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BIA TOMAZ
1ª Edição
2016
Copyright © 2016 EDITORA NIX
Equipe Editorial:
Revisão: Bel Góes
Capa e Diagramação Digital: Míddian Meireles
Ed já me esperava quando
cheguei à festa, como sempre ele estava
uma perdição, vestido para matar. As
menininhas praticamente babavam por
ele, enquanto tomávamos um drink
sentados no sofá da sala do apartamento
que ganhou no aniversário do ano
anterior.
— Não sei como ainda fica com
essa fixação comigo, Ed. Você pode ter
a mulher que quiser.
— Por isso mesmo, tenho quem
quiser, mas aí você apareceu e é a única
que não posso ter.
— Você já me teve várias vezes,
inclusive nos locais mais inusitados
possíveis. — Eu disse arrancando uma
gargalhada dele.
— E quem disse que quero você
só fisicamente? — Ele bebeu um gole da
sua bebida. — Claro que quero, mas não
quero apenas isso. Eu quero tudo, por
fora e por dentro.
— Você está tentando ser fofo
hoje? — Fiz uma careta.
— Não sei percebeu, mas sou
fofo com você e sabe o motivo.
— Vai insistir na ideia de que
me ama?
— Vou sim, porque é verdade,
mesmo que não acredite. — Ele passou
a mão pelo meu braço desnudo e causou
arrepios. — Eu posso ser meio louco,
frio e inclusive ser chamado de vilão
por muitos, mas sou uma pessoa melhor
quando se trata de você.
— Me sinto mal quando fala
assim, sinto como se não desse valor a
você e ao que sente por mim e então me
torno o monstro da história.
— Não se sinta assim, você
nunca foi e nunca será um monstro. —
Ele levantou do sofá e estendeu a mão
para mim. — Vem comigo.
Segurei a mão dele e o segui até
a sacada, fazia um pouco de frio e por
isso me encolhi um pouco até que Ed
percebesse e se aproximasse de mim,
ele deu um beijo na minha têmpora.
— Sabe que às vezes agradeço
pelo fato de ter tudo que tenho, mas
ainda sinto que falta alguma coisa? —
Ed disse com a voz meio alta tentando
ser ouvido por mim.
— O dinheiro não compra tudo
— disse simplesmente e ele assentiu.
— Não compra a atenção dos
meus pais por exemplo. — Levou o
copo que estava em sua mão até a boca e
bebeu do líquido âmbar. — Hoje meu
pai mandou uma mensagem de texto,
disse que está em Barcelona com a
minha madrasta, meu aniversário passou
e ele nem ao menos me
parabenizou, Ally.
— Jura? — Afastei-me um
pouco, perplexa pela situação. Já sabia
como o pai dele era, mas não imaginava
que fosse capaz de esquecer o
aniversário do próprio filho. — E sua
mãe?
— Na mesma situação, faz 5
meses que não manda nem sinal de
fumaça. — Ele terminou a bebida em
seu copo. — Vamos mudar de assunto?
A festa era para me animar e não
ficarmos falando sobre assuntos chatos,
tipo esse.
— Mas você precisa colocar
isso para fora — disse passando meus
braços pelo tronco de Ed.
— Eu acho que preciso colocar
outras coisas para fora.
— Meu Deus, como você é sujo!
— disse antes que ele me virasse,
colocando-me de frente para ele.
Instintivamente dei dois passos para trás
e senti minhas costas no vidro que
servia de mureta.
— Não fiz nada ainda. — Sorriu,
seus lábios umedecidos encostaram em
minha bochecha e seguiu em um
percurso curto até minha orelha. Senti o
celular vibrando na carteira, mas
ignorei. — Só faço se deixar, você sabe
que manda em mim.
— Eu deixo. — Sorri e ele
mordeu minha orelha. — Me beija logo,
Ed.
Ele segurou meu queixo e então
uniu nossos lábios, sabia que aquilo era
uma perda de tempo, minha e dele. O
que podia fazer, viver um amor na minha
mente e ficar sem ninguém, esperando
que o alvo de minha paixão me olhasse
para que pudesse beijar novamente?
Caramba, sou humana e preciso sentir
aquele calor lá embaixo de vez em
quando, se é que me entende.
O celular vibrou enquanto o
beijo aumentava a intensidade e já sentia
a mão de Ed descer pelas minhas costas
em uma direção conhecida, eu tentava
ignorar o telefone, quando Lili apareceu
do nada na sacada.
— Me desculpem atrapalhar —
disse em alto e bom tom, tanto que
parecia muito aflita. — Ally, preciso
falar com você. Agora! — Ed sorriu de
canto e apenas assentiu, depositei um
selinho nos lábios dele.
— Vou buscar uma bebida
enquanto vocês conversam. —
Abraçou Lili e deu um beijo na testa
dela antes de entrar no apartamento.
— Se você vai mesmo dar para
ele, arrume um quarto, por favor! —
Mostrei a língua para ela, que apenas riu
em resposta.
— Então, me fala. O que houve
de tão importante para cortar meus
amassos.
— Seu querido Joseph me ligou.
— Te ligou? O que ele queria?
— Eu segurava os braços dela e meu
olhar provavelmente era assustador
naquele momento. — Ele só liga para
você em emergências.
— Se olhasse seu celular não
seria necessário que ele me ligasse. —
Ela bufou e rolou os olhos enquanto
continuava olhando para ela, esperando
detalhes — disse exatamente assim
“Oi Cecília, me desculpa incomodar,
mas tem como mandar a Ally atender a
porra do celular?” e desligou. Muito
educado como sempre.
— Ele não te trata assim, Lili.
Alguma coisa séria aconteceu. — Eu
peguei meu celular e vi várias ligações e
mensagens dele, as primeiras pediam
para que eu ligasse para ele assim que
visse a mensagem, nas últimas ele
parecia um louco, escreveu as
mensagens com letras maiúsculas e
havia muitos palavrões ali.
Retornei a ligação, não chamou
nem duas vezes, dele me atender.
— Alice, onde você tá? Na casa
daquele babaca do Edward? — Eu
coloquei a mão no outro ouvido para
escutar melhor.
— Joey, o que foi?
— Alice, saia da casa do
Edward, agora! — Fiquei nervosa,
muito irritada mesmo. Quis xingá-lo e
dizer para ele parar de tomar conta de
mim, Joey não era meu pai, nem tio e
nem nada daquilo, mas apenas desliguei
a ligação e meu celular.
Não era a primeira vez que Joey
ligava e me mandava ir embora de
alguma festa, já tinha feito isso e era
exatamente porque estava em uma festa
de Ed, que ele detestava com todas as
forças, acreditando ser uma péssima
influência para mim. No fundo,
realmente Ed não era boa influência
mesmo, mas não seria eu a pessoa que
reforçaria essa ideia dele.
— Voltei, minhas lindas. — Ed
voltou com uma garrafa de champanhe
na mão, eu a peguei, nem esperei ele
colocar na taça, bebi direto da garrafa.
Ed olhou-me surpreso e seu sorriso
divertido surgiu. — Tá querendo ficar
bêbada?
— Sim — respondi visivelmente
irritada, Lili me olhou sem entender e eu
apenas dei de ombros antes de segurar a
mão de Ed e puxá-lo para dentro da
festa. Iria fazer exatamente o oposto do
que Joey disse para fazer, iria continuar
na festa e iria aproveitar o máximo.
~*~
~*~
Eu ri da mensagem dele e me
senti tentada a deixar Ash se virar, mas
não faria isso com ele. Era muito
simples, só precisava ir e depois correr
para casa de Joey, mesmo que quando
chegasse lá fosse tarde da noite e
corresse risco de ser vista por James.
Aliás, ele quase nos pegou quando
estávamos no sofá, Joey se esparramou
em cima de mim e me escondeu, duvido
que James tenha a capacidade de
reconhecer alguém pelas pernas, é o
policial mais lerdo do mundo, mas a
principal função dele é na área de
tecnologia, Joey me disse que nisso ele
é o melhor.
~*~
~*~
~*~
~*~
Eram quase 18 horas de
segunda-feira quando avisei que sairia
para investigar sobre Aileen. Os pais
dela eram donos de uma cafeteria e foi
lá que marquei com eles. O que consegui
de informações foi mais do mesmo.
Aileen era responsável,
presidente do grêmio estudantil da sua
escola, ganhou uma bolsa de estudos, em
um dos colégios mais renomados da
Europa. Era o mesmo perfil de todas as
outras garotas mortas, cabelos
castanhos, pele branca e olhos
esverdeados.
Aquele caso definitivamente era
mais um para investigação do serial
killer, e por isso, meu trabalho acabava
por ali, afinal de contas eu não estava na
maldita investigação. Assim que
terminei de conversar com os pais de
Aileen, liguei para Ally e avisei que
tinha uma surpresa para ela e que
esperava por ela às 20 horas na porta do
meu apartamento.
Ela com sua mente maliciosa,
levou a coisa para outro nível e
respondeu de um jeito que já me deixou
com um certo desconforto dentro da
calça jeans apertada.
~*~
Acordei de madrugada assustada
logo após ter um pesadelo terrível, um
daqueles que te fazem até suar, no sonho
eu corria de alguma coisa, mas não
sabia o que ou quem era e isso fazia a
situação ficar mais assustadora. Meus
batimentos cardíacos estavam
acelerados e bebi um pouco da água que
tinha colocado em um copo na mesinha
de cabeceira.
Tentei me acalmar e deitei
novamente, olhei rapidamente o visor do
meu celular e não tinha nada de novo, o
que não era algo assustador ou
inesperado, afinal eu tinha pedido um
tempo. Encolhi-me na cama, fechei os
olhos e me cobri até a cabeça, como se
o edredom fosse um escudo protetor.
Estava começando a cochilar
quando uma mão gelada e um pouco
úmida tampou minha boca e me virei
assustada, preparando para protestar,
pronta para pedir por socorro ou talvez
para pedir que acabasse com minha dor,
acabasse com o caos instalado dentro do
meu peito, mas encontrei os olhos de
Joey me encarando, ainda em completo
silêncio, levou um dedo indicador aos
lábios pedindo silêncio e eu assenti,
ainda confusa com o que acontecia ali.
Ele me puxou para fora da cama e me
abraçou de forma carinhosa. Seus dedos
embrenharam pelos meus cabelos e me
colocou de encontro com seu peito,
enlacei meus braços ao redor de sua
cintura e afastando-me um pouco,
acariciou meu rosto com uma de suas
mãos, com a outra puxou meu cabelo,
fazendo-me curvar a cabeça para trás.
— O que faço agora que estou
tão viciado em você, Alice? — falava
em um sussurro delicioso. — Eu te
quero. — Mordeu meu queixo. — Eu te
adoro. — Deslizou sua língua quente
sobre a pele do meu pescoço
arrepiando-me e fazendo com que
soltasse o ar por meus lábios
entreabertos. — Eu tenho fome de você.
— Ele chegou ao meu ouvido e o
mordeu vagarosamente. — Eu te amo,
Alice.
Seus lábios devoraram os meus
em um beijo ávido e intenso, suas mãos
brincavam com a barra da minha blusa e
eu segurava em seu pescoço firmemente,
pois sabia que cairia se ele não me
segurasse, estava loucamente excitada
por aquele homem. Era aquilo que eu
queria, não era? Uma despedida.
— Eu te entendo, Ally. — Seu
sorriso se transformou em algo triste. —
Sei que não tenho sido cem por cento
seu e você merece mais do que isso, mas
não posso me imaginar sem você, não
sei se consigo lidar com isso.
— Nós precisamos, Joey. — Eu
me levantei e amarrei meu cabelo num
rabo de cavalo. — Mas encare isso
como uma pausa, se você me amar como
diz amar, sabe que me terá de volta.
— Odeio que fale assim, parece
que duvida do que sinto. — Abaixei a
cabeça e fiquei calada. E se no fundo
fosse isso? — Mas tudo bem, se você
prefere assim. — Ele se levantou e veio
até a mim, segurou meu queixo e
levantou minha cabeça. — Mas saiba
que eu vou te provar, Ally. Se é isso que
você quer, é isso que você vai ter.
Ele depositou um beijo rápido
em meus lábios antes de destrancar a
porta, eu fui até ela e abri, vendo se o
caminho estava livre, ele me encarou
por poucos segundos antes de sair.
Assim que fechei a porta, encostei-me
nela e me deixei ser embalada por
aquela onda terrível de quando
perdemos alguma coisa.
Aquela onda veio porque no
fundo, como disse anteriormente, eu
duvidava um pouco do que ele sentia,
porque tinha medo de que o tempo que
havia pedido se transformasse em algo
definitivo.
Dominic
Eu resolvi fazer um caminho fora
do meu normal e não era sem um
propósito. Eu tinha um motivo ao fazer
aquilo, aliás, tudo que eu faço tem um
motivo.
