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MURILO
— Eu vi, hein? — Christian ri em tom debochado enquanto
andamos em direção ao carro.
— Viu o quê? — Me faço de desentendido, mas meu sorriso
entrega.
— Você secando a mulher. Achei que fosse comê-la ali
mesmo, por conta dos olhares que você estava lançando.
— Achei ela bonita pra cacete! — Coço minha barba. —
Pego muito!
Bonita é eufemismo! Pense em uma morena alta, pinta de
modelo da porra, com um vestido todo arrumado no corpo
destacando a cintura e os seios, usando um batom vermelho, o
cabelo solto medindo quase no meio das costas. Aposto que é bom
pra segurar. É de deixar qualquer pau duro a visão daquela mulher
sempre atenta às falas das pessoas. Sem contar que, ao se
levantar, ela é melhor ainda. Saltos altos deixando a bunda
empinadinha, mas ficaria ainda mais linda sentada no meu colo.
Eu quase ia dar meu telefone a ela, mas não deu tempo,
infelizmente, e não sei se seria antiético, ela poderia ficar ofendida.
Também não sei se é comprometida. Não estávamos com tempo
pra bater um papo. Pela beleza que tem, com certeza é
comprometida, mas quando fui dar um beijo na mão dela percebi
que não havia nenhum anel. Ou ela é solteira ou o cara é um idiota
em não marcar território com uma morena gostosa do seu lado.
Caso seja solteira, vou dar um jeito de passar um tempo
com ela, se ela quiser, e a marcarei onde quiser, pescoço, seios,
barriga, cintura e na...
— Ainda tem convite da festa disponível? — questiono
interessado.
Se ela for no desfile, tento saber mais sobre ela, pois amaria
dar uns beijos naquela boca e, quem sabe, em outras partes do
corpo.
— Você tá muito putão depois que ficou solteiro. — Ele ri em
tom de escárnio e dou de ombros.
Fazer o quê? Estou solteiro, então aproveito minha
solteirice. Faz mais ou menos dois meses que fiquei sozinho na
pista, por isso não quero me apegar a ninguém por enquanto. Quero
desintoxicar de Camila que decidiu terminar comigo porque estava
gostando de outro. Minha vibe é essa ultimamente. Estou bem do
jeito estou, solteiro e sozinho.
Chego em casa na hora que eu quero, posso andar pelado
ou de cueca, assistir coisas inapropriadas na sala, largar minhas
roupas espalhadas e voltar pra pegar quando bem entender, levar
quem eu quiser pra casa e não preciso dar satisfação a ninguém.
Faço as coisas como e com quem eu quiser! Porém, se acontecer
alguma coisa não vou lutar contra, não. Sou um cara que quando
gosta de alguém, mostra interesse e foda-se, deixo rolar pra ver
onde vai dar. Eu me entrego às minhas aventuras.
— E não distribuímos todos ainda não. — Ele me tira dos
devaneios, destravando o carro.
— Ótimo! Vou mandar pro setor dela. — Coloco meus
óculos escuros no rosto.
Seguimos em direção à Volúpia, para trabalharmos. Tem
coleção nova chegando, muitos trabalhos!
Sou do setor comercial, trabalho junto com esse filho da
mãe aqui do meu lado, no banco do motorista. Somos responsáveis
por atrair clientes e fidelizar os antigos. Além de chamarmos a
atenção do pessoal, compradores, ainda traçamos estratégias para
os novos patrocinadores e sócios sentirem que devem investir. No
português clássico: trazemos dinheiro! E a sacada genial das peças
publicitárias em abranger toda a mulherada foi foda!
Eu sou gerente de marketing, mas ambiciono ser gerente
comercial interno. Quem sabe, futuro acionista e diretor comercial
nessa empresa que está começando a bombar, apesar de ser uma
marca considerada nova no mercado, mas que atrai clientes como
“formigas no açúcar”, depois desse reposicionamento e mudança de
diretoria. Já falei sobre a vontade de abraçar esse projeto, estou
gostando de como as coisas estão sendo encaminhadas.
Vou fazer acontecer essa subida de cargo! Estou de olho na
bolsa de valores desde já.
Estou muito ansioso por esse desfile de lançamento,
conseguimos trazer uma cantora meio famosinha pra cantar e isso
tá gerando uma atração gostosa. Mas não é por isso que quero que
o evento chegue logo. Ela que me espere. Se ela for, vou querer
beijá-la e ver se aquela boquinha é tão gostosa quanto parece ser.
ALEXIA
Em pleno sábado eu estou indo trabalhar. É judiar demais
de uma pessoa! Mas é por causa do projeto, sem contar que
demorei a ter a ideia, consequentemente deu uma atrasada. Pelo
menos tive uma boa notícia, meu setor ganhou convites da Volúpia.
Ganhar mimos é tão bom! Muito atenciosos!
O bom de trabalhar com publicidade é que, quando os
clientes são amáveis e gostam muito do trabalho, costumam deixar
uns agradinhos, e os abonos que ficam pra nós são maravilhosos.
Mantenho a concentração no trabalho. Logo meu celular
apita, me tirando a concentração, e vejo que é a Liz perguntando se
estamos liberadas. Subo meus olhos para ver a Nat mordendo a
tampa da caneta, com cara de entediada enquanto fita o monitor.
Respondo que sim e ela avisa que vem pra cá.
Pouco depois, terminamos e descemos, encontrando a Liz
no hall de entrada. Cumprimento-a e seguimos rapidamente em
direção ao meu carro, já que dei carona a elas hoje.
— Liz, te contei que a nossa amiguinha aqui, ontem, foi alvo
de olhares gulosos de um dos clientes?
Natasha comenta como quem não quer nada, checando as
próprias unhas e me olhando logo em seguida com um sorriso
debochado.
— Como assim? — Lizandra questiona recostada no carro,
colocando seus cabelos loiros como os da irmã, porém curtos, pra
atrás da orelha enquanto me olha com interesse.
— Precisava ver, ele acompanhando-a com o olhar
enquanto a sonsa aqui vinha na minha direção no final da reunião,
sem contar que na hora de ir embora ela fez questão de dar uma
última olhada.
Natasha sorri venenosa, como sempre, e reviro os olhos
enquanto Liz me olha com uma sobrancelha arqueada. Nat não
deixa passar nada, é incrível isso.
— Natasha tá inventando. Tem homem nenhum —
esclareço, pois não houve nada demais.
— Olha pra isso. Se não fosse a Nat nunca que eu iria saber
disso.
Liz olha pra mim indignada e em seguida dá um sorriso igual
ao da irmã. Elas não prestam.
— Não foi nada de mais, Liz. Nat vê coisas.
Tento amenizar o alarde da Natasha. Destranco o carro
entrando no lado do motorista, mas antes de sairmos Liz faz graça,
desenterrando o assunto.
— E é homão?
Assim que fala, começa a rir em tom de escárnio junto com
a Natasha. Reviro os olhos prendendo o riso pra não dar mais
assunto. Estou feita com essas amigas!
— Liz, o homem era um gato! Quase tirei uma foto, mas não
consegui, infelizmente.
— Vocês são podres! Parem!
— Você tá precisando transar urgente. E uma foda
daquelas…
Lizandra debocha olhando pra minha cara, e olho pra ela
rapidamente enquanto tiro o carro da vaga.
— E vai ter um longo trabalho pela frente, pelo jeito.
Malcomida, tadinha. — Nat debocha também e vira pra irmã pra
rirem juntas da minha cara. Não resisto e acabo rindo também.
— E o desfile, você vai como? — Liz pergunta interessada
depois de Natasha ter comentado sobre os convites. Ela é assim,
trabalhada nas informações.
— Eu não vou, não — respondo distraída no trânsito.
— Vai sim!
— Só sei que vou e vou lindíssima. — Nat, sempre Nat. —
Aposto que o homem te quer lá. — Faz um olhar malicioso pra mim
pelo retrovisor e reviro os olhos.
— Eu não tenho roupa pra essas festas chiques. — Uma
desculpa que não deixa de ser verdade.
— Não seja por isso, nós vamos ao shopping. — Lizandra
dá dois tapinhas no meu ombro, como se dissesse “essa desculpa
não cola.” — O que vai perder, além de um homem bonito, se você
for?
— Vamos, sis. Só vou se você for e quero muito ir! —
Natasha faz cara de cachorrinho.
— Argh! Eu odeio vocês!
Eu me rendo, pois não vai adiantar discutir mesmo e Nat
sempre joga baixo.
— Preparada pra ficar linda e para encantar o homão da
Volúpia? — Elas não sossegam.
— Vão se foder!
— Bem que eu queria transar. — Nat ri e eu acompanho.
Dou meia-volta na primeira rotatória que encontro e sigo
com elas para o shopping. Estou ferrada, mas pelo menos, com
essa ida ao shopping, vou poder fazer uma coisa que eu queria
muito e Diego não aprovava: cortar meus cabelos!
Primeiro, passamos para comer, pois estávamos famintas.
Mas o dia que era para ser leve muda drasticamente, porque
encontramos Diego e sua mais nova namorada passeando.
Minha intenção foi passar direto, ignorando-o, mas ele fez
questão de nos parar. A garota é tão dissimulada quanto ele, pois
sorriu falsamente pra mim. E olhe que me cumprimentou na festa.
— Oi Alexia, essa é minha namorada, Emily. Lembra dela?
— sorri cinicamente.
Encaro ele com um ódio mortal. Mas se ele acha que vou
fazer cena, tá enganado.
— Um dia você vai querer me valorizar, Diego. Nesse dia,
outra pessoa fará isso por você. Continue achando que você é o
centro do universo — digo ressentida e um pouco grossa, tentando
não demonstrar que estou abalada por ele estar namorando. —
E Emily, se você acha que ele vai ser fiel a você, está enganada. Se
Diego ficou com você enquanto estava comigo, vai fazer a mesma
coisa com você, mesmo jurando amor eterno. Seja um pouco
esperta, pelo menos mais do que eu fui. — Sorrio falsamente e
passo direto com as meninas.
Em casa, cansada de bater perna no shopping que foi um
programa tão bom, verifico a festa no cartão de crédito. As meninas
colocaram pilha e eu comprei roupas que eu sempre gostei de usar,
pra ser a Alexia de antes. O cartão chegou a grudar dentro da
carteira, num sinal divino pra eu não gastar à toa, mas a força de
vontade foi tanta que fizemos inclusive uma minifesta.
Involuntariamente minha mente projeta o moreno da reunião
e não evito em dar um pequeno sorriso ao mesmo tempo que
aquele friozinho se instala na barriga junto com uma taquicardia
numa ansiedade esquisita.
Qual será o nome dele, afinal? Por que está mexendo tanto
comigo?
5
MURILO
ALEXIA
Sabe aquela sensação de ser observada? Olho para os
lados tentando encontrar algo, mas não vejo nada anormal. Tento
ignorar a sensação desconfortável conversando com Natasha. Eu,
hein?
O espaço que escolheram para o evento é maravilhoso. A
decoração tá linda, muito bem arrumada e requintada. O palco é
redondo e ao redor da passarela existem várias cadeiras para que
os convidados fiquem bem acomodados.
A anfitriã nos tira dos devaneios anunciando o começo do
desfile com uma introdução muito aplaudida. A tela, que estava com
o logo da Volúpia, vai apagando. Como um roteiro, vai subindo o
seguinte texto, lido por uma voz suave:
Todas as mulheres são lindas. Beleza é algo relativo. Não
tem que ter pele lisa, uma bunda dura, coxas grossas ou um par de
seios eternamente no lugar. O que te faz ser uma mulher bonita é o
modo como você se vê e se sente confiante, e assim será
considerada bonita por outras pessoas. Não precisa ser jovem, não
tem que ser magra, nem gorda, nem fitness, não tem que ser alta,
tem que ser apenas você na tentativa de redescobrir o seu corpo
enquanto realiza seus desejos mais profundos. Você tem que tirar
todas as suas roupas e, com toda a sua coragem, dizer: eu estou
bem aqui e tenho orgulho do que vejo no espelho.
A música começa a tocar avisando que o desfile começou.
Fico atenta quando alguns modelos masculinos entram, andam
compassadamente mantendo a distância, param e dão espaço para
a cantora chegar. Ela veste somente com uma lingerie, também,
mas comportada; está toda de volúpia, claro. Ela faz sua
performance com a primeira música de sucesso e logo algumas
modelos entram. Eu estou apaixonada pelo show, sinto como se
estivesse em um desfile da Victoria's Secret.
O desfile em si está perfeito. Estou muito encantada. Cada
música e conjunto da coleção apresentada é uma novidade gostosa
de assistir. Ver o trabalho sendo executado, muito bem executado, é
muito recompensador.
A última modelo volta enquanto as outras formam uma fila
para entrarem no palco. Quando elas entram e a presidente da
marca aparece no meio delas, segurando a mão da cantora, todos
aplaudem. Acionam o efeito de fumaça no chão do palco, de forma
discreta. A plateia levanta e aplaude o fim do desfile.
O coquetel será aqui no salão ao lado, na área livre. Por
todo canto tem gente conversando e bebendo, alguns aproveitando
pra iniciar negócios, outros se conhecendo melhor ou apenas
jogando papo fora.
Téo e Nat preferiram ir pra pista de dança quando tocou
uma música agitada e pegaram bebidas no meio do caminho, com
um garçom. E eu preferi ficar e seguir pro banheiro.
Olho pro espelho, arrumando meus cabelos agora mais
curtos, com as pontas levemente enroladas por um babyliss. Decidi
mudar um pouco, radicalizei e cortei, um long bob na altura do meu
ombro. Tive o apoio das meninas, que concordam com qualquer
loucura que eu invente.
Como dizem, quando uma mulher corta os cabelos está
pronta para mudar a sua vida, renovando-se. Cortá-los foi um ato de
renascimento simbólico, um ponto de partida para as mudanças. E
amei a drástica mudança, já que os cabelos estavam longos, quase
na cintura.
Pode parecer bobagem, mas desde que mudei o visual eu
me sinto muito melhor e mais feliz. O que tá refletindo no espelho é
uma mulher que tem a liberdade de fazer qualquer escolha, do
esmalte ao batom, de usar o look preferido ou o que está em alta e,
ainda assim, se sentir confortável.
Minha maquiagem até que não tá extravagante, os olhos
estão destacados e estou usando meu amado batom vermelho. Eu
me sinto maravilhosa com ele! Estou amando essa nova fase,
trouxe mais brilho pra mim.
Passo a mão no vestido lindo, que tem um pequeno decote
na frente e, como em poucas vezes, eu amo o que vejo no espelho.
Realmente, eu estou bonita e digna pra festa.
Volto pro salão onde o falatório e a música estão altos.
Decido ir ao bar, montado ali perto, já que estou com a garganta
seca. Por sorte não estava muito cheio. Acho que as pessoas
preferem esperar sentadas o garçom chegar com as bebidas.
Eu sento em um dos banquinhos e peço uma caipirinha de
morango. Em poucos minutos o barman põe a bebida na minha
frente e dá um sorriso. Retribuo simpaticamente e agradeço.
Bebo um gole e observo as pessoas ao redor. De onde
estou, consigo ver Téo dançando com a Nat. Mesmo de longe eu
consigo reconhecê-los por causa dos gestos.
Sinto um arrepio no braço e uma quentura na nuca quando
escuto alguém chegando perto e pedindo whisky.
A voz é meio grave, um pouco calma e… sexy? Continuo a
olhar o meu copo e observo que o dono daquela voz simplesmente
senta ao meu lado, mudando completamente o clima do local, e o
mesmo barman que me atendeu põe o copo no balcão. Sem sorriso
simpático, sai pra atender outras pessoas. Seu perfume invade
minhas narinas e fico respirando fundo pra sentir melhor. Nossa!
Discretamente, como quem não quer nada, olho pro lado pra
ver quem é a pessoa e fico surpresa. É o homem da reunião, o
moreno.
O moreno lindo! Não esperava encontrá-lo tão… perto. E
por um momento fico um pouco desesperada pela proximidade.
Cacete, o homem visto de perto, pela segunda vez, é
simplesmente muito melhor. Eu o achei bonito na primeira vez que o
vi, mas agora, vendo de novo, ele parece muito mais. É mais bonito
do que eu lembrava. Esses cabelos curtos e escuros penteados pra
frente com as pontas desordenadas, a barba sem falhas,
desenhada, escura, aparada e linda... combinando perfeitamente
com o conjunto e o deixando sensual. Tudo isso! Um homem bem-
arrumado dentro de um terno todo preto, usando um perfume
cheirosíssimo que se espalha pelo ambiente. Daqui, mesmo de
lado, vejo o volume dos seus braços dentro do terno.
Estou surpreendida, algo nele chama a atenção. Não sei se
é minha carência, mas pensei várias coisas a seu respeito, inclusive
que o beijaria facilmente e até o imaginei sem terno e como ele seria
com tesão.
Meu Deus! Eu... eu nunca fui tão devassa em pensamentos!
Ele, de repente, vira pro lado e percebe que estou
analisando-o. Sorri suspendendo as sobrancelhas. Meu rosto
esquenta por ter sido pega no flagra como uma criança arteira, bem
no momento em que o imaginava sem a parte de cima do terno. De
repente, beber o líquido do meu copo parece ser muito interessante.
As sobrancelhas são grossas, mas dão suavidade aos olhos
castanhos. Seu olhar expressivo, sagaz, como se eu fosse sua
presa, traz muita sensualidade.
Desvio os olhos dele por não conseguir medir o olhar por
muito tempo, pois me sinto em combustão e bebo um pouco do
líquido pra voltar ao normal, ou próximo disso.
— Ei, morena.
Não evito olhar pra sua boca, que tem um pequeno sorriso,
bonito e contagiante. Nossa Senhora!
A voz dele é ainda mais grave e bonita do que lembro, e uns
arrepios percorrem meu corpo. Foi esse jeito charmoso que me
chamou a atenção, bagunçou por dentro. Aconteceu algo comigo a
ponto de me deixar com as pernas bambas. Meu Deus! ele transpira
sex appeal e vigor!
Estou ridiculamente afetada!
— Oi — respondo simpática e um pouco atordoada por ele
ter puxado papo.
— Acho que não me apresentei direito pra você…
— Não. — Sorrio tentando controlar o nervosismo. — Qual é
o seu nome? — pergunto interessada fazendo um raio x, feito flash,
no seu peitoral.
— Murilo. — O olhar sagaz tá ali novamente no seu
semblante, aparentemente normal.
Belo nome para um belo moço. E que moço gostoso, por
sinal!
Ele estende a mão para eu pôr a minha em cima, e assim eu
faço. Quando ele abre a boca eu fico com vontade de puxar sua
mão por conta do nervosismo que me tomou.
Ele repetiu o mesmo gesto que fez quando me
cumprimentou lá na agência, beijando minha bochecha de forma
cativante. Mas ele vai além, cheira meu pescoço rapidamente e eu
fico totalmente arrepiada, mas estranhamente não me sinto
incomodada com esse avanço sem mais nem menos. Que homem
atrevido!
— Seu perfume é bom, está cheirosa. — Sorri alisando
meus dedos. — Aliás, quando eu acho que não tem como você ficar
mais bonita, você aparece assim, com os cabelos curtos!
Elogia sem cerimônias e fico encabulada. Encabulada e
surpresa por ele ter percebido minha mudança. Eu só recebo
elogios das minhas amigas, e apenas quando realmente tá bom.
Mas receber de uma pessoa desconhecida e de livre e espontânea
vontade é novidade, ainda mais pra mim, que não sou acostumada
com isso. Eu me senti muito bem.
— Obrigada. — Rio totalmente acanhada. — Hum... você
também tá bonito — devolvo o elogio, não por educação, mas é
porque ele realmente está.
— Estou mesmo? Gostou?
O olhar que ele lança, junto de um sorriso de lado, sacana e
descarado, me deixa eufórica e nervosa. Sorrio pra ele sem saber
como reagir.
— Gostei — afirmo.
— Eu me arrumei torcendo pra que você viesse. — Ele fala
casualmente, o que me deixa desnorteada mais uma vez. — Um
brinde? — Ele levanta a própria taça.
— Por...? — Suspendo minha taça, mas não levo ao
encontro da sua.
— Por essa noite que acabou de ficar mais interessante. —
Ele bate no meu copo e sorri de maneira charmosa, depois de uma
piscadela. A barriga revira de um jeito...
É impressão minha ou ele tá me cantando descaradamente?
Claro que tá! Só não sei como reagir a isso, dois anos fora da pista.
Tomo outro gole da minha bebida sem saber mais o que falar.
Nenhuma parte do meu corpo tá tocando o dele, mas sinto a
presença do Murilo de forma muito intensa, como se ele estivesse
me abraçando com seus grandes braços. É eletrizante.
— Quer dançar?
— Não sei — respondo de maneira incerta.
— Vamos, vai... — pede com um tom de voz que não
consigo negar, estendendo a mão.
— Tudo bem. Só uma. — Acabo cedendo.
Assisto fascinada ele tirar o paletó, vendo aquele corpo
maravilhoso, peito largo e braços fortes dento da camisa social
preta. O corpo dele é grande, forte, largo, parece uma fortaleza!
Tenho vontade de passar a mão, mas me contenho.
Protetora dos homens gostosos e das mulheres fracas! Eu
aposto que estou com cara de tonta. Ele entrega o paletó ao
barman, que pega e concorda em guardá-la enquanto nós saímos.
Fomos pra pista de dança e ele foi erguendo as mangas da
camisa social. Não tá tocando uma música lenta, mas sim uma
agitada. Os primeiros acordes de “Animals” toca e nunca me senti
tão ansiosa pra dançar uma música.
No começo fico um pouco envergonhada, mas logo
acabamos entrando na vibe. Ele faz com que eu me solte mais no
meio do pessoal, empolgado e agitadíssimo.
Já no começo percebi que a dança foi um pretexto pra me
tocar. Ele segura na minha cintura, me puxando pra perto e eu
acabo me deixando levar pela música. As luzes e os lasers
holográficos estão piscando freneticamente, deixando tudo ainda
mais vibrante. E uma curiosidade: sou fraca pra bebidas.
Gira meu corpo e me deixa de costas pra ele. Aperta minha
cintura e cola nossos corpos. Eu sinto seu peitoral contra as minhas
costas, uma das mãos pesadas, porém carinhosas, ao redor do meu
corpo e a outra espalmada bem no pé da minha barriga. De repente
ele praticamente sussurra: “baby, serei seu predador essa noite”. Eu
arrepio completamente. Se eu estivesse sentada com certeza
estaria cruzando as pernas pra conter a agitação entre as coxas.
Nos movemos no ritmo da música e eu me permito fechar os
olhos, curtindo a agitação. Sua mão esquenta o lugar no qual está
repousando. Ele me aperta cada vez mais contra o seu corpo
quente e cheiroso, o que provoca em mim uma sensação diferente.
A presença dele é diferente de alguma forma, com a dança eu já
percebi isso. Não sei explicar, só sei que faz esquentar o meu corpo.
A boca dele roça várias vezes o meu pescoço, me deixando
de uma forma jamais vista. Ninguém nunca me atiçou assim em
uma simples dança.
Ele gira meu corpo de novo pra posição normal, de frente. A
coisa esquenta um pouco entre nós quando ele aperta minha nuca e
a cintura. Nossos rostos estão próximos, mas em vez de me beijar,
ele simplesmente sussurra mais uma vez: “te caçarei, te comerei
viva”. Isso me arrepia absurdamente. Umedeci mais de uma vez.
Em seguida, sorri daquele jeito peculiar a ele, me provocando,
raspando a boca no meu pescoço mais uma vez e me trazendo pra
ainda mais perto. Ele cansou de brincar, pelo visto.
Quando a música já tá quase no final, nossos corpos estão
praticamente abraçados, já que eu estou com as mãos no seu
ombro e ele com as mãos grandes na minha cintura, me
esquentando. Eu olho no seu rosto.
Nos balançamos juntos, ainda no ritmo da música e eu só
consigo sorrir pelo momento que tivemos, mas morrendo de vontade
de beijá-lo. A música é intensa por si só e ele me cozinhou por
metade dela, me apertando, me intimando, mas nunca me beijando.
Ele me provocou desde o início.
Vejo ele olhar pra mim e em seguida descer pra minha boca.
Não consigo reprimir a vontade de beijá-lo e mordo os lábios na
tentativa de me conter. Minha Nossa Senhora!
A pista de dança e as pessoas já nem existem mais, e se
existem, estão bem longe, pois não consigo me conectar a elas.
Aqui, agora, pra mim, só existem ele e eu. Ele com esse olhar
intenso e escuro diretamente nos meus olhos. Nossos rostos estão
próximos o suficiente pra eu sentir a textura dos seus lábios, mesmo
que não estejam realmente tocando nos meus.
Preciso que ele consume o beijo!
Ficamos olhando um pro outro sem dizer absolutamente
nada, ambos envolvidos no meio da pista. Sou chamada pra
realidade quando alguém esbarra nele e eu desvio os olhos. Vejo o
Téo, de longe, me chamar. Acho que já deu nossa hora. O clima
acabou totalmente. Merda!
— Já vou, tá na minha hora. — Eu me despeço virando a
atenção de novo pra ele.
Eu pareço a Cinderela, mas na verdade, sou a Cinderela do
Uber. Mal das princesinhas do século vinte e um.
— Mas já? — Continua a segurar na minha cintura, subindo
uma das mãos pelas minhas costas. Ele não desistiu de consumar o
beijo e me incendiar.
— É. Minha carona já tá indo — esclareço.
— Fica mais um pouco. Eu te levo pra casa mais tarde, se
quiser — propõe.
Por mais gente boa que ele seja, por mais que eu queira
beijá-lo, não o conheço direito a ponto de aceitar a proposta, ainda
mais à noite e eu morando sozinha. Não acho uma boa ideia no
momento.
— Deixa pra próxima. Obrigada pela companhia. — Sorrio
ignorando sua mão ainda subindo devagar, me arrepiando.
— Tudo bem, quero beijar você com tempo. — Ele sorri e
fico trêmula com as suas palavras.
Esse homem é uau em cima de uau.
Segura na minha nuca aproximando nossos rostos e meu
coração acelera ansiosamente. Fico parada esperando pra ver o
que vai acontecer e ele beija, de um jeito gostoso e calmo, bem
próximo à minha boca, no cantinho. E percebo que foi bastante
intencional.
Nos separamos e minha boca começa a formigar, assim
como a minha barriga, que revira. Fazia um bom tempo que não
sentia essas coisas.
O que esse homem tá fazendo comigo, caramba?
— Tchau, Murilo. — Aceno uma última vez e vou pra onde
os dois estão me esperando.
— Tchau, e vou cobrar meu beijo!
Dá o mesmo sorriso que deu no dia da reunião, um sorriso
cafajeste com gostinho de me aguarde. Não sei qual o meu
problema, mas estou gostando estranhamente do que estou
sentindo.
Dou as costas e coloco a mão na boca, perto do lugar
beijado por ele; meu corpo permanece eufórico. A noite em si foi
incrível. As meninas estavam certas, se eu não fosse iria me
arrepender. Mas não posso ficar no modo sonhadora. Já passou! A
festa já acabou e não vamos mais nos ver e é melhor assim!
6
MURILO
Azar!
Quando eu finalmente iria matar minha curiosidade e
vontade de beijar a boca vermelha e convidativa, que insistia em
marcar a taça de bebida, o filho da puta quebrou o clima esbarrando
no meu braço.
Chamei pra dançar, pois queria um contato mais direto, já
que não estava aguentando mais reparar nela colocando a boquinha
ao redor da taça de bebida. Sem contar que em momento algum ela
falou que tinha namorado e nem fugiu quando eu, discretamente,
vez ou outra, pegava na sua mão.
Olhei mais uma vez pros seus dedos, alisei cada um deles,
não tinha nenhuma marca, ou seja, não é comprometida. Sinal
verde pra mim. Quando ela menos esperasse, estaríamos nos
beijando e logo evoluindo pra outra coisa, mas tinha que ter um
babaca pra atrapalhar, cortando o clima que eu fiz questão de
preparar antes de dar o bote.
Até sugeri, esperançoso, levá-la pra casa mais tarde caso
quisesse, cheio de intenções. Mas, mesmo com ar de dúvida, ela
negou.
Ela é um pouco tímida, percebi. Então vou com calma, pelas
beiradas e quando ela menos esperar, estarei no meio, literalmente.
Sou uma pessoa paciente e focada quando se trata de conseguir
meus objetivos. Tudo que vem fácil costuma não ser tão bom quanto
aquilo que tem um desafio maior, isso é mais gostoso. Eu gosto de
desafios e aventuras e prevejo que vai valer a pena quando eu
alcançar meu objetivo. Não vou desperdiçar sequer um segundo.
Eu poderia tomá-la pra mim bem ali, mas eu não pararia
cedo, o que eu quero fazer com ela requer tempo, calma e
dedicação. Preferi atiçá-la pra que ela ficasse balançada e na
vontade. Fingi que ia beijá-la, ela esperou vir um beijo de verdade e
plantei um bem próximo da sua boca. Sei que isso vai deixá-la
fantasiar hoje e pensar em mim mais do que se realmente a
beijasse com pressa. E também pra tirar uma casquinha, já que
estávamos próximos mesmo. Adoro instigar!
Ela me cozinha dali que eu a cozinho daqui. Adoro
joguinhos. Ela me quer também e ficou mexida. Se ela tentou
esconder, não conseguiu, eu percebi seus olhares gulosos e
disfarçados. Confesso que me senti o máximo vendo que ela
também estava interessada.
A dança foi boa, tive a oportunidade de segurá-la mais
perto, saber como são nossos corpos próximos, ainda aproveitei pra
passar a mão discretamente pelo seu corpo, sentindo a textura
macia da sua pele e morri de vontade de saber como é tê-la no meu
colo ou próximos o suficiente pra minha pele sentir essa maciez. O
corpo dela é gostoso de apalpar, mesmo que minhas mãos
estivessem, na maior parte do tempo, na sua cintura. Mas tive que
me controlar quando a bunda dela, às vezes, roçava no meu local
delicado, pra não a assustar e pra que não me achasse um taradão
assim de cara.
Ah! Morena, você ainda vai pra minha cama. Ah se vai.
Recebo a outra bebida do barman pra acalmar os ânimos e vou
atrás dos otários. Eu me despeço de algumas pessoas que estão
indo embora e continuo meu caminho.
Tenho vontade de rir quando lembro da expressão que ela
fez quando tirei meu blazer pra dançar. Maior cara de tarada que
estava pensando coisas, mesmo sem perceber. Pelo jeito ficou
curiosa pra saber o que tem por baixo. E é só um aceno que eu
mostraria sem problemas.
Encontro Mariana e Anderson na pista, dançando uma
música calma. Passo reto e encontro Christian e Luísa conversando.
— E aí? — Eu me aproximo assim que eles desligam.
— Quem era a mulher? — Luísa questiona
interessadíssima.
Oh bicho curioso que é mulher!
— Não me diga que é a da reunião? — Christian ri como se
estivéssemos numa piada interna.
— Que mulher da reunião? — Luísa questiona confusa.
— Ela é da agência de publicidade, que foi na reunião
aquele dia — esclarece à esposa.
Esse filho da mãe tem uma boca grande do caralho.
— É ela mesma. Estava aí e ficamos conversando.
Dou de ombros não me importando em falar.
— É bonita? — Luísa continua a questionar.
Lembro dela sorrindo, naquela roupa no dia da reunião, e
me controlo pra não ficar excitado com a visão que me animou
bastante.
— Maior gostosa, precisa ver — digo e ela ri negando com a
cabeça.
Conversamos mais um pouco, dou uma circulada, volto pra
poltrona e pego meu celular. Percebo que esqueci de pedir o
número do celular dela. Droga!
— Já marcaram alguma coisa? — Christian questiona
curioso.
— Não deu tempo e esqueci de pegar a merda do número
dela. — Dou um muxoxo ao lembrar disso.
— Porra! Vai ser vacilão na casa do caralho!
— Vai se ferrar! Já sei exatamente o que fazer. — Sorrio ao
perceber que tenho uma outra saída. Inclusive, dessa vez vou pegar
seu número de telefone, pois não sou otário de deixá-la sair sem me
dar. Pegue os dois sentidos da frase.
— Duvido que você consiga algo. Você é otário! — Cristian
ri de mim.
Todos riem, me sacaneando.
— Vão se ferrar! Não fui eu quem foi colocado no cabresto
com dois meses de namoro — rebato pra Christian, e Anderson ri
colocando lenha na fogueira.
— Quem manda ali sou eu! — garganteia.
Quem vê até pensa.
— Ô Luiza...
Eu a chamo, já que tá conversando com Mari, e Cristian
chuta minha perna. Faço sinal com a mão enquanto gargalhamos.
No meu apartamento, morto de cansaço, arranco a roupa
quente e sufocante. Decidi voltar desacompanhando hoje, não quis
ficar com nenhuma modelo. Meu foco é outro! Quero guardar
minhas energias pra ela. Quero que tenha uma noite memorável! E
só paro quando estiver esgotado! Essa semana vou ter que escoltar
uma certa mulher gostosa e vou dar uns beijos naquela boca
gostosa. Ah se vou!
ALEXIA
Chega à segunda-feira, chata como sempre. Acordo
preguiçosamente e faço minha rotina como sempre faço, mas a
novidade é que estou me sentindo muito bem! O dia está lindo! Na
empresa, chego distribuindo sorrisos.
— Você tá com cara de quem deu a noite inteira. O que o
cara do desfile fez com você lá, hein? — Nat bate seu ombro em
mim.
— Boba! Não fizemos nada, nem sequer rolou beijo.
— Trocaram número de telefone? — nego com a cabeça e
sua expressão fica surpresa na mesma hora. — Um homem
daquele te dando papo e você não aproveita, sis?
— Eu não Estou a fim de me relacionar com ninguém, você
sabe bem o motivo. — Reviro os olhos.
— Namoro? Dá pra transar sem preencher aqueles
protocolos todos de relacionamento, sabia? Por favor!
Dou um muxoxo revirando os olhos mais uma vez.
— Já passou, isso foi sábado. Chega!
Trabalhei naquele dia com uma boa sensação. Checo o
celular e vejo que são 11h50. Tem uma mensagem da Liz avisando
que já tá indo almoçar e que é pra gente ir também.
Chegamos no restaurante de sempre e ela já tá lá.
— Oi, sis. Como foi o desfile? — Liz pergunta
interessadíssima.
No domingo não nos vimos, fiquei em casa e liguei pros
meus pais. Às vezes me sinto uma péssima filha, porque nem
sempre tenho tempo pra ligar e conversar com eles, ou até mesmo
pra visitá-los. Só que Diego sempre arranjava uma desculpa pra
gente não ir e nem gostava que eu fosse sozinha. Pensar nisso me
deixa raivosa, tanto por eu ter cedido aos seus caprichos, quanto
por saber que meus pais não gostavam do nosso relacionamento,
embora tratassem Diego normalmente.
Conto pra Liz, animada, lembro do Murilo e me repreendo
por isso. Percebo que Nat está olhando pra mim e dando um
sorrisinho. Vadia!
— Sabia! — fala se achando, e eu reviro os olhos.
Amiga chata adora essas coisas, né? O garçom chega e Liz
faz os pedidos por nós três. Ele logo sai e voltamos a papear.
— O boy estava lá? Vocês se viram? — Hoje ela tá
fofoqueira.
Nat olha pra mim e levanta as sobrancelhas me
sacaneando. Vadia duas vezes. Ela faz questão de ficar quieta pra
me assistir contando. Confirmo com uma euforia desnecessária.
— Logo vi que tá toda derretida. Marcaram algo?
— Ah gente, eu não estou derretida por ninguém! — Perco a
euforia na hora.
Já não bastou mais cedo Nat colocando pressão, só me
faltava Lizandra também. Só estou feliz hoje. Que coisa!
— Ihhh... — Se não fosse Natasha, não seria mais ninguém.
— Mas como é o boy que não te deixou derretida? — Liz
fala em tom de deboche. Cínica.
— Normal. — Dou de ombros.
— Mentira! Ele praticamente se jogou pra cima dela a noite
toda. Não se beijaram e acredita que nem o número de telefone eles
trocaram? — Natasha me delata inconformada.
— Alexia! — Liz me repreende. Mas que coisa! — Caramba!
Eu vou tomar seu celular. Ele não tá te servindo pra nada.
— Ah, de novo não. Foi só uma conversa. Ele é muito
atencioso e divertido, naturalmente. E só! — reprimo a palavra
“gostoso” na garganta.
O garçom volta com nossa comida e nos interrompe. Mas
quando dá as costas a conversa continua.
— Eu não quero namorar, nem me relacionar com ninguém
por agora, não estou preparada. O fim do namoro com Diego tá
recente...
— Recente, mas ele já seguiu em frente antes mesmo de
terminar com você. — Nat alfineta me interrompendo.
— Sim, o final do namoro com Diego tá recente. E não é só
porque aconteceu isso que eu tenho que me atirar no primeiro
homem que aparecer. Eu preciso desse tempo pra mim. Além do
mais, Murilo e eu não nos veremos mais. Esqueçam ele, não
tivemos nada.
— Não teve porque você não quis. Aposto que ele até te
homenageou assim que chegou em casa no sábado.
— Que horror, Natasha.
Ela dá de ombros como se não fosse nada.
ALEXIA
— Oi.
Dou um beijo nele, pois sou dessas e ele tá muito bonito
hoje em especial, com uma camisa social branca alva, sem blazer.
Sempre o vejo com camisa social de tons escuros.
— Oi. — Ele me puxa pra mais perto.
O beijo é sensacional! Confesso que estou morrendo de
vontade de transar com ele. Hoje, se a brecha aparecer, vou chamá-
lo pra ir lá pra casa. Vou tacar o foda-se por um momento. Estou
doida pra sair dos beijos! Estou pegando fogo!
Confesso que Murilo tá cada vez mais presente no meu dia
a dia. Já me acostumei a conversar praticamente todos os dias. E
reparei que ando pensando muito nele, mais do que deveria. Espero
que ele pense em mim de vez em quando, só pra eu não me sentir
tão patética por pensar nele o tempo todo. Eu sei, é um tiro no
próprio pé.
Murilo interrompe o beijo com um último selinho e me olha.
— Que tal um jantar? — arqueia as sobrancelhas.
— Outro jantar? — Sorrio para ele.
— Sim, outro jantar, como amigos. — Ele confirma sorrindo.
Murilo tá sempre de bom humor e isso é cativante.
Concordo e seguimos o caminho até esse restaurante onde
ele quer me levar. Já disse que me sinto muito à vontade com ele?
O tempo passa muito rápido.
Deixei meu carro em casa hoje por causa do encontro. O
lugar que ele me trouxe é outro restaurante que eu nunca tinha ido.
O local é muito agradável, tem até música acústica ao vivo.
Comemos petiscos ouvindo as músicas.
— Aqui é muito bacana!
— Um amigo que me recomendou.
— Maravilhoso.
— Obrigado.
Rio e ele acompanha. O timbre da sua risada faz meu
estômago assanhar como nunca aconteceu. Eu tive que disfarçar. A
comida é maravilhosa, como o resto da noite.
MURILO
Paro o carro na frente do apartamento de Alexia e ela me
olha, mordendo os lábios rapidamente.
— Quer entrar? — Escuto aquela proposta maravilhosa.
Já que ela insiste, né? Nem queria...
Saio mais que rapidamente com ela, indo em direção à
porta. Assim que entramos, eu a imprenso na parede, beijando-a
com todo o desejo que guardei desde que a conheci. Ela é muito
gostosa e retribui na mesma fome. Ela gemendo é de foder o juízo,
fica ainda mais gostosa com tesão. Ataco seu pescoço beijando e
mordendo, e passo a mão em cada centímetro do seu corpo. E ela
geme baixinho. Ah! Esses gemidos…
ALEXIA
Retribuo na mesma ânsia segurando sua nuca, nos
aproximando ainda mais. Agarro seus cabelos na mesma
intensidade com que ele trilha, com sua boca, meu queixo até
descer pro pescoço. Ele afunda as mãos nos meus cabelos e me
beija. Na verdade, ele explora minha boca com a língua, alastrando
algumas sensações, como o próprio fogo, em mim.
E sei que da parte dele também há fogo, pois suas mãos me
apertam e passeiam avidamente pelo meu corpo. Ele cola sua boca
direto na minha enquanto segura firmemente nos meus braços e
nuca.
Caminha pela casa sempre me beijando e subitamente me
prensa na parede mais próxima, agarrando mais forte, aumentando
minha ansiedade. Uma das suas mãos sobe e passeia pelo canto
do meu seio esquerdo, que depois ele acaricia com o polegar. Ele
anda e eu o acompanho de costas, ainda nos beijando.
Mal posso esperar pra tê-lo sobre mim.
Ele me arrasta e me joga em cima do sofá, e em seguida já
tá em cima de mim, beijando e apalpando meu corpo.
— Gostosa pra caralho! — sussurra enquanto puxa meu
vestido do corpo.
Gemo sem me controlar. Se eu, que já estava com tesão
antes mesmo de começarmos a nos beijar, com essa carícia o tesão
duplicou.
Aperto os braços fortes dele com mais vontade e me remexo
embaixo enquanto ele alterna entre beijos, mordidas suaves no
pescoço e carícias pelo meu corpo. Minha calcinha molha muito
mais quando alisa com a ponta do dedo minha barriga e o vão dos
seios. Contraio a barriga sem me controlar.
Ele me pega como se eu fosse uma pluma e segue pro
quarto. Entramos e ele me joga na cama juntamente com seu corpo
quente sobre o meu. Puxo sua camisa com urgência, desabotoo e
ele tira o resto. Suspiro, não me contenho com a visão desse
homem se despindo pra mim. Como ele consegue ser sensual
assim, naturalmente?
O corpo é largo e gostoso na medida certa. Muuuito
gostoso!
Vou descendo os olhos e vejo a marca do V com a metade
coberta com a calça social, o volume já perceptível. Eita! Tenho
vontade de passar a língua por esse corpo todo bronzeado. Mordo
os lábios com meus pensamentos indecentes, que estão
incontroláveis.
— Você gosta de testar meus limites. — Sua voz é rouca e
faz meu coração bater consideravelmente mais rápido.
Agarro suas costas, fazendo ele me apertar e começar um
beijo mais quente e intenso, cheio de maldade.
Desabotoa meu sutiã, que é pela frente. Ao mesmo tempo
que meus seios ficam expostos, não consigo deixar de ficar
insegura. Coloco a mão em cima rapidamente.
Acho meus seios muito... Sei lá! Sempre escutei coisas
sobre eles que me deixam receosa. Talvez seja por estar com um
cara pela primeira vez.
— Tapou por quê? — questiona visivelmente confuso.
— Não acha melhor apagar as luzes, não? — confesso,
estou um pouco sem graça.
— Não. Quero ver seu corpo. — Junta as sobrancelhas.
O olhar dele me fez queimar. Apesar da insegurança, a
vontade de tê-lo é maior e sentir a mão passeando pelo meu corpo
não me ajuda a raciocinar direito.
— Ele é maravilhoso e macio. Quero olhá-lo e tocá-lo como
se deve. Se você ficar desconfortável apagamos, certo?
— Tudo bem. — Eu me rendo e ele tira minhas mãos de
cima.
Sou uma quebra-clima do cacete. Agora ele vai me achar
paranoica.
— Seus seios são gostosos. Tenho tara por eles, quero
lambê-los todinhos. — Apalpa os dois com vontade e aos poucos
vou relaxando.
Estou quase transpirando de nervoso e ansiedade. Meus
poros estão todos abertos.
— Murilo… — gemo sem me importar com mais nada.
— Isso, geme mais, gostosa — sussurra no meu ouvido.
Contorna ao redor dos meus seios e mamilos com a língua,
de forma lenta, e aos poucos vai aumentando a intensidade até
chegar perto do mamilo. Coloca na boca e suga com voracidade.
Um, depois o outro, enquanto simultaneamente os acaricia.
Alisa minhas costas enquanto desce os lábios, provocando
pequenos incômodos nervosos entre minhas pernas e tento de
alguma forma aliviar cruzando-as.
Beija a divisão dos meus seios até abaixo do umbigo e fico
mais ansiosa, mais do que qualquer outra coisa, pelo que eu
presumo estar por vir. Sua barba em contato com minha pele
estimula o resto do meu corpo.
— Tenho maior tesão em você.
Passa as mãos na parte interna das coxas bem perto de
onde eu quero que ele realmente toque. Desliza o dedo levemente
por cima do tecido e eu suspiro, querendo que ele avance muito
mais.
Puxa minha calcinha que, graças a Deus, não é das de
estampas constrangedoras.
— Linda! — sussurra e passa o dedo novamente.
Não consigo focar em mais nada. Fecho os olhos e
mergulho em todas as sensações maravilhosas, tremendo e me
contorcendo.
Ele começa a me estimular com o polegar e colocar o dedo
na entrada, só a ponta do dedo e depois tirando. Estou quase
gozando. Desce a boca, deixando um beijo na minha virilha. Meus
gemidos ficam um pouco incontroláveis.
Fico mais excitada sentindo a língua quente e molhada
trabalhar exatamente lá, no local certo. Abro ainda mais as pernas.
Sua boca e barba contra minha pele me deixam cada vez mais
desesperada.
Ele faz massagem com a língua e os dedos, ao mesmo
tempo com uma calma e vontade que eu não consigo acompanhar.
Murilo alterna entre movimentos lentos, moderados e rápidos.
Lambidas, mordidinhas e sucções.
Ele não é do tipo que apenas lambe, ele chupa com vontade
e suga. Às vezes coloca a pontinha da língua. Pela forma que eu
estou, parece que todo o líquido do meu corpo vai sair por ali.
Dou um suspiro longo sentindo meu corpo tremer.
Continua seu trabalho maravilhosamente bem. Com a boca
e os dedos ali com empenho, a sensação vem. Tremo, contorcendo
os dedos dos pés enquanto agarro seus cabelos, tentando ter mais
dele quando meu corpo é tomado por espasmos.
— Maravilhosa, como eu imaginava — confessa bem
safado, olhando pra mim enquanto eu estou recuperando os
sentidos. A única coisa que tenho certeza é de que não quero que a
noite acabe tão cedo.
— Nossa! Minhas pernas estão bambas. — Consigo
expressar algo.
Ele levanta da cama e desabotoa o cinto. Levanto a cabeça
pra observar ele abrir e descer a calça junto com a cueca.
Arqueio as sobrancelhas quando finalmente vejo ele nu.
Olho, declaro que estou muito bem e obrigada! Bastante
proporcional para o corpo que ele tem. Tipo, bastante.
Ele sorri de modo sacana quando me vê secando-o.
— Mas é muito safada mesmo! — Ele ri mais uma vez e sei
que isso tudo vai me deixar louca.
Aponto para o criado-mudo e ele entende o que é pra pegar.
Infelizmente parei de usar o anticoncepcional e essa é a nossa
primeira transa.
— Vou fazer você enlouquecer de prazer — promete
enquanto põe o preservativo sob minha observação e eu fico
ofegante com a promessa.
Sobe e me dá um beijo ardente e morde um dos meus
mamilos de leve. Que homem é esse, meu Deus?
Logo sinto a sensação dele escorregar com firmeza e
maciez pra dentro. Gemo e agarro nos seus braços. Sinto o calor de
ser preenchida totalmente pelo volume, suspiro com a sensação que
nunca mais tinha sentido, ainda mais nessa potência, e mordo a
boca evitando gemer alto.
— Olha pra mim. — Escuto sua voz grossa.
Eu fechei os olhos e nem percebi.
Esses cabelos bagunçados, sobrancelhas franzidas, forte,
queixo bom de morder. Como pode ser tão atraente?
— Quero ver você me olhando enquanto eu te fodo gostoso.
Ele é muito intenso, atrevido e fogoso. Minha nossa
senhora! Vejo ele sobre mim. E que visão! Sinto ele sair quase todo
e voltar com tudo, contraio por dentro instantaneamente e ele geme
rouco. Faz isso mais de uma vez.
No começo, seus movimentos vieram lentos e torturantes,
até começar a pegar um ritmo bom, que pedia por mais. Sentir o
barulho e o toque dos nossos corpos se chocando é maravilhoso. O
fogo me consome, nos queimando ainda mais naquele tesão louco e
eu o beijo desesperadamente, gemendo. Ele corresponde
vorazmente.
Ofego com a sensação de ir e vir. Abraço seu quadril com
minhas pernas pra que ele vá mais fundo. Observá-lo suado
enquanto me preenche gostoso é muito enlouquecedor.
Não consigo desprender meu olhar do seu rosto, a boca
desce e ele morde meu lábio inferior. Gememos praticamente juntos
com a sensação delirante dos movimentos. Como pode ser tão
gostoso a cada minuto que eu fico perto?
Arranho suas costas, agoniada, extasiada, beijo
rapidamente seu pescoço, mordo seu queixo, recebendo outro beijo.
— Isso é por você ter fugido de mim, safada.
Murilo impulsiona rápido de um jeito enlouquecedor,
aumentando meu tesão absurdamente. Aperta minha cintura pra dar
apoio e meu corpo se chacoalha subindo e descendo conforme ele
continua a ir e vir.
Fecho os olhos e jogo a cabeça pra trás quando sinto a
sensação delirante mais uma vez, na mesma noite. Logo ele
também vem. Até o gemido dele é gostoso e excitante.
Meu coração está a mil e minhas pernas estão trêmulas.
Suor é a minha segunda camada de pele. Uau, ele não
decepcionou. Realmente, fez valer!
— Caralho! Você na cama é outra pessoa. — Tenta controlar
a voz ofegante e eu dou uma pequena risada quase sem fôlego.
— Não tenho culpa de você ser tudo isso. — Tento controlar
a respiração também.
— Dois minutos. — Levanta e segue pro banheiro. Daqui
onde eu estou tenho a visão deslumbrante daquela bunda boa que
até agora a pouco eu estava apertando. E suas costas deliciosas,
vermelhas pelos arranhões das minhas unhas.
Aproveito pra me enrolar no lençol. Ainda não consigo ficar
exposta sem me sentir desconfortável. Ele não demora a voltar, e
não se importa nem um pouco com a exposição.
— Tive vontade de fazer isso com você desde a primeira vez
que te vi. — Vem como um imã pra perto de mim. — Ah não, tira
esse lençol.
Puxa e me desenrola.
— Para de ser assim. — Rio tentando pegar de volta.
— Acostume-se a ficar dessa forma perto de mim. Vou
querer você de novo, sabe né? — pergunta como se não fosse nada
e eu assinto, pois também vou querer transar com ele de novo.
Coloco a mão nos seus cabelos macios e bagunçados,
jogando para o outro lado. Ele fica com a aparência ainda mais
masculina.
— Eu acho seus seios bonitos pra caramba! — Ele solta
encarando os dois desnudos, e em seguida dá uma piscadela pra
mim. Apenas coro. — Vou passar a noite aqui, não me põe pra fora.
— Ele se impõe e eu dou de ombros.
Por mim, fica. O que poderia acontecer já aconteceu, e o
melhor de tudo, não me importaria em repetir a dose. Só a menção
do que pode acontecer aqui, novamente, já me deixa afoita.
9
MURILO
ALEXIA
Acordo antes dele, acabei me soltando durante a noite. A
diferença é que o braço dele ainda tá em cima de mim, mais
precisamente por dentro da minha camisa segurando minha barriga,
e os seus dedos estão quase entrando no elástico da minha
calcinha. Atrevido até dormindo!
Nunca gostei de dormir agarrada, ainda mais com ele que
não é nada meu. Eu sempre fico incomodada, sufocada ou suada
no meio da noite, mas essa noite até que não foi tão ruim.
O cheiro característico dele fica em mim. Ele tem um cheiro
que não consigo explicar, mas é bom de sentir. Exala masculinidade
misturada com o perfume amadeirado, agora bem fraco, mas que
mesmo assim fica impregnado por todos os cantos.
Olho pra ele, que ainda dorme, agora totalmente espaçoso.
Uma bela visão logo pela manhã. Um moreno totalmente à vontade
na minha cama, cabelos bagunçados, nariz fino, queixo quadrado
tomado pela barba escura e o melhor de tudo, sem camisa, com os
músculos à mostra. Nesse ângulo, tudo parece maior e mais forte.
Parece até um ensaio de revista e não me importaria de ser a
fotógrafa. Se fosse, o título seria “homem gostoso, que prazer eu
tive!”.
Paro de observá-lo e me preparo pra tomar um banho, mas
antes vou até a cozinha, coloco a cafeteira pra funcionar e leite pra
ferver, pra fazer um cappuccino pra mim.
Vestida e ainda no banheiro, escuto meu celular tocar. Corro
pro quarto pra atender e não o acordar. Ele continua dormindo,
bonito, gloriosamente. Bem que eu poderia ver isso todo dia... Não
reclamaria.
A volúpia tá perdendo um modelo glorioso. Um dia, quem
sabe, não mato minha vontade de fazer um ensaio dele de cueca?
Minha câmera adoraria, e eu também.
Com o celular na mão, vejo que é da casa dos meus pais.
Atendo, fazendo um cappuccino de chocolate, meu preferido.
“Alexia, sua ingrata! — É Isis, minha amiga desde o colégio,
e cunhada.”
“Ah! Oi Isis. — Não evito um sorriso.”
Conversamos por alguns minutos e, como sempre, ela
queixou-se que eu não ligo, e é verdade. Até que gostaria de ligar
mais vezes, mas nunca dá. O horário que tenho disponível pra fazer
isso é muito tarde, quando chego do trabalho. Mas contei a ela
sobre minha “amizade colorida” com Murilo, pois Estou me sentindo
muito moderninha, e ela vibrou por eu ter terminado o namoro.
Todas as minhas amigas têm a mesma opinião sobre o Diego.
Realmente, eu estava insistindo num erro.
Falei com a minha sobrinha, que me pediu um brinquedo
quando eu falei que vou visitá-la em breve. Fiquei rendida por
aquela vozinha meiga, reclamando de saudade. Meu coração fica
apertado e desejo me teletransportar só pra beijá-la e abraçá-la.
Assim que finalizo a ligação, sinto um beijo diretamente na
minha nuca, pois eu estou com o cabelo preso, e meu corpo logo
arrepia. Eita! Já chega assim! Acordou e eu nem percebi. Olho pro
lado e vejo Murilo só de calça moletom e sem camisa, com uma
cara de sono, mas continua bonito. Como pode?
— Bom dia! Senta aqui pra tomar café. — Aponto pra
cadeira do meu lado.
— Bom dia! — responde e senta. — Estou cheio de fome!
Aceno e não evito pensar no sentido sexual da coisa. Cristo!
Meus pensamentos estão cada vez mais devassos.
Sirvo café preto pra ele, que coloca metade de um pão na
boca. Beberico meu cappuccino, que ficou um pouco forte,
constrangida, sem saber sobre o que falar. Eu nunca tive um sexo
casual na vida!
— E agora? Cada um pro seu canto?
Desajustada, questiono. Vou deixá-lo guiar.
— Quer que eu vá embora? — Arqueia as sobrancelhas em
tom de questionamento.
— Não. Não é isso — corrijo depois de perceber a forma
como saiu a frase. Ele achou que eu estava colocando-o pra fora.
— Quer que eu fique então? — Volta a me fitar com seus
olhos brilhantes, que ardem quando me encara dessa forma.
— Não. Quer dizer, se você quiser. — Eu me enrolo um
pouco e ele ri. O safado fez de propósito. — Ah, Murilo!
Depois do café agradável, como se fizéssemos isso há
muito tempo, ele me convida pra correr com ele. Titubeio com um
pouco de preguiça. Ele cruza os braços negando. Olha que volume
nesses bíceps.
— Eu Estou cansada, sério — nego sem me imaginar
fazendo qualquer exercício físico.
— Você acordou agora.
— Estou toda travada. — Ele ri porque sabe o motivo de eu
estar assim. Abusado!
— Uma corrida rápida, mas podemos fazer um aquecimento
aqui mesmo.
Põe a minha mão em cima da calça moletom.
— Você é um safado.
Recebo um beijo com vontade e ele geme enquanto eu o
massageio, sem nenhum sacrifício.
MURILO
Depois de sobreviver de lanchinho durante uma semana,
estou doido pra uma foda de verdade sem pressa e, por isso, acabei
de enviar uma mensagem pra Alexia convidando-a pra ir à minha
casa.
Hoje é dia de alforria, de foder até perder o juízo e dormir
até a hora que eu bem entender. Quero tê-la mais uma vez em
meus braços, por cima ou por baixo, escutando seus gemidos e
súplicas pra me ter cada vez mais fundo. Suas unhas passeando
por mim enquanto chama meu nome... Só com essa imaginação,
tenho vontade de ir aonde ela tá urgentemente.
Nos vimos nessa semana, até fomos almoçar no restaurante
perto do seu trabalho e demos uma rapidinha num motel próximo.
Não aguentei vê-la naquela calça jeans mostrando as pernas e com
a bundinha empinada por conta do salto.
Fecho a gaveta de documentos e, antes mesmo de colocar
meu celular de volta no bolso, ele vibra com uma mensagem dela.
Logo clico pra abrir:
“Daqui a pouco apareço.”
Sorrio empolgado, já imaginando mil sacanagens. Cristian
aparece do meu lado colocando a mão no meu ombro.
— Tá tomando chá de boceta direitinho, né filhote?
Guardo o celular e apanho as minhas coisas.
— Se lascar, caralho!
— Tá de quatro por ela, hein?
Tenho vontade de responder que “ela que fica de quatro pra
mim”, mas seria muito baixo até pra rebater o filho da puta do
Cristian, que tá com um sorriso debochado no rosto. Bastardo!
— Cuidado pra ela não fugir.
— Não vai — reforço. — Nós estamos nos curtindo e só.
Coço a barba. O elevador aparece no nosso andar e
entramos, aproveitando que tá vazio.
— Já comprou a pílula azul pra impressionar? — Ele ri
tirando uma com a minha cara.
— Compra pra você, Luísa estava reclamando aí. Aqui é
puro vigor!
Soco o braço dele, rindo, e ele entra na onda. Bastardo
demais!
— A única coisa azul que eu gosto são os olhos de Luísa!
O elevador apita no térreo e vou em direção ao meu carro,
despedindo de algumas pessoas.
ALEXIA
Murilo tá me transformando em uma tarada. É só ele me convidar
que eu vou, pois sei o que vai acontecer. Com ele me sinto livre e
outra pessoa. Pela primeira vez estou bem confortável sendo eu
mesma, sem ficar me policiando no que eu vou dizer e como vou
dizer pra que ele não entenda errado. Acho que é por isso que a
conversa flui tão facilmente, mas ainda não decidi se isso é bom ou
não, essa conexão toda. Posso sentir falta quando ele for embora.
Prefiro ficar num campo seguro. Estou no processo de cuidar de
mim em primeiro lugar, estou regenerando meu amor próprio, não
posso ficar fantasiando sentimentos, eu preciso sim de afeto pra que
eu me sinta bem, mas o meu mesmo. Estou evitando qualquer
apego emocional.
Se fosse antes, eu não estaria cautelosa, apenas rezando
pra que tudo saia da melhor forma possível. Gosto de comparar
como eu agia antes e como estou agindo em situações parecidas e
ver as diferenças, perceber minha evolução, e estou muito
orgulhosa de mim mesma. Subo pra sua residência, que é linda
tanto por dentro quanto por fora. Toco a campainha e espero ele
atender. Logo vem o moreno gostoso só de calça social, descalço e
com o cinto desabotoado, mostrando um pedaço da cueca boxer, da
Volúpia, que me saúda. Ele fica tão sexy!
Ele dá passagem e jogo minha bolsa no primeiro local que
encontro. Tiro meus saltos, liberando meus pés doloridos. Estou
esgotada.
Eu me jogo no sofá confortável querendo descanso. É,
aprendi a ser cara de pau com ele também.
— Semana difícil?
— Muito — suspiro.
Ele vem sobrepondo seu corpo no meu, me deixando entre
suas pernas. Começa a me beijar do jeito devasso e
automaticamente minha calcinha molha.
— Que tal relaxar? — sussurra no meu ouvido com sua voz
grave. Derreto completamente.
O bom de Murilo é que ele corresponde às minhas
expectativas no sentido do sexo, pois ultimamente homem pra mim
tem que ser igual meu café: quente, forte, gostoso.
— Só porque você fica gostoso demais somente de calça
social — sussurro entre um beijo e outro, rodeando meus braços no
seu pescoço. — Aliás, você daria um belo modelo para a Volúpia.
Faço graça pra ele saber que reparei a cueca patrocinada.
— Trabalho lá, fazer o quê? — Ele sorri. — Falando nisso,
sabe a parte que eu mais gosto da roupa íntima?
Nego com a cabeça, sorrindo pra ele. Oh homem bonito!
— Tirar! — Ataca minha boca com mais vontade enquanto
esquenta as minhas coxas com a mão grande.
Passa a mão pelo meu corpo, lentamente. Beija minha
clavícula e contorna minha orelha com a ponta da língua, como se
tivesse todo o tempo do mundo. Suspende minha saia até a cintura,
puxando minha calcinha.
Minha mão, que não é boba, passeia por aquele corpo
maravilhoso indo direto por dentro da sua cueca, tocando sua pele
quente a ponto de me causar um arrepio na espinha.
— Adoro você no modo safada. — Mordisca meu queixo.
— Só você que tem esse poder — confesso, tomando fôlego
e tentando me livrar da sua calça.
— Bom saber.
Puxa minha camisa e alisa meus seios de forma audaz.
Volto a beijá-lo enquanto seguro sua bunda e o trago pra mais perto.
Gememos juntos pelo contato direto, pois é só o pano da sua cueca
que nos separa. Deslizo até onde consigo e o trago pra mais perto
novamente, sentindo sua pele quente sobre a minha.
Protegidos, ele guia pra dentro. Ofego quando me sinto
totalmente preenchida. Cheia. Gemo absorvendo tudo e Murilo
começa a movimentar com o quadril, devagar, me instigando. Esse
homem é engenhoso!
— Muito gostoso — sussurro, tanto pro sexo quanto pra ele.
Ele fala rouco, trocando de posição e me colocando sentada
no seu colo enquanto me segura pela cintura num abraço.
— Quero você rebolando no meu pau hoje — comanda.
MURILO
Desperto com Alexia enroscada em mim, dormindo serena,
cabelos lisos esparramados pela cama e vestida com a minha
camisa branca. Tem cena melhor do que essa? Sabendo que na
noite anterior estava gemendo meu nome e revirando os olhinhos?
Não existe. Eu me sinto muito bem!
Alexia tem um charme e sensualidade que puta que pariu! À
noite, como sempre, foi intensa, com direito a ela por cima, pois eu
quis ela com os peitos na minha cara. Já disse que tenho tara
naqueles peitos? Escutar ela gemer baixinho enquanto aperta as
unhas nas minhas costas, ao mesmo tempo em que eu empurrava
cada vez mais fundo foi coisa de outro mundo! Impossível não ter
vontade de repetir a dose. Estava tão safada que escolheu a maioria
das posições. Às vezes ela é falante, às vezes só geme. Eu gosto
das duas formas.
Levanto e coloco meu travesseiro pra ela abraçar e ela se
enrosca com os braços e pernas. Pego meu celular e tiro uma foto
dela dormindo. Preciso registrar o momento. Enquanto desço as
escadas com a carteira e celular, depois de ter tomado uma ducha
rápida, coloco sua foto como plano de fundo do aplicativo de
mensagens.
Vou na padaria comprar pão fresco e canela, pra fazer o
cappuccino que ela gosta. Espero que eu acerte a receita. Entro em
casa pendurado no telefone com minha irmã, Isabela. Estou
morrendo de saudade daquela pirralha.
Café e cappuccino quase prontos, tenho ela ainda
tagarelando sobre uma tal excursão de fim de semana. Acho que é
com as amigas, assim espero, mas por desencargo de consciência,
pergunto.
Vejo Alexia, que acabou de aparecer aqui na cozinha,
acenando pra mim ainda com cara de sono. Isabela desliga na
minha cara depois de eu dar tchau. Pirralha!
— Bom dia.
Coloco o celular no balcão e vou pra perto de Alexia dar um
beijo gostoso de bom dia. Ela aceita sem problema algum. O beijo
tem gosto de pasta de dente.
— Bom dia — responde com a voz rouca de sono.
— Fiz seu cappuccino, não sei se tá bom. — Dou as costas,
pego uma xícara e entrego a ela.
Alexia faz uma cara de surpresa, graciosa, agradecendo
sem esconder o sorriso doce. Sentamos pra tomar café e a observo.
Ontem eu tentei aprofundar uns assuntos com ela sobre seus
relacionamentos passados, para conhecê-la melhor nisso, mas ela
logo escapou. Foi notável seu desconforto.
Alexia é um mundo cheio de mistérios indecifráveis, chega a
ser instigante, não sei se por falta de atenção ou desinteresse de
quem passou por sua vida.
— Tá a fim de sair pra beber mais tarde? — proponho.
— Não sei, eu combinei de sair com minhas amigas à tarde,
pra variar. Vou ver se elas ainda vão.
— Ah — concordo. — Tudo bem então.
Ela beberica seu cappuccino pensativa, em seguida vira pra
mim e dá um sorriso.
— Quer vir conosco? — Ela faz o convite.
— Não, pode ir sozinha. — Mostro que tá tudo bem.
— Não, elas vão gostar de te conhecer. — Ela sorri
mostrando que realmente me quer junto.
Acabo aceitando o convite. Por que não? Não me importo
em não ficarmos sozinhos o fim de semana inteiro, já que ambos
temos vida social fora desse lance.
Vamos ver o que elas têm a complementar, e quero
conhecer mais a Alexia. Nada melhor que as próprias amigas, né?
— Agora pela manhã, vamos ao cinema? Lançou um filme
bom recentemente — proponho.
— Aham. Nunca mais fui, até.
Mal posso esperar pra saber sobre Alexia por meio da visão
das suas amigas.
ALEXIA
Depois do filme, sigo com Murilo ao bar, o point de encontro
que eu e as meninas temos. Sentamos em uma mesa do lado de
fora e pedimos bebidas pra esperar elas chegarem.
Espero de verdade que eu não me arrependa de ter feito
esse convite. Estou tentando manter o que temos, cada qual em um
lado, e de repente ele tá prestes a conhecer Natasha e Lizandra.
Estou com o pé atrás, as meninas mais vão aprontar do que
qualquer outra coisa, pois nós andamos conversando sobre ele e
morro de medo das duas deixarem escapar algo, não sei. A situação
é nova e estranha pra mim.
Conversamos sobre coisas aleatórias até Liz, que é a
primeira a aparecer, me chamar. Ela acena com a mão assim que
aparece, sorrindo.
— Oi, sis. — Ela me cumprimenta com um beijo e sorrio.
— Esse aqui é Murilo — apresento-o e ela lança um olhar
examinador.
— Prazer. — Estende a mão, sorrindo.
— Oi. — Retribui o sorriso ao cumprimentá-lo. — Sou Liz.
— Senta aí. — Ele aponta a cadeira e ela senta.
— Natasha vai chegar daqui a dez horas, você vai ver. —
Lizandra me diz.
— Onde ela tá? — pergunto curiosa.
— Com algum “amigo”. — Faz um sinal de aspas com as
mãos, conhecendo a irmã.
— Espero que não demore muito.
Ela dá de ombros e se vira pra Murilo.
— Então você é o famoso Murilo! — sorri pra ele e eu
mando um olhar de repreensão, mas ela finge que não viu.
Eu vou matar Lizandra!
MURILO
Famoso? Pelo jeito Alexia andou comentando sobre mim
por aí. E sorrio por dentro por saber disso. Já gostei dessa Liz.
— Famoso? — pergunto querendo saber mais.
— Ah, eu falei famoso? Não percebi.
Ela finge que não aconteceu nada e eu rio, pois percebi
Alexia tensa.
— De qualquer forma sou eu.
Engatamos uma conversa interessante e percebo
cumplicidade entre elas. Tratam-se feito irmãs e achei bacana. Uma
outra amiga chega e cumprimenta as meninas. Ela se vira pra mim
ainda sorrindo.
— Oi, você é o Murilo que eu sei. — Menos preocupada em
ser discreta. Pelo jeito Alexia andou falando e muito de mim. Se eu
gostei de saber disso? Claro!
— Sou Natasha, irmã daquela ali. — Aponta pra Liz.
Sentamos e pedimos mais bebidas. Passamos a tarde
juntos e fluiu perfeitamente bem, em um clima amigável.
ALEXIA
Eu definitivamente vou ficar órfã de amigas! Vou matar as
duas! Lizandra contou mil coisas sobre mim, sem ninguém mandar,
claro! E Natasha ajudou! Cretinas!
O lado bom é que se deram superbem, em nenhum
momento surgiram conflitos e se trataram bem, parecíamos todos
amigos de longa data. Eu me sinto feliz por isso, pois minhas
amigas nunca implicam com ninguém à toa, parece que tem sexto
sentido, sei lá. Saber que eles se deram bem é bom, pois significa
que Murilo não é como o outro. E não sei dizer o que isso significa.
— Suas amigas são bastante divertidas. — Ele ri na saída.
— São loucas, isso sim. — Rio com ele.
Ele me deixa em casa depois de um amasso gostoso no
sofá, mas interrompeu no meio, me deixando numa situação difícil,
porém com a promessa de que no próximo encontro iríamos
terminar o que começamos. Mal posso esperar.
11
MURILO
Estaciono o carro em frente ao apartamento de Alexia. Decidi
buscá-la pra fazer um programa legal. O dia tá fresco e ótimo pra
um bom divertimento. Eu gosto de inserir Alexia no meu mundo,
fazê-la conhecer algumas coisas que curto.
Toco sua campainha e ela atende. Seguro na sua nuca e a
beijo. Gosto muito disso, de beijá-la, pois ela sempre se entrega,
nunca demos beijos frios, bitocas, só no final do beijo mesmo. Nós
sempre nos beijamos de verdade e é isso que eu gosto!
— Temos um programa bem legal hoje — anuncio.
— Seria o quê? — Questiona curiosa, me segurando na
cintura.
— Surpresa. Mas vai ser divertido.
Resmunga curiosa e eu gargalho.
— Que tipo de diversão?
— Uma que você vai gostar.
— Isso não é uma dica válida. — Fica inconformada e eu
gargalho novamente.
— Vamos.
— Deixa só eu pegar minha bolsa.
Logo saímos em direção ao lugar onde planejei levá-la.
ALEXIA
— Que roupa é essa, mulher? — Aponta pro meu corpo.
Já estamos nos arrumando pra nossa saída da noite. Olho
pra minha saia e automaticamente acho que me arrumei mal.
— Tá muito feia? — pergunto encabulada.
— Feia? Tá maior gostosa, querendo me deixar doido. Vou
me achar lá por estar com você. — Ele ri e eu rio também.
— Exagerado. — Ajeito meu cabelo pela última vez e passo
perfume.
Confesso que seu elogio me afagou de uma forma muito
boa. Murilo tem um carisma único!
Livrar-me do Diego foi um dos maiores favores que eu fiz
pra mim. É difícil soltar as mãos das pessoas com quem
convivemos, mas às vezes é o melhor a ser feito, principalmente
quando você se preocupa com elas mais do que elas cuidam de
você.
Descemos pro carro.
— Vamos pra um pub que abriu recentemente. Que tal? —
aviso nosso destino.
É o pub que eu era doida pra ir com Diego. Cansei de pedir
pra que fôssemos, mas ele nunca quis e foi ótima essa recusa.
Estou indo é com Murilo e sei que me vou me divertir muito mais.
Tem coisas que acontecem e que só entendemos depois.
A primeira coisa que reparei quando chegamos foi o estilo
de decoração. Bem americanizado e moderno. Tá tocando uma
música ao vivo. Murilo segura nas minhas costas em direção a uma
mesa vazia. Apesar de ter bastante gente, não tá propriamente
lotado. O lugar é bastante espaçoso e movimentado. Tem bar em
uma das paredes. Já gostei!
— Amei o local, bem diferente, né?
— Bacana, amo esse rock que estão cantando. A vibe daqui
é boa. — Ele sorri e retribuo o sorriso por tê-lo agradado.
Olhamos o cardápio de bebidas e vi muitas cervejas
alternativas. Estou me sentindo em outro mundo. Pedimos dois
hambúrgueres artesanais e cervejas ao garçom e engatamos um
papo bom, como sempre.
Assistimos os covers da banda que tocava de tudo um
pouco, experimentamos a cerveja um do outro e comemos os
petiscos que pedimos.
— Bora jogar sinuca? — Eu o chamo e ele arqueia a
sobrancelha.
Sorri meio incrédulo, meio confuso.
— Vamos, vem. — Levanto da mesa e vamos em direção ao
lugar que já tem algumas pessoas jogando e assistindo.
Tem um bom tempo que não jogo.
— Podemos participar? — peço com o Murilo do meu lado.
— O jogo já vai acabar. Deixa só ele errar pra irmos pro bar.
— Uma mulher zoa o homem que tá dando sua tacada.
Murilo e eu assistimos atentamente ele tacar e errar. Em
seguida, vários gritos para o pobre rapaz que saiu pro bar junto com
os demais.
— Tome. — Entrego um taco pra ele e pego um pra mim.
— Tem certeza que quer jogar? Vou te encarar como uma
adversária daqui pra frente. — Sorri confiante.
— Dê o seu melhor, perdedor de kart! — provoco.
— Depois não peça arrego chorando. Você começa!
Ele acha mesmo que eu o chamaria pra jogar se não me
garantisse? Justo eu que sou competitiva? Ele não me conhece!
Inicio o jogo normalmente e acerto a bola três, fico com as
bolas de um a sete e ele com o resto. Erro, dando espaço pra ele
começar sua tacada.
Vou explicar mais ou menos como funciona a sinuca, caso
não saibam. São quinze bolas, sete pra cada, fora a preta, que é a
última que tem de ser encaçapada.
Eu, como acertei a três, fiquei com as bolas de um a sete
pra acertar, enquanto Murilo precisa encaçapar as bolas de ficou de
nove a catorze. Quem conseguir acertar primeiro as sete bolas nos
buracos, na última tem que acertar a preta pra ganhar. Se
encaçapar a preta antes das sete, perde.
Murilo encaçapa a primeira bola e sorri convencido pra mim.
Reviro os olhos, lanço a bola cinco no buraco e dou uma piscadela,
provocando.
Jogamos entre provocações. Cá entre nós, eu sei jogar
bem. A bola da vez precisa ser acertada e sobrou pra mim. Eu tenho
a bola sete e ele a nove pra encaçapar. A minha tá pertinho do
buraco.
Tenho que acertá-la ou dou chance pra ele ganhar.
A disputa tá acirrada.
— Essa posição me dá muitas ideias... — Murilo se debruça
do meu lado e sussurra apenas pra eu ouvir.
— Eu sei o que você tá fazendo. — Tento continuar
concentrada.
— Vou alugar uma mesa dessas só pra matar essa vontade
de te ver empinada assim, só que nua.
O placar final apontou Murilo como o ganhador, debochando
de mim e eu com vontade de tacar a bola nove na cabeça dele. Fez
de propósito, fiquei desconcentrada e errei.
Antes de irmos embora, até dançamos uma música. E ainda
debochou que era a dança pra comemorar sua vitória na sinuca. Ele
é um atrevido e provoca!
— Onde você aprendeu a jogar assim, hein? — questiona
curioso indo em direção à casa dele. Meus pés estão cansados por
causa do salto.
— Meu irmão me ensinou. Ele queria treinar pro
campeonato que ele e os amigos faziam. Acabou me ensinando pra
jogar com ele.
— Ele te ensinou muito bem. Teve momentos que achei que
ia perder.
— Só não perdeu porque me desconcentrou. Estou em
greve.
Fico birrenta. Odeio perder, sou competitiva demais.
— Ah é? Quero ver até onde essa greve dura. — Repousa a
mão quente nas minhas coxas.
— Pare, filho da mãe! — esbravejo e ele gargalha.
Fizemos o resto da viagem nos provocando e eu o
chamando de trapaceiro.
— Estou com os pés cansados — reclamo do salto com a
bolsa nas mãos e com preguiça de andar.
Murilo pede pra eu esperar e dá a volta no carro.
— Vem. — Ele me carrega entregando as chaves do carro,
travo as portas e ele segue andando comigo no colo.
— Só pra você saber, ainda estou em greve. Nem adianta
ser cavalheiro nesse momento. Não vou mudar de ideia — aviso
segurando no seu pescoço.
— Ah que pena! Então você vai andando. — Finge que vai
me colocar no chão.
— Não! Pare! — berro de imediato me prendendo mais no
seu corpo e ele ri.
Entramos na casa dele e eu logo solto a bolsa e o salto em
qualquer lugar. Ele tranca a porta e me carrega de novo em
surpresa, correndo em direção ao seu quarto. Joga-me no colchão e
coloca esse corpo maravilhoso em cima de mim. Esse beijo que ele
me dá é indecente, arrebatador, me acende e me deixa sem fôlego.
Murilo puxa minha camisa e joga em um canto qualquer.
— Ainda tá em greve? — Contorna meu pescoço com os
dedos, descendo pro vão dos meus seios.
— Você é muito maldoso e cínico. — Fito seus olhos e em
seguida a boca.
Não espero mais nada e o beijo de novo. Como manter uma
greve com ele jogando sujo desse jeito? A greve não durou nem
uma hora. Murilo me paga!
— Pra onde você tá indo? — questiono quando ele sai de
cima de mim.
— Espera. Eu volto rápido.
Sai do quarto e tento controlar a respiração arfante. Logo
aparece, sorrindo e segurando um chantilly em spray. Arqueio uma
das sobrancelhas pela cara de garoto safado que ele tem.
— Você vai gostar, deite e aproveite. — Vem pra cima da
cama flexionando os braços fortes que me abraçam.
Claro que vou!
— Você tá muito gostoso assim... — Sorrio pra ele, que tá
com os cabelos despenteados.
Pede pra que eu levante e obedeço, ficando de joelhos
assim como ele. Distribui selinhos pelo meu pescoço. Tiro sua
camisa e ele desabotoa meu sutiã. Segura os meus seios e os
aperta. Jogo a cabeça pra trás reagindo positivamente.
Caímos na cama com as bocas coladas e minhas pernas
entrelaçadas no seu quadril, pra que ele fique mais perto. Logo
espalha chantilly entre meus seios.
— Parece que sujou. Terei de limpar.
Ele passa a língua nos meus seios, tirando a maior parte do
chantilly e me fazendo tremer por causa do contato da sua língua
quente passando pelo meu mamilo, e em seguida abocanha. Limpa
um e depois o outro. Cada vez que ele suga meus mamilos tenho
uma reaçãozinha diferente. Às vezes gemo, outras me contorço ou
os dois de uma vez.
Ele espalha mais na minha barriga e desce minha saia junto
com a calcinha. Suja entre minhas coxas até o umbigo e continua
seu trabalho. Abre minhas pernas me deixando exposta e passa a
língua de ponta a ponta. Estremeço toda. Sinto sua língua quente
me lambuzar mais e me chupar ao mesmo tempo, não evito rebolar
na sua boca querendo e sentindo necessidade de mais.
— Agora faremos uma coisa mais gostosa, na qual ambos
seremos ganhadores.
Logo o vai e vem, certeiro, me faz sair de órbita. A
velocidade é intensa, mas não a ponto de me machucar. Vai no
lugar certo pra que tudo fique ainda melhor.
Ofego e arranho suas costas já suadas, sentindo um arrepio
maravilhoso. Estamos descontrolados e a bebida que tomamos
deixou tudo mais aflorado. Fecho os olhos absorvendo aquilo tudo
em mim, com as fagulhas espalhando pelo meu corpo, e Murilo não
demora a me acompanhar.
Aos poucos, tá me estragando pra qualquer outra pessoa.
Com certeza eu não serei mais a mesma quando tudo isso acabar e
não estou preparada pra definir o que será positivo ou negativo
futuramente.
12
ALEXIA
Com Nat do meu lado, seguimos pra almoçar. Liz resolveu
vir nos buscar. Murilo tá meio ausente nessa semana. Ele disse que
tá resolvendo umas coisas urgentes no trabalho e eu entendi
completamente. Conversamos por mensagens. No restaurante,
bombardeamos de fofoca sobre todos ao nosso redor. Soube coisas
de pessoas que nem conhecia, mas fiquei curiosa pra saber o
babado, afinal, é fofoca, oras!
Nossos almoços sempre são assim, muitos risos e
conversas sem sentido, ao menos quando estamos sem problemas
graves. Aí montamos o esquadrão de resgate. A última que precisou
fui eu, e cá estamos nós, sorridentes e felizes. Minhas amigas são
minha família mais próxima, já aguentamos muitas barras umas das
outras. Somos nós três desde a época da faculdade, mal tínhamos
completado vinte anos. Liz já, mas eu e Nat não.
— Alie. — Liz me chama e sei que vem novidade, pelo tom
da voz. — Sabia que uma pessoa tá com caso novo e não contou?
— Coloca a mão na boca em tom de confissão.
— Como assim? — questiono.
— É de você mesma que estou falando, Natasha! — Liz fala
pra irmã, que estava fazendo cara de paisagem e ri.
— Nat? — Olho querendo saber do babado.
— Natasha tá pegando um boy gatinho e, se eu não me
engano, já o vi entrando no prédio de vocês. —Dedura a irmã, que
fica estática na hora.
Olho pra ela retribuindo o sorrisinho e levanto as
sobrancelhas sacaneando também.
— Natasha? Não me diga que finalmente deu chance ao
Fábio! — debocho.
— Deus me defenda do Fábio! — Vira-se pra irmã. — Como
você descobriu, sua ridícula?
— Você acha que me engana? Você sempre foi mal-
humorada e ultimamente só anda de sorrisinhos. Óbvio que estava
dando regularmente pra alguém. — Liz sustenta seu sorriso
malicioso.
— Quem é o homem, gente? — Não contenho a
curiosidade.
É, quem não fica empolgada quando descobre que sua
amiga tá de caso novo que atire a primeira pedra.
— Gustavo — sussurra para as outras pessoas das mesas
não ouvirem.
— Gustavo? Gustavo... Gustavo? — Estou perplexa com a
novidade.
Ela repete com a voz totalmente debochada, me imitando.
— O diretor financeiro, Natasha? Aquele que chegou
recentemente? — Tento esclarecer mais uma vez.
— Sim, ele mesmo. Ele é gostoso demais, não deixaria
passar. — Dá de ombros e eu fico chocada.
Liz escuta tudo calada e interessadíssima. Fofoqueira!
MURILO
Em direção à casa de Alexia, me certifico de que tá tudo
aqui. Acho que ela nem me espera hoje. As duas semanas que
passaram foram um pouco monótonas. Trabalhei muito em cima de
relatórios e orçamentos. Pesquisei e analisei a concorrência, criando
estratégias para as vendas, pra maximizar os lucros, e acho que
vem notícia boa pra mim.
Hoje não quero pensar em trabalho algum, estou a fim de
curtir uma calmaria, com um toque de aventura, claro. É isso que
me move!
Quero surpreender Alexia hoje com uma aventura diferente.
Estava de bobeira em casa, até que lembrei de um lugar bacana
que já fui. Numa simples ligação descobri que abriram temporada
recentemente, reservei e pronto, podemos ir.
Vamos passar o final de semana fora, longe da cidade.
Merecemos, pois sei que o trabalho dela também a tira do sério.
Alexia abre a porta com um sorriso doce e surpreso ao se dar conta
que sou eu. Adoro o sorriso dessa morena.
— Ei, morena... foge comigo hoje — proponho em um tom
arrastado, debruçado na soleira da porta. Ela não terá como
recusar.
— O quê?
— Vamos fugir da cidade nesse final de semana? — Faço a
proposta mais uma vez.
— Tá maluco, Murilo? — Ri.
— Não. Arruma suas coisas e vamos. Temos um programa
muito bom nesse final de semana. Vai gostar.
— Não tem como sair sem mais nem menos, ainda mais
agora, quase sete da noite, nem planejamos.
— Confia em mim? — Puxo-a pela cintura pra colar seu
corpo no meu. Gosto dela perto.
— Confio.
Gostei bastante da sua resposta.
— Então? Foge comigo. Eu aposto que vai amar.
ALEXIA
Já falei que Murilo é louco? E pior, eu embarco nas loucuras
dele sem ligar. Estou receosa, apesar da curiosidade que se instalou
em mim. Ainda vem com aquele tom arrastado: “ei, morena”. Ele
sabe o efeito que isso causa em mim e abusa. Atrevido e abusado!
Perguntei pra onde iríamos, mas ele não respondeu. Só
disse que eu gostaria e seria uma pequena aventura. Ele adora isso,
querer fazer surpresa e eu fico me consumindo por dentro pra saber
o que é!
Estou contando com isso e, mesmo não sabendo, confesso
que estou eufórica. Eu gosto das aventuras e emoções que ele traz
na minha vida, até então sem graça, e vou me deixar levar com ele
e suas loucuras. Não tem como dizer não. Vamos hoje e voltamos
no domingo, foi a única coisa que me disse, além de pedir pra levar
roupas confortáveis, que eu ia amar, claro!
Por isso separei só uma mochila com um pequeno kit
essencial pra qualquer ocasião: do biquíni ao vestido arrumado.
Nunca se sabe, não é?
— Vamos pra onde, afinal? — Tento tirar mais alguma
informação dele.
— Fazer um programa bem legal. — Não me dá pistas.
— Isso tá parecendo um déjà vu — resmungo inconformada
e ele gargalha alto, ecoando no carro. O barulho faz minha barriga
agitar. Vejo que estamos na BR. Pelo jeito não é perto.
Com uma hora e meia de viagem eu já estava cochilando e
sem nenhuma pista de onde estamos indo, pois ao redor existem
somente plantações e casas rurais.
MURILO
Sabe aquela sensação de que, do nada, tudo desanda? Que
a rotina muda completamente e as semanas que se passaram
parecem uma realidade distante? Ficou tudo meio bosta, nem a
notícia boa que recebi essa semana conseguiu melhorar essa
sensação.
Não vejo Alexia faz uma semana, desde a rápida viagem e o
pulo de paraquedas. Nem sequer responde direito minhas
mensagens. Parece que ela está nessa mesma vibe bleh que eu.
Estou doido pra encontrá-la e confesso que sinto um pouco
de saudade. Sinto falta da companhia dela. E o pior é que ficarão
ainda mais difíceis nossos encontros. Eu queria curtir essa semana
com ela, pois segunda-feira viajo pra resolver minhas ações, que
finalmente foram pra frente! Tem muita papelada pra dar conta,
reuniões com sócios e acionistas da empresa e não sei como vai ser
a partir de agora, nem sei quantos dias vou ficar lá. Eu disse que
minha vida deu um giro essa semana e quero saber se fiz algo de
errado que a chateou. Odeio coisas mal resolvidas.
Ela disse que tá abafada lá e tento entender e não pensar
bobagens. Christian ficou dizendo que ela estava enrolada com
outros e essa hipótese me incomodou.
Hoje vou finalmente matar minha vontade. Talvez ela tenha
ficado chateada por tê-la levado para o centro de paraquedismo
sem aviso prévio e a feito pular de paraquedas, essa é a única
hipótese que vem na minha mente. Digito uma mensagem pra ver
se dessa vez responde. Guardo o celular e o elevador apita no
térreo. Vou em direção ao meu carro, disposto a ir na sua casa.
Decidi ir lá e não esperar uma mensagem pedindo permissão. Estou
parecendo um louco atrás dela, mas fazer o quê?
Faço a viagem batucando e cantando as músicas que
estavam tocando na rádio. Não vejo a hora de ver Alexia. Preciso
dar uma, duas ou três. Urgente! Paro o carro e vejo as luzes acesas.
Pelo menos ela já tá em casa. Toco a campainha e espero ela
atender.
A porta abre mostrando uma Alexia abatida na soleira.
— Sentiu saudades de mim, morena?
Me debruço, deixando meu rosto perto do seu. Vejo que tá
preparada pra dormir, mas, se depender de mim, não vai tão cedo.
Quero contar a novidade pra ela, quero comemorar isso de um jeito
bom!
Ela me dá passagem e me jogo no sofá. Ela faz o mesmo.
— Por que me ignorou esse tempo todo?
Faço cara de pena com a mão no peito em puro drama pra
ver se ela se compadece da minha situação.
— Estava enrolada — reclama, mostrando um visível
cansaço. E penso em outros tipos de enrolamentos, mas esse será
bem melhor.
— E vai ficar de novo, só que comigo na cama.
Puxo-a pro meu colo e ela vem sem objeções. Gosto dela
assim, aqui em cima.
— Não sei…
— Ficou chateada com alguma coisa que eu fiz? —
pergunto para saber, afinal. — Foi por causa do pulo de
paraquedas?
— Não, não é isso — ela nega, sorrindo de lado. — Não
Estou chateada com você, de verdade.
— Então, por que tá distante? — Arqueio uma das
sobrancelhas.
Ela se retrai repuxando os lábios, parando com o contato
visual.
— Impressão sua.
Suspendo seu rosto pra que volte a me olhar. Cadê a Alexia
de antes?
— Quer que eu vá embora? Estou forçando a barra? —
pergunto, rezando que ela negue.
— Não. Não quero que vá.
Pede baixinho. Aceno, alisando seus braços, e ela suspira,
apoiando a testa no meu ombro.
— Tenho uma novidade! — Mal escondo minha satisfação.
— O quê?
— A minha proposta encaminhou-se na empresa, querem
que eu vá lá segunda-feira pra conversamos. Vou viajar!
Sorrio abertamente, mas Alexia não me acompanha,
fazendo com que eu perca a vontade de continuar sorrindo. Franzo
o rosto.
— Que legal, Murilo! Fico feliz por isso! — Sua alegria é tão
falsa quanto minha vontade de fazer reunião aos sábados.
— Você não tá me parecendo feliz. Tá com algum problema,
Alie? Eu posso te escutar.
Encaro-a intrigado e ela mais uma vez foge dos meus olhos.
Essa mulher não tá bem, é fato. E seria bom que ela confiasse em
mim.
— Não, eu estou feliz, só que... Nada! Esquece! — Ela nega
com a cabeça, repuxando os lábios num sorriso. — Sei que você vai
se sair bem lá, viu?
Ela me fita com uma carinha triste e mal disfarçada,
deixando meu coração pesado. Parece ainda mais doce.
Claramente está vulnerável com algo, mas não quer me dizer.
Viro o rosto e cheiro seu pescoço rapidamente, trazendo-a
pra mais perto, encaixando direito. Ela ofega baixo, contorcendo-se,
me segurando pelo ombro. Bom sinal! Sinto meu pau endurecer na
hora e impulsiono meu pé, devagar, pra sentir como estou fazendo
seu corpo subir e descer, lentamente, causando um atrito sob nós;
ela arrepia e sua respiração muda. Mais um bom sinal. Não me
afastou.
— Estou doido pra ter você. Uma semaninha sem nem um
beijo. Tem certeza de que não quer? — pergunto, morrendo de
tesão e a consertando no meu colo mais uma vez. Sinto o sangue
correr todo pra baixo.
— Você é muito engenhoso... — sussurra, morta de tesão.
— Mas você gosta que eu sei.
ALEXIA
Ataca minha boca com puro fogo. Claro que gosto. Mais do
que deveria, até.
Eu tento parar de vê-lo até reorganizar minha mente, mas
de que forma? Ele tá aqui no meu apartamento, cheio de fogo, me
incendiando. Eu sou uma reles humana, oras!
Distribuo beijos leves no seu pescoço e contorno a orelha
com a ponta da língua, assim como ele fez comigo. Ele geme, puxa-
me para mais perto enquanto aperta minha bunda fortemente,
depois de ter se livrado da minha camisa e sutiã. Gemo e rebolo,
tentando ter mais dele. Perco-me naquele corpo, nem que seja
momentaneamente, talvez pela última vez.
ALEXIA
— Você vai sim, Alexia! — Natasha ordena. Se não tivesse
a mesa nos separando acho que eu teria tomado um tapa no rosto.
— Pois é, nunca mais uma festa juntas. — Liz se queixa. —
Estamos solteiras, porra!
— Eu sei que estamos! Eu Estou com preguiça de ir, quero
terminar a série que estou assistindo.
Nessa última semana o que eu mais faço é assistir séries.
Quando estou imersa nos mistérios de Pretty little liars minha vida
fica mil vezes mais fácil, pois não tem ninguém de casaco vermelho
querendo me matar. Eu acho.
Minha vida voltou à rotina de antes, casa, trabalho, séries e
dormir. Evitei entrar a todo o momento na rede social para ver se
Murilo estava online, porque me peguei, mais de uma vez,
ampliando sua foto de perfil. Continua a mesma de antes. Lindo,
sorrindo sem camisa e molhado na cachoeira. Fui eu quem tirei.
Tudo está um completo caos, estou numa apatia horrorosa,
de saco cheia de mim mesma. Meu aniversário está chegando e eu
não tenho vontade de comemorar. Estou num completo desânimo
para socializar. Pra ser sincera eu nunca gostei de lugares cheios,
eu fico com vontade de voltar pra casa antes mesmo de ir. Apesar
de que quando chego lá eu me divirto e muito! Eu só preciso
convencer o meu corpo disso.
— Série a gente assiste dia de semana antes de dormir, no
final de semana é para rebolar! — Natasha beberica seu suco.
— Mas você nem vai com a gente, Natasha.
— Mas você acha que eu não vou me divertir, não? Vou
rebolar sim, sis, mas em outra coisa! — Dá uma piscada e eu rio
junto com Liz. — Vai com a Liz, aproveita que ela não gosta de virar
a noite.
— Concordo plenamente. O bar é ótimo! Vamos nos divertir
muito!
— Tudo bem — me rendo.
Talvez essa saída seja boa, não posso parar de tentar ser
uma nova Alexia só porque parte do meu coração está na mão de
uma pessoa.
MURILO
Não estou nem um pouco feliz por estar começando a
realizar uma coisa que queria muito. A sensação é a de que está
faltando algo. Mas já sei o que é, não é necessariamente o que,
mas quem.
Gamei naquela morena de sorriso doce. Em cada detalhe
encantador. Morro de vontade de descobrir mais sobre ela, escutar
o que ela tem para falar, decifrar seu jeito retraído, mas que com
uma dose de coragem se transforma completamente.
