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Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Epílogo
Capítulo bônus
Agradecimentos
Sobre a autora
Leia também
A todos que dariam o mundo para ter
o idol favorito em seu sofá.
No fim das contas, eu poderia viver feliz, sabendo que deixara
tantas marcas nele, assim como ele havia deixado,
cravado, seu amor em mim.
“Nada foi por acaso”
— Por acaso, Engenheiros do Hawaii.
Maitê: Amiga…
Vazio.
Por mais que eu lutasse para preencher o espaço que Eric
deixara em mim, nada substituía aquela sensação de estar sozinha.
Ainda que Nina estivesse ali, ainda que Josh não largasse do meu
pé, ainda que Lena insistisse em dormir na mesma cama que eu,
nada parecia adiantar.
Vinte e cinco dias se passaram desde que ele partira.
Mesmo com a agenda cheia, Eric sempre achava tempo para
me mandar uma mensagem de texto ou uma foto de algo que o
fazia se lembrar de mim. Isso até sua nova turnê começar.
Ele sempre acordava de madrugada para me ligar e me
contar como fora o seu dia, mesmo que nosso fuso fosse de doze
horas desde que ele chegara a Seul. Eu via o quanto ele tentava, o
quanto aquilo o prejudicava e não queria que Eric se esforçasse
demais por minha causa.
Eu me sentia mal, porque, ainda que disséssemos ter
saudades um do outro, não tínhamos relacionamento algum. A cada
dia, aquela paixão se intensificava em meu peito e, com isso, a
razão voltava a falar ao meu ouvido. Estaria tudo bem enquanto
ninguém soubesse, enquanto fôssemos apenas Eric e eu, mas… de
que adiantava nutrir um relacionamento que nunca poderia se tornar
real?
Para que aquilo acontecesse, uma multidão de fãs teria que
me aceitar também, e eu não tinha muita certeza de que isso seria
realizável. Meus dias estavam sendo tomados por incertezas e
inseguranças.
Naquela manhã, Eric não me deixara uma mensagem de
bom-dia.
Ele devia estar ocupado com a vida e a agenda apertada, e
eu entendia. Não tinha tanto tempo de sobra também.
Fui para a faculdade com a cabeça na lua e um sentimento
estranho no peito: aquele que diz que, se algo não deu errado
ainda, é porque está prestes a dar.
— Tetê? — Nina chacoalhou a mão em frente ao meu rosto,
quando o professor anunciou o intervalo e eu não me mexi. — Está
tudo bem?
— Sim — Suspirei. — Só estou cansada.
Não era uma mentira. Fazia dias que eu não dormia bem.
— Vamos para casa, e você descansa um pouco. — Ela
franziu o cenho, me fazendo levantar. — Sua cara não está muito
boa. Aconteceu alguma coisa?
Nina sabia que aquele meu pressentimento nunca falhava.
— Na verdade, eu tenho sentido que…
— Maitê! — A voz ofegante de Lena me chamou pela porta,
me interrompendo.
Franzi o cenho, preocupada. A garota nunca aparecia na
minha faculdade sem avisar, ainda mais com o cabelo cacheado
todo para cima, daquele jeito. Era como se ela tivesse levantado da
cama e corrido do jeito que acordara para me encontrar.
— Amiga… tá tudo bem? — Tombei a cabeça, a analisando.
Helena estava com o cabelo solto e amassado, a franja
enrolada ainda um pouco arrepiada, e uma blusa de moletom azul
fazia conjunto com a calça de pijama e os chinelos.
Ela veio até mim, estudando meu rosto, então segurou minha
mão.
— Você está bem? — Seus olhos estavam vermelhos e seus
cílios, molhados, como se tivesse chorado enquanto corria até mim.
— Por que não estaria? — Ergui uma sobrancelha ao reparar
na estampa de coelhinho de sua calça rosa. — Por que você
apareceu de pijama aqui, do nada? Aconteceu alguma coisa?
— Você… não viu?
O cuidado com que disse aquelas palavras me fez perceber
que meu sentimento provavelmente não errara e algo muito ruim
estava prestes a ser revelado.