Virei o carro na rua que já
conhecia por ter passado por ali
inúmeras vezes na última semana,
estacionei na esquina, onde sabia que
quem eu queria ver não conseguisse me
avistar e torci para que ela estivesse
sozinha.
Ajeitei meu cabelo pela última
vez, liguei o som do carro, coloquei uma
música de rock para tocar, mandei
algumas reportagens para o e-mail do
editor do jornal, uma delas incluía a
minha maior obra prima, a matéria de
Joseph Spencer. Aquela seria a bomba,
mas seria apenas a primeira, porque o
temido Assassino do Beco iria provocar
um pequeno acidente em pouco tempo,
teria que sair dos meus padrões. Aquilo
era normal para um serial killer? Pois
para mim era perfeito e então teria um
dos meus caprichos cedidos. Eu queria
que Joey investigasse minhas obras de
arte, era ele quem eu queria ver
correndo atrás de mim enquanto
estivesse ali bem debaixo do nariz dele,
enquanto estivesse rodeando sua vida e
as pessoas que ele mais amava.
Alice saiu do prédio
conversando no celular, parecia meio
abatida quando me aproximei dela e
parei próximo ao meio-fio com o carro.
Ela me olhou e não reconheceu de
primeira, olhou novamente como quem
confere se não viu errado e então um
sorriso apareceu em seu rosto.
— Dominic? — perguntou se
aproximando do vidro que abaixei. — O
que houve? Veio ver sua tia?
— Na verdade, estava passando
por aqui. Acabei de entrevistar uma
pessoa ali e estava passando, já ia para
o meu trabalho — respondi sorrindo,
fazendo o que fazia de melhor, depois de
matar, é claro. Atuação era algo que
estava entranhado em mim e das minhas
mil e uma faces, um talento nato. —
Quer uma carona?
Ela pareceu hesitar, olhou para o
celular e depois para mim.
— Não sei se deveria — disse
preocupada.
— Será nosso segredo, não vou
contar ao Joey — ao falar isso foi como
se um botão fosse acionado.
— Na verdade, eu vou adorar
pegar uma carona com você —
respondeu e eu destravei a porta do
carro para ela que deslizou para dentro
e sentou no banco do carona. Eu não
sabia o que era se apaixonar, nunca tinha
sentindo o que as pessoas costumam
sentir, mas senti algo muito parecido
com o que normalmente sinto ao matar,
senti prazer ao ver as coxas expostas de
Ally.
— Então vamos antes que você
se atrase. — Pisquei e virei tentando me
concentrar no trânsito. Sorri quando ela
cantarolou, mas não sorri por isso, na
verdade eu sorri por saber que havia
acabado de conquistá-la um pouco mais,
havia acabado de penetrar um pouco
mais na vida do cara que queria tanto me
encontrar.
No final, o poder estava em
minhas mãos, sempre, era eu quem
comandava o espetáculo. A prova disso,
seria o que estamparia os jornais mais
uma vez em poucos dias.
Capítulo 18
~*~
~*~
~*~
~*~
Hill me ligou em desespero logo
depois que terminei de comer, eu
expliquei que tinha ido para a casa de
Ed e ela disse que viria até meu
encontro. Meia hora depois ela chegou e
assim que abri a porta, ela me abraçou
fortemente.
— Você está bem? — minha
irmã perguntou com a voz em
desespero.
— Acho que sim. Você viu a
notícia de Scott?
— Sim, aquele bastardo já foi
tarde — respondeu de maneira fria. —
Me lembro quando ele ficava enchendo
a cabeça do pai de Sophie para me
largar. No fim eu mesma não quis nada
com ele, mas o Scott era uma cobra que
envenenava tudo que encontrava pela
frente.
— Cadê a Sophie? — perguntei.
— Você sabe como nossa mãe é
grudada nela e resolveu dar uma volta
com ela no parque. O pai teria ido se
não fosse esse idiota do Scott ter
morrido, até depois de morto, causa
confusão.
— E o Joey? Alguma notícia?
— Ally, eu vim aqui para falar
sobre isso com você. Tem alguém
aqui? — ela perguntou, olhando em
volta
— Todo mundo sabe da situação
toda, Hill. Fica tranquila — disse
fechando a porta e levando ela até o
sofá. — E eles estão assistindo um filme
no quarto do Ed.
— Ótimo. — Minha irmã se
sentou no sofá e eu a segui. — Eu estava
indo dormir ontem depois que nossos
pais que já tinham se perguntado aonde
você tinha enfiado, antes de ir dormir.
Enquanto terminava de checar se Sophie
estava dormindo direitinho, recebi uma
ligação de Joey, pedindo que fosse te
buscar. Ele acabou te carregando até lá
em casa, porque eu não conseguiria. Ele
parecia desesperado, Ally. — Ela
segurou minha mão. — Mas o que me
assustou foi o seu estado, você ficou
cansada de tanto chorar, foi aí que
percebi que talvez essa relação sua com
Joey não esteja te fazendo bem.
— A culpa foi de Scott.
— Joey me contou.
— Fofoqueiro — resmunguei.
— Eu exigi que ele me contasse,
Ally. Sabe que sou persuasiva, você tem
esse gene da família. — Sorriu de canto.
— Não o culpe. Aliás, não quero nem
falar desse idiota do Scott, porque o seu
erro foi uma coisa estúpida, mas já era e
agora com a morte do Scott, acabou.
— Como o Joey estava? Ele
parecia chateado?
— Eu acho que sim, mas o que
importa é você, Ally. Eu acho que vocês
dois deveriam se afastar, você me
contou ontem que pediu um tempo, mas
pelo que vi vocês não estão realmente
dando um tempo. Tudo parece que faz
com que você volte para ele, ou te faça
procurar por ele. Tente não ser tão
dependente dele.
— Não é fácil. Você sabe que
ele sempre resolveu tudo para mim,
sempre esteve do meu lado. Posso
confiar nele de olhos fechados.
— Eu sei disso, mas tem que
lembrar que não existe só ele no mundo,
você tem o Ed, que tem poder de mandar
e desmandar em quase 90% da cidade
por causa do pai dele. Tem a Lili ou eu
para desabafar quando for preciso. Você
não tá sozinha, irmãzinha.
— É, eu sei disso. — Concordei
e dei um suspiro fundo. — Será que dou
conta?
— Tenho certeza que sim e eu
vou estar do seu lado para te ajudar. —
Abriu a sua bolsa e prosseguiu. —
Aliás, um cara chamado Dominic
apareceu lá em casa. Eu demorei para
me tocar quem era até me lembrar de
você lendo os livros dele.
— Dominic Evans? — indaguei
surpresa.
— Exatamente. Nossa mãe quase
pirou, ele não ficou muito tempo lá em
casa porque disse que tinha que ir para o
jornal, mas perguntou quando você
estaria em casa e que esperou justamente
o horário do final da aula achando que
você já teria chegado.
— Ele falou o que queria? —
perguntei curiosa. Será que Janet tinha
dito qual era o número do meu
apartamento?
— Ele disse que pensou em te
ligar, mas tinha que falar com você
pessoalmente. Agora me conta o que ele
quer com você? Ganhou alguma
promoção ou algo assim?
— Ele entrevistou o Joey e a tia
dele mora lá no prédio.
— Só isso? Ele me pareceu
bastante interessado.
— Ele me deu carona para a
escola, mas acho que... não, ele não quer
nada demais — disse enquanto Hill me
olhava duvidosa. — E pare de me olhar
assim! É sério!
— Eu não falei nada. — Riu
colocando as mãos em frente ao corpo
como defendendo de mim. — Liga para
ele e pergunta. Se você não estiver
curiosa, eu estou.
— Certo. Farei isso.
— Hilary! — Ed apareceu na
sala sorridente. — A que devo a honra
de sua visita?
— Ai, Edward. Te olho e às
vezes esqueço que tem só 18 anos,
parece um daqueles executivos
importantes. — Ela se levantou do sofá
abraçando Ed.
— Isso foi um elogio? — ele
perguntou com voz divertida.
— Claro! Sempre torci para que
vocês pudessem ficar juntos — Hill
provocando, apontando para mim e eu
rolei os olhos.
— Cala a boca, Hill. Ed sabe
que isso é página virada — respondi.
— Ela está certa. Já resolvemos
nossa situação, agora eu só tento colocar
um pouco de juízo na cabeça dela e
imagina só, logo eu que nunca fui o mais
sensato. — Ele deu seu sorriso de lado e
piscou para mim.
— Ela está precisando mesmo
— disse Hill assentindo.
— Olha quem fala, né? Por favor
— falei negando com a cabeça e Ed riu.
— Ei, Hill. Quer beber alguma
coisa? Me lembro que gostava
daqueles drinks que eu preparava.
— Aquele de romã! Saudades
daquele que provavelmente foi o melhor
drinque da minha vida!
— Vem comigo, então. Vou
preparar. — Ele se virou para mim
depois. — Ally, vê se a Lili não
cochilou assistindo o filme e chama ela
para cá também. — Acedi e fui até o
quarto chamar Lili.
Assim que cheguei no quarto a vi
sentada, com os olhos pensativos e ela
até olhava para TV, mas não parecia
estar muito atenta ao que acontecia.
Sentei-me ao seu lado e a abracei.
— Ei, que cara é essa? — Ela
me olhou e sorriu de leve.
— Ah, sei lá. Tanta coisa
acontecendo com você, eu não quero te
preocupar.
— Ah, caramba! Para com isso.
Nós somos amigas para aguentarmos
nossas cargas de dificuldades juntas,
certo? — Eu disse e ela me olhou
sorrindo. — E então, o que houve?
— Bom, minha tia está doente.
— Ela disse sem rodeios. — E pelo que
parece, ela não vai poder tomar conta de
mim por muito tempo, sendo assim...
— Você vai precisar voltar para
a Espanha? — Eu perguntei espantada e
ela assentiu com os olhos marejados. —
Ah não, Lili!
— Eu não quero voltar para lá,
Ally. Você sabe que minha aversão a
toda essa coisa de realeza é na verdade
uma aversão ao que minha família me
submete. — Ela enxugou uma lágrima
que escapou. — Eles são implacáveis e
às vezes cruéis. Lembra a história da
minha prima que me humilhou no meio
de uma festa de aniversário?
— Claro, você me contou e
chorou mesmo tendo acontecido dois
anos antes. — Abracei-a mais forte. —
Acredite que a gente vai arrumar um
jeitinho de resolver isso. Juro!
— Eu acredito que sim. — Ela
enxugou outra lágrima e então respirou
fundo antes de prosseguir. — Então,
vamos deixar esses papos sofridos? Eu
sei que o clima não está bom, com essa
confusão sua, a morte do Scott que não
decidi ainda se foi boa ou ruim. E não
quero aumentar nossa tristeza com meus
problemas. — Ela pegou o controle e
apontou para a televisão. — Vem
assistir comigo. Esse tem um final feliz,
eu li o spoiler do final. — Ri enquanto
ela se ajeitou debaixo do edredom.
Meu celular começou a chamar e
ignorei de começo porque me ajeitei na
cama espaçosa de Ed e comecei a
prestar atenção no filme que ela tinha
colocado.
No filme a mocinha passava por
vários problemas e no fim do dia
sempre tinha um sorriso e a certeza de
que ficaria bem, mesmo que os
problemas persistissem no dia seguinte.
De repente me toquei que talvez
estivesse levando tudo muito a sério,
não que eu fosse dali em diante mudar e
me tornar uma rebelde, porque já tive
essa fase.
O que eu queria era recomeçar,
assim como Hill tinha dito. A vida
estava ali diante de mim e o que eu faria
em breve? Teria responsabilidades de
adulta, e nem teria ao menos
aproveitado e só lembraria de ter ficado
preocupada com Joey.
A partir daquele momento, eu
cuidaria de mim, eu me preocuparia
comigo.
Meu celular começou a chamar
novamente e Lili revirou os olhos.
— Dá para você atender essa
porcaria logo? Eu estou curiosa para
saber! — ela disse rindo.
— Eu acho que sei quem pode
ser — respondi rindo enquanto pegava
meu celular, olhei no visor e um nome
que talvez eu já esperava brilhava no
visor.
— Quem? Joey? — ela
perguntou tentando ler e eu tirei da vista
dela. — Ah, sua safada! Você arrumou
outro? Assim tão depressa?
Levantei-me da cama e eu
apertei para atender, ela parou diante de
mim tentando descobrir com sua cara
determinada. Eu respirei fundo antes de
enfim conseguir falar.
— Oi!? — Mordi o lábio e
esperei pela voz do outro lado da linha.
— Nossa, enfim consegui falar
com você. Parece que você é mais
difícil de entrar em contato do que o
presidente dos Estados Unidos —
Dominic disse divertido. — Eu fui até
sua casa, mas você não estava.
— É, minha irmã me avisou.
Disse que conheceu minha mãe — falei
animada, talvez até demais.
