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A História de Leo e Roberto

Depois de uma briga com seu pai sobre ligações de pessoas estranhas e sua mãe ter pego mensagens comprometedoras em seu celular, Leo
se arrumou e decidiu arejar um pouco a cabeça sobre esse turbilhão de coisas que estava acontecendo na sua vida e o que ia fazer agora
que seus pais sabiam que ele estava tendo um caso com um policial militar!
Seu pai o ameaçou com surras lendárias e sua mãe chorava e soluçava como Deus a tinha amaldiçoado com um filho gay e pecaminoso,
mas o pior seria se a notícia se espalhasse do acontecido, então o pior ainda estava por vir porque ainda tinha o resto da família tios e tias,
primos e primas todos com cara de desaprovação! Então saiu para um lugar aonde sempre ia em tempos de crise um banco de uma praça
no centro, a essa hora ficava vazia ou com as mesmas e velhas figuras de sempre, roqueiros e mendigos alcoólatras.
Mas desde que conheceu Roberto quando voltava da casa de um amigo, sua vida tinha mudado, uma loucura de hormônios e paixão
desenfreada! Então lembrou-se daquela noite maravilhosa!

A rua principal estava escura pela falta de lâmpadas perto de uma antiga fábrica de refrigerantes e um colégio infantil abandonado, foi
quando ele o viu primeira vez aquele homem moreno cambaleando de bêbado e indo ou vindo de algum lugar. Se cruzaram na luz fraca
da fábrica e viu que homem bonito era, logo deu um frio na barriga e Leo de supetão perguntou as horas num momento máximo de coragem
e ousadia que o lugar permitia, mesmo aquela parte da cidade sendo considerada hoje perigosa, ele andava sem medo por lugares assim e
graças a Deus nada de mal lhe acontecia!
- Boa noite, poderia me dizer que horas são? Tô indo pra casa e acho que não tem mais ônibus... disse encolhendo os ombros.
O moreno baixo e um pouco atarracado olhou pra Leo com curiosidade e focando a vista pra tentar se situar melhor e disse:
- São 22:47, acho que não tem mais ônibus, vai ter que ir na pernada pra casa, disse o homem com um sorriso simpático e bem bonito!
Leo viu que o homem estava colocado e bêbado e achou que era presa fácil pra atacar, olhou rapidamente de baixo pra cima e viu que era
gatão e sorria de forma convidativa, se arriscando mais do que a prudência exigia ele arriscou uma cantada!
- É acho que vai ser uma pernada longa, mas que sorte que encontrei você aqui pra me ajudar, alguém tão bonito assim não pode ser má
pessoa né? Poderia me ajudar? Leo disse isso confiando no grau de bebida do homem e se ele não curtisse cada um seguiria seu caminho.
O homem demorou uns segundos pra absorver essa cantada fraquíssima e olhou com um sorriso amigável e respondeu:
- Posso sim, ali atrás da fábrica fica vazio agora e não tem ninguém vigiando, posso te ajudar ali topas?
O frio no estomago de Leo aumentou mais ainda e ele seguiu o homem para atrás da fábrica, era escuro e no muro tinha a luz da lua que
pegava clareava um pouco. Era relativamente claro perto do muro e se por acaso alguém passasse o que era improvável não dava de ver lá
porque estavam em uma parte que tinha um pouco larga na parede e rente ao muro poderiam ficar a sós olhando pra fora sem serem vistos!
Fora o mato que estava alto e se abaixassem passariam despercebidos...
- É essa ajuda que você queria? Disse o moreno dando um beijo bem dado e gostoso em Leo que quase desmaiou achando que ele ia puxar
a faca e o mataria ali mesmo!
- Sim, essa ajuda, disse Leo, retribuindo o beijo e eufórico ao mesmo tempo!
O moreno o agarrou num abraço carinhoso e Leo sentiu o cheiro de perfume e um suor gostoso, então uma mão foi na sua bunda apertando
com uma força delicada e a outra no meio das pernas procurando seu pau que já estava duro!
- Qual é o seu nome? Disse Leo tentando ser amigável!
- Roberto, novo Roberto já que hoje é meu aniversário, 46 anos! Com uma voz grave e gostosa de ouvir, Leo quase se derreteu com aquilo!
- Prazer Roberto, me chamo Leo e parabéns pelo aniversário! Posso dizer uma coisa? Fez como se estivesse envergonhado com o que ia
dizer algo obsceno e vergonhoso.
- Claro que pode Leo, hoje você pode tudo! Firmava no muro e tentando se equilibrar.
Depois dessa resposta se Leo não desmaiou de tesão com essa voz nada mais o faria! Mas na verdade a noite só estava começando pra
eles.
- Você é muito bonito Roberto, muito mesmo e sua voz é mais ainda! Moreno, você tem um cheiro de suor maravilhoso que dá pra tontear
qualquer um, muito tesão ó! Elogiar esse achado deixou Leo mais confiante e talvez pudesse ficar melhor ainda!
- Obrigado Leo, que presente maravilhoso esse elogio viu? Valeu mesmo, você também é um garotão bem bonito! Ta com quantos anos
agora? Disse com simplicidade achei até que o efeito do álcool estava passando já.
- Estou 22 agora! Falando como se fosse um homem e não um moleque desmiolado e revoltado!
Ele olhou como se estivesse satisfeito com a resposta e a situação, sorriu e o beijou carinhosamente e demorado, como num romance,
mesmo que Leo nunca soubesse o que fosse um.
Roberto então beijou no rosto e foi para orelha e pescoço, com calma e uma respiração forte e pesada. Suas mãos eram firmes e carinhosas
e ia percorrendo o seu corpo com uma calma demorada. Tirou sua camisa e continuou os beijos carinhosos e sua mão dentro da calça!
- Grandinho eim? Roberto disse com um tom de safadeza e ficou massageando para frente e para trás bem devagar.
Leo estava parado, curtindo o momento e resolver ser mais ousado, já que estavam no ato propriamente dito!
- Roberto, chupa meu pau? Disse um pouco nervoso mais com firmeza! Sua boca é muito gostosa, podia ficar grudado nela o dia inteiro!
- Você quer? Roberto dando um sorrisinho malicioso e sacana, abaixou as calças de Leo e a cueca com cuidado, abaixando com Leo de
costas pro muro e chupou com vontade! Massageando o saco com carinho ele fez movimentos de vai e vem com a boca e a língua na
cabeça da rola como uma cobra! Uma mão segurou a rola de Leo e a outra o saco e começou a chupar com vontade, engolindo tudo bem
devagar, passando a língua nas bolas uma a uma e as duas, sem machucar!
Leo passava a mão na cabeça e nos ombros musculosos de Roberto e fez um gesto para puxar ele para cima interrompendo o boquete,
Roberto ignorou o gesto e continuou chupando com mais vontade entendo que ele queria beijar mais!
Será que ele queria fazer Leo gozar na boca dele? O pensamento o fez estremecer mais e mais então ele se levantou e tirou a roupa dele e
Leo viu por um momento que corpo maravilhoso ele tinha, gordinho musculoso com pernas fortes e braços grandes, barriga pouco saliente
e peito com pelos, ele recolheu a roupa e colocou perto do muro e viu sua bunda carnuda e musculosa! Se pegou babando com a visão
desse espetáculo de homem e tirou a roupa também! Leo o abraçou com vontade e chupou seus peitos peludos, e estava doido pra abrir a
bunda dele e se acabar naquele cu que devia ser uma delícia! Mas tinha que passar pelo pau dele primeiro, homens geralmente só deixavam
chupar o cu depois de passarem bastante tempo chupando suas rolas, mas já que tinha tirado a sorte grande e não tinha sido rejeitado em
nenhum pedido, abusou mais ou pouquinho da sorte!
- Roberto, vira de costas por favor! Disse um pouco tímido, já com o coração nervoso.
- Que me comer já é Leo? Ele virou de costas e se apoiou no muro e abriu as pernas!
Leo foi beijando o pescoço e desceu pela coluna até chegar na bunda carnuda, com as duas mãos foi massageando e abrindo ela, então sem
demorar muito meteu a língua dentro e sentiu o cu dele limpinho e suado, cheiroso a perfume! E dessa vez foi a vez dele gemer enquanto
Leo abria a bunda dele com a língua até chegar nesse cu, e lá foi massageando até ele gemer mais e mais. Leo pegou o saco dele e foi
fazendo massagens e revezando com o pau dele! Era grande e um pouco grosso, mas com a ereção firme, parecia uma tora de madeira de
tão dura que estava! Levantou e foi passando a língua nas costas e com as mãos abria a bunda dele e passava o dedo no cuzinho já
lambuzado de cuspe, massageando bem devagar até ele colocar a cabeça pra trás e gemer de prazer.
- Assim você me mata garoto, quer que eu goze logo é? Disse como se estivesse cansado, mas estava era gostando o corpo dele não mentia,
mesmo se ele dissesse que sim!
- Não quero que goze, ta cedo ainda. Eu quero mais! Olhou serio nos olhos dele e o beijou com vontade, Roberto retribuiu com um abraço
envolvente e carinhoso, então o beijou com a mão no seu pau batendo uma de leve.
Tinha umas caixas grandes e Roberto conduziu Leo pra se apoiar nela e ele se abaixou e chupou seu pau demoradamente com a língua
dentro da boca passando pela cabeça devagar. Leo abriu as pernas para ele se encaixar e relaxou enquanto o movimento de vai e vem da
boca dele tirava as forças da suas pernas, mas como era bom essa chupada desse homem!
Leo fez para trocarem de posições e ele começou a chupar seu pau, tentou fazer melhor que ele para ouvir seus gemidos orgasmicos que
só o excitava mais e mais! Então foi chupando com a mão no pau, punhetando enquanto chupava com a intenção de fazê-lo gozar na sua
boca! Ele ouviu bem devagar a voz dele dizendo: Vou gozar em outro lugar Leo!
- Tá bom! Quero também, posso? Disse com voz de menino querendo ser homem!
- Claro, porque não? Ele disse com sinceridade.
- Posso te pedir uma coisa antes? Se não for demais? Falou com vergonha e se encolhendo do medo da rejeição!
- Manda ae Leo! Disse com um sorriso satisfeito e tranquilo!
- É... promete não rir de mim e nem ficar com raiva? Mas queria muito!!! Disse se encolhendo mais ainda e já perdendo a convicção!
- Porque eu ficaria? Esse aniversario ta maravilhoso, você é muito gente fina e ta tão bom aqui!
- Ta bom mas você prometeu viu?
- Roberto, curti demais você e tudo que ta rolando, principalmente seu cheiro! Vou me lembrar por meses, mas o que queria dizer é é é...
Poderia dizer que me ama enquanto a gente está se curtindo? Por favor?
Ele olhou sério e com um sorriso de orelha a orelha falou:
- Ô meu menino, claro que posso dizer que te amo! Não tem mal nenhum nisso, porque eu riria ou ficaria bravo? Você é muito carinhoso
e ta muito bom aqui, claro que poderia ser em um lugar melhor, mas sim, tô te amando muito agora! E quero te amar mais ainda o que
acha? Deu um beijo forte nele e o abraçou forte! E continuou beijando mais e mais e com delicadeza o virou de costas roçando seu pau na
bunda dele, com carinho e puxando o pescoço pra perto da sua boca disse:
- Te amo meu menino, estou te amando muito e quero te amar mais ainda! Posso mostrar o meu amor pra você? Com o pau duro e a com
cuspe, foi colocando bem devagar o pau dentro dele e só se ouviu gemidos prazerosos! Então ele o penetrou devagar e sem dor, foi
bombando devagar e com a mão na cintura de Leo a outro no pau foi batendo uma um pouco rápido, na intenção dos dois gozarem juntos!
- Assim ta bom pra você meu amor? Desse jeito? Disse com voz firme, mas convincente no que estava fazendo!
Leo foi segurando no muro, enquanto recebia as estocadas de Roberto bem mais rápidas. Leo tirou a mão dele do seu pau e botou na sua
cintura enquanto estava bombando mais e mais!
- O que foi meu amor? Não vai gozar não é? Disse ofegante enquanto metia mais rápido!
- Quero gozar depois de você em outro lugar! Disse Leo, já avisando suas intenções!
- Claro amor, tudo o que você quiser!
Depois de uns dez minutos metendo em Leo, Roberto gozou com força, mas sem falar ou gemer alto, apenas segurou a cintura dele com
suas mãos firmes e soltou um suspiro aliviado de prazer. Ele tirou o pau pra fora e ainda pingando, mas Leo ficou na dúvida se ele ia deixar
gozar aonde quisesse, era natural dos homens mais velhos gozar e sair fora, será que com ele ia ser diferente?
- Poxa Leo, assim você acaba comigo eim? Vai deixar pra próxima vez? Roberto o beijou com um pouco de cansaço e muito aliviado, mas
recuperando o folego perguntou:
- Aonde você quer gozar meu amor?
- Quero gozar beijando você, sentindo seu cheiro gostoso da porra!
Roberto o beijou com calma, mas foi acelerando e ficando cada vez mais quente e ele pegou o pau de Leo punhetando mais e mais,
mantendo um ritmo até encontrar o caminho! Leo foi beijando mais e mais e quando sentiu que estava pra gozar Roberto abaixou e chupou
tudo não deixando cair nada e não desperdiçando a gala. Ele ouvia os ruídos de prazer de Leo e continuou chupando até dar a inevitável
sensibilidade no pau entendendo que ele estava satisfeito, terminando assim com um beijo de amor!
- Que coisa boa eim Leo? Quanto tempo você tava sem gozar? Disse sorrindo e com cara de safado querendo mais!
- Nossa! Acho que sei lá, umas duas semanas ou três... Acho que não tenho mais condições de andar nos próximos dez minutos... minhas
pernas estão um bagaço! Riu sem graça e um pouco encabulado, mas gostando da situação!
Acho que é a pior parte agora, pensou Leo sabendo que se despediriam e nunca mais voltariam a se ver... Mas acho que a resposta de certa
forma mudou sua vida pra sempre sem ele saber que seria assim.
- Leo gostei muito de você, de verdade viu? Mas está ficando muito tarde, deve ser umas duas da manhã eu acho. Está na hora da gente se
vestir ir. Disse um pouco desanimado mas querendo ser o mais delicado possível com as palavras!
Foi buscar as roupas e começar a se vestir, então Leo pegou sua muda de roupa e disse.
- Roberto, também gostei muito de você, muito mesmo! Não quero ir agora e nem que isso acabe, mas temos que ir não é?
- Temos sim meu menino lindo, meu melhor presente de aniversário!
Reunindo a coragem que nunca teve, Leo disse com a voz um pouco tremula e pouco firme.
- Como faço pra ver você de novo? Sem ser inconveniente? Serio que não quero deixar você ir porque vou pensar na sua boca e beijos
direto! Mas vou entender se não quiser! Disse tentando manter uma certa dignidade.
Ele olhou para o pobre garoto apaixonado e com as duas mãos no seu rosto o beijou de forma bem amorosa e disse num sorriso amável.
- Muito simples meu amor, só vim me visitar em casa! Moro a duas ruas daqui, quando me parou eu estava indo pra casa depois de uma
festinha com o pessoal do trabalho!
O sorriso de Leo podia iluminar aquele muro escuro e sinistro de tão feliz que ficou ao ouvir essas palavras! Será que seria esse?
- Serio que você mora aqui pertinho? Ai meu Deus você é casado né? Por isso que não fomos pra lá?
Foi a vez de Roberto rir.
- Claro que não meu amor, sou separado e moro com minha família, seria muito ruim eu levar alguém a essa hora em casa né?
Então Leo ficou mais e mais curioso e milhares de perguntas começaram na sua cabeça de uma vez só! Mas a mais simples e importante
foi a melhor opção!
- Tem problema então se eu saber onde você mora e depois querer te visitar? Disse ele encolhendo cada vez mais!
- Claro que não Leo, pode sim! Melhor vamos lá agora e te dou meu telefone de casa, assim quando quiser vim me visitar só ligar e deixar
avisado!
- Serio? Não tem problema não?
- Claro que não!
- Então vamos logo que a volta pra casa e mais longa ainda pra mim!
- Desculpe eu perguntar, mas onde você mora? Muito longe daqui?
- Moro na zona sul!
- Do outro lado da cidade, vou ficar preocupado com você!
- Tranquilo pra mim, hoje tudo valeu a pena! Inclusive essa pernada pra casa!
Terminado de vestir as roupas, os dois se olharam com um sorriso e meio tristes por se separarem da intimidade, foi Roberto que quebrou
o silencio entre eles.
- Leo, vamos? Tenho que acordar cedo e acho que não vou conseguir dormir mais. E você mora muito longe, não tenho como te levar e
vou ficar preocupado se chegou bem. Disse com afeto e sinceridade!
Leo ficou parado e balançou a cabeça num sorriso murcho tentando lidar com a despedida, mas realmente estava ficando tarde e a volta
era longa.
Então Roberto foi na frente pelo caminho dos matos e segurando a mão de Leo com cuidado, então de repente Leo puxou ele com força e
o beijou sem se importar se estavam na rua, apesar de escura! Ele o abraçou e com os dois braços o levantou do chão rodopiando como se
não pesasse nada, aterrissando no chão e colocando a testa na sua disse:
- Leo, te amo meu amor, hoje foi meu melhor presente! Mas um passo de cada vez viu? Você é novo e ta animado, mas vamos nos conhecer
melhor tá? Tempo ao tempo e um passo de cada vez.
Como se tivesse feito alguma coisa muito errada, Leo concordou e recuou com medo! E seguiram até chegar à casa dele, na rua de cima
da onde estavam!
A casa era grande e ficava no fundo do quintal bem comprido, com as laterais cheias de flores formando um jardim bem bonito! As luzes
estavam acesas e tinha gente na janela mexendo em algo.
- Acho que o pessoal está acordado! Disse ele meio sem jeito, não querendo fazer barulho e acordar todo mundo!
- Eu espero aqui se não se incomodar, pode anotar o seu número e outro dia ligo, pode ser?
- Claro que não, vamos até a área e te dou um pouco de agua ou café se for a mãe que tiver acordada!
- Ta bom, só não quero causar problemas viu? Disse com prudência.
- Vamos entrando, fica à vontade Leo e deixa que eu falo tá? Falou um pouquinho baixo tentando não fazer muito barulho.
- Tudo bem o senhor manda!
Ele foi entrando na área, cheia de objetos de pescaria e uma bike de alumínio pendurada por um gancho e presa em correntes. Uma senhora
muito simpática apareceu com uma garrafa de café e xicaras, Roberto trouxe pães e queijo em um prato! Queijo caseiro. Também trouxe
um pedaço pequeno de papel com o número do fixo da casa, uma letra firme e elegante! Se ele visse a minha letra ia chamar de analfabeto
com os meus garranchos! Ele trouxe também uma caneta pra passar o seu número!
- Aqui está, pra você deixar seu número anotado, assim a gente pode se falar tranquilamente!
Agora na luz, olhando bem viu as suas feições com clareza e calma. Era moreno claro e não tão baixo assim, tinha o cabelo cortado curto
estilo militar, pretos com uns poucos fios brancos, e os olhos eram castanhos e apesar de ter passado o efeito do álcool, tinha a expressão
amigável e observadora. Braços fortes e mãos um pouco grossas com um pé bem formado, mas calejado, tinha uma postura ereta e parecia
estar sempre empinado como um galo! Sua barriga não era tão aparente, mas já estava com vontade de abraçar de novo!
- Essa aqui é minha mãe, dona Maria Conceição, meu pai está dormindo e meus filhos também!
- Prazer dona Maria, me chamo Leo!
- Prazer meu filho, fica à vontade viu? Disse a simpática velhinha, sorrindo de forma gentil e curiosa.
- Filho seu uniforme já está seco e passado, Nicolas já engraxou e lustrou os coturnos!
- Obrigado mãe, pode deitar já viu, só vou terminar aqui!
- Prazer meu filho, quiser vim apareça! Disse num sorriso amável e cansado, entrou pela porta e ouviu um fechar lá dentro, então ficaram
a sós.
- Leo, esse é meu número, pode deixar recado viu? Como estou de plantão hoje, provavelmente não vamos conseguir nos falar, mas amanhã
é mais certo a gente conversar ou mesmo se ver, pode ser?
- Pode sim, mas uma pergunta, você trabalha de que?
- Sou policial militar. Já tem bastante tempo, uns 25 anos eu acho.
- Nossa, e eu corria o risco de ser preso por desacato a autoridade né? Deu uma risada não controlando a piada mega sem graça.
Roberto riu de forma espontânea e gostosa, então ele percebeu que tirou a sorte grande, literalmente. O sorriso daquele homem era lindo
demais meu Deus do céu, ficaria pensando nisso por dias, semanas e meses até quando o encontraria de novo.
- Claro que não Leo! Ele levantou, foi até a cozinha e trouxe um rolo de papel toalhas, fez dois sanduiches com manteiga e queijo
embalando, colocando numa sacola. Também tinha trazido uma garrafinha pet com suco dentro, obviamente já tinha extrapolado o horário
de permanecia na casa, ele precisava dormir e Leo enfrentar a bronca quando chegar em casa.
- Aqui pra você levar no caminho, se pudesse dormiria aqui, mas a casa está lotada. Disse com tristeza, parecia realmente que o encontro
mexeu um pouco com ele.
- Obrigado Roberto, vou indo então. Me acompanha até o portão?
- Claro Leo.
-Valeu pela noite Roberto, não vou esquecer tão cedo.
- Também não meninão, também não. Obrigado por marcar esse meu aniversario que vou lembrar como o melhor!
Então se abraçaram de forma formal, apertaram as mãos e Leo foi embora!
- Leo! Disse num tom de urgência.
Ele virou achando que tinha esquecido a chave ou alguma coisa importante!
- Oi?
Ele deu uma corridinha pra chegar perto e disse em tom animado e gentil.
- Te amo Leo, beijos no coração! Virou e voltou na mesma corridinha pra chegar ao portão, fechando e negando a Leo o direito de resposta
que certamente viria! Então todo bobo e eufórico, teve a longa caminhada para casa sem não acontecer absolutamente nada, só o sorriso
de uma noite que lembraria por muitos e muitos anos de sua vida!

Sentado no banco de concreto da praça e lembrando de que já fazia quase dois anos desde aquela noite, muitas lembranças boas de uma
paixão louca de um bobo apaixonado, mas que não podia mais ignorar os problemas que veio de brinde! Seu pai já estava no limite e sua
mãe também, por não aceitar seu relacionamento. Claro que com razão, mas a grama do vizinho era sempre mais verde do que a sua, e os
famosos parentes viados só foram aceitos depois de muito tempo.
Hoje todos moram fora da cidade e só vem pra ficar no máximo uns três dias depois passam outras temporadas sem dar notícias de suas
vidas. Até o casal de sapatão que são suas primas por parte de pai, ninguém costuma vê-las em reuniões de família e com razão, uma sessão
de comentários indiscretos e piadinhas por trás.
Uma hipocrisia sem fim!
Estava na hora de tomar um rumo na vida, talvez seja o destino de todo gay numa família normal, cair no trecho e viver sua vida pecaminosa
longe do núcleo familiar. Já era umas 20:00 e as figurinhas carimbadas já estavam aglomerando perto da grande pista de skate, com suas
bebidas fortes e cigarros de maconha, toda sexta à noite era assim, aliás, todo dia tinha algum roqueiro desocupado na praça esperando
outros pra se amontoarem para beber e fumar, falar de rock, bandas e tretar uns com os outros! Já estava cansado disso, dessa vida, queria
uma vida a dois, como todo casal hetero tinha ou todo casal gay tinha fora daqui!
Claro que não poderia, não com Roberto e como sua vida era. Não reclamava disso com ele, afinal ele era a paciência de Jó com Leo, mas
até ele já estava se aborrecendo com suas atitudes infantis e rebeldes, especialmente em relação a sua família! Leo se dava bem com a
família do namorado, mãe, pai e filhos, até com outros que ele detestava, mas não tinha o direito de dizer em voz alta, todos o tratavam
muito bem e sabia que era errado isso.
Só que o sonho de Leo era ficar com Roberto só os dois, sem ninguém o máximo do egoísmo!
Ele sabia disso, mas bastava conversar com calma que a sua convicção ia se dissipando mais e mais até não tocarem mais no assunto.
Roberto era muito paciente e compreensivo, tinha jeito com as palavras, não gostava de brigar e ficar com clima ruim, dizia que a vida era
muito curta pra isso, tinha que amar a todos. Talvez fosse da natureza dele, ou agia assim pra aliviar os stress do serviço, afinal policial
militar na cidade sofria muito com a onda de violência e todo plantão Leo ficava preocupado, com medo de acontecer alguma coisa! Talvez
no final ele realmente tinha medo de ficar sozinho e perde-lo. Mas se os ânimos não se acalmassem na sua casa com seu pai, teria realmente
que tomar uma decisão! E temia que fosse drástica...
- Leo, oi Leo? Disse uma voz conhecida puxando o de volta pra praça e saindo das preocupações.
- Oi Negão! Olhou e era o Rogerio Negão, com dois colegas, um já conhecia da banca de revistas e fliper o outro só de vista mesmo.
- Fala ae fi, esse aqui tu conhece né? O Rick, e esse é o Jonathan, falei pra ele que você era artista e mostrei uns trampos seus, e ele ficou
interessado pra banda dele, e aí ta afim?
- E ae beleza? Vi que você faz uns desenhos bem loucos e faz trabalhos com mascaras também não é? Cobra quanto pra fazer um trampo
pra gente? Jonathan era um gordinho musculoso, baterista de várias bandas na cena de rock da cidade, tinha cara de mau humorado e
poucos amigos, mas era normal dos roqueiros da praça de baixo. Ele era bem bonito, mas nunca trocaram palavras nem cumprimentos.
- Ah beleza, vamos ver aí o que tu quer e a gente alinha aí se dá tudo certo tranquilo?
- Pode crê! Disse com a cara amarrada.
- Fechou então, eles tem meu número e tu pega e manda as ideias ae que tu quer e depois eu mando o preço.
Se despediram e o Negão falou pra ficar com a galera, não se isolar e curtir a noite! Logico que não ia, só estava matando tempo até ter
que voltar pra casa! Então recebeu uma mensagem no celular, “vem pra casa, estou com saudades”, só isso era motivo suficiente pra ir
correndo e voltar pra casa, Leo lia todas as mensagens de Roberto com sua voz grossa e tinha o mesmo efeito anestésico! Talvez hoje
conversariam sobre seus problemas ou os deles, talvez hoje pararia de reclamar de barriga cheia e cresceria, talvez chegasse em casa e
tivesse uma comida maravilhosa, talvez hoje ele só chegasse em casa e ele o abraçasse como sempre fizera e todos os seus problemas
fossem resolvidos!

Parte 02

Roberto tinha feito a janta, todos os pratos que Leo gostava, o que significava que ele iria dormir no apartamento! Talvez passassem a
noite vendo televisão, filmes, novelas ou algum seriado que faltava terminar, ver animes ou sentar no tapete e conversar enquanto tomavam
alguma coisa. Era a rotina das noites de folga dele a gente fazer alguma coisa diferente, até ler gibis ele começou a ler, curtia as histórias
do Motoqueiro Fantasma e Justiceiro, achava interessante alguém ter o olhar de penitencia do Motoqueiro e a força de vontade do Frank
Castle de acabar com todos os bandidos no melhor estilo John Wick!
Tinha trazido um monte de gibis do Justiceiro emprestado de um colega da praça o Charles, nerdzinho roqueiro que fez amizade na banca
do seu João Sabá. Roberto estava vendo ele parado na porta com uma sacola cheia de revistas e o refrigerante, com um sorriso alegre de
sempre e se perguntando o porquê dele não entrar logo?
- O que foi filhote? Por que está parado aí na porta? Aconteceu alguma coisa? Disse um pouco preocupado.
Saindo do transe, Leo desperta e como se tivesse pegado um choque e fala.
- Oi, oi, oi. Nada não Beto, me atrasei? Disse com um sorrisinho seco e forçado.
Roberto já podia adivinhar o que era o problema, alias “esse problema” já estava se repetindo bastante ultimamente e se Leo não fosse
resolver logo com o pai ele teria que pressionar mais ainda pra ele falar logo com a família, fugir e fingir que esses problemas não existiam
era pior.
Já faziam quase dois que estavam juntos e Roberto montou um apartamento longe da sua casa e do Leo para ficarem com mais privacidade,
tinha sido muito bom, mas as brigas com a família de Leo não estavam fáceis e ele não ajudava muito, era um meninão novo, cabeça
quente e muitos hormônios na flor da pele e sentimentos envolvidos, tudo era novidade e ele não estava sabendo lidar com tudo isso.
Era verdade que Leo era um menino bom, inteligente e talentoso, mas vida a dois não é só no quarto e curtição, se queria algo sério tinha
as responsabilidades também, isso ele não abriria mão de jeito nenhum. Quando firmou compromisso exigiu que não largasse a escola e
os estudos, não trocaria de casa por uma aventura também iria procurar um emprego e aprenderia logo a ter responsabilidades, teria que
aprender a receber críticas e cumpri-las.
E o principal, Roberto impôs limites sobre a vida dos dois, o que significaria que se tivessem que tomar uma decisão seria os dois, inclusive
sobre se assumirem, algo que pra ele não tinha muito sentido afinal era só pra mostrar pros outros o que só importava aos dois! Leo era
novo e ficava deslumbrado com o mundo gay de hoje e francamente Roberto detestava a militância e qualquer uma que fosse.
Romantizavam demais a vida pessoal gay, mas ele não culpava o menino, ele só queria mostrar ao mundo o quanto estava feliz, mas o
difícil era ele entender que a felicidade era pra ele e não dependia dos outros, nesse meio tinha muita gente invejosa e mau caráter, não só
lá, mas era como se ele pintasse um alvo nas costas e dissesse “Aqui, olha eu aqui, estou feliz, venham destruir minha felicidade!”.
Roberto deixou claro sua posição sobre isso e era muito cedo pra eles isso, claro que Leo não gostava, pra ele iria na mesmo hora contar
aos seus pais que estavam namorando e iriam morar juntos e casar! Como explicar isso pro seus pais já idosos uma coisa que não
entendiam? O pior seria seus filhos e irmãos, claro que desconfiavam de certas coisas, mas ele sempre foi reservado sobre sua vida pessoal
e vez ou outra aparecia uma peguete inócua sem importância. Sua ex-mulher já não ligava faz muito tempo e ele agradecia a Deus toda
vez que lembrava que ela tinha sumido da sua vida para sempre, não levou os filhos e nem nada, deixou Roberto com a família e
desapareceu! Claro que ele sabia ô porque, mas Leo não precisava saber ainda e talvez nunca precisasse!
Seu pai dizia que tudo tinha seu tempo, Leo estava no dele e o que precisavam era se sintonizar! Mas aprendeu muito a gostar dele e até a
ama-lo, Leo dizia que ele era seu primeiro namorado e depois de uma crise de ciúmes com uma amiga antiga, pediu paciência e teve a
hombridade de pedir desculpas a Simone, claro que ela perdoou, mas já percebeu de cara qual era o lance e sorriu pra ele aceitando as
desculpas por amar demais Roberto. Quando disse que ele estava em boas mãos acho que Leo não dormiu uns três dias direito só falando
que um dia queria ir nos Shows dela, ele logico disse que sim, mas iriam num momento oportuno porque teria que viajar a trabalho no
interior!
Simone era uma amiga muito antiga, trabalhava como cantora na noite, tinha uma voz belíssima e faia muito sucesso, tinha seu empresário
e uma banda para os shows, quase todo fina de semana tocava em alguma casa noturna da cidade, era sempre lotado suas performances,
tinham passado muita coisa juntos e hoje era como amigos, mais que irmãos.
Sobre o trabalho, Roberto disse com firmeza para que Leo não perguntasse muito e nem fosse atrás de especulações e respostas, sempre
manteve a família longe e agora Leo também, afinal ele entrou indiretamente pra família não é? Mas claro que o garoto não se conformou
e ficou desconfiado das viagens pro interior e até disse em tom de brincadeira que ele tinha uma amante por lá e ia bater ponto! Roberto
riu com vontade e disse que as contas não deixavam para ter três famílias, Leo deu um pulo e disse “três?”.
- Ora Leo, você é minha família agora não é? Ou você não me considera? Disse com uma carinha triste mas bem convincente para enrolar
ele de novo!
- Ora claro que é! Que besteira viu?
No começo Roberto explicou que ele levava seu trabalho muito a sério e quando chegava em casa deixava tudo do portão pra fora, não
gostava de falar de nada e curtia cuidar dos pais e filhos, curtia pescar com os amigos do trabalho e sempre que podia ia ver os shows da
sua amiga Simone! Mas agora que conheceu Leo e firmou esse relacionamento começou a dividir o tempo entre suas atividades que
gostava, mas tudo com calma se arranjava.
Estava gostando de namorar de novo, mesmo um garotão jovem e cheio de hormônios explodindo com a idade, querendo sexo 24 horas
por dia, se deixasse seria mesmo! Mas ele também foi assim quando novo, vivia em cabarés dos interior do estado, gostava dessa vida, das
badaladas e amores de uma só noite! Depois que se casou tudo mudou, aprendeu com a vida e o trabalho, um dia quem sabe ele conversaria
com Leo, quando fosse mais maduro, tentaria explicar coisas que só vinha com o tempo mas não deixaria de amar esse moleque e se
pudesse, colocaria um pouco de juízo nessa cabeça dura!
- Roberto? Tudo bem? Olhava pra ele como se procurasse sinais de algum problema, sempre era assim quando pegava ele divagando!
- Agora foi minha vez não é filhote? Vamos jantar? Estava preocupado porque tava demorando. Disse com aquela carinha cheia que dava
vontade de apertar.
- Estava na praça um pouco, briguei em casa de novo com o pai e sai pra clarear as ideias! Mas não demorei muito lá, só falei com alguns
amigos e peguei essas hqs! Disse com um tom sem importância.
- Hum, alguma novidade? Disse em tom ameno.
- Só a conclusão da Saga do Massacre dos X-men e algumas do Aranha, mas aparecem o Justiceiro e o Motoqueiro! Deu de ombros e
colocando a sacola com as revistas no sofá.
- Disse sobre seu pai Leo. Falou quase suspirando.
- O de sempre, ele viu algumas mensagens suas no meu celular, mas eu tinha mudado seu o nome pra um apelido! Ele chiou e me ameaçou
com surras e me por pra fora de casa de novo! A mãe do mesmo jeito chorando e se lamentando, nada de novo no fronte! Ficou um pouco
chateado lembrando das palavras do pai, mas sabia que ele tinha uma certa razão, isso não deixa de ficar magoado com a família e essa
situação!
- Leo, você tem que conversar com seu pai, com calma. Explicar a situação, por mais difícil que seja é o melhor a se fazer. Com seu pai e
sua mãe, difícil é, mas é o certo. Falou com calma e num tom moderado.
- Beto, sabe que eu quero conversar, explicar mas eles são difíceis pra me entender, você sabe disso. Não tenho má vontade, só tô magoado
com eles é isso. Abaixou os ombros com cara tristonha e de quase choro. Roberto sabia que quando ele o chamava de Beto era porque
estava fragilizado e tinha abaixado a guarda, era a hora de abraçar e dizer que estava tudo bem e ela estaria sempre do seu lado, mas optou
por uma nova estratégia, optou pra ver o que acontecia.
Deu um sorriso simples e viu que ele estava mesmo pra baixo, mas ainda estava apostando em alguma melhora dele por si só.
- Vamos comer? A tristeza me deu fome... vou só tomar um banho pra sair o cheiro da praça e já jantamos, pode ser? Disse se recompondo
e indo para o quarto buscar toalha e roupas limpas.
- Beto, acho que tudo que preciso agora é olhar pra você e ver seu sorriso, acho que me dá forças isso, sei lá! Acho que me viciei em olhar
pra você e sua carinha de bolacha! Disse recobrando o humor e deixando a briga com o pai pra trás, mas não de lado completamente.
- Só não aperta com força minhas bochechas tá? Passo o dia todo com elas doloridas e o pessoal acha que tenho dor de dente. Disse com
uma cara de cachorro que ficou o dia na chuva e o dono não colocou pra dentro de casa.
- Isso que dá ser lindo desse jeito! Já venho viu? Entrou no quarto, ligou o celular com música pra ele não ouvi-lo chorar de novo.
Leo deixou a música rolar, claro que não seria romântica e sim um pancadão de metal. Aprendeu a ignorar a música ambiente e se afundar
dentro de si mesmo com reflexões e temores.
Amava sua família, seu pai e sua mãe demais, mas estava vivendo um momento maravilhoso, queria compartilhar com todo mundo, queria
gritar e berrar. Imaginava que quando tivesse um namorado ia estar com amigos celebrando o momento, teria finais de semana com
churrascos e programações de passeios e tudo. Teriam festinhas surpresas pra celebrar datas especiais, amigo oculto e vários aniversários
pra ir, sempre teriam alguém pra visitar e nunca ficaria sozinho no sábado à noite!
Convidaria os pais para almoços e a família, receberia gente na sua casa para ver filmes, jogos de futebol e pra comer pizza ou qualquer
outro motivo. Viajariam juntos para praia e finalmente conheceria o mar, realizaria o sonho de catar conchas na praia e com certeza atingiria
o ápice da felicidade ao andar de mãos dadas no pôr do sol! Ficariam juntinhos na varanda com a chuva caindo embrulhados num pesado
cobertor com café quente e música para relaxar olhando as novas flores do jardim que plantariam juntos. Guardaria as primeiras frutas de
qualquer espécie pra comerem juntos, não importando qual fosse, mas fariam tudo juntos!
E o principal, teriam muitas fotos de todas as datas especiais em porta retratos e na geladeiras, fotos da cerimonia de pedido surpresa de
casamento, com direito a vídeo no Youtube e tudo mais. Não precisaria ser rico, mas tudo o que precisaria era olhar pra ele e ver que
estaria sempre lá, sorrindo como sempre fez, sorrindo pra sempre!
Se ele ficasse doente, cuidaria de tudo! Daria banho, remédios e faria a comidinha de hospital, atenderia a todas chamadas e mensagens de
preocupação dos amigos. Ajudaria a cuidar dos pais dele e de qualquer um que precisasse, diria sim pra tudo. Sempre pronto a ajudar e a
perdoar, tudo o que pedisse.
Mas então quando entrou na água do chuveiro lembrou das coisas que seu pai disse e como ele descobriu que era gay. De como sua mãe
olhou pra Leo como se fosse um doente em fase terminal, a decepção e pena nos olhos dela era demais! Incapaz de perguntar ou saber o
que estava acontecendo, de apoiar ou proteger.
- Leonardo o que são essas mensagens aqui? É o que eu estou entendo que é? Disse o pai num tom severo e ásperos, pronto para brigar.
Leo olhou com desafio e raiva, enfrentando o pai disse.
- Achou o que estava procurando pai? Porque o senhor adora mexer no que não é da sua conta né?
O Velho ficou colérico e disse aos gritos!
- Então é verdade? Você é viado é? Criei um filho pra ser baitola? Fala que não é verdade? Ta tendo um caso com um policial é? Fala de
uma vez desgraça! Disse já quase berrando.
- Responde seu pai meu filho, diz que é mentira! Diz que foi só uma fase, só isso. Vamos conseguir ajuda pra você, levar pra igreja e falar
com o pastor! Só diz que não é verdade, que você não é essas coisas, que não está tendo caso com um homem! Disse sua mãe da mesma
maneira servil e deplorável de sempre.
Leo já a muito tempo não gostava dali, de viver debaixo do mesmo teto, queria algo que a mais, algo que de certeza não estava na sua casa.
Então pra irritar o velho ainda mais respirou fundo e olhou serio pra ele e falou.
- Sim pai, sou gay e tenho um namorado PM, porque? E estou muito feliz!
Seu pai tremendo de raiva e num surto colérico vociferou.
- Eu não botei um filho no mundo pra ser viado e ter macho como amante! Fora daqui seu boiola, FOOOOORAAAAAA!!! Seu eu ver
você outra vez nessa casa vou quebrar suas pernas viu? FORAAAAAAA! Você não é meu filho, te renego sua bicha nojenta!
E saiu empurrando ele pra fora, Leo se desvencilhou e foi para o quarto, pegou algumas coisas enquanto seu pai gritava palavrões e
obscenidades, sua mãe começou a chorar e sequer olhou pro filho. Era uma situação engraçada aqueles três, não sabia quem tinha mais
nojo de quem!
O que se passou foi dias terríveis para Leo, foi para o apartamento que tinha acabado de conseguir com Roberto, contou a história pra ele
e pediu paciência, mas ficou com receio dele manda-lo de volta pra casa e abaixar a cabeça pros pais e recomeçar.
A resposta porém foi outra, ele o abraçou e sentaram pra conversar sobre família e seu relacionamento. Foi sincero e era como se ele
estivesse abrindo a alma, mas de forma paternal. Ou era essa a impressão que tinha.
- Filho, você tem que ter paciência com eles, são seus pais. Pais são assim mesmo, só querem o melhor pros filhos. Esfria um pouco a
cabeça e depois vai com eles conversar. Se quiser vou junto com você se sentir melhor.
Leo estava um pouco nervoso e tremendo, mas não sabia se era de raiva ou de medo. Na verdade estava completamente perdido, tudo que
queria era que esse pesadelo acabasse logo.
Se sentia impotente e indefeso, como se o mundo inteiro abrisse uma boca gigantesca e o engolisse mastigando sem dó, perdia as forças
mais e mais.
- Beto, queria que eles só aceitassem que eu tô feliz, muito feliz! Mas é difícil com a cabeça deles. Disse com tristeza.
- Filhote, vem cá vem. Chamou junto pro sofá e o aninhou nos braços com cuidado.
- Você é um menino bom Leo, serio mesmo muito bom, mas se põe no lugar deles um pouco pra ver como muda as coisas, mas se coloca
com honestidade. Disse sério e com muita paciência, entendia que era um problemão pra ele mas estava na hora de enfrentar de frente e
não fugir em si mesmo.
- Eu sei... incrivelmente não retrucou com malcriação. Roberto foi mais incisivo.
- Leo, como te falei no começo. A vida é assim você não pode ser infantil e agir como criança pra sempre. Estamos juntos não é? Te disse
como era minha vida e responsabilidades, você tem que assumir as suas, já passou da hora de agir como homem. Não falou com rispidez
e sim sério e paciente, até achou que ele ia chorar ou brigar. Mas a reação e resposta foi outra totalmente diferente.
- Você tá certo Beto, tô com muito medo, medo de tudo, de ser excluído da minha família, medo do mundo. To com muito medo de perder
você... Acho que isso que a gente tem é um sonho sabe, mas eu sei que ta certo. Não adianta fugir disso. Falou com sinceridade.
Então conversaram bastante e ele prometeu ir falar com os pais, esperar baixar a poeira e ir com calma, aceitando o que quer que fosse
mas prometeu que se pedissem pra se separar dele não ia aceitar!

