Você está na página 1de 1329

BOX

PARA CHAMAR DE MEU


+ BÔNUS TAÍS E RODRIGO
SUMÁRIO
UM ATREVIDO PARA CHAMAR DE
MEU #1
UM DEVASSO PARA CHAMAR DE
MEU #2
NOVAMENTE MEU #2.5
UM CRETINO PARA CHAMAR DE
MEU #3
REDES SOCIAIS:
CONHEÇA OUTROS LIVROS:
A série para chamar de meu conta as histórias de
casais apaixonantes. Um trio de mulheres modernas,
inesperáveis e totalmente diferentes, - Alexia,
Natasha e Lizandra - que encontram de formas
singulares, o amor, em homens atrevidos, devassos
e cretinos que tem o poder único de tirar cada uma
delas do sério, bem-humorados e acima de tudo:
apaixonantes e intensos.
As histórias garantem boas risadas, momentos
cômicos entre as amigas e momentos quentes e
gostosos entre os casais.
Aproveite, tenha todos para chamar de seu nesse
box com história extra!
Copyright © 2019 - Mayara Carvalho, criado no Brasil.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Não é autorizada a cópia, distribuição
comercial, republicações, total ou parcial em qualquer meio sem autorização
explicita da autora. A Violação dos direitos autorais é crime estabelecida na lei n°.
9610/98 e punido pelo artigo 184 do código penal. O livro está protegido pela lei e
registro. Não distribua, respeite o trabalho alheio!
Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou
situações da vida real terá sido mera coincidência.
Versão única, março de 2019
UM ATREVIDO PARA CHAMAR DE MEU #1
Design da capa & Diagramação: Mayara Carvalho
Revisão: Andriele & Fabiano Jucá (O Ponto e A Vírgula)
Imagem do miolo: Regards Coupables™
(@regards_coupables)
Modelo da capa: Juliano Oliveira
Fotografia: Marco Hass
atrevido
adjetivo substantivo masculino
1. 1.
que ou aquele que se atreve; ousado, audacioso.
2. 2.
que ou aquele que não demonstra medo ou submissão; corajoso,
destemido.
1
ALEXIA
Hoje seria um belíssimo dia pra jogar tudo para o alto e
mandar todo mundo tomar naquele lugar. Mas não vou fazer isso.
Sei que os dias de glória vão chegar. Pelo menos assim espero. Já
estou cansada de esperar pelo dia em que “os humilhados serão
exaltados”, mesmo sabendo que depois eles voltarão a ser
humilhados, pro tombo ser duas vezes maior. Ainda assim, quem já
foi exaltado, que dê espaço!
O cansaço está tanto, mas tanto, que parece que tem
alguém nas minhas costas roubando minhas energias. Tudo porque
estou desenvolvendo uma campanha publicitária para uma marca
de lingerie que quer alguma coisa impactante, diferenciada e
motivadora sobre autoestima. Eles desejam um conceito inusitado
nesta campanha de reposicionamento que está movimentado a
internet. Mas estou sem um pingo de inspiração para ela — sequer
me reconheço. Nunca fiquei com tanta dificuldade em um projeto
como estou com esse.
É, essa é a minha realidade. Se acostumem!
Poderia começar contando a vocês que sou linda, rica,
famosa e com os cabelos mais hidratados que se possa imaginar.
Mas eu estaria mentindo descaradamente se dissesse que sou
como a Marina Ruy Barbosa, ou então a própria Gisele Bündchen.
Eu sequer sou loira, muito menos ruiva, vejam só!
Na realidade, sou só mais uma pessoa na multidão vivendo
uma vida rotineira e sem emoções. Estou num namoro desgastado
e problemático que se encaminha cada vez mais para o fim, por
conta de brigas intermináveis e discussões diárias.
Sabe aquele casal instável e turbulento, mas insiste na
relação? Somos nós. E, para ser sincera, nem eu sei como isso tem
durado, pois não concordamos em absolutamente nada.
Enquanto a cabine metálica sobe em direção ao meu setor
de trabalho, numa agência de publicidade, olho para o espelho e
retoco mais uma vez meu batom, que é de cor coral. Diego, meu
namorado, vivia dizendo que o batom vermelho que eu usava era
“batom de vadia”. Então passei a evitar essa cor.
Passo a mão no meu vestido cinza. Não sei por que eu insisto
em tentar usá-lo. Sempre fica estranho em mim, porque evidencia
minhas pernas não tão grossas, coisa que odeio. Mas como acordei
atrasada e foi o primeiro que vi, não tive tempo para escolher. O
maior ódio que eu passo diariamente é: planejar uma roupa
mentalmente e ela está para lavar ou não fica tão bem quanto
pensei que ficaria.
O elevador abre e, mesmo de uma certa distância, vejo Téo
e Nat conversando. Eles sorriem assim que me veem saindo do
elevador, e logo retribuo com sinceridade. Nós trabalhamos juntos.
Téo é o diretor geral de criação e Natasha é a redatora, que faz
parceria com a diretora de arte, ou seja, eu.
— Vadia! — Natasha me saúda assim que alcanço os dois.
— Amei o vestido!
— Fofa, né? — falo ao Téo. — É minha amiga desde a
faculdade.
Téo dá uma gargalhada, já a conhece muito bem. E eu dou
um tapa na testa dela, deixando meu amigo quase morrendo
engasgado com o próprio riso.
— Bom dia, né? — digo enquanto jogo meus cabelos para o
lado, checando as pontas, esperando os dois responderem.
— Bom dia nada, eu acordei cedo. — Nat mostra sua típica
impaciência.
— Você é uma galinha muito diferente, não gosta de acordar
cedo. — Téo implica.
Acabo rindo também por causa da reação dela. Nat mostra
o dedo do meio e faz cara de brava. Mas como levar a sério uma
mulher de praticamente um metro e meio, que tem a aparência de
um anjo fofo? Basta ela abrir a boca para mostrar que não é bem
assim.
Eles vivem entre tapas e abraços. Dois arianos “raízes”, e
não ouso me meter. É eu chegar aqui, que me divirto.
Na hora do almoço, desço com Natasha para encontrar com
Lizandra que esperava por nós. Conheci ambas há alguns anos e
somos amigas até hoje. Nat era da minha turma e fizemos amizade.
Logo conheci sua irmã e viramos um trio inseparável e, sempre que
conseguimos uma brecha, almoçamos juntas, já que Liz trabalha em
uma revista aqui perto.
Encontramos nosso ponto de encontro prestes a encher, já
que é movimentado. Liz chega logo depois, com um sorriso no
rosto. Ela sempre está de bom humor. Chega a ser surpreendente,
principalmente numa hora dessas. As duas, apesar de parecidas
fisicamente, são dois polos diferentes no que diz respeito à
personalidade. Sentada mesmo, eu a cumprimento com um beijo e
um abraço. Com os pedidos feitos, começamos a conversar
enquanto a comida não chega.
— Vamos ao pub novo, né? — pergunta Liz, que é a
empolgação em pessoa.
— Não sei... — titubeio. — Diego não quer ir. — Reviro os
olhos, pois queria muito ir.
— Vocês são siameses por acaso? — Ácida, Natasha é
ácida. —Vamos só nós então, e é bem melhor que ele não vá
mesmo.
— Nat! — Liz a repreende. — Tem certeza, sis?
— Nunca temos chance de sairmos juntas. Nem faço
questão que ele vá. — Natasha revira os olhos.
Ela sempre deixa claro que odeia Diego e não faz questão
nenhuma que ele esteja por perto.
— Qualquer coisa eu ligo pra vocês. — Ignoro a alfinetada,
sabendo que eu vou ficar de fora dessa noitada.
Á noite, me arrumo empolgada, pois Di me mandou
mensagem mais cedo, me convidando para ir em uma festinha de
um amigo dele, mesmo eu não estando afim, queria mesmo é ir ao
pub com as meninas. Mas não quero fazer desfeita. De qualquer
forma, dá pra relaxar. Diego não é fã das meninas, assim como elas
não são suas fãs. Ele evita contato com as duas e pede pra que eu
faça o mesmo, mas não consigo. Amo as duas, por isso eu nunca
consigo fazer um programa com todos eles.
Meu dia não foi nem um pouco produtivo. O brainstorming
que fizemos, mais uma vez, para o trabalho novo foi inútil. Não
achamos “a ideia” que eles querem e eu não sei nem como
começar. Minha criatividade está no lixo. Me arrumo com um dos
vestidos que mais gosto. O decote é em V, com gola alta no
pescoço. Combina com qualquer ocasião. Espero não passar
vergonha.
Tenho um péssimo complexo social e, nas festas, na maioria
das vezes, sempre acho que estou mal arrumada, parecendo uma
mendiga, ou muito arrumada, parecendo uma palhaça em relação
às outras pessoas. Porém com esse vestido me sinto bem. Melhor
presente que Natasha me deu até hoje.
Diego aparece com seus olhos inquisidores em cima de
mim.
— Vai assim? — Seu tom é de censura.
— Vou... — respondo sem graça pelo tom dele.
Ele continua a me olhar da mesma forma e murcho. Estava
me sentindo tão bonita com esse vestido, é o meu favorito.
— Não tá bonita, não. Troca o vestido. Não quero passar
vergonha.
As palavras dele me magoam profundamente e morro mais
um pouco por dentro. Custava ser mais doce? Sempre me sinto um
lixo, pareço patética e nunca à sua altura. Ele é muito crítico. Eu
estava achando meu look muito bonito.
— O que tem de errado com a minha roupa, afinal? —
pergunto tentando entender onde eu errei. — A festa é muito
formal?
Sabe quando criança faz birra com os braços cruzados? É
ele agora, e eu não entendo sua reação.
— Por que você nunca faz o que eu peço? Eu Estou
tentando te ajudar a ficar apresentável, porque com esse salto você
fica parecendo uma vadia! — Passa a mão no rosto, exasperado.
— Tudo bem — murmuro dando fim ao assunto.
Troco, apesar de que meu salto não é alto. Ele odeia me ver
de salto alto, acha que fico vulgar demais, e também eu fico maior
do que ele. Não gosta de decote, acha que meus seios não são
para decotes, mesmo que eles não sejam de um tamanho
exagerado. Seios padrões, digamos. Na verdade, tudo em mim ele
acha vulgar. Talvez o problema seja eu mesmo, por isso, só uso
roupas sóbrias e sem decote.

— Vem, tem uns amigos ali — disse Diego que em arrasta


até um grupo.
Ultimamente saímos pouco juntos, quase sempre para
alguma festa de amigos dele, então eu aproveito.
— Namorada? — Um dos amigos dele pergunta curioso e
intrigado, depois dos cumprimentos. — Há quantos meses vocês
estão juntos?
— Dois anos já, né, Di? — Sorrio.
Todos fazem cara de surpresa, alguns claramente confusos.
Diego nunca falou de mim? Nesse tempo de namoro eu não
conheço metade dos amigos dele do trabalho.
— Fazer o que se, mesmo sendo tímida e envergonhada,
ela não resistiu aos meus charmes? — Ele se gaba. — Aposto que
está toda sem graça agora. — Ri em tom de escárnio.
Sorrio realmente sem graça, constrangida por ele expor as
minhas inseguranças assim, e aperto a sua mão em um pedido
silencioso para parar.
Ele não aprende a parar de fazer essa brincadeira só para
me ver constrangida na frente dos outros. Diego é o típico chato por
querer. Faz questão de ser inconveniente. Sabe que são
constrangedoras as coisas que fala e faz e, ainda assim, continua a
fazer para irritar e se divertir com a situação embaraçosa alheia, e
ainda se acha legalzão por isso. Infelizmente, ele é esse tipo de
pessoa.
No meio da conversa, me sinto mais relaxada por saber que
eles são legais.
Diego se irritou quando percebeu que eu estou me dando
superbem com os amigos dele. Tivemos até uma pseudodiscussão
quando ele nos afastou da rodinha para dizer que eu estava muito
amigável, como se estivesse dando em cima de todos e que eu
deveria ser menos “expansiva”. Logo eu, que me envergonho
facilmente. Mas agora ele está ali na pista de dança e me largou
aqui sentada sozinha, vendo as pessoas se divertirem enquanto
bebo.
Já é a terceira música que toca e ele continua me
ignorando. Finge que não está me vendo, me punindo por não sei o
quê. Tento ignorar pra não acabar brigando e estragando o restinho
da noite.
Ele está dançando com algumas pessoas, inclusive uma
mulher. Se invertêssemos os papéis ele não iria gostar da
aproximação. Eu deveria sentir ciúmes dele, mas não sinto.
Simplesmente não ligo, antes ele lá do que aqui me enchendo.
Chega uma hora que a gente para de fazer questão, de cobrar, de
querer…
Ele sempre diz que eu sou a ciumenta da relação, mas, na
verdade, é ele. Ele é ciumento e chega a me sufocar. Já Estou no
final da minha bebida e tenho vontade de voltar pra casa. Puro
tédio. Até mexer no celular tá chato.
Não vou atrás. Não Estou a fim de passar por esse papel,
porque sei que ele vai ficar reclamando no meu ouvido que eu estou
marcando em cima dele e não o deixo respirar. O engraçado é que
ele faz isso comigo sempre. Então prefiro deixá-lo onde está.
Uma das meninas que estava conversando comigo quando
chegamos, aparece do meu lado sorrindo.
— Vamos pra pista! — Ela diz.
— Não sei dançar — nego meio envergonhada.
Ela ignora o que falei e me arrasta para o meio do pessoal.
Acabo entrando na onda dela, dançando. O álcool ajudou um pouco
também.
Rimos uma para a outra e minha vergonha foi sumindo aos
poucos, enquanto toca uma música eletrônica conhecida. O local
está à meia-luz, então fico mais confortável. Já não me sinto
entediada.
Diego de repente aparece, me chamando. Sorrio para ele e
pego na sua mão, deixando-o me levar para onde quer.
— Que foi? — Sorrio para ele disposta a beijá-lo. Mas a cara
dele mostra que não tá querendo isso e a vontade de sorrir morre
um pouco em mim.
— O que pensa que estava fazendo? — resmunga.
— Tentando me divertir um pouco. Você me largou sozinha.
Tento beijá-lo novamente, mas ele se esquiva. Suspiro
querendo saber qual o problema da vez.
— Tinha homens te olhando, sabia? Se dê ao respeito! — O
tom de voz é grosseiro e ele aperta meu braço.
— Eu só estava dançando. Você também dançou com uma
das suas colegas de trabalho e eu não liguei — justifico.
— Lá vem você com seu ciúme descabido! — É, foi ele
quem falou, não eu. — Você tá perdendo a noção? Ouviu o que
falei? Comporta-se! Ou vão pensar que eu namoro uma puta que
dança pra chamar a atenção! Vai ficar vergonhoso pra mim! — berra
na minha cara, me puxando pelo braço.
Como é? Ele tá louco? Me sinto injustiçada por ouvir
aquelas palavras descabidas.
— Você me pede respeito, mas não me respeita. Dançou
agarrado com aquela mulher lá, e agora, só porque eu estava
dançando com as meninas, você acha que eu não Estou te
respeitando? Me poupe!
— Como é? — Mostra sua incredulidade em tom bravo. —
Tá bêbada já, só pode.
— Você me ignorou a noite toda, não sei o porquê. — Me
controlo pra não gritar. — Eu estava só dançando. Com mulheres! E
não estou bêbada!
— Você tinha que estar sentada e comportada como uma
mulher comprometida!
Fecho os olhos e respiro fundo. Incrível como ele consegue
estragar tudo!
— Eu tenho que ficar sentada enquanto você se diverte? Me
trouxe pra que então?... Quer saber? Eu vou embora. Fica aí, curte
sua festa como bem quiser.
Dou um basta, entrego meu copo a ele e vou embora.
O caminho de retorno foi com sensação de pura revolta,
com esse tipo de atitude que ele tem. Estou de saco cheio já. Tentei
entender, mas ele sempre fica de cara amarrada ou fica me dando
gelo, como se a situação fosse criada por mim. Não aguento mais
isso, eu me sinto louca diante dele e isso me desgasta. Vivo
questionando minha sanidade diante dos acontecimentos quando
estou sozinha, inclusive agora.
É nessas horas que penso em acabar tudo e mandá-lo pro
inferno, mas ele sempre ameaça fazer uma besteira consigo. Diz
que vai mudar, chora e pede desculpas, e eu acabo cedendo. É
mais fácil dormir com a sensação de impotência do que com a
consciência pesada.
Ele até tenta mudar, fica amoroso, manda flores, volta a ser
o Diego pelo qual eu me apaixonei, mas, de repente, volta a ser
esse daí, que só me magoa e me deixa irritada, que se descontrola
por pouca coisa. Nat e Liz disseram que ele faz mal pra mim, que é
tóxico e paranoico, que isso tá acabando comigo e eu nem percebo.
Elas dizem que o nosso relacionamento é abusivo por parte dele. As
meninas me enxergam de uma forma, ele me enxerga de outra,
totalmente oposta. No entanto eu não sei o que fazer, é angustiante.
Apesar de tudo, eu penso que o Diego é uma boa pessoa,
acredito na sua mudança e evolução. Eu costumo lutar pelas
pessoas que estão perto de mim, mas, para ser sincera, estou
desgastada com tudo isso. Acredito que é fase e ele vai melhorar,
mas até agora não vejo avanço nenhum! No momento tudo o que eu
quero é que ele se afaste de mim, que esqueça que eu existo, pois
vou fazer o mesmo. Eu Estou muito magoada e quero que ele
simplesmente suma da minha vida.
2
ALEXIA
Às vezes questiono seriamente se vim pra esse mundo
apenas pra passar raiva ou pagar boleto, sério. Chega ao final de
semana, eu só acumulo problemas e estou improdutiva no trabalho.
Saio mais tarde que o normal, tentando recompensar de alguma
forma esse meu estado inútil durante o expediente. Até fui dormir na
casa das meninas essa semana pra ver se Nat e eu conseguiríamos
fazer um novo brainstorming, um dos milhões, mas que fosse
eficiente. Mas nenhum deu certo. Nenhum!
Tudo me estressa. Estou brigada com o Diego ainda, mandei
mensagem dizendo que precisamos conversar, mas ele nem sequer
retornou. Apenas visualizou. E com isso fui queimando de raiva de
pouco em pouco. Estou prestes a erguer a bandeira da derrota na
luta pelo nosso relacionamento. Eu não aguento mais! Às vezes a
gente fica exausto de tentar ser mais forte do que realmente é.
As meninas já me conhecem, viram que eu não estava nada
bem. Não existe nada mais angustiante que uma pessoa tentando
ficar quieta.
— Sendo sincera, Alexia, eu ainda não sei por que vocês dois
insistem em ficar juntos, sabendo que vão acabar brigando no final.
Você já pensou em simplesmente cair fora? — Liz sugere,
cautelosa. E não é a primeira vez que ela fala sobre isso.
Estamos almoçando juntas, já que não conseguimos fazer
isso durante a semana, e aproveitei pra comentar sobre tudo que
estava remoendo sozinha.
— Também acho. Desculpa, Alie, mas ele não é homem pra
você, e já te disse isso. — Natasha fala na cara, sem mimimi, como
sempre faz.
— Ao mesmo tempo que tá ótimo, tá péssimo. Ele sempre
mostra arrependimento. Não sei pra que lado ir, tenho receio de me
equivocar. — Sou sincera no que estou sentindo e escuto Nat gemer
descontente.
— Arrependimento é o cacete! Ele é manipulador, sempre vai
achar uma desculpa pras merdas que faz e o pior, você engole.
Acorda, caramba! — Natasha rebate sem paciência. —
Arrependimento não acontece quando uma pessoa se desculpa e
chora, mas sim quando ela muda para que não corra o risco de te
perder. Se ele faz essas coisas sabendo que te magoa, é porque ele
não tá nem aí pra você.
— Calma, irmã. — Liz intervém pra acalmar os ânimos e Nat
apenas beberica sua bebida, inabalável.
— É delicado, gente. Vamos completar dois anos juntos, é
difícil ser a pessoa que vai dar um ponto final em tudo. — Passo a
mão no rosto, frustrada. Todas as pessoas que saíram da minha
vida foram por vontade própria, nunca tive a coragem de expulsar
alguém.
— Alexia, esse apego emocional que ele te impõe não te
deixa ver que você merece muito mais. Apegue-se naquilo que é
melhor pra você, que por um acaso não é ele! — Liz, mais calma e
compreensiva, me aconselha.
— Ele vive mentindo e te enganando, e você só se preocupa
em não acabar drasticamente... — Natasha ri com ironia. — Eu
realmente não sei mais como te defender, sis. Avalie. Se acha que
vale a pena ficar com ele mesmo diante das suas ações, fica então.
Eu lavo as minhas mãos, mas depois não me venha com a cara
quebrada porque eu vou te dizer “eu te avisei” sem remorso algum.
— Também não é assim, Natasha. Tenha jeito de falar! —
Lizandra intervém mais uma vez.
— É a verdade, Lizandra. E você também sabe disso, na
verdade nós três sabemos. Alexia parece que tem medo de se
rebelar, fazer o que quer de verdade. Ela só precisa ser sincera
consigo mesma, ver que ele não a merece e dar um basta na
situação. Mas ela prefere ficar se iludindo com uma coisa que não
vai melhorar — bufa nervosa. — Não tenho paciência pra gente que
gosta de insistir no erro.
— Falou a mulher que nunca namorou ninguém. Me poupe,
Natasha! Eu contei pra ser ouvida, não julgada. — Me defendo
contrariada, me sentindo atacada.
— Antes só do que com um babaca. E eu estou falando a
verdade, não é julgamento, estou abrindo seus olhos. Às vezes o
conselho tem que ser mais duro pra acordar. Olha as atitudes dele
com você! E você deixa! Mostre quem você é, sis, pare de se cobrar
e martirizar por uma coisa que os dois deveriam fazer, chega a ser
crueldade com você mesma passar por isso, e à toa, porque... ele...
não... vai... mudar!
Brevemente caladas, olhamos para Lizandra, a mediadora da
conversa, que solta um longo suspiro.
— Concordo com Natasha. Não tem por que ficar com uma
pessoa que não te oferece o mínimo. Vai ficar insistindo e juntando
migalhas até quando? Olha como você tá andando, toda murcha,
sem um pingo de autoestima e amor próprio. Nem sequer percebe
que não é mais a mesma e só sabe ficar se queixando de uma vida
que não melhora. Você é feliz dessa forma, recebendo amor falso?
Pois somente quando brigam pesado ele te dá flores, na tentativa de
te tapear. Que vida é essa, Alexia? Você se sente-se bem assim?
Nego com a cabeça, prestes a chorar diante de toda essa
verdade jogada na minha cara. Mas é tão difícil simplesmente ir,
elas não entendem! Eu me sinto impotente!
— Não estou falando isso porque quero te magoar, amiga. Eu
quero justamente te ajudar, abrir seus olhos. Quando falo que estou
com você, é porque eu estou, dou conselhos e apoio, mas a única
pessoa que pode mudar essa situação é você mesma. Abre o olho
de uma vez e encara que ele não tá nem aí pra você, antes que
fique ainda pior. — Natasha dá uma garfada na comida, encerrando
o assunto. — Vai ver que esse é o motivo de estar improdutiva no
trabalho, essas coisas mexem com você.
— Alie, não confunda os fardos necessários com os que
você opta por carregar. Você vai morrer falando e ele não vai
mudar nadinha, escute a gente. Estamos aqui pra catar todos os
seus cacos, pro que der e vier, você não tá sozinha. Só estamos
esperando o grito da sua independência. — Liz, cautelosa, dá o
golpe final. — Se você fizer tudo para manter esse relacionamento,
sobra o que para ele fazer?
Mais tarde em casa, encaro o meu próprio reflexo com calma.
Uma mendiga no meu espelho, nem ao menos me reconheço.
Minha vaidade foi pro lixo, estou parecendo uma morta-viva. Meus
cabelos sempre foram bem cuidados. Hoje, não estão cinquenta
por cento do que custumavam ser. Quando foi que parei de me
importar comigo mesma? Quando foi que comecei a me deixar em
segundo ou até mesmo fora da lista de prioridade?
É estranho chegar a um momento em que seu próprio
corpo cobra uma mudança de vida, uma novidade. Às vezes dá
vontade de fazer tudo e nada ao mesmo tempo. Como se quisesse
viver intensamente, mas sem sair da cama. É estranho e
sufocante.
Desde sábado, dia da briga, eu ando refletindo sobre tudo
que realmente é importante pra mim. Sempre que paro pra pensar
nisso, acabo ficando com uma sensação horrível de desalinho,
sabe? Desajustada na minha própria vida. As palavras de Nat
rondam minha mente desde o almoço e me dão uma péssima
sensação. Não quero mais viver esse tipo de vida, estou insatisfeita
e assumo.
Estou de saco cheio de tudo, inclusive do Diego. Não sei
mais se ele é tão importante assim pra mim. Ele me deixa muito
confusa, porque às vezes age como se não se importasse comigo e
depois age diferente. Eu queria ser mais confiante e fazer as coisas
sem medo. Me sentir poderosa e inabalável. Uma adulta segura,
que se assume e se sente confortável e satisfeita até mesmo com
seus defeitos, a ponto de torná-los uma qualidade, como todas as
minhas amigas da faculdade e do colégio.
É, tenho um triste hábito de fiscalizar alegrias alheias e eu
sempre me sinto dez passos atrás das pessoas.
Tenho algumas vergonhas, inclusive do meu corpo, e isso
vem desde o colégio. Recebia apelidos que me incomodavam, mas
não sabia lidar. Quanto mais me importava, mais pesado ficava
suportar e isso me assombra até hoje. Sem contar que não me sinto
mais tão realizada como antes. Estou vivendo no automático e isso
é chato.
Decidida a sacudir a poeira e a melhorar minha vida de
alguma forma, em vez de só lamentar, me visto disposta a ir à
casa do Diego pra ter uma conversa franca e sincera. Tem uma
hora que cansa de insistir no incerto.
Pensei em deixar ele vir atrás de mim dessa vez, não
bancar a namorada neurótica que fica tendo DR a todo momento
e, quando ele aparecesse, jogar as cartas na mesa, mas não vou
esperar a boa vontade dele. Ele gosta de pirraças, eu não. Se eu
entrar no jogo dele não vamos evoluir, e eu quero, com ou sem
ele. A conversa das meninas me acalentou, apesar da verdade ter
sido esfregada na minha cara sem cerimônias. No final, era disso
que eu precisava.
Pego o carro e sigo pro apartamento dele sem saber como a
noite vai acabar. Quase em frente ao seu apartamento, avisto ele
saindo sem camisa e acompanhado de uma colega de trabalho, que
por um acaso estava na festa e até me cumprimentou. Acho
estranho e reduzo ainda mais a velocidade, mas acabo pisando no
freio com força, fazendo com que o carro dê um solavanco. Isso
porque vi os dois se beijarem.
Pulo do carro e, estática na calçada, vejo a cena dele todo
amoroso com ela, ambos sorridentes. Se ainda tinha qualquer
consideração por tudo, acabou de evaporar. Como ele foi capaz? E
eu pensando por dois sobre o término. Nasci pra ser lar, pra achar
no outro um relacionamento duradouro, e não pra ser estepe,
quebra-galho e muito menos idiota.
Eu sou o tipo de pessoa que procura luz no escuro, que
tenta voar sem asas e também acredita que uma hora tudo vai
ficar bem. Mas quando uma coisa vem escancarada assim, não
tem como fingir que não tá acontecendo nada. Eu luto bastante
pelas pessoas, mas quando eu desisto, não tem volta. Natasha
estava certa o tempo todo, já vi. Isso pra mim é a gota d’água do
copo que já estava pra transbordar.
Ele me vê, e eu dou as costas disposta a ir embora.
Não vale a pena brigar, chorar, fazer qualquer coisa. É me
humilhar por alguém que não merece nada de mim. Ele viu que eu
vi e pronto. Não existe explicação. Acabou, não tem o que discutir,
não tem o que fazer. Contra fatos não há argumentos, não é o que
dizem?
Entro no carro e dou partida, cega de ódio, raiva, mágoa,
tristeza. Atordoada e vazia. Diego estrapolou todos os limites!
Todos! Eu poderia ser tudo, mas me trair?
Chego no meu apartamento sem saber direito como
assimilar isso, sem nem conseguir chorar. E minutos depois,
escuto um barulho alto da minha porta sendo esmurrada. Já
sabendo quem é, abro. Ele simplesmente avança, batendo-se em
mim quando entra. Eu fecho a porta e me viro pra ele com as
sobrancelhas arqueadas e braços cruzados.
— O que você quer aqui? — vocifero. — Cai fora da minha
casa!
Ele não demonstra nenhuma reação pra quem foi pego no
flagra há dez minutos.
— Não vou. Que cena foi aquela, Alexia? — pergunta como
se fosse o dono da razão. — Qual o seu problema?
Existem pessoas que são tão cínicas, mas tão cínicas que
atiram em você e logo em seguida perguntam com a cara mais
lavada do mundo o porquê de você estar sangrando.
— Eu quem te pergunto. Que cena foi aquela, Diego?
Decidiu optar por relacionamento aberto e esqueceu de me avisar?
— Não escondo a ironia. — Você chega aqui todo alterado depois
de passar dias sumido, vejo você beijando outra e sou eu quem
tenho problema?
— Sem motivos? Apareci aqui essa semana e você não
estava. E olhe que já era tarde da noite! Está me traindo? Eu te
mato! — O tom dele é ameaçador e deixa nossos rostos próximos.
Olho no olho.
— Diego…— Recuo amedrontada.
— Eu mato, entendeu, Alexia? Mato! — Continua a me
ameaçar com um tom de voz baixo.
— Você quem me traiu! Eu vi! Tá achando que tem direito
de quê?
— Eu achei que VOCÊ estivesse me traindo. Estava muito
estranha na troca de mensagens. Eu só te traí, pois, mais cedo ou
mais tarde, eu sabia que você me trairia também, por causa desse
seu jeito.
Desconversa. Rio sem acreditar. Não, sério! Não dá pra
acreditar.
— E, em vez de você vir conversar comigo pra esclarecer
as coisas, você me trai porque supôs que eu trairia primeiro? Vai
querer subjugar minha inteligência até nisso? — pergunto, didática e
desacreditada, tentando acreditar que ele chegou mesmo a esse
nível. — Se você tivesse um pingo de boa vontade, saberia que
estou atolada no trabalho. E foi você quem deu chilique na festa!
Tento me soltar, mas ele continua me acuando na parede,
segurando forte meu braço.
— Me solta, Diego! — peço desconfortável.
— Não. Eu aposto que teve tempo para as vadias que você
chama de amiguinhas. São elas que estão te envenenando, não é?
É o único motivo pra você estar louca e rebelde desse jeito! — grita
inteiramente descontrolado.
— “Vadia” é você, que namora comigo e beija outra! Você
mesmo definiu as prioridades quando me traiu! — grito de volta, já
no meu limite. — E sabe o que é pior? Eu não estou nada surpresa.
Você simplesmente provou ser exatamente da forma que percebo
agora. E isso não é um elogio!
— Vai começar? Você está louca e histérica! Viu tudo
errado!
Tenta, como sempre, me deixar como a errada da história,
querendo que eu duvide até da minha sanidade.
— Vai embora agora. Desaparece da minha casa e não
volta!
— Não. Foi um deslize, ela que se atirou em cima de mim!
Eu sou homem! — diz, como se “ser homem” fosse justificativa pra
algo. E daí? Eu sou mulher e nunca traí ninguém.
Ele vem na minha direção, mas antes que chegue eu coloco
a mão na frente, impedindo. Diego é o tipo de pessoa que gosta de
falar sem se importar, manipula as situações e quando vê que foi
longe demais e que está quase derrotado, se faz de coitadinho.
A máscara dele caiu no momento em que xingou minhas
amigas, disse que elas o odeiam e fazem de tudo pra nos separar.
Ele tá certo, mas as meninas estão muito mais certas e eu prefiro
acreditar nelas! Diego é um fingido!
— Não. Você não está arrependido, você só está dizendo
que está porque foi flagrado. Seu fingido! Vai pro inferno e não volte.
Chega! Não quero mais desculpas vazias, mentiras sem sentido! Eu
não aguento mais esse relacionamento bosta! Eu não aguento mais
você! O que eu mereço, você não tem capacidade de me
proporcionar!
Dou a ele aquilo que as meninas nomeiam de grito da
independência e foi um bálsamo na alma. Ele vem pra me abraçar à
força, prendendo meu corpo contra o seu e eu tento me soltar
enquanto ele me segura forte, quase me machucando.
— Você vai se zangar por algo tão bobo? — debocha.
— Não é bobo. Respeito é o mínimo num relacionamento.
Mesmo enraivecida me sinto envergonhada com a forma
que ele falou. Não é bobo. Ou é?
— Você é muito sensível. Vamos fazer as pazes.
Ele me agarra à força pra me beijar e eu tento sair de
qualquer forma. Nunca me senti tão acuada como agora.
— Não sou! Me solta!
Tento sair enquanto fazemos uma espécie de luta corporal,
até que ele desiste vendo minha resistência e me empurra.
— Quer saber? Não sei por que ainda perco meu tempo
com uma pessoa do seu tipo. Só eu mesmo pra me interessar por
você.
— Então vai. — Jogo tudo pro alto.
— Eu vou. Deveria agradecer por ter uma pessoa como eu
ao seu lado. Não vai achar ninguém assim, que suporta todos os
seus mimimis. Você tem sorte e não aproveita! — Rude, joga na
minha cara.
— Tá esperando o que pra ir? — Aponto para a saída. —
Você falou tudo que bem quis hoje e lide com as consequências.
Não volte dizendo que tá arrependido porque não tem volta. Eu
simplesmente te odeio! — esbravejo friamente com todo o ódio que
sinto por saber que ele sempre mentiu sobre o nosso namoro, e eu
tendo empatia por esse filho da puta!
Ele dá as costas batendo a porta, causando um barulho alto.
Pego a primeira coisa que vejo e com toda a raiva arremesso em
direção ao local que ele passou. Acabo quebrando o vaso,
provocando um barulho, e grito grunhindo de raiva.
As lágrimas vêm logo em seguida, porque eu sou uma idiota
que não sabe reagir a grandes emoções de outras formas. Diego
sempre foi agressivo e nunca mede as palavras e ações quando
brigamos, mas dessa vez ele foi muito além.
Às vezes as coisas são exatamente o que parecem ser. E
só.
3
ALEXIA
Desperto e o gosto amargo vem na boca. Tanto do vinho que
tomei sozinha, quanto dos acontecimentos da noite passada. Estou
péssima e magoada. Sequer lembro como cheguei aqui na cama.
Apanho meu celular, que marca três da tarde, e vejo umas
ligações de Liz e Nat, mas nenhuma do Diego. Eu me surpreenderia
se tivesse. Não retorno nenhuma das ligações das meninas.
A tela inicial aparece e vejo que nela tem uma foto nossa.
Foi uma das primeiras fotos que tiramos, e eu adorava, por isso
mantinha ela aqui, pois mostrava quão felizes nós estávamos
naquela noite que ele me pediu em namoro. O que mais me magoa
é que tudo o que ele falou é verdade. Estou péssima em todos os
sentidos. Bebi a madrugada inteira de barriga vazia e estou com um
enjoo ridículo! Estou desanimada e sem vontade nenhuma de fazer
nada. A cabeça pesa como se estivesse equilibrando um elefante.
O vazio que eu sinto é no peito. A vontade de chorar volta,
mesmo sabendo que ele foi um babaca, mentiroso, grosseiro e sem
noção. Fico frustrada pelo fim do namoro. Afinal, não foram dois
dias e nem dois meses. Foram quase dois anos ao lado de uma
pessoa que tinha sentimentos e planos, fossem eles intensos ou
não. Dois anos, mesmo que o namoro já estivesse frio e
desgastado. E eu era quem mais lutava pra manter de pé. Isso
frustra qualquer um.
Duvido que algum dia alguém se interesse por mim, como
ele mesmo falou. Eu sou uma péssima pessoa. Odeio me sentir
assim. Minha autoestima, que já não andava lá essas coisas,
despencou. Foi a primeira a cair no poço. Analiso mais de perto e
choro as lágrimas que tinha e não tinha. Percebo que antes eu me
cuidava mais do que hoje. Ele, aos poucos, foi me apagando e eu
nem percebi.
Sou tirada dos meus devaneios por causa do nome da Liz
piscando na tela, anunciando mais uma chamada. Respiro fundo e
atendo, ela não vai sossegar enquanto eu não atender. Eu prefiro
ficar sozinha um pouco, mas o problema é que, ao estar sozinha, a
mente é a única companhia e ela nem sempre é amiga. A minha,
principalmente, não é.
— Oi, Liz. — Tento parecer casual, mas minha voz está
péssima.
— Sis, que voz é essa? Tá bem? — Liz questiona em um
tom preocupado. — A gente te esperou pro almoço que
combinamos e você não veio...
Me conhece como ninguém... Eu tinha esquecido desse
bendito almoço.
— Não. — Antes de completar a palavra eu já estava
chorando.
Droga!
— O que aconteceu? Onde você tá agora? — questiona Liz
com certa urgência na voz.
— Em casa, e... Terminamos, sis, de verdade dessa vez.
Vocês estavam certas. — Puxo um suspiro pra falar, mas não
adianta muita coisa, pois antes de terminar eu já estava com a voz
embargada.
Escuto ela resmungar agitada que tá vindo pra cá. Ela
desliga o telefone.
Eu, que já estava imersa em minha tristeza, continuo.
Alguns minutos e muitas lamentações depois, Liz entra no meu
quarto. Ela, como fica com a chave reserva do meu apartamento,
entra sem bater na porta.
Do jeito que estou, continuo. Enrolada naquela tristeza
absoluta no quarto, luzes apagadas e cortinas fechadas, deixando
tudo escuro. Ela se senta do meu lado, olha pra mim e depois me
puxa pra um abraço apertado, sem dizer nenhuma palavra. Aceito
seu abraço e acalento, pra receber um pouco de conforto enquanto
coloco pra fora todas as minhas frustações e mágoas em forma de
lágrimas. Ela espera pacientemente até que eu me acalme, e
afrouxa o abraço, limpando meu rosto, que tá molhado e
provavelmente muito inchado.
— Diga a Natasha que ela estava certa e que ainda me
avisou. — Minha voz ainda sai embargada do choro recente.
— Para com isso. — Coloca minha cabeça no seu colo e
recebo um carinho nos cabelos.
— As duas sempre me alertando e eu, burra, não quis
enxergar.
— Quer dividir? — questiona em voz baixa e cautelosa,
passando a mão no meu cabelo.
Respiro fundo e começo a contar a ela desde o começo da
briga, que vi ele beijando outra, incluindo a parte dos insultos e
como eu me sinto em relação a isso tudo. Ela fica calada só
escutando até o final.
— Pera aí. Isso é uma marca roxa? — Segura meu queixo e
examina meu pescoço.
— Sim, aconteceu na hora que ele tentou me agarrar à
força. — Assumo meio envergonhada e mostro o pulso também.
— Que desgraçado! Eu vou matar esse imbecil! —
esbraveja e eu continuo olhando sem saber o que fazer ou falar. —
Dá queixa pra ele se foder.
— Não, Liz, esquece, não quero render. Foi no calor do
momento.
— Não vou te obrigar se não quiser, mesmo achando que
deve. E chega de tentar justificar as ações dele!
— Obrigada. — Assinto. — E desculpa.
— Você é melhor sem aquele babaca. Ele nunca te
respeitou. Se sentia superior te deixando inferior. Olha o seu
pescoço, ele é um idiota! — A raiva de Lizandra é perceptível. —
Você é melhor do que pensa, vai superar rapidinho.
Limpo minhas lágrimas, olhando pra ela.
— Não tenho tanta certeza disso, não. No final, a babaca
sou eu. Talvez se eu agisse de outra forma, tudo poderia ser
diferente.
— Como não? Alexia! Evite se perguntar como poderia ter
sido porque isso vai te consumir. — O tom dela é de repreensão,
mas logo assume uma expressão amena e preocupada. — Eu sou
amiga pra te ajudar, mas também pra abrir seus olhos, não sou? —
Ela olha pra mim com aqueles olhos azul-cintilantes.
— É. — Assinto sem saber o que ela quis dizer com isso.
— Então vou dizer a real: você precisa parar com essa sua
síndrome de patinho feio. — O tom dela continua o mesmo.
— Como assim?
— Você precisa parar de se achar estranha, figurante e
coadjuvante da sua própria vida, enquanto deveria ser protagonista.
Faça uma autoavaliação e me diga suas qualidades, aquelas que
você reconhece de verdade.
O olhar questionador me faz parar pra pensar, mas não
encontro nenhuma qualidade convincente. Todas que eu achei que
fossem, não são lá essas coisas. Sinto-me totalmente exposta e fora
do lugar, tanto que fujo do seu contato visual.
Eu me calo, olhando meu reflexo interno e não acho nada
útil, nenhuma qualidade, e isso é deprimente. Eu sou insegura e
paranoica com a minha aparência e relacionamentos. Qualquer
tratamento diferente que recebo, já acho que o problema sou eu,
sempre acho que sou a causadora dos problemas, o pivô, que tem
algo de errado comigo, sempre assumo as culpas quando nem é
culpa minha e eu odeio essa carga nas minhas costas.
Quem sou eu? Uma pessoa que não consegue amar o
próprio corpo, mesmo que as pessoas falem que é o corpo dos
sonhos. Vivo magoada, insegura, com a sensação de ser estepe e
ter sido usada. Um fardo na vida das pessoas. Ela usa meu silêncio
pra continuar a falar.
— Viu? Você não sabe suas qualidades porque não se acha
boa o suficiente pra nada. — Ela arqueia as sobrancelhas.
— Eu não tenho muitas qualidades, sou uma pessoa
comum, Liz. — Me justifico.
— Ah é? Então por que Nat e eu estamos aqui se você é tão
comum, uma pessoa sem qualidades? Pena? Você acha que
poderíamos estar aqui por pena, Alexia?
Ela me olha séria, com a expressão fechada, querendo uma
resposta, e titubeio. Estou confusa demais! Elas sempre me
protegeram, talvez por achar que sou uma patética que não sabe se
virar sozinha.
Ela bufa impaciente e passa a mão nos cabelos.
— Sabe Natasha? Ela não sente pena de ninguém, nem de
mim que sou irmã, você bem sabe. Acha que estaríamos aqui com
uma pessoa que não tem qualidades, por pena, em pleno final da
tarde de um sábado? Quando você viu isso acontecer? — Mantém
contato visual enquanto fala de modo objetivo. — Pare de achar que
você é menor que todo mundo, caralho! Entenda que defeitos todo
mundo tem. Seu problema não é seu corpo, não é o Diego e não é
nada ao seu redor, é sua autoestima, você mesma! Evolua, cresça,
mude!
Sinto lágrimas brotarem dos meus olhos por tudo que estou
ouvindo e ela aperta minha mão, prosseguindo.
— Você é uma pessoa incrível e não enxerga. Uma amiga
maravilhosa! — Ela suspira. — Promete que vai enxergar as suas
qualidades também? — A voz é mais doce, me reconfortando
depois desse murro sem mão.
Logo me puxa pra um abraço e me sinto a pessoa mais
sortuda do mundo por tê-la como amiga. No fundo, talvez, ela tenha
razão.
— Não gosto de ver você chorando pelos cantos e nem
duvidando de si mesma. Você tem que olhar apenas pra dentro de
si, pois é desse lugar que vem seu impulso pra mudar o que você
quer mudar. Orgulhe-se de você. Só você sabe das suas próprias
lutas, das suas dores, daquilo que enfrenta todos os dias. Orgulhe-
se, pois eu sei que no fundo você consegue enxergar a sua
essência e sabe exatamente como quer ser. — Limpa meus olhos e
sorri com os olhos dela cheios de lágrimas também. — Se você
soubesse de tudo isso, minha amiga, você iria se tocar que ele não
merecia sua atenção desde o começo. Você é maravilhosa e não
aceite menos que o merecido.
— Obrigada por enxergar o que eu não consigo. — Choro,
me sentindo péssima, mas com uma pequena esperança de
recomeço. — Prometo que vou melhorar.
— No seu tempo, Alie... Você precisa passar pelos dias
ruins, pelas pessoas que não souberam te olhar como você merece,
pra crescer. Use isso pra impulsionar seu crescimento. Com o
tempo, vamos aprendendo, cada decepção é uma experiência
nova. Você tá sofrendo agora, mas não significa que você é fraca.
Isso significa que você foi forte o suficiente pra chegar até aqui.
Eu, mais do que ninguém, sei disso, tenho o famoso dedo podre,
qualquer cara não fica mais que dois meses comigo. Toma um
banho e vem pra sala, você passou tempo demais sem comer.
Ela é um pouco mais baixa do que eu, mas consegue ser
intimidadora quando quer. Aceno positivamente e levanto pra ir.
Deixo a água escorrer pelo meu corpo, levando metade do peso que
tenho sobre ele. Saio mais calma e não tão quebrada, ao contrário
do que pensei que seria esse momento. Assim que chego na
cozinha, Nat não faz nenhum comentário ácido. Apenas me abraça
forte, o que me dá vontade de chorar de novo.
— Me desculpa por brigar com você por causa dele — Peço
sentida, ainda abraçada a ela.
— Isso não importa mais. Quero que tatue no cérebro o que
vou te falar: você é suficiente pra caralho! Nunca deixe que digam o
contrário pra te fazer duvidar disso! Se perdoar pelos fracassos
enfrentados é tão importante quanto comemorar as vitórias. Jamais
se culpe por amar muito alguém que não merecia nada. Não é
porque ele foi embora que você se tornou menos. Você sempre foi a
pessoa que é antes dele chegar, e vai continuar sendo. Bola pra
frente, porque o que mais tem no mundo é homem gostoso.
— Arrasou, irmã!
— Filosofei, amore. Nem parece que fui eu quem disse,
também sei ser fofa! — As duas batem as mãos espalmadas no ar,
rindo descontraídas.
— Amo vocês. — Abraço as duas de uma vez só, me
sentindo grata e com uma vontade de chorar novamente.
Se fôssemos um desenho animado, seríamos as meninas
superpoderosas. Lizandra seria a lindinha, personalidade doce,
emotiva, extremamente bondosa, que vê romance em tudo. Nat
seria a docinho, um temperamento briguento e esquentadinho, que
não tem muita paciência, mandona, sempre de mau humor. E,
bom... eu, florzinha, sempre otimista, mesmo não estando
ultimamente, e nos mantendo juntas, em equilíbrio.
— Também amamos você. Nós por nós. — As duas falam
juntas nosso lema, a tatuagem que nós carregamos na costela.
Minha única tatuagem, mas simbólica demais. Foi um dos eventos
mais marcantes da nossa amizade, o dia em que fomos tatuar isso.
— Nós por nós — repito.
Que ironia! As pessoas que ele tanto quis me afastar hoje
são as que me ajudam a ficar inteira, sempre me alertando. Elas são
as melhores amigas que alguém poderia ter, cuidamos umas das
outras como nós mesmas.
A tarde foi regada a bebidas, de uma garrafa passamos pra
duas e nem sequer sei qual a quantidade agora. Só sei que estamos
rindo e fazendo o que sabemos fazer quando terminamos algum
relacionamento: falar sobre os parentes chatos da família dele, que
tínhamos que aguentar, e das frustrações que passamos no sexo,
mas não poderíamos contar pra não parecer coisa de malcomida.
Como eu era mesmo, então foda-se.
— Você merece coisa melhor. Antes só do que mal-amada,
ou no seu caso, malcomida. — Ácida, Natasha!
— Concordo. Ele é um idiota. — Liz, que tá deitada sozinha
em um dos sofás, comenta.
Apesar de ele ser tudo isso que falei, ainda me sinto
impotente. De alguma forma me sinto aliviada, porém não deixo de
ficar um pouco triste e me sentindo culpada por pensar que poderia
ter feito algo diferente, pra que as coisas não chegassem onde
chegaram.
— Agora que você tá solteira, vamos poder sair horrores
juntas. Daqui a pouco você tá com um homão gostoso aí pra te
pegar de jeito e rapidinho vai esquecer esse babaca. — Liz sorri
para mim.
— Pois é, coração partido se cola com porra! — Natasha
solta uma das suas pérolas e gargalhamos alto até minha barriga
doer.
Não sei se é toda a bebida que ingeri fazendo efeito, mas
quando lembro das palavras de Liz, aqui jogada no sofá sozinha,
depois de um sábado juntas, acabo chorando um pouquinho. Talvez
ela tenha razão, eu devo prestar mais atenção nas minhas
qualidades.
Dou uma fuçada nas redes sociais e, como se o destino
estivesse rindo de mim e aproveitando pra tripudiar mais um pouco,
a primeira postagem que vejo é dele, de alguns minutos atrás. Uma
foto com a tal da Emily, agarradinhos, a localização é de uma boate.
A legenda da foto é algo como “você vale mais que qualquer outra”,
e embaixo dela tem alguns comentários de apoio, como se as
pessoas já soubessem.
Em me sinto afetada. A outra, no caso, seria eu? São coisas
desse tipo que deixam meu estômago embrulhado. Não vou fingir
que isso não me magoou, pois seria mentira. Até ontem era eu ali.
Mesmo estando longe, Diego ainda consegue fazer com que eu me
sinta mal. Pra quem disse que foi apenas um deslize e que a mulher
se jogou pra ele... Foi capturado muito fácil, assumiu até um
relacionamento com a sujeita.
Dói ver isso. Sabendo dessas coisas, morre um pouco da
mulher decidida que prometi ser pra mim mesma e cresce o monstro
da insegurança no meu peito. Quer dizer, tudo o que passamos pra
ele simplesmente não valeu de nada. Eu fui tão insignificante que
ela tá ali, valendo mais do que eu.
Emily era a amiga do trabalho dele, a mesma da festa, a
mesma do beijo. Vai saber durante quanto tempo eles estão se
conhecendo pelas minhas costas ou na minha cara, e eu, idiota
como sempre, deixei passar batido.
Se ele me superou tão rápido, eu vou conseguir viver sem
ele. Não o amava loucamente, mas a falta de empatia foi muito
grosseira, e é o que me machuca. Ele vivia dizendo que me amava
quando eu decidia terminar e, na primeira oportunidade, joga na
minha cara que não tá nem aí para mim. Não faz sentido eu ficar
chorando enquanto ele tá curtindo.
Talvez isso seja o empurrãozinho que eu preciso, o divisor
de águas na minha vida. Preciso aprender a ser mais confiante e
aceitar mudanças. Quem sabe Liz tenha razão? A única coisa que
ele vai ter de mim é o meu desprezo.
Ele só fingia. Por mais duras que fossem as palavras e as
ações, percebo que foi necessário. Precisei ser honesta comigo
mesma pra notar que, quanto mais me doava pra ele, menor eu
ficava. Não é egoísmo eu me pôr em primeiro lugar. Já me deixei
muito em segundo plano, deixei de fazer coisas que gosto por ele e
nunca tive reconhecimento ou algo em troca.
Não vou ficar me acabando por causa de uma pessoa que
tá seguindo a vida tão facilmente. O mundo não para quando estou
triste. O tempo não espera eu melhorar pra voltar a viver minha vida.
Meu coração vai se reerguer, muito mais esperto do que antes. Sou
uma mulher adulta e vou saber superar isso da melhor forma
possível. Ficar aqui sofrendo não vai me ajudar em nada!
Vou mudar pra ele ver quem perdeu e principalmente, por
mim mesma. Por mais doloroso que seja, um pé na bunda sempre
empurra pra frente e, ao contrário do que ele pensa, ele não é
homem pra mim! O que ele fez só me deu mais motivos pra fazer o
que eu não tinha coragem. Que Deus me dê coragem e o diabo me
dê loucura!
4
ALEXIA
Pensa numa pessoa que dormiu mal a noite inteira, o pouco
que dormiu, e agora tem de levantar pra viver e fingir que está tudo
bem. Ela sou eu. Mas duas coisas que aprendi nesse final de
semana com o término foram que: você cansa, mas não desiste
porque sabe que não tem ninguém que lute por você. Está
sozinha, triste e, mesmo assim, a única palavra que conhece é
“lutar”. A outra é que a parte boa de levar um pé na bunda é que a
criatividade, ela fica ótima! Transformarei receio em arte! Medo em
coragem!
No domingo eu me dediquei ao trabalho pendente,
colocando as coisas nos trilhos, pensando formas de evoluir e me
sentir confortável comigo mesma. Em primeiro lugar, como montar
uma campanha pedindo para as pessoas se aceitarem, se eu
mesma não me aceito? Preciso transmitir verdade nas palavras pra
que as pessoas acreditem no que eu estou falando. Tenho que
passar credibilidade pela marca, esse é o meu trabalho!
Sempre fui insatisfeita com o meu maldito corpo magro. Eu
amaria e desejo muito ter um maravilhoso corpo curvilíneo e coxas
grossas. Quando eu dou sinais de baixa autoestima e insatisfação
com a minha aparência, a reação é sempre a mesma. Todo mundo
me olha com cara de espanto e repete a mesma frase de sempre:
logo você?
É, logo eu, sim. Logo eu!
Não é porque meia dúzia de pessoas me acha bonitinha,
corpo de manequim, que sempre foi assim. Eu cresci sendo
chamada por apelidos constrangedores e isso reflete em mim até
hoje.
Não importa qual seja seu tipo de corpo, sempre alguém vai
achar algum defeito e apontar, sem pena.
Eu sempre me afastei por vergonha e receio da rejeição
alheia. Por muito tempo, no ensino fundamental principalmente, que
foi um pesadelo, fui alvo de brincadeiras sem graça da minha turma
e algumas até pesadas, pelo menos pra mim. Uma dessas
brincadeiras chegou à diretoria. Era sobre o meu tamanho em
comparação com as meninas da minha idade. Enquanto todas
estavam desenvolvendo peito e bunda, eu continuava tábua e alta
demais. Isso foi me deixando receosa de fazer amizades e esse
trauma me perseguiu por muitos anos, pois eu tinha medo de
receber apelidos ou ser alvo de brincadeiras. Até hoje minha timidez
é reflexo disso. No ensino médio procurava ao máximo não chamar
atenção, pois a vergonha era duas vezes maior na época. E
adolescentes são ainda mais cruéis quando implicam com alguém.
Mas preciso desenvolver autoconfiança, minha insegurança
já me atrapalhou demais e não vou deixar que continue
atrapalhando em uma das coisas que eu mais gosto de fazer, que é
exercer a minha profissão.
Precisei passar por essa turbulência pra me dar conta do
que está a um palmo na minha frente: eu não estava conseguindo
montar uma campanha de orgulho próprio de uma marca de lingerie
porque simplesmente não sinto isso! Por eu não estar satisfeita com
o meu próprio corpo!
Às vezes precisamos ir na via contrária pra achar nosso
caminho, e por que não dar visibilidade àqueles que querem ser
notados e aceitos do jeito que são? Eu sempre gostei do diferente,
então por que não mostrar para as outras pessoas que o diferente
não significa necessariamente feio?
Já tenho uma parte da campanha montada mentalmente só
com esse estralo de realidade. Praticamente cem por cento dos
comerciais que vemos mostram somente mulheres fitness usando
roupas íntimas e ficando sexy, e ambos gostaram da minha ideia.
Mas não é bem assim, todo mundo é sexy, basta se sentir. Eu vou
dar voz a todas aquelas mulheres que têm receio de falar ou que
são caladas. Essa campanha será mais pra mim mesma do que pra
qualquer outra pessoa.
Lidar com o que vem depois é tão importante quanto tudo o
que aconteceu até aqui.
Pensando nessa chance de recomeço, eu me empolgo.
Essa semana o que mais tenho são projetinhos pessoais. Pela
primeira vez eu quero ficar sozinha, me reconstruir, ficar quieta. Me
respeitar, ter o meu próprio tempo. Entender e desacostumar da
ideia que não preciso de alguém do meu lado pra me completar. Eu
preciso parar de temer a solidão, se eu gostar da minha própria
companhia não me sentirei só.
Prossigo a minha rotina normalmente e decido começar com
as mudanças desde já. Dedicar-me à minha insegurança. Estou
empolgada para ser uma nova Alexia. E decido mostrar isso
voltando a usar meu batom vermelho. Aproveito meu cabelo de
“bom humor” e o deixo solto, apesar de precisar de uma hidratação
digna e urgente. Preciso de uma intervenção capilar chamada
tesoura!
Eu estou no “total black”, de luto pela minha antiga eu.
Inclusive de salto maravilhoso fechado preto que amo e poucas
vezes usei, até hoje. Adaptando a nova música de Taylor Swift:
“sinto muito, a antiga Alexia não pode atender agora, porque ela
está morta! (Ohh!)”. E para os desavisados, meu coração está de
férias, e não sei quanto voltará a trabalhar.
Chego na empresa e noto algumas pessoas me olhando.
Outros que não conheço sorriem, me deixando um pouco sem graça
e sem saber como agir, mas sigo os conselhos de Nat: abstraio e
finjo demência. Subo direto, encontrando minha dupla trabalhando.
— Humm, voltou a ser vadia. — Nat debocha, ela sabe a
história do batom. — Por isso eu nunca deixei de usar. — Aponta
para a sua boca e eu rio.
É tão bom se sentir bem na sua pele e foi assim por quase a
semana toda que está em ritmo frenético. sigo usando meu batom
vermelho sem me achar vulgar. Recebi alguns sorrisos na rua e as
meninas ficaram no meu pé. Ainda estou no meu projeto de
#AlexiaDecidida, e o da Volúpia tá quase finalizado, hoje eles virão
pra uma reunião de aprovação com o pessoal do atendimento.
Diego não me ligou nenhuma vez, mostrando que foi
definitivo, e nem procurei notícias também. É melhor assim!
Com duas paletas de cores abertas, tentando decidir qual
cor seria ideal para o projeto. Sou comunicada que vou precisar
cobrir o setor de atendimento e apresentar a reunião. Sequer o
gerente do setor apareceu ainda e o pessoal já tá praticamente no
prédio. Tudo desfavorável!
— Natasha, você vem comigo.
Apresentar não é trabalho meu nem do meu setor, mas
sempre temos que estar preparados, afinal, fomos nós que criamos
e coisas imprevisíveis podem acontecer. Desço pro térreo e sigo pra
sala de reunião. A porta logo é aberta por um funcionário que os
traz.
Levanto os olhos pra saber quantas pessoas são e meu
coração pulsa mais rápido quando dou de cara com um moreno
lindíssimo de olhos escuros, terno todo preto e barba cheia feita,
com o olhar cravado em mim enquanto entra. Eu estou quase sendo
nocauteada pela sua beleza latina.
Ele anda totalmente dono de si, como se a sala fosse dele,
se aproximando de mim e de Natasha; não consigo desviar minha
atenção de seu magnetismo, que me faz ficar até sem ar. Que
homem é esse, Jesus?
Ele é um pedaço de mau caminho, e por um momento
imaginei me perdendo nele. Chamou a atenção no meio de todos
enquanto me olhava. E que olhar sagaz!
Logo, individualmente, eles nos cumprimentam. Respiro
fundo e solto aos poucos, tentando controlar meu corpo, que reage
de um jeito totalmente alucinado à medida que chega a vez dele, o
último.
Espero ele vencer a distância entre nós e, quando isso
acontece, me surpreendo com seu tamanho. Apesar do meu salto
ser um pouco alto e eu também ser por natureza, não chego na
altura dele. De perto o efeito é duas vezes pior e percebo que seus
lábios são vermelhinhos, convidativos, quase alaranjados, e a barba
é perfeitamente escura e aparada, como seus cabelos.
Mas esqueço qualquer pensamento quando escuto sua voz
grave enquanto me cumprimenta.
— Olá. Senhorita…?
Olha a voz desse homem! Ele exala um poder que me deixa
sem ar! Foco, foco e foco!
— Oi, é Alexia. Sentem-se.
Tento soar o mais profissional possível, o cumprimentando.
Ele passa pela Natasha, depois de acenar com a cabeça.
Aponto a cadeira, pra que eu possa começar a
apresentação. Dou bom dia novamente e começo a apresentação
com minha face profissional, ignorando o jeito que ele me olha,
mesmo me deixando desnorteada, pois não desvia o olhar.
Sim, ele, o moreno. O olhar é afiado e, apesar do semblante
sério, eu consigo entender perfeitamente o contexto do seu olhar
pra mim. Muito indecente, se eu prestar atenção nas entrelinhas.
A reunião é finalizada, conversamos e pontuamos sobre
tudo o que foi apresentado. Apertamos as mãos de um a um em
agradecimento e despedida. O moreno, que percebi não saber o
nome, pois esqueci de perguntar, foi o único que me beijou a
bochecha enquanto segurava minha mão. Eu me senti um pouco
esquisita e envergonhada pelo cavalheirismo dele, quase não soube
como reagir. A nossa aproximação me fez sentir o cheiro
maravilhoso que tem. Uma colônia amadeirada, um cheiro de
homem bonito, como ele.
O gerente chega e monopoliza a conversa e agradeço
internamente por ele fazer as honras de os levarem até a saída
depois que agradecemos. Nat segura no meu braço, entrelaçando
com o próprio cotovelo, enquanto eu olho pra trás em um gesto
involuntário.
Tá! Na verdade verdadeira queria dar uma última olhada
nele, estava aguçada.
Eu o flagro me olhando com a mão no bolso e em seguida
dá um sorriso cafajeste e uma piscada pra mim, alisando a barba,
causando uma agonia enorme no meu corpo e, claro, na minha
calcinha. Acabei reprimindo um sorriso por aquilo e disfarcei pra
Natasha não perceber.
Entretanto, sentada na minha cadeira, lembro do moreno
cujo nome continuo sem saber, e não consigo prender o sorriso nos
meus lábios, pela forma que sorriu pra mim. Qual o meu problema?