Essa semana foi a mais bosta que tive. E pior, não nos
falamos mais, ela cortou relações. No domingo à noite eu até
perguntei se poderíamos nos ver para uma despedida digna, mas
ela negou, disse que estava de saída com as amigas e eu
concordei, frustrado. Segunda-feira mandei mensagem de rotina e
ela não visualizou até hoje. Ou tirou a visualização, ou me bloqueou.
Eu estava gamadão nela, mesmo antes de vir, mas precisei
de uma semana longe e meia garrafa de whisky para perceber isso,
o que esteve na minha cara por um bom tempo.
Alexia é a pessoa mais pura que conheço, merece o mundo
e nem se dá conta. Estou morto de saudade. A boa notícia é que a
última reunião dessa etapa está marcada, é sexta-feira que vem, eu
estou caindo fora daqui.
Tudo tá dando certo, claro, mas tá chato uma semana inteira
de reuniões, negociações, conversa com um, conversa com outro,
nem todo mundo tem disponibilidade de horário. Vou atrás de
documento, converso com o gerente do meu banco, trabalho
online... Tem sido uma semana cansativa!
Pego meu celular e vejo uma foto de Alexia na rede social.
Está num bar com várias amigas. Linda demais essa morena, e de
batom vermelho! Puta que pariu!
Parece muito bem, divertindo-se com o grupo de mulheres,
o sorriso é contagiante.
Com todos esses sinais que ela me deu, de interromper
contatos, a carinha fechada que estava quando saí do seu
apartamento no dia em que tudo acabou, a frieza, é perceptível a
rejeição de Alexia para certos contatos afetivos, apesar de ela ter se
mostrado um poço de mistério quando se trata de certos assuntos.
Alguém a machucou, está claro isso, mas a vida é curta demais
para não tentar de novo.
Eu não vou ficar de braços cruzados, deixando-a se afastar
sem ao menos tentar. Por isso, vou cumprir minha promessa de ela
ser a primeira pessoa que verei quando retornar, e será pra falar
sobre nós. Quero essa morena pra mim e vou convencê-la disso!
ALEXIA
— Vai mesmo jogar fora tudo que vivemos juntos? — ele
põe pressão em mim. — Você prometeu que voltaríamos!
— Eu não prometi nada! Nosso tempo acabou, supera! —
dou meu veredito pontuando mais uma vez para ver se ele entende
e percebe que estou falando sério.
Estava chegando do trabalho e de repente o encontrei na
porta do meu apartamento. Tentei mandá-lo embora e simplesmente
entrou comigo, quebrou minhas coisas, gritou o que bem quis e
ainda acha que temos que voltar. Eu fico sozinha o resto da minha
vida, mas não volto pra ele. Estou me redescobrindo, sentindo-me
livre. Não vou voltar pra quem me aprisiona.
— A gente se ama!
— Faça-me o favor! Você me tratava feito lixo e, se você
não sabia, eu existia quando você não estava com vontade de
transar! Vai embora! Não queira reivindicar uma coisa que você
mesmo fez questão de perder! Eu te avisei!
Aumento um pouco meu tom de voz, indignada. Ele faz uma
cara ridícula de deboche, como se eu estivesse blefando. Estou com
muita raiva e um pouco transtornada, com vontade de voar na cara
dele só por lembrar de tudo que já passei enquanto namorávamos.
E principalmente pelo flagra com a outra.
— Você não pode ter me esquecido assim, Alexia! — Mostra
irritação na voz, me puxando pelo cotovelo de modo grosseiro,
como se tivesse mais algum direito sobre mim. — Você se lembrará,
nem que eu precise abrir sua cabeça!
O apertão dele dói e a ameaça raivosa me amedronta, mas
não consigo sair. Ele é claramente mais forte.
— Solta ela, babaca! — Escuto a voz de trovão de Murilo e
percebo que está com raiva, muita raiva. — Tá a fim que eu te
arrebente aqui e agora? — arranca as mãos de Diego de cima de
mim, sem gentileza, empurrando-o pra que saia de perto.
O que ele tá fazendo aqui? Sinto meu coração falhar uma
batida com sua presença bem próxima e seu perfume invadindo
meu olfato. Vejo Murilo me defender e não consigo deixar de gostar
disso; com ele aqui sinto uma sensação de proteção. É, eu gosto de
me iludir.
A confusão tá feita, Murilo dá vários socos em Diego a ponto
de deixá-lo com o nariz sangrando. Murilo, cada vez mais
descontrolado, dá mais socos fortes, o segurando pela camisa,
xingando e mandando ficar longe de mim. Diego tenta devolver o
soco, mas Murilo continua batendo com uma raiva que parece que
não vai passar tão cedo.
Diego tenta apenas se defender, pois não tá possibilitado de
bater. Murilo esbraveja palavrões e eu fico sem ação, sem saber o
que fazer, só olhando assustada.
— Murilo, para! — mando, sabendo que essa briga pode
prejudicá-lo.
Daqui a pouco começa a chamar a atenção dos vizinhos e
eles chamam a polícia.
MURILO
Soco a cara do babaca com uma fúria imensa, por ele ter
falado merda para Alexia e por tê-la segurado com grosseria, como
se fosse uma boneca de pano. E que merda ele acha que é pra
falar assim com ela?
Se ele gosta de medir força com ela, então aguenta medir
força comigo, mano a mano.
— Chega, Murilo! — escuto Alexia, que está nervosa
demais, tentando interceptar. E recuo, ofegante, largando-o.
Não sou um homem agressivo, não quero que Alexia tenha
medo de mim. O babaca tá com a roupa amassada e o nariz
sangrando, estou achando pouco.
— Cai fora, vá! Ou vai baixar camburão! — ameaço, com a
respiração entrecortada.
O idiota levanta com a boca sangrando e com a expressão
mortal, com certeza é algum ex dela. Nem precisa ser inteligente pra
sacar isso. Ele vem pra cima dela e eu o empurro, ele se
desequilibra novamente, cambaleando pra trás e tenta mais uma
vez. É sério que Alexia se relacionou com um sujeitinho baixo
desse? Muito mau gosto!
Dou mais um soco, um só, um soco oco e ele põe a mão no
nariz.
— Isso vai ter troco!
Saí de passos apressados, quase correndo, com a mão no
nariz sangrando, tropeçando na minha mala que está no chão.
Ofegante, me viro para uma Alexia desestabilizada demais
para dizer qualquer coisa, nem sustenta o olhar. Agora sei o porquê
de ela ser do jeito que é, o babaca fez uma lavagem cerebral nela.
— Será que podemos conversar agora? — questiono,
passando as mãos nos cabelos para me recompor.
Ela não responde, apenas abre a porta e me dá passagem
com uma expressão triste, uma cara de choro. É nítido que ele
conseguia desestabilizá-la. Ele sabe disso e jogou sujo. Ver ela
assim me dá um nervoso desgraçado e tenho vontade de ir atrás do
sujeito e espancá-lo.
Alexia senta no sofá, ainda quieta, e sento do seu lado.
Claramente ele não aceita perder, ver essa mulher e pensar: “como
deixei essa mulher incrível ir embora?”, e perceber que não é com
ele que ela tá é de bater desespero mesmo.
Olho sua sala com algumas coisas quebradas, como porta-
retratos e outros itens de decoração, inclusive a palmeira que ela
tem na sala, que tá caída. O que esse desgraçado fez aqui dentro?
Dou tempo para ela se acalmar. Estou nervoso, com
vontade de mostrar a ela que não é porra nenhuma que ele disse.
Um verdadeiro livro de matemática. Por fora uma capa feliz, que
engana, onde tudo parece fácil, mas por dentro tem questões e
problemas que não conseguimos decifrar de imediato e precisam de
tempo e atenção para que se tudo torne mais fácil e solucionável!
15
MURILO
— Ele te machucou muito? — Seguro no seu pulso,
examinando algumas partes avermelhadas.
— Não — ela fala, em som quase inaudível, e solto um
longo suspiro pela situação.
A intenção era chegar aqui, encontrá-la em casa, só que
sozinha, pedir para conversar e no final da noite estaríamos
enroscados e ofegantes na cama. Isso foi o que planejei
mentalmente, mas a situação já começou errada.
— É frequente isso? Quer ir na delegacia?
— Murilo, por favor. O que você veio fazer aqui? Eu preciso
ficar sozinha. — Suspende o olhar, limpando os olhos rapidamente
com as costas das mãos, puxando a respiração.
— Queria te ver — sou sincero. — Senti sua falta.
Vejo seu queixo tremer, não sei se controlando o choro ou
se preparando para cair nele, mas sua expressão continua
quebrada, de partir o coração.
— Já me viu, pode ir já. — Sua voz de choro faz com que eu
a olhe, mas ela não me encara.
— O quê? Para de me tratar dessa forma, Alexia. Desde
que eu fui viajar que tá nessa frieza.
— Preciso que vá, Murilo. Eu preciso ficar sozinha, por favor
— suplica.
— Não vou! — nego, levantado do sofá, totalmente
impaciente com essa merda toda. Sei lá o que aquele idiota falou
pra ela antes de eu aparecer pra estar desse jeito.
— Eu não quero mais transar com você, nem nada disso.
Vai embora! — diz em um tom de voz grosseiro. Se ela acha que
simplesmente vou acatar e sair, está muito enganada. Passo a mão
nos cabelos, dando um muxoxo impaciente vendo Alexia vulnerável.
— Não é sobre sexo, Alexia, já deixou de ser só isso há
muito tempo. Entendo que tá machucada, mas deixe-me te ajudar.
— Não, Murilo. Não quero ajuda, não quero nada. Eu não
quero estar perto de você, porque o que eu preciso é além do que
você me ofereceu, eu não posso te dar forças pra que me jogue no
precipício. Eu não quero mais ser pisada, eu me iludo fácil!
Fito os olhinhos quebrados e chorosos da minha morena.
Com essas palavras percebo toda sua mudança e frieza desde que
eu falei que iria viajar. O que eu sinto por ela é recíproco, mas por
ser machucada de tantas formas, ela preferiu fugir, fingir que o
sentimento não existia, por medo que a rejeitasse. Ela precisa saber
que a opinião do outro lá não é válida pra ninguém.
— Não foi bom da última vez, mas isso não significa que os
próximos serão ruins.
Em um tom mais ameno, digo a verdade, tentando acalmá-
la enquanto aliso seus cabelos. Alexia não merece ter um ex-
namorado babaca daquele jeito. Ninguém merece, na verdade.
— O que você quer dizer com isso, Murilo? — A voz
embargada dela me quebra demais!
— Morena, eu Estou tão, mas tão apaixonado por você
inteira, que fiquei duas semanas me corroendo de saudade. Precisei
viajar pra ter um surto de realidade e saudade ao mesmo tempo. Eu
quero te descobrir, entender quem você é, sem pressa.
— Não quero sua piedade, eu não sou criança que tem que
fazer as vontades. Eu sei o que eu mereço e quando as pessoas
são além do que eu posso ter.
— Piedade, Alexia? Olha a merda que você tá falando. Sinto
muito te dizer isso, mas ele não gosta de você, é só orgulho ferido.
Só não tá aguentando ver você seguir em frente. Deixando-o no
passado. E enxergando que você é essa mulher toda e ele perdeu
por ser um babaca. Eu não tenho o mesmo pensamento que ele, eu
te enxergo diferente, enxergo a verdade! —Controlo-me pra não
gritar. Estou muito nervoso.
— Isso é para o meu próprio bem, achei que estaria
preparada para essa nova aventura, mas não estou! Eu não sirvo
pra isso, eu não sou bem resolvida pra não me envolver
sentimentalmente. Só vai, por favor… futuramente agradecerá por
não ter ninguém carente no seu pé. Eu não sirvo pra sexo como
você deve estar acostumado!
Não sei o que é pior: esse merda fazer isso com ela ou ela
acreditar nele. Odeio vê-la desamparada, eu quero ela sorrindo,
principalmente pra mim. Puxo-a pro meu colo quando me sento no
sofá, e ela recosta a cabeça no meu ombro, como uma garotinha
frágil. Preciso tê-la e mostrar que ela é muito mais do que aquele
babaca falou.
— Para de me afastar quando o que eu mais quero é ficar!
Eu estou apaixonado pelo que você é. Eu vejo suas inseguranças e
também os seus pontos fortes, e nada disso me impede de te achar
uma mulher linda! Eu quero você, morena, namora comigo? De
todas as aventuras em que me joguei, você tá sendo a mais
recompensadora e gratificante.
— Murilo, não faz isso... Você talvez se mude, eu vou te
atrapalhar!
Ela acha mesmo que vou sair da vida dela assim, fácil? O
que mais quero é ficar. Puxo seu rosto pra perto do meu pra ela
perceber a urgência da coisa.
— Quero você antes de tudo, entendeu? Qualquer coisa é
segundo plano quando tenho você na minha frente. Prioridades.
Você é a minha no momento, o resto fica chato sem você.
Fito seus olhos chorosos e ela acena. Sou tomado pela
euforia imediatamente. Ela sorri, limpa os olhos e ataco sua boca,
numa saudade que estava sufocante. Ela sempre corresponde meu
fogo e eu adoro isso!
— Quando olho pra você, sinto meu coração bater forte.
Quando escuto sua risada, minha barriga agita e consigo conversar
com você sem parecer estúpida. Quando você sorri, e sou eu quem
provocou o riso, sinto-me boba. Eu chorei diversas vezes quando
você estava viajando porque tê-lo era a coisa mais distante pra mim,
e me sinto mais boba ainda de estar falando isso para você.
Impossível não se sentir importante, com ela fazendo
questão da minha presença. Gosto disso, desse frescor de começo
de relacionamento. Tomara que não fique monótono, ou que eu
esteja tomando chá de xota, como Cristian diz.
Namorar é foda demais porque na mesma hora que o casal
tá brigando, quando menos percebe já tá transando. É uma das
coisas mais malucas e boas que inventaram.
ALEXIA
O ser humano é feito de água e de insegurança na mesma
proporção. Quem de nós precisa de inimigos reais quando a maioria
tem mania de se autossabotar por medo? E pior, nem percebe... Eu
mesma, não canso de fazer isso, mas acaba que quando o coração
é partido inúmeras vezes ou ainda tá magoado, vai ficando cada vez
mais difícil dar uma nova chance, acreditar em algo. Tentamos com
o errado tantas vezes, que, quando chega um que parece o certo,
nós corremos. No fundo, nós sabemos quem queremos e quem
realmente merece fazer parte dessa caminhada com a gente, mas o
receio de sair machucada muitas vezes amedronta.
Abraço o Murilo mais apertado e coloco meu rosto na curva
do seu pescoço, aspirando seu cheiro. Ele tem um cheiro tão bom,
que me traz segurança. Ele retribui o abraço num aperto forte e só
para quando eu resmungo, mostrando que estamos normais.
São poucas, mas sei que ainda existem pessoas que valem
a pena manter por perto, e sinto que Murilo vale. Sabemos que
encontramos a pessoa certa quando não temos medo de ficarmos
vulneráveis. Eu contei a Murilo sobre toda a novela que eu entrei há
dois anos e em momento algum ele ridicularizou minhas angústias;
me deixou chorar no seu peito enquanto falava sobre todas as
minhas inseguranças, e isso é um dos perigos mais
recompensadores que existem.
— Amanhã faremos um programa legal — sussurra, quando
eu estou quase cochilando.
— Que programa?
— Amanhã saberá — faz mistério. — Será legal e em terra
firme.
Sorrio e concordo. Ah, moreno! Por favor, não vira sapo.
Continua príncipe. Seja sempre meu. Ele percebe que eu o abracei
mais forte e se arruma, me abraçando e fazendo carinho nas
minhas costas. Eu moraria nesse abraço sem problema algum!
MURILO
— Pensei que não viria, seu mala.
Christian é o primeiro a me ver quando chego com Alexia no
aniversário do seu filho. Alie estava receosa por vir, mas tá com um
sorriso no rosto. Cumprimentamos todos e apresentei cada pessoa
a ela. Faço cara de convencido pros caras que estavam no desfile e
ficam de deboche pro meu lado. Me sinto fodão sim!
— Estão juntos, né? Finalmente! — Luísa diz.
Olho pra ela com as sobrancelhas arqueadas. Já tá tão
petulante quanto o marido. O único que salva é Igor, pelo menos
assim espero.
— Eu ainda acho que ele é gay. — Anderson graceja e todo
mundo ri.
— Vai achando! Cadê o moleque?
Alexia dá um risinho, provavelmente pensou alguma
besteira que fizemos. É, eu tirei uma sorte grande da porra!
— Pera aí que vou chamar. — Christian sai atrás do filho.
ALEXIA
Confesso que estou um pouco nervosa pra conhecer os
amigos dele. Vai que eles eram muito amigos da ex, tomam partido
e não me tratam direito? Sei lá.
Pelo que me contou, ficou com a tal da Camila por uns cinco
meses. Isso com certeza foi tempo o suficiente pra eles se
apegarem e terem uma boa amizade.
Sento na mesa, sorrindo, junto com Murilo. Os outros dois
homens que vi na reunião estão aqui.
— Está de quanto tempo? — pergunto à Mariana, que tá
grávida.
— Vinte e nove semanas — ela responde, com um sorriso
singelo.
— Ah! — Sorrio pra socializar, porém ainda não sei com
quantos meses ela está.
Nunca entendi essa coisa de semanas, mas nada me
surpreende, porque uma vez perguntei a uma colega sobre a idade
do seu filho e ela respondeu: trezentas semanas. Até hoje não sei a
idade do garoto.
— Aqui ele. — Christian volta com um menino.
— E aí, parceiro? — Murilo cumprimenta com um toque na
mão.
— Oi, tio. — Ele sorri.
Murilo pega o garoto no colo e entrega o presente que
comprou. O menino agradece e Murilo me apresenta a ele. Dou-lhe
um abraço, parabenizo-o e entrego meu presente.
— Ela é linda, tio. Vou roubar pra mim. — Olha pra mim com
um sorriso galanteador.
Gargalhamos juntos por causa da espontaneidade dele.
— Roube que eu tomo seu presente — Murilo ameaça e ele
nega, segurando a embalagem.
Ele volta a correr pra brincar enquanto começamos a
conversar e a nos conhecer.
— Aí, Murilo, Igor é mais homem que você! — Daniel
debocha e todos riem.
— Fale isso quando ele estiver beijando sua filha! — Murilo
debocha de volta.
— Deixe Bibi fora, idiota! — Fecha a cara e todos
gargalham.
— Mas foi ela mesma que disse que ia ser namorada dele
quando crescer... — Christian coloca mais lenha na fogueira.
— Fique na sua, Cristian, se ele chegar perto eu capo esse
amendoim que ele tem entre as pernas. Você ainda vai ter uma
menina. E você também, Murilo — Daniel resmunga, ainda
contrariado.
— Ainda bem que meu bebê é menino. — Anderson tira o
dele da reta.
Cristian gargalha com Anderson e Murilo, deixando Daniel
com cara mais fechada.
— Pensa em ter filhos? Sente vontade? — Luísa me
pergunta, curiosa.
— Por agora não. Acho que daqui a uns três anos, quem
sabe?
Nunca parei pra pensar em ter filhos. Murilo e eu
começamos a namorar ontem, literalmente. Está tudo recente.
Passamos a tarde conversando e comendo. Eles são muito alto-
astrais. Toda hora um fazia uma piadinha com outro e foi muito
legal. Todos eles são bem divertidos.
Depois de jantarmos em casa e ficarmos em um amasso
gostoso no sofá, Murilo decide ir embora, pra minha infelicidade.
Tento persuadi-lo, mas ele foi firme em dizer que amanhã nós
trabalhamos e eu tenho que estar descansada. Pra ser sincera, eu
preferia dormir cansada!
Ele ainda esqueceu uma peça de roupa aqui. Se fosse com
qualquer outro namorado eu guardaria pra devolver, como já
aconteceu; eu não gostava que Diego deixasse roupa aqui, pois, se
eu deixasse, quando eu menos esperasse estaria tudo dele aqui
dentro e ele trazendo mais pra eu lavar. Deus me livre! Mas a roupa
do Murilo eu não sinto vontade nenhuma de devolver, ao contrário,
pego pra mim.
Tiro a roupa de dormir que eu estou usando e visto a camisa
dele, que ainda tá com seu cheiro maravilhoso. Suspiro feliz e com a
sensação de aconchego.
16
ALEXIA
Checo o celular e vejo que são 6h20. Bem que hoje deveria
ser feriado prolongado até as minhas férias! Vejo uma mensagem
do Murilo, enviada há quinze minutos. Abro curiosa e ao mesmo
tempo bloqueio o celular rapidamente, mesmo estando sozinha em
casa. Ele é muito atrevido e safado!
Desbloqueio e olho de novo, analisando calmamente. Ele
não me mandou nada mais e nada menos que uma foto muito
indecente marcando o pau na cueca, a única coisa que ele tá
usando, e vejo o contorno dos seus gominhos da barriga. Além
dessa mensagem, tem outra:
“Acordei pensando em você. Senti sua falta.”
Céus! Nem levantei da cama ainda e já recebi um tiro
desses. Como ele consegue ser imoral e fofo ao mesmo tempo?
Analiso aquela foto e começo a pensar coisas inapropriadas para o
horário, e a ficar quente.
Até de longe ele me deixa desnorteada. Se ele quer brincar,
vamos brincar.
“Se você quis me deixar desconcertada logo pela manhã,
conseguiu. Também senti sua falta. Do seu corpo quente me
abraçando por trás, pra ser mais exata!” — Envio, sentindo-me uma
pervertida, e logo escrevo outra mensagem quando percebo o
horário. “vou tomar banho pra não me atrasar, daqui a pouco volto.”
— Bloqueio o celular e levanto da cama.
Eu coloco um vestido arrumadinho depois do banho. Meu
celular apita em cima da cama. Vejo que é mensagem dele. Clico já
com um sorriso no rosto.
“Estou curioso para saber qual a cor da sua calcinha hoje.
Aliás, pegarei uma vermelha rendada da coleção nova. Quando vi,
só pensei em você vestida e eu tirando”
Que tarado! Eu nem saí de casa ainda e ele vem mexer com
meu psicológico desse jeito.
“Se você tivesse dormido aqui, me veria vestindo uma.” —
Sim, os dois podem jogar o mesmo jogo. Eu não sou dessas, mas
ele tira o pior de mim.
“Se eu estivesse aí você ainda nem teria vestido. Ou estaria
no chão.”
Vou para a cozinha tomar pelo menos uma xícara de café
antes de sair.
“Chega! Desse jeito não vou conseguir trabalhar. “— Estou
pegando fogo. Ele sabe como me deixar sem rumo.
“Mas já? Nem comecei.”
“Você vai me pagar por isso” — digito, sentindo um arrepio
na espinha.
“Com gosto. Estou doidinho para pagar.”
Coloco minha xícara na pia, pego minha bolsa e as chaves.
“Já estou saindo. Beijos.” — Envio antes de trancar a porta.
“Bom trabalho, morena.”
Sorrio pelo apelido bobo que me deu. Apelido que ele usa
desde que me conheceu.
“Para você também, moreno.” — Envio com um sorriso
estampado na minha boca e desligo o celular, coloco na bolsa e
saio.
Esse homem vai me fazer pagar por todos os meus pecados
e eu vou amar pecar cada vez mais.
MURILO
— Eu Estou com preguiça de fazer qualquer coisa hoje. —
Alexia, dengosa, quebra o silêncio.
— Podemos ficar em casa hoje, pra variar.
A semana foi pauleira. Quase não vi Alexia, só um almoço
que tivemos no meio da semana, mas hoje eu quero relaxar com
minha garota, do jeito que ela quiser.
— Pode ser, mas agora estou com uma ideia. — Seu tom
muda completamente e a vejo brincar com as mechas do seu
cabelo, sentada na ponta da cama, de pernas cruzadas. Cara de
quem quer aprontar!
— O que você tá pensando, safada? — demonstro
interesse.
— Já te falaram que você fica muito, mas muito gostoso de
cueca, Murilo?
— Você gosta de me ver de cueca ou do que tem dentro da
cueca? — Estico o cós e coloco a mão na cintura.
— Safado! Digamos que gosto das duas coisas. — Manda
beijo para mim.
Rio chegando perto dela e enfio a mão pelos seus cabelos,
trazendo-a pra mim pra dar um selinho.
— O que você tá pensando em fazer agora?
— Eu, você, um dia de folga...
— Estou gostando — eu interrompo e ela ri.
— Deixa-me fazer um ensaio seu de cueca? — Sorri lasciva
pra mim, dedilhando nas minhas costas.
— Eu, modelo de cueca, não sei...
— Sempre tive essa vontade. Digamos que é um ensaio
íntimo, pra que eu possa olhar quando estivermos longe. Por favor,
vai! — Com olhos brilhantes, ela me pede. — Pode ser meu
presente de aniversário.
— Seu aniversário é somente na semana que vem! — Ela
faz biquinho. — Tudo bem, mas se cair na internet todo mundo vai
me ver de cueca — titubeio e me rendo.
— Quem disse que eu quero que saibam o que eu tenho em
casa? Mas aí, meu caro, se cair, todos vão ver quão gostoso você é,
e como sou uma mulher sortuda! — Beija-me rapidamente e
escorrega com maestria pra fora da cama. — Vou pegar minha
câmera!
ALEXIA
— Preparado? — Sorrio com mil e uma ideias para meu
moreno, que está naturalmente sexy observando o que eu vou fazer.
Ter uma câmera e nada pra fazer nunca foi tão atrativo num
sábado entediante, que acabou de ficar bom. Prendo meus cabelos,
um coque no alto da cabeça, e dou um nó na camisa de Murilo que
eu coloquei depois do banho.
Camisa larga, calcinha e pés no chão. Isso é vida!
— Vai me ensinar a tirar umas fotos também? — nego com
o dedo, sorrindo.
— A estrela hoje é você!
Rio mais uma vez, testando as configurações. O quarto está
com uma luz ótima. Adoro a luz do dia, nem precisou das girafas. Eu
tenho muita tranqueira de fotografia e quase não uso, mas agora
achei um modelo excelente. Murilo continua a me olhar, e tiro uma
foto dele jogado na cama de qualquer jeito, esperando-me terminar
o que estava fazendo. Ficou uma delícia.
Ele vê o que eu fiz e ri, aproveito e tiro outra foto da
espontaneidade dele. Ele acaba entrando no meu joguinho,
colaborando, fazendo mil e uma caras e poses, que deixam meus
joelhos fracos. A cara de tarado, o sorriso sedutor, a cueca
volumosa, os cabelos desordenados começando a encaracolar nas
pontas, já que ele recém saiu do banho. Ele está com o cabelo mais
comprido do que quando o conheci. As fotos que eu mais gostei são
as que está mostrando os bíceps, apontando com a mão, piscando
e mostrando um sorriso safado. Exibido!
Subo na cama, fico de joelhos por cima dele, que, claro, faz
baixarias, batendo o quadril contra mim. Mas eu sigo meu objetivo
de fazer um ensaio dele para o meu deleite. Um ensaio particular,
para que eu possa ver quando estivermos longe.
Tiro várias fotos, até ele trocar a posição, colocando-me por
baixo, e tiro outra dele gargalhando pelo meu grito. Cabelos ainda
mais bagunçados e o pomo de adão evidente, assim como seu
peitoral. Saiu tremida, muito torta e sem foco, mas é uma foto
bonita, por ser espontânea.
— Faz uma cara de safado, moreno — peço.
Ele faz pose para outra foto, fitando meu rosto com cara de
perverso, e eu por pouco não ovulo ali mesmo. Ele desce o rosto e
me beija sem língua, mas um beijo gostoso.
Não me controlo e tiro outra dele mordendo os lábios, ainda
me fitando. Olhar com tesão, que ele faz quando estamos no rala e
rola; estou surpresa por ter conseguido captar isso, essa essência,
essa eletricidade. Acho que eu encontrei a minha terceira foto
preferida.
— Chega de tirar fotos minhas, agora sou eu.
Ele puxa de qualquer jeito a câmera da minha mão.
— Não! — Eu levanto o tronco, rindo pra pegar de volta.
Ele olha o visor que acaba de mostrar como ficou e em
seguida ri, mostrando-me. Saiu embaçada e tremida, mas deu pra
ver meu sorriso na metade da foto, sem enquadramento, tentando
fugir. Nunca gostei de fotos espontâneas, sempre acho que fico
esquisita, mas essa foto sem dúvida eu amei!
— Deixa-me tirar, vai. Eu também mereço fotos suas, além
das que eu tenho. — Ele continua a tentar tirar fotos minhas.
— Que fotos? — Franzo as sobrancelhas, curiosa.
— Digamos que não é só você quem gosta de tirar fotos pra
ver depois. Tenho uma coleção sua, a maioria dormindo comigo,
outras comendo, outras distraída se arrumando... — confidencia. —
Também gosto de tirar fotos, fazer o quê?
— Eu não acredito, Murilo! — rio, incrédula.
— Eu gosto de tirar fotos suas porque você fica bonita
distraída.
— Para de ser lindo e fofo, porra! — Trago sua boca pra
perto da minha; ele deixa a câmera de lado no criado-mudo pra me
segurar e aprofundar o beijo.
— Eu não sou fofo, fofo é amaciante, homem que fode
morno. Eu sou gostoso!
Mostra-se indignado tirando o rosto dos meus seios, onde
tinha acabado de pôr, olhando sério pra mim e eu rio pela resposta.
Não existe ser humano mais convencido!
— É fofo sim!
Passeio minha mão pelo seu ombro como quem não quer
nada e em seguida olho, provocando.
— Ah, é? Desde quando fofo te come como eu te como?
Fofo não deixa ninguém bamba, nem te faz gritar e pedir mais,
entendeu? Fofo é um feio arrumadinho, que não sabe dar prazer!
Gargalho ainda mais pela sua indignação, mas ele segura
no meu queixo pra que eu olhe novamente.
— Entendeu? Sou gostoso, bom comedor, até carinhoso,
mas não sou fofo.
Gemo em deleite morrendo de tesão por ouvir ele falar
dessa forma, todo macho alfa. Fito de volta seu rosto, ele suspende
as sobrancelhas, me provocando, passando a mão no meu corpo.
Não existe pessoa mais engenhosa.
— Você é um atrevido, Murilo!
Ele abre um sorriso maior e zombeteiro. Realmente, é um
atrevido abusado!
MURILO
— Tá a fim de dar uma saidinha, não? — proponho a Alexia,
vendo-a vestir minha camisa, cobrindo os seios.
Fizemos um sexo gostoso agora há pouco. Nunca achei que
tirar fotos fosse tão prazeroso. Minha morena tira muitas fotos boas,
é talentosa. Ainda tiramos um cochilo. Sentir os seios de Alexia
desnudos no meu braço foi bom demais!
— O que você tá pensando? — Alexia fala de modo
preguiçoso, se jogando na cama novamente.
— Um jantar, não sei. Pra você não ficar resmungando que
eu só levo você pra programas não românticos — dou de ombros,
propondo e vestindo a cueca. — Agora que estamos namorando,
pode.
— Hum! O que sugere?
— Não sei. Massas? Ou você pode escolher.
— Estou sempre disposta a comer massas.
— Fechou então?
— Fechou, parceiro! — Ela pula da cama e olho no meu
relógio, rindo.
Agora são seis da tarde, provavelmente sairemos lá pelas
19h30, se eu a apressar. Nunca vou entender essa mania dela se
arrumar mexendo no celular. Demora horas pra ficar pronta. E pior,
metade do tempo é enrolada na toalha, fazendo não sei o que, e aí
se arruma correndo e resmungando que estou apressando.
Enquanto isso, vou assistir um pouco de tevê e rezar pra
que dessa vez ela seja rápida.
17
ALEXIA
Até ontem eu era a menina de dezessete anos que veio pra
cidade tentar a sorte de fazer a faculdade dos sonhos e que chorava
nos primeiros meses com saudades de casa. E hoje, estou
completando vinte e cinco anos.
Namoro um homem que, para mim, é o mais perfeito e
percebo que, às vezes, somos errados para alguém na hora certa.
Murilo me incentiva cada dia mais nos meus objetivos, faz com que
eu melhore como pessoa e me sinto tão grata em tê-lo na minha
vida... Ele é do tipo de pessoa que vale a pena manter por perto.
Saio do banheiro só de calcinha e sutiã, cantarolando a
música que ouvi no rádio ontem. Murilo ainda não deu sinal de vida,
mas daqui a pouco ligo pra ele.
Grito assustada e dou um passo pra trás quando o vejo
sentado na minha cama, com as pernas pra fora e pose de macho
gostoso, sorrindo pra mim. Oh, merda!
— Que susto, droga! Como entrou aqui?
— Tenho meus contatos. — Liz! Com certeza! — Vim te
buscar. Aliás, tá gata assim.
— Bobo.
— De bobas só tenho as mãos.
Eu o empurro na cama e jogo meu corpo em cima do seu;
sorrio pra ele, que retribui. Junto nossos lábios dando nosso
primeiro beijo do dia.
— Feliz aniversário, morena, espero que eu consiga te fazer
feliz tanto quanto tenho sido por estar ao seu lado. Que tenhamos o
privilégio de comemorarmos outros aniversários juntos — ele
murmura entre um beijo e outro, derretendo-me enquanto brinca
com o elástico da minha calcinha.
Realmente, de bobo só tem as mãos.
— Obrigada, lindo. — Murilo adora me deixar parecendo
uma gelatina. — Você consegue, como ninguém.
O beijo dele tá com gosto de café e isso me faz gemer de
satisfação. Se café já é gostoso, imagina na boca desse homem.
Duas coisas que eu amo, juntas assim? É demais para o meu
coração.
Entrelaço meus dedos no seu cabelo e intensifico quando
ele me puxa com as mãos pra perto de si, mãos essas que estavam
espalmadas nas minhas costas. Desce pra minha bunda, por dentro
da calcinha, e apalpa.
Mordo sua boca quando sinto minha calcinha recém-
colocada umedecer. E ele aperta com mais vontade, dando um
gemidinho rouco que fode com tudo em mim.
Parece que tenho um botão do “safada on / off” e basta ver
Murilo que o modo on ativo.
Aperta minha cintura enquanto eu mordo sua orelha,
colocando a mão por dentro da sua camisa. Puxo pra cima de mim,
trocando as posições, e mesmo ele sendo maior e mais forte, vem
sem problema nenhum.
— É melhor pararmos. — Murilo espalma as mãos no
colchão dando ofegadas que me arrepiam.
— Por quê? — Seguro na barra da sua camisa pra tirar.
— Tenho outros planos pra nós. — Alisa meu queixo com o
polegar.
— Eu prefiro o que íamos fazer — falo com graça e dou um
selinho nele.
— Safada, mas é sério.
— Quer me levar pra onde? — Coloco meu nariz no seu
pescoço.
— Pensei em te levar naquele café bistrô. O que acha?
— Uma ótima ideia. Comida sempre me anima, já que não
vou poder ter seu corpinho.
Ele ri e fico contagiada. Fico empolgada pra irmos comer,
pois amo o café bistrô no qual vai me levar, e tento sair do abraço,
mas ele continua me segurando. Arqueio as sobrancelhas e ele
aponta para o criado-mudo que tem uma pequena sacolinha de
presente. Nem percebi, só enxerguei ele.
— Seu presente.
Sorrio pra ele como uma criança e ele me solta. Arrasto-me
e seguro a sacola. Eu devo estar com cara de tonta, aposto. Sento
na cama, do seu lado, e vejo que tem uma caixa de veludo dentro
da sacolinha.
Encontro uma correntinha quase transparente com um
pingente e uma pedrinha brilhante. O colar em si, é delicado,
romântico, discreto e fofo, e dá a impressão de que a pedra está
presa a nada.
— Gostou?
Viro-me pra ele e sorrio verdadeiramente.
— Eu amei! É lindo. Coloca em mim — peço enquanto me
viro, empolgada.
— O nome do pingente é ponto de luz, é um símbolo de
sorte pra quem usa e busca harmonia interior. Dizem que ele
consegue trazer proteção — explica enquanto põe o colar em mim.
Termina e me dá um beijo na nuca. — Pelo menos foi isso que a
mulher me disse quando fui comprar.
— Que lindo. Nunca ganhei um presente meigo desse jeito
— confesso e ainda estou encantada por ele ter sido tão lindo. Dou-
lhe um beijo como forma de agradecimento.
— Tenho outro, mas só vou entregar mais tarde.
ALEXIA
Trabalho, trabalho e mais trabalho. Cheia de projetos novos,
não vejo a hora de chegarem minhas férias. Almocei com Murilo
hoje e tive que refazer um projeto, o cliente mudou de ideia. Às
vezes eu tenho vontade de xingar todos eles, mas pelo menos estou
com sorte no amor.
Murilo e eu continuamos firmes e fortes, apesar de
discussões normais, como um casal comum. E descobri que sexo
com raiva é bom em certos momentos!
— Que gostosa! O namorado dessa daí deve ter é sorte! —
escuto uma voz masculina enquanto estou descendo as escadas do
hall.
— Tem mesmo. Ele é bem sortudo!
Enlaço o pescoço de Murilo enquanto rimos juntos. Só ele
mesmo pra me saudar dessa forma.
— Como foi o seu dia? — Sinto suas mãos quentes alisarem
minhas costas.
— Um porre! E o seu?
Murilo segura na minha nuca e me beija, do jeito que ele
sabe que me deixa mole e elétrica ao mesmo tempo.
— Acabou de ficar bom. — Sorri e eu o acompanho. —
Estou a fim de algo hoje.
Murilo não consegue ficar na monotonia.
— De que, por exemplo?
— Não sei. Vamos sair pra jantar?
— Onde? — Arqueio as sobrancelhas e dou mais um beijo
rápido nele.
Sorrio segurando sua mão e saímos da frente do prédio,
indo em direção ao seu carro.
— Não sei, mas queria te levar pra comer fora, quero contar
uma coisa.
— Seria uma boa irmos comer comida japonesa —
proponho. — Você gosta de sushi?
Paramos em frente ao seu carro estacionado.
— Como, mas sempre peço uma pizza ou hambúrguer
depois, porque aquilo ali não me satisfaz. — Dá de ombro. — Eu
gosto de morder carne.
Murilo morde meu ombro e beija logo em seguida, mas a
mão forte continua na minha bunda.
— Então você escolhe. Estou morrendo de fome e quero
saber o que você tem para me dizer.
Estou morta de curiosidade!
— Vamos no japonês, lá eu conto. Tá cedo ainda, mais
tarde podemos pedir pizza.
Aceno, ele destranca o carro, abre a porta para que eu
entre, e logo faz a volta. Fizemos o caminho no clima gostoso, como
sempre. Ele me contando sobre seu dia, sobre quão bom está
sendo a propaganda que fiz e como ele faz questão de contar para
quem aparecia que fui eu. É tão bom ter incentivadores dentro da
própria casa!
Chegamos no restaurante, que não está tão cheio. Eu adoro
o clima e o ambiente dos restaurantes orientas, especialmente esse
que ele me trouxe. Pensei exatamente nesse.
Ele até quis pegar uma das salas reservadas, mas preferi
ficar numa mesa comum.
Amo a decoração que traz elementos da cultura oriental,
lanternas japonesas, ambiente meia-luz, velas na mesa, e sou
apaixonada pelas louças típicas, principalmente pelo copo
quadradinho.
Murilo e eu bebemos um pouco de saquê depois de termos
feito o pedido: uma barca para nós dois.
— Estou muito cansada — comento.
— É? Eu estava planejando te dar uma canseira.
Reviro os olhos prendendo o riso. Murilo é terrível! Muito
sacana!
— Talvez eu queira esse tipo de cansaço. — Arqueio as
sobrancelhas. — Quer me contar o quê? — Não aguento mais a
curiosidade.
— Recebi e-mail, meus documentos foram aceitos. Querem
conversar comigo de novo, por isso preciso viajar. — Mostra-se
eufórico e cauteloso.
— Que notícia maravilhosa, Murilo!
Não vou mentir, estou orgulhosa. Fico muito feliz por vê-lo
conquistar suas metas.
— E você vai quando? Deu previsão? Vai ficar quanto tempo
lá? — bombardeio com perguntas.
— Marcou pra final do mês. O tempo que ficarei lá não me
disseram, no máximo uma semana, uma semana e meia. Quero ir
pra ver como tudo vai funcionar, como vai ser a forma de retorno. A
promoção tá garantida, vou mudar de cargo, conversei hoje com o
RH sobre o contrato.
Abro um sorriso de doer a mandíbula. E o sorriso dele é tão
grande quanto o meu. Que orgulho sinto do meu moreno! Muito
obstinado, o que ele quer, ele pega. Atrevido e decidido!
— Estou muito orgulhosa de você, nunca duvidei da sua
capacidade.
A comida chega e eu devoro um dos sashimis. Faz tempo
que eu não como comida japonesa, e pior, eu gosto. Murilo cata um
e come, fazendo uma careta por pura implicância, mas come
normalmente.
Adoro o molho e tempero agridoce e cream cheese. A
primeira vez que comi eu estranhei, foram as meninas que me
levaram, mas depois fiquei com o gosto na boca, com vontade de
experimentar mais uma vez e comi sozinha. Agora Estou sempre
comendo quando tenho oportunidade, mesmo não sendo muito fã
do arroz, que acho muito grudento.
Apanho um makizushi, um dos meus favoritos, no hashi, e
dou na boca de Murilo, que mastiga e ri pra mim. Passa o polegar
no canto da minha boca e lambe o molho, bem sacana.
— Comer peixe cru com você é bom!
Já disse que amo o sorriso dele? É um sorriso descarado
demais!
MURILO
Estou muito puto! Muito mesmo! O cara não se emenda de
forma alguma. O que ele quer com Alexia agora? Ele é louco de
beijá-la e ainda a ameaçar?
Estou com muita vontade de ir atrás dele e dar uma lição de
verdade no filho da puta, já que Alexia não quer dar queixa, mesmo
que eu ache ser o correto a fazer.
Espero que eu não o encontre abordando-a novamente. Ele
vai ver com quantos socos se faz um hematoma, porque não desisti
de dar uma lição nesse covarde. Vou dar um jeito de encontrá-lo,
para que aquele filho da puta não a toque mais.
20
MURILO
Segurando a mão de Alexia, entrelaçada à minha para
atravessarmos a rua, vejo a fachada do lugar que Chris e eu
combinamos. Hoje é sexta-feira. Christian e eu decidimos aproveitar
um happy hour de boa, beber umas cervejas, e bom, ele foi buscar a
“patroa” no trabalho e fui fazer o mesmo. Depois do acontecimento
de ontem, quero que ela se divirta um pouco para esquecer isso.
Então, cá estamos nós com roupas do trabalho, mas morrendo de
vontade de beber umas.
Alexia está toda empolgada para reencontrar Luiza. As duas
se adoram.
— Eu Estou morrendo de fome. — Alie suspende o olhar
para mim.
— Nem fale. Estou varadão de fome.
Chegamos mais perto e encontramos ambos numa mesa já
conversando e bebendo chope. Alexia graciosamente cumprimenta
os dois e troca beijos com Luiza, se sentando logo em seguida.
Faço o mesmo.
Adoro esses barzinhos com música ao vivo, melhor do que
muito restaurante gourmetizado.
Engatamos num papo animado em questão de minutos.
Pedi bebidas para mim e Alie. Vou beber pouco por causa do carro.
— Mas você tá trabalhando com o que, Luiza? — Alexia
indaga, curiosa, no meio do papo.
— Engenheira química — orgulhosamente, ela responde.
— Jura? Que área? Eu nunca entendi química, sendo
sincerona.
— Vocês acharam que ela é doida assim sem influências?
Chris cutuca a leoa, que o olha atravessado e revira os
olhos.
— Cala a boca, Christian!
Gargalhamos e ele levanta as mãos em rendição.
— Eu sou da área de Biotecnologia. Trabalho com
antibióticos.
Alexia faz cara de chocada e as duas engatam uma
conversa sobre o assunto. Minha garota sabe falar de
absolutamente tudo, incrível, não tem essa de não saber o assunto,
ela simplesmente engata, mesmo não entendendo muito bem do
que se trata.
As batatas fritas com cheddar e bacon do jeito que nós
gostamos chegaram e nós quatro atacamos. Sexta-feira à noite é
tão bom, dá uma sensação de alforria.
Olho Alexia colocando os cabelos para trás com as belas
pernas cruzadas numa calça jeans justíssima, pegando sua caneca
de bebida, evidenciando as unhas pintadas e compridas. E assisto
ela levar até a boca, num biquinho, também pintada de vermelho.
Depois reclama o porquê de eu tirar fotos dela distraída. Como não
tirar para admirá-la?
Alexia decidiu parar de beber pra tomar sorvete e comer
hambúrguer pra não ficar bêbada e todos nós resolvemos
acompanhá-la, já que eu e Christian estamos dirigindo. E porra, a
comida daqui é boa pra caralho!
Chris e Luiza são aquele casal que é movido por comida.
Tão sempre saindo pra jantar em restaurantes diferenciados, porque
eles são gastronômicos, todo final de semana é um roteiro diferente
para conhecer comidas variadas.
Luiza arrastou Cristian para dançar, quando um cover de
Roberta Campos começa, pois é a música deles, segundo ela. Mas
Alie preferiu ficar aqui comigo na mesa e aproveito para dar uns
beijos gulosos nessa morena gostosa.
Sinto suas mãos alisarem minha barba e relaxo naquele
carinho. Namorar é gostoso pra caramba! Namorar ela então? É do
caralho!
— Daqui a pouco vamos embora? Estou cansada, moreno.
— Boceja, me fazendo repetir o gesto enquanto alisa meu anel, que
faz par com o dela.
— Vamos. Deixa só eles voltarem.
Geralmente namorar tira a liberdade de algumas coisas,
mas sequer sinto isso com ela, tanto que estamos num happy hour
numa sexta à noite, super relaxados. E quando quero agitação a
arrasto comigo. Ela apoia sua cabeça no meu ombro e sinto o cheiro
do seu cabelo próximo.
O bom de Alie é que ela é toda manhosinha. Adoro mulher
dengosa, manhosa, que me dá uma sensação de grandeza, de
querer cuidar, pois mais que ela não precise, pois sabe ser fatal e
decidida quando quer e eu assisto esse momento aparecer com
gosto. E minha morena é exatamente assim, manhosa, mas fatal
quando quer. E ambas me deixam de pau duro e com uma
sensação de orgulho de tê-la para mim.
Luiza e Chris voltaram animadinhos para a mesa. Alexia
anuncia que estava para ir embora por cansaço.
— Ah, gente, antes de irem. Amanhã iremos na praia. Estão
a fim? — Luísa, empolgada, gesticula enquanto fala.
Eu e Alexia trocamos um rápido olhar. Por que não? Alexia
dá de ombros, aparentemente concordando com a ideia. Concordo
também.
— Pode ser! — Alexia concorda.
Nos despedimos depois de pagar a nossa conta. Em casa,
Alexia dorme enroscada a mim, cheirosa. Adoro ela com minha
camisa!
ALEXIA
Dia de sol, nada melhor que aproveitar o clima quente que
está fazendo, indo para a praia com Christian e Luísa. Adoro os
programas com eles. São bastante divertidos.
Eles acertaram em cheio em nos chamar, pois hoje em
especial está um calorão!
Murilo como sempre trazendo novidades, acabou de me
contar que os pais dele ligaram cobrando uma visita, querendo me
conhecer. Ele está animado para me levar. Não confirmamos ainda,
mas, mesmo assim, eu já estou nervosa em conhecer meus sogros.
E se eles julgarem que eu não sou boa para o filho deles? E se a
irmã for ciumenta ou daquelas adolescentes birrentas?
— Moreno, fico melhor nesse ou no vermelho? — Ando em
direção de Murilo, que está já pronto jogado na cama, vendo-me
vestir. Estou em dúvida entre qual usar.
— Nua — responde, cínico.
— Boa ideia, os homens que estiverem lá vão adorar —
rebato, debochada, de frente para ele.
Murilo puxa minha mão, me fazendo cair em cima dele, em
seguida põe seu corpo sobre o meu, trocando as posições, me
mantendo presa ali.
— O que foi isso? — questiono, surpresa pelo susto.
Ele pega minha outra mão, me imobilizando para cima junto
com a outra que ele está segurando com apenas uma mão, fazendo
meus seios suspenderem. Segura minhas bochechas com a outra
mão, me fazendo ficar de biquinho e olhando diretamente para ele.
Ele quando quer ser assim é só Jesus na causa!
— Você está me saindo uma provocadora de primeira. —
Olha nos meus olhos e eu me arrepio pelo olhar mordaz. — E
quando fica assim, eu tenho vontade de te marcar toda com minha
boca. — Ah, essa voz rouca!
Ele rasteja sua boca no meu queixo e me dá um beijo
quente, soltando meus braços, mas não deixa que eu aprofunde.
Abro um sorriso ao perceber que ele tem ciúmes de mim. Confesso
que meu ego e autoestima melhoraram.
— Está rindo de quê?
— Você aí com seu ciúme.
— Estou errado em não ter, com uma mulher dessas? —
Abro um sorriso maior. — Estou errado em cuidar?
— Bobo. — Rio, me sentindo nas nuvens.
— Cuido mesmo, pronto e acabou!
Nada mais gostoso que o ciúme saudável, é uma sensação
gostosa de amor e desejo. Sentir-se importante para o outro, que é
importante para você. Mais uma vez me pego questionando: será
que eu o amo mesmo?
Murilo é meu porto de abrigo, sei que com ele eu posso
confiar para praticamente tudo. E será que minha mãe tem razão?
Que amor não tem validade para sentir?
— Queria ver se fosse ao contrário, se você estaria aí de
sorrisinho. — Arqueia as sobrancelhas em desafio. Meu sorriso
desmancha na hora, e meu sangue ferve só de pensar em alguma
ex sequer olhando ele. Ou até mesmo aquela biscate do trabalho
dele.
— Sem graça! — Seguro na sua bochecha, fazendo ele
olhar para mim. — Não brinque mais assim. — Mordisco o bico que
formou e o solto.
Olho atravessado para ele por me fazer sentir isso e o
descarado está sorrindo na minha cara, sorriso convencido.
— Já disse que só tenho olhos pra você.
Ele sai de cima de mim, me puxando pra levantar.
— Põe o vermelho, que você fica mais gostosa — responde
minha pergunta anterior como se nada tivesse acontecido.
MURILO
Foda! Alexia é um mulherão e aquele babaca fala qualquer
coisinha e ela simplesmente quer retroceder, mas não deixo. Brinco
dentro da sua calcinha, sentindo meus dedos melarem. Adoro saber
que ela se desmancha comigo. Alexia com tesão fica fodidamente
sexy.
— Quase pronta...
Continuo estimulando-a e sua respiração fica cada vez mais
entrecortada, apertando o lençol, e arfo sentindo meu pau pulsar
loucão. Acaricio cada vez mais, aproveitando seu melado.
Paro apenas para rasgar sua calcinha de renda. Não estou
para protocolo. Eu ainda estou irritado com tudo, pelo policial
irresponsável e pela situação, e ela precisa saber que é
maravilhosa!
— Murilo! — se queixa e sai mais como uma súplica.
Beijo seu pescoço e mordisco sua orelha, a vendo arrepiar.
Desço a minha bermuda de qualquer jeito e volto a distribuir beijos
molhados nas suas costas e ela empina a bunda para mim e ao
mesmo tempo estremece, vendo que já estou sem nada. Ela tenta
me apalpar de costas mesmo, como eu a coloquei na cama, e
agarra minha bunda com a unha. Atrevida!
— Moreno — choraminga mais uma vez.
Giro-a novamente para mim e a tomo para um beijo,
fazendo-a se apoiar ali na beirada mesmo. Aperto sua bunda e a
cintura e entro o mais fundo que consigo, sentindo a quentura
gostosa, a maravilhosa recepção de sempre. Alexia geme suplicante
pela invasão. Hoje estou a fim de um sexo um pouco mais bruto.
Estou com tesão e adrenalina para descarregar.
— Você fica ainda mais gostosa quando geme — assumo.
Começo o bate e volta, sentindo necessidade de ir mais
fundo a cada vez que ela geme toda delicada. Safada! Viro-a de
frente, fazendo-a deitar, e vê-la toda receptiva para mim, gemendo e
com os olhos em chamas, me deixa ainda com mais tesão.
É muito foda todo esse sentimento que envolve a gente.
Alexia é um combo maravilhoso de meiguice e safadeza e eu amo
muito como ela me faz bem. E a quero pro resto da minha vida!
ALEXIA
Suspiro de puro cansaço, aspirando o cheiro de Murilo
deitado comigo. Desde que Diego voltou a dar as caras me sinto um
pouco mal. Por conta do nervoso, uma agonia, uma inquietação,
uma angústia. Acredito que só quis me dar um susto mesmo, mas
estou com medo que volte a me assombrar.
E a ansiedade se instala ainda mais forte quando lembro
que é no começo da próxima semana que Murilo viaja. Talvez passe
o fim de semana na casa dos meus pais para não me sentir tão
sozinha. Minha mente começa a ter flashes de Diego me
ameaçando e cumprindo a promessa de voltar e tentar me beijar
como ele sempre tenta, com Murilo longe. Me sinto agoniada
quando começo a pensar no que poderia ter acontecido comigo se
Fred não tivesse me ajudado, e a angústia me toma cada vez mais.
— Morena?
Escuto a voz de Murilo longe até ficar mais perto e eu abrir
os olhos.
— Hum — resmungo.
— Teve um pesadelo? Você estava com um sono agitado,
indo pra lá e pra cá na cama. — Sua voz é suave.
— Acho que estava sonhando com esse monte de briga que
acontece ultimamente quando Diego aparece — confesso, meio
grogue.
— Vem. Vou fazer um chá pra você dormir melhor.
Ele levanta da cama e me puxa pela mão em direção à
cozinha. Sigo com ele ainda quieta e assisto ele colocar água no
fogo enquanto eu sento em uma das cadeiras do balcão.
Enquanto eu acordo toda inchada e com os cabelos
desgrenhados, ele continua lindo com cara de sono e com o cabelo
desordenado de forma linda também. Isso é covardia!
MURILO
Finalmente! Não via a hora de voltar pra casa para ver
minha morena. Pelo horário ela ainda está acordada, espero. Estou
até com o peito apertado, achei que fosse alguma coisa com ela,
mas ela garantiu que estava tudo bem. Saudades é uma droga!
Odeio essa melancolia.
Eu estava lá, mas a cabeça não saía daqui de forma
alguma. Preocupado! Desde ontem que não nos falamos, porque eu
fiquei em mil reuniões chatas e teve o voo que quase perdi. E quero
fazer surpresa. O táxi estaciona e eu subo para o meu apartamento.
Acho que ela está ficando aqui, pelo menos pedi que ficasse, como
forma de segurança. E se não estiver eu vou para lá.
Está tudo escuro, mas vejo sua bolsa maior no sofá. Deixo a
minha sacola lá mesmo e sigo para a cozinha com uma sacola de
comida que comprei no caminho, e flores. Dei sorte de achar uma
floricultura aberta. Na verdade, estava fechando, mas percebi que
floriculturistas não têm coração tão duro quando descobrem que é
para fazer uma surpresa para a namorada, por causa da saudade
da viagem. Arrumo tudo, coloco o vinho na geladeira para não
esquentar e subo para encontrá-la.
Chego no quarto e a encontro dormindo, enroscada no
travesseiro, e o melhor: vestindo minha camisa, mostrando as
pernas desnudas.
Que visão! Que saudade!
Arranco meus sapatos e vou para a ponta da cama acordá-
la. Esse cheiro familiar é gostoso, me aquece. Isso faz com que eu
me sinta de volta em casa.
ALEXIA
Penso novamente se Letícia não tivesse aparecido, o que
aconteceria, se ele realmente terminaria o serviço. Meu coração
acelera automaticamente e sinto meu corpo tremer por lembrar dele
falando exatamente isso, que “terminaria o serviço”. Depois tremo
de novo pensando em Diego invadindo aqui para que isso aconteça.
Tudo que eu queria era Murilo aqui me acalentando, me abraçando,
me protegendo nos seus braços e me consolando com seu corpo
quente.
— Ei, Morena…
Escuto a voz baixa de Murilo. E escuto mais uma vez. O
meu sonho é tão real que até escuto a voz dele como se tivesse
realmente me chamando.
— Acorda, dorminhoca.
Escuto novamente e abro os olhos para ver Murilo me
olhando, mesmo com a visão ainda embaçada.
— Murilo? — Semicerro os olhos, que ardem um pouco. —
Murilo! — questiono, me dando conta da realidade.
— Em carne e osso pra você.
Vejo ele sorrir para mim de cima e abro um grande sorriso,
agarrando-o pelo pescoço e o derrubando na cama, ficando por
cima do corpo dele enquanto ele me agarra também, me abraçando.
Sem esperar, sinto uma vontade enorme de chorar e acabo
deixando as lágrimas saírem dos meus olhos enquanto enterro
minha cabeça no seu ombro. Murilo dá uma sensação tão gostosa
de acolhimento.
— Imaginei que estaria com saudades, mas não a ponto de
chorar assim. — Alisa minhas costas falando no modo bem-
humorado dele, como sempre.
Continuo chorosa, agarrada ainda mais no seu pescoço,
rezando para que não seja um sonho. Que ele realmente está aqui
comigo, que é real. Estava morrendo de saudades dele.
— Ei, o que foi? — comenta baixo, com um tom preocupado
na voz.
— Saudade.
Levanto meu rosto para fitá-lo, ao mesmo momento que ele
segura minha nuca para me beijar.
Brinca com seus lábios nos meus, me deixando em pura
ansiedade. O pego em um beijo esmagador. Sufocante. Como se eu
quisesse mais dele, e eu quero. Não me importo se vai machucar
sua boca ou a minha.
Ele segura me apertando mais, virando-me, me deitando na
cama novamente, me colocando por baixo, e me fita, separando
nossos lábios.
— Foi o que mais senti também.
Sorrio para ele e avanço mais uma vez para sua boca.
Saudades desse beijo e desse homem!
Fiquei ansiando por esses beijos desde que ele embarcou.
O beijo é intenso, e sorrimos entre um e outro.
Nos separamos de novo com gostinho de quero mais.
— Pensei que ia ficar lá até o meado da semana.
— Também achei. Mas resolvemos as pendências na última
reunião e não liguei mais porque quis fazer uma surpresa.
Beijo ele de novo, só que dessa vez foi um selinho. Ele me
agarra e junta nossas bocas mais uma vez e eu mato um pouquinho
mais da minha saudade. Saudades dessa boca gostosa.
— Vamos levantar… — Beija meu pescoço rapidamente e
eu me arrepio da mesma forma.
— Não — nego, dengosa, colocando minhas mãos por
dentro da sua camisa, alisando suas costas.
— Sim!
Junta os lábios delicadamente no meio, em um selinho
gostoso. Sai de cima de mim e me puxa para sentar logo em
seguida.
— Tenho outra surpresa — comenta.
— O quê? — questiono, curiosa.
— Levanta que mostro.
Em menos de dois segundos, levanto da cama arrumando a
camisa dele no meu corpo e dando um nó no cabelo. Murilo
gargalha me abraçando e me leva para a cozinha. Chegamos lá e
vejo uma coisa que me surpreende.
A mesa que nós quase não usamos, pois nunca temos
tempo de sentar lá, está arrumada para um jantar a dois. E um
arranjo de flores bonito e novo, acompanhando e dando um toque
romântico e fofo.
— Como arrumou tudo isso? — Não escondo minha
confusão.
— Não foi uma coisa demorada.
Rio e tremo um pouco. Não sei como ele vai reagir quando
eu contar de Diego. Mas não contarei agora. Amanhã, quem sabe,
não quero pensar nisso agora, só quero curtir e matar a saudade de
Murilo, sem mais dramas.
— Venha, sente se. — Arrasta a cadeira para mim e depois
vai em direção à geladeira.
Observo de perto toda a decoração arrumadinha na mesa.
Ele trouxe rosas vermelhas por saber que é uma das minhas flores
favoritas e que ele já me deu uma vez e eu super amei. Como não o
amar?
— Vinho é afrodisíaco, sabia? — Sorri torto e eu reprimo um
sorriso.
Murilo é muito safado mesmo.
— Ah, é?
Faço graça e ele traz duas pequenas tigelas com
escondidinho dentro. Estou morrendo de fome, mas quando cheguei
fiquei sem coragem alguma de comer.
— Vai me dizer que fez também enquanto eu dormia? —
questiono, com uma sobrancelha arqueada.
— Não. Isso eu comprei no caminho. — Sorri da expressão
que faço.
É tão gostoso ter a companhia dele. Tudo parece mais fácil
e inofensivo, como se eu fosse mais inalcançável e mais forte, não
sei. Murilo serve vinho para nós e senta de frente para mim.
Jantamos juntos dando sorrisinhos um para o outro, morrendo de
vontade de fazer outras coisas.
Acabamos de jantar e estamos ambos olhando um para o
outro em pé depois de termos colocado os pratos na pia. Murilo me
abraça por trás, me beijando na nuca, e eu fico mole feito uma
gelatina nos braços dele.
Me vira de frente e arruma meus cabelos, colocando-os
atrás da orelha, e avança para me beijar, segurando firme nos fios.
O beijo que ele me dá é muito “uau”, do tipo que minhas pernas
amolecem e me fazem bater palmas, mas não com as mãos.
— Não sei como consegui ficar esse tempo todo sem te
beijar — sussurra a centímetros da minha boca.
Aceno sem querer prolongar o papo, pois também não sei
como fiquei esse tempo todo sem ele. Me suspende e eu enlaço a
sua cintura com minhas pernas, enquanto ele vai em direção ao
quarto comigo no colo, me apertando contra seu corpo.
Desço para o chão ao mesmo tempo que ele puxa minha
camisa, que na verdade é dele, e afunda ainda mais suas mãos nos
meus cabelos, me imprensando na porta.
— Essa boca…
Ele passa o polegar entre meus lábios. Não fico para trás,
puxo a sua camisa com ânsia e distribuo beijos quentes no seu
peitoral gostoso, enquanto aperto minhas mãos nas suas costas.
Murilo geme baixo e toma minha boca na sua novamente.
Sinto meus lábios serem chupados no modo que me deixa bamba e
pegando fogo.
Moreno me arrasta, me fazendo andar de costas enquanto
me segura firme em seus braços, pela minha nuca, enquanto nos
beijamos. Me deposita sentada na ponta da cama e fica em pé, de
frente para mim.
Desabotoo seu cinto e a calça, descendo até o meio das
pernas. E ele tira o resto com o pé.
Distribuo beijos pela sua barriga e no V, perto do cós da
cueca. Dou algumas mordidas de leve em cada lado com os dedos
dentro, na pontinha da cueca, e em seguida toco com a língua. Ele
geme e dá um grunhido. Ah! Moreno. Estou pegando fogo tanto
quanto ele. Me empurra na cama e fica em cima de mim.
— Vou socar meu pau em você.
Sussurra perto do meu ouvido e gemo apertando suas
costas, fincando minha unha na sua pele.
Beija e morde meu queixo e depois desce a boca para meu
pescoço, distribuindo beijos. Me remexo embaixo dele e recebo uma
pequena lambida na nuca. Estou toda arrepiada por isso, é golpe
baixíssimo.
Distribui selinhos pela minha boca e bochechas e depois
beija e mordisca meu queixo e pescoço. Apalpa meus seios
enquanto brinca com os mamilos eriçados com o polegar. Estou um
rio.
A mão dele passa pelo meu tronco e eu seguro seu rosto,
trazendo sua boca para a minha.
Ele suspira com a respiração pesada. Me dá um selinho e
se ajoelha na cama, entre as minhas pernas, e puxa a calcinha. Nos
enroscamos na cama até ele estar totalmente despido em cima de
mim.
— Isso! Agora mostre toda sua gostosura e potência —
sussurro no seu ouvido, passando a mão pelos seus cabelos
macios.
Não vejo a hora de tirar os rastros de Diego do meu corpo,
para me sentir limpa e voltar a ser a velha Alexia. Passeia a mão
pelo meu corpo e eu distribuo beijos pelo seu pescoço e queixo.
O sexo está intenso e quente. Gostoso além do limite, pois
tem um “Q” a mais, que é a saudade.
Murilo me olha enquanto me sinto invadida da melhor forma
possível. Cola nossos lábios e finco minha unha de novo nas suas
costas, fechando os olhos e o sentindo ir cada vez mais fundo.
Nos enroscamos na cama e acabo ficando por cima.
Impossível não ter vontade de morder cada pedacinho desse
homem!
— Safada gostosa.
Murilo está ofegante e me puxa para cima para eu deslizar
logo em seguida sobre ele. Matar o que nos mata. Como não ter
tesão nesse homem?
A cada toque e beijos de Murilo no meu corpo, apago mais e
mais os rastros de Diego. E lembrarei que a última pessoa que me
tocou de forma íntima foi ele, Murilo, e com meu total consentimento
e vontade.
MURILO
Sigo para o trabalho de Alexia para buscá-la; mandei-a ficar
dentro do hall e só sair quando eu ligasse. Estou numa culpa
imensa por tê-la deixado aqui sozinha para acontecer isso. Algo
estava mandando eu ficar, quase cancelei, mas depois da nossa
conversa acabei indo pelo apoio dela. Se acontecesse o que ele
tentou fazer, eu iria no inferno atrás dele. Por essa situação, eu
usaria meu réu primário sem problemas, valeria a pena. É a única
coisa que ele merece, aliás.
Como ele pôde fazer isso com ela, caramba? Que merda ele
tem na cabeça?!
Se ele soubesse a raiva que estou dele... ele quebraria a
própria cabeça para esquecer o nome dela.
Apesar de Alexia ter me pedido para eu não me meter, por
medo, eu não desisti de acertar as contas com ele. A polícia já
deveria estar procurando-o para prendê-lo, mas, pela lentidão,
parece que eles aguardam acontecer o pior para agirem. É
revoltante!
Tento tranquilizar Alexia dizendo que está tudo bem, que
nada vai acontecer com ela. E até tenho uma ideia do que posso
fazer, para deixá-la mais leve com essa pressão psicológica toda em
cima dela, e para sair um pouco dessa situação que deve ser muito
angustiante pra ela. Se para mim causa impotência, imagine nela.
Eu me atento à rua e vejo o fulano andando tranquilo
demais pelo que aprontou recentemente. Sigo com o carro até a rua
onde ele entrou.
Acho que adiantarei o trabalho da polícia!
Ele para, acende um cigarro e volta a andar logo em
seguida, despreocupado e tragando, jogando a fumaça no ar. Aperto
minhas mãos no volante, de raiva, com vontade de dar um só murro
nele para desmontar seu maxilar. Continuo seguindo-o com o carro,
até decidir sair e ir até ele para esse acerto de contas que já deveria
ter acontecido há muito tempo.
Decidi estar dois passos à frente dele pois, se eu estiver de
carro, é muito fácil ele simplesmente ir na minha direção contrária, e
até eu manobrar para voltar ele vai estar bem longe. Isso é o básico
da fuga, quando alguém está te seguindo de carro.
Antes de eu andar na sua direção, o maldito olha para trás e
se dá conta que está sendo seguido. Corre para o outro lado da rua
em disparada e eu entro no carro novamente, disposto a acelerar e
até atropelá-lo se possível, não ligo. Como já falei, usaria meu réu
primário sem problemas.
Começo a caça ao babaca, acelerando o carro, acessando a
rua que ele entra, disposto a barrar sua saída e encurralá-lo.
A rua é estreita o suficiente para não me deixar passar pelos
carros estacionados nas extremidades e deixo o carro lá. Corro
atrás dele, que olha para trás para saber se eu estou perto, mas o
agarro pelo pescoço o empurrando. Ele se desequilibra, tropeça,
mas não chega a cair.
— Caçado! — Rio, sentindo a adrenalina correr pelo meu
corpo.
Ele tenta correr novamente, mas o agarro pela camisa, o
imobilizando junto com o braço no seu pescoço.
— Vai fugir, babaca? — Aperto mais minha imobilização.
— Me solta, seu playboy! — Ele tenta sair, debatendo-se
feito uma cobra.
— Vamos pontuar umas coisas que acho que você tá
resistindo a entender... — Suas mãos tentam folgar o aperto no
pescoço.
— Qual é, tá com medo de Alexia vir rastejando pra mim
implorando pra ser fodida?
Ele ainda tem coragem de debochar. Solto o aperto apenas
o suficiente para ele achar que está solto e tentar sair. Mas eu
ponho o pé na frente para ele tropeçar e cair na rasteira que toma
quando puxa minha perna. Sem sangue de barata, soco seu rosto
com a mão direita, onde tem o anel de compromisso bem grande.
Eu tenho raiva de pertencer à mesma categoria que ele, a de
homem.
Ele tenta se defender, logo em seguida reagindo aos socos.
Hoje ele está esperto! Bater em morto não tem graça!
— Ela estava toda gostosinha de blusinha transparente. Ela
queria me dar, cara, ela quem se fez de vítima. — Ele ri, fechando
os punhos em posição de soco.
Com o ódio estourando, descarrego minha raiva sem dó
nem piedade. Sem chance de defesa. Soco sentindo minha mão
doer, sequer miro mais onde quero dar, apenas vou socando onde
meus punhos acertam.
— Esquece a porra do caminho dela! — mando e o pego
pelo pescoço, a fim mesmo de deixá-lo inconsciente.
— Se ela não for minha, não será de ninguém! — Ofegante,
ele sente o aperto no pescoço, apertando meus punhos para que eu
o solte, e ainda tem a cara de pau de falar isso.
Continuo a segurá-lo até ver que seu aperto no meu pulso
afrouxa, sem forças, e o solto. Queria ter o sangue frio de matá-lo.
Mas eu quero ele pagando o que fez com ela bem vivo e consciente.
Morte seria pouco nesse momento! Antes disso acontecer, eu quero
que ele pague com consciência.
Eu o solto praticamente desacordado no chão e, disposto a
ligar para a polícia, pego meu celular para discar. Mas antes mesmo
de dar a segunda chamada, sinto algo bater nas minhas costas me
fazendo balançar para frente. Me situo e vejo o filho da puta correr
cambaleando.
Desgraçado! Ele me acertou por trás com um balde de lixo,
enquanto eu ligava para a polícia. Corro atrás dele, mas o acabo
perdendo de vista por causa das ruas e becos que ele entra.
Desgraçado escorregadio! Miséria!
Morto de raiva, volto para o meu carro para buscar Alexia no
trabalho. Deve estar preocupadíssima pela minha demora. No
caminho olho ao redor para ver se o encontro em alguma esquina,
mas o desgraçado se camuflou em algum lugar, ele não teria fôlego
para ir tão longe.
No caminho, ligo para minha morena, que me atende
preocupada por causa da minha demora, mas aviso que estou
chegando. Se esse filho da puta acha que vou dar brecha para ele
fazer qualquer coisa com Alie, está muito enganado. E o nosso
acerto de contas ainda não acabou, ele irá pagar por cada merda
que falou e fez para ela.
25
ALEXIA
Sinto o carinho de Murilo no meu ombro e relaxo um pouco.
Depois de todo o susto que passei, as coisas continuam na mesma.
Justiça lenta, como sempre. O fato dele ter evaporado, sumido do
mapa, me deixa com a sensação de que serei pega a qualquer
momento. Estou até me recusando a sair de casa a não ser para
trabalhar, e só me sinto segura quando Moreno me deixa na porta
da empresa e me espera no mesmo lugar.
Mês passado recebi um aviso de férias que estavam
acumuladas e, com isso, Murilo planejou um recesso nosso, para
espairecer um pouco, sair da bolha Diego, pois eu estava quase
ficando doente de medo. E ele conseguiu quinze dias de recesso de
onde trabalha para me acompanhar. Ele achou melhor para que eu
relaxasse.
Vamos usar esses quinzes dias para visitar os pais dele. A
tal visita para conhecer meus sogros, e por isso estamos no táxi em
direção ao aeroporto. Só pensar que em algumas horas eu vou
conhecê-los já me deixa ansiosa de novo. O frio na barriga é
constante.
Viajamos hoje para São Francisco. Nem acredito que vou
para a Califórnia, isso é espetacular, nunca que minhas férias
seriam tão bem aproveitadas. Murilo me alertou que venta um pouco
e é gelado, então vou aproveitar para usar meus casacos mais
grossos.
— Estou com medo. E se eles não gostarem de mim? —
Suspendo meu olhar para fitar Murilo.
— Eles vão. Fique tranquila. Meus pais são gente boa.
— Tomara. Estou com receio de não ser o que eles
esperam. — Sorrio fraco.
— Não se preocupa. Eles vão te amar como eu te amo. —
Ele sorri do seu jeito bonito e eu o beijo castamente.
Em direção a Alamo Square, o bairro onde os pais moram
junto com a irmã dele, seguimos de táxi novamente. Enfim! Não
aguentava mais aquele avião. Eu estou nervosa sim, admito. Porém,
também estou eufórica.
Fizemos o resto da viagem tranquilos, confesso que fiquei
com medo do avião subindo, mas Murilo tentou me distrair e me
relaxar com beijinhos e carinhos no cabelo. Mas não deu muito
certo, só quando ele ficava me dando selinhos me sentia mais
tranquila. Acabamos dormindo na metade do caminho e acordamos
quando estávamos chegando. A vista de cima é maravilhosa.
Dormi umas cinquenta vezes até chegar. Pelo menos teve
algumas paradas para eu respirar um pouco. Faz um frio gostoso e
venta um pouco, como ele falou, mas nem me importo. Amo o frio,
assim o Moreno fica com os braços cobertos. Não estou a fim de
chamar ninguém de “bitch” na frente dos meus sogros. Ciumenta?
Não, cuidadosa.
O taxista explica alguma coisa ao Moreno, mas eu não
presto atenção, pois estou olhando pela janela, apaixonada pelas
casas vitorianas coloridas. Mesmo à noite posso ver que são lindas,
parece uma foto de cartão-postal que vimos na internet, de tão
incrível que é.
Ele achou melhor os pais esperarem em casa, em vez de
buscarem a gente no aeroporto. E eu agradeci por isso. Tenho mais
tempo para me preparar para o encontro. Estou quase parecendo
um cachorrinho na janela do carro. Para mim tudo que vejo é
mágico.
Apenas observo a paisagem enquanto o táxi anda. Estou
encantada e me sentindo em um seriado. Ansiosíssima para ir no
Píer 39 e principalmente na ponte Golden Gate. Parece que o que
eu estou vivendo ultimamente é um sonho, apesar de alguns
pesadelos no meio do trajeto, mas nada tira a beleza desses
momentos.
Qual era a chance de eu estar na Califórnia e namorando
um homem desses? Nem nos meus pensamentos mais otimistas! E
ainda bem que a realidade superou as expectativas, pela primeira
vez a realidade é muito melhor! Saio dos meus devaneios com o
Moreno avisando que chegamos. E mesmo com o encanto, o frio na
barriga volta.
Malas no chão e, ao lado do Murilo, eu olhei para a casa,
que parecia de filme.
Me virei para ele com o coração a mil, e ele logo percebe
meu nervosismo. Me conhece como ninguém. Murilo sabe me ler
sem nem precisar abrir a boca. E eu amo isso, a paciência que ele
tem em reconhecer meus sinais de medo ou outros sentimentos.
— Relaxa, eles são pessoas comuns.
— Não dá, e se eles não gostarem de mim ou não me
acharem boa o suficiente pra você? — confesso todo os meus
medos a ele, tremendo de nervoso.
— Não se preocupe, eu que tenho que achar isso. Meus
sentimentos por você não mudarão por nada. — Segura na minha
nuca e me beija, me derretendo mesmo naquele frio.
— Tudo bem, amo você. — Respiro fundo.
Subimos a escadinha e ele toca a campainha. Não demora
para a porta abrir, mostrando uma mulher de cabelos de
californiana, e meu coração ameaça dar uma pequena parada. É a
mesma da foto que vi na casa de Murilo e eu deduzi ser a irmã dele.
Ela grita assim que vê ele.
— Bela! — saúda, abraçando a irmã apertado. — Saudades
de você, pirralha.
— Eu sei — rebate e eu sorrio de lado pela interação. —
Não sou pirralha, tenho dezoito.
Ela olha para mim, e eu olho para ele de relance e com
medo da reação dela.
— Oi, sou Alexia. — Sorrio, tentando controlar a tensão; ela
abre um sorriso para mim e me puxa para um abraço. Um alívio me
consome. Pelo menos uma acho que já foi.
— Eu sou Isabela, mas pode me chamar de Bela. Vem,
entrem.
Ela dá passagem e entramos na casa, que parece bem mais
espaçosa do que vista do lado de fora.
— Cadê meus pais? — Murilo pergunta à irmã.
— Na cozinha.
Seguimos ela, e pelo meio do caminho eu achei uma foto do
Moreno mais novo e de janelinha. Apontei mostrando e ele me puxa
sorrindo. Murilo abraça os pais apertado, enquanto Bela sorri, me
contagiando. Em seguida a atenção se volta para mim.
— Mãe, pai. Essa é a Alexia — me apresenta e eu dou um
sorriso envergonhado.
Fico olhando os dois, petrificada no lugar, esperando a
reação para ver se passei no teste, até dona Isadora vir na minha
direção e me abraçar apertado.
— Finalmente te conheci! — Sorri de forma calorosa,
mostrando que o Brasil ainda não saiu deles. — Você é linda! —
Segura nas minhas bochechas, que ficam quentes na hora.
Voltei a ter quinze anos, parece!
— É, e é um prazer imenso, e obrigada.
— Meu filho tem bom gosto. — Me abraça, sorrindo, mais
uma vez.
— Não aguentava mais ouvir Mimo ligar e falar de você —
Bela dedura e os pais dele riem.
— Cala a boca! — Murilo agarra a irmã, que é bem menor
que ele, bagunçando seus cabelos.
Rio pelo apelido e o pai de Murilo vem logo em seguida me
abraçar, enquanto Moreno aperta a bochecha de Bela. Ela dá um
tapa no braço dele, tirando a mão enquanto ele ri, pegando nos
cabelos dela de novo.
— Seja bem-vinda à família, minha filha. — Seu Daniel beija
minhas duas mãos depois do abraço.
Pelo jeito essas coisas são de família.
— Obrigada. Fico lisonjeada!
Meus sogros são bem descontraídos e percebi que Murilo
tem um jeitão do pai em algumas ações. Pelo menos dentro de casa
todos falam português e estão sendo bastante simpáticos comigo.
Me senti acolhida. Percebi que o medo era paranoia minha. Malditas
paranoias.
— Vamos sair pra comer? Já liguei pro Justin.
— Quem é Justin? — Murilo pergunta sério, com as mãos
na cintura.
Não deveria pensar assim na frente dos meus sogros e
cunhada, mas ele fica tão gostoso no modo protetor. Como seria um
Murilo pai de menina? Ciumento e babão?
Saio dos meus devaneios doidos pela resposta debochada
da irmã dele.
— O Timberlake que não é. Meu namorado, bebê.
— Como é?
— Não vou te dar nenhum sobrinho por agora. Tenho juízo!
— Dá dois tapinhas no braço dele em puro deboche.
Gostei dela!
— Como é? Pai, está sabendo disso? — pergunta,
inconformado.
— Sabe — Bela dá de ombros, respondendo à pergunta.
Murilo olha para os pais, que dão de ombros, sorrindo. Ele
nega olhando para ela, e Bela ri.
— Gosta de fastfood ou vive de dieta? — Bela me pergunta
arqueando apenas uma sobrancelha, como Murilo costuma fazer
comigo. Credo!
— Como de tudo!
Saímos com Bela de motorista. Ela conhece aqui mais do
que nós dois. Meus sogros não quiseram ir, preferiram deixar a
responsabilidade para ela.
Justin apareceu, deixando Murilo ainda mais enciumado, e
comemos enquanto conversávamos. Eles formam um casal
bonitinho e meigo. Combinam. Justin parece bem na dele, assim
como Bela, que é muito fácil de lidar. Mais fácil que achei que seria
pelo que Moreno já tinha me contado sobre sua família.
Voltamos para a casa dos meus sogros e ficamos
conversando por horas, nos conhecendo melhor enquanto Murilo
encarava o pobre menino que fazia de tudo pra não olhar para ele.
Ela iniciou a faculdade esse ano, e o namorado dela, que é daqui,
faz o mesmo curso. Perdi a noção do tempo conversando, tanto que
o Moreno ficou fingindo ciúmes. Dramático!
— Vamos subir? Estou cansado! — Moreno se queixa com
cara de cachorro perdido, bocejando.
— Vão, viagem é cansativo! — Minha sogra diz. Eu
concordo me despedindo de todos e subo com ele.
Entro no quarto de hóspedes, que tem tons neutros e, ao
contrário de mim, ele não tem quarto na casa dos pais. Quando eles
mudaram para cá, Murilo preferiu ficar no Brasil, para minha sorte.
Tomamos banho e deitamos na cama naquele friozinho gostoso,
com o aquecedor ligado.
— Não sei como meus pais aprovam a Bela namorar. Ela é
a minha irmãzinha de dezoito anos. — Ainda está inconformado,
como se fosse um absurdo.
— Você tá pegando a irmã de alguém. Sabia? — lembro a
ele.
— É diferente — rebate, contrariado. Oh, homem besta!
— Não é mesmo.
— É sim. Isabela é uma criança!
— Ei. — Bato no braço dele. — Deixa-a.
— Vou ficar de olho. — Me beija rápido.
— Não seja babaca, por favor. — Me olha atravessado e eu
dou um selinho para desmanchar o bico. — Bela tem juízo.
— Já estão se defendendo, é? — debocha. — Não sabia
que a amizade estava assim... — implica de novo.
— Ela é supersimpática e risonha. E você tinha me dito que
ela era discreta e fechada, e não achei isso. Nem um pouco difícil
de lidar.
— Mas eu não menti. Não tenho culpa se com você ela
conversou por horas e ainda riu várias vezes.
— Sério? Então sou irresistível. Conquistei a Montenegro
mais difícil! — me acho um pouquinho.
— Pois é. Feiticeira mais gostosa que eu conheço.
Rio com ele e logo a sua boca está na minha em uma
sessão de beijos gostosos, com direito a apalpadas e mão bobas.
Esse homem não existe!
ALEXIA
Na grama, olhando para cima, para ele, o vejo me
presentear com um sorriso lindo.
— Sabe, quando te conheci, não achei que ia se tornar isso
tudo. Mas quando menos percebi, você já fazia parte de mim. Foi
fazendo me apaixonar por você a cada dia, amando sua
sensualidade natural, o seu jeito menina e mulher ao mesmo tempo.
A primeira coisa que pensei quando te vi foi: eu quero aquela mulher
pra mim. Você transforma tudo, deixa tudo muito melhor. Tenho a
plena certeza disso. Casa comigo?
Gemo em euforia por aquela declaração. Falou fitando meus
olhos, me deixando bamba. A forma como ele me olha sempre me
deixa dessa forma, mas hoje é diferente.
— Sim, sim, é obvio que aceito! — Seguro dos dois lados do
rosto dele, e sorrio em meio às lágrimas.
Eu o abraço apertado enquanto coloco minha cabeça no seu
peito.
Estou noiva!
E fui pedida em casamento na vista da ponte Golden Gate.
Golden Gate!
Um sonho da vida sendo realizado junto com outro que eu
não sabia que tinha!
Sentamos na grama. Ele pega uma caixinha branca que
estava no seu bolso e a abre, mostrando um anel que reluz um
pouco por conta da claridade. Não sei como ele confiou em levar o
anel lá para cima. Ele coloca no meu dedo e eu o abraço apertado e
lhe dou um beijo.
Apesar da insegurança que me assombra de vez em
quando, nada me faria mais feliz que casar com Murilo. Depois que
tiramos todo o equipamento, ficamos na grama para curtir o dia
depois dessa aventura alucinante. Extasiada, olho meu anel a cada
dois segundos.
Murilo decidiu fazer um passeio de barco, para passarmos
por baixo da ponte e vê-la mais de perto. Seus pais chegaram com
sua irmã para nos fazer companhia. Recebemos felicitações da
família antes de subirmos no barco e continuamos o passeio, mais
apaixonados do que nunca. O sol está quase se pondo, mas a vista
continua linda.
— Murilo, promete uma coisa pra mim? — chamo sua
atenção, abraçada por trás e sentindo a brisa bem no meu rosto.
— Diga.
— Promete que se acontecer qualquer coisa, que se em
algum momento você tiver dúvidas sobre os seus sentimentos por
mim, não importa o momento ou situação, que você será sincero
comigo e vai falar antes de tomar qualquer atitude? Sem mentiras,
joguinhos ou qualquer outra coisa?
— Eu prometo. Isso não vai acontecer, não duvidarei em
momento algum, mas eu prometo. Você vai casar com um homem,
não um moleque. — Beija o topo da minha cabeça.
Me viro e o abraço novamente, sentindo a segurança que
ele me passa. Ele incrivelmente tem esse poder maravilhoso de me
dar conforto em qualquer situação.
— Por favor, não me machuque, seja sincero que serei
sincera com você.
Ele assente, beijando rapidamente meus lábios, e eu sorrio
no meio dele. Eu vou casar!
A essa altura do campeonato o sol já está se pondo e as
luzes da cidade acendendo. Esse dia está cada vez melhor!
À noite minha cunhada arrastou a gente com o namorado
dela para uma noitada na Upper Market, para comemorarmos.
Segundo ela, seria mais divertido do que em casa. Jantamos em um
restaurante legal e apreciamos vários artistas e shows alternativos.
Saí de lá com várias bandinhas preferidas e mais apaixonada que
nunca pelo lugar e por Murilo, claro.
MURILO
Pai! Eu serei pai! Puta que pariu! Melhor notícia do mundo!
Imagine um bebê com os nossos traços misturados? Será
um menino parecido comigo ou uma menina parecida com ela? Ou
ao contrário? Deus! Imagino uma miniatura nossa correndo por aí.
Vai ser foda!
Se parecer com a mãe vou me considerar ainda mais
sortudo! Doido para ver minha Morena no papel de mãe, será linda!
Já quero esse bebê e mal posso esperar para ver Alexia com
barriga grande. Nossa vida não poderia estar melhor, apesar de
tudo.
A imagem de um filho meu nunca me assustou, apesar de
eu nunca ter forçado isso com relacionamento algum que tive. E não
poderia ser com pessoa melhor, no melhor momento.
Futuro marido e pai de uma criança, da mulher que amo pra
caralho!
ALEXIA
Fui na minha primeira consulta para saber sobre o bebê e
conversei com minha ginecologista, que me encaminhou à obstetra
e amiga dela aqui da clínica. Murilo está cada vez mais cuidadoso
comigo depois de descobrirmos a gravidez.
Está tudo bem comigo e estou com cerca de seis semanas,
indo para a sétima. E tive a confirmação de que foi antes de Murilo
viajar mesmo, em alguma das nossas rodadas de sexo louco.
Cristo! Pode ter sido no carro no dia do lual! Meu Deus!
Marquei minha segunda consulta. Parece que depois que
descobri a gravidez, tudo parece mais claro. Estou me sentindo até
mais inchada e tenho um sono absurdo. Durmo sempre que
possível, e até quando não posso.
Corro levantando da cama, assustando Murilo que estava
jogado meio dormindo ao meu lado, quando sinto náuseas.
Ultimamente minhas náuseas matinais têm sido bastante intensas,
às vezes acho que não vou sobreviver.
Coloco as últimas coisas que comi para fora, me sentindo
horrível. Murilo aparece no banheiro para me ajudar enquanto vou
para mais uma rodada de vômitos. Ainda sinto essas ânsias fortes
mesmo tomando as vitaminas.
Meu estômago está em um nervoso absurdo que só consigo
vomitar cada vez mais, até começar a sair absolutamente nada, só
sinto a ânsia. Nunca imaginei que certos sintomas seriam tão fortes.
Qualquer coisinha me cansa ao extremo. Só quero dormir o tempo
todo.
Imagino quando avançar ainda mais.
— Já acabou.
Murilo me puxa para cima, me abraçando enquanto eu
choramingo de puro nervoso. Parece que esse terror matinal não vai
acabar nunca!
— Não aguento mais colocar pra fora desse jeito.
Me queixo ainda com o estômago revirando, num enjoo
muito ruim.
— É porque tá no comecinho, fica calma.
Moreno passa a mão nos meus cabelos, me confortando.
Quando sinto que o nervoso da barriga passou, me separo dele
para tomar banho.
— Vou fazer seu café da manhã.
Murilo sai do banheiro, me deixando sozinha. Entro na água
quente, molhando meu rosto e cabelos. Ultimamente meus dias
começam dessa forma. Eu colocando tudo pra fora feito louca,
achando que vou morrer desidratada e Murilo me acolhendo
dizendo que vai passar.
Falarei sobre isso com a doutora, porque está ficando cada
vez pior. Ah! Contei a meus pais, que ficaram loucos. Minha mãe
quase surtou na linha, assim como meu pai, que quase enfartou, e
depois chorou. Murilo também ligou para os pais dele, que também
choraram, porque serão avós, finalmente. Nosso bebê será o
primeiro neto, ou neta, deles.
Minha cunhada deu a louca gritando que vai ser tia. Meus
sogros até decidiram voltar para o Brasil. Isa suplicou, não estava
aguentando o clima e vem terminar a faculdade aqui. Ísis surtou e
ficou radiante, James ficou besta depois de quase ter um troço. As
meninas, da mesma forma, gritaram como loucas.
Saio enrolada e me visto com a primeira roupa soltinha que
acho. Minhas outras roupas estão me incomodando muito, embora
seja apenas o início da gestação.
Vou para a cozinha encontrar Murilo.
— Suco?
Questiona, colocando um copo na minha frente.
— Já me deu, né? Queria mesmo é café.
— Não pode ficar tomando café toda hora que faz mal, né?
E sei que a senhorita vai tomar por lá, então já tiro o daqui.
— Virou fiscal agora, foi? — questiono com humor.
— Virei.
— Vai tomar banho, fiscal de café.
Faço graça e ele segue pra dentro para a gente não se
atrasar. Levanto da cadeira e cato tudo de gostoso que vejo pela
frente para comer.
Tomo meu café tranquilamente. Aproveito e checo as coisas
do casamento. Hoje eu e Murilo vamos acertar outras coisas
importantes. Casamento dá trabalho demais.
Como quieta e sozinha até Murilo aparecer arrumado e
cheiroso.
— Ainda tomando café? — questiona, incrédulo.
— Estou com fome. Ninguém mandou você me engravidar.
E Murilo, sabe o que eu andei percebendo? Eu posso ter
engravidado aquele dia no carro, não usamos nada. Se nosso filho
descobrir que foi feito numa rapidinha dentro do carro em um beco
escuro, eu não sei como vai ser.
— Então eu caprichei pra fazer esse bebê, porque estava
morrendo de tesão em você aquele dia.
Ele gargalha, me dando um nervosinho na barriga de um
jeito bom, sentando do meu lado e me abraçando pelo ombro.
Descarado!
MURILO
— Tá com fome também, Murilo? — Alexia questiona
enquanto dou passagem para ela entrar primeiro.
— De você? Sempre! — Dou um tapa na sua bunda e ela ri,
se protegendo.
— Pervertido! Estou falando de comida.
— Eu também. Estou doido pra te dar uma comida.
Alexia joga a bolsa no sofá e vira o rosto, com um fingido
semblante de indignação, mas ela mal consegue disfarçar. Apenas
semicerra os olhos para mim. Eu só dou de ombros.
— Sou um noivo bacana, vou cozinhar — me rendo,
desabotoando a camisa social. — Estive pensando, quer yakissoba?
— Você é meu sonho de princesa, meu caro. Quero. — Ela
faz cara de dor, tirando os saltos. — Vou tomar um banho, Estou
cansada.
— Vai, pode relaxar um pouco no chuveiro — incentivo.
— Isso pareceu tendencioso, mas vou mesmo — suspira,
catando nossas coisas para subir as escadas, mas antes me dá um
selinho rápido.
Arranco a camisa social, largando-a no sofá, tiro o cinto e os
sapatos também e sigo apenas de calça social para a cozinha.
Resolvo preparar o jantar para nós dois. É rápido!
Arrumo a cozinha e subo para o quarto. O chuveiro está
desligado e logo a porta é aberta, surgindo Alexia com minha
camisa e todo o vapor do mundo, parece até que ela estava
assando lá dentro.
Ela está cada dia mais bonita com essa gravidez. Conforme
as semanas passam, a barriga começa a apontar mais claramente.
Ela conta nos dedinhos de quantas semanas está, mas sempre
arredonda para meses, e se queixa que não consegue memorizar
por semanas. Tá com nove e alguns dias, quase dez.
— Fez do banheiro uma sauna, não foi?
Ela ri, terminando de secar os cabelos e dando de ombros.
— A água estava quentinha.
— Nem precisava, eu te esquentava. — Dou uma piscadela.
— Vou tomar banho.
Aviso já descendo a calça para arrancá-la. Tomo um banho
legal e logo desço, encontrando Alexia na cozinha colocando a
mesa para nós. Mas um detalhe chama minha atenção: duas taças
postas e um tímido arranjo no meio.
— Hum, o que é isso?
— Comemorar nossa vida, não acha que tá muito boa?
Sorrio abertamente. Minha garota é especial demais! A puxo
pela mão, subindo seu corpo e segurando na sua cintura.
— Eu sou muito sortudo, não sabe? Tenho uma mulher
gostosa que eu amo pra caramba e sou correspondido. Futuro
marido e pai do nosso filho. — Beijo seu queixo.
— A mais sortuda disso aí sou eu.
Sinto seus dedos entrelaçarem na minha nuca e, com a
outra mão, fincar suas unhas vermelhas nas minhas costas. Puxo-a
para mais perto, colocando meus dedos entre seus cabelos e a
tomando para mim. Nosso beijo é interrompido pelo toque da
campainha.
30
ALEXIA
Nos separamos enquanto ele vai atender e me atento a
terminar de pôr a mesa, colocando os pratos e fazendo suco para
nós. A comida pede um vinho, mas não posso beber.
— Isso não é problema meu! — Escuto Murilo alterar a voz
em um tom tão sério que eu até estranho, porque não é típico dele.
