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Perigo

Iminente

BIA TOMAZ
1ª Edição
2016
Copyright © 2016 EDITORA NIX

Todos os direitos reservados à Editora Nix.


Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou
reproduzida sob quaisquer meios existentes
sem autorização da Editora. A violação dos
direitos autorais é crime estabelecido na lei n°
9.610/98, punido pelo artigo 184 do Código
Penal.

Equipe Editorial:
Revisão: Bel Góes
Capa e Diagramação Digital: Míddian Meireles

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é


entreter as pessoas. Nomes, personagens,
lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da
Língua Portuguesa.
Sumário
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Epílogo
Perigo Irresistível
Prólogo

Mesmo não sendo assim tão


velha tenho tantas recordações da nossa
vida, que é difícil começar a contar a
nossa história juntos.
Claro que vou começar das
primeiras recordações, quando ainda era
pequena, as lembranças dessa fase são
vagas, mas as minhas festas de
aniversário estão vivas em minha mente.
Em cada uma das minhas
comemorações, ele estava lá.
Até então, eu era só uma
garotinha tímida e ele era o policial,
filho de um falecido amigo do meu pai e
para mim uma espécie de primo mais
velho. Aos sete anos, amava-o como se
fosse da minha própria família,
chamava-o de Tito nessa fase, como uma
espécie de apelido para tio. Poucos anos
depois, ele casou com Giorgiana, a
melhor amiga da minha irmã e nessa
época foi quando passei da garotinha
tímida para a adolescente rebelde. O
auge foi aos quinze anos, quando fugi
pela primeira vez da minha casa e na
mesma época o casamento de Joey que
estava com 31, começava a desmoronar,
mas isso nem passava pela minha
cabeça quando apareci na porta dele
pedindo por ajuda.
2 anos antes
Eu apertava a campainha
insistentemente e cada vez que ela soava
em meus ouvidos, sentia um aperto no
peito, só conseguia pensar que estaria
muito ferrada se Joey não estivesse em
casa.
— Já vou! — A voz dele fez com
que soltasse o ar que estava prendendo
de nervoso, quando abriu a porta,
joguei-me em seus braços.
— Que bom que você tá aqui!
— Por onde andou, Ally? Sumiu
por três dias seguidos, não deu nenhuma
notícia. Você tá bem? — Ele me olhou
por completo, preocupado com meu
estado físico.
— Eu estou bem. — Abracei-o
novamente.
— Preciso ligar para seus pais e
avisar que você tá bem. — Afastei-me
bruscamente dele.
— Não, por favor! Não liga para
eles.
— Olha para mim, minha
baixinha. — Segurou meu rosto com as
mãos. — Seus pais estão muito
preocupados com você.
— Eles então que aprendam a
confiar mais em mim e que parem de me
sufocar tanto. — O choro crescente
explodiu junto com minha raiva infantil.
— Foi por isso que fugiu com
aquele safado? — Ele alterou um pouco
a voz, mas logo depois respirou fundo,
senti que ele tentava se acalmar. —
Falando nisso, onde ele está? Quero
falar com ele.
— Assim que ele descobriu que
meu pai era o delegado, fugiu. Ele é um
grande idiota! — Enxuguei as lágrimas,
tentando parar de chorar. — A Gio tá
aqui?
— Não, ela saiu.
— Posso ficar aqui essa noite?
— Supliquei, não queria enfrentar meus
pais tão cedo, já sabia o tamanho da
bronca que levaria. Senti que ele pensou
um pouco e sua resposta parecia ser
negativa e insisti. — Só essa noite,
amanhã volto para casa. Eu juro!
Ele me abraçou e apenas
assentiu, fazendo-me prometer que na
manhã seguinte voltaria para casa. Logo
depois de tomar um banho e me vestir
com uma blusa dele em que caberia duas
de mim, deitei-me e ele deitou em um
colchão perto da cama.
— Tio Joseph? — Eu o chamei
com um sussurro. Ele soltou um
resmungo em resposta. — Se papai
souber que estou no mesmo quarto que
você ele te mata.
— Acho que a Giorgiana não
ficará muito feliz com isso também, mas
não tem porque se preocuparem, você é
só uma adolescente.
— Tem certeza que ela não vai
se importar? Não quero incomodar.
Quando ela volta?
— Não vai, você é como uma
sobrinha de consideração. Ela chega
amanhã na hora do almoço. — Ele se
ajeitou no colchão.
— Promete que não vai contar
isso para ninguém? — perguntei com um
pouco de medo que ele falasse tudo para
o meu pai e minha mãe, a briga seria
pior ainda.
— Prometo.
— Tem que ser sério, dá seu
dedo mindinho como fazia quando eu era
criança e diga que promete não contar.
— Ele não se moveu. — Eu estou
falando sério, Joey!
Ele sentou e estendeu o dedinho
para mim e eu entrelacei meu dedinho no
dele.
— Eu prometo não contar nada
para Gio também — disse sorridente.
— E eu prometo que nem sua
mãe e nem seu pai saberão que você está
passando a noite aqui hoje. — Ele
entrelaçou sua mão na minha. — Minha
pequena, saiba que vou estar sempre
aqui para você, viu? Sempre. — Eu
assenti sem entender a profundidade
daquela promessa, ele sorriu antes de
desejarmos boa noite um para o outro e
dormirmos.

O mais importante foi que a


partir daquela mesma época, comecei a
gradualmente perceber que ele não era o
meu tito, aliás, já não o chamava assim
fazia um tempo. Sentia que ele era um
homem e eu uma adolescente
percebendo que o amor que tinha por
ele, era mais do que supunha. Só que
isso, só pude descobrir mais tarde, entre
brincadeirinhas inocentes e algumas nem
tão inocentes assim, percebi que de uma
paixão platônica adolescente pode
surgir algo bem maior e mais profundo.
Capítulo 1

Todos os dias eu acordava cedo


para ir para a escola, mas nunca cedo o
suficiente quando Joey passava em casa
para tomar café com a minha família e
era de propósito. O motivo? Eu gostava
do cara que todo mundo via como se
fosse meu tio.
Há dois anos, depois de ter
fugido e me refugiado em sua casa, as
coisas ficaram estranhas para Joey,
porque uma semana depois daquele dia
fatídico, ele se separou da Giorgiana.
Ninguém nunca entendeu, mas ela jurava
que foi traída várias vezes, enquanto
viajava a trabalho. Desde então,
alimentei uma paixão secreta por ele,
totalmente platônica. Pelo menos até
aquele momento.
Atualmente eu tenho 16 (faço 17
em breve) e ele 34 anos, o fato dele ser
melhor amigo do meu pai é mais um
empecilho, mas sei que num futuro bem
próximo, seremos um do outro. Por isso,
eu faço o que tem de ser feito.
— Bom dia! — Cheguei na
cozinha e meu pai lia jornal, enquanto
minha mãe e Joey comiam
concentrados.
— Bom dia, querida do papai.
— Meu pai me puxou para um abraço.
Abracei minha mãe e dei um abraço e
um beijo demorado no rosto de Joey.
— Bom dia, pequena — Joseph
disse.
— Minha querida, não se
esqueça que hoje tem que levar aquele
trabalho de geografia. Você precisa
melhorar suas notas — Minha mãe disse
me olhando com visível preocupação.
— Tem perdido nota, Alice?
— Joey me olhou atento.
— Só tenho dificuldade em
geografia, nada demais. — Olhei para
minha mãe com um olhar quase
assassino por me fazer parecer burra. —
Minha mãe exagera um pouquinho às
vezes. — Olhei para o relógio
pendurado na parede da cozinha e dei
um salto da cadeira, fingindo espanto
pelo horário. — Tenho que ir ou vou me
atrasar para aula.
— Quer que eu te leve? — Meu
pai dobrou o jornal e eu ia assentir, no
fundo torcia para que Joseph me
levasse, o que havia se tornado algo
comum nos últimos tempos.
— Você precisa passar na casa
do meu pai. — Mamãe falou, lembrando
do compromisso marcado por meu pai
para visitar vovô.
— Como fui esquecer disso? —
Ele deu um tapa na testa e virou
para Joey. — Pode levá-la de novo?
— Claro, sem problema —
respondeu, terminando de comer.
— Então vamos logo! — Fui até
o sofá e peguei a mochila. — Vem, Joey!
Despedi-me, saindo do
apartamento, sendo seguida pelo Joey.
Assim que entrei no carro, cruzei
as pernas, fazendo com que minha saia
subisse um pouco, ele sempre fingia que
não reparava, mas já tinha visto olhando
algumas vezes. Ainda acreditava que
qualquer hora dessas ele não resistiria e
acabaria revelando que no fundo me
desejava da mesma maneira que eu o
queria.
— Então, Joey —disse
colocando o cinto. — Como está o caso
daquele cara que matou a garota
deixando-a morta em um beco?
— Como você sabe disso? —
perguntou espantado enquanto ligava o
carro.
— Não sou idiota, escuto tudo
que você conversa com meu pai, ou
esqueceu que tratam desses assuntos na
sala da minha casa?
— Mas isso não quer dizer que
deva saber dessas coisas. — Ele passou
uma mão no cabelo rapidamente
ajeitando-o. — Deve fingir que não
ouviu. Esqueça isso.
— Não irei esquecer. —
Levantei uma sobrancelha e virei meu
corpo para o lado dele e minhas pernas
ficaram um pouco abertas, Joey parou no
sinal e quando virou seus olhos
pousaram nelas por um instante. — Me
desculpe.
Uma buzina soou logo depois
que me calei e ele deu um pulo no
assento, virando-se para frente.
— Certo. — Ele sacudiu a
cabeça e fez uma careta. — Digamos
que o caso estava andando, mas agora
está estagnado.
— Só isso que vai falar?
— Se dê por satisfeita, não
posso revelar mais do que isso, detetive.
— Ele sorriu e eu derreti por dentro.
Aquele homem me mataria do coração a
qualquer instante.
— Por enquanto — disse
enquanto ele estacionava o carro em
frente à escola. — Tchau, Joey.
Eu desafivelei o cinto e inclinei-
me para abraçá-lo ao mesmo tempo em
que beija seu rosto, ao contrário das
outras vezes, enquanto o abraçava,
peguei sua arma. Eu sabia que ele nem
notaria porque toda vez que o abraço e o
beijo, ele fica tenso, todo estranho.
Desci do carro e Joey acenou
antes de dar partida, fiquei parada na
calçada, só esperando e então o carro
veio de ré, em uma velocidade que com
certeza não era permitida, estacionou
perfeitamente, como um bom detetive
treinado deve fazer.
— Alice? — Chamou-me
abaixando o vidro. Eu me inclinei na
janela, colocando a cabeça para dentro
do carro.
— O que foi? Já sentiu
saudades? — Sorri para ele que
simplesmente estendeu a mão para mim.
Entreguei a arma para ele, que sacudiu a
cabeça como sinal de reprovação. —
Você às vezes é meio sem-graça, Joey.
Precisa se divertir mais, levar a vida
com mais diversão. Se quiser, só me
avisar. — Pisquei para ele, que apenas
colocou os óculos escuros de volta.
Afastei-me do carro e ele
acelerou, cantando pneus. Ouvi o meu
celular tocar insistentemente, abri minha
mochila e ao olhar o visor do celular,
dei um suspiro.
— Oi, Hilary. — Minha irmã
havia decidido me ligar justo na hora
que ia estudar, bem típico dela fazer as
coisas sem pensar. — Não posso
demorar, estou atrasada para a aula.
— Não vou te importunar, Alice.
Só quero perguntar se nossos pais vão
estar em casa hoje durante a tarde.
— Acho que nossa mãe vai estar
na lanchonete e o pai vai estar onde
sempre fica durante a tarde, no trabalho.
Minha mãe parou de trabalhar
depois que nasci e vivia reclamando que
estava cansada de ficar parada, então
meu pai comprou uma espécie de pub,
que era um dos lugares mais
frequentados da cidade, todo mundo
adorava o local, pois minha mãe sempre
levava bandas para se apresentarem e o
cardápio era um dos melhores da
cidade.
— Ótimo! Depois daquela briga
da semana passada, não quero encará-
los e preciso buscar minha carteira de
motorista que esqueci em cima da
mesinha da sala. — Ela havia tido mais
uma das várias discussões na semana
anterior porque havia decidido se casar
com um cantor pop famoso chamado
Robin, na mente do meu pai, ele era um
vagabundo, rico, porém vagabundo, mas
aquela era só mais uma das brigas deles,
pois na verdade as brigas que envolviam
Hilary eram semanais, todas as vezes
que Hill nos visitava era uma briga
diferente. Minha irmã era a ovelha negra
da família, havia saído de casa assim
que teve a maioridade e meu pai não
podia mais prendê-la em casa e desde
então viveu sozinha. Então ela
engravidou de um policial subordinado
que trabalhava para o meu pai, aos 20
anos, mais ou menos na mesma época
que Joseph casou com Giorgiana.
Depois disso, Hill afastou-se da família
e atualmente aos 24 anos ainda causava
muitos problemas e metia todo mundo
nas suas confusões.
— Tá bom, me deixe ir ou irei
me atrasar de novo.
— Se você não fizesse isso de
propósito para pegar carona com o Joey,
não teria que preocupar com atrasos.
— Não entendo o que você quer
dizer, Hill. — Respondi fingindo não
entender aonde ela queria chegar.
— Querida irmã, a gente não vai
ter esse papo de novo. Eu sei de tudo e
você também sabe que eu sei.
— Ai, que papo confuso —
disse enquanto caminhava pelos
corredores da escola. — Vou desligar.
Tchau.
Desliguei antes que ela
continuasse me jogando contra parede e
me fizesse falar mais do que devia, Hill
sabia dos meus sentimentos por Joey e
eu não queria nem mesmo correr risco
de confirmar sobre a teoria de que eu
sou apaixonada pelo meu suposto “tio”.
— Oi, Alice. — Sorri ao ver
minha melhor amiga ao lado de Edward
que sorria para mim como se me ver
fosse a coisa mais interessante no
mundo.
— Oi, Lili — disse abraçando-a
e depois fui até Edward que também me
abraçou.
— E aí, linda? — Edward era o
cara mais gato do colégio e
provavelmente nós teríamos algo sério
se não fosse o fato de que sempre o
dispensava depois que ficávamos, não
que eu seja prepotente, nem nada disso.
Eu simplesmente não conseguia pensar
em me relacionar seriamente com
ninguém que não fosse o Joseph.
— Achei que tivesse sido
expulso depois de pichar a parede da
diretoria, Ed — disse rindo e sentando
perto deles.
— Também tinha achado.
— Cecília apoiou os braços na mesa
atenta ao olhar de Ed.
— Não fui e nem vou ser, pelo
menos enquanto meu pai for um
bilionário dono de uma rede de hotéis e
puder fazer “doações” para o acervo
cultural do colégio. — Eu ri dele que
colocava os óculos escuros.
— Isso que dá estudar em uma
escola onde todos os meus amigos são
ricos e eu não, fico chocada quando
algum de vocês simplesmente joga o
dinheiro e a riqueza de vocês na minha
cara —disse fazendo uma falsa cara de
desapontamento. Desde criança fui
muito estudiosa, por isso consegui uma
bolsa integral naquela escola onde só os
melhores e mais ricos estudavam, não
curtia e nem tinha paciência com a
escola, só estudava muito porque sabia
que era importante para os meus pais e
principalmente para o meu futuro. Nem
era tão imatura quanto parecia.
— Ei, não me inclui nisso.
— Lili disse levantando um pouco a
voz.
— Claro que te incluo, as
pessoas daqui nem imaginam que você
seja simplesmente uma das pessoas na
fila de sucessão ao trono de Mônaco,
mas eu sei disso, Vossa Alteza.
— Te mato se repetir isso de
novo! — disse sussurrando. — Fujo das
minhas raízes com todas as forças e por
isso vim para outro país morar com
minha tia. Prefiro viver com poucos
recursos do que me submeter ao regime
que meus pais criaram.
— Certo, certo — disse
levantando as mãos como se me
rendesse.
— Vocês aí no fundo da classe,
poderiam fazer silêncio? Pretendo
iniciar a aula. — A professora sorriu
irônica e nós três nos calamos, mas
assim que ela virou as costas caímos na
gargalhada o que quase resultou a nossa
expulsão da sala.
Na hora de ir embora,
surpreendi-me ao ver Hill na porta do
colégio. — O que faz aqui, Hill? — Ela
tirou os óculos escuros do rosto.
— Vim te buscar, fiz as pazes
com a nossa mãe e ela pediu para fazer
esse pequeno favor.
— Posso ir embora com o Ed.
Ele se ofereceu para me dar carona.
— Se eu fosse você, viria
comigo. Precisamos conversar... Aliás,
já passou da hora. — Entrei no carro e
ela lançou um sorriso antes de colocar
os óculos novamente e arrancar com o
carro. Chegamos na lanchonete sem
trocar uma palavra e entramos juntas no
local.
— Oi, mãe. — Dei um beijo em
seu rosto e fiquei observando-a
enquanto fazia a contabilidade de
alguma coisa no balcão. Ela tirou os
óculos de grau e me deu um “oi” antes
de se virar para Hill.
— Obrigada, filha! — Ela
colocou os óculos novamente. —
Querem comer alguma coisa?
— Batata frita, é claro — disse
colocando minha mochila atrás do
balcão.
— Você precisa almoçar direito
— minha mãe disse e eu bufei.
— Por que pergunta o que
queremos comer se não vai me deixar
realmente comer o que quero? —
perguntei rolando os olhos.
— Tudo bem, vou pedir ao
Hernandez para preparar uma porção
generosa de batatas fritas para vocês!
Enquanto isso, Hill me chamou
para sentar com ela em uma mesa bem
distante do balcão, provavelmente para
que nossa mãe não nos ouvisse.
— Então, o que quer? —
perguntei antes de me acomodar.
— Sei sobre sua paixonite
pelo Joey.
— De onde surgiu essa
novidade? — Cruzei os braços, uma
clássica tática de defensiva corporal.
— Eu ouvi você conversando
com a Lili há algum tempo.
— E daí, onde você quer chegar
com esse papo?
— Eu quero te ajudar. — Ela
sorriu e eu fiquei totalmente surpresa.
Não porque ela fosse contra mim ou
qualquer coisa assim, mas porque nós
nem conversávamos direito desde que
ela saiu de casa.
— Acho suspeito. O que você
ganha com isso? — perguntei sendo
completamente sincera.
— Acho que não devia ficar
enchendo o saco com essas perguntas,
porque se o nosso pai querido
desconfiar disso, sua vida está acabada.
Pegue minha situação como exemplo. —
Trouxeram refrigerante para nós e ela
serviu. — Eu me envolvi com um
policial e você sabe que pelo fato dele
trabalhar com tantos policiais e ver
como a maioria é corrupta, ele acha que
todos são assim também.
— Eu queria ser policial um dia,
acho que ele não vai gostar muito da
ideia — disse fazendo um bico.
— Não acho que isso vá
incomodá-lo. O que provavelmente não
vai agradar nem um pouco é namorar um
policial e o fato desse policial ser o
melhor amigo dele, será o fim da picada.
Irá doer para caramba e você sabe
disso.
— Nem me fala. Já tá difícil
fazer com que Joey assuma que sente
algum tipo de atração por mim.
— Eu estou falando exatamente
disso. — Ela bebeu um gole do
refrigerante. — Tenho uma ideia
perfeita, mas você vai ter que usar sua
ousadia.
— Se soubesse as coisas que já
tenho feito. — Rolei os olhos.
— Brincadeiras de criança se
forem comparadas às minhas ideias... Eu
sou adulta, não se esqueça.
— E seu namorado, quer dizer,
me esqueci que agora vocês são noivos.
Ele tem mais de 30 anos. — Ela
assentiu. — Você talvez entenda alguma
coisa e consiga me ajudar. Eu topo.
Estendi a mão e ela entrelaçou
os dedos nos meus, era como um pacto
secreto, uma aliança que começava a se
formar ali e as ideias que ela me deu
depois, foram incríveis e me deram a
força e a coragem que precisava para
começar a jogar mais pesado do que já
vinha jogando.
Capítulo 2
Alguns dias passaram e posso
dizer que foram lentos, praticamente se
arrastando, mas enfim a data da minha
festa estava cada vez mais perto,
faltavam apenas 3 dias e contava cada
segundo para ela. Estava em casa,
jogada no sofá e assistindo um filme
estúpido que passava na televisão,
quando meu celular tocou.
— Fala, Lili. — Atendi
colocando o celular no ouvido e
segurando-o com o meu ombro, enquanto
carregava a vasilha de pipoca com uma
mão e o copo de refrigerante na outra.
— Amiga, vai ter uma festinha
hoje na casa do Ed, quer ir? —
Coloquei a pipoca em cima da mesa e
bebi o resto do refrigerante, fiquei
pensativa por alguns segundos, então
troquei o celular de orelha. — Ele não
comemorou o aniversário dele no último
fim de semana achando que os pais
chegariam de viagem, mas como não
rolou ele resolveu fazer no meio da
semana mesmo. E então? — continuou.
— Vou sim. —respondi
decidida.
— Ótimo, passo aí às 8 da noite
com o meu motorista para te levar
comigo. Beijos.
Lili desligou sem nem me dar
tempo de responder, mas ela era meio
louca mesmo. Tratei de pegar minha
toalha e fui para o banheiro, ao mesmo
tempo ouvi a voz de meu pai e Joey
chegando juntos em casa. Joey depois
que separou de Gio, resolveu se mudar
para um apartamento no mesmo prédio
que o nosso só que dois andares abaixo,
ele morava junto com outro policial
chamado James, isso significava que ele
estava sempre por perto ou na minha
casa.
Liguei o chuveiro e deixei que a
água escorresse enquanto cantarolava
uma música que já estava na minha
mente há dias, era a música de um filme
que tinha visto com Joey numa sessão
improvisada de cinema na sala da minha
casa.
Eu andava torturando-o das
piores maneiras possíveis, ele já estava
acostumado a me ver de pijamas, mas
não como os últimos que andava usando,
cheios de rendas, super curtos. Eu usava
de propósito e algumas vezes conseguia
pegá-lo me olhando, mas não queria
atraí-lo só fisicamente, aqueles truques
eram só o começo.
Acabei o banho depois de vários
minutos e desliguei o chuveiro, mas não
sai dali, peguei a toalha e fiquei
pensando no que Hill havia dito. Minha
irmã sabia e eu nunca havia mencionado
nada para ela, aliás, tentava manter meu
sentimento em segredo apesar das
brincadeirinhas que fazia com Joey, mas
se ela notou era porque eu estava
deixando isso transparecer demais. Não
que me importe com isso, mas meu pai
ficaria louco se soubesse da minha
paixão por Joey.
A porta do banheiro abriu e eu já
ia reclamar quando olhei pela fresta do
box e vi Joey. Levei a mão a boca
quando começou a se despir por
completo, bem ali na minha frente. Eu
nunca o havia visto completamente nu,
claro que já tentei várias vezes, mas por
completo aquela seria a primeira vez.
Ele estava tão perto, não sabia nem
como não tinha me visto ali ainda.
Quando abaixou a calça jeans, eu
prendi a respiração, cada centímetro
dele parecia esculpido, até as pequenas
cicatrizes de seu corpo eram lindas.
Soltei o ar e tirei a mão da boca,
enrolei-me na toalha e abri o box
quando ele virou de costas para mim.
— Vai precisar de toalha? —
perguntei com uma falsa tranquilidade
na voz, por dentro meu coração parecia
um tambor em ritmo frenético de
carnaval brasileiro. Ele deu um pulo e
virou, seus olhos arregalados e a boca
aberta à procura de palavras.
— Porra, o que você faz aqui?
— Joey se deu conta que estava
totalmente nu e tentou alcançar a camisa
jogada no chão.
— Terminando meu banho
quando você entrou. — Tirei minha
tolha do corpo e entreguei para ele. —
Toma, pode usar essa. — Ele pegou a
toalha da minha mão sem se dar conta do
que eu fazia.
— Obrigada. — disse antes de
se cobrir com a toalha. No momento que
olhou para mim, ficou estático. Seus
olhos dançaram pelo meu corpo exposto
e no instante seguinte estendeu a toalha
entre nós dois, de forma que nem eu via
o corpo dele e nem ele o meu.
— Eu vou te entregar a toalha,
me virar de costas e você vai sair daqui
e sem gracinhas dessa vez, Ally. — Ele
estendeu a toalha e se virou de costas.
— Não olhe para minha bunda — disse
e eu dei um risinho, pois era justamente
o que estava fazendo.
— Só para constar, sua tatuagem
é linda. — Ele pegou a camisa e
colocou em frente ao seu corpo, tentando
esconder seu membro. Com a outra mão
ele segurou meu braço e olhou dentro
dos meus olhos.
— Escute, Ally. Pare com isso.
— Parar com o quê? — Mordi o
lábio inferior me fingindo de inocente.
— Há meses que você vem
tentando me seduzir, cheia de
brincadeirinhas. Agora na última semana
você vem exagerando.
— E estou conseguindo atingir
meu objetivo? — Sorri animada, afinal
ele reparou e isso significava que
alguma coisa dava certo ali.
— Não. — Ele rolou os olhos.
— Seu pai não vai saber disso que
acabou de acontecer e você vai parar
com essas gracinhas que anda fazendo.
Certo? — Joey agia como um tio, coisa
que não era. Abriu a porta e apontou
para que saísse. — Vai logo.
— Não vou ganhar nem um beijo
de tchau? Daqui a pouco vou sair, é um
beijo de “Boa noite”. — Fiz beicinho.
— Se vai agir como um tio, faça isso
direito.
— Ok, vem cá. — Aproximei e
segurei seu rosto, quando estava
próxima de sua bochecha, virei o rosto
dele depositando um beijo carinhoso em
seus lábios.
— Vou sonhar com você essa
noite — disse enquanto ele me afastava.
— Puta merda, Alice — disse
ainda assustado enquanto eu saía dali
correndo para o meu quarto.
Entrei no quarto com a
respiração ofegante, incrédula do que
havia acabado de fazer e mais confiante
do que nunca em relação ao que sentia
por Joey. Ele havia reparado nos meus
joguinhos, isso era um sinal de que as
coisas estavam indo melhor do que
esperava.
Arrumei-me relativamente
rápido, já tinha separado a roupa que
usaria naquela noite. Enquanto ainda
pensava na pequena cena do banheiro,
meu celular chamou, era Ed.
— Fala, amor da minha vida. —
Atendi animada.
— Isso mesmo, me ilude, Ally.
— Ele disse com a voz arrastada sexy
dele. — Vai vir para a festa?
— Vou sim, a Lili ligou e ficou
de passar aqui para irmos juntas.
— Ótimo! E hoje é
comemoração atrasada do meu
aniversário, vou poder saborear o
champanhe na sua língua como um
presente? — disse descaradamente, bem
ao estilo dele.
— Nem sei o motivo de me
perguntar isso. — Ri. — Você sempre
consegue o que quer.
— Isso é verdade, não posso
negar. — Riu. — Mas é sério, hoje a
festa está em um nível insano, arrumei
um DJ famoso, você vai adorar conhecê-
lo.
— Lili pareceu empolgada —
falei rindo.
— Me diz quando aquela
maluquinha não fica animada com festa?
Nunca vi gostar tanto de bagunça.
— Ela só odeia confusão.
Lembra aquela festa em que um dos seus
amigos resolveu encrencar e começar
uma briga?
— Lembro. — Gargalhou. —
Ela quase bateu em um dos caras para
fazer a briga parar. Lili é doida.
Ouvi uma batida na porta e fui
ver quem era.
— Então a gente... — terminei a
frase no meio, pois dei de cara
com Joey.
— Posso conversar com você?
— Joey disse passando a mão pelos
cabelos molhados, tentei me concentrar
em qualquer coisa que não fosse o
cheiro do shampoo, aliás, meu shampoo.
Mas ele nunca foi tão cheiroso até ser
usado por Joseph.
— Tchau, Ed. — desliguei o
celular enquanto Ed falava alguma coisa
sobre o quarto dele. — O que
quer, Joey? Terminar de ver o que viu no
banheiro? — Sorri maliciosa.
— Não, pequena. — Ele parecia
preocupado. — Posso entrar? Prometo
não demorar, parece que vai sair.
— Vou sim. Entra. — Abri a
porta e dei passagem para ele. — O que
foi?
— Me prometa que não vai
continuar fazendo esse tipo de coisa que
fez no banheiro — disse sentando na
minha cama.
— O quê? — Comecei a rir. —
É sério isso, está tão atraído assim por
mim que não vai resistir? — Joey
levantou e me segurou pelos pulsos.
— Você é uma
adolescente, Alice. — Sacudiu a cabeça
e minha feição alegre se desfez diante da
dele. — Eu sou quase da família.
— Não! Você não é da minha
família. — Libertei-me das suas mãos
que seguravam meus pulsos de maneira
firme. — Todo mundo acredita nisso,
mas eu não. Não temos o mesmo sangue
correndo nas veias.
— Mas você me chamava de
“tito” quando era pequena. — Sorriu
diante da lembrança.
— Eu chamava porque era
criança naquela época, mas agora... —
Coloquei minhas mãos sobre o peitoral
dele. — ... tudo mudou. Você vê que eu
cresci, sabe que cresci. — Joey deu um
passo para trás, afastando-se.
— Pare com isso, Alice. —
Encostou-se na minha cômoda. — Pare
de fantasiar, eu sei que nessa fase da
vida nos sentimos diferentes, com ideias
diferentes. É só uma fase de
conhecimento próprio.
— Não é só uma fase. — Eu me
aproximei novamente. — Você sabe que
venho sentindo isso por você faz tempo,
nunca verbalizei, mas é isso mesmo que
você está achando. — Passei minha mão
carinhosamente pelo seu rosto, a barba
por fazer roçando de leve na pele
sensível dos meus dedos. — Eu sou
apaixonada por você e não é de hoje,
venho me mantendo em silêncio por 2
anos, mas agora só queria fazer você
perceber.
— Você está louca! — Afastou
minha mão. — Vim aqui apenas para
dizer isso, esqueça essa história toda.
Você deve mesmo sair com seus amigos,
relacionar-se com garotos da sua idade.
Você não está apaixonada por mim. —
As palavras dele me atingiram, mas me
fiz de forte.
— Tudo bem, se você quer
assim. — Levantei minhas mãos com as
palmas viradas para ele, como se me
rendesse.
— Sim, é o que eu quero.
— Mas não acredite quando te
chamar de tio, querendo incluir você na
família pois quando fizer isso, será
ironicamente. — Sorri me sentindo
vitoriosa. — E só para você saber, não
quero me relacionar com caras da minha
idade, sendo bem sincera, eu só quero
estar com você.
— Alice! — A voz de meu pai
vinda da sala assustou-me. — Cecília
acabou de chegar.
— Se você me der licença,
preciso me arrumar. — Ele assentiu e
quando ia saindo o chamei, virou. —
Feche a porta, por favor...tio. — Pisquei
e ele fechou a cara antes de sair e bater
a porta com força.
Ri de mim mesma e da situação
em que me metera. Era claro que um dia
teria que ser verdadeira com ele e já
imaginava que sua reação seria
exatamente aquela. Como aceitar que a
garota que vira crescer simplesmente
havia se apaixonado por ele?
Porém havia guardado aquilo
durante tanto tempo, escondido e
deixava transparecer nas pequenas
brincadeiras nada inocentes que fazia.
Era óbvio que um dia iria extrapolar e
ele agiria daquele jeitinho que tinha
acabado de agir, mas eu não me
preocupava, pois sabia que aquela
declaração que esperava por fazer há 2
anos, era apenas o primeiro passo para
tê-lo para mim.
— Sabia que não teria terminado
de se arrumar. — Lili entrou no meu
quarto bufando. — Vou esperar, mas não
demora.
— Reclamona! Não vou
demorar, fica tranquila.
Coloquei um vestido preto que
me deixava com o corpo perfeito, ajeitei
os cabelos e fiz uma maquiagem digna
de profissional. Saímos do quarto rindo
de uma piada e ao chegarmos na sala,
meu pai e Joey assistiam um filme na
televisão.
— Eu estou indo — disse e meu
pai apenas assentiu concentrado na
televisão.
— Vê se não demora — falou
ainda com os olhos vidrados na partida
de futebol. Joey me olhava atento, mas
assim que viu que o olhava, virou o
rosto para a televisão.
Passei pela cozinha, abracei
minha mãe, dando um beijo em sua
bochecha.
— Vê se toma cuidado nessa
festa — disse bebendo um gole do café
que ela provavelmente havia acabado de
fazer.
— Pode deixar, mãezinha. —
Acenei e ela acenou de volta antes que
voltasse para a sala.

Ed já me esperava quando
cheguei à festa, como sempre ele estava
uma perdição, vestido para matar. As
menininhas praticamente babavam por
ele, enquanto tomávamos um drink
sentados no sofá da sala do apartamento
que ganhou no aniversário do ano
anterior.
— Não sei como ainda fica com
essa fixação comigo, Ed. Você pode ter
a mulher que quiser.
— Por isso mesmo, tenho quem
quiser, mas aí você apareceu e é a única
que não posso ter.
— Você já me teve várias vezes,
inclusive nos locais mais inusitados
possíveis. — Eu disse arrancando uma
gargalhada dele.
— E quem disse que quero você
só fisicamente? — Ele bebeu um gole da
sua bebida. — Claro que quero, mas não
quero apenas isso. Eu quero tudo, por
fora e por dentro.
— Você está tentando ser fofo
hoje? — Fiz uma careta.
— Não sei percebeu, mas sou
fofo com você e sabe o motivo.
— Vai insistir na ideia de que
me ama?
— Vou sim, porque é verdade,
mesmo que não acredite. — Ele passou
a mão pelo meu braço desnudo e causou
arrepios. — Eu posso ser meio louco,
frio e inclusive ser chamado de vilão
por muitos, mas sou uma pessoa melhor
quando se trata de você.
— Me sinto mal quando fala
assim, sinto como se não desse valor a
você e ao que sente por mim e então me
torno o monstro da história.
— Não se sinta assim, você
nunca foi e nunca será um monstro. —
Ele levantou do sofá e estendeu a mão
para mim. — Vem comigo.
Segurei a mão dele e o segui até
a sacada, fazia um pouco de frio e por
isso me encolhi um pouco até que Ed
percebesse e se aproximasse de mim,
ele deu um beijo na minha têmpora.
— Sabe que às vezes agradeço
pelo fato de ter tudo que tenho, mas
ainda sinto que falta alguma coisa? —
Ed disse com a voz meio alta tentando
ser ouvido por mim.
— O dinheiro não compra tudo
— disse simplesmente e ele assentiu.
— Não compra a atenção dos
meus pais por exemplo. — Levou o
copo que estava em sua mão até a boca e
bebeu do líquido âmbar. — Hoje meu
pai mandou uma mensagem de texto,
disse que está em Barcelona com a
minha madrasta, meu aniversário passou
e ele nem ao menos me
parabenizou, Ally.
— Jura? — Afastei-me um
pouco, perplexa pela situação. Já sabia
como o pai dele era, mas não imaginava
que fosse capaz de esquecer o
aniversário do próprio filho. — E sua
mãe?
— Na mesma situação, faz 5
meses que não manda nem sinal de
fumaça. — Ele terminou a bebida em
seu copo. — Vamos mudar de assunto?
A festa era para me animar e não
ficarmos falando sobre assuntos chatos,
tipo esse.
— Mas você precisa colocar
isso para fora — disse passando meus
braços pelo tronco de Ed.
— Eu acho que preciso colocar
outras coisas para fora.
— Meu Deus, como você é sujo!
— disse antes que ele me virasse,
colocando-me de frente para ele.
Instintivamente dei dois passos para trás
e senti minhas costas no vidro que
servia de mureta.
— Não fiz nada ainda. — Sorriu,
seus lábios umedecidos encostaram em
minha bochecha e seguiu em um
percurso curto até minha orelha. Senti o
celular vibrando na carteira, mas
ignorei. — Só faço se deixar, você sabe
que manda em mim.
— Eu deixo. — Sorri e ele
mordeu minha orelha. — Me beija logo,
Ed.
Ele segurou meu queixo e então
uniu nossos lábios, sabia que aquilo era
uma perda de tempo, minha e dele. O
que podia fazer, viver um amor na minha
mente e ficar sem ninguém, esperando
que o alvo de minha paixão me olhasse
para que pudesse beijar novamente?
Caramba, sou humana e preciso sentir
aquele calor lá embaixo de vez em
quando, se é que me entende.
O celular vibrou enquanto o
beijo aumentava a intensidade e já sentia
a mão de Ed descer pelas minhas costas
em uma direção conhecida, eu tentava
ignorar o telefone, quando Lili apareceu
do nada na sacada.
— Me desculpem atrapalhar —
disse em alto e bom tom, tanto que
parecia muito aflita. — Ally, preciso
falar com você. Agora! — Ed sorriu de
canto e apenas assentiu, depositei um
selinho nos lábios dele.
— Vou buscar uma bebida
enquanto vocês conversam. —
Abraçou Lili e deu um beijo na testa
dela antes de entrar no apartamento.
— Se você vai mesmo dar para
ele, arrume um quarto, por favor! —
Mostrei a língua para ela, que apenas riu
em resposta.
— Então, me fala. O que houve
de tão importante para cortar meus
amassos.
— Seu querido Joseph me ligou.
— Te ligou? O que ele queria?
— Eu segurava os braços dela e meu
olhar provavelmente era assustador
naquele momento. — Ele só liga para
você em emergências.
— Se olhasse seu celular não
seria necessário que ele me ligasse. —
Ela bufou e rolou os olhos enquanto
continuava olhando para ela, esperando
detalhes — disse exatamente assim
“Oi Cecília, me desculpa incomodar,
mas tem como mandar a Ally atender a
porra do celular?” e desligou. Muito
educado como sempre.
— Ele não te trata assim, Lili.
Alguma coisa séria aconteceu. — Eu
peguei meu celular e vi várias ligações e
mensagens dele, as primeiras pediam
para que eu ligasse para ele assim que
visse a mensagem, nas últimas ele
parecia um louco, escreveu as
mensagens com letras maiúsculas e
havia muitos palavrões ali.
Retornei a ligação, não chamou
nem duas vezes, dele me atender.
— Alice, onde você tá? Na casa
daquele babaca do Edward? — Eu
coloquei a mão no outro ouvido para
escutar melhor.
— Joey, o que foi?
— Alice, saia da casa do
Edward, agora! — Fiquei nervosa,
muito irritada mesmo. Quis xingá-lo e
dizer para ele parar de tomar conta de
mim, Joey não era meu pai, nem tio e
nem nada daquilo, mas apenas desliguei
a ligação e meu celular.
Não era a primeira vez que Joey
ligava e me mandava ir embora de
alguma festa, já tinha feito isso e era
exatamente porque estava em uma festa
de Ed, que ele detestava com todas as
forças, acreditando ser uma péssima
influência para mim. No fundo,
realmente Ed não era boa influência
mesmo, mas não seria eu a pessoa que
reforçaria essa ideia dele.
— Voltei, minhas lindas. — Ed
voltou com uma garrafa de champanhe
na mão, eu a peguei, nem esperei ele
colocar na taça, bebi direto da garrafa.
Ed olhou-me surpreso e seu sorriso
divertido surgiu. — Tá querendo ficar
bêbada?
— Sim — respondi visivelmente
irritada, Lili me olhou sem entender e eu
apenas dei de ombros antes de segurar a
mão de Ed e puxá-lo para dentro da
festa. Iria fazer exatamente o oposto do
que Joey disse para fazer, iria continuar
na festa e iria aproveitar o máximo.

Duas horas depois de receber a


ligação de Joey, havia virado vários
shots de tequila e nem sabia mais como
conversar decentemente. Minha boca
parecia ter vida própria e minha língua
não me obedecia como de costume.
Edward sentou em um sofá branco no
canto da sala, comigo em seu colo, tendo
meu pescoço beijado enquanto bebia
outra taça de champanhe. Normalmente
não me comportava daquele jeito em
festas, não era do estilo adolescente
chapada, nem achava que combinava
muito comigo, mas estava muito irritada
com Joey por brincar comigo daquele
jeito.
Lili parecia preocupada, ela me
conhecia muito bem e por isso
perguntava toda hora como eu estava e
quando ela começava a mencionar o
nome de Joey, apenas levava meu dedo
indicador aos lábios dela e fazia um som
arrastado pedindo que não falasse sobre
aquilo. Arrependi-me, porque depois da
última vez que Lili veio até a mim, as
coisas explodiram.
— Que porra é essa? — Ed
perguntou, derrubando-me no sofá. —
Quem são esses otários?
Eram policiais. Estava fodida e
não conseguia nem me mexer. Tentei
levantar, mas tudo era um borrão
estranho na minha frente e ali ficava
óbvio minha falta de resistência para o
álcool. Caí no sofá quando tentei me
levantar, enquanto ouvia gritos de
algumas garotas e um policial disse que
iria fazer uma revista no apartamento e
que ninguém entraria ou sairia dali.
Lili aproximou-se e passou a
mão em meu cabelo, olhei-a enquanto
ela me ajeitava no sofá.
— Puta que pariu, Alice! Não
tinha como ficar sem exagerar? Você
nunca faz isso e logo hoje resolve se
meter nessa encrenca. — Ela tentou me
ajudar a levantar, mas não conseguiu.
— Deixa comigo, Lili.
Aquela voz era muito familiar,
soava muito bem aos meus ouvidos.
Eu estava sonhando?
Alucinando? Seria algum efeito daquele
champanhe francês? Ou daquela vodca
com vários sabores que experimentei?
De qualquer forma, Joey se aproximou e
me levantou em seus braços.
– Pega a carteira dela ali e vem
comigo também. Vou tirar vocês daqui,
mas preciso de discrição.
Fechei meus olhos, aninhei-me
naqueles braços familiares e relaxei.
Simplesmente sabia que tudo ficaria
bem, não tinha medo quando Joey estava
por perto. A confiança que depositava
nele era maior do que a que depositava
em mim mesma. Eu era ridícula a ponto
de esquecer a raiva que senti poucas
horas atrás com o simples toque do
corpo dele contra o meu.
— Porque você sempre me traz
esses tipos de problema, Ally? — Ouvi
a voz dele sussurrada em meu ouvido.
Abri meu olho e vi que estávamos no
elevador.
— Dixxculpaa — falei com a
voz arrastada.
— Eu tentei falar com
ela, Joseph, mas é claro que não me
dava atenção. — Lili me detonava ao
invés de ajudar, eu a xinguei
mentalmente porque não sabia se
conseguiria falar alguma coisa, mas no
fundo, sabia que minha amiga estava
certa.
— Vou levar você para
casa, Cecília. Depois verei o que farei
com Ally.
Pensei em pedir para que não me
levasse para casa, não daquele jeito. Se
meu pai me visse naquela situação,
ouviria por muito tempo. Um gole de
champanhe em alguma festa importante,
ele não se importava, mas ficar bêbada
daquele jeito seria pedir um castigo
eterno.
Porém o que ele falou em
seguida, deixou-me sem palavras.
— Houve uma denúncia de que
há drogas na festa, uma grande
quantidade. Os policiais invadiram para
fazer uma averiguação no local. Eu
precisava que Alice me escutasse, vocês
poderiam ter ido embora sem problemas
e não precisaria ter que enganar todos os
outros policiais. Fiz um juramento e
acabei de quebrar várias regras ao
mentir sobre o estado de saúde de Ally.
— Ele suspirou. — Mas não poderia
deixar que os outros simplesmente
percebessem que se tratava da filha de
um dos delegados mais importantes da
região.
Aninhei-me em seu peitoral,
aproveitando do momento. Com os olhos
fechados, inalei o perfume tão familiar,
mas que não podia apreciar tão de perto.
Acabei adormecendo logo depois de
sairmos do elevador, fui despertar
quando estávamos dentro do carro, a
caminho de casa.
— Para onde vamos? — Minha
voz ainda estava arrastada.
— Para casa, obviamente. —
Joey me respondeu.
— Nããão — Eu falei feito uma
criança dengosa. — Meu pai vai falar na
minha cabeça. — Bufei e enrosquei-me
no banco do carona, sentindo os efeitos
que o alto nível de álcool em meu
sangue havia causado.
— E o que você me sugere? Não
tenho outra saída, Ally.
Virei-me para ele e coloquei
minha mão sobre a mão dele que
repousava na coxa dele.
— Me leva para qualquer lugar,
mas não para minha casa. Lembra do dia
em que fui para sua casa e você disse
que não contaria para os meus pais?
Estou pedindo isso hoje de novo. —
Estendi o dedo mindinho para ele que
me ignorou, concentrado no trânsito. Ali
eu fazia aquelas maluquices, mas depois
quando estivesse sóbria, iria me
arrepender e sentiria o peso da ressaca
moral. — Sério que vai me ignorar? —
Ajoelhei-me no banco do carona e ele
parou o carro em um sinal.
— O que você quer de
mim, Alice? — Ele disse, perdendo a
paciência comigo.
— Você. — Ele olhou-me como
se já soubesse a resposta que daria. —
Mas eu já sei que não vai rolar,
então...quero seu silêncio. — Estendi o
dedo mindinho novamente e ele riu,
daquele jeito que fazia com que me
apaixonasse cada vez que o via,
engraçado como uma coisa tão simples
mexia comigo tão profundamente.
— Certo, pequena. Vou dar um
jeito e seus pais não vão saber. —
Entrelaçou o dedo mindinho no meu. —
Agora senta direito, sabe que é contra as
regras carregar passageiros em carro de
polícia, o que pode se tornar ainda pior
pelo fato de que a minha carona está
ajoelhada e sem o cinto de segurança. —
Sorri e me ajeitei no banco novamente
enquanto ele dava partida no carro.
— E como você vai fazer isso?
— perguntei encolhendo-me no banco
e Joey jogou seu casaco para mim.
— Dorme aí, pequena. Deixa
comigo que resolvo isso, mas antes, me
dê seu celular, preciso enviar uma
mensagem para sua mãe.
Apontei para minha carteira que
estava no painel do carro, indicando que
o celular estava lá, ele passou a mão em
minha cabeça, bagunçando meu cabelo.
— Ok. Agora, confia em mim.
Com essas palavras, relaxei e
adormeci. Porque como já disse
anteriormente, eu confiava nele, mesmo
sem ele pedir por isso.
Capítulo 3
Joseph
Alice adormecia facilmente, mas
bêbada parecia dormir mais rápido
ainda. Estava carregando-a em meus
braços, pedi discrição para o porteiro
do prédio, caso alguém da casa de Ally
perguntasse por ela.
Entrei no elevador e respirei
fundo, estava exausto, não apenas física,
mas mentalmente também. A
possibilidade de que o assassinato da
garota de 16 anos pudesse ter sido não
um ato isolado, mas obra de um serial
killer, ainda rondava minha mente e a
ideia de começar uma investigação por
conta própria estava começando a se
tornar uma obsessão. Era estranho ter
que esperar que alguma adolescente
fosse morta para que pudéssemos abrir
uma investigação oficial.
Destranquei a porta
cuidadosamente, enquanto Alice ainda
dormia em meus braços. Para muitos,
aquela tarefa seria impossível, abrir
uma porta com uma garota nos braços,
mas para mim era algo que já tinha feito
várias vezes. Estava acostumado.
Entrei em meu apartamento e
tentei não fazer muito barulho, não
queria acordar James que
provavelmente dormia em seu quarto.
— A gentxxe preciss... — Ally
conversava enquanto dormia, desde que
era criança. Vivia falando que algum dia
aquilo iria condená-la, caso contasse
alguma coisa que não devia. Entrei em
meu quarto com ela e joguei as chaves
em cima da cômoda.
— O que a gente precisa, sua
maluquinha? — disse rindo e ela
afundou o rosto em meu pescoço, seu
nariz roçou de leve e me arrepiei.
Segure-se Joseph. É a Alice.
Esse era exatamente o problema,
como iria mentir para mim mesmo? Já
tinha fantasiado com ela algumas vezes,
devo relatar que a culpa não foi minha e
sim de James. Ele sempre me metia
nessas enrascadas e no último
aniversário de Ally dei a ela um biquíni
que ela queria muito, eu mesmo não teria
comprado, ela que me indicou a loja e
ao chegar lá falei que era para Alice,
filha do delegado Santiago e então a
vendedora já foi até o estoque. Estava
tudo combinado.
No jantar de aniversário, coisa
simples na casa dos Hastings, entreguei
o presente para ela, que adorou e disse
que só usaria aquele biquíni quando nós
dois fôssemos para uma praia, ela fez
questão de falar a palavra “sozinhos”.
Eu não tinha ideia que ela só estava
começando a jogar pesado para cima de
mim. Lembro que mostrou para todo
mundo o presente e quando foi guardá-lo
no quarto, James sentou ao meu lado e
começou a falar que Alice ficaria
maravilhosa naquela peça minúscula.
Meu pensamento instintivo foi de socá-
lo, mas como julgar um cara de 25 anos?
Ele tinha todo o direito de fantasiar, ou
não?
O problema é que eu comecei a
imaginar e bom, a partir daí tive alguns
sonhos malucos com ela, alguns em que
vestia aquele biquíni azul e em outros
em que ela não usava nada. Felizmente
eram apenas sonhos. A gente não pode
decidir com o que vai sonhar, certo?
Então não tinha culpa e é claro que o
meu senso, a minha razão, sempre
falavam mais alto.
Porém ali no meu apartamento,
enquanto sentia o perfume dela e notava
que seu nariz era substituído por seus
lábios, passeando pelo meu pescoço,
não pude evitar sentir uma onda de
desejo, ela não estava facilitando muito
as coisas para mim. Eu era homem,
caramba. Tenho aqueles famosos
instintos primitivos.
Deitei-a em minha cama, mesmo
que ela relutasse para me soltar. Ela
puxou meu travesseiro e o abraçou
firmemente. Porém ela era quase da
família, uma sobrinha. Isso, Joey. Volte à
razão. Caso o pai dela sonhasse com
qualquer uma dessas coisas, iria me
matar. Tudo bem, não mataria, mas
acabaria com a maior amizade que eu
tinha, o cara que mais me ajudou quando
meu pai morreu. Mostrou-me o rumo
certo na vida, apoiou-me para crescer na
carreira policial. Se eu era o que era,
devia tudo aquele homem.
Tranquei a porta do quarto para
que James não entrasse ali e visse Ally
deitada em minha cama enquanto eu
tomava banho, seria muito complicado
fazê-lo entender qualquer coisa com
aquela mente suja dele. Fui para o
banheiro, precisava de um banho para
tirar o cansaço e relaxar depois daquele
dia de trabalho cansativo que me sugou
até os últimos segundos.
Entrei no chuveiro e deixei a
água escorrer da cabeça aos pés, apoiei
minha mão na parede e recapitulei todas
as ideias e conclusões que tirei do
suposto serial killer, fechei os olhos e
afastei as imagens que havia visto.
Aquelas adolescentes mortas, todas com
um futuro pela frente, médicas, dentistas,
professoras, engenheiras,
administradoras de sucesso, que
realizariam sonhos se não tivessem tido
as suas vidas arrancadas de forma tão
brutal, meus pensamentos foram até a
imagem recente de Alice deitada em
minha cama. E se fosse com ela? Isso
poderia acontecer, afinal, não estamos a
salvo, não no mundo atual.
Terminei o banho, vesti uma
boxer e comecei a secar o cabelo com a
toalha, parei no umbral da porta que
dividia o quarto e o banheiro, fiquei ali
parado admirando-a. Parecia tão
inocente durante o sono, quem a via
assim não poderia imaginar como era
forte e determinada, aliás, isso me
preocupava. Se ela continuasse com
essa ideia fixa de me conquistar, não sei
o que faria.
Aproximei-me da cama e peguei
o edredom que ficava embaixo do meu
travesseiro, preparando-me para deitar
no pequeno sofá, mas ela se movimentou
e abriu os olhos, parecia meio perdida,
talvez meio bêbada ainda e esticou o
braço segurando o edredom.
— Fiiica aquiiiiii. — Ajeitou-se
na cama e se encolheu como se cedesse
um lado para mim. Eu pisquei algumas
vezes, sem saber o que fazer. Eu torcia
para que ela não falasse nada e eu
pudesse ir para o sofá, era mais seguro.
— Anda logo, eu não vou te morder —
disse de olhos fechados, derrotando a
minha ideia de ficar afastado.
Deitei-me e coloquei o edredom
em volta do meu corpo, não queria
dividir o mesmo com ela, aquilo tudo
me soava muito errado, como se
estivesse cometendo um delito muito
grave. Passei a mão entre eu e ela, para
criar uma linha imaginária com intuito
de me acalmar, mas assim que relaxei
ela se movimentou.
Ally estava de frente para mim e
aconchegou a cabeça na altura do meu
peitoral, soltou um suspiro pesado antes
de adormecer novamente, eu prendia a
respiração durante toda sua
movimentação e soltei o ar ao perceber
que ela havia relaxado e adormecido.
Escorreguei meu braço em volta de seu
corpo e alguns fios de seus cabelos se
emaranharam em meus dedos, eu
enrosquei o dedo em alguns fazendo um
carinho nela, seu perfume amadeirado
invadia minhas narinas enquanto ia
relaxando aos poucos. Aquela noite eu
dormi sem entender porque meu coração
estava disparado.

~*~

As batidas na porta eram


incessantes.
— Joseph! Abre essa porta, seu
babaca! Você vai se atrasar. — Abri os
olhos e olhei meu celular. Levantei num
pulo, assustado, mas meu maior susto foi
quando olhei para o lado e vi a cama
vazia. Até onde me lembrava, Alice
havia dormido ali.
— Já acordei. — Eu gritei em
resposta, antes de ir para o banheiro, ver
se Ally estava ali, mas não havia nem
sinal dela. Arrumei-me em tempo
recorde, ainda precisava passar na casa
do Santiago antes de ir para delegacia,
precisava saber por onde andava Alice
e porque ela havia ido embora sem me
avisar.
Não sei se era por causa daquele
uniforme, mas naquele dia em particular,
o calor estava quase insuportável,
coloquei meus óculos escuros para
disfarçar minha noite mal dormida. Toda
hora que Alice se movimentava, eu
acordava.
Enquanto estava no elevador,
subi os dois andares me perguntando
seriamente o que tinha na cabeça para
aceitar aquela ideia dela de dormir na
mesma cama com Ally, tinha um peso
nas costas como se tivéssemos feito
sexo.
— Bom dia — disse entrando no
apartamento e encontrando com Alice
sentada no sofá, arrumada para ir para a
escola. Ela sorriu para mim e virou o
rosto para a televisão novamente.
Ignorando-me e ela nunca, nunca mesmo,
fazia isso.
— Vai querer carona hoje? —
disse vendo se alguém estava por perto
e sentei-me ao lado dela no sofá.
— Não sei, acho que meu pai vai
me levar — respondeu friamente e dei
um suspiro pesado.
— Porque está me tratando
assim? — perguntei e ela deu de
ombros.
— Estou te tratando normal. —
Recostou-se no sofá e mudou de canal.
— Quer saber? — Levantei-me e
a puxei pela mão fazendo com que se
levantasse do sofá. — Você vem
comigo.
— Não quero ir com você, Joey.
Me deixa.
— Você vem sim e vai me contar
o que aconteceu enquanto estivermos no
caminho — disse segurando seu braço e
ela rolou os olhos ao perceber que
estava derrotada.
— Tá bom, então — falou e
depois gritou que estava indo comigo
para os pais e não deu tempo nem de
ouvir a resposta, porque saí carregando-
a para fora do apartamento.
Ficamos em silêncio até que dei
a partida no carro e comecei a dirigir
pelas ruas da cidade. Ela enrolava as
pontas do cabelo e olhava para frente,
sem esboçar nenhuma reação.
— E então, o que houve? —
perguntei tirando óculos de sol,
olhando-a. Alice apenas olhou pelo
canto do olho e mordeu o lábio inferior.
— Desde quando você está
namorando? — perguntou
repentinamente e eu fui pego de
surpresa. Desde quando eu tinha
namorada?
— Da onde você tirou
isso, Alice? — respondi rindo.
— Não importa. — Ela abriu um
pouco do vidro e a brisa que entrou
trouxe um pouco do seu perfume até meu
nariz.
— Claro que importa. — Sacudi
a cabeça e passei a mão em meus
cabelos, coçando a cabeça, achando
graça da situação. Ela estava com
ciúmes de mim? — Eu não tenho
namorada nenhuma, Ally.
— Mas, e aquele sutiã jogado no
sofá do seu quarto? E hoje de manhã seu
celular...ele estava tocando
insistentemente no bolso do casaco que
me emprestou ontem à noite e eu atendi.
— Quem era? — Agora parecia
sentir-se culpada por ter atendido a
ligação.
— Sara — respondeu para
depois ficar em silêncio.
Eu tive um rolo com a Sara por 2
meses, a gente se dava bem na cama e
era só isso. Dei um tempo porque
percebi que ela estava apaixonada,
aquilo não daria certo, porque estava
apenas curtindo. Alice bufou e sacudiu a
cabeça. — Qual é a de vocês? Ela foi
toda estúpida comigo.
— Sério? — Comecei a rir. —
O que ela te disse?
— Para eu não “me meter na
relação de vocês” e que vocês “tem algo
sério e verdadeiro”, que você está me
enganando. Eu tentei explicar que não
temos nada, mas ela não me deu tempo.
Eu nem sei quem é essa vadia, mas já a
odeio. Ninguém me chama de vagabunda
às 6:30 da manhã e fica por isso
mesmo.
— Ela te chamou de vagabunda?
— perguntei começando a não gostar do
que ouvia. Tinha aquela maldita
proteção sobre a Ally, não conseguia
evitar. Era como se fosse comigo.
— Me chamou de “umazinha
qualquer”. O mais ridículo, é que
dormimos na mesma cama, não fizemos
nada e no fim fui xingada por algo que
nem fiz. — Ela estava com a cara
fechada, aquele bico que ela fazia
quando ficava irritada era engraçado, eu
adorava.
— Não fica com ciúmes. —
Virei a esquina chegando na escola.
Desliguei o motor do carro e ela já ia
sair do carro sem nem despedir, mas fui
rápido e travei as portas.
— Abre essa porta, Joseph.
— Uau, me chamando até pelo
nome. — Ela estava de costas para mim,
tentando achar alguma maneira de
destravar a porta do carro e a virei para
mim. — Eu não tenho mais nada com a
Sara.
— Para de ser mentiroso. — Ela
terminou de virar o corpo para mim. —
Pode falar que está com ela, talvez isso
seja até bom. Assim percebo que não
vamos ter nada e paro de fantasiar algo
que não vai existir.
— Eu e ela tivemos um rolo,
durou uns dois meses, mas acabou. —
Ela olhava para as próprias pernas,
evitava me olhar e aquilo era terrível
para mim. Levantei o rosto dela, fazendo
com que me olhasse. — Mas... acho que
essa parte de não termos nada e você
parar de fantasiar sobre nós dois, seria
uma boa ideia. — Seu olhar era
profundo e eu não aguentei olhá-la por
muito tempo, virei o rosto, olhando para
a frente. — Qualquer dia desses eu
posso aparecer com alguém e acho que
você precisa se acostumar com isso.
Ela não respondeu, mas pude vê-
la assentir pelo canto de olho.
— Abre a porta, por favor —
pediu com a voz baixinha.
— Posso vir te buscar? —
perguntei pensando em almoçar na casa
dela e tentar fazê-la não ter raiva de
mim.
— Me liga depois e eu te falo.
— Ela abriu a porta assim que destravei
e saiu do carro. Nem ao menos acenou,
apenas correu para a escola. Meu
celular chamou e apareceu o nome de
Sara no visor.
— Sara, precisamos conversar.
— Eu atendi tentando manter a voz fria,
estava sinceramente irritado com a
maneira que ela havia tratado Ally.
— Uau, bom dia para você
também. — Ela riu, até sua risada era
sensual. Aquilo acabava comigo e
minhas forças iam por água abaixo.
— É sério, hoje à noite a gente
se vê. — Eu liguei o carro novamente e
antes que ela me respondesse, eu falei.
— Me manda o nome de onde quer me
ver por mensagem e a gente se vê lá às 9
da noite, hoje não farei plantão, sairei
mais cedo do trabalho.
Desliguei. Não costumo fazer
isso, acho falta de educação, mas a
imagem da Alice chateada estava fixa
em minha mente. Eu iria dispensar Sara
e explicar que ela havia destratado uma
das pessoas que eu mais amava no
mundo, alguém que eu como família.
Segui para o trabalho e assim
que entrei em minha sala, James me
esperava assistindo televisão, desligou
assim que me viu e virou para mim
sorridente.
— Então, hein? A noite foi boa.
— Ele deu uns tapinhas em meu ombro.
— Do que você está falando? —
Eu perguntei sentindo um pouco de medo
do que ele falaria em seguida e ele
gargalhou.
— Ah, para! Eu ouvi alguém
batendo a porta da sala de manhã cedo,
não deu para ver quem era, mas vi que
era uma mulher. — Ainda bem que
James era um tapado, não enxergava as
coisas que estavam óbvias.
— Não era ninguém, era a Sara.
— Achei que tinha dado um
passa fora nela — disse roubando uma
bala de chocolate do pote onde as
guardava.
— Eu tinha, mas não sei... vou
resolver tudo hoje a noite com ela. —
Meu celular vibrou no bolso.
— Iiiih, pelo visto é ela. Vou
vazar para você ter mais privacidade.
— Gostei dele ter saído, porque quando
olhei no visor reagi meio estranho.
Era Ally.

“Me busca na hora da saída.”

Eu sorri da mensagem autoritária


e também ao imaginar sua feição ainda
meio emburrada, antes de receber uma
chamada para deter um suspeito de
vários roubos que estava investigando
fazia meses. A parte da manhã quase
nunca era movimentada, mas naquele dia
em particular as coisas pareciam ter
ficado incrivelmente complicadas. Por
fim eu acabei perdendo a hora de
buscar Alice e só percebi isso quando
meu celular começou a chamar
insistentemente.
— Oi? — Atendi enquanto
terminava de fazer um boletim de
ocorrência para um policial que teve
que ir embora mais cedo e acabei por
substituí-lo.
— Como assim “Oi”, Joey? Tem
uma hora que estou esperando. — Ally
parecia muito irritada.
— Me desculpe, as coisas
ficaram meio complicadas no trabalho.
— Prendi o celular entre a cabeça e o
ombro e tentei continuar preenchendo o
boletim. — Mas devo chegar aí em 15
minutos.
— Não precisa, estou indo
embora de carona com o Ed —
respondeu antes que pudesse dizer para
se afastar daquele delinquente, ela
desligou. Aquela menina precisava de
um corretivo, como assim desligar na
minha cara? Cadê a educação que os
pais dela haviam dado?
Terminei de preencher tudo em
tempo recorde e orei para que não
tivesse preenchido nada errado, porque
teria que ouvir muito depois. Eu já
estava juntando minhas coisas para ir
almoçar quando me chamaram
novamente.
— Spencer! — Virei-me e vi o
Delegado Hastings, chamava-o tanto
assim na delegacia que por fim nem
quando estávamos em casa relaxava, era
não apenas a profissão dele como
também uma espécie de apelido. Sem
contar que na minha profissão era meio
que obrigatório demonstrar respeito por
aqueles que tinham a patente mais alta.
— Sim, delegado? — Ele
aproximou-se sorridente.
— Venha almoçar comigo, hoje
não tenho como ir em casa, porque pelo
que vê as coisas estão alucinantes por
aqui. — Pelo visto, não conseguiria
arrancar Alice dos braços do
delinquente juvenil.
— Claro. — Pelo menos poderia
aproveitar para levantar o assunto que
estava mexendo com minha mente. O
caso do assassinato do beco e o fato de
que o assassino talvez fosse obra de um
serial killer. — Preciso conversar com
você sobre um assunto importante.
Eu tentei, durante o almoço
coloquei o assunto sobre os assassinatos
que acreditava ser obra de um serial
killer, nem preciso dizer que não
adiantou nada, certo? Aliás, levei uma
bronca dele por estar insistindo nisso.
Disse que o fato de meu pai ter sido
assassinado por um serial killer (não
esse que queria investigar) fazia com
que eu pudesse agir pensando nisso e
não focar na investigação de fato. Ele
acreditava que era por vingança e eu me
peguei pensando se de fato não era essa
a verdadeira razão que estava me
deixando tão alucinado com todos
aqueles acontecimentos.
De meia em meia hora eu olhava
o visor do meu celular, não queria
admitir, mas estava preocupado demais
com Alice. Talvez mais até do que
deveria e aquilo não me pareceu ser um
bom sinal.
Capítulo 4
Passei o dia inteiro no
apartamento de Ed, claro que brigamos
pela situação tensa das drogas, mas ele
explicou que daquela vez não tinha nada
a ver com o problema (ou seja, que
houve algo parecido outra vez). No fim
das contas, nem me importei com a
maneira com que a festa terminou. Ed
fazia esse tipo de coisas para chamar a
atenção, era daquele jeito e não mudaria
tão cedo, além do mais, quem era eu
para julgá-lo? A verdade é que sempre
tive uma personalidade terrível, era
ótima em me meter em confusões e,
vamos combinar, péssima para escolher
um romance, afinal pense bem por quem
eu tinha me apaixonado.
— Acho que preciso ir embora,
Ed. — Terminei de tomar meu
refrigerante e Ed me puxou para perto
dele, abraçando-me.
— Ah não, vou ficar sozinho.
Não estou num dia legal, quero
companhia. — Ele estava sem camisa,
seu abdômen era definido e a calça de
moletom cinza que usava era baixa e
deixava as entradas à mostra. Ele era
sem dúvidas o cara mais sexy que
existia na minha opinião, logo depois
do Joey, é claro.
— Preciso ir para casa, falei
para minha mãe que viria fazer um
trabalho da escola com Lili e que
chegaria antes do anoitecer e sem contar
que dormi... — eu ia falar que havia
dormido em Joey, mas segurei minha
língua.
— “Dormiu”? O quê?
— Na casa da Lili. — Eu
coloquei minhas pernas por cima das
pernas dele tentando parecer natural
enquanto mentia.
— Liga para sua mãe e pede
para dormir aqui — falou na maior
naturalidade. Minha mãe não deixaria,
porque papai nunca me deixaria dormir
na casa do Ed. Digamos que Joey já
havia feito a cabeça do meu pai sobre a
personalidade forte e intensa de Ed.
— Acho que não vai rolar, você
sabe.
— Seu “tio”... — Ele fez aspas
com os dedos. — ... não é muito meu fã
e fez minha caveira para o seu pai. Você
já me contou isso.
— Para de falar que ele é meu
tio. E é isso aí mesmo, ele não é muito
seu fã.
— Eu falo de propósito para ver
se você desiste dele. — Ele riu e dei um
soquinho na barriga dele, fazendo-o
contrair o abdômen e deixar todos os
músculos mais salientes. — Então fala
que vai dormir na Lili de novo.
— Mentir para ela?
— Não seria a primeira vez. —
Ele piscou para mim. Eu ri me
lembrando das minhas fugas noturnas e
das desculpas para dormir na Lili
quando na verdade ia para as festas com
Ed, Lili e o ex-namorado de Lili.
— Além do mais, estava
pensando em irmos naquele bistrô que
você gosta — Ed falou cortando meus
pensamentos.
— Você tá falando sério? —
perguntei sentando direito e alcançando
a bolsa, enquanto ele assentia. — Vou
ligar agora mesmo.
— Você é tão fácil, basta falar
de comida. — Ele gargalhou. — Vou até
o quarto. Tenho uma ideia. — Levantou-
se sorridente e o olhei desconfiada.
— Tenho medo dessas ideias que
você tem.
— Você vai gostar dessa. — Ed
foi para o quarto, aprontar sei lá o que,
enquanto eu ligava para a minha querida
dona Grace que nem me ouviu direito e
já foi simplesmente deixando. Achei até
estranho.
— E aí? — Ed perguntou,
assustando-me. Não tinha percebido que
ele estava atrás de mim enquanto olhava
para o celular sem entender aquela
pressa da minha mãe em desligar a
ligação.
— Não sei, minha mãe foi
estranha, quase não quis falar muito. —
Eu estava preocupada de verdade. Ela
estava assim ultimamente, sempre que
algo muito tenso acontecia, ela agia
desse jeitinho. Fugia de qualquer tipo de
conversa, mesmo uma boba ao telefone.
— Mas ela deixou?
— Aham — respondi
simplesmente e Ed sentou ao meu lado.
— Você tá muito preocupada?
Se quiser ir para casa, eu levo, não tem
problema. — Eu olhei para Ed e
acariciei seu rosto.
— E perder a chance de ter uma
noite incrível com você? — Neguei com
a cabeça. — Não fiquei tão maluca
assim.
Ed não disse nada, apenas me
puxou para perto dele e depositou um
beijo rápido em meus lábios.
— Juro que desse jeito fica
difícil não gostar de você, Ally. —
Sorriu e eu o abracei fortemente. —
Quer descobrir minha ideia? — Afastei-
me empolgada e curiosa, adorava as
ideias dele.
— Fala logo! — Ed levantou-se
e foi até a mesa da sala de jantar e
voltou com uma caixa branca, meio
grande, na mão, sentou-se ao meu lado e
tombou a cabeça em minha direção.
— Não sei se vai gostar. Enfim,
sei que seu aniversário está chegando,
mas já comprei seu presente. — Ele riu.
— Eu ia te entregar para usar na sua
festa, mas nossa saída de hoje merece
algo legal também. Eu depois compro
outra coisa.
— Poxa, Ed. — Eu levei a mão
aos lábios e depois coloquei sobre as
dele. — Obrigada.
— Você merece o mundo. — Ele
piscou e eu rolei os olhos.
— Sempre com suas cantadas.
— Eu dei língua e ele me entregou a
caixa.
—Toma, abre e vê se gosta.
Eu peguei a caixa e dentro dela
tinha um vestido simplesmente perfeito,
o mais lindo que já tinha visto, ele era
azul cheio de pedrinhas bem pequeninas
que faziam com que ele parecesse um
vestido de fada. Meu Deus, como eu
tinha amado aquele vestido.
— Puta que pariu! — falei. —
Nem parece ser de verdade, de tão
perfeito. — Soltei o vestido e pulei em
cima de Ed, abraçando-o. — Vou tomar
um banho e me arrumar agora mesmo!
— Pode ir. — Levantei-me do
sofá e fui para o quarto de Ed correndo,
parecendo criança na frente da
sobremesa depois do almoço.
— Suas coisas estão no armário
novo — gritou enquanto eu entrava no
quarto dele.
Eu tinha um kit de maquiagem na
casa do Ed, não era nada demais. Como
falei antes, sempre fugia para ir nas
festas e às vezes me arrumava em sua
casa, por isso deixava algumas coisas
por lá, como roupas, sapatos e
maquiagem. Entrei no banheiro e deixei
a banheira dele enchendo, meu celular
começou a chamar no bolso da minha
calça.
Eu achava que seria Lili ou
minha mãe, mas na verdade era Joey.
— Oi, Joey.
— Onde você está? — perguntou
sem nem ao menos dar um “oi”.
— Falar um ‘oi’ para as pessoas
é bom, demonstra educação, sabia? —
Eu respondi irônica e o ouvi fazendo
algum barulho de reprovação com os
lábios.
— Vai me dizer onde você tá?
— Ele perguntou calmamente, achei até
estranho me tratar daquele jeito quando
tinha acabado de tratá-lo mal.
— Na casa do Ed. — Fechei os
olhos esperando o grito. Nada
aconteceu. — Não vai dizer nada?
— O que eu posso dizer? Que
não gosto desse cara, nem que você ande
com ele? — Ele fez silêncio e pude
imaginar sua feição de desgosto. Joey
sempre agia assim quando o assunto era
Ed. Nem com o garoto que fugi, aos 15
anos, ele detestou tanto. — Eu não posso
obrigar você a fazer nada em sua
vida, Ally. Só gostaria que repensasse
sua amizade com esse garoto. Você
merece alguém...
— Melhor? — completei a frase
dele. — A única pessoa melhor seria...
— Controlei minha língua. Depois do
que ele tinha dito no carro, aquilo havia
me afetado um pouco. — Eu vou
desligar, Joey. Combinei de sair com o
Ed, devia combinar de sair com a Sara.
Desliguei o celular, mas no
mesmo instante me arrependi de ter dado
a ideia dele sair com a Sara. Maldito
ciúme que toma conta de mim e me faz
agir impulsivamente. Tirei a roupa e
entrei na banheira, precisava daquele
momento para relaxar.

~*~

Assim que chegamos ao bistrô


fomos recebidos como sempre e para
mim significava ser tratada como se
fosse rica, mas para Ed era a coisa mais
normal do mundo. Eu me sentia
superpoderosa com aquele vestido que
descobri custar 3 mil dólares, qualquer
mulher se sentiria assim ao vesti-lo.
— Você está bem? — Ed
perguntou e eu assenti.
— É só que nunca vesti algo tão
caro, a sensação é engraçada. — Ei,
sentindo-me patética. Nunca deixava Ed
me dar presentes, a não ser nos meus
aniversários e ele sempre me dava algo
marcante, mas nunca descobria o preço
de nada, até que consegui saber o
daquele vestido que estava usando.
Eu estava de braços dados com
ele, caminhando pelo bistrô quando dei
de cara com a última pessoa que
esperava ver. Joseph Spencer.
Vestido com um terno simples,
que custava bem menos do que o vestido
que eu estava usando naquela noite, mas
que tinha um caimento perfeito nele.
Seus cabelos foram penteados de um
jeito sério, porém lindo. Comecei a me
perguntar o motivo dele estar ali, mas
não gostei de saber a resposta quando vi
a garota sentada à sua frente. Era uma
modelo, não tinha dúvidas disso. Será
que era a tal Sara? Caramba, aquela era
uma concorrência injusta comigo. E para
quê mesmo eu o mandei sair com a
Sara? Bem feito para mim.
Estava aproximando-me da mesa
onde Joey conversava com a tal mulher,
a nossa reserva era mais ao fundo,
depois da mesa do casal e
aparentemente Joey ainda não tinha me
visto, Ed conversava com a
recepcionista sobre a luz ambiente, eu
nem conseguia prestar muita atenção no
papo deles. Minha atenção estava
voltada para o casal conversando,
pareciam íntimos. Eu a invejei
profundamente, confesso.
Ao chegar bem perto da mesa,
pude ouvir parte do que falavam:
— Então isso quer dizer que
você me perdoa pelo que fiz de manhã?
— a tal mulher perguntou e eu segurei o
braço de Ed, puxando para vir comigo.
— Com licença — disse para a
recepcionista e virou-se para mim. —
Ei, o que houve?
— Vem comigo. — Ele assentiu,
seguindo-me sem entender minha atitude,
até que sua sobrancelha arqueou quando
paramos em frente à mesa de Joey e sua
acompanhante.
Assim que paramos em frente
aos dois, pigarreei e cruzei os
braços. Joey se virou para mim, seus
olhos arregalados e a mulher me olhava
confusa, totalmente perdida.
— O que você faz aqui? —
perguntou e levantou ao ver Ed, sua
feição era de quem mataria alguém. — E
com esse babaca?
— Epa, você acha que está
falando com quem? Só porque é da
polícia, acha que pode sair ofendendo
os outros? — Ed cresceu para o lado
de Joey em busca de uma briga e eu
coloquei minha mão sobre seu peitoral.
— Ed, fica tranquilo. Vai para a
nossa mesa, eu já vou. — Ele me olhou,
apertou os lábios como quem segurava
as palavras para não dar mais confusão,
então assentiu e depositou um beijo em
minha testa.
— Eu te espero lá — disse antes
de caminhar em direção à nossa mesa.
— Então, vai me explicar porque
tá aqui com esse idiota? Seus pais
sabem disso? — Joey estava furioso, eu
sabia que se usasse as palavras erradas
seria uma catástrofe.
— Ei, alguém pode me explicar
também? Estou meio perdida. — A linda
mulher resolveu reclamar e eu apenas a
ignorei.
— Essa é a Ally — disse para a
mulher que assentiu sorridente.
— A que eu xinguei hoje ao
telefone? — Ela colocou as mãos unidas
sobre seu peitoral. — Me desculpe, de
verdade. Não imaginava que era quase
da família, ele me contou e já pedi
desculpas a ele. Parece que fui perdoada
pelo Joey, se puder me perdoar também.
— Ela tinha uma feição afetada e falsa,
apesar de ser toda educada comigo
naquele momento e eu já odiava aquela
mulher.
— Ah, é Sara, não é? — Eu
sorri, sendo mais falsa ainda. Ergui
minha mão para ela. — Sou filha do
melhor amigo e chefe do Joey. Mas não
somos nada de família.
— Ah, sim. Ele parece
considerar você como uma sobrinha e
eu...
— Eu sei — disse cortando-a e
virei para Joey. — Espero que não
atrapalhe minha noite, acho que mereço
pelo menos isso, já que a minha vida
está uma grande merda, se é que me
entende. — Pisquei e ele abaixou a
cabeça, sei que Joey pensou em
responder algo, mas antes que pudesse
falar alguma coisa pedi licença e saí de
perto, antes que minha noite ficasse
pior.
Assim que cheguei à minha
mesa, um garçom puxou a cadeira para
que pudesse sentar e eu tentei fazer isso
da forma mais graciosa possível. Sentei-
me e Ed segurou minhas mãos,
depositando um beijo em cada uma
delas.
— Se você quiser ir para outro
lugar, vou entender perfeitamente. —
Ele me olhava profundamente, do jeito
que fazia quando queria me seduzir.
— Não precisa, Ed. — Acabei
rindo da situação em que me encontrava,
no que fui acompanhada por meu amigo.
— Eu não sei o motivo de ter me
apaixonado por uma encrenqueira.
— Eu? Você está me
confundindo com alguém, Edward. —
Fiz uma careta, fingindo que aquilo não
era comigo.
— Ah, me poupe — falou,
recostando-se na cadeira. — Você faltou
pouco se jogar em cima daquela mulher
e acabar com sua raça só na base da
unhada. — Gargalhei e não pude deixar
de notar que Joey olhou para nossa
mesa.
— Sei policial não para de olhar
para cá, estou começando a achar que
foi uma péssima ideia trazer você aqui.
— Ciúmes? — Ele me olhou
como se fosse óbvio. — Ah, nem se
preocupa. Eu estou começando a achar
que ultrapassei uma linha muito perigosa
com ele.
— Como assim, Ally?
— Humm, eu tenho feito algumas
brincadeiras...
— Já saquei, tá jogando pesado,
não é? — Ele riu e enquanto isso fez o
pedido para o garçom que se aproximou
da mesa, pedi um prato com nome
francês, era o único que entendia o
significado. Logo depois que o garçom
se afastou, voltei a falar.
— Eu não aguento mais, Ed. Eu
sou apaixonada por ele há...
— ...2 anos. Isso para mim é
tempo demais.
— Tempo demais?
— Sim, se me enrolar por mais 6
meses, darei um jeito de esquecer você
— disse e bebeu um gole do copo de
água que havia sido servido assim que
havíamos chegado.
— Não é fácil, assim. —
Respirei fundo e olhei de canto, vendo
Sara entrelaçar os dedos nos de Joey. Eu
quis vomitar. — Acha que se eu
pudesse, já não o teria esquecido? Seria
muito mais fácil para mim. — Sorri. —
Mas sei lá, é estranho isso que sinto.
— Por favor, não começa a se
declarar. — Ed sacudiu a cabeça
sorrindo. — Não agora.
— Me desculpa, Ed. — Mordi o
lábio inferior.
— Se continuar mordendo o
lábio assim, vou ser obrigado a pular a
refeição e ir para sobremesa. — Eu dei
um tapa na mão dele que estava sobre a
mesa.
— Ed! Você não tem jeito
mesmo. — Rimos juntos de nossa
brincadeira.
Nossa comida chegou
rapidamente e aquele restaurante apesar
de ser bem sofisticado, servia pratos de
verdade, com comidas que enchiam e
não serviam apenas para enfeitar o
prato. No fim da sobremesa, eu já não
aguentava mais. Bebi um gole do
champanhe e fechei os olhos, adorava o
sabor do champanhe e conhecia os
melhores por causa do Ed. Eu tinha sorte
de tê-lo como amigo.
— Acho que vou ao banheiro
retocar minha maquiagem. — Limpei os
lábios com o guardanapo e levantei.
— Enquanto isso, vou pedindo a
conta. — Piscou e eu mandei um beijo
para ele antes de virar e ir em direção
ao banheiro. Não vou mentir, passei
aperto para conseguir usar o banheiro
com aquele vestido, ele era lindo e
confortável no corpo, mas caramba que
dificuldade que passei naquele
banheiro.
Depois que consegui, respirei
aliviada. Andei até a pia, lavei as mãos
e abri minha bolsa para pegar o batom
vermelho, claro, e passei nos lábios.
Adorava aquele batom, pois sabia que
mesmo que alguém me beijasse muito, o
batom continuaria intacto.
Assim que terminei de ajeitar os
fios rebeldes no cabelo e retocar o resto
da maquiagem, saí do banheiro e levei
um susto. O banheiro era nos fundos do
restaurante, era preciso entrar em uma
antessala, tudo muito organizado, tinha
até um sofá caso alguém precisasse de
privacidade para conversar com alguém
e foi nesse sofá que vi Joey sentado
assim que fechei a porta do banheiro
luxuoso.
— O que foi? — perguntei
enquanto ele levantava e colocava as
mãos no bolso.
— Porque você faz isso? —
Sacudiu a cabeça com ar de
reprovação.
— “Isso”? Não entendi —
respondi reparando que Joey
aproximava-se e segurava meu braço
firmemente, sua expressão não era de
reprovação e sim de raiva controlada.
— Não se faça de desentendida.
— pelo jeito que ele olhava, percebi
que gostaria de gritar comigo. — Vir
para um restaurante com Edward, depois
do que houve ontem a noite? Da
confusão com as drogas?
— Ele não teve culpa. — Seus
dedos em meu braço começaram a me
incomodar. — Me solta.
— Você não sabe no que está se
metendo, Ally. — Soltou-me ao
perceber o que fazia, olhou para cima e
respirou fundo.
— Sei sim. — Deveria
apaziguar a situação, mas no instante
seguinte falei mais do que devia. — Vim
ao restaurante com Ed e depois vou ter
uma noite maravilhosa com ele. — Joey
segurou meus pulsos com suas mãos e
empurrou-me até a parede.
— Você não vai dormir no
apartamento daquele babaca, Alice. —
Ele vociferou entre dentes.
— Vai me impedir? — perguntei
quase debochada, sabia que agora
estava brincando com o perigo.
— Vou sim. Você vem embora
comigo. — Ele soltou um dos pulsos,
mas o outro ele segurou mais firme
ainda. — Esse cara é perigoso.
— E a sua namorada? —
perguntei sarcástica — Vai deixá-la
sozinha?
— Vou sim, até porque ela não é
minha namorada e já foi embora. —
Começou a andar e puxar-me com ele.
Tentava soltar meu pulso de seus dedos
que o seguravam de maneira forte,
porém sutil.
— Me solta, Joey — Ele negou
com a cabeça e apenas continuou
andando, até chegarmos à minha mesa e
de Ed.
— O que você está fazendo com
ela? — Edward levantou, em posição de
ataque. — Solta ela! Você não percebe
que ela não quer ir com você, Joseph?
— Foda-se você, seus
pensamentos, seus “achismos” e o que
acha que faria com ela essa noite
— Joey disse visivelmente irritado, mas
ao mesmo tempo tentando passar uma
imagem de educado. Falhando,
obviamente. — Dispensei a mulher que
estava comigo para poder levar Alice
para casa e é isso que eu vou fazer.
Não houve espaço para
respostas, pegou-me como se fosse um
saco de batatas e pendurou-me em seu
ombro, saí do restaurante sendo
carregada e tentando esconder meu rosto
das outras pessoas que estavam ali no
restaurante. Estava morrendo de
vergonha.
— Joey! — chamei quando notei
que estávamos na calçada.
— Calma, falta pouco. — Estava
de cabeça para baixo, cansada de ficar
ali, pendurada no ombro dele, na mesma
posição...se bem que a visão que tinha
da bunda dele, era perfeita.
Comecei a rir e levei minha mão
livre exatamente onde ela queria estar,
assim que minha mão tocou sua bunda,
ele a encolheu.
— Ally, o que você pensa que
está fazendo?
— Eu estou tentando fazer você
me soltar, da maneira mais sórdida
possível. — Ele começou a rir.
— Pegue o quanto quiser, não
vou te soltar, Ally. — Bufei e então vi o
carro sendo trazido pelo manobrista do
restaurante. — Obrigado. — Joey
agradeceu ao manobrista que pelo que
pude ver pelo canto de olho, nos fitava
assustado. Que vergonha estava
passando.
— Quando vai me soltar? —
perguntei derrotada.
— Agora — respondeu ao
destravar a porta do carro e me colocou
no chão, antes de me pegar no colo
novamente, para sentar-me no banco do
carona. Assim que me soltou, fechou e
travou a porta. Claro que tentaria fugir
se ele não fizesse isso.
Por isso mesmo, foi esperto e
super-rápido ao abrir e entrar
rapidamente no carro.
— Pronto. Agora vamos embora.
Eu cruzei os braços e não falei
nem mesmo uma palavra. Estava muito
irritada naquele momento e as lágrimas
de raiva começaram a brotar em meus
olhos.
Joey ligou o carro e deu a
partida. Continuamos naquele mesmo
esquema, não falamos nem uma palavra
sequer até que ele parasse em frente ao
prédio onde morávamos. Depois que
desligou o carro, finalmente me olhou.
— Está com muita raiva de mim?
Eu não respondi inicialmente,
mas ao perceber que ele continuava
esperando por minha resposta, acabei
cedendo.
— Imagina. Você só estragou
minha noite, a chance que eu tinha de
aliviar minha mente e meu coração, pelo
menos por algumas horas — respondi
sendo irônica e então o choro veio.
Droga.
— Ei, me desculpa, Ally. — Ele
estendeu a mão e enxugou uma lágrima,
sua expressão parecia além de
preocupada. — Se soubesse que queria
tanto ficar com aquele babaca, tinha
deixado você lá.
— Você não entende, não é? —
perguntei, afastando mão dele, enxuguei
meu rosto e virei para ele. —- Não é
com ele que eu quero ficar, você sabe
disso. Caramba, só queria que me
deixasse em paz já que não quer nada
comigo. Mas não, você fica me
rodeando como se fosse meu pai, como
um...tio. — Eu virei o rosto para frente e
abaixei a cabeça, meu orgulho impedia
deixá-lo me ver daquele jeito, chorando
copiosamente diante da maior das
verdades. Ele nunca me veria da
maneira que queria ser vista.
— Eu...Eu... — Ele ia começar a
falar, mas parecia sem saber o quê.
— Não precisa falar nada, nem
tentar explicar nada. Aliás, faria um
favor se você simplesmente destravasse
a porta e me deixasse em paz, prometo
que não te procuro mais, não faço mais
nenhuma gracinha. Não imaginava que
fosse me machucar tanto quando
expusesse o que sinto por você.
— Eu sou um babaca, eu sei —
disse simplesmente. Ele continuou
falando, dessa vez não o interrompi. —
Não deveria ter levado você para o meu
apartamento, nem ter dormido na mesma
cama e nem ter deixado você ir tão
longe com suas brincadeirinhas nada
inocentes, devia ter sido mais enérgico
com tudo isso. — Ele sacudiu a cabeça,
estava sendo sincero, sabia quando ele
era verdadeiro. — Aquilo afetou
ambos.
— Eu posso te pedir uma coisa?
— perguntei hesitante, tomando coragem
para não desistir.
— Qualquer coisa — respondeu
quase em um ímpeto.
— Me dê um beijo. Só um beijo
e prometo parar com isso. — Eu virei
de frente para ele e com o silêncio dele,
abaixei a cabeça e comecei a olhar o
estofado de couro do banco do carona.
Era óbvio que "qualquer coisa” não
incluía esse pedido, mas quem me
julgaria? Era um grito de desespero, um
último grito. Talvez. — Tudo bem, deixa
para lá.
Eu levantei a cabeça, ele havia
encostado a cabeça no assento e estava
de olhos fechados, deu um suspiro e eu
virei.
— Abre a porta para mim? —
Senti seus dedos em meu braço e virei
para ele novamente. — Esquece tudo
que eu falei e... O que foi? — perguntei
confusa, pois ele me olhava fixamente.
Joey não respondeu, apenas destravou o
cinto de segurança e trouxe seu corpo
para perto do meu.
Passou a mão em meu pescoço,
acariciando-o levemente, arrepiando os
cabelos da minha nuca. Meu coração
estava disparado e eu havia congelado,
não sabia o que aconteceria, puxando-
me para mais perto do seu corpo, Joey
me abraçou, passei meus braços em
volta de seu pescoço e fiquei ali,
sentindo o cheiro do seu perfume
invadindo meu nariz, afetando-me como
sempre.
Ele afastou meus cabelos do
pescoço e passou a barba que estava
começando a despontar, por aquela área
sensível e nesse momento não foram
apenas os cabelos da nunca que se
arrepiaram, cada minúsculo pedaço do
meu corpo respondeu aquele carinho e
eu fechei os olhos. Joey depositou um
beijo tímido em meu pescoço e depois
outro em minha bochecha, antes de
encostar seu nariz no meu.
Abri meus olhos a tempo de
nossos olhares se encontrarem, mas foi
rápido, pois no momento seguinte
quando os fechei, senti os lábios de Joey
sobre os meus. Ele acariciou meus
lábios com os seus, parecia estar me
tentando, mas eu não me importava,
aliás, não importava com nada que não
fosse nós dois e aquele momento
perfeito.
Abri um pouco dos meus lábios
e ele sugou o meu lábio inferior, antes
invadir minha boca com sua língua.
Preciso dizer que sentia como se
estivesse no paraíso? Ficamos nos
beijando por um bom tempo, sem nem
nos afastar. Acho que sabia que no
momento em que nossos lábios se
separassem, seria o fim. Era o nosso
acordo, certo? Tinha feito uma
promessa. Exatamente por saber que
seria o fim, aproveitei cada segundo
como se fosse o último, porque de fato,
era.
Quando esse momento chegou e
separamos nossos lábios, ele encostou
sua testa na minha, então abri meus
olhos. Estávamos ambos ofegantes.
Ficamos nos olhando por alguns
segundos, até me afastar um pouco,
finalmente ele destravou a porta sem
nem olhar para o botão. Joey me olhava
atônito. Eu estava feliz, porém confusa.
Saí do carro e o deixei olhando
para o nada. Entrei no prédio correndo,
tentei pensar numa desculpa para usar
com minha mãe para o fato de não ter
dormido na casa de Lili, ou para o fato
de estar usando aquele vestido incrível
de 3 mil dólares, mas nada vinha na
cabeça. Dentro do elevador eu só sentia,
só dava vida às lembranças que o
formigamento em meus lábios causava.
Passei os dedos ali levemente.
Eu tinha beijado Joey. Aliás, ele
tinha me beijado também.
Nós havíamos nos beijado.
Assim era melhor. NÓS.
A partir daquele momento não
sabia mais o que fazer, porque esquecê-
lo seria uma promessa que nunca
conseguiria cumprir, aquele beijo havia
sido o selo oficial do que eu já sentia.
Eu simplesmente estava mais
apaixonada do que antes. Estava tão
encrencada naquele momento, mas sendo
bem sincera, não me importava nem um
pouco.
Capítulo 5
Joseph
Alice começou a chorar bem na
minha frente e naquele momento senti
uma culpa avassaladora, por isso
quando ela pediu por um beijo foi como
se um botão tivesse sido ativado em
mim. Não sei o que me deu, só sei que
no fim das contas, eu a estava beijando.
A única coisa que conseguia
pensar era, o que beijo foi aquele?
Como uma garota como Alice poderia
saber dar um beijo daqueles? Eu bem
me lembro dos meus vinte e poucos
anos, quando ficava com algumas
meninas de 17 anos, eram todas gostosas
e sabiam o que fazer, mas não tinham
toda a experiência das mulheres mais
velhas. Eu estava pirando, não é?
Quando que uma garota tão
imatura iria beijar bem. O fato era que
ela não era tão imatura como as outras
garotas, o mais louco de tudo aquilo que
convivia tanto com a Alice e só fui
reparar naquele momento o quanto ela
era diferente.
A menina estava abrindo mão
dos seus sentimentos para não me
incomodar, por aceitar que eu não queria
aquilo. Porém sendo bem sincero? Eu
não ficaria ali dentro daquele carro
pensando nisso, por isso tratei de
acalmar os ânimos, não queria que
James me falasse que estava com cara
de quem tinha aprontado algo terrível,
porque aquele cara sempre sabia quando
alguém fazia algo errado. A merda de
conviver com um policial durante 2 anos
era essa, nós, os oficiais da lei, somos
detalhistas por natureza. James parecia
ter um sexto sentido para detalhes e isso,
sempre, ferrava comigo. A minha sorte
era que ele nem sempre tinha um senso
muito bom e quase nunca confiava em
seus próprios instintos, isso estava ao
meu favor.
No dia seguinte, véspera da festa
de aniversário de Alice, recebi uma
ligação de uma garota, relatando que
achava estar sendo perseguida. De
acordo com o relato, ela sentia que
alguém a observava em todos os lugares
em que ia. Quando eu perguntei sua
idade, espantei-me ao ouvir 16 anos.
Estava começando a deixar-me levar
pela ideia do serial killer e aquilo não
podia afetar minha maneira de
trabalhar.
Recebia aquele tipo de ligação
com certa frequência e nem sempre a
pessoa estava realmente sendo
perseguida, precisava ser averiguado,
mas o fato dela ter o perfil que o
assassino preferia, fez-me ficar alerta.
Era impossível refrear aquele
sentimento estranho.
Estava sentado na minha cadeira
e olhei para a foto no porta-retratos na
mesa, era uma foto minha e de meu pai,
fiquei encarando seu sorriso, no
momento da foto, ele tinha acabado de
saber que havia garantido minha entrada
para trabalhar na polícia. Ele não sabia
se chorava ou se ria, e eu naquela época
não imaginava tudo que aconteceria, não
imaginava que ele seria morto.
Comecei a imaginar como meu
pai conduziria a investigação se
estivesse em meu lugar e soubesse que
um serial killer poderia estar à espreita,
maquinando a melhor maneira de fazer
mais uma vítima. Coloquei os dedos
sobre as têmporas e fechei os olhos,
estava com uma dor de cabeça enorme e
aquela história estava me tirando a
paciência e o sono. O pior era que
relutava em admitir, mas era obrigado a
admitir, pelo menos para mim que o me
motivava a fundo e descobrir quem era o
assassino, era porque meu pai foi morto
por um serial killer. Mesmo que de
forma distorcida, era como se aquela ali
fosse a minha chance de reaver a honra
do nome do meu pai, reaver a honra do
sobrenome Spencer.
Sabia que no fundo, o Delegado
Hastings só não queria abrir a
investigação porque achava que era
viagem minha, que estava colocando
meus sentimentos no meio da história
toda e eu não conseguia mentir para ele,
que sabia de todos os fatos e de tudo que
passava na minha mente.
O celular começou a chamar
insistentemente no bolso da calça,
quando olhei no visor vi o número
de Alice. Ela não esperou nem mesmo
24 horas para me procurar, isso porque
tinha dito que se afastaria de mim e me
daria espaço. Porém eu não a julgaria, já
que também não parava de pensar no
que aconteceu entre nós na noite
anterior, só não sabia se aquilo era bom
para minha saúde mental.
— Oi, pequena. — Atendi com
um sorriso nos lábios e com uma
estranha animação.
— Oi, Joey. Não é a Ally. — Era
a mãe dela e eu me perguntei o motivo
dela estar me ligando do celular da
filha. — Só queria confirmar se você
vai mesmo participar do aniversário
da Alice.
— Claro, Grace — respondi
achando aquilo tudo muito estranho.
— Nós íamos fazer no pub, mas
a Ally insiste que façamos no terraço do
prédio. Se puder chegar mais cedo para
ajudar, seria ótimo.
— Tudo bem, amanhã é meu dia
de folga mesmo — respondi e deixei a
curiosidade falar mais alto. — Posso
saber porque você ligou e não ela?
— Eu queria saber
também, Joey. — Ela fez uma pausa. —
Ally não quis falar com ninguém,
implorou para não ir para escola hoje e
quando perguntei se poderia ligar para
confirmar com você e James se
poderiam vir, ela simplesmente entregou
o celular e disse que fizesse isso
sozinha. Você sabe de alguma coisa?
— Não — respondi rápido
demais. Será que ela havia notado o
leve tom de desespero em minha voz?
— Eu estou preocupada,
normalmente ela ficaria empolgada para
a festa. Você a conhece bem, sabe como
é.
— Sei exatamente como é. —
Ri. — Se estivesse bem, teria ido à
escola só para ficar falando da festa,
chegaria em casa e iria tagarelar disso
por todo o almoço e depois checaria
cada item para ver se a festa estava
ficando do jeito que queria.
— Exatamente. — Grace achou
graça. — Joey, se você pudesse
conversar com ela, ou arrumar um jeito
para que fique bem. Sabe que Ally
sempre escuta seus conselhos, não é?
— Verei o que posso fazer. —
Cocei a cabeça pensativo. — Se me der
licença agora, preciso resolver um caso.
Ligo se conseguir pensar em algo.
— Claro! Sem problemas. Me
desculpe incomodar. E muito obrigada
por isso, Joey.
Desliguei assim que nos
despedimos, encostei o celular no
queixo e a única saída era a que menos
me agradava, chamaria os amigos dela,
mas teria que chamar uma pessoa, que
por sinal era a última que gostaria de
ver perto da Ally e não era nenhum
segredo que se tratava Edward, mas se
não queria que ela ficasse fazendo os
joguinhos de sedução que andava
fazendo comigo nos últimos tempos,
precisava encontrar alguém que pudesse
cuidar dela e apesar de não o achar nem
um pouco confiável, ele parecia gostar
dela de verdade.
Olhei para o visor do celular
alguns segundos, antes de enfim me
decidir e ligar para Lili. Eu precisava
lidar com as decisões que tomava e
ver Ally com aquele playboy coxinha,
fazia parte disso.
Alice
Estava arrasada, ou na verdade,
acordei sentindo-me assim.
Dormi feliz, lembrando-me dos
segundos em que estive no paraíso, mas
durante a noite a lembrança se tornou um
pesadelo horrível quando constatei que
teria que me afastar de Joey. Era uma
promessa, certo? Por mais que depois
daquele beijo tivesse me apaixonado
ainda mais, precisava reprimir e sufocar
aquele sentimento de alguma maneira.
— Irmãzinha? — Era a voz
de Hilary na porta do quarto. Cobri
minha cabeça com o edredom, não
queria contar nada daquilo para ela e
muito menos que estava desistindo de
tudo, mesmo estando mais apaixonada
do que antes por Joey. — Estou
entrando, nem ligo se você quer ou não
falar comigo. — Entrou e sentou na
beirada da cama.
— Não quero conversar com
ninguém.
— Eu te entendo. Você está
assustada porque é seu último
aniversário antes da maioridade.
— Não. — Tirei o edredom de
cima da minha cabeça e ela sorria.
— Consegui fazer o coelho sair
da toca. — Revirei os olhos.
— Que ridícula! — Sorri diante
daquela piadinha patética.
— Pelo menos consegui fazer
você sorrir. — Ela segurou minha mão e
fez uma careta para mim. — Agora me
fala o que aconteceu, porque nossa
querida mãe já está querendo levar você
em um psicólogo.
— O quê!? — Eu me sentei na
cama, assustada.
— Gente, como sou persuasiva.
Gostei disso. — Ela ria de mim sem
parar.
— E eu ainda acredito em você
— falei amuada, ela assentiu e se ajeitou
do meu lado na cama.
— Agora conta logo, que eu sei
que você tá tentando evitar me contar
alguma coisa. Conheço você.
Eu fechei os olhos e dei um
longo suspiro, como se o ar fosse uma
dose de coragem, antes de contar todas
as coisas que havia feito, as ideias dela
que havia colocado em prática e como
tudo aquilo havia falhado no final. Hill
estava atenta a cada palavra e
surpreendentemente estava calada, mas
isso foi até eu mencionar a parte do
beijo.
— Mas que porra é essa? Até
onde eu vejo, nada falhou! — disse
enquanto me abraçava. — Ele te beijou!
Estou tão orgulhosa da minha irmã
conseguindo conquistar as coisas. Só
falta ficar rica agora. — Eu a empurrei
enquanto ela olhava para o teto e fazia
uma daquelas caras de sonhadora.
— Ele me deu um beijo de
piedade se não percebeu, foi um beijo
de troca. Foi o beijo em troca de que eu
parasse de tentar seduzi-lo.
— Para mim tá muito óbvio que
ele te quer, Ally. — Ela assentia para si
mesma. — Joey não te beijaria se não
sentisse nem um pouquinho de atração
por você e pelo que você contou do
beijo...ui! Ele tá é muito afim de você.
— Você é maluca mesmo. Não
entendeu a parte em que ele brigou
comigo aqui no quarto e que me pediu
para parar de gracinha para cima dele?
— É você não percebe que o
beijo que deu jogou por terra todos
esses pedidos? Joey estava era
desesperado com todo o desejo que
deve estar guardando e reprimindo.
Imagino o que deve estar passando,
louco para se entregar, pensando em
você de vez em quando e se reprimindo
ao lembrar que é filha do chefe, quase
um irmão para ele. Não é fácil para ele
deixar de te ver como a “sobrinha” dele.
— Ela fez questão de fazer aspas com os
dedos. — Mas depois do beijo de
ontem...as coisas mudaram, maninha.
Agora fomos para outro nível.
— Outro nível? — perguntei
prendendo meu cabelo com um elástico.
— Sim. Agora ele
definitivamente não vai te ver como uma
adolescente boba e você ter aberto mão
de tentar conquistá-lo porque ele não se
sente confortável, faz com que pareça
ainda mais madura. Sinceramente, mais
adulta do que eu, mas isso morre aqui.
— Ela gargalhou, mas ficou toda séria
antes complementar. — Mato você se
contar que disse isso, sério.
— Pode deixar que não conto
para ninguém. — Pisquei. — Até porque
você é a única que sabe.
— Acho que você está melhor
— disse e eu assenti. — Então acho que
vou indo, posso não parecer ser uma boa
mãe, mas vou levar a Sophie no parque
aquático.
— Me leva junto? — Eu juntei
as mãos implorando.
— Me poupe, já basta cuidar de
uma filha de quatro anos de idade. Até
levaria você se soubesse que iria me
ajudar a olhar a Sophie, mas tenho
certeza que seria babá das duas. Você é
madura para algumas coisas, mas para
outras é a mesma meninona de sempre.
— Nós duas rimos diante da mais pura
verdade. — Enfim, pense bem nas
coisas que eu disse e decida o que for
melhor para você, Ally. No final das
contas, isso é o que mais importa. —
Ela disse se levantando e indo até a
porta. — Me liga se precisar de ajuda.
Ela mandou um beijo e joguei
outro para ela. Estava gostando do fato
de ver minha irmã se reaproximando da
família, pelo menos de mim e da minha
mãe, seria preciso um pouco mais de
esforço para voltar a ficar de boa com
meu pai.
Ouvi algumas batidas na porta
antes que fosse aberta, minha mãe entrou
e seus olhos pareciam de pânico.
— Se seu pai sonhar que vou
fazer isso, ele me mata, mas não posso
deixar você ficar assim justo na véspera
do seu aniversário.
— O que foi mãe? — perguntei
totalmente confusa.
— Seu amigo está aqui. — Ela
abriu a porta e deu passagem para Ed,
que parecia alguém totalmente indefeso
para quem não o conhecia.
— Oi, Ally. — Ele entrou
sorrindo e me levantei indo até ele para
abraçá-lo. Mamãe saiu do quarto de
fininho. — Uau! Se soubesse que seria
recebido dessa maneira, teria vindo
antes.
— Me desculpa, por favor —
supliquei enquanto o abraçava
fortemente.
— Desculpas? Não entendi. —
Afastei-me e acariciei seus cabelos
enquanto sorria daquele jeitão dele,
cheio de si mesmo.
— Por ontem, pela cena do Joey.
— Rolei os olhos e ele sacudiu a cabeça
rindo.
— Aquilo não foi nada, estou
meio que acostumado com a aversão
dele por mim — Ed falou enquanto
acariciava minha cintura. — Mas eu não
vim aqui hoje para falar sobre isso.
— Não?
— A Lili me ligou pedindo para
vir te ver, não entendi direito, mas ela
disse que era vida ou morte. Eu achei
que quando chegasse aqui você estaria
morrendo. — Passou a mão pelos
cabelos e a colocou de volta a minha
cintura, logo depois.
— Sério? Minha mãe deve ter
ligado para ela.
— Deve mesmo. — Ficamos em
silêncio por alguns instantes e Ed deu
um longo suspiro antes de voltar a falar.
— Eu vim aqui para saber o motivo de
você estar assim.
— Ah, isso. — Saí do abraço
dele e sentei na cama, fiquei olhando
paras unhas dos meus pés, pintadas de
azul-escuro e mordi o lábio. Ed se
aproximou e sentou ao meu lado, ele
estava me dando tempo para pensar no
que falar.
— Eu... na verdade foi o Joey.
— Ri sem saber o motivo de estar rindo,
estava borrando de medo do que Ed
faria depois de saber do beijo. Nunca
tivemos nada sério, mas Ed era
possessivo e o fato de a noite anterior
ter sido intitulada por ele como “nossa
noite” dava um peso para aquilo tudo.
— Vocês? Acho que já posso
adivinhar — falou, puxando-me para um
abraço. — Vocês ficaram?
— Foi só um beijo e em troca
disso eu não vou mais procurá-lo. —
Ele virou a cabeça para o meu lado.
— É sério isso? — Ele estava
feliz, eu ali arrasada e ele feliz. Porém
Ed gostava de mim, certo? Na verdade,
nunca entendi como conseguia ouvir
tudo sobre minha paixão platônica
por Joey e aguentar. — Acho que é a
minha abertura, Ally.
— Como assim? — Novamente
afastei-me de seu corpo definido e ele
fez uma feição engraçada, parecia
tímido.
— Ah, eu não sei bem como
falar isso... — Ele estava tímido. Oh,
meu Deus! Edward Harmann estava
tímido ali, bem diante dos meus olhos.
— Eu sou apaixonado de verdade por
você, Alice Hastings.
Virou-se, ficando de frente para
mim e seu sorriso branco surgiu entre os
lábios avermelhados, ele tomou aquela
postura autoritária que possuía e segurou
minha mão.
— Ed, eu sei... eu queria de
verdade... — Ele colocou o dedo
indicador diante dos meus lábios.
— Shhhh. Dá para me deixar
falar antes? — Eu ri e assenti. — Quero
que você me dê uma chance real e
ouvindo que você não vai tentar mais
nada com o Joseph, tenho o impulso que
e precisava para largar de ser um
bundão e querer assumir algo sério pela
primeira vez na minha vida.
— Você tá me pedindo em
namoro? — Eu perguntei espantada.
— Você aceita? — Ele foi
direto, como sempre. Mesmo que tenha
começado a falar com um pouco de
timidez, ele foi ao ponto, sem muitos
rodeios.
— Eu... — Levantei e coloquei
meu cabelo atrás da orelha, Ed também
ficou de pé, vindo até a mim.
— Pode pensar se quiser, Ally.
— Passou a mão em meu cabelo
carinhosamente. — Já esperei tanto para
isso, que esperar mais um pouco não vai
fazer mal nenhum.
— Eu ia te pedir por isso
mesmo. — Sorri sem-graça. — Não sei
se faria uma escolha sensata nesse exato
momento, devido aos últimos
acontecimentos.
— Eu sei. — Ele se aproximou e
depositou um beijo em minha testa,
depois um beijo rápido em meus lábios.
— Acho que vou embora agora, ou sua
mãe terá um ataque de medo do seu pai
chegar em casa e me ver aqui. — Nós
rimos juntos.
— E ele deve chegar a qualquer
momento para almoçar. — Eu disse e
ele passou a mão no pescoço como
quem cortava a garganta.
— Vou agora mesmo. — Eu ri e
dei um beijo em seus lábios. — Eu te
adoro.
— Sei disso — falou levantando
uma das sobrancelhas e dei um tapa
nele. — Também te adoro.
Acompanhei-o até a porta e
minha mãe estava super empolgada com
a visita, pelo menos depois que ele saiu
do nosso apartamento.
— Acho esse Ed tão
apresentável. — Estávamos na cozinha e
ela segurava um pano de prato sorrindo
empolgada.
— Apresentável?
— É, ele tem cara daqueles
donos de empresa, sabe? Mesmo tendo a
mesma idade que a sua.
— Na verdade ele é um ano mais
velho que eu, o sortudo acabou de fazer
18 anos. — Peguei uma maçã na
fruteira.
— Não importa, só acho que ele
daria um ótimo namorado.
— Mãe, não começa. — Revirei
os olhos.
— Não falei nada — respondeu
sorrindo. — Mas vai me dizer que não
acha ele lindo?
— Você sabe que eu e ele temos
uma história estranha, né?
— Vocês ficam, mas nunca
assumiram nada sério. Eu sei disso e
acho que deveria dar um basta nisso,
devia ficar sério com ele, assumir um
relacionamento. — Ela sentou na
cadeira ao lado da minha. — Não sei se
é por ele que você é apaixonada e acho
que não, porque senão já estariam
namorando há muito tempo, mas acho
que devia dar uma chance para vocês.
— Mãe, você ouviu minha
conversa com Ed atrás da porta? — Eu a
olhei séria e preocupada com a
possibilidade dela ter ouvido a conversa
toda.
— Não, minha filha. Porque?
— Ed me pediu em namoro —
disse simplesmente.
— Sério? E você disse que
aceita?
— Pedi para pensar. —
Respondi e ela se levantou indo até o
fogão olhando dentro de alguma panela.
— Não vai falar nada?
— Não há muito o que falar,
filha. Você precisa tomar suas próprias
decisões. Então pense direitinho antes
de responder. — Nossa conversa foi
interrompida pelo barulho da
campainha. Fui até a sala e abri a
porta, Lili entrou e me deu um abraço.
— Está tudo bem com você? —
Ela perguntou preocupada e eu assenti.
— Sim. Minha mãe te ligou? —
Mesmo que ela não tenha respondido,
assumi que a resposta era positiva. —
Preciso te contar duas coisas que
aconteceram, uma ontem à noite e uma
há alguns minutos atrás.
Caminhava em direção ao meu
quarto enquanto falava. Quando terminei
de contar tudo, ela estava em silêncio,
não disse nada enquanto contava, nem na
hora que falei que havia beijado Joey,
ela só arregalou os olhos. Estava mais
estática do que Hill.
— Fala alguma coisa, Lili!
— Puta que pariu, você me conta
essas bombas e...uau! — Ela passou a
mão nos cabelos e os bagunçou por
completo. — Eu não sei nem o que
pensar.
— Eu estou muito ferrada, eu
sei.
— Basicamente isso, porque
você vai se afastar de Joey para cumprir
sua promessa, mas ao mesmo tempo não
quer fazer isso e ao mesmo tempo acha
que deveria se dar a chance de gostar de
outra pessoa e depois de Joey, Ed é o
cara mais perfeito nesse mundo, eu
aceitaria o pedido dele sem pestanejar
se estivesse no seu lugar. Na verdade,
não sei o que faria no seu lugar.
— Eu não sei o que fazer
também, por isso pedi para pensar sobre
o pedido de Ed. — Eu sorri e Lili me
perguntou o motivo do sorriso. — Não
posso mentir, não consigo parar de
pensar no beijo que dei em Joey. Foi
estranho, mas um estranho bom,
diferente e eu nem sei ao certo explicar.
— Isso acontece quando
beijamos alguém por quem somos
apaixonadas. Mas agora você precisa
usar um pouco da razão também para
saber o que fazer, não se esqueça que
para ele não existe nada disso,
provavelmente foi só um beijo.
— Hill me disse que ele talvez
me queira.
— Sério? Hilary não pode ser
seguida como exemplo, Ally. Nada
contra sua irmã, mas ela só tem se
metido em furadas ao longo da vida.
Você não tem que pensar no que as
pessoas em volta acham o correto e sim
o que você acha, pensando com a cabeça
e utilizando palpites do coração. — Ela
piscou.
— O que seria de mim sem
você? — Ela colocou a mão no queixo
pensativa.
— Acho que você não
sobreviveria por muito tempo nesse
mundo cruel. — Dei um tapa na cabeça
dela.
— Convencida. — A puxei para
um abraço e a voz da minha mãe veio
em alto e bom tom alertando que o
almoço estava pronto.
Capítulo 6
A minha festa de aniversário
havia sido ótima. Quando o dia chegou,
estava completamente atarefada com a
ornamentação do terraço do prédio, que
nem pensei sobre a minha situação de
aceitar ou não o pedido de Ed, muito
menos perdi tempo analisando o que
aconteceu com Joey ou como ele se
sentia em relação ao nosso beijo.
Lili passou o dia na minha casa e
ajudou com tudo, inclusive em não me
deixar preocupar com nada que não
fosse relacionado ao meu aniversário.
Todos os meus amigos, tanto os que eu
havia convidado, quanto os que meus
pais chamaram, foram. Falando nos
meus pais, eles ficaram até a hora que
cantamos Happy Brithday to You,
depois disso a festa ficou só entre os
meus amigos.
A única coisa que me chateou de
verdade, mas não deixei ninguém
perceber, foi Joey não aparecer na
minha festa. Aliás, ele não tinha nem
mesmo me mandado uma mensagem de
parabéns.
Eu estava me despedindo de Ed,
que foi o último a deixar a festa junto
com Lili, ele a levaria em casa, já que
minha amiga optou por não dirigir e
estava exausta de passar o dia me
ajudando. Lili foi andando meio tonta
até o elevador (Ed, claro, havia trazido
várias bebidas escondido para festa, já
que meu pai havia proibido) enquanto
ele me dava um abraço apertado.
— Eu não tive tempo para isso,
já que você estava dando atenção para
todo mundo e não quis te incomodar. —
Ele pegou uma caixinha no bolso. — Eu
comprei um presente para você.
— Ed, você me deu o vestido.
Aliás, eu havia usado o vestido
de novo. Só Ed e Joey tinham me visto
com ele, e fiz o maior sucesso na festa.
O vestido valia mais do que toda a festa,
mas não contei isso para ninguém, não
sou tão exibida assim.
— Só aceita e pronto. — Peguei
a caixinha de sua mão e ao abrir, havia
uma pulseira de ouro simples e no fecho
dela um coração pequenino onde podia
se ver meu apelido.
— Poxa! É lindo! — Abracei-o
novamente. — Obrigada, Ed.
— Edwaaaaard, até o nome é de
príncipe. — O elevador abriu e Lili
quase caiu dentro dele. — Opsss! Eu
estou bem! — Ela disse levantando o
braço e caindo na gargalhada.
— Acho melhor ir, porque pelo
visto serei babá da nossa amiga hoje. —
Depositei um beijo em sua bochecha.
— Beijem na boca seus putos,
estão com vergonha de mim? Já vi
coisas piores, já vi... — Ed correu e
tampou a boca dela antes que ela falasse
o resto da frase e por fim estávamos
gargalhando. Acenei para eles e então
entrei em casa.
Meu pai já tinha ido dormir,
porque apesar do dia seguinte ser
domingo, ele tinha que estar preparado,
pois nunca sabia se surgiria uma
situação de emergência. Fui até a
cozinha e minha mãe estava sentada
bebendo um copo de água.
— Gostou da festa, minha filha?
— Eu adorei, queria que o pai
estivesse acordado para agradecê-lo. —
Mordi o lábio segurando a pergunta que
estava na ponta da língua. — Humm,
mãe? Você sabe o motivo do Joey não
ter vindo? Ele nunca faltou aos meus
aniversários antes, mesmo quando eram
simples.
— Não sei, filha. Achei estranho
porque ontem liguei para ele e quando
perguntei sobre a festa, ele disse que
viria.
— Queria perguntar para ele o
motivo disso — disse sentindo uma
pontada de decepção no peito.
— Amanhã você faz isso tudo.
Agradece seu pai e pergunta para o Joey.
— Ela levantou e beijou meu rosto. —
Agora se me dá licença, vou deitar,
minha querida. Pois o dia hoje foi
extremamente exaustivo.
— Tudo bem. Boa noite — disse
e fui até a geladeira pegar água para
mim. Depois fui para o banho, precisava
tirar aquele cheiro de bebida de mim,
não sei se minha não tinha percebido ou
se tinha simplesmente fingindo que não
reparou no odor.
Tomei o banho rapidamente e me
enrolei na toalha batendo o queixo de
tanto frio que sentia, aquela parecia a
noite mais fria do ano e daria tudo para
sentir o calor do corpo de outra pessoa
me aquecendo. Parecia clichê, na
verdade era bem clichê, mas vai me
dizer que nunca quis algo clichê para
sua vida?
Sorri ao lembrar dos momentos
da festa em que Lili dançou com o um
menino novato do colégio, acho que o
nome dele era Joel. Lili provavelmente
pegou o número dele ou ele o dela e
como eu sabia disso sem ter perguntado?
Eu conhecia minha amiga, ela não
dormia no ponto.
Vesti meu pijama e anotei
mentalmente que deveria comparar um
daqueles pijamas de flanela com calça e
blusa de frio, pois todos os meus
pijamas eram pequenos, o que me
obrigava a dormir com uma dose extra
de cobertas. Enfiei-me debaixo de
várias camadas das cobertas, abracei
meu próprio corpo e assim que fechei os
olhos esperava relaxar e dormir, mas a
única coisa que aconteceu foi uma
imagem de Joey, ferido, que ficava
rondando a minha mente, pois aquela era
a única explicação plausível para ele
não ter comparecido à minha festa.
Depois de uns vinte minutos
rolando de um lado para outro, peguei
meu celular. Eram quase duas da manhã
e eu sabia que James estava de plantão
na delegacia naquela noite e que por
isso Joey estaria em casa sozinho,
pensei em dar um pulo lá para certificar
que estava tudo bem.
O conselho de Lili mandando
que ficasse quietinha no meu quarto fez
efeito, porque virei para o lado e tentei
dormir novamente.
Não adiantou nada.
— Argh! Merda! — falei sozinha
enquanto desbloqueava a tela do celular
novamente. Abri a lista de contatos e
fiquei deslizando o dedo na tela sobre o
nome dele, pensando se devia ou não
ligar, até que acabei sem querer ligando
para ele.
— Que porcaria! — Eu apertei
para desligar rapidamente com o
coração acelerado. Ele provavelmente
nem veria aquilo se estivesse
trabalhando, veria apenas no dia
seguinte, mas senti meu coração disparar
junto com a vibração do celular que
estava apertado contra o meu peito,
levantei o celular lentamente com medo
do que leria na tela e para o meu
desespero, era o nome de Joey que
piscava na ali. Respirei fundo e atendi.
— Oi — falei quase que
sussurrando.
— Alice, aconteceu alguma
coisa? — perguntou sem emoção na
voz.
— Eu...eu só estava preocupada
com você. — Silêncio total, torturante,
era esse o nome que havia dado para
aqueles segundos depois que falei. —
Você não apareceu na minha festa e...
— É isso? Eu estava cansado,
acabei dormindo — Joey disse e eu
senti como um murro no peito. — Era só
isso? Se sim, estou desligando.
— Ok. Me desculpe incomodar
— respondi.
Então, ele desligou, sem nem dar
tchau, nada de nada. Fiquei encarando o
teto, sentindo uma tristeza corrompendo
em meu peito e as lágrimas vieram de
uma vez. Cobri meu rosto com o
edredom sentindo aquela avalanche
vindo sobre mim, então estava chorando
de soluçar.
Repassei nossa conversa
mentalmente, peguei o celular e digitei
uma mensagem para Joey.