MURILO
— Eu vi, hein? — Christian ri em tom debochado enquanto
andamos em direção ao carro.
— Viu o quê? — Me faço de desentendido, mas meu sorriso
entrega.
— Você secando a mulher. Achei que fosse comê-la ali
mesmo, por conta dos olhares que você estava lançando.
— Achei ela bonita pra cacete! — Coço minha barba. —
Pego muito!
Bonita é eufemismo! Pense em uma morena alta, pinta de
modelo da porra, com um vestido todo arrumado no corpo
destacando a cintura e os seios, usando um batom vermelho, o
cabelo solto medindo quase no meio das costas. Aposto que é bom
pra segurar. É de deixar qualquer pau duro a visão daquela mulher
sempre atenta às falas das pessoas. Sem contar que, ao se
levantar, ela é melhor ainda. Saltos altos deixando a bunda
empinadinha, mas ficaria ainda mais linda sentada no meu colo.
Eu quase ia dar meu telefone a ela, mas não deu tempo,
infelizmente, e não sei se seria antiético, ela poderia ficar ofendida.
Também não sei se é comprometida. Não estávamos com tempo
pra bater um papo. Pela beleza que tem, com certeza é
comprometida, mas quando fui dar um beijo na mão dela percebi
que não havia nenhum anel. Ou ela é solteira ou o cara é um idiota
em não marcar território com uma morena gostosa do seu lado.
Caso seja solteira, vou dar um jeito de passar um tempo
com ela, se ela quiser, e a marcarei onde quiser, pescoço, seios,
barriga, cintura e na...
— Ainda tem convite da festa disponível? — questiono
interessado.
Se ela for no desfile, tento saber mais sobre ela, pois amaria
dar uns beijos naquela boca e, quem sabe, em outras partes do
corpo.
— Você tá muito putão depois que ficou solteiro. — Ele ri em
tom de escárnio e dou de ombros.
Fazer o quê? Estou solteiro, então aproveito minha
solteirice. Faz mais ou menos dois meses que fiquei sozinho na
pista, por isso não quero me apegar a ninguém por enquanto. Quero
desintoxicar de Camila que decidiu terminar comigo porque estava
gostando de outro. Minha vibe é essa ultimamente. Estou bem do
jeito estou, solteiro e sozinho.
Chego em casa na hora que eu quero, posso andar pelado
ou de cueca, assistir coisas inapropriadas na sala, largar minhas
roupas espalhadas e voltar pra pegar quando bem entender, levar
quem eu quiser pra casa e não preciso dar satisfação a ninguém.
Faço as coisas como e com quem eu quiser! Porém, se acontecer
alguma coisa não vou lutar contra, não. Sou um cara que quando
gosta de alguém, mostra interesse e foda-se, deixo rolar pra ver
onde vai dar. Eu me entrego às minhas aventuras.
— E não distribuímos todos ainda não. — Ele me tira dos
devaneios, destravando o carro.
— Ótimo! Vou mandar pro setor dela. — Coloco meus
óculos escuros no rosto.
Seguimos em direção à Volúpia, para trabalharmos. Tem
coleção nova chegando, muitos trabalhos!
Sou do setor comercial, trabalho junto com esse filho da
mãe aqui do meu lado, no banco do motorista. Somos responsáveis
por atrair clientes e fidelizar os antigos. Além de chamarmos a
atenção do pessoal, compradores, ainda traçamos estratégias para
os novos patrocinadores e sócios sentirem que devem investir. No
português clássico: trazemos dinheiro! E a sacada genial das peças
publicitárias em abranger toda a mulherada foi foda!
Eu sou gerente de marketing, mas ambiciono ser gerente
comercial interno. Quem sabe, futuro acionista e diretor comercial
nessa empresa que está começando a bombar, apesar de ser uma
marca considerada nova no mercado, mas que atrai clientes como
“formigas no açúcar”, depois desse reposicionamento e mudança de
diretoria. Já falei sobre a vontade de abraçar esse projeto, estou
gostando de como as coisas estão sendo encaminhadas.
Vou fazer acontecer essa subida de cargo! Estou de olho na
bolsa de valores desde já.
Estou muito ansioso por esse desfile de lançamento,
conseguimos trazer uma cantora meio famosinha pra cantar e isso
tá gerando uma atração gostosa. Mas não é por isso que quero que
o evento chegue logo. Ela que me espere. Se ela for, vou querer
beijá-la e ver se aquela boquinha é tão gostosa quanto parece ser.

ALEXIA
Em pleno sábado eu estou indo trabalhar. É judiar demais
de uma pessoa! Mas é por causa do projeto, sem contar que
demorei a ter a ideia, consequentemente deu uma atrasada. Pelo
menos tive uma boa notícia, meu setor ganhou convites da Volúpia.
Ganhar mimos é tão bom! Muito atenciosos!
O bom de trabalhar com publicidade é que, quando os
clientes são amáveis e gostam muito do trabalho, costumam deixar
uns agradinhos, e os abonos que ficam pra nós são maravilhosos.
Mantenho a concentração no trabalho. Logo meu celular
apita, me tirando a concentração, e vejo que é a Liz perguntando se
estamos liberadas. Subo meus olhos para ver a Nat mordendo a
tampa da caneta, com cara de entediada enquanto fita o monitor.
Respondo que sim e ela avisa que vem pra cá.
Pouco depois, terminamos e descemos, encontrando a Liz
no hall de entrada. Cumprimento-a e seguimos rapidamente em
direção ao meu carro, já que dei carona a elas hoje.
— Liz, te contei que a nossa amiguinha aqui, ontem, foi alvo
de olhares gulosos de um dos clientes?
Natasha comenta como quem não quer nada, checando as
próprias unhas e me olhando logo em seguida com um sorriso
debochado.
— Como assim? — Lizandra questiona recostada no carro,
colocando seus cabelos loiros como os da irmã, porém curtos, pra
atrás da orelha enquanto me olha com interesse.
— Precisava ver, ele acompanhando-a com o olhar
enquanto a sonsa aqui vinha na minha direção no final da reunião,
sem contar que na hora de ir embora ela fez questão de dar uma
última olhada.
Natasha sorri venenosa, como sempre, e reviro os olhos
enquanto Liz me olha com uma sobrancelha arqueada. Nat não
deixa passar nada, é incrível isso.
— Natasha tá inventando. Tem homem nenhum —
esclareço, pois não houve nada demais.
— Olha pra isso. Se não fosse a Nat nunca que eu iria saber
disso.
Liz olha pra mim indignada e em seguida dá um sorriso igual
ao da irmã. Elas não prestam.
— Não foi nada de mais, Liz. Nat vê coisas.
Tento amenizar o alarde da Natasha. Destranco o carro
entrando no lado do motorista, mas antes de sairmos Liz faz graça,
desenterrando o assunto.
— E é homão?
Assim que fala, começa a rir em tom de escárnio junto com
a Natasha. Reviro os olhos prendendo o riso pra não dar mais
assunto. Estou feita com essas amigas!
— Liz, o homem era um gato! Quase tirei uma foto, mas não
consegui, infelizmente.
— Vocês são podres! Parem!
— Você tá precisando transar urgente. E uma foda
daquelas…
Lizandra debocha olhando pra minha cara, e olho pra ela
rapidamente enquanto tiro o carro da vaga.
— E vai ter um longo trabalho pela frente, pelo jeito.
Malcomida, tadinha. — Nat debocha também e vira pra irmã pra
rirem juntas da minha cara. Não resisto e acabo rindo também.
— E o desfile, você vai como? — Liz pergunta interessada
depois de Natasha ter comentado sobre os convites. Ela é assim,
trabalhada nas informações.
— Eu não vou, não — respondo distraída no trânsito.
— Vai sim!
— Só sei que vou e vou lindíssima. — Nat, sempre Nat. —
Aposto que o homem te quer lá. — Faz um olhar malicioso pra mim
pelo retrovisor e reviro os olhos.
— Eu não tenho roupa pra essas festas chiques. — Uma
desculpa que não deixa de ser verdade.
— Não seja por isso, nós vamos ao shopping. — Lizandra
dá dois tapinhas no meu ombro, como se dissesse “essa desculpa
não cola.” — O que vai perder, além de um homem bonito, se você
for?
— Vamos, sis. Só vou se você for e quero muito ir! —
Natasha faz cara de cachorrinho.
— Argh! Eu odeio vocês!
Eu me rendo, pois não vai adiantar discutir mesmo e Nat
sempre joga baixo.
— Preparada pra ficar linda e para encantar o homão da
Volúpia? — Elas não sossegam.
— Vão se foder!
— Bem que eu queria transar. — Nat ri e eu acompanho.
Dou meia-volta na primeira rotatória que encontro e sigo
com elas para o shopping. Estou ferrada, mas pelo menos, com
essa ida ao shopping, vou poder fazer uma coisa que eu queria
muito e Diego não aprovava: cortar meus cabelos!
Primeiro, passamos para comer, pois estávamos famintas.
Mas o dia que era para ser leve muda drasticamente, porque
encontramos Diego e sua mais nova namorada passeando.
Minha intenção foi passar direto, ignorando-o, mas ele fez
questão de nos parar. A garota é tão dissimulada quanto ele, pois
sorriu falsamente pra mim. E olhe que me cumprimentou na festa.
— Oi Alexia, essa é minha namorada, Emily. Lembra dela?
— sorri cinicamente.
Encaro ele com um ódio mortal. Mas se ele acha que vou
fazer cena, tá enganado.
— Um dia você vai querer me valorizar, Diego. Nesse dia,
outra pessoa fará isso por você. Continue achando que você é o
centro do universo — digo ressentida e um pouco grossa, tentando
não demonstrar que estou abalada por ele estar namorando. —
E Emily, se você acha que ele vai ser fiel a você, está enganada. Se
Diego ficou com você enquanto estava comigo, vai fazer a mesma
coisa com você, mesmo jurando amor eterno. Seja um pouco
esperta, pelo menos mais do que eu fui. — Sorrio falsamente e
passo direto com as meninas.
Em casa, cansada de bater perna no shopping que foi um
programa tão bom, verifico a festa no cartão de crédito. As meninas
colocaram pilha e eu comprei roupas que eu sempre gostei de usar,
pra ser a Alexia de antes. O cartão chegou a grudar dentro da
carteira, num sinal divino pra eu não gastar à toa, mas a força de
vontade foi tanta que fizemos inclusive uma minifesta.
Involuntariamente minha mente projeta o moreno da reunião
e não evito em dar um pequeno sorriso ao mesmo tempo que
aquele friozinho se instala na barriga junto com uma taquicardia
numa ansiedade esquisita.
Qual será o nome dele, afinal? Por que está mexendo tanto
comigo?
5
MURILO

Visto meu melhor terno e o perfume está exalando. Saio de


casa mais cedo para o desfile. Eu me arrumei na intenção de ficar
com uma certa pessoa, aparei a barba e exagerei no perfume. A
gravata ficou torta, mas é o único nó que sei fazer, ainda não sou
expert porque era minha irmã que fazia, mas a pirralha foi morar em
outro país há quase um ano, junto dos meus pais. Eu até ia junto,
mas decidi ficar. Não queria abandonar o trabalho que está indo
muito bem, sinto que o Brasil é minha casa e adoro o clima tropical.
Não conseguiria me adaptar, preferi continuar aqui.
Sinto falta deles, sou uma pessoa comunicativa e gosto de
estar sempre acompanhado. Cresci com meus pais e irmã por perto.
Isa sempre me fazia companhia quando chegava e eu ainda estou
me adaptando com a vida solitária. Apesar de que eu não fico
sempre sozinho. Vou pegando uma ali, outra aqui, mas nada muito
significativo.
Aproveito meu tempo sozinho pra fazer o que eu gosto:
exercícios físicos e praticar umas aventuras loucas, porque não vivo
sem adrenalina correndo nas veias. Sempre procuro algo pra fazer,
nem que seja uma caminhada ou rapel. Até pensei em adotar um
cachorro, mas não teria tempo pra cuidar dele.
Dentro do carro, batuco no volante, ansioso pra chegar e vê-
la. Eu espero que ela vá!
Alexia... Alexia!
Na entrada, passo por fotógrafos esperando notícias,
famosos e blá blá blá. Esse está sendo um dos maiores eventos
organizados pela empresa. Cléo assumiu a presidência e assina
algumas peças, por isso do reposicionamento. Ela se jogou de
cabeça nessa coleção. É a primeira coleção dela como dona e não
como herdeira.
Cumprimento os seguranças, o recepcionista, pego minha
pulseira e entro. Tem pouca gente ainda, considerando o número de
convidados. Peço uma garrafa de água e vou bebendo até que
alguns amigos, que trabalham comigo, chegam com suas esposas e
namoradas.
— E aí, como estão as coisas? — pergunto ao me
aproximar do grupo.
— Está tudo bem. Alguns patrocinadores novos já
chegaram. — Christian me avisa.
— Deixe-me te ajudar, a gravata está torta.
— Obrigado, Lú. — agradeço e sorrio pra ela enquanto me
ajuda com a gravata, colocando-a no lugar certo. Luísa é esposa de
Christian.
— Abre o olho, Cristian. — Anderson debocha.
— Que nada, Murilo é gay. — Os dois riem, sacanas.
— Ah é? Vai vendo, distraído. Não fui eu que tentei fazer
filho durante três anos. Pau mole! — Aponto pra barriga já
grandinha de Mariana, esposa de Anderson.
— Vai se foder, otário. — Nós quatro rimos, menos ele, que
segura a esposa, que tá rindo também.
Ficamos papeando até eu olhar no relógio e perceber que tá
quase na hora do desfile e ela ainda não apareceu. Será que ela
não vem?
Porra, que aflição!
— Ela chegou a mencionar seu interesse e
comprometimento com a empresa. — Um dos sócios da empresa
conversa comigo depois de eu rodar o salão inteiro.
— É, eu estou interessado, disposto a abraçar o projeto.
Olho em volta do salão e perco o interesse na conversa
quando a vejo entrando com mais duas pessoas, uma mulher e um
homem.
Não preciso nem comentar como ela tá naquele vestido.
Aliás, vou comentar sim, tá bem gostosa. Encaro-a de cima a baixo.
O vestido marca a cintura e os seios, e meus comentários acabam
por aqui, pois não quero ficar excitado no meio de tanta gente.
Peço licença ao sócio e saio. Fico no primeiro andar e daqui
de cima a vejo sentada no local marcado. Mais cedo eu liguei pra
organizadora do evento e pedi que marcasse o lugar dela ali, pra
que eu possa enxergá-la com clareza.
Sigo pro meu lugar, oposto ao dela, e as luzes se apagam
para o começo do desfile. Estou doido pra que ele acabe e eu possa
iniciar meu plano de capturá-la.