— Aconteceu alguma coisa com o Eric? — Ele foi o primeiro
em quem consegui pensar.
Lena se aproximou um pouco mais, ficando entre mim e Nina,
então nos mostrou a tela do celular.
Foco.
Era tudo de que eu mais precisava e não tinha no momento.
A única coisa em que eu era capaz de pensar era se existia
uma dor mais chata e insuportável do que a que eu sentia no ombro.
Ainda que eu tentasse me concentrar na aula transmitida na tela do
celular, não conseguia prestar muita atenção na voz grave do meu
professor reforçando trinta vezes a importância de saber a diferença
entre som, melodia, ritmo e harmonia.
Eu odiava a ideia de ter que assistir às aulas jogada no
tapete Lilás de Lena, mas, nos últimos três dias, ao tentar me
esgueirar para o lado de fora, pela manhã, Helena já estava à minha
espera em frente à porta para me dizer que eu não iria a lugar
nenhum. Nina estava encarregada de fazer chamadas de vídeo em
todas as aulas pelo resto da semana, para que eu não perdesse a
matéria, e, pelo visto, eu demoraria para voltar a ver o sol.
— Que cara de quem chupou limão é essa? — a pequena
resmungou ao meu lado, tentando decifrar minhas caretas.
De dor, de raiva, de tédio.
— Além do fato de que você está me mantendo em cativeiro?
— Isso é o melhor para você! — Ela afinou a voz, ofendida.
— Você viu o tanto de gente acampando na sua casa, não viu?
Josh me mandara um vídeo da câmera de segurança do
portão, mais cedo, e agora eu pensava que não seria tão
inconveniente ter um exército de gansos vestidos de terno para me
proteger.
Gansos treinados e com óculos escuros.
— Quanto tempo isso vai durar?
— Eu não sei, Tê. — Lena passou a mão em minhas costas,
em consolo. — Talvez você devesse passar um tempo aqui.
Bufei ao me jogar de costas sobre o tapete, encarando as
estrelinhas coladas no teto.
— Mas olha pelo lado bom: eu tirei uns dias de folga e vou
ficar com você até a poeira abaixar — ela continuou, com um sorriso
incerto.
Forcei um sorriso e rolei de barriga para baixo, riscando o
nome do Eric no canto inferior do caderno. Era claro que eu amaria
passar uma semana inteira com minha melhor amiga; só queria que
fosse em uma ocasião menos deplorável.
— Como está o ombro? — ela perguntou quando me viu girar
o braço pela quinta vez.
— Acho que tem alguma coisa errada…
— Hum, já faz alguns dias…
Lena me lançou aquela cara de detetive, sobrepondo o lábio
inferior ao superior e me estudando de cima a baixo, provavelmente
calculando alguma probabilidade que me incluía na equação.
— Certo, pega sua mochila. Nós estamos saindo.
Tombei a cabeça para o lado, observando aquela baixinha se
enfiar dentro do guarda-roupa e lançar um bocado de peças
desconexas sobre mim.
— Veste isso.
Olhei para o cachecol vermelho, o boné lilás e um par de
óculos escuros que lembravam o da Penélope Charmosa.
— Achei que não pudéssemos sair.
— E eu não posso te deixar com o ombro assim. — Ela
apontou para a porta com a cabeça e apoiou a mão na cintura. —
Anda, veste.
Obedeci, porque, àquela altura, tudo que eu queria era ver o
céu azul. Mas, claro, seria muito melhor se não estivesse tão quente
e eu não precisasse usar um cachecol.
— Posso tirar isso? — resmunguei no carro, sentindo o suor
pinicar minha pele em conjunto com a lã.
— Não. — Lena estava se divertindo. Eu parecia um
manequim de brechó. — Não que alguém vá te reconhecer pela
pele do pescoço, mas melhor prevenir do que remediar.
Aquela simples frase me trouxe muitas lembranças.
Boas lembranças.
Sorri involuntariamente, pensando se Eric, de fato, me
reconheceria em qualquer lugar.