“Eu te odeio, porque eu queria


te odiar agora, mas no fim só consigo
continuar te amando.”

Não apertei enviar. Fiquei


olhando para aquela mensagem
ridiculamente contraditória, até que
tomei coragem e apertei o botão
“enviar”, mas logo depois me arrependi,
pois percebi que se fosse para falar
qualquer coisa com ele, seria
pessoalmente. Eu não esperaria até o dia
seguinte para dizer o quanto estava
magoada com ele.
Levantei-me calçando meus
chinelos e fui andando, o mais
levemente possível, até a sala, olhei na
fechadura e vi que a chave estava lá,
minha mãe provavelmente estava tão
cansada que esqueceu até de guardar a
chave como sempre fazia, de qualquer
forma estava com a minha na mão, caso
dona Grace acordasse e resolvesse
trancar a porta, eu não ficaria presa fora
de casa.
Abri a porta e mesmo dentro de
um espaço fechado, arrependi-me de não
ter colocado uma blusa de frio, fui
andando silenciosamente até o elevador
que fez todo o serviço de ser
escandaloso ao abrir, hesitei antes de
apertar o botão número cinco que me
levaria até o andar de Joey, mas tomei
coragem antes que a porta se fechasse e
voltasse para o andar térreo e o porteiro
me visse usando apenas pijamas. Aliás,
fiquei assustada com a possibilidade de
alguém me ver com pijamas, mas no
fundo estava mais preocupada com o
que diria para o Joey do que com isso.
Quando parei na frente da porta
de seu apartamento, tremia de frio e
medo. Respirei fundo e apertei a
campainha. Nada aconteceu durante um
minuto, nem um barulho vindo lá de
dentro. Nada.
Toquei de novo, três vezes
seguidas. E mais duas depois, só para
garantir.
Dessa vez ouvi a voz de Joey
resmungando alguma coisa sobre James
ter esquecido a chave de novo. Passei
meus braços em volta da minha cintura e
fiquei ali esperando que a porta fosse
aberta e quando se abriu ele parecia
irritado.
— Esqueceu a porra da chave...
— ele parou de falar quando me viu.
— Alice? — Ele entortou a cabeça tipo
aqueles cachorrinhos fazem e sua feição
era de quem estava confuso com aquela
visita surpresa.
— Oi. — Empurrei a porta,
mostrando que ia entrar. — Está frio —
disse enquanto entrava e parava no meio
da sala. Ao contrário do que as pessoas
acham, os apartamentos no meu prédio
eram diferentes, quanto mais alto o
andar, maior e mais caro é o
apartamento. O de Joey era tão
aconchegante quanto o meu e para mim
era como uma segunda casa. — Me
desculpa aparecer assim do nada, mas
precisava falar com você.
— Não podia esperar até de
manhã? — perguntou coçando a cabeça
e confesso que me perdi por alguns
milésimos de segundo olhando para os
músculos do abdômen dele que se
contraíram com o movimento.
— Não. — Sacudi a cabeça
irritada. — Você só pode ter se
esquecido que dia foi hoje, não é?
— Seu aniversário, eu sei. —
Ele cruzou os braços deixando os bíceps
bem delineados.
— Sério? Só isso? — Comecei a
ficar irritada com aquele jeito dele, Joey
não era assim comigo. — Você passou
sua vida inteira me dando presentes
especiais que só nós dois entendíamos o
significado, sempre era o primeiro a me
dar parabéns, me ligava meia-noite ou
quando estava fazendo ronda noturna no
trabalho mandava pelo menos uma
mensagem de texto e agora você
simplesmente não dá a mínima para
isso? — Meus olhos estavam enchendo-
se de água. Porque sempre acabava
chorando? Odiava aquilo.
— Eu sabia que o Ed ia na sua
festa, achei melhor não ir para não
atrapalhar e não deixar o clima pesado.
— O quê? Você deixou de ir por
isso? Larga de ser mentiroso! — Eu me
aproximei dele e sacudia a cabeça
começando a sentir minha raiva
fervilhando. — Você não foi porque é
um idiota e deixou aquilo que aconteceu
antes de ontem no seu carro acima do
que sente por mim. Você é uma das
pessoas mais importantes da minha vida
e simplesmente resolveu agir feito um
idiota por causa do que aconteceu.
— Você disse que me odeia na
mensagem de texto — disse
simplesmente.
— Porque não consigo te odiar.
— Enxuguei uma lágrima completando a
mensagem que havia enviado a ele.
— Você não achou isso meio
contraditório?
— Para de mudar de assunto, por
favor? Pode agir feito um adulto agora?
— Ei! Eu estou sendo muito
adulto. Aliás, você não faz ideia do
quanto — disse e deu uma risada curta e
foi até o pequeno bar no canto da sala,
encheu o copo de uísque, bebeu um gole
puro e colocou o copo de volta.
— Era uma merda de um
aniversário, podia ter simplesmente me
mandando uma mensagem e eu não me
importaria, mas você me ignorou e
também o dia mais importante do ano
para mim. Me mostre em que parte você
foi o adulto, porque nessa situação toda
só vejo você sendo um moleque babaca!
— Disse e mordi o lábio segurando as
lágrimas. Ele se virou e veio até perto
de mim, parecia furioso. No fundo, eu
sabia que as palavras “moleque” e
“babaca” juntas causariam aquela
reação.
— Você não entenderia — ele
aumentou o tom de voz, falou quase
gritando e depois sentou no sofá
colocando a cabeça entre as mãos,
parecendo tentar se acalmar.
— Tente explicar, eu posso
esperar. Ou vai agir feito um menino e
fugir de novo? Me ignorar e se
esconder. — Ele levantou e veio até
mim num movimento rápido, assustando-
me, ele parecia alguém atormentado.
— Eu estou furioso comigo
mesmo, Ally. — Ele colocou as mãos
em meu rosto. — Você vem com esses
joguinhos para cima de mim e torna as
coisas mais difíceis. Antes de
ontem...aquilo não deveria ter
acontecido.
— Mas aconteceu...
— Mas não devia. — Ele se
afastou novamente e ficou de costas para
mim. — Aquilo acabou com a minha
mente, com tudo que acreditava ser
correto e não consigo parar de pensar
nisso, nem um minuto sequer. Passei o
dia ontem pensando em você, sua mãe
me ligou falando que você não estava
bem e eu sabia que era pelo nosso beijo,
sabia que era o culpado e me senti um
lixo. — Ele sacudiu a cabeça, foi até a
garrafa e encheu o copo novamente. —
Eu sabia que devia me manter longe de
você, fiz com que a Lili ligasse para o
Edward, falei para ela que os dois
deviam te visitar e pela primeira vez na
minha vida, ignorei ou na verdade fingi
ignorar quando você precisava de
carinho, porque sabia que não poderia te
ajudar, acho que só pioraria seu caso. —
Passei os dedos sobre os meus lábios,
analisando cada palavra que ele estava
proferindo. Joey havia pensado em mim
e no beijo, havia se preocupado comigo.
— Eu agi como um adulto quando
renunciei tudo o que está passando em
minha mente sobre você. Eu agi como
um adulto ao perceber que isso seria
insanidade, loucura se me deixasse levar
pelas minhas vontades, meus desejos. Se
um beijo te deixou daquele jeito,
imagina... imagina... — As palavras
morreram ali, mas sabia o que ele queria
dizer.
— Eu fiquei daquele jeito
porque sabia que teria que enterrar meu
sentimento por você em algum canto
dentro do meu coração e fingir que não
sinto nada por você, ou seja, voltaria à
estaca zero. O beijo que você me deu foi
a melhor parte de tudo. Foi a coisa mais
perfeita que aconteceu na minha vida. —
Ele me olhou timidamente, afinal tinha
acabado de falar que de alguma maneira
se sentia atraído por mim e minha
vontade foi correr até ele e beijá-lo.
Meu Deus, como queria fazer isso, mas
me contive porque sabia que pioraria
ainda mais a situação, que se resumia no
fato dele sentir culpa pela atração que
tinha por mim, além do fato de ter me
dado aquele beijo. Eu sairia fazendo
uma dancinha da vitória ali mesmo, se
não soubesse que aquilo não significava
muita coisa, já que ele como sempre
estava sendo correto, não faria nada a
respeito daquilo.
— Fiquei um dia inteiro sem
falar com você e foi a coisa mais
estranha da minha vida. Percebi que
depois que mudei para cá, durante todo
o tempo que moro aqui, nós nos falamos
pelo menos uma vez no dia, foram raras
as ocasiões em que isso não aconteceu e
ignorar você hoje foi a coisa mais difícil
que já fiz na vida, Ally. — Enquanto ele
falava, eu só conseguia sorrir derretida
por estar recebendo tanta informação de
uma só vez. — Espere um minuto —
disse e correu até seu quarto, quando
voltou carregava uma caixa nas mãos.
Ele sentou no sofá e deu dois tapas para
que me sentasse ao seu lado, assim que
sentei, estendeu o presente para mim. —
Me desculpe por tudo. Feliz aniversário,
pequena.
Peguei o presente e abri sem dó,
rasgando o papel todo em um instante
só. Quando abri, deparei-me com um
daqueles globos terrestres escolares,
super simples. Olhei para Joey
esperando o significado daquele
presente e ele sorria visivelmente
animado.
— Fecha os olhos e quando eu
disser que pode, você coloca o dedo no
globo. Certo? — Eu assenti e fechei os
olhos. — Pode!
Coloquei o dedo sobre o globo e
abri os olhos, os olhos dele estavam
sobre mim e foram juntos com eles na
direção do globo.
— Grécia. — Falamos ao
mesmo tempo e rimos.
— O que isso significa? —
Olhei para ele sorridente.
— É para onde você vai daqui a
364 dias, vai ser meu presente de
aniversário de 18 anos.
— O quê? — Eu pulei no colo
dele e o abracei fortemente. —
Obrigada!
— Ei, calma. — Riu enquanto
beijava seu rosto, ele me afastou e eu
voltei para o meu lugar no sofá. — Você
nem deu bola para o presente do
aniversário desse ano ainda.
— Tem outro? — perguntei
levantando as sobrancelhas.
— Olha dentro da caixa em que
o globo veio. — Peguei a caixa de
papelão e olhei lá dentro, então vi algo
brilhando lá no fundo, fiquei surpresa ao
constatar que era um cordão, o pingente
era uma pequena esfera, mas no
momento que olhei bem de perto vi que
era um globo terrestre, faltando vários
países. — Eu fiquei pensando no que
poderia dar e me lembrei das várias
vezes em que você disse que queria
conhecer o mundo todo e então descobri
esse pingente, não sei se você reparou,
mas há apenas 3 países, Brasil,
Inglaterra e Espanha.
— Eu já ia te perguntar se veio
com defeito ou se era assim mesmo. —
Ri olhando para o pingente.
— Não, ele é assim mesmo. Eu
pedi para gravarem apenas o formato
dos 3 na esfera, porque cada vez que
viajar para um país diferente, acrescenta
mais o formato do país que visitar. —
Sorri e mordi o lábio. Ele sempre me
dava algum presente que tinha um
significado especial e aquele não era
diferente. — Daqui 364 dias já terá um
novo lugar para colocar aí.
— Eu não sei nem o que dizer, é
tão... — Sorri mais uma vez, procurando
a palavra exata para usar.
— Horrível? Pode falar,
pequena. Eu não me importo.
— É único. Assim como todos
os presentes que você me deu. — Eu
coloquei a caixa no chão e me aproximei
dele, que simplesmente puxou-me para
um abraço. — Obrigada, Joey.
— Foi de coração, Ally.
Nós ficamos assim por algum
tempo, até que por fim resolvi ir
embora. Despedi-me dele e levantei
indo até a porta, quando ia destrancá-la,
ouvi sua voz me chamando.
— Alice. — Virei e o vi
caminhando em minha direção, achei
que fosse fazer alguma coisa, mas ele
arruinou tudo quando apenas estendeu a
mão, entregou a chave da minha casa e
beijou meu rosto. — Boa noite.
— Boa noite. — Virei e
destranquei a porta girando a chave duas
vezes, então senti a mão dele sobre a
minha, ele virou a chave uma vez. Joey
estava trancando a porta novamente?
Senti sua respiração em meu pescoço,
depois notei seu nariz roçando em minha
orelha e fechei os olhos.
— Acho que o James não vai
chegar agora, mas é melhor prevenir. —
Meu coração batia rapidamente quando
ele virou a chave mais uma vez,
trancando a porta em definitivo e me
virou de frente para ele de uma vez,
olhou dentro dos meus olhos e soltei o
ar que estava prendendo nos pulmões.
Joey deslizou sua mão pelo meu
rosto, pescoço e então colou seu corpo
ao meu, passou os lábios sobre os meus,
nossos olhos abertos em conexão e antes
que eu os fechasse, ele colou nossos
lábios, da mesma maneira como havia
feito com nossos corpos. Abri meus
lábios e de forma gentil, porém urgente,
sua língua foi ao encontro da minha,
coloquei as mãos em sua cintura,
deslizei os dedos sobre suas entradas do
quadril, ele segurou meus pulsos e
prendeu meus braços para cima. Ele
tinha total controle sobre mim naquele
momento.
Abrimos nossos olhos assim que
paramos o beijo e achei que como da
última vez, estaria acabado para ele,
porém Joey se abaixou um pouco e
colocou os braços em minha cintura,
levantando-me um pouco do chão e e
entendi o recado. Pulei em seu colo,
entrelaçando minhas pernas em volta de
sua cintura, ele voltou a me beijar com
mais intensidade ainda, uma de suas
mãos estava em minha nuca e ele puxou
meu cabelo ali, forçando que jogasse
minha cabeça para trás, começou a
beijar todo meu pescoço e soltei um
gemido baixo.
— Não faz isso senão perco o
resto de controle que ainda tenho, minha
pequena. —Puxou-me para mais um
beijo e sentou no sofá comigo ainda
pendurada nele.
Coloquei minhas pernas uma de
cada lado de seu corpo e continuei
beijando-o. Senti suas mãos em minha
cintura, os dedos roçando por dentro da
blusa. Comecei a beijar seu pescoço, a
arranhar de leve seu peitoral e abdômen
e quando mordisquei sua orelha parece
que ativei um ponto secreto, pois no
momento seguinte ele estava me
deitando no sofá e encaixando seu corpo
sobre o meu. Perguntava-me o tempo
todo se aquilo era um sonho e se iria
acordar na melhor parte, como sempre
acontecia. No momento que senti sua
mão em minhas coxas, apertando minha
bunda, tive a certeza de que era
realidade. Ele não me deu muita opção
quando resolveu beijar minha barriga,
sua língua deslizando sobre minha pele
fez com que cada pelo do meu corpo se
arrepiasse, quando chegou na beirada do
sutiã, parou e voltou a beijar minha
boca.
— Porque parou? Estava
gostando do caminho que estava fazendo
— falei fazendo biquinho quando ele
parou me beijar por um instante.
— Para de reclamar. — Riu e
voltou a me beijar, passei minhas unhas
levemente pelas costas dele e percebi
que ele estava excitado de verdade e
que dali para frente a coisa ficaria séria,
mas não ficou. Ele se afastou
subitamente.
— Que porra foi essa? — Ele
sentou arfando. — Caramba! Preciso de
um banho gelado agora mesmo. — Eu o
olhei sem entender, as alças do meu
pijama estavam completamente
abaixadas, e minha situação devia estar
deplorável. Será que ele tinha se
arrependido? Ele me olhou sorrindo e
segurou minha mão. — Quer dormir aqui
hoje?
— Dormir aqui? — perguntei
sendo totalmente pega de surpresa pela
para oposta.
— Sim, dormir, mas quando digo
a palavra dormir, digo no sentido literal.
— Ele passou a língua sobre os seus
lábios avermelhados e inchados. — Não
vai rolar mais amassos como esse ou
não vou dar conta de me segurar. —
Aproximou-se e beijou meus lábios.
Eu ainda não conseguia acreditar
que aquilo era real, mas assenti. Não sei
como explicaria aquilo para os meus
pais, ou o que faria na manhã seguinte,
mas eu definitivamente iria dormir ali
com ele.
— Mas essa é a intenção! —
Disse e rimos juntos. Em seguida,
acariciei o rosto dele. — Pode ser.
— Ótimo! — Levantou. — Vou
tomar um banho rápido, não estava
brincando sobre isso. — Deu uma risada
gostosa. Joey parecia tão calmo que não
estava entendendo, por isso parecia um
sonho, ele não era daquele jeito.
Normalmente, estaria surtando por ter
me beijando, além de xingar e dizer que
se odiava, até mesmo se amaldiçoando e
também suas futuras gerações. — Vem
comigo, eu tranco a porta do quarto e
enquanto tomo banho você deita e
espera por mim lá mesmo, tenho medo
que James possa chegar mais cedo. —
Estendeu a mão para mim e eu apenas
segurei firme, deixando-me conduzir
para dentro do quarto.
Assim que entramos no quarto,
Joey trancou a porta, mas por garantia eu
testei a fechadura, o medo de ser pega
por James deixou-me preocupada
também. Aquilo de ter um banheiro
dentro do quarto era tudo o que queria,
mas no meu apartamento só meus pais
tinham uma suíte. Fui até o armário
de Joey e fiquei passando a mão,
olhando suas roupas, sentindo o cheiro
de seu perfume.
Peguei uma blusa de frio dele e
vesti, ficou dez vezes maior do que eu,
mas aquele cheiro do perfume dele
causava aquela sensação conhecida, um
frio na barriga. Caminhei até a cama e
me deitei, fiquei esperando por ele,
quando saiu do banheiro vestia apenas a
cueca boxer branca e estava sorridente
ao sentar-se sentar na cama.
— Enxuga para mim? — pediu,
entregando a toalha e apontando para os
cabelos molhados. Sorri porque havia
feito aquilo tantas vezes na minha vida e
nunca teve um significado tão estranho
para mim, talvez porque nunca havíamos
nos pegado antes do processo.
Aproximei-me por trás dele, peguei a
toalha e a passei calmamente em sua
cabeça, secando seus cabelos e ele
tombou um pouco a cabeça para trás, me
dando a visão de seu rosto antes de
fechar os olhos como sempre fazia. —
Eu adoro isso. Me lembra quando era
criança e minha mãe ainda estava viva.
— Ele sorriu.
— Você nunca me contou isso.
— Ela enxugava meus cabelos e
cantava uma música para mim. Não
lembro qual era a música, mas não
importa...o importante é que enquanto
você faz isso traz a mesma sensação de
paz que tinha naquela época, é como se
trouxesse minha tranquilidade de volta.
Eu continuei enxugando e então o
abracei, encostando minha cabeça na
altura do pescoço dele, entrelacei meus
braços em seu quadril e ele entrelaçou
os dele junto aos meus, segurou minhas
mãos e as acariciou gentilmente.
— O que foi? No que está
pensando? — perguntou e eu mordi o
lábio, o pensamento de que aquilo
terminaria em um piscar de olhos me
matava, estava sofrendo por
antecipação.
— Nada. — Ele virou seu tronco
assim que respondi, segurou meu rosto e
me olhou sorrindo.
— Sério? Eu te conheço
tanto, Ally. Não sei porque tenta mentir
para mim ainda. — Levantou uma das
sobrancelhas e acariciou meus cabelos.
— É só que... eu estou pensando
no que você está sentindo e em como
não está surtando nesse exato momento
pelo que acabamos de fazer. Claro quero
aproveitar cada segundo porque tenho
medo de que vai mudar de pensamento e
me fazer ir embora. Estou sofrendo por
antecipação, minha mãe diz que faço
muito disso. — Abaixei a cabeça sem-
graça pela minha revelação.
— Não parei para pensar nisso
tudo, Ally. Sei que quero aproveitar,
pois pelo menos aqui e agora. Você me
faz bem e me parece ser a coisa certa
apesar de ser tão errado. — Deu um
beijo leve em meus lábios. — Amanhã
sei que vou continuar pensando a mesma
coisa, se isso te deixa menos estranha e
preocupada. — Ele riu. — Então
provavelmente não vou te mandar
embora, mas também não posso te dizer
como vamos resolver essa situação.
— Eu sei, não quero que me
prometa nada se não for cumprir. — Ele
colocou o dedo indicador sobre meus
lábios.
— Sshhh. Você não percebeu
ainda, Ally? — não respondi, porque
seu dedo ainda estava sobre meus lábios
e ele apenas prosseguiu. — Eu creio que
vou ter que te falar então. — Ele
deslizou o dedo e segurou meu queixo
carinhosamente, aproximou-se a ponto
de seus lábios tocarem os meus. — Eu
quero você, quero estar com você. A
gente pensa no amanhã quando ele
chegar.
Não disse nada, o que fiz foi
puxá-lo e acabar com qualquer resquício
de distância entre nós. Joey
correspondeu ao beijo com toda
intensidade, deitou-me lentamente e
ficamos lado a lado, nossos corpos um
de frente para o outro, colados enquanto
curtíamos o momento, aproveitávamos o
que tínhamos e eu sinceramente perdi a
noção do tempo em que ficamos ali, só
captando os acontecimentos, as feições,
as palavras.
Eu não tinha um pingo de sono,
não queria dormir.
Sabe quando você simplesmente
quer ficar perto de uma pessoa e não se
afastar? Era isso. Só pensava no quanto
ele era importante para mim, mesmo
achando que Joey não sentia a mesma
coisa que sinto, não na mesma
intensidade pelo menos, eu só queria tê-
lo por perto, estar ao redor, porque a
presença dele era o que eu precisava.
— Eu quero deixar uma coisa
clara para você, Alice. Não estou com a
Sara, eu estaria sendo um cafajeste se
continuasse com ela.
— Mas isso que a gente está
tendo, não é nem sério.
— O que te faz pensar que não?
— perguntou levantando as duas
sobrancelhas. — Meu Deus, Alice! Eu
nunca ficaria com você só por ficar,
para me aproveitar de você. Eu sou
exclusivo e sinceramente gostaria que
fosse também. — Eu me sentei e sorri.
— Eu só pensei... Você tem
noção de que é difícil de acreditar que
finalmente está acontecendo? Passei os
últimos dois anos sonhando com isso e
no fundo não acreditava que pudesse
acontecer, apesar de ter me esforçado
para que você conseguisse sentir o
mesmo ou pelo menos um pouco do que
sinto por você.
— Mas está acontecendo e se
atravessei a linha que existia, é porque
não tenho dúvidas do que quero. — Seus
dedos passearam pelo meu pescoço,
depois deslizou pelo braço até segurar
minha mão para beijá-la. — Eu te
conheço praticamente sua vida
toda, Alice. A primeira vez que percebi
como estava crescendo, eu me peguei
pensando em como o cara que fosse
ficar com você no futuro, seria sortudo.
Eu só não imaginava que iria desejar
tanto ser esse cara.
Eu sorri e fechei os olhos, não
achava que era possível, mas me sentia
acariciada pelas palavras dele. Palavras
podiam machucar uma alma, mas elas
podiam também acariciá-la.
Não o deixei falar mais nada,
aproximei-me e o beijei vorazmente, era
impossível não querer me entregar por
completo para ele, logo depois de ouvi-
lo dizer tudo aquilo.
Suas mãos acariciavam minhas
costas por dentro da blusa, mordisquei
seu lábio inferior e logo depois
depositei beijos por todo o pescoço,
orelha, maxilar, então senti suas mãos
apertando minha cintura fortemente. Ele
ficou por cima de mim e entrelacei
minhas pernas em volta dele, seus lábios
passearam pelo meu pescoço, onde ele
mordeu levemente, depois foi até minha
orelha e passou a língua vagarosamente
fazendo com que me arrepiasse e
gemesse, sem o menor pudor.
— Ally, eu não queria fazer isso
hoje. — Sua voz estava falha, eu
arranhava suas costas e brincava com a
beirada de sua cueca. — Vai ficar
parecendo que estou te usando, não
quero que fique com a ideia errada do
que a gente tem.
— Vai ficar parecendo que você
me deseja e que eu também te desejo. —
Ele voltou a beijar meus lábios e quando
se afastou um pouco voltei a falar. — Eu
mencionei que durmo sem calcinha?
— Você é impossível! Está
jogando sujo comigo, não está sendo
justo isso. — Ele sacudiu a cabeça
rindo.
— Você acha que é justo o que
você está fazendo comigo? Eu posso não
ser homem que se excita facilmente, mas
também me excito com tudo isso.
— Eu nem fiz nada com você
ainda. — Ele falou sedutor.
— Fez sim. — Alcancei uma de
suas mãos e deslizei pelo meu corpo, na
metade do caminho ele já sabia aonde ir.
— Sinta. — Sua mão passou pelo cós do
shorts do pijama, que era colado em meu
corpo e deslizou até onde eu tanto
queria. Joey me olhava fixamente, seus
lábios estavam entreabertos e gemi
baixinho quando senti seus dedos
acariciando minha intimidade de
maneira habilidosa.
— Porra, você está muito
molhada — disse entredentes, chupando
meu lábio inferior. — Não sei como vou
aguentar se você ficar brincando comigo
assim, tenho desejado isso como um
louco nos últimos meses.
— Se você me deseja tanto, não
entendo o motivo de ainda resistir. —
Abri a boca e inclinei a cabeça para trás
quando ele movimentou seu dedo sobre
meu clitóris novamente.
— Você não faz ideia do quanto
te desejo, Alice. — Ele cobriu minha
boca com a dele enquanto me acariciava
e eu arranhava suas costas, seu abdômen
e fui descendo até sentir o relevo em sua
cueca. Joey soltou um grunhido que
pareceu despertar mais ainda meu
interesse por aquela área, mas minha
viagem acabou antes que pudesse
investigar o assunto mais a sério, pois o
celular de Joey começou a tocar
insistentemente na mesinha de cabeceira.
Inicialmente ele ignorou por completo,
mas depois de alguns segundos, ele
simplesmente não aguentou e resolveu
pegá-lo.
— Me desculpe, pode ser do
trabalho. — Ele olhou no visor. — É o
James.
— Pode atender, eu vou ficar
quietinha.
Ele levantou para atender e ficou
parado em pé, perto da cama, de frente
para mim e então o volume na cueca
ficou bem evidente, ri de mim mesma e
de como era uma pervertida em alguns
momentos.
— Escuta bem, eu coloquei
esses documentos em uma pasta
amarela, na primeira gaveta do armário,
não está tão difícil assim de achar, pelo
amor de Deus! — Ele começou a ficar
irritado. — Você não está querendo que
eu saia daqui e vá até aí só para
resolver isso, não é? Já são quatro e
meia da madrugada, não é nada de
urgente e minha ida à delegacia não vai
adiantar nada, porque você só pode
efetuar a prisão depois que o delegado
chegar aí. — Ele parou de falar por um
minuto, tampou o celular com a mão e
falou baixinho comigo. — Me espera
um minuto só, preciso explicar onde
estão os relatórios ou terei que ir até lá.
— Tudo bem — falei baixinho e
ele piscou para mim antes de voltar a
falar James.
— Escuta bem... — Ele abriu a
porta do quarto e pude vê-lo indo em
direção da cozinha. O cara tinha um
coração enorme, um sorriso de matar,
um abdômen definido, as costas largas e
para finalizar com chave de ouro, era
bem-dotado. Não tinha como não o
amar. Enquanto esperava que Joey
voltasse para o quarto, tirei a blusa de
frio, já que naquele momento estava
suando horrores. Deitei abraçada ao
travesseiro dele e lutei com todas as
forças contra meu corpo, mas em
questão de minutos fui vencida pelo
cansaço e o sono simplesmente venceu e
acabei apagando de exaustão.
Capítulo 7
A luz atravessou as cortinas
desgastadas e soltei um grunhido. Não
havia dormido muito bem na noite
anterior, aliás, não havia dormido mais
do que duas ou três horas. Estava
chegando a hora de novo, sempre ficava
meio elétrico nos dias que antecediam
uma grande operação, mas quando o dia
chegava, ficava ansioso, impaciente.
A verdade é que sempre fui
muito metódico, do tipo que gostava de
planejar cada aspecto da ação de
colocá-la em prática. Preparava as facas
e agulhas esterilizadas (sempre eram
mais de uma, por precaução), as linhas
grossas pretas, as sacolas plásticas que
eu forrava todo o quarto onde finalizava
minhas garotas.
Ah, e as garotas! Todas tão
lindas, tão viçosas.
Essas eu vigiava de perto, todas
escolhidas a dedo...uma por uma. Eram
escolhidas por sua idade e prefiro as
caucasianas. Elas me lembravam
Rachel, minha querida irmã.
Ouvi um barulho vindo da sala,
provavelmente Genevieve, a gata da
minha adorada irmã, que sempre me
acordava cedo. Algumas vezes
recordava que Rachel fazia a mesma
coisa, acordava-me com aquele sorriso
lindo, os grandes olhos verdes. Era tão
estranho, pois para mim ela não havia
morrido, Rachel estava viva sim e
presente nos meus dias. Estava presente
em Amelie, em Melanie. E estaria
presente em Coraline, minha nova
escolhida.
Levantei e fui andando, na
verdade, eu praticamente me arrastei até
a sala.
— Vai trabalhar hoje? — A voz
da minha empregada me assustou e
tirou-me dos meus pensamentos.
— Não sabia que viria trabalhar
— respondi tentando não demonstrar o
susto ao vê-la ali. Ela sorriu e suas
bochechas gordas se remexeram em seu
rosto.
— Claro que vim. Minha folga é
amanhã. — Ela estragaria meus planos
se ficasse por perto, eu jurava que tinha
dado folga a ela. Nunca era descuidado
com esse tipo de coisa, sempre fui muito
metódico, muito meticuloso e tomava
conta de cada pequeno detalhe. Como
poderia prosseguir meu ritual se ela
estivesse ali?
— Pode ir embora. Tire folga
hoje e amanhã — disse simplesmente
sem nem olhar para ela.
— Achei que estivesse
brincando quando me disse isso no meio
da semana. — respirei aliviado com a
afirmação da mulher, sabia que tinha
tomado conta disso, ela apenas não
acreditou.
— Não estava brincando. É que
não vou ficar em casa hoje e, portanto,
não terá muito o que fazer por aqui,
Betty. — A não ser que ela quisesse
ficar para limpar o sangue que
escorreria assim que a lâmina
atravessasse aquela preciosa fonte de
vida. Meu coração disparou só de
pensar nisso e uma adrenalina forçou-me
a fechar os olhos. Estava tão ansioso.
Precisava me acalmar, pois sabia que a
ansiedade só atrapalhava e me fazia
cometer erros grotescos, deixar rastros e
eu não podia deixar rastros.
— Tenho o melhor patrão do
mundo. — Ela era amável e sempre
muito gentil comigo. Ou talvez apenas
puxasse saco mesmo. A ideia dela
descobrindo meu outro lado me fez rir
por dentro. — Certo, então. Vou embora.
— Assenti enquanto a via indo até a
cozinha. Ela guardou algumas coisas na
geladeira e me sentei no sofá, sentindo o
coração ritmado em meu peito.
Genevieve deitou em meu colo e
acariciei a cabeça dela de forma que
aquilo foi me acalmando, serenando
meus nervos e por fim a minha alição foi
se dissipando lentamente. Betty passou
pela sala fazendo-me abrir os olhos, ela
sorria alegremente indo em direção à
porta.
— Tenha um bom dia, Betty —
disse sorrindo e ela abriu a porta e virou
para mim sorrindo de volta.
— Tenha um ótimo dia também,
senhor! Até mais. — Sorri e quando ela
saiu do apartamento, meu sorriso
permaneceu no rosto. Meu dia seria
mais do que ótimo, seria deliciosamente
maravilhoso.
Joseph
Estava admirando o sono de
Alice, como já havia feito algumas
vezes antes de nos envolvermos, mas
daquela vez era diferente. Eu a via de
maneira diferente. Era como se uma
nova Alice surgisse, era a mesma,
porém o sentimento tornou-se tão mais
intenso.
Ela sorriu enquanto dormia,
aliás, fez aquilo várias vezes durante o
tempo que a observei, havia me deitado
após uns 10 minutos que tinha saído do
quarto para atender o idiota do James,
aliás, queria matá-lo.
Não que estivesse morrendo
para transar com a Ally, porque queria
de verdade tratá-la diferente de todas as
garotas com as quais me relacionei, ela
era especial e o que sentia por ela era o
mais grandioso de toda minha vida e
isso, talvez, por ter estado perto dela
praticamente durante toda sua vida. Eu
já tinha aprendido a amá-la, agora
estava começando a desejá-la como uma
mulher, talvez a mais linda que já
tivesse passado em minha vida.
Eu ri de mim e de como estava
agindo feito um idiota, deitado em minha
cama olhando para uma garota de 17
anos que havia sempre colocado cor na
minha vida e agora estava explodindo
um arco-íris dentro da minha cabeça. O
laço que tínhamos, fazia-me estar
sempre por perto,e diante dos meus
últimos pensamentos pude perceber que
me afastar seria a última coisa que
queria fazer.
Acariciei seus cabelos, sempre
gostei de fazer aquilo e agora gostava
ainda mais. Ela abriu os olhos
lentamente, piscou algumas vezes antes
de abrir seu sorriso brilhante.
— Não acredito que estou aqui
com você — disse sonolenta e mordeu o
lábio inferior antes de colocar a mão na
frente do rosto.
— Nem eu. — Eu sorri para ela
que pulou em mim, abraçando-me
apertado. — Eu ia te acordar mais cedo,
mas me perdi no meio do caminho...
— Você estava me olhando
dormir? — perguntou acariciando
minhas costas e senti um formigamento.
Ela tinha aquele poder sobre mim, de me
deixar excitado em segundos ou era
porque aquilo tudo era uma novidade?
— Estava. — Levantei o rosto
dela e ela riu. — Vai me julgar por
isso?
— De maneira alguma, até
porque já fiz isso várias quando você
dormia no sofá lá em casa.
— Então não eram sonhos? —
perguntei sorrindo e ela fez uma
expressão confusa. — Eu sempre achava
que sonhava que alguém acariciava meu
rosto.
— “Alguém”?
— Sim, não via o rosto da
garota, mas sabia que era mulher. —
Deslizei minha mão por dentro da blusa
do pijama e fiquei acariciando a cintura
dela, arranhando levemente. Eu abaixei
o tom de voz e terminei de falar com um
sussurro. — Confesso que algumas
vezes, eu via você.
— Você sonhava comigo? — Ela
levou a mão a boca espantada com a
novidade e eu assenti.
— Algumas vezes, sim —
respondi dando de ombros. — Não dá
para me julgar, diante das brincadeiras
que você tem feito.
— Tipo quais? — perguntou com
seu sorriso típico malandra, cheia de
péssimas intenções. Eu gostava, aliás,
adorava aquilo. Estava entrando num
caminho sem volta, envolver-me com
ela era a certeza de caminhar na beira de
um abismo, onde o caminho era de mão
única, o sentimento só iria aumentar, a
admiração tendia a crescer ainda mais e
por fim me veria preso a ela. Talvez já
até estivesse, só não tinha me dado
conta.
— Você sabe quais, sua
espertinha! — Fiz cócegas nela que se
contorceu e me deu vários tapas.
— Me lembre! — Alice ria
enquanto continuava a sessão de
cócegas, aproveitei para ficar por cima
dela e prender seus braços, impedindo-a
de me dar seus tapas que ela acreditava
serem fortes a ponto de me atingir.
— Aquela vez que você
apareceu só com a blusa de pijama e
calcinha, eu estava na sala assistindo
alguma coisa na televisão e você sentou
no sofá com seu copo de refrigerante na
mão, como se aquilo fosse supernormal.
— Mas é normal, você me viu de
calcinha várias vezes.
— Faz muitos e muitos anos.
Não tinha nem mesmo saído das fraldas
naquela época. — Eu levantei a
sobrancelhas com um olhar questionador
e ela riu. — Você fez de propósito.
— Confesso meu crime, detetive.
Me prenda! — Sacudi a cabeça diante
daquela brincadeira clichê que com ela
parecia ser algo novo. Pressionei meus
lábios contra os dela e logo em seguida
ouvi o barulho de algo vibrando.
— Caramba! — Ela gritou e
logo depois levou a mão a boca. —
James tá por aqui?
— Deve estar e dessa vez é seu
celular. — Eu falei saindo de cima
dela.
— Olha, me faz um favor? Da
próxima vez que a gente for ficar, vamos
desligar nossos celulares porquê de
verdade, isso tá irritando. — Comecei a
rir da cara dela, extremamente revoltada
com algo tão trivial.
— Atende logo, deve ser sua
mãe. Ela já ligou várias vezes, mas não
atendi e nem quis te acordar.
— O quê?! — Ela falou alto
novamente e levou a mão na boca antes
de voltar a falar sussurrando. — O quê?!
Porque não me acordou? Eu não vou
atender, nem sei qual desculpa usar para
ela.
Eu tomei o celular da mão dela e
apertei para atender sem pensar muito,
levei o celular até minha orelha e atendi
tentando manter meu tom o mais normal
possível.
— Ally! Até que enfim atendeu,
minha filha. Onde você tá? Já te
procurei por todo o prédio.
— Senhora Hastings, aqui
é Joey. — Alice estava com os olhos
arregalados na minha frente, assustada
como nunca vi antes, ela tentou tomar o
celular das minhas mãos e levantei da
cama. — Me perdoe, eu quis me
desculpar por não ter ido na festa dela e
resolvi chamá-la para tomar um café da
manhã e quem sabe, passar o dia
comigo. Afinal, é domingo e não
trabalho hoje.
— Claro, Joseph. — Ela pareceu
respirar aliviada. — Eu fui até seu
apartamento, James estava chegando na
mesma hora e eu até quis perguntar para
você, mas como a porta do seu quarto
estava trancada, resolvi não incomodar.
Senti meu coração disparar só de
imaginar que ela esteve tão perto da
cena que a chocaria mais do que
qualquer coisa que já tenha visto na
vida. Estaria morto naquele momento.
— Ah, claro. Eu tranquei a porta
quando saí, porque o James tem mania
de pegar minhas coisas emprestadas sem
pedir, entende? Eu saí bem cedo
com Ally, achei que ela tivesse avisado.
— Não, essa irresponsável
deixou a cama desarrumada e hoje
quando fui chamá-la levei um grande
susto.
— Ela estava no banheiro da
cafeteria e acabou de voltar. Vou passar
para ela. — Entreguei o celular
para Ally que me olhava assustada e ao
mesmo tempo aliviada.
— Eu sei, mãe. — Ela
respondeu meio inquieta a alguns
questionamentos da sua mãe e quando
terminou simplesmente caiu na
gargalhada. Ela se levantou e veio até a
mim, pulando em meu colo.
— O que é isso, sua maluca? —
Eu coloquei o cabelo dela atrás da
orelha enquanto a outra mão estava
espalmada em suas costas.
— Vamos almoçar juntos! Eu não
sei como vou sair daqui, mas preciso de
alguma roupa emprestada. — Ela
mordeu meu lábio inferior.
— Eu poderia protestar, mas a
verdade é que você é quem manda —
disse e ela riu.
— Eu quero um banho quente e
quero você comigo durante esse banho.
— Se eu entrar nesse banho com
você, não vamos ter almoço, Alice —
disse sendo bem sincero com ela. Não
aguentaria segurar meu desejo, por
muito tempo se continuássemos nos
provocando da maneira que estávamos.
— Mas eu estou com fome, isso
é injusto. Me fazendo escolher entre as
duas melhores coisas do mundo.
— Aham?
— Sexo e comida. — Ela rolou
os olhos e eu ri.
— Deixa eu te dar uma ideia —
disse carregando-a para dentro do
banheiro e a desci do meu colo. — Você
toma um banho, a gente vai comer
alguma coisa e depois... — Eu a
encostei na bancada e tirei a blusa do
pijama dela e reparei que o sutiã dela
era preto, foquei na cor para não reparar
na curva formada pelos seios dela
presos apenas por aquele pedaço de
tecido.
— Depois? — Eu mordi seu
lábio passeando com a língua sobre ele,
acariciando-o.
— A gente pensa sobre o outro
assunto.
— Nós não pensaremos, estou
cansada só de pensar sobre isso.
— Então tomaremos uma atitude
sobre isso. — Ela puxou minha cueca
um pouco para baixo, enquanto
conversávamos. — Mas não será agora.
Não brinque com meu controle, Ally. —
Eu segurei o queixo dela e saí do
banheiro, controlando-me e tentando
dominar a ereção em minha cueca.
Minha vontade era de simplesmente
voltar para aquele banheiro e foder com
ela, debaixo do chuveiro quente, depois
fazer a mesma coisa na mesinha de
leitura, até finalmente chegarmos à
cama. Eu tinha mesmo tesão reprimido
para várias transas e a culpa era toda
daquela garota em meu banheiro.
Sentei-me na cama, passando a
mão pelo rosto e respirando fundo,
fazendo o máximo possível para não
pensar em Alice, nua, em meu banheiro.
Ri enquanto ouvia ela ligar o chuveiro,
estava tão fodido na vida por me meter
naquela situação toda, mas no fundo não
estava nem importando com as
consequências, contanto que pudesse
estar com ela de qualquer jeito. Lutar
por aquilo, era algo pelo qual valia pena
a lutar.
Tomei um banho no outro
banheiro do apartamento, com cuidado
para não acordar James, que dormia
depois do plantão. Precisava tomar
muito cuidado para que Ally saísse do
apartamento, e do prédio, sem ser vista.
Quando voltei para o quarto, ela estava
sentada em minha cama, sua feição
pensativa.
— O que foi?
— Que roupa vou vestir? Não dá
para almoçar com você vestindo suas
roupas, Joey. — Ela parecia
extremamente preocupada com aquilo e
me fez sorrir. Senti falta da minha
juventude, quando minhas preocupações
eram tão fáceis de serem resolvidas.
— Eu sei disso, por isso mesmo
que fui até o apartamento do lado e pedi
a vizinha um vestido emprestado. Como
ela tem um corpo definido como o seu,
imaginei que fosse servir.
— Sério?
— Claro. Foi difícil explicar
para ela, mas ela entendeu. — Ela
levantou e veio até onde eu estava,
dando-me um beijo nos lábios.
— Então quer dizer que ela tem
o corpo definido? — perguntou, séria.
— Iiih, falei coisa errada. —
Cocei meus olhos. Alice passou os
braços em volta da minha cintura e riu.
— Eu só estou brincando, sei
que sou mais gostosa do que ela. —
Sorriu para mim, sua mão ainda
acariciando minha cintura.
— Em teoria sim, mas não pude
comprovar na prática, se é que me
entende. Então, minha opinião não
conta.
— Comprova agora. — Ela
beijou meu pescoço, senti sua língua
deslizando e depois seus dentes
mordendo vagarosamente. Segurei sua
cintura, aliás, eu a apertava, talvez ao
ponto de machucar. Senti sua mão
arranhando meu abdômen e notei minha
ereção dando sinal de vida novamente.
Tive tanto trabalho para controlar aquilo
e lá estava eu com aquele monte erguido
debaixo da toalha, eu era muito fácil
com Ally.
— Alice, eu não estou dando
conta de me segurar mais. Para de
brincar comigo assim ou...
— Ou o quê? — Afastou nossos
corpos e caminhou até a mesinha de
leitura, sentou-se ali e afastou as pernas,
não dava para ver nada, pois a toalha
comprida impedia a visão, mas sabia o
que havia ali e de alguma forma
simplesmente sabia que ela não havia
colocado calcinha. Não me pergunte
como, eu simplesmente sabia.
Aproximei-me dela e tomei sua
boca com a minha de maneira nada sutil
ou gentil, eu estava louco por aquela
menina/mulher, mais do que já estive
por qualquer outra e não entendia o
motivo de tanto desejo. Talvez porque
fosse proibida para mim, talvez porque
tivesse metade da minha idade, ou talvez
porque era simplesmente a Alice.
Minhas mãos subiram pelas suas
coxas e as senti se arrepiando ao meu
toque, suas mãos desataram minha
toalha, que fez o caminho até o chão.
Comecei a beijar o pescoço de Ally,
quando cheguei em sua orelha a senti se
contorcer um pouco, soltando um
gemido baixo, quase inaudível, mas eu
ouvi perfeitamente e aquilo me fez
desejar ouvi-la fazendo sons como
aquele novamente.
— Ou eu não vou responder
pelos meus atos — disse antes de
deslizar minha mão entre suas pernas.
Eu a olhava nos olhos, adorava aquela
carinha de entrega que as mulheres
fazem quando a tocamos naquele
pequeno ponto sensível. Alice jogou a
cabeça para trás quando comecei a
movimentar meu dedo sobre seu clitóris,
ela segurava na beirada da mesinha com
tanta força que os nós de seus dedos
estavam brancos.
— Eu quero ser sua. —
Sussurrou com tanto desejo que quis
simplesmente finalizar aquilo tudo,
aquela tortura que estava me
submetendo. Encaixei-me entre suas
pernas e continuei massageando seu
clitóris vagarosamente, ela levou sua
mão até minha ereção e começou a me
acariciar e mordeu os lábios quando fiz
uma expressão de alívio.
Sentir sua mão em meu membro,
acariciando-o, era um alívio, não era
tudo que queria, posso garantir que
desejava mais, porém era o máximo que
podia me permitir no momento e aquilo
me satisfazia. Para me realizar por
completo, precisaria tê-la por inteiro.
Deslizei meu dedo até sua
entrada e voltei para onde estava antes,
continuando a acariciá-la. Alice puxou-
me para um beijo profundo, mais
significativo que um simples beijo, era
um selo de que estávamos ultrapassando
uma nova linha.
— Você sabe que não vou
terminar isso agora, não é? — disse
assim que separamos nossos lábios. —
Eu preciso de muito tempo, de
dedicação e quero tocá-la não apenas
com minha mão ou dedos. Vou fazer com
os lábios e língua, estou louco para
sentir seu sabor, fazê-la explodir ali
naquela cama comigo.
Abri sua toalha e a visão que
tive de seu corpo exposto, me tomou por
completo. Eu era dela, eu faria o que ela
quisesse comigo, ela mandava em mim.
Simples assim.
— Me dá uma amostra do que
seria isso. — Alice abriu ainda mais as
pernas e penetrei um dedo em seu
interior, fazendo com que ela gemesse
de uma maneira que fez com que me
quisesse estar inteiro dentro dela. Ela
me masturbava rapidamente, enquanto
gemia pedindo por mais, coisa que aliás
eu queria muito fazer, mas sabia que
talvez estragasse tudo se transformasse o
que estávamos tendo em um caso
sexual.
Eu tive um orgasmo forte,
intenso. Gozei sem nem mesmo
conseguir me conter, como um
adolescente. Até nisso ela me afetava,
não conseguia nem segurar minha porra
dentro de mim mais. Alguns em meu
lugar simplesmente limpariam a si e
onde mais o gozo tivesse caído, mas eu
queria vê-la se contorcer e sentir o que
eu havia acabado de sentir. Meus 34
anos de idade e quase 20 de experiência
sexual me dariam esse privilégio.
Abaixei-me diante dela, separei bem as
suas pernas e passei minha língua por
sua vagina, ela deixou escapar um
gemido alto, rouco e excitante, por entre
os lábios entreabertos, em êxtase total,
fazendo com que meus pensamentos, que
já eram pecaminosos, fossem
transformados em completamente
eróticos, mas isso ficaria para outro
momento.
Passei a língua novamente, dessa
vez comecei a brincar com seu clitóris,
eu ficaria excitado novamente se ela
continuasse reagindo daquele jeito.
Voltei a massageá-la com minha mão e
dedos, Alice mordia o lábio com tanta
força que achei que fosse cortá-los. Com
minha mão livre a segurei com firmeza
pelo cabelo, encostei nossas testas,
fazendo-a manter contato visual comigo,
porque sabia que o orgasmo dela estava
perto, quando ela gozou foi algo que me
deixou hipnotizado. Ela tombou a
cabeça para trás, sua boca aberta e um
sonoro “oh” saiu de seus lábios. Se
fosse uma pintura, valeria milhões. Logo
depois ela encostou sua cabeça em meu
peitoral, ambos nos recuperando
daquele momento.
— Eu não sei nem o que dizer —
falei quebrando o silêncio. — Talvez
que quero muito terminar isso.
— Mas agora a gente tem que
comer. — Ela levantou o rosto e me
puxou para um beijo.
— Mas é exatamente isso que
estou propondo — assim que terminei
de falar ela deu um tapa em meu braço e
a abracei. — É sério, vamos cair
naquela cama e esquecer que tudo existe
lá fora. Eu não quero nada que não seja
você, seus lábios, seu corpo, sua...
— Ok, eu entendi. — Ela
entrelaçou suas pernas em volta do meu
corpo, e acariciava meus cabelos. —
Mas meu estômago está roncando e se
vamos nos acabar naquela cama, preciso
estar com bastante energia. — Alice
terminou o abraço, desceu da mesinha e
enrolou-se na toalha novamente. —
Além disso, eu te esperei por tanto
tempo, essa é a minha chance de revidar,
deixar você louco me querendo. — Ela
mordeu o lábio.
— Então se trata de uma
vingança? — perguntei rindo e puxando
a toalha dela, tentando arrancar
novamente.
— Exatamente — respondeu
Alice, dando um tapa em minha mão,
fazendo-me desistir de conseguir o
intento. — Quero que você se sinta
como eu, desejando estar comigo, da
mesma maneira que quis estar com você.
— Ela se afastou indo em direção ao
banheiro.
— Vou pegar o vestido, esqueci
em cima do sofá — disse rindo. Fui até
a sala e dei de cara com James sentado
no sofá, assistindo um filme ou algo do
tipo na televisão.
— Quem você estava fodendo lá
dentro? É gostosa? É a Sara? — Ele
colocou a garrafa de cerveja em cima da
mesinha de centro, visivelmente
curioso.
— Você estava ouvindo, seu
filho da puta? — Eu perguntei pegando o
vestido e já fui me virando para voltar
para o quarto. — Vaza daqui, ou eu
espalho aquela história do motel para o
pessoal da delegacia, seu babaca.
— Olha só, ficou nervosinho. —
Ele começou a rir. — Se quer tanto
esconder a mulher é porque é treta,
confusão na certa. Aposto que é casada.
— Ele pegou a garrafa de cerveja e deu
um gole.
— Eu estou falando sério,
James. — Eu não ri, aquilo era sério
demais para brincar.
— Fica tranquilo, vou para o
meu quarto e saio de lá quando você me
permitir. — Ele continuava rindo da
minha cara e tenho certeza que riria mais
ainda se soubesse quem estava ali
dentro do quarto comigo. — Mas avisa
que ela tem um gemido de matar
qualquer homem de tanto tesão.
Ele levantou e saiu correndo
para o seu quarto porque sabia que iria
dar meia volta e bater nele sem dó
nenhuma. Mas como poderia discordar?
Ela tinha mesmo um gemido tão
apetitoso como aquele espaço úmido e
quente entre suas pernas.
Algumas horas mais tarde
estávamos eu e Alice sentados em um
restaurante perto do píer do Lago ao sul
da cidade, ela estava terminando de
comer quando meu celular vibrou no
bolso, ela estava falando sobre um
trabalho que teria no colégio dela sobre
profissões, que precisava convidar
alguém e como ela adoraria que eu fosse
lá para falar da minha profissão.
— Eu pensei em chamar meu
pai, mas você sabe que ele nunca para
em casa e sem contar que adoraria
esfregar você na cara das minhas
amigas. — Ela riu.
— Eu sou seu troféu, agora? —
Fiz cara fingindo que não tinha gostado
daquela atitude.
— Larga de ser irritante! —
Bebeu um gole do suco em seu copo. —
Você sabe que o fato de estar lá, vai
fazer com que as minhas colegas babem
no seu corpinho e eu vou saber que você
é só meu, mesmo que secretamente. —
Alice deu aquele sorriso lindo, que me
cativava cada vez que o via, acabei
sorrindo junto com ela, cedendo ao seu
sorriso e entregando que estava apenas
brincando. Meu celular vibrou
novamente.
— Droga de celular. Me
desculpa, Ally — disse pegando o
celular e ela assentiu. — Você precisa
olhar, pode ser sério.
— Não vou. — Eu guardei o
celular novamente no bolso sem nem
mesmo olhar para ele. — Hoje é o seu
dia, já negligenciei isso ontem e não irei
fazer isso novamente. — Levantei-me.
— Vou pagar nossa conta e depois
vamos dar uma volta pelo píer.
Ela sorriu empolgada e pisquei
la antes de ir até o caixa, pagar a conta,
quando voltei Alice estava em frente da
grande janela, com os olhos fechados
provavelmente sentindo o vento contra
seu rosto. Aproximei-me e a abracei por
trás, circundando sua cintura com meus
braços e beijando seu pescoço, em
resposta ela acariciou meus braços, me
olhando de lado e abrindo um sorriso
para mim.
— Vamos? — perguntei e ela
assentiu antes de virar e deixar um beijo
rápido em meus lábios. Dei um
sobressalto, preocupado com a
possibilidade de sermos vistos.
— Me desculpa — falou,
sentindo-se culpada. Ela abaixou a
cabeça, parecia esperar por uma bronca
e a culpa daquela reação era minha
mesmo, que durante tanto tempo
reclamei das atitudes que tinha comigo e
minha reação diante do seu carinho não
tinha ajudado muito. Coloquei o dedo no
queixo dela, levantando sua cabeça e
falei baixo, não queria que mais ninguém
nos ouvisse.
— Ei, qual é o problema? —
enquanto eu falava, Alice me olhou,
abrindo um sorriso tímido que a deixava
linda. — Eu só...preciso me acostumar
com isso e devemos ser um pouco mais
cuidadosos. — Ignorando meu próprio
conselho, aproximei-me e dei um beijo
demorado em sua boca, mordi o seu
lábio inferior antes de nos afastarmos.
— Vem comigo.
Alice segurou a mão que estendi
para ela e saímos do restaurante.
Caminhamos pelo píer até sentarmos em
um banco de madeira, de frente para o
lago, o sol estava começando a se pôr e
isso dava uma vista perfeita.
— Você gosta de imaginar as
coisas? — Alice perguntou
aconchegando-se a mim, que retribuí
abraçando-o forte.
— Que tipo de coisas? —
indaguei curioso do que se passava em
sua cabeça, ela sempre foi cheia de
novidades e aquilo era uma das
melhores qualidades dela.
— Sei lá, às vezes me imagino
viajando o mundo, ou com você, a gente
junto em uma praia ou fazendo um
piquenique na montanha. — Ela riu e eu
não pude conter um sorriso. — E aí eu
toco violão e canto para você.
— Mas você não sabe tocar
violão — disse soando realista.
— Exatamente para isso que
serve a imaginação. — Ela levantou a
cabeça para me olhar com cara de
desaprovação, eu ri e ela fez careta. —
Então?
— Então o quê?
— Gosta de imaginar?
— Não tenho muito tempo para
isso — respondi tentando não revelar o
que queria realmente falar, mas me dei
conta que momentos como aqueles eram
preciosos e não sabia até quando
poderia tê-la daquele jeito em meus
braços. — Quando tenho tempo, imagino
uma casa na praia, uma família e uma
pessoa que fique ao meu lado até o fim
da minha vida.
Meu celular vibrou pela terceira
vez no bolso e bufei, estava começando
a odiar meu trabalho.
— Olha o que é, Joey. — Alice
se afastou e falou visivelmente
preocupada. — Pode ser sério.
Eu concordei com ela, peguei o
celular e desbloqueei a tela. As
mensagens que li fizeram meu coração
disparar no peito, sabia que era meu
trabalho, mas ultimamente com a
possibilidade de um serial killer
rondando por aí, tinha calafrios cada vez
que via uma mensagem como aquela.
— O que foi? — Alice
perguntou, minha expressão entregava
minha preocupação.
— Uma adolescente foi
encontrada morta, Ally. James mandou
mensagens mais cedo e agora foi seu pai
que me mandou uma comunicação,
avisando sobre o crime, é um
procedimento padrão, ele manda esse
alerta para todos os detetives, mesmo
quando estão em dia de folga.
— Você acha que pode ter sido o
mesmo cara que... — Ela havia captado
o que estava em minha mente.
— Eu espero que não seja
isso, Ally.
— Você que ir embora? —
perguntou segurando minha mão e a
acariciou levemente.
— Mas, e a nossa
comemoração? — perguntei sentindo-me
culpado, ela sorriu e sacudiu a cabeça.
— A gente vai poder sair assim
muitas vezes e aproveitar muitos
momentos como esse. — Aproximou-se
e beijou meus lábios antes de levantar
com os braços abertos. — Vem! — Eu
me levantei e a surpreendi quando a
peguei no colo e saí caminhando com
ela pelo píer.
— Vamos embora, pequena! —
Alice escondeu o rosto em meu pescoço
quando as pessoas em volta começaram
a nos olhar.
— Eu estou de vestido, as
pessoas vão ver minha calcinha! — Ela
falou em meio as gargalhadas e eu a
desci rapidamente.
— Porque não falou antes? Só eu
posso ver o que tem aí — ela não falou
nada, apenas me puxou e uniu nossos
lábios em um beijo profundo, onde muita
coisa é dita sem usarmos sequer uma
palavra.
— Eu sou louca por você. — Ela
disse assim que paramos de nos beijar.
— E eu por você — disse
admirando o sorriso que se formou em
seus lábios. Em meu coração houve um
acelerar ritmado, ignorei os olhares
curiosos e a beijei novamente me
entregando a aquela sensação
extraordinariamente e assustadoramente
diferente, que me fazia sentir vivo como
nunca antes.
Alice
Assim que cheguei em casa
com Joey fui para o banheiro, passei
uma água no corpo e coloquei um pijama
para ficar deitada no sofá da sala
assistindo televisão, aquele típico
programa do fim de domingo.
Meu pai e Joey estavam sentados
na cozinha conversando. Pelo que
entendi papai tinha avisado Joey quando
ele já tinha resolvido a situação
praticamente toda, mas Joey queria os
detalhes e por isso estavam lá na
cozinha havia quase duas horas. Quando
já estava quase cochilando, senti uma
mão acariciar meus cabelos e colocá-lo
atrás da orelha, abri meus olhos meio
zonza de sono e vi Joey agachado em
frente ao sofá.
— Não faz barulho. — Ele
sussurrou e colocou o dedo indicador
sobre os lábios. — Falei que ia te dar
um beijo de boa noite, tecnicamente não
menti para ele, só não especifiquei onde
é o beijo.
Eu sorri e ele se aproximou
passando seus lábios sobre os meus,
logo depois abri minha boca e acariciei
sua língua de forma tão sedutora que
quis carregá-lo para o meu quarto e
mantê-lo ali dentro como meu refém.
Infelizmente ouvimos um barulho de
vasilhas e nos separamos alarmados,
tampei a boca quando comecei a rir e
ele colocou a mão por cima da minha
para garantir que não faria barulho.
— Que susto! — Eu disse e
peguei a mão dele. — Olha como meu
coração tá acelerado. — Levei sua mão
até meu seio. Era para sentir o coração,
poxa! Mas quem iria me culpar por
seduzi-lo? Eu tinha mais é que
aproveitar dele, não? Joey passou a
língua nos lábios, umedecendo-os e eu
me senti uma tarada por achar aquilo
totalmente sexy.
— Você quer me matar, Ally?
Assim não dou conta.
— Talvez. — Ele levantou as
sobrancelhas surpreso. — Há muitas
maneiras de matar alguém e estou
falando no sentido figurado. — Pisquei
e senti sua mão se movimentar
acariciando meu seio por cima da blusa
do pijama.
— Entendo. E poxa, seu coração
tá acelerado mesmo, será que é só pelo
susto? — Riu e eu tinha que dar o braço
a torcer, ele tinha virado o joguinho de
sedução para cima de mim.
— Alice! Você vai comer? —
Minha mãe gritou da cozinha e Joey se
levantou num pulo rápido, sua cara de
espanto era de fazer qualquer um
gargalhar e tive uma crise de riso por
isso.
— Já vou, mãe! — Joey sentou
no sofá e me sentei também.
— Antes que você vá, quero te
contar uma coisa, porque só você sabe
que ando tendo essas ideias e só tenho
você para desabafar — falou me
deixando completamente apreensiva.
— Fala.
— A adolescente morta não me
parece ter ligação com o serial killer.
— É uma notícia boa, não é? —
perguntei torcendo para que a resposta
fosse positiva.
— Sim, mas eu não vou dar
conta de esperar que ele ataque
novamente, Ally. Seu pai acabou de me
falar que é preciso mais dois casos
confirmados para começar uma
investigação e eu não quero esperar por
isso.
— Você quer dizer que...
— Sim — ele olhou para o lado
onde ficava a cozinha e falou bem baixo.
— Vou começar a investigar por conta
própria, Ally.
Eu não vou mentir que aquilo me
assustava porque o fato do serial killer
escolher adolescentes, não significava
que ele não mataria qualquer um que se
metesse no seu caminho, aliás, o fato
dele lidar com a morte com naturalidade
tornava qualquer um que ele tivesse
desafeto em alvo a ser aniquilado.
— Estou com medo de acontecer
algo com você — disse e ele beijou
minha cabeça.
— Vai dar tudo certo, pequena.
— Posso te ajudar de alguma
maneira? — perguntei querendo ajudá-
lo de verdade.
— Sim, fica sempre por perto,
mesmo quando eu ficar meio paranoico
com essa situação toda.
— Não precisa nem pedir por
isso — disse antes de abraçá-lo
fortemente e depositar um beijo em seu
rosto. — Eu vou estar sempre com
você.
Capítulo 8
— Eu juro que não entendi até
agora o fato de o Ed estar me ignorando.
— Estávamos eu e Lili sentadas em uma
das escadas da escola, uma semana e
meia depois de ter enfim rolado algo
entre eu e Joey.
— Mesmo depois de ter contado
para ele sobre você e o Joey? — Lili
bebeu um gole do suco de laranja e
ajeitou os óculos escuros.
— Mas tem uma semana que
contei para ele! E Ed já imaginava que
algo do tipo poderia acontecer.
— Mas o cara tinha te pedido em
namoro e você apareceu na frente dele
contando que estava com o Joey, nem
mesmo disse um “não” ao Ed, foi como
se ignorasse o pedido que fez.
— Ok, eu sou um monstro.
— Me desculpa, mas o Ed é seu
melhor amigo e sinceramente você
deveria pedir desculpas para ele.
— Pedir desculpas pelo quê? —
Eu sinceramente não achava que tinha
feito mal. Ou será que sim? Ah que
merda! Cecília tinha esse poder de me
fazer sentir culpada.
— Por você ter contado as
coisas da maneira que fez!
Acorda, Ally! Edward nunca
demonstrou sentimentos por ninguém e a
única pessoa que ele deixou entrar no
mundinho dele, foi você.
— Mas você também...
— Não me compara com você.
Eu sou amiga do Ed, o que ele sente por
você é diferente...você é o que ele tem
mais próximo de família e sabe que para
ele isso é muito, não é?
— Claro. Com a família ausente
dele e tudo mais.
— Então?
— Vou conversar com o Ed
então. — Eu olhei para onde ele estava
sentado rindo com os meninos do time
de futebol. — Apesar de ter quase
certeza de que ele não vai querer falar
comigo.
— Tente mesmo assim. Você o
conhece bem. — Ela terminou de falar e
me levantei. — Vai lá agora?
— Claro, gosto de resolver as
coisas sem enrolação.
Desci as escadas e fui andando
até onde Ed estava sentado, os meninos
do time de futebol começaram a sorrir
assim que cheguei perto, como se não
fosse perceber que aqueles sorrisos
eram por minha causa. Garotos
conseguiam ser patéticos quando
queriam.
Ed levantou uma sobrancelha e
uniu os lábios em uma linha fina e aquilo
me abalou porque a expressão
significava que estava além de chateado,
bravo ou qualquer coisa do tipo, ele
estava tentando parecer indiferente o
que era bem pior.
— Eu preciso falar com você —
disse sem saber exatamente o que falar
com meu melhor amigo.
— Claro. — Ele fez um sinal
para os meninos e disse que conversava
com eles depois. Levantou e foi andando
até um banco, sentou e esperou que me
acomodasse ao lado dele.
— Ed, eu sei que você deve
estar puto comigo.
— Não estou.
— Mas...Você não fala comigo
desde segunda-feira da semana passada,
hoje faz uma semana e meia que você tá
me ignorando.
— Alice, não vou mentir. — Ele
passou a mão pelos cabelos macios. —
Você me faz bem, mas se eu continuasse
me deixando levar apenas pelo que
sinto, iriar começar a sofrer. Vamos
combinar que de sofrimentos minha vida
está cheia. Só estou dando um tempo.
— Entendo. — Abaixei a cabeça
sem saber como agir com uma pessoa
que conhecia tão bem quanto a mim
mesma. Ou talvez nem tanto assim,
estava começando a duvidar. — A gente
vai voltar a conversar como antigamente
em algum momento?
— Eu sinceramente não
sei, Ally.
— Mas você nunca me pediu
exclusividade, Ed. Além do mais, você
sabia o que eu sentia pelo Joey e nunca
se importou.
— Eu sei, também achava que
não me importava, mas para te dizer a
verdade, doeu para caramba. Sei que é
espantoso ouvir isso de alguém como eu,
mas sou apaixonado por você de
verdade e nesse momento o melhor é
que fiquemos um pouco afastados. Pode
ser? — Segurou minha mão, depositou
um beijo ali e assenti.
Ele se levantou, andando em
direção ao banheiro e fiquei ali sentada,
comecei a chorar e senti os braços
de Lili passando sobre meus ombros.
Ela deu um beijo na minha cabeça e
como toda amiga que se preza, não falou
nada além de um “Vai ficar tudo bem”,
eu parecia ter sido rejeita por um
namorado, mas o Ed era bem mais do
que isso. Era o meu amigo mais leal
juntamente com Lili.
Assim que cheguei em casa fui
direto para cozinha onde minha mãe
estava e contei para ela que Ed ficou
chateado comigo, contei que era porque
ele estava com ciúmes de mim, mas não
contei que era por causa do Joey.
— E agora estou me sentindo
péssima porque você sabe que adoro o
Ed.
— Eu sei disso, vocês são
amigos há muito tempo — disse,
abraçando-me e fomos andando até a
sala, nos sentamos no sofá e ela voltou a
falar. — Eu até queria que você
namorasse ele.
— Mas não dá, mãe.
— Eu sei, você está apaixonada
por outro e está junto com ele, certo?
Ela sabia? Meu coração
acelerou e nunca me senti tão
apavorada.
— Você sabe?
— Claro, Ally. — Ela sacudiu a
cabeça. — Ou você acha que acredito
que você dormiu todos esses dias da
última semana na casa da Lili. Eu não
sou boba. Aliás, quero saber quem é.
— Um dia eu o apresento. — Só
não seria tão rapidamente, pensei
respirando aliviada por ela não saber
quem era. — E a Hill? Alguma notícia?
— Mudei de assunto rapidamente.
— Ela ligou hoje, está em Ibiza
com o noivo, ele foi se apresentar em
um festival lá e sua irmã foi junto.
— E não avisou para ninguém.
Aquela maluca!
— Faz tempo que ela não avisa
mais nada para ninguém, né?
— Mas não costuma viajar com
a Sophia sem avisar, por isso todo
mundo ficou desesperado, até o pai.
— Ela é maluquinha e não sei de
onde ela puxou esse lado impulsivo
dela. — Minha mãe riu, porque ela era
assim quando jovem e aquilo nem era
segredo para ninguém.
— Claro, nós não sabemos quem
ela puxou — falei ironicamente. — Eu
peguei um pouco disso de você também.
— Mas você é muito mais
inteligente, pensa nas consequências e se
preocupa comigo e com seu pai. Sua
irmã já é mais inconsequente, vive a
vida sem pensar no amanhã.
Meu celular começou a chamar
dentro do bolso da calça jeans e eu o
peguei tentando esconder o visor, com
medo de que fosse Joey e minha mãe
visse, para minha surpresa o nome de
Ashton apareceu na tela.
Ashton é o ex-namorado da Lili,
eles terminaram porque ele teve que ir
embora para estudar na Austrália e
nenhum dos dois acreditava em
relacionamento à distância.
— Oi Ash! — Atendi o telefone
animada. — Quanto tempo!
— Ally! Como você está?
— Maravilhosamente bem!
Posso saber o motivo dessa ligação
depois de tanto tempo sem dar sinal? —
perguntei curiosa, ele nunca tinha ligado
para mim, no máximo trocamos
mensagens pelo Facebook.
— Tentei ligar para Lili, mas
parece que ela mudou o número da casa
dela. — Estava explicado o motivo da
ligação. — Eu tenho o celular, mas não
sou rico para pagar a conta depois.
— É a tia dela mudou o número
do telefone da casa. Vou te passar o
novo. — Eu passei o número e logo
depois fiquei pensando se aquilo seria
bom, pois Lili ficou péssima nos
primeiros meses depois que ele se
mudou. — Ashton, você tem certeza de
que vai ligar para ela? Depois que você
mudou ela não ficou muito bem, assim
como você. Vocês ficaram um bom
tempo sem se falar antes de voltar a ter
contato pela internet.
— Alice, eu estou de volta! Não
ia contar nem para você, queria
surpreender vocês, mas não aguento
guardar segredos.
— Ai meu Deus! Nem acredito!
— Tive uma reação tão eufórica que
minha mãe me olhou assustada.
— Pode acreditar. Voltei e eu
quero minha princesa de volta. — Ash
chamava Lili de princesa fazendo um
trocadilho com a condição de realeza
dela e ao mesmo tempo era um apelido
fofo, por incrível que pareça até Lili
gostava, apesar de odiar admitir que era
da realeza. — Poderemos voltar a ser a
mesma turma de antes e aprontar como
sempre fizemos.
— Sim, apesar de que Ed não
está muito bem comigo — disse
deixando a minha tristeza transparecer
na voz.
— Iiih, Edward Harmann com
raiva de você? A situação está
complicada mesmo! Escuta, vou
resolver umas coisas aqui e a gente
podia se ver mais tarde, não conta
para Lili, leva ela escondida. Quero
fazer surpresa para ela.
— Pode deixar, Ash! Se quiser
posso levá-la no pub da minha mãe.
— Perfeito! Vou comer aqueles
sanduíches perfeitos que sua mãe
prepara e a Lili nunca desconfiaria de
nada.
— Ótimo, Ash! Nos vemos de
noite! — Desliguei a ligação e minha
mãe me olhava sem entender.
— Puxou minha loucura também
— disse simplesmente e caímos na
gargalhada. — Esse é o Ashton, ex-
namorado da Lili? Ele sempre foi tão
educado.
— Eu sei que você é fã dele,
vivia falando para que eu arrumasse um
namorado parecido com ele.
— Agora só quero que você seja
feliz. — Sorri sem jeito, tenho quase
certeza de que ela não pensaria isso se
soubesse que estava com Joey.
— Melhor mãe do mundo. — Eu
a abracei antes de sair empolgada para o
quarto pensando em qual roupa iria
vestir. Nunca fui boa para surpresas,
mas aquela eu tinha que me empenhar.
Peguei o celular e enviei uma mensagem
para Joey.

“Não vou poder te ver hoje.


Depois explico melhor.”

Eu e ele estávamos quase


pirando, porque toda vez que a gente ia
transar, alguém interrompia, o celular
chamava, sempre tinha algo
atrapalhando, já estava quase roubando
e escondendo o celular dele e trancando
ele no terraço do prédio comigo. Lá
tinha certeza que não seríamos
interrompidos. Ri da minha ideia que
nem pareceu assim tão exótica, qualquer
dia desses iria fazer isso, mas antes
precisava concluir o que tínhamos
começado há mais de uma semana. Meu
celular vibrou.

“Não acredito! Como vou


dormir sem você nos meus braços?
Você me acostumou mal, hein pequena!
Agora precisa lidar com as
consequências.”

Eu ri da mensagem dele e me
senti tentada a deixar Ash se virar, mas
não faria isso com ele. Era muito
simples, só precisava ir e depois correr
para casa de Joey, mesmo que quando
chegasse lá fosse tarde da noite e
corresse risco de ser vista por James.
Aliás, ele quase nos pegou quando
estávamos no sofá, Joey se esparramou
em cima de mim e me escondeu, duvido
que James tenha a capacidade de
reconhecer alguém pelas pernas, é o
policial mais lerdo do mundo, mas a
principal função dele é na área de
tecnologia, Joey me disse que nisso ele
é o melhor.

“Lidarei com as consequências.


Assim que sair do meu compromisso
essa noite, te aviso e vou para o seu
apartamento.”
Enviei e esperei alguns segundos
até que ele me respondesse.
“Mal posso esperar.”