ALEXIA
Sabe aquela sensação de ser observada? Olho para os
lados tentando encontrar algo, mas não vejo nada anormal. Tento
ignorar a sensação desconfortável conversando com Natasha. Eu,
hein?
O espaço que escolheram para o evento é maravilhoso. A
decoração tá linda, muito bem arrumada e requintada. O palco é
redondo e ao redor da passarela existem várias cadeiras para que
os convidados fiquem bem acomodados.
A anfitriã nos tira dos devaneios anunciando o começo do
desfile com uma introdução muito aplaudida. A tela, que estava com
o logo da Volúpia, vai apagando. Como um roteiro, vai subindo o
seguinte texto, lido por uma voz suave:
Todas as mulheres são lindas. Beleza é algo relativo. Não
tem que ter pele lisa, uma bunda dura, coxas grossas ou um par de
seios eternamente no lugar. O que te faz ser uma mulher bonita é o
modo como você se vê e se sente confiante, e assim será
considerada bonita por outras pessoas. Não precisa ser jovem, não
tem que ser magra, nem gorda, nem fitness, não tem que ser alta,
tem que ser apenas você na tentativa de redescobrir o seu corpo
enquanto realiza seus desejos mais profundos. Você tem que tirar
todas as suas roupas e, com toda a sua coragem, dizer: eu estou
bem aqui e tenho orgulho do que vejo no espelho.
A música começa a tocar avisando que o desfile começou.
Fico atenta quando alguns modelos masculinos entram, andam
compassadamente mantendo a distância, param e dão espaço para
a cantora chegar. Ela veste somente com uma lingerie, também,
mas comportada; está toda de volúpia, claro. Ela faz sua
performance com a primeira música de sucesso e logo algumas
modelos entram. Eu estou apaixonada pelo show, sinto como se
estivesse em um desfile da Victoria's Secret.
O desfile em si está perfeito. Estou muito encantada. Cada
música e conjunto da coleção apresentada é uma novidade gostosa
de assistir. Ver o trabalho sendo executado, muito bem executado, é
muito recompensador.
A última modelo volta enquanto as outras formam uma fila
para entrarem no palco. Quando elas entram e a presidente da
marca aparece no meio delas, segurando a mão da cantora, todos
aplaudem. Acionam o efeito de fumaça no chão do palco, de forma
discreta. A plateia levanta e aplaude o fim do desfile.
O coquetel será aqui no salão ao lado, na área livre. Por
todo canto tem gente conversando e bebendo, alguns aproveitando
pra iniciar negócios, outros se conhecendo melhor ou apenas
jogando papo fora.
Téo e Nat preferiram ir pra pista de dança quando tocou
uma música agitada e pegaram bebidas no meio do caminho, com
um garçom. E eu preferi ficar e seguir pro banheiro.
Olho pro espelho, arrumando meus cabelos agora mais
curtos, com as pontas levemente enroladas por um babyliss. Decidi
mudar um pouco, radicalizei e cortei, um long bob na altura do meu
ombro. Tive o apoio das meninas, que concordam com qualquer
loucura que eu invente.
Como dizem, quando uma mulher corta os cabelos está
pronta para mudar a sua vida, renovando-se. Cortá-los foi um ato de
renascimento simbólico, um ponto de partida para as mudanças. E
amei a drástica mudança, já que os cabelos estavam longos, quase
na cintura.
Pode parecer bobagem, mas desde que mudei o visual eu
me sinto muito melhor e mais feliz. O que tá refletindo no espelho é
uma mulher que tem a liberdade de fazer qualquer escolha, do
esmalte ao batom, de usar o look preferido ou o que está em alta e,
ainda assim, se sentir confortável.
Minha maquiagem até que não tá extravagante, os olhos
estão destacados e estou usando meu amado batom vermelho. Eu
me sinto maravilhosa com ele! Estou amando essa nova fase,
trouxe mais brilho pra mim.
Passo a mão no vestido lindo, que tem um pequeno decote
na frente e, como em poucas vezes, eu amo o que vejo no espelho.
Realmente, eu estou bonita e digna pra festa.
Volto pro salão onde o falatório e a música estão altos.
Decido ir ao bar, montado ali perto, já que estou com a garganta
seca. Por sorte não estava muito cheio. Acho que as pessoas
preferem esperar sentadas o garçom chegar com as bebidas.
Eu sento em um dos banquinhos e peço uma caipirinha de
morango. Em poucos minutos o barman põe a bebida na minha
frente e dá um sorriso. Retribuo simpaticamente e agradeço.
Bebo um gole e observo as pessoas ao redor. De onde
estou, consigo ver Téo dançando com a Nat. Mesmo de longe eu
consigo reconhecê-los por causa dos gestos.
Sinto um arrepio no braço e uma quentura na nuca quando
escuto alguém chegando perto e pedindo whisky.
A voz é meio grave, um pouco calma e… sexy? Continuo a
olhar o meu copo e observo que o dono daquela voz simplesmente
senta ao meu lado, mudando completamente o clima do local, e o
mesmo barman que me atendeu põe o copo no balcão. Sem sorriso
simpático, sai pra atender outras pessoas. Seu perfume invade
minhas narinas e fico respirando fundo pra sentir melhor. Nossa!
Discretamente, como quem não quer nada, olho pro lado pra
ver quem é a pessoa e fico surpresa. É o homem da reunião, o
moreno.
O moreno lindo! Não esperava encontrá-lo tão… perto. E
por um momento fico um pouco desesperada pela proximidade.
Cacete, o homem visto de perto, pela segunda vez, é
simplesmente muito melhor. Eu o achei bonito na primeira vez que o
vi, mas agora, vendo de novo, ele parece muito mais. É mais bonito
do que eu lembrava. Esses cabelos curtos e escuros penteados pra
frente com as pontas desordenadas, a barba sem falhas,
desenhada, escura, aparada e linda... combinando perfeitamente
com o conjunto e o deixando sensual. Tudo isso! Um homem bem-
arrumado dentro de um terno todo preto, usando um perfume
cheirosíssimo que se espalha pelo ambiente. Daqui, mesmo de
lado, vejo o volume dos seus braços dentro do terno.
Estou surpreendida, algo nele chama a atenção. Não sei se
é minha carência, mas pensei várias coisas a seu respeito, inclusive
que o beijaria facilmente e até o imaginei sem terno e como ele seria
com tesão.
Meu Deus! Eu... eu nunca fui tão devassa em pensamentos!
Ele, de repente, vira pro lado e percebe que estou
analisando-o. Sorri suspendendo as sobrancelhas. Meu rosto
esquenta por ter sido pega no flagra como uma criança arteira, bem
no momento em que o imaginava sem a parte de cima do terno. De
repente, beber o líquido do meu copo parece ser muito interessante.
As sobrancelhas são grossas, mas dão suavidade aos olhos
castanhos. Seu olhar expressivo, sagaz, como se eu fosse sua
presa, traz muita sensualidade.
Desvio os olhos dele por não conseguir medir o olhar por
muito tempo, pois me sinto em combustão e bebo um pouco do
líquido pra voltar ao normal, ou próximo disso.
— Ei, morena.
Não evito olhar pra sua boca, que tem um pequeno sorriso,
bonito e contagiante. Nossa Senhora!
A voz dele é ainda mais grave e bonita do que lembro, e uns
arrepios percorrem meu corpo. Foi esse jeito charmoso que me
chamou a atenção, bagunçou por dentro. Aconteceu algo comigo a
ponto de me deixar com as pernas bambas. Meu Deus! ele transpira
sex appeal e vigor!
Estou ridiculamente afetada!
— Oi — respondo simpática e um pouco atordoada por ele
ter puxado papo.
— Acho que não me apresentei direito pra você…
— Não. — Sorrio tentando controlar o nervosismo. — Qual é
o seu nome? — pergunto interessada fazendo um raio x, feito flash,
no seu peitoral.
— Murilo. — O olhar sagaz tá ali novamente no seu
semblante, aparentemente normal.
Belo nome para um belo moço. E que moço gostoso, por
sinal!
Ele estende a mão para eu pôr a minha em cima, e assim eu
faço. Quando ele abre a boca eu fico com vontade de puxar sua
mão por conta do nervosismo que me tomou.
Ele repetiu o mesmo gesto que fez quando me
cumprimentou lá na agência, beijando minha bochecha de forma
cativante. Mas ele vai além, cheira meu pescoço rapidamente e eu
fico totalmente arrepiada, mas estranhamente não me sinto
incomodada com esse avanço sem mais nem menos. Que homem
atrevido!
— Seu perfume é bom, está cheirosa. — Sorri alisando
meus dedos. — Aliás, quando eu acho que não tem como você ficar
mais bonita, você aparece assim, com os cabelos curtos!
Elogia sem cerimônias e fico encabulada. Encabulada e
surpresa por ele ter percebido minha mudança. Eu só recebo
elogios das minhas amigas, e apenas quando realmente tá bom.
Mas receber de uma pessoa desconhecida e de livre e espontânea
vontade é novidade, ainda mais pra mim, que não sou acostumada
com isso. Eu me senti muito bem.
— Obrigada. — Rio totalmente acanhada. — Hum... você
também tá bonito — devolvo o elogio, não por educação, mas é
porque ele realmente está.
— Estou mesmo? Gostou?
O olhar que ele lança, junto de um sorriso de lado, sacana e
descarado, me deixa eufórica e nervosa. Sorrio pra ele sem saber
como reagir.
— Gostei — afirmo.
— Eu me arrumei torcendo pra que você viesse. — Ele fala
casualmente, o que me deixa desnorteada mais uma vez. — Um
brinde? — Ele levanta a própria taça.
— Por...? — Suspendo minha taça, mas não levo ao
encontro da sua.
— Por essa noite que acabou de ficar mais interessante. —
Ele bate no meu copo e sorri de maneira charmosa, depois de uma
piscadela. A barriga revira de um jeito...
É impressão minha ou ele tá me cantando descaradamente?
Claro que tá! Só não sei como reagir a isso, dois anos fora da pista.
Tomo outro gole da minha bebida sem saber mais o que falar.
Nenhuma parte do meu corpo tá tocando o dele, mas sinto a
presença do Murilo de forma muito intensa, como se ele estivesse
me abraçando com seus grandes braços. É eletrizante.
— Quer dançar?
— Não sei — respondo de maneira incerta.
— Vamos, vai... — pede com um tom de voz que não
consigo negar, estendendo a mão.
— Tudo bem. Só uma. — Acabo cedendo.
Assisto fascinada ele tirar o paletó, vendo aquele corpo
maravilhoso, peito largo e braços fortes dento da camisa social
preta. O corpo dele é grande, forte, largo, parece uma fortaleza!
Tenho vontade de passar a mão, mas me contenho.
Protetora dos homens gostosos e das mulheres fracas! Eu
aposto que estou com cara de tonta. Ele entrega o paletó ao
barman, que pega e concorda em guardá-la enquanto nós saímos.
Fomos pra pista de dança e ele foi erguendo as mangas da
camisa social. Não tá tocando uma música lenta, mas sim uma
agitada. Os primeiros acordes de “Animals” toca e nunca me senti
tão ansiosa pra dançar uma música.
No começo fico um pouco envergonhada, mas logo
acabamos entrando na vibe. Ele faz com que eu me solte mais no
meio do pessoal, empolgado e agitadíssimo.
Já no começo percebi que a dança foi um pretexto pra me
tocar. Ele segura na minha cintura, me puxando pra perto e eu
acabo me deixando levar pela música. As luzes e os lasers
holográficos estão piscando freneticamente, deixando tudo ainda
mais vibrante. E uma curiosidade: sou fraca pra bebidas.
Gira meu corpo e me deixa de costas pra ele. Aperta minha
cintura e cola nossos corpos. Eu sinto seu peitoral contra as minhas
costas, uma das mãos pesadas, porém carinhosas, ao redor do meu
corpo e a outra espalmada bem no pé da minha barriga. De repente
ele praticamente sussurra: “baby, serei seu predador essa noite”. Eu
arrepio completamente. Se eu estivesse sentada com certeza
estaria cruzando as pernas pra conter a agitação entre as coxas.
Nos movemos no ritmo da música e eu me permito fechar os
olhos, curtindo a agitação. Sua mão esquenta o lugar no qual está
repousando. Ele me aperta cada vez mais contra o seu corpo
quente e cheiroso, o que provoca em mim uma sensação diferente.
A presença dele é diferente de alguma forma, com a dança eu já
percebi isso. Não sei explicar, só sei que faz esquentar o meu corpo.
A boca dele roça várias vezes o meu pescoço, me deixando
de uma forma jamais vista. Ninguém nunca me atiçou assim em
uma simples dança.
Ele gira meu corpo de novo pra posição normal, de frente. A
coisa esquenta um pouco entre nós quando ele aperta minha nuca e
a cintura. Nossos rostos estão próximos, mas em vez de me beijar,
ele simplesmente sussurra mais uma vez: “te caçarei, te comerei
viva”. Isso me arrepia absurdamente. Umedeci mais de uma vez.
Em seguida, sorri daquele jeito peculiar a ele, me provocando,
raspando a boca no meu pescoço mais uma vez e me trazendo pra
ainda mais perto. Ele cansou de brincar, pelo visto.
Quando a música já tá quase no final, nossos corpos estão
praticamente abraçados, já que eu estou com as mãos no seu
ombro e ele com as mãos grandes na minha cintura, me
esquentando. Eu olho no seu rosto.
Nos balançamos juntos, ainda no ritmo da música e eu só
consigo sorrir pelo momento que tivemos, mas morrendo de vontade
de beijá-lo. A música é intensa por si só e ele me cozinhou por
metade dela, me apertando, me intimando, mas nunca me beijando.
Ele me provocou desde o início.
Vejo ele olhar pra mim e em seguida descer pra minha boca.
Não consigo reprimir a vontade de beijá-lo e mordo os lábios na
tentativa de me conter. Minha Nossa Senhora!
A pista de dança e as pessoas já nem existem mais, e se
existem, estão bem longe, pois não consigo me conectar a elas.
Aqui, agora, pra mim, só existem ele e eu. Ele com esse olhar
intenso e escuro diretamente nos meus olhos. Nossos rostos estão
próximos o suficiente pra eu sentir a textura dos seus lábios, mesmo
que não estejam realmente tocando nos meus.
Preciso que ele consume o beijo!
Ficamos olhando um pro outro sem dizer absolutamente
nada, ambos envolvidos no meio da pista. Sou chamada pra
realidade quando alguém esbarra nele e eu desvio os olhos. Vejo o
Téo, de longe, me chamar. Acho que já deu nossa hora. O clima
acabou totalmente. Merda!
— Já vou, tá na minha hora. — Eu me despeço virando a
atenção de novo pra ele.
Eu pareço a Cinderela, mas na verdade, sou a Cinderela do
Uber. Mal das princesinhas do século vinte e um.
— Mas já? — Continua a segurar na minha cintura, subindo
uma das mãos pelas minhas costas. Ele não desistiu de consumar o
beijo e me incendiar.
— É. Minha carona já tá indo — esclareço.
— Fica mais um pouco. Eu te levo pra casa mais tarde, se
quiser — propõe.
Por mais gente boa que ele seja, por mais que eu queira
beijá-lo, não o conheço direito a ponto de aceitar a proposta, ainda
mais à noite e eu morando sozinha. Não acho uma boa ideia no
momento.
— Deixa pra próxima. Obrigada pela companhia. — Sorrio
ignorando sua mão ainda subindo devagar, me arrepiando.
— Tudo bem, quero beijar você com tempo. — Ele sorri e
fico trêmula com as suas palavras.
Esse homem é uau em cima de uau.
Segura na minha nuca aproximando nossos rostos e meu
coração acelera ansiosamente. Fico parada esperando pra ver o
que vai acontecer e ele beija, de um jeito gostoso e calmo, bem
próximo à minha boca, no cantinho. E percebo que foi bastante
intencional.
Nos separamos e minha boca começa a formigar, assim
como a minha barriga, que revira. Fazia um bom tempo que não
sentia essas coisas.
O que esse homem tá fazendo comigo, caramba?
— Tchau, Murilo. — Aceno uma última vez e vou pra onde
os dois estão me esperando.
— Tchau, e vou cobrar meu beijo!
Dá o mesmo sorriso que deu no dia da reunião, um sorriso
cafajeste com gostinho de me aguarde. Não sei qual o meu
problema, mas estou gostando estranhamente do que estou
sentindo.
Dou as costas e coloco a mão na boca, perto do lugar
beijado por ele; meu corpo permanece eufórico. A noite em si foi
incrível. As meninas estavam certas, se eu não fosse iria me
arrepender. Mas não posso ficar no modo sonhadora. Já passou! A
festa já acabou e não vamos mais nos ver e é melhor assim!
6
MURILO
Azar!
Quando eu finalmente iria matar minha curiosidade e
vontade de beijar a boca vermelha e convidativa, que insistia em
marcar a taça de bebida, o filho da puta quebrou o clima esbarrando
no meu braço.
Chamei pra dançar, pois queria um contato mais direto, já
que não estava aguentando mais reparar nela colocando a boquinha
ao redor da taça de bebida. Sem contar que em momento algum ela
falou que tinha namorado e nem fugiu quando eu, discretamente,
vez ou outra, pegava na sua mão.
Olhei mais uma vez pros seus dedos, alisei cada um deles,
não tinha nenhuma marca, ou seja, não é comprometida. Sinal
verde pra mim. Quando ela menos esperasse, estaríamos nos
beijando e logo evoluindo pra outra coisa, mas tinha que ter um
babaca pra atrapalhar, cortando o clima que eu fiz questão de
preparar antes de dar o bote.
Até sugeri, esperançoso, levá-la pra casa mais tarde caso
quisesse, cheio de intenções. Mas, mesmo com ar de dúvida, ela
negou.
Ela é um pouco tímida, percebi. Então vou com calma, pelas
beiradas e quando ela menos esperar, estarei no meio, literalmente.
Sou uma pessoa paciente e focada quando se trata de conseguir
meus objetivos. Tudo que vem fácil costuma não ser tão bom quanto
aquilo que tem um desafio maior, isso é mais gostoso. Eu gosto de
desafios e aventuras e prevejo que vai valer a pena quando eu
alcançar meu objetivo. Não vou desperdiçar sequer um segundo.
Eu poderia tomá-la pra mim bem ali, mas eu não pararia
cedo, o que eu quero fazer com ela requer tempo, calma e
dedicação. Preferi atiçá-la pra que ela ficasse balançada e na
vontade. Fingi que ia beijá-la, ela esperou vir um beijo de verdade e
plantei um bem próximo da sua boca. Sei que isso vai deixá-la
fantasiar hoje e pensar em mim mais do que se realmente a
beijasse com pressa. E também pra tirar uma casquinha, já que
estávamos próximos mesmo. Adoro instigar!
Ela me cozinha dali que eu a cozinho daqui. Adoro
joguinhos. Ela me quer também e ficou mexida. Se ela tentou
esconder, não conseguiu, eu percebi seus olhares gulosos e
disfarçados. Confesso que me senti o máximo vendo que ela
também estava interessada.
A dança foi boa, tive a oportunidade de segurá-la mais
perto, saber como são nossos corpos próximos, ainda aproveitei pra
passar a mão discretamente pelo seu corpo, sentindo a textura
macia da sua pele e morri de vontade de saber como é tê-la no meu
colo ou próximos o suficiente pra minha pele sentir essa maciez. O
corpo dela é gostoso de apalpar, mesmo que minhas mãos
estivessem, na maior parte do tempo, na sua cintura. Mas tive que
me controlar quando a bunda dela, às vezes, roçava no meu local
delicado, pra não a assustar e pra que não me achasse um taradão
assim de cara.
Ah! Morena, você ainda vai pra minha cama. Ah se vai.
Recebo a outra bebida do barman pra acalmar os ânimos e vou
atrás dos otários. Eu me despeço de algumas pessoas que estão
indo embora e continuo meu caminho.
Tenho vontade de rir quando lembro da expressão que ela
fez quando tirei meu blazer pra dançar. Maior cara de tarada que
estava pensando coisas, mesmo sem perceber. Pelo jeito ficou
curiosa pra saber o que tem por baixo. E é só um aceno que eu
mostraria sem problemas.
Encontro Mariana e Anderson na pista, dançando uma
música calma. Passo reto e encontro Christian e Luísa conversando.
— E aí? — Eu me aproximo assim que eles desligam.
— Quem era a mulher? — Luísa questiona
interessadíssima.
Oh bicho curioso que é mulher!
— Não me diga que é a da reunião? — Christian ri como se
estivéssemos numa piada interna.
— Que mulher da reunião? — Luísa questiona confusa.
— Ela é da agência de publicidade, que foi na reunião
aquele dia — esclarece à esposa.
Esse filho da mãe tem uma boca grande do caralho.
— É ela mesma. Estava aí e ficamos conversando.
Dou de ombros não me importando em falar.
— É bonita? — Luísa continua a questionar.
Lembro dela sorrindo, naquela roupa no dia da reunião, e
me controlo pra não ficar excitado com a visão que me animou
bastante.
— Maior gostosa, precisa ver — digo e ela ri negando com a
cabeça.
Conversamos mais um pouco, dou uma circulada, volto pra
poltrona e pego meu celular. Percebo que esqueci de pedir o
número do celular dela. Droga!
— Já marcaram alguma coisa? — Christian questiona
curioso.
— Não deu tempo e esqueci de pegar a merda do número
dela. — Dou um muxoxo ao lembrar disso.
— Porra! Vai ser vacilão na casa do caralho!
— Vai se ferrar! Já sei exatamente o que fazer. — Sorrio ao
perceber que tenho uma outra saída. Inclusive, dessa vez vou pegar
seu número de telefone, pois não sou otário de deixá-la sair sem me
dar. Pegue os dois sentidos da frase.
— Duvido que você consiga algo. Você é otário! — Cristian
ri de mim.
Todos riem, me sacaneando.
— Vão se ferrar! Não fui eu quem foi colocado no cabresto
com dois meses de namoro — rebato pra Christian, e Anderson ri
colocando lenha na fogueira.
— Quem manda ali sou eu! — garganteia.
Quem vê até pensa.
— Ô Luiza...
Eu a chamo, já que tá conversando com Mari, e Cristian
chuta minha perna. Faço sinal com a mão enquanto gargalhamos.
No meu apartamento, morto de cansaço, arranco a roupa
quente e sufocante. Decidi voltar desacompanhando hoje, não quis
ficar com nenhuma modelo. Meu foco é outro! Quero guardar
minhas energias pra ela. Quero que tenha uma noite memorável! E
só paro quando estiver esgotado! Essa semana vou ter que escoltar
uma certa mulher gostosa e vou dar uns beijos naquela boca
gostosa. Ah se vou!

ALEXIA
Chega à segunda-feira, chata como sempre. Acordo
preguiçosamente e faço minha rotina como sempre faço, mas a
novidade é que estou me sentindo muito bem! O dia está lindo! Na
empresa, chego distribuindo sorrisos.
— Você tá com cara de quem deu a noite inteira. O que o
cara do desfile fez com você lá, hein? — Nat bate seu ombro em
mim.
— Boba! Não fizemos nada, nem sequer rolou beijo.
— Trocaram número de telefone? — nego com a cabeça e
sua expressão fica surpresa na mesma hora. — Um homem
daquele te dando papo e você não aproveita, sis?
— Eu não Estou a fim de me relacionar com ninguém, você
sabe bem o motivo. — Reviro os olhos.
— Namoro? Dá pra transar sem preencher aqueles
protocolos todos de relacionamento, sabia? Por favor!
Dou um muxoxo revirando os olhos mais uma vez.
— Já passou, isso foi sábado. Chega!
Trabalhei naquele dia com uma boa sensação. Checo o
celular e vejo que são 11h50. Tem uma mensagem da Liz avisando
que já tá indo almoçar e que é pra gente ir também.
Chegamos no restaurante de sempre e ela já tá lá.
— Oi, sis. Como foi o desfile? — Liz pergunta
interessadíssima.
No domingo não nos vimos, fiquei em casa e liguei pros
meus pais. Às vezes me sinto uma péssima filha, porque nem
sempre tenho tempo pra ligar e conversar com eles, ou até mesmo
pra visitá-los. Só que Diego sempre arranjava uma desculpa pra
gente não ir e nem gostava que eu fosse sozinha. Pensar nisso me
deixa raivosa, tanto por eu ter cedido aos seus caprichos, quanto
por saber que meus pais não gostavam do nosso relacionamento,
embora tratassem Diego normalmente.
Conto pra Liz, animada, lembro do Murilo e me repreendo
por isso. Percebo que Nat está olhando pra mim e dando um
sorrisinho. Vadia!
— Sabia! — fala se achando, e eu reviro os olhos.
Amiga chata adora essas coisas, né? O garçom chega e Liz
faz os pedidos por nós três. Ele logo sai e voltamos a papear.
— O boy estava lá? Vocês se viram? — Hoje ela tá
fofoqueira.
Nat olha pra mim e levanta as sobrancelhas me
sacaneando. Vadia duas vezes. Ela faz questão de ficar quieta pra
me assistir contando. Confirmo com uma euforia desnecessária.
— Logo vi que tá toda derretida. Marcaram algo?
— Ah gente, eu não estou derretida por ninguém! — Perco a
euforia na hora.
Já não bastou mais cedo Nat colocando pressão, só me
faltava Lizandra também. Só estou feliz hoje. Que coisa!
— Ihhh... — Se não fosse Natasha, não seria mais ninguém.
— Mas como é o boy que não te deixou derretida? — Liz
fala em tom de deboche. Cínica.
— Normal. — Dou de ombros.
— Mentira! Ele praticamente se jogou pra cima dela a noite
toda. Não se beijaram e acredita que nem o número de telefone eles
trocaram? — Natasha me delata inconformada.
— Alexia! — Liz me repreende. Mas que coisa! — Caramba!
Eu vou tomar seu celular. Ele não tá te servindo pra nada.
— Ah, de novo não. Foi só uma conversa. Ele é muito
atencioso e divertido, naturalmente. E só! — reprimo a palavra
“gostoso” na garganta.
O garçom volta com nossa comida e nos interrompe. Mas
quando dá as costas a conversa continua.
— Eu não quero namorar, nem me relacionar com ninguém
por agora, não estou preparada. O fim do namoro com Diego tá
recente...
— Recente, mas ele já seguiu em frente antes mesmo de
terminar com você. — Nat alfineta me interrompendo.
— Sim, o final do namoro com Diego tá recente. E não é só
porque aconteceu isso que eu tenho que me atirar no primeiro
homem que aparecer. Eu preciso desse tempo pra mim. Além do
mais, Murilo e eu não nos veremos mais. Esqueçam ele, não
tivemos nada.
— Não teve porque você não quis. Aposto que ele até te
homenageou assim que chegou em casa no sábado.
— Que horror, Natasha.
Ela dá de ombros como se não fosse nada.

Saio do hall e meu coração bate irregularmente quando


percebo a figura de uma pessoa que não imaginaria encontrar tão
cedo, recostado em um carro. E não, não é Diego. O que Murilo tá
fazendo aqui na porta do meu trabalho?
Sem saber como agir diante disso, finjo que não percebi sua
presença e sigo normalmente pro meu carro, que tá perto de onde
ele estacionou. Ainda assim, finjo que não o vi e tento chegar no
carro, entrar o mais rápido possível e sair.
Por que eu estou assim, tão nervosa? Sinceramente não
sei!
Murilo sem fazer muita coisa já me deixa eufórica e
descontrolada, só aflora meus sentimentos e não sei se quero que
isso continue. Eu preciso desse tempo pra mim antes de sair com
outro homem, nem que seja só uma fodinha casual.
Minha missão obviamente falhou, pois enquanto estava
destrancando o carro, ele já estava do meu lado, perfume exalando
e me deixando nervosa a ponto de quase derrubar as chaves.
— Ei, morena. — Ele me cumprimenta da mesma forma do
desfile.
— Olá. — Sorrio e retribuo o cumprimento tentando parecer
casual.
— Sabe o que vim fazer aqui, né? — questiona e levanta
suas sobrancelhas expressivas, me fitando e eu engulo a seco.
— N... não.
— Vim buscar meu beijo, aquele que ficou me devendo no
sábado. — Ele chega mais perto e minhas pernas fraquejam.
Senhor Jesus! Ele é muito intenso e um tanto atrevido.
Como ele fala isso, assim?
— Eu... eu estou atrasada pra ir pra casa. — Tento controlar
meu corpo e, de lado, na posição que eu estou, procuro destrancar
o carro, mesmo com as mãos trêmulas.
Meu Deus, que patética eu sou!
— Creio que não vai demorar. Só se quiser, claro. Aí eu
posso ir com você. — Chega mais perto de mim e tento um
afastamento pra não cair em tentação.
— Fica pra próxima. Eu realmente preciso ir.
Nossos rostos estão próximos de um jeito perigoso pra
minha sanidade.
— Passe teu número, então, pra marcarmos algo.
— Eu realmente preciso ir. Tchau, Murilo! — Abro a porta e
me jogo dentro do carro, disposta a ir embora o mais rápido
possível.
Ele finalmente entende e se distancia. Meu coração está a
galopes aqui no meu peito.
O que acabou de acontecer aqui? Aliás, o que tá

acontecendo comigo, afinal?


Sexta-feira finalmente chega. Poderia relaxar um pouco,
estou doida pra ter um tempo pra mim. Não comentei sobre a
aparição de Murilo aqui pra ninguém, pois sei que iam colocar fogo.
Na verdade, não estou entendendo essa coisa toda. Essa
minha desestabilizada cada vez que penso nele, na sua tentativa de
beijo lá na festa e nessa aparição surpresa aqui no trabalho. Ele
veio somente na segunda-feira. Não apareceu mais ou, se
apareceu, não o vi, pois fiquei a semana inteira atolada em trabalho
e saindo em horários aleatórios. E é melhor assim.
Desço como de costume, só que dessa vez tenho Natasha
junto a mim, tagarelando.
— Humm. Olha quem não te esqueceu... — Natasha sorri
debochada e vejo que o motivo é Murilo. — Se você colocar ele pra
correr eu ensino onde é sua casa — sussurra para mim.
— Você não seria louca! — Tento parecer normal.
— Quer pagar pra ver? — desafia e sei que ela seria capaz.
— Estou falando sério. Para de coisa!
— Você já tentou entender que não sou uma pessoa apta
pra casos?
— Não é até dar a primeira quicada.
— Credo, Nat. — Acabo rindo com ela. Não existe pessoa
mais devassa.
Ela me dá tchau e segue seu caminho. Sigo em direção ao
meu carro sem dar trela pro que Natasha falou. Ele logo tá do meu
lado, como eu previ.
— Olha, Murilo, eu não quero envolvimento com ninguém no
momento, você chegou em uma má fase da minha vida, desculpa.
— Desato a falar antes dele. — Você é tudo o que uma mulher pode
querer, acredite, e comigo não é diferente. Eu só... Não é o
momento pra mim — digo abertamente, mesmo que ele seja
praticamente um desconhecido.
— É essa a sua desculpa? — Ele me fita seriamente.
O desgraçado é lindo demais com essa barba lisa penteada.
Sem contar esse cheiro. Por que homem tem de ter os melhores
perfumes?
— Não é desculpa... — Perco o tom da voz porque estou
nervosa. Efeito da sua presença. Efeito Murilo.
— Eu sei que você tá atraída por mim também, senão nem
voltaria. Não Estou fazendo um pedido de casamento. Um jantar e
pronto.
— Um jantar me parece um pouco demais — nego.
— Um jantar como amigos. — Ele sorri jogando comigo.
Ele mantém o sorrisinho sarcástico e confiante nos lábios
convidativos, e ali vi que ele, de um jeito ou de outro, conseguiria o
que queria, mas o problema é que eu percebo que ele tem um perfil
de pessoa que bagunçaria minha vida em questão de minutos, não
por querer, mas por ser informação exagerada pra eu administrar.
Entretanto minha parte irracional nem sequer liga pra isso. Quer
pagar pra ver.
— Não somos amigos. — Arqueio uma das sobrancelhas,
reagindo finalmente ao seu joguinho.
— Seremos o que você quiser que sejamos, se isso te deixa
mais segura. — Olha pra mim desafiador. — É só um jantar,
prometo fazer valer a pena.
Murilo um, Alexia tapada, zero. Que calor!
— Ei, morena... não vai se arrepender — disse segurando
meu queixo, e eu me desfaço todinha por causa dessa fala. Eu já
estava quase uma gelatina tentando me manter firme, mas não
tanto. Agora, com essa forma como ele me chama, eu me derreto
completamente, e não deveria. Olho pra ele, que não vai parar de vir
até aqui enquanto eu não aceitar sair com ele. Eu me rendo.
— De verdade?
— Sim. Só preciso do teu número para marcarmos.
— Certo. — Fico tentada a dar um número qualquer.
— Não tente me enganar, eu vou ligar agora pra saber se é
esse mesmo. — Ele praticamente lê meus pensamentos e sorrio
disso, mesmo contrariada. Dou meu número a ele.
— Agora eu preciso ir, beijo! — despeço-me.
— Cadê o beijo?
Olho pra ele, que ri e acabo rindo também. Ele é afiado!
Saio de lá com a promessa de ele marcar algo e com uma
ansiedade do que está por vir.
7
ALEXIA
Mal deito na cama e escuto meu celular bipar. É uma
mensagem do Murilo. Meu coração pulsa consideravelmente mais
rápido. Qual é, qual é o meu problema ultimamente? Abro a
mensagem e leio curiosa.
“Tem programa para amanhã não, né?”
Direto! Leio, minha mão fica suada e eu não sei o que
responder. Eu poderia mentir e dizer que sim, mas ele foi tão legal
comigo na festa que crio coragem pra responder.
“Não!”’— digito e já envio antes que eu mude de ideia.
Assim que envio a mensagem, vejo que ele visualizou e tá
digitando. Mordo a boca na expectativa, querendo saber o que ele
tem pra dizer.
“Janta comigo amanhã, então?”
Amanhã, já? Achei que seria aquele famoso “vamos marcar
de nos ver” e de fato nada iria acontecer. Será que devo ir? Penso
na possibilidade de negar, mas Murilo não tem culpa do babaca que
meu ex foi, ele só tá sendo legal comigo, querendo me conhecer.
Um encontro não quer dizer que eu vá transar com ele.
Apesar que, no fundinho, eu quero.
“Certo, aceito o convite”. — Estou com vontade de revê-lo.
“Passa teu endereço porque eu vou te buscar”.
digitando...
“Ah! Você é vegetariana ou alérgica a alguma coisa?”
Com um sorriso no rosto por ele se preocupar com o que eu
como, passo o endereço e aviso que não sou vegetariana e nem
alérgica. Um encontro não significa nada! Um encontro não significa
nada!
“Passo aí às 19h30”
A conversa se estendeu mais um pouco e foi muito boa. É
ótimo conhecer pessoas e perceber que, mesmo com poucas
conversas, o assunto flui facilmente. É como se eu o conhecesse há
tempos, a ponto de esquecer minha timidez.
Confesso que odeio o processo de conhecer pessoas, essa
coisa de puxar assunto, criar intimidade. Isso me cansa e irrita. E
conseguir achar uma pessoa que o papo flui sem esforço numa
conexão surreal é maravilhoso. Me despeço e desligo o celular.
Ai meu Deus! Um jantar com esse homem. O que será que
vai acontecer? Como vai ser? Eu estranhamente estou ansiosa pra
amanhã à noite.

Escuto a buzina e olho da janela. Ele chegou! Estou numa


ansiedade tremenda!
Chego na calçada e ele tá saindo do carro, uma grande
Pick-up prata. Me cumprimenta com um sorriso e um beijo no rosto,
seguido por um “olá, morena!” e um elogio pelo meu look.
Com o carro andando ele puxa papo sorrindo, nunca vi
pessoa tão bem-humorada.
— Gosta de fazer o quê? — Me olha de relance.
— Ah! Eu gosto de fotografar... — respondo um pouco
constrangida, percebendo que não tenho muitos hobbies. — E
você?
— Gosto de muita coisa, mas minhas paixões são esportes
radicais e exercícios. No geral, gosto de adrenalina. — Mostra
tranquilidade e energia ao falar enquanto dirige. — Já pulou de
paraquedas ou bungee jumping?
— Não! Deus me livre! — Dou um rápido sorriso nervoso só
por imaginar uma situação dessas.
— Não dá medo. É gostoso.
Fizemos o caminho com tranquilidade, nos conhecendo um
pouco e ele fazendo questão de me deixar confortável, mesmo que
ele conseguisse fazer isso sem esforço algum. Fomos até um
restaurante que eu não conhecia, mas que tem um clima bom e
agradável. Sentamos em uma mesa pra dois. Ele fez questão de
escolher um bom vinho, mesmo eu falando que não iria beber muito.
Beberico, é gostoso e bem suave. Não conhecia a marca.
— Você tá sempre bonita assim ou é pra me torturar? —
Solta essas palavras do nada, me deixando um pouco surpresa pela
declaração. — Você tá sempre bonita. Na festa, então! Fiquei
louco... Nossa senhora!
Faz um sinalzinho com os dedos indicador e polegar em
uma demonstração engraçada, o que me faz rir, mais desajustada
do que qualquer outra coisa.
— Obrigada — agradeço, apesar de estranhar ser elogiada
a cada dois minutos. — Confesso que você também estava bonito,
mais bonito do que da primeira vez que o vi. — O elogio foi sincero.
Ele realmente estava mais bonito.
Continua a me olhar como se não estivesse fazendo nada,
enquanto meu coração bate desenfreado. Não sei medir olhares
com ele, sempre fico com vontade de apertar as coxas.
— Sabe, eu te observei a noite toda lá e você me deu
trabalho! — Continua sem interromper o contato visual.
Arregalo um pouco os olhos, surpresa. Então eu estava,
sim, sendo observada. Como ele consegue falar essas coisas como
quem pergunta as horas?
— Eu senti que estava sendo observada, só não consegui
achar o stalker. — Rio pra aliviar o nervoso e ele me acompanha.
— Eu tive muita vontade de te prender lá quando você quis
ir embora. — Continua falando como se fosse algo banal. Ele é
muito direto! — Mas no que depender de mim, hoje as coisas serão
diferentes.
Direto e atrevido! Ele atira sem intervalos e eu fico sem
saber como reagir a cada coisa que sai da sua boca. O garçom
chega com a comida que pedimos, nos interrompendo e me
salvando daquele momento.
— Sabia que fui eu quem mandou os convites, não é? —
Sorri de lado e eu arqueio as sobrancelhas.
— Ah é? — Fico incrédula.
Depois que jantamos, fomos pra uma praça perto do
restaurante pra conversarmos enquanto andávamos e
observávamos algumas pessoas caminhando com crianças.
Descobri que ele tem uma irmã mais nova, de dezoito anos, que
mora no exterior junto dos pais. Contei que tenho um irmão mais
velho, um sobrinho e uma sobrinha ainda pequenos, que moram
perto dos meus pais.
É muito legal conversar com pessoas que têm gostos em
comum. Os assuntos surgem e fluem com uma naturalidade
impressionante. E é cada dia mais difícil achar uma pessoa que
quer ter um diálogo ao invés de um monólogo. Estou gostando
muito da noite e dessa companhia. Tá sendo ótimo. Faz muito
tempo que não tenho uma noite agradável como essa.
Até tomamos um sorvete que ele resolveu comprar pra nós
dois. Não sei se ele estava me provocando ou o que, mas eu fiquei
encabulada e evitei fazer contato. Enquanto isso ele fazia questão
de me olhar nos momentos em que passava a língua no sorvete.
Nunca vi ninguém ficar sexy tomando sorvete, mas Murilo...
Minha vontade de beijá-lo tá ficando incontrolável. Estou
guardando essa vontade desde o desfile no momento em que beijou
o canto da minha boca. Tentei me enganar, mas simplesmente não
tá dando pra segurar essa barra.
Eu disse que não quero envolvimento com ninguém, não
estou pronta, mas beijá-lo parece ser tão certo...
Chegando na frente do meu apartamento, ele para o carro e
eu solto o cinto. Viro pra me despedir e agradecer pelo passeio.
Final de encontro é uma coisa embaraçosa.
— Espero que minha companhia tenha valido a pena. — Ele
se vira em minha direção, desabotoando o próprio cinto de
segurança, enquanto fala olhando diretamente nos meus olhos. O
olhar que queima!
— Valeu, a noite valeu a pena. — Ele passa o polegar nos
meus lábios.
— Pra mim a noite ainda não acabou. Estou doido pra te
devorar inteira. — A voz engrossa, carregada de vontade.
Ele tem uma intensidade extraordinária!
Põe a mão entre meus cabelos, segura firme na minha nuca
e acabo indo pra perto dele. Sinto meu coração mais acelerado do
que nunca. Esfrega os lábios nos meus, atiçando e me deixando
totalmente entregue. Isso acendeu ainda mais minha ânsia de beijá-
lo. E sem mais delongas, ele mata minha vontade.
O beijo é simplesmente muito gostoso e intenso. Ao mesmo
tempo em que é calmo e sensual, é quente, intenso, envolvente e
dominante. Lento, porém voraz. Gemo baixo por conta da sensação
provocada pelo beijo, e sinto que estou ardendo e amolecendo na
sua mão, lentamente.
Senhor! Ele é um pecado de ser humano.
Passeia a mão pelo meu corpo e eu aproveito pra passear a
minha também, e sentir seus músculos durinhos.
O beijo se torna mais urgente quando ele aperta minha
nuca, puxa pra si e afunda suas mãos nos meus cabelos, chupando
meus lábios e causando um arrepio bom. Devora minha boca de um
modo que me deixa alvoroçada. Murilo é tão dominante.
Fui parar no seu colo, de frente pra ele e com as costas
viradas pro volante enquanto nos agarramos sem controle algum.
Murilo aperta minhas coxas e acaricia com o polegar, ao mesmo
tempo em que beija, me deixando bêbada, entorpecida de tesão.
Desgrudamos nossas bocas, ofegantes, mesmo querendo
mais.
— Uau! — Não filtro o que sai, mas que resume muito tudo
isso.
Ele olha pra mim, sério e ofegante, enquanto coloca meu
cabelo atrás da minha orelha, e desce a mão devagar pela minha
cintura, alisando com o polegar, de leve, perto dos meus seios.
Distribui beijos no meu ombro até chegar ao pescoço. A
sensação dos beijos juntamente com a barba passeando é de deixar
qualquer mulher louca, inclusive eu não fico imune a isso. E fecho
os olhos sentindo seus dedos quentes percorrerem por onde bem
entende.
Num gesto automático, rebolo no seu colo procurando por
mais contato. Ele geme rouco ainda me beijando e acabo de saber
que ele fica com tesão, pois sinto uma certa protuberância firme,
que por sinal estou em cima, de vestido. Santo Cristo!
— Murilo… — Solto uma espécie de gemido com os olhos
fechados, sentindo as mãos dele passearem pelas minhas coxas
em direção ao elástico da calcinha. Ele tá alisando minha pele.
Estou mais dominada nesse momento e o deixo fazer o que bem
quer, mesmo que não ache uma boa ideia transar no carro.
— Relaxe, vou até onde quiser. — Brinca com os dedos no
elástico e segura minha bunda, me puxando pra perto de si no
mesmo momento em que sinto seu pau duro roçar mais em mim.
Gemo, agarro seus cabelos e dou-lhe um beijo com maior
intensidade. Estou quase como um rio por estar sentada no seu colo
e por saber que existem pouquíssimos panos nos separando. Isso
me deixa desorientada de um jeito jamais visto.
Ficamos nos beijando ardentemente, sem pressa, nos
apalpando até eu ver que estava por um fio de perder o controle,
com as alças do meu vestido caídas. Descolo a minha boca da dele,
tentando controlar minha adrenalina.
— Acho melhor pararmos por aqui — sussurro num fiapo de
voz.
— Tem certeza? — Ele fala ofegante alisando minha cintura.
— Estou com vontade de continuar. Muito mesmo.
Eu ainda não sei lidar com todo esse atrevimento.
— Absoluta — afirmo, mesmo não tendo um pingo dessa
certeza.
Saio do seu colo e sento no banco pra controlar minha
respiração, que tá mais do que descontrolada. Meu Deus! Espero
que não tenha dado show para as pessoas que estavam passando
na rua. Eu estava quase dando pra ele no carro! Virei outra pessoa
com o Murilo. Ele é muito fogoso. Desço do carro ainda com as
pernas bambas.
Enquanto eu faço a volta pra subir na calçada, ele sai do
carro e se encosta.
Fico de frente pra ele e olho pros seus cabelos, que há
pouco estavam nas minhas mãos, um pouco bagunçados. Se ele tá
com os cabelos desse jeito, não quero nem ver como o meus estão.
— Acho que é boa noite. — Olho pra ele depois daquele
agarramento todo no carro.
Murilo simplesmente me segura firme pela mão e me puxa
ao seu encontro. Nossos corpos colidem e recebo um beijo, ao
mesmo tempo em que uma das suas mãos tá abraçada na minha
cintura e a outra no cabelo. Que beijo! Que mãozona!
Sinto que ainda tá um pouco excitado e me dá um frio na
barriga ao perceber isso.
A boca dele é quente, meus lábios estão sendo incendiados
de uma forma incontrolável. Conforme o beijo avança vou colando
mais nele, ansiando, desejando e quase implorando pra que ele
entre e termine o serviço que eu de repente fiquei doida pra provar.
Nos separamos aceitando o final do beijo. Ficamos nos
encarando em silêncio por alguns segundos, ambos presos na
proximidade dos rostos, como se fôssemos recomeçar o beijo a
qualquer momento, mas Murilo abre a boca e me tira dos devaneios.
— Agora sim é boa noite, a menos que queira estender mais
um pouco e ter uma excelente noite. — A voz dele tá um pouco
rouca pelo tesão, me fazendo segurar com um pouco mais de força
nos seus braços. Ele percebe que eu fiquei atônita e dá uma risada
gostosa, o que me causa arrepios e um amolecimento das pernas.
Por sorte, estou presa em seus braços.
O que tá acontecendo comigo? Que efeito é esse que ele
causa em mim?
— Quero te ver de novo e te beijar.
Ele e seu jeito direto sempre me desestabilizam.
— Eu também. — Por incrível que pareça eu confessei isso
abertamente. Tesão deixa a gente inconsequente. — Agora é tchau!
Eu me despeço tentando me soltar.
— Tem certeza de que quer que eu vá embora? Não me
castiga, vai. Prometo que não se arrependerá, eu faço valer. —
Segura minha mão e me puxa pra beijá-lo.
Meu Deus! Preciso de muito autocontrole pra não arrastar
esse homem pra minha cama hoje e agora. Nessas horas eu
gostaria de ser a Natasha e ir sem olhar pra trás, mas preciso ir com
calma, conhecê-lo primeiro antes de colocá-lo dentro da minha
casa. Aliás, nem sei se isso vai evoluir pra alguma coisa, mesmo
que seja só uma única foda. Por mais que não queira me relacionar
sério, por agora, não consigo dar pra um cara de primeira. Eu travo,
fico receosa.
— Tchau, Murilo. — Dou mais dois selinhos nele e me
afasto.
A boca dele me chama a todo momento!
Murilo me puxa mais uma vez para seus braços e me beija
arrebatadoramente. Eu me desprendo do seu abraço colado e
caminho em direção à porta da minha casa. Instantaneamente sinto
falta da quentura dos seus braços. Ele entra no carro e me olha uma
última vez depois de dar um tchau. Por pouco não me flagrou
suspirando por sua causa.
Entro em casa com um sorriso bobo e o corpo trêmulo,
sentindo reações do efeito Murilo.
— Você saiu com ele? — Liz questiona incrédula.
Estamos almoçando juntas, como de costume, e decidi
contar sobre o fim de semana, pois Natasha, como sempre, não
deixa passar nada. Na mesma noite, antes de eu dormir,
conversamos um pouco, ele quis saber quando iríamos nos ver e
marcamos para um futuro bem próximo.
— Foi só um jantar. Não criem fanfic.
Passo meu celular pra ela finalmente ver uma foto dele. A
única que tenho disponível.
— Você é vegetariana ou alérgica a alguma coisa? Ai que
fofo.
Liz lê a mensagem que trocamos no sábado. Pois é, ela,
como toda amiga, lê na cara de pau. Como eu já disse, às vezes a
intimidade é uma droga. Reviro os olhos e estendo a mão pra pegar
o celular.
O garçom chega com a nossa comida, nos interrompendo,
mas quando ele sai a conversa volta, como sempre acontece.
— Conta, como foi esse jantar? — Liz volta a questionar
toda curiosa.
— Foi bom. — Tento falar como se não fosse nada, mas eu
acabo abrindo um sorrisinho besta que me denuncia.
— Conta logo! A gente quer saber se vocês se beijaram ou
transaram. Quero detalhes, sis. — Adivinhem quem falou? Pois é,
Natasha, sempre tão paciente.
— Nos beijamos. Foi quente! O beijo dele é muito gostoso e
ele é intenso! Confesso que senti muita vontade e quase dei pra ele
no carro, mas mantive o autocontrole. Não sei se é certo — digo
baixo para as pessoas das mesas próximas não ouvirem, mas não
escondo a euforia.
— Não acredito! — As duas falam boquiabertas e
empolgadas, como sempre quando tem fofoca nova.
— Dá pra ele pra ver como é, pra ver se você gosta, sério.
Tá rolando uma química entre vocês, aproveita.
— Sem pressão, por favor! — repreendo-a.
— Não é pressão, cacete, estou incentivando a dar pra ele,
pois sei que você quer. Simples! Dê, mas dê com vontade, apenas
isso.
— Não sei por que conto as coisas a vocês.
— Porque nos ama. — Nat, sempre Nat.

