a toalha, Senhorita Jones — ordeno.
Quero vê-la nua de novo.
— Pare de me chamar de Senhorita Jones.
— Emma... — Faço sua vontade a chamando pelo nome. —Tire a
toalha!
Porém ela aperta o tecido com mais força em volta do corpo.
— Será que eu posso... Eu preciso... Preciso de um momento.
Assinto, um tanto impaciente, notando ela pular da bancada e quase
correr em direção ao quarto.
Emma Jones será punida mais rápido do que eu imagino, se aquele
comportamento continuar. Meus dedos quase formigam de vontade, quando
caminho devagar atrás dela, lhe dando tempo de fazer seja lá o que ela
achava que tinha que fazer.
Entro no quarto, e ela não está lá e caminho até o banheiro, me
surpreendendo ao encontrá-la sentada no chão, com a cabeça entre as mãos,
sacudindo para frente e para trás.
— Que diabos? Está passando mal? Por que não me disse...
Ela se levanta, aturdida.
E de repente me sinto preocupado, estudando seu rosto pálido.
— Não estou passando mal eu... Nunca fiz isto antes.
— Como é?
— Quero dizer que eu... nunca fiz sexo antes.
Que merda?...
— Você é virgem? — questiono incrédulo.
Ela sacode a cabeça em afirmativa para meu assombro.
Como é possível?
Emma Jones tem 22 anos, está no último ano da faculdade de
jornalismo, foi o que apurei. Ela não pode ser virgem porque não existem
mais mulheres virgens naquela idade em Nova York, pelo menos.
Não uma mulher que fica nua depois de dez minutos com um
homem.
Ok, eu talvez tivesse chegado à conclusão que Emma Jones não
tinha noção de sua natureza submissa. Talvez nunca tivesse passado pelo
crivo de algum dominador. Mas nunca ter feito sexo antes?
E estar com o rosto pálido e em pânico na iminência de fazer, como
ela está agora?
Puta que pariu!
A fúria domina minha mente.
Eu tinha me enganado com a Senhorita Jones. Ela não é quem eu
achei que era, afinal. Não saio com garotas inocentes que têm um histórico
sexual de uma menina de 13 anos.
Gosto de mulheres que sabem aonde vamos chegar. Que não se
importa em desafiar seus limites em nome do prazer.
Mulheres que estão cientes que terão algumas boas horas de prazer
— alguma dor — e depois sairão da minha vida. Talvez com algum
presente caro como agradecimento, se tiverem sorte.
E Emma Jones não é esse tipo de mulher.
Uma virgem? Pelo amor de Deus, de onde diabos ela saiu?
Irritado, caminho até o quarto, junto suas roupas e jogo em sua
direção.
— Vista-se, Senhorita Jones!
— O quê? — Ela me encara confusa.
— Vou pedir para Ethan levá-la para casa.
— Está me mandando embora?
O que ela esperava?
— Sim, estou.
— Por quê? Eu pensei que...
— Isso tudo é um erro.
— Um... erro?
— Sim. Por favor, vista-se — repito e saio do quarto.
O que Emma Jones estava pensando?
Que sou alguma espécie de príncipe encantado que ficaria feliz em
tirar-lhe a virgindade?
Não. Eu estou furioso, frustrado e me sentindo um idiota por não ter
percebido antes.
Maldita Emma Jones e seus sinais confusos!
Eu odeio errar em um julgamento, porque isso quase nunca
acontece.
Pego meu celular e mando uma mensagem para Ethan subir para
levar a Senhorita Jones embora de vez.
Não quero mais vê-la por ali, não quero mais ver seu olhar confuso
e vulnerável.
No fim, acho que nós dois nos confundimos. Mesmo eu nunca tendo
dado nenhum sinal de que seria um homem feito para um tipo de mulher
como Emma Jones — muito pelo contrário — ela continuou ali, à minha
mercê.
Muito satisfeita em ser caçada por mim e quase abatida.
Inferno.
Sinto vontade de socar alguma coisa e infelizmente nunca vai poder
ser Emma Jones.
Mil vezes inferno!
“Mas não foi você quem insistiu? Que a dominou? Que a perseguiu?
Emma Jones é mais inocente nesse jogo do que você supunha. Ela não tem
culpa de ter sido uma presa ingênua de seu destino.”, minha consciência
grita.
E eu a esmurro mentalmente.
Não quero ouvir. Não gosto de estar errado e não vou estar.
Quero apenas me livrar da Senhorita Jones e esquecer aquele fiasco.
Ethan chega alguns minutos depois e me encontra no escritório.
— Leve a Senhorita Jones embora — resmungo sem o menor
humor.
Não preciso dizer o que está errado, porque Ethan me conhece.
Ele sabe que algo deu errado, mas também sabe que não estou a fim
de falar e não vai insistir por hora.
— Ela está bem?...
Não me admira Ethan se preocupar com a integridade de Emma
Jones.
Este é Ethan.
— Ela está tão pura como chegou aqui se quer saber. E sem
nenhuma escoriação também.
— E pelo o que estou entendendo, é a última vez que vemos a
Senhorita Jones?...
— Sim.
— Hum... Vivi para o dia que você levou um fora?
— Se quer saber, eu a estou mandando embora. E guarde a sua
opinião pra você.
Ethan parece que quer dizer mais alguma coisa, mas meu olhar
gelado é o suficiente para entender que não quero falar.
Ele apenas assente e sai do escritório.
Escuto a porta da frente bater alguns minutos depois denunciando a
partida da Senhorita Jones.
Pra sempre.
Abro meu laptop, verificando se Brady conseguiu as merdas das
ações como ordenei e tento ficar de bom humor quando vejo que sim, ele
conseguiu.
Infelizmente, aquela vitória não me faz esquecer o fiasco com
Emma Jones.
A merda toda é que eu ainda quero bater nela. Agora mais do que
nunca, por ter me irritado.
E me dou conta que, mesmo sem perceber, eu tinha feito planos
muito elaborados para Emma Jones.
Sua submissão natural e aquela química magnética que nos ligava
me fizeram acreditar que seríamos perfeitos juntos.
Infelizmente, errei em meu julgamento.
E odeio isso.

Fim da gravação
Desligo o gravador quando escuto passos se aproximando e em
seguida Ethan entra no escritório.
— Posso saber o que está fazendo aqui a essa hora? — resmungo.
— Amy me disse que estava de mau humor.
— Sua namorada ainda não sabe que estou de mau humor a maior
parte do tempo?
Ele ri, divertido.
Eu acho incrível essa capacidade que Ethan tem de achar graça em
tudo. Às vezes eu me surpreendo em como podemos ser tão bons amigos,
sendo tão diferentes.
— Ela me disse que tinha brigado com a Emma.
Solto um palavrão baixo.
— Ela ficou brava porque esqueci de um jantar.
Ele levanta a sobrancelha.
— Esqueceu? Você não esquece de nada, Liam. Você escolheu
ignorar. Preferiu continuar trabalhando.
— Emma deveria entender.
— Emma entende muito mais do que você merece.
É minha vez de levantar a sobrancelha.
— Está aqui para me irritar?
— Só te jogando algumas verdades.
— Não estou a fim de ouvir suas asneiras sentimentais agora.
— Talvez devesse ser um pouco mais sentimental.
— Não foi sendo sentimental que me tornei bilionário.
— Eu sei. Mas Emma te pede muito pouco, Liam.
— Está de brincadeira? Emma só falta exigir que eu arranque meu
coração do peito para ela cozinhar e comer!
Ele ri da minha alegoria.
— Então acho que têm algo em comum. Por sua vontade Emma
viveria algemada na sua cama 24 horas, esperando você terminar de ganhar
mais dinheiro e voltar para casa.
— Não seria má ideia. Mas ela sabe com quem se casou.
— E você sabe com quem você se casou?
Eu suspiro, passando a mão pelos cabelos.
Eu sei?
Às vezes acho que não faço ideia.
— Deveria ir dormir.
— Eu prometi gravar algumas coisas para o livro da sua namorada.
Mas se ela continuar fazendo fofoca, provavelmente irei me arrepender de
ter concordado com isso.
— Amy está com medo que você desista.
— Isso me passou pela cabeça.
— E então?
— Vai ficar puto se eu acabar com os planos de sua namorada?
— Claro que sim. Se ela ficar chateada eu também fico. Mas
também sei o que custa a você se abrir assim. É a sua história. Se decidir
que não quer contar a ninguém, Amy terá que aceitar.
— E o que você pensa disso?
— Você vai fazer do seu jeito, como sempre fez tudo. E eu estarei te
apoiando e defendendo como sempre. Boa noite.
Eu o observo se afastar e ligo o gravador, me recordo de como nos
conhecemos.
Gravação 3
— Você quebrou o meu nariz, porra!
Faz dez minutos que aquele cara grandalhão tinha sido apresentado
a mim pela minha “mãe adotiva” Megan, como meu “irmão” e agora eu
estava urrando de dor enquanto meu sangue respingou no tapete vagabundo
da casa dos Walters.
Eu vivia com o casal Walters, Megan e Tim, há pouco mais de um
ano. Um marco no meu histórico de garoto órfão que vivia transitando entre
lares adotivos. Um pior que o outro. Sinceramente, com quase 16 anos, eu
estava pouco me lixando onde eu dormia. Eu contava as horas para fazer 18
anos e nunca mais precisar aguentar aqueles sanguessugas.
E certamente não esperava chegar da escola e encontrar um garoto
alto e musculoso, de cabelos raspados, e olhar ameaçador deitado na minha
cama. E ainda por cima mexendo no meu discman.
— Ei, quem é você e o que está fazendo mexendo nas minhas
coisas?
Avancei para dentro do quarto, arrancando os fones de ouvido do
grandalhão sem imaginar que, se ele se irritasse comigo, eu sairia perdendo
já que era bem maior que eu.
O cara me encarou com um olhar de desdém, dando de ombros.
— Pelo menos você tem um gosto bom pra música.
— Sai da minha cama! — ordenei.
O cara se sentou, mas não saiu da cama.
— Já se conheceram. — Megan, uma mulher baixinha e com olhar
bonzinho, que enganava os assistentes sociais, apareceu na porta do quarto.
— Quem é esse idiota? — indaguei.
— Seu novo irmão. O nome dele é Ethan.
Novo irmão?
Ela estava de brincadeira? Desde que eu vim morar na casa deles,
nunca houve outro garoto ou garota. O que eu preferia.
— E por que ele está no meu quarto?
— Porque vão dividir. — Ela sorriu. A imbecil estava se divertindo
com a minha irritação. — Seja bonzinho com seu irmão, Liam.
Ela saiu do quarto e eu encarei de novo meu “irmão”.
Agora ele estava de novo recostado na minha cama.
Só havia uma merda de cama no quarto.
E era minha e ele que fosse dormir no porão ou voltasse para o
bueiro de onde tinha saído.
— Sai da minha cama.
— Você ouviu a mamãe, cara. Vamos dividir. — Sorriu com
escárnio.
— Essa cama é minha. Dê o fora.
Ele levantou a sobrancelha.
— Vai encrencar comigo, cara?
Sem pensar, levantei o pé e chutei a canela de Ethan.
O movimento de contra-ataque foi rápido e preciso. E num instante
eu estava reunindo todo meu dicionário de palavrões para detonar aquele
intruso filho da puta e no momento seguinte estava recebendo um murro no
nariz.
— Você quebrou o meu nariz! — repeti.
— Não quebrei seu nariz bonitinho, cara! — Ethan estava rindo.
Rindo!
O que me irritou ainda mais.
Porém, estava tão atordoado de dor e humilhação, que decidi que
seria mais seguro não revidar.
Ele pegou uma mochila imunda no chão.
— Tem chuveiro nessa merda de casa? — indagou enquanto tirava a
blusa.
Caramba, ele era mesmo forte.
Talvez eu devesse começar a fazer alguns exercícios se quisesse
bater nele. Ou ao menos tentar.
Eu só sabia que as coisas não iam ficar assim. Eu não gostava de
apanhar e muito menos de ceder a quem quer que fosse.
A vida na casa dos Walters era longe de ser perfeita, mas eu gostava
das coisas como estavam. Não queria dividir meu espaço com um cara que
mais parecia saído de algum reformatório.
— Eu te fiz uma pergunta, ruivo! — ele insistiu.
Pisquei, querendo sumir por sentir lágrimas nos meus olhos por
causa da dor.
— No fim do corredor — resmunguei.
Ele se encaminhou para a porta.
— Eu vou dormir na sua cama. Ou melhor, minha cama. Acho que
Megan falou algo sobre um colchão que o tal de Tim vai trazer. Pode se
acostumar — anunciou como se tudo fosse muito divertido e saiu do quarto.
Grunhi irritado, ainda segurando o meu nariz machucado.
Não. Aquele brutamonte não ia me intimidar. Eu poderia ser menor
que ele e menos musculoso, mas iria dar o troco.
Naquela noite, Ethan se deitou na minha cama, ainda me deu um
boa-noite cheio de sarcasmo enquanto eu me encolhi no colchão encardido,
tramando minha revanche.
Ele podia dormir, mas eu não dormia e quando comecei a ouvir seu
ronco, me levantei e desferi um chute, certeiro, dessa vez em seu nariz.
Olho por olho. Dente por dente, filho da puta.
Ele acordou atordoado, resmungando palavrões e tocando o nariz
sangrando até que seu olhar pousou em mim, ainda ao lado da cama.
— Isso é pra aprender a não mexer comigo! Pode ficar com essa
merda de cama, mas saiba que sempre que estiver dormindo, eu posso te
machuc... — nem terminei de falar, e Ethan estava de pé, me empurrando.
Fui parar na parede e desviei quando ele tentou me esmurrar de novo.
Segurando sua cintura eu o empurrei, nós dois caímos na cama, que se
quebrou com o impacto, engalfinhados numa luta.
Eu podia ser menor e menos forte, mas não estava disposto a arregar
para aquele cara.
Megan e Tim apareceram minutos depois nos separando.
— Tudo isso por causa de uma cama? — Megan se irritou ao
perceber o motivo da briga.
— Uma cama que vocês dois quebraram, seus pestinhas! — Tim riu.
— Eu não vou dormir com este babaca! — rosnei limpando o
sangue da minha boca que Ethan tinha conseguido esmurrar em algum
momento.
— Não tem escolha, garoto! Já falei para parar de ser metido. Não
somos ricos e tem que agradecer por te darmos um teto. — Megan apontou
para a cama. — Agora os dois vão dormir no chão, porque não vou comprar
outra merda de cama para delinquentes como vocês! E se brigarem de novo
talvez prefiram ir para um reformatório, lá tem camas!
Ela saiu do quarto batendo a porta.
E naquela noite, eu e Ethan passamos a dormir no chão.
Mal nos falamos por algumas semanas, mas pelo menos não
brigamos mais. Às vezes batíamos boca por motivos idiotas como quem
demorou demais no chuveiro de manhã.
Na escola, que Ethan começou a frequentar comigo, ele logo fez
amigos. Ou melhor, acredito que ele era tão ameaçador que ninguém ousava
não querer ser amigo dele.
Eu não tinha amigos. A maioria dos garotos da minha idade me
irritava. Eles não pareciam ter qualquer perspectiva, passando as horas na
escola fumando, brigando ou fazendo bullying uns nos outros.
Ao contrário da maioria, eu curtia estudar. Era fácil pra mim
entender rapidamente o que os professores explicavam e eu ousava
imaginar que talvez conseguisse fazer uma faculdade, embora não tivesse
grana ou pais ricos.
A única coisa que eu sabia era que não queria acabar como eles.
Futuros presidiários, membro de gangues, ou traficantes, na melhor das
hipóteses. Às vezes alguns deles encrencavam comigo e eu me defendia
como podia. Às vezes com os punhos, às vezes com inteligência. Eu era
bom de insultos. De provocação. E era bom em negócios. Como ninguém
ali gostava de estudar, eu muitas vezes cobrava para passar cola, ou fazer
trabalho pelos outros. Era uma grana boa, que eu guardava para quando eu
saísse da casa dos Walters.
Era um tanto assustador pensar em estar por conta própria, mas não
havia outra opção pra mim.
As coisas começaram a mudar quando um cara chamado Prince se
enfureceu comigo porque eu comi a namorada dele. Bem, ele deveria ter
ficado puto com a garota, não comigo, mas era assim que as coisas
funcionavam, o que me lembrava que esse era um dos motivos por que eu
não tinha namorada.
Ele veio tirar satisfação comigo em um intervalo e eu apenas ri
dizendo que se a namorada dele estava insatisfeita com o pau dele não era
minha culpa.
Ele me empurrou e eu fui pra cima, porém, ele estava com mais dois
amigos. Percebi que iria apanhar, mas não tinha nada que pudesse fazer.
Apenas tentar me defender. Porém, a situação mudou em poucos segundos,
quando Ethan surgiu e começou a bater nos três. Eu fiquei ali, atordoado
ainda, vendo aquele cara que parecia me odiar me defender.
Quando a briga terminou com Prince sendo levado desmaiado pelos
amigos igualmente machucados que gritavam ameaças para Ethan, eu ri e
lhes mostrei o dedo.
— Se baterem no meu irmão de novo, vão sair mortos daqui —
Ethan me surpreendeu ao gritar.
Eu o encarei.
— Agora somos irmãos?
— Podia me agradecer por defender seu traseiro magro, ruivo.
— Podia não me chamar de ruivo?
— E você podia ser menos metido a besta?
— Se me odeia podia ter deixado aqueles caras acabarem comigo.
— Não te odeio, Liam.
Bem, eu queria dizer que eu o odiava ainda, mas acho que seria
mentira.
E não podia negar que estava surpreso e agradecido por ele ter me
defendido.
Só não queria dar o braço a torcer. Eu não estava acostumado a ter
ninguém me defendendo.
— Só tome cuidado em escolher melhor as bocetas. Nem sempre
estarei por perto para ser seu segurança.
— Seria legal se fosse.
— Eu não trabalho de graça.
— Quando eu for milionário, eu lhe darei um salário.
— Não duvido que fique bilionário mesmo, ouvi dizer que é
inteligente e essas coisas. Vejo você à noite estudando.
Como eu odiava dormir, sempre ficava estudando à noite até ser
vencido pela exaustão, assim os pesadelos me davam uma trégua.
— Quero mais dessa vida do que virar um traficante de merda.
Deveria fazer o mesmo, embora talvez ache seu caminho através dos
punhos.
— O que eu poderia fazer com meus punhos? Virar leão de chácara
de alguma boate?
— Talvez um lutador de MMA.
Nós dois rimos.
Naquela noite, depois que Megan nos serviu um jantar, que sempre
era alguma sopa que mais parecia lavagem ou algum bife de segunda com
suas batatas sem tempero, eu vi Ethan resmungar, como sempre, que iria
morrer de fome vivendo ali. Megan mandou ele calar a boca e agradecer
por ter comida no prato antes de se afastar para assistir seus programas de
fofoca.
Ethan era um cara enorme e certamente aquela pouca comida que
Megan nos servia era nada pra ele.
Peguei meu prato e empurrei para seu lado.
— Pode comer o meu.
Tomei um gole de água.
— Não vai comer? — ele indagou de boca cheia.
A comida era ruim, mas era comida.
— Não estou com fome.
Era mentira. Mas Ethan precisava mais daquela comida do que eu.
Eu podia lidar com o estômago vazio por algum tempo.
Depois eu me levantei e peguei o dinheiro cuidadosamente
escondido na minha gaveta e saí da casa, indo até uma loja de conveniência
e comprando algumas porcarias gordurosas.
Entrei no quarto e joguei para Ethan, que jogava um gameboy.
— Que isso, cara?
— Hambúrguer. Vamos fazer um banquete.
— Você roubou?
Eu ri, me sentando ao seu lado.
— Tenho uma grana guardada. Faço trabalhos para os outros e essas
merdas.
— Um cara de negócios. — Ele riu pegando o hambúrguer. —
Muito bom. Não sei como aguenta a comida da Megan.
— Amanhã a gente pode ir ao supermercado e comprar algumas
coisas decentes.
— Com a sua grana?
— Sim, eu posso ganhar mais.
— Está sendo legal comigo porque eu bati naqueles caras?
— E por que me defendeu?
— Porque é meu irmão. — Ele riu com a boca cheia.
Parecia uma piada. Talvez eu não tenha levado a sério naquele
momento, mas em algum momento naquela noite, talvez levado pela nova
tranquilidade vinda da camaradagem estabelecida entre nós dois, eu
adormeci.
E os pesadelos vieram atropelar minha paz. Acordei suado e com o
coração disparado, Ethan estava ao meu lado com um olhar assustado.
— Cara que foi isso? Estava gritando e se debatendo...
Lutei para respirar, para sair daquele lugar de lembranças escuras
que estava mergulhado em meu sono.
— Pesadelos? — ele insistiu.
Sacudi a cabeça em afirmativa, encostando minha cabeça na parede.
Ethan se sentou ao meu lado.
— Por isso não dorme?
Eu não sabia que ele já tinha sacado que eu evitava dormir.
— Eu odeio lembrar.
— Lembrar o quê?
— O assassinato dos meus pais.
Não sei por que estava contando a ele algo que não contava a
ninguém.
Ethan também não forçou a barra pedindo de forma curiosa que eu
lhe contasse mais ou me lançou aquele olhar de pena que me irritava.
Mesmo assim, eu me vi contando sobre o garoto que um dia eu fui.
— Era meu aniversário de dez anos. Minha mãe era assistente social
e ajudava mulheres com relacionamentos abusivos. Um desses maridos um
dia foi na nossa casa, muito puto. Ele atirou nela. E depois no meu pai. Eles
pediram para eu ficar no quarto, mas eu era teimoso. E vi ele atirando na
minha mãe e depois no meu pai. Ele fugiu em seguida.
— O que aconteceu com esse cara?
— Ele foi pego. Está na cadeia. E desde então estou sozinho.
O vazio que eu sentia e que temia nunca ser preenchido estava mais
sombrio do que nunca naquele momento, era por isso que eu não gostava de
lembrar.
— Não quero dormir.
— Pode fazer meus exercícios de matemática — Ethan sugeriu —,
mas não vou te pagar.
— Não cobro da família — resmunguei e ele riu quando entendeu as
implicações do que eu dizia.
Peguei seu caderno e comecei a resolver os complicados problemas.
Ethan se deitou e fechou os olhos, mas antes de dormir, ele
resmungou.
— Não está mais sozinho.