Fui para o banheiro cantarolando


“Anything Could Happen” da Ellie
Goulding, com um sorriso enorme que ia
de orelha a orelha. Eu estava cada vez
mais apaixonada por Joey e tão feliz que
nem imaginava que uma pessoa poderia
ficar daquele jeito. Confesso que deu até
medo, porque sempre que a gente fica
muito feliz aparece alguma coisa para
atrapalhar e estragar tudo, mas não
queria pensar naquilo, porque se ficasse
refletindo sobre essas bobeiras acabaria
atraindo para mim mesma.
Assim que terminei meu banho,
liguei para Lili e marquei no pub, seria
perfeito porque foi lá que Ed apresentou
Ashton para Lili, ela se lembraria disso.
Pensei em Ed e em como aquela
situação estava me deixando chateada,
precisava aprender a viver sem ele,
porque provavelmente meu melhor
amigo ficaria sem falar comigo por um
bom tempo.
Alguns minutos mais tarde, ouvi
batidas na porta e a voz da minha mãe
perguntando se podia entrar, estava
terminando de me maquiar quando ela
abriu a porta.
— Ally, estava pensando se
deveria te contar isso, mas não quero
esconder nada de você. — Ela parecia
preocupada.
— Ei, mãe. O que foi? — Seus
olhos pareciam estar cheios de água, ela
sentou na cama e me sentei do lado
dela.
— Seu pai...
— O que foi? Ele está doente?
— Não, é que... — Ela respirou
fundo antes de prosseguir. — Bom, está
sob investigação, disseram que ele
fraudou alguns documentos e estão
abrindo uma investigação sobre ele, por
isso ultimamente tenho agido meio
estranha.
— Mas ele tem culpa? — Eu
perguntei preocupada, sem nem saber ao
menos como agir diante daquela
situação.
— Não, Santiago disse que não
tem e eu acredito, mas por isso, ele está
precisando ser cauteloso no trabalho, até
mesmo Joey está saindo prejudicado
pois não pode abrir uma investigação
séria por conta dessa situação.
— A do suposto serial killer? —
disse sem pensar e quis morder minha
língua.
— É, como você sabe? — Fui
mais rápida do que costumo ser e a
resposta foi até bem realista.
— Escuto coisas aqui em casa
mesmo quando não quero.
— É claro, seu pai não consegue
parar de trabalhar nem em casa. — Ela
sorriu fraco. — Vem para casa e fala de
trabalho, encontra o melhor amigo dele e
continua falando de trabalho. Tenho dó
da mulher que se casar com Joey, ela
terá de aguentar o que aguento e não é
mole.
— Vai ver que é por isso que a
Giorgiana separou dele. — Eu ri e ela
assentiu.
— Aliás, seu pai me disse que
ela conseguiu uma vaga de perito
criminal aqui na cidade.
— Ela vai voltar? — perguntei
sentindo uma pontada de preocupação
com aquela notícia. — Quando?
— Acho que ela chegou ontem.
— Ah. Entendi. — Mordi o
lábio, segurando-me para não dar muita
bandeira do meu desespero. Sei que sou
muito insegura, mas só quando se trata
de Joseph Spencer.
— Mas quanto à situação do seu
pai, tem alguma coisa a dizer?
— Não, só que estou do lado
dele para o que der e vier dessa história
toda.
— Ai que bom, eu temia que
você ficasse chateada ou algo do tipo.
— Ela me abraçou e senti que ela estava
aliviada. Não via motivo para ficar
contra meu pai naquela situação.
A não ser que tivesse algo maior
por trás daquilo e minha mãe estivesse
escondendo alguma coisa. Meu celular
começou a chamar e atendi sem nem
olhar.
— Oi, pequena. — A voz
de Joey provavelmente me fez ficar com
uma cara de boba porque minha mãe fez
sinal que ia sair do quarto e eu assenti.
— Oi, meu amor.
— Liguei só para falar que o
apartamento está livre hoje, o James vai
trabalhar a noite toda. Você vai para lá
mesmo? Eu saio do trabalho daqui meia
hora.
— Vou sim, primeiro preciso
fazer uma surpresa para Lili.
— É aniversário dela?
— Não, é que o Ashton voltou
da Austrália e quer fazer surpresa para
ela.
— Então você vai ver o Ed? —
perguntou e senti pelo tom da sua voz
que ele não estava muito feliz ao
imaginar isso.
— Provavelmente não, ele não
está falando comigo.
— Mas até onde me lembro, ele
e o Ashton são bem amigos, aposto que
ele vai aparecer por lá.
— Acho que alguém está com
ciúmes — disse e ri da situação
engraçada. Quando eu ia imaginar que
aquilo se tornaria real? Ri me
lembrando das noites que ficava
imaginando algo daquele tipo.
— É preocupação, não gosto
daquele moleque. Até o Ashton é mais
legal do que ele, parecendo querer algo
da vida, ao contrário do Edward.
— Isso se chama ciúmes, sabia?
— E se for, vai falar o que? Isso
é normal — falou todo nervosinho e
imaginei a cara que estava fazendo
naquele momento.
— Se for, vou dar um jeito de
mostrar que não existe espaço no meu
coração para mais ninguém, sou só sua.
— Que jeito é esse?
— Depois te conto. — Sorri
maliciosa e ele entrou na brincadeira.
— Contar ou mostrar?
— O que você prefere? —
perguntei enquanto colocava minha
sandália, o celular apitou avisando que
tinha uma segunda chamada e eu falei
antes que ele respondesse. — Espera um
minuto, tem uma segunda chamada.
Atendi a segunda chamada e a
voz chorosa de Lili me assustou.
— Ally?
— Oi, Lili. O que houve?
— O Ashton me ligou agorinha.
— Eu queria muito ajudar minha amiga e
contar que em menos de uma hora ela o
veria, mas estragaria a surpresa e então
resolvi ficar calada. — Foi como se ano
que passou fora sumisse, sabe? Ele
parecia tão feliz, deve ter me esquecido
e arrumado uma australiana linda. Nem
disse quando volta.
— Ai, calma. Não fica desse
jeito. Ele contou como está? Tem tanto
tempo que não falo com ele. — Eu menti
descaradamente, mas daquela vez era
por uma causa nobre.
— Quando a gente chegar lá no
pub te conto. — Despedi-me dela e
quando fui voltar a falar com Joey,
percebi que ele havia desligado a
ligação sem nem ao menos esperar para
se despedir. Tentei não me importar com
aquilo.
Terminei de me arrumar e pedi
minha mãe para me dar carona já que ela
estava indo para o pub também. Assim
que cheguei lá vi Lili sentada em uma
mesa e ao seu lado estava Ed, acho
que Joey conhece meus amigos melhor
do que eu.
— Ei gente — disse timidamente
me sentando e colocando minha carteira
no colo.
— Oi — Ed disse sem nem ao
menos me olhar.
— Espero que não fiquem de
palhaçada comigo hoje. Eu estou triste
— disse irritada.
— Claro que não, Lili. Para com
isso. — Olhei para Ed e perguntei a ele.
— Não é?
— Eu posso parecer um babaca
e até sou um em alguns momentos, mas
você me ligou porque precisa de mim,
vou te dar todo apoio e ouvir suas
lamentações chorosas.
— Ótimo e eu vou querer comer
algo bem gorduroso porque hoje eu
posso — Lili falou pegando o cardápio.
— Vai querer ir rolando para
Austrália? — Ed perguntou, apertei os
lábios reprimindo o riso. — Você sabe
que o oceano impede que isso aconteça,
certo? — Lili mostrou o dedo do meio
para ele que riu.
— Eu te proíbo de comer algo
gorduroso. Depois vou ouvir dupla
lamentação, sobre ter engordado e sobre
como a distância é uma merda.
— Eu só queria que Ashton
voltasse. — Lili começou a mexer na
plaquinha com o número da mesa e seus
olhos se encheram de água. — Aquela
ligação dele, foi apenas uns vinte e
cinco minutos, mas eu pude perceber
que não consegui esquecê-lo e se ele
voltasse e quisesse tentar de novo, eu
aceitaria. Não consegui nem arrumar um
namorado durante esse ano que ele ficou
longe.
— E se dissesse que é
exatamente isso que quero? — Ashton se
aproximou por trás de Lili e ela levantou
a cabeça com os olhos arregalados,
tampou a boca surpresa e se virou até
que pôde ver Ashton.
— Você está aqui! — Levantou e
pulou nele, abraçando-o.
— Eu voltei, princesa. Agora,
vou ficar e só saio de perto de você, se
quiser. — A cena era tão fofa que Ed
pegou minha mão e a apertou sorrindo
alegre. Lili nem respondeu, só o puxou
para um beijo daqueles de filme e todo
mundo começou a bater palma no pub.
— Você sempre quis alguma
coisa assim, né? Uma declaração
pública — Ed perguntou e assenti,
pensei em Joey. Será que ele seria capaz
de fazer algo como aquilo algum dia? Eu
ri, porque provavelmente ele nunca teria
coragem de fazer uma coisa daquela, até
porque nosso relacionamento era
ultrassecreto. Só Ed e Lili sabiam e
agora Ashton saberia também.
— Ok, arrumem um quarto! —
disse para eles que enfim se afastaram,
mas ficaram se olhando e falando coisas
que só eles ouviam e entendiam antes de
sentarem. Eu olhei para meu celular e
senti uma imensa vontade de ver o Joey.
E foi como telepatia, pois no momento
em que tirei os olhos do celular, ele
começou a vibrar. Era ele.
— Oi.
— Oi, pequena. Me desculpa
mais cedo ter desligado sem me
despedir, meu celular descarregou e não
achava meu carregador em nenhum
lugar. — Ele parecia preocupado em se
explicar, soltei a mão de Ed e levantei,
indo para fora da lanchonete. — Ally?
Tá aí?
— Estou sim, eu atendi perto da
minha mãe. — Mentira deslavada, mas
não queria falar que Ed estava ali perto
e muito menos que estava segurando
minha mão.
— Enfim, foi só para falar isso e
também que estou ansioso para nossa
noite hoje.
— Espero que dessa vez a gente
consiga terminar sem interrupções.
— E sem celulares chamando.
Vou desligar o meu assim que você
chegar aqui. — Ele riu. — James já foi
trabalhar. Você sai daí quando? Se
quiser, eu mesmo te busco.
— Não precisa, vou daqui a
pouco. Dou um jeito.
— Ok, se divirta muito aí. Até
mais tarde.
Assim que desliguei o celular
fiquei pensando na Lili e no Ashton que
tiveram que superar um ano de distância
com conversas no Facebook, ou por
mensagens no celular e percebi que era
uma sorte ter Joey por perto. Parei
diante da porta da lanchonete e decidi,
iria para o apartamento de Joey naquele
mesmo instante e iria surpreendê-lo.
Entrei no pub e fui até a mesa, vi
que Ash estava indo até o banheiro,
falaria com ele depois, teríamos muito
tempo para colocar o papo em dia. Sem
pensar duas vezes falei com Lili.
— Eu preciso ir embora, mas
não posso pedir para minha mãe me
levar. — Eu me sentei inquieta, sem
saber o que fazer.
— Eu empresto o meu
motorista, Ally. — A voz arrastada de
Ed soou ao meu lado. — Eu espero ele
voltar e vou embora, tenho visita em
casa hoje e não estou afim de ser vela
do casal. E o Ash veio com o carro do
pai dele, então leva a Lili embora.
— Sério que não tem problema?
— perguntei para Ed com medo, a nossa
relação estava por um fio e aquilo
poderia piorar a situação.
— Não mesmo, faço qualquer
coisa para te ver sorrir. Vai logo! — Ele
piscou para mim. — Lili pede desculpas
para o Ash e diz que amanhã marcamos
alguma coisa! — Nem dei tempo para
ela responder e saí andando rápido até a
porta, chamei o motorista de Ed que se
apressou em me levar para o meu
prédio. Ele foi tão rápido que acho que
levara até multa por excesso de
velocidade.
Assim que entrei no elevador do
prédio ajeitei minha saia e tentei
melhorar minha maquiagem. Eu estava
tão nervosa quanto no dia em que beijei
pela primeira vez, ou quando perdi
minha virgindade, sentia um frio na
barriga e meu coração estava tão
disparado que não sabia nem como
conter aqueles sentimentos todos e na
verdade nem queria contê-los. Estava
contendo tudo dentro de mim e agora
eles sairiam como em uma tempestade e
me inundariam por inteira.
Assim que o elevador abriu fui
andando confiante até o apartamento
de Joey, toquei a campainha duas vezes
e quando a porta se abriu, meu sorriso
sumiu. Eu tinha sido avisada daquilo,
mas ali diante de mim estava a única
coisa que definitivamente estragaria meu
dia, ou talvez tudo que havia custado a
conseguir.
— Alice, meu Deus! Como você
cresceu! — A mulher alta e com os
cabelos dourados me puxou para um
abraço apertado.
— Giorgiana. — Eu a abracei,
totalmente perdida e decepcionada. —
Você voltou.
Capítulo 9
Sentei estática no sofá do
apartamento de Joey, que tomava um
banho e Giorgiana preparava algo na
cozinha para comer. Isso mesmo, como
se fosse a dona do apartamento. Estava
doida para ver a cara do Joey ao me
encontrar ali conversando com a ex-
mulher dele.
— Então Giorgiana, você e
o Joey tem conversado muito? Achei que
depois que você terminou com ele,
tinham ficado meio brigados — falei
assim que ela sentou ao meu lado no
sofá.
— Pois é, mas semana passada
descobri que ia voltar para cidade e que
trabalharia com ele, então precisava
deixar as brigas do passado para trás, é
um recomeço. — Ela disse tomando um
gole de suco. — Tenho um carinho
enorme por Joey, afinal nós fomos
casados e não dá para fingir que não foi
nada.
— Mas o casamento nem durou
muito.
— É, isso é verdade, mas o
tempo que passei com ele foi suficiente
para saber que é uma pessoa
maravilhosa e que nunca poderia deixar
de ter contato com ele. — Sentia-me
mais irritada porque ela estava muito
boazinha comigo, mas ela não tinha
motivos para ficar irritada comigo, ou
pelo menos não sabia que tinha
motivos.
— Não foi isso que você disse
quando terminaram, lembro-me bem do
escândalo que fez, alegando que ele
tinha traído você.
— Mas até hoje tem uma
situação super mal resolvida entre nós...
— Ally? — Joey interrompeu
nossa conversa, ele usava só uma calça
jeans preta, sem camisa, secando os
cabelos com a toalha. Eu tive que focar
na raiva porque aquela visão, fez com
que quisesse perdoá-lo rapidamente. —
Achei que viesse mais tarde.
— Ela disse que tinha alguma
coisa para pegar com você e eu a deixei
entrar. — Giorgiana falou e meu sangue
estava fervendo, do jeito que ela falou
parecia que eu era uma desconhecida ou
mera colega.
— Ela pode entrar aqui sempre
que quiser, nem precisa de autorização.
— Pelo menos isso ele fez, mostrou que
tenho um espaço maior do que ela
imaginava por ali.
— Claro. Eu fiz um sanduíche
para mim, espero que não se importe.
— Não. — Ele me olhava
totalmente perdido, sem saber o que
fazer e então eu falei por ele.
— Então, eu vou deixar para lá.
Acabei de receber uma mensagem
da Lili avisando que tá indo para casa
do Ed com o Ashton, acho que vou para
lá também. — Era uma mentira, mas eu
queria que ele ficasse chateado, queria
me vingar do que estava me causando
naquele momento.
— Ed? — Eu assenti, sua feição
mudou de desnorteada para irritada. —
Você sabe que ele...
— Eu vou indo. Depois apareço
aqui e pego o que vim buscar, isso se
estiver disponível, é claro.
Ele abriu a boca para falar duas
vezes, Giorgiana acenou para mim
quando acenei para ela e saí do
apartamento sem falar mais nenhuma
palavra com ele. Entrei no elevador e
fui para o meu apartamento, havia um
papel pregado no quadro de avisos com
a caligrafia torta do meu pai.

“Tive que ir para delegacia.


Chamada de emergência. Devo chegar
só amanhã.”

Eu ri porque meu pai tinha a


mania de escrever com pausas e adorava
colocar muitos pontos nas sentenças.
Deixei o papel por lá, porque minha mãe
chegaria em casa lá pelas duas da
manhã, só depois de fechar e limpar a
lanchonete. Eu pretendia estar dormindo
quando fossem duas da madrugada,
porque queria não pensar no que tinha
acabado de acontecer. Entrei no meu
quarto e ignorei as várias ligações de
Joey que se seguiram, foi quase uma
tortura, porque no fundo queria
conversar com ele, sentia que se não
atendesse talvez fosse como se o
entregasse de bandeja para Giorgiana.
Eu digitei uma mensagem, ia
mandar para Lili, mas lembrei que ela
provavelmente estava curtindo a volta
do Ash, não iria atrapalhar, sabia como
era chato quando alguém fazia isso. A
única pessoa para qual eu poderia falar
sobre isso, era Hill, mas minha irmã
estava longe e provavelmente nem veria
minha mensagem, de qualquer forma
precisava desabafar com alguém e
mandei a mensagem contando o que
tinha acontecido, ela veria quando
resolvesse ficar online.
Tentei dormir, mas como já era
esperado, não preguei os olhos. Sempre
tive esse problema de deixar que meus
pensamentos tomassem conta da minha
mente a ponto de me impedir fazer
qualquer outra coisa. Meu celular vibrou
pela centésima vez, ou talvez mais, parei
de contar e perdi as contas de quantas
vezes ele tinha me ligado.
Olhei para o celular e vi que era
uma mensagem de Hill. Milagres
aconteciam e ela tinha visto minha
mensagem! Peguei o celular
desesperada, ansiando por uma luz, um
conselho sábio (eu sabia que ela era
meio doida, mas ela estava noiva de
cara famoso. Alguma coisa ela deve ter
feito corretamente.)

“Giorgiana não muda mesmo,


ela xingou o Joey e disse que nunca
mais falaria com ele e agora já voltou
se enfiando no apartamento dele. Leia
isso com atenção: Larga de ser boba e
vai tomar conta do que é seu! E como
você não me contou que vocês estão
juntos? E já tem uma semana! Falta de
consideração com sua irmã mais
velha.”

Eu ri imaginando ela falando


aquilo pessoalmente com aquelas caras
engraçadas que ela sempre faz. Digitei
uma resposta rapidamente.

“Você sumiu, desligou o celular!


Não tinha como te achar de jeito
nenhum. Acha mesmo que devo voltar
lá? Acho que vou estar me humilhando
demais. Tô ficando irritada com essa
situação.”

Enviei e resmunguei um palavrão


ao me lembrar de Giorgiana falando
com Joey como se eu não fosse íntima
dele, mesmo ela não sabendo que estou
com o Joey, Gio sabia muito bem que
cresci tendo ele por perto. Eu não
entendi de verdade aquele tratamento.
Será que ela desconfiou e fez de
propósito?
Meu celular apitou, era a
resposta da Hill.

“Tenho certeza disso. Ela voltou


e está tentando ganhar espaço com
ele, Ally! Você tem que preencher esses
espaços para que ele nem pense nela
ou algo assim. Ela pode até ser minha
amiga, mas nessa parada eu torço por
você, irmãzinha! Boa sorte e me deixe
ir porque vou sair com meu amor.”

Respondi, mas já sabia que ela


nem leria. Ela era assim, aparecia e
desaparecia do radar em questão de
minutos, mas pelo menos falou comigo e
aquilo ajudou a me acalmar de alguma
maneira. Meu celular chamou de novo,
era Joey.
Eu respirei fundo e tomei
coragem antes de atendê-lo, não queria
me mostrar muito irritada, pelo menos
não pelo telefone.
— Fala — disse sem conseguir
disfarçar meu humor.
— Ally, preciso falar com você.
— Ele parecia aliviado. — Precisamos
esclarecer as coisas.
— Não dá agora, estou ocupada.
— Com o Ed? Não acredito que
foi capaz de fazer isso comigo, Alice!
— Sua voz aumentou o tom
repentinamente.
— O que você acha que eu fiz?
— Como ele ousava achar que tinha
feito alguma coisa com ele? Tudo bem
que falei que ia para o apartamento do
Ed, mas aquilo não significava nada.
— Você não seria capaz de fazer
isso. Eu confio em você, mas pode por
favor sair daí? Eu vou te buscar, se
quiser.
— E a Giorgiana?
— Ela foi embora, quase na
mesma hora que você, só terminou de
comer.
— Ela se alimentou bem? Ah
claro, ela se sentiu a dona da casa, deve
ter sim.
— Ela não é dona de nada, Ally.
Eu desliguei o celular na cara
dele, aquela discussão pelo telefone era
patética e eu devia tê-la pessoalmente.
Levantei, calcei meus chinelos e saí do
apartamento mais irritada do que nunca,
fui até o andar de Joey e parei na porta
preparando já o que iria falar, mas
quando fui tocar a campainha não tive
nem tempo, a porta abriu e ele estava
saindo.
— Como você chegou aqui tão
rápido? — Ele pareceu surpreso. — Já
ia no apartamento do Ed te buscar a
força.
— O quê? — Eu falei alto e ele
tampou minha boca com a mão.
— Vem cá. — Puxou-me pela
mão para dentro do apartamento, fechou
a porta e com o olhar feroz colou nossos
corpos, antes que me desse conta ele
estava me beijando. Seus dedos
emaranhados em meus cabelos, fiz
menção de retribuir aquele beijo, mas
ele se afastou bruscamente. — Porque
você tem que agir desse jeito comigo?
— Porque você é um idiota!
Porque deixou ela ficar aqui como se
fosse dona do apartamento? — Joey
sacudiu a cabeça, visivelmente irritado.
— E porque você falou que ia
para o apartamento do Ed? Você gosta
de me provocar!
— Eu não fui, então pronto —
falei abaixando o tom de voz. — Você
vai voltar com ela?
— Ela significa muito para
mim, Ally. — Abandonei minha calma
novamente. Como assim ele tinha a
capacidade de falar aquilo na minha
cara? Assim como se isso fosse a coisa
mais normal do mundo.
— Você é um filho da puta! Eu
vim aqui para ouvir você jogar isso na
minha cara? Uau! Nunca fui trocada tão
rapidamente na vida. — Virei-me e saí
pisando firme em direção à porta, com
uma vontade imensa de chorar. Joey
veio atrás de mim e segurou meu braço,
puxando-me para mais um beijo intenso,
que talvez fosse o último, então
aproveitei ao máximo. Nos separamos,
desta vez fui eu que me afastei de
maneira brusca enquanto ele continuava
segurando meu braço, impedindo-me de
ir mais distante dele.
— Agora me escuta! — falou
autoritário. — A Giorgiana voltou, e
daí? Ela terminou comigo há dois anos,
porque não confiava em mim e eu não
posso me relacionar com alguém que
não confia em mim — Joey falava alto e
estava extremamente irritado. — Por
isso mesmo, preciso saber que você,
diferente dela, acredita em mim! —
Afastou-se de mim e bebeu um gole de
sua bebida que estava no um copo em
cima da mesinha de centro da sala. —
Eu terminei com ela por causa de você.
—O quê? — perguntei,
completamente atônita com aquilo que
tinha acabado de ouvir. — Não precisa
mentir para mim, Joey.
— Não foi só por sua causa, é
claro. Mas você tem uma parcela na
motivação.
— Não estou entendendo.
— Giorgiana chegou em casa de
manhã cedo, no dia que você dormiu na
nossa casa, lembra? Quando você fugiu
com aquele garoto. Ela chegou cedo e eu
estava preparando o café da manhã,
então ouviu alguém tomando banho e me
perguntou quem era. Eu poderia ter dito
que era você e tudo ficaria resolvido,
mas quando eu faço promessas, Alice,
eu as cumpro! Eu tinha prometido que
não contaria para ninguém que você
passou a noite lá, então a Giorgiana não
acreditou que eu não estava traindo-a e
disse que depois passava para buscar as
roupas, não quis nem me ouvir mais.
— Ai meu Deus! Você estaria
com ela se não fosse isso. — Eu senti
uma pontada de culpa, não posso negar.
Mas eles estariam juntos e eu não
poderia estar com Joey. Talvez não tenha
sido de todo ruim. Sou um monstro por
pensar que isso foi bom?
— Talvez sim, mas o mais
provável é que não. Independente disso,
ela já desconfiava de qualquer coisa que
eu fazia, Ally. Era insuportável sair para
trabalhar, ficar investigando tantas
atrocidades e chegar em casa e ainda ter
que aguentar as reclamações, as
desconfianças de que na verdade não
estava trabalhando e sim traindo-a. —
Ele se aproximou de mim e segurou meu
rosto. — Você é diferente de tudo que
vivi, o que a gente tem é o mais intenso
que senti por alguém na vida e eu já vivi
um bocado, pequena. Eu não tenho
dúvidas do que quero, Ally! Eu estou
com você e vou continuar com você!
Não respondi nada, apenas pulei
nele enroscando minhas pernas em volta
de sua cintura e o beijei calorosamente,
que correspondeu ao beijo. Suas mãos
estavam espalmadas em minha bunda,
enquanto minhas mãos se emaranhavam
em seus cabelos ainda um pouco
úmidos. Ele começou a beijar e passar a
língua pelo meu pescoço enquanto
caminhava em direção ao seu quarto,
fechou a porta com o pé e sem parar de
me acariciar continuou o caminho até me
colocar na cama.
— Você não tem ideia do quanto
é boa, linda, pura e sincera. Do quanto
eu gosto de você — disse bem baixinho
perto do meu ouvido. — O que preciso
fazer para você entender que estou por
inteiro com você, Ally?
Uma lágrima solitária escapou
de um dos meus olhos.
— Fiquei com medo de te
perder. Me desculpe por ser tão
imatura.
— Esse é o seu jeito, vou lidar
com ele, porque faz parte do que você é
e se tiver que mudar alguma coisa, vai
ser porque quer e não porque seu
namorado chato pediu que fizesse isso.
— Namorado? — Eu abri um
sorriso do tamanho do Grand Canyon.
— Claro, acho que precisamos
colocar um nome nisso que estamos
tendo, talvez assim você perceba que é
sério.
— Certo, agora somos
oficialmente namorados.
Ele me beijou e dessa vez
encerramos a conversa, porque tudo
ficou mais intenso naquele quarto,
nossos beijos, nossas carícias, nossas
palavras soltas.
Sua mão deslizou por dentro da
minha blusa e ele ajudou-me a retirá-la.
Joey já estava sem camisa e aproveitei
para acariciar os músculos ressaltados
de seu abdômen, arranhei sua barriga
levemente, já sabia que aquilo causava
um pequeno estrago no controle do meu
namorado e o efeito daquela carícia
veio em forma de uma mordida em meu
ombro.
Ele voltou a me beijar logo
depois, enquanto uma de suas mãos
abria o fecho do meu sutiã, com
agilidade, Joey o retirou e jogou por
sobre o ombro, então olhou para meus
seios, ofegante e soltou um palavrão
antes de passar sua língua entre meus
seios. Continuou o caminho até meus
lábios, onde também passou a língua
levemente, quase uma tortura.
Voltou dando leves chupões em
meu pescoço até chegar em um dos meus
seios e tomá-lo em sua boca, quando
senti a língua sobre meu mamilo
intumescido, gemi baixinho. Ele
acariciava o outro seio com uma das
mãos, enquanto me contorcia com os
lábios entreabertos e arranhava ombros
e costas dele.
Ele foi descendo os lábios até
chegar ao cós do short que eu usava e
levantou a cabeça, sorrindo.
— Ursinhos — disse se
referindo a estampa do short de pijama.
— Desculpa, não tinha nenhuma
melhor. Não tinha ideia que acabaria a
noite nua na sua cama. — Eu sorri meio
sem-graça.
— Não estou reclamando,
pequena. — Retirou o short e me olhou
surpreso. — Sem calcinha? Tem certeza
de que não sabia que acabaria na minha
cama?
Não tive nem tempo de
responder, Joey passou o dedo indicador
separando os lábios que escondiam o
que eu queria que ele alcançasse, fechei
os olhos sentindo a pequena onda de
calor. Ele aproximou os lábios aos
poucos, beijou a parte interna das
minhas coxas, dando leves mordidas em
alguns momentos, até chegar ao ponto
exato, ao local que tanto queria sentir
sua língua úmida.
Separei um pouco mais as pernas
e então ele começou a fazer movimentos
em círculo com sua língua, depois em
zig-zag, quando eu já estava me
contorcendo e agarrando os lençóis de
forma violenta, ele sugou meu clitóris.
Eu me sentei ao mesmo tempo
que ele se ajoelhou na cama, ficou
apenas me observando, aproximei-me e
passei meus lábios sobre os dele
carinhosamente, desci minhas mãos até
sua cueca, acariciei seu membro por
cima do tecido e depois empurrei a
cueca para baixo, Joey se levantou e
terminou de tirá-la, voltou para cama e
ficou de joelhos novamente, então me
ajoelhei e depois abaixei na frente dele.
Segurei seu membro e passei a
língua por todo seu comprimento, antes
de colocá-lo em minha boca, Joey juntou
meus cabelos carinhosamente enquanto
eu o acariciava com meus lábios e
língua. Antes que perdesse
completamente o controle, Joey
levantou-me, interrompendo o que eu
fazia e puxou-me para um beijo
caloroso, deitando-nos com cuidado e
carinho, chegou perto do meu ouvido.
— Eu preciso tê-la por
completo, meu amor. Quero que seja só
minha.
— Eu já sou sua, faça o que
quiser comigo.
Ele encaixou na entrada da
minha intimidade e penetrou
vagarosamente, aquilo fez com que eu
sentisse mais desejo do que antes. Meu
corpo se arrepiou por inteiro e gemi
alto. Joey mordeu meu lábio e começou
a investir em mim de maneira cada vez
mais intensa, mais selvagem e me perdi
no prazer que sentia, não apenas físico,
mas emocional. Se antes já sentia que
pertencia a ele, naquele momento tive
certeza de que mesmo que não
ficássemos juntos, eu continuaria tendo
um sentimento incondicional por ele.
Ele prosseguiu se movimentando
dentro de mim até que emitiu um gemido
rouco e relaxou com seu corpo sobre o
meu, sua cabeça encostada em minha
clavícula, onde ele beijou assim que
recuperou. Abaixei a cabeça e olhei
para ele, que me beijou o pescoço e
depois a orelha.
— Não vou te deixar sair daqui
sem fazer aquela carinha que faz quando
tem um orgasmo.
Ele deslizou sua mão até
alcançar meu clitóris e começou a me
masturbar, enquanto passava a língua em
minha orelha e deliciosamente a mordia
de leve. Eu tentava conter meus
gemidos, mas era mais fortes do que eu.
— Faz aquela cara maravilhosa
para mim, pequena — falou com a voz
sedutora em meu ouvido antes que
contorcesse inteira e arqueasse o corpo
para trás violentamente, soltei um último
gemido alto antes de relaxar meu corpo
aninhada ao homem que eu amava.
Senti a mão de Joey acariciando
meu braço e abri meus olhos lentamente,
estávamos de conchinha e seus braços
envolviam minha cintura de maneira
firme.
— Me desculpe te acordar. —
Ele depositou um beijo em meu pescoço.
— Mas já está na hora.
— Não tem problema. —
Acariciei a mão dele e abri um sorriso.
— Já amanheceu? Eu preciso ir para
casa, tenho que me arrumar e ir para
escola.
— É, foi exatamente por isso que
te acordei. São 5 da manhã, seu pai deve
chegar do plantão noturno daqui a
pouco, é melhor evitar que vocês
cheguem ao mesmo tempo. — Virei-me,
ficando de frente para ele, encostei
minha cabeça em seu peitoral e o
abracei fortemente. Ele tinha um cheiro
tão bom, tão viciante.
— Vai ser difícil sair dessa
cama se a gente continuar assim.
— Eu ia te chamar para um
banho antes de você ir. — Dei um beijo
em seu peito e subi para o pescoço, ele
abaixou alcançando minha testa, nós nos
olhamos nos olhos. Então foi um caos, a
porta se abriu e Joey puxou o lençol por
cima da minha cabeça me escondendo.
— Porra, James! Nunca ouviu
falar em ter educação e bater na porta?
— Eu me encolhi, mas meus pés ficaram
para fora.
— Desculpa, mas o
Delegado Hastings ligou e disse que é
urgente. — James falou sonolento. —
Liga esse seu celular, porque ele disse
que tem tentado ligar para você e só dá
fora de área e desligado. Tem só uma
hora que cheguei e fui dormir e ainda
tenho que ficar dando uma de garoto de
recados.
— Tá, obrigado. Agora sai daqui
antes que eu me levante e te encha de
porrada! — Joey falou com a voz firme.
— Tem alguém comigo se não
percebeu.
O James deve ter dito ou feito
alguma coisa, porque Joey pegou o
travesseiro e jogou na direção da porta,
enquanto James dava uma gargalhada
alta antes de fechar a porta. Joey
levantou e foi até a porta trancando-a
para que eu pudesse sair do meu
“esconderijo” e minha feição era
provavelmente de pânico.
— A gente quase foi pego, nem
acredito! — Eu me sentei na cama e ele
sentou ao meu lado, me abraçando.
— A gente precisa tomar
cuidado com James, não sei qual vai ser
a reação dele. — Joey começou a fazer
um carinho delicioso em minha cabeça.
— Você vai contar para ele
sobre sua investigação?
— Não sei, mas sei que preciso
de aliados nisso, não vou dar conta de
me virar sozinho, preciso de
informações que são sigilosas.
— Mas você é detetive, deveria
ter acesso a tudo.
— Sim, mas essa investigação
não é oficial, Ally. Eu precisaria de
autorização para ter acesso a
informações periciais ou para fazer
buscas nas casas das garotas
assassinadas e também para os
interrogatórios.
— As informações periciais e as
buscas, eu até entendo, mas quanto aos
interrogatórios não é preciso muito.
Você só precisa mostrar o distintivo e
todo mundo fala.
— Tem algumas pessoas mais
espertas, que sabem que preciso de um
mandato oficial.
— Mas e se não souberem?
— Eu fui na casa de uma das
garotas semana passada, ela se chamava
Amelie.
— Você não me contou isso.
Como foi?
— Eu não quero te envolver
nisso, Ally. Quanto mais você ficar
longe dessa história, será melhor.
— Mas eu quero ajudar e para
isso quero pelo menos poder te dar
apoio.
— Você não desiste, né? —
Sacudi a cabeça negativamente e ele riu.
— Certo. A mãe da garota não quis
conversar comigo, disse que estava
cansada de policiais que não ajudavam
em nada na dor dela, só faziam piorar.
Eu fiquei pensativa e minha
mente trabalhou na melhor ideia de
todas. Só não falaria com Joey, porque
ele provavelmente me proibiria. — Ei,
pequena. Acho melhor você ir, vou ver
se o James tá pela sala e você fica na
esperando.
Eu ri e ele me beijou
rapidamente antes de levantar e ir até a
porta, levantei-me e vesti minhas roupas
rapidamente, antes de sair do quarto,
Joey pegou uma de suas jaquetas e me
entregou.
— Veste isso porque tá meio
frio. — Deu um beijo na minha testa e
depois chupou meus lábios, fiquei na
ponta do pé aproveitando ao máximo
aquele carinho gostoso, quando nos
afastamos ele depositou vários beijos
em meus lábios.
— Até mais — disse antes dele
abrir a porta e me dar passagem, eu
corri até a porta com ele me escoltando,
ou na verdade, me escondendo.
— Até, minha linda. — Eu
acenei antes de sair do apartamento e
ele mandou um beijo enquanto fechava a
porta.
Joseph
Eu estava totalmente viciado em
Alice, tanto que nem liguei para
urgência da ligação do
delegado Hastings. Tomei um banho
rápido e me vesti, antes de ligar para
ele.
— Até que enfim. — A voz dele
aparentava um cansaço palpável.
— O que houve? Me desculpa,
tive uns imprevistos. A Giorgiana
apareceu aqui e...
— Iiih, nem precisa terminar, já
imagino que deve ter rolado um
flashback dos melhores momentos —
falando rindo. Ele não gostaria de saber
a verdade, então apenas fiquei calado.
— Você demora muito para vir?
— Qual é a situação?
— Aparentemente homicídio.
— Sinto que vai ser um dia
cheio então.
— Com certeza, melhor vir
preparado para passar o dia todo. Se
quiser pode ir até o endereço onde a
garota foi encontrada para checar a
situação de perto. — Garota? Meu alerta
conspiratório já estava lá.
— Certo, vou anotar o
endereço.
Hastings passou-me o endereço e
explicou que iria para casa tomar um
banho antes de voltar para a delegacia.
Após desligarmos, eu terminei de me
vestir e fui até o endereço indicado por
ele. Giorgiana estava lá, concentrada e
nem notou quando cheguei, atravessei a
faixa de isolamento e me aproximei do
corpo da vítima. Eu tive certeza do que
era sem nem ao menos perguntar muito
sobre o caso, um dos policiais se
aproximou e me detalhou sobre a garota
e como eu suspeitava, ela tinha 17 anos.
— Eu não sei porque ainda fico
tão chocada com cenas como essa.
Deveria ter me acostumado, mas
caramba... uma adolescente morta desse
jeito. — Giorgiana se aproximou de
mim. — Ele costurou os lábios dela.
Quanta crueldade. — Ela sacudiu a
cabeça negativamente. — Eles estão
apenas esperando que eu termine para
que possam levar o corpo para
autópsia.
— Corte reto e perfeito na
artéria carótida — disse simplesmente e
ela me olhou assustada.
— Como você sabe?
— Longa história. Resumo
básico, isso é obra de um serial killer,
depois dessa morte, não resta dúvidas.
— Como assim? Me explique
isso direito!
— Ele começou há atacar
adolescentes de 16 anos há dez anos.
Atacava durante dois meses seguidos,
uma garota em cada mês. Depois parava
por dois meses e então voltava para o
mesmo ciclo. — Eu estava acostumado a
contar aquilo, mas não deveria contar
para Giorgiana, não sabia se podia
confiar nela. — Ele fez isso por 5 anos
seguidos, e de repente sumiu do rastro
de todo mundo, só que agora eu acho
que ele está de volta.
— Meu Deus! Isso é sério, Joey!
— Ela estava com os olhos arregalados.
— Você já falou com o
delegado Hastings?
— Claro, mas ele me disse que
precisa esperar que o assassino ataque
novamente para ter certeza e não iniciar
uma investigação sem provas concretas.
— Mas você tem provas, certo?
— Óbvio que sim. Venho
reunindo essas provas, comprovando
que o assassino tem um padrão em suas
vítimas e que esse é um padrão muito
claro. Se quiser depois te mostro as
outras vítimas, pelo menos as desse ano.
As outras ainda estão em sigilo e eu não
tive acesso a todos os arquivos.
— Quero ver sim. Espere só um
minuto, preciso terminar isso para
liberar o corpo da vítima. — Ela se
afastou e eu me senti bem por poder
contar para alguém sobre minhas
suspeitas, alguém que fosse da mesma
área que eu e que poderia me ajudar de
alguma forma. Giorgiana ficou lá perto
por mais alguns minutos, eu saí da área
isolada e esperei por ela conversando
com o homem que tinha feito a denúncia,
colhi as informações e combinei de nos
falarmos novamente. Logo que me virei
vi que Giorgiana se aproximava.
— Pronto, estou livre. Agora
entra o trabalho do Scott.
— Scott? Irmão do James?
— Sim, ele conseguiu a outra
vaga que abriu para perito, Scott é o
melhor especialista em padrões de
dispersão de sangue da região, sem
dúvidas.
— Eu nem sabia que o cara tinha
se mudado. — Eu achei estranho porque
James já teria comentado alguma coisa.
— Mas nem é tão longe também, Scott
morava só há 50 minutos daqui.
— Tá com medo do James morar
com ele e deixar você sozinho? — Ela
riu.
— Não, não tenho medo de ficar
sozinho. — Eu tinha sim, mas não
precisava sair contando isso.
— No fundo você tem, mas não
precisa. Sabe que nunca ficaria sozinho.
— Ela piscou para mim. Giorgiana
estava realmente dando em cima de
mim?
— Não acho que vou precisar —
disse tentando não ser indelicado.
— É, eu percebi — falou como
se não fosse nada, mas para mim aquilo
acendeu o meu alerta.
— Percebeu o quê?
— Que você não vai ficar
sozinho, você já tem alguém.
— Pois é — não falei nada além
disso, não queria atiçar a imaginação
dela, nem nada.
— Eu sei quem é, Joey. Não vou
contar para ninguém, apesar de achar
uma loucura. — Ela tombou a cabeça e
deu um sorriso de canto.
— Como assim? — perguntei
alarmado, deveria estar branco feito
papel.
— Joseph? — Virei-me e vi
Scott chegando. — Até que enfim te
vejo.
— Scott, parece maior. —
Estendi minha mão e ele a segurou me
dando um cumprimento firme.
— Andei malhando. — Ele riu.
— Estive na festa de aniversário da
filha do delegado e não vi você por lá.
— Eu acho que estava
trabalhando naquele dia.
— Aliás, ela está maravilhosa,
hein? Uma pena que seja menor de idade
ou teria tentado alguma coisa. A amiga
dela até me deu uma moral, mas você
sabe que não mexo com menor de idade
desde aquele caso em que quase fui
preso. — Ele disse, mas algo me dizia
que ele provavelmente já tinha tentado
alguma coisa com Ally, com Lili e que
não ligava a mínima caso fosse pego
com uma menor de idade.
— Scott? — Uma das analistas
forenses aproximou-me. — Estamos
precisando de você.
— Depois conversamos, Joseph.
Foi bom te ver. — Eu assenti e ele
entrou na área isolada.
Filho da puta! Vê-lo falar
da Ally daquele jeito me deu vontade de
meter um soco na cara de mauricinho
dele. Como dois irmãos poderiam ser
tão diferentes?
Meu celular começou a chamar e
ao olhar no visor vi o nome de Alice,
olhei ao redor e vi Giorgiana
conversando com um dos policiais ao
longe, não queria que ela ouvisse a
conversa. Talvez ela nem soubesse de
nada, apenas estivesse blefando. Aquilo
era quase uma prece aos céus.
— Oi, pequena.
— Meu amor, só estou ligando
para avisar que estou na casa da Amelie,
a mãe dela me recebeu.
— Alice, saia daí
imediatamente! Você perdeu a noção? —
Como ela foi capaz de matar aula e ir à
casa de uma das vítimas sem nem me
falar? Pensando bem, se ela tivesse
falado, eu a teria amarrado na cama e
trancado a porta do quarto.
— A mãe dela está voltando da
cozinha, tinha ido pegar um café. Depois
te ligo. — Desligou o telefone, sem nem
se despedir direito. Tentei ligar de volta,
mas o celular estava desligado. Bufei
cogitando pegar o carro e ir atrás dela.
Como Alice tinha arrumado o
endereço? Eu nem tinha falado muito
sobre o assunto, acho que nem os nomes
das vítimas deixei escapar. Ela teria que
me dar muitas explicações.
— Então, me dá uma carona até
a delegacia? Preciso analisar umas
amostras que tirei e passar para o James
alguns dados para que ele pesquise. —
Giorgiana veio em minha direção.
— Sim, sem problemas. Estou
indo para lá mesmo, preciso conseguir
as autorizações para iniciar minha
investigação.
— E precisamos ter uma
conversa importante.
— Definitivamente precisamos.
— Caminhamos até meu carro, entramos
e assim que dei a partida ela começou a
falar.
— Qual é o real motivo que
a Alice foi até seu apartamento ontem?
— Ela disse, foi buscar alguma
coisa que tinha esquecido por lá.
— E que coisa é essa? E em que
ocasião ela esqueceu?
— Não sei.
— Ela te visita muito?
— Ela sempre foi lá, não é
nenhuma novidade. Preciso pedir
permissão a alguém para recebê-la em
meu próprio apartamento?
— É sério, Joey! Você e a Alice.
É isso mesmo? Você não podia arrumar
outra garota para se divertir?
— Não estou me divertindo.
— Então não entendo.
— Estou levando isso a sério.
— Não acredito nisso. — Ela
sacudiu a cabeça incrédula. — Ontem
fiquei pensando nisso e jurei que seria
coisa da minha cabeça, que você riria da
minha cara e que eu ficaria em paz e
tranquila.
— Não precisa ficar preocupada
comigo, eu já sou bem grande, posso me
cuidar — disse amargamente.
— Você tem noção de que se
essa história vazar vai ser o foco da
vida de muita gente, e será por bastante
tempo? Pelo menos até que consiga a
independência dos pais dela e ainda
assim sabemos que o pai dela nunca vai
aceitar isso facilmente. — Minha cabeça
latejava, o assassinato daquela garota e
aquele papo com Gio não ajudava em
nada. — Você tem certeza de que é isso
que você quer? Ir buscar sua namorada
na porta do colégio todos os dias? Sair
correndo sempre o pai dela chegar
quando estiverem juntos?
Freei o carro bruscamente, ela
ficou parada assustada. Para tentar me
acalmar, respirei fundo algumas vezes,
olhava para o volante e em minha mente
recapitulava tudo que Giorgiana tinha
dito e ao mesmo tempo que recapitulava
tudo que tinha vivido, estava vivendo e
o que esperava viver com Alice.
— Eu sei disso tudo. — Fechei
meus olhos e engoli seco. — Mas estou
louco por ela. — Eu virei o rosto para
Giorgiana e abri os olhos. —
Completamente apaixonado. Eu sei que
não posso, que não devia, mas quero
tentar. Posso aprender a fazer isso,
porque o que sinto por ela me empurra
cada vez mais para junto dela.
— Você imagina que conseguiria
terminar se te obrigassem?
— Se me obrigassem não seria
porque eu iria querer. Não quero
terminar com ela por conta própria, não
quero me separar dela por mais
arriscado que isso tudo seja.
— Meu Deus você está mesmo
apaixonado por ela. — Ela disse
chocada e levou a sua mão sobre a
minha. — Por mais insano que isso
pareça, não vou julgar. Se você gosta
mesmo dela, estou do seu lado.
— Obrigado.
Capítulo 10
Estava diante do espelho,
analisava o pequeno corte que havia
feito enquanto me barbeava. Aquele
ferimento deixaria uma marca em meu
rosto por algumas semanas, mas não tão
profundo quanto às marcas em minha
mente.
Levantei a camisa e olhei para
os riscos avermelhados em meu
abdômen, eu havia sido arranhado pela
minha última garota, ela foi de longe a
mais difícil, a menina queria tanto viver
que agonizou até o último segundo de
vida e os espasmos causados pelo
sistema nervoso perduraram até mesmo
depois de sua morte.
Coraline era o nome dela. Ela
lembrava tanto minha doce irmã,
Rachel.
Meu pai se espantaria se a visse,
acharia que Rachel havia ressuscitado.
Seria no mínimo engraçado, daria tudo
por essa cena, mas como meu pai já está
morto, o que me resta é trazer as
lembranças através das mortes das
minhas meninas.
Os arranhões em meu abdômen
era a prova de que garotas de 17 anos
possuem muita força também, só não
eram o suficiente. Eu fui obrigado a
limpar debaixo das unhas da garota de
forma meticulosa para garantir que não
ficasse nenhum rastro do meu DNA
alojado ali. Depois cuidei do corpo,
limpei cada gota de sangue, a vesti
novamente e costurei seus lábios. Como
sempre, fui impecável.
Enquanto eu escovava os dentes,
meu celular começou a chamar, enxaguei
a boca e atendi.
— Oi.
— Enviei o e-mail ontem à noite,
aliás, eu te liguei a noite toda. Por onde
você andou? Isso daqui está um caos!
Você já está se sentindo melhor?
— Tive que resolver uns
assuntos... hm, particulares. E sim, devo
voltar para o trabalho hoje mesmo.
Meus problemas pessoais
envolviam um corpo, um saco preto e
um caminhão de refrigeração que havia
comprado somente com a finalidade de
manter os corpos das minhas garotas
frescos.
— Humm, voltou com a
namorada? — Detestava quando minha
secretária fazia esse tipo de pergunta
invasiva.
— Não. Você sabe que acabou.
Ela se foi em definitivo dessa vez. —
Falei visivelmente irritado.
— Me desculpe por perguntar,
eu não queria...
— Me incomodar? — Eu dei
uma risada curta. — Você sempre
incomoda, mas o que posso fazer se
preciso tanto de você? Um dia sem você
e vou à falência.
— Quantos elogios logo pela
manhã! Parece satisfeito.
— E estou, você nem imagina o
quanto.
Alice
Tinha mais ou menos umas duas
horas que estava na casa de Amelie
conversando com sua mãe. Aliás,
como Joey deixava as coisas dele tão
acessíveis? Os documentos ficavam
expostos em cima da mesinha de estudos
do quarto, qualquer um que entrasse ali,
teria acesso aos papéis e como eu tinha
pego sua chave sem que notasse, foi
fácil conseguir o nome completo e o
endereço de Amelie Smith.
— Então, quando foi a última
vez que você falou com a minha
Amelie? — A mãe dela estava sentada
no sofá, na minha frente, que sentei no
sofá menor. Tinha dito que sua filha e eu
éramos amigas, mas que tinha viajado e
que só tinha ficado sabendo de sua
morte quando voltei. Esse era o motivo
da visita, para saber se ela estava bem
após a morte da Amelie.
— Há uns seis meses e então eu
fui fazer um intercâmbio na Austrália,
senhora Smith. — Eu era muito boa
naquilo, fala sério.
— Faz bastante tempo, ela
morreu dois meses depois que vocês se
viram. Essa semana vai fazer quatro
meses que estou sem minha filha.
— Eu sinto muito. Se tiver
qualquer coisa em que eu possa ajudar.
— Não há, nem a polícia sabe
quem a matou. Estão investigando e não
encontraram ninguém, nem mesmo uma
pista.
— Ela reclamou de algo
estranho?
— Como o que?
— Sei lá, algum cara seguindo
ela ou se ela estava sendo ameaçada.
Isso talvez ajude, ou não?
— Ela...me.. — Ela sacudiu a
cabeça. — Não contei sobre isso para
ninguém, mas ela me disse que fazia um
tempo que sentia que estava sendo
perseguida por um cara havia algumas
semanas, mas nunca a abordaram nem
nada do tipo.
— Mas isso é sério. Vocês
falaram com a polícia na época?
— Eu tinha dito para ela que iria
falar com a polícia, mas não deu tempo.
Aliás, quando fui falar, foi para relatar
sobre o sumiço dela.
— Eu imagino como deve ter
sido difícil.
— Ela ficou desaparecida
durante uma semana e então encontraram
o corpo dela.
— Deve ter sido terrível para
você.
— E foi, eu não entendi o motivo
de fazerem aquilo com ela. — Ela
enxugou uma lágrima e eu me peguei
engolindo o choro. — Amelie sempre
foi uma menina tão estudiosa, esforçada,
eu nunca tive nenhuma reclamação
quanto a ela.
— Qualquer coisa que a senhora
precisar, mesmo que seja apenas
consolo, pode me ligar. — Eu anotei o
número do meu celular em um pequeno
pedaço de papel e entreguei a ela. — Se
você se lembrar de alguma coisa, que
talvez ajude a entender o que aconteceu.
Será um prazer revê-la.
— Obrigada, querida. Volte
sempre que quiser, quando quiser
relembrar da minha Amelie.
— Claro. — Levantei-me e ficou
em pé para me abraçar, dei um abraço
forte nela antes que ela me levasse até a
porta. Andei até o ponto de ônibus mais
próximo e as lágrimas caíram quentes no
meu rosto, tentei aparentar força diante
daquela mulher, mas a verdade é que a
dor dela dilacerou meu coração.
Imaginei se fossem meus pais, ou
os de Lili. Caramba! Meu coração sentia
a dor mais forte ainda quando me
colocava no lugar daquela mãe,
imaginando que fosse alguém amava
como a minha melhor amiga, por
exemplo.
Peguei meu celular e li uma
mensagem avisando que o número
de Joey tinha me ligado 17 vezes. Eu ri
antes de ligar para ele, que
provavelmente estava arrancando seus
cabelos de tanta preocupação.
Joseph
Estava tendo o dia mais
cansativo da minha vida.
Primeiro com a investigação,
tinha certeza que Coraline foi morta pelo
serial killer. Segundo, a situação com
a Ally, eu tentei ligar para ela a manhã
toda e já estava cogitando a
possibilidade de ir atrás daquela
irresponsável, mas tinha medo de deixá-
la numa situação mais complicada. Já
era quase a hora do almoço quando ela
resolveu me ligar.
— Alice Hastings! Vá embora
daí agora mesmo — disse com a voz
autoritária.
— Está achando que é meu pai?
— Ela riu divertida com a situação. —
Escuta, eu já saí de lá. A mãe de Amelie
foi muito simpática comigo, recebeu-me
super bem quando disse que era amiga
de sua filha e falou algumas coisas que
talvez sejam interessantes para você.
— Não faça mais isso, Ally. Eu
morro de preocupação. Vamos nos ver
no fim da tarde?
— Pode ir lá em casa se quiser,
eu preciso fazer uns trabalhos de escola.
Qualquer coisa você finge que está me
ajudando como sempre fez.
— Claro, eu vou estar lá.
Preciso conversar com seu pai depois, o
assunto vai ser sério.
— Vai falar sobre o serial killer
de novo? — Ela perguntou com a voz
apreensiva.
— Vou sim.
— Não acho que ele vá mudar
de ideia, Joey.
— E posso saber o motivo tem
tanta certeza?
— Não dá para explicar agora.
— Certo. Então hoje à tarde
você me explica isso direitinho.
— Pode deixar — disse com a
voz suave.
— Eu estou com saudades, isso é
possível? — Aquela menina estava me
deixando patético, um bobo
apaixonado.
— Definitivamente possível,
também estou morrendo de saudades de
você e da nossa noite maravilhosa. —
Ela riu do outro lado da linha e imaginei
sua feição tentadora, mordendo os
lábios e ao mesmo tempo com um pouco
de timidez.
— Não fale sobre isso ou minha
situação vai ficar complicada aqui na
delegacia, as pessoas não precisavam
me ver tendo uma ereção após uma
conversa ao celular, não vai ser bom
para minha reputação, sabe? — Ela riu.
— Certo, não falarei o quanto
fico louca só de pensar nos carinhos que
você fez em mim na noite passada.
— Alice...não. — Eu comecei a
realmente sentir minha calça apertar
pela proeminente ereção. — Onde você
está?
— Estou sozinha no ponto de
ônibus.
— Quer almoçar comigo?
— Mas a gente não ia se ver só
mais tarde?
— Esquece isso. — Levantei
pegando minha jaqueta. — Me fala o
endereço e eu estou indo te buscar.
Eu estava chegando na porta
quando Gio surgiu do nada.
— Preciso conversar com você
— falou com a expressão preocupada.
— Eu te ligo depois — disse
rapidamente ao celular e desliguei. — O
que foi?
— Podemos nos falar na sua sala
rapidinho? — Assenti e abri a porta
dando passagem para ela. — E então?
— perguntei assim que fechei a porta.
— Me escute com cuidado e
depois me fale o que acha da ideia. —
Eu havia entregado alguns dos arquivos
para ela, apenas os que ficavam na
delegacia, os mais importantes, deixava
em cima da mesinha de leitura em meu
quarto. — Após ler seus arquivos, tive
certeza de que você estava certo sobre o
serial killer.
— Então acredita em mim?
— Claro, Joey! Qualquer pessoa
com bom senso acreditaria.
— Eu tenho mais provas no meu
apartamento, os guardo lá porque é mais
seguro.
— Seguro?
— Eu estou começando uma
investigação por conta própria, Gio.
Ninguém pode saber.
— Ai meu Deus! Isso pode
acabar com sua carreira.
— Não me importo com a minha
carreira, só quero que essas garotas
parem de morrer.
— Certo, me escute. — Ela
sentou e acabei voltando para minha
cadeira. — Eu andei lendo o estatuto e
lá diz que se você tem três assassinatos
com similaridades, se tiver provas
suficientes, já pode abrir uma
investigação oficial.
— Mas o delegado Hastings...
— Eu entendi, ele não quer que
você abra e blábláblá. Eu não estou
falando dele, Joey.
— O que você quer dizer?
— Quem manda no
delegado Hastings?
— O Comandante Schmidt, ele é
quem manda na região. — Peguei o
raciocínio dela e sorri. — Você por
acaso está querendo que eu traia meu
melhor amigo e peça a autorização do
superior dele? Ele me odiaria para
sempre.
— Você está de caso com a filha
dele, acho que isso é pior — falou em
voz baixa.
— Ok, vou pensar sobre isso.
Quero mesmo que essa investigação seja
oficial.
— Ótimo, pense nisso, mas não
demore ou eu mesmo vou fazer isso e a
investigação que seria sua, passará
paras mãos de outro detetive.
— Mas você não pode...
— Posso sim, Joey. Essa
situação toda é muito delicada, você
mesmo me disse que são vidas correndo
risco, etc.
— Tudo bem. Me dê até o fim de
semana para pensar. — Ela assentiu e
levantou indo até a porta da minha sala.
— Pode ligar para Alice de
novo, ela deve estar esperando. — Ela
mandou um beijo e saiu da minha sala.
Eu tinha um problema nas mãos,
um problema dos grandes. Estava
começando a me arrepender de ter
confirmado as suspeitas de Gio, mas ao
mesmo tempo sabia que ela talvez
tivesse aquela reação. Agora era só
questão de a convencer a ficar do meu
lado, caso não tivesse coragem
suficiente de enfrentar o meu melhor
amigo.
Meia hora depois busquei Alice
e sua expressão era de tristeza. Na
verdade, ela parecia ter sido atropelada
por um ônibus.
— O que houve? — perguntei
assim que dei a partida no carro.
— Fiquei super triste depois de
conversar com a mãe de Amelie.
— Eu te falei para sair lá, Ally.
— Mas... de alguma forma eu
queria te ajudar. — Fez uma carinha de
quem era culpada, mas que queria se
desculpar.
— Ok, não fique assim. — Eu
acariciei o rosto dela. — Você não
precisa fazer isso.
— Você vai fazer isso com
quem, então? Não pode fazer isso
sozinho.
— Eu estou arrumando um jeito
de convencer a Gio a me ajudar.
— O quê?! — Ela me olhou
irritada e surpresa. — Não acredito que
vai ficar grudado nela o dia inteiro e
ainda vai ficar por perto quando estiver
nessa investigação.
— Ally, por favor. Não há
discussão sobre esse assunto.
— Queria ver se eu tivesse que
fazer um trabalho de escola com o Ed.
— Está ouvindo o que está
falando?? Não tem nem lógica,
comparar a minha situação com a sua.
— Eu sabia que a gente ia
acabar discutindo por causa da
Giorgiana. — Ela bufou e colocou os
pés no painel do carro, eu odiava
aquilo.
— Você está discutindo comigo
por causa da Giorgiana, eu não estou
discutindo. — Ela me irritava as vezes,
mas ao mesmo tempo tinha vontade de
simplesmente calar sua dela com um
beijo. Ela não tinha noção do quanto era
atraente irritada.
— Ela sabe do serial killer?
— Tem uma coisa que não te
contei. — Eu já esperava as expressões
de espanto dela diante das novidades.
— Ai, eu tenho até medo de
saber.
— Primeiro, a ligação urgente
do seu pai era para me falar sobre um
assassinato e quando cheguei lá tive
certeza de que era obra do serial killer.
— Ela fez cara de espanto, porém se
transformou em uma espécie de tristeza.
— Eu não sei se fico chocada
com a notícia, afinal a gente já esperava
por isso.
— Para ser franco, não consegui
aceitar ainda, Ally. Passei a manhã toda
investigando e a garota tinha acabado de
descobrir que ia estudar na França,
porque recebeu uma bolsa de estudos.
Conversei com os pais dela e eles
falaram que Coraline estava tão feliz nos
últimos dias. Me senti tão culpado. —
Ela me olhou preocupada e eu não olhei
para ela, continuei concentrado no
trânsito.
— Ei, meu amor. A culpa não foi
sua, para com isso.
— Mas eu sabia que ele estava
por aí e fiquei parado sem fazer nada.
— Eu bati com força no volante. — Ele
vai matar outra no próximo mês se eu
não fizer nada e depois vai dar uma
pausa de dois meses, seguindo seu
padrão maníaco.
— Mas você vai investigar e vai
resolver isso rapidinho. — Ela colocou
sua mão sobre a minha. Estávamos
chegando no nosso prédio,
cumprimentamos o porteiro normalmente
e assim que as portas do elevador se
fecharam nós nos beijamos, ela
entrelaçou os braços ao redor do meu
pescoço e aprofundei o beijo, ficamos
nos beijando até que o elevador apitou
para abrir e então nos separamos
rapidamente com medo de sermos
pegos.
— Boa tarde. — Uma senhora de
idade entrou no elevador. — Vocês estão
subindo ou descendo?
— Subindo. — Ally respondeu.
— Ah, tudo bem. Eu vou descer,
mas espero vocês chegarem no andar de
vocês. — Ally sorriu para mim e eu
estava segurando para não dar uma
gargalhada.
— Eu devo ter interrompido o
casal, aposto — a senhora falou e
sorriu.
— Não, nós nãos somos um
casal — disse rapidamente com medo
dela me reconhecer ou reconhecer Alice
e acabar com nossa história.
— Ah, não adianta negar. — A
senhora sorriu e parecia estar
divagando, pensando em algo. — Eu sei
quando vejo um casal apaixonado, esses
olhares secretos que ninguém por perto
consegue perceber, mas que falam mais
do que mil palavras.
— Eu o amo. — Alice disse. —
Mas meu pai não aceita nosso namoro.
— Ah, que romântico! — O
sorriso da senhora se alargou. — Sou
Janet, aliás. Espero que o seu pai deixe
vocês serem felizes, porque é claro que
vocês pertencem um ao outro.
Eu estava sem graça, aquela
mulher que nunca tinha visto, ou talvez
até tivesse, mas nem lembrava, estava
ali falando dos meus sentimentos como
se fosse uma amiga íntima e Alice era
louca de falar que estávamos
namorando. O que aconteceria se essa
senhora conhecesse o pai dela e
contasse? Não queria nem pensar.
— Sua feição é de desespero,
mas pode ficar tranquilo que não falarei
sobre isso para ninguém — Janet falou e
não posso negar que fiquei aliviado por
isso.
— Se precisarem de ajuda,
falem comigo. Pode parecer estranho,
mas estou do lado que o amor está e
nesse caso, ele está do lado de vocês.
— A porta do elevador se abriu nós nos
despedimos da senhora antes de sair.
Logo depois que o elevador se fechou
nós dois caímos na gargalhada.
— Eu não consigo parar de rir.
— Alice ria sem parar. — A sua cara,
foi a melhor que já vi na vida. Sempre
que lembrar, vou começar a rir.
— Engraçadinha. — Abracei-a e
beijei sua testa. — Vamos logo e não
vamos dar bobeira nos corredores.
Nos afastamos e fomos até o
apartamento de Ally, assim que ela
destrancou e abriu a porta, demos de
cara com sua mãe.
— Ah, filha. Que bom que
chegou, preciso resolver um problema
do pub e seu pai está terminando de se
arrumar para o trabalho. — Ela estava
procurando alguma coisa na bolsa e
parecia nem ter me reparado, pois assim
que largou a bolsa e me viu, me
cumprimentou.
— Oi, Joseph. Meu marido está
no banho, se quiserem esperar por ele
podem ir comendo, deixei a comida no
forno. — Ela deu um beijo no rosto
de Ally e acenou para mim antes de
sair.
— Agora sei de onde puxou essa
eletricidade sua — disse e Alice virou
para mim sorrindo.
— Nem sou tão elétrica. — Ela
riu. — Mas ela sempre foi assim. —
Segui Alice até a cozinha e ela colocou
os pratos e talheres sobre a mesa e então
me serviu.
— Fica me mimando e depois
não vai poder reclamar.
— Eu não vou reclamar, quero
poder fazer isso para sempre. —
Segurei-a pela cintura e ela deu um tapa
em minha mão.
— Ficou doido, Joey? Meu pai
pode pegar a gente.
— Fico meio desnorteado
quando você fica por perto mesmo. —
Percebendo que ela tinha razão, mas
aquela situação proibida me fazia querer
ter ela ali naquele momento. — E então,
como foi a conversa com a mãe da
vítima?
— Ela parecia assustada, sabe?
Parece que a Amelie estava sendo
seguida e contou isso para ela, mas que
quando ela quis ir relatar sobre isso
para polícia, a Amelie já tinha
desaparecido e que alguns dias depois
encontraram seu corpo.
— Deve ter sido bem difícil
para você ouvir tudo isso, sem ter muita
experiência.
— Mas fiquei foi preocupada
com tantas outras garotas espalhadas por
aí, correndo esse mesmo risco. —
Segurei sua mão sobre a mesa.
— Não fica assim, sei que não
sou a pessoa mais indicada para dizer
isso no momento, mas você não pode
viver com esse mesmo sentimento, deixa
isso para mim. Eu sou policial, é meu
trabalho proteger todas essas garotas,
deixe que sinto essa tristeza e essa
preocupação no seu lugar.
— Eu não quero me afastar
disso, Joey. Eu quero participar dessa
investigação. — Ela tirou sua mão de
perto da minha e levantou, falando
segura.
— Não dá, Ally. É muito
arriscado, você sabe disso.
— Não tente me tirar disso, sei
que sou uma adolescente e que talvez
não entenda muita coisa, mas sei lá,
posso conversar com outras pessoas.
— Ah, que bom que você está
por aqui, Joey. — Hastings entrou na
cozinha ajeitando o relógio no pulso,
ainda olhava para Alice que continuava
com a mesma expressão decidida
mesmo após aquela declaração. Eu quis
beijá-la, mas apenas olhei para meu
amigo que falou novamente. — Tem um
tempo para conversar?
— Tenho sim.
— Ótimo, vem comigo até a
sala. Depois você volta e come, não irei
demorar. — Ele bebeu um copo de água
e fomos para sala em seguida. Eu estava
atrás dele e virei para Alice e falei
movimentando os lábios.
— Me espere. — Pisquei para
ela que apenas assentiu.
Fui caminhando até a sala e eu
comecei a falar antes mesmo que ele
abrisse a boca. Eu tinha necessidade
daquilo depois da manhã que tive,
depois de ter visto a trigésima terceira
garota morta por um assassino em série
que parecia estar apenas voltando a
ativa com a matança.
— Ele voltou. — Eu me sentei
e Hastings olhou sério. — Ele ficou 5
anos parado, mas resolveu voltar agora
e você precisa acreditar em mim.
— Olhe, eu sei que você está
muito determinado. Era exatamente
sobre isso que queria falar com você.
— Fale então. — Eu me ajeito
confortavelmente no sofá e ele fez o
mesmo.
— Não posso arriscar minha
posição.
— Mas não há riscos, eu falo
sério sobre o “Assassino do Beco”, ele
voltou e você só pode estar cego por
não perceber isso. Me desculpe, sei que
pelo nossos anos de amizade não
deveria fazer isso, mas terei que
procurar alguém que me autorize.
— Você não pode fazer isso. Eu
estou sendo investigado, Joseph. — Ele
apoiou os cotovelos nas coxas e colocou
sua cabeça entre suas mãos.
— Como assim? — Eu estava
totalmente confuso, parece que perdi
alguma parte da conversa, porque ela
não fazia o menor sentido para mim.
— Eu fiz algumas coisas do meu
passado das quais eu não me orgulho e
agora estou sob investigação e se eu
abrir essa caça e alguma coisa der
errado, quem se ferra sou eu.
— Certo, você vai deixar que
outras garotas morram, porque só esse
ano já foram 3. — Levantei, segurando-
me para não falar alto e assustar Ally.
— Não estou contando as outras que ele
já matou, que apesar de não ter mais
acesso aos arquivos de suas
investigações, continuam mortas e
presas para sempre a um caso não
solucionado, em aberto. — Ele me
olhava assustado com a força das
minhas palavras. Era isso mesmo o que
queria, causar impacto para ver se ele
percebia a gravidade do que estava
fazendo. — E apesar de sempre receber
um e-mail educado me avisando que não
posso ter acesso a esses arquivos a
menos que seja autorizado pelo meu
superior, eu sei basicamente tudo que
eles contém. Eu só preciso ter acesso
aos relatórios forenses.
— Você precisa me entender...
— Olha, eu entendo só uma
coisa. Vidas inocentes estão sendo
ceifadas por puro egoísmo seu, agradeço
por tudo que fez por mim, sempre serei
grato. — Eu respirei fundo e olhei para
o teto, procurando calma em algum canto
do meu ser. — Vou estar do seu lado,
porque você sempre esteve do meu, mas
eu não posso concordar com isso.
Ele fez menção de falar alguma
coisa, mas apenas passou as mãos nos
cabelos grisalhos e eu me afastei indo
em direção à cozinha, assim que cheguei
lá encontrei Alice e seus olhos cheios de
frustrações e incertezas.
— Não gosto de ver vocês
brigarem. — Ela disse e bebeu um gole
de suco. Então, ela tinha ouvido tudo e
meus esforços de falar baixo não
adiantaram muito. Ouvimos o barulho da
porta do apartamento abrindo e
fechando, anunciando que Hastings tinha
saído para trabalhar.
Eu acariciei o rosto de Alice e
entendi o que ela queria dizer por não
gostar de me ver brigando com o pai
dela, também detestava discutir com o
homem que por vezes eu tratava de
maneira formal, mas que sabia da minha
vida inteira, além de me conhecer
melhor do que eu.
— Você vai ter que acostumar
com isso — disse pensando em como
ele reagiria quando descobrisse sobre
Ally e eu. A nossa briga seria bem pior.
Será que eu estava preparado para
isso?
— Não precisa brigar com ele,
vocês deveriam resolver isso
conversando.
— Não há conversas sobre
isso, Ally. Há ações, planos, execuções
e não papos enquanto mortes estão
sendo planejadas e executadas do outro
lado da história. Você acha que o
Assassino do Beco conversa sobre isso?
Sua mente doentia provavelmente deve
divagar acerca do assunto, mas duvido
que haja conversas até mesmo com suas
vítimas. — Eu não queria contar aquelas
coisas para Ally, mas ela queria tanto
fazer parte daquele mundo podre que eu
investigava, então ela precisava ouvir
aquilo tudo. — Pela forma que ele mata
suas vítimas, ele parece ser frio, ir
direto ao ponto sem ficar brincando com
elas.
Eu suspirei e ela se aproximou
beijando minha cabeça, eu levantei o
rosto e ela beijou meus lábios. Alice
tinha um jeito doce que me acalmava,
trazia a paz que precisava depois de um
turbilhão de acontecimentos.
— Eu ia te contar sobre a
investigação. Minha mãe conversou
comigo sobre isso e ela disse que é por
isso que ele está relutante em abrir a
investigação, Joey.
— Eu sei. — O pior é que eu
estava preocupado com ele, mas não
podia desistir da minha investigação.
— Investiga por conta própria.
— Ela disse simplesmente e eu sacudi a
cabeça lembrando de Giorgiana e suas
ameaças. Ela provavelmente passaria a
investigação para o Comandante
Schmidt e ele simplesmente entregaria
para outro detetive e eu precisava
liderar aquela investigação.
— Não sei se quero isso
mais, Ally. Agora eu também estou
temendo pelo meu trabalho, minha
reputação e minha posição.
— Mas você não parecia se
preocupar tanto com isso antes. — Ela
me olhou de um jeito peculiar dela, toda
desconfiada.
— Se eu posso fazer isso de
maneira legal, porque iria pela
ilegalidade? — Tentei parecer o mais
normal possível, mas acho que ela me
conhecia muito bem.
— Não sei. — Ela mordeu o
lábio inferior com uma expressão
pensativa. Aquilo dali era golpe baixo!
Entregaria o ouro para ela sem ela
precisar perguntar muito. — Você tá me
escondendo alguma coisa.
Pronto! Alice sabia que eu
estava escondendo algo e eu não
conseguiria mentir e nem pretendia
ocultar aquilo dela, mas não queria
brigar com ela, ainda mais naquele dia
que tudo parecia estar dando errado.
— A Giorgiana sabe que tenho
certeza que os assassinatos são obra de
um serial killer, que voltou a atacar,
mais conhecido como Assassino do
Beco e me disse que se eu não
conseguisse convencer seu pai, teria que
levar isso até a única pessoa que pode
tomar decisões sobre as decisões do seu
pai.
— O Comandante Schmidt. —
Ela parecia concentrada, não
demonstrava estar irritada ou chateada e
isso me assustava mais ainda.
— Exato. Ela ainda ameaçou que
se eu não fizer isso, ela fará e então eu
provavelmente não seria o encarregado
do caso.
— Eu sabia que algo daria
errado com essa volta da Giorgiana, mas
tudo bem. — Ela sorriu.
— Tudo? Tem certeza?
— Tenho sim, fica tranquilo
porque vou ter uma conversa com ela.
— Ela sorriu e levantou uma das
sobrancelhas.
— Tem mais uma coisa. — Eu
precisava falar tudo, não gostava de
esconder as coisas dela.
— Tem mais? — Alice me
olhava apreensiva.
— Sim. — Eu bebi um gole do
suco dela antes de falar. — Gio sabe
sobre a gente.
— O quê?! Como ela descobriu?
— Alice que era sempre calma
assustou-se. — Que merda! Ela quer
contar para o meu pai?
— Não, ela disse que fica do
meu lado e me apoia.
— Hum, ela apoia você e não
eu.
— Não existe isso, Ally. — Eu
segurei sua mão. — Eu ou você, somos
nós dois juntos, não existe separação.
— Se você continuar falando
essas coisas comigo, eu vou ser
obrigada a não querer discutir sobre o
tópico “G” de Georgiana e vou querer
quer você trate de um ponto do meu
corpo que recebe o mesmo nome do
tópico. — Eu dei uma gargalhada e a
puxei beijando seus lábios, ela se sentou
em meu colo e grudamos nossas bocas
novamente.
— Não devíamos fazer isso aqui
— disse quando separamos nossos
lábios.
— Sem problemas — respondi e
beijei seu pescoço. — Podemos ir para
o seu quarto.
Um sorriso travesso surgiu em
seus lábios antes que ela levantasse e
desligasse o forno que estava
esquentando nosso almoço, logo depois
estendeu a mão para mim, que logo
entendi o recado. Eu a puxei e a
coloquei no meu colo, fui levando-a
para o quarto.
Não era nem de longe a primeira
vez que entrava ali, mas pela primeira
vez os meus pensamentos sobre o que
faria nele eram tão indecentes. Fechei a
porta e a levei até a cama, fui
levantando sua blusa, beijando sua
barriga, acariciando seus seios por cima
do sutiã. Ela me surpreendeu levantando
a saia do uniforme e tirando a calcinha,
aquele sorriso brincalhão surgiu em seus
lábios e eu quis pular todas as partes e
ir direto para os que mais queria.
— Alice? — A voz de Hastings
soou em meus ouvidos e me levantei
assustado, e Alice olhou-me mais
assustada ainda. Ambos olhamos para a
porta, que estava destrancada. Eu fui
para o canto e caso ele abrisse a porta,
não me veria por conta da minha
posição.
— O... oi? — Ela respondeu
meio ofegante e assustada. — Estou
terminando de trocar de roupa. — Eu fiz
sinal de positivo para ela, com aquela
explicação não abriria a porta. Alice se
trocou rapidamente e eu mesmo com
aquela situação, fiquei desejando poder
agarrá-la enquanto ela se trocava. Que
tipo de pervertido eu era?
— Já terminou? Posso entrar? —
Ela foi até a porta e assim que assenti
ela abriu apenas uma fresta.
— O que foi? Vim trocar de
roupar antes de ir comer. — Ela disse
de maneira natural, como se nada tivesse
acontecido.
— Eu vim para ver se o Joey iria
querer carona. Se ele quisesse, eu
esperaria por ele. Ele foi embora?
— Foi, logo depois que você
saiu. — Ela ficou calada por alguns
milésimos de segundos. — Porque não
vai até o apartamento dele e vê se ele
ainda está por lá?
— É, vou fazer isso. Até mais,
filha. — Ela acenou se despedindo dele
e fechou a porta, trancando-a. Nos
seguramos por algum tempo, até
ouvirmos a porta ser fechada e então
caímos na gargalhada.
Ela veio até a mim e me abraçou
antes de ficar na ponta do pé e falar bem
perto do meu ouvido.
— Não sei se você estava
prestando atenção, mas não tem nada
debaixo desse vestido. — Minhas mãos
estavam em sua cintura e as desci até
suas coxas, passei as unhas, de leve. Ela
abriu os lábios e sua respiração ficou
ofegante quando deslizei a minha mão
até o ponto úmido entre suas pernas.
— Vamos continuar de onde
paramos — disse antes tomar seus
lábios em um beijo urgente e colocá-la
de volta na cama, onde continuamos até
que ouvi aquele doce som cortando sua
garganta e saindo de seus lábios, a
prova de que eu tinha satisfeito minha
pequena Ally.
Capítulo 11
Alice
Assim que Joey terminou de
comer e voltou para o trabalho, liguei
para Lili, que me atendeu na primeira
chamada. Devia estar louca para contar
as novidades para mim, só não estava
mais do que eu.
— Ally! — Ela deu um gritinho
empolgado. — Não sei como aguentei
ficar tanto tempo longe do Ash! Eu já ia
te ligar para contar tudo, aliás, posso ir
aí à sua casa?
— “Oi” para você também,
minha querida amiga. — Ela riu. —
Pode vir sim, também tenho muita coisa
para contar. Você pode me fazer um
favor? Traz seus cadernos, preciso
pegar a matéria de hoje.
— Eu faltei à aula, Ally. Não
vou ter como te ajudar dessa vez.
— Nossa, a noite foi tão boa
assim que você nem foi ao colégio? —
Dei um daqueles sorrisos do tipo “Sei o
que você fez”, aquilo não fazia muito
sentido, já que Lili não estava ali para
ver.
— Mais ou menos. Agora, posso
saber por que você faltou, dona Ally? —
Foi a vez dela fazer uma voz indicando
que tinha descoberto meu segredo.
— Dormi no apartamento
do Joey — disse apenas isso, mas sabia
que ela entenderia.
— Sua safada! Quer dizer que
rolou? — Ela quase teve um treco do
outro lado da linha.
— Quando você chegar aqui
conto em detalhes. Não em detalhes
mais sórdidos, porque você não vai
gostar de saber. — Dei uma gargalhada
e ela fez um som de nojo.
— Vou tomar um banho rápido e
vou. Antes passo no Ed e pego os
cadernos dele, apesar de que não acho
que vá ter alguma coisa neles.
— Ele paga aqueles meninos da
sala para copiar. O caderno dele tá
sempre completo, até mais do que o
meu.
— Nesses momentos até eu fico
abismada com a facilidade que aquele
garoto esbanja dinheiro, viu? Enfim, me
espere e em quarenta minutos chego aí.
— Certo. Estarei esperando.
Encerrei a ligação e mandei uma
mensagem de texto para Joey,
perguntando se ele tinha o número de
celular da Giorgiana, ele demorou uns
dez minutos e respondeu.

“Acabei de descobrir o número


dela, peguei com o James e agora ele
acha que estou tendo uma recaída por
ela. Ele perguntou se era ela que
estava comigo na cama hoje de manhã.
Se ele soubesse a verdade, ficaria
chocado.”

Eu ri alto daquela mensagem e


ao imaginar a feição de James
descobrindo meu relacionamento
com Joey. Ao mesmo tempo a imagem
de Giorgiana no meu lugar fez com que
uma pitada de ciúmes tomasse conta de
mim. Eu era maluca mesmo.
Não esperei por muito tempo,
apenas liguei de uma vez para Gio que
me atendeu no segundo toque.
— Oi. Quem fala? — atendeu
com a voz animada.
— Oi, Gio. É a Alice.
— Alice? A que devo a honra?
Aliás, como descobriu meu número?
— Tenho meus contatos. — Sei
que aquela frase era clichê, mas nem
ligava. — Enfim, tem como passar aqui
em casa depois? Estou precisando
conversar com você.
— Olha, Ally...se for sobre você
e o Joey...
— Não. Não é isso. — Cortei-a
antes que falasse mais alguma coisa. —
É algo mais sério.
— Posso ir agora, ainda estou no
meu horário de almoço.
— Ótimo. Vai demorar quanto
tempo para chegar aqui? — perguntei
sem muitos rodeios. Era melhor resolver
aquilo de uma vez.
— Eu estou perto do seu prédio,
chego em cinco minutos. — Concordei e
nos despedimos logo depois.
Fiquei em estado de desespero,
porque por mais que estivesse posando
de garota segura, estava começando a
ficar nervosa com a situação. Não sabia
muito bem por onde começar.
A campainha tocou poucos
minutos depois e assim que abri a porta,
lá estava ela. Não conseguia odiar a Gio
porque a conhecia desde pequena, mas
também nunca nutri nenhuma simpatia
por ela. Seus cabelos loiros estavam
soltos e caiam em perfeição sobre
ombros, ela abriu seu sorriso, agindo
simpática como sempre foi, ou pelo
menos fingia ser.
— Entra. — Sorri de volta e dei
espaço para ela, que foi entrando.
— Fiquei surpresa pela sua
ligação, Ally. — Ela colocou a bolsa
sobre o braço do sofá enquanto eu
fechava a porta e voltou a me olhar. —
Confesso que estou bastante curiosa
para saber o motivo dessa convocação.
— Então, eu sei que talvez você
não esteja aceitando muito bem o fato de
eu estar com o Joey.
— Eu falei sobre isso com ele
hoje de manhã, Alice. Não vou me
intrometer. — Ela deu um risinho. —
Apesar de achar uma grande perda de
tempo.
— Como? — Eu perguntei como
se não tivesse ouvido direito.
— Eu tenho certeza de que você
vai se enjoar dele rapidinho, isso que
sente por ele é normal, sabe?
Adolescentes sempre tem uma paixão
platônica por um cara mais velho. No
seu caso, acho que deu sorte dele gostar
de você de volta e conseguiu que sua
paixão não fosse assim tão platônica.
— Eu o amo desde sempre, o
tipo de amor só se modificou. — Eu não
queria me irritar naquele momento,
então eu apenas tentei manter a calma.
Só tentei. — Não vou enjoar dele, não
sou como você que desiste só porque
acha que as coisas complicaram.
— Ui! Me desculpa. Não quis te
ofender. — Ela sentou no braço do sofá,
perto da sua bolsa e eu continuei de pé.
— Mas era esse o assunto? Você me
disse que era outro.
— Então, como ia dizendo,
mesmo eu estando com o Joey, não
quero que afete no pedido que vou te
fazer agora.
— Estou ouvindo. Qual pedido?
— Não leve a investigação para
o Coronel Schmidt, por favor.
— Ally, esse assunto não é...
— É sério, Giorgiana. Meu pai
está sob investigação e isso seria ruim
para ele, sem contar que a investigação
iria para outra pessoa e não para Joey e
nós sabemos como ele fica afetado com
essa história de serial killer desde que o
pai dele foi morto por um que
investigava.
— A situação é toda muito
grave, Ally. — Ela colocou uma mecha
atrás da orelha. — Esse assassino é
perigoso e isso não é uma história de
televisão, não é um dos seriados que
você assiste, estamos falando da vida
real.
— Eu sei! Cresci em uma casa
cercada por esses assuntos desde
criança, esqueceu? Não haja como se eu
fosse uma menina bobinha, porque você
sabe que posso ser meio imatura às
vezes, mas sou bastante esperta
também.
— Você quer que eu faça o quê,
então? — Ela cruzou os braços e tombou
a cabeça como se tivesse tentando me
entender.
— Ele queria começar uma
investigação por conta própria.
— Fora de cogitação, é muito
arriscado.
— É arriscado de qualquer jeito.
— Eu rebati rapidamente.
— Foi o Joey que pediu para
você conversar comigo?
— Não, eu que quis fazer isso.
Um papo de mulher para mulher.
— Ótimo. Eu vou para o
trabalho, Ally. — Ela se levantou e
pegou sua bolsa. — Estou atrasada.
— E a sua decisão? — Eu
coloque minha mão na frente dela,
impedindo—a de passar.
— Eu vou pensar sobre isso,
mas não vou garantir nada. Vou
conversar com o Joey sobre essa
história do seu pai, quero detalhes.
Aliás, preciso saber mais sobre essa
investigação dele por conta própria,
Joey tinha me dito sobre isso mais cedo,
mas não dei muita atenção. — Ela
ajeitou o terninho preto que usava. — E
se Joey falou sobre isso com você, é
porque a ideia está realmente fixa na
mente dele.
— Tudo bem, então. —
Desanimei, porque achei que minha
conversa influenciaria, mas pelo visto
estava estagnada e não tinha conseguido
nenhum avanço da situação.
— Certo então. Preciso ir. —
Ela me deu um abraço e eu a abracei de
volta. Coisa mais falsa que já vi, ela
estava totalmente mudada e por mais que
tentasse demonstrar o contrário, ela não
estava nem um pouco feliz por mim
e Joey.
Assim que fechei a porta, já tive
que abrir de novo porque Lili tinha
chegado.
— O que a Giorgiana está
fazendo no seu prédio? — Essa foi a
primeira coisa que ela falou assim que
abri a porta.
— Nem me fala! — Ela me
abraçou. — Você vai ficar chocada com
a história toda.
Lili entrou e enquanto eu comia,
minha amiga me colocou por dentro da
situação dela e de Ash.
— Antes que você ache que
rolou alguma coisa, pode ir esquecendo.
Ele voltou ontem, Ally! Não sou tão
fácil assim. Nós ficamos conversando a
noite toda, colocando o papo e os beijos
em dia.
— Eu sei que você não ia querer
fazer nada com ele depois de tanto
tempo sem vê-lo e sem ter uma longa
conversa sobre a situação de vocês.
— Ash disse que falou sério
sobre voltar a namorar sério e eu não sei
se quero isso mesmo. A gente tá junto e
pronto, não quero rotular nosso
relacionamento.
— Ele mudou em algum aspecto?
— perguntei curiosa.
— Não, continua fofo e
carinhoso comigo e voltou bem mais
safado do que quando foi, mas isso foi
uma ótima mudança para ser bem
honesta. — Nós duas rimos tanto que o
suco chegou a vazar pela boca.
— Eca! — Lili gritou enquanto
me limpava com o pano de prato. —
Agora conte sobre você e Joey! Eu estou
morrendo de curiosidade.
Contei para ela toda a situação,
da hora que cheguei no prédio e dei de
cara com Giorgiana no apartamento, até
a hora em que saí do apartamento
de Joey de manhã, omiti as partes mais
sórdidas, obviamente. Ela gargalhou
quando contei que James quase flagrou a
gente junto.
— Cara, ele é um tapado mesmo,
viu? — Ela sacudia a cabeça e ria a
mesmo tempo.
— Você sempre achou ele um
gato, então para — disse ao me
relembrar de quando ela ficava babando
no abdômen de James.
— Por favor, qualquer pessoa no
mundo me entende! — Ela revirou os
olhos. — Poxa, olha aquele corpo
esculpido.
— Eu não vou olhar para o dele
quando tenho o do Joey que é milhões de
vezes melhor.
— Agora, meu comentário mais
importante, tome cuidado com a
Giorgiana. — Ela falou séria. — Não
sei o motivo, mas sinto que ela não está
lá muito boa com a história de você
e Joey estarem juntos.
— E você acha que não sei? Eu
acabei de falar com ela e consegui sentir
que ela não está nem um pouco feliz com
isso.
— Aliás, o que ela veio fazer
aqui? — Engoli em seco, não queria
mentir para Lili, mas precisava porque
aquele assunto era sério demais para
envolvê-la.
— Ver meus pais, mas perdeu a
viagem, já que estão trabalhando. — Ela
assentiu sem perceber minha mentira.
— Eu vou na sala buscar minha
mochila. Você estava certa sobre Ed, ele
tem os cadernos completos, mas tenho
certeza de que aquela letra nos cadernos
não é dele. — Ela piscou. — Ele jurou
que é, então vamos fingir que
acreditamos.
— Ele é um idiota por achar que
caio nessa! Ele mesmo já falou comigo
que paga os alunos para copiarem para
ele. Enfim, vai lá buscando que enquanto
isso eu vou limpando a mesa para gente
estudar por aqui mesmo.
Joseph
Estava em minha sala na
delegacia quando James abriu a porta e
bateu duas vezes antes de entrar.
— Agora você aprendeu a bater
na porta? — disse e logo voltei a
analisar as fotos da cena onde Coraline
foi encontrada, que o pessoal da equipe
forense tinha mandado.
— Algum avanço por aí?
— É o serial killer, James. E o
delegado não quer me autorizar com a
seguir com a investigação.
— Porra! E agora? — Ele sabia
de tudo, não tinha como não saber, já
que morava comigo e sabia minhas
paranoias e suspeitas, além de
acompanhar as investigações paralelas
que fazia para tentar aprender mais e
ligar os assassinatos.
— Eu acho que vou seguir com
aquela ideia que você achou ser
maluquice.
— Investigar por conta própria?
— perguntou com um sussurro e olhou
em volta, como quem garantia que
ninguém tinha nos ouvido. Sua pergunta
soava mais como uma afirmação. —
Sabe, não acho que seja assim tão
maluquice.
— Sério? — Levantei a cabeça e
o olhei surpreso.
— Sim, também li os arquivos,
lembra? Eu também tenho certeza de que
isso é obra daquele Assassino do Beco.
— Ouvi-lo dizer aquilo despertou um
sentimento de esperança em mim. Se até
James concordava, talvez ele topasse
entrar nessa comigo.
— Você estaria disposto a me
ajudar se eu fizesse isso?
— Você ainda pergunta? Já me
meti em tantas confusões por você. Essa
seria até divertida. — Rimos não apenas
por lembrar das nossas confusões, mas
por saber que tinha mais um aliado. Só
faltava convencer Gio.
— Com licença, Joey. — E por
falar nela...parecia que meu pensamento
a tinha chamado até ali. — Ah, você está
muito ocupado?
— Não, pode entrar.
— É que eu queria falar sobre
aquele assunto do Assassino do Beco.
— Ela olhou para James que estava
distraído no celular.
— Ele sabe de tudo, Gio —
disse, ela levantou as sobrancelhas
como se concordando e assentiu.
— Eu sei de quê? — Ele largou
o celular e virou para nós.
— O assunto sobre o qual
estávamos falando agora.
— Ah, sim. Você vai ajudar a
gente, Giorgiana? — Ela parecia
confusa.
— “A gente”? Você quer entrar
nessa de investigar também? Não acha
perigoso? — Giorgiana cruzou os
braços e mantinha uma expressão
confusa.
— Eu e o Joey já passamos por
tantas confusões. Vai ser só mais uma.
— James disse e guardou o celular no
bolso. — Preciso terminar de fazer um
relatório da minha última análise do
laboratório.
James saiu da sala e assim que a
porta fechou Gio se virou para mim,
lançou um sorriso amável e sentou na
cadeira onde antes estava James. Ela
queria falar mais alguma coisa. Aquele
dia não ia acabar?
— Sua namorada me ligou,
convidando para ir até o apartamento
dela, quer dizer, dos pais dela. Queria
conversar comigo.
— Ah, é? — Acomodei-me em
minha cadeira e recostei, preparando
para aquela conversa que pressentia
seria mais chata do que tomar injeção
antitetânica.
— Você sabia disso, não se faça
de bobo, Joey. — Ela sorriu de canto e
piscou. — Engraçado que mesmo não
tendo falado que foi por você, pude
perceber que ela estava mais
preocupada com você do que com a
situação do pai dela.
— Ela te contou sobre isso? —
perguntei e ela apenas acenou com a
cabeça.
— Quero detalhes sobre isso e
também sobre essa ideia fixa sua de
querer bancar o detetive particular a
serviço da comunidade. Por mais
contraditório que tudo que eu falei
pareça.
— Eu não sei bem o motivo
do Hastings, ele não quis falar sobre a
investigação e sinceramente não me
meto no que não é da minha conta, ele
gosta de espaço. Nossa amizade sempre
foi assim.
— Ai, essa doeu! Não precisa
ficar nervosinho comigo.
— Fui sincero, você sabe que
sou assim. — Eu sorri e então prossegui.
— Você teve acesso aos arquivos que
guardo, a ideia surgiu há dois meses
quando percebi que dois assassinatos se
pareciam muito com os do Assassino do
Beco, mas você já sabe disso. Não tem
muito para explicar, Gio. — Levantei,
dei a volta na mesa e sentei na beirada.
— Escuta, preciso que confie em mim.
Se acreditar, vai entrar nessa e se não,
que é o mais provável basta lembrar do
término do nosso casamento. — Ela
abriu a boca para reclamar, mas levantei
a mão e terminei. — Enfim se não
confia, vai simplesmente sair daqui e
ligar para o Coronel Schmidt avisando
que tem um assunto urgente para tratar
com ele e entregar isso tudo nas mãos
dele.
Gio ficou em silêncio, eu sabia
que podia ter colocado tudo a perder
falando tudo aquilo para ela, ou não,
porque eu a conhecia bem e sabia como
jogar com ela. Aliás, se ela desistisse,
seria melhor, odiava aquela situação de
dúvidas e de chantagens que ela tinha
mania de criar.
— Eu estou dentro, Joey. —
disse levantando-se. — Mas quero saber
de tudo que acontecer, entendeu? Vamos
nos encontrar eu, você e James depois
para combinar direito qual vai ser a
função de cada um nisso.
— Fechado. — Eu estendi minha
mão para ela que segurou e beijou minha
bochecha rapidamente, antes de sair da
minha sala.
Eu estava feliz porque o dia que
tinha começado de forma terrível,
parecia que terminaria bem melhor. Eu
devia isso a Ally, que tinha conseguido
convencer a Gio, não sabia como ou que
ela tinha feito. Não deveria duvidar da
capacidade de persuasão de Alice, não
depois de tudo que aquela menina tinha
feito para me conquistar. Eu estava
fisgado por ela, prova que ela era
esperta e perigosa. Eu adorava aquilo.
Peguei o celular e liguei para
ela, que atendeu alegre, em meio a
gargalhadas.
— Oi, meu amor — disse e eu
imaginei seu sorriso do outro lado.
— Minha pequena, eu te devo
uma. Me pede o que quiser e eu dou.
— Posso saber o motivo dessa
generosidade?
— Não sei o que fez, só sei que
conseguiu convencer a Gio — disse
alegremente e ela deu um gritinho do
outro lado da linha, ri daquela reação
dela. — Agora faço o que você quiser.
— Eu quero você — disse e
recostei na minha cadeira, meus lábios
unidos se separaram para um sorriso
novo, Alice tinha esse dom de colocar
sorrisos em meu rosto.
— Mas isso não vale, você não
pode pedir o que já tem. Essa é a regra.
— Acho que só de ouvir isso já
fui recompensada, sabia?
— Nada disso. Eu não aceito
essa história, anda logo e me pede.
— Mas eu não faço a menor
ideia do que quero — disse animada. Eu
olhei em cima da minha mesa e vi a foto
de uma ilha, era um panfleto que haviam
entregado para o James e ele esqueceu
ali. No panfleto dizia que o local era
perfeito para casais discretos e de
repente percebi que aquilo encaixava na
minha situação com Ally. Era um sinal
divino.
— Quer fazer uma viagem no fim
de semana comigo? — Eu perguntei e
ela ficou em silêncio do outro lado da
linha. — A gente sai daqui na sexta de
noite e voltamos no domingo à tarde.
— No próximo fim de semana?
— Ela perguntou e eu já ia retirar o
convite pensando que ela diria que não.
— Claro! Vou adorar! Para onde
vamos?
— Vai ser surpresa, mas leva um
biquíni.
— Ai meu Deus, é uma praia? —
Ela parecia aquelas crianças curiosas e
animadas.
— Larga de ser curiosa, Ally. —
A porta da sala abriu e o delegado
entrou ali, respondendo algo para
alguém que estava do lado de fora e
entrou rindo. Afastei o celular da orelha
e olhei para o celular assustado, pensei
em desligar, mas ele já estava na minha
frente e achei que desconfiaria se
desligasse sem nem me despedir da
pessoa.
— Joseph, preciso de um favor
seu — falou, sentando-se à minha frente
e olhou para o celular na minha mão. —
Você pode terminar sua ligação.
— Ligação? — Ele assentiu e
apontou para o celular.
— Ah claro. — Olhei para o
celular e o levei até a orelha. — Eu
preciso terminar de resolver uma
situação do trabalho aqui e te ligo
depois.
— Eu ouvi a voz do meu pai, é
ele mesmo? — Ally perguntou, parecia
estar se divertindo com aquilo.
— Exato — respondi de forma
sucinta enquanto Hastings folheava
alguns papéis em uma das pastas que
segurava.
— Se eu começar a falar como
faria um sexo oral maravilhoso em você,
seria muita crueldade da minha parte?
— Alice se divertia com a situação e eu
apenas ri de nervoso, já ia dizer um
tchau e desligar, mas ela já estava
falando de novo. — Ou falar como eu
gostaria que você me pegasse da
próxima vez que estivermos...
— Então, está certo. Tchau. —
Desliguei a ligação e pigarreei alto.
Esperava que ele não percebesse como
estava desconcertado naquele momento.
Hastings virou para mim e sorriu.
— Eu trouxe aqui alguns dos
arquivos que acho que podem te ajudar.
— Ele estendeu para mim as grossas
pastas pretas e eu as abri. — Por favor,
seja discreto sobre isso.
Eu folheei e fechei as pastas
rapidamente, eram alguns dos arquivos
secretos que não tinha acesso e que
havia dito mais cedo para ele. Eu o
olhei boquiaberto.
— O que significa isso?
— Conheço você como se fosse
um filho, sei o que se passa na sua
cabeça. — Ele se debruçou sobre a
mesa e falou baixo. — Não posso deixar
que se afunde por minha culpa. Espero
seus relatórios sobre o homicídio da
Coraline e assim que conseguir provas
de que ele está ligado com o caso do
Assassino do Beco, vou ligar para o
superintendente regional e falar que o
caso será reaberto e que você tomará
frente dele.
— Mas, e você?
— Eu já estou velho, Joey. Se
tem alguém que ainda tem muita chance
de crescer, essa pessoa é você.
— Agora, meu amigo, sou eu que
não quero que você fique em má
situação por minha causa.
— Mas você não pode fazer o
que sei que está pensando em fazer. —
Ele dentre todas as pessoas não podia
ter nenhuma ligação com aquela minha
investigação e até para falar sobre o
assunto, tinha que ser daquele jeito
estranho.
— Você não consegue me
impedir de fazer as coisas que quero,
sabe bem disso.
— Você tem certeza? Não vai ser
fácil.
— Tenho aliados — disse sem
mencionar nomes por medo de ferrar
com eles. — E se puder me deixar
utilizar esses arquivos. — Apontei paras
pastas. — Seriam de grande ajuda.
— Essas são cópias, ninguém
vai reparar já que o caso do assassino
está em processo de andamento lento,
você sabe que o coronel acha que ele
parou de assassinar já que está inativo
há tanto tempo, inclusive acredita até
que tenha morrido. Só você parece estar
atento a esses homicídios.
— Mas eles não vão demorar até
perceber. Não é normal garotas serem
mortas e terem seus lábios costurados
com frequência.
— Eu darei um jeito do caso
ficar aqui, vou abafar e nem a imprensa
vai ter acesso — disse e eu assenti.
— Certo. Eu posso fazer uma
pergunta? — Ele me olhou e assentiu. —
Posso saber o motivo pelo qual está
sendo investigado?
— Eu não sei se posso contar
ainda, Joseph. — Ele olhou para o chão
e depois voltou a me olhar. — Só posso
adiantar que é algo muito sério, mais do
que qualquer coisa que você já viu na
vida.
— Devo me preparar
psicologicamente? — perguntei ficando
realmente assustado com aquilo.
— Não há preparação suficiente
para o que pode acontecer caso isso
exploda. — Ele olhou em volta. — Eu
agradeço por ficar do meu lado nesse
momento.
Estendi a mão para ele e então
demos um abraço rápido.
— Amigos são para isso.
Assim que ele saiu da sala,
mandei uma mensagem para Giorgiana.

“Depois de amanhã na minha


casa às 20:00”

Ela respondeu prontamente.

“Estarei lá. Aliás, como


conseguiu meu número novo? Não me
lembro de ter te passado.”

Ela estava mesmo me


perguntando aquilo? Eu consigo o
número de qualquer pessoa, ela
esqueceu que sou um detetive? Eu, hein.

“Sou um detetive, lembra?”

“Claro, você sempre consegue o


que quer e quando quer. Vou tomar
cuidado com isso ;)”
Eu não sabia se aquilo ia
terminar bem, mas sentia que minha vida
iria mudar depois daquela investigação.
Nunca mais seria o mesmo Joey, sabia
que passaria por situações pesadas e
precisaria de muito controle para
aguentar aquilo tudo. Meu celular vibrou
e eu olhei a nova mensagem de
Giorgiana.

“Quer tomar um café comigo?”


Respondi rapidamente assim que
li a palavra "café".
“Na cafeteria da esquina? Só se
for agora.”