— Sua mãe é uma figura, me
encheu de perguntas e inclusive queria
saber o motivo de ter ido até seu
apartamento.
— Não posso culpá-la. Confesso
que estou bastante curiosa. Eu posso
saber o motivo? — perguntei e Lili
acenou para mim esperando eu dissesse
alguma coisa.
—É um convite, na verdade.
Mas eu queria muito fazê-lo
pessoalmente. — Eu levei minha mão ao
peito e Lili me olhava sem entender.
— O que você tem em mente? —
perguntei e mordi o lábio inferior.
— Posso te encontrar agora
mesmo. Te busco onde estiver e a gente
toma um suco. Topa? — sugeriu de
maneira firme e adorei aquela maneira
decidida dele.
Seria considerado um recomeço
se eu aceitasse ver Dominic? Aliás, nem
era nada demais. Afinal de contas, quem
me garantia que aquilo fosse um
interesse a mais? A verdade é que me
importaria se fosse, mesmo que
significasse só curtição mesmo.
— Eu adoraria, Dominic —
respondi e Lili levou as mãos à boca,
em choque por constatar que era
Dominic ao telefone comigo.
Passei o endereço do prédio de
Ed e nos despedimos logo depois.
Assim que desliguei a ligação, Lili
começou a gritar feito uma louca e pular
em cima da cama de Ed e não demorou
muito para que ele viesse ver o que
estava acontecendo com ela.
— Que bagunça é essa? —
perguntou com a cara séria, mas
começou a gargalhar assim que olhamos
assustadas para ele. Ele correu até a
cama e se jogou sobre ela, puxando Lili
para baixo, grudando-a em seu corpo.
Não disse? Perfeitos juntos.
— Ally tem um encontro —
Cecília anunciou animada.
— Não é um encontro, eu só vou
ver o que ele quer falar comigo, mas ele
disse que tem um convite, então talvez
ele marque um encontro de verdade —
sonhei e ela sacudiu as pernas no ar
animada, Ed deu uma de suas típicas
gargalhadas.
— Quem é o cara? — Ed
perguntou.
— Dominic Evans — respondi.
— Sabe quem é?
— Meu pai o conhece bem, mas
eu apenas o conheço de vista. Acho que
ele vai estar na festa de gala de fim de
ano. — Ed comentou sentando e
puxando Lili para seu colo, ela
entrelaçou os braços ao redor de seu
pescoço. Um contato normal de amigos,
que já me fez imaginá-los juntos
novamente. — Talvez seja isso que ele
queria falar. Ele deve te convidar como
acompanhante para a festa.
— Será? Essa é a festa mais
comentada do ano! Meu pai já até
ganhou alguns prêmios, mas ir
acompanhada de alguém como o
Dominic seria outro nível — disse
animada. — Você vai à festa?
— Se você for com ele, serei
obrigado a ir para te vigiar. — Ele riu e
piscou. — Lili vai como minha
acompanhante.
— Ebaa! Festinha! — Lili disse
sacudindo a cabeça e bagunçando os
cabelos.
— Ei, sua irmã foi embora.
Parece que sua mãe ligou e pediu que
ela fosse ajudar com a Sophie. — Ed
disse confuso. — Ela parece ter
mudado.
— Hill está tendo uma nova
chance e resolveu recomeçar — disse
pensando nas minhas palavras.
— É, todos merecemos um
recomeço — divaguei. — Agora vai
logo se arrumar porque o cara vai
desistir de você se perceber o quanto
demora para se arrumar. — Eu fiz careta
para ele que riu.
Fui para o banheiro animada,
ouvindo os gritos de Lili enquanto Ed
fazia cócegas nela e ela pedia que ele
parasse. Até mesmo Ed disse que todos
mereciam um recomeço, e aquela
palavra estava me perseguindo, ou
talvez fosse o destino me chamando para
as mudanças.
Dominic
Encerrei a ligação com Ally e
ajeitei meu terno, andando em direção
ao meu carro. Foi fácil perceber que
Joey e ela estavam brigados, aliás, Joey
não tentou esconder esse fato.
Claro, depois daquela
circunstância com Scott nenhum cara
aguentaria o peso da situação.
Principalmente quando Scott era o cara
que Joey mais detestava. Eu também o
detestava, claro. Mesmo tendo falado
com ele pouquíssimas vezes. Desde o
dia em que nos conhecemos nas docas,
foi uma antipatia gratuita. Eu estava
muito feliz com sua morte, assim como
pela maneira adorável que ele tinha
morrido. Quem o matou tinha sido um
gênio e esse gênio era eu mesmo.
Um sorriso brilhou em meus
lábios quando fotos do corpo de Scott
— que eu havia vazado na internet —
passaram na televisão. Pessoas se
aglomeravam no hall de entrada do
prédio do jornal. Algumas chocadas,
outras tentando entender a mente de
quem havia feito aquilo e não havia o
que entender, eu era daquele jeito e
adorava ser assim.
Depois de Kendra, nunca pensei
que fosse matar num impulso novamente,
apesar de que com Kendra foi tudo
muito bem pensado, mas com
Scott...com ele foi um impulso. Quando
ele apareceu no meu apartamento me
confrontando por achar suspeito terem
me visto andando pelo local onde tinha
colocado o corpo de Kendra, percebi
que tinha que matá-lo.
Seria fora dos meus padrões,
seria fora do que acho certo, mas seria
divertido. Foi muito interessante ver até
que ponto ele aguentava dor, eu o
torturei bastante antes que enfim tirasse
sua vida medíocre. Ele era carta fora do
baralho.
Novamente, eu estava no
controle do jogo e minha próxima
jogada era colocar Alice na
brincadeira.
Caso algo saísse do controle ou
não desse certo, não que eu acreditasse
que fosse falhar, porque eu não tinha
dúvidas de que estava cada vez melhor e
tinha certeza que me descobrir seria
mais complicado do que poderia
aparentar, mas ainda assim se algo não
ocorresse conforme o planejado, eu
usaria Ally para minha cartada final.
Capítulo 22
Lili deu uma volta e me olhou
com seu olhar questionador que sempre
tinha quando comprava roupas novas. Eu
era uma amiga muito prestativa, apesar
de não ter tanta paciência para o quesito
“compra de roupas”.
— E então? Gostou? — ela
perguntou mordendo o lábio inferior
cheia de dúvidas.
— Esse vermelho ficou tão
lindo! Leva esse! — disse praticamente
implorando.
Eu e ela estávamos tentando
escolher um vestido para que não
passássemos vergonha na festa de fim de
ano da cidade de Golden Coast. Eu já
tinha escolhido um azul escuro longo, na
semana anterior e Lili resolveu achar
que ficou gorda no vestido e quis trocar
no dia da festa. Eu já começava a perder
a paciência, mas já sabia como ela era
quando o assunto eram roupas.
Passaram-se dois meses desde a
morte de Scott e o dia da festa enfim
tinha chegado. Não preciso nem dizer
que o convite de Dom era exatamente o
que Ed tinha dito: acompanhá-lo na
festa. Desde o convite, ele vinha se
aproximando cada vez mais de mim.
Até meu pai que nunca gostou da
ideia de ver um homem me rodeando,
não se importou em ver Dominic em
nossa casa diversas vezes me visitando.
O mais incrível é que entre nós não
passava de amizade, confesso que
inicialmente pensei que ele tivesse um
interesse a mais ao me convidar para ser
sua acompanhante na festa, mas com o
passar do tempo percebi que era coisa
da minha cabeça.
Pensava, até que na semana
anterior, ele me beijou enquanto contava
sobre como tinha ido bem nas provas
finais, ele disse que foi um beijo de
comemoração, mas depois daquele
vieram outros de despedidas, de
agradecimento ou sem motivo algum. Eu
não sabia qual era o nosso tipo de
relacionamento, só sabia que eu estava
gostando, apesar de que ele não era o
dono do meu coração.
Aliás, esse que não queria falar
o nome para não trazer à tona os
sentimentos que vinham com ele, estava
cada vez mais distante de mim. Eu
confesso que isso doía tanto que quase
sempre acabava me escondendo e
chorando, é eu sei que estava agindo de
forma patética, mas o que fazer se eu o
amava com a mesma intensidade de
antes de nos afastarmos? Era como se
nenhum dia tivesse passado desde que
paramos de nos falar.
O único contato era “oi” e
perguntas triviais do dia a dia, fora isso
eu só o escutava quando contava sobre o
avanço das investigações sobre o serial
killer para meus pais ou para Hill, ele
parecia animado com algumas pistas que
tinha encontrado e também confiante de
que o encontraria em breve.
Eu ficava receosa cada vez que
ele mostrava aquela confiança, com
medo de que se decepcionasse e não
conseguisse pegá-lo. Ele se culparia
enquanto o assassino não fosse pego,
mesmo que isso durasse uma vida
inteira.
Meu celular começou a chamar
insistentemente em minha bolsa e atendi
sem nem mesmo olhar quem era, atenta à
Lili que dava voltinhas com o vestido
esperando pela minha opinião.
— Oi. — Atendi.
— Oi, linda. — A voz de
Dominic chegou aos meus ouvidos e eu
sorri. — Liguei para confirmar se devo
passar em frente ao seu prédio às 9 da
noite.
— Claro! Só se tiver algum
motivo para mudar de planos — disse
sorridente.
— Nenhum. Eu na verdade
queria te fazer uma pergunta.
— Pode fazer — falei
apreensiva.
— Você pode dormir fora de
casa?
— Você quer dizer...com você?
— perguntei quase chocada pelo
convite.
— Desse jeito que você falou
fiquei parecendo um pervertido. —
Gargalhei, mais alto do que o
necessário, mas foi culpa do
nervosismo. — Na verdade, é uma
reunião íntima após a festa. A festa deve
acabar por volta de 1 da manhã, ordens
do prefeito por conta desse assassino em
série e o pessoal do escritório resolveu
esticar a noite no apartamento de um dos
editores, mas lá acaba tarde, só pela
manhã.
Ah, era só isso? Eu e minha
mente pervertida. Droga!
— Ah, isso é tranquilo. Qualquer
coisa aviso que vou dormir fora na Lili
ou no Ed, ou minha mãe me acoberta,
como sempre fez. Não sei.
— Então está combinado. Mal
posso esperar para te ver a noite, Ally.
— Também mal posso esperar,
Dominic.
Joseph
Eu não fazia a menor questão de
ir naquela festa, eu tive que alugar um
terno caro, fazer um penteado no cabelo
com um produto que grudou os fios no
couro cabeludo e eu confesso que estava
achando a maldita calça social super
apertada.
— James, que porra! Vai morar
aí? Está parecendo uma mocinha
arrumando —gritei virando um gole de
whisky e olhava impaciente para a tela
do celular.
Eu achei que James fosse ficar
triste ou algo do tipo depois da morte do
irmão, mas pelo que pareceu, até ele se
sentiu um pouco aliviado. Ninguém
gostava do babaca do Scott, nem a
própria família.
Falar no Scott me trazia
lembranças e fazia com que eu quisesse
virar a garrafa de whisky toda no
gargalo. Ainda tentava entender o que
Ally tinha na mente quando transou com
aquele cara. Ainda sobre Alice, eu
morria de saudades dela. Desde o dia da
morte de Scott, não trocamos muitas
palavras, não a procurei porque percebi
que ela queria distância, mas cada vez
que ela se dirigia a mim com um simples
“bom dia”, eu tinha vontade de perguntar
da vida dela e saber o que estava
acontecendo.
Percebi que não era o correto, se
ela queria se manter longe de mim, era
um direito dela. Sempre que achava que
estava esquecendo o que passamos,
alguma coisa me fazia lembrar de nós e
era a coisa mais ridícula, porque eu
sorria pelo que tínhamos vivido. Se
fosse o final da nossa história, estava
feliz por saber que tive a chance de estar
com ela.
— Vamos? — James saiu do
quarto arrumado e eu assoviei.
— Que isso, hein? Vai pegar
quem essa noite, seu safado? — disse
indo em direção à porta. — Devia ter
alugado seu próprio carro, vir embora
de carona com o melhor amigo vai
queimar seu filme.
— Cala a boca, seu bosta. Pelo
menos eu tenho uma acompanhante. —
James disse enquanto eu saía e
trancava.
— Ah, olha só. Achei que
fôssemos amigos — disse entrando no
elevador logo depois de James que ria
por ter conseguido me responder à
altura. — Agora me fala quem é a
sortuda, quero saber se já peguei.
— Por um milagre divino, essa
você não pegou.
— E é gostosa?
— Muito.
— Como estive cego esse tempo
todo? Eu a conheço pelo menos?
— Há muitos anos. — Ele
parecia estar se divertindo às minhas
custas.
— Fala logo quem é, porra! —
disse começando a me irritar.
— Sua ex-cunhada.
— Hill? Ah, mas você só pode
estar de brincadeira comigo!