Eu não dava muitos motivos para Lena se preocupar comigo.
Talvez por isso ela estivesse tão histérica, andando de um lado para
outro, enquanto esperava a radiografia do meu ombro.
— E então, qual é a gravidade? — ela interrogou o doutor,
exercendo o papel de mãe melhor do que a minha própria mãe faria.
O homem barrigudinho e de sorriso simpático acendeu a luz
atrás da imagem e ajeitou os óculos sobre o nariz.
— O osso não foi afetado, para a sua sorte — ele disse, sem
desviar os olhos. — Você vai ficar bem, mocinha!
— Ótimo. Eu não poderia lidar com mais um problema. — Ri,
aliviada, mas Lena não parecia satisfeita com a resposta.
— Doutor Cesar, isso não vai impedir que ela toque piano,
vai?
Mas o que aquela garota estava dizendo?
— Você anda assistindo a dramas coreanos de mais, Lena.
— Rolei os olhos. — Ele acabou de dizer que eu não quebrei nada.
Seria um ultraje se minha carreira acabasse por causa de uma
topada besta contra a parede.
Lena torceu o nariz em minha direção e se voltou para Cesar.
Ela só sossegaria quando ouvisse a resposta sair dos lábios dele.
— Fique tranquila, querida. Ela está bem. — Ele sorriu com o
rosto inteiro; a ruga ao redor dos olhos se acentuando. — É bom
que ela não se esforce muito pelos próximos dias e que tome os
remédios que vou receitar, mas isso é tudo. Logo estará novinha em
folha.
— Ouviu, né, Maitê? — Lena franziu o cenho. — Nada de
Nocturne pra você!
Dei de ombros.
Nocturne estaria fora do repertório enquanto eu estivesse
emocionalmente indisponível, de qualquer forma.
— E então? Ela não precisa fazer mais nada? — Lena fez
careta, colocando a mochila no ombro.
— Apenas seguir as instruções da receita — ele disse,
rabiscando algo ilegível no bloco de papel e entregando a folha
destacada na mão da pequena, em vez da minha.
— Obrigada, doutor. Vou seguir direitinho — menti.
— Eu sei que não vai, como sempre.
Eu ia tanto àquele consultório quando era mais jovem que já
considerava o velhinho de óculos redondos parte da família. Ele me
entregou um pirulito ao se despedir, como de costume, me fazendo
sorrir com as velhas lembranças.
Machucar o ombro, no fim das contas, não fora tão ruim. Pelo
menos por algumas horas, conseguira manter minha cabeça em
outro lugar que não fosse o pandemônio da minha vida.
Lena ajeitou meu boné e os óculos contra meu rosto. Brigou
comigo quando recusei o cachecol e só não me enrolou com ele à
força porque bebera três garrafas de água para afogar a ansiedade
da espera pelo raio x e precisava correr para o banheiro. Desejei,
por vingança, que não conseguisse segurar.
— Dia difícil? — Uma garota com uma longa cabeleira
cacheada se acomodou ao meu lado com dificuldade, apontando
para o ombro que eu massageava.
— Ano difícil. — Ri ao reconhecer minha parceira de hospital,
então apontei para seu pé enfaixado. — Se machucou dançando,
outra vez?
Eu lembrava que, anos atrás, estávamos sempre ali. Ela com
gesso no braço ou na perna, e eu com o pulso enfaixado. Resultado
de longas horas em frente ao piano.
— Certos hábitos nunca mudam. — Riu. — Faz muito tempo
que não te vejo por aqui! Como vai o seu pulso?
— Ainda dói com frequência, mas, depois de tantos anos, a
gente acaba se acostumando, eu acho.
— Quantas vezes mais preciso quebrar o pé para me
acostumar? — ela fez piada, me arrancando uma risadinha.
Eu não tinha muita certeza de que ela se acostumaria, e
aquilo me lembrou de outra dor com a qual teria que aprender a me
acostumar.
A ausência de Eric.