Fim da gravação
Eu me levanto e vou até a janela observando Manhattan a meus pés.
As recordações do tempo na casa de Megan e Tim ainda estão frescas na
minha mente. Os dias ficaram um pouco mais fáceis depois de Ethan
chegar. Nós nos protegemos do mundo e mesmo sem perceber criamos um
laço que era mais forte que os de sangue, que não tínhamos mais.
Até a gangue de Prince nos pegar, eu ser mandado a um hospital
com um braço quebrado e Ethan para um reformatório.
Eu achei que voltaria à casa de Megan e Tim, mas eles não me
queriam mais. E assim, me vi acolhido por David Hunter, um dos médicos
do hospital.
Acreditei que seria temporário, mas eles me adotaram de verdade e
até me deram o sobrenome deles.
Eu ainda demoraria anos até reencontrar Ethan.
Senti falta dele, mesmo sem perceber, mesmo achando que nunca
mais íamos nos ver. Mas a gente se reencontrou num bar escuro, num
momento em que estava cheio de raiva e, mais uma vez, me metendo em
brigas que não poderia vencer. E lá estava Ethan, para me proteger, cuidar
das minhas feridas e da minha ressaca. Achando muito divertido quando lhe
contei sobre a traição de Vanessa e até se oferecendo para dar um pau no
Vanderbilt, o cara rico por quem Vanessa me trocou.
— Eu te disse que era para escolher melhor as bocetas, cara.
Vanderbilt apanhou. Ethan virou meu guarda-costas oficial. Eu
fiquei feliz em lhe dar mais dinheiro do que qualquer segurança ganhava.
Ele poderia ter o que quisesse. Afinal, no fundo, era família.
Embora os Hunter tivessem tentado preencher aquele espaço
também.
Minha memória volta para os dias com os Hunter, o colégio
católico, e por fim, Vanessa. A mulher que eu pedi em casamento, mas que
ficou marcada em minha vida apenas como o estopim da minha ambição.
E eu achei que depois de Vanessa nunca mais iria querer qualquer
tipo de compromisso.
Até uma certa estagiária de jornalismo incompetente insistir em
entrar na minha vida.
Gravação 4
— Não parece que teve uma boa noite de sono.
O comentário de Nora feito de forma evasiva enquanto eu comia
meu cereal matinal me deixou irritado.
Eu sabia que eles deveriam ter escutado meus gritos depois de um
pesadelo na última noite.
Eu estava na casa deles há pouco mais de dois meses e
sinceramente, a todo dia eu esperava que fossem me comunicar que eu
deveria ir embora para algum outro lar fodido.
Mas os Hunter estavam me surpreendendo. Nora era uma mulher
doce e paciente, mesmo quando eu lhe tratava com grosseria ou frieza,
dependendo do meu humor. Eu não me esforçava para ser legal, porque
tinha certeza que mais dia menos dia, eles revelariam a verdadeira natureza
de seus sorrisos pacientes, assim como os outros “pais”. Embora a casa dos
Hunter fosse bem diferente dos outros lares que vivi.
Eles viviam em uma casa geminada bonita que ficava em uma rua
arborizada e com vizinhos legais. E não os traficantes e gangues que eu
estava acostumado. Eu tinha um quarto com uma cama. Uma cama grande,
uma TV e uma janela com vista para o jardim de Nora.
Ela cozinhava bem e não ficava dizendo que eu deveria comer
menos porque dinheiro não dá em árvore. Na verdade, os Hunter tinham
grana. Não eram ricos, mas David era médico e pelo que percebi ele
ganhava muito bem. Nos primeiros dias naquela casa, eu me mantinha
calado e distante e só respondia quando solicitado. Sentia falta de Ethan e
David me disse que infelizmente ele tinha esfaqueado um dos garotos da
gangue e por isso estava em um reformatório e provavelmente não sairia tão
cedo.
Por um tempo, lamentei não ter enfiado uma faca em algum
daqueles babacas e ter ido com Ethan. Até planejei roubar algumas
daquelas pratarias caras da casa dos Hunter e assim eles me denunciariam e
eu iria para um reformatório também. Mas os dias passaram e comecei a
apreciar os pequenos luxos na casa dos Hunter, como os lençóis limpos, a
comida boa e até mesmo os sorrisos de Nora. Ela sempre tentava conversar
comigo, saber o que eu estava sentindo, mas depois de um tempo parou de
insistir quando sacou que eu não estava disposto a falar. Quando eu fiquei
bem, me matriculou na escola que ela dava aula, um colégio católico de
ricos. E há algumas semanas eu estava frequentando a escola cheia de
garotos esnobes que me olhavam de cima a baixo como se tivesse lama no
meu uniforme. Sim, eu tinha que usar um uniforme ridículo também. No
primeiro dia, respondi mal um professor e fui parar na diretoria. Nora foi
chamada e pediu desculpas ao diretor por mim, explicando que eu estava há
pouco tempo com eles, mas que iria melhorar.
E percebi que me senti culpado. Nora era uma boa pessoa. E eu
podia não curtir aquela gente chata da escola, mas pelo menos o ensino era
muito superior ao da escola pública em que eu estudava. E de repente, a
ideia de que eu poderia ir para uma universidade começou a ser real.
Eu era um cara prático, mesmo naquela idade, gostava de estudar as
melhores opções. E ficar com os Hunter era minha melhor opção no
momento.
Então, pedi desculpas a Nora e tentei me manter na linha no colégio.
Usando aquele uniforme idiota e não xingando os professores. Eu não
queria que eles me mandassem embora.
Se eu gostava dos Hunter? Eu tentava não gostar. Não queria me
apegar a eles, primeiro porque de alguma forma sentia que estava traindo
meus pais verdadeiros, e segundo que todo mundo que eu gostava ia
embora. Foi assim com meus pais e foi assim com Ethan. Mas ao menos eu
podia ser grato à chance que eles me davam de viver de forma melhor.
Agora eles me encaravam na mesa de café da manhã, enquanto eu
tentava engolir o cereal. Mesmo não gostando de comer àquela hora, eu o
fazia para Nora ficar menos preocupada.
— Você tem pesadelos? — David continuou enquanto trocavam
olhares ante meu silêncio.
— Está tudo bem — resmunguei.
— Não parece bem — Nora insistiu com sua voz doce. — E eu
David conversamos e achamos que poderia fazer terapia.
— Não. — Eu me levantei e coloquei o prato na pia, querendo
encerrar aquela conversa. — Não vai se repetir — garanti.
Eles voltaram a trocar olhares preocupados.
— Você sempre tem esses pesadelos? — Nora ainda insistiu.
— Não, claro que não — menti.
Não sei se acreditaram.
— Não estamos atrasados? — Eu ia todos os dias com Nora para a
escola.
Eles aceitaram que eu não queria falar sobre o assunto e torci para
que me deixassem em paz. Eu deveria voltar a arranjar alguma atividade
para não adormecer até que fosse inevitável. Quem sabe assim eles me
deixassem em paz.
Quando estávamos saindo, Nora e David trocaram um selinho
amoroso e Nora me passou as chaves.
— Acho que você pode dirigir hoje.
— Eu?
— Sim. David disse que você está indo muito bem nas aulas de
direção. Em breve vai tirar sua autorização para dirigir.
— Mas eu ainda não tenho.
— A escola é próxima, sair um pouquinho da linha faz bem de vez
em quando. — Ela piscou, entrando no carro.
Eu me sentei no banco do motorista, me sentindo importante
enquanto dirigia.
— Eu e David pretendemos conversar com você hoje à noite sobre
algo importante, mas já quero adiantar o assunto.
Apertei os dedos no volante sentindo um medo inevitável.
Eles iam me mandar embora.
Claro que não iam querer um garoto boca-suja que gritava feito uma
criança com medo de Bicho-papão à noite.
— Nós gostaríamos de adotá-lo.
Tirei a atenção do trânsito por um momento para encará-la,
surpreso.
— Adotar?
Ela sorri.
— Sim, sei que em breve vai fazer 18 anos, mas queríamos que
fosse nosso filho de verdade, inclusive usando nosso sobrenome.
— Você e David querem me adotar? — repeti ainda estupefato.
— Por que o espanto? — Nora sorriu. — E olhe para frente.
Voltei a atenção ao tráfego, ainda sem saber o que pensar.
— Claro que não queremos fazer nada contra sua vontade, mas
pense nisso.
— Por quê? — insisti.
— Não podemos ter filhos, e você perdeu sua família. Mesmo já
sendo quase adulto, queremos que se sinta um membro de uma família de
novo. Sei que é um menino machucado, mas queremos te dar segurança
novamente. Nada mais de outros lares, brigas de gangue e futuro
incerto. Nós acreditamos em você, Liam.
A partir daquele momento, a tarefa de não gostar dos Hunter se
tornou bem árdua.
E eu ainda passaria muitos anos negando uma parte de mim a eles,
mas aceitei que me adotassem.
Fui grato por terem mudado minha vida e ajudado a moldar meu
futuro.
E me tornei Liam Hunter.

**
Eu odiava ter que usar o uniforme do colégio, porém, não podia
negar que achava sexy o mesmo uniforme nas garotas.
E as garotas do colégio não demoraram a me notar também. Em um
colégio de garotos ricos metidos, a chegada de um bolsista, mesmo sendo
filho de uma das professoras, causou certo alvoroço na escala social.
Obviamente um grupo de idiotas adorava me provocar com seu bullying
que, para um cara como eu, soava quase como ofensa pueril de jardim de
infância. Depois da briga em que fui parar na diretoria envergonhando
Nora, decidi ignorar todos eles. Assim como tentei ignorar as garotas. Elas
não gostavam de serem vistas comigo, afinal, eu era o pé-rapado boca-suja,
mas podia perceber os olhares de interesse onde quer que eu fosse. A
verdade é que eu tentava evitar confusão. Só queria estudar e quem sabe
conseguir sair dali para uma boa universidade.
Até o dia em que uma garota chamada Barbara Blackwood decidiu
que não queria ser ignorada. Ela era rica, bonita e mimada, daquelas
acostumadas a ter tudo o que queriam. E ela decidiu que queria transar
comigo. Em outros tempos, eu teria aceitado a oferta de bom grado, mas
Barbara namorava um dos cretinos mais populares da escola que certamente
não gostaria de perder pra mim. Eu já não tinha nem Ethan pra me defender
caso aqueles babacas se juntassem pra me bater e também não queria me
encrencar de novo. E eu disse claramente a Barbara que não ia rolar. Ela
não gostou e como boa menina mimada, começou a me infernizar junto
com seus amigos tão cretinos quanto ela. Eu tentei ignorar, a raiva
começando a me consumir, até que fui parar na diretoria novamente, depois
de me irritar e empurrar o namorado de Barbara, Thomas.
Naquele dia, eu fui parar na sala de uma das freiras que decidiram
que ausência de disciplina era movida pela falta de religião. Jesus e aquele
blá-blá-blá religioso que eles adoram pregar ali e que os alunos fingiam
seguir, para cheirar coca e fazer orgias assim que elas viravam as costas.
Eu escutei seu sermão, cada vez mais irritado, notando que atrás
dela havia um armário com alguns apetrechos religiosos. De repente algo
me chamou a atenção e eu me levantei, pegando o objeto pesado em minhas
mãos.
— Senhor Hunter, por favor, sente-se, eu não terminei. É disso que
estou falando, precisa prestar atenção, temos regras aqui e...
— O que é isso? — indaguei curioso.
Ela se virou para mim.
— Uma palmatória.
— Para que serve? Parece um objeto de tortura medieval.
— Há alguns anos os padres acreditavam que os alunos deveriam
ser punidos fisicamente.
Levantei a sobrancelha.
— Sério? Batiam nos alunos com isso aqui?
— Não fazemos mais isso, claro. Embora alguns certamente
mereçam...
Ela se voltou, mexendo nos papéis a sua frente.
— Suas notas são ótimas e Nora Hunter tem muito crédito conosco,
por isso vamos esquecer esse incidente. Mas espero que não se repita...
Ela continuou, mas eu não escutava.
Eu coloquei a palmatória no meu bolso.
Alguém ia receber uma lição.
Naquele fim de dia, segurei o braço de Barbara Blackwood e disse
em seu ouvido que ela deveria me acompanhar, pois precisávamos
conversar.
Ela rolou os olhos com desdém.
— Achei que não ficava com garotas com namorado.
— Só estou dizendo que temos que conversar.
— Sobre o quê?
— Sobre o quanto você foi uma garota má, Barbara.
Eu não esperava falar daquele jeito com ela, mas o peso da
palmatória no meu bolso me lembrava porque eu a tinha roubado.
Eu queria dar um susto em Barbara. Pelo menos era o que eu dizia a
mim mesmo, quando ela concordou em me acompanhar à sala de aula
vazia.
Fechei a porta e Barbara encostou na mesa. Eu a medi, ela era
bonita, com longas pernas sob a saia cinza do uniforme terminando em
meias três quartos. Era sexy pra cacete.
— Eu fui parar na diretoria por sua causa.
— Você empurrou o Thomas.
— Vocês me provocaram.
Ela riu, jogando o cabelo loiro.
— Você é muito esquisito, Liam.
— Por quê?
— A maioria das garotas acha você interessante. Acho que é o
mistério que te envolve, ou o desprezo no seu olhar, como se fosse superior
a todos nós.
— Talvez eu seja.
Ela riu.
— Você é um menino órfão que a professora Hunter tirou da rua.
Todo mundo sabe.
Aquilo me irritou.
— E mesmo assim você quer meu pau.
Achei que iria negar, mas ela enrubesceu.
Eu não queria ter ficado excitado, mas fiquei.
Excitado e irritado.
Barbara era uma mimada esnobe.
— Por que estou aqui, Liam?
— Porque estou puto com você.
— Eu já falei que...
— Cala a boca — rosnei baixo a fazendo parar.
Na mesma hora eu percebi que tinha passado dos limites, mas
Barbara não se mexeu. Na verdade, ela estava ofegante, seu peito subindo e
descendo.
Peitos que pareciam ser muito bonitos.
Ela percebeu meu olhar descendo e sorriu.
— Se você me quer, por que resiste? — sussurrou se aproximando e
levantando a mão para tocar meu rosto, mas eu segurei seu pulso.
— Por que eu deveria foder você? Como disse, tem muita garota
disponível que quer o mesmo.
— O que você quer, Liam Hunter? É só me dizer.
Ah, era tentador.
— Eu não gosto de você.
— E daí? Ouvi dizer que sexo feito com raiva é mais gostoso...
— É disso que gosta? De agressividade? — Apertei mais seu pulso
sem resistir. Seus olhos escureceram.
Ah sim, ela gostava. E de repente eu quis ver quais os limites de
Barbara Blackwood.
— E se eu disser que quero bater em você?
— O quê? — Ela engasgou num riso nervoso, mas não se afastou.
— Tipo dar umas palmadas?
— Isso te deixa molhada?
— Talvez.
Ela se afastou e, virando de costas, levantou a saia.
Porra.
— Se apoie na mesa — ordenei tirando a palmatória do bolso.
Barbara soltou um risinho se inclinando, eu abaixei sua calcinha de
renda branca quase pueril e acariciei sua pele.
Ela gemeu.
E então eu desferi o primeiro golpe.
Ela se voltou surpresa.
— Ai, o que foi isso?
Eu sorri diabolicamente e segurei seu cabelo.
— Isso, Senhorita Blackwood, é o que merece por ser uma riquinha
mimada. Agora, conte... Talvez cinco bastem para mim.
Eu esperei, entre divertido e excitado, que ela fosse se afastar e
fugir correndo. Talvez fosse até a diretoria me dedurar e aí sim eu seria
expulso da escola.
Mas ela arquejou, os olhos brilhando de excitação.
— Um...
Ah...
Eu amei cada momento em que tive Barbara Blackwood gemendo
de dor. Assim como amei cada gemido de prazer que ela emitiu enquanto eu
a fodia, ainda na mesma posição sobre a mesa.

Houve muitas garotas depois de Barbara. Umas que amaram cada


momento comigo, seja fodendo ou apanhando.
Outras, não gostavam quando o lance ficava agressivo. Com o
tempo eu aprendi a reconhecer àquelas que estavam dispostas a jogar
comigo, ou as que preferiam apenas serem fodidas convencionalmente.
Na verdade, nem me importava. Eu era um garoto cheio de
hormônios e sexo era sexo. Eu podia apreciar de todas as maneiras.
Mas sabia que algo dentro de mim se satisfazia mais quando eu
podia exercer algum domínio. Naquela época, eu não sabia bem aonde isso
iria me levar, eu gostava cada vez mais de ter controle sobre tudo e quanto
mais adulto me tornava, a minha vida tomando um rumo que eu podia
prever que meu futuro seria bem longe da mediocridade, mais aprendia
sobre mim mesmo.
Eu queria ser alguém. Queria ter controle. Queria ser temido. Só
ainda não sabia bem como.

Então, entrei na universidade. Mudei-me da casa de Nora e David


para o dormitório e um tempo depois conheci Vanessa.
Ainda me lembro a primeira vez que a vi. Havia um bar que os
estudantes frequentavam e onde eu ia para beber, espairecer e conhecer
garotas.
Uma noite, eu vi Vanessa entrando com uma amiga.
Ela era loira, linda e naquele momento, me pareceu irresistível.
Eu me aproximei, flertei com arrogância, porque eu sabia que podia
ter a garota que quisesse. Vanessa parecia divertida e atraída também
enquanto me cravava de perguntas que naquela hora não entendi. Ela queria
saber quem eu era, quem era minha família.
Eu lhe contei que tinha pais adotivos, sem entrar em detalhes sobre a
morte dos meus pais verdadeiros.
— Seu pai é médico? Então você é rico?
Eu ri.
— Não. Os Hunter não são ricos. Eles vivem bem, pagam minha
faculdade, mas eu trabalho na biblioteca algumas vezes por semana para
conseguir uma grana.
Acho que foi naquele momento que Vanessa decidiu que eu era
pobre demais para seus padrões. Quando ela disse que precisava ir embora e
eu a chamei para um encontro, ela sorriu e disse sem preâmbulos que não
saía com estudantes pobres.
Fiquei boquiaberto por um instante enquanto ela acenava e se
afastava.
Deveria ter mandado Vanessa e sua ambição para o inferno, afinal,
eu podia mesmo ter qualquer outra garota. Mas acho que seu olhar de
desdém e o fato dela nem titubear em me dar o fora pelo simples motivo
que eu não era rico me irritaram sobremaneira.
Foi naquela noite que eu descobri que era um cara orgulhoso e
decidi que iria conquistar Vanessa de qualquer jeito.
No dia seguinte, eu a vi pela universidade e a cerquei. Decidi que
podia ser charmoso e envolvente, porque era o que uma garota como
Vanessa parecia gostar. Não me importava se ela iria gostar de levar uns
tapas algemada ou não, mesmo porque eu já tinha feito muitas garotas
começarem a gostar quando estavam na minha cama.
Porém, Vanessa parecia imune a qualquer tentativa de conquista.
— Qual o seu problema? — Eu me irritei um dia enquanto a seguia
pelo campus, mais uma vez levando um fora.
Eu não conseguia admitir que ela não quisesse ao menos ir pra cama
comigo.
— Eu já falei, Liam. Você é pobre. Eu sou uma garota cara, gosto de
bons jantares, presentes... Você é bonito e há milhas de distância já dá pra
sacar que é bom de cama. E já ouvi sua fama por aí. Mas eu não sou como
as outras garotas. Não é o sexo que me move. É o dinheiro.
— Então é isso que quer? Dinheiro? Eu posso conseguir.
Ela riu.
— Nunca vai ter o suficiente.
— E quanto seria o suficiente?
Ela achava que eu não estava falando sério quando parou e inclinou
a cabeça, divertida.
— Um milhão.
Eu abri um sorriso astuto.
— Espera e veja.