— Murilo? — o chamo, saindo da cozinha.
— Já Estou indo, pode continuar o que tá fazendo — ele fala
de lá com um tom nervoso, mas ainda assim vou lá querendo saber
com quem ele tá aparentemente discutindo na porta.
Ando e percebo que ele fecha mais um pouco a porta, mas
ainda mais curiosa, vou e o encontro sério, conversando com uma
mulher de cabelos claros, quase loiros de luzes, com o mesmo rosto
confuso que eu quando nos vemos. Ela me olha rapidamente de
cima a baixo, parando um pouco mais de dois segundos na minha
barriga que já aparenta a gravidez, dependendo da roupa que uso.
— Oi?
Arqueio as sobrancelhas para saber quem é ela e olho para
Murilo, que está petrificado, mas hiperativo.
— Vamos entrar — Murilo age, tentando me fazer sair dali,
praticamente com intenção de bater à porta na cara da mulher,
aparentemente abalada demais para interferir.
— Calma, não precisa fechar a porta assim — peço e ele é
quem me olha de cara fechada. — Quem é você? — questiono,
curiosa.
— Camila. Desculpa, não queria atrapalhar. Me desculpa, eu
sei, é só que... Deixa para lá. — Faz pouco caso com a mão.
Assim que ela diz seu nome, me sinto deslocada entre os
dois. Murilo olha para mim e eu continuo a olhar para ele sem saber
como agir diante daquilo. E amaldiçoo ele por estar sem camisa.
Sabe aquele momento que o balde de água gelada entra em
contato com seu corpo sem esperar? É assim que eu me sinto
agora. Camila, pelo que me lembro, é a ex dele. O que ela está
fazendo aqui?
Olho mais uma vez para a mulher e só consigo pensar que
ela já beijou Murilo e fez outras coisas que não gostaria de ter
pensado. Será que ele gostou dela na mesma voracidade ou
pensou em ter filhos?
Mas não importa mais, Murilo me ama e iremos casar.
MURILO
Droga! Nenhum homem quer atual e ex no mesmo
ambiente. E eu de repente estou com Alexia e Camila se encarando.
É desconfortável!
— Vou sair pra vocês terminarem de conversar — Alexia
resmunga. E seu tom não está muito bom.
— Não. — Seguro na sua mão para que fique ali. — Não
temos mais nada pra conversar, não é, Camila?
Seguro Alexia pelo ombro para que ela não saia e pra que
Camila entenda que eu estou acompanhado agora. Não tenho
tempo para ela, para sequer saber o que veio fazer aqui, depois de
tantos meses querendo conversar.
— Ahn, eu... Sim! Só achei que você poderia me ajudar, não
sei. Ele tá agressivo. Não tenho muito a quem recorrer, minha
família não fala mais comigo direito por causa dele. Estou
desesperada — diz esbaforida, atropelando as palavras, tentando
explicar o veio fazer aqui, pois ela chegou e eu não quis ouvi-la. E
ela insistiu.
— Ele quem? — Alexia pergunta, com a testa franzida.
ALEXIA
— Meu marido, ele tá agindo estranho comigo desde que
descobriu minha gravidez no mês passado. Não sei o que fazer.
Confessa, chorosa, e meu coração automaticamente dói,
pois sei o que é viver nesse tipo de relacionamento. De repente para
mim aquela mulher não é mais ex do meu noivo, é uma mulher
desesperada.
— Entra — sem pensar muito, mando, surpreendendo os
dois.
— Não quero atrapalhar, desculpa.
— Entra logo antes que me arrependa — repito, séria.
Sei que foi ela que terminou com ele, e não tem direito
nenhum de vir atrás. Mas, independente de qualquer erro cometido
no passado ou presente, nenhuma mulher merece apanhar, ainda
mais grávida.
Ela entrou meio receosa e desabafou, dizendo que no
começo ele era maravilhoso, só que fez ela sair do trabalho quando
casaram, proibiu-a de sair com as amigas e agora não tem mais
contato com quase nenhuma delas. Quando descobriu a gravidez
ele ficou estranho, pedindo para ela tirar, pois não quer filho agora e
a criança vai tirar o tempo que os dois têm juntos e não quer dividir
atenção. Porém, ela saiu de casa depois que apanhou da última vez
e está morando de favor com uma das únicas amigas que restaram.
Só que agora ele está perseguindo e ameaçando a amiga também.
Murilo ficou o tempo todo sério e calado, ouvindo. Eu escutei
tudo atentamente, sem saber o que fazer. Sugeri que procure um
advogado, vá na polícia logo e more com algum parente distante até
a poeira abaixar. Ela saiu daqui depois de chorar muito e agradecer.
Acabamos jantando o yakissoba, que ficou uma delícia.
Enquanto eu tento fazer uma comida brasileira comestível, do outro
lado Murilo inventa de fazer comida de outro país, e ainda sai
gostosa. Eu tenho um Hilbert moreno e não sabia.
Ambos calados, trocamos apenas poucas palavras. O que
era para ser um jantar alegre se transformou em algo
desconcertante. Mas penso mesmo é na reação de Murilo quando
eu cheguei. Ele tentou me esconder? E ficou bravo por eu escutá-
la? Estou bem confusa. Mas não vou guardar essas questões para
mim.
Viro para Murilo, que para o que está fazendo, vendo minha
insatisfação com isso.
MURILO
— Por que você tentou me esconder quando eu apareci? —
Alexia me olha, com semblante questionador.
— Ahn? — rebato automaticamente, processando o que ela
falou.
— Por que me escondeu, fechou a porta quando apareci?
Não queria que eu escutasse a conversa? — Semicerra os olhos.
— Não! — agilizo a resposta. — Não tentei, só que... Só que
eu não queria estender o papo com ela, estava tentando fazê-la ir
embora.
— Hum. — Ela termina de secar os pratos que eu lavei e em
seguida sai em direção às escadas.
Ela não aceitou muito bem a resposta, apesar de ser a
verdade. Eu não quis escondê-la, só queria que Camila fosse
embora, não queria estragar a noite. Odeio brigar com Alexia! Ainda
mais por conta de Camila, droga!
Estou com uma mulher por quem faço tudo para vê-la feliz e
despreocupada. Aí, do nada, uma ex aparece!
Como já falei, ninguém quer ser pego pela atual no flagra
conversando com a ex, mesmo que tenha sido uma breve discussão
e sem estar fazendo nada de errado. Mas esses momentos deixam
a gente sem saber como agir. Largo lá e seco as mãos, subindo
atrás dela. Tudo que eu não quero é brigar com Alie. Reencontro-a
de costas para mim, deitada na ponta da cama fitando o chão e paro
na frente dela, me agachando para olhá-la.
— Eu juro que não te escondi — com tom de voz baixo,
acentuo o que falei. — Eu só queria que ela fosse embora, não
queria criar um clima chato entre vocês e nem te preocupar com
bobagens.
Aliso sua mão e ela aceita o carinho.
— Ninguém jamais vai me afastar de você. — Percebo ela
ficar aliviada. — Você é maravilhosa. Mesmo sendo minha ex, quis
escutá-la. Se fosse outra, teria mandado se foder sem se importar.
Abro um pequeno sorriso orgulhoso pela atitude empática
dela. Minha mulher é uma peça rara e eu não a deixo de forma
alguma!
Levanto e beijo sua testa, sentando do seu lado e a puxando
para meu colo.
— Então não ficou chateado por eu ter escutado ela? —
indaga em tom baixo, alisando meus dedos.
— Não, só surpreso. Eu achei que quando a visse de novo
ia sentir alguma coisa, mas não senti nada. Só que não soube como
agir vendo vocês duas no mesmo ambiente. Mesmo que ela tenha
dado um fim no nosso relacionamento pra ficar com esse fulano, eu
não senti nada quando a vi hoje daquele jeito. Não me senti feliz
nem vingado.
Sou sincero com o acontecimento e ela assente.
— Infelizmente ela fez a escolha errada achando que era a
certa. Me compadeci por ela, apenas. Mas eu não quero vocês dois
próximos!
Ela me fita com cara de brava e eu abro um sorriso.
— Apesar de tudo, eu não me senti tão desesperada ao vê-
la. Claro que fiquei meio deslocada em um primeiro momento,
sabendo que é sua ex, não sei se foi pela situação. Mas não surtei
como eu provavelmente faria. Eu consegui me controlar.
— Uhum. — Beijo seu pescoço e a vejo se arrepiando. —
Vocês não estão competindo em nada, eu sou seu, moça.
— Acho bom! Então se não estamos competindo por nada,
não havia porque ser grossa — sou sincera e me assusto com o que
falei e como me senti em relação a ela.
Achei que ficaria morrendo de medo de Murilo me largar,
mas simplesmente não surtei.
— Gosto de você assim. — Beija minha cabeça e eu sorrio.
— Você criou um monstrinho, não se esqueça. — Rio com
ele.
— É. Agora vem aqui me dar um beijo.
Esse encontro de hoje foi só para fortificar que a Alexia que
estou lutando para ser estar vencendo. A vantagem de passar por
momentos muito ruins é que quando acontece algo apenas ruim,
você olha para a situação e pensa: “HAHA. Tente novamente!”.
ALEXIA
Abro os olhos ainda zonza, sem saber direito o que
aconteceu, e fito um teto branco com uma luz forte. Semicerro os
olhos para ter conforto visual. Abro aos poucos para conseguir
enxergar com foco.
A cabeça dói demais, tenho sensação de vertigem, eu estou
mesmo deitada. Sinto o cheiro inconfundível e asséptico de álcool
em gel e detergente, dando a confirmação que estou em um
hospital.
— Murilo... — sussurro o primeiro nome na minha cabeça e
ele aparece do meu lado, apreensivo, mas tentando me tranquilizar
com um olhar, embora esteja abatido. Sinto sua mão alisar meus
dedos de forma delicada, em um carinho preguiçoso.
— Alie... está sentindo alguma coisa? Quer que eu chame o
médico? Vou chamar o médico — me bombardeia de perguntas.
— Eu Estou bem, e o bebê? — o acalmo, mas quero saber
se está tudo bem com minha sementinha.
— Tudo bem também, foi só um susto, graças ao cinto —
suspira, alisando meu rosto com cuidado. — Você quer alguma
coisa? Pode falar.
Nego com a cabeça, começando a chorar, caindo no abismo
dos acontecimentos. Todo o medo e desespero de o carro estar em
velocidade alta, derrapando, a dor na minha cabeça, as ameaças...
Poderia ter acontecido uma tragédia pior agora. Tudo porque Diego
não sabe o que é um “não”.
Murilo senta do meu lado na ponta da cama sem ter como
me abraçar direito, pois estou tomando soro e ele tem receio de me
machucar. Mas faz, com cuidado, acolhedor. Suspira me olhando
com a carinha abatida, talvez lutando contra a angústia que está
sentindo.
— Eu Estou bem agora, isso é que importa. — Passo a mão
nos seus braços, que envolvem meu corpo. — Há quanto tempo
Estou aqui? — não consigo segurar minha curiosidade.
— Quase uma hora. Você acordou no caminho e depois
apagou de novo. A médica que te atendeu falou que o seu estresse
estava elevado, e também desidratada. Eu falei sobre sua gravidez,
ela disse que tá fora de perigo. Só ficou com os curativos na testa e
no pulso.
Automaticamente coloco a mão na cabeça, sentindo um
curativo na testa. E examino meu braço, que tem uma pequena
faixa de atadura no pulso. E alguns roxos no braço, junto com uns
poucos arranhões.
— Seus pais estão vindo amanhã te ver, porque pegar a BR
essa hora é perigoso. Suas amigas ficaram doidas quando
souberam. Queriam vir pra cá te ver, mas eu as tranquilizei.
Uma enfermeira entra e faz as perguntas de praxe, que eu
respondo segurando no meu colar Ponto de Luz. É, eu acredito
muito em amuletos.
Ficarei em observação aqui pelo menos até amanhã, por
causa da gravidez, e porque já marcaram alguns exames com
minha obstetra, que também trabalha aqui no hospital logo pela
manhã. Ótimo!
Me queixei de uma dor fraca no abdômen, mas ela disse
que é normal. Se eu começar a perder sangue ou sentir muita dor,
devo avisá-la. Soube que Lizandra apareceu aqui para me ver e
trazer roupas, mas não pôde subir e Murilo foi buscar lá embaixo.
Mas me desejou melhoras e ficou de me visitar em casa. Eu amo
minhas amigas, nosso lema sempre prevalece em qualquer
situação: “nós por nós”.
Sou acordada por uma ânsia nojenta e acabo vomitando no
chão. Não consegui segurar antes de saber onde tem banheiro aqui.
Murilo corre para me dar suporte sem pensar duas vezes. Apesar
dos vômitos terem diminuído, às vezes ele aparece para dar o olá
matinal.
Tomo banho com ajuda de Murilo.
O meu café da manhã chega. Murilo me deixa com uma
enfermeira, que me serve comida, avisando que iria atender um
telefonema. Sem muita vontade de comer comida hospitalar, mas
dou o braço a torcer.
Pelos exames marcados, a etapa do pré-natal que vamos
fazer é a ecografia. Estou bem ansiosa!
Estou me sentindo muito inchada, enorme, para falar a
verdade. Quase onze semanas já, e sinto que estou quase
explodindo. Agora sei contar em semanas, por incrível que pareça
consegui finalmente entender isso. Na verdade, estou aprendendo
mesmo me enrolando, e virei a amiga chata que fala por semanas
com Lizandra, que revira os olhos pela minha implicância.
Estamos em expectativa para saber o sexo, mas não quero
assumir um lado. Sinceramente? Para mim tanto faz. Mesmo assim
não resisto em abrir um sorriso imaginando uma cópia de Murilo.
MURILO
Enquanto Alexia toma café para a gente ir para a sua
consulta, ando pelo corredor pensando no paradeiro daquele
safado. Quero saber qual foi o fim do filho da puta. Espero que
esteja no necrotério. O desgraçado ainda veio pro mesmo hospital
que ela, tem plano de saúde também. Mas é bom que facilita para
batermos um papinho.
Encontro uma enfermeira no meio do caminho com uma
prancheta na mão e peço informações. Ela indica a direção que
devo seguir. Aproveito a brecha de já estar aqui dentro para não
precisar dar o meu nome de visitante. Acho o quarto dele, com
policiais na porta por causa do seu caso, pois está com prisão
decretada, só esperando ter alta.
Converso brevemente com um dos policiais, o que estava
ontem no local e que agora está conversando com os outros que
fazem a guarda, e ele me explica a situação. Esteve em cirurgia
logo que chegou. Os policiais liberam minha passagem avisando
que eu poderia ficar apenas cinco minutos. Agradeço. Eles sabem
que não sou parente.
Entro encontrando-o deitado na maca, todo enfaixado,
completamente fodido, mas para mim é pouco. Está são, acordado,
tomando seu café. Ele vê a minha chegada e coloca sua bebida na
bandeja, sério, cheio de hematomas e com o braço engessado.
Amputou uma das mãos, ficou preso nas ferragens pelo que me
disseram. Chego mais perto e vejo que sua perna também está
enfaixada, mas inteira.
Ele não diz nada, só me olha.
Agarro sua perna engessada, apertando sem dó. Ele se
contorce de dor, urrando.
— Espero que esteja satisfeito com o rumo das suas
escolhas. — Sem esboçar muita reação, aperto mais sua perna e
ele geme.
Cadê o homem agora? Só é para mulher?
— Eu espero que com o acidente você tenha esquecido
Alexia, de verdade, porque na próxima vez não terá a sorte que teve
ontem.
— Você querendo ou não, eu serei uma parte importante pra
Alexia — contorcendo-se de dor, ele abre a boca.
— Eu sei que é uma parte importante, ela usará você como
parâmetro pra guinada que a vida dela teve depois que acabou com
você, e pra saber que você é o tipo de homem que ela não quer por
perto, nem pra ela, nem pra ninguém. Inclusive para o nosso bebê
que tá na barriga dela, pra quem você será um exemplo a não ser
seguido. Você nunca vai viver com uma mulher como ela, nem hoje
e nem futuramente. Nunca!
Faço ainda mais pressão na sua perna torcida. Ele grita,
berrando de dor. Acho pouco!
— Suma da vida dela. Isso já não é um aviso, é uma
ameaça.
Saio da sala após essa visita breve, para ver se Alie comeu
e sabermos como nosso bebê está.
ALEXIA
— Minha bolsa! — Lembro no corredor do hospital. — Deixei
lá no carro.
— Não se preocupe. Um dos policiais pegou, seus
documentos estavam lá — me tranquiliza e meu coração aos
poucos desacelera. Murilo segura nas minhas costas, me
encaminhando para a sala indicada. Estamos no horário marcado e
fui chamada assim que cheguei. Tem poucas pessoas, uma delas
com a barriga grande já. E automaticamente penso que em breve
estarei aqui assim também.
— Oi, senhora Alexia — Rita, minha obstetra, me saúda
sorrindo.
— Olá, doutora. — Retribuo o sorriso.
Ela cumprimenta Murilo e logo indica para sentarmos.
Conversamos um pouco. Mostrei a ela os exames que fiz ontem,
que ela mesma solicitou, e Liz trouxe os últimos que fiz a pedido de
Murilo.
— Tomou café direito? Foi bem servida? — Ela ri, já
sabendo como é a comida de hospital.
— Uma delícia! — entro na sua brincadeira, rindo.
— Que susto, né? Mas sentiu alguma dor nessa
madrugada? — questiona, olhando para mim por cima dos óculos
de grau.
— Não. Senti umas dores leves, mas passou rápido.
Ela assente e verifica minha pressão, que está normal.
Verificou tudo como da outra vez e me pesou novamente.
— Seu peso aumentou um pouco mais do que achei.
— Isso é ruim?
— Não tanto. Os nutrientes estão indo direto para o bebê.
Mas se continuar assim vai ser difícil para fazer parto normal, pode
acarretar algum problema. Tem como a gente dosar isso até os nove
meses.
Anuo e ela me leva para fazer a ultrassom. Rita passa a
maquininha em cima do gel gelado na minha barriga, que vai
refletindo aos poucos na tela. Sinto ela passar para lá e para cá
fitando a tela e percebo ela mudar um pouco a fisionomia, ao
mesmo tempo que meu coração acelera. Será que é algum efeito do
acidente no bebê?
— Rita? — questiono, querendo saber o que está
acontecendo. Murilo está do meu lado, sério, com a mesma feição
preocupada que eu.
— Me deem um minuto que preciso falar com a outra
doutora que está aqui do lado. Não se preocupem, está tudo normal.
Ela levanta e o que ela falou para mim soou como “se
preocupem, pois é grave”. Moreno segura minha mão, beijando-a
logo em seguida. Cinco segundos depois as duas voltam. A outra
médica sorri para mim e se coloca ao lado de Rita para ver algo na
tela que ela aponta.
— É mesmo — comenta ainda olhando para a tela, e eu e
Murilo observando as duas com grandes interrogações na testa e
muito preocupados.
— O que tá acontecendo, afinal? — temerosa, questiono.
— Você está esperando gêmeos, e não um, como mostrava
na última consulta.
Rita me avisa com um sorriso enorme enquanto a outra
médica pede licença. O quê? Arregalo os olhos com o susto e
levanto com tudo da maca.
— E serão bi vitelinos. Não estão na mesma placenta.
Permaneço em choque, sentindo meu corpo formigar.
Gêmeos? Mas que…. Continuo a olhar para ela sem saber como
reagir.
Escuto um Murilo incrédulo sussurrar algo do meu lado e
olho para ele, apertando sua mão, ainda em choque. Dois filhos ao
mesmo tempo? Como vou cuidar de dois de uma vez?
— Você tem certeza, Rita? — questiono e quem sabe eu
não escute um “me enganei, é apenas um mesmo”, mas ela apenas
confirma com a cabeça.
— Quer ouvir os batimentos? — Gesticulo, concordando.
Minha ficha ainda não caiu. Não estou sabendo lidar com isso. Ela
mexe no aparelho e logo os batimentos não tão ritmados ecoam.
Fito o nada para tentar ver se consigo ouvir outro batimento e, me
concentrando bem, escuto um em outro ritmo, quase sincronizados.
— Na outra consulta eu não percebi, pois estava mais atrás,
não do lado como agora — me explica, limpando minha barriga,
tirando o gel. Ainda em choque, sento de volta em frente à sua
mesa, com Murilo apreensivo do meu lado.
— A partir de agora terão que ter cuidados redobrados. Vai
ter que seguir à risca a dieta balanceada. Certo?
— Aham! — estou no automático.
— Os seus gêmeos são bi vitelinos, pois estão se
desenvolvendo a partir de dois óvulos, que foram liberados e
fecundados ao mesmo tempo.
Não basta Murilo me engravidar, ainda tem que me
engravidar duas vezes no mesmo momento. E nada tira da minha
cabeça que foi no carro! Cristo!
— Entendi.
— Nós vamos nos ver mais vezes. É só seguir direitinho que
não terá problemas.
— Aham.
— Normalmente os partos de gêmeos são feitos por
cesariana, porém também não deixa de ser possível o parto normal.
Caso haja possibilidade e você preferir, é claro!
Assinto, concordando. Ainda estou chocada demais para ter
qualquer outra reação. Eu me limito a aceitar automaticamente o
que ela está falando.
— Sei que assusta, mas em breve você se acostuma.
Sorri para mim, nos despedindo de mais uma consulta.
Marco a próxima. Mesmo sendo gêmeos, podemos fazer sexo
normalmente, porém ela nos alertou de alguns contratempos que
podem ocorrer.
— Nem estou acreditando. E você? — comento com Murilo,
andando pelo corredor novamente. E ele nega com a cabeça
também, tão extasiado quanto eu.
— Nem um pouco.
Levanto um pouco os pés para beijá-lo e ele segura na
minha cintura com cuidado.
MURILO
Olhando Alexia gargalhar conversando com Luísa, sinto a
paz da vida de volta aos eixos. Custou para conseguirmos isso, mas
finalmente chegou. E ainda serei pai de gêmeos! Quem diria que iria
estrear logo com dois?
Minha Morena passou por muita coisa ultimamente. E por
isso, merece a melhor festa de casamento de todas. E estou cheio
de ideias para o dia. Uma surpresa especial para ela. Só preciso
planejar com cuidado para executar sem erros.
Chamo Christian para contar o que quero fazer.
— Vê isso pra mim, me passa o contato, pô.
— Oh, porra, eu sou Christian, mas não sou o Grey. Vou
tentar ver isso pra você.
Gargalho pela resposta dele.
— Tu tá lendo o livro, cara? — Cruzo os braços, colocando
pressão.
— Não te conto a missa metade, Murilo. — Ele nega com a
cabeça. — Luísa estava lendo aí, com um entusiasmo... Quis saber,
né? Aí ela leu em voz alta. O cara é gênio! — Gargalho alto.
— Ficou excitado pelo homem lá, cabaço? — Tiro sarro só
pra dar uma zoada.
— Lá ele, mas o cara tem olho cinza, pô. Nenhum gato que
eu já vi na vida tem olhos cinzas, e o filho da puta, além de
bilionário, é empresário e o caralho e decide querer comer a mulher
lá, virgem, universitária, sem perspectiva alguma de vida. E ela fica
no cu doce. Mas ele presenteia ela com coisas caras, age como se
ela fosse a única boceta no mundo, só pra conseguir foder com ela
amarrada, dando chicotada nas costas, suspensa numa corda. Que
escroto! Alexia nunca leu essa porra? — A indignação dele é motivo
de ainda mais risos. — Luísa ainda me fez assistir ao filme com ela
e eu aproveitei!
— Não. Não que eu saiba — divago, lembrando do dia que
ela amarrou meus braços.
Ela leu ou assistiu, certeza! Uma pena eu não ter recebido
essa informação antes.
— Mas vou ver esse lance pra você. Tenho um amigo que
trabalha nessa área, deve conhecer alguém.
— Fechou, então.
Bato nossos copos num brinde rápido. Alexia terá o
casamento que merece!
ALEXIA
Acordo de madrugada, encontrando Murilo acordado. Eu o
admiro deitado, sem camisa, com a mão embaixo da cabeça e a
outra na testa, olhando o teto, e observo aquela cena,
completamente apaixonada.
Parece uma pintura linda e erótica. Os cabelos bagunçados
e a cara de sono. Como pode ser tão lindo?
Eu tive alguns tipos de namorados, mas Murilo foi o mais
lindo e gostoso, com toda a certeza. Suspiro e ele me olha
arqueando as sobrancelhas, sorrindo do seu jeito maravilhoso, e
alisa minhas bochechas. Retribuo o sorriso e coço os olhos.
— Vamos levantar? — ele sussurra, ainda mexendo no meu
cabelo.
— Não — resmungo, enterrando minha cabeça de volta no
seu peito, e ele ri. — Tá cedo ainda, não?
— Um pouco, mas eu preciso chegar mais cedo hoje.
— De novo? — reclamo.
Murilo nessa última semana se enfiou numa escala nova de
trabalho muito doida. Ele me disse que é acúmulo de funções por
causa da nova função, e tá deixando tudo no lugar para o seu
substituto. Está treinando o substituto e trabalhando no novo setor
para o qual foi promovido.
— É. Vou tomar meu banho logo, pra não me atrasar. —
Levanta para começar o dia.
— Fica aqui comigo.
Eu tento segurá-lo para ficarmos mais um pouco, mas ele se
esquiva, rindo. Dou uma pequena cochilada, ainda morrendo de
sono, com a mão na minha barriga. Vou levantar para fazer café, pra
ele não tomar café sozinho uma hora dessas.
Saio dos meus devaneios com ele só de toalha puxando
meu pé. É a melhor visão do mundo. Gente! Gostoso até dizer
chega.
— Para de me olhar com essa cara de tarada. — O sorriso
sacana já está no rosto. — Você já tá grávida. — Gargalho.
Sacana! Ele saiu de toalha só para me atiçar e ficar rindo de
mim. Mas não vai ficar por isso mesmo.
— Tem certeza? — Arqueio a sobrancelha e passo o meu
pé por cima da toalha, desprendendo-a. Ele agarra meu pé num
reflexo e deixa a toalha cair. Olho no rosto dele, mordendo os lábios.
— Não se pode negar nada pra mim, senão vai ficar de terçol.
É a vez de ele gargalhar mais uma vez e o puxo pelo pé
para cima de mim. Adoro esse cheiro que o sabonete deixa nele.
Dou uma pequena mordida no seu ombro, beijando e logo em
seguida vendo-o se arrepiar. Se for para sentir o gosto do sabão
assim, faço sempre sem me importar. Aliso suas bochechas.
Despretensiosamente desço as mãos pela sua bunda malhada,
dedilhando com os dedos.
Sorri sacana e me imobiliza com as duas mãos para cima,
colando nossas bocas. Estou sedenta.
— Estou adorando você assim.
MURILO
Subo para meu andar com um grande copo de café da
cafeteria no meio do caminho. São seis e meia da manhã agora e
vim para o trabalho mais cedo, deixando Alie dormindo. Ela quis
tomar café comigo, mas sei que ela precisa dessas horas de sono
para trabalhar direito. Não tem ninguém no prédio, praticamente. Só
o segurança que sequer deve ter trocado o turno ainda.
Quando eu acho que tudo vai fluir, aparece um problema no
meio, ultimamente as coisas não estão como deveriam estar. Só
acumulo preocupações numa época em que eu deveria estar
curtindo tudo. Principalmente nossos bebês. Mal posso esperar
para ver como será essa junção de nós dois. Se vierem com os
traços dela, serão as coisas mais lindas do mundo.
Ligo o computador e sento na cadeira, fitando a nossa foto.
A do dia do kart é a minha preferida, além daquela na Ponte Golden
Gate, logo depois do pedido. Não sei o que reluz mais, o sorriso
dela ou a pedrinha do anel.
Pego o segundo porta-retrato para observá-la. Alexia é a
mulher da minha vida, sem dúvida. Esse último problema está
tirando o meu sono de uma forma insuportável e sequer posso
transparecer isso para Alie, já que está gravida e precisa de paz.
Nada está saindo como eu planejei para nós. Tudo parece
estar fora do lugar. Tudo desandou. Estou muito frustrado!
Eu fico praticamente vinte e quatro horas por dia em cima de
planilhas, reuniões e conferências.
Nossa semana está toda desorganizada, nossos horários
não estão batendo, nem todos os dias eu consigo chegar para jantar
com ela. E sei que ela está frustrada com tudo isso, mesmo
relevando.
Minha vida está um verdadeiro embaralho. É tanta coisa na
minha mente para resolver, de trabalho e casamento, que eu
simplesmente estou uma pilha de nervos. Mas espero que acabe
logo de uma vez, antes que tudo piore.
ALEXIA
Sento na cadeira para jantar. O que era para ser uma
semana de escala nova, está durando quase um mês, ele está
numa rotina pesada de trabalhos. E sem previsão de normalizar.
Jantamos quietos, porém minha mente não quer descanso, tentando
decifrar o porquê de ele estar tão aéreo.
— Estava pensando em escolher a cor branca pro enxoval.
O que acha? — comento, colocando meu prato na pia. Murilo fita o
prato, ainda calado. E olhe que Murilo sempre foi bem-humorado e
hoje está com palavras breves, sequer o reconheço.
Pior que a escala doida é Murilo se afastando a cada dia e
sequer faz questão de estar comigo, pois quando chega em casa,
janta e vai trabalhar mais um pouco. Mesmo saindo mais cedo e
voltando tarde. Moreno ultimamente vive aéreo. E também tem algo
que questionei a mim mesma que, se for ver, eu não sei nem o que
sentir.
— Murilo! — chamo sua atenção. — Não está me ouvindo,
né?
— Desculpa. Acho que ficaria legal.
Tento relevar, mas tá cada dia mais difícil.
— Você nem ouviu o que falei — resmungo, chateada, me
sentindo ignorada.
Não faço a mínima ideia do que está se passando com ele,
pois não me conta nada. Sei que tem algo além do trabalho o
preocupando, mas ele finge que não é nada. Quero dar espaço, não
ficar marcando em cima, mas eu não consigo fingir que está normal.
— Estava apenas pensando em outras coisas, desculpa.
— Conta pra mim o que tá acontecendo.
— Não tá acontecendo nada, Morena — se esquiva mais
uma vez.
Vou para o quarto para não acabarmos brigando. Me jogo
na cama e fito o teto, ainda pensando em que porra está
acontecendo com esse homem, afinal de contas.
O sono aparece e acabo me virando para dormir, sem
esperar por ele. Sei que ele não vem dormir agora mesmo. Mas,
então, sinto seu corpo me abraçar por trás, beijando e deixando um
beijo no meu ombro e suspirando baixo.
— Murilo, responde uma coisa pra mim?
— Diga. — Sua voz rouca no meu ouvido é tão gostosa,
apesar de tudo.
— Por que eu tenho a impressão que você não tá feliz por
serem gêmeos? — questiono o que vem me incomodando desde
que saímos da consulta aquele dia. — Você mudou completamente
depois que descobrimos que vem dois bebês.
Murilo me vira de frente, alisando o meu rosto, mas é o seu
que demonstra abatimento e cansaço, com olheiras enormes da sua
rotina louca. Me sinto impotente por não conseguir ajudá-lo mais,
porque ele simplesmente não me conta as coisas, nem como está o
trabalho e nem nada. Ele praticamente fez voto de silêncio.
— Jamais, Alexia. Eu Estou muito feliz; melhor que ter um,
só dois filhos com você. Só Estou preocupado com umas coisas,
mesmo, é normal.
— Eu Estou morrendo de medo. Tem algo te preocupando?
Pode falar comigo, Moreno. — Aliso sua bochecha.
— Nada. Deixe que eu resolvo tudo. Amanhã te levo pra
jantar, prometo.
Ele tenta me tranquilizar, mas só confirma que tem sim algo
tirando seu sono. Só preciso descobrir o que é.
33
ALEXIA
Sentada no sofá, alisando minha barriga, vejo Murilo chegar
do trabalho. Minha barriga está grande para quatro meses e meio.
Na próxima consulta, semana que vem, descubro os sexos. Mal
posso esperar para escolher os nomes, comprar as coisinhas.
Tenho algumas sugestões, mas não cheguei a falar com Murilo
sobre isso, pois ele nunca tem tempo, como sempre.
São exatamente onze da noite e ele está chegando agora.
Detalhe, mais uma vez marcou comigo para jantar, como na semana
passada, que não pudemos fazer isso, já que ele ficou para uma
conferência quase no final do seu expediente. Até disse que não
precisaríamos sair, mas ainda assim quis fazer com que vivêssemos
em paz, resgatar os momentos em casa, mesmo com ele empilhado
de trabalhos.
Me animei, dei mais um voto de confiança, cheguei do
trabalho, cozinhei e saiu bom, fiquei super orgulhosa de mim
mesma, e ele sequer chegou para jantar a tempo. Estou desde às
sete esperando, com mesa arrumada, até não aguentar mais e
jantar sozinha e frustrada depois que ele mandou mensagem
dizendo que não chegaria a tempo.
Fiquei parecendo uma idiota, cheia de esperança,
conferindo as horas no celular para ver se ele daria sinal de vida.
Quem fica em reunião até essa hora? Quem? Nem os donos da
empresa que são os maiores interessados!
Para ser sincera, estou de saco cheio. Não só dele
desmarcar comigo duas vezes e me deixar esperando, mas pela
situação toda. Não tenho mais Murilo do meu lado justamente
agora, na gravidez, onde eu mais queria que ele ficasse comigo.
Tentei ser parceira esse tempo todo, relevar, perguntar, oferecer
ajuda, mas ele sempre me dá uma resposta automática: “não
precisa se preocupar”. Toda vez que pergunto se é algum problema
na empresa ou se precisa de ajuda ele me responde isso. Sempre!
E isso está me irritando profundamente.
Ele respira reuniões e não importa a hora, sempre alguém
do trabalho está ligando. Ele tenta mostrar que está tudo bem, mas
sei que não está. Tem alguma coisa no meio. Nada mais perceptivel
que uma pessoa com uma mente turbulenta tentando ficar quieta.
E Murilo sempre foi transparente.
Achei que subindo de cargo e sendo acionista agora,
mesmo que com pouquíssima porcentagem, as coisas melhorariam
e teríamos uma qualidade de vida melhor, mas pelo jeito me
enganei. É só estresse!
— Desculpa, Morena. Precisei revisar uns documentos
urgentes pra amanhã de manhã.
— Uhum — não vai adiantar discutir, afinal de contas.
Todo dia, quando eu acordo, ele já saiu ou está saindo. E
quando chega, tenta amenizar pedindo desculpas, mas no dia
seguinte faz igual. Não quero saber de desculpas mais!
Ele se aproxima para me beijar e eu sequer saio do lugar,
não recuso, mas também não recebo de bom humor. Ele beija uma
mulher fria. Alisa minha barriga, como sempre faz, e suspira,
jogando o paletó no sofá.
Ele me fita com olheiras enormes. Ele percebeu meu
afastamento agora. E sabe que é com razão.
— Estou ausente, eu sei, e Estou tentando administrar isso,
eu vou te recompensar, tudo bem?
— Não precisa recompensar, Murilo, é só me dizer o porquê
de tudo isso que eu posso entender melhor, pois no momento Estou
te achando um egoísta em pensar só no seu trabalho. Já não é
acúmulo de funções há muito tempo, não subestime minha
inteligência.
Ele suspira, passando a mão nos cabelos, mostrando
inquietação. Claramente tem algo o incomodando, mas o que me
irrita é que ele não divide. Murilo é lindo, romântico e o que for, mas
um dos defeitos mais graves dele é essa dificuldade de dizer
abertamente sobre seus problemas para mim, como se eu fosse
feita de açúcar. E eu odeio essa barreira.
— Não é nada. Nada que você tenha que se preocupar. Tem
consulta essa semana? Eu vou com você.
Tá vendo aí a resposta automática? “Nada que você tenha
que se preocupar”. Ah, vai se ferrar, Murilo!
— Só final do mês, se achar tempo você vai comigo. Tem
comida na mesa, eu que cozinhei. Esquenta.
Resignada, levanto disposta a dormir. Estou esgotada dessa
situação. Deito sozinha na minha maldita solidão, mas não consigo
pegar no sono e começo a pensar teorias loucas para tentar
entender o giro que minha vida tem dado nesses últimos tempos.
Uma hora eu estou insatisfeita e infeliz com meu relacionamento,
outra hora estou amando uma pessoa com quem estou prestes a
me casar.
Talvez nosso maior erro tenha sido ir rápido demais. Pensar
que a fase ruim nunca ia chegar e que íamos ficar naquele amor
para todo o sempre. Talvez essa ideia de casamento seja
precipitada demais. Tantos talvez…
Murilo seria capaz de me trair? Ou ele está começando a
pensar que se arrependeu de me pedir em casamento? Que foi
tomado pelo calor do momento dos nossos pontos altos? Pensou
direito e viu que não eram os planos para ele no momento... Ou até
mesmo não está satisfeito em ser pai, embora sempre me pergunte
se estou me sentindo bem e se quero algo. Não sei!
Esse afastamento tem que tem um motivo plausível!
Está com uma mania horrível de workaholic. Sai mais cedo
para trabalhar na maior da semana, chega mais tarde e quando
chega no horário, trabalha até de madrugada. Dorme muito pouco.
Todas as minhas inseguranças vieram à tona. Estou com medo do
casamento e da gravidez e com ele fazendo isso eu fico ainda com
mais medo de casar e essa ser minha vida em definitivo. Eu não
quero casar nem viver com este Murilo, eu quero que meu futuro
marido seja o Moreno risonho que eu conheci e por quem me
apaixonei, não esse com quem fico cada dia mais desapontada.
MURILO
Frustrado com essa merda de situação, sigo para a cozinha
encontrando uma mesa posta pela metade, com um dos pratos sujo.
Ela cozinhou para nós e eu sequer consegui chegar a tempo
para prestigiá-la. Apesar da nossa rotina doida, ainda assim ela
tenta trazer a normalidade que tínhamos. Sinto um aperto no
coração. Não vejo a hora disso acabar!
Nossa vida agora é nos desentendermos. Discutimos por
praticamente tudo!
Essa merda desandou de vez! Achei que isso acabaria na
segunda semana, mas está se estendendo mais que eu previa e me
causando uma dor de cabeça imensurável. E o foda é que ou é isso,
ou é pior. Mas isso vai acabar no final desse mês, precisa acabar.
Ainda preciso resolver a surpresa do casamento, que empacou.
Eu estou cansado, tudo que eu queria era abraçá-la e beijá-
la. Isso ajudaria e muito, sem brigas ou coisa do tipo. Eu já falei para
ela não se preocupar, mas Alexia não sossega.
Janto sozinho, com um turbilhão na cabeça, pensando em
como resolver a situação. Achei que conseguiria dar conta, mas
estou vendo que deixo Alexia em falta. Mas é para um bem maior,
apesar de tudo. Isso está acabando comigo.
ALEXIA
Colocando o orgulho à parte, sem conseguir pegar no sono
e parar de pensar em teorias loucas, decido levantar da cama e vou
para a sala disposta a chamá-lo. Quero tentar resgatar algo dessa
semana conturbada. Quem sabe conversando de forma amena algo
se esclarece?
E eu também estou morrendo de saudades, carência, na
verdade. Gravidez e carência misturados são um veneno horrível.
Tudo é motivo para chorar.
— Murilo! — o chamo baixo e o encontro com a cara no
notebook. — Murilo! — chamo de novo e ele me olha.
— Pensei que já tivesse pego no sono.
— Tentei, mas não consegui. Vem pra cama, tá aí desde o
jantar e vai acordar cedo amanhã.
— Já vou, só preciso terminar de carregar o documento.
— Custa largar isso um pouco? — Cruzo os braços. —
Chegou tarde, mal nos falamos e uma hora dessas ainda tá
trabalhando. Dá um tempo desse notebook, caramba!
— Eu já vou, Alie, justamente Estou mandando esse arquivo
hoje pra tomar café com você amanhã.
Ele se vira de novo para o notebook e eu continuo o
observando focado na tela. Amargurada com essa recusa dele,
sabendo que ele não vai sair dali tão cedo, eu volto em direção ao
quarto. Eu estou simplesmente cansada dessa frieza. Saco cheio,
para falar a verdade!
Que merda de vida! Cansada! Essa crise antes do
casamento é uma merda!
GUSTAVO
— Tenha uma ótima noite, Mércia — me
despeço da secretária que termina de arrumar sua
mesa.
— Boa noite, Sr. Gustavo.
Vou em direção ao elevador desabotoando
mais um botão da camisa social, querendo me sentir
mais à vontade. Odeio essas roupas me apertando e
sufocando. Apesar de estar sem o blazer e com as
mangas arregaçadas, estou cansado dessa roupa,
não vejo a hora de tirar, eu gosto de ficar livre. De
cueca ou sem nada.
Estou sufocado e cheio de energia, mas não
para trabalhar. Doido para dar uma foda gostosa.
Entro no elevador e vejo o horário. Acho que
quando chegar em casa, irei praticar um pouco de
boxe na academia de Daniel, um amigo meu de
longa data, caso minha nova vizinha não esteja na
casa dela. Ela tá se mostrando disponível desde que
cheguei há duas semanas, mas nunca dou sorte de
encontrá-la, só quando saio para minha corrida
matinal e ela tá fazendo o mesmo.
Me mudei recentemente, por motivo de ex
que não entende que ex é sinônimo de deixar o
outro em paz. Apesar de eu não saber viver sem
mulher, tenho que admitir que algumas são obra do
demônio de tão perturbadas, puta que pariu.
O elevador abre em um dos andares,
surgindo Natasha, deliciosamente gostosa, usando
salto alto para destacar suas coxas grossas e um
vestido com um decote que me deixa a imaginar
seus belos seios, que gostaria de ter na mão ou na
boca. Ela consegue ser sensual até com roupa
elegante. Esses pequenos detalhes fazem grande
diferença, mostra muito sobre sua personalidade.
Natasha continua parada na porta, apenas
me olhando séria. Diria que está surpresa. Sorrio
charmoso, vendo que ela parou na minha. Tá
interessada em mim, não é?
— Não vai entrar? — chamo sua atenção.
— Vou. — Ela sorri minimamente e entra.
Nós dois sozinhos no elevador, de novo.
Se ela soubesse a vontade que estou de
agarrá-la aqui e agora....Mas quero ir devagar, nada
mais excitante do que a aura, o momento que
antecede a transa, esses joguinhos de sedução, ver
a mulher jogando charminho para você notá-la. Criar
expectativas e deixá-la em chamas antes de
qualquer coisa.
Nada mais gostoso que uma mulher louca
para te dar, morrendo de tesão, molhada antes
mesmo de você tocá-la e, quando isso acontece,
amolece toda de tanta expectativa. Quanto mais
expectativa, maior o desejo. Adoro isso!
O tesão é mútuo. O elevador está numa aura
excitante, provocativa. Ela cheira gostoso. Cheiro de
mulher sexy e sensual.
Estou atraído por ela. Esses olhos azuis e esses
cabelos loiros me chamam e me despertam uma
fome deliciosa. O jeito dela é sensual naturalmente,
e tem uma bunda deliciosa. Vontade de puxar para
mim e tascar um beijo bom.
Tudo está me deixando excitado só em imaginar
o que poderíamos fazer. E sinto que é reciproco e o
olhar dela flameja, ela sequer disfarça.
— Então, você é de qual setor? — puxo assunto
como quem não quer nada.
É sempre bom saber o terreno que estamos
querendo entrar, para saber como agir e ir
exatamente onde deve ir.
— Criação. Sou redatora. — Ela me olha, e esse
jeito sagaz me deixa com a pulsação acelerada. No
meu pau, no caso.
Hum, mente criativa. O que poderia sair de
dentro dessa cabeça?
— Ah! Acho que nós vamos esbarrar mais
vezes. Sou o diretor financeiro.
Se depender de mim, não só se esbarrar, mas
se atracar e incendiar juntos.
— Então você fica por cima de mim? — ela
pergunta. Percebo um tom de maldade na sua voz e
meus lábios repuxam automaticamente, por ela ser
safada — No andar do prédio, no caso.
Rio por dentro. Ela não é daquelas sonsas que
se fazem de santa. Ela joga as indiretas, jogando
meu jogo.
— Digamos que sim, mas não me importo muito
se precisar ficar embaixo — respondo com segundas
intenções. — Não me apego a cargos ou andar —
complemento.
Ela continua a me fitar daquele jeito, e em
seguida morde a boca rapidamente. Ah, essa boca!
Isso faz minha mente me levar para um lugar
bom e torturante. E pela forma que ela está olhando
para a porta e segurando sua bolsa, também está
pensando em coisas, pois percebo sua respiração
pesar um pouco, me deixando a um fio de cometer
uma loucura aqui. Eu poderia fazer isso, mas
provocar é bom.
O elevador apita no térreo e percebo sua
respiração pesar num suspiro. Saio do elevador para
não cair na minha própria armadilha, mas ela não
vem atrás, continua parada no lugar com o
pensamento longe.
Ela se excitou só com o próprio pensamento do
que eu poderia fazer mesmo eu não colocando em
prática o que eu realmente quero? Interessante isso!
Interessantíssimo!
— Não vai sair? — a chamo quando estou do
lado de fora.
Ela olha para mim se dando conta e gesticula
concordando, saindo em seguida.
Me despeço dando um pequeno sorriso e uma
piscadela. Sigo para o estacionamento, satisfeito
pela minha primeira semana de trabalho que mal
começou e já estou gostando de estar aqui!
NATASHA
Não acredito que fantasiei e me excitei com ele
do meu lado! Eu morro de medo de pensar coisas
sexuais e gemer, espero que isso não tenha
acontecido e tomara que ele não tenha percebido
minha pequena viagem.
Mas ele tinha que estar com a camisa social
dobrada, mostrando os braços fortes e um pouco
peludos? E o peitoral? Aff, que atentado ao pudor ter
aquele monumento no elevador, todo relaxado
escorado na parede.
Meu autocontrole está de parabéns! Não é todo
dia que eu consigo me controlar quando estou com
vontade de dar para alguém. Acho que não
conseguiria ficar mais um segundo lá dentro, sem
pelo menos tascar um beijo nele para ver se é só
beleza e charme.
Confesso que morro de tesão nisso. Em um belo
homem com um belo braço, pois imagino na minha
cintura, me apertando, ou nos meus cabelos. Sem
contar o volume nas calças!
O desgraçado ainda teve a audácia de dar uma
piscadinha charmosa para mim. Quase ovulei!
Corro para o carro e, antes de ir, o vejo entrar
num carro luxuoso. Grande, como ele, e imagino que
também seja como outras coisas.
Enquanto voltava para casa, eu só conseguia
pensar na cena da minha cabeça. E eu queria muito
que tudo isso fosse apenas um primeiro impacto de
um homem gostoso que a gente vê e se imagina
dando, mas não a ponto de ficar da forma que eu
estou: realmente provocando para que isso
aconteça. Ele é meu superior!
Cumprimento minha irmã assim que chego e ela
me chama para ir à praça aqui perto de casa.
Merecemos esse mimo!
— Quer ver o mexicano, né? — provoco, pois
ele é doido para ficar com ela e ela o deixa na
geladeira.
— Ai, Nat, pare — ela revira os olhos.
Gargalho por saber que eu consigo atingir ela
com isso. Lizandra é muito boba! Não demoramos a
seguir para a rua, mesmo eu tendo chegado há
pouco tempo. Só aceitei porque eu estou mortinha
de fome, e lá embaixo tem muita barraca de comida.
Estou cansada do trabalho, mas nunca recuso
comida.
Decidi que iremos no food truck mexicano
primeiro, que é onde o carinha está. Ela me olha
séria com uma cara de “é sério isso?” Eu não
consigo ficar muito tempo sem provocá-la. Ela me
arrasta enquanto eu rio novamente dela.
Alejandro estava atendendo outra pessoa
quando viu Liz. Os olhos dele chegaram a brilhar.
Ela, em vez de aproveitar, fica fingindo que não está
acontecendo nada. Ele é um mexicano lindíssimo! E
deve ser muy caliente!
Fizemos nosso pedido com ele, que fez questão
de nos atender. Sentamo-nos à mesa que tem
embaixo e esperamos ficar pronto.
— Ele é gato, admita! — Suspendo as
sobrancelhas maliciosamente para ela.
— Às vezes eu tenho vontade de dar na sua
cara. — Ela tenta parecer inatingível, mas só tenta.
— Admita! — continuo a provocá-la.
— Tá, ele é bem gatinho mesmo.
Encho o saco dela até nossos pedidos
chegarem. Eu amo o burrito daqui, e fica melhor
ainda com refrigerante. Alejandro sai da nossa
mesinha, mas não antes de olhar uma última vez
para Liz, que agradeceu os pedidos, e ele sorri. Ele
é lindo, de verdade. Tem um corpo legal e parece ter
mão firme, deve puxar cabelo que é uma beleza.
Viu como é meu passatempo ficar supondo as
coisas dos homens? E o melhor, ele nunca saberá!
— Está perdendo a oportunidade de se divertir.
Aposto que é quente.
— Chega. Ocupa sua boca ai! — ela fala rindo e
morde um pedaço.
Rio dela e como o meu. Ficamos conversando
com Alejandro, que investia nela sem se importar.
Depois Liz e eu nos sentamos em um dos bancos da
praça, que está movimentada como se já fosse
sexta, e conversamos enquanto tomamos açaí.
— Liz, Alejandro fechou o food truck já, vai lá
falar com ele — incentivo.
— Para, Natasha! — ela me repreende.
— Tem certeza que não vai querer? Olha ali. —
Aponto com a cabeça discretamente e ela o olha
fechando as coisas para ir embora. Está sem a touca
e avental. — Eu te desafio, vadia. Vai lá.
— Ganho o quê? — Ela me olha. Nunca vi
pessoa mais competitiva.
— Um beijo quente? — respondo o previsível.
— E o que mais? — ela barganha. Vadia!
— Uma foda, né? Mas aí, irmã, depende de
você — digo e ela semicerra os olhos.
— E meu almoço preferido no sábado.
— Já quer demais por uma coisa que não vou
aproveitar em nada. Vai logo!
Ela ri para mim. Sabia! Lizandra é safada.
Permaneço no meu lugar, vendo-a levantar e ir
até ele. Trocam algumas palavras, ela jogando
charminho e em seguida Alejandro a puxa para a
outra lateral do carro. Ela nunca me decepciona!
Depois dizem que eu sou a mais safada.
Continuo ali tomando meu açaí e mexendo no
celular, até Liz voltar vermelha e bagunçada.
— Pelo jeito foi bom, hein? — procuro saber dos
detalhes.
— Ele é quente demais! — ela sussurra, ainda
ofegante e arrumando os cabelos.
Liz é a legítima mineirinha, como dizia minha
avó. Faz as coisas por debaixo do pano, e eu
sempre fui a mais besta que quer fazer tudo às
claras, por isso levo fama.
— Se quiser arrastar ele lá para casa, eu fico
aqui mais um pouco — proponho.
— Não. Deixa para outro dia. Acredita que ele
quase me fez dar para ele ali? Se não fosse meu
autocontrole, eu estaria fodida, literalmente.
— Menina, quando ele te pegar para compensar
desse tempo todo, você vai ver — digo.
Ri comigo. Tá aí meu exemplo maior de
safadeza, eu sou a caçula, então aprendi com ela.
Digo e afirmo, Liz é safada, mas é sonsa.
— Não vem não, que eu sei que está doida pra
dá. Sua safada! — ela exclama.
— Até parece que você não é uma — respondo
e eu dou de ombros. Vou mentir para quê?
3
NATASHA
Acredita que eu sonhei com Gustavo? Um
sonho muito sacana. Infelizmente foi só um sonho
mesmo. Acordei louca e molhada, quase grito
quando percebi que era sonho. Um maravilhoso
sonho, tenho que ressaltar. E na minha imaginação
sua pegada é uma delícia. Mãozona firme, sabe? Só
de lembrar me dá mais vontade.
Mas a culpa foi da sua pequena encarada e do
sorriso cretino que me deu ontem quando o
encontrei voltando do almoço. E posso estar
enganada, mas ele me fitou de cima a baixo com um
sorriso sacana e comedido. Foi rápido e de um modo
nada profissional. Ele já está na boca das meninas e
causou alvoroço. Até no horário do almoço só escuto
falarem dele, o quanto ele é gostoso e blá blá blá.
Como se eu não soubesse e percebesse isso desde
que o vi pela primeira vez.
Esse desejo está me consumindo! Mas prefiro
não ficar pensando nisso. Tranco a porta de casa,
escutando Liz buzinar para irmos logo, e antes de
chegar escuto meu vizinho do apartamento do lado
me chamar.
— Olá, Luan — sou cordial.
— Sumiu. — Isso na minha língua é nada mais
que: “quero te comer’’, ou “empresta tal coisa’’ e “faz
isso aqui para mim’’.
— Trabalho. Inclusive estou indo agora. E estou
atrasada.
Ele e eu já ficamos algumas vezes. Mas nada
muito “ai meu Deus, que gostoso’’, está mais para
“mas já? É só isso?”. Mas é confortável só ir na casa
ao lado quando o tesão bate.
— Está livre esse fim de semana? — Ele nunca
foi de rodeios. E nem eu.
— Não sei. Mas te deixo uma mensagem. —
Sorrio para ele, já voltando a andar.
Quem sabe não é disso que preciso? Transar!
Acho que isso é falta de sexo, para estar dessa
forma. Mesmo que seja uma fodinha nada
excepcional. Ou melhor, como hoje é sexta-feira e
nunca mais saí para nenhuma festa, e fiquei só com
um carinha nesse tempo, e ele nem era lá essas
coisas, vou ver para onde Téo vai, ele sempre tem
uma festa para ir e vou arrastar Lizandra, que
sempre dá um jeito de acompanhar. Quero beber e
me divertir, pois eu mereço!
GUSTAVO
Despeço-me sem conseguir disfarçar a
minha satisfação de ver a cara de quem foi bem
comida e por mim, óbvio! Eu estava na casa da
vizinha numa foda boa para aliviar o estresse. Muito
safada ela, mas também dengosa. E eu não estava
a fim de dar carinho hoje, foi tesão cru, mas ainda
bem que entendeu antes que as coisas esfriassem.
Quem dá carinho é pai e mãe, eu dou orgasmo e
tremedeira nas pernas!
Meu celular vibra no meu bolso e eu atendo
sem nem olhar o visor.
— Gugu. — Ex é um saco!
A pessoa acaba de aliviar o estresse numa
foda quente, e já se estressa antes mesmo de
chegar ao apartamento. Não sei como ela não cansa
de me perturbar. Sem contar que me chama pelo
apelido que eu odeio. Me sinto um moleque de doze
anos com ela me chamando assim.
— Me esquece, Manuela. — Desligo e volto
a colocar o celular no bolso.
Pior que não adianta bloquear o número, ela
me liga de outros, parece que é dona de operadora,
tem milhões de chips. Não está claro que acabamos
e eu não a quero mais? E esse foi um dos motivos
de estar morando aqui. Ela tirou minha paz o tempo
inteiro, todo dia era briga, mesmo estando
separados. Fazia escândalos na minha porta, já que
éramos vizinhos e isso ajudava a ver quem me
acompanhava, e vinha tirar satisfação se fazendo de
louca, fingindo que está tudo bem entre nós. Pois
para ela nós só estamos “dando um tempo para
pensar melhor’’, não é um fim definitivo.
Assim que chego no apartamento, escuto
arranhões na porta e sorrio voltando a relaxar
novamente. Quando entro, Zeus, meu Golden
Retriever, dorminhoco e bagunceiro, me saúda com
alegria, como se não tivesse me visto há quarenta
minutos atrás.
O carrego, ainda assanhado no meu colo,
lhe dando carinho. Pego seu brinquedo do chão e
jogo longe, e ele se agita no meu colo para descer e
correr atrás, totalmente desesperado. Ele é o meu
único filho enquanto eu não tenho uma mini versão
minha. Pode não parecer, mas eu sou louco para ser
pai. Ter um moleque para lá e para cá, não me
deixando quieto, para mim é uma enorme vontade,
um legado, sabe? Mais um mini Maldonado dos
olhos azuis. Porra! Seria muito foda!
É minha promessa para meu avô, lhe dar um
bisneto e ele o conhecer antes de partir, porque ele
sempre me pede isso. Mas eu quero que o moleque
venha caprichado, então, enquanto ele não vem, eu
vou praticando com mulheres distintas, para quando
for fazê-lo, sair o mais bonito possível quando a hora
de eu me enlaçar chegar.
4
NATASHA
5
NATASHA
GUSTAVO
Provocadora e insana. É como eu defino
Natasha agora. Insana por sair assim de repente,
enquanto eu já estava planejando um segundo round
em um motel qualquer aqui perto, e provocadora por
ter deixado a calcinha aqui. Mas ela vai me pagar
por isso, e de um jeito bem gostoso. Mulher
nenhuma jamais fez isso comigo. Faz doce para que
eu a leve em casa, ou fica querendo qualquer outra
coisa, e Natasha fez justamente o contrário,
simplesmente saiu correndo.
Poderia achar que ela não gostou, mas a forma
que ela tremeu no meu colo e me mordeu quando
gozou, as bochechas rosadas e o sorriso frouxo
indicaram o contrário.
Quando vim trabalhar aqui, não imaginaria que
ia dar nessa loucura, mas não me arrependo nem
um pouco. Só que eu nunca me envolvi sexualmente
com ninguém do trabalho.
Natasha é gostosa, impossível não imaginar
comer ela. Quadril largo e cintura fina, cabelos
longos loiros, ótimo para agarrar e puxar, e cara de
safada quando geme.
Ela é puro fogo. Vê-la gemendo e, mesmo
baixinha, aguentando tudo com vontade, foi louco.
Ela me surpreendeu em não se fingir de ofendida
quando eu perguntei e assumiu que queria. Estou
vendo que a partir de hoje meu expediente vai ser
melhor. Eu sabia que ela me queria, desde o
elevador onde suspirou e os seios estavam acesos.
Sem contar na ofegada e os olhares gulosos e
safados para cima de mim. Só quis ter certeza antes
de dar o bote.
Levanto da poltrona em que há cinco minutos eu
a fodia com vontade, e junto minhas roupas; daqui a
pouco o cara chega aqui para limpar e eu não quero
que ele veja meu pau, vão achar que estou me
tocando no local de trabalho.
Meu celular toca insistentemente na gaveta, e
vejo que é um número que não tenho na lista, mas
me adiantando que possa ser Manuela, não atendo.
Ela não para de encher o saco. Desligo sem me
importar, e vejo que já tinha algumas ligações do
mesmo número. Foda-se. Tenho nada para falar com
ela.
Vou para o banheiro — pois ser diretor financeiro
tem suas regalias — ficar pelo menos apresentável,
e me visto como antes.
Antes de sair, deixo minha sala em ordem e
aproveito e checo a lista de funcionários. Procuro
pelo setor dela e logo aparecem seus dados:
Natasha Vargas, vinte e seis anos e natural de Belo
Horizonte. Anoto seu número no meu celular, pois
poderá me servir futuramente. Poderá não, vai
servir!
NATASHA
Ainda de pernas bambas, depois de vir
relembrando todo o prazer imenso que tive, entro em
casa e encontro Liz se jogando no sofá. Pelo jeito
chegou agora também.
— Pegou engarrafamento também, né? — Me
pergunta.
— Pois é! — respondo com cara de tédio.
Nem sabia que tinha engarrafamento nenhum.
Fui pela outra avenida, que é mais rápido. Eu
deveria ser atriz! Apesar de contar praticamente
tudo, assim como ela a mim, eu prefiro deixar isso
como segredo. Não sei o que ela vai achar sobre
isso.
Passo direto para o quarto para tomar um
banho, pois estou com o cheiro do perfume dele na
minha roupa e isso está me deixando com vontade
de transar de novo. Esse homem não é real. Não é
possível! O desgraçado bem que poderia ser ruim
para eu não querer de novo. Cachorro!
Se ele quiser de novo, não vou fazer objeção
alguma, eu não me importaria em repetir a dose
maravilhosa de hoje. Apesar de que essa foda sugou
minhas energias.
Lembro dos beijos dele enquanto a água escorre
pelo meu corpo, e também da pegada no cabelo e
na minha bunda, que inclusive está meio
avermelhada onde ele apertou. Se eu me importo?
Nem um pouco. Isso só mostra que foi bom, e que
eu gostei.
Eu estou muito satisfeita por ter concluído meu
objetivo. Só tem um, porém: Eu saí de lá
praticamente foragida e não sei se ele quer. Só em
pensar nele logo quando tirou a camisa e desceu a
cueca, meu coração palpita. Ele é muito mais
gostoso!
6
GUSTAVO
Enrolo a toalha na cintura depois que saio do
box, e passo a mão no espelho para tirar o vapor e
vejo a marca de dentada no meu ombro. Sorrio por
aquilo e me acho ainda mais foda.
Um sexo só é considerado gostoso se ela te
deixar marcado com unha ou dente. Ao contrário, se
esforce mais. E eu quero outras unhadas aqui. Que
vontade de comer ela de novo! Parece feitiço. Há
anos que eu não transo com uma pessoa assim, que
se entrega ao momento.
Sexo para mim é mais gostoso assim, meio
selvagem. Mas nada muito masoquista, o meu fica
no limite entre o saudável e o excitante. Amo puxar
cabelo e ver a mulher com as costas arqueadas
gemendo, entregue e dominada. Amo dar palmadas
e ver a bunda vermelha e marcada pela minha mão,
e depois pedindo dengosa para alisar o lugar
marcado. Isso dá um tesão a mais em mim, ver a
mulher enlouquecida, me arranhando e gemendo por
uma coisa que eu estou proporcionando. É excitante!
Mas também gosto de uma coisa mais
desacelerada. Eu sou um cara que gosta de dar
carinho, mas depende muito da minha vibe, da
pessoa e muito do momento. Eu deixo o tesão me
guiar entre quatro paredes.
E aprecio também mulher que se permita isso,
sem pudores e vergonhas. Ninguém gosta de transar
com múmia que fica parada esperando terminar, ou
muito dengosa que reclama de algo a todo o
momento. O jeito que Natasha falou abertamente o
que queria, e estava sentindo, foi maravilhoso e
excitante, por isso quero fodê-la mais uma vez.
Só de cueca, sigo para a cozinha comer alguma
coisa. Pego meu telefone para ver a hora e são seis
e cinquenta agora. Decido mandar uma mensagem
para ela, já que peguei seu número ontem.
NATASHA
Sento na cama e sinto um ótimo desconforto no
meio das pernas. Ah! O maravilhoso mundo das bem
comidas. Repasso a noite que tive com aquele
gostoso e só penso uma coisa: quero de novo.
Meu celular apita do meu lado. Vejo uma
mensagem de um número que não tenho na lista de
contatos.
Número desconhecido:
“Fiquei com sua calcinha rasgada como
recordação.”
Rio com o conteúdo da mensagem, já
sabendo de quem se trata. Salvo seu número e logo
respondo.
“Como descobriu meu número tão rápido?”
Envio a mensagem e espero a resposta.
Gustavo Gostoso:
“Uma das regalias de ser chefe. Sei tudo sobre você
agora ;)”
Gargalho com aquilo.
“Preciso me preocupar com isso?”
Mando e ele logo responde.
Gustavo Gostoso:
“De forma alguma, senhorita Natasha Vargas.’’
O respondo e em seguida bloqueio o celular.
Prevejo que ele vai ser meu mais novo vício. E que
belo vício com um belo par de olhos e um senhor
pau!
NATASHA
— Vai almoçar com Liz? — Alexia me questiona
com o celular na mão.
— Não. Tenho reunião agora.
Ela arqueia uma sobrancelha em puro deboche.
Reunião na nossa língua é sair para transar.
— Eu também.
Rio para ela, negando, porque sei que Murilo
vem buscá-la. Ela dá de ombros, digitando algo no
celular. Arrumo meu vestido, porque é o que estou
usando ultimamente, pelo simples motivo de ser
mais prático. Quando encontramos um tempinho,
seja no almoço ou depois do expediente, Gustavo e
eu vamos para um motel perto da agência. É mais
seguro.
Não temos dias fixos para transar. Marcamos
quando estamos com vontade, mas a frequência
está ótima.
O homem realmente sabe o que e como fazer.
Semana passada estava bruto de um jeito delicioso,
com aquela cara de safado que fazia quando puxava
meu cabelo. Quando Liz pergunta da minha
demora, ou eu sorrio, ou digo que é o trânsito. Mas
nunca digo quem é, continua a ser o nosso
segredinho sujo. Meu e de Gustavo. E ela acaba não
se importando muito.
Desço para encontrar Gustavo no local
combinado e, assim que saio do prédio, encontro
Murilo encostado no carro, esperando Alexia.
Minha amiga soube escolher esse homem muito
bem, ele é muito bonito e combina com ela. E não,
não tenho queda alguma por ele, mas não sou cega,
não é mesmo?
— E aí? — O cumprimento com dois beijos no
rosto.
Olho para cima, pois ele é tão grande quanto
Gustavo. O que esses homens andaram tomando?
— Oi. Cadê Alie? — ele indaga curioso.
— Descendo. Deve estar se enfeitando. — Dou
de ombros e ele ri.
Vejo o carro de Gustavo passar cantando pneu,
e lembro do nosso almoço. Despedimo-nos e sigo
meu caminho até o grande carro preto de Gustavo,
já parado. Entro e sinto seu perfume gostoso. Esse
homem exala masculinidade crua!
O cumprimento com um selinho rápido e
Gustavo arrasta o carro. O restaurante não é muito
longe. Porém, só pela fachada sei que nenhum mero
funcionário com contas para pagar vem almoçar
aqui.
Sentamos em uma mesa para dois e o garçom
vem nos atender. Deixo Gustavo fazer os pedidos
por nós dois, inclusive o vinho, que é maravilhoso.
Almoçamos enquanto conversamos de forma
bem casual. Nem parecemos que transamos como
dois selvagens.
Já de volta no carro, perto da agência, Gustavo
me agarra para um beijo totalmente abrasador, me
deixando molinha. Que homem gostoso!
— Que tal estender isso na minha casa hoje? —
Ele me fita com seus olhos azuis intensos.
— Não sei. Tenho umas coisas aí para resolver.
— Fim de semana então?
— Não dá, acho. Qualquer coisa a gente se fala.
Dispenso. Esse final de semana Lizandra e eu
vamos comemorar sua promoção. Pela manhã ela
me contou empolgada que finalmente ganhou a
promoção que tanto quis. Agora minha irmãzinha é a
mais nova editora executiva. Está num patamar
altíssimo na revista. Estou muito orgulhosa!
Gustavo não se agrada com minha resposta e
finjo que não vi, dando mais um beijinho na sua
boca. Se dependesse dele a gente se encontrava
todo dia. Haja disposição! Não que eu esteja
reclamando, nunca irão me ver reclamando que esse
homem quer transar comigo sempre, mas um
descanso é bom de vez em quando.
— Ok — responde seco, assentindo sério, e eu
ignoro.
Beijo uma última vez e desço para voltar ao
trabalho.
GUSTAVO
Encarando a porta recém-batida por Natasha,
sinto o ódio me consumir imediatamente. Ao
contrário da outra vez, eu me importei por ela ter
saído assim sem explicações.
Que porra aconteceu aqui para ela sair daquela
forma?
Aposto que foi para encontrar com aquele
homem com quem estava de conversa ontem. Está
na cara que eles foram se encontrar, que têm um
caso, e achei que ela só encontrava comigo.
Grito uns cinco palavrões seguidos para liberar
mais um pouco da minha ira. Por que eu estou
desse jeito? Não sei. Mas estou com raiva só em
pensar nela saindo assim do nada para encontrar
com ele. Só isso explica o motivo dela não querer
que eu a marque no pescoço.
Confesso que odeio dividir. Principalmente
mulher, não importa se é caso ou não. Não vou
comer uma mulher que outro homem também come
esporadicamente. Ou é minha ou não é. Mesmo que
seja temporariamente.
Lembro-me das palavras dela e meu ódio cresce
ainda mais. Natasha vai me pagar, e muito caro.
Pego meu celular e procuro o contato dela o mais
rápido que consigo.
“Que compromisso é esse, hein? Me responde”
“Natasha, eu não estou brincando. Onde você
está?”
Envio duas seguidas e nada dela me responder.
Mas já chego lá.
Visto minha roupa, me sentindo abafado e não
suportando ficar um minuto a mais aqui. Saio e pego
meu carro. Tenho o endereço dela salvo. Salvei junto
com o número.
Vou até a sua casa, quero saber se ela vai sair
com alguém. Estou impaciente com essa
possibilidade. Que raiva do caralho!
— Caralho! — vocifero batendo no volante.
Congestionamento idiota! Acidente idiota!
Buzino para a lesma que está na minha frente
andar mais rápido, já que a via está liberando aos
poucos. Estou muito irritado. Preciso saber que
compromisso é. Só eu não basto? Tem que ficar se
encontrando com os outros?
Estaciono no outro lado da rua dela e atravesso.
Pelo endereço, a casa é essa. Está tudo fechado.
Mesmo assim aperto a campainha insistentemente,
porém ninguém atende. A filha da mãe já saiu. Eu
não acredito. Volto para o carro irado.
Arrasto o carro e vou para casa sem ter outra
opção. Faço o caminho todo remoendo. Isso mexeu
com meu ego de uma forma que nem consigo
mensurar. Não aceito a ideia dela com outro. Cresce
uma coisa comigo, como um animal. Porra!
No elevador, vejo meu celular vibrando com uma
mensagem dela.
PROVOCADORA:
“Um compromisso, ué. Estou ocupada, depois nos
falamos.’’
GUSTAVO
Queimando de raiva, destranco o meu
apartamento. Confesso que se eu não estivesse tão
irritado, poderia me arrumar e sair, ou até chamar a
vizinha para transar, só para não ficar atrás. Mas
estou sem saco para isso, por incrível que pareça.
Eu só consigo queimar de ódio por Natasha que
deve estar com o outro lá.
Mas apenas decido trocar a roupa e queimar
essa irritação na academia. O celular toca no bolso
quando estou descendo o elevador, mostrando que é
uma vídeo chamada de Rodrigo, e não Natasha.
Clico e atendo.
— Diga — respondo mal-humorado.
— Credo! Que cara é essa? — Rodrigo sempre
atende sorridente.
— Não é nada. Ligou para quê?
— Eita! Já vi que é mulher. Tomou chá de boceta
de novo? — ele continua com seu costumeiro sorriso
debochado. — Voltou para aquela dondoca, cara?
— Chá de boceta é minha rola! Só estou puto
aqui.
— Eu aposto que foi sim, chá de boceta. Você
tem histórico — continua a provocar.
— Vai se foder, Rodrigo, na moral.
Ele ri tripudiando de mim. Não estou tomando
chá de boceta de ninguém! Filho da puta!
Conversamos brevemente, até eu chegar na
academia vazia, mas também, pelo horário... Meu
celular vibra assim que finalizo a chamada e ao ler o
visor, ignoro. Não quero mais caos na minha vida.
Manuela é um saco!
E sozinho, coloco os fones com o volume mais
alto que é permitido, e libero a adrenalina no saco de
pancadas; se ele falasse, pediria arrego. E a safada
não confirmou nem nada se estava com o cara.
Incrível como ela tem o poder de me desestabilizar e
me deixar puto.
NATASHA
Voltando para casa com Liz, depois de
almoçarmos fora, porque ela ainda está me
explorando pela promoção, e vai ganhar mais que
eu, inclusive, lembro-me da última mensagem que
Gustavo me mandou, se eu poderia ir ao
apartamento dele. Mas até agora ele não respondeu
a minha. Cretino!
E decido ir, para saber de uma vez. Tem homem
que é mais bipolar sentimentalmente que mulheres
que tomam anticoncepcional. E isso só me faz ter
raiva dele. Primeiro age como se estivesse tudo
bem, no seu apartamento e no nosso último almoço,
e depois ele fica irritado me mandando mensagens
como se fosse meu dono.
Chamo um Uber e aviso Lizandra que estou de
saída. Ela apenas concorda. Liz é assim, se eu não
falar, ela também não pergunta. Sempre mantemos
esse espaço entre nós.
Entro no condomínio de Gustavo, já que minha
entrada está liberada desde ontem. E o encontro
totalmente suado na porta, sem camisa, o torso
pingando de suor. O cumprimento quando me dá
passagem, mas o rosto permanece sério e eu não
estou diferente, apesar da visão gloriosa.
Assim que entro, me viro para ele e cruzo os
braços.
— Temos que conversar — ele declara. Odeio,
simplesmente odeio quando a pessoa vem para
cima de mim com essas palavras.
— Temos. Por que você me mandou aquelas
mensagens me cobrando coisas? — vou direto ao
ponto.
— Você me largou daquele jeito, queria o quê?
— ele esbraveja com as mãos na cintura.
Mostro minha mão esquerda e aponto para o
anelar vazio, com cara de confusa, em puro
deboche, mostrando a ele que não temos
compromisso algum. E se tivéssemos?
— Não vem com deboche que estou irritado!
— Ei, ei, ei... Eu avisei que teria um
compromisso e estava atrasada. Qual a dificuldade
de entender isso? — tento manter a calma para não
surtar.
— Isso eu entendi. Só não entendi por que não
me avisou onde estava.
— Você queria o que, Gustavo? Que eu te
dissesse para onde eu iria, com quem e o que
estava fazendo? Olha, vamos baixar a bola? A gente
só transa, está legal? Nada além disso.
Esclareço de uma vez, caso ele esteja se
esquecendo.
— Mas eu não gostei de ser largado daquele
jeito, Natasha. Você é minha! — ele berra e me olha
como se eu fosse a errada.
— Eu não sou sua, querido, eu sou minha. E
faço o que eu quero, você gostando ou não. Não
somos nada e eu nem fico te perguntando o que
anda fazendo, ou pergunto? — jogo as cartas na
mesa.
Odeio homem que acha que mulher é
propriedade dele. Eles esquecem a diferença entre
companhia e propriedade muito rápido.
Ele passa a mão no cabelo, visivelmente
frustrado, e em seguida me olha expressivo.
— Eu só fiquei confuso por você sair daquele
jeito sem me dizer. Achei que já tínhamos intimidade
para isso. — Ele já está um pouco manso e eu
arqueio as sobrancelhas.
— Não temos. Você só precisa saber que
precisei sair. Não tenta querer me controlar. Ou você
se controla ou paramos por aqui mesmo.
Ele me puxa pela mão colando nossos
corpos, mesmo que esteja suado. O mar que ele tem
nos olhos está ainda mais claro e intenso.
— Foi mal, fui irracional
— Tudo bem, apenas se controle porque não
somos nada — sou categórica e ele acena
concordando.
Gustavo me segura pelo pescoço,
aproximando nossos lábios e me atiçando. Ele é
uma coisa maravilhosa para tocar e olhar. Se ele
fosse um deus, seria Adônis, o deus grego da
beleza, porque o homem é um espetáculo!
— Não vai me dizer mesmo onde estava? —
sussurra contra a minha boca.
— Não. — Uso o mesmo tom que ele usou,
enlaçando minhas mãos na sua cintura.
Gustavo me prendeu na sua casa até
começar a anoitecer. Como um bom anfitrião, me
deu comida, e estou falando nos dois sentidos. Foi
ótimo vê-lo passeando para lá e para cá, com toda
sua imponência pelo cômodo enquanto cozinhava.
Tenho um fetiche enorme em homem que cozinha
para mim e depois lava tudo sem resmungar. Acabou
me trazendo em casa e ainda me agarrou no carro,
tentando me fazer voltar para a casa dele.
GUSTAVO
Olho para aquele meio metro de mulher com
cara de brava e só sei sorrir, mesmo que tenha
jogado as flores que mandei para ela em cima do
meu colo, me deixando confuso. Chega até ser
engraçado ela toda segura de si. Pequena desse
jeito com pose de desafiadora para mim.
— Que porra você acha que estava fazendo,
Gustavo? — Estudo a expressão zangada dela.
— Como assim? — pergunto calmamente.
— Que porra você acha que está fazendo,
mandando flores para mim? — Sua voz aumenta um
decimal, arrumando os cabelos para trás. — Você é
louco? Que brincadeira sem graça é essa?
Franzo as sobrancelhas pela sua pergunta
categórica. Ela não gosta de flores?
— Não. Só quis te agradar, me desculpar
pelo vacilo no final de semana. — Percebo que ela
ficou irritada de verdade. — São só flores, Nat —
tento contornar a situação.
Quando ela ameaçou acabar o nosso caso,
eu senti um gelo na espinha em não a ter e quis me
desculpar de verdade; porque ela tinha razão, e eu
até agora não sei o porquê de eu agir daquela
forma. Só sei que não gosto da ideia de ela ter outro
além de mim. O caso é que eu sou egoísta, não sei
dividir. Principalmente mulher.
— Me agradar? Quer me agradar, me faça
um oral, meu querido! — ela se exaspera,
arrumando os cabelos novamente.
Olho para o ramo de flores no meu colo e
acabo abrindo um sorriso pelo seu jeito desbocado.
Vontade de dar uma lição nela toda vez que ela tenta
me enlouquecer. É, farei isso! A cada vez que ela me
desafiar e me deixar à beira da loucura, quem vai
pagar é a boceta dela.
— Posso providenciar isso também. — Dou
uma piscada. — E se não gostou, cadê os
chocolates? — Arqueio uma das sobrancelhas.
— Eu comi. Não iria fazer desfeita. — Ela dá
de ombros como se fosse uma resposta plausível. —
Mas sério, não faça mais isso, eu não trabalho
sozinha. — Ela pede, mais amena.
— Tudo bem. Só queria te agradar.
— Sem contar que eu não gosto desses
presentes. É romântico demais para o que temos. A
gente só fode. Nada de presentes, agrados só na
cama — pontua.
Natasha é diferente de qualquer mulher com
quem já me relacionei. Nunca vi nenhuma mulher
recusar flores e nem ser fria nesse tipo de coisa. Eu
gosto de agradar mulheres que me relaciono, seja
uma foda comum ou coisa mais séria. Por mais que
não sejamos um casal, mulher tem que ser bem
tratada dentro ou fora da cama. E tentei agradá-la
também, mas pelo jeito ela não curte muito. Acho
que o tamanho das flores foi exagerado.
Como ela falou, se eu quero agradá-la, eu
que lhe faça um oral. E esses tipos de agrados eu
dou com gosto. Nada melhor que fodê-la e a ver com
as bochechas vermelhas, descabelada e com um
sorriso enorme de quem gostou. Safada!
9
GUSTAVO
NATASHA
Vendo que meu expediente está para
acabar, ainda bem, leio a mensagem de Lizandra,
avisando que vai ficar presa na revista por estar
resolvendo uns pepinos. Cargo maior,
responsabilidades maiores.
“Quando tiver perto me liga?” — Espero a resposta.
LIZ:
“Ligo, prometo, e faz algo para jantarmos.”
“não use meu cartão de crédito para comprar pizza!”
“vou usar para um Uber, já que vc quem me trouxe,
né? :p”
Não deixo de provocá-la.
LIZ:
‘’Eu te odeio, cretina! Vai de ônibus ou pague vc
seus “mimos” diários!
GUSTAVO
— Quero definir a relação — falo sem rodeios.
Natasha está incrivelmente sexy com seus
cabelos desordenados e livres pelo lençol. O sorriso
frouxo e bonito e as bochechas coradas pela foda
animal que tivemos. Só falta um charuto na minha
mão para completar essa cena.
— Por quê? — Ela franze as sobrancelhas para
mim.
— Porque não gosto da ideia de você saindo
com outras pessoas.
E essa pessoa inclui Fábio ou qualquer outro
que conversa com ela na porta da agência com
sorrisos.
— Você quer fechar então? Mas sem
cobranças?
Ela segura meu queixo, o apertando duas vezes.
— Isso. Não quero dividi-la com nenhum outro.
Vejo-a tremer com a minha fala, mas suspira
preguiçosa.
— Podemos fechar, mas nada de ficar me
controlando, saber com quem estou, o que eu fiz. Só
vamos ser exclusivos, e você não será meu dono —
me alerta e eu entendo as entrelinhas.
— Tudo bem.
Agarro-a pelos cabelos, a trazendo para mim, e
ela segura meus braços. É impossível ficar mais de
cinco minutos perto sem beijá-la. Pelo menos com
esse relacionamento fechado eu me sentirei menos
neurótico. Ela ficará comigo, apenas comigo.
NATASHA
Escuto meu celular começar a tocar dentro da
bolsa, que até antes de começarmos a transar
estava na cama. Atrapalhou minha preguiça,
confesso que estava quase cochilando.
Levanto o rosto assustada, me lembrando de
Lizandra, e pego minha bolsa no chão perto da
cama. Arrasto meu corpo de volta para o peito de
Gustavo, que ainda está gloriosamente nu em cima
da minha cama, relaxando como eu estava.
Abro e vejo que é uma mensagem de Liz,
avisando que estava saindo do trabalho... há vinte
minutos! Arregalo os olhos e levanto-me com tudo,
e me desespero só em pensar que ela pode se bater
com ele aqui dentro.
— Corre! — exclamo.
— Que foi? — Mesmo sem saber, ele procura
sua roupa.
— Minha irmã está chegando! — O apresso e
ele coloca o cinto de qualquer jeito.
Está parecendo que sou uma dona casada,
Gustavo é o amante, e o marido, que seria Lizandra,
está para chegar. Corremos até a sala, dou um
selinho rápido nele em meio a um riso e ele sai.
Volto para meu quarto para pegar os lençóis
suados para colocar na máquina, e corro para o
banheiro tomar um banho e tirar esse aspecto de
pós-foda louca. Se eu fechar os olhos, eu ainda
consigo sentir ele me apertando e gemendo.
Desligando o chuveiro, escuto as chaves de Liz
fazer barulho e a voz dela me chamando e respiro
aliviada. Encontro Liz na cozinha, sorrio e tento me
manter normal, mesmo ela não sabendo o que eu
estava fazendo.
— Como eu não recebi notificação do meu
cartão, presumi que não tinha feito nada. E trouxe
lanche para nós duas. Ainda trouxe cocada. — Ela
joga para mim, e me protejo no reflexo, deixando a
embalagem bater no meu braço e cair no chão e a
fazendo rir.
— Cadê minha comida? — questiono, pois estou
morrendo de fome.
— Aqui. — Ela suspende o saco.
Sentamos juntas para comer. Eu amo minha
irmã. Esqueci de fazer ou pedir comida, estava mais
interessada em ser a comida quando cheguei aqui
com Gustavo.
— Está com essa cara por quê? —ela questiona.
— Que cara?
Paro meu copo de suco no meio do caminho até
minha boca e olho para ela.
— Sei lá. Sem mau humor ou reclamando do
seu dia.
Ela franze as sobrancelhas ao me olhar e eu
olho da mesma forma para ela, que nega deixando
para lá, e sacudo os ombros. Lizandra é maluca!
No final da noite, depois de mandar uma
mensagem para ele, me jogo na cama, esgotada, e
acabo rindo pela forma que Gustavo saiu daqui.
Somos loucos! E eu estou me sentindo uma
adolescente!
10
NATASHA
NATASHA
O elevador abre no meu andar e quase caio
para trás, meu coração acelera assim que o vejo.
Gustavo, de camisa social no antebraço e aberta no
peito e o cabelo bagunçado, jogado para trás de
qualquer jeito e de braços cruzados. A camisa tão
azul quanto seus olhos. Já falei que adoro os olhos
dele? São muito sagazes!
Ele me cumprimenta sorrindo preguiçoso, com
seus dentes branquinhos. Fez de propósito, porque
sabia que eu iria descer nesse andar.
Gustavo me puxa para dentro, direto para um
beijo gostoso assim que a porta fecha.
— Vamos ao shopping comigo? — ele pergunta.
— Para quê?
— Comprar umas coisinhas, vai ser rápido. O
estoque de camisinha acabou também. — Ele ri,
com nossas bocas próximas.
Acabo concordando. Seguimos em direção ao
shopping, conversando sobre besteiras e coisas da
empresa. Percebia uma tensão nele, mas decidi não
perguntar. Mas ele acabou me contando que o tio
dele e seu pai andaram conversando em ele assumir
futuramente o negócio. Que em breve o primo dele
está vindo de um país aí e estão negociando com o
outro dono para comprar a outra parte da empresa, e
virar uma monarquia nos cargos maiores. E
comentou alguma coisa sobre seu avô, que está
doente, e deduzi ser isso que o está deixando tenso.
Chegamos ao shopping e entramos em uma loja
masculina que só vende roupa social. Depois,
seguimos pelos corredores, e apesar de não
estarmos de mãos dadas, estamos próximos.
Ele passou também em uma joalheria comprar
um relógio novo e fiquei babando nos anéis e
correntes. Deve custar o meu carro um mísero
pingente desses.
Atravessamos um corredor de loja e subimos um
lance de escada. Algumas mulheres que estavam na
outra escada no sentindo inverso ficaram olhando
para ele, e eu cerrei os olhos. Que abusadas!
E me censuro internamente por estar
incomodada. Olho na direção que ele apontou com a
mão e vejo um sex shop.
Gustavo me arrasta pela mão, todo
entusiasmado e entramos. Tem algumas pessoas
sendo atendidas, homens e mulheres. Uma
atendente de traços orientais vem nos recepcionar.
— O que precisam?
— Quero uns brinquedinhos — Gustavo é quem
responde. A atendente sorri largo para ele e o mede
de cima a baixo. Tira o olho, querida. Ele irá usar
comigo!
— Por aqui. — Ela aponta para um
corredorzinho, que daqui dá para ver uma estante.
— Vocês querem que eu os acompanhe?
— Não, obrigada — eu respondo.
Ela sai. Vejo vários vibradores de toda cor e
tamanho.
— Olha, que tal isso? — digo apontando para
uma cinta que tem um pau de borracha no
centro. Ele olha torto para a cinta, me olha
atravessado e depois ri de leve, negando com a
cabeça.
Ele pega o que bem quer e eu pego uma algema
peluda. Vou fazê-lo comer na minha mão com isso.
Alguns géis comestíveis e mil e uma ideias na
mente. E claro, um pequeno vibrador novo para mim,
pois nunca se sabe.
— Eu tenho um de carne e bem satisfatório,
para que um desses? — indaga quando saímos.
— Amore, se eu não pudesse me tocar, eu
nasceria igual ao T- rex. E às vezes tudo que
queremos é uma gozada sem um homem para dar
atenção logo depois. Claro que prefiro o de carne,
mas nunca se sabe. — Dou de ombros.
Fomos em direção ao seu apartamento. Está
tudo silencioso na sala. Nem estou prestando muita
atenção no filme. Ele ligou a televisão e eu me
recostei no seu ombro. Eu deveria ter ido para casa,
mas estamos esperando chegar a comida que ele
pediu. O corpo dele é tão gostoso e aconchegante!
— Eu achei sua cara. Tome. — Ele balança a
mão na minha frente para que eu pegue.
Analiso a pulseirinha dourada brilhante com
pedrinhas cravejadas. Ela é linda e reluzente, porém
discreta. Claramente tem valor alto, pois é ouro.
— Não.
Sento direito para encará-lo.
— Por quê? — Ele arqueia a sobrancelha.
— Não tem cabimento você me dar presente, e
tão caro como esse. Isso já é passar do limite do
caso que temos — sou categórica e óbvia. Onde já
se viu isso?
— E o que tem de errado? É só um presente. —
Ele me olha expressivo.
— Poxa, a gente se desentendeu justamente por
esses presentes e você está fazendo de novo. —
Mostro minha chateação.
Ele fecha a cara e ignoro para não ter climão. A
campainha toca e ele volta com a comida na mão.
Depois do jantar, ele vem sorrateiro, se desculpando,
e acabamos transando na sala mesmo. Eu nunca
vou enjoar do sexo com ele. Incrível. Foi intenso,
gostoso. Abrasador!
Gustavo é insaciável e aprecio muito isso!
Levanto meu rosto para beijá-lo. E sinto uma
sensação diferente nele.
— Está me beijando errado hoje, não? Foi pelo
que eu falei?
— Como assim? — Ele ri.
Dou de ombros, não sabendo explicar. Mulher
sabe quando o cara não está beijando como
costuma.
— Impressão sua. Eu gosto de te agradar, não
precisa se chatear comigo.
— Já te falei como são os agrados que aceito —
me limito a dizer e fecho os olhos, sentindo-o
massagear minhas costas.
Vou amolecendo, sentindo a massagem boa no
meu corpo cansado. Coloco a cabeça na curva do
seu pescoço para absorver o seu cheiro de macho
alfa. Ronrono manhosa quando ele alisa minhas
costas. Eu estou muito mole e cansada.
Abro os olhos de repente, sem saber onde eu
estou e me assusto quando percebo que estou com
Gustavo, com a cabeça no seu peito e agarrados.
É meio estranho dormir agarrada com seu
subchefe barra caso. Merda, isso está ficando cada
vez mais estranho!
— Gustavo! — O empurro levemente para que
acorde.
— Que foi? — soa sonolento, abrindo apenas
um dos olhos.
— Que foi o quê? Que horas são? Eu preciso ir
para casa! — Tento me situar.
— São dez e pouco — diz checando o próprio
celular.
— Por que não me acordou, e pior, por que
estávamos agarrados? — Levanto da cama, elétrica.
— Já está aqui mesmo, fica — me pede
segurando meu braço — E foi você que me agarrou
quando deitei na cama.
— Não dá, preciso trabalhar cedo. Não posso ir
com a mesma roupa de hoje.
Ele veste uma camisa e eu pego minha bolsa. E,
rendido, decide me levar.
Na frente do meu apartamento, me despeço
antes de entrar no apartamento escuro na pontinha
dos pés. E depois de um banho, com a cabeça no
travesseiro, suspiro. A noite de hoje foi estranha.
Não sei o porquê, mas sinto que tem alguma
diferença em algum lugar, mas não sei aonde e
qual. Na verdade, Gustavo está muito estranho e
está me fazendo ficar confusa.
Pela manhã, mais um dia na empresa, enquanto
o elevador sobe, penso que hoje seria um ótimo dia
para simular um mal-estar e sair mais cedo para
voltar a dormir. Ainda assim, decido começar a
trabalhar. Alexia chega logo depois, com dois copos
de café. Um para mim e um para ela. Já disse que
amo a minha amiga?
— Aqui, para não fingir que passou mal para
voltar para casa. Preciso de você hoje. — Ela me
entrega o café. Retiro o que eu disse. Eu odeio
Alexia, por me conhecer muito bem.
— E eu te achando fofa por ter comprado. —
Beberico o café quente enquanto ela ri.
Começamos a trabalhar junto com Téo, que
chega tão morto quanto eu. Aposto que passou o
final de semana na boate. Quando deu meio-dia,
Alexia e eu decidimos almoçar com Liz, pois
percebemos que perdemos a frequência disso,
estamos muito afastadas ultimamente e não
gostamos disso. Eu amo almoçar com elas, pois
sempre volto de bom humor.
No restaurante de sempre, conversamos
desenfreadamente e aproveitamos para fazer o que
é um dos motivos desse almoço: fofocar!
— Alie — Liz a chama. — Sabia que uma
pessoa está de boy novo e não contou? — fala em
tom de confissão.
— Como assim? — Alie questiona interessada.
Congelo no lugar, porém finjo que não é comigo.
Faço cara de paisagem.
— É com você mesmo que estou falando,
Natasha!
— Nat? — Alie me olha querendo saber do
babado.
— Natasha está com um homem misterioso. E
acho que é do prédio de vocês, porque já o vi
entrando lá. Peguei eles no flagra, ele correndo do
nosso apartamento em uma noite, saíram até para
jantar — Liz me dedura, e fico estática na hora.
Então o sorriso que ela me deu no dia é porque
sabia sim.
Lizandra me paga! Alexia dá o mesmo sorrisinho
e levanta as sobrancelhas, sacaneando também
como fiz com ela quando soube que ela estava doida
por Murilo na época. Vadia!
— Natasha? Quem é o homem misterioso?
Jantar e visitando sua casa escondido? Uau! O
babado é quente! — Alie debocha.
— Como você descobriu, sua ridícula? —
indago.
— Você acha que me engana? Você sempre foi
mal-humorada e ultimamente só anda de sorrisinhos.
Óbvio que estava dando regularmente para alguém
e isso tem muito mais de um mês! — Dá um
sorrisinho malicioso.
— Mais de um mês com o mesmo homem? Que
recorde! — Alexia continua ironizando. — Será que é
o mesmo dos chocolates e flores?
— Teve flores e chocolate? Natasha! — Lizandra
se vira para mim.
— Afinal, quem é esse homem, Nat? — Alie faz
o mesmo.
Encurralada, respondo:
— Gustavo — sussurro para as outras pessoas
das mesas não ouvirem.
— Gustavo? Gustavo, Gustavo...? — Alexia
repete, perplexa com a novidade.
Imito-a com deboche e ela revira os olhos.
— O diretor financeiro da agência que chegou
há pouco tempo? — tenta esclarecer mais uma vez,
incrédula.
— Sim. A gente está se pegando e ele é gostoso
demais.
— Natasha, sua louca! — Alie exclama.
Depois do almoço, enquanto voltávamos, Alexia
tenta tirar confissões de mim.
— Me dê mais detalhes, cretina.
— Para, Alie. A gente só transa e, sim, já
transamos na sala dele. — Ela sorri e eu acabo
revirando os olhos sem conter meu riso também. —
Você está terrível!
— Eu? — ela se faz de ofendida ainda por cima.
— Mas está sendo bom, os finais de expediente
estão superinteressantes.
— Entendo. O dia termina tão leve! — Olho para
ela arqueando as sobrancelhas. — Que foi? —
questiona fazendo o mesmo.
— Por isso fica ansiosa pelo final do expediente,
né?
— Você quem está dizendo. — Finge que está
olhando o esmalte das unhas. — Isso é uma das
poucas alegrias da classe proletária.
Gargalho com a cara de felicidade que ela faz.
Alexia é bem louca e está muito mais desde que
começou a namorar Murilo. Eu amo ver minha amiga
leve desse jeito.
— Entendo o sentimento. Juro para você que
entendo. — Rio.
Téo chega logo em seguida perguntando do que
estamos rindo.
— Benefícios de uma boa foda no final do
expediente — Alexia responde.