— Mas não pense nada demais,
ela só em pediu para colocá-la como
minha acompanhante para poder entrar
na festa, porque o pai dela só tinha como
levar mais uma pessoa e obviamente vai
levar a esposa. Então não se empolgue,
eu e ela não estamos juntos, apesar de
que estou tentando fazer isso se tornar
realidade.
— Deviam ficar juntos, acabei
de perceber que gosto do casal — disse
enquanto a porta do elevador se abria na
garagem e íamos em direção ao meu
carro. Nós entramos e quando tentei
ligá-lo, não funcionou.
Era um sinal que devia ficar em
casa, o mundo ouvindo meus pedidos
desesperados de não ir a essa festa, mas
devo lembrar que estava sentado do cara
que sempre arrumava uma saída para
tudo. James Olsen não era da polícia por
qualquer motivo.
— Eu vim embora com a viatura
hoje — disse soltando o cinto.
— Você está brincando com a
minha cara? Acha que vou para uma
festa dessas de viatura? — Ele me
olhava esperando que desse uma
solução, que infelizmente não apareceu
em minha mente.
— Tem alguma outra ideia? Táxi
hoje vai ser quase impossível porque
metade da cidade está utilizando para ir
nessa festa. — Odiava quando ele
estava certo.
— Certo, mas não vamos parar
na frente do local da festa. Vai ficar
parecendo que estamos em investigação
e não indo para a festa — disse soltando
o cinto e abrindo a porta.
— Coloquei logo ali. — James
disse apontando para a vaga e então
fomos caminhando até lá. Coloquei
James para dirigir e me sentei
confortavelmente no banco de carona.
— Sabe que se o Hastings
souber disso...
— Vamos nos ferrar? —
Finalizei a sentença e James assentiu.
— Você já fez coisa pior na
viatura, pare de se fazer de santo só
porque sou seu superior — disse rindo e
James riu junto.
— Digo o mesmo de você. —
Ele replicou e rimos mais ainda com
lembranças de uma época nada bonita de
nossas vidas.
Ele deu partida no carro e o
trânsito estava caótico nos arredores do
local da festa, que seria no melhor salão
de festas da cidade, obviamente. A festa
de gala da cidade premiava um
profissional de cada área e só os mais
influentes eram indicados para o prêmio
e eu por uma intervenção de Dominic
entrei no páreo para concorrer como
melhor policial do ano de Golden Coast,
o delegado Hastings concorria comigo e
provavelmente levaria o prêmio.
James parou o carro na esquina,
para evitar que um dos rapazes que
estacionasse quisesse estacionar uma
viatura, seria uma vergonha e tanto
diante de tantos fotógrafos. Assim que
nos aproximamos os fotógrafos se
viraram, achando que éramos
importantes, mas a maioria se virou
assim que notaram que eu não era
celebridade, apenas alguns insistiram eu
tirar fotos, mas eu duvidava muito que
eles a usariam.
— Eu vou dar uma volta.
— Vai ver se acha sua
acompanhante que nem mesmo veio com
você?
— Ela preferiu vir com o pai —
James disse com cara de quem estava
ficando irritado e eu dei de ombros
antes dele se afastar.
Eu peguei uma taça de
champanhe, de uma bandeja e comecei a
circular pela festa. Quando me
aproximei da mesa da família Hastings
levei um susto ao ver Ally sentada ao
lado de Dominic e não era apenas isso,
atentando aos detalhes percebi que eles
estavam de mãos dadas.
Fiquei mudo diante da cena,
sabia que Dominic estava meio próximo
dela e inclusive soube que Ally tinha
decidido fazer um estágio no jornal, que
isso contaria horas extras para ela
quando formasse na escola, mas aquilo
dali estava totalmente fora da minha
imaginação. Então, eles estavam juntos?
Não. Aquilo não entrava na minha
mente.
— E aí, concorrente? — O
delegado se levantou e veio me
cumprimentar. Eu olhava fixamente para
Ally, que apenas me cumprimentou com
a cabeça antes de voltar a prestar a
atenção em algo que Dominic falava em
seu ouvido. Delegado Hastings pareceu
perceber meu olhar fixado e falou. — Eu
não aprovei a ideia deles juntos no
começo, ele é bem mais velho do que
ela, mas tomei pela base meu casamento
e olha só, estou feliz e acho que esse
homem me pareceu bastante honesto.
Gostei dele.
— É, ele é um cara fantástico —
disse com uma raiva misturada com
inveja por ele estar tão perto da minha
Ally. — Boa noite, Dominic — disse me
dirigindo a ele que assim que me viu se
levantou e veio até a mim,
cumprimentando-me.
— Você decidiu vir! Bom te ver!
— Dominic falou e eu sorri falsamente.
— Sim, eu vim. Vejo que veio
bem acompanhado. — Ele sorriu para
mim e Hastings pediu licença, sentando-
se para ouvir algum comentário da
esposa. — Acompanhado com minha ex-
namorada — falei em tom baixo.
— Me desculpe, mas acabei me
aproximando muito de Ally nos últimos
meses. Não queria me envolver, mas
você sabe, ela tem seus encantos.
— Ah, sim. Ela tem vários deles
— disse aquilo que era a mais pura
verdade. — Espero que sejam felizes —
disse segurando sua mão firme antes de
sacudi-la e então me afastei.
Fui para uma mesa bem
escondida e comecei a beber tudo que
traziam para mim, meu lugar era
privilegiado e eu encarava Ally que
parecia começar a ficar bastante irritada
com a situação. Dominic por algumas
vezes sempre dizia algo em seu ouvido e
ela sorria timidamente antes de
concordar ou olhá-lo com devoção,
afinal ela sempre foi fã dele. Eu tinha
apresentado um ao outro, palmas para
mim.
Outro garçom passou servindo e
peguei logo a garrafa de whisky, James
sentou ao meu lado animado, nem
mesmo fiz questão de virar o pescoço,
continuei encarando Ally.
— Cara, disfarça pelo menos —
James disse.
— Disfarçar o quê?
— Você está olhando para Ally
como um maluco psicótico.
— Ela está com aquele idiota do
Dominic — falei sacudindo a cabeça
negativamente. — Como aquele babaca
acha que pode chegar e tomar um espaço
que era meu assim?
— Desde quando Alice é
propriedade sua? Você nunca a
reivindicou, nunca demonstrou que a
queria para você.
— Lógico que fiz isso! —
Retruquei bebendo um gole do whisky.
— Só para ela, né? E os outros?
Sabiam que vocês estavam juntos?
— Alguns sabiam, incluindo o
jornalista.
— Mas vocês terminaram.
— Não me interessa, James.
Términos de relacionamento não
significam o fim do sentimento.
— E o que você pretende fazer?
Raptá-la e mantê-la em um cativeiro? —
James perguntou rindo.
— Não me parece uma ideia
ruim — disse esperando que ele ficasse
irritado.
— Ah, cara! Vai se foder! Você
não está nem comendo direito
ultimamente e fica com essa cara de
cachorro abandonado quando olha para
ela. Toma vergonha e luta pela Alice se
realmente a ama. Ficar olhando não vai
adiantar nada.
— Quer saber? Você tem toda
razão — disse me levantando e então
indiquei para Alice ir para a varanda
com a cabeça. Ela pareceu incrédula de
primeiro momento, mas logo em seguida
pediu licença e então fui para enorme
varanda que dava para a vista de boa
parte da cidade.
Eu passei as mãos pelos cabelos
sem movimento devido o produto que
haviam utilizado. As luzes da cidade
enfeitavam a paisagem, mas eu não
estava interessado em reparar naquilo e
me interessei muito menos quando Ally
finalmente apareceu fazendo a paisagem
da cidade ficar sem-graça.
— O que quer comigo? — Ela
disse sem paciência.
— Falar com você. Senti
saudades — disse sem me importar com
as pessoas à nossa volta. Eu só
conseguia olhar para Ally, ela estava tão
linda com aquele vestido azul escuro e
os cabelos presos em um coque
sofisticado. Eu queria tocá-la.
— Você não parecia se importar
muito com minha existência nesses dois
últimos meses. — Ela disse com a voz
visivelmente magoada.
— Eu me importei. Porque acha
isso?
— Você sumiu e me tratou como
se eu não existisse diversas vezes.
— Eu achei que fosse isso que
você queria.
— Eu estava envergonhada pelo
que aconteceu. — Ela apertou sua
carteira prateada que estava em suas
delicadas mãos e olhou para longe. —
Mas agora estou bem e não sei se
reparou, mas estou acompanhada.
— Sobre isso... — passei a mão
pelo meu queixo e tentei não olhar para
ela, mas era impossível. — ... você
gosta dele?
— Gosto sim.
— Não, Ally. Eu quero saber se
o ama como me amou.
— Isso não te interessa mais,
Joseph — ela disse e foi se virando para
voltar para a festa, mas segurei seu
braço fazendo-a virar para mim.
— Me interessa sim, porque eu
ainda te amo e tenho certeza de que não
irei amar ninguém da mesma maneira.
Mesmo que me case e tenha filhos com
outra pessoa, vai ser de você que vou
falar quando me perguntarem se eu tive
um grande amor. — Ela pareceu vacilar
sobre seus saltos antes de puxar o braço.
— Eu vou embora logo depois do
anúncio do prêmio no qual fui indicado,
Ally. Eu vou te esperar para ir comigo.
Dessa vez as coisas vão ser diferentes,
eu te prometo isso e você sabe que
quando prometo é porque irei cumprir.
Ela simplesmente me deixou ali
sozinho antes que eu terminasse de falar.
Não sabia nem se tinha ouvido o que
disse e senti um vazio estranho, um
medo de ter realmente perdido Alice
para sempre.
Podia parecer que estava atrás
dela só por causa de Dominic, mas
aquela cena foi o máximo que pude
aguentar. Ficar sem falar com ela, era
até aceitável, apesar de difícil, porém
saber que ela poderia se apaixonar
novamente e me esquecer por completo,
fazia-me querer tê-la de volta para mim
com todas as forças. Era como se fosse
algo definitivo e eu não deixaria as
coisas chegarem a esse ponto.
Voltei para a festa e me sentei ao
lado de James que conversava animado
com Hill e Sophie que brincava com o
arranjo da mesa. James e Hill me
olharam assim que sentei.
— Joey, se for para fazer Ally
ficar do jeito que ela estava quando
cheguei na cidade, é bom que desista.
Não vou deixar que magoe mais minha
irmã — Hill disse e eu assenti.
— Eu sei — respondi sem
animação na voz, bebendo todo o
líquido âmbar em meu copo.
— A entrega dos prêmios vai
começar — James anunciou tentando
aliviar o clima.
— O primeiro prêmio vai para o
melhor policial do distrito de Golden
Coast. Lembrando que os votos são do
comitê de organização do evento. —
Uma loira que tinha participado de
algum reality show apresentava a
entrega. — Os nomeados são...
Ela continuava falando e eu
ainda olhava e prestava atenção em
Ally. Eu realmente estava parecendo um
psicótico, mas nem me importava.
— Joey! É você! — James me
sacudiu e eu o olhei. — Você ganhou o
prêmio!
Eu olhei para frente e todos me
olhavam, os holofotes vieram para cima
de mim e eu tampei meu rosto com o
braço, protegendo-me da luz que me
cegava. Levantei-me forçando um
sorriso e indo até o palco meio surpreso
por ter vencido, recebendo o prêmio das
mãos da loira que sorria, ela me
parabenizou dando um beijo em meu
pescoço e me olhando daquele jeito que
me faria levá-la para cama se eu não
estivesse sofrendo como um babaca por
Alice.
— Obrigado! — disse me
aproximando do microfone, diante dos
aplausos calorosos das pessoas do
salão. — Quero agradecer ao meu
melhor amigo e mentor Delegado
Hastings, que ganhou esse prêmio por
anos seguidos e que me ensinou o que
ser feito para estar aqui hoje. Amor ao
trabalho, dedicação e acreditar que o
que fazemos pode ajudar o mundo a ser
um lugar menos perigoso — disse
enquanto todos me olhavam atentos. —
Quero agradecer aos meus amigos e
quero agradecer à mulher responsável
por isso, a mulher que me fez querer ser
melhor a cada dia não somente como
profissional, mas como homem.
Obrigada! Você sabe que é para você!
Todos explodiram em aplausos e
Ally me olhava vidrada, sem esboçar
nenhuma reação, nem mesmo palmas ela
batia e eu segui direto para a saída
enquanto a loira voltava ao palco para
anunciar outro vencedor.
— O prêmio de Jornalista reuniu
esse ano os melhores e mais respeitados
jornais da região...
A voz da mulher foi ficando cada
vez mais ao longe, enquanto eu saía dali
o mais rápido que podia. Eu não queria
passar o resto da noite olhando para
Alice agarrada em Dominic, preferia ir
para casa e beber sozinho até dormir de
tão bêbado.
Tirei meu paletó ficando apenas
com o colete sobre a camisa social,
faltava uma semana para o Natal e o
tempo estava demonstrando as mudanças
drásticas. A neve não demoraria a cair.