Eu ainda almoçava com David e Nora aos domingos e David


gostava de me explicar sobre investimentos. Eu prestava atenção, talvez um
dia eu tivesse grana o suficiente para tanto.
Depois do desafio de Vanessa, decidi que precisava ganhar um
milhão. Óbvio que eu sabia que era impossível e me perguntava o que
aquela garota tinha de diferente que me desafiava a tanto.
Eu não sabia dizer. Mas queria esfregar aquele dinheiro na cara
bonita dela.
David depositava todo mês uma mesada para mim, que eu nunca
usava, pois trabalhava nas horas vagas para conseguir uma grana, já que ele
já pagava minha faculdade.
Quando eu olhei o saldo, percebi que era um dinheiro bom.
Nem perto de um milhão, claro, mas era um começo.
Comecei a estudar investimentos na Bolsa de Valores e a investir
aquele dinheiro. E percebi que era fácil pra mim, antever as ações que iam
subir, o que ia descer, o que ia dar lucro.
Eu ainda via Vanessa perambulando pela universidade, às vezes
entrando em carros de garotos ricos com um sorriso de deboche. Mas eu
não me importava. Sabia que uma hora minha vez iria chegar.
Em menos de um ano, juntei um milhão de dólares.
E a primeira coisa que fiz foi chamar Vanessa para sair.
Ela não acreditou. Mas eu apareci em frente a seu dormitório em um
carro caro. Eu a levei a um restaurante fino.
E depois ao apartamento que aluguei em Upper East Side.
Onde a fodi da maneira que eu vinha sonhando há um ano.
Eu era, finalmente, um cara rico.
E era só o começo.