Algo me dizia que se contasse


aquilo para Ally, ela arrancaria meus
olhos e outras partes importantes do meu
corpo, mas era só um café inocente,
nada com o que se preocupar.
Capítulo 12
Alice
Estava em casa esperando Joey,
que prometeu ir me ver assim que
chegasse do trabalho, a gente ia assistir
a um filme juntos como sempre fizemos.
Nosso relacionamento estava meio que
em segundo plano ultimamente com toda
a história da investigação do serial
killer, mas não o culpava e sabia que
estava super atarefado, tanto que nossa
viagem marcada para o mês passado foi
remarcada para esse mês e até agora não
tenho certeza se realmente vamos.
Joey estava namorando comigo
há praticamente um mês e meio, era
aquilo que tinha pedido, não era? Para
mim era suficiente saber que no fim do
dia, ele era meu, mesmo que fosse só
para ficarmos um do lado do outro,
abraçados, em silêncio. Já eram quase
nove da noite quando ele chegou, sua
expressão era cansada, aliás, aquela era
sua expressão praticamente o tempo
todo.
— Caramba, parece que você foi
atropelado por um caminhão e depois
reciclado — falei assim que ele entrou
na sala.
— Pareço tão terrível assim? —
perguntou ao sentar ao meu lado.
— Ei, Joey! Veio para o jantar?
Acho que a comida já deve estar pronta.
— Meu pai apareceu na sala. Nós ainda
ficávamos meio alarmados quando ele
aparecia do nada, mas já estávamos
ficando mestres em disfarçar.
— Exatamente! Hoje não quero
ter que comer porcarias, então resolvi
vir comer uma comida decente. — Ele
me olhou e piscou cúmplice. Meu pai
estava concentrado na televisão e não
percebeu quando dei um riso nervoso.
— Pai, se não se importa, quero
ver um filme aqui na sala. — Eu sorri
fingindo de inocente e meu pai me olhou.
— Até o Joey quer ver o filme, é de
terror.
Falei que o filme era de terror
porquê da última vez tinha dito que era
de ação e papai ficou na sala assistindo
conosco, sentou ao lado de Joey, ou
seja, atrapalhou tudo. Então como sabia
que ele não gostava de filmes de terror,
avisei antes que ele se interessasse e
ficasse ali na sala.
— Mas eu queria assistir ao jogo
de basquete. — Ele sacudiu a cabeça e
suspirou derrotado. — Tudo bem. Você
venceu! Vou só comer aqui e depois vou
para o meu quarto.
Nem para comer meu pai
demorou e enquanto isso Joey ficou
perguntando sobre a escola, falando
sobre a feira das profissões que teria no
dia seguinte, que ele me levaria para
escola e ficaria por lá para participar da
feira.
Assim que meu pai terminou, ele
levantou e levou o prato até a cozinha,
antes de ir para o seu quarto, virou para
mim.
— Lave as louças quando
terminar de comer e assistir ao filme,
porque sua mãe foi para o pub. — O pub
da minha mãe estava ficando super
reconhecido porque ela recebia bandas
todas as sextas e desde então ela
passava bastante tempo por lá. Como
era uma sexta-feira, ela teria de ficar até
mais tarde.
Aquela situação era perfeita para
aproveitar com Joey sem interrupções,
até porque depois que meu pai dormia
só um terremoto para o acordar. Joey só
esperou meu pai entrar no quarto para
beijar meu pescoço, deixando-me
arrepiada, é claro. Não sabia me
controlar perto dele.
— Eu vou colocar o filme, ou a
gente come alguma coisa antes? — eu
falei sentindo a mão dele deslizando em
minha coxa lentamente enquanto seus
lábios brincavam em minha orelha.
— Estou com fome — disse
subindo a mão até a beira da minha saia.
Tinha colocado uma saia super curta
exatamente para provocá-lo. — Mas não
acho que seja de comida.
Eu virei meu rosto e então ele
me puxou lentamente, até que nossos
lábios se encontraram, colocou a mão
em meu pescoço e enfiou seus dedos em
meus cabelos antes de sugar meu lábio
inferior.
— Mas você deve estar com
fome, a gente mata a minha depois —
disse, levantando-se e então foi andando
até a cozinha, deixando-me totalmente
tonta. Segui na mesma direção, assim
que entrei na cozinha, Joey estava
encostado na mesa, com um sorriso
malicioso em seu rosto.
Não disse nada, apenas me
aproximei e pulei em seu colo,
colocando minhas pernas ao redor de
sua cintura, ele me colocou sobre a pia
de granito e começou a beijar meu
pescoço, com as mãos em sua cintura e
brinquei com a barra de sua cueca.
Ele deu um beijo rápido em
meus lábios e depois uma leve
mordidinha, seus olhos olhavam os meus
de maneira tão profunda que me senti
desnuda. Ele afagou minhas costas de
cima a baixo enquanto acariciava meus
lábios com sua língua.
— A gente está correndo muito
risco de ser pego, sabia? — disse com a
voz entrecortada quando senti sua mão
deslizando em minhas coxas.
— Eu sei — respondeu com sua
voz rouca e puxou meu lábio inferior de
maneira sedutora. — É por isso que a
gente tem que ser bem silencioso agora.
— E rápidos. — Ele assentiu
antes de deslizar sua mão por dentro da
minha saia e puxar a calcinha, até tirá-la
por completo.
Ele não demorou muito até tocar
bem no meio das pernas, mordi meu
lábio inferior reprimindo um gemido,
ele olhava como se quisesse me devorar
e eu torcia para que ele fizesse isso.
Puxei os cabelos dele quando senti seu
dedo brincando na entrada da minha
vagina.
Eu levei minhas mãos até a barra
da sua calça e enquanto nós nos
beijávamos eu desabotoava a calça e
abria o zíper, nosso tempo era corrido.
Não tínhamos tempo para perder.
Eu encontrei seu pênis e comecei
a acariciá-lo, Joey entreabriu os lábios
quando alternei os movimentos de
masturbação nele e quase que
automaticamente fez o mesmo em mim.
Era torturante, deliciosamente
torturante.
Eu soltei um gemido quando
senti seu dedo escorregando para dentro
de mim e me segurei para não emitir
outro quando ele começou a remexer seu
dedo lá dentro. Seu rosto estava
próximo do meu e ele aproximou a boca
do meu ouvido.
— Porra, Ally! Eu falei que não
era para fazer barulho. — sussurrou e
então sacudiu a cabeça. — Sou obrigado
a te castigar por isso! — Ele colocou
mais um dedo sem aviso prévio e com o
polegar acariciava meu clitóris. — Você
está tão molhada...sabe que adoro sentir
isso, né?
Eu soltei seu pênis e agarrei
fortemente a beira da pia, ele grudou sua
boca na minha justamente quando soltei
um gemido alto, abafando-o e salvando
nossa pele. Afastando-se um pouco e
tirou o celular do bolso e colocou sobre
a pia, depois a carteira, procurando um
preservativo. Assim que achou ,
entregou-me o pequeno pacote e colocou
sua carteira ao lado do celular. Voltou a
se aproximar e me beijou vorazmente.
Eu abri o pacotinho e deslizei o
preservativo lentamente sobre seu
membro ereto, ele segurava meus
cabelos firmemente próximo à raiz e
tenho que confessar que adorava aquele
jeito de Joey. Meio rude, quase
selvagem, mas ao mesmo tempo
carinhoso comigo. Ele empurrou minha
saia para cima arranhando um pouco
minhas coxas e então separou as minhas
pernas, encaixando-se entre elas.
— Nunca pensei que ser fodida
por você na pia da minha cozinha fosse
ser tão excitante — disse, deslizando
minhas mãos por dentro da camisa dele
e fazendo com que ele se aproximasse
mais e espalma-se as mãos em minha
bunda, erguendo-me um pouco.
— E ainda correndo risco de
sermos pegos — disse antes de colar
sua boca na minha e me invadir
completamente. Provavelmente Joey
sabia que eu iria gemer alto, por isso me
beijou antes de penetrar. Movi minhas
pernas colocando-as mais alto, tombei
um pouco para trás, facilitando a
penetração.
Joey aproveitou para abaixar as
alças da minha blusa e do sutiã, com
talvez um pouco de violência, mas
aquilo me deixava com mais desejo
ainda, meus seios estavam totalmente à
mostra e então ele tomou um com sua
boca e aumentou o ritmo de suas
investidas em mim.
Eu me agarrava fortemente em
seus ombros, minhas unhas apertavam
tanto sua pele que pressentia que talvez
o estivesse ferindo, porém, Joey não
reclamou, aliás, parecia muito satisfeito
com o que fazíamos. Eu segurei um
gemido mordendo meu lábio inferior
quando ele prendeu meu mamilo entre
seus dentes vagarosamente. Era
engraçado pensar como eu achava que
sabia o que era sexo, porque com Joey
estava vendo como era diferente com
quem entendia do assunto.
Ele continuou penetrando-me,
aumentando o ritmo cada vez mais e os
únicos sons que se ouviam na cozinha
eram nossas respirações ofegantes e
alguns gemidos que escapavam. Joey me
segurava pelos cabelos e eu me agarrava
firmemente em seus ombros, nossas
testas estavam coladas, então ele tocou
meu clitóris e massageou rapidamente, o
homem sabia que aquele era meu ponto
fraco. Não demorou até que tombasse
meu corpo para trás violentamente com
o orgasmo que tomou conta de mim,
beijou-me sabendo que não conseguiria
conter meu gemido alto e penetrou mais
algumas vezes antes de arfar e apertar
minha cintura com força.
Encostei minha cabeça em seu
peitoral e senti quando Joey descansou o
queixo sobre minha cabeça, ambos
ofegantes e satisfeitos. Alguns segundos
depois eu comecei a rir e ele começou
logo em seguida.
— Puta que pariu. — Exclamei
baixinho. — A gente fez isso mesmo?
— Fizemos. — Assentiu rindo e
levantou minha cabeça beijando meus
lábios. — Eu faria de novo. — Deu um
selinho em meus lábios. — E de novo.
— Outro selinho.
Depois de alguns minutos,
tínhamos nos limpado e estávamos
comportados (ou nem tanto assim) na
cozinha, comendo a torta de frango que
já tinha esfriado, mas que sinceramente,
nem importava para gente.
— Então, preciso contar uma
coisa — Joey começou a falar assim que
terminou de mastigar.
— Sobre o quê? — perguntei
curiosa como sempre. — Sobre o serial
killer? Teve algum avanço?
— Não. — Sua feição ficou
meio triste e quis retirar o que tinha dito.
— Nem eu, nem James ou Gio
conseguimos muito avanço. Já sabemos
o Modus Operandi dele, porém as
pistas são todas desconexas e ainda
estamos trabalhando nisso. Essa pessoa
é muito inteligente, não estamos lidando
com um amador, ele entende o que faz
muito bem.
— Não se sinta mal por
isso, Joey. — Eu acariciei seu braço. —
Você sabe que as coisas vão dar certo.
Você é um ótimo detetive e tem pessoas
supercompetentes ao seu lado, até meu
pai tem apoiado.
— É, eu sei. — Suspirou ainda
com a feição que me desanimava.
Odiava vê-lo daquele jeito.
— Mas sobre o que queria falar
comigo? — perguntei curiosa.
— Preciso que tome muito
cuidado, Ally. — falou sério. — Antes
de falar qualquer coisa, preciso que
escute isso atentamente. — Assenti e ele
prosseguiu. — Seu pai não quer que
você namore um policial, ele já falou
isso várias vezes perto de mim e não é
implicância, é porque todo mundo que
faz parte da vida de um policial corre
tanto risco quanto os policiais.
— Eu sei disso, mas se for
assim, já corro riscos, ou se esqueceu
que meu pai também me passa esse
risco? E se para ficar com você eu tenha
que correr esse perigo todo, não me
importo. — Coloquei minhas mãos no
rosto dele e Joey as segurou,
acariciando-as.
— Eu só me preocupo com você,
mais do que qualquer outra coisa. —
Dei um beijo em seus lábios, assim que
me afastei ele começou a falar
novamente. — E eu queria falar sobre a
Giorgiana.
— O que tem ela? — Eu voltei a
comer porque pressentia que aquela
conversa não terminaria bem. — Eu
tenho achado ela meio estranha
ultimamente.
— Estranha? Como assim? Vai
ter que explicar melhor. — Já sabia para
onde aquela conversa iria, mas queria
ouvir tudo de sua boca.
— Ela me chamou para tomar um
café há mais ou menos um mês, sabe?
Assim que ela voltou e tudo mais.
Depois disso começamos a fazer isso
todos os dias. — Eu não queria me
irritar, queria ouvir tudo e então falar,
mas já sentia minha língua coçar para
reclamar. — Mas há mais ou menos uma
semana, achei que era melhor parar.
— Ótimo, porque quando falo
que vou na casa do Ed, que inclusive
não vejo fora da escola faz um bom
tempo, você quase tem um ataque.
— Eu sei, sou um idiota. —
Abaixou a cabeça sentindo-se culpado.
— E você está me contando isso
por qual razão? — perguntei com medo
de ouvir que ele tinha me traído.
— Ontem à noite, depois que a
gente se reuniu com o James no meu
apartamento, ela bebeu um pouco
comigo e veio com um papo estranho de
que sente saudades de mim, ou melhor,
de nós dois.
— Vagabunda! — Explodi. —
Se ela continuar se oferecendo para
você, vou arrancar todos os dentes
daquela boca horrorosa e aí ela vai ver
o que é sentir falta de alguma coisa.
— Ei, ei. — Joey tentou me
acalmar. — Eu não terminei de falar.
— Hum. Me desculpa, mas é que
tem tanta piranha nesse mundo que,
sinceramente, deve faltar rio, tenho que
tomar conta do que é meu. — Ele riu e
cruzei os braços ainda irritada.
— Eu disse para ela que as
chances de algum dia revivermos aquilo
que tivemos, era nula. Quando ela me
perguntou o motivo...
— Oi? Ela te perguntou o
motivo? — Estava indignada com
Giorgiana. A mulher estava
completamente fora dos eixos e queria
dar umas boas porradas em sua cara
naquele momento. — Eu sou motivo
mais do que suficiente! Vou encontrar
com essa mulher e falar umas boas
verdades na cara dela.
— Posso terminar de falar?
— Claro! Quero saber o que
respondeu a ela.
— Eu disse que o motivo era que
ela não tem mania de sorrir enquanto
dorme, não morde o lábio quando fica
confusa ou envergonhada, não me faz
sorrir quando lembro dela, não me seduz
encará-la enquanto dorme, não me faz
tremer só com a possibilidade de passar
um tempo com ela, nem me deixa
maravilhado só de saber que sou dela.
Em resumo, ela não é você.
Eu estava com os olhos
marejados e ninguém podia me culpar.
Passei tanto tempo desejando ter uma
declaração daquelas e eu enfim a tinha,
tinha o homem que mais amava e ali eu
soube que ele sentia o mesmo.
— Você disse isso tudo para ela?
— Joey assentiu. — Ela deve ter se
sentido péssima — falei enxugando uma
lágrima que escapou pelo canto do
olho.
— Ela pediu para ouvir isso. —
Ele puxou minha cadeira para perto dele
e eu olhei alarmada para o lado
lembrando que meu pai dormia em um
cômodo relativamente perto da cozinha.
O que era estupidez minha depois do
que tínhamos feito. Joey enxugou outra
lágrima que escapuliu e sorri. — Quer
saber de uma coisa? De amanhã até
domingo sou seu.
— Mas amanhã ainda é sexta,
você tem que trabalhar. Sem contar que
sábado, apesar de você não trabalhar,
tem que se concentrar na investigação do
serial killer.
— Esquece tudo isso. Eu vou
cancelar todos meus compromissos e
faltar ao trabalho. — Ele enrolou uma
mecha dos meus cabelos em seus dedos.
— Amanhã é o dia do trabalho sobre
profissões na sua escola, certo? —
Assenti. — Levo você, participo e
depois irei vou esperar você para gente
almoçar. Também quero tentar agilizar
para tentar viajarmos amanhã.
— Mas você queria ir para
aquele resort, teria que fazer reserva.
— Não se preocupe. Sempre
consigo o que quero. — Sorriu e
acariciou meu rosto.
— Então está combinado. — Eu
dei um beijo rápido em seus lábios. —
Acho melhor lavar as vasilhas. — Foi a
vez de Joey assentir.
— E eu preciso ir embora, tenho
resolver algumas coisas antes de ser só
seu por quase três dias seguidos. — Ele
piscou e levantou, eu o imitei e
aproveitei para levá-lo até a porta. —
Ah, eu esqueci meu celular em cima da
pia.
— Eu tirei de lá para limpar —
disse e ele apenas sorriu para mim. —
Não podia deixar rastros ou qualquer
tipo de fluído por lá! — Tentei não rir
ou ficar vermelha, mas falhei.
— Espera aí, você
envergonhada? Posso tirar uma foto? —
Segurei para não rir alto e dei um tapa
nele, que fingiu ter doído. Tirei o celular
dele do bolso da minha saia e entreguei,
depois fui fechando a porta, mas ele
segurou.
— O que foi? — perguntei
falando baixo com medo de acordar meu
pai.
— Meu beijinho de boa noite. —
Ele fez biquinho e eu deslizei minha mão
em seu pescoço antes de me aproximar
sorridente e depositar um beijo rápido
em seus lábios.

~*~

De que merda serve ser


reconhecido como o melhor no meu
trabalho se tenho que acordar as 4 da
madrugada para trabalhar? Odiava com
todas as minhas forças quando tinha
chamada de emergência. Ainda mais
quando estava planejando a execução de
uma nova garota, eu me perguntava se
era Deus me pedindo para não a matar,
mas sendo bem sincero, aquilo me dava
mais vontade ainda de concluir tudo e
ver a vida dela se esvaindo bem diante
dos meus olhos. Só de pensar na
possibilidade, já dava aquela ansiedade,
aquele desejo que brotava de algum
canto em minha alma que nem sabia qual
era.
Estava em uma doca da praia
Blue Treasure e se contar que nunca vou
à praia não estarei mentindo, o meu
tempo é curto e assim como todos os
outros moradores de Golden Coast, só
vou à praia nos feriados ou quando estou
de férias. Na verdade, sou obrigado a ir
pelos meus primos que aproveitam da
minha boa vontade e passam uma
temporada em minha casa. Naquele
momento não estava ali por diversão,
mas com certeza estava ali por
obrigação do trabalho.
Porque as gangues da cidade
resolviam atacar durante a madrugada?
Só para me acordar, obviamente. Peguei
meu gravador e anotei tudo que podia da
cena do crime, isso até um policial filho
da puta se aproximar e pedir que me
afastasse. Meu celular vibrou no bolso e
eu ignorei o homem fardado na minha
frente.
— Fala. — Atendi o telefone,
era a minha secretária.
— É o seguinte, o caso que você
vai olhar agora é outro.
— Como assim? Eu já estou
nesse assassinato da doca na Blue
Treasure.
— Eu quis dizer depois dessa
matéria, seu burro. — Ela bufou irritada.
— Os editores querem que você
investigue aquele caso estranho da
menina que morreu e teve a boca
costurada, querem saber se tem ligação
com um caso idêntico de dois meses
atrás.
Era sério aquilo? Era a hora
para eu rir? Queriam que eu trabalhasse
com uma matéria sobre as minhas
garotas?
— Você só pode estar brincando.
— Olhei para o corpo do rapaz
estendido no chão. Ele não devia ter
nem 18 anos, provavelmente tinha se
metido em algo ilícito.
— É, eu sei. É um caso
horrendo, mas você vai ter que lidar
com as bonecas de vodu que morreram.
— Eu achei um absurdo Caroline
comparar minha obra de arte da costura
como um trabalho macabro de vodu.
Além do mais, o caso não era horrendo,
dependia do ponto de vista.
Só queria entender como eu tinha
tanta sorte. Se aquele trabalho caísse nas
mãos de outro repórter investigativo,
estaria fodido naquele momento, mas
como ia cuidar daquilo, iria enrolar ao
máximo. Era muito bem reconhecido na
cidade, então ninguém acharia que era
mentira minha quando dissesse que não
havia nada de novo e trabalhando nisso
sempre distorceria para que ninguém
desconfiasse de mim e dessa forma não
precisaria interromper meu ritual.
— Eiii, está aí ainda? — A voz
da minha secretária me acordou.
— Estou sim. — Pigarreei. —
Topo, apesar de não gostar desse tipo de
trabalho e achar que sinceramente não
sou levado tão a sério assim quanto
parece.
— Só porque faz trabalho de
campo de madrugada? Saiba que você
só escreve as melhores matérias
investigativas, muitos morreriam para
estar no seu lugar. — “Será que eles
também matariam?”, pensei e ergui as
sobrancelhas.
— Certo, não comece com
sermões. Me acordaram tem somente 40
minutos, o dia nem amanheceu e estou
com uma fome da porra. Me liga mais
tarde e a gente combina direito sobre
isso. — Desliguei sem nem ao menos
despedir, ela me xingaria depois por ter
feito aquilo, mas não fizera aquilo à toa.
Ao longe avistei a figura de
Roger Cortez, dono da maioria das
embarcações atracadas nas docas da
Blue Treasure e com certeza poderia
falar sobre o assunto. Aliás, sempre o
achei meio suspeito, não duvido que
tenha mandado matar ou que tivesse
matado o garoto ali no chão. Talvez
exista um mecanismo e, por isso, um
assassino reconhece o outro.
— Não acredito que você tá
aqui novamente. Não tenho nada para
falar. — Nem havia feito minhas
perguntas e ele já estava me cortando,
bem típico dele.
— Boa noite, senhor. — Estendi
minha mãe para ele, que não resistiu e
estendeu a mão de volta para mim.
Educação era algo imprescindível
naquela situação. — Desculpe ter que
incomodá-lo novamente.
— Sei, sei. — Ele era um
babaca. Sorte a dele que eu tivesse
regras tão específicas ou ia calar a boca
daquele velho para sempre.
Minhas regras. Só podiam ser
quebradas caso eu corresse risco de ser
descoberto, ou se minha vida estivesse
em risco. Aquele velho gordo, fedendo a
charuto barato não se encaixava nessas
exceções, infelizmente.
— Eu vim porque um garoto
morreu e pelo que parece foi obra de
uma gangue das grandes. Você sabe de
alguma coisa? — falei e ele passou a
mão pela barba grisalha e sacudiu a
cabeça.
— Não, rapaz. Pessoas morrem
todos os dias e não é por que estou por
perto que estou envolvido ou sei de
algo. — Ele cruzou os braços, um de
seus seguranças se aproximou e
cochichou algo em seu ouvido. Virando-
se para mim, Roger continuou. — Não
sei nada sobre isso. Pergunte para a
polícia, eles saberão mais do que eu.
Saiu andando e seus seguranças
o seguiram. Ele sempre fazia isso,
escapar e eu tinha vontade de ir atrás
dele e esmagar sua cabeça até ver seus
olhos saltando das órbitas. Que visão
perfeita seria.
Meu celular começou a vibrar
novamente, nem olhei para saber quem
era, porque naquele horário só tinha uma
pessoa que me ligaria.
— Você nutre algum desejo
secreto por mim, Caroline. Só assim
para explicar tantas ligações seguidas.
— Eu atendi e já fui falando, sem dar
tempo para que ela começasse a
tagarelar.
— Claro, não vivo sem você —
respondeu de maneira irônica, ela se
irritava facilmente. — Olha, é sério.
Liguei para passar o número do celular
do detetive que tá encarregado dos
assassinatos estranhos que falei.
— Ok, fala aí. — Eu tinha que
me aproximar dele o mais rápido
possível e faria isso assim que acabasse
aquele trabalho ali. Nada melhor do que
acompanhar de perto a investigação de
algo que sabia em detalhes. Seria
engraçado, seria excitante.
— O nome do cara
é Joseph Spencer. — Eu já tinha ouvido
falar desse cara, aliás, ouvi que era um
ótimo detetive. Só esperava que ele não
complicasse minha vida dessa vez.
Caroline passou o número dele, que
notei no bloco onde tinha anotado
algumas coisas para matéria que teria
que escrever nas próximas duas horas
sobre o assassinato daquele garoto. —
Vê se descobre alguma coisa
importante.
— Esse é o meu trabalho,
Caroline. Vai querer me ensinar agora?
— falei sendo meio grosso com ela.
— Babaca. Devia te mandar
tomar naquele lugar, mas sou muito
comportada para isso.
Ela desligou na minha cara dessa
vez e eu ri, se tinha algo que me dava
prazer além de matar e sexo, era vê-la
irritada. Caroline era a única pessoa que
não precisava fazer de bonzinho, o único
com quem eu podia ser grosso, podia ser
estúpido e que mesmo assim continuava
por perto. Ela devia gostar de sofrer.
Voltei para perto de onde o
corpo estava e o policial que havia me
tirado do local tinha saído de lá.
Aproveitei para olhar mais de perto e
então pude ver o corpo com clareza.
Pelo ângulo do corte tive uma
noção de que era um amador, canhoto e
que tinha atacado a vítima por trás, de
surpresa. Ele havia feito uma bagunça
tão grande que não seria difícil da
polícia saber quem era. O principiante
precisava de umas aulas comigo. Se
ficasse perto de mim na semana
seguinte, seria um assassino de verdade.
Ouviria os gritos de agonia, o sangue
secando e aprenderia como se limpa os
rastros cautelosamente.
— Ei, cara — chamei o policial
que antes tinha me pedido para afastar e
ele se aproximou de mim.
— Meu nome é Scott e não
“cara”. O que quer? — Era um daqueles
babacas que achavam que o fato de ser
policial fazia dele um “todo poderoso” e
pelo jeito dele dava para perceber que
não sabia o que era sentir poder de
verdade, que não mandava em porra
nenhuma.
— Se tiver alguma novidade,
pode me dar a informação? — Ele
levantou uma das sobrancelhas de
maneira esnobe. Filho da puta exibido.
— Porque faria isso?
— “Porque arranco sua língua se não
fizer, aliás, adoraria fazer isso com você
vivo. Se não queria falar nada, ficaria
calado para sempre. “, pensei comigo
mesmo.
— Eu pago se for preciso —
disse e ele levantou o canto direito da
boca em um meio sorriso. Aquelas
palavras podiam me levar para cadeia
por suborno, mas conhecia o tipo
daquele Scott, era do tipo que se vendia
fácil.
— Me dá o seu número, depois a
gente conversa. — Sabia que tinha cara
de corrupto, lógico que conseguiria
qualquer coisa se oferecesse dinheiro
para aquele babaca. Escrevi meu
número em um papel e passei para ele
que colocou no bolso. — Se mencionar
que fizemos isso, acabo com você.
Ele acabaria comigo? Se eu
desse uma gargalhada na cara dele, será
que ele me prenderia por desacato à
autoridade? Porém eu não podia fazer
aquilo e simplesmente entrei na dele. Se
tinha uma coisa que fazia bem era fingir,
fazia isso o tempo todo. Era como uma
máscara que usava socialmente.
— Fizemos o quê? — Ele
entendeu minha jogada fingindo que
aquilo nunca tinha acontecido e sorriu.
Saí das docas pensando em
como falaria com o tal Joseph Spencer,
não era fácil conversar com o cara que
estava atrás de você. Também não era
impossível, pelo menos não para mim.
Capítulo 13
Os dias foram passando e
quando me dei conta, já estava na hora
de executar mais uma das minhas lindas
e doces garotas.
A minha escolhida da vez se
chamava Aileen, ela não me lembrava
muito a Rachel, porém seus olhos eram
tão profundos como os dela. A minha
mania de fazer tudo perfeito às vezes me
irritava, pois o desejo de matar era
visceral, profundo e me causticava por
dentro.
Eu havia escolhido no mês
anterior, sempre escolhia com certa
antecedência porque precisava de um
tempo para estudar minha vítima, eu a
seguia, descobria os segredos de suas
vidas, seus hábitos, e por fim, eu sabia
tudo sobre ela. Não crio laços com as
vítimas, longe disso, nem sei como é de
fato criar laços com alguém, só gosto de
ter controle.
Guardava tudo em pastas, tudo
muito bem organizado e arquivado,
separado em anos, depois meses. Essas
pastas estavam guardadas em um cofre
no local onde levava minhas meninas,
um sótão que fica em cima do meu
apartamento. Era nesse mesmo cofre que
mantinha lembranças das garotas.
Ninguém entrava nesse sótão, as pessoas
que conviviam comigo, nem mesmo
sabiam da existência dele.
Assim que cheguei em casa da
longa jornada de trabalho, resolvi
descansar, porém meus olhos não se
fechavam, as pálpebras estavam
cerradas, mas minha mente trabalhava
como se elas estivessem abertas.
Eu precisava matá-la e o dia de
fazer isso havia chegado.
Sentei em minha cama, esfreguei
os olhos que ardiam e olhei em volta.
Que horas seriam? Talvez meio-dia. Não
olhei o relógio, fui até a cozinha e vi um
bilhete da minha empregada dizendo que
tinha saído para comparar alguma coisa
para o almoço. Eu não tinha apetite, na
verdade, até tinha, mas minha fome era
outra e essa era muito maior,
praticamente me consumia.
Peguei meu celular e vi duas
chamadas perdidas de Caroline, retornei
a ligação.
— Fala, Caroline.
— Me desculpa ter te ligado, sei
que estava descansando depois da
madrugada de ontem.
— Não tem problema, na
verdade, nem consegui dormir. Mas me
fale, o que aconteceu?
— Consegui o contato de um
cara que disse ter visto o assassinato de
ontem, mas parece que ele não quer
falar. Já sabe o que fazer, não é?
— Claro. Ele não quer falar
porque não me conheceu ainda. — Eu
não era presunçoso, só sabia como
atingir as pessoas. Eu sempre conseguia,
já era natural. Passei meus dedos pela
barba começando a despontar e senti os
pelos arranhando.
— Exato. É melhor vir aqui
conversar com o seu amado editor-chefe
do “The Golden Coast News”.
— Ele quer me ver? Me
submeter a outra de suas questões
estúpidas? — Perguntas do estilo
“Como você consegue convencer essas
pessoas a responderem suas perguntas?
Aliás, como consegue que eles te deem
entrevista?” A gente nasce com um dom,
a gente não o cria, no máximo o
aperfeiçoamos.
— Provavelmente.
— Que idiota. — Eu peguei um
copo de água e levei a boca, porém não
bebi. Precisava de algo mais forte e não
ligava que tivesse acabado de levantar.
Um bom whisky resolveria meu
problema. — Escute, você me passou o
número do tal Joseph Spencer, você não
tem o endereço? Sabe que sou melhor
pessoalmente.
— Eu não consegui, parece que
existe um sigilo de segurança sobre ele
porque ele recebe muitas ameaças.
— Certo. Eu vou descobrir.
— É segredo nacional, está sob
a guarda da polícia.
— Eu vou descobrir, só escute
isso e não discuta comigo, Caroline. Vou
desligar, qualquer coisa, me ligue.
Desliguei e fiquei elaborando
uma desculpa para não ir ver o Leonel
Borges, o editor-chefe do jornal onde
trabalhava, eu sempre era simpático e
educado com ele, a vantagem da minha
máscara era ser perfeita, não havia
rachaduras, se eu disser para ele que
estou doente, Leonel não duvidaria da
minha palavra nem mesmo por um
segundo.
Sentei no sofá e redigi um e-mail
para ele, explicando que ficaria em casa
naquele dia e que precisava trabalhar
numa reportagem de escândalo político.
Precisava de tempo, devia de ser
minucioso ao pegar minha vítima. Então,
eu teria um final de semana de grandes
diversões.
Joseph
Eu acordei cedo naquela sexta-
feira e avisei ao Hastings que não iria
trabalhar, pois tinha um assunto urgente
para resolver, alguns dias antes ele me
daria uma bronca, em nossa atual
situação, ele parecia estar mais
maleável, mais fácil de lidar.
Meu assunto urgente era Alice, e
ela merecia toda urgência do mundo, nas
últimas semanas estava sendo um idiota,
ficava dando migalhas do meu tempo
para ela e sabia que aquilo não era
correto, até porque sentia falta de
estarmos juntos. A verdade era que
aquela investigação paralela ao meu
trabalho, estava acabando comigo.
Mandei uma mensagem para
Alice no celular avisando que a
esperava na garagem do prédio e em
cinco minutos ela apareceu sorridente
como sempre.
— Bom dia, meu amor! — disse
animada, eu não sabia de onde saía tanta
agitação.
— Bom dia, pequena! — Puxei-
a, beijando seus lábios ao mesmo tempo
que ela me entregava uma mala que
parecia ser para uma viagem de meses e
não apenas um final de semana. Quando
nos afastamos Alice começou a rir e eu
ri entrando na dela, sem entender.
— O que houve? — perguntei
curioso franzindo as sobrancelhas.
— Tem muito batom nos seus
lábios. — Ela passou o dedo polegar
levemente sobre meus lábios. —
Pronto.
— Tem certeza que limpou? Não
quero que desconfiem que a gente tava
se pegando aqui na garagem.
— Tenho sim, está tudo
limpinho. Vamos logo antes que eu te
beije novamente e a gente realmente
fique de pegação e então te suje mais
ainda. — Ela deu um beijo em meu rosto
e eu sorri como um idiota.
Coloquei uma música e ela
cantava a letra animada enquanto a luz
do sol tocava sua pele, dando um
contraste, deixando-a mais encantadora
do que nunca.
— Espero que não fique dando
ideia paras meninas da minha escola,
elas são ridículas e provavelmente vão
ficar se jogando para cima de você —
Alice falou despreocupada, mas pude
notar um pouco de ciúmes em seu tom e
por isso resolvi brincar com ela.
— Nem se ela for bem gata? —
Ela me deu um tapa na coxa e eu ri. —
Foi só brincadeira, meu amor.
— Olha, não fala uma coisa
dessas nem de brincadeira. — Ela
encostou no banco e ficou de cara
fechada até que chegamos na porta da
escola dela. Ela abriu a porta e eu saí do
carro indo logo atrás dela. A segurei
pela cintura e a abracei por trás, ela
sorriu.
— Vai ficar mesmo de cara
amarrada por isso? — perguntei e ela
virou de frente para mim negando com a
cabeça.
— Não consigo ficar de cara
amarrada quando você tá comigo, é
quase impossível — disse e me abraçou,
ficando na ponta dos pés.
— Tem uma senhora parada no
portão olhando fixamente para nós —
disse e ela se virou olhando curiosa.
— É a diretora. — Ela virou
para mim e fez uma careta. — Ela é
insuportável. Vamos logo antes que ela
ache ruim, ou algo do tipo.
Ela pegou minha mão e me
puxou, indo em direção à entrada,
coloquei meus óculos de sol e fui
andando, sendo guiado por ela. Era
engraçado, mas não estava nem um
pouco preocupado em ser visto por ali
com Alice, mesmo que pudessem
comentar com os pais dela, estava
animado com a possibilidade de poder
assumir em algum lugar que aquela
garota era minha.
Assim que chegamos na entrada,
a diretora da escola me olhou da cabeça
aos pés, e eu fiquei até meio sem-graça,
confesso. Alice como sempre já foi
falando e me apresentando para mulher
que aparentava ter uns trinta e poucos
anos.
— Bom dia, Senhora Hopkins.
Esse é o Joey, eu o escolhi para se
apresentar na feira das profissões.
— Bom dia, sou Angelina
Hopkins. — Ela sorriu simpática.
— Bom dia! — Estendi minha
mão e ela a segurou de maneira firme.
— Tenente Spencer, a seu dispor.
— Ah, você é policial. — Seus
olhos brilharam para mim, isso porque
agora não ando mais fardado e uso
apenas um colete para identificarem que
sou da polícia, antes era pior. Parece
que quando um homem coloca uma
farda, transforma-se automaticamente
num objeto de desejo feminino, ou como
naquele caso só era preciso falar minha
posição e pronto, lá estava o feitiço
estranho criado por uma profissão.
— É, ele é um policial. — Alice
revirou os olhos e mordi o lábio
inferior, segurando para não rir. Ela se
virou para mim. — Vamos, Joey?
Eu só tive tempo de acenar com
a cabeça antes que Alice me puxasse
para dentro da escola, parecia mais
irritada do que antes, eu já não segurava
meu riso, que havia se transformado em
gargalhada. Ela parou em um corredor
que milagrosamente estava vazio e
disparou a falar.
— Me arrependi de ter trazido
você!
— Por qual motivo? Posso
saber?
— Meu Deus, nós nem entramos
na escola e você já começou a ser
assediado, não vou aguentar de ciúmes
desse tanto de meninas babando em
você.
— Isso porque não vim de farda,
hein? — Eu ainda ria enquanto ela
sacudia a cabeça.
— Você adora me fazer ficar
com ciúmes. — Ela reclamou e eu a
puxei e a beijei carinhosamente, passei
minhas mãos por seu rosto e quando
separamos nossos lábios ficamos
olhando um dentro dos olhos do outro.
— Sou seu, sua ciumenta. — Ela
sorriu entregando os pontos e ficando
mais calma. — E então, em qual lugar
terei que ficar e ser bombardeado de
perguntas?
Alice
Eu não sou tão ciumenta, juro,
mas, sinceramente, estava começando a
me arrepender de ter levado Joey e não
outra pessoa para aquela apresentação.
Não estava conseguindo entender qual
era daquelas mulheres da minha escola,
todas pareciam comportadas, até verem
um homem bonito e gostoso. Até a
diretora Hopkins estava se jogando para
cima de Joey. Como aquilo era
possível?
Levei Joey até um salão, que era
onde apresentaríamos a pessoa que
havíamos escolhido, além de Joey havia
mais umas oito pessoas para se
apresentarem pois, o trabalho foi divido
em grupos, meu grupo era composto por
mim e Lili, já que Ed tinha desistido de
fazer o trabalho e faltou a aula. O que
não era de todo ruim, porque
provavelmente sairia alguma coisa tensa
quando colocássemos Joey e Ed no
mesmo ambiente.
Joey foi um dos últimos a se
apresentar, então se sentou num banco
alto na frente da sala, ele parecia ter se
preparado para aquele dia em particular,
estava todo arrumado, o cabelo
penteado daquele jeito que o deixava
parecendo que tinha sido penteado por
uma mãe que arruma o filho para ele ir
para a aula. Estava tão lindo que doía
até os ossos só de lembrar que eu era a
namorada dele, estava tão apaixonada
que chegava a ser meio patético.
Ele se apresentou, falou seu
nome, idade e depois falou mais ou
menos como era o dia-a-dia em seu
trabalho, pude ver que as meninas da
sala, assim como eu, suspiravam por
ele. Lili que tinha chegado atrasada —
aquilo estava acontecendo com bastante
frequência desde que Ash chegou à
cidade — sentou ao meu lado e parecia
sonolenta.
— Você sempre soube que
queria ser policial? — uma menina
perguntou e Joey assentiu.
— Sim, eu cresci vendo meu pai
e o policial que era parceiro dele
trabalhando juntos e sempre o admirei,
achava o máximo quando ele me contava
alguns de seus trabalhos e assim que
cresci, me inscrevi para trabalhar com a
profissão que me encantava.
— Seu pai deve ficar super
orgulhoso de você. — A professora que
havia idealizado aquele trabalho falou e
foi como uma névoa encobrisse o olhar
de Joey.
— Ele deve estar sim, apesar de
ter morrido há alguns anos, tenho certeza
de que ficaria muito orgulhoso. Tenho
feito de tudo para que possa fazer o
nosso sobrenome valer.
— Qual foi o caso mais louco
que você teve que solucionar? — um
nerd da minha turma perguntou e Joey
respondeu animado a essa e outras
várias perguntas que vieram depois.
Fiquei apenas preocupada com o olhar
triste enquanto falava de seu pai e era
visível que depois daquela pergunta, ele
mudou o semblante um pouco e parecia
menos animado do que quando havia
começado a responder as perguntas.
— E você tem namorada? —
acordei dos meus pensamentos quando
ouvi aquela pergunta fora do normal.
Aquilo ali era para falar sobre
profissões e não sobre vida pessoal!
Joey levantou as sobrancelhas e
sorriu timidamente antes de me olhar
rapidamente e responder de maneira
segura que sim, ele tinha uma namorada,
pude ouvir alguns murmúrios de
lamentosos vindos de algumas garotas.
— Ela é bem sortuda. — A
mesma menina que havia feito a pergunta
comentou em alto e bom tom e nem
espantei porque ela era uma das alunas
mais oferecidas da escola.
— Na verdade, eu é que sou
sortudo. Às vezes, preciso trabalhar até
tarde ou até mesmo nos meus dias de
folga e ela me entende, não reclama e
apenas cuida de mim quando apareço na
porta dela todo acabado de tão cansado.
Tenho certeza que outra pessoa não teria
a paciência e o carinho que ela tem
comigo e a única coisa que posso fazer é
retribuir isso fazendo com que ela se
sinta bem, fazendo-a feliz.
— Gente, quem é esse Joey? O
que você fez com ele? — Lili comentou
ao meu lado e eu ri. — Agora eu
entendo porque tanta insistência em
conquistá-lo.
— Está vendo? Eu tinha bons
motivos, até porque além desse lado
fofo, ele tem aquele lado que eu adoro...
— Menos, Ally. — Lili colocou
a mão na frente da minha boca. — Não
estou afim de ouvir você falando do
sexo animal de vocês. Obrigada. — Eu
ri alto e a sala toda olhou para mim
quase querendo me matar por
interromper Joey que respondia outra
pergunta.
— Acho que ele vai sair daqui
famoso. — Eu comentei baixinho e Lili
assentiu.
— E com o número de telefone
de várias garotas — ela respondeu.
— Se for no papel, eu queimo
todos — falei e Lili segurava o riso.
— E se for no celular dele?
— Queimo também. Eu queimo
tudo, até o cabelo das meninas que
passarem os números.
Desta vez Lili gargalhou e a
professora se aproximou de nós duas
com o olhar severo, eu tentava não rir,
mas ver Lili gargalhando me fazia
querer rir também.
— O trabalho de vocês está
impecável, espero não ter que tirar nota
de vocês por se comportarem mal — ela
disse e antes que eu ou Lili pudéssemos
contestar, ela voltou para onde estava
anteriormente.
Nos minutos seguintes ficamos
caladas, até que Joey terminou e foi
aplaudido pela turma, algumas pessoas
estavam aplaudindo de pé, devo
mencionar esta parte. Ele se aproximou
e eu me segurei para não pular nele e
beijá-lo incansavelmente.
— E aí, fui bem? — perguntou e
eu assenti.
— Eu adorei, foi perfeito. Eu
nem sei como te agradecer por isso,
sério.
— Mas eu sei como — disse
antes de me surpreender com um beijo
rápido nos lábios, porém foi o suficiente
para todos os alunos da minha turma
verem, depois eu o abracei fortemente e
ele depositou vários beijos em meu
pescoço.
— Você é louco.
— Eu sei, mas a culpa é toda
sua. — Ele cheirou meu pescoço e então
falou baixo e bem perto do meu ouvido.
— Vamos fugir daqui? Eu estou doido
para te levar para longe de tudo e todos,
para enfim poder ficar sozinho com
você, para aproveitarmos nosso final de
semana.
— Eu vou primeiro ou você vai?
— disse igualmente baixinho.
— Vamos os dois. — Saiu
andando e me puxou junto com ele,
deixando para trás rostos lívidos com a
cena que haviam acabado de presenciar.
Pelo que pude ver, o padeiro que uma
das alunas havia levado estava falando
para parede enquanto eu e Joey
passávamos apressados pela porta.
Saímos correndo pela escola
parecendo dois malucos e quando
chegamos ao portão de saída, Joey agiu
calmamente e disse que tinha ido me
buscar e o porteiro não impediu nossa
passagem. Do lado de fora da escola,
ele me puxou até o carro e abriu a porta
para mim e logo depois deu a volta no
carro, entrando animado.
— Que animação toda é essa? —
Eu perguntei rindo e colocando meus
pés no painel do carro.
— Você me animou tanto, agora
tá perguntando o motivo? Estar com
você é um bom motivo para me animar,
não acha?
— Acho um motivo muito bom
— disse rindo.
— Então pronto, agora... — O
celular dele começou a chamar e ele
pegou o celular no bolso, olhou o visor
e sua expressão ficou confusa. —
Número privado. Odeio esse tipo de
ligação, mas sou obrigado a atender. —
Ele levou o celular ao ouvido. — Oi,
Tenente Spencer falando.
— Quem é? — perguntei
sussurrando e Joey fez sinal para que eu
esperasse.
— Como é? Jornalista? — Ele
parecia não entender muito bem o que a
pessoa falava do outro lado da linha. —
Olha, eu adoraria te encontrar para
conversar, até porque sou a favor da
imprensa, sempre que posso ajudo vocês
e passo informações que não são
sigilosas porque vocês às vezes até nos
ajudam, mas agora não posso porque
vou viajar, só vou estar de volta no
domingo, mas segunda já estarei cheio
de compromissos. Tudo bem se nos
falarmos novamente na terça-feira? —
Ele esperou enquanto a pessoa falava e
só respondia “aham” “sei”, até que
voltou a falar novamente. — Como é seu
nome mesmo?
Ele colocou o aparelho no
suporte para celular no painel do carro e
ativou o viva-voz, então a voz do outro
lado da linha preencheu o carro.
— Dominic Evans, jornalista e
editor no jornal “The Golden Coast
News”. — Eu levei a mão à boca e Joey
me olhou surpreso.
— Minha namorada está
chocada, ao saber que é você. — Joey
falou e eu sorri. — Ela adora seus
livros, ela me fez dar todos para ela no
último Natal.
— Eu estou no viva-voz? — Ele
perguntou e pareceu não gostar muito,
mas acho que foi só impressão porque
no momento seguinte ele continuou a
falar. — Bom, eu posso autografar os
livros dela se pudermos marcar essa
nossa conversa.
— Seria uma honra conversar
com você. — Joey disse ligando e
dando partida no carro.
— Podemos nos falar na terça?
Eu te ligo pela manhã. — Dominic disse
cordialmente.
— Certo. Nós nos falamos na
terça.
— Desculpe pelo incomodo e foi
um prazer. — Dominic disse e logo
depois desligou, eu soltei um gritinho
estridente e Joey riu.
— Ai, meu Deus! Dominic
Evans! Você tem noção? — Dei uns
pulinhos empolgados no banco. — Você
precisa me levar nesse papo que vocês
vão ter! Eu necessito conhecê-lo
pessoalmente.
— Alice, ele quer falar comigo
sobre trabalho, não acho que vai ser
algo que dê para te levar.
— Mas é minha grande chance!
— Olha, eu posso falar com ele
para depois marcamos outro encontro, aí
eu te levo, mas nessa reunião, não sei se
seria bom te levar porque não posso
facilitar muito para ele, e você seria
minha vulnerabilidade, ele poderia usar
o fato de você ser minha namorada e fã
dele, para conseguir arrancar alguma
coisa de mim.
— Eu entendi, mas você promete
que vai fazer com que eu possa vê-lo
pessoalmente? — Eu juntei minhas mãos
como quem fazia uma prece e meu olhar
era provavelmente daquelas crianças
pidonas.
— Prometo, Ally! E você sabe
que sempre cumpro o que prometo,
então se prepare para conhecer seu autor
favorito! — Ele virou em uma rua e eu
percebi que íamos em direção à praia
Blue Treasure, que tinha vários resorts
maravilhosos. — Eu estou ficando é
com ciúmes desse amor todo por esse
Dominic, me arrependendo de ter te
dado aqueles livros.
— Ah, amor! Precisa ficar assim
não. — Ri e soltei meu cinto para
abraçá-lo e dar um beijo em seu rosto.
Ele me olhou alarmado.
— Alice, volte para o seu banco!
Se me pegarem com você sem o cinto
vou receber uma multa das gordas, além
de uma advertência séria.
— Já voltei — falei rindo da
expressão de pânico dele, coloquei meu
cinto e voltei a cantarolar a música que
passava.
— O que tem de demais
naqueles livros afinal de contas? Nunca
tive tempo para ler, você sabe — Joey
perguntou e tentei não parecer muito
empolgada quando respondi, porém, não
consegui conter meu lado fanático.
— Ele é formado em jornalismo,
psicologia e fez uns cursos forenses,
então ele tem uma mente brilhante e nos
livros dá detalhes das reportagens
investigativas que fez, colocou fotos dos
documentos secretos que conseguiu e
falou das aventuras que viveu para
conseguir descobrir vários escândalos
políticos ou rastrear algum autor de
crime. Ele já entrevistou até chefões do
tráfico, acredita? Correndo risco e tudo
mais.
— Grande coisa, faço isso todos
os dias, Ally. — Ele deu de ombros e
percebi que no fundo ele ainda estava
com ciúmes de Dominic.
— E é por isso que te admiro
mais do que ele!
— Acho bom mesmo. — Ele
virou para mim e piscou, mandei um
beijo de volta e então voltei a olhar para
a estrada. — Mas me conta, o que você
falou com seus pais?
— Falei que ia viajar com a Lili
e com a tia dela.
— Você mentiu para os seus pais
de novo?
— Sempre fiz isso, não é
nenhuma novidade. — Dei de ombros e
ele sacudiu a cabeça.
— Não queria admitir, mas estou
fazendo você agir da mesma maneira
que sempre falei para não fazer.
— Você não precisa se
preocupar com isso, Joey. Pare de se
preocupar tanto e se divirta comigo
nesse fim de semana, por favor! Esquece
meus pais, esquece tudo e foca seus
pensamentos na gente.
— Você está certa — disse e
sorriu para mim. — Vou fingir que não
existe problemas e que somos só nós
dois no mundo, somos um casal normal.
— Mas nós somos um casal
normal — disse, fingindo ficar ofendida
com aquela fala de Joey e ele me olhou
com uma feição engraçada. — Um casal
normal, com um pouco de
anormalidade? — eu perguntei e ele riu.
— Somos dois loucos, isso sim.
— Ele colocou os óculos escuros que
estavam pendurados em sua camisa no
rosto. — Mas eu amo essa nossa loucura
sabia?
Mais ou menos quarenta minutos
depois, nós chegamos ao resort mais
perfeito que já tinha visto, era tudo
muito organizado e fomos recebidos
desde a entrada do local, eu estava
super empolgada, mas acho que isso era
meio óbvio.
— Nem acredito que estamos
aqui, enfim sós. — Comentei olhando
em volta e analisando o local. Logo vi a
Golden Bay, a Baía que banhava a
cidade e fiquei admirando a beleza das
águas que se moviam em ondas
preguiçosas.
— Eu também mal posso
acreditar que enfim teremos um tempo
só nosso — disse antes de fazer uma
manobra com o carro e para no
estacionamento do local. — Aliás, acho
que devíamos desligar nossos celulares
e ligarmos só para mandar uma notícia
ou outra avisando que estamos bem. Na
verdade, isso é mais para você do que
para mim, já que a única pessoa que se
importa verdadeiramente em saber onde
vou ou deixo de ir é você. — Ele riu e
me aproximei beijando seus lábios
suavemente.
— Pode deixar, já vou desligar.
Só mandar uma mensagem para minha
mãe.
— Ok — disse e então abriu a
porta do carro. Peguei meu celular e
digitei uma mensagem para minha mãe
avisando que estava bem, também
mandei uma para Lili lembrando-a de
manter a história que viajaríamos juntas.
Então recebi uma mensagem de Hill, que
não falava comigo há semanas e enfim
tinha resolvido aparecer, fiquei super
feliz, porém ao ler a mensagem acabei
me preocupando um pouco.

“Oi, irmãzinha! Tô morrendo de


saudades. Tentei te ligar, mas parece
que a ligação não completa. Não vejo a
hora de chegar em casa e conversar
com você, Ally. Aconteceram tantas
coisas comigo que você nem imagina.
Preciso do carinho de você e dos
nossos pais.”

Oi? Precisa de mim? E do


“carinho dos nossos pais”?
Definitivamente, era para se preocupar,
porque ela estava deixando o orgulho de
lado e admitindo que precisava da
família. Tentei ligar para ela, mas então
Joey deu duas batidinhas no vidro do
carro, fiquei tão focada e preocupada
que até me esqueci de sair do carro.
Abri a janela e dei um selinho nele.
— Vou ligar para Hill
rapidinho.
— Mas e o nosso trato? Já era
para ter desligado isso daí.
— Ela me mandou uma
mensagem falando que tá com saudades
da família, Joey.
— Puta merda! O caso é grave.
Liga para ela enquanto faço o check-in.
— Eu assenti e abri minha bolsa
pegando minha identidade e ele
balançou a cabeça de forma negativa. —
Não vai rolar usar sua identidade, Ally.
— Como assim, Joey? Como vou
entrar então?
— Se a gente usar a sua é que
não entramos mesmo e eu ainda vou
preso por você ser menor de idade.
Além do mais, não tenho sua guarda ou
algo que me faça seu guardião.
— Mas isso não é um motel,
pelo amor de Deus!
— A lei do país é clara, Alice.
Menor de idade não pode fazer check-in
em hotel ou derivados sem um guardião
legal, ou sem a autorização do mesmo.
— Que merda! — Bufei. — E
agora?
— Eu tenho uma identidade falsa
para você.
— O quê?! — Ri e levei a mão a
boca meio nervosa e agitada. Joey
estava saindo da linha, eu estava criando
um monstro.
— Eu consegui arrumar uma
identidade falsa para você. Não é
difícil, sou um policial e tenho uns
contatos. — Repetiu achando que eu não
tinha entendido, o mais incrível que
falou na maior naturalidade.
— Eu entendi, só não estou
acreditando no que estou ouvindo. Eu
criei um monstro, meu Deus! —
Comecei a rir e Joey bufou revirando os
olhos.
— Você acha mesmo que sou um
careta certinho, não é?
— Vai falar que é o contrário?
— Vou sim, o problema é que
não me conheceu quando tinha sua
idade, eu era tão louco, ou até mais do
que seu amigo marginal, você e Lili
juntos.
— Amigo marginal? Ed? — Ele
assentiu.
— Claro, quem mais seria? Tem
outros amigos parecidos com ele?
Porque se tiver estou mais encrencado
do que pensava.
— Eu mereço! — Foi a minha
vez de bufar. — Enfim, não consigo te
imaginar fazendo nada errado.
— Eu tive que mudar, né?
Depois que meu pai morreu, percebi que
tinha que amadurecer e parar de tanta
confusão. Pergunte para o seu pai sobre
isso, ele vai te contar as coisas que já
fiz. — Sorriu antes de apontar para o
celular e voltar a falar. — Então, liga
para Hilary, enquanto isso, levo nossas
malas e faço nosso check-in, meu amor.
— Piscou antes de ir para a entrada da
pousada.
Tentei ligar para Hill mais duas
vezes, mas só dava desligado ou caixa
postal, então resolvi deixar uma
mensagem de volta para ela e digitei em
tempo recorde para terminar logo e ir ao
encontro de Joey que começaria a ficar
impaciente se demorasse mais.

“Oi Hill, o que houve para ficar


tão triste? Eu também tenho muitas
coisas para te contar, você nem vai
acreditar! Eu não estou em casa, estou
viajando com a Lili, pelo menos foi o
que falei para os nossos pais, mas na
verdade estou num resort perfeito com
Joey! Depois te conto tudo! Estou
morrendo de saudades de você e das
suas maluquices e é claro, da minha
sobrinha linda. Mande beijos para
Sophie!”

Apertei enviar já com as pernas


para fora do carro, Joey vinha em minha
direção e abriu os braços quando me
aproximei e me aninhei em seus braços
para um abraço, meu namorado não
perdeu tempo e beijou o topo da minha
cabeça.
— E aí, vamos começar a nos
divertir? — Assenti ao ouvir sua voz e
senti um frio gostoso na barriga de
nervosismo. Simplesmente sabia que
aquele fim de semana seria
inesquecível, mas não imaginava o
quanto.
Capítulo 14
Alice
Assim que vi as águas do oceano
lambendo as areias da praia foi como se
apertasse um botão com a capacidade de
me tranquilizar, segui meu próprio
conselho e relaxei. O hotel era à beira
mar, então assim que saíamos por um
pequeno portão já estávamos
imediatamente nas areias.
— Ai que saudades que estava
da praia — falei rodopiando enquanto
pisava na areia e sentia os pequenos
grãos tocando a pele sensível dos meus
pés.
— Nem faz tanto tempo que você
veio até a praia, Ally.
— Talvez uns três meses, para
mim isso é muito — respondi enquanto
estendia minha toalha na
espreguiçadeira. Joey veio ajudar.
— E também, você nunca veio
comigo, digo, sozinha comigo — disse
abrindo um sorriso sincero.
— Exatamente e isso dá um
toque todo diferente para situação. —
Eu me inclinei um pouco e o beijei
carinhosamente.
— Vai querer se bronzear ou
entrar na água comigo? — perguntou
com um sorriso adorável nos lábios.
— Claro que vou entrar na água
com você! — Joguei minha bolsa na
cadeira, tirei o vestido que usava e saí
correndo, as pessoas por perto me
olhavam como se fosse louca, mas a
maior loucura foi ver aquele homem que
aparentemente parecia ser tão sério
correndo atrás de mim. Eu, é claro,
perdi a corrida e ele me alcançou, seus
braços circundaram minha cintura e
então me carregou para dentro da água e
mergulhamos juntos.
Assim que voltamos à superfície,
Joey me puxou para um abraço forte,
aproveitando para beijar meu pescoço,
enrosquei minhas pernas em sua cintura
e ele foi cada vez mais fundo, se saísse
de seu colo, acabaria afundando.
— Esse lugar é tão lindo! —
Olhamos para o horizonte, era lindo
mesmo, não estava exagerando.
— É mesmo.
— É estranho não acha? — Ele
me olhou confuso. — O oceano é tão
imenso, parece ser infinito.
— Eu também sempre penso
nisso, pois até onde nossos olhos
alcançam já parece distante, mas saber
que vai além do que podemos ver, o
deixa maior ainda.
Joey me deu um beijo caloroso e
retribuí com beijos leves em seu
pescoço, justamente nessa hora veio uma
onda gigantesca e nos cobriu, em
momento nenhum meu namorado
diminuiu a agarre sobre mim, mas logo
que emergimos desatei a rir, enquanto
ele mantinha uma expressão séria e
preocupada.
—Que susto! — falou ainda
abraçado comigo.
— Foi engraçado — respondi,
passando meus braços em volta do seu
pescoço novamente.
Saímos da água abraçados, rindo
da cena do “não-afogamento” e eu mal
saí já senti o vento frio bater em minha
pele, causando arrepios.
— Nossa, está sentindo tanto frio
assim? — Assenti batendo o queixo
quando chegamos onde havíamos
colocado nossas coisas, ele prontamente
pegou minha toalha e me embrulhou
nela, depois deu um beijo em meu rosto.
— Vamos comer? Não
almoçamos ainda e estou morrendo de
fome. — Apenas acenei com cabeça,
sentia frio demais, até para falar. Joey
chamou um garçom e tirou o short
encharcado de água que vestia e ficou só
de sunga antes de sentar. — Se você não
tivesse saído correndo, não teria entrado
com esse short.
— Mas foi divertido, fala sério.
— Ri e mordi o lábio inferior.
— Está bom. Não vou mentir que
no fundo foi divertido. Fazia tempo que
não agia feito um adolescente.
— Agora que você está
namorando uma, terá que se acostumar
com isso.
— Espero causar alguma
mudança em você também.
— Mais? Eu sou super madura,
se é disso que você está falando.
— Ah, claro! Você sendo
madura? Me mostra onde, mocinha —
falou colocando os óculos de sol e
sentou, de maneira relaxada, na
espreguiçadeira ao meu lado. Olhei com
atenção a tatuagem nas costas dele, a
mesma que havia visto pela primeira vez
no banheiro da minha casa e que vi com
frequência depois que começamos a
namorar, mas a verdade era que nunca
havia perguntando o que significava.
— Apesar dessa sua tatuagem
estar nas costas, não tinha visto até
pouco tempo — disse e ele sorriu
assentindo.
— Talvez porque você sempre
me via bem vestido na sua casa, por
respeito ao seu pai que detesta que eu
ande sem camisa, sempre fala que o
correto é andar sempre bem vestido, que
se eu andar por aí assim, serei como um
dos vagabundos que eu prendo.
— Ele é meio exagerado, ás
vezes. — Rimos juntos do jeito formal
do meu pai.
— Mas eu o respeito e muito.
Você sabe bem disso, o único motivo
que me faz desrespeitá-lo se chama
Alice — explicou fazendo uma careta e
bati de leve em seu braço.
— Mas não vamos mudar de
assunto, voltando a falar da tatuagem.
— Hum, pode falar. Quer saber
o que significa? — Acenei concordando.
— Parece escrito em hebraico.
— É a língua persa — disse e
ficou em silêncio, olhando para o mar e
então terminou de falar. — Significa
“Estarei sempre contigo”, foi a última
frase do meu pai para mim. Ele me ligou
antes de ir atrás do serial killer que o
matou, não me lembro o motivo de ter
me dito isso, parecia saber que ia
morrer.
Em silêncio levantei-me da
minha espreguiçadeira e fui até a de
Joey, ao lado da minha e deitei-me junto
a ele que me abraçou e beijou o topo da
minha cabeça antes de dar um suspiro
pesado.
— Nesses momentos em que
lembro do meu pai, me sinto culpado
por estarmos enganado o seu,
principalmente porque sei que Hastings
não aceitará nosso relacionamento de
maneira alguma. Eu me sinto mal por
isso.
— Amar não pode ser
considerado algo mal, Joey. — Ele
respirou fundo antes de me responder.
— É, você tem razão — disse e
então beijou o topo da minha cabeça
novamente. Naquele momento, ficamos
olhando para o oceano diante de nós e
pensando se realmente tínhamos razão
em esconder aquilo.

~*~

Já era noite quando eu e Joey


resolvemos ir embora da praia, nós
tínhamos passado o dia todo sentados
debaixo de um guarda sol, aproveitando
um a presença do outro e o mais legal de
tudo era que estávamos em público, sem
nos importarmos com nada.
— Agora a gente toma um banho
e depois vamos comer no restaurante do
hotel. — Joey falou limpando o excesso
de areia em seus pés.
— Ótimo — disse e ele rodeou
seus braços firmemente em volta da
minha cintura.
— Meu Deus! Você é insaciável!
— respondeu. Eu ri antes de puxá-lo e
encostar seus lábios delicadamente
sobre os meus.
Não cheguei a comentar, mas
nosso quarto era enorme. Tinha uma
banheira gigante, uma varandinha com
vista para praia, simplesmente incrível e
tudo parecia simples, mas ao mesmo
tempo sofisticado.
Joey e eu tomamos um banho
juntos, no chuveiro mesmo, porque
sabíamos que corríamos um grande risco
de entrarmos na banheira, ficarmos
entretidos um com o corpo do outro e
não sair para jantar. Se no chuveiro já
foi difícil, porque quando não era ele me
acariciando, era eu que ficava
provocando, não quero imaginar o que
teríamos feito na banheira.
Por fim, ele me ajudou a
escolher um vestido e eu disse que ele
poderia destruí-lo no fim da noite, o que
pareceu empolgá-lo, então ele escolheu
o azul.
— Certo. Agora você vai
descendo, quero me arrumar e te
encontrar lá embaixo — disse e ele fez
cara de espanto.
— Posso saber o motivo? Parece
até que vai casar e o noivo não pode ver
o vestido. Se essa isso, já era, Ally.
Porque já vi, aliás, eu escolhi o vestido.
— Eu sacudi a cabeça e apontei para
porta.
— Suas piadinhas são tão
engraçadas. — Rolei os olhos ainda
apontando para porta. — Quero ficar
mais bonita, me arrumar e te
surpreender.
— Ok, não vou discutir. — Ele
veio até a mim e me beijou lentamente
antes de piscar para mim e virar indo em
direção à porta. Fiquei admirando o
vestido antes de ir até a mala e pegar as
maquiagens.
Parei na frente do espelho do
banheiro e sorri para minha imagem
bronzeada refletida, estava tão feliz que
mal cabia em mim, esperava que a noite
fosse inesquecível, porque no fundo não
era tão otimista assim.
A verdade era que esperava o
dia em que Joey se desse conta de que
eu era muito nova para ele e que
decidisse que não deveríamos ficar mais
juntos, ou pelo menos havia começado a
pensar nessas coisas nas últimas
semanas, depois de ver como sua vida é
agitada e como ele tem preocupações
adultas para lidar, enquanto eu ainda
estou pensando no que quero ser da
vida, enquanto ainda dou desculpas para
os meus pais me deixarem sair, ou
enquanto ainda penso em qual
universidade vou me inscrever.
Era por isso que aproveitava
cada segundo como se fosse único,
como se não fosse se repetir. Porque
mesmo que se repetissem várias e várias
vezes, eu poderia dizer no fim que havia
vivido intensamente cada milésimo de
segundo ao lado do homem que amava.
Joseph
O restaurante do hotel
funcionava no interior do prédio,
durante o dia, mas a noite eles
colocavam mesas e cadeiras ao redor da
piscina e a iluminação era baixa,
criando um ambiente romântico. Eu
ainda estava rindo de Ally e suas
brincadeiras enquanto caminhava para
chegar a nossa mesa, até que ouvi
alguém me chamar pelo nome.
— Ei, Joey! — Eu olhei e senti
meu corpo todo se retesar ao ver James,
ele estava sentado em um dos bancos
que ficava de frente para o bar do hotel,
era do outro lado da piscina.
Ao mesmo tempo em que olhava
para James vi, pela minha visão
periférica, que Ally entrava na área da
piscina, sorridente. Ela estava com o
vestido azul que havia escolhido para
destruir essa noite. Se eu achava que era
impossível ela ficar mais linda do que já
era, espantei-me ao ver como estava
deslumbrante.
Senti uma comichão estranha, um
sentimento de euforia ao vê-la, porém
logo foi substituído pelo desespero ao
me dar conta de que James também a
veria. Tentei acenar para que visse o
James e parasse caminhar em minha
direção com toda a intensidade que ela
vinha, mas já era tarde.
James seguiu meu olhar e sua
expressão animada por me ver se
transformou em espanto, logo depois em
constatação, principalmente quando Ally
se aproximou e me abraçou distribuindo
beijos pelo meu pescoço. Eu segurei sua
cintura e ainda olhava fixamente para
James que estava nos olhava espantado,
do outro lado da piscina, ele deixou o
copo que estava em sua mão cair.
— Amor, me responde! — Ally
reclamou. — Eu estou falando sozinha.
O que houve? — Ela seguiu meu olhar,
ao ver James, levou a mão à boca. — Ai
meu Deus!
— Aja naturalmente, Ally! Vou
arrumar uma desculpa. — Eu soltei sua
cintura e Alice assentiu se afastando de
mim enquanto James caminhava em
nossa direção.
— Acho melhor eu sair daqui —
Alice falou inquieta e visivelmente
desconfortável.
— Não faz isso, ele vai
perceber. — James chegou mais perto e
eu sorri para ele, Ally se apoiou em uma
das mesas com a mão, se distanciando
um pouco.
— Me diz que não é o que eu
estou imaginando. — James falou em
total negação ao que havia acabado de
constatar.
— Do que você está falando? —
Eu me aproximei e dei dois tapinhas em
seu braço cumprimentando-o. — Porque
não me falou que vinha?
— Te pergunto a mesma coisa
— disse ainda lívido com a situação.
— Ah, Ally quis vir até a praia e
como os pais dela não queriam deixá-la
vir, eu resolvi trazê-la sem que eles
soubessem. — Respondi tentando
parecer natural.
— Oi, Ally. — James olhou para
Ally e a cumprimentou.
— Oi, Jammie — ela respondeu
ao cumprimento acenando com a mão
rapidamente.
— Então, vocês não estão
juntos? — James perguntou e neguei
com a cabeça, pelo canto de olho
percebi que Ally tinha uma feição
entristecida e eu quis poder abraçá-la e
dizer que aquilo era só uma fase, que
passaria um dia. Porém não pude fazer
nada a não ser continuar negando.
— Lógico que não, você pirou
de vez! Que idiota. — Ele mostrou o
dedo do meio para mim.
— Idiota é você, seu babaca. —
James reagiu e Ally começou a rir
fazendo com que James ficasse
vermelho de vergonha. — Me desculpa,
Ally. Esqueci que você está perto, mas
você sabe que ele me tira do sério ás
vezes.
— Eu sei. — Ela ajeitou uma
mecha de cabelo e colocou atrás da
orelha. — Se não se importam, eu vou
me sentar e pedir alguma coisa para
comer. — Ela se virou para mim. —
Você vai comer agora, Joey?
— Vou conversar com o James
rapidinho e depois venho. — Pisquei
para ela, que concordou, sorrindo sem-
graça. Eu e James fomos em silêncio até
chegarmos no bar da piscina, James
passou a mão pelos cabelos negros.
— Você tá fodendo a Alice?
Sério, Joey? — Ele sacudia a cabeça em
negação.
— Ei, eu falei que não tem nada
disso...Eu só trouxe ela para a praia. —
Eu falei e ele aquiesceu rindo.
— Claro, aí você vestiu essa
camisa que você só usa para as noitadas
e resolveu vir nesse restaurante que é
claramente uma área para casais com ela
que está usando um vestido de matar.
Obviamente, que o burro sou eu, vocês
só vieram para praia.
— Certo, você me pegou —
disse admitindo.
— Porra, Joey! Dessa vez você
foi longe demais! Você tem noção do que
vai acontecer com você se o delegado
Hastings descobrir? Vai acabar com
você, meu amigo.
— Eu gosto da Ally de verdade,
James. Não estou brincando com ela,
nem nada do tipo. — Ele estava
prestando atenção enquanto eu falava.
— Não estou só transando e tirando
proveito dela, nem tratando como se
fosse minha ninfetinha. Ela é a pessoa
mais importante do mundo para mim.
— Você faz o que achar melhor,
só finge que eu não sei de nada porque
quando o Hastings souber disso, não
quero ter nada a ver com essa história.
— Ele foi até o balcão e pediu uma
bebida. — E outra coisa, Scott está por
aí, ele veio para encontrar uma mulher e
se ele descobrir pode se preparar
porque ele vai contar para o Hastings na
primeira chance que tiver.
Que merda era aquela? Todo
mundo tinha decidido ir até ali naquele
fim de semana?
— Claro que vai, ele me odeia
— disse e James assentiu.
— Ele sempre foi louco pela
Giorgiana e você se casou com ela, acho
que nunca vai se recuperar dessa dor de
cotovelo.
— Vou dar um jeito de ir embora
— disse e quis me aproximar de James
para saber se ele estava bem ou não com
aquilo, afinal o cara era meu amigo mais
próximo depois do delegado, mas
resolvi me afastar.
— Se não se importa, vou voltar
para Alice. — Ele assentiu bebendo um
gole da cerveja que havia acabado de
chegar.
Eu fui caminhando de volta,
pensando na reação de James e também
pensava que se ele havia reagido
daquele jeito, Hastings reagiria de
maneira mil vezes pior. Quando cheguei
na mesa e me sentei, vi Alice com os
olhos marejados.
— Ei, você está chorando? —
Eu segurei sua mão que estava sobre a
mesa, ela puxou a mão e enxugou os
olhos.
— Eu só fiquei meio assustada
com a presença de James. — Eu segurei
a mão dela novamente.
— Eu contei para ele, Ally.
Acho que deve saber disso.
— Você pirou, Joey? Ele vai
contar para o meu pai.
— Ele é meu amigo, não vai
fazer isso. Ele me disse que se seu pai
descobrir é para fingir que ele não sabe
de nada.
— Então ele não vai contar? —
Eu fiz que não com a cabeça e ela
suspirou aliviada. — Me sinto menos
mal agora. Sabe, eu só conseguia pensar
no seu futuro, no que aconteceria com
você.
— Nada demais, Ally. — Eu
segurei a sua outra mão e beijei ambas.
— Escuta isso, se eu tenho você, o resto
pode ruir em minha volta. A minha única
preocupação é você e como seu pai vai
te tratar se souber que estamos juntos.
— Um preocupado com o outro.
— Ela disse com os olhos irritados por
conta do choro.
— É assim que deve ser um
casal, oras. — Sorri e pisquei para ela
que abriu um sorriso. — Agora tem
outra coisa que precisamos resolver
com urgência.
— O que? — Ela perguntou
curiosa.
— James veio porque tinha que
trazer o irmão dele para encontrar uma
mulher e já vai voltar para casa de
manhã porque trabalha no turno da noite
amanhã, mas quanto ao irmão dele eu já
não sei.
— Aquele ridículo e
insuportável do Scott está aqui? —
perguntou levantando-se rapidamente.
— Ei, que desespero é esse?
— Ele me persegue, vive dando
em cima de mim e se me ver aqui com
você, não vai pensar duas vezes antes de
contar que estamos juntos para cidade
toda.
— Aquele filho da puta fez o
quê? — perguntei ficando de pé também.
— Porque não me contou isso antes,
Ally?
— Joey, agora não é hora para
querer bancar o namorado valente e
espancar o babaca do Scott. Precisamos
resolver isso e nos livrarmos dessa
ameaça que o Scott significa para gente.
— Então, o que devemos fazer?
— Eu perguntei me deixando ser
vencido, porque afinal de contas ela
tinha razão.
— Devemos ir para o quarto e
pedir comida lá mesmo.
— Um jantar só nós dois?
— Isso mesmo, acho que vai ser
mais romântico do que aqui. — Piscou e
eu estendi minha mão para ela.
— Então, vamos logo! — Ela
enlaçou sua mão na minha e seguimos
juntos para dentro do hotel novamente.
Entramos e ficamos analisando cada
canto, com medo de sermos vistos por
Scott.
Quando estávamos no elevador
aproveitamos para nos beijar, aquilo
aliviava a tensão que estava em nossas
mentes, ela passou os braços em volta
do meu pescoço e me beijou
suavemente, sua língua acariciava a
minha lentamente e eu correspondia o
beijo à altura. Ela parou de me beijar
quando o elevador abriu para que
pudéssemos sair, e então a peguei no
colo e fui carregando-a até entrarmos em
nosso quarto.
— Me põe no chão, seu bobo —
disse me dando alguns tapas no ombro e
então a desci. Sentei na beirada da
cama, ligando para o serviço de quarto
para encomendar o jantar. Afrouxei a
gravata e acabei me embolando todo
com ela e Alice gargalhava da minha
falta de habilidade.
— Para de rir e me ajuda —
apontei para gravata. Ela se aproximou e
desfez o nó com facilidade, quando ela
ia se afastando, eu a puxei de volta e
beijei-a calorosamente. — Minha forma
de agradecimento.
Eu pisquei antes de senta-la no
meu colo e voltar a beijá-la.
Ficamos nos beijando na cama e
estávamos prestes a levar todos nossos
beijos para outro nível, eu já estava
louco para transar com ela, mas então
bateram na porta avisando que nossa
comida tinha chegado. Por que quando
preciso que eles demorem, eles fazem
questão de serem rápidos no
atendimento?
Algumas horas depois estávamos
sentados em um sofá grande e
confortável na varanda, pouco tempo
depois Ally já dormia em meus braços e
eu como idiota que sempre fui, fiquei
admirando seu sono. Adorava vê-la
dormir, aquilo nem era segredo para
ninguém. Acabei me embalando pela
cena que rodeava a mim e a garota que
amava, e me deixei levar pelo sono.
Dominic
Eu estava caminhando pelas ruas
ainda adormecidas da Golden Coast,
indo ao encontro da minha garota. Olhei
meu relógio de pulso, que marcava
meia-noite. Ela provavelmente estava
saindo da casa da sua melhor amiga,
todas as sextas ela se encontrava com a
amiga e ficava lá até por volta da meia-
noite.
Escondi-me próximo à casa da
amiga, esperando que ela viesse,
observava a casa de longe e então
quando ela deixou a residência, comecei
a segui-la sem que minha garota me
notasse, fui pelas calçadas, então
quando chegamos perto da rua de sua
casa, ela pareceu notar que estava sendo
seguida. A rua estava deserta e só se
ouvia o barulho de alguns cachorros
latindo ao longe. Era a hora do meu
show.
— Ei, me ajude! — Ela não
olhou para trás, parecia assustada e eu
senti a adrenalina percorrer em minhas
veias. — Eu estou passando mal. Por
favor!
Ela olhou para trás e me joguei
na calçada úmida pelo sereno, ela parou
de andar e levou a mão a boca, aflita e
sem saber o que fazer. Eu me contorci,
fingindo dor e ela começou a dar passos
em minha direção.
— Ai meu Deus! — Ela andava
e parava, ainda meio insegura com
aquela situação toda e eu estava
adorando aquilo, era a minha segunda
parte preferida, porque a melhor parte
era quando eu via a vida deixando seu
corpo, quando as via dando o último
suspiro. Eu me sentia como um deus. —
Você quer que eu ligue para uma
ambulância?
Ela se aproximou mais e se
ajoelhou perto de mim, tentando ter uma
visão melhor. Dentro da minha mão
havia um pano embebido alguns minutos
antes com clorofórmio, era o suficiente
para que ela desmaiasse antes mesmo de
perceber que eu a havia pego.
— Meu celular está caído por aí
— disse e grunhi fingindo que sentia
dor.
— Aqui? — Ela olhou em volta
e se virou de costas para mim
procurando pelo celular que estava em
meu bolso traseiro.
Eu me ergui e fiquei de joelhos,
puxei os cabelos de Aileen e antes que
ela gritasse, a fiz inalar o pano
embebido no clorofórmio, em questão
de segundos ela parou de se debater e
estava desmaiada em meus braços.
Arrastei-a para o beco onde havia
deixado meu carro mais cedo, antes de
ir até a casa da sua amiga e esperá-la.
Abri o porta-malas e a coloquei
lá dentro, amarrei seus pulsos e pernas.
Coloquei uma Silver Tape em sua boca e
fechei o porta-malas, já ansioso pelo
que viria a seguir.
Entrei no carro e saí do beco,
observando se havia alguém por ali.
Não me preocupava se vissem o carro,
ou a mim. Eu usava um boné que
tampava meu rosto, e roupas largas que
me faziam parecer mais gordo, não dava
para acharem que eu era aquele cara. O
carro era descartável, eu comparava no
ferro-velho no começo, porém resolvi
comprar logo um ferro-velho que ficava
perto das docas, lógico que utilizei o
nome de outra pessoa. Eles nunca
descobririam, a não ser que eu
quisesse.
Joseph era esperto, já havia
sacado que eu estava atacando, mas
quando o conhecesse faria de tudo para
despistá-lo e tinha certeza de que
conseguiria. Havia achado uma
coincidência e tanto ter um parente no
mesmo prédio que ele, isso significava
acesso livre pelo prédio todo, sem ter
que dar explicações.
Estava tudo caminhando
perfeitamente bem e eu teria bastante
tempo para brincar de gato e rato, até
que eles me descobrissem, ou talvez
eles nunca soubessem que eu era o
assassino por trás daquelas mortes.

Arrastei o corpo de Aileen pelo


chão do sótão e a coloquei no canto para
então começar a preparação do local. Eu
sempre forrava tudo com um plástico
especial para não deixar vestígios, e
depois levava tudo (os plásticos, panos,
toalhas) para um local onde eram
incinerados lixos hospitalares. Ninguém
notaria, era perfeito.
Retirei tudo e então comecei o
segundo processo. A limpeza do corpo,
cada minucioso cantinho era limpo.
Depois de limpar a maca onde ela
estava e sangrou até morrer, eu a peguei
de volta e a coloquei na maca, limpei
todo o sangue do corpo dela. Inclusive o
corte que havia feito em seu pescoço
para que morresse lentamente, enquanto
me olhava nos olhos e suplicava por sua
vida.
Coloquei-a em uma banheira
instalada ali, justamente para aquela
finalidade. Lavei todo seu corpo,
inclusive seus cabelos que estavam
sujos de sangue, depois a enxuguei e
vesti suas roupas novamente.
Peguei a linha preta e a agulha e
coloquei a linha cuidadosamente no
orifício da agulha. Depois de todo o
processo comecei a costurar seus lábios.
Soltei um suspiro pesado ao
perceber que já havia acabado, eram
quatro da madrugada. Fiquei
entristecido ao me dar conta que
demoraria dois meses para poder fazer
aquilo novamente. Naqueles momentos
me perguntava o motivo de ter que
demorar tanto para matar novamente,
mas lembrava que era necessário muito
cuidado desde a seleção da garota até o
momento de colocá-la em um beco
qualquer da cidade. Se não havia sido
pego, era porque tinha aquele método
detalhista.
Peguei minha câmera de fotos
instantâneas e tirei uma foto de Aileen,
esperei ela secar e fui até meu cofre,
guardando junto com as outras fotos.
Minhas recordações não ficavam em
diários, nem em blogs, mas sim em uma
caixa de metal, trancafiada em um cofre
secreto no meu sótão, no meu
matadouro.
Peguei o corpo da garota, e levei
até a garagem da minha casa, coloquei-a
dentro do meu carro e fui até o ferro-
velho, pegando um outro veículo para
terminar o serviço. Escolhi um preto,
sem placas e sem muitos amassados na
lataria, para não chamar a atenção.
Levei o corpo da minha garota
até uma rua deserta, onde as luzes
estavam apagadas e onde sabia que não
havia ninguém, acredite fiz um mapa dos
becos mais seguros para que nada desse
errado. Segurei seu corpo em meus
braços por alguns instantes e retirei da
lona preta que tinha usado para guardá-
la e então a coloquei no chão, ajeitei a
franja de seus cabelos curtos e entrei no
carro, voltando para minha vida de
fachada.
Aquilo seria uma bomba assim
que o dia amanhecesse e até a tarde
sabia que Joseph voltaria, não
precisaria esperar até terça-feira.
Quando eu queria uma coisa,
sempre conseguia.
Capítulo 15
Alice
Estava deitada na areia tomando
um sol enquanto Joey lia um livro, fiquei
feliz ao vê-lo tão descontraído, tão
natural. Ele virou a cabeça pegando o
meu olhar e eu sorri.
— O que foi? — perguntou,
olhando por sobre o livro.
— Nada. Gosto de observar
você.
— Também gosto de te
observar.
Ele inclinou-se um pouco e
beijou meus lábios. Estávamos mais
tranquilos desde que ele tinha recebido
uma mensagem de James avisando que
ele e Scott estavam indo embora.
Depois da nossa sessão de
amassos na piscina, que poderia ser
classificado como atentado ao pudor na
piscina, voltamos para o quarto e
dormimos, até que percebemos que já
era uma da tarde e que nós tínhamos que
aproveitar cada segundo nos divertindo,
até tentei convencê-lo a nos divertir na
cama mesmo, mas ele disse que a ideia
da viagem era ficarmos em público o
máximo que pudéssemos. Uma ideia
fofa, vamos combinar.
— Vamos tirar uma foto! —
Levantei-me empolgada e ergui minha
mão para ele que fez uma careta. —
Anda, Joey! Vem logo!
— Eu falei para a gente desligar
o celular, lembra? — Ele disse se
erguendo e aproximando de mim para
sair na foto.
— Mas é só para a foto. — Eu e
ele ficamos de costas para o mar e nos
preparamos para foto onde no fundo
aparecia as águas azuis da praia. —
Sorria, Joey! O que vou falar com
nossos filhos quando eles virem nossa
primeira foto?
— Filhos? Você não acha que
está muito nova para pensar nisso?
— E você meio velho. — Eu
rolei os olhos. — De qualquer forma,
não disse nada sobre ser algo para
agora. Eu realmente estou muito nova.
Tirei algumas fotos e até
consegui que Joey fizesse umas
gracinhas e me beijasse em algumas. No
fim, ele me puxou e colou seus lábios
nos meus, dando-me um beijo caloroso e
demorado.
— Todos os anos a gente pode
vir para cá, Ally — disse sorrindo. —
Mesmo que a gente venha e fique dez
minutos. Essa praia é a prova de que
nosso amor prevalece através do tempo,
através de qualquer circunstância.
— Iremos tirar uma foto toda vez
e podemos fazer um álbum. O que acha?
— Acho ótimo. Aliás, tudo fica
ótimo quando estamos juntos.
— Tá aí, concordo plenamente
com você.
Meu celular apitou avisando que
tinha recebido mensagem no celular e
Joey cruzou os braços, sorri sem jeito
para ele.
— Ops! Elas chegaram quando
liguei o celular. Posso ler? — perguntei
com cara de pidona.
— Adianta se eu disser que não?
— Aproximou-se e beijou minha testa.
— Vou ver se peço uma cerveja para
mim. Quer alguma coisa?
— Um suco de morango. —
Concordou e se dirigiu a um garçom que
estava ali perto e me sentei para ler a
mensagem, fiquei surpresa ao ver que
era de James.

“Alice, pede pro Joey me ligar


assim que ler essa mensagem. É
URGENTE!”

— Joey? — Ele já estava


voltando para perto quando o chamei
então ele apenas deu um resmungo em
resposta. — James mandou mensagem
pedindo que ligue para ele e diz que é
urgente.
— Porra. — Ele soltou o
palavrão e passou a mão na nuca, sua
expressão tornou-se preocupada e a
minha beirava o desespero.
— Você acha que ele falou
alguma coisa? — Mordi o lábio
apreensiva sem saber o que fazer.
— Você guardou meu celular na
sua bolsa de praia? — Aquiesci ao
mesmo tempo que procurava o aparelho
na bolsa.
— Certo — falei mesmo
sabendo que aquilo era meio difícil.
Entreguei o celular para Joey que o
ligou, chamando James, entrelaçou
nossas mãos e me lançou um sorriso que
era apaziguador, mas ao mesmo tempo
me atormentava.
— E aí, James? O que é que
aconteceu? — perguntou e assim que
ouviu a resposta abaixou a cabeça. —
Eu não posso acreditar nisso! —
Lágrimas vieram aos meus olhos e eu
estava mais do que assustada, não sabia
como reagir. Sua feição era de derrota,
culpa e medo. — Aquele filho da puta!
Certo, eu vou só ajeitar minhas coisas e
chego aí em uma hora. Ok, James.
Obrigado, tchau.
— E aí? — perguntei assim que
ele desligou a ligação. — Me fala ou eu
vou ter um ataque.
— Eles encontraram outro
corpo, Alice. O Assassino do Beco
matou de novo e dessa vez a coisa ficou
feia, o FBI entrou no meio e eles estão
abrindo uma investigação oficial.
— Mas como assim? Quem
relatou isso para eles?
— O Scott estava desconfiado
da série de assassinatos e não sei como,
mas conseguiu alguns arquivos e mandou
um relatório para um agente conhecido
dele. Acabou minha investigação, agora
eles vão abrir um inquérito e
provavelmente eu não vou poder
participar. — Sua expressão era de total
desolação e eu entendia sua dor, porque
aquela investigação era tudo que ele
mais queria.
— Mas eles vão apenas mandar
um agente do FBI, eu sei bem como é
isso, eles mandam um agente ou mais e
ele trabalha com os policiais do distrito,
não é? — Pensei em meu pai e na
maldita investigação que ele insistia em
não contar o que era. Aquilo seria um
problema para ele? Oh, droga! O mundo
parecia estar desabando e tudo que eu
queria era um final de semana em paz,
mas parecia que meu relacionamento
com Joey não foi feito para isso.
— Pelo rumo da situação, eles
vão escolher Scott para equipe além do
seu pai que é o delegado, é claro.
— Mas sua patente é mais alta
do que a de Scott, não tem nem lógica
isso, meu amor.
— Mas ele mandou o relatório,
Ally. Ele vai ter preferência por isso. —
Ele coçou os olhos, de repente toda a
despreocupação e aquela feição
divertida e jovial foi substituída pelo
Joey cheio de preocupações e a
realidade bateu em nossa cara. —
Vamos juntar nossas coisas para irmos.
Ele levantou e pegou o livro que
estava lendo, juntei minhas coisas e o
segui, Joey andava apressado pelo hotel
e não falamos nada até que chegamos no
quarto. Eu me aproximei dele que
jogava suas roupas dentro de sua
pequena mala e o abracei.
— Vai dar tudo certo. Não se
preocupe — disse e ele se afastou do
meu abraço e foi até o banheiro. Pegou
meus cremes, perfumes e maquiagens e
trouxe colocando sobre a cama, eu
apenas o observava agindo como se
estivesse no piloto automático e
ignorando minha presença. — Dá para
parar de agir assim? Eu estou aqui,
tentando te ajudar.
— Mas não está ajudando, Ally!
— falou e voltou a juntar suas roupas,
pegou as minhas e jogou sobre as minhas
malas.
— Eu não vou viajar com você
assim. Você não está em condições de
dirigir! Precisa se acalmar — falei
calmamente com medo que explodisse,
mas foi em vão.
— Arruma a mala, Ally! — Ele
passou a mão pelos cabelos. — Eu não
estou em condições de conversar e não
vou aguentar essas bobeiras agora! Essa
é uma situação séria, você entende isso?
Eu não devia nem ter vindo para cá.
— Eu...
— Eu quis agir fora do meu
padrão uma vez e pronto, me ferrei.
Maldita ideia de vir com você para cá,
porque agora além de tudo, James já
sabe! Daqui a pouco todo mundo sabe e
aí acaba comigo de uma vez. Não vai
sobrar nada na minha vida.
— Ótimo. Agora a culpa é
minha. — Engoli o choro que insistia em
explodir através dos meus olhos. Em
silêncio juntei minhas coisas e coloquei
na minha mala de qualquer jeito.
Nem mesmo banho nós tomamos,
tamanha a pressa de Joey. Desci antes
dele sem dizer palavra alguma fui até o
carro e fiquei lá esperando, quando ele
entrou no carro estendeu a mão
alcançando a minha, mas eu apenas
continuei com os olhos fechados. Joey
retirou sua mão da minha e deu a partida
no carro.
Foram quarenta minutos
torturantes, não falamos nada e ficamos
naquele silêncio que me doía até os
ossos. Logo eu, calada, mas
sinceramente, não queria falar nada
naquele momento.
As palavras de Joey vociferadas
para mim ainda martelavam em minha
mente, a maneira como ele havia falado,
como se eu fosse um peso, uma criança
idiota que o mantinha entretido com suas
maluquices, mas que no fundo o
irritava.
Então eu chorei, em silêncio. As
lágrimas caíam e coloquei meus óculos
escuros para tentar disfarçar, mas era
óbvio que ele me viu chorando em
algum momento, Joey não era cego ou
estúpido. Assim que chegamos na
garagem do prédio, desci do carro e fui
entrando sem nem ao menos esperar por
ele, que veio até a mim e segurou meu
braço.
— Ally? — Virei para ele. —
Acho melhor você não ir para casa
agora. Sua mãe pode achar estranho a
gente chegar ao mesmo tempo. Não
acha?
Balancei a cabeça concordando
com lógica dele e o segui até seu
apartamento, assim que entramos ele
pigarreou e passou a mão no rosto.
Parecia perdido, provavelmente por
causa daquela merda toda que tinha
acontecido.
— Eu vou até o local do crime.
A Giorgiana me mandou uma mensagem
avisando que a perícia do local não
acabou ainda, mesmo que eu não tenha
nada a ver com isso, quero estar por
dentro da situação e seu pai
provavelmente deve estar lá também, ou
não, se considerarmos que o FBI vai
interferir. — Ele parecia falar mais com
ele mesmo do que comigo. — Enfim,
você sabe onde fica tudo por aqui. Fique
até a noite pelo menos, ou durma aqui se
quiser.
— Você volta que horas? —
perguntei quase sussurrando.
— Ally, não me espere, porque
sinceramente não sei que horas chegarei
ou se chegarei hoje. — Eu olhei no
relógio, três e meia da tarde.
— Não é isso, apenas para
deixar claro que irei embora antes de
você chegar — disse antes de virar e
sair em direção ao seu quarto. Ele era
idiota ou fingia não perceber que eu não
estava bem? Será que ele não tinha dado
conta de que tinha me magoado?
Eu fechei a porta e fui até sua
cama, deitei e abracei seu travesseiro.
Alguns minutos depois ouvi a porta da
sala sendo fechada e toda dor que eu
prendia saiu em soluços chorosos, senti-
me realmente como uma criança naquele
momento. Uma chorona idiota.
As lágrimas rolavam enquanto
me lembrava da cena do quarto de hotel.
Eu não sabia se eu estava chorando pelo
fato dele ter me dito tudo aquilo ou se
chorava por me sentir um estorvo na
vida dele.
No fim das contas, acabei
adormecendo, talvez de exaustão de
tanto chorar e pensar.
Joseph
Assim que cheguei ao local onde
corpo havia sido encontrado, vi Gio
conversando com um dos peritos e me
aproximei, pelo visto a coisa complicou
muito, porque eles ainda analisavam o
local.
— Sem sinal de arrasto, o corpo
dela foi colocado de forma precisa no
chão — Gio falou e um perito anotou em
sua prancheta. Ela me avistou e acenou
pedindo que eu esperasse por ela,
apenas assenti.
Lembrei-me da feição de Ally
quando saí do meu apartamento e de
como queria ter falado com ela, mas
sabia que faria uma tempestade em um
copo d’agua e eu simplesmente não tinha
tempo e paciência para lidar com isso,
por fim a briga seria de proporções
catastróficas, o que apenas a deixaria
realmente magoada comigo. Era melhor
deixar para conversar com ela depois.
Meu celular chamou pela
milésima vez, era o Delegado Hastings.
Resolvi ceder e atendi e nem me
preocupei com a possibilidade de xingá-
lo, meu sangue estava fervendo.
— Delegado Hastings. — Atendi
passando a mão livre em meus cabelos.
— Tenente Spencer preciso de
vocês aqui na delegacia agora! Porque
não atendeu minhas ligações? Eu preciso
conversar com você e é urgente.
— Eu já estou sabendo — disse
simplesmente e pude ouvi-lo soltar a
respiração do outro lado da linha.
— Estou em reunião, estamos
esperando por você. — O que
significava aquilo? Eles me colocariam
na investigação?
— Certo, estarei aí em quinze
minutos. — Desliguei e me virei na
direção de Giorgiana que vinha até a
mim.
— Joey, eu sinto muito. — Ela
tinha uma expressão descontente.
— Eu já esperava que isso
acontecesse algum dia, mas não achava
que Scott fosse fazer isso.
— Eu sei. — Ela se aproximou e
me abraçou e eu a deixei me abraçar,
sem abraçá-la de volta. Porque todo
mundo achava que se me abraçassem eu
ficaria bem? Ela se afastou e voltou a
falar. — Mas você sabe que esse caso
dessa garota de hoje ainda é isolado,
certo? Eles precisam do seu relatório,
ou seja, você vai ter que investigar. O
nome dela é Aileen e assim como todas
as outras garotas, era uma ótima menina,
estudiosa e não dava trabalho para os
pais dela.
— O mesmo padrão.
— Exatamente. Não há nem
dúvidas, foi o serial killer de novo.
— Você conseguiu o endereço
também? Eu estou totalmente por fora.
— O James já conseguiu, ele foi
para a delegacia analisar alguns
resíduos encontrados no corpo dela.
— Mas eu achava que ele era
metódico e limpava tudo direitinho. —
Eu falei pensativo.
— Pois é, mas tenho para mim
que ele queria que a gente encontrasse
esse resíduo. Serial killers não deixam
coisas para trás sem querer, então ele
queria que a gente achasse esse resíduo.
— Você acha que isso vai ajudar
a nossa investigação? — Cocei a cabeça
lembrando que não existia mais a “nossa
investigação”. — Quero dizer, a
investigação do FBI.
— Espero que sim. A gente
precisa esperar o parecer dos relatórios
do James. — Um perito chamou Gio e
ela pediu que ele esperasse.
— Pode ir lá, eu preciso ir para
delegacia, o Hastings me ligou pedindo
que fosse lá.
— Ele está em reunião com o
FBI, provavelmente eles querem um
parecer do detetive que investigou os
assassinatos de forma isolada.
— Eles devem me perguntar
como pude ser tão babaca de não ter
notado os assassinatos em série, quando
na verdade, eu era o único que
acreditava nisso. — Gio não disse nada
e eu apenas assenti. — Sempre levando
ferroadas da vida. Enfim, vou indo.
— Me liga, se precisar! — Ela
disse quando me afastei indo em direção
ao meu carro.
O beco escolhido pelo assassino
era bem próximo à delegacia, então não
demorei muito até chegar lá. Assim que
entrei, fui direto até a sala do delegado
Hastings que assim que me viu, se
aproximou e me cumprimentou.
— Sente-se — disse
simplesmente.
— Eu não acredito que isso tudo
aconteceu em 24 horas.
— Eu tentei controlar a situação,
mas parece que Scott soube de alguma
maneira e vazou relatórios. Pensei que
você soubesse, aliás, achei que você
tinha armado isso mesmo sabendo que
eu estava com a faca no pescoço.
— Você desconfiou de mim? —
perguntei surpreso. — Não sou esse tipo
de pessoa que ataca os amigos pelas
costas, achei que soubesse disso,
Hastings. Hoje é definitivamente um dia
de surpresas. — Eu dei um riso
amargurado e sacudi a cabeça.
— Não se faça de magoado, pelo
amor de Deus! Temos um caso terrível
nas mãos!
— Eu queria aquela porra
daquele caso e agora é óbvio que Scott
o terá para ele. — Eu bati com um punho
fechado sobre a mesa do delegado.
— Eu não posso dizer o
contrário sobre isso, nem mesmo fingir
que não existe essa possibilidade,
porque ela existe. — Hastings levantou-
se e começou a andar de um lado para o
outro. — E tem mais.
— Mais? Vai piorar? — Eu
coloquei a mão no peito. — Daqui a
pouco vou ter um ataque do coração —
falei sarcasticamente.
— Pare de sarcasmo. Isso é
sério. — Ele rolou os olhos e voltou a
se sentar. — Eles querem que você vá
até a sala de reuniões, estão te
esperando para te interrogar sobre as
suas investigações.
— Eles têm acesso a todos os
arquivos, não precisam da minha
versão.
— Eles são uns babacas
arrogantes, mas preciso que você vá lá.
Conte que você achava que eram obras
de um serial killer, mas eu não autorizei
a investigação.
— Mas isso vai te deixar em
péssima situação.
— Foda-se! Esse caso é mais
importante, além do mais, já tinha
desistido de me proteger, lembra?
Aquele dia em que te falei para mandar
o relatório para o Coronel? Agora pelo
menos teríamos certeza de que você
estaria dentro do caso.
— Eu quis te proteger.
— Não adiantou muito, não é?
— Ele sorriu, sua expressão era de
cansaço e preocupação. — Agora vai lá
e faça um bom trabalho. Quem sabe
você ainda tenha chances?
— Duvido muito, mas vou sim
— disse me levantando e indo em
direção à porta.
— Boa sorte, meu amigo —
falou e eu fiz sinal de continência para
ele e então saí indo em direção ao que
poderia ser minha salvação ou minha
destruição.