Acho que demorou uns quinze minutos no banho, com as lembranças daquele dia triste. A mesa estava pronta com sua comida favorita e
tudo bem arrumadinho. Feijão tropeiro, arroz com milho, ervilha, charque e cubinhos de banana, tudo bem temperado. Tinha o caldo de
feijão com temperos e pimenta, macaxeira frita e macarrão com carne moída e pedacinhos de cebolas. Assado de panela do jeito que
gostava e a salada com batatas, cebola alface cortado bem fininho com orégano e azeite. Bom, podia está passando uma barra familiar mas
ia enfrentar o problema com a barriga cheia com esse jantar maravilhoso.
Deixaram a tristeza de lado e tiveram um bom jantar, conversaram bastante, contaram histórias sobre suas leituras de HQs e filmes que
veriam juntos. Olharam sinopses de seriados de terror e policial, logicamente sobre os lançamentos do cinema. Roberto até jurou que
arriscaria ir no cinema para ver o lançamento de algum filme da Marvel. Lógico que Leo sabia que era mentira, não gostava de cinemas
porque era muito barulhento e pessoas mau educadas, assistia filmes prestando atenção e concentrado por pior que fosse e não do estilo
que gostasse. Mas ele era assim mesmo. As vezes fica sério e pensativo, observava as coisas como se olhasse através dos objetos e quando
Leo perguntava ele saia do transe e sorria dizendo que não era nada.
O mais estranho eram seus colegas de trabalho, claro que ele ficava afastado porque ele tinha pedido, mas eram muitos estranhos. Viu um
que não gostou logo de cara, conseguiu ouvir o nome dele ou pelo menos como era chamado, Torres. Era um sujeito mais alto que Roberto
e branco, musculoso e vestido como playboy de academia, tinha uma cara cínica e um sorriso ainda mais cínico, pelo que conhecia do
Roberto, Leo sabia que ele tolerava o sujeito. Mas o serviço era assim, tinha sempre gente com quem não simpatizava e o importante era
fazer sua parte.
As vezes recebia chamadas no meio da noite e de números estranhos, ele pedia licença e ia atender longe, claro que o celular dele tinha
senha e acesso por impressão digital, mesmo assim Leo ficava longe e não tinha pressentimentos bons sobre o aparelho e as ligações. Claro
que morria de curiosidade mas respeitava as regras de Roberto, não queria ser chamado atenção. Mas que daria tudo pra dar uma espiadela
nos segredos do celular, mas por mais que empolava de curiosidade tinha mais medo da bronca dele e resolveu matar a força essa dúvida.
Outra coisa que começou a prestar atenção foi sobre carros estranhos passando na frente do apartamento. No começo pensava que era só
coisas da sua cabeça mas achou que não quando o mesmo carro passou cinco vezes no dia em que ele estava na casa dos pais, passava
devagar como se tivesse rondando. Todos com vidros fumê, nem perdeu o tempo anotando placas por que suspeitava que era gente que ele
tinha mandado para vigia-lo, não quis levantar a questão com ele. Mas não sabia se sentia seguro ou com medo.
De abuso uma vez colocou uma cadeira e uma mesinha redonda, com uma garrafa de vinho no gelo e uma tigela de amendoins, ficou de
plantão até que outro carro passou do mesmo jeito, devagar com um ar sinistro. Ele deixou o portão entre aberto para o caso de atirarem
daria pra sair correndo e se trancar e pedir ajuda. Quando o carro passou no horário, obvio que não era o mesmo mas tinha aquela aura de
maldade, ele tomou um gole com a taça e o cumprimentou levantando em direção deles. O Carro piscou as luzes e seguiu em frente com
aquele vento sinistro.
Se voltassem de novo ia questionar Roberto quem eram aqueles homens no carro! Tinha uma leve suspeita que fosse aquele Torres, mas
surpreendentemente no outro dia sumiram. Até as ligações diminuíram e ele conversava na frente de Leo. Claro que tinha algo errado, mas
resolveu guardar pra si. Por enquanto...
Roberto começou a ficar mais carinhoso depois desse episódio e o procurava na cama, coisa que era difícil sendo que era sempre ele que
ia atrás de sexo. Era estranho isso mas não incomum na vida de um casal, então aproveitava a situação.
Leo ficou mais encucado com isso mas optou por deixar de lado e focar nesse novo lado dele que era excelente. As vezes chegava em casa
dizendo que tinha uma surpresa que estava na mochila, era algumas edições especiais do Aranha encadernadas, bem caras. Outras vezes
ele dizia que era pra uso pessoal e quando tirava a farda de trabalho era uma cueca box branca nova, Leo simplesmente ficou de boca
aberta e não conseguia fechar babando. “Nossa como você ficou lindo nessa cueca nova!” disse com cara de espanto. Outras vezes trazia
perfumes novos que sabia que deixariam Leo maluco, mesmo quando ele gostava do cheiro natural dele, mas trouxe alguns que o garoto
pirou! Ele comentou que as vezes músicas e perfumes são parecidos no relacionamento, quando o casal se ama demais o perfume e a
música marcam suas vidas e quando terminam nunca deixam de se lembrar. Então Roberto numa das poucas vezes falou serio pra ele.
- Já prestou atenção que é só você que fala essas coisas? Da gente se separar? De Terminar e coisas do tipo? Disse zangado quase estragando
o clima.
Leo arregalou os olhos e se encolheu, viu que ele ainda o encarava respondeu inusitadamente com bom humor.
- Nunca tinha percebido isso. Sorriu amarelo e seco dando uma risadinha sem graça.
- Pois é senhor Leonardo é sempre você! Nunca mais quero ouvir isso viu? Se não você vai ver só, estou te avisando. Disse com a cara
fechada e de poucos amigos.
Sua mãe sempre brigava serio com ele quando o chamava pelo nome inteiro e se fosse o nome completo era pior, mas percebeu duas coisas
interessantes, a primeira era que ele estava certo. Ficava grilado atoa e sabia que tirando o trabalho Roberto era uma pessoa maravilhosa.
A segunda coisa é que ele era mais lindo com a cara de emburrado, logico que não arriscaria pra ver a cara de fúria dele mas amou demais
essa situação. O amor está em várias coisas e ele teve certeza dessa!
- Sabe de uma coisa Beto? Você está certo! E descobri uma coisa muito importante hoje sabia? Disse animado.
- Sei, que me enrolar né? E o que foi que descobriu? Disse com cara fechada.
- Que você é mais lindo com essa cara emburrada e trombuda! Acho que to brincando com a sorte, vai que me deixa e aonde vou arrumar
alguém que é lindo sorrindo e bravo ao mesmo tempo? Sabia que é a coisona mais fofa do mundo? Senhor Roberto! Falou pegando as
mãos dele e puxando pra inevitável técnica depois de uma quase briga.
- Não disse que você queria me enrolar? Te conheço viu? Não vai funcionar dessa vez isso! Disse mais calmo e desaparecendo a cara
trombuda e amarrada.
- Vai sim, sabe que hora é essa né? Olhou com uma cara maliciosa e perversa sorrindo e indo em direção dele.
Roberto reconheceu a cara que ele fazia e soltou as mãos dele e colocou no rosto, protegendo as bochechas.
- Sabia que ia me enrolar, vai me machucar de novo né? Olhou com a cara desconfiada e deu um passo pra trás fingindo estar assustado.
- Não, é pior que isso, muito pior! Hoje vai ser outra coisa, vai ser os Mil Beijos! Pulou em cima dele e começou a beijar o rosto e tentando
tirar as mãos do rosto, beijando suas bochechas várias vezes! “Os mil beijos aaaahhhh!”
Ele fingia se defender mas estava gostando e abraçando permitindo que a técnica entrasse e o abraçou. Mas de repente ele o segurou com
as duas mãos e o olhou fixamente e disse.
- Te amo Leo, muito mesmo! Muito mesmo e estou muito feliz com você! Não quero que acabe nosso momento e se acabar que dure
enquanto tiver que durar!
Leo de repente parou sério e olhou com os olhos cheios de lagrima, mas se segurou e ele o beijou. Um beijo diferente de todos. Um beijo
sincero e com amor! Achou que se o mundo acabasse ele tinha cumprido seu propósito, de ter encontrado alguém que o amasse como
sempre sonhou! Nesses dois anos, acho que foi a primeira vez que disse eu te amo com tanta intensidade, não era de dizer isso porque
achava que poderia soar como falsidade ou não estava realmente sentindo como Leo achava que estava. Mas hoje era diferente.
- Leo hoje você pode me pedir o que quiser, qualquer coisa que eu faço! Qualquer fantasia sua, qualquer coisa é só falar! Falou sério e
determinado. “Qualquer coisa em quatro paredes!”
- Serio mesmo? Qualquer coisa? Não vai negar nada? Disse ele animado e surpreso.
- Sim Leo, qualquer coisa, só pedir! Consentiu com seu sorriso determinado.
- Que o dia de hoje não acabe tão cedo! Porque se o mundo acabar hoje, acho que cumpri minha missão de vida, acho que sou a pessoa
mais feliz do mundo!
Então entram para o quarto apagaram as luzes e ficaram a noite toda juntinhos de uma maneira especial esquecendo dos problemas do
mundo e deles, esquecendo que o mal estava lá fora mas que ali estavam seguros, ali tinham um ao outro e pelo menos por hoje bastaria.
Apenas hoje ele marcou na sua memória como o dia mais feliz da sua vida!

Parte 03

O apartamento deles era confortável e com cara de um lar apaixonado. Tinha dois quartos um com suíte e um banheiro para as visitas, uma
sala, cozinha e área de serviço até espaçosa. O quarto deles tinha uma cama de casal grande, com travesseiros e várias almofadas, guarda-
roupa para três pessoas, e do lado tinha um espelho que pegava o corpo inteiro de um homem alto. O banheiro era simples limpo e sempre
arejado com azulejos brancos e um box de vidro transparente, toalhas de rosto brancas e um armário com produtos de higiene pessoal,
tudo organizado e abastecido. Pensaram em colocar alguma planta que seja própria para a umidade do lugar, talvez veria em uma outra
hora, mas tudo estava sempre impecável.
A sala tinha uma televisão grande com um DVD em baixo e uma caixa com vários cds de forró, pagode e sertanejo antigo, alguns flashbacks
e coletâneas de rock nacional. Músicas que Roberto gostava de ouvir quando bebia em casa. Apesar de gostos diferentes Leo aprendeu a
ouvir com mente aberta as músicas dele e até gostar de algumas, começava a prestar atenção nas letras e via ele viajar longe, talvez alguma
lembrança que não lhe cabia saber o que era.
O segundo quarto era para visitas e também estava sempre limpo e arejado com uma cama de solteiro e cômodas, com lençóis e algumas
roupas limpas. E no canto do quarto colocava algumas coisas de forma organizada para não parecer um deposito ou despensa.
No terceiro ano juntos Leo começava a mudar por dentro e por fora.
Ele já tinha uma boa altura e era esguio, não muito mas já começava a criar músculos no corpo e mudou a forma de se vestir. Cortava o
cabelo social e parecido com Roberto, mas mudou de corte quando Simone disse que pareciam pai e filho. Ele ficou emburrado e riu sem
graça, ela o puxou pelo braço deu dois beijos na bochecha e pediu uma música para dançar.
Era sempre assim, Simone sempre alegrava a vida dos dois. Ela era uma mulher negra um pouco gordinha e sempre sorrindo e animada.
Roberto disse uma vez que ela uma versão brasileira da Tina Turner, com a mesma energia e carisma. Estava sempre cantarolando e
sorrindo. Mas gostava era de embaraçar Leo sempre que podia, as vezes achava muito sério e sisudo. Não combinava com um rapaz bonito
dizia ela. Ficava com eles quando sua agenda de shows diminuía, adorava os dois.
A área de serviço era de tamanho mediano, com alguns vasos de plantas e flores regadas de manhã bem cedinho e quando começa a
escurecer. Herança dos inquilinos anteriores, mas Leo pegou para cuidar delas. Disse que tinha ficado com pena das bichinhas e aos poucos
elas foram crescendo e se renovando! Roberto ficava olhando pela janela quando ele ia cuidar delas e ficava sorrindo e como se fosse um
tipo de pressentimento Leo virou de repente e ele tinha sumido! As vezes Leo tinha o pressentimento que estava sendo observado em casa,
mas enquanto fazia os serviços de casa, Roberto ficava sentado lendo jornal ou vendo tv. Arriscava o palpite que Roberto também olhava
como ele mesmo fazia, mas de modo discreto.
Leo adorava olha pra ele. Gostava das suas costas largas e o seu pescoço grosso, do arco que sua coluna fazia até sua bunda carnuda.
Quando não estava olhando, amava admirar as coxas grossas dele e vezes tinha vontade de passar o dia deitado em cima dela e apertando
mas passou a controlar seus impulsos de ficar grudado com ele. Roberto uma vez na cama chamou sua atenção de leve sobre o grude, claro
que ele ficou sentido mas deu uma maneirada.
Em sua defesa, argumentou que gostava de tudo nele e era difícil resistir de bolinar, mas continuou com o que achava de mais irresistível
nele que era o seu cheiro! Cheirava a madeira molhada perfumada, forte muito forte! Quando suava não cheirava mal e só atiçava mais e
mais sua vontade de transar. Ele ouviu com a paciência costumeira e esperando a hora de falar, enquanto ele falava as qualidades masculinas
que via nele. – Posso? Disse sorrindo.
Leo ficou calado e balançou a cabeça afirmativamente.
- Filho, eu agradeço todo o carinho que você tem por mim, serio mesmo. Mas as vezes você fica grudado demais e não me dá espaço filho.
Claro que gosto disso, mas queria que desse uma maneirada só um pouquinho tá? Sinto falta de respirar aliviado. Falou em tom de
brincadeira. Mas sabia que ele ia ficar magoado e passar uns três dias distante. Então ele levantou a mão mudo e pedindo a palavra com
cara séria.
- Pode falar filho, não precisa disso. Disse suspirando e quase virando os olhos mas não o fez. Ele então se levantou e foi até Roberto quase
encostando o rosto no dele e olhou bem serio como se tivesse pronto para briga.
- Esse é o preço que você paga por ser tão lindo assim! Deu um selinho rápido e recuou com um sorriso de orelha a orelha vendo a cara
dele de assustado.
- Às vezes acho que você vai me sequestrar e me amarrar numa cama, fazendo comigo os cinquenta tons de cinza! Falou com cara de
preocupação e começando a rir. Mas aos poucos Roberto foi percebendo que do jeito dele o garoto estava crescendo, mudando e
amadurecendo. Dê tempo ao tempo e um passo de cada vez. Sorriu por dentro e ele mesmo se pegou com vontade de agarrar esse moleque
e encher ele de beijos.
Curiosamente não tinham retratos deles juntos e um dia despretensiosamente Roberto perguntou o porquê não colocava. Foi Leo que
manteve uma certa maturidade e disse um pouco murcho mas achando melhor assim.
- Acho melhor não Beto, caso algum dia algum conhecido seu possa aparecer não saberia explicar uma foto nossa juntos! Disse um pouco
abatido. Roberto não discutiu mas achou que ele estava fazendo o que achava melhor pros dois e decidiu fazer uma surpresa!
Uma noite pediu pra ele ir no mercado comprar uma caixa de cerveja e ele demoraria uns quinze minutos, deu algum dinheiro a mais e
falou para comprar algo que quisesse. Daria tempo de sobra para armar tudo. Ele foi até o mercado e demorou quase vinte minutos.
Chegando em casa com as compras estava Simone e ele com dois embrulhos de presente! Ele ficou surpreso e perguntou.
- Oi Simone, alguma ocasião especial? Disse desconfiado e olhando pra um depois o outro.
- Tenho duas surpresas pra você Leo! Disse ela com um sorriso doce.
Entregando o pacote dele, desembrulhou com cuidado e quase teve um ataque do coração. Era um retrato dos dois juntos num show da
Simone, o primeiro que tinha ido, emoldurado e pronto pra colocar onde quisesse!
- Esse é pra ficar aqui na sala. Para todo mundo ver que te amo meu menino! Sou eu que estou mandando viu? Disse de forma firme.
Leo segurando as lagrimas e abraçando o porta retrato com força.
- Agora é o meu presente, guarda a choradeira pro meu viu? Rumm! Disse Simone com a cara franzida e enchendo as bochechas!
Ela entregou um pacote maior que do Roberto, embrulhado em papel presente vermelho e com uma rosa num laço. Era outro quadro maior
que o primeiro. Era um quadro dos três juntos, Leo, Roberto e Simone no meio quando foram no show dela a algum tempo. Ele segurou
com força e desabando em lagrimas, abraçou os dois e começou a chorar!
Os dois retribuíram o abraço e o encheram de beijo, então Simone disse:
- Acha que as surpresas acabaram Leo? Disse ela mais animada do que nunca!
- Isso mesmo Senhor Leonardo, não acabou não! Te preparei uma surpresa ainda maior! Disse Roberto sorrindo maliciosamente.
Leo só arregalou os olhos e vidrado segurando os dois porta-retratos como a coisa mais valiosa do mundo! E era.
Simone pegou uma caixinha de som do quarto de hospedes e um microfone e Roberto foi rápido pro quarto e voltou com um objeto dentro
do bolso. Simone já prepara como tinham combinados e a postos deixou a música tocar antes de começar ela mesma a cantar.
- Leonardo Souza Oliveira quer ser meu par nessa dança? Disse olhando firme nos olhos de Leo e com uma voz imperativa não aceitando
recusa. Simone já estava eufórica e a ponto de explodir de tanta excitação com o pedido, saracutiando de um lado para o outro e dançando
como fazia nos shows!
Leo estava paralisado, não sabia o que dizer e nem acreditava no que estava acontecendo e estendeu a mão de forma tremula e tímida
dizendo um sim quase inaudível e era a deixa pra Simone colocar a música Dirty Dancing -Time of my Life!
Roberto o conduziu para o centro da sala e começou a dançar. Reproduzindo os passos do Patrick Swayze com perfeição e tentando fazer
Leo se soltar e entrar no ritmo. Simone cantava a música fazendo as duas vozes com maestria provando mais uma vez pra Leo o quanto
ela era talentosa e diferenciada. Ele sabia que a fama a esperava, mas não entendia o porquê estava ainda perdendo tempo aqui nessa
cidade.
Roberto puxava, afastava e girava o ainda tímido Leo.
- Ainda tímido? Disse sorrindo com satisfação.
Leo tentou alguns passos e estava se soltando aos poucos arriscando passos mais e mais complexos, mas não sabia se ele aproveitava a
dança ou parava e admirava aquela Diva negra da música chamada Simone! Ela fazia com perfeição todas as notas e timbres dos dois
cantores da música e misturando seu próprio estilo deixava algo totalmente novo. Ele abraçou Roberto com força e finalmente deixou de
lado a timidez de lado e arriscou os passos do filme de cabeça, tentando acompanha-lo. Era um excelente dançarino e se lembrou das
histórias de cabaré do interior do estado, passando a noite toda dançando forró e sertanejo, mas nunca imaginaria que ele podia dançar essa
música tão bem!
Simone trocou de música por uma romântica, claro que ele sabia qual era essa balada e foi a vez dela de dançar com Roberto. Ele sentou
na cadeira e com os joelhos juntinhos observando a química desses dois. Ela além de cantar era uma excelente dançarina e quando o
abraçava e giravam de um lado pra outro era a coisa mais linda que já vira! E como de costume Leo estava em transe com esse espetáculo.
“Nossa como são maravilhosos juntos, se fossem casados seriam o casal mais perfeito do mundo!” Pensou suspirando poderia ver eles
dançarem a vida toda. Não percebendo quando ela parou na sua frente e estendeu sua para uma dança.
- Leonardo Souza Oliveira me daria a honra de dançar comigo uma música? Disse ela com seu sorriso alegre e nem esperando Leo
estender a mão pra aceitar o convite o puxou com força e agarrou pelos braços e o abraço! Embalando com carinho e conduzindo-o o
desajeitado amigo e olhando pra ele e depois colocando sua cabeça no ombro, cantarolando Vulnerable da Roxette!
Leo também a abraçou com carinho e ficaram de olhos fechados pra um lado e pro outro. Estava viajando nos braços da amiga e na música
quando parou de dançar e viu Roberto parado de frente dos dois com as duas mãos pra trás!
- Quer se casar comigo Leo? Fazendo um expressão que ele nunca tinha visto com a carinha mais meiga, puxou o que estava escondendo
e era uma caixinha com duas alianças de ouro!
- Aceita ser oficialmente a pessoa mais importante da minha vida? Se ajoelhou e estendeu as alianças!
Simone já em lagrimas e com as duas mãos no rosto falou quase engasgada.
- Aceito logo, se não eu pego essa aliança e me caso com ele, porque sou dessas! Falou impaciente e já nervosa!
Leo ficou paralisado e quase não conseguiu falar direito, pegou a aliança e com as duas mãos levantou Roberto e o abraçou, não disse
nada, não conseguia. Disse balbuciando algo que lembrava um sim. Começou a tremer todo e Simone achou que ele ia ter um colapso!
Roberto correu e pegou uma cadeira correndo e o colocou para se sentar, Simone trouxe um copo de agua e ele estático!
- Leo, Leo ta tudo bem? Ta passando mal filho? Disse Roberto vendo que o garoto estava rígido como um estatua!
- Ai meu Deus, ele vai ter um ataque! Disse Simone já querendo perder o controle.
Leo olhou para os dois como se estivesse em outro mundo e gaguejou com os olhos abertos estatelados.
- Eu, eu eu... eu... disse sim? Eu disse? Já estava ficando branco e gelado. Ele então foi voltando a si e olhou pra eles de repente como se
estivesse em outra realidade e respondeu.
- Eu disse sim! SIM! SIIIIMMM! Eu aceito! Sim, ai meu Deus! SIIIIIIIIIIMMMMMMM
Pulou da cadeira e o abraçou com força, os dois caíram no chão se estatelando e Leo gritando sim cada vez mais alto! Enchendo ele de
beijos e puxando as bochechas dele num beliscão! Simone pulou em cima dos dois e Roberto deu um gemido de dor e os dois o abraçaram
e o beijaram com força. Então Roberto os apertou e começou a beija-los e os três começaram a rir de alegria. Ficaram fazendo cocegas uns
nos outros e dando mordidas.
Prepararam a mesa e na área de serviço estava guardada uma caixa de gelo com bebidas, pegaram os copos e taças. Simone trouxe velas e
um candelabro, escondido debaixo da cama de hospedes. Ligaram a televisão e colocaram várias músicas! Pediram tira gosto e
churrasquinhos! Tigelinhas com azeitona e queijo tudo arrumadinho e Leo disse que precisava de um toque especial, a cereja do bolo
daquela mesa. Foi na área de serviço e trouxe uma garrafa de vinho vazia com um pouco de agua dentro. Então colocou a rosa do presente
no vaso improvisado falando que se tem velas românticas tem que ter uma rosa!
Conversaram a noite toda, brincaram e relembraram histórias da vida de cada um. Brindaram a amizade, união e fizeram votos eternos de
felicidade! Leo pediu desculpas de novo por ter feito aquela cena de ciúmes quando se conheceram e confessou que achava a beleza dela
intimidadora! Ela respondeu com bom humor.
- Eu sei! Sou mesmo e nunca mais quero ouvir você falar daquele dia de novo!
Ela contou que era muito apaixonado por Roberto e ele foi honesto com ela, disse que não adiantava ficarem juntos se ainda não tinha
terminado o problema com a ex-esposa. Ela sofreu muito mas acabaram virando bons amigos e ele a ajudou em vários momentos de
dificuldade da vida! Ele um pouco sério e bebiricando seu copo de whisky.
Roberto também falou que gostava muito dela, mas os dois tinham vidas diferentes e sabia que ela tinha muito talento pra música e logo
logo iria decolar, não seria justo com ela isso! Também tinha sua própria vida, seu trabalho e sua família. Mesmo que quisesse os dois
tinham que fazer concessões que não poderiam aguentar muito tempo.
Leo percebeu um brilho diferente no olhar de Simone quando ele falou sobre o trabalho, ficou intrigado mas não ia estragar o melhor dia
da sua vida com isso e guardou pra si.
- Parece que você tirou a sorte grande Leo, conseguiu conquistar esse coração malandro! Levantando a taça e propondo um brinde.
- A vocês, os amores da minha vida! Que sejam muito felizes e que seja eterno enquanto durar e termine quando nada mais restar!
Roberto e Leo levantaram seus copos e os três brindaram!
- A minha melhor amiga e meu grande amor! Simone a melhor cantora que um dia eu conheci! Brindou Roberto com um sorriso afetuoso
cheio de carinho.
- A minha melhor amiga Simone, obrigado por tudo! Levantando a taça também sorrindo! Leo achava que seria ela que ia as lagrimas.
Então se divertiram como nunca, rindo, brincando como se não existisse nada além daquele momento, contando casos e lembranças! Mas
já era tarde e Simone já tinha que ir pra casa, Roberto e Leo insistiram pra que ela ficasse no quarto de hospedes mas agradeceu falando
que a noite era agora deles pra se curtirem.
- Tem certeza Simone? Fica com a gente vou gostar muito. Roberto falou com a carinha tristonha e meiga, fazia tempo que não via essa
cara e já tinha saudades, mas agora era para outra pessoa. Estava feliz com o amigo.
- Obrigado amor, mas está na minha hora. Amanhã vai ser um dia cheio de compromissos e o resto da noite é com vocês! Sorriu e abraçou
Roberto com força, beijando na testa desejando toda felicidade do mundo! Com lagrimas escorrendo, se sentia feliz por esta participando
do momento.
- Ia adorar que ficasse, mas venha pra ficar um fim de semana com a gente viu? Vamos gostar muito! Leo disse com sinceridade abraçando
a amiga com força!
- Vou sim Leo, ta combinado viu? Sorrindo como sempre e limpando as lagrimas! Ficaram se olhando um pouco e nem perceberam o
celular de Roberto tocar o barulho de mensagens. Ele se afastou um pouco e quando leu a mensagem, apagou na mesma hora e mudou de
expressão rapidamente ficando sério e desaparecendo toda a alegria da noite.
Simone percebeu a expressão e Leo se virou pra ver o que era.
- Tenho trabalho amanhã no interior. Disse sério e levemente perturbado.
Como se uma brisa fria e mórbida tivesse entrado e se instalado na sala, Roberto deu boa noite e foi para o quarto pedindo para Simone
esperar um pouco. Voltando deu a ela um bilhete num papel dobrado e pediu pra abrir em caso de urgência. Ela já sabia do que se tratava
e se despediu rapidamente foi embora.
Leo sem entender nada ficou parado olhando esperando uma explicação que talvez não viria mas já preparado. Fecharam a porta e
trancaram o apartamento, Roberto foi tomar um banho e disse pra esperar na sala. Demorou uns dez minutos e com um short de dormir e
uma camisa regata branca, pegou um copo de whisky pôs na mesa olhou para o vazio e perguntou sem rodeios.
- Leonardo, o quanto você diz que me ama de verdade? Ainda olhando para o nada imaginário na sua frente.
Leo ficou preocupado, mas lembrou de todas as conversas sobre amadurecer e ser homem, sem saber tinha ativado um gatilho e disse com
firmeza.
- De todo o meu coração Beto, com toda minha vida e estou disposto a tudo! Disse determinado. Ele olhou rapidamente de soslaio e deu
um gole e fitando o nada falou.
- Tudo que te disse e fiz é verdade, te amo mesmo e não quero que isso acabe. Mas hoje estou com medo, muito medo de não terminar
bem. Não digo sobre minha profissão, mas as coisas que você ainda não sabe e te mantive afastado pra te proteger meu menino. Disse em
tom sombrio e tremulo, nunca tinha visto ele assim. Ficou com muito medo, não por ele mas pelos dois. Ainda olhando fixo pra ele
esperando alguma explicação já estava com o coração acelerado com essa tensão.
- Daqui a pouco meu chefe vai vim aqui e vamos pro interior, o trabalho vai ser difícil e talvez eu posso não voltar. Talvez eu acabe
morrendo e se acontecer você tem que ser forte. Disse abaixando a cabeça tomando mais um gole.
Leo ficou em choque, quis dizer alguma coisa mas não conseguiu dizer uma palavra. Ficou esperando alguma explicação do porquê disso
tudo e se finalmente saberia o que era esses serviços.
- Leo... A voz era de partir o coração e ele estava lagrimando.
- Leo, tudo foi verdade entre a gente, nada foi mentira. Prefiro eu ir pro inferno do que acontecer alguma coisa com você. Então desabou
a chorar, chorando e soluçando muito.
- Estou cansado dessa vida, queria ir pra longe daqui, de tudo! Queria só você meu menino. Com lagrimas escorrendo pra camisa.
Leo engoliu o que seria o choro, foi até ele para abraça-lo e ele se ajoelhou o pegou pela cintura e chorou como nunca.
- Me perdoa meu menino, me perdoa! Quero sair dessa vida, mas não posso ainda! Tenho que aguentar mais, tenho só dois passes e preciso
de três! Chorando mais ainda, Leo sem entender nada o abraçou, abaixando o apertando o tanto que podia.
- Beto, o que eu posso fazer pra te ajudar? Como posso ficar do seu lado? Disse aflito e tremendo.
- Nada filho, nada. Você não tem nada a ver com isso. Abaixou a cabeça limpando as lagrimas, levantando até a mesa dando outro gole.
Queria negociar um terceiro passe, mas a custa de que? Do que restou da sua alma? Porque inventaram o amor se na hora mais negra ia
sofrer tanto? Tinha que ser forte agora, mais forte que nunca.
- Isso tem a ver com aquela situação dos carros não é? Os que passavam aqui e aquele colega de trabalho né? O tal do To... rapidamente
Roberto tapou a boca antes dele completar o nome. Leo assustado com a reação dele arregalou os olhos e ele fez sinal com o dedo pedindo
silêncio, ouvindo o barulho de um carro encostando na frente. O celular começa a chamar com um toque diferente do normal e de repente
duas buzinadas na frente.
- Chegaram! Leo, presta atenção no que eu vou dizer. Faça exatamente o que eu disser viu? Por todo o amor do mundo, siga minhas
instruções à risca! Ele o abraço forte e o beijou como nunca tinha feito, e o enchendo de beijos como ele sempre fazia olhou com os olhos
vermelhos. Ele falou como devia proceder e guardando as alianças no bolso de Leo.
- Te amo pra sempre Leonardo! Aconteça o que acontecer nunca duvide que te amo com toda minha alma!
Leo começou a chorar e ele o sacudiu com as duas mãos para se recompor, o celular começou a tocar e uma terceira buzinada.
- Fica atrás de mim e não diga nada. Ele fez que sim com o coração quase saindo da boca.
Ele abriu a porta e no portão estava dois homens em pé o esperando. Um deles era o tal do Torres. Abriu o portão e quando eles foram
entrar, Roberto barrou a entrada de Torres fazendo sinal para esperar do lado de fora e o outro entrou.
- Boa noite. Disse olhando para Leo o estranho.
- Boa noite. Leo disse assustado tentando fazer as pernas pararem de tremer.
- Então você é o famoso Leo não? O estranho olhou para Leo e depois para Roberto com curiosidade.
O estranho era um pouco mais alto que Roberto, branco cabelos curtos castanhos e bagunçados pelo vento. Tinha um rosto bonito, sério
com olhos profundos e inquisidores. Braços fortes e um pouco peludo, usava luvas de motoqueiros e uma jaqueta de couro marrom, calças
jeans e uma bota de peão. Estava todo empoeirado, Leo percebeu que estava na estrada de chão. Mas outra coisa que ficava evidente nesse
homem era a aura de perigo que exalava, era um predador e talvez nós fossemos a caça.
- Sim, estávamos comemorando nosso casamento. Vou me casar com ele oficialmente. Disse Roberto firme e com uma aura medo e força.
O estranho o olhou firme para Roberto e depois para Leo que claramente estava assustado com tudo isso. Então ele perguntou.
- Posso me sentar Beto? Disse sério.
Roberto puxou a cadeira e foi na cozinha buscar um copo e colocou um pouco de whisky e serviu o chefe.
- Obrigado Beto. Posso chamar você de Leo? Disso ele observando sua reação. Leo fez que sim com a cabeça não conseguindo abrir a
boca para nada. Ele tinha uma vaga ideia do que Roberto era e no que estava metido. Parece que todas as histórias obscuras estavam
finalmente se encaixando e estavam prestes a convergir, mas estava com muito medo do desfecho.
- Leo você sabe quem nós somos e o que fazemos? Disse o estranho calmamente olhando com curiosidade para o menino assustado.
- Não. Quase não conseguia falar de tanto medo. Fez um esforço sobre humano pra não começar a chorar e parar de tremer.
- Hum. O Beto não te disse nada? Não te explicou? Olhou para o Roberto e depois para Leo esperando a resposta.
- Não. Reunindo uma quantidade absurda de coragem conseguiu parar de tremer e tentou não aparentar estar mais apavorado do que já
estava.
- Entendo. Tomou mais um copo e ficou segurando na mão. Por instinto, Leo pediu licença foi até o quarto e pegou uma mesinha redonda
e quando ia carregando viu Torres pela janela sorrindo e dando um tchauzinho. Ficou com um frio na espinha e quase caiu, Roberto
percebeu e se levantou, fechou a janela com as cortinas.
Leo colocou a mesa do lado do estranho e ele agradeceu. Olhando enquanto ele se sentava um pouco atrás de Roberto.
- Leo, o Beto é um amigo muito querido e tem feito um trabalho exemplar, mas eventos recentes fizeram nosso superior avaliar seu
desempenho. Então temos que ir para resolver essa questão. Nosso trabalho é muito difícil e complicado, mas alguém tem que fazer.
Entende o que eu digo? Olhou calmamente para Leo exalando uma aura de gelo. O menino balançou a cabeça afirmativamente no reflexo,
mas sem entender completamente a situação.
- Chefe eu te peço por favor, deixa ele fora disso. Já provei o que tinha que provar, paguei o preço mais alto que tinha. Por favor deixa ele
ir! Então Leo entendeu finalmente o que era o serviço dele.
- Beto, ao longo da vida você adquiriu três posses para dois passes, sabe o preço de um terceiro não é? Vai aguentar o peso de três? Falou
com honestidade e suspirando.
- Não existe troca de passes, você melhor que ninguém sabe disso. Olhou fixamente para o amigo.
- Eu sei, mas tenho quatro créditos, um a mais que o Torres. Disse contra argumentando e querendo fraquejar.
- Sim, mas ele levou o caso para o nosso superior! Então mesmo que tivesse mais créditos, estamos à mercê da vontade dele. Outra coisa,
não foi o Torres que estava passando aqui, fui eu. Olhou para Leo sério.
- Porque não me falou chefe, fiz tudo certo como me disse pra fazer, estou em dia com tudo. Roberto disse quase desesperado.
Ele olhou fixo para os dois e tomou um gole, suspirou fundo e contou o que aconteceu.
- Alguém disse para nosso superior que o conflito de vocês não tinha acabado e que você não esqueceu o que ele fez, desrespeitando as
regras e consequentemente querendo causar mais problemas do que da última vez. Acho que foi o próprio Torres que armou tudo de novo.
Ele já tinha planos de substituir seu trabalho a algum tempo por um dos seus, mas não tinha motivos que sua conduta não estava de acordo
com as regras. Então espalhou isso até chegar nos ouvidos do superior.
Roberto apertou o copo com tanta força que quebrou na sua mão cortando, bufando de tanta raiva. Leo pensou em se levantar de onde
estava e Roberto deu uma leve inclinação da sua cabeça indicando que era pra ficar onde aí.
- Então não tenho outra saída senão comprar outro passe né? Completamente devastado não vendo outra forma de resolver isso, Roberto
decidiu vender sua alma pra sempre.
- Beto, vou levar a questão do passe ao nosso chefe. Se ele aceitar tudo se resolve, se não já sabe o que acontece não é? Olhou de forma
fria e sinistra para o amigo e depois para Leo, demorando alguns segundos. Pegou o celular de dentro da jaqueta e digitou algum coisa e
enviou a mensagem. Demorando apenas alguns segundos teve o retorno e apagou a mensagem. Olhou pros dois com pena e disse sem
rodeios.
- O chefão quer falar com vocês, ele aceitou sua compra de um terceiro passe! Disse olhando para o amigo.
Roberto deu um respiro fundo e foi para o quarto vestir as roupas, com uma mochila nas costas e instruiu Leo a se arrumar e não ficar com
medo, tudo ia se resolver. Mas o que Leo viu nos olhos dele foram outra coisa, viu que ia tudo se acabar naquela noite. Acho que seremos
mortos hoje à noite pensou ele e foi vestir sua melhor roupa. Não demorou menos de cinco minutos ele estava pronto e tremendo de medo,
mas levantou a cabeça e sem que ninguém mandasse disse.
- Estou pronto. Disso como se fosse rumo a sua execução, talvez seria mesmo.
Ah meu menino, que que eu fiz com você? Todo o brilho e felicidade das horas que passaram juntos tinha sumido, estava indo pra sua
morte e levando o Leo junto. O garoto nem entendia o que estava acontecendo e o preço que Roberto pagaria se saíssem dessa vivos. Mas
vendo que ele juntou todas as forças e decidiu ir assim mesmo, fez o mesmo. Faria algo que tivesse significado para ele, nessas horas finais
que seus destinos iam ser decididos, Roberto falou para o chefe dele.
- Chefe, posso ter um minuto com ele a sós? Disse tremendo e com humildade.
- Não. O chefe falou secamente e com frieza.
Roberto então foi até a porta da frente, deu um giro de chaves e puxou Leo com força, beijando e encostando sua testa na dele. Abriu a
porta e foram os três em direção ao carro.
Torres estava encostado fumando um cigarro e olhava para os trio de forma cínica.
- Boa noite Beto, tudo bem? Boa noite Leo, sou amigão do Beto sabia? Sorria de forma jocosa e repugnante estendendo a mão para apertar
sua mão. Leo não se intimidou e o cumprimentou respondendo o boa noite secamente.
- Vamos ver o chefão, ele mandou levar os dois pra lá. Vai resolver o problema pessoalmente. Disse o chefe falando para os três.
- Leo, trouxe o celular? Se trouxe pode me passar por gentileza? Estava sentado no banco da frente e Torres dirigindo estendendo a mão
para trás querendo o celular. Leo tirou da jaqueta e passou o aparelho e Torres pelo retrovisor do carro olhando e sorrindo.
Roberto cruzou os braços e olhava fixamente para o retrovisor encarando Torres com um ódio palpável. Se pudesse ele o estrangularia ali
mesmo com o carro em movimento. Odiava ele com todas as suas forças mas jurou que se resolvesse tudo, ele pagaria caro pelo que estava
fazendo. E assim foi a viagem inteira até a casa do tal chefe deles.
A casa era uma mansão localizada próxima da BR, pegaram uma estrada de chão e passaram por uma cerca de eucaliptos. O portão era
como de uma fazenda e lá longe via a mansão. Nunca tinha vindo por essas bandas e provavelmente se sobrevivesse nunca mais voltaria.
Era uma casa enorme e tinha muita gente, homens estranhos e mau encarados, Leo não reconhecia ninguém e todos olhavam para o carro
de forma sinistra. Quando o carro parou foram recebidos por um rapaz jovem e musculoso, bem vestido e com cara de modelo.
- Boa noite Luís, a senhora está esperando. Boa noite Beto e você deve ser o Leo não é? Prazer me chamo Junior. Por aqui. Então os quatro
foram conduzidos para dentro da mansão guiados por esse rapaz, passando pelo interior da casa com mais algumas pessoas esquisitas até
chegarem a uma enorme sala de visitas, ricamente decorada com quadros, moveis de luxo e um extravagante lustre de cristal iluminando
a sala. Perto da parede estava uma senhora negra, devia ter uns setenta anos sentada numa enorme cadeira almofadada e uma mesinha com
várias pastas e pendrives. Chegando mais perto Leo viu que se tratava de um homem, era uma travesti bem velha.
Ela era uma mulher negra, aparentava uns setenta anos com rosto enrugado e feições ossudas. Vestia um vestido de seda esvoaçante com
um turbante estilo africano com estampas de tons roxos e lilás! Joias de bijuterias douradas com padrões modernos.
- Boa noite dona Lúcia, estou com o Beto e o Leo. Disse o chefe do Roberto, agora sabia que o nome do estranho era Luís.
Lucia fazendo um aceno de mão para Torres sair da sala e ir para fora ficar com os outros homens, e pedindo a Junior para sair também e
fechar a porta da sala.
- Enfim a sós. Disse a velha.
Sentaram se em volta dela, Luís de frente Roberto à sua direita e Leo a esquerda com uma mesinha no meio.
Ela olhou os três de frente e esperando quem começaria a falar. Foi então que Luís tomou a frente e começou a expor o caso.
- Chefe, apurei o caso e tem várias versões da história, não acredito nos contras do Beto nem nos ataques do Torres, mas parece que ele
armou a história toda. Ela olhava para Roberto com os olhos semi serrados procurando avaliar se ele seria culpado ou não, enquanto Leo
estava parado como uma estátua sem dizer nada, quase sem respirar.
- Chefe, posso ter a palavra? Roberto falou com cautela e cuidado. Ela consentiu com a cabeça mas ainda de olhos sem serrados esperando.
- A senhora sabe que tenho problemas com ele, da outra vez paguei o preço e assumi tudo sozinho fiz meu trabalho de forma exemplar e
segui tudo o que a senhora falou. Acho que ele ainda me culpa pelo que aconteceu e não posso fazer nada, a não ser expor meu caso e levar
até o final se for preciso. Roberto falou como que pisando em ovos.
- Segui em frente com minha vida e deixei de lado minha vingança pessoal contra o Torres, como a senhora ordenou. Sofri calado e em
silêncio, justo agora ele começa de novo a me perseguir. Será que só vai acabar se um de nós for morto? Ela olhou para ele e rapidamente
para Leo que ainda no seu estado de estatua prestava atenção em tudo. Então falou de uma vez.
- Beto, gosto muito de você e do seu trabalho. Você sabe que estou sendo sincera com você. Mas ele está determinado a te ferrar com gosto
não é? E ele usou da astucia para me pressionar a ficar contra você e dar carta branca pra ele. Disse que vai usar tudo o que tem para te
substituir, inclusive os passes e créditos que ele tem. Então eu te pergunto meu filho, como você vai cobrir a aposta dele? Está disposto
mesmo a ter mais um passe? Lucia entrelaçou as mãos e apoiou no queixo seco os indicadores esperando uma resposta.
- Se for preciso estou. Disse abaixando a cabeça e suspirando fundo. Sim estou!
Luís virou para direita e olhou para o amigo com pena, se perguntando o que esse menino tinha pra ele amar tanto a ponto dele vender a
alma? A velha olhou para ele e depois para Luís e disse.
- Concorda com isso Atlas? Aceita os termos? Disse olhando para Roberto.
Leo percebeu que eram apelidos, Torres e Atlas, talvez Roberto tivesse um também, mas já era tarde demais pra isso, lembrando das
recomendações dele sobre como proceder, ele respirou fundo e aguardou paciente. Nunca desejou tanto na vida ter paciência, mas agora
era crucial. Beto tinha um plano e pra saírem vivos dali, tinha que fazer exatamente o que ele falou, um passo de cada vez.
- Os dois são excelentes na sua função. Cada um executa de forma brilhante seu trabalho, então se for Torres ou Roberto nós perdemos
grandes profissionais. Roberto já sabia a próxima fala e pediu licença e foi até o bar, pegou quatro copos e uma garrafa de vodca serviu os
três copos, depois colocou uma dose maior no dele e virou de uma vez.
- Só tem uma coisa a ser verificada da história do Torres Lucia, se o Leo é tudo o que ele falou. Se ele pode ser liberado ou ser executado
junto com o Roberto. Falou com frieza e virou o copo. Ela olhou para Roberto e depois para Leo que começou a tremer de medo, mas
sustentou o olhar mesmo assim. Encarando seu fim eminente de cabeça erguida. Então olhou para Atlas, digitou uma mensagem e vários
celulares receberam inclusive de Roberto. Depois deu a sentença.
- Atlas, informe ao pessoal lá fora que o Beto está desligado permanentemente e você vai desliga-lo. Torres vai assumir sua função e
territórios. O Leo vai passar sua história e se não tiver nos conformes vai ser desligado também. Em dez minutos, atrás na área de festas.
Você é o responsável e mais ninguém. Ordens expressas minhas!
Atlas levantou e deu um tapinha no ombro de Roberto indicando que era pra ele acompanha-lo até o local da execução. Roberto agradeceu
a Dona Lucia pelo tempo de serviço e tocou no ombro de Leo, não olhou pra trás e seguiu Atlas até seu destino. Seguindo pelo corredor,
Junior dá um aperto de mão e diz que sente muito, passando pela cozinha até chegar a área atrás da casa. Lá estava Torres com seu sorriso
repugnante e triunfante, acenando com a mão dando tchauzinho para ele. Junto dele estava sua ex equipe todos eles, Lopes, Chagas, Gomes,
Bispo, Munhoz e Lira, estavam fazendo um círculo para que Roberto ficasse no meio e fosse executado por Luís/Atlas seu chefe e amigo
pessoal.
Torres todo sorridente e cínico não conseguiu esconder sua alegria de triunfo e disse.
- Sabe de uma coisa Beto, vou cagar na sua cova todo ano! Acho que sou capaz de te desenterrar todo ano no seu aniversário de falecimento
e encher você de bosta e mijo. Vai ser uma tradição pra mim seu filho da puta! E talvez eu até corte um pedaço da sua perna pra fazer de
limpa vaso, o que acha? Olhando com todo o seu desprezo e ódio Torres estava espumando sangue.
Roberto de cabeça baixa ouvia sem poder fazer nada, esperando que Leo pudesse se lembrar de tudo e conseguir se salvar. Atlas olhava
para o amigo com indiferença e os seus companheiros de equipe também, apenas Torres destoava do grupo e era o amigo que morreria. O
barulho de um carro trouxe Atlas de volta e reconheceu, Torres no entanto estava mais eufórico do que nunca e comentou.
- O papa defunto chegou Beto, você vai apodrecer dentro de uma garrafa! Rindo já quase perdendo a compostura com a chegada do
visitante.
Entrou pelo corredor um sujeito baixo, vestido de roupas longas pretas e chapéu preto, com um rabo de cavalo amarrado em uma fita
também preta. Ouvia o sons das botas de vaqueiro do sujeito e ele completou o círculo dizendo boa noite a todos, mas especificamente a
Atlas
- Boa noite irmão! Disse sendo simpático. Boa noite Roberto, acho que hoje vou levar sua alma!
- Boa noite irmão. Disse não tendo nenhuma simpatia ou decoro. Detestava seu irmão mais novo, ele mexia com trabalhos de magia negra.
Aprisionava a alma das pessoas a uma servidão eterna ao diabo. E vinha com uma garrafa aonde colocava o espirito, todos tinham medo
dele, inclusive seus homens que eram quase tão perigosos quanto ele. Mas seu irmão era diferente, parecia que a morte o seguia e sempre
quando era chamado o dia terminava em alguma tragédia! Pobre Roberto.
Então sobraram só Lucia e Leo para o desfecho final.
- Então menino, o que tem para me dizer? Disse ela esperando tudo para terminar aquele problema e noite infernal.
Leo então lembrou de tudo, nos momentos finais do que Roberto disse e qual era o plano, sem qualquer chance para margem de erros.
Porque era a vida dos dois que estavam em jogo, se fizesse como o combinado poderiam sair livres e seguir suas vidas em paz. Lucia não
tinha misericórdia ou clemencia de ninguém, mas até ela tinha um ponto fraco que pouca gente sabia e era aí que estava a chance de vitória!
- Senhora Lucia, Roberto nunca me falou nada sobre o que ele fazia e nem quem são vocês, quando ficamos juntos ele foi claro pra eu não
perguntar nada. Nunca perguntei porque tinha medo dele brigar comigo e se separar. Estava tão apaixonado que aceitava tudo o que ele
impôs e foi assim que a gente viveu esse tempo todo. Nunca sequer toquei no celular dele, com medo de ele me dar uma bronca.
Só comecei a achar estranho quando no dia que fomos para o show da nossa amiga e esse Torres ficou me encarando. Também nesse dia
não falei nada pra ele e começaram a aparecer carros rondando no nosso apartamento, fiquei com medo e resolvi enfrentar.
Ela observava a história de Leo verificando se tinha alguma mentira ou ele estava fingindo.
- Você alguma vez viu se era o Torres? Perguntou ela incisiva.
- Não. Mas o carro que veio buscar a gente hoje foi o mesmo que vi na praça, e eu reconheci ele. Acho que estava tirando fotos de mim.
Ela levantou a mão até a mesa com a pasta arquivo, abriu e entregou fotos com uma pessoa. Ele pegou as fotos e reconheceu que era o
Jonathan, o gordinho roqueiro, várias fotos juntas
- Era esse aqui? Você estava tendo encontros com ele? Disse ela mais seria ainda!
- Não. Estava falando de trabalho, fiz vários desenhos e capas para bandas de rock daqui. Consegui juntar dois mil e quinhentos com todos
os trabalhos. Disse exatamente os valores e era exatamente o que Roberto falou que seria. Ela levantou a sobrancelha e perguntou
desconfiada.
- O porquê desse valor? Ele tem rendimentos para manter vocês relativamente bem, soube também que você não se interessa por dinheiro
e coisas de luxo. Foi a vez dele fazer cara de espanto e dizer.
- Senhora, o dinheiro eu estava juntando para comprar nossas alianças, ia fazer uma surpresa pra ele. Mas hoje foi ele que fez. Me pediu
em casamento e comprou elas primeiro. Foi o dia mais feliz da minha vida. Disse com firmeza. Então tirou as alianças do bolso e colocou
nas mesa, aberta e juntas por uma fita vermelha. Lucia olhou sem emoção para as alianças na mesa, não era de compromissos. Quase
imperceptível Leo viu uma leve mudança no olhar.
Ela continuou sondando sua história e perguntou.
- Se ele não aceitasse, o que você faria? Olhou curiosa com a possível resposta que definiria sua vida hoje.
Olhou pra ela com uma certa petulância e se levantou.
- Senhora, sei que vamos morrer hoje. Mas não faria nada! Quando descobri que ele me amava mesmo fiz uma promessa com sangue.
Jurei que o amaria pro resto da minha vida e nem você nem ninguém me fará mudar isso! Se por acaso eu viver e ele não, vou ficar só pra
sempre! Disse com determinação e continuou.
- Deixei minha família pra trás para viver com ele, nunca me arrependi de nenhuma escolha que fiz por ele.
- Ele não vai cair no esquecimento, mesmo que ninguém lembre mais dele e se passe mil anos, eu ainda vou lembrar dele e cumprir minha
promessa! Estou pronto pra ir agora se for preciso, mas desistir dele nunca! Nunca teve tanta força de vontade para segurar o choro e se
descontrolar como agora.
Ela fechou os olhos, deu um longo suspiro e mandou uma mensagem de celular. Junior apareceu na porta com uma pistola na mão e parou
a um metro dele, engatilhou a arma e apontou para Leo.
- Seu desejo será atendido filho! Você vai se juntar a ele nesse seu amor. Gesticulou com a cabeça para que Junior atirasse, ele mirou na
direção dele e deu cinco tiros.
Na área de festas aonde ia ser a execução o clima foi ficando mais sério e quando ouviram os tiros todos olharam para Roberto e que estava
com a cabeça levemente inclinada para frente e ao quando terminou os disparos abaixou a cabeça entristecido.
Atlas abaixou a cabeça e deu um suspiro de cansaço. Os outros colegas de Roberto fecharam a cara e se prepararam pro inevitável. Torres
não conseguiu se controlar e falou.
- É Beto, parece que sua franguinha bateu as botas, logo logo o papa defunto vai colocar vocês três na garrafa. Aí vão sofrer pra sempre!
Rindo histericamente Torres pegou dois tiros rápidos nos braços caindo pra trás e gemendo alto. Atlas era o líder de esquadrões da morte
porque sacava a arma rápido demais e nunca errava um único tiro ou alvo. Uma vez na sua lista negra era morte certa. Torres foi um que
estava na sua lista pessoal a muito tempo.
- AAAHH mas que diabos é isso! Eu paguei pela morte dele Atlas... gemendo alto e se lamentando Torres recebeu mais dois tiros um em
cada joelho, ele não podia mais atirar e nem correr. De repente viu os olhos dele se encherem de medo e desespero ao cruzar com o olhar
malicioso do irmão de Atlas, mas o medo foi maior quando Roberto se levantou calmamente e finalmente desabafou.
- Paguei caro pra me livrar de você, muito caro! Mas a satisfação que eu tenho não vai ser maior quando eu matar sua família inteira com
minhas mãos Torres! Vão todos pra garrafa! É um preço pequeno o que eu vou enfrentar do que a felicidade que estou sentindo saber que
tenho permissão pra executar TODOS ELES! Vou estrangular cada um. Torres desesperado começou a implorar pela vida deles, pelos
filhos pequenos e vida da sua família. Mas era tarde demais pra ele.
Os companheiros abraçaram Roberto e cada um ficaram atrás dele e Junior veio com Leo, Simone e Lucia para o desfecho final.
- Você vai pagar por tudo que você me fez seu desgraçado filho da puta! Disse Simone com ódio.
Gabriel o papa defunto tirou um garrafa de cachaça vazia da roupa e uma rolha indo calmamente em direção a Torres.
- Você vai sofrer pra sempre Torres, você e sua família inteira! Todos eles pra dentro da garrafa! Não vai existir um único dia em que não
vai sentir o terror de estar preso dentro do Inferno! Seus restos vão servir de limpa fossa junto com dos seus filhos pequenos! Faço isso
com a maior satisfação! Disse com os olhos brilhando. Então Torres começou a se debater e ter espasmos violentos no chão querendo em
vão fugir do destino que aguardava. Todos estavam olhando para a cara aterrorizada e do desespero, ouviu um barulho, dentro da boca do
papa defunto saiu uma sombra amorfa e grotesca. Foi pra cima de Torres gemendo um som gutural ele gritou alto. A sombra flutuando
chegou até ele e começou a sugar sua alma, saindo em forma de uma nevoa brilhosa prateada, cada vez mais fraca a medida que saia do
corpo e ia em direção a boca do monstro! Torres foi perdendo a cor ficando cada vez mais desbotado até um pálido branco dando seus
últimos suspiros nessa terra. Os olhos ficaram se mexendo querendo pular pra fora e o ultimo sinal de vida foi um gemido longo e baixo.
A alma de Torres foi puxada pra garrafa e a boca enorme de Gabriel se fechou, voltando a sua forma original. Ele fechou com a rolha e a
luz branca se apagou. Só escutava o barulho dentro dela, um grito bem baixinho de Torres desesperado.
Todos se afastaram do que era um corpo humano e ainda mais de Gabriel, o irmão de Atlas que limpava a boca com um lenço.
- Pode deixar esse serviço comigo agora. Disse com satisfação e alegria infantil, olhando pra Roberto deu uma piscadela e todos foram pra
sala maior da casa. Ele se abaixou e com sua capa o foi cobrindo o corpo e se inclinou sobre o cadáver. O que se ouviu foram barulhos de
carne sendo rasgada com os dentes e sons ainda mais grotescos.
Leo ficou estático, mas conseguia se mexer e entender o que estava acontecendo. Simone estava do seu lado segurando seu braço e na
expectativa do que ia ser agora. Roberto foi em direção de Lucia e beijou sua mão seca e murcha. Virando para Leo se tinha algum
ferimento o abraçou bem forte. Simone também abraçou os dois, os três juntos respirando aliviados que tudo tinha terminado.
Atlas olhava para o amigo aliviado por aquela farsa ter acabado e mais ainda ter se livrado de Torres. Os colegas do grupo abraçaram cada
um Roberto e cumprimentaram Leo apertando sua mão e dando parabéns pela coragem.
Lucia aproveitou o ensejo e declarou.
- Você cumpriu seu tempo aqui Beto, está livre pra viver sua vida. Estão protegidos por passes perpétuos! Enquanto o grupo existir, vai
estar protegido, mas só aqui no estado. Não posso ir além daqui. Aproveitando para perguntar, o que fará com a indicação de Torres e seu
direito de resposta? Roberto falou rápido e imediato.
- Nada, não vou fazer mal algum a família dele, nem a parentes e a indicação! Só que fique avisado pra que se ele pensar em se meter
comigo e minha família, o destino dele vai ser pior que o do Torres! Disse isso puxando Leo e Simone um de cada lado, abraçando-os com
firmeza! Os companheiros bateram palmas e comemoraram o fim do problema, mas ele sabia que tinha outra questão importante pra
resolver com urgência e não deixaria pra depois.
- Lucia, quero uma audiência particular com você, eu minha família! Disse em tom de urgência e não querendo ser desrespeitoso.
- Claro Beto, por aqui! Junior ajude Gabriel e o pessoal no que eles precisarem, não me demoro.
Voltaram para sala os quatro, sem o chefe dele. Cada um sentou em um lugar e Lucia na sua poltrona almofadada. E viu aonde tinha sido
disparado os cinco tiros respirando aliviado por essa parte ter terminado.
- Como vai ser a minha saída Lucia, quero sair daqui com a alma lavada e não levar nada comigo daqui! Falou sério.
- Do jeito que é pra ser Beto, não nos deve nada e como eu anunciei pra toda equipe. Amanhã vou comunicar aos demais que saiu e está
livre. Vou manter minha palavra e garantir que os três não sofram retaliações de alguém ligado a Torres. Disse séria e em um tom para não
deixar nenhuma dúvida!
- E o Leo? Te deve alguma coisa? Por favor me diga a verdade! Falou o mais franco possível.
- Absolutamente nada, o preço que ele vai pagar vai ser agora! Você vai contar tudo ao menino, a verdade da sua esposa e o porquê do seu
trabalho aqui, ele não vai ser pego em outro esquema de algum desafeto antigo. Olhou impiedosamente e com tom severo.
Roberto olhou para Leo com os olhos abatidos e cansados. O preço é alto demais, sempre foi! Foi assim com sua ex-mulher e vai ser assim
com ele. Pensou tristemente.
- Mas não hoje, não agora e nem aqui! Vão pra casa e descansem esse capitulo da vida de vocês terminou! E Leo, você é muito corajoso e
valente, o amor está ai na frente. A estrada é mais longa do que você imagina, mas o Beto é pra vida toda!
Os três se despediram de Lucia e Junior que já estava de plantão do lado de fora da sala. Ele abraçou Roberto com força e disse que ia
sentir saudades, mas era melhor ele nunca mais pisar aqui. Os colegas de equipe desejaram felicidades e boa sorte e Atlas estava no carro
esperando para leva-los em segurança pra casa.
- Então é isso, terminado e encerrado. Você está livre agora meu amigo! Disse com satisfação e um sorriso sincero. Se olharam e cada um
se estudando por fim precisava de um final.
- Obrigado chefe, por tudo mesmo! Esse pesadelo terminou. Não quero voltar aqui nunca mais e Deus que me perdoe, não quero ver ela
nunca mais na minha vida! Disse com sinceridade não aguentando mais um minuto nesse lugar.
- Te entendo muito bem, aliás eu sou o que mais te entende viu? Te cuida e se um dia precisar de um amigo estou sempre onde pode me
achar. Se abraçaram e entraram no carro. Os três ficaram calados a viagem inteira e quando chegaram no apartamento Atlas desceu do
carro e foi em direção de Leo.
- Cuida do meu amigo, ele é muito querido, pessoas como ele são pra sempre. Abraçou Leo que não disse nada mas balançou a cabeça
afirmativamente. Beijou Simone no rosto, entrou no carro e foi embora.
Já era muito tarde e Simone não podia voltar pra casa, então os dois sem dizer uma palavra prepararam o quarto pra ela dormir e cada um
foi tomar um banho demorado. Simone foi a última, se olharam os três e se desejaram boa noite cada um e seguiram pros seus quartos
fechando a porta.
Leo sentou na cama com as pernas pra fora e Roberto do outro lado também do mesmo jeito, um de costas pro outro. Ficaram assim um
tempo e então resolveram se deitar. Um silencio no quarto, só com o barulho do ar condicionado ligado e a luz da porta do banheiro entre
aberta. Então a ficha caiu pros dois, o dia tinha terminado e viraram um pro outro se abraçando e os dois começaram a chorar sem parar.
De repente a porta do quarto bate a maçaneta gira e Simone entra também chorando. Os três ficam abraçados, terminando a noite de horror.
Conseguindo ficar vivos, pensaram em como tudo podia ter terminado e adormeceram juntos. Livres para um novo começo, um novo
amanhã que se levantaria nas suas vidas! Descobrindo assim que tinham um ao outro e estariam sempre juntos. Roberto com sua melhor
amiga e seu grande amor. Amanhã seria vida nova, mas o resto da noite dormiriam em paz!