Amanheci com uma ansiedade boa no peito. Murilo me


chamou pra almoçar de novo e eu aceitei. Confesso, estou ansiosa,
pensando nisso mais do que deveria, por isso coloquei um vestido
arrumadinho que eu comprei recentemente, e um salto médio. Eu
ainda estou amando meu cabelo e a fase boa dele.
— Vai aonde bonita assim? — Natasha fala quando estamos
saindo da sala pra bater o ponto.
— Murilo vem me buscar pra almoçarmos.
— Vai dar pra ele ou é só um almoço mesmo? — Ela
debocha e eu reviro os olhos, rindo.
— Almoço apenas, Nat.
— Tá com a lingerie combinando assim mesmo, né? —
Certifica-se e eu aceno, rindo, pega no flagra. Nem me dei conta
que fiz isso. — Você tá se prendendo porque ele mexe com você,
né? — pergunta interessada, mas sei que é só preocupação de
amiga.
— Mexer não é a palavra certa. Não do jeito que você tá
pensando. Temos muita química sim, gostei da companhia e de
beijá-lo então, nem se fala, mas quero que tudo vá com calma, sem
expectativas, sem frustrações. Eu gosto de me guardar. Murilo tem
cara de que pode bagunçar tudo em mim se eu deixar, e quero ser
dona das situações na minha vida.
— Entendi, sis, mas se quiser dar, dê. Um compromisso
sem ser sério, quem sabe? Não precisa envolver sentimentos além
do tesão. Não se reprima por ninguém, jamais!
Aceno considerando o que ela falou. Essa vontade toda tá
me matando, sem contar que ele não ajuda, sempre dá um jeito de
me atiçar mais.
Saímos e eu o vejo esperando na porta. Ele usando roupa
social fica um pecado. Ainda mais de óculos escuros. Segura-me,
senhor!
— Agora vai lá com o seu namoradinho. Pela aparência, a
nota é dez. — Nat sussurra pra mim e eu rio. Eu a beijo no rosto e
ela segue pela rua.
— Oi — cumprimento tímida, sem saber se devo beijá-lo ou
não.
— Oi. Tá linda nessa roupa.
Ele me dá um beijo rápido, mas efetivo, sem se importar. Ai,
ai...
— Obrigada. Você de roupa social fica um charme. — Sinto
meus lábios formigarem do beijo.
— Obrigado, senhorita. Foi para te ver.
Ele sempre tá bem-humorado e isso me cativa ainda mais.
Entro no seu carro e seguimos pra almoçar.
— Vamos pra onde? — Não consigo esconder meu
interesse.
— Um restaurante aqui perto pra não te atrasar. Gosta de
comida italiana?
— Massas são as minhas comidas preferidas. — Sorrio por
ele ter acertado sem querer.
— Que bom. Agora vem aqui, porque estou achando
desnecessária essa distância entre nossas bocas. — Ele me chama
com o dedo e eu vou de boa vontade beijá-lo.
E que beijo! Que beijo!
— Vamos nos atrasar — sussurro sem fôlego.
— Verdade. — Ele volta a si.
Volto a sentar direito no banco, já que eu estava quase indo
pra seu colo de novo, e controlo a respiração. Esses beijos dele são
maravilhosos e me derretem facilmente. Deve ser falta de sexo, e
um sexo decente e gostoso, mas não posso ir por esse caminho.
Parece que o carro dele me chama pro perigo e estou em pleno
horário de almoço!
8
MURILO
Dois dias se passaram e eu não paro de pensar no amasso
com Alexia naquele dia do almoço. Hoje combinamos de jantar em
um restaurante recomendado por um amigo.
— Christian, Estou indo, cara. — Toco na mão dele em
despedida. — Quero pegar uma mesa boa.
— Acho que alguém tá tomando chá de boceta. — Ri pra
mim. Ele sabe do meu pequeno rolo com Alexia.
Se ao menos eu já tivesse provado....
— Vai lá, o restaurante é bom, ela vai gostar!
— Pode deixar. Fui!
Pego meu carro e sigo pra agência a fim de buscá-la.
Espero que esse jantar seja bem melhor do que o outro. Doido pra ir
mais além, continuar o que não fizemos naquele dia.
O amasso no carro foi muito louco. Nunca fiquei com tanta
vontade de comer uma pessoa como fiquei com Alexia. O beijo dela
é gostoso, sabia que aquela boca não decepcionaria. Percebi que
sempre fica encabulada no começo, mas quando se solta vira outra
pessoa, mesmo não percebendo.
Alexia com tesão muda completamente, ela vira uma mulher
selvagem e libidinosa. Quando eu a arrastei pro meu colo e tive o
prazer de tê-la sentada nele, praticamente encaixada e úmida,
sentia seu calor por meio da calcinha. O jeito manhoso que ela
geme e chama meu nome quando tá com desejo é de tirar o juízo.
Pena que quando percebe que tá no modo natural, recompõe-se e
se fecha novamente, envergonhada.
Assim que estaciono lá em frente, envio a mensagem pra
que ela desça. Logo responde que daqui a pouco desce. Ligo o som
e quando a segunda música acaba ela aparece. Gata demais,
cheirosa e com o batom vermelho. Que mulher! Doido pra ir além!
Já a imaginei em mil posições! Preciso transar com ela
urgentemente, pois meu desejo tá cada vez mais incontrolável. E sei
que da parte dela também, senão já teria me afastado.
Hoje, quero ir um pouco além, tê-la em meus braços e ouvir
seus gemidos.
Alexia é… não sei explicar, é uma incógnita que eu tenho
vontade de decifrar. Ela me parece bem sucinta no que diz respeito
à sua vida, bem reservada, chega a ser misteriosa. E eu gosto de
solucionar mistérios.

ALEXIA
— Oi.
Dou um beijo nele, pois sou dessas e ele tá muito bonito
hoje em especial, com uma camisa social branca alva, sem blazer.
Sempre o vejo com camisa social de tons escuros.
— Oi. — Ele me puxa pra mais perto.
O beijo é sensacional! Confesso que estou morrendo de
vontade de transar com ele. Hoje, se a brecha aparecer, vou chamá-
lo pra ir lá pra casa. Vou tacar o foda-se por um momento. Estou
doida pra sair dos beijos! Estou pegando fogo!
Confesso que Murilo tá cada vez mais presente no meu dia
a dia. Já me acostumei a conversar praticamente todos os dias. E
reparei que ando pensando muito nele, mais do que deveria. Espero
que ele pense em mim de vez em quando, só pra eu não me sentir
tão patética por pensar nele o tempo todo. Eu sei, é um tiro no
próprio pé.
Murilo interrompe o beijo com um último selinho e me olha.
— Que tal um jantar? — arqueia as sobrancelhas.
— Outro jantar? — Sorrio para ele.
— Sim, outro jantar, como amigos. — Ele confirma sorrindo.
Murilo tá sempre de bom humor e isso é cativante.
Concordo e seguimos o caminho até esse restaurante onde
ele quer me levar. Já disse que me sinto muito à vontade com ele?
O tempo passa muito rápido.
Deixei meu carro em casa hoje por causa do encontro. O
lugar que ele me trouxe é outro restaurante que eu nunca tinha ido.
O local é muito agradável, tem até música acústica ao vivo.
Comemos petiscos ouvindo as músicas.
— Aqui é muito bacana!
— Um amigo que me recomendou.
— Maravilhoso.
— Obrigado.
Rio e ele acompanha. O timbre da sua risada faz meu
estômago assanhar como nunca aconteceu. Eu tive que disfarçar. A
comida é maravilhosa, como o resto da noite.

MURILO
Paro o carro na frente do apartamento de Alexia e ela me
olha, mordendo os lábios rapidamente.
— Quer entrar? — Escuto aquela proposta maravilhosa.
Já que ela insiste, né? Nem queria...
Saio mais que rapidamente com ela, indo em direção à
porta. Assim que entramos, eu a imprenso na parede, beijando-a
com todo o desejo que guardei desde que a conheci. Ela é muito
gostosa e retribui na mesma fome. Ela gemendo é de foder o juízo,
fica ainda mais gostosa com tesão. Ataco seu pescoço beijando e
mordendo, e passo a mão em cada centímetro do seu corpo. E ela
geme baixinho. Ah! Esses gemidos…

ALEXIA
Retribuo na mesma ânsia segurando sua nuca, nos
aproximando ainda mais. Agarro seus cabelos na mesma
intensidade com que ele trilha, com sua boca, meu queixo até
descer pro pescoço. Ele afunda as mãos nos meus cabelos e me
beija. Na verdade, ele explora minha boca com a língua, alastrando
algumas sensações, como o próprio fogo, em mim.
E sei que da parte dele também há fogo, pois suas mãos me
apertam e passeiam avidamente pelo meu corpo. Ele cola sua boca
direto na minha enquanto segura firmemente nos meus braços e
nuca.
Caminha pela casa sempre me beijando e subitamente me
prensa na parede mais próxima, agarrando mais forte, aumentando
minha ansiedade. Uma das suas mãos sobe e passeia pelo canto
do meu seio esquerdo, que depois ele acaricia com o polegar. Ele
anda e eu o acompanho de costas, ainda nos beijando.
Mal posso esperar pra tê-lo sobre mim.
Ele me arrasta e me joga em cima do sofá, e em seguida já
tá em cima de mim, beijando e apalpando meu corpo.
— Gostosa pra caralho! — sussurra enquanto puxa meu
vestido do corpo.
Gemo sem me controlar. Se eu, que já estava com tesão
antes mesmo de começarmos a nos beijar, com essa carícia o tesão
duplicou.
Aperto os braços fortes dele com mais vontade e me remexo
embaixo enquanto ele alterna entre beijos, mordidas suaves no
pescoço e carícias pelo meu corpo. Minha calcinha molha muito
mais quando alisa com a ponta do dedo minha barriga e o vão dos
seios. Contraio a barriga sem me controlar.
Ele me pega como se eu fosse uma pluma e segue pro
quarto. Entramos e ele me joga na cama juntamente com seu corpo
quente sobre o meu. Puxo sua camisa com urgência, desabotoo e
ele tira o resto. Suspiro, não me contenho com a visão desse
homem se despindo pra mim. Como ele consegue ser sensual
assim, naturalmente?
O corpo é largo e gostoso na medida certa. Muuuito
gostoso!
Vou descendo os olhos e vejo a marca do V com a metade
coberta com a calça social, o volume já perceptível. Eita! Tenho
vontade de passar a língua por esse corpo todo bronzeado. Mordo
os lábios com meus pensamentos indecentes, que estão
incontroláveis.
— Você gosta de testar meus limites. — Sua voz é rouca e
faz meu coração bater consideravelmente mais rápido.
Agarro suas costas, fazendo ele me apertar e começar um
beijo mais quente e intenso, cheio de maldade.
Desabotoa meu sutiã, que é pela frente. Ao mesmo tempo
que meus seios ficam expostos, não consigo deixar de ficar
insegura. Coloco a mão em cima rapidamente.
Acho meus seios muito... Sei lá! Sempre escutei coisas
sobre eles que me deixam receosa. Talvez seja por estar com um
cara pela primeira vez.
— Tapou por quê? — questiona visivelmente confuso.
— Não acha melhor apagar as luzes, não? — confesso,
estou um pouco sem graça.
— Não. Quero ver seu corpo. — Junta as sobrancelhas.
O olhar dele me fez queimar. Apesar da insegurança, a
vontade de tê-lo é maior e sentir a mão passeando pelo meu corpo
não me ajuda a raciocinar direito.
— Ele é maravilhoso e macio. Quero olhá-lo e tocá-lo como
se deve. Se você ficar desconfortável apagamos, certo?
— Tudo bem. — Eu me rendo e ele tira minhas mãos de
cima.
Sou uma quebra-clima do cacete. Agora ele vai me achar
paranoica.
— Seus seios são gostosos. Tenho tara por eles, quero
lambê-los todinhos. — Apalpa os dois com vontade e aos poucos
vou relaxando.
Estou quase transpirando de nervoso e ansiedade. Meus
poros estão todos abertos.
— Murilo… — gemo sem me importar com mais nada.
— Isso, geme mais, gostosa — sussurra no meu ouvido.
Contorna ao redor dos meus seios e mamilos com a língua,
de forma lenta, e aos poucos vai aumentando a intensidade até
chegar perto do mamilo. Coloca na boca e suga com voracidade.
Um, depois o outro, enquanto simultaneamente os acaricia.
Alisa minhas costas enquanto desce os lábios, provocando
pequenos incômodos nervosos entre minhas pernas e tento de
alguma forma aliviar cruzando-as.
Beija a divisão dos meus seios até abaixo do umbigo e fico
mais ansiosa, mais do que qualquer outra coisa, pelo que eu
presumo estar por vir. Sua barba em contato com minha pele
estimula o resto do meu corpo.
— Tenho maior tesão em você.
Passa as mãos na parte interna das coxas bem perto de
onde eu quero que ele realmente toque. Desliza o dedo levemente
por cima do tecido e eu suspiro, querendo que ele avance muito
mais.
Puxa minha calcinha que, graças a Deus, não é das de
estampas constrangedoras.
— Linda! — sussurra e passa o dedo novamente.
Não consigo focar em mais nada. Fecho os olhos e
mergulho em todas as sensações maravilhosas, tremendo e me
contorcendo.
Ele começa a me estimular com o polegar e colocar o dedo
na entrada, só a ponta do dedo e depois tirando. Estou quase
gozando. Desce a boca, deixando um beijo na minha virilha. Meus
gemidos ficam um pouco incontroláveis.
Fico mais excitada sentindo a língua quente e molhada
trabalhar exatamente lá, no local certo. Abro ainda mais as pernas.
Sua boca e barba contra minha pele me deixam cada vez mais
desesperada.
Ele faz massagem com a língua e os dedos, ao mesmo
tempo com uma calma e vontade que eu não consigo acompanhar.
Murilo alterna entre movimentos lentos, moderados e rápidos.
Lambidas, mordidinhas e sucções.
Ele não é do tipo que apenas lambe, ele chupa com vontade
e suga. Às vezes coloca a pontinha da língua. Pela forma que eu
estou, parece que todo o líquido do meu corpo vai sair por ali.
Dou um suspiro longo sentindo meu corpo tremer.
Continua seu trabalho maravilhosamente bem. Com a boca
e os dedos ali com empenho, a sensação vem. Tremo, contorcendo
os dedos dos pés enquanto agarro seus cabelos, tentando ter mais
dele quando meu corpo é tomado por espasmos.
— Maravilhosa, como eu imaginava — confessa bem
safado, olhando pra mim enquanto eu estou recuperando os
sentidos. A única coisa que tenho certeza é de que não quero que a
noite acabe tão cedo.
— Nossa! Minhas pernas estão bambas. — Consigo
expressar algo.
Ele levanta da cama e desabotoa o cinto. Levanto a cabeça
pra observar ele abrir e descer a calça junto com a cueca.
Arqueio as sobrancelhas quando finalmente vejo ele nu.
Olho, declaro que estou muito bem e obrigada! Bastante
proporcional para o corpo que ele tem. Tipo, bastante.
Ele sorri de modo sacana quando me vê secando-o.
— Mas é muito safada mesmo! — Ele ri mais uma vez e sei
que isso tudo vai me deixar louca.
Aponto para o criado-mudo e ele entende o que é pra pegar.
Infelizmente parei de usar o anticoncepcional e essa é a nossa
primeira transa.
— Vou fazer você enlouquecer de prazer — promete
enquanto põe o preservativo sob minha observação e eu fico
ofegante com a promessa.
Sobe e me dá um beijo ardente e morde um dos meus
mamilos de leve. Que homem é esse, meu Deus?
Logo sinto a sensação dele escorregar com firmeza e
maciez pra dentro. Gemo e agarro nos seus braços. Sinto o calor de
ser preenchida totalmente pelo volume, suspiro com a sensação que
nunca mais tinha sentido, ainda mais nessa potência, e mordo a
boca evitando gemer alto.
— Olha pra mim. — Escuto sua voz grossa.
Eu fechei os olhos e nem percebi.
Esses cabelos bagunçados, sobrancelhas franzidas, forte,
queixo bom de morder. Como pode ser tão atraente?
— Quero ver você me olhando enquanto eu te fodo gostoso.
Ele é muito intenso, atrevido e fogoso. Minha nossa
senhora! Vejo ele sobre mim. E que visão! Sinto ele sair quase todo
e voltar com tudo, contraio por dentro instantaneamente e ele geme
rouco. Faz isso mais de uma vez.
No começo, seus movimentos vieram lentos e torturantes,
até começar a pegar um ritmo bom, que pedia por mais. Sentir o
barulho e o toque dos nossos corpos se chocando é maravilhoso. O
fogo me consome, nos queimando ainda mais naquele tesão louco e
eu o beijo desesperadamente, gemendo. Ele corresponde
vorazmente.
Ofego com a sensação de ir e vir. Abraço seu quadril com
minhas pernas pra que ele vá mais fundo. Observá-lo suado
enquanto me preenche gostoso é muito enlouquecedor.
Não consigo desprender meu olhar do seu rosto, a boca
desce e ele morde meu lábio inferior. Gememos praticamente juntos
com a sensação delirante dos movimentos. Como pode ser tão
gostoso a cada minuto que eu fico perto?
Arranho suas costas, agoniada, extasiada, beijo
rapidamente seu pescoço, mordo seu queixo, recebendo outro beijo.
— Isso é por você ter fugido de mim, safada.
Murilo impulsiona rápido de um jeito enlouquecedor,
aumentando meu tesão absurdamente. Aperta minha cintura pra dar
apoio e meu corpo se chacoalha subindo e descendo conforme ele
continua a ir e vir.
Fecho os olhos e jogo a cabeça pra trás quando sinto a
sensação delirante mais uma vez, na mesma noite. Logo ele
também vem. Até o gemido dele é gostoso e excitante.
Meu coração está a mil e minhas pernas estão trêmulas.
Suor é a minha segunda camada de pele. Uau, ele não
decepcionou. Realmente, fez valer!
— Caralho! Você na cama é outra pessoa. — Tenta controlar
a voz ofegante e eu dou uma pequena risada quase sem fôlego.
— Não tenho culpa de você ser tudo isso. — Tento controlar
a respiração também.
— Dois minutos. — Levanta e segue pro banheiro. Daqui
onde eu estou tenho a visão deslumbrante daquela bunda boa que
até agora a pouco eu estava apertando. E suas costas deliciosas,
vermelhas pelos arranhões das minhas unhas.
Aproveito pra me enrolar no lençol. Ainda não consigo ficar
exposta sem me sentir desconfortável. Ele não demora a voltar, e
não se importa nem um pouco com a exposição.
— Tive vontade de fazer isso com você desde a primeira vez
que te vi. — Vem como um imã pra perto de mim. — Ah não, tira
esse lençol.
Puxa e me desenrola.
— Para de ser assim. — Rio tentando pegar de volta.
— Acostume-se a ficar dessa forma perto de mim. Vou
querer você de novo, sabe né? — pergunta como se não fosse nada
e eu assinto, pois também vou querer transar com ele de novo.
Coloco a mão nos seus cabelos macios e bagunçados,
jogando para o outro lado. Ele fica com a aparência ainda mais
masculina.
— Eu acho seus seios bonitos pra caramba! — Ele solta
encarando os dois desnudos, e em seguida dá uma piscadela pra
mim. Apenas coro. — Vou passar a noite aqui, não me põe pra fora.
— Ele se impõe e eu dou de ombros.
Por mim, fica. O que poderia acontecer já aconteceu, e o
melhor de tudo, não me importaria em repetir a dose. Só a menção
do que pode acontecer aqui, novamente, já me deixa afoita.
9
MURILO

Debaixo do chuveiro do apartamento de Alexia, percebendo


que tem mais cremes na prateleira do que eu já usei na minha vida
inteira, penso na hora em que ela tampou o corpo. Ela tem vergonha
do próprio corpo? Como uma mulher dessa tem vergonha desse
corpo maravilhoso?
É normal uma pessoa ser tímida, mas ela é muito, pelo
menos é o que tem demonstrado até o momento. No sexo ela muda
completamente, nos amassos também e eu quero saber o porquê
disso. Parece que ela se controla por nenhum motivo óbvio, pelo
menos pra mim. Na cama é muito diferente, quando o tesão a guia
deixa tudo melhor, o olhar muda, fica mais sensual e provocativa.
O corpo correspondia a cada toque. Sem contar que
gemendo é uma coisa indescritível. Ouvir uma mulher gemendo o
seu nome por causa de algo que você tá fazendo é o melhor som
que se pode ouvir. Tão gostoso quanto perceber que ela estava
fazendo de tudo pra não gemer alto. As duas coisas são
maravilhosas de se ver. Causa fogo, mexe comigo.
Saio enrolado na toalha e ela me empresta um moletom que
era do seu irmão. Dá pra quebrar o galho e, a propósito, nem coloco
cueca. Isso é bom porque é só descer a calça e pronto.
Fomos pra cozinha e eu tratei logo de procurar alguma coisa
pra comer. Não sou do tipo de pessoa que fica esperando alguém
me servir. Sou uma pessoa prática e ela não teve objeção nenhuma
com o meu estilo, mas fiz uma gracinha e pedi pra ela buscar um
copo pra mim, só pra vê-la na pontinha do pé com a polpa da bunda
à mostra num vestido curto que usava.
Apesar de estar de barriga cheia e cansado, não estou com
muito sono e proponho assistirmos algo enquanto o sono não
chega. Ela aceita, apaga as luzes e senta ao meu lado. Com uma
almofada, me jogo com a cabeça no seu colo. Sou espaçoso.
É bom estar perto dela, é tipo um imã. É confortável e
gostoso. É massa quando encontramos uma pessoa que tem uma
conexão boa, além da sexual.
Assistimos, até que eu não consegui mais segurar minha
dúvida.
— Alie, posso perguntar uma coisa?
— Hum? Pode. — Vira a atenção pra mim.
— Por que essa timidez toda? O lance do seu corpo e todo
o resto — pergunto sem rodeios.
Continuo a olhar pra ela, que também olha pra mim. Vejo ela
tentar fingir que não ficou afetada com a pergunta. Pelo jeito eu
peguei no ponto fraco dela.
— Somos amigos, não sabe? — questiono tentando fazer
ela se sentir confortável.
— Somos? — Ela pergunta um pouco sem graça.
— Somos, amigos com muitos benefícios, espero! Se tiver a
fim de desabafar, pode contar comigo!
— Aham. Mas é um assunto que não quero tocar, não hoje
— agradece meio encabulada, arrumando o cabelo. Concordo
respeitando seu espaço.
— Eu gosto e quero saber o que você pensa. Nua e crua.
Mostrar timidez não é sinal de fraqueza de jeito nenhum.
— Nua e crua, é? — Ela sorri cinicamente. — Gosto muito
de coisas nuas e cruas.
Ela passa a mão pelo meu corpo e eu acompanho o
percurso. Desce a mão pelo short e alisa meu pau, que logo se
atenta quando percebe que a mão não é minha. Viu o que eu disse
do lance quando o tesão guia?
— Alexia... — alerto. Por mais que eu queira receber esse
boquete, não quero que ela se sinta obrigada por causa da
conversa.
— Eu quero... — Suspende as sobrancelhas, sorrindo
safada.
Puxa meu pau que já tá mais desperto e eu a ajudo a tirar a
calça pra ficar melhor. Olha e em seguida faz movimentos pra
masturbá-lo. Ver as mãos pintadas ao redor do meu pau é excitante
demais. Depois passa a mão alisando e eu acabo soltando um
gemido.
Caralho. A filha da puta sabe onde e como mexer. A carícia
tá gostosa demais. Não vejo a hora dela descer a boca.
Como se ela escutasse meus pensamentos, faz o que eu
quero. Desce a boca de novo e sobe apertando com as bochechas.
Me seguro pra não gozar ali mesmo com isso que ela fez. Ver uma
mulher usando e abusando do seu pau com vontade é maravilhoso
demais.
Puta que pariu de boquete! Gostoso demais. Ver a cabeça
dela subir e descer com meu pau na boca é excitante.
— Nossa! — gemo quando aumenta a pressão da sucção.
Parece que eu vou esporrar a qualquer momento. Seguro
nos seus cabelos e auxilio no movimento. Puta que pariu, atrevida,
ela é maravilhosa.
Parece que esse tesão nela não vai adormecer tão cedo.
Ainda quero fodê-la muito. Passo a mão nas suas costas. A pele
dela é muito macia e gostosa. Tenho vontade de marcá-la todinha
como um macho das cavernas demarcando território, pra que quem
a veja no dia seguinte perceba que ela foi bem fodida na noite
anterior por um homem de verdade.

— Para de se esfregar em mim! — Ela resmunga prendendo


o riso.
Continuo a segurá-la e ela se ajeita contra meu corpo,
colocando uma perna por cima a prendendo. Quero ter o corpo dela
perto. Ela tenta sair, mas eu continuo agarrando-a pra ficar onde
está. Ela me mostrou o quarto de hóspedes, mas vim pra cá
mesmo. Tê-la aqui nesse quarto ou dormir sozinho no outro? O
quarto de cá me parece melhor!
— É você quem tá trazendo sua bunda pra perto.
Dou uma gargalhada e ela tenta parecer brava, mas só tenta
mesmo. Busca sair mais uma vez, na teimosia. Acha mesmo que
vou dormir comportado ou em outro quarto quando se tem ela numa
cama que cabe nós dois? Sem contar que posso colar nossos
corpos. Nunca fui fã de dormir junto, meu braço sempre fica
dormente, mas pra ter sua bunda perto de mim é um sacrifício que
vale a pena.
Achamos uma posição confortável e ficamos quietos pra
dormir. Demoro a pegar no sono pensando sobre sua timidez,
mesmo não sabendo o motivo. A necessidade de mostrar a ela o
quanto ela é linda cresce em mim. Fazer ela enxergar e ver como
realmente é maravilhosa, pois acho um desperdício uma morena
dessas ficar na timidez, sabendo que libidinosa é ainda mais
gostosa.
Olho pra baixo, vejo-a com o rosto enterrado no meu peito,
com uma mão na minha cintura, os cabelos desordenados, já
cochilando, tranquila.

ALEXIA
Acordo antes dele, acabei me soltando durante a noite. A
diferença é que o braço dele ainda tá em cima de mim, mais
precisamente por dentro da minha camisa segurando minha barriga,
e os seus dedos estão quase entrando no elástico da minha
calcinha. Atrevido até dormindo!
Nunca gostei de dormir agarrada, ainda mais com ele que
não é nada meu. Eu sempre fico incomodada, sufocada ou suada
no meio da noite, mas essa noite até que não foi tão ruim.
O cheiro característico dele fica em mim. Ele tem um cheiro
que não consigo explicar, mas é bom de sentir. Exala masculinidade
misturada com o perfume amadeirado, agora bem fraco, mas que
mesmo assim fica impregnado por todos os cantos.
Olho pra ele, que ainda dorme, agora totalmente espaçoso.
Uma bela visão logo pela manhã. Um moreno totalmente à vontade
na minha cama, cabelos bagunçados, nariz fino, queixo quadrado
tomado pela barba escura e o melhor de tudo, sem camisa, com os
músculos à mostra. Nesse ângulo, tudo parece maior e mais forte.
Parece até um ensaio de revista e não me importaria de ser a
fotógrafa. Se fosse, o título seria “homem gostoso, que prazer eu
tive!”.
Paro de observá-lo e me preparo pra tomar um banho, mas
antes vou até a cozinha, coloco a cafeteira pra funcionar e leite pra
ferver, pra fazer um cappuccino pra mim.
Vestida e ainda no banheiro, escuto meu celular tocar. Corro
pro quarto pra atender e não o acordar. Ele continua dormindo,
bonito, gloriosamente. Bem que eu poderia ver isso todo dia... Não
reclamaria.
A volúpia tá perdendo um modelo glorioso. Um dia, quem
sabe, não mato minha vontade de fazer um ensaio dele de cueca?
Minha câmera adoraria, e eu também.
Com o celular na mão, vejo que é da casa dos meus pais.
Atendo, fazendo um cappuccino de chocolate, meu preferido.
“Alexia, sua ingrata! — É Isis, minha amiga desde o colégio,
e cunhada.”
“Ah! Oi Isis. — Não evito um sorriso.”
Conversamos por alguns minutos e, como sempre, ela
queixou-se que eu não ligo, e é verdade. Até que gostaria de ligar
mais vezes, mas nunca dá. O horário que tenho disponível pra fazer
isso é muito tarde, quando chego do trabalho. Mas contei a ela
sobre minha “amizade colorida” com Murilo, pois Estou me sentindo
muito moderninha, e ela vibrou por eu ter terminado o namoro.
Todas as minhas amigas têm a mesma opinião sobre o Diego.
Realmente, eu estava insistindo num erro.
Falei com a minha sobrinha, que me pediu um brinquedo
quando eu falei que vou visitá-la em breve. Fiquei rendida por
aquela vozinha meiga, reclamando de saudade. Meu coração fica
apertado e desejo me teletransportar só pra beijá-la e abraçá-la.
Assim que finalizo a ligação, sinto um beijo diretamente na
minha nuca, pois eu estou com o cabelo preso, e meu corpo logo
arrepia. Eita! Já chega assim! Acordou e eu nem percebi. Olho pro
lado e vejo Murilo só de calça moletom e sem camisa, com uma
cara de sono, mas continua bonito. Como pode?
— Bom dia! Senta aqui pra tomar café. — Aponto pra
cadeira do meu lado.
— Bom dia! — responde e senta. — Estou cheio de fome!
Aceno e não evito pensar no sentido sexual da coisa. Cristo!
Meus pensamentos estão cada vez mais devassos.
Sirvo café preto pra ele, que coloca metade de um pão na
boca. Beberico meu cappuccino, que ficou um pouco forte,
constrangida, sem saber sobre o que falar. Eu nunca tive um sexo
casual na vida!
— E agora? Cada um pro seu canto?
Desajustada, questiono. Vou deixá-lo guiar.
— Quer que eu vá embora? — Arqueia as sobrancelhas em
tom de questionamento.
— Não. Não é isso — corrijo depois de perceber a forma
como saiu a frase. Ele achou que eu estava colocando-o pra fora.
— Quer que eu fique então? — Volta a me fitar com seus
olhos brilhantes, que ardem quando me encara dessa forma.
— Não. Quer dizer, se você quiser. — Eu me enrolo um
pouco e ele ri. O safado fez de propósito. — Ah, Murilo!
Depois do café agradável, como se fizéssemos isso há
muito tempo, ele me convida pra correr com ele. Titubeio com um
pouco de preguiça. Ele cruza os braços negando. Olha que volume
nesses bíceps.
— Eu Estou cansada, sério — nego sem me imaginar
fazendo qualquer exercício físico.
— Você acordou agora.
— Estou toda travada. — Ele ri porque sabe o motivo de eu
estar assim. Abusado!
— Uma corrida rápida, mas podemos fazer um aquecimento
aqui mesmo.
Põe a minha mão em cima da calça moletom.
— Você é um safado.
Recebo um beijo com vontade e ele geme enquanto eu o
massageio, sem nenhum sacrifício.

Ele precisou passar pelo seu apartamento pra trocar de


roupa e conheci o lugar em que ele mora. Um sobrado moderno e
espaçoso pra quem mora sozinho. A casa inteira tem tons neutros e
a decoração é bem básica. Revestimentos e paredes claras,
estofados e móveis escuros, é o que predomina. A casa dele é
numa escala de cinza, contrastando com o verde e o azul da vista
privilegiada que tem pelas grandes janelas. É um ambiente
acolhedor e muito característico da personalidade dele. Tem até foto
dele praticando esportes radicais.
Fomos correr no seu quarteirão, mas foi uma coisa
vergonhosa pra mim, pois meu fôlego é de uma senhorinha de
setenta anos com problemas respiratórios, comparado ao dele.
Paramos no lago. A área verde do seu condomínio parece um
pequeno bosque com árvores, bancos, flores, e aproveito pra
descansar enquanto assisto ele sem camisa fazer flexões. A visão é
maravilhosa e imagino ele fazendo movimentos parecidos em cima
de mim. Sim, estou uma safada e por culpa dele.
— Toma, exibido. — Jogo a camisa pra ele enxugar o rosto.
— Não sou eu quem tá com as pernas de fora. Estou de
short fino, lembre-se disso.
Como um imã, olho pro seu short, que mostra discretamente
o volume e em seguida ele ri presunçoso. Reviro os olhos por ter
sido pega no flagra.
— Tá a fim de que, agora?
— De uma comida. — Murilo dá um sorriso devasso.
— Vamos lá pra casa que eu te dou uma comida. — O duplo
sentido da coisa tá mais que explícito.
— Estou falando de alimento, abusado. Você sabe cozinhar
mesmo, Murilo? Cheio de habilidade, né?
— Minha comida é ótima! Você não viu nem metade! — Dá
aquele olhar sacana com mil e um significados, e me deixa sem fala.
Tento não me afetar, falhando miseravelmente. Sinto cair uma
lágrima e não é pelos olhos.

Que covardia um homem desses cozinhando pra mim! O


universo tá dificultando tudo pra minha humilde pessoa. Fica
complicado porque, quando eu decidir encontrar homens reais,
futuramente, vou voltar a notar que mal cozinham ou lavam um
prato, só pra começar.
Como é que põe um combo completo de “homão da porra”
assim na minha frente e totalmente disposto? Se fosse loiro e
fizesse crochê seria o próprio Hilbert. Esse homem não deveria ser
solteiro!
Murilo já fez mais coisas por mim do que Diego nos anos
todos de namoro. Isso me desespera e me aquece
assustadoramente.
Assisto atenciosamente ele passar pra lá e pra cá na sua
cozinha planejada com uma ilha larga. Como o resto da casa, em
escala de tons cinzas. A música toca baixinha na playlist que escolhi
no celular, “quando o boy te chama pra casa dele e não é pra
reunião hinode”, onde só toca música gostosa de ouvir. É playlist
compartilhada, Natasha quem fez, ele nunca saberá, mas só presto
atenção na sua voz grave cantando.
Olha, eu não sou de safadezas, longe de mim, mas que
morenão lindo, viu? Deus tenha piedade de mim!
— Tá gostoso. — Vira pra mim usando um avental.
Homens de avental são tão sexys.
— Concordo... — Debruçada na ilha, presto atenção nele e
divago.
Ele dá uma sonora e gostosa gargalhada, trazendo a colher
pra que eu experimente o tempero e eu acabo rindo junto por essa
gafe ter passado despercebida. Eu estava falando dele.
Almoçamos e tomamos um vinho, a comida pedia um. E cá
entre nós, ele cozinha melhor do que eu. Não que isso seja uma
coisa surpreendente, já que qualquer pessoa consegue essa
façanha. Numa escala Masterchef eu sequer entraria no programa e
Paola me mandaria tomar vergonha na cara. E olhe que eu adoro os
programas culinários que passam na Discovery home & health, mas
não aprendo nada.
Às vezes, do nada, temos uma grande sorte de conhecer
pessoas que com poucas atitudes mudam a direção dos nossos
dias, né? Chegamos a ficar surpresos pela leveza das situações.
Como a conversa flui em segundos, nos conhecemos ainda
mais. Contei sobre minha família, que é de origem americana por
parte de mãe, por isso meu nome não é brasileiro, mesmo que eu
nunca tenha morado lá. Era o sonho de minha mãe ter uma filha
com esse nome, então ficou. E também falei sobre minha paixão
pela ponte Golden Gate, que ainda não tive oportunidade de
conhecer. A última vez que eu fui a Sacramento, capital da
Califórnia, meus avós eram vivos, eu tinha dez anos e não lembro
de praticamente nada. E os pais deles estão em São Francisco.
Da família passamos para os planos futuros, e soube que
ele tem planos de ser acionista, pois o colocaria em outro patamar
na empresa em que trabalha. Se pintasse a oportunidade, ele se
jogaria e até mudaria para a outra filial, que abrirão em outro estado,
pra acompanhar tudo de perto. Ele quer a promoção a qualquer
custo.
Apesar de ter ficado feliz pelos planos dele, me sinto
desanimada, mesmo não devendo. Só a menção da viagem e da
mudança me entristece, pois sei que vou ficar sem sua companhia,
mesmo sabendo que ele não fechou negócio algum ainda, que
costuma demorar e que na maioria das vezes para no meio do
caminho.
10
ALEXIA
A semana começou e eu senti saudades de ficar de bobeira.
Sábado à noite eu fui pra casa sozinha e senti falta do Murilo
esparramado ali, me presentando com a sua bela visão. Nunca
gostei de ficar sozinha. Gosto de ter contato com alguém. No
domingo ele até perguntou se eu queria sair com ele e uns amigos,
mas neguei. Não quero impor presença sempre.
Preferi sair pra jantar sozinha, num restaurante no final da
rua, em vez de pedir comida. Experimentei fazer isso pela primeira
vez e me senti tão bem na minha própria companhia que me
surpreendi, e pretendo fazer isso mais vezes. O resto da noite fiquei
curtindo os programas superficiais do canal E! pois adoro barraco de
rico, tomando um vinho perdido na geladeira e comendo batatas
fritas, me sentindo tão milionária quanto eles.
Subo pro meu andar como de costume. Faço minha rotina,
que não aguento mais. Vida de rica em corpo de pobre é difícil.
Keeping up with the Kardashians me acostuma muito mal!
Desço pra almoçar depois de Nat querer saber antes da
hora sobre minha novidade, só porque comentei que tinha uma boa
pra hora do almoço.
— Não, Natasha, espere chegar a sua irmã — digo pela
milésima vez.
— Você é muito vadia!
— Ei, vadia é você — devolvo o insulto rindo.
— Verdade, nunca deixei de usar batom vermelho —
debocha e rio junto. Ridícula!
Descemos em direção ao restaurante, onde Liz
provavelmente já deve estar nos esperando.
Entramos e, como eu deduzi, ela já tá na mesa, sentada.
Quando nos vê abre um grande sorriso, como criança vendo
presente. A gente se cumprimenta com um beijo na bochecha e
sentamos. Ela beija a Nat, que se senta logo depois.
— Agora conta. — Nat pede curiosíssima.
— Transei com o Murilo — sussurro em tom de confissão e
as duas abrem um sorrisão.
— Como foi? — Liz tá interessadíssima.
— Como foram! — corrijo, rindo em deleite da minha nova
vida de bem comida.
— Não acredito que já tá assim! — Lizandra tá boquiaberta
e Nat faz graça fechando a boca da amiga.
— Foi na sexta-feira, nós tínhamos saído... — conto como
foi que aconteceu, até a parte em que transamos.
Eu nunca tive vergonha de contar minha vida sexual pra
elas quando tenho novidades, mas claro que poupo alguns detalhes
pra mim. Conto por cima só pra termos o que resenhar.
— Dormiram na mesma cama também? — Liz ainda tá
chocada e causa um grande divertimento.
— Sim. Ele é meio atrevido, mas gosto da companhia dele.
Liz junta as sobrancelhas, assim como Nat, que me dirige
um olhar examinador.
— Que foi, gente? — Tento me situar.
— Está gostando dele, sis? — Natasha questiona com
semblante sério.
— Não dessa forma, não quero pensar em sentimentos. Eu
só não sei como ficamos. Ele até me contou umas coisas e talvez
mude de estado.
— Um sexo casual. Encontrem-se quando quiserem transar
e só. Sem cobranças. — Liz responde e Nat assente afirmando. —
Se ele for, acabou, ué.
— Nada melhor que transar sem precisar prestar contas a
alguém. Curta as oportunidades.
Titubeio pensando nessa decisão. É, é até bom ter essa
data de validade, digamos assim. Acho que é melhor, né? Assim dá
pra curtir sem muitas preocupações e impõe limites. Tudo que eu
preciso no momento, algo bom que não seja duradouro.
— Vou fazer isso. Não quero entrar em relacionamentos.
Vamos ver no que vai dar isso.
— É assim que se fala! — As duas aprovam minha decisão
e sorrio.