— Adoro. Pena que nós, pobres mortais, não
temos esse benefício sempre. — Téo me abraça.
Rio porque apenas Alie sabe. Qualquer dia
desses eu conto, pois sei que ele vai fazer
escândalo e vai gritar como uma gazela que é.
Então, aqui e agora, não é o melhor momento.
Alexia sozinha, numa piada interna, ri baixinho,
seguindo para sua mesa.
Voltamos para trabalhar, e como se estivesse
apenas me esperando chegar, o motoboy entra na
sala e todos paramos o que estávamos fazendo para
saber o recado. Mas ele me entrega apenas uma
sacola da Ferrero Rocher! Cristo! Gustavo não tem
jeito! Agradeço atônita e irritada, e ele sai depois de
um aceno rápido.
— Humm, primeiro o buquê e agora Ferrero
Rocher! Olha, até rimou!
Alexia é uma vadia de marca maior! Ela ri por
saber quem me mandou e está claramente se
divertindo.
— Pelo jeito ele gamou. — Sua fala debochada
me faz tremer.
— Cala a boca!
Mando, me sentindo irritada por dentro. Ah, mas
isso tem que acabar de uma vez por todas!
GUSTAVO
Pense em uma pessoa fodida, a mais fodida que
imaginar. Agora multiplique por cinco. Fica pior, né?
Agora multiplique de novo e encontre o resultado
que eu estou agora. Fodido é pouco para minha
situação no momento. E o motivo não é nada mais e
nada menos que uma baixinha loira que veio com a
missão de foder comigo, e digo, conseguiu.
Ela tanto me provocou que acabei perdendo o
controle de mim mesmo. Acho que estou começando
a ter sentimentos por Natasha. Isso mesmo,
sentimentos, além do tesão. Como eu cheguei a
essa conclusão?
Gosto dessa nossa relação além de sexo e
gosto de estar com ela. Me sinto muito mais
incomodado com a amizade dela com qualquer
homem, tenho raiva de qualquer um que chegue
perto dela, nem que seja amizade. Vê-la na boate
dançando livre, leve e solta, um mulherão sexy
dançando na boate. Me fez querê-la apenas para
mim.
E bastou um fim de semana legal com ela, com
jantar e boate, para perceber que estou fascinado
pelo seu jeito sem vergonha e autêntico, e por ter me
arrastado para um food truck.
Puta que pariu. A mulher é sensualidade pura.
Ela é sagaz, tem humor mordaz. Sem falar na voz
que usa quando quer me provocar. Natasha me
enfeitiçou sem esforços. Ou tomei chave de xota,
como Rodrigo mesmo disse.
Eu a quero só para mim, sem restrição. Não
quero mais ser uma foda, quero muito mais com ela.
Não quero mais ser seu segredinho sujo.
Olha quão fodido eu estou? No começo eu achei
que era só encantamento por ela ser atrevida, do
jeito desbocado dela. Mas fui caindo em mim e
percebi que não. E o pior de tudo é que eu estou
perdido com tudo isso. Não sei se devo dizer logo e
ver o que acontece ou fingir que nada aconteceu.
Pela primeira vez, eu estou receoso de tomar
toco. Sempre fui seguro de mim, sempre me atrevi,
mas dessa vez eu realmente estou com dúvidas.
Porque ela claramente me enxerga como uma foda e
apenas isso.
E ela frisou bem quando me devolveu a caixa de
chocolates, vazia, mas devolveu. E deixou claro,
caso eu estivesse esquecendo, que só transamos.
Nada de presentes ou jantar. Ou era nesses termos
ou era em nenhum.
Talvez seja só empolgação com ela, ou pelo jeito
que ela é, sem se importar com nada e isso acabou
me fascinando, não sei. Não sei realmente que
merda eu faço!
E confesso que me sinto contrariado por toda
vez que tento fazer algo e ela nega. Foi assim com o
buquê, protestou com o jantar e agora a caixa de
chocolates. Porra!
Ela estava tão chateada que foi embora sozinha
e não falou direito comigo a semana inteira, e agora,
o final de semana todo. Hoje já é sábado. E o
chocolate foi na terça. Meus horários de reuniões
também não me ajudaram.
Resolvo mandar uma mensagem para ela agora
à noite. Estava na casa dos meus pais e fui mimado,
pois ser filho único é isso. Sua mãe querer te entupir
de comida a cada dois segundos e seu pai querendo
saber se já passei o rodo depois que terminei com
Manuela.
“O Zeus está sentindo sua falta.”
Envio. Mas na verdade fui eu que senti. Sou um
panaca!
NATASHA:
“Coitado, ele te falou, foi? Diga a ele que depois vai
me ver.”
Gargalho com aquela mensagem e respondo se
ela está livre. Meu celular vibra no mesmo momento
com uma resposta sua.
NATASHA:
“Não vai dar. Até segunda, chefinho. Um beijo
(aonde preferir)”
Provocativa e insolente. Devassa! A filha da
mãe gosta de me testar de todos os jeitos. Meu
celular toca mostrando que é Ruan. Um amigo de
longa data, fazíamos boxe juntos na minha antiga
academia, até eu decidir começar a treinar sozinho
aqui no prédio.
— Fala aí, cara — atendo.
— E aí? Os caras vão aparecer aqui daqui a
pouco para assistir as quartas de final, vem
também — me convida e eu dou de ombros. Tenho
nada para fazer mesmo e tem uns tempos que não
os vejo também. Preciso espairecer.
— Certo. Apareço então aí — confirmo minha
presença.
— Fechou — ele se despede e desliga.
Vou em direção ao quarto trocar a camisa e
colocar a do meu time. Vai ser bom espairecer sobre
Natasha.
O foda agora é como vou fazer para ela aceitar e
querer ser minha. Pensei em talvez, aos poucos,
parar de tratar ela só como uma foda, mas sem ela
saber, pois quando se tocar vai estar envolvida a
ponto de não poder mais sair. Mas não sei se dará
certo pelo simples fato de Natasha ser imprevisível,
nunca sei como ela vai reagir diante de qualquer
coisa, pois todas as minhas aproximações foram
repelidas, ela é dura na queda.
Se fosse qualquer outra, no primeiro chocolate
ou jantar, estaria nas minhas mãos, mas ela é
diferente e atiça o desafio. E eu estou aceitando,
para fazê-la se render.
12
NATASHA
— Ei. — Fábio chega, colocando as duas
mãos na parede onde eu estou, me imprensando e
assustando.
— Dá para você me deixar passar? — peço,
estranhando sua chegada abrupta.
— Só se me der um beijo. Ouvi dizer que o
motoboy entregou chocolates para você ontem, a
mando de alguém aqui da empresa. Quem é esse?
Me colocou na friendzone mesmo, né? — ele diz e
eu rio, descrente.
— Friendzone? Nem somos amigos e nunca te
dei esperanças, você quem se iludiu. E o que eu
faço da minha vida não é da sua conta!
— Mas você é toda liberal, e eu te trato bem,
você pega vários, que eu sei, e não quer ficar
comigo? — Percebo seu tom indignado, apertando
meus pulsos.
Nada pior que um homem que te trata bem só
porque quer te comer e quando vê que não vai
conseguir nada, começa a agir como um cretino que
sempre foi. No final a bruxa é a mulher que não deu
atenção. Fala sério!
— E daí? Uma mulher desinibida não é um
atestado de disponibilidade sexual, Fábio. E mais um
motivo de eu não querer ficar com você, não pego
vários, para no final acabar te dando. Não mesmo!
Ficamos nos encarando e ele fecha a cara. Está
achando que sou o quê?
— Mas... — O corto antes que fale qualquer
asneira.
— Mas nada. Eu posso ficar com quem eu
quero. Se eu disser não para você, aceite!
Percebo a chegada de alguém, e vejo Gustavo
com o queixo travado e mãos no bolso.
— Estou atrapalhando alguma coisa? — Sua
voz ríspida me arrepia.
— Já terminamos aqui. — Fábio me solta,
amedrontado pela presença do nosso superior, e
decide ir embora.
— Senhor Fábio, na próxima terá advertência,
não é a primeira vez que vejo esse tipo de coisa —
Gustavo avisa, sem querer disfarçar o seu incômodo
e sua cara fechada.
Em seguida, Gustavo dá as costas sem dizer
mais nada, em direção ao elevador. Assisto toda a
cena sem entender, mas sigo atrás, afinal, eu estava
indo embora antes de ser abordada. Que merda foi
essa? Fábio vai me pagar por isso.
Entramos no elevador e ele permanece calado e
eu também. Fui para o canto enquanto ele aperta o
andar. Estou irritada pela irritação dele.
— Quando chegarmos no carro, iremos
conversar.
— Conversar o quê? — indago pelo seu tom.
— Lá dentro conversaremos. — Ele continua
olhando para frente.
Nossa, que grosso. Às vezes ele é um ogro que
me dá raiva!
Andamos em direção ao estacionamento. E
sento no banco do passageiro, mesmo que eu esteja
com meu carro hoje. Mas algo me diz que voltarei
para casa em vez de seguir o seu carro para o seu
apartamento.
— Pode me dizer agora? — questiono.
— Você e Fábio têm um caso ou não?
— Já disse que não! — respondo séria, pela
milésima vez.
— E que cena foi aquela, Natasha? Me explica.
— Um homem babaca me coagindo a beijá-lo,
mas eu não aceitei, se é isso que te preocupa — sou
sarcástica.
— Não me teste, Natasha.
— Não estou, você quem está surtando à toa, de
novo com essa mania de querer me controlar. Para!
Você está agindo muito estranho! Qual a merda do
seu problema, afinal?
DR é uma porra. Por isso que eu evito namoro a
todo custo. Mas pelo jeito não estou totalmente ilesa
dessa praga de discutir relações.
— A merda do meu problema é que você me
deixou louco! A merda do meu problema é que eu
estou gostando de você mais do que você
recomendou, e não gosto dele por perto —
esbraveja. — A merda do meu problema é que eu
quero você só para mim!
Escuto aquilo estática, e faço o que sempre faço
toda vez que vejo um problema maior do que posso
resolver no momento: fujo, e sem pensar duas
vezes, abro a porta do seu carro. Estou confusa com
tudo. Droga!
Era para ser só uma porra de um sexo sem
compromisso, não era para ter sentimentos
envolvidos! Era para a gente só transar, se satisfazer
e cada um ir para seu canto. E de repente, estamos
conversando sobre a vida, fazendo refeições fora do
trabalho, criando uma espécie de amizade e tudo
mais. Sabia que isso não ia dar certo. Essa merda
toda. Maldito momento que isso aconteceu!
Fadigada, sem coragem alguma de levantar da
cama e angustiada a ponto de querer chorar por
essa carga emocional em cima de mim, reflito sobre
as novidades.
Há dois dias, Gustavo disse que está gostando
de mim. Há dois dias isso martela na minha mente,
que mal me deixa dormir. Pensando sobre isso tudo,
ainda não tenho opinião formada. Há dois dias não
nos vemos nem nos falamos. Evitei encontrá-lo em
qualquer parte da empresa.
Confesso que não sei o que fazer, não sei se o
corresponderei, pois não quero perder o que temos,
mas não tenho sentimentos para uma coisa mais
séria. Isso está me matando por dentro. Estou me
sentindo afetada por essa separação, esse muro
gélido que se criou entre a gente, mas na situação
que estamos não dá para agir com normalidade. E
eu sempre fui clara com ele, não o iludi. Então por
que ele decidiu fazer essas coisas?
Essa coisa de sentimentos sempre foi estranha,
deixo isso para outras pessoas, mas para mim? Não,
passo!
Eu sou uma pessoa de momento, enjoo fácil.
Espírito livre, digamos. Eu não sei se quero ter isso.
Sou uma mulher totalmente diferente do que ele
deve estar acostumado. Eu gosto de sair para beber,
de ficar com minha irmã, de ir para festas. Gosto de
boates, de me divertir com minhas amigas. Não sou
romântica. E não sei se ele vai querer me
acompanhar nisso ou achar que não estou dando
atenção.
Decido acordar de uma vez e parar de pensar
nisso. Vou até à cozinha depois de me vestir, ficando
linda como sempre. Estou emocionalmente confusa,
mas isso não é motivo para ficar feia.
Será que se eu disser a Liz que vou largar o
emprego e viver à custa dela, ela vai me xingar
muito?
— Que carinha é essa? — Liz me questiona com
preocupação.
— Não é nada — respondo meio cabisbaixa,
não me importando em transpassar meu estado de
espírito.
— Nat... — Ela arqueia as sobrancelhas
questionadoras para mim. Sempre foi protetora.
— Estou confusa com algumas coisas, só isso
— a tranquilizo, embora me sinta perdida.
— Quando estiver pronta para falar, vou estar
aqui.
— Obrigada. — Aceno.
Termino de tomar café e corro para a agência.
No elevador, a cena se repete. Eu correndo, pedindo
para segurarem, e meu coração acelera ao mostrar
Gustavo sozinho ali dentro. Penso se devo ou não
entrar.
— Vai entrar ou não? — Seu tom é azedo e
cabisbaixo.
Entro, com o coração levemente acelerado, e
vou para o canto, enquanto o vejo apertar o botão
para o meu andar. A aura sexual é agoniante e tensa
ao mesmo tempo.
Gustavo fica me observando de relance, e eu só
consigo pensar o quão fodida eu estou. Eu queria
tanto beijá-lo e receber o seu maravilhoso abraço. O
meu problema é ele e ele é o único que pode parar
com essa agonia que sinto.
— Diz alguma coisa... — chama minha atenção.
Eu o observo. Ele fica lindo de barba grande,
mas fica ainda mais com ela feita e aparada, os
olhos chamam mais atenção, pois parece que os
pelos escurecem. Só sei que eu gosto de observá-lo.
— Não tenho nada para falar — sussurro.
A situação está ruim para ambos.
— Estou sentindo sua falta, o Zeus também —
assume.
Droga, Gustavo! Para de agir assim.
— Tem certeza que não está confundido as
coisas? — pergunto séria.
— Não. Eu não estou confundindo. Eu quero
você, sem precisar fingir que não te quero por perto.
— Não tenho resposta agora. — Me esquivo do
seu olhar com um sentimento estranho.
O elevador apita, abrindo no meu andar, e eu
saio sem olhar para trás, mas com o coração na
boca. Para ser sincera, relacionamentos sérios não
combinam comigo! Não me imagino nessa situação!
GUSTAVO
Puto! É como estou nesse exato momento.
Fossa é uma desgraça!
Por causa dela agora estou aqui, fodido e
passando mais um fim de semana todo trancado em
casa, bebendo e me segurando o máximo para não
ir onde ela mora, pois eu sei que se eu fizer isso, vai
piorar para o meu lado. Aquela cretina é petulância
pura!
Nem parece que há alguns dias ela estava
na minha cama dormindo toda calma e manhosa.
Não conversamos nem trocamos mensagens depois
do encontro do elevador. Na verdade, mal nos
vimos, e quando isso aconteceu, parecíamos dois
estranhos. Ela me ignorou a semana inteira na
agência. Me evitou. E me senti mal por isso. Um
gosto ácido no estômago.
Dei esse tempo para ela pensar, mas eu
estou com vontade de pegá-la e pôr no meu ombro e
só soltá-la quando admitir que é minha. Isso tudo é
uma merda! Estou morrendo de saudade daquela
mulher atrevida que faz o que bem entende e me
deixa fascinado.
Entretanto, Manuela segue sua saga
interminável de tentar vir atrás de mim. Tenta me
ligar mil vezes, mas não atendi quase nenhuma
depois que avisei que não temos mais nada para
falar, outra vez. Ela não vê que não quero falar com
ela?
Ela exige que deveríamos sair e conversar,
como se a gente tivesse algum papo para fazer isso.
Fui claro em dizer que não a quero, mas ela finge
que é surda e volta a bater na mesma tecla.
Mas já dei tempo demais para Natasha. Vou
atrás dela e vai me escutar. Cansei de deixá-la
brincar de gato e sapato. Hoje exijo que me escute!
Eu sou um homem, porra!
Zeus percebe meu estado e vem para meu
colo. Passo a mão nos pelos dele. Eu pareço um
idiota assim, por causa dela. Eu tenho que pôr minha
cabeça no lugar, para começar a conquistá-la.
Meu celular toca e vejo no visor que é minha
mãe. Atendo confuso por ela nunca me ligar uma
hora dessas, já que são quase dez da noite.
Logo escuto sua voz chorosa do outro lado
da linha me dando uma das notícias mais
devastadoras da minha vida. E penso na única
pessoa de quem quero suporte nesse momento, a
mesma que meu coração está me fazendo beber.
NATASHA
Sinto o carinho na cabeça que Lizandra está
fazendo em mim. Ela percebeu que eu não estava
cem por cento e me arrastou aqui para a sala e,
calada, colocou um filme para assistirmos. Ela sabe
que eu precisava disso e mesmo eu não dizendo
nada, ela está aqui do meu lado, me dando suporte.
Lizandra é a melhor irmã que eu poderia ter.
Mesmo tendo idades similares e personalidades
distintas. Ela é a racional e eu a mais impulsiva;
ainda assim, com as nossas diferenças, sempre
fomos muito unidas.
Foi Liz que me deu minha primeira bebida
alcoólica, foi a primeira pessoa que contei sobre meu
primeiro beijo e sobre a primeira vez que transei, e
ficou louca com a segunda notícia. Ela também me
contava. Sempre fomos confidentes em
absolutamente tudo. Ela é tipo meu porto seguro,
assim como das pessoas ao nosso redor. Liz na
nossa família sempre foi isso, sempre recorremos a
ela, o elo que deixa tudo unido. Que faz tudo andar
com calmaria e união. Sempre sabe direção a seguir.
Ela é a primeira pessoa que eu penso
quando está tudo desmoronando ou se reerguendo.
Nossa relação não é só flores, nós brigamos,
discutimos e já ficamos sem falar uma com a outra.
Foram dos piores meses das nossas vidas. Lizandra
sempre sabe o que falar e como falar, ela é minha
melhor conselheira e amiga. E por isso acho que é o
melhor momento para dividir meu peso com ela.
— Liz, posso dividir uma coisa com você?
Estou com a cabeça no seu ombro com ela
me abraçando e alisando meu braço, enquanto
assistimos.
— Estava esperando por isso.
A campainha toca nos interrompendo e pulo para
atender, confusa por quem pode ser naquela hora, e
um frio na barriga se instala antes mesmo de saber o
que é.
13
NATASHA
GUSTAVO
Sozinho, subo pro meu andar, numa felicidade
plena. Estou assim desde que acordei com Nat
dormindo serena, enroscada em mim, tão manhosa!
Nem parecia o furacão que é acordada.
Mas ela correu pra casa para se arrumar e já
está mais do que na hora dela ter roupa no meu
apartamento para não sair desbandeirada toda vez.
Combinamos de almoçar juntos e eu estou
querendo apresentá-la a Rodrigo futuramente, para
que se conheçam melhor, porque foram apenas
apresentados rapidamente e ela não tinha aceitado
meu pedido de namoro.
Minha manhã foi preenchida por planilhas e mais
planilhas e só me dou conta que o horário de almoço
iria começar quando minha secretária perguntou se
estava liberada, e que já tinha pedido o almoço que
eu havia lhe solicitado pela manhã. Termino a
planilha e não demora para eu receber uma
mensagem de Nat avisando que está subindo.
Busco o almoço e a encontro esperando o
elevador que eu peguei no térreo. E ela sorri assim
que me vê.
Parece tão inofensiva, mas só quem conhece
sabe do que é capaz. Um vidrinho de veneno!
— Está me vigiando para saber o elevador que
pego, Maldonado? — Ela entra.
— Sim, senhorita — respondo e a abraço.
Ela entra antes que eu, e não deixo de dar um
tapa na sua bunda, no vestido que evidencia seu
quadril e coxas grossas. Ela se protege, rindo. A
beijo com prazer e ela corresponde no mesmo
fervor. E deixo um beijo numa pinta que tem em cima
de um dos seus seios.
— Vem me marcar não. — Ela recua.
— Mas não fiz nada, ainda.
— Ainda, né? Por que que você sempre me
marca no seio? — questiona.
— Para não usar decote.
— Cretino descarado! — ela exclama e morde
meu queixo.
Viro-a para a mesa e a cubro com meu corpo,
colocando as duas mãos na mesa. Gargalho e em
seguida escutamos a porta da minha sala ser aberta
em um rompante e sem anúncio. Natasha se
assusta, me segurando firme, e viro o rosto para
saber quem é.
— Que cena linda! — Manuela bate palma
totalmente irônica, com sua mãe a tiracolo. — É
assim que você dá um tempo, né?
— O que está fazendo aqui? Quem deixou você
entrar? — Intrigado e contrariado, pergunto.
Percebo Natasha suspirar tensa e levemente
irritada. Manuela adentra ainda mais na sala,
fechando a porta atrás de si, e fecha a expressão
quando vê Natasha.
Porra! Prevejo confusão, e eu sequer tive tempo
de mencionar as perturbações de Manuela para Nat.
— Poderia pedir para essa sua funcionária sair
para conversamos em particular?
Ela aponta para Natasha com desdém, que está
com o cenho franzido totalmente intrigada, me
enfurecendo.
— Como é? — Natasha, que até então estava
calada, se recompõe.
— O que você ouviu — Manuela continua
debochando.
— Natasha é minha namorada. Tenha mais
respeito, Manuela, e é você quem está sobrando
aqui. — Encaro as duas e vejo Nat suspender uma
sobrancelha debochada para Manuela, que está
claramente contrariada, ela não esperava por essa.
— Uma funcionária, Gugu? — A voz de Manuela
sai esganiçada.
NATASHA
Encarando o projeto de Cruella na minha frente,
rio descrente, já sentindo meu sangue ferver pelo
seu veneno gratuito.
E que apelido broxante é esse, no diminutivo,
para um homem desse tamanho feito Gustavo? Esse
apelido só me faz pensar uma coisa: Gustavo loiro
falando Beu teus.
— Avestruz, primeiro, eu sequer te conheço. E
segundo, vai para o inferno!
Nunca nem a vi, mas já peguei o famoso ranço!
Mesmo de salto, eu sou mais baixa. Mas tamanho
jamais me intimidará. Exemplo maior disso é
Gustavo, sento nele sem medo.
— Deixa que eu me apresente então. Eu sou a
noiva dele, querida! — sorri prepotente.
Em seguida toca no braço de Gustavo muito
intimamente para o meu gosto, que trata de tirar.
Incrédula, suspendo as sobrancelhas, olhando para
Gustavo, para ter uma noção, que está parado
parecendo um bocó.
— Alguém, por favor, me explica essa
palhaçada?
GUSTAVO
— O que vocês duas estão fazendo aqui, afinal?
— Mostro minha irritação, segurando Nat pela
cintura para que ela não saia.
Bruna, a mãe de Manuela, que até então estava
olhando as duas se alfinetarem, intervém. Natasha
está com as sobrancelhas arqueadas na minha
direção.
— Por favor, saiam, que já deu esse papelão! —
Sou categórico, apontando para a saída.
— Realmente precisamos. Será que podemos
ter uma conversa particular? — Bruna tenta
aparentar uma mulher fina que nunca foi.
— Sua filha e eu não temos mais nenhum laço,
Bruna! — me irrito.
— Não sairemos daqui enquanto não
conversarmos, Gustavo. Já que não atende mais
minhas ligações. — Manuela trava o queixo de raiva.
— Vai, fala logo — suspiro passando as mãos
no cabelo.
— Tem certeza? — ela questiona e deixa
subentendido para Natasha sair. — Vai mesmo
conversar assuntos familiares com uma funcionária
presente? — Manuela provoca mais uma vez,
tentando diminui-la.
— Pelo menos eu trabalho, né? Sabe escrever
exceção sem pensar se é com dois s ou só sabe
fazer compras? — Natasha rebate, já sem paciência.
Manuela fuzila Natasha com o olhar, mas minha
garota permanece do meu lado, me trazendo um
pouco de apoio.
— Manuela está gravida — Bruna diz direta.
Incrédulo, escuto suas palavras que senti como
um soco no estômago. Porra! Não é para isso estar
acontecendo.
— Ah, é, quem é o pai? Ela sabe pelo menos?
Ou é roleta da sorte, em quem colar, colou? —
Natasha debocha.
— Francamente, Gustavo, com que tipinho você
foi se envolver! — Bruna se mostra irritada.
— É, uma vadia de marca maior — Manuela diz
por cima.
— Sou vadia, sim, muito obrigada, mas é de um
homem só. E para você é dona vadia, por favor —
Natasha debocha a um fio de ficar ainda mais
nervosa.
— Então, Bruna, tem algum engano. Manuela e
eu não estamos juntos há alguns meses, e até eu
me mudar, ela não me disse sobre suspeita alguma
— pontuo sério. Não tem cabimento.
Ela mexe na sua bolsa e me entrega um papel
junto com um teste de gravidez. Pego e vejo dois
riscos no troço. Natasha tenta sair do meu colo mais
uma vez e eu firmo, e ela me olha com cara de gente
ruim mais uma vez.
Leio sem processar nada, mas vejo que está no
nome dela e o exame consta que ela está grávida e
foi feito recentemente.
— Não é meu!
— Minha menstruação não desceu desde o
término. E pelo que me lembre, a gente estava
relaxado no quesito proteção. Você será pai em
breve!
Ela repete o anúncio, sorrindo. Porra! Estou
perdido e de mãos atadas, isso não era para estar
acontecendo.
— Outra coisa. Minha gravidez é de alto risco,
Gustavo, por conta dos cigarros. Eu já tive dois
sangramentos, liguei para você e sequer me deixava
falar. Eu não estou mais saindo de casa, porque não
posso, porque eu me sinto mal e fico desmaiando.
Só vim aqui porque foi com minha mãe.
— Se for meu, vou assumir. Essa criança vai ter
tudo da minha parte, mas a mãe dela não vai ser
nada minha — digo firme as minhas condições.
As duas não parecem satisfeitas, mas
concordam enquanto eu sigo para a porta para que
elas vão de uma vez, avisando que irei retornar o
contato em breve. Preciso falar com meus
advogados também, e com a pequena raivosa que
está soltando fogo.
— Pretendia me explicar essa merda em algum
momento, ou ia esperar a criança nascer? —
Natasha esbraveja.
— Eu também não esperava por isso! — suspiro
frustrado.
— Se você não esperava, imagine eu que não
sabia que você foi ou é, sei lá mais o que dela! Eu
poderia ter feito papel de idiota facilmente se não
soubesse me defender de gente como ela.
— Eu sei, desculpa, eu iria te contar. Senta aqui,
eu vou esclarecer! — chamo e ela nega.
— Começamos a namorar praticamente ontem e
já tem uma porra dessas assim do nada, Gustavo.
Não, eu estou sem cabeça para escutar qualquer
coisa a mais sobre essa novela mexicana. Meu
horário de almoço acabou, junto com meu apetite e a
vontade de te ver hoje.
Ela dá as costas, batendo a porta atrás de si,
furiosa. Desgraceira! Sequer almoçamos, e também
perdi o apetite. Sentado na minha cadeira, tento
pensar nos meus próximos passos. Manuela
grávida? Porra!
15
NATASHA
Fala sério! Ultimamente parece que estou em
um mundo paralelo. Primeiro, estar gostando de
alguém, namorando essa pessoa e, bum!
Uma ex dele aparece grávida. Nem nos meus
sonhos mais loucos isso estaria acontecendo.
Eu duvido que ela esteja, ao menos que seja
dele. Pode ser precipitado da minha parte, mas essa
gravidez não me desceu nem um pouco. Terminaram
há meses e do nada aparece grávida, armando
aquela ceninha? Nah! Muita coincidência. E não
estou dizendo isso porque ela é ex.
Eu confio sempre nos meus sentidos, até que
ele me mostre se eu estou errada. Algo me diz que
ela não está agindo de boa fé, mas caso estiver
realmente grávida e for dele, Gustavo está fodido,
porque ter um filho daquela mulherzinha insuportável
é para os azarados.
Se ela estiver mesmo, eu caibo nessa nova
etapa? Irei me sentir confortável? Sequer sei se
quero ficar no meio dessa novela.
Admito que não estou sabendo como agir com
essa bomba, porque, querendo ou não, ainda vai
mexer completamente nossas vidas. É muito para
mim. Eu ainda estou me acostumando com esse fato
de sentimentos e namoro.
Meu celular vibra algumas vezes e sei que é ele.
Apago sem querer ler. Fodam-se Gustavo, sua noiva
e o resto do mundo. Não vi Gustavo hoje ainda, ele
me ligou ontem à noite, mas não atendi. Hoje de
manhã também. Ainda estou brava. Estou realmente
magoada por ele não ter me notificado sobre essa
mulher.
O dia seguiu seu curso normalmente, passei
fingindo tranquilidade. Desço para casa, mas antes
de atravessar o hall, encontro Gustavo, saindo
também. Mas ele para assim que me vê. Percebo na
sua expressão que está cansado e triste, ao mesmo
tempo acentuando seus olhos, que já são azuis
cristalinos naturalmente.
Malditos olhos que me instigam. Ele fica de
frente para mim e a merda do meu coração acelera.
Coração idiota!
— Natasha... acho que precisamos esclarecer
várias coisas. — Gustavo soa um pouco autoritário,
com um semblante nada bom. — Sei que está
irritada por ontem, mas se não me deixar esclarecer
não tem como sua raiva passar.
— Preciso ir embora. Tenho compromisso. —
Olho no meu relógio em puro deboche. — Acho
melhor ir também, sua noiva grávida deve estar te
esperando.
— Natasha, não estou de brincadeira. Você vai
me ouvir e se, depois disso, não quiser, tudo bem.
Agora, só vou deixar você ficar me dando gelo e
agindo assim depois que me ouvir! — manda entre
dentes.
Resmungo, me deixando levar em direção ao
seu carro. Bato a porta com grosseria, mostrando
meu protesto. Ele me olha sério e eu o ignoro.
Depois de uma viagem silenciosa, já que quando
eu abrir minha boca, vou começar a falar
desenfreada e quando eu menos esperar vou estar
gritando, chegamos ao seu apartamento.
Cumprimento o cachorrinho porque não sou mal-
educada, e encaro o dono dele.
— Estou aqui, pode falar, Gugu — não dispenso
o deboche e ele suspira passando a mão no cabelo.
— Não sou noivo. — Ele me olha sério e eu
suspendo as sobrancelhas, ainda em puro deboche.
— Você acha mesmo que eu não te contei algo
sobre Manuela porque eu não quis? A minha última
semana foi uma bosta, esqueceu? Ou acha que tudo
foi diversão para te fazer de idiota?
— E por que ela se autointitula sua noiva? Eu
poderia ter saído como uma idiota se não revidasse
o joguinho dela, mesmo sem saber uma linha da
história — esbravejo, já sem paciência.
— Eu sei, mas eu ia te contar! Ela e eu não
temos nada há muitos meses, Nat, mas ela insiste
nessa coisa de noivado!
— Mas ela tá gravida e está dizendo que o filho
é seu! Olha a gravidade disso! Eu estou muito
perdida nessa história, Gustavo! — choramingo
frustrada.
— Vou te contar do início, só me escute.
— Então comece.
Cruzo os braços para saber até onde ele vai.
— Ela era minha antiga vizinha e namoramos
por poucos meses. Mas ela veio com a história de
que os pais dela sempre foram muito tradicionais e
que era filha única. Começou a me pressionar para
casar, antes de pensarmos em filhos ou até mesmo
morarmos juntos. E como ser pai é uma das minhas
maiores vontades, eu a pedi em casamento no calor
do momento. Eu fui idiota, mas a racionalidade some
nesses momentos!
Arqueio as sobrancelhas, surpresa. Como assim
ele morre de vontade de ser pai?
— Depois disso, ela começou a se mostrar de
verdade, totalmente diferente do que vinha sendo no
início. Sequer me deixava respirar, aparecia de
surpresa nos lugares que eu dizia que ia, para saber
se eu estava lá, vivíamos brigando por tudo. Zeus foi
um presente para ela, que ignorou, porque
confessou em uma das nossas discussões que
odeia qualquer bicho e só inventou que gostava
porque queria que eu me apaixonasse por ela. Como
uma coisa leva à outra, discutimos mais, e como eu
estava saturado, terminamos.
— Que vadia interesseira! — comento mais para
mim do que para ele.
— Mesmo depois, continuamos brigando, pois
ela não aceitava o fim, até eu decidir mudar de
apartamento e trabalhar na agência. E é até hoje
assim, age como se isso fosse apenas uma
briguinha boba e iremos voltar. Agora descobriu
onde trabalho e fez aquele circo.
Gustavo vem em minha direção e, como sou
bem menor, tenho que olhar para cima para fitá-lo.
Ele está meio nervoso e desesperado, tentando me
convencer. Estou totalmente desarmada com isso,
mesmo ainda com o pé atrás. Estava pronta para
jogar pedra nele, mas e agora?
Resolvo ir direto ao X do problema.
— E... E se for mesmo seu?
— Vou acompanhar a gravidez e assumir, né? —
Frustrado, ele põe as mãos na cintura. — Mas não
fica me dando gelo, torna tudo pior para mim. — Faz
biquinho involuntário.
— Dê limites à sua ex. Eu não gosto dela!
— Ciúmes, dona Natasha?
Ele me puxa num abraço, com os lábios
esticados.
— Fica aí sorrindo, se fosse ao contrário você ia
ver.
Retruco e ele fica sério na mesma hora.
— Nem brinque com isso!
GUSTAVO
Observo Natasha passando batom
vermelho. Decidimos ir a uma churrascaria
almoçar. Levanto, a abraçando pela cintura e
cheirando seu pescoço com seu perfume gostoso.
Ainda bem que vai dormir aqui hoje comigo, estou
morto de tesão nessa loira gostosa.
Meu celular toca, mostrando uma mensagem de
Manuela no visor. Clico para ler a seguinte
mensagem: “estou voltando do hospital, tive outro
sangramento. Por favor, vem me ver”.
Suspiro com isso. Ainda não paramos para
decidir nada, eu procurei ver com meu advogado e
uma clínica, para saber com quantos meses pode
fazer exame de DNA, mesmo ainda dentro da
barriga. Manuela não gostou muito da ideia e se
ofendeu.
Mas, veja bem, eu preciso de uma garantia, já
que estamos separados há poucos meses. E, por
hora, mesmo sem saber se é meu, não posso
negligenciar esse risco dela.
Nem eu assimilei ainda que serei pai, eu quis
tanto, agora que posso finalmente ser, me sinto
confuso. Parece tão errado e estranho. Como se
tivesse uma sensação estranha de
incompatibilidade, sabe?
Ser pai é um sonho que está comigo desde
sempre. Tenho vontade de criar família. Gosto da
ideia de ser pai e ter um moleque meu correndo por
aí.
Eu não sei se é esse sentimento que esperava
ao me descobrir pai, mas não estou eufórico e
animadíssimo. Estou apenas ansioso de um modo
estranho, e até frustrado.
Mas quem sabe o vendo pela tela comece a cair
minha ficha? Dizem que homem só tem sentimentos
de pai quando vê a criança. Vai ver é isso.
E ter Natasha comigo nessa etapa é essencial.
Está encarando até melhor que esperava. Não é
qualquer uma que consegue lidar com um assunto
da forma que ela lida, apesar de todos os
contratempos.
— Nat — chamo sua atenção e ela se vira. —
Manuela teve um outro sangramento. Vou ter que
dar uma passadinha lá no apartamento dela. Me
espera?
Levanto checando se minha carteira está no
meu bolso. Natasha me olha séria, arrumando os
cabelos atrás da orelha.
— Não quer que eu vá com você? — Franze o
cenho.
— Não precisa. Fica aqui com Zeus. — Beijo
sua testa. — Me espere, meia hora eu estou de volta
para almoçarmos.
Ela aceita, meio contrariada, mas adianto para ir
de uma vez. Eu quero Natasha do meu lado, me
dando suporte, mas sem precisar passar por isso, de
ir visitar uma ex que espera um filho meu. Uma ex
que ela descobriu no susto. Quanto mais cedo eu ir,
mais rápido eu volto.
NATASHA
Cinco e meia da tarde. Cinco e meia e nenhuma
ligação dele, para me dar notícias, o porquê está
demorando, ou se vai demorar para chegar. Iríamos
almoçar por volta de uma e pouco da tarde, que foi a
hora que ela ligou e ele saiu.
Mas acabou que almocei sozinha com Zeus
como minha companhia, enquanto checava o celular
a cada vinte minutos. Se soubesse, não me
deslocava da minha casa para vir para cá.
Mas minha preocupação é que por mais que eu
e Gustavo tenhamos conversado sobre o que ele ia
fazer, não consegui perguntar como ele se sente
com tudo isso, só conversamos sobre as ações dele
e não seus sentimentos em relação a isso.
Confesso também que estou me fazendo de
forte, tentando me manter, na verdade, mas estou
me sentindo abalada, um caco por dentro. Essa
história não está me agradando e, pior, me sentindo
ameaçada de certa forma com ela e sua suposta
gravidez. Isso ainda não me desceu de jeito
nenhum. É novidade isso de Gustavo querer ser pai,
como me confessou. O medo é que queira estreitar o
laço com ela e me esquecer. Esquecer que iríamos
aguentar isso juntos.
E por mais idiota que eu esteja me sentindo, é
assim que estou enxergando tudo. Eu estou
descobrindo uma Natasha insegura que eu não
sabia que existia. E que eu não gosto nenhum
pouco!
Estou desestabilizada!
— Nat? — Guto aparece, me encontrando
sentada no sofá com Zeus no meu colo, recebendo
carinho.
— Hum? — Continuo a alisar Zeus e ele senta
do meu lado.
— Desculpa a demora. Manuela estava sozinha,
brigou com a mãe, que viajou. Tive que ficar lá para
ver se iria acontecer algo — explica o sumiço da
tarde inteira.
— Por que não me ligou, Guto? Fiquei aqui a
tarde inteira te mandando mensagens, te esperando
e você sequer me retornou. — Mostro minha
chateação.
— Manuela estava instável o tempo inteiro,
chorando, dizendo que está com medo de perder a
criança. Nem tive tempo para respirar e esqueci o
celular dentro do carro — suspira.
— Tudo bem, eu só estava te esperando para
não deixar Zeus sozinho. Estou indo para casa.
— Não vai, fique comigo. Eu prometo que não
vou deixar isso atrapalhar a gente. Vamos jantar,
pelo menos, para fazer valer esse final de semana.
Estou morto de fome!
Suspiro, me rendendo, tentando não me abalar
com tudo isso.
16
NATASHA
GUSTAVO
— Guga, acorda.
Escuto a voz baixa de Natasha me chamando, e
eu volto para a realidade no escuro do meu quarto.
Que horas são?
— Que foi? Está se sentindo bem? — resmungo
preocupado.
Acabo levantando com ela me puxando para a
sala. Mesmo sem entender muita coisa, a sigo para
saber onde ela está indo e acabo me
surpreendendo. O local está todo montado. Tem
almofadas em cima do tapete perto do sofá, o
pequeno abajur que eu tenho no escritório está
aceso ali perto, deixando o local romântico.
— Para que tudo isso?
— Vem aqui. — Ela continua a me arrastar para
cima do tapete e eu vou. Sento e ela se senta de
frente para mim, em cima das próprias pernas.
— Queria dizer que, mesmo morrendo de medo
de admitir... — Meu coração anseia em expectativa,
por mais que não criá-las. — Eu também te amo, e é
assustadoramente gostoso sentir isso.
Percebo que está nervosa, pois a mão que
passa no rosto está trêmula. Como pode ser tão
linda com essa carinha de menina tímida?
— Estou morrendo de medo, desculpa não dizer
naquela hora e não ser a namorada que você
merece, eu sou medrosa — confessa.
Puxo ela para um beijo apaixonado, a sentando
de frente para mim. Ela admitiu que me ama e eu
bem sei o quanto isso tem gosto de vitória, porque
Natasha é presa para falar sobre o que sente!
— Medo? Ficou com medo de dizer? — Aliso
seus cabelos.
— Quer mesmo saber? — ela suspira e eu
aceno — Se eu tornar real que te amo, você um dia
pode usar contra mim esse sentimento, e isso me
faz vulnerável. Eu só tenho medo de me machucar,
tudo que eu faço é com medo de me machucar. Não
é trauma, é receio. De me fazer de trouxa e eu
aceitar esse papel porque te amo. Perder meu amor
próprio, entende? Meus exemplos são traumáticos.
Minha irmã é uma romântica incurável e toda vez
que é machucada por alguém ela fica muito mal.
Minha outra irmã se apaixonou por um viajante,
diziam se amar para toda vida. Amou tanto, que no
final resultou nela muito mal, por ele ter ido embora e
com um bebê na barriga. E a criança não sabe quem
é o pai até hoje, eles nunca mais se viram. Por isso
que evito tanto essa coisa de sentimentos. Mesmo
as amando muito, eu não quero ficar como elas.
Deixar que brinquem comigo por causa de um
sentimento — ela desabafa, meio chorosa.
Olho para ela, que me olha com os olhinhos
inundados de lágrimas, e quase transbordo. A aperto
contra meu corpo e ela recosta a cabeça no meu
ombro, me enlaçando pelo pescoço. Como aquela
mulher desbocada que admitiu sem vergonhas que
queria dar para mim há alguns meses, virou essa
que está aqui no meu colo, parecendo ainda menor
e admitindo que também me ama e com medo
desses sentimentos?
Ela pode ser desbocada para quem quiser, mas
é comigo que vai se mostrar carente e insegura. Eu
sou um filho da puta sortudo do caralho!
— Mas não precisa ter medo — tento confortá-
la.
— São os exemplos que eu tive — sussurra. —
Que uma mulher quando está apaixonada, pega
toda a dignidade e a sanidade e simplesmente soca
no cu!
Gargalhamos brevemente por ela estar na sua
melhor versão novamente.
— Mas não significa que vai passar por isso.
Confie em mim, não vou te largar nunca. Eu amo
você, nunca me permitiria te machucar — sou
sincero.
— O que eu fiz para merecer você, hein? —
Seus olhinhos brilhantes passeiam pelo meu rosto.
— Apenas foi você — respondo o óbvio, num
sorriso.
Ficamos abraçados juntinhos e acabo a beijando
enquanto a carrego. No quarto, a faceta de mulher
fogosa aparece e some com a da mulher insegura.
Ela geme quando ataco seu pescoço com pequenos
beijos.
O corpo dela é tão delicado e me faz sentir tanta
coisa boa que eu tenho vontade de abraçá-la e dizer
que a amo a cada dois segundos. Tomo sua boca
com mais fogo, precisando de mais dela, que logo
aperta meu braço quando eu apalpo minha mão em
sua pele macia.
Mordo seu ombro e em seguida passo a língua.
Percebo sua pele alva arrepiar, me dando muito
mais tesão. Ofega baixinho no meu ouvido quando
passo a mão nas suas pernas. A sua roupa sai do
seu corpo por mim, porque estou com fome dessa
mulher e ela está com a mesma vontade, tentando
arrancar meu short.
Nat se vira, montando em mim, e essa cena dela
com os seios de fora é excitante pra caralho! Dou
um tapa na sua bunda, apertando sua carne para
estancar a dor e ela, toda manhosa, ronrona.
Arranca minha roupa com cueca e tudo. Adoro essa
fome e atrevimento dela!
Puxo-a de novo pela cintura para ficar encaixada
no meu colo. Sinto sua quentura como um forno em
contato com minha pele e tenho vontade de socar de
vez o mais fundo que eu posso. Nat, como gosta de
provocar, rebola no meu colo, friccionando no meu
pau, e aperto forte sua cintura. Provocadora!
Ela desiste de me maltratar, e em uma ação
rápida, me põe para dentro, me segurando no ombro
como apoio, e suspende o quadril, guiando-me para
dentro. E eu cerro os dentes pelo seu interior úmido
acomodando meu pau, que entra cada vez mais.
Comigo todo dentro, ela me agarra pelo
pescoço, mordendo meu ombro. Em algum momento
ela sempre acaba mordendo meu ombro. E o
contato do seu dente na minha pele acaba me
fazendo firmar mais, e ela geme baixinho.
Abocanho um dos seus seios enquanto ela
rebola gostoso no meu colo e eu ajudo a entrar e
sair, segurando na sua bunda. Nat procura minha
boca, me beija ferozmente e eu a agarro como
apoio, enquanto a ajudo subir e descer.
Quando a vejo cansando, viro nossas posições,
querendo comandar. Com suas pernas enlaçadas na
minha cintura, soco com vontade, intenso e até o
fundo, querendo mais, e ela também. Ela se deixa
levar no embalo e faz com que todos saibam meu
nome, e isso é música para meus ouvidos, me
arranhando como a felina feroz que sempre foi e eu
sigo nas socadas firmes, que deslizam com
facilidade.
Agarro nos seus cabelos e sinto meu pau ir todo
e voltar para ir de novo, potente, e ela alucinada,
com o corpo pingando de suor, e o meu não está
diferente. Aos poucos vejo ela dando os primeiros
tremeliques e a pele, que agora está vermelhinha
dos meus tapas, apertões e chupadas, se
arrepiando. Pego na sua nuca e guio sua boca na
minha, em um beijo molhado e gostoso, enquanto
ela está toda manhosa e, numa última socada,
chego ao meu ápice também.
Beijo sua testa e pescoço, lhe dando carinho e
aproveitando os últimos momentos de prazer.
— Eu amo você, mesmo não falando antes por
falta de coragem. E, se um dia, você tiver dúvidas
porque simplesmente eu não digo a cada dois
segundos, repara bem nas coisas que eu faço,
quase tudo é um jeito torto de me declarar. — Ela fita
meus olhos sem quebrar o contato.
— Te amo — declaro sorrindo, e ela me beija,
ainda com o sorriso no rosto me contagiando. Tenho
motivos ou não de me declarar o cara mais sortudo
desse mundo?
19
NATASHA
Sorrindo à toa, me espreguiço sozinha na cama
de Gustavo e sem despertador. Que noite!
Nem acredito que finalmente consegui me
declarar e me sinto muito bem com isso. Parece que
entramos em outro patamar de relacionamento.
Estamos mais juntos apaixonados do que nunca.
A impressão que tenho é que nossos sentimentos
crescem a cada dia. Com Gustavo, eu gosto de me
demonstrar apaixonada e não me sinto nem um
pouco ridícula nesse papel.
— Não era para acordar agora. Estragou a
surpresa. — Gustavo aparece só de short e
carregando uma bandeja, com Zeus o seguindo.
— Se quiser eu volto a dormir. E assim vai me
deixar mal-acostumada — digo com graça e
surpresa.
Zeus sobe na cama e Gustavo reclama por ele
estar tentando comer o que está na bandeja.
— Bom dia. — Ele segura na minha nuca e me
beija com vontade. Chego a ficar sem ar.
— Nossa! Que bom dia! — digo meio sem fôlego
e ele ri. — E isso aqui? Não vamos trabalhar hoje?
— Aponto para a bandeja.
— Café da manhã para minha namorada, não
pode? — ele diz sorrindo e eu sorrio com os olhos
brilhantes para ele. — Pra iniciarmos a semana com
tudo!
Guto foi para uma reunião importante com os
donos da agência e prevejo muitas mudanças na
Prisma.
Sorrio encantada e meu coração se aquece por
ele ter falado “minha namorada”. Sou uma boba. O
café transcorreu maravilhosamente bem, enquanto
um dava coisas na boca do outro. Parece que eu
estou em um conto de fadas e que vou acordar a
qualquer momento. Pois nunca me imaginaria nessa
posição tão romântica. Isso é a cara de Lizandra ou
Alexia, não de Natasha, mas estou curtindo esses
momentos. Ele me mostrou uma carta de multa do
condomínio que a síndica mandou para cá, por
causa dos “barulhos indecentes”, e eu fiquei morta
de vergonha. Mas o devasso estava rindo, todo
orgulhoso, e acreditem se quiser, enquadrou e está
exposto na sala.
Antes do trabalho, decido ir ver minha irmã, e
Gustavo me leva, porque eu liguei antes e ela estava
cheia de dor, mas recusou minha ajuda. Mas vim
assim mesmo. Liz, quando põe uma coisa na mente,
é pior que burro empacado. Tenho vontade de
esmurrar a cara dela quando começa com a teimosia
descabida.
Entro e a encontro ainda deitada na cama e
enrolada, toda encolhida.
— Está com dor ainda? — Me sento na ponta
da sua cama.
— Estou esperando o remédio fazer efeito para
levantar.
— Fica em casa hoje. — Aliso seus cabelos.
Liz, doente, para de ser a adulta centrada e volta
a ser a garotinha que morre de medo de agulha. E
quando fica assim, é a minha vez de cuidar dela.
— Impossível. Não dá para faltar, sis.
— Ninguém mandou ter cargo importante —
brinco com ela.
Ela faz uma menção de riso, mas se contorce,
provavelmente de dor.
— É sério, Liz. Estou ficando preocupada.
— Eu já vou levantar. É cólica, já falei.
— Ah, é? E as dores nas costas?
Ela não me responde, apenas faz beicinho para
eu não brigar.
— Vou fazer algo para você comer. Continue
descansando. Vou ligar para sua chefe e avisar que
não vai hoje.
Saio do seu quarto deixando a porta aberta e
escuto ela resmungar. Desço para comprar tapioca,
que vendem aqui embaixo, junto com Guto, pois Liz
ama, e vou fazer um agrado para ela, que sempre
cuida de mim. Até acabei comprando uma com
recheio de geleia, que Liz de vez em quando come.
Normalmente acho essa combinação nojenta, porém
fiquei morrendo de vontade enquanto a mulher
preparava.
Volto para casa e logo Liz aparece arrumada
com uma cara de quem está com vontade de ficar na
cama. Coloco a mão na cintura em protesto pela sua
teimosia.
— Eu estou bem. Vou sim!
— Liz... — Olho séria para ela. — Vai precisar a
gente brigar?
— Hum... tapioca — ela foge do assunto.
— Comprei lá embaixo — me rendo à teimosia
dela.
A levamos para o trabalho, sob protestos meus,
porque Liz fez cara de dor algumas vezes e fiquei
preocupada, e ela aceitou, sabia que não ia
sossegar. Vadia teimosa!
O início da manhã foi uma verdadeira merda,
não conseguia focar em absolutamente nada, nada
estava me deixando alegre, só preocupada, nem
mesmo a notícia que Alie está gravidinha. Está que
não se aguenta.
Como se eu estivesse imaginando, transferem
ligação para mim e antes mesmo de saber o porquê,
sinto meu peito falhar. Motivo: Lizandra passou mal e
está indo para o hospital onde tem plano de saúde.
Estava com uma dor absurda, saiu carregada e
chorando.
Sinto perder o chão, preocupada com ela. Não
sei como, mas fui teletransportada para a recepção
com Alexia, depois que lhe contei. Mesmo
atordoada, a única coisa que pensei foi em ligar para
Gustavo e mandar ele descer, que também se
assustou.
Alexia me entrega um copo de água para me
acalmar. Vamos, Gustavo! Desce logo!
— Que aconteceu?
Ele aparece, me amparando. Conto a ele,
chorosa e morrendo de preocupação.
— Ela está em que hospital? Vamos logo!
— Tem certeza que tem como sair? Alexia pode
ir comigo se puder.
— Tenho. Não vou deixar vocês duas irem nesse
estado.
Ele acena e chamo Alexia avisando que Gustavo
vai comigo. Ele me entrega minha bolsa, que nem
percebi que tinha pego.
— Liga para mim, então. Vou aguardar sua
ligação. Não vai ser nada de mais. — Alie me
abraça.
— Certo. Obrigada, sis.
Ele vai dirigindo o próprio carro enquanto vou
pensando na minha irmã. Estou morrendo de medo
de ter acontecido algo grave.
Guto me puxa para fora do carro, pois chegamos
no hospital e nem percebi. Entramos e perguntamos
na recepção sobre Lizandra. Nos orientaram a subir
para o segundo andar, e encontramos com uma das
colegas de trabalho que a trouxe e nos explicou mais
ou menos o que aconteceu. Liz está em uma cirurgia
de emergência, e não veio ninguém ainda explicar
direito o porquê, e em seguida saiu, pedindo para
mandar notícias.
Não consigo controlar as lágrimas. Eu preciso
saber o que está acontecendo com Liz. Essa falta de
notícia me deixa apreensiva e angustiada.
Guto tenta me acalmar e percebo que ele
também está nervoso.
— Eu disse para ela não ir trabalhar, mas você
não sabe como ela é teimosa. E agora está aí em
cirurgia, e eu preocupada. — Limpo os olhos.
Ele me abraça apertado enquanto ninguém
aparece para dizer alguma coisa. Um médico
aparece alguns minutos depois, querendo saber
quem são os parentes de Liz.
Me desprendo dos braços de Gustavo e vou ao
encontro do homem de jaleco.
— Então. Sra. Lizandra precisou fazer uma
cirurgia chamada ovariectomia por conta do
rompimento do cisto que estava com quase oito
centímetros. Tivemos que fazer a retirada dos
ovários. A cirurgia foi um sucesso e em breve ela vai
para o quarto. Ela está passando por alguns exames
para termos certeza se o outro tem algum problema.
— E isso causa o que nela? — questiono
apreensiva.
— Ainda não sabemos exatamente. Porém, as
chances dela engravidar não serão tão efetivas,
depende muito do outro.
Escuto aquilo em choque. Não! Não! Isso não
pode estar acontecendo. Aceno incapaz de dizer
qualquer outra coisa.
— Ela em breve irá para o quarto e sairá o
resultado dos exames. Irei avisá-la e poderá ir vê-la.
— Tudo bem. Se puder, antes de avisá-la, o
senhor poderia me dizer primeiro? Essa coisa de
gravidez é um assunto delicado para ela.
Ele acena e pede licença ao sair. Eu não vou
conseguir ver minha irmã depois dessa notícia. Eu
realmente torço que ela ainda não saiba. Liz vai se
desesperar, com certeza, com essa margem de
gravidez menor.
Gustavo me abraça mais uma vez, pois só
consigo chorar. Estou torcendo para que o outro
esteja bom o suficiente.
Espero o que me pareceu uma eternidade, até
que ele voltasse com os resultados completos do
exame.
— Ela está no quarto já?
— Está, os exames acusaram onovulação, falta
de ovulação devido aos ovários não conterem ovos.
Olho para ele querendo ter uma explicação que
não seja o que estou pensando. Liz não pode estar
infértil. Não pode!
20
NATASHA
Depois de uma crise de choro minha, Gustavo
decide me fazer comer alguma coisa, porque a
manhã e meu horário de almoço passaram que eu
sequer percebi, de tão rápido que tudo aconteceu.
Eu só consigo martelar a notícia, isso não pode e
não deve acontecer. É o sonho dela! É algum erro,
não é possível!
Na volta, descobrimos que como o horário de
visitas tinha terminado, só um visitante poderia ficar
com ela. Gustavo decidiu ir trabalhar, avisando que
depois iria passar para nos ver e que estaria com o
celular ligado, e eu entro sozinha, encontrando
minha irmã deitada, me dando um aperto no peito.
Não aguento vê-la fragilizada e lhe dou um beijo
afetuoso na bochecha.
— Que susto você nos deu, hein, Liz? —
pergunto com suavidade.
— Desculpa. Pensei que não fosse grave, só
uma simples cólica — sussurra chateada.
— Já sabe o que aconteceu? — indago
cautelosa.
— Disseram que eu precisei fazer uma cirurgia
de emergência por causa de um cisto que eu nem
sabia que tinha.
— O médico disse que irá passar aqui. — Perco
a coragem de lhe dar a notícia.
O doutor entra e sinto a tensão se instalar na
sala, e meu peito aperta com o coração acelerado.
Calmamente, ele explica tudo o que aconteceu, e eu
aperto sua mão reconfortando-a, nos preparando
para o baque final, e Liz apenas me olha de lado a
cada palavra séria que o médico diz. Tento me
manter forte, não denunciando meu abatimento pelo
que já sei. A palavra infértil ecoa e minha irmã
desaba numa crise de choro, e eu não consegui ser
forte por nós duas, chorei junto, abraçando-a.
Inconsolável, ela soluça no meu ombro, num
choro tão sofrido que me deixa ainda mais
angustiada, rezando para que consiga cessar,
porque faria qualquer coisa para transferir a dor dela
para mim, só para não vê-la da forma que está. Seu
choro dolorido me desespera. E mesmo sendo mais
velha, é a minha irmãzinha.
— Todo mundo sabia meu desejo de ser mãe.
Não é justo! — lamenta com a voz entrecortada.
— Eu sei. Não é justo.
Seu choro não demora a cessar, e eu a deixo
descansar para que assimile a notícia, fazendo
carinho nos seus cabelos. Ela dorme até anoitecer, e
só me dou conta do horário quando Gustavo avisa
que está aqui embaixo. Estive tão imersa em dar
notícias aos meus pais e Alexia, que sequer percebi.
No corredor, encontro o médico, que me explica que
mesmo sendo uma cirurgia emergencial, ela terá alta
em breve.
E quando beijei Gustavo, que também estava
preocupado, é que eu consegui respirar com mais
calma, depois de um dia turbulento, nem o banho
quente que tomei quando cheguei alcançou o
mesmo efeito.
— Comeu que horas?
Gustavo indaga preocupado, me parando no
corredor para me abraçar, mas me sinto hiperativa
novamente, tentando lembrar se não esqueci nada
antes de voltar para ficar com Liz.
— Almocei naquela hora.
— E não comeu mais nada? Quer parar no
hospital também? — Usa um tom bravo.
— Não tive fome. Lá eu como, prometo.
Paramos em um bistrô perto do hospital e
jantamos. Comi minha comida praticamente em dois
minutos, nem percebi que estava com tanta fome.
Ainda peguei sobremesa. Gustavo me fez
contrabandear petiscos, já que não pode.
Me despedi dele em um abraço apertado e um
beijinho gostoso, agradecendo, pois ele não pode
ficar aqui, infelizmente.
— Te amo. — Abraço mais seu peito morno e
acolhedor.
— Vou sentir sua falta essa noite.
Colo meus lábios nos dele, num beijo carinhoso
e grato, por ele estar cuidando de mim quando eu
sequer lembro-me de comer. Vou ficar morrendo de
saudades de dormir com seu corpão me abraçando.
É, meus amigos, eu fui abduzida!
Subo para ver Liz assistindo à televisão, calada,
mas estica os lábios quando me vê.
— Ainda bem que está acordada. Trouxe seu
lençol favorito. — Jogo nas suas pernas.
— Você é a melhor irmã do mundo. Ainda bem
que lembrou.
— Eu sei que sou uma irmã maravilhosa! — faço
biquinho.
Sento na poltrona ao lado da cama dela, onde
vou passar as próximas horas. E pego meu próprio
travesseiro de pescoço que trouxe. Ela se vira para
mim, com seu rosto abatido e semblante sério.
— Eu nunca vou ser chamada de mãe por
ninguém, sis — sussurra, chorosa, fazendo meu
coração se apertar, e seguro sua mão.
— Vou estar aqui por você.
— Eu sei. Obrigada por isso. Quer subir aqui
para dormir?
— Não, eu sou compacta. Caibo em qualquer
lugar.
Rio e ela me acompanha, mas logo se cala. Liz
aparenta estar um pouco melhor apesar de perceber
ela pensativa na maioria das vezes, e só espero que
essa situação não se torne pior do que já está
sendo.
Dois dias depois, Gustavo estaciona o carro na
frente da casa dos meus pais, após uma viagem
silenciosa. Lizandra fez quase cem por cento da
viagem calada, pensativa na janela. Teve alta hoje e
decidimos trazê-la para cá, ao menos aqui tem Taís
e nossa mãe para cuidá-la com mais tempo que eu,
que trabalho o dia inteiro. E Alan para distrai-la.
Apresento Gustavo a todos, e ele não teve um
pingo de vergonha, agiu como se fossem todos
conhecidos de longa data. Aceno para Taís, de longe
mesmo, que está sentada na cadeira onde Liz acaba
de ir. Não temos uma relação como eu tenho com
Lizandra. Não sei o que acontece, só que não temos
afeição uma com a outra e não conseguimos nos
aproximar. Desde sempre. Com Liz ela até fala mais,
mas comigo não.
Meu pai chamou Guto para ter um papo de
''homem para homem'', e ele foi sem pestanejar, mas
sei que isso é para intimidar, meu pai sempre foi
amigo dos namorados das minhas irmãs. O de Liz,
principalmente, o cretino! Sigo para a cozinha com
minha mãe.
— Estou morrendo de pena de ver ela assim. —
Sua expressão pesa. — A última vez que ficou
abatida dessa forma, foi quando terminou com
Jônatas. Espero que ela supere da melhor forma,
como superou ele. Isso são as duas grandes perdas
dela — mamãe comenta.
— Verdade. Liz ficou bem mal naquela época.
Às vezes eu acho que ela não o esqueceu
completamente — comento.
— Vocês já pararam de conversar sobre minha
vida como se eu não existisse mais? — Lizandra
aparece resmungando.
Me calo, pois sei que esse é o ''assunto
proibido''. Apesar de ela garantir que o odeia, não
gosta que falem sobre ele e o que eles viveram.
Almoçamos juntos e cada uma segue sua vida, sigo
com Liz para o nosso quarto antigo, porque Gustavo
se prontificou em buscar Alan no colégio. Que
saudade eu estava desse cômodo!
Taís aparece logo em seguida, com seu
semblante nada bom, e mesmo que Liz e eu não
estivéssemos conversando nada particular, nos
calamos.
— Vão ficar mesmo me evitando toda vez que
vêm aqui? — Seus olhos inquisidores passam por
nós duas.
— Não estou te evitando — respondo
calmamente.
— Ah, não? — debocha.
— O que foi? — Liz questiona.
— Tentando entender também — comento.
— Vocês duas estão me evitando desde que
chegaram.
— Não te ignorei, eu falei com você e te abracei
— Lizandra se defende.
— Você nunca fez questão de falar. Está fazendo
drama por que agora? — tento entender. — Nunca
fomos próximas, como quer que eu chegue íntima
sua?
— Não é porque nunca quiseram, sempre estive
aqui.
— Ah, Taís! Você sempre fez questão de ser
azeda, desde sempre. Pra que esse joguinho
agora? — Reviro os olhos.
— Não estou jogando, só acho que não é uma
relação saudável a que temos. E não nos dávamos
bem quando eu era adolescente, e olha quanto
tempo tem isso, eu já sou mãe! E meu filho quem
veio me perguntar por que eu não tenho fotos com
vocês. Eu tenho total consciência que na época que
morávamos aqui eu era um porre de adolescente e
vocês também, a diferença é que se apoiam uma na
outra e tinham idades similares, enquanto eu tinha
que ser exemplo o tempo inteiro, nunca sequer tive
irmã para dividir e confidenciar como vocês faziam.
— Se você abrisse a boca nós saberíamos disso,
Taís. Você sequer deu abertura para aproximações!
— Lizandra resmunga, magoada.
— Vocês se mudaram cedo, Liz, e eu engravidei.
Ambas se acostumaram a me ver como a megera da
adolescência, mesmo que eu já tenha arrastado Liz,
que era mais velha, para festas comigo, mas Nat
preferiu que fosse você a irmã mais velha que ela
recorre e esqueceu que tinha mais outra. Quando
Alan me perguntou isso, o motivo de eu não estar
com vocês, vi quão afastada éramos e quão sozinha
eu fiquei depois da maternidade. Eu já pensei muitas
vezes em ligar para vocês, pedir conselhos, chamar
para cá... Mas via que não estavam interessadas,
criavam desculpas. Essa rejeição vem pesando há
muito tempo!
Calada, reflito sobre nossa relação. Me sinto
muito mal por isso agora. Nunca soube o porquê de
nos tratar assim, mas não ficamos à vontade na
presença uma da outra, como se fôssemos duas
estranhas na mesma família. Pelo menos eu não.
Nos acostumamos a nos relacionar como somos
quando eu era criança, e ela, uma pré-adolescente.
— Eu só queria ter o apoio que vocês dão uma
para a outra, eu me sinto sozinha desde que
engravidei, essas pequenas rejeições me
machucaram e sinto falta de suporte, de amiga.
Sinto falta das minhas irmãs!
Ela termina seu desabafo e eu continuo a
olhando séria, assim como Liz. Sabe aquele
momento que você percebe que está sendo cruel
com sua própria irmã e, pior, sem motivos? A gente
nunca se entendeu e nem procurou um meio para
mudar isso, e acostumamos a ser assim. Como
dizem: em algum momento da vida você pode ser o
vilão da vida de alguém. Não que eu seja uma vilã,
mas no momento estou me sentindo dessa forma.
— Eu... Eu não sabia que você se sentia assim
— murmuro.
— Eu também não. É só que sempre é fechada e
séria. Como não temos intimidade, acabamos te
excluindo sem nem perceber. Desculpa, Tá, não foi
intencional — Liz exaspera.
— Estou cansada de ser e me sentir sozinha o
tempo todo com meu filho. Tá foda! — Limpa os
olhos.
— Desculpa a gente. Não foi por crueldade que
fizemos isso — peço verdadeiramente. — Prometo
que seremos mais presentes com você.
Ela acena e Liz e eu seguimos num abraço triplo
com lágrimas nos olhos, que ela aceita sem muito
problema. Com o coração mais leve, volto para casa
depois de ter avisado sobre o convite dos pais de
Gustavo, que será para o final desse mês, e como
ele andou de lado esses dois dias, e eu estou
tentando me redimir, lhe recompensei com uma noite
gostosa só nossa, com um filme bom e uma
madrugada suada.
21
NATASHA
Respiro fundo, trêmula, depois de uma tarde
tensa e turbulenta. Finalmente cheguei ao
apartamento de Gustavo, e agora estou no banheiro
com testes na mão, esperando os minutos cruciais.
Aproveitei que Guto foi buscar a comida para
nós. Rezo e me benzo e faço mil preces, esperando
os minutos passarem e o resultado aparecer. Um
riso apenas. Solto o ar que estava preso e sinto a
angústia se despir no meu corpo. Sabia!
Aliviada, decido fazer logo os outros dois,
mesmo sabendo que não estou, é só para garantir e
não ter dúvidas futuras. Só garantir que não mesmo
e, mais relaxada, espero os outros agirem.
— Nat? — Escuto a voz de Gustavo.
— Estou no banheiro — respondo apreensiva,
olhando para a porta.
Merda! Para que ele foi aparecer justo agora?
Sinto a aflição a cada segundo que passa, mesmo já
sabendo o resultado, mas o coração para quando
vejo ambos os testes e Gustavo invadindo o
banheiro e me encontrando debruçada na pia,
chorando com o peito apertado.
Sinto vertigens sem acreditar no que eu estou
vendo: ambos os palitinhos, riscados. Dois. Cada
um.
Eu estava com sintomas e não queria dar
atenção, mas estavam tão escancarados, que os
enjoos me forçaram a tirar essa dúvida de vez!
Então foi por causa disso que enjoei no iate mês
passado. Gustavo me abraça apertado enquanto eu
choro, o agarrando como se fosse minha última
esperança.
— Que foi? Me conta...
Seu tom preocupado e carinhoso só me dá mais
vontade de derramar mais lágrimas. Suspendo os
dois exames positivos. Gustavo me olha espantado.
— Eu estou grávida, Gustavo!
Dou a notícia entre soluços e sinto um enlace
mais forte no abraço, junto às lagrimas no meu
pescoço. Lágrimas? Percebo que ele chora como
uma criança, me apertando forte. Ambos chorando
abraçados.
O coração dele bate muito desenfreado contra o
meu. Gustavo repete milhões de vezes “obrigado” no
meu ouvido, como um mantra, sem acreditar, e
permaneço no meu choro silencioso, sentindo o
chão se perder entre minhas pernas, a cabeça
dilatar ao processar tudo tão rápido. Ele me carrega
e eu enterro meu rosto no seu pescoço, chorando
sem sequer saber o que sentir.
Num impulso, começo a estapeá-lo, quando me
põe no chão.
— Você é o culpado disso! — vocifero num tom
de voz embargado.
— Eu sou mesmo. — Gustavo sorri orgulhoso,
com os olhos cheios de lágrimas.
Sem freio, desabo de choro novamente, mas ele
me ampara nos seus braços firmes e macios.
— Eu desconfiei, mas não quis te pressionar ou
me iludir.
Ele senta na cama enquanto me aperta nos seus
braços e eu me encolho no seu colo.
— Não precisa se desesperar — tenta me
acalmar.
Limpo os olhos e Gustavo está com um sorriso
enorme. Eu chorando e ele rindo. Cretino!
— Isso não era para ter acontecido. Justo agora
que aconteceu aquilo com Liz! — desabafo
inconformada.
— Olha para mim.
Ele mesmo me segura pela bochecha e me faz
fitá-lo, ainda anestesiada, sem saber como vai ser
minha vida a partir de agora. Tremo o queixo, não
evitando chorar novamente. Eu não tenho jeito para
ser mãe. Nem sei cuidar de mim, imagine de uma
criança? Estou perdida e desesperada!
— Vou estar com você. Estou transbordando de
felicidade que não tem noção. Sabe quantas vezes
desejei isso?
Gustavo sorri abertamente para mim e eu acabo
dando um breve sorriso, me compadecendo da sua
felicidade. Parece um menino quando ganha um
presente. Ficou comigo até que eu me acalmasse, e,
desanimada, fito o chão sem saber o que fazer.
Sabe quão estranho é isso? Ter alguém alisando sua
barriga porque tem alguém dentro? Como vou cuidar
de uma criança, como vou dar a notícia para Liz?
Isso não poderia estar acontecendo. Não poderia!
Sem vontade de comer, Gustavo me puxa para a
cozinha, e brinco com minha comida, me sentindo
apática e fraca, escutando-o falar sobre consultas
para saber sobre o bebê o mais breve possível, e eu
só aceno com um frio na barriga, porque isso faz
tornar tudo real. Essa criança vai ter que sair um
momento e vai precisar cem por cento de mim.
Entende meu desespero?
Pela manhã, estou completamente desanimada,
e Gustavo sorri à toa, me olhando bobo e sorrindo.
Em primeiro momento acabo sorrindo também, e em
segundo lembro o motivo, correndo para o banheiro
com um enorme enjoo e uma vertigem que me
atinge por tabela. Minha barriga está em um nervoso
agoniante, sinto que irei derreter de tão fraca que me
sinto.
Gustavo me ampara pelos cabelos, acariciando
minhas costas.
— Não aguento mais — choramingo e vomito
mais uma vez.
— Terminou?
Aceno chorosa e Gustavo me ajuda a ficar de
pé, me abraçando forte.
— Calma, amor. — Ele alisa minhas costas.
Continuo abraçada a ele até me acalmar. Como
eu fui parar nisso, meu Deus? Tento fazer as contas
da última vez que menstruei e foi logo quando
começou o inferno de Manuela. Lembro também que
Gustavo e eu transamos sem proteção no banheiro
também, porra, e teve mais uma outra vez.
Eu tomo anticoncepcional, e ainda usamos
camisinha sempre. No dia que não usamos
proteção, falha. Mas se for para considerar se
aconteceu no banheiro, eu estaria... com quase dois
meses! Como não me toquei que não estava
menstruando? Foi tanto inferno e pepino para
resolver que não me toquei nisso! Mas quem vai
lembrar-me de não ter sangrado ou de ter ficado
com cólicas?
Tomo banho tentando me acalmar quanto a isso,
para ter um dia no mínimo agradável. Eu vou ser
mãe? Pela primeira vez me atrevo a colocar a mão
na barriga, mas logo tiro.
— Que azar em me ter como mãe, hein,
criaturinha?
Falo sozinha e olho para a barriga, que não está
tão chapada como antes. Já me entreguei à
insanidade, me tragam camisa de força!
No trabalho, depois de fazer o exame de sangue
que Gustavo marcou ontem mesmo, só consigo
pensar como vou contar essa novidade para todo
mundo, principalmente para Liz. Parece que roubei o
sonho dela. A sensação que tenho é essa, que essa
notícia de alguma forma vai jogar na cara dela o que
ela não pode ter. Sem falar que estou morrendo de
medo da maternidade. Não me imagino mãe e nem
amamentando por aí. Não vou conseguir cuidar.
Estou morrendo de medo, não serei uma boa mãe,
tenho consciência disso. Com certeza vou esquecer
a criança nos lugares, esquecer que precisarei
alimentar com hora marcada. Sou muito
irresponsável para uma responsabilidade desse
tamanho.
O tempo está tão gostoso que me arrependo de
não ter aceitado a sugestão de Gustavo e ter ficado
em casa. Mas não posso relaxar no emprego. Não
posso deixar Alexia sobrecarregada. Pelo jeito, duas
grávidas!
Em casa, Guto tenta puxar assunto sobre a
gravidez, mas me sinto sufocada, como se eu
tivesse sendo soterrada por todos esses
acontecimentos. Refletindo, me toco de um fato que
me deixa queimando de raiva.
E eu achando que era por livre e espontânea
vontade!
— Gustavo — o chamo enraivecida.
Ele senta do meu lado e eu o fito, séria.
— Você disse que desconfiava que eu estivesse
grávida, né?
— É. Você estava meio diferente — responde
inocente.
— Você falou que me amava por causa da sua
suspeita ou porque quis? — Cerro os olhos para ele,
que faz cara de confuso com as sobrancelhas juntas.
— Quer saber? Nem precisa dizer nada. —
Levanto do sofá, enraivecida e sem paciência.
Ele tenta me puxar pelo braço, fazendo com que
eu colida rapidamente com seu corpo.
— E eu achando que me amava mesmo. Você é
um grande idiota! — vocifero sentindo o choro vir na
garganta, me esquivando do seu braço.
— Natasha, me deixa falar.
— Não!
Saio em direção ao quarto dele e bato a porta,
largando-o na sala.
— Natasha! — ruge do outro lado da porta.
— Você é um idiota! — grito do outro lado. —
Não se preocupe, não vou te vetar de ver a criança!
— Porra, mulher! Abre a porra da porta.
— Não!
Me jogo na cama sentindo as lágrimas virem. É
por essas merdas que não gosto de me envolver
demais. Gustavo continua a socar a porta me
mandando abrir, mas eu o ignoro. Até ele parar de
bater e resolver me deixar em paz. A fechadura é
destrancada e ele entra no cômodo. Viro o corpo
para o lado oposto, ignorando sua presença, e ele
me abraça por trás, sem chance de eu escorregar
para fora da cama, beijando meu pescoço, me
arrepiando rapidamente.
— Pequena, não disse que te amava por causa
da minha desconfiança, o que eu sinto é verdadeiro,
e já queria te falar e estava vendo um melhor
momento. Quando comecei a desconfiar, naquele
dia no iate, eu quis dizer, mas também não queria
que se sentisse desamparada quando desse
positivo, como deu nesses dois testes.
— Por que não falou antes? — Eu me senti
enganada, como se me falasse isso para eu não
fugir, sei lá.
— Porque você não deixou, sua desconfiada! —
Beija minha bochecha. — Eu amo você e essa coisa
linda aqui dentro. — Passa a mão na minha barriga
e eu tremo com o novo contato.
— Não temos certeza se estou grávida —
resmungo. Só em pensar nesse resultado do teste,
eu tremo. — Só iremos saber quando o resultado
chegar ao seu e-mail.
— Está sim. Intuição de pai! — Sorri
abertamente para mim e eu acabo sorrindo também.
Guto me dá um beijo calmo, sem pressa, suave,
com a mão no meu pescoço transmitindo calma,
nem parece o devasso de sempre.
E, novamente pela manhã, desperto sendo
observada por Gustavo, que encara minha barriga
com os olhos brilhantes. Desacostumada, acho
estranho, entretanto, sem sorriso largo, sem sequer
disfarçar, me dá a confirmação que o e-mail chegou
e ele já viu.
Grávida!
Agora é oficial. Eu serei mãe! Acho que fui
abduzida.
Eu estou grávida pra valer!
Grávida e muito nervosa, enquanto ele só sabe
sorrir, e vem me abraçar, enquanto estou a um
passo de entrar em desespero com as lágrimas já
descendo. Mãe?
— Não está feliz, né?
Ele pergunta com suavidade, me fitando numa
expressão serena. Nego, sentindo tudo desabar por
dentro. Não é tristeza, é medo, é culpa, é confusão,
é angústia!
— Isso me torna a pior pessoa do mundo, né?
Ele me abraça e eu me aconchego nele, não
evitando as lágrimas incessantes descerem.
— Eu sei que você está com medo. De não
saber trocar a fralda ou de sofrer com o parto. Que lá
no fundo você pensa se vai ser uma boa mãe. Isso
não é ruim, apenas mostra que está preocupada
com o bebê. Saiba que vou estar aqui com você.
Gustavo, sempre carinhoso e compreensivo, diz
baixinho, alisando minhas costas enquanto eu choro
abraçada a ele.
— Eu não tenho capacidade de cuidar de uma
criança!
— Meu primeiro bebê não poderia ter mãe
melhor. Acredite em mim! Estou feliz demais com
isso e preciso muito que também esteja. Eu amo
vocês, farei de tudo para os dois ficarem bem!
Aceno e ele me abraça mais forte beijando
minha testa. Pelo menos agora estou mais calma
com isso.
— Me desculpa por ter ficado distante.
Gustavo continua a alisar meu cabelo até eu
relaxar e decidir encarar tudo, e até tento, na
primeira semana com a novidade. Estou digerindo
melhor a notícia. Alie me achou um pouco para
baixo, até achou que eu estivesse doente e eu a
tranquilizei. Minha rotina se baseou em choro, fome,
sono e cansaço.
Engraçado é Gustavo estar mais atento a mim
do que qualquer coisa. Agora ele pesquisa sobre
gravidez o tempo todo. Vive lendo artigos e depois
vem conversar comigo sobre as curiosidades que viu
e o que eu estava achando. É bonitinho demais de
ver ele me olhando bobo. Tento fingir que não vejo,
mas é impossível não querer beijá-lo. Imagino esse
homem quando formos para a consulta que está
marcada para semana que vem. Ontem me peguei
com a mão na barriga uma vez, aleatoriamente. É
estanho pensar em uma pessoa que está dentro de
você, uma preocupação a mais.
E agora, depois de mais um dia cheio e
turbulento por interrupções para vomitar ou por
tonturas, exatamente às três da manhã não consigo
pregar os olhos de puro nervosismo e ansiedade,
por causa do que vai acontecer pela manhã: contar a
Lizandra. Justo agora, em um momento delicado que
ela está passando, o pensamento de não magoá-la
me consumiu.
A família de Gustavo está em festa. Ele ligou,
chorou e sorriu todas as vezes que dava a notícia a
alguém. Mas meu bolo na garganta não me deixa
dormir. Estou com medo da reação de Lizandra, de
deixá-la mal.
Estou até evitando falar com ela, mesmo
morrendo de saudades, e pelo que sei, ela está bem
irritada com isso, pois ligo para Taís, para ter notícias
dela e não atendo suas ligações. A última vez que
eu falei com ela, eu quase chorei e pedi desculpas.
Guto está sempre do meu lado, me acalmando e
dizendo que não tenho culpa pelo que aconteceu
com ela e eu sinto que tenho sim, nem que seja um
pouco. Talvez se naquele dia, eu fosse mais firme e
a tivesse levado ao médico quando Liz estava
reclamando de dor, nem que fosse pelos cabelos, e
a gente tivesse discutido no dia por causa disso,
evitaria o problema e hoje ela me agradeceria.
— Nat. Acordada a essa hora e sozinha? Não
desacelera mesmo, né? — Gustavo reclama.
Ele aparece na sala com voz de sono e logo
em seguida boceja.
— Estou sem sono. Você me deixou cair no
sono quando cheguei.
— No início da gestação a mulher tem que
descansar bastante.
Ele repete uma das coisas que aprendeu nas
suas pesquisas doidas. Reviro os olhos, gemendo
frustrada quando ele me repreende com o olhar.
Recebo um beijo no topo da cabeça e enlaço minhas
mãos no seu pescoço, quando me carrega para a
cozinha.
— Acho que um leite quente vai te fazer dormir.
— Ele abre os armários.
— Que tipo de leite? — Arqueio as
sobrancelhas.
Gustavo gargalha, negando com a cabeça.
— Que faz com água e açúcar — complementa.
Assinto e o vejo passear pela cozinha com suas
costas largas e corpo gostoso se movimentando, me
entregando uma xícara com leite morno logo após.
— Assistir um filme ajuda? — pergunta
compreensivo.
— Acho que sim.
Gustavo me deixa ir para a sala beber meu leite
enquanto ele busca um lençol gostoso e um
travesseiro. Ligo a televisão, colocando em um filme
qualquer que passa nesses horários e que eu já
assisti mil vezes, enquanto ele arruma o sofá e deita
com a cabeça e costas recostadas no travesseiro e
me chama. Deito de barriga para baixo, porque
ainda consigo, entre suas pernas com a cabeça no
seu peito, deixando nós dois enrolados.
Constato que daqui alguns meses não poderei
mais ficar assim. Ele faz carinho nos meus cabelos
descendo para as minhas costas, me acalmando
completamente. Gustavo é um homem perfeito,
parece que nasceu para ser pai e esposo, mas eu
sinto que não o mereço, porque eu não sei ser a
companheira que ele merece, nem conseguirei ser a
mãe que o bebê precisa.
— Estou com medo da reação de Liz — falo
baixinho. — Magoá-la será inevitável.
— Não precisa ter medo, já falei. Eu entendo
seu receio e insegurança, mas ela é sua irmã, com
certeza vai ficar feliz por você.
— Eu sei... Só que... Poxa! Tenho medo de
machucá-la. Ainda é tudo recente.
Choramingo minhas frustações, ficando de
barriga para cima. Gustavo não me responde, mas
começa a beijar meu queixo.
— Tem que relaxar.
— Estou sem clima — aviso quando vejo sua
intenção.
Ele suspira alto e se cala. Que bicho o mordeu?
22
NATASHA
GUSTAVO
Saio do banheiro após o banho e olho para
Natasha, dormindo serena no meio da cama, de lado
com a mão na barriga, que já está um pouquinho
mais evidente que antes, por mais que ela disfarce
com roupas mais folgadas, mas é quase impossível
descobrir uma barriguinha com mais de três meses.
E eu estou apaixonado por contemplar essa
cena linda assim, em casa. Cada coisinha que faz, a
barriga crescendo, eu me sinto mais realizado e feliz.
Me sinto o homem mais sortudo da face da terra. Um
filho da puta, para falar a verdade.
Algumas pessoas desconfiaram das mudanças
de roupas dela, mas Nat não deu margem para
fofocas. Falando em agência, Amanda, mesmo
sabendo que estou comprometido com Nat, tenta me
seduzir de alguma forma, seja com roupas
apertadas, que não são permitidas, ou com assuntos
nada a ver, para chamar minha atenção.
Continuo mantendo distância, não só porque
Natasha me mataria se me visse de conversa, e
aguentar Natasha e mais os hormônios de gravidez
é o cão, pois tenho amor ao meu saco, mas também
porque não tenho vontade nenhuma desse tipo de
aproximação.
Os dias estão passando bem, ela está tentando
controlar o nervosismo pelo bebê, que cresce
saudável. Quando me contou do bebê eu tive
vontade de carregá-la, gritar e amassá-la nos meus
braços de tanta felicidade que fiquei.
Confesso que no primeiro momento senti medo,
além da felicidade, por ter que cuidar de uma
pessoinha que em breve vai me chamar de pai.
Porra! Mal posso esperar por isso.
Ontem fomos para mais uma consulta e eu me
senti orgulhoso vendo meu bebê. Não teve emoção
maior do que ver seu poderoso coraçãozinho
batendo. Eu me emocionei, e Nat também.
Ainda não sabemos o sexo, na última consulta
não conseguimos, mesmo com os meses bons para
ver, pois estava com as perninhas fechadas. Sem
contar que não poderia escolher mãe melhor para
ela, ou ele. Ou simplesmente, como Nat diz, “a
coisinha”.
Eu mal posso esperar para quando começar a
se mexer. Tenho até pena de acordá-la agora para ir
à agência, pois vive se queixando de cansaço. Mas,
se eu fizer isso, ela com certeza vai arrancar meu
fígado com as unhas.
E falando nesse humor agridoce dela, Natasha
está mais imprevisível e imperativa que nunca. No
mesmo momento que está tendo um ataque de
risos, chora sem motivo algum, ou porque eu estou
sorrindo besta para ela. Confesso que isso me deixa
confuso, e ai de mim se eu não a acalmar com toda
paciência do mundo.
Nesse pouco tempo, mesmo não reparando,
amadureceu um pouco e está preocupadíssima com
o bebê. Além de aprender a controlar o nervosismo,
como me prometeu. Sem contar que já a peguei
alisando a barriga e conversando algumas vezes.
Mas nunca atrapalhei esse momento dela.
— Vem, amor.
A chamo, abraçando por trás e colocando a mão
na barriga. Todos os dias faço isso, pare ver se
mexe, mas nunca dou sorte, ainda não mexeu. Acho
que ainda é cedo.
— Já amanheceu? — questiona com a cara
enterrada no travesseiro.
— Sim. Te deixei até dormir mais um pouco.
Nat boceja de olhos fechado e se vira para mim.
— Está cheiroso.
— Acabei de sair do banho.
— Por que não me chamou para tomar com
você? Agora vou tomar sozinha! — Está manhosa
demais.
— Porque eu sei que não seria só banho.
Levanta!
Desço para beijar sua barriga, que não consigo
parar de admirar. Planto uns beijinhos lá e ela sorri
boba. Como não amar essa mulher?
Seguimos normalmente nossa rotina. Depois
que fui promovido a presidente semana passada, as
coisas para mim mudaram um pouco. Rodrigo já
está trabalhando aqui na agência e as pessoas já o
conhecem e sabem que houve reajuste de cargos.
Eu fiquei como presidente, e Rodrigo, depois de
um tempo, ficou no meu cargo, ainda sendo
monitorado, porque não é bom confiar nele assim,
com uma responsabilidade desse tamanho.
Como eu já vinha estudando e me acostumando
com algumas mudanças, fazendo dois cargos em
um, estou dominando com um pouco mais de
facilidade que ele, que toda hora liga para meu
ramal.
Mas eu ainda estou sob supervisão do meu tio,
que vem aqui checar antes de largar de vez, até eu
pegar os macetes, e treino Rodrigo da mesma forma
que meu tio faz comigo.
Desejo bom dia para a secretária que me auxilia,
eu pedi para continuar com Mércia, pois estou
acostumado com ela.
— Sr. Gustavo, o Sr. Rodrigo está te esperando
na sua sala — me avisa.
— Obrigado.
Sigo para a sala de Rodrigo e dou dois toques
na porta, entrando e o encontrando sentado com as
duas mãos na nuca, a cabeça recostada em um dos
sofás iguais aos que tenho na minha sala, onde Nat
cochila no seu religioso descanso depois do almoço.
— E aí! — chamo a atenção dele, que se vira. —
Queria falar comigo?
— Oi. Quero. Mas na hora do almoço, tudo
bem? Chama Natasha também. — Seu tom sério me
deixa curioso.
— Tá bom então!
Aceno e vou para minha sala, desabotoando o
paletó e o colocando na cadeira, antes de sentar
nela, dando de cara com uma foto de Natasha e
Zeus dormindo juntos e agarrados, em cima da
minha mesa. Sorrio extasiado.
No horário do almoço, Nat sobe como eu pedi e
eu a recebo de braços abertos. Ela senta no meu
colo, sedenta por um beijo.
— Acho que vou passar em casa hoje. Dormir
por lá. — Alisa minha barba. — Estou preocupada
com Liz. Quero passar um tempo com ela, sinto-a
distante de todo mundo.
— Tudo bem. Quer que eu te leve lá?
— Não sei. Pode ser. — Aceno.
Já imagino a miséria que vai ser para dormir
sem ela, já me acostumei com sua presença no meu
apartamento.
NATASHA
— E aí, casal? — Rodrigo aparece, chamando
nossa atenção quando estamos na sala de Guto em
um dos sofás. Ele nos chamou para almoçar e não
entendi nada.
— Oi — Gustavo e eu respondemos juntos.
— Posso conversar com você? — Aponta para
mim.
— Eu? — questiono estranhando.
— É, mas Gustavo fica se quiser, ele vai saber
mesmo. — Dá de ombros.
Rodrigo senta do nosso lado, e percebo que
está tenso. Gustavo me ajeita no seu colo e eu o
encaro, com a curiosidade correndo em mim.
— Então... Queria ajuda para reconquistar sua
irmã.
Olho para ele bem confusa. Reconquistar quem?
— Taís... A gente teve um rolo há alguns anos.
O menino... é meu. A idade dele coincide com o
tempo em que ficamos separados.
Antes de sequer raciocinar, lhe acerto um soco
no seu ombro, que fica incrédulo com minha ação e
Gustavo chama meu nome em alerta, me puxando
de volta, e sacudo minha mão, que dói. Rodrigo
continua estático com a mão no ombro.
— Então você é o babaca que a abandonou
para viajar para não sei que inferno! Você sabe o
que Taís passou quando você foi embora? Ela
descobriu a gravidez no mesmo dia que você
terminou com ela e foi embora! — esbravejo.
— Eu não sabia de filho nenhum... — responde
ele. — E ela nem quer olhar na minha cara, como se
eu tivesse rejeitado a criança.
— Motivos para isso ela tem! Eu não vou te
ajudar em nada! Taís ficou sofrendo um tempão pela
sua viagem e com um bebê na barriga. Agora volta
como se você fosse a vítima? Ah, por favor!
Gustavo ainda me segura. Estamos nós três em
pé. Ele tenta me puxar, mas estou brava demais
para deixá-lo me levar para onde quer.
— O bebê, Nat. O estresse faz mal — Gustavo
tenta me acalmar.
— Quando a gente terminou, eu não sabia de
bebê algum, Natasha. Não me pinte como um idiota
que abandonou uma mulher grávida! — Rodrigo se
altera, levantando.
— Eu não vou te ajudar em nada, já falei.
Procurou a irmã errada. A casamenteira é Lizandra.
— Chega! Natasha! Não! Se você não pensa na
criança que carrega, eu penso! — Gustavo se altera.
Gustavo me arrasta para perto da janela onde
tem um ar gostoso e eu acabo caindo num choro
nervoso. Ele me abraça para que eu me acalme.
— Me desculpa. — Soluço.
— Você está se estressando com um problema
que nem é seu.
— Vou ser uma péssima mãe! — O remorso me
atinge.
— Não vai, mas aprenda a se acalmar. Controlar
o estresse. Você explode muito fácil. Respira
devagar.
Ele pede e eu obedeço, enquanto ele alisa meu
cabelo e recebo um beijo casto no rosto e um
selinho nos lábios. Era só o que me faltava agora.
Rodrigo ser pai de Alan.
Não deixo de ficar chocada e surpresa. Mas, se
depender de mim, ele que conquiste ela com os
próprios méritos, se tiver. Só não quero ver minha
irmã sofrendo de novo por causa dele.
GUSTAVO
De frente para Rodrigo, tento sanar os ânimos
exaltados e conversar sobre o assunto “filho”, para
ele me esclarecer a história direito, já que depois da
discussão não conversamos mais.
Mas acho que ele está tentando falar com Taís.
Porque as irmãs já conversaram entre si. Acho que é
sina, Maldonado ser louco a ponto de correr atrás
pelas Vargas. Sorrio brevemente por isso, mas volto
a atenção para meu primo, que está sério.
— Diga — o incentivo.
— Como você se sentiu quando soube que seria
pai? — pergunta, exasperado e preocupado —
Quando olhei para meu moleque, depois que percebi
que era meu filho, me senti estranho e diferente.
— Hum, eu senti orgulho e me senti eufórico de
saber que vem um meu aí. — Não evito sorrir.
— Está sorrindo do que, seu desgraçado? Da
minha miséria?
— Não e sim. — Rio. — Você está apaixonado
por ela de novo?
Rodrigo revira os olhos e depois me olha sério.
Suspira e eu abro um sorriso. Eu disse, é sina.
— Se eu tiver, não vai adiantar de nada. Ela não
quer olhar na minha cara.
— Você está tentando se aproximar de Taís por
causa da criança ou por que quer algo mais sério
com ela? Ou por fogo, Rodrigo?
Não adianta ele remexer no passado se não
está com intenções claras. Nat me contou sobre o
que a irmã passou quando esse filho da mãe foi
viajar. Ninguém nunca entendeu essas viagens de
Rodrigo. Mesmo com uma vida ganha, tentava
procurar outros meios de se sentir realizado. Já
tentou milhões de faculdades depois da que
concluiu, mas sempre saía nos primeiros semestres.
E acabou optando por viajar para descobrir sua
verdadeira vocação.
Meu tio acha que isso é pura irresponsabilidade
dele para não amadurecer, mas Rodrigo nunca deu
bola e fica viajando sem parar. Até decidir, por fim,
dar mais uma chance para os negócios do pai,
depois de muito esforço para convencê-lo a pousar
aqui novamente.
— Sei lá, cara. Sinto como se... Sei lá, é louco.
Taís me deixa estressado com a frieza, tenho
vontade de mostrar que ainda sou a porra do homem
que ela dizia que amava. E só a suposição de que
realmente não me quer, um pouco sequer, me deixa
angustiado. Eu já vi um homem saindo do
apartamento dela e foi ácido o gosto que ficou na
minha garganta.
— Se lembre que você a deixou para viajar. E
ela estava grávida! — o lembro.
— E você acha que não sei? Se eu soubesse
que ela estava eu não iria. Essas viagens só foram
perda de tempo!
— É aí que está o problema, Rodrigo. Ela acha
que você está a querendo de volta pela criança, e
não por ela. Pois você terminou, lembra?
— Queria me aproximar dos dois, mas não sei
como. Não sei por onde começar. Umas duas vezes
fui à casa de Taís, e fiquei morrendo de vontade de
dizer que sou o pai dele. Queria abraçá-lo.
Olho para ele, que está com uma expressão
cansada e sentida. Imagino a barra que ele deve
estar passando. Descobrir que é pai assim, do nada,
gostar do garoto antes mesmo de saber do laço. E
pior que o menino também gosta dele. E na hora não
poder se aproximar. Eu já teria dado uma de louco.
— Olha para isso, meu moleque é lindão.