~*~

Gastei quase 4 horas


conversando com os homens
uniformizados de preto com caras de
poderosos. Dei minha versão em
detalhes sobre as mortes em série
recentes, então eu fiz questão de incluir
as antigas, as que começaram dez anos
antes e pararam cinco anos depois.
— Você tem alguma noção do
motivo dele ter sumido por cinco anos?
— Um dos federais me perguntou
carrancudo. Ele era loiro e parecia ter
uns 45 anos e pelo visto estava
liderando o interrogatório ao qual
estavam me submetendo.
— Eu estava tentando descobrir
sobre isso.
— Então quer dizer que você
realmente achava que era obra de um
serial killer, Tenente Spencer?
— Sim.
— E porque não informou para
seu superior? — Era muito estranho ter
cinco pessoas me olhando como se eu
fosse um criminoso. Porque era isso que
tinha naquele momento: cinco pares de
olhos estavam cima de mim como se eu
fosse um dos elementos que prendia.
— Eu falei, mas ele não queria
sujar suas mãos caso fosse só uma ideia
paranoica minha.
— Ele está sob investigação,
você sabia disso? — o agente loiro me
perguntou e eu soube que deveria ser
cuidadoso, para não falar demais.
— Ele comentou por alto.
— Sua relação com ele é muito
próxima?
— Moramos no mesmo prédio.
— Não ia falar mais do que aquilo, eu
sentia que aquilo todo era muito mais do
que perguntas sobre o serial killer, mas
será que o Hastings estava sendo
investigado pelo FBI? Porra, se fosse
isso, era algo realmente sério.
— Certo. — Um dos caras se
aproximou dele e falou algo em código e
o loiro assentiu se virando para mim. —
Nós tivemos acesso aos seus arquivos e
não há nada relacionado à serial killer.
Você chegou a fazer algum relatório?
Era isso, eu tinha ali minha
chance de mostrar que estava por dentro
do assunto, que eu sabia e que tinha
descoberto sobre aquilo muito antes de
Scott pisar em Golden Coast.
— Sim. Como meu pedido foi
negado, comecei uma investigação
particular.
— Você utilizou algum arquivo
privado da polícia?
— Não, tudo foi por mérito meu
e fontes que não irei contar, porque
sinceramente vocês nem precisam me
perguntar. Vocês não sabem de tudo?
— Talvez. — A carranca do
loiro se desfez em um sorriso de canto.
— Você é bom, rapaz. Merecia ter sido
recrutado pelo FBI.
— Acabamos por aqui? —
perguntei ficando cansado de estar ali
durante tanto tempo.
— Tem como você provar que
tem investigado por conta própria? —
Ele perguntou interessado.
— É claro, eu fiz vários
relatórios das minhas investigações.
— Quero ter acesso a essas
informações.
— E se eu não quiser fornecê-
las? — perguntei desafiando, não iria
abaixar minha cabeça. Os documentos
eram meus, pertenciam a mim e eu tinha
direito de queimá-los se quisesse.
— Nós o conseguiremos de
qualquer forma.
— Não seria tão confiante assim.
— Sorri, fingindo que meus relatórios
estavam bem guardados quando na
verdade estavam sobre a escrivaninha
no meu quarto.
— Pense bem. Isso pode custar
um lugar dentro dessa investigação,
Tenente Spencer.
— Eu pensarei — falei
observando o loiro se levantar.
— Certo, obrigado pela
colaboração. E pense com cuidado. —
Ele estendeu a mão para mim, eu me
levantei e o cumprimentei antes de sair
daquela sala que nunca tinha me
parecido tão apertada na minha vida
inteira.
Saí da delegacia sem nem falar
com ninguém, queria ir para casa e
beber a noite toda e se possível o
domingo todo também. Mas o destino
tinha um plano diferente para mim,
porque assim que saí da delegacia dei
de cara com Scott. Ele vinha
caminhando com um sorriso triunfante e
sacudiu a cabeça quando se aproximou
de mim.
— Veio comemorar minha
vitória, Spencer? — Ele disse com um
tom irônico.
— Que porra você pensa que
está fazendo, seu filho da puta! — Eu me
aproximei dele com violência e segurei
o colarinho de sua camisa, ele me
olhava surpreso e um pouco assustado.
Eu o joguei contra a parede e apontei
meu dedo na cara dele. — Escuta aqui,
vou te falar uma vez só...se você se
meter nas minhas coisas de novo, não
vai sair ileso como estou deixando você
sair agora. Eu vou arrebentar a sua cara
e fazer da sua vida um inferno nesse
distrito policial. Você escutou tudo que
falei? Preciso repetir?
— Eu só aproveitei sua idiotice
— disse com todo seu ar de petulância.
— Como é que é? — Apertei
ainda mais seu colarinho e ele quase não
conseguia respirar, porém aquele sorriso
de desdém não tinha saído de seu rosto.
— Quem foi o otário que deixou
os documentos em cima da mesinha de
centro na sala do apartamento? — Ele
falou rindo. Lembrei do meu descuido e
Alice tinha me dito várias e várias vezes
para guardar aqueles documentos depois
das reuniões que tinha com James e Gio,
era óbvio que algum dia Scott iria no
meu apartamento, afinal eu dividia o
apartamento com o irmão dele. O idiota
daquela história toda tinha sido eu no
fim das contas. — Eu nem precisei
roubar nada, eu só tirei foto com meu
celular e fiz minhas próprias conclusões,
escrevi meu próprio relatório.
Eu soltei seu colarinho e ele
arfou buscando por ar, passei as mãos
pelos cabelos e depois na nuca, estava
muito tenso, meu pescoço doía tanto que
nem parecia que no dia anterior estava
tão relaxado.
— Quando você mandou os
relatórios?
— Mandei para um conhecido
meu há duas semanas e ele fez chegar
nas mãos do chefe dos “Caçadores de
mentes”, que é um setor do FBI
responsável pela investigação de serial
killers.
— E foi fácil assim?
— Sim, com a sua ajuda. Você
me deu todas as provas, seu otário. —
Eu ri tentando me segurar, mas não
consegui me conter e me aproximei dele
dando um soco certeiro em seu nariz.
Senti uma dor na mão, mas tinha certeza
de que era menor do que a dor que ele
sentia.
— Eu detesto violência, mas
você não me deixa outra alternativa, seu
arrogante de merda. — Ele colocava as
mãos sobre o nariz, enquanto o sangue
escorria e caía em sua camisa,
manchando-a com a cor escarlate.
Eu me virei e saí andando
enquanto começava a chover. Fui até
meu carro e me sentei no banco do
motorista, encostei minha testa no
volante e fiquei pensando em como
poderia sair daquele inferno.
Eu tinha uma chance de entrar na
investigação, foi o que um dos agentes
do FBI tinha me dito, isso se eu
provasse que fui eu que investiguei. Mas
por outro lado, eu temia que eles
quisessem apenas as informações que eu
tinha, porque eu sabia que Scott estava
com vantagem sobre mim naquele
momento. Nem meu nome, nem minha
patente me garantiam um lugar na equipe
que seria formada para encontrar o
Assassino do Beco.
Precisava desabafar, queria
contar aquilo para alguém que só me
ouviria e me diria que tudo ficaria bem,
mesmo que fosse mentira. A única
pessoa que me veio na mente, foi Ally e
provavelmente ela não queria me ver
nem pintado de ouro e eu teria que pedir
desculpas pelo papel que tinha feito, eu
nunca a tratava daquele jeito. De todas
as pessoas que conhecia, ela sempre foi
a única que tratava de maneira diferente,
porque ao contrário do resto do mundo
ela parecia se preocupar genuinamente
comigo, como se eu fosse a pessoa mais
importante do mundo para ela. Isso fazia
com que ela fosse a pessoa mais
importante do mundo para mim, a única
pessoa que tinha certeza de que se eu
pedisse para abandonar tudo e seguir
pelo mundo comigo, faria isso sem
hesitar um segundo sequer.
Minha única preocupação era
falar com ela e pedir desculpas, mas
antes, precisava um bom banho, uísque e
cama. No outro dia eu resolveria isso.
Todos os planos foram por água
abaixo quando cheguei em casa e
encontrei Alice dormindo no sofá, um
pote de sorvete na mesinha de centro e a
televisão ligada falando para o nada,
ecoando na sala silenciosa. Eu me
aproximei de Alice, peguei o controle
remoto e desliguei a televisão.
Acariciei os cabelos que caíam
sobre seu rosto e sorri diante da visão
angelical dela dormindo. Eu adorava
fazer aquilo e viveria feliz se pudesse
fazer isso o resto da vida. Ela se
remexeu e o edredom que cobria seu
corpo deslizou um pouco, fazendo com
que ela se encolhesse de frio. Peguei-a
no colo e a levei para o quarto, enquanto
ela resmungava algumas palavras
ininteligíveis me fazendo rir um pouco,
deitei-a na cama e tirei meus sapatos e
minhas roupas molhadas antes de me
enfiar debaixo do edredom, colando meu
corpo ao dela.
Então eu senti paz. Era
engraçado como o toque quente de sua
pele me fazia outra pessoa, só então
entendi como fui estúpido por ter
brigado com ela por algo tão sem
importância. Alice merecia tão mais do
que um cara de meia idade que não
sabia controlar sua raiva, ela merecia
um cara jovem que a levasse para se
divertir, que não precisasse escondê-la,
que pudesse gritar para o mundo que a
amava. Eu não a merecia. Ela não
merecia passar raiva por mim, ser
magoada por mim. Ela merecia sorrisos,
alegrias e não uma viagem interrompida,
aliás, uma viagem que mais parecia uma
missão impossível.
Ela não merecia que seus sonhos
fossem destruídos pelas minhas
incertezas e medos, ou pela nossa
diferença de idade. Eu precisava tomar
uma posição diante daquilo, porque não
aguentaria mais dez meses e meio de um
namoro pelos cantos, escondidos como
se fôssemos fugitivos, de ficar alerta
sempre que ouvia algum barulho
estranho achando que iríamos ser
pegos.
Deixaria aquilo para o dia
seguinte, naquele momento só queria
sentir o cheiro do perfume que emanava
de sua pele e me fazia relaxar, queria
esquecer que aquele dia tinha existido.
Só queria lembrar que ela existia, que
estava em meus braços e que nós juntos
existíamos e por mais torto que fosse,
era o que eu tive de mais real e puro em
minha vida.
Capítulo 16
Joseph
Meu domingo foi um blecaute.
Acordei às dez horas e constatei que o
outro lado da cama estava frio e vazio,
ergui a cabeça um pouco e pude
constatar que as malas de Alice não
estavam mais ali. Ela havia ido embora
sem nem mesmo se despedir, ou seja, ela
estava mais do que magoada comigo e
tinha toda razão em estar.
Então voltei a dormir e só
acordei novamente às quatro da tarde
com meu celular chamando
insistentemente, no visor o nome de
Dominic Evans aparecia e atendi com
certa relutância.
— Oi. — Minha voz saiu grossa
por conta do sono.
— Joseph? Me desculpe
incomodá-lo, mas preciso falar com
você. — Ele parecia aflito.
— Do que se trata? — respondi
me sentando na cama e esfregando os
olhos.
— Queria saber se posso ter uma
entrevista exclusiva com você depois da
bomba que explodiu nos jornais hoje.
— Bomba? — perguntei
confuso.
— Sim, você não leu os jornais?
Seu nome está estampado em todos.
Todos estão falando dos casos de
assassinato que você estava
investigando e que se revelaram serem
obras de um serial killer.
— Ah, mas que porra! — Eu
resmunguei pensando que não deveria
ter dormido tanto assim. — Eu não estou
à frente das investigações, o FBI entrou
na história toda e não sei se farei parte
da equipe.
— Mas você era quem estava
investigando, certo? Então era para você
liderar.
— Era o que eu achava, mas a
justiça não existe para todos. — Eu dei
um riso amargo. — Então, não vai dar
para te dar a entrevista exclusiva,
porque não tenho nada a ver com isso.
— Mas se eu te disser que sim e
que eu gostaria de entrevistá-lo do
mesmo jeito? Você toparia? — Ele era
insistente, algumas vezes aqueles
jornalistas me davam nos nervos, mas se
eu contasse, talvez levasse mais crédito
e quem sabe tivesse mais credibilidade
com o FBI.
— Quando seria?
— Amanhã? Só me fala o
horário e eu vou — Dominic respondeu
prontamente.
— Você não é um jornalista
muito ocupado para ficar entrevistando
um policial como eu? — De fato ele era
um jornalista famoso, achava que
investigasse e editasse matérias mais
importantes e não perdesse tempo com
entrevistas.
— Acho que você não tem noção
do peso dessa investigação, não é?
— É, talvez esteja subestimando
o peso dela — disse e era como se
afirmasse para mim mesmo aquilo.
Finalmente foi como se eu acordasse,
aquele caso do Assassino do Beco se
transformaria em um caso mundial,
todos saberiam da existência dele. Eu
tinha a chance de dar minha versão dos
fatos, mesmo que não adiantasse de
muita coisa seria perfeito para o plano
que veio em minha mente. Eu iria
desafiar o Assassino do Beco, eu iria
provocá-lo e no fim seria escolhido por
alguém que tinha mais poder de decidir
do que o próprio FBI. — Você está
ocupado amanhã de manhã?
— Não, eu estou livre. Pode me
passar o local onde quer conversar
comigo e eu estarei lá sem atrasos. Sou
metódico demais, gosto de organização.
— Eu já sou o oposto. — Dei um
riso curto. — Se você não fosse quem é,
suspeitaria de você.
— Como assim? — Dominic
perguntou do outro lado da linha.
— O serial killer que está
matando é organizado, metódico.
— Ah, entendi. Mas não sei se
teria coragem, só de imaginar aquelas
garotas indefesas, me dá uma agonia,
uma tristeza pela família. Não imagino
como uma pessoa tem o sangue frio para
fazer aquilo tudo.
— E acredite eles são frios
mesmo, matam e depois agem
normalmente. Amanhã te dou detalhes,
mas acho que sabe muito sobre o
assunto. Você estudou com um dos
mestres dos caçadores de mentes do
FBI, não é?
— Estudou sobre mim, Joseph?
— Ele riu do outro lado da linha.
— Na verdade, minha namorada
fala muito sobre você. Acho que já
comentei que ela é sua fã.
— Já sim, aliás, se quiser levá-
la para que eu possa conhecê-la, não
vejo problemas.
— Seria bom. — Aliás, seria
perfeito para que ela me desculpasse,
mataria dois coelhos com uma com uma
pedra só.
— Não quero soar intrometido,
mas descobri seu endereço, sabe como
é, ossos do ofício. — Odiava aquilo,
mas o que poderia fazer? Era o trabalho
dele e eu tinha que tentar entendê-lo.
— Fazer o quê, não é? Como
você acabou de mencionar, “ossos do
ofício”, mas porque levantou este
assunto?
— Nada demais, só que minha
tia-avó mora no mesmo prédio. Não se a
conhece, ela é uma senhora de idade, se
chama Janet. — Tentei puxar na
memória todas as pessoas que vi no
prédio e depois fiz uma varredura em
busca de uma senhora mais velha
chamada Janet, lembrei-me da simpática
senhora que morava no quarto andar e
que havia elogiado a mim e Alice.
— Acho que sei quem é — falei
sem ter certeza se era ela mesmo.
— Se quiser podemos nos
encontrar no apartamento dela, porque
não quero ser invasivo e ir ao seu
apartamento, além de que facilitaria
para você, só teria que andar de
elevador.
— Claro — respondi levantando
e retirando minha cueca para entrar no
banho. — Que horas você sai do
jornal?
— Amanhã saio mais cedo
porque fiz hora extra no fim de semana
com o caso desse serial killer —
respondeu.
— Devo chegar em casa lá pelas
19 horas, então acho que estarei
disponível para conversarmos às 20
horas, pode ser?
— Claro, Joseph. Estarei lá te
esperando. O apartamento dela é o 404
— ele disse e então nos despedimos
rapidamente.
Entrei no banho e a imagem de
Ally magoada comigo veio a mente
diversas vezes, e por mais que tentasse
pensar em outra coisa, ela continuava
em minha cabeça. Eu soube que se não
conversasse e resolvesse aquilo com
ela, não conseguiria dormir por um bom
tempo.
Assim que saí do banho, peguei
meu celular e tentei ligar para Ally que
ignorou minhas ligações. Ela estava
agindo do jeito típico dela, tentando me
ignorar e fingir que eu não existia. Eu só
precisava ir até o apartamento dela e foi
exatamente o que eu fiz.
Fui jantar lá como sempre fazia e
encontrei apenas a mãe dela sentada na
sala assistindo um filme. Perguntei por
todos e ela me informou que Ally tinha
saído e que o delegado tinha ido dormir.
Eu nem mesmo comi, sendo bem
sincero.
Na minha imaginação já tinha
visualizado Ally com Lili no
apartamento de Ed ou Ally bebendo para
chamar a atenção. Então percebi o
quanto estava preso a ela e o quanto
necessitava falar com ela. Era horrível a
sensação que esmagava meu peito
naquele momento, aquela incerteza se
ela iria me perdoar pela maneira como a
havia tratado.
Sentei-me no corredor, achei que
se esperasse por ela dentro do
apartamento dela seria muito estranho.
Apesar de que nunca precisei de
desculpas para passar um tempo lá,
daquela vez parecia que soaria muito
suspeito. Fiquei ao lado de um vaso com
uma enorme planta próximo do elevador
e esperei por Ally . Até que me dei
conta que já eram 2 da madrugada e ela
não havia chegado. Resolvi ir embora e
já esbravejava mentalmente sobre o fato
de ela estar até tão tarde na rua, sendo
que teria aula cedo de manhã. Ela teria
que me dar boas explicações depois.
Assim que abri a porta do meu
apartamento, dei de cara com Alice
sentada no meu sofá. Ouvi um chiado vir
da cozinha, juntamente com cheiro de
bacon. Aproximei-me de Ally e joguei
as chaves em cima da mesinha de centro,
fiquei em pé parado diante dela com as
mãos enfiadas no bolso da calça de
moletom.
— Oi. — Ela disse sem emoção
na voz. — James está fazendo bacon, ele
me encontrou na porta e abriu para mim.
— Cadê as chaves que te dei? —
perguntei e então me sentei do lado
dela.
— Eu não as carreguei comigo.
— Fui até a sua casa. Sua mãe
me disse que você tinha saído com a
Lili.
— Eu ia, mas ela não estava em
casa e eu não liguei pro Ed, porque a
gente anda meio afastado e sabia que no
fundo isso te magoaria. — Eu me
aproximei e segurei sua mão.
— Escute, meu amor — disse e
ela começou a falar, cortando-me.
— Olha, eu sei que as coisas
estão loucas, completamente fora do
normal, mas você não acha que sua
reação foi um pouco exagerada?
— Claro. Me deixe terminar de
falar, pequena. — Ela me olhava com
aquele olhar de gatinho perdido. — Eu
fui um idiota por te tratar daquele jeito e
me arrependi amargamente por isso
depois. Você foi carinhosa comigo e te
destratei de uma maneira que eu acho
nunca tinha feito. — Eu sorri de canto,
sem jeito pelo o que tinha aprontado. —
Eu preciso que você tenha paciência
comigo, porque se você esqueceu não
sou bom com relacionamentos ou
pessoas se importando comigo de
verdade.
— Mas você precisa acostumar
com isso seu idiota. — Sua voz falhou
quando ela começou a querer chorar. Ela
virou e segurou meu rosto com as mãos.
— Eu vou sempre estar com você e eu
só preciso que você se abra para me
deixar te amar, me entende?
— É só que as pessoas que eu
julgava me amar, acabaram me deixando
de alguma maneira — disse e olhei para
o carpete creme. — Primeiro meu pai,
depois a Giorgiana que eu julgava ser a
mulher para mim. E você é maior do que
qualquer coisa que eu pensei que
pudesse sentir, eu amo você, Ally. Tanto
que às vezes me assusto com isso.
— Me promete uma coisa, Joey
— ela falou abraçando-me. — Me
promete que qualquer coisa que você
pensar sobre nosso relacionamento,
qualquer dúvida que tiver, você me
contará, você não esconderá de mim. —
Ela beijou meu pescoço. — Todos os
medos sobre o futuro, todas as
preocupações. Lembre-se que esse é o
papel de uma namorada também.
— Claro. E preciso que me
prometa uma coisa também. — Ela se
afastou e me olhou nos olhos.
— O que, Joey? — perguntou e
sorriu fraco.
— Que você não vai levar em
conta todas as coisas que eu venha te
falar. Eu sou meio explosivo às vezes e
isso pode te magoar como aconteceu
ontem, mas quero que você me lembre
disso. Seja teimosa e me faça lembrar
que você não merece isso, pode brigar
comigo e me dar quantos tapas na cara,
você quiser.
— Não vou te dar tapas na cara,
Joey. — Ela riu e tombou a cabeça
mordendo o lábio inferior em seguida.
— Duvido — disse depositando
um selinho em seus lábios. — Não sou o
único que tem comportamento explosivo
ou acha que esqueci daquele dia do seu
aniversário que você veio aqui me
xingar e exigir explicações.
— Aquele dia foi uma exceção,
foi um extremo meu — disse
acariciando meus cabelos. — Mas pode
voltar a acontecer — completou antes de
me puxar para um beijo prolongado. Ela
grudou seus lábios nos meus e eu
acariciei suas costas vagarosamente.
— Tão melosos que já quero
vomitar. — Paramos de nos beijar ao
ouvir a voz de James. — Finjam que não
estou aqui, só quero assistir uma partida
de futebol americano.
— Faremos melhor. Iremos para
o meu quarto — anunciei levantando e
carregando Alice no colo para o quarto,
enquanto James sacudia a cabeça com
uma carranca no rosto.

~*~
Eram quase 18 horas de
segunda-feira quando avisei que sairia
para investigar sobre Aileen. Os pais
dela eram donos de uma cafeteria e foi
lá que marquei com eles. O que consegui
de informações foi mais do mesmo.
Aileen era responsável,
presidente do grêmio estudantil da sua
escola, ganhou uma bolsa de estudos, em
um dos colégios mais renomados da
Europa. Era o mesmo perfil de todas as
outras garotas mortas, cabelos
castanhos, pele branca e olhos
esverdeados.
Aquele caso definitivamente era
mais um para investigação do serial
killer, e por isso, meu trabalho acabava
por ali, afinal de contas eu não estava na
maldita investigação. Assim que
terminei de conversar com os pais de
Aileen, liguei para Ally e avisei que
tinha uma surpresa para ela e que
esperava por ela às 20 horas na porta do
meu apartamento.
Ela com sua mente maliciosa,
levou a coisa para outro nível e
respondeu de um jeito que já me deixou
com um certo desconforto dentro da
calça jeans apertada.

“Claro, amor. Tô curiosa com


essa surpresa. Devo ir com ou sem
calcinha?”
Essa era a Alice, esperta e
atrevida como sempre.
“Com calcinha. Sabe que adoro
ter o prazer de tirá-las de você com a
minha boca ou então rasgá-las quando
perco a paciência porque o tesão fala
mais alto.”

Respondi a mensagem à altura e


já imaginava a reação dela ao ler.
Naquela noite eu fui embora com a
viatura já que passavam das 19 horas e
meu horário de trabalho tinha acabado.
Estacionei na garagem e retirei o colete
que esquentava como o inferno.
Tomei um banho rápido, comi um
sanduíche porque não sabia se teria
alguma coisa para comer durante a
entrevista com o Dominic. Alice chegou
dez minutos adiantado e pulou em mim
quando abri a porta do apartamento.
— Ei, que isso? — perguntei
com a boca cheia e rindo.
— Felicidade. — Ela me
abraçou fortemente antes de descer do
meu colo. — James está por aqui?
— Não, ele vai trabalhar essa
noite. — Fui até a cozinha e bebi um
gole de água antes de voltar e beijá-la.
— E aí, vamos?
— Vai me contar para onde?
Achei que o plano era ficar aqui, por
isso perguntei pelo James.
— Errou feio.
— Vou tentar não surtar de
curiosidade. — Ela enganchou seu braço
no meu e saímos juntos do apartamento,
descemos até o 4º andar e ela me olhou
sem entender.
Foi então que me toquei que
tinha esquecido do vinho que tinha
escolhido para levar, o preferido de
Alice. Seria ótimo para conseguir fazer
com que Dominic publicasse o que eu
quisesse e de quebra deixaria Ally
feliz.
— Pequena, preciso ir até o meu
apartamento. Esqueci uma coisa —
disse e ela assentiu.
— Mas o que estamos fazendo
aqui? — perguntou olhando em volta.
— Pare de ser tão curiosa e me
espere aqui. — Eu pisquei para ela, que
sorriu colocando uma mecha de cabelos
atrás orelha antes que as portas do
elevador se fechassem.
Alice
Eu estava totalmente sem
entender o motivo de estarmos no 4º
andar do nosso prédio e achei mais
estranho ainda quando ele teve que me
deixar para ir até o apartamento dele
buscar alguma coisa. Aquilo era uma
pegadinha?
A porta do elevador se abriu e
achei que ele fosse reaparecer dizendo
que estava apenas brincando e que agora
me levaria para surpresa de verdade,
mas foi então que entendi a surpresa.
— Olá. Boa noite! — Era
Dominic Evans em pessoa diante de
mim. E caramba, ele era muito mais
bonito pessoalmente. Camisa alinhada,
dentes perfeitos e olhos azuis. Se não
fosse apaixonada pelo Joey, cairia de
amores por ele ali mesmo, naquele
instante.
— Oh meu Deus! É você
mesmo? — Eu me aproximei e estendi
minha mão. — Sou Alice.
— A julgar pelo nome, é a
namorada de Joseph, certo? —
perguntou e segurou minha mão com um
aperto gentil. — Ele me falou de você,
disse que você viria para nossa
conversinha informal.
— Ah, é a entrevista que vocês
tinham marcado? — perguntei que nem
uma idiota, era óbvio que era a
entrevista.
— É. Ele não te falou? —
perguntou com a feição confusa.
— Não, ele queria me fazer
surpresa. Disse que era para eu
encontrá-lo porque me surpreenderia e
bom, acho que a surpresa era te
conhecer.
— E eu acabei de estragar tudo.
— Ele coçou a cabeça, desconcertado.
— Me perdoe.
— Não tem problema —
respondi rapidamente.
— Claro que tem. Eu estou
tentando conseguir informações
preciosas do Joseph e se ele ficar
chateado comigo pode dar para trás.
— Ele não faria isso, porque eu
não deixaria. — Sorri para ele diante da
sua sinceridade.
— Hmm, então é você quem
manda no relacionamento? — Ele
perguntou passando a mão em sua barba
que começava a aparecer. — Gosto de
mulheres assim, lindas com a feição
angelical quando na verdade se revelam
ser uma dominadora.
Dominic Evans estava flertando
comigo? Eu estava imaginando coisas,
não era?
Era óbvio que eu nunca trairia
Joey, mas o fato do cara que eu era fã
estar me elogiando deixou-me com a
sensação de ser a mulher mais linda do
planeta. Eu ia respondê-lo, porém a
porta do elevador se abriu novamente e
Joey saiu de lá. Sua feição animada
mudou para decepção ao perceber que
perdeu a chance de me fazer surpresa,
aproximei-me dele e deu um beijo
rápido em seus lábios.
— Nem acredito que preparou
essa surpresa para mim! — disse
contente e ele voltou a sorrir. — Foi a
melhor surpresa do mundo.
— Eu só queria ver esse sorriso
no seu rosto. — Ele olhou para Dominic
que se apressou em estender a mão.
— É uma honra poder conhecê-
lo, Tenente Spencer! — Joey segurou a
mão dele e a apertou.
— Obrigado! Digo o mesmo.
— Eu sou um grande admirador
do seu trabalho e inclusive utilizei
algumas das suas investigações como
tema de alguns livros.
— Jura? Eu não sabia disso. —
Um sorriso vaidoso surgiu no rosto de
Joey.
— A casa da minha tia-avó é
aqui. — Ele colocou a chave na porta do
apartamento de girou. Eu estava
digerindo a informação de que a tia-avó
do meu autor favorito morava no mesmo
prédio que eu, mas eu não imaginava o
que viria a seguir. — Ela deve estar
esperando pela gente, pedi que ela
fizesse um jantar especial.
Ele se dirigiu ao apartamento
404 e eu sabia muito bem quem morava
ali, pois estive no local algumas vezes.
Assim que ele abriu a porta a moradora
veio nos receber com um sorriso
estampado no rosto.
— Senhora Janet! — Ela veio
sorridente e me abraçou.
— Ally, não sabia que viria
também. — Joey e Dominic entraram
enquanto nós duas nos abraçávamos.
— Vim acompanhando o Joey.
— Assim que nos separamos ela
apontou para Joey. — Não acredito que
é tia-avó de Dominic.
— Não sabia que vocês o
conheciam. — Ela se dirigiu a Joey. —
Você não deve se lembrar de mim rapaz.
— Ela disse com seu jeito doce.
— Claro que lembro, nos
encontramos no elevador algumas vezes.
Não sabia que você e Alice tinham
contato.
— A gente se esbarrou outras
vezes depois daquele dia em que nos
encontramos com ela no elevador e a
Sr.ª Janet me convidou para comer um
biscoito e tomar um café. — respondi
passando meus braços ao redor do
ombro da Janet.
— O sorriso de Ally me lembra
o da irmã de Dominic. — Ela ficou com
uma feição saudosa e Dominic fechou a
cara, era óbvio que aquele assunto o
machucava e só de olhar em seus olhos
já dava para ver a dor que ele
carregava.
— Tia, não vamos falar sobre
isso — disse com sua voz gutural e
retirou o casaco pendurando-o em um
canto.
— Certo —respondeu com
tristeza no olhar, talvez por compaixão
pelo sofrimento do sobrinho.
Dominic convidou Joey para
sentaram um pouco e seguiram até a
sala. Eu fiquei perto de Janet que me
levou até a cozinha.
— Sabe, ele não conseguiu
aceitar a morte da irmã. Ela morreu já
fazem 15 anos, Rachel tinha 17 e ele era
só um adolescente, tinha 15 anos. Todos
achavam que ele fosse superar, mas
desde então ele não gosta de tocar no
assunto. — Ela abriu o forno espiando
alguma coisa que estava assando. — De
qualquer forma, ele seguiu em frente,
estudou e hoje é um homem tão perfeito
que às vezes me pergunto se é filho do
pai que tinha.
— Porque diz isso? — perguntei
curiosa.
— O pai de Dominic era um
viciado e alcóolatra. Mesmo que fosse
meu sobrinho, não posso mentir que era
um sujeito da pior espécie, era um
monstro, sendo bem sincera. Toda vez
que chegava em casa era um pesadelo,
pois ele batia em Dominic e Rachel.
Dominic fugiu várias vezes para minha
casa, sempre carregando a irmã junto
com ele.
— Deve ter sido horrível. E a
mãe dele?
— A mãe dele morreu quando
ele ainda era pequeno, era uma mulher
doce. — Ela ficou em silêncio durante
um tempo, eu ia perguntar como Rachel
tinha morrido, mas ela serviu um pouco
de suco de laranja para mim e mudou de
assunto. — Me lembro que da última
vez me disse que gostava de suco de
melancia, se soubesse que viria com
Joey hoje, teria feito para você.
— Ah, não precisa se preocupar
com isso. — Fui até a porta da cozinha e
olhei Joey conversando com Dominic.
— Vou até lá ver o que eles estão
conversando.
Ela assentiu e fui até a sala, Joey
me puxou para que me sentasse ao lado
dele e ficou segurando minha mão
carinhosamente enquanto Dominic, que
estava sentado no sofá na nossa frente,
bebia um líquido âmbar.
— Sabe, eu acho que a sua
situação pode melhorar — Dominic
disse.
— Sério? E como? — Joey
perguntou e eu conhecia aquele olhar. A
pergunta que ele tinha acabado de fazer
era retórica.
— Eu posso divulgar uma
matéria que vai fazer toda a divisão
policial tremer e os holofotes das
investigações vão cair sobre você.
Eles estavam falando sobre a
situação de Scott ter pego as
informações de Joey e tê-las usado para
benefício próprio, dizendo que era dele.
Eu fiquei com tanta raiva quando
Joey me contou sobre aquilo que quase
liguei para Scott, para xingá-lo e falar
que contaria o que tinha acontecido entre
nós um ano antes. Eu iria chantageá-lo,
mas logo depois pensei em como Joey
reagiria se descobrisse que eu e Scott
havíamos transado depois dele ter me
encontrado bêbada em uma boate
clandestina. Aliás, por causa daquele
dia que evitava bebidas, a noite na casa
de Ed em que Joey chegou com a polícia
tinha sido uma exceção.
Naquela noite há um ano, eu não
estava pensando muito bem e acabei
cedendo às investidas dele. Ele tinha me
chantageado, era isso ou ele contava
para o meu pai por onde eu estava
andando. Eu o achava gostoso, aliás,
podem me atirem pedras se não acharem
também, loiro dos olhos azuis, um
sorriso matador e um corpo que
qualquer mulher morreria para tocar.
Ninguém sabia daquilo. Nem
mesmo Lili. Arrependia-me
amargamente, porque não tinha sido algo
que realmente faria se não tivesse
bêbada e chateada.
Pretendia contar aquilo para o
Joey antes dessa confusão toda, porque
sabia que com Scott trabalhando na
cidade, eu corria risco dele descobrir
através do canalha, mas naquele
momento, a ideia nem mesmo cruzava
em minha mente, pois nem mesmo
conseguia imaginar qual seria a reação
de Joey se soubesse daquilo.
Se levarmos em conta que só de
mencionar que Scott ficava dando em
cima de mim, fez com que ele quisesse
esfolar a cara do cafajeste, já dava para
ter uma noção do que ele faria. O que
me assustava era como ele me olharia
depois de saber daquilo e como ficaria a
nossa situação.
— Há um padrão, é claro. Serial
killers têm um padrão, seja ele qual for
— Joey disse e bebeu um gole do
líquido âmbar também.
— E você pode me falar qual é o
padrão desse em particular?
— O que você quer, Dominic?
Assustar as pessoas? Se eu te disser e
você publicar isso em algum lugar, as
pessoas vão surtar e essa situação sairá
do controle.
— Mas acho que ela já saiu do
controle. — Dominic parecia seguro. —
Se contarmos a quantidade de vítimas e
digo contando as vítimas que ele
começou a matar há 15 anos atrás e que
ficou engavetado.
— Ele parou de matar e o
investigador perdeu o rastro dele.
Estamos lidando com um assassino em
série muito esperto, muito inteligente.
— Serial killers não param de
matar, Joey. Eles no máximo têm um
intervalo entre um ou outro. E você sabe
disso, sei que fez curso de psicologia
criminal com o FBI. O que eu fiz não foi
tão profundo porque não sou um
policial, mas no meu curso aprendi um
pouco sobre o assunto também. — Joey
riu.
— Eu tenho algumas suspeitas,
Dominic, mas ainda é cedo para falar
sobre isso, aliás, nem tenho a ver com
essa investigação mais.
— Exatamente por isso que acho
que devia falar. Lembre-se que o que
você disser, pode te ajudar a entrar para
investigação.
Joey pareceu ponderar e deu um
riso que podia ser confundido com uma
tosse. Eu olhava admirada para os dois,
de um lado estava o homem que eu
amava e que era um dos melhores, senão
o melhor, detetive da cidade de Golden
Coast. Do outro lado estava o homem
que mais admirava como profissional e
agora que pude conhecê-lo, como
pessoa. Ambos tinham uma mente
brilhante e podia ver o jogo mental que
um fazia com o outro.
— Eu acho que ele não parou de
matar — Joey disse simplesmente e
Dominic levou a mão ao queixo.
— Mas não houve qualquer
indício de assassinato pela área com
esses padrões nos últimos cinco anos
que ele ficou, digamos, que “inativo”.
— Ele fez sinal de aspas com os dedos
quando falou inativo dando a entender
que o Assassino do Beco poderia ter
continuado.
— Não na área. — Joey
rebateu.
— Você quer dizer...fora do
país?
— Sim. Talvez. — Ele bebeu um
gole rapidamente e se recostou no sofá.
Eu fingi prestar atenção na televisão
quando Joey me olhou de canto. — Eu
estava começando a trabalhar sobre essa
hipótese, fazendo uma varredura aqui
dentro do país e por isso entrei em
contato com alguns amigos de outros
lugares.
— E recebeu alguma resposta?
— Não. Infelizmente, não recebi
resposta de nenhum deles por enquanto,
talvez nem receba mais depois que eles
souberem que a investigação vai ser
liderada pelo FBI.
— Calma, as coisas podem
melhorar — Dominic disse com uma
feição tentando reconfortar. Um silêncio
tomou conta da sala por alguns segundos
até que Dominic riu.
— O quê? — Joey perguntou
curioso.
— A maneira que você trabalha,
caramba. Você é genial, sabia? —
Dominic falou entusiasmado e Joey
sacudiu a cabeça, visivelmente sem jeito
diante do elogio. — Reconheceria
facilmente um serial killer se estivesse
diante de um.
— Não é tão fácil assim. É
preciso investigar a mente, você sabe.
— Claro, mas mesmo assim.
— Meus queridos, o jantar está
pronto. — A voz suave de Janet
preencheu a sala e nós seguimos juntos
para cozinha.
O assunto pareceu se encerrar,
pelo menos durante o jantar. A conversa
ficou descontraída e Janet ficou de me
ensinar a fazer a lasanha que comíamos,
disse que era para eu fazer quando me
casasse com Joey. Ela devia me ensinar
aquela receita depois de um tempo, pois
se nem um namoro público eu e Joey
tínhamos, imagina só então quando nos
casaríamos.
Por fim, Joey e Dominic ficaram
conversando sozinhos novamente e
dessa vez Dominic gravou e entrevistou
de verdade. Parecia que aquele papo
antes do jantar tinha sido apenas um
aquecimento, ou quem sabe uma maneira
fácil de arrancar as coisas de Joey sem
que ficasse muito na cara.
Eu já tinha presenciado
repórteres na minha casa para
entrevistarem meu pai por diversas
vezes e sabia direitinho como era aquele
joguinho. Joey estava reagindo super
bem, sabia sair das perguntas que
poderiam colocá-lo em maus lençóis e
sabia como usar as palavras ao seu
favor.
— Espero que vocês voltem
mais vezes — Janet disse enquanto
Dominic autografava alguns de seus
livros que ele tinha guardado na casa de
Janet.
— Claro, você sabe que virei.
Sempre volto para comer das
maravilhas que você faz. — Eu pisquei
para Janet. Ela sabia que ia lá para
conversar sobre minha situação com o
Joey também, porque Lili nem sempre
podia me ver afinal ela tinha um
namorado e ele merecia sua atenção
também.
— Eu virei também, é só
convidar — Joey disse sorridente, com
um ar de missão cumprida.
Saímos de lá acenando e
despedindo de ambos, entramos no
elevador e assim que as portas
fecharam, Joey me puxou para um beijo
daqueles caprichados. Quando ele me
soltou estava ofegante e tonta.
— Vai dar certo, meu amor! —
disse e sorri abraçando-o fortemente.
— Ele é um cara inteligente e
parece que quer me ajudar — Joey falou
com o ar eufórico. E a porta do elevador
abriu no andar dele. — Vou ficar aqui.
— Mas você não ia comigo lá
para casa?
— Eu vou esperar alguns
minutos antes de ir. Não acho que
devemos chegar juntos, não quero
levantar suspeitas.
— Hmmm, certo. — Eu o puxei
e o beijei novamente. — Te espero lá
em casa.
Entrei no elevador e fui para
casa, assim que cheguei na sala, vi
minha mãe com uma expressão séria.
Aproximei-me e depositei um beijo em
seu rosto.
— Oi, mãezinha! — Ela não
virou, nem sorriu como sempre fazia.
Apenas pegou o controle e desligou a
televisão. — O que houve?
— “O que houve?”, é essa a sua
pergunta? Acho que sou eu que deveria
estar te perguntando isso.
— Não estou entendendo. —
Meu coração batia apressado, porque
quem esconde algum segredo sempre
acha que o pior aconteceu. Na minha
mente já imaginava que ela sabia sobre
mim e Joey.
— Onde você dormiu ontem à
noite?
— Na casa da Lili, já te falei.
— Alice, na sexta e sábado, ela
confirmou para mim, mas ontem, eu
liguei para lá e a tia dela me disse que
Lili dormiu na casa do namorado. Como
você dormiu lá? — Eu ia dizer que
resolvi dormir no Ed, mas ela já cortou
minha ideia antes disso. — Então liguei
para Ed e ele me disse que vocês não se
veem faz alguns dias.
— Mãe, eu... — Mordi o lábio
relutante, não queria dizer a verdade,
mas ela parecia sedenta por isso.
— Alice, me fale a verdade. —
Minha mãe lançava um olhar inquisidor
e seus olhos eram pura determinação. —
Eu sei que você não dormiu na casa da
Lili e nem na casa do Ed. Só estou
preocupada porque nunca precisou
mentir para mim e por isso imagino que
esteja escondendo algo sério.
— Eu não posso falar, você não
entenderia — falei e sentia como se meu
coração fosse sair pela boca. Ela
levantou e se aproximou de mim, havia
fúria em seus olhos e eu sabia que ela
tinha razão. Eu contava tudo, ou quase
isso, para ela. Ultimamente, andava
escondendo coisas demais de minha mãe
e acho que qualquer mãe ficaria
irritada.
— Você está dizendo que eu não
te entenderia? Logo eu? — Ela sacudiu a
cabeça negativamente, levantou e andou
em volta da mesinha de centro da sala,
parecia pensativa e assustada. — Eu só
quero saber onde você dormiu. Me diga
que você não se tornou uma cópia da sua
irmã, que quando tinha sua idade dormia
com um cara por semana e às vezes nem
sabia o nome deles. — Então ela se
sentou no sofá novamente e respirou
fundo.
— Você está me ofendendo desse
jeito. Você sabe que eu posso ser até
meio maluquinha, mas não sou
inconsequente. Você me conhece, mãe.
— Eu não sei. Eu não conheço
essa versão de você, que não me conta
mais as coisas e fica escondendo onde
dormiu.
— Como assim “escondendo
onde dormiu”? — A voz de meu pai
preencheu a sala e eu senti um gosto
amargo na boca que secou
repentinamente. Agora a merda estava
feita e eu não sabia como sairia daquilo.
— Me explique isso, me diga onde você
dormiu, Ally .
— Ela não dormiu na casa dos
amigos na noite passada e não quer me
contar para onde foi — Mamãe falou
sem esconder nenhuma informação de
meu pai, entregando-me ao leão. Ela
nunca faria aquilo se eu simplesmente
tivesse dito em que lugar havia dormido,
porém eu não contaria que tinha dormido
na casa de Joey.
Estava tão contente de ter feito
as pazes com ele que nem lembrei de
ligar para Lili e avisá-la que dormiria
com ele e que precisava de cobertura de
novo. Mais o fato de eu não estar
contando para minha mãe sobre meu
namorado novo, só fez com que ela
criasse um namorado com algum
problema sério para que não quisesse
contar para ela.
— Dormiu na casa de alguma
outra amiga? Ou amigo? — Meu pai
perguntou me analisando de perto,
colocou as mãos na cintura com a sua
postura de quem começava a ficar
irritado. — Daquele Edward? Fale logo.
— Ele olhou para minha mãe e se
dirigiu a ela. — Que merda está
acontecendo aqui?
Minha mãe me olhou e eu
comprimi um lábio no outro. Eu não
sabia como iriar sair daquela situação.
— Santiago? — Eu levantei
minha cabeça e vi Joey parado na porta.
Ninguém havia percebido que ele tinha
entrado. Meu pai o olhou rapidamente
antes que Joey voltasse a falar. —
Comigo.
— O quê? — Meu pai perguntou
sem entender, mas eu já sabia onde ele
pretendia chegar, mas mal podia
acreditar que ele iria realmente fazer
aquilo.
— Foi comigo que Alice passou
a noite.
Capítulo 17
Alice
Meu pai abriu a boca várias
vezes, como se quisesse falar, mas as
palavras pareciam presas em sua
garganta pela incredulidade do que tinha
acabado de ouvir. Ele aproximou-se de
Joey enquanto eu sentia meu estômago
revirar diante da surpresa daquela
revelação, era como se eu fosse vomitar
a qualquer instante. O que era aquilo
afinal? Onde Joey queria chegar?
Porque ele revelaria aquilo sem nem ao
menos me preparar para aquele
momento?
— Como...Como assim? Não
pode ser. — Papai olhava incrédulo
para Joey e eu mais ainda. Ele olhou
para mim e para Joey de novo. Minha
mãe parecia a menos surpresa de todas
as pessoas naquela sala. Era como se
ela já soubesse. — Joseph! Que porra
você fez com a minha filha? O que você
quer dizer com isso?
— Eu não fiz nada com ela. O
que eu poderia fazer com ela? —
Aquela resposta de Joey me atingiu
como um soco no estômago. Não sabia
se ficava aliviada ou magoada pela
maneira que falou. — Ally apareceu lá
em casa para me ver, dizendo que estava
com saudade e acabou cochilando no
sofá enquanto assistíamos a um filme.
Fiquei com pena de acordá-la. Foi só
isso. — Ele me olhou rapidamente antes
de concentrar a atenção no meu pai que
tinha a mão sobre o peito, ele fechou os
olhos e voltou a respirar aliviado.
Minha mãe me olhou séria e sacudiu a
cabeça negativamente. Ela não tinha
acreditado naquilo, só pelo olhar dela,
eu soube que mesmo que meu pai
acreditasse, teria que convencer minha
mãe, mas isto era algo que achava muito
difícil de conseguir.
— Seu filho da mãe, você quer
me dar um ataque do coração? Porque
falou fazendo todo esse suspense? Você
tem noção de que no meio de uma
situação dessas posso... sei lá, querer te
matar?
— Ei! — Joey se aproximou e
sentou no sofá. — Acabou. Eu falei que
não aconteceu nada e espero que esse
tom não seja você duvidando de mim.
— Não estou, eu confio em você.
— Meu pai falou e eu olhava
diretamente para Joey que apenas
levantou a cabeça e sem nem me olhar,
voltou a falar. Falou as palavras que não
esperava ouvir, as que mais me
machucaram.
— De qualquer forma, eu juro.
Nada aconteceu e nunca acontecerá. —
Joey disse de maneira firme e
convincente. Tão convincente que as
lágrimas que escorreram dos meus olhos
foram frutos de suas palavras. Eu as
enxuguei antes que alguém pudesse
reparar e engoli o choro que crescia e
queimava em meu peito.
— Me desculpe. — Meu pai
disse e deu dois tapas amigáveis no
ombro de Joey, antes de sentar do lado
dele. — Então, o que te trouxe aqui?
Minha mãe me olhou e eu virei
enquanto as lágrimas escorriam em meu
rosto, fui para a cozinha e ela veio logo
atrás de mim. Assim que me encostei ao
armário, deixei que o choro saísse de
mim, tentando não fazer barulho e
alarmar meu pai.
— Eu agora entendi tudo. —
Enxuguei meu rosto com as costas da
minha mão ao ouvir as palavras sérias
de minha mãe. — É o Joey, não é? É ele
o cara pelo qual você é apaixonada e
que achava que tinha medo de se
relacionar com você apesar de sentir
algo. — Eu não respondi e ela veio até a
mim me segurando pelo cotovelo. —
Seu pai pode ter acreditado no que Joey
falou, mas eu não acreditei naquela
desculpa dele. Me responde, Alice. É o
Joey?
— Sim — respondi
simplesmente. Sabia que ela não
acreditaria se dissesse o contrário.
— Meu Deus! — Ela passou a
mão pelo rosto e se afastou de mim. —
Vocês estão juntos ou você está tentando
conquistá-lo? — não respondi, apenas
chorei mais ainda do que antes. — Não
acredito. — Mamãe sentou em uma das
cadeiras, mas logo levantou e veio até a
mim. — A julgar pela sua cara, vocês já
ultrapassaram o limite. Alice, com
tantos homens no mundo, você resolveu
ficar logo com ele? O melhor amigo do
seu pai, um cara com o dobro da sua
idade e que além de tudo é um policial?
Tudo para fazer seu pai surtar se
descobrir? Ele vai ter um ataque, Ally.
— Só se você contar para ele.
— Fui até ela e coloquei minhas mãos
delicadamente em seus braços. — Você
vai contar para ele, mãe?
— Eu deveria — falou e sacudiu
a cabeça de forma negativa. — Mas não
farei isso. Seria terrível para ele
descobrir desse jeito, mas vocês vão ter
que arrumar um jeito de contar isso.
— Tudo bem — respondi sem
acreditar nas minhas próprias palavras.
— Isso entre vocês é sério? —
erguntou e eu assenti.
— Sim, a gente tá namorando já
tem uns dois meses, mãe.
—De certo modo, fico mais
aliviada por saber que é ele e não um
outro cara estranho.
— O Joey gosta de mim, eu juro.
E ele não me faria sofrer.
— Tem certeza? O que ele
acabou de fazer ali na sala, me mostrou
o contrário.
— Ele estava sob pressão. —
Enxuguei as lágrimas que caíram e
mordi o lábio tentando não chorar ao me
lembrar das palavras de Joey. — Aquilo
não conta.
— Espero que não conte mesmo,
ou você estará em apuros. — Ela me
olhou preocupada. — Se ele fez aquilo,
não me espantaria se desse para trás e te
deixasse sozinha quando mais
precisasse dele.
Eu já tinha pensado sobre aquilo
e lógico que ouvir tudo que tinha
acabado de ouvir me fez voltar a pensar
em “Até quando Joey ficaria ao meu
lado?”, ou “Até que ponto ele
aguentaria a pressão?”. A pergunta
mais séria era se eu daria conta se Joey
desse para trás e simplesmente
desistisse de tudo.
Depois dos vários eventos
ocorridos nos dias anteriores, eu
precisava pensar. Essa era a minha
única certeza e para isso precisava de
um tempo só meu.
Fui deitar no meu quarto e deixei
as lágrimas caírem, em minha mente uma
variedade de xingamentos vinham com
toda a força. Cada vez que Joey dava um
passo em minha direção algo acontecia e
ele dava um para trás, eu sentia como se
não estivesse comigo por completo.
Aquele nosso relacionamento,
assim como qualquer outro, dependia de
duas pessoas. Era um jogo para ser
jogado por dois, mas eu sentia que
estava jogando sozinha. Não bastando
ter dito que nunca teria nada comigo, ele
simplesmente foi embora como se eu
não merecesse uma palavra dele de
conforto após aquele pré-desastre.
Nem mesmo ligou, nem mandou
uma merda de uma mensagem. Pergunto-
me o que custaria para ele, alguns
segundos? Ou nem isso se ele mandasse
um “Fique bem, Ally.”, mas nada disso
aconteceu. Em meu coração havia um
peso do que estava por vir, ou peso do
nosso futuro que não viria.
Eu virei na cama encarando a
parede branca e percebi que tinha que
dar um basta naquilo. Meu sentimento
por Joey não havia passado, dificilmente
passaria, pois estava ligada a ele com
todos os meus poros, todos os pequenos
fragmentos de pele e alma, eram dele,
mas a paixão inicial do nosso
relacionamento tinha me deixado cega,
aliás, o fato de estar com ele havia me
cegado, mas isso não vem ao caso,
porque no fundo todos somos assim.
Tinha uma ideia na cabeça que
me fazia querer chorar e me maltratava,
cortava e dilacerava meu peito, porém
era algo que talvez fosse necessário.
Joey estava mal-acostumado com
a ideia de me ter o tempo aos seus pés,
correndo atrás dele como uma
cachorrinha, implorando por seu amor e
carinho ou por sua atenção. O que ele
fez não podia ficar em branco, como
aquela parede que eu encarava, eu não
podia simplesmente dizer um “Tudo
bem, meu amor. Eu te entendo, sei que
nossa situação é complicada.”, quando
na verdade eu estava triste com ele.
Aliás, estava sendo uma sucessão de
mágoas em poucos dias. Levantei-me
peguei meu celular e liguei para Joey,
que atendeu depois de duas vezes que
chamou.
— Fala, Alice.
— É só isso que você tem a me
dizer? Sério? — Bufei e senti minhas
mãos suarem. — Precisamos conversar
seriamente, Joey. Onde você está?
— Em meu quarto, ainda estou
olhando alguns arquivos sobre o
Assassino do Beco. — Ele deu um
suspiro pesado do outro lado da linha.
— Sobre aquilo que aconteceu mais
cedo, eu...
— Não há nada o que falar, Joey.
Quando a gente lança uma palavra ao
vento ela não volta, simplesmente ganha
força e pode até mesmo destruir.
— Foi isso que aconteceu?
Minhas palavras destruíram alguma
coisa?
— Sim — respondi com meu
coração pesado, senti uma vontade
incontrolável de chorar e levei a mão à
boca.
— E você me ligou porque
estava pensando sobre isso?
— Exatamente — falei
engolindo o choro e olhando para o teto,
tentando evitar que as lágrimas caíssem.
— Acho que já sei o que você
pensou. Diga, eu estou preparado para
ouvir a sentença final.
— Eu só preciso saber o que é
que você realmente sente por mim,
entende? Porque às vezes não fica claro,
você diz que me ama, diz que sou o que
há de mais importante para você, mas
não é o que parece. — Eu comecei a
chorar de tristeza e também de raiva. —
Hoje foi como se colocassem eu e meu
pai diante de você, a amizade de vocês e
o nosso amor lado a lado. Você fez uma
escolha.
— Pelo amor de Deus, Ally.
Aquilo não foi uma escolha e você sabe
disso.
— Você realmente não me
entende, aliás, você não tenta entender
meu lado.
— Me desculpe. — Ficamos em
silêncio por alguns segundos e então ele
voltou a falar. — Aquilo foi uma merda,
estive pronto para falar tudo, mas
quando ele me olhou desesperado com a
possibilidade de ter acontecido alguma
coisa entre nós, eu me desestabilizei e
acabei desistindo.
— Não precisava dizer que
nunca aconteceria algo entre nós dois —
disse seca enxugando uma lágrima.
— Eu disse apenas para acalmá-
lo, minha pequena.
— Ele nunca se esquecerá
dessas palavras e nunca levará nosso
relacionamento a sério. Mas tudo bem,
porque afinal de contas, nem mesmo
você o leva a sério.
—Eu levo a sério sim, você sabe
muito bem disso.
— Eu tenho minhas dúvidas
depois dessa noite.
— Olha, Ally. Eu sei que tenho
feito merda atrás de merda, mas eu estou
em um momento maluco da minha vida.
— Certo, não vou interferir no
seu momento. — Tirei forças de algum
lugar dentro de mim antes de despejar.
— Acho melhor darmos um tempo.
— Você não pode estar falando
sério.
— Mas eu estou. — Sentei-me
em minha cama e abracei meu
travesseiro. — Escute, vou esperar você
resolver essa situação toda que tem te
tirado o tempo e o sono, e depois
disso... — Cortei a frase e mordi o lábio
inferior com medo de proferir o resto da
frase.
— E depois o quê, Ally? —
perguntou com a voz visivelmente
cansada.
— Depois a gente vê se ainda
vale a pena ficarmos juntos, se é para
valer ou não.
— Acho isso uma tremenda
perda de tempo, porque no fim eu vou te
querer. Você precisa entender isso, eu
sempre vou te querer.
— Você entendeu o que eu quis
dizer.
— É, eu acho que sim — disse
para ele e enxuguei uma lágrima
solitária que rolou em meu rosto.
— Depois a gente se fala, certo?
Preciso dormir, amanhã tenho aula. —
Desliguei logo em seguida sem nem ao
menos esperar por sua resposta. No
fundo queria pedir por uma despedida,
por algo que me acalentasse e fizesse
acreditar que em um futuro não tão
distante, seríamos um do outro por
completo, sem as amarras do
preconceito, sem o medo e sem as
reservas para amar de Joey.
Deitei encolhida, chorando mais
uma vez como uma idiota. Enquanto uma
chuva pesada começava a cair do lado
de fora, coloquei os meus fones de
ouvido e me deixei levar pela música
que tocava no player, a música era uma
que me fez chorar ainda mais, pois me
lembrava quando tinha uns dez anos e
Joey adorava cantar, seria muito bom se
eu continuasse vendo-o daquela maneira
inocente, seria ótimo se nada tivesse
mudado e se ele ainda fosse apenas um
cara que eu admirava, coloquei a música
para repetir, combinando com a dor que
estava em repetição exaustiva em meu
coração, até que adormecesse.

~*~
Acordei de madrugada assustada
logo após ter um pesadelo terrível, um
daqueles que te fazem até suar, no sonho
eu corria de alguma coisa, mas não
sabia o que ou quem era e isso fazia a
situação ficar mais assustadora. Meus
batimentos cardíacos estavam
acelerados e bebi um pouco da água que
tinha colocado em um copo na mesinha
de cabeceira.
Tentei me acalmar e deitei
novamente, olhei rapidamente o visor do
meu celular e não tinha nada de novo, o
que não era algo assustador ou
inesperado, afinal eu tinha pedido um
tempo. Encolhi-me na cama, fechei os
olhos e me cobri até a cabeça, como se
o edredom fosse um escudo protetor.
Estava começando a cochilar
quando uma mão gelada e um pouco
úmida tampou minha boca e me virei
assustada, preparando para protestar,
pronta para pedir por socorro ou talvez
para pedir que acabasse com minha dor,
acabasse com o caos instalado dentro do
meu peito, mas encontrei os olhos de
Joey me encarando, ainda em completo
silêncio, levou um dedo indicador aos
lábios pedindo silêncio e eu assenti,
ainda confusa com o que acontecia ali.
Ele me puxou para fora da cama e me
abraçou de forma carinhosa. Seus dedos
embrenharam pelos meus cabelos e me
colocou de encontro com seu peito,
enlacei meus braços ao redor de sua
cintura e afastando-me um pouco,
acariciou meu rosto com uma de suas
mãos, com a outra puxou meu cabelo,
fazendo-me curvar a cabeça para trás.
— O que faço agora que estou
tão viciado em você, Alice? — falava
em um sussurro delicioso. — Eu te
quero. — Mordeu meu queixo. — Eu te
adoro. — Deslizou sua língua quente
sobre a pele do meu pescoço
arrepiando-me e fazendo com que
soltasse o ar por meus lábios
entreabertos. — Eu tenho fome de você.
— Ele chegou ao meu ouvido e o
mordeu vagarosamente. — Eu te amo,
Alice.
Seus lábios devoraram os meus
em um beijo ávido e intenso, suas mãos
brincavam com a barra da minha blusa e
eu segurava em seu pescoço firmemente,
pois sabia que cairia se ele não me
segurasse, estava loucamente excitada
por aquele homem. Era aquilo que eu
queria, não era? Uma despedida.
— Eu te entendo, Ally. — Seu
sorriso se transformou em algo triste. —
Sei que não tenho sido cem por cento
seu e você merece mais do que isso, mas
não posso me imaginar sem você, não
sei se consigo lidar com isso.
— Nós precisamos, Joey. — Eu
me levantei e amarrei meu cabelo num
rabo de cavalo. — Mas encare isso
como uma pausa, se você me amar como
diz amar, sabe que me terá de volta.
— Odeio que fale assim, parece
que duvida do que sinto. — Abaixei a
cabeça e fiquei calada. E se no fundo
fosse isso? — Mas tudo bem, se você
prefere assim. — Ele se levantou e veio
até a mim, segurou meu queixo e
levantou minha cabeça. — Mas saiba
que eu vou te provar, Ally. Se é isso que
você quer, é isso que você vai ter.
Ele depositou um beijo rápido
em meus lábios antes de destrancar a
porta, eu fui até ela e abri, vendo se o
caminho estava livre, ele me encarou
por poucos segundos antes de sair.
Assim que fechei a porta, encostei-me
nela e me deixei ser embalada por
aquela onda terrível de quando
perdemos alguma coisa.
Aquela onda veio porque no
fundo, como disse anteriormente, eu
duvidava um pouco do que ele sentia,
porque tinha medo de que o tempo que
havia pedido se transformasse em algo
definitivo.
Dominic
Eu resolvi fazer um caminho fora
do meu normal e não era sem um
propósito. Eu tinha um motivo ao fazer
aquilo, aliás, tudo que eu faço tem um
motivo.
Virei o carro na rua que já
conhecia por ter passado por ali
inúmeras vezes na última semana,
estacionei na esquina, onde sabia que
quem eu queria ver não conseguisse me
avistar e torci para que ela estivesse
sozinha.
Ajeitei meu cabelo pela última
vez, liguei o som do carro, coloquei uma
música de rock para tocar, mandei
algumas reportagens para o e-mail do
editor do jornal, uma delas incluía a
minha maior obra prima, a matéria de
Joseph Spencer. Aquela seria a bomba,
mas seria apenas a primeira, porque o
temido Assassino do Beco iria provocar
um pequeno acidente em pouco tempo,
teria que sair dos meus padrões. Aquilo
era normal para um serial killer? Pois
para mim era perfeito e então teria um
dos meus caprichos cedidos. Eu queria
que Joey investigasse minhas obras de
arte, era ele quem eu queria ver
correndo atrás de mim enquanto
estivesse ali bem debaixo do nariz dele,
enquanto estivesse rodeando sua vida e
as pessoas que ele mais amava.
Alice saiu do prédio
conversando no celular, parecia meio
abatida quando me aproximei dela e
parei próximo ao meio-fio com o carro.
Ela me olhou e não reconheceu de
primeira, olhou novamente como quem
confere se não viu errado e então um
sorriso apareceu em seu rosto.
— Dominic? — perguntou se
aproximando do vidro que abaixei. — O
que houve? Veio ver sua tia?
— Na verdade, estava passando
por aqui. Acabei de entrevistar uma
pessoa ali e estava passando, já ia para
o meu trabalho — respondi sorrindo,
fazendo o que fazia de melhor, depois de
matar, é claro. Atuação era algo que
estava entranhado em mim e das minhas
mil e uma faces, um talento nato. —
Quer uma carona?
Ela pareceu hesitar, olhou para o
celular e depois para mim.
— Não sei se deveria — disse
preocupada.
— Será nosso segredo, não vou
contar ao Joey — ao falar isso foi como
se um botão fosse acionado.
— Na verdade, eu vou adorar
pegar uma carona com você —
respondeu e eu destravei a porta do
carro para ela que deslizou para dentro
e sentou no banco do carona. Eu não
sabia o que era se apaixonar, nunca tinha
sentindo o que as pessoas costumam
sentir, mas senti algo muito parecido
com o que normalmente sinto ao matar,
senti prazer ao ver as coxas expostas de
Ally.
— Então vamos antes que você
se atrase. — Pisquei e virei tentando me
concentrar no trânsito. Sorri quando ela
cantarolou, mas não sorri por isso, na
verdade eu sorri por saber que havia
acabado de conquistá-la um pouco mais,
havia acabado de penetrar um pouco
mais na vida do cara que queria tanto me
encontrar.
No final, o poder estava em
minhas mãos, sempre, era eu quem
comandava o espetáculo. A prova disso,
seria o que estamparia os jornais mais
uma vez em poucos dias.
Capítulo 18

Todo mundo ficou olhando para


o carro de Dominic assim que ele
estacionou na porta da escola e tentei
não chamar a atenção para mim, apesar
de que chegar na escola acompanhada
de um cara famoso não é nada mal.
— Obrigada mais uma vez,
Dominic.
— Por nada, Ally. Precisando de
mim, já sabe. — Ele piscou e eu sorri
totalmente sem graça.
— Claro.
— Aliás, esse é meu celular. —
Ele estendeu um cartão. — Caso precise
de mim para alguma coisa, mesmo que
para conversar.
— Acho que não se interessaria
pelas minhas coisas entediantes de
adolescente.
— Nada a ver, Alice. Adoraria
ouvir qualquer coisa que estivesse
disposta a conversar, deve ter algum
bom motivo para um homem maduro
como Joey se interessar por você e eu
gostaria de descobrir o que é.
— Se eu tiver alguma coisa em
mente te falo — disse tentando não
derreter ali na frente dele, apesar dele
ter mencionado o nome do Joey e ter
estragado um pouco o momento.
Respirei fundo e agi como se nada
tivesse acontecido e aquele nome não
me abalasse, se a cena melancólica no
meu quarto na noite passada não
passasse de um pesadelo.
— Faça isso então. — Ele
acenou e emendou. — Tenha uma boa
aula.
— Tchau. — Acenei e então ele
arrancou com o carro.
Afastei-me e fui andando para
entrada da escola, faltavam dois meses
para o Natal, ou seja, dois meses para o
recesso do fim de ano e provavelmente
seria um martírio se eu tivesse que
passar os feriados do fim de ano com
Joey, caso não voltássemos até lá.
Tentei não pensar nisso e foquei
em algo que me veio em mente assim
que acordei, que era o fato de ainda não
estar conversando com Ed. Tinha uns
dois ou três meses que a gente nem se
falava direito e estar dando um tempo
com Joey me parecia o momento
perfeito para reconectar com ele, digo
apenas na amizade, é claro.
Não havia espaço para nossa
amizade colorida de antes e eu tinha
certeza que Ed sabia disso também, mas
eu sentia falta das piadas do meu melhor
amigo, das festas, brincadeiras e ideias
loucas que surgiam do nada naquela
cabeça obscura.
Antes disso precisava falar com
Lili, então mandei uma mensagem para
ela pedindo que me encontrasse no
intervalo das aulas. Obviamente que ela
quis matar aula porque ela não se
aguenta de curiosidade, mas eu acabei
vendo sua mensagem implorando para
que matássemos aula apenas no horário
do intervalo.
Encontrei com Lili no campo de
futebol, já que não teríamos os dois
últimos tempos de aula por conta do
campeonato regional de futebol
americano. Ela sentou ao meu lado e me
estendeu um copo com refrigerante.
— E aí? Qual é o problema da
vez?
— Você não faz ideia do que
aconteceu. — Comecei a contar para
Lili, mas fomos interrompidas por Ash
que chegou agarrando a namorada.
— Desculpa atrapalhar vocês,
mas não posso jogar sem meu beijo da
sorte. — Lili beijou rapidamente os
lábios do namorado sorridente e eu
revirei os olhos.
— Por favor, se vocês
começarem com aquela agarração de
vocês, é melhor que arrumem um quarto.
— Lili mostrou o dedo do meio e eu ri.
— Minha adorável cunhadinha, a
gente se vê depois. — Ash bagunçou
meu cabelo e saiu correndo porque
sabia que eu odiava quando ele fazia
aquilo.
— Termina de contar — disse
assim que Ash tinha se afastado.
— Ele disse que nunca haveria
nada entre eu e ele. Simples assim. —
Sua expressão beirava a incredulidade.
— Eu sinceramente não consigo
entender. Porque ele diz te amar tanto se
na primeira oportunidade que tem
estraga tudo? — Ela sacudiu a cabeça.
— Tem que ter alguma explicação.
— Então...
— Quando você começa com
“Então”, é porque vem chumbo grosso
por aí.
— Sabe esse serial killer?
— O tal Assassino do Beco? Por
causa dele minha mãe ameaçou vir da
França me buscar, acredita? Seria um
martírio.
— Claro, travesseiro de plumas
de ganso, chocolate quente suíço antes
de dormir e todas aquelas joias reais,
muito dinheiro... Claro, uma tortura —
disse irônica e sacudi a cabeça.
— Você sabe muito bem que não
é disso que estou falando, essa é a parte
boa. — Ela rolou os olhos. — Se
conhecesse meus pais, entenderia meu
drama. Voltando ao assunto, a gente tava
falando do serial killer. Continue.
— Enfim, o Joey reuniu provas
suficientes de que esses assassinatos
estranhos e padronizados eram obras de
um serial killer que andou meio sumido
nos últimos anos e que antes dessa pausa
estranha se é que ele parou mesmo.
— Foi o Joey? Que incrível! Ele
provavelmente vai receber um monte de
honrarias se conseguir resolver esse
caso.
— Esse é o problema. Lembra
do Scott? — perguntei e ela revirou os
olhos.
— Aquele babaca sem noção?
Nada contra, ele é gostoso e tudo mais.
Só que quando abre a boca só fala
asneira e só sabe se gabar. Sem contar
que ficou super dando em cima de mim
na sua festa de aniversário.
— Pois é, não me fala. — Mordi
o lábio pensando se contava ou não para
ela sobre ter transado com ele, achei
melhor ficar calada. — Ele roubou os
arquivos do Joey e fez um relatório,
comunicou ao FBI e agora o caso ficou
sério.
— Espera, se o Scott enviou o
relatório, ele vai levar os créditos? —
Lili sacudiu a cabeça indignada.
— Exatamente.
— Que filho da pu...
— Laurent! Comporte-se! — A
diretora que passava ali perto chamou a
atenção de Lili pelo quase palavrão
expresso por ela que acenou
timidamente e então virou para mim e
falou baixinho.
— Filho de uma puta! — Ela
sussurrou e eu assenti rindo.
— Eu acho que isso fez com
Joey ficasse estranho, aliás, ele
começou a me destratar por isso e enfim,
resolvi dar um basta nisso.
— Sinceramente? — Lili
colocou os óculos de sol e já estava
quase colocando os meus também, o sol
castigava. — Acho que fez muito certo,
porque você parece aqueles
cachorrinhos de estimação quando fica
perto dele.
— Caramba, “cachorrinho” é
apelação — falei indignada.
— Sou sua amiga, não vou
mentir para você, mesmo que tenha que
te deixar chateada comigo. Sou sincera.
— Ela segurou minha mão. — Ele
precisa perceber que precisa de você,
que sente sua falta, aí ele vai dar mais
valor, Ally. Você colocou ele como um
deus e praticamente o venerava, acho
que com essa sua atitude as coisas vão
mudar.
— E se ele não sentir falta?
— Consegue ver? Desde quando
você precisa se preocupar com o que ele
sente ou não?
— Desde meus 15 anos? — Fiz
uma cara como se aquilo fosse óbvio.
— Você nunca precisou se
preocupar com isso, porque sempre foi
independente e nunca se importou com o
que os caras que ficava pensava, ou se
sentiam sua falta.
— Nenhum deles era o Joey —
falei e Lili bufou.
— Ótimo, mas fica do jeito que
está, não volte para ele, não procure.
Você precisa de um tempo para você.
— Certo. Não iria de qualquer
forma.
— Vou estar por perto, sempre
que quiser ligar para ele, pode ligar
para mim.
— E se você estiver com Ash?
— Quantas vezes vou ter que
dizer que você é mais importante do que
ele? Eu sei que tenho passado muito
tempo com Ash, Ally, mas você precisa
entender que fiquei um ano longe dele.
— Muito sexo para repor. — Ela
me deu um tapa estalado no braço.
— Sua ridícula! — Ela deu uma
gargalhada. — Mas é sério, não
interessa se eu estiver com ele ou não.
Quando ele não estava aqui, era você
quem me apoiava, lembra? — ela
perguntou e eu assenti. — Então, agora é
a minha vez de retribuir.
— Lili! — Olhamos para o
campo e Ash acenava para ela.
— Acho que você vai ter que ir
lá — proferi. — Vocês me enojam às
vezes, muita melação.
—Está com inveja? — Ela
mostrou língua e saiu correndo antes que
eu batesse nela.
Não tinha inveja. Minha relação
com Joey era diferente, eu tinha que
aceitar aquilo, mas podia melhorar,
bastava que ele me colocasse nas
prioridades, ou se ele demonstrasse
mais sentimentos por mim.
— Esse lugar está ocupado, ou
posso me sentar? — Aquela voz me fez
sorrir involuntariamente.
— Até onde eu saiba, você
nunca pediu permissão para sentar em
lugar algum, Ed. Isso seria uma
novidade. Eu ri e ele se animou
deixando um sorriso se alargar , se
sentando ao meu lado. — Lili me disse
que você estava triste e que queria
contar algo importante para ela. Tudo
bem, com você? — perguntou,
segurando minha mãe.
Cecília era uma fofoqueira, mas
tinha que agradecê-la, seja lá qual foi o
drama que fez para Ed, teve um efeito
bom e isso acabou fazendo com que ele
se aproximasse de mim antes mesmo que
eu o procurasse.
— Sim — respondi
simplesmente e mordi o lábio sem saber
se contava tudo que sentia naquele
momento.
— Você é uma péssima
mentirosa, ou na verdade acho que
aprendi a saber quando está mentindo ou
não.
— Sabe, Ed. Tenho uma
proposta para você, coisa séria. —
Falei fingindo estar séria e ele arqueou
as sobrancelhas.
— Coisa séria? Não sei se gosto
disso.
— Acho que desse você vai
gostar.
— Então manda.
— Aqui não, vamos tentar sair
daqui da escola? Tomar um sorvete, ir
para praia ou para o seu apartamento.
— Se fosse em outras épocas,
diria que queria uma rapidinha, mas com
você namorando, vou respeitar. — Rolei
os olhos.
— Você me conhece bem, mas eu
só quero conversar mesmo. Como nos
velhos tempos.
— Porque não? Como nos
velhos tempos. — Ele estendeu a mão
para mim. — Vem, tenho um esquema
para sair daqui.
— Você sempre tem — afirmei
enquanto segurava na mão daquele que
me conhecia como ninguém.

~*~

Meia hora e um funcionário


subornado depois, estávamos dentro do
carro de Ed, a caminho do seu prédio.
Ele aproveitou o trajeto para me contar
sobre a nova fase que vivia, com seus
pais mais presentes em sua vida,
inclusive estavam fazendo uma visita a
ele no momento.
— Então você vai mesmo
assumir todos os negócios da família?
— perguntei com um orgulho do meu
amigo.
— Esse é o plano, meu pai está
confiando em mim.
— Ele não vê suas notas, vê? —
perguntei e ele sacudiu a cabeça rindo.
— Não antes que eu pague
alguém para que minhas notas sejam
modificadas. — Ele piscou. — Aquela
escola apesar de renomada é mais suja
do que você possa imaginar.
— Percebi. — Ficamos em
silêncio quando chegamos ao seu prédio
e assim que entrei em seu apartamento
me joguei no sofá preto macio no qual já
havia passado tantas tardes e noites com
Ed e Lili.
— Então, pode me dizer por que
fez tanta questão de vir comigo para cá?
— Ed foi direto e eu abracei uma
almofada.
— Nossa, não vai me servir
nada antes?
— Você sabe que sou direto,
Ally.
— Claro. — Eu assenti e me
endireitei no sofá, de frente para ele. —
Então, eu resolvi vir aqui para pedir
para gente recomeçar. Sermos amigos
como antes. — Ed me olhou enigmático
e eu rolei os olhos. — A gente já tentou
as outras coisas e não tivemos muito
sucesso em nenhuma outra área.
— Eu discordo dessa última
parte e meu quarto também. — Eu abri a
boca para falar e ele ergueu a mão me
impedindo. — Minha banheira também
acha o contrário. — Ele piscou e eu ri
era aquele Ed que queria trazer de volta,
o amigo que me animava não importava
o que acontecesse. — Nos divertimos
bastante.
— Mas como disse, não
obtivemos muito sucesso — afirmou e
estendeu a mão para mim.
— Ok. Edward, seu amigo e ao
seu dispor. — Ele levantou a
sobrancelha bem ao seu estilo meio
arrogante, meio misterioso.
Eu ignorei sua mão estendida e
me joguei nele, abraçando-o fortemente.
Ele circundou seus braços ao meu redor,
enquanto começava a chorar
copiosamente.
— Ei, o que foi? Porque tá
chorando? — Ed acariciou minhas
costas.
— Porque sou muito idiota e
sempre estrago tudo ao meu redor e
perceber que não vou perder sua
amizade me deixa com esperanças de
que não seja tão desastrosa assim.
— Você sabe o motivo de eu ter
me afastado de você, não sabe?
— Sei. — Afastei-me e
concordei. — Por causa de Joey.
— Porque eu estava ligado a
você de uma maneira diferente da qual
deveria. — Abaixei minha cabeça
desconcertada. — Mas fica tranquila,
não estou pedindo nada em troca. Por
isso mesmo pedi um tempo, para poder
aceitar que você não estava ao meu
alcance. E por milagre não fiz nenhuma
merda, deveria ficar orgulhosa do seu
amigo.
— Claro que eu estou. O outro
Ed que eu conheço se acabaria em festas
e drogas, nem ligaria para o futuro.
— Eu acho que comecei a gostar
dessa história de ganhar dinheiro. Claro
que prefiro gastá-lo, mas ganhar tem
sido bem interessante.
— Uau! Fiquei alguns meses sem
falar com você e meu amigo se
transformou num homem feito. —
Levantei-me do sofá. — Não devemos
nem ser amigos, eu sou um atraso.
— Para de besteira. — Ele me
puxou, sentando de volta, rindo da minha
encenação. — Você tem participação
nisso.
— Tenho? Achei que fosse uma
vilã dessa história.
— Acredite, se não fosse você,
não teria percebido o quão idiota eu era.
Agia como um típico filhinho idiota de
papai, alguma hora teria que crescer.
— Mas em dois meses?
— Não vou mentir e dizer que
estou completamente mudado, ainda sou
quase adolescente, mas sei também que
no meio do ano que vem, quando as
aulas acabarem, eu terei o pedaço de um
império para liderar.
— Ed, eu preciso te contar uma
coisa — disse e ele me olhou curioso.
— Eu e Joey estamos dando um tempo.
— O que houve? Alice, aquele
babaca fez alguma coisa com você?
— Não, quero dizer...sim. — Ed
se aprumou no sofá e tomou uma postura
rígida, ele tinha ficado irritado com
minha afirmação. — Eu e ele estávamos
namorando escondidos, você sabe. —
Ele concordou. — Aconteceu uma
confusão e quando meu pai perguntou
para o Joey se eu e ele tínhamos tido
alguma coisa, ele disse que não e que
nunca aconteceria nada entre nós.
Não chorei, eu havia prometido
que aquele assunto não me faria chorar
mais uma vez. Por outro lado, o fato de
não estar com Joey ainda era ferida
aberta. Em minha mente, acreditava que
doía porque era recente e acreditava que
em breve estaria melhor.
— Deve ter sido difícil ouvir
isso — disse e sem falar mais nada,
apenas me puxou para um abraço
apertado. Ficamos assim, abraçados sem
falar nada, por alguns minutos. Até que
meu celular resolveu chamar.
Assim que olhei no visor e vi o
nome da minha irmã devo ter feito uma
cara estranha porque Ed riu e me
perguntou:
— Quem é?
— Hill. Não falo com ela há
algum tempo. — Apertei para atender e
levei o celular ao ouvido. — Fala, Hill!
Saudades!
— Irmã querida, que saudades!
Não vejo a hora de voltar para casa. —
Ela parecia animada, aquilo me
preocupou porque Hill não sentia falta
de casa. Ela quase não ia na casa dos
nossos pais, na verdade.
— Você tá bem? — perguntei
sem muitos rodeios.
— Claro. Porque pergunta? —
Seu tom de voz era bem óbvio, ela não
estava bem.
— Hmm, eu sou sua irmã e te
conheço muito bem. Assim como você
me conhece e eu senti pelas suas
mensagens e por esses dois minutos de
conversa que você não está bem. Seja
sincera.
— Eu te odeio por me ler
através de uma linha telefônica.
— Aprendi a ser assim com
você mesma. — Eu ri e ela deu uma
risada acompanhando a minha do outro
lado. — Então, quer me contar?
— Vamos fazer o seguinte, chego
na cidade no mês que vem e conto tudo.
— Ela disse e eu ouvi a voz de Sophie
ao fundo. — Sophie, não pendura aí! —
Ela ralhou com minha sobrinha e então
voltou a falar comigo. — Sophie está
impossível nesses dias. Precisa ver! Ela
tá com saudades de vocês todos, manda
um beijo para a mãe e para o pai?
— Claro. — Mais estranho
ainda ela mandar beijos para nossos
pais, a situação estava tensa.
— Vou desligar, só queria ouvir
sua voz e matar as saudades. Até mês
que vem.
— Tia Ally, te amo. — Ouvi a
voz de Sophie embolada ao fundo e
sorri.
— Que linda! Titia também te
ama muito, Sophie — respondi quase
emocionada ao ouvir minha sobrinha
falando. Parecia que aquele dia eu só
iria chorar.
— Tchau, irmãzinha! — Hill
falou antes de eu me despedir e
desligarmos a ligação.
Assim que desliguei fiquei com
uma feição pensativa e me dei conta que
Ed não estava mais perto. Fiquei
tentando entender o motivo de Hill estar
tão chateada a ponto de sentir tanta falta
de casa. Será que era alguma coisa com
o namorado? Será que ele estava
destratando ela ou Sophie? Não. Hilary
era super esperta e nunca deixaria um
cara maltratá-la e muito menos maltratar
Sophie.
— Quer um café? Suco? Alguma
bebida forte? — Ed se aproximou e
piscou.
— Você sabe o que eu quero —
provoquei e ele levou a mão até o peito
e fez uma cara de desespero.
— Mal deu tempo no namoro e
já me quer?
— Ai que ridículo! — Levantei-
me e fui até ele que me ergueu do chão e
pendurou no seu ombro com uma
facilidade assustadora.
— Vamos até a cozinha, vou te
entupir de comida. Só assim para você
se comportar — disse rindo e dando
tapas em minha bunda.
— Me solta, Ed! — Eu
gargalhava enquanto era carregada. Não
estava completamente feliz, mas saber
que tinha Ed de volta na minha vida me
dava mais alegria do que eu pensava.
Talvez ficar longe de Joey nem fosse tão
difícil assim.
Certo, essa era uma mentira
deslavada.
Assim que chegamos à cozinha
do apartamento de Ed, ele foi até a
cozinheira e fez alguma brincadeira com
a senhora que aparentava ter uns 50
anos. Ela trabalhava para Ed desde que
ele pequeno, pelo que tinha me contado.
Ajeitei-me em um dos bancos e
encostei meus cotovelos no mármore
frio da bancada, peguei um dos cookies
que estava em um prato e comi
distraidamente. Puxei o jornal que
estava perto e lembrei da entrevista de
Joey.
— Ai meu Deus! — Exclamei e
Ed me olhou assustado.
— O que foi?
— A entrevista que o Joey deu
para o Dominic Evans está na capa do
“The Golden Coast News”. — Li e
fiquei eufórica porque Dominic tinha
colocado Joey como uma vítima das
circunstâncias e da inveja de um de seus
colegas de trabalho. Scott deveria estar
arrancando os cabelos ao ler aquela
notícia.
— Eu não tinha lido o jornal de
hoje ainda. — Ele se aproximou
curioso. — Deixe-me ver. — Estendi o
jornal para ele que leu em silêncio e
depois colocou o jornal sobre a mesa.
— Porra, que bomba, hein? Serial killer
é coisa para policial de alto nível! Joey
vai subir de patente e receber um monte
daquelas honrarias se pegar esse
assassino. Você já sabia de alguma
coisa?
— Eu sempre sei de tudo,
mesmo quando não quero. Esqueceu de
quem sou filha?
— Não esqueceria nem se
quisesse — disse provavelmente se
lembrando das nossas brigas com meu
pai. — Vai ligar para o Joey para
comentar sobre a matéria do jornal?
— Não — disse e respirei fundo
— disse que daria um tempo e não vou
voltar atrás.
Joseph
— Te agradecer não seria o
suficiente, pelo menos não com
palavras, Dominic. — Estava sentado
em minha sala na delegacia e falava com
Dominic ao telefone, agradecendo por
ter salvado minha chance de estar dentro
da investigação que tinha batalhado
tanto para conseguir.
— Ora, Joseph. Não precisava
ligar para agradecer, sou eu que te
agradeço por ter cedido uma entrevista
tão fantástica — disse animado. —
Passei a matéria editada para o meu
chefe hoje às 5 da manhã, ele cancelou a
entrega que ia começar às 5:30 e pediu
que imprimisse a nova edição, na
verdade, exigiu que minha matéria
estivesse no jornal. Para mim foi mais
que uma honra e me deu moral com o
meu chefe.
— Não que você precise disso,
não é?
— Que isso, Joey. Não vou ser
um esnobe e ficar me gabando aqui.
— Mas sabe que não é mentira,
mas diga, o que posso fazer para
recompensá-lo?
— Pegue esse assassino em série
e estamos quites. Fechado?
— Fechado.
Assim que desliguei o telefone,
chamei Georgiana até a minha sala e ela
veio prontamente.
— Fala estrela da delegacia —
provocou sorridente.
— Ah, por favor. Não faça isso.
— Mas não se fala em outra
coisa por aqui. — Gio continuou
provocando e fiz uma carranca, olhando
seriamente, ela colocou as mãos na
frente de seu corpo. — Certo, me
desculpe. O que queria?
— Sobre aquele resíduo que
encontrou no corpo da vítima. Alguma
novidade?
— 95% da análise concluída.
Certeza de que se trata de um composto
formado principalmente por átomos de
carbono, hidrogênio e em baixas
concentrações por enxofre, nitrogênio e
oxigênio.
— Resumindo...
—Óleo diesel.
— Não é de grande ajuda. Já dá
para imaginar que o suspeito tenha
carro, fazer tudo o que ele faz sem um
não seria nem viável.
— Mas isso não significa que
seja de um carro, Joey. — Eu a olhei
sem entender e ela prosseguiu. —
Estamos fazendo as últimas análises e
poderemos saber qual é o tipo de óleo.
Saberemos se ele se trata de óleo diesel
marítimo ou rodoviário.
— Claro! As docas, talvez o
assassino tenha uma embarcação e se ele
tiver um barco, vai ficar mais fácil.
Porque desde o ano passado o prefeito
proibiu a venda ou a revenda de óleos
diesel marítimos para quem não fosse
cadastrado.
— Exatamente. — Gio sorriu
satisfeita com sua descoberta. — Achei
que não estivesse nessa investigação
mais.
— E não estou...ainda — disse
com a confiança renovada. — De
qualquer forma, tenho que relatar tudo
isso para os agentes do FBI. Ela foi
investigada por mim inicialmente e antes
de ser anexada à investigação do
“Assassino do Beco”, precisa do meu
relatório final. — Pisquei e ela sorriu.
— Você não é bobo mesmo! —
comentou Gio sacudindo a cabeça. —
Vou até a sala de análises ver como
estão se saindo por lá. — Concordei e
ela deixou a sala logo em seguida.
Encostei-me na cadeira e tentei
relaxar fechando meus olhos, mas a
feição de Ally não saía da minha mente
e a maneira como eu havia a tratado me
machucava. Minha vontade era de sair
daquela delegacia e ir até ela dizer que
a amava e que eu tinha dito aquilo não
porque pensava daquele jeito, mas
porque temia por ela.
Ela podia não entender, mas eu
sabia que entrando naquela investigação,
a vida dela estaria em risco e enquanto
conversava sozinho com Dominic na
sala da casa de Janet, ele me disse o que
era óbvio, que se eu quisesse mesmo
entrar nessa investigação teria que
sacrificar meu relacionamento.
Eu era covarde. Nunca
conseguiria terminar com ela, mas sabia
que se a tratasse da maneira como vinha
fazendo, ela acabaria se cansando de
mim e terminaria tudo. Quando cheguei
em sua casa para falar com o delegado
sobre a entrevista com Dominic e ouvi a
conversa dele e Alice, percebi que tinha
minha chance de ouro nas mãos.
Em outra situação, eu teria
simplesmente falado a verdade mesmo
que me custasse a cabeça, eu precisava
estar naquelas investigações e se Ally
continuasse comigo, seria perigoso para
ela, pois era óbvio o quanto eu a queria
e amava e ela seria alvo fácil do serial
killer.
Ouvi uma batida na porta que me
tirou dos meus devaneios e pedi para
que entrassem.
— Seu filho da puta, como ousa
falar aquelas coisas de mim? — Era
Scott e ele parecia furioso. Entrou
batendo a porta e com os olhos injetados
de raiva, provavelmente tinha lido a
matéria no jornal e mesmo que não
tivesse seu nome lá, todos da delegacia
sabiam que se tratava dele.
— Ora, ora. Que visita ilustre,
meu grande amigo Scott. A que devo a
honra? — perguntei de maneira irônica e
ele parecia espumar de raiva.
— Não se faça de burro. Eu li a
matéria no jornal e acredite que isso não
vai ficar assim. Eu vou enfiar um
processo daqueles no seu...
— Suas ameaças me abalam.
Não sei se percebeu, mas não citei seu
nome ali, você mesmo está se acusando.
— Ele ficou calado e então ele assumiu
uma postura ereta.
— Escute, esquece essa
investigação ou a situação vai ficar
feia.
— Agora sim, começou a me
ameaçar de fato. Esqueceu que está
dentro da delegacia? E que está
ameaçando abertamente um oficial que
tem a patente maior do que a sua? Sabe
que posso te prender agora, seu filho da
mãe? — Falei dando a volta na mesa e
prendi minha mão em seu pescoço e o
empurrei até a parede.
— Não estou te ameaçando. —
Fiquei sem entender o que ele queria
dizer e ele prosseguiu com voz falha,
parecendo ler minha mente. — Sabia
que sua namorada é muito fotogênica?
— O que você quer dizer com
isso? — questinei e afrouxei minha mão
que estava ao redor de sua garganta para
que ele pudesse continuar falando. — Eu
não tenho namorada.
— Ah, por favor. Acha mesmo
que eu não saberia que anda pegando a
filha do seu melhor amigo? Nada me
passa despercebido por aqui, Joey. E se
quer saber do que estou falando,
pergunte para ela. — Eu soltei sua
garganta, mas antes que ele pudesse
respirar aliviado, eu a apertei com mais
força do que antes.
— Olha, se você quiser fazer
qualquer merda comigo, eu aceito. Mas
se você falar ou fizer qualquer coisa
com a Ally.
— Eu não faço nada obrigando a
outra pessoa. — Ele me empurrou e me
afastei sem entender o que ele queria
dizer com aquilo. — Eu vou arrumar um
jeito de entrar nessa investigação, Joey.
E se eu não conseguir, prepare-se para
as consequências.
Capítulo 19
Alice
Eu estava um caco quando
cheguei da escola e o motivo era super
compreensível, fazia uma semana que
não conseguia dormir direito. Estava
sempre pensando em Joey, ou pensando
no serial killer que tinha resolvido
começar a mandar recados pelos
jornais, através de e-mails que nem
mesmo podiam ser rastreados ou
decodificados. Isso mesmo, o Assassino
do Beco tinha levado o joguinho dele
para outro nível e isso tinha dado
motivos suficientes para que Joey
enfiasse na cabeça do meu pai que eu e
minha mãe corríamos sérios riscos e por
conta disso a coisa toda saiu do
controle.
Para resumir, minha casa tinha se
transformado em uma bagunça, um
verdadeiro quartel general. Policiais
entrando e saindo a todo o momento e
estavam ali para proteger a mim e minha
mãe. Ordens expressas do meu pai
desde que o Assassino do Beco, não
satisfeito em apenas mandar e-mails
para serem decodificados, resolveu
mandar uma foto do nosso prédio em um
dos e-mails. Um bom motivo para ficar
preocupada, para ficar de olhos bem
abertos.
Não dava para negar que era
insuportável ter um homem, que mais
parecia um armário me acompanhando
onde quer que eu fosse, era para minha
proteção, mas me irritava quando queria
simplesmente não ter ninguém grudado
na minha sombra.
— Eu queria voltar a poder
andar por aí sem seguranças, sabe? —
comentei ao me sentar no sofá e então
me enrosquei no colo da minha mãe.
— Eu sinto muito, mas enquanto
esse maluco não for pego, vai ter que
aturá-los.
— Isso pode durar anos, mãe —
resmunguei.
— Ou não. — Ela acariciou meu
braço. — É só isso mesmo que tem te
incomodado?
— O que mais poderia ser?
— Não sei, talvez o fato de que
Joey não tem vindo muito aqui em casa
desde aquele dia em que seu pai
desconfiou do relacionamento de vocês.
— A gente terminou.
— Ah, claro. Então, acho que
isso explica seu mau humor durante essa
última semana.
— Não vale nem a pena falar
sobre isso. — Eu me sentei direito no
sofá. — Fiquei pensando bastante
depois da nossa conversa na cozinha e
me perguntei se eu e ele estávamos na
mesma sintonia, mas parece que eu
estava dando mais amor do que
recebendo. Sei que quando a gente ama
alguém, não se importa muito com isso.
Basta que a pessoa seja feliz e pronto,
ficamos felizes também, mas acho que
sou egoísta demais para aceitar isso,
quero ser amada de volta na mesma
intensidade em que amo o Joey.
— Isso não é egoísmo, é uma
grande dose de amor-próprio.
— O que dá na mesma, mãezinha
— disse sorrindo.
— Meu papel é tentar abrandar
as coisas, não é? — Ela sorriu e me
puxou para um abraço. — Eu vou estar
sempre do seu lado, viu? Com ele ou
sem, sempre vou estar de braços abertos
para te ouvir.
— Isso quer dizer que aceita
nosso relacionamento?
— O relacionamento que não
existe mais?
— A gente pode acabar
voltando, eu apenas pedi um tempo.
— É, eu aceito. Joey está
passando por um momento muito
complicado, e claramente ele está
levando essa investigação a sério, o pai
dele morreu nas mãos de um serial
killer. Para ele é questão de honra.
— Você tem alguma notícia se o
FBI decidiu se será ele ou o Scott que
ajudará na investigação? — perguntei
curiosa.
— Ainda não, mas me parece
que a decisão deve sair amanhã.
Meu celular chamou e eu tirei do
bolso, atendendo sem nem mesmo olhar
o visor.
— Oi?
— Alice?
— Sim. Quem fala? — A voz do
outro lado era desesperada.
— Kendra Fuentes. Pelo amor de
Deus! Preciso que você me ajude! —
Ela começou a berrar do outro lado de
linha e eu me levantei agitada.
— Calma! Você precisa manter a
calma e me contar que houve.
— Um maluco me sequestrou! —
Ela soluçava, falava com a voz
entrecortada e eu quase não a entendia
pelo choro — disse que não me mataria
e então ele marcou seu número no meu
corpo. — Ela começou a chorar
copiosamente.
— Mãe, liga para o pai. Agora!
— Ela me olhou e assentiu se
levantando e indo em direção do
telefone. — Kendra, eu preciso que
você se mantenha na linha. Me diga
exatamente aonde você está e a polícia
irá te buscar em minutos.
— Não! Sem polícia, ele disse
para não chamar a polícia. Era para
falar com você ou com o Joseph.
Eu pensei e soube exatamente o
que deveria fazer. Saí em disparada, um
dos seguranças veio em meu encalço
enquanto eu descia a escada de
emergência, não tinha paciência para o
elevador e eram só dois andares. Não
achei que fosse tão fácil, mas ali estava
eu sem minhas sombras humanas, estava
livre.
Parei diante da porta de Joey e
fiz uma prece para que ele estivesse em
casa e para minha sorte, a porta se abriu
depois que a campainha chamou duas
vezes.
— Joey, preciso que converse
com a Kendra ao telefone. — Ele me
olhou confuso enquanto eu estendia o
celular para ele.
— Quem é essa? — Eu apenas
apontei para o celular e ele levou ao
ouvido. — Joseph falando, no que posso
te ajudar?
Enquanto ele ouvia Kendra ele
arregalou os olhos, apontou para o
casaco e a carteira abandonados sobre a
mesinha de centro da sala. Eu peguei
enquanto ele ouvia atentamente o
depoimento choroso de Kendra do outro
lado da linha.
— Escuta, eu vou te buscar.
Mesmo que não faça ideia de onde você
está. — Ele abriu passagem para que eu
passasse e então afastou o celular da
boca um pouco. — Ally, vá para casa.
Fique segura, não saia de lá até eu dizer
que pode.
— Mas ela ligou para o meu
celular, eu vou junto.
— Não, de maneira alguma eu
permitiria isso, Alice! É exatamente por
ela ter te ligado que quero que fique em
casa, esse é um aviso do assassino, um
aviso muito claro. — Meu coração
disparou e eu senti um arrepio. O
assassino sabia sobre mim e Joey? Se
sim, isso significava que ele estava nos
observando. — Eu não quero brigar com
você. Por favor.
Ele voltou a conversar com
Kendra e pediu informações sobre o
local onde estava em detalhes, para que
ele pudesse tentar descobrir aonde era.
— Eu vou até você. Fica
tranquila, não vou envolver a polícia
nisso. Kendra? Alô!? — Ele olhou para
o celular e depois para mim. — A
ligação caiu, ela gritou alguma coisa e
então a ligação caiu. Porra! — Ele
passou a mão nos cabelos e seu olhar
assustado era desesperador.
— Calma, Joey. — Eu segurei
em seu braço e ele olhou minha mão,
depois me olhou nos olhos. Ficamos em
silêncio, enquanto as lágrimas alojavam-
se em meus olhos. — Eu vou para casa
— disse simplesmente pegando o meu
celular das mãos de Joey.
— Certo, e eu vou para
delegacia ver se consigo descobrir onde
ela está. — Ele foi até o elevador e eu
me virei indo paras escadas de
emergência.
— Joey! — Virei e antes que
Joey entrasse no elevador.
— Sim? — Ele me olhou atento.
— Seja cuidadoso. — Ele
acenou em concordância e piscou para
mim, que saí dali antes que minhas
pernas me jogassem para direção dele.
Meu celular começou a chamar
novamente assim que comecei a subir o
primeiro lance de escadas, percebi que
deveria ter deixado meu celular com
Joey, mas já era tarde porque ele
provavelmente já estaria no elevador, o
ID da chamada era restrito e eu atendi já
sabendo quem era.
— Kendra?
— Alice, ele está me seguindo
com um carro. Acabei de perceber isso.
— Ai meu Deus! — Eu levei a
mão até a cabeça. — De que celular
você está me ligando?
— Ele me disse para ligar desse
celular e depois jogá-lo fora.
— Ele te disse mais alguma
coisa?
— Disse que tinha que ser o
Joseph, eu não entendi nada, Alice.
Estou com medo de morrer, não quero
ser mais uma daquelas garotas que
apareceram nos jornais. — Kendra
voltou a chorar copiosamente.
— Você ainda está no mesmo
lugar que estava da última vez que
ligou?
— Não, eu andei e então percebi
que tem um carro branco me seguindo e
eu tenho certeza que é ele. — Ela fungou
e então prosseguiu. — Eu me escondi
atrás de uma dessas caçambas de lixo,
foi o único lugar que julguei seguro no
momento.
Então me lembrei que as
caçambas de lixo da prefeitura sempre
vinham com uma série de números e que
cada número indicava um bairro e
dependendo indicava até a rua. Lembrei
inclusive, que o prefeito havia feito um
mutirão para que seu projeto de ruas
limpas desse certo e colocou as crianças
e os adolescentes para pintarem as
caçambas, eu estava inclusa nesse
grupo, principalmente porque era filha
do delegado do 1º distrito policial de
Golden Coast.
— Eu já sei como te ajudar,
Kendra. Você precisa confiar em mim.
Pode ser?
— Claro.
— Eu preciso que você olhe a
numeração em série que está pintada do
lado de fora da caçamba e depois
preciso que fique escondida e quieta
dentro dela, por mais nojento que seja, é
para sua proteção — disse sentindo meu
coração acelerado. —Você acha que
pode me ligar daqui uns cinco minutos e
me passar essa numeração?
— Sim, eu faço isso. — Sua voz
estava falhando e eu imaginei o medo
que deveria estar consumindo aquela
garota. Eu não saberia como reagiria se
estivesse no lugar dela, sempre fui muito
esperta, mas nunca fui exposta a uma
situação real de risco.
Desliguei o celular em seguida e
liguei para o celular de Joey, porém
estava ocupado, ele provavelmente
estava falando com alguém ao telefone e
tentando descobrir a localização de
Kendra. Eu mandei uma mensagem para
ele, explicando que tinha uma ideia para
descobrir onde ela estava e que ele me
ligasse assim que possível porque ela
tinha me ligado de novo.
Logo depois, percebi que no
desespero acabei conseguindo distrair
os meus seguranças, que enfim podia
transitar sem eles na minha cola, mas
tinha certeza de que não conseguiria sair
dali sem que me vissem e ir de volta
para o apartamento estava fora de
cogitação. Liguei para a única pessoa
que sabia que daria conta de me tirar
dali em um piscar de olhos.
— Ed? — chamei assim que
ouvi o resmungo do meu amigo do outro
lado da linha telefônica.
— Fala, Ally — respondeu
sonolento. Ele adorava uma soneca
depois de chegar da escola.
— Preciso da sua ajuda, é
urgente! Caso de vida ou morte. — E foi
como se eu ativasse um botão especial
em Ed, que no segundo seguinte parecia
estar mais alerta do que nunca.
— O que houve?
— Acha que pode me tirar do
meu prédio sem que meus cães de
guarda vejam?
— Ally, eu posso parecer
maluco, mas eles estão te protegendo e
com esse maluco solto por aí...não acho
que seja uma boa ideia.
— Ed, você não sabe, mas tem
uma garota que precisa de mim nesse
momento, ou eu saio daqui ou ela será
morta pelo Assassino do Beco.
— O quê?! Você está maluca de
se envolver nessa história toda, Ally?
Esse cara é perigoso demais para você
lidar! Conta para o seu pai ou o Joey,
eles vão resolver.
— O celular do Joey só dá
ocupado e meu pai vai surtar se sonhar
que o serial killer sabe meu número e
colocou a Kendra para me ligar.
— Puta merda! Ele fez isso?
Alice, esse cara está mandando uma
ameaça. Você é o alvo, não percebe?
— Não interessa, Ed! Eu não
vou ser egoísta, preciso ajudar essa
garota.
— Certo, eu sei que se eu não te
ajudar você vai dar um jeito de sair daí
de qualquer maneira, então... vou sair
daqui agora mesmo.
— Tem outra coisa — disse
ouvindo alguém subindo os degraus da
escada de emergência.
— Tem mais? O que foi?
— Sabe aquelas numerações das
caçambas de lixo?
— Aquelas que nós fomos
obrigados a pintar?
— Eu fui obrigada, você pagou
um sósia para ir no seu lugar — disse
rolando os olhos. — Mas são essas
mesmo.
— O que tem elas?
— Você tem como descobrir as
numerações de cada bairro?
— Tem no site da prefeitura, eu
acho, mas vou averiguar e te ligo
depois.
— Não me liga, vem me
encontrar. — Os passos ficaram mais
próximos na escada de emergência e eu
temi que fosse algum dos guardas. — Eu
estou na escada de emergência do
sétimo andar.
— Chego aí em dez minutos. —
Dito isso, ele desligou e eu fiquei
aliviada ao ver que quem subia a escada
era só um senhor carregando algumas
sacolas. Ele sorriu para mim e acenou,
respondi ao aceno.
Sentei em um dos degraus da
escada e fiquei ali, aflita, balançando a
perna e olhando atenta para o meu
celular, esperando agoniada que a luz
acendesse e fosse Kendra me ligando.
Passou uns dez minutos e não recebi
nada, nem dela e nem de Joey.
Porém como havia prometido,
Ed chegou e veio me abraçando
enquanto eu desabava no choro.
— Ai Ed, ela não ligou de novo.
Tem uns quinze minutos que pedi para
ela me ligar, mas ela sumiu.
— Calma. Ela vai ligar, não
desespera. — Ele acariciou meus
cabelos. — Vamos? Eu trouxe umas
roupas nessa sacola para você se
disfarçar — disse se afastando e me
entregou a sacola de papel.
— Não acredito nisso. Tipo
missão impossível.
— Você não tem jeito. Tem um
casaco, boné e uma peruca. Duvido que
vão te reconhecer.
— Certo, vou colocar então —
disse e fui tirando da sacola e me
ajeitando. Logo depois dei o braço para
Ed e tentei agir normalmente enquanto
passava pela entrada do prédio onde
tinha uma guarda conversando com o
porteiro.
Passei conversando com Ed
sobre a aula, tentando não parecer uma
fugitiva, e podia sentir o olhar do guarda
sobre a gente, porém ele deixou a gente
passar sem complicações e respirei
aliviada assim que alcancei o carro de
Ed.
Quase que automaticamente, o
meu celular começou a vibrar e para
minha felicidade, era Kendra.
— Porque demorou tanto para
ligar? Eu já estava começando a surtar
de desespero. — Coloquei a ligação no
viva-voz e Ed deu partida no carro.
— Eu fiquei assustada com uns
barulhos que ouvi e preferi esperar. —
Ela sussurrou. — O número é 09264.
— Tudo bem, não desliga e a
gente vai descobrir a localização. — Ed
estendeu o celular dele que já estava na
página da prefeitura e eu procurei
rapidamente digitando na busca rápida.
— Oaksville Street, Bradford. Tem
razão de estar perdida, esse é um bairro
bastante isolado e quase nos limites da
cidade.
— Graças a Deus, você
descobriu! — Ela começou a chorar
novamente do outro lado e Ed acelerou
ultrapassando vários carros.
Meu celular recebeu uma
segunda chamada, e eu vi o número de
Joey brilhando no visor.
— Kendra, preciso que aguarde
um pouco. Vou falar com o Joey, só fica
na linha e espera — disse tentando
manter a calma.
— Tá bom. — Ela falou quase
como um miado. Enquanto atendia a
chamada de Joey.
— O que ela disse, Alice?
— Até que enfim você me ligou!
Ela tá na Oaksville Street.
— Como você descobriu? —
Joey perguntou surpreso.
— Isso não importa, Joey! Só
chama os policiais e corram para lá. Eu
e Ed chegaremos lá antes de vocês.
— Não me diga que você está
indo para lá. — Ele xingou uns cinco
palavrões antes de prosseguir. — Fique
quieta em casa, Alice! Você não percebe
a gravidade? Esse assassino está
claramente querendo dizer que sabe tudo
sobre você, é praticamente uma ameaça
nas entrelinhas. Você é filha do
delegado, quer um alvo maior do que
esse?
— Joey, a gente conversa
depois. — Desliguei sem dizer mais
nada. Não queria discutir com ele, ali
dentro do carro de Ed, que me olhou
como quem perguntava se eu estava
bem. — Eu estou bem, antes que
pergunte. — Ed concordou. — Kendra,
você ainda está aí?
— Sim.
— Você pode me explicar o que
aconteceu? Como você descobriu meu
número? Como o assassino é? — Eu
perguntei vagarosamente, tentando não a
assustar, nem fazer com que ela entrasse
em desespero novamente.
— Ele usava uma máscara
daquelas de esqui, sabe? Parou-me
próximo da escola, quando eu estava
indo para a aula, no meio do caminho.
Era de manhã e a rua estava deserta,
pois sempre chego muito cedo no
colégio porque faço parte do grêmio
estudantil e as reuniões são antes das
aulas. Ele disse que eu seria o seu
sacrifício, que ia me usar e que era para
eu ficar quieta ou morreria ali mesmo.
— Ela respirou fundo. — Então
colocou-me dentro de um carro, com
uma venda nos meus olhos. — Ela
começou a chorar e eu me senti culpada
por fazê-la falar.
— Tudo bem, Kendra. Se você
não consegue contar, eu te entendo.
— Não, eu quero contar, eu
preciso. — Ela disse ainda com voz de
choro. — Ele marcou seu número em
mim, Alice.
—Como assim “marcou”? —
perguntei com medo da resposta.
— Ele me cortou — contou e
disparou a chorar copiosamente, eu
chorei junto e Ed apoiou a mão em
minha coxa como uma tentativa de me
acalmar, afinal eu precisava ser forte e
tentar ajudar Kendra, mas percebi que
ela era forte e não desistia ou
desanimava facilmente. Parecia comigo
e eu percebi que adoraria ser amiga dela
— disse que eu precisava te ligar e
dizer que tinha que ser Joseph e que se
fosse outro, eu morreria.
— Ele disse isso? — Eu respirei
fundo assimilando as informações. Ed
me olhou, deduzindo a mesma coisa que
eu. — Ele me deu esse celular e me
deixou fugir.
— Você chegou a ver o rosto
dele? — perguntei olhando para Ed.
— Kendra? — Ed falou pela
primeira vez e eu neguei com a cabeça.
— Eu sou Ed, sou um amigo da Alice e
sou eu quem estou dirigindo o carro.
— Você é da polícia? Não posso
falar com você, ele disse que vai
descobrir se eu falar com um policial.
— Ela falou com o desespero crescente
no tom de sua voz.
— Não sou policial, fica calma.
Eu só preciso que faça uma coisa.
— O quê? — Ela disse atenta e
eu mordi o lábio segurando o choro,
porque sabia o que estava acontecendo.
O assassino tinha dado o celular e ele
era um homem muito inteligente, havia
um motivo por trás.
— Ele está te rastreando com
esse celular, se ele disse que saberia
caso você falasse com um policial, ele
sabe hackear e provavelmente sabe do
que estou falando. Então preciso que
seja rápida, desligue o celular. Retire o
chip e quebre-o, por mais difícil que
seja, faça isso agora mesmo!
Ed desligou a ligação e segurou
a minha mão, acariciando-a e depois
levou até os lábios depositando um
beijo na mesma.
— Você foi muito esperto. Sacou
rapidinho o truque do serial killer —
disse com os lábios trêmulos.
— Eu posso não ser policial,
mas mexo com gente da pesada. Você
sabe que meu pai tem praticamente uma
delegacia, uma coleção de ex-fuzileiros,
ex-combatentes de guerra, ex-agentes da
CIA e do FBI trabalhando com ele. —
Fiquei calada pensativa enquanto ouvia
Ed falar sobre seu pai, uma tentativa
clara de tentar me acalmar. Por fim, ele
percebeu que eu não estava nem um
pouco calma e os meus nervos estavam à
flor da pele. — Vai dar tudo certo, viu?
Eu apenas anuí, mas uma lágrima
teimosa escapou porque se o Assassino
do Beco estava mesmo atento, aquela
garota poderia estar correndo risco de
morrer ou talvez já estivesse morta
naquele mesmo instante.
Joseph
Eu estava possesso de raiva, ou
como diria meu pai se estivesse vivo,
estava com sangue nos olhos de tanto
ódio.
Aquele filho da puta estava
brincando comigo, brincando com minha
paciência. Aquilo não tinha cabimento
algum, atacar novamente e dessa vez
fazer com que a vítima ligasse para Ally.
O pior de tudo, era o envolvimento dela
nessa confusão toda. Sinceramente,
estava para nascer alguém tão teimosa
quando Alice. Estava claro que o serial
killer queria chamar a atenção e por isso
estava saindo de seu padrão. Ele queria
que os holofotes fossem lançados na
direção dele e estava conseguindo o que
queria.
Eu escolhi James como meu
parceiro para aquela investigação, e fui
com ele no carro. Claro que não
estávamos sozinhos e atrás de nós havia
outras dez viaturas, todas cheias de
homens preparados para acabar com a
raça do vagabundo, desgraçado que
andava causando aquele pânico na
cidade toda.
— Eu preciso que você me faça
um favor — articulei e James
concordou. — Se você ver Ally, trate de
carregá-la para bem longe daqui,
entendido?
— Positivo, Tenente Spencer. —
Ele estacionou o carro uma rua antes e
todos os outros carros fizeram isso nas
ruas próximas, para que se o Assassino
do Beco estivesse por ali, não
conseguisse escapar.
Sabíamos que não o pegaríamos
naquele momento, ele era esperto e
aquele era um joguinho preparado por
ele, meticulosamente armado para que a
sensação de poder invadisse o corpo
daquele filho da mãe.
Fomos andando taticamente até
chegarmos à esquina, apontei para o
soldado Chambers e ele balançou a
cabeça indo na frente. Averiguou a rua e
então fez sinal de que podíamos ir,
James fez sinal para alguns carros
estacionados ali perto e eles saíram
acelerando, cantando pneus e entrando
na rua e pararam ao lado de um carro
blindado, o único estacionado por ali.
Eu apontei para a rua e fiz sinal
com a cabeça para que todos entrassem
ao mesmo tempo, a rua estava totalmente
deserta. Aliás, aquele bairro era
totalmente deserto, pois era comandando
por uma máfia que há muitos anos
escapava das mãos da justiça.
Seria difícil conseguirmos
alguma testemunha do que tinha
acontecido com aquela garota, não
apenas porque o local era ermo, mas
também porque ali no bairro Bradford
quem falava dos crimes da máfia, sumia
alguns dias depois e então acabava por
ser encontrado morto no mês seguinte.
Todos tinham medo.
— Saiam do carro! — Um dos
policiais gritou e bateu com violência no
vidro do carro. Eu me aproximei e
reconheci o slogan da empresa
Hermman. Era o carro de Ed.
— Sargento Olsen, é a Alice
Hastings no carro. — Eu me aproximei
enquanto os outros oficiais olhavam.
Cheguei na janela e então a porta se
abriu e Ally me abraçou assustada. Eu a
afastei e a direcionei para James que a
segurou pelos ombros e foi carregando-a
pela rua e quando Ed desceu do carro os
policiais o revistaram.
Eu me afastei e fui até a Ally.
— Você ficou maluca? — Eu
tentei não gritar com ela, mas diante da
situação era meio impossível não
aumentar meu tom de voz.
— Olha na caçamba de lixo. —
Ela disse chorando, seus olhos vidrados
no chão. Ela estava traumatizada.
— O que tem lá, Ally? — Eu
avisei no rádio e os policiais se
direcionaram à caçamba.
— Não cheguei a tempo —
sussurrou e um soluço provindo do
choro saiu de seus lábios trêmulos. O
pior tinha acontecido, ele tinha matado.
Era isso?
— Senhor? — Um policial me
chamou pelo rádio e eu respondi
prontamente.
— Sim.
— Encontramos algo,
precisamos do senhor aqui. — Eu
assenti rapidamente e segui até onde
meus subordinados estavam.
— O que foi? — perguntei
rapidamente e fui me aproximando do
container.
Eu tinha um estômago forte e já
estava acostumado com aquilo, mas
após ter falado com Kendra ao telefone,
mesmo que por alguns poucos instantes,
fez com que eu quisesse mais do que
nunca salvá-la. O que eu via, fazia-me
perder as esperanças.
— Senhor? O que devemos
fazer? — O soldado Chambers
perguntou em alerta.
— Porra! — Soltei o palavrão
sentindo uma impotência diante da
situação em me encontrava. — Aciona a
forense. — Eu virei a cabeça e vi que
Ed se aproximou de Ally e a abraçava.
— Me coloquem em contato com o
Agente Calders do FBI!
Enquanto isso, olhei novamente.
Ali dentro daquele container havia
pedaços de um crime que parecia estar
fadado a acontecer, caso o e-mail não
fosse decifrado e não obedecêssemos a
ordem daquele ser doentio.
Analisei cada detalhe, tentando
não imaginar as barbaridades que aquele
louco poderia fazer com aquela garota,
porque ali bem diante dos meus olhos
havia um dedo, e uma orelha. E ao lado,
havia um bilhete “Sob o luar, à meia-
noite ao som do mover das águas.”
Eu não tinha a menor noção que
merda era aquela.
Era mais um trabalho para o FBI,
mas eu não precisava de análise para
saber que era ele, todas as evidências e
o que a vítima tinha dito. Era ele e
estive tão perto de alcança-lo, que me
fazia ficar mais irritado comigo mesmo.
Senti meu celular vibrando no
bolso e no visor o nome de Giorgiana
piscava.
— Fala — disse sem paciência,
sem vontade de conversar com ninguém
naquele momento. Precisava sentar e
tentar descobrir como entraria para
aquela investigação, porque infelizmente
depois da reportagem de Dominic, nada
havia mudado.
— Ele quer que você lidere a
investigação, Joey. — Ela disse com
desespero. — É isso que todos os e-
mails dizem.
— O quê? Como assim?
— Você precisa vir aqui! Os e-
mails decifrados e esse novo ataque do
serial killer que vocês acabaram de
relatar, causou uma puta confusão e o
FBI já está vindo para cá. Adiantaram a
reunião que só seria amanhã.
— Caramba. Isso significa
que...
— Isso mesmo, Tenente Joseph
Spencer! Não há dúvidas, você vai ser o
escolhido para entrar na investigação.
— Ao mesmo tempo se aproximaram de
mim e me estenderam o celular.
— Senhor, é o agente Calders do
FBI ao telefone como o senhor pediu. —
Eu assenti e peguei o celular.
— Agente Calders? —
Cumprimentei e a voz grossa atingiu
meus ouvidos em resposta.
— Tenente Spencer, precisamos
conversar. Você já deve estar sabendo
das novidades, é claro.
— Você já ficou sabendo das
minhas? — perguntei enquanto
caminhava para um lugar mais
silencioso tentando ouvi-lo melhor.
— Eu sei de tudo, mas
recapitule, talvez tenha ficado um ou
dois detalhes de fora.— Agente Calders
respondeu com aquele tom arrogante.
— Um dedo e uma orelha
decepados de uma vítima do Assassino
do Beco. Ele está jogando, Calders.
Aquele jogo doentio que só essas mentes
perturbadas conseguem fazer.
— Eu já esperava por isso. Ele
está se sentindo seguro, Spencer. Daqui
para frente ele vai atacar com mais
frequência e isso pode ser útil para as
investigações. — Ele fez uma pausa e
então voltou a falar. — Porque ele vai
acabar cometendo um deslize e vai ficar
mais fácil de capturarmos.
— Espero que você esteja certo
e que sua equipe possa capturá-lo o
mais rápido possível, Calders.
— Sobre isso, não sei se já sabe,
mas nós decidimos na última hora.
Marquei uma reunião na delegacia, vou
anunciar quem entrará para minha
equipe do FBI. Acha que vai demorar
muito aí?
— Provavelmente a tarde toda.
— Acha que as nove da noite
estará disponível? — perguntou.
— Sim.
— Então te espero — disse antes
de encerrar a ligação.
Virei-me e olhei mais adiante, vi
Ally sendo interrogada. Eu fui andando
até lá e Ed a abraçava, consolando e
tentando passar calma para ela. Eu morri
de ciúmes, não poderia negar.
— Acho que já podemos liberar
os dois, Spencer — James disse para
mim e concordei.
— Tudo bem — disse e Ally me
olhou enxugando uma lágrima. — Ed,
você acha que pode dirigir? — Ele
acenou afirmativamente e eu prossegui.
— Certo, vá para casa no seu carro. E
quanto a Ally, James a levará em
segurança para casa.
Meu celular começou a chamar
novamente e eu o atendi sem olhar nem
ao menos quem era.
— Joey! Alice fugiu e esse filho
da puta atacou alguém. — Sua voz era
de desespero. — Me diz que não é
minha menina. — Era o delegado
Hastings.
— Não, Hastings. Tentei te
alertar, mas quando chamei a força
tática, você não estava na delegacia. —
Olhei para Alice e senti alívio quando
terminei de falar. — Ela está a salvo e
está comigo, vou levá-la para casa agora
mesmo.
— Graças a Deus. — Eu
entendia o alívio em sua voz. Sentia a
mesma coisa ao ver que Ally estava
bem, pelo menos fisicamente.
— Você quer falar com ela? —
perguntei enquanto Ally me encarava em
silêncio, mas ela não precisava dizer
muito, seus olhos diziam por ela.
— Se for possível, gostaria sim.
— Aproximei-me de Ally e entreguei
meu celular.
— Seu pai quer falar com você.
— Ela revirou os olhos.
— Ele vai me matar. — Eu sorri
tentando reconfortá-la e ela atendeu ao
telefone.
Eu me virei para olhar a situação
da minha equipe que fechava a rua por
completo, só os autorizados podiam
ficar através a fita amarela. O trabalho
seria longo e só sairia dali quando
estivesse anoitecendo.
Avistei Giorgiana chegando junto
com a equipe forense, nos cumprimentos
de longe. Logo atrás da equipe forense,
vinham os jornalistas, munidos com suas
câmeras, microfones e gravadores, como
se fossem armas.
Fui caminhando para conter a
confusão que se instalaria se não desse
uma declaração. Dominic surgiu em um
canto, de braços cruzados sem fazer
muita força para se misturar em meio à
multidão.
— Senhoras e senhores, peço a
compreensão de vocês e peço também
paciência. Não iremos dar detalhes sem
termos informações precisas sobre o que
houve aqui nesta tarde.
Eu chamei um policial que fazia
uma contenção dos repórteres e apontei
para Dominic dando autorização para
que ele atravessasse a linha. Ele mais do
que qualquer um ali merecia uma
chance, afinal ele tinha uma parcela
importante para me colocar na
investigação.
— Obrigado, Joey — disse e
estendeu a mão para mim que o
cumprimentei.
— Não precisa agradecer, só
peço que não tire fotos, pelo menos não
por enquanto. Precisamos ter certeza do
que está acontecendo e do que o
Assassino do Beco quer dizer com um
bilhete que encontramos.
— Bilhete?
—Sim, ele decepou partes do
corpo de uma vítima e deixou um bilhete
ao lado — disse e Dominic demonstrou
ficar espantado, tanto quanto eu.
— Caramba, que mente esse cara
tem, hein? A equipe forense já chegou
pelo que vejo.
— Sim, pode ir lá se quiser.
Você sabe o esquema. — Sorri para ele
que assentiu.
— Claro, vou manter a
discrição. — Andou em direção do
local onde a equipe forense estava
trabalhando e voltei para perto do
carro.
Ally estava sozinha e segurava
meu celular em sua mão, estava
pensativa e enrolada em um cobertor
térmico. Eu me aproximei dela e ela
começou a chorar assim que me viu.
— Eu sei que fiz merda, que não
devia nem ter saído de casa. — Então
sem dizer uma palavra sequer, eu a
abracei. Não liguei a mínima se me
vissem abraçando-a estando em serviço,
eu simplesmente precisava sentir seu
corpo junto ao meu. Ela entrelaçou os
braços em volta da minha cintura e
chorou mais ainda.
— Está tudo bem. — Acariciei
os cabelos dela. — Estou aqui, nada vai
acontecer com você. — Chamei James
que estava ali perto e ele veio
prontamente. — Sargento Olsen, você
acha que dá conta de liderar as
equipes?
— Eu? Tenente Spencer, seria
uma honra. — Adorava aquele respeito
que James tinha por mim, ele honrava o
uniforme que vestia independentemente
do tamanho da nossa amizade.
— Em um caso comum estaria
fora de cogitação, mas eu confio em
você para isso. Levarei Alice para casa.
— Ele assentiu e com um sinal de
continência se afastou já delegando
funções para alguns policiais ali perto.
Caminhei ainda abraçado com
Ally até o carro, abri a porta de carona e
a coloquei lá, ela se ajeitou no banco e
ficou encolhida. A imagem era de cortar
o coração.
Assim que entrei no carro,
acariciei o rosto dela e enxuguei uma
lágrima que escapou de um de seus
olhos. Aproximei-me e beijei sua testa,
ela levantou a cabeça e me abraçou
fortemente.
— Você está segura, Ally.
Acredite, eu vou estar sempre por perto
para te proteger, e não vou deixar
ninguém te machucar.
Aquela era a maior promessa da
minha vida. Não importavam as
consequências, não me importava nada,
nem ninguém e mesmo que para cumprir
essa promessa custasse a minha vida, eu
a entregaria de bom grado. Até porque
ali diante daquele momento em que eu
percebia o risco que a minha pequena e
doce menina tinha corrido, notei também
que não poderia viver se ela não
existisse ou estivesse por perto.
Capítulo 20
Joseph
Eu e minha equipe nos reunimos
na delegacia, os melhores peritos
trabalhavam em cima do bilhete, todos
vidrados em busca de um significado.
Enquanto isso, fui chamado até uma sala
montada para a investigação dos crimes
do Assassino do Beco e lá me
aguardavam alguns agentes especiais do
FBI. Agente Calders, que havia falado
comigo ao telefone, recepcionou-me na
porta.
— Boa noite — disse retirando
meu colete, que já estava me dando nos
nervos. — Desculpem a demora, como
sabem com esse ataque acabei ficando
preso na cena e só pude vir embora
agora. Aliás, não posso demorar, só
estou esperando a decodificação do
bilhete.
— Estamos nessa com vocês,
nossa equipe já foi designada para
ajudar. A partir de hoje vocês terão que
se ambientar com a nossa presença por
aqui, pois precisamos solucionar esse
caso antes que as pessoas da cidade
comecem a ficar apavoradas quanto a
esse serial killer.
— Acho meio tarde, Calders. As
pessoas assistem aos jornais e os leem
também — disse sarcástico. Aquele cara
podia ser tudo, mas aquela ideia de que
as pessoas não sabiam da existência do
serial killer era equivocada.
— Ainda assim, muitos não
estão levando a sério. — Ele sentou e
apontou para a cadeira, onde eu me
sentei também. — Eu o chamei aqui
porque depois de várias reuniões entre
os agentes designados para essa missão
contra o Assassino do Beco, decidimos
que você irá fazer parte da equipe.
Mesmo não sendo do FBI, você se
mostrou competente para ocupar um
lugar nessa investigação.
— Me sinto muito honrado por
isso — disse e fui me levantando, todos
me olharam confusos. — Eu agradeço
imensamente, mas preciso voltar ao
trabalho. Temos uma adolescente
desaparecida e um assassino jogando
com a gente, se estou dentro da equipe
vou cumprir minha função e ela começa
agora. Com licença — afirmei saindo da
sala.
Eu sabia que aquilo era motivo
de comemorar, afinal esperei e lutei por
aquele cargo, mas no fundo não senti que
tinha algo para comemorar e só seria
capaz disso quando encontrasse Kendra
viva e bem.
Fui direto até o laboratório e
Giorgiana me chamou, fui até ela que
tinha uma feição preocupada. Respirei
fundo me preparando para a notícia, que
com certeza não era boa.
— Lembra daquele resíduo no
corpo de uma das vítimas? É óleo diesel
marítimo, Joey. — Ela disse séria e eu
assenti, na mesma hora fiz a ligação com
o bilhete “Ao som do mover das águas”,
ele dizia. Era isso!
— James! — Eu chamei e ele
veio prontamente, seus olhos pareciam
cansados, mas ele aprendeu a ficar
alerta mesmo quando estivesse
acabado.
— Sim, Joseph.
— Acha que aguenta a pressão
de ir a uma nova investigação? —
perguntei e ele arregalou os olhos. — O
FBI vai precisar de você eventualmente
e eu preciso de você agora.
— Claro! O que foi?
— Vamos às docas. Eu acho que
sei aonde a Kendra está. — Em seguida
ela foi até os policiais, escolhendo
alguns enquanto eu ia até a sala falar
com o agente Calders.
Ele tinha selecionado algumas
salas do departamento de polícia para
que os agentes do FBI pudessem ter
onde trabalhar, o que achei um absurdo,
mas quem era eu para reclamar? Na tal
da hierarquia, eles estavam acima de
nós.
Por um lado, eles tinham razão,
ali estávamos todos concentrados, juntos
com o mesmo intuito de pegar o monstro
que vinha atacando e aterrorizando nos
últimos tempos.
— Agente Calders, tenho uma
pista. Acho que sei onde a garota pega
pelo serial killer está.
— Então vamos lá agora mesmo
— disse já levantando e falando em seu
celular alguns comandos. Em questão de
segundos, homens fortemente armados
surgiram e saímos todos juntos atrás
daquele fio de esperança em encontrar
aquela que poderia ser mais uma vítima,
só esperávamos que pudéssemos
encontrá-la viva.
Alice se sentiria péssima caso
Kendra morresse. Quando a deixei em
casa, falei que era para ela tomar um
banho, relaxar e descansar depois de
tudo que tinha passado e visto. Ela não
faria isso, eu a conhecia bem demais
para saber que ficaria sentada no sofá da
sala de seu apartamento, esperando
notícias.
Dessa vez seguimos o esquema
do FBI. Assumo que detestava não estar
no controle das investigações, era
encarregado de mandar e desmandar
havia anos e não fazê-lo era algo muito
estranho. Receber ordens, naquele tipo
de situação não era muito confortável.
Fomos andando, nada de carros,
nem sirenes. Caso o serial killer
estivesse por ali, fugiria ao menor sinal
de que estávamos nos aproximando. Eu
caminhei pelas docas e alguns dos meus
policiais me seguiram, mandei que se
espalhassem e averiguassem cada
embarcação atracada ali.
Daria um trabalho danado, mas
era a decisão mais correta a se tomar.
— Tenente Spencer! — Ouvi um
dos meus policiais no rádio. —
Embarcação 343. Elemento suspeito,
líquido avermelhado no chão.
Possivelmente sangue, senhor.
Dirigi-me para a embarcação na
mesma hora, com a arma em punho,
preparado para qualquer eventualidade.
Assim que me aproximei, um soldado
apontou e eu autorizei. Fui entrando na
embarcação e tive certeza que aquilo no
chão era sangue, o odor forte que me
subiu às narinas era inconfundível.
Entrei na cabine e encontrei o
interruptor, quando acendi foi como se
tivesse entrado em um filme de terror.
Em anos trabalhando na polícia, nunca
tinha visto algo tão grotesco e bizarro.
— Vocês não podem entrar aqui.
— Um agente falou e eu o olhei de
maneira severa.
— Meus policiais entram em
qualquer lugar que eu permita, essa
investigação não é de vocês ainda, não
recebi nenhum comunicado oficial.
Enquanto não computamos esse caso
com o serial killer, ainda comando a
investigação.
Disse e logo depois esperei que
ele me desse um soco, por ser um
atrevido. Ele apenas aquiesceu e ficou
esperando meus próximos movimentos.
Eu olhei novamente para aquela cena e
liguei para o departamento.
— Giorgiana, precisamos da
forense aqui. Me desculpe, terá que
fazer plantão essa noite — disse e nem
esperei por sua resposta, apenas
desliguei.
Na parede diante de mim, estava
escrito de maneira rude “idiotas”, mas o
mais insano era que a palavra estava
escrita com sangue. Aliás, havia
bastante sangue no chão. Sangue
suficiente para saber que Kendra estava
morta, não havia a menor possibilidade
dela ter perdido tanto sangue e estar
viva.
Era por isso que precisava da
equipe forense ali o mais rápido
possível, para saber se o sangue era ou
não compatível com as partes do corpo
encontradas na caçamba de lixo.
Agente Calders entrou no barco
e sua expressão foi de desânimo, ele
sabia o que significava aquele sangue
pelo chão.
— Se for o sangue dela.. —
disse e eu completei olhando para ele.
— Sim, ela está morta. — Eu me
senti um idiota, assim como o assassino
havia escrito na parede. Ele havia nos
enganado mais uma vez.
— Tenente Spencer. — James
apareceu, seus olhos completos com
decepção e pesar. — Encontraram um
corpo no beco da rua Lettlefeld.
Informações de que provavelmente seja
da garota.
— Os pais dela? Alguém contou
para eles?
— Ainda não, senhor —
respondeu.
— Eles ainda estão no
departamento de polícia? — perguntei.
— Tenente Spencer, isso é
irrelevante. Temos algo importante nas
mãos. — Agente Calders falou com sua
voz grossa e eu o olhei, aproximei-me
dele e disse olhando em seus olhos, com
toda a raiva que estava guardando em
mim.
— Não sei como você trabalha,
mas eu costumo usar um pouco de
sentimento. Esses pais perderam sua
única filha, que era um exemplo de bom
comportamento. Não quero que eles
vejam esse cenário grotesco, nem que
escutem comentários sobre a maneira
que encontraram a menina deles. — Eu
olhei para James que apenas acedeu, ele
tinha entendido o que eu queria dizer.
Pensei em como os pais de Ally
reagiriam se fosse com ela e aquilo
acabou comigo. Eles não se
recuperariam facilmente, aliás, será que
recuperariam? O Delegado Hastings
ficou anos se sentindo culpado pela
morte do meu pai, culpava-se por não
ter conseguido salvar sua vida. Se sua
filha morresse, ele não conseguiria se
recuperar.
E eu... eu morreria junto com
Ally.
Tive que retirar minhas botas,
para que o sangue no qual havia pisado
não se espalhasse e causasse um caos
maior ainda na cena do crime. Eles me
entregaram uma bota nova assim que saí
do barco e quando terminei de colocar,
entrei no carro com o FBI e segui para
ver algo que infelizmente não era o que
esperava ver.