Eu fui até a porta da viatura e
enquanto pegava as chaves, lembrei-me
de como Ally estava perfeita e como eu
queria a ter tirado para dançar depois da
premiação. Se pedisse diante do pai
dela, ela seria obrigada a aceitar, ou ele
acharia estranho já que ela sempre
adorou dançar comigo desde que era
mais nova.
— Joey! — A voz de Ally me
alcançou de longe. — Joey! — Olhei
para o lado e a vi, ela sorriu e veio
andando da entrada da festa até perceber
que era meio distante, então tirou as
sandálias e veio correndo em minha
direção.
Eu estava congelado no lugar,
não sabia se ria ou se chorava por ela
ter me dado uma nova chance. Se era
patético aquilo? Talvez. Nada importava
se eu tivesse minha pequena de volta.
— O que...? —Eu parei a frase
pela metade quando ela se aproximou
ofegante e jogou seus braços ao redor do
meu pescoço.
— Achei que você já tivesse
ido!
— Eu achei que não quisesse me
ver mais.
— Eu lutei contra isso, achei que
sofria mais quando estava com você,
mas percebi que sem você dói muito
mais. Eu preciso de você, entende?
— Mais do que você pode
imaginar. Eu vou dar um jeito, meu
amor! Eu vou contar para seu pai sobre
nós — disse e ela colocou seu dedo
indicador sobre meus lábios.
— Não fale nada, não estrague o
momento. — Ela disse sorrindo antes de
ficar na ponta dos pés e colar seus
lábios nos meus, beijando-me como eu
quis por todo o tempo em que estivemos
separados.
Eu a segurei pela cintura e a
levantei do chão levemente, rodando no
mesmo lugar. Eu estava eufórico e
quando a coloquei no chão, ela se
afastou e sorriu antes de dizer:
— A resposta é não. — A olhei
sem entender e ela prosseguiu. — Eu
não amo Dominic como te amo, porque
isso seria impossível. Você é
insubstituível, Joseph Spencer.
— Você então é a torre de
Londres para mim — disse rindo e ela
sorria sacudindo a cabeça. Eu a puxei
beijando-a novamente, quando
interrompemos o beijo eu olhei para a
entrada da festa e vi Lili saindo de
braço dado com Ed.
— Seus amigos estão indo
embora. — Ally olhou para trás e os viu
esperando o manobrista trazer o carro
de Ed.
— Tem dois meses que estou
tentando juntar esses dois, não foi tarefa
fácil, mas acho que eles estão
começando a se tocar que existe chance
para algo a mais ali.
— Eu tenho certeza que eles
perceberam isso. — Ally me olhava sem
entender e eu apontei com a cabeça na
direção deles que se beijavam.
— Ai meu Deus! — ela disse
levando a mão à boca. — Consegui!
— Você sempre consegue o que
quer, Ally. Me conte uma novidade! —
disse e ela me olhou com seu sorriso
esperto. — Agora sou eu que quero uma
coisa. Será que sou bom em conseguir o
que quero também?
— O que você quer? —
perguntou animada.
— Te levar para longe daqui, te
prender em uma torre comigo e não
deixar você sair de lá — disse e ela
mordeu meu queixo.
— Tenente Spencer, isso me soa
como um sequestro! — Ally fez cara de
chocada antes de rir.
— Só tem um problema. — Ela
me olhava apreensiva. — Não sei se
percebeu, mas teremos que ir com a
viatura.
— Isso pode ser perigoso para
você — ela disse e eu dei de ombros. —
Mas é o máximo! Vamos logo! — ela
disse indo até o lado do carona e eu
entrei na viatura também, ela puxou-me
e me beijou rapidamente antes que eu
ligasse o carro e eu acariciei seu rosto.
— Eu te amo — disse beijando-
a de volta. — Agora vamos, porque
temos a noite toda, mas quero aproveitar
cada minutinho com você. Matar a
saudade que acumulou todo esse tempo.
Eu disse e então dei a partida na
viatura, provavelmente estava
cometendo um crime ao fazer aquilo,
mas aquele seria só o primeiro crime
que cometeria com aquela viatura
naquela noite.
Capítulo 23
Alice
Eu estava apreensiva enquanto
Joey dirigia, parecia que a gente tinha
começado a namorar naquele momento,
nem era como se eu conhecesse cada
pedaço daquele corpo. Depois de tudo o
que acontecera e depois de dois meses
separados, estava meio perdida sem
saber o que falar, porque no fundo, tinha
medo de levar ao assunto daquele idiota
do Scott. Apesar de que teríamos que
conversar sobre aquilo em algum
momento.
— Você está com fome? — Joey
perguntou concentrado no trânsito.
— Na verdade, não. A gente
podia ir sabe em qual lugar? —
perguntei animada.
— Qual? Você é quem manda!
— Naquele mirante que você me
levava quase todo fim de semana quando
eu tinha uns 13 ou 14 anos, sabe?
— Aquele que eu te levava para
tomar sorvete e tinha até um telão
enorme e a gente assistia aqueles filmes
antigos no carro? — concordei e ele
prosseguiu. — O triste é que agora não
existe mais nada disso e o lugar é
deserto, mas posso te levar para ver as
estrelas.
— Hmm, me convidando para
ver a estrelas? Essa separação fez até
um pouco de bem para gente — disse
rindo e ele negou com a cabeça.
— Nem de brincadeira essa
separação fez bem para nós, pequena. —
Ele procurou minha mão que estava em
meu colo e levou até seus lábios, beijou-
a docemente e eu sorri.
— Joey, sobre isso. Eu espero
que entenda que eu e Dom não tivemos
nada sério — disse tentando aliviar o
peso que querendo ou não carregava
comigo. — Se é que me entende. E bom,
presumo que durante nossa separação
deve ter arrumado alguém também.
— Eu não transei com ninguém
se é isso que quer saber, Ally. Nem
mesmo consegui chegar perto, porque eu
ficava comparando todas a você e as
achava insuportáveis.
— Jura? — indaguei animada.
— Sim. — Ele sorriu de canto
diante da minha felicidade.
— Que bom, porque teria que
expulsá-las de sua vida, agora que
estamos juntos — disse meio autoritária
e ele riu.
— Teria pena delas porque no
meu coração só tem espaço para você
— ele disse. — E quando diz que
estamos juntos é algo que precisa
acreditar ser real. Porque dessa vez, vou
falar com seu pai. — Ele respirou fundo
antes de voltar a falar. — Só preciso me
preparar psicologicamente para a fera
que ele vai se tornar.
— Não tem medo de perder a
amizade dele?
— E de que me adianta ter a
amizade dele se não tenho você? Você
significa o mundo para mim, pequena.
— Ele estava tão fofo comigo que eu
tinha quase certeza que tinha derretido
no banco do carona daquele carro. —
Eu estou preparado para o que der e vier
como consequência.
— Eu vou estar com você
sempre. Digo, caso eu tenha que
escolher entre ele e você, não teria
dúvidas.
— Ele é seu pai, Ally. Não pode
dar as costas para ele dessa maneira —
Joey disse e compreendi.
— Dizem que quando a gente
casa com alguém é como se
abandonássemos a antiga família para o
surgimento de uma nova, eu sei que não
estamos casados, mas minha alma está
comprometida com a sua, eu confio em
você até o meu último fio de cabelo e
não hesitaria em abandonar tudo que
tenho por você.
— Sinto-me lisonjeado em ouvir
tudo isso. Eu também não hesitaria em
abandonar tudo por você, inclusive a
minha carreira que por tantas vezes
acabei colocando diante da gente. Me
desculpe por isso.
— Não precisa se desculpar. —
Mordi o lábio, pensativa antes de falar.
— Eu tenho esse sentimento por você
desde que tinha quinze anos e você
acabou de perceber que o que sente por
mim é muito maior. Você precisava de
tempo, talvez eu tenha sido meio
empolgada demais no começo.
— Ou talvez eu não tenha dado o
devido valor ao que sentia por mim e fiz
tantas idiotices em um tão curto espaço
de tempo. Vamos ser realistas, Alice.
Você não é o tipo de namoro que eu
deveria ter às escondidas, sempre
abominei os caras que você namorava
exatamente por ter medo que te
tratassem abaixo do que você realmente
merecia e quem ironicamente acabou te
tratando assim fui eu mesmo.
— Mas o passado já era, a gente
pode virar essa página e escrever uma
nova.
— Uma mais feliz das que
passaram? — perguntou esperançoso.
— Várias delas se a gente
quiser.
Joey estacionou o carro no
mirante onde costumava vir com ele
quando tinha por volta dos meus
quatorze anos, a época em que meu pai
colocou Joey como meu segurança
particular para que eu não fugisse de
casa e como todos sabem isso não
funcionou muito porque fugia várias
vezes.
— E quanto ao serial killer? —
perguntei e ele negou com a cabeça.
— Nada de assuntos sérios
agora. — Ele tirou o cinto, o terno que
vestia e se aproximou de mim beijando
meus lábios. — Vamos aproveitar? —
Concordei, desafivelando o cinto do
carro e saindo do carro, ele fez o
mesmo.
Nós nos aproximamos da
beirada do precipício onde ficava o
limite do mirante, havia uma cerca de
madeira, da altura da minha cintura,
protegendo para que não caíssemos. Eu
coloquei minhas mãos em cima da
grossa madeira e Joey me abraçou por
trás depositando beijando meu pescoço.
— Me faça uma promessa —
pedi e ele concordou com seu rosto
entre meu pescoço e a clavícula. — Que
nunca mais me deixará partir para longe
de você e nem ficará longe de mim por
tanto tempo.
— Não precisava nem mesmo
me pedir isso, eu não vou te perder
novamente, nem mesmo por um segundo.
Ficar longe de você me tornou uma
versão horrível de mim mesmo — disse
eu virei ficando de frente para ele que
me puxou beijando meus lábios, quando
nos separamos, ele me olhou e sorriu. —
Eu tinha pensado em te convidar para
dançar na festa, faz tempo que não
dançamos juntos.
— Caramba! Tem um bom tempo
mesmo, nem lembro quando foi a última
festa em que você me arrastou para a
pista e me fez dançar por uma hora
seguida com você.
— Não tenho culpa se te ensinei
direitinho e você é a melhor aprendiz
que conheço. — Ele piscou e então se
afastou, pegou o celular no bolso da
calça e já ia dando play na música.
— Ei! Eu quero escolher a
música — eu reclamei e ele riu
afastando o celular de perto de mim.
— Nada disso. Eu já escolhi. —
Ele apertou, colocou o celular em cima
do capô da viatura em um bom volume e
a música invadiu o ambiente. — Eu sei
que você adora essa!
Seus braços deslizaram em
minha cintura enquanto eu sorria pela
escolha da música, colamos nossos
corpos e seguimos o ritmo envolvente de
"Thinking out loud" do Ed Sheeran que
tocava e ele estava certo, eu adorava
aquela música. Ele acariciou minhas
costas enquanto a música rolava e
aninhei minha cabeça em seu peitoral, eu
ouvia as batidas descompassadas de seu
coração, desreguladas como as minhas.
Eu tinha meus braços ao redor
do pescoço de Joey, quando ele puxou
um dos meus braços e segurou minha
mão no calor da sua, beijou-a na mesma
e voltou a dançar com os passos
ritmados daquela dança que nos
transportava para outro mundo, um
mundinho só nosso onde não existia
nenhum problema a ser resolvido.
Ele soltou meu corpo e me
rodopiou, depois me puxou de volta
para perto de seu corpo e voltamos a
mover nossos corpos juntos, ele me
virou e colou minhas costas em seu
peitoral, segurava meus braços e me
movia junto com ele.
Suas mãos foram deslizando,
enquanto ele me movia para frente, para
trás, de um lado para o outro, como
sempre me guiando com sua facilidade
para a dança. Algo que raramente
mostrava e eu adorava quando ele
resolvia fazê-lo.
Ele me virou novamente,
colocando-me de frente para ele e
segurou minha mão, entrelaçando nossos
dedos, então ele encostou sua testa na
minha, fechando os olhos.
— "So honey now, take me into
your lovin' arms, kiss me under the
light of a thousand stars, place your
head on my beating heart..." — ele
cantou a música bem baixinho em meu
ouvido, justamente a parte que
encaixava com nosso momento e
levantei minha cabeça para olhar em
seus olhos, sorri e ele então se
aproximou me beijando delicadamente.
(Nota de tradução: Então agora
querida, me tome em seus braços
amorosos, me beije sob a luz de
milhares de estrelas, coloque sua
cabeça sobre o meu coração batendo...)
Afastei-me e o puxei pela mão
até o carro, abrindo a porta e sentei no
banco de trás, ele veio logo atrás de
mim, seus olhos pareciam ter entendido
o recado que os meus passavam e veio
me beijando, espalhando seu corpo bem
definido sobre o meu, apesar do pouco
espaço.