Tira o celular do bolso e acende, para eu ver a
foto dele com Taís abraçados e sorrindo numa festa
de aniversário, na tela principal de bloqueio.
— Já está nesse nível, é? — debocho da cara
dele. — Onde achou essa foto?
— Andei stalkeando as Vargas e achei essa foto.
— Ele dá de ombros. Rodrigo é pirado. — E você, é
pai de um macho ou uma boneca?
— Na próxima consulta, vamos tentar ver de
novo.
Ele acena se levantando e, antes de ir, aviso que
tentarei falar com Nat para ver se ela pede para Liz
ajudar.
— Só tenta acalmar ela, por favor, por mais que
eu a tenha perdoado pelo murro no ombro, não
quero outro.
Gargalho em puro deboche da cara dele. Só
Natasha mesmo para sair assim, batendo nos
outros. Volto ao trabalho, dando atenção para as
coisas que preciso administrar, que não são poucas.
Planilhas e mais planilhas, contratos e mais
contratos. Ainda hoje tenho reunião depois do
almoço com uns sócios.
Me assusto pela porta sendo aberta, mostrando
uma Natasha esbaforida.
— Preciso de você!
Fala como se tivesse corrido uma maratona. E
rio, já sabendo do que se trata. O apetite sexual dela
triplicou. Várias vezes já chegou aqui na sala para
dar uma rapidinha e “voltar a trabalhar em paz”,
como ela mesma diz. E não foi só uma vez. É
praticamente todo dia, ela aparece na minha sala
para uma foda rápida, e depois desce suspirando, se
dizendo satisfeita.
— Sou todo seu.
Natasha fecha a porta, girando a chave e
descendo a alça do vestido com urgência, e dou
espaço na cadeira para que monte em mim. Ela
ataca minha boca com ânsia. A apalpo, já ficando
duro de tesão.
Afasto a calcinha e coloco um dedo dentro dela,
que está quente e molhada. Natasha geme baixinho
na minha mão enquanto estou tão duro quanto um
mastro de ferro. Pulsando de vontade de entrar nela.
A sento na ponta da minha mesa com as pernas
abertas e em pé, com a calça nos tornozelos, e entro
nela. Gemo rouco, segurando suas pernas enquanto
Nat geme baixinho, ainda me segurando.
E soco, numa foda rápida e dura, enquanto Nat
delira gemendo manhosa e baixinho, fincando as
unhas nos meus braços, fazendo com que eu vá
ainda mais rápido enquanto aliso seu botãozinho
inchado.
— Continua assim.
Nat pede enterrando o rosto no meu pescoço,
enquanto morde meu ombro, como sempre faz. Aos
poucos sinto ela se desmanchar com pequenas
tremedeiras e eu a aperto pela cintura, com cuidado,
sempre, liberando minha porra dentro dela.
Suspiro ofegante, assim como Nat, ainda no
meu pescoço suspirando.
— Será que vai ser assim a gravidez toda? Não
que eu esteja reclamando.
— Esse bebê vai me deixar maluca!
Ela se recompõe com sorriso frouxo, numa vibe
bem calma.
— Obrigada por isso.
Me dá um selinho demorado e vai em direção à
porta para voltar ao trabalho. Confesso que estou
amando esse apetite sexual elevado de Natasha. E
espero que continue até o final!
24
NATASHA
Sigo com Gustavo pra um restaurante para
almoçar com Rodrigo, que está nos esperando lá.
Confesso que estou sentindo um pouco de remorso
pelo soco, por mais que ele mereça. E então aceitei,
pois devo um pedido de desculpas a ele.
Mas, das minhas duas irmãs, a que mais está
me preocupando no momento é Lizandra, que não
está agindo como antes, mesmo voltando à sua
rotina normal. Venho percebendo-a afastada e se
desinteressando por tudo. E eu me culpo um pouco,
por não ter mais tanto tempo para ficarmos
grudadinhas como antes, embora ela nunca me
cobre.
Estar grávida toma muito meu tempo, apesar de
estar curtindo a fase e relevando os poucos enjoos.
Meu bebê é a coisa mais linda que existe, mesmo
que eu ainda não o tenha visto. Mal posso esperar
para comprar as coisinhas dele ou dela, apesar de já
ter ganhado algumas coisinhas de Liz e Alie, que
será mamãe de gêmeos, acreditam? E dos pais de
Gustavo, que mandaram uns presentinhos fofos.
Estamos em expectativa para saber o sexo, mas
não quero assumir um lado. Sinceramente? Para
mim tanto faz, e por isso a gente não parou para
escolher nome.
Gustavo chegou a falar que queria que viessem
dois logo, como com Alexia, e eu quase morro
engasgada. Mas fiz questão de mostrar a ele, na foto
do ultrassom que ele guarda na carteira, que é
apenas um. E ainda bem!
Meu corpo teve algumas mudanças singelas e
totalmente normais para a gravidez. As pessoas do
prédio já desconfiaram, mas deixei rolar, não
confirmei nem neguei nada, não é da conta deles.
Quem eu queria que soubesse já sabe.
Chegamos e eu cumprimento Rodrigo
rapidamente, encarando o homem de olhos claros e
cansados na minha frente. Pelo menos ele não
guardou mágoa pelo meu surto.
Eu não irei me meter nisso, mas espero que não
esteja brincando novamente com minha irmã; chegar
assim do nada, agitar a vida dela e depois ir embora.
E dessa vez não é só Taís que ele vai deixar para
trás, caso renuncie à responsabilidade que ele
precisa ter.
Se eu vir que ele realmente quer ela de volta, eu
posso até dar uma ajudinha, mas ele que faça o
resto. Se Taís não aceitá-lo, já não é mais comigo.
Só quero que minha irmã siga a vida dela feliz,
assim como Alan, que merece saber que tem um
pai, tadinho. Meu lado materno morre de pena disso.
Gustavo ficou intermediando mais ou menos o
que Rodrigo e eu achávamos de tudo. Ele acabou
me contando que quer sim voltar para minha irmã e
tentar algo sério. Fiquei surpresa pela confissão e
deixei-o seguir adiante com o que sente. Pelo que
me parece, Taís o nocauteou sem levantar um dedo.
— Rodrigo, quero te pedir desculpas.
— Não se preocupa com isso. Te entendo
perfeitamente.
— Entende? — Fico surpresa.
— Entendo. Se fosse com minha irmã, eu
também faria isso, mas seria mais de um soco no
sujeito.
Ele ri brevemente e eu rio também, com
Gustavo.
— Então posso te bater mais? Nas minhas
contas foi apenas um — sugiro.
— Você é do mal. Sua mão é pesada!
Ele coloca a mão no ombro teatralmente ao
lembrar a dor.
— Não brinque com minha irmã, Rodrigo. Estou
falando sério agora. O que você recebeu, tem mais,
esperando apenas seu primeiro vacilo — o ameaço.
— Nossa! Gustavo está fodido. Eu vou andar na
linha. Não se preocupe.
Nosso almoço transcorreu agradavelmente e
logo voltamos para a agência. Mal posso esperar
para deitar com as pernas elevadas. Mas quando
cheguei, corri para o banheiro para vomitar. Tinha
que ser cria de Gustavo!
Volto para a pia do banheiro, ainda me sentindo
tonta. A pior parte da gravidez é isso. Essas
vertigens, cólica, gosto de metal na boca e enjoo.
— Então é verdade o boato de que está grávida.
Me viro, respirando com dificuldade, para dar de
cara com a vagabunda da Amanda, batendo palmas
em deboche.
— Que feio, Natasha. Isso tudo é para ser
sustentada? Ou é medo de concorrência? E quis
logo amarrar ele. Tenho que admitir, isso foi um
golpe de mestre — continua a jorrar veneno num
falso tom de admiração.
— A concorrência seria você? — Rio sarcástica.
— Não tenho medo de você. Se eu tivesse medo de
cobra não sentava em uma.
Me viro, segurando no mármore da pia como
apoio.
— Vai me subestimando, Natasha, mas saiba
que nem você e nem essa criança catarrenta aí vão
ficar no meu caminho. E não se preocupe, eu
cuidarei direitinho do meu enteado, ou enteada,
quando for visitar o pai. Isso se for de Gustavo,
claro.
Meu sangue ferve de ódio, como nunca senti
antes, e com toda força que sinto no momento, solto
na cara dela um tapa de mão aberta que até estalou
e a fez virar o rosto.
— Nunca mais, Amanda, escute bem, nunca
mais fale assim do meu bebê. A menos que queira
que eu arregace sua cara, e nem essa agência
inteira vai conseguir me tirar de cima de você.
Vocifero com o dedo em riste no rosto dela, que
me olha assustada, perdendo a compostura de
deboche.
— Vai se arrepender, Natasha. Vai tirando onda
de dona disso aqui. — Se recompõe, temerosa,
mantendo distância.
— Veneno de cobra do seu tipo, para mim é
suco!
— Ainda vou te mostrar onde é seu lugar!
Não dou ouvidos a ela. Respiro fundo
começando a tremer de nervoso. Fecho os olhos
para controlar a respiração. Merda! Não posso me
estressar, eu prometi a Gustavo e a mim mesma que
faria uma gravidez calma, mas nada colabora para
isso.
Escuto a voz de Alexia me chamando. Ela logo
surge no banheiro, medindo Amanda de cima a
baixo, mas vem na minha direção me amparar e logo
me segura para sair de lá.
— Você não tem o que fazer não? E, ó, limpa o
veneno da boca, está escorrendo — escuto Alexia
falar, inconformada com Amanda enquanto me
arrasta.
Confesso que se não tivesse me sentindo um
pouco tonta, com certeza gargalharia da atitude de
Alexia me defendendo.
— Tome, sis. Respira fundo.
Alexia me entrega um copo com água e se senta
ao lado da cadeira onde estou. Pego o copo e bebo,
me acalmando um pouco depois de agradecer.
— Quer que eu peça para chamar Gustavo? Ou
te levar lá em cima?
— Não precisa. Isso sempre foi entre mim e ela.
— O que ela fez para te deixar nervosa desse
jeito? — questiona preocupada.
— Ela falou mal do meu bebê, Ali.
Digo chorosa, me sentindo magoada.
— Oh, meu Deus!
Ali me abraça e limpa minhas lágrimas em meio
a um sorriso.
— Você vai ser uma mãe incrível, sis. Estou
morrendo de orgulho de você.
Alexia me abraça de novo até me acalmar e
voltarmos para o trabalho. Subiram dois briefing e
descemos um raf. Pelo menos de trabalho não
posso reclamar.
O expediente acaba e Gustavo me leva até em
casa, e a encontro toda escura. Mesmo nesse
horário, Lizandra já deveria estar em casa. Beijo
Gustavo, que está com cara de cachorrinho, e desço
do carro depois dele falar que é para eu comer
direito.
Entro com minhas chaves e não vejo ninguém
na sala. Mas a encontro no próprio quarto, ajoelhada
na cama, debruçada na janela e olhando a rua. Ela
se vira assustada quando acendo as luzes.
— Está fazendo o que aqui sozinha no escuro?
— Nada de mais. Só vendo as pessoas mesmo.
Qual o milagre por aqui?
— Vim ficar com você. — Adentro mais no
cômodo.
Liz abre um sorriso grande e vem na minha
direção para mexer na minha barriga.
— Está crescendo muito rápido — comenta.
— Também estou achando.
A arrasto para sala e peço pizza para
comermos. Antes que reclamem, é desejo de
grávida. E, ao adentrar no meu quarto, percebo que
meu armário não tem quase nada meu, porque já
levei para a casa de Guto. Estou fazendo a mudança
aos poucos, toda vez que venho aqui eu levo
algumas coisas. Estar grávida é cansativo.
Liz me chama quando a pizza chega e ela
mesma escolhe um filme para assistirmos.
— Sis, você quer conversar? — ofereço.
— Sobre o quê? Não tenho nada para falar —
ela responde na defensiva.
— Poxa, Liz, a gente sempre contou as coisas
uma para a outra. Você está agindo diferente e não é
de agora. Vive trancada dentro do quarto —
comento.
— Você não para com essa mania de eu estar
diferente — rebate sem paciência.
— Então você assume que está diferente. Você
nunca foi assim, para de fugir!
— Natasha, para de dar uma de mãe para cima
de mim, tá? Eu já sou maior de idade há muito
tempo. Dê uma de mãe quando seu bebê nascer.
Irritada, levanta em passos duros até seu quarto
e escuto a porta bater. Dizem que eu sou geniosa,
mas é porque nunca moraram com Lizandra, ela
consegue ser pior que eu nos quesitos sangue
quente e teimosia.
Mas ela que me aguarde. Liz que não pense que
vou esquecer esse assunto, ela vai me dizer tudinho!
TAÍS
— Está terminando comigo?
— Estou. Mas não se sinta mal, eu realmente preciso ir. — Tenta me explicar pela
milésima vez.
— Não vai, amor. Por favor. — Mal aguento minhas lágrimas.
Eu estou gravida de você! não vai!
Ele vem na minha direção e segura no meu rosto, me fazendo olhar para ele. Dou
de cara com os olhos azuis maravilhosos que me encantou desde o primeiro
dia. Inflamam por mim não importa a situação.
Rodrigo me aperta mais contra seu corpo enquanto retribuo o máximo que
consigo. Tentando o convencer pela milésima vez a não me deixar.
— Eu preciso ir. Sou como um pássaro, preciso estar sempre voando. Tenho
o espírito livre, Tá. — Diz baixo.
— Você disse que me amava.
— Eu amo, vem comigo então.
— Eu não posso, tem a facul...Fica! — O abraço chorando.
— Uma parte de mim ficará com você, prometo. Você não quer ir comigo e eu não
posso ficar. A melhor solução é essa.
Realmente, ficará uma parte sua comigo. Eu poderia dizer que acabei de
descobrir que estou grávida dele. Mas se ele rejeitar o bebê não vou conseguir
superar isso, não tem como parar suas ideias de viajar. Desde que nos
conhecemos ele me alertou sobre suas viagens e possível partida. Eu quem
achava que Rodrigo seria superável. Não esperava me apaixonar tão
perdidamente por ele a ponto de ama-lo como nunca antes.
Eu sabia que isso poderia acabar como estou agora, arrasada. Mas não pude
evitar. Rodrigo é urgente demais que acabo passando por cima do meu bom
senso na maioria das vezes.
— Eu prometo que venho aqui quando puder.
— Não! Quer ir? Vai! Mas não volta. Se for agora vai ser para esquecer tudo
quando passar dessa porta. Se eu não sou o suficiente para fazer ficar, não quero
suas migalhas.
Decido, me separando do seu corpo, magoada.
— Taís...
Tenta me puxar pelo braço, mas me esquivo.
— Quer saber? Eu que não quero mais que fique. Seja feliz, Rodrigo, e ache o
que quer que seja que você tanto procura viajando. — Vocifero.
— Tenta entender Taís.
— Não! Não terminou comigo? Pronto! Agora só me esquece que farei o mesmo.
Vou em direção a porta do quarto que ele está hospedado. Viajantezinho de
merda! Bato a porta o deixando para trás, não evitando as lágrimas ainda
mais. Escuto ele berrar meu nome, mas estou descendo as escadas o mais
rápido que consigo. Não vou conseguir mais olhar para cara dele novamente sem
me desmanchar em lágrimas.
E agora vai criar um bebê sem pai com a merda da faculdade para administrar,
ainda por cima. Burra!! Taís você é uma burra! Burra!
Chego em casa, sem me importar se fiz o caminho chorando para quem quiser
ver. Foda-se tudo.
— Taís. O que aconteceu? —Minha mãe pergunta preocupada.
— Quero ficar sozinha.
Passo direito indo em direção ao quarto, que hoje é só meu. Depois que minhas
irmãs se mudaram para morarem juntas eu fiquei sozinha nele. As vezes isso é
bom e as vezes isso é ruim, pois sinto falta da presença delas, mesmo não
falando muito comigo.
Eu deveria estar acostumada com rejeições, já que minhas irmãs fizeram isso
comigo. Eu sou uma idiota! Sempre sou deixada de lado, por todas as pessoas ao
meu redor. Idiota!
Além de idiota é burra, por ter se apaixonado por um viajante qualquer. Idiota Tais,
você é uma idiota!
Choro compulsivamente jogada na cama. Viro de barriga para cima e coloco a
mão em cima dela, satisfeita com minha decisão de não o contar sobre a
gravidez. É melhor ele não saber do que rejeitar a criança e isso eu não
aguentaria, olhar para meu bebê e saber que foi rejeitado, como eu fui.
— Agora é eu e você, bebê. — Digo baixo ainda chorosa. — E não me abandona
também.
Rodrigo é um idiota! E o odeio! Na verdade, me odeio. Por ama-lo e agora estou
me sentindo um lixo sem ninguém por perto para desabafar. Em um acesso de
louca ligo para Lizandra, minha irmã do meio.
Taís? — Atende confusa.
Caio no choro compulsivo de novo e ela volta a chamar meu nome e perguntando
o que aconteceu.
Estou grávida! — Berro chorando.
Grávida Taís?
Ela berra do outro lado e escuto Natasha, minha irmã mais nova falar algo do
outro lado.
Sim. Estou desesperada.
Já falou para mamãe?
Natasha fala, pelo jeito Lizandra colocou na viva voz.
Não! Estou com medo.
E seu namorado? Falou com ele? Se acalma. — Responde.
Volto a chorar e escuto ela resmungar ''aí merda'' e Liz rebater com um ''fica
quieta''
Ele terminou porque queria viajar.
Que filho da puta! Não quis o bebê? — Liz quem diz.
Não! ele não soube, não contei.
Taís... E agora?
Não sei, Liz. Tem como você vim aqui amanhã? Por favor, estou com medo de
falar sozinha. — Suplico.
Acho que dá. Mas só consigo depois do trabalho.
O importante é vim. Eu realmente preciso. — Suplico.
A gente vai. Só se acalma, por favor. — Natasha responde.
Agradeço e desligo. Por mais que minhas irmãs não morram de amores por mim,
quando eu preciso elas sempre me amparam. E eu agradeço muito por isso. Só
espero que meus pais não briguem tanto comigo, pois de alguma forma eu quero
essa criança, não teria coragem de não o ter. É estranho, mas eu o amo, mesmo
sabendo que ainda é uma bolinha de sangue.
Vou ama-lo e cuida-lo, minha única prioridade da vida. Rodrigo a partir de hoje vai
ser passado, e não quero vê-lo nem pintado de ouro!
PRIMEIRO
Não! Isso não pode estar acontecendo.
Taís pensa com o coração batendo violentamente o vendo novamente depois de
tantos anos. Tanta pessoa no mundo e tinha que se parar justo frente a frente com
ele?
Qual a probabilidade de sua irmã mais nova, depois de mil anos, namorar
justamente com o primo do seu ex e pai do seu filho?
Rodrigo pensa mesma coisa, porém não consegue disfarçar, o encanto, ao
perceber o choque de como aquela jovem mulher que já era linda, sempre foi,
virou esse mulherão de parar o trânsito.
Os corações dos dois bateram acelerados, porém, Taís, continua não querendo
vê-lo nem pintado de ouro. E por isso continua séria, mesmo descompassada e
Rodrigo só tenta entender o porquê de estar tão nervoso a vendo novamente.
Eles foram praticamente obrigados a se cumprimentarem, mas ela não quis
quebrar a distância, e só pensou que o filho, está mais próximo que o pai e não
sabe e isso a desespera. Enquanto Rodrigo se sentia mal, ao notar a indiferença
e o repúdio de Taís ao vê-lo.
Mesmo depois do término precoce, posto por ele mesmo, ficou tentado a ficar, por
ela, mas sentia que precisava procurar o que tanto lhe faltava, era agonizante não
se sentir completo, no qual sente-se assim até hoje.
Mas vê-la diferente e ainda mais linda, fez algo dentro de si acender, numa
necessidade enorme de falar com ela, perguntar sobre como tem passado todos
esses anos com sua partida...e se ainda pensava nele de alguma forma. Qualquer
coisa, apenas para escutar sua voz...
Mas Taís só quer distância querendo ficar o mais longe que conseguisse, em vê-lo
tão mais viril e charmoso a olhando descaradamente, mesmo com o coração
acelerando sem a sua permissão. E acelerou ainda mais, nervoso, quando
percebeu que os olhos dele caírem diretamente na criança ao seu lado.
E quem o conhecesse, saberia que aquela criança era seu filho, porque ele
prometeu que uma parte dele ficaria, mas não saberia que se tornaria presente
nos traços tão acentuados do seu filho, nos gestos pequenos e quase
imperceptíveis. Mas para seu alívio, Rodrigo não o reconheceu como filho,
apenas adorou a criança, e percebeu desajustado e surpreso que era filho de
Taís. Mas dela e de quem? Será que casou? O pensamento lhe causa aflição.
Ela segue para fora do grupo social para pensar um pouco. Se sente mal com
tudo isso. De privar seu filho, que está brincando alegremente com Zeus, o
cachorro da irmã mais nova, de saber que o casal de senhores que se viu
totalmente apaixonados pelo garoto, era de fato seus avós. E se sentiu trêmula,
ao ver que ele conversava alegremente justamente com Lizandra, sua irmã.
Ele parece tão à vontade.... Sem se importar com minha presença. Acho que sou
a única trouxa que sente alguma coisa com a presença dele, mesmo que seja
incomodo.
Enquanto ela pensa isso, revoltada, sentindo sufocada que precisava pensar um
pouco, Rodrigo sente o mesmo, por ela ter o ignorado, agido tão friamente. E
pensou, que talvez, Lizandra pudesse ser uma pequena ponte, para saber mais
sobre como está a vida dela e descobriu, que para seu alívio incompreendido, não
era casada.
E quando decidiu conversar com ela, não a encontrou, só viu seu vulto entrar na
casa, e ele segue logo atrás, mesmo sem ela perceber até o banheiro, e espera
ela abrir novamente a porta para empurrar em seguida lá dentro de novo. Ficando
no mesmo cômodo sozinhos.
— Me solta! — Pede assustada.
— Taís...
Ao mesmo momento que a chama, o coração dela acelera. E pensa que talvez se
ignorá-lo, ele vai embora a esquecendo de novo, como no passado.
— O que você está fazendo?
— Quer conversar com você.
Pelo menos essa era a ideia inicial dele.
— Conversar sobre o que? — Berra.
Taís tenta controlar o coração acelerado por ele estar próximo demais dela, e por
estarem sozinhos. Mas o medo dele saber que é Alan é seu filho, e querer fazer
parte da vida dele, assim como querer a guarda compartilhada a assombra. Ele
não sabia o que queria conversar, só que queria chegar perto dela, de alguma
forma, porque seu corpo pedia isso, que se aproximassem e tentar pelo menos
uma conversa amigável.
Mas ver ela, totalmente brava com os braços cruzados, e cara amarrada deu uma
vontade enorme nele de querer beija-la.
E assim o fez.
A pegou nos braços, colocando seus corpos ao mesmo tempo que atacou sua
boca. No primeiro momento ela tentou sair, mas depois se rendeu um pouco
assustada, sentindo o gosto do beijo do homem que o fazia sentir sensações
loucas.
Ele logo desceu suas mãos tateando o corpo mais acentuado da única mulher
que foi capaz de se permitir e assumir que ama. Rodrigo a coloca sentada na pia
enquanto ainda beija de forma urgente, assim como ela que o aperta como pode.
Aos poucos ambos foi se entregando no momento.
Como sempre, Rodrigo sempre foi muito urgente para Taís, que não conseguia ter
bom senso perto dele, sempre acabava, nos seus braços.
Depois do momento de entrega, onde depois Taís correu desesperada por ter
transado com ele de novo e se sentido horrível, pois prometeu que não o queria
vê-lo e no mesmo dia que o vê acaba se rendendo e transando. Tentando pro a
cabeça no lugar, ao lado da irmã, como se Liz fosse seu forte, afinal, ele não seria
cara de pau ao ponto de aborda-la novamente, seria?
E pensou certo, Rodrigo depois de ter sigo largado, confuso e sem conseguir
dizer o que nem ele sabe o que quer dizer, tentou se aproximar dela de novo, mas
não obteve sucesso.
Só ficaram próximos de novo quando o jantar foi servido. Mas ela logo o despistou
ficando com o filho. E ele se sentiu um pouco esquisito e diferente, quando no
final da noite, a viu com o moleque adormecido no seu colo e ela abraçada a ele o
observando dormir com um sorriso bobo e materno.
Que diria que Taís ia ser mãe....
Depois de se despedir da família, que por um acaso é do seu filho também, foi
embora para casa das irmãs, ficar sozinha um pouco para pensar e quem sabe,
dormir.
Deitada observando o filho sereno adormecido, percebeu que Alan parecia com
Rodrigo de fato, hoje mais do que nunca, a ponto de estranhar que ninguém
percebeu nenhuma semelhança sequer.
E uma noite que deveria ser legal, acabou virando uma confusão, pelo menos
para ela, trazendo à tona coisas que não queria, enquanto ele, ainda na festa, não
sentia mais vontade de ficar nem socializar. Apenas remoer seus sentimentos ao
reencontra-la.
SEGUNDO
— Mãe, estou pronto. — Alan chega saltitando com a mochila nas costas.
— Pegou tudo?
— Aham.
Sorri para ela, que retribui com todo amor. Olha para o menino que tem os
mesmos grandes olhos azuis do pai e o cabelo escuros. As pessoas geralmente
acham que os olhos é dela, por ser da mesma cor, mas o dela, nem de longe é
tão reluzente quando o deles.
Ainda está surpresa e aliviado por ninguém ter desconfiado desde os dois dias
que esteve perto.
Falando nessa data, vê-lo mais uma vez, foi tão...ou mais estranho e
desesperador. A família toda de Rodrigo paparicando o menino e dando toda
atenção do mundo foi bonito, porém sufocante. Sem falar em Rodrigo, com Alan,
jogados no chão brincando alheio a tudo no dia seguinte do jantar, foi ainda pior.
Era nítido a rápida amizade dos dois, em uma tarde. E se sentiu mal, em privar o
filho de saber que está brincado com o próprio pai sob olhares sério do avô
paterno.
E foi por isso, por não aguentar aquele núcleo todo família, pois não basta
Rodrigo a encarando sempre quando tinha oportunidade, que saiu com o menino
mais cedo, para tomar sorvete.
Alan até perguntou algumas vezes sobre o pai, mas sabe que esse é um assunto
que a mãe não gosta de falar de forma alguma. Sempre responde com grosseria,
sem querer, pela insistência do menino e sentindo-se mal logo depois, ou incapaz
de verbalizar uma resposta sem lembrar tudo o que aconteceu sem querer cair no
choro, ou ficar envergonhada, em não saber de fato onde pai estava ou
simplesmente contar o que aconteceu e o menino se sentir mal de alguma forma.
Mas agora sabe...
Mesmo assim, ainda quer que as coisas continuem como estão. Não sente
preparada para contar que os dois são pai e filho, pois sente medo de Rodrigo
querer tirar seu único companheiro de vida, ao querer pedir a guarda
compartilhada, ou total. Uma vez que além dele ser o pai, tem como dá uma vida
muito melhor que ela ao menino.
Taís ainda não entende o porquê de ele ter voltado e ficar no seu enlaço. E não
consegue parar de pensar, mesmo não admitindo, que a transa que tiveram no
banheiro, mostrou que ele consegue mexer com ela, mas do que queria.
Eu deveria odiá-lo, mas por que diabos eu tenho vontade de beija-lo mais uma
vez?
E não deveria, justo agora que estava se permitindo a gostar de alguém outra vez.
Conheceu o Hugo a pouco tempo, ele se mostrou interessado nela desde que a
conheceu e ela receosa, achou que finalmente era a hora de se permitir sair de
um celibato sem fundamentos. Justamente quando Rodrigo voltou e a tomou para
si como se não tivesse quase dez anos que não se viam.
Você não deveria pensar nele, Taís. Ele te abandonou e não quis mais nada com
você, lembra? Se questiona indignada e se censura enquanto anda pelo bairro, no
caminho do colégio onde Alan estuda.
— Mãe, será que tio Rodrigo vai trazer mesmo meu tablet que me prometeu?
Pergunta, assustando a mãe, a tirando dos seus devaneios.
— Esquece ele, Alan.
O menino acena concordando fazendo ela ficar um pouco mal pela grosseria sem
motivos. Foi grossa, tentando acalmar o coração acelerado a menção do nome da
pessoa que está a assombrando desde o fatídico jantar mês passado.
E percebe que ele fez com o filho exatamente o que fez com ela. O encantou com
seu jeito cativante e o deixou na deriva, numa esperança de vê-lo mais uma vez.
Do outro lado, Rodrigo estava pensativo jogado na cama, do quarto da casa dos
pais, pois ainda não comprou sua própria residência, se questiona se realmente
Alan era seu filho e afinal, o que sentia por Taís.
Ele a queria de volta, isso é fato. Tentou argumentar que só queria conversar, mas
vê-la tão perto e tão longe o fez sentir mal. E agora percebe. Ainda se sente
atraído e apaixonado pela desgraçada que o ignorou de verdade no reencontro.
Sobre o fato da paternidade, desde o pai comentou inocente com a mãe e ele
ouviu, sobre a similaridade dos dois, logo depois que Taís desceu com o garoto
para rua, que pensa nisso. Mas até onde ele sabia, Taís não estava grávida dele,
ou estava e não sabia?
Ainda se sentia estranhamente ansioso e nervoso em pensar nisso. Filho? Seria
mesmo ele filho dele?
Estranhamente gosta da notícia de ser pai, do moleque que adorou desde o
primeiro contato, e percebe que é reciproco, pois, o menino também gostou dele,
desde o primeiro momento. Aos poucos começa a encaixar as peças do quebra
cabeça que estava desmontado na sua cabeça. Depois de uma rápida conta,
depois que perguntou o garoto a idade dele, onde as contas assustadoramente
batem com o tempo que estão separados, ao menos que ela tenha entrado em
outro relacionamento logo em seguida que terminou com ele e acabou
engravidando. E se não, ao menos que ela descobrisse quando fosse embora.
Mas e agora? Porque não contou?
Mas tudo apontando que seja, Tais não seria capaz de esconder a paternidade
dele. Ou seria?
Precisava tirar essa história a limpo. Depois de ter prometido um ipad para o
garoto, para assim ter um motivo para vê-lo de novo. Pois quando Taís decidiu
descer com o menino, para irem embora, ele se sentiu estranho e com vontade de
ir atrás e tentar uma nova aproximação.
Levanta da cama com um gás a mais e corre para tomar banho e se arrumar, para
pelo menos tentar encontrar com ela e o garoto, na frente da sua escola, pois não
se contentou e perguntou ao garoto onde estudava, que não ofereceu resistência
alguma em contar em uma das conversas dos dois.
Arrumou-se o mais rápido que conseguia, disposto a colocar tudo nos eixos. Pega
o carro, sem tomar café, ainda precisava falar com uma das irmãs de Tais, para
ajuda-lo e dá pelo menos o endereço.
Precisava começar de alguma forma. Pois só sabia onde ele estudava e não
podia perguntar isso ao garoto.
Estaciona o carro na frente do colégio, do outro lado da rua ao ponto de ver ele
acenando para Taís e entrando, enquanto sorria abertamente retribuindo. Rodrigo
ver o sorriso da criança enquanto andava no meio da multidão de mini-
estudantes e não consegue em sorrir também.
Sentiu se orgulhoso ao ver o menino pela primeira vez, e não teve dúvidas, é sim
seu filho. O coração nunca se engana. E o dele, que está acelerado, mostra isso.
Precisa conversar com Tais, e tentar uma aproximação de qualquer jeito. Ela se
vira disposta a ir trabalhar, e dá de cara com ele. Não conseguiu controlar o
coração que acelerou. Até quando vai se sentir assim?
Questiona a si própria, o vendo, lindo na roupa social e óculos escuros. Sério e
imponente para ela.
O desgraçado tinha que ter ficado mais bonito? Tenta ignora-lo de qualquer forma
andando em direção ao caminho.
— Taís, a gente precisa conversar.
— Não precisamos. Tudo foi dito a milhões de anos atrás.
Chega mais perto dela a deixando totalmente desnorteada e com o coração ainda
mais acelerado, porém o dele não estava diferente.
— Me escuta...eu quero você de volta. Vai dizer que também não sente nada por
mim?
Pergunta a deixando sem voz, tanto pela aproximação, tanto pelo
questionamento. Ele não deveria ter dito isso, não deveria.
— Isso não é hora e nem lugar para falar sobre isso.
Se esquiva tentando sair de perto dele, que logo a segura de novo a fazendo
parar.
— Me diz onde é sua casa então. Vamos conversar.
— Rodrigo, eu estou atrasada. Não estou afim de brigar. Poderia por favor voltar
para o buraco que saiu?
Pela primeira vez ela o olha. Olho a olho. É nítido a mágoa de Taís, por ter sido
trocada pela viagem enquanto vocifera. E ele percebeu isso, e sentiu-se mil vezes
pior por aquilo.
Mas Taís só queria fugir dele, além de sentir-se sufocada pela presença, sente
medo que com essa aproximação e insistência, descubra que Alan é seu filho.
Isso ainda assombra de todo o jeito. Ele não pode tirar ele dela, não pode!
Segue o caminho em passos rápidos rezando para que não venha atrás. Ele a
olha se distanciar, pois, sabe que se forçar a barra vai ser pior. Volta para o carro
puto da vida esmurrando o volante.
Merda Taís! Quando ela está assim é pior que tudo. Teimosa feito a peste.
Segue para o trabalho pensando em como aborda-la novamente, porque desistir
não está nos seus planos!
Os dias passaram, tentou conversar com ela outras duas vezes, mas o ignorou
com maestria, inclusive fingiu que não o conhecia, e acabaram discutindo, mas
pelo menos ele não desistiu e a seguiu, até descobrir onde mora. E da última vez
até tentou ser romântico, mas não deu muito certo.
Sentiu como se uma faca tivesse fincada no seu peito, ao vê-la saindo sorridente
de casa com o filho e acompanhada de um homem numa alegria ímpar. Chegou
no exato momento que o homem lhe abraçava apertado, como se fosse sua,
numa audácia de pôr o focinho no pescoço dela. Mas a irmã disse que ela não era
casada! Quem era o sujeito?
Sabia que estava irritada com ele e que não queria vê-lo mais, quando
terminaram, pois, mesmo disse, mas não sabia que era tanto. De um lado sentia
que merecia essa frieza, por ter a abandonado grávida, a trocando, mesmo não
sabendo da existência da criança, mas por outro se questionava o porquê te ser
tão...fria e desinteressada dele e o que ele tinha para falar. E afinal, quem era o
homem que estava ali onde era ele quem deveria estar?
Perdido, também viu mais duas vezes o garoto entrar no colégio e sentiu vontade
de despedir dele e dizer que era o pai. E até chorou um pouco, sozinho, sentindo
um aperto no peito em não poder chegar perto. Tinha que se aproximar de alguma
forma, e pensou em Natasha. A mulher do seu primo, e irmã dela.
E hoje seria a melhor oportunidade de convocar ajuda e acabar com aquela
tortura. Desbloqueia o celular e fita a tela, enquanto está debruçado na janela,
vendo a foto de mãe e filho sorridentes num aniversário, que apareceu de
background do próprio aparelho.
Uma foto que achou stalkeando as duas irmãs de Taís, em redes socais. Não
evita sorrir também, olhando os dois abraçados e sorrindo, um sorriso orgulhoso
no rosto percebendo que o menino tem mais dele do que dela, um Maldonado
legítimo. Como não percebeu antes essa semelhança toda?
Agora entende a conexão repentina dos dois. Eles se reconheceram, mesmo não
sabendo o que eram.
Saí da janela e volta para sala que agora trabalha, na empresa do pai, vendo que
já são quase o horário do almoço, e ele combinou de fazer a refeição com ambos
para que pudessem conversar e um pouco nervoso, saiu da sua sala, disposto a
contar tudo a ela e a Gustavo, sobre Taís e Alan.
Ainda está receoso com tudo.
Sabe que Natasha pode não gostar muito de saber, ou se sabe, não vai ajudar.
Mas não custa tentar, com certeza ela verá a situação e ajudará. Pelo menos é o
que espera enquanto chega na porta, encontrando sentados juntos na sala dele.
Os dois descobriram que ela está gravida recentemente. E não deixa de ficar feliz
pelo primo, um sonho que tanto quis, finalmente se realizou. Pelo menos tem
alguém feliz, e perto da cria.
— E aí, casal? — Tenta de alguma forma chamar atenção, sem saber como
começar a explicar.
— Oi. — Respondem juntos.
— Posso conversar com você?
Direciona a palavra a loira do seu primo. Por isso quando conheceu achou que a
via de algum lugar, mas era só alguns traços que a fazia lembrar brevemente a
irmã mais velha.
— Eu? — Natasha estranha.
— É., Mas Gustavo fica se quiser, ele vai saber mesmo. — Dá de ombros.
Rodrigo senta do lado, ainda se sentindo muito tenso.
— Então. Queria ajuda para reconquistar sua irmã. — A careta confusa que
Natasha faz, faz com que ele complemente. — Taís... A gente teve um rolo a
alguns anos atrás, o menino...é meu. Ele tem mais ou menos a idade que ficamos
separados.
Antes de respirar sem saber se era uma boa ideia, sentiu um soco no ombro,
quase no queixo, o deixando surpreso por ter sido Natasha. Como uma pessoa
daquele tamanho tem uma mão tão pesada?
Rodrigo continua, estático com a mão no rosto olhando para Natasha possessa e
o primo tentando segurar a pequena fera que tenta avançar de novo de qualquer
forma.
— Então é o babaca que a abandonou para viajar para não sei que inferno. Você
sabe o que Taís passou quando você foi embora? Ela descobriu a gravidez no
mesmo dia que você terminou com ela e foi embora! — esbraveja enraivecida.
— Eu não sabia de filho nenhum... E ela nem quer olhar na minha cara, como se
eu tivesse rejeitado a criança. — Tenta se explicar a qualquer custo a irmã da mãe
do seu filho.
— Motivos para isso ela tem! Eu não vou te ajudar em nada! Taís ficou sofrendo
um tempão pela sua viagem e com um bebê na barriga. Agora volta como se
fosse a vítima? Ah por favor!
Pelo jeito grosseria e teimosia é característica de família, além dos olhos claros e
cabelos loiros. Rodrigo sente-se surpreso, culpado e triste, em saber que
descobriu a gravidez no mesmo dia do término, isso o faz sentir uma pessoa
horrível.
Agora entende toda a frieza dela com ele, no momento que a deixou para viajar,
de alguma forma, também rejeitou a criança. O buraco é mais embaixo que
achava. Porém, acha injustas as palavras de Natasha. Quem ela acha que é
afinal para julga-lo dessa forma? Até onde ele sabia, Natasha mal falava com
Taís.
Desde que reencontrou Taís e antes mesmo de descobrir que Alan é seu filho
tenta se aproximar de qualquer forma, enquanto a irmã dela, que omitiu a criança
e ainda assim não quer conversa, sem contar que nem dormir direito consegue
pensando nisso. Pensa indignado olhando sério para a cena a sua frente, ela
discutindo brevemente com o Gustavo, que tenta puxa-la de qualquer forma.
— Quando a gente terminou, eu não sabia de bebê algum, Natasha. Não me pinte
como um idiota que abandonou uma mulher grávida.
Ruge sentindo injustiçado.
— Eu não vou te ajudar em nada, já falei. Procurou a irmã errada. A casamenteira
é Lizandra.
E enraivecido, segue em passos duros de volta a sua sala, pensando o que fazer
e acha que deu tempo de mais para Taís, precisam conversar seriamente sobre
Alan.
Cansei! Taís tem que me ouvir, sou o pai da criança e ela não pode me negar
nada.
Pois não quer mais perder nenhuma etapa do crescimento do garoto. Apesar de
se sentir triste e frustrado por não ter acompanhado as outras.
TERCEIRO
Os dias passaram, e Taís sente feliz em ter conseguido sair para jantar com Hugo,
mesmo que não tenha sido tão bom quanto ela queria que fosse. Ainda se sente
estranha.
Pois não consegue tira-lo da cabeça de jeito algum. Mas não consegue, pois ele
vive se mantendo presente, nas tentativas de chegar perto. O que ele queria
afinal? A quer de volta realmente?
Era o que parecia, de todas essas tentativas de chegar perto e de tentar
conquista-la de todas as formas. Isso a deixa sufocada e nervosa a cada
aproximação.
Como semana passada, que apareceu com flores, a deixando completamente
surpresa. Mas não pegou, apenas o ignorou e entrou em casa, o deixando
sozinho do lado de fora.
Só a hipótese dele ainda a querer, a deixa ansiosa, com borboletas no estômago,
mesmo achando tudo irracional. Está se esforçando para gostar de Hugo que é
um cara incrível, mas o coração idiota não bate igual quando ele aparece.
Porém com os dias que se passaram depois das flores, ele não foi mais atrás
dela, e pensou que ele finalmente decidiu esquece-la de novo, desistiu e ao
mesmo tempo que a deixa aliviada, a deixou frustrada, mesmo não admitindo.
Mas, esse repentino sumiço era típico dele, e sentia que era melhor assim, pois
sabe que não pode largar tudo e reviver o amor que sentia por Rodrigo, ele não é
de confiança. Pelo menos é o que sente, afinal, ele é espirito livre como já falou
uma vez, e não pode colocar todas as expectativas juntamente com o filho e em
seguida ele ir embora.
Hugo é centrado, responsável e gosta dela, a trás segurança ele é a melhor
opção, mesmo que, Rodrigo não seja uma opção. Manter os sentimentos e o filho
longe é o melhor a se fazer.
Pensa sobre o rumo que a vida deu, só com o aparecimento dele, enquanto limpa
a casa na sua folga. Aproveitar que Alan está brincando na casa dos pais, que o
chamou para lá, depois do jantar.
Escuta a campainha tocar a tirando dos devaneios e dá de cara com ele, justo ele.
Rodrigo! E os dois de novo sentem a mesma coisa. Coração batendo
descompassado, mãos suando e necessidade de chegar mais perto. Mas Taís
continua com sua habitual frieza, e logo é atropelada por um Rodrigo entrando
sem ninguém mandar na sua residência.
— Que porra você está fazendo aqui?
Esbraveja nervosa por estarem tão perto e sozinhos novamente. E ela já viu o que
acontece quando estão assim.
— Conversar.
— De novo essa história?
— Taís, eu cansei de brincar de gato e rato.
— Não tem ninguém brincando aqui. Eu quero que vá embora.
— Eu não vou. Porra! Custa me ouvir?
Chega mais perto dela a deixando totalmente desnorteada. O que ele queria aqui
afinal?
Ela se distancia de novo, para manter a compostura.
— Alan é meu filho ou não?
Pergunta, a deixando desesperada. Droga! Ele não poderia ter descoberto, não
poderia.
— Não. Ele é MEU filho. — Tenta transparecer calma.
— Vai negar?
— Ele não é seu filho.
— Não negue, Taís, um Maldonado reconhece o outro de longe. O menino me
adorou.
— Não importa! — Esbraveja quase chorando.
— Eu quero fazer parte da vida dele.
Logico que ele se aproximou pela criança. E me permitindo iludir que me queria
de volta. Taís, você como sempre sendo uma idiota!
Pensa desesperada com o que Rodrigo falou. E agora?
— Vai dá uma de pai agora?
— Vou.
— Onde estava quando ele nasceu? No primeiro ano? No primeiro dia de escola?
Ah! Eu chuto, viajando, curtindo a vida, com cada dia uma mulher diferente.
Joga na cara dele, os dois magoados por motivos diferentes. Ele por não está em
um momento da vida do filho, e ela por imaginar ele com mulheres diferentes,
enquanto ela sofria pelos dois.
—Se você me contasse eu ficaria.
— Não ficaria Rodrigo. Você sabe, que iria passar por cima de tudo, por conta
dessa sua obsessão de viajar. Me diga, achou o que tanto procura?
Vocifera magoada e debochada. Ele ferve de ódio.
— Eu vou fazer parte da vida dele!
— Não vai! Ele está bem sem saber que o pai está vivo, e vai continuar assim!
— Vou sim, você querendo ou não.
Diz tudo que Taís não queria e sentia medo de ouvir. Ele querer o filho dela.
— Vai embora. Agora! — Grita em desespero.
— Já vou mesmo.
Antes mesmo dele colocar os dois pés para fora, dá de cara com Alan surpreso,
mas logo um sorriso enorme toda conta do rosto liso do menino.
—Tio! Você veio.
O menino corre em direção a ele, que sente um pedaço do seu coração partir ao
ouvir o menino chama-lo de tio e não de pai, como deveria. Ele pega no colo, no
mesmo momento que o menino avança sobre ele. E o abraça apertado com uma
vontade enorme de chorar.
Não importa o tamanho da criança. A primeira vez que o pai carrega no colo
sempre vai ser memorável.
Por mais vontade de dizer que é o pai, não pode despejar essa nova informação
para o garoto, uma vez que nem ele próprio assimilou direito a novidade.
— E ai, campeão!
O coloca no chão bagunçando os cabelos lisos do menino que estão quase na
testa.
— Trouxe meu tablet?
Pergunta ansioso e esperançoso, pois para ele, o único motivo de Rodrigo está ali
é esse.
— Trouxe, está no carro.
O menino abre um sorriso enorme contagiando Rodrigo que sente seu peito
encher de alegria por isso. Corre para o carro que está estacionado do outro lado,
para pegar a caixa, e logo volta, sendo observado por duas pessoas com
expressões diferentes. Mas apenas uma delas feliz, que era o garoto.
O menino abre outro sorriso e os olhos quando Rodrigo entrega a caixa do IPad
da Apple para o garoto.
— Aqui. Configurei para você. Baixei o joguinho daquele dia e tem meu contato,
para quando quiser falar comigo por vídeo. Pede para alguém te ensinar.
Rodrigo olha para Taís de solário, que está séria olhando a interação.
— Obrigado, tio.
O menino vai para abraçar mais uma vez Rodrigo, que está agachado que o
aperta de novo querendo leva-lo para sua casa.
— Mas primeiro tem que fazer as atividades da escola, certo?
— Pode deixar.
— Toca aqui que eu já vou. Está tarde.
Rodrigo estende a mão, para o menino que dá dois toques em cumprimento
sorrindo e segurando a caixa com a outra. O garoto acena e Rodrigo não evita em
abraça-lo novamente com força, dando mais um beijo no menino que despede
efusivamente com a mão, sentindo-se feliz e querendo fazer a mesma coisa com
a mãe dele. Porém ela é outra história.
Segue para o carro sentindo estranho, pedido, triste e feliz ao mesmo tempo. Já
em casa, não evita em chorar, mais uma vez. Mal conhece a criança, mas já ama
como nenhuma outra pessoa.
E se amaldiçoou, por precisar viajar, por tentar buscar algo que completasse
plenamente. Até hoje não entendeu esse sentimento de vazio e ser incompleto.
Mesmo com pessoas ao redor e tudo que uma pessoa gostaria de ter. Essa
merda de viagem só fez afastar das pessoas amava e pior, vetou de participar de
cada etapa do crescimento e a melhor parte, o nascimento e as primeiras
palavras. Se odiou por cada ano de vida da criança.
Joga o tênis com grosseria na parede sentindo irado com os pensamentos que
estão o deixando perturbado.
Mas calmo pelo rápido surto, pensa em um jeito de reconquistar Taís, pois mesmo
com a cabeça dura e teimosia, ainda a quer de todas as formas... ainda ama e
percebe que por mais que tente lutar contra o corpo dela pede por ele. Tem que
pedir!
Aquele homem não poderá sem um empecilho, ela não pode gostar dele! Taís é
dele, desde que se conheceram!
Ainda pensa na noite que transaram no banheiro, percebeu que entre eles, sem a
razão dominando a cabeça dela, ainda continuam o mesmo, os corpos ainda se
completam igual á anos atrás fácil. E promete para si mesmo, que Taís ainda será
dele novamente e reconhecer a criança como seu filho, um Maldonado, como
deveria ser desde o começo. Sem contar na troca rápida de olhares que deram.
Ele viu que ela ainda o amava. Não viu coisas, não está se iludindo!
Mas sabe que está ferrado, pelo que Natasha contou, que se sentiu abandonada
na partida dele.
Nunca foi homem de desistir!
Enquanto ele tem pensamentos motivadores, Taís, depois de ter colocado o filho
para dormir e fugir dos questionamentos da irmã, chora sozinha no próprio quarto
com medo de perder Alan para Rodrigo. Ele não tinha que ter voltado...não tinha!
QUARTO
Dois dias passaram a e angustia de Taís não passa, apesar de ter achado
bonitinho como Rodrigo ficou no dia que entregou o IPod a Alan, e sentir-se uma
megera, não consegue tremer de medo de perder o garoto para ele. Mas além de
perder o garoto, tem medo de se re-apaixonar por Rodrigo, com essa
aproximação toda.
Falando nele, insiste em impor a merda da presença. Ainda se sente confusa
com tudo isso. Rodrigo conversa com Alan todo o momento, pelo presente que
ele deu ao menino. E se odeia ao sentir o coração gelar e aquecer ao ouvir sua
voz e seu riso no aparelho do garoto. E falando em se odiar, brigou com Hugo, por
não querer sair para jantar com ele. Não estava no clima para romance e ele se
chateou, pois ela sempre colocava dificuldades para sair com ele. Ela sabia que
fazia isso sem nem mesmo querer, mas sempre esfriava com seus convites.
Ver as risadas dos filhos ecoar enquanto conversam deixa a mãe coruja se
sobressair e a mãe racional, que talvez pensa, que poderia aceitar a aproximação
de Rodrigo com Alan, apenas com ele.
Mas isso não é hora de pensar nisso, em Rodrigo, pois desde o dia anterior Alan
estava febril. Inclusive, trabalhou a parte da tarde toda em automático e
preocupação por isso, pois o colégio ligou e ele precisou voltar para casa e ficou
com a avó, pois não poderia sair do trabalho. Além de febril estava se queixando
de dor de cabeça.
Preocupada, segue para o próprio quarto onde o menino deitou depois de ter
tomado banho, com uma sopa que fez assim que chegou do trabalho, já que ele
não foi para a escola, pois ficou receosa dele piorar.
— Filhote.
Taís fita o filho sonolento, desde que chegou do trabalho, no dia anterior e sente
angustiada de ver o filho, ativo, naquela situação, resmungando ainda de olhos
fechados. Sempre ficou assim, desde quando ele tinha poucos meses de vida.
— Vem tomar uma sopa que mamãe fez.
O menino ainda de olhos fechados nega manhoso. Além de tudo não consegue
comer nada direito que reclama.
— Um pouquinho, vai. Se não amanhã a gente vai no médico; você quer ir no
médico tomar injeção?
Chantageia sem remoço algum.
— Não.
— Então venha. Mamãe te dá na boca e deixo você dormir. Prometo.
Alan abre os olhinhos azuis quebrados deixando Taís ainda mais preocupada e
com pena. Ele se senta ainda enrolado e Taís aos poucos convence o filho de
comer um pouco mais, já que não quis tomar nada que ela deu até acabar
vomitando na metade do prato.
— Alan!
Taís exclama preocupada arrastando o garoto, que chora manhoso, para o
banheiro. Ver o filho doente é a mesma coisa de tortura-la. Depois que põe o que
acabou de comer para fora leva ele para o chuveiro para tomar banho.
Colocando o filho debaixo do chuveiro, já que sujou a roupa inteira, pensando que
se até amanhã não melhorar, vai leva-lo no pronto socorro. Depois de troca-lo e
mudar os lençóis, tenta em mais uma tentativa de dá algo para ele comer, dessa
vez suco, antes de dormir, mesmo com medo dele vomitar de novo, e ele ter
tomado sem muitos problemas, só uns resmungos que ia vomitar de novo. Ela o
enrola e o abraça para dormir, ou ele pelo menos, pois ela cair no sono de
verdade é quase impossível.
— Minha perna está doendo. — Reclama manhoso.
— Onde? — Pergunta preocupada.
— Aqui.
Aponta para os joelhos. E Taís massageia de leve, disposta a leva-lo no pronto
socorro ao amanhecer.
Do outro lado, pela manhã, Rodrigo pensa em um jeito de fazer Taís entender que
quer ela e não só a criança enquanto segue para empresa para trabalhar.
Até que está achando tudo menos entediante que achava que seria. Sem contar,
que pelo menos, com Alan ele fala, tem progresso, pois o menino o adorou sem
esforço e sente que ama o menino com nenhuma outra pessoa. Só se sente mal
em não estar cem por cento dos dias com ele.
Estaciona o carro e sobe para o andar da presidência, desejando bom dia para
algumas pessoas. Precisa conversar com primo, sobre tudo, precisa desabafar,
mesmo que o pai estar do seu lado, para ouvi-lo.
— Mércia, Gustavo já chegou?
Pergunta dando de cara com a secretária do ramal depois de ter passado na sua
sala.
— Já, acabou de entrar.
Acena e segue para a sala do primo.
Taís sempre foi uma incógnita para ele. Na verdade, foi uma das coisas que o fez
apaixonar por ela, pois o deixava intrigado. Aos poucos que foi a conhecendo e
apaixonando cada vez mais, ao ponto de ama-la e por isso está assim,
praticamente se rastejando para ela. Pois é a única que consegue isso dele, se
fosse qualquer outra já teria desistido e caído na cama de outra na segunda
tentativa, mas ela é diferente, sempre foi diferente e seu dúvidas, o fim de
relacionamento foi ruim, tanto para ela, como para ele, que pensou em milhões de
vezes em voltar, mas precisava se encontrar, o único motivo de ficar longe esses
anos todos.
O cumprimenta num aperto firme de mãos, vendo o primo sentado na sua cadeira.
— Diga — Gustavo o incentiva a falar.
— Como você se sentiu quando soube que era pai? Quando olhei para meu
moleque, depois que percebi que era meu filho me senti estranho e diferente.
Explica o porquê daquela pergunta, com sinceridade, passando a mão no cabelo
exasperado sem saber direito no que esperar dessa conversa.
— Hum, eu senti orgulho e me senti eufórico de saber que vem um meu aí.
Ao ver o sorriso do primeiro, Rodrigo pensa quanto ambos estão fodidos.
— Está sorrindo do que seu desgraçado? Da minha miséria?
— Não e sim. Você só está apaixonado por ela de novo?
Rodrigo revira os olhos e depois o olhar sério. Isso nem precisava de pergunta
para saber. Era só ver ele correndo feito um cachorrinho.
— Se eu tiver não vai adiantar de nada. Ela não quer olhar na minha cara. O
nosso último encontro foi tenso, pois questionei a paternidade.
Resmunga chateado, em lembrar de Taís sem demonstrar nenhuma emoção com
a reação dele.
— Você está tentando se aproximar de Taís por causa da criança ou por que quer
algo mais sério com ela? Ou por fogo, Rodrigo?
— Sei lá, cara. Sinto como se.... sei lá, é louco. Taís me deixa estressado com a
frieza, tenho vontade de mostrar que ainda sou a porra do homem que ela dizia
que amava. E só a suposição que realmente não me quer, um pouco se quer, me
deixa angustiado. Eu já vi um homem saindo do apartamento dela e foi ácido o
gosto que fiquei na garganta.
— Se lembre que você a deixou para viajar. E ela estava grávida!
Joga na cara de Rodrigo que esbraveja internamente: mais que porra!
— E você acha que não sei? Se eu soubesse que ela estava eu não iria. Essas
viagens só foram perda de tempo!
— É aí que está o problema, Rodrigo. Ela acha que você está a querendo de volta
pela criança, e não por ela. Pois você terminou, lembra?
Gustavo apesar deter falando uma coisa obvia clareou uma coisa em Rodrigo que
pensa se deu essa impressão e tentar concertar o mais rápido possível.
— Queria me aproximar deles dois, mas não sei como. Não sei por onde começar.
Umas duas vezes fui na casa de Taís fiquei morrendo de vontade de dizer que
sou o pai dele. Queria abraçá-lo.
Lembra do dia que os abraçou depois de saber que ele era seu filho e não evita
em se emocionar.
— Olha para isso, meu moleque é lindão.
Tira o celular do bolso e acende, para mostrar o primo a foto dele com Taís
abraçados e sorrindo na tela principal de bloqueio.
— Já está nesse nível é? Onde achou essa foto? — O primo debocha em tom de
brincadeira.
— Andei stalkeando as Vargas e achei essa foto. E você, é pai de um macho ou
uma boneca?
— Na próxima consulta, vamos tentar ver de novo.
Levanta, disposto a voltar ao trabalho, depois do primo prometer falar com
Natasha para ver se ela poderia ajudar em algo.
Enquanto isso, segue para fora, decidido, mais do que nunca em pedi uma
chance a Taís, em uma conversa clara e limpa, sem brigas e discussões, sobre a
situação dos dois, e abre mão de pedir guarda compartilhada, se ela o aceitar
sem picuinha a aproximação dele.
Até dá um jeito de conseguir dobra-la e colocar na cabeça dela para aceita-lo de
volta. Faz o trabalho em automático. Rezando para chegar o horário de saída,
mas não aguenta, e vai atrás dela no horário de almoço. Sem se importar se vai
encontrá-la ou não.
E por incrível que pareça a encontra. Mas não em um bom momento. Pois está
desesperada com Alan no colo.
Pois o garoto acabou passando mal, mesmo passando a parte da manhã
relativamente bem, até a avó que estava olhando o garoto, a ligou desesperado,
por Alan estar suando frio, febre alta. E por isso, saiu do trabalho desesperada,
sem se importar em ser demitida.
Rodrigo sai do carro e corre em direção a Taís.
— Taís?
Chama a atenção dela que está impaciente com o menino no colo.
— Agora não, Rodrigo. Agora não!
— O que aconteceu? — Pergunta preocupado.
— Alan está passando mal, Rodrigo. Desde ontem. Vou levar ele em algum pronto
socorro. — Comenta chorosa. — Estou vendo se tem algum taxi ou vizinho para
me levar rápido.
— Venha que vou levar vocês.
Rodrigo pega a criança do colo dela que se encolhe. Olha para o menino suado e
tremendo com a pele branquinha meio avermelhada. Taís segue com ele em
direção ao carro, desesperada.
— Taís, a porta.
Aponta para porta aberta, que ela tão desesperada, esqueceu de trancar. Ela
volta correndo para trancar enquanto ele coloca Alan que está apático no banco
de trás do carro. Em não demora para Taís correr para o ficar com filho e Rodrigo
arranca com o carro em direção ao primeiro pronto socorro, sob coordenadas de
Taís, desesperada.
Assim que chegam, encontra o local cheio, como era de se esperar. Ela corre em
direção a algum enfermeiro que a ignora totalmente e pede para aguardar e eles
obedecem, até que Alan reclama dengoso, cheio de dor. Rodrigo se irrita pela
demora, enquanto Taís bate o pé impaciente e nervosa, ao ver o filho naquela
situação. Irritado, o pai do garoto para o primeiro enfermeiro sorridente que vê,
que o atende com descaso. Vendo que nada que fizesse, surtiria efeito para um
atendimento mais rápido, puxa Taís para fora com Alan no colo em direção ao
carro.
— Rodrigo, para onde estamos indo? — Taís questiona confusa.
— Para outro hospital. Aqui ele vai piorar.
Arrasta o veículo caro em direção avenida novamente. Taís apenas se manteve
calada, olhando para o filho no banco de trás, checando a cada dois segundos a
temperatura.
Com o filho no colo e Taís a tira colo, entram os três no hospital, atordoados e
preocupados, encontrando uma enfermeira que orienta ambos a seguirem com
ela para serem atendidos.
Diferente do postinho, o prontuário foi feito com rapidez. Taís respondeu todas as
perguntas, aflita, como o início de todos os sintomas.
Colocaram Alan na maca para fazer os primeiros procedimentos, verificar a
pressão, frequência respiratória e a temperatura da febre. Rodrigo e Taís
desempenhando os seus papéis, pela primeira vez juntos, compartilham a
apreensão do diagnóstico.
Dengue, do tipo clássico.
E por conta disso, Alan estava um pouco desidratado, e precisaria tomar um
antitérmico para baixar a febre e uma bolsa de soro antes de ser liberado.
Taís e Rodrigo fita Alan recém adormecido, tão apático e pequeno enrolado
naquela maca hospitalar, já que o ar-condicionado castiga, principalmente Taís
chorosa, sentindo-se culpada, entretanto aliviada pela febre cedida, sentada na
única cadeira do local encolhida, que saiu tão apavorada que pegou um casaco
para o filho, mas não pegou para si própria e agora está tremendo de frio, pela
camisa fina e sem manga que está usando.
Rodrigo em pé, sente-se tão culpado quanto, angustiado para definir melhor,
refletindo em quantas vezes, ela teria passado por isso, sem ele saber, e que iria
passar mais uma vez se não chegasse naquele exato momento.
E tira o olhar do soro que pinga demoradamente para enxergar a mãe do seu filho
naquele estado, sofrendo silenciosa, fazendo com que ele se sinta duplamente
culpado. A pior pessoa do mundo, em ver as duas pessoas que ama assim,
vulnerável.
Sem pensar duas vezes a põe no colo, sob protesto e a enrola com seu paletó.
— Fica aqui.
Ele pede baixo, a mantendo no seu colo num abraço e ela se rende, chorando
calada, numa angustia que não passa.
— Obrigada. Se você não viesse comigo acho que estaria esperando atendimento
até agora.
Pede encarando seus olhos azuis que tanto a desestabiliza, mas foi o olhar
quebrado dela que o deixou se sentindo pior, mesmo num agradecimento.
— Não fiz mais que minha obrigação. Me desculpa por não está aqui nas outras
vezes.
Taís não fala nada, apenas desata a chorar abraçada a ele e mesmo em um
momento como aquele, de vulnerabilidade, Rodrigo gosta do momento dela tão
próximo e sem as pedras no punho, com sua frieza habitual.
— Me deixa aproximar dele, por favor. — Pede angustiado. — Não quero que
passe isso sozinha nunca mais.
Não tem dúvidas que ele seria bom pai, mas o que a deixa instabilizada e ele
querer viajar e iludir o menino. Não aguentaria ver a criança sofrendo pela partida
dele, como ficou a alguns anos atrás.
— Tudo bem. — Se rende sem outra opção.
— Não, eu quero uma resposta certa. Não em um momento assim, em que está
vulnerável.
— Você é o pai dele, de uma forma de outra você iria se aproximar. E seria injusto
dizer não, depois de ter me ajudado hoje. Só te peço que não faça promessas a
ele.
Tenta um acordo de paz. Com medo dele querer tirar a força. Se não pode vencer
os inimigos, se juntasse a eles. Isso é o único pensamento dela por agora. Nem
que com isso tenha que matar os próprios demônios com as próprias unhas. Só
para saber que o filho ficará feliz em ter um pai.
— Obrigado.
Agradece verdadeiramente.
— Só por favor, não conte a ele sobre essa paternidade. O deixa criar confiança
em você. Por incrível que pareça ele é desconfiado de tudo.
— Parece alguém que eu conheço.
Tenta fazer graça, mas para Taís não teve nenhuma. Se calaram, e ela quase
adormecida no seu colo, recebendo um afago nos cabelos. Ela o encara, dos
olhos para boca, quase em um chamado para juntarem as bocas, mas a presença
de uma enfermeira que veio para checa-lo e assinar a alta e a receita e as
indicações a faz sair do colo dele, totalmente envergonhada.
Longe do pronto socorro, quase as sete da noite, com o pequeno garoto ainda
adormecido, fizeram um caminho silencioso.
Depois de ter colocado o menino no quarto de Taís, já que ele fez questão de
carregar o menino até lá, ele volta para sala depois de ter enrolado e dando um
beijo de boa noite, para ver Taís na cozinha.
— Está com fome?
Pergunta tentando agradecê-lo de alguma forma e ignorar o climão que se
instalou.
— Eu como em casa, não se preocupe.
Percebe o constrangimento dela de tê-lo ali. Eles dois se fitam com corações
acelerados, e morrendo de vontade de se tocaram novamente, como no hospital e
quem sabe, se beijarem.
— Então já vou. Amanhã trago mais remédios.
Bate nas pernas tirando ela do transe de estar o observando tão charmoso de
roupa séria, social. Concorda, o levando até a porta.
— Rodrigo, mais uma vez obrigada por hoje.
— Não se preocupe. Fiz o mínimo.
Ela acena e ele fica em dúvida se deve ou não despedir com um beijo, mas
decide ir aos poucos, capaz dela se irritar e voltar à estaca zero. Mas apenas
acenam em despedida e ele vira as coisas depois de desejar boa noite e ela fazer
o mesmo.
Ver ele de costas indo em bora, Taís engoliu o ‘’fica’’ na garganta e fecha a porta
para comer alguma coisa e deitar perto do seu filho adormecido.
QUINTO
Os dias passaram a e angustia de Taís passou por seu filho ter melhorado, mas o
tormento continua. Rodrigo depois daquele dia continua mais presente que nunca,
vindo visitar o menino todos os dias e fortalecendo ainda mais o laço dos dois.
Pois quando ele não está, Alan ainda o faz permanecer presente.
Teve até climão, quando Hugo foi chamá-la para mais um jantar, ignorando o fato
de Alan ter adoecido recentemente e encontrou Rodrigo lá dentro, a vontade
como se morasse ali a anos. Quis saber quem era e discutiram mais uma vez,
pelo ataque de ciúmes de seu futuro ou até mesmo ex, namorado. Rodrigo
também se incomodou com um visitante que queria roubar sua família. Assim ele
se sentia, ameaçado, ao ter o ‘’namorado’’ da sua mulher bem ali, abraçando o
seu filho e rondando a todo momento.
Mas Taís sentia que estava sendo de certa forma egoísta, iludindo Hugo, já que
com o sem Rodrigo, percebia que não sentia nada pelo amigo de profissão e que
estava tentando ir se enganar na marra; esquecer a pessoa que voltou a ser
constante na sua vida.
Foi franca para o que sequer foi namorado para chamar de ex, que nem chegou ir
além de beijos, que não queria usa-lo para esquecer o pai do seu filho e foi
chamada de tola e outros insultos que a magoaram, por ainda pensar no homem
que a abandonou a quase dez anos atrás. Ele estava certo, mas isso não
significava que ele tinha direito de jogar isso na sua cara. E enquanto ele
vociferava enraivecido, agindo diferente de como havia prometido que iria não iria
se iludir por estarem tentando, viu que realmente, Hugo não era homem para ela:
Além de não causar ardor algum no seu corpo, não teve empatia.
Porém as borboletinhas no estomago insiste em permanecer instalada na barriga
de Taís pela pessoa que não deveria. Toda vez que vê os dois brincando na sua
sala, pensa que isso talvez seria rotineiro se ele ficasse quando se descobriu
gravida.
Ele ainda insiste em permanecer nos seus pensamentos a assombrando.
Como semana passada, que sonhou com ele a pegando de todas as formas, e
ficou ainda mais constrangida quando o viu horas depois a secando
descaradamente. Filho da puta gostoso!
Falando em transas, o revival insiste em voltar a sua memória em flashes a cada
vez que está sozinha, ou até mesmo acompanhada. Além disso, pensa com
angustia sobre sua menstruação que está atrasada e se deu conta que não
usaram nada, pensa e roga a todos os santos que não seja o que ela está
pensando, mesmo sentindo-se estranha como na gravidez de Alan.
Ele não seria tão certeiro…será?
Uma única vez apenas para engravidar de novo dele seria muito azar. Ainda mais
nesse momento da vida e com o mesmo homem.
Uma coisa é Alan, já crescido um pouco e ele querer assumir a paternidade, outra
coisa é um bebê novo na barriga. Provavelmente vai querer acompanhar tudo e
querer por seu sobrenome, até querer guarda, quem sabe? Ou achar que é
demais e regredir com Alan e ir embora novamente depois que o menino já ter se
apegado.
Quando levantou a hipótese, ligou desesperada para irmã. Que a aconselhou
falar, se tiver mesmo, mas a coragem de fazer o teste não tinha.
As vezes sente vontade de fugir de tudo isso e voltar só quando a mente esvaziar,
se sente sufocada. Saí dos devaneios onde estava fitando uma foto de Alan
vestido de coelhinho da páscoa.
Pare de pensar nisso, Taís. Se repreende. Mas o frio na barriga insiste em se
instalar.
Preciso saber...se realmente estou, mas cadê a porra da coragem? Se joga no
sofá para pensar em todo o giro que a vida deu desde que ele apareceu.
Deus!
Em um até sem pensar muito sai de casa em direção a farmácia, aproveitando
que Alan ainda está no colégio. Ainda bem que está de férias do trabalho, senão
iria enlouquecer para além de tudo isso, dá conta de planilhas contábeis.
Enquanto ela ia na farmácia, Rodrigo estava no meio do caminho, em direção a
casa de Taís, antes mesmo do horário de almoço. Precisava urgente conversar
com ela, e falar sobre a paternidade de Alan, para colocá-lo no plano de saúde da
própria empresa.
Falando em Alan, não consegue guardar o amor pelo menino, e mal pode esperar
para sair com ele, leva-lo aos locais e claro, dizer que tem avós paternos também.
Está se sentindo um pouco realizado, com a guarda baixa de Taís em
aproximação, não tanto quanto ele queria, pois não esconde o desejo que tem por
ela e vê-la sempre sem toca-la já está o deixando agoniado, o famoso tesão
acumulado.
Na última vez não teve nem um por cento que queria dela. Mais bonita impossível,
claramente o amadurecimento, com os anos o fizeram bem. Assim como a
maternidade.
Rodrigo batuca no volante, impaciente entrando no bairro onde ela mora, e
inclusive planeja reconquista-la o mais breve possível para comprar uma casa
para morarem e jogar o fulano que está tentando rouba-la para si, para mais longe
possível.
Ele sai do carro a ponto de ver Taís com uma sacolinha na mão para entrar em
casa. Adianta os passos para dá tempo de pega-la antes de entrar em casa, e ao
mesmo tempo que ele a chama, Taís treme.
— O que está fazendo aqui agora?
Questiona nervosa por estarem tão perto, afinal, estava com teste de gravidez
para saber se espera mais um filho dele ou não.
— Conversar.
Franze a sobrancelha em confusão, afinal desde o ocorrido no hospital que ela
não o trata assim.
— Agora não que estou ocupada. — Tenta afasta-lo de qualquer forma.
Ele não deveria estar aqui, não agora. Droga!
— Ocupada com que Taís? Pelo amor de Deus.
Comenta exasperado com o muro que de repente criou entre eles.
— Rodrigo, para de marcar em cima, Alan não está aqui, se não reparou.
Foi grossa para afasta-lo, mas Rodrigo não escuta e continua na insistência,
enquanto ela rebate para abrir a porta. Mas, quando Rodrigo tenta pega-la pelo
braço para virar para si, o saco da farmácia acaba caindo revelando duas caixas
de testes de gravidez, que cai no chão.
Desesperada, corre para pegar, mas Rodrigo foi mais rápido apanhando do chão
e a olhando confuso e assustado a fazendo ficar desesperada.
— Taís...
Sentiu seu peito falhar uma batida de tão dolorida. Se for do sujeitinho, ele não irá
aguentar! Isso significa que as poucas chances que ele lutou para pegar na
marra, acaba de ir ao ralo.
— Vai embora.
Entra em casa com os corações aos saltos, mas Rodrigo não obedece, vem logo
atrás nervoso tentando entender se é o que ele acha, afinal, não usaram
camisinha e ele tem plena certeza disso, que foram descuidados. Apesar de não
saber se ela andou se relacionando com alguém pelo mesmo tempo, aquele cara
que a viu beijando, mas torce que não.
Taís passa a mão nos cabelos exasperadas sem saber o que falar e agir.
— É meu, Taís?
Rodrigo questiona calmo, sabendo que gritar não iria resolver a situação. Taís
pode estar esperando outro filho dele.
— O que você acha, seu idiota?
— Não quis te ofender, mas não ia me dizer, né?
Ele suspira aliviado, mas o nervoso volta duas vezes pior. Corre risco de ela estar
gravida e dele mais uma vez.
— Eu e Hugo já terminamos e não chegamos a ir além. Nem fiz o teste ainda, não
sei nem o que pensar.
Assume nervosa e perdida. E ele se alivia, ao receber essa notícia.
— Faz o teste, vou ficar aqui fora esperando, e só assim a gente conversa. Tudo
bem?
Taís acaba aceitando, afinal, não teria outra opção, e essa parece bastante viável.
Ela segue para o banheiro para fazer o teste deixando Rodrigo na sala,
apreensivo.
Ser pai de outra criança em menos de dois meses, será? Sem conter abre um
sorriso, mesmo sabendo que vai ser difícil a partir de agora. Pensa que poderá
acompanhar todas as etapas, e fazer tudo para compensa-la nessa gravidez,
caso esteja, o que não fez na de Alan.
Mas não é assim que Taís pensa de lá do banheiro, chorando perdida vendo os
dois testes apontar positivo. Mas um filho de uma pessoa imprevisível como
Rodrigo. E agora?
Ele vendo que ela está demorando demais a ponto de deixa-lo mais nervoso com
a espera, segue para dentro de onde ela foi, para saber o que aconteceu.
Bate na porta, e só escuta um ‘’vai embora, eu te odeio!’’ dela, chorosa e de certa
forma, manhosa.
— Abre, por favor, amor. — Pede mais carinhoso que consegue.
Ela abre e ele a vê chorando. Rodrigo chega mais perto a abraçando, mesmo
contra a vontade e de repente aquele mulherão todo ficou pequena nos seus
braços, entendo tudo.
Será pai, mais uma vez. Mas dessa vez, será diferente!
Taís chora compulsivamente contra seu peito sentindo-se perdida com mais um
filho e com toda loucura com sua vida se tornou com a volta do homem que ama,
mesmo tentando lutar contra.
— Eu vou estar com você.
— Não faça falsas promessas. — Chora sentindo-se mais perdida que nunca.
— O que você quer que eu faça para acreditar em mim? Por deus, Taís.
Rodrigo pede cansado tentando de toda forma convencê-la.
— Eu estou com medo.
Assume olhando para ele vendo os olhos azuis, tão cintilantes quanto do filho.
Olhos esses que a fez se apaixonar desde a primeira vez que se viram no luau.
— Eu prometo que vou ser o melhor pai para essa criança e para Alan. Só me
deixa tentar, eu quero reparar meus erros.
Rodrigo alisa as bochechas dela em um gesto de carinho e Taís sente que por
mais que consegue esconder, o coração besta insiste em bater mais forte para
ele, mas a merda da insegurança, por ir embora novamente insiste em instalar no
seu peito, a deixando angustiada e amedrontada.
Ele vendo que não afastou a caricia, tenta avançar para beija-la, mesmo ela
sabendo que isso ia acontecer, não existia forças, para afasta-lo e no seu interior,
sentia que queria aquele beijo. Mas o toque da campainha e a voz de Alan
gritando assustou os dois os afastando.
Deus! Alan! Tais correu para porta para pegar o filho na porta, limpando os olhos,
afinal, mãe nunca chora. Agradeceu a vizinha que fez o favor de trazê-lo, junto
com sua amiguinha, colocando o menino para dentro.
— Como foi a aula? — Questiona entrando.
— Hoje foi legal! Fiz um gol! — Exclama arregalando os olhos iguaizinhos de
Rodrigo.
É notável a semelhança cada vez maior entre os dois enquanto Alan cresce.
— Rodrigo!
Ele exclama vendo o pai sentado no sofá, que abre um sorrisão para vê-lo.
— E aí, campeão. — Bagunça seus cabelos e os dois fazem um toque estranho
na mão, em cumprimento.
— Está fazendo o que aqui com minha mãe?
Questiona inocente, deixando os adultos em saia justa.
— Vim te ver, mas ela me disse que estava na aula e resolvi esperar.
Rodrigo inventa a primeira desculpa relaxando Taís totalmente, que manda tomar
banho para almoçar. Rodrigo acabou ficando e almoçando com os dois, e depois
disso não comentaram mais sobre a gravidez.
Mesmo não admitindo está feliz para caramba com a notícia que seria pai e saiu
distribuindo sorrisos para quem quisesse. Ao contrário de Taís, que deixou Alan
jogar vídeo game, só para ter um momento a sós, para pensar sobre o que seria a
partir de agora.
— Jogar sozinho é ruim! — Alan reclama.
— Eu jogo com você.
Se oferece, mas o menino nega tristonho.
— Que foi, bebê? — Pergunta a ele que deixa o controle e o jogo de lado.
— Nada.
— Diz para mamãe.
Ele nega mais uma vez e ela acaba deixando passar. Ele volta a jogar sozinho
enquanto faz afazeres pendentes. Rodrigo aparece a noite para conversar com
Taís e ver o seu moleque antes de dormir. Jogaram vídeo game juntos.
— Tio, você bem que poderia ser meu pai, né?
Alan exclama do nada deixando Rodrigo surpreso, assim como Taís, que ficou
congelada no lugar.
— Sério?
— Sim. A gente poderia jogar vídeo game sempre. Você é mais legal que o Hugo.
Rodrigo se encheu de orgulho com a confissão do filho, sabendo que o
favoritismo é dele. E logo colocou o menino para dormir, quer dizer, Rodrigo o
levou para cama e contou milhões de histórias que viveu enchendo os olhos do
menino de surpresas.
Taís chega no quarto vendo os dois dormindo juntos e não evita dá o sorriso bobo.
Volta para sala com luta interna, se acorda ou não ele para ir embora, mas nem
precisa, pois Rodrigo aparece logo em seguida na sala.
— Já vou. Amanhã a gente conversa. — Ele sorri pegando o blazer para ir
embora.
Ela apenas acena, concordando e segue com ele até a porta, mas como da outra
vez, vê-lo ir teve uma vontade enorme de chama-lo. E sem pensar muito o chama.
— Fica!
Segura nos seus dedos. Rodrigo se vira abrindo um sorriso confuso e satisfeito.
— Pensei que não ia dizer isso.
Ele volta colando direto sua boca na sua, a fazendo andar de costas enquanto
segura firmemente no seus braço e nuca. Os anos passaram, mas os dois sentem
que ainda assim, o beijo é gostoso e se encaixam como antes. Mas logo a
sensação que ainda é pouco surge. Rodrigo afunda ainda mais suas mãos nos
cabelos de Taís a imprensando na parede mais próxima.
Ela geme sentindo-se seu coração acelerar com a proximidade e beijo. Mas não
consegue afastar, apenas toma a boca na sua novamente sentindo seus lábios
serem chupados do modo que a deixa bamba.
Rodrigo explora o corpo dela com as mãos sentido seu tesão se espalhar feito
chamas entre os corpos dos dois. Ele a arrasta em direção ao quarto e puxando a
camisa que ela usa. Taís não fica para trás, arrancando a blusa dele distribuindo
beijos quentes em seu peitoral enquanto apertava a mão nas suas costas
trabalhada.
Rodrigo solta um gemido viril, dolorido entre as pernas a querendo matar à
vontade como quer, desde que a viu novamente. Deposita ela na cama indo por
cima, a fitando nos olhos. Claramente os dois estão entregues ao momento.
— Essa boca...
Ele passa o polegar entre os lábios de Tais, que está bêbada tesão. Ah anos que
não se sentia assim, tão...viva.
Taís segura a nuca do homem da sua vida aproximando os dois ainda mais os
corpos, desabotoando a calça social para se livrar o mais rápido que consegue.
Ele ajuda, ficando de cueca e distribui beijos sobre seu pescoço descendo para os
seios enquanto ela se contorce. Não existe homem no mundo que consegue
acendê-la dessa forma, como ele faz com maestria.
— Rodrigo....
Geme quando sente os lábios dele descer entre sua barriga, sentindo uma
incomodo nervoso entre as penas, e tenta aliviar cruzando. Mas Rodrigo abre
novamente puxando o short juntamente com a calcinha, colocando o rosto e os
lábios, ente elas.
Estar ali é como o paraíso. Sentindo o gosto, os arrepios e vibrações da única
mulher que foi capaz de amar. Entre caricias quentes, as apaixonadas, os dois se
acenderam cada vez mais, até chegar ao ponto de não aguentarem e se conectar
de outras formas.
Olho no olho, corpos colados, mãos entrelaçadas, promessas silenciosas e ritmos
as vezes não tão ritmados os dois se perderam entre si até chegarem na
exaustão se aliviando, quase ao mesmo tempo. Agora sim as coisas começam a
se encaixar. Ele pensa sentindo o peso dela sobre si.
— Me deixa tentar mais uma vez. Eu juro que não vou embora. Acredita em mim.
Pede, ofegante, ainda com ela sobre si, descansando o rosto no seu peito, mas
que sobe o rosto logo em seguida para dá uma resposta a ele que fitava com
expectativa.
— Tenho medo de você enjoar. Vida de pai e mãe não é fácil e não é tão bonita
quanto pintam. Você é um pássaro livre, lembra? — Calma, ela confessa o maior
medo.
— Eu quero com todas as experiencias. Prometo por você, por Alan e por esse
bebê que está desenvolvendo. Me deixa ao menos tentar te reconquistar, amor.
Ela acena fazendo as borboletas agitarem no seu ventre e em seguida ele dá um
grande sorriso de pura felicidade, mesmo insegura tem a sensação que agora sim
as coisas começam a se encaixar.
SEXTO
No dia seguinte depois de terem se perdido um no corpo do outro, Rodrigo saiu
da casa dela, entre risos e beijos, como um adolescente antes que os pais dela a
pegassem.
Mas a verdade é que ela preferiu que ele fosse antes que Alan acordasse e visse
os dois desnudos e juntos no quarto dela, rindo como dois bobos.
Era inevitável, para ela, a diferença entre estar com ele e não estar. Que ele
mesmo indiretamente a fazia bem. Mas sentia que ainda era muito recente para
assumir um compromisso sério com ele, e contar para Alan. Ainda não estava
com os dois pés na frente para confiar nele totalmente.
E por isso, ficam nesse clima, namorando de longe, com olhares, sorrisos e
promessas sexuais nas entrelinhas, já que não se visitaram intimamente, depois
daquela vez, nas vezes que ele foi visitar o menino. Sentia que voltou a ser a
mesma garota inconsequente que se apaixonou pelo viajante galanteador e que
transou na primeira noite que se conheceram.
Assim como Rodrigo, que distribui sorrisos para quem quiser, com a notícia que
será pai, inclusive, já está planejando comprar uma grande casa para morar com
sua mais recente família. Enquanto isso Taís foi para a primeira consulta, saber
como está o mais recente bebê.
Para ela era estranho e engraçado estar grávida novamente, e mais estranho
ainda, do mesmo cara, pai do primeiro filho. Logo ela que achava que iria passar
o resto da sua vida com Alan, até então seu único companheiro. Mas gosta de ver
ele se esforçando, está se deixando ser reconquistada por ele novamente.
Às vezes se pergunta se dá uma outra chance a ele é certo, mas não tem como ir
contra o corpo e à vontade. Pode até tentar, mas no final a razão vira pó perto
dele.
Enquanto ela pensa, no seu dilema eterno, Rodrigo pensa em um jeito de estarem
as sós novamente, e ainda não relaxou em reconquista-la, ainda sente que
qualquer deslize ela volta a se trancar. Ligou para algumas corretoras, para saber
de uma boa casa para morarem, inclusive comunicou aos pais as novidades, que
quase deram um treco, por saber que seria avó duas vezes, em menos de seis
meses da volta do único filho.
Já era quase sete da noite quando ele entrou no carro para ir para casa dela, e
sem dúvidas, era a melhor parte do seu dia. Pois mesmo não admitindo, esperava
por ele a noite, como se fosse realmente uma família, que de fato era, mesmo
meio torta e nada convencional e cheias de problemas pendentes para
resolverem.
Planejam contar do bebê junto com a notícia da paternidade a Alan, e Taís tenta
de qualquer forma, que o menino assimile e nem fiquei revoltado pela omissão, e
nem com ciúmes do novo bebê da mãe.
Rodrigo estaciona e Alan corre do quarto, quando escuta ele cumprimentar a mãe
que sorri meio boba apaixonada para ele.
Ele bagunça o cabelo do menino e em seguida se vira para Taís, que está com o
coração acelerado, vendo Rodrigo se aproximar para dá um beijo, na bochecha,
mas querendo na boca.
Sente-se como, desde a outra vez que eles transaram, que tem vontade de beija-
lo e agarra-lo sempre, afinal, foram anos longe um do outro, e não será só uma ou
duas vezes que irá resolver a vontade que tem um do outro.
— Já estava tirando a comida do fogo.
— Oba!
Rodrigo e Alan falam juntos provocando uma risada de Taís. Ultimamente anda
mais risonha, mesmo com a natureza calada que tem, que até Alan percebeu a
súbita mudança da mãe, que antes vivia retraída.
Taís termina de desligar o fogo e enquanto Alan correu para lavar as mãos,
Rodrigo aproveitou para ir na cozinha atazanar Taís, se ralando nela por trás.
— Pare com isso! — Ela pede sabendo que Alan apareceria a qualquer momento.
— Quer transar com você, de novo, e de novo, bem fundo e cheio de vontade.
Desce a mão boba da cintura pelas pernas dela, indo direto na sua vagina, ao
mesmo tempo que aperta o quadril na bunda dela, que sente seu pau, a deixando
excitada. Taís engole um gemido na garganta e tanta afasta-lo, mas isso só
piorou, pois acabou ralando mais nele e ele gemeu safado, de pura provocação
no ouvido dela a deixando mais nervosa, que até derrubou o garfo na pia.
Ele percebe a aproximação de Alan e dá um beijo na sua nuca a arrepiando e sai
dando um sorriso safado, vendo que ela ficou desconcertada.
— Filho da mãe!
Resmunga voltando a pegar os pratos para eles jantarem. Sentaram juntos a
mesa e comeram, depois Alan correu para jogar vídeo game antes de dormir e
levou Rodrigo junto.
— Você namora a minha mãe?
O garoto pergunta, sem tirar os olhos da tela, depois da segunda rodada, onde
Rodrigo perdeu vergonhosamente na corrida, para o filho.
Da cozinha, escuta alguns talheres caindo, mais uma vez e ri por dentro,
percebendo que Taís escutou.
— Não.
— Porque vem todo dia? Hugo não vem todo dia.
O menino pergunta mais uma vez tentando entender a presença constante dele.
Ele não responde, pois, a chegada de Taís meio apavorada cortou o assunto.
Achava que cada dia mais difícil explicar a frequência de Rodrigo lá e tinha que
contar mais rápido que nunca.
— Alan, está na hora de dormir e Hugo não vem mais aqui, tudo bem?
Chama o menino, tentando desviar o assunto que os dois entraram. Mas mesmo
assim Rodrigo responde.
— Para te ver, né?
Não era todo uma mentira.
— Você poderia namorar minha mãe, né? E vir morar com a gente, em vez de vir
todo dia, já que Hugo não vem mais.
Taís tosse nervosa. Alan está cada vez mais impossível com esses
questionamentos afiados. Não é a primeira vez que faz isso, deixando os dois em
uma saia justa.
— Vai logo, Alan! Se despede de Rodrigo que ele já vai.
Taís diz com a voz esganiçada dando a Rodrigo uma vontade enorme de beija-la.
Eles dois se despedem, e Alan corre para escovar os dentes para a mãe checá-lo
antes de dormir.
— Tchau, Rodrigo.
Se despede dele, mas ele a agarra pela bochecha dando um beijo daqueles,
aquela a deixa se batendo de um lado para o outro na cama sem conseguir
dormir, pensando apenas no seu corpo quente sobre ela.
— Você é maluco? — Questiona ofegante.
— Você, vai me deixar com bolas roxas. — Dá um último beijo nela e sai sorrindo.
Dia seguinte, depois de Rodrigo sair do trabalho, no horário de almoço indo
encontrar com a corretora para ver a casa e marcar de o mais breve possível
levar os dois para conhecerem e claro, falar antes com Taís, para se mudarem o
mais breve possível, ele passou no shopping e comprou o pequeno e primeira
roupinha do seu bebê. E não evitou em sorrir em saber que está comprando pela
primeira vez a roupa de um bebê seu.
Quando voltou para casa já era umas oito e tanta da noite, já estava tarde para
passar na casa de Taís, e ver os dois, pois ele tinha quase certeza que já estão
indo dormir. Depois de tomado banho e jogado na cama, pensando seus próximos
passos, não deixou de pensar em Taís, e a tortura que é chegar perto dela e não
transarem. Logo ele que transava a hora que bem queria estava sendo regulado,
por ela, pois não transa com Taís desde a última vez que descobriu o bebê e vai
fazer quase um mês já.
Levanta disposto a ir lá, pois sabe que vai passar mais uma noite de inferno. O
tesão que está não consegue nem dormir, e muito menos ficar na mão,
literalmente. Como estava tarde, as ruas já não estavam movimentadas, e por
isso chegou na metade do tempo que costuma chegar lá. Estacionou o carro e viu
a casa escura, mas não recuou. Seguiu para a porta dele e deu algumas batidas
chamando-a o mais alto que ela possa escutar, mas não o suficiente para Alan e
nem os vizinhos acordarem.
Logo a porta é aberta, por ela com um rosto sonolento e confuso de camisola
curta e sem sutiã. Rodrigo sentiu seu pau sacudir dentro da bermuda com aquela
visão.
— Que merda você está fazendo aqui? — Tais cochicha.
— Saudades.
Entra fechando a porta atrás de si logo em seguida. Taís não evita dá um sorriso
besta pela declaraçãozinha fofa. Mas rodrigo não estava muito afim de muito
romantismo, e logo agarrou tomando sua boca na sua, deixando Taís bamba
segurando-a com força, pelo atrevimento brusco dele, porém adorou toda a ânsia
e fome, pois estava igual. Sente que depois que transou com ele, o fogo e
vontade duplicou.
Rodrigo a arrasta para o quarto a apertando em locais estratégicos fazendo Taís
gemer baixo. No quarto, a gira de costas, cheirando os cabelinhos da sua nuca a
deixando mais excitada que nunca. Desde sempre ele sabe que fazer isso é a
mesma coisa que acender um botão em Taís.
Apertou ela nos braços e deslizou uma mão por dentro do vestido. O efeito foi
mais que imediato, pois ela empinou mais a bunda e gemeu, sentindo o pau dele,
duro mais que nunca. A arrastou para cama e a colocou sentada no seu colo. Viu
ela morder os lábios, depois que puxou a camisa dele, e não evitou em dá um
beijo urgente a deixando mais excitada e ofegante.
Puxou seu vestido para fora do corpo, e deu de cara com os peitos dela, a sua
disposição. Não aguentando, agarrou um deles enquanto colocava o outro na
boca. Taís geme baixo, apertando os cabelos dele, não conseguindo se controlar.
Ele tateou procurando sua mão e colocou por cima do short, enquanto ela
apertava sentindo pulsar na sua mão.
O nível de excitação dos dois estava muito mais além de alto. Os beijos entre os
dois foram se tornado mais quentes e urgentes. Com respirações
ofegantes. Acabaram enroscados na cama, com ela por cima. Vê-lo ali, naquela
situação, para ela, ainda parecia quase impossível, com ele dentro de si, depois
de ser invadida da forma mais urgente possível. Mas para ele parecia a melhor
coisa do mundo, a sentindo contraindo ao redor do seu pau.
— Você estava me deixando louco.
Rodrigo comentava ofegante, enquanto ela subia e descia em seu pau com ajuda
dele que a puxava para cima, para deslizar rapidamente logo em seguida.
Ela deu um sorriso rápido sentindo ser invadida a cada vez mais rápido. Logo ele
a puxou para ficar por baixo e tomou seus lábios indo devagar e compassado
olhando para ela, a vendo fechar os olhos a cada vez que o sente ir até o fundo.
— Nunca esqueci de você.
Ela assume o deixando surpreso. Taís falar sobre sentimentos, ainda mais no
sexo, é novo, até para ela. Rodrigo não evitou sorri com aquilo enquanto a sentia
contrair ainda mais ao redor.
— Confesso que também. Achei que tinha de perdido para sempre, quando você
ficou me dando gelo.
Ri dando um beijo nela.
— Você mereceu.
Faz um bico que ele achou fofo e logo os dois se beijaram, se perdendo um no
outro, como se aquele ali, fosse a primeira vez deles juntos e de fato, a primeira
vez de muitas.
SÉTIMO
— Não sei se é uma boa ideia.
Taís vira para Rodrigo. Ambos estão deitados na cama dela, as seis da manhã,
ainda despidos, depois de uma longa noite. Mal dormiram, agindo como
adolescentes na calada da noite, até brigadeiro fizeram, para suprir a glicose que
perderam nas atividades físicas.
— Por favor! — Pede mais uma vez.
— Fico receosa.
Comenta fitando o peito desnudo e largo dele sentindo vontade de beijar cada
pedacinho, para matar a saudade que ainda está te matando. Rodrigo acabou de
falar sobre a casa, a proposta. Mas Taís sente que ainda está cedo, e prefere ir
com calma tudo. Não pode de repente contar a Alan sobre o pai, que vai ganhar
um irmão ou irmã e que vão se mudar.
Acha muita informação de vez para o menino.
— Quero levar vocês lá, pelo menos. É espaçosa tem quarto para Alan e o bebê,
um grande para a gente fazer o que bem quiser....
Fala dedilhando no vão dos seios desnudos dela a deixando arrepiada de
imediato.
— É gostoso comer você escondido, mas está foda. Sem contar que sua barriga
daqui a pouco cresce. Alan é espero, vai sacar já, já o que está rolando.
Comenta virando, ficando por cima dela, vendo seus olhos azuis claros, o fitando.
— Não prefere vim para cá? Eu amo minha casa! — Comenta tentando fazer ele
mudar de ideia.
— Não. Tem um colégio perto lá da agência, a mudança não vai ser tão brusca. A
nova é linda também!
— Pensou em tudo, né?
Suspira se mostrando rendida enquanto ele abre um sorrisão sabendo que
conseguiu domar a fera.
— Sim. Mas agora estou pensando em outra coisa.
Sussurra passando a língua em cima dos lábios dela a acendendo totalmente.
— Vamos combinar assim, a gente conta para Alan, se ele reagir bem, vamos
para conhecer a casa. Quem vai decidir tudo é ele. Certo?
Comenta enquanto aperta os dedos nas costas dele.
— Combinado.