~*~

Eram cinco horas da manhã


quando cheguei em meu apartamento.
As imagens do corpo de Kendra,
estendido naquele beco me causava
náuseas e não era nojo, mas sim ódio
daquele homem que estava causando
tanta dor e desespero nas pessoas, eu
queria encontrá-lo.
Ninguém me fazia de bobo
daquela maneira e ficava por isso
mesmo.
Tomei um banho e depois fiquei
sentado em minha cama, pensando em
como contaria para Ally. Já imaginava
como ela receberia a notícia e não podia
demonstrar que eu mesmo tinha ficado
abalado, tinha que ser uma rocha segura
e passar tranquilidade para ela.
Vesti uma roupa confortável e
nem pensei em dormir. Apenas me dirigi
até onde estava Ally, queria dividir com
ela o que tinha acontecido. Eu abri a
porta do apartamento com a chave que
tinha e fui silenciosamente até seu
quarto, claro que as lembranças da
última vez em que estive lá estavam
vivas em minha memória.
Aproximei-me de sua cama e
acariciei seus cabelos, ela virou e me
olhou assustada no primeiro momento,
mas assim que seus olhos se
acostumaram comigo ela sentou na cama
esfregando os olhos.
— O que houve? — perguntou
ainda sonolenta e eu nem respondi,
apenas fiquei olhando para ela que me
fitava preocupada. Eu me aproximei e
deitei em seu colo, ela passou as mãos
sobre meus cabelos carinhosamente e eu
relaxei pela primeira vez em dias ou
semanas. — Ela morreu.
Não foi uma pergunta, ela sabia
e estava apenas afirmando. Talvez
reafirmando para aceitar a novidade
nada boa, eu confirmei e então senti
contrações em sua barriga por conta do
soluço de seu choro convulsivo. Eu me
sentei e a puxei para junto do meu
corpo, suas mãos estavam diante de seu
rosto enquanto ela chorava sem parar.
— A culpa foi minha — disse
tentando aceitar que a minha burrice
tivesse acabado com a vida daquela
garota.
— Não fala isso. — Alice
enxugou as lágrimas e se aprumando, ela
passou a mão em meu rosto e eu fechei
os olhos sentindo seu toque suave. —
Não se culpe pelo que essa mente
demoníaca tem feito. Você tentou, Joey.
Isso é o que importa.
Ela voltou a me abraçar
fortemente e afundei meu rosto em seu
pescoço, enquanto ela acariciava o meu
de forma calma. Eu me afastei do nosso
abraço alguns minutos depois.
— Você entende agora porque
não quero assumir nosso
relacionamento? Se esse cara quiser me
atingir, você vai ser a primeira pessoa
que ele vai procurar! — confessei e ela
abaixou a cabeça, no fundo sabia que o
que falava era verdade. — E caramba,
se acontecer alguma coisa com você, eu
não sei o que faço! Eu morro se você
morrer, um pedaço de mim morre com
você.
Ela simplesmente me abraçou
novamente e eu enrosquei meus braços
em sua cintura carinhosamente. Beijei
seu pescoço e fui distribuindo beijos por
seu rosto até me aproximar de seus
lábios, ela me olhava nos olhos quando
a eletricidade do encontro dos nossos
lábios se tornou realidade. Ela fechou os
olhos e aprofundamos o beijo, em
alvoroço. Saudade, desejo e paixão se
misturavam naquele gesto. Eu me dei
conta do quanto estava sentindo falta de
Alice e o quanto estava reprimindo e
fingindo estar tudo bem quando na
verdade não estava. A porta de seu
quarto se abriu repentinamente e nos
afastamos como dois ímãs de polos
semelhantes, com os olhos arregalados
olhamos para a porta esperando o
começo de um apocalipse familiar.
— Tia Ally! — Sophie entrou no
quarto e correu até Alice, pulando em
seu colo. Parada na porta com uma
expressão atônita, estava Hilary.
— Sophie! — Ally disse
abraçando a garotinha.
— Er, me desculpem. Não
esperava essa cena. — Hill disse e eu
sorri de canto, olhando para Ally. Ela
tinha me contado que Hill sabia da
gente, então não havia motivo de pânico
ali. — Posso fechar a porta e fingir que
não vi nada.
— Não! — Ally disse e me
olhou. — Ele já estava saindo. — Eu
entendi o recado e também sabia que ela
iria querer conversar com a irmã sobre
tudo, colocar as fofocas em dia como
ela mesma costumava dizer.
— Isso. Eu já estava de saída.
Depois nos falamos — disse olhando
para Ally e ela balançou a cabeça. —
Tchau, Sophie! — Acariciei os cabelos
da garotinha e ela acenou um tchau para
mim. — Um prazer te rever, Hill —
disse e ela assentiu.
— Eu também estou feliz em te
rever, Joey. — Ela piscou e riu. Com
certeza, Hill me zoaria depois. O fato
dela e Giorgiana terem sido amigas,
acabou por fazê-la minha amiga também.
— Espero que não me faça mudar de
opinião — avisou-me e eu sabia que se
referia à Ally, eu ri sacudindo a cabeça.
— Eu espero o mesmo — disse
antes de ir em direção à porta do
apartamento.
Alice
Aquela visita inesperada de Hill
e Sophie com certeza me animou, toda a
tristeza causada pela morte de Kendra
ficou adormecida em meu peito enquanto
ela em contava as suas aventuras pela
Europa com o marido.
— Sophie se divertiu como
nunca — contou, enquanto a garotinha
estava na sala assistindo desenho
animado e tomando chocolate quente.
— Você parece meio triste para
quem se divertiu tanto — provoquei
comendo um pedaço de biscoito.
— Eu percebi que ele era muito
superficial. Primeiro esqueceu meu
aniversário, depois o de Sophie e isso
foi o começo, porque nunca me importei
com aniversários, mas ele começou a
esquecer que eu e Sophie existíamos.
— Como assim? Que louco.
— Ele saía de manhã numa
segunda-feira e voltava na outra
segunda-feira. Não dava notícias e agia
como se nada tivesse acontecido, como
se fazer aquilo fosse normal. Então, ele
começou a ficar estranho, eu sabia que
ele ficava meio maluco quando usava
drogas, mas ele começou a agir como se
não fosse ele mesmo, sabe? Até que um
dia... — Hill se calou e abaixou a
cabeça.
— O que aconteceu? — Ela
levantou a cabeça e lágrimas rolaram
por seu rosto.
— Ele quase bateu em Sophie e
eu defendi minha menininha, por isso ele
me bateu.
— Ai meu Deus, Hill. Você
precisa contar isso para o pai.
— Não, pelo amor que você tem
a mim. Não quero que ninguém saiba
disso, é vergonhoso para mim. Ele me
ameaçou, disse que acabaria comigo se
eu contasse. — Ela enxugou algumas
lágrimas. — Eu tive que fugir dele,
porque ele não queria me deixar vir
embora.
— Vergonhoso é esse cara ficar
impune! Ele te bateu em frente da sua
filha. — Ela chorou mais ainda. Eu fui
até ela e a abracei, ficamos assim por
alguns minutos e me arrependi por ter
sido tão grossa com ela, mas ela
precisava daquilo para acordar e
perceber o erro que estava cometendo,
aliás, mais um para sua coleção.
— Bom dia, Ally. Acordada tão
cedo... — A voz da minha mãe morreu
na garganta quando viu Hill na sala. Que
se levantou e correu abraçando-a, fiquei
assistindo a cena enquanto meu pai
surgia na cozinha se surpreendendo com
a presença de Hill e Sophie.
Inicialmente se olharam sem
saber o que fazer, mas por fim Hill o
abraçou fortemente. Sophie surgiu na
cozinha e agarrou-se na perna dele.
— Vovô! — chamou animada
enquanto ele e Hill se afastavam.
— Minha netinha linda! Que
saudades eu estava de você — exclamou
pegando Sophie no colo e deixando os
bracinhos dela envolverem seu pescoço.
Após o abraço ele ficou olhando para
Hill que esperava alguma reação diante
da presença dela ali.
Eu também fiquei tensa
esperando pela reação do meu pai que
nos últimos tempos teve brigas feias
com Hill, que nunca aceitava o que meu
pai dizia, mas o que aconteceu diante
dos meus olhos me fez sorrir como uma
criança no Natal.
— Não vai abraçar seu velho
pai? — Ele disse e Hill correu
abraçando-o com força enquanto ele a
abraçava de volta. Depois que eles se
soltaram, todos tinham os olhos
marejados. Sophie veio para o meu colo
e encostou a cabeça no meu ombro
sonolenta.
— Eu vim para ficar, pai. — Ela
disse e abaixou a cabeça. — Eu quero
saber se você me receberia até pelo
menos eu me ajeitar.
— Essa casa é sua, Hill. Fique o
tempo que precisar. — Minha mãe foi
até meu pai e depositou um beijo
estalado em seus lábios contente com a
reação do meu pai.
— Sabe o que seria muito legal?
— Eu disse e todos me olharam. —
Noite da pizza, como nos velhos
tempos.
— Seria excelente! A gente
podia chamar o Joey também, ele
sempre participou e não vai ficar de fora
dessa vez. — Minha mãe disse me
olhando. — Você podia chamar ele,
Ally.
— Claro — respondi tentando
não aparentar muita empolgação. —
Mas vou mais tarde, parece que ele
chegou super tarde daquela investigação
de ontem.
— Nem me lembre disso — Meu
pai disse engrossando a voz.
— Ai, pai! Não começa a brigar
comigo de novo! Eu estou ótima e não
vou nem ficar ouvindo, já ouvi muito
ontem e estou atrasada para o colégio —
comentei saindo rapidamente da cozinha
e indo para o banheiro começar a me
arrumar para ir à escola.
~*~

Não estava afim de ir à escola,


Hill tinha me dito que tinha presentes e
eu já estava pirando para saber o que
era, mas Lili me mandou uma mensagem
falando que precisava falar comigo
urgentemente.
Assim que tivemos um intervalo,
ela veio correndo ao meu encontro com
a cara de quem tinha passado por
momentos difíceis e me senti culpada
por preocupar mais comigo do que com
ela. Eu a abracei sem ela dizer nada, até
porque ela começou a chorar quando
chegou perto de mim.
— O que houve? — perguntei
aflita.
— Terminei com Ash. — Ela
disse com a voz chorosa.
— Como assim? O que
aconteceu?
— Eu não sei, ele tá todo
estranho comigo e eu não quero namorar
com um cara que nem me dê atenção.
Mereço mais do que isso. — Ela disse e
se afastou enxugando as lágrimas do
rosto. — Pronto! Vou ficar bem.
— E aí? — Ed se aproximou
com sua típica cara de preguiça por
estar na escola. — Que cara é essa,
Princesa Cecília? — Ele disse e sorriu,
sabendo que aquilo a irritaria
profundamente.
— Nada — ela respondeu e Ed
arregalou os olhos.
— Eu acabei de te lembrar que é
da realeza e você reagiu assim? A coisa
é séria. — Ed disse e a puxou para um
abraço. — Faz o seguinte, vamos nós
três para o meu apartamento, lá tem tudo
que vocês meninas precisam para
curarem tristezas.
— A gente não vai fazer um
ménage com você, Ed. — Rebati
rapidamente.
— Engraçadinha! — Ele fez uma
careta enquanto acariciava os cabelos
de Lili. — Estou falando de sorvete,
chocolate e tudo que vocês quiserem. É
só mandar a Matilde fazer ou comparar.
— Matilde era a empregada de Ed, a
melhor cozinheira do mundo. — Só não
me obriguem a assistir filmes do
Nicholas Sparks, pelo amor que vocês
têm a mim.
— Por mim, tudo bem — disse
animada.
— Por mim também — Lili
sussurrou ainda abraçada a Ed.
— Espero as duas no fim da
aula. — Ele piscou e depositou um beijo
na cabeça de Lili, mandou um beijo para
mim e foi para a sala em que teria aula.
Eu estava com tanto sono que
acabei cochilando na última aula que
tive e aguentei até demais. A minha
última noite tinha sido das piores, não
dormia, só cochilava e acabava
acordando assustada pensando em
Kendra. O resultado era aquele, eu
dormindo em plena aula.
Acordei com a cara grudada no
livro de Geometria, Ed sacudia meu
braço e eu levantei a cabeça meio tonta
e sonolenta. Esfreguei o rosto tentando
despertar e olhei Ed que ria da minha
cara, enquanto Lili estava encostada na
porta da sala, tentando não rir.
— Cara, você dorme demais,
sabia? — Ele disse rindo.
— Caramba! Eu não dormi bem
essa noite, foi isso — disse em minha
defesa rindo e juntando minhas coisas.
— A Princesa Cecília está
cansando de esperar. — levantei e vi
quando Ed foi até Lili e a abraçou. Foi
aí que me toquei do casal lindo que eles
faziam.
Meu Deus! Como eu era cega,
Ed e Lili pareciam um casal daqueles de
capa de revista. Eram lindos, ricos e a
única pessoa além de mim que Ed ouvia,
era ela. O fato de Lili ter terminado com
Ash, era um sinal divino.
— Quer saber de uma coisa? —
comuniquei ajeitando minha mochila. —
Vocês vão para lá. A Hill chegou ontem
de viagem e eu quero ficar com minha
irmã e minha sobrinha.
— Sério? — Lili disse animada.
— Eu quero tanto ver a Hill.
— Mas acho melhor você curtir
o Ed e amanhã vai lá — brinquei
tentando fazer com que ela não
desistisse de ir para a casa de Ed. Juntar
aqueles dois era minha nova meta e
quando coloco uma na cabeça, não há
quem tire.
— Isso mesmo, dona Cecília
Laurent! — Ed disse autoritário. — Já
mandei fazer um mousse de chocolate
para você, nem adianta me trocar pela
encrenqueira.
— A encrenqueira, por acaso,
seria eu? — perguntei dando um tapa na
cabeça de Ed.
— Quem mais seria? — Ele deu
de ombros e eu dei um soco no braço
dele que não foi forte, nem mesmo de
longe.
— Vamos? — Lili convidou. —
Ou iremos sair daqui de noite.
— Claro, Alteza — disse
andando e eles vieram atrás de mim,
Cecília me xingando e Ed a irritando
mais ainda.
Ed levou-me até o meu prédio e
assim que chegou me olhou seriamente e
falou comigo com a feição dele que eu
sabia ser a do Ed responsável. Ele se
virou para trás e Lili também para me
olhar.
— Ally, se precisar de colo e de
abrigo, sabe com quem contar. — Ele
piscou para mim e Lili assentiu. — A
gente sabe pelas coisas que você tem
passado e nós estamos aqui para te dar
toda força e apoio que necessitar,
entendeu? — Agradeci e beijei cada um
dos meus amigos.
— Eu amo vocês! — Afirmei,
porque por mais triste que estivesse
pelas coisas recentes, eu os tinha por
perto e também tinha a minha família. —
Se eu precisar, ligo ou procuro vocês!
Eles assentiram e nos
despedimos antes que eu saísse do
carro. Ed saiu acelerando assim que
entrei no prédio e sorri diante da
possibilidade de unir umas das pessoas
mais especiais para mim no mundo
todo.
No fim das contas, ninguém
poderia me julgar por querer espalhar o
amor, certo?

~*~

As várias caixas de pizza


chegaram eram 8 da noite e nós
começamos a comer sem Joey. Não foi
culpa minha, eu fui à casa dele durante
toda a tarde, mas provavelmente ele
deveria estar dormindo depois da
investigação do dia anterior, eu sabia
que ele tinha ganhado um dia de
dispensa para descansar e repor as
energias.
Nos sentamos na sala e Hill ia
entregar os presentes que havia trazido
para nós. Foi em meio aquele momento
de confraternização que Joey chegou
com os olhos fundos, parecia não ter
dormido direito. Pela minha posição, só
eu tinha visto ele.
Ele fez o típico sinal com os
olhos para que pudéssemos conversar e
eu concordei indo para a cozinha
enquanto todos na sala conversavam
animados comendo pizza e riam de
alguma coisa que Sophie havia feito.
Assim que chegamos à cozinha,
ele me segurou nos braços e olhou em
meus olhos. Parecia preocupado e
cauteloso ao mesmo tempo, algo não
estava certo ali.
— Preciso conversar com você,
Ally.
— O que foi?
— Pode sair daqui rapidinho?
Não acho que deve ser uma conversa
para ter na sua casa.
— Você está me assustando —
respondi com o coração disparado.
— Não quero falar sobre isso
aqui — falou de maneira seca.
— Tudo bem. — Eu não gostei
do que vi em seus olhos. Além da
preocupação e cautela, havia um misto
de tristeza e decepção, algo que não
tinha notado antes. Meu estômago ficou
cheio de borboletas, mas não daquelas
boas. — Me espera no seu apartamento,
vou dar um jeito aqui.
Eu fui até a sala e dei uma
desculpa de que tinha exercícios da
escola e fui para o meu quarto, mas na
verdade escapei direto para o
apartamento de Joey com o coração na
mão.
Ele me esperava na porta, com a
cabeça baixa e o olhar perdido quando
abriu a porta e me deu passagem. Eu
entrei e fomos direto para seu quarto, em
silêncio, um silêncio assustador. Porém
eu não sabia o que viria a seguir, se
soubesse adoraria que o silêncio
continuasse.
— Eu tinha acabado de tomar
banho e estava me vestindo agora há
pouco, quando recebi um e-mail, Ally.
— Joey quebrou o silêncio, sentou em
sua cama e colocou a cabeça entre suas
mãos. — Imagina minha expressão
quando abri o e-mail e descobri que era
de Scott. Eu nunca poderia imaginar o
que eu encontraria lá.
Oh, não! Scott. Aquilo não
terminaria nada bem.
— Joey eu posso explicar, foi há
um bom tempo, antes da gente se
envolver...
— Não. — Ele falou e ergueu a
mão. — Você não estava comigo, não
tem que se explicar. Podia fazer o que
quiser, com quem quisesse. — Ele
comprimiu os lábios com os olhos ainda
vidrados no celular.
— O que esse idiota te falou?
Não foi nada, Joey. Não sei nem porque
fiz aquilo, me arrependo tanto — disse e
um desespero crescente em minha voz já
embargada pelo choro pendente em
meus olhos.
— Então, porque deixou ele tirar
essas fotos? Você está nua nelas. Em
algumas meio desfocadas, mas é você.
— Eu fiquei petrificada ao ouvi-lo.
Desde quando existiam fotos? Meu
Deus, tinha sido pior do que pensava,
então? Eu estava tão bêbada naquele dia
e só lembrava de flashs de alguns
momentos que tinham acontecido, para
ser sincera, nem lembrava de ter bebido.
O que achava estranho. — Imagina só.
Eu estava no banho, pensando em nós e
em uma maneira de fazer isso tudo entre
nós funcionar e então recebo isso. —
Ele sacudiu a cabeça e apontou para o
celular. — Eu senti uma avalanche de
sentimentos e sinceramente não sei ainda
o que pensar disso tudo. Aliás, porque
escondeu isso de mim?
— Eu não sabia de foto
nenhuma. — Eu estava toda arrepiada e
parecia que meu chão tinha se
transformado em gelatina. Levei uma
mão até minha boca horrorizada e
lágrimas caíram em meu rosto. Medo,
desespero, um terror que nascia bem de
dentro do meu peito e tomava conta de
cada pedaço meu. Joey levantou, sua
expressão era um precipício para a
loucura quando ele se aproximou de
mim.
— Você está me dizendo que ele
tirou essas fotos sem seu consentimento?
— Eu assenti e ele jogou o celular no
chão, com toda força. — Aquele filho da
puta vai me pagar por isso!
— Não! — disse quando Joey
virou e saiu andando, corri atrás dele e
o segurei pelo braço, ele virou e me
olhou com fúria transbordando nos
olhos. — Vai ser pior! Ele pode usar
isso contra mim, ou contra você.
— Alice, acorda. Ele fez isso
para me atingir, obviamente. — Sacudiu
a cabeça e passou as mãos pelos
cabelos com violência. — Ele perdeu o
cargo na investigação e achou que tinha
o direito de me fazer perder algo,
obviamente quer me tirar você também,
além de querer fazer alguma chantagem.
— Ele riu, um riso amargo e irônico que
me doeu. — Aliás, você esteve mesmo
comigo, Ally? Porque esconder isso de
mim não foi legal. Sabendo que Scott e
eu temos uma inimizade e que ele
poderia eventualmente usar isso contra
nós.
— Claro que estive! Eu te amo,
Joey! Nunca duvide disso novamente! —
afirmei apesar da voz embargada de
choro. — Eu não queria que você
ficasse assim! — Continuei em meio às
lágrimas, elevando o meu tom de voz.
— Adivinha só? Eu fiquei do
mesmo jeito e foi pior. Se você tivesse
me contado, eu não gostaria de ouvir do
mesmo jeito, mas não me importaria no
fim das contas, porque querendo ou não,
é passado e você estaria sendo sincera
sobre isso, mas caramba, eu tive que
saber disso dessa forma....grotesca. Ver
seu corpo exposto assim, só me fez
sentir ódio dele.
— Eu não imaginava que ele
seria capaz...
— Capaz de quê? De tirar fotos
suas sem consentimento? — Ele
respirou fundo, buscando paciência para
toda aquela confusão, mas ele não
encontrou. — É do Scott que estamos
falando, Ally. Ele faz coisas erradas,
coisas ilegais e você caiu na armadilha
dele direitinho. Eu me lembro que há
bastante tempo, e nem existia nada entre
nós, eu te contei tanta coisa ruim que
esse babaca fez, até mesmo com o
próprio irmão! Mas não, você tinha que
ir lá e fazer uma merda desse tamanho.
— Me escuta, Joey. Me deixa
falar. — Supliquei segurando em suas
mãos.
— Quer saber de uma coisa? Vai
para casa, Alice. Eu preciso resolver
isso e acredite que será resolvido essa
noite. — Ele me olhou dentro dos olhos.
— Prometi que te protegeria e é por isso
que vou lá agora e recuperar essas fotos,
não importa se isso me custar essa
investigação. Me importa que você não
saia ferida dessa história.
— Você me perdoa? — Eu disse
em meio a um soluço que me escapou
dos lábios.
— Não sei, eu não estou
raciocinando bem agora, mas não sei se
tenho que te perdoar por alguma coisa.
Não estávamos juntos na época, você
disse isso e eu acredito, sei que nunca
me trairia assim como eu nunca faria
isso com você. Mas não vou mentir que
agora, eu preciso de um tempo para
colocar os pensamentos no lugar,
entende? — Ele comprimiu os lábios e
olhou para o teto soltando uma lufada de
ar. Ele me olhou e sorriu de canto, mas
seus olhos estavam carregados. — Vai
dar tudo certo — disse sem muita
confiança nas próprias palavras.
Então ele saiu de seu
apartamento deixando-me sozinha e
assim que ele bateu a porta, eu caí no
chão, enquanto as lágrimas banhavam
meu rosto. Pensei em minha família, em
como meus pais reagiriam quando
vissem as fotos que nem eu mesma tinha
visto. Sabe quando você sente que seu
mundo para e você fica olhando para o
nada, pensando em tudo e seu peito
parece se carregar de dor a cada vez que
você enche seu pulmão de ar para
respirar? Eu fiquei assim, por horas
talvez.
Sentada no chão da sala de Joey,
sem forças para levantar e com as
lágrimas banhando meu rosto de forma
categórica, meus lábios tremiam e meus
soluços por conta do choro pareciam
diminuir com o tempo, mas voltavam
quando começava a pensar na merda que
eu tinha me metido. Talvez Joey
estivesse certo, como ele namoraria uma
menina inconsequente como eu? Será
que eu merecia o amor dele? Perguntei-
me enquanto abracei meus joelhos e
deixei que o choro aumentasse
novamente.
Eu não sei quanto tempo fiquei
ali, mas o cansaço foi tomando conta do
meu corpo e eu acabei adormecendo em
certo ponto. Quando abri meus olhos
novamente, estava em meu quarto e Hill
estava abraçada a mim, dormia
profundamente.
Eu fechei meus olhos de novo e
tudo o que tinha acontecido voltou: o
medo, o arrependimento, a dor e o
pânico de ter perdido tudo que mais
amava. O amor do homem que eu amava
por conta da omissão de um fato que
apesar de parecer bobo, era na verdade
uma bomba-relógio pronta para explodir
sobre minha cabeça a qualquer
momento. E claro, o pânico de ter
perdido o respeito da minha família e a
minha dignidade diante todos que me
conheciam, caso Scott resolvesse usar
aquelas fotos contra mim.
Lágrimas caíram e eu as
enxuguei. Em minha mente e meu
coração havia o desejo de que tudo
aquilo fosse mentira e que aquela
situação toda fosse varrida para bem
longe de mim. Mas cá entre nós, a gente
sabe que nessa situação eu precisava
levantar a cabeça e enfrentar as
consequências do erro cometido. Afinal,
ter transando com Scott foi um erro
monstruoso, não pelo ato inconsequente
quando eu nem mesmo estava cem por
cento sóbria, mas pela pessoa nojenta
que ele era.
Só não seria naquele dia. Eu
estava me dando férias e eu sabia
exatamente aonde eu procuraria abrigo e
um colo para poder chorar.
Capítulo 21
Ed tinha os olhos inchados de
sono quando abriu a porta e me abraçou.
Logo depois, sem nenhuma palavra dita,
ele me levou até a cozinha, abriu um
pote de sorvete e me entregou.
— Come. A Lili melhorou
bastante depois que devorou metade do
pote — disse com um sorriso de canto.
— Então, quando se sentir melhor, pode
me contar.
— Não preciso de tempo. Eu
quero contar agora — disse e coloquei
uma colherada de sorvete na boca,
quando engoli me dei conta de que não
queria comer nada. Meu estômago ainda
embrulhava.
— Então, conte. — Ele deu a
volta na bancada de granito e me pegou
pela mão guiando-me até a sala de seu
apartamento luxuoso. Sentei-me no sofá
enquanto o sol se colocava diante dos
nossos olhos através da porta de vidro
que dava acesso à uma varanda e ele me
olhou esperando que eu contasse. — Foi
o Joey?
— O Scott. — Eu falei e esperei
por sua reação.
— Scott Olsen? Aquele policial
babaca que acha que porque conhece
meu pai tem direito de ter acesso VIP a
todas as boates clandestinas do meu
pai?
— Esse mesmo. Aliás, lembra
aquela vez que fui até uma boate
clandestina com você e Lili e nem foi
em uma das suas, foi uma super estranha,
mas que a gente adorou e se divertiu
horrores? — disse amargando a
lembrança e Ed assentiu. — Pois então,
naquele dia Scott me viu lá.
— E te chantageou, porque isso
é a cara dele. — Ed começou a parecer
um pouco mais irritado.
— Exatamente. E digamos que
ele não é feio, ele é o tipo do cara gato,
mas que por conta da personalidade fica
horroroso. Eu acabei cedendo a
chantagem dele, porque eu estava
bêbada e nem achei que seria mal
negócio.
— Não me lembro de ter te visto
beber naquela noite. — Ed comentou e
eu assenti.
— Eu achava que estava louca
por pensar nisso, mas agora que você
levantou esse tópico, também não me
lembro de ter bebido, porque você sabe
que nunca fui muito do tipo que bebe.
— Não duvido que alguém tenha
batizado sua bebida. — Ed disse e
levantou uma das sobrancelhas,
deixando bem claro que Scott poderia
ter feito aquilo. Eu não duvidava
também. — Ele pediu para ficar com
você?
— É, mas no sentido literal. —
Eu respondi — disse que se não
ficássemos, ele contava que eu estava
em uma boate com você e Lili.
— Filho da puta! Quem ele
pensa que é? E pelo visto você caiu na
dele, por isso que você deu um perdido
na gente naquele dia.
— Ele me levou para o
apartamento dele e nem era aqui na
cidade, depois me levou para casa e por
incrível que pareça, foi legal comigo.
— Quando o assunto é sexo,
qualquer cara fica legal — Ed falou e
percebi que ele estava começando a
ficar vermelho. Era assim que ele reagia
quando ficava muito irritado e não
extravasava a raiva, o novo Ed parecia
estar agindo naquele momento.
— Enfim, ele tirou fotos minhas,
Ed. Eu não deixei, aliás, nem sabia
dessas fotos e descobri hoje.
— O quê?! Você está falando
sério? — Ele colocou as mãos em meus
braços. — Alice, isso é sério. Eu queria
mandar espancar esse cara, mas não vou
fazer isso porque sei que não vai
adiantar e talvez só piore a situação.
— Não faça isso, pode piorar
mesmo e eu não quero isso.
Meu celular começou a chamar
quando Ed ia continuar falando, eu vi o
nome de Joey no visor e meu coração
estava disparado antes mesmo de
atendê-lo.
— Joey? — Falei com os olhos
vidrados no estofado do sofá, tentando
não surtar com medo do que poderia
acontecer.
— Ally, já está tudo resolvido.
Fica tranquila, o Scott não vai mais
prejudicar você com aquelas malditas
fotos.
— Obrigada... — Eu parei a
palavra pela metade, pois ele já tinha
desligado a ligação. Eu comecei a
chorar, não queria chorar mais, mas as
minhas lágrimas eram teimosas e
insistiam em descer. Ed se aproximou e
me abraçou.
— O que ele disse? — Ele
acariciou meus cabelos.
— Que já resolveu tudo.
— Então é isso, acabou. Não
precisa chorar — disse tentando me
reconfortar.
— Eu sei, em parte é de alívio e
em parte é porque acho que Joey não vai
querer olhar na minha cara depois de
saber que isso aconteceu entre mim e
Scott. Precisava ver a cara de desprezo
e nojo dele ontem.
— Ele só está assim por
enquanto, eu tenho certeza de que em
breve ele vai voltar a ficar com você
como sempre ficou. Ele ama você, Ally
— disse sem peso na voz, não havia
nenhum rastro de tristeza ali. — Eu
aceitei mais fácil que a gente nunca
ficaria porque eu sabia que você ia ficar
com alguém que te amava e que cuidaria
de você, isso me ajudou a seguir em
frente e aceitar que precisava
recomeçar.
— Será mesmo? — Eu levantei
um pouco a cabeça e ele me ergueu,
segurando meu rosto com suas mãos.
— Tenho certeza absoluta disso.
— Ele depositou um beijo na minha
testa e se levantou do sofá, prendendo
com mais força a faixa do roupão preto
de algodão que envolvia seu corpo. —
A Lili dormiu aqui ontem. Quer ir
acordar aquela dorminhoca?
— Eu preciso ir para casa, Ed.
Tem escola e não posso ficar faltando,
você sabe que antes das três semanas de
descanso do fim de ano, temos aqueles
exames finais que acabam com qualquer
mente — disse e Ed me segurou pelo
braço.
— Não vai à escola hoje, ficou
doida? Precisa descansar. Fica aqui em
casa, daqui a pouco a empregada chega
e faz companhia para você. Tá bom? —
Concordei, no fundo não tinha a menor
vontade de ir para a aula, e sendo
sincera nem conseguiria prestar muito a
atenção. — Então, vamos lá acordar a
Lili?
Ele perguntou e aceitei, indo
com ele acordar a nossa melhor amiga
na base do travesseiro. Ela obviamente
acordou aos pulos e aos gritos, aquilo
me fez dar uma boa gargalhada e eu
tinha certeza de que não havia nada
melhor para curar minha tristeza do que
aquilo.
Depois que ela acordou,
tomarmos café juntos, eles se arrumaram
e foram para a escola. Lili que já estava
sabendo da situação, veio me abraçar
antes de ir com Ed.
— Escuta só, nada vai acontecer
com você mais. Então, relaxa e fica
tranquila. Aproveita o apartamento
chique do nosso amigo lindo, fica
naquela banheira e finge que está num
SPA renovando as forças e energias, ok?
Depois da aula virei para cá, apesar de
que minha tia vai perguntar se não quero
mudar, porque fico mais aqui e no seu
apartamento do que realmente em casa
com ela — Lili brincava, tentando
melhorar meu humor.
— Não precisa fazer isso,
principalmente se ela ficar te enchendo
— disse e ela negou com a cabeça.
— É por uma boa causa. Você
precisa de mim e eu estou aqui para isso
— Completou e abraçou-me de novo e
então Ed resmungou do outro cômodo
para que ela fosse logo ou eles se
atrasariam.
— Vai logo ou ele vai surtar —
disse e ela aquiesceu antes de ir
correndo.
Eu fiz o que não tinha
conseguido fazer muito nos últimos dias.
Dormi.
Foi um sono profundo, sem
pesadelos, sem acordar assustada e
chorando. Eu consegui relaxar de
verdade enrolada no edredom do quarto
de visitas, onde eu e Lili dormíamos
sempre. Ed fez questão de mudar as
camas que eram de solteira, para duas
camas de casal, para que pudéssemos
cada uma dormir confortavelmente em
uma cama king size.
Quando acordei e olhei em meu
celular, havia uma chamada perdida de
Hill. Ela deveria estar super preocupada
comigo, porque pela minha dedução ela
tinha me encontrado no apartamento de
Joey e deu um jeito de me levar para
casa. Ainda me perguntava como ela
tinha feito isso.
Levantei-me depois de olhar que
era mais de meio-dia, cheguei na
cozinha e Matilde — a empregada de Ed
— fazia alguma coisa que cheirava
muito bem, ela me viu e abriu um
sorriso, super alegre como sempre.
— Minha querida. — Ela veio
até a mim me abraçando. — Como você
está?
— Mais ou menos, mas vou ficar
bem. — Aproximei-me das panelas no
fogo e ela voltou a mexer nelas. —
Depois que comer, vou ficar
maravilhosamente bem! Parece estar
uma delícia, como tudo que você faz.
— Ah, minha menina. Assim fico
sem-graça — disse ficando corada. Eu
olhei para a televisão e esfreguei os
olhos para ter certeza do que via. Uma
foto de Scott. Meu coração acelerou
novamente com medo do pesadelo não
ter acabado. Nem li a notícia que
piscava embaixo.
— Cadê o controle da televisão?
— perguntei e Matilde aumentou o
volume, a voz da repórter atingiu os
meus ouvidos.
— O corpo do policial e
especialista forense Scott Olsen foi
encontrado há meia hora e as
autoridades ainda não deram um parecer
sobre o assunto e a causa da morte.
Fontes confiáveis nos contaram que o
policial tinha muitas inimizades e que
isso pode ter sido um assassinato
movido por vingança. Mais informações
serão dadas assim que chegarem à nossa
central de notícias.
Levei a mão à boca, assustada
com a notícia. Senti-me um monstro por
estar aliviada, mas ao mesmo tempo
chocada com aquilo. Na mesma hora, Ed
e Lili chegaram da escola juntos rindo
de alguma coisa.
— Você foi hilário! — Lili disse
em meio às risadas, olhei para eles e Ed
perceber na hora o meu estado, Lili
parou de rir assim que viu minha feição
de choque.
— Scott foi morto — disse e Lili
arregalou os olhos.
— Sério? — Ed perguntou com
surpresa.
— Sim. Eu não sei nem o que
sentir, ou pensar — disse e eles vieram
me abraçar. Em minha cabeça lembrei
de Joey, precisava falar com ele.
Então foi como um susto. Eu me
lembrei da conversa que tivera com
Joey e dele falando que o assunto estava
resolvido e que Scott não nos
incomodaria mais. Não, Joey não seria
capaz de matar o Scott. Ou seria?
Lembrei do olhar dele antes de
sair do seu apartamento na noite anterior
e em como ele parecia possuído pela
raiva e a revolta pelo que Scott tinha
feito comigo. Aquele Joey seria capaz
de matar qualquer pessoa e aquilo me
apavorou, se ele tivesse feito algo
daquele tipo, acabaria com tudo que ele
tinha construído na vida e simplesmente
por minha culpa, para tentar consertar
um erro que destruiria a minha vida.
— Eu preciso ligar para o Joey
— disse quando eles se afastaram de
mim.
— Você precisa comer antes,
menina Alice. — Matilde disse
colocando um prato de comida sobre a
bancada. — Aliás, todos vocês
precisam comer.
— É, Ally. Coma primeiro e
depois você se preocupa em ligar para
ele — Lili disse acariciando meus
cabelos. Meu estômago roncou, mas
minha preocupação era maior, o que
acabava não importando muito porque
pelos olhos dos meus amigos percebi
que se não comesse naquele momento,
eles me obrigariam. Pareciam minha
mãe, achando que comida resolve
qualquer problema da vida.

~*~
Hill me ligou em desespero logo
depois que terminei de comer, eu
expliquei que tinha ido para a casa de
Ed e ela disse que viria até meu
encontro. Meia hora depois ela chegou e
assim que abri a porta, ela me abraçou
fortemente.
— Você está bem? — minha
irmã perguntou com a voz em
desespero.
— Acho que sim. Você viu a
notícia de Scott?
— Sim, aquele bastardo já foi
tarde — respondeu de maneira fria. —
Me lembro quando ele ficava enchendo
a cabeça do pai de Sophie para me
largar. No fim eu mesma não quis nada
com ele, mas o Scott era uma cobra que
envenenava tudo que encontrava pela
frente.
— Cadê a Sophie? — perguntei.
— Você sabe como nossa mãe é
grudada nela e resolveu dar uma volta
com ela no parque. O pai teria ido se
não fosse esse idiota do Scott ter
morrido, até depois de morto, causa
confusão.
— E o Joey? Alguma notícia?
— Ally, eu vim aqui para falar
sobre isso com você. Tem alguém
aqui? — ela perguntou, olhando em
volta
— Todo mundo sabe da situação
toda, Hill. Fica tranquila — disse
fechando a porta e levando ela até o
sofá. — E eles estão assistindo um filme
no quarto do Ed.
— Ótimo. — Minha irmã se
sentou no sofá e eu a segui. — Eu estava
indo dormir ontem depois que nossos
pais que já tinham se perguntado aonde
você tinha enfiado, antes de ir dormir.
Enquanto terminava de checar se Sophie
estava dormindo direitinho, recebi uma
ligação de Joey, pedindo que fosse te
buscar. Ele acabou te carregando até lá
em casa, porque eu não conseguiria. Ele
parecia desesperado, Ally. — Ela
segurou minha mão. — Mas o que me
assustou foi o seu estado, você ficou
cansada de tanto chorar, foi aí que
percebi que talvez essa relação sua com
Joey não esteja te fazendo bem.
— A culpa foi de Scott.
— Joey me contou.
— Fofoqueiro — resmunguei.
— Eu exigi que ele me contasse,
Ally. Sabe que sou persuasiva, você tem
esse gene da família. — Sorriu de canto.
— Não o culpe. Aliás, não quero nem
falar desse idiota do Scott, porque o seu
erro foi uma coisa estúpida, mas já era e
agora com a morte do Scott, acabou.
— Como o Joey estava? Ele
parecia chateado?
— Eu acho que sim, mas o que
importa é você, Ally. Eu acho que vocês
dois deveriam se afastar, você me
contou ontem que pediu um tempo, mas
pelo que vi vocês não estão realmente
dando um tempo. Tudo parece que faz
com que você volte para ele, ou te faça
procurar por ele. Tente não ser tão
dependente dele.
— Não é fácil. Você sabe que
ele sempre resolveu tudo para mim,
sempre esteve do meu lado. Posso
confiar nele de olhos fechados.
— Eu sei disso, mas tem que
lembrar que não existe só ele no mundo,
você tem o Ed, que tem poder de mandar
e desmandar em quase 90% da cidade
por causa do pai dele. Tem a Lili ou eu
para desabafar quando for preciso. Você
não tá sozinha, irmãzinha.
— É, eu sei disso. — Concordei
e dei um suspiro fundo. — Será que dou
conta?
— Tenho certeza que sim e eu
vou estar do seu lado para te ajudar. —
Abriu a sua bolsa e prosseguiu. —
Aliás, um cara chamado Dominic
apareceu lá em casa. Eu demorei para
me tocar quem era até me lembrar de
você lendo os livros dele.
— Dominic Evans? — indaguei
surpresa.
— Exatamente. Nossa mãe quase
pirou, ele não ficou muito tempo lá em
casa porque disse que tinha que ir para o
jornal, mas perguntou quando você
estaria em casa e que esperou justamente
o horário do final da aula achando que
você já teria chegado.
— Ele falou o que queria? —
perguntei curiosa. Será que Janet tinha
dito qual era o número do meu
apartamento?
— Ele disse que pensou em te
ligar, mas tinha que falar com você
pessoalmente. Agora me conta o que ele
quer com você? Ganhou alguma
promoção ou algo assim?
— Ele entrevistou o Joey e a tia
dele mora lá no prédio.
— Só isso? Ele me pareceu
bastante interessado.
— Ele me deu carona para a
escola, mas acho que... não, ele não quer
nada demais — disse enquanto Hill me
olhava duvidosa. — E pare de me olhar
assim! É sério!
— Eu não falei nada. — Riu
colocando as mãos em frente ao corpo
como defendendo de mim. — Liga para
ele e pergunta. Se você não estiver
curiosa, eu estou.
— Certo. Farei isso.
— Hilary! — Ed apareceu na
sala sorridente. — A que devo a honra
de sua visita?
— Ai, Edward. Te olho e às
vezes esqueço que tem só 18 anos,
parece um daqueles executivos
importantes. — Ela se levantou do sofá
abraçando Ed.
— Isso foi um elogio? — ele
perguntou com voz divertida.
— Claro! Sempre torci para que
vocês pudessem ficar juntos — Hill
provocando, apontando para mim e eu
rolei os olhos.
— Cala a boca, Hill. Ed sabe
que isso é página virada — respondi.
— Ela está certa. Já resolvemos
nossa situação, agora eu só tento colocar
um pouco de juízo na cabeça dela e
imagina só, logo eu que nunca fui o mais
sensato. — Ele deu seu sorriso de lado e
piscou para mim.
— Ela está precisando mesmo
— disse Hill assentindo.
— Olha quem fala, né? Por favor
— falei negando com a cabeça e Ed riu.
— Ei, Hill. Quer beber alguma
coisa? Me lembro que gostava
daqueles drinks que eu preparava.
— Aquele de romã! Saudades
daquele que provavelmente foi o melhor
drinque da minha vida!
— Vem comigo, então. Vou
preparar. — Ele se virou para mim
depois. — Ally, vê se a Lili não
cochilou assistindo o filme e chama ela
para cá também. — Acedi e fui até o
quarto chamar Lili.
Assim que cheguei no quarto a vi
sentada, com os olhos pensativos e ela
até olhava para TV, mas não parecia
estar muito atenta ao que acontecia.
Sentei-me ao seu lado e a abracei.
— Ei, que cara é essa? — Ela
me olhou e sorriu de leve.
— Ah, sei lá. Tanta coisa
acontecendo com você, eu não quero te
preocupar.
— Ah, caramba! Para com isso.
Nós somos amigas para aguentarmos
nossas cargas de dificuldades juntas,
certo? — Eu disse e ela me olhou
sorrindo. — E então, o que houve?
— Bom, minha tia está doente.
— Ela disse sem rodeios. — E pelo que
parece, ela não vai poder tomar conta de
mim por muito tempo, sendo assim...
— Você vai precisar voltar para
a Espanha? — Eu perguntei espantada e
ela assentiu com os olhos marejados. —
Ah não, Lili!
— Eu não quero voltar para lá,
Ally. Você sabe que minha aversão a
toda essa coisa de realeza é na verdade
uma aversão ao que minha família me
submete. — Ela enxugou uma lágrima
que escapou. — Eles são implacáveis e
às vezes cruéis. Lembra a história da
minha prima que me humilhou no meio
de uma festa de aniversário?
— Claro, você me contou e
chorou mesmo tendo acontecido dois
anos antes. — Abracei-a mais forte. —
Acredite que a gente vai arrumar um
jeitinho de resolver isso. Juro!
— Eu acredito que sim. — Ela
enxugou outra lágrima e então respirou
fundo antes de prosseguir. — Então,
vamos deixar esses papos sofridos? Eu
sei que o clima não está bom, com essa
confusão sua, a morte do Scott que não
decidi ainda se foi boa ou ruim. E não
quero aumentar nossa tristeza com meus
problemas. — Ela pegou o controle e
apontou para a televisão. — Vem
assistir comigo. Esse tem um final feliz,
eu li o spoiler do final. — Ri enquanto
ela se ajeitou debaixo do edredom.
Meu celular começou a chamar e
ignorei de começo porque me ajeitei na
cama espaçosa de Ed e comecei a
prestar atenção no filme que ela tinha
colocado.
No filme a mocinha passava por
vários problemas e no fim do dia
sempre tinha um sorriso e a certeza de
que ficaria bem, mesmo que os
problemas persistissem no dia seguinte.
De repente me toquei que talvez
estivesse levando tudo muito a sério,
não que eu fosse dali em diante mudar e
me tornar uma rebelde, porque já tive
essa fase.
O que eu queria era recomeçar,
assim como Hill tinha dito. A vida
estava ali diante de mim e o que eu faria
em breve? Teria responsabilidades de
adulta, e nem teria ao menos
aproveitado e só lembraria de ter ficado
preocupada com Joey.
A partir daquele momento, eu
cuidaria de mim, eu me preocuparia
comigo.
Meu celular começou a chamar
novamente e Lili revirou os olhos.
— Dá para você atender essa
porcaria logo? Eu estou curiosa para
saber! — ela disse rindo.
— Eu acho que sei quem pode
ser — respondi rindo enquanto pegava
meu celular, olhei no visor e um nome
que talvez eu já esperava brilhava no
visor.
— Quem? Joey? — ela
perguntou tentando ler e eu tirei da vista
dela. — Ah, sua safada! Você arrumou
outro? Assim tão depressa?
Levantei-me da cama e eu
apertei para atender, ela parou diante de
mim tentando descobrir com sua cara
determinada. Eu respirei fundo antes de
enfim conseguir falar.
— Oi!? — Mordi o lábio e
esperei pela voz do outro lado da linha.
— Nossa, enfim consegui falar
com você. Parece que você é mais
difícil de entrar em contato do que o
presidente dos Estados Unidos —
Dominic disse divertido. — Eu fui até
sua casa, mas você não estava.
— É, minha irmã me avisou.
Disse que conheceu minha mãe — falei
animada, talvez até demais.
— Sua mãe é uma figura, me
encheu de perguntas e inclusive queria
saber o motivo de ter ido até seu
apartamento.
— Não posso culpá-la. Confesso
que estou bastante curiosa. Eu posso
saber o motivo? — perguntei e Lili
acenou para mim esperando eu dissesse
alguma coisa.
—É um convite, na verdade.
Mas eu queria muito fazê-lo
pessoalmente. — Eu levei minha mão ao
peito e Lili me olhava sem entender.
— O que você tem em mente? —
perguntei e mordi o lábio inferior.
— Posso te encontrar agora
mesmo. Te busco onde estiver e a gente
toma um suco. Topa? — sugeriu de
maneira firme e adorei aquela maneira
decidida dele.
Seria considerado um recomeço
se eu aceitasse ver Dominic? Aliás, nem
era nada demais. Afinal de contas, quem
me garantia que aquilo fosse um
interesse a mais? A verdade é que me
importaria se fosse, mesmo que
significasse só curtição mesmo.
— Eu adoraria, Dominic —
respondi e Lili levou as mãos à boca,
em choque por constatar que era
Dominic ao telefone comigo.
Passei o endereço do prédio de
Ed e nos despedimos logo depois.
Assim que desliguei a ligação, Lili
começou a gritar feito uma louca e pular
em cima da cama de Ed e não demorou
muito para que ele viesse ver o que
estava acontecendo com ela.
— Que bagunça é essa? —
perguntou com a cara séria, mas
começou a gargalhar assim que olhamos
assustadas para ele. Ele correu até a
cama e se jogou sobre ela, puxando Lili
para baixo, grudando-a em seu corpo.
Não disse? Perfeitos juntos.
— Ally tem um encontro —
Cecília anunciou animada.
— Não é um encontro, eu só vou
ver o que ele quer falar comigo, mas ele
disse que tem um convite, então talvez
ele marque um encontro de verdade —
sonhei e ela sacudiu as pernas no ar
animada, Ed deu uma de suas típicas
gargalhadas.
— Quem é o cara? — Ed
perguntou.
— Dominic Evans — respondi.
— Sabe quem é?
— Meu pai o conhece bem, mas
eu apenas o conheço de vista. Acho que
ele vai estar na festa de gala de fim de
ano. — Ed comentou sentando e
puxando Lili para seu colo, ela
entrelaçou os braços ao redor de seu
pescoço. Um contato normal de amigos,
que já me fez imaginá-los juntos
novamente. — Talvez seja isso que ele
queria falar. Ele deve te convidar como
acompanhante para a festa.
— Será? Essa é a festa mais
comentada do ano! Meu pai já até
ganhou alguns prêmios, mas ir
acompanhada de alguém como o
Dominic seria outro nível — disse
animada. — Você vai à festa?
— Se você for com ele, serei
obrigado a ir para te vigiar. — Ele riu e
piscou. — Lili vai como minha
acompanhante.
— Ebaa! Festinha! — Lili disse
sacudindo a cabeça e bagunçando os
cabelos.
— Ei, sua irmã foi embora.
Parece que sua mãe ligou e pediu que
ela fosse ajudar com a Sophie. — Ed
disse confuso. — Ela parece ter
mudado.
— Hill está tendo uma nova
chance e resolveu recomeçar — disse
pensando nas minhas palavras.
— É, todos merecemos um
recomeço — divaguei. — Agora vai
logo se arrumar porque o cara vai
desistir de você se perceber o quanto
demora para se arrumar. — Eu fiz careta
para ele que riu.
Fui para o banheiro animada,
ouvindo os gritos de Lili enquanto Ed
fazia cócegas nela e ela pedia que ele
parasse. Até mesmo Ed disse que todos
mereciam um recomeço, e aquela
palavra estava me perseguindo, ou
talvez fosse o destino me chamando para
as mudanças.
Dominic
Encerrei a ligação com Ally e
ajeitei meu terno, andando em direção
ao meu carro. Foi fácil perceber que
Joey e ela estavam brigados, aliás, Joey
não tentou esconder esse fato.
Claro, depois daquela
circunstância com Scott nenhum cara
aguentaria o peso da situação.
Principalmente quando Scott era o cara
que Joey mais detestava. Eu também o
detestava, claro. Mesmo tendo falado
com ele pouquíssimas vezes. Desde o
dia em que nos conhecemos nas docas,
foi uma antipatia gratuita. Eu estava
muito feliz com sua morte, assim como
pela maneira adorável que ele tinha
morrido. Quem o matou tinha sido um
gênio e esse gênio era eu mesmo.
Um sorriso brilhou em meus
lábios quando fotos do corpo de Scott
— que eu havia vazado na internet —
passaram na televisão. Pessoas se
aglomeravam no hall de entrada do
prédio do jornal. Algumas chocadas,
outras tentando entender a mente de
quem havia feito aquilo e não havia o
que entender, eu era daquele jeito e
adorava ser assim.
Depois de Kendra, nunca pensei
que fosse matar num impulso novamente,
apesar de que com Kendra foi tudo
muito bem pensado, mas com
Scott...com ele foi um impulso. Quando
ele apareceu no meu apartamento me
confrontando por achar suspeito terem
me visto andando pelo local onde tinha
colocado o corpo de Kendra, percebi
que tinha que matá-lo.
Seria fora dos meus padrões,
seria fora do que acho certo, mas seria
divertido. Foi muito interessante ver até
que ponto ele aguentava dor, eu o
torturei bastante antes que enfim tirasse
sua vida medíocre. Ele era carta fora do
baralho.
Novamente, eu estava no
controle do jogo e minha próxima
jogada era colocar Alice na
brincadeira.
Caso algo saísse do controle ou
não desse certo, não que eu acreditasse
que fosse falhar, porque eu não tinha
dúvidas de que estava cada vez melhor e
tinha certeza que me descobrir seria
mais complicado do que poderia
aparentar, mas ainda assim se algo não
ocorresse conforme o planejado, eu
usaria Ally para minha cartada final.
Capítulo 22
Lili deu uma volta e me olhou
com seu olhar questionador que sempre
tinha quando comprava roupas novas. Eu
era uma amiga muito prestativa, apesar
de não ter tanta paciência para o quesito
“compra de roupas”.
— E então? Gostou? — ela
perguntou mordendo o lábio inferior
cheia de dúvidas.
— Esse vermelho ficou tão
lindo! Leva esse! — disse praticamente
implorando.
Eu e ela estávamos tentando
escolher um vestido para que não
passássemos vergonha na festa de fim de
ano da cidade de Golden Coast. Eu já
tinha escolhido um azul escuro longo, na
semana anterior e Lili resolveu achar
que ficou gorda no vestido e quis trocar
no dia da festa. Eu já começava a perder
a paciência, mas já sabia como ela era
quando o assunto eram roupas.
Passaram-se dois meses desde a
morte de Scott e o dia da festa enfim
tinha chegado. Não preciso nem dizer
que o convite de Dom era exatamente o
que Ed tinha dito: acompanhá-lo na
festa. Desde o convite, ele vinha se
aproximando cada vez mais de mim.
Até meu pai que nunca gostou da
ideia de ver um homem me rodeando,
não se importou em ver Dominic em
nossa casa diversas vezes me visitando.
O mais incrível é que entre nós não
passava de amizade, confesso que
inicialmente pensei que ele tivesse um
interesse a mais ao me convidar para ser
sua acompanhante na festa, mas com o
passar do tempo percebi que era coisa
da minha cabeça.
Pensava, até que na semana
anterior, ele me beijou enquanto contava
sobre como tinha ido bem nas provas
finais, ele disse que foi um beijo de
comemoração, mas depois daquele
vieram outros de despedidas, de
agradecimento ou sem motivo algum. Eu
não sabia qual era o nosso tipo de
relacionamento, só sabia que eu estava
gostando, apesar de que ele não era o
dono do meu coração.
Aliás, esse que não queria falar
o nome para não trazer à tona os
sentimentos que vinham com ele, estava
cada vez mais distante de mim. Eu
confesso que isso doía tanto que quase
sempre acabava me escondendo e
chorando, é eu sei que estava agindo de
forma patética, mas o que fazer se eu o
amava com a mesma intensidade de
antes de nos afastarmos? Era como se
nenhum dia tivesse passado desde que
paramos de nos falar.
O único contato era “oi” e
perguntas triviais do dia a dia, fora isso
eu só o escutava quando contava sobre o
avanço das investigações sobre o serial
killer para meus pais ou para Hill, ele
parecia animado com algumas pistas que
tinha encontrado e também confiante de
que o encontraria em breve.
Eu ficava receosa cada vez que
ele mostrava aquela confiança, com
medo de que se decepcionasse e não
conseguisse pegá-lo. Ele se culparia
enquanto o assassino não fosse pego,
mesmo que isso durasse uma vida
inteira.
Meu celular começou a chamar
insistentemente em minha bolsa e atendi
sem nem mesmo olhar quem era, atenta à
Lili que dava voltinhas com o vestido
esperando pela minha opinião.
— Oi. — Atendi.
— Oi, linda. — A voz de
Dominic chegou aos meus ouvidos e eu
sorri. — Liguei para confirmar se devo
passar em frente ao seu prédio às 9 da
noite.
— Claro! Só se tiver algum
motivo para mudar de planos — disse
sorridente.
— Nenhum. Eu na verdade
queria te fazer uma pergunta.
— Pode fazer — falei
apreensiva.
— Você pode dormir fora de
casa?
— Você quer dizer...com você?
— perguntei quase chocada pelo
convite.
— Desse jeito que você falou
fiquei parecendo um pervertido. —
Gargalhei, mais alto do que o
necessário, mas foi culpa do
nervosismo. — Na verdade, é uma
reunião íntima após a festa. A festa deve
acabar por volta de 1 da manhã, ordens
do prefeito por conta desse assassino em
série e o pessoal do escritório resolveu
esticar a noite no apartamento de um dos
editores, mas lá acaba tarde, só pela
manhã.
Ah, era só isso? Eu e minha
mente pervertida. Droga!
— Ah, isso é tranquilo. Qualquer
coisa aviso que vou dormir fora na Lili
ou no Ed, ou minha mãe me acoberta,
como sempre fez. Não sei.
— Então está combinado. Mal
posso esperar para te ver a noite, Ally.
— Também mal posso esperar,
Dominic.
Joseph
Eu não fazia a menor questão de
ir naquela festa, eu tive que alugar um
terno caro, fazer um penteado no cabelo
com um produto que grudou os fios no
couro cabeludo e eu confesso que estava
achando a maldita calça social super
apertada.
— James, que porra! Vai morar
aí? Está parecendo uma mocinha
arrumando —gritei virando um gole de
whisky e olhava impaciente para a tela
do celular.
Eu achei que James fosse ficar
triste ou algo do tipo depois da morte do
irmão, mas pelo que pareceu, até ele se
sentiu um pouco aliviado. Ninguém
gostava do babaca do Scott, nem a
própria família.
Falar no Scott me trazia
lembranças e fazia com que eu quisesse
virar a garrafa de whisky toda no
gargalo. Ainda tentava entender o que
Ally tinha na mente quando transou com
aquele cara. Ainda sobre Alice, eu
morria de saudades dela. Desde o dia da
morte de Scott, não trocamos muitas
palavras, não a procurei porque percebi
que ela queria distância, mas cada vez
que ela se dirigia a mim com um simples
“bom dia”, eu tinha vontade de perguntar
da vida dela e saber o que estava
acontecendo.
Percebi que não era o correto, se
ela queria se manter longe de mim, era
um direito dela. Sempre que achava que
estava esquecendo o que passamos,
alguma coisa me fazia lembrar de nós e
era a coisa mais ridícula, porque eu
sorria pelo que tínhamos vivido. Se
fosse o final da nossa história, estava
feliz por saber que tive a chance de estar
com ela.
— Vamos? — James saiu do
quarto arrumado e eu assoviei.
— Que isso, hein? Vai pegar
quem essa noite, seu safado? — disse
indo em direção à porta. — Devia ter
alugado seu próprio carro, vir embora
de carona com o melhor amigo vai
queimar seu filme.
— Cala a boca, seu bosta. Pelo
menos eu tenho uma acompanhante. —
James disse enquanto eu saía e
trancava.
— Ah, olha só. Achei que
fôssemos amigos — disse entrando no
elevador logo depois de James que ria
por ter conseguido me responder à
altura. — Agora me fala quem é a
sortuda, quero saber se já peguei.
— Por um milagre divino, essa
você não pegou.
— E é gostosa?
— Muito.
— Como estive cego esse tempo
todo? Eu a conheço pelo menos?
— Há muitos anos. — Ele
parecia estar se divertindo às minhas
custas.
— Fala logo quem é, porra! —
disse começando a me irritar.
— Sua ex-cunhada.
— Hill? Ah, mas você só pode
estar de brincadeira comigo!
— Mas não pense nada demais,
ela só em pediu para colocá-la como
minha acompanhante para poder entrar
na festa, porque o pai dela só tinha como
levar mais uma pessoa e obviamente vai
levar a esposa. Então não se empolgue,
eu e ela não estamos juntos, apesar de
que estou tentando fazer isso se tornar
realidade.
— Deviam ficar juntos, acabei
de perceber que gosto do casal — disse
enquanto a porta do elevador se abria na
garagem e íamos em direção ao meu
carro. Nós entramos e quando tentei
ligá-lo, não funcionou.
Era um sinal que devia ficar em
casa, o mundo ouvindo meus pedidos
desesperados de não ir a essa festa, mas
devo lembrar que estava sentado do cara
que sempre arrumava uma saída para
tudo. James Olsen não era da polícia por
qualquer motivo.
— Eu vim embora com a viatura
hoje — disse soltando o cinto.
— Você está brincando com a
minha cara? Acha que vou para uma
festa dessas de viatura? — Ele me
olhava esperando que desse uma
solução, que infelizmente não apareceu
em minha mente.
— Tem alguma outra ideia? Táxi
hoje vai ser quase impossível porque
metade da cidade está utilizando para ir
nessa festa. — Odiava quando ele
estava certo.
— Certo, mas não vamos parar
na frente do local da festa. Vai ficar
parecendo que estamos em investigação
e não indo para a festa — disse soltando
o cinto e abrindo a porta.
— Coloquei logo ali. — James
disse apontando para a vaga e então
fomos caminhando até lá. Coloquei
James para dirigir e me sentei
confortavelmente no banco de carona.
— Sabe que se o Hastings
souber disso...
— Vamos nos ferrar? —
Finalizei a sentença e James assentiu.
— Você já fez coisa pior na
viatura, pare de se fazer de santo só
porque sou seu superior — disse rindo e
James riu junto.
— Digo o mesmo de você. —
Ele replicou e rimos mais ainda com
lembranças de uma época nada bonita de
nossas vidas.
Ele deu partida no carro e o
trânsito estava caótico nos arredores do
local da festa, que seria no melhor salão
de festas da cidade, obviamente. A festa
de gala da cidade premiava um
profissional de cada área e só os mais
influentes eram indicados para o prêmio
e eu por uma intervenção de Dominic
entrei no páreo para concorrer como
melhor policial do ano de Golden Coast,
o delegado Hastings concorria comigo e
provavelmente levaria o prêmio.
James parou o carro na esquina,
para evitar que um dos rapazes que
estacionasse quisesse estacionar uma
viatura, seria uma vergonha e tanto
diante de tantos fotógrafos. Assim que
nos aproximamos os fotógrafos se
viraram, achando que éramos
importantes, mas a maioria se virou
assim que notaram que eu não era
celebridade, apenas alguns insistiram eu
tirar fotos, mas eu duvidava muito que
eles a usariam.
— Eu vou dar uma volta.
— Vai ver se acha sua
acompanhante que nem mesmo veio com
você?
— Ela preferiu vir com o pai —
James disse com cara de quem estava
ficando irritado e eu dei de ombros
antes dele se afastar.
Eu peguei uma taça de
champanhe, de uma bandeja e comecei a
circular pela festa. Quando me
aproximei da mesa da família Hastings
levei um susto ao ver Ally sentada ao
lado de Dominic e não era apenas isso,
atentando aos detalhes percebi que eles
estavam de mãos dadas.
Fiquei mudo diante da cena,
sabia que Dominic estava meio próximo
dela e inclusive soube que Ally tinha
decidido fazer um estágio no jornal, que
isso contaria horas extras para ela
quando formasse na escola, mas aquilo
dali estava totalmente fora da minha
imaginação. Então, eles estavam juntos?
Não. Aquilo não entrava na minha
mente.
— E aí, concorrente? — O
delegado se levantou e veio me
cumprimentar. Eu olhava fixamente para
Ally, que apenas me cumprimentou com
a cabeça antes de voltar a prestar a
atenção em algo que Dominic falava em
seu ouvido. Delegado Hastings pareceu
perceber meu olhar fixado e falou. — Eu
não aprovei a ideia deles juntos no
começo, ele é bem mais velho do que
ela, mas tomei pela base meu casamento
e olha só, estou feliz e acho que esse
homem me pareceu bastante honesto.
Gostei dele.
— É, ele é um cara fantástico —
disse com uma raiva misturada com
inveja por ele estar tão perto da minha
Ally. — Boa noite, Dominic — disse me
dirigindo a ele que assim que me viu se
levantou e veio até a mim,
cumprimentando-me.
— Você decidiu vir! Bom te ver!
— Dominic falou e eu sorri falsamente.
— Sim, eu vim. Vejo que veio
bem acompanhado. — Ele sorriu para
mim e Hastings pediu licença, sentando-
se para ouvir algum comentário da
esposa. — Acompanhado com minha ex-
namorada — falei em tom baixo.
— Me desculpe, mas acabei me
aproximando muito de Ally nos últimos
meses. Não queria me envolver, mas
você sabe, ela tem seus encantos.
— Ah, sim. Ela tem vários deles
— disse aquilo que era a mais pura
verdade. — Espero que sejam felizes —
disse segurando sua mão firme antes de
sacudi-la e então me afastei.
Fui para uma mesa bem
escondida e comecei a beber tudo que
traziam para mim, meu lugar era
privilegiado e eu encarava Ally que
parecia começar a ficar bastante irritada
com a situação. Dominic por algumas
vezes sempre dizia algo em seu ouvido e
ela sorria timidamente antes de
concordar ou olhá-lo com devoção,
afinal ela sempre foi fã dele. Eu tinha
apresentado um ao outro, palmas para
mim.
Outro garçom passou servindo e
peguei logo a garrafa de whisky, James
sentou ao meu lado animado, nem
mesmo fiz questão de virar o pescoço,
continuei encarando Ally.
— Cara, disfarça pelo menos —
James disse.
— Disfarçar o quê?
— Você está olhando para Ally
como um maluco psicótico.
— Ela está com aquele idiota do
Dominic — falei sacudindo a cabeça
negativamente. — Como aquele babaca
acha que pode chegar e tomar um espaço
que era meu assim?
— Desde quando Alice é
propriedade sua? Você nunca a
reivindicou, nunca demonstrou que a
queria para você.
— Lógico que fiz isso! —
Retruquei bebendo um gole do whisky.
— Só para ela, né? E os outros?
Sabiam que vocês estavam juntos?
— Alguns sabiam, incluindo o
jornalista.
— Mas vocês terminaram.
— Não me interessa, James.
Términos de relacionamento não
significam o fim do sentimento.
— E o que você pretende fazer?
Raptá-la e mantê-la em um cativeiro? —
James perguntou rindo.
— Não me parece uma ideia
ruim — disse esperando que ele ficasse
irritado.
— Ah, cara! Vai se foder! Você
não está nem comendo direito
ultimamente e fica com essa cara de
cachorro abandonado quando olha para
ela. Toma vergonha e luta pela Alice se
realmente a ama. Ficar olhando não vai
adiantar nada.
— Quer saber? Você tem toda
razão — disse me levantando e então
indiquei para Alice ir para a varanda
com a cabeça. Ela pareceu incrédula de
primeiro momento, mas logo em seguida
pediu licença e então fui para enorme
varanda que dava para a vista de boa
parte da cidade.
Eu passei as mãos pelos cabelos
sem movimento devido o produto que
haviam utilizado. As luzes da cidade
enfeitavam a paisagem, mas eu não
estava interessado em reparar naquilo e
me interessei muito menos quando Ally
finalmente apareceu fazendo a paisagem
da cidade ficar sem-graça.
— O que quer comigo? — Ela
disse sem paciência.
— Falar com você. Senti
saudades — disse sem me importar com
as pessoas à nossa volta. Eu só
conseguia olhar para Ally, ela estava tão
linda com aquele vestido azul escuro e
os cabelos presos em um coque
sofisticado. Eu queria tocá-la.
— Você não parecia se importar
muito com minha existência nesses dois
últimos meses. — Ela disse com a voz
visivelmente magoada.
— Eu me importei. Porque acha
isso?
— Você sumiu e me tratou como
se eu não existisse diversas vezes.
— Eu achei que fosse isso que
você queria.
— Eu estava envergonhada pelo
que aconteceu. — Ela apertou sua
carteira prateada que estava em suas
delicadas mãos e olhou para longe. —
Mas agora estou bem e não sei se
reparou, mas estou acompanhada.
— Sobre isso... — passei a mão
pelo meu queixo e tentei não olhar para
ela, mas era impossível. — ... você
gosta dele?
— Gosto sim.
— Não, Ally. Eu quero saber se
o ama como me amou.
— Isso não te interessa mais,
Joseph — ela disse e foi se virando para
voltar para a festa, mas segurei seu
braço fazendo-a virar para mim.
— Me interessa sim, porque eu
ainda te amo e tenho certeza de que não
irei amar ninguém da mesma maneira.
Mesmo que me case e tenha filhos com
outra pessoa, vai ser de você que vou
falar quando me perguntarem se eu tive
um grande amor. — Ela pareceu vacilar
sobre seus saltos antes de puxar o braço.
— Eu vou embora logo depois do
anúncio do prêmio no qual fui indicado,
Ally. Eu vou te esperar para ir comigo.
Dessa vez as coisas vão ser diferentes,
eu te prometo isso e você sabe que
quando prometo é porque irei cumprir.
Ela simplesmente me deixou ali
sozinho antes que eu terminasse de falar.
Não sabia nem se tinha ouvido o que
disse e senti um vazio estranho, um
medo de ter realmente perdido Alice
para sempre.
Podia parecer que estava atrás
dela só por causa de Dominic, mas
aquela cena foi o máximo que pude
aguentar. Ficar sem falar com ela, era
até aceitável, apesar de difícil, porém
saber que ela poderia se apaixonar
novamente e me esquecer por completo,
fazia-me querer tê-la de volta para mim
com todas as forças. Era como se fosse
algo definitivo e eu não deixaria as
coisas chegarem a esse ponto.
Voltei para a festa e me sentei ao
lado de James que conversava animado
com Hill e Sophie que brincava com o
arranjo da mesa. James e Hill me
olharam assim que sentei.
— Joey, se for para fazer Ally
ficar do jeito que ela estava quando
cheguei na cidade, é bom que desista.
Não vou deixar que magoe mais minha
irmã — Hill disse e eu assenti.
— Eu sei — respondi sem
animação na voz, bebendo todo o
líquido âmbar em meu copo.
— A entrega dos prêmios vai
começar — James anunciou tentando
aliviar o clima.
— O primeiro prêmio vai para o
melhor policial do distrito de Golden
Coast. Lembrando que os votos são do
comitê de organização do evento. —
Uma loira que tinha participado de
algum reality show apresentava a
entrega. — Os nomeados são...
Ela continuava falando e eu
ainda olhava e prestava atenção em
Ally. Eu realmente estava parecendo um
psicótico, mas nem me importava.
— Joey! É você! — James me
sacudiu e eu o olhei. — Você ganhou o
prêmio!
Eu olhei para frente e todos me
olhavam, os holofotes vieram para cima
de mim e eu tampei meu rosto com o
braço, protegendo-me da luz que me
cegava. Levantei-me forçando um
sorriso e indo até o palco meio surpreso
por ter vencido, recebendo o prêmio das
mãos da loira que sorria, ela me
parabenizou dando um beijo em meu
pescoço e me olhando daquele jeito que
me faria levá-la para cama se eu não
estivesse sofrendo como um babaca por
Alice.
— Obrigado! — disse me
aproximando do microfone, diante dos
aplausos calorosos das pessoas do
salão. — Quero agradecer ao meu
melhor amigo e mentor Delegado
Hastings, que ganhou esse prêmio por
anos seguidos e que me ensinou o que
ser feito para estar aqui hoje. Amor ao
trabalho, dedicação e acreditar que o
que fazemos pode ajudar o mundo a ser
um lugar menos perigoso — disse
enquanto todos me olhavam atentos. —
Quero agradecer aos meus amigos e
quero agradecer à mulher responsável
por isso, a mulher que me fez querer ser
melhor a cada dia não somente como
profissional, mas como homem.
Obrigada! Você sabe que é para você!
Todos explodiram em aplausos e
Ally me olhava vidrada, sem esboçar
nenhuma reação, nem mesmo palmas ela
batia e eu segui direto para a saída
enquanto a loira voltava ao palco para
anunciar outro vencedor.
— O prêmio de Jornalista reuniu
esse ano os melhores e mais respeitados
jornais da região...
A voz da mulher foi ficando cada
vez mais ao longe, enquanto eu saía dali
o mais rápido que podia. Eu não queria
passar o resto da noite olhando para
Alice agarrada em Dominic, preferia ir
para casa e beber sozinho até dormir de
tão bêbado.
Tirei meu paletó ficando apenas
com o colete sobre a camisa social,
faltava uma semana para o Natal e o
tempo estava demonstrando as mudanças
drásticas. A neve não demoraria a cair.
Eu fui até a porta da viatura e
enquanto pegava as chaves, lembrei-me
de como Ally estava perfeita e como eu
queria a ter tirado para dançar depois da
premiação. Se pedisse diante do pai
dela, ela seria obrigada a aceitar, ou ele
acharia estranho já que ela sempre
adorou dançar comigo desde que era
mais nova.
— Joey! — A voz de Ally me
alcançou de longe. — Joey! — Olhei
para o lado e a vi, ela sorriu e veio
andando da entrada da festa até perceber
que era meio distante, então tirou as
sandálias e veio correndo em minha
direção.
Eu estava congelado no lugar,
não sabia se ria ou se chorava por ela
ter me dado uma nova chance. Se era
patético aquilo? Talvez. Nada importava
se eu tivesse minha pequena de volta.
— O que...? —Eu parei a frase
pela metade quando ela se aproximou
ofegante e jogou seus braços ao redor do
meu pescoço.
— Achei que você já tivesse
ido!
— Eu achei que não quisesse me
ver mais.
— Eu lutei contra isso, achei que
sofria mais quando estava com você,
mas percebi que sem você dói muito
mais. Eu preciso de você, entende?
— Mais do que você pode
imaginar. Eu vou dar um jeito, meu
amor! Eu vou contar para seu pai sobre
nós — disse e ela colocou seu dedo
indicador sobre meus lábios.
— Não fale nada, não estrague o
momento. — Ela disse sorrindo antes de
ficar na ponta dos pés e colar seus
lábios nos meus, beijando-me como eu
quis por todo o tempo em que estivemos
separados.
Eu a segurei pela cintura e a
levantei do chão levemente, rodando no
mesmo lugar. Eu estava eufórico e
quando a coloquei no chão, ela se
afastou e sorriu antes de dizer:
— A resposta é não. — A olhei
sem entender e ela prosseguiu. — Eu
não amo Dominic como te amo, porque
isso seria impossível. Você é
insubstituível, Joseph Spencer.
— Você então é a torre de
Londres para mim — disse rindo e ela
sorria sacudindo a cabeça. Eu a puxei
beijando-a novamente, quando
interrompemos o beijo eu olhei para a
entrada da festa e vi Lili saindo de
braço dado com Ed.
— Seus amigos estão indo
embora. — Ally olhou para trás e os viu
esperando o manobrista trazer o carro
de Ed.
— Tem dois meses que estou
tentando juntar esses dois, não foi tarefa
fácil, mas acho que eles estão
começando a se tocar que existe chance
para algo a mais ali.
— Eu tenho certeza que eles
perceberam isso. — Ally me olhava sem
entender e eu apontei com a cabeça na
direção deles que se beijavam.
— Ai meu Deus! — ela disse
levando a mão à boca. — Consegui!
— Você sempre consegue o que
quer, Ally. Me conte uma novidade! —
disse e ela me olhou com seu sorriso
esperto. — Agora sou eu que quero uma
coisa. Será que sou bom em conseguir o
que quero também?
— O que você quer? —
perguntou animada.
— Te levar para longe daqui, te
prender em uma torre comigo e não
deixar você sair de lá — disse e ela
mordeu meu queixo.
— Tenente Spencer, isso me soa
como um sequestro! — Ally fez cara de
chocada antes de rir.
— Só tem um problema. — Ela
me olhava apreensiva. — Não sei se
percebeu, mas teremos que ir com a
viatura.
— Isso pode ser perigoso para
você — ela disse e eu dei de ombros. —
Mas é o máximo! Vamos logo! — ela
disse indo até o lado do carona e eu
entrei na viatura também, ela puxou-me
e me beijou rapidamente antes que eu
ligasse o carro e eu acariciei seu rosto.
— Eu te amo — disse beijando-
a de volta. — Agora vamos, porque
temos a noite toda, mas quero aproveitar
cada minutinho com você. Matar a
saudade que acumulou todo esse tempo.
Eu disse e então dei a partida na
viatura, provavelmente estava
cometendo um crime ao fazer aquilo,
mas aquele seria só o primeiro crime
que cometeria com aquela viatura
naquela noite.
Capítulo 23
Alice
Eu estava apreensiva enquanto
Joey dirigia, parecia que a gente tinha
começado a namorar naquele momento,
nem era como se eu conhecesse cada
pedaço daquele corpo. Depois de tudo o
que acontecera e depois de dois meses
separados, estava meio perdida sem
saber o que falar, porque no fundo, tinha
medo de levar ao assunto daquele idiota
do Scott. Apesar de que teríamos que
conversar sobre aquilo em algum
momento.
— Você está com fome? — Joey
perguntou concentrado no trânsito.
— Na verdade, não. A gente
podia ir sabe em qual lugar? —
perguntei animada.
— Qual? Você é quem manda!
— Naquele mirante que você me
levava quase todo fim de semana quando
eu tinha uns 13 ou 14 anos, sabe?
— Aquele que eu te levava para
tomar sorvete e tinha até um telão
enorme e a gente assistia aqueles filmes
antigos no carro? — concordei e ele
prosseguiu. — O triste é que agora não
existe mais nada disso e o lugar é
deserto, mas posso te levar para ver as
estrelas.
— Hmm, me convidando para
ver a estrelas? Essa separação fez até
um pouco de bem para gente — disse
rindo e ele negou com a cabeça.
— Nem de brincadeira essa
separação fez bem para nós, pequena. —
Ele procurou minha mão que estava em
meu colo e levou até seus lábios, beijou-
a docemente e eu sorri.
— Joey, sobre isso. Eu espero
que entenda que eu e Dom não tivemos
nada sério — disse tentando aliviar o
peso que querendo ou não carregava
comigo. — Se é que me entende. E bom,
presumo que durante nossa separação
deve ter arrumado alguém também.
— Eu não transei com ninguém
se é isso que quer saber, Ally. Nem
mesmo consegui chegar perto, porque eu
ficava comparando todas a você e as
achava insuportáveis.
— Jura? — indaguei animada.
— Sim. — Ele sorriu de canto
diante da minha felicidade.
— Que bom, porque teria que
expulsá-las de sua vida, agora que
estamos juntos — disse meio autoritária
e ele riu.
— Teria pena delas porque no
meu coração só tem espaço para você
— ele disse. — E quando diz que
estamos juntos é algo que precisa
acreditar ser real. Porque dessa vez, vou
falar com seu pai. — Ele respirou fundo
antes de voltar a falar. — Só preciso me
preparar psicologicamente para a fera
que ele vai se tornar.
— Não tem medo de perder a
amizade dele?
— E de que me adianta ter a
amizade dele se não tenho você? Você
significa o mundo para mim, pequena.
— Ele estava tão fofo comigo que eu
tinha quase certeza que tinha derretido
no banco do carona daquele carro. —
Eu estou preparado para o que der e vier
como consequência.
— Eu vou estar com você
sempre. Digo, caso eu tenha que
escolher entre ele e você, não teria
dúvidas.
— Ele é seu pai, Ally. Não pode
dar as costas para ele dessa maneira —
Joey disse e compreendi.
— Dizem que quando a gente
casa com alguém é como se
abandonássemos a antiga família para o
surgimento de uma nova, eu sei que não
estamos casados, mas minha alma está
comprometida com a sua, eu confio em
você até o meu último fio de cabelo e
não hesitaria em abandonar tudo que
tenho por você.
— Sinto-me lisonjeado em ouvir
tudo isso. Eu também não hesitaria em
abandonar tudo por você, inclusive a
minha carreira que por tantas vezes
acabei colocando diante da gente. Me
desculpe por isso.
— Não precisa se desculpar. —
Mordi o lábio, pensativa antes de falar.
— Eu tenho esse sentimento por você
desde que tinha quinze anos e você
acabou de perceber que o que sente por
mim é muito maior. Você precisava de
tempo, talvez eu tenha sido meio
empolgada demais no começo.
— Ou talvez eu não tenha dado o
devido valor ao que sentia por mim e fiz
tantas idiotices em um tão curto espaço
de tempo. Vamos ser realistas, Alice.
Você não é o tipo de namoro que eu
deveria ter às escondidas, sempre
abominei os caras que você namorava
exatamente por ter medo que te
tratassem abaixo do que você realmente
merecia e quem ironicamente acabou te
tratando assim fui eu mesmo.
— Mas o passado já era, a gente
pode virar essa página e escrever uma
nova.
— Uma mais feliz das que
passaram? — perguntou esperançoso.
— Várias delas se a gente
quiser.
Joey estacionou o carro no
mirante onde costumava vir com ele
quando tinha por volta dos meus
quatorze anos, a época em que meu pai
colocou Joey como meu segurança
particular para que eu não fugisse de
casa e como todos sabem isso não
funcionou muito porque fugia várias
vezes.
— E quanto ao serial killer? —
perguntei e ele negou com a cabeça.
— Nada de assuntos sérios
agora. — Ele tirou o cinto, o terno que
vestia e se aproximou de mim beijando
meus lábios. — Vamos aproveitar? —
Concordei, desafivelando o cinto do
carro e saindo do carro, ele fez o
mesmo.
Nós nos aproximamos da
beirada do precipício onde ficava o
limite do mirante, havia uma cerca de
madeira, da altura da minha cintura,
protegendo para que não caíssemos. Eu
coloquei minhas mãos em cima da
grossa madeira e Joey me abraçou por
trás depositando beijando meu pescoço.
— Me faça uma promessa —
pedi e ele concordou com seu rosto
entre meu pescoço e a clavícula. — Que
nunca mais me deixará partir para longe
de você e nem ficará longe de mim por
tanto tempo.
— Não precisava nem mesmo
me pedir isso, eu não vou te perder
novamente, nem mesmo por um segundo.
Ficar longe de você me tornou uma
versão horrível de mim mesmo — disse
eu virei ficando de frente para ele que
me puxou beijando meus lábios, quando
nos separamos, ele me olhou e sorriu. —
Eu tinha pensado em te convidar para
dançar na festa, faz tempo que não
dançamos juntos.
— Caramba! Tem um bom tempo
mesmo, nem lembro quando foi a última
festa em que você me arrastou para a
pista e me fez dançar por uma hora
seguida com você.
— Não tenho culpa se te ensinei
direitinho e você é a melhor aprendiz
que conheço. — Ele piscou e então se
afastou, pegou o celular no bolso da
calça e já ia dando play na música.
— Ei! Eu quero escolher a
música — eu reclamei e ele riu
afastando o celular de perto de mim.
— Nada disso. Eu já escolhi. —
Ele apertou, colocou o celular em cima
do capô da viatura em um bom volume e
a música invadiu o ambiente. — Eu sei
que você adora essa!
Seus braços deslizaram em
minha cintura enquanto eu sorria pela
escolha da música, colamos nossos
corpos e seguimos o ritmo envolvente de
"Thinking out loud" do Ed Sheeran que
tocava e ele estava certo, eu adorava
aquela música. Ele acariciou minhas
costas enquanto a música rolava e
aninhei minha cabeça em seu peitoral, eu
ouvia as batidas descompassadas de seu
coração, desreguladas como as minhas.
Eu tinha meus braços ao redor
do pescoço de Joey, quando ele puxou
um dos meus braços e segurou minha
mão no calor da sua, beijou-a na mesma
e voltou a dançar com os passos
ritmados daquela dança que nos
transportava para outro mundo, um
mundinho só nosso onde não existia
nenhum problema a ser resolvido.
Ele soltou meu corpo e me
rodopiou, depois me puxou de volta
para perto de seu corpo e voltamos a
mover nossos corpos juntos, ele me
virou e colou minhas costas em seu
peitoral, segurava meus braços e me
movia junto com ele.
Suas mãos foram deslizando,
enquanto ele me movia para frente, para
trás, de um lado para o outro, como
sempre me guiando com sua facilidade
para a dança. Algo que raramente
mostrava e eu adorava quando ele
resolvia fazê-lo.
Ele me virou novamente,
colocando-me de frente para ele e
segurou minha mão, entrelaçando nossos
dedos, então ele encostou sua testa na
minha, fechando os olhos.
— "So honey now, take me into
your lovin' arms, kiss me under the
light of a thousand stars, place your
head on my beating heart..." — ele
cantou a música bem baixinho em meu
ouvido, justamente a parte que
encaixava com nosso momento e
levantei minha cabeça para olhar em
seus olhos, sorri e ele então se
aproximou me beijando delicadamente.
(Nota de tradução: Então agora
querida, me tome em seus braços
amorosos, me beije sob a luz de
milhares de estrelas, coloque sua
cabeça sobre o meu coração batendo...)
Afastei-me e o puxei pela mão
até o carro, abrindo a porta e sentei no
banco de trás, ele veio logo atrás de
mim, seus olhos pareciam ter entendido
o recado que os meus passavam e veio
me beijando, espalhando seu corpo bem
definido sobre o meu, apesar do pouco
espaço.
Eu o empurrei levemente,
fazendo com que ele se sentasse,
coloquei uma perna de cada lado de seu
corpo e ele me ajudou a subir o vestido
enquanto beijava cada parte de seu
rosto, antes de chegar aos lábios, ele
tinha terminado de abrir os botões do
vestido, Joey era bom naquilo. Passou o
vestido pela minha cabeça e então
beijou meu pescoço enquanto fechava
meus olhos sentido o suave toque de
seus lábios.
Comecei a desabotoar sua calça
com certa impaciência e era aceitável
depois de ter ficado dois meses longe
dele. Ele que já tinha tirado o paletó
antes de sairmos do carro, desabotoou a
camisa e voltamos a nos beijar no meio
de percurso de retirá-la, não
conseguíamos parar de nos beijar, pois
nossa fome e vontade de estarmos juntos
cresciam conforme sentíamos a pele um
do outro.
Eu retirei meu sutiã e nos
livramos de sua calça, que causou
alguns acidentes durante o processo.
Quando bati minha cabeça no teto da
viatura, por exemplo. Claro que rimos
antes de voltar a nos beijar com a
mesma intensidade e voracidade de
antes.
Joey me deitou no banco da
viatura e passou sua mão contornando
cada parte do meu corpo e parou na
borda da minha calcinha, mordeu seu
lábio e então deslizou sua mão para
dentro dela fazendo-me gemer, enquanto
me acariciava intimamente. Ele
aproximou seu rosto do meu e mordeu
meu queixo, pescoço e distribuiu beijos
e carícias em meus seios. Quando
chegou perto da calcinha, ele parou e a
retirou, deixando-me completamente nua
e entregue a ele.
Ele retirou sua boxer e então
encaixou seu membro em minha entrada,
eu enrosquei minhas pernas na sua
cintura para que coubéssemos no banco
do carro, mas ainda assim não cabíamos
por completo e seria desconfortável se
não estivéssemos tão concentrados e
com tanta saudade um do outro.
Ele me olhava nos olhos quando
deslizou para dentro de mim,
preenchendo minha abertura úmida e
quente com seu membro. Eu curvei a
cabeça, que ele fez questão de me beijar
enquanto se movimentava dentro e fora
de mim.
Os movimentos foram ficando
cada vez mais intensos, mais fortes e
mais rápidos, ele deslizou uma de suas
mãos e enquanto me invadia começou a
acariciar meu clitóris. Não demorou
muito até que eu gemesse alto, cravei
minhas unhas em suas costas e o
arranhei de maneira forte enquanto ele
me seguia, soltando um resmungo e
retesando seu corpo antes de relaxar
sobre mim.
Ficamos abraçados durante um
tempo, apenas sentindo o calor do corpo
um do outro, sua cabeça estava sobre
meu seio esquerdo e ele sorriu e eu sorri
em resposta.
— Eu senti tanta falta disso.
— Do sexo? — perguntei.
— De tudo. Dessa intimidade
que temos um com outro, desse desejo
que carregamos dentro de nós — disse e
eu acariciei seus cabelos relaxada como
não me sentia há um bom tempo.
— E agora? Como se sente?
— Me sinto um péssimo
policial, mas o namorado e o homem
mais feliz do mundo. — Ele riu. — Mas
sabe, você queria algemas, me lembro
de algo assim.
— Acho que disse isso mesmo.
— Fingi estar pensativa e ele riu.
— Acho que tenho uma no meu
apartamento, sabe? Não tenho certeza.
— Sério, senhor tenente
Spencer? Vai me prender?
— Vou te prender na minha cama
e não te deixo sair de lá para nada.
— Então, já me declaro culpada
desde já! — disse rindo e ele beijou
meus lábios antes de recomeçar a me
acariciar. Eu já sabia aonde aquilo
terminaria e a ideia me agradou muito.