Parte 04

Roberto e Simone continuaram dormindo até mais tarde, cansados e exaustos da noite anterior e de tudo que os três tinham passado, mas
Leo acordara cedo, as 06:45 já estava de pé. Levantou se com cuidado para não acorda-los e foi no banheiro de fora tomar um bom banho
gelado e demorado. Eles iam demorar pra acordar e teria um algum tempo pra absorver e digerir tudo que aconteceu.
Vestiu suas roupas e colocou a jaqueta de Roberto, pegou algum dinheiro e foi pra rua, comprar coisas pro café da manhã ou almoço. Mas
uma coisa tinha certeza, Roberto depois do café ia contar sua história e não sabia se Simone estaria lá, mas hoje tudo que passou seria
explicado. Era nisso que acreditava.
O dia estava radiante e o sol bem bonito, não sentia o menor calor com sua jaqueta jeans. Parecia que o calafrio da noite passada o seguia
e sentia realmente um pouco de frio. A rua tinha as mesmas pessoas de sempre saindo para trabalhar, as mesmas caras lhe dando bom dia
e cumprimentando sorridentes. Não conseguiu colocar os fones para ouvir música como sempre fazia, não conseguia acreditar que tinha
acabado. Estava com a sensação de que Torres pularia de surpresa na próxima esquina vindo do inferno pra busca-lo. Estava com muito
medo do que tinha visto, aquilo desafiava qualquer sentido ou lógica, mas estava com mais medo da verdade que ouviria hoje.
Durante seu trajeto para panificadora de sempre, sentou-se em uma parada de ônibus e observava as pessoas, via os carros e motos passando
de um lado para outro. Gente indo e vindo nos ônibus, não sabia se estavam chegando ou indo, olhava para elas com curiosidade pensando
se alguém sabia das verdades sinistras que tinha visto. Era agora um segredo só dele e não conversaria com ninguém!
Se cansando de ficar sentado na parada continuou seu trajeto bem devagar e sem pressa.
Encontrou conhecidos e acenou com a mão outras vezes com a cabeça, mas por mais que o dia estava lindo e radiante era apenas o clima,
pra ele o dia estava cinza, sombrio e melancólico, não vendo alegria em lugar nenhum. Tinha que ter as respostas, mas hoje mais que nunca
era preciso ser paciente e esperar o desenrolar dos acontecimentos. Tempo ao tempo, um passo de cada vez.
O sol estava bom e tudo estava claro, mesmo que pra ele continuasse enevoado de mistérios e segredos. Se lembrou da vez que Roberto
disse que precisava crescer e enfrentar os problemas de frente como um homem adulto. Será que era isso que ele estava se referindo? Que
uma hora ou outra ia contar a verdade pra ele sobre o que fazia? Que não era só um simples policial militar e sim parte de um grupo de
assassinos? Que ele era misterioso isso era um fato, mas ficou tão cego por causa da paixão que nunca teve força de vontade pra pensar
sobre quem ele era realmente. Confiava apenas na carne e na beleza dele. Bastava ele sorrir ou abraça-lo que tudo era esquecido.
Mas agora não tinha mais essa inocência pra se proteger, agora era o mundo real.
Se pegou em pensamentos do quanto o amava e sentiu-se envergonhado por pensar se valia a pena continuar depois de quase ter sido
assassinado. Mas acreditava em finais felizes não era?
Suas vidas foram salvas porque o amava e estava disposto a tudo e se lembrou do que ele tinha dito e da história da Lucia. Foi essencial
pra sobrevivência dos dois e depois do ocorrido, entendeu que o Leo inocente e apaixonado cegamente estava morrendo, dando os últimos
suspiros.
Entendeu o porquê dele ser as vezes tão sério e ter tanta paciência com ele, queria pedir desculpas por tudo, por não saber da barra pesada
que enfrentava, ajoelharia se fosse preciso. Precisava apenas do seu perdão, que faria tudo diferente...
Mas era um retrocesso de evolução, procuraria entender ele e ver o que seria dos dois daqui pra frente. Ele tinha mudado, muito em uma
noite. Enfrentaria o problema de frente! Sua determinação interior estava crescendo junto com um medo ainda maior, de perde-lo.
Dê tempo ao tempo e um passo de cada vez. Se pegou sorrindo com o ditado dele e se deu conta que tinha chegado na panificadora, como
não sabia, mas tinha um café pra preparar e uma longa história pra ouvir!
Comprou pães, sucos, refrigerantes e café. Bolos, pães de queijo com geleia. Ia preparar cuscuz e bodó, arrumar a mesa pra quando
acordassem estaria tudo pronto. Era um café exagerado? Era, mas preferia uma mesa farta pra uma história longa do que sentados sem
nada pra beliscar!
Comprou tudo e foi pra casa com a cabeça mais leve, decidiu por si só sorrir, enfrentar e ver no que daria isso tudo. Não tinha se arrependido
de ter conhecido ele, mas chegou à conclusão que precisaria também crescer de outra forma. Lembrou que uma vez ele disse sobre questões
de trabalho e estudo, não poderiam viver só de amor! O mundo não era isso. Ele precisaria ter sua própria renda e pensar no seu futuro!
“Cara como eu era idiota!” Ficou com raiva de si mesmo e ao mesmo tempo deu uma risada.
Na volta pra casa pensou sobre o quanto Roberto ganhava e como ele sustentava a família toda, nunca faltava nada e sempre tinha dinheiro
disponível pra eles saírem e fazerem alguma coisa. Tinha medo dele pensar que era uma dessas bichinhas oportunistas que ficava com
gente mais velha por dinheiro ou pior, entrava em pânico com a possibilidade de Roberto pensar que ele queria herdar o apartamento ou
deixar alguma herança. Aquilo as vezes deixava noites sem dormir. Nunca perguntou quanto ele ganhava ou como era suas finanças de
verdade. Mas a verdade agora não podia ser ignorada! Ele pagava as contas do apartamento, pais e filhos.
Ajudava amigos em dificuldades e as vezes emprestava somas de dinheiro que para Leo eram escandalosas, mas ele o tranquilizava dizendo
que era muito pouco. Ficava agora com mais raiva da sua infantilidade e se questionando o realmente porque que Roberto gostava dele.
Seria o desapego material? Que ele estava interessado só no corpo dele e nele? Leo não sabia absolutamente nada sobre dinheiro, economia
e finanças, apenas vivia aquele momento com Roberto e pra ele bastava. Mas Roberto disse que estava passando a hora de aprender a
mexer com dinheiro e o funcionamento da casa.
Resumidamente era assim, Leo recebia o dinheiro e pagava as contas de água e luz só. As vezes Roberto deixava algum dinheiro com ele
para comprar alguma coisa pra comer mas nunca a quantia pra fazer o rancho do mês e era obvio o porquê! Ele o ensinou a cozinhar e
fazer as coisas de casa. A lavar roupa, passar e tudo sobre viver sozinho, ou quase tudo. E nunca pedia nada, nem dinheiro ou qualquer
outra coisa. Tinha a ideia fixa dele pensar que era oportunista. Roberto sempre comprava roupas novas e calçados, e as vezes o levava
junto pra escolher alguma coisa. Mas ele escolhia o mais barato por questões dele mesmo. Claro que tinha coisas que ele queria comprar,
mas começou a matar essa vontade em si mesmo e pensar no apartamento como a casa deles e tinha que contribuir.
Prestava atenção nas conversas aleatórias da praça e do pessoal, sempre tinha gente assim, oportunista que não ligava pros sentimentos
dos outros. Leo achava isso o fim, mas já ouvira pessoas dizerem que esse pensamento era de gente inocente que não sabia nada da vida e
da natureza humana! Era fiel aos seus sonhos e ideais e foi isso que salvou sua vida e do seu amado. Mas estavam errados e ele certo e
vivo.
Chegou em casa e continuavam dormindo pesadamente um abraçado com o outro, parou na frente da porta e encostou nela com a cabeça
inclinada observando os dois juntos, alheios a tudo. Apenas no mundo dos sonhos e acreditando ele, em paz. Sorriu com uma lágrima
escorrendo no canto de olho com satisfação. Depois que conheceu Simone de verdade não sentia ciúmes dela, na verdade gostava de ver
os dois juntos, parece que eram feitos um para o outro.
Roberto dormindo era majestoso. O tipo de corpo que gostava, gordinho e musculoso. Podia passar o dia inteiro vendo ele dormir sem
toca-lo, sentia prazer no fato que ele estava ali. Olhava para bunda carnuda e musculosa, suas coxas grossas e bonitas, suas costas largas e
pescoço grosso. Amava seus pelos pelo corpo. Ela no entanto era uma beleza negra, cheinha e com pele morena. Parecia uma princesa
africana dormindo com um rei estrangeiro. Quase deu uma risada alta, mas se recompôs e foi cuidar dos afazeres para quando eles
acordarem estar tudo pronto. Era a vez dele de cuidar. Fechou a porta com cuidado para não fazer barulho e saiu pra cozinha.
Assim que a porta fechou Roberto abriu os olhos e sorriu, abraçando Simone com carinho sabia que vinha a parte mais difícil, contar a
história da sua vida! Que Deus o ajudasse a ter forças, estava com muito medo, medo de perder Leo pra sempre.
Leo colocou água no fogo para o café e foi limpar a mesa, preparou tudo com esmero. Colocou uma toalha de mesa nova e organizou tudo
com carinho, separando as coisas direitinho. Foi fazer o cuscuz e bodó, aprendeu com Roberto fazer várias coisas ao mesmo tempo e tinha
pegado o jeito. Lembrava dele dizendo “Meu filhotinho é tão lerdinho” sorrindo, não sabia se ficava bravo ou achava graça.
Mas a verdade era uma só, amava ver ele sorrindo.
Foi limpar a casa rapidamente e com cuidado pra não acordar os dois que estavam dormindo, com fone de ouvido colocou músicas pra
animar e em pouco tempo a casa estava limpa e perfumada. Saiu rapidinho pra colher flores na rua e colocou num vaso melhor que a
garrafa de vinho! Mas aquela rosa, ele guardou com carinho, abraçou no peito e disse pra ela que nunca a deixaria morrer.
Com o café, cuscuz e bodó prontos, pôs a mesa e usou os melhores pratos do apartamento. Praguejou por nunca ligar muito pra isso e se
arrependeu amargamente por não ter pratos, vasilhas e copos melhores, mas teria que se virar com o que tinha.
Se lembrou que o vizinho tinha um jardim com várias roseiras e num ato de ousadia saiu rapidinho e foi pedir algumas flores. No que tinha
a mão queria que tudo fosse perfeito e o vizinho estava na frente varrendo a calçada. Deu bom dia e fez o pedido, Leo podia não ter falado
muito com ele, mas não deixava de ser simpático com todos e o vizinho deixou ele entrar pra cortar algumas. Com a tesoura dele, escolheu
as mais bonitas e levou seis rosas, brancas, vermelhas e amarelas. Agradeceu e foi correndo colocar num copo grande de vitamina.
Antes de entrar pela porta sentiu um arrepio na espinha, o mesmo quando recebeu a notícia que ia ser executado, sentia que a morte estava
próxima... mas ia enfrentar de frente de novo. Era nisso que ele acreditava e abriu a porta sem medo.
Colocou as rosas no centro da mesa e ouviu o que os dois banheiros estavam ocupados, já tinham acordado.
Roberto saiu do banheiro social com um short branco e se enxugando todo, com os cabelos molhados. Já estava perfumado ou era o cheiro
dele mesmo? Tinha uma camisa regata na mão e sorriu dizendo.
- Bom dia filhote, acordou cedo eim? E que banquete é esse? Fez tudo sozinho? Podia ter esperado eu levantar pra ajudar você né? Abraçou
ele forte e deu um selinho. Tentava esquecer o que não podia.
- Que nada Beto, acho que queria fazer uma surpresa pra gente? Disse com um sorriso de menino, sendo ainda mais sorrateiro que ele, mas
de alguma forma com a verdade dele mesmo.
Simone apareceu na saindo do quarto já vestida com roupas simples, toda sorrisos e a mais alegre do ambiente.
- Nossa que comilança é essa? Aí que lindo essas flores! Leo você é um fofo viu? Tá me acostumando mal sabia? Rindo de modo alegre e
espontâneo.
- Então Simone, espero que gostem! Vamos sentar que eu estou com fome!
Sentaram os três na mesa e tomaram o café maravilhoso, conversaram como se nada tivesse acontecido, todos tentando mostrar um para
outro que tinha superado a noite anterior. Falavam de filmes, músicas e shows. Passeios e viagens, faziam planos e até sobre abrir um
negócio próprio. Roberto comentou que tinha planos pra sair da polícia logo e começar uma vida totalmente nova. Leo contou que planejava
estudar desenho de uma forma profissional e voltar aos estudos, se melhorasse poderia até fazer uma exposição na galeria baixa da cidade.
Os dois acharam excelente a ideia e iam ajudar, Leo comentou que tinha ganhado dois mil e quinhentos com desenhos e achou bom, mas
era um estilo alternativo, não arte propriamente dita. Roberto ficou surpreso com a quantia e comentou.
- Filho, porque não me disse que estava indo bem? Leo deu um suspiro, respirou fundo e respondeu.
- Beto, era uma surpresa. Tinha mais trabalhos pra fazer, queria pedir você em casamento e o dinheiro ia comprar as alianças. O resto do
trampo pensei numa cerimônia privada, te levar a algum lugar legal e eu pagar a conta dessa vez. Minha meta era atingir cinco mil. Contou
cabisbaixo e acrescentou.
- Quando você fez o que eu queria fazer meu sonho tinha se realizado sabe? Nunca fui ligado a dinheiro, mas sei que você é mais velho e
gosta de coisas caras. Então queria te fazer uma surpresa. Até pesquisei uma loja de vinhos, esses locais que até a agua é cobrada, esses
locais de gente chique.
Simone estava lagrimando e Roberto também.
- Ô meu menino, quando foi que liguei pra isso? Nada disso importa se você não tiver feliz comigo! Falou lagrimando e enxugando com
as costas da mão. Por essa ele não esperava e realmente ficou muito sentido.
Se levantou e foi até ele, abraçou por trás com ele ainda sentado e o beijou na cabeça.
- Isso foi muito bonito da sua parte sabia, tenho que fazer uma também. E não quero que você diga que não precisa e não vai. Disse sério
e olhando fixamente.
- Amanhã vamos em um lugar, cedo e nada de reclamar. Vou fazer ligações e amanhã cedinho vamos sair!
- Beto, chega de surpresas viu? Meu coração não aguenta outro baque!
- Sem mais, está decidido! Amanhã vou te dar uma coisa que já faz tempo que tu quer! Disse sorrindo.
- Gente se não se importam vou continuar comendo viu? Simone falou colocando outro pedaço de bolo com cuscuz e com cara de menina
traquina!
Todos riram e foram comer e como se fosse combinado sabia o que tinha que acontecer. Roberto tinha que contar sobre tudo e não podia
passar de hoje de manhã. Ele ficou com uma cara cansada e seria, Simone perdeu o brilho e Leo sabia que era a hora tinha chegado. Chega
de mentiras, chega de segredos obscuros.
- Estou enrolando desde cedo, vamos guardar as coisas e sentar no sofá pra conversar. Disse ele sério.
Leo disse que podia deixar as coisas aí, colocou a mesinha no centro e Roberto ficou na poltrona e Simone e ele no sofá, então Roberto
começou a história da sua vida.
- Comecei na polícia muito cedo, quando meus pais vieram do interior pra cá. Tive que começar a trabalhar logo pra ajudar nas despesas
e cuidar deles, meus outros irmãos tinham suas famílias e eu era o que se dava melhor com eles. Meu pai antes de ficar doente não tinha
muita paciência com a gente e qualquer coisa batia sem dó. Minha mãe sempre foi daquele jeito, calma e tranquila pronta pra nos defender
do velho. Você viu o jeito dela quando a gente se conheceu não é? Foi assim a vida toda. Leo lembrou da primeira vez que conheceu ela,
naquela noite incrível. Mas não queria divagar, queria que ele continuasse.
- Conheci o chefe quando fui levar meu pai no medico, ele estava na viatura com alguns colegas de batalhão e me cumprimentou. Eu já
tinha ouvido falar dele, mas não o tinha visto ainda. E o jeito que ele me olhou foi muito estranho. Esqueci quando entrei no consultório e
o médico disse que meu pai tinha Alzheimer. Os sintomas estavam lá e aos poucos foi se esquecendo de tudo, mas com a medicação a
doença foi devagar. Decidi ficar com eles e não seguir o mesmo caminho dos meus irmãos.
- Fui ver o chefe só algum tempo depois no batalhão e o cumprimentei. Ele estava com vários oficiais importantes e alguns conhecidos
meus. Então aconteceu o que não deveria ter acontecido de jeito nenhum, talvez isso explique muita coisa pra você Leo.
Leo estava prestando atenção e Simone que provavelmente já deveria saber dessa história estava quieta.
- Me apaixonei por ele de cara, o jeito que ele me olhou mexeu muito comigo. Disse um pouco sem graça e com um ar de envergonhado.
Leo arregalou os olhos sem acreditar no que ouviu e parou um pouco, estava entendendo muita coisa agora. Se recompôs e olhou pra ele
para continuar a história.
- Não digo isso com vergonha do que eu sentia, mas das coisas que fiz por ele e o quanto eu aprendi com isso.
Agora sim Leo estava entendendo tudo, de alguma forma a história se repetia pra ele. Nesse tempo todo Leo era um moleque apaixonado
que só fazia e fala merda, talvez Roberto poderia ter sido igual a ele. Nunca ele perdeu a calma ou deixou de ter paciência, foi uma viagem
ao passado. Mas a dúvida que martelava era se tinha sido correspondido?
Roberto observava calmamente Leo juntar as peças do relacionamento dos dois e tirar suas próprias conclusões. Simone estava séria e
sabia que a Leo não gostaria do resto, assim como ela não gostou e nem a ex-esposa dele.
- Claro que eu não podia dizer ou me declarar. O ambiente militar é outro, totalmente diferente de hoje. Com casais gays vivendo
abertamente e sem sofrer represálias. Pelo menos pela frente...
- Não sei se ele percebeu logo de cara ou não, nunca perguntei ou conversei sobre isso. Só falei uma vez e até hoje fico na dúvida se me
arrependo ou não de ter contado. Falou sério e Leo percebeu que suas mãos estavam tremendo um pouco. Simone já o conhecia a mais
tempo, não era novidade isso pra ela. Foi até o armário e preparou uma dose de whisky e colocou na mesinha com garrafa e tudo.
Ele agradeceu, tomou um gole e continuou.
- Então uma vez fomos pro sitio de um colega nosso, só policias e amigos próximos, com muita bebida, churrasco e putas. Foi até legal
nesse dia, então de noite eu já um pouco alto de cerveja chamei ele no canto e me declarei. Até tentei dar um beijo nele, meu Deus que
vergonha daquele dia.
Leo abriu a boca sem conseguir esconder o espanto, não pela tentativa mas por não conseguir imaginar a cena. Ele mesmo se arrependeu
de fazer essa cara nada discreta. Pediu desculpas por ser indelicado e ficou como uma estátua.
Roberto deu uma risadinha sem graça e prosseguiu.
- E sabe o que ele fez? Deu um sorriso malicioso fazendo Leo imaginar com a demora da resposta.
- O QUE? AI MEU DEUS FALA LOGO TO PRA MORRER DE TANTA CURIOSIDADE! Falou alto e perdeu totalmente a compostura.
Na verdade Leo sempre teve curiosidade da vida sexual dele, quem teria sido o primeiro, se já teve namorado ou algo assim. Mas isso
excedera as suas expectativas porquê de alguma forma começou a entender que essa história com ele estava tudo interligado. Roberto viu
que o menino pegou a trilha de migalhas de pão.
- Nada, absolutamente nada! Quando eu fui pra beijar, ele com a mão virou meu rosto devagar. Aí eu trouxa me declarei pra ele e disse
um monte de bobagens que não vou repetir. Leo sentiu um pouco de vergonha, porque se lembrou da primeira vez que se conheceram e
tinha feito o mesmo.
- Filho, não tem nada a ver com você. O ambiente era outro, colegas de trabalho. Eu podia ter afundado minha carreira na polícia com
aquilo, mas foi justamente o contrário! Ele me falou assim:
“Beto, você tá muito alto, que tal se a gente conversar quando tiver melhor?” Me lembro até hoje disso.
- Então ele pegou o copo da minha mão, me chamou de volta pro salão e do nada dançou comigo. Eu fiquei com vergonha sabe, mas na
realidade ninguém se importava com aquilo. Eles o respeitavam e achavam que estávamos tendo papos de bêbados. Chamou duas amigas
e dançamos até de manhã. Acordei de tarde numa rede ainda no sitio e ele estava numa cadeira do meu lado.
Roberto viajou longe nas suas lembranças e não sabia mais como continuar, Leo perguntou.
- E aí? O que aconteceu depois?
Ele suspirou e prosseguiu.
- Acordei com ele sentado na cadeira, ainda estava bebendo e já tinha alguns colegas que tinham ido. Ele sorriu com bom humor e disse
“Capotou eim Beto? Quando quiser continuar a nossa conversa estou aqui!” Sorrindo despreocupadamente e eu me toquei da burrada que
tinha feito. Ele poderia ter espalhado pra todo mundo sobre o que eu falei e de maldade sacaneado. Mas já tinha percebido que eu manjava
ele de longe. E fez o contrário.
- Tomei um banho de rio, voltei com vergonha e pedi desculpas pelo que fiz a noite passada. Sabe o que ele fez?
Leo esbugalhou os olhos sem esconder a curiosidade a flor da pele.
- Nada? Disse Leo arriscando um palpite totalmente errado.
Roberto riu com a resposta, mas viu que de alguma forma ficou sentido. Leo achava que isso deveria ter uns vinte anos ou mais. Talvez o
tempo não passe pra quem se apaixonou e não foi correspondido.
- De novo o contrário! Conversou comigo com calma e numa tranquilidade, eu era um meninão novo com pouco experiência de vida nisso,
mas alguma coisa me atraia nele sabe? Então foi explicar “Beto, obrigado pelo carinho da outra noite, mas sou casado sabe? Minha esposa
ta gravida e vou ser pai! Tô muito nervoso com tudo isso!” Disse com aparente sinceridade.
“Não tenho preconceito com nada e nem com ninguém, vi que você tem uma aura boa mas acho que não daríamos certo!” – Lembro como
se fosse hoje ele me dizendo e encolhendo os ombros.
“Acho que em vez disso, posso ser seu amigo o que acha? Te apresento minha esposa e sempre que precisar de um amigo vou estar aqui?”
Foi a vez de Roberto encolher os ombros e ficar distante.
- Aprendi muito com ele, sobre tudo! Ele me ensinou muito, principalmente sobre ter respeito. Nesse dia ele me abraçou e marcou um
almoço na casa dele pra conhecer a família, coisa que pelo que ouvi era difícil ele fazer. A corporação é muito corrupta e difícil, ter amigos
verdadeiros lá é raro e depois como vou te contar fica pior com o passar do tempo.
- Ele me deu um abraço forte e falou que tava feliz por ter feito um amigo, mas recomendou pra eu ser mais discreto em olhar, se ele tinha
percebido outras pessoas também podiam ter visto. Mas que ia ficar entre nós, mas avisou que ia contar a esposa o ocorrido. Fiquei com
mais vergonha ainda, mas ele disse que era por um motivo muito simples. “Beto, tudo que acontece eu conto pra ela sabia? Ela é minha
mulher e melhor amiga! Vai gostar de você, tem uma energia muito positiva!” E fui no dia marcado.
Leo estava estático com as revelações. Ele mesmo deu uma respirada e foi pegar um café, Beto colocou outra dose e continuou.
- A esposa dele era muito boa, estava gravida de quatro meses e tranquila, ele que estava desesperado. Me tratou muito bem e nunca
comentou, julgou ou fez algum comentário, pelo contrário. Mandava recados e bilhetes por ele perguntando por que eu não ia almoçar ou
passar o fim de semana lá.
- Tenho muitas saudades dela, uma pena ter acontecido aquela tragédia! Falou cabisbaixo e prosseguiu. Leo mudou de feição e ficou mais
sério, tentando se manter respeitoso ao passado dele e a importância das suas lembranças.
- Ela morreu num incêndio por causa de um lunático, nem chegou a dar à luz. Ficou totalmente carbonizada. Recebi a notícia numa folga
minha. Eu e alguns amigos dele próximos fomos atrás do culpado mas ele tinha sumido. Existe notícias do acontecido, mas não o real
motivo. Ele fez de tudo pra não ser divulgado nada, nem os nomes das vítimas. Claro que a gente que era daquela época sabíamos de tudo,
mas mantivemos voto de silêncio.
Ele colocou mais um pouco e ficou segurando com uma mão, olhando para o passado.
- Gostava muito dela, ainda lembro do sorriso que ela dava toda vez que me via. Roberto ficou muito triste lembrando disso, mas já tinha
se passado muito tempo.
- Ele me chamou depois e pediu pra conversar comigo em particular. Claro que eu já sabia o que era, todo mundo já sabia mas ninguém
falava nada. “Beto, eu vou caçar o desgraçado que fez isso, posso contar com você?” Olhou pra mim muito sério.
- Claro que pode, nem precisava perguntar! Eu pensei em abraça-lo pra tentar confortar mas foi ele quem me abraçou com força e me disse
desse jeito: “Beto, te amo como um irmão, minha esposa te amava como um amigo! Nunca errei em julgar alguém!” Me olhou tão sério
que era como se visse dentro de mim, dentro da minha alma! Então me deu dois beijos em cada lado da bochecha e falou mais sério ainda!
“Me perdoa por não corresponder o que você sente, mas prefiro ter você como um irmão que a vida me deu!” Eu estava paralisado e não
parou por aí não. “Um dia você vai encontrar alguém que te ame como você merece e vai lutar por você como eu estou lutando agora! Não
vou te abandonar nunca!”
Roberto tomou outro gole, abaixou a cabeça e deu uma respiração longa e profunda. Era um sinal que ele precisava descansar mas preferiu
continuar.
- Fomos atrás dele e nada de encontrar, a notícia que recebemos foi que um grupo estrangeiro tinha levado ele pra fora, estava longe das
nossas mãos. Longe das mãos dele! O apelido de Atlas foi dessa época, porque ele suportava o peso do mundo todo. Como não conseguimos
pôr as mãos nele, ele fundou um grupo pra que ninguém que fizesse isso escapasse impune. Foi aí minha decida ao inferno.
Essa sua última declaração o deixou mais sombrio, agora era o cabuloso propriamente dito! Mas a pergunta era, ele ia explicar com detalhes
quem era o irmão dele e o que diabos era a maldita coisa da garrafa? Ficou dividido porque sempre quis saber sobre sua vida particular,
principalmente sexual. Mas ele era mais profundo que isso, muito mais.
- Com os contatos que tinha feito ao longo dos anos como policial, ele reuniu um grupo de extermino para agir na cidade. Era aqueles que
vingavam entes queridos cujo os assassinatos ficavam impunes! Iam pro presidio, era obvio, mas apenas alguns saiam e nós estávamos do
lado de fora esperando...
Ficou olhando sombriamente para o nada e segurando o copo na mão.
- Ele criou uma célula de espionagem pra monitorar e saber quem eram os alvos e nós agíamos aqui na cidade. Nunca se perguntou porque
você nunca foi assaltado aonde mora? Ou o por que quando a gente se conheceu a rua estava deserta? Olhou de soslaio pra ele e continuou.
- Leo, depois do terceiro mês que vi a coisa ficar séria entre a gente eu pedi pra investigarem sua vida, saber se era o que dizia! Não
encontramos nada, você era o que meu coração sentia. Aos poucos fui me entregando pra você. Abaixou a cabeça esperando o julgamento
e as inevitáveis perguntas. Leo ficou chocado com a revelação, mais chocado ainda foi a cara que a Simone fazia. Obvio que ela já sabia
disso e provavelmente também passou por isso. Nada daquilo era novidade pra ela, o único inocente era ele. Então só faltava chegar na
sua ex-mulher para completar o quebra cabeças. Fez sinal com a cabeça para que a história prosseguisse.
- O chefe veio me dizer se era uma boa eu me envolver com alguém tão novo e eu disse que não tinha problema, porque você era muito
imaturo e de certa forma ingênuo. Mas o perigo nunca foi você descobrir o que eu fazia ou pôr em risco o grupo. O problema era eu mesmo.
Suspirou e respirou com um pouco de dificuldades, quase gemendo. O próprio ato de falar era doloroso. A velha Lucia estava certa sobre
isso.
- Sei tudo sobre você Leo, aonde você anda, o que faz pra onde vai, com quem fala e deixa de falar! Tudo. Por uma única razão. Leo estava
pasmo com isso, quase ia brigar mas lembrou sobre uma conversa deles sobre maturidade, nunca esqueceu aquela maldita conversa. E pela
primeira vez desde que se juntaram Leo falou sério e determinado com ele, quase como uma ordem. Já sabia o que ele ia falar, mas
precisava ouvir da boca dele. Sem ser naquela situação horrível, sem estar na corda bamba. Sem estar entre a vida e a morte.
- Beto, fala olhando pra mim! Disse serio mudando totalmente a feição. Simone também estava seria e sabia o que podia vim a seguir.
Ele olhou pra ele lagrimando, abaixou a cabeça e tomou mais um gole. Levantou da poltrona deu uma volta até a área respirou fundo e
voltou colocando-se próximo e disse:
- Fiz por amor Leo, estava apaixonado por você e não queria te perder! Nunca foi sobre eu não confiar em você sim sobre te perder. Não
é só sobre nós, estava sobre muita pressão. Disse acabado e com os ombros caídos. Viu que ele quis chorar mas se segurou.
Leo ficou um pouco sério, abaixou a cabeça e com os olhos vermelhos balançou a cabeça.
- Era eu que estava com mais medo, fiz essa pose toda pra manter você perto de mim, porque tava apaixonado demais. A Simone vinha
aqui pra ficar com a gente só pra eu não me desesperar. Falava as coisas pra você não por maldade, mas tinha que esconder o que sentia e
dava pouco porque era o certo na minha situação.
Leo absorveu tudo, estava a ponto de explodir. Respirou fundo e lembrou das conversas da noite anterior e tudo se encaixou perfeitamente.
Ele realmente gostava dele, mas e agora? Isso era muito pra ele suportar. Estava a ponto de surtar, queria gritar e quebrar tudo. Queria
bater nele, nela e berrar tão alto até a goela explodir. Roberto e Simone olharam pra ele com receio do que provavelmente viria a seguir...
Mas foi a vez dele surpreende-los com sua reação. A mais simples possível. Numa reflexão de tudo que passou e tudo o que poderiam
viver Leo fez o impensável pra eles.
- Eu perdoou você por tudo! E não vou te abandonar nunca. Olhou pra ele com cara fechada e seria.
- Mas eu tenho uma pergunta que pra mim é importante, eu preciso dela respondida agora e com a verdade!
Roberto já tremendo e com os olhos lacrimejando, respondeu com medo. Muito medo.
- Pode perguntar o que quiser! Fez uma cara assustada e abaixou um pouco a cabeça.
- Me responde com toda sinceridade do mundo, eu preciso disso pra seguir em frente. Te fiz alguma coisa que fizesse você duvidar do meu
amor? Alguma coisa que alguém disse pra você que eu faltei com meu compromisso? Olhou com a cara mais seria que podia fazer naquele
momento.
- Não, absolutamente nada. Você foi perfeito em tudo. Terminou a frase abaixando a cabeça derrotado.
Leo se levantou, tirou a mesa que estava entre eles segurou por debaixo dos braços e tentou levanta-lo. Ele entendeu e facilitou pra que o
segurasse.
- Olha pra mim agora! Nunca tinha falado assim com ele, mas a situação exigia o controle dele. Roberto olhou com a cara mais triste do
mundo, já estava esperando que ele também o abandonasse e fosse embora.
- Roberto, minha vida só tem sentido se eu acreditar no amor! Se você não acredita em mim não posso continuar com você. Mas se acredita
sou eu que precisa acreditar! Te amo pra sempre, você é o amor da minha vida! Sacudindo ele com a pouca força que tinha, começou a
falar em voz alta, estava quase se descontrolando.
- EU TE AMO PRA SEMPRE SEU GRANDE FILHO DA PUTA! TA ME OUVINDO? PRA SEMPRE! NINGUEM VAI TOMAR SEU
LUGAR!
Simone abaixou a cabeça e abraçou os joelhos, Roberto parecia um boneco enquanto Leo o sacudia e começava a falar mais alto sem se
importar com nada. Já estava nervoso com aquilo e com mais ódio ainda daquela bruxa velha que tinha acertado o que ia acontecer. Então
de abuso não foi em direção ao destino já previsto por ela e sim o que ele tinha sonhado.
- Está me ouvindo? Tem alguma dúvida que eu te amo e que não vou te abandonar?
Roberto estava destruído por dentro e por fora só externava o seu coração. Começou a chorar sem se importar com nada, queria muito
abraça-lo, queria ser confortado por ele, mas ficou com medo de ser rejeitado mesmo depois dele ter falado isso tudo. Se ajoelhou e abaixou
a cabeça, lembrou de todos os seus fracassos e sangue nas suas mãos. Tinha alguém na sua frente que o aceitava como era. Que enfrentou
a morte por ele. Enquanto outros ou outras na mesma situação teriam deixado ele para morrer. Foi um menino que só tinha amor pra dar
sem interesse em nada que enfrentou a morte. Sem saber de nada, tinha caído nesse mundo violento e cruel que ele estava atolado até o
pescoço. Foi um menino corajoso que deu uma luz pra ele seguir em frente. Ele só queria apenas amor e se correspondido. Como ele estava
envergonhado, como estava totalmente humilhado. Destruído por dentro.
Ele não podia ser comprado, subornado nem intimidado, o que sentia era amor de verdade. Esse era o sonho dele!
Leo olhou serio pra ele de cima, por dentro queria chorar, abraça-lo e dizer que perdoava tudo. Só importava que ficassem juntos, mas se
manteve sério e imponente. Não era sobre quem ficava por cima de quem, mas isso era importante pra ele e tinha coisas ainda a serem
ditas e ele precisava saber, precisava ver. Mas teria que esperar. Agora teria que continuar e provar pra todo mundo que estavam errados,
que o amor era tudo que precisava. Mas com o amor vinha o sofrimento e seus olhos foram abertos para a dura realidade.
Descobriu que sua batalha mais difícil não foi enfrentar a morte por causa dele e sim escolher ficar ou ir. A maldita estava certa e isso
porque nem chegaram na história da ex-esposa que nunca soube o nome e aonde Simone entrava.
Tinha que dar a força pra ele terminar, não aguentaria esperar outro dia sequer para saber de tudo. Então abaixou colocou as duas mãos do
rosto dele, puxou para perto e deu um selinho. Encostou sua testa na dele e pediu pra continuar.
Roberto enxugou as lagrimas com as costas da mão, colocou uma dose maior, se recompôs e continuou com a cara ainda mais devastada.
Simone ainda estava abraçada com os joelhos absorta a tudo, talvez ela mesma tenha passado por isso e vivenciava a mesma conversa de
uma perspectiva de fora. Talvez ela tivesse sofrendo duas vezes.
- Quando conheci minha ex-esposa estava envolvido até o pescoço com os serviços paralelos do grupo. As operações estavam saindo cada
vez mais caras e precisávamos de dinheiro. Todos tinham família e era difícil a colaboração. Mas a ideia original do grupo era executar
num português claro os que tinham se safado da justiça. Se recompondo e dando outro gole, dessa vez menor.
- Só admitíamos gente que pensava como nós e sondávamos possíveis candidatos, e nunca ninguém ficou sabendo como era o sistema de
recrutamento, apenas um dia aparecia alguém e era comunicado.
- As coisas ficaram serias quando agíamos no interior, aí precisávamos de dinheiro, muito dinheiro. E até que se provasse o contrário
éramos todos honestos. Então o chefe conseguiu a grana com as pessoas certas que também pensávamos como nós. Eram conhecidos como
os patrocinadores e bancavam todas as nossas despesas.
- Mas com o tempo serviço foi ficando sujo, muito sujo e começávamos a duvidar do nosso ideal de punir. Foi quando as chacinas
começaram. Abaixou a cabeça, pegou o copo colocou mais um pouco e ficou mexendo com o dedo bem devagar.
- O chefe dizia que era o certo o que fazíamos, mas alguns de nós perceberam que a cada bandido que eliminávamos pra ele quem morria
era o cara que assassinou sua esposa. E com o tempo isso foi ficando mais e mais evidente. Até que alguns começaram a questionar o lado
moral e confronta-lo. Eles simplesmente desapareceram. Um belo dia ele chegou e fez uma reunião, estruturou o grupo e como seriam as
missões. Diminuíram sim e muito, mas ficaram cada vez mais sangrentas.
Leo se desarmou por completo e Simone foi ficando cada vez mais com um aspecto sombrio, ele concluiu que a parte dela estava quase
chegando.
- O chefe organizou o sistema de créditos e passes e uma vez dentro não poderiam sair sem enfrentar as consequências. Basicamente os
créditos eram pontos, favores que você adquiria com ele e o patrocinador e os passes era quem deveria ser protegido. Se você tinha alguém
importante, você tinha um passe e ele te dava o direito de proteção da área onde vivia e apoio caso precisasse. Se tivesse uma família,
esposa e filhos era contado como um passe, porque pra ele a família era tudo. Se tivesse alguém por fora era outro passe e pra conseguir
um tinha que executar missões perigosas e violentas. De risco de vida. Por isso que fiquei com medo, a missão era muito difícil e nem sei
quantos vão morrer nela.
Leo tinha acerto em partes, mas qual era o preço a ser pago por cada passe? Ele então deduziu que tinham Roberto tinha dois passes, sua
família e sua ex-esposa.
- Meus dois passes eram minha família e Simone, por problemas com minha ex não quis consegui um pra ela e adquiri um pra Simone.
Minha esposa descobriu tudo e desapareceu, Lucia deu a escolha pra ela se ficava ou morria comigo. Ela foi embora e eu fiquei com nossos
dois filhos. O chefe intercedeu por mim e fiquei com a vergonha de ser abandonado. Simone tentou se envolver comigo mais eu não quis.
Então Torres matou o irmão dela que era gay assumido. O enforcou com um fio elétrico para parecer que foi uma maldade aleatória de
alguém.
Simone continuava na mesma posição e encarava o nada e a indiferença.
- Torres levou o caso para Lucia dizendo que ele aliciava menores e tudo, mas ficou provado que não e então Torres queria era sangue
mesmo. Matou o irmão dela por crueldade e ainda debochou dele. Alguns de nós tinham parentes e conhecidos gays, mas tinha uma ala
que era conservadora e não gostava disso. E aos poucos um por um foi se afastando do grupo, caras novas entraram e Torres de alguma
forma tinha inveja de mim e da minha amizade com o chefe. Mas não sabia nada dos meus sentimentos.
Leo prestava atenção em cada palavra fazendo notas mentais de tudo. E é logico que a pergunta do milhão tinha que ser feita, mas sem ao
menos olhar pra ele foi Simone quem respondeu, lendo sua mente para o obvio.
- Claro que o Beto ainda gostava do chefe dele, talvez até hoje. Disse de maneira sombria. Totalmente fria e indiferente.
Leo não se abalou, ou pelo menos não demonstrou. Estava conhecendo um lado deles novo.
Roberto deu outro gole, esperou um pouco para continuar.
- A verdade era que Torres queria ficar com a Simone, no começo da carreira dela aqui na cidade. Era muito nova, mas já fazia sucesso
nas casas noturnas daqui. E um dia vi ela num show fiquei encantado. Peguei amizade rápido mas de alguma forma Torres achou que eu
fazia de propósito e entrou em conflito comigo. Meu casamento já estava acabando e quando ela descobriu foi embora. E eu fiquei com
nossos filhos. Ela desapareceu do mapa e vez ou outra ligava pra mim pra saber notícias deles e só.
Leo conhecia bem os filhos dele e a família, gostava de todos. O mais velho se chamava Nicolas e parecia muito pouco com ele e o mais
novo tinha todos os traços do pai, o Henrique. Os dois já eram adolescentes e das raras vezes que ia na casa dos pais dele, trocavam ideias
sobre jogos, desenhos e filmes.
- Torres se saiu impune de tudo, fui falar com o chefe e ele disse categoricamente pra deixar tudo como estava. Lucia disse a mesma coisa
e era pra eu seguir em frente. Perdi minha esposa, Simone o irmão e eu não consegui conciliar as coisas. Estava muito confuso e cansado
desses problemas. Então falei a verdade pra Simone sobre mim e ficamos amigos Fui honesto com ela e não era a hora de um
relacionamento. Mas mesmo assim não deixei ela de lado e acabei me tornando seu melhor amigo.
Simone estava do mesmo jeito, parada observando a conversa alheia fisicamente mas com a consciência naquela época.
Roberto deu uma olhada pra ela e depois pro Leo, bebeu mais um pouco e prosseguiu.
- Ela virou minha melhor amiga e eu seu anjo protetor. Ainda gostava da minha ex mulher, mas do meu jeito. Também gostava do meu
chefe também do meu jeito e nenhum dos dois era pra mim. Eu sabia que era um erro se eu ficasse com a Simone. Resolvi falar a verdade.
- Então passou um tempo e eu encontrei um carinha no interior, foi uma curtição boa, mas sem sentimentos. Terminei com ele e nunca
mais o vi. Passou um tempo e ficava só com amores de uma noite, as vezes, muito raro ficava com algum homem mas era muito difícil.
Tentei esquecer meus sentimentos pelos que eu já amei e cai de cabeça no trabalho. Foquei na minha família e segui em frente. Criei meus
filhos sem o amor da mãe, nem sei se ela ainda pensa neles ou se está viva. Não me importo. Hoje construí laços que são mais importantes
que o passado.
- Você ainda gosta dele de alguma forma Beto? Leo não mediu palavras, queria organizar as coisas na sua cabeça.
- Gosto, muito! Mas não como antes. Ele é um bom amigo, as vezes acho que ele é amargurado pelas tragédias que aconteceram na sua
vida, mas só o fato dele ter sido honesto comigo e me ajudado a me entender foi o bastante. Fizemos o que achávamos certo na época,
antes de todo esse sangue. Escolhi viver, ele não.
Simone colocou a mão na coxa de Leo e pediu pra sair um pouco. Foi lá pra fora respirar ar puro e pediu pra prosseguirem sem ela. Não
aguentava mais aquilo. Mas decidiu não ir embora. Acho que tinha coisas que não queria ouvir de novo. Acho que era a parte do irmão
dele, do Atlas...
- Ela conhece a ordem dos fatos, e estou te contando de forma resumida. O grosso da informação. Lucia protegeu a gente com outras
conexões políticas. Está tudo interligado. Ninguém pode nos prender ou ir atrás da gente. E se um cair, cai todos. Nosso trabalho tem
coisas tão absurdas relacionadas a figuras importantes que é capaz do estado todo parar. Só pra você ter uma ideia do que eu estou falando
da gravidade da situação. E o Atlas está no centro de tudo. Tem coisas ainda mais sombrias que eu não sei e nem quero mais saber.
- Como você viu, fui fiel ao meu amigo e estava com ele até agora. Ele me liberou disso e não sei onde é verdade ou mentira. Mas pra ele,
eu estou comprometido. Que ia acabar morrendo em serviços paralelos. Por sua causa.
- Beto, onde o irmão dele entra nessa história? E o que foi aquilo que eu acho que vi. E mais importante, porque todo mundo achou o mais
normal do mundo aquela sombra sair da boca dele?
- O irmão dele mais novo se chama Gabriel e ele mexe com forças ocultas. A história mais conhecida era que ele fez um pacto com o
próprio diabo! Esqueça isso de Umbanda e Candomblé, é bem mais pesado que isso. Eu vi ele fazer coisas, invocar outras mais assustadoras
que as vezes nem eu mesmo acredito. Mas eu vi!
- O diabo? Perguntou Leo com um pouco de medo.
- Sim, o próprio capiroto. Ele ganhou um sitio e fez dele um templo dedicado ao mal. É assustador o lugar. De noite não se ouve barulho
de nenhum bicho, animal de nada. Nada cresce ali, nada dá frutos, floresce ou vinga. Fui lá uma vez e fiquei horrorizado e só voltei por
questões de trabalho. Tive pesadelos horríveis com aquele lugar. A pior parte é o muro ou a adega como ele chama. É aonde fica as almas
aprisionadas por ele. Então Leo se lembrou da sombra que viu e de Torres sendo sugado por aquele ser e indo pra garrafa. Mas o porquê
daquilo era o que intrigava. Não bastava só matar? Roberto olhava pra ele como um livro aberto e sem ele saber, Leo tinha as mesmas
duvidas que Simone teve.
- Leo, quando a história se espalhou sobre o Gabriel Papa Defunto, nossos inimigos políticos ficaram apavorados. Ele aparecia em sonhos
avisando que ia levar suas almas. Dias depois nos agíamos e as vezes... exterminávamos famílias inteiras. Não poupando ninguém!
- Mas também tínhamos nossos inimigos que não se intimidavam e mandavam seus próprios agentes para contra atacar e uma vez quase
tivemos uma guerra generalizada aqui no estado. Tentaram matar o Gabriel numa emboscada quando ele ia para a cidade. Foi desastroso
o incidente. Era um grupo de quase vinte homens e estavam pesadamente armados. Começaram a metralhar o carro dele com fuzis e tudo,
quando um foi olhar se ele tinha morrido, estava o próprio Demônio dentro do carro e levou todos pro inferno. Literalmente.
Deu uma pausa e estremeceu, começou a tremer só da lembrança.
- De algum jeito que eu não quero saber, ele avisou seu irmão da emboscada e o lugar onde estava. Quando chegamos lá já armados pro
que der e vier encontramos os cadáveres do mesmo jeito que ficou o Torres. Secos, desbotados e sem vida. Gabriel estava com o número
de garrafas pra cada um e eu vi a imagem deles gritando bem baixinho. Mas o pior não foi isso, foi a cara demoníaca dele. Leo ele tinha
chifres e pés de bode. Os olhos dele estavam da cor de sangue.
Se fosse em outra ocasião teria rido ou não levado a sério, mas Leo também viu com seus próprios olhos e não achou difícil acreditar no
seu relato. Mas Gabriel era um homem bonito, lembrou dele nitidamente. Era parecido com Atlas, mais jovem e o que os dois tinham em
comum era o olhar. Era muito pra ele, já ia pedir pra parar mas achou melhor não. Roberto precisava desabafar e ainda faltava explicar o
desfecho com Lucia.
- A própria família deles é ligada ao misticismo. O pai dele veio visita-lo uma vez, um senhor simpático e não aparentava ter a idade que
tinha. Foi num almoço ele tinha vindo de outro estado e conversamos depois. Foi dizer que o irmão mais velho dele tinha desaparecido já
fazia tempo, mais que o normal e não deixado qualquer aviso. O apelido dele era D. E contou histórias pra gente sobre o avô ter virado um
encantado, um tipo de entidade indígena das florestas. Era apenas eles três de irmãos. Cada um ligado a um tipo de tragédia ou magia.
- Quantos anos ele tem Beto? Queria saber logo, porque as contas não batia na cabeça dele. Roberto deu uma risadinha e falou.
- O Luís tem quase setenta anos! Isso sim espantou Leo de uma forma espetacular! Setenta anos? Aparentava ter quase a idade de Roberto,
meu Deus do céu, como era possível que ele tivesse essa idade? O corpo dele era de um atleta de lutas, nem cabelos brancos tinha e não
tinha cara de quem pintava. Abriu a boca chocado.
- Como assim quase setenta? Não faz o menor sentido isso! Não acredito. Ainda sem acreditar.
- Leo, existem coisas nessa cidade que você não tem a menor noção que existe. Só que uma vez que passa a saber, sua visão muda sabia?
Não enxerga mais o mundo do mesmo jeito. Tudo fica diferente.
- Eu nunca vi, não sei quem é e depois de tudo que eu já presenciei com meus olhos acho que é verdade. Você sabia que aqui nessa cidade
existe um Mago de verdade? Que ele mora aqui já tem mais de cem anos? Você pode achar que a conversa mudou de rumo, mas não. Faz
parte de onde quero chegar e finalizar.
- O chefe me explicou uma coisa que é difícil eu engolir, mas não acredito que ele esteja mentindo. Que no mundo existem seres realmente
estranhos que poderiam mudar a realidade da gente. E esse mago é um deles, falou também que ele se lembra de eventos de uma vida
passada e um dia acordou nessa. Viveu de novo uma outra vida, mas o que não mudou foi a morte da esposa e filho pela mesma pessoa. E
de vez em quando aparece um lugar físico que é uma porta para outros mundos. Não só aqui na cidade, mas no mundo inteiro tem locais
assim. A diferença é que esses lugares não podem ser catalogados e não obedecem qualquer padrão.
- Impressionante. O garoto estava vidrado na conversa agora, não tinha razão de duvidar, mas era fantasioso demais. Se chocava com sua
percepção do seu mundo real.
- Lucia ajudou o grupo por um único propósito. Manter a cidade limpa de violência pra que no dia que esse local voltar ela posso sair daqui
e ir atrás de quem ela perdeu. Lembra do que eu te disse pra gente poder sair vivo? Pois é.
Ele se lembrou nítido do relato. De alguma forma nossa vida juntos era parecida com a dela e esse era o ponto fraco. Ela passou pela
mesma situação que a gente e o carinha que ela amava fugiu deixando ela pra morrer, ela tinha até levado alianças de compromissos
comprado com o dinheiro de calçada, como era chamado os ganhos de programas. Ela conseguiu reverter a situação e o cara desapareceu
fugido. Beto tinha dito que nossa história era parecida, a única chance de viver era enfrentar por amor. Fora que não só os dois morreriam,
Simone também morreria por causa deles... Então o plano era Simone ir atrás do Gabriel ela mesma e contar a parte do plano pra ele e
aceitar pagar o preço das nossas vidas. Mas qual era o preço? Estremeceu só de pensar nisso. Beto já tinha informações sobre Torres, mas
não ia usa-la contra ele, esperaria até o ultimo segundo pra colocar o maldito em xeque. A história ia muito mais além.
Beto era realmente inteligente e deu a cartada final nos quarenta e cinco minutos do segundo tempo.
- Lucia conseguiu alguns pistoleiros pra caçar seu ex-amante e perseguiu ele até uma casa abandonada, ele com medo pulou o muro e
desapareceu do mapa. A casa era um desses portais do tempo. O lugar que te falei.
- Ela ficou obcecada com o lugar e de manhã a casa simplesmente desapareceu! Junto com o boy dela. Ela começou a estudar sobre magia
e pesquisar o sobrenatural. Contratou um estudioso pra catalogar as lendas e folclore daqui e se tinha alguma história dessa casa. O contrato
dele é de vinte anos, na época do acontecido. Ela paga uma fortuna pra ele estudar terreiros, templos e entrevistas os moradores mais
antigos da cidade. Eu tenho a teoria de que ela ainda gosta do cara e quer de alguma forma se juntar a ele.
- Nossa que história louca. Leo já estava mais calmo e totalmente envolvido no relato, achando difícil de acreditar e maravilhado por existir
o que estava ouvindo.
- Ela viu que a história se repetia, só que com a gente. Se você piscasse o olho na hora do primeiro tiro, ela mataria nós três. Foi sua
determinação em acreditar no amor que salvou a gente e de alguma forma mexeu com ela. Você apostou tudo no seu sonho e estava certo.
Salvou nós três. A dor dele tinha passado, aos poucos tinha voltado a ser como era, o Roberto que amava. Mas e ele?
- Beto, e agora? O que vai ser da gente? Como vamos seguir depois de tudo? Será que ela vai deixar a gente em paz? Você vai algum dia
precisar voltar pra esse serviço? Acho que a história toda fez sentido. Se encaixou como uma luva. Até as atitudes dele eram justificáveis,
talvez até perdoáveis mas tinha que se resolver logo. Só veio na cabeça o maldito ditado, tempo ao tempo e um passo de cada vez. Agora
era esse passo e o tempo viria depois!
- Vamos seguir em frente, o que tinha pra te dizer agora era isso. Tem mais coisas ainda logico, mais o importante é era você saber de tudo
sobre o serviço paralelo. Sobre nós dois juntos, tem que ser amanhã, hoje não dá mais. Amanhã vai ser fantástico!
Os dois tinham colocado tudo pra fora, os dois tinham entendido um ao outro e os dois decidiram ficarem juntos e seguirem em frente.
Leo abraçou Beto e o perdoou por tudo, disse que o resto poderia vim mais tarde, mas que tinha entendido sua vida e aceitado o passado
pra terem um futuro. Escolheu ama-lo e apoiá-lo.
Mas o que Roberto não sabia era que talvez não fosse como ele imaginava que seria, Leo mudou muito e continuava a mudar mais ainda
por dentro, mesmo que ele não sabia ainda. Sem os dois perceberem, Simone estava na janela observando tudo. No fundo queria que tudo
tivesse terminado, mas as coisas pareciam se repetir e entrou sorrindo por fora e chorando por dentro. Os três se despediram e Simone foi
embora pra casa e Leo teve finalmente um tempo a sós com Roberto. Um olhou pro outro e finalmente Leo falou.
- Se esse compromisso importante é só amanhã o que vamos fazer até lá? Perguntou curioso.
- Vamos ser felizes com o tempo que tivermos. Vem cá que vou te mostrar a minha felicidade já crescendo! Roberto o puxou, encheu de
beijos e abraços, fez ele sentar no seu colo de frente já excitado e olhando fixo.
- Quero passar o resto da minha vida com você sabia? E amanhã vai ser um dia que não vai esquecer jamais! Leo o beijou de modo
diferente, mas o abraçou com ternura. Não tinha mais vontade de chorar, chega de chorar. O que queria era ele de corpo e alma. Acho que
o sonho se realizou. Criou uma conexão com ele inabalável, algo indescritível e inquebrável! Roberto o levantou do sofá e o carregou no
colo para o quarto, não fazendo o menor esforço. E quando deitaram na cama se olharam e viram que as mentiras tinham caído, não tinham
mais segredos sujos, ambos se sentiam livres e leves. Transaram o dia inteiro, sem pudores e sem moralidade nenhuma, tinham achado o
caminho certo da conexão de suas almas. Não através do sexo, da morte ou da vida, mas olharam um nos olhos do outro e se completaram
por inteiro. Nesse dia foram um só.
A noite quando se cansaram adormeceram do jeito que estavam e foram juntos para um lugar além do sofrimento e medo, foram para o
mundo dos sonhos, o mundo que suas almas tinham criado para eles. A noite dormiram felizes e em paz.