Dali pra frente comecei a viver para ganhar dinheiro, farejar bons
investimentos, aumentar cada vez mais meus lucros.
Vanessa se tornou minha namorada. Ela era uma das garotas mais
bonitas e difíceis da universidade e adorei começar a circular com ela,
ostentando quase como um troféu. E ela amava gastar meu dinheiro.
Eu não me importava. Apreciava arrancar de seu corpo as roupas de
grife, puxar seus cabelos perfeitos entre meus dedos enquanto eu a fodia
com força. Ela até mesmo não se importou em levar uns tapas ou ser
algemada.
Nós dois nos divertimos juntos, como se o mundo fosse nosso.
Cheguei a acreditar que aquilo fosse o tal do amor romântico que
todos falavam. Vanessa gastando o dinheiro que eu ganhava me dava tesão.
E assim, com vinte anos, eu ficava cada dia mais rico e tinha uma
namorada perfeita.
Quando eu disse que Vanessa deveria se mudar para meu
apartamento, ela sugeriu que devíamos nos casar. Por que não?
Talvez eu fosse jovem demais, mas eu também era jovem demais
para ser milionário. E de alguma forma sentia como se Vanessa fosse meu
amuleto de sorte.
Assim, eu coloquei um anel em seu dedo e ela se mudou para meu
apartamento.
E aí foi onde as coisas começaram a desandar.
Eu estava determinado a me tornar tão rico como Warren Buffett.
Saí da faculdade, aluguei um escritório em Wall Street, formei uma
equipe e de repente eu era o nome mais quente das finanças no momento.
E Vanessa rapidamente deixou de ser uma excitante novidade para
se tornar uma namorada chata que cobrava minha atenção. E não adiantava
eu dizer que estava trabalhando e ganhando o dinheiro que ela amava
gastar.
— É este tipo de marido que você vai ser? Que só vejo de vez em
quando? — gritava enfurecida.
Eu revirava os olhos, irritado, e na maioria das vezes a deixava
gritando sozinha. Não tinha tempo para suas cobranças sem sentido e
percebi que talvez me casar com Vanessa não seria tão bom assim.
A verdade é que Vanessa era uma chata. Era aquele tipo de mulher
que só era divertida enquanto estava no jogo da conquista. Depois se
tornava egoísta e exigente se não lhe desse atenção suficiente.
Mesmo assim, algo em mim se negava a ver o que Vanessa
certamente viu antes de mim. Não fomos feitos para ficar juntos.
E um dia, ela me comunicou que estava indo embora.
Fez as malas e disse que estava indo para o hotel onde seu amante,
um empresário 15 anos mais velho, chamado Elliot Vanderbilt, a estava
aguardando.
— Você me traiu, Vanessa? — Eu não podia acreditar.
— Sim , traí! E foi pouco! Você nem é tudo isso, Liam! Enquanto
fica ali brincando de investidor se sentindo muito rico porque tem quase dez
milhões, eu estava fodendo com Elliot que tem bilhões! Sabe que ele
produz filmes em Hollywood também? Você não é nada perto dele.
Ela foi embora naquela noite, levando as joias e roupas que eu lhe
dei.
Eu me senti passado para trás.
Meu relacionamento com Vanessa podia não ser perfeito, mas eu
não gostava do fato de ela ter me deixado, me trocado por um cara mais
rico.
Inferno, eu odiava perder.
Fui até um bar, bebi muito e cerquei uma garota que ficou muito
feliz em me deixar comê-la ali mesmo na despensa, enquanto lhe dava uns
tapas para extravasar.
Depois continuei bebendo, indo a outros bares, até começar a causar
confusão. Acabei num bar sujo no Brooklin resgatado por ninguém menos
que Ethan depois de me envolver numa briga. Ethan era o segurança do
lugar.
Ele me levou pra minha casa e no dia seguinte, eu lhe contei sobre
os últimos anos. Sobre os Hunter, Vanessa e todo o dinheiro que eu tinha
agora.
Ethan me contou que, depois de sair do reformatório, trabalhou
usando os punhos, como segurança em bares e ainda praticava luta para
ganhar uns trocados. Ele estava maior do que eu me lembrava e fiquei feliz
em vê-lo de novo.
— Cara, toda essa confusão por causa de uma mulher. — Ele riu. —
Olhe pra você, milionário, pode ter a mulher que quiser.
Ele tinha razão.
Eu era rico, jovem e podia ter a mulher que eu quisesse.
E foi assim que eu comecei a agir a partir daquele momento.
Até Emma Jones.
Gravação 5
Eu odeio perder dinheiro, mas perder a oportunidade de ter Emma
Jones me deixou furioso por alguns dias.
Só isso justifica a frustração que me acompanha desde então.
Às vezes eu me pergunto se não fui consciencioso demais. Eu não a
obriguei a estar ali comigo. Ela teve várias oportunidades de dizer não. Eu
teria aceitado? Provavelmente não também, foda-se. Eu teria até gostado
mais da situação, fazia a caça ser mais prazerosa. Mas Emma, apesar de
seus sinais confusos, nunca pareceu estar sendo coagida a nada.
Então que mal haveria se eu a fodesse? A única diferença é que seria
a primeira vez que ela faria algo assim. E como dizem, para tudo tem sua
primeira vez. Emma Jones inclusive já passou da hora.
Não faço ideia do que a levou a estar assim até hoje. Não me
pareceu convicção religiosa, ou falta de interesse em sexo. Interesse ela
tinha e muito. Talvez uma pressão familiar? Ou ela era uma daquelas
garotas bobas que eu nem sabia que ainda existia e que estava esperando
um príncipe encantado?
Bem, eu não sou este cara e percebi naquela semana que era
exatamente este um dos motivos mais fortes que me fizeram recuar e
mandá-la embora. Garotas românticas costumavam achar que sexo era amor
e compromisso.
Eu não tenho compromissos com mulheres. Não a longo prazo e
muito menos românticos.
Mesmo quando era jovem, eu me considerava cerebral demais para
me deixar levar por paixões. Não entendia aquele conceito de amor
romântico. Eu via isso nas pessoas à minha volta, óbvio, mas nunca entendi.
Sim, eu já me senti atraído por muitas mulheres. Perdi a virgindade com 14
anos com uma colega de escola e desde então, percebi que sexo era algo
bom e que podia tê-lo com qualquer garota que estivesse disposta. E
geralmente elas estavam. Chegava a ser entediante. Algumas se diziam
apaixonadas por mim. Choravam. Insistiam. Eu não entendia porque aquela
obsessão em andar de mãos dadas comigo pela escola, fazer programas
juntos, transar sempre com a mesma pessoa. Só me parecia um conceito
muito chato.
Naquela época, não havia muitos pensamentos em mim sobre o
futuro. Eu era um garoto fodido que vivia em lares adotivos com gente que
não gostava nem um pouco de mim. As únicas pessoas que eu amei e
precisei estavam mortas e talvez tenha sido até natural que eu buscasse
apenas relacionamentos superficiais.
Até Ethan.
Mas Ethan era meu amigo. Meu irmão.
Era diferente de uma mulher.
Com 17 anos, depois de já estar na casa dos Hunters, com uma
situação muito diferente, descobri minha verdadeira natureza. O sexo
passou a ser mais divertido desde então. E mesmo assim, ainda era algo
apenas superficial.
Até Vanessa.
Eu estava na faculdade e talvez movido por uma sensação de querer
ser algo, ou decidi que queria ter algo. Até aquele momento, eu não era
possessivo com nada.
Começou com Vanessa.
Depois veio o dinheiro.
E o poder do dinheiro, passou a ser a verdadeira mola que girava
minha vida. O sexo ainda era divertimento. Uma compensação.
Algo a se apreciar como um belo jantar. Um luxo.
Ainda não entendo o conceito de amor romântico.
Talvez tenha me confundido com Vanessa. Por um período achei
que aquilo era amor. Não podia estar mais enganado. E depois dela, não
houve mais necessidade de querer ter uma mulher e apenas ela.
Eu era um homem rico, poderoso e jovem.
E havia muitas mulheres no mundo que estavam dispostas a entrar
no meu jogo por um tempo curto e depois serem dispensadas. Algumas
ainda caem na bobagem de dizer que estão apaixonadas, mas sinceramente,
não passa de mentiras. Elas não ficam tempo suficiente para se
apaixonarem.
Eu não sou nenhum idiota que não admite que existe amor
verdadeiro entre duas pessoas.
Meus pais se amavam.
Os Hunter se amam.
Talvez algumas pessoas encontrem outras que as completem, que a
definam. Que as fazem querer ficar junto para sempre, pelo menos.
Mas não acredito que aquele tipo de relacionamento seja pra mim.
Não me imagino deixando uma mulher ser mais importante que meu
trabalho, por exemplo. Ou gostar mais de estar com uma mulher do que
ganhar dinheiro.
Uma vez, coloquei uma mulher quase neste patamar, mas ela me
retribuiu me deixando por outro cara mais rico. Ou seja, o conceito de
dinheiro mais importante que tudo continua mais válido do que nunca.
Então, eu gosto de mulheres e mulheres gostam de dinheiro. E eu gosto de
proporcionar a elas o que o dinheiro pode comprar. É quase uma forma de
compensação por elas me divertirem.
Acreditei que Emma Jones estava neste nível. Ela apreciaria estar na
minha cama tanto quanto apreciaria alguns pequenos luxos que eu lhe daria.
Algumas roupas caras. Um jantar fino.
E enfim, lhe mostraria o meu jogo.
Só que Emma Jones não fazia ideia de onde estava se metendo.
Talvez fosse mesmo aquele tipo de garota ingênua o bastante para me
confundir com um príncipe romântico. Então, se eu fosse em frente e lhe
mostrasse o que eu queria — o que nós poderíamos ter juntos — o que
aconteceria depois?
Sempre haveria a possibilidade de ela fugir correndo. Mas vamos
combinar, Emma Jones não fazia o tipo que fugia. Inferno, não foi isso que
me atraiu nela? A vontade de se submeter que eu via em seu olhar?
A verdade é que eu já estava há dias demais remoendo sobre o
fiasco que foi a conquista da Senhorita Jones. Sou um cara pragmático e
não perco meu tempo com questões que não podem ser mudadas. Então por
que diabos continuo pensando em Emma Jones espalhada na minha mesa?
Agora mesmo, estou naquela merda de conferência de negócios no
Rockefeller Center, cercado dos homens mais ricos e influentes da cidade, e
enquanto Milo Firestone e seu filho discorrem sobre suas impressões sobre
as próximas ações que devem decolar nos próximos meses, em vez de
prestar atenção me vejo pegando o celular e admirando a foto da garota nua
na minha mesa.
— Senhor Hunter.
Por um instante, acredito que estou em alguma espécie de delírio
quando levanto a cabeça e Emma Jones está parada em frente ao sofá que
estou sentado com os Firestone.
Ela está bem diferente do habitual. Usando um terninho preto e uma
camisa verde chamativa. O rosto bonito está maquiado e os cabelos presos
em um profissional rabo de cavalo.
Sim, não estou sonhando. Emma Jones está parada na minha frente
me encarando em desafio.
Mas. Que. Porra?
— Senhorita Jones — digo seu nome, tentando reagir àquela
aparição inesperada. Minha mente analítica tenta achar sentido para sua
presença ali.
— O senhor me deve dez minutos — ela diz com desafio.
Ah sim.
De repente eu entendo.
Emma Jones veio atrás de mim.
Ela entrou — sabe Deus como — em uma conferência de negócios,
vestida como uma profissional de jornalismo séria e não mais como a
estagiária morta de fome grunge, exigindo minha atenção.
Perplexo, eu a observo sentar-se no lugar vago ao lado de Milo
Firestone. Os dois homens parecem aturdidos e curiosos.
Milo Firestone é dono do Banco Firestone e seu filho é diretor geral.
— Ah, me desculpe, interrompi alguma coisa? — Emma sorri. —
Sou Emma Jones. Trabalho para o Jornal New York Morning e o Senhor
Hunter nos concederá uma entrevista. Como sabem, o Senhor Hunter é
muito ocupado e é difícil encontrar algum tempo livre em sua agenda, nós
chegamos a iniciar a entrevista, mas não foi possível terminá-la, tivemos
alguns... contratempos... no decorrer. — Agora ela olha diretamente para
mim e não consigo conter minha expressão de fúria. Como ela ousa? — E
aqui estamos. Afinal o senhor termina tudo o que começa, não é? — Sua
voz pinga sarcasmo e ela não parece intimidada por minha expressão
consternada.
— Algumas vezes abortar a missão é o mais indicado — respondo
com frieza e vejo seu olhar de desafio vacilar.
Sim Senhorita Jones. Eu não admito que me cacem e me intimidem.
Encerrei nossas negociações e achei que tinha entendido. Pelo visto,
não.
E o pior é que estou furioso, mas também há uma parte de mim que
está apreciando vê-la de novo.
Que percebe que sentiu falta de sua impertinência.
Meus dedos começam a coçar de vontade de fazê-la pagar por isso.
Inferno.
Eu ainda quero jogar com a Senhorita Jones.
— Oh, claro, sem problemas. — Felix sorri enquanto se levanta e
não consigo evitar de perceber que seu olhar para Emma é de sutil interesse.
— Sou Felix Firestone e este é meu pai, Milo.
— Das empresas Firestone? — Emma se levanta para segurar a mão
estendida de Felix.
E sou surpreendido por uma onda ácida de ciúme.
— Senhorita Jones, eu só tenho dez minutos e eles estão passando
enquanto está bajulando os Firestone — rosno friamente, me levantando
pronto para arrastar Felix para longe.
— Liam Hunter realmente não perde tempo. — Milo esboça um
sorriso astuto. — Foi um prazer conhecê-la, Senhorita Jones, vamos deixá-
la fazer o seu trabalho, afinal só tem dez minutos — brinca enquanto se
afasta com Felix, que ainda lança mais um olhar para Emma.
Idiota.
Vamos ver o que ele vai achar quando eu tirar meu dinheiro do seu
banco.
— Parece que tem um admirador, Senhorita Jones — ironizo.
— Eu tenho muitos, na verdade. Teria descoberto se tivesse ficado
mais cinco minutos! — ela rebate, me irritando.
— É por isso que está aqui? É algum tipo de vingançazinha por eu
tê-la dispensado?
— Não. Estou aqui porque me deve uma entrevista. — Ela se senta,
retirando o gravador da bolsa e colocando-o na mesa de centro. — Dez
minutos, não é? Melhor começarmos, porque como o senhor mesmo disse,
o tempo está passando.
Por um instante, desejo dizer-lhe exatamente o que fazer com aquela
merda de entrevista, que nós dois sabemos ser apenas uma desculpa
esfarrapada. Emma Jones está com raiva. Mas continua atraída.
Tanto que está aqui. Meu pulso acelera com as possibilidades.
Fúria e fogo subindo por meu sangue, que corre mais rápido,
intoxica minha mente com imagens da Senhorita Jones levando exatamente
o que merece.
Certo. Vamos ver até onde vai sua coragem.
Ela quer brincar? Eu sou mestre naquele jogo.
— Irei lhe conceder sua entrevista, Senhorita Jones, satisfeita? —
Eu me sento também.
— Longe disso — murmura como se fosse para si mesma antes de
respirar fundo e me encarar com o que ela acha ser um olhar profissional.
Eu tenho vontade de rir.
Ela mais parece uma adolescente apresentando um trabalho de
escola.
— O que o motivou a investir na Bolsa?
Ah, a famigerada pergunta que todos fazem. Não consigo evitar um
sorriso amargo. O que Emma Jones acharia se eu lhe contasse sobre
Vanessa e o desafio que ela me lançou. Um desafio que eu cumpri com
prazer pela chance de estar entre suas pernas?
Não gosto de lembrar de como deixei meu pau dominar minha
mente e minhas ações, mas não posso deixar de agradecer a Vanessa por ter
feito a ambição nascer em mim.
— O que motiva a todos, Senhorita Jones. Dinheiro. Eu apenas
queria ganhar dinheiro. — Opto pela versão superficial. O que não deixa de
ser verdade.
— O seu pai é médico e sua mãe é professora. Não era de uma
família pobre.
— Sim, meus pais adotivos não são pobres, acho que podemos dizer
que são de uma boa classe média — corrijo.
— Adotivo?
— Ah, vejo que o Google ainda é falho em minha biografia. Sim,
David Hunter e Nora Hunter me adotaram quando eu tinha 16 anos.
— O que aconteceu com seus pais verdadeiros?
— Morreram.
Não há emoção na minha voz ao dizer isso.
Não mais.
Eu aprendi a esconder o menino órfão num lugar onde nem eu
mesmo podia encontrá-lo.
— Sinto muito... Quantos anos tinha?
— Dez.
— Você disse que foi adotado com 16 pelos Hunter...
— Passei por muitos lares adotivos fodidos antes disso.
— Ah, entendo. E o que os seus pais verdadeiros faziam?
— Não tenho certeza da relevância dessa pergunta, em todo caso,
meu pai era contador e minha mãe assistente social — respondo a
contragosto.
— Contador? Talvez tenha herdado dele o fato de gostar de mexer
com dinheiro. — Ela sorri.
— Não herdei nada do meu pai. — Minha resposta soa ríspida pelo
fato de que eu não me lembro do meu pai direito, não tem como eu saber se
herdei algo dele.
— E de sua mãe, não herdou nada também?
— Ela era bonita. — A imagem da minha mãe flutuando acima de
mim, volta à minha mente. Seus cabelos ruivos roçando meu rosto enquanto
ela se abaixava para beijar minha testa antes de dormir.
A dor aperta meu peito e eu me irrito, afastando aquela lembrança.
Eu raramente me permito lembrar.
— Isso explica muita coisa — Emma diz com ironia.
— E você, Senhorita Jones. A quem puxou mais, sua mãe ou seu
pai?
Ela fica confusa.
— Sério?
— É só uma pergunta.
Vamos voltar os holofotes para a Senhorita Jones e afastá-los de
mim.
— Meu pai é policial numa cidadezinha fria de Washington e minha
mãe uma dona de casa natureba da Califórnia.
— Divorciados?
— Sim. Desde que eu tinha cinco anos. Passei meus anos de
infância e adolescência me dividindo entre os dois.
— Como veio parar em Nova York?
— Faculdade. Foi onde me aceitaram. Meu pai insistiu em
jornalismo, embora eu quase tenha entrado em Literatura. Ele achou que eu
fosse morrer de fome sendo uma professora ou algo assim.
Provavelmente vai morrer de fome sendo jornalista também, se
levar em conta suas habilidades neste momento, penso com ironia. Talvez
este fosse o problema dela, a falta de interesse real na profissão.
Provavelmente ela seria mais competente se seguisse a profissão que queria
e não a do seu pai.
— Minha mãe é professora de literatura.
— Acho que já gosto da sua mãe. — Ela fica animada com a
informação.
— Ela iria gostar de você. — E é verdade. Nora iria adorar alguém
como Emma.
Obviamente as duas nunca se conheceriam.
— Bem, sua mãe não morreu de fome. Direi isso ao meu pai.
— Minha mãe se casou com um médico. Ela trabalha num bom
colégio católico.
— Por isso estudou num colégio católico.
— Sim, eu era bolsista. Tive que aprender a me comportar para as
freiras não me expulsarem. Não que eu me importasse com aquelas putas,
porém Nora ficaria arrasada.
— Você era um garoto terrível?
— Fui criado praticamente nas ruas. Não se pode dizer que tinha a
melhor educação. Eu era mal-educado e boca-suja.
— Era? — ironiza e não consigo evitar uma risada.
— Algumas coisas não mudam.
— Imagino que não — ela sussurra com um olhar enlevado que me
faz parar de rir.
Por que merda ela faz aquilo? Fica me olhando como se eu fosse
algum príncipe de desenho da Disney?
Ela parece perceber o que está fazendo, pois cora e pigarreia,
voltando a suas anotações.
— Acredita que o colégio católico lhe deu a formação necessária
para ser quem é hoje, já que a faculdade não lhe serviu de muito como me
disse anteriormente?
— Ah, eu aprendi muitas coisas num colégio católico misto.
Aprendi que gosto de garotas de uniforme. Meias três quartos são muito
sensuais. Gostava de imaginar que tipo de roupa íntima as garotas usavam
por baixo da saia. Consegui descobrir boa parte delas e convenci uma boa
parcela a não usar nada enquanto estivesse comigo. Aprendi também que
algumas garotas acham estimulante alguns tipos de punição.
Os olhos escuros de Emma Jones estão arregalados em choque
agora.
O que será que diria se lhe revelasse que ela gostaria muito se eu
fizesse o mesmo com ela?
— Já apanhou de palmatória, Senhorita Jones?
Ela sacode a cabeça em negativa e eu abro um sorriso maldoso.
— As freiras costumam usar no colégio para punir os infratores.
Roubei uma delas um dia e usei numa garota que precisava de uma lição.
— Você bateu numa garota?
Ela está horrorizada.
— Ela gostou. Muito. Principalmente quando eu a fiz gozar depois.
— Oh. Meu. Deus.
Eu a observo pegar o gravador com as mãos trêmulas e tentar
desligá-lo.
— Minhas palavras a chocam, Senhorita Jones? Está pensando em
quão horrível eu sou neste momento?
Por fim, desiste de desligar o gravador e me encara.
— Você ainda faz isso? — pergunta num fio de voz. — Você ainda...
Bate em mulheres?
— Tudo para o prazer.
— Você quer dizer seu prazer — rebate com ironia.
— Eu poderia lhe mostrar o quão prazeroso pode ser este jogo,
Senhorita Jones.
Claro que ela está chocada. Emma Jones nunca fez sexo e muito
menos o tipo de sexo que eu gostava de fazer. Ela não faz ideia de que o
fato de ela estar ali, brincando de jornalista comigo, diz muito sobre sua
verdadeira natureza.
Ela não faz ideia, mas seu corpo faz.
Por um momento, eu me delicio com essa constatação. Talvez
Emma Jones não seja um negócio perdido, afinal.
Eu poderia mostrar a ela?
Por um momento eu me deixo levar pela fantasia.
— Você me mandou embora. — Ela não esconde o ressentimento.
— Você não é quem eu pensava que fosse. — De repente quero lhe
contar. Quero lhe dizer por que eu a mandei embora.
Nunca foi falta de interesse.
Eu apenas tinha sérias dúvidas de que Emma Jones aguentaria o tipo
de jogo que eu jogava.
Mas agora... Inferno. Eu ainda a quero.
Mais do que achei que quisesse. E isso me irrita e me inebria ao
mesmo tempo.
Emma Jones é um desafio. Que está rapidamente se transformando
em um projeto promissor.
Porém, me surpreendo quando ela guarda o gravador e se levanta.
— E você é exatamente quem eu pensava. Obrigada pela entrevista,
Senhor Hunter. Adeus.
Estupefato, eu a observo se afastar, sumindo no meio dos
engravatados da conferência.
Que porra?...
Eu me levanto, ainda irritado pela Senhorita Jones ter me deixado
falando sozinho, e me encaminho para as mesas, onde a maioria dos
executivos já está se acomodando para o brunch. E qual não é minha
surpresa ao ver a Senhorita Jones na mesa, rindo com os Firestone.
— Algo engraçado? — Tomo meu lugar na mesa e posso notar a
surpresa na expressão de Emma Jones.
— A Senhorita Jones estava dizendo que o Leão de Wall Street não
é tão feroz quanto dizem — Milo responde.
— Realmente, Senhorita Jones? — Eu a encaro com frieza.
— Felix comentou que eu não fui devorada pelo leão, tive que
concordar com ele.
Ela está fazendo piadinhas?!
— Hum, já estão se tratando pelo primeiro nome? — Não dá pra
não notar que Felix está interessado em Emma. E ela parece lisonjeada com
o fato.
— Oh, me desculpe. — Ela enrubesce. — Senhor Firestone.
Puta. Que. Pariu.
Eu preferia que ela o chamasse pelo nome. Não quero que ela chame
ninguém de senhor além de mim.
— Imagina, pode me chamar de Felix. Sempre acho que estão
chamando meu pai, quando me chamam assim, faz eu me sentir velho.
— Pode me chamar de Emma, então.
— Que lindo nome — Milo Firestone comenta. — Insisto que me
chame de Milo também, mesmo sendo um velho.
— O senhor não é velho!
O homem se desmancha em sorrisos.
— É muito bom ouvir isso de uma linda jovem mulher como você,
Senhorita Jones!
— Emma, eu insisto.
— Não deixe o velho flertar com você, Emma — Felix brinca —,
senão terei que flertar também.
— Oh Deus, por favor, não briguem por mim. — Emma leva a mão
no coração fingindo pesar e sorrindo.
Ela está flertando com pai e filho?
Começo a me enfurecer, mas rapidamente percebo que há um intuito
ali. Emma está me provocando. Para me irritar. E está conseguindo.
Meus dedos coçam enquanto o garçom aparece com os pratos e
Emma me fita de esguelha, porém, quando percebe que a estou encarando,
desvia o olhar, vermelha.
— Nos fale de você, Emma — Milo pede. — Disse que é repórter?
— Estagiária, na verdade. Estou no último ano de jornalismo. Vou
me formar dentro de dois meses.
— E já pensou no que vai fazer depois? Vai continuar no jornal?
— Eu confesso que ainda não pensei sobre o assunto...
— Ela não gosta da profissão que escolheu — comento.
— É verdade? — Felix pergunta intrigado.
Emma está corada agora.
— Não é bem assim.
— Não é verdade que gostaria de fazer literatura? — insisto.
— Sim, este foi um sonho adolescente — desconversa —, eu vim
pra Nova York me formar em Jornalismo.
— Você é de onde? — Felix indaga.
— Aberdeen, Washington.
— Que interessante. Temos uma filial da empresa em Washington
— Felix sorri. — E meu pai e eu gostamos de pescar naquela região.
— Sério? Meu pai ama pescar! Acho que é o que ele mais gosta de
fazer.
— Olha só que interessante, filho. Se formos para lá nos próximos
meses, podemos visitar o pai da Emma e pedir a mão dela em casamento, o
que acha Felix? Estou mesmo querendo netos antes de morrer.
O quê? Aquele velho estava insinuando que a Senhorita Jones
deveria se casar com o filho dele?
A minha Senhorita Jones?
A possessividade que permeia minha mente por um momento me
assusta.
— Papai, por favor. — Felix cora como um colegial virgem.
Aperto meus dedos na taça à minha frente, para conter a vontade de
apertar as bolas de Felix.
— Não acho uma boa ideia. — Eu me intrometo na conversa. — O
pai da Senhorita Jones é policial.
— Nossa! Pode ser perigoso, pai. — Felix ri.
— Não seja frouxo. Homens Firestone honram as calças que
vestem!
Todos riem de novo da piada idiota, mas eu não estou com o menor
humor agora.
Estou irritado com aquela conversa.
— Talvez antes de fazer planos devesse perguntar a Emma se ela
não tem um namorado, papai — Felix diz enquanto Emma enrubesce,
bebericando a água de sua taça, como se estivesse pensando na resposta.
— Diga-nos Emma, existe um homem sortudo que devemos tirar do
páreo? — Milo insiste.
O olhar de Emma captura o meu através da mesa.
— Até poderia haver. Embora eu acredite que ele não me queira.
E há pesar em seu tom de voz.
Um pesar que parece ser mais profundo do que esperava.
E a merda é que faz eco com meu próprio pesar.
Como ela ousa falar que eu não a queria?
— Como assim? Este homem é louco? — Milo ri. — Não querer
uma linda jovem como você? Bonita, educada, inteligente e simpática?
— Parece que nada disso é o bastante para alguns homens. Na
verdade, eu não sei o que ele quer de mim.
— Homens são criaturas simples, senhorita — um senhor sentado
do outro lado da mesa diz. — Ou eles querem ou não querem.
— Então talvez ele não me queira mesmo... — ela murmura
abaixando o olhar.
— Talvez ele queira, mas a senhorita seja inocente demais para ele.
— Eu me surpreendo ao ouvir minha própria voz, firme e quase furiosa.
Emma arrasta o olhar para meu rosto de novo. Ela está surpresa.
— Inocência era um prêmio na minha época — Milo diz, e acho que
está um tanto embriagado. — Já hoje em dia...
— Papai! — Felix ralha.
— Eu fiquei interessada em sua opinião, Senhor Hunter — Emma
diz por cima da discussão de Felix com o pai, os outros dois homens
entraram num debate e não estão prestando atenção em nós —, explique-
se.
— Alguns homens jogam com as mulheres. Talvez ele acredite que
a senhorita não se encaixa neste jogo. — Opto por uma sinceridade evasiva.
“Eu quero te algemar na minha cama e amordaçar essa sua boca
impertinente, Senhorita Jones. Quero te bater com as minhas mãos ou com
a coleção de chicotes que tenho guardados em casa, até deixar sua pele
vermelha e seu corpo ardendo. E então mergulhar meu pau em você e fazê-
la gozar tão forte que nunca mais vai esquecer a sensação. Nem do meu pau
e nem dos golpes da minha mão.”
— Como ele pode saber se eu não estou interessada em jogar?
— A senhorita está?
— Ele poderia me mostrar. — Sua voz vacila. Mas seu olhar é
firme. É desafiador. Curioso e ansioso. Talvez depois da nossa conversa
sobre as garotas do colégio católico ela tenha entendido uma parte do que
eu sou capaz. E mesmo assim, ela está aqui. Ansiando pelo desconhecido.
— Talvez eu queira muito... que ele me mostre...
Meu pulso acelera. Meus dedos coçam. O desejo que voa como
faíscas dos olhos inocentes de Emma Jones atinge meu peito como uma
lança de fogo. Incendiando meus sentidos.
Levando meu controle.
Inferno!
— Duvido que esteja preparada para o que ele gostaria de fazer com
você. — Ainda tento manter a racionalidade enquanto faço pequenos nós no
guardanapo em minhas mãos, imaginando como Emma Jones ficaria
magnífica amarrada na minha cama.
E de alguma maneira ela sabe os pensamentos sacanas que
permeiam minha mente, pois arfa, o rosto vermelho de excitação, enquanto
se move inquieta na cadeira e toma um gole de água.
Eu faço o mesmo.
Mas nem toda água do mundo seria capaz de apagar o incêndio que
a Senhorita Jones está causando em meus pensamentos.
— O que estão dizendo? — Felix volta para a conversa.
— Nada importante. — Emma força um sorriso.
— A senhorita estava nos contando sobre o homem burro que a
dispensou. — Milo ri.
Sim, ele está bêbado.
— Na verdade, eu preciso ir. — Ela se levanta.
Felix se levanta junto.
— Já?
— Eu tenho um compromisso.
Óbvio que é mentira.
— Fique com meu cartão. Talvez possamos marcar um jantar a
qualquer hora.
— Claro. — Ela sorri pegando o cartão que eu decido que vou
queimar assim que possível.
Acenando em despedida e sem me encarar, ela se afasta para a saída.
— Que linda moça. — Milo se desmancha em elogios. — Deve
chamá-la para sair, filho.
— Sim, Emma é mesmo linda — Felix concorda.
Irritado, eu me despeço também, ignorando os olhares surpresos e
saio da mesa.
Apanho meu celular enquanto me encaminho para a saída e digito
uma mensagem furiosa.
“Você acha que flertar com a família Firestone inteira é um bom
negócio, Senhorita Jones? Tem noção de como eu quis te punir por me
fazer sentir ciúme daqueles babacas babando em cima de você? Me
imaginei te colocando em meu colo na frente de todas aquelas pessoas,
tirando sua linda calça preta justa e deixando a marca dos meus dedos
na pele branca do seu traseiro.”
Alguns segundos depois a resposta chega e não é a que espero. Eu
paro aturdido.
“Você sentiu ciúme de mim?”
Que diabos?...
“Não. Não estou com ciúme.”, é o primeiro pensamento que me vem
à mente.
Mas assim que a negativa se forma, percebo que é uma mentira.
Sim, estou com ciúme. Eu mal conheço a Senhorita Jones. Eu lhe dei o fora
e, mesmo assim, tive vontade de arrastá-la para longe dos homens
Firestone.
Principalmente Felix com sua sedução gentil.
Não sou um cara gentil. Nem romântico.
E nem sensível. Tudo o que a virgindade bem guardada da Senhorita
Jones deveria estar esperando.
E saber que, em algum nível, Felix seria o homem certo para Emma,
me deixa furioso.
A mensagem dela chega antes que eu lhe responda.
“Está com medo de responder, não é? Porque nós dois sabemos
que você se arrepende de ter me dispensado. Você sabe que estou livre
para aceitar convites de homens como Felix Firestone e até do pai dele
se eu quiser.”
A verdade contida em suas palavras me irrita e me vejo respondendo
com fúria.
“Não sabia que gostava de ménage em família, Senhorita Jones.”
A resposta dela também vem furiosa.
“Você é um grande babaca, cretino, egocêntrico, filho da puta...”
Respiro fundo, olhando em volta. Como se ela estivesse ali em
algum lugar. Eu posso sentir.
“Como ousa me dizer este tipo de coisa? Eu não sou uma de suas
putas!”
— Merda! — rosno irritado.
Eu deveria sair daquele lugar e da vida dela pra sempre. Deixá-la
seguir flertando com homens como Felix Firestone. Que lhe daria atenção e
romance. E não apenas prazer e algumas escoriações.
“Mas é só isso mesmo que quer dar a Senhorita Jones?”, uma voz
desconhecida se intromete em minha mente.
Eu conseguiria farejá-la em algum lugar daquele prédio, caçá-la
pelos corredores, e quando finalmente a encontrasse, arrastá-la para minha
cama, onde faria tudo o que desejava desde que ela tropeçou em mim em
Wall Street e depois a deixar ir, como fazia com todas as minhas
conquistas?
Então de repente eu entendo.
Compreendo o motivo que me fez mandá-la embora.
Sou um homem de negócios astuto e meticuloso.
Eu leio os sinais. Decodifico uma realidade que poucos conseguem
enxergar. É assim que eu farejo dinheiro.
Faço previsões quase sempre acertadas do futuro.
E em algum nível da minha mente, eu tinha previsto que Emma
Jones estava ali para ficar.
“Eu sei que você não é. Creia-me, eu sei.”, respondo por fim.
— Ei, já vamos?
Levanto a cabeça e Ethan está me encarando.
— Você sabia que ela estaria aqui?
Porque posso intuir que a presença dela na conferência pode ter
dedo do meu segurança.
— Ela foi muito persuasiva. — Ethan não nega.
Ele nunca mente pra mim.
— Onde ela está?
— Eu a vi indo ao toalete.
Por um momento, eu volto ao modo analítico.
Organizo meus pensamentos. Estudo minhas opções.
As consequências. As perdas e danos.
E os lucros.
Ah os lucros...
— Você percebe que está fora de controle? — Há certa crítica na
voz de Ethan.
— Eu sempre estou no controle.
— É impossível controlar tudo, mesmo agora quase posso ver as
engrenagens da sua mente trabalhando. Você quer Emma Jones, mas já
sacou que ela é confusão. Se ficar com ela não vai ter mais controle de
nada.
— Está enganado.
Ethan tenta conter um sorriso de deboche.
— Ela te caçou até aqui. Já era, Liam. Você pode até tentar, mas vai
perder. E mesmo assim, talvez adore cada minuto.
— E o que acha que devo fazer?
Chegamos ao carro e eu me recosto, cruzando os braços. Raramente
peço conselhos para Ethan, mas me sinto frustrado e acuado.
Não estou acostumado a me sentir assim.
— Vai ser divertido assistir Emma Jones e Liam Hunter neste jogo.
Você achando que tem todas as regras, e ela destruindo suas estratégias uma
a uma. E acho que é bom pensar no que decidiu, pois ela está vindo aí.
Ethan se afasta e vejo Emma Jones surgir por entre as portas
giratórias do hotel. Não veste mais a sua fantasia de jornalista séria, e sim
seu habitual jeans velho e suéter mais velho ainda.
Pela primeira vez, não me importo. É ela. Faz parte de quem ela é.
Assim como sua inocência. Sua impertinência.
E sua paixão que está clara como água cristalina em seu olhar
escuro.
— É melhor que fique longe de mim — ainda me vejo dizendo.
Agora não mais por alguma tentativa de resguardá-la de mim.
Mas ao contrário.
As palavras de Ethan ressoam em minha mente.
"Você pode até tentar, mas vai perder. E mesmo assim, talvez adore
cada minuto".
— Talvez eu não queira. — Há desafio e súplica em sua voz.
— Você enumerou todos os motivos em sua mensagem.
— Talvez eu não me importe.
Os primeiros pingos de chuva começam a cair enquanto
permanecemos travando uma luta silenciosa com nosso olhar.
— Eu me importo... — Mas antes que possa sequer tentar explicar,
ela se irrita.
— Vá pro inferno! — Ela se afasta pela rua com passos decididos.
Afasta-se de mim.
Não.
Não posso deixá-la ir.
— Emma! — E enquanto me apresso atrás dela, a chuva caindo a
nossa volta, percebo o que Ethan quis dizer.
Já era.
E enquanto ela se volta, e eu me aproximo o suficiente para segurar
seu rosto entre as mãos, digo a mim mesmo que não é uma rendição.
É apenas uma batalha. A guerra está sendo travada e a meu favor eu
tenho o fato de que Emma não faz ideia do que eu sei. Eu só não posso
deixá-la saber a extensão do poder que tem em suas pequenas mãos.
Eu gosto do poder.
Amo o controle.
E estou inebriado com a ideia de controlar essa garota na minha
frente.
— É uma merda que eu não consiga evitar querer você... — sussurro
quase que para mim mesmo. Porque eu sei que Emma Jones vai ser a
batalha mais árdua de todas.
Ela me tira do sério.
Ela me desafia.
E me faz ter medo daquele sentimento de posse e necessidade que
faz crescer em mim.
Eu nunca me permiti precisar de ninguém.
— Então fica comigo... — antes que ela termine de falar, eu já
mergulho meus lábios nos seus.
Assim me permitindo me perder em seu beijo.
Mal sabia eu que estava perdido para sempre.