~*~

Quando chegamos ao nosso


prédio já eram praticamente 6 da manhã,
porque depois de irmos para um
segundo e depois um terceiro round de
sexo, acabamos adormecendo exaustos
no banco de trás da viatura.
— Ainda bem que é seu dia de
folga — disse entrelaçando meu braço
no dele na garagem do prédio.
— Mas não do James — disse se
curvando um pouco. — Esse banco
acabou com a minha coluna.
— Ah, você chegou, seu filho da
puta! — James se aproximou de nós com
a expressão furiosa. — Eu preciso ir
trabalhar e não bastando ter me deixado
sozinho ontem na festa, não chegou a
tempo.
— Claro que cheguei a tempo.
— Joey disse passando os braços sobre
meus ombros e beijando minha cabeça.
— Faltam quinze para as seis da manhã,
dá tempo de chegar na hora certinha.
Agora seja educado e dê bom dia para a
minha namorada.
— Bom dia, Ally — James disse
antes de pegar as chaves da mão de Joey
e passar por nós furioso. Assim que ele
saiu cantando pneus, Joey desatou a rir.
— Se ele sonhar o que fizemos
dentro da viatura, vai ficar possesso de
raiva, mas esse é nosso segredo, mais
um segredo nosso. — Ele segurou meu
queixo e beijou meus lábios
carinhosamente.
Acabei me empolgando e me
pendurei em sua cintura, ele me segurou
e foi andando, enquanto me beijava, até
o elevador. Continuamos a nos beijar
dentro dele e só paramos quando a porta
se abriu, por medo de sermos vistos.
— Vou ficar no seu apartamento,
quero ficar mais com você — disse e
ele me segurou pelo cabelo antes de
morder meu lábio inferior e dar um
selinho rápido.
— Não tenho nenhuma objeção
quanto a isso. A gente pode fazer as
coisas com mais conforto.
— Meu Deus, você não tem um
botão de desligar?
— Acho que aguento mais duas
antes de cair morto e dormir o dia
inteiro — disse rindo e abrindo a porta
do apartamento. — Você me cansa desse
jeito, minha pequena.
— Que isso? Agora sou eu quem
quer a quarta e a quinta vez? — disse
beliscando sua barriga e ele se
contorceu de dor.
— Você pede por isso quando
fica com esse corpo gostoso perto de
mim, não tenho culpa. Você traz à tona o
cara mal que há em mim e o cara mal
que há em mim é viciado em te fazer
gemer — disse encostando-me na
parede e me beijando com desejo,
entrelacei minhas pernas em sua cintura
e ele me segurava com uma mão no meio
das costas.
Ele foi andando para o quarto,
mas afastei de seu beijo e pedi para
descer, ele negou e continuou beijando
meu pescoço.
— Amor, eu estou morrendo de
fome. A gente toma um café e depois
tomamos um banho bem delicioso e faz
quantas vezes você quiser — disse e ele
parou de beijar meu pescoço, olhou-me
nos olhos e deu mais um selinho.
— Quantas vezes eu quiser? Vou
cobrar.
Fomos para a cozinha e preparei
torradas enquanto ele fazia o café,
animado e cantarolando. Ele estava tão
feliz quanto eu e isso era visível. Vez ou
outra ele se aproximava e me beijava
calorosamente e ficava me falando o
quanto estava contente por eu estar ali.
Sentei-me na pia para comer um
pão e ele ficou em pé na minha frente,
entre minhas pernas.
— Você vai passar o Natal lá em
casa? — perguntei tomando um gole do
café.
— Claro, se não for sua mãe me
mata. Vai falar que é desfeita, que estou
desfazendo da comida dela.
— Acho melhor contarmos para
meu pai sobre nós depois do Natal.
— O que é daqui três dias, acho
que posso esperar que ele passe antes de
detonar a bomba na sua casa — falou
antes de colocar o prato dentro da pia e
eu terminei meu café e coloquei a xícara
dentro da pia também.
— Sabia que temos todo o tempo
do mundo reservado para a gente hoje?
— Sei sim. É por isso que já
estou preparando um mapa mental de
como conduziremos esses dias. A gente
começa aqui, então continua no banheiro
e terminamos no quarto.
— Quem é o tarado insaciável
aqui mesmo? — Joey perguntou me
beijando e eu dei um tapa no braço dele
antes dele começar a desabotoar meu
vestido novamente.
Joseph
Eu tinha um sorriso idiota
estampado em meu rosto, mesmo quando
Ally disse que tinha que ir embora ao
meio-dia. Eu a levei até a porta e me
despedi por vários minutos, talvez meia
hora de beijos de despedida.
— Eu vou até a sua casa mais
tarde, pode ser? — falei e Ally sorriu
assentindo.
— Vou estar esperando para
assistirmos algum filme.
— Já disse que amo você? — Eu
a puxei quando ela foi se afastando.
— Perdi as contas, mas é sempre
bom relembrar — ela brincou e eu
mordi seu lábio inferior. — Estamos
parecendo casal em lua de mel, sabia?
— A gente pode casar se você
quiser. — Eu sugeri e ela riu.
— Não brinca comigo, vai que
eu aceito.
— Esse pedido só não é sério
porque você ainda não tem dezoito,
senão já teria te pedido para vir morar
comigo.
— Só por isso? — perguntou e
eu assenti.
— Seu pai é problema
descartado, acredite e confie — disse e
pisquei para ela.
— Confio com cada pequeno
pedaço do meu ser. — ela disse
beijando meu rosto antes de se afastar.
— Mas vou embora, ou vai ser viúvo
antes de me pedir em casamento.
— Mais fácil eu te deixar viúva,
eu sou mais velho, lembra? E policial
ainda por cima.
— Ridículo. Não fala isso nem
brincando. — falou antes de mandar um
beijo e entrar no elevador. Antes que as
portas se fechassem ela movimentou os
lábios e a frase "Eu te amo" saiu de sua
boca me fazendo sorrir.
Assim que entrei no meu
apartamento e fechei a porta me dei
conta de que tinha voltado a me sentir
como um adolescente apaixonado, e
aquilo me fazia sentir incrível. Antes de
Alice, eu tinha uma alma arrebentada,
tinha medo de sentir e com ela aprendi
que podia amar sem ter medo e isso não
tinha nada no mundo que pudesse ser
comparado.
Às vezes não damos conta de
que há algo errado dentro de nós
mesmos até que apareça alguém que nos
jogue isso na cara, foi exatamente isso
que Ally fez, mostrando-me onde
estavam meus erros e eu aprendi a me
tornar um cara melhor do que jamais
pensei que pudesse ser.
Aliás, ela era o que existia de
melhor em mim e no meu mundo, se eu a
perdesse novamente, iria me tornar um
nada, mas ao lado dela, eu era tudo.
Se eu partisse naquele exato
momento, partiria feliz por tê-la amado
e por ter tido a sorte dela me amar de
volta tão intensamente.
Fui até meu quarto e olhei o
bolso da minha calça pendurada em uma
cadeira, pegando meu celular. Quando vi
a tela havia várias ligações de
Giorgiana. Ela provavelmente tinha
descoberto alguma coisa muito
importante para me ligar no meu dia de
folga.
Eu estava em alerta, porque
sentia estar cada vez mais perto de
capturar o Assassino do Beco, por isso
retornei as ligações dela na mesma
hora.
— Gio, o que houve?
— Te liguei mais cedo várias
vezes, me desculpe se te incomodei, mas
é que enfim consegui separar as
moléculas encontradas debaixo da unha
de Kendra. — Um dos motivos de estar
mais seguro era que o assassino estava
deixando pistas, assim como tinha
previsto.
Uma dessas pistas estavam
espalhadas nas cenas dos crimes não
premeditados. A morte de Kendra, por
exemplo, havia deixado algumas pistas
importantes e mesmo depois de dois
meses de análises das pistas, algumas
estavam ficando prontas só naquele
momento.
— E então, o que tinha debaixo
da unha dela?
— Depois de várias análises e
testes, eu estava quase desistindo, juro!
Mas hoje deu um resultado diferente, eu
encontrei moléculas debaixo da unha,
apesar dele ser sempre bem organizado,
e limpo, mas dessa vez ele deixou
rastros. Essas moléculas são óxido de
ferro e substâncias derivadas de um
material chamado Carbon Black, Joey,
esse é o principal ingrediente
encontrado na tinta usada em tatuagens.
— Isso nos leva a crer que o
serial killer tem tatuagens, mais uma
pista. E apesar de termos um vastos
números de pessoas com tatuagens na
cidade de Golden Coast, já vai nos
ajudar.
— Sobre aqueles arquivos
estranhos que encontrou no apartamento
de Scott durante a investigação da morte
dele?
— Foi bom você ter me
lembrado, preciso terminar de dar uma
olhada naqueles papéis. Vou aproveitar
que estou de folga e tentar descobrir
mais alguma coisa.
— Certo. Se precisar, me ligue.
— Pode deixar e obrigado por
ter ligado para avisar.
Assim que desliguei, abri o cofre
que tinha no fundo do meu armário e
retirei de lá a pasta grossa de
documentos que encontrei no cofre do
apartamento de Scott quando fui até lá
investigar seu assassinato.
Algo que não tinha contado a
ninguém, era que no meio desses
documentos, encontrei alguns em que
Scott parecia estar investigando sobre o
serial killer por conta própria. Eram
esses que fiz questão de dar uma olhada
a mais e não esperava achar lá uma lista
de funcionários do jornal mais
renomado da cidade, "The Golden
News".
O jornal onde Dominic
trabalhava, mas eu não falaria com ele
sobre isso. Essa informação guardaria
para mim só dividiria com os outros
agentes do FBI, pois se eu estivesse
certo descobriria ali dentro um homem
que encaixasse em todas as
características reunidas até o momento e
então eu o pegaria.
Até o momento sabia que ele
possuía alguma ligação com as docas,
ou com as embarcações, que ele tinha
tatuagem e trabalhava no jornal. Só
precisava olhar de perto cada um
daquela lista, aliás, a lista tinha apenas
o nome dos editores chefes e jornalistas
mais aclamados, um total de 20
suspeitos. Eu já tinha colocado agentes
no rastro de cinco, sem contar sobre os
arquivos, mas eu pretendia fazê-lo o
mais rápido possível porque se tinha
uma coisa que havia aprendido com
aquela investigação era que aquele
assassino escorregava em todas as
ocasiões.
Eu revirei alguns arquivos que
não tinha lido ainda e então achei uma
subpasta e a palavra “confidencial”
estampado em letras garrafais
avermelhadas na frente, não me impediu
de abri-la, mas logo depois que o fiz e
comecei a ler, eu desejei nunca ter
aberto.
A informação contida ali,
mudaria minha vida e tudo o que
acreditava, além de me deixar em estado
de choque por vários dias. Era uma
declaração da ata policial do chefe da
polícia distrital, o único que estava
acima da patente do delegado.
Nesse documento declarava que
estavam abrindo uma sindicância
investigativa acerca da suposta morte de
Sebastian Spencer e bem como da
suposta acusação de homicídio de
Hastings pela morte dele.
Era aquilo mesmo? O pai de
Ally havia matado meu pai? Como
assim? Não conseguia entender.
Continuei lendo e ao fim do documento
meu coração batia descompassado em
no peito. Se aquilo fosse verdade, o meu
melhor amigo tinha traído meu pai que
era também seu melhor amigo, e mentido
para mim por anos a fio.
Mas o documento seguinte foi o
que me deixou mais espantado, nele a
palavra "suposta" era melhor explicada.
Mais uma vez, desejei não ter lido o que
me fez perceber que no final das contas
a minha amizade com o pai da mulher
que eu amava nunca tinha sido real.
Naquele documento havia uma
declaração de que Sebastian Spencer,
meu pai, não estava morto e ele era
acusado de vários crimes, de falsa
identidade, de fé pública, de certidão.
Para piorar, todos os envolvidos
que o ajudaram estavam sob
investigação, incluindo Hastings.
Capítulo 24
Alice
Eu acordei cedinho na véspera
do Natal, não tinha visto Joey no dia
anterior porque ele ficou o dia inteiro
em reunião com o pessoal do FBI.
Parecia que a investigação estava
andando, ele não me contou muito, mas
comentou algo sobre o jornal do
Dominic e depois pediu que não
contasse para ninguém.
Eu resolvi então ir até o
apartamento de Ed, precisava saber
sobre o beijo que eu vi entre ele e Lili e
se eles resolveram continuar ficando,
acho que fui empolgada demais porque a
resposta dele foi acompanhada de uma
expressão de espanto.
— Não! Você está maluca? Eu e
a Lili nos beijamos no calor do momento
— ele disse assim que saí perguntando
sobre o assunto. Estávamos na cozinha
da casa dele, Ed tinha acabado de
acordar e tomava café da manhã.
— Mas vocês se beijaram — eu
disse e ele riu.
— Eu e você nos beijamos
várias vezes também, nem por isso
namoramos.
— Não foi por falta de pedido,
ou seja, você quis namorar comigo.
Então, porque não a Lili? — rebati
rapidamente.
— Ela tem que ir embora, Ally.
E se eu me envolver com ela e tiver que
vê-la indo embora, não vai ser bom.
— Ela só vai embora porque não
tem como ficar aqui — ele me olhou
esperando que eu explicasse e eu revirei
os olhos. — Você resolve tantos
problemas maiores, poderia arrumar um
trabalho para ela, um lugar decente para
que ela ficasse. Você sabe que ela vai
ser maior de idade em breve e não vai
mais precisar obedecer àquela família
maluca dela.
— Nem me fale disso. Tenho
ficado possesso de raiva cada vez que
penso que ela teria que voltar a se
sujeitar às humilhações deles.
— O fato dela não estar próxima
de assumir do trono, faz com que os
outros a tratem como se fosse nada. Ela
chora quando conta as coisas que
fizeram com ela.
— Eu sei — ele largou o copo
com iogurte em cima da bancada. — Eu
não sei o que fazer, Ally. Porque não é
apenas da Cecília que beijei que estou
falando, é da nossa Lili, a nossa amiga.
— Exatamente — eu respirei
fundo logo depois de ter falado. — Vai
passar o Natal sozinho de novo?
— Então, eu pensei sobre isso e
resolvi chamar a Lili e a tia dela para
virem para cá.
— O quê? Decidiu que o Natal
deve ser comemorado? Derreteram seu
coração de gelo? Estou impressionada
— disse e ele fez careta para mim.
— Pois é, Lili sempre passa
somente com a tia dela e provavelmente
deve ser interessante trocar presentes
quando dá meia-noite. Você sabe que
nunca fiz isso, o máximo que faço é dar
presentes para vocês abrirem depois,
mas ceia de Natal nunca fiz.
— Sua família nunca esteve
presente no Natal, não é de se espantar
que nunca comemore.
— Eu quis inovar, chamei as
duas para vir. Matilde vai preparar uma
ceia e deixar tudo pronto, porque nunca
a faria trabalhar no Natal — ele passou
a mão nos cabelos bagunçando os fios
mais do que já estavam bagunçados. —
Se não tivesse aquela ceia na sua casa,
te chamaria também.
— Não posso vir, ainda mais
que agora voltei com o Joey e ele vai
estar lá. Nosso primeiro Natal como um
casal — disse sorridente e ele sacudiu a
cabeça rindo.
— Lembra que falei que ele te
amava e que acabaria voltando para
você? Foi no dia da morte do Scott —
eu assenti. — Ele te ama, não deixaria
passar a oportunidade de estar com
você. A porta do apartamento de Ed se
abriu e a voz de Lili atingiu nossos
ouvidos.
— Ed? Cheguei! — Ela avisou e
veio até a cozinha animada e assim que
me viu veio correndo me abraçar. —
Amiga! — Ela gritou e pendurou em meu
pescoço.
— Nossa, que saudade é essa
que você estava? — Eu perguntei e ela
riu antes de ir até Ed e beijá-lo no rosto.
Vai soar chato se eu disser que queria
ter visto um selinho?
— Na verdade, só estou
animada! Véspera de Natal! Você sabe
como adoro o Natal e ainda mais esse
ano que o Ed, ou mais conhecido como
"Grinch" em versão rica e melhorada,
vai comemorar o Natal — Ela pendurou
no pescoço de Ed que a olhou
sorridente.
— Falando nisso, preciso saber
se o presente de vocês já chegou. Eu
escondi em outro lugar esse ano porque
sei que vocês vasculham minhas coisas
para descobrir o que é — Ed disse antes
de sair da cozinha e deixar a mim e Lili
sozinhas. Assim que ele sumiu pelos
outros cômodos do apartamento, dei a
volta na bancada e sentei ao lado de
Lili.
— Anda! Fala logo! O que
realmente está rolando entre vocês? Ele
acha que me engana, mas conheço vocês
mais do que imaginam —falei sem nem
mesmo pausar e ela tomou um gole de
suco de maracujá.
— Nada, foi só um beijo —
respondeu. — Eu te contei pelo celular
ontem, aliás, vamos falar de você e Joey
se pegando na viatura e o fato de que
isso é tipo, uma fantasia de toda e
qualquer mulher vivente nesse planeta?
Quando vi sua mensagem no celular
quase morri. — Ela riu e estava
mudando o assunto, aquilo era óbvio.
— Foi incrível e eu acho que
estou mais apaixonada do que antes de
terminarmos.
— E isso não é possível, porque
não tinha como ficar mais apaixonada do
que você já estava.
Nós rimos e Matilde chegou à
cozinha com várias sacolas em suas
mãos, o motorista de Ed também
carregava mais algumas que colocou em
cima da bancada e acenou para nós antes
de sair. Matilde nos cumprimentou como
sempre e então começou a conversar,
mas Lili não esperava que ela fosse
falar o que não devia.
— Ah, menina Cecília! Fiquei
muito feliz em saber que você
convenceu meu Ed de enfim
confraternizar no Natal, ele sempre foi
tão solitário e agora vejo que esse
relacionamento de vocês só está fazendo
bem para ele — Matilde terminou de
falar e eu olhei para Lili que tinha os
olhos surpresos pelas palavras de
Matilde.
— Relacionamento? Mas não era
só um beijo, Lili? — perguntei rindo.
— Só um? Ai, meu Deus! Eles
ficam de agarração o dia inteiro pelo
apartamento, já até falei para que ela
tomasse cuidado, porque o tanto que
ficam naquele quarto juntos, ela vai
acabar engravidando dele não demora
muito. — Lili abaixou a cabeça, seu
rosto estava vermelho e eu ria tanto que
minha barriga doía.
— Me desculpa, Ally — ela
falou em tom desesperado enquanto
segurava minhas mãos de cabeça baixa.
— Eu tentei esconder isso de você
porque fiquei com medo de não gostar
da novidade.
— E porque não gostaria? Eu
estou mais do que feliz! Quis tanto que
isso acontecesse! — falei animada e vi
Matilde sorrir também.
— Acho que falei demais —
Matilde disse antes de sair da cozinha
de fininho com um sorriso no rosto. Ela
tinha feito de propósito e eu adorei
aquilo, porque eu provavelmente sabia o
motivo de Lili ter escondido aquilo de
mim.
— Você e Ed estiveram
praticamente juntos por muito tempo,
apesar de não ter sido nada sério, senti-
me meio culpada.
— Você tem noção do quanto eu
estava louca para que vocês ficassem
juntos? Nos últimos dois meses é a
única coisa que tenho tentado fazer! —
falei rindo e ela me olhou confusa.
— Como assim?
— Eu não sei, um dia olhei para
vocês e me toquei o quanto vocês
combinavam. Você toda doce e meiga e
ele por mais louco que seja, só é assim
porque precisa exatamente de alguém
que mostre que ele merece ser amado. O
Ed apesar de tentar mostrar só a casca
fria e impenetrável, no fundo tem um
coração enorme e é cheio de vontade de
amar alguém de verdade — sussurrei e
ela sorriu.
— E eu não sei o que tá
acontecendo, sabe? Eu gosto muito dele
e eu tive até um pouco de medo, mas
naquele dia da festa eu decidi que queria
sim dar uma chance para o que sentia,
acabou que ele também queria o mesmo.
É diferente de tudo que já senti, nem
pelo Ashton eu experimentei isso que
sinto pelo Ed, acho que é porque o
conheço há muito tempo.
— Fico tão feliz por vocês
estarem dando certo. Quando você
começou a perceber que o sentimento
mudou?
— Acho que mais ou menos uma
semana depois da morte do ridículo do
Scott, eu e ele estávamos sentados na
varandinha do quarto dele, bebendo
alguma coisa e comentando sobre você e
Dominic. — Ela contava sonhadora e eu
não contive um sorriso. — E aí ele me
perguntou como eu me sentia sobre ter
que ir embora, depois me perguntou se
toparia morar aqui com ele, já que eu
passava a maior parte do tempo por aqui
mesmo e que se eu quisesse ele ia trazer
minha tia e ainda pagaria o tratamento
dela já que minha família renega a
existência dela e não pagaria o
tratamento. Ali, eu percebi que Ed não
era o mesmo imaturo de antes e daí em
diante fui só descobrindo o quão legal
ele era e quando me peguei pensando
que seria um ótimo namorado, quis me
bater porque achava que tinha
atravessado um limite e que seria o fim
do nosso trio.
— Sabe que isso nunca vai
acontecer, não é? Para com isso.
— É, agora que você está
falando me acalma, mas no dia em que a
gente se beijou pela primeira vez foi
complicado.
— Pode ir contando agora! —
exigi e ela riu antes contar.
— A gente estava assistindo 007
e ele repetiu o que o James Bond disse
antes de beijar a Bond girl, então me
olhou esperando alguma coisa de volta e
foi isso. Eu senti culpa depois de termos
nos beijado.
— Ei, espera aí! Eu estava junto,
a gente fez aquela maratona de filmes do
007 e eu acabei dormindo e enquanto
isso...
— A gente se beijou e nossa!
Aquele filho da mãe do Ed sabe como
deixar uma mulher caidinha só no beijo.
— Eu não vou comentar sobre
isso — disse rindo e ela riu alto. Ed
chegou na cozinha naquele momento e
ambas olhamos para ele que se
aproximou e abraçou nós duas.
— Estão rindo de quê? Posso
saber? — ele perguntou.
— Sobre vocês terem escondido
um relacionamento por mais de um mês
— disse me afastando e ele me olhava
assustado e depois olhou para Lili.
— Você contou? — Ed perguntou
para Lili.
— Matilde acabou deixando
escapar — Lili respondeu e mordeu o
lábio. — Eu só confirmei.
— E eu adorei a novidade!
Porque a verdade é que todas as vezes
que eu desmarcava um encontro entre
nós três, era porque queria que vocês
passassem mais tempo juntos. Tinha
certeza que uma hora ou outra dariam
conta de que tinham sentimentos mais
intensos guardados aí, um pelo outro.
— Sinceramente? — Ed abraçou
Lili por trás e a beijou no pescoço. —
Fico feliz que agora não exista segredo,
porque não aguentava mais fingir que eu
e Lili não tínhamos nada.
— No começo você ficou com
medinho — Lili falou e Ed negou com a
cabeça.
— E eu sou lá homem de ficar
com medinho? — Lili riu e eu me
levantei, abraçando os dois de uma vez
só.
— Eu estou tão feliz! Está tudo
dando certo. Fico até com medo disso,
sabe? — comentei e Lili me afastou de
uma vez.
— Ei, não começa com esse
pensamento porque atrai coisa ruim! —
minha amiga advertiu e riu logo depois.
— Daqui para frente vai dar tudo certo!
— Eu espero que sim — disse,
mas no fundo aquele era um pedido para
que realmente nada atrapalhasse.
Eu estava cansada de tantos
contratempos que tive nos últimos meses
e só queria curtir o amor da minha vida
em paz. Com sorte, Joey encontraria o
serial killer e o prenderia e meu pai
entenderia que eu não poderia viver sem
Joey em minha vida, mas parece que
nem tudo que pedimos pode realmente
ser atendido, e eu descobri isso tarde
demais.
Joseph
Alice veio me buscar às onze da
noite, atendendo um pedido de sua mãe e
eu estava pronto. Porém, não estava nem
de longe preparado de verdade para
encarar o meu futuro ex-melhor amigo.
Bebi alguns copos de uísque para tentar
relaxar e parecer menos tenso e teria
bebido mais se não fosse Alice me
impedindo.
— Ei, o que foi? — ela me
perguntou, abraçando-me.
— Eu estou chateado com seu
pai, mas não quero te contar isso antes
do jantar. Não quero estragar seu Natal.
— Agora vou ficar curiosa
porque você tá fazendo aquela cara de
quem está realmente irritado, mas
parece que não é só isso. Ele fez algo
que te chateou?
— Fica tranquila, eu vou te
contar amanhã. Essa noite tem que ser
especial, não acha?
— Claro! Nosso primeiro Natal
como namorados — falou animada e eu
a beijei no topo de sua cabeça.
— Vamos? — perguntei,
pegando as sacolas de presentes e fomos
juntos conversando sobre o dia dela no
apartamento de Ed. Fiquei satisfeito ao
saber que Ed e Lili estavam namorando
ou algo do tipo.
Ally estava empolgada pela
nossa noite, eu nem tanto. Enquanto ela
contava sobre o que sua mãe tinha
preparado para a ceia, eu apenas
assentia porque não queria falar, tinha
um certo receio de abrir a boca e falar
demais.
Tinha certeza que ela ficaria
mais revoltada do que eu e que isso
estragaria o Natal de todo mundo,
apesar de estar com raiva de seu pai,
não achava que sua mãe, sua irmã e sua
sobrinha mereciam ter aquela noite
destruída por um segredo.
Assim que chegamos no
apartamento, fomos entrando e Ally
chamou todos, avisando que eu tinha
chegado.
— Ei, meu amigo — Hastings se
aproximou e deu um tapinha em minhas
costas, eu apenas assenti com a cabeça
antes de sentar. E adivinhem? Meu lugar
foi logo ao lado dele, seguido por sua
esposa, depois Ally e então Hill
segurando Sophie no colo.
— Eu preparei aquele molho
especial que você gosta, Joey — Ally
disse sorridente. — Não sou muito boa
na cozinha, mas acho que dessa vez
acertei em cheio.
— Tenho certeza que sim,
pequena. — Sorri para ela e pisquei.
Hastings começou a falar sobre
uma história que em outro dia acharia
engraçada e todos na mesa riam alegres,
menos eu, que provavelmente tinha uma
cara de merda estampada em mim.
Eu estava tão incomodado com
aquilo, que até a voz dele me dava uma
espécie de incômodo. Estava chegando
ao meu limite e não estava conseguindo
me controlar mais. Quando achava que
não podia piorar, ele começou a falar
sobre lealdade e sobre como odiava
mentiras. A comida estava revirando em
meu estômago e eu quis vomitar quando
ele abriu a boca novamente.
— Admiro isso que temos aqui.
Somos uma família — Hastings disse e
eu ri de suas palavras, um riso amargo
de quem estava segurando as palavras e
eu só fazia isso porque sabia que a noite
era importante para Ally, mas não
aguentei mais quando ele prosseguiu e
direcionou para mim. — Mesmo não
tendo o meu sangue, você é como um
irmão para mim, Joey.
— Mas e se essa "família"... —
Eu disse, fazendo aspas quando
pronunciei família. —... Foi construída
na base de mentiras?
— Eu não entendi o que quis
dizer com isso — ele falou
desconfortavelmente e levantou uma
sobrancelha, visivelmente confuso.
— Jura que não? — perguntei
sarcasticamente, encarando-o e ele já
começava a se irritar diante do meu
comportamento.
— Eu te peço que respeite a mim
e minha família, desse jeito parece que
não prestamos.
Hill olhou para mim e se retirou
da mesa com Sophie, percebendo que
dali em diante e situação pioraria.
Hastings me olhou assustado quando
joguei o garfo com força sobre o prato,
eu limpei minha boca calmamente com o
guardanapo e o olhei de volta. Ally me
fitava aflita e confusa, ela sabia que eu
não estava bem e me senti mal por não
ter contado antes, ela pelo menos me
entenderia e saberia o motivo de não
querer continuar comendo na mesma
mesa daquele ser humano ao meu lado.
— Com licença — disse ao me
levantar e Ally fez menção de se
levantar também, mas vi sua mãe a
segurando pela mão, forçando-a para se
sentar novamente.
— Vem comigo? — eu perguntei
direcionando a Alice e estendi minha
mão para ela que assentiu se levantando.
Ela segurou firme em minha mão e seu
pai levantou nos olhando aturdido.
— O que é isso? Vai abandonar
a nós, que somos seus pais, na noite de
véspera de Natal? — Ela concordou
quando seu pai questionou, ele se
levantou logo em seguida e eu me virei
para ele.
— Ela quer passar a noite da
véspera comigo, eu prometi isso e
promessas são mais do que palavras
para mim — disse e Ally segurava
minha mão firmemente. — Posso não ser
o pai ou a mãe, mas sou o homem que a
amo mais do que qualquer outra coisa
nesse mundo.
— O que isso significa? — Ele
esbravejou quando abracei Ally. — É
isso mesmo que estou entendendo? Me
diz que eu estou enganado e confundindo
as coisas.
— Significa que eu amo a sua
filha. Não conseguiu entender isso? Eu
quero me casar com ela, fazê-la feliz
pelo resto da vida. — Eu falei de modo
desafiador e os olhos dele estavam
avermelhados, injetados de raiva e ele
deu a volta na mesa, vindo até a mim. —
Vai fazer o quê? Me bater? Me bater
porque amo Alice? — Eu sorri,
enquanto Ally tremia em meus braços.
Ele se afastou, andava de um
lado para o outro e quando parou pegou
sua arma que estava na cintura,
voltando-a para minha direção. Aquilo
foi um choque e tanto, duas lágrimas
caíram de seus olhos e ele bufava de
ódio. Outra pessoa ficaria com medo,
mas não eu.
— Vai atirar em mim? —
perguntei calmamente.
— Solte minha menina —
Hastings disse enfurecido e eu soltei
Ally, que continuava abraçada a mim. —
Saia de perto dele, minha filha. — Ele
suplicava, como se aquele pedido fosse
apagar os últimos momentos. — Porque
fez isso comigo? — Ele sacudiu a
cabeça com a voz embargada.
— Eu o amo mais do que tudo
nesse mundo, pai. Me desculpe! — ela
disse chorosa e eu a abracei novamente,
beijando o topo de sua cabeça.
— Solte a arma. Larga de ser
estúpido! Tenho sido um idiota para
você, escondendo meu relacionamento
com sua filha durante todo esse tempo,
mas vamos combinar que você não tem
sido lá muito bom, nem como pai, nem
como chefe e muito menos como amigo.
— Porque está me tratando dessa
forma? O que fiz de tão errado? — ele
perguntou abaixando a arma e jogando-a
em cima da mesa.
— Eu sei o motivo da
investigação que estão fazendo sobre
você e a razão de não querer me contar
— falei e ele abaixou a cabeça, aquelas
palavras tinham peso sobre ele. — Eu
acho que agora entende o motivo de eu
estar desse jeito com você, certo? Ainda
vai querer me acertar com as balas da
sua arma como punição? Vá em frente!
— disse afastando Ally de mim e
abrindo meus braços. — Mas saiba que
ao fazê-lo, não irá mudar isso que estou
sentindo ou nada do que você fez.
Ele colocou a arma em cima da
mesa e foi até a cadeira mais próxima
sentando, abaixou a cabeça e então
começou a falar, Ally chorava em meus
braços, mas me segurava com firmeza
querendo demonstrar que não me
deixaria de jeito nenhum.
— Me deixe explicar — ele
pediu calmamente, seu tom de voz tinha
mudado.
— Explicar? E existe explicação
para o fato de você ter matado meu pai e
escondido isso de mim? Ah,
não...espera, ele não morreu, certo? Foi
tudo fingimento e você o ajudou a
cometer esse crime. — Ally me soltou e
enxugou as lágrimas que tinham
escorrido pelo seu rosto.
— O quê? — Ally perguntou
espantada. — Pai, você fez isso?
— Eu menti porque ele me
pediu, Joey — Hastings falou com a voz
entrecortada. — A culpa não foi minha.
— Não me interessa se vocês
tinham um acordo, o que me importa é o
fato de que você passou tantos anos me
escondendo isso e sabendo o quanto eu
sofria pela morte dele, achando que
aquele desgraçado daquele serial killer
tinha acabado com a vida dele, quando
na verdade, ele mesmo tinha decidido
sumir e me deixar para trás.
— Ele estava sendo ameaçado.
— Hastings rebateu.
— A palavra "estava" me remete
à passado, isso significa que ele não
corre mais perigo algum. E então, onde
ele está agora?
— Eu não sei, ele parou de falar
comigo depois de um tempo — ele falou
e eu balancei a cabeça diante daquela
situação toda. — Há quanto tempo
esconde esse relacionamento entre
vocês? — Ele perguntou apontando para
mim e Ally que ainda o fitava com
visível expressão de choque. — Saibam
que eu não vou aceitar isso, você pode
ter razão sobre meus erros, mas eu não
aceito nada disso! — Ele levantou
esbravejando aos quatro cantos do
apartamento.
— Eu não me importo! Eu vou
com Joey para onde ele for e se me
proibir, eu fujo daqui. Eu sumo e nunca
mais dou notícias. Você sabe que tenho
coragem — Ally falou entrelaçando os
nossos dedos.
— Você não pode... — Ele
começou a esbravejar novamente e eu o
interrompi, virando para Ally.
— Não vou ficar ouvindo mais
nada do que sai da boca do seu pai,
Alice. Eu vou embora. Você vem
comigo? — perguntei e ela negou com a
cabeça, deixando-me confuso.
— Eu quero conversar com eles
antes de ir, meu amor — ela disse e
então me puxou dando um beijo rápido
em meus lábios. — Me espere no seu
apartamento, chego lá em quinze
minutos.
Eu assenti e fui embora logo
depois sem nem despedir ou olhar para
trás. Cheguei em meu apartamento e
desabei no sofá, minha cabeça explodia
e eu decidi tomar um banho frio para
acalmar os ânimos.
Demorei uns minutos e quando
saí de lá, Ally me esperava sentada em
minha cama chorando copiosamente,
meus olhos seguiram até o chão e então
reparei que sua mochila estava jogada
aos seus pés. Passei a toalha em volta da
cintura prendendo-a ali e me aproximei
dela, sentei ao seu lado e a abracei,
colocando sua cabeça em meu peito.
— O que houve, pequena? —
perguntei acariciando seus cabelos
macios.
— Eu pedi para que ele me
entendesse, que nós dois estamos juntos
de verdade, mas parece que ele acha que
você só está fazendo hora comigo. Por
fim, ele me pediu para escolher entre
você e a família e que se eu escolhesse
você, não moraria mais naquele
apartamento. — Ela soluçava por culpa
do choro constante. — Eu posso ficar
aqui, pelo menos até achar algum lugar
para ficar?
— Você está louca? — Eu
afastei sua cabeça do meu peito e
segurei seu rosto com minhas mãos. —
Você não vai arrumar outro lugar para
ficar. Vai ficar aqui pelo tempo que a
pirraça do seu pai durar.
— E se nunca passar?
— Você fica aqui para sempre.
— Ela já estaria comigo para sempre de
qualquer forma, eu já carregava minha
pequena comigo por onde quer que eu
fosse, mesmo que em pensamento ou no
sentimento em meu peito. A mudança
física era apenas mais um passo que
daríamos juntos e eu tinha certeza de que
no fim, tudo se encaixaria e daria certo.
Capítulo 25
Joey saiu pela porta do
apartamento e eu virei olhando para meu
pai, encarando-o com apreensão, porém
tinha certeza do que queria e não
voltaria atrás. Era óbvio que preferia ter
sido avisada com antecedência sobre
aquilo tudo, mas entendi os motivos de
Joey, ele estava muito magoado com
meu pai e eu confesso que nunca
imaginaria isso vindo dele.
— Pai, eu...
— Vocês dois por aí escondidos
de mim, me fazendo de idiota. Meu
melhor amigo e minha filha bem debaixo
do meu nariz. — Ele sacudiu a cabeça e
olhou irritado para minha mãe. — Você
sabia disso? — Ela roía a unha de um
dedo e então apenas concordou com a
cabeça.
— Sim. Eu pedi para que ela se
afastasse dele inicialmente, mas percebi
que os dois se gostam de verdade, meu
querido. Pedi para que ela te contasse,
mas parece que as coisas saíram do
controle — mamãe disse parecendo
temer a reação do meu pai, mas ele
estava focado em discutir comigo antes
de reclamar qualquer coisa com ela.
— Todos sabiam? Até Hilary
sabia, não é? — ele perguntou e eu
assenti, ele mal sabia que Hill tinha me
ajudado desde o começo.
— Eu o amo com todo meu
coração, você precisa compreender que
meu relacionamento com ele não é só
uma coisinha passageira. Nosso
compromisso é sério, mais do que
qualquer um poderia imaginar.
— Alice, ele tem o dobro da sua
idade. Você sabe que isso vai ser
impossível de dar certo, já vi Joey
trocar de namorada tantas vezes e eu sei
as coisas que ele fazia com elas — dizia
com desprezo na voz e eu o
compreendia até certo ponto, pois Joey
realmente havia se tornado um
mulherengo depois do divórcio com a
Gio, mas comigo era diferente. Ele
havia se tornado outra pessoa depois
que começamos a nos relacionar. — O
que te leva a acreditar que ele não vai te
trair? Ou te trocar por outra pessoa
daqui algum tempo?
— Olha, não posso garantir nada
da parte dele, pois não sou ele, mas
posso garantir que estou disposta a
colocar minha mão no fogo pelo que
sentimos um pelo outro.
— Só se for fora daqui — disse
simplesmente e minha mãe levantou a
cabeça assustada.
— Como? — perguntei aturdida.
— É isso mesmo, você escolhe.
— Ele passou a mão pela barba rala em
seu rosto. — Se quiser ficar com ele,
não vai viver mais sob o meu teto, eu
não aceito esse relacionamento.
— Eu não acredito que chegou
ao limite de me pedir para escolher. Eu
esperava mais de você, pai. — Eu
estava segurando as lágrimas, mas era
difícil contê-las. — Sempre fui meio
boba e chorona, mas meu pai estava me
expulsando de casa e eu estava sentindo
meu coração ser arrancado de mim.
— Você precisa me respeitar
mais, não se esqueça que sou seu pai.
— É mesmo? Você está me
expulsando porque amo o seu melhor
amigo, o cara que você deveria confiar
mais do que tudo no mundo. Amar
alguém não deveria ser considerado
como algo errado. — Repeti a frase que
havia usado certa vez com Joey. — Não
acho que um pai faria isso com a própria
filha.
Eu saí da cozinha enquanto uma
lágrima escapava, não queria chorar,
queria ser forte na frente dele. Mostrar
que não era boba ou fraca só por ser
mais nova do que Joey. Entrei em meu
quarto e fui até minha mochila, joguei
várias roupas dentro dela e as que
sobraram deixei para buscar depois
quando ele não estivesse em casa.
Hill entrou no quarto e sem dizer
nada, apenas me abraçou fortemente.
Alguns segundos depois ela quebrou o
silêncio.
— Eu passei por isso, você
sabe. — Ela disse e eu sacudi com a
cabeça. — Eu na verdade quis sair de
casa, ao contrário de você que foi
expulsa como um ultimato. Sei que
deveria falar para você dormir e esfriar
a cabeça, mas conhecendo o pai que
temos, tenho certeza de que ele não vai
mudar de ideia facilmente.
— Ele perdeu anos ao seu lado
por isso, evitava te ver por culpa do
orgulho idiota — disse com certa raiva
na voz.
— Eu sobrevivi, você é mais
forte do que eu e vai sobreviver
também! Além do mais, você tem Joey
que é o cara mais respeitoso do planeta,
tenho certeza de que ele não vai negar
ajuda para você nesse momento, ainda
mais que você se posicionou do lado
dele, escolhendo ele ao invés de sua
família.
— Desse jeito me sinto sem
coração — disse rindo.
— Você não é sem coração,
apenas decidida e corajosa. Agora vai
lá, você precisa contar isso para o Joey
e lembre-se que estarei sempre aqui
para te apoiar, viu? — Ela disse e eu
aquiesci, abracei-a novamente antes de
jogar a mochila nas costas e sair do
quarto indo em direção a porta do
apartamento, minha mãe me parou no
meio do caminho.
Eu a olhei e ela me abraçou
fortemente e falou baixinho em meu
ouvido.
— Vem aqui em casa amanhã de
tarde, ele vai sair e então nós vamos
conversar e tentar resolver isso. Não
vou deixá-lo afastar você de mim — ela
disse com a voz embargada.
— Ele nunca vai conseguir isso,
mãe — disse e dei um beijo em seu
rosto e me afastei dela. Respirei fundo e
saí do apartamento, fui firmemente até o
apartamento de Joey e o abri com a
chave que ele havia me dado, fui até o
seu quarto e percebi que ele tomava
banho.
Sentei-me em sua cama e deixei
toda a adrenalina que tomava conta de
meu corpo diminuir, foi então que a
ficha caiu. Eu estava vivendo a mesma
situação de Hill e ela passou por maus
bocados antes de voltar a falar com meu
pai, será que seria assim comigo? Todo
o choro contido até o momento veio e
então Joey abriu a porta do banheiro.
Ele sentou ao meu lado, enquanto
eu explicava para ele o ocorrido e então
ele disse tudo o que eu precisava ouvir
para que meu coração se aquietasse no
peito, ele me deu a segurança necessária
para que ficasse calma.
— Você não vai arrumar outro
lugar para ficar. Vai ficar aqui pelo
tempo que a pirraça do seu pai durar.
— E se nunca passar?
— Você fica aqui para sempre.
Se quiser, é claro.
Eu queria, não tinha a menor
dúvida de que queria estar com ele. De
alguma maneira, sabia que com ele não
havia o que temer, em seus braços a
promessa de que ele nunca me deixaria
se tornava mais viva e mais verdadeira
dentro de mim.

~*~
Na manhã de Natal, acordei bem
cedinho, sentindo-me um trapo por não
ter conseguido dormir muito na noite
anterior. Janet ligou para o meu celular
pouco depois que acordei e assim que
convidou a mim e Joey para almoçar
com ela, eu aceitei. Janet explicou que
Dominic tinha outro compromisso e que
não poderia estar com ela, o que a faria
passar o Natal sozinha e eu nunca
deixaria isso acontecer. Eu estava
terminando de ajeitar meu vestido
quando Joey se aproximou de mim,
abraçando-me por trás e dando um beijo
em meu pescoço, sorri
involuntariamente.
— Tem certeza de que quer ir
almoçar lá na casa de Janet?
— Tenho sim, meu amor —
respondi me virando e olhando em seus
olhos.
— Você está tão linda com essa
roupa.
— Foi presente de Natal do meu
namorado — disse, sorrindo e ele me
beijou.
— Esse seu namorado tem um
ótimo gosto.
— Concordo, afinal de contas
ele me escolheu como namorada. — Ele
riu e voltou a me beijar com intensidade.
Joey estava fazendo de tudo para
me animar depois do ocorrido na noite
anterior, era visível o esforço dele,
fazendo café para mim e levando na
cama. Acariciando-me por debaixo do
edredom, aliás essa parte foi muito
animadora.
Fomos para o apartamento de
Janet e assim que ela abriu a porta,
fomos surpreendidos por Dominic
sentado no sofá. Eu e Joey nos
entreolhamos e depois olhamos para
Janet. Eu tinha explicado a ela no
celular sobre o fato de não ter falado
com ele desde o dia da festa de
premiação e ela sabia de tudo.
— Querida, me desculpe. Ele
acabou de chegar, não tive como falar
que não. Se não quiserem ficar,
entenderei completamente. — Janet
tratou de se explicar rapidamente e eu
me preparava para arrumar uma
desculpa e ir embora, mas Joey foi mais
rápido do que eu.
— Sabe, acho que está tudo
certo. Seria bom também, afinal você
não se explicou com ele, talvez seja uma
boa hora para conversarem, não acha?
— Eu sorri desanimada. Será que a
gente não podia voltar para o
apartamento e ficar debaixo das
cobertas de novo?
— Claro. — Janet abriu a porta
e assim que Dominic nos viu se levantou
e foi até a cozinha, sem nem ao menos
nos cumprimentar. Olhei para Joey que
simplesmente beijou o topo da minha
cabeça.
— Sentem-se, fiquem à vontade.
Vou terminar de olhar as comidas —
disse simpática e me sentei ao lado de
Joey no sofá. Assim que ela desapareceu
para dentro da cozinha, virei-me para
Joey e dei um tapa em seu braço e ele
me olhou assustado.
— O que eu fiz? — perguntou.
— É óbvio que me fez entrar
para poder jogar na cara do Dominic
que está comigo de novo.
— Me declaro culpado, mas não
ligo. Preciso conversar com ele também.
— Joey colocou o celular em cima da
mesa de centro.
— Sobre o serial killer ser o do
jornal?
—Ally! Ninguém pode saber
disso! — falou comigo sussurrando.
— Tudo bem. Me desculpa —
respondi baixinho também e então
levamos um susto com a voz de Dominic
que conversava com a Janet na cozinha.
Virei-me para Joey. — Mas ele não é o
serial killer.
— Quem garante?
— Você quer dizer que está
desconfiando dele? — perguntei com um
sussurro desesperado e arregalando
meus olhos.
— Talvez.
— Espero que não estejam
falando de mim — Dominic disse rindo
ao voltar para sala e sentou no sofá a
nossa frente.
— Não! Era outra coisa —
respondi rapidamente e Joey riu da
minha mentira.
— Agora entendi porque Alice
saiu tão rapidamente da festa e me
deixou sem explicações — disse e eu
sorri meio sem-graça.
— Eu e Joey voltamos. Me
desculpe, queria ter explicado, mas
acabei ficando com vergonha.
— Eu entendo e não tem
problema, Ally. No fundo, sempre achei
que acabariam voltando.
— A comida já está pronta —
Janet disse ao entrar na sala. — Vamos?
Assentimos juntos e fomos para
a sala de jantar do apartamento. O clima
apesar do momento embaraçoso inicial
foi tranquilo e por algum tempo acabei
esquecendo de tudo o que tinha
acontecido na noite anterior.
Depois que comemos, ofereci-
me para lavar as louças e Janet me
ajudava, quando ela foi levar o lixo para
o coletor de lixo, fiquei sozinha na
cozinha cantarolando alguma música
aleatória e levei um susto quando
Dominic apareceu na cozinha dando um
grito só para me assustar mesmo. Levei
a mão ao peito e respirei
desregulamente até acalmar de novo, ele
ria enquanto pegava um copo de água na
geladeira.
— Que isso, Ally. Está
assustando muito fácil. — Eu fiz careta
para ele.
— Então, que pena que vocês
voltaram. Isso significa que não vou
poder te beijar mais — disse e bebeu
toda a sua água, eu continuei lavando as
vasilhas em silêncio. — Ou quem sabe
poderei?
Ele se aproximou de mim e
colou seu corpo no meu por trás e eu o
afastei de uma vez, virando-me num
rompante. Ele se assustou quando bateu
suas costas na quina da mesa.
— Dominic não me faça brigar
com você, sabe que gosto muito da
nossa amizade, mas voltei com Joey e
agora é muito sério. Sei que não fui
correta com você, mas de verdade não
quero que faça isso novamente. — Eu
estava assustada com aquela atitude
estranha dele e o fato do Joey ter
colocado a desconfiança sobre ele,
deixou-me mais apreensiva ainda.
— Me desculpe — disse
passando a mão nas costas, no lugar em
que tinha batido na mesa. — E a
investigação de Joey sobre o serial
killer?
— Não sei. Ele parece estar
progredindo, mas não fala muito sobre
isso para mim, diz que é perigoso.
— Ah, Ally. Até parece que ele
consegue esconder alguma coisa de
você. — Ele sorriu para mim com
aquele mesmo olhar fofo que me dava
com frequência.
Por um momento achei que era
bobeira de Joey não falar com Dominic,
porque ele obviamente não era o serial
killer, com aquela boa pinta, com todo o
dinheiro que tinha e toda a fama. Não
poderia ser ele. Ou era o que eu pelo
menos acreditava.
— Certo, ele parece ter
descoberto que há envolvimento do
jornal "The Golden News".
— O jornal onde eu trabalho? —
Ele pareceu alarmado.
— Sim, mas por favor não conta
para ninguém, ok? — Ele concordou e
quando fui pegar uma vasilha com molho
em cima da mesa acabei derrubando na
camisa dele. Joey chegou na mesma hora
e começou a rir.
— Mas como você é desastrada,
Ally — Joey disse rindo.
— Me desculpa, Dominic — eu
falei sentindo culpada.
— Não tem problema. —
Dominic disse tentando se limpar, mas
fez uma bagunça ainda maior. — Tenho
outras camisas aqui — disse abrindo a
camisa e deixando os músculos de seu
abdômen à mostra, descendo mais um
pouco dava para ver a tatuagem de um
sol egípcio saindo do cós de sua calça.
Eu tinha visto a outra metade, apesar de
não termos feito sexo.
Assim que ele saiu da cozinha,
Joey desatou a rir do coitado e eu acabei
rindo um pouco. Ele até mereceu por
tentar me agarrar, se eu contasse para
Joey, ele acabaria com a raça de
Dominic.
— Ally, querida. Não precisa
terminar, deixa que eu limpo o resto —
Janet disse entrando na cozinha — Joey
me disse que precisa resolver algumas
coisas em casa.
— Mas faço questão, Janet.
— Ah, minha linda. Sei que você
não está bem, vejo pelo seu olhar e só
de ter vindo aqui hoje, me fez um favor
enorme. Obrigada!
— Nós que agradecemos —
Joey disse e então a abracei.
Logo depois ela preparou uma
vasilha com algumas comidas para
comermos mais tarde e quando nos
despedíamos dela na porta do
apartamento, Dominic reapareceu
parecendo agitado.
— Já estão indo? — ele
perguntou e assenti.
— Sim, foi bom te ver — disse
tentando amenizar toda a situação.
— Foi bom ver vocês também
— Dominic respondeu antes que
saíssemos do apartamento e fôssemos de
volta para o apartamento de Joey.
Assim que chegamos lá, fomos
recebidos por James que veio nos
desejar Feliz Natal.
— O que fizeram com você? —
Joey perguntou confuso. — Agindo
assim todo carinhoso.
— Não sei, acordei assim hoje.
— Joey, você contou para ele
sobre eu ficar aqui? — Eu perguntei e
Joey negou com a cabeça.
— Você diz o fato de seu pai ter
te expulsado de casa? — James
perguntou e olhamos para ele sem
entender como ele já sabia.
— Quem te contou? — perguntei
e ele sorriu.
— Sua irmã. A gente tomou um
sorvete com a Sophie agora de tarde e
ela me contou o que houve. Sinto muito e
se está preocupada com o que vou achar
sobre você ficar aqui, saiba que não
tenho nada contra. — Ele piscou para
mim. — Você já praticamente morava
aqui antes, agora é só a coisa
oficializando mesmo.
— Você só está sendo legal,
porque quer a minha irmã — eu disse
rindo e ele negou com a cabeça.
— Que isso? Jamais faria algo
assim por interesse.
— Jura? Quer que eu numere as
vezes que fez isso? — Joey disse rindo
e James mostrou o dedo do meio para
ele. — Muito maduro da sua parte, hein?
Vai querer se tornar o pai de Sophie
fazendo esse tipo de coisa? — Joey
falou enquanto James ia para a cozinha.
— Amor? Preciso ir lá em casa,
minha mãe pediu que eu fosse lá mais ou
menos por esse horário porque meu pai
não estaria lá. Preciso pegar minhas
coisas que deixei para trás também.
— Logo agora? Eu tinha umas
ideias preparadas para nós, tinha certeza
que você ia amar — disse me puxando e
dando um beijo cheio de segundas
intenções.
— Jura? — Eu acariciei seu
abdômen por cima da blusa e ele
assentiu. — Então me espera ligar para
minha mãe? Preciso desmarcar com ela.
Liguei para minha mãe
explicando que não daria para ir, ela
falou que não daria porque meu pai não
tinha saído de casa o dia todo e tinha
ficado dentro do quarto assistindo filmes
de ação, nem ao menos conversou com
ela.
Eu tinha oficialmente estragado o
Natal de todo mundo.
— Mas você vem amanhã? —
ela me perguntou com a voz embargada.
— Claro, amanhã vou a casa do
Ed e passo por aí logo depois.
— Amanhã ele vai trabalhar e
não corre o risco de se encontrarem,
mas você sabe que não tem problema,
não é? Ele não vai te mandar sair da
casa se te ver aqui.
— Sou eu quem não quero
encontrar com ele — respondi. — Eu
ainda estou meio magoada e Joey nem
ao menos falou sobre tudo que aconteceu
sobre o pai dele, parece estar mais
magoado do que eu.
— Eu entendo, filha. De
qualquer maneira espero você aqui
amanhã, então.
—Combinado. Te amo, mãe.
— Também amo você, querida.
Desligamos em seguida e eu fui
para o quarto de Joey que estava sentado
na cama e tinha uma pasta na mão, que
folheava atento, eu me aproximei e o
abracei.
— Você quer me contar o que
aconteceu? Não me explicou aquilo
tudo.
— Sobre meu pai estar vivo e
não fazer questão de me ver? —
perguntou em tom amargo.
— Exatamente. Sei que não gosta
de falar sobre essas coisas, mas nesse
caso é mais do que preciso um desabafo
com alguém próximo. — Ele segurou
minha mão pendurada em seu ombro.
— Eu abri essa pasta alguns dias
atrás e encontrei um documento secreto
do FBI.
— É a pasta do Scott?
— Isso. Nem sei como ele
conseguiu isso, mas ele deve ter
subornado alguém.
— Com certeza não foi de forma
lícita.
— Então, eu li um documento
que falava que meu pai tinha sido morto
pelo seu pai, mas ele não teve a
intenção, aquilo já me assustou. Já era
um baque enorme descobrir aquilo, mas
o pior foi depois quando encontrei outro
documento e nesse era uma investigação
que estava sendo aberta para a
exumação do corpo enterrado.
— Mas para fazer esse tipo de
coisa, precisa da sua autorização, você é
o filho.
— Não se o caso é sigiloso do
FBI, eles não precisam de nada disso.
Eles fazem e pronto. — Ele retirou duas
folhas de dentro da pasta e me entregou.
— Eu fiquei tentando achar mais alguma
coisa sobre o assunto, mas parece que
não tem mais nada.
Eu li atentamente e era quase
inacreditável que aquilo fosse verdade,
mas ali diante de mim tinha uma prova
assinada e timbrada por um dos chefões
do FBI. Aquilo era mais sério do que
pensava.
— É muito louco isso — falei
devolvendo os papéis para ele.
— Demais. Agora entende
porque fiquei tão revoltado? —
perguntou.
— Claro que entendo! Ficaria
também e mesmo sendo meu pai, acho
um absurdo o que ele fez com você.
— Escuta — Joey me chamou e
eu o olhei. — Vamos simplesmente
parar de falar disso?
— E o que tem em mente para
fazermos então?
— Quer tomar um banho gostoso
comigo? — perguntou malicioso e
concordei.
Ele não falou mais nada, apenas
me pegou pela cintura e me enrosquei
nele, que se levantou e me carregou até
o banheiro. Assim que ele fechou a porta
atrás de mim, cobriu a minha boca com
um beijo intenso.
Ele se afastou e retirou meu
vestido calmamente, fazendo-me morrer
de antecipação e desejo. Depois virei e
enquanto ele retirava sua camisa, eu
abria sua calça, ajudando-o a livrar-se
dela e da boxer que ele usava.
Ele fez o mesmo comigo, tirou
meu sutiã e acariciou meus seios com a
língua antes de descer os beijos pela
minha barriga, ele parou diante da minha
calcinha e deu um beijo por cima dela,
senti minha entrada se contrair de
desejo. Ele abaixou minha lingerie
lentamente, olhando-me como se fosse
me devorar e eu esperava que ele
fizesse isso.
Ele passou um dedo entre os
lábios úmidos da minha intimidade, abri
um pouco as pernas instintivamente e ele
então substituiu o dedo pela sua língua,
fazendo-me gemer e jogar a cabeça para
trás. Ele me empurrou para a parede,
levantou uma das minhas pernas e
colocou em cima de seu ombro para que
pudesse facilitar suas carícias. Quando
comecei a rebolar e gemer cada vez com
mais frequência, ele se levantou e me
puxou para debaixo do chuveiro quente
com ele.
Nossos corpos molhados
roçavam um no outro e eu já o queria
dentro de mim com urgência. Ele beijou
meu pescoço antes de me virar e
colocar-me contra a parede, Joey
arranhou minhas costas e se aproximou
do meu ouvido.
— Porque tem que ser assim tão
gostosa? Não aguento muito tempo sem
estar dentro de você, pequena — Ele
falou arfando e eu senti um desejo
imensurável, eu o queria dentro de mim
sem demora, empinei minha bunda em
sua direção e ele entendeu meu recado
passando seus braços sobre minha
cintura e me penetrou com certa força,
eu soltei um gemido.
Ele me penetrava com
intensidade, fechei meus olhos e tentei
não gemer muito alto apesar do prazer
que sentia a cada estocada de Joey
dentro de mim. Eu não duraria muito
tempo e fiquei mais louca ainda quando
ele começou a acariciar meu clitóris,
joguei minha cabeça para trás e a
encostei no ombro de Joey, que arfava
em meu ouvido.
Ele mordeu a minha orelha e
então soltei um gemido alto e nem
importei se James me ouviria, a única
coisa que queria era sentir o prazer que
tomava conta de todo meu corpo,
tirando-me de órbita enquanto me
desfazia em um orgasmo delicioso.
Curvei meu corpo para frente, de
forma que o acesso dele ficasse melhor
e então Joey acelerou o ritmo enquanto
eu virava a cabeça e o olhava com uma
feição de desejo intenso.
— Goza para mim, Joey — pedi
em súplica, ele atendeu meu pedido
derramando-se dentro de mim enquanto
uma sensação deliciosa tomava conta de
meu corpo, abraçando-me por trás e
dando vários beijos em meu pescoço e
ombros antes de sair de dentro de mim
por completo.

~*~

Algumas horas mais tarde,


estávamos em sua cama assistindo um
filme na televisão nova que ele colocou
no seu quarto, mas ele parecia pensativo
e nem parecia prestar atenção no filme.
— Você está bem? — perguntei
pausando o filme.
— Não sei, sendo bem sincero.
— Ele respirou fundo. — Essa história
toda tem acabado comigo.
— Acho que entendo, apesar de
nunca ter passado por algo assim. — Eu
o olhei. — Não acha que devia tentar
relaxar? Tirar isso da cabeça ao menos
um pouco? Sei lá, uma semana de folga
dessa investigação toda.
— Não dá... isso simplesmente
faz parte de mim. Continuar essa
investigação é como se fosse algo mais
forte do que eu — falou com intensidade
e eu mordi o lábio. Aquilo me
preocupava, de verdade. — E agora tem
isso do meu pai, não sei nem mesmo se
quero vê-lo de novo, mas no fundo, ele é
meu pai e é a coisa mais natural do
mundo que eu queira encontrá-lo e tirar
satisfação dos motivos dele ter feito
isso.
Ele virou um pouco e deu um
beijo rápido em minha testa antes de
levantar e ir até a mesinha de cabeceira,
ele abriu a gaveta e retirou de lá um
vidrinho branco. Eu sabia para que
serviam, meu avô tomava desses
remédios quando minha avó havia
morrido, ele não conseguia dormir. Eu
levantei a cabeça assustada, aquele
remédio era muito forte.
— Ei, isso é remédio para
dormir e é muito forte — apontei para o
remédio e ele assentiu jogando o mesmo
na boca e engolindo sem água mesmo.
— Eu tomo às vezes — disse e
voltou para perto de mim, deu outro
beijo em meus lábios e se afastou
avisando que ia apenas pegar um copo
de água para colocar no quarto caso
sentisse sede na madrugada. Enquanto
isso eu me preocupei com o estado de
saúde de Joey.
Não era normal aquilo. Era? Se
ele havia chegado a ponto de tomar
remédios, era porque estávamos em um
ponto crítico e eu não estou exagerando,
pois Joey sempre foi contra tomar
remédio, a não ser que fosse
completamente inevitável e para ele isso
significa que só é aceitável quando ele
estiver morrendo.
— Ei, no que você está
pensando? — Ele entrou no quarto e eu
sacudi a cabeça. Achei melhor não falar
nada sobre aquilo, mas não consegui
manter a minha boca fechada.
— Joey, acho sinceramente que
essa investigação toda está te fazendo
mal. — Ele ficou calado, encarando-me
durante alguns segundos antes de vir até
a cama e se deitar ao meu lado.
— Isso é normal, Ally — disse
com sinceridade e apagou a luminária da
sua mesinha de cabeceira.
— Mas eu estou sinceramente
preocupada, esses remédios que você
está toman...
— Escuta. Eu vou falar isso e
não quero que me leve a mal — disse
calmamente. — De tudo que fiz na minha
vida, além de estar com você, isso é o
que me tem dado motivação. Eu cheguei
a um ponto da investigação na qual eu
preciso ir até o fim, se eu não fizer isso,
aí sim, vou ficar doente.
Dei um suspiro daqueles que a
gente solta quando não sabe o que falar
e o sentimento precisa ser extravasado
de algum jeito e a única solução era um
daqueles suspiros pesados. Eu me enfiei
debaixo das cobertas e o abracei.
— Ei! — Seus braços fortes me
circundaram no mesmo segundo e ele
beijou o topo da minha cabeça. — Ally,
não precisa se preocupar, meu amor. Vai
dar tudo certo.
— Promete? — Ele riu um
pouco e seu abdômen sacudiu um pouco.
— Eu prometo que vai ficar tudo
bem no final — disse e eu não falei nada
de volta, apenas continuei em silêncio.
Joey estendeu o dedo mindinho para
mim e riu. — Promessa de dedo
mindinho como a gente costumava fazer
quando você era mais nova. — Eu dei
uma gargalhada e entrelacei meu dedo
no dele.
— Você faz muitas promessas —
disse enquanto ele acariciava meus
cabelos.
— E eu vou cumprir cada uma
delas, Ally. Eu sou um homem de
palavra.
— Eu sei disso. Confio no
homem que eu amo. — Eu fechei meus
olhos enquanto seus dedos se enrolavam
nos meus cabelos, eu adorava aquilo,
aquele carinho que era tão específico
dele.
— E eu faço tudo para ver a
mulher que eu amo feliz.
Capítulo 26
Joseph
Na manhã seguinte, eu cheguei
logo cedo na delegacia e encontrei o
agente Calders do FBI na minha sala.
Achava aquilo meio invasivo, mas não
havia nada que pudesse fazer. Ele
levantou e veio até a mim me
cumprimentando.
— Bom dia, Tenente Spencer!
Descobri que mandou alguns dos meus
agentes ficarem de olho em cinco
funcionários do jornal The Golden
News e então eu fui mais esperto,
mandei que eles checassem antecedentes
criminais de todos os funcionários.
— Você devia ter me falado.
— Eu diria o mesmo para você.
— Ele tinha razão, minha saída era não
bater de frente com ele. — Devia ter me
falado das suas suspeitas.
— Eu tenho uma lista com 20
nomes suspeitos — disse entregando o
segredo que estava guardando.
— Qual é a fonte?
— É segura — disse apenas isso
sem falar que era do Scott, porque ele
provavelmente não aceitaria muito bem.
— Não vou insistir. Pode me
passar?
— Sim, na verdade, os cinco que
pedi para que os agentes ficassem de
olho, são os meus maiores suspeitos. —
Eu falei enquanto abria a pasta na minha
gaveta e entregava uma cópia para ele.
— E quais as razões?
— Algumas pistas batem. — Eu
me lembrei do dia anterior e do fato de
ter visto a tatuagem aparecendo no
abdômen de Dominic. — Na verdade,
acrescentei mais um suspeito a essa lista
ontem. Agora são seis.
— Qual é o nome desse novo
suspeito?
— Dominic Evans.
— O jornalista famoso que
ganhou o prêmio? — perguntou meio
surpreso.
— Esse mesmo. Eu o conheço,
mas não sei, de repente comecei a
perceber que as coisas ligam até ele.
— Serial killers parecem ser
amigos, Joey. Deve ter aprendido isso.
— Apenas balancei a cabeça, pensativo
e ele prosseguiu. — Vou averiguar a
vida dele, então. Vou colocar os agentes
para se movimentarem. Pode vir comigo
averiguar a vida desse Dominic?
— Eu tenho uma ideia para isso,
se me permitir.
— Qual é a ideia?
— Perguntar se já o viram nas
docas. Parece ridículo, mas não acredito
que ele possa usar seu próprio nome por
lá, seria idiotice já que ele é famoso na
cidade.
— Certo.
Esperei alguns minutos pela
volta do agente Calders e então Gio
apareceu na minha sala, animada e já foi
logo falando assim que entrou.
— Adivinhe só. Apenas dois
funcionários do jornal possuem
embarcações.
— Quem são?
— O dono do jornal e o editor-
chefe. Aqui estão os nomes deles. —
Ela me entregou um papel com o nome e
a ficha completa deles.
— Tenente, podemos ir? — O
agente Calders entrou na minha sala e
pude notar um olhar empolgado de Gio
na direção do agente.
— Claro. Giorgiana descobriu
que somente dois funcionários possuem
embarcações.
— Então vamos averiguar isso
agora mesmo.
Fomos em um carro comum,
nada de viatura, nem mesmo usávamos
roupas que pudessem lembrar que
éramos policiais. Tudo para que não
chamássemos muito a atenção e
colocássemos tudo a perder.
Assim que chegamos lá, fomos
direto investigar as embarcações dos
dois funcionários, mas como eles
estavam de férias do jornal, ambos
tinham decidido viajar e aproveitar com
os iates. Então começamos a segunda
parte daquela nossa investigação e
confesso que estava até gostando de
dividir o momento com o agente
Calders, ele não era tão petulante quanto
achava antes.
— Senhor, posso te fazer uma
pergunta? — Aproximei-me de um
senhor que limpava uma das
embarcações.
— Sim, senhor.
— Conhece este homem? —
perguntei e ele coçou a barba branca.
— Não o conheço, mas confesso
que ele não me é estranho. — O homem
disse e aquilo nem era estranho aos
meus ouvidos, afinal Dominic apareceu
muitas vezes na televisão.
— Obrigado — disse e já ia
saindo quando ele me chamou
novamente.
— Eu me lembrei! Volte aqui,
por favor — o senhor falou e desceu da
embarcação.
— Ele veio aqui em busca de
informações sobre uma gangue que
matou um rapaz há alguns meses atrás,
mas ele já esteve nas redondezas antes,
se você perguntar naquele depósito de
combustíveis no final das docas,
provavelmente vai conseguir alguma
informação. Todos passam por lá porque
além de combustíveis, eles possuem
algumas ferramentas.
— Certo, muito obrigado,
senhor! — Eu agradeci e saí dali indo
logo em direção do depósito.
— Vai mesmo acreditar no
velho? — Calders perguntou e eu
assenti.
— Meu instinto diz que tem algo
errado.
— De onde você o conhece?
— Ele veio atrás de mim logo no
começo da minha investigação, quando
ela ainda nem era oficial e disse que
ajudaria caso desse algumas
informações para ele.
— E então? — Ele pareceu se
interessar na história.
— Ele é muito inteligente,
sempre esteve por perto, pescando
informações e confesso que nunca
esperei que ele pudesse ser algo assim,
nem mesmo depois que tive acesso a
aquele documento que te entreguei a
cópia, mas ontem eu e minha namorada
estávamos almoçando na casa da tia
dele, uma de Ally, e sem querer, ela
derramou um molho na camisa dele, que
o obrigou a retirar a camisa, foi então
que vi uma tatuagem no corpo dele.
— E aí você ligou aos fatos já
colhidos?
— Exatamente. A única coisa
que não bate é que ele não parece ter
nenhuma ligação com as docas.
No mesmo instante o celular de
Calders chamou insistentemente e ele o
retirou de seu bolso, pedindo-me um
instante, eu assenti enquanto ele atendia
e conversava com outro agente.
— Certo. Mas vocês têm certeza
disso? Vou aguardar por mais
informações e não quero dúvidas,
estamos falando de um serial killer e
não de um ladrão de padaria. — Ele
desligou e virou para mim. — Eles
rastrearam e descobriram que
exatamente esse Dominic passou cinco
anos na Colômbia pesquisando sobre os
principais crimes de lá para seu
doutorado, coincidentemente ou não, se
trata da mesma época em que os
assassinatos pausaram aqui, mas
começaram lá na Colômbia.
— Pegamos o assassino! É ele!
— Eu senti meu coração disparar. Como
não tinha percebido isso antes? Era tão
óbvio, esteve na minha frente o tempo
todo e só eu não enxerguei.
Mas não me culparia porque a
mente de um serial killer é algo que não
dá para se ler com facilidade, nunca se
sabe o que se passa nela e sua
inteligência está acima até mesmo dos
melhores agentes do FBI e da CIA.
— Calma, Spencer. Vamos
averiguar nesse depósito, se for ele
mesmo alguém o viu por aqui, mesmo
que seja uma única pessoa. — Calders
falou e eu assenti com o sangue fervendo
em minhas veias. Entramos no depósito
e uma mulher alta, com um corpo
magnífico veio nos atender.
— Bom dia, senhores! Como
posso ajudá-los?
— Olá, gostaríamos de saber
sobre esse homem. — Eu mostrei a foto
e ela abriu um sorriso de canto. — Você
o conhece?
— São da polícia? Presumo que
sejam. Venham comigo, vou servir um
café enquanto conversamos sobre o
Evans, já está mais do que na hora de
falar algumas verdades sobre aquele
filho da mãe. — Ela tinha uma feição
amarga e era óbvio que se tratava de
vingança, mas para mim e Calders era
só a confirmação de algo que já
tínhamos certeza.
Apalpei meu bolso e percebi que
não estava com meu celular, eu o tinha
perdido e nem mesmo havia me tocado.
Aliás, a última vez que havia mexido
nele, tinha sido no dia anterior. Eu
precisava ligar para Ally e pedir para
que ela se afastasse de Dominic a todo
custo.
Alice
Assim que cheguei no
apartamento de Ed, fui recebida por Lili
que sorria animadíssima, abracei minha
amiga e sua tia Olívia, que estava
sentada no sofá conversando com Ed.
— Tia Olívia! — exclamei
contente com a presença dela ela. —
Como você está?
— Ah, minha linda, você sabe
que estou doente de novo, mas não quero
ficar ruim e já voltei a me tratar. Ed vai
pagar todo o tratamento, acredita? Lili
escolheu um namorado de ouro.
— Ed é de ouro mesmo! —
Acariciei o rosto do meu amigo que me
puxou para um abraço apertado.
— Quer seu presente? — Ed
perguntou e eu assenti.
Sentei no sofá com Lili e Olívia,
contei sobre o episódio de Natal com
detalhes e elas ficaram chocadas com
tudo, principalmente com a parte em que
meu pai ameaçou Joey com sua arma.
— Meu Deus! Seu pai é muito
explosivo, mas não esperava isso vindo
dele.
— Vou ficar com medo do seu
pai quando for à sua casa. — Lili disse
meio receosa.
— Eu não estou morando lá,
estou morando com Joey agora. — As
duas me olharam com um misto de
espanto e alegria.
— Não acredito! Como assim?
— Meu pai me expulsou de casa,
então Joey me recebeu no apartamento
que ele divide com James.
— Seu pai te expulsou de casa
só porque você namora o melhor amigo
dele? Tudo bem que ele tem o dobro da
sua idade, mas isso não significa nada se
vocês se amam de verdade. — Olívia
falou com naturalidade. — Sempre
namorei caras mais velhos e acho que
muito melhor.
— Ah, eu gosto de namorar
caras da minha idade. Olhem para o Ed,
por exemplo, ele é quase dois anos mais
velho do que eu, mas é um amor — Lili
afirmou.
— O Ed não conta Lili, ele vive
a vida e tem as responsabilidades de um
cara de vinte e poucos anos. — Eu falei
e sua tia concordou com a cabeça.
Ed voltou para a sala com uma
pequena caixinha que continha um
cordão lindo, uma pedrinha azul estava
pendurada ali e eu tinha certeza que era
uma pedra preciosa. O dinheiro daquele
menino não tinha limites.
— Você sempre precisa gastar
tanto dinheiro assim? Não vejo
necessidade — disse e ele riu.
— Tenho dinheiro que sobra,
então não se preocupe porque não fará
falta. Além do mais, saber que gastei
com alguém que minha melhor amiga
gosta tanto me paga de volta só que em
dobro! — Ele piscou para mim. — E
saiba que quem escolheu foi Lili.
— Por isso amei tanto, ela sabe
do que eu gosto.
Senti meu celular vibrando no
bolso e peguei logo vendo que era uma
nova mensagem de Joey.
— Coloca em mim, amiga? —
Eu pedi para Lili e ela assentiu vindo
até a mim. Enquanto isso lia a mensagem
de Joey para mim.

"Me encontre naquela cafeteria


perto da casa do apartamento do Ed às
16, linda. Te amo!"