Eu não sabia como suportar a falta dele, mas também não
me sentia capaz de lidar com a pressão que aquele relacionamento
exigiria de mim. Me peguei pensando se deveria aceitar a dor
constante da saudade ou a pontada aguda dos ataques que
receberíamos se ficássemos juntos.
— Qual é o seu nome mesmo? — Ela sorriu amarelo. —
Desculpa, é que faz tanto tempo.
— Maitê. — Sacudi a cabeça, tentando me puxar de volta
para o corredor do hospital em vez de divagar sobre Eric. — O seu
é… Ana, certo?
— Ana Clara — respondeu, lutando contra o cabelo para
amarrá-lo em um coque.
Havia algo nela que eu não conseguia entender: uma aura
amigável e divertida, que me fazia querer ficar perto. Era
aconchegante.
— Tê-ê! — Lena voltou correndo, chacoalhando a bolsa de lá
para cá, conforme se aproximava. — O tíquete do estacionamento
venceu faz tempo. Acho melhor correr.
— Bem, te vejo por aí, Ana! — Sorri.
— Espera! — Ela tirou um pedacinho de papel de dentro da
bolsa e riscou seu número com caneta, antes de me entregar. — Me
liga, qualquer dia desses, se quiser tomar um café.
— Eu ligo. — Sorri. — Vê se não quebra mais nada, tá?
— Te digo o mesmo.
Lena correu em minha frente até o carro, implorando aos
céus por não ter tomado uma multa, e quase derreteu de alívio ao
perceber que tinha sido atendida.
Escorreguei para o banco do passageiro, ainda perdida em
pensamentos. Eu não poderia fugir para sempre. Precisava tomar
uma decisão.
A empresa de Eric já havia negado os boatos em uma
coletiva de imprensa, e eu tinha uma ideia do tumulto que havíamos
causado. Aquela bagunça toda devia afetá-lo de tantas formas que
só o pensamento fazia meu coração doer.
Olhei para o celular, que Lena me devolvera depois de muito
choro. Minhas redes sociais haviam saído do controle. Eu até
tentara espiar algumas mensagens, mas elas me fizeram ter
pesadelos à noite e me convenceram de que não valeria a pena ler
o resto.
Um pulso dolorido, com o qual me acostumaria, parecia uma
opção melhor do que viver quebrando o pé. Imagine, ainda, viver
quebrando o coração.
— No que está pensando? — Lena estralou os dedos em
minha frente.
— Nada… Só que a vida vai voltar a ser chata.
Era isso. O melhor para nós dois.
Digitei uma mensagem para Eric e enviei de olhos fechados.
Não poderia pensar duas vezes, para não me arrepender.
Por via das dúvidas, tirei o chip de dentro do aparelho e o
joguei pela janela.
Seria melhor assim.
“Desde o começo
Eu não te culpo por querer tanto ser livre”
— Famous, Ye.
“Eu n ã o sei se deveria fazer isso, mas, caso algum dia voc ê
duvide que o que senti por você foi verdadeiro, vou deixar aqui a
prova disso. Compus essa música pensando em você. Espero que
tenha gostado da apresentação que fiz no estúdio, porque você e a
Lena foram as primeiras a escutar. Saiba que voc ê me deixou as
marcas mais profundas e que, no futuro, também vai entender que
você foi a minha porta para o para í so!”
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Twitter: @cwdouradot
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A PRIMEIRA NEVE
[1]
Eu sei que é estranho, mas me tira daqui, por favor!
[2]
Filhotinho.
[3]
Eu encontrei meu caminho, quando seus olhos me atravessaram, naquele dia
em que bati no seu carro.
Me desculpe por dizer, mas você se importa se eu ficar? Só hoje…
[4]
Sabe de uma coisa? O rosa do seu cabelo e o azul dos seus olhos repararam
meu coração. Me desculpe por dizer, mas você se importa se eu ficar? Só mais
um dia…
[5]
Sexy demais, Eric. Demais!
[6]
Fãs excessivamente obcecados, que perseguem seus ídolos e invadem sua
privacidade.
[7]
Eric, eu te amo!