Eu o empurrei levemente,
fazendo com que ele se sentasse,
coloquei uma perna de cada lado de seu
corpo e ele me ajudou a subir o vestido
enquanto beijava cada parte de seu
rosto, antes de chegar aos lábios, ele
tinha terminado de abrir os botões do
vestido, Joey era bom naquilo. Passou o
vestido pela minha cabeça e então
beijou meu pescoço enquanto fechava
meus olhos sentido o suave toque de
seus lábios.
Comecei a desabotoar sua calça
com certa impaciência e era aceitável
depois de ter ficado dois meses longe
dele. Ele que já tinha tirado o paletó
antes de sairmos do carro, desabotoou a
camisa e voltamos a nos beijar no meio
de percurso de retirá-la, não
conseguíamos parar de nos beijar, pois
nossa fome e vontade de estarmos juntos
cresciam conforme sentíamos a pele um
do outro.
Eu retirei meu sutiã e nos
livramos de sua calça, que causou
alguns acidentes durante o processo.
Quando bati minha cabeça no teto da
viatura, por exemplo. Claro que rimos
antes de voltar a nos beijar com a
mesma intensidade e voracidade de
antes.
Joey me deitou no banco da
viatura e passou sua mão contornando
cada parte do meu corpo e parou na
borda da minha calcinha, mordeu seu
lábio e então deslizou sua mão para
dentro dela fazendo-me gemer, enquanto
me acariciava intimamente. Ele
aproximou seu rosto do meu e mordeu
meu queixo, pescoço e distribuiu beijos
e carícias em meus seios. Quando
chegou perto da calcinha, ele parou e a
retirou, deixando-me completamente nua
e entregue a ele.
Ele retirou sua boxer e então
encaixou seu membro em minha entrada,
eu enrosquei minhas pernas na sua
cintura para que coubéssemos no banco
do carro, mas ainda assim não cabíamos
por completo e seria desconfortável se
não estivéssemos tão concentrados e
com tanta saudade um do outro.
Ele me olhava nos olhos quando
deslizou para dentro de mim,
preenchendo minha abertura úmida e
quente com seu membro. Eu curvei a
cabeça, que ele fez questão de me beijar
enquanto se movimentava dentro e fora
de mim.
Os movimentos foram ficando
cada vez mais intensos, mais fortes e
mais rápidos, ele deslizou uma de suas
mãos e enquanto me invadia começou a
acariciar meu clitóris. Não demorou
muito até que eu gemesse alto, cravei
minhas unhas em suas costas e o
arranhei de maneira forte enquanto ele
me seguia, soltando um resmungo e
retesando seu corpo antes de relaxar
sobre mim.
Ficamos abraçados durante um
tempo, apenas sentindo o calor do corpo
um do outro, sua cabeça estava sobre
meu seio esquerdo e ele sorriu e eu sorri
em resposta.
— Eu senti tanta falta disso.
— Do sexo? — perguntei.
— De tudo. Dessa intimidade
que temos um com outro, desse desejo
que carregamos dentro de nós — disse e
eu acariciei seus cabelos relaxada como
não me sentia há um bom tempo.
— E agora? Como se sente?
— Me sinto um péssimo
policial, mas o namorado e o homem
mais feliz do mundo. — Ele riu. — Mas
sabe, você queria algemas, me lembro
de algo assim.
— Acho que disse isso mesmo.
— Fingi estar pensativa e ele riu.
— Acho que tenho uma no meu
apartamento, sabe? Não tenho certeza.
— Sério, senhor tenente
Spencer? Vai me prender?
— Vou te prender na minha cama
e não te deixo sair de lá para nada.
— Então, já me declaro culpada
desde já! — disse rindo e ele beijou
meus lábios antes de recomeçar a me
acariciar. Eu já sabia aonde aquilo
terminaria e a ideia me agradou muito.
~*~
~*~
Na manhã de Natal, acordei bem
cedinho, sentindo-me um trapo por não
ter conseguido dormir muito na noite
anterior. Janet ligou para o meu celular
pouco depois que acordei e assim que
convidou a mim e Joey para almoçar
com ela, eu aceitei. Janet explicou que
Dominic tinha outro compromisso e que
não poderia estar com ela, o que a faria
passar o Natal sozinha e eu nunca
deixaria isso acontecer. Eu estava
terminando de ajeitar meu vestido
quando Joey se aproximou de mim,
abraçando-me por trás e dando um beijo
em meu pescoço, sorri
involuntariamente.
— Tem certeza de que quer ir
almoçar lá na casa de Janet?
— Tenho sim, meu amor —
respondi me virando e olhando em seus
olhos.
— Você está tão linda com essa
roupa.
— Foi presente de Natal do meu
namorado — disse, sorrindo e ele me
beijou.
— Esse seu namorado tem um
ótimo gosto.
— Concordo, afinal de contas
ele me escolheu como namorada. — Ele
riu e voltou a me beijar com intensidade.
Joey estava fazendo de tudo para
me animar depois do ocorrido na noite
anterior, era visível o esforço dele,
fazendo café para mim e levando na
cama. Acariciando-me por debaixo do
edredom, aliás essa parte foi muito
animadora.
Fomos para o apartamento de
Janet e assim que ela abriu a porta,
fomos surpreendidos por Dominic
sentado no sofá. Eu e Joey nos
entreolhamos e depois olhamos para
Janet. Eu tinha explicado a ela no
celular sobre o fato de não ter falado
com ele desde o dia da festa de
premiação e ela sabia de tudo.
— Querida, me desculpe. Ele
acabou de chegar, não tive como falar
que não. Se não quiserem ficar,
entenderei completamente. — Janet
tratou de se explicar rapidamente e eu
me preparava para arrumar uma
desculpa e ir embora, mas Joey foi mais
rápido do que eu.
— Sabe, acho que está tudo
certo. Seria bom também, afinal você
não se explicou com ele, talvez seja uma
boa hora para conversarem, não acha?
— Eu sorri desanimada. Será que a
gente não podia voltar para o
apartamento e ficar debaixo das
cobertas de novo?
— Claro. — Janet abriu a porta
e assim que Dominic nos viu se levantou
e foi até a cozinha, sem nem ao menos
nos cumprimentar. Olhei para Joey que
simplesmente beijou o topo da minha
cabeça.
— Sentem-se, fiquem à vontade.
Vou terminar de olhar as comidas —
disse simpática e me sentei ao lado de
Joey no sofá. Assim que ela desapareceu
para dentro da cozinha, virei-me para
Joey e dei um tapa em seu braço e ele
me olhou assustado.
— O que eu fiz? — perguntou.
— É óbvio que me fez entrar
para poder jogar na cara do Dominic
que está comigo de novo.
— Me declaro culpado, mas não
ligo. Preciso conversar com ele também.
— Joey colocou o celular em cima da
mesa de centro.
— Sobre o serial killer ser o do
jornal?
—Ally! Ninguém pode saber
disso! — falou comigo sussurrando.
— Tudo bem. Me desculpa —
respondi baixinho também e então
levamos um susto com a voz de Dominic
que conversava com a Janet na cozinha.
Virei-me para Joey. — Mas ele não é o
serial killer.
— Quem garante?
— Você quer dizer que está
desconfiando dele? — perguntei com um
sussurro desesperado e arregalando
meus olhos.
— Talvez.
— Espero que não estejam
falando de mim — Dominic disse rindo
ao voltar para sala e sentou no sofá a
nossa frente.
— Não! Era outra coisa —
respondi rapidamente e Joey riu da
minha mentira.
— Agora entendi porque Alice
saiu tão rapidamente da festa e me
deixou sem explicações — disse e eu
sorri meio sem-graça.
— Eu e Joey voltamos. Me
desculpe, queria ter explicado, mas
acabei ficando com vergonha.
— Eu entendo e não tem
problema, Ally. No fundo, sempre achei
que acabariam voltando.
— A comida já está pronta —
Janet disse ao entrar na sala. — Vamos?
Assentimos juntos e fomos para
a sala de jantar do apartamento. O clima
apesar do momento embaraçoso inicial
foi tranquilo e por algum tempo acabei
esquecendo de tudo o que tinha
acontecido na noite anterior.
Depois que comemos, ofereci-
me para lavar as louças e Janet me
ajudava, quando ela foi levar o lixo para
o coletor de lixo, fiquei sozinha na
cozinha cantarolando alguma música
aleatória e levei um susto quando
Dominic apareceu na cozinha dando um
grito só para me assustar mesmo. Levei
a mão ao peito e respirei
desregulamente até acalmar de novo, ele
ria enquanto pegava um copo de água na
geladeira.
— Que isso, Ally. Está
assustando muito fácil. — Eu fiz careta
para ele.
— Então, que pena que vocês
voltaram. Isso significa que não vou
poder te beijar mais — disse e bebeu
toda a sua água, eu continuei lavando as
vasilhas em silêncio. — Ou quem sabe
poderei?
Ele se aproximou de mim e
colou seu corpo no meu por trás e eu o
afastei de uma vez, virando-me num
rompante. Ele se assustou quando bateu
suas costas na quina da mesa.
— Dominic não me faça brigar
com você, sabe que gosto muito da
nossa amizade, mas voltei com Joey e
agora é muito sério. Sei que não fui
correta com você, mas de verdade não
quero que faça isso novamente. — Eu
estava assustada com aquela atitude
estranha dele e o fato do Joey ter
colocado a desconfiança sobre ele,
deixou-me mais apreensiva ainda.
— Me desculpe — disse
passando a mão nas costas, no lugar em
que tinha batido na mesa. — E a
investigação de Joey sobre o serial
killer?
— Não sei. Ele parece estar
progredindo, mas não fala muito sobre
isso para mim, diz que é perigoso.
— Ah, Ally. Até parece que ele
consegue esconder alguma coisa de
você. — Ele sorriu para mim com
aquele mesmo olhar fofo que me dava
com frequência.
Por um momento achei que era
bobeira de Joey não falar com Dominic,
porque ele obviamente não era o serial
killer, com aquela boa pinta, com todo o
dinheiro que tinha e toda a fama. Não
poderia ser ele. Ou era o que eu pelo
menos acreditava.
— Certo, ele parece ter
descoberto que há envolvimento do
jornal "The Golden News".
— O jornal onde eu trabalho? —
Ele pareceu alarmado.
— Sim, mas por favor não conta
para ninguém, ok? — Ele concordou e
quando fui pegar uma vasilha com molho
em cima da mesa acabei derrubando na
camisa dele. Joey chegou na mesma hora
e começou a rir.
— Mas como você é desastrada,
Ally — Joey disse rindo.
— Me desculpa, Dominic — eu
falei sentindo culpada.
— Não tem problema. —
Dominic disse tentando se limpar, mas
fez uma bagunça ainda maior. — Tenho
outras camisas aqui — disse abrindo a
camisa e deixando os músculos de seu
abdômen à mostra, descendo mais um
pouco dava para ver a tatuagem de um
sol egípcio saindo do cós de sua calça.
Eu tinha visto a outra metade, apesar de
não termos feito sexo.
Assim que ele saiu da cozinha,
Joey desatou a rir do coitado e eu acabei
rindo um pouco. Ele até mereceu por
tentar me agarrar, se eu contasse para
Joey, ele acabaria com a raça de
Dominic.
— Ally, querida. Não precisa
terminar, deixa que eu limpo o resto —
Janet disse entrando na cozinha — Joey
me disse que precisa resolver algumas
coisas em casa.
— Mas faço questão, Janet.
— Ah, minha linda. Sei que você
não está bem, vejo pelo seu olhar e só
de ter vindo aqui hoje, me fez um favor
enorme. Obrigada!
— Nós que agradecemos —
Joey disse e então a abracei.
Logo depois ela preparou uma
vasilha com algumas comidas para
comermos mais tarde e quando nos
despedíamos dela na porta do
apartamento, Dominic reapareceu
parecendo agitado.
— Já estão indo? — ele
perguntou e assenti.
— Sim, foi bom te ver — disse
tentando amenizar toda a situação.
— Foi bom ver vocês também
— Dominic respondeu antes que
saíssemos do apartamento e fôssemos de
volta para o apartamento de Joey.
Assim que chegamos lá, fomos
recebidos por James que veio nos
desejar Feliz Natal.
— O que fizeram com você? —
Joey perguntou confuso. — Agindo
assim todo carinhoso.
— Não sei, acordei assim hoje.
— Joey, você contou para ele
sobre eu ficar aqui? — Eu perguntei e
Joey negou com a cabeça.
— Você diz o fato de seu pai ter
te expulsado de casa? — James
perguntou e olhamos para ele sem
entender como ele já sabia.
— Quem te contou? — perguntei
e ele sorriu.
— Sua irmã. A gente tomou um
sorvete com a Sophie agora de tarde e
ela me contou o que houve. Sinto muito e
se está preocupada com o que vou achar
sobre você ficar aqui, saiba que não
tenho nada contra. — Ele piscou para
mim. — Você já praticamente morava
aqui antes, agora é só a coisa
oficializando mesmo.