Fim da gravação
Poderia ter sido fácil e rápido, mas foi doloroso e complicado.
A cada passo que dávamos, eu achava que ela ia sair correndo, mas
ela ficou. A cada camada horrível da minha personalidade que eu lhe
mostrava, ela reagia com uma coragem quase inconsequente. Uma fé
inabalável em nós dois que assombrava e deslumbrava.
Ela me aceitou do jeito que eu era.
Assim, como eu a aceitei. Mas pra mim, nunca houve alternativa. A
Senhorita Jones se embrenhou em meio a meus pensamentos, testando meu
controle férreo e fazendo com que eu reavaliasse minhas estratégias.
Gravação 6
O dia está escuro lá fora, uma chuva forte começa a cair de novo,
deixando o ambiente numa suave penumbra.
Meus olhos vagueiam pelo quarto feminino, minha atenção se
prendendo em pequenos detalhes que denunciam a personalidade da
Senhorita Jones. A cama de ferro branca está desgastada como se tivesse
sido comprada numa dessas vendas de garagem. Uma estante cheia de
livros clássicos. Cortinas de renda romântica. Há óculos largado em cima de
uma escrivaninha bagunçada, um porta-retratos com a Senhorita Jones
vestida em uma beca de formatura ao lado de um casal que julgo ser seus
pais.
— O que acontece agora? — ela pergunta impaciente atrás de mim.
Eu me viro para contemplá-la.
De repente ela parece mais nova do que seus 22 anos, parada ali,
mordendo os lábios entre curiosa e excitada.
Eu disse a ela que não seria hoje que começaríamos nossos jogos,
mas voltei atrás. Que ironia que eu lhe disse que ela deveria aprender a
cumprir regras, mas eu mesmo era péssimo em segui-las.
Foda-se.
— Vamos tirar essa roupa molhada.
Eu me aproximo e tiro sua blusa, revelando o sutiã simples. Sinto
um déjà-vu da primeira vez em que tirei sua roupa, quando fazia apenas
minutos que nos conhecíamos.
Nossos olhos se encontram e eu sei que ela está pensando o mesmo.
Eu a livro do sutiã.
— Quando decidiu que queria tirar a minha roupa?
— Quando me olhou com estes olhos incrivelmente deslumbrados
— eu me abaixo para tirar seu tênis e jeans e a sento na cama, acariciando
seu rosto. — Nunca tinha visto um desejo tão transparente nos olhos de
alguém. Seus olhos estavam me chamando como agora. Estavam pedindo
para eu tirar sua roupa, como agora. Para entrar em você, como vou fazer
agora. Deite-se — ordeno.
Ela obedece quase docemente. A fera em mim se regozija.
Tiro minhas roupas até ficar apenas de cueca boxer e sem desviar os
olhos dos seus, pego um preservativo da carteira e coloco sobre a mesa de
cabeceira.
E então tiro a cueca. Noto a Senhorita Jones abaixar o olhar,
ruborizando ofegante e sinto um prazer perverso de puro orgulho
masculino.
A porta ainda está aberta, e eu caminho até lá, a trancando, pois
lembro que ela mora com uma amiga.
Não quero que sejamos interrompidos.
— Está com medo? — Eu me ajoelho na cama, diante dela.
— Não.
— Não minta pra mim.
— Não estou mentindo. O único medo que eu tenho é de você
desaparecer. — Sua voz vacila.
— Venha aqui!
E ela ajoelha na minha frente.
— Você vai me bater ou algo assim?
Eu não contenho um sorriso.
Sim, eu quero estrear minha mão no traseiro da Senhorita Jones.
Mas não hoje.
A espera vai ser doce.
— Não hoje. Hoje eu vou nos livrar de sua inconveniente
virgindade.
— Inconveniente?
— Não é algo agradável.
— Como sabe? Já tirou a virgindade de muitas garotas?
— A primeira garota com quem eu transei era virgem.
— Quantos anos tinha?
— Nós tínhamos 14.
— Nossa...
— Não foi algo... agradável. Não tive vontade de causar aquela dor
a alguém novamente.
Eu mal me recordo da primeira garota com quem transei. Éramos
quase crianças sem saber o que fazíamos com nossos hormônios. Foi rápido
e pra ela, dolorido.
— Achei que gostasse de punir...
— É bem diferente. Eu prefiro mulheres que saibam onde estão se
metendo.
— E eu não sei.
— Não, ainda não sabe, mas saberá em breve. — E eu a empurro
para a cama, abocanhando seu seio em meus lábios, a língua deslizando em
volta do mamilo antes de usar os dentes para puxá-lo quase rudemente.
O gemido de dor e prazer que escapa dela faz meu pau doer e faço o
mesmo com o outro seio. A Senhorita Jones tem seios lindos, perfeitos para
minhas mãos e minha língua.
Subo beijando sua clavícula e coloco um chupão em seu pescoço,
antes de beijar os lábios entreabertos e escorregar a mão pelo seu ventre até
pousar entre as coxas, acariciando devagar, enquanto observo seu gosto se
desmanchar de prazer.
Isso. É assim que eu a quero. Perdida no que eu posso lhe causar.
Rendida. E ansiando por mais.
E eu posso dar mais.
Eu posso dar tudo.
E tirar tudo ao mesmo tempo.
A fera em mim está salivando.
Ela choraminga, arqueando os quadris em busca de mais contato,
cerrando as pálpebras, rodeio o dedo em volta do seu clitóris e o mergulho
mais abaixo, testo sua entrada intacta.
Ela é úmida, quente e pulsa em meus dedos.
Por um momento, o desejo em mim é tão forte que penso em virá-la
de quatro e fodê-la com tanta força que ela nem saberia o que a tinha
atingido, mas amaria cada segundo, assim como eu. Mas sei que não posso.
Não hoje.
Não é difícil pra mim me manter no controle.
Aliás, é uma das partes mais divertidas da sedução. Vê-las se
contorcer, implorar enquanto eu as levo ao limite, apenas para parar e
começar tudo de novo. Divertindo-me com seu desespero.
A espera era sempre doce, assim como o prazer que vinha depois,
muito mais intenso e recompensador, para ambos.
Sim, eu sou este tipo de predador, que gosta de brincar com a sua
presa.
— Goze para mim — ordeno roucamente aumentando o ritmo dos
meus dedos.
— Oh Deus... — Ela fica tensa, e em poucos segundos goza em
meus dedos, estremecendo e gemendo embaixo de mim.
É lindo de se ver.
Emma Jones é linda e é minha.
Já chega de esperar. Escorrego o preservativo em minha ereção
dolorida enquanto Emma volta à realidade ainda ofegante, me encarando
com os olhos escuros e curiosos. Ajoelho entre suas pernas, pequenos
tremores ainda reverberam em seu corpo quando seguro meu pau e deslizo
do seu clitóris até a entrada úmida e pulsante.
Ela prende a respiração e fecha os olhos com força.
Ela está com medo e não é o tipo de medo que eu gosto de suscitar,
mas agora é tarde.
Eu dei todo o espaço para escapar.
Mas ela quis ficar.
E este é só o começo.
Empurro para dentro e ela solta gemido ofendido de dor.
— Abra os olhos — ordeno, tenso. — Tudo bem?
Ela sacode a cabeça afirmativamente. Recuo e impulsiono de novo.
E de novo.
E mais uma vez.
Sinto a tensão de me segurar em cada músculo do meu corpo
enquanto penetro Emma Jones devagar, mas com a firmeza de um
conquistador fincando a bandeira em um território inóspito conquistado
pela primeira vez.
— Me diga o que fazer... — ela murmura.
— Continua doendo?
— Um pouco... Mas quero mais.
A ansiedade em sua voz faz o controle escapar um pouco de minhas
mãos e com um gemido eu a beijo intensamente, meus quadris batendo nos
seus com força agora, quando eu passo os braços a sua volta e nos viramos
na cama para que ela fique em cima.
Ela arqueja, surpresa e eu rio.
— Vamos improvisar...
Minhas mãos varrem suas costas e pousam em seus quadris e lhe
desfiro um tapa. Ela grita de surpresa.
— Olhe pra mim — ordeno e ela obedece.
Aperto sua pele, ensinando os movimentos, enquanto ela me fita por
entre os cabelos escuros, até que começamos a nos mover no mesmo ritmo.
Ah sim... Ergo o tronco, seus seios roçando no meu peito em seu
subir e descer no meu colo e retiro os cabelos do seu rosto para que meus
lábios encontrem sua garganta e adoro quando ela puxa meus cabelos,
intensificando o ritmo.
— Isso é bom? — Mordo sua orelha.
— Sim...
— E isso? — Escorrego o dedo entre nossos corpos e acaricio seu
clitóris.
Ela se contorce em resposta, enfiando as unhas em meus ombros.
— Oh Deus, sim...
Eu a jogo na cama de novo sem aviso, a prensando contra o colchão
e segurando suas mãos acima da cabeça, investindo os quadris contra os
seus com fúria e velocidade agora, e observo o exato momento em que
Emma Jones se desmancha embaixo de mim e, com um grunhido de
satisfação, encosto a testa na dela e deixo meu próprio prazer dominar meu
corpo e minha mente.
Desabo em cima dela, largando suas mãos, satisfeito de um jeito que
nunca me senti antes.
Ainda respirando com dificuldade, descanso meu olhar no rosto
suado da mulher embaixo de mim.
Emma Jones.
E me surpreendo com a súbita vontade de abraçá-la forte e nunca
mais soltar.
Ela abre os olhos sorrindo languidamente.
Linda.
Minha.
A sensação de possessividade não é nova.
Mesmo todos os meus casos sendo curtos e efêmeros. Eu gosto de
sentir que elas são minhas, pelo menos naquele curto espaço de tempo em
que estão sob meu domínio. Porém, assim que eu me satisfaço — e as
satisfaço também — a sensação passa.
E eu só quero que elas desapareçam da minha frente.
Costumo ser minimamente cordial e educado na despedida, porém
firme e sincero em deixar claro que acabou.
Se elas insistirem em querer ficar, ainda mais com aquela melação
romântica que acho insuportável, eu posso perder a paciência e ser um tanto
ríspido para me fazer entender.
Mas certamente Emma Jones não se encaixa no padrão.
Talvez por ser a primeira vez que ela transe com um homem. Não
sou conhecido por ser gentil, mas domino a habilidade de me adaptar a
novas situações quando preciso. Possivelmente é isso que está acontecendo
com Emma Jones.
— Preciso perguntar se está bem? — indago estudando seu rosto.
— Acho que nunca estive tão bem... — Ela levanta a mão e acaricia
meus cabelos, passando os braços à minha volta em seguida.
O gesto — comum na maioria das mulheres depois de uma foda —
como sempre me irrita e eu me desvencilho, saindo da cama. Na verdade,
sinto-me mais irritado do que o habitual, com mais vontade de evitar aquele
tipo de intimidade.
Controle.
Eu preciso estar no controle.
— Ótimo.
Vou para seu banheiro e retiro o preservativo e enquanto lavo
minhas mãos, planejo o que vou fazer com a Senhorita Jones.
O sexo foi incrível.
Eu já devia saber que seria, embora não desse para prever, sendo a
primeira vez da Senhorita Jones com um homem, se já começaríamos tão
bem.
Mas aparentemente fomos mais do que bem.
Eu mal posso esperar para vê-la algemada e se contorcendo na
minha cama. Sinto-me excitado novamente ao imaginar todas as
possibilidades de prazer que teremos.
Talvez eu deva pedir para ela se vestir e levá-la agora para casa, mas
sei que não é aconselhável.
Primeiro que ela estaria dolorida, talvez até por alguns dias e
sinceramente minha dose de delicadeza está se esgotando.
Minhas mãos já estão coçando para se apossarem da Senhorita
Jones.
Mas eu posso esperar. A recompensa vai valer a pena.
Volto para o quarto, e começo a me vestir, sem olhar pra ela.
— Vai embora? — Seu tom é surpreso e queixoso.
— Eu nem deveria estar aqui, Senhorita Jones.
E é verdade. Eu lhe disse quando a trouxe que ela teria que esperar,
mas perdi a luta contra o desejo e me vi batendo à sua porta.
Merda. Não gosto disso.
Pego o celular e digito uma mensagem para Ethan, informando que
estou pronto para ir embora.
— Eu queria que ficasse.
Eu finalmente olho pra ela.
Está sentada na cama, os cabelos despenteados, segurando um
travesseiro contra o corpo nu.
Minha.
Surpreendo-me com a onda de possessividade que invade minha
mente de novo.
Certo. A Senhorita Jones vai durar um pouco mais. Na verdade, eu
nem comecei com ela.
Mas certamente, uma hora vou me cansar como todas as vezes.
E eu me certificarei de deixar minha marca nela. Eu a ensinarei a se
submeter e obedecer. A receber e dar prazer.
Ela aprenderá que dor e prazer andam lado a lado.
E que nos meus jogos, sou eu que determino as regras.
— Tenho mais uma lição para você, Senhorita Jones. — Eu me
aproximo e seguro seu rosto. — Sou sempre eu quem dita as regras.
— Tenho que concordar com elas?
Hum. Ela está me provocando. Talvez já esteja pronta para punição,
afinal.
A impertinência da Senhorita Jones é perfeita para minha mão.
— Lembre-se que foi você que pediu para eu mostrar. — Minha
mão envolve sua nuca.
— Então vamos continuar com isso?
— Pode ter certeza que sim. — Aperto meus lábios contra os seus
com força por um momento e depois a solto. — Ainda nem comecei com
você, Senhorita Jones. — Eu sorrio e me afasto, abrindo a porta.
— Emma, me chame de Emma.
Ainda escuto-a dizer.
Ah, Emma, não me dê ordens.
Ethan está sorrindo de forma maliciosa quando entro no carro.
— Devo entender que veremos a Senhorita Jones novamente?
Eu não consigo evitar um sorriso. Ainda sinto o cheiro dela em
mim.
Inocência e impertinência.
Até que era uma combinação bem estimulante.
Sinto-me energizado agora. Ansioso para as possibilidades.
— Sim, veremos — respondo pegando o celular.
Mais cedo do que Ethan imagina.
“Hoje à noite. Na minha casa. Ethan irá buscá-la.”, digito.
Foda-se que é cedo.
Eu já sinto o desejo me impulsionando de novo.
Uma vez foi pouco.
Que os jogos comecem.