Parte 05

Roberto acordou muito mais cedo e já tinha feito as ligações que eram mais importantes pro dia de hoje. Não ia trabalhar e deu algumas
desculpas vagas, se fosse preciso pediria um favor pro chefe para dar alguns dias de folga. Acho que ele não se importaria se dissesse o
motivo. Claro que ele já sabia qual era, nada escapava da sua vista.
Olhou pro quarto e Leo estava roncando alto e esgotado. Sorriu e se sentiu satisfeito pela noite, mas com certeza o garoto ia surtar com as
“surpresas” que ele tinha planejado, era um passo que uma vez dado não tinha mais volta. Achou que o Leo já tinha provado o suficiente
e era a vez dele. Fez um cara maliciosa e de ansiedade só pra ver a cara dele de espanto. Mas hoje era um passo de cada vez, por que o
tempo já chegou.
Tomou banhou e escolheu as roupas que Leo mais gostava, desde a cueca, calça jeans e a camisa, como ele não sabia o que era deu uma
colher de chá. E é claro usou a sua jaqueta Jeans, aquela que ele amava tanto. Não cansava de falar que ele ficava o homem mais lindo do
mundo, mas da perspectiva de Roberto era só uma jaqueta jeans velha e não tinha nada demais. Mas ele prestava atenção em tudo o que
fazia, as vezes se pudesse gastaria todo o dinheiro deles vestindo Roberto com roupas que ele achava que ficariam sexys.
Leo era uma figura interessante, Roberto não tinha um padrão de beleza especifico, mas se tivesse química toparia tudo, de alguma forma
naquele dia do seu aniversário sentiu algo especial, um tipo de conexão que não sabia explicar. Resolveu confiar na sua intuição e como
sempre estava certo. Mas fisicamente Leo já era um homem feito, era esguio e estava ficando musculoso, tinha o rosto bem feito e a boca
um pouco carnuda. Não tinha barriga e se entrasse na academia ia ficar bem melhor. Estava decidido, ia investir no corpo dele, transformar
ele no sonho de boy magia.
Roberto não gostava muito de elogia-lo, dizer quais partes eram interessantes ou deixava excitado, mas sentia que ele merecia isso, sentir
que ele também o desejava. E sim Leo era um tesão. Mas ele via as coisas de uma forma diferente, pra ele era preciso dizer, ouvir e fazer
já para Roberto o importante era sentir a sintonia que tinham demais. Mas nem tudo era flores entre eles, um problema gravíssimo que Leo
tinha era o jeito que olha para as pessoas, principalmente as que ele sentia atraído. E ninguém gostava de ser encarado, Roberto já tinha
conversado várias vezes sobre isso, que precisava ser discreto ou alguma hora ia se meter em muitos problemas. Ele era descarado e já o
colocou em várias situações embaraçosas. Mas nunca ficou realmente bravo só pedia cuidado.
Um vez eles foram para o clube da polícia no fim de semana e ele avisou que tinha muitos amigos lá, era pra se controlar e agir com
discrição. Se tinha gente que sabia deles era obvio, mas o importante era não dar margem pra comentários maldosos que ele não saberia
lidar e assim estragar o fim de semana. Esse dia foi uma luta, Leo ficou emburrado e quase não foi, mas depois de muita adulação e
conversa foram. Até que no começo ele se comportou bem, mas era visível que não estava à vontade e ficou com pena dele. Mas tudo
mudou quando um amigo de muito tempo, o Serjão chegou. O cara era imenso, tinha quase dois metros tranquilo e muito simpático e
discreto. O apelido dele era urso, porque era gigante e peludo. Mas como pessoa um amor.
Nesse dia Roberto quase teve um ataque de tanto rir, quando ele pegou Leo olhando pra bunda dele sem ninguém ver. Ele ficou todo sem
graça e morrendo de vergonha, achou que pela primeira vez Roberto ia esculhambar em público. O que ele fez foi uma cara séria e foi
direto pra piscina todo vermelho. Então ele o Serjão conversaram muito e colocaram as novidades em dia, parabenizou por ele e Leo
estarem juntos. Era um cara desencanado e da paz. Então pra constranger mais ainda ele combinou uma pequena zoação com Leo, e testou
pra ver o quanto ele poderia se safar de momentos constrangedores em publico, chamou o Leo pra falar uma coisa.
- Leo vem cá por favor. Chamou ele gritando, o Serjão está lá do lado. Leo veio todo desconfiado e sem graça.
- Oi Roberto. A voz quase sumia, Beto tava pra explodir de tanto rir mas se controlou e como tinha combinado.
- Roberto? Oxi como Roberto? Vocês estão juntos a três anos e não chama ele de Beto? Disse Serjão sério também querendo rir.
Ele começou a gaguejar e ficar vermelho. Os dois se olharam entre si e caindo na gargalhada até perderem a compostura e Leo quis morrer
nesse dia. Serjão puxou ele pelo braço rápido e abraçou rodando ele e gargalhando.
- Relaxa um pouco Leo, sou amigo do Beto faz tempo. Só zoação nossa, precisa ficar com vergonha não! Roberto já estava lagrimando de
tanto rir e Leo ficou emburrado. Mas como a vida é feita de oportunidades e sem que nenhum deles percebesse, deu uma cheirada nele e
discretamente tirou uma casquinha desse homenzarrão. Estava aprendendo, mesmo que lento.
O cara era muito gente fina, passaram o resto da tarde com eles conversando e ele apresentou a namoradinha, uma guria pequena com cara
de chata. Mas não disse muita coisa e se divertiram. Mas essa lembrança veio na mente foi que Leo estava muito bonito de sunga, aí foi a
vez de Roberto sorrir com malicia.
Depois desse dia, quando saiam juntos ele se esforçava o máximo para não ser pego e parecia que estava treinando a discrição. Via os tipos
que ele gostava, homens gordinhos ou grandões demais. Rústicos, mal encarados ou sérios demais, trabalhadores braçais e gente bem
vestida, mas todos tinha um padrão. Era sempre gente mais velha que ele. Roberto não se importava, confiava nele mas as vezes queria
saber de verdade suas fantasias. Mas não ia mais constranger ele daquela forma. E a partir daquele episódio fingia que não via nada.
Foi até o guarda roupa e pegou o perfume que Leo tinha comprado de presente. O bichinho tinha juntado um tempo pra dar o melhor e
esse desapego material era uma das coisas que mais admirava nele, servia como um tipo de prova que estava porque amava e não se
importava com dificuldades ou falta de qualquer coisa.
E o detalhe pra fechar o pacote, Roberto pegou o óculos escuros que Leo era perdidamente apaixonado. Em uma dessas lembranças, foram
pra um dos inúmeros lugares pessoais dos dois, o Bar do Tonho. Era um lugar bem ruim e cheio de bêbados asquerosos, mas gostava de
lá. Nesse dia se encontraram de tarde e Leo já estava esperando uma meia hora antes todo arrumado, e quando Roberto chegou de moto
com dois capacetes achou que os olhos dele iam pular pra fora, ficou gaguejando ele estalou os dedos nos olhos dele pra tirar ele do transe,
a resposta foi já esperada mas não deixou de ser linda pra ele.
- Beto você está lindo, acho que nunca vi você tão lindo assim? Nem conseguindo disfarçar a cara de surpresa que estava fazendo. O seu
Antônio o dono do bar falou com toda liberdade e discrição que tinha.
- Baba não, deixa pra mais tarde! Ele e Roberto riram com vontade e Leo não saiu do transe dessa vez.
Essas coisas que podia deixar outro com raiva e abusado era o que Roberto mais gostava, ele não conseguia mentir quando ele o elogiava
ou não conseguia esconder o que sentia. Era de verdade.
Nesse dia no Bar do Tonho foi uma noite bem legal, ficaram até umas duas da manhã. Chegou um pessoal que ele conhecia e queria
apresentar pro Leo, era um turma grande e muitas vezes eles chamavam ele pra fica na mesa com eles e fazer companhia. Era uma turma
de uns dez a doze amigos. Era um barrageiro da Usina de Jirau, o Alexei, Roberto gostava muito dele, mesmo que só se viam no bar, ele
tinha uma aura fantástica e também se sentia muito bem. O outro era seu namorado o Mateus, também da Usina, só que era da Santo
Antônio uma figuraça. Roberto já pegou ele dando umas olhadas, mas ele era mais discreto que o Leo e totalmente respeitoso. Tinha um
grandão baixo que era professor e um moreno, o Marcelinho. Aí vinha os outros e pedia pro seu Antônio juntar as mesas e fazer tira gostos.
Sempre quando se encontravam essa turma era muito legal. Leo fez amizade com Mateus e falando muito sobre coisas nerds ele ficava
conversando com o Alexei sobre carros, trabalho e outras coisas. Roberto e Alexis tinham praticamente os mesmos gostos musicais e Leo
o mesmo de Mateus.
Aí vinha os outros, o primo Ricardo e o primo Bobô, o professor Marcos, o frentista Joe que veio do Maranhão e estava só alguns meses
da cidade. E até um amigo em comum do Leo apareceu, o Charles. Um baixinho nerd e de óculos. Juntava os três, Leo, Mateus e ele e se
isolavam pra falar de cultura pop. Mas sempre vinha gente, faltava gente e nunca deixava de se divertirem quando juntava todo esse povo.
Leo fazia perguntas sobre como era a vida junto estando longe. A resposta foi simples, se quisessem ficar tinham que correr atrás e passarem
por muitos problemas e escolhas difíceis, mas tinham um ao outro e isso bastava. Aquilo mexeu bastante com ele e acho que nunca
esqueceu. Ele também contou que estavam juntos a treze anos e em setembro ia comemorar a data, foi quando se conheceram e ele tinha
enfrentado muita coisa difícil pra durar tanto tempo e os amigos que vinham aqui no bar era gente que aceitavam ele do jeito que era. Tinha
amigos heteros que amavam os dois juntos, mas as vezes gostava mais do Alexei porque já era natural dele e com o tempo aceitou isso
numa boa. Mateus era mais novo e mais meninão e já Alexei era um ano mais velho e sempre era o mais ponderado e centrado. Em
personalidade e jeitos totalmente diferentes mas se completavam.
Charles falou sem a menor cerimônia que se um dia eles se separassem ia ficar do lado do Alexei sem nem pensar duas vezes e ele era
amigo pessoal do Mateus. Leo ficou espantado e todos riram.
- O Mateus é insuportável e intragável aqui é Team Alexei! Foi até ele e abraçou e ficou fazendo carinha de ciúmes pro amigo. A resposta
veio na hora e ácida!
- Se você tivesse namorada eu até poderia ficar do lado dela, mas a única que tem é sua mão! Se for pra esperar já virei uma maricona fim
de carreira! Todos riram e Roberto gargalhou alto, não pelo constrangimento e sim que era coisas que Leo precisava ver pra entender.
Nesse dia a mesa se dividiu em dois lados, Leo, Mateus, Charles, primo Bobô, Joe e o professor grandão, do outro Roberto, Alexei,
professor Marcos, primo Ricardo, Marcelinho que não ficou no outro lado porque eram nerds demais! Foi uma noite incrível e Leo se
sentiu muito querido na mesa. Ele pegou uns olhares pra cima do Beto e ele falou com calma no ouvido.
- Relaxa fi, o segredo é você saber lidar com isso sabe? Teve gente que sabia que estávamos juntos e cantava o Alexei na cara de pau! E
eu do lado como se não existisse sabia? Deu risada lembrando do episódio com bom humor.
- Sabe o que eu fiz? Nada. Enquanto estava só falando era de boa, mas quando parte pro contato físico aí a parada muda. No mais aceitei
que as pessoas gostam dele. Olhou sério e falou algo que nunca esqueceu.
- Se descobrirem que a parte mais fraca é você, tu nunca mais vai ter paz na vida! Se ele te ama e tu também, não precisa de mais nada.
Ouça a voz da experiência! Leo ficou pensativo e tomou mais um gole, mas devagar refletindo.
Beberam a noite toda e foram pra casa e Leo adorou a noite e o barzinho. São pessoas muito legais.
As coisas que ele gostavam era as mais simples, não ligava pra dinheiro, coisas de marcas nem nada, ele conseguia ver a beleza no bruto,
rustico e no absolutamente casual. Tinha alma de artista e visão para a arte de rua. Uma vez ele mostrou as fotos que fazia dele, eram todas
espontâneas e coisas do dia a dia. Falava que não gostava de poses e preparação, era o agora e o já! Por isso se surpreendeu com o dinheiro
que tinha juntado, viu a pesquisa no histórico do celular e deu um sorriso, era caro demais para Leo e uma ninharia pra ele. Um dia ia levar
ele pra conhecer esses lugares, mas explicaria que não dava a mínima pra isso. O importante era estar num lugar onde os dois fossem
felizes e ele se sentisse bem.
E falando em felicidade, já estava passando da hora dele acordar e ir pra sua surpresa!
- Leo filhote, bom dia! Esqueceu que temos compromisso agora de manhã? Já são quase sete da manhã, quer se atrasar pra sua surpresa?
Falou sentado na cama e passando a mão com carinho do cabelo dele.
- Bom dia Beto. Disse se espreguiçando e abrindo os olhos com dificuldades e vendo Roberto já arrumado.
- Ai meu Deus eu tinha esquecido! Vou tomar banho e me arrumar rapidão! Deu um pulo e correu pelado pro banheiro. Roberto foi pro
guarda roupas e escolheu tudo o que ele tinha pra vestir, desde cuecas, meias e camisa. Uma calça nova que tinha comprado e um coturno
preto militar. Arrumou a cama bem rapidinho e pôs as roupas de forma organizada. E um presente do lado da cueca.
Leo saiu todo molhado como já sabia que viria ele já estava com uma toalha limpa esperando. Sabia do habito que ele tinha de se enxugar
com a mesma toalha dele, mas não dessa vez.
Ele tomou um susto com tudo arrumado e claro que fez a cara de espanto. Então calmamente o enxugou com cuidado, suas costas e entre
as pernas. Abaixou secava perna por perna, um pé de cada vez e quando foi sua virilha seu pau já estava duro. Ele deu um beijo com
carinho e lutou contra a vontade de chupar ele ali mesmo. Pegou a cueca e ajeitou o volume do jeito que gostava, de lado para a direita.
Vestiu as meias e depois a calça, colocou o coturno e amarrou de forma pra ficar confortável. Deu a volta na sua cintura com o cinto e
vestiu a camisa. Pediu ele com voz manhosa para abrir o presente, ele fez e se surpreendeu. Era o perfume que mais gostava. Com um
pente de bolso ajeitou seu cabelo e com as duas mãos segurou pelos braços, deu uma olhada de satisfação no seu trabalho e falou
francamente.
- Você ta lindo meu amor, lindo mesmo, um gatão! Beijou no rosto e continuou.
- Tenho sorte de ter você minha delicinha. Sorrindo de satisfação o abraçou com cuidado pra não amarrotar sua roupa e quando ele foi
retribuir ele o afastou com cuidado.
- Vamos que já estamos atrasados pra sua surpresa! Deu um selinho, trancaram a casa, pegaram um uber e seguiram pro seu destino.
Já tinha avisado que iam tomar café lá na surpresa e pediu um pouquinho de paciência, ele conhecia o motorista e combinou pra fazer um
caminho diferente pro destino só pra aumentar o suspensa. Estava saboreando cada minuto da curiosidade dele, mas nisso não teria dó e
valeria cada minuto até o ato final. Observava Leo pensativo olhando pra janela do carro, imaginando o que seria, gostava da cara de
maturidade dele. Era o mínimo que podia fazer por ele, a primeira parte seria fácil demais, mas a segunda parte da surpresa dependeria
dele, apenas dele e se dissesse não respeitaria sua decisão.
Chegaram enfim na casa dos pais de Roberto, tinha algumas pessoas na área e viu de longe que o café já estava na mesa. Leo reconheceu
quando desceu do carro, os pais, filhos e alguns irmãos que viu poucas vezes e desceu sem entender nada. Fez força pra tentar adivinhar
mas optou por se deixar levar e de novo era o único inocente. Roberto pediu o celular dele emprestado e na frente dele ligou o wifi e deixou
o volume no máximo. Disse que era essencial para a surpresa.
A mãe dele o cumprimentou junto com o pai já bem velhinho e doente, os filhos também e os irmãos dele. Ele disse que estava com fome
e foram tomar café e Leo ainda sem entender a bomba atômica que explodiria no seu colo.
Então Roberto com sua família reunida disse calmamente.
- Mãe, pai e meus filhos. Hoje vim dizer uma coisa muito importante. Venho comunicar não porque devo alguma coisa e sim porque
preciso dizer. Venho oficialmente dizer que vou sair de casa e morar com o Leo. Mãe, vou sair de casa pra me casar com ele oficialmente
e hoje vim buscar minhas coisas. Sem um pingo de medo ou receio, Roberto se assumiu publicamente para sua família. Sua mãe já bem
idosa e lúcida sorriu de forma bem amável e deu suas bênçãos, Leo não teve reação nenhuma para aquilo e o pior foi o que seus filhos
legítimos e biológicos disseram.
- Pai, mas você vem visitar a gente né? Não vai embora que nem a mamãe? Disseram preocupados os dois.
- Meus filhos, alguma vez na vida de vocês já abandonei vocês? Olhou sério e com cara intimidadora e Leo deu graças a Deus que ele
olhava pra eles e não ele.
- Claro que não pai, nunca. Disse Nicolas com uma voz meio embargada.
- Então meu filho, vou me casar porque eu estou amando muito esse moleque. Tem algum problema pra você? Ou melhor tem algum
problema pra vocês? Ele olhou serio pra todos como um gavião e de uma forma bem discreta os intimidou.
Seus irmãos foram com ele e o abraçaram, seu filho mais novo o Henrique também. Seu pai já não entendia as coisas a algum tempo por
causa da doença e sem saber batia palmas porque captou o clima da comoção. Sua mãe chamou Leo pra perto e fez sinal para se sentar ao
seu lado e sorrindo disse calmamente.
- Leo, eu sabia desde a primeira vez que te vi e meu filho sempre foi bom pra nós! O melhor filho que eu tive, cuida dele tá, não faz ele
sofrer não. E o puxou para perto e deu um beijo na testa de forma singela. Leo não sabia o que dizer e nem fazer, mas chorar nunca. Então
ficou parado segurando suas emoções.
- O pessoal daqui de casa gosta muito de você viu?
Os filhos e irmão do Roberto o cumprimentaram e ele apertou a mão de todos com um sorrisinho amarelo e sem graça, mas ficaria pior.
Três carros buzinaram na frente e quando ele olhou pra ver era uma viatura, um carro branco e um taxi. Roberto foi abrir o portão e
entraram, saindo da viatura quatro colegas de trabalho e um deles era o Serjão e dessa vez estava vestido com a farda da polícia. Os outros
três era pessoas que ele já tinha visto de longe só que nunca falou pessoalmente, mas vieram todos juntos e foram parabenizar a decisão
do amigo, abraçaram Beto e sorrindo cumprimentaram Leo com apertos de mão forte e tapinhas nas costas. Serjão foi o último dos quatro
a cumprimenta-lo e parou na frente dele e deu um sorriso enorme. Deu um abraço de urso e disso no ouvido dele, outra forma de constrange-
lo na frente de todo mundo.
- Pode olhar minha bunda a hora que quiser viu? Disse sussurrando e rindo afagando os cabelos bagunçando o penteado, mas falou alto
com seu vozeirão de trovão.
- Cuida bem do meu amigo viu? O Beto é muito gente fina e todo mundo gosta dele! Deu um tapinha no ombro que quase caiu.
No carro branco saíram mais três pessoas que Leo conhecia bem, Atlas, Simone e Junior representando Lucia, que tinha um envelope nas
mãos e suspeitava que era pra ele.
- Parabéns Leo, fico muito feliz por vocês! Disse Atlas com um sorriso aparentemente sincero, mas ele tinha um pé atrás com ele e
provavelmente teria sempre. Não fez nenhuma cena ou descaso, mas agradeceu de forma educada. Junior o parabenizou e lhe entregou
uma carta de Lucia e disse para os dois lerem quando tiverem com mais privacidade. O abraçou com educação e deu um beijo sincero na
testa.
Simone olhava com cara de menina travessa e abriu um sorriso verdadeiro, deu uma risada e o abraçou com força desejando felicidades.
E nenhum dos dois choraram ou fizeram nada disso, se entenderam com o olhar.
Ficou pensando se ela já sabia dessa surpresa e o alcovitava como sempre, mas desencanou desses pensamentos. Serjão ficou de frente
para o Leo que deu as costas do portão, pegou suas mãos e o olhou muito sério e disse.
- Leo não ta esquecendo de nada? E de trás dos dois ele ouviu uma voz que já conhecia e se assustou!
- Como é que meu amigo vai se casar e não convida a gente? Com um frio na barriga ele virou de repente e lá estavam eles, seus amigos
mais próximos da praça, Rogério Negão, Rick, Jonathan e o Charles! Roberto viu de longe enquanto conversava com os amigos e irmãos,
os olhos dele brilharam e os quatro o abraçaram e dentro de uma roda começaram a falar alto Leo, Leo, Leo, Leo! E desejaram muitas
felicidades. Não conseguindo mais se segurar ele começou a lagrimar, os amigos o abraçando e o empurrando numa bagunça divertida!
Então todos começaram a bater palmas pros dois e gritaram felicidades! Leo não tinha a menor reação e agradecia com a voz baixa quase
inaudível e seus amigos continuavam a festejar.
- Porque não disse pra gente que ia se casar? O seu Roberto é muito gente fina sabia? Falou o Rogerio Negão cobrando e os outros todos
sorrindo. Era visível que ele não sabia o que responder e o golpe de misericórdia vinha agora, Roberto pediu silencio pra todos e mexeu
no celular e olhou serio para o Leo.
- Está pronto meu menino? Com uma cara de satisfação ele apertou um botão e o celular do Leo recebeu uma mensagem do Facebook.
Roberto olhou pra ele e fez sinal para ele ver a mensagem, quando ele viu quase teve um ataque do coração! Roberto ficou Noivo de
Leonardo, status aberto! Então todos na casa começaram a digitar, inclusive seus amigos! E receberam mais e mais mensagens! Todo
mundo olhando pra ele sorrindo. Até o Atlas deu um sorriso sincero. Fez um esforço enorme pra não chorar. Roberto o abraçou e falou
bem alto pra todo mundo ouvir!
- Eu te amo Leonardo Souza Oliveira! O beijou na frente de todos! Não se importou com nada, com a reação dos filhos, amigos e colegas,
queria dar pra ele o maior presente de todos! Queria dizer que iam ficar juntos pra sempre e por ele ia enfrentar tudo! Os amigos dele foram
pra cima dos dois e começaram a gritar e os outros também! Todo mundo deu os parabéns e Leo ficou estático, sem poder dizer nada
porque não tinha o que dizer! A mãe do Roberto abraçou os dois e desejou felicidades, todo mundo fez fila para cumprimentar o casal e
Leo ainda sem acreditar só respondia por impulso e reflexo, mas sorria como se tivesse sonambulo. Então começaram a tirar fotos com
eles, Roberto sorrindo de felicidade. Simone deu um beijo no rosto e disse que fazia muitos anos que ela não via o Beto desse jeito.
Os filhos dele vieram e o abraçaram desejando sinceras felicidades e pediram pra não sumir, porque gostavam muito dele. Os irmão do
Roberto também vieram cumprimentar, eram dois homens e uma mulher, mais velhos que ele. Era o seu João, Adalberto e Lila.
Cada um abraçou e desejou felicidades, todos com as mesmas recomendações, que o Roberto era um irmão de ouro e muito especial, pra
cuidar bem dele. Ele só tinha uma única reação, era balançar a cabeça afirmativamente e concordar com tudo. Descobriu que o Roberto
era muito amado e que as pessoas não se importavam com a sua escolha, mas se ele ia ficar realmente feliz com sua decisão. Olhou de
soslaio para seu antigo chefe, Luís/Atlas e viu que ele o observava o tempo todo sorrindo.
De alguma forma ele tinha dado sua benção e que gostava do Roberto do jeito dele e de um jeito ou de outro ele nunca o abandonou e
sempre cuidou dele, como amigo especial que era! Todo mundo ali curtia o Leo e até seus amigos da praça, que nunca o conheceram
estavam lá, mas essa questão seria respondida um outro dia!
O aviso de mensagens do Facebook não parava de tocar, todo mundo dando os parabéns, e a cabeça dele girava, não ia dar esse vexame
de desmaiar ou passar mal, mas por conveniência fingiu ainda estava extático! E de alguma forma viu Roberto olhar pra ele e sorrindo
mandou um beijo, claro que ninguém sabia o significado desse gesto, só os dois!
Roberto sabia a muito tempo que o choque tinha passado e ele estava fingindo porque estava com muita vergonha e deixou assim.
Então ele foi agradecer um por um por estarem ali apoiando aquele momento. Tirou fotos com todos e mesmo os amigos policiais, mas
tinha perguntado se não teria problemas, podia causar algum embaraço para eles. Os quatro agarraram os dois e posaram para uma foto e
todos eles publicaram nas suas redes sociais. Então um por um contaram que o Beto era um amigão, e ele tinha ajudado todos em momentos
de dificuldade e teve por eles. Era o mínimo que poderiam fazer. O comandante geral da corporação também gostava muito dele e não
veio porque tinha seus compromissos, mas tinha mandado um áudio para Leo parabenizando. Todos fizeram as mesmas recomendações
sobre ele cuidar do Roberto, ele era muito querido. Ele apenas agradeceu envergonhado.
Então ele pediu mais uma vez silêncio e declarou.
- Obrigado por vocês terem vindo de última hora pessoal, mas daqui alguns dias vou avisar onde vai ser nossa festinha e está todo mundo
convidado viu? A comoção foi geral, todo começaram a bater palmas e desejar felicidades. Então começaram a se despedir e desejar
felicidades. Os amigos de Leo cada um o abraçou com força e disseram que ia esperar o convite da festinha e foram embora. Os irmão do
Roberto também desejaram felicidades pros dois e seguiram cada um seu caminho prometendo estarem no dia.
Simone abraçou os dois com força e disse que eram as pessoas mais importantes da sua vida e foi embora sorrindo com muita dignidade
sem olhar pra trás uma única vez. E estava bastante obvio o porquê!
Luís pediu para trocar umas palavras com Leo em particular e disse que não demoraria nem dois minutos, foram para o meio do quintal
bastante afastado do pessoal e falou com sinceridade.
- Não era que eu não confiava em você Leo, mas o Beto é um dos meus amigos mais próximos e queridos, não queria que ele sofresse de
novo! Não tinha problema nenhum em ficar com ele, o problema sempre foi que meu coração pertencia apenas a minha esposa. O difícil
foi ele aceitar isso! Hoje por decisão dele, fez sua própria escolha e o coração pertence a você! É mais corajoso do que pensa viu? Meu
presente já dei pra ele, depois dessa agitação vai te falar! Sou amigo dele pra sempre e se minha mulher tivesse viva, também ia amar você!
Leo se portou de maneira muito respeitosa e digna, agradeceu com a cabeça, ele o abraçou com força e com um beijo na testa se despediu
e foi embora.
Leo viu que ele tinha colocado algo no seu bolso e tirou pra ver o que era. Uma foto dos três, Roberto, Atlas e a sua falecida esposa! E lá
de dentro da área os olhos de rapina de Roberto registrava tudo sem perder um único lance.
- Nossa como ela era linda. Abraçou a foto beijou-a e guardou no bolso junto com a carta da velha Lucia e voltou para os finalmente.
- Leo, a última parte só depende de você, por isso pedi que eles ficassem e o Junior! Quer ir na casa do seus pais para eu avisar que você
vai se casar comigo e pegar o resto das suas coisas? Olhou bastante sério e seus amigos policias também ficaram.
- Vou enfrentar seu pai por você! Você quer?
Então o grupo que ficou na casa dos pais do Roberto ficaram olhando esperando sua reação e ele voltou no passado. Roberto viu que no
fundo ele estava assustado com tudo, mas que agora não tinha mais volta! Assumiu publicamente pro mundo e sentia que devia isso a ele,
era seu sonho e não ia mais fugir disso. Roberto declarou Leo como parte da sua vida e ia até as últimas consequências por ele. Ele
enfrentava seus próprios conflitos internos que ele sequer podia imaginar, mas falou.
- Vamos lá, eu topo fechar essa parte da minha vida! E inesperadamente foi a mãe dele que falou com carinho.
- Meu filho, mãe é tudo igual ela te ama do jeito dela, mas se você achar que não estou aqui viu? Pra te dar amor e carinho. Só colocou a
mão no ombro.
- Você faz muito bem pro meu filho e não sou cega e nem caduca pra ver o tanto que ele ta feliz! Ser mãe é isso, criar os filhos pro mundo
e ver eles felizes. Vai filho, vai enfrentar o que tiver, tô aqui por vocês dois! Ela sorrindo e Roberto do lado abraçando com carinho.
Então o Junior que até o momento estava só sentado disse pra ele com calma.
- Sou advogado e vou caso eles queiram engrossar o caldo! Deu um sorriso.
- o Beto é nosso amigo e sempre ajudou a gente, tamo aqui por ele Leo! Serjão colocou o braço no ombro e os outros deram palavras de
apoio!
Então foram no carro branco e com a viatura seguindo atrás, até a zona sul. Nada tinha mudado naquela rua e estava com medo, realmente
estava apavorado. Nem no episódio do Torres teve tanto medo. Roberto estava na frente e o Junior atrás, tinha um motorista. Provavelmente
daquela casa, pararam na frente e nesse tempo que o pai tinha expulsado ele nada tinha mudado, absolutamente nada. Foi Roberto quem
desceu primeiro e bateu palmas.
Quem veio atender foi sua mãe, estava mais velha e com mais cabelos brancos. Pensou em descer e abraçar ela, mas achou melhor não e
deixar as coisas seguirem como ele tinha planejado. Ela tinha voltado e chamado seu pai, estava bem ais velho e com o aspecto abatido.
Cabelos brancos e muito magro, pensou em milhares de possibilidades de doença e até estarem passando por necessidades, mas a óbvia
foi a que o surpreendeu!
Roberto falou umas poucas palavras e acenou para Leo descer do carro, Junior colocou a mão na coxa dele e disse que estava aqui e tudo
ia dar certo. Ele desceu e deixou a porta entre aberta e foi em direção dos três. Estava pronto pra brigar e quebrar tudo, olhou pra eles com
muita magoa e rancor. O pai dele estava serio como sempre e mãe tentando também parecer seria. Então Leo fez o mais simples.
- A benção pai, bença mãe. O máximo do autocontrole que conseguia reunir.
- Deus te abençoe meu filho. Disse só o pai. Depois ele falou.
- Tanto tempo sem voltar pra casa, porque veio? Do mesmo jeito que se lembrava e sua raiva crescia, então Roberto assumiu a situação e
calmamente segurou sua mão com força e falou.
- Senhor Raimundo, viemos aqui pra pegar todos os documentos do Leo. Ele está morando comigo e estamos juntos a quatro anos. Hoje
com minha família e amigos reunidos em casa comemoramos nosso casamento. E precisamos de toda documentação que estão com vocês.
Poderiam por gentileza nos entregar, não viemos pra criar nenhum conflito ou problema.
- Foi você que aliciou meu filho é? Levou ele pra esse caminho imundo? O velho querendo esquentar o que ia se tornar uma erupção.
Roberto acenou com a mão então o Junior também desceu do carro e foi na direção deles.
- Bom dia senhor, me chamo Junior Bitencourt Azevedo, represento o ser Roberto Carvalho de Andrade. Meu cartão do nosso escritório
de advocacia. Caso o senhor pretenda dificultar a entrega dos documentos, devo insistir que meu cliente vai acionar todo o nosso escritório
e vamos pra justiça. Caso também pretenda chamar a polícia acredito que seja uma péssima ideia. Roberto digitou uma mensagem e a
viatura encostou com Serjão saindo primeiro, claramente intimidando os pais dele.
- Acha que tenho medo de vocês é? O velho foi ficando cada vez mais nervoso e então Leo disse com calma.
- Só quero meus documentos e minhas coisas que ficaram, vou embora e nunca mais venho aqui. Olhava para eles com indiferença e sem
nenhuma emoção.
A mãe deles entrou e demorou uns cinco minutos e trouxe uma bolsa grande com duas pastas e documentos dentro, algumas coisas e
entregou sem dizer nada. Junior pegou as coisas agradeceu e ficou segurando. Então Leo teve outra dúvida que sempre teve e foi
respondida.
- Obrigado por vocês colaborarem. Não se preocupem que o Leo não está desamparado. Ele vai ser meu herdeiro. Vai ficar com minha
vila de apartamentos, sitio e as cinco casas que eu tenho. Vou cuidar dele pro resto da minha vida. Leo, vou deixar você dizer suas palavras
antes da gente ir embora. Ele abaixou a cabeça e se lembrou da última vez que viu seus pais. Sorriu por dentro e se lembrou de um tempo
que eles eram diferentes, mas esse tempo tinha a muito tempo se acabado e ele decidiu seguir seu sonho. Então sem abraços falou.
- Pai, mãe obrigado por tudo, mas vou seguir em frente com o amor da minha vida. Abaixou a cabeça fazendo uma saudação, virou as
costas e foi embora. A viatura também se foi e Leo pelo vidro do carro olhava seus pais pela última vez, ficando cada vez mais distantes e
assim fechando esse capitulo. Os quatro ficaram calados e os únicos sons foram das mensagens das redes sociais que continuavam a chegar
desejando felicidades. Não se arrependeu e escolheu não olhar mais pra trás. E num milésimo de segundo viu pelo retrovisor do carro
Roberto o observando e ele desviou o olhar deixando pra trás os últimos pedaços do menino que tinha mudado sua vida pra sempre.
Chegaram no apartamento deles e Leo agradeceu ao motorista e ao Junior pela ajuda, a viatura também os acompanhou até lá e eles
desceram, e Leo agradeceu cada um. Com o Serjão foi diferente, deu um abraço respeitoso apertou suas mãos gigantes com força e forçou
um sorriso. Ele entendeu que a situação era muito difícil e os quatro foram embora desejando felicidades.
Eles entraram e abriram as janelas, Leo não disse nada e pediu licença para tirar a roupa e tomar um banho, precisava respirar. No chuveiro
sua vida passou como num filme e não se arrependeu de nada. Então saiu enrolado na toalha e viu que Roberto estava apoiado na janela
olhando pra rua, com o celular não parando de tocar e receber mensagens, estava longe. Vestiu um short simples e uma camisa regata
velha. Usou um perfume dele novo ajeitou o cabelo com as mãos e foi na sua direção. Não o abraçou ele, nem nada, só o chamou pelo
nome.
- Beto. Com uma voz indiferente.
- Oi. Disse ele sem virar pra trás.
- Obrigado por tudo. Agradeceu com a voz tremula então Roberto virou pra olhar se estava chorando. Leo estava tremendo muito, de
nervoso. Como da vez que ele pediu sua mão em casamento, mas dessa vez era diferente, estava tendo espasmos musculares violentos.
Parecia que ia ter um colapso!
- Beto... disse com uma voz tremula e quase chorando. Estava a ponto de desfalecer.
Roberto o abraçou e começou a ficar preocupado, já não era só emoções, era seu verdadeiro eu renascendo.
- To aqui meu filhote, vou ta sempre com você! E a tremedeira não parava.
- Não segura não Leo, deixa sair! Você tem que deixar sair, to aqui pode extravasar! Grita o mais alto que puder, solta isso filhote.
Ele tremia cada vez mais, tentava falar mais não conseguia e olhava como se não pudesse respirar Seus braços e pernas estavam rígidos e
o tronco debatendo cada vez mais forte.
- Be... Be... To... quase não conseguia ouvir, o que ta acontecendo comigo? Queria gritar mais não conseguia, queria chorar mais não saia
lagrimas, queria abraçar mas seus braços não obedecia.
- Você está se libertando filho, suas emoções estão aflorando! Tudo que você guardou seu corpo ta pondo pra fora! To aqui meu menino,
deixa sair. Se liberta de tudo de ruim que a muito tempo ta te afligindo! Roberto olhou com dó pra ele, mas podia fazer pouco, não era
questão agora de emergência e sim dele vencer!
- É o seu momento mais importante filho, agora você ta renascendo! Você ta se transformando num novo Leo, não é mais um menino e
sim num homem! É doloroso mais é preciso. Se entrega a esse momento, vai de cabeça mostra pra todo mundo que é você o vencedor!
Nunca tive tanto orgulho assim meu amor. Renasça num novo Leo!
- Quando ameaçaram a gente de morte você sem saber enfrentou todos eles, sem medo de nada! Entre a vida e a morte você ficou de pé.
Lutou contra seus pais que não te aceitavam, sempre deu o melhor de você por mim, estavam sempre correndo atrás do seu sonho filho.
Agora é sua provação final, to aqui filhote, quando ninguém mais tiver, vou ta sempre aqui! Luta Leo, com todas as suas forças.
Roberto soltou sua mão com dor no coração, ele começou a tremer. Gemeu o mais alto que pode, tentou gritar! Não era um ataque cardíaco,
avc ou qualquer outra coisa! O eu verdadeiro estava saindo, rompendo as últimas barreira que ele criou, o que impedia de atingir o seu
potencial. Era dele a escolha, e seu amor estava lá fora o esperando!
- Leo não me deixe só nesse mundo! Pediu com uma voz carregada de sentimentos.
- Volta pra mim filhote, volta! Não sei mais viver sem você!
Os olhos dele mudara, estavam opacos e respirava com dificuldade, seu corpo todo doía e sua cabeça era um turbilhão de pensamentos.
Não enxergava nada do mundo lá fora, só ouvia a voz de alguém bem distante. Lá longe. Ele estava todo acorrentado e se movia com
dificuldades. Era um lugar que ele reconhecia, a casa da sua infância. Mas não se mexia direito, o peso das correntes não deixavam ele se
movimentar e não conseguia chegar perto da casa. Tinha seus amigos de infância correndo e brincando de bola, como tinha esquecido
disso.
- Filho, vem pra casa a janta está pronta! Viu seu pai chamando, mas de quem era essa voz? Não era dele. Não era do seu pai.
Os amigos de infância se despedindo-se e cada um indo pra suas casas e ele sozinho amarrado. Seu pai veio busca-lo e viu uma criança
correndo pros braços dele. Se ele estava aqui, quem era aquele menino? Não se reconhecia e nem se lembrava como era. Viu sua mãe,
estava diferente e como ela era bonita. Mas o que era essa luz em forma de agua? Em vez de fachos luminosos era como se luz viesse em
forma de ondas sobre uma agua parada!
Viu eles sentando na mesa de jantar da sala, era humilde mas meu Deus, como amava aquele lugar. Estavam se divertindo, jantando a
comidinha maravilhosa da sua mãe. Seu pai estava contando alguma coisa e eles prestando atenção e de repente todos caíram na gargalhada.
Sentiu uma nostalgia gostosa e vontade de entrar. Tinha saudades dessa época, de como tudo era mais simples e como eles eram
maravilhosos. Quando foi que tudo mudou? Quando tudo deixou de ser como era?
E quem tinha colocado nele essas correntes? Porque eram tão pesadas? O que ele tinha que fazer ali? Lá longe por de trás da mesa tinha
uma bola de luz luminosa que brilhava muito forte, mas eles não podia ver ou ouvir. A esfera chamava seu nome bem fraquinho, mas não
sabia de quem era aquela voz. Era bem familiar, já tinha ouvido aquilo antes, mas onde? A medida que falava a esfera emitiu a luz em
formas de ondas que iam de dentro da sala até a rua e atravessava Leo.
A lembrança deles discutindo e brigando por causa de algum conhecido, quem era? Quantos anos tinha se passado?
A rua tinha mudado mas sua casa não, seus amigos tinham se mudado e Leo estava sozinho. Aos poucos as casas ao redor da sua foram
mudando e mudando, só a deles que não. Seu pai já não era mais o mesmo e sua mãe também. Começaram a se vestir diferente e pessoas
estranhas começaram a frequentar sua casa. Seu pai tinha um brilho diferente, era uma luz adoecida e sua mãe também. Eles não tinha
mais o brilho de antes. Ele se viu com outra cor, também não era mais o mesmo.
Então começaram as brigas sobre meninos e comentários, seu pai o chamava de nomes feios e sua mãe não o defendia mais, estavam
perdendo suas cores brilhosas que tinham. Porque?
A voz continuava a chamar seu nome bem baixo, “Leo, Leo vem pra cá, volta pra mim filhote!” Quem é essa pessoa? Não conseguia
distinguir se era homem ou mulher, não podia ser seu pai e nem sua mãe, estavam na sua frente, então quem era?
Será que era a Morte que tinha vindo buscar ele? Por isso dessas lembranças? Acho que não, então o que era?
Começou a ver diversas brigas com seu pai por causa de coisas que tinha visto no seu celular, mas não conseguia enxergar direito e com
as correntes impediam de chegar mais perto. A esfera luminosa flutuava em volta dele orbitando e se chocava contra as correntes, chamando
seu nome mas ele ainda não conseguia saber quem era. Ela forçava a brilhar mais e a tentar crescer, se jogando agora violentamente contra
as correntes, tentando liberta-lo. Então ela era boa? Acho que sim...
Uma outra lembrança foi de uma festa que estava com o pessoal da escola, tinha conhecido um rapaz e tinha feito amizade. Era bem bonito,
pelo menos achava. Ele era mais velho uns cinco anos e bem forte, estava sempre sério. Mas quando estavam juntos ele se sentia bem.
A Esfera de luz agora estava maior e girava em sim mesma, tentando concentrar mais força e cada vez que se chocava nas correntes, faíscas
coloridas explodiam e as lembranças mudavam.
Agora estava todo arrumado e ia sair, mas seu pai estava gritando com ele chamando de novo os nomes feios, não conseguia decifrar quais
eram, sabia porque sentia que ficava magoado ao ouvir, então ele saiu batendo a porta. Tinha marcado com o rapaz mas ele não veio, onde
era esse lugar? A esfera luminosa ainda tentava liberta-lo dessas correntes mas sem sucesso, então viu que estava cansado de esperar nessa
festa e tinha ido pra casa a pé. Era muito escuro e não enxergava nada, só vultos e sombras sinistras. Ficou com medo, mas porquê? Se já
tinha acontecido e era uma lembrança? A esfera parou de tentar liberta-lo e guiou o outro Leo pela essa escuridão toda. Mesmo preso o
Leo acorrentado ficou satisfeito, alguém tinha que sair dali, que fosse o que estava livre desse peso todo.
Viu que esse Leo andava por uma rua sem luz, guiado pela esfera luminosa. O Leo acorrentado viu que tinha um homem no escuro andando
na rua e não conseguia vê-lo. A esfera então começou a girar com mais força em si mesma. “Não vai conseguir me tirar disso amiga, me
deixa aqui, vai ajudar o Leo que ta livre”. De dentro da esfera saia a mesma voz indistinguível chamando ele... então quando a esfera de
luz atingiu sua força máxima ela se dividiu em duas. Uma ficando em cima do Leo livre e a outra foi para o homem vindo no escuro.
Ainda não conseguia ver com clareza quem era, mas achou ele bonito, quem era? A voz saindo das duas esferas era a mesma do homem
na rua e um novo fenômeno aconteceu. Elas começaram a vibrar na mesma frequência, entrar em sintonia.
- Leo volta, Leo volta pra mim! Segue minha voz filho! Vem que eu estou te esperando. Roberto já aflito com a situação. Segurou a mão
dele e continuou dizendo pra voltar.
As correntes apertaram mais e mais, e já sufocando. Ele conhecia esse homem, a esfera o estava guiando pra ele. As duas forças brilharam
com mais intensidade, iluminando a rua onde estavam. Então começou a chorar, percebendo que as correntes não existiam mais caindo no
chão. É claro, se lembrou quem era. Se lembrou de tudo! Beto sou eu, to aqui. Começou a gritar, mas nenhum dos dois o escutavam, já
estavam curtindo. Agora entendeu porque tinha pedido pra dizer que amava. Claro, eles já se conheciam a muito tempo.
Não fui eu que salvei ele da morte, mas foi justamente o contrário! A esfera de energia dos dois se fundiram quando ele ouviu a frase
daquele dia. “Poderia dizer que me ama enquanto a gente ta se curtindo? Por favor?”, é isso! A esfera começou a girar com mais força e a
crescer.
“Ô meu menino, claro que posso dizer que te amo! Não tem mal nenhum nisso, porque eu riria ou ficaria bravo?” a outra esfera girou
mais e mais rápido atingindo um tamanho maior e escutou a voz de novo, “Leo volta, Leo volta pra mim!” e os dois se viraram de repente
de mãos dadas sorrindo e acenando, as duas esferas luminosas se chocaram e faíscas iluminaram o lugar! A gente já se conhecia, não fui
eu quem te salvou Beto, foi você que me guiou pra te achar! Já estou indo meu amor, me espera que eu já to voltado pra você!
Os dois deram as mãos e foram para luz, as faíscas coloridas mostraram todas as lembranças de tudo que passaram e do que iam passar.
Estavam destinados a ficarem juntos e sempre se reencontrarem. Leo deixou de ter medo e estava pronto pra voltar pra casa! Beto tinha
guiado ele de volta ao ponto onde tudo tinha começado, não precisava mais ficar acorrentado a nada. Só seguir a luz que seu amor sempre
foi.
Ele acordou com Roberto chorando do seu lado achando que ele tinha morrido, mas ele despertou!
- Não fui eu que te salvei da morte Beto, foi você que me salvou e me guiou! Abraçou com força e olhou nos seus olhos e viu aonde estava
as esferas luminosas, agora entendia porque gostava tanto de olhar pra ele. E começou a rir sem parar e abraçou com força.
Roberto não entendeu nada, mas ficou aliviado por ele ter saído dessa.
- Tenho que sair, preciso ir num lugar e é pra agora! Vem comigo, por favor não me pergunte o porquê, só vamos!
Ele não entendeu nada, Leo vestiu suas roupas numa rapidez e foi puxando ele para rua pra pegar um carro, amaldiçoando porque nunca
tiveram um.
Voltaram pra casa de seu pai e nem esperou o carro parar. Pulou do carro e foi batendo no portão pra abrirem. Começou a falar alto e
Roberto já ficou preocupado deles chamarem a polícia, então os dois vieram por causa da gritaria e abriram o portão.
- O que é que você quer agora? Disse o velho num ranço só.
Leo o abraçou com força e deu muitos beijos no rosto dele, depois foi pra mãe e fez a mesma coisa. Os dois ficaram parados sem entender
e ele com os olhos brilhando falou.
- Eu amo vocês do fundo do meu coração, e perdoou por tudo que fizeram! A minha corrente caiu e ninguém vai me colocar outra! Então
puxou os dois num abraço só.
Roberto ficou um pouco atrás e não esboçou nenhuma reação.
- Nunca vou me esquecer de vocês, se não me aceitarem a corrente agora é de vocês! Estou muito feliz e vou continuar sendo. Se cuidem
viu? Amo vocês. Deu um beijo em cada um pediu a benção dos dois e virou as costas sem deixar eles revidar. Eles ficaram sem saber o
que dizer e totalmente desarmados, então Leo virou e correu de novo, juntou a mão dos dois e colocou a sua em cima e falou.
- É assim que vou me lembrar de vocês! Correu de novo e puxou Roberto e disse.
- É assim que vocês vão lembrar de mim, alguém que era, é e vai continuar sendo feliz. Segurou a mão dele com força e foram embora.
O carro ainda estava esperando e Leo pagou o homem, foram andar até em casa, do outro lado da cidade, não importando se o sol estava
de rachar, o que importava era que a viagem de volta era tempo suficiente pra ele contar tudo para Roberto, se ele não acreditasse era
problema dele, o seu era ser feliz com o tempo dessa vida.
Foram juntos a pé pra casa e Roberto ouviu atentamente cada detalhe, percebendo que também se sentia assim, mas não conseguia explicar,
que de alguma forma tinha uma conexão com ele. Aceitou essa explicação não como um delírio pós colapso nervo, mas ele se resolveu
com o problema que o machucava, sentia que vinha muita coisa boa pela frente e estava muito feliz. Acho que ele superou seu passado
com o pai.
A energia que ele emanava era quase palpável, ele estava pronto pro mundo e o mundo o aguardava. Encontrou seu próprio caminho pra
sua escuridão interior, sua estrada, e quanto mais falava mais gostava da sua animação. Deixou pra trás aquele menino e hoje era um
homem, estava ansioso por suas novidades e sentia orgulhoso. Leo continuava a falar sobre esferas de luzes e faíscas coloridas, conseguiu
prestar atenção e fazer suas reflexões, conseguia sentir a determinação.
O mais importante, conseguia sentir mais amor por ele.
Foram para um barzinho e pediram uma cerveja pra refrescar, um pouco de tira gosto e música, muita música! Nem prestou atenção qual
era, o que interessava era que Roberto olhava pra ele e gostava do que via.
- Me sinto livre sabia? Livre de um peso que eu carregava a muito tempo. Falou sorridente e com os olhos ainda brilhando.
Roberto o analisou de cima abaixo com os olhos incisivos e depois falou.
- Que bom Leo, fico feliz que tirou esse peso, mas que história é essa da gente ta destinado, eu ainda não entendi direito.
- Também não sei te explicar, mas vou descobrir e acho que sei quem pode me dar uma luz! Falou com olhos maliciosos e o mesmo brilho
com uma variação nova.
O tira gosto chegou e ficaram umas três horas no barzinho conversando, rindo e se divertindo. Ouviram várias músicas diferentes e Leo
estava tranquilo com tudo, apareceram conhecidos e os cumprimentaram, Roberto percebeu que ele estava eufórico com tudo, observava
as pessoas, indo e vindo e sempre estava falando. Pedia mais cerveja e os dois continuaram a beber, só que nenhum deles ficou realmente
alto, estavam transpirando muito e Roberto já estava com a camisa ensopada. Foi o sinal deles irem embora, quando foi para pagar, Leo
fez questão da conta ser dele e queria testar um negócio. Voltaram pra casa de aplicativo e Leo disse para ele não mexer um único musculo,
foi no quarto e quando voltou estava com uma cueca box branca nova. Roberto não conseguiu disfarçar e viu que ele já estava excitado.
Foi até ele e fez um pedido inusitado, mas nenhuma surpresa.
- Vou ficar de joelhos e você tira sua camisa, torce ela pro seu suor me lavar todo, pode ser? Fez a cara de malicioso de sempre, então se
ajoelhou e Roberto tirou a camisa e torceu em cima dele, encharcando de suor! Parecia um tipo de batismo fetichista, mas Leo deu uma
gemida de prazer e disse.
- Se tivesse feito isso comigo desde o início eu não teria me perdido por tanto tempo sabia? Eu amo seu cheiro e meu corpo teria reagido
mais rápido do que sua voz!
Roberto sem entender muita coisa ficou parado olhando esperando qual seria o próximo joguinho sexual dele. Então foi a vez dele de estar
a alguns passos à frente e falou.
- Vou te dar banho hoje, vou te ensaboar, passar shampoo e perfuma-lo, vou vestir as roupas pra você e queria fazer isso pra sempre! Quero
acordar primeiro e te ver dormindo, quero ta sempre aqui pra quando sair eu te receber com beijos. Quero aproveitar o máximo que eu
puder, se quer desistir ta em tempo viu?
- Eu não poderia escolher uma vida melhor! Sorriu de satisfação, estendeu a mão e foram pro banheiro.
Leo colocou uma música romântica e também tirou a roupa, indo pro chuveiro começou a ensaboar Roberto com cuidado. Deslizava o
sabonete pelo corpo dele com todo respeito do mundo. Passando pelas dobrinhas e de baixo do braço. Virou ele de costas e de baixo da
água que caía ensaboava bem devagar, passando a ponta dos dedos no pescoço e nas laterais. Abraçou com ternura, não estava excitado
como das outras vezes que tomavam banho juntos, estava bem. Com a água caindo virou de frente e lavou sua cabeça e as mãos afagou de
leve, trazendo ele para perto deu um beijo singelo, e Roberto como saindo de um transe abriu os olhos, retribuiu com carinho.
Se abraçaram e um consolou o outro sempre com a agua caindo sobre eles. Terminaram de se lavar e Leo secou Roberto primeiro, com
muita calma e bem demorado, subiu pra enxugar a cabeça e viu seus olhos, olhos que brilhavam muito! Não queria agora lembrar das
esferas de luz, mas quando ele sorriu foi como se uma luz ofuscante demais pra ser suportada o atingiu. Ele via as coisas dessa forma, era
apaixonado por isso, por essas coisas. Amava o romantismo e gestos amorosos. Terminou de se secar e foram para cama. Escolheu a cueca
mais bonita e vestiu nele bem devagar, aproveitando cada momento.
Era sempre assim quando acontecia alguma coisa que marcava os dois, fazia essas coisas porque tinha importância e não tinha nada no
mundo como ficar parado olhando a carinha linda dele. Leo gostava de deixar um significado em tudo, nas coisas simples até as mais
importantes, por que era assim a sua essência! Queria que cada momento valesse a pena, que cada palavra fosse seguida por uma verdade
revelada apenas pela carne. Ou mesmo se não fizesse nada, o simples fato de ficar olhando pra ele era um prazer inenarrável!
Roberto então fez uma surpresa, algo espontâneo e simples, mas repleto de significados.
- Gosto de olhar pra você Leo, mas quando não está vendo. Olho pra suas costas, sua barriga seus braços e suas pernas. Fico excitado só
de ver você de cueca, qualquer uma. É mais atraente agindo naturalmente e é claro quando fica com vergonha e todo vermelho. Igual ao
episódio do Serjão! Uma delícia você todo encabulado. Tu vive falando de olhares e cheiros, mas gosto do som da sua voz e de como
pronuncia as palavras. Ver você concentrado na mesa quando tá desenhando e fazendo coisas simples do dia a dia.
A verdade era que Leo nunca tinha percebido que ele desde sempre o observava também em segredo. Mas não se achava nada daquilo, pra
ele próprio era só um carinha normal sem nenhum quê de interessante. Mas ele se achava com muita sorte e disso não negaria essa verdade.
Continuou ouvindo ele e gostando de ser elogiado. Roberto falava de modo diferente, os olhos ainda brilhando e não sentia algo que fosse
como um tipo de obrigação ou protocolo, mas natural e isso era o que mais gostava.
- Quando nos conhecemos e nos despedimos, você foi embora de casa, fiquei escondido no portão te vendo de costas. Estava muito ansioso
pra te ver de novo, me segurei pra não ligar logo. Não queria passar a impressão de dado sabe? Falou com um sorrisinho amarelo, mas
sincero. Claro que quem ligou foi ele, tinha medo de ter aparecido alguém e ter rodado na história! Leo nunca ia se perdoar se perdesse
um bonitão desses.
- Às vezes quando eu acordo mais cedo pra ir pro trabalho, fico olhando você dormir, parece um anjinho rebelde! E tenho um monte de
fotos suas que tu num sabe. Disse num tom malicioso e ansioso pra ver a cara de espanto dele e prosseguiu.
- Tu sabia disso? Logico que não né? Leo ficou surpreso e ansioso pra ver que tipo seria. Quando ele mostrou no celular dele numa pasta
secreta por mais que tentasse sua cara não conseguia disfarçar. Eram fotos simples do dia a dia, parecia coisa de fotografo profissional.
Daqueles que fazem quadros com preto e branco. Mas essas era outro nível. Não conseguia acreditar que tinham sido tiradas escondidas.
- Você lembra de quando foram tiradas? Sorriu fazendo cara de satisfação.
- Claro que eu lembro, mas não imaginava que estava tirando fotos de mim? Só as que eu to dormindo que não sei, mas o resto sim! Ai
que lindas. Ficou feliz com isso, muito mesmo sabendo que ele também fazia essas coisas, claro que sabia da resposta, mas perguntou
assim mesmo fingindo agora curiosidade.
- Porque você tirou fotos assim Beto?
- Ora filhote, pra me lembrar de você. Nesses momentos descontraídos. Sempre que to chateado olho pra alguma foto sua e meu dia
melhora. Essa aqui é minha favorita! Aí ele mostrou uma que estava sentado no chão com um short preto que ele tinha dado e uma regata
branca bem velinha mas achava ele muito bonito nessas roupas. Estava com uma perna levantada e as duas mãos sobre o joelho e a outra
no chão com a cara totalmente concentrada. Nesse dia estavam vendo um episódio do Mr Robot, sobre o protagonista sonhar com uma
realidade perfeita e ele se reconectava com as pessoas que passaram na sua vida chegando à conclusão de que a felicidade poderia ser
alcançada e valia a pena lutar por ela. Esse episódio marcou tanto ele que foi seu primeiro objetivo de vida. Criar um mundo perfeito pra
si e lutar pra que nada se acabasse! Queria poder recortar os melhores momentos da sua vida e colocar em sequência assistindo como um
filme. Chega de coisas ruins e negativas. Seu sonho e sua epifania valia a pena.
- Vamos fazer nossa festinha aonde Beto? Falou afastando a cara de reflexão e esperando a resposta.
- Bom, tem um sitio de um amigo meu, podemos fazer lá! É bem espaçoso, tem piscina, rio e um monte de coisas pra fazer. Deu uma ideia
até legal.
- Gostei, mas quem é? Nunca ouvi você mencionar ele. Ficou intrigado e tentou puxa da memória alguma vez a menção, mas realmente
não veio. Então concluiu que deve ser de longa data.
- É um amigo quando entrei na polícia, de muitos anos! O Jorge Pequeno, conheci num trabalho do interior fiz amizade com ele e a família,
ajudei eles num momento de necessidade. E as vezes quando to muito estressado passo uns dias lá. Gente boníssima ele e a família, vão
gostar de você na hora e ficar feliz com a escolha do lugar. São gente simples e muito acolhedora. Às vezes Roberto queria ir voltar pra lá,
mas sempre acontecia alguma coisa pra não ir, algum trabalho no “interior”, sempre tinha um empecilho. Hoje não mais, então se Leo não
quisesse, ele insistiria até conseguir!
- Por mim tudo bem Beto, podemos fazer lá sem problemas, mas quem vamos convidar? Estou empolgado com a lista de convidados!
Disse Leo bem animado e já pegando um caderninho para fazer as anotações.
- Todos os nossos amigos que conhecemos em comum mais os meus e o seus que tem afinidade com a gente. Logico que vamos perguntar
primeiro se podemos e eles não tiverem nada marcado né? Não vamos abusar da boa vontade deles. Você prepara a lista e depois eu
completo com os meus conhecidos e vejo se esqueceu de alguém. Está bom pra você Leo?
- Excelente! Vou escrever agora e você já faz o contato. Mas tenho uma dúvida Beto, quanto vai custar isso? Ou cada um vai contribuir?
Pensou ele visivelmente preocupado com essa pequena extravagancia dos dois.
- Eu pago, tranquilo! Relaxa filhote, o que vai ser um pouco difícil é a data pra que a maioria possa ir, no mais tenho conhecidos que
podem arrumar uns dois ou três ônibus de viagem. Falou fazendo notas mentais e lembrando aonde tinha deixado a agenda com esses
números. Tudo poderia ser facilmente arranjado, mas uma questão veio na mente de Roberto. Será que o Leo iria convidar os pais dele?
Tinham se resolvido, mas será que eles iriam? Ou achariam uma afronta e desrespeito por que são evangélicos?
- Beto olha o que eu achei aqui na pasta de documentos que eles entregaram. Virou e tinha uma foto dos três juntos e Leo era uma criança,
acho que uns oito a nove anos de idade. Leo deu uma olhada na foto e deu um sorriso sincero e virou pra mais uma surpresa. Lembrava da
dessa foto, mas não tinha nada riscado ou rasurado nela. Reconheceu a letra imediatamente.
- “Te amo filho, com todo amor seu pai e sua mãe!” é a letra do meu pai e é recente. Colocaram até a data que escreveram. Semana passada.
- Então vamos convida-los né? Mas só quando tudo tiver organizado e confirmado pra não parecer que chamamos em cima da hora.
- Concordo, fiquei com mais vontade de ter essa festinha, pra mostrar que não é como eles pensam. E tem mais, vou chamar minhas primas
sapatonas a Debora e a Aninha. São muito gente boa e faz tempo que não vi nenhuma delas.
Começou a fazer a lista, tentando lembrar de todos. Seus amigos da praça, os mais próximos e talvez algum do fliper. Lá fez amigos que
gostava bastante, tinha o Soldado e o Galo Doido, o seu Lunga e seu irmão Bob Marley. Também o Macaco Louco e o Boi Branco parceiros
do tempo das disputas. Claro que ia chamar o Gordo do Taxi e a Diva, também companheiros de fliperama. Desse pessoal não queria
convidar mais porque alguns não tinha tanta afinidade assim. Lembrou do trio fracasso, Nako, Negão fuzileiro e Valterzinho. Três amigos
também de longa data, eram muito legais, principalmente o Valterzinho que era evangélico e pagodeiro, mas totalmente desencanado.
Tinha outros também, mas eram nóias e não sabia se o Roberto ia permitir ou se eles iam se comportar. Mas curtia muito esse pessoal.
Do RPG tinha pouco, conhecia bastante gente e alguns eram sensacionais, mas não ao ponto de convidar pra uma festa assim. Logico que
ia chamar sua mesa mas tinha outros que não, eram muito falsiane e queria evitar ser chamado atenção por esse tipo de gente.
Não sabia quantas pessoas Roberto ia chamar, provavelmente bem mais que ele e obvio nenhum amigo dele ia fazer alguma gafe. Simone
também chamaria amigos, e sobre os amigos dela não sabia nada. Era gente da banda que toca com ela na noite, seu empresário e algum
gato pingado e só.
Fazendo as contas ia sair mais caro do que ele imaginou. Então era essencial que escolhesse com sabedoria, e não poderia chamar malas
sem alça, não mesmo. Já ia esquecendo, ia chamar o seu Antônio dono do Bar do Tonho e todo o pessoal da mesa, gostava deles e o
Roberto conhecia eles primeiro. Não tinha amigos próximos da época de colégio pra chamar, os que eram amigos tinham ido embora da
cidade e tinha perdido contato a muito tempo. Tempo bom.
Outra questão interessante era se ele ia chamar a Lucia e seus colegas de grupo. Obvio que o Luís ele convidaria, mas e ela? Era muito
interessante essa questão. Deixou isso pra ele e apresentou o que lembrou de memória!
- Gostei, escolheu bem né? E uma coisa Leo, vai fazer os convites ou quer que eu peça pra alguma gráfica fazer? Disse observando e
refletindo na sua lista, achando que ele não tinha sacado que a decisão difícil ia ficar pra ele.
- Posso fazer sim, qual vai ser o tema?
- Quer saber se eu vou chamar a Lucia né? Olhou sério e esperando pra ver sua reação e processar uma resposta melhor.
Ele suspirou e achava que dessa vez ia conseguir enrolar ele, mas como sempre era um livro aberto.
- Convida por educação e respeito, até seus colegas, mas será que eles vem?
- A Lucia não, mas o Junior sim e talvez alguns do pessoal. Mas você quer? Se não a convidarmos ela vai entender numa boa e ficamos
bem...
- Está decidido, faço um convite especial pra ela e seus colegas, e resolvemos isso logo. Disse Leo querendo mudar de assunto.
- E falando nisso Leo, o que o chefe te deu? Reparei que tinha algo e você guardou no bolso o que é?
- Ah sim, é uma foto de você com ele e a falecida esposa. Beto como vocês três eram bonitos, ela era linda nossa! Puxou a foto do bolso e
entregou pra ele. Viu a carinha de nostalgia mas não decifrou o resto das emoções.
- Ainda sinto falta dela sabia? Disse Roberto com saudades.
Leo abraçou Roberto e continuaram a lista de convidados, e tinha bem mais gente para chamar. Dava no mínimo umas quase cem pessoas,
mas não sabiam se todos poderiam ir. O importante era que fosse a maioria, da polícia teve bastante gente e Leo ficou pasmo do tanto de
gente importante que Beto conhecia e ele ia explicando quem eram e o que fazia, quais cargos ocupavam e tudo mais. Ele se sentiu
simplório com seus coleguinhas e cada vez mais a música Eduardo e Monica fazia sentido.
- Ah sim e qual foi o presente que o Luís te deu? Ele me falou que depois da agitação você ia dizer qual é? To ansioso pra saber.
Deu uma olhada pra ele e respondeu com bastante calma.
- Minha aposentadoria, falou com nosso superior pra eu poder encostar o coturno logo e com o mínimo de burocracia possível. Então
depois disso podemos viajar, conhecer o mar ou até ir pra fora, o que acha?
O mar, Leo se pegou pensando que nunca tinha saído da cidade e sempre quis conhecer o mar. Devia ser o máximo do romantismo andar
de mãos dadas com ele ao pôr do sol, meu Deus que visão maravilhosa.
- Seria muito bom ver o mar. Estava viajando acordado e Roberto olhava com carinho ele já divagando, como coisas simples eram tão
especiais?
Eles finalizaram a lista, Roberto fez a ligação para o Jorge e ele adorou, pediu detalhes de tudo e ia dar um boi de presente pra festa. Pediu
uma semana de antecedência pra preparar o lugar. Ele soube o número aproximado de convidados e também ia convidar alguns,
provavelmente os seus vizinhos que não tinha problema nenhum. Mas ele marcou pra visita-los daqui a uns dias para ver como estava o
sitio e apresentar o Leo. Claro que ele ia dar recomendações pra não acontecer o mesmo no episódio do Serjão. Quando ele visse o tamanho
do Jorge começou a sorrir, e pensou em fazer mais uma brincadeira maldosa só pra relaxar um pouco. Mas também sabia que ele ia se dar
bem com os filhos dele, Leo era muito dado com gente mais nova e é claro com a mãe deles. A Laura, uma mulher guerreira e corajosa ia
amar Leo como amava ele. Certeza que ia paparicá-lo e mimar até ele não aguentar mais. Eram pessoas boas, tinham sofrido bastante e
Roberto os tinha como parte da sua família pessoal, alguém que ele os encontrou e salvou. O amor que eles sentiam por ele era muito mais
do que o suficiente e iam amar o Leo também.
Tinha pensado que ninguém que ele apresentou ao Leo não gostasse e com a diferença de idade ele estava se saindo muito bem. Ele se
esforçava muito pra agrada-lo e não fazer passar vergonha, mas tentava livrar ele de situações aonde não estivesse à vontade.
Roberto terminou o trabalho da lista e foi fechar a casa, perguntou se Leo queria comer alguma coisa ou seja podiam dormir. Ele respondeu
que sim e ligaram a central com Roberto deitado no peito dele. Abraçou com carinho embrulhados num edredom, Leo abraçou ele e
entrelaçaram as pernas, não dando nem cinco minutos ficaram excitados e curtiram a noite toda. Para amanhã estarem preparados pros
outros detalhes e marcarem o dia. Mas a noite seria só curtição.