Sorri sabendo que precisará ter uma conversinha com o filho. Mas sabe que o
menino é do time dele, pelo simples fato de ficar dando sugestões e
questionamento para os dois, sobre namoro.
Depois que Rodrigo foi embora, Taís acordou Alan para ir para a escola e o
menino foi meio cabisbaixo. Desde a semana passada ela percebeu a pequena
mudança do filho, porém ele sempre nega quando pergunta.
— Dá um beijo na mamãe para entrar.
Taís pede, agachada, perto do portão de entrada ao menino que olha ela. Ele
acena e beija a bochecha dela a fazendo sorri boba.
Sempre foi uma mãe coruja e faz de tudo para ver o sorriso fofo do pequeno ser
que apareceu de repente na sua vida e não se arrepende nenhum pouco. Mas
percebe a face alva do filho ainda triste.
— Que foi? Conta para mamãe.
Pede sentindo seu coração ficar apertadinho. O menino nega e dá um último beijo
nela de novo, logo em seguida entrando, se juntando com o pessoal da sua
idade.
Taís volta para casa ainda com o coração apertadinho e aproveita para dormir um
pouco antes de arrumar tudo enquanto não dá a hora de pegar ele na escola e
fazer o almoço.
Gravidez sempre é exaustiva.
Do outro lado Rodrigo comunicou seus pais sobre o andamento das coisas e eles
dois logo intimam Taís e Alan para verem. Ambos mau cabem dentro de si com
vontade de ver aquele pequeno garotinho lindo, que se apaixonaram pelo jeitinho
dele, e que é seu neto.
E aproveita para planejar algumas coisas. Taís não perde por esperar.
À noite, depois de Rodrigo não ter ido no almoço. Taís ajuda a Alan, com a
atividade, tentando ter um tempo com o filho, já que está achando que ele abatido
demais. A campainha toca tirando os dois do momento e escuta Rodrigo chamar
na porta; Taís grita para abrir e ele encontra os dois no chão do jeito que estavam.
Alan logo corre com a desculpa que ia ver os avós, deixando os dois sozinhos.
— Acho que seu filho está dando um de cupido.
Taís comenta guardando as coisas dele. Enquanto ri, mas para quando acha um
papel amassado dentro da bagunça que encontrou lá dentro. Ultimamente ela
está deixando ele ser mais independente e arrumar a própria mochila, mas pelo
jeito, ele não arrumou.
Se trata de um aviso escolar. Abre para saber do que se trata e encontra um aviso
de uma gincana escolar, de interação de pais e filhos.
Com o intuito de melhorar o convívio e as socialização, fortalecendo os vínculos
familiares. O que estava escrito ela entendeu, só não entendeu o porquê dele não
a entregar. Mas logo cai em si quando vê um aviso, que as brincadeiras vão ser
com os pais.
Rodrigo questiona a Taís o que ela está lendo. Ela apenas entrega e Rodrigo puxa
e lê, mesmo ficando confuso o porquê de tudo.
— Alan estava agindo estranho esses dias e achei o possível motivo.
Comenta séria entendendo tudo.
— Hoje? — Rodrigo pergunta implicitamente sobre a paternidade.
— Hoje.
Taís afirma sentindo seu coração bater a mil. Enquanto Taís vai buscar ele na
casa dos pais, que é do lado, Rodrigo pensa em como falar e só a possível revolta
ou recusa do menino o deixa mal. Pois, ele gostar dele é uma coisa, outra e saber
que ele é o pai que não o viu nunca.
Alan logo chega com a mãe, sentindo-se confuso por ela ter buscado ele, pois, ele
fez questão de o deixarem sozinhos, em uma tentativa de juntarem os dois. Pelo
menos é o que sua mente infantil achava, que eles dois não estão namorando por
falta de um empurrãozinho.
— Vem aqui.
Tais chama colocando seu filho no seu colo, com Rodrigo sentado do lado dela,
no sofá.
— O que você tinha me pedido quando descobriu que sua tia ia ter um neném?
— Um irmãozinho para brincar comigo. — Responde inocente.
— E se a mamãe tivesse grávida e namorando o Rodrigo?
Questiona com o coração a galopes. O menino arregala os grandes olhos e em
seguida abraça ela que fez cara de choro.
— Que foi?
Questiona puxando-o para mais perto do seu colo.
— Eu queria que Rodrigo fosse meu pai também!
O coração de Taís aperta um pouquinho com as palavras do filho.
— Se eu te dissesse que você pode ver seu pai?
Taís questiona com o coração a mil. O menino olha para ela confuso, pois ela
nunca deu brecha para esse assunto, sempre muda.
— Ele vai querer?
— Claro que vou.
Rodrigo atropela as palavras vendo Taís mais nervoso que qualquer outra coisa
sem saber como contar.
— Mentira!
Alan grita ainda chorando. O coração de Taís aperta um pouquinho com as
palavras do filho. E Rodrigo fica ainda pior.
— É verdade. Olha esses olhos, a gente tem a mesma cor. Olha seu cabelo, não
é igual?
Rodrigo sente que está diante de um juiz e que vai ser massacrado a qualquer
momento se o filho não o aceitar.
— O colega da minha sala disse que ele não gosta de mim porque sou feio! Que
fui achado no lixo!
Comenta ainda chorando e Rodrigo puxa ele para seu colo, que vai e o abraça.
— Não gostou de saber que sou seu pai?
Rodrigo questiona baixo enquanto Taís enxuga as lágrimas.
— É de verdade?
— Sim! Você é meu filhão, e eu não te vim te ver antes porque não sabia.
Rodrigo alisa os cabelos do menino enquanto ele o olha com os grandes olhos
azuis um pouco avermelhado do choro. Mas Alan abre o sorriso com os dentinhos
para ele e Rodrigo abre um maior ainda.
— Toca aqui.
Rodrigo suspende a mão e ele bate logo em seguida. Rodrigo levanta do sofá
com ele no colo, segurando em um aperto.
— Filho, gostou de saber?
Taís pergunta apreensiva com medo do menino revoltar-se contra ela, por ter
escondido esse tempo todo. Mas ele apenas acena limpando os olhos, quando
Rodrigo coloca-o no chão.
— Eu vou contra a todo mundo da minha sala.
Comenta sorridente fazendo Taís e Rodrigo sorrirem mais ainda, de puro alívio.
Jantaram juntos. Rodrigo tinha vindo para levarem eles para jantarem, mas, teve
uma surpresa maior.
— Oh mãe, meu pai pode dormir aqui hoje?
Alan questiona quando os dois estão na cozinha junto com Taís, achando que
estão ajudando. Rodrigo congela no lugar, assim como Taís que percebeu que o
menino referiu ele como pai, pela primeira vez.
— Peça a ele. — Taís comenta, de costas mesmo.
— Você quer dormir aqui...
Rodrigo fica em expectativa para saber se o menino vai completar a frase com o
que ele quer ouvir.
— ...pai?
O menino completa sem perceber que o chamou e Rodrigo abre o maior sorrisão
por isso.
— Quero. — Acena sorrindo.
— Você vai morar com a gente?
O menino continua seu interrogatório, mas logo Taís o manda para escovar os
dentes para dormir. A noite está se tornando pequena diante de tantas novidades.
Rodrigo termina de arrumar as coisas com ela, enquanto comenta sobre tudo.
Os dois na cama deitados entrelaçados, sentindo-se uma paz interior por tudo,
tentam colocar em ordem todos os passos daqui em diante.
— Pelo jeito ele não tem objeção de morarmos juntos.
Rodrigo comenta recebendo cafuné e Taís.
— Mas espera pelo menos ele fazer a prova do semestre. Falta poucos meses.
— Pode ser. E o bebê? — Questiona.
— Está bem. Acho que a próxima consulta podemos saber se vai ser menino ou
menina.
— Você quer que seja qual? — Questiona.
— Não sei. Eu acho que vem menina. — Deduz.
— Quero que venha outro menino.
— Vou ficar louca. — Ri o levando junto.
— A próxima consulta é quando?
— Semana que vem, minha mãe vai comigo.
— Porque não me avisou?
— Não quero brigar, tá? só deduzi que você estaria ocupado. É estranho contar
com outra pessoa a não ser ela.
— Tudo bem.
Beija ela e logo os dois adormecem entrelaçados, sabendo que agora eles dois
podem começar suas vidas, de verdade, como merecem.
OITAVO
Depois de saírem de mais um dia de exame de rotina no pré-Natal, onde
descobriram que estavam esperando outro menino. Rodrigo quase desmaiou ao
ver o pequeno filho pela primeira vez, já que era a primeira vez que acompanha
ela e sentiu seu peito se encher de uma forma não que cabia dentro de si, apenas
chorou olhando o pequeno bebê pelo ultrassom.
E por executou sua surpresa no final de semana inteirinho, deixando Taís
preocupado por ele não ter aparecido lá apenas ter ligado para falar com os dois e
saber onde está.
Mas Ele estava ocupado demais com a surpresa. E com ajuda dos pais, ou da
mãe, mais certamente, que estava louca para conhecer Taís e Alan mais de perto,
ajudou sem pensar duas vezes. E por isso conseguiu fazer tudo em um final de
semana. Arrumado e perfumado, quase no final do dia, Rodrigo apareceu na casa
de Taís.
— Mãe, o pai chegou.
Alan abre a porta para Rodrigo, que abre um grande sorriso pela forma que
chamou. Parece que não vai se acostumar nunca com isso, mas em breve terá
outro menininho ainda. Rodrigo e Alan escuta Taís gritar algo de longe.
Provavelmente do quarto alguma coisa que os dois não entenderam muito bem.
Alan volta para o sofá onde está assistindo desenho e Rodrigo entra em direção
ao quarto de Taís, onde a porta está entre aberta, a vendo apenas de calcinha e
sutiã e claro que ele não perde a oportunidade de invadir de vez a assustado.
— Que droga! Me assustou.
Resmunga puxando o vestido da cama para vestir. E Rodrigo não deixa de dá um
sorriso besta a vendo com a barriguinha de grávida e a pega para um beijo.
— Vamos aonde mesmo?
— Surpresa!
— Aí Rodrigo. Me conta?
— Jantar na casa dos meus pais, mas a surpresa é antes.
— Na casa dos seus pais?
Taís praticamente berrou. Morrendo de medo de encontrar pela primeira vez com
a sogra.
— É. Eles querem conhecer Alan e você. Vai!
— Se ela não gostar de mim?
Rodrigo olha para Taís que está apreensiva e continua incrédulo.
— Ela já te ama, mesmo sem te conhecer. Só pelo fato de ter me colocado na
linha, pelo menos é o que ela acha.
Ele revira os olhos pôr a mãe ter pensado nisso. E Taís acaba sorrindo beijando
sua boca logo em seguida.
— Vou acreditar em você.
— Se arruma que daqui a pouco saímos.
Rodrigo quase não cabe dentro de si para mostrar sua surpresa que preparou. Ela
acena e enquanto isso os dois ficam na sala esperando, assistindo. Taís aparece
arrumada e os três segue em direção a tal surpresa dentro do carro dele. Logo os
três seguiram de carro para um bairro residencial.
— Ver casa uma hora dessas? — Taís questiona confusa.
— Vai ser rápido.
— Tudo bem.
Rodrigo entra com os dois e logo Alan entra primeiro vendo a grande sala vazia.
— Eu escolhi essa. Acho que cabe nos quatro perfeitamente. Ou cinco, quem
sabe?
— Quatro está de bom tamanho.
Taís responde cortando a gracinha de Rodrigo. Alan olha tudo muito curioso.
— Mostrar a vocês a cozinha.
Rodrigo leva os dois para ver uma cozinha quase equipada praticamente.
— É linda!
Taís exclama empolgada vendo a bela cozinha na sua frente. Rodrigo sorri e
arrasta os dois para cada cômodo. Pela mão, arrasta ela para os quartos. Assim
que ele abre a porta, tem uma grande surpresa. Onde tem um quarto de bebê já
montado e equipado. Como que já tivesse um serzinho nascido para dormir ali.
Taís leva a mão na boca surpresa com aquilo e Rodrigo sorri vendo que
conseguiu alcançar seu objetivo. O esforço e correria valeu a pena.
— Que lindo!
Exclama não evitando as lágrimas virem nos seus olhos. O quarto todo decorado,
em verde e branco. Com os móveis todos combinados. Berço, cômoda, guarda-
roupa, trocador, cadeira de amamentação e com uns adesivos de urso na parede.
Tudo minimamente decorado.
— Eu não acredito!
Taís nessa altura do campeonato já está chorando, em pé, ainda em choque,
observando tudo. Rodrigo a abraça por trás dando um beijo na sua têmpora.
— Surpresa! Mas se quiser mudar algo, fique à vontade.
Sussurra sorridente no ouvido dela e mesmo entre as lágrimas sorri, pois são de
pura felicidade.
— Eu amei!
Os dois se beijam apaixonados e Taís com um sentindo enorme de gratidão, por
ele ser o Rodrigo que ela conheceu. E Rodrigo sente que que finalmente começou
a fazer as coisas certas e dá ao bebê o que infelizmente, não deu para Alan, para
sabe que isso pode ser recompensado de alguma forma, pelo menos tentar.
— Pai, e o meu?
Alan interrompe olhando para ele com os olhos azuis em expectativa.
— Esqueci do seu. — Rodrigo faz cara de sentindo colocando a mão no rosto e
Alan demostra a mesma cara de decepcionado assentindo. — Mas vamos aqui.
Rodrigo pega na mão dele que vai ainda com a carinha triste. Assim que ele abre
a porta congela no lugar vendo seu quarto, também arrumado, com brinquedos
arrumados e até um videogame instalado junto com uma pequena televisão na
parede. A cor da parede verde, junto com a roupa de cama.
Alan logo se espalha para ver tudo. Conhecendo cada pedacinho do local
encantado. Taís também ficou ao olhar o quartinho do menino todo arrumado.
— Vamos ver o da senhorita.
Rodrigo puxa Taís para o último quarto, deixando Alan no seu, vendo tudo de
perto. Entra e mostra o deles, uma grande suíte também já arrumada.
— Nossa!
Fica surpresa mais uma vez vendo tudo arrumado.
— Está aí o porquê de eu ter sumido sexta e sábado.
Abraça ela novamente por trás, segurando na sua barriga e alisando.
— Você é incrível!
Vira o dando um beijo apaixonado que ele aceita sem muitos problemas.
— Eu amo você, Taís, e todas essas viagens mostraram que é com você que
quero ficar.
Taís separa o beijo surpresa e se sentindo amada e coração aquecido, pois essa
foi a primeira vez que ele fala depois do reencontro.
— Eu também amo.
NONO
Era quase onze da noite quando a bolsa de Taís estourou. O casal já estava na
sua residência nova e Alan na nova escolinha que é integral.
Ambos se sentiam satisfeito na vida que estava levando. Rodrigo nem se fala,
sentindo ainda mais completo vendo seu pequeno filho que se na verdade se
chama Leandro, ou apelidado de Léo, se desenvolvia cada vez mais. Aguentou
sorrindo as crises de Taís sobre seu peso e a nova maternidade. Provando pela
primeira vez a paternidade desde o começo.
No hospital, depois de deixar Alan com os avós, Rodrigo parecia mais nervoso
que Taís, e de fato estava. Nunca esteve naquela situação, esperar pelo filho que
está prestes a nascer. Onde foram necessárias duas enfermeiras perguntarem
mais de uma vez se ele estava se sentindo bem ou se queria beber água.
Mas tudo que ele queria era ter seus filhos no braço e finalmente conhece-lo.
— Respira, Rodrigo.
Comenta entre uma contração e outra na sala de espera, aguardando estar
dilatada o suficiente para iniciar o parto.
— Eu estou. Você está bem?
Questiona preocupado passeando a mão pelos próprios cabelos mais uma vez e
depois mais outra.
O grito de Taís, seguida a um gemido sofrido, sentindo a contração mais forte foi o
suficiente para deixa-lo mais nervoso largando a mão dela e andando de um lado
para outro, angustiado. Chegam para checar a dilatação que inda faltava um
pouco. Assim passou quase a noite inteira. Taís gemendo de dor e Rodrigo
inquieto, para quem via de fora, achava que era ele quem ia ter o bebê.
Era quase uma da manhã quando finamente subiram para a sala de parto.
— Rodrigo se você não se acalmar vou pedir para não te deixarem entrar.
Taís avisa segurando a pontada de dor antes de subir e deixar ele para vestir a
roupa cirúrgica.
— Até lá em cima eu estarei calmo. Prometo.
Dá um beijo na testa dela e deixa a maca andar indo com um outro enfermeiro
para sala colocar a roupa.
A verdade é que ele sabe que não vai ficar calmo até lá, ao contrário, vai ficar pior
e tem consciência disso.
— Só não desmaia, não passa esse vexame, Rodrigo.
Fala para si mesmo andando pelo corredor branco. Entrou na sala vendo Taís já
ligada aos aparelhos e foi para seu lado, como foi ordenando.
— Pronta, mamãe? — O obstetra que acompanhou faz a pergunta tomando seu
posto.
— Sim.
Tais responde mais ansiosa que tudo. Rodrigo mesmo com ciúmes que quando
descobriu que o de Taís obstetra era um homem, também acenou confiando no
homem.
A cada mando dele pedindo para Taís fazer força, Rodrigo sentia seu coração dá
galopes no peito, enquanto Tais gritava fazendo a força e apertando a mão dele.
— De novo. Começou a corar.
O médico avisa deixando Rodrigo mais trêmulo que qualquer outra coisa.
Taís grita mais uma vez, de novo, e mais uma tentando expulsar o bebê. Mas
emoção maior foi quando Rodrigo escutou o chorinho dengoso e potente do bebê
escutar na sala anunciando seu nascimento. Teve que segurar a mão de Taís com
força e firmar o pé no chão para não cair.
Acabou chorando, junto com ela, vendo o pequeno bebê ainda roxo, com os
cabelos claros, fios loiros brilhantes como o dela acalmando um pouco no colo da
mãe que sorri e chora, junto com Rodrigo que sente uma coisa jamais sentida: Ver
de perto o nascimento do seu filho.
— Tem seus cabelos.
Rodrigo fala dada a emoção enorme, sentindo aquela sala pequena demais para
gritar de pura alegria e emoção.
—Tem.
Ela também sente o que ele está sentindo pela primeira vez. A emoção única de
ver o filho pela primeira vez. O pequeno bebê foi levado pela enfermeira e Rodrigo
acabou saindo da sala para Taís fazer os últimos procedimentos e tomar um ar.
No corredor do hospital mesmo agarrou a primeira enfermeira que viu, que foi
uma das que estavam na sala, para um abraço a deixando confusa, porém alegre,
pois por incrível que pareça, é acostumada com reações diversas. Ele sorri
abertamente largando ela que lhe deseja parabéns e segue seu caminho
enquanto ele saca o celular para ligar para os pais que ainda não sabem da
notícia.
—Rodrigo? — A mãe atende confusa e sonolenta.
— Meu filho nasceu! — Comenta mais que eufórico na linha.
— Cristo! Vamos para ai! Cadê Alan? — Comenta assustada e eufórica.
— Alan ficou com os pais de Taís. Ele é lindo, mãe...
Rodrigo não aguenta a emoção e fala choroso na linha sentindo uma coisa que
nunca sentiu na vida.
— Eu sei que é. A gente vai para aí.
— Vem quando amanhecer.
— Tudo bem. Beijo!
Rodrigo desliga depois de se despedir. Com um enfermeiro que foi chama-lo para
avisar que Taís já estava subindo para o quarto e que Léo já estava indo logo em
seguida.
Em menos de dois minutos ele já estava lá com um sorriso aberto para Taís que
mesmo cansada do parto, estava morrendo de felicidade vendo o encantamento
de Rodrigo pelo filho.
— Como você está? — Ele anda em direção a ela, sentando na ponta da cama e
lhe dando um beijo na testa e mais um sorriso enorme.
— Cansada. Mais feliz e você? — Sorri sentindo o carinho dele no rosto.
— Muito feliz. Estou ansioso para ver ele.
Sorri feito menino, fazendo Taís sorri abertamente com o coração aquecido. Daria
tudo para ter esse momento no nascimento de Alan, e não sozinha com a mãe,
pensando como seria ele vendo o nascimento do primeiro filho.
O bebê logo chega na mão da enfermeira e Rodrigo confere o rostinho do bebê
assim que ela entrega para Taís.
— Ei, Léo.
Rodrigo sussurra sorrindo abertamente e segurando a mãozinha dele que estava
na boca chupando. Em seguida ele abre os olhinhos azuis cinzentos fitando Taís
que está quieta observando seu bebê. Ela põe ele para mamar que vai sedento.
— Isso filhote. Mas depois vai arranjar um desses para você que esse é meu, tá?
Estou só emprestando.
Taís sorri das palavras de Rodrigo. Ele termina de mamar logo depois que caiu no
sono. Enquanto os dois observa e alisa a mão dele de leve sentindo a textura de
pele de bebê.
— Quer pegar agora? — Taís pergunta.
— Quero.
Acena feito menino ganhando presente. Assim que segurou o pequeno bebê
sonolento sentiu a coisa mais inexplicável do mundo, sabendo que aquele bebê
loirinho e bochechudo era seu filho.
E Taís também não deixou de se encantar, quase chorando o vendo com Léo no
colo e sente que pagaria quanto fosse possível para ver essa cena com Alan onde
só tinha ela, o filho e a mãe na sala. Mas também pensa que o importante é que
ele tenta se redimir até hoje por isso e que fez diferente na gravidez de Léo.
— Ele é lindo. E é a sua cara.
Rodrigo fala baixo, ainda fitando o bebê no seu colo.
— Sim. Mas ao contrário, Alan é você todinho.
Comenta se recostando na cama e bocejando em puro cansaço.
— Meus filhotes são lindos, rapaz.
Fala orgulhoso como um macho alfa fala da cria e deixa um beijo na bochecha
gordinha e rosada do seu filho.
DÉCIMO
CAPÍTULO FINAL!
— Quem é o bebê de papai?
Rodrigo brinca com Léo de modo totalmente babão, enquanto Taís mais boba
ainda assiste de longe, escorada na porta, a interação dos dois em cima da sua
cama, junto com Alan que está perto olhando o bebê.
Alan desde que subiu de cargo, para irmão mais velho, está fazendo seu papel
direitinho. Taís já o pegou várias vezes, ele dentro do quarto do irmão, olhando o
bebê dormir pelo berço ou simplesmente levando os brinquedos para lá para ficar
perto.
De início, Taís achou que ele ficaria enciumado, já que até ontem era o filho único
que era paparicado sempre, não que isso tenha mudado, mas a chegada de um
bebê, sempre acaba reduzindo o tempo para ele.
Mas, Alan surpreendeu todos, gostando da novidade e é mais protetor que
qualquer coisa.
— Papai será que ele vai gostar de vídeo game? — Alan questiona curioso
sentindo o bebê segurar no seu dedo.
— Mas você vai ensinar a ele?
— Vou. Mas o play um é meu.
Rodrigo gargalha chamando a atenção do pequeno bebê que já tem dois meses
apenas, mas que reconhece o som dá risada ou a voz do pai em qualquer lugar.
Taís chega entrando no quarto sorrindo não cabendo de felicidade dentro de si.
Ver Rodrigo no modo paizão com os dois é a melhor coisa que ela poderia ter e
querer.
— Esse mocinho está se comportando?
Sobe na cama para pegar o pequeno bebê dos cabelos loiros e brilhantes,
contrastando com os outros dois rapazes da vida dela. Recebendo uma bela
olhada de Rodrigo no seu decote que está mostrando diretamente para ele.
Ela revira os olhos fazendo ele abrir um sorriso de mil e um significado.
— Como um anjinho.
— Ele deu risada para mim, mamãe.
Alan relata eufórico toda vez que isso acontece. Taís rir ajeitando o bebê no seu
colo.
— Ele gosta de você.
Sorri. Rodrigo se rasteja da cama, dando um beijo na bochecha dela, a segurando
pela cintura. Levantando da cama logo em seguida, carregando Alan nas costas
que vai sorrindo sapeca.
— Vou levar ele para tomar banho. Vai querer o que para jantar? — Questiona
com o filho mais velho nas costas.
—Não sei. Vou ver o que é mais rápido.
—Vou pedir comida. Para você descansar um pouco, já que sou uma tragédia na
cozinha.
— Pizza! — Alan pede quase gritando.
Taís acena concordando para pedir pizza deixando Alan delirante em comer pizza
em vez de comer alguma coisa com legume.
— Só hoje.
Avisa aos dois que estavam atravessando a porta em direção ao quarto do
menino. Os dois gritam juntos ''sim senhora'' como ela fosse a comodante. Eles
dois aprenderam isso, para brincar com Taís, a cada ordem que ela dá.
Ainda rindo eles dois saem a porta fora deixando Taís com um sorriso bobo no
rosto. Ela acaba se virando para o bebê que a olha sem desviar o olhar.
— E você, rapazinho. Vai ficar igual a eles também?
Enquanto Alan é Rodrigo em pessoa, Léo apesar de parecer com os dois, tem os
traços de Taís, a deixando mais parecido com ela. Loiros com os olhos azuis
acinzentados. Passa a mão nos cabelinhos loiros arrumando novamente para o
lado.
— Você é o bebezinho de mamãe.
Brinca alisando as bochechas rosadas dele. Para ela, ainda é tudo irreal. Dois
filhos com Rodrigo, juntos e felizes. Parece ser tão...delírio.
Ela levanta logo em seguida. Para trocar seu bebê e seguir para sala.
Os dois logo voltam, ambos de banho tomado. Provavelmente Rodrigo entrou na
onda de Alan. E Taís já imagina a situação do seu banheiro depois disso.
A pizza logo chegou para felicidade de Alan e jantaram juntos, os três, com Léo
cochilando no sofá.
— Mãe, antes de a gente dormir. Pode assistir? Por favor! — Suplica juntando as
mãos.
— Está tarde e está frio. — Taís ordena.
— Vamos para cama que é maior.
Rodrigo dá o veredito deixando Alan feliz que saltita correndo em direção ao
quarto dos pais. E Taís só faz olhar séria para ele, irônica, de sobrancelha
arqueada.
— Que foi? — Questiona.
— Eu tentando fazer ele dormir para termos um tempinho e você acabou de trocar
por um filme infantil.
Ainda com as sobrancelhas arqueadas e sorriso zombeteiro, comunica dos seus
planos.
— Droga! Alan você não prefere história não? Papai conta.
Grita imediatamente ouvindo a resposta do filho:
— Não!
— Bem feito!
Taís debocha levando Léo no colo, para o quarto com Rodrigo atrás. Ele arruma a
cama para os quartos, com Taís no meio, com Léo acordado que garra seu peito
logo em seguida para mamar. E os outros dois, cada um de um lado jogados
assistindo o filme que escolheu.
Enquanto assiste seu pequeno bebê dormindo no colo, ainda com o peito na
boca, já com bom tempo do filme. Olha para baixo, vendo Rodrigo já nocauteado,
jogado na cama, abraçando suas pernas e Alan da mesma forma, com a cabeça
no seu colo.
E pensa que não poderia estar em momento melhor. Com os três rapazes da sua
vida ao redor de si, perto, como uma fortaleza.
— Rodrigo, vai colocar Alan na cama.
Chama baixo o despertando e levando o menino no colo em direção ao outro
quarto. Ela aproveita e leva Léo que dorme serenamente e de barriga cheia para
o seu.
Checa dez vezes se está tudo certo seu bebê e sente duas mãos enormes, a
agarrar pela barriga.
— Nem pense, queridinho. Agora estou cansada.
— Nananinanão. Não se pode mostrar o que eu posso ter e negar. Está nas
regras.
Arrasta para fora do quarto, a imprensando na parede próxima.
— Que regras? Nunca vi isso.
— Nas minhas regras. E você terá que cumprir.
Ele não espera e a toma para um beijo fogoso a calando completamente. A
arrastando para o quarto, onde os únicos sons que saiam da boca dela, foram
gemidos de puro prazer o sentindo entrar em sair de dentro dela.
— Era para ter lhe deixado de castigo.
Taís comenta ofegante e suada em cima da sua cama que até então seus filhos
estavam a pouco tempo.
— Isso seria tortura. Meu pai não ia gostar e nem eu. — Rebate provocando risos
de Taís, que se rasteja para cima dele novamente.
— Eu amo você, sabia? — Deixa um selinho demorado e molhado na boca dele.
— nunca deixei.
Rodrigo sorri levando sua mão nos cabelos dela, colocando atrás da orelha e
dando outro selinho, mas dessa vez rápida.
— Também amo. Vocês três são a razão da minha vida hoje.
Taís sorri pela declaração fofa dele.
— A senhorita me deu a coisa que eu sequer compreendia que era. Sabia?
Olha sério para ela que franze as sobrancelhas.
— Como assim?
— Filho e Família. Era isso que eu procurava e nunca encontrei. Porque não tinha
você. Passei todos esses anos procurando uma coisa que você podia me dá e eu
burro não vi. Agora me sinto completo!
— Com não te amar, Rodrigo?
Agarra ele pelo pescoço trazendo para sua boca para um grande e belo beijo
apaixonado.
— Você e nossos pequenos que me tornou uma pessoa feliz e completa. Não
poderia querer menos.
Em seguida Taís abre um sorrisão não deixando de ter seu coração acelerado e
aquecido pelas palavras dele. E não poderia sentir menos o que ele sente:
Sensação que vai transbordar de amor a qualquer momento. Enfim tudo está aos
seus lugares. Como deveria ser a anos atrás. E finalmente ele encontrou o que
tanto procurava e melhor, foi ela quem deu!
Continua em...
UM CRETINO PARA CHAMAR DE
MEU #3
Lizandra por conta da sua natureza romântica
incurável e altruísta, coleciona decepções amorosas.
Depois de ser diagnosticada infértil, perde a
esperança de ter o que sempre aclamou: uma
família. Ainda aceitando o que chama de destino, vê
uma pequena cor na sua vida cinza: Uma garotinha
de olhos verdes e covinhas cativantes que se
apaixonou perdidamente.
Ela só não contava com a ironia da vida, onde o pai
da garotinha fosse justamente o cretino do seu ex
namorado que quebrou seu coração quando
adolescentes. Mas como lidar com sentimentos
reprimidos e desejos se aflorando, pelo o cretino
agora tatuado e ainda mais charmoso rondando sua
vida novamente?
Copyright © 2019 - Mayara Carvalho, criado no Brasil.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Não é autorizada a
cópia, distribuição comercial, republicações, total ou parcial em
qualquer meio sem autorização explicita da autora. A Violação dos
direitos autorais é crime estabelecida na lei n°. 9610/98 e punido
pelo artigo 184 do código penal. O livro está protegido pela lei e
registro. Não distribua, respeite o trabalho alheio!
Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes,
pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
Versão única, Novembro de 2019
UM CRETINO PARA CHAMAR DE MEU #3
Design da capa & Diagramação: Mayara Carvalho
Revisão: Carol Façanha & Fabiano Jucá (O Ponto e A
Vírgula)
Imagem do miolo: Regards Coupables™
(@regards_coupables)
Modelo da capa: Orlando Barone
Fotografia: Murilo Pozzi
Agradecimentos
Aos meus leitores por nunca me abandonar. Amo
vocês por estar sendo o que preciso!
cretino
adjetivo substantivo masculino
5. 1.
que ou quem é ou se apresenta de modo insolente; audacioso, petulante.
6. 2.
Que age de modo cínico até irônico. que infringe qualquer padrão de
dignidade.
''Talvez a gente se esbarre por aí novamente, com o coração mais
feliz e maduro, talvez a gente sinta falta e, depois de tantos e
reencontros, decida pousar no mesmo lugar. Aprendendo a aceitar
aquilo que não soubemos aceitar, amando aquilo que não
conseguimos amar, descobrindo aquilo que tentamos esconder e
resolvendo tudo aquilo que deixamos para depois. Talvez a gente se
esbarre novamente com o coração mais calmo e decidido a lutar e a
ficar. ''
Tatiane Argenta
1
LIZANDRA
Sinto o vento frio entrar pela janela.
Encaro minha xícara com o resto do café expresso aguado.
Porque foi mesmo que eu achei uma boa ideia comprar a cafeteira
de cápsulas?
Com a sensação de desalinho e solidão em que acordei hoje,
esta casa silenciosa me parece de repente grande demais depois da
mudança de Nat.
Tudo por causa de uma data. Um ano desde a notícia que me
devastou. Mesmo não querendo pensar e sentir essas emoções
que me sufocam toda vez que estou sozinha, acabo me
martirizando e questionando: por que eu?
Depois do diagnóstico e ver minhas chances de ser mãe
evaporarem como poeira, e que mesmo tentando não deixar todas
as incertas angustiantes me sufocar, sinto que não fui mais a
mesma. Nada é como antes.
Eu ainda sorrio das piadas sem graça de Natasha, assisto
meus programas preferidos, me divirto, olho homens na rua e faço
minha rotina como sempre fiz, mas não é a mesma coisa. Mesmo
assim, tento seguir em frente o quanto posso. Os meus objetivos
foram em função disso, eu planejei minha vida acadêmica para ser
estável e assim poder ser mãe e de repente, quando estou apta
para tal, simplesmente não poder.... Hoje me sinto sem um
propósito!
É desesperador saber que ali foi meu fim de linha.
Infelizmente, não irei poder observar traços ou manias de
uma pequena miniatura minha e me orgulhar quando fizer alguma
coisa boba, ou simplesmente ser agraciada com um sorriso singelo
do meu próprio filho.
Todos a minha volta se encontram, casaram e tiveram filho, e
no final, eu continuo aqui, como sempre: sozinha. Vazia, como o
resto da casa. Às vezes sinto que sou uma merda de um tanto faz
nesse mundo. Sorrir já não tem mais muito sentido, chorar também
não vale mais a pena e assim eu sigo a vida. Nem quando descobri
a mentira de Roberto fiquei assim, apesar de cada dor ser única.
Tenho uma mania absurda e idiota de achar, que o outro vai
agir da mesma maneira transparente que eu, que o outro vai
querer na mesma intensidade que quero . Nada me preparou para a
porra do baque de saber que o cara era casado e pai de duas
crianças, uma delas recém-nascida. E eu estava com suspeita de
gravidez!
Estava desenvolvendo um sentimento mais forte por ele que
de repente foi interrompido bruscamente, já nos relacionávamos por
alguns meses. Eu quis chorar igual criança quando rala feio o
joelho. Eu sou ingênua demais! Mania de ver romance em tudo, que
a pessoa que eu estou é a certa!
E ainda agiu como se a errada fosse eu, por não ter tomado
nada no dia seguinte, mesmo já usando pílulas. Eu deveria ter
desconfiado a partir do momento que ele nunca me chamou na sua
casa e me encontrava apenas em motéis mais afastados. Ou em ter
entrado em pânico quando contei e antes mesmo de saber, mandou
eu interromper ‘’o estrago’’.
Deveria! Deveria desconfiar que tinha algo errado e não só o
fato de ele não querer ser pai além de ser um babaca de marca
maior. Pensei que, talvez, seria o homem que realizaria meu sonho,
e viveria comigo uma rotina familiar e simples, como sempre quis,
mas Roberto só me via como outra função: ser a outra. Para diverti-
lo quando ele achava que a esposa não o satisfazia como antes.
Eu tenho nojo de mim por me ter passado por um papel
desse, mesmo sem saber. Eu fui ingênua com tudo! E eu me odeio
por isso!
Dado ao meu histórico, eu não deveria ser tão boba. Estou
tão cansada de ser enganada e magoada. Desde a adolescência
que eu coleciono decepções.
Meu primeiro namorado; galinha, estava comigo e a escola
inteira; o segundo só me enrolava para namorar e fazia pressão
para transarmos, até que descobrir que ele era virgem e estava
comigo só para provar os amigos que não seria mais. O terceiro, o
maldito terceiro, que mais me causou estragos emocionais.
Não foi o primeiro amor, nem o primeiro beijo, muito menos a
primeira transa, mas foi marcante. Estávamos no primeiro ano,
namoramos o ensino médio inteiro. Três anos juntos! Achava-o lindo
com aqueles cabelos em um tom loiro meio dourados, combinando
perfeitamente com olhos verdes e sorriso sem vergonha mostrando
as covinhas. Sem contar o jeito sacana e abusado que me ganhou
de primeira.
Chamava-se Jônatas, ou chama, se ainda não morreu.
Realmente o amei, como ninguém antes, a gente sempre tem
aquele amor marcante e ele foi o meu. Mas o sonho virou pesadelo
quando eu estava prestes a me mudar contragosto, por conta do
trabalho do meu pai. Era ano de vestibular e toda confusão pós-
colégio.
Optamos em tentar um namoro a distância, planejamos as
datas comemorativas e férias que poderíamos viajar para nos
encontrar. Não ia ser fácil, mas tentaríamos fazer acontecer. Um dia
antes da viagem ele me deu uma das noites mais felizes que ainda
recordo de toda a minha vida. Com vista para cidade, eu me senti
amada, protegida, especial para ele, como se fossemos um do outro
para sempre. Ganhei até um anel de recordação e símbolo nosso, já
que no dia seguinte iria embora. Estava indo tudo como planejamos,
sentia que iria dá certo.
Achava que éramos um casal perfeito, mas ele pôs fim em
tudo aquilo, minutos antes de pegar a estrada para cá, alegando
que era o melhor, mas sinto que ele queria ficar sem a carga que
seria namorar alguém que não poderia estar ali sempre quando ele
quisesse e satisfazer suas vontades.
Eu sei que namorar a distância é a mesma coisa de não
namorar ninguém e é uma merda. Não iríamos nos tocar, nos beijar
todos os dias. Mas quando nos víssemos, nós iríamos aproveitar o
máximo um do outro e íamos nos falar todos os dias. E se não
desse certo, saberíamos disso, sairíamos com a sensação de
tentarmos. Mas ele sequer levou isso em conta e com toda mágoa
que estava jurei não o ver nunca mais e desde então sigo com
minha promessa.
A partir disso, as coisas foram de mal a pior. De todos os
relacionamentos que saio, sinto que não fui suficiente. Minha vida é
uma sucessão de erros.
Às vezes eu me acho muito boba com essa coisa de
casamento e querer filhos, sempre sou um alvo fácil, mas parece
que é impossível conseguir isso. É pedir demais um marido que me
ame?
Sou financeiramente estável, casa própria e habilitada, mas
não tenho o que eu realmente preciso, que é um lar de verdade e
que chame de meu. Onde eu tenha um propósito, que eu saia
ansiando para voltar. Por isso, quando soube que eu era a outra, caí
fora. Dou muito valor a família para destruir uma.
Só quero pertencer a alguém e quero alguém que pertença a
mim por inteiro. Mas pelo jeito parece que isso será uma coisa que
nunca vou conseguir. Nada é como planejamos e queremos. Tento
colocar isso toda vez na minha cabeça, mesmo que, como
romântica incurável que sempre fui, anseio, necessito disso. Ter
essa maldita urgência é como brasa na pele.
Odeio ser uma na multidão. Mas talvez o meu destino seja
ficar só. Tento me convencer disso sempre. Talvez seria melhor
assim. Apenas eu.
Atravesso a cidade em direção ao meu trabalho. Ao menos
nisso me vejo muito satisfeita. Já que a NOVAC é uma revista muito
conhecida e é bem vista no mercado e estou em um grande cargo
depois de tanto lutar para sobressair e subir na hierarquia, de forma
considerável. Virei editora-chefe recentemente.
Sou apenas um grau abaixo da minha chefe suprema:
diretora chefe de redação e presidente da empresa, ela faz questão
de ter os dois cargos para ter domínio total do que se passa na
revista e isso faz com que o meu se torne mais difícil.
Talvez hoje, se eu não me sentir muito sobrecarregada, ligue
para Alejandro, que virou meu casinho esporádico e o leve lá para o
meu apartamento, para me distrair um pouco. Pelo menos a parte
boa de morar sozinha é isso. Transar na sala e não ser atrapalhada
por Natasha, como da outra vez. Nunca esqueci essa vergonha que
passei.
Dentro da cafeteria do térreo e tomando um café digno,
converso com Suzana que é minha vizinha que encontrei no ponto
de ônibus enquanto passava, e resolvi dá carona. Atenta, a escuto
falar sobre um dos seus trabalhos, dessa vez no orfanato local. Ela
é assistente social e está no último ano de psicologia.
É uma companhia e tanto depois que Nat se mudou.
— E aí, vai amanhã mesmo para a ação social que te falei?
— conta empolgada.
— Para ser sincera, tinha esquecido. Mas ainda dá tempo? —
desculpo-me com um olhar.
— Dá, claro. Você pode contribuir com mantimentos básicos
ou brinquedos, se quiser. Mas só sua presença será válida!
— Então eu vou.
Amo crianças e passar um tempinho em uma ação social irá
me fazer bem e ser útil.
Ando pela redação da NOVAC para saber como anda os
editores, em minha checagem matinal diária já tendo noção de que
preciso falar com a produtora executiva para mandar o progresso
para que eu veja antes de encarar a chefe mor, Scarlet e antes de
ela autorizar. Afinal, é meu trabalho.
Sou responsável por supervisionar os editores, praticamente
coordeno essa revista como um todo, organizando todo o fluxo de
entrega de textos, cobrando e mantendo os prazos diretamente
pelos diretores. Além de participar nas decisões administrativas.
É, muita coisa, mas até que eu gosto. Como Nat costuma
dizer, sou uma virginiana chata e louca em organização. Ordem é
meu lema aqui dentro. E minha conta no final do mês compensa,
pelo menos na maioria das vezes, dependendo das raivas que
passo por aqui. Mas nem tudo é ruim, pois a revista recebe alguns
convites por semana para lançamentos de coleções, festas de
inaugurações, comemorações promovidas pelas grifes, como o baile
Vogue daqui do Brasil. Às vezes revezamos a função de prestigiá-
los e já fui em alguns.
Estamos quase em cima do prazo deste mês, preciso acelerar
todos. Depois de passar pelo quadro onde ficam penduradas as
folhas já escolhidas para revista, vejo qual sessão falta fechar.
Sento na minha mesa de chefe de setor, tendo agora uma sala só
minha, no andar de cima e encaro meu notebook: uma foto minha
com os meus cinco sobrinhos, contando com os gêmeos de Alexia,
e sorrio com o coração aquecido. Gosto dessa foto porque me traz
paz quando estou prestes a enlouquecer dentro dessa sala.
E me pego refletindo sobre como será o dia de amanhã. Mal
posso esperar perder as energias com aquelas crianças elétricas!
2
LIZANDRA
Com uma ansiedade no peito, disposta a ter um dia
recompensador, encaro o casarão onde funciona orfanato. Nunca
tive oportunidade de vir aqui e ver as crianças de perto por falta de
tempo, mas sempre contribui por intermédio de Suzana.
Tive uma manhã agitada, em meio de embalagens e
presentes. Suzana até passou lá para confirmar minha presença.
Sabendo que meu porta-malas e bancos traseiros estão cheios, me
sinto com uma sensação boa Ser útil por esses pequenos seres
humanos que não tem afeto nem amor dos pais, por conta de
qualquer eventualidade que seja, aperta meu coração.
Em frente aos portões enferrujados, já vendo movimentação
naquilo que deveria ser jardim com a grama falhada, noto presença
de senhoras e crianças, mesmo não sendo o ponto alto do evento,
pelo horário que cheguei. Avisto Suzana passando e aceno com a
mão, para que ela abra para mim. Assim que me vê, aproximam-se
com um sorriso enorme.
— Estava esperando você.
— Cá estou. Meu porta-malas está cheio, algumas coisas
estão pesadas com comida.
— Vou pedir para pegarem daqui a pouco.
Empolgada, me pega pela mão para entrar. Concordo e a
sigo. O lugar é espaçoso, limpo e organizado, entretanto, precário.
Não é o local adequado para uma criança viver. Logo penso nos
meus sobrinhos que poderiam ser qualquer uma delas e meu
coração aperta ainda mais.
Suzana logo acha ajuda e retiramos tudo do carro, assim
como os presentes. Algumas abrem o sorriso, umas gritam felizes
quando vêem do que realmente se trata a minha chegada. Meu
coração se aperta de novo. Não tem coisa mais linda que um sorriso
sincero de criança, enche meu coração de alegria de forma
inexplicável. Tenho vontade de pôr todos no bolso e levar embora.
Ganhei vários abraços e beijos empolgados. Retribuí todos com
sinceridade e brinco o máximo que posso com todas elas, numa
tarde agradável.
Aproveito o clima mais tranquilo, para conhecer o local
melhor. Perto do pequeno parque com brinquedos espalhados e
enferrujados com balanços vazios, encontro uma criança sozinha,
afastada das outras, sentadinha num banco de cimento, com
rostinho quase emburrado de tão sério, olhando a jardim mal
cuidado.
Intrigada, chego perto para saber o porquê de não estar junto
com as outras. Talvez seja pelo braço enfaixado e atadura na testa.
O que será que aconteceu com ela para estar assim e aqui?
Tento chamar sua atenção com meu melhor sorriso amigável,
mas ela ignora totalmente. Sequer me olha, apenas afasta o
corpinho rapidamente, repelindo minha aproximação. Repreendo-
me mentalmente por ter sido brusca, acabei assustando-a. E sinto
meu coração pesar de angústia, com vontade colocá-la no colo e
mimá-la muito.
Odeio ver criança machucada.
— Qual o seu nome? O meu é Liz. — sento ao seu lado, mas
não obtenho resposta. — Por que não vai brincar também?
Tento avançar, para pôr a mão nos cabelos dela, mas ela se
encolhe tremendo mais uma vez, dando um gemidinho sofrido de
medo ou pavor, me desarmando completamente.
O que será que aconteceu para ela estar desse jeito?
Analiso novamente.
Tem cabelos loirinhos dourados, puxado a um castanho claro
e mesmo um pouco bagunçados, mas vejo que é bem cuidado. A
pele branca tem alguns arranhões fracos. Deve ter uns três anos no
máximo, pois é pequena e cheiro de talco infantil. Ela parece tão
pequenininha e indefesa que sinto necessidade de cuidar, carregá-la
e apertar muito em um abraço.
— Você gosta de chocolate? Eu adoro comer bombom.
Busco de outra forma chamar a atenção dela, mas sem
sucesso algum. Desisto de falar por agora. Ela provavelmente deve
estar me analisando e quando perceber que não corre riscos
comigo, talvez me deixe aproximar. Não sei se essas coisas
funcionam, mas conto com a sorte da psicologia infantil que suzana
me conta.
Ficamos sentadas, lado a lado, caladas observando o nada e
eu pacientemente espero que o silêncio resulte em algo.
— Ei...
Escuto a sua voz suave, um pouco baixo e tenho vontade de
mordê-la. Engulo minha grande vontade de sorrir por ter dado certo
e me viro para ela com a cara mais normal que consigo.
— Oi? — respondo cautelosa.
— Você viu o meu papai?
Pergunta ainda no tom baixo e meio dengosa, coçando os
olhos querendo chorar, me olhando pela primeira vez. Encaro
aquela criança tendo finalmente seus olhinhos verdes, quase
dourados nos meus azuis e sinto meu corpo arrepiar completamente
pela intensidade que trocamos.
O que foi isso?
O seu questionamento me atinge como um soco forte no
estômago e tenho vontade de chorar. Se descubro quem é o pai, eu
mato. É muita covardia e crueldade deixar uma criança assim aqui,
nesse estado. Sem resposta, sinto a garganta secar.
— Você pegou seu brinquedo?
Mudo de assunto, não tendo coragem de contar a verdade.
Esse é o lar dela, me parte o coração, mas também não posso
mentir, não conseguiria plantar expectativas no coração tão
pequeno de uma criança que me olha esperançosa.
Sou muito emocional sim. Estou nem aí se vivo me ferrando
por isso.
Ela nega um tanto tristonha e volta à sua posição inicial me
deixando com mais dó. Começo a contar a ela sobre mim, sobre
minhas irmãs e meus sobrinhos. Conto também do que o mais
velho, Alan gostava de brincar. Até sobre Zeus falei, tentando criar
uma intimidade para mostrar que não era o perigo. Mal me dei
conta das horas se passando até uma mulher avisar que eu não
poderia ficar mais e estava na hora de eles se recolherem para
seguir o cronograma da noite.
A feira já havia terminado, assim como as crianças já tinham
entrado. Abaixo meu olhar para a pequena e mais uma vez, sinto
uma dor enorme no coração, em deixá-la sozinha.
— Suzana tá ainda? Chama ela para mim, por favor. — peço.
— Chamo. E ela não pode ficar mais tempo aqui fora.
Assinto e ela dá as costas logo em seguida nos deixando as
sós. Volto a falar como se nada tivesse acontecido e calada, ela
apenas me escuta. Ao notar a presença de Suzi esbaforida e
sorridente, se encolhe como fez comigo me deixando pior pela
situação que já não está nada boa.
— Jurei que já tivesse ido embora. Até fiquei me perguntando
porque não se despediu. — usa o tom de voz controlado.
Pelo jeito ela já sacou no ar a situação.
Ela sabe de algo.
— Não. Fiquei aqui com ela.
— Já está na hora dela entrar. Eu estou indo embora, vamos?
— põe as mãos na cintura, lançando um olhar desconfiado entre eu
e a bonequinha que nos ignora com maestria.
— Não posso ficar mais um pouquinho?
— Infelizmente não, Liz, mas pode voltar amanhã se quiser.
Assinto mais uma vez com os olhos cravados naquele
pinguinho de gente de novo, que está quieta. Tenho aflição em
deixá-la aqui e voltar para casa. Mesmo sabendo que está sendo
cuidada e supervisionada antes de eu vê-la...simplesmente não
consigo ir.
— Ei...amanhã eu volto, tudo bem?
Aviso, ciente de que não vou ter resposta. A garotinha
obedece à Suzana, descendo do banco sem que ninguém encoste
nela.
— Estou te esperando no carro, Suzi. — comunico, indo em
direção ao portão enquanto ela entra com a pequena.
Entro no carro com um aperto no peito e exaspero. Tomei um
choque de realidade sobre adoção. É, estou sendo precipitada, mas
começarei a cogitar esse assunto mesmo sabendo que dura anos.
Acabei de achar uma motivação na minha vida sem graça. Suzana
entra no banco do carona e repuxa os lábios satisfeita.
— Obrigada por ter vindo, espero que tenha gostado.
— Eu gostei muito! — repondo vaga, mas verdadeira.
— Amanhã não terá feira, mas poderá vir caso queira.
Durante a semana é mais difícil.
Aceno enquanto dirijo.
Não estou me contendo de curiosidade. Ela é a garotinha
mais intrigante que já conheci. Tem algo nela, que sinto necessidade
de cuidar. Faria isso com qualquer outra criança se visse assim,
mas ela tem um jeitinho que eu fico morrendo de dó, não sei
explicar. Tenho vontade de pôr no colo e abraça-la, ou leva-la para
minha casa e não deixar ninguém tocar ou fazer mal algum a ela,
me sinto angustiada.
No meio do caminho, resolvo perguntar.
— Aquela garotinha, qual o nome dela? — questiono
intrigada.
— A loirinha? Segundo o documento que acharam, se chama
Jade. Chegou ontem, tadinha. — comenta com pesar.
Não evito sorrir feito uma idiota por saber seu nome.
— O que aconteceu para ela estar daquele jeito? — indago
preocupada.
— Um acidente na estrada. Não sabemos muito detalhes, só
sabemos que a mãe morreu na hora no acidente, enquanto estavam
atravessando a cidade.
— E o pai? — reflito, com pena, por uma garota tão pequena
ser órfão de mãe.
— Estão tentando entrar em contato com algum familiar.
— Entendo...
Sigo caminho pensando nela e como é que não conseguiu
nenhum contato com a família? Nem o pai? Lembro que foi
justamente dele que ela me perguntou. Que porra de situação ela
vivia para o pai não dar falta? Que pai insensível é este? Mesmo
que eventualmente sejam separados da mãe...ele continua sendo o
pai! Obrigação dele procurar saber todo dia! Estou com uma raiva
que faz meu sangue ferver por pensar na irresponsabilidade.
Entro em casa ainda angustiada e tomo um banho para ver se
relaxo. Mas não consigo por muito tempo. Assisto um filme, mas
continuo tensa, me sinto egoísta de estar aqui e ela lá. O único jeito
é dormir logo para ver se amanhã chega e a vejo de novo.
Não adianta.
Pela manhã acordo com o pensamento nela. Estou me
sentindo péssima por estar daquele jeito, preciso mudar a situação
dela. Eu a imagino comigo com facilidade. É acolhedor a situação
na mesma medida que é louco e até imprudente, eu a vi apenas
ontem e não sei seu histórico familiar. Mas é isso. Não quero ser
racional. Essa hipótese me afaga de uma forma inexplicável, me
sinto animada como nunca senti, como não sentia há muito tempo!
Procuro alguma coisa sobre o acidente na internet, pelos
jornais locais, mas não acho nada, só uma pequena nota falando a
mesma coisa que Suzana me falou junto com a foto de um veículo
muito amassado e sem informações pessoais da vítima. Trabalho
um pouco em casa, pois estou atolada e no final da tarde, sigo pro
shopping, sentindo o vento frio entrar no carro.
Decidi comprar um presente para Jade, já que ontem não
ganhou. E também como um acordo de paz, para perder qualquer
medo de mim. E acabo pegando algumas historinhas das princesas
da Disney, que é o que imagino que criança gosta. Vou direto para o
orfanato, encontrando algumas crianças no pátio sendo
supervisionadas.
Procuro por Suzana sem saber se está aqui, mas logo a
encontro, conversando com uma das crianças maiores. Algumas me
olham curiosas, como da outra vez e cumprimento quem encontro
com sorrisos e abraços. Cumprimento-a e trocamos poucas
palavras. Mas sigo procurando-a no meio, mas não a encontro.
— Liz, ela tá ali, olha.
Ela aponta com o rosto para o lado, e vejo que ela está no
mesmo local de ontem. Sentada com as perninhas cruzadas em
cima do banco, quieta como da outra vez. Agradeço e ando em
direção a ela, tentando controlar minha euforia de vê-la novamente.
— Jade.
Chamo-a com a voz suave e surpreendentemente, ela me
olha, porém continua com a cara séria.
— Voltei para te ver. Você gosta de ouvir histórias?
Questiono sorrindo e ela desconfiada me olha de lado,
impassível. Ainda assim, tiro a primeira história da minha bolsa e
vejo que é da Cinderela. Sento do seu lado e abro o livro com
cheirinho de novo. Sem esperar resposta, pois sei que não terei,
começo ler para ela.
— Era uma vez, uma bela jovem chamada Cinderela, que
vivia com seu pai, um comerciante viúvo muito rico....
Começo, mas Jade não dá o braço a torcer e nem conversa
comigo. Mas pelo menos não me afasta, e logo no meado, percebo
que está prestando a atenção na história que estou contando. Tento
encenar fazendo vozes, fisionomias e gestos para entretê-la quando
percebo que está realmente prestando atenção.
Nenhuma criança é forte o suficiente para ignorar uma história
dessas.
—…O príncipe, sabendo do sucedido, veio imediatamente
buscar a Cinderela, montado no seu cavalo branco e a levou para o
castelo, onde a apresentou ao rei e à rainha. Poucos dias depois,
casaram-se numa linda festa, e foram felizes para sempre.
Fecho o livro. Sorrio para ela que percebe que foi pega no
flagra por estar concentrada, mas vira o rosto rapidamente. Seguro
uma gargalhada na garganta pela reação, porém finjo que não vi.
— O cabelo de Cinderela é loiro, igual o seu, né?
Tento manter conversa sobre coisas aleatórias até que ela
boceja. Percebo que já escureceu e que é acostumada a dormir
cedo. E me toco que passou a tarde sem comer, escutando
historinhas comigo.
Vejo Suzi acenando para mim de longe, apontando para o
pulso, mostrando que está na minha hora, infelizmente. Mostro o
polegar e olho para Jade que está olhando nós duas conversamos
de longe por sinais.
— Amanhã eu venho de novo, tudo bem?
Aviso quando levanto para ir embora e Suzi chega para
buscá-la. Preciso antes falar com a diretora daqui. Apanho seu
livreto e estendo para ela pegar, mas não estende a mão e dou a
Suzana que acena, a levando e sigo ao lado.
— Você já pensou no apadrinhamento? — pergunta.
— O que é isso? — questiono me interessando.
— É alguém que queira auxiliar e acompanhar a vida de uma
criança. Não tem nenhum vínculo jurídico. A diretora pode
esclarecer.
Assimilo o que disse, colocando meus cabelos atrás da
orelha.
— Ela está aí? Queria bater um papinho com ela.
— Tá. Venha, eu te levo.
Dentro do velho casarão, sou indicada a seguir para sala da
diretora, uma mulher de cinquenta e poucos anos, que me recebeu
cortês se apresentando como Antônia. Sento-me de frente para ela
depois de me apresentar e lhe cumprimentar no aperto de mão.
Encaro a mulher com semblante sereno e curioso. Ela tem
cara de avó que faz bolinho de chuva.
— Então! Queria saber mais sobre Jade. — dou meu melhor
sorriso.
— Não sei se posso dizer muita coisa, pois o caso está no
Judicial ainda e não sabemos se ela vai ficar aqui.
— Por favor? Eu sou amiga de Suzana e vim ontem e hoje. —
faço minha melhor carinha de pidona — É que me encantei por ela.
Suplico mais um pouquinho e ela acena suspirando, rendida.
— A garotinha foi encaminhada para cá há dois dias, por
conta de um acidente na estrada, não sabemos muito sobre sua
situação, estamos em busca de algum familiar para resolver isso,
mas caso ninguém apareça, ela ficará para adoção. — comenta
deixando os lábios em uma linha fina.
— Só souberam isso? — mordo os lábios.
— As hipóteses do juizado, é maus tratos, por causa do seu
comportamento recluso e arisco...que inclusive a mãe estava
fugindo do pai, o agressor no caso. Mas nada é concreto, ainda está
em análise e o procurando para esclarecimentos. Se for confirmado
isso, ele perde a tutela sobre ela e responderá processo judicial.
Sinto incômodo e uma raiva se apossar rapidamente no meu
corpo a ponto de eu travar os dentes.
— Entendo. E sobre esse apadrinhamento? Como é?
— Apadrinhar afetivamente uma criança é permitir que ela
passe algum tempo com você, por alguns períodos, um dia da
semana ou o final de semana.
Não evito sorrir em pensar em Jade indo para minha casa
para brincar com Zeus e Alan.
— Mas Jade não pode.
Que banho de água fria!
— Por quê? — questiono confusa.
— O mínimo para participar é seis anos. E só crianças que
não tem possibilidade de retorno à família de origem. E ela tem.
Primeiro a criança deve ser destituída de sua família biológica.
Murcho um pouquinho por isso e meu coração dói em pensar
a família voltando e não deixando vê-la mais.
— E adoção?
Sigo meus impulsos, sem nem saber se vou ter algum tipo de
avanço com Jade e ela gostar de mim, para querer morar comigo.
Sequer sei como vivia antes. Mas quero que se sinta amada,
acolhida e suprida de qualquer rejeição e falta de amor que tenha.
Quero ela perto de mim e pronto.
Não existe lógica quando o coração fala mais alto.
— O caso dela ainda está aberto. Você pode tentar quando
fechar.
— Entendo. — aceno.
— Mas tem o apadrinhamento provedor. — me olha
segurando uma caneta.
— Como assim? — franzo as sobrancelhas.
— Contribuir mensalmente com uma quantia financeira. Você
pode ajudar com qualquer coisa que faça a estadia dela ser um
pouco melhor. Ela só não pode sair daqui.
— Como faço para participar, é só vim trazer? — me
interesso.
— Tem cadastro direitinho, apesar de não ser reconhecido em
fórum. Você pode interromper a qualquer momento o
apadrinhamento e retornar posteriormente.
Despedimo-nos, comigo prometendo trazer os documentos
necessários na próxima visita para o cadastro. Encontro Suzana me
esperando.
— Achei tão bonitinho sua paciência com ela, Liz. — comenta
andando do meu lado.
— É. Ela só precisa de tempo. É só uma criança.
— As duas noites aqui, ela chora para dormir e tomar banho.
No primeiro dia ela fez um auê para não dormir que acordou
algumas crianças. Dormiu sozinha, de puro cansaço, no tapete do
quarto.
Seu relato me deixa angustiada por ela estar passando por
isso. Será possível que ela não tem nenhum familiar para olhar por
ela?
— Eu imagino. — a única coisa que verbalizo com a garganta
seca.
Mais uma vez sigo para casa pensando sobre Jade e que
farei amanhã para me mais aproximar dela. Só sei que estou
empolgada e esperançosa de ter um contato a mais e saber para
onde essa história vai me levar.
3
LIZANDRA
A redação está uma loucura, cada redatora focada, sentada
na sua cadeira, de frente ao computador escrevendo efusivamente.
Temos que fechar ainda essa semana e começar o planejamento do
próximo mês.
Acabei de voltar do horário de almoço, comprei umas roupas
para Jade, porque não resisti e entrei numa loja infantil. E também
uma boneca da Disney, a Cinderela, porque parece com ela e foi
tema da leitura de ontem.
Subo para minha sala, com uma resma de fotos para
selecionar e anexar nos materias. Mas sou avisada no meio do
caminho que Scarlet está me chamando na sua sala. Sigo, já
sabendo que é algum problema para resolver. Depois de dois
toques, e escuto ela me mandar entrar, a encontrando na sua pose
sempre séria atrás da mesa. Nunca vi essa mulher sorrir. Ela aqui é
conhecida como megera. Mas ela sabe e nem liga. E eu estou nem
aí, tanto quanto ela.
O que ela tem de bonita tem de gente ruim, então já
perceberam que a filha da mãe tem uma beleza desgraçada. Mas
eu não a acho tão ruim, e só não a provocar. Eu a odeio às vezes
apenas. Normal!
— Me chamou? — faço a pergunta retórica, depois que ela
apontou para que eu sente a sua frente.
— Quem autorizou essa matéria?
Mostra-me uma via de rascunho. Droga! Não acredito que
rodaram a matéria errada.. Pelo menos, estando na fase de teste
final, não foi a definitiva a rodar com suas milhares de cópias.
— Ninguém, a senhora autorizou a outra pelo que me lembre.
— esclareço também confusa por estar essa matéria e não a outra.
— Pelo jeito não foi bem assim que entenderam. — dá um
pequeno sorrisinho debochado e engulo o palavrão na garganta.
— Vou corrigir o erro antes que as outras sessões fechem e
rodem a revista completa.
— Não esperaria outra atitude sua. — acena imponente.
Sou liberada da sua sala, neutralizando minha raiva. Apesar
de eu trabalhar em constante parceria com ela pelos nossos cargos,
não temos intimidade alguma, ela sempre deixou evidente esse
afastamento. Apresso para fazer o que disse de uma vez!
No final do expediente mesmo cansada sigo para ver Jade,
rezando que dê tempo, nem que seja meia horinha, já que saí
atrasada da revista para resolver problema que não fui eu quem
causei.
Bato no portão de ferro para alguém me atender. O pátio está
vazio e Suzana vem atender, já pronta para ir embora.
— Dá tempo?
Ela apenas sorri e abre o portão para mim.
— Normalmente não, mas abro essa exceção. Ela passou o
dia inteiro te esperando no banco. Tomou café lá mesmo, porque
não quis ficar depois do banho, não teve quem fizesse a tirar. —
comenta enquanto andamos.
Abro um grande sorriso por isso. Será mesmo que ela está
me esperando ou foi só por costume?
— Suzi, eu posso te ligar durante o dia? Para me dizer sobre
como ela está passando...
Ela demonstra uma grande felicidade assentindo. Sim! Eu
estou parecendo uma perseguidora louca para cima de Jade, mas
estou nem aí. Quero garantia que ela está bem.
— Pelo jeito você foi nocauteada por uma miniatura de gente.
— faz graça e é minha vez de assentir.
Avisto Jade de vestidinho e Suzi me avisa que não poderei
ficar muito tempo. Avisei antes de irmos que iria na diretoria para
fazer o cadastro.
— Oi, pequena. Trouxe um presente bonito para você, gosta
de presente?
Sinto seu cheirinho gostoso de neném pós-banho. Adoro esse
aroma dela. E percebo que o curativo da testa foi devidamente
trocado. Desconfiada, ela me olha de lado, impassível e ainda
assim, lhe mostro a caixa. Quando acho que vai me deixar no
vácuo, ela aceita, estendendo o braço bom timidamente, titubeando
se pegaria, balançando as perninhas para fora do banco.
— Bonita, né? Sabia que ela é a mesma da historinha? —
comento.
Sento ao seu lado colocando minha bolsa no chão, em cima
das sacolinhas de roupa que trouxe. Vejo que ela está tentando abrir
a caixa com uma mão e sorrio satisfeita por ela ter gostado.
— Quer que eu ajude?
Pergunto solícita e ela me olha séria, acena positivamente
meio tímida ainda, me surpreendendo mais uma vez. Opa! Acho que
alguém está indo com minha cara aqui. Entrego-lhe a boneca, que
examina.
— Olha que eu tenho aqui. — arregalo os olhos mostrando
um pacote de cookie.
Abro e coloco entre mim e ela para ela comer enquanto conto
uma nova historinha, a de Rapunzel.
— Era uma vez um casal que há muito tempo desejava
inutilmente ter um filho. Os anos se passavam, e seu sonho não se
realizava. Afinal, um belo dia, a mulher percebeu que Deus ouvira
suas preces. Ela ia ter uma criança!....
Faço cara de surpresa e ela arregala os olhos arqueando as
sobrancelhas me dando vontade de gargalhar. Desenvolvo a história
para ela que aos poucos timidamente, começa a comer o
biscoitinho. Enceno como da outra vez fazendo vozes, gestos e
fisionomias para entretê-la que presta atenção totalmente em mim, e
só desvia o olho para buscar um cookie do pacote.
— ...Rapunzel, ao vê-lo, correu na sua direção, chorando. Ao
abraçá-lo, as lágrimas da Rapunzel inundaram-lhe o rosto e
molharam os seus olhos cegos, que imediatamente se curaram.
Finalmente estavam juntos assim, os dois jovens foram para o
palácio do príncipe, se casaram e viveram felizes.
Concluo e percebo que no pacote só tem o farelo de biscoito.
Pelo jeito temos uma ratinha de chocolate aqui! Percebo que a boca
dela está suja do lado e levanto a mão para limpar em reflexo, mas
me contenho.
— Limpa aqui, ó.
Aviso, fazendo o gesto em mim, mas ela se aproxima, para
que eu limpe, me deixando completamente surpresa. Passo meu
dedo da forma mais leve possível. Agora quem tem medo do toque
sou eu. Limpo rapidamente sorrindo para ela e mudo o foco, mesmo
me sentindo orgulhosa do avanço.
Mostro a capa de Ariel, para saber se ela quer que eu leia
mais um e ela acena, bocejando, segurando a boneca que dei. Pelo
jeito está tarde para ela já, mesmo assim começo a contar. Mas me
derreto completamente quando ela me chama, com a vozinha mais
fofa que existe, avisando que está ‘’com fio’’ e sinto vontade de
mordê-la. Dou-lhe o meu casaco, ajudando-a vestir, e a peça fica
enorme em seu pequeno corpo.
Depois disso continuo a ler em pura empolgação e percebo
que está quietinha demais e minha perna está nitidamente pesada.
Tiro minha atenção do livro para vê-la cochilando com a cabeça
repousada nas minhas coxas, abraçada a boneca. Como alguém foi
capaz de machucar esse toquinho de gente, meu deus!
Chamo-a em tom baixo pelo nome, que abre os olhos
sonolentos. Quando acho que vai sentar, ela se arrasta mais um
pouquinho largando a boneca e vindo para meu colo procurando
aconchego.
Fico surpresa e confusa. Mas não deixei de gostar, mesmo
sem saber se ela fez isso porque quis ou por causa do sono.
Enrosco-a nos meus braços sentindo uma coisa inexplicável se
apossar do meu corpo ao abrigar seu pequeno peso no meu peito.
Se eu estivesse alguma dúvida que a quero para mim, acabou de
ser sanada.
Percebo que pode chover a qualquer momento. Mas não
quero levantar agora para colocá-la lá dentro. Olho o rostinho dela
que para mim os traços já são familiares. Sorrio boba e não resisto
em tirar uma foto assim. Beijo suas mãozinhas e sua bochecha,
sentindo a textura macia da sua pele.
A foto se transforma em minha nova proteção de tela.
Rendo-me para que não fique gripada, levanto com cuidado
para não a acordar, que me abraça pelo pescoço, manhosa, com o
rosto na curva, fazendo com que eu me sinta bem. Suzana aparece
para me chamar, tenta tirar Jade do meu colo, mas eu nego.
— Pega a bolsa para mim e a boneca, eu a levo.
Concorda me ajudando. O vento realmente está gelado. Se
estou com frio? Estou, mas foda-se! O importante é ela está
quentinha no meu colo.
Andamos em direção ao casarão; peço para colocar ela na
cama e me levam para o que chama berçário, que é algumas camas
e berços, onde fica os meninos pequenos. Deito-a na cama, com
meu casaco mesmo e coloco a boneca do lado e enrolo. Não resisto
em dar um beijinho na sua bochecha e saio mais silenciosa que
consigo para não acordar ninguém.
Pego minha bolsa na mão de Suzi e sigo para sala da
diretoria. Apresento os documentos depois de fazer a inscrição e
entrego as roupinhas que comprei para ela. Sou atualizada do caso
dela, que continua na mesma : ainda estão tentando entrar em
contato com alguém. Mesmo com essa notícia, saio de lá me
sentindo muito feliz.
Até o estresse que passei na revista se tornou pequeno!
Dois dias se passaram e eu e Jade conseguimos ter uma
ligação a mais. Agora ela me deixa chegar perto e sempre me
espera chegar do trabalho. Ontem estava com uma roupa que dei e
o casaco, que virou dela, pois fica para cima e para baixo usando.
Confesso que adorei quando vi e Suzi me contou que ela não
quis que ninguém pegasse de volta, muito menos a boneca, que
dormem juntas.
Até me agradeceram pela minha paciência com ela, porque
mesmo eu chegando fora do horário, me deixam entrar, pois já me
conhecem. Jade esses dias está dormindo no meu colo, sem birras.
Também está mais obediente, só não deixa ninguém tocar
muito nela nem se enturma, se mantém calada. Brinca sozinha com
a boneca que dei e passa as tardes com os livretos, mesmo não
sabendo ler, apenas folheando vendo as imagens. Ah! Ela tem dois
anos, perguntei a diretora.
Eu a conheço a menos de uma semana, mas já sinto uma
ligação tão forte!
Mordo a caneta, vendo a revista completa. Hoje é dia de
fechamento, e preciso revisar pela enésima vez, antes dela ser
enviada para a gráfica rodar as tiragens superiores a um milhão de
cópias, afinal saiu recentemente uma nota, que aqui é a revista com
maior circulação nacional. Já perceberam o grau de pressão que é,
para mim, revisar antes de Scarlet fazer o mesmo e dá o sinal verde
para rodar esse tanto de cópias da revista.
Mudo a atenção para meu celular que acendeu sozinho e
sorrio, ao ver a foto dela dormindo no meu colo. Impossível não se
apaixonar, mal posso esperar pelo final de semana para lhe dedicar
mais tempo.
Já fazendo parte da minha rotina, saio da revista e sigo para
vê-la. Praticamente de passe livre, apenas cumprimento por quem
passo, seguindo para o mesmo local de sempre. Ela me recebe com
um sorriso lindo de dentes miúdos, um sorriso de verdade, com
lábios esticados e covinhas à mostra, deixando as bochechas mais
gordinhas e eu me derreto ali mesmo, com o coração acelerado e
aquecido.
Ela sobe no banco, se jogando no meu colo e eu agarro no ar,
surpresa. Ela ri escondendo o rosto logo em seguida me fazendo rir
junto. Como não querer morder uma coisa dessas?
Esses momentos nossos fazem bem para ela, quanto faz
para mim!
Por isso, durante o resto da semana nossos laços se
estreitam cada vez mais. Jade agora fala, pelo menos comigo.
Perguntou outras vezes pelo pai, me deixando angustiada, mas
sempre mudei de assunto. Lemos praticamente todo o livro de
historinhas da Disney todo. E Cinderela é realmente seu preferido.
Ontem dei um caderno de colorir e uma caixa de lápis de cor.
Saí da livraria parecendo uma revendedora de tantos livrinhos que
comprei para ela e as crianças do orfanato, fora meus sobrinhos. O
curativo da testa já saiu e só está uma marquinha tímida que em
breve vai sumir, pois não levou ponto, foi só um arranhão feio, assim
como o braço que agora está só na tipoia. Mas mesmo antes, isso
não a impediu de aprontar todas quando está comigo.
Penso que ela é tão familiar já, que não lembro como era
minha vida semana passada. Mas mesmo com todas essas boas
novidades, nenhuma é páreo para a notícia que recebi no almoço.
Deveria estar feliz e não desesperada como estou. Suzana me ligou
porque encontraram a família dela, seu pai. Eu torcia que isso
acontecesse, para que ela não tivesse sido rejeitada, mas agora
meu lado egoísta de querê-la só para mim está amedrontada em
nunca mais vê-la.
Até estou pensando na hipótese de caso revoguem sua
guarda, irei pedir para que passem para mim. Contudo, estou
ansiosa para encarar esse tal familiar.
Com o coração na boca e pernas trêmulas, afoita, adentro
pelo portão, quero vê-la antes de tudo, e saber as condições que
será com essa chegada. Sequer tive cabeça para terminar meu
expediente, sai mais cedo, sem esperar dar o horário.
— Lizandra. — Suzi, séria, me intercepta.
— Oi. Ele chegou? Cadê Jade? — disparo as palavras.
— Jade está lá dentro, e ele está com Antônia na sala.
Sinto minhas pernas tremerem ainda mais, angustiada e
nervosa por saber disso. Não consigo conter meu frio na barriga.
Céus!
Jade chega correndo, provavelmente por ter escutado minha
voz e a agarro no meu colo, e sorrio totalmente besta, enquanto ela
me olha com rostinho sapeca. Sequer parece a mesma da semana
anterior. Essa menina está se tornando cada vez mais especial para
mim, já ganhou um espacinho do meu coração.
Aproximo meu rosto para que ela me dê um beijo, porque
agora eu aproveito essa intimidade e ela dá, e eu a amasso no meu
colo, com todo o amor que tenho por ela. Tenho vontade de apertá-
la até não aguentar mais, ou sair correndo para ninguém tirá-la de
perto de mim. Meu coração dá um aperto em pensar em ficar longe.
Eu não aguentaria.
Escuto Suzana elogiar nossa interação e sorrio em
retribuição, enquanto Jade me conta que seu pai está aqui. Meu
peito aperta cada vez mais. Decidida a espantar essa sensação,
faço cócegas na sua barriga e ela gargalha, se agitando, mostrando
os dentes miúdos.
— Olha ele aí. — escuto Suzi anunciar o sujeito.
Perco o sorriso, parando de brincar com Jade e sinto como se
estivesse entrando num mundo paralelo, ao encarar o sujeito na
minha frente, a pessoa que jamais jurei ver novamente em toda
minha existência.
Cretino!
4
JÔNATAS
Horas antes...
Atravesso a cidade num tempo recorde, sentindo meu mundo
desabar com a notícia devastadora. Estou angustiado e enraivecido
na mesma proporção. Já vi que confiança é uma cadela, não se
pode vacilar um segundo sequer que é crucial. O gosto ácido de
remorso me angustia de uma forma péssima, temendo encontrar
Jade machucada de forma grave, e espero de verdade que não, que
a irresponsabilidade de Raquel não tenha trazido consequências tão
graves, pois eu faço o diabo ressuscitá-la para dar conta do
estrago.
E eu sequer sabia, que indo em direção a cidade vizinha, para
resolver esse problema, seria só a ponta do iceberg de confusões.
LIZANDRA
Encaro o homem totalmente diferente do nosso último contato
com seus mesmos cabelos loiros. Vestido formalmente, agora de
barba. O olhar verde continua penetrante. Parece tão mais...homem
e maduro. Menos menino e mais homem, encorpado, forte.
Estava na minha cara! Como não percebi que eles dois tem a
mesmas características praticamente? Sua expressão confusa
mostra que ele também não esperava me encontrar aqui.
— Liz? — por pouco suas sobrancelhas não se unem.
Sinto o coração gelar, numa taquicardia fina, por ouvir sua voz
novamente e constatar que sempre soa diferente quando ele me
chama, parece que...é diferente como as pessoas costumam
chamar. E como sempre, tem o mesmo efeito, faz meu coração
idiota acelerar.
Eu nunca quis que o ver novamente, porque sempre tive
pavor de imaginar como eu reagiria ao seu reencontro.
— É Lizandra, Jônatas.
Não consigo nem disfarçar meu desprazer de vê-lo, apesar de
não estar nem um pouco a fim de disfarçar mesmo. Como esse
idiota tinha que ser pai dessa coisa linda que vem dando cor aos
meus dias? Suzi pega Jade do meu colo e me amaldiçoo por me
sentir desprotegida, sob seus olhares, sem tê-la nos meus braços.
Quer dizer que ele virou pai? Quer dizer, é óbvio, já se
passaram muitos anos, normalmente é seguir a vida, casar, ter filhos
e esquecer do passado.
Ninguém é igual a mim que sofre pelos corações partidos até
hoje!
Censuro-me, tentando manter a cabeça no lugar, sem deixar
esses pensamentos me invadirem em momento inapropriado.
Disposta a ir embora e não discutir com ele, pois se for para deixar
minha raiva sobressair, vai dar merda, decido deixar para depois
minha conversa com Antônia. Percebo que sequer Suzi está aqui
para que eu me despeça dela e de Jade e resolvida, dou as costas.
Sinto meu cotovelo ser segurado, fazendo com que eu pare
de seguir meu caminho e me viro, já com a raiva entalada na
garganta.
— Não precisa fugir, Liz. — arqueia as sobrancelhas com um
início de sorriso. Desgraçado! — Quanto tempo, hein?
Permaneço séria, sem qualquer menção de sorriso, afinal, a
última vez que nos vimos, estava em dedo em riste no seu rosto,
chorando como nunca, lhe prometendo que estava saindo da minha
vida para nunca mais voltar. Que não era para cruzar meu caminho,
pois eu o odiava na mesma proporção que até então o amava. E eu
o amei muito. E até então, eu cumpri minha promessa. Mas não é
nosso relacionamento que estou enraivecida, isso é passado, e sim
a sua crueldade com a própria filha. Estou enojada e indignada com
tudo. Como ele foi capaz?
Sem me controlar acerto um tapa na cara dele que estala e
seu sorriso cretino some no mesmo momento. Ele coloca a mão no
rosto e vejo seu maxilar ranger.
— Como foi capaz de deixá-la num orfanato quase uma
semana, seu idiota?! — esbravejo, não me contendo.
— Qual o seu problema? — rebate e vejo fúria nos seus olhos
e a raiva é visível no seu tom de voz que mudou completamente. —
Você não sabe o que está falando!
Ainda ficou putinho? Ah, vai se ferrar! E olhe que nem joguei
na rodinha sobre as agressões.
— Como você foi capaz, Jônatas? Eu sei o suficiente, que
chegou machucada e sem contatos de familiares por uma semana.
Que tipo de pessoa é essa que você se tornou? Ela é só uma
garotinha! Espero, de verdade, que você nunca mais a veja.
Vocifero trêmula de nervoso e ódio dele.
— Não venha querer dizer o que não sabe, Lizandra. Se é tão
boa mãe, vá cuidar dos seus próprios filhos!
E sua frase me cala e recuo, magoada e com vontade de
repente de chorar, mas não irei fazer isso na sua frente, ele não tem
que saber que fui afetada pelo que disse. Totalmente péssima, com
a sensação que vou desabar em choro a qualquer segundo lhe dou
as costas mais uma vez em direção a saída, não dando conta de
segurar as lágrimas, e dessa vez ele não me segura. Ainda bem.
Acho que depois de hoje não vou podê-la ver mais. Que
merda! Para mim nada dá certo!
LIZANDRA
— Own, ela é muito fofa. — Taís exclama na cozinha de
Natasha, vendo a foto de Jade.
Sábado. Decidimos almoçar juntas. E por isso estamos na
cozinha de Nat preparando o almoço. Alexia daqui a pouco chega
com os seus gêmeos.
— O que tem de fofa tem de sapeca. Geniosa feito o cão.
Taís gargalha junto com Natasha e acabo rindo também.
— Acho que ela é uma Vargas perdida. — Nat comenta.
— Você precisa ver ela ao vivo!
Nat sorri para mim enquanto Taís corta umas coisas os
temperos entregando a ela logo em seguida.
— Eu imagino, sis. Mas e o caso Jônatas? — Natasha
questiona. — Você me falou sobre ele ser pai dela, mas não me
explicou o resto. Tiveram alguma aproximação?
— Óbvio que não, né Nat? Ele é um idiota que não quero ver
nem pintado de ouro!
Só em mencionar sobre ele, sinto minha raiva voltar
subitamente. Minhas duas irmãs fazem a mesma expressão, apenas
uma sobrancelha arqueada.
— Nem para transarem? Aposto que deve estar mais
experiente. — Natasha pisca para mim e em seguida, faz
movimento de oral com as línguas e dedos. Podre!
Apenas reviro os olhos pela sua baboseira, enquanto ela e
Taís riem. Mereço!
— Mas se ele ficar com a guarda, vão ambos embora. — Nat
toca num assunto importante.
— Eu não gosto de pensar nisso, mesmo tendo que trabalhar
com essa hipótese. Não me imaginaria longe dela, sabe?
— Eu imagino, irmã, você se apega muito rápido e pelo jeito
ela também está apegada a você. É foda! — Taís tenta me
acalentar.
— Vou lá vê-la depois do almoço.
A ansiedade ruim me aflige com a hipótese de não a ver
nunca mais caso ele ganhe esse processo de guarda. Engulo a
seco, sentindo o nó na garganta, rezando que eu tenha qualquer
chance ainda de adotá-la.
6
JÔNATAS
DIAS DEPOIS...
LIZANDRA
— Ei!
Jade me saúda com alegria antes mesmo de diminuir mais a
nossa distância. Não aprende a me chamar pelo nome de jeito
nenhum. Ela corre na minha direção, tirando seus cabelos do rosto.
O que essa menina está tomando para ficar desse jeito?
Preciso de uma dose para minhas segundas feiras.
Carrego-a no colo com apenas uma mão já que a outra está
ocupada. Sorri para mim com uma cara de sapeca que tenho
vontade de mordê-la. E me beija na bochecha sem que eu peça, me
derretendo completamente.
Tá vendo porque não dá para ficar longe dela de forma
alguma? Sei que ela também vai sentir minha falta. Essa separação
não pode acontecer de forma alguma. Conversando no almoço na
casa de Natasha no sábado, Gustavo me indicou a fazer uma
petição de inscrição no cartório da vara da infância, mesmo com o
processo rolando, para me mostrar como pretendente à adoção
caso ele for julgado não apto e estou disposta a isso.
Com ela no meu colo, sento no banco cansada, e ela
escorrega, correndo novamente para buscar a boneca no chão e eu
a espero. Foi se o tempo que tinha disposição para correr para um
lado e para o outro. Ou ser surpreendida por um pedaço de gente
pulando nas minhas costas enquanto estou distraída agachada
catando sua sandália. Haja pique!
— Trouxe uma coisa para você. — limpo seu rosto suado, lhe
mostrando seu copo com tampa que comprei recentemente.
Me olha curiosa e esperançosa. E eu faço biquinho derretida
a cada vez que ela pergunta se é ‘’chocoiate’’
— Não, salada de frutas.
Ela faz uma expressão frustrada e o jeito que ela cruza os
braços é adoravelmente engraçado, pois segura os dois cotovelos
por fora, em seguida de um berro birrento ‘’eu não goto’’
— É gostoso. Se comer ganha chocolate e ainda te mostro
outra coisa que trouxe!
Barganho e sorrio satisfeita, sabendo que ganhei. Faço ela
experimentar numa colherada que não resmunga muito. E assisto
sua sentença.
— Gostou?
Com as bochechas ainda cheia ela acena mastigando. Ela
engole e abre a boca novamente mostrando que gostou e lhe dou
mais uma colherada. E foi assim até terminar. E pedir pelo
‘’chocoiate’’ em seguida, mostrando que não esqueceu. Eu me
rendo e lhe dou um bis.
Uma hora depois, lhe ponho no berçário, depois de assistir
vídeo pelo meu celular. Eu estou me sentindo Natasha,
memorizando as músicas infantis. Mas para mim não é incômodo
algum.
No lado de fora do portão, Jônatas me para e me encara.
Sinto o coração a solavancos. Que merda é essa que acontece
comigo para eu ficar assim toda vez?
Não digo nada, apenas o encaro e me esquivo, mas ele
segue, bloqueando minha passagem. Suspiro por ter que aguentá-lo
afim de me provocar!
— Liz... — ele cantarola meu apelido em seguida sorri. —
Depois desses dias fugindo de mim, finalmente te encontrei. —
continua na sua pose inabalável com as mãos na jaqueta que usa.
— Não estou fugindo de você, Jônatas. — friso seu nome,
pausadamente.
O jeito que ele sorri é convencido. Claramente tirando onda
com minha cara, não engolindo nada do que eu falei. E eu tenho
vontade de socar seu ombro por isso, porque sim, eu estive o
evitando esses dias.
— Bom, queria esclarecer algumas coisas com você... —
percebo que fica desajustado pela primeira vez, usando um tom
mais sério.
— Não quero saber, Jônatas. — corto-o.
— Nem que Jade em breve vai voltar comigo? — suspende
as duas sobrancelhas. — O processo está bem encaminhado.
— Eu duvido, Jônatas. — sinto a garganta seca. — Isso seria
um erro, ela voltar a sua responsabilidade, afinal, se fosse
responsável não estaríamos conversando sobre isso.
Sou firme nas minhas palavras, mesmo temendo que isso
possa ocorrer, embora eu ache de extrema irresponsabilidade ele
ter essa guarda sem que averigue primeiro. E eu tenho razões para
ter essa opinião, Jade ficou uma semana aqui sozinha. Qual é?
Ainda tenho vontade de arranhar a cara dele. E pior, se isso
acontecer, eles irão embora. E eu?
— Não é isso que a Vara da Infância acha. — petulante, ele
estala a língua. — Eu queria realmente lhe esclarecer isso. Mas
como não quer, tudo bem.
— Eu espero de verdade que você perca esse processo, Jade
merece alguém melhor para chamar de pai! Boa noite!
Vejo ele se mostrar irritado, cerrando os dentes e faço o
mesmo, me controlando para não lhe socar mais uma vez e
decidida a não cair nas provocações dele, suspiro para me manter
sã. Empurro seu ombro, finalmente passando por ele, já
destravando meu carro que pisca.
JÔNATAS
Pelo retrovisor interno, vejo Jade e Liz no banco de trás,
ambas cochilando e sinto tranquilo, apesar da preocupação de
algumas horas atrás. Minha ex namorada com minha filha juntas
aqui está me deixando inquieto e confortável ao mesmo momento.
É nítido o amor das duas, e que ela só ficou febril pela falta de
Liz. E até o flat, imagino como seria se essa cena fosse constante.
O que é muito estranho, pela nossa relação atualmente!
Eu poderia googlar onde fica o hospital mais próximo, mas
num impulso, quis que ela viesse. Me senti ainda mais esquisito
abraçando-a. Não pelo abraço em si, mas pelo o que esse abraço
me causou. Está tudo muito louco!
— Já que está tudo bem com ela, eu já vou, Jônatas —
evitando fazer contato visual, Liz se despede.
— Não, é perigoso voltar sozinha. Passa o resto da noite com
a gente.
Peço, de repente, querendo que ela não vá embora logo. Eu
estou me sentindo mal pela discussão no início da noite, não medi
metade das minhas palavras e ela veio quando pedi, me deixando
com remorso.
Ela analisa brevemente, encarando minha pequena que
acorda procurando por ela e subimos para meu apartamento
temporário com Jade ainda mais dengosa no colo de Liz que se
mostrou pacífica e solícita o tempo inteiro.
LIZANDRA
Vendo Jônatas se virar nos trinta para fazer Jade se
alimentar, carinhoso e paciente, percebi que talvez, ele não seja tão
péssimo pai como achei. E estou bastante acanhada em estar aqui.
Estou constrangida demais com essa situação toda.
Jade quis vir pro meu colo e acabou dormindo em cima do
meu peito depois de eu mimá-la muito com carinhos nas costas e
cabelos e beijinhos esporádicos. Sei que fica calma com isso.
Faço de tudo para não ter muito contato visual com ele, mas
percebo que me encara e me amaldiçoei por ter lembrado dessas
manias dele de ficar assistindo o que eu faço.
— Acho que agora dormiu. — aviso, sem graça.
Como fingir que está na melhor fase da vida para o homem
que foi meu ex namorado ficando desse jeito? A vida nunca me
ajuda!
Deixo levá-la para cama e enquanto isso, observo seu apart-
hotel. Tudo em um ambiente só, praticamente, mas amplo e bem
dividido. Só o banheiro que é à parte. Ele volta, sisudo, sentando ao
meu lado e desajustada, brinco de rodar meu anel. Porque eu não
vou embora de uma vez, estou morta de sono!
— Eu não vou conseguir dormir, vou ficar monitorando a
febre, pode dormir na cama com ela.
— Não estou com sono. — minto.
Calamos mais uma vez, num clima estranho de estarmos lado
a lado assim, sozinho na madrugada fria. Jônatas levanta, indo até o
frigobar, pegando o vinho e servindo em duas taças, me entregando
uma.
— Queria te contar sobre o processo, sei que ainda está
receosa comigo de como Jade ficou uma semana lá.
Suave, ele comenta. Até agora ele não me pareceu nenhum
pouco agressivo com ela, como julguei. E acabo acenando rendida,
querendo escutar, afinal, ele tem a guarda dela. Estamos ambos de
guarda baixa. Só ele não ter ido embora hoje mesmo e ter ligado
para mim pedindo ajuda me deixa mais vulnerável a aceitar a lhe
ouvir.
— Jade não ficou esses dias no orfanato porque eu quis. Ou
porque sou um pai ruim. Cuido dela desde que nasceu, eu precisei
viajar a trabalho. Eu liguei milhões de vezes para Raquel, não me
atendia de forma alguma e isso me deixou em alerta, liguei para os
pais dela, mas sequer colaboraram, aqueles filhos da puta. Uma
sucessão de desculpas esfarrapadas, avisando que eu tinha que dar
tempo de ela ser mãe, porque éramos separados e nada de ela me
atender, até que começou a dar número inexistente e eu decidir
verificar essa porra com meus próprios olhos e ver a merda feita,
porque avisei que não era para Jade não ir para casa de ninguém,
não confiava elas sozinhas, Raquel nunca aceitou Jade, manteve a
gravidez numa tentativa de continuarmos juntos. Procurei por dias
sem dormir, até em hospitais e necrotérios da região fui. Minha filha
não estava segura nem com a própria mãe!
Expilo o ar dos pulmões, bebericando o vinho para ouvir essa
história até o final.
— Sou louco por ela. Eu que escolhi nome, montei quarto e
sem ela, porque Raquel sempre se desinteressou pelo assunto
nossa filha. Foi até diagnosticada com depressão pós-parto,
recusou a amamentá-la e nunca foi próxima de Jade, mas eu estava
sempre ali, tentando contornar a situação, mas quando vi que não
dava mais, separamos.
Exaspera-se, também tomando um gole da sua bebida. Vê-lo
contar com tristeza e frustração me faz ter empatia pela situação e
mais culpada pelas minhas palavras duras na nossa discussão.
— Jônatas.... Apenas estava pensando no bem-estar dela e
pela situação, julguei mal.
— Eu sei que numa parte você está certa, fui irresponsável
em ter deixado elas sozinhas para viajar. Eu estava desconfiado de
Raquel, mas caramba, ela era a mãe! E aos poucos tudo se
encaixou, vendo onde chegou. Desde o nosso acordo de ela ter
direito a cada duas semanas, percebia que Jade voltava reclusa e
odiava ir, queria sempre ficar comigo. Não tem um dia que o
remorso me corrói quando penso nas hipóteses diferentes do fim
dessa história.
— Queria pedir desculpas pela nossa discussão e pelo que
falei, não foi certo. — assumo meu erro, envergonhada. Logo eu
que odeio pré-julgamentos, fiz com ele e me sinto a pior das
pessoas.
Eu o magoei e ele me magoou, porque estávamos com
nervos à flor da pele querendo apenas a mesma coisa: o bem-estar
de Jade.
— Também queria pedir desculpas, não deveria ser tão
severo. Entendo seu lado também, vocês duas criaram uma ligação
rápida e muito forte. E a gente sabe que Jade ficou com febre por
sua culpa.
— Minha? — indago surpresa e sem entender.
— Não exatamente, mas ela ficou com febre emocional, por
estar longe, está na cara. Só dormiu com você e olhe que eu faço
isso há dois anos. E se eu perdesse a guarda, e se pudesse, eu
escolheria você para cuidar dela.
Suspiro trêmula pela sua confissão. Eu estou sem palavras
pela sua expressão sisuda me encarando firme. Preciso ir embora
logo antes que esse clima acabe dando merda.
— Eu preciso ir embora. Eu realmente preciso.
Decidida, levanto e Jônatas me acompanha até a porta, mas
antes que eu abra, ele me puxa pela mão, fazendo com que eu
tropece para trás e ele me ampara com suas mãos firmes. Engulo
qualquer coisa que tenha tentado passar na minha garganta,
encarando-o. essa proximidade pela segunda vez no dia e sem
justificativa me desarma, porque me deixa sem ar.
— Eu...eu preciso ir. — vergonhosamente gaguejo.
Calado, leva a mão pela minha nuca, fazendo com que
nossos olhares grudem e em seguida nossas bocas. Sua língua me
invade e eu cedo passagem. Sua mão firme me traz para mais
perto, colando nossos corpos e sinto tudo reagir, cada centímetro e
átomo do meu corpo reage a seu aperto nos meus cabelos.