MURILO
Depois de sobreviver de lanchinho durante uma semana,
estou doido pra uma foda de verdade sem pressa e, por isso, acabei
de enviar uma mensagem pra Alexia convidando-a pra ir à minha
casa.
Hoje é dia de alforria, de foder até perder o juízo e dormir
até a hora que eu bem entender. Quero tê-la mais uma vez em
meus braços, por cima ou por baixo, escutando seus gemidos e
súplicas pra me ter cada vez mais fundo. Suas unhas passeando
por mim enquanto chama meu nome... Só com essa imaginação,
tenho vontade de ir aonde ela tá urgentemente.
Nos vimos nessa semana, até fomos almoçar no restaurante
perto do seu trabalho e demos uma rapidinha num motel próximo.
Não aguentei vê-la naquela calça jeans mostrando as pernas e com
a bundinha empinada por conta do salto.
Fecho a gaveta de documentos e, antes mesmo de colocar
meu celular de volta no bolso, ele vibra com uma mensagem dela.
Logo clico pra abrir:
“Daqui a pouco apareço.”
Sorrio empolgado, já imaginando mil sacanagens. Cristian
aparece do meu lado colocando a mão no meu ombro.
— Tá tomando chá de boceta direitinho, né filhote?
Guardo o celular e apanho as minhas coisas.
— Se lascar, caralho!
— Tá de quatro por ela, hein?
Tenho vontade de responder que “ela que fica de quatro pra
mim”, mas seria muito baixo até pra rebater o filho da puta do
Cristian, que tá com um sorriso debochado no rosto. Bastardo!
— Cuidado pra ela não fugir.
— Não vai — reforço. — Nós estamos nos curtindo e só.
Coço a barba. O elevador aparece no nosso andar e
entramos, aproveitando que tá vazio.
— Já comprou a pílula azul pra impressionar? — Ele ri
tirando uma com a minha cara.
— Compra pra você, Luísa estava reclamando aí. Aqui é
puro vigor!
Soco o braço dele, rindo, e ele entra na onda. Bastardo
demais!
— A única coisa azul que eu gosto são os olhos de Luísa!
O elevador apita no térreo e vou em direção ao meu carro,
despedindo de algumas pessoas.

ALEXIA
Murilo tá me transformando em uma tarada. É só ele me convidar
que eu vou, pois sei o que vai acontecer. Com ele me sinto livre e
outra pessoa. Pela primeira vez estou bem confortável sendo eu
mesma, sem ficar me policiando no que eu vou dizer e como vou
dizer pra que ele não entenda errado. Acho que é por isso que a
conversa flui tão facilmente, mas ainda não decidi se isso é bom ou
não, essa conexão toda. Posso sentir falta quando ele for embora.
Prefiro ficar num campo seguro. Estou no processo de cuidar de
mim em primeiro lugar, estou regenerando meu amor próprio, não
posso ficar fantasiando sentimentos, eu preciso sim de afeto pra que
eu me sinta bem, mas o meu mesmo. Estou evitando qualquer
apego emocional.
Se fosse antes, eu não estaria cautelosa, apenas rezando
pra que tudo saia da melhor forma possível. Gosto de comparar
como eu agia antes e como estou agindo em situações parecidas e
ver as diferenças, perceber minha evolução, e estou muito
orgulhosa de mim mesma. Subo pra sua residência, que é linda
tanto por dentro quanto por fora. Toco a campainha e espero ele
atender. Logo vem o moreno gostoso só de calça social, descalço e
com o cinto desabotoado, mostrando um pedaço da cueca boxer, da
Volúpia, que me saúda. Ele fica tão sexy!
Ele dá passagem e jogo minha bolsa no primeiro local que
encontro. Tiro meus saltos, liberando meus pés doloridos. Estou
esgotada.
Eu me jogo no sofá confortável querendo descanso. É,
aprendi a ser cara de pau com ele também.
— Semana difícil?
— Muito — suspiro.
Ele vem sobrepondo seu corpo no meu, me deixando entre
suas pernas. Começa a me beijar do jeito devasso e
automaticamente minha calcinha molha.
— Que tal relaxar? — sussurra no meu ouvido com sua voz
grave. Derreto completamente.
O bom de Murilo é que ele corresponde às minhas
expectativas no sentido do sexo, pois ultimamente homem pra mim
tem que ser igual meu café: quente, forte, gostoso.
— Só porque você fica gostoso demais somente de calça
social — sussurro entre um beijo e outro, rodeando meus braços no
seu pescoço. — Aliás, você daria um belo modelo para a Volúpia.
Faço graça pra ele saber que reparei a cueca patrocinada.
— Trabalho lá, fazer o quê? — Ele sorri. — Falando nisso,
sabe a parte que eu mais gosto da roupa íntima?
Nego com a cabeça, sorrindo pra ele. Oh homem bonito!
— Tirar! — Ataca minha boca com mais vontade enquanto
esquenta as minhas coxas com a mão grande.
Passa a mão pelo meu corpo, lentamente. Beija minha
clavícula e contorna minha orelha com a ponta da língua, como se
tivesse todo o tempo do mundo. Suspende minha saia até a cintura,
puxando minha calcinha.
Minha mão, que não é boba, passeia por aquele corpo
maravilhoso indo direto por dentro da sua cueca, tocando sua pele
quente a ponto de me causar um arrepio na espinha.
— Adoro você no modo safada. — Mordisca meu queixo.
— Só você que tem esse poder — confesso, tomando fôlego
e tentando me livrar da sua calça.
— Bom saber.
Puxa minha camisa e alisa meus seios de forma audaz.
Volto a beijá-lo enquanto seguro sua bunda e o trago pra mais perto.
Gememos juntos pelo contato direto, pois é só o pano da sua cueca
que nos separa. Deslizo até onde consigo e o trago pra mais perto
novamente, sentindo sua pele quente sobre a minha.
Protegidos, ele guia pra dentro. Ofego quando me sinto
totalmente preenchida. Cheia. Gemo absorvendo tudo e Murilo
começa a movimentar com o quadril, devagar, me instigando. Esse
homem é engenhoso!
— Muito gostoso — sussurro, tanto pro sexo quanto pra ele.
Ele fala rouco, trocando de posição e me colocando sentada
no seu colo enquanto me segura pela cintura num abraço.
— Quero você rebolando no meu pau hoje — comanda.

MURILO
Desperto com Alexia enroscada em mim, dormindo serena,
cabelos lisos esparramados pela cama e vestida com a minha
camisa branca. Tem cena melhor do que essa? Sabendo que na
noite anterior estava gemendo meu nome e revirando os olhinhos?
Não existe. Eu me sinto muito bem!
Alexia tem um charme e sensualidade que puta que pariu! À
noite, como sempre, foi intensa, com direito a ela por cima, pois eu
quis ela com os peitos na minha cara. Já disse que tenho tara
naqueles peitos? Escutar ela gemer baixinho enquanto aperta as
unhas nas minhas costas, ao mesmo tempo em que eu empurrava
cada vez mais fundo foi coisa de outro mundo! Impossível não ter
vontade de repetir a dose. Estava tão safada que escolheu a maioria
das posições. Às vezes ela é falante, às vezes só geme. Eu gosto
das duas formas.
Levanto e coloco meu travesseiro pra ela abraçar e ela se
enrosca com os braços e pernas. Pego meu celular e tiro uma foto
dela dormindo. Preciso registrar o momento. Enquanto desço as
escadas com a carteira e celular, depois de ter tomado uma ducha
rápida, coloco sua foto como plano de fundo do aplicativo de
mensagens.
Vou na padaria comprar pão fresco e canela, pra fazer o
cappuccino que ela gosta. Espero que eu acerte a receita. Entro em
casa pendurado no telefone com minha irmã, Isabela. Estou
morrendo de saudade daquela pirralha.
Café e cappuccino quase prontos, tenho ela ainda
tagarelando sobre uma tal excursão de fim de semana. Acho que é
com as amigas, assim espero, mas por desencargo de consciência,
pergunto.
Vejo Alexia, que acabou de aparecer aqui na cozinha,
acenando pra mim ainda com cara de sono. Isabela desliga na
minha cara depois de eu dar tchau. Pirralha!
— Bom dia.
Coloco o celular no balcão e vou pra perto de Alexia dar um
beijo gostoso de bom dia. Ela aceita sem problema algum. O beijo
tem gosto de pasta de dente.
— Bom dia — responde com a voz rouca de sono.
— Fiz seu cappuccino, não sei se tá bom. — Dou as costas,
pego uma xícara e entrego a ela.
Alexia faz uma cara de surpresa, graciosa, agradecendo
sem esconder o sorriso doce. Sentamos pra tomar café e a observo.
Ontem eu tentei aprofundar uns assuntos com ela sobre seus
relacionamentos passados, para conhecê-la melhor nisso, mas ela
logo escapou. Foi notável seu desconforto.
Alexia é um mundo cheio de mistérios indecifráveis, chega a
ser instigante, não sei se por falta de atenção ou desinteresse de
quem passou por sua vida.
— Tá a fim de sair pra beber mais tarde? — proponho.
— Não sei, eu combinei de sair com minhas amigas à tarde,
pra variar. Vou ver se elas ainda vão.
— Ah — concordo. — Tudo bem então.
Ela beberica seu cappuccino pensativa, em seguida vira pra
mim e dá um sorriso.
— Quer vir conosco? — Ela faz o convite.
— Não, pode ir sozinha. — Mostro que tá tudo bem.
— Não, elas vão gostar de te conhecer. — Ela sorri
mostrando que realmente me quer junto.
Acabo aceitando o convite. Por que não? Não me importo
em não ficarmos sozinhos o fim de semana inteiro, já que ambos
temos vida social fora desse lance.
Vamos ver o que elas têm a complementar, e quero
conhecer mais a Alexia. Nada melhor que as próprias amigas, né?
— Agora pela manhã, vamos ao cinema? Lançou um filme
bom recentemente — proponho.
— Aham. Nunca mais fui, até.
Mal posso esperar pra saber sobre Alexia por meio da visão
das suas amigas.

ALEXIA
Depois do filme, sigo com Murilo ao bar, o point de encontro
que eu e as meninas temos. Sentamos em uma mesa do lado de
fora e pedimos bebidas pra esperar elas chegarem.
Espero de verdade que eu não me arrependa de ter feito
esse convite. Estou tentando manter o que temos, cada qual em um
lado, e de repente ele tá prestes a conhecer Natasha e Lizandra.
Estou com o pé atrás, as meninas mais vão aprontar do que
qualquer outra coisa, pois nós andamos conversando sobre ele e
morro de medo das duas deixarem escapar algo, não sei. A situação
é nova e estranha pra mim.
Conversamos sobre coisas aleatórias até Liz, que é a
primeira a aparecer, me chamar. Ela acena com a mão assim que
aparece, sorrindo.
— Oi, sis. — Ela me cumprimenta com um beijo e sorrio.
— Esse aqui é Murilo — apresento-o e ela lança um olhar
examinador.
— Prazer. — Estende a mão, sorrindo.
— Oi. — Retribui o sorriso ao cumprimentá-lo. — Sou Liz.
— Senta aí. — Ele aponta a cadeira e ela senta.
— Natasha vai chegar daqui a dez horas, você vai ver. —
Lizandra me diz.
— Onde ela tá? — pergunto curiosa.
— Com algum “amigo”. — Faz um sinal de aspas com as
mãos, conhecendo a irmã.
— Espero que não demore muito.
Ela dá de ombros e se vira pra Murilo.
— Então você é o famoso Murilo! — sorri pra ele e eu
mando um olhar de repreensão, mas ela finge que não viu.
Eu vou matar Lizandra!

MURILO
Famoso? Pelo jeito Alexia andou comentando sobre mim
por aí. E sorrio por dentro por saber disso. Já gostei dessa Liz.
— Famoso? — pergunto querendo saber mais.
— Ah, eu falei famoso? Não percebi.
Ela finge que não aconteceu nada e eu rio, pois percebi
Alexia tensa.
— De qualquer forma sou eu.
Engatamos uma conversa interessante e percebo
cumplicidade entre elas. Tratam-se feito irmãs e achei bacana. Uma
outra amiga chega e cumprimenta as meninas. Ela se vira pra mim
ainda sorrindo.
— Oi, você é o Murilo que eu sei. — Menos preocupada em
ser discreta. Pelo jeito Alexia andou falando e muito de mim. Se eu
gostei de saber disso? Claro!
— Sou Natasha, irmã daquela ali. — Aponta pra Liz.
Sentamos e pedimos mais bebidas. Passamos a tarde
juntos e fluiu perfeitamente bem, em um clima amigável.

ALEXIA
Eu definitivamente vou ficar órfã de amigas! Vou matar as
duas! Lizandra contou mil coisas sobre mim, sem ninguém mandar,
claro! E Natasha ajudou! Cretinas!
O lado bom é que se deram superbem, em nenhum
momento surgiram conflitos e se trataram bem, parecíamos todos
amigos de longa data. Eu me sinto feliz por isso, pois minhas
amigas nunca implicam com ninguém à toa, parece que tem sexto
sentido, sei lá. Saber que eles se deram bem é bom, pois significa
que Murilo não é como o outro. E não sei dizer o que isso significa.
— Suas amigas são bastante divertidas. — Ele ri na saída.
— São loucas, isso sim. — Rio com ele.
Ele me deixa em casa depois de um amasso gostoso no
sofá, mas interrompeu no meio, me deixando numa situação difícil,
porém com a promessa de que no próximo encontro iríamos
terminar o que começamos. Mal posso esperar.
11
MURILO
Estaciono o carro em frente ao apartamento de Alexia. Decidi
buscá-la pra fazer um programa legal. O dia tá fresco e ótimo pra
um bom divertimento. Eu gosto de inserir Alexia no meu mundo,
fazê-la conhecer algumas coisas que curto.
Toco sua campainha e ela atende. Seguro na sua nuca e a
beijo. Gosto muito disso, de beijá-la, pois ela sempre se entrega,
nunca demos beijos frios, bitocas, só no final do beijo mesmo. Nós
sempre nos beijamos de verdade e é isso que eu gosto!
— Temos um programa bem legal hoje — anuncio.
— Seria o quê? — Questiona curiosa, me segurando na
cintura.
— Surpresa. Mas vai ser divertido.
Resmunga curiosa e eu gargalho.
— Que tipo de diversão?
— Uma que você vai gostar.
— Isso não é uma dica válida. — Fica inconformada e eu
gargalho novamente.
— Vamos.
— Deixa só eu pegar minha bolsa.
Logo saímos em direção ao lugar onde planejei levá-la.

— Isso é loucura! — Alexia comenta empolgada.


Rio olhando a pista de quinhentos metros do Kartódromo.
Eu a trouxe no Kart Club pra fazer um circuito, iremos apostar
corrida.
— Uma loucura boa. — Ajudo a pôr o capacete.
— Você não é um caso comum!
É, não é nem um pouco normal um passeio desses, eu sei,
mas aposto que dá mais divertimento e ela se lembrará disso, mais
do que se simplesmente fôssemos em um restaurante qualquer ou
ficar transando em casa, apesar de eu apreciar muito essa segunda
alternativa. Na maioria dos meus casos eu só transava, nos víamos
uma ou duas vezes e pronto, mas a conexão e amizade que fizemos
faz com que ela seja uma companhia boa fora da cama.
Alexia é tipo um pacote de informações boas que um
homem solteiro precisa: linda, gostosa, gosta de beber e vai nas
aventuras que chamo, sem contar que tem o que os homens não
têm nas pernas, né?
— Aposto que se diverte mais com isso do que com
qualquer outra coisa. Quer fazer alguma aposta pra ficar mais
emocionante?
— Se eu ganhar eu escolho onde vamos.
— Certo. Desafio aceito.
Prendo seu capacete e ajudo a colocar suas luvas. Ela
escolheu o kart número dois, pois segundo ela é o seu número da
sorte. Coloco meu equipamento de segurança também, indo para
meu kart. Tem um auxiliar pra liberar a corrida e fazer a
cronometragem das voltas.
Ficamos lado a lado na pista do circuito. Assim que a
bandeira é balançada pra iniciar a primeira largada, acelero, mas
Alexia consegue sair mais rápido que eu. Ela ainda teve a audácia
de suspender uma das mãos para o ar quando viu que levou
vantagem. Atrevida!
Acelero pra ficar perto e ultrapassar na primeira curva. Acho
que encontrei alguém competitiva. Alexia gosta de adrenalina, assim
como eu, eu sei. Ela só não praticava.
Ultrapasso na curva e olho pra trás, vejo que tá empenhada
em voltar pra primeira posição. Corro rindo, mesmo ela não vendo
meu sorriso. Faço a primeira volta na frente, mas ela recupera a
posição logo em seguida.
Adoro essa sensação de bem-estar e energia. Adoro liberar
endorfina, é gostosa a sensação de liberdade enquanto pratico
qualquer coisa que traga aventura.
Na última volta, Alexia passa por mim feito um foguete. Ela
tá brigando comigo, ainda não Estou com muita vantagem. Tento
recuperar minha posição, ficando do seu lado, acelerando o máximo
que eu posso na reta pra linha de chegada, mas ela acelera mais
não sei como e ultrapassa a linha praticamente colada a mim.
Desacelero o treco até parar e ela faz o mesmo. Corro pra
onde ela está, já sem o capacete que estava me sufocando. Ela
levanta e faz o mesmo, com um sorriso enorme pra mim.
Eu disse que ela gosta de adrenalina!
— Eu ganhei! — Ela saltita e eu a enlaço.
— Sim, atrevida. — Fico contagiado.
— Quem vai escolher o programa sou eu!
— É. — Faço cara de preguiça pra implicar e ela morde meu
queixo. — Pra onde vamos?
— Surpresa, e será hoje à noite. Não é assim que você fez?
— Ela me provoca.
Acabo gargalhando e ela faz o mesmo, com suas
bochechas coradas da corrida. Saímos de lá com ela ainda
contando vantagem em cima de mim, me provocando.
Paramos pra tirar uma foto no pódio, mas fiquei junto em
primeiro lugar, e a carreguei no colo, pois mesmo que eu tenha
perdido a corrida, tenho uma recompensa ótima nos meus braços
sorrindo e segurando o pequeno troféu pra cima.

ALEXIA
— Que roupa é essa, mulher? — Aponta pro meu corpo.
Já estamos nos arrumando pra nossa saída da noite. Olho
pra minha saia e automaticamente acho que me arrumei mal.
— Tá muito feia? — pergunto encabulada.
— Feia? Tá maior gostosa, querendo me deixar doido. Vou
me achar lá por estar com você. — Ele ri e eu rio também.
— Exagerado. — Ajeito meu cabelo pela última vez e passo
perfume.
Confesso que seu elogio me afagou de uma forma muito
boa. Murilo tem um carisma único!
Livrar-me do Diego foi um dos maiores favores que eu fiz
pra mim. É difícil soltar as mãos das pessoas com quem
convivemos, mas às vezes é o melhor a ser feito, principalmente
quando você se preocupa com elas mais do que elas cuidam de
você.
Descemos pro carro.
— Vamos pra um pub que abriu recentemente. Que tal? —
aviso nosso destino.
É o pub que eu era doida pra ir com Diego. Cansei de pedir
pra que fôssemos, mas ele nunca quis e foi ótima essa recusa.
Estou indo é com Murilo e sei que me vou me divertir muito mais.
Tem coisas que acontecem e que só entendemos depois.
A primeira coisa que reparei quando chegamos foi o estilo
de decoração. Bem americanizado e moderno. Tá tocando uma
música ao vivo. Murilo segura nas minhas costas em direção a uma
mesa vazia. Apesar de ter bastante gente, não tá propriamente
lotado. O lugar é bastante espaçoso e movimentado. Tem bar em
uma das paredes. Já gostei!
— Amei o local, bem diferente, né?
— Bacana, amo esse rock que estão cantando. A vibe daqui
é boa. — Ele sorri e retribuo o sorriso por tê-lo agradado.
Olhamos o cardápio de bebidas e vi muitas cervejas
alternativas. Estou me sentindo em outro mundo. Pedimos dois
hambúrgueres artesanais e cervejas ao garçom e engatamos um
papo bom, como sempre.
Assistimos os covers da banda que tocava de tudo um
pouco, experimentamos a cerveja um do outro e comemos os
petiscos que pedimos.
— Bora jogar sinuca? — Eu o chamo e ele arqueia a
sobrancelha.
Sorri meio incrédulo, meio confuso.
— Vamos, vem. — Levanto da mesa e vamos em direção ao
lugar que já tem algumas pessoas jogando e assistindo.
Tem um bom tempo que não jogo.
— Podemos participar? — peço com o Murilo do meu lado.
— O jogo já vai acabar. Deixa só ele errar pra irmos pro bar.
— Uma mulher zoa o homem que tá dando sua tacada.
Murilo e eu assistimos atentamente ele tacar e errar. Em
seguida, vários gritos para o pobre rapaz que saiu pro bar junto com
os demais.
— Tome. — Entrego um taco pra ele e pego um pra mim.
— Tem certeza que quer jogar? Vou te encarar como uma
adversária daqui pra frente. — Sorri confiante.
— Dê o seu melhor, perdedor de kart! — provoco.
— Depois não peça arrego chorando. Você começa!
Ele acha mesmo que eu o chamaria pra jogar se não me
garantisse? Justo eu que sou competitiva? Ele não me conhece!
Inicio o jogo normalmente e acerto a bola três, fico com as
bolas de um a sete e ele com o resto. Erro, dando espaço pra ele
começar sua tacada.
Vou explicar mais ou menos como funciona a sinuca, caso
não saibam. São quinze bolas, sete pra cada, fora a preta, que é a
última que tem de ser encaçapada.
Eu, como acertei a três, fiquei com as bolas de um a sete
pra acertar, enquanto Murilo precisa encaçapar as bolas de ficou de
nove a catorze. Quem conseguir acertar primeiro as sete bolas nos
buracos, na última tem que acertar a preta pra ganhar. Se
encaçapar a preta antes das sete, perde.
Murilo encaçapa a primeira bola e sorri convencido pra mim.
Reviro os olhos, lanço a bola cinco no buraco e dou uma piscadela,
provocando.
Jogamos entre provocações. Cá entre nós, eu sei jogar
bem. A bola da vez precisa ser acertada e sobrou pra mim. Eu tenho
a bola sete e ele a nove pra encaçapar. A minha tá pertinho do
buraco.
Tenho que acertá-la ou dou chance pra ele ganhar.
A disputa tá acirrada.
— Essa posição me dá muitas ideias... — Murilo se debruça
do meu lado e sussurra apenas pra eu ouvir.
— Eu sei o que você tá fazendo. — Tento continuar
concentrada.
— Vou alugar uma mesa dessas só pra matar essa vontade
de te ver empinada assim, só que nua.
O placar final apontou Murilo como o ganhador, debochando
de mim e eu com vontade de tacar a bola nove na cabeça dele. Fez
de propósito, fiquei desconcentrada e errei.
Antes de irmos embora, até dançamos uma música. E ainda
debochou que era a dança pra comemorar sua vitória na sinuca. Ele
é um atrevido e provoca!
— Onde você aprendeu a jogar assim, hein? — questiona
curioso indo em direção à casa dele. Meus pés estão cansados por
causa do salto.
— Meu irmão me ensinou. Ele queria treinar pro
campeonato que ele e os amigos faziam. Acabou me ensinando pra
jogar com ele.
— Ele te ensinou muito bem. Teve momentos que achei que
ia perder.
— Só não perdeu porque me desconcentrou. Estou em
greve.
Fico birrenta. Odeio perder, sou competitiva demais.
— Ah é? Quero ver até onde essa greve dura. — Repousa a
mão quente nas minhas coxas.
— Pare, filho da mãe! — esbravejo e ele gargalha.
Fizemos o resto da viagem nos provocando e eu o
chamando de trapaceiro.
— Estou com os pés cansados — reclamo do salto com a
bolsa nas mãos e com preguiça de andar.
Murilo pede pra eu esperar e dá a volta no carro.
— Vem. — Ele me carrega entregando as chaves do carro,
travo as portas e ele segue andando comigo no colo.
— Só pra você saber, ainda estou em greve. Nem adianta
ser cavalheiro nesse momento. Não vou mudar de ideia — aviso
segurando no seu pescoço.
— Ah que pena! Então você vai andando. — Finge que vai
me colocar no chão.
— Não! Pare! — berro de imediato me prendendo mais no
seu corpo e ele ri.
Entramos na casa dele e eu logo solto a bolsa e o salto em
qualquer lugar. Ele tranca a porta e me carrega de novo em
surpresa, correndo em direção ao seu quarto. Joga-me no colchão e
coloca esse corpo maravilhoso em cima de mim. Esse beijo que ele
me dá é indecente, arrebatador, me acende e me deixa sem fôlego.
Murilo puxa minha camisa e joga em um canto qualquer.
— Ainda tá em greve? — Contorna meu pescoço com os
dedos, descendo pro vão dos meus seios.
— Você é muito maldoso e cínico. — Fito seus olhos e em
seguida a boca.
Não espero mais nada e o beijo de novo. Como manter uma
greve com ele jogando sujo desse jeito? A greve não durou nem
uma hora. Murilo me paga!
— Pra onde você tá indo? — questiono quando ele sai de
cima de mim.
— Espera. Eu volto rápido.
Sai do quarto e tento controlar a respiração arfante. Logo
aparece, sorrindo e segurando um chantilly em spray. Arqueio uma
das sobrancelhas pela cara de garoto safado que ele tem.
— Você vai gostar, deite e aproveite. — Vem pra cima da
cama flexionando os braços fortes que me abraçam.
Claro que vou!
— Você tá muito gostoso assim... — Sorrio pra ele, que tá
com os cabelos despenteados.
Pede pra que eu levante e obedeço, ficando de joelhos
assim como ele. Distribui selinhos pelo meu pescoço. Tiro sua
camisa e ele desabotoa meu sutiã. Segura os meus seios e os
aperta. Jogo a cabeça pra trás reagindo positivamente.
Caímos na cama com as bocas coladas e minhas pernas
entrelaçadas no seu quadril, pra que ele fique mais perto. Logo
espalha chantilly entre meus seios.
— Parece que sujou. Terei de limpar.
Ele passa a língua nos meus seios, tirando a maior parte do
chantilly e me fazendo tremer por causa do contato da sua língua
quente passando pelo meu mamilo, e em seguida abocanha. Limpa
um e depois o outro. Cada vez que ele suga meus mamilos tenho
uma reaçãozinha diferente. Às vezes gemo, outras me contorço ou
os dois de uma vez.
Ele espalha mais na minha barriga e desce minha saia junto
com a calcinha. Suja entre minhas coxas até o umbigo e continua
seu trabalho. Abre minhas pernas me deixando exposta e passa a
língua de ponta a ponta. Estremeço toda. Sinto sua língua quente
me lambuzar mais e me chupar ao mesmo tempo, não evito rebolar
na sua boca querendo e sentindo necessidade de mais.
— Agora faremos uma coisa mais gostosa, na qual ambos
seremos ganhadores.
Logo o vai e vem, certeiro, me faz sair de órbita. A
velocidade é intensa, mas não a ponto de me machucar. Vai no
lugar certo pra que tudo fique ainda melhor.
Ofego e arranho suas costas já suadas, sentindo um arrepio
maravilhoso. Estamos descontrolados e a bebida que tomamos
deixou tudo mais aflorado. Fecho os olhos absorvendo aquilo tudo
em mim, com as fagulhas espalhando pelo meu corpo, e Murilo não
demora a me acompanhar.
Aos poucos, tá me estragando pra qualquer outra pessoa.
Com certeza eu não serei mais a mesma quando tudo isso acabar e
não estou preparada pra definir o que será positivo ou negativo
futuramente.
12
ALEXIA
Com Nat do meu lado, seguimos pra almoçar. Liz resolveu
vir nos buscar. Murilo tá meio ausente nessa semana. Ele disse que
tá resolvendo umas coisas urgentes no trabalho e eu entendi
completamente. Conversamos por mensagens. No restaurante,
bombardeamos de fofoca sobre todos ao nosso redor. Soube coisas
de pessoas que nem conhecia, mas fiquei curiosa pra saber o
babado, afinal, é fofoca, oras!
Nossos almoços sempre são assim, muitos risos e
conversas sem sentido, ao menos quando estamos sem problemas
graves. Aí montamos o esquadrão de resgate. A última que precisou
fui eu, e cá estamos nós, sorridentes e felizes. Minhas amigas são
minha família mais próxima, já aguentamos muitas barras umas das
outras. Somos nós três desde a época da faculdade, mal tínhamos
completado vinte anos. Liz já, mas eu e Nat não.
— Alie. — Liz me chama e sei que vem novidade, pelo tom
da voz. — Sabia que uma pessoa tá com caso novo e não contou?
— Coloca a mão na boca em tom de confissão.
— Como assim? — questiono.
— É de você mesma que estou falando, Natasha! — Liz fala
pra irmã, que estava fazendo cara de paisagem e ri.
— Nat? — Olho querendo saber do babado.
— Natasha tá pegando um boy gatinho e, se eu não me
engano, já o vi entrando no prédio de vocês. —Dedura a irmã, que
fica estática na hora.
Olho pra ela retribuindo o sorrisinho e levanto as
sobrancelhas sacaneando também.
— Natasha? Não me diga que finalmente deu chance ao
Fábio! — debocho.
— Deus me defenda do Fábio! — Vira-se pra irmã. — Como
você descobriu, sua ridícula?
— Você acha que me engana? Você sempre foi mal-
humorada e ultimamente só anda de sorrisinhos. Óbvio que estava
dando regularmente pra alguém. — Liz sustenta seu sorriso
malicioso.
— Quem é o homem, gente? — Não contenho a
curiosidade.
É, quem não fica empolgada quando descobre que sua
amiga tá de caso novo que atire a primeira pedra.
— Gustavo — sussurra para as outras pessoas das mesas
não ouvirem.
— Gustavo? Gustavo... Gustavo? — Estou perplexa com a
novidade.
Ela repete com a voz totalmente debochada, me imitando.
— O diretor financeiro, Natasha? Aquele que chegou
recentemente? — Tento esclarecer mais uma vez.
— Sim, ele mesmo. Ele é gostoso demais, não deixaria
passar. — Dá de ombros e eu fico chocada.
Liz escuta tudo calada e interessadíssima. Fofoqueira!

MURILO
Em direção à casa de Alexia, me certifico de que tá tudo
aqui. Acho que ela nem me espera hoje. As duas semanas que
passaram foram um pouco monótonas. Trabalhei muito em cima de
relatórios e orçamentos. Pesquisei e analisei a concorrência, criando
estratégias para as vendas, pra maximizar os lucros, e acho que
vem notícia boa pra mim.
Hoje não quero pensar em trabalho algum, estou a fim de
curtir uma calmaria, com um toque de aventura, claro. É isso que
me move!
Quero surpreender Alexia hoje com uma aventura diferente.
Estava de bobeira em casa, até que lembrei de um lugar bacana
que já fui. Numa simples ligação descobri que abriram temporada
recentemente, reservei e pronto, podemos ir.
Vamos passar o final de semana fora, longe da cidade.
Merecemos, pois sei que o trabalho dela também a tira do sério.
Alexia abre a porta com um sorriso doce e surpreso ao se dar conta
que sou eu. Adoro o sorriso dessa morena.
— Ei, morena... foge comigo hoje — proponho em um tom
arrastado, debruçado na soleira da porta. Ela não terá como
recusar.
— O quê?
— Vamos fugir da cidade nesse final de semana? — Faço a
proposta mais uma vez.
— Tá maluco, Murilo? — Ri.
— Não. Arruma suas coisas e vamos. Temos um programa
muito bom nesse final de semana. Vai gostar.
— Não tem como sair sem mais nem menos, ainda mais
agora, quase sete da noite, nem planejamos.
— Confia em mim? — Puxo-a pela cintura pra colar seu
corpo no meu. Gosto dela perto.
— Confio.
Gostei bastante da sua resposta.
— Então? Foge comigo. Eu aposto que vai amar.

ALEXIA
Já falei que Murilo é louco? E pior, eu embarco nas loucuras
dele sem ligar. Estou receosa, apesar da curiosidade que se instalou
em mim. Ainda vem com aquele tom arrastado: “ei, morena”. Ele
sabe o efeito que isso causa em mim e abusa. Atrevido e abusado!
Perguntei pra onde iríamos, mas ele não respondeu. Só
disse que eu gostaria e seria uma pequena aventura. Ele adora isso,
querer fazer surpresa e eu fico me consumindo por dentro pra saber
o que é!
Estou contando com isso e, mesmo não sabendo, confesso
que estou eufórica. Eu gosto das aventuras e emoções que ele traz
na minha vida, até então sem graça, e vou me deixar levar com ele
e suas loucuras. Não tem como dizer não. Vamos hoje e voltamos
no domingo, foi a única coisa que me disse, além de pedir pra levar
roupas confortáveis, que eu ia amar, claro!
Por isso separei só uma mochila com um pequeno kit
essencial pra qualquer ocasião: do biquíni ao vestido arrumado.
Nunca se sabe, não é?
— Vamos pra onde, afinal? — Tento tirar mais alguma
informação dele.
— Fazer um programa bem legal. — Não me dá pistas.
— Isso tá parecendo um déjà vu — resmungo inconformada
e ele gargalha alto, ecoando no carro. O barulho faz minha barriga
agitar. Vejo que estamos na BR. Pelo jeito não é perto.
Com uma hora e meia de viagem eu já estava cochilando e
sem nenhuma pista de onde estamos indo, pois ao redor existem
somente plantações e casas rurais.

Sonolenta, depois que Murilo me acordou, vejo o carro subir


uma pequena estrada inclinada em um caminho de árvores por
todos os lados. Paramos em uma guarita, tem um pedágio na
entrada. Nem presto atenção na conversa que Murilo tem com o
homem antes da passagem ser liberada. Logo avisto um casarão,
estilo hotel fazenda, com grama ao redor, dois andares e luzes
acesas, mas ele passa reto. O terreno depois da fachada é enorme!
Pra onde ele me trouxe?
Escuto um barulho de queda d’água bem longe. Olho pra ele
com um sorriso animado de novo.
— É o que eu estou ouvindo? — Estou animadíssima com a
possibilidade.
— Não sei o que você tá ouvindo. — Ri da minha cara.
Em uma hora dessas eu já estou desperta e curiosa.
Paramos, logo descemos e meu pé vai diretamente na grama. O
Lugar é simplesmente lindo e já estou amando.
— Você me trouxe pra acampar em um lugar com cachoeira!
Não acredito!
Fico atenta ao local.
— Quero te mostrar meus locais favoritos. Gostou?
Nem respondo, agradeço dando-lhe um beijo com muita
vontade. Eu sempre fui uma adolescente que assistia muita série e
morria de vontade de fazer isso, mas nunca surgiu a chance.
Sempre achei romântico acampar com um namorado.
Não que Murilo seja meu namorado, mas é a pessoa mais
íntima no momento e acampar é uma coisa superparticular, já que
se dorme e acorda com a pessoa em um lugar sem muitos recursos.
Não vou ficar na pose arrumadinha e de batom o tempo inteiro. E,
pra ser sincera, não me importo dele ver como sou sem maquiagem.
— Vou armar nossa barraca. Preferi pegar área livre em vez
de quarto, mas se quiser podemos ficar lá dentro.
— Prefiro aqui fora — nego, querendo a experiência real de
acampar. Sigo com ele pra traseira da Pick-up, abrindo a lona que a
cobre pra pegar o que precisaremos. Murilo trouxe mil coisas,
aparentemente essenciais. Inclusive kit de primeiros socorros.
Observo-o encher o colchão inflável de casal. Analiso os
movimentos dos braços e percebo que a cada dia estão mais fortes.
Santa academia. Apesar de odiar exercícios, aprecio muito o fato
dele gostar e ter esse corpão.
Murilo armou a barraca usando o fundo da Pick-up. Tudo
muito aconchegante. Apesar de ter escurecido, tem energia elétrica
em lugares estratégicos nas árvores, iluminando o caminho. Murilo
foi esperto e trouxe uma corda de luzes, acesa por bateria, e
colocou no teto da barraca.
Eu o beijo e ele atende receptivamente.
— Amanhã temos um dia cheio, eles oferecem muita coisa.
— Ain, mal posso esperar!
— Tá com sono? Quer ir lá na pousada comer? E tem
banheiro químico logo quando passamos, não sei se viu.
— Não, eu estou com sono. — Bocejo e o levo junto. Apesar
de empolgada, o cansaço do trabalho tá aqui.

Acordar com a visão do céu claro e a extensa grama verde é


maravilhoso! Ainda não saí da barraca. O cheiro de mato é a coisa
mais gostosa do mundo! Só perde pra Murilo sem camisa ao meu
lado.
— Sabe o primeiro programa? Cachoeira!
Abro um sorrisão de imediato.
Fora do carro, pego minha mochila, deixando dentro dela só
o que realmente preciso. Seguimos pra pousada, que não é tão
longe. Murilo disse que a área é privada e vigiada, poderia deixar
nossas coisas onde estão.
Tem algumas pessoas tomando café. Escolhemos e
pegamos o que vamos comer e seguimos pra uma mesa. Comemos
tranquilamente entre risos e conversa. Estou ansiosa pra essa
aventura. Aproveito pra tomar banho e visto meu biquíni.
Andamos uns dez minutos em uma trilha de terra com uma
paisagem incrível.
Estou simplesmente encantada com esse lugar. O barulho
da queda d'água vai ficando cada vez mais alto, avisando que nós
estamos chegando.
Caramba! A paisagem e a cachoeira são incríveis. Estou
embasbacada. É alta e a queda d’água vai descendo por uma
parede de rocha, caindo em uma lagoa. Na parte mais baixa tem
uma espécie de tobogã natural, mas a visão de Murilo só de tênis,
boné e short que marca perfeitamente a bunda, sem contar as
costas trabalhadas, é um bônus.
— Que incrível esse lugar! — Não evito um sorrisão,
encantada, ainda olhando a água cair.
— Sabia que ia adorar.
O local é enorme. Tem algumas pessoas em grupos em
locais distintos, mas não são muitas, acho que é por causa da
época. Tirei minha roupa e, juntos, mergulhamos.
Estou muito feliz realizando esse sonho!
Nos beijamos, tiramos várias fotos juntos, jogamos água um
no outro e descemos o tobogã natural.
Murilo, que gosta de uma aventura, depois do almoço e
descanso me levou pra experimentar rafting. É muito louco! São
descidas de água dentro de um bote inflável. A cada decida e
subida de nível de água meu coração acelerava. Como algumas
pessoas estavam gritando, eu gritei também. Murilo apenas ria, de
mim talvez. Mas a experiência valeu muito a pena, é muitíssimo
incrível.