Parte 06

Decidiram os dois tomarem café na rua em um lugar diferente, então tomaram banho juntos e se arrumaram juntos, cada um escolhendo a
roupa que o outro ia usar. Usaram os perfumes e acessórios que um gostava no outro, desde óculos, jaquetas e relógios. Foi uma parte
divertida e tinham colocado o som um pouco alto para aquela hora de manhã. Foda-se se não gostarem, uma vez não mata ninguém! Disse
Roberto dando de ombros e Leo olhando a nova rebeldia dele, obvio que curtia esse lado, mas a verdade era uma só, quando se está
apaixonado tudo é maravilhoso, tudo é lindo e nada tem defeito. Mas quando se está apaixonado por quem você ama aí é outro nível!
Continuavam dançando e cada um curtindo o visual do outro, arriscando um dueto improvisado e sendo naquele quarto estrelas de rock.
Leo curtia essas paradas, curtia isso, gostava de ver ele se soltar e agir naturalmente, pra ele o bom era o simples e natural. Também de
vez em quando amava o lado sofisticado dele, com conversas cultas e balançava a cabeça fingindo que estava entendendo e Roberto
fingindo que acreditava, mas tinham muita química nisso, de engrenar algum assunto e ir embora.
Além de agora os dois se esforçarem pra esquecer a barra que passaram, os dias foram muito bons e felizes, era tudo que precisavam. Para
Leo ele queria prolongar esses momentos eternamente mas aprendeu que o bom era que eles tivessem começo, meio e fim e isso que os
tornavam especiais. Até com seus amigos era assim, terminavam sempre com Beto chamando ele de fora dessa bolha especial de sonhos
e protegido por essa felicidade, com sua voz grave ouvia, “Vamos filhote?” e iam para onde quer que tinham combinado.
Como alguém não podia amar isso?
O uber veio busca-los e foram para o centro da cidade, mais especificamente pra panificadora Athenas. Leo sabia que era o olho da cara,
era capaz de cobrar 2,50 um copo d’agua. Fora que só frequentava gente esnobe e metida, odiava esses tipos, mas uma vez ou outra não
tinha mal nenhum, só fingir cara paisagem e aproveitar a manhã.
- Já tinha vindo aqui Leo alguma vez? Perguntou olhando o cardápio.
- Eu não, tudo aqui é o olho da cara. Capaz da gente diminuir pela metade os convidados só por tomar café da manhã aqui. Disse rindo e
vendo se tinha alguma coisa que não custasse o rim de cada um.
Por mais que achasse fofo essa falta de desapego com coisas materiais, uma hora ele ia ensinar as coisas boas da vida e não precisar perder
a simplicidade. Nesse quesito o moleque era cabeça dura e já estava dando uma canseira, mas com jeitinho tudo se acertava. Eles tinham
levado uma mochila pequena com um caderno pequeno de anotações e o de desenho dele, para rascunhos do convite. Leo fez questão de
levar a mochila para não estragar o visual que ele montou pra ele, então tirou o bloco e começou a rascunhar alguns, enquanto pediam o
café da manhã.
Roberto levantou a questão de como andava seus estudos no desenho e se ele ia aderir a pintura digital, usando programas para desenho.
A resposta foi até simples, mas ficou fascinado com seu ponto de vista e ao mesmo tempo surpreso com a profundidade das suas reflexões.
- Beto, acho a arte do computador interessante, mas a construção dela até chegar ao final me incomoda. As cores e como isso reflete na
minha visão acho ruim, mesmo que sejam maravilhosas. Claro que quem fez as obras tiveram seu tempo de estudo e aprendizado, mas não
consigo sentir vida sabe, pra mim sempre vai faltar algo estando elas perfeitas.
- Por que diz isso? Inqueriu Roberto juntando as mãos e pondo o queixo, agora estava totalmente focado.
- Não sei expressar com palavras, acho que tenho a visão antiga do artista está todo sujo de tinta com um ateliê uma bagunça, talvez minha
visão seja muito romântica sobre isso. Mas sinto que um quadro ou um desenho pintado à mão tenha mais valor por estar sendo gerado,
tem suor ali, tem vida nascendo. E essa opinião é contraditória por que do outro lado também a pessoa cria, mas num outro ambiente
artificial.
- E a verdadeira arte que vale milhões são as que eram produzidas dessa forma. Só que hoje pode se fazer melhor do que antigamente,
qual o valor real? Eu que não me adaptei ao futuro? Por não me sentir confortável fazendo isso?
- Beto, com os programas certos você não tem trabalho de nada, a única coisa que tem que fazer é aprender a usar o software e demora
bem menos do que saber fazer com as próprias mãos. Acho que um dia vai existir programas que vão substituir a arte verdadeira e
transformar tudo na Matrix Artística! Sem vida e estéril!
- Estou impressionado Leo, não imaginava que tivesse uma opinião tão profunda sobre arte. Falou totalmente abismado e com sinceridade.
- Posso ir além, na música a mesma coisa. Apesar de termos gostos diferentes, a mudança de perspectiva faz a gente apreciar melhor.
Ouvimos pra quem? Pra nós mesmos ou pra sociedade? É por ai, aprendi a ser eclético com você e alguns amigos, mas não deixei de gostar
daquilo que me apetece!
- “Apetece”? nossa, como minha paixãozinha ta com um vocabulário novo! Sorrindo de satisfação e tentando não parecer debochado.
- Mas é Beto! Eu ia falar “uai” mas ia estragar o uso do “apetece”! Caiu na risada quando o café chegou.
- Um exemplo recente que me fez perceber muita coisa. As fotos que você tirou escondidas estavam excelentes, poderiam ir pra uma
exposição de arte, arrisco até dizer que poderia ir tranquilo e sem boicote na Galeria Alta.
Leo sempre falava que lá só ia as mesmas figuras de sempre, comentava que lá não tinham artistas tão bons por que fazia sempre a mesma
coisa de cores diferentes. Eram gente das antigas que formaram sua própria panelinha e só entrava quem eles queriam. Já na Galeria Baixa,
era do povo e quem produzia lá tinha alguma conexão com a realidade da cidade. Mas ficou pensativo nesse ponto de vista e ia investigar
a fundo se era isso mesmo o que ele dizia.
- As fotos ficaram excelentes, não por que você tirou de mim, mas de alguma forma foi no momento exato, aí mostra que captou algo e
na hora exata surgiu algo bom. Lá na Galeria Alta não sinto nada, só má vontade de preencher o ambiente. Mas também pode ser que eu
não me sinto inserido no lugar e não capte tudo aquilo que ele representa. Falou com honestidade e continuando seu rascunho.
O moleque tinha alma de artista, agora tinha certeza. Talvez ele quisesse viver como os artistas de rua de Paris, trabalhar nas calçadas e
praças vendendo desenhos soberbos e enquanto os queridinhos sem talentos lucravam com seus mestres Médici. Não entendia nada de
arte, mas entendeu o ponto de vista dele e aonde se situava. Gostava dos trabalhos que ele fazia e alguns eram nada convencionais, mas
estavam sintonizados com o seu próprio público, então era muito bom.
Mas como todo artista verdadeiro, ele achava que Leo era um desses, sofria por sua arte. Tinha noites que se levantava na surdina e ficava
algum tempo olhando a folha em branco tentando agarrar a inspiração e produzir. Já tinha atrasado muitos prazos e lutava para não ter a
fama de procrastinador, mas só quem tava dentro dele sabia o turbilhão de sentimentos e emoções que o afligia. E num ataque de desespero,
fez um caderno com uma lista que crescia cada dia mais com os trabalhos que tinha prometido. Uns pagos, outros presentes a lista e os
motivos eram enormes.
Uma vez ele acordou de madrugada e ficou até de manhã cedo terminando um trabalho. Era a capa de um álbum para uma banda de rock
daqui, quando Roberto levantou viu os desenhos concluídos e embalados em folha plástica de A3 e ele dormindo exausto na sua mesa de
trabalho, ficou orgulhoso dele nesse dia. Ele passou o caderninho com as anotações e começaram uma lista de coisas para festa. Mandou
uma mensagem para Simone sobre a festa, lugar e que poderia convidar pessoas, também intimou ela para cantar na festa com seu grupo
e dar o orçamento das despesas. Leo adorou e era uma excelente oportunidade de ouvir a amiga cantar de novo, não era o repertório que
ele queria, mas tudo que ela fazia no palco era bom e ia se divertir muito. Ela também avisou que só iam se ver no fim de semana e talvez,
por estar muito atarefada e com outros problemas para resolver. Mas se decidirem logo a data ia se programar direitinho.
O dia também reservava muitas surpresas, Roberto fez uma lista de aproximadamente do que precisaria para o dia, calculou uns dois dias
de festa, sábado e domingo. Umas cento e cinquenta pessoas tinham sido convidadas, isso incluindo os convidados da Simone e do Jorge
e talvez alguns não poderiam ir, o que seria ótimo. Digitou a lista no celular e enviou para Jorge e ele completou com algumas coisas que
ele tinha esquecido, mas confirmou todos os detalhes e que estava tudo ok para ele, só precisava da data e se iriam mesmo vim antes pra
eles conhecerem o Leo e ver como estava o sitio. Roberto confirmou que sim e disse que daqui umas duas horas já passava as informações
que precisava.
Leo continuava com seus esboços e já tinha terminado o café da manhã, Roberto foi pagar e pegaram outro uber para uma concessionária
para os dois escolherem um carro e irem só os dois para sua festa! Mas a surpresa não foi dele dizer isso mas sim quando Leo viu a conta
do café da manhã, os olhos saíram pra fora quando viu o preço e ele riu alto mas completou.
- Aonde vamos vai ser bem mais caro!
Por coincidência a loja era onde seu amigo Macaco Louco trabalhava no lugar e foi cumprimenta-los.
- E ae sumido, tudo belezinha? Por que desapareceu? Perguntou amigavelmente.
- Uns problemas aí mas já passou! To agilizando os trabalhos e daqui pouco tempo entrego tudo. Dei uma adoecida espiritualmente mas
hoje to melhor! Falou francamente e já se preparando para a primeira parte da sua jornada.
- Hoje o Beto veio escolher um carro pra comprar e veio dar uma olhada aqui. Podia ajudar ele Junior?
- Ajudar a “gente” porque o carro vai ser seu também! Repreendeu Leo por tentar se esquivar da responsabilidade de casal.
- Você também eim Leo? Vou te falar eim? Seu Roberto claro que posso ajudar vocês. O que tem em mente?
- Obrigado Junior, o que “temos” em mente é um carro pra estrada de chão e viagens longas para outros estados.
- Claro, temos alguns modelos aqui. Da uma olhadinha se é do seu agrado. Ah sim, parabéns pelo noivado seu Roberto, dá um pouco de
juízo nesse zezão ai viu? Ele foi apertar a mão e Roberto o puxou para um abraço que o Junior retribuiu.
- Obrigado, estou fazendo o possível mas parece que vou demorar mais um pouquinho. Deu uma risada e o Junior estava vendo que estava
constrangido e colocou mais lenha na fogueira.
- Ele achou que a gente ia discriminar vocês e por isso sumiu, mas a moçada gosta muito dele tamo junto pro que der e vier seu Roberto.
- Pode me chamar de Beto eu insisto, ele fala muito de vocês mas podem aparecer em casa a hora que quiser. É bom ele ter a visita dos
amigos. E aproveitando o ensejo... Leo cortou a fala rapidamente e já se adiantou.
- Junior tem uma mesa que eu possa usar rapidão e você mostra alguns modelos pro Beto pode ser? Ele vai ser o primeiro a receber Beto,
deixa só eu terminar aqui um modelo. Roberto entendeu o que era e Junior mostrou uma mesa desocupada na loja e foi ver os modelos.
Leo começou a rascunhar um convite, tinha trazido um dos seus estojos com caneta de desenho e começou a rascunhar. Fez os rostos de
perfil dos dois bem simples com elementos que lembrava eles. Do lado dele fez canetas de desenho de alguns tipos um joystick do lado do
Roberto uma pistola, algemas de polícia, faca de caça e um berrante country. Com os dizeres mais ou menos assim, “Nós convidamos você
para nossa festa de noivado no dia tal, sem data, contamos com sua presença” e terminando os detalhes, guardou tudo e ficou só com o
caderno na mão indo ter com eles.
O Junior tinha mostrado vários modelos esportivos de carro e é claro que Leo sabia a fortuna que era cada um, mas o baque foi o modelo
que o Beto escolheu e quando viu o preço teve vertigens, mas o pior foi sair da boca dele.
- Leo gostei dessa S10 High Country de 2022, modelo atual e ta muito bom essa cor azul marinho ou escuro? O que acha? Vamos levar?
E o valor está bom pra mim. Disse parecendo o mais tranquilo possível.
- Trezentos e dezesseis mil? Meu Deus Beto, nem minha casa vale isso tudo? Como vamos pagar por isso? Ficou abismado com a situação
achando realmente escandalosa e ficou assustado. Mas Roberto deu um sorrisinho e se virou pro amigo vendedor e terminou de vez a
situação.
- Junior, vamos levar e vai ser a vista. Em quanto tempo posso vim buscar? O jovem vendedor conseguiu disfarçar a surpresa e deu as
explicações levando ele para sua sala para a burocracia necessária da compra. Pediu para explicar para o Leo como funcionava a compra
e a entrega. Fizeram o seguro do carro e o dispositivo de rastreio veicular caso fosse roubado e dentro de cinco a oito dias o carro seria
entregue. Mas a compra foi a vista, a vista! Isso ele não podia ignorar, quando saíssem daqui ia questionar isso com certeza.
Roberto e Leo tiraram muitas fotos no carro e enviaram para Simone e Jorge, os dois amaram e viram a cara de felicidade deles, mas em
algumas Leo parecia pouco à vontade, novidade nenhuma. Leo fez um pedido para poder tirar seis copias coloridas de uma folha enquanto
Roberto pediu pra chamar o gerente, depois de já ter efetuado a compra do veículo.
Junior tirou as copias e as entregou, então os dois assinaram as seis copias e Leo colocou o nome dos amigos Soldado, Galo Doido, Seu
Lunga, Bob Marley, Boi Branco e é claro o Fuinha, falou da festa, também ia chamar mais amigos dele e pediu pra não comentar sobre o
evento porque não queria os indesejados. Junior agradeceu e o abraçou com muito amor, desejando toda felicidade do mundo. O gerente
veio e Roberto cumprimentando que falou sem rodeios.
- Estou muito satisfeito com a compra e a loja, tenho alguns amigos do interior que mandei as fotos do carro e gostaram muito, pedi para
quando trocarem de carro o Junior atendesse eles, pode ser? Tem um excelente funcionário e passei os nomes. O gerente ficou
impressionado com a venda e como todo bom gerente elogiou o carro e disse que os fazendeiros do interior gostam muito dela, chamou os
três para sua sala e tomar um cafezinho. Então discretamente Junior mandou uma mensagem de celular para Leo dizendo, “Deu o golpe
do baú eim filho da puta!” e começou a rir. A resposta veio na mesma hora e com um sorriso no rosto, “Teu cu, arrombado!”
Os dois riram e o clima da sala ficou apenas com amenidades. Se despediram e já era quase hora do almoço e Roberto perguntou aonde
queria almoçar, então não pensando duas vezes Leo sugeriu um restaurante na Zona Leste, pegaram outro uber rumo ao lugar.
Chegaram num restaurante simples, mas bem aconchegante e o cheiro da comida era excelente. O dono era um senhor de idade que ficava
no caixa e falava alto com os funcionários e quando Roberto viu quem estava cuidado das carnes assadas ele entendeu, mas ia perguntar
quando estiverem almoçando. Leo e seu amigo se cumprimentaram e indicou uma mesa e logo ia servi-los com uma porção. A comida era
self-service e tinha uma quantidade razoável de diversidade, pegaram os pratos e foram se servir. Roberto pediu uma cerveja e Leo uma
latinha de coca, o seu amigo veio trazer a porção e começaram a conversar.
- E aí sumido, tá só de boas é? Perguntou sendo amigável e mostrando-se solicito.
- Seguinte, esse é o Roberto meu namorado e vamos juntar os panos de bunda, mas vamos comemorar num sitio e vai ter bastante gente,
quer ir fazer uma diária lá com a gente? Essa ele pegou Roberto de surpresa, quem diria eim?
- Beto esse é um amigo meu das antigas, Robby-Jow e queria chamar ele pra cuidar das carnes, junto com o pessoal de lá?
- Esse filho da puta vai casar e num me avisa? Bota quente nesse bicho Roberto, da moleza pra ele não? Só me avisa com antecedência pra
eu me programar aqui belezinha? Prazer viu e precisar só chamar! Saiu rápido pra churrasqueira e continuar seu serviço.
- Essa foi boa, não vou negar que me surpreendi com essa. Deu uma risada discreta, mas também não deixou de reparar que esse “amigo”
tinha os padrões que ele gostava. Mas ficou ansioso pra ver qual seria a desculpa que ele usaria pra chamar ele.
- Chamei ele por que ta precisando. Está com problemas com a mulher e a filha é autista, parece que em grau grave e sempre que posso
almoço aqui ou indico alguém pra ser atendido por ele, ganhando pontos com o chefe dele. Tipo, sempre recomendo serviços de amigos
ou se puder pagar o trampo de gente que eu goste sabe. Essa realmente ele não sabia, dois a zero hoje. Ficou feliz que do jeito dele ajudava
os amigos em dificuldades, isso era muito importante e ele semeava uma colheita boa pro futuro.
Pagaram a conta e Leo deixou avisado assim que confirmarem a data ia avisar, se despediram e foram embora pra casa. Chegaram lá,
tomaram um banho e foram deitar para descansar. A parte da manhã foi cansativo e conversaram antes de dormirem um pouco.
Fizeram uma recapitulação de suas vidas separadas e agora que estavam juntos, todos os problemas que passaram. Cada um falou bastante
sobre tudo e de repente se pegaram olhando um para o outro, cada um sorriu e ainda estavam muito apaixonados depois desses anos. Mas
Roberto levantou uma questão curiosa, fazia tempo que ele queria saber da onde ele tinha vindo quando se conheceram e lembrou que ele
nunca contou.
- Leo, quando a gente se conheceu da onde você tava vindo, disse que era uma festa e tals, mas como foi?
Ele se surpreendeu com a pergunta e deu uma suspirada sentou na cama cruzando as pernas sorrindo meio forçado e contou a história.
- Essa foi longe eim? Foi assim, na época de colégio eu tinha conhecido um monte de gente, mas fiquei interessado em dois, um era da
mesma idade, o Bernardo e o outro o Valter. O Bernardo era um estudante do lado da minha sala e bem grande, mas eu achava ele uma
graça de fofo e ficávamos trocando olhares nos intervalos e eu tive coragem de puxar assunto. Muito educado e muito doce, era branco e
todo cheiroso. Fazia o estilo ursinho nerd, vou te falar eim, fiquei muito balançado por que era muito tranquilão incapaz de falar palavrão.
Um cavalheiro, passava despercebido tranquilamente pelos delinquentes do colégio.
- Já o Valter era o oposto, era pouca coisa mais alto que você e muito forte, negão mesmo. Falava palavrão, desbocado e tudo. Estudamos
juntos desde a quinta série, ele não poupava ninguém, nem as amigas. Mas muito sincero. Eu achava o corpão dele top e era muito
inteligente, ninguém dava nada mas sempre tirava notas boas, foi o primeiro a me incentivar no desenho sabe? Fiz uns trabalhos pra ele,
está tudo guardado ainda, ele disse que ta junto com os documentos pra não perder. Falei que era coisa de velho e era bem capaz de estar
debaixo da cama. Leo deu risada, interessante essa mudança de perfil, ficou curioso pra saber quem eram, mas esperou a história terminar.
- Nunca fiquei com nenhum dos dois sabe, o que era uma pena. O Bernardo foi embora antes da festa, pra São Paulo capital eu acho e
perdi contato. Tenho saudades por ser uma figuraça, nem um beijinho na bochecha eu dei... deu de ombros.
- Já o Valter mora aqui ainda, vez ou outra encontro com ele, é caminhoneiro e foi ele com quem marquei na festa e o safado não veio.
Quando chamei ele pra ir tava muito nervoso, tomei umas duas latinhas antes e fui morrendo de medo. Mas fui assim mesmo, convidei ele
pra festa de um conhecido nosso em comum e ele disse que ia. Aí já tinha tramado tudo pra me declarar e dar o bote. Aí acabou que
nenhum nem outro, fiquei um tempão esperando e ele não veio, fiquei puto da cara e resolvi ir pra casa a pé. Foi quando te encontrei e o
resto é história!
Roberto fez uma avaliação da vida dele e do tempo que estão juntos, ele só queria alguém. Bem coisa de adolescente, não culpava ele, mas
Leo tinha mudado muito e se esforçava cada vez mais. As vezes parecia que não se sentia à vontade, mas estava sempre mudando, se
descobrindo.
- Depois descobri que ele estava namorando e casou, acho que foi por isso que não foi... sei lá. Vi o perfil do Facebook pra ver a cara dela
e nada. Aí quando deu certo entre a gente deixei tudo pra trás e segui em frente de cabeça. Eu me sentia muito só, viu meus amigos que
não são gays dando tudo certo e até outros do meio também, mas pra mim é difícil sabe. Queria que tivesse conexão e teve até demais.
- Você tem fotos dos dois Leo, fiquei curioso pra saber quem são. Falou não se aguentando mais de curiosidade.
- Tenho o perfil do Valter e do Bernardo só uma do tempo de colégio. Pegou o celular e abriu na galeria, pasta amigos e estava lá a foto
de vários, então reconheceu os dois pela descrição. Bernardo tinha um rosto bonito, mas grandão e pela foto exalava serenidade.
Acho que ele tinha vontade de reencontra-lo algum dia, sentiu um saudosismo na voz. Já o Valter o conhecia de vista, mas nunca chegou
a conversar com ele. Leo ia surtar se souber, deu uma risada por dentro.
- Bonitos cada um à sua maneira, estilos diferentes. E esse Valter, você ainda conversa de boas quando se encontram?
- Às vezes, eu mais que vejo do que ele me vê sabe. Mas quando conversamos só xingamentos e brutalidade, e quando eu estou tranquilo
ele fala que estou doente, porque não sou assim. Deu uma risada lembrando das conversas.
- Entendo, fiquei feliz por ter me contado. Sempre tive curiosidade de saber, mas respeito seu espaço.
- Também tinha curiosidade sobre sua vida sexual sabe, quem era os boyzinhos que pegou mas a história me surpreendeu muito Beto.
- Leo, são poucas pessoas que me importo nessa vida, antes de te conhecer eram só minha família, Simone e o chefe. Amigos tenho muito
pouco sabe? O Jorge e a família é um exemplo. Cada um é importante do seu jeito e agora você está do meu lado, de mãos dadas então
não penso mais nessas coisas.
- Você ainda gosta dele? Perguntou abaixando a cabeça se sentindo diminuído, mas se nunca falasse iria explodir.
- Ta com ciuminho eim? E deu uma gargalhada bem alta e espontânea!
E num ataque de fúria e brincadeira, ele pulou em cima dele fazendo cócegas e puxando as bochechas dele com força, enchendo de beijos
e xingando ele.
- Vou te mostrar o ciúmes é agora! E foi uma tarde tranquila, dormiram bastante e quando acordaram foram jantar fora e dar um passeio
pela cidade. Chegaram na decisão que a data da festa seria depois que pegassem o carro, então iam pegar os dois juntos a estrada pro sitio
na sua primeira viagem de casal. Avisaram o Jorge da data e que não poderiam ir antes, queria estrear o carro com o Leo. Os dois passaram
quase uma manhã inteira mandando mensagens e confirmando com os convidados. Sabia que não seriam o número exato, mas ficaria
satisfeito com quem viesse. Um amigo do Roberto disponibilizou dois ônibus de viagem para levar quem não podia e combinou na praça,
os amigos do Leo podiam ir e voltar sem problemas. E as bebidas, refrigerantes e o que mais precisava foram comprados e levados uns
dias antes. Jorge tinha dois freezers e um vizinho disponibilizou mais dois, teriam carne de porco, torresmo e quando chegassem a primeira
leva de carnes já estaria pronto. O amigo churrasqueiro do Leo, Robby-Jow foi um dia antes para ajudar e já fez amizade com o pessoal.
A semana passou rápido e eles foram pegar o carro, Junior fez questão de entregar pessoalmente e ficou feliz pelo olhar dele, trocaram
algumas palavras antes de irem embora.
- To feliz por você Leo, gosto de tu pra porra viu? Não liga pra comentários de zé buceta não, vai ser feliz e não se esquece dos amigos! E
falei com a moçada, todo mundo vai pra festa. Tem os penetras é claro, mas seus amigos vão com você!
Leo abraçou com força e querendo chorar, agradeceu pelas palavras e Roberto apareceu e apertou a mão com força e olhou fixo.
- Obrigado pelas palavras Junior, espero vocês lá viu? Quero conhecer os outros amigos dele que tanto fala.
- Pode deixar seu Roberto.
- Beto por favor! Se despediram e foram para a parte principal. Levar o convite para os pais do Leo
Roberto completou o tanque, sentou como se o carro fosse algo totalmente natural e foram para casa dos pais do Leo. Era sempre difícil
qualquer coisa relacionada aos pais dele, mas como tinham se acertado esperou que fosse diferente dessa vez e talvez eles pudessem aceitar
que o filho era gay e estava feliz. Chegando na rua, estava tendo um culto na casa e os dois esperaram do lado de fora, terminando e o
pessoal olhando pra eles como se estivessem com Covid, mas os dois estavam tranquilos e foram lá pra entregar o convite.
- Benção pai, bença mãe. Vim entregar o convite pra nossa festa, vai ser num sitio e se aceitarem ir, vamos busca-los pra ir com a gente.
Disse de maneira educada e sorrindo, mas analisando sem entregar o jogo.
- Deus te abençoe meu filho, mas não poderemos ir, vai ter um culto da família e não podemos deixar de ir. Respondeu o pai tentando não
ser insolente e a mãe com a mesma cara servil de sempre.
- Tudo bem pai, mas se mudarem de ideia o convite está aqui e o horário que vou sair. Entregou o convite em mãos, ele guardou dentro da
bíblia e se despediram sem nenhum conflito. Roberto agradeceu por tê-los recebido e desejou um bom culto, o pai dele respondeu.
- Obrigado e vão com Deus. Sem a menor cerimônia, eles entraram e deixaram os dois na área. Então foram embora para casa arrumar as
coisas. Na viagem de volta pra casa Roberto perguntou sem rodeios.
- Ta chateado por eles não irem e o tratamento do seu pai? Dirigindo e ao mesmo tempo olhando de soslaio pra ver alguma cara de tristeza
nele.
- Não, acho que foi até boa a recepção, não xingaram a gente nem nada. Já é um começo, mas queria que eles tivessem aceitado pra ver
como a gente ta feliz sabe, se eles sentissem o que sinto por você, mesmo não aceitando me daria pro satisfeito.
- Também acho, seria bom ver que tem gente que gosta de você e da sua felicidade, seria um choque de realidade e talvez mudasse a
opinião que eles tem de mim.
- Verdade, mas só dar tempo ao tempo, não vou mais me prender a aceitação deles. Falou externando uma tranquilidade mas lá no fundo
queria mais que tudo provar pros pais que estavam errados a respeito do Beto e mais no fundo ainda queria a aprovação deles, negou essa
verdade natimorta e sorrindo mal esperava chegar o dia.
O dia da festa chegou mais rápido que nunca, foi combinado na sexta para os dois estarem no sitio. De manhã cedinho revisaram toda a
lista de convidados se certificando de que ninguém tivesse sido esquecido e ligando pra que todos os detalhes da festa saíssem perfeitos.
Avisou Simone e ela confirmou que cantaria com sua banda, seria uma festança. Leo estava mais empolgado que nunca e com tudo pronto
sem nada negligenciado se arrumaram e foram para o sitio só os dois.
Saíram umas oito e quarenta da manhã e botaram um pen drive com música dos dois, curtindo a viagem e conversando sobre tudo. Cantaram
juntos várias músicas e se a metáfora da vida fosse realmente uma estrada como todo mundo gostava de falar, essa estava sendo muito
bem vivida. Mas Leo pediu pra dar uma paradinha antes de chegarem no sitio pra dizer umas palavras. Roberto encostou num parte da
estrada e desceram, disse que seria rápido e não falaria nada que pudesse estragar o dia.
- Beto, obrigado por tudo mas tenho que desabafar antes de chegar, ouve sem me julgar viu? Falou sincero.
- Conheci você e acredito no que vi, mergulhei de cabeça nisso e tudo que eu passei não me fez mudar de ideia, me fez acreditar. Se um
dia se cansar de mim ou não quiser mais nada, me fala na cara. To muito incomodado com esse dinheiro todo e a realidade que não sei o
tamanho do seu patrimônio, mas nem por um momento quero que passe pela sua cabeça que é por interesse. Se você fosse um pedreiro
não mudaria nada pra mim. Ele desabafou tentando manter a dignidade e Roberto olhou sério e levantou a mão pedindo a palavra.
- Espera eu terminar, por favor. Sou uma pessoa simples que tenta ver as coisas de modo simples. Você é mais velho que eu e já ouvi muita
conversa sobre gente interesseira, tenho um pânico de não conseguir dormir direito de você pensar isso. E no dia que você falou aquilo
que tinha pro meu pai fiquei feliz, mas me deu um medo muito grande. Quero entrar nesse sitio que nem sei onde é com o coração leve
desse meu medo. Pode falar agora.
- Quando as festividades terminarem vou te pôr a par de tudo, tranquilo? E sobre seu medo é infundado isso. Já venho te observando faz
tempo e nunca me passou pela cabeça essas coisas, mesmo porque o dinheiro só tem valor pra mim se eu puder ajudar quem amo. Você
não consegue mentir pra mim sabia? Estamos destinados a nos reencontra não é? Não foi o que me disse? Acredito nisso mais que nunca.
Só posso te pedir uma coisa pra você agora. Ele olhou direto nos olhos e como se visse dentro dele, tinha esse dom de vasculhar sua alma.
- Qualquer coisa! Disse ele lagrimando.
- Não me deixa nunca, quero ficar com você pra sempre. Não existia nada que ele pedisse que não pudesse fazer e se empacasse como a
mula que sempre foi, era só ele dar aquele sorriso que se derretia todo. Com as forças renovadas se abraçaram e colocaram a testa um no
outro, entrando no carro caíram na estrada.
A BR e a estrada de chão até o lugar era muito bonito, com vários morros e paisagens deslumbrantes, tinha pontes com locais de pesca e
banho de tirar o folego, como não sabia disso? Num trecho da estrada de chão passaram por um arco de arvores aonde elas se entrelaçavam
formando uma proteção natural. Simplesmente maravilhoso. Roberto deu as recomendações sobre seu amigo Jorge e a família, explicando
como eram cada um e o tanto que ele os amava. Ah sim, e ele ia se surpreender com o “Gente” o cachorro deles. Leo perguntou por que
tinha esse nome? A resposta foi a mais simples possível.
- O cachorro acha que é gente! E dando risada.
Quando eles chegaram no que foi vendido pra ele como “sitio” era uma fazenda enorme e de novo não sabia de nada. Na cancela da fazenda
já tinha gente trabalhando, um caminhão trazendo grades de cerveja e fardos de refrigerantes, outras caixas eram de alimentos e cestas
básicas. Ele acenou e abriram o portão e entraram até a casa principal. Roberto olhava de soslaio para o Leo quando ele visse o Jorge, não
queria perder esse momento por nada, então dando uma buzinada saiu o homem.
Jorge tinha um metro e noventa e cinco tranquilo, coroa de sessenta anos enxuto, cabelos de um cinza claro, todo musculoso da vida rural
e era uma das pessoas que Roberto mais gostava. Já devia estar trabalhando desde cedo e todo suado, Leo tentou disfarçar e ouviu uma
risada de deboche.
- Baba não, ele já está suado do jeito que você gosta! E riu bem alto deixando ele mais constrangido ainda.
Jorge era um homem simples, muito sofrido na vida, ele e a mulher tinham passado por muita coisa, hoje eram felizes aqui e quando
Roberto vinha recarregava suas energias. Quando se conheceram estavam fugindo de pistoleiros eles estavam com o pequeno Miquéias,
ele e seu chefe o ajudaram conseguindo ficar escondidos aqui e resolveram os problemas. Nunca se esqueceram da ajuda e fariam tudo
que ele pedisse, mas graças a Deus o passado nunca voltou a persegui-los e hoje vivem aqui nesse paraíso. Nada era como respirar aquele
ar puro, nada. Podia morar aqui pra sempre sem problemas, um dia ia propor ao Leo, mas hoje não.
- Fala Beto, que saudades eim? Esqueceu dos pobres é? Deu um abraço forte e tapas nas costas levantando ele sem qualquer dificuldade.
Leo olhava com discrição mas era difícil. Algo na cabeça dele apontava que ia ser como o Serjão e começou a pensar um monte de
besteiras, então ficou pior quando ele largou o Beto e foi cumprimenta-lo todo sorridente, e atrás via a cara de maldade de outra piada já
combinada. Ia resistir bravamente... essa era a intenção!
- Então você é o famoso Leo, que se apossou do meu amigo é? Olhando de cima pra baixo e medindo tudo.
- Prazer, me chamo Leo. Estendeu a mão para o aperto social então foi puxado com força e ele deu um abraço e girou ele, deixando sem
jeito. Mas dessa vez Roberto estava olhando fixo pros dois fazendo cara de safado, claro que ele já tinha combinado isso, a graça pra ele
seria a reação de constrangimento.
- Você fez uma coisa muito importante sabia? Conquistou o coração do meu amigo e irmão. Acho que um monte de gente te falou pra
cuidar bem dele, não vou me repetir só completar. O Beto merece toda felicidade do mundo, se ele te amar também vou te amar, me
considere um amigo viu? Tudo que tenho não teria conseguido sem ele. Aqui agora é sua casa também, venha conhecer sua nova família.
Sentiu muito essas palavras e aliviado, mas também tinha o peso de que se desse errado tudo estaria perdido, esqueceu na mesma hora isso
e foi conhecer um mundo totalmente novo.
A casa principal era linda, pintada de amarelo com as bordas roxas, aonde se via tinha plantas, flores, ninhos e casas de passarinhos pra
todo lado, na entrada principal da casa tinha um pergolado de madeira bruta com várias flores se enroscando fazendo um telhado natural.
As colunas eram decoradas com orquídeas de todo tipo plantadas em raízes, cocos e jarros simples. Aonde se virava tinha flores de todas
as cores. Na porta um entra e sai de pessoas carregando alguma coisa da festa, todo mundo ocupado pra que amanhã fosse tudo perfeito.
Samambaias espalhadas pelo teto com potes de água para beija flores aos montes e na varanda várias cadeiras de madeira estilo artesanal
com belíssimas almofadas e mesinhas entre elas. As janelas estavam todas abertas e pode ver o interior mais bonito ainda, com moveis
bem feitos e de cores alegres, gente conversando indo e vindo. Eles continuaram andando até chegar numa cozinha aberta cheia de gente
preparando carnes, comida e várias coisas para as festividades de amanhã, então Jorge parado na entrada da cozinha falou.
- Amor, olha só quem chegou agora! Com aquele vozeirão Leo quase teve um troço, mas pegou uma cutucada nas costas e rapidamente se
recompôs. Uma mulher branca loira e de traços gaúchos, uns cinquenta anos bem conservada virou de repente toda nervosa e atarefada e
gritou.
- Aaaahh Beto! Ela correu para o rumo dele e pulo no colo abraçando ele, forçando-o a segura-la para não cair e ficaram rodopiando na
cozinha rindo alto.
- Meu amor que saudades de você eim? Ela beijando ele com força e rindo alto. Roberto abraçou com ternura também e se olharam
fixamente um nos olhos do outro. Com ele era sempre assim, queria chegar nesse nível de entendimento com as pessoas. Queria só olhar
pra elas e não precisar dizer nada.
- Deixa eu te apresentar o responsável por todo esse trabalho que ta tendo aqui na cozinha. Leo essa aqui é a dona Laura esposa do Jorge,
minha amiga de muitos anos. Laura esse aqui é o Leo, meu namorado e futuro marido. Disse com uma satisfação e olhar apaixonado.
- Amor, foi esse aí que tirou o Beto da solteirice! Jorge disse rindo e passando a mão na cabeça do Leo bagunçando os cabelos.
Ela virou para Leo medindo dos pés à cabeça, sem a menor cerimônia. Procurando algum defeito e depois da vistoria deu um sorriso
materno e o abraçou como se não fosse soltar nunca.
- Seja bem-vindo Leo, amo o Beto como se fosse meu irmão e vou amar você também! É um rapaz bem bonito sabia? De ser quase da
idade do meu filho. Que sejam felizes pra sempre! Deu outra onda de beijos e foram sentar na área próxima à cozinha. Na mesa tinha café,
doces, queijo e biscoitos salgados. A cozinha era um pouco grande, fogão industrial e com uns dois fornos grandes e um maior a lenha.
Na parede várias panelas grandes penduradas e algumas de barro, tinha uma prateleira com vários tipos de bebidas caseiras, licores e
muitas cachaças artesanais. Sentaram na mesa e Roberto perguntou olhando para os lados.
- Cadê a Vaquinha e o Miqueias, os meninos estão no igarapé tomando banho? Jorge respondeu cortando uma fatia generosa de queijo e
colocando um copo de cachaça.
- O Miquéias está mexendo com o gado e vai vim pro almoço e a Vaquinha foi na cidade pegar umas coisas pra mim, vai chegar também
nessa hora. Os meninos estão no igarapé brincando com as outras crianças. O fluxo de pessoas não diminuía nem ficava pouco, Leo
observava tudo. Tudo era bonito no lugar, a cozinha da casa era um espetáculo e o lugar todo cheirava tão bem com os odores de comida
e sitio que não se importaria de nunca mais voltar. Mesmo com as pessoas trabalhando estava em paz com o lugar e se sentiu super acolhido