O beijo se torna voraz e só percebo quando o gelado da porta
entra em contato com meu corpo e sua pele se arrepia pelos meus
dedos Com as mãos nas suas costas, por baixo da camisa,
tentando um contato mais próximo, sinto os gominhos da sua
barriga sólida.
Quando sinto um apertão com vontade na minha bunda que
percebo que foi longe demais. E empurro seu ombro, arfante. Estou
atordoada, não deveríamos fazer isso!
— Nunca...nunca mais me beije. Foi um erro isso aqui. E não
faça mais!
Saio do flat pelas escadas, sequer pedi elevador algum. Estou
com os nervos à flor da pele. Estou com o coração desenfreado e
parece que vou cair a qualquer momento pelas pernas trêmulas.
Ele não poderia me beijar. Não poderia!
Que merda passou na cabeça dele para fazer isso?
Eu tenho vontade de matar Jônatas, ainda mais por
desencadear coisas em mim. E seu maldito cheiro insiste em ficar
em mim. Tudo me lembra muito antes, mas está diferente também.
JÔNATAS
Exasperado, jogo meu corpo cansado no sofá macio e
suspiro, tentando assimilar todos os acontecimentos de duas
semanas para cá. Bagunço os cabelos frustrado. O plano era
apenas desfazer o mal-entendido e voltar para casa com Jade. Mas
estou com a provisória e não poderei me mudar de imediato.
Esperar ao menos o processo finalizar. Ainda tem o fato de Liz e
Jade serem um grude.
E o beijo.
Se antes ela não queria me ver nem pintado de ouro, imagine
agora depois do beijo. E só imagino amanhã quando Jade acordar e
não a ver aqui. É berreiro na certa.
O gosto do seu beijo está na minha boca, ainda é palpável a
textura da sua pele nas minhas digitais. E eu só queria ir até o final,
lhe despir e lhe dá prazer. Sempre gostei de ouvi-la gemer. Dá dez a
zero em qualquer uma, e sequer é estridente. É manhoso, é
sensual. Liz sempre foi brasa, mesmo agindo calmo e se tornou o
que eu sempre vi: Uma mulher gostosa demais com os beijos mais
cálidos que já provei. Ela é um convite puro de perder o juízo.
Depois de checar a temperatura normalizada de Jade, deito
ao seu lado, tentando reorganizar a mente e toda essa loucura que
nem eu mesmo sei como me meti.
8
JÔNATAS
Descendo para o café com a pequena tagarela no meu colo,
que pergunta desde que acordou ‘’ cadê eia’’ que como já
imaginava, que se tratava de Lizandra.
— Eu vou ligar para ela depois, filhota.
Ela faz cara de choro, cruzando os braços, porque quer ver
nesse exato momento. E sei que se começar agora, não para mais.
— Eu peço para ela vir, mas se você comer, tudo bem?
Tento um acordo. Jade para a cara de choro na hora e
concorda de imediato. Desse tamanho fazendo pequenos
trambiques. Estou é muito ferrado!
Na mesa, com nosso café escolhido, disco o número de Liz
de uma vez. Jade me cobra a cada dois segundos, a cada intervalo
do gole no suco, pedindo ‘’liga, papai!’’ repetidamente.
Suspiro, sem saber se ela vai me atender. Essa madrugada
andei pensando muito e não cheguei à conclusão nenhuma. Pior
que preciso voltar para casa o mais breve possível, continuar minha
saga interminável de um escritório de advocacia bom para me
associar.
Numa voz séria, Lizandra atende perguntando por Jade.
Momentaneamente fico sem palavras, mas retomo minha
consciência.
— Está aqui. Inclusive liguei por causa dela que não para de
perguntar.
— Estão no flat?
— Sim, tomando café.
Com o telefone na mão seguro Jade que tenta fazer uma arte
quase derrubando o suco. Reclamo e escuto o riso de Liz do outro
lado, e acabo sorrindo também, enquanto Jade olha emburrada para
mim por ter reclamado.
— Ela prefere Nescau. Cinco minutos chego, estou por
perto.
Desligo tentando conter minha pequena ferinha. Pelo menos,
Liz está me tratando cordialmente e não seca como os últimos dias.
Troco a bebida de Jade, seguindo o conselho, mesmo eu já
lhe dando para experimentar antes e seu sucesso e
inacreditavelmente, mas não surpreendente, ela toma com menos
birra. Menos de um mês e Liz já sabe contornar algumas manhas de
Jade. Vai entender!
Não demora para que Lizandra aparecer e para me atazanar,
de vestido delineando suas coxas alvas e grossas. Coço a garganta,
tentando disfarçar ao sentir uma vibração tentadora entre as pernas.
É nítido a felicidade de Jade ao vê-la chegando, tanto que a
espera de pé na cadeira. Minha filha sorri quando Liz chega até nós.
Cumprimenta-me de forma indiferente, mas sorri para minha filha
que pula no seu colo, a ponto de me contagiar rapidamente.
Recomponho-me.
E enquanto Jade diz que tomou café, ela checa se está com
febre.
— Está mentindo que eu sei!
Lizandra a pega no pulo mentindo, que esconde as mãos no
rosto rindo. E assisto a interação íntima das duas. É palpável a
preocupação dela com minha filha e isso é até uma ironia do
destino. Eu até estranho, porque Jade sempre foi introspectiva com
quem não conhece. Vivia no meu enlaço, hoje espera Liz ansiosa
desde que acordou.
Pelo menos não é apenas comigo que ela consegue fazer
viciar rápido. Alfineto-me e me repreendo mentalmente.
Eu olho para Liz, mesmo estando com minha filha no colo,
mas só penso nela montada em mim, nua, contraindo em torno do
meu pau e gemendo meu nome até não aguentarmos mais. Minha
mão formiga só com a vontade de lhe dominar pelos cabelos para
trazer para mim. Puta merda!
Até escutar a voz de Lizandra pedindo permissão para
alguma coisa.
— O quê? — volto para realidade.
— Sair para algum lugar, gastar essas energias.
— Vamos. — me incluo, concordando.
Querendo gastar energias com ela e de outra forma,
seguimos para rua, e mais uma vez, sem conseguir controlar, viajo
no movimento interessante que sua bunda faz enquanto anda na
minha frente. Eu estou muito pervertido por Lizandra, meus
pensamentos só vão para uma direção.
Tento pensar em um assunto para diminuir o clima, mas não
consigo pensar em nenhum. Por incrível que pareça, estou com
receio de piorar as coisas, principalmente por percebê-la claramente
desconfortável ao meu lado enquanto andamos. Talvez peça
desculpas, e fingirei que esse beijo não existiu, mesmo eu querendo
muito mais.
Quem diria que depois de anos, eu estou atraído por Lizandra
mais uma vez. Doido para saber como ela fode com mais alguns
anos experientes. Será que continua manhosa e safada? Será que
continua gostando de vir por cima?
Liz nos trouxe a uma praça, onde tem alguns brinquedos
infantis e crianças correndo assim como adultos bebendo juntos em
grupos. Está bem movimentado. Jade se agita vendo as milhões de
possibilidades no que pode fazer aqui livre, já querendo pular do
colo de Lizandra.
— Primeiro, você vai comer algo. Fica aí com seu pai que vou
comprar.
Jade estranhamente obediente, vem pro meu colo, e nós dois,
seguimos ela com o olhar, depois de sentarmos num banco de
madeira próximo, até parar numa barraquinha e trazer de lá um
copo e colher com algo dentro.
Ela volta e Jade se joga novamente colo de Liz, mostrando
que me troca sem pensar duas vezes.
— Comprei salada de frutas. — anuncia.
— Ela não come. — aviso antes que Jade cuspa, como da
última vez que dei.
— Come sim. — responde convicta.
— Ela não gosta. — rebato.
— Quer apostar? — vejo um pequeno sorriso debochado
sobressair nos lábios rosados.
De braços cruzados, concordo. Liz enche a colher e Jade
abre a boca, mastigando sem fazer cara feia, como se fosse seu
prato favorito, totalmente diferente quando a fiz experimentar.
— Eu disse!
Sorri zombeteira. Já falei que sempre a odiei nesse modo?
Sempre me enraivou com esse sorrisinho, por qualquer assunto que
seja, tenho vontade de lhe dar uma bela palmada na bunda.Faço de
tudo para não me mostrar atingido com esse sorriso, mas ela
percebe e sorri ainda mais arqueando a sobrancelha. Filha da mãe,
fez de propósito!
Jade faz sua parte no acordo e come tudo, e com Liz, corre
para um brinquedo. Eu decido por ficar. Meu celular toca mostrando
o visor que é meu pai.
— John? O bebê nasceu! — totalmente eufórico me dá a
notícia.
— Agora? — minha animação é completa.
— Na madrugada. Tem os olhos de sua irmã, lindo! — o velho
está quase chorando.
— Envia uma foto, pai. Duda agora vê o que é bom. — rio
com felicidade extrema pelo meu primeiro sobrinho.
Quando Duda contou que estava grávida eu quase surtei,
mesmo ela sendo adulta já. Ela é minha irmã mais nova, oras! Irmãs
não deviam fazer esses tipos de coisas, não importa a idade!
— Mando sim. Sua mãe está que não se aguenta aqui. E
Jade?
Encaro Jade descer do escorregador para encontra Liz em
baixo. Ambas sorrindo e sorrio também!
— Está bem melhor, teve febre ontem, mas já está brincando.
— Tudo bem então, me dê notícias, estou morrendo de
saudades de vocês.
Despeço-me dele colocando o celular no bolso, vendo agora
ambas brincarem no balanço, Liz com ela no colo, segurando as
mãos de Jade nas correntes. Logo as duas cansam de brincar e
sorridentes, vem ao meu encontro.
— Sua vez, cansei!
Liz senta ofegante ao meu lado. E penso que o dia mal
começou para Jade e ela está cansada. Jade eufórica, pula do colo
de Liz para o meu. Deixo-a no pula-pula e volto a sentar ao lado de
Lizandra.
— Liz, queria dizer sobre o beijo... — inicio o assunto.
— Foi um erro. — responde convicta e seca.
Sinto uma pontada de frustração, por não ter aberturas para
qualquer coisa.
— Fui impulsivo, não deveria ter te beijado. Não farei de novo.
— desato a falar e ela apenas acena voltando a olhar para onde
Jade está.
— Tudo bem, Jônatas.
Acena mais uma vez sorrindo sem mostrar os dentes.
Almoçamos por lá mesmo, o que não faltou foi coisa para Jade
fazer, tanto que ficamos até escurecer.
Tentei conversar com ela, ser no mínimo amigável para
quebrar a barreira que ela impôs durante todo o dia, e tentando
estabelecer uma relação amigável sem mencionar sobre o beijo. Ela
não me dá atenção, apenas sorri para um homem de cabelos
escuros retribuir e acenar.
— Dois minutos. Vou falar com Alejandro.
Disparada, segue em direção a ele que não está tão longe.
Os dois se cumprimentam com beijos nas bochechas e abraços
calorosos. Alguma coisa rola aí...
Me sinto duplamente frustrado com essa percepção.
Incomodado e impulsivo, me dou a desculpa de buscar Jade no
último brinquedo, que é onde eles estão perto, o suficiente para
ouvir ela confirmar ‘’mais tarde então, mi amore. Estarei lhe
aguardando’’ num tom zombeteiro e íntimo para ele que gargalha e
ela acompanha.
Encucado, analiso o contexto e não gosto nenhum pouco.
Finjo serenidade vendo, com minha visão periférica, ambos se
despedirem e ele a checar antes de ir. Percebe que eu estou o
encarando sério e sorri para mim, não se abalando, me causando
fúria. Jade descabelada, sai do brinquedo.
— Seu namorado? — questiono o mais inofensivo possível.
— Talvez! — levemente cínica me responde e corta o
assunto.
Apenas aceno, pensando em algo para que esse encontro
não aconteça, mesmo estranhando esse meu incômodo com ele.
Lizandra nos arrasta para um food-truck, que infelizmente é onde
esse tal de Alejandro está.
— Burrito, mi cariño? — abre o maior sorriso para Liz.
Mexicano fajuto!
Que raiva desse homem!
— Sim, hermoso, o de sempre. E você Jônatas? — questiona
séria para mim.
Ah, para ele tem sorrisinho? O de sempre? Pelo jeito eles se
veem e muito. Tem até códigos de comida e apelidinhos bregas.
— Não vou muito com a cara de mexicano. — respondo mal-
humorado.
— Experimenta! — tenta me incentivar.
— É gostoso? — suspiro e tento ser um pouco flexível,
apenas para agradá-la mesmo.
— Eu sempre faço, né Liz?
O mexicano fajuto se mete retrucando e Lizandra ri negando
com a cabeça e eu entendo o contexto, me causando fúria. Ainda dá
trela para esse babaca!
— Liz, as comidas daqui tem pimenta; acho melhor comermos
em outro local, por causa de Jade. — tento sair daqui de uma vez.
Ela nega com um sorriso e pede para o mexicano fajuto fazer
algo para criança, voltando a sentar onde estava e inconformado,
sem outra desculpa, me rendo parcialmente.
O clima ficou levemente tenso, juntos. Lizandra decidiu virar
atenção para Jade, fiquei apenas de telespectador de ambas. E
antes de eu me conformar onde estou, o mexicano fajuto volta com
os lanches.
— Para a minha hermosa.
Entrega primeiro o de Liz que sorri para ele. Incomodado,
com uma leve pinicada no corpo, coço a garganta.
— E para essa pequena princesa.
A refeição de Jade é posta na sua frente, que sorri para ele.
Até minha filha, está me saindo uma vira-casaca de primeira!
— E um burrito para o emburrado!
Debocha fazendo Liz gargalhar e Jade também, mesmo sem
entender o porquê. Mostro uma expressão severa, não fazendo
qualquer menção que achei engraçado como as duas, mas ele não
se abala. Se ele acha que vai ficar de gracinhas comigo, está muito
enganado. Acabei de levar para o pessoal. A noite dele vai ser
estragada já, e sei exatamente o que fazer.
— Obrigado, moça. — devolvo o deboche me referindo aos
cabelos compridos dele.
Liz agradece mais cordial e comemos silenciosamente. Está
um cheiro bom, tenho que admitir. Sentindo o gosto de vitória
misturado com o ardor da pimenta, dou minha cartada para ela não
se encontrar com ele.
— Jade, quer dormir com Liz hoje?
Usei minha filha e não me arrependo nenhum pouco disso.
Essa foi a única forma que achei de interromper o encontro dos
dois. Jade acena efusivamente arqueando as sobrancelhas em
surpresa, assim como Liz, quando eu a olho.
— Hoje? — ela questiona meio contrariada.
Claro! Ou você acha que eu te deixaria se encontrar com o
babaca?
— Não quer? Quer dizer, desculpa, achei que... — me faço de
magoado.
— Não! Eu adoraria! — se adianta, desajustada.
Concordo sereno por fora, mas por dentro sorrio triunfante. Se
ferrou, babaca!
— Vamos? Está ficando tarde. — olho no relógio, me
levantando, não dando chances de ela retrucar, mesmo colocando
cara feia.
— Vamos!
Lizandra chama o babaca do cabelo grande, se achando o
próprio Tiago Iorc e antes fosse, assim estaria sumido e sem
notícias. Ele vem rapidamente, feito cachorrinho.
— Esse anjinho aqui vai dormir comigo hoje.
Eles se despedem, com minha filha no colo. Ele concorda, me
encarando e de braços cruzados, me sentindo por cima, sorrio
debochado, acenando com o rosto e uma sobrancelha elevada, em
ironia, zombando da sua cara e ele trava o maxilar, semicerrando os
olhos para mim, claramente com raiva. Ganhei essa, babaca!
— Não tenho pressa, você sabe. O que mais teremos é
tempo. — faz questão que eu escute, mas o pior foi vê-los num
selinho rápido, bem na minha frente, fazendo com que eu perca a
compostura de vitória rapidamente, mas me recomponho.
Se depender de mim, esse dia não irá chegar tão cedo, vou
atrapalhar o quando puder. Passo as mãos nos cabelos, sentindo
minhas entranhas nervosas. Não vou deixar concorrente se criar,
enquanto eu quero que ela passe pela minha cama. Sem dá tempo
de Liz abrir a carteira, lhe entrego o dinheiro dos lanches.
— Fica com o troco e corta esse cabelo que está horrível.
Irritado, debocho mais uma vez saindo com as duas de lá,
antes que eles voltem de conversinha, mas antes escuto ele retrucar
‘’Lizandra gosta’’. Se ele acha que vai me tirar da jogada assim está
muito enganado, ele mal sabe quem sou eu!
— Vai deixa-la dormir comigo por quê? — Liz que nunca foi
boba, questiona quando voltamos para o flat.
— Preciso reler umas documentações do processo e preciso
de silêncio. Fiz mal? — digo uma coisa que não é mentira. Matei
dois coelhos em uma solução apenas.
Ela não se opõe, apenas acena com a cabeça. Depois de
pegar coisas para Jade, me despeço de ambas com seu endereço
salvo, que me deu, caso precisasse e que amanhã ela mesmo traria
Jade aqui se eu precisar de mais tempo. Jade foi sem pensar duas
vezes, depois de me dá um beijo babado de boa noite e Liz um
aceno de cabeça.
Poxa, também queria outro beijo molhado, mas na boca, por
Lizandra!
LIZANDRA
Satisfeita, adentro no meu apartamento com Jade. Apesar de
ter desmarcado com Alejandro, estou feliz de ela estar aqui. Nem
acredito que ela está aqui na minha casa! Imaginei isso tantas
vezes!
Percebo que Jade não me acompanha pela casa, está
retraída, parada perto do sofá, como se estivesse receosa de dar
um passo sequer.
— Venha, entre!
Confusa, tento pegá-la, mas ela se esquiva com o rostinho
amedrontado e logo entendo. Provavelmente tem pequenos
traumas com a tal de Raquel e estamos cem por cento sozinhas, o
local é desconhecido para ela... O pensamento dela deve estar na
hipótese de eu fazer algo ruim com ela, e isto faz com que o bolo
ácido de angústia volte com força total até minha garganta.
Agachada na sua frente tento pegar na sua mão, mas ela
recua em direção à parede amedrontada de modo que não ouso
avançar.
— Essa é minha casa. Não vou te machucar. Eu já briguei
com você ou te fiz ter dodói? — questiono calma e ela balança a
cabeça negando, ainda desconfiada. — Não vou bater em você,
nem fazer nada que não queira. Você não gosta de mim? Eu
também gosto de você. Venha, se não quiser ficar eu ligo para seu
pai te buscar.
Paciente, tento um acordo da forma mais delicada possível
que conheço.
— Me dá um beijo. Venha.
Peço, estendendo meus braços. Ela titubeia, mas acaba por
vir, tímida e delicadamente, suspendo-a do chão para o meu colo.
— Eu ainda sou igual. Tudo bem? Vai querer que eu ligue
para seu pai?
Ela nega ainda calada, me deixando amargurada por essa
situação deixar uma garotinha totalmente agitada e falante, trancada
e receosa, com medo de ser machucada de alguma forma.
Sem mostrar resistência, seguimos para meu quarto, para
procurar alguma muda de roupa para mim. Estou cansada, Jade no
parque esgotou minhas energias! Giro para trás, para vê-la pulando
na minha cama. Ela não cansa?
Depois do banho, seguimos para a sala e me jogo no sofá
junto com ela que não quis de jeito algum sair do meu colo. Ela
quem escolhe o filme, mas a maior parte do tempo mostrei no meu
celular algumas fotos minha com minhas irmãs, Alexia, e meus
sobrinhos, apontando quem era quem para ela saber mais sobre
mim. E exausta, não demora a adormecer pesado.
Ponho-a na minha cama e do quarto, escuto o bipe da
campainha. Preocupada pelo horário, sigo para atender, e escuto a
voz de Jônatas me chamando.
Com a testa franzida, completamente confusa, tento entender
sua visita, mas antes de eu perguntar qualquer coisa, adentra feito
furação.
— Que se foda! Quem tem que te beijar sou eu!
Sequer esperar que assimile a situação, me puxa pela nuca,
avançando para minha boca logo em seguida, totalmente eufórico e
possessivo, chocando nossos lábios com ânsia.
9
LIZANDRA
Tentando assimilar a situação, mas qualquer coisa evapora da
minha mente, quando sua língua quente, captura o lóbulo da minha
orelha, descendo para meu pescoço, totalmente safado. Ele sabe
que é golpe baixo. Sua mão agarra minha bunda com virilidade.
Outro golpe baixo, e ele sabe disso também.
Jônatas afoito e másculo, num impulso, me imprensa de vez
na parede e agarra minha nuca para um beijo intenso. Não demora
para que nós mergulhemos num beijo safado demais até para
descrever. Falta palavras, mas meu corpo reage e esquenta sem
muita demora. É como se nunca deixássemos de fazer isso e isso
me apavora.
— Sua boca fica melhor colada a minha! — num grave baixo,
assopra, com nossos lábios próximos.
Como apoio, seguro forte sua cintura e deliro com seus
gominhos duros e relevados. Sem controlar, ofego baixinho e
Jônatas afoito, desce as mãos da minha bunda para minhas coxas,
me trazendo para seu colo em cima do sofá.
Trêmula e sentindo os comichões do meu corpo destruírem
meu juízo, experimentando sua mão máscula me pressionar pela
cintura, gemo do fundo da garganta num prazer legítimo.
Prazer culposo, mas prazer.
Úmida e entrando numa contradição que eu sei que vou me
arrepender, não detenho; deixo que arranque meu vestido para que
eu fique apenas de calcinha e seu sutiã. É um passe livre para que
com os lábios capture um dos meus mamilos intumescidos.
Com tesão correndo enlouquecido em cada veia, puxo sua
camisa para cima. Minha consciência me alerta para que caminho
estou indo, Remember com ex é uma praga tóxica, eu sei e no
momento estou infectada. Por que essa química tinha que estar tão
viva?
Contemplo seus braços tatuados e tronco viril, mostrando que
o garoto ficou para trás. E sem conseguir deter, minhas mãos
mapeiam cada centímetro. Nossos lábios se chocam novamente
num beijo faminto e bruto, não me dando espaço para pará-lo. É
arrebatador e cálido!
O beijo é voraz, me deixando sem raciocinar nem meu próprio
nome. Fricciono minhas coxas no seu colo, sem vergonha alguma,
ou vergonhosamente, dependendo da perspectiva Quase delirando,
seu pau se destaca mais, fazendo pressão mesmo debaixo da
bermuda. Sinto minha calcinha ir embora, pelo lado. Ele a rasgou!
Ele me deita no sofá, me deixando à sua mercê, trêmula e
inquieta, e mais uma vez, não me dando tempo para me situar,
coloca as mãos por baixo das minhas costas descendo a boca para
me chupar.
Intenso. Com ânsia e capricho. Faminto, a palavra que melhor
se encaixa.
Seu oral é a sua especialidade desde sempre, até mesmo na
adolescência quando éramos inexperientes, mas havia curiosidade
de sobra. Ficávamos horas só naquilo sem nos importar. Éramos
inexperientes. Gostávamos de testar coisas, ver o que boca ali, mão
aqui causavam no outro, mas nosso foco mesmo era os finalmente.
Mordo a boca para não gemer alto.
Sinto a barba pinicar dando pequenos choques junto com a
língua quente, molhada e aveludada e sem conseguir conter sua
tortura boa com sua boca, língua e mãos. Puxo seus cabelos, me
jogando de vez nas sensações indescritíveis.
Ele sorri lascivo com os lábios molhados dos meus fluidos,
satisfeito, arrancando com destreza o resto de roupa que usa. E
tenho que admitir, seus cabelos revoltos é um tanto erótico, um
estímulo visual maravilhoso, ainda mais quando segura um dos
meus pés que estavam no seu ombro, mordiscando meus dedos. É
quando posso ver com mais clareza seu corpo tatuado. Isso acabou
com minha sanidade, todo esse corpo robusto que não tinha antes,
ainda mais nessa aura de prazer, parece que valorizou todo o
documento que já era impressionante por si só.
Ele me puxa me pondo no seu colo novamente. Ele está todo
mandão! Seus dedos voltam a esquentar onde pressiona no meu
corpo, me arrepiando na espinha pelos beijos espalhados no
pescoço junto com sua respiração audível e finco minha unha no
seu ombro, não podendo fazer barulhos.
Lábios cerrados, me encarando firme, adentra pulsante, me
encaixando de vez. E eu tenho vontade de morder sua pele até
magoar, ver o vermelho, sentir o gosto da carne.
Eu quem comando, talvez, até mais faminta, que ele
demonstra estar. Mas ele me acompanha, apertando minha carne
da bunda, ofegante e caralho! Abocanha meus seios, num prazer
puro e cru, assim como todo o momento. Sequer trocamos qualquer
palavra, é desejo vivo, bruto e impulsivo. É suor e prazer e nada
mais.
Vinco minha unha no seu braço e avanço para sua boca que
retribui o beijo totalmente animalesco, quicando no seu colo, num
ritmo frenético.
Jônatas para, me pondo de pé e logo apoiada no sofá, de
costas para si, e eu obedeço como a submissa que nunca fui.
— Seu cheiro é um convite tentador. — sussurra, arfante,
lambendo minha clavícula.
De olhos fechados, aceno. E é a vez de ele comandar como
quer, me apertando pela cintura, deslizando com facilidade, gerando
um barulho oco e excitante dos nossos corpos chocando, ainda
mais seus lábios passeando nas minhas costas, com mordiscadas,
lambidas e pequenos chupões enquanto investe cada vez mais
bruto e faminto. Tudo é a perdição para mim, sentindo as pernas
não querendo se sustentar mais sozinha, me jogo mais uma vez,
nas sensações extraordinárias e não demora para que ele me
acompanhe, me firmando no lugar para que eu não caia.
No sofá desabo ao seu lado, ofegantes, suados e sem roupas
ou pudores. De olhos fechados, esperando o corpo acalmar, minha
consciência vai retomando.
— Pode dizer, eu conheço seu corpo melhor que qualquer
outro.
Já irritada, escuto seu ar convencido percebendo que o
desgraçado veio apenas marcar um território onde não é
proprietário. Um território que não divide vínculo algum com ele. Um
território que sou eu.
Sinto o braço dele me puxar para seu colo, mas me esquivo.
— Cai fora, agora! — raivosa, ordeno. — Você é um
verdadeiro cretino, Jônatas. Você não tinha direito algum de agir
dessa forma, eu não sou um objeto para que você use e prove
alguma coisa para si mesmo!
Sentindo-me usada, ainda que consentindo, percebo que ele
só veio para mostrar que ainda conseguia transar comigo.
Finalmente entendo toda a sua jogada de oferecer Jade para dormir
aqui em casa. Jônatas me dá nojo com essas atitudes
inescrupulosas, sem medir o efeito que vai chegar nas pessoas.
— Liz, nós gostamos, qual o problema?
Sem entender a gravidade da situação, o cretino começa a se
vestir despreocupadamente.
— Foi armação sua, não foi? Perguntar a Jade se queria
dormir comigo...você usou sua própria filha, Jônatas, por sensação
de posse de uma pessoa que não é porra nenhuma sua, por causa
de Alejandro? Faça-me o favor!
— Brigar comigo não vai te fazer gostar menos da nossa
foda, Lizandra.
Não sei se tenho mais ódio dele por ter vindo aqui reivindicar
algo que não é dele, ou de mim por cair, por ser fraca e ter cedido
rapidamente depois de tantos anos! Não deveríamos estar aqui!
— Como sempre, você tinha que estragar as coisas. Cai fora!
— com menos paciência, ordeno.
— Amanhã passo para buscar Jade.
Ele sai e eu fico sozinha na minha sala silenciosa, suspiro
levantando a cabeça e me recosto no sofá. Que merda eu fiz?
Fiquei anos sem vê-lo. Jurei nunca mais reencontrá-lo para a
primeira tentativa dele eu simplesmente cair. Eu sou uma idiota!
Sua completa idiota!
E mais uma vez, fez o que bem quis sem se importar com a
consequência que isso traria, mais uma vez mostrou que não
mudou nadinha. Jônatas não pensou na filha dele, que está alheia a
esse inferno que estou sentindo, que isso pode dar merda como
deu. Estragando o pequeno clima que tivemos hoje na praça.
Agora eu não conseguirei nem olhar para cara dele, quanto
mais ficar mais que dois minutos perto. E quem sobra nisso tudo?
Jade! É claro que ele não pensou. Como sempre só pensa no lado
dele e o que quer no momento. Egoísta! Idiota! Babaca! Agh!
Que raiva por ceder e não ter lhe dado um soco assim que
entrou aqui. E pior, sequer sei o que vai acontecer de amanhã em
diante, se eu continuarei a ver Jade por esse evento.
Por que tudo tinha que ser tão complicado?
JÔNATAS
Dirigindo, percebo quão tenso estou pelo aperto que seguro o
volante. Solto ar dos pulmões que sequer sabia que prendia. Só
Lizandra para me deixar dessa forma. A safada me deixa maluco!
Lizandra tem um poder único de mexer comigo, sério. Mulher
dura na queda! Não está querendo nem olhar na minha cara. Estou
é muito ferrado!
Tudo porque transamos e olhe que foi boa. Não aguentei vê-
la se jogando para o mexicano de meia tigela, foda-se se agi
precipitado. E agora não sei o que fazer, estou confuso com tudo.
Estou quase a amarrando na cama e só soltá-la de lá quando ela
finalmente assumir que está atraída também.
Vê-la novamente me fez repensar muita coisa sobre tudo, na
noite passada principalmente que mal dormi. Confesso que irei
sentir falta dela, de nos darmos bem, apesar de tudo. Mas ela não
quer me ver nem pintado de ouro. Sei que eu terminei, mas tinha
meus motivos. E ela tinha que entender.
Estou chateado demais com toda a situação, confesso, e
penso como será quando voltar para casa, como ficará tudo, pois
Liz será apenas a pessoa que minha filha adora. Jade vai sentir falta
dela e pior, pressinto que eu também.
E é questão de pouco tempo até resolver a situação e dar o
rumo na minha vida. Mas me sinto estagnado, sem saber para onde
ir depois desse reencontro nosso. Revê-la e ainda vê-la beijando
outra pessoa principalmente… me incomodou de uma forma que
não esperava. Estou bastante fadigado. Nossa foda está tendo mais
importância do que achei que teria, andei pensativo sobre a situação
de tê-la nossas vidas, na minha novamente.
São muitos ‘’e se’’ que nem sei quero mexer nisso, se quero
reconquistá-la, mas não é como ela estivesse esperando e
desejando por isso, porque mesmo se eu estiver começando a ter
sentimentos novamente, minhas chances são praticamente nulas,
eu deveria estar com meu cavalo na sombra há horas, pois ali
quando quer ser gênio ruim, é com força. Mas sinto falta da Lizandra
carinhosa e de beijar sua boca e isso é um incentivo muito bom.
LIZANDRA
‘’ Você vem vê-la hoje? Ela está dengosa e com saudades.
Prometo me comportar! :D’’
Foi a mensagem que Jônatas me mandou um pouco antes do
meu expediente acabar. E eu estou indo matar minhas saudades
dela que mal aguento. Parece que não a vejo a meses e sequer
quero imaginar como vai ser minha abstinência dela quando eles
forem embora. Só o pensamento desse acontecimento meu coração
dói fininho numa ansiedade triste.
Encontro os dois entrando no prédio e é Jade quem me vê,
pois grita empolgada correndo na minha direção, pulando no meu
colo. A felicidade singela é contagiante. Eu a amo tanto!
Abraço apertado sentindo seu cheiro familiar e calmante de
bebê enquanto ela me segura pelo pescoço com a mão e na cintura
pelas pernas. Saudosa, distribuo beijos pelo seu rosto enquanto ela
se esquiva rindo com os dentinhos miúdos. Retribuo o sorriso e é a
vez dela de me beijar várias vezes na bochecha, me enchendo de
amor, e encostamos os narizes, e sorrio, mas uma vez, acarinhada
e sentindo minhas energias recarregarem. Com certeza, amanhã
estarei bem melhor para encarar o trabalho.
— Sentiu saudades?
Pergunto olhando para ela que assente mostrando as
bochechas gordinhas e rosadas.
— Muita?
Questiono de novo fazendo ela abrir outro sorriso enorme.
Dou mais uns beijinhos na sua bochecha não aguentando. Minha
atenção é virada para o pai dela, que de braços cruzados, nos
assiste. Apenas meneio a cabeça para não ser mal-educada. E
depois dele fazer sinal, subimos para seu flat.
No elevador, sinto a mão dele repousar nas minhas costas em
um gesto automático por estarmos próximos e me sinto totalmente
constrangida por isso. Sinto sua mão esquentar o local que está
repousado.
Tudo que eu não queria agora é ter ele me tocando, ainda me
sinto constrangida pelo que fizemos e insiste em permanecer na
minha cabeça. Além da irritação, a vergonha é maior do que
qualquer coisa.
Imagine você transando loucamente com seu ex e depois de
anos e ter que olhar para ele frequentemente. Não tem como, é
embaraçoso.
No andar seguinte entra mais duas pessoas lotando a cabine
e nos aproximamos mais e presto atenção no que Jade me conta.
Mas o gesto de Jônatas de me pôr na sua frente e detalhe, a cabine
está apertada, e resmungar baixinho um xingamento perto do meu
ouvido me faz prender a respiração até o elevador abrir novamente
e sair as duas pessoas.
Olho para ele, tentando entender sua ação, mas apenas o
vejo de maxilar trincado, encarando um homem que percebo que
está com os olhos cravados em mim e sorri brevemente. Estico os
lábios rapidamente e volto minha atenção para Jade, ignorando
ambos, principalmente Jônatas que exaspera irritado, querendo
marcar um território que nem é dele.
Dentro do flat, Jade desabrocha, pegando seus brinquedos
para me mostrar.
— Chegamos agora do aeroporto, deixamos minha mãe. Não
jantamos, você já? — Jônatas com as mãos no bolso, morde os
lábios rapidamente.
— Não, pelo horário o restaurante aqui tá funcionando, será?
— Acho que não, mas posso pedir algo aqui do lado. A
comida é boa!
Concordo. Por mais que eu esteja brava com a cara dele, eu
não consigo tratá-lo mal. Apenas evito contato o máximo que eu
posso. E entramos em consenso em pegar pizza.
— Pelo jeito continua sabendo do que eu gosto.
Ele comenta bem-humorado assim que desliga, se referindo a
quando me adiantei e falei o sabor que gostamos. Conheço ele,
mesmo que inconsciente.
Dou de ombros me limitando apenas nisso. Como é
impossível comermos pizza e fazer Jade comer outra coisa, ela se
empolgou ao saber que ela também vai comer com a gente. O clima
continua tenso, mas tem a pequena para amenizar, fazendo graça,
pendurada nas minhas pernas com os braços, feito um macaquinho.
— Se importa se eu for tomar banho? Para mim é maratona
quando estou sozinho com ela.
Nego, não me importando dele ir. Esqueço do tempo com
Jade, até ele voltar, cabelos molhados bagunçados e sem camisa,
com a toalha no pescoço. E me amaldiçoou por seguir o olhar para
onde ele passa a tolha, dos braços tatuados até a barriga. Exibido!
— Gostou, Liz? — me provoca. E o sujeito ainda diz que irá
se comportar.
— Não. — sou monossilábica e o seu sorriso de lado marca
presença em seus lábios. — Por favor, veste uma camisa.
— Eu não. Estou bem à vontade assim. — cruza os braços,
insolente.
— Custa vestir, Jônatas? Imagine se eu ficasse na minha
casa com você de visita só de sutiã, ou sei lá, de camisa, mas sem
sutiã?
— Eu ia amar muito.
Dá um sorriso muito cafajeste me dando uma olhada
sugestiva.
— Jônatas, eu estou falando sério!
— Continua mandona.
Escuto-o resmungar indo para o quarto buscar o resto da
roupa. A campainha toca e eu decido atender. Nessa altura do
campeonato eu já estou descalça e com os cabelos presos, porque
tinha uma pessoinha atracada nas minhas costas. Jônatas
praticamente atende a porta comigo e vejo que é uma mulher com
bom humor e a pizza.
Eles trocam palavras cortês, como se já se conhecessem e
deslocada, saio na tangente, deixando ambos na porta dialogando.
Pelo jeito, ele fez amizades por aqui.
Risos ecoam e olho pra trás rapidamente, para saber se
estavam se despedindo, pois eu estou mortinha de fome, nada mais
e me adianto, pegando a pizza, agradecendo. Mas não deixo de
escutar ela mencionando sobre Jade, que amanhã ficará com ela. E
me pergunto: Por quê?
Sirvo para mim e para Jade sem esperar Jônatas terminar sua
conversa interminável. Entretanto, ele se faz presente, atacando
uma fatia, abocanhando quase metade, sem nem mesmo sentar ao
nosso lado.
Ele sai andando mastigando e volta com duas taças de vinho,
e a garrafa, afastando meu copo de refrigerante.
— Ei! Estou bebendo!
— Já podemos beber vinho sem esconder garrafa. — seu tom
de voz é nostálgico que remete a bons tempos. — Aqui.
Agradeço e beberico um pouco o vinho e ele se junta a nós,
batendo sua taça na minha rapidamente, brindando sem motivos.
Sua ação me deixa estranha, estarmos assim tomando vinho numa
noite até agora agradável. Jade está quietinha, mastigando sem
nem mesmo mandarem, porque é pizza, claro.
— Desculpas, mas escutei sobre Jade, ela vai olhá-la...? —
comento bebericando novamente meu vinho, preocupada se ela é
confiável.
— Vou precisar sair amanhã, acho que finalmente irei me
livrar do Fórum. Não aguento mais tanta babaquice, provar que eu
sou bom pai para pessoas que sequer já trocaram a fralda dela. —
resmunga chateado.
— E é que horas? Eu fico com ela, era só me pedir. — tento
entender.
— Não queria abusar. — debocho, com apenas uma
sobrancelha arqueada e ele ri de lado, mostrando suas covinhas,
passando as mãos nos cabelos De repente, me sinto estranha. —
Por causa do seu trabalho, será à tarde… Eu falei com ela, porque
ela tem uma filha e Jade se deu bem.
Ele levanta, com o prato vazio. E me preparo para fazer o
mesmo.
— Leve-a na revista que eu trabalho, é a NOVAC e me avise.
— Proponho.
— Valeu!
E Jônatas simplesmente beija minha bochecha, casto e foi
natural, acho, mas fez com que meu corpo reagisse
vergonhosamente arrepiado, e com uma fina taquicardia.
Desajustada, pigarreio, sentindo meu corpo formigar devagarzinho,
principalmente na bochecha onde seus lábios tocaram.
11
JÔNATAS
Organizo os brinquedos de Jade, aproveitando que pediu
para dormir com Liz e eu deixei. É bom para as duas ficarem juntas
o quanto conseguirem, antes de voltarmos para casa já que o final
do processo praticamente chegou. Só estou cumprindo cronograma
jurídico mesmo.
É até engraçado essa ligação de ambas. Minha filha se deu
bem justamente com minha ex namorada. E pior, Liz é toda leoa
quando se trata da minha pequena. Quão ferrado um homem pode
estar nessa situação? Duas mulheres geniosas unidas por minha
culpa, quase sempre o resultado para nós, homens, nunca é bom. E
pior, eu gosto das duas juntas, por mim seria uma cena constante.
Meu plano é voltar essa semana já, preciso voltar a minha
vida e meus projetos de sociedade que estão em pausa por conta
disso. Mas também estou me sentindo um ser humano horrível por
separar as duas. Já vi o que a falta de Lizandra faz com Jade e
estou me preparando psicologicamente para enfrentar nossa vida
sem ela depois de doses diárias da sua presença contagiante, eu ao
menos tenho experiência.
Mas o fato é que estou terrivelmente mexido e me pergunto
se algum dia eu deixei mesmo de gostar dela. Lizandra sempre me
fascinou e não seria diferente dessa vez, ainda mais depois que
percebi que nossa química continua explosiva como sempre foi. Eu
estou fodidamente de quatro novamente por ela e pior, ela não quer
nem olhar na minha cara e conhecendo como a conheço, sei que
me odeia muito mais. Mas eu nunca fui homem de desistir do que
quero e se eu a conquistei uma vez, consigo outra, ela não pode ser
tão imune a mim.
Dessa vez quero fazer certo.
LIZANDRA
Pelo retrovisor vejo Jade dormindo serenamente e de
chupeta. Ela ainda usa, mas é raramente. Quase nunca vejo, mas
quando está de dengo pega e desse jeito parece ainda menor. Amei
acordar com ela adormecida no meu pescoço, quis dormir de novo
comigo e claro que não recusei, amo sua companhia e conversamos
feito gente grande deitadas na cama antes de adormecermos.
Com o carro parado em frente ao flat, ligo para Jônatas para
pegá-la aqui em baixo para que eu possa seguir para revista, antes
que me atrase. Ele atende, com uma voz preguiçosa e sonolenta e
me amaldiçoei por ter me arrepiado. Isso vai parar quando?
Talvez hoje ligue para Alejandro, estou a fim de um chamego,
de um sexo que não seja com Jônatas, quem sabe seja isso meu
peso na consciência maior? É disso que preciso para parar de
pensar e ficar me arrepiando com bobagens.
Escuto dois toques na minha janela e vejo Jônatas sonolento
e cabelos desordenados e engulo a seco, de repente pela visão que
não esperava.
— Bom dia — seu tom de voz sussurrado quando saio do
veículo me obriga a me recompor mais que rapidamente.
Respondo, e ele intercepta meu caminho até a porta traseira
onde Jade está na cadeirinha. Confusa e com uma leve taquicardia
por estar segurando meu pulso para que eu pare, encaro seus olhos
verdinhos.
— Não me seja fria, vai. — pede quase dengoso e ele sabe
que isso é golpe baixo.
— Estou tratando normal. — respondo com calma.
— Não é o suficiente, eu sinto falta da Liz bem-humorada.
Estou me sentindo malzão com sua frieza, estou tentando me
redimir por todo os erros. — num puxão, nossos corpos se colam e
ele me prende com a mão pesada na minha cintura. — Estou
mexido por você novamente, Liz, doido para ter você de novo. O
que eu faço com esses sentimentos?
Chega mais perto abaixando o tom de voz, deixando nossos
rostos próximos.
— Esquece. A gente foi passado… não mistura as coisas. —
gaguejo nervosa.
Sinto meu corpo trêmulo dos pés à cabeça, a ponto de
perceber meus joelhos fracos, não aguentando mais sustentar meu
corpo, diante dessa declaração, não deixando de encarar seus
olhos verdes que estão mais claros que o normal. E seu olhar sai
dos meus olhos, encara minha boca e volta para os meus olhos.
Ainda bem que o carro me sustenta.
— Admite que ainda mexo com você, como mexe comigo,
não é possível que só eu esteja dessa forma. Passado já foi, eu
quero você no agora. Caramba, Liz, você ainda tem capacidade de
me fazer sentir tudo novamente!
Segura meu pescoço nos aproximando mais e engulo seco
com taquicardia, ansiosa a ponto de adormecer os músculos. Teve
meses que sonhei com esse dia, que ele voltava e se declarava
para mim, mas agora, depois de tantos anos? Parece tão errado e
fora de contexto. Não dá para simplesmente colocar tudo no bolso e
fingir ser o que ele se lembra de mim.
— Exatamente. Passado já aconteceu e você quem decidiu
acabar com tudo, Jônatas. Minha vida seguiu, não fiquei estagnada
te esperando, não dá para simplesmente te encaixar.
— Eu quero você, somos melhores juntos que separados.
Lembra?
Sussurra calmamente a frase que eu disse a ele quando
soube que iria me mudar e morar aqui, alisando minha bochecha e
espalmo minha mão no seu tronco duro e relevado, para manter
nem que seja um pouco de distância. Porque ele tinha que ter esses
músculos tão firmes?
Ele acha o quê? Que é assim? Não quero e tchau! Agora eu
quero e venha?! Por favor! Eu não tenho mais dezesseis anos. Eu
tenho vinte e sete. Foram onze anos que se passaram e não um.
Não é assim que tudo funciona.
— Lembro. E lembro também que você falou que separados
viveríamos melhor. Eu não sou mais aquela garota, Jônatas, supere
isso, a Lizandra de ontem não é a mesma que você está vendo
hoje. Não se iluda com lembranças de um passado que não volta,
chega disso, não somos compatíveis. Você voltou com dez anos de
atraso.
Com o gosto amargo de nostalgia na boca, o empurro para
manter distância. Remexer em coisa que nem deveria mais lembrar
é a pior coisa que se pode fazer. Inclusive comigo.
— Eu também não sou o mesmo, e daí? E eu quero essa que
estou vendo aqui na minha frente, a mulher que está me deixando
louco pela segunda vez. Você é insuperável, Lizandra. Admite para
si mesma, que pelo menos gosta mais do que queria.
Suas palavras afiadas vieram pra me enlouquecer, ele
ensaiou isso, para me deixar dessa forma, não é possível.
Insuperável? Porque ele tinha que ser tão...franco? Seu
sobrenome, aliás. Porque simplesmente não para de fazer isso?
Qual o problema de esse ser humano?
Com calma, tentando ao menos, lhe entrego Jade alheia a
tudo isso no seu colo e ele permanece me encarando, numa
expressão firme e significativo.
Vou para entrar no carro e ele pega novamente meu
cotovelo.
— Esse erro que você acha que cometi lá trás, foi só para
mostrar que se for para ficar juntos, ficaremos. E se depender de
mim, só descanso quando tiver você.
Calada, entro novamente no carro, pegando uma grande
lufada de ar, me preparando psicologicamente para trabalhar depois
de tudo.
— Já falei o que tinha o que falar, por favor, não esqueça de
me ligar quando tiver chegando lá na revista.
Limito-me em acenar depois do recado, pois tenho a leve
sensação que se eu abrir a boca mais uma vez, o que quer que eu
fale, vai vir no meio de um choro.
JÔNATAS
Chateado e frustrado como passei o dia inteiro, com a
impaciente no meu colo que pergunta por Liz a cada dois segundos
desde que acordou pela manhã. Parece o burro do Shrek no
caminho, repetindo: “chegou, papai?’’ a cada dois segundos.
Deixando o carro estacionado, sigo atrás de Lizandra na
revista. Encarando o prédio espelhado com o logo no topo em
destaque em neon rosa elegante, sinto uma pontada de orgulho
dela. Acompanhei ela na escolha, decidiu que iria fazer jornalismo e
agora está aqui, na revista famosa que minha irmã e qualquer
mulher que eu conheça lê.
Liz simplesmente voou!
Antes de adentrar o hall a vejo saindo e perto das escadas,
vejo o exato momento que um cara, que está equipado, parece ser
segurança da revista, a pega pelo braço a fazendo virar já arisca.
Pressentindo problemas, adianto os passos, escutando-a vociferar
enraivecida: ‘’não toca em mim!”
— Liz?
Faço uma média de olhar entre ela e o sujeito que faz o
mesmo comigo. Somos quase do mesmo tamanho, mas ele tem um
adicional de cassetete na cintura, por ser segurança. Mesmo assim,
se for preciso, entro numa briga com ele sem nem pensar duas
vezes.
— Oi, amor.
Diferente do que achei que me receberia, ela sorri para mim,
puxando a mão que ele segurava com grosseria, pondo no meu
ombro em apoio, antes de colar nossos lábios com volúpia, me
deixando completamente surpreso e sem ação.
LIZANDRA
Trêmula de adrenalina, com os lábios formigando, separo
meus lábios do de Jônatas que está atônito, com sobrancelhas
levemente juntas. Logo a gravidade da minha ação me golpeia, e
sem dizer uma palavra, sinto a vergonha me atingir. Eu o beijei!
Sou interrompida por uma coisa nada agradável de ouvir.
— Pelo jeito você gosta mesmo de homens comprometidos.
— Em tom debochado, Roberto bosteja.
É, ele mesmo, o ser humano desprezível que me fez de
trouxa por dois meses e é responsável pela metade do caco que
sou hoje. Encarando- a agora só me pergunto como fui dá ouvidos
a ele? Como fui gostar? Às vezes me pergunto seriamente o que me
fez sentir atração por ele. Hoje eu olho e só sinto nojo!
— Tá louco, babaca! — Enraivecido, ele tenta avançar, mas
seguro seu ombro.
— Vamos embora, John. — Tento contornar a situação, o
chamando pelo apelido, numa tentativa, em vão, que ele me ouça.
Eu só preciso ir embora, estou a ponto de desabar. Ele me faz
mal, só em presença.
Chamo pelo apelido em uma tentativa de ele me ouvir. Fico
trêmula de pura raiva e irritação também. Estou ao ponto de
desabar.
— Isso mesmo, cara. Isso aí é uma vadia, cuidado, hein?
Trêmula dos pés à cabeça, tendo seu olhar porco em cima de
mim, sinto a razão me abandonar, ao ponto de perder a compostura,
querendo ir para cima dele, cega de raiva, mas Jônatas me segura
com uma mão, pois a outra está com Jade que está assustada e
sem entender nada.
— Repete essa porra!
Sem controle, Jônatas põe Jade no meu colo que me abraça
apertado pelo pescoço, escondendo o rosto, avançando para cima
de Roberto.
— Não precisa ficar bravo. O que queria dela eu já tive. Pode
dizer, ela é bem fácil!
Com lágrimas teimosas querendo descer, me sinto menos que
um lixo. Fácil? Ele me ludibriou por semanas, com sua pose de bom
moço me entregando chocolates e elogios. É, eu sei, ele me
conquistou com coisas meia boca e clichê, comparada a tudo. Mas
ele me pareceu tão...verdadeiro e singelo na época.
Jônatas dá o primeiro soco. Na boca e de vez. Recuo com
Jade quando vejo agora uma briga de Roberto querendo descontar
e Jônatas revidando por cima. Chamou a atenção de algumas
pessoas e não tenho reação alguma de gritar ou tentar separar. Só
consigo abraçar Jade para protegê-la, que me aperta, me agarrando
com força e com a cabeça enterrada no meu ombro. Ela está
assustada tanto quanto eu.
Roberto tenta jogar baixo, tentando pegar o cassetete preso
na cintura, mas os outros seguranças aparecem separando a
confusão. Tem poucas pessoas aqui, que saíram do prédio, mas o
suficiente para me deixar constrangida por essa cena toda.
Jônatas com roupa amassada e cara nada boa, se solta com
marra, jogando os cabelos para trás.
— Da próxima vez, finja que ela nem passou por você. Vem,
Liz.
Escuto ele me defender, antes que eu dê as costas e saia em
disparada com Jade no meu colo, com as vistas embaçadas e tento
me manter forte, pois se eu desabar agora não paro tão cedo. Estou
atordoada demais. Fiquei um bom tempo sem vê-lo. Esse imbecil,
felizmente, não é do turno que trabalho. Ele fica à noite, mas não sei
que raios ele está fazendo aqui agora de tarde.
Jônatas me alcança. Olho para seu rosto que está
avermelhado de raiva ainda e os cabelos desordenados. Assim
como a camisa social amassada. Ele está indo para o fórum e vai
chegar todo amassado, por minha causa.
— Me desculpa por isso e...e....obrigada por me defender.
Peço num sussurro envergonhado. Encará-lo faz com que a
realidade de o ter beijado me esmurra, ele irá querer uma
explicação que eu não quero dar. Jônatas tem que ficar por fora dos
meus problemas, viu? Eu sou uma sucessão de erros!
Tudo porque eu quis mostrar para ele que não estou tão
quebrada quanto ele imagina. Pelo menos superficialmente.
— Não se preocupe, jamais deixaria alguém falar essas
coisas de você.
Tenta desamassar um pouco a camisa e ajeitar o cabelo. E
ajudo como consigo, arrumando seus cabelos e camisa.
— Vou colocar o blazer por cima, dá pra disfarçar.
Calada, vejo ele trocar a cadeirinha de carro e me entregar
uma mochila infantil.
— Jônatas, eu... — atordoada, tento dá uma explicação que
sequer sei como fazer.
— Na volta passo na sua casa. — ele me corta e eu agradeço
mentalmente por isso.
Despedimos-nos brevemente e sigo para casa com o som
baixo, para ter algo em que me concentrar além do trânsito e
conversando qualquer coisa com Jade que está quietinha, para não
tentar me afundar em pensamentos ruins, disposta a inventar algo
na cozinha quando chegar, já que Jade me pediu ‘’bicoito’.
Entro em casa com Jade adormecida e depois de pô-la na
cama, tento relaxar no banho, mas sem energia alguma, me jogo no
sofá, exausta e além de tudo, triste. Estou um caco. Arrasada.
Rever Roberto depois de muito tempo foi tão... angustiante e
desesperador, para falar a verdade.
Ele me tratou como se eu fosse lixo. Achei que ele seria o
cara certo para mim. Mais velho e experiente, pé no chão. Achei que
era isso que eu precisava, parar de sair com homem da minha
idade. Mas vejo que foi a pior decisão da minha vida aceitar as
investidas dele. Eu estou arrasada, e não evito as lágrimas de
virem. Minha vida está uma completa confusão e não consigo parar
de pensar nas investidas de Jônatas, nunca pensei que ele iria se
declarar daquela forma, mas não posso me iludir, além de tudo, tem
Jade no meio. Não é justo com ela se colocarmos os pés entre as
mãos. Eu só quero me refugiar num lugar quente até que meu
coração pare de latejar. Não aguento mais tanta decepção, tanta
ilusão, tanta mágoa!
Eu preciso recuperar nem que seja dez por cento da antiga
Lizandra, mas é difícil!
— Ei...
A voz sonolenta de Jade chama minha atenção e ela escala
meu corpo, ficando em cima de mim e tento disfarçar meu recente
choro. Chorar não passa nada, mas alivia.
— Dodói? — indaga manhosa e inocente.
Aceno e estico os lábios, num sorriso sem vontade e ela me
examina, passando a mão gordinha na minha bochecha,
expulsando a lágrima teimosa que ainda caía e foi ainda mais difícil
segurar o resto do choro. Com o coração aquecido, sorrio para ela,
de verdade dessa vez. Ela põe a cabeça no meu peito e de olhos
fechados, aperto-a no meu abraço.
Ela sempre é minha bateria. Onde recarrego tudo e me
desfaço dos sentimentos ruins. Não é à toa que seu pequeno nome
significa preciosa. Pois realmente é, pelo menos a minha. É
praticamente inexplicável esse amor veloz e imenso que eu sinto
por ela.
— Boneca, amo você, sabia?
Confesso e ela sorri para mim, com as bochechas gordas e
dentes curtos e tenho vontade de mordê-la, mas me contento em
beijar seu rosto várias vezes, fazendo ela piscar diversas vezes a
cada um.
— Vamos comer? Você escolhe. — ela mostra uma cara de
sapeca.
— Menos chocolate.
— Bicoitinho?
Mostra o dedinho, mostrando o número um, tentando me
convencer, feito gente grande.
— Vamos fazer um bolo de chocolate? — proponho e ela
acena efusivamente.
Seguimos para cozinha ocupar a mente e foi uma bagunça,
Jade ficou suja da cabeça aos pés, assim como minha cozinha
inteira, pois meteu a mão na farinha enquanto eu fazia e jogou para
cima como se fosse neve. Comemos o bolo depois de limpas e
quase oito da noite, Jônatas chega, fazendo com que meu corpo
reaja com sinais de ansiedade.
Temerosa e angustiada, pergunto sobre o final do processo.
Jônatas abre um pequeno sorriso, confirmando sem nem mesmo
abrir a boca.
— O pesadelo acabou!
Ele exaspera aliviado e tento me contagiar, mas não consigo,
por saber que eles realmente vão embora. E ele percebeu, pois
chegou mais perto me deixando desajustada e cruzo os braços me
sentindo desprotegida com ele próximo.
— Porque me deu aquele beijo, Liz?
Pergunta expressivo, e sinto a garganta secar, sem saber
ainda que resposta dar.
12
LIZANDRA
— Quer café? Fiz bolo. — fujo do assunto e ele concorda.
Sigo para cozinha e ele vem atrás, deixando Jade na sala
assistindo TV.
— Não foge do assunto, Lizandra. — faz uma nova tentativa.
— Fui impulsiva, não pense errado.
— Como você não quer? Falo tudo aquilo para você pela
manhã e em seguida me beija daquele jeito...caramba, Liz, eu
quase não raciocino o resto do dia, muito menos no Fórum.
Chega mais perto, invadindo completamente meu espaço me
fazendo sentir um pouco do seu perfume amadeirado.
— Jônatas, por favor...
Fecho os olhos para não cair na tentação da boca dele. Por
que ainda tinha que me atrair tanto? Porque tinha que ser desse
jeito? Por que mexe tanto comigo depois de tudo? Eu simplesmente
não posso me entregar para ele, vai mais além do orgulho. Muito
mais.
Estou cansada de ser iludida com palavras bonitas e em
seguida feita de idiota o tempo todo por todos. Preciso de um tempo
para mim, para catar todos os pedacinhos que ainda estão no chão,
já que hoje algumas partes que estavam coladas, despencaram e
quebraram.
Ele segura na minha bochecha, fazendo com que eu o
encare.
— Eu não quero te iludir, Liz. Não vou fazer promessas
perfeitas, só quero tentar fazer certo.
— Eu não quero, Jônatas. Para de falar essas coisas, por
favor. — sentindo a voz trêmula falhar, peço. — Não me faz me
sentir mal.
— É por causa daquele cara? Quem é ele, Lizandra? —
escorrego pro lado, saindo de perto dele, atordoada.
Parece que ele não enxerga as coisas. Eu simplesmente não
estou apta para isso.
— Não é da sua conta! Chega, Jônatas!
Encerro o assunto de uma vez. Não quero contar justamente
a ele o passado que quero apagar e esquecer. Ele fica exasperado
passando a mão nos cabelos, levando para cintura logo em
seguida.
Voltamos para sala e entrego mais um pedaço de bolo a
Jade, que pede para dormir aqui comigo novamente. E vejo que seu
faro é igual ao do pai, mais uma vez Alejandro ficará para depois.
Pelo jeito afogarei as mágoas de outra forma hoje que não com o
mexicano.
— Se não for problema, pode ficar. É até bom, que assim
consigo arrumar nossas coisas e vocês passam mais tempo juntas
para se despedirem. — o coração doí com suas palavras.
— Vocês vão que dia? — na frente da rua com Jade no meu
colo, indago temendo a resposta.
— Amanhã. Preciso resolver umas pendências.
Apenas aceno, chateada, concordando sem ter o que dizer. E
ele despede de nós duas, com beijos na testa, casto inclusive em
mim, fazendo com que eu prenda a respiração.
Eu nunca sei como agir quando ele faz essas coisas.
JÔNATAS
Mesmo com a notícia boa, não consigo estar feliz. Olhos as
malas tão desarrumadas quanto a minha vida. Preciso organizar o
quanto antes ambas coisas.
Já comuniquei a minha família minha volta e eles estão
ansiosos. Mas de certa forma eu estou nenhum pouco feliz. Queria
mesmo comemorar com ela, do jeito completamente meu. Juntos,
na cama por essa vitória. Mas ela quer? Não!
Eu já não sei o que fazer para Lizandra me aceitar e confiar
em mim. Minha vida amorosa está inexistente. Tudo por causa dela.
Eu podia ir conhecer a mulher que quisesse. Mas ninguém me dava
a porra da emoção, mesmo com nossas trocas de farpas quando
ficamos perto do outro, como ela me dá.
Lizandra tem uma teimosia ímpar, caramba! Eu abrir meu
coração, joguei as cartas na mesa e ela renega, é claro que ela
também está mexida, mas nega até a morte se for possível. E me
mostrou do que era capaz, quando quer, na madrugada que
transamos. Liz claramente quer se entregar a mim, mas tem medo.
Medo de quê? Eu estou mostrando o suficiente, que estou mais
maduro e a querendo, mas ela se prende. Vai contra si mesma. E
aquele homem e toda a briga que entrei por causa dela não me
desceu.
Eu a quero como nunca. Ela precisa ser minha. Precisa! E eu
não posso esperar. O tempo já está se esgotando e de uma hora ou
outro eu vou precisar voltar para casa.
Com ou sem ela.
LIZANDRA
Com o coração espatifado, vejo o carro de Jônatas
estacionado com o porta-malas, Jade no meu colo adormecida. Pedi
folga hoje e inesperadamente consegui. Passei o dia inteiro com
Jade, num clima angustiante de despedida, porque Jônatas tinha
avisado que estava indo embora hoje e não tive cabeça para ir
trabalhar, sabendo que não irei vê-la tão cedo. Eles ainda nem
foram e já eu estou morta de saudades.
Em passos calmos, Jônatas chega até a mim.
— Estou tentando mais uma vez. Vem com a gente ou se
pedir para ficar, eu fico, Liz. De verdade, eu estou disposto a isso, a
fazer dar certo como não deu antes.
Para ele, eu só ofereço meu silêncio. Encarando seus olhos
verdes que brilham feito esmeraldas sinto o choro que prendo vir na
garganta, cada partícula do meu corpo tremer em ebulição e o
coração doer fininho.
— Não tenho mais cabeça para aventuras, Jônatas. Revival a
essa altura do campeonato?
— Do que você tem tanto medo? Eu estou disposto a reparar
todo o meu erro! É só você dizer que me aceita de volta! —
exaspera. — Sei que eu quem terminei, sei que eu fui babaca, mas
eu amadureci, Lizandra, caramba!
— Tem questões e questões, Jônatas! Não vou viver uma
aventura como se tivesse quinze anos só porque você decidiu isso!
Eu não confio em você! — também perco minha paciência.
— Cara, é exatamente isso, não temos mais essa idade, Liz.
Somos adultos. Você acha que doeu só em você o nosso término,
que foi uma decisão difícil só para você? Eu sacrifiquei nosso
relacionamento em prol do seu crescimento e do meu! Poderia dar
certo o namoro a distância assim como poderia definhar.
— A gente só saberia se tentasse, Jônatas! Você não foi
nobre ou porra nenhuma disso, você foi egoísta em só me falar das
suas decisões depois de ter me iludido que iria dar certo! Mas
esperou eu estar indo embora para me contar! — Vocifero, já com
os olhos molhados de reviver tudo isso de forma tão crua.
— Éramos imaturos para isso! E no final deu tudo certo, foi a
decisão correta que fiz no momento, você não estaria nesse
emprego, no patamar que vive hoje. A gente se reencontrou depois
de anos solteiros. Não se parece um sinal para você? Eu não quero
ir embora nessa situação, Lizandra! — percebo que ele também
está tão angustiado quanto eu nessas lembranças.
— Eu trocaria tudo que eu tenho para ter a vida que a gente
tinha planejado, porque era com você! Eu não ligo para carro
nenhum, Jônatas, nem cargo, se no final do dia eu me sinto vazia e
sozinha. Mas isso também não importa mais, porque eu não vou
com você, não sinto nada por você, e se estiver sentindo, eu vou
esquecer como já esqueci antes!
Jogo para fora minha maior mágoa os ‘’se’’ me castigam de
uma forma inexplicável mesmo quando não quero. Não evito cair no
choro sentindo tudo aceso novamente em mim. Minhas mágoas
estão praticamente em carne viva, tendo uma conversa que era
para ter acontecido a dez anos atrás. Ele me abraça e eu choro
descontrolada no seu ombro. Estou um verdadeiro caco.
— Pense que se a gente tivesse dado certo, Jade não
existiria do jeitinho que é.
Ele me acalenta, e eu choro copiosamente, abraçando Jade
que ainda está adormecida no meu colo, sequer se assustou com os
níveis de estresse elevados entre nós.
Comenta comigo ainda abraçada e chorando copiosamente.
Me separo, limpando meus olhos e sem Jade, que ele pegou.
Eu não posso me iludir mais uma vez, dar razão ao meu lado
romântico, porque no final só eu me magoo. Agora já é tarde para
voltar tudo. Eu não estou mais em condições de tentar viver outro
romance. Eu só preciso ficar sozinha.
— Só diz para mim que nunca fui nada para você, que eu vou
embora, Liz. Que não sente nada por mim. Diz isso nos meus olhos
que eu não insisto mais.
Ele me olhou como se quisesse me entender. Como se
tentasse ler meus olhos, encontrar algo dentro deles. E aquilo
poderia não fazer o menor sentido, mas o fato era que eu havia
ficado um pouco desconfortável com o jeito como ele me olhou, me
sentindo completamente exposta.
Fecho os olhos, respirando fundo e o encaro novamente,
trêmula e angustiada, totalmente desalinhada.
— Eu não sinto nada por você, Jônatas.
Da forma mais fria que consigo, declaro. Seu rosto assume
uma expressão frustrada e chateada, acenando.
— Então eu estou indo embora. O único motivo no qual eu
poderia ficar não me quer perto. Eu lavo as minhas mãos!
Num tom mais gélido que o meu, ele dá o ponto final em tudo,
e as lágrimas descem sem controle, vendo-o colocar Jade
adormecida na cadeirinha e seguir pro banco do motorista.
— Tenha uma boa vida, Lizandra. Adeus!
A faca já fincada no meu peito rodou vendo seu carro seguir
na avenida na direção oposta a mim, para bem longe, a ponto de eu
sequer mais ver o farol. Mal entro em casa e desabo num choro
doloroso o suficiente para durar uma madrugada inteira e meus
olhos mal abrirem pela manhã de tão inchados que ficaram.
A realidade de ter voltado à vida sem graça assumindo seu
posto mais uma vez me deixa com uma sensação de tanto faz. A
realidade inverteu, eu quem fiquei e decidir não seguir junto. E é
doloroso admitir, mas eu me tornei a pessoa errada de outra
pessoa. Não foi intencional, mas acabei pagando na mesma moeda,
a diferença é que eu nunca sequer dei ilusões que tudo acabaria
bem, porque em finais trágicos, eu sou mestre. Às vezes tenho
vontade de passar uns bons meses fora, longe de tudo e todos para
me reconectar comigo mesma.
JÔNATAS
Fito Jade adormecida e enrolada, na minha cama, decidi
deixá-la dormir comigo, porque quando acordar vai ser um chororô.
A casa continua a mesma, do jeito que deixei, mas estou com a
sensação estranha dentro dela, sentindo frio, não propriamente do
clima da cidade, mas é em mim mesmo em que há algo
estranhando minha própria casa. Não tem mais gosto de lar.
Aliso seu rostinho com as bochechas rosadas e
automaticamente sorrio. Ela, sem dúvidas, foi a melhor coisa que
aconteceu na minha vida. Mesmo de surpresa. Ver pela primeira vez
esse pequeno bebê loiro e chorona, me deu coragem para muita
coisa nesse mundo.
Preciso lembrar como eram nossas vidas antes de tudo.
Antes de reencontrar Lizandra, dar um jeito na minha vida de uma
vez.
Tentei consertar tudo, ela optou por não querer, não queria
que terminasse assim, mas não tem como eu ficar correndo atrás de
uma pessoa que não quer ser alcançada. Mesmo que eu não vá
esquecê-la tão cedo, ainda mais depois disso tudo que
protagonizamos nessas semanas.
Bagunço meus cabelos e me lanço na cama ao lado de Jade
para tentar descansar. Sentindo o seu cheiro e ouvindo o barulho da
chuva que começou a cair lá fora, tento relaxar. O plano era só
pegá-la e voltar para casa, mas nada é como planejamos. Quis
apenas sair com Jade, porém ficou uma parte minha com Liz,
mesmo ela não se tocando disso e se soube, ignorou.
13
JÔNATAS
Mulher veio pré-programada, não é possível. Decidi trazer
Jade no shopping, para espairecer e divertir. Dois dias de dengo e
chorinho no meu ombro. Fiz todas as vontades, comprei boneca,
roupa que ela escolheu. Dei sorvete, deixei brincar no parque, estou
cheio de sacolas, mas agora está irritada comigo sem motivo algum,
toda emburrada de braços cruzados me olhando séria, como se eu
tivesse alguma culpa de algo. É coisa de mulher, só pode!
Mas eu sei o que é, saudades. Liz, sem dúvidas, é a pessoa
mais especial desse mundo. Tanto para mim, tanto para minha filha,
que a fez derreter em dois tempos. E desde que voltamos ela está
com esse humor instável.
Carrego-a para irmos para casa dos meus pais, visitar minha
irmã e seu bebê recém-nascido. Ela me olha com biquinho triste e
quem é pai sabe quão isso é angustiante não poder fazer nada.
Acaricio suas costas, quando ela apoia a cabeça no meu ombro
querendo chamego.
Eu sei, filha, a falta que ela faz depois que entra nas nossas
vidas, vai passar, aos poucos vai doer menos.
Apesar de ela ter meu número, ela não ligou ainda, sequer
sei se isso irá acontecer. Jade até pergunta por ela, mas eu estou
tentando entretê-la ao máximo para ver se esquece um pouco essa
falta.
E o pior não é nada, quando acho que deixei aquela cidade
para trás, no começo da semana irei pisar lá mais uma vez, a
negócios. Enquanto estive lá, também chequei a cidade para saber
se tem investimentos bons. E até achei um escritório ótimo de
advocacia, irei lá para conversar e ficaria feliz se for vantajoso,
mesmo que para isso eu tenha que transferir de cidade.
LIZANDRA
Focada a colocar minha vida nos eixos, vim com todo gás
nessa segunda-feira para resolver todas as pendências do meu
trabalho. Acabei de sair da sala de Scarlet que me chamou para
esclarecer a confusão na entrada da revista no final da semana
passada, e ela, com uma leve satisfação, garantiu que ele não iria
mais causar constrangimentos comigo. Foi demitido, porque ela
sempre foi a favor de ter apenas mulheres no prédio, justamente por
esse tipo de coisa. Não era apenas comigo que andava se
engraçando, além de ser a outra, eu era a outra que também era
traída. Inacreditável, né? Fui tão enganada quando a mulher dele.
Tomei um puxão de orelha também, para manter a ordem das
coisas. Mas sem advertência. Ainda bem. Estou tentando voltar com
minha produtividade e ocupar a cabeça também, o peito tá
pequeninho de saudades. Saber que no final do dia não vou buscar
Jade me dá uma tristeza... Sequer tive coragem de ligar para
Jônatas, mesmo discando seu número diversas vezes todas as
noites.
Do trabalho sigo direto para o shopping. Gustavo, meu
cunhado, jogou uma bomba no colo Taís recentemente. Decidiu
casar com Natasha e detalhe: é surpresa. E agora por estar se
aproximando, decidiu me pedir ajuda para os toques finais.
Organizar casamento em um mês é o cúmulo da loucura, mas
confesso que quero ver Natasha nessa posição: como noiva. Logo
ela que corre como o diabo foge da cruz. Estou encarregada da
roupa dela, porque eu a conheço melhor que Taís. Está em cima da
hora já que é próximo final de semana.
JÔNATAS
Parece mentira. Eu longe da casa dela, no centro da cidade, a
encontro justamente aqui, na mesma hora no estacionamento. Ela
saindo e eu chegando para jantar antes de seguir viagem depois de
uma tarde cansativa e produtiva no escritório de advocacia. Acho
que dessa vez dará certo.
Ela está de costas, jogado coisas no porta-malas, com um
vestido que poderia ser maior, evidenciando suas coxas grossas,
mas a conheço de olhos fechados porque meu corpo simplesmente
percebe que está próximo, me fez olhar imediatamente para sua
direção. Ela percebendo ou não que estou com meus olhos
cravados nela, olha para trás, diretamente nos meus olhos, parando
de organizar a mala do carro.
Encaro sua íris cor ágata azuis, me recobrando do momento e
meu corpo reage imediatamente. Sem sequer raciocinar, travo meu
carro, andando até ela. E percebo que engole a seco quando estou
próximo.
Não falamos nada, apenas nos encaramos e coloco as mãos
no bolso, para conter minha vontade de tomá-la pelos braços.
— Cadê Jade? — sua voz sai rouca e baixa e me praguejo
mais uma vez.
— Em casa. Ela está com saudades... — engulo o ‘’eu
também’’
— Em breve ligarei, estou sentindo o mesmo. — sua
expressão vacila. — Diz que mandei beijo.
— Eu também quero um, também senti saudades.
Trago-apara perto, fazendo o que eu quero, onde ela tem que
estar. Encaro-a, percebendo que seus olhos estão opacos e tristes.
Diferente do que é normalmente. Liz tem olhos tão profundos que
fazem com que eu quisesse descobrir o que quer que fosse que ela
teimava em esconder de mim. Ela olha ao redor parando de me
encarar, ficando desconfortável.
— Jônatas, por favor...
Sua voz saiu mais como um miado dengoso e espalmo mais
minha mão nas suas costas. Ficar perto dela assim é gostoso
demais. Não a solto, mas também me mantenho calado.
Ficamos em silêncio por algum tempo e ela incrivelmente não
me afasta, talvez tão magnetizada quanto eu no momento. Seguro
no seu queixo, fazendo-a me encarar mais uma vez. E como não
sou de perder tempo, colo nossos lábios com voracidade querendo
matar a saudade de cada pedacinho dela. Liz corresponde na
mesma ânsia, e é isso que me dá a certeza que ainda teríamos
chance se ela simplesmente se deixasse levar, confiar em mim,
mesmo que tenha motivo para o oposto.
— Volta para mim, vai. Eu irei te fazer feliz, só confia em mim.
Perdoa meus erros, por tudo que te fiz passar e chorar. Me perdoa
por tudo que já te fiz de mau, Liz! Eu quero te beijar, relembrar
apenas os melhores momentos e apagar os ruins, por no lugar
desses lembranças melhores. É só dizer que quer tentar.
Dou mais alguns selinhos, voltando a encarar e seus olhos
estão perfeitamente sedutores. É nítido que ela amoleceu. Ela
claramente desalinhada, empurra levemente meu corpo, respirando
com uma certa dificuldade e mesmo com sua recusa, sorrio ao vê-la
tentando fingir que imune a mim. O que vale a pena nunca é fácil,
porra!
Ela escorrega pro lado, correndo para o banco do motorista e
a deixo ir, ainda me divertindo da sua ação. De certa forma isso me
afaga, eu não vou desistir. O foda é que agora estou cheio de
vontade, pau meio acordado, me induzindo a correr pro banco do
passageiro e só sair dali direto para sua cama. Mas sei que se fizer
isso ela me empurra para fora e ainda passa o pneu por cima de
mim.
LIZANDRA
Depois do banho atendo Alejandro que me presenteia com
um sorriso imenso e costumeiro, mostrando que trouxe comida.
Cedo passagem agradecendo pela atenção. Ele se convidou ao me
ligar e não quis negar, mesmo que eu não esteja tão disposta hoje a
nada depois com o meu encontro com Jônatas. O que ele fazia aqui
novamente?
Acostumado a ficar aqui dentro, ele se joga no sofá e eu o
acompanho. Ele me abraça de lado e eu apoio minha cabeça no seu
ombro. Talvez eu ponha um fim nisso logo de vez, não sei. Estou
sem saco e preciso de tempo para mim.
— Como está? — pergunta.
— Normal...
Suspendo meu olhar para ele que me examina preocupado.
Ele, antes de tudo, é um ótimo amigo. Colamos os lábios
naturalmente num selinho apenas e percebo que não sinto aquele
tesão todo que Jônatas me faz sentir e isso é uma droga. Nos
separamos, e volto a posição que eu estava.
— Alê, queria dizer que... — inicio.
— Nem precisa, Liz. Já estava esfriando mesmo. — ele
sempre prático, não espera eu falar o que ensaiei durante o banho.
— Minha vida está um completo caos. Eu juro que se eu
estivesse inteira, você seria minha escolha. Mas não mando no
coração. Não é justo com você eu te usar de estepe, mesmo sendo
o nosso trato no início. Eu te acho um amigo incrível para ser usado
dessa forma. — sou sincera.
— Fique tranquila, se eu te forcei a barra sobre algo mais
sério, desculpas. É aquele cara lá, né? Não dá para competir com
ele. Ele tem uma bebê fofa!
Sorri doce para mim.
— Não é por causa dele. Jônatas não tem nada a ver com
isso aqui. — respondo me sentindo afetada de repente.
— Tudo bem, Liz, não se preocupa, eu também estou
conhecendo uma pessoa, ela me parece muito bacana. Tô gostando
dela. Para você tem problemas?
Nego, sem mágoas, nunca fomos fixos e muito menos
exclusivos.
— Claro que não tem problemas. Continuamos amigos? —
questiono.
— Sempre!
Decide levantar, indo até a porta. Despedimos-nos com um
selinho rápido e uma leveza perfeita.
— Só diz a ele que estou de olho e se ele aprontar, eu tenho
facas afiadas!
— Jônatas não tem nada a ver!
Reforço e ele acena, sorrindo, se despedindo de uma vez, me
dando as costas. Até parece que Jônatas tem algo a ver com isso!
LIZANDRA
Ofegante de mais um beijo bom, percebo com calma quão
encorpado ele ficou. Dizem que mulher amadurece quando tem
filhos, mas você já percebeu quão bonito fica um homem quando
vira um pai? Estou falando de pai mesmo de tempo integral, quão
gostoso fica com o ar maduro?
Observo com tesão suas costas largas anexadas de dois
braços inteiramente tatuados, a cintura delineando perfeitamente o
quadril e bunda boa de apertar dentro de apenas uma cueca preta.
Mesmo ele de costas a visão que eu tenho dele é maravilhosa.
Como uma pessoa pode ser gostoso até de costas enquanto tranca
o quarto?
Ele se vira, sorrindo cheio de intenção para mim quando vê o
que eu estou fazendo. Logo está perto, me causando arrepios com
suas mãos alisando minhas coxas, me induzindo a abrir as pernas.
Mesmo deitada, estou sustentando meu peso com os cotovelos. E
ele está deitado virado para mim, próximo das minhas pernas, mas
sobrepõe seu corpo no meu, puxando a roupa que uso com
destreza e urgência arrancando meu sutiã.
Seus lábios encaixam no meu, num beijo intenso e cheio de
fome. Ele já mudou o tom do momento. Desce os beijos pelo meu
pescoço e só fecho os olhos engolindo a seco pela carícia,
escutando ao pé do ouvido sobre meu cheio.
Sua boca safada vai descendo, as mãos acompanham,
fazendo uma parada nos meus seios. A boca continua sozinha no
trajeto, pela minha barriga contorcida até ficar entre minhas pernas.
Não demora para sua língua quente me invadir rapidamente me
fazendo soltar o ar de vez.
Contorço, não conseguindo engolir meus gemidos e
sussurros baixos, de olhos fechados com a respiração pesada. Jogo
a cabeça para trás quando ele adiciona o dedo, sem pressa alguma
enquanto me olha vendo minhas reações. Puxo seus cabelos
dourados e macios com vontade.
Gemia cada vez mais enquanto sentia sua língua me penetrar
e lamber cheio de fome. A cada lambida que dava era uma reação
diferente em mim a ponto de me segurar pelos quadris com sua
mão ábil para ir com mais empenho. Até que por fim, os primeiros
tremores foram surgindo no meu corpo. Ele continua no ritmo dos
espasmos, dando um resultado maravilhoso aqui em baixo, pois
estou quase subindo pelas paredes.
— Jônatas! — chamo seu nome num impulso tendo meus
músculos tremelicando em tensão e relaxando logo em seguida.
Eu ainda estava trêmula quando vejo seu rosto na mesma
altura que o meu a centímetros, sorrindo satisfeito e um ‘’Q’’
descarado. E me beija sedento, chupando agora meus lábios, me
fazendo gemer novamente em satisfação.
Ainda sensível, sinto seus dedos tocarem ali, sem abandonar
meus lábios um segundo sequer. Jogo meus braços para seu
pescoço o puxando mais para mim, que puxa minhas pernas em
torno da sua cintura, empurrando para dentro como se nunca
estivesse esquecido o caminho, arrancando um suspiro involuntário
da minha boca a cada vez que o sentia pulsar dentro.
Eu estou com fome desse homem de uma forma inexplicável,
a cada vez que ele afunda, sem carinho, numa safadeza crua e viril.
E eu aprecio isso, sou romântica, mas isso não significa que eu
goste apenas de sexo fofo.
Enrosco minhas pernas no seu quadril fazendo ele ir mais
fundo dentro de mim enquanto eu agarro com força suas costas
passeando desordenadamente da sua bunda até sua nuca
enquanto ele investe cada vez mais sobre mim, formando uma
sincronia gostosa do movimento, numa fome excepcional.
Gemo manhosa, querendo um pouco de carinho bruto
também, com meus braços em torno da sua cintura e ele sorri,
beijando meu pescoço. Eu me arrepio ainda mais, pelos seus lábios
mordiscando o lóbulo da orelha e socando tão bem a ponto de eu
torcer os dedos dos pés e meu calcanhar no seu quadril. Aperto sua
cintura, para que ele mude um pouco o ritmo e ele parece ainda
saber os meus sinais.
— Sempre manhosa. — ofega com voz grave e maravilhosa.
Esse homem tem um efeito horroroso em cima de mim.
Ele me gira de costas, beijando minhas costas, agora mais
carinhoso que antes, calmo, degustando o momento. Cheio de
mordidas e chupões onde alcançava. Eu adoro essa linha tênue
dele entre safado e amoroso.
Delirando, puxo mais para mim, e ele bombeia com carinho,
entretanto, intenso e firme, pois sabe que eu gosto. Eu adoro esse
encaixe que temos na cama. É incrível como parece que não se
passou o tempo que passou. A mão é mais firme e máscula, os
beijos, nem se fala, a voz é mais grave, as respirações ofegantes
me arrepiam, mas ainda tem traços do antigo Jônatas. Ainda me
deixa molhada e bamba. E contorcendo em espasmos curtos, dou
os primeiros sinais que chegaria no ápice. Ele intensifica mais um
pouco, elevando mais as sensações que me proporciona, até que
meu corpo tivesse a sensação única de prazer intenso quase junto
com ele.
Ofegantes e feito dois adolescentes na primeira vez, sorrimos
suados, num time só nosso. Fecho os olhos sem dizer uma palavra.
Continuei quieta, incapaz de dizer qualquer coisa, enquanto me
concentrava no som que sua respiração emitia, gradativamente
ficando mais calma, pois fazia isso perto do meu ouvido.
Meus membros começavam a formigar um pouco, me
fazendo lembrar que precisava dar explicações concretas, pôr tudo
a limpo, porque não falei metade do que precisamos falar. Aos
poucos, voltei a sentir o frio do quarto se chocando contra minha
pele um pouco úmida de suor. Mas mesmo assim me senti um
pouco acolhida com o corpo dele me cobrindo e acabei achando
que ele tivesse dormido em cima de mim, pelo silêncio.
Inesperadamente, ele sai me deixando exposta.
Meus olhos, levemente desfocados, conseguiam ver apenas
um borrão do rosto dele me olhando novamente. Ficamos um bom
tempo em silêncio, só conectados por olhares, enquanto eu
permanecia na minha luta interna de como abrir o coração para ele.
Dizer que não estou preparada para isso agora, que espero que ele
entenda o que está acontecendo comigo. Não estou pronta o
suficiente para contar. Preciso de mais tempo. Eu preciso me
preparar mentalmente para contar que eu não sou o que ele
espera.
E me perco no seu rosto másculo avermelhado pós-sexo. Tão
bonito! Sempre foi, mas Jônatas homem feito é um pecado que até
as mais fervorosas se sentiriam tentadas.
— Viagem é cansativa e vejo que não dormiu nada ainda.
Sua voz sai sussurrada. Concordo, aliviada e ele me puxa
para o banheiro. Estou tão cansada, de um jeito diferente. Estou um
caco ainda e nem reclamo de ir junto com ele.
Durante o banho, tentando organizar minha mente. Depois do
momento, me entrego a uma sensação gostosa de lar debaixo do
lençol, com uma camisa sua, seu abraço e nada mais.
Enquanto sinto o abraço de Jônatas por trás de mim e seu
nariz próximo da minha nuca, fungando como uma criança carente,
a cada dois segundos ali, me arrepiando toda vez, eu penso no
quarto silencioso o que faria a partir daqui.
Eu não estou pronta para contar sobre Roberto e toda a
minha história depois que nos separamos, porém não quero ficar
longe. Quero estar e ao mesmo tempo sinto medo disso tudo. Sinto
que eu posso estar me levando para um local sem volta, um que
envolve sofrimento e eu mais quebrada.
— Descansa que amanhã terá uma pessoinha cheia de
saudades querendo sua atenção o dia inteiro.
Escuto a voz de John bem-humorada sussurrar perto da
minha nuca, arrepiando levemente e aceno sentindo um pouco
acolhida, sorrindo também.
Pela manhã, sou acordada por Jade eufórica por me ver ali na
sua casa, mais precisamente na cama do seu pai. Tinha planos de
acordar primeiro que ela, mas a viagem e a noite com John me
cansaram.
Foi a melhor forma de acordar, de receber seu abraço
dengoso cheio de saudade e sinto uma boa paz, como acontece
quando estou com ela.
Jônatas aparece procurando-a com uma bandeja na mão e
encaro seu rosto cínico num sorriso satisfeito, mas o sentimento da
insegurança logo surge, por encarar tudo e dar explicações.
Continuo abraçada a Jade enquanto acaricio seus cabelos, ela fica
ainda mais manhosa com a cara enterrada no meu peito.
Dou um pequeno sorriso tentando acalmar meus demônios.
Suspiro enquanto ele passa a mão delicadamente nos meus
cabelos e me sinto ainda pior.
— Fiz café para a gente. — anuncia, orgulhoso.
— Desde quando você sabe preparar algo? — indago com
humor.
— Desde nunca!
— Sempre soube que você é péssimo cozinheiro.
— Não sou bom cozinhando porque sou melhor comendo!
Ele se vangloria me dando olhadas safadas e dou minha
primeira gargalhada do dia. Jade me observa com as sobrancelhas
juntas. Ainda bem que ela é inocente!
— Você é exibido!
Tomamos café na cama e me sinto uma rainha entre eles,
ambos me dando atenção como se minha presença fosse a melhor
coisa do mundo e eu amei me sentir acolhida dessa forma.
Durante a manhã, ganhei uma pequena sombra: onde eu ia,
Jade vinha atrás. E sorria a cada vez que eu percebia sua presença
atrás de mim. Eu me derreto demais nela!
Fui arrastada para almoçar na casa dos pais dele e morta de
vergonha, fui. E é bem estranho voltar lá com Jônatas com um a
mais que é Jade.
Cumprimentei todos que quiseram saber sobre minha vida,
porém contei superficialmente as partes boas. Foram até tranquilos
e não fizeram nenhuma pergunta que me deixasse em saia justa
com John. Sequer perguntaram se estávamos juntos e eu agradeço
isso, porque ainda não paramos para conversar francamente.
Jade adormeceu depois do almoço e vi que essa era a hora
de pôr os pingos nos is.
— Que conversar agora? — senta ao meu lado.
— Depende. O que você quer saber?
Não estou preparada para contar a ele sobre Roberto e muito
menos minha condição.
— Tudo, Liz, você não me contou. Quem era aquele
segurança lá?
Engulo a seco, sentindo o corpo tremer por motivos distinto.
— Não sei se o momento bom é esse. Eu não estou
preparada agora. É difícil!
— Tem certeza? — percebo que está contrariado.
— Tenho, ele faz parte de um passado que eu ainda não
assimilei nem aceitei. — não quero estragar nosso momento com
Roberto, não mesmo.
— Então, me diga, o que fez durante esses anos, a gente
precisa se conhecer de novo, não acha?
— Me tornei o que eu planejei ser. — dou de ombros.
— Eu também, me tornei advogado. Quer ver minha vara? —
apesar de tudo, ele manteve o bom humor.
Gargalho alto. Porque homens não crescem nunca?
— Eu adoro seu sorriso, prometo que vou mantê-lo aí. — me
puxa para seu colo. — Eu sei que tem medo da história se repetir,
mas se depender de mim, eu vou para onde você apontar.
— Onde aprendeu a ser gado assim? — indago de bom
humor.
— Estou tentando te trazer segurança e você me chama de
gado, vida? — finge uma falsa chateação e eu rio de lado
apaixonada por ter me chamado pelo nosso apelido de antes.
Beijo seus lábios com carinho, alisando seu rosto. Em um ato
ousado, subo minha mão para seus cabelos entrelaçando nos fios
macios, trazendo mais sua boca na minha em um beijo quente.
John me enlaça com uma mão pela cintura para mais perto
enquanto me beija fogosamente me derretendo completamente.
Puxo sua camisa passando a mão no seu corpo agora totalmente
malhado e mais forte e ele me carrega em direção ao quarto, porque
a saudade ainda é muita para um tempo tão curto que temos
juntos.
— Vai hoje mesmo? — ele indaga, comigo enroscada no seu
corpo suado e respiração ofegante de uma rodada intensa com
gemidinhos abafados.
— Vou. Amanhã é segunda e preciso trabalhar. — suspiro
com pesar.
— Não vou poder ir com você, apesar que estou quase
fechando negócios com um escritório lá. Cantarelli, conhece?
— Aham. Eles prestam serviços jurídicos para a revista.
Recebo um beijo dele que me enlaça pela cintura.
— Também quero prestar meus serviços a você.
Sacaneia sorrindo, prendendo meu lábio inferior com o dente
e gemo baixo de pura satisfação apertando seu braço. Jônatas me
puxa para mais perto enquanto devora minha boca de um jeito
gostoso e devasso.
Antes que eu fosse embora, decidimos passear um pouco
com Jade, que acordou toda dengosa e mal humorada, e jantar fora
antes que eu fosse para o aeroporto novamente.
E assim seguimos num jantar com meus dois amores. Depois
John decidiu me levar numa praça que eu não vinha há anos e era
ponto de encontro na nossa época de adolescência. Foi pura
nostalgia! Jade tentou me dar virote, cismando que queria tomar
sorvete, mas neguei por estar tarde.
— Mas eu quero! — cruza os braços chateadíssima e eu
sequer levo a sério, ainda mais por falar errado, o ‘’queio’’.
— Eu disse não! Você não manda nem no seu próprio nariz!
— E por que eu tiro meleca então?
Rebate nervosa atropelando as palavras cruzando os braços
de novo como se aquilo fosse uma justificativa válida. Tenho
vontade de rir, mas tenho que permanecer firme. Agacho perto dela
e a chamo para mais perto que continua no mesmo lugar ainda de
braços cruzados.
— Vem aqui, boneca.
Peço carinhosa e ela amolece vindo ainda com a cara
amarrada para perto e estende os braços para me abraçar e a
carrego no colo levantando.
— Ouça a mã.... Ouça mais a mim. — Me corrijo no meio do
caminho quando percebo que ia me referir como mãe dela.
Acho que estou ficando louca! Olho para John, mas ele
parece não ter percebido meu deslize. Deixo Jade seguir na frente
saltitando enquanto eu acompanho com minha mão entrelaçada na
de Jônatas.
— Liz, não quero te assustar, mas percebi que nas nossas
duas vezes não usamos nada, você toma anticoncepcional, né?...
não que eu me importe de ser pai novamente, adoraria na verdade ,
mesmo sendo cedo demais para isso... ou não.
Meu sorriso morre, temerosa pelo que ele acabou de falar.
— Não se preocupe. Eu tomo.
Minto. Na verdade, apenas uso um repositor hormonal para
não perder meu desejo sexual já que com a cirurgia eu poderia
correr risco disso. E essa sua frase me deixou ainda mais
angustiada com a incerteza do nosso futuro.
Mas Jade logo dá meia volta, apavorada, gritando pelo pai,
quase chorando e num impulso a pego no meu colo onde ela pulou,
mostrando que está amedrontada, escondendo o rosto no meu
pescoço.
— Que foi? — Jônatas tenta entender, e eu também.
Antes que ela respondesse, uma mulher surge na nossa
frente. Aparenta uns sessenta anos, intrigada ao ver Jade no meu
colo.
— Quem é você? — acusa. Franzo as sobrancelhas em pura
confusão. — Quem é você? O que está fazendo com minha neta?
Repete num tom mais brando. Arquejo apenas uma
sobrancelha em deboche e ela continua me olhando com essa cara
de desprezo. Avó? Então é ela que sequer avisou a Jônatas onde
Jade, agora apavoradíssima no meu colo, foi com a mãe.
— Ela não lhe deve satisfações. — Jônatas me segura pela
cintura, disposto a passar por ela, mas ela não deixa, querendo
discutir.
Seguro Jade mais protetora que posso enquanto ela me
aperta com a cara enterrada no meu pescoço. Ela sempre se
assusta com confusões iminentes e sei que essa mulher não é uma
boa presença para ela.
— Eu sou avó dela. Tenho direito de saber!
— Não! Não tem! — Jônatas se irrita.
— E quem é você para falar isso? Vai me dizer que já tratou
de arranjar uma substituta para Raquel? Sempre soube que você
não prestava. O corpo mal esfriou!
— Não sou substituta de ninguém. E sua opinião sobre ele é
problema seu! — me defendo.
John me segura pela cintura, me arrasta para seguir nosso
caminho, passando por ela com hostilidade.
— Claro que não é! Ela nunca irá ser sua filha! A mãe dela
sempre será a Raquel! — sua última fala me aflige e, querendo ou
não, as palavras dela me desestabilizam. Aperto mais Jade e
respiro fundo alisando suas costas.
Andamos em direção ao carro para seguir ao aeroporto,
Jônatas se desculpou pela cena da mulher, mas eu fingi que não me
afetou. O tempo inteiro as frases “Ela nunca irá ser sua filha! A mãe
dela sempre será a Raquel’’’ permanecem na minha cabeça, de
certa forma, me castigando.
— Eu vai? — Jade pergunta quando soube que eu estou indo
embora.
— Não. Mas semana que venho ver você sim.
— Eu não quero.
A vozinha já está chorosa e estou quase chorando também.
Mas acabo por ir, pela reação dela por trocar o pai sem pensar duas
vezes.
— Vai passar rápido. Promete para mim que vai se
comportar.
Jade apenas sorri sapeca prometendo absolutamente nada.
Gargalho mais uma vez, a apertando e ela retibuí, toda afetuosa.
Confesso que já estou com uma saudade imensa deles já. Viro
minha atenção a Jônatas que está observador. Encaixo-me no seus
braços tentando aplacar esse gosto ruim de despedida.
— Você sabe que o sentimento de Jade é o mesmo que o
meu, né? — sela nossos lábios num carinho.
— Eu sei. Odeio despedidas.