— Vamos pra onde afinal? — pergunto curiosa. Ele nega e


não dá pistas.
Decidiu que iríamos embora logo pela manhã, depois de um
banho de cachoeira. Segundo ele, tinha outros planos pra esse
domingo.
— Uma dica, pelo menos? — negocio.
— Tem adrenalina. Aliás, você só tem essas roupas que me
deixam de pau duro?
— Você é um tarado! Por que você nunca me diz? — Me
queixo.
— Porque eu gosto da cara que você faz quando chega.
Sua fala faz meu corpo agitar internamente, minhas
bochechas coram, de vergonha talvez, e meu coração bate forte.
Disfarço a reação esquisita que de repente tomou o meu corpo.
Recosto minha cabeça, afundando o corpo no banco enquanto ele
dirige. A melhor opção sempre será me fingir de morta pra evitar
conflitos, principalmente os internos. A mão quente na minha perna
foi um bônus.
Fomos pra outro lugar, mais afastado, mas perto da cidade.
Murilo tá praticamente fazendo um tour.
— Que lugar é esse? — questiono olhando ao redor,
rezando pra ele negar o que eu estou achando que é.
— Centro de paraquedismo. Vamos saltar.
— O quê? — Minha voz saiu esganiçada e desesperada.
— Vem. — Ele me puxa pelo braço, saindo de onde
estacionamos o carro.
— Não vou pular nisso aí.
Finco meu pé no chão, olho pro céu e não imagino essa
situação.
— Nem morta que vou saltar de paraquedas, Murilo!
— Não é tão ruim quanto você pensa. É gostoso.
— Não, Murilo. — Eu me imponho. Nem morta!
— Eu já paguei, Alie.
Tenta me convencer pela consciência ou o peso dela
enquanto retoma a caminhada, segurando meu pulso.
— Eu te reembolso. — Congelo no chão novamente e tento
fazê-lo mudar de ideia.
— Vai fazer desfeita? — Olha com rostinho de cachorro
sentido, tentando me convencer pelo peso emocional.
— Por que você me trouxe pra cá? — resmungo
inconformada.
— Você vai gostar. Eu prometo.
Dou um muxoxo e me rendo, mesmo achando isso uma
tremenda loucura.
Murilo abre um sorriso e me arrasta pro centro de
paraquedismo. Ele cumprimentou algumas pessoas com sorrisos e
piadinhas. Pelo jeito é conhecido por aqui.
— Fiz curso de paraquedismo e pratico quando tenho tempo
— responde minha pergunta não verbal. Apenas aceno, com receio
e apreensão. Onde fui me meter, ou melhor, ele foi me meter?
— E se o paraquedas não abrir? — pergunto olhando pro
céu.
— Vai abrir. E não tem só o seu. O salto vai ser duplo, não
vai pular sozinha.
Aceno mesmo que isso não me pareça muito reconfortante.
Ainda Estou receosa. Muito, aliás.
Fiz um rápido treinamento de como devo me comportar
durante a queda e a aterrissagem. Visto o macacão e o
equipamento pra esperar a nossa vez.
A cada minuto meu coração parece apertar mais,
desesperado e angustiado. Fiquei a maior parte do tempo olhando
pro céu e pensando que em breve estarei lá em cima. Ficamos em
uma sala aguardando, depois de avisarem que quando o avião
retornar será nossa vez.
Vi o avião voltar ao mesmo tempo que senti o gelo se
instalar rapidamente na minha barriga e a garganta secar. Minha
ansiedade tá aumentando. Estou mais que trêmula. Algumas
pessoas voltam empolgadas com um sorriso enorme e eu só
consigo pensar que eu quero chegar no chão sã e salva.
— Agora são vocês. — Um dos instrutores nos chama e
olho pra Murilo, que ficou o tempo todo segurando minha mão,
fascinado.
Entramos no pequeno jato com algumas pessoas
empolgadas pra saltar, menos eu, e acho que isso estava visível no
meu rosto, pois Murilo beijou rapidamente minha boca.
— Eu vou saltar com quem? — questiono baixo olhando pra
ele. — Não é sozinha igual aquela mulher não, né?
— Vai ser comigo.
— Murilo…
— Fiz curso e pratico há mais de cinco anos. Confie.
— Eu Estou com medo. — Olho pra ver se ele tem um
pouco de compaixão e desiste dessa ideia absurda.
— Você vai amar. — Tenta me tranquilizar e eu apenas
aceno rendida.
Olho da Janela o avião subindo pra chegar a onze mil pés, e
só consigo perceber as casas, os carros e as plantações cada vez
mais distantes. A vista em si é incrível, um show à parte, mas estou
muito nervosa pra ficar encantada.
O avião sobe cada vez mais. Olho a portinha pela qual eu
vou saltar e apenas me pergunto onde é que eu estou com a
cabeça, afinal?
A torre autorizou o salto e a porta foi aberta, fazendo alguns
paraquedistas saltarem sozinhos. Uma mulher foi a primeira a ir,
sozinha, e eu fiquei boquiaberta. Como ela tem coragem?
— Venha que faltam mais dois e aí somos nós.
Murilo levanta plugando nós dois e checando se tá tudo
firme. A essa altura do campeonato o medo já tomou
completamente conta de mim. Murilo me paga!
— Eu me jogo ou você me empurra? — questiono tentando
controlar meu coração acelerado.
— Nenhum dos dois. Ande agachada até a porta e, quando
menos esperar, vai estar caindo.
Aceno concordando com a instrução dele e seguimos pra
porta. Preciso nem mencionar o céu azul maravilhoso em sua
imensidão. Muito vento e muitas nuvens.
Seguimos pra porta. Coloco os pés na beirada e, vencida
por não ter mais volta, nos atiramos na imensidão. Minha primeira e
única reação é fechar os olhos sentindo o vento forte no meu rosto.
Sinto como se meu corpo estivesse estourando por uma bomba de
adrenalina.
— Abre os olhos e grita colocando tudo pra fora. Mentaliza
as coisas ruins e grita!
Murilo pede e obedeço. Tenho a sensação que acabei de
entrar em um mundo paralelo. A vista de cima é in-crí-vel. A
sensação é apavorante e gostosa, como Murilo falou.
Grito e coloco tudo pra fora. O medo foi embora e o que
sobressai é a adrenalina. Grito e rio cada vez mais, vendo aquela
paisagem maravilhosa.
Por mais louco que pareça eu não sinto mais o frio na
barriga. A impressão que tenho é de flutuação.
Apenas escuto as gargalhadas de Murilo enquanto grito e enalteço o
quão lindo é o céu. Sou puxada pra cima quando o paraquedas abre
e dá fim à queda livre. Eu me agarro no equipamento e ali fico,
sentindo uma sensação única e prazerosa vendo tudo de cima,
pequenininho.
Paro de gritar e permaneço quieta apenas absorvendo a
sensação maravilhosa que é estar aqui em cima.
— Não é lindo? — Murilo quebra o silêncio com um tom de
voz satisfatório.
— Muito!
Estou mais que empolgada sentindo a gravidade fazer seu
papel em descer o paraquedas aos poucos. A sensação que tenho é
de liberdade e intensidade, junto com aquela coisa da adrenalina. É
muito gostoso!
— Murilo! — grito e agarro ainda mais o equipamento
quando ele mexe no paraquedas fazendo uns loops.
— Adrenalina é sempre bom.
Faz graça e logo aterrissamos suavemente com ajuda de
mais dois instrutores, parando depois de apreciarmos a paisagem
linda.
Depois de me soltar do equipamento com Murilo, caio na
realidade, ainda com a adrenalina correndo pelo meu corpo e as
pernas tremendo. Assim como o coração saltando. Achei que seria
algo parecido como montanha-russa, mas não é. É incrível! Não
acredito que acabei de fazer isso. Saltei de paraquedas e gostei.
Me sinto leve, sem um grande peso nas costas, como se
tivesse feito um spa delicioso. Confesso que quando gritei, joguei
muita coisa pra fora, pensamentos negativos, Diego e tudo o que
me fazia sentir que não era boa o suficiente. Eu pulei de
paraquedas!
Meu corpo, antes tenso devido ao nervosismo, agora tá
extremamente relaxado e leve. Parece que vou sair levitando a
qualquer momento. Uma gelatina! A sensação de estar em plena
queda livre é fascinante e dá uma liberdade indescritível. O tempo
foi curto, mas suficiente pra esquecer todos os problemas. A coisa
toda é única! Exorcizei muita coisa que nem sabia que ainda existia
em mim.
— Por esse sorriso bobo, eu chuto que gostou. — Escuto a
voz entusiasmada dele e abro os olhos o vendo em pé, me fitando
com um sorriso tão grande ou maior que o meu. A visão dele dessa
percepção é uma coisa extraordinária!
Estende a mão pra mim, levanto e sou amparada pelos seus
braços.
— É incrível, Murilo! — externalizo minha euforia olhando
pro seu rosto.
— Você é muito corajosa. Saltar de paraquedas exige
coragem e mostra uma capacidade que antes não pensava ter. Você
sentiu isso? — questiona me fitando com um grande sorriso e aceno
recebendo um beijo gostoso. Parece que ele sabe que eu não me
sinto boa o suficiente em várias situações.
Dou dois selinhos nele e volto a fitar seus olhos castanhos
escuros e intensos. Sua pupila dá uma leve dilatada e eu fico
compenetrada, analisando cada detalhe do seu rosto. Admiro seu
sorriso feliz e branquinho que eu adoro ver. Tudo nele, pra mim, é
encantador. Eu me sinto tão bem em tê-lo comigo, gostaria que isso
que temos não acabasse nunca. Murilo é o tipo de pessoa cativante
que eu dormiria de conchinha mesmo em um calor desgraçado.
Sinto um vento gelado se apossar do meu corpo com essa
constatação e meu sorriso de felicidade morre na hora. Qual é o
exato momento que uma pessoa se apaixona pela outra? Em que
momento exatamente dá pra perceber isso? Isso existe? As
pessoas sabem quando estão se apaixonando?
As pessoas geralmente se apaixonam de formas diferentes.
Às vezes com um sorriso, um abraço, gestos, e os mais sortudos —
ou azarados — com os primeiros olhares. Eu me apaixono por
gestos, pela forma como sou tratada, e o que mais recebo de Murilo
é atenção.
Esse sentimento é totalmente errado. Gostar dele mais do
que o limite que eu impus, sem apegos, é totalmente ridículo! Era
pra ser só um caso. Tem que ser só um caso!
— Que cara é essa?
— Não é nada. — Retraio um pouco perdendo metade do
meu sorriso, mas acho que ele não percebeu tanto.
É, eu sabia que me envolver com ele poderia ter dado nisso,
pois sou boba demais achando que nada sairia do meu controle,
mas Murilo é apaixonante demais. Tinha cara que destruiria meu
coração em questão de minutos, não propositalmente, mas por eu
ser a idiota que estraga uma coisa que até então estava boa, que se
apega a uma pessoa passageira! Como vou lidar com isso?
— Vamos almoçar? Apesar de ser umas três e tanto da
tarde.
Sorrio acenando e seguimos de volta pra onde saímos pra
pegar o avião. A adrenalina não abandona meu corpo. Não sei se é
pela aventura recém-feita ou pelos meus últimos pensamentos.
Almoçamos juntos, ele tá orgulhoso por eu ter gostado e
aprovado, mas permaneci a maior parte do tempo meio calada,
apenas perdida em pensamentos e ele percebeu isso, mas tratei de
mudar o foco.
— Fiquei orgulhoso de você hoje. — Quebra o silêncio
quando o carro para em frente ao meu apartamento. Não evito em
sorrir, um pouco boba com o elogio. Mesmo sendo um caso, ele me
trata tão diferente dos meus antigos namorados. Para de se iludir,
Alexia! Você é uma idiota!
— Vou te levar pra mais passeios desse tipo.
— Pelo menos me avise primeiro. Não tenho coração pra
mais um susto desses.
Murilo ri em um tom gostoso e eu rio junto, mais pelo riso
dele do que qualquer outra coisa.
Faz sinal com a mão pra eu chegar perto da sua boca e vou
como um imã pra receber um delicioso e intenso beijo, que explora
toda minha boca do jeito devasso enquanto percorre, com as mãos
ágeis, meu corpo. Ele beija maravilhosamente bem. É viciante e me
deixa trêmula. Como me manter fria diante da brasa que ele é?
Prende meu lábio inferior com seus dentes, passa a língua,
e em seguida não deixo de controlar um gemidinho baixo. Eu me
separo ajeitando o cabelo pra descer do seu carro. Recebo mais
alguns beijos antes de entrar no meu apartamento, sozinha.
Tomo um banho demorado pra abaixar um pouco meu fogo
e penso sobre esses meus novos sentimentos, algo que me traz
uma sensação de ansiedade misturada com adrenalina. Não sei
qual caminho seguir a partir de agora. Não é certo eu sentir isso,
apesar de estar óbvio desde o começo que isso iria acontecer.
13
ALEXIA
O despertador toca e eu desanimo. Só queria ficar em casa,
reclusa mesmo, isolada do mundo, preciso desse tempo pra mim. É
tão ruim ficar nervosa, irritada, incomodada, sensível, triste e
precisar sair de casa pra encarar uma semana, agir com
normalidade quando claramente não me sinto bem. O resto do
domingo fiquei perdida em pensamentos e cheguei a resistir ao
sono.
A única conclusão disso é que eu realmente sinto alguma
coisa por Murilo. Algo que não planejei e preferia que não estivesse
sentindo, mas como controlar essas coisas? Não dá! Não
escolhemos por quem sentiremos atração e paixão.
A sensação que ele transparece é de frescor de café da
tarde. Com aquele cheirinho gostoso que é maravilhoso sentir até
ficar inebriada, sem contar a vontade de provar sempre. E, com
certeza, a melhor dose do dia. Mas café em altas doses faz mal.
Essa convivência toda tá me fazendo ficar cada vez mais confusa e
por isso resolvi dar um tempo disso que temos. Já teria fim da
mesma forma. A diferença é que eu vou interromper mais cedo. É o
melhor! Um tempo definitivo.
Não Estou em condições de colocar minha cara a tapa num
intervalo tão curto de decepções. Ele não mostrou nada além da
pequena amizade que temos. Apesar de termos uma conexão ímpar
no sexo e adorarmos os programas legais que fizemos, é apenas
isso. E só!
Não posso me iludir com seu jeito atencioso e divertido. É o
natural dele. Não posso deixar minha carência influenciar, tenho que
ter pés no chão pelo menos uma vez, em vez de ficar com os
pensamentos otimistas achando que no final tudo vai dar certo.
Ainda Estou calejada por Diego. Depois que o coração é
partido inúmeras vezes, fica cada vez mais difícil acreditar que
aquilo vai dar em algo e nem sempre seremos correspondidas na
mesma intensidade.
Tenho que parar de vê-lo até eu reorganizar minha mente,
mas não sei realmente o que fazer com essa novidade. Reaprender
a caminhar sozinha é tão difícil. Tudo que passei me deixou
cautelosa e medrosa. Mas eu preciso conquistar o controle de
alguma coisa na minha vida, principalmente o emocional. Sem
contar que não me sinto apta pra fingir que não estou gostando
dele. Nem pra tentar “seduzi-lo”. Eu não presto pra isso, sou
patética demais pra querer fazer isso, capaz dele rir da minha cara.
Não quero namoro tão cedo, não sirvo pra ninguém.
Algumas memórias assombrosas de dor trazem uma sensação de
desesperança.
Checo o celular mais uma vez e vejo que são 6h20. Não
posso mais ficar na cama, apesar de eu querer, porque vou me
atrasar. Eu me arrumo e na agência dedico concentração total ao
meu trabalho, ao invés de pensar na avalanche de problemas que
tenho ultimamente. Problemas esses que gostaria de esquecer.
Meu celular apita me tirando dos devaneios. É mais uma
mensagem de Murilo. Ele me mandou mais duas, uma de bom dia e
outra aleatória, mas não respondi nenhuma das duas. A última
mensagem é sobre o almoço. Se é pra vir aqui me buscar. Essa eu
acabo respondendo, digo que estou cheia de trabalho e não terei
horário de almoço.
Menti, claro. E como se fosse pouco, quando desço pra
almoçar com Liz, encontro Diego na porta do meu carro. Mais essa
agora!
— Diego, não, não vem procurar problemas, por favor. —
Não grito nem nada. E ele percebeu meu estado caótico.
— Mudou. — Ele me diz e me dá nojo.
Uma coisa é certa, eu não consigo olhar pra a pessoa do
mesmo modo depois que ela me magoa.
— O que você quer aqui no meu trabalho? — Sou objetiva.
— Conversar. — Reviro os olhos dando muxoxo. — É sério,
só me escuta — pede baixo, diria até que tá nervoso.
— Pode falar. — Eu me rendo.
— Aqui não.
— Agora ou então tchau. Estou atrasada pra almoçar com
Liz. — Vejo ele fechar um pouco a cara quando menciono uma das
minhas amigas, mas ainda assim não sai.
— Eu pensei muito sobre todo esse tempo. Queria dizer que
terminei com a Emily e quero que me dê mais uma chance, eu não
sei o que estava acontecendo comigo, ela estava me envenenando
e fui uma pessoa que não queria. Eu preciso de você, nos damos
tão bem, não foi à toa que ficamos dois anos juntos. Estou morrendo
de saudades de você, eu gosto de você, poxa... — diz manso,
colocando a mão nas minhas bochechas. — A gente se entende.
Você me conhece e tem como fazer isso por mim, por nós.
Fico encarando séria. Não era pra ele ter vindo até aqui falar
essas coisas, eu estou superando tudo. Não é justo comigo ele
chegar manso, pedindo mais uma chance, sabendo a merda que ele
fez. Não agora que estou nesse impasse com Murilo e descobri que
estou começando a gostar dele. Rio ironicamente pela sua cara de
pau e me esquivo da sua mão.
— Já se colocou no meu lugar? Já parou pra pensar em
tudo que fez comigo? Não é um “sinto muito” ou “me desculpa” que
conserta tudo.
— Eu sei, por isso não dá a resposta agora. Faz assim,
pensa direitinho. Depois conversamos.
Tenta me beijar, mas viro o rosto evitando contato. Ele
suspira pela minha reação e em seguida se despede, avisando que
precisa voltar pro trabalho, e me deixa com mais um problema pra
administrar.
Diego me pareceu tão pacífico que é até estranho, não o
reconheço. Decido seguir pro meu almoço com Liz, mas permaneço
quieta e pensativa.
— Que cara é essa, Alexia? — Lizandra questiona.
— Nada.
— É o Murilo?
Continuo quieta fitando meu almoço, dando a confirmação
que ela precisava.
— Ele aprontou alguma coisa?
— Não. — Sou monossilábica.
— Percebeu que é apaixonada por ele? — fala meio
preocupada.
— Talvez.
— É por isso que não respondeu as mensagens dele
quando seu celular vibrou duas vezes?
— Talvez.
Ocupo minha boca com comida pra não dar mais
explicações. Almoçamos caladas, ela séria, analisando o resto dos
minutos. Ela insistiu em me dar carona.
— Qual é, Alexia? Desabafa! — Mostra uma impaciência
que não é típica dela.
— Não Estou a fim, Lizandra.
Fito seus olhos azuis questionadores sentindo os meus
castanhos arderem.
— Ou você conta ou eu arranco à força! — ameaça e eu
não estou mais aguentando minhas lágrimas.
— Eu estou gostando de uma pessoa que me vê como uma
amiga com benefícios, não me sinto boa o suficiente para merecê-lo
e minha vida está um completo caos, não sei o que fazer. Diego
voltou pedindo uma nova chance e eu me sinto refém dele o tempo
inteiro. E mesmo tendo você e Natasha ao meu redor me sinto
perdida. Satisfeita?
Despejo tudo em cima dela de modo impaciente. Sei que ela
não merece e que eu vou me arrepender depois.
— Oh, amiga, que mudança drástica de humor. — Amolece
o tom de voz.
— Estou um caco. — Deixo as lágrimas que eu estava
prendendo saírem soltas, inundando meus olhos.
— Você está voltando com sua insegurança, sis.
Limpo minhas lágrimas, olhando para ela.
— Eu sou uma farsa de mulher segura. No fundo, tudo me
assombra ainda, eu pareço uma criança idiota que morre de medo
do escuro, mas finge não ter. E por mais que eu tente esquecer
tudo, por mais que eu tente ser outra pessoa, segura, mais sufocada
me sinto. Eu me odeio por ser assim! — lamento, angustiada. — Eu
odeio a pessoa que eu sou, mas não estou conseguindo agir
diferente.
— Sobre suas inseguranças, lembre-se do que eu falei
naquele dia: continue com o seu objetivo, estava indo tão bem! E
sobre seu luto pós-término, viva até o final, só assim você se sentirá
curada. Se for necessário, passe o final de semana inteiro chorando,
mas coloque na sua cabeça que, quando cessar, qualquer coisa que
faça lembrar dele não vai te atingir mais. Você precisa de novas
memórias para colocar em cima dessas feridas que ele deixou,
amiga. Não vale a pena só chorar e se lamentar por uma pessoa
que não te merece, eu sei que consegue superar isso, Nat e eu
estamos aqui pra te dar suporte, pra te ouvir, pra ir no posto de
gasolina às duas da manhã comprar sorvete e ficar até às cinco
acordadas, pra que não lide com o coração partido sozinha, como
vocês já fizeram por mim.
Aceno, limpando meus olhos novamente.
— Então, Alie? Sobre tudo, te dou duas decisões. Abrir o
jogo para Murilo e ver o que dá, ao invés de ficar sofrendo com o
“não” que nem foi dado, ou voltar pra Diego, se jogar de cabeça
numa vida infeliz, perder minha amizade e provavelmente a de Nat
também. — Ela me fita e concordo, mais perdida que qualquer outra
coisa.
— Eu não quero Diego, mas eu estou sem saber o que
fazer. Ele me faz mal, ao mesmo tempo me põe com a consciência
pesada quando eu faço o que ele não quer. E ainda tem Murilo na
equação.
— Quanto a essa confusão com Murilo, eu entendo. E eu te
conheço o suficiente pra saber que isso ia acontecer mais cedo ou
mais tarde, mas você parecia estar no controle, sendo uma nova
mulher, e deixei seguir. — Suspira, colocando os cabelos atrás da
orelha, me fitando logo em seguida.
— No fundo também sabia disso, mas quis ir mesmo assim,
experimentar essa novidade, quis tentar ser inconsequente apenas
uma vez. Não sirvo pra isso. Eu sou uma idiota e me apego a uma
pessoa que é passageira. Sempre sou eu quem sofro, porque eu
sou burra demais, uma idiota carente, que acha que merece ser
amada por alguém. — Fico angustiada, jogando minhas frustrações
pra fora.
— E você é, não duvide disso! Faz assim, isole-se, faça o
que sentir vontade, chore, xingue e beba, mas se erga. Não toma
nenhuma decisão por agora. Pensa em você em primeiro lugar e dá
o veredito deixando claro pra ele.
— Obrigada por ser minha amiga até quando eu não
mereço.
— Esteja ciente de que Murilo vai querer uma explicação por
estar evitando vê-lo durante a semana.
Aceno, sentindo-me um pouco mais leve depois dessa
conversa.

Volto pra casa um caco, Murilo me mandou outra mensagem


perguntando se vou pra casa dele ou ele vem pra minha, mas
respondi com uma curta mensagem que estava cansada do trabalho
e que depois ligaria pra ele. Jogo-me no sofá, enterrando a cabeça
no travesseiro, e tento de alguma forma receber um conforto.
Estou tão triste e frustrada. Parece que eu sempre vou ficar
nessa posição de gostar sozinha. Claramente eu não tenho
maturidade o suficiente pra separar relações. Não sou uma pessoa
de caso, eu sabia disso, mesmo assim calei a razão e fui.
Penso nas coisas que Lizandra me falou hoje. Eu estava
seguindo seus conselhos, juro que estava, mas agora a única coisa
que sinto é que sou um caco, um projeto de mulher pela metade.
Antes de dormir, Liz liga pra saber como eu estava e pra
variar estava arrasada, sentindo-me uma fraca, com a sensação de
ter dado dez passos pra trás por ter chorado. Sinto que regredi essa
semana, parece que nada mudou.
Ela, como sempre, fez-me sentir menos idiota, chorar não
era fraqueza e eu poderia fazer isso quantas vezes sentisse
vontade, que era pra eu canalizar tudo que eu sentia, principalmente
minhas mágoas. Que não deveria deixar os sentimentos comigo,
isso faz mal. Então eu chorei, de raiva, decepção, de saber que
Diego ainda tem algum efeito sobre mim, mesmo que seja pra me
deixar mal. Rasguei todas as fotos que tínhamos aqui, por mais que
isso não mude o meu passado, mas estava me fazendo mal vê-las.
Coloquei todo o veneno que ingeri pra fora. Nesses últimos anos vivi
em prol de uma pessoa que não valia a pena. Apaguei todas as
fotos do meu celular em que estava com ele — mas antes cortei ele
das que eu gostava para manter essas comigo —, porque, apesar
de tudo, os momentos com ele, principalmente no início, também
foram meus momentos e não quero esquecer de quem fui no
passado. Nem que seja pra olhar pro futuro e saber que não
faço mais papel de trouxa!

MURILO
Sabe aquela sensação de que, do nada, tudo desanda? Que
a rotina muda completamente e as semanas que se passaram
parecem uma realidade distante? Ficou tudo meio bosta, nem a
notícia boa que recebi essa semana conseguiu melhorar essa
sensação.
Não vejo Alexia faz uma semana, desde a rápida viagem e o
pulo de paraquedas. Nem sequer responde direito minhas
mensagens. Parece que ela está nessa mesma vibe bleh que eu.
Estou doido pra encontrá-la e confesso que sinto um pouco
de saudade. Sinto falta da companhia dela. E o pior é que ficarão
ainda mais difíceis nossos encontros. Eu queria curtir essa semana
com ela, pois segunda-feira viajo pra resolver minhas ações, que
finalmente foram pra frente! Tem muita papelada pra dar conta,
reuniões com sócios e acionistas da empresa e não sei como vai ser
a partir de agora, nem sei quantos dias vou ficar lá. Eu disse que
minha vida deu um giro essa semana e quero saber se fiz algo de
errado que a chateou. Odeio coisas mal resolvidas.
Ela disse que tá abafada lá e tento entender e não pensar
bobagens. Christian ficou dizendo que ela estava enrolada com
outros e essa hipótese me incomodou.
Hoje vou finalmente matar minha vontade. Talvez ela tenha
ficado chateada por tê-la levado para o centro de paraquedismo
sem aviso prévio e a feito pular de paraquedas, essa é a única
hipótese que vem na minha mente. Digito uma mensagem pra ver
se dessa vez responde. Guardo o celular e o elevador apita no
térreo. Vou em direção ao meu carro, disposto a ir na sua casa.
Decidi ir lá e não esperar uma mensagem pedindo permissão. Estou
parecendo um louco atrás dela, mas fazer o quê?
Faço a viagem batucando e cantando as músicas que
estavam tocando na rádio. Não vejo a hora de ver Alexia. Preciso
dar uma, duas ou três. Urgente! Paro o carro e vejo as luzes acesas.
Pelo menos ela já tá em casa. Toco a campainha e espero ela
atender.
A porta abre mostrando uma Alexia abatida na soleira.
— Sentiu saudades de mim, morena?
Me debruço, deixando meu rosto perto do seu. Vejo que tá
preparada pra dormir, mas, se depender de mim, não vai tão cedo.
Quero contar a novidade pra ela, quero comemorar isso de um jeito
bom!
Ela me dá passagem e me jogo no sofá. Ela faz o mesmo.
— Por que me ignorou esse tempo todo?
Faço cara de pena com a mão no peito em puro drama pra
ver se ela se compadece da minha situação.
— Estava enrolada — reclama, mostrando um visível
cansaço. E penso em outros tipos de enrolamentos, mas esse será
bem melhor.
— E vai ficar de novo, só que comigo na cama.
Puxo-a pro meu colo e ela vem sem objeções. Gosto dela
assim, aqui em cima.
— Não sei…
— Ficou chateada com alguma coisa que eu fiz? —
pergunto para saber, afinal. — Foi por causa do pulo de
paraquedas?
— Não, não é isso — ela nega, sorrindo de lado. — Não
Estou chateada com você, de verdade.
— Então, por que tá distante? — Arqueio uma das
sobrancelhas.
Ela se retrai repuxando os lábios, parando com o contato
visual.
— Impressão sua.
Suspendo seu rosto pra que volte a me olhar. Cadê a Alexia
de antes?
— Quer que eu vá embora? Estou forçando a barra? —
pergunto, rezando que ela negue.
— Não. Não quero que vá.
Pede baixinho. Aceno, alisando seus braços, e ela suspira,
apoiando a testa no meu ombro.
— Tenho uma novidade! — Mal escondo minha satisfação.
— O quê?
— A minha proposta encaminhou-se na empresa, querem
que eu vá lá segunda-feira pra conversamos. Vou viajar!
Sorrio abertamente, mas Alexia não me acompanha,
fazendo com que eu perca a vontade de continuar sorrindo. Franzo
o rosto.
— Que legal, Murilo! Fico feliz por isso! — Sua alegria é tão
falsa quanto minha vontade de fazer reunião aos sábados.
— Você não tá me parecendo feliz. Tá com algum problema,
Alie? Eu posso te escutar.
Encaro-a intrigado e ela mais uma vez foge dos meus olhos.
Essa mulher não tá bem, é fato. E seria bom que ela confiasse em
mim.
— Não, eu estou feliz, só que... Nada! Esquece! — Ela nega
com a cabeça, repuxando os lábios num sorriso. — Sei que você vai
se sair bem lá, viu?
Ela me fita com uma carinha triste e mal disfarçada,
deixando meu coração pesado. Parece ainda mais doce.
Claramente está vulnerável com algo, mas não quer me dizer.
Viro o rosto e cheiro seu pescoço rapidamente, trazendo-a
pra mais perto, encaixando direito. Ela ofega baixo, contorcendo-se,
me segurando pelo ombro. Bom sinal! Sinto meu pau endurecer na
hora e impulsiono meu pé, devagar, pra sentir como estou fazendo
seu corpo subir e descer, lentamente, causando um atrito sob nós;
ela arrepia e sua respiração muda. Mais um bom sinal. Não me
afastou.
— Estou doido pra ter você. Uma semaninha sem nem um
beijo. Tem certeza de que não quer? — pergunto, morrendo de
tesão e a consertando no meu colo mais uma vez. Sinto o sangue
correr todo pra baixo.
— Você é muito engenhoso... — sussurra, morta de tesão.
— Mas você gosta que eu sei.
ALEXIA
Ataca minha boca com puro fogo. Claro que gosto. Mais do
que deveria, até.
Eu tento parar de vê-lo até reorganizar minha mente, mas
de que forma? Ele tá aqui no meu apartamento, cheio de fogo, me
incendiando. Eu sou uma reles humana, oras!
Distribuo beijos leves no seu pescoço e contorno a orelha
com a ponta da língua, assim como ele fez comigo. Ele geme, puxa-
me para mais perto enquanto aperta minha bunda fortemente,
depois de ter se livrado da minha camisa e sutiã. Gemo e rebolo,
tentando ter mais dele. Perco-me naquele corpo, nem que seja
momentaneamente, talvez pela última vez.

Vendo Murilo dormir, visão maravilhosa pela manhã, penso


em tudo. Ele vai viajar! Apesar de tudo, acho que foi o destino me
ajudando a mantê-lo longe.
Eu não posso dizer o que sinto, seria patético dizer que
estou gostando de um cara sabendo que ele está de viagem
marcada, que pode ficar lá definitivamente, é a mesma coisa que
pedir para ser pisada. Preciso fazer com que esses sentimentos não
floresçam. Sozinha é mais seguro, sempre será. Eu tenho mania de
ser otária.
Tomo um banho e sento no meu sofá, com uma xícara de
café na mão. Não tenho vontade de fazer cappuccino, vou ficar no
preto mesmo. Sentir o cheiro do café sempre melhora meu humor.
Murilo sempre foi claro, ele é bem resolvido. Eu nem sequer
estou inteira para ser despedaçada novamente. Acho que de longe
eu consigo lidar com esse fato e até adormecer a ponto de não ficar
como estou. É o mais certo no momento, distância, mesmo que
esse afastamento me deixe mal. Eu sou trouxa, tento negar, mas o
atestado de trouxa sempre se renova.
— Bom dia. Tá cheirosa. — Senta do meu lado,
presenteando-me com um sorriso contagiante.
É impossível não comentar quão Murilo é… Murilo! Melhor
definição para isso. Murilo é Murilo e isso já expressa metade do
que ele é.
— Bom dia. Tem café pronto. — Fito seu rosto, percebo
seus cabelos molhados cheirando ao meu sabonete. Olho mais um
pouco e ele está sem camisa, vestindo apenas um short que largou
aqui numa das semanas anteriores.
— Prefiro um beijo seu primeiro. — Pisca na minha direção
e vergonhosamente coro com esse simples gesto. Vou disposta a
dar um selinho, pois sou fraca e não consigo dosar o afastamento,
mas ele segura na minha nuca, aprofundando mais. Hálito de café e
Murilo são boas combinações. Aperto seus braços e ele me segura
pelo pescoço, me dominando. Eu estava louca ao achar que iria me
envolver com ele e sair ilesa.
Sinto uma fisgada gostosa entre minhas pernas, mas ainda
estou sensível. Murilo estava cheio de vigor ontem e quando eu
pensava que ele tinha acalmado, recomeçava. Talvez ele
pressentisse que não iríamos mais nos ver, ou já estava adiantando
o ponto final.
— Não vou poder passar o dia todo com você, hoje preciso
ir à empresa buscar uns documentos importantes e amanhã vou
arrumar a mala e organizar esses documentos, essas coisas...
— Tudo bem. — Sacudo os ombros sem me importar. Pelo
menos uma escolha sensata terei que tomar em relação a isso.
Claramente, quanto mais demorar, mais difícil vai ficar para mim,
mais o nó aperta. E odeio despedidas.
— Por que você tá assim, hein? — Alisa minhas bochechas
e sinto o nó na garganta. — Tá bem cabisbaixa.
— Não é nada, more... Murilo. É coisa de mulher. Eu Estou
feliz demais pela sua conquista, de verdade, mesmo que a gente
não se veja mais.
Repuxo os lábios numa falsa felicidade, mesmo que eu
esteja orgulhosa da sua conquista.
— Verdade! — Ele faz beicinho, frustrado. — Mas eu não
vou ficar em definitivo agora, é só uma reunião. Prometo que
quando eu voltar, você será a primeira pessoa que verei.
— Não. Acho melhor não, quero que esteja completamente
focado nas suas conquistas — decido, covardemente, acabar com
tudo ao invés de deixar morrer por “morte natural” ou tê-lo dizendo
que não tem mais tempo para o que temos.
— Alie... — Sua expressão é decepcionada e faz meu
coração doer. — Tem certeza disso? Você jamais vai me atrapalhar.
— Tenho. Precisamos desse afastamento, eu também tenho
projetos que precisam de foco total. Quero muito que você consiga o
que quer. Se depender da minha torcida já deu certo.
Ele acena, puxando-me para um abraço apertado e eu
tenho vontade de chorar. Eu odeio despedidas, ainda mais de
pessoas que me fazem sentir tão bem! Murilo fez parte de uma
etapa importante na minha vida e ele nem sabe. Ele fez parte da
transição da Alexia de antes para a de agora. A Alexia que está
tentando ser uma versão melhorada e mais cautelosa dela mesma.
14
MURILO
Desembarcando no aeroporto com minha mala, percebo que
minha mente não está aqui. Só consigo pensar na Alexia. Fiquei
apegado naquela atrevida. Como é que uma pessoa, até de longe,
tem tanto efeito sobre mim?
O carro que aluguei já me espera aqui na frente. Ótimo!
Converso com o representante da locadora que trouxe e,
por fim, sigo para o hotel guardar minha mala. Terei a primeira
reunião ainda hoje na sede da empresa. Estou morto de fome, vou
ver se consigo comer antes de ir, pois sei que a reunião será longa.
Confesso, pensei que estaria mais empolgado e feliz
quando a reunião fosse marcada, mas não estou. Estou empolgado
por realizar essa meta, claro, mas não tanto quanto achei que
estaria.
Separo os documentos na pasta e desço para a primeira
cafeteria que encontro. Peço café gelado, por causa do calor,
sorrindo ao ver no cardápio o tal do cappuccino. Tive que aprender
a fazer essa bebida por conta de Alexia, que é viciada, mas não é o
original e sim o de chocolate. Peço também pães de queijo para
acompanhar.
Enquanto espero, olho o celular, checando por curiosidade
para ver se ela está online, mas a última visualização foi ontem à
noite. Vejo uma foto dela dormindo, no meu wallpaper, e abro a
galeria para ver essa foto melhor.
Estou com muita saudade dela. Do cheirinho do seu
perfume, flor de cerejeira. Uma mistura cítrica e suave. O delicioso
aroma delicado, que inspira uma deliciosa sensação de alegria,
igual à sua personalidade, suave e feminina.

ALEXIA
— Você vai sim, Alexia! — Natasha ordena. Se não tivesse
a mesa nos separando acho que eu teria tomado um tapa no rosto.
— Pois é, nunca mais uma festa juntas. — Liz se queixa. —
Estamos solteiras, porra!
— Eu sei que estamos! Eu Estou com preguiça de ir, quero
terminar a série que estou assistindo.
Nessa última semana o que eu mais faço é assistir séries.
Quando estou imersa nos mistérios de Pretty little liars minha vida
fica mil vezes mais fácil, pois não tem ninguém de casaco vermelho
querendo me matar. Eu acho.
Minha vida voltou à rotina de antes, casa, trabalho, séries e
dormir. Evitei entrar a todo o momento na rede social para ver se
Murilo estava online, porque me peguei, mais de uma vez,
ampliando sua foto de perfil. Continua a mesma de antes. Lindo,
sorrindo sem camisa e molhado na cachoeira. Fui eu quem tirei.
Tudo está um completo caos, estou numa apatia horrorosa,
de saco cheia de mim mesma. Meu aniversário está chegando e eu
não tenho vontade de comemorar. Estou num completo desânimo
para socializar. Pra ser sincera eu nunca gostei de lugares cheios,
eu fico com vontade de voltar pra casa antes mesmo de ir. Apesar
de que quando chego lá eu me divirto e muito! Eu só preciso
convencer o meu corpo disso.
— Série a gente assiste dia de semana antes de dormir, no
final de semana é para rebolar! — Natasha beberica seu suco.
— Mas você nem vai com a gente, Natasha.
— Mas você acha que eu não vou me divertir, não? Vou
rebolar sim, sis, mas em outra coisa! — Dá uma piscada e eu rio
junto com Liz. — Vai com a Liz, aproveita que ela não gosta de virar
a noite.
— Concordo plenamente. O bar é ótimo! Vamos nos divertir
muito!
— Tudo bem — me rendo.
Talvez essa saída seja boa, não posso parar de tentar ser
uma nova Alexia só porque parte do meu coração está na mão de
uma pessoa.

— Tá muito linda, sis — Liz me elogia assim que entro no


carro.
— Obrigada, você também tá! — retribuo sinceramente.
Cumprimento Suzana, que está no carro também. É uma
amiga de Liz que mora praticamente ao lado dela. São vizinhas.
Nosso programa hoje é em uma cervejaria que abriu recentemente.
Lizandra é o tipo de pessoa que, se é pra ficar em casa, ela fica, na
maresia, mas quando resolve sair quer arrastar todo mundo com
ela. Nem ligo muito, a maioria dos programas são bons.
A cervejaria é bem rústica, predominando tons terrosos e
madeira. Tem muita mesa de canto com estofados em L. Tem o bar
com balcão e um palco de música. Na lateral, um bar enorme, com
uma variedade grande de cervejas. De uma ponta a outra, do chão
ao teto, cheia de opções. Fiquei tentada a experimentar todas. Pelo
jeito precisarei vir aqui mais de uma vez.
Automaticamente lembro de Murilo e o dia do pub, que
ficamos tomando a cerveja do outro pra provar mais de um sabor. O
mesmo dia que tivemos um sexo excepcional. Murilo foi uma ótima
companhia de bons momentos, sem dúvida. Tento não pensar nisso
e sigo com as meninas para a mesa de canto, sentando no sofá
confortável. Pedimos nossas cervejas, que não demoram a chegar.
Enquanto bebemos, aguardamos os petiscos e conversamos.
Maldito momento que começou a tocar ao vivo e a cores.
Meu celular toca no meu colo, assustando-me. Na tela, vejo o
número conhecido, mas que apaguei recentemente. Diego. Desligo,
não quero saber o que ele tem para me dizer. Foda-se ele!
Pego-me ignorando os áudios de Murilo e escrevendo uma
mensagem: eu detestava seu jeito torto de diversão, mesmo
aprendendo a gostar, e seu poder de me divertir com pouca coisa.
Do seu barulho nas noites que me obrigava a assistir futebol ou luta,
como se eu fosse um amigo seu. Da sua mania de puxar meu pé
quando eu estava distraída ou de pôr força no abraço só para eu
resmungar. E odeio ainda mais sentir falta de você!!
Não envio, saio do aplicativo. Não bebi o suficiente para me
arrastar desse jeito com essa declaração. Tenho que lembrar que
nem todas as pessoas por quem nos apaixonamos são para nós.
Estar apaixonada é uma verdadeira merda, pelo menos
quando não está sendo correspondida. As músicas românticas
ficam fazendo sentido na nossa cabeça e dá vontade de suspirar,
lembrando dos momentos. Venho para me divertir e já lembrei dele
duas vezes, e isso é uma bosta!
Paixão é um tanto clichê, já parou para pensar? Uma
pessoa do outro lado do mundo canta uma música e você se
identifica como se fosse escrita para você. Aí a pessoa da mesa ao
lado sente a mesma coisa. Não deveria causar tanta devastação um
sentimento tão comum.
Pego minha bebida e dou um gole maior do que estava
tomando, a fim de prestar atenção no gosto dela. Aproveito a noite
conversando com as meninas, acho que estão chegando mais
colegas do trabalho de Lizandra. Se fui eu quem resolveu acabar
nosso caso colorido, não tem porquê estar nessa lamúria. Ele está
feliz lá no outro Estado resolvendo tudo e eu estou feliz por ele.
Pronto. E é só!

MURILO
Não estou nem um pouco feliz por estar começando a
realizar uma coisa que queria muito. A sensação é a de que está
faltando algo. Mas já sei o que é, não é necessariamente o que,
mas quem.
Gamei naquela morena de sorriso doce. Em cada detalhe
encantador. Morro de vontade de descobrir mais sobre ela, escutar
o que ela tem para falar, decifrar seu jeito retraído, mas que com
uma dose de coragem se transforma completamente.
Essa semana foi a mais bosta que tive. E pior, não nos
falamos mais, ela cortou relações. No domingo à noite eu até
perguntei se poderíamos nos ver para uma despedida digna, mas
ela negou, disse que estava de saída com as amigas e eu
concordei, frustrado. Segunda-feira mandei mensagem de rotina e
ela não visualizou até hoje. Ou tirou a visualização, ou me bloqueou.
Eu estava gamadão nela, mesmo antes de vir, mas precisei
de uma semana longe e meia garrafa de whisky para perceber isso,
o que esteve na minha cara por um bom tempo.
Alexia é a pessoa mais pura que conheço, merece o mundo
e nem se dá conta. Estou morto de saudade. A boa notícia é que a
última reunião dessa etapa está marcada, é sexta-feira que vem, eu
estou caindo fora daqui.
Tudo tá dando certo, claro, mas tá chato uma semana inteira
de reuniões, negociações, conversa com um, conversa com outro,
nem todo mundo tem disponibilidade de horário. Vou atrás de
documento, converso com o gerente do meu banco, trabalho
online... Tem sido uma semana cansativa!
Pego meu celular e vejo uma foto de Alexia na rede social.
Está num bar com várias amigas. Linda demais essa morena, e de
batom vermelho! Puta que pariu!
Parece muito bem, divertindo-se com o grupo de mulheres,
o sorriso é contagiante.
Com todos esses sinais que ela me deu, de interromper
contatos, a carinha fechada que estava quando saí do seu
apartamento no dia em que tudo acabou, a frieza, é perceptível a
rejeição de Alexia para certos contatos afetivos, apesar de ela ter se
mostrado um poço de mistério quando se trata de certos assuntos.
Alguém a machucou, está claro isso, mas a vida é curta demais
para não tentar de novo.
Eu não vou ficar de braços cruzados, deixando-a se afastar
sem ao menos tentar. Por isso, vou cumprir minha promessa de ela
ser a primeira pessoa que verei quando retornar, e será pra falar
sobre nós. Quero essa morena pra mim e vou convencê-la disso!