pelo casal. Como o Roberto disse, eram pessoas simples que passavam uma energia positiva, realmente ele era muito amado por eles e a
não ser que fosse um imbecil completo, Leo sabia que era uma das inúmeras pontas soltas do passado dele, mas que depois disso ia
confronta-lo e questionar tudo. Estava cansado de não saber de nada. Mas não seria hoje e nem num paraíso desses.
Então ficou ouvindo quieto a conversa deles e prestando atenção sentadinho no seu lugar. Jorge e Laura falavam dos problemas da fazenda
e o que ia bem e mal, explicou sobre o gado, vacas e todo tipo de bicho. Falou da produção de leite, queijo e verduras que sempre levavam
pra cidade perto dali, vendia seus produtos numa feira e gente das redondezas vinha comprar e vender lá também. Ouviu sobre cavalos e
a natalidade deles sem entender bulhufas, mas se indagou de o porquê eles estavam prestando esse tipo de relatório para Roberto, a fazenda
é deles e a gente era só visitas usando o lugar para uma festa de dois dias não é?
Então a verdade veio como um choque de alta voltagem, isso aqui tudo é dele e começou a ligar os pontos. Ele mantinha a casa dos pais,
despesas dos filhos, do apartamento onde moravam e do nada compra um carro caríssimo como se fosse nada. De onde vinha esse dinheiro
todo? Botou o tico e teco pra funcionar e se lembrou das conversas anteriores sobre finanças, nada tirava da cabeça que de novo era um
tipo de teste. E quando contou sua história sobre seu envolvimento com o “chefe” e a Lucia, acho que sabia da onde vinha todo esse
dinheiro. Sua postura humilde e descompromissada com essa grana toda levava a duas questões, mesmo sendo um tapado Leo chegou à
conclusão de que ele geria bem suas finanças fazendo render, mesmo não justificando todas as contas ou ele e os amigos ficaram com os
espólios das suas missões no interior. Levando a mais e mais questões sem fim.
Não chegou nem a arranhar a superfície dele, enquanto Leo tinha se aberto por inteiro. Quase praguejou em voz alta, entregando o jogo de
novo. Ele é o dono da fazenda, essa família são seus funcionários de confiança e o patrimônio foi o salário dele, imóveis e o que juntou
dos tempos do chefe e a Lucia. Mas também levava a mais questões morais que não podia ignorar, se ele queria sair dessa vida então por
que fez questão de ficar com o dinheiro todo? E aonde era guardada essa fortuna, claro para Leo e do seu raciocínio medíocre, Roberto era
milionário. Então os outros daquela época também tinham todo esse patrimônio? Será que tinham investido o que ganharam e fazendo
gerar mais e mais?
Fechou a cara na hora quando caiu em outra questão, como o leão ou mesmo a polícia federal não iam atrás? Era uma teia de mistérios e
segredos. Acho que a conversa ia ser mais longa do que se supunha. Então se assustou quando percebeu ele com olhos semi serrados
encarando-o e com o dedo indicador fez sinal de silêncio.
As respostas viriam, mas não agora e nem hoje.
O relatório continuava quando chegou uma menina bonita, bem torneada com roupas de vaquejada e chapéu correndo e gritando.
- Tio Beto aaaahhhhh! A menina grandona pulo nele e o abraçou, enchendo de beijos e apertando ele forte, uma felicidade extrema. Mas
o pai dela rapidamente a repreendeu e disse.
- Ta doida é garota, cadê a benção do seu tio? Quer que o Leo pense o que? Que não dei educação pros meus filhos? Cuida logo!
Ela deu uma risadinha sem graça, ajeitou a roupa e pedindo a mão dele falou de modo solene.
- Desculpa, benção tio Beto. Ele estendeu a mão e ela beijou mostrando educação com os olhos vigilantes do pai e a mãe sorrindo, ele
beijou a mão dela em seguida e falou.
- Deus te abençoe minha filha, como você tá? Olhou com satisfação pro mulherão que ela ficou, antes era só uma menininha magricela
que vivia correndo atrás dele e caia no choro quando ia embora.
E com um puxão de orelha do pai, ele já bravo falou áspero!
- Você ta cega é? Não ta vendo o Leo aqui não é? Não me faça perder a paciência com você sua moleca!
Leo estava estático, nem se mexia com medo da cara do Jorge, mas ficou pensando um monte de coisas que se podia fazer com essa cara.
Engoliu o sorriso malicioso por que já sabia quem estava observando, mas ficou impressionado quando a menina olhou pra ele. Era muito
bonita a filha deles. Um cabelo loiro dourado e liso, olhos azuis bem vivo e uma boca rosada generosa e bem desenhada. Suas bochechas
era do tamanho certo seu corpo bem feito e torneado, se engordasse mais um pouquinho não mudaria nada. Ela era escultural e arriscaria
dizer perfeita. Se Roberto pudesse ler seus pensamentos agora ia zoar ele muito, mas ficou com uma vontade imensa de ver ela nua e fazer
um quadro dela como uma musa.
- Prazer Leo, me chamo Vanessa sobrinha do tio Beto. Ela olhou sem poder disfarçar, achou ele muito bonito e atraente e sorriu sem
parecer interessada, mas tentou o máximo parecer respeitosa.
- Prazer Vanessa, sou o Leo. E apertou a mão dela e ficou pasmo com a força que essa menina tinha, se deixasse escapar um gemidinho
de dor, ia ter que aguentar as piadinhas do Roberto a vida inteira.
Então ficaram conversando e foram conhecer a fazenda, a área era muito grande e com várias casas para os funcionários e pessoas que não
sabia quem eram. Todas as casas eram muito bonitas, pintadas com cores alegres e pra variar cheia de flores coloridas. E tinha uma
igrejinha lá, também cuidada com esmero e tinha um cruzeiro das almas na frente, com direito a sino e tudo. Jorge explicou que só pintou
o nome Igreja, mas que as vezes realizavam missas, cultos e tudo mais e que a casa era de Deus e não dos homens. Se se organizassem
todo mundo tinha seu espaço aqui, achou muito bonito e forte essas palavras, provavelmente seu pai e sua mãe iriam gostar dali. Explicou
que na fazenda tinham várias festas e também recebia gente de outras crenças, desde que respeitassem o lugar.
Caminharam no pomar e achou a coisa mais linda do mundo, com várias arvores frutíferas de todo tipo e também não podia falar, várias
casas de passarinho e bebedores para beija-flores. Simplesmente magnifico! Tinha sempre gente indo e vindo fazendo alguma coisa e
cuidando do lugar, achou que era como uma única mente coletiva de uma gigantesca colmeia. Todo mundo sabia seu trabalho e não deixou
passar despercebido que tinham enormes cestos de lixo e o lugar era extremamente limpo.
Outra curiosidade é que tinha cestos de cipó e um tipo de coletores de metal e outros feitos de madeira ou bambu, essa tinha que perguntar.
- Seu Jorge, o que são esses coletores e pra que servem esses cestos?
- São pra guardar cobras, as vezes aparecem aqui e dei ordens pra não matar se possível, juntamos e colocamos dentro dos cestos e um
amigo da biologia vem juntar e solta-las em outro lugar, aqui não permito que matem os animais e nem maltrata-los.
- Entendi, bem legal da sua parte. E continuaram a turnê por esse paraíso.
Foram para igarapé, nos fundos das casas, desceram por uma calçada de blocos de concreto e aonde tinha várias arvores nas laterais, ouvia
o barulho das crianças brincando e gritando alto. O lugar tinha vários chapéus de palha e mesas de concreto por todo lado e uma área de
concreto maior aonde estava os freezers com as coisas da festa, tinha quatro banheiros nas laterais e um balcão grande com mesas e cadeiras
empilhados. E lá estava o Robby-Jow na parte das churrasqueiras preparando as carnes para amanhã.
- Fala zé buceta, Roberto já vai ta tudo pronto pra amanhã tranquilo. Com ele tinham mais dois homens ajudando preparar as carnes, estava
assando um pouco para beliscar, e tomando algumas cervejas. Um pouco mais embaixo estava o igarapé e um monte de crianças brincando,
pulando e fazendo algazarra e Jorge falou bem alto chamando seus dois filhos.
- Pedro, Pétala vem aqui, seu tio chegou. De repente correu um cachorro de médio porte na direção do Roberto, fazendo um escândalo
maior do mundo e pulou em cima dele. Suspeitou que fosse o tal do “Gente”, mas ficou observando. Vieram depois duas crianças um
menino de uns dez anos e uma garotinha de uns quatro correndo e gritando tio Beto. Numa alegria imensa iam pular nele, mas viram a
cara severa do pai e os dois pararam e cada um pediram “Benção” tio e depois o abraçaram. O cachorro pulou no meio dos três querendo
espaço e empurrou a menininha dos braços para tomar o lugar. Leo achou interessante que o cachorro deu a patinha pedindo benção. E
olhou ao redor o lugar, a margem do igarapé tinha um piso de madeira e uma escada com pedras de concreto e de uma distância certa os
cestos de lixo, percebendo que não existia nada jogado no chão, era bonito e bem cuidado. Então vai ser aqui a comemoração e imaginou
o amontoado de gente que vinha e eles dois seriam as estrelas, com um frio na barriga estremeceu, ergue a cabeça e tentou tirar esses
pensamentos, queria um sonho não é? Pois é, o sonho chegou e iria aproveitar o máximo. Jorge apresentou os filhos menores para Leo e
disse a verdade na cara e que a partir de hoje eles tinham por obrigação também de pedir a benção dele e chamar ele de tio Leo, franziu o
cenho indicando que era uma ordem expressa, Leo sorriu sem graça mas seguiu a correnteza. Achou os meninos bem bonitos e educados,
mas viu o carinho que tinha pelo Roberto e sorriu por dentro. As crianças cobraram presentes e abraços, ele sem dúvidas nasceu para ser
o tio favorito de todo mundo.
Chegaram mais coisas da festa e uma aparelhagem de som potente, mas só iam ligar amanhã. E mais e mais cervejas e fardos de
refrigerantes, atrás do balcão as bebidas quentes foram arrumadas como num bar e Leo teve vontade de ter um assim em casa. Jorge
apontava para os empregados aonde cada coisa tinha que ficar, organizados fizeram tudo rápido e amanhã cedinho iam lavar o chapéu de
palha principal. Era um turbilhão de coisas acontecendo simultaneamente e ele no centro de tudo feito um banana olhando com cara de
bobo tudo. Nem olhou para o Roberto por que já sabia que ele estava lendo sua mente como sempre e o ignorou.
Num acesso insano de ousadia Leo perguntou para ninguém especifico e para todos.
- Será que meu pai ia enfartar se a gente se casasse na igrejinha? Ficou olhando pro nada e viu que todos olhavam pra ele e Laura quem
respondeu.
- Se vocês quiserem por mim tudo bem, fazemos amanhã mesmo. Mas é isso que vocês querem? Em tom de mãe conciliadora falou
tentando tirar ele do transe. Caiu na real e respondeu rapidamente.
- Foi uma besteira que eu falei, desculpa. Não acho certo isso em uma igreja e não concordaria. Acho que o importante é ser feliz, esse
tipo de sonho não é mais do meu interesse. Isso aqui já é demais e to bem. Jorge falou em seguida.
- Não é besteira nada daquilo que sonhamos, viemos pra esse mundo para aprender e ser feliz. É nisso que eu acredito, sempre vou ficar
do lado do meu amigo, e agora de você também! O comentário do Leo tinha um significado mais profundo do que alfinetar os pais, talvez
ele não tenha superado assim como pensava. Mas certas feridas levavam a vida inteira pra se curar e as vezes nem isso. O couro das costas
dele ainda é novo e aguenta muita chibata e quanto mais doída e ardida a lição, mais evoluímos.
Inspecionaram a parte que seria assada as carnes e tudo preparado, olharam o chapéu principal e tudo ok, caixas de sons e outros
instrumentos também ok, Jorge sugeriu para voltar pro almoço e depois relaxar um pouco.
Depois do almoço veriam o gado e os outros animais, restava apenas esperar para amanhã os convidados e se divertirem. Chegando na
cozinha, tinha mais outra leva de pessoas saindo e algumas chegando trazendo caixas e mais caixas, sacos de verduras, frutas e outras
coisas que não conseguiu identificar. E lá estava o filho que faltava conhecer, Miquéias o primogênito do casal, tinham a mesma idade e a
mesma constituição física, era branco de olhos azuis claro, cabelo encaracolado de um louro escuro. Tinha sardas no rosto da cor de
ferrugem, olhos amigáveis e um rosto bem feito com um sorriso muito amigável, Leo conseguia reconhecer os traços da mãe e do pai nele.
Estava com uma camisa xadrez com tons de azul e calça jeans rasgada nas coxas e usava um cinto com tamanho mediano de vaquejada,
completando o visual tinha botas de peão e um canivete preso no cinto. Olhou e deu um sorriso por educação esperando a inevitável
saudação. No entanto ele foi logo para o tio e pediu a benção.
- A benção padrinho! Fez uma reverencia e pedindo a mão para o inevitável beijo abençoado, Roberto beijou e o abençoou e deu um abraço
apertado.
- Saudades de você tio, o senhor está bem? A voz era agradável e tinha um sotaque do campo, Leo achou interessante como todos tinham
essa educação com ele e a benção obrigatória. Certamente deveria ter outra explicação que seria pra depois, mas outra coisa curiosa
aconteceu sem ninguém precisar falar nada.
- Sua benção tio Leo. Fez a mesma reverencia e Leo ficou sem graça, beijou a mão dele e disse quase gaguejando.
- Que Deus lhe abençoe. Miquéias ficou encarando um pouco e depois sorriu e o abraçou dando tapas fortes nas costas.
- Cuida do meu padrinho viu? Todo mundo aqui em casa ta muito feliz por ele e por vocês. Ele é mais do que da família, é o anjo que
protege a gente. Cansado de ficar na defensiva todo tempo e olha que amanhã seria pior, resolveu se posicionar.
- Mas o certo é o contrário Miquéias, ele que cuida de mim. Eu só não vou larga-lo nunca mais. Se esforçou ao máximo para ser sincero e
não petulante, depois se arrependeu e completou.
- Eu que agradeço por o Beto ter pessoas tão boas como amigos, mais que amigos família!
Claro que o Beto sacou, mas ainda fingia um sorriso pra depois ter um pé de orelha com ele, então sentaram a mesa e foram comer. Tinha
muita coisa mesmo, viu quem estava com ele era Beto, Jorge, Laura, Miquéias, Pedro e Pétala. Cada um sentado no que parecia ser seu
lugar da mesa. Só se serviram depois que Jorge colocou o prato dele, depois todo mundo se serviu. Tinha feijoada, arroz colorido, bifes,
galinha caipira, torresmo, carne de porco, saladas e dois pratos de laranja descascada. Macaxeira cozida e frita, um prato de peixe frito e
banana frita. Duas jarras de suco e um refrigerante de dois litros, reparou que as crianças eram muito educadas e ficou na dúvida se estavam
sendo assim por que tinha visitas. Decidiu que gostava delas e comeu um pouco tímido e aos poucos tentava se soltar, não ficar tão
acanhado. Mas tentava ser como o Roberto que olhava tudo sem que ninguém percebesse, prestou atenção que a Vanessa arriscava algumas
olhadelas discretas e não quis cruzar olhares entre si. Também não prestou na conversa deles sobre o funcionamento da fazenda e de
conhecidos em comum. Falavam de gente de época antiga e amigos que já morreram e um saudosismo até alegre ficou. Deram risadas e
contando “causos” do começo que chegaram aqui no estado, como tudo era difícil até chegar nos dias de hoje.
Ficou sabendo que eles vieram fugidos com Miquéias ainda criança de uns três anos e quando Roberto os encontrou, estavam na pior e ele
sempre os ajudou, não quis pensar no que estavam fugindo e a conversa continuou. E esses deve ser alguns dos amigos dele quem emprestou
dinheiro, as quantias escandalosas. Mesmo se nunca devolvessem só esse amor era suficiente, refletiu consigo mesmo. E quando acharam
esse lugar, Roberto emprestou o dinheiro pra comprar e moram aqui até hoje, conseguindo devolver tudo que ele deu. E segundo Beto,
quando Miquéias chamou ele de tio sentiu muito feliz e os dois convidaram a ser seu padrinho. Parou pra pensar que ele gostava muito de
criança, seus próprios filhos eram muito educados e tinham maturidade, não sabia se viriam mas naquele dia teve a impressão que nunca
mais os veria.
Ele falou que os filhos e os pais não estavam desamparados, tinha criado eles sem a mãe e pra serem independentes desde cedo por causa
da vida que levava. Às vezes não sabia se ia voltar pra casa vivo e deu essa criação. Com ele tinha vontade de perguntar tudo, saber de
tudo e passar horas e horas querendo saber da vida dele. Se depois de assumir o namoro com um garoto como foi o depois, a família,
amigos, trabalho etc.
O peso era grande demais, se fizesse alguma besteira a merda já estava feita. Todo mundo dava recomendações para cuidar bem dele, mas
do seu lado só alguns gatos pingado. Obvio que ele conhecia mais gente e tinha mais vínculos, uma coisa era certa, tinha que viver mais!
A conversa se estendeu até depois de terem terminado de almoçar, o Pedro o guri mais novo recolheu os pratos pediu licença e foi lavar a
louça. Leo se ofereceu para ajudar e a Laura recusou categoricamente, era serviço dos mais novos e Pétala era pequena demais ainda, mas
quando tivesse idade de não quebrar nada ia aprender os serviços de casa. E os olhares da Vanessa ainda continuavam.
Se despediram e Jorge levou até uma das casas aonde passariam a noite. Uma das casinhas coloridas e cheias de flores, era realmente muito
fofa e quando entraram mais aconchegante ainda. Toda arrumadinha e limpa, tinha sido preparada para eles com carinho e suas coisas já
estavam no quarto. Jorge se despediu e iriam se encontrar mais tarde, então os dois foram se instalar, tomar um banho e cochilar.
Tiraram uma soneca de mais ou menos uma hora e meia e com a cara amassada foram tomar banho de rio. Já era por volta das quatro horas
subiram e se arrumaram e alguns conhecidos dele haviam chegado. Amigos aposentados da polícia e alguns do grupo do chefe, todos
ficaram muito felizes com a felicidade do amigo, tiraria um dia pra pensar sobre ele não sofrer preconceito por sua escolha ainda mais
nesse ambiente. Leo tinha muitos preconceitos internos e neuras, mas Roberto era desencanado com essas coisas, tinha muito a aprender
e a evoluir com tudo. Todos cumprimentaram Leo e desejaram parabéns e as mesmas recomendações de sempre e ele sentadinho
observando a conversa atentamente.
Ficou imaginando o que cada um escondia e se o passado deles era tão sangrento ou mais do que do Roberto, provavelmente sim mas já
que estava aqui ai tentar apoiar ele o máximo possível. Foram para o chapéu de palha e o Robby-Jow assou carnes e serviu porções para
os convidados, tomaram cerveja e colocaram a fofoca em dia. Tinha alguns que ele não via a muito tempo, mas sempre estavam mandando
mensagens e Leo é claro nunca leu ou soube de nenhuma. Conversaram e se divertiram até o anoitecer, tinha espaço para eles dormirem
em vários lugares da fazenda e uns trouxeram barracas de dormir e acamparam ali mesmo. Jorge conhecia a maioria do pessoal, em especial
os do grupo da Lucia. Mais e mais indagações que ficavam sem respostas. Ficaram conversando até umas nove da noite e foram dormir,
recuperar as forças e Jorge e Laura com todos os filhos foram desejar boa noite e cada um pediu a benção dos dois, era difícil ele abençoar
alguém da idade dele. Mas começou a gostar desse tipo de respeito. Fecharam a casinha e foram dormir, tentaram e nada. Tomaram banho
e foram deitar, mas a cabeça de Leo fervilhava de perguntas sobre muita coisa e ficou com receio de perguntar e estragar o clima, mas
como era um livro aberto pra ele, Roberto deu o primeiro passo na conversa.
- Pode perguntar filhote.
- Isso aqui tudo é seu não é?
- Sim.
- E também o apartamento onde a gente mora e aquela vila toda não é?
- Sim.
- Jorge e Laura são fugitivos jurados de morte não é?
- Sim.
- O dinheiro que você tem, a maior parte veio dos serviços do interior não é?
- Sim.
- Você tem mais imóveis e outras fontes de renda não é?
- Sim.
- Eu nem cheguei a arranhar a sua superfície né?
- Não.
- Você tem muito mais segredos de mim não é?
- Tenho.
- Se eu desistir de você e disso tudo vai me matar?
- Não.
- Você sempre me testou não é?
- Sim.
- Fracassei em algum?
- Não.
- Você hackeou meu celular, e-mails e notebook não é?
- Sim.
- Por que?
- Pra te proteger.
- De quem?
- De mim e meus inimigos.
- Estou sem privacidade?
- Sim e não.
- Explica.
- Ainda não leio seus pensamentos.
- Tem ciúmes de mim?
- Sou doente de ciúmes.
- Antes da gente chegar aqui quando pedi pra parar, fiz papel de trouxa de novo né?
- Não.
- Se te pedissem pra você voltar e me matar, faria isso?
- Sim e não.
- Explica.
- Seu corpo físico sim, mas meu amor não. Estamos destinados a nos reencontrar. Depois me mataria e te seguiria no outro mundo.
- Se você voltasse pro serviço, me levaria pra te ajudar?
- Não.
- Porque?
- Preferia morrer mil vezes do que você está nessa vida.
- Duvida do meu amor?
- Nunca.
- Largaria tudo e sumiria comigo pra sempre?
- Sem pensar duas vezes.
- Por não fazemos isso?
- Tenho que esperar meus pais irem embora dessa terra.
- Abandonaria os meus por você sem pensar duas vezes.
- Eu sei.
- Depois de quatro anos ainda estou muito apaixonado.
- Eu também.
- Morreria por você.
- Eu também.
- O que falta pra mim ser melhor?
- Nada. Amo você do jeito que é.
- Se eu te traísse me mataria?
- Não, mas você me mataria se eu te traísse.
- Não sei mais viver sem você...
- Também não...
- Tenho muito medo de te perder sabia?
- Eu também!
- Tenho medo de te decepcionar.
- Tenho medo de faltar com você.
- Algum dia vamos sumir do mapa e ser só nos dois?
- Sim.
- Vou estar realizado nesse dia.
- Eu também.
- Posso pedir qualquer coisa que você faz pra mim?
- Sempre.
- Quero seguir você aonde for e nunca mais soltar sua mão!
- Eu também quero o mesmo!
- Vamos dormir pra amanhã?
- Você quer dormir?
- Não!
Com a luz da lua iluminando pela janela curtiram até altas horas e depois fecharam as cortinas e adormeceram para o dia de amanhã. A
cada vez mais e mais os dois se afundavam um na alma do outro e Leo sentia que uma esfera luminosa pairava sobre o sono deles
derramando a luz de uma esperança que mais tarde os dois precisariam.
Então o grande dia chegou, eles acordaram umas oito horas e se sentiram revigorados. Tomaram um bom banho e resistindo a tentação de
ir para o Igarapé ficaram com o chuveiro mesmo. E com o mesmo ritual pessoal deles, cada um vestiu o outro com a roupa que mais
gostava, perfumando e olhando se não tinham esquecido de nada. Roberto deu as recomendações sobre os convidados dele e que muitos
tinham o passado tão sangrento e violento, que apesar de tudo, eram amigos de longa data e cada um cuidava da sua vida. Era pra ele ser
esperto e discreto, hoje ele nadaria num rio de piranhas, tubarões e todo tipo de criaturas perigosas, mas confiava muito nele e o dia não
era dos dois e sim dele, tudo isso era uma demonstração de amor. Ficar calmo seria imprescritível e não levar nenhum comentário a sério,
já tinha passado da hora dele dominar a arte da sutileza. Cada um olhou pro visual do outro e beijaram com amor e antes do Roberto abrir
a porta, Leo puxou pelo braço com força e disse.
- Aconteça o que acontecer te amo muito e tenha paciência comigo, to muito ansioso e nervoso. Se eu falar ou fizer alguma besteira não
fica bravo tá? Por mais que quisesse repreender o medo dele, ainda admirava essa coragem e ficava comovido.
- Também estou apavorado e já vou avisando que meus amigos são muito indiscretos viu? Vamos juntos enfrentar esse povo todo!
Com a confiança renovada e sem beijos e abraços dessa vez, abriram a porta da casa e foram rumo a festa de noivado.
Desceram para a casa grande e foram tomar café, lá só estava Laura com os meninos pequenos, os outros foram fazer suas tarefas e preparar
para recepcionar os convidados. Roberto combinou de que ele, Jorge e Leo ficariam para receber todo mundo, Simone mandou uma
mensagem e disse que chegaria na hora certa. Pedro e Pétala deram a benção para os tios e foram para o rio tomar banho, Laura sentou
com os dois e foi conversar. Enquanto isso a cozinha estava a todo vapor, preparando as comidas que iam com certeza não dar pra esse
povo todo, mas Laura era otimista e tudo foi calculado e não ia falhar nesse hora. E se precisasse fazia mais.
- Bom dia, como estão os meus amores apaixonados? Disse bem simpática enquanto eles tomavam café com bolo.
- Eu estou bem Laura, dormi tranquilo essa noite e até perdi o horário. Roberto se espreguiçando e comendo um pedaço pequeno de pão.
- Dormi bem, totalmente diferente da cidade e muito gostoso o silencio da noite aqui na fazenda. Leo parecia bem empolgado e ansioso,
não vendo a hora de começar com a festança logo e conhecer todo mundo. Ficou com a curiosidade dos amigos que ele convidou
aparecerem e o que iriam falar pro Beto, acho que ninguém diria frases como “Cuida do nosso amigo tá? Leo é muito querido!”, deu uma
pontinha minúscula de ciúmes e tratou de oblitera-la da cabeça, fez um mantra mental de afastar essas neuras e aproveitar o máximo!
- Que bem meus amores, hoje aqui na cozinha vai ser bem corrido e minhas ajudantes estão desde cedo já. Mas cada trabalho aqui vale a
pena por vocês. Terminem aí e vão lá pra frente recepcionar os convidados, são mais de cem pessoas que vieram pra ver vocês! Então se
despediu e deu um beijo no rosto de cada um e foi supervisionar os trabalhos da cozinha e ver se não tinha nada errado acontecendo.
- Vamos comer pouco aqui viu? Tem muita comida e bebida, vamos deixar espaço para o churrasco. Recomendou Roberto e Leo assentiu
com a cabeça, terminando foram para a frente da casa e já vinha os primeiros convidados de carro. La estavam o Jorge e a Vanessa
arrumados para a festa, ele vestido com uma bermuda azul nova, camisa regata do Santos e ela com seu visual de Cowgirl, camisa branca
regata e uma jaqueta jeans preta amarrada na cintura. Seu cinto era maior que do seu irmão e suas botas um pouco abaixo do joelho e dessa
vez com um chapéu branco. Simplesmente linda.
- A benção tio Beto. Beijou a mão dele e depois pediu a benção do Leo, que beijou e a abençoou.
- Você está linda minha filha. Um mulherão. Beto falou sincero e a menina corou quando Leo a observava discretamente.
- Bom dia Beto, bom dia Leo. Hoje vai ser um daqueles dias né? Comentou com aquele vozeirão e apontou mostrando os carros encostando
na lateral. Tinham aberto uma parte da cerca para servir de estacionamento e receber os carros, os ônibus ficariam na estrada principal
perto da entrada da casa. Um funcionário da fazenda dava sinal para onde deviam estacionar os carros e organizar tudo direitinho. Então
foram desembarcando e a fila de pessoas começaram a chegar.
Os primeiros a chegarem foram os amigos do trabalho, alguns com suas esposas e filhos outros casados com as amantes. Eles abraçaram
Roberto e desejaram muitas felicidades, sabia o nome de todos de cor, de seus filhos e até as amantes. Um deles foi muito interessante por
que ele já desceu brigando com ela.
- Por que você não pode me assumir e deixar sua mulher Carlos, já tem oito anos que você me enrola e nunca deixa a bruxa pra casar
comigo? Devia fazer igual ao Beto e me dar uma festa dessas depois de tudo que faço por você! Oi Beto, felicidades. Disse nervosa e
brigando com o amigo, Roberto conheceu ela num cabaré de garimpo, Carlos então trouxe ela pra morar na cidade e desde então fica
enrolando ela dizendo que vai separar da esposa e casar com ela.
- Oi Rosa, obrigado por ter vindo. Deu um abraço nela e dois beijos em cada lado da bochecha, apresentou o Leo e ela ainda brava
respondeu.
- Olha aí Carlos, tem que aprender a ser um cavalheiro com o Beto, devia ter me casado com ele e não ser amante de um fodido que nem
você? Oi Leo, parabéns e cuida do Beto eim? Se separarem pode acabar como eu com uma inconha dessas! Você é um gatinho e combina
com o Beto. Leo ficou vermelho e agradeceu, Rosa era uma gordinha atarracada de cabelos presos pintados com um loiro escandaloso e
Carlos era um negro magro com roupas mais no estilo do Agostinho Carrara! Achou engraçada a situação.
E passaram as próximas meia hora recebendo os amigos do Roberto, todo mundo adorava ele, cumprimentava outros o abraçavam, policias,
agentes, servidores públicos, taxistas, motoristas, empresários, vereadores e deputados. Todo tipo de gente apareceu e era impressionante
a variedade de gente e pessoas que conhecia, todos falando com ele como se fossem melhores amigos, a cada pessoa a dúvida se sabiam
do real Roberto o assombrava, mas uma coisa era certa, ninguém fez pouco caso ou olhou diferente para o Leo, alguns o parabenizavam,
outros davam as mesmas recomendações e elogiavam o casal. E é claro veio o Serjão ainda com a mesma namoradinha e duas amigas.
Antes mesmo dele chegar Leo já se adiantou.
- Nem pense em repetir a mesma gracinha do clube! Disse sério e sorrindo enquanto eles chegavam perto.
- Nem me passou pela cabeça isso. Sorriu dissimulado e olhando com cara de safado pro amigo se aproximando.
- Serjão, que bom você poder ter vindo. Foi apertar a mão e ele puxou e deu abraço apertado no amigo desejando felicidades.
- Grande Beto, até que enfim chegou o dia eim? To feliz por você sabia? Muito mesmo, te amo como um irmão. Deu aquele sorrisão
enorme e foi cumprimentar o Leo.
- Parabéns Leo, estou muito contente por você ta fazendo meu amigo feliz, ele significa muito pra mim viu? Deu um abraço de urso e
entendeu a cara de safado do Roberto, ele de sacanagem pediu pro amigo usar o perfume que mais gostava só pra atiçar. Provocando ele e
fazendo o cheiro voltar todo na memória.
- Obrigado Serjão, muito importante pra mim sua aprovação! Enquanto Roberto cumprimentava a namorada e as amigas, Jorge chegou
perto e a arapuca se fechou.
- Beto pode tirar uma foto nossa? Aí entendeu qual era a piada.
- Claro Jorge, fica você e o Serjão do lado do Leo. Vai ficar bem bonita. Sorriu malicioso e puxando o celular do bolso. E quando foi tirar
uma simples foto, os dois pegaram o Leo no colo cada um com uma metade e disseram juntos, pode tirar. Ele nem teve tempo de reagir. E
como já era combinado todo mundo começou a rir, Leo ficou todo encabulado.
- Essa foto vai pro meu protetor de tela! Disse Roberto, ele saiu com a cara toda vermelha de vergonha.
- Sabia que tinha uma zoação. Falou tentando salvar a pouca dignidade que tinha sobrado. Todo mundo riu e o abraçou desejando
felicidades, então o grupo desceu para a parte da festa.
E os convidados não paravam de chegar, Leo tentava memorizar os nomes de cada um, mas era impossível. Roberto sabia o nome de todos
e de quem trazia, e vinham dessa vez gente da prefeitura, da área da saúde, agentes de transito, caminhoneiros e mais gente de até outra
cidade. Estava com vertigens já, então a primeira surpresa pra ele apareceu. Alguém que ele nunca pensou em ver deu as caras a trabalho.
- Onde ponho isso seu Jorge? Apontando para mais e mais caixas de cerveja. Era o Valter, a paixonite de colégio que estava trabalhando
num bico justo hoje e aqui nesse lugar. Não disse nada e foi discreto, mas pensou se foi coisa do Roberto isso. Esperou pra ver o que
aconteceria em seguida se ele reconheceria ou se ia falar com ele.
- Pede pro pessoal levar lá pra baixo, só seguir os convidados.
- Leo? Falou um pouco surpreso. Leo virou fingindo o máximo de surpresa possível e disse se esforçando o tanto que pode parecer o mais
natural possível sua reação. Queria na verdade dizer um monte de desaforos, mas sabia que Roberto e o Jorge não iam gostar, seria
deselegante demais. Roberto tinha prevenido que Jorge não tolerava que ninguém fosse destratado na fazendo, isso era inadmissível.
Conteve sua raiva e com um sorriso.
- Valter? Olha que surpresa ver você aqui hoje!
- O que você ta fazendo aqui longe de casa? Ta perdido é?
- Hoje é a festa do meu noivado uai! Ele arregalou os olhos e achando que era brincadeira de mal gosto e o questionou na hora.
- Quem foi a louca que vai casar com você? Foi a deixa para aparar as arestas que a muito tempo lhe incomodava. Roberto educadamente
o cumprimentou e estendeu a mão.
- Louca não, louco. Prazer sou o namorado dele e futuro marido. Disse sorrindo e sem ser sarcástico e insolente. Valter incrédulo nem teve
resposta. Então ele continuou.
- Valter não é? O Leo me falou muito bem de você, quando terminar o trabalho fica com a gente pra festa. Adoraria te conhecer e ouvir as
histórias da época de colégio. Foi um choque e tanto, mas assumiu o controle da situação e disse.
- Beto você e o Jorge podem receber um pouco os convidados, quero trocar umas palavrinhas de cinco minutos, pode ser?
- Vai lá Leo, a gente cuida de tudo! Disse Jorge enquanto Roberto sorria amigavelmente com a sugestão. Andaram um pouco e ficaram
perto dos carros se ninguém pra escutar a conversa, Valter disse sem embromação.
- Como assim vai casar? Ta de brincadeira é?
- Não estou não. Já tem quatro anos que estamos juntos e decidimos morar juntos e casar? Qual é a surpresa nisso?
- Porque não me falou? E porque você sumiu?
- E muita cara de pau sua falar isso né?
- Você ainda tá com raiva por que não fui pra festa né?
- Estou e muito, mas feliz por tudo ter dado certo.
- Oxi, como assim dado certo? Não vai se casar e ta achando ruim?
- Conheci o Beto naquele dia, fiquei me sentindo muito mal depois do bolo que você me deu e fui pra casa a pé. Encontrei ele, curtimos e
estamos juntos até hoje. Tinha que desentalar isso.
- Leo, não pude ir por que estava namorando, quase ia pra lá ver você, mas ela chegou primeiro e não pude sair.
- Tamanho velho algemado pela mulher!
- Por que não me disse que gostava de mim? Aquilo foi demais pra ele, se não explodisse e botasse pra fora ia estourar depois com alguém.
- Caralho, o que queria que eu dissesse? Fui lá pra isso sabia? Tive maior briga em casa pra poder ir pra aquela merda, meu pai pegou
mensagens de rascunho que ia mandar pra você e daquele dia foi um inferno. Tava carente e queria alguém. Mal tive coragem pra chamar
você pra sair. Já estava tremendo e tentou se controlar.
- Eu não sabia disso. Pareceu sentido de verdade.
- Claro que não sabia e nem fez questão de ligar, quanto tempo depois ligou ou respondeu alguma mensagem minha?
- Também tive problemas em casa se quer saber. Ele olhou furioso e faltava um pouquinho para não partir pra agressão. Ia ser uma confusão
dos diabos e ninguém merecia um vexame desses.
- Não posso nem xingar sua mulher por que nunca vi a cara dela. Escondeu ela de proposito pra escapar da minha ira né? Virou de costas
apertando com força a madeira da cerca.
- Leo, olha pra mim seu filho de uma puta arrombado do caralho! Valter disse nervoso e já sabia que se virasse ia ter briga de verdade.
Olhou de afronta e petulância.
- Você pode me perdoar? De verdade? Toda ira se dissipou como fumaça e a magoa foi embora num instante.
- Posso né? Fazer o que? Larguei tudo pra viver com o Beto. Queria lagrimar mais sabia que não podia fazer isso.
- Ele te ama e te faz feliz? Perguntou sério e parecendo preocupado.
- Acho que nunca vou encontrar outro dele nessa vida!
- Então eu também estou feliz! E foi até ele e estendeu a mão.
- Estou perdoado?
- Só se ficar pra festa e eu te apresentar ele pra vocês se conhecerem.
- Comer e beber de graça na festa do meu melhor amigo? Quer um serviço melhor que esse?
Voltaram juntos pra recepção e foi apresentar ele melhor.
- Beto, Jorge, Vanessa esse e o Valter. Meu amigo da época de escola. Valter esse é o Roberto, amor da minha vida.
- Prazer Roberto, desculpa pela demora. É que certas pessoas são cabeça duras demais e temos que explicar direito se não ficam meio
confusas sabe?
- Prazer Valter, pode me chamar de Beto viu? Se é amigo de muito tempo é nosso amigo também! Deu um sorriso de satisfação e um
aperto de mão forte.
- Cuida do meu amigo viu? Você deve ter mais paciência que eu! Se empacar como uma mula que “é”, só da uns corretivos nele nas
costelas que rapidinho se ajeita. Pessoal, obrigado pelo convite, deixa eu terminar o serviço e já desço pra aproveitar um pouco. Agradeceu
a todos e foi ajudar os funcionários a descarregar as coisas.
- E aí? Desabafou? Disse Roberto.
- Você quase brigou eim tio? Disse Vanessa.
- Apostei que não faria isso! Disse Jorge
- To mais aliviado! Falou Leo recuperando o folego e vindo mais gente. Não quis olhar pra ninguém e se focar em receber bem os
convidados, mas sentiu aliviado por ter desabafado, se tivesse em outro lugar ia ser uma discussão longa. Mas tudo se resolveu bem e se
obrigou a sorrir e deixar tudo de lado. Enquanto vinha mais gente escutou o barulho de mensagem, viu que era do Valter com a frase, “Só
pra você saber eu teria dito sim se tivesse me falado antes!”. Soltou um palavrão sem querer e se ele tivesse no raio de visão tinha dado
um cotoco pra ele. Nem olhou para o Roberto por que já estava sendo observado, não ia dar esse gostinho pra ele agora. Ajeitou a cara e
como se nada tivesse acontecido sorriu e estendeu a mão para o próximo convidado que nunca viu na vida.