**

— A Senhorita Jones não ficou feliz de jantar sozinha — Ethan


comenta quando entramos no elevador naquela noite.
Eu tinha pedido que ele buscasse Emma e instruísse Eric para que
lhe servisse o jantar enquanto estaria em um jantar de negócios com Félix
Firestone.
Nem me passou pela cabeça desmarcar. Eu jamais deixava o prazer
vir antes dos negócios. E seria bom para a Senhorita Jones aprender sobre
espera e paciência. E também aproveitei para comunicar a Félix que o flerte
com Emma terminava ali, pois ela estava comigo agora.
Felix me surpreendeu dizendo que desconfiava que houvesse algo
mais entre nós no fatídico almoço. E ainda ousou me provocar garantindo
que enquanto Emma estivesse comigo ele não a seduziria, mas que em
breve, ela estaria livre, afinal, meus casos nunca duravam muito.
Eu queria refutar que Emma nunca estaria disponível para ele, mas
aquele pensamento me desconcertou.
Claro que Emma seria livre em algum momento, quando eu me
cansasse de jogar com ela. Porém, pensar em outros homens usufruindo de
tudo o que eu lhe ensinaria me irritou pra cacete.
— Por que sinto um tom de censura na sua voz? — indago a Ethan e
ele ri.
— Não estou censurando nada. Mas já deve ter percebido que
Emma é diferente.
— Diferente em que sentido?
— Você deve saber, mas não quer admitir. Boa noite.
O elevador para em seu andar e ele sai antes que eu possa perguntar
o que ele quer dizer.
Sim, talvez Emma seja diferente, porque era virgem antes de mim,
mas agora já não era mais. Questão resolvida.
Agora ela será apenas mais uma mulher à minha disposição pelo
tempo que eu quiser.
Entro no apartamento e sou surpreendido por risadas vindas da
cozinha.
Avanço naquela direção, intrigado e paro, surpreso, ao ver Emma e
Eric lavando a louça.
— Que diabos está acontecendo aqui?
— Liam! — Ela se vira e sorri.
— Você estava lavando a louça?
Ela enxuga as mãos no pano de prato que Eric lhe passa.
— Sim, achei justo, já que Eric fez o jantar.
Eu nunca precisei dar qualquer bronca em Eric. Ele tinha uma
disciplina oriental que combinava com minhas exigências.
Mas que merda ele estava pensando em colocar Emma para lavar
louça?
— Eu disse a ela que não precisava, porém a Senhorita Jones parece
ser um tanto teimosa — Eric esclarece divertido.
Claro. Só podia mesmo ser ideia de Emma Jones, para ser tão
absurda.
— Sim, ela é. Eric, você pode ir.
Eric faz uma mesura discreta e sai da cozinha, nos deixando a sós.
— Por favor, não fique bravo com ele. Fui eu que pedi para ajudá-
lo... — explica enquanto caminha em minha direção.
— Não estou bravo com ele, Senhorita Jones. Estou bravo com
você.
Ela interrompe os passos, um tanto alarmada. Sim, tenha medo,
Senhorita Jones.
Meus dedos começam a coçar quando além do medo, eu vejo
também uma fagulha de excitação em seu rosto corado.
— Vai me punir? — pergunta num fio de voz.
Ah, sim. A fera fica alerta.
— Me espere no meu quarto, Senhorita Jones.
Vou até o escritório e como eu tinha instruído a caixa estava lá me
aguardando. Quando estávamos voltando ao escritório hoje à tarde, pedi a
Ethan que me levasse até uma loja da Quinta Avenida. Queria comprar um
presente para a Senhorita Jones.
Eu pego a caixa e rumo para o quarto.
Passo por ela, que parece deslocada e hesitante, esperando suas
instruções e coloco a caixa sobre a cadeira.
— É pra você.
Ela arregala os olhos, surpresa, enquanto retiro a gravata.
— Um presente?
— Eu adivinhei que viria com essas suas roupas mundanas.
— Roupas mundanas? Eu achei que não teria a menor importância a
roupa que eu usasse, já que você iria tirá-la. E eu gosto das minhas roupas e
odeio presentes.
— Está realmente me desafiando, Senhorita Jones? — Levanto a
sobrancelha.
— É só... Estou sendo sincera. Não quero que fique me dando
presentes. Não estou aqui por esse motivo.
Franzo o olhar, surpreso. Ela está mesmo dizendo que não quer uma
roupa de grife cara de presente?
— Você é a criatura mais estranha que eu já conheci, Senhorita
Jones. — Eu me inclino e tiro o bonito laço cor de rosa da caixa.
— Isso é algo bom ou ruim?
— Ainda estou avaliando. Me dê suas mãos.
— O quê?
— As mãos, Senhorita Jones — insisto impaciente e ela estende as
mãos. Eu uso o laço para amarrar seus pulsos juntos.
Emma parece surpresa quando fita meus olhos.
— Você é tipo um... um...
— Pergunte, Senhorita Jones.
— Eu não entendo muito do assunto, mas como você vive dizendo
que quer me punir, que gosta de bater em mulheres, é maníaco por controle
e agora está me amarrando, por acaso você é o que chamam de Dominador?
E isso faria de mim uma espécie de submissa ou algo parecido?
— Quer saber se eu sou um praticante de BDSM?
— Basicamente.
— Eu gosto de jogos, Senhorita Jones. Gosto de ver a dor se
misturar ao prazer. Não tem noção de como um está próximo ao outro.
Gosto de testar esses limites. Gosto de estar no controle. E sim, eu estive
envolvido no mundo BDSM por um tempo, mas não estou mais. Então não,
não sou um dominador.
Red tinha deixado bem claro que eu não me encaixava no perfil.
Mas quem se importa?
Odeio rótulos. Estou além deles.
Eu faço minhas próprias regras.
— Por que não está mais?
— Eu não sou bom com regras. — Eu a brindo com um sorriso
astuto.
— Devo me preocupar ou ficar aliviada?
— Vá para a cama. E irá descobrir.
Ela obedece, sentando-se.
Toco seu rosto, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
Inclino-me até que meus lábios toquem sua bochecha corada até seu
ouvido.
— Quando se trata de sexo, Senhorita Jones, eu faço minhas
próprias regras.
Ela arfa.
Ah sim. Ela está começando a entender.
— Deite-se.
Eu a empurro gentilmente pelos ombros a fazendo deitar no centro
da cama, jogando seus braços para cima da cabeça e afasto-me para meu
closet.
Retiro a camisa e abro meu armário.
Tenho uma coleção de apetrechos sexuais e de dominação e mal
posso esperar para usar boa parte deles na Senhorita Jones. Porém, talvez
hoje não seja o momento. Ainda.
Quando volto ao quarto, com uma tesoura e a gravata, ela parece
assustada e cerra os olhos com força.
Não é este tipo de medo que eu quero.
— Abra os olhos, Emma! — Saio um pouco do roteiro a chamando
pelo nome.
Ela me encara, ainda apreensiva.
Sento na cama e me inclino em sua direção.
— Eu não vou te machucar, confia em mim?
Ela não responde. Seu peito sobe e desce em expectativa enquanto
hesita.
Isso me deixa frustrado.
— Emma? Quer ir embora? Basta uma palavra e eu desamarro você
e nunca mais precisamos nos ver.
Por um momento, ela pondera minhas palavras e meu coração para
de bater esperando sua resposta.
O que eu vou fazer se ela quiser ir embora?
Não posso impedi-la se tiver desistido do jogo que lhe propus.
Ou melhor, do que ela praticamente exigiu que eu lhe propusesse.
— Não, eu não quero ir embora — responde por fim, para meu
alívio e abro um sorriso satisfeito.
Ainda não estou preparado para abrir mão de Emma Jones.
— Vou perguntar de novo. Confia em mim?
Ela sacode a cabeça em afirmativa e eu a vendo com a gravata.
— Não se mexa — aviso e começo a cortar suas roupas quase com
precisão cirúrgica.
Eu estava ansioso para fazer isso desde que a despi no meu
escritório. Livrá-la daquela monstruosidade barata.
Emma Jones é linda e merece ser coberta dos mais soberbos e caros
tecidos. Talvez algumas joias.
Sim, eu posso providenciar isso.
Ela se mexe, tentando perceber o que estou fazendo.
— Eu mandei não se mexer. Não gostaria de cortar esta sua pele
branca e perfeita, Senhorita Jones.
Ela finalmente aquieta e continuo meu trabalho, adorando ver sua
pele perfeita surgindo finalmente.
— Você tem seios lindos.
Eu me inclino e sopro seu mamilo, notando-a se arrepiar e deposito
um beijo quase casto sobre ele, apreciando o gemido baixo que escapa de
sua garganta enquanto ela serpenteia o corpo e sem resistir eu a mordo e
ela grita de dor.
— Não mandei se mexer.
Começo a cortar seu jeans. Retiro seu tênis e meia e, por fim, levo a
tesoura a sua calcinha.
Emma Jones está nua, amarrada e vendada a minha disposição.
E eu estou excitado e louco para mergulhar nela de novo. Mas não
ainda.
Não hoje, na verdade. Respiro fundo, controlando meus desejos.
Hoje, o jogo é para a Senhorita Jones.
Ela terá um aperitivo do que vai ganhar em minha cama.
Sob meu domínio.
Eu me afasto e retiro minhas roupas e subo no colchão, ajoelhando
sobre ela.
— Não sabe como fica deslumbrante assim. Nua e amarrada na
minha cama.
Ela serpenteia o corpo inquieta e pouso a mão em sua barriga, a
segurando no lugar.
Ela começa a arquejar.
— Não se mova. Respire. Devagar.
Eu a observo tentar controlar a respiração.
Está perdida na escuridão e isso a deixa ansiosa e confusa.
Ainda não sabe que pode confiar em mim. Que eu tenho o controle
sobre ela, quando está assim, privada de alguns sentidos.
— O que está esperando? — questiona impaciente.
— O que eu te falei sobre paciência?
Eu me abaixo lambendo sua barriga, tão lentamente que seu ventre
ondula em tremores. E aspiro o cheiro de sua excitação.
Meu pau está pulsando e eu me acaricio para acalmá-lo.
— O que acha que vai acontecer agora?
— Você disse que ia me punir — ela sussurra.
E eu abro um sorriso. Sim, amaria deixar algumas marcas em sua
pele imaculada.
— Eu disse? Sim, eu deveria. Você é tão impertinente. — Meus
lábios tocam seu estômago, subindo por seu pescoço. — E teimosa e...
insolente. — Respiro em seus lábios. — Eu tenho vontade de bater em você
desde que tropeçou em mim naquele saguão.
Roço meus lábios nos seus. Ela arqueia o corpo com um gemido
angustiado e ansioso que me deixa mais duro ainda.
— Não. — Eu a encho de beijos curtos. — Se. Mexa. De novo.
Deslizo meus lábios por seu rosto.
— Você cheira tão bem. — Enterro o rosto em seu pescoço,
aspirando. — Quero cheirá-la inteira... Como cocaína... — Mordo sua
orelha e me movo para baixo de novo, com meus lábios e língua a provando
e provocando, até que ela esteja trêmula e fraca em expectativa.
— Ah, por favor... — suplica.
Então separo suas coxas e mergulho entre elas, aspirando seu cheiro
único.
— Isso... Implore. — Assopro seu clitóris. E por um momento é só
o que eu faço. Respiro nela.
Olho pra cima, ela ofega e treme.
— Por favor... — implora num gemido rouco, tentando se mover,
mas eu seguro suas coxas com força. — Por favor...
Sorrio e a acaricio com minha língua.
Eu sabia que ela seria perfeita implorando.
— Diga meu nome... — peço, entre lambidas.
— Liam...
— De novo... — Arrasto os dentes devagar.
— Oh Deus, Liam... — Sua voz é só um sussurro ofegante.
E lhe dou um chupão com mais força. Ela se arqueia inteira,
gemendo alto. Todo seu corpo vibra enquanto prossigo com minhas
investidas, e não paro até que ela goze contra minha língua. E ainda
continuo ali, absorvendo seus tremores com beijos delicados, até que sua
respiração vai se acalmando e seu corpo relaxando.
— É isso que chama de punição? — indaga me fazendo rir.
Retiro a gravata dos seus olhos e ela pisca se acostumando à luz
fraca do quarto novamente.
— Este foi somente um aquecimento, Senhorita Jones. — Retiro a
fita do seu pulso, massageando a pele sem circulação.
— Não sei se entendi.
— Tudo tem o seu tempo.
Ela abre um sorriso satisfeito com algo que falei.
— Você vai fazer amor comigo agora?
— Não hoje. — Eu a solto, ignorando minha ereção ainda
insatisfeita.
— Mas... Você disse que foi apenas um aquecimento, eu pensei...
Sem aviso, eu a jogo de costas na cama de novo, com uma mão
seguro seus pulsos acima da cabeça e com a outra desço até o meio das suas
coxas, introduzindo dois dedos nela.
Ela geme, surpresa com a dor.
— Não vou foder com você hoje porque ainda está sensível —
afasto meus dedos e saio da cama.
— Então... o que acontece agora? — Ela se senta em meio aos
tecidos picados do que foi a sua roupa.
— Vou tomar um banho. Você pode se vestir, que eu chamarei Ethan
para te levar.
— Vestir o quê? Você picotou minhas roupas, Liam mãos de
tesoura! — Joga para cima os tecidos picotados.
— Eu lhe trouxe uma roupa. — Aponto para a caixa, enquanto me
afasto para o banheiro.
Entro no boxe e ligo o chuveiro, levando a mão a minha ereção eu
começo a me masturbar. Preferia estar dentro da Senhorita Jones, mas como
eu lhe expliquei, hoje não seria possível.
E pra falar a verdade eu não gosto nada daquela vontade de não a
deixar ir. Mas ninguém dorme comigo. Não gosto que as mulheres
permaneçam perambulando pelo meu apartamento depois do sexo.
E Emma Jones não seria diferente.
De repente eu abro os olhos e ela está ali na minha frente.
E sem aviso, dá um passo em minha direção e cobre minha mão
com a sua, sobre meu pau.
— Deixe que eu faço... — fica na ponta dos pés até que sua boca
alcance meu ouvido — senhor.
Por um momento, não me mexo, surpreso. Porém, o desejo já está
além do meu domínio e retiro a mão deixando só a dela.
— Sabe como fazer, Senhorita Jones?
Ela me encara, mordendo os lábios.
— Me ensine...
Cubro sua mão com a minha e lhe ensino o ritmo. Nossos olhos não
se desgrudam, nem mesmo quando sinto o prazer crescer de forma violenta,
enquanto a obrigo a aumentar o ritmo, começando a arquejar. Enfio os
dedos em seus cabelos, puxando. Machucando. Ela não se importa. Meus
dentes encontram seus lábios, mordem, beijam e ela geme comigo.
— Mais rápido — ordeno bruscamente e ela acelera. Encosto a testa
na sua, meu corpo tensionando. — Porra, Emma! — Solto um grunhido e
gozo forte em sua mão.
Ficamos ali, trêmulos e ofegantes, até que consigo respirar
normalmente e pego sua mão levando-a para debaixo do chuveiro para que
a água lavasse os resquícios de meu gozo. Ela fica me olhando meio
fascinada.
Que diabos?...
Ainda estou meio aturdido por seu ataque sorrateiro.
— Estou encrencada? — indaga baixinho.
— Acha que está?
— Não sei. Não é você quem dita as regras?
— Você é uma criatura muito absurda, Senhorita Jones.
— Isso é bom ou ruim?
Sim, qual meu veredicto?
Por enquanto eu sei que deveria estar bravo porque não lhe dei
nenhuma ordem para entrar ali, mas a verdade é que estou com vontade de
rir de sua desobediência.
— Ainda não me decidi.
Saímos do chuveiro e enquanto me enxugo ela fica ali, agarrada à
toalha, hesitante.
— Enxugue-se e se vista — peço, antes de sair do banheiro.
Porém, ao chegar ao quarto, meus olhos percorrem, estarrecido, o
tecido picotado no chão.
Emma picotou o vestido que eu lhe dei?
Que merda é aquela?
— Que diabos significa isso?
Emma entra no quarto, segurando a toalha em frente ao corpo.
Eu a encaro, horrorizado.
— Você fez isso?!
— É... sim.
— Por que demônios faria algo assim?
Ela dá ombros, muito vermelha.
— Você cortou minhas roupas também...
— Por isso cortou o vestido? É algum tipo de revide?
— Não, eu... só... É só um maldito vestido e não vi você ter a
mesma consideração com minhas roupas! — dardeja em desafio.
Puta. Que. Pariu.
Quão absurdo aquilo era?
Quem em sã consciência picota um vestido Gucci que acabou de
ganhar?
Eu a estudo, ainda perplexo.
Ela queria me enfurecer?
Ah, sim.
Ela queria, entendo afinal.
Ela está me desafiando. Chamando minha atenção.
Isso me irrita. E me excita.
Muito bem. A Senhorita Jones tem minha atenção.
— Está me provocando, Senhorita Jones? Está tão ansiosa por sua
punição que quis me irritar?
— Não, eu...
— Certo. Eu estava sendo paciente com você. Esperando que se
acostumasse ao jogo. Você está passando do limite. E eu não gosto que
passem dos limites comigo, Senhorita Jones. Não nos meus jogos. Nos
meus jogos ninguém quebra as regras a não ser eu.
Eu me sento sobre a cadeira do quarto.
— Venha aqui!
Ela hesita por alguns segundos, mas vem em minha direção,
parando na minha frente. Arranco a toalha com um movimento rápido do
seu corpo. Ela solta um gritinho de susto e eu a puxo, a colocando deitada
atravessada em meu colo.
Meus dedos acariciam sua bunda nua.
— Eu vou te bater, Senhorita Jones. Apenas para que saiba que não
gosto de ser provocado.
— Ai! — Ela geme com o primeiro tapa, mas eu continuo. Não
estou batendo forte, é apenas uma surra de aquecimento.
— Porra, isso dói — reclama depois de alguns tapas e eu tenho
vontade de rir.
A Senhorita Jones não tinha visto nada ainda.
E então, eu acho que basta e acaricio sua pele vermelha.
— Está vermelha. Sua pele é sensível.
Desço os dedos para o meio de suas pernas e ela geme quando eu
acaricio sua boceta molhada.
Sim, porra.
Ela tinha ficado excitada com meus tapas.
Dor e prazer.
Isso é só o começo, Senhorita Jones.
Com um movimento ágil, eu a coloco sentada em meu colo, de
frente para mim, e afasto com cuidado os fios de cabelo do seu rosto.
— O que está sentindo? — Estudo sua expressão. Tento ver ali
algum medo. Ou repulsa.
Mas ela franze a testa, confusa.
— Dor? — Levanta a sobrancelha com ironia.
— Não pode estar doendo tanto. Foram somente cinco tapas, Emma.
— Não pode saber o que eu sinto!
— Por isso perguntei.
— E eu estou respondendo!
Desço as mãos e acaricio de novo suas nádegas.
— Cinco tapas com minha mão não são nada.
Ela fica me olhando, um tanto confusa.
Claro que ela está confusa. Tudo isso é novo para ela.
Tanto o prazer quanto à dor.
— Por que picotou o vestido?
— Porque eu não queria que me mandasse embora.
— Está falando sério?
Ela sacode a cabeça em afirmativa.
Sua confissão me pega de surpresa, imaginei que fosse algo em
desafio, claro, mas não que ela tenha chegado a tanto apenas para eu não a
mandar embora.
Embora não fizesse muito sentido.
Mas estou descobrindo que Emma Jones não é lá muito coerente em
suas decisões.
Afinal, ela tinha corrido atrás de mim, quando deveria se afastar
correndo.
E está aqui comigo. Submetendo-se a mim.
Com um gemido de satisfação, eu a beijo devagar, saboreando seu
gosto e depois a pego no colo e a coloco na cama.
— Não vou mais embora? — Boceja sonolenta.
— Não, não vai.
— Aonde vai? — indaga quando me afasto.
— Apenas durma, Senhorita Jones.
Apago a luz e saio do quarto. Visto uma calça de pijama e quando
volto, Emma está ressonando profundamente.
Eu poderia ir para meu escritório trabalhar, mas em vez disso, me
deito ao seu lado.
A Senhorita Jones teve uma pequena vitória esta noite. Tudo bem,
eu posso permitir que ela fique. Apenas hoje.
Na verdade, enquanto a observo dormir, percebo que gosto de saber
que ela está ali, em algum lugar perto. Ao meu alcance.
Ao meu dispor.

Eu acordo suando e sem ar.


Sento-me na cama, arfante, meus olhos confusos percorrendo o
quarto na penumbra. Meu quarto. Meu apartamento em Upper East Side. E
não um cafofo malcheiroso que eu dividia com outras crianças na casa do
Pastor Sloan.
Mesmo assim, eu me sentia sozinho, principalmente depois de
algum pesadelo. Eu sempre me sentia sozinho.
Convenci a mim mesmo que não me importava com a solidão. Ela
me tornava mais forte. E era eu contra o mundo e todos aqueles lares
fedorentos pelos quais passei. Por um breve período encontrei em Ethan um
igual, outra criança perdida, mas ele foi tirado de mim. Na casa dos Hunter,
havia acolhimento, certa paz que eu não via há muito tempo e sentia que
eles também queriam me dar algum tipo de afeto. Aceitei ser acolhido, mas
rejeitei qualquer tentativa de afeição.
Eu achava que não tinha medo de nada, mas a verdade é que tinha
pavor de depender da afeição de alguém.
Ethan era como eu, embora lidasse de forma mais leve com toda
essa merda de perda e solidão. Ele sabia os meus limites e se mantinha nele.
Agora, enquanto luto para voltar ao presente, para esquecer as
atrocidades que o pesadelo me trazia, me surpreendo ao perceber que não
estou sozinho.
Emma está dormindo ao meu lado.
Ela se mexe, balbuciando coisas sem sentido em seu sonho,
revirando as cobertas. Eu a cubro, sentindo que está gelada. Sem pensar,
aproximo meu corpo do seu e ela se move em minha direção em seu sono.
Em outras circunstâncias, talvez me sentisse incomodado, até mesmo
irritado, mas ainda estou tremendo e com frio, ainda não me sinto ali,
seguro em minha cobertura rica no topo do mundo. Talvez por isso, deixe
que meus braços a envolvam, a trazendo para mais perto, nossos corpos se
moldando facilmente. Naturalmente.
Fecho os olhos. Escuto seu ressoar tranquilo e minha respiração vai
voltando ao normal e pouco a pouco meu coração se acalma.
Eu volto a ser Liam Hunter. O Leão de Wall Street.
Mas mesmo assim, eu não a solto. Ao contrário, eu a prendo ainda
mais.
Merda.
Não quero mais soltar.

Eu acordo ainda grudado em Emma Jones.


E agora, à luz do dia, sinto-me um tanto irritado com isso. Eu me
desvencilho e saio da cama.
Ela não acorda.
Pego o celular, e digito ordens para Ethan e para Sarah, uma das
minhas funcionárias, para que ela venha me encontrar ali, antes de irmos
para o escritório. Sei que ainda é cedo, mas não gosto de perder tempo.
Entro no chuveiro, tirando o cheiro de Emma Jones da minha pele.
E percebo que estou irritado porque gostei de dormir com ela.
É algo inédito para mim. Mesmo com Vanessa, que morou comigo,
eu raramente dormia a noite inteira com ela. Vanessa não se importava, ela
gostava do seu sono da beleza e detestava quando eu a acordava em meio a
um pesadelo.
Mas Emma Jones tinha me convencido a deixá-la ficar e ainda,
mesmo sem perceber, acalmou meu sono.
E quão tentador é deixar que ela fique mais?
Quando volto para o quarto passo por cima do vestido picotado, me
lembrando de sua atitude temerária. Pego o celular e enquanto me visto ligo
para a gerente da loja e peço que mande outro vestido igual. Se ela
estranhou que eu ligasse àquela hora, não comentou.
Sarah chega meia hora depois e nos sentamos na minha sala
enquanto lhe passo algumas instruções.
Ela me lança olhares estranhos.
— Algum problema? — indago impaciente.
— Não, só que... parece mais irritado do que o habitual. — Ela sorri.
Sarah trabalha comigo há muito anos. Eu aprecio muito seu trabalho
e ela era uma das poucas pessoas que tinha certa liberdade comigo.
— Talvez porque você ficou duas semanas de férias, eu acho que foi
muito.
— Liam, fazia dois anos que eu não tirava férias. Você pode ser
viciado em trabalho, mas as pessoas normais precisam descansar de vez em
quando.
— Bobagem — resmungo notando o anel brilhando em seu dedo e
levanto a sobrancelha. — Você ficou noiva.
Ela sorri.
— Sim, Peter fez o pedido em um lindo jantar em Barbados.
Sarah namora Peter, um corretor da Hunter Enterprises há uns três
anos.
— Espero que não pense em largar o trabalho para se casar.
— Claro que não. Mulheres podem trabalhar e serem casadas. Até
serem mães, Liam.
— Quer ser mãe?
Sarah é jovem, mas sempre foi muito eficiente. Não consigo
imaginá-la sendo mãe.
— Sim, ainda vai demorar alguns anos, não se preocupe.
— E como vai sua mãe?
A mãe de Sarah teve um câncer raro há mais ou menos um ano.
— Ela está bem agora. Graças a você.
— Graças aos médicos.
— Mas você quem pagou os médicos. Vou ser grata pra sempre,
Liam.
— É para isso que serve o dinheiro. Agora vamos ganhar mais —
rebato impaciente e começo a lhe ditar ordens, até que escuto passos e
levanto o olhar para ver Emma Jones parada na porta da sala.
Ela veste uma camiseta minha.
Por um momento, enquanto trabalhava com Sarah, me esqueci da
presença dela ali.
— Me desculpe. — Ela enrubesce. — Não queria atrapalhar, eu...
Vou procurar alguma coisa pra comer... — E se afasta rapidamente na
direção da cozinha.
Quando volto o olhar para Sarah, ela parece surpresa.
Sarah já esteve em meu apartamento muitas vezes, mas certamente
ela nunca viu uma mulher ali.
— Essa é Emma Jones — explico. — Agora vamos continuar.
Percebo que Sarah está curiosa, mas sabe quando não deve fazer
perguntas.
Continuamos o trabalho até que de repente escuto uma música
ensurdecedora invadir o ambiente.
— Puta que pariu — sibilo.
Emma Jones está mexendo no meu sistema de som.
A intrometida.
Sarah contém um riso.
— Por favor, vá desligar isso — resmungo.
— Claro.
Ela se levanta e vai para a cozinha e em alguns segundos, a música
parou.
Ela retorna, ainda com um olhar divertido.
— Sua namorada está com ciúme de mim.
— O quê? — Franzo o olhar, confuso.
— Eu lhe expliquei que sou só sua funcionária.
Que inferno?
Emma Jones estava intimidando uma das minhas assistentes?
— Então tem uma namorada, agora?
— Ela não é minha namorada — eu a interrompo. — E limite-se a
seu trabalho, Sarah.
— Claro. — Ela não faz mais perguntas, mas percebo que ainda tem
um sorriso divertido nos lábios.
Algum tempo depois, dispenso Sarah e Ethan entra na sala,
segurando uma caixa.
— Entregaram pra você.
— Ah sim, é um vestido para a Senhorita Jones.
Eu pego a caixa e levo para o quarto.
— Vamos? — Ethan indaga quando volto.
— Precisamos levar Emma Jones embora. — Eu me encaminho
para a cozinha e Emma está sentada na bancada com uma xícara de café nas
mãos e o semblante pensativo.
A cozinha recende a bolo ou algo assim.
Emma assou alguma coisa?
— Parece preocupada.
— Na verdade, estou preocupada com minhas roupas. Ou a falta
delas.
Só depois de falar é que ela parece notar a presença de Ethan e fica
vermelha feito pimentão.
— Ethan lhe trouxe roupas — respondo.
— Ah... Obrigada, Ethan. — Ela sorri ainda vermelha. — E eu
preparei o café. Fiz muffins — anuncia bem orgulhosa e noto a bandeja
cheia de muffins na bancada.
Puta. Que. Pariu.
— Eu disse que não como de manhã. — Eu me obrigo a me manter
impassível.
— Tudo bem. — Sem perder o sorriso, ela pega um saquinho e
coloca diante de mim. Eu o pego, aturdido. — Fiz um lanche pra você levar
para o trabalho. E este é para o Ethan — completa apontando para o outro
pacote. — Vou me arrumar para não atrasar vocês...
Ela se afasta e quando olho pra Ethan, ele já tem um muffin inteiro
dentro da boca.
— Bom pra cacete.