— Você só está sendo legal,
porque quer a minha irmã — eu disse
rindo e ele negou com a cabeça.
— Que isso? Jamais faria algo
assim por interesse.
— Jura? Quer que eu numere as
vezes que fez isso? — Joey disse rindo
e James mostrou o dedo do meio para
ele. — Muito maduro da sua parte, hein?
Vai querer se tornar o pai de Sophie
fazendo esse tipo de coisa? — Joey
falou enquanto James ia para a cozinha.
— Amor? Preciso ir lá em casa,
minha mãe pediu que eu fosse lá mais ou
menos por esse horário porque meu pai
não estaria lá. Preciso pegar minhas
coisas que deixei para trás também.
— Logo agora? Eu tinha umas
ideias preparadas para nós, tinha certeza
que você ia amar — disse me puxando e
dando um beijo cheio de segundas
intenções.
— Jura? — Eu acariciei seu
abdômen por cima da blusa e ele
assentiu. — Então me espera ligar para
minha mãe? Preciso desmarcar com ela.
Liguei para minha mãe
explicando que não daria para ir, ela
falou que não daria porque meu pai não
tinha saído de casa o dia todo e tinha
ficado dentro do quarto assistindo filmes
de ação, nem ao menos conversou com
ela.
Eu tinha oficialmente estragado o
Natal de todo mundo.
— Mas você vem amanhã? —
ela me perguntou com a voz embargada.
— Claro, amanhã vou a casa do
Ed e passo por aí logo depois.
— Amanhã ele vai trabalhar e
não corre o risco de se encontrarem,
mas você sabe que não tem problema,
não é? Ele não vai te mandar sair da
casa se te ver aqui.
— Sou eu quem não quero
encontrar com ele — respondi. — Eu
ainda estou meio magoada e Joey nem
ao menos falou sobre tudo que aconteceu
sobre o pai dele, parece estar mais
magoado do que eu.
— Eu entendo, filha. De
qualquer maneira espero você aqui
amanhã, então.
—Combinado. Te amo, mãe.
— Também amo você, querida.
Desligamos em seguida e eu fui
para o quarto de Joey que estava sentado
na cama e tinha uma pasta na mão, que
folheava atento, eu me aproximei e o
abracei.
— Você quer me contar o que
aconteceu? Não me explicou aquilo
tudo.
— Sobre meu pai estar vivo e
não fazer questão de me ver? —
perguntou em tom amargo.
— Exatamente. Sei que não gosta
de falar sobre essas coisas, mas nesse
caso é mais do que preciso um desabafo
com alguém próximo. — Ele segurou
minha mão pendurada em seu ombro.
— Eu abri essa pasta alguns dias
atrás e encontrei um documento secreto
do FBI.
— É a pasta do Scott?
— Isso. Nem sei como ele
conseguiu isso, mas ele deve ter
subornado alguém.
— Com certeza não foi de forma
lícita.
— Então, eu li um documento
que falava que meu pai tinha sido morto
pelo seu pai, mas ele não teve a
intenção, aquilo já me assustou. Já era
um baque enorme descobrir aquilo, mas
o pior foi depois quando encontrei outro
documento e nesse era uma investigação
que estava sendo aberta para a
exumação do corpo enterrado.
— Mas para fazer esse tipo de
coisa, precisa da sua autorização, você é
o filho.
— Não se o caso é sigiloso do
FBI, eles não precisam de nada disso.
Eles fazem e pronto. — Ele retirou duas
folhas de dentro da pasta e me entregou.
— Eu fiquei tentando achar mais alguma
coisa sobre o assunto, mas parece que
não tem mais nada.
Eu li atentamente e era quase
inacreditável que aquilo fosse verdade,
mas ali diante de mim tinha uma prova
assinada e timbrada por um dos chefões
do FBI. Aquilo era mais sério do que
pensava.
— É muito louco isso — falei
devolvendo os papéis para ele.
— Demais. Agora entende
porque fiquei tão revoltado? —
perguntou.
— Claro que entendo! Ficaria
também e mesmo sendo meu pai, acho
um absurdo o que ele fez com você.
— Escuta — Joey me chamou e
eu o olhei. — Vamos simplesmente
parar de falar disso?
— E o que tem em mente para
fazermos então?
— Quer tomar um banho gostoso
comigo? — perguntou malicioso e
concordei.
Ele não falou mais nada, apenas
me pegou pela cintura e me enrosquei
nele, que se levantou e me carregou até
o banheiro. Assim que ele fechou a porta
atrás de mim, cobriu a minha boca com
um beijo intenso.
Ele se afastou e retirou meu
vestido calmamente, fazendo-me morrer
de antecipação e desejo. Depois virei e
enquanto ele retirava sua camisa, eu
abria sua calça, ajudando-o a livrar-se
dela e da boxer que ele usava.
Ele fez o mesmo comigo, tirou
meu sutiã e acariciou meus seios com a
língua antes de descer os beijos pela
minha barriga, ele parou diante da minha
calcinha e deu um beijo por cima dela,
senti minha entrada se contrair de
desejo. Ele abaixou minha lingerie
lentamente, olhando-me como se fosse
me devorar e eu esperava que ele
fizesse isso.
Ele passou um dedo entre os
lábios úmidos da minha intimidade, abri
um pouco as pernas instintivamente e ele
então substituiu o dedo pela sua língua,
fazendo-me gemer e jogar a cabeça para
trás. Ele me empurrou para a parede,
levantou uma das minhas pernas e
colocou em cima de seu ombro para que
pudesse facilitar suas carícias. Quando
comecei a rebolar e gemer cada vez com
mais frequência, ele se levantou e me
puxou para debaixo do chuveiro quente
com ele.
Nossos corpos molhados
roçavam um no outro e eu já o queria
dentro de mim com urgência. Ele beijou
meu pescoço antes de me virar e
colocar-me contra a parede, Joey
arranhou minhas costas e se aproximou
do meu ouvido.
— Porque tem que ser assim tão
gostosa? Não aguento muito tempo sem
estar dentro de você, pequena — Ele
falou arfando e eu senti um desejo
imensurável, eu o queria dentro de mim
sem demora, empinei minha bunda em
sua direção e ele entendeu meu recado
passando seus braços sobre minha
cintura e me penetrou com certa força,
eu soltei um gemido.
Ele me penetrava com
intensidade, fechei meus olhos e tentei
não gemer muito alto apesar do prazer
que sentia a cada estocada de Joey
dentro de mim. Eu não duraria muito
tempo e fiquei mais louca ainda quando
ele começou a acariciar meu clitóris,
joguei minha cabeça para trás e a
encostei no ombro de Joey, que arfava
em meu ouvido.
Ele mordeu a minha orelha e
então soltei um gemido alto e nem
importei se James me ouviria, a única
coisa que queria era sentir o prazer que
tomava conta de todo meu corpo,
tirando-me de órbita enquanto me
desfazia em um orgasmo delicioso.
Curvei meu corpo para frente, de
forma que o acesso dele ficasse melhor
e então Joey acelerou o ritmo enquanto
eu virava a cabeça e o olhava com uma
feição de desejo intenso.
— Goza para mim, Joey — pedi
em súplica, ele atendeu meu pedido
derramando-se dentro de mim enquanto
uma sensação deliciosa tomava conta de
meu corpo, abraçando-me por trás e
dando vários beijos em meu pescoço e
ombros antes de sair de dentro de mim
por completo.
~*~
~*~
~*~
~*~
~*~
~*~
Joey
Cheguei com Alice no aeroporto
com quarenta minutos de atraso, nosso
voo já tinha saído e eu não ligava a
mínima para isso, porque o motivo do
nosso atraso era que porque estávamos
aproveitando cada segundo um ao lado
do outro.
Enquanto Ally me bombardeava
com perguntas sobre como seria na
Itália, eu tentava acalmá-la o melhor que
podia, tentava passar para ela que seria
tudo tranquilo, mas a verdade é que não
poderia afirmar isso ao certo, não
depois de ter descoberto sobre meu pai
comandar uma máfia por lá e em outros
países também, além de estar envolvido
com atentados contra políticos.
Eu não tinha contado para Ally
sobre isso e nem sobre o fato de ter sido
recrutado oficialmente pelo FBI, ela
surtaria com certeza. Aliás, aquele era
um segredo quem nem o pai dela
saberia, só Ally. Para ele, pedi licença
do trabalho por um ano.
Depois desse um ano, arrumaria
uma nova desculpa ou simplesmente
deixaria o cargo. O fato era que não
confiava nele mais, não depois dele ter
escondido aquilo de mim durante tanto
tempo, no fundo eu sentia como se ele
estivesse guardando informações
importantes. Eu seria eternamente
agradecido a ele, mas não significava
que voltaria a ser seu amigo.
O primeiro caso oferecido para
mim era exatamente encontrar meu pai,
eu quase recusei, mas eles insistiram
dizendo que o fato de ser meu pai me
faria buscá-lo com mais afinco, já eu
temia pelo momento de encontrá-lo. Não
saberia como reagiria, só tinha certeza
de que independente de ser meu pai, eu
agiria conforme a lei.
— Amor, vou ao banheiro
rapidinho ajeitar meus cabelos. — Ally
falou e eu neguei com a cabeça.
— Não precisa, a gente vai ficar
na sala especial. Lá tem banheiro e você
pode tomar banho, fazer o que quiser até
a hora do nosso voo.
"Regalias de ter me tornado um
agente", pensei.
— Como assim? — ela
perguntou sem entender muito e só me
seguiu até entramos em uma sala
privativa, composta por dois sofás
brancos, televisão, geladeira e o
banheiro.
— Agente Spencer, seja bem-
vindo. — Agente Calders estendeu sua
mão e me cumprimentou e logo depois
se virou para Ally. — Senhorita
Hastings.
— Oi. — ela respondeu sem
entender e se virou para mim. — Então,
não tenho nenhuma roupa para vestir
depois do banho.
— A senhorita pode ficar
tranquila, já providenciamos um par de
roupas e está no banheiro. — Calders
disse e ela assentiu, depositou um beijo
em meu rosto e agradeceu antes de
entrar para o banheiro.
Uma das condições minhas para
que fosse para a Itália, era que Ally
fosse comigo. Sem ela, sem chance.
Calders já sabia como eu era e acabou
intercedendo por mim e acabaram
liberando.
— Sabe que é um risco iminente
carregá-la com você. — Agente Calders
falou e eu aquiesci.
— Eu deveria falar com ela.
— Não contou ainda? Acho que
não deveria fazer as coisas desse jeito.
— Eu vou contar depois que ela
tomar o banho.
— Devia convencê-la a fazer o
treinamento de defesa, pelo menos —
ele falou e eu só podia concordar. Já
tinha feito minha pequena passar por
situações de perigo extremas e não
queria aquilo novamente. — Aliás, você
é uma ótima pessoa para treiná-la,
passou em todos os testes sem nem ao
menos fazer o treinamento de 21
semanas e com o braço enfaixado.
— Não foi tão difícil assim.
— Porque não viu meu teste —
ele falou rindo e eu ri.
— Você? Por essa não esperava
— respondi e então bateram na porta.
Assim que abri, um oficial da
aeronáutica entrou e avisou que nosso
voo tinha sido remarcado e em menos de
trinta minutos estaríamos no avião.
Agente Calders me passou as
últimas instruções e desejou boa sorte
antes de sair da sala privativa, sentei em
um dos sofás e passei as mãos pela
nuca, preparando-me para contar sobre
o FBI para Ally. Já imaginava a feição
dela quando descobrisse.
— Demorei muito? — perguntou
saindo do banheiro, sorridente. Seus
cabelos molhados e despenteados, sorri
diante daquela visão tão simples e tão
magnífica ao mesmo tempo.
— Vem cá. — Eu bati duas vezes
no sofá e ela veio correndo, sentou e a
virei de costas, peguei a escova de suas
mãos. — Não sei se gosta, mas ouvi
dizer que pentear cabelos relaxa. —
Comecei a passar a escova de leve e ela
suspirou de deleite.
— Eu adoro isso. — Ela se
remexeu no sofá e seus olhos se
fecharam enquanto passava a escova.
— Você adora o fato de que seja
um policial, certo? — perguntei.
— Sim, você sabe que acho essa
profissão incrível, só não optei por ela
porque meu pai nunca deixaria, mas
posso saber o motivo da pergunta? —
indagou com a voz meio mole.
— E se eu te contar que me
tornei um agente do FBI? — perguntei
sem pensar duas vezes e ela se virou
para mim de repente. — O que você
acharia?
— Isso é sério? — confirmei. —
Puta que pariu! É oficial isso?
— É sim, eles me encarregaram
de uma investigação muito séria. Depois
de ter tido sucesso na caçada ao serial
killer, eles querem que eu assuma a
liderança de outros agentes.