Parte Final

Já tinham chegado bastante gente dos amigos que o Roberto convidou, a família dele veio de van trazendo todo mundo junto. Seus pais,
seus filhos e seus irmãos. Tinha também alguns sobrinhos e um primo. Mais do que suficiente na opinião dele. Não se importava com os
outros mesmo que tratasse todo mundo bem, não tinha vínculo emocional com eles. Na família dele foi um comentário só a publicação nas
redes sociais, mas estava cagando pra isso e se esses parentes não falassem com ele ou mesmo se nunca mais o vissem ia ser um alivio.
Um vizinho tinha ido por conta própria e foi muito bem recebido pelos anfitriões, então teve mais uma ponta solta que ele não sabia do
Leo, um advogado veio com a família, o seu Manfredo Dourado Serafim e Roberto já era muito familiarizado com ele, convidou por que
tinha trabalhado nos “causos” do interior e se davam muito bem. Veio ele e a esposa Mirian, seus dois filhos, um casal e cada um com seu
cônjuge e a neta do mais velho. A surpresa dos convidados foi que o Leo já conhecia o filho dele, Franco e parece que foi outra paixonite
não correspondida da época da escola, mas essa ele não sabia.
O filho do seu Manfredo era de um rapaz bem afeiçoado, cabelo pretos e encaracolados, olhos expressivos e observadores. Tinha uns 1,76
de altura e era branco. Devia pesar uns 110kg mas não fazia o tipo gordo e sim com uma postura de atleta, uma boca pequena e barba por
baixo como a moda ditava hoje.
- Seu Manfredo, que prazer o senhor ter vindo com a família! Apertou a mão dele forte e ele o cumprimentou, apresentando a família, mas
não olhando para Leo.
- Beto essa é minha esposa Mirian, meu filho Franco e sua mulher Jessica, minha neta Beatriz. Essa é minha filha Barbara com o noivo
Pietro. Todos cumprimentaram e seu Manfredo olhou para Leo e apertou a mão dele com firmeza e força.
- Leo, quanto tempo eim? Que bom que está bem e com saúde! O Beto é um velho amigo meu de outros tempos. Por que sumiu de casa
meu filho? Sentimos sua falta nos fins de semana. Roberto deu uma levantada de leve na sobrancelha e discretamente perguntou.
- Já conhecia o seu Manfredo Leo?
- Ele é amigo da época de colégio do meu filho, frequentava muito em casa, mas depois sumiu. Disse olhando com curiosidade.
- E aí Leo? Disse Franco e Roberto calculou a idade da filha com o tempo de namoro e a conclusão foi óbvia!
- Passei por uns problemas seu Manfredo, problemas familiares. Me afastei de muita gente mas agora to melhor e vocês vieram na melhor
parte da minha vida.
- Que bom que tudo se resolveu Leo, minha família gosta muito de você sabia? Já tinha conhecido minha neta? Beatriz? Ele gentilmente
tirou dos braços da mãe que não escondeu a cara de insatisfação e fez com que ele pegasse no colo. Jessica olhou como uma víbora e sorriu
mais cinicamente possível.
- Pode pegar Leo, ela não morde! E um amor de “filha”! Deixando em ênfase a palavra filha, tentando deixar o máximo desconfortável
possível.
- Então ela puxou a melhor parte da família! E se o Franco e seu Manfredo deixarem, seria uma honra ser um tio M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-
O por parte paterna! A veia da testa faltou arrancar de tanta força que fez pra sorrir! Ninguém se meteu no embate dos dois e a luta
prosseguiu.
- Ela já tem tios maravilhosos Leo, um a mais e um a menos não faz diferença. Retrucou.
- Sempre acreditei que na família do seu Manfredo e da dona Mirian tinha gente de bem! Agarrou a pequena Beatriz que instintivamente
o abraçou e ficou sorrindo pra ele.
- Também acho, por isso me casei com logo com ele, não perdi tempo. Debochou ironizando.
- Todo mundo sabe que nunca perdeu tempo, isso deve ser uma habilidade especial, já eu precisei de quatro anos bem vividos pra tomar
uma decisão que se DEUS quiser vai ser pra sempre!
Roberto e o seu Manfredo olhavam para a disputa dos dois e sentiram que o ódio entre eles era palpável, então apartaram a briga e foi a
dona Mirian que pegou a neta e o seu Manfredo encerrou tudo.
- Beto o Leo é uma pessoa muito especial pra minha família e pro meu filho, cuida muito bem dele viu? Se todo mundo tivesse alguém
como ele estava feito na vida. Seu Manfredo abraçou Leo de forma paternal e deu um beijo na testa desejando felicidades. Sua esposa fez
o mesmo entregando a menina para o avô e dizendo para um dia aparecer por lá. Ele agradeceu e recebeu cumprimentos simplórios da
irmã e o noivo para enfim chegarem no fim do conflito.
- Parabéns Leo, muito feliz por você viu? Seu Roberto, Leo é um amigão, cuida bem do meu amigo viu? Depois conversamos melhor pode
ser? Falou tentando não provocar um novo conflito, mas a esposa não deixou passar essa.
- Parabéns Leo, eu e o Franco vamos adorar colocar a conversa em dia com você. Deu um beijo no rosto dele e achou que iria derreter e
murchar de tão toxica que era essa garota. Ele fez menção de ir abraçar o amigo e ela deu um beliscão nele que ficou no mesmo lugar.
- Vou adorar, não perderia por nada do mundo falar com vocês! Piranha ordinária, pensou tão alto que até achou que tinha falado em voz
alta. Então a família desceu e foi para a parte da festa.
Roberto, Jorge e Vanessa ficaram olhando para ele pasmos, e se assustou quando os três o encaravam querendo entender o que tinha
acabado de acontecer ali.
- O que foi? Perguntou ele espantado.
- Que diabos foi isso Leo? O que foi tudo isso que a gente viu? Roberto ficou surpreso e mais e mais convidados chegavam.
- Ah aquilo? Não suporto ela e nem ela me suporta, toda vez que a gente se encontra é assim. Só não quando estamos sozinhos, fingimos
que nenhum de nós existe.
- Tio Leo, fiquei com medo e não gostei da cara dela. Vanessa respondeu um pouco surpresa.
- É Leo, foi muito rude isso. Jorge comentou franzindo o cenho e sendo a primeira negativa de hoje.
- Jorge, ela me detesta por uma série de razões, pra ela todas plausíveis. E por infelicidade do destino encontro ela aqui. Depois conto pro
senhor toda história.
- E vai contar mesmo Leonardo, conheço o seu Manfredo a bastante tempo e nunca iria imaginar que tu era “amigo” do filho dele. Dando
uma ênfase clara no amigo, ele entendeu a mensagem.
- É por isso que nos odiamos! Mas me dou super bem com a família dele.
Pelo que ele conhecia das histórias e paixonites do Leo, esse aí deve ser o mais próximo que chegou. E se seu Manfredo gosta dele é sinal
que é muito considerado pela família, agora sim ficou animado pra saber dos detalhes, já imaginava como devia ter sido se tratando dele.
Se pegou na ideia absurda dele desistir de tudo e voltar pra algum ex que nunca teve nada. Impossível! Mas achou a ideia divertida e com
certeza iria atormenta-lo se a história não fosse convincente. Será que teriam mais dessas hoje? Leo virou espontaneamente pro Jorge e
com humildade pediu desculpas e o abraçou, com Vanessa mesma coisa e falou a mesma coisa que disse no quarto, para terem paciência
com ele, estava muito ansioso e nervoso, mas se esforçando muito pra não fazer alguma merda.
- Fica tranquilo viu Leo, esquenta não que está tudo bem. Jorge continuou abraçado e Vanessa também abarcou os dois, enquanto Roberto
recepcionava mais gente.
Então como se fosse providencia divina, os ônibus que ficaram responsáveis pelo seus amigos chegaram. Ele mudou de estado de espírito
na hora e ansioso pra ver quem tinha aceitado o convite. Eles encostaram do lado da cerca e então desembarcaram seus amigos. São esses
momentos que fazem valer a pena na vida da gente, pensou Roberto vendo a explosão de felicidade no rosto do seu amado, queria ter
filmado isso, mas esqueceu. Até o fatídico episódio anterior não lembrava mais, quando os primeiros que desceram foram o pessoal do bar
do Tonho.
Vieram o Alexei e Mateus, cada um com suas clássicas mochilas. O professor Nobre, primo Ricardo e primo Bobô, professor Marcos, Joe
e o Marcelinho, filho do dono da empresa de ônibus. Charles, Rogerio Negão, Jonathan, Varney, Soldado, Galo Doido, Seu Lunga, Bob
Marley e o Fuinha. Macaco Louco vinha com o Gordo do Taxi, Diva e o Rosto de Alienígena, trio fracasso Negão fuzileiro, Nako e
Valterzinho também vieram. Do Rpg veio várias pessoas que não tinham convidado, mas ficou feliz mesmo assim. Sua mesa estava lá,
Digimon, Snorlax, Sheeta e Artur Panda. Nossa, nem acreditava que vinha alguém desse povo. Também veio atrás Biscoito, Leitoso, Sem
Mente, e Limão Grab. Meu Deus, esse povo todo junto, misericórdia senhor do céu! Até os antigos vieram, Xandi, Teiú, Messias, Cara de
Morte, Careca, Lazaro e Lucas Vigilante. Um verdadeiro batalhão nerd!
Roberto colocou a mão no ombro do Leo, trazendo de volta pra realidade e falou baixinho. “É o seu momento, aproveita o máximo!”. E
ficou do lado dele com o Jorge de um lado e Vanessa do outro.
Todo mundo chegou e Leo estava eufórico, apresentou todos um por um, Roberto, Jorge e Vanessa. Todos foram muito educados mas
ficaram secando a sua sobrinha e alguns sem nem disfarçar. Jorge passa constantemente por isso, pessoas assediando sua filha e só fez um
gesto para demarcar um limite permanente, pôs as mãos no ombro dela e só tirava se alguém fosse cumprimentar. Alexei e Mateus
abraçaram os dois juntos Roberto e ficaram muito felizes por tudo que estava acontecendo de bom na vida deles e desejaram muitas
felicidades. O Gordo do Taxi e a Diva abraçaram Leo e o parabenizaram.
O outro ônibus veio muitos conhecidos que não tinham recebido o convite pessoalmente e ele não ligou, queria estar no centro de tudo,
todo mundo abraçou Leo e o parabenizou, mostraram o devido respeito ao Jorge e sua filha e é claro, cumprimentaram Roberto. Mas
Mateus e Alexei esperaram um pouco os outros irem e tiraram da mochila um presente pra cada um.
- Pra vocês lembrarem da gente, é simples mas é com muito carinho e amor! Os dois pacotes eram porta-retratos iguais com duas fotos do
Bar do Tonho, uma só eles dois e a outra os quatro juntos. Roberto adorou e deu um abraço forte em Mateus e depois no Alexei.
- Obrigado, vamos guardar com muito carinho. Leo abraçou cada um e eles foram direto pra festa.
- E esse é meu presente, mas é só pro Leo ta bom Beto? Tirando da mochila e embrulhado num pacote de presente vermelho. Pelo formato
era um livro grande e de capa dura. Ele abriu o embrulho com cuidado pra não estragar o papel e quase desmaiou quando viu o que era,
não conseguiu manter a compostura e berrou alto.
- AAAAHHH! Você terminou o livro! Puta que pariu caralho porra! Ai meu Deus do céu. Olha isso Beto! Ele surtou com o título do livro,
Crônicas do Reino Ametista por Mateus L. M. e Leonardo Souza Oliveira! Deu o livro com cuidado pro Beto olhar e abraçou com força.
Roberto foleou o livro, viu que tinha uma dedicatória na segunda página e as ilustrações eram todas dele. Ficou muito feliz por essa
conquista, mostrou pro Jorge e Vanessa que amaram mesmo não entendendo absolutamente nada sobre RPG. Já ia preparando o ouvido
porque uma noite quando voltasse pra casa ia ouvir uma história longa sobre esse trabalho. Se despediram e foram para a festa.
Como essa parte já tinha terminado e se alguém chegasse poderia descer para as festividades, faltando então apenas Simone e sua trupe.
Os três concordaram em logo comer alguma coisa e estavam loucos para beber. Já tinham ligado o som e tocava sertanejo, a os grupos
então foram se formando cada um com sua afinidade. Os dois se dividiram e cada um foi conversar com conhecidos, Jorge ficou com
Roberto e foram beber, sentaram numa mesa de com amigos, serviram as carnes e brindaram. Leo ficou com Vanessa e os dois foram ir
em cada mesa cumprimentar todos. Claro que os amigos ficavam secando ela, mas os dois nem ligaram, o dia era dele e iria aproveitar.
Ele apresentou um por um, explicando os grupos de amigos e como eram, ela prestando atenção em tudo. Conversam e riram muito e cada
para de mesa, era um gargalhada. Tinha muita comida e bebida a vontade, todos se divertindo e rindo muito. Vanessa deu o braço para o
Leo e continuaram sua turnê por entre os convidados.
Tinha gente demais, a música tocando na altura certa e onde se viam as pessoas o cumprimentavam e acenavam. Recebia abraços,
saudações e lembretes, e para ele isso era muito bom, mas faltava a parte principal e não ia ficar melancólico por isso, arrumou a cara na
mesma hora. Vanessa ouviu o chamado do seu pai pedindo a atenção do Leo, era Roberto apontando para ele olhar o celular. Tinha uma
mensagem de texto dele, “olha o Facebook agora”. E quando abriu as trezentas mensagens viu uma em especial. Os dois se olharam de
longe e deu um sorriso, era o Bernardo desejando felicidades e solicitação de amizade. Aceitou e guardou o celular.
- Sabe tio, vocês se dão muito bem sabia? Fazia tempo que não via o tio Beto tão feliz assim, diferente. Puxando ele de mais uma divagação.
- Serio? Obrigado Vanessa, amo muito seu tio sabia? E vocês também, só tem paciência tá? Puxou ela para um abraço e foram andar entre
os convidados.
Pediu uma cerveja e tomou um pouco, sempre conversando com alguém e acenando. O local estava lotado de pessoas, as mesas estavam
ocupadas e todas se servindo ou pedindo alguém para ir buscar. Falava com um e com outro. Estava a ponto de surtar, mas gostava do
sabor da felicidade, esqueceu as coisas tristes e focou no futuro. E sem saber, Vanessa estava conduzindo ele para o chapéu de palha maior
e pediu uma música, foram dançar. Totalmente desajeitado e fora do ritmo, mas ela com paciência conduzia-o de um lado para o outro.
Lembro do pedido de casamento, naquele fatídico episódio. E lembrou do Beto dançando com a Simone, como os dois eram perfeitos
juntos. Mas falando nela, por que diabos a Simone não tinha chegado ainda?
O pessoal foram aglomerando no chapéu de palha e cada com seu par dançando ao som agora de forró. Leo até que estava gostando de
dançar e aos poucos estava se soltando, como naquela noite. Tinha ido além das expectativas, e enquanto sua parceira girava ele via as
mesas dos amigos todo mundo rindo, bebendo e se divertindo. Uns batendo palmas outros dançando na mesa mesmo. Roberto olhava de
longe, vigilante como sempre o que ele fazia. Passaria tudo de novo se ele fosse feliz desse jeito, mas já estava incomodado com a demora
da Simone, já era umas 14:00 e nada dela aparecer.
Roberto conversava com vários amigos de trabalho, colegas que tentavam se aproximar e outros curiosos, ele os tratava muito bem sempre
educado e com sorrisos. Começou a andar pelo lugar e sempre recebia cumprimentos, as vezes se juntavam com quatro ou cinco colegas
e dançavam. Abraçava crianças e parava pra responder perguntas de todos com a curiosidade sobre o relacionamento e o Leo. A maioria
questões repetidas. Nada muito interessante.
De longe viu uma pequena discursão na mesa do seu Manfredo e foi lá para ver o que era e também por curiosidade. Seu filho estava
discutindo com a esposa e o pai, ao que parece já sabia qual era o motivo. Então foi lá prestar alguma ajuda.
- Seu Manfredo, dona Mirian posso ajuda-los em alguma coisa? Disse sorridente e prestativo.
- Claro Beto, pode levar o Franco pra dar uma volta só vocês dois por favor? Ao que parece alguém quer estragar a festa aqui pra gente.
Falou tentando ser o máximo polido e tentando evitar uma briga generalizada.
- Pode deixar seu Manfredo, vamos Franco? Aproveitamos e conversamos um pouco. Deu um sorriso simpático e estendeu a mão pro filho
do seu amigo.
- Ele não vai não! Vai bem ir atrás de conversar com esse Leo. Tem que ficar aqui comigo e a nossa filha. Roberto decidiu imediatamente
que não gostava dela e sentiu de longe o cheiro de puta interesseira. A esposa e a filha do seu Manfredo estavam ao máximo evitando fazer
uma cena, mas parece que se não tomasse as providencias necessárias essa aí iria estragar a festa pra eles. Então chegou o mais próximo
que pode dela e fez o que sabia fazer de melhor, além de matar pessoas. Usou sua intimidação, só um pouquinho pra não traumatizar essa
guria.
- Fica quieta e sentada, vamos Franco procurar o Leo agora! Roberto jogou sua energia negativa no olhar e fez uma cara tão feia que atingiu
a moça como um raio certeiro, se ela tivesse em pé cairia de bunda no chão estatelada. Ela recebeu apenas uma fração da carga energética
e congelou quando olhou dentro dos olhos do Roberto e viu que ele exalava um perigo extremo. Sentiu que estava totalmente a mercê
desse predador. Com a sua voz imperativa a pobre menina paralisou e nem conseguiu falar nada. Ele continuou olhando fixamente torcendo
pra que Jessica tivesse algum resquício de força de vontade para com prazer jogar uma carga ainda maior, vendo que tinha resolvido a
situação segurou na mão do rapaz e foram embora.
- Difícil essa sua esposa eim? Falou Roberto e observando de perto o rapaz.
- Complicado ó, nem me fale disso por que já estou ficando de saco cheio. Falou suspirando enquanto se afastavam da mesa.
- Quer conversar com o Leo? Perguntou com sua já costumeira voz tranquila e já dissipada aura assassina.
- Ela não gosta dele por causa de mim e ainda por cima é muito ciumenta, um saco isso.
- Entendo, mas ela deve aprender a tratar os outros com respeito. Não foi legal da parte dela como convidada fazer o que fez com o Leo.
Não me meti por que achei que era uma questão pessoal, mas uma segunda vez não.
- Eu sei seu Roberto, mas isso já acontecia antes e por causa dela e de um amigo meu que não gosta dele, o Leo deixou de ir lá pra casa
esse afastou. Já tem uns quatro anos isso. Roberto reparou que ele estava falando francamente esses assuntos e se fosse mais delicado e
discreto ia saber a questão de uma outra perspectiva. Não deixou de notar que o seu pai devia ter falado o que ele precisava saber sobre a
amizade dos dois e quais foram seus negócios, se ele estiver certo esse ai vai logo logo trabalhar com o pai nos mesmo assuntos em comum.
- Pode me chamar de Beto por favor, sou amigo do seu pai a muito tempo e se me permitir gostaria de ser seu também. Posso lhe abraçar?
Um pedido simples para ver se ele tinha a mesma educação do seu Manfredo.
- Claro que pode Beto, o pai me contou muitas histórias de vocês. Então Roberto deu um abraço apertado e confirmou apenas a primeira
parte, veio uma outra.
- Poderia me explicar com franqueza antes da gente falar com o Leo o que aconteceu realmente entre vocês? Ele fez uma carinha meiga
sorrindo indicando um lugar para sentarem e conversar.
- Seguinte Beto, conheci o Leo através de amigos em comum e ele sempre foi gente fina pra caramba e peguei amizade com ele. Mas tenho
um amigo que não gosta da nossa amizade e eles se odeiam demais. Então demorou um pouco pra falar o que já desconfiava, Roberto deu
uma tranquilizada colocando a mão na coxa do rapaz e pedindo pra continuar.
- Eu já tinha ouvido algumas coisas sobre ele mas nem liguei muito por que era um amigão meu e quando começou a frequentar em casa,
minha mãe achou ele muito educado, diferente dos malas que conheço. Meu pai logo de cara sacou qual era a dele comigo e deixou rolar
a amizade, tipo... Ficou um pouco constrangido de continuar.
- Deixa eu adivinhar, seu Manfredo pegou o Leo olhando pra você com cara de leso enquanto achava que ninguém estava vendo e como
ele não fala de meninas sacou na hora. Só permitiu que frequentasse a casa de vocês por que ele não é afeminado e afetado ne?
- Na mosca! Mas esse amigo meu se juntou com a Jessica contra ele e fizeram uma sacanagem num churrasco em casa no fim de semana,
fiquei puto da cara e ele foi embora chateado e com razão. Disse se lamentando do episódio.
- Os dois jogaram piadinhas e indiretas no churrasco na frente de todo mundo e ele mordeu a isca, seu Manfredo não disse nada contra e
nem a favor dele, se sentindo acuado e sozinho foi embora não falando nada por respeitar a casa de vocês não é?
- Exatamente! Vidente você eim? Depois eu fui procurar ele e pedir desculpas mas não conseguir encontrar. Meu pai proibiu esse amigo
de frequentar em casa e só permitiu a Jessica por que eu falei que ela podia estar gravida e ele ia ser avô.
- E sabe por que seu Manfredo não disse nada nesse episódio? A resposta era simples, mas vamos ver como ia ser o raciocínio desse
menino.
- Soube só depois, era pra eu saber lidar com situações e saber quem era meus amigos e quem não era. Por isso fui pedir desculpas pra ele.
Daquela época falo com muito pouca gente, mas gostava do Leo por que tínhamos uma certa sintonia de ideias. Nem me importava dele
ser gay ou não. O de menos isso. Tadinho do Leo, o que a carência não faz. Mas ia esperar ver se a história dele desaguava onde suspeitava.
- Então esse “amigo” começou a falar mal dele pra muita gente e eu não gostei. Falou que ele era interesseiro e tudo. Nada haver isso.
As pessoas iam e vinham cumprimentando os dois e Roberto afastava com gentileza, sorrindo pra todos mas achando que faltava mais
alguma coisa.
- E o que mais que aconteceu? Pediu pra continuar a história.
- No meu aniversario mandei um convite pra ele com antecedência e meu pai escreveu atrás que ficaria muito feliz se ele aparecesse, ele
não veio e mandou um amigo dele levar um presente pra mim. Um envelope com um desenho com um cartão dizendo parabéns e só.
- Essa é mais fácil ainda! Era um desenho que lembrasse vocês dois, algo bem discreto e você guardou e um belo dia ele desapareceu e do
nada o Leo ficou sabendo que você tinha jogado fora não é? Disse sorrindo.
- Caralho, ta lendo minha mente é Beto? Ele não te falou isso não ne? Achou engraçada a cara do rapaz e fez sinal pra prosseguir.
- Foi a Jessica com certeza, sei que foi. E quem espalhou até chegar no ouvido dele foi esse amigo. Quando fui procurar o desenho ele
tinha sumido, ia emoldurar e colocar na parede da sala, mas ela chegou primeiro. O pai disse que era pra eu por um freio nisso que um dia
ia me dar mal se continuasse. Beto sou muito orgulhoso sabia, muito mesmo e teimoso, mas sei que fui errado em não falar nada. Vim
hoje pra me redimir e não implorar, se ele não quiser conversar paciência ne? A vida que segue.
- Tenho duas questões Franco, a primeira é que acho difícil ele aceitar de cara, não estou falando pra você se rastejar. Mas ele ta na fase
da teimosia. Acho que se você só o desse um abraço forte e sincero não precisaria dizer nada, ele perdoaria tudo e tempo ao tempo, um
passo de cada vez na amizade de vocês dois. Segunda questão, resolva logo isso com sua mulher antes que vire uma bola de neve, filho
não segura ninguém, mas as responsabilidades sim. Se for como seu pai, vai tirar isso de letra.
Ele ficou pensativo por um instante e já era hora de acabar com isso de uma vez. Roberto levantou e agradeceu pela conversa e deu mais
um aviso.
- Franco, sou muito amigo do seu pai e se quiser posso ser seu também, não sei o tanto que seu pai disse a meu respeito, mas se no momento
de necessidade aparecer vou estar lá pra você. Faça as pazes com o Leo da forma que for melhor e apareça pra nos visitar quando quiser,
vou ter um prazer enorme de ver vocês dois juntos. Deu um aperto de mão forte e ele puxou para um abraço sincero, mas não do último
aviso.
- Franco, não sei o quanto você gosta dessa menina, mas ela só fez o que fez com o Leo por que é uma festa e eu não gosto de ser um mal
anfitrião. Enquanto eu existir ninguém vai maltratar ele, espero que eu nunca saiba quem é esse “amigo” seu.
Franco compreendeu que a ameaça não era pra ele, mas um aviso que o amigo não estava mais sozinho e tinha alguém por ele. Gostou
muito disso e mesmo não sendo direcionado pra si, curtiu a aura ameaçadora do Roberto. Acho que vai ser bom reatar a amizade com o
Leo e se aproximar do namorado dele, pra eventualidades futuras. Abraçou pela cintura e foram enfrentar a fera.
O chapéu de palha principal estava apinhado de casais dançando forró, muita animação e a cada mesa que passava amigos e conhecidos
chamavam Roberto para sentar e conversar um pouco, ele acenava dizendo que ia voltar rapidinho e com o Franco foram serpenteando por
entre os convidados até avistarem Leo dançando com sua sobrinha Vanessa e já melhorando sua performance. Ela visualizou os dois e ele
sinalizou pedindo surpresa com o dedo indicador. Se esquivaram dos casais e Leo ouviu a voz do Roberto no seu ouvido.
- Leo! Ele virou pra responder e estava lá os dois parados olhando pra ele e sorrindo. Ficou espantado e Franco sem deixar ele reagir só o
abraçou forte e falou algo no seu ouvido, ele parou um pouco e o abraçou de volta totalmente desarmado. Roberto viu que ele já estava um
pouco alto e rezou muito pra ele não fazer alguma besteira e estragar tudo. Leo pegou ele pelo braço e foram pra trás do chapéu de palha
e trocaram algumas palavras.
- Franco, vou casar no civil com ele. Vai ser simples e nada de igreja. Comentou do nada e totalmente aleatório.
- Que legal Leo, to muito feliz viu? Disse sorrindo e aparentemente contente de não ter sido xingado.
- Mas antes de fazer isso, preciso pular a cerca. Coisa que nunca fiz. Olhou sério e já dava pra ver que era o álcool falando.
- Para com isso vei, ta doido é? Pra que arriscar isso agora? Se lembrou das histórias que seu pai falou do Beto antes de virem pra cá.
- Não é o que você ta pensando, não desse jeito.
- Então o que é? Agora ele ficou sério.
- Você tá lindão pra caralho, e to feliz que ta construindo a sua família! Acho que é o máximo de ousadia que fiz desde que fiquei junto e
eu precisava dizer.
- Obrigado.
Colocou o braço em volta do pescoço dele e voltaram pro salão de dança. Esquecendo a história deu um tapa nos braços e foi buscar uma
bebida no freezer, todo mundo dançando e se divertindo, Leo deu um sorriso por dentro e ficou satisfeito por ter mais uma ponta solta
amarrada na sua vida. Se um dia ele aparecesse bem, se não foi bom também. Ficou mais leve e até achou o suor e cheiro de perfumes do
salão puro. Procurou um lugar pra sentar e relaxou. Acho que até perdoaria a Jessica, se ela não abrisse a boca. Deu uma risada alto e
Roberto sentou do seu lado com uma cerveja na mão.
- E aí como é que foi? Falou olhando pro salão.
- Desde que a gente firmou compromisso nunca trai você ou sequer passou pela minha cabeça. Dando um outro gole e continuou.
- Até hoje. Sorrindo e se controlando pra não olhar pra ele e ver a cara de espanto.
- Como é Leonardo? Não está me dizendo que beijou ele ali atrás? No meio de todo mundo? Ficou surpreso e já visivelmente querendo
alterar a voz, mas o garoto continuou.
- Fiz pior! Falou mais sério ainda por fora e se controlando pra não explodir de rir.
- Você pode ser tudo nessa vida, mas louco eu sei que não é? E o que você fez, pegou no pau dele é? Essa quase estragou a piada e por
pouco não gargalhou na cara dele.
- Não, foi bem pior e sacana. Aproveitei mesmo.
- Não abusa da sorte pivete, to te falando! Já estava ficando nervoso e ansioso. Então era assim que ele se sentia quando o Roberto fazia o
mesmo. Virou pra ele bem sério e disse.
- Fiz o que tinha que fazer com o tempo que tinha, igual galo. Disse a verdade, que ele tava gostoso pra caralho! Antes dele falar alguma
coisa viemos pra cá! Fazendo força pra não rir ainda.
- Ah seu moleque filho da puta, não brinca com a morte não eim? E viu que era um a piada, então o garoto caiu na gargalhada bem alto
que faltou se mijar de tanto rir! E quando olhou pra cara emburrado do Roberto riu mais ainda e deu um beliscão de leve na bochechona
dele.
- Ciuminho eim? Deu um abraço nele e ficaram juntos em cima da mesa de pedra quando ouviram o som abaixar o volume e Simone tinha
chegado. Ela e sua banda com alguns amigos, estavam trazendo os instrumentos e mais aparelhos para preparar pro show. Ela estava com
uma calça jeans preta, rasgada entre as coxas e uma regata branca. E de óculos escuros completava o visual de roqueira tocando forró e
sertanejo. Simplesmente linda. Quando viu os dois ela correu e os abraçou dando muitos beijos, olhava para eles e sorrindo.
- Que festão eim? Será que sobrou comida para mais três pessoas? Era o sinal combinado.
- Três pessoas? Eu, você veio com um monte de gente Simone.
- Três pessoas, eu e aqueles dois ali que fui buscar! E as pessoas abrindo passagem no salão, veio caminhando na direção de Leo seus pais
de mãos dadas, com suas roupas humildes e sorrindo. Leo paralisou congelado sem esboçar nenhuma reação, nem processou direito e do
lado da sua mãe estava dona Laura e do seu pai Jorge conduzindo os dois para o encontro que a muito tempo deveria ter acontecido.
Chegando mais perto seu coração acelerava mais e sentiu a mão da sua amiga Simone pousar no seu ombro e do seu amor no outro, os
dois o ajudaram a se levantar e não conseguindo mais se segurar, Leo saiu correndo e os abraçou chorando, os pais o abraçaram e o
beijaram muito. Nem conseguia formar alguma palavra, mas ouviu seu pai dizer.
- Filho, você pode me perdoar? A mesma voz de quando era criança, do pai que amava tanto e queria ser como ele.
- Pode me perdoar meu filho? Como esperava ouvir essa voz saindo da boca da sua mãe, como tinha esquecido disso?
Todo mundo se aproximou do reencontro e bateram palmas, ovacionaram e seus amigos gritando Leo, Leo, Leo! Ele não queria mais soltar
os dois e nem olhar pra ninguém. Tudo que sempre foi a provação deles, e eles aqui. Sentiu a mão do Roberto no seu ombro e ouviu seu
pai falar.
- Obrigado por ter cuidado do meu filho. Poderia perdoar a gente? Seu pai falou com sinceridade e muita humildade.
- Pelo Leo eu perdoou sempre. Estendeu a mão para o aperto e foi a mãe dele que o abraçou com ternura, não precisava pedir ou falar nada,
só a aceitação era o suficiente pra fazer o mundo do filho o lugar mais maravilhoso. As vezes só conversar, abrir a cabeça e olhar de forma
diferente, nunca passar a mão e sim conduzir pelo caminho correto. Era importante demais as coisas que sonhamos e lutamos pra realizar,
com perseverança e acreditar podia ao menos mudar a si mesmo para ser uma pessoa melhor. A nobreza de espirito se lapida em gestos
assim, nascemos nessa terra e estamos de passagem, pra onde vamos só depende da gente. Jorge colocou sua mão enorme no ombro magro
do pai e disse.
- Todo mundo está aqui pelos dois, mesmo tendo conhecido só a alguns dias, amo ele como se o conhecesse a muito tempo e ficaria
honrado se vocês ficassem uns dias aqui com a gente.
- Ele é agora como se fosse um filho pra mim, vai ter sempre lugar pra ele aqui quando quiser. Disse dona Laura pousando sua mão no
ombro da mãe. Os filhos então se juntaram e falaram todos.
- Ele é nosso tio agora, a benção tio Leo. Miquéias foi até ele e beijou sua mão, seguindo dos outros filhos. Todo mundo começou a bater
palmas e a aclamar. Seu pai percebeu o tanto que tudo poderia ter sido diferente entre eles, nunca sonhara ou sequer passou pela cabeça
alguma coisa desse tamanho. Reconheceu o tanto de gente importante reunidos aqui pelos dois, lembrou dos amigos dele que os maltratou
quando foram saber notícias suas. Ficou muito envergonhado pela atitude e foi ele mesmo pedir desculpas a cada um. Foi um por um pedir
perdão e não deu justificativas nenhuma. Os amigos disseram pra deixar pra lá e que era passado, mas mesmo assim ele fez questão, queria
se livrar de toda magoa que o assombrava com a ausência do seu único filho. Ninguém o recriminou ou fez cara feia, só apertaram as mãos.
Agora as correntes não eram mais dele e sentiu que o peso tinha ido embora. O perdão liberta a alma e nos leva até a presença de Deus.
Era nisso que era pra ter sido desde o começo. Um pai devia sempre conduzir o filho pro melhor caminho e a escolha era sempre dele, Leo
nunca foi um mau filho, só se sentia sozinho e queria alguém pra amar. Iria corrigir isso, queria ter seu filho de volta, queria o tempo que
eram felizes só eles três, mas abriu seu coração pro amor que ele encontrou e seus amigos. E teria que aceitar que filhos são pro mundo,
pra voar e serem livres. Nunca mais podaria ou cortaria as asas ou o sonho dele. Estaria até o fim, enquanto tivesse vida, tentaria ser o pai
que ele sempre mereceu.
- É o amor da vida do Beto e amo como se fosse meu filho. Sorrindo a já idosa mãe do Roberto.
- É o nosso tio e amamos ele. Falou juntos o Nicolas e Henrique.
- O amigo mais ciumento que eu poderia querer! Simone olhou sorrindo.
- O Leo e um amigão, tem sorte de ter ele como filho. Disse o Franco sorrindo de satisfação.
- É meu melhor amigo sabia? Falou Charles.
- O meu discípulo mais forte na Kof! Junior Macaco Louco disse rindo.