— Sabia que este vestido ficaria incrível em você.


Eu a admiro quando entra na sala usando o Gucci.
— Sim, é um vestido bonito. Até me sinto meio mal por ter picotado
o outro.
— Não parecia arrependida ontem.
Eu avanço até parar a sua frente, mantenho as mãos nos bolsos do
terno enquanto descanso meu olhar em seu rosto bonito.
Estou com raiva da Senhorita Jones.
Estou me sentindo acuado e perdendo o controle que não admito
perder.
Há algo nela que me atrai, ainda não sei se é sua submissão cheia de
impertinência e desafio. Como se dissesse “sim, tome o que quiser, mas eu
vou tomar de você coisas que nem faz ideia, quando menos esperar.”.
Será que ela tem noção disso?
Sei que ela sente a mesma atração, o mesmo desejo, não pode evitar.
Emma Jones não mede consequências e isso pode ser o seu fim.
Ou o meu.
— Podemos ir? — Ela limpa a garganta, desviando o olhar.
— Sim — respondo friamente e seguimos para o elevador.
Estou levando um saquinho de muffin.

— Sarah parece ser uma funcionária eficiente — ela comenta depois


de alguns minutos no carro.
Estou distraído já enviando alguns e-mails no celular.
— Todos os meus funcionários são eficientes.
— Ela me ajudou com o som. Disse que já passou pela mesma
situação.
— Quer dizer alguma coisa com isso? — Eu a encaro, lembrando
que Sarah disse que Emma a intimidou.
— Não, claro que não. — Ela dá de ombros, desviando o olhar. —
Há quanto tempo conhece o Ethan? — pergunta depois de mais alguns
minutos de silêncio em que volto à atenção para o celular. A divisória entre
o motorista e o passageiro está levantada.
— Muito tempo.
— Muito tempo, quanto?
— Desde quando éramos adolescentes.
— Antes dos Hunter?
— Sim, antes dos Hunter.
— Ah... É realmente muito tempo...
O carro para em frente a seu prédio.
— O que acontece agora? — ela indaga insegura.
Sim. É uma boa pergunta.
Todos meus instintos de defesa gritam para correr em direção
contrária, mas sei que não farei isso.
Eu ainda quero jogar com Emma Jones.
Só preciso deixar claro quem manda naquele jogo.
— Vai me ligar?
— Sim, eu entrarei em contato.
Ethan abre a porta.
— E se eu quiser te ligar? — desafia.
Inferno, ela não vai me dar trégua.
Toco seu rosto, sua expressão se suaviza e ela fecha os olhos,
apreciando meu toque. Eu me inclino e a beijo. Um beijo breve, porém
intenso.
— O que eu disse sobre regras, Senhorita Jones?
Ela sorri quando eu a solto.
E percebo que parece aliviada. Ela sacou minha hesitação. O quão
perto estava de eu dispensá-la quando nós apenas começamos.
A merda é que estou aliviado também.
Porém, Emma não precisa saber.

Uma semana depois eu me surpreendo ao vê-la tomando um lugar


entre os jornalistas que acompanham a coletiva de imprensa.
Ela sabia que eu estaria ali?
De repente me sinto sendo perseguido por Emma Jones.
Embora ela tenha se mantido em minhas regras e não tentou entrar
em contato uma única vez naquela semana.
Ethan me perguntou todos os dias quando seria designado para
buscar a Senhorita Jones de novo e sempre me lançando um olhar de
deboche quando eu lhe dizia para cuidar de sua própria vida.
— Eu achei que gostasse dela. — Ele ria.
— Agora você fala como se estivéssemos na quinta série. Emma é
só uma mulher com quem estou jogando. Sou eu quem dita quando e onde.
— Claro, Senhor Hunter. Vá acreditando nisso.
— O que quer dizer?
— Nada. Mas Emma é uma garota bonita. E muito esperta. Talvez
ela não esteja disposta a aguentar seus desmandos. Se demorar muito para
entrar em contato, pode ter pedido o posto.
— Vá se foder! — eu resmungava irritado.
A verdade era que eu estava ansioso para ter Emma Jones sob meu
domínio de novo, mas algo nela me apavorava.
E eu só queria ter certeza de que eu ainda estava no controle. E
deixar Emma esperando para quando eu bem entendesse me dava poder.
Agora ela fixa o olhar raivoso em mim e percebo que talvez Ethan
tenha razão.
Emma pode não estar curtindo tanto os meus desmandos como eu
gostaria.
De repente, um cara ao seu lado lhe indaga algo e ela desvia o olhar,
se inclinando para sussurrar algo no ouvido dele. Eu reconheço que é Matt
Thomas, o chefe de Emma no jornal.
Mas que merda é aquela?
Matt está corado feito um colegial agora, pela atenção de Emma. E
ela está sorrindo em desafio para mim.
— E esta aquisição alinha-se aos planos como um de seus pilares
estratégicos de crescimento — concluo meu raciocínio quando noto um
pigarrear a minha frente. — Estou aberto a perguntas.
Escuto alguns murmúrios confusos.
Certamente eles não esperavam que eu acabasse minha explanação
tão cedo, mas a única coisa que eu quero agora é arrastar Emma Jones dali e
lhe dar uma lição.
Meus dedos começam a coçar.
Um monte de gente levanta a mão, inclusive a tal Erica, que está ao
lado de Emma também.
Eu respondo a algumas perguntas bobas sobre mercado financeiro e
me inclino para meu RP, pedindo que encerre tudo.
— Uma última pergunta — ele diz e me surpreendo ao ver Emma
Jones levantar o braço.
— Senhorita Jones... — Eu lhe dou a vez.
Ela se levanta.
— Senhor Hunter, o que o senhor diria se estivesse interessado em
um investimento e, por um motivo qualquer, o senhor recuasse e o
perdesse?
Ah sim. Ela está brava.
— Eu nunca perco um investimento. Eu escolho a hora de
abandoná-los e não o contrário, Senhorita Jones — respondo friamente e
tenho certeza que ela entendeu o que quis dizer.
— Isso só seria possível se o investimento ainda estivesse
disponível, não concorda? De qualquer forma obrigada pela resposta,
Senhor Hunter. — Ela se senta e todos murmuram sem entender.
O que ela quis dizer?
Que não está mais disponível pra mim?
Ah, ela não ousaria.
O diretor dá a palestra por encerrada e um bando de jornalistas cerca
o palco para ter a chance de falar comigo.
Eu lanço um olhar para Ethan que está na porta, gesticulando em
direção a Emma Jones, que agora está pedindo licença e se afastando.
Consigo me livrar dos repórteres e sigo para a saída.
Ethan está em frente ao carro.
— Ela está aqui. — Solta um risinho. — E está puta contigo. Eu te
disse.
— Cala a boca e dirige.
— Para onde?
— Vamos levar a Senhorita Jones na sua casa.
— Sério?
Entro no carro e encaro a Senhorita Jones. Ela sustenta meu olhar e
há uma miríade de emoções em sua íris escura.
— Explique-se — exijo quando o carro começa a deslizar pelas
ruas. A divisória entre nós e Ethan está fechada. — O que quis dizer lá
dentro?
Ela joga as mãos para cima, incrédula.
— Que merda você pensa que está fazendo? Sumiu por uma semana
e acha que eu é que devo alguma explicação?
— Eu não sumi.
— Não sumiu? Então chama o fato de não dar notícias por uma
semana inteira do quê?
— Eu te disse que as regras...
— Fodam-se as suas regras! — ela grita furiosa, me deixando
furioso também.
Emma Jones não vai falar assim comigo. Ela está nervosa sendo que
concordou com as minhas regras.
— Em que mundo você vive que este tipo de comportamento é
normal? — continua. — Acha mesmo que eu iria ficar a semana inteira
sofrendo ao lado do telefone esperando você ligar? — Ela cruza os braços
virando o rosto para o vidro, como uma criança magoada.
E algo se quebra dentro de mim quando eu entendo que o meu
sumiço a magoou.
Eu não deveria me importar. Mas me importo.
— E o que você fez nessa semana, Emma?
— Eu fiquei sofrendo ao lado do telefone, esperando você ligar —
confessa e com um grunhido eu a puxo para perto, embrenhando a mão em
seus cabelos e colidindo meus lábios com os seus.
E Emma me beija de volta com a mesma intensidade, não opondo
resistência quando eu a puxo para meu colo.
Deslizo as mãos por cima do vestido de verão que ela usa, a
puxando para mais perto. Apertando. Marcando.
Quero me apossar dela inteira. Aqui. Agora.
E Emma parece tomada pelo mesmo desejo incontrolável, enquanto
geme e devora meus beijos.
E eu adoro isso.
Adoro essa falta de controle em suas mãos, em seus lábios.
Ela para de me beijar e segura meu rosto, respirando pesado. Sinto-
me vacilar com o peso do desejo que reconheço em seu olhar transparente.
Ele diz sem necessidade de palavras que sentiu minha falta.
Porra. A constatação que eu senti o mesmo bate em mim como um
soco no estômago, sugando meu ar por um momento.
Não estou preparado para a onda de adrenalina que percorre meu
sangue e pulsa em meu peito.
Antes que eu consiga falar o que quer que seja, ela me beija mais
uma vez. Intensa e selvagemente.
Dane-se.
Puxo seu vestido para baixo e aperto seus seios desnudos.
Ela geme baixinho, lançando os quadris contra os meus enquanto
aperto seus mamilos entre os dedos.
— Eu vou foder você agora, aqui — rosno em seu ouvido.
— Sim... por favor... — murmura ansiosa e num movimento ágil eu
a tiro do meu colo e a coloco de quatro no banco de couro creme.
Levantando seu vestido, arranco a calcinha em seguida impaciente e
enfio dois dedos entre suas pernas, para senti-la molhada e pronta para meu
pau que agora se contorce de ansiedade dentro. Abro a calça, apanho um
preservativo na minha carteira e deslizo por minha ereção antes de segurar
seus quadris e penetrá-la com força, fazendo gritar várias vezes enquanto
estoco sem dó para dentro e para fora de sua boceta apertada.
As sensações dominam meus sentidos e me esqueço de tudo o mais.
As estocadas dos meus quadris contra os seus vão se intensificando, assim
como os espasmos de prazer dentro de mim. Nossos gemidos se misturam
dentro do carro em movimento, enquanto a fodo com força, seu corpo
sendo lançado para frente a cada batida do meu pau dentro dela.
Meu clímax explode, se espalha por meu abdômen e coxa, cegando
meus sentidos. Muito vagamente, percebo que Emma está gozando também
e depois caindo fraca sobre o banco.
Porra, foi muito bom.
Saio de dentro dela e me sento, tirando a camisinha e jogando no
lixo, enquanto pego um lenço e me limpo, ajeitando a roupa. Instantes
depois, eu puxo Emma para se sentar no banco, ainda fraca e lânguida. Eu a
limpo e ajudo a recolocar a calcinha e ajeitar o vestido. E então noto um
hematoma em sua testa.
— Está doendo? — Toco seu rosto, meio irritado com isso.
— O quê? — pergunta ainda meio ausente.
— Acho que você bateu a testa no vidro.
— Oh! — Toca a própria testa e solta uma risada.
— Não é engraçado, Emma — eu a repreendo.
— É sim. Você está preocupado que eu tenha me machucado,
quando quer me bater com chicote ou sei lá o quê!
— Quem disse que eu uso chicote?
— Usa?
— Descobrirá em breve.
Eu me afasto quando o carro para em frente ao seu prédio.
Saímos do carro e de repente me senti frustrado.
Eu não tinha planejado transar com a Senhorita Jones em meu carro
em movimento, mas não lamento.
Eu adorei cada segundo de descontrole.
E de repente me dou conta de que é assim que as coisas vão ser.
Ethan tinha razão. Emma Jones era mesmo diferente.
E isso me enfurece e me atrai da mesma maneira.
— Tenho que voltar ao trabalho.
— E vai me dizer algo como “eu ligarei para você, não me liga.”. —
Ela sorri com certo deboche das minhas regras que, para meu assombro, me
faz rir também.
Eu me inclino e a beijo. Quando o beijo termina, toco sua testa,
contrariado.
— Não gosto quando te machuco.
— Mesmo assim quer me machucar — murmura.
— Eu te disse que não seria bom pra você.
Emma tem razão. Não faz muito sentido que esteja bravo porque a
machuquei quando estou ansiando por lhe dar alguma dor para meu prazer.
Mesmo que este prazer seja para ela também.
São essas as regras do jogo.
Mas já estou começando a perceber que as minhas regras bem
definidas não funcionam com Emma Jones.
Eu preciso criar outras especialmente para ela.
Para minha Senhorita Jones.
— E eu que não me importava. Posso lidar com algumas
escoriações, Liam. Acho que estou até ansiando por algumas... — murmura
fazendo algo quente, perigoso e irresistível deslizar por meu íntimo.
É mais que desejo.
É como saber que encontrei alguém perfeita para minha loucura.
Ela fica na ponta dos pés e me dá um beijo antes de se afastar.
Eu volto para o carro e abro a porta, mas ela me chama.
— Liam.
Eu a encaro.
— Estou descobrindo que sou capaz de aguentar muitas coisas
vindas de você. Mas também descobri que há um limite. E meu limite é a
sua ausência. — Sua voz está firme como nunca vi antes. — Se você sumir
de novo, melhor nem voltar. Eu não estarei mais disponível. Nunca mais.
Nunca mais. A expressão se repete em meu íntimo como uma
ameaça quando entro no carro, dessa vez ao lado de Ethan.
— Então passaremos a ver a Senhorita Jones com frequência agora?
Um sorriso lento se distende em meu rosto.
Emma não precisa se preocupar. Pois acabei de descobrir que temos
os mesmos limites.
Eu não quero mais me afastar dela.
Pelo contrário.
Eu deveria estar com medo. Mas não consigo mais encontrá-lo
dentro de mim. Em vez disso, sinto-me desafiado. Motivado.
Ansioso para o que vem a seguir.
Não é só mais um jogo.
Minha mente começa a trabalhar rápido, traçando novas estratégias.
— Por quanto tempo? — Ethan provoca e eu o encaro com um
sorriso astuto.
— Muito tempo. Talvez para sempre.