Enquanto espero o troco do táxi, olho o apartamento dela e


vejo as luzes acesas. De repente a porta abre e um homem sai.
Alexia, aparentemente descontrolada, enumera coisas com o dedo
enquanto vocifera. Não consigo escutar o que eles falam, mas
parecem discutir sério. Ligo meus alertas e sinto minha raiva subir
em segundos, vendo-o apertá-la pelo braço, tentando imobilizá-la.
Não percebo o motorista me dando as moedas antes de tocar no
meu braço. Pego sem conferir, jogando no bolso. Agradeço e saio
com minha mala nas costas, indo em passos rápidos em direção a
eles.
Nenhum dos dois me vê, estão mais preocupados em brigar.
Chego perto a ponto de escutar ele a chamar por nomes pejorativos,
a tendo imobilizada pelos braços. Daqui vejo o aperto que ele dá
nela. Quem é esse sujeito?
— Vai embora! — Escuto sua voz embargada para ele e
meu peito aperta ainda mais.

ALEXIA
— Vai mesmo jogar fora tudo que vivemos juntos? — ele
põe pressão em mim. — Você prometeu que voltaríamos!
— Eu não prometi nada! Nosso tempo acabou, supera! —
dou meu veredito pontuando mais uma vez para ver se ele entende
e percebe que estou falando sério.
Estava chegando do trabalho e de repente o encontrei na
porta do meu apartamento. Tentei mandá-lo embora e simplesmente
entrou comigo, quebrou minhas coisas, gritou o que bem quis e
ainda acha que temos que voltar. Eu fico sozinha o resto da minha
vida, mas não volto pra ele. Estou me redescobrindo, sentindo-me
livre. Não vou voltar pra quem me aprisiona.
— A gente se ama!
— Faça-me o favor! Você me tratava feito lixo e, se você
não sabia, eu existia quando você não estava com vontade de
transar! Vai embora! Não queira reivindicar uma coisa que você
mesmo fez questão de perder! Eu te avisei!
Aumento um pouco meu tom de voz, indignada. Ele faz uma
cara ridícula de deboche, como se eu estivesse blefando. Estou com
muita raiva e um pouco transtornada, com vontade de voar na cara
dele só por lembrar de tudo que já passei enquanto namorávamos.
E principalmente pelo flagra com a outra.
— Você não pode ter me esquecido assim, Alexia! — Mostra
irritação na voz, me puxando pelo cotovelo de modo grosseiro,
como se tivesse mais algum direito sobre mim. — Você se lembrará,
nem que eu precise abrir sua cabeça!
O apertão dele dói e a ameaça raivosa me amedronta, mas
não consigo sair. Ele é claramente mais forte.
— Solta ela, babaca! — Escuto a voz de trovão de Murilo e
percebo que está com raiva, muita raiva. — Tá a fim que eu te
arrebente aqui e agora? — arranca as mãos de Diego de cima de
mim, sem gentileza, empurrando-o pra que saia de perto.
O que ele tá fazendo aqui? Sinto meu coração falhar uma
batida com sua presença bem próxima e seu perfume invadindo
meu olfato. Vejo Murilo me defender e não consigo deixar de gostar
disso; com ele aqui sinto uma sensação de proteção. É, eu gosto de
me iludir.
A confusão tá feita, Murilo dá vários socos em Diego a ponto
de deixá-lo com o nariz sangrando. Murilo, cada vez mais
descontrolado, dá mais socos fortes, o segurando pela camisa,
xingando e mandando ficar longe de mim. Diego tenta devolver o
soco, mas Murilo continua batendo com uma raiva que parece que
não vai passar tão cedo.
Diego tenta apenas se defender, pois não tá possibilitado de
bater. Murilo esbraveja palavrões e eu fico sem ação, sem saber o
que fazer, só olhando assustada.
— Murilo, para! — mando, sabendo que essa briga pode
prejudicá-lo.
Daqui a pouco começa a chamar a atenção dos vizinhos e
eles chamam a polícia.

MURILO
Soco a cara do babaca com uma fúria imensa, por ele ter
falado merda para Alexia e por tê-la segurado com grosseria, como
se fosse uma boneca de pano. E que merda ele acha que é pra
falar assim com ela?
Se ele gosta de medir força com ela, então aguenta medir
força comigo, mano a mano.
— Chega, Murilo! — escuto Alexia, que está nervosa
demais, tentando interceptar. E recuo, ofegante, largando-o.
Não sou um homem agressivo, não quero que Alexia tenha
medo de mim. O babaca tá com a roupa amassada e o nariz
sangrando, estou achando pouco.
— Cai fora, vá! Ou vai baixar camburão! — ameaço, com a
respiração entrecortada.
O idiota levanta com a boca sangrando e com a expressão
mortal, com certeza é algum ex dela. Nem precisa ser inteligente pra
sacar isso. Ele vem pra cima dela e eu o empurro, ele se
desequilibra novamente, cambaleando pra trás e tenta mais uma
vez. É sério que Alexia se relacionou com um sujeitinho baixo
desse? Muito mau gosto!
Dou mais um soco, um só, um soco oco e ele põe a mão no
nariz.
— Isso vai ter troco!
Saí de passos apressados, quase correndo, com a mão no
nariz sangrando, tropeçando na minha mala que está no chão.
Ofegante, me viro para uma Alexia desestabilizada demais
para dizer qualquer coisa, nem sustenta o olhar. Agora sei o porquê
de ela ser do jeito que é, o babaca fez uma lavagem cerebral nela.
— Será que podemos conversar agora? — questiono,
passando as mãos nos cabelos para me recompor.
Ela não responde, apenas abre a porta e me dá passagem
com uma expressão triste, uma cara de choro. É nítido que ele
conseguia desestabilizá-la. Ele sabe disso e jogou sujo. Ver ela
assim me dá um nervoso desgraçado e tenho vontade de ir atrás do
sujeito e espancá-lo.
Alexia senta no sofá, ainda quieta, e sento do seu lado.
Claramente ele não aceita perder, ver essa mulher e pensar: “como
deixei essa mulher incrível ir embora?”, e perceber que não é com
ele que ela tá é de bater desespero mesmo.
Olho sua sala com algumas coisas quebradas, como porta-
retratos e outros itens de decoração, inclusive a palmeira que ela
tem na sala, que tá caída. O que esse desgraçado fez aqui dentro?
Dou tempo para ela se acalmar. Estou nervoso, com
vontade de mostrar a ela que não é porra nenhuma que ele disse.
Um verdadeiro livro de matemática. Por fora uma capa feliz, que
engana, onde tudo parece fácil, mas por dentro tem questões e
problemas que não conseguimos decifrar de imediato e precisam de
tempo e atenção para que se tudo torne mais fácil e solucionável!
15
MURILO
— Ele te machucou muito? — Seguro no seu pulso,
examinando algumas partes avermelhadas.
— Não — ela fala, em som quase inaudível, e solto um
longo suspiro pela situação.
A intenção era chegar aqui, encontrá-la em casa, só que
sozinha, pedir para conversar e no final da noite estaríamos
enroscados e ofegantes na cama. Isso foi o que planejei
mentalmente, mas a situação já começou errada.
— É frequente isso? Quer ir na delegacia?
— Murilo, por favor. O que você veio fazer aqui? Eu preciso
ficar sozinha. — Suspende o olhar, limpando os olhos rapidamente
com as costas das mãos, puxando a respiração.
— Queria te ver — sou sincero. — Senti sua falta.
Vejo seu queixo tremer, não sei se controlando o choro ou
se preparando para cair nele, mas sua expressão continua
quebrada, de partir o coração.
— Já me viu, pode ir já. — Sua voz de choro faz com que eu
a olhe, mas ela não me encara.
— O quê? Para de me tratar dessa forma, Alexia. Desde
que eu fui viajar que tá nessa frieza.
— Preciso que vá, Murilo. Eu preciso ficar sozinha, por favor
— suplica.
— Não vou! — nego, levantado do sofá, totalmente
impaciente com essa merda toda. Sei lá o que aquele idiota falou
pra ela antes de eu aparecer pra estar desse jeito.
— Eu não quero mais transar com você, nem nada disso.
Vai embora! — diz em um tom de voz grosseiro. Se ela acha que
simplesmente vou acatar e sair, está muito enganada. Passo a mão
nos cabelos, dando um muxoxo impaciente vendo Alexia vulnerável.
— Não é sobre sexo, Alexia, já deixou de ser só isso há
muito tempo. Entendo que tá machucada, mas deixe-me te ajudar.
— Não, Murilo. Não quero ajuda, não quero nada. Eu não
quero estar perto de você, porque o que eu preciso é além do que
você me ofereceu, eu não posso te dar forças pra que me jogue no
precipício. Eu não quero mais ser pisada, eu me iludo fácil!
Fito os olhinhos quebrados e chorosos da minha morena.
Com essas palavras percebo toda sua mudança e frieza desde que
eu falei que iria viajar. O que eu sinto por ela é recíproco, mas por
ser machucada de tantas formas, ela preferiu fugir, fingir que o
sentimento não existia, por medo que a rejeitasse. Ela precisa saber
que a opinião do outro lá não é válida pra ninguém.
— Não foi bom da última vez, mas isso não significa que os
próximos serão ruins.
Em um tom mais ameno, digo a verdade, tentando acalmá-
la enquanto aliso seus cabelos. Alexia não merece ter um ex-
namorado babaca daquele jeito. Ninguém merece, na verdade.
— O que você quer dizer com isso, Murilo? — A voz
embargada dela me quebra demais!
— Morena, eu Estou tão, mas tão apaixonado por você
inteira, que fiquei duas semanas me corroendo de saudade. Precisei
viajar pra ter um surto de realidade e saudade ao mesmo tempo. Eu
quero te descobrir, entender quem você é, sem pressa.
— Não quero sua piedade, eu não sou criança que tem que
fazer as vontades. Eu sei o que eu mereço e quando as pessoas
são além do que eu posso ter.
— Piedade, Alexia? Olha a merda que você tá falando. Sinto
muito te dizer isso, mas ele não gosta de você, é só orgulho ferido.
Só não tá aguentando ver você seguir em frente. Deixando-o no
passado. E enxergando que você é essa mulher toda e ele perdeu
por ser um babaca. Eu não tenho o mesmo pensamento que ele, eu
te enxergo diferente, enxergo a verdade! —Controlo-me pra não
gritar. Estou muito nervoso.
— Isso é para o meu próprio bem, achei que estaria
preparada para essa nova aventura, mas não estou! Eu não sirvo
pra isso, eu não sou bem resolvida pra não me envolver
sentimentalmente. Só vai, por favor… futuramente agradecerá por
não ter ninguém carente no seu pé. Eu não sirvo pra sexo como
você deve estar acostumado!
Não sei o que é pior: esse merda fazer isso com ela ou ela
acreditar nele. Odeio vê-la desamparada, eu quero ela sorrindo,
principalmente pra mim. Puxo-a pro meu colo quando me sento no
sofá, e ela recosta a cabeça no meu ombro, como uma garotinha
frágil. Preciso tê-la e mostrar que ela é muito mais do que aquele
babaca falou.
— Para de me afastar quando o que eu mais quero é ficar!
Eu estou apaixonado pelo que você é. Eu vejo suas inseguranças e
também os seus pontos fortes, e nada disso me impede de te achar
uma mulher linda! Eu quero você, morena, namora comigo? De
todas as aventuras em que me joguei, você tá sendo a mais
recompensadora e gratificante.
— Murilo, não faz isso... Você talvez se mude, eu vou te
atrapalhar!
Ela acha mesmo que vou sair da vida dela assim, fácil? O
que mais quero é ficar. Puxo seu rosto pra perto do meu pra ela
perceber a urgência da coisa.
— Quero você antes de tudo, entendeu? Qualquer coisa é
segundo plano quando tenho você na minha frente. Prioridades.
Você é a minha no momento, o resto fica chato sem você.
Fito seus olhos chorosos e ela acena. Sou tomado pela
euforia imediatamente. Ela sorri, limpa os olhos e ataco sua boca,
numa saudade que estava sufocante. Ela sempre corresponde meu
fogo e eu adoro isso!
— Quando olho pra você, sinto meu coração bater forte.
Quando escuto sua risada, minha barriga agita e consigo conversar
com você sem parecer estúpida. Quando você sorri, e sou eu quem
provocou o riso, sinto-me boba. Eu chorei diversas vezes quando
você estava viajando porque tê-lo era a coisa mais distante pra mim,
e me sinto mais boba ainda de estar falando isso para você.
Impossível não se sentir importante, com ela fazendo
questão da minha presença. Gosto disso, desse frescor de começo
de relacionamento. Tomara que não fique monótono, ou que eu
esteja tomando chá de xota, como Cristian diz.
Namorar é foda demais porque na mesma hora que o casal
tá brigando, quando menos percebe já tá transando. É uma das
coisas mais malucas e boas que inventaram.

ALEXIA
O ser humano é feito de água e de insegurança na mesma
proporção. Quem de nós precisa de inimigos reais quando a maioria
tem mania de se autossabotar por medo? E pior, nem percebe... Eu
mesma, não canso de fazer isso, mas acaba que quando o coração
é partido inúmeras vezes ou ainda tá magoado, vai ficando cada vez
mais difícil dar uma nova chance, acreditar em algo. Tentamos com
o errado tantas vezes, que, quando chega um que parece o certo,
nós corremos. No fundo, nós sabemos quem queremos e quem
realmente merece fazer parte dessa caminhada com a gente, mas o
receio de sair machucada muitas vezes amedronta.
Abraço o Murilo mais apertado e coloco meu rosto na curva
do seu pescoço, aspirando seu cheiro. Ele tem um cheiro tão bom,
que me traz segurança. Ele retribui o abraço num aperto forte e só
para quando eu resmungo, mostrando que estamos normais.
São poucas, mas sei que ainda existem pessoas que valem
a pena manter por perto, e sinto que Murilo vale. Sabemos que
encontramos a pessoa certa quando não temos medo de ficarmos
vulneráveis. Eu contei a Murilo sobre toda a novela que eu entrei há
dois anos e em momento algum ele ridicularizou minhas angústias;
me deixou chorar no seu peito enquanto falava sobre todas as
minhas inseguranças, e isso é um dos perigos mais
recompensadores que existem.
— Amanhã faremos um programa legal — sussurra, quando
eu estou quase cochilando.
— Que programa?
— Amanhã saberá — faz mistério. — Será legal e em terra
firme.
Sorrio e concordo. Ah, moreno! Por favor, não vira sapo.
Continua príncipe. Seja sempre meu. Ele percebe que eu o abracei
mais forte e se arruma, me abraçando e fazendo carinho nas
minhas costas. Eu moraria nesse abraço sem problema algum!

O mundo é engraçado e me surpreendo pelas voltas que ele


dá. Quem diria que, indo para aquela festa, que eu nem queria, ia
conhecer a pessoa que mais me faz feliz ultimamente. Observo ele
dormindo por uns bons minutos. Até ele me puxar ainda de olhos
fechados, me abraçar forte, ralar a barba na minha bochecha e me
fazer um pouco de cócegas. Apenas continuo de olhos fechados,
curtindo o momento.
Suspendo o rosto e o encontro olhando pra mim. Os olhos
dele parecem um profundo universo escuro e infinito, essa barba
que combina perfeitamente. Eu o observaria sempre, sem me
importar. Ele logo aperta minha bunda, pois já acorda na safadeza.
— Teremos duas coisas pra fazer hoje. Iremos pro nosso
programa, agora de manhã, e à tarde tem o aniversário do moleque
de Cristian, um amigo meu. Vamos? — ele convida.
— Não sei... — titubeio, enterro minha cabeça na curva do
seu ombro e aspiro seu cheiro, provocando nele um arrepio.
Ficar assim é tão gostoso, nem parece que minha vida era
um inferno há alguns meses.
— Você é minha namorada, vai ser um ótimo momento pra
eu te apresentar.
— Tudo bem — rendo-me, convencida e totalmente boba
pelo “minha namorada”. — Que horas começará?
— Duas da tarde, mas primeiro vou comer você antes de
sairmos. — Ele me puxa pela bunda, fico em cima dele e ele me
beija. — Acordar de pau duro com você do lado e não transar é
desperdício.
— Oh, boca suja! — Sorrio e em seguida volto para sua
boca. Sedenta!

— Academia, Murilo? — questiono e entro, passando pela


recepção. Ele cumprimenta um homem, pegando uma chave; assina
um papel e pega uma sacola com o logo do lugar. — Não Estou
entendendo nada.
— Você vai gostar. — Solta minha mão pra abrir a porta. —
Ontem vi a forma que aquele babaca estava te segurando e não
quero você desprotegida por aí. — Abre a posta e a primeira coisa
que vejo é uma sala ampla e vazia, com tatame no chão e nada
mais.
— Quero que você aprenda a se defender. Vou te ensinar
um pouco de judô.
Sorrio e agradeço pelo carinho e preocupação comigo.
— Você sabe judô?
— Fiz quando era mais novo, ainda lembro algumas coisas.
— Dá de ombros.
— Hum, então será meu professor?
— Serei. E levará palmada se não me obedecer.
Arqueio as sobrancelhas e ele repete o gesto. Vestimos o
quimono por cima da roupa mesmo, mas Murilo é exibido e decide
tirar a camisa que estava usando.
Nos cumprimentamos cheios de protocolo. Murilo é doido!
— Praticaremos em pé e depois no chão. — Arqueia uma
sobrancelha e vejo que o tom que usou foi de sacanagem.
— Esse se chama yama-arashi. É técnica de braço. Vou
fazer devagar com você, e depois tenta fazer comigo. Relaxe o
corpo pra não se machucar — ele me explica, pondo minha mão no
seu ombro, ficando um pouco de costas pra mim, e com um impulso
usando o quadril e a perna, me puxa e leva ao tatame, de costas,
em poucos segundos. Ele fez como se eu não pesasse nada.
— Machucou? — pergunta, preocupado.
Nego, sorrindo. Ele estende a mão pra que eu levante e em
seguida faço com ele, enquanto ele me explica. Tentamos três
vezes até que eu conseguisse fazer mais ou menos com êxito, mas
ele meio que se jogou, já que é muito mais pesado que eu. Eu me
senti bem aprendendo a técnica.
Fizemos outras técnicas também, tá até sendo legal, estou
me divertindo mais que qualquer outra coisa, apesar de atentar pra
aprender a fazer direito.
— Esse é o Uki-otoshi. Você quem vai fazer em mim.
Ele me segura pela lapela do quimono com as duas mãos, e
manda eu segurar no seu pela parte dos braços.
— Anda pra trás, me segurando, e em seguida puxe um dos
lados do quimono pra que eu caia, minha mão dobre, eu te solte e
você não caia comigo.
Assimilo e concordo. Faço o que ele explicou, mas não deu
muito certo, quem caiu fui eu.
— Você tem que agachar com uma perna só, me puxando
de uma vez, tenha medo não.
O olhar dele é tranquilo e confiante, me passando a mesma
coisa. Eu realmente estou com medo de machucá-lo se fizer errado.
Tentamos algumas vezes até que faço direito, ele cai e
recebo um beijo. A cada golpe que eu acerto, recebo um, uma bela
recompensa.
Resolvemos fazer outros golpes de imobilização e chaves
de braço; aprendi alguns, que acredito serem válidos, com certeza
sentirei um pouco mais de segurança ao andar na rua.
— Agora passe a perna por cima da minha coxa e prenda
no meu quadril — ele explica.
Eu Estou deitada e Murilo agachado, me ensinando um
outro golpe. Olho pra ele, que tá um pouco suado, mas ainda
gostoso. Nossos quimonos já estão fora do lugar.
Murilo chega mais perto, colocando minha mão na sua
lapela, me segurando pela cintura. Estamos muito próximos,
principalmente agora que forcei e prendi as pernas como mandou.
—Pode me puxar — pede e eu obedeço, deixando nossos
rostos próximos. Ele tá sustentando seu peso ainda.
Vejo ele sorrir satisfeito com a aproximação toda. O clima
não tá mais esportivo, pelo menos não da minha parte, tendo ele
perto, segurando agora pelas costas. Tá mais pra Kama Sutra que
judô isso aqui.
— Esse golpe não existe, né? — pergunto, percebendo o
que ele aprontou.
— Não assim — nega, sorrindo.
Safado! Ele não espera resposta e me beija quente, me
segurando pelo pescoço pra aprofundar ainda mais. Murilo é
terrível!

MURILO
— Pensei que não viria, seu mala.
Christian é o primeiro a me ver quando chego com Alexia no
aniversário do seu filho. Alie estava receosa por vir, mas tá com um
sorriso no rosto. Cumprimentamos todos e apresentei cada pessoa
a ela. Faço cara de convencido pros caras que estavam no desfile e
ficam de deboche pro meu lado. Me sinto fodão sim!
— Estão juntos, né? Finalmente! — Luísa diz.
Olho pra ela com as sobrancelhas arqueadas. Já tá tão
petulante quanto o marido. O único que salva é Igor, pelo menos
assim espero.
— Eu ainda acho que ele é gay. — Anderson graceja e todo
mundo ri.
— Vai achando! Cadê o moleque?
Alexia dá um risinho, provavelmente pensou alguma
besteira que fizemos. É, eu tirei uma sorte grande da porra!
— Pera aí que vou chamar. — Christian sai atrás do filho.

ALEXIA
Confesso que estou um pouco nervosa pra conhecer os
amigos dele. Vai que eles eram muito amigos da ex, tomam partido
e não me tratam direito? Sei lá.
Pelo que me contou, ficou com a tal da Camila por uns cinco
meses. Isso com certeza foi tempo o suficiente pra eles se
apegarem e terem uma boa amizade.
Sento na mesa, sorrindo, junto com Murilo. Os outros dois
homens que vi na reunião estão aqui.
— Está de quanto tempo? — pergunto à Mariana, que tá
grávida.
— Vinte e nove semanas — ela responde, com um sorriso
singelo.
— Ah! — Sorrio pra socializar, porém ainda não sei com
quantos meses ela está.
Nunca entendi essa coisa de semanas, mas nada me
surpreende, porque uma vez perguntei a uma colega sobre a idade
do seu filho e ela respondeu: trezentas semanas. Até hoje não sei a
idade do garoto.
— Aqui ele. — Christian volta com um menino.
— E aí, parceiro? — Murilo cumprimenta com um toque na
mão.
— Oi, tio. — Ele sorri.
Murilo pega o garoto no colo e entrega o presente que
comprou. O menino agradece e Murilo me apresenta a ele. Dou-lhe
um abraço, parabenizo-o e entrego meu presente.
— Ela é linda, tio. Vou roubar pra mim. — Olha pra mim com
um sorriso galanteador.
Gargalhamos juntos por causa da espontaneidade dele.
— Roube que eu tomo seu presente — Murilo ameaça e ele
nega, segurando a embalagem.
Ele volta a correr pra brincar enquanto começamos a
conversar e a nos conhecer.
— Aí, Murilo, Igor é mais homem que você! — Daniel
debocha e todos riem.
— Fale isso quando ele estiver beijando sua filha! — Murilo
debocha de volta.
— Deixe Bibi fora, idiota! — Fecha a cara e todos
gargalham.
— Mas foi ela mesma que disse que ia ser namorada dele
quando crescer... — Christian coloca mais lenha na fogueira.
— Fique na sua, Cristian, se ele chegar perto eu capo esse
amendoim que ele tem entre as pernas. Você ainda vai ter uma
menina. E você também, Murilo — Daniel resmunga, ainda
contrariado.
— Ainda bem que meu bebê é menino. — Anderson tira o
dele da reta.
Cristian gargalha com Anderson e Murilo, deixando Daniel
com cara mais fechada.
— Pensa em ter filhos? Sente vontade? — Luísa me
pergunta, curiosa.
— Por agora não. Acho que daqui a uns três anos, quem
sabe?
Nunca parei pra pensar em ter filhos. Murilo e eu
começamos a namorar ontem, literalmente. Está tudo recente.
Passamos a tarde conversando e comendo. Eles são muito alto-
astrais. Toda hora um fazia uma piadinha com outro e foi muito
legal. Todos eles são bem divertidos.
Depois de jantarmos em casa e ficarmos em um amasso
gostoso no sofá, Murilo decide ir embora, pra minha infelicidade.
Tento persuadi-lo, mas ele foi firme em dizer que amanhã nós
trabalhamos e eu tenho que estar descansada. Pra ser sincera, eu
preferia dormir cansada!
Ele ainda esqueceu uma peça de roupa aqui. Se fosse com
qualquer outro namorado eu guardaria pra devolver, como já
aconteceu; eu não gostava que Diego deixasse roupa aqui, pois, se
eu deixasse, quando eu menos esperasse estaria tudo dele aqui
dentro e ele trazendo mais pra eu lavar. Deus me livre! Mas a roupa
do Murilo eu não sinto vontade nenhuma de devolver, ao contrário,
pego pra mim.
Tiro a roupa de dormir que eu estou usando e visto a camisa
dele, que ainda tá com seu cheiro maravilhoso. Suspiro feliz e com a
sensação de aconchego.
16
ALEXIA
Checo o celular e vejo que são 6h20. Bem que hoje deveria
ser feriado prolongado até as minhas férias! Vejo uma mensagem
do Murilo, enviada há quinze minutos. Abro curiosa e ao mesmo
tempo bloqueio o celular rapidamente, mesmo estando sozinha em
casa. Ele é muito atrevido e safado!
Desbloqueio e olho de novo, analisando calmamente. Ele
não me mandou nada mais e nada menos que uma foto muito
indecente marcando o pau na cueca, a única coisa que ele tá
usando, e vejo o contorno dos seus gominhos da barriga. Além
dessa mensagem, tem outra:
“Acordei pensando em você. Senti sua falta.”
Céus! Nem levantei da cama ainda e já recebi um tiro
desses. Como ele consegue ser imoral e fofo ao mesmo tempo?
Analiso aquela foto e começo a pensar coisas inapropriadas para o
horário, e a ficar quente.
Até de longe ele me deixa desnorteada. Se ele quer brincar,
vamos brincar.
“Se você quis me deixar desconcertada logo pela manhã,
conseguiu. Também senti sua falta. Do seu corpo quente me
abraçando por trás, pra ser mais exata!” — Envio, sentindo-me uma
pervertida, e logo escrevo outra mensagem quando percebo o
horário. “vou tomar banho pra não me atrasar, daqui a pouco volto.”
— Bloqueio o celular e levanto da cama.
Eu coloco um vestido arrumadinho depois do banho. Meu
celular apita em cima da cama. Vejo que é mensagem dele. Clico já
com um sorriso no rosto.
“Estou curioso para saber qual a cor da sua calcinha hoje.
Aliás, pegarei uma vermelha rendada da coleção nova. Quando vi,
só pensei em você vestida e eu tirando”
Que tarado! Eu nem saí de casa ainda e ele vem mexer com
meu psicológico desse jeito.
“Se você tivesse dormido aqui, me veria vestindo uma.” —
Sim, os dois podem jogar o mesmo jogo. Eu não sou dessas, mas
ele tira o pior de mim.
“Se eu estivesse aí você ainda nem teria vestido. Ou estaria
no chão.”
Vou para a cozinha tomar pelo menos uma xícara de café
antes de sair.
“Chega! Desse jeito não vou conseguir trabalhar. “— Estou
pegando fogo. Ele sabe como me deixar sem rumo.
“Mas já? Nem comecei.”
“Você vai me pagar por isso” — digito, sentindo um arrepio
na espinha.
“Com gosto. Estou doidinho para pagar.”
Coloco minha xícara na pia, pego minha bolsa e as chaves.
“Já estou saindo. Beijos.” — Envio antes de trancar a porta.
“Bom trabalho, morena.”
Sorrio pelo apelido bobo que me deu. Apelido que ele usa
desde que me conheceu.
“Para você também, moreno.” — Envio com um sorriso
estampado na minha boca e desligo o celular, coloco na bolsa e
saio.
Esse homem vai me fazer pagar por todos os meus pecados
e eu vou amar pecar cada vez mais.

Chego em casa e corro pra tomar banho. Dez minutos


depois Murilo aparece, de roupa social toda preta, muito, muito
lindo. Não almocei com ele hoje, pois preferi me encontrar com as
meninas. Motivo: fofoca e saudade.
Contei do contratempo com Diego, da nossa conversa,
minha e do Murilo, no caso, do pedido e de como estou feliz, e elas
se contagiam comigo. Natasha, fofinha como sempre, disse que isso
iria acontecer, era questão de tempo, só bastava “parar de
viadagem”.
Dou passagem e ele entra, mas antes, me imprensa na
porta e me beija. Ele sorri do jeito bonito pra mim e o cumprimento
de volta. Deixo-o na sala se livrando do sapato enquanto vou
colocar a comida no micro-ondas.
Volto e encontro ele sem camisa e descalço, só de calça
social, mostrando o peitoral, o V maravilhoso e o relógio no braço
com belas veias e com alguns pelos. Adoro os braços dele!
Arqueio as sobrancelhas com a visão divina. Tenho vontade
de esquecer a comida e me jogar em cima dele, e assim faço,
sentando nas suas pernas, sorrindo cheia de intenção.
— Trouxe minha calcinha? — pergunto, desafiadora.
— A calcinha ainda não chegou. Assim que chegar, trago
um conjunto com cinta-liga. — Sua cara de safado não esconde
nada que ele pensou.
— Já disse que você fica gostoso demais só de calça
social? — pergunto, agarrando seus cabelos.
— Já. E eu ainda quero saber a cor da sua calcinha —
devolve, me deixando em chamas.
Nesses joguinhos ele é o melhor, sabe como desestabilizar.
E eu achando que podia jogar com a mesma maestria.

MURILO
— Eu Estou com preguiça de fazer qualquer coisa hoje. —
Alexia, dengosa, quebra o silêncio.
— Podemos ficar em casa hoje, pra variar.
A semana foi pauleira. Quase não vi Alexia, só um almoço
que tivemos no meio da semana, mas hoje eu quero relaxar com
minha garota, do jeito que ela quiser.
— Pode ser, mas agora estou com uma ideia. — Seu tom
muda completamente e a vejo brincar com as mechas do seu
cabelo, sentada na ponta da cama, de pernas cruzadas. Cara de
quem quer aprontar!
— O que você tá pensando, safada? — demonstro
interesse.
— Já te falaram que você fica muito, mas muito gostoso de
cueca, Murilo?
— Você gosta de me ver de cueca ou do que tem dentro da
cueca? — Estico o cós e coloco a mão na cintura.
— Safado! Digamos que gosto das duas coisas. — Manda
beijo para mim.
Rio chegando perto dela e enfio a mão pelos seus cabelos,
trazendo-a pra mim pra dar um selinho.
— O que você tá pensando em fazer agora?
— Eu, você, um dia de folga...
— Estou gostando — eu interrompo e ela ri.
— Deixa-me fazer um ensaio seu de cueca? — Sorri lasciva
pra mim, dedilhando nas minhas costas.
— Eu, modelo de cueca, não sei...
— Sempre tive essa vontade. Digamos que é um ensaio
íntimo, pra que eu possa olhar quando estivermos longe. Por favor,
vai! — Com olhos brilhantes, ela me pede. — Pode ser meu
presente de aniversário.
— Seu aniversário é somente na semana que vem! — Ela
faz biquinho. — Tudo bem, mas se cair na internet todo mundo vai
me ver de cueca — titubeio e me rendo.
— Quem disse que eu quero que saibam o que eu tenho em
casa? Mas aí, meu caro, se cair, todos vão ver quão gostoso você é,
e como sou uma mulher sortuda! — Beija-me rapidamente e
escorrega com maestria pra fora da cama. — Vou pegar minha
câmera!

ALEXIA
— Preparado? — Sorrio com mil e uma ideias para meu
moreno, que está naturalmente sexy observando o que eu vou fazer.
Ter uma câmera e nada pra fazer nunca foi tão atrativo num
sábado entediante, que acabou de ficar bom. Prendo meus cabelos,
um coque no alto da cabeça, e dou um nó na camisa de Murilo que
eu coloquei depois do banho.
Camisa larga, calcinha e pés no chão. Isso é vida!
— Vai me ensinar a tirar umas fotos também? — nego com
o dedo, sorrindo.
— A estrela hoje é você!
Rio mais uma vez, testando as configurações. O quarto está
com uma luz ótima. Adoro a luz do dia, nem precisou das girafas. Eu
tenho muita tranqueira de fotografia e quase não uso, mas agora
achei um modelo excelente. Murilo continua a me olhar, e tiro uma
foto dele jogado na cama de qualquer jeito, esperando-me terminar
o que estava fazendo. Ficou uma delícia.
Ele vê o que eu fiz e ri, aproveito e tiro outra foto da
espontaneidade dele. Ele acaba entrando no meu joguinho,
colaborando, fazendo mil e uma caras e poses, que deixam meus
joelhos fracos. A cara de tarado, o sorriso sedutor, a cueca
volumosa, os cabelos desordenados começando a encaracolar nas
pontas, já que ele recém saiu do banho. Ele está com o cabelo mais
comprido do que quando o conheci. As fotos que eu mais gostei são
as que está mostrando os bíceps, apontando com a mão, piscando
e mostrando um sorriso safado. Exibido!
Subo na cama, fico de joelhos por cima dele, que, claro, faz
baixarias, batendo o quadril contra mim. Mas eu sigo meu objetivo
de fazer um ensaio dele para o meu deleite. Um ensaio particular,
para que eu possa ver quando estivermos longe.
Tiro várias fotos, até ele trocar a posição, colocando-me por
baixo, e tiro outra dele gargalhando pelo meu grito. Cabelos ainda
mais bagunçados e o pomo de adão evidente, assim como seu
peitoral. Saiu tremida, muito torta e sem foco, mas é uma foto
bonita, por ser espontânea.
— Faz uma cara de safado, moreno — peço.
Ele faz pose para outra foto, fitando meu rosto com cara de
perverso, e eu por pouco não ovulo ali mesmo. Ele desce o rosto e
me beija sem língua, mas um beijo gostoso.
Não me controlo e tiro outra dele mordendo os lábios, ainda
me fitando. Olhar com tesão, que ele faz quando estamos no rala e
rola; estou surpresa por ter conseguido captar isso, essa essência,
essa eletricidade. Acho que eu encontrei a minha terceira foto
preferida.
— Chega de tirar fotos minhas, agora sou eu.
Ele puxa de qualquer jeito a câmera da minha mão.
— Não! — Eu levanto o tronco, rindo pra pegar de volta.
Ele olha o visor que acaba de mostrar como ficou e em
seguida ri, mostrando-me. Saiu embaçada e tremida, mas deu pra
ver meu sorriso na metade da foto, sem enquadramento, tentando
fugir. Nunca gostei de fotos espontâneas, sempre acho que fico
esquisita, mas essa foto sem dúvida eu amei!
— Deixa-me tirar, vai. Eu também mereço fotos suas, além
das que eu tenho. — Ele continua a tentar tirar fotos minhas.
— Que fotos? — Franzo as sobrancelhas, curiosa.
— Digamos que não é só você quem gosta de tirar fotos pra
ver depois. Tenho uma coleção sua, a maioria dormindo comigo,
outras comendo, outras distraída se arrumando... — confidencia. —
Também gosto de tirar fotos, fazer o quê?
— Eu não acredito, Murilo! — rio, incrédula.
— Eu gosto de tirar fotos suas porque você fica bonita
distraída.
— Para de ser lindo e fofo, porra! — Trago sua boca pra
perto da minha; ele deixa a câmera de lado no criado-mudo pra me
segurar e aprofundar o beijo.
— Eu não sou fofo, fofo é amaciante, homem que fode
morno. Eu sou gostoso!
Mostra-se indignado tirando o rosto dos meus seios, onde
tinha acabado de pôr, olhando sério pra mim e eu rio pela resposta.
Não existe ser humano mais convencido!
— É fofo sim!
Passeio minha mão pelo seu ombro como quem não quer
nada e em seguida olho, provocando.
— Ah, é? Desde quando fofo te come como eu te como?
Fofo não deixa ninguém bamba, nem te faz gritar e pedir mais,
entendeu? Fofo é um feio arrumadinho, que não sabe dar prazer!
Gargalho ainda mais pela sua indignação, mas ele segura
no meu queixo pra que eu olhe novamente.
— Entendeu? Sou gostoso, bom comedor, até carinhoso,
mas não sou fofo.
Gemo em deleite morrendo de tesão por ouvir ele falar
dessa forma, todo macho alfa. Fito de volta seu rosto, ele suspende
as sobrancelhas, me provocando, passando a mão no meu corpo.
Não existe pessoa mais engenhosa.
— Você é um atrevido, Murilo!
Ele abre um sorriso maior e zombeteiro. Realmente, é um
atrevido abusado!

MURILO
— Tá a fim de dar uma saidinha, não? — proponho a Alexia,
vendo-a vestir minha camisa, cobrindo os seios.
Fizemos um sexo gostoso agora há pouco. Nunca achei que
tirar fotos fosse tão prazeroso. Minha morena tira muitas fotos boas,
é talentosa. Ainda tiramos um cochilo. Sentir os seios de Alexia
desnudos no meu braço foi bom demais!
— O que você tá pensando? — Alexia fala de modo
preguiçoso, se jogando na cama novamente.
— Um jantar, não sei. Pra você não ficar resmungando que
eu só levo você pra programas não românticos — dou de ombros,
propondo e vestindo a cueca. — Agora que estamos namorando,
pode.
— Hum! O que sugere?
— Não sei. Massas? Ou você pode escolher.
— Estou sempre disposta a comer massas.
— Fechou então?
— Fechou, parceiro! — Ela pula da cama e olho no meu
relógio, rindo.
Agora são seis da tarde, provavelmente sairemos lá pelas
19h30, se eu a apressar. Nunca vou entender essa mania dela se
arrumar mexendo no celular. Demora horas pra ficar pronta. E pior,
metade do tempo é enrolada na toalha, fazendo não sei o que, e aí
se arruma correndo e resmungando que estou apressando.
Enquanto isso, vou assistir um pouco de tevê e rezar pra
que dessa vez ela seja rápida.
17
ALEXIA
Até ontem eu era a menina de dezessete anos que veio pra
cidade tentar a sorte de fazer a faculdade dos sonhos e que chorava
nos primeiros meses com saudades de casa. E hoje, estou
completando vinte e cinco anos.
Namoro um homem que, para mim, é o mais perfeito e
percebo que, às vezes, somos errados para alguém na hora certa.
Murilo me incentiva cada dia mais nos meus objetivos, faz com que
eu melhore como pessoa e me sinto tão grata em tê-lo na minha
vida... Ele é do tipo de pessoa que vale a pena manter por perto.
Saio do banheiro só de calcinha e sutiã, cantarolando a
música que ouvi no rádio ontem. Murilo ainda não deu sinal de vida,
mas daqui a pouco ligo pra ele.
Grito assustada e dou um passo pra trás quando o vejo
sentado na minha cama, com as pernas pra fora e pose de macho
gostoso, sorrindo pra mim. Oh, merda!
— Que susto, droga! Como entrou aqui?
— Tenho meus contatos. — Liz! Com certeza! — Vim te
buscar. Aliás, tá gata assim.
— Bobo.
— De bobas só tenho as mãos.
Eu o empurro na cama e jogo meu corpo em cima do seu;
sorrio pra ele, que retribui. Junto nossos lábios dando nosso
primeiro beijo do dia.
— Feliz aniversário, morena, espero que eu consiga te fazer
feliz tanto quanto tenho sido por estar ao seu lado. Que tenhamos o
privilégio de comemorarmos outros aniversários juntos — ele
murmura entre um beijo e outro, derretendo-me enquanto brinca
com o elástico da minha calcinha.
Realmente, de bobo só tem as mãos.
— Obrigada, lindo. — Murilo adora me deixar parecendo
uma gelatina. — Você consegue, como ninguém.
O beijo dele tá com gosto de café e isso me faz gemer de
satisfação. Se café já é gostoso, imagina na boca desse homem.
Duas coisas que eu amo, juntas assim? É demais para o meu
coração.
Entrelaço meus dedos no seu cabelo e intensifico quando
ele me puxa com as mãos pra perto de si, mãos essas que estavam
espalmadas nas minhas costas. Desce pra minha bunda, por dentro
da calcinha, e apalpa.
Mordo sua boca quando sinto minha calcinha recém-
colocada umedecer. E ele aperta com mais vontade, dando um
gemidinho rouco que fode com tudo em mim.
Parece que tenho um botão do “safada on / off” e basta ver
Murilo que o modo on ativo.
Aperta minha cintura enquanto eu mordo sua orelha,
colocando a mão por dentro da sua camisa. Puxo pra cima de mim,
trocando as posições, e mesmo ele sendo maior e mais forte, vem
sem problema nenhum.
— É melhor pararmos. — Murilo espalma as mãos no
colchão dando ofegadas que me arrepiam.
— Por quê? — Seguro na barra da sua camisa pra tirar.
— Tenho outros planos pra nós. — Alisa meu queixo com o
polegar.
— Eu prefiro o que íamos fazer — falo com graça e dou um
selinho nele.
— Safada, mas é sério.
— Quer me levar pra onde? — Coloco meu nariz no seu
pescoço.
— Pensei em te levar naquele café bistrô. O que acha?
— Uma ótima ideia. Comida sempre me anima, já que não
vou poder ter seu corpinho.
Ele ri e fico contagiada. Fico empolgada pra irmos comer,
pois amo o café bistrô no qual vai me levar, e tento sair do abraço,
mas ele continua me segurando. Arqueio as sobrancelhas e ele
aponta para o criado-mudo que tem uma pequena sacolinha de
presente. Nem percebi, só enxerguei ele.
— Seu presente.
Sorrio pra ele como uma criança e ele me solta. Arrasto-me
e seguro a sacola. Eu devo estar com cara de tonta, aposto. Sento
na cama, do seu lado, e vejo que tem uma caixa de veludo dentro
da sacolinha.
Encontro uma correntinha quase transparente com um
pingente e uma pedrinha brilhante. O colar em si, é delicado,
romântico, discreto e fofo, e dá a impressão de que a pedra está
presa a nada.
— Gostou?
Viro-me pra ele e sorrio verdadeiramente.
— Eu amei! É lindo. Coloca em mim — peço enquanto me
viro, empolgada.
— O nome do pingente é ponto de luz, é um símbolo de
sorte pra quem usa e busca harmonia interior. Dizem que ele
consegue trazer proteção — explica enquanto põe o colar em mim.
Termina e me dá um beijo na nuca. — Pelo menos foi isso que a
mulher me disse quando fui comprar.
— Que lindo. Nunca ganhei um presente meigo desse jeito
— confesso e ainda estou encantada por ele ter sido tão lindo. Dou-
lhe um beijo como forma de agradecimento.
— Tenho outro, mas só vou entregar mais tarde.