- Tenho muito orgulho de ter conhecido ele. Disse o Serjão.
E foi assim cada um cumprimentando o pai e falando coisas que no fundo ele já sabia, mas por estar cego e rodeado de falsos amigos não
via isso e tinha expulsado seu filho de casa.
- Ele é um grande homem sabia? Seu Manfredo falou.
- É alguém fora de série! Disse o primo Ricardo
- Ele salvou e protegeu meu melhor amigo! Atlas falou surgindo do nada.
- É a pessoa mais insuportável, intragável e cabeça dura que eu já amei na minha vida. Falou Valter e arrancando gargalhadas de todo
mundo.
- Foi com ele que tomei a melhor cachaçada! Bob Marley falou já muito pra lá de alto, seus amigos puxaram ele a força e cobriram ele de
socos e levaram pra fora! Todo mundo rindo.
- Foi o melhor mestre de RPG que a gente teve. Disse Digimon cheio de orgulho! E como não podia faltar, Cara de Morte disse sem a
menor cerimônias e papas na língua!
- É a pessoa mais desnecessária que poderia existir numa sessão de RPG! Essa todo mundo riu alto.
- Quando ninguém mais acreditou em mim, foi o Leo que me ajudou a terminar meu livro. Mateus falou.
E foi assim que as correntes que aprisionavam o seu Raimundo pai do Leo caíram no chão, que ele tinha um filho maravilhoso e que tudo
isso era o sonho de amor. Todo mundo apertou as mãos dos pais dele e sentaram pra se divertir. Na mesa ficou seus pais, Roberto com
Leo, Jorge e Laura. Seus filhos ficaram atrás e servindo comida e bebida. Leo ainda abraçado com seu pai ficou conversando com Roberto
e Simone com sua banda fazendo os últimos preparativos para o show!
A comida e bebida não acabava e nem fica pouco, e cada um continuava se servindo. As crianças correndo pra lá e pra cá e gente no banho
e todos se divertindo, enquanto a banda se arrumava dona Laura tirou Beto pra dançar ali mesmo. Vanessa puxou Leo e continuaram de
onde tinha parado, e para surpresa de todos a dona Francisca mãe do Leo tirou o marido pra dançar e se lembrar que foram muito bons
nisso.
Atlas pediu licença para dona Laura e tirou o amigo para dançar, tentando encabular o amigo mas sem sucesso. E bailaram pra um tempo
longe, muito longe. E um apoiou a cabeça no ombro do outro. Leo olhou achando que o Roberto merecia esse tipo de reconhecimento e
pensou sem o maior pudor, “será que ele ta tirando uma casquinha?” e deu risada de sim mesmo.
- Leo, tenho uma coisa pra te falar. Um segredo que o Beto guarda as sete chaves e ele não queria que soubesse. Com os olhos perversos
pro amigo e continuou.
- Sabia que ele sabe cantar? E muito bem? Terminou de dizer isso ele correu para atrás do Leo e o segurou como refém!
- Seu filho da puta traiçoeiro! Sabia que um dia ia falar, não se aguenta ne? E tentava pega-lo a força de trás do Leo com ele se esquivando
e colocando o menino na frente.
- Olha que se me bater conto qual é a música e como foi! Disse rindo e ainda usando o refém como escudo.
- Você me paga por essa sabia! Disse já furioso e pronto pra partir pra briga.
- Leo, ele sabe cantar muito bem e fez uma serenata pra mim na casa da minha esposa bêbado! Falou isso rindo alto e todo mundo olhando
pra ele sem entender. Roberto tentou pega-lo mas como sempre foi escorregadio saiu correndo deixando o refém pra trás e ele com a
vergonha de ter que se explicar.
- Então essa foi a declaração que não quis repetir né? Lembrou na hora da história de quando se declarou pro chefe. Mas agora queria saber
qual era a música, isso não deixaria passar batido nunca!
- Qual foi a música Beto? Prometo não rir e nem pedir pra você cantar! Falou já morrendo de ansiedade e vendo a cara de raiva mas insistiu
pra saber.
- Luna do Alessandro Safina. Leo arregalou os olhos e nem se importou se ele ia achar ruim ou não, falou logo.
- Puta que pariu, você tem o timbre desse cara? Abismado e já pensando qual seria a ocasião que iria cantar.
- Teeemmm! Gritou o chefe dele de longe e os amigos, chegando ouvindo dizer que o Beto iria cantar com a Simone, todos os colegas de
trabalho se aglomeravam e um já trazia o violão. Simone chegou do lado e disse.
- Hoje você não escapa de soltar o vozeirão! Deu um beijo no rosto e já arrumando para ele subir junto com ela. Ele fechou a cara e vendo
que não ia conseguir escapar foi em direção ao palco com a banda preparada. Com olhares de ameaça, jurou que ia se vingar do chefe e
apontou o dedo o ameaçando. Leo achou graça e foi acompanhar até o palco. Tudo se encaixou como uma luva e seus pais conversavam
com sua sogra e os novos sobrinhos em pé bem atrás, servindo comida. Tudo terminou bem até demais, e todo mundo tinha se ajeitado
para o show, com os banheiros ocupados foi até lá em cima na casa principal e se aliviou. A casa estava vazia e deu uma parada pra olhar
uma foto dele quando era mais novo. Nossa trocaria o Beto atual pelo novo na hora, riu dessa besteira e saiu da sala e escutou alguém falar
seu nome sussurrando. “Leo”
- Oi, aqui. Pensou que fosse mais uma pegadinha e não desconfiou de nada, aliás nem teve tempo de gritar. Dois homens encapuzados o
agarraram rapidamente e levaram ele pra fora por dentro do pomar. Por sorte ou providencia divina o cachorro estava por perto e latiu bem
alto, instintivamente ele o reconheceu como um morador da casa e atacou os sequestradores mordendo a perna de um deles. Leo se debatia
violentamente pra se soltar mais em vão. O cachorro pegou um chute forte no focinho e caiu, não desistindo pulou nas costas de um
arrancando um pedaço de carne. Os outros cachorros vieram e não tendo outra alternativa um deles disparou afobado. O tiro foi ouvido na
propriedade e enquanto os outros atacavam os invasores, “Gente” correu para onde estava seu dono Jorge que imediatamente gritou para
desligar o volume.
- O que aconteceu Gente? O cachorro mordeu o dono para acompanha-lo e Jorge avisou que era problema.
Todo mundo que estava armado se juntou atrás de Jorge e seguiram o cachorro, num total de quase trinta homens, e Roberto gritou.
- LEO! Sem resposta, um frio na espinha gelou seu sangue e junto com Atlas foram com os homens para o pomar, achando o rastro de
sangue e ouvindo o barulho de um carro ligando e tiros. Atlas assumiu instantaneamente o controle da situação, estavam sequestrando o
Leo bem debaixo do nosso nariz. Alguém atirou revidando, mas ele falou pra não fazer isso, podia acertar o Leo. E por entre as arvores
conseguiu ver eles com o refém e acelerando o carro! Um ficou pra trás sendo despedaçado pelos ostros cachorros da fazenda e Gente
correu em disparada no rumo do carro seguindo o cheiro do Leo e de sangue.
Os homens correram de volta pros carros, Atlas pediu que Jorge ficasse na fazenda e ajudasse a proteger o povo e ele ia na perseguição
com Beto no carro dele, junto com Serjão e Carlos. Apontou pra que dez ficasse e cuidasse dos parentes, amigos e crianças.
Saíram em torne de dez carros todos com homens armados e preparados pela estrada de chão, aceleraram até conseguir alcançar o cachorro
e Carlos, abriu a porta e ele pulo caindo no colo dele.
Era uma S10 cinza que estavam os sequestradores, não tinham uma visão aonde estavam o Leo e não podia correr o risco de atirarem. Um
dos passageiros do banco de trás abriu fogo e pegou no vidro do carro do lado. Mas não acertando ninguém. Não tinham como os
sequestradores escaparem dessa vivos, enquanto Atlas se concentrava na direção, Beto já estava possuído pela ira assassina e espumava
sangue.
Estavam seguindo rumo a serra, teriam que ter cuidado por que um descuido seriam jogados pra fora da estrada e cairiam lá em baixo, não
podiam errar. Ele conseguia ouvir o amigo mastigando a carne da boca e empapando a camisa com sangue.
- Beto, preciso que fique calmo e concentrado. Vamos conseguir, te prometo. Mas ele não ouviu. Mais dois disparos e dessa vez um pegou
na cabeça do Serjão que morreu na hora.
- SEEEERJÃOOOOOO! Gritou Beto no banco da frente, mas o amigo já tinha morrido instantaneamente.
Os outros carros seguiam em alta velocidade e estavam quase perto do trecho mais perigoso da estrada, todo cuidado era pouco. O cachorro
começou a latir e Carlos pegou um tiro no peito e tombou. Estavam chegando perto, mas já tinha perdido dois amigos, Deus o ajudasse se
acontecesse alguma coisa com mais alguém.
- Beto, vai ter que confiar em mim. Pegou a arma, mirou e com um único disparo atingiu o passageiro do banco de trás e com o outro tiro
seu companheiro. Só tinha os dois da frente e o passageiro da frente fez menção de apontar a arma, a cabeça dele explodiu com um terceiro
tiro. Faltando só o motorista e o refém.
Mas por que Leo não levantou? Estava amarrado? Ou ferido? Não podia estar morto por que não fazia sentido esse sequestro se fosse pra
matar ele no caminho, poderiam ter feito lá mesmo sem que ninguém visse e ainda saíssem vivos. Poderiam ter matado o cachorro sem
alarde também. Tem algo errado.
- Beto, tem alguma coisa errada, volta pra mim. Roberto já estava em estado de fúria, não via nada apenas o carro e queria o motorista
vivo. Atlas fez um sinal com a mão e o carro do sequestrador já estava subindo a serra. A situação ficou mais e mais delicada. Todos os
carros começaram a buzinar mais e mais em perseguição para salvar o amigo. Subiram a serra numa estrada lateral e desceram na mais
rápido ainda, vindo de baixo apareceu um carro subindo devagar e o sequestrador desviou com extrema habilidade e Atlas também, mas
se chocando violentamente com quem estava atrás e colidindo com mais dois. Engarrafando a estrada, ficando só Atlas e Roberto atrás do
sequestrador. O fluxo de carro era menor e o sequestrador desviava no último minuto dos carros seguido por Atlas no volante, teve que
admitir que o cara era persistente, mas eles eram mais ainda e seguiram em disparada.
Estavam chegando perto e desviavam cada um no último segundo de bater nos outros carros, Atlas estava sozinho agora, Roberto não
conseguia raciocinar direito e as opções eram poucas. Como resolver esse impasse. Ficaram enfim lado a lado com o sequestrador e Beto
gritou pra parar o carro, mas sem sucesso. Ele acelerava mais e mais, se não fizesse alguma coisa todos os quatro iriam morrer na estrada,
precisou usar seu último recurso.
“Irmão, preciso de ajuda, não vou conseguir salvar o Leo, nos quatro vamos morrer, ajuda a gente!” Disse mentalmente e dividindo sua
concentração no volante e no chamado telepático. Então o carro foi diminuindo e derrapou entrando num pasto batendo numa pedra
enorme. Atlas derrapou o carro sem perder o controle e parou do lado da batida cantando pneu. Roberto sacou a arma e pulo pra fora junto
com o cachorro, os dois estavam possuídos e que Deus ajudasse o sequestrador.
- LEEEEEOOOOOOO, já estou indo filho! Gritou desesperado não vendo ninguém sair. Quando chegou no carro atravessando o capim,
viu os sequestradores todos mortos e Leo tinha sumido. Ele não estava no carro. Serjão e Carlos morreram por nada e tinha perdido seu
menino.
Atlas chega e encontra o amigo desolado, então escuta um grito que já tinha ouvido a muito tempo. Um grito gutural das entranhas da
alma, o mesmo que ele tinha dado quando sua esposa morreu queimada e ele não pode salva-la. Então era assim que ele tinha ficado...
pensou com tristeza. Esperou o que achou uma eternidade e o grito parou, Roberto caiu de joelhos e abaixou a cabeça. Não demorou muito
para os amigos chegarem para ajuda-los. Atlas foi investigar os corpos dos bandidos e no bolso de cada um achou duas peças de xadrez,
uma branca e preta, uma torre. Torres tinha se vingado em fim.
Os amigos ficaram do lado do Roberto todo tempo, a polícia rodoviária e o socorro chegaram. Atlas recolheu antes os documentos e tudo
que os sequestradores tinham e ia investigar mais tarde. No acidente da serra, morreram mais seis amigos e mais três estão em estado
grave. Ele se recusou a ir para o hospital e quase entrou de novo em fúria assassina, queria ir para a fazenda ele mesmo falar que seu
menino tinha sumido, estava desaparecido. Roberto ficou sentado no meio dos corpos dos dois amigos que tinham seguido até o fim, era
o mínimo que poderia fazer. E o Gente estava aninhado no meio da suas pernas vigilante ainda...
Os amigos cuidaram de tudo e levaram de volta pra fazenda já de tardezinha, ninguém tinha ido embora e ele desceu do carro, um passo
de cada vez e quando olhou pra todo mundo que tinha chamado, seu estomago embrulhou e ele vomitou sangue. Os amigos foram socorre-
lo, mas Atlas fez sinal para ficarem onde estavam. Roberto tinha vontade de chacinar todo mundo, despedaçar cada um que visse ou
cruzasse seu caminho, não importando quem fosse. Arrancaria a carne com seus dentes e quebraria os ossos com a mão. Ele olhou pra
todo mundo como se fosse um animal saído do inferno, seus olhos ficaram vermelhos, não ouvia nada e nem sentia nada. Só um vazio e
tristeza que iria curar com o sangue de todos. O choque foi tão grande que pensou que tinha morrido a muito tempo e esse era o inferno
que Deus ou o Diabo tivessem colocado para gente como ele. Um lugar sem amor.
Conseguiu responder alguém que perguntava sobre Leo, mas já não enxergava mais, era tudo vermelho, não conseguia distinguir pessoas
e a realidade. Enfim o todo poderoso o puniu da pior forma possível, tirando o seu amor e deixando ele sozinho.
- Meu filho foi sequestrado não foi? Perguntou o pai chorando.
- Foi e não pude fazer nada. A resposta saiu sem ele querer e não conseguia reconhecer se era ele que falava.
Ninguém teve coragem de chegar perto dele, colocaram numa cadeira e ele ficou sentado olhando pro vazio em choque, quase catatônico.
Mas reconheceu duas vozes, eram tão tristes quanto a sua. Rosa a amante de Carlos, seu amigo de tantos anos e lembrava que gostava mais
da Rosa do que da esposa e a voz da sua mãe. A polícia veio e conversou com os outros oficiais que estavam ali, ninguém ia fazer perguntas,
ninguém ia ser preso, ninguém ia trazer seu amor de volta. Ouviu lá longe, muito longe enquanto estava sentado uma voz, Beto.
Rezou pra quem quer que fosse, busca-lo logo. Não aguentava mais sofrer. Seu antigo chefe estava do seu falado, não dizia nada.
Simone estava inconsolável e chorando muito, não quis chegar perto do amigo, sabia que ele precisava mas tinha medo da reação dele.
Escutou alguém falar para levar ele na igreja que tinha um padre lá, achou engraçado. Não existia padres no inferno ou existia? Ele foi
andando um passo de cada vez, tudo no seu tempo não era esse o seu ditado?
Nem viu quando chegou lá na igreja, só tinha seu amigo e um senhor vestido de preto, bem velho... as cores tinham voltado e ele nem se
tocou.
- Leo está vivo Beto, mas está perdido em outro lugar.
Reconheceu a voz, mas ainda não conseguia discernir direito as coisas, quem era esse velho? Ainda estava estático ou em choque ainda?
- Beto, irmão fiz o que pude, se eu for mais além não vou conseguir voltar. Gabriel que era o irmão mais novo de Atlas tinha a aparência
de um senhor de oitenta anos. Sua juventude tinha secado e foi o preço da sua ajuda.
- Gabriel? Falou devagar e pausadamente, lentamente voltando a si.
Quando Roberto se deu conta estava na igreja todo coberto de sangue, olhava pro irmão mais moço do amigo. Antes era bonito como seu
chefe e de repente seu rosto murchou, o cabelo negro e lustroso que era tão lindo ficou cinzento e doente, caindo pelos ombros tufos cheios.
Seu sorriso infantil agora se foi, sua pele macilenta e enrugada não se parecia nada com o rapaz que tinha conhecido, suas mãos secaram
e veias azuis e nervos cobriam os ossos em evidencia. Seus olhos negros como a noite se tornaram opacos, tinha quase certeza que estava
cego.
- Gabriel o que aconteceu com você? Foi o máximo que conseguiu dizer.
- Beto, o Leo está perdido e vocês não vão conseguir encontra-los agora, ele está em outro lugar. Por que é preciso que esteja. Por mais
que você tente não vai acha-lo. É o destino dele se separarem. Mas o de vocês é de sempre se reencontrar. Tossiu como um tuberculoso
em estágio terminal! Roberto acordou do seu estado mental imediatamente e segurou ele pela camisa.
- Cadê ele Gabriel, por que ta fazendo isso comigo! Cadê meu menino? Disse totalmente devastado.
- Não tenho mais minha juventude Beto e tenho muito pouco tempo nesse mundo, mas meu último esforça aqui nessa terra vai ser pra
ajudar vocês dois. O Leo está destinado a ficar perdido e achar alguém e voltar, ele foi tirado de você sozinho, mas vai vim com três! É ele
quem vai conduzir alguém especial pra vim nesse mundo.
- Não estou entendendo, por que tenho que sofrer tanto? Falou tristonhamente e soltando o pobre velhinho.
- Se você for atrás não vai achar ele, mas se não procurar vão se reencontrar ainda aqui nessa vida.
Atlas colocou a mão no ombro do irmão mais novo e disse.
- Hora de ir pra casa Gabriel.
- Meu último ato nesse mundo irmão vai ser o bem e não o mal. Beto me de suas mãos, minhas ultimas forças ainda posso fazer vocês se
encontrarem... deu mais uma tossida forte.
- Rápido Beto, tenho pouco tempo. Beto segurou as mãos do Gabriel e respirou fundo.
- Se concentra na imagem dele, com a pouca energia de vida posso fazer você alcança-lo.
Roberto se concentrou em tudo que viveu intensamente com Leo e se lembrou da sua epifania, sobre as esferas de luz chamando. Sobre
perdão e enfrentar o medo. Seu corpo começou a relaxar e seus pensamentos se desprenderem do seu corpo, não tinha peso nem forma,
era apenas um ser brilhante que flutuava numa escuridão densa perdida. Não conseguia enxergar aonde estava indo e qual era caminho
que tinha que seguir, mas ouvia seu nome bem distante e navegando dentro dessa luz em forma de água. Beeetooooo escutava longe, sabia
que tinha que ir pra lá. Era também uma voz conhecida, e flutuou na direção, viu alguém que não conseguiu reconhecer de imediato, não
enxergava a forma física e sim a forma astral. Estava preso com correntes e agonizando. Instintivamente atingiu a velocidade que precisava,
mas ele corria muito. Não iria desistir, não agora.
Ele conseguiu alcançar essa pessoa que estava amarrada com correntes dentro de um dragão cinza muito veloz. Seu coração acelerou ou o
que era esse órgão, começou a girar em si mesmo e se chocar com força, tentando livrar o rapaz das correntes, ele estava ferido na cabeça
e desacordado. Mas Roberto que era agora uma esfera luminosa girou em si mesma atingindo uma massa crítica se chocou violentamente
e várias faíscas coloridas, acertando o dragão contra uma montanha. Libertando o rapaz, mas ainda estava desacordado. As correntes
caíram num chão de grama e pedras. Roberto agora estava no escuro e Leo estava na luz.
Roberto sentia que possuía uma forma antropomórfica mas não se enxergava como pessoa física, mas via que Leo estava vivo e num lugar
aonde não conhecia. Ele estava de cueca todo machucado, sentia que estava muito longe fisicamente, perdido numa estrada.
- Leo me escuta, sou eu o Beto! Estou longe de você agora e não consigo de achar, mas não vou desistir de te procurar ta me ouvindo meu
amor. Me espera viu? Vou te achar! Fica vivo. Por enquanto só posso fazer isso, mas não se esqueça de mim não, estamos destinados a
sempre nos reencontrar! Você se lembra disso? Eu acredito em você, sempre acreditei! Me espera que vou te achar! A escuridão foi se
dissipando e a imagem espiritual se dissolvendo num nevoa prateada.
- LEO VOU TE ACHAR VIU? ESTAMOS DESTINADOS A NOS REENCONTRAR SEMPRE! LEEEEEEOOOOOOOOOO!
Então a imagem dele se foi e sua consciência foi puxada do plano astral para a terra dos vivos, despertando com o corpo todo formigando
e sua cabeça girando numa vertigem. Abriu os olhos e viu seu amigo Atlas e seu irmão morto de velhice.
- Chefe, ele ta vivo! O Leo ta vivo, eu vi ele chefe. Ao mesmo tempo que ficou eufórico com sua visão, viu o seu amigo com o irmão
morto no seu colo. Foi esse o preço de poder vê-lo e o tempo que tiverem separados. Mais um familiar dele se foi e ele não pode fazer
nada.
- Vamos acha-lo Beto, vamos sim te prometo! Então pegou o que um dia foi seu irmão mais novo e que odiava tanto no colo e saíram
daquela igreja.
Já tinha escurecido e não tinham percebido. Alguns poucos amigos foram embora e deixaram condolências, os pais do Leo estavam
inconsoláveis e sua mãe do lado, parada quieta e vigilante. Seus filhos estavam atrás dela como dois cães de caça e seus irmãos não estavam
a vista. Laura servia sopa com pão para os que ficaram e Jorge conversava com os outros homens. Vanessa e Miquéias ficavam de um lado
para outro ajudando quem precisasse. Todos os amigos do Leo ficaram e ninguém quis ir embora, era o mínimo que podiam fazer. Mas
ninguém dirigiu a palavra pra ele, quando viram que um idoso tinha morrido e souberam quem era deixaram outros cuidarem dele. O
cachorro que tinha avisado estava sendo cuidado, na loucura que foi a perseguição tinha se esquecido completamente. Gente foi mais
corajoso que muito e fiel como sempre foi.
Levaram o Serjão e o Carlos pro IML junto com os outros que morreram na perseguição e ele não viu a Rosa, também não quis perguntar.
Ninguém disse nada ou se aproximou. Estava sozinho de novo. Refletiu que tudo isso foi por nada, mas vislumbrou a crença do seu menino
e adotou para si mesmo. Precisaria disso pra seguir em frente.
Sentou numa cadeira afastado e ninguém ainda tinha se aproximado dele, Gente se levantou de onde estava e ficou do lado como uma
esfinge vigilante. Nem ele e nem o cachorro fizeram qualquer menção de se consolarem, mas os dois estavam satisfeitos que tinha um ao
outro. A polícia ainda estava na fazenda fazendo as mesmas perguntas de sempre e com as luzes coloridas brilhando, ouviu que ninguém
tinha se ferido, só os que se envolveram na perseguição. Registraria um boletim de ocorrência para dizer que ele tinha sido sequestrado e
com seus amigos em peso viram, não ia perder tempo com burocracia.
Como tudo pode virar um inferno em tão pouco tempo? Não sabia, mas se lembrou das palavras do Gabriel. Precisava de uma crença
agora, algo para sustentar, se não ia se perder de novo e não ia conseguir voltar mais.
Não imaginou quando conseguiria dormir ou descansar depois desse stress todo, dessa angustia, todo o seu corpo estava doendo. Precisava
se recompor, usar a inteligência e a razão. E como se algo tivesse iluminado sua mente ele falou alto e todo mundo virou pra ele olhando.
- Meu Deus! Então num pulo da cadeira ele correu para a parte da fazenda que tinha as casas, mais especificamente aonde estava hospedado,
Gente seguiu também no mesmo rumo sentindo a urgência do amigo. Revirou as coisas que tinham trazido até achar a carta da Lucia, abriu
imediatamente com o pressentimento que já sabia o que ia achar.

“Meu caro Beto, venho por meio dessa simples carta desejar toda felicidade do mundo, que você e esse rapaz corajoso sejam muito felizes,
meus votos são sinceros apesar de tudo que aconteceu. Mas venho também avisa-los que sobre o perigo que ronda vocês e ficarem
vigilantes. Torres se foi e não aceitei seu substituto por várias questões. Ele tinha um filho que deseja sua morte e do seu amado, não posso
avisa-los por qualquer dispositivo que tenha acesso a internet. Fiquei sabendo por fontes seguras que estamos sendo espionados, mesmo
com todas as nossas precauções. Então enviei essa carta pelas mãos de uma das poucas pessoas que confio, quando chegar em suas mãos
eu já terei feito minha transição e não estarei mais nesse mundo. Enfim meus anos de busca terminaram e vou para junto do meu amado.
Me perdoe se não liguei ou fui pessoalmente, não quero esperar nem mais um instante nesse mundo. Cuide-se e tenha uma vida longa e
feliz, com amor Lucia!”
Quando terminou de ler a carta se arrependeu amargamente de não ter extinto tudo que se relacionava ao Torres, mas agora já estava feito
e tinha algo pra se manter de pé! Achar esse desgraçado e vingar seus amigos, agora sim teria o prazer de voltar e corrigir esse erro. E do
fundo do coração esperaria a volta do seu amor. Já tinha com o que se ocupar. Olhou para a porta e viu que Jorge e Atlas estavam parados,
entregou a carta pra um que leu e depois para o outro. Quando terminaram de ler Roberto queimou a carta e sua mente começou a maquinar
aonde começaria a caçada. Tinham mais curiosos na porta e Jorge pediu licença e fechou com calma, não sem antes o Gente ficar parado
na frente incorporando o Cerberus, guardião do inferno. Porque era isso que seria desse dia em diante.
Jorge colocou a mão no ombro do amigo que fez tanto pela sua família e disse sim. Atlas também colocou a mão no outro ombro e disse
sim. De repente batidas na porta do quarto começaram e cada vez mais forte, eles acharam estranho que o cachorro não expulsou o intruso
e Roberto abriu para ver quem era. Rosa em pé com uma trouxa de roupas enxugando as lagrimas, agora ela estava sozinha no mundo e
não tinha mais para onde ir, disse tentando ser o mais forte possível.
- Vou ajudar vocês, quero vingar meu nego e não saiu daqui nem amarrada. Ela entrou na casa e os três a abraçaram, Jorge disse que ela
podia morar aqui até morrer, Beto nunca a deixaria a mingua sua amiga e Atlas ficaria pra sempre com eles.
Os dias se passaram e a notícia do sequestro de Leo se espalhou, muitos o deram como morto e alguns tinham esperanças. Mas só um
grupo pequeno sabia que ele estava vivo, mas inalcançável. Serjão e os amigos foram enterrados com honras militares e tudo mundo
compareceu, ninguém foi esquecido ou negligenciado. Rosa não pode ir ao enterro de Carlos por motivos óbvios, mas ficou bem distante
acompanhando tudo e com certeza sofreu mais do que a esposa. Os pais de Leo aceitaram que ele estava morto e desistiram de procurar
publicamente e nunca mais tocaram no assunto, mas os quatro sentaram e conversaram dizendo que não descansariam até acha-lo levando
o tempo que fosse, mas para a segurança deles aceitassem a morte do filho. O seu Raimundo, pai do Leo quis descontar sua raiva e perda
do filho culpando o Beto. Rosa avançou como uma onça para defender o amigo e disse as seguintes palavras, com a cara fechada e furiosa!
- Seu Raimundo de vocês dois quem está sofrendo mais? Olhou serio para ele e jurou que acharia quem matou seu amado Carlos e
sequestrou seu filho. Mesmo que ela morresse, Carlos seria vingado e Leo voltaria pra casa!
Jorge estendeu a conversa somente que se quisessem morar lá longe de tudo seria bem-vindo, mas que ele nunca deixaria de ajudar seu
amigo Beto e seguiria com ele até o fim do mundo. Ele se acalmou pediu desculpas, mas ficaria aqui onde era seu lugar e se um dia o filho
voltasse estaria aqui enquanto tivesse vida, aqui também é a casa dele e mesmo tendo tido todos aqueles problemas ele ainda era seu pai e
tinha uma mãe.
Todos se despediram e foram embora. Roberto se recusou a olhar pra trás acreditava piamente que estavam destinados a se reencontrarem
e isso o sustentou até o fim de sua vida. Juntos eles montaram um grupo paralelo ao da Lucia e cada um usou o que tinha para caçar o filho
de Torres e pistas do paradeiro do Leo, não soltando a mão de ninguém no caminho. Então recrutaram alguns amigos verdadeiros para
ajuda-los, foram guiados pelo desejo de vingança e do reencontro. Se um caísse, o outro seguiria em frente sem esquecer do amigo tombado.
Cuidaram de suas famílias como puderam, confortaram amigos que precisavam ser confortados e não se esqueceram que um menino
mudou tanto a vida deles, que num único dia foram tão felizes. Fizeram uma última parada num certo apartamento para Beto se despedir
de alguém.
- Não me demoro, um minutinho só.
Entrou no seu apartamento que morava com Leo, deu duas batidas e a porta se abriu. Tinham dois amigos de segurança na sala,
cumprimentou com um aperto de mão dos amigos que revezavam na proteção do lugar e apontaram para o quarto. Roberto entrou e viu
Simone sentada na cama olhando as fotos todos que tinham tirado no dia da festa, fez um álbum de recordações. Tinha cansado de ver
mensagens de condolências nas redes sociais.
- Simone!
- Beto, já estão indo? Disse a amiga triste.
- Estamos, vim me despedir de você! Falou sem emoção.
- Vão voltar?
- Não sei...
- Vou esperar vocês... e o Leo... quis desabar, mas se sentiu como a rainha Gorgo.
- Fica com Deus minha amiga. Ela se levantou e o abraçou forte.
- Fica com Deus meu amor. Vou estar aqui sempre cuidando de tudo caso ele venha pra cá.
- Não poderia ter uma amiga melhor! Beijou na testa e deu uma última olhada no quarto, foi no guarda roupa e não queria esquecer sua
jaqueta jeans favorita e óculos escuros. Deu um tchau e foi embora.
Quando ele saiu do quarto e ouviu o portão batendo, ela estava na janela e quando saíram no carro Beto colocou a mão pra fora dando
tchau. Então seguiram para o interior no rastro do maldito. Beto, Atlas, Jorge, Rosa e Cerberus iniciaram naquele dia uma caçada que
durou quatro anos!

Em algum lugar do pais, Leo acorda com o grito de alguém chamando seu nome bem alto. Se lembrou vagamente que ele estava no escuro
e ele na luz. Estava com a cabeça raspada e um corte feio nela, estava com o rosto todo machucado e sangrando. Sentiu um frio no corpo
e viu que estava de cueca e numa estrada asfaltada. Era dia mas não sabia que horas eram. Doía todo o seu corpo mas conseguiu se levantar
e andar rumo a algum lugar. Não se lembrava de como estava ali e o que tinha acontecido, mas tinha apanhado muito isso era certo.
Inspecionou seu corpo e viu que não tinha nada quebrado e começou a andar. Não se lembrava de nada antes de acordar só que seu nome
era Leo e tinha uma voz te chamando. Escutou um barulho bem longe de veículos, lembrava vagamente de um acidente e correntes. Será
que tinha sido sequestrado e jogado pra morrer aqui?
O barulho era de uma gangue de motoqueiros com pelo menos umas vinte pessoas. Todos com maquinas estilizadas com desenhos
agressivos. Gostou da combinação e algo dizia dentro dele que também podia fazer isso. O que puxava o grupo era um moreno alto e forte,
quase gordo, cara fechada e de poucos amigos. Tinha uma jaqueta de couro desbotada com uma calça marrom. Algo dizia para ser amigável,
ele sorriu e acenou. Quando fez esse gesto viu que não tinha um dente da frente. Acho que arrancaram num murro, pensou curioso. Eles
pararam e o líder veio até ele com cautela, achando que poderia ser algum tipo de armadilha. Mas desistiu quando olhou para o rapaz todo
estropiado e ficou com pena.
- O que aconteceu com você? Perguntou observando a extensão dos machucados.
- Não sei, acordei agora e nem sei onde estou ou por que apanhei. Sorriu simpático todo roxo e faltando um dente.
- Sabe seu nome? Disse ficando intrigado e descendo da moto.
- Kaleb! Disse baixinho quase inaudível.
- Não entendi, repete por favor. Achou que apanhou na cabeça e está bem mal, pensou o motoqueiro.
- Leo, me chamo Leo e o seu? Ficou animado, mas não entendeu o porquê.
- Me chamo Dill, Leo quer vim com a gente pra próxima cidade? Podemos ir num hospital e te ajudar?
- Quero, mas vai me abandonar depois? Perguntou tentando ficar sério.
- Por que diz isso? Ficou curioso.
- Por que amigos não abandonam os seus! Nem sabe o que está falando esse cara, pensou Dill e chamou um companheiro que deu algumas
roupas com um par de botas velhas, subiu na garupa e foram pra próxima cidade. Nunca passou pela cabeça que Dill ao ficar com pena de
alguém em dificuldades na estrada iria mudar sua vida para sempre e num futuro próximo seria a pessoa mais feliz do mundo. Mas até
essa felicidade predestinada acontecer iriam passar por muitas provações e escolhas difíceis.

As histórias do Leo e Roberto vão continuar...

Dedicatória

A história do Leo e Roberto é sobre alguém que eu conheci a mais de vinte anos, encontrei por acaso e hoje ninguém mais se lembra ou
mesmo sequer sabem que um dia ele existiu. Um belo dia acordei lembrando com saudades, resolvi sentar e escrever sobre ele, mas não
imaginei que fosse ser tão divertido e difícil falar disso. Apesar de ser meio viajada essa história é de lembranças, sonhos e algum tipo de
esperança. É uma singela homenagem pra alguém que foi muito especial e hoje só existe na minha memória. Pouca coisa aqui foi real de
verdade, mas a nostalgia enquanto desenvolvia a trama foi prazerosa. Mesmo que ninguém se lembre de você, ainda estou aqui e sua
passagem no mundo teve algum significado. Espero que gostem.

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