Fim da gravação
Era irônico pensar que eu sequer queria um relacionamento e de
repente menos de dois meses depois eu a estava pedindo em casamento.
E ela reagiu fazendo seu próprio contrato do que acreditava ser um
relacionamento perfeito.
Puta. Que. Pariu.
Eu aceitei, acreditando que concessões sempre podem ser feitas, se
for visando um lucro maior.
E eu não estava disposto a perder a oportunidade de ter Emma Jones
na minha vida.
Algemada na minha cama, de preferência levando uns bons tapas
por ser tão impertinente.
De repente, eu me levanto, disposto a acabar com aquela sua guerra
fria.
Eu sei que ela não se oporia se eu entrasse no quarto e lhe punisse.
Ela iria gostar, como sempre gostava.
Era onde nós nos conectávamos na maior parte das vezes, embora
eu ainda me lembre do dia em que ela disse não para mim pela primeira
vez. Dizendo que não poderíamos resolver tudo com sexo e jogos de
punição.
E acho que hoje é um desses dias, concluo, quando entro no quarto e
ela não está ali.
Provavelmente está no quarto de Leo.
Entro no chuveiro e deixo a água morna acalmar meus pensamentos
caóticos e quando saio de lá, coloco uma calça de pijama e me sinto mais
calmo.
Caminho até o quarto de Leo, e ele está dormindo tranquilo.
Acaricio seu cabelo do mesmo tom do meu, sentindo aquele tipo de
amor que nunca pensei que seria capaz de sentir.
Como um cara que perdeu os pais com apenas dez anos, de forma
tão brutal, eu nunca tinha pensado sério em ter filhos. Eu vivia apenas para
ganhar dinheiro e poder. Mulheres e sexo eram diversão e recompensa.
E mesmo quando Emma surgiu e mudou meus planos, eu ainda não
conseguia chegar até aquele nível de comprometimento. Mas ela
engravidou rápido e sem que nenhum de nós planejássemos. Leo quebrou
os protocolos e me fez perceber que, por mais que eu fizesse planos e
quisesse agir como se minha vida pessoal fosse como a aquisição de
algumas ações, isso era impossível.
A vida nos surpreende o tempo todo.
E lá se vai o controle que gosto tanto de ter.
Mas valeu a pena. Leo é a prova disso.
Assim como Emma.
Escuto um barulho vindo do cômodo adjacente e abro as portas do
closet para encontrar Emma lá dentro, sentada no chão, enquanto dobrava
roupinhas minúsculas de Leo.
Fecho a porta para não acordar Leo e sento a sua frente, a ajudando
a dobrar. Com mais rapidez e mais bem dobradas, devo dizer.
— Ele precisa mesmo desse monte de roupa?
— Provavelmente não, mas perdi o controle sobre Zoe.
Zoe é a melhor amiga de Emma, com quem ela dividiu apartamento.
Um gnomo intrometido e interesseiro que adora o fato de poder gastar meu
dinheiro. Eu até mesmo tinha pagado todo o suntuoso casamento dela em
um castelo na Irlanda. Agora ela se autointitula personal style não só de
Emma como de Leo também.
Observo o rosto compenetrado de Emma na tarefa, mas percebo que
seu olhar está triste.
Inferno. Eu posso lidar com Emma brava, mas triste eu odeio.
— Ainda está brava?
Ela suspira, descansando o olhar no meu.
— Nunca vou ser prioridade pra você.
— Você fala como se não gostasse do que minha dedicação ao
trabalho pode lhe proporcionar.
— E você fala como se eu fosse uma mercenária, esposa troféu de
milionário.
— Bilionário — corrijo.
— Você entendeu. Estou pouco fodendo para dinheiro.
— Então acha que seríamos felizes morando em um apartamento
pequeno com problemas de aquecimento?
Ela ri enquanto pega a pilha de roupinha e se levanta para colocá-la
em um dos armários. Ela reclama, mas adora gastar dinheiro comprando
aquele monte de roupas para Leo. Mais do que aprecia comprar coisas para
si mesma.
— Contanto que continue transando comigo.
Ela volta e se senta à minha frente.
— Desculpa querida, mas não sirvo para ser pobre. — Eu me deito
sobre o carpete, olhando o teto.
— Aff Liam, que esnobe!
— E o que eu iria fazer se não trabalhasse mais?
— Podia cuidar do Leo.
— Leo vai crescer e em breve terá a própria vida.
— Meu Deus, ele nem tem um ano. Isso vai demorar pra caramba,
fala como se ano que vem ele estivesse por aí fumando com os amiguinhos.
— Você é uma mãe muito possessiva. Acho bom começar a se
acostumar com Leo sendo independente.
— Ou posso ter outros filhos...
— Emma, não começa.
Eu odeio quando ela começa com este assunto.
A gravidez de Leo foi um inferno e eu nem gosto de lembrar que
Emma esteve em perigo o tempo todo. Eu achei que ela tinha entendido que
engravidar novamente estava fora de questão, mas de uns tempos pra cá ela
vinha trazendo o assunto à tona.
— Ok, não quero mais brigar com você hoje.
— Então tira a calcinha e vem aqui.
Ela ri, mas faz o que pedi, tirando a calcinha e o short junto e
sentando em mim. Meu pau se agita no mesmo momento enquanto ela se
abaixa e beija minha barriga e afasta minha calça de pijama, lambendo
minha ereção de cima a baixo enquanto me encara com os olhos travessos.
— Eu te amo. — Toco seu cabelo de forma gentil.
Tenho certeza que toda a devoção que sinto está escrita em meus
olhos.
Gosto de ver refletido nela os mesmos sentimentos.
Quando estamos assim, eu nem consigo me lembrar do tempo que
ela não estava na minha vida.
Ela sorri enquanto se move para se encaixar em mim.
— Eu sei. — Pisca enquanto desliza sobre minha ereção.
— Porra. Muito bom! — rosno segurando seu quadril.
Ela morde os lábios, subindo e descendo devagar a respiração
ofegante, os olhos escurecendo de prazer enquanto se inclina e beija meu
queixo e os lábios percorrendo meu rosto até minha orelha.
— Eu não estou tomando pílula...
— Emma, que merda!
Ela ignora minha raiva e continua a se mover, agora com mais força
e rápido.
— Por que não?
Eu a viro, segurando seus braços acima da cabeça e estocando com
fúria agora.
— Não vou gozar dentro de você.
Ela sorri passando as pernas por meus quadris, se erguendo na
mesma fúria para me encontrar.
— Eu não vou deixar você sair. — Há suavidade em sua voz. E
desafio.
— Veremos.
Eu me afasto, saindo de dentro dela, ignorando seu gemido de
frustração. E a viro de costas, dando um sonoro tapa em sua bunda antes de
erguê-la, e enfiar a mão embaixo dela, acariciando seu clitóris de forma
precisa, até vê-la gozar rápido, se contorcendo embaixo de mim e então
seguro minha ereção, movendo minha mão rápido para cima e para baixo,
até o clímax explodir e meu gozo se espalhar por sua pele branca.
Emma desliza para o chão, não consigo ver seu rosto, encoberto
pelo cabelo.
— Às vezes você esquece quem manda aqui — digo duramente, me
levantando e pegando uma toalha no banheiro retorno e ela ainda está do
mesmo jeito.
Eu a limpo, até não restar nenhum resquício, ainda estou com raiva
até que percebo seu corpo tremendo e o barulho do seu choro.
Seus soluços são como cortes em meu peito e me enchem de algo
que não estou acostumado a sentir.
Culpa.
Eu me deito ao seu lado, retirando os cabelos do seu rosto, vermelho
e molhado.
— Me desculpe.
Ela abre os olhos.
— Vai se foder! — Ela se afasta, se levantando, enquanto limpa o
rosto.
— Emma, seja razoável...
Eu me levanto devagar enquanto ela veste o short do pijama e se
afasta, eu vou atrás e a encontro na banheira, abraçando os joelhos junto ao
corpo, enquanto lágrimas silenciosas rolam do seu rosto ainda.
— Ainda estou com raiva de você. — Vira o rosto.
— Eu sei.
Eu me sento ao seu lado.
— Mas temos que resolver isso. Não é você que diz que não
devemos jogar nossas merdas para debaixo do tapete?
Ela me encara com raiva.
— Não pense nem por um segundo que você manda no meu corpo a
este ponto. A ponto de definir se eu vou conceber ou não. Porque está muito
errado. Você manda em mim, o quanto eu permito. E se eu quiser revogar
isso, não há nada que você possa fazer. Então se você se sente o macho
dominante a maior parte do tempo saiba que é porque eu deixei e não
porque você tem este poder. Achei que já tinha entendido isso, Liam
Hunter!
Não finjo que suas palavras não me irritam. Porém, ela tem razão.
Eu realmente entendi há tempos que Emma tinha tanto poder em
nossa relação quanto eu. Que ela escolheu aquele estilo de vida, de
relacionamento, me permitindo o papel de dominador e ela de submissa.
Nós nos sentíamos confortáveis a maior parte do tempo com nossos papéis,
sabendo que, bem no fundo, a única coisa que importava era que estávamos
juntos.
Do mesmo jeito que tinha entendido há tempos que não queria viver
sem Emma. Então se resolvesse que o jeito com que lidamos com nossa
relação não era o suficiente para ela, eu acabaria aceitando e me adaptando.
Talvez eu lutasse um pouco, afinal, não sou chamado de Leão de Wall
Street à toa.
Mas Emma lutaria também.
As pessoas confundiam a personalidade de Emma, sendo doce e
compassiva as minhas vontades como falta de força. E era justamente o
contrário.
Emma escolhia lutar com unhas e dentes pelo o que acreditava.
Ela lutou para que eu me moldasse a ela, quando lhe conveio, fez
com que eu mudasse alguns hábitos e maneiras de viver.
E eu o fiz por ela. Porque no fim, ela tinha razão. Eu realmente me
sentia melhor hoje.
Mas o que ela estava pedindo era um limite rígido pra mim.
— Não pode pedir para que eu concorde, Emma.
— E o que eu quero? Não conta?
— Eu quero você aqui.
— Mas às vezes parece que não quer.
— O que quer dizer?
— Você nem pediu desculpas por ter se atrasado hoje.
— Ah, Emma, sério que vamos voltar a essa discussão idiota? Por
causa da merda de um jantar?
Ela se irrita, se levantando e saindo da banheira.
— Não se faça de desentendido, que não combina com você! — Ela
se enrola numa toalha.
Eu tento não me irritar.
— Então qual o real motivo?
— Você não parece dar valor às escolhas que eu fiz pra ficar com
você.
— Vamos continuar a brigar por causa disso? É a Amy de novo
enfiando coisas na sua cabeça?
Eu ainda me recordo de quando Amy veio trabalhar como babá de
Leo e deixando claro que não concordava com nosso estilo de vida.
— Ah para! A Amy não tem nada a ver com isso. Não foi por causa
dela que eu comecei a perceber que queria mais.
— Mais o quê? Você queria trabalhar e eu disse que tudo bem.
— Pra começar você nem deveria ter voz ativa nisso.
— Por que não? Somos casados. E eu sou muito rico Emma, não
precisa trabalhar.
— Se eu quiser eu posso!
— Você nem gosta de ser jornalista! Então por que insiste?
— Talvez eu esteja cansada de ficar sozinha em casa, preparando
jantares para um cara que nem se dignou a aparecer!
— Você não prepara nada, e sim Eric! — rebato.
— Você entendeu o que eu quis dizer!
— Sinceramente, Emma você está começando a ficar incoerente. —
Eu me levanto a encarando com firmeza. — Eu queria muito saber que
merda vai te fazer feliz, porque acho que me perdi aqui! E acho que nem
você sabe. E quer saber? Mais do que ninguém eu queria saber por que não
tem nada mais importante do que você.
— Mentira! Você sabe o que te faz feliz. E é ganhar dinheiro. É ser
o poderoso e temido Leão de Wall Street.
— E você sabe o que te faz feliz?
— Talvez tenha razão e eu ainda não saiba. — E ela sai do banheiro,
me deixando ali confuso e frustrado.
Dói ouvir aquelas palavras saírem de sua boca.
Eu achava que Emma era feliz comigo. Como eu sou feliz com ela.
Embora ela cisme em dizer que não é a razão de tudo.
Sim, eu sou o Leão de Wall Street. Achei meu lugar no mundo. Amo
o poder que isso me proporciona.
Mas Emma agora é parte de mim. É a família que eu achei que não
precisava.
O amor que eu achei que não queria.
Como ela ousa não acreditar?
Saio do banheiro e a encontro no enorme closet, jogando roupas em
uma mala.
Meu coração para de bater por um instante.
— Que porra está fazendo?
Ela vai embora?...
Ela se volta em minha direção, para os movimentos e respira fundo.
— Tem razão. Eu não sei o que quero. — E começa a chorar.
Eu me aproximo e a abraço, deixando-a chorar em meu peito.
— Que merda, Emma! O que está acontecendo?
— Eu não sei...
— Não vai a lugar nenhum, entendeu?
— Não pode me impedir.
— Posso sim.
— Eu posso fugir quando estiver trabalhando, você nem vai ver!
Talvez passe dias sem perceber que nem estou mais aqui, afinal, estará
muito ocupado com sua fábrica de dinheiro!
Eu rio de sua piada idiota, mas verdadeiramente preocupado de que
esteja falando sério. E por um momento, eu imagino minha vida sem
Emma.
E não encontro nada que valha a pena.
Merda.
De repente eu entendo o que ela quer dizer.
Eu ainda teria todo o dinheiro. Ainda seria o Leão de Wall Street.
Poderia até arranjar outra esposa mais dócil, mais bonita, mais
submissa as minhas vontades.
Mas eu não quero.
Ela vai se acalmando e eu a levo pra cama, onde deitamos olhando o
teto.
— Vanessa disse algo muito parecido quando foi embora.
Ela me lança um olhar irritado por eu tocar no nome de Vanessa.
Emma odeia Vanessa e as duas chegaram a se engalfinhar numa
briga certa vez.
— Ela me acusou de viver para o trabalho.
— Nunca pensei que ia concordar com a Vanessa — ela sussurra.
— E ela tinha razão. Eu amo o que eu faço e não posso parar,
Emma.
— Nunca te pediria para parar de fazer algo que ama.
Eu deito em seu peito.
— Eu amo mais você. Por que não entende?
Ela toca meus cabelos.
— Eu queria amar algo assim também. Como ama Wall Street.
Amar só você é assustador. Porque é tudo o que eu tenho. E se você um dia
se cansar de mim, eu não terei nada.
Eu levanto a cabeça, sentido sua insegurança boba.
— Wall Street é meu trabalho. Eu poderia viver sem ele, mas não
sem você.
Ela sorri.
— Se eu fosse embora você arranjaria uma esposa mais bonita.
— Provavelmente. Alguém menos impertinente com certeza.
— Acha que daqui a dez anos ainda estaremos aqui, com os meus
problemas?
— Então ainda estará aqui?
— Achou mesmo que eu ia embora?
— Estava arrumando a mala.
— E você me deixaria ir?
— Sei que gosto de espalhar aos quatro ventos que você me
pertence, mas nós dois sabemos que não é bem assim. Você me pertence
enquanto quiser ficar. Se não estiver feliz, seria livre para ir.
— Talvez eu devesse mesmo e levaria metade do seu dinheiro. Te
deixaria na miséria!
— Mesmo com metade do meu dinheiro eu não estaria na miséria e
eu sou tão bom em ganhar dinheiro que conquistaria tudo de novo em
pouco tempo.
— Mas não teria mais a mim.
— Sim, eu seria insuportável. Então, por favor, não me deixe. Eu
faço as concessões que quiser.
— Eu queria ter um bebê.
Eu rosno, frustrado por ela voltar àquele assunto.
— Achei que quisesse trabalhar.
— E as mulheres não podem trabalhar e terem filhos?
— É isso que quer? É o que a deixaria feliz?
— Acho que é este o problema. Eu não sei o que está faltando. Eu
amo você, amo ser a mãe de Leo, mas às vezes parece que eu posso ter
mais.
— Quem está sendo ambiciosa agora?
— Me sinto culpada por ter tanto e ainda almejar mais.
— Emma, não é pecado algum. Eu conquistei meus objetivos com
apenas vinte anos, mas a maioria das pessoas demora para achar um
propósito. Você é muito jovem para se angustiar com isso. Vai achar um
propósito e é só pedir que compro pra você. Consigo qualquer coisa que
quiser.
Ela riu me puxando para me beijar.
E é sempre como voltar para casa.
— Se eu pedir outro bebê você me dá?
— Tem certeza que é só isso que a faria feliz?
— Neste momento, é a vontade do meu coração.
— Emma, não posso te perder.
— Não vai.
— Sabe das implicações. Não tem como garantir. E eu já perdi
muita gente. Não posso perder você também. Me peça tudo menos isso.
Ela suspira.
— Tudo bem, por ora. — Ela concorda, mas sei que Emma não vai
desistir.
— Então não está mais brava comigo?
— Até a sua próxima mancada.
— O que quer que eu faça?
— Pare de me deixar sozinha. Sei que ama Wall Street, mas não
casei com você pra me deixar sozinha.
Não gosto disso. Não gosto que ela me imponha o quanto devo me
dedicar aos meus negócios.
Mas sei que ela tem razão.
E só me lembrar dela fazendo as malas que já me faz querer
concordar com tudo.
— Tudo bem. Posso tentar. Temos um acordo?
— Talvez deva fazer um novo contrato. Só pra deixar oficializado.
Eu rio me lembrando do contrato de noivado.
— Se isso te deixa feliz.
Ela boceja e eu me levanto.
— Aonde vai?
— Não estou com sono, vou fazer mais algumas gravações para
Amy.
Seus olhos brilham de interesse.
— Eu vou com você!
Eu não consigo impedir que ela me siga até o escritório e sente a
minha frente na mesa.
Ela pega o gravador de Amy.
— Isso faz me lembrar de quando te conheci. Da entrevista. Sabe
que ficou gravado, não é? Toda sua sedução sacana.
— Eu gostaria de ouvir.
— Eu apaguei tudo apavorada! Imagina o Matt ouvindo?
Nós dois rimos, nossas mentes infestadas de lembranças.
— Você só me deu dez minutos.
— Eu te dei minha vida toda.
Ela sorri, ligando o gravador.
— Então me conta. Quando foi que se deu conta de que queria me
conceder todas as suas horas, Senhor Hunter?
Eu sorri de volta, me recostando.
— Quando você me disse que se eu sumisse de novo, nem precisaria
voltar. Por um momento eu imaginei mesmo não voltar, não estava
acostumado a mulheres me dando ultimatos. E percebi que a opção de
nunca mais te ver era inconcebível.
Ela parece satisfeita com a resposta.
— Te conhecendo imagino que ficou muito bravo.
— Eu fiquei. Quis te dar uma surra.
Ela morde os lábios, excitada com minha sugestão.
— Tem mesmo que gravar isso agora, Senhor Hunter?
Eu aceito sua provocação.
— Desliga isso e vem aqui.
Ela morde os lábios, enquanto coloca o gravador na mesa.
— De joelhos, Senhorita Jones.
Sim ela pode ser a Senhora Hunter para o mundo. Mas ali, ao meu
dispor, ela seria sempre a Senhorita Jones.
A minha Senhorita Jones.

**

O dia já amanheceu quando desligo o gravador. Emma está


dormindo com a cabeça em meu colo no escritório.
Acaricio seu cabelo, ouvindo-a ressonar. Depois de alguma
atividade sacana, eu ainda queria gravar algumas memórias para Amy e
Emma insistiu em ficar comigo e ainda fez algumas anotações, sobre quais
informações seriam importantes. Leo acordou em algum momento, e Emma
o trouxe para o escritório. Ele acabou adormecendo no carrinho, e em
algum momento Emma também dormiu.
Escuto passos se aproximando e Ethan e Amy entram no escritório.
Eu mandei uma mensagem a Ethan há alguns minutos pedindo que ele
subisse à cobertura com Amy.
— Longa noite? — ele brinca enquanto Amy boceja com cara de
poucos amigos. Sim, ainda é bem cedo, mas eu tenho que dizer algumas
coisas a eles.
— Fala baixo, não quero que Emma acorde.
— Algum problema? Sei que pra você qualquer hora é hora de tirar
as pessoas da cama pra fazer suas vontades, mas isso está meio esquisito.
— Sentem. — Aponto para o outro sofá no escritório.
— Você conseguiu gravar alguma coisa? — Amy indaga, vendo o
gravador.
— Sim. E Emma me ajudou a organizar, inclusive.
Ela parece aliviada.
— Nossa, então essa biografia vai mesmo sair.
— Amy estava achando que ia desistir — Ethan diz.
— Sim, vamos em frente. Mas tenho algumas condições.
Amy troca um olhar aflito com Ethan.
— Eu sabia que estava fácil demais...
— Penny, escute o Liam antes.
— Certo, quais suas condições?
— A primeira é que metade do lucro com o livro irá para a
Instituição White, em Chicago.
— A instituição de Jack White?
— Sim, eu já faço doações, e é um trabalho incrível com órfãos.
— Bem, isso depende da editora que publicar...
— Isso é uma condição que não abro mão.
— Certo. Acho que qualquer editora vai querer lançar uma biografia
sobre o Leão de Wall Street mesmo com a metade do lucro.
— A segunda condição é que contrate Emma para te ajudar.
— A Emma?
— Sim, ela é péssima jornalista, mas acho que até que ache algo que
goste mesmo de fazer, ela pode te ajudar.
— Tudo bem, não vejo problema, se ela quiser. Mais alguma
condição, Senhor Hunter?
— Eu lhe comunicarei se tiver, Senhorita Pennywise.

Mais de um ano se passou até que eu comunicasse a Senhorita


Pennywise que eu tinha uma condição.
— Mas acabamos de lançar o livro — ela reclamou confusa quando
eu a chamei junto com Ethan no meu escritório depois do evento de
lançamento da Biografia.
— E todo o seu sucesso se deve a quem? — Levanto a sobrancelha
de forma arrogante e Amy revira os olhos, mas percebe pelo tom da minha
voz que não é algo tão trivial quanto o que lhe pedi até agora.
E quando termino de falar, tanto ela quanto Ethan estão meio em
choque. Mas eu digo que têm tempo para pensar.
— E se eu disser não? — Amy indaga.
— Quer mesmo me dizer não depois de tudo o que aprontou pra
mim e Emma, e eu ainda te aceitei nas nossas vidas?
Ela fica vermelha e Ethan segura sua mão, onde ele acaba de colocar
um anel de noivado.
— É algo sério, Liam.
— Por isso te chamei aqui, de certa forma diz respeito a você
também, já que a Senhorita Pennywise agora é sua noiva.
Amy e Ethan trocam um olhar.
— Certo. Eu não preciso pensar.

Um ano depois eu e Emma recebemos da barriga de Amy Grant


nossa filha, Lilly Mary Hunter.
Eu pergunto se agora ela está feliz quando entramos no carro para
levar Lilly para casa.
Ela me responde com um impertinente “por enquanto”.
— A sua sorte é que não fujo de um desafio, Senhora Hunter.
— Eu não esperava menos do Leão de Wall Street.
Agradecimentos

O Leão de Wall Street não foi o primeiro livro que escrevi, mas foi o
primeiro que tomei coragem e postei na Amazon. Então eu tenho um grande
carinho por ele, que me fez escritora profissional. Lembro que não esperava
nada ( e nem sabia o que estava fazendo), mas me surpreendi muito quando
ele se tornou um sucesso. Uns amaram, outros cancelaram ( afinal, Liam
Hunter é polêmico!), mas o importante é que continua a ser lido na
Amazon, assim como o conto Espera e o spin off O segurança de Wall
Street. Sem contar que ele é o meu livro com mais páginas lidas no Kindle.
Então não poderia deixar de agradecer aos leitores que fizeram do
leão um sucesso! Obrigada!
Se você curtiu essa leitura, não esquece de deixar sua avaliação e
indique pra todo mundo!

Grande abraço
Ju
Sobre a autora
Juliana Dantas

Apaixonada por livros, séries e viagens, a paulista Juliana Dantas


envolveu-se com a escrita em 2006, escrevendo fanfics dos seus
seriados e livros preferidos. Estreou como autora independente na Amazon
em 2016 e hoje possui mais de 40 títulos na plataforma Kindle, além de
livros publicados pela Editora Harper Collins - selo Harlequin, DVS Editora
e Editora Pandorga. Em 2020, sua série Julie & Simon teve os direitos de
adaptação para produção audiovisual contratados pela produtora Lupi.
Com mais de 100 milhões de páginas lidas no Kindle, sua escrita
transita livremente entre dramas surpreendentes e romances leves e
divertidos. Seus títulos sempre passam pelo ranking de mais vendidos da
plataforma, além de já ter três deles na lista de mais vendidos da Veja.
E-books Publicados na Amazon:
O Leão de Wall Street
Vendetta – Livro 1
Vendetta – Livro 2
Vendetta – Livro 3
Vendetta – Livro 4
A Verdade Oculta
Segredos que ferem
Linha da Vida
Longe do Paraíso
Espinhos no Paraiso
Juntos no Paraíso
Espera – Um conto de O Leão de Wall Street
Cinzas do Passado
Trilogia Dark Paradise (Box)
A Outra Irmã
Segredos e Mentiras
Por um sonho
O Highlander nas sombras
Quando você chegou
O segurança de Wall Street
Box Vendetta
Uma noiva de natal
Um noivado nada discreto
O dia dos namorados de Julie e Simon
Um sonho de Princesa
As infinitas possibilidades do nunca
Desastres sexuais ( Conto Amor, amizade e outros desastres)
Box Romances Inesquecíveis
No silêncio do mar
O que escolhemos esquecer
Um bebê Inesperado
Um bebê de natal ( conto da série Julie & Simon)
Quase uma duquesa
Desafiando a Gravidade
O que escolhemos perdoar
A irresistível face da mentira
Entre o crime e a nobreza Livro I
Entre o crime e a nobreza Livro II
Um brinde a realeza
Box Henry & Sophia
Black – O lado escuro do coração – Ato I
Black – o Lado escuro do coração – Ato II
Black – o Lado escuro do coração – Ato III
White – O que eu não te contei
Um natal sem Julie (Um conto de Julie e Simon)
Supernova – As infinitas possibilidades do nunca pelos olhos de
Nathan
Inesquecível
Nosso Último Segredo
Corações de Gelo

Livros físicos

A verdade oculta – Editora Pandorga


Segredos e Mentiras – Independente
Quando você chegou – Independente
Uma noiva de natal – Independente
Um noivado nada discreto – Independente
Um bebê Inesperado - Independente
No silêncio do Mar – Harper Collins – Harlequin
As Infinitas Possibilidades do nunca – Independente
A irresistível face da mentira – DVS Editora
O Leão de Wall Street – Independente
Black – O lado escuro do coração – Ato I – Independente
Black – o Lado escuro do coração – Ato II – Independente
Black – o Lado escuro do coração – Ato III – Independente
A outra irmã – Independente
White – O que eu não te contei – Independente
O que escolhemos esquecer – Independente
Supernova – Independente
Inesquecível – Independente
Desafiando a gravidade - Independente
Nosso Último Segredo – Independente
Vendetta – Independente

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Uma noiva de natal - Audible


Um noivado nada discreto - Audible
O que escolhemos esquecer - Audible
Box Vendetta - Audible
As infinitas possibilidades do nunca - Audible

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