Joey não me chamava de "linda",


achei estranho ele não usar o apelido
"pequena", mas no fim das contas sorri
animada enquanto minha amiga
terminava de colocar o colar em mim.
— Quem era no celular? — Ed
perguntou.
— Adivinha? — brinquei.
— Vocês dois deviam era se
casar logo, ainda mais agora que já
estão morando juntos como se fossem
casados — Lili disse.
— Sai dessa, acho que estou
nova demais para colocar isso no papel.
— Eu repliquei e eles riram.
— Isso aí, Ally — Ed disse e
Lili o olhou esperando que ele
prosseguisse, mas sua feição não era de
quem tinha gostado da afirmação. — Só
case quando tiver certeza de que achou a
pessoa certa. — Ele tentou consertar.
— Mas ela encontrou. — Olívia
disse e eu assenti.
— Encontrei mesmo e não
desgrudo dele nunca mais.
Fiquei por mais algumas horas
no apartamento de Ed, liguei para minha
mãe avisando que passaria em casa lá
pelas 18 horas, pois Joey tinha me
chamado para vê-lo às 16:00 e ela
apenas concordou e disse para que me
divertisse.
Quando deu a hora de ir,
despedi-me dos meus amigos e fui
animada andando os dois quarteirões de
distância que tinha do apartamento de
Ed até a cafeteria que tanto gostava de
ir. Escolhi uma mesa na cafeteria e me
sentei, esperando por ele.
Fiz meu pedido, mandei uma
mensagem para Joey avisando que tinha
chegado e que estava esperando por ele,
e depois de trinta minutos, não recebi
nenhuma resposta. Eu estava começando
a achar aquilo estranho, quando
finalmente se sentaram na cadeira que
estava na minha frente.
Mas não era Joey ali.
Dominic
Já ouviram falar que atitudes
desesperadas levam a medidas
devastadoras?
Certo, acho que a frase não é
bem assim, mas que se dane. Seria
minha filosofia a partir daquele
momento. Assim que soube que Joey
estava perto de me descobrir, percebi
que precisava agir.
Lembra-se da cartada final? Ali
estava eu utilizando minha cartada e ela
se chamava Alice.
No Natal foi fácil pegar o
celular de Joey sem que ele se notasse,
ele o largou em cima da mesinha de
centro da sala em vários momentos e
não tive dificuldade alguma ao fazer
isso. Ali estava eu marcando um
encontro com a adorável Ally, a filha da
puta que ficava me tentando, mas acabou
não me dando o que tanto queria.
Nem mesmo me deu o prazer de
sentir o gosto que tinha entre suas
pernas, o máximo que consegui foi tocá-
la naquela região o suficiente para saber
que ela era do tipo que eu mais gostava,
não tinha pudores na hora do sexo, mas
ela não me deixou comprovar isso, pois
voltou com o idiota do Joey.
Aliás, perguntava-me como ele
tinha chegado tão perto de mim, porque
descobrir que o serial killer era do
jornal era algo que não dava para
descobrir com facilidade. Eu quase
desisti de usar a Alice para meu plano
final, porque tinha certeza de que
arrumaria um jeito dele não conseguir
descobrir quem era ou então armaria
para alguém levar a culpa, mas então
recebi aquela mensagem que me fez ter
certeza de que teria que matar a doce
Ally.
Giorgiana mandou uma
mensagem para o celular de Joey, que
estava comigo, avisando que a partir da
combinação das células epiteliais
encontradas mostrava que o assassino
tinha olhos azuis. Só eu tenho o olho
azul naquele jornal, por mais incrível
que isso pareça. Eu estava ficando
encurralado, mas eu coloquei o verbo
"estar" no passado porque com Alice, eu
sabia que as coisas ficariam bem mais
fáceis e qualquer coisa eu diria que
tinha pegado Ally por desespero e medo
de ser preso, mas no fim eu tinha certeza
que a mataria. Não conseguiria resistir
em vê-la se desfazer nas minhas mãos.
Assim como vi minha irmã quando meu
pai a espancou até que ela ficasse com
quase nada de vida e como um golpe de
misericórdia cortou seu pescoço para
que ela não agonizasse mais.
Depois costuraria a boca de
Ally, assim como meu pai fazia, mas ele
não utilizava linhas ou agulhas, ele
utilizava sua força, gritava e obrigava
que Rachel apanhasse em silêncio e
quando ela resmungava de dor, batia
ainda mais. Ela era a melhor garota que
já conheci em toda minha vida, doce,
adorável, a melhor filha, a melhor aluna,
tinha uma reputação impecável.
Alice seria a última de Golden
Coast, porque se tudo desse certo e eu
conseguisse escapar, estaria longe dali
até a manhã seguinte e deixaria para trás
um rastro de sangue interminável de
minhas obras de arte, seguiria para outro
lugar e arrumaria uma identidade falsa.
Eu daria um jeito, porque eu
sempre dava um jeito.
Ally estava sentada na cafeteria
e olhava para o celular, com certeza
esperava uma resposta para a mensagem
que havia mandado para Joey sem saber
que quem estava por trás do convite era
eu. Eu atravessei a rua e entrei na
cafeteria indo até a mesa onde ela estava
e me sentei na sua frente. Ela me olhou e
sua primeira reação foi surpresa e
depois ela pareceu ficar mais assustada,
amedrontada e talvez ela estivesse lendo
meus olhos.
— Sentiu minha falta, doce
Alice? Eu senti a sua.
— O que você faz aqui? Marquei
com o Joey, ele deveria estar aqui há
meia hora.
— Ele não virá — ela me olhava
sem saber como reagir.
— Como sabe disso?
— Porque ele está sob meu
poder, se eu quiser que ele morra agora,
morrerá. — Eu menti e ela acreditou
levando a mão à boca, visivelmente
assustada. — Não esboce nenhuma
reação, não diga nada. Só aja
naturalmente e me siga sem protestar ou
ele morre onde está.
Ela anuiu enquanto seus olhos se
enchiam de lágrimas, mas ela engoliu
toda e qualquer lágrima, contendo
qualquer desespero e eu me levantei,
estendi meu braço para ela que hesitou
um pouco antes de entrelaçar seu braço
no meu.
— Sorria, querida. — Ela abriu
um sorriso forçado e segurava em meu
braço com visível desdém, fomos
andando atravessamos a rua e por vários
momentos via em seu olhar que ela
queria pedir socorro, mas ela achava
que Joey poderia morrer caso fizesse
isso. Abri a porta do carro e fiz com que
ela entrasse, ela se sentou e mordeu o
lábio com uma feição de desespero, eu
sentia a adrenalina correr em minhas
veias, aquilo dali valia mais do que
qualquer prêmio no mundo. — Sabe que
eu adoro quando você prende seu cabelo
assim? — Acariciei seus cabelos e ela
se encolheu assustada.
— Quem é você? O que você fez
com o Joey? Porque está fazendo isso?
— Ela perguntou em disparada e eu
tinha que admitir, ela era corajosa. Algo
me dizia que aquilo não duraria muito.
— Muitas perguntas em tão
pouco tempo. Relaxa, Ally. — Dei
partida no carro, eu a levaria para o
único lugar aonde tinha certeza que não
me achariam. — Em resumo? Sabe essas
mortes ocorridas nos últimos tempos?
Foram todas obras minhas. — Ela me
olhou apavorada. Não disse que a
coragem acabaria? — Calma, Alice.
Não vou te matar...ainda.
Joseph
Eu e Calders nos sentamos
diante da mulher que tinha uma
quantidade exagerada de batom nos
lábios, ela sorriu e acendeu um cigarro
antes de começar a contar.
— Então, esse cara da foto é um
belo de idiota. Veio aqui, conversou
com meu chefe e conseguiu dinheiro
emprestado para uma sociedade, iam
abrir uma lojinha de souvenires e vocês
sabem que lojinha com essas
lembrancinhas só tem uma e ela nem tem
muita coisa. Pois então, ele conseguiu
enrolar meu chefe e como se não
bastasse comprou aquele ferro-velho
que tem logo ali no fim das docas no
meu nome, ele me fez assinar o
documento. — Eu e o agente Calders
nos entreolhamos assentindo um para o
outro.
Dominic era o nosso cara e eu
nem tinha muita fé de que realmente
fosse ele e confesso que até dois ou três
dias antes ele era apenas uma
desconfiança quase invisível na minha
mente, mas agora ele era a certeza da
solução daqueles crimes horrendos que
vinham acontecendo.
— E sem contar que ele me
seduziu, me usou e depois me jogou fora
como se eu fosse uma...
— Senhorita, acho que já temos
informações o suficiente — Calders
disse antes de levantar, eu o imitei logo
em seguida.
— Mas vocês vão prendê-lo?
— Espero que sim — disse antes
de sair dali rapidamente com Calders.
Assim que cheguei do lado de
fora, pedi o celular de Calders
emprestado para ligar para Alice, que
não me atendia por nada. Calders queria
vasculhar o tal ferro-velho, mas
precisava do mandato para entrar e
revirar aquilo tudo e talvez demorasse
três ou quatro horas até que fosse
expedido.
— Não consegue falar com sua
namorada? — ele perguntou.
— Como sabe que estou ligando
para Alice?
— Você disse que ele a
conhecia, então deve estar com medo
dele fazer alguma coisa com ela.
— Eles tiveram um pequeno
relacionamento, eu não estou com medo,
estou apavorado que ele tente algo
contra ela.
— Porque não vamos até a
delegacia? Assim você pode passar
onde ela estiver e avisar. — Calders
sugeriu e eu assenti. — Se tudo der
certo, fechamos esse caso hoje ainda,
Spencer. Vai ser um presentinho de
Natal atrasado.
Fomos andando até o carro e
minha mente só conseguia pensar em
Ally e se ela estava bem, porque ela não
ter atendido o celular era algo muito
estranho. Ela nunca fazia aquele tipo de
coisa, sempre me atendia na primeira
chamada. Eu só esperava que quando
chegasse em casa, ela estivesse bem,
apesar dos sentimentos contrários em
meu peito que pareciam me avisar que
algo ruim tinha acontecido com ela.
Talvez eu só estivesse
impressionado e assustado com o fato de
um serial killer ter rondado minha
pequena, quem sabe fosse só um medo
bobo, talvez eu o prendesse no fim
daquele dia e tudo ficaria bem.
Mas sempre existia o "talvez
não".
— Posso fazer outra ligação? —
Eu pedi quando Calders deu a partida no
carro.
— Claro, tome aqui. — Ele
estendeu o celular para mim.
Eu digitei o número da casa de
Hastings, eu não queria ligar para lá
depois daquela cena no Natal, mas sabia
que Ally iria para lá e ela
provavelmente deveria estar lá naquele
momento. Sua mãe atendeu nos
primeiros toques e eu tentei falar
calmamente, não queria passar minha
aflição para ela.
— Oi?
— Oi, tudo bem, senhora
Hastings? É o Joey falando. A Ally está
por aí? Ela ficou de ir te ver e eu tenho
tentado ligar para o celular dela, mas ela
não atende de jeito nenhum.
— Que estranho, Joey. Ela me
disse que você tinha mandado uma
mensagem para ela falando que a
encontraria na cafeteria perto do
apartamento do Ed, pensei que ela
estivesse com você. — Meu coração
disparou, eu não tinha mandado
mensagem, meu celular estava
desaparecido desde a tarde de Natal que
foi quando estava na casa da tia de
Dominic. Comecei a juntar as peças, por
fim eu só me despedi roboticamente e
desliguei a ligação.
Eu estava estranho, era um
desespero que tomava conta de mim.
Dominic era o serial killer e ele tinha
Ally como refém, ou pior ainda, como
sua vítima da vez. Calders me olhou
assustado enquanto eu tentava não entrar
em pânico e pensar racionalmente
quando as emoções tomavam conta do
meu corpo.
— O que houve?
— A gente precisa achar ele,
Calders! Aquele desgraçado pegou
minha pequena! Aquele filho da puta vai
matar minha Alice! — Eu berrava dentro
do carro enquanto deixava meu lado
emocional falar mais alto.
— Me explica direito, Spencer.
Acalme-se! E conte tudo em detalhe.
— Ele roubou meu celular,
marcou um encontro com Alice em meu
nome em uma cafeteria que ela sempre
gostou de ir e ele provavelmente deve
ter sumido com ela a essa altura. — O
meu tom de voz era mais alto do que o
necessário, mas aquilo parecia aliviar o
medo que se apossava de mim. Eu tinha
que pegá-lo, mas e se não desse conta
como não dei das outras vezes e ele
ceifasse a vida de Ally assim como fez
com todas as outras vítimas?
— Vamos até essa cafeteria,
vamos perguntar se o viram por lá. E
fique tranquilo, nós pegaremos esse
desgraçado! — ele disse tentando me
acalmar, achei gentil da parte dele, mas
nada adiantou, pois eu continuava do
mesmo jeito.
Continuaria com aquele medo até
que pudesse enfim sentir minha pequena
Ally dentro dos meus braços novamente,
protegida e segura de todo o mal que
aquele ser tinha em si.
Capítulo 27
Joseph
Eu cheguei no apartamento de
Alice e Hastings já me esperava, eu
tinha ligado para ele a caminho da
cafeteria e tinha explicado o que tinha
acontecido. Ele provavelmente teria
desligado na minha cara se não tivesse
gritado com ele que Alice tinha sido
pega pelo serial killer, depois expliquei
que havia descoberto com o agente
Calders que se tratava de Dominic.
— Eu quero a minha filha de
volta. Seu filho da puta! A culpa é sua.
Era exatamente por isso que não queria
minha filha namorando um policial, você
a colocou em risco e agora é sua missão
trazê-la de volta mesmo que isso custe a
sua vida! — ele gritava feito um louco,
mas não tirei a razão dele, porque no
fundo eu também me culpava.
— Você está certo — disse com
a voz entrecortada. — Já acionei os
outros agentes, eles estão dando uma
varredura nas imediações da cafeteria e
do apartamento do Dominic.
— Você tem certeza de que
estamos falando da pessoa certa? Esse
cara nem mesmo parece ser um serial
killer.
— Ele tem todo o perfil de um
serial killer, todas as informações
batem com ele.
— Escuta bem, se minha filha
não sobreviver, saiba que você é um
homem morto, Spencer. — Ele foi até a
porta e a abriu para mim. — E por
enquanto é isso, não quero você aqui em
casa.
Eu saí do apartamento
contrariado, eu sabia que meu trabalho
era ir atrás de Dominic, mas no fundo eu
queria de alguma forma ajudar a família
de Ally. Assim que cheguei à rua, James
me esperava e me entregou o celular que
tinha pedido para ele, um celular que
sempre usava em medidas emergenciais,
como aquela, por exemplo.
— Obrigado — disse e ele
assentiu.
— Eu estou indo para a
delegacia, está tudo de pernas para o ar
por lá. — Ele disse.
— Imagino. — Ele acenou com a
cabeça e quando ia saindo, eu o chamei
novamente. — James! Se não der certo,
a senha do cofre do meu quarto é a data
do aniversário de Ally.
— O que quer dizer com isso?
— ele perguntou.
— Cuida da Alice e entrega o
conteúdo do cofre para ela.
Eu disse e então me virei indo
em direção à viatura, assim que me
sentei no banco do motorista, digitei
uma mensagem rápida para o celular de
Alice. Agi como se nada tivesse
acontecido, tentei a sorte já que seu
celular só dava caixa postal
anteriormente.
O que não esperava era que uma
resposta brilhasse na tela do celular com
tanta rapidez.
Era Dominic marcando comigo e
em sua mensagem ele jurava que se
alguém fosse além de mim, Ally
morreria. Ele marcou no ferro-velho, o
mesmo que os agentes iriam, assim que
saísse o mandato, talvez em uma hora
toda a polícia estivesse lá e eu e Ally
estaríamos salvos.
Era um plano arriscado, mas eu
não tinha alternativa além daquela, só
queria fazer algo e lutar pela vida dela.
Eu respondi confirmando que estava
indo sozinho e nem era uma mentira. O
reforço chegaria depois e só para
garantir, mandei uma mensagem para
Edward falando sobre o sequestro,
mesmo sabendo que ele provavelmente
já estava ciente disso, contei na
mensagem onde Ally estava e que
acionasse seus seguranças.
Eu não faria isso sob outras
circunstâncias, mas aquela situação me
levou ao limite. Edward tinha
seguranças que andavam por todos os
cantos da cidade tomando conta dos
negócios dele e eu sabia que se algum
estivesse perto das docas, iria para o
ferro-velho e me ajudaria de alguma
forma.
Girei a chave na ignição e liguei
a viatura, saí acelerando ao máximo e eu
sabia que estava dirigindo em uma
velocidade que não era permitida
naquela via, porém eu estava na viatura
e aquilo me dava vantagens. Em minha
mente dançavam promessas feitas a
Alice de que nunca deixaria que ela se
machucasse e em meu peito a certeza de
que a acharia e a salvaria.
Quando cheguei o local, a única
coisa que via era um silêncio sepulcral,
eu entrei sem dificuldades e me
arrependi por não ter entrado ali mais
cedo quando ainda estava com agente
Calders. Se tivesse feito isso, Ally
talvez não estivesse passando pelo
sufoco no qual estava agora.
Caminhei sobre o cascalho e vi
ao longe uma pequena casa construída,
era ali que ele estava, talvez fosse ali
onde ele matasse todas as garotas.
Continuei caminhando e os cascalhos
faziam um barulho que começava a me
irritar. Quando me aproximei da casa,
Dominic surgiu, ele parecia normal, até
bem arrumado. Ninguém nunca diria que
ele tinha sequestrado uma garota, ele
escapava dos olhos da polícia, assim
como todo serial killer que se preze.
— Você veio sozinho como
prometido. Devo te dar créditos, você
até que é corajoso. — Ele riu e assentiu
visivelmente animado com toda a
diversão que sentia por estar no
comando da situação.
— Onde está Ally? — eu
perguntei sem rodeios.
— Espere aqui e quando digo
espere aqui, estou falando sério. —
Dominic disse e eu quis matá-lo, mas
não sabia em que situação Ally se
encontrava e precisava ser cauteloso.
Ele voltou e carregava Ally com
brutalidade, um sorriso monstruoso
brincava em seus lábios enquanto ele me
mostrava o que tinha feito com minha
pequena. Cortes em seu pescoço, seus
braços machucados, e havia rastros de
sangue em seu rosto. Minha ira cresceu
em meu peito, mas eu sabia que diante
de um ser como Dominic, eu precisava
agir com sensatez e cautela.
— Ally, vai ficar tudo bem com
você — eu disse, em tentativa de fazê-la
ficar mais calma. Ele arrancou o pano
que tampava seus olhos e eu quis mais
do que qualquer coisa no mundo dar um
abraço nela e dizer o quanto a amava. —
Larga ela, Dominic. Você quer se vingar
de mim, não é?
— Eu estou apenas te mostrando
o resultado do que você mesmo causou
— disse calmamente com um olhar
inquietante. — Você mexeu no que não
devia, Spencer. Encontrou fantasmas em
meu passado e alguns monstros também,
agora você vai ter que lidar com as
consequências.
— Eu sei — disse tentando
parecer calmo quando por dentro estava
quase surtando de desespero. Eu já tinha
passado por situações daquele tipo
antes, mas em nenhuma delas o refém
era a pessoa que eu mais amava no
mundo. — Então, larga ela. É a mim que
você tem que atingir.
— Mas é exatamente isso que
estou fazendo. — Um sorriso irônico de
canto brotou em seu rosto.
Ele posicionou a faca no
pescoço dela e sem nenhuma cerimônia,
deslizou a lâmina devagar. Ally emitiu
um som arranhado de dor, eu não pensei
em cautela ou cuidado naquele momento
e em um movimento rápido tirei a arma
escondida na parte de trás da calça jeans
que usava. Assim que apontei a arma
para ele e mirei para dar um tiro
certeiro para matá-lo, assim como havia
sido treinado, ouvi um som de disparo,
mas não foi o da minha arma. Demorei
alguns milésimos de segundo até
perceber que ele havia atirado em mim,
Ally estava caída no chão e tentando
fugir.
Eu sentia meu braço queimando,
eu tinha sido atingido. Sabia disso, mas
a adrenalina não fez com que sentisse
dor, apenas como se estivesse
queimando a pele, a dor era suportável.
Eu atirei de volta e acertei no ombro
dele, que fez mais um disparo e então eu
comecei a sentir a dor tomar conta de
mim, atirei de volta. Uma. Duas. Três
vezes. Mas não vi nem ao menos onde o
havia atingindo porque havia uma
mancha de sangue na parte da frente da
minha camisa na região do abdômen e a
minha dor me fez perder qualquer noção
de direção ou sentido.
Eu caí de joelhos e tombei
enquanto minha visão ficava turva e
então em seguida, fui tomado por um
blecaute.
Alice
O gosto metálico se espalhou
pela minha boca.
Aquilo era sangue? Não sabia ao
certo.
Eu me lembrava de ter discutido
com Dominic no carro dele, antes que a
gente chegasse a um ferro-velho, ele
pegou uma faca me ameaçou e bateu com
minha cabeça fortemente na janela,
deixando-me desacordada.
Forcei meus olhos para abrirem
e doeu mais do que deveria, minhas
pálpebras pareciam inchadas e pesadas,
eu só conseguia pensar no que ele tinha
feito com Joey e se eu acabaria morta
como todas as outras vítimas dele.
Ele parecia farejar meu medo,
pois no instante seguinte estava perto de
mim, senti sua mão passando pelo meu
braço e me recusei a virar o rosto para
vê-lo. Eu estava tão assustada, que até
para descrever meu medo seria preciso
bem mais que meras palavras. Tentei
movimentar os braços e pernas, mas eles
estavam amarrados e eu estava
completamente presa ali com ele.
— Sabe, eu sei que você deve
estar assustada — ele começou a falar e
eu engoli seco. — Mas fica tranquila,
quando você tiver que morrer, vai ser
rápido. Eu gosto de matar lentamente,
mas no seu caso, não posso me dar ao
luxo de brincar. — Um riso gutural
raspou pela sua garganta e eu mordi o
lábio para não gemer de medo, enquanto
isso, ele parecia estar se divertindo.
Senti um metal gelado contra a
pele do meu pescoço exposto e arregalei
meus olhos, ele apertou cada vez mais a
lâmina afiada do objeto cortante que
segurava, um soluço de susto escapou
quando a lâmina arranhou minha pele
levemente.
— Se você ficar mexendo
demais, vai ser um corte mais fundo —
disse com tom sombrio. — Olhe para
mim — ele ordenou e eu virei meu rosto
lentamente, até encontrar seus olhos
azuis profundos, ele sorria e seu sorriso
era a coisa mais diabólica que já tinha
presenciado em minha vida. Os pelos do
meu braço se arrepiaram em resposta, o
medo estava tomando conta dos meus
poros.
— Você não vai escapar ileso,
Dominic — disse com um fiapo de voz,
tentando de alguma forma enfrentá-lo.
Eu estava brincando com fogo.
— Quem disse que não? Eu
tenho o mundo nas mãos agora, Ally. Eu
tenho documentos falsos e vou embora
daqui assim como fui para a Colômbia,
desta vez vou para a Austrália. Já
comprei as passagens, você talvez até
conseguisse viver para ir comigo, caso
seu namoradinho não tivesse chegado
tão perto do meu rastro. — Ele suspirou
e logo depois falou sonhador. —
Imagina quantas vítimas farei na
Austrália?! Não vejo a hora de chegar
lá.
— E você acha que depois de eu
estar morta, ele não vai largar do seu
pé? Ele vai descobrir.
— E você acha que as outras
pessoas vão acreditar? Eu sou
conhecido, tenho fama, dinheiro e seu
namoradinho é só mais um policial
guiado pelas emoções. — Ele riu e tirou
a lâmina do meu pescoço. — Eu nunca
soube o que é ser guiado por emoções,
eu nunca as tive. Imagino que quando
souberem que nós dois tivemos um
rápido relacionamento, não vão levar
muita fé no que Joey falar. Irão dizer que
ele está me acusando por ciúmes.
Eu fiquei calada, porque sabia
que por mais que ali na minha frente
estivesse um cara que havia me
relacionado, eu no fundo não o conhecia
de verdade. Sua personalidade real era
monstruosa e eu morreria mais rápido se
continuasse provocando sua ira.
Eu pensei em gritar, mas quando
meus olhos voltaram a enxergar
claramente, percebi que estávamos em
um lugar escondido, provavelmente um
subterrâneo e as paredes eram
revestidas por um material que eu
reconhecia, era à prova de som. Eu
poderia gritar para sempre e ninguém me
ouviria.
Meu celular apitou e eu olhei
automaticamente na direção do som,
Dominic foi até o celular e um sorriso
perverso brotou em seus lábios
novamente. Ele sacudiu o celular no ar e
veio até a mim, se minhas mãos e pés
não estivessem atados àquela maca, eu
tentaria alguma coisa, mas diante da
minha situação, aquilo era impossível.
— Seu amorzinho está bem, eu
falei aquilo para te enganar. — Ele
sorriu de canto. — E essa mensagem que
seu celular acabou de receber, é dele.
Parece que arrumou um celular
emprestado, pois perdeu o dele. — Ele
riu sarcasticamente, pois o celular
perdido de Joey estava na verdade com
ele. — Sabe o que seria interessante?
Conversar cara a cara com ele, mas não
sei se ele respeitaria a ideia e deixaria
seus subordinados da polícia para trás.
Não respondi nada a ele,
respirei fundo e fechei os olhos. Tentei
focar meus pensamentos em Joey, nos
momentos bons que passamos juntos,
depois pensei em como meus pais
ficariam quando dessem conta do meu
sumiço.
— Quer saber? Porque não? —
Dominic voltou a falar e eu abri meus
olhos com medo do que ele faria a
seguir. Seus dedos ágeis sobre a tela de
celular me deram uma dica do que ele
estava fazendo.
— O que você está fazendo?
— Mandando uma mensagem
para seu namorado.
— Não! Você não quer me
matar? Então faz isso, mas deixe ele fora
— eu falava com desespero na voz e ele
se aproximou de mim com um olhar
perverso. — Não precisa envolver as
pessoas que eu amo no seu joguinho
nojento.
— Vou acabar com isso se não
calar a porra da sua boca! — Eu tentei
me mexer e lutar pela minha vida, mas
era inútil. — Sabe o que eu deveria
fazer com essa faca, Alice? — Ele
apontou para a faca e eu senti uma
lágrima escorrer pelo meu rosto. — Eu
deveria cravar no seu pescoço, deveria
deslizá-la até eu encontrasse o osso do
crânio. Imagina que obra magnífica? —
Eu nunca tinha visto um olhar tão
aterrorizante como aquele, meu coração
batia em meu peito como se fosse sair
pela boca. — Todas as minhas vítimas
tiveram suas lindas bocas costuradas,
porque era assim que Rachel apanhava,
ela não podia dar nem mesmo um pio.
Acho que já é hora de calar a sua boca
também. — Ele tombou a cabeça
enquanto sorria.
Eu não sabia quem era Rachel,
mas talvez ali estivesse a chave para
toda aquela obsessão de Dominic. Eu
tremi de medo, pavor com as imagens
provocadas em minha mente por culpa
daquelas palavras que prometiam
sangue, dor e horror.
— Não faz isso, Dominic. Por
favor! — Eu implorei pela primeira vez.
Implorei porque sabia que ele me
mataria a qualquer momento dali em
diante, ele não blefava. Senti a lâmina
cortando minha pele lentamente, sua mão
segurava meu queixo firmemente e eu
apertava meus dentes para que pudesse
suportar a dor que estava por vir.
Meu celular apitou de novo, a
lâmina se afastou da minha pele
deixando uma ardência leve. Ele soltou
vários palavrões, mas o que vi depois
foi pior. Seus olhos ficaram injetados
assim que ele terminou de ler a
mensagem.
Dominic veio até a mim e sem
dizer nada apenas colocou um pano
sobre meu nariz, assim que inalei
involuntariamente, senti meus sentidos
se esvaírem de mim até que tudo se
apagasse.

~*~

Quando acordei novamente


estava vendada, continuava amarrada,
porém desta vez estava sentada. Meus
pulsos estavam ardendo tanto que só de
movimentar meus braços sentia uma dor
excruciante no mesmo. A voz de
Dominic soou irritada do lado de fora
do local onde estava.
— Você veio sozinho como
prometido. Devo te dar créditos, você
até que é corajoso. — Ele riu.
— Onde está Ally? — Eu sabia
de quem era aquela voz e aquilo me fez
congelar por dentro. Se antes sentia
medo, agora nem mesmo sabia mais o
que deveria sentir.
— Espere aqui e quando digo
espere aqui, estou falando sério —
Dominic disse e ouvi passos se
aproximando de mim, então ele me
levantou violentamente da cadeira onde
estava sentada e me carregou até o lado
de fora, eu sabia que era lado de fora
porque o sol bateu forte em minha pele.
— Ally, vai ficar tudo bem com
você — Joey disse e só conseguia
pensar no risco que corríamos. O que
ele tinha em mente ao vir ao nosso
encontro sozinho? Será que ele não
percebia que estávamos ambos correndo
perigo de morte?
Eu não podia dizer nada, porque
agora tinha minha boca vedada por uma
fita adesiva que grudava meus lábios e
me mantinha calada, assim como ele
queria. Dominic me segurou pelos
cabelos com força, arrancando vários
fios e eu grunhi. Ele arrancou o pano que
bloqueava minha visão e eu vi Joey, ele
estava branco, completamente lívido de
pânico.
— Larga ela, Dominic. Você
quer se vingar de mim, não é? — Joey
disse com uma falsa calma, pois em seus
olhos o medo era evidente.
— Eu estou apenas te mostrando
o resultado do que você mesmo causou.
— A voz de Dominic rasgou o ar. —
Você mexeu no que não devia, Spencer.
Encontrou fantasmas em meu passado e
alguns monstros também, agora você vai
ter que lidar com as consequências.
— Eu sei. Então, larga ela. É a
mim que você tem que atingir.
— Mas é exatamente isso que
estou fazendo — Dominic disse antes de
passar a lâmina afiada em meu pescoço
cortando-a superficialmente, mas a
ardência estava ali e eu soltei um
gemido perante a dor crescente enquanto
a lâmina rasgava a minha pele .
De repente as coisas
aconteceram muito rapidamente, Joey
sacou sua arma enquanto Dominic me
jogava violentamente contra o chão, se
meu pulso doía antes, agora doía ainda
mais porque algum osso ali dentro
trincou quando os usei para amortecer o
impacto da minha queda.
Eu ouvi um disparo e me arrastei
com uma força que eu não sabia nem
mesmo de onde surgira, levantei-me e
me enfiei entre as várias fileiras de
carros velhos e abandonados daquele
ferro-velho gigante, aquilo mais parecia
um labirinto sem fim.
Eu estava tentando correr, digo
tentar porque tremia tanto que minhas
pernas pareciam duas geleias, enquanto
eu corria ouvi um disparo. Eu parei na
mesma hora e olhei para trás.
Já não era para o Joey estar atrás
de mim? Alcançando-me e me dizendo o
que deveria fazer? Eu corri em busca de
um carro em que pudesse entrar e me
esconder. Ouvi outros disparos e um
arrepio por todo corpo. Eu comecei a
chorar copiosamente, arranquei a fita
adesiva da minha boca e tentei em vão
tirar as cordas que envolviam meus
pulsos.
O fato de Joey não ter me
alcançado de alguma maneira me fez
acreditar que ele estava ferido. Eu
chorava de soluçar enquanto me
escondia debaixo de um carro, eu
precisava ficar calada ou seria
encontrada rapidamente pelo Dominic.
Eu fiquei em silêncio, foi como
se eu tivesse emudecido, como se meu
corpo soubesse que estava em uma
situação de extremo perigo e não
emitisse nenhum som, a única reação
que tive no momento foi tremer.
Fiquei ali por um bom tempo,
acho que já havia se passado uns quinze
minutos desde que havia fugido, eu
precisava voltar. Precisava ver como
estava Joey e se a área estava limpa. Eu
só conseguia pensar em arrumar um jeito
de ligar para o meu pai e explicar o que
tinha acontecido.
Mas quando fiz menção de me
mover, ouvi passos sobre os cascalhos
espalhados pelo chão do ferro-velho e
meu coração disparou. Eu sabia que não
era Joey, era Dominic. Ele não desistiria
tão facilmente de me pegar, eu era
testemunha de suas atrocidades, ele
queria acabar comigo.
Ele resmungou de dor e
continuou andando, de onde eu estava
pude ver quando ele parou de caminhar
e encostou justamente no carro em que
me encontrava, eu fechei os olhos e
tentei não respirar. Eu sentia um terror
tão grande naquele momento, que se
fosse possível morrer de medo, aquele
seria o momento exato para isso.
— Filho da puta! — Ele gritou e
esmurrou a lataria do carro, eu me
encolhi mais ainda. Um soluço escapou
dos meus lábios e ele aprumou o corpo
repentinamente. — Alice? — Ele
começou a olhar em volta e eu arredei
meu corpo de forma que não podia vê-lo
mais, tampei minha boca e tentei
reprimir meu choro. — Vem aqui,
querida. Me desculpa, eu estava fora de
mim, mas agora eu já resolvi a situação.
Ele se foi e agora somos apenas nós.
O que ele queria dizer com
aquilo? Ele tinha matado Joey? Eu
tampei meu rosto enquanto as lágrimas
quentes desciam sobre ele, eu não
poderia viver sabendo que o homem que
eu amava tinha morrido por minha
causa. Aquilo tinha que ser uma loucura
da cabeça de Dominic.
Eu continuei ali, a voz de
Dominic foi se afastando e eu não me
movia. Eu continuava imóvel, paralisada
pelo medo. Fiquei daquele jeito por
mais um tempo, totalmente quieta, muda.
De repente meu celular começou a
chamar em meu bolso. Mas ele não
estava comigo antes, como ele tinha ido
parar ali?
— Ally, eu vou te achar. Eu
estou ouvindo seu celular, coloquei ele
no seu bolso quando você estava
desacordada. Eu estava adivinhando que
talvez fosse tentar fugir e sabia que te
rastrearia com ele. Eu vou continuar te
ligando até descobrir onde você está.
Eu precisava sair dali, porque
Dominic ia me achar de qualquer forma
e eu tinha duas opções: Continuar
esperando que ele me achasse e me
matasse, ou tentar fugir. Não preciso
nem dizer o que havia escolhido.
Assim que saí debaixo do carro,
ele me viu e eu nem olhei para ele
novamente, apenas corri em direção à
saída do ferro-velho, mas minhas pernas
vacilaram e me lembrei do papo que
tive uma vez com Joey sobre as
mocinhas em filmes de terror que caíam
sempre que fugiam de seus assassinos,
eu entendi porque elas caíram. Eu
naquele momento não tinha forças nas
pernas, estava exausta fisicamente e,
principalmente, no emocional.
Eu me levantei novamente e
voltei a correr, porém ele já estava perto
e não demorou muito para seus dedos
pegajosos grudassem em meus cabelos,
ele me puxou com violência para si e
nossos corpos se chocaram, seu peitoral
duro bateu com força em minhas costas e
eu caí de joelhos. Eu não chorava mais,
eu já estava praticamente entregue.
— Acaba logo com isso! — eu
disse e suspirei pesadamente.
— Você não é tão fraca assim —
disse e me virou, eu fiquei de frente para
ele que tinha um ar arrogante no rosto.
Ele tinha dois ferimentos, um no braço
que parecia ser um tiro pego de raspão e
um tiro no ombro. Em sua mão ele
segurava uma faca e eu sabia que seria
com ela que minha vida terminaria.
Ele me jogou no chão, puxando-
me pelos cabelos, erguendo minha
cabeça e expondo meu pescoço já ferido
e molhado de sangue, eu me preparei
para sentir a faca perfurando minha pele
novamente, mas o que senti foi alívio
assim que vi vários carros e gritos
vindos de longe, no instante seguinte
ouvi vários tiros. Eu estava de joelhos e
então deixei meu corpo desabar sobre o
cascalho e minha consciência me
deixou.
Capítulo 28
"Nobody said it was easy
It's such a shame for us to part
Nobody said it was easy
No one ever said it would be
this hard
Oh, take me back to the start..."
(The Scientist — Coldplay)
Alice
Eu abri os olhos e eles não
focaram bem, tudo estava meio turvo,
embaçado a ponto me irritar um pouco.
Eu esfreguei os olhos e fui conseguindo
enxergar aos poucos, para que então eu
percebesse que estava deitada em uma
cama que não era a do meu quarto.
Olhei para o lado e vi o soro
pingando preguiçosamente e me dei
conta de que estava no hospital. Pisquei
duas vezes e do outro lado do quarto vi
minha mãe, sentada em uma poltrona
verde musgo. Ela estava toda encolhida
e dormindo desajeitadamente, porém
parecia dormir placidamente.
Eu respirei fundo, tentando
forçar minha mente e trazer as
lembranças. Porque mesmo tinha ido
parar ali? Passei a mão pelo meu
pescoço e senti um curativo, então tudo
foi voltando para minha mente, meio
embolado e por partes, as lembranças
vieram como um engasgo gradativo.
Dominic. Ferro-velho. Joey.
Meu coração deu um salto no
peito.
Sentei na cama de hospital,
assustada e fiz um barulho estranho. O
medo e o pânico vieram para mim com
toda força assim que me lembrei do
horror pelo qual havia passado. No
momento seguinte, minha mãe acordou
assustada com meu guincho de dor e
medo, ela se aproximou de mim e me
abraçou, sem me dizer nem mesmo uma
palavra.
— Mãe, onde está o Joey? —
perguntei meio confusa.
— Calma, minha querida. — Ela
não respondeu minha pergunta. Antes
que tivesse a chance de repetir, a porta
se abriu e para minha surpresa, meu pai
entrou no quarto carregando um copo de
café, seus olhos arregalaram-se ao
perceber que eu estava acordada.
— Filha! Você acordou. — Ele
veio até a cama e abraçou a mim e
minha mãe, era um abraço triplo, mas
em minha cabeça só vinha uma pergunta:
"Desde quando meu pai está me tratando
bem de novo?" — Eu fiquei tão
atordoado, achei que fosse te perder e
então, quando soube que estava tudo
bem com você, percebi o quão idiota
tinha sido por ter expulsado você de
casa e da minha vida. Me perdoe.
— Tudo bem — respondi com
um fiapo de voz, estava completamente
atordoada. Esperei que eles se
afastassem de mim, e então refiz a
pergunta. — Onde está Joey?
Eles olharam entre si e depois
me olharam novamente, pareciam
ponderar sobre o que falariam a seguir.
Minha mãe segurou minha mão e seus
olhos pareciam marejados, eu temi com
todo o meu ser pelas palavras que
viriam a seguir.
— Querida... acho melhor você
descansar. Você perdeu um bocado de
sangue, teve um leve traumatismo na
cabeça e alguns ferimentos leves
espalhados pelo corpo. Precisa
reestabelecer sua saúde antes que
possamos conversarmos sobre o que
aconteceu no ferro-velho. — Meu
estômago revirou em automático, como
se eu soubesse que algo grave tinha
acontecido com Joey.
— Ele levou um tiro, não é?
Aqueles... disparos... — disse e minha
garganta se fechou. — Eu preciso vê-lo,
preciso saber dele.
— Não. Você precisa descansar,
minha filha — minha mãe disse e meu
pai, que apenas assistia a tudo calado,
resolveu sair do quarto desconcertado.
Eu não dormiria enquanto não
soubesse o que tinha acontecido com
Joey, não conseguiria pregar os olhos.
Minha mãe chamou uma enfermeira e ela
sorriu para mim de maneira simpática
antes de injetar algo em meu soro, eu
tentei protestar e exigir que minha mãe
me contasse o que tinha realmente
acontecido, porém meus olhos pesaram
e acabei sendo levada pelo sono.

~*~

Quando acordei novamente,


quem estava em meu quarto era Lili e
Ed, eles conversavam baixinho e
pareciam não querer me acordar. Porque
todos pareciam querer guardar segredos
de mim? Eu conhecia aquele olhar de
Lili, preocupado ao extremo e
consternado.
— Podem conversar mais alto.
Quero saber do que estão falando —
disse rindo e eles vieram até a mim
rapidamente.
— Amiga linda! — Lili
exclamou animada e me abraçou. Ed
veio logo depois que ela se afastou,
abraçou-me fortemente.
— Você nos deu um susto
daqueles! Não imagina o quanto me
desesperei quando soube que estava
aqui — disse com a voz séria.
— Dominic deixou algumas
marcas em mim pelo que parece e
acredite que foram marcas que vão além
do físico — disse com um semblante
triste, lembrando de como foi horrível
passar pelo desespero no ferro-velho.
— Você soube então? — Ed
perguntou com a voz preocupada e eu
me alarmei exatamente por isso. Eu
conhecia Ed a ponto de saber o que o
tom de sua voz dizia.
— Soube sobre o quê? Sobre
Joey? — perguntei fingindo já saber,
para ver se conseguia alguma
informação.
— Você não vê que ela não sabe
ainda? — Lili disse com ar repreensivo,
olhando para Ed com raiva.
— Não sei de quê? Alguém
precisa me dar alguma notícia de Joey
— reclamei.
— Certo, amiga, mas não será
agora e eu te juro que não é só por
minha culpa, são ordens médicas.
— Ele está muito ruim, não é?
Fala logo! Eu sei que é isso, porque se
ele não tivesse nenhum risco, já teriam
respondido minha pergunta! — falei,
começando a me exaltar. — Se não me
falarem, eu me levanto dessa cama e vou
averiguar o estado de saúde dele, por
conta própria — disse e fui me sentando
na cama, fingindo que me levantaria,
quando na verdade faltava força nas
pernas.
— Eu conto. — A voz de Hill
invadiu o quarto e eu fiquei estática. Seu
semblante estava completamente
abatido, como se algo terrível tivesse
acontecido e em meu peito algo me
informou que as coisas estavam piores
do que poderia imaginar.
— A gente espera lá fora — Ed
disse e pegou a mão de Lili, arrastando-
a para fora do quarto, mas vi nos olhos
da minha melhor amiga que ela queria
ficar ali, ela sabia que aquilo doeria e
que a dor seria extrema.
Assim que a porta se fechou,
Hill se sentou na beirada da minha cama
e segurou minha mão, eu engoli a seco.
Seus olhos vieram de encontro aos meus
e então ela começou a falar.
— Ninguém está bem se formos
parar para analisar toda a situação.
Fazia três dias que você dormia e havia
especulações de que seu estado não era
tão estável assim e que esse pequeno
traumatismo era algo grande, que o
médico havia mentido.
— Três dias? — eu perguntei
aflita e ela confirmou.
— Sim, foram três dias. E todos
aqui presentes, não dormiram. Nossos
pais estão desnorteados, eu me sinto
péssima e seus amigos estavam
desesperados já.
— Mas o que aconteceu? Além
do meu quadro clínico que a mãe fez
questão de detalhar — eu perguntei sem
dar voltas.
— Eu só sei o que aconteceu
depois do resgate.
— Mas é até o que eu lembro,
porque depois eu apaguei.
— Exato. Quem chegou lá no
ferro-velho, eram os seguranças de Ed,
eles atiraram em Dominic, mas o
maldito consegui fugir com um barco
atracado nas docas.
Eu senti desespero ao imaginar
que Dominic estava à solta e que podia
atacar a qualquer momento de novo. Hill
pareceu perceber isso e segurou mais
firme em minha mão.
— Ele está solto? — perguntei
querendo que ela dissesse o contrário.
— Infelizmente sim, mas fica
calma porque já estão no rastro dele —
ela disse e eu não consegui sentir alívio
algum, só sentiria isso depois que ele
estivesse preso. — Enfim, a polícia
chegou logo depois da fuga, mas já era
tarde, pois ele já estava um pouco longe.
James chegou antes dos outros policiais,
quase junto com os seguranças de Ed,
ele descobriu através do agente do FBI
que tem comandado a investigação do
serial killer que esse ferro-velho era de
Dominic e ligou todos os fatos.
— E então? Como está Joey? —
perguntei querendo ir logo ao ponto.
— Espere, estou contando com
calma. James ficou desesperado quando
chegou lá e descobriu que Joey
estava...caído no chão e ferido. — Eu já
imaginava isso, mas a sensação de ouvir
da boca de alguém era terrível, meus
olhos já estavam com lágrimas
começando a se formar. — Ele ligou
para a emergência, pediu por uma
ambulância e ficou o tempo todo ao lado
de Joey.
— Ai meu Deus! Ele se
machucou por minha causa. — Levei as
minhas mãos até meus lábios trêmulos e
chorei quando percebi que Hill chorava
comigo. Ali eu tive a confirmação de
que não era nada boa a situação dele. —
Cadê ele? Preciso vê-lo!
Fui tirando meus pés da cama,
levantando-me e me preparando para
arrancar aquele soro do braço para ir
encontrá-lo, mas Hill me puxou de volta,
eu a olhei e ela abaixou a cabeça
chorando mais ainda.
— Não dá — ela disse e meu
corpo amoleceu por inteiro, parecia
lama.
— Co-como assim? — Meu
coração batia forte no peito e lágrimas
queimavam e sufocavam minha garganta
e olhos. A verdade estava vindo até a
mim, mas eu insistia em varrê-la para
longe da mente.
— Eu sinto muito, mas a
ambulância não chegou a tempo — ela
disse antes de se deixar levar pelas
lágrimas grossas.
Eu caí de joelhos enquanto a dor
aguda tomava conta de todo meu corpo.
Eu tremia, quase uma convulsão diante
da verdade que me esmagava e repartia
meu corpo em pedacinhos. Hill se
sentou ao meu lado no chão daquele
quarto de hospital e me abraçou
fortemente enquanto meu choro
aumentava e me deixei gritar, como se a
dor fosse sumir com aquilo, mas ela
continuava ali dentro de mim, forte e
latente.
A porta se abriu, ouvi passos e
todos se juntaram perto, tentando fazer
algo comigo, ajudar a me recompor, mas
eu não queria nada daquilo.
Eu só queria Joey ali comigo.
Queria seus olhos profundos e
cheios de marcas das coisas que tinha
vivido, seus lábios, seu sorriso que me
fazia querer dançar, que me causava a
mesma sensação de cair na piscina em
um dia de sol escaldante, era um alívio.
Nada parecia existir de ruim quando ele
sorria, acredito que seus sorrisos eram a
cura para toda e qualquer tristeza.
A cura para aquela tristeza que
sentia, nunca voltaria.
Eu estava cercada de pessoas
que me amavam, todos estavam
desesperados para tentar me ajudar, mas
me sentia sozinha, vazia. Eu estava tão
morta quanto ele.
Colocaram-me na cama e eu me
encolhi inteira, enquanto lágrimas
quentes escorriam dos meus olhos, um
grito da minha alma e do meu coração.
Eu estava tremendo quando senti alguém
me cobrir e me abraçar.
— Vai ficar tudo bem, minha
linda. — A voz da minha mãe saiu
embargada pelo choro e eu solucei,
cobrindo meu rosto, libertando o choro
que esperava que lavasse a minha alma,
que levasse toda a tristeza embora.
Mas nada parecia melhorar
aquilo que parecia crescer e tomar conta
de mim. Já dá para imaginar como
acabei, após calmantes serem injetados,
colocaram-me para dormir novamente.
Nem fiquei relutante, eu queria dormir,
queria fugir da realidade, fingir que
estava em um pesadelo horrível, mas no
fim das contas o pesadelo mesmo viria
quando acordasse novamente.

~*~

Asas. Eu acreditava que as tinha


quando dei conta que estava amando,
cada dia era uma tentativa nova de voo,
era um voo mais alto, mais plano, por
vezes caía, mas nunca desistia. Quando
comecei a viver o amor que tinha dentro
de mim ao máximo, percebi que eu
queria mais, na verdade desejava que
pudesse voar junto com ele para toda a
eternidade, parece clichê e talvez seja,
mas era verdadeiro, aliás, ainda é. Digo
que é, no tempo presente, porque
acredito que o verdadeiro amor nunca
morre.
Mas sabe as asas que acreditava
ter? Pois elas foram cortadas, ou seria
melhor dizer arrancadas?
Elas deixaram feridas abertas
que sangram dia e noite. Tente não
lembrar da pessoa que ama após tê-la
perdido e perceba o quando o mundo é
controverso e te joga na cara que tudo,
até mesmo aquele copo que você usa no
dia-a-dia para beber uma água, faz com
que remeta ao amor perdido.
Uma semana havia passado
desde que tinha recebido a trágica
notícia, eu recebi alta do hospital dois
dias depois daquilo e desde então
ninguém queria que eu fosse até o
cemitério. Todos me olhavam com pena
enquanto perambulava pelo apartamento,
chorando ou em estado catatônico, meu
corpo me obedecia enquanto eu fazia
todas as coisas da rotina em modo
automático.
Mas eu quis ir mesmo assim
visitar o local em que ele estava, por
isso eu fingi que tomei o remédio para
dormir e na verdade joguei fora sem que
ninguém percebesse. Esperei que todos
saíssem para trabalhar e então troquei
de roupa e fui por conta própria. Peguei
o elevador e fui até o apartamento da
pessoa que eu sabia que poderia contar,
apesar de que a maioria esperasse que
me afastasse dela.
— Olá, minha querida. Posso te
ajudar? — Eu concordei, as lágrimas
brotando novamente em meus olhos.
Sem os calmantes eu tinha a dimensão
da dor de novo, nos últimos dias havia
sido dominada por remédios e
calmantes. Agora era a dor crua que
tomava conta do meu corpo.
Janet sabia de tudo, tinha ido nos
visitar no mesmo dia em que tive alta e
me pediu desculpas milhares de vezes
enquanto eu apenas assentia, dizendo
por vez ou outra que a culpa não era
dela. Ela disse que Dominic havia
sumido, não havia aparecido mais e que
se soubesse de algo, falaria na mesma
hora.
Ela me abraçou docemente e
acariciou meus cabelos, as minhas
lágrimas rolavam em meu rosto como se
não tivessem fim. Será que algum dia
aceitaria que o havia perdido para
sempre?
— Preciso que me ajude a ir até
o local que meu Joey foi enterrado —
disse com a voz baixa. — Sei que é
meio cedo, mas preciso fazer isso,
entende?
— Claro. — Ela aquiesceu e
logo depois pegou sua bolsa na sala,
antes de voltar até a mim e entrelaçar
seu braço no meu. — Vamos. Eu vou
arrumar um táxi para irmos.
Descemos para a entrada do
prédio e esperamos por um táxi, que
chegou em quinze minutos. No caminho,
já dentro do carro, eu estava olhando
pela janela, enquanto as lembranças
vinham com toda força em minha mente.
Durante os dias anteriores,
quando não dormia e tinha pequenos
momentos acordada, perguntava-me a
razão de ter perdido meu Joey, mas
cheguei à conclusão de que não há muita
explicação para uma perda. No
dicionário diz que seu significado é "ser
privado de algo que possuía", precisa de
mais alguma coisa? Acho que não.
Enrosquei-me no banco e Janet
me puxou para perto dela, ela falava
algo reconfortante, mas não a ouvia, eu
ouvia a voz de Joey em minha cabeça
dizendo que me amaria para sempre,
suas mãos acariciando meus cabelos
quando acordava, seus olhos quando ele
ficava pensativo ou quando estava
concentrado, seus lábios e a curva que
fazia para o lado direito quando sorria
para mim, era o meu sorriso. E agora
não o teria nunca mais, era apenas uma
lembrança.
Quando Hill me contou, foi como
se arrancassem um órgão vital da minha
alma, desde então eu era uma morta
viva, a minha parte viva era meu corpo
porque minha alma havia se apagado um
pouco com a morte do homem que eu
amava.
Eu fechei os olhos, minha mente
viajou no dia em que tiramos uma foto
na praia e dissemos que iríamos fazer
aquilo todos os anos, montaríamos um
álbum para aquelas fotos e que aquela
praia era nosso lugar, pois nosso amor
podia ser comparado à imensidão dos
mares. Eu não sabia quando seria capaz
de ir lá novamente.
— Docinho, nós chegamos. —
Janet segurou a minha mão e eu me virei
para ela enxugando as lágrimas. — Tem
certeza de que quer fazer isso?
— Tenho — disse em meio a um
soluço, enxuguei as lágrimas que caíram
em seguida. — Eu abri a porta do carro
e me encolhi com o frio cortante. Era
aquilo um reflexo do luto em minha
alma?
Janet veio em seguida e segurou
minha mão firmemente.
— Uma velha como eu serve
para te dizer que já perdi quem amava e
sei a dor que você sente agora. — Ela
me deu um sorriso apagado. — Eu vou
estar com você, minha lindinha.
— Eu só queria que parasse de
doer — disse e apontei para o meu
peito. Em meus olhos segurava lágrimas
que pendiam à espera de uma chance
para cair e mordi o lábio inferior. — Vai
parar?
— Vai sim, mas antes disso
precisamos passar por todo o processo
de recuperação e o primeiro é encarar a
dor. — Nós entramos e eu caminhava
lentamente, Janet perguntou para um
senhor sobre o túmulo e eu fui
caminhando, ela me alcançou e me
acompanhou até o ponto em que preferia
que não existisse.
Eu perdi o enterro dele, eu
estava desacordada no hospital enquanto
ocorria. Uma completa desavisada sobre
sua partida e por isso eu não pude me
despedir dele como deveria. Talvez
teria sido mais doloroso caso tivesse a
oportunidade de fazê-lo.
Sentei-me diante daquele local,
fechei os olhos e de alguma maneira
desejava que fosse tudo mentira, desejei
com toda a força do meu ser que ele
estivesse bem, esperando-me em seu
apartamento com aquela feição de
felicidade porque iria enxugar seus
cabelos, ou iria fazer uma massagem
nele, ou simplesmente porque ficaríamos
grudados por horas a fio apenas sentindo
a respiração um do outro até que
dormíssemos.
— Como é possível? Isso é um
absurdo! — A voz do meu pai me fez
abrir os olhos, enxuguei as lágrimas
apressada e me levantei. Janet se virou
para olhá-lo também e esperei que ele
chegasse até onde estávamos, minha mãe
vinha logo atrás dele. — Minha sorte
que pedi para o porteiro avisar caso ela
saísse.
— Ela tem todo o direito de vir
aqui. — A minha mãe disse em meio às
lagrimas.
— Eu sei — meu pai disse
quando estava perto de mim e Janet, ele
se aproximou de mim. — Eu só queria
estar ao lado dela quando fizesse isso.
— E sem dizer mais nada, ele me
abraçou fortemente. Entrelacei meus
braços em sua cintura e nem preciso
dizer que chorei copiosamente.
— Ele se foi para sempre —
disse, talvez mais para mim do que para
ele.
— Fica calma. Vai dar tudo
certo, filha. Confia em mim.
— Não sei se vou conseguir —
disse engasgando um pouco com todo
aquele choro convulsivo.
— Não quero que fique aqui,
porque sinceramente não acho que esteja
preparada para isso — disse
acariciando meus cabelos. — Quero te
levar em outro lugar.
Ele se afastou do abraço e
perguntou se Janet e minha mãe
poderiam voltar juntas, pois queria que
fosse com ele até um local e elas
concordaram juntas, acedendo com
veemência.
— Para qual lugar iremos? —
perguntei enquanto meu pai enroscava
seu braço no meu.
— Para um lugar onde ele me
confidenciou que é seu preferido —
disse simplesmente e eu assenti.
Caminhamos juntos até seu
carro, enquanto eu entrava, ele avisou
que precisava fazer uma ligação rápida
e que eu esperasse por ele dentro do
carro. Eu entrei e me enrosquei toda no
banco do carona, olhava ao longe
quando me dei conta que meu pai estava
dentro do carro.
— Podemos ir?
— Sim — respondi e só queria
ir porque sabia que iríamos para um
local que significava algo para Joey.
Aquele jeito do meu pai referente a mim
e Joey, era novidade para mim e
esperava que talvez ele falasse
abertamente sobre o assunto quando
chegássemos até esse local.
Ele dirigiu com a velocidade no
limite, parecia até que tinha algo
combinado e que precisava agir com
pressa e eu nem me importava porque no
fundo, queria ir para casa e ficar enfiada
no meu quarto dormindo, abrindo os
olhos apenas para comer e ir ao
banheiro. O resto não tinha cor, nem
graça para mim.
Pelo caminho, tudo que via me
lembrava algo referente a Joey e
confesso que aquilo me irritava, porque
me provocava, era como se jogasse um
remédio em ferida aberta.
— Chegamos — ele anunciou e
estacionou o carro. — Sabe que lugar é
esse?
— Sei sim — eu respondi,
olhando pela janela e me arrependi de
ter aceito ir até ali com ele. O lugar era
o píer que tinha ido com Joey um dia
depois do meu aniversário, quando
começamos a nos relacionar. Seria um
autoflagelo ficar ali, mas algo me dizia
que era necessário fazer aquilo.
Saí do carro e meu pai também,
ele deu a volta e me abraçou pelos
ombros. Começamos a caminhar sobre
as madeiras do píer e eu me enchi das
lembranças.
— Joey me confidenciou que ele
amava esse lugar — disse de uma vez
só, como se ele fizesse isso e me
afetasse menos. — Essa semana
descobri o motivo. Ele disse que pensou
no futuro, imaginou-se com alguém e
com uma família.
Eu me lembrava daquilo, foi
exatamente o dia que estávamos juntos
ali, sentados em um dos bancos. Era por
isso que ali era seu lugar favorito?
— Ele disse que só conseguia
imaginar você, Ally. E percebeu que
você era a pessoa perfeita para isso, ele
não conseguia imaginar mais ninguém
para estar com ele para sempre.
— É, mas agora ele se foi —
disse com pesar na voz.
— Não foi de verdade. Coloque
na sua cabeça que estarão para sempre
juntos. — Ele disse. — Eu aceitei isso,
percebi que ele te amava quando
arriscou a vida para salvar a sua, sem
temer o futuro que poderia perder. Eu
não me oponho mais à história de
vocês.
— Acho que é um pouco tarde
para isso, pai — disse olhando para um
ponto distante do lago.
— Nunca é tarde para tentar
corrigir um erro. — Ele colocou minha
franja atrás da orelha. — Dominic foi
pego ontem à noite
— Como? — eu perguntei
assustada.
— Ele estava tentando fugir com
identidades falsas, estava em um
aeroporto quando foi capturado. Está
sendo trazido para cá neste exato
momento e deve estar quase chegando.
— Sinto alívio em ouvir isso —
disse sincera. — Não quero vê-lo ou
chegar perto dele nunca mais.
— Ele morrerá, você sabe. Não
deixarão que ele escape da sentença de
morte — disse e olhou para trás. —
Acho que podemos ir embora agora, não
é?
— Acho que sim — disse me
sentindo tão triste quanto antes de ir até
ali. Esperava que aquilo passasse em
algum momento ou eu iria pirar com
tanto sofrimento.
— Espere por mim no carro.
Preciso resolver outro assunto, não vou
demorar. — Assenti e entrei no carro
sem prestar a menor atenção a nada,
apenas me sentei no banco do carona e
cruzei os braços, fechando os olhos e
deixando minha mente viajar para longe,
para momentos que ficariam guardados
para sempre.
Sorri ao me lembrar do que meu
pai tinha acabado de contar, sobre eu ser
a mulher que estava com ele no futuro.
Ele me queria para sempre, assim como
eu o queria também. Era engraçado
como as lembranças estavam trazendo
seu cheiro até a mim, parecia coisa de
louco, como se estivesse usando drogas,
mas era o cheiro de Joey.
— Você me fez promessas, Joey.
Me disse que nunca me deixaria, nunca
me abandonaria e estaria sempre
comigo. — Eu reclamei em voz alta e
embargada. Algo que andava fazendo
com frequência na última semana.
— Eu disse que cumpriria todas
elas, não disse? — Meu corpo se
retesou. Eu estava ouvindo vozes? Não.
Aquela voz era real, e vinha do banco
de trás do meu. — Então nunca mais
duvide de mim, minha pequena.
Capítulo 29
Sabem aquele silêncio que se dá
durante a madrugada? Era esse silêncio
que se instalou no carro após ter ouvido
aquela voz que por tantas vezes me disse
lindas coisas. Aliás, a única coisa que
ouvia era um zunido estranho no ouvido.
Meu coração batia acelerado em
meu peito e então eu me virei
lentamente, um pouco assustada com
aquela situação, mas ao mesmo tempo
curiosa diante daquele momento.
Quando virei completamente meu corpo,
eu o vi.
Ele tinha o ombro enfaixado,
usava uma camiseta justa evidenciando
seus músculos e evidenciando também
os ferimentos que foram causados pelo
confronto com Dominic. Eu fiquei alguns
segundos olhando para ele, tentando
assimilar o que faria no momento
seguinte e então pulei para o banco de
trás.
Eu choquei meu corpo contra o
de Joey que me segurou firme, soltando
um gemido pelo esforço com o braço
ferido, um grunhido escapou de meus
lábios enquanto começava a estapeá-lo e
xingá-lo.
— Porque fez isso? — perguntei
em meio aos soluços. — Eu te odeio,
seu idiota! Você tem noção do que eu
passei durante essa semana?
— Está tudo bem, tudo bem. Me
desculpa, meu amor — disse enquanto
eu o estapeava e transformava meus
gritos em choro compulsivo. — Eu tive
que fazer isso. Era para seu próprio
bem!
Por fim eu fui vencida, circundei
meus braços em volta de seu pescoço e
fiquei ali quietinha, com o rosto
enterrado na curva entre seu pescoço e
ombro, sentindo seu cheiro, aquele
perfume que reconheceria a quilômetros
de distância e que me trazia sensação de
paz e segurança. É, eu estava em casa,
eu estava bem.
Algum tempo depois, eu me
afastei e acariciei o rosto dele que fez o
mesmo comigo. Acariciou meu rosto,
meu pescoço e depositou um selinho
demorado em meus lábios e quando nos
afastamos, eu sorria como uma boba.
— É você mesmo? Ou eu estou
tendo um sonho?
— Sou eu sim. Estamos livres
agora, minha pequena.
— O que quer dizer com isso?
— Eu perguntei.
— Seu pai aceitou o nosso
relacionamento, Dominic foi preso e
enfim poderemos ficar juntos sem
problemas. — Ele disse com um sorriso
sincero em seu rosto e me fez sorrir de
volta.
Eu o abracei novamente, tão
forte que parecia que o perderia se não
fizesse daquele jeito.
— Eu te amo tanto! Ter
acreditado que te perdi foi a pior coisa
que me aconteceu, esses últimos dias
foram tão horríveis e eu só conseguia
pensar em como faria para continuar
sem você e eu não conseguia nem
mesmo imaginar um futuro em que você
não estivesse comigo.
— Calma, minha vida. Eu não
vou me afastar de você nunca mais! —
disse acariciando minhas costas,
beijando meu pescoço e subindo até
alcançar meu maxilar. Eu o olhei
brevemente e vi seus olhos marejados
antes de beijá-lo de verdade, um beijo
daqueles que tiram a gente do ar.
Nunca achei que pudesse sentir
aquele gosto de seus lábios novamente,
mas ali estava eu beijando o homem que
tanto amava. Ele não tinha partido para
sempre e enfim poderíamos viver o
amor que tanto lutamos para que fosse
aceito.
A porta do carro abriu
repentinamente e nos afastamos
assustados, era meu pai e ele nos olhou
antes de começar a falar.
— Joey, o carro veio me buscar,
vocês podem ir — eu o olhava confusa
enquanto ele terminava de falar com
Joey e então se virou para mim. — E
você, minha querida. Me desculpe por
ter feito você passar por isso, mas era
necessário. Ele te explicará e espero
que me perdoe depois de tudo isso.
— Porque parece que estamos
nos despedindo? — Eu perguntei aflita.
— Talvez porque seja uma
despedida — meu pai falou e eu olhei
para Joey, mas quem prosseguiu e
explicou foi meu pai. — Eu não posso
explicar tudo, filha. — Ele deu uma
pequena pausa, parecia tomar fôlego. —
Mas as coisas saíram do controle e eu
sei que no fim sua decisão será ficar
com Joey. Fica tranquila que sua mãe
entenderá e em breve vocês poderão se
ver.
Eu me aproximei de meu pai e o
abracei fortemente, ele chorou enquanto
repetia que me amava e que em breve
nos veríamos novamente, apesar de eu
ter certeza de que demoraria para
acontecer.
Joey passou para o banco da
frente e meu pai passou a chave para
ele, eu me afastei voltando para meu
banco enquanto eles se falavam em
segredo, eu esperava que Joey me
contasse depois.
Meu pai abraçou Joey pela
janela do carro e mandou um beijo em
minha direção antes que Joey fechasse o
vidro e se virasse para mim, ele tinha
dúvida em seus olhos quando segurou
minha mão e depositou um beijo na
mesma.
— Você está pronta? Nós vamos
fazer uma viagem longa, meu amor. Eu
preciso saber se você está cem por
cento certa de que está comigo daqui em
diante.
— Eu sempre estive e estarei
para sempre — disse sem dúvidas
permeando em meu coração. Aquela era
uma decisão que já tinha tomado desde
quando percebi que o amava.
Ele depositou um beijo em minha
mão antes de ligar o carro e acelerar. Eu
não sabia para onde estávamos indo,
mas tinha certeza de que independente
de para onde fôssemos eu estaria feliz,
pois ele estaria comigo.
O meu Joey estaria do meu lado
para todo o sempre.

~*~

Durante todo o trajeto eu fiquei


admirando Joey que volta e meia me
olhava sorridente, sua mão às vezes
segurava a minha ou ficava pousada
sobre minha coxa, lembrando-me do
quando eu gostava de quando ele me
tocava. Eu me dei conta de estávamos
chegando à praia Blue Treasure, a que
eu tinha lembranças maravilhosas com
ele, sorri involuntariamente.
— Essa era a viagem longa? —
Eu ri e ele sacudiu a cabeça.
— Eu só te trouxe aqui para que
eu possa conversar com você, te fazer
uma proposta muito séria. — Meu
estômago embolou por completo ao
ouvi-lo dizendo aquelas palavras.
Conversar sério? Proposta?
— Está me deixando curiosa —
falei e mordi o lábio inferior.
— Vem comigo — ele falou e
então abriu a porta do lado do motorista
e eu abri a minha também, corri para que
pudesse ser envolvida em seu braço que
me acolheu calorosamente enquanto a
brisa batia em nossas peles.
Caminhamos até a praia,
diferente da última vez que tínhamos ido
até ali, estávamos em uma parte deserta.
Sentamo-nos na areia e eu me encolhi
quando o frio cortante me atingia, Joey
me aconchegou junto a seu corpo. O
tempo estava congelante, como manda o
manual do inverno.
— Então, conte o que aconteceu?
Estou completamente perdida — eu falei
ajeitando os meus cabelos que eram
sacudidos pelo vento.
— Eu te trouxe aqui e apesar de
ser inverno, é porque queria me
despedir da cidade no lugar onde tenho
lembranças adoráveis com você.
— Não é sobre isso, não se faça
de desentendido ou vou te estapear de
novo — avisei levantando a mão e ele
riu.
— Desculpe, meu amor.
Preparada? — perguntou em meio ao
riso solto e eu assenti. — Depois
daquele momento em que Dominic te
soltou e você correu, eu fui atingindo no
braço como pode ver. Seu pai chegou
junto com James e deu instruções diretas
para que ele me levasse na ambulância,
porém usasse o fato de ser policial para
que não me levasse para o hospital da
cidade. Eles me levaram de helicóptero
para outro hospital, mas em sigilo,
usando outro nome.
— Caramba! — Eu estava
realmente espantada com aquilo, afinal
só tinha visto aquele tipo de coisas em
filmes.
— E então, seu pai entrou em
contato comigo, disse que Dominic
estava solto e que se ele tinha ido atrás
de você uma vez para se vingar de mim,
então ele poderia fazer de novo, foi
então que surgiu a ideia de forjar minha
morte e apesar de ser totalmente fora da
lei, eu tive a lei do meu lado dessa vez,
seu pai explicou para eles a situação e a
brecha na lei é de que caso eu esteja
correndo risco de morte, então tenho a
autorização para expedir um atestado de
óbito.
— Que loucura! Você não pensou
em nenhum momento o quanto isso me
machucaria? — perguntei um pouco
irritada.
— Claro que sim! E eu espero
que me perdoe por ter feito você passar
por isso, mas eu não queria fazer com
que corresse mais riscos depois daquilo
no ferro-velho.
— E se o Dominic nunca fosse
preso? — perguntei curiosa. — Nunca
mais nos veríamos?
— Me deram novos documentos
de identidade, mas me explicaram que
poderia voltar a usar meu nome assim
que Dominic fosse preso. Então, se ele
não fosse preso o combinado seria que
seu pai te mandaria para se encontrar
comigo no meu novo local de
residência, eu exigi isso porque não
aguentaria deixar você sofrendo pela
minha falsa morte e não aguentaria viver
sem você ao meu lado. — Ele deu um
beijo rápido em meus lábios.
— Eu não viveria sem você.
Sinceramente, acho que definharia caso
você estivesse realmente morto.
— Acabou, amor. Isso não é
mais necessário — disse sorrindo de
canto.
— Eu mal posso acreditar. —
Ele me beijou demoradamente, colando
nossos lábios. Será que dava para gente
ficar daquele jeito, grudado, para
sempre?
— Mas e essa viagem longa? —
perguntei assim que paramos de nos
beijar.
— Essa é a outra história. — Ele
pareceu tomar fôlego para continuar a
falar. — Eu decidi ir atrás da história do
meu pai.
— Sério? Mas você tem noção
de onde ele esteja?
— Eu estou no caminho para
isso. Seu pai me disse que recebeu um
e-mail há algum tempo, nele havia
somente uma mensagem falando que "o
plano estava bem", e quando rastreou o
IP descobriu ser de um local na Itália,
mas isso faz tempo, então a chance dele
ainda estar lá é mínima.
— Mas há sempre uma chance,
não é?
— Sim, e é exatamente por isso
que quero ir.
— E quer que eu vá com você.
— Exatamente, porque se você
me disser que não vai, eu volto a viver
aqui como sempre. Depende de você.
Eu ponderei, olhei ao longe
vendo as ondas revoltas do mar, dei um
suspiro profundo e no fundo já sabia que
era isso que queria. Seguiria Joey onde
quer que ele fosse.
— Eu vou com você para
qualquer lugar do mundo. Itália, França,
Japão. Sabe aquela frase "Casa é onde
seu coração está?". — Ele entendeu. —
O meu está com você, então acho que
isso te responde.
— Responde perfeitamente bem.
Ele me puxou, me sentando em
seu colo de frente para ele e sorriu antes
de me dar um daqueles beijos que me
deixavam completamente desnorteada e
eu adorava. Seus dedos embrenhando
nos fios dos meus cabelos e acariciando
lentamente.
Seus lábios acariciando os meus
enquanto aquele frio no estômago que
sempre aparecia quando estava em seus
braços, tomou conta de mim. O abracei,
colocando meus braços em volta de seu
pescoço e ele enroscou minhas pernas
em sua cintura antes de se levantar me
segurando firme, mas não durou muito
antes que ele soltasse um gemido de dor
e me soltasse.
— Fica tentando fazer essas
proezas sem estar recuperado — falei e
ele me puxou para perto e me beijou
novamente.
— Quando eu ficar recuperado
vai ver só o que vou fazer com você —
disse em um tom sério, mas brincando
comigo.
No instante seguinte ficamos em
silêncio e eu repentinamente comecei a
pensar em minha mãe, Hill, Sophie, Lili
e Ed. Eu iria mesmo partir sem dizer
adeus para todos eles?
— Precisamos ir nessa pressa
toda? Digo, para a viagem?
— Porque pergunta?
— Queria me despedir da minha
família e dos meus amigos — Eu disse
com a voz amuada.
— Amor, eu queria muito que
fizesse isso, mas pode ser um risco. A
minha ideia é que fôssemos daqui direto
para o aeroporto. Seu pai já me entregou
a autorização e não teríamos nenhum
problema para viajar.
— Cara, tinha me esquecido do
pequeno fato de que ainda sou menor de
idade. — Eu ri da minha cabeça
confusa, mas eu estava completamente
perdida com tantas informações jogadas
em meu colo.
— Não por muito tempo, faltam
poucos meses e você terá dezoito, mas
eu pretendo não ter que me preocupar
com isso por muito tempo.
— O que quer dizer com isso?
Arrumou alguma máquina do tempo e
vai nos jogar no futuro? — Eu ri e ele
me deu um tapa de leve na cabeça
fazendo careta.
— Tão engraçada — disse
ironicamente. — Eu pretendo te tornar
Spencer antes disso.
— Oi? — Ele riu e se virou,
pegou a jaqueta dele que estava jogada
no chão e colocou em volta do meu
ombro. — Eu ouvi direito?
— Ouviu. Não gostou? — Ele
falou casualmente.
— Você quer dizer... casamento?
— Eu era seriamente nova para me
casar, ou não? Ai meu Deus, aquilo seria
algo sensato.
— Sinceramente? Acho que sou
meio nova para isso — Ele começou a
rir, mas riu muito mesmo enquanto eu o
olhava começando a entender que ele
estava brincando comigo.
— Olha, se visse sua cara agora
daria crise de risos e entenderia o
motivo de eu estar rindo tanto. — Eu
rolei os olhos e dei um tapa na sua
cabeça.
— Me pergunto quem é o mais
imaturo aqui.
Saí andando fingindo estar
irritada e ele veio correndo atrás de
mim e enlaçou seus braços em volta da
minha cintura, jogou-me no chão e
começou a fazer cócegas em mim. Eu
pedia para que ele parar e com muita
insistência ele parou, deitou-se do meu
lado e entrelaçou os dedos na minha
mão que repousava sobre a areia.
— Eu acho que estou assustada.
Sei que não vamos casar, mas é como se
fosse isso — disse e mordi o lábio
inferior me arrependendo. Fiquei com
medo dele concordar e desistir de me
levar com ele.
— Não precisa ficar. — Ele se
virou, ficando deitado de lado,
apoiando-se no braço que estava bom e
me olhando sincero. — Vai dar tudo
certo, eu prometo.
— Você e suas promessas —
falei e suspirei.
— Eu sempre as cumpri e vou
continuar cumprindo.
Eu me aproximei e me encolhi
ali no calor dos seus braços enquanto ao
fundo ouvia o barulho do som das ondas
batendo contra a beira do mar. Perdi-me
no tempo enquanto aproveitava a
existência do meu Joey, enquanto supria
a falta que ele havia feito na última
semana.

~*~
Joey
Cheguei com Alice no aeroporto
com quarenta minutos de atraso, nosso
voo já tinha saído e eu não ligava a
mínima para isso, porque o motivo do
nosso atraso era que porque estávamos
aproveitando cada segundo um ao lado
do outro.
Enquanto Ally me bombardeava
com perguntas sobre como seria na
Itália, eu tentava acalmá-la o melhor que
podia, tentava passar para ela que seria
tudo tranquilo, mas a verdade é que não
poderia afirmar isso ao certo, não
depois de ter descoberto sobre meu pai
comandar uma máfia por lá e em outros
países também, além de estar envolvido
com atentados contra políticos.
Eu não tinha contado para Ally
sobre isso e nem sobre o fato de ter sido
recrutado oficialmente pelo FBI, ela
surtaria com certeza. Aliás, aquele era
um segredo quem nem o pai dela
saberia, só Ally. Para ele, pedi licença
do trabalho por um ano.
Depois desse um ano, arrumaria
uma nova desculpa ou simplesmente
deixaria o cargo. O fato era que não
confiava nele mais, não depois dele ter
escondido aquilo de mim durante tanto
tempo, no fundo eu sentia como se ele
estivesse guardando informações
importantes. Eu seria eternamente
agradecido a ele, mas não significava
que voltaria a ser seu amigo.
O primeiro caso oferecido para
mim era exatamente encontrar meu pai,
eu quase recusei, mas eles insistiram
dizendo que o fato de ser meu pai me
faria buscá-lo com mais afinco, já eu
temia pelo momento de encontrá-lo. Não
saberia como reagiria, só tinha certeza
de que independente de ser meu pai, eu
agiria conforme a lei.
— Amor, vou ao banheiro
rapidinho ajeitar meus cabelos. — Ally
falou e eu neguei com a cabeça.
— Não precisa, a gente vai ficar
na sala especial. Lá tem banheiro e você
pode tomar banho, fazer o que quiser até
a hora do nosso voo.
"Regalias de ter me tornado um
agente", pensei.
— Como assim? — ela
perguntou sem entender muito e só me
seguiu até entramos em uma sala
privativa, composta por dois sofás
brancos, televisão, geladeira e o
banheiro.
— Agente Spencer, seja bem-
vindo. — Agente Calders estendeu sua
mão e me cumprimentou e logo depois
se virou para Ally. — Senhorita
Hastings.
— Oi. — ela respondeu sem
entender e se virou para mim. — Então,
não tenho nenhuma roupa para vestir
depois do banho.
— A senhorita pode ficar
tranquila, já providenciamos um par de
roupas e está no banheiro. — Calders
disse e ela assentiu, depositou um beijo
em meu rosto e agradeceu antes de
entrar para o banheiro.
Uma das condições minhas para
que fosse para a Itália, era que Ally
fosse comigo. Sem ela, sem chance.
Calders já sabia como eu era e acabou
intercedendo por mim e acabaram
liberando.
— Sabe que é um risco iminente
carregá-la com você. — Agente Calders
falou e eu aquiesci.
— Eu deveria falar com ela.
— Não contou ainda? Acho que
não deveria fazer as coisas desse jeito.
— Eu vou contar depois que ela
tomar o banho.
— Devia convencê-la a fazer o
treinamento de defesa, pelo menos —
ele falou e eu só podia concordar. Já
tinha feito minha pequena passar por
situações de perigo extremas e não
queria aquilo novamente. — Aliás, você
é uma ótima pessoa para treiná-la,
passou em todos os testes sem nem ao
menos fazer o treinamento de 21
semanas e com o braço enfaixado.
— Não foi tão difícil assim.
— Porque não viu meu teste —
ele falou rindo e eu ri.
— Você? Por essa não esperava
— respondi e então bateram na porta.
Assim que abri, um oficial da
aeronáutica entrou e avisou que nosso
voo tinha sido remarcado e em menos de
trinta minutos estaríamos no avião.
Agente Calders me passou as
últimas instruções e desejou boa sorte
antes de sair da sala privativa, sentei em
um dos sofás e passei as mãos pela
nuca, preparando-me para contar sobre
o FBI para Ally. Já imaginava a feição
dela quando descobrisse.
— Demorei muito? — perguntou
saindo do banheiro, sorridente. Seus
cabelos molhados e despenteados, sorri
diante daquela visão tão simples e tão
magnífica ao mesmo tempo.
— Vem cá. — Eu bati duas vezes
no sofá e ela veio correndo, sentou e a
virei de costas, peguei a escova de suas
mãos. — Não sei se gosta, mas ouvi
dizer que pentear cabelos relaxa. —
Comecei a passar a escova de leve e ela
suspirou de deleite.
— Eu adoro isso. — Ela se
remexeu no sofá e seus olhos se
fecharam enquanto passava a escova.
— Você adora o fato de que seja
um policial, certo? — perguntei.
— Sim, você sabe que acho essa
profissão incrível, só não optei por ela
porque meu pai nunca deixaria, mas
posso saber o motivo da pergunta? —
indagou com a voz meio mole.
— E se eu te contar que me
tornei um agente do FBI? — perguntei
sem pensar duas vezes e ela se virou
para mim de repente. — O que você
acharia?
— Isso é sério? — confirmei. —
Puta que pariu! É oficial isso?
— É sim, eles me encarregaram
de uma investigação muito séria. Depois
de ter tido sucesso na caçada ao serial
killer, eles querem que eu assuma a
liderança de outros agentes.
— Por isso quer ir para a Itália?
— Ela perguntou e eu assenti.
— Eles têm interesse de que eu
pegue o suspeito porque dizem que as
minhas chances de conseguir descobrir
seu paradeiro são maiores do que a dos
outros agentes.
— E quem é o suspeito? — ela
inqueriu e bateu a mão na testa. — Claro
que não vai me contar. É secreto, né? —
Eu poderia quebrar meu juramento ali e
contar, mas era melhor que ela não
soubesse de nada, pelo menos por
enquanto.
— Então, você está tranquila
quanto a isso?
— Quantas vezes terei que dizer
que estou do seu lado não importam as
circunstâncias? — Ela me abraçou e deu
um beijo rápido em meus lábios.
— Sabe, você é a melhor coisa
que me aconteceu. Já devo ter te dito
isso antes, mas nunca é demais lembrar.
— Nunca é demais mesmo, eu
adoro ouvir suas declarações. — Ela
sorriu e quando ia me beijar novamente,
fomos interrompidos por batidas na
porta, assim que ela foi aberta Cecília e
Edward entraram. Cecília correu até
Alice e a abraçou. Eu me levantei e fui
até Ed, que me olhava sério.
— Se você machucar a Alice, eu
mando matar você e nem me importo
com o fato de você ser uma autoridade
— disse e estendeu a mão para mim com
um sorriso enviesado nos lábios.
— Fica tranquilo, a partir de
agora nada de ruim vai acontecer.
Infelizmente aquilo não era uma
promessa, mas varri aquele pensamento
para um canto escuro da minha mente.
Estendi a mão e o cumprimentei.
— Como vocês souberam que eu
estava aqui? — Ally perguntou animada.
— Eu avisei a eles e pedi sigilo
— contei e ela disse um "obrigada"
enquanto Lili a enchia de novidades
sobre a tia dela.
— Quanto a Dominic... — Ed me
puxou para um canto mais distante das
garotas. — ...alguma novidade?
— Só sei que ele foi preso, mas
acredito que ele não escapa da sentença
de morte. — Eu falei e ele concordou
com a cabeça.
— Já sabe que se precisar de
qualquer coisa que pode contar comigo.
Sei que tivemos algumas divergências
no passado, mas mudei bastante.
— Eu percebi, aliás, cuide bem
da Lili. Ela é quase uma irmã para Ally
e eu te mataria sem hesitar, se a
magoasse.
— Ameaça trocada e entendida
— Ed brincou e nós rimos.
— Posso saber do que os
rapazes estão falando? — Ally
perguntou se aproximando da gente.
— Nada demais — Ed disse e
Lili o abraçou sorrindo. A porta se abriu
novamente e o oficial da aeronáutica
entrou na sala avisando que estava tudo
pronto para irmos.
Despedimo-nos rapidamente,
Ally deixou algumas lágrimas caírem
antes que seguíssemos para o embarque,
olhou em volta, acenou para Ed e Lili,
aliás, Cecília chorava copiosamente
enquanto afundava o rosto no peito de
Ed.
Eu caminhava com a certeza do
que aconteceria dali para frente e ao
mesmo tempo não sabia nada. Tão
confuso e contraditório. Só sabia que
daquele momento em diante, não
seríamos mais "eu e ela", mas sim "nós".
Como um só.
Minha única missão era amar,
cuidar e fazê-la feliz. Eu não via a hora
de começar a fazer Alice feliz para o
resto de nossas vidas.
Capítulo 30
Estar em um novo país era
sempre algo muito incrível.
Não era minha primeira vez fora
do meu país, mas era primeira vez que
visitava a Itália. Estar em Veneza com
Joey, era mais do que qualquer pedido
que havia feito em minha vida inteira.
Foi Verona que inspirou William
Shakespeare a escrever "Romeu e
Julieta", uma das mais famosas histórias
de amor do mundo inteiro, mas é Veneza
que as pessoas chamam de "a cidade do
amor" e eu só podia concordar.
Fazia uma semana que tínhamos
chegado na cidade e enquanto Joey não
começava efetivamente sua
investigação, nós aproveitávamos cada
minuto juntos. Passávamos o tempo todo
explorando cheiros, sabores, toques e
quando falo isso, não me refiro apenas à
cultura local. Havia muito para
explorarmos em nosso quarto de hotel
também, se é que entendem o que quero
dizer.
Mais cedo naquele dia, havia
recebido a ligação da minha mãe e Hill,
aliás, desde que havia chegado, elas
ligavam todos os dias para saberem
como eu estava e se estava tudo bem. O
que me espantou, ou talvez nem tanto
assim, foi quando Hill contou que James
e ela estavam engatando um namoro
mais sério. Adorei a novidade, afinal de
tudo, minha doce irmã teria alguém
decente em sua vida. Minha mãe insistia
para que eu me matriculasse em alguma
escola o mais rápido possível.
O que não contei para minha mãe
é que não sabia se ficaria na Itália por
muito tempo e que por algum motivo,
achava que meu passeio por ali estava
acabando.
Quanto aos meus melhores
amigos, Ed e Lili faziam planos de
viajarem para nos ver assim que tia
Olívia recebesse alta do tratamento que
fazia, então Lili poderia enfim se dar ao
luxo de descansar.
— Ally, quer ir dar aquele
passeio agora? — Joey apareceu no
quarto e me perguntou sorridente.
— Só se for agora mesmo. —
Levantei-me da cama em um pulo e me
joguei nos braços dele que estavam
abertos para meu abraço apertado.
— Se começar a me agarrar
desse jeito, não vamos a lugar nenhum.
Então, se arrume e eu te espero lá
embaixo. — Ele me deu um beijo
demorado antes de me deixar sozinha.
Tomei um banho e vesti um vestido leve
e confortável.
Assim que cheguei ao saguão,
Joey me recebeu com um beijo
demorado nos lábios e então seguimos
caminhando pelas vielas estreitas de
Veneza até chegarmos a uma cafeteria. A
vista era maravilhosa, e mesmo que eu
morasse ali, nunca me cansaria de vê-la.
Chegamos ao Caffè Quadri, e eu fiz meu
pedido usual, cappuccino com leite de
amêndoas. Aquele tinha virado meu
vício desde que provei pela primeira
vez exatamente uma semana antes.
— Então, onde vamos hoje?
— Quero fazer todos os
programas de turista, sabe? Você disse
que talvez tenhamos que ir embora em
breve e eu quero ter certeza de que
aproveitei cada segundo da cidade fora
do nosso quarto também — disse e ele
riu acariciando meus cabelos.
— Vamos caminhar pelas vielas,
pontes, passeio de gôndola a gente
assiste o pôr do sol de algum lugar bem
legal, depois a gente se troca e jantamos
em um restaurante que eu já reservei
para nós.
— Caramba, você preparou um
itinerário, senhor guia oficial de
viagens. — Eu ri e ele sacudiu a
cabeça.
— E aliás, quero te levar
naquela loja de máscaras venezianas.
Você disse que queria comprar uma para
você.
— E uma para minha mãe. Ela é
louca por aquelas máscaras — disse
lembrando com um pequeno aperto do
coração. Minha feição deve ter mudado
um pouco, pois Joey segurou minha mão
e eu o olhei.
— Me preocupo que esteja longe
da sua família, você parece sentir muito
a falta deles e só tem uma semana que
está longe. — Joey disse consternado.
— Imagino como estará daqui a algum
tempo.
— Joey. — Eu acariciei sua mão
docemente. — Eu tenho você e isso é
tudo que eu preciso.
Ele sorriu tímido e ao mesmo
tempo parecia querer me agarrar, um
jeito que só ele conseguia fazer. Deu um
beijo em seus lábios antes que ele
passasse o braços sobre meus ombros.
Ficamos em silêncio tomando nosso café
da manhã e contemplando a beleza
criada por Deus.
Passamos o dia inteiro
passeando pela cidade, observando a
arquitetura, provando das comidas e
conhecendo pessoas diferentes.
Eu estava encantada com tudo.
Joey me levou até uma loja chamada
Peter Pan e comprei as máscaras, uma
delas seria enviada para minha mãe.
Quando a tarde caía e a noite se
aproximava, Joey me convidou para um
passeio de gôndola, algo que não tinha
feito ainda. Um gondoleiro gentilmente
se ofereceu para me ajudar a entrar na
embarcação que descobri ser tão cara
quanto um carro de luxo e o motivo era
que as gôndolas eram feitas à mão por
artesãos locais.
Joey me puxou para perto,
estávamos sentados lado a lado, seus
braços em volta do meu pescoço e então
o homem que acompanhava o
gondoleiro, começou a cantar. Demorei
alguns segundos até perceber que era
uma serenata e que ela estava sendo
feita para mim.
Parecia ser só um cara tocando
um acordeão, mas de repente uma
gôndola se aproximou da nossa e um
violinista começou a acompanhar, logo
depois um casal começou a fazer um
lindo dueto. Meu coração estava
disparado enquanto minha feição ficava
cada vez mais surpresa, cada pedacinho
do meu corpo estava acelerado diante
daquela atitude surpreendente do meu
namorado.
Joey ria, provavelmente da
minha expressão de espanto e logo
depois fui tomada por uma felicidade
inexplicável, dei vários beijos em seu
rosto, seu pescoço, seus lábios.
Enquanto passávamos pelas ruas,
que na verdade eram canais, as pessoas
apareciam em suas sacadas, batiam
palmas e expressavam uma alegria que
eu também sentia, elas compartilhavam
comigo uma alegria que me invadia
completamente.
Quando o passeio acabou, quis
voltar e ter tudo de novo, mas Joey tinha
algo a mais planejado para mim, toda
aquela serenata havia sido parte de um
plano. Não era só a serenata e eu só me
dei conta quando estávamos à beira do
grande canal e Joey se ajoelhou diante
de mim.
— Eu estou correndo um risco
muito grande aqui de ser rejeitado. —
Ele riu de nervosismo e estendeu a sua
mão, segurando uma das minhas, a minha
outra mão levei até meus lábios. Como
se aquilo fosse conter toda minha
emoção. — Mas farei porque realmente
vale a pena. Estar com você vale a pena.
Eu te conheci há muitos anos, muitos
mesmo e nunca imaginei em minha vida
toda que hoje estaria aqui nesse lugar
maravilhoso, prestes a fazer o pedido
mais importante da minha vida. — A
essa altura, as pessoas começavam a
prestar a atenção em nós, nos tornamos
atração turística em questão de
segundos. — Eu sei que já passei por
mais coisas na vida do que você e que
alguns nos olham torto por termos uma
diferença de idade tão grande, mas eu
nunca importei e isso porque eu sei que
por ser mais jovem, poderei acompanhar
todas as suas conquistas e vitórias de
perto, poderei te ajudar quando precisar,
quando a vida tentar te derrubar eu vou
estar sempre ao seu lado para te ajudar e
espero que esteja comigo também. Até o
fim. Você sabe que ficaremos juntos para
sempre e mesmo tendo medo do que
estou prestes a fazer, sabe que iríamos
acabar chegando até esse momento. Ele
não significa que precisamos resolver
tudo para ontem, é só a afirmação
simbólica do que teremos em algum
momento do futuro. — Ele enxugou uma
lágrima que escapou e deu um riso sem-
graça em seguida, eu só sabia sorrir e
concordar diante da linda declaração
que ele fazia. — Mas para que isso
aconteça em algum momento do futuro,
eu preciso fazer isso. — Ele enfiou a
mão dentro do bolso, retirou uma
caixinha azul turquesa e estendeu na
minha frente, ele a abriu diante dos meus
olhos ávidos e curiosos. — Alice, você
aceita se casar comigo?
— É claro que sim! — Eu falei
com a voz embargada pelo choro
embolado na garganta. Ele levantou e eu
pulei em seus braços firmes que me
rodopiaram no ar antes que ele me
colocasse novamente no chão. — Como
ainda pôde achar que te rejeitaria?
— Depois de ter me dito que é
muito nova para casar.
— Mas não para noivar. De
qualquer forma, andei pensando e o que
teremos será basicamente uma vida de
casados. — Eu comentei e ele assentiu.
— Exatamente, pequena!
— Precisamos comemorar — eu
falei animada.
— Sim, vamos para o hotel —
Joey completou rapidamente e eu dei um
tapa em seu ombro.
— Tarado! — falei rindo
enquanto ele passava o braço em minha
cintura e depositava um beijo em meu
pescoço.
— Eu não disse que era para
nada de safadeza! Você que tirou
conclusões precipitadas. Só queria que
tomássemos um banho antes de irmos
para o nosso jantar. Mas acho que há
espaço para um pouco dessa safadeza
toda no nosso banho — disse baixinho
em meu ouvido, o que causou arrepios
em mim.
— Sabe que acho essa ideia
maravilhosa? — comentei em tom
sedutor antes que iniciássemos outra
sessão de beijos.

~*~

Demoramos mais do que o


necessário para um banho, não dava
para nos culpar, pois a água da banheira
estava morna e entregamos às sensações
que se deram em nossos corpos
enroscados e molhados.
— Que caixa é essa? — Eu
perguntei curiosa ao me aproximar da
cama depois do nosso banho.
— Abra e vê se gosta — Joey
disse enrolando a toalha em sua cintura
e eu a abri rapidamente diante da minha
curiosidade. — Lembra-se que alguns
dias atrás você passou em frente uma
loja e se apaixonou por aquele vestido
preto?
— Não acredito! — exclamei
assim que terminei de abrir a caixa, vi o
vestido que tanto quis, mas Joey julgou
ser caro demais. — Não era preciso
gastar tanto dinheiro, meu amor.
— Esquece o preço. Comprei
porque vai ser para mim também, ou
acha que não vou aproveitar a visão de
ver você vestida nele? — Ele piscou
para mim antes de ir se arrumar.
Ele não demorou mais do que
quinze minutos e estava pronto, já eu
estava terminando de ajeitar meu cabelo
e pronta para começar a me maquiar. Ele
se aproximou de mim que estava sentada
em frente a uma penteadeira e deu um
beijo em meu pescoço.
Ele sentou na cama e começou a
assistir uma partida de futebol enquanto
me esperava e eu fui colocar o vestido
no banheiro.
Queria impressioná-lo quando
me visse pronta. Não resisti antes de
tirar uma foto de mim com o vestido e
enviar para Lili, ela surtaria sem dúvida
alguma. Quando saí do banheiro, estava
vestida e maquiada, assim que Joey me
viu, se levantou e veio em minha
direção.
— Eu sabia que ficaria linda
com o vestido, mas sinceramente?
Nenhum elogio conseguiria descrever o
que estou vendo agora — disse e
depositou um selinho em meus lábios.
— Obrigada — disse me
sentindo visivelmente sem jeito.
— Vamos? — Ele perguntou e eu
assenti antes de partirmos para o
restaurante.
Eu me sentia como se estivesse
em um daqueles filmes lindos que
assistia na televisão e que duvidava que
fossem reais. Confesso que a ficha não
tinha caído ainda de que aquilo dali
seria minha vida e que Veneza era só a
primeira parada. A verdade é que aquela
viagem ali era como férias para Joey
que passou por tantas tribulações no
último mês, o trabalho mesmo não tinha
começado e eu tinha certeza que não
pararíamos por muito tempo em um
lugar só.
Joey acariciou meu braço e nos
entreolhamos sorridentes, acho que
quem nos via achava que fôssemos
grudentos demais, talvez estivéssemos
sendo mesmo. A recepcionista do
restaurante nos olhou com aquela feição
que a maioria das recepcionistas
colocam no rosto para receber os
clientes, ela provavelmente já tinha
visto milhares de Joey’s e Alices por
ali.
— Boa noite. — Cumprimentou-
nos em tom polido e animado ao mesmo
tempo.
— Boa noite. Reservas em nome
de Joseph Spencer. — Joey solicitou.
— Sim. Me acompanhem, por
favor. — Ela nos guiou até a nossa mesa
e nos entregou os cardápios.
Eu tinha feito algumas aulas de
italiano e graças a isso consegui
entender uma palavra ou outra ali no
cardápio e por fim acabei escolhendo
uma pasta com um molho todo diferente.
Joey garantiu que era maravilhoso,
mesmo nunca tendo comido ali.
Fomos atendidos de forma
calorosa e amigável, tivemos uma
refeição agradabilíssima. Ao fim do
jantar, percebemos que alguns casais
estavam dançando em um canto do
restaurante, eu os olhava fascinada e
principalmente um casal de velhinhos
que pareciam estar juntos há muito
tempo.
— Será que algum dia estaremos
daquele jeito? — perguntei e sorri para
Joey.
— Espero que sim. A
probabilidade para que eu fique
velhinho daquele jeito antes que você é
muito maior.
— Claro, ninguém mandou
nascer 17 anos antes de mim. — Eu fiz
uma careta e ele riu antes de tomar um
gole do vinho em sua taça. — Quero que
tenhamos essa disposição toda.
— Vamos começar agora. — Ele
se levantou de sua cadeira, chamando
minha atenção. Ele deu a volta na mesa e
estendeu a mão para mim. — Me daria a
honra dessa dança, minha senhorita? —
Eu ri antes de estender minha mão e
colocar sobre a dele.
— Claro, meu senhor. Eu
adoraria. — Eu me levantei e fomos até
o local onde os outros casais dançavam.
Ficamos ali, dançando juntinhos,
sentindo o cheiro e o calor um do corpo
do outro enquanto a música instrumental
preenchia o ambiente.
As pessoas a nossa volta
pareciam estar tão imersas em seus
próprios mundos quanto nós dois. A
melhor definição para aquele momento
era que estávamos rodeados de pessoas,
porém sozinhos em nosso mundo
particular.
— Quer dar uma caminhada
depois daqui? — perguntou
carinhosamente em meu ouvido.
— Sim. Eu sinto como se fosse
uma despedida da cidade. É isso
mesmo? — Eu perguntei.
— Infelizmente sim. — Ele
pareceu ponderar antes de continuar. —
O dever me chama.
— Eu sei que precisamos ir, mas
confesso que fico triste ao me despedir
de Veneza — confidenciei e ele riu.
— Teremos milhares de outros
lugares para irmos juntos.
— Promete? — perguntei
encostando minha cabeça em seu
ombro.
— Sim. — A música mudou,
vários casais saíram dali, porém nós
dois continuamos. — E sabe a praia
Blue Treasure? — Eu assenti e ele
prosseguiu. — Nós prometemos que
voltaríamos lá todo ano para tirar uma
foto e criar um álbum, lembra?
— Claro que lembro. Nem
achava que você se lembrasse disso
mais.
— Eu me lembro e quero
modificar essa ideia — disse e eu
levantei minha cabeça, olhava em seus
olhos.
— Como?
— Podemos tirar uma foto a
cada ano, mas em lugares diferentes.
Não precisamos voltar lá, não
precisamos voltar ao passado, mas
podemos brindar ao futuro visitando e
descobrindo lugares novos. Assim como
quero estar sempre renovando o que
sentimos.
— Acho que foi a melhor ideia
que já teve em toda sua vida, mostrar
como estará a nossa vida juntos através
das fotografias — disse sorrindo.
— Acho que essa nem foi minha
melhor ideia. A melhor mesmo vai ser a
que tive agora. — Ele passou a língua
sobre o lábio inferior.
— Jura? Posso saber qual é?
— Deixarmos essa caminhada
para a outra vez que pudermos vir aqui e
irmos direto para nosso quarto,
aproveitar a nossa última noite em
Veneza em grande estilo.
— Caramba! Definitivamente
estava errada, porque essa é de longe a
melhor ideia que você já teve — disse
fazendo uma feição enfática e Joey
soltou uma de suas típicas de
gargalhadas.
Logo depois me puxou para um
beijo caloroso e eu me entreguei ao
carinho do homem que tanto amava e
que queria ao meu lado por toda a
eternidade.
Felicidade plena é algo que não
existe, eu pelo menos acredito que não,
mas acredito em pequenos momentos
dela. Ali em Veneza, eu tive um desses
momentos, na verdade todos eles foram
pequenos momentos que juntos pareciam
felicidade plena, mas eu sabia que não
demoraria muito para acabar.
Mesmo quando acabassem todos
aqueles meus pequenos momentos na
"cidade do amor", dependeria de mim
me manter firme e forte, aguentando as
adversidades que a vida colocasse no
caminho, eu teria que olhar para o lado
bom das situações, sorrir mais e
perceber que enquanto ficasse triste e
chorando nada mudaria na minha vida.
Chorar alivia, mas não resolve
todos os problemas. É preciso se
levantar e continuar a caminhada e para
a minha sorte teria Joey ao meu lado,
por isso sabia que a caminhada seria
muito mais fácil e bem menos pesada.
— Vamos? — Joey perguntou e
eu sabia que no fundo, era mais do que
uma simples chamada de ida de volta ao
hotel, em minha mente era como se fosse
a vida me convidando a aproveitá-la e
eu não demorei para responder com uma
certeza definitiva no peito.
— Sim.
E seguimos, para o que seria o
começo de toda nossa vida juntos.
Epílogo

Grécia, alguns meses depois.

O sol batia forte em minha pele


enquanto Joey andava de um lado para o
outro sobre a areia de uma das praias da
Ilha de Milos, na Grécia. Ele falava sem
parar ao telefone com alguém do FBI,
parecia preocupado.
Aliás, estava assim fazia quase
um mês e não queria me contar o motivo.
Eu respeitava o fato de ser coisa secreta
do trabalho, mas eu queria tentar ajudá-
lo, dando pelo menos meu apoio. Eu
achei que a notícia de que Dominic
havia sido condenado à sentença de
morte fosse fazer com que ele se
acalmasse ou melhorasse seu humor,
mas nada parecia acalentá-lo.
Até disse que não precisava me
dar o presente de aniversário que ele
havia prometido quando fiz dezessete,
que era aquela viagem, mas ele fez
questão, mesmo com toda a correria que
sua vida e consequentemente a minha,
havia se tornado.
O chaveiro que ele havia me
dado no meu aniversário anterior já
havia ganhado a gravação da forma de
vários países: Itália, Rússia, França e
agora Grécia. Eu estava me tornando
uma cigana, não tinha casa fixa e quando
começava a gostar do lugar em que
estava, já era hora de ir embora. Porém
não reclamava, porque sabia que era
exatamente isso que aconteceria e sendo
bem sincera a ideia de viajar o mundo
todo me agradava e muito.
Peguei meu livro e abri
exatamente na página em que havia
parado anteriormente, li duas linhas e
olhei para Joey que ainda tinha uma
feição carregada, voltei os olhos para o
meu livro e li meia página antes de olhar
para ele de novo.
Dessa vez ele jogou seu celular
no chão e veio correndo em minha
direção, eu larguei meu livro no chão
também, mas por puro reflexo.
Assim que Joey chegou perto,
ele se jogou por cima do meu corpo e o
que ouvi em seguida foi um estrondo, o
barulho era ensurdecedor e eu levei
minhas mãos aos ouvidos enquanto Joey
rodeava meu corpo com o seu, como se
isso fosse me proteger de todo mal do
mundo.
Assim que o barulho acabou, e
Joey saiu de cima do meu corpo, eu o
olhei assustada.
— Tudo bem com você? —
perguntou visivelmente preocupado.
— Sim. E você?
— Também.
Eu já sabia o procedimento
padrão, correr dali o mais rápido e ir
embora antes que fôssemos atacados
novamente. Joey já tinha sofrido
atentados menores, mas um explosivo
como aquele era algo novo e estávamos
ambos abalados com o acontecimento
quando corremos para dentro da casa
que havíamos alugado e começamos a
juntar nossas coisas.
Ele não tinha dito absolutamente
nada e eu não perguntei também, mas
isso foi até ver o momento em que ele se
sentou em um pequeno sofá no nosso
quarto, passou a mão pela barba que
começava a despontar em seu rosto,
dando um ar cansado e mais preocupado
do que o normal. Eu sabia que ele
precisava desabafar.
— Meu amor, acho que precisa
me explicar o que está acontecendo. —
Eu falei sem rodeios e ele assentiu.
— Você está certa. Não dá mais
para esconder isso de você. — Ele
olhou para a janela, para o mar diante de
nós e a aglomeração causada pela
explosão de alguns minutos atrás, então
se virou para mim que tremia por
completo enquanto dobrava as roupas de
maneira desleixada e simplesmente
jogava na mala.
— O alvo da investigação em
que estou me descobriu e se virou contra
mim — disse simplesmente e eu esperei
pela continuação.
— Ele é muito perigoso? —
perguntei aflita.
— Eu sabia que ele era
perigoso, fui alertado sobre isso, mas
não imaginava que ele faria algo ruim
contra mim.
— Porque não com você? Você o
conhecia? — Eu sabia que Joey tinha
alguma ligação com o alvo de sua
investigação porque ele havia me
contado que isso tinha sido um dos
principais motivos para pegar essa
missão.
— Sim, minha pequena. E isso é
o pior de tudo. — Ele me olhou sério
antes de prosseguir com as palavras que
fariam nosso futuro virar
completamente. — A pessoa por trás
desse ataque, que provavelmente será o
primeiro de muitos, é o meu próprio
pai.
Perigo Irresistível
A deliciosa continuação de
“Perigo Iminente”
Prólogo
Sangue escorria pelo chão do
local frio e úmido, mais precisamente no
local onde eu estava, o que me levava a
acreditar que aquele sangue era meu.
Eu estava com o rosto colado no
chão, sentia uma ardência profunda, que
começava nas costas e se estendia até
uma das minhas coxas. Eu não sabia ao
certo o que havia acontecido, só me
lembrava de uma explosão e então eu
fora tomada por um apagão. Toda aquela
situação de incerteza era o que me
conduzia a nível elevado de desespero,
mas eu precisava manter a calma, uma
agente do FBI é treinada para suportar
tudo aquilo.
Na teoria, pelo menos.
Eu tentava mexer minha cabeça,
mas não tinha forças, tudo doía.
Então, surgira uma melodia ao
fundo, uma sinfonia aguda que me
incomodava e me causava uma dor
terrível na cabeça no momento exato em
que atingia meus ouvidos. Eu não me
preocupei em descobrir o que era, eu só
queria sair dali e encontrar Joey,
precisava achá-lo a todo custo.
Usei de uma força descomunal
para me arrastar e a dor me arrebatou
novamente, empurrando-me contra o
chão, fazendo-me resmungar alto, mas a
minha reclamação não parecia fazer
diferença onde eu estava. Com muito
custo, eu consegui me virar e descobri
que a sinfonia era, na verdade, gritos
desesperados.
Então, eu tive uma das piores
visões da minha vida. Antes que o grito
de agonia saísse dos meus lábios senti
uma mão quente se apossando da minha
com urgência e virei meu rosto na
direção daquele toque.
— Ally, não olhe para lá. — A
voz de Guido chegou aos meus ouvidos.
Eu estranhei o motivo dele estar ali
caído no chão junto comigo.
— O que houve? — Eu perguntei
com um tom quase inaudível.
— Uma explosão. Eu te trouxe
para cá, porque sabia que era mais
seguro.
Ele dissera “seguro”, porque a
visão ali não era bonita. Eu não
conseguiria esquecer aqueles gritos nem
que passasse por terapia a minha vida
inteira. Guido sabia disso e se
aproximou, ele parecia seriamente
ferido e eu me perguntava quem teria
feito aquilo contra ele, afinal ele era
herdeiro de todo aquele império na
Colômbia.
— Eu...
— Ally, melhor ficar quieta e
calada. — Ele pediu quase que de forma
exasperada. — Não estamos cem por
cento seguros. Podemos ser atacados
novamente, precisamos fingir de mortos.
Eu assenti enquanto ele se
aproximava de mim, colando seu corpo
ao meu, eu nem protestei, apenas deixei
que seu corpo me protegesse de
qualquer coisa. Ele tampou meus
ouvidos, mas afastei suas mãos.
— Não me interprete de maneira
errônea, Alice. Apenas não quero que
escute os lamentos de dor de mais
ninguém.
— Eu não me incomodo com o
seu toque, Guido. Eu só quero saber
onde está Joey. Você sabe alguma coisa?
— Infelizmente não. Mas eu
acredito... — Guido foi interrompido
pela porta sendo aberta de forma brusca,
e ele jogou seu corpo sobre o meu. Foi
difícil segurar o grito de dor por sentir
seu peso sobre meu corpo dolorido e
ferido, mas consegui prendê-lo no fundo
da garganta.
— Olhe em todos os cômodos.
— A voz me era familiar, e eu tentava
reconhecer, mas meu cérebro não estava
trabalhando muito bem naquele exato
momento. — Eu preciso achar aquela
maldita, só assim terei pleno poder
sobre Joseph.
Naquele momento, eu soubera
que era por mim que eles procuravam e
fechei os olhos, começando a fazer uma
prece silenciosa enquanto esperava pela
minha sentença de morte.
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