— Por isso quer ir para a Itália?
— Ela perguntou e eu assenti.
— Eles têm interesse de que eu
pegue o suspeito porque dizem que as
minhas chances de conseguir descobrir
seu paradeiro são maiores do que a dos
outros agentes.
— E quem é o suspeito? — ela
inqueriu e bateu a mão na testa. — Claro
que não vai me contar. É secreto, né? —
Eu poderia quebrar meu juramento ali e
contar, mas era melhor que ela não
soubesse de nada, pelo menos por
enquanto.
— Então, você está tranquila
quanto a isso?
— Quantas vezes terei que dizer
que estou do seu lado não importam as
circunstâncias? — Ela me abraçou e deu
um beijo rápido em meus lábios.
— Sabe, você é a melhor coisa
que me aconteceu. Já devo ter te dito
isso antes, mas nunca é demais lembrar.
— Nunca é demais mesmo, eu
adoro ouvir suas declarações. — Ela
sorriu e quando ia me beijar novamente,
fomos interrompidos por batidas na
porta, assim que ela foi aberta Cecília e
Edward entraram. Cecília correu até
Alice e a abraçou. Eu me levantei e fui
até Ed, que me olhava sério.
— Se você machucar a Alice, eu
mando matar você e nem me importo
com o fato de você ser uma autoridade
— disse e estendeu a mão para mim com
um sorriso enviesado nos lábios.
— Fica tranquilo, a partir de
agora nada de ruim vai acontecer.
Infelizmente aquilo não era uma
promessa, mas varri aquele pensamento
para um canto escuro da minha mente.
Estendi a mão e o cumprimentei.
— Como vocês souberam que eu
estava aqui? — Ally perguntou animada.
— Eu avisei a eles e pedi sigilo
— contei e ela disse um "obrigada"
enquanto Lili a enchia de novidades
sobre a tia dela.
— Quanto a Dominic... — Ed me
puxou para um canto mais distante das
garotas. — ...alguma novidade?
— Só sei que ele foi preso, mas
acredito que ele não escapa da sentença
de morte. — Eu falei e ele concordou
com a cabeça.
— Já sabe que se precisar de
qualquer coisa que pode contar comigo.
Sei que tivemos algumas divergências
no passado, mas mudei bastante.
— Eu percebi, aliás, cuide bem
da Lili. Ela é quase uma irmã para Ally
e eu te mataria sem hesitar, se a
magoasse.
— Ameaça trocada e entendida
— Ed brincou e nós rimos.
— Posso saber do que os
rapazes estão falando? — Ally
perguntou se aproximando da gente.
— Nada demais — Ed disse e
Lili o abraçou sorrindo. A porta se abriu
novamente e o oficial da aeronáutica
entrou na sala avisando que estava tudo
pronto para irmos.
Despedimo-nos rapidamente,
Ally deixou algumas lágrimas caírem
antes que seguíssemos para o embarque,
olhou em volta, acenou para Ed e Lili,
aliás, Cecília chorava copiosamente
enquanto afundava o rosto no peito de
Ed.
Eu caminhava com a certeza do
que aconteceria dali para frente e ao
mesmo tempo não sabia nada. Tão
confuso e contraditório. Só sabia que
daquele momento em diante, não
seríamos mais "eu e ela", mas sim "nós".
Como um só.
Minha única missão era amar,
cuidar e fazê-la feliz. Eu não via a hora
de começar a fazer Alice feliz para o
resto de nossas vidas.
Capítulo 30
Estar em um novo país era
sempre algo muito incrível.
Não era minha primeira vez fora
do meu país, mas era primeira vez que
visitava a Itália. Estar em Veneza com
Joey, era mais do que qualquer pedido
que havia feito em minha vida inteira.
Foi Verona que inspirou William
Shakespeare a escrever "Romeu e
Julieta", uma das mais famosas histórias
de amor do mundo inteiro, mas é Veneza
que as pessoas chamam de "a cidade do
amor" e eu só podia concordar.
Fazia uma semana que tínhamos
chegado na cidade e enquanto Joey não
começava efetivamente sua
investigação, nós aproveitávamos cada
minuto juntos. Passávamos o tempo todo
explorando cheiros, sabores, toques e
quando falo isso, não me refiro apenas à
cultura local. Havia muito para
explorarmos em nosso quarto de hotel
também, se é que entendem o que quero
dizer.
Mais cedo naquele dia, havia
recebido a ligação da minha mãe e Hill,
aliás, desde que havia chegado, elas
ligavam todos os dias para saberem
como eu estava e se estava tudo bem. O
que me espantou, ou talvez nem tanto
assim, foi quando Hill contou que James
e ela estavam engatando um namoro
mais sério. Adorei a novidade, afinal de
tudo, minha doce irmã teria alguém
decente em sua vida. Minha mãe insistia
para que eu me matriculasse em alguma
escola o mais rápido possível.
O que não contei para minha mãe
é que não sabia se ficaria na Itália por
muito tempo e que por algum motivo,
achava que meu passeio por ali estava
acabando.
Quanto aos meus melhores
amigos, Ed e Lili faziam planos de
viajarem para nos ver assim que tia
Olívia recebesse alta do tratamento que
fazia, então Lili poderia enfim se dar ao
luxo de descansar.
— Ally, quer ir dar aquele
passeio agora? — Joey apareceu no
quarto e me perguntou sorridente.
— Só se for agora mesmo. —
Levantei-me da cama em um pulo e me
joguei nos braços dele que estavam
abertos para meu abraço apertado.
— Se começar a me agarrar
desse jeito, não vamos a lugar nenhum.
Então, se arrume e eu te espero lá
embaixo. — Ele me deu um beijo
demorado antes de me deixar sozinha.
Tomei um banho e vesti um vestido leve
e confortável.
Assim que cheguei ao saguão,
Joey me recebeu com um beijo
demorado nos lábios e então seguimos
caminhando pelas vielas estreitas de
Veneza até chegarmos a uma cafeteria. A
vista era maravilhosa, e mesmo que eu
morasse ali, nunca me cansaria de vê-la.
Chegamos ao Caffè Quadri, e eu fiz meu
pedido usual, cappuccino com leite de
amêndoas. Aquele tinha virado meu
vício desde que provei pela primeira
vez exatamente uma semana antes.
— Então, onde vamos hoje?
— Quero fazer todos os
programas de turista, sabe? Você disse
que talvez tenhamos que ir embora em
breve e eu quero ter certeza de que
aproveitei cada segundo da cidade fora
do nosso quarto também — disse e ele
riu acariciando meus cabelos.
— Vamos caminhar pelas vielas,
pontes, passeio de gôndola a gente
assiste o pôr do sol de algum lugar bem
legal, depois a gente se troca e jantamos
em um restaurante que eu já reservei
para nós.
— Caramba, você preparou um
itinerário, senhor guia oficial de
viagens. — Eu ri e ele sacudiu a
cabeça.
— E aliás, quero te levar
naquela loja de máscaras venezianas.
Você disse que queria comprar uma para
você.
— E uma para minha mãe. Ela é
louca por aquelas máscaras — disse
lembrando com um pequeno aperto do
coração. Minha feição deve ter mudado
um pouco, pois Joey segurou minha mão
e eu o olhei.
— Me preocupo que esteja longe
da sua família, você parece sentir muito
a falta deles e só tem uma semana que
está longe. — Joey disse consternado.
— Imagino como estará daqui a algum
tempo.
— Joey. — Eu acariciei sua mão
docemente. — Eu tenho você e isso é
tudo que eu preciso.
Ele sorriu tímido e ao mesmo
tempo parecia querer me agarrar, um
jeito que só ele conseguia fazer. Deu um
beijo em seus lábios antes que ele
passasse o braços sobre meus ombros.
Ficamos em silêncio tomando nosso café
da manhã e contemplando a beleza
criada por Deus.
Passamos o dia inteiro
passeando pela cidade, observando a
arquitetura, provando das comidas e
conhecendo pessoas diferentes.
Eu estava encantada com tudo.
Joey me levou até uma loja chamada
Peter Pan e comprei as máscaras, uma
delas seria enviada para minha mãe.
Quando a tarde caía e a noite se
aproximava, Joey me convidou para um
passeio de gôndola, algo que não tinha
feito ainda. Um gondoleiro gentilmente
se ofereceu para me ajudar a entrar na
embarcação que descobri ser tão cara
quanto um carro de luxo e o motivo era
que as gôndolas eram feitas à mão por
artesãos locais.
Joey me puxou para perto,
estávamos sentados lado a lado, seus
braços em volta do meu pescoço e então
o homem que acompanhava o
gondoleiro, começou a cantar. Demorei
alguns segundos até perceber que era
uma serenata e que ela estava sendo
feita para mim.
Parecia ser só um cara tocando
um acordeão, mas de repente uma
gôndola se aproximou da nossa e um
violinista começou a acompanhar, logo
depois um casal começou a fazer um
lindo dueto. Meu coração estava
disparado enquanto minha feição ficava
cada vez mais surpresa, cada pedacinho
do meu corpo estava acelerado diante
daquela atitude surpreendente do meu
namorado.
Joey ria, provavelmente da
minha expressão de espanto e logo
depois fui tomada por uma felicidade
inexplicável, dei vários beijos em seu
rosto, seu pescoço, seus lábios.
Enquanto passávamos pelas ruas,
que na verdade eram canais, as pessoas
apareciam em suas sacadas, batiam
palmas e expressavam uma alegria que
eu também sentia, elas compartilhavam
comigo uma alegria que me invadia
completamente.
Quando o passeio acabou, quis
voltar e ter tudo de novo, mas Joey tinha
algo a mais planejado para mim, toda
aquela serenata havia sido parte de um
plano. Não era só a serenata e eu só me
dei conta quando estávamos à beira do
grande canal e Joey se ajoelhou diante
de mim.
— Eu estou correndo um risco
muito grande aqui de ser rejeitado. —
Ele riu de nervosismo e estendeu a sua
mão, segurando uma das minhas, a minha
outra mão levei até meus lábios. Como
se aquilo fosse conter toda minha
emoção. — Mas farei porque realmente
vale a pena. Estar com você vale a pena.
Eu te conheci há muitos anos, muitos
mesmo e nunca imaginei em minha vida
toda que hoje estaria aqui nesse lugar
maravilhoso, prestes a fazer o pedido
mais importante da minha vida. — A
essa altura, as pessoas começavam a
prestar a atenção em nós, nos tornamos
atração turística em questão de
segundos. — Eu sei que já passei por
mais coisas na vida do que você e que
alguns nos olham torto por termos uma
diferença de idade tão grande, mas eu
nunca importei e isso porque eu sei que
por ser mais jovem, poderei acompanhar
todas as suas conquistas e vitórias de
perto, poderei te ajudar quando precisar,
quando a vida tentar te derrubar eu vou
estar sempre ao seu lado para te ajudar e
espero que esteja comigo também. Até o
fim. Você sabe que ficaremos juntos para
sempre e mesmo tendo medo do que
estou prestes a fazer, sabe que iríamos
acabar chegando até esse momento. Ele
não significa que precisamos resolver
tudo para ontem, é só a afirmação
simbólica do que teremos em algum
momento do futuro. — Ele enxugou uma
lágrima que escapou e deu um riso sem-
graça em seguida, eu só sabia sorrir e
concordar diante da linda declaração
que ele fazia. — Mas para que isso
aconteça em algum momento do futuro,
eu preciso fazer isso. — Ele enfiou a
mão dentro do bolso, retirou uma
caixinha azul turquesa e estendeu na
minha frente, ele a abriu diante dos meus
olhos ávidos e curiosos. — Alice, você
aceita se casar comigo?
— É claro que sim! — Eu falei
com a voz embargada pelo choro
embolado na garganta. Ele levantou e eu
pulei em seus braços firmes que me
rodopiaram no ar antes que ele me
colocasse novamente no chão. — Como
ainda pôde achar que te rejeitaria?
— Depois de ter me dito que é
muito nova para casar.
— Mas não para noivar. De
qualquer forma, andei pensando e o que
teremos será basicamente uma vida de
casados. — Eu comentei e ele assentiu.
— Exatamente, pequena!
— Precisamos comemorar — eu
falei animada.
— Sim, vamos para o hotel —
Joey completou rapidamente e eu dei um
tapa em seu ombro.
— Tarado! — falei rindo
enquanto ele passava o braço em minha
cintura e depositava um beijo em meu
pescoço.
— Eu não disse que era para
nada de safadeza! Você que tirou
conclusões precipitadas. Só queria que
tomássemos um banho antes de irmos
para o nosso jantar. Mas acho que há
espaço para um pouco dessa safadeza
toda no nosso banho — disse baixinho
em meu ouvido, o que causou arrepios
em mim.
— Sabe que acho essa ideia
maravilhosa? — comentei em tom
sedutor antes que iniciássemos outra
sessão de beijos.
~*~