Eu o beijo mais uma vez, num beijo de verdade de saudade,
mesmo evitando fazer isso na frente de Jade, para não confundi-la
em qualquer coisa que sequer sei ao certo o que vai ser.
Escuto meu voo ser chamado e Jade tenta me agarrar para ir
comigo a todo custo. Chateada por precisar voltar, solto um beijo no
ar para os dois me distanciando, mas vejo Jade fazer biquinho pra
chorar e a expressão de Jônatas igualmente triste.
Despedida é uma droga!
Antes de entrar pro próximo saguão, olho mais uma vez para
Jade com a cabeça repousada no ombro dele que a acalma,
provavelmente chorando enquanto o pai está sorrindo para mim.
Foi um final de semana incrível, não posso negar, mas eu
sentia que a realidade duraria por pouco tempo.
15
LIZANDRA
— Mas já estão juntos? — Taís questiona bebericando seu
suco.
Ela, Natasha e Alexia esperam minha resposta. Agora que as
três trabalham no mesmo prédio fica fácil se juntarem e me esperar
na porta da revista para saber o que aconteceu no meu final de
semana depois do casamento.
A semana tá passando tão lenta, chata e sem graça que eu
queria poder trazer a Jade quando ela pediu.
— Eu não sei, foi um bom final de semana, mas não me sinto
o suficiente para ele. — resmungo chateada, tentando afastar
minhas inseguranças.
— Não contou? — Nat indaga surpresa.
— Não tive coragem. — mordo os lábios. — E se ele me
rejeitar por isso? Eu não aguentaria. — mostro a ela meu medo.
Estamos nos falando por chamada de vídeo a noite e estou
morta de saudade dos dois. Mas não falo com ele desde ontem,
estive o evitando, confesso.
— Ah Liz, poxa, amiga— Alexia faz beicinho.
— Não me sinto pronta, a realidade é cruel e eu não suporto
tocar nesse assunto. Ele falou algo em ter mais filhos, é muita
pressão tentar corresponder a uma expectativa que não tem como
dar jeito!
— Se ele te rejeitar é porque não gosta realmente de você,
sis. E se isso acontecer, eu, Taís e Nat estaremos aqui como todas
as vezes colando seus caquinhos, como sempre fazemos uma com
a outra. — Alie aconselha.
Todo dia repenso sobre como me sinto com a nossa relação,
me sinto insuficiente para ele, estou me sentindo horrível, porque os
acontecimentos insistem em fazer morada da minha cabeça. O fato
de ele falar sobre a pílula, o encontro com a avó de Jade... É
horrível querer estar em um lugar ou com alguém e sentir que não é
o suficiente de estar ali. Eu me sinto um pouco horrível por não ser o
que ele provavelmente espera de mim. Eu não sou o que ele acha
quem eu sou, o que ele vê é apenas a superfície. E embaixo disso
tem uma coisa que eu não consigo expor, não ainda e que se eu
pudesse, apagaria.
Elas parecem me compreender e almoçamos num clima bom,
apesar de tudo. Pela noite, em casa, meu celular vibra mais uma
vez, e eu sei que é Jônatas. Fecho os olhos, tentando me manter
calma.
Eu odeio essa sensação de impotência! Não me sinto o
suficiente para nada e ninguém, estou quebrada! Toda vez que
alguém tenta se aproximar de mim eu fujo covardemente; foi assim
com Alejandro e qualquer outro homem que se aproxima, mesmo
que seja por amizade. Eu fujo com medo de não ser o suficiente
mais uma vez, porque nunca fui para ninguém.
Porque eu sabia que quanto mais eu me agarrasse à sua
presença ao meu lado, mais difícil seria de aceitar a dor em não tê-
lo mais tarde quando soubesse de tudo.
Ele liga mais uma vez e atendo, decida, tentando acalmar
meu coração. Sua voz bem humorada surge, querendo saber do
meu sumiço repentino e eu não consigo sorrir, apenas me sinto
horrível do que eu estou prestes a fazer.
— Jônatas, me escuta. — eu o corto. — Eu quero acabar com
qualquer coisa que tenhamos começado, eu fui impulsiva, eu não
quero viver em ponte aérea, eu amei o nosso final de semana, mas
não é para mim, eu não sou o que pensa. Me desculpa, não tem
nada a ver com o nosso passado, é o meu presente, eu não estou
pronta para ninguém, por favor me esqueça. — termino o
telefonema com voz embargada.
E sequer espero sua resposta, ainda no pânico de ter feito o
que eu fiz, desligo o aparelho covardemente com medo de ouvir a
réplica, sentindo a dor enorme no peito em ser a pessoa errada
dessa vez, mas foi necessário. Mesmo eu querendo tirar tudo que
aconteceu da cabeça, eu não consigo. Sabia que ele sentiria
vontade de ter outro bebê, mais cedo ou mais tarde e eu só vou
empatá-lo.
Quando eu contar, ele provavelmente vai perceber que não
sou o que ele procura. Sou apenas a ilusão da antiga namorada
perfeitinha. E não vou suportar ficar com ele do meu lado sabendo
que está frustrado. É desesperador as incertezas!
JÔNATAS
Aliso a cintura de Liz enquanto ela dorme tranquila com Jade
na cama. Elas duas juntas me deixam apaixonado. Aproveito que
ambas ainda dormem para refletir sobre o que Liz me contou. Ela
nunca foi uma mulher de querer mundos e fundos, joias e mansões.
Nunca. Sempre foi sonhadora. Mas sonhava com coisas simples.
Filhos e Marido. Uma romântica incurável que sonhava em viver
uma comédia romântica clichê.
Porém, por outro lado, eu queria mostrar a ela que a vida
poderia ser mais que isso. E não vou ser hipócrita dizendo que não
queria experimentar um pouco da vida antes dessas
responsabilidades. Eu era adolescente e por mais que amasse
Lizandra e a vida que sonhávamos em ter juntos, não queria que
ambos vivessem essa responsabilidade logo. Era questão de tempo
para que isso acontecesse. Eu queria curtir a vida antes de viver
como um adulto. Além disso,, poderíamos ter enjoado do outro
assim como poderíamos não saber lidar, adolescente vive muito
intensamente.
A noite que ela foi embora foi a pior. Chorei feito um filho da
puta em casa de arrependimento e tentava me consolar que era o
melhor para nós dois. Noventa por cento dos primeiros três meses
foi eu brigando comigo mesmo em pegar o primeiro ônibus e ir atrás
dela, negando tudo aquilo que falei. Mas meu pai me aconselhou
não ir, porque eu já tinha a magoado com minha decisão estúpida e
se eu tinha feito aquilo pelos meus motivos, tinha que aguentar as
consequências.
E também só obedeci, porque eu tinha certeza que ela me
mandaria embora.
Mas como tudo que é nosso, sempre volta. Ela está aqui onde
nunca deveria ter saído me deixando extasiado sentindo o cheiro do
seu cabelo aqui bem perto do meu rosto. Mostrando que apesar de
tudo, a escolha foi a certa.
O gosto ruim na garganta ainda permanece em saber que ela
passou por com aquele babaca filho da puta. Se eu soubesse,
desceria a porrada mais na cara dele. De saber que sofreu por não
poder engravidar e me amaldiçoou por ter jogado algumas vezes na
cara dela logo quando a gente se reencontrou.
E agora entendo o receio dela de não querer contar logo. Eu
fui um idiota em ficar pressionando. Ela poderia ter dito e em
seguida ido embora ou realmente ter brigado comigo. E nem ia ter
direito de ficar bravo, pois eu tinha que respeitar seu espaço,
independente de eu querer ajudá-la ou não.
Mas agora está tudo bem. E planejo como será nosso final de
semana, prevejo que será perfeito!
LIZANDRA
Arrumo umas coisas na mala, ansiosa. Jônatas cismou de
irmos passar o final de semana na casa dele, porque tinha planos
para nós que só poderia ser lá. Tivemos uma manhã tranquila,
acordei primeiro e fiquei ali, boba, admirando ambos dormindo na
mesma posição. Jade é um clonezinho do pai.
E me senti realizada, preparando café para nós, adoro essa
simplicidade do lar, de preparar café, cuidar deles. Essa sempre foi
minha vocação e vontade mesmo.
Jade acordou emburrada e ainda permanece, porque não
quer voltar. O humor dela pela manhã é naturalmente emburrado.
Às vezes tenho a sensação que sou mãe de uma mini Natasha e
não gosto muito dessa ideia não. Pois esse mal humor pela manhã
é a mesma coisa. Um porre que tenho vontade de simplesmente
fugir. Mas com Jade eu não posso jogar algo na cabeça ou xingar
como fazia com Nat. Então tenho que respirar fundo e continuar
paciente.
Tudo pronto, sigo para sala, encontrando Jade no colo de
Jônatas, um fazendo biquinho para o outro e em seguida sorrindo.
Abro um sorriso bobo vendo a interação dos dois. John brinca com
ela fazendo cócegas enquanto ela se esquiva sorrindo com os
dentinhos pequenos abertamente. Jônatas não poderia ser um pai
diferente.
Seguimos de carro, duas horas cansativas de viagem, mas
sequer me importei, fomos direto para casa dos pais dele que já
aguardavam a gente.
E é bem estranho voltar lá com Jônatas e com Jade, mas eles
me receberam, como da outra vez, com alegria. Duda finalmente
estava lá e conheci seu bebê, que é a coisa mais fofa do mundo e
Jade ficou enciumada quando ele foi para meu colo. Passamos uma
tarde agradável, relembramos muitas coisas que aprontamos juntas
com Nat. Minha cunhadinha se transformou numa mulher tão linda e
está doida para rever Natasha, sua melhor amiga de encrencas,
ambas não vale um real!
— O que te fez aparecer aqui, afinal? — foi o que me
perguntou assim que nos vimos.
— Decisões...seu irmão...
— Finalmente Jônatas tomou vergonha na cara e reencontrou
a única que valia a pena. A única cunhada que presta!
E sua resposta aqueceu quentinho o pé da minha barriga. E
eles ficaram surpresos e maravilhados quando viu Jade dengosa me
chamar de mamãe. E sem nem mesmo precisamos falar, entendeu
que estávamos juntos novamente.
Alguns amigos da época do colegial foram visitar Duda e
conhecer o bebê, já que ela não morava mais no bairro. E ficaram
surpresos ao me rever com Jônatas. Recebi felicitações como se
fosse casamento de tão empolgados. Mas John ficou todo
animadinho quando um dos amigos que andava com ele no futebol
me elogiou.
— Só cuido do que é meu. — foi o que disse, antes me
marcar território me abraçando e me puxando para seu colo. Bobo!
Jade adormeceu a tarde e quando escureceu, Jônatas decidiu
me arrastar para um programa surpresa, deixando Jade lá com os
avós tranquilamente.
Sequer sabia para onde ele estava me levando até que seu
carro subiu a ladeira até o alto do morro que tem vista inteira para a
pequena cidade que crescemos. Aqui era um point nosso e de
qualquer adolescente na época. Fazíamos cinema, ficava
inacessível o espaço de tanta gente e veículos, piqueniques, os
mais corajosos acampavam com o namorado para ter sossego para
transar. Coisa de adolescente dos anos noventa.
Mas agora está deserta, as poucas pessoas estão saindo
pelo fim do pôr do sol que dá para assistir e como todas as vezes,
fico sem fôlego pela vista da minha cidade. Saudade imensa desse
lugar! Eme me traz milhões de lembranças. Fiquei esses tempos
todos sem vim aqui por causa dele e a ironia é que eu voltei
justamente por causa da mesma pessoa e ainda a filha do sujeito
me chama de mãe e eu choro todas as vezes que escuto.
— Alguns motivos me fizeram escolher aqui... — ele me
abraça por trás.
— Quais são eles?
Jônatas segura minha mão e me arrasta até um carvalho
saudável, apontando pro tronco rabiscado com canivete com várias
siglas. Por fim, ele indica as nossas iniciais dentro de um coração.
Tinha esquecido dessa árvore! Todo casal que se prezasse
tinha suas iniciais ali, porque tinha a lenda que essa árvore por ser
um carvalho, era sinônimo de durabilidade, como seu tronco.
— Nossas raízes, estão aqui, amor. — beija meu pescoço.
— Que brega, John. — rio, mas apaixonada por essa
relíquia.
— Eu gosto, é praticamente um patrimônio da cidade.
Ele me acompanha no riso, me levando de volta para perto do
carro e me sento no capô e ele permanece em pé, entre minhas
pernas ainda ostentando seu sorriso lindo de covinhas.
Seguro no seu pescoço, beijando seus lábios com carinho e
sem pressa alguma, logo atacando minha boca com mais
voracidade.
— Amor, quero que aqui seja nosso começo e recomeço. Que
esse local volte a ser nosso como era antes, que seja nosso lar.
Foi aqui que eu te pedi em namoro uma vez e te peço
novamente, garota.
— Te amo, amor.
Jogo meus braços ao redor do seu pescoço, me sentindo uma
adolescente em cima de um capô, exatamente na mesma cidade
onde tudo acabou anos atrás, beijando o garoto que dedicava gols
para mim e que continua a aquecer meu coração de uma forma
extraordinária!
— Você sabia que sou tarada por tatuagem? As suas me dão
tesão... — beijo seu pescoço demoradamente. Talvez fique marca,
mas estou nem aí, quero ele marcado como meu, para nenhuma
mulher chegar perto.
— Me marcou, Liz? — ele com tom de voz leve, se afasta
para me olhar. — Tá possessiva assim é?
Seus lábios abriram bem devagar em um sorriso lindo que me
deu uma vontade enorme de sorrir também.
— Só cuido do que é meu. — devolvo sua frase.
É, nunca disse que não era ciumenta.
— Ah é? Sabia também que eu iria fazer uma tattoo na região
do meu pau?
— Ué, tatuar o quê? — questiono curiosa.
— Agite antes de usar. — ele faz simulação de masturbação
com a mão e eu gargalho.
— Não, John, você não falou isso! — gargalho alto.
— Falando em tatuagem. Olha isso aqui.
Ele estende o braço tatuado e aponta para o antebraço e no
meio de um dos milhões desenhos vejo em romanos a data que
começamos a namorar, lá no passado e do lado não tem a data do
fim, e sim um símbolo do infinito. Pela cor e a camuflagem de alguns
outros desenhos por perto, vejo que não é recente.
— Estou dizendo, gado demais. Não acredito que fez isso! —
satirizo, completamente surpresa.
Abro um sorriso singelo em puro deleite. John sempre foi
amoroso e o tipo de cara que surpreende em dias aleatórios.
— Ah Liz, eu todo apaixonado e você tirando onda. — faz
biquinho e eu o imito, irreversivelmente apaixonada. — Pode ter
sido trouxa, mas quis eternizar você de alguma forma. Me deixava
com a consciência mais tranquila.
Os olhos continuam lindos, verdes amarronzados. A boca
meio rosada também, as sobrancelhas grossas, a covinha na
bochecha, apaixonante demais!
— Eu também eternizei você. Aqui oh. — pego sua mão
colocando em cima do meu peito e ele sorri abertamente, apertando
meus seios de forma safada.
Ele me traz para perto da sua boca, me puxando para um
beijo delicioso, levando a mão para minha nuca para intensificar.
Chupa e morde meus lábios, dando um beijo no pescoço logo em
seguida passeando a barba recém aparada pelo meu corpo fazendo
com que sinta as fisgadas entre minhas pernas. Sorrio colocando
meus dedos por dentro dos seus cabelos macios. John me leva para
lugares maravilhosos sem nem sair de perto.
Adoro o contato dos lábios dele com o meu, me deixa afoita e
dominada. Os olhos de John transmitiam confiança, carinho, paixão
e me fazia sentir amada em cada pedacinho do meu corpo.
JÔNATAS
Felizes e saciados, rindo à toa, buscamos Jade na casa dos
meus pais. As duas se enfurnaram no quarto da minha filha e estão
até então de modo que aproveito para ver os envelopes
acumulados para saber se o documento autenticado chegou, mas o
documento que chegou me fez ranger os dentes de raiva e
preocupação. Mais essa! Porra!
Estava cheio de planos, minha noite com Liz foi tão gostosa e
tão nossa, mal chegamos em casa e já vem coisas para estragar.
Ela me abraça por trás, afetuosa, apaixonada, apoiando a
bochecha nas minhas costas, e eu absorvo e aproveitando cada
segundo daquele abraço.
— Quero carinho, senhor Franco. — beija meu ombro bem
humorada. — Que foi que está tenso? — seu tom muda para
preocupado.
Suspiro, chateado, prevendo tudo, pois sei que iremos nos
despedir desse bom humor quando eu contar sobre o envelope. Não
será mais agradável para ela do que já está sendo para mim. Porra!
17
LIZANDRA
Confusa e preocupada, encaro John com uma expressão
séria e indecifrável. O que está acontecendo com ele afinal?
— Vê essa merda!
Vira o papel para mim e sem entender, pego para ler, leio
brevemente e entendo ser uma intimação de audiência de guarda
para essa semana. Faço uma média de olhar para ele, tentando
entender.
— Você acredita nessa merda, Liz? Eles ainda acham que
tem o direito de brigar pela guarda da minha filha!
Enraivecido, ele exaspera nervoso, se mostrando carrancudo.
Trêmula, tento entender mais essa. Jade não pode jamais ficar com
aquela louca!
— E o que vai acontecer agora, John? — eu me preocupo,
pois querendo ou não, ela é avó materna biológica de Jade.
— Eu vou entrar com outro processo no tribunal de justiça,
requerendo a guarda. Vou lutar mais uma vez para ter minha filha
em paz, Liz. Eu estou cansado, mas não vou deixar que concedam
nem a guarda provisória para eles.
Suspira claramente descontente. Estou em choque. Só em
pensar em Jade longe de nós e sendo maltratada, bate uma
angústia e desespero. A vida dela está praticamente em jogo se ela
for morar com os avós nem que seja provisório. Eles querem atingir
Jônatas, algo muito maldoso eles planejaram para alcançar isso,
querer a guarda dela assim de repente.
— E agora? Corre mesmo esse risco? — sinto minha
garganta fechar.
— Eu poderia te dizer mil e uma legislações, o que poderia e
não poderia acontecer. Mas eu, como pai e em uma situação
dessas, estou confuso.
Seguimos pro sofá, tentar organizar a mente de alguma
forma.
— Demora muito isso?
— Não sei. Eu tenho a guarda dela, mas como tudo é recente
do outro processo, tenho medo de perder nem que seja temporário.
Não quero minha filha com eles. Nem que seja uma semana.
Percebo que está desestabilizado com essa má notícia. Aliso
seus cabelos macios e seu rosto compreendendo a situação,
tentando reconfortá-lo.
— Eu não poderei voltar para cidade com você. Não quero
dar munição para eles em acusarem de tentativa de fuga.
Não consigo esconder minha decepção e chateação.
— Tudo bem, virei nos outros finais de semana. Jade quem
não vai gostar disso.
— Tenho vontade de apagar esse pessoal todo da minha
vida. — confessa enraivecido.
Jade, sonolenta e cheia de dengo, aparece na sala vindo pro
meu colo e abraço aquele pinguinho de gente que estava
adormecida até então.
— Não gosto do escuro! — reclama.
— Eu deixei sua luz acesa. — aliso seus cabelos.
— Mas quando fecho o olho fica escuro. — cruza os braços,
chateadíssima.
Rio com Jônatas e decido levá-la de volta para cama.
— Não quero dormir sozinha! — permanece na sua carranca.
— Você é grande já, pequena, tem que dormir sozinha. —
John faz carinho nela.
— Mas você também é e dorme com a mamãe. — as suas
respostas continuam cada vez mais afiadíssimas.
Sem ter como rebater, sabendo que voltarei para casa
sozinha, seguimos para dormir quentinhos debaixo da coberta como
uma família e de fato, somos. A vida é uma merda! Quando
pensamos que vai acalmar, vem outra bomba por cima!
20
LIZANDRA
Chegando no quintal da casa de Nat, que arregala os olhos
com Vinicius no colo, vindo rapidamente na minha direção, vejo que
a festa começou. Natasha achou melhor fazer a comemoração aqui
na casa dela, ela se mudou recentemente e tem piscina, para os
meninos se divertirem mais. Já vejo Jade querendo vir aqui sempre.
Ela sorri abertamente para mim antes de soltar um sorriso
maléfico, em puro deboche, para John ao meu lado.
— Quanto tempo, né, senhor Jônatas? — Nat sorri
diabolicamente para ele novamente.
— Quem diria, hein, Nat? Pelo menos agora, não vai mais me
extorquir, né? — ele sorri de volta apontando para Vinicius que já
está com o sorriso aberto para Jade.
— Uma pena. Uma pena mesmo. Cadê Duda?
— Está lá. E você continua a mesma pentelha. E faça seu
filho tirar os olhos do meu bebê!
— Não temos culpa que meu filho é lindo! — Gustavo sorri
para nós três. Babão.
Apresento Jônatas a Gustavo e de longe, vi meus pais fitar a
gente. É hoje!
Alexia e Taís chegam até nós, empolgadas, querendo
conhecer Jade de perto. Nat, já sem Vini no colo, estende o braço
para Jade que se joga para o colo dela sem pensar duas vezes. As
duas até que se deram bem, desde a última vez que se viram.
E eu amo essa interação que ela está tendo, é reclusa desde
que conheci. Apesar de aprontar comigo, e tê-la à vontade com
minha família e saber que eles gostam dela sem reservas, já a
pegou como família, como eu.
— Vamos lá falar com meus pais. — chamo ele.
— Eita Jônatas! — Nat ri em escárnio e deboche. — Vou levar
Jade para piscina.
De mãos dadas, seguimos até eles. Abraço ambos,
desejando parabéns a minha mãe que sorri do jeitinho materno que
sempre teve.
— Jônatas! — meu pai o cumprimenta com apertos de mãos
e em seguida cumprimenta minha mãe com um beijo fazendo o
mesmo que eu. — Quanto tempo né?
— Pois é! — encolhe os ombros não se importando muito.
— Lizandra agora é adulta. Mas saiba que ela continua sendo
minha filha como antes. E espero que dessa vez deem certo. —
meu pai olha para ele que está sério.
— Eu amo sua filha, se depender de mim nós nunca vamos
passar por aquilo novamente. — fala firme e tenho vontade de beijá-
lo muito.
— Pai, a gente conversou, pontuamos tudo, e estamos
colocando cada coisa no seu lugar. Não se preocupe quanto a isso
que estamos mais maduros para tentar de novo. — reforço toda a
situação.
— Logo uma menina, né, seu Jônatas? Você vai passar com
uma o que eu passei com as três e vai me entender.
Meu pai debocha de John e Gustavo gargalha de lá,
chegando perto com Nat com Jade. Tadinho dele. Está sendo
debochado por todos. Que mal tem em ser pai de menina?
Minha mãe sorri, encantada, vendo Jade de perto, que
imediatamente vira a menina tímida.
— Daqui a pouco ela se acostuma com vocês. — explico.
Seguimos para a beira da piscina. Está um sol de lascar e
Natasha está do meu lado com cara de morta e óculos escuros e
coque para disfarçar a situação. Eu me atrevi a falar disso e quase
tomo um tapa.
Jade corre totalmente feliz brincando com Zeus e Alan.
Nina, a filha de Alie só gargalha na piscina com o irmão e
Murilo e é tão gostoso sua risadinha dobrando. Menos de um mês
de diferença entre Vinicius, mas é uma miss-simpatia.
John e Gustavo estão em algum lugar por aí. Meu pai está na
churrasqueira e minha mãe por perto transitando, porque não
consegue ficar sentada e quieta. Nunca vi!
Puxo meu cabelo para prender. Mesmo dentro da piscina, o
sol tá muito quente.
— Hummmmmm.... — Natasha me olha com cara de
maliciosa e arqueio uma sobrancelha para ela.
— Que foi?
— Você aí. Toda marcada. Sua safada! — gargalha e lembro
da marca roxa no pescoço que meu cabelo estava cobrindo até
então.
— Pare, Natasha. Você é terrível! — reviro os olhos
colocando o cabelo como estava.
Acabamos passando o domingo juntos. Minha mãe está mais
que sorridente, pois adora isso, ver a gente juntos. Ter os meninos
gritando e brincando e eu também, me sinto bem e encaixada
novamente nessa nova realidade.
JÔNATAS
Felicidade completa. Ser pai tendo Lizandra como mãe é a
melhor coisa que eu poderia pedir. Pai de novo? Quem diria!
Mas confesso que antes dessa boa notícia aparecer ela me
deixou bastante preocupado com essas dores. Eu tinha reparado,
mas ela fugia, escapava. E isso é um dos defeitos de Lizandra que
eu mais odeio. Ela simplesmente tem mania de sofrer calada,
sozinha, para não preocupar o outro.
Vê-la na cozinha com cara de dor, sofrida, curvada no
mármore foi desesperador, e quando a vi simplesmente apagar no
exato momento que a peguei, foi ainda mais. Ter Liz desacordada
nos meus braços foi o ultimato para levá-la para o hospital mais
próximo.
Estava com medo de ser tarde demais para algo muito ruim,
mas aí veio a melhor notícia do mundo, uma notícia inesperada, ou
talvez nem tanto, nem que seja no fundinho.
É como se agora não faltasse nada. Claro que antes disso,
também tinha a sensação que não faltava, mas ter outro filho, é
como se uma coisa que já fosse boa, acabasse de melhorar além do
esperado. Transbordou o que já estava completo.
Não vejo a hora de vê-la com a barriga maior, estou ansioso
para isso. Ter esses pequenos prazeres que nunca tive, com um
filho. A gestação de Jade foi bem diferente do que eu esperava.
Claro que a amei desde que soube da sua existência, mas não foi
como essa, a felicidade compartilhada.
Ter Raquel grávida, acompanhá-la nas consultas e comprar
as roupinhas não foi aquela coisa de pai da primeira viagem
descobrindo as coisas juntos. Eu era o único empolgado, apesar da
circunstância.
Mas o importante que minha filha hoje tem mãe que é louca
por ela e nossa convivência desde o primeiro dia foi gostosa.
Trocamos muito amor e nunca me arrependi disso. Nem quando ela
tinha poucos dias de vida, e eu não tinha ideia do que estava
fazendo para ela parar de chorar as quatro da manhã. Essa
gestação de Liz será maravilhosa pois é com ela. Simples assim!
Nossas expectativas estão juntas. A ansiedade a
empolgação. Nem acredito que depois de dez anos, depois de tanta
merda que passamos estamos aqui e assim: esperando um bebê.
— Ei, vida. — Liz se escora em mim, colocando uma das
pernas por cima das minhas e sorrio tirando seus cabelos do rosto.
— Está acordado ainda porquê?
Fito seus olhos azuis. Ela pode me dizer mil vezes que não é
a mesma Lizandra de dez anos atrás, mas quando me olha casta
desse jeito, a enxergo a mesma de sempre.
— Pensando. Estou sem sono. — aliso seus cabelos a
trazendo mais para cima de mim e abraçando mais forte, arrepiado,
sentindo-a beijar manhosa meu pescoço, repetidas vezes.
— Quero carinho do pai dos meus filhos.
Beija minha boca, fazendo pressão com o quadril contra o
meu e gemendo ao mesmo tempo. Preciso nem dizer como já fiquei,
né? Lizandra gosta de testar minha sanidade. Estou vendo que essa
gravidez vai ser maravilhosa, mas do que eu achava. Sorri lasciva
para mim puxando um dos meus lábios com os dentes.
Ponho minhas duas mãos nas suas costas nos virando, a
deixando por baixo.
LIZANDRA
Volto para a área livre, vendo Jade de boia, com John com
ela, assim como Gustavo que está fazendo Vinicius nadar. Alan está
dentro, pelo meio brincando. E Taís com Léo dentro, também
nadando, escorada em Rodrigo que está sentado na borda a
olhando.
Nat chamou para casa dela tomar banho de piscina neste
sábado quente. Eu ainda não contei da gravidez, apesar de estar
muito ansiosa para isso, já marquei a consulta, mesmo que os
documentos apontem que estou aproximadamente de nove
semanas, acredita?
Estou tão realizada! A minha ficha ainda não caiu! Mal posso
esperar para saber de tudo!
Sento do lado de Natasha que está de óculos escuro
observando o povo na piscina.
— Vamos para piscina! — Natasha me puxa pela mão e sigo
para água.
Entro na piscina, a água está quentinha, o sol está
escaldante. Taís grita afundando e logo ela surge na superfície junto
com Alan que tinha puxado o pé dela por baixo, provocando
gargalhada de todos, de Rodrigo principalmente.
— Deixa-a brincar também Alan. — grito para ele que já saiu
da piscina, assim como Jade, com ele colocando uma luva de box
infantil para cima, para ela não pegar.
— Tia, não pode. É de menino. — ele rebate com ela
tentando pegar.
Jade não dá ouvidos e desiste de tentar pegar e começa a
bater nele fazendo Zeus entrar na brincadeira derrubando Alan e
Jade aproveita para sentar na barriga dele ainda distribuindo
pequenos soquinhos nele que se defende com os braços enquanto
Zeus late ao redor.
— É de menino, mas ela está melhor que você, filhão. Bem
feito! — Rodrigo grita para ele gargalhando deixando Jade ainda
batendo nele. — Liz, sua filha é terrível! — ele vira para mim e eu
apenas dou de ombro concordando.
Nada melhor que está em família. E mal posso esperar para
contar que em breve virá mais um bebê para completar toda essa
felicidade. Era umas cinco e pouca quando decidimos pedir comida
para jantarmos. Ainda estamos na casa de Nat, o clima está muito
gostoso e decido que é a hora de dividir com minha família.
— Gente, eu tenho uma coisa para falar. — chamo a atenção
de todos, principalmente de Nat que está no chão com Vinicius no
colo.
Olho para cada um com John atrás de mim. Nat faz
movimento com a mão para que eu continue logo e Taís faz o
mesmo impaciente. A convivência está tornando ambas iguais.
— Só quero avisar que você duas vão ser tia! — antes de
terminar eu já estava chorando. Falar isso é tão gostoso e
emocionante para mim, contra que estou esperando um bebê. — Eu
serei mãe, acreditam? Teremos mais um bebê.
Antes mesmo de saber a reação delas, eu sou pega em um
abraço de urso pelas duas, em um abraço triplo. Nós três choramos
juntas, abraçadas. Elas viram de perto tudo que passei, seja Nat
dando apoio, me ajudando a superar ou Tais me ajudando nos
primeiros dias da cirurgia, onde fez questão de ser uma companhia
diária.
— Estou tão feliz! — Nat me aperta mais forte sorrindo
enorme logo em seguida para mim que estou tão ou mais com os
olhos cheio de lágrimas.
— Eu te disse, Liz, que os momentos bons iriam vir. — Taís
sorri abertamente para mim, também com os olhos molhados.
Nós nos separamos para ver os homens nos observando.
John está com um sorriso enorme vendo tudo.
A partir dali nossa noite de domingo ficou ainda melhor e
especial. Ter uma chegada de bebê na família é sempre
emocionante para as Vargas, mas dessa vez, foi muito mais, pois
ele foi mais esperado antes mesmo de saber que viria.
23
LIZANDRA
Desde que descobri a melhor notícia do mundo minha vida só
melhora. Tudo ultimamente parece ser mais leve. Hoje irei ter mais
uma consulta, saber se é uma bonequinha ou um príncipe. Mal
caibo em mim.
Meu corpo está começando a tomar mais forma, agora sim
começou a parecer que estou grávida. Entre treze e catorze.
Natasha está com seis semanas e está pior que eu, conversamos
bastante sobre esse período e ela contou que a segunda gravidez
está sendo mais intensa, pois tem a sensação que sente tudo com o
dobro da intensidade. Brinquei que poderiam ser gêmeos e Alexia
colocou pilha que era assim que ela se sentia, e Natasha quase
morre com a possibilidade. Mas sabemos que é um bebê apenas.
Contei a ela sobre meus hormônios loucos, ela primeiro rio,
rio não, gargalhou na minha cara e segundo disse que era normal e
que na gravidez de Guguinha ela invadia o escritório de Gustavo na
metade do dia para transar. Segundo ela, é uma das maiores
vantagens da gravidez.
O elevador apita me tirando dos devaneios e saio,
cumprimentando algumas pessoas. Recentemente eu contei para
umas amigas mais próximas sobre a gravidez e claro, surtamos
todas juntas. E já ganhei alguns mimos fofos de bebê, chorei, claro!
Encontro Eva correndo para um lado e para o outro,
totalmente esbaforida. Eu a chamo e ela logo vem na minha direção.
— Scarlet ainda não apareceu? — questiono começando a
ficar preocupada.
Aceno resignada. Semana passada eu encontrei Scarlet na
sala dela chorando. Fui até ameaçada de ser demitida por tentar
ajudá-la, mas não dei bola, acabei a ajudando a se recompor e a fiz
pegar um carro para ir para casa, pois estava bem mal. E foi um
susto, porque não esperava aquela cena. Ela pareceu um bichinho
medroso que quando alguém chega perto simplesmente ataca, para
ficar na pose. Que ela nunca me escute!
E desde então ela ainda não apareceu aqui na revista. Isso é
quase um evento, pois nem quando a está doente, ela deixa de vir.
No primeiro momento eu não entendi, mas depois das últimas
notícias que soubemos, começo a entender um pouco ela e sua
crise de choro, principalmente quando me viu.
— Faz assim, me mande o que não for coisa jurídica e
sigilosa. Avise às meninas que vamos ter reunião agora às dez,
comigo. Por favor e estou na minha sala, qualquer coisa liga ou
vem. Tentarei falar com ela por e-mail.
Dou meu recado e ela acena concordando indo fazer o que
eu pedi.
— Ah! Aqui, tudo da revista que conseguir pegar que ela
resolve quando chegar. — ela me entrega uma resma de papel que
estava em mãos e me arrependo de ter sido solícita.
Na minha sala, escaneio alguns documentos e envio para o e-
mail corporativo dela e faço meu afazeres, até ela retornar horas
depois. Não ousei perguntar como ela estava. Apenas pedia tal
informação e ela me respondia alguns minutos depois e aproveitei
para avisar sobre minha reunião que solicitei.
Espero que ela não interprete errado e ache que quero tomar
seu lugar.
Levemente nervosa por ter inventado isso, sigo para sala de
reunião. Irei apenas deixá-la ciente que enquanto Scarlet não tiver
presente, eu irei ser a pessoa que elas irão procurar informações e
coisas do tipo, que é para tratar comigo. É, se eu não chamar essa
responsabilidade para mim, depois, vai atrasar tudo e todos vão se
ferrar e de qualquer forma, tudo da redação que chega em Scarlet é
por mim que passa primeiro.
Eva me aparece com um copo de suco, sem eu ter pedido,
mas agradeço assim mesmo pela boa vontade e preocupação dela
comigo. Estar grávida é ter atenção redobrada. Nem estou com a
barriga tão perceptível, mas ganho atenção boa. Mal posso esperar
para ela crescer ainda mais.
— Aposto que meu sobrinho ou sobrinha está com sede. —
faz graça me fazendo gargalhar.
Com a secretária da minha chefe ao meu lado, deixo o grupo
de mulheres confusas por ser eu nesse papel de frente, ciente sobre
tudo.
— A cobra deve estar trocando de pele. — uma faz graça e
os risos ecoam.
— Tenham empatia.
As meninas daqui são gente boas, mas são cruéis quando
querem. E não concordo nenhum pouco como elas estão fazendo
graça com Scarlet, claramente ela está abalada. Acenam
visivelmente constrangida pela reclamação. Termino a reunião e
desço para o almoço. Prevejo muito aborrecimento fazendo jornada
dupla.
Desço sozinha e encontro Natasha e Taís aqui embaixo me
esperando e estranho completamente.
— O que está fazendo aqui, louca? — questiono depois de
beijar sua bochecha.
— Sequestrar, né? Jônatas agora te monopoliza e nem
almoçar comigo mais pode. — resmunga fazendo bico.
— Gustavo está em reunião, né? — questiono divertida e ela
acena sorrindo.
— Mas hoje tem outro motivo de eu vir. Eu e Taís vamos levar
a você no shopping, a primeira loucura de grávida, comprar roupas
desnecessárias porque achou bonitinho. É praticamente um ritual.
— Mas eu nem sei se vai vir menino ou menina, sis. —sorrio
para a loucura dela, abraçando Taís.
— Vamos, vaca!
— Quem até um dia desses que produzia leite é você e vai de
novo. — tiro uma com a cara dela.
— E você também. Dê adeus a esses peitinhos também.
Você teve sorte, é mãe de uma pestinha de quase três anos e
continuou com o corpinho todo em cima. Enquanto nós, eu e Taís,
meros mortais passamos por tudo aquilo para ter aquelas outras
pestinhas. Aí você não satisfeita, me inventa de engravidar. Mas
ainda assim, vai ter dois filhos com o corpinho todo em cima. Eu
odeio você!
Gargalho alto com ela. Natasha tem o poder de transformar
minha antiga situação, aquela que nunca gostei, em uma coisa boa.
Ela é desse tipo, que cutuca a ferida alheia e ainda assim faz a
pessoa rir.
E me pega pelo cotovelo enquanto vou arrastada,
praticamente.
— Isso é loucura, gente. — aviso quando Taís dá partida no
carro.
— Você fala isso agora. Quando chegar lá, você vai ver e
quando menos esperar vai estar comprando mil roupas fofas. —
Taís relata e Nat concorda.
— Jônatas vai surtar. — rio com elas.
— O presente é nosso, irmã. — Taís sorri abertamente para
mim que estou no banco do passageiro, mandei Natasha para
sentar atrás, hierarquia básica de irmãs e ela me xingou. — Mas
cuidado, pois se não será Rodrigo que surtará no meu ouvido e terei
que acalmá-lo no sexo. Na verdade, vamos gastar sim!
Gargalho junto com Natasha que dá de ombros.
— Gustavo nem liga mais. A fatura vem, ele me olha, eu
sorrio e sento no seu colo. Fácil! — Natasha também conta a tática
dela e gargalhamos. — Eu vou comprar umas coisas para mim
também.
— Rodrigo gostou dessa coisa de ver vocês duas grávidas e
me inventou de querer outro filho, acredita? Tirei logo o cavalinho
dele da chuva, sou o quê? — Taís relata.
— Cuidado viu? Porque eu não queria outro, Vinicius estava
de bom tamanho e quando menos espero, aqui ó. Cuidado com o
rapidinhas de banheiro.
— Três eu não aguento. — Taís dá dois toques em cima do
volante. — Vou começar a encapá-lo com frequência.
— Dá atrás, boba. — Nat levemente maldosa, indica. Olho
para trás, para vê-la rindo, mal conseguindo disfarçar.
— Natasha?? —iIndago surpresa.
— Foi a noite toda eu gemendo e xingado Gustavo que nunca
mais ia fazer aquilo. Eu tinha dito que nunca faria, mas ele me
testou até conseguir. Mas foi essa para nunca mais. Olha o meu
tamanho, olha o de Gustavo, daí você vê a proporção. Não aguento
essas coisas não! — relata indignada e eu gargalho disso, não
aguentando.
— Deus tenha piedade. — Taís chocada, bate mais uma vez
no volante, dessa vez eu acompanho.
— Testa, boba. Eu sobrevivi e vocês são maiores que eu.
Natasha gargalha alto me levando junto a ponto de pôr a mão
na minha barriga, pela expressão aterrorizada de Taís. Eu tenho
irmãs piradas.
No shopping elas estavam certas. Comprei mil coisinhas
fofas. Comprei uma roupinha do bebê para presentear John, já que
ele quem me deu a notícia e não tive oportunidade de ser a primeira
a saber e contar a ela de forma especial. Mal posso esperar para ter
meu bebê aqui vestindo tudo isso. A ansiedade é grande.
Mais cedo que o final do expediente, encontro Jônatas me
esperando. nem preciso dizer que ele fica mais muito, muito
gostoso de roupa social, de modo sério. Sério, olha esse homem,
meu homem.
— Oi, amor da minha vida! — enlaço no pescoço de John. É
tentação demais para uma pobre grávida feito eu.
— Oi, amor meu. — beija minha boca. — Que sacolas são
essas? — questiona pegando da minha mão.
— Natasha e Taís. segundo elas: primeira loucura de grávida.
Vamos? Estou ansiosa. — não deixo de demonstrar minha euforia
por isso.
Ele concorda e seguimos para clínica antes de buscar Jade.
Como ela estava me esperando no horário marcado, entramos
direto. Minha obstetra, doutora Anna, me cumprimenta com um
largo sorriso, assim como faz com John. Ela checa minha pressão e
peso, anotando tudo, como da última consulta e logo sou
encaminhada para uma outra salinha, dentro da sala dela mesmo,
para isso.
John vem atrás me ajudando a sentar na maca e deito logo
em seguida. Ela põe sua luva e passa o famoso gel na minha
barriga. Meu coração está palpitante de um jeito louco!
— Eu particularmente acho uma das melhores partes do meu
trabalho. Só perde para o nascimento. — se mostra empolgada,
pegando a maquininha para pôr na minha barriga.
— Vamos ver, depois deixo escutar o coraçãozinho, tudo
bem?
John e eu acena efusivamente. John não larga minha mão.
Ela passa a máquina por cima do gel e não tiro meus olhos do
monitor.
— Tem preferência? Vocês têm uma menina, né?
— Não temos preferência. — eu e John dissemos juntos. —
É, o nome dela é Jade. — respondo.
— Então avisa a Jade então que ela terá um irmãozinho,
cheio de saúde e de personalidade, que estava fugindo de mim.
Olho para John que está fitando a tela. O sorriso largo de
satisfação. E eu não sei nem como reagir, só sinto as lágrimas
descerem em velocidade surpreendente. Menino?
Que venha a cópia de John, por favor! Não tem explicação
para o que estou sentindo. É como se meu peito estivesse
explodindo.
— Vamos ouvir o coraçãozinho dele?
Aceno eufórica apertando mais ainda a mão de John que está
tão ou mais emocionado que eu. Minha vida está ficando cada vez
melhor!
Logo escutamos um pequeno batimento meio tímido e
ritmado. Choro ainda mais de alegria. É o coração, do meu filho ali.
Mostrando que está aqui dentro, se desenvolvendo. John alisa meu
cabelo e eu não consigo parar de fitar a tela enquanto escuto o
melhor som que escutei até hoje na minha vida. Sorrio boba, boba
apaixonada.
Saímos de lá com John com a foto na carteira, do lado da
ultra de Jade e outra consulta marcada.
— Obrigada por ser a melhor parte da minha vida. — abraço
John no estacionamento.
A felicidade não me cabe. É inexplicável!
— Você que é da minha. Um menino, vida.
Ele não tira o largo sorriso do rosto me contagiando. Choro no
seu ombro, de alegria, de euforia, de realização, ele retribui, me
apertando com delicadeza e me acalma com um carinho nos
cabelos.
Fomos buscar nossa pestinha no colégio e ela vem saltitando,
onde estava sentada com Alan que levanta junto, com roupa do
judô.
— Tia! — sorri ao me ver. Beijo sua bochecha com carinho.
Ele está crescendo cada vez mais rápido e ficando ainda mais
bonito. Se meu bebê vier com essa mesma beleza dos meus
sobrinhos vou agradecer e muito!
— Gostou do balé? — pergunto e ela nega.
— É ruim! Eu quero fazer aquilo. — aponta para roupa de
Alan.
— Ela me viu hoje, tia, na aula. — Alan explica.
— Você quer fazer Judô? Mas você é pequenininha. — beijo
sua bochecha.
Faz biquinho dengosa. Natasha logo aparece para buscar as
pestinhas.
— E ai vaca! Foi na clínica? — questiona curiosa.
— Sim. — abro um sorriso.
— Vai contar ou fazer mistério?
— Menino!
— Outro? Porra! Jade está lascada rodeada de garotos se
derem um de protetores na adolescência.
— Olha a boca, Nat. — protesto.
— Eu quero esses três aí bem longe dela! — John que estava
mexendo no celular responde.
— Olá oh, machão que vai proteger a filhinha de tudo e que
vai virar freira. Iludido! — Nat debocha dele em um tom de voz
ridículo e gargalho enquanto John semicerra os olhos para Natasha
que ri.
— Mantenha seu moleque bem longe dela. Meu filho vai
protegê-la e mais ninguém.
— Pois saiba que as Vargas não resistem à um belo
Maldonado de olhos azuis, e os três são. — tira mais uma com a
cara dele. Natasha não cresce! O John sempre cai na dela.
Gargalho mais uma vez e dou um beijo me despedindo dela,
saindo com John.
— Ela estava brincando, amor. — beijo rapidamente seus
lábios.
Entramos no carro e partimos para casa.
— Jade, sabia que você terá um irmãozinho? — questiono
olhando para trás e ela nega.
— Quer escolher o nome, papai? — ela mostra as mãozinhas,
sem saber. Achei que ela ficaria mais empolgada.
Em casa, morta de cansaço e recém-banhada encontro
Jônatas e Jade juntos na sala. Ele costurando roupas de bonecas
enquanto ela vestia. E um detalhe importante, ele está com os
cabelos cheio de presilhas e com a boca de batom.
Gargalho, mostrando a sacola das roupinhas. E Jade tenta
fazer alguns golpes que eu julgo ser judô. Pelo jeito ela gostou
mesmo da coisa! Nunca a vi tentando fazer nenhum passinho de
balé nesse tempo que ela faz.
Sorrio boba mostrando um macacãozinho fofo sem estampa,
na cor vermelha.
— Que lindo! — John pega com delicadeza como se fosse o
próprio bebê nas mãos.
O nosso final de noite foi bem gostoso, eu e John ficamos
abraçadinhos, conversando, enquanto ele alisava minha barriga,
imaginando como será nosso bebê e alguns possíveis nome. E
penso seriamente o que será da minha vida se vier uma outra Jade.
— Já pensou em algum nome para o bebê? — questiono
baixo no escuro.
— Acho que já temos nome. — eu me viro para ele confusa.
Ainda não paramos para decidir nome nenhum.
— Temos?
— Sim. Henrique.
— Henrique?
Repito o nome já com os olhos cheio de lágrimas. Esse é
exatamente um dos nomes que escolhemos para os nossos futuros
filhos quando éramos adolescentes. Ele lembrou. Sorrio em meio
às lágrimas e ele limpa meus olhos e beija minha boca com
delicadeza.
— Então será Henrique!
Concordo pondo minha mão em cima da sua bochecha
acariciando ali. Sou tão apaixonada por esse homem!
24
LIZANDRA
Os dias estão passando bem. Estou com dezesseis semanas
e minha barriga está tomando uma forma linda. A maior parte do
tempo fico boba alisando-a e conversando com Henrique, meu
pequeno bebê mais lindo do mundo. Estou doida para que mexa,
mas a doutora explicou que é entre dezoito e vinte semanas.
John é uma atenção redobrada comigo. Não me deixa fazer
muita coisa e estou quase proibida de carregar Jade, pelo menos
em pé. Toda vez que ele a ver no meu colo, me olha feio para não
fazer peso na barriga, pois ela fica praticamente em cima. Mas nem
ligo, não vou parar de amassar meu bebê que está ficando cada vez
mais esperta, por causa da barriga que não está tão pesada ainda.
Falando em Jade, ela está ficando cada vez mais
independente. Também fez amizades lá, tem mil amiguinhos. No
final de semana passado simplesmente foi para um aniversário de
uma delas, a menina é tão traquina quanto ela.
Matriculamos ela no Judô, como ela queria, já que não estava
gostando nenhum pouco do balé. E no Judô ela todo dia vem com
novidade, tentando fazer com John o que aprendeu lá. E pior, ele vai
na onda dela.
Daqui a poucos meses ela faz três aninhos. Logo depois do
meu, fazemos aniversário praticamente na mesma época, coisa de
uma semana. É, somos as duas virginianas e Jônatas está muito
fodido.
Mas o dela eu quero comemorar, mesmo que ela esteja
fazendo três aninhos, para mim é o primeiro aniversário. E falando
em aniversário, estamos indo para o de Alan.
Meu celular tem duas mensagens de Alexia e uma de
Natasha e quatro ligações de Taís. Mas não deu tempo de pegar
para ler nem retornar chamada, já que sei que as mensagens são
para isso.
— Mamãe! — Jade entra no quarto feito furacão.
— Oi. — sem tirar os olhos do espelho, já que estou pintando
a sobrancelha, respondo.
Percebo ela chegar mais perto, e do espelho mesmo vejo seu
rosto curioso observando o que estou fazendo?
— Mamãe, está escrevendo o que?
Me olha e eu paro de desenhar para gargalhar. O
“escrevendo” saiu “iquevendo”. Eu acho muita graça do jeito que
fala, é inevitável não rir.
— Não estou escrevendo, mamãe, estou desenhando aqui ó.
— mostro a diferença das duas sobrancelhas para ela que acena
como se tivesse entendido.
Prontos, seguimos para festa, e logo vejo Alie acenar
sorridente para mim com Nina batendo palminhas no seu colo. Sigo
para mesma mesa de Alie, cumprimentando todos.
— Essas Vargas não resistem aos olhos azuis de um
Maldonado e isso é fato!
Rodrigo egocêntrico, debocha de Jônatas que está com a
cara fechada. Jade correu para o chão assim que viu Alan para lhe
entregar o presente. Eles já estão se entrosando como melhores
amigos, mesmo na diferença gritante de idade. Murilo e Gustavo
que acabou de sentar aqui e Rodrigo riem dele. Homens juntos não
crescem nunca!
— Fica na sua, Rodrigo.
— Não posso fazer nada se temos esse poder em cima das
Vargas, amigo. — Rodrigo e Gustavo brindam e Murilo ri, pois a dele
não está no meio.
— Minha filhota não vai dá confiança a esses moleques que
vocês chamam de filhos não.
— Será? — Rodrigo continua e John fica ainda mais irritado.
— Claro! Ela irá para o colégio de freiras ainda esse ano.
Eu, Taís e Alexia gargalhamos primeiro, sendo seguida dos
outros dois.
— E você está rindo de que, Murilo? Nicole está aqui para
fazer par com Vinicius. Quase a mesma idade e meu filho honra o
sobrenome. — Gustavo provoca Murilo.
— Uma porra! Ela será amiga de convento de Jade.
Gargalhamos mais uma vez, só que dessa vez da cara
fechada de Murilo colocando a mão nos cabelos da filha que está
alheia a tudo, comendo brigadeiro que Alexia dá.
— Vocês são um bando de iludidos achando isso. Meu pai
também achava isso, só para constar, viu, Murilo? — Alexia arqueia
uma sobrancelha para Murilo que não gostou nadinha dessa
resposta. — Sem contar que ela ainda nem completou um ano,
então pare de sofrer antecipadamente.
—Exatamente. Eles ainda são crianças. Além do mais Jade e
Alan são primos. — defendo minha filha.
— Ainda bem que eu só faço macho. — Rodrigo se glorifica
como se isso fosse motivo para alguma coisa.
— Será mesmo, amor? Se eu te disser que estou grávida de
novo e de uma menina? — Taís sorri cinicamente para Rodrigo que
coloca a mão no coração.
— Está falando sério, Taís?
Ficamos todos em silêncio ouvindo o desenrolar da cena.
— Claro que não! Só queria ver sua reação. Essa barriga aqui
não forma mais nenhuma criança.
— Será mesmo? — ela acena convicta.
É impossível ficar alguns minutos aqui sem rir. John me puxa
e me beija rapidamente em um selinho. Nat aparece com Vinicius e
Jade aparece correndo, chorando, pois foi derrubada por alguma
criança maior. Eu a coloco que fica quieta, mas Jônatas a puxa para
seu colo, semicerrando os olhos para Vinicius que estava perto e
como se entendesse alguma coisa.
— Pare de ficar sorrindo para a filha dos outros, rapaz. —
John resmunga para Vinicius que sorri mais abertamente. —
Debochado igual a mãe.
Gustavo gargalha de novo puxando Nat para sentar na sua
perna.
— Nat, Gustavo e Rodrigo estavam dizendo agora a pouco
que nós não resistimos aos olhos azuis deles. Concorda? — Taís
delata aos dois.
— É porque foi eu e Taís que ficamos atrás de vocês, né?
Somos tão obcecadas pelos seus olhos, que os dois Maldonadinhos
correram atrás da Vargas, né? E Liz agora está aí, desolada porque
não teve um. Se enxerguem! — Nat debocha pisando nos dois
como sempre faz, acabando com o ego deles.
Gargalhamos alto pela resposta dela. Não dá um crédito.
Sinto um beijo rápido de John na minha nuca. Não aguenta ficar
longe nem por um segundo sequer.
— Fazer o que se gostamos de mulher maluca? — Gustavo
faz graça e recebe um olhar semicerrado e desacreditado de Nat.
Gustavo não se abala e beija-a, que resmunga algo como ele
passará a noite com Zeus.
JÔNATAS
Planejando o que irei fazer para o aniversário de Liz, mesmo
ela falando algo sobre preferir apenas passar o dia conosco, mas
isso não significa que eu não queria lhe dá um dia que merece.
Estou com mil planos na mente. Fervilhando na verdade, estou
doido para que o dia chegue logo, para recompensar todos esses
anos que passamos longes. Eu quero que ela esteja totalmente feliz
e realizada. E se depender de mim, farei o impossível para isso.
— Jônatas, aqueles papéis acabaram de chegar. — um dos
advogados me tira dos meus devaneios.
Aceno concordando e ele me entrega. Passo os olhos,
satisfeito.
— Valeu!
Lizandra faz aniversário sábado agora. Hoje já é quinta.
Tenho até amanhã para pôr meus planejamentos em execução.
Volto ao trabalho e logo o casal que está se divorciando aparecem.
Eles geralmente estão juntos para resolver essa coisa da divisão, já
que todos os bens adquiridos depois de casados ser partilhado.
Fechamos um contrato de compra.
No almoço busco ela, que sempre me aparece sorridente.
Preciso nem dizer o quão linda ela está com essa barriguinha
perceptível e sorriso delicado. Eu amo essa mulher!
— Oi, lindo!
— Oi, minha linda. — seguro na sua cintura sem muita força
percebendo a protuberância perto daquele local. Onde meu filho
está nesse exato momento.
Fito seus olhos azuis, é, eu sempre fui um homem
apaixonado. Ainda mais quando se trata dela.
— Que foi que está me olhando assim? Eu adoro esse olhar.
— continua a me fitar e vejo suas pupilas dilatarem.
— Nada; digamos que eu esteja te admirando. — sorrio
abertamente para ela, beijando rapidamente sua boca.
— Gosto disso. Vamos almoçar? Seu filho está me fazendo
querer comer a cada dois minutos. — beija minha boca, mordendo
meus lábios. É, ela atiça.
— Quer comer o quê?
— Estou morrendo de vontade de comer macarrão! Nossa,
salivo só em pensar!
Gargalho das reações sofridas dela.
— Isso seria o seu primeiro desejo? — arqueio uma
sobrancelha e ela arregala os olhos com um sorriso enorme
— É?
A inocência dela em algumas coisas me deixa ainda mais
apaixonado nessa fase dela grávida. Está certo que eu apesar de
não ser pai de primeira viagem, descubro algumas coisas com ela,
mas essa coisa dela de ser tudo tão novo, as descobertas, de ser
tudo maravilhoso, que eu fico ainda mais apaixonado por tudo, por
ela.
25
LIZANDRA
— Mexe, mamãe! — aliso minha barriga. Estou inquieta para
que mexa logo.
Em frente ao espelho só de roupa íntima comparando meu
corpo de agora com o de antes, vendo onde cresceu. Meus seios
estão começando a ficar maiores, minha barriga já está em um bom
tamanho.
Vou fazer vinte e oito anos e percebo em como Lizandra de
vinte e seis era infeliz e vazia. Posso dizer que esse ano de vinte e
sete foi o mais turbulento da minha vida, turbulento, mas no final,
bom. Perdi coisas que não estava preparada, mas ganhei outras
bem melhores no lugar, no tempo que era para ser.
Minha gravidez não está sendo enjoativa, consigo viver
normalmente sem esses efeitos, mas o cansaço está vindo. Eu
achava que era preguiça de Nat quando me contava que dormia o
dia inteiro, mas agora percebo que não é bem assim.
Jade está na sala, de quimono e tutu por cima dançando
aleatoriamente e fazia os golpes ao mesmo tempo, junto com alguns
brinquedos espalhados e o filme capitã Marvel, no momento sua
heroína favorita, perdendo até pro Hulk, passando para ninguém
que ela mesma escolheu assistir. É, ela aprendeu a gostar das
mesmas coisas de Alan que ganhou um skate recentemente e já
estou vendo-a me pedindo um, mas ela quer mesmo uma
‘’bitiqueta’’.
Jônatas ainda está na empresa e por isso estamos sozinhas
em casa. Olho para trás, vendo a pequena me encarando. Eu a
chamo para perto para receber um beijo e ela nega, numa
expressão desconfiada.
— Que foi, boneca? Não quer beijar a mamãe? — eu a trago
para cima da cama e ela continua emburrada, negando. — Você
negou? — faço cara de ofendida tentando tirar um riso dela. Mas em
vão.
Parece que voltamos à estaca zero quando ela age assim.
Como no começo, que ia pisando em ovos para conseguir me
aproximar.
Eu a viro para ficar de frente no meu colo a vendo fazer um
biquinho de choro me deixando assustada e com o coração
apertadinho e quando menos espero, chora inconsolável, de modo
berrante, soluçando ficando vermelha imediatamente. O chorinho é
de partir o coração.
Eu não sei mais o que fazer para ela parar de agir assim,
estou com uma sensação horrível de impotência. Não consigo
deixar as lágrimas virem. Serei uma péssima mãe para esse bebê!
Não estou dando conta nem de fazer Jade se sentir confortável na
situação, imagine quando essa criança nascer?!
— Boneca de mamãe. — falo com cuidado alisando seus
cabelos e tirando do rosto, a abraçando no meu colo. Quero
conversar com ela, sobre esses ciúmes de Henrique. Quero que ela
saiba que não tem motivos para isso.— Você está muito brava
comigo? — questiono deitando na cama com ela junto.
— Não.
— Você está com medo da mamãe não gostar de você? É
isso?
Ela acena positivamente e timidamente deixando meu
coração miudinho. Quando Nat nasceu eu tinha a idade dela. Foi
uma das notícias mais legais da minha vida, ver aquela peste
recém-nascida. Quero que os dois tenha a mesma relação de
amizade que eu tenho com minhas irmãs.
— Prometo que seu irmãozinho não vai roubar seu lugar.
Nunca que vou deixar de gostar mais dele do que de você ou de
você do que dele. Eu amo os dois iguais. Ele vai ser um amiguinho
igual Alan é.
Faz biquinho de choro, me deixando com o coração mais
apertadinho ainda. Lidar com emoções que não sabe de onde vem é
um tanto angustiante. Eu a entendo perfeitamente.
— Não é para chorar, vidinha. — aliso suas bochechas com
calma. — Vem aqui me dá um abraço, vai.
Ela me abraça colocado a cabeça no meu ombro, enquanto
aliso suas costas com calma. Beijo suas bochechas a abraçando
mais forte e John aparece no ambiente.
E franze as sobrancelhas quando vê ambas com os olhos
molhados.
— Liz?! Está sentindo alguma coisa? — John aparece
alarmado.
— Não se preocupe, apenas duas virginianas se entendendo.
— encaro a pequena miniatura minha, percebendo que é mais
parecida comigo do que qualquer outra coisa. É a cara do pai, mas
o temperamento é como o meu.
Ele deita do outro lado, fazendo um sanduíche de Jade.
— Falta poucas horas para o amor da minha vida fazer
aniversário, sabia? — ele me fita com um sorriso contagiante.
— Bobo!
JÔNATAS
Exatamente sete e meia de um sábado e estou em pé, com a
casa silenciosa, depois de deixar Liz adormecida na cama,
abraçando meu travesseiro. Confesso que quase voltei, mas preciso
começar a organizar umas coisas.
Estou com algumas surpresas para o dia de hoje e para ela, e
começa agora para não perder um segundinhos desse dia especial.
Por isso que acabei de chegar da floricultura, com um buquê de
cravos vermelhos, onde até sei é a flor que ela mais acha bonita.
E mesmo não estando em Minas Gerais, dei meu jeito de
“preparar” seu café da manhã favorito. Comprar uma cestinha de
pães de queijo, mas pão de queijo mineiro, raiz. Ela é louca nesses
pães!
Deixo as flores em cima do balcão e faço café para mim, já
que ela não pode tomar e enquanto a cafeteira faz seu trabalho eu
decido fazer o meu, que é por coisas saudável para ela e que eu
cuidadosamente forço ela comer pela manhã.
Pego as louças mais bonitas que temos, assim como uma
bandeja perdida que nunca usamos. Arrumo tudo, não esquecendo
jamais a tal da Nutella, caríssima que tem gosto de Nucita, doce de
criança. Mas ela e Jade devoram parecendo duas desesperadas.
Não questiono jamais.
Encho alguns balões em forma de coração e vou ao quarto
pendurá-los, com o rabo na mão para não acordá-la antes da hora.
Mas ao menos isso está ao meu favor, Lizandra dorme feito pedra.
Volto para cozinha e me arrisco a fazer um bolo de xícara feito no
micro-ondas.
Poderia acordar Jade para tomar café com a gente, mas eu
prefiro deixar ela dormindo e mais tarde, quando acordar sozinha,
vê a mãe, pois o que quero fazer com Liz, Jade não pode ficar
presente e quero um início de dia bem preguiçoso com ela na cama.
Decoro o bolinho com M&M e ponho a pequena vela em cima
para acender. Ponho tudo tentando fazer mágica e sem derramar na
bandeja e sigo para o quarto acordá-la e começar esse dia. O
primeiro presente será um tanto espacial, assim como o último!
LIZANDRA
— Vida! — sinto alguns beijos ser distribuídos pelo meu rosto
e tento pará-lo para conseguir dormir mais um pouco.
— Hum, vamos dormir mais um pouco. — resmungo
abraçando seu pescoço ainda de olhos fechados.
— Não, acorda. Tenho uma surpresa para você. — sussurra
no meu ouvido despertando um botãozinho em mim de curiosidade
e abro um dos olhos para ele que gargalha.
— Vem, planejei um dia especial para você.
Beija minha boca, me ajudando a sentar, ainda sonolenta,
resolvo acordar de vez, dando de cara com uma surpresa incrível,
mas muito incrível mesmo. O quarto está com uns balões de
coração pendurados, uma bandeja de café na cama e John,
extremamente lindo, com um sorriso que me derrete completamente
e faz meu coração expandir ainda mais, se for possível.
— Não acredito! Não acredito que fez isso! — ponho a mão
na boca, incrédula
— Fiz, mas isso é só para iniciar o dia.
— Então temos mais?
— Temos, claro que temos!
Eu o puxo para um beijo gostoso, mas nenhum pouco
indecente, de puro agradecimento, pois meu coração não aguenta
de tanto amor.
— Amo você, muito. — sorrio para ele, apaixonada.
Ele me beija novamente de modo carinhoso e nos soltamos
com um suspiro da minha parte.
— Venha, se alimente, pois depois disso quero te dá um
presente.
— Achei que esse fosse o presente.
Ele nega pegando um pão de queijo, para pôr na minha boca.
Aceito rapidamente, pois amo pães de queijo e esse está quase
parecido com o que minha avó fazia. Tomamos café juntos, e não
evito em sorrir boba a cada dois segundos, vendo a delicadeza dele
em me agradar. Eu sou ou não sou uma mulher sortuda em ter esse
homem para mim?
No final ele levanta para pôr as coisas na cozinha e fui
proibida de sair do quarto. Ele volta, com um buquê de flores de
cravos, vermelhas. Minha flor favorita! E uma xícara com um bolo e
uma velinha no topo. Dou outro sorriso bobo.
— Faça um pedido. — senta de frente para mim em cima da
cama, com o buquê na mão, ainda, e a xícara perto do meu rosto.
— Tudo que gostaria eu já conquistei. — sorrio realizada e
assopro a velinha começando a lacrimejar com aquele amor e
cuidado dele hoje.
— Então pegue as flores, e pegue seu presente, dentro delas.
Ele me entrega as lindas flores e primeiro olho boba para
aquilo e depois para ele, me incentivando a pegar o papel dobrado
em canudo no meio.
— Achei que as flores fosse o presente.
— Não. É o papel. A flor é o embrulho! — ele me fita em
expectativa.
— Tem o que dentro? — coloco as flores do meu lado, ficando
apenas com o papel na mão.
— Abre!
— Uma certidão? ué. — franzo as sobrancelhas vendo o
cabeçalho do papel terminando de desenrolar.
— Leia direito, até o final. E alto, por favor.
Passo meus olhos por cima do papel parando em uma linha
em especial e sinto meu coração começar a bater
consideravelmente rápido com o que tem escrito.
— Jade Franco dos Santos...Vargas? — olho para ele que
ainda me olha com os mesmos olhos em expectativa. — O que é
isso, John? — denuncio minha surpresa pelo tom tremido na minha
voz.
— Leia o resto. — incentiva.
— Filiação: Jônatas Franco dos Santos e Lizandra Vargas de
Lima. — sinto meus olhos marejarem mesmo não entendendo muita
coisa de como meu nome está na certidão dela e olho para ele que
está como eu.
— E aí? Gostou da surpresa? — ele está todo em
expectativa.
— Eu amei! Como... Como fez isso? — questiono atônita
fitando o papel sem acreditar.
— Adoção unilateral. No meio do processo de guarda, eu pedi
isso, retirei o nome dela, já que nunca foi mãe está morta e pus o
seu que é a mãe dela realmente. Foi por isso que precisei de você
em algumas sessões do fórum e todo aquele documento que
assinou fez parte. Fiz de tudo para que não desconfiasse, mesmo
correndo muito risco... digamos que Suzana teve uma parte
importante nisso, no empurrão. E desculpa por fazer você sofrer
com a demora de vim. Eu quase desistia disso.
Me explica de como conseguiu aquela façanha e eu não
desconfiei de nada, em momento algum. Nunca passou pela minha
cabeça uma coisa dessas, nem sabia que existia, na verdade. O
sentimento do momento é tão...tão...eu simplesmente não consigo
definir em palavras exatas. Sorrio em meio ao choro de pura
felicidade. Melhor presente de aniversário da minha vida!
Vou para cima dele em um abraço forte e coloco nossas
bocas em um beijo urgente.
— Obrigada! Obrigada! Obrigada! — repito sem controle
fitando seus olhos lindos.
— Quero ser o seu melhor sorriso e que as suas únicas
lágrimas sejam de alegria. Feliz aniversário, amor da minha vida.
Sussurra me beijando novamente, selando todo aquele
momento mais que mágico.
Desço meus beijos para seu pescoço e ele se vira, me pondo
por baixo. Em nenhum momento deixo de ficar com alguma parte do
corpo dele na minha mão, seja braço, costas ou cabelos, enquanto
ele desce beijando meu pescoço, provocando arrepios bons e
gostosos na minha área que de repente ficou sensível. John
continua com os beijos pela minha barriguinha saliente e
arredondada e cintura, enquanto passeia a mão bem delicada ali.
Ele sobe de novo e beija meu queixo e boca junto com
pequenas mordidinhas. Puxa meu vestido para fora do corpo
beijando meu pescoço sentindo a mão dele alisar minhas costas.
Agarro seus cabelos enquanto gemo baixo. Beijo no pescoço
enquanto alisa minhas costas é golpe baixo, mas tão bom.
Meu aniversário nunca começou tão ótimo!
Com sorrisos frouxos, seguimos para o quarto ao lado acordar
minha filha agora no papel! Jônatas a pega no colo numa leveza
impressionante e amassa como eu sempre faço ou qualquer pessoa
que fique perto dela dois segundos. Eles trocam umas palavras
cochichadas no ouvido e fico de telespectadora, até ela virar para
mim sorrindo.
— Paiabens, mamãe! Te amo. — ela estende os braços para
mim e eu pego de novo no meu colo, apertando e agradecendo.
Vontade de morder essas bochechas gordas.
— Papai estava pensando, uma menina muito bonita vai fazer
aniversário semana que vem. — arregalo os olhos quando ela me
fita enquanto John fala pegando- a no colo de novo. — E mamãe
disse que ela merece muito uma festinha. O que você acha? —
Jônatas questiona e ela sorri abertamente entendendo que é ela.
Arregala os olhos verdes, acenando efusivamente. E desata a
falar suas ideias doidas de como quer.
—Você quer uma festa do Hulk vestido de balé e quer se
fantasiar de Power Rangers amarelo? — recapitulo a ideia maluca
dela.
Ela acena eufórica. Santo Cristo! Se eu fizer isso será uma
festa de maluco. Mas é Jade, fazer o quê? Jônatas dá de ombros.
Natasha me ligou para me desejar parabéns e nos intimou ir
para lá, pelo sol quente. Tudo é motivo de piscina. Ganhei presente
dela e um beijo babado de Vinicius que estava de sunga e colete
inflável. Taís chegou assim como Alexia com suas crias.
O dia estava muito agradável e divertido. Nunca gostei de
comemorar meu aniversário com festas, sempre fui daquele tipo de
pessoa que prefere comemorar com pouquíssimas pessoas, se
duvidar, nem comemorar. Sempre preferi, pois é mais íntimo e até
mais divertido, estar com pessoas que amo de verdade sem
precisar de muitas cerimônias para deixar todas se sentindo
agradável e coisa do tipo, pois isso já é costume quando nos
juntamos e somos uma família.
Contei sobre o presente da manhã, de Jade ser legalmente
minha filha e que agora é oficialmente uma Vargas e claro, eu e as
meninas choramos juntas por isso e comemoramos como sempre
comemoramos. Com gargalhadas, som alto, comida e muita
conversa fiada.
Voltamos esgotados de um dia que foi incrível.
— Ei, vida! — Jônatas me tira dos meus devaneios e
suspendo a cabeça para ver ele descalço e com o celular na mão.
— Vem aqui.
Ele me puxa pela mão para eu levantar da cama e fico de pé.
— O que você quer comigo, homem? — questiono em bom
humor.
— Dança comigo.
— Agora e assim? — pergunto confusa.
— Sim, agora e assim.
— Nem temos som aqui. Jade pode acordar.
— Pelo jeito você andou se esquecendo de algumas coisas.
Ele me estende um lado do fone que está plugado no seu
celular e põe outro. Sorrio besta porque tínhamos essa mania de
dividir o fone noventa por cento das vezes e ele ri também sabendo
que acabei lembrando disso.
— Perdoe. — brinco, plugando o fone no meu ouvido.
Ele faz o mesmo do lado dele e me segura, dando play na
música, e recosto a cabeça no seu ombro. Heaven ecoa no meu
ouvido, enquanto nos balançamos. Sempre gostamos de dar trilha
sonora aos momentos da nossa vida.
Não é dança de salão nem nada do tipo, apenas nos
abraçamos ficando com os corpos colados nos balançando para lá e
para cá. Nosso primeiro beijo teve trilha sonora porque foi em uma
festa, mas foi uma bem romântica e famoso do final dos anos
noventa que não lembro de cor o nome, nossa primeira vez também
teve trilha sonora, maioria dos nossos momentos juntos tem música
envolvida.
Abraço mais o corpo de Jônatas contra o meu enquanto ele
acaricia com leveza meus cabelos e ponho minha cabeça mais no
seu peito, sentindo meus olhos inundarem. Eu pareço pequena
demais perto dele.
Jônatas já me fez sofrer, muito, mas também foi a pessoa que
mais me fez feliz. Todas as minhas realizações estão ligadas a ele.
Ele, sem dúvidas, é a melhor pessoa da minha vida, motivo de muito
sentimentos meus.
Enquanto os últimos acordes da música ecoam eu continuo
ali, calada, abraçada a ele sentindo um carinho preguiçoso na
cabeça. Ele levanta meu queixo e sorri sem mostrar os dentes,
alisando minha bochecha limpando rapidamente com o polegar a
lágrima teimosa que desceu.
— Não é para chorar.
— Não é tristeza.
Ele desce a boca para beijar a minha e selamos nossos lábios
sem invadir a boca de ninguém com a língua, é apenas um beijo
amoroso com os lábios fechados e encostados.
— Passa o celular para cá. — peço e ele tira do bolso, me
entregando.
Acesso no meio das músicas de streaming e acho a música
que quero.
— Minha vez de fazer você ouvir uma música que escolhi. —
sorrio entregando o celular.
Voltamos a posição e When I Look At You começa a tocar na
sua calma. Eu e John continuamos abraçadinhos, indo para lá e
para cá com calma. Quem vê de fora vê apenas duas pessoas se
balançando no silêncio do cômodo. Mais aqui para nós é todo um
universo. Um universo nosso.
Ele encosta o nariz no meu e fechamos os olhos, juntos,
escutando a música falar muito o que sinto com essa volta dele para
minha vida. Abro meus olhos e fito os seus. É lindo, o amor da
minha vida. Se existe essa coisa de alma gêmea, Jônatas com
certeza e a minha.
A música acaba e continuamos ali, parados e abraçados
sentindo a emoção e ações falar por nós. Jônatas segura minha
nuca e me beija com calma e ternura. Ficamos ali, sem vontade
alguma de prosseguir para começar algo a mais. Era só um beijo
carinhoso transmitindo mil coisas.
— Espera aí, vou buscar o último presente do dia. — ele me
solta, puxando o fone do meu ouvido.
Aceno concordando e vou para cama, vendo-o de costas
mexer em algo dentro do guarda roupa. Outro presente?
Ao se virar com uma caixinha na mão, ele me faz arquear as
sobrancelhas em curiosidade. John sobe na cama, ficando em cima
dos joelhos me entregando.
Pego com cuidado e abro a caixa, e franzo as sobrancelhas
vendo um balãozinho sair, em forma de coração parando sem sair
totalmente da caixa, olho dentro e vejo que tem um anel prendendo,
como âncora.
— Pegue!
Ele me incentiva e com mãos tremendo pego o delicado anel,
de pedras. O anel é simplesmente lindo!
John pega o anel da minha mão e me fita sério. Eu continuo olhando
para ele sem saber o que pensar ou como agir com esse presente
tão lindo.
— Amor da minha vida, — amo quando me chama assim e
não só de "vida". — eu quero amar você para sempre, eu quero ter
você pra mim, só para mim, todos os dias o dia todo. Não encontro
palavras para dizer o quanto eu amo você, porém nem poderia ser
resumido nisso. Quero você perto de mim a todo instante, apertar
você no meu abraço para nunca mais largar. Casa comigo?
Continuo a olhar John e sinto meus olhos marejarem com a
linda e fofa declaração. Casar?
— Aceita? — questiona.
— Sim. Eu aceito tudo que você me propõe. Aceito ser sua
por completo.
Levo meu corpo de encontro ao seu. Sem movimentos
bruscos por causa da barriga. Sorrio boba fitando seus olhos, com
nossos rostos perto um do outro.
Jônatas com certeza é a minha alma gêmea. Esse tempo que
ficamos separados só foi para afirmar o quão bom somos juntos.
O que é nosso sempre volta!
— Se depender de mim, nunca que vai tirar esse sorriso do
rosto. — beija rapidamente a minha boca.
— Antes de você voltar, minha vida era tão vazia, John. Tão
amargurada e sem graça. Eu me perguntava o que eu estava
fazendo com ela. Às vezes eu não acredito que é real, sabe? Tudo
isso. — respiro fundo sentindo minhas lágrimas descerem pelo meu
rosto. — Eu sou mãe de uma menina e em breve de um menino. E
foi você que me proporcionou tudo isso.
John limpa meus olhos, me pondo no seu colo e me
abraçando com carinho, beijando o topo da minha cabeça.
— Não chora, vai. Olha para mim. — pede e suspendo o meu
rosto fitando seus olhos verdes, tão verdes quanto o de Jade. —
Não era para ficar chorando assim.
— É de felicidades, juro. E realização vendo tudo isso
acontecer.
Jônatas pega o anel e põe no meu dedo com cuidado, comigo
ainda no seu colo e em seguida beija a minha mão, em cima do
anelar.
Sorrio boba com a ação tão singela. Eu amo esse homem!
— Eu tenho você como uma das pessoas mais importantes
da minha vida, e não tenho receio em dizer isso.
Jônatas sorri abertamente me virando e me deitando
delicadamente na cama. Sorrimos juntos, bobos.
Desde que me entendo por gente, esse foi o melhor
aniversário, o melhor dia da minha vida, mais surpreendente, sem
dúvida. Jade agora é minha filha no papel, o amor da minha vida é a
mesma pessoa que me viu adolescente e de quem estou esperando
um filho e com quem irei casar. Tem coisa melhor?
26
LIZANDRA
Fito meu anel apaixonada, estou nesse looping de admirá-lo
no meu dedo desde antes o começo da semana, dois dias atrás,
quando ele faz a surpresa mais linda que tive na vida. Contei às
minhas amigas daqui a surpresa linda que ele aprontou para mim e
foi uma conversa boa na hora do almoço. Pense em uma revista
que só trabalha mulher, e uma delas contando novidades. Claro que
não poderia sair menos que muitos risos.
Estamos esperando o aniversário de Jade passar para
mudarmos e terminar a pequena reforma que estava incompleta.
Na saída pego o carro e saio em direção ao colégio de Jade
para irmos ao shopping. Jônatas que não gostou muito dessa minha
ideia, de sair sozinha de carro com Jade estando grávida, mas está
tudo sob controle.
Minha molequinha não teve judô hoje e com isso suponho
que ela não esteja mulambenta nem suada para irmos no shopping.
Pelo menos é o que eu espero. E pego a pequena estudante e
seguimos para comprar o que precisa da decoração, e as coisa
pequena para o aniversário dela.
Ah! Pela graça de Deus, consegui convencê-la de escolher o
tema da capitã Marvel, com direito a fantasia. É uma coisa que ela
gosta e é bonitinho. Pois estava imaginando por um hulk com roupa
de balé e ela vestida de Power ranger. Ia ficar engraçado, claro!
Caso ela quisesse mesmo esse tema. Mas ainda bem que ela
decidiu pelo outro. Vai ficar lindo e combina com ela e sua
personalidade!
Enquanto transitávamos no shopping escolhendo as coisas,
escuto uma voz que faz meu corpo tencionar.
— Quer dizer que conseguiu mesmo enrolar aquele otário? —
sorri debochado para mim apontando para meu anel no dedo.
— Roberto, licença. — peço impassível tentando arrastar o
carrinho com Jade dentro.
— E está grávida também? — ri ainda mais me causando
fúria. — Pelo jeito enrolou o babaca pelas bolas, pelo jeito caiu no
que você estava tentando me jogar. Quando cansar de brincar de
casinha ou querer algo mais gostoso que seu namoradinho propõe,
me procure, mulher grávida fica ainda mais fogosa que eu sei. Fazer
aquelas sacanagens que fazíamos.
Olho aquele ser me perguntando o que eu vi nele, para achar
que seria ele o cara certo. Alma podre!
— Eu poderia listar o que ele tem diferente e melhor que
você, mas não quero perder meu tempo com pessoas insignificantes
na minha vida. E não quero nada com você, de lixo já basta o que
eu acúmulo em casa na lata. E me dê licença, eu preciso passar, ou
vai ser necessário chamar os seguranças para você sair do meu
caminho? — eu ,e altero um pouco, mas respiro para me controlar
por conta de Jade que está quietinha e também por conta de
Henrique.
Se ele acha que vou me mostrar vulnerável como da outra
vez ele está muito enganado. Ele me feria quando o que eu tinha
com Jônatas era incerto, que ele não sabia da minha condição.
Agora? Ele terá que fazer muito mais que isso para me atingir.
Jônatas já provou que é meu de qualquer forma, que me ama.
Desse daí eu não preciso de mais nada, nem migalhas que ele me
dava e eu achava que era o jeito dele me amar.
Ele finalmente me cede espaço e empurro o carro passando
de cara fechada.
— Fale para sua patroa que ela vai me pagar pelo que me
aprontou.
Reviro os olhos e olho para trás, agora é a minha vez de sorri
debochada.
— Bem feito. Foi pouco! Isso é a lei do retorno.
Arrasto o carrinho e volto a fazer compras com Jade que está
quietinha. Suspiro nervosa, trêmula, por isso. Ele não me afeta
emocionalmente, mas encontro assim sempre me deixa nervosa
depois. Ligo para John, que disse que estava a caminho daqui para
buscar a gente e nos encontramos na praça de alimentação. O amor
da minha vida é muito gostoso!
— Já te falei que você ficou linda com esse vestido? —
questiona quando chego perto.
— Já, de manhã. Inclusive tem uma foto disso aí no seu
celular.
Rio dando um selinho nele, que me acompanha com o riso.
— Estou com vontade de comer mexicano. — peço a John
que me olha sério enquanto estamos chegando em casa.
— Tá mesmo? Não prefere outra nacionalidade não?
— Não. Quero tortilhas.
— É desejo ou vontade? — pergunta. Ele está fazendo de
tudo para que eu desista, mas eu realmente quero comer comida
mexicana.
— Faz diferença? É desejo.
— Não tem outra coisa que queira?
— Até tem... — desço meus olhos para o meio das duas
pernas, onde ele está sentado e a calça social evidenciando
bastante o volume. — Mas eu realmente quero comer tortilhas, ou
quer que Henrique nasça com cara mexicana? — abro um
sorrisinho para ele que fecha a cara.
— Você ainda vai me deixar louco, Liz. Louco! — resmunga
se levantando, arrumando a calça social nas coxas gostosas e
disfarçando o volume que eu estava olhando até então.
Rio entrelaçando nossas mãos, e seguimos para o foodtruck
mexicano.
— Olar, mi amore. Vejo que está muito feliz! — Alejandro
mecumprimenta como sempre fez, não se abalando por John estar
do meu lado segurando minha mão possessivamente. — Tortilha ou
burritos?
— Hermoso, eu estou e muito. Vou querer tortilhas e você,
John? — pergunto para ele que está de cara fechada encarando
Alejandro.
— É, vai querer o que emburradinho? — provoca ele.
Tadinho.
— Ainda não gosto de mexicano. — responde ainda fitando
Alejandro.
Ele solta minha mão e me abraça de lado, beijando o topo da
minha cabeça; Alejandro dá as costas revirando os olhos e
sentamos no banquinho, olhando Jade brincar de lá.
Meu lanche logo chega, me fazendo salivar. Tem um bom
tempo que não como isso!
— Aqui, mi amore. — ele me entrega o lanche.
— Mi amore...Mexicano fajuto! — Jônatas resmunga.
— Olha! Está esperando um nino! — ele aponta para minha
barriga sorridente, bem sincero. Retribuo o sorriso. Apesar de a
gente ter se enrolado várias vezes, antes de Jônatas, eu ainda o
enxergo como antes de a gente começar e terminar o caso. Um
amigo que me divertia quando vinha para cá.
Ele coloca a mão na minha barriga dando um rápido carinho.
— Parabéns, sei que será uma ótima mãe.
— Quer pegar no meu pau também, ou só na barriga dela?
Afinal, metade do trabalho foi meu.
— John! — reclamo ele que dá um muxoxo não se
importando.
Jonatas ciumento é terrível. Alejandro sorri não se abalando.
Ele é cínico, aposto que está aproveitando para tirar uma com o
amor da minha vida. Em casa, percebo Jade fitando minha barriga
que já ficando maior, totalmente intrigada.
— Quer tocar? — pergunto. — Toca na barriga da mamãe.
Ele gosta de você, sabia?
— Gosta? — ela me analisa para saber se eu estou
mentindo.
— Gosta.
Sorrio pegando as mãos dela pondo na minha barriga. De
primeira ela fica tentada a tirar, mas aos poucos começa a passar a
mão com mais confiança.
— Ele está aqui? — questiona curiosa.
— Está. Fale com ele.
Ele tenta ver dentro da barriga como se fosse um vidro fumê.
Rio e ela olha para mim sorrindo.
Se ela soubesse o quão importante para mim é ter essa
aceitação da parte dela. Do envolvimento.
— Henriquê. — ela puxa o “r” e o “e” falando quase certinho.
— Mamãe é minha, mas você pode ficar com o papai, um
pouquinho.
Mostra as regras a ele e eu gargalho de novo segurando as
mãos dela em cima da minha barriga. Ela repete “mamãe é minha”
por cima da minha barriga, babando tudo e arregalo os olhos
percebendo uma tremida na minha barriga, mas veio de dentro.
E pelo jeito Jade também sentiu, pois tirou a boca rápido e
está com os olhos arregalados.
— Você sentiu? — pergunto atônita e ela acena. — Ele
chutou. Ai meu deus!
— Chutou? — ela junta as sobrancelhas. — Ele chutou você,
mamãe?
— Chutou amor, ele chutou para você. — sorrio abertamente
em pura felicidade.
— Oh seu feio, chuta a mamãe não. — ela reclama e eu
gargalho com um sorriso enorme e com os olhos cheio de lágrimas.
Sinto novamente o chute, como uma resposta do que ela
falou e ela arregala os olhos como se ele a tivesse desafiado.
— O que vocês duas tanto apronta? — John aparece. —
Escutei as gargalhadas de lá.
— Henriquê chutou a mamãe. — delata o irmão.
— Chutou? — John arregala os olhos vindo em dois tempos
na nossa direção.
— Chutou, papai. Esse feio. — reclama como se o ‘’chute’’
fosse a coisa ruim.
John põe a mão na minha barriga sorrindo abertamente e
sentimos o terceiro chute. Hoje ele está que está. Começou, agora
para parar vai ser demorado. E estou amando isso.
Jade ficou meio confusa por estarmos felizes, porque
supostamente ele está me “chutando” e isso é errado. Mas logo
desacanhou e achou legal ver o bebê chutar em cima da sua mão.
Sento direito na cama e os meus dois amores de olhos verdes
ficaram paparicando minha barriga. Alisando e conversando.
Henrique chutou mais algumas vezes em intervalos de tempo,
mas agora parou de vez. Jade contou os mil planos que ela tem
para o aniversário dela e dormiu nas minhas pernas.
— Jade me contou seu dia, como sempre faz e hoje, contou
que um homem brigou com você no shopping. Aconteceu o quê?
Tenciono o corpo. Droga!
Esqueci disso, de Jade sempre contar absolutamente tudo
que aconteceu no dia, com detalhes, sem passar nada. Tenho duas
opções, omitir e me sentir mal depois, ou contar e minar minha
noite.
— Foi Roberto. Acabamos nos topando com ele lá. —
confesso baixo.
— O que ele falou?
— As mesmas nojeiras de sempre. Mas não me abalei,
relaxe.
— Não ia me contar, né? — percebo seu tom de voz calmo,
mas raivoso.
— Não sei, não quis estragar a nossa noite, vida. — tento
aliviar um pouco.
— Não sabe, Liz? É sério? O cara te fez mal, capaz de
aprontar algo com você, já que estava sozinha, grávida e com uma
criança e você não ia me contar nada?
Eu me viro para fitar seu rosto sério.
— Me desculpa, John. Ele só foi lá, fez ceninha e acabou, não
dei importância. Ele me abalava antes, quando a gente não tinha
esse laço todo. Mas agora ele não é nada, um embuste que faço
questão de nem me lembrar da existência.
Tento contato, mas John não quer, coloca uma parede entre a
gente e me sinto muito mal.
— Temos todo esse laço, mas você não me contou, Liz.
Adianta de que esse laço? — ele me fita sério e eu continuo calada
me sentindo pior ainda.
— A intenção não era essa. Eu não tinha decidido que não
iria contar. A diferença é que a informação chegou antes e não foi
em quem contei. Não menti e não é falta de confiança, John. Só
estava esperando para contar amanhã, nós dois acordados
sozinhos. Para ser sincera, nem lembrava mais, depois que o bebê
começou a chutar. Ele é insignificante que nem me importei. Não
vamos brigar por causa dele, por favor, vida, ele falou coisas que
marido de ninguém que escutar da mulher. Não é necessário
ficarmos assim por causa dele.
Eu o abraço, mostrando que não quero briga. Odeio
desentendimentos. Ele me abraça protetoramente beijando minha
cabeça.
— Eu fico com raiva, Liz. Por esse homem nojento que esteve
perto de vocês e eu não estar. E você, por não ter me contado na
hora. Promete, que vai me contar tudo, Liz? Eu não quero esse
homem perto de você. E se chegar eu quero saber no mesmo
momento e se não tiver, me ligue, entendeu? Odeio o fato de você
ter passado por isso e eu não estar junto.
— Tudo bem, prometo. Saiba que ele não afeta mais nada em
mim. Eu olho para ele e sinto nojo. Só!
Arrisco um beijo rápido na sua boca que ele aceita e
escorrego para mais perto no seu abraço gostoso. John é meu
porto seguro, ficar brigada ou discutir para mim sempre é horrível,
ainda mais por Roberto, que não vale o ar que respira.
JÔNATAS
Mais uma vez estou em uma sala cirúrgica para ver mais um
filho meu nascer. A única diferença é Liz que está deitada apertando
minha mão. Apesar do seu semblante tenso, sei que está tão
ansiosa quanto eu estou. Compartilhamos do mesmo sentimento.
Nosso menino! Não dá para acreditar que estou aqui e assim
com ela.
Depois de tanta merda que passamos, juntos e separados,
com o diagnóstico dela. Agora estamos aqui na sala de parto. O
destino é curioso, brica de uma forma ímpar.
Meu coração está batendo muito rápido e minhas pernas
estão fracas. Parece até que sou eu quem vai ter o bebê. Liz olha
para mim, com a carinha de menina de antes. Está morrendo de
medo, é nítido.
— Vai dá tudo certo, vida. — com dificuldade, a acalmo,
beijando sua mão com alguns tubos colado.
Ela acena, pegando fôlego, pondo uma cara de dor logo em
seguida. A médica dá as ordens a ela e em pouco segundos Liz
está fazendo força apertando minha mão. A cada gritinho dela é
uma saltada que meu coração dá.
— De novo, vida!
Reforço o que a médica está dizendo. Deus sabe a felicidade
que estou. É a primeira vez que vejo um filho meu nascer de forma
natural. Já que minha boneca que está alheia a tudo na festa da
amiguinha foi Cesária. Imagino ela vendo o irmãozinho. Sou tirado
do meu rápido devaneio com Liz dando um grito alto e estrangulado,
e em seguida um chorinho forte e dengoso ecoando na sala.
O som mais gostoso de ouvir.
O som do meu filho. Anunciando sua chegada.
A sua chegada mais que esperada. Desejada com muito
afinco.
Desejado desde que eu e a mãe dele éramos adolescentes e
no ensino médio. Olho para Liz, que está tão sorridente e chorosa,
apesar da cara abatida de dor e do esforço que acabou de fazer.
Linda! A mãe dos meus filhos é linda!
LIZANDRA
Ver o sorriso de Jônatas e o choro do nosso filho é como se
eu fosse levada para outro patamar de vida. Algo irreal e
inexplicável.
— Eu amo você! — sussurro para John sentindo minhas
lágrimas rolarem, escutando o chorinho dengoso do meu filho.
Meu filho! Nasceu de mim!
Ele beija minha testa com cuidado e a enfermeira traz ele
para mim e é aí que eu caio no choro. Vendo meu filhote sujinho,
vermelhinho, bochechudo e loirinho como eu sabia que viria.
Cabelos de anjo!
Sinto seu corpo tocar meu peito ainda choramingando
dengoso e seguro seu corpinho com cuidado e felicidade extrema.
Meu filho! Meu!
Meu e do amor da minha vida que assiste tudo como se fosse
seu filme favorito.
Aliso o corpo de Henri que parou um pouco de choramingar,
mas ainda chia um pouquinho. O som mais lindo do mundo.
John beija minha testa novamente e sorri, vendo tudo aquilo
maravilhado. O momento é tão importante para mim quanto para
ele. Nós dois sabemos o sonho desse momento desde que nos
conhecemos por gente.
Se não fosse a vida, o destino me fazer encontrar com Jade
naquele orfanato, não sei como estaria minha vida agora. Talvez na
mesma amargura de sempre, ou com outro coração partido, vazia e
sozinha.
Como dizem, faça o bem que o resto vem. Eu cheguei lá no
orfanato para ajudar crianças e fui recompensada da melhor forma
possível. Reencontrei minha filha. Sim, reencontrei, não encontrei, o
que temos parece ser coisa de outra vida. E de bônus, ganhei outra
oportunidade de dá certo com Jônatas.
Na sala, sinto uns afagos gostoso de John e com meu
presente do universo em minhas mãos, com um biquinho fofo de
choro e de olhos fechados, contrastando as bochechas vermelhas e
gordinha e os cabelos loiros, em um tom dourado penteado para o
lado.
— Ele é a coisa mais linda do mundo, vida. — eu me derreto
fitando minha vidinha.
— Ele é. — John se derrete comigo. — Ele é nosso. — e se
mostra orgulhoso.
Ponho ele para mamar e me sinto tão apaixonada, completa
vendo pôr a mãozinha em cima do meu peito e não resisto em
alisar, aquela mãozinha tão pequena e macia. A felicidade é tão
grande que transbordo, em lágrimas vendo a coisa que eu mais
desejei no mundo nas minhas mãos, finalmente.
— Obrigada por isso, John! — sinto meus olhos arderem e
não deixo de chorar me sentindo extremamente completa. — Você
me deu as duas coisas que sempre quis na vida. Filhos e amor.
Fito seus olhos, os mesmos olhinhos da minha Jade, que eu
me apaixonei desde a primeira vez que vi. Esses olhos dizem tanta
coisa que nem é necessário ele abrir a boca.
— Você também me deu essas coisas. Essa alegria
compartilhada está sendo a coisa mais gostosa da minha vida.
Rio em meio as lágrimas, fitando meu filho, bochechudo. Tão
lindo!
— Está. É como se fosse um delicioso conto de fadas que
não tem fim.
Vejo que Henri adormeceu. Passo a mão nos seus
cabelinhos, saltado do gorro que usa e olho para John que está com
um sorriso enorme vendo aquilo. Suspendo-o, para que ele
carregue. John chega perto e com todo cuidado do mundo,
transferimos ele de um colo para o outro.
Finalmente minha vida está encaixada. Sorrio para os dois na
cama e me sinto imensamente feliz. Saber que finalmente estou em
uma família de verdade. A minha própria família.
— Obrigado por me fazer o homem mais feliz do mundo. —
ele suspende os olhos, fitando o meu e eu sorrio completamente
apaixonada pelos homens da minha vida!