Apesar de o meu dia estar agradável, estou me sentindo um


pouco pra baixo. Meus pais e as meninas ainda não me ligaram. Na
verdade, Murilo foi a única pessoa importante a me parabenizar até
agora, ele e Ísis, pois é nossa tradição sempre sermos as primeiras,
ela me ligou de madrugada. As meninas sempre me ligam pela
manhã, assim como meus pais, mas até agora nada.
Murilo, não contente com o colar, comprou um vestido pra
mim. Ele quem escolheu, mesmo estando do lado. Aliás, me fez ir
para o provador milhões de vezes até ele gostar de um. Até as
vendedoras pararam pra observar o que ele pretendia fazer,
entretanto ele não se abalou. Pois é, a cara de pau dele não tem
limites mesmo.
— Por que essa carinha? — questiona.
— Não é nada de mais. Acho que esqueceram do meu
aniversário — faço um biquinho triste.
— Não fica assim, até o final do dia eles ligam. — Beija
minha mão.
— É, tomara — sorrio, olhando meu relógio, tentando
despistar o incomodozinho de terem me esquecido. Ou estão
ocupados demais para ligar.
Rodamos o shopping até escurecer e ele me levar de volta
pra minha casa. Segundo ele, vamos sair pra jantar. As meninas
realmente não me ligaram. Murilo disse que talvez estejam
ocupadas com alguma coisa, mas estou chateada porque, por mais
ocupada que elas estivessem, não teriam tempo de mandar uma
mensagem? Assim como meu irmão e meus pais.

— Põe o que eu te dei hoje. — Murilo propõe, já arrumado.


— Aliás, é seu também.
Entrega-me uma segunda sacolinha, abro empolgada e vejo
que é um conjunto de calcinha e sutiã rendados. Suspendo os olhos
e o flagro sorrindo indecentemente, com o mesmo nível de
indecência que o conjunto possui.
— Use hoje, por favor. — O tom que ele usa é totalmente
sacana.
— Não sei pra que, pois ficará me cozinhando a noite toda e
não vai consumar — arqueio as sobrancelhas, desafiadora.
— Será mesmo?
Murilo chega mais perto, me deixando afoita, mas apenas
beija meu pescoço e se afasta, rindo. Abusado!
— Você me paga!
Eu me arrumo enquanto ele vai em direção à sala, mexendo
no próprio celular. Ele, como tem roupa aqui em casa, arrumou-se e
tomou banho por aqui mesmo, pra não precisar ir em casa.
Confesso que tá gatíssimo como sempre. Aff! Termino de me
produzir, passo um perfume e ele aparece no quarto.
— Pronta? — questiona, chegando perto.
— Sim.
— Tenho mais uma coisa pra você — ele fala, colocando as
mãos nos bolsos.
Pronto! Ele ganhou cem por cento da minha atenção e
curiosidade.
— Aqui. — Tira uma caixinha do bolso e abre. — Terceiro
presente do dia.
— Quarto — corrijo.
Vejo que são dois anéis. Um simples e outro com várias
pedrinhas em cima. Arqueio as sobrancelhas, surpresa, com o
coração acelerado. Dou minha mão pra ele pôr.
— Comprei ontem, quer?
— Sim! — Ele abre um sorriso e coloca no meu dedo. — Eu
amo seu lado romântico — confesso, encantada, olhando para o
anel no meu dedo.
— Se você acha que colocar um anel pra todo mundo ver e
saber que você tem alguém, é romântico... — devolve com a maior
cara de pau.
Adoro esse jeito dele, ele sabe ser atrevido e atencioso ao
mesmo tempo. Encanta demais!
— Cretino! Eu achando que era fofura da sua parte e você
marcando território — sorrio com a confissão descabida dele.
Pego meu celular e as chaves, e saímos em direção ao
carro.
— Vamos jantar onde? — questiono no caminho.
— Naquele que te levei — diz, atento no trânsito.
O restaurante a que ele se refere é o que jantamos quando
ele me buscou do trabalho, antes de transarmos pela primeira vez.
— Vou passar em casa primeiro — comenta.
— Pra quê? — Franzo as sobrancelhas.
— Esqueci o outro cartão lá.
— Usa o meu então.
— Não precisa — simplesmente responde, sem tirar os
olhos da pista.
Dou um muxoxo descontente, mas ele não se abala.
Continua focado no trânsito. Ele para o carro em frente à sua casa.
Eu quis ficar, mas acabei indo com ele.
— Por que não ficamos aqui e pedimos comida? — digo,
com segundas intenções. — Ficarei satisfeita com isso e iria amar
ter seu corpinho como presente, já que me negou pela manhã. Tá
regulando demais.
— Fica quieta, mulher — ri, apertando-me com um braço.
Rio com ele, destranca a porta e dá passagem pra eu ir na
frente. E quando acendo as luzes...
— SURPRESAAA! — gritam em coro.
Minha única reação é me assustar, dando um passo pra
trás, batendo-me no Murilo que tá atrás de mim gargalhando, e me
segurando pelos dois braços pra eu não cair. Estão todos aqui,
meus pais, James, Ísis e meus sobrinhos, Liz, Nat, Téo e os amigos
de Murilo, que já conheço.
Continuo congelada no lugar sem saber como reagir a isso.
Nunca tive uma festa surpresa!
— Eu não acredito! — exclamo eufórica, vendo minha
família.
Olho pra trás e vejo Murilo sorrindo e apontando com o
queixo pra eu entrar; sorrio e entro com ele. Meu irmão é o primeiro
a me abraçar e desejar parabéns. O abraço dele é quente e
acolhedor, como o do meu pai. Ele me solta e minha mãe me agarra
fortemente, quase me fazendo chorar de saudade. Retribuo com o
mesmo sentimento.
Tem momentos que eu tenho vontade de chorar de saudade
aqui sem eles. Entramos e meu pai logo me abraça apertado, assim
como minha mãe e Ísis, que me apertam forte e desejam parabéns
novamente.
Liz vem na minha direção e me abraça forte, me fazendo
apertá-la ainda mais e agradecer. Em seguida Nat aparece e me dá
os parabéns também, do jeito escroto que só ela sabe.
Apresento formalmente Murilo para a minha família. O
pessoal rapidamente se espalhou e começou a conversar. O
falatório na sala tá alto e Liz me chama pra rodinha, gargalhando.
Fui ver o que as meninas queriam e era pra eu ver o vídeo
da minha reação de surpresa. Eles me pagam! Tinha que ser
Natasha a gravar essa merda.
Bebemos enquanto conversamos. Saio com Ísis pra
cozinha, pra pegar mais bebidas, e vejo vários salgadinhos e um
bolo redondo, não muito grande, com as velas simbolizando os vinte
e cinco anos, no topo.
— Vão pra casa hoje não, né? — Pego um salgadinho pra
mim.
— Não. Fica tarde.
— Vão lá pra casa com meus pais, fico aqui com Murilo —
dou de ombros.
— Estender a noite, né, safada?
Arqueio as sobrancelhas sugestivamente. Rimos e Murilo
aparece. Olho pra ele e sorrio, ele retribui automaticamente. Deixa
um selinho rápido na minha boca, abocanha o salgado que estava
na minha mão e sai inabalável, nos deixando sozinhas de novo com
uma latinha na mão.
Voltamos pra sala e bebemos enquanto conversamos e
comemos. Eu me divirto com as meninas e Murilo vem pro meu
lado, me enlaçando pela cintura. Olho para meu moreno dos olhos
escuros, que tem barba de homem feito, mas mantém um sorriso de
menino e descarado ao mesmo tempo, que encharca calcinhas,
principalmente a minha. Como pode ser tão gostoso?
O jeito que ele me olha me faz sorrir de um jeito bobo. Sinto-
me especial como nunca.
— Quero um beijo — peço baixinho só pra ele ouvir.
Ele segura na minha nuca, ainda me apertando pela cintura,
e me beija carinhosamente, mas quente e gostoso do jeito que ele
sabe, sem se importar com plateia.
O beijo tem um leve gosto de cerveja. Eu me controlo pra
não gemer enquanto ataco sua boca, sentindo sua língua me deixar
um pouco molhada lá embaixo, de um jeito que eu julgo discreto.
Estou de uma forma que qualquer coisa já me esquenta. Ele tá me
regulando há três dias, por isso ontem ele dormiu em casa. E olhe
que não foi por falta de tentativas da minha parte.
— Mais tarde, prometo — sussurra e percebo que tá
arrepiado.
Me separo do Murilo, sem ar, antes de ficarmos
empolgados, e olho ao redor enquanto passa a barba no meu
pescoço, de leve, me arranhando e arrepiando. As pessoas estão
conversando e bebendo normalmente, menos James, que me
observa enquanto abraça Ísis. Ambos com caras de deboche. A
diferença é que Ísis não controla o sorrisinho. A convivência é tanta
que eles têm as mesmas manias e expressões.
Rio pelo flagra, e coloco minha cabeça no ombro de Murilo,
que depois de dar um beijo no meu pescoço, vira pra trás pra saber
do que eu ri. Ele suspende o copo pra James, que faz o mesmo.
Vira-se novamente pra mim e me presenteia com um sorriso.
Minhas pernas não funcionam como antes.
No final dos parabéns eu já estava chorando e sorrindo ao
mesmo tempo, vendo aquele carinho todo que tiveram comigo.
Agora entendi o que as meninas quiseram dizer com relacionamento
abusivo. Um relacionamento saudável nunca vai exigir que se
sacrifique seus amigos, seus sonhos ou a sua dignidade.

— Obrigada por trazer meus pais pra cá. Eu amei cada


minuto. — Coloco minha cabeça no seu ombro enquanto me abraça
de modo protetor. Não espero mais nada. Dou-lhe um beijo ardente
em puro e sincero agradecimento.
Murilo aperta minha bunda por baixo do vestido; vou um
pouco pra frente e gemo contra sua boca, continuando a beijá-lo.
Puxo sua camisa pra fora e seguro no seu tronco. Ele me
segura pelas pernas, me carregando pro quarto enquanto nos
beijamos.
Fecha a porta e me imprensa na parede. O corpo treme
quando sinto ele animado, pronto pra mim. Suspiro, soltando sua
boca pra pegar fôlego.
Preciso nem dizer como eu e minha calcinha estamos, né?
Ele tira meu vestido, assim como meu sutiã, e chega mais perto, nos
deixando ainda mais colados e voltando a me beijar. Geme puxando
meus lábios. Joga-me na cama, ficando por cima, me deixando
entre suas pernas. Ele é tão sexy!
— Sabia que essa calcinha combinaria com você. — Sorri,
satisfeito.
Ele desce deixando um beijo no meu pescoço e queixo,
percorrendo os meus seios, arranhando e arrepiando meu corpo por
causa da barba.
Pega um dos meus mamilos com a boca, suga e lambe um
com voracidade enquanto massageia o outro. Gemo arqueando um
pouco as costas e agarrando os seus cabelos.
Murilo vai beijando minha barriga enquanto alisa minhas
pernas. Contraio a barriga e pressiono o calcanhar na cama,
segurando os cabelos dele como se fossem minha salvação, mas
ele simplesmente me gira de costas pra cama e distribui beijos no
meu pescoço; fico mole, anestesiada e mais arrepiada. Ajeito o
corpo um pouco ansiosa pelo que está por vir. Estou arrepiada.
— Relaxe e aproveite o momento — ele sussurra no meu
ouvido.
— Humm — gemo com todos os meus sentidos em estado
de alerta.
Começa a acariciar atrás das minhas orelhas suavemente e
distribui beijos no meu pescoço. Continua a deslizar os dedos pelo
meu braço enquanto, com o polegar, faz uma pressão na minha
pele. Ele me beija sem pressa, apenas me arrepiando.
— Seus cabelos têm um cheiro maravilhoso. Amo quando
você dorme aqui e deixa esse cheiro no travesseiro — sussurra,
divagando, e continua a distribuir beijos no meu pescoço e a passar
a mão calmamente perto daquela área, descendo.
Fico sem ar com a confissão e a sensação dos beijos na
minha área sensível.
Minhas costas são muito sensíveis, e pelo jeito ele já
percebeu, pois vai e volta ali. Segue para minhas coxas colocando a
mão no meio e eu contorço, gemendo. Faz uma pequena
massagem ali e me vira de frente.
Olho para ele, que me devolve o olhar. Na verdade, ele me
devora com o olhar, em uma promessa silenciosa do que vem pela
frente. Abaixa a boca perto da minha e me beija intensamente, de
um modo instigante, mas carinhoso.
Passeia os dedos suavemente pelo meu queixo e passa a
mão nos meus seios, sem chegar nos mamilos, enquanto me beija
no pescoço. Gemo me sentindo cada vez mais molhada. Ele
continua a passear a mão carinhosamente pelo meu corpo, me
deixando entregue.
Finalmente parece que vai dar atenção onde eu quero, mas
passa direto e sobe de novo para minha barriga. Faz o caminho de
beijos suaves do umbigo até meus seios. Contraio o corpo e seguro
os seus braços. Estou transbordando. Puxa minha calcinha, pondo
um dos meus pés no próprio ombro.
— Preparada?
Antes de eu assimilar as palavras ele começa a passar a
língua suavemente. Estremeço com a respiração pesada. Sinto
passar a língua molhada no local que já está encharcado. Ele beija
toda a área como se fosse minha boca, totalmente safado, tirando
meu fôlego e juízo.
Suspiro gemendo e apertando os olhos, sentindo a
sensação que está me proporcionando. Arqueio as costas e puxo o
cabelo dele sem dó, enquanto faço uma pressão no ombro com meu
pé.
Ofego me contorcendo na cama, me sentindo mais molhada
que qualquer outro dia. Ele está caprichando nas lambidas e beijos.
Sinto o orgasmo se formar cada vez mais rápido dando pressão
embaixo, junto com a língua de Murilo, mas cada vez que ele
percebe isso, desacelera, retardando o momento.
— Não estou aguentando mais — falo, muito excitada, mas
sai como um sussurro.
Estou com os sentidos elevados a mil, parece que vou
desmanchar a qualquer momento. Murilo para, tira o short e em
seguida a cueca, mostrando tudo aquilo. Volta na minha direção
engatinhando e me beija.
— Aguenta ou não?
Sorri sacana para mim. Não o respondo, apenas o beijo com
a mesma fome. E assim, ele penetra de vez, profundamente.
O sexo está intenso, forte e quente. Gostoso além do limite,
ele está caprichando. Aumenta a intensidade ainda mais e depois
diminui, rebolando gostoso. Abraço ele com as pernas para ir mais
fundo, agora ele se movimenta carinhosamente, porém de forma
bastante intensa. Ele entrelaça nossas mãos enquanto vai e volta e
eu só consigo gemer.
Intercala beijos entre a minha boca e o meu pescoço. Sinto-
me no céu com cada beijo que recebo. O beijo é quente e gostoso,
assim como a forma como ele se movimenta em cima de mim
enquanto me aperta e ofega rouco, bem próximo ao meu ouvido.
A forma como me toca deixa tudo mais aflorado em mim, urgente e
desesperador.
— Maravilhosa! — Ele me olha nos olhos de uma forma tão
quente quanto meu corpo. — Feliz aniversário!
Sinto sua respiração cada vez mais ofegante sobre minha
pele, me deixando arrepiada. Gemo baixo no seu ouvido, agarrando
seus cabelos. Ele ofega enquanto soca devagar, mais gostoso e
intenso. Sinto-me dissolver embaixo de Murilo e ele continua até
chegar ao ápice.
Esse foi o melhor aniversário da minha vida! Não reclamaria
se fizesse aniversário todos os dias.
18
ALEXIA
Reuniões e mais reuniões de brainstorms. A agitação
começou e não tem previsão de tranquilizar. Tem época que, por
mais que trabalhe, sempre estarei atolada e com pendências. A
agência na qual trabalho está crescendo no mercado em uma
velocidade impressionante e isso significa muito mais trabalho. Só
para o final da próxima semana tenho três campanhas de
reposicionamento de marca, com direito a nova identidade visual. E
são três marcas famosas, pilares da empresa. Fora os trabalhos
menores de época. Muita pressão!
Murilo está tão atolado quanto eu, resolvendo as papeladas
da última reunião, que voltaram para ele rever. A nossa frequência
de visitas baixou um pouco, apesar de nos falarmos por mensagem.
Esse último final de semana não deu para fazermos nada, pois
trabalhei no sábado e domingo. Fiquei me sentindo mal por estar um
pouco ausente, mesmo ele estando tranquilo e me fazendo
companhia numa parte do domingo.
Tudo o que eu mais quero nesse momento é esquecer tudo
isso e ficar com Murilo. Estou morrendo de vontade de ter um
jantarzinho calmo com ele e depois um resto de noite gostosa e sem
complicações.
Volto para minha mesa, guardando a paleta de cores da
pantone, pois Téo e eu estávamos decidindo a tonalidade que
colocaremos na paleta de identidade visual do cliente.
Estou pronta para ir embora, finalmente. Só quero
atravessar a porta de saída e esquecer que proporção áurea e grid
existem.
Quero me redimir com meu moreno indo ao seu trabalho
para que voltemos juntos, fiquemos juntinhos e recompensemos
essas duas semanas péssimas.
Como meu carro está na revisão, peço um Uber. Ele ainda
está lá, pelo horário.
Faço meu caminho quieta para descansar a cabeça. Murilo
faz uma falta enorme na minha rotina. Tem três dias que não
dormimos juntos e sinto falta dos braços dele em torno da minha
cintura, como um abraço de urso, e dos seus beijos fogosos. Sem
contar que também sinto falta do cuidado dele de fazer e tomar café
comigo de manhã, de me abraçar para dormir.
O carro chega no meu destino e desço, depois de pagar e
agradecer. Chego no hall e o encontro debruçado de lado, no balcão
da recepção, junto de três pessoas, conversando.
Antes analisemos Murilo: camisa social grafite dobrada, anel
que faz par com o meu, reluzindo, e calça preta com seu porte de
homem gostoso, mas no meio de tudo isso tem uma oferecida perto
dele me deixando muito incomodada. Você deve estar se
perguntando por que ela é oferecida, se eu estou meio de longe? E
eu te respondo: nós mulheres sempre sabemos quando a mulher
quer seu homem ou quer só amizade. E sim, ele é meu homem.
Pela forma como ela está se insinuando e tocando seu
braço, a cada dois segundos, eu percebo que não é amizade,
confraternização ou sem querer. Ela está se jogando pra ele,
descaradamente.
Pelo jeito eu fico ausente três dias e já tem candidata. E
sabe o que mais me deixa aborrecida? Murilo não faz nada! Não a
afasta! Não manda ela parar! Só fica ali, como se nada estivesse
acontecendo, deixando-a tocar no seu braço e sorrindo para o que
ele fala.
E pior, ela é bonita, loira, bem vestida e maquiada. Parece
modelo da Vogue e me sinto minúscula, e não é de altura.
Eles são próximos a ponto de deixá-la tocar nele assim e
não se importar? Que grau de intimidade é esse?
Faz alguma coisa, Murilo! Caramba!
Eu estou muito, mas muito perturbada com essa cena. Traz
à tona muitos sentimentos até então adormecidos, muitos
pensamentos ruins e questionamentos que eu não quero dar corda,
mas é impossível não pensar.
Decido virar para ir embora, mas ele me vê e acena com a
mão, sorrindo. Só queria ir embora e trazer a Alexia segura de si
debaixo de tapas novamente.
Ele aperta a mão de todos, dá dois beijinhos na mulher e
fico mais zangada. Estou com uma sensação muito ruim no peito,
angustiada com essa intimidade toda.
Murilo chega perto, beijando minha testa e me abraçando
forte. Em beija meu pescoço e não retribuo.
— Veio me buscar, foi? — sorri, me segurando pelo ombro.
Saímos em direção ao seu carro, no estacionamento, e
entramos. Continuo calada a metade do caminho, martelando tudo
isso. Eu não gostei do que vi. Estou muito atormentada e insegura
com essa pequena cena. E tenho vontade de voar em cima do
Murilo por ele não ter feito nada e ter agido como se estivesse tudo
bem.
— Vamos lá pra casa, né? — quebra o silêncio.
— Eu vou pra minha casa, não estou muito bem hoje —
respondo de olhos fechados.
— O que você tem? — o tom é de incompreensão.
— Coisa minha.
O carro volta a ficar silencioso, mas o clima não está muito
bom. Fecho os olhos quando ele avisa que chegou, mas estacionou
na casa dele e não na minha, como pedi.
— Por que me trouxe pra cá? — Desço do carro junto com
ele. — Eu disse que queria ir pra casa.
Ele me puxa pela cintura, e me imprensa na porta do
motorista.
— Porque eu estou morrendo de vontade de você — a voz
rouca carregada de tesão me arrepia, mas eu estou muito chateada.
Viro o rosto, não querendo aproximação, e ele me olha com
as sobrancelhas franzidas.
— Por que tá assim, afinal? — pergunta, intrigado.
— Porque eu estou chateada, Murilo. Ela praticamente
estava se jogando em cima e você ainda a beijou no rosto, na minha
frente! Então, não me toque! — bufo irritada e o afasto.
— Ela quem? Eu fiz o quê?
Reviro os olhos. Vai se fazer de desentendido agora, a
madame?
— Se pra você tá tudo normal não tem o porquê eu dizer! —
elevo um pouco a voz.
Tudo isso é uma merda, sempre essa sensação de que
serei substituída a qualquer momento, que nunca será suficiente o
que eu sou e faço. Eu realmente estou muito mal. De repente não
me sinto boa o suficiente pra Murilo. E eu odeio isso! Eu me odeio
por ficar sempre dessa forma!
Continuo com o meu semblante carregado. Na verdade, eu
estou mais magoada e insegura do que qualquer outra coisa.
— Quer me contar direito? — põe as mãos na cintura, me
fitando sério.
Eu odeio bancar a namorada ciumenta, não quero ser uma
namorada paranoica porque eu sei quão tóxico isso é, entretanto, o
medo de a história se repetir em tão pouco tempo cutuca algo em
mim que eu não consigo simplesmente olhar pra situação com
tranquilidade. É muito ruim me sentir assim. Tento evitar, mas, porra!
— Eu cheguei lá superfeliz pra te ver e vejo uma mulher te
tocando, cheia de intimidade, e sabe o que me deixou mais irritada?
Você deixou! — respondo, indignada. — Se você não a afastou,
então estava gostando!
— Não estava! Estava conversando, fazendo média com
eles, pois são da empresa, ela estava lá na reunião do outro estado,
fui simpático.
— Não foi o que pareceu. — Sinto meus olhos arderem.
Ele estica a mão pra me pegar pelo braço e, num reflexo
idiota, encolho-me e me protejo, percebendo o que eu fiz assim que
ele para a mão no ar, intacto. Droga!
Meu corpo acostumado a tomar apertões antigos, a cada
briga que eu tinha, achou que eu iria ser machucada de alguma
forma novamente, então reagiu antes mesmo de eu perceber o que
estava fazendo. Está vendo que situação bosta?
— Eu não iria te machucar — ele diz, com uma voz
desconcertada e calma.
Odeio esse olhar que ele faz, pois fico me sentindo uma
coitadinha e detesto isso. Eu me sinto ainda mais idiota.
— Eu sei... — Sinto algumas lágrimas escaparem dos meus
olhos e limpo rapidamente. — Não precisa ficar com esse olhar.
Por mais forte que eu tente ser, sempre vou parecer uma
fraca. Odeio tudo isso!
— Desculpa. Vem aqui, se for sua vontade — pede baixo.
Ele abre os braços e eu vou, meio relutante por ainda estar
brava, mas quero o abraço. Murilo delicadamente me leva pra
sentar no sofá, no seu colo, e fico com ele me prendendo. Suspira e
me olha com o semblante mais suave.
— Eu nunca machucarei você. No dia em que eu pensar na
possibilidade, quero que minha mão caia antes mesmo de isso
acontecer. — Suavemente, ele alisa minha bochecha e eu aceno. —
Lorena é filha de um dos acionistas, foi lá acompanhar o pai,
apenas. Ela é espontânea desse jeito...
— Tá mais pra oferecida — corto o assunto e ele demonstra
um pequeno sorriso, mas recompõe-se rapidamente. — Ela estava
se jogando pra cima de você. Não estava sendo espontânea.
— Não se sinta ameaçada, porque não tem necessidade.
Juro que nunca dei brecha alguma pra ela, nem percebi que estava
se jogando pra cima de mim, eu só queria terminar o papo pra poder
ir pra casa, estava até pensando em ir te buscar.
Murilo me aperta no seu colo e me sinto ainda mais tola.
Esses sentimentos são uma droga. Esse medo de ser substituída a
qualquer momento me sufoca.
— Eu me sinto uma idiota. Tenho medo de te perder pra
alguém mais interessante, de você encontrar alguém melhor que eu!
Eu sou insegura, já fui iludida, traída, usada, enganada, tapa
buraco, jogada pra escanteio, a maioria dessas coisas feitas pela
mesma pessoa, que confiei e me entreguei abertamente. Não
estranhe meu ciúme por coisa bobas, é que tudo isso me convenceu
de que nasci pra ser insuficiente.
Suspiro, limpando meus olhos e a lágrima teimosa. Eu estou
com uma sensação horrível novamente, a insegurança é uma velha
amiga e quando vem, se instala, não tenho como expulsá-la ou
simplesmente não a deixar entrar.
— Impossível, Alie. Olha o que você tá falando? Eu curto
você pra caramba! Para mim você é a melhor, e eu só vou embora
se você me mandar, tá entendendo? Não arredo o pé por
espontânea vontade, porque não tenho vontade de ir.
Segura na minha nuca, levando minha boca pra perto da
sua, tocando nossos lábios apenas, sem beijos; fico com vontade.
Suspiro, sentindo um certo reconforto, mesmo que ainda insegura.
— Não é pra se sentir ameaçada, pra mim você é a mulher
mais bonita e interessante que existe. Sou doidão por você, doido,
entendeu? Você é suficiente pra caralho!
Aceno, concordando. Sentindo o carinho na minha
bochecha e a sensação de afago. Esse gesto aqueceu totalmente
meu corpo. Gosto muito dessa sensação de ele insistir em mim, de
doar atenção.
— Desculpa a grosseria, é que estava criando paranoia e
fiquei com raiva de você, sou uma idiota que não sabe acabar com
essa sensação ruim de vez, é que... — Murilo me corta.
— Eu sei desses pequenos traumas e farei de tudo pra
apagar essas marcas.
Aceno mais uma vez. Finalmente me beija e eu retribuo,
matando minha vontade da semana.
— Ei, morena... — Ele usa o maldito tom de voz que me
amolece.
— Não faça isso! Eu ainda estou brava!
— Meu pau só quer você — sussurra entre os beijos.
Sua língua ávida toma posse da minha boca cada vez mais
e aos poucos me sinto mais envolvida naquilo, aproveitando e
matando a saudade, coisa que eu queria desde o início, pois
merecemos.

Sábado chegou tranquilo. Depois que tivemos a pequena


discussão, fizemos as pazes e voltamos a ser o casal de sempre.
Sem complicações. A diferença é que eu não escutei ofensas
pessoais, nem fiquei com roxos nos braços ou qualquer parte do
corpo. O nosso relacionamento está indo tão bem! Quero que esse
fim de semana seja sem preocupações.
— Ei, morena.
— Hum. — Abro os olhos depois de piscar algumas vezes e
vejo que está olhando pra mim.
Dou um sorriso fraco por ainda estar com sono.
— Sabe que hoje sou eu quem vai escolher o programa, né?
— pergunta e me deixa na posição de conchinha.
— Não sei disso, não — sacaneio um pouco. — Você
perdeu essa chance ontem à noite.
Ontem, quando chegamos do trabalho, resolvemos fazer
uma noite de fondue e vinho. Decidimos jogar canastra, mas claro
que com Murilo nada é inocente, ele propôs que quem perdesse
tirasse uma peça de roupa.
— Sua mentirosa! — Ele vem pra cima de mim, me
imobilizando. — Foi você!
— Você interrompeu o jogo quando tirei o sutiã, então
tecnicamente eu ganhei. — Olho desafiadoramente.
— Que atrevida! Assuma a derrota ou te amarro você na
cama até dizer! — Ele me aperta ainda mais.
— Então não digo mesmo! — Sorrio e beijo sua mão, que
está entrelaçada na minha.
— Sua safada! — Encosta ainda mais nossos corpos e me
dá um selinho no meio de um sorriso. — Ainda assim, preparei uma
manhã legal pra nós.
— Hum. O que seria esse legal? Saltar de onde? Ou vai
querer perder na corrida de novo?
Murilo me olha novamente com as sobrancelhas arqueadas
e faço o mesmo. Ele me diverte tanto!
— Nenhuma dessas opções. Que tal uma exposição
fotográfica? Soube que tem uma essa semana.
— Não brinca!?
— É sério. Já comprei nossas entradas pela internet.
— Eu não acredito, Murilo! — Sorrio extasiada, beijando seu
queixo.
— A exposição fica aberta das 9h às 18h. Devem ser 10h
agora, vamos?
— Claro que vamos! — Fico mais empolgada.
Levanto da cama e corro para o banheiro, saltitando. Adoro
eventos culturais, pena que fui em pouquíssimos. Sempre perco as
exposições que colocam no museu daqui.
O dia está bom, fresco e com um clima gostoso. Atravesso o
corredor da cozinha de Murilo, onde ele faz nosso café.
— Café ou suco?
— Cappuccino.
— Obrigada por me trazer — digo, quando estamos saindo
da exposição. Amei.
A exposição foi muito legal e interessante.
— Não foi nada. Eu também gostei.
— Por que escolheu uma exposição se você nunca se
interessou muito por fotografia? — pergunto, já dentro do carro e
virando minha cabeça no recosto.
— Porque você gosta. — Olho pra ele e sorrio pelo gesto de
carinho. — Vamos almoçar. Já são quase duas da tarde — ele me
avisa.
— Por favor! Estou azul de fome! — Sinto minha barriga
vazia.
— Bora pro shopping? Almoçamos por lá mesmo.
— Claro.
Passamos o resto do caminho em direção ao shopping
conversando sobre a exposição e as melhores fotos que vimos.
Andamos no shopping tranquilamente e seguimos em direção à
praça de alimentação. Ele acabou indo pedir nossa comida, pois
aqui está cheio por ser fim de semana e eu estou guardando os
lugares.
Eu me pego sorrindo boba com a mão nos lábios, vendo-o
de costas apontando para alguma coisa e falando com a atendente.
Está se sobressaindo no meio de algumas mulheres que estão na
fila. Ele é do tipo de homem que você vê na rua e olha direito pra ter
certeza que é aquilo tudo mesmo. E confesso, sinto um ciúme
absurdo dele, o que é estranho, pois sempre fui “tanto faz” com
meus ex-namorados. Nunca senti ciúmes de nenhum deles, não
como eu sinto com Murilo.
Murilo é muito bonito; atrevido e cretino, mas encantador.
Adoro o jeito como ele se porta, seu corpo e principalmente seu
sorriso.
— Tem certeza de que não vai se chatear? — pergunto,
receosa.
Lizandra ontem me chamou pra um programa, com as
mesmas meninas que conheci na cervejaria. E fiquei curiosa pra
conhecer o lugar que elas marcaram, uma boate. O sócio é
namorado de uma amiga dela, da revista, que eu conheci no dia da
cervejaria. A festa será limitada e conta com uma DJ brasileira, que
por nome eu não conhecia, mas quando me disse quais eram as
músicas dela eu soube e consegui ingressos para as amigas dela e
Liz me colocou no meio. Lizandra é bem relacionada, trabalhando
numa revista popular e com um cargo bom, o que mais ela faz é
conhecer pessoas e consequentemente ser convidada pra muita
coisa; às vezes, programas caros.
— Por que eu iria? — Murilo tranquilamente pergunta,
juntando as sobrancelhas. — Vai com as suas amigas, né? Então!
Fico sem resposta. Realmente, por que ele iria se chatear?
Murilo talvez não ligue, mas antes não poderia sair sozinha pra
boate com Liz num domingo à noite nem eu sonho. Murilo não é ele,
meu relacionamento é saudável. Eu tenho que lembrar disso a todo
momento. Algumas coisas continuam aqui, eu sigo acostumada com
muitas coisas que não me fazem bem, por mania.
— Eu não ligo, morena, pode ir. — Ele percebe que eu não
reagi à sua pergunta. — Mas tenho uma condição.
Vejo cruzar os braços, mostrando os belos bíceps desnudos.
Vive sem camisa pra me deixar babando.
— Qual? — pergunto já mandando mensagem pra Liz,
dizendo que eu vou. E suspendo meu olhar pra ele.
— Prometa que vai tomar cuidado, que não vai aceitar
bebidas de estranhos e nem beba demais, pra não acontecer nada
com nenhuma de vocês. E qualquer coisa me liga.
Sorrio sendo tomada por uma sensação gostosa de cuidado
e carinho pelo homão que eu chamo por meu namorado. Aceno,
concordando, com um sorriso bobo na cara, indo pra perto dele para
beijá-lo. Cada dia que passa eu me sinto uma sortuda, Murilo não
existe!
— Você é muito amaciante, Murilo — rio.
— Hã?
— Já que não posso te chamar exatamente de fofo... —
suspendo os ombros, lembrando do dia que o chamei de fofo e ele
ficou todo cheio de bico.
Ele ameaça levantar do sofá e eu corro, rindo, direto pro
banho. Tenho uma hora pra estar pronta, preciso correr e nem sei a
roupa que vou usar ainda.
Enrolada na toalha e de cabelos secos, entro no meu
quarto, encontrando Murilo com meu armário aberto, com a mão no
queixo, encarando algo lá de dentro.
— Tá fazendo o que aí, Murilo? — questiono, curiosa.
— Escolhendo uma roupa pra você. Não sabia que tinha
tantos saltos — suspende uma botinha cano curto preta e de salto
que eu raramente uso. — Usa essa, morena.
Rio, indo me maquiar. Enquanto ele brinca de “monte meu
look”, eu adianto aqui. Meus cabelos estão secos, fiz isso no
banheiro mesmo, agora é só usar o babyliss.
Esporadicamente, olhava pra ver Murilo se achando um
verdadeiro fashionista, me mostrando as peças de roupa que ele
achava legais e perguntando se eu queria usar. Fiquei
completamente surpresa, pois a roupa que ele escolheu ficou
bonita, eu me senti sexy com o vestido de barra oval que ele
escolheu. Achei que iria escolher uma roupa mais comportada,
abaixo do joelho, mas estava totalmente errada.
Queria dizer que: namorem com alguém que aumente sua
autoestima, que elogie a forma como você ficou na roupa que ele
escolheu, e o melhor de tudo, que não implique pelo fato de sair se
divertir com as amigas, já que ele fará o mesmo. Vai jogar futebol
com um grupo de amigos do trabalho ao invés de ficar bravo por sair
sem ele, ou simplesmente brigar pra que não vá. Não percam tempo
com pessoas que não movem um dedo pra tentar se encaixar na
sua vida, pois o sentimento de cuidado é bom demais!
19
MURILO
Trabalho do cão! Mas o bom é que estou com algumas
novidades e doido pra contar para a morena, por isso estou com
planos de um jantar fora de casa. Está cheia de trabalho, tadinha,
sufocada. Toda pilhada e só escuto ela resmungar: “poxa, moreno,
estou cheia de trabalho”, “vê qual das opções você prefere”,
“acredita que ele mandou eu refazer?”, “eu queria pedir demissão!”,
“Murilo, eu Estou trabalhando, não desce o short!”.
Toda dengosa aquela morena gostosa. Cada dia que passa
Alexia fica mais bonita e a boca ainda mais convidativa. Cada dia
que passa ela se torna uma Alexia ainda mais atrevida e lasciva.
Aos poucos ela está retomando a segurança que lhe foi
covardemente roubada.
Meu celular apita e apanho do bolso, vendo seu nome
aparecer na tela. Parece que tem sensor, basta eu pensar nela que
se faz presente de alguma forma.
Você me busca, moreno? Estou sem o carro.
Sorrio. Não consegui ficar um dia longe. Dormi sozinho em
casa e foi ruim demais.
“Busco, mas quero algo em troca.” — Envio e destranco o
carro.
Logo o celular apita novamente.
Qual sua proposta? Analisarei os prós.
Leio a mensagem e já imagino ela com seu sorriso lascivo
ao enviar. Ela gosta de provocar.
“Eu, você e orgasmos. Descobri uma posição nova, quero
testar. ps: te deixo escolher o lugar que iremos começar.”
Dou minha proposta e espero sua resposta, que não demora
nem dois segundos.
Proposta aprovada, estou esperando.
Gargalho pela resposta. Alexia é provocativa demais. Ela
escreveu antes mesmo de saber o que eu falaria, certeza!
“Estou saindo, daqui a pouco te pego.”
Bloqueio o celular, ligo o carro e vou em direção ao seu
trabalho. Esse final de semana promete!

ALEXIA
Trabalho, trabalho e mais trabalho. Cheia de projetos novos,
não vejo a hora de chegarem minhas férias. Almocei com Murilo
hoje e tive que refazer um projeto, o cliente mudou de ideia. Às
vezes eu tenho vontade de xingar todos eles, mas pelo menos estou
com sorte no amor.
Murilo e eu continuamos firmes e fortes, apesar de
discussões normais, como um casal comum. E descobri que sexo
com raiva é bom em certos momentos!
— Que gostosa! O namorado dessa daí deve ter é sorte! —
escuto uma voz masculina enquanto estou descendo as escadas do
hall.
— Tem mesmo. Ele é bem sortudo!
Enlaço o pescoço de Murilo enquanto rimos juntos. Só ele
mesmo pra me saudar dessa forma.
— Como foi o seu dia? — Sinto suas mãos quentes alisarem
minhas costas.
— Um porre! E o seu?
Murilo segura na minha nuca e me beija, do jeito que ele
sabe que me deixa mole e elétrica ao mesmo tempo.
— Acabou de ficar bom. — Sorri e eu o acompanho. —
Estou a fim de algo hoje.
Murilo não consegue ficar na monotonia.
— De que, por exemplo?
— Não sei. Vamos sair pra jantar?
— Onde? — Arqueio as sobrancelhas e dou mais um beijo
rápido nele.
Sorrio segurando sua mão e saímos da frente do prédio,
indo em direção ao seu carro.
— Não sei, mas queria te levar pra comer fora, quero contar
uma coisa.
— Seria uma boa irmos comer comida japonesa —
proponho. — Você gosta de sushi?
Paramos em frente ao seu carro estacionado.
— Como, mas sempre peço uma pizza ou hambúrguer
depois, porque aquilo ali não me satisfaz. — Dá de ombro. — Eu
gosto de morder carne.
Murilo morde meu ombro e beija logo em seguida, mas a
mão forte continua na minha bunda.
— Então você escolhe. Estou morrendo de fome e quero
saber o que você tem para me dizer.
Estou morta de curiosidade!
— Vamos no japonês, lá eu conto. Tá cedo ainda, mais
tarde podemos pedir pizza.
Aceno, ele destranca o carro, abre a porta para que eu
entre, e logo faz a volta. Fizemos o caminho no clima gostoso, como
sempre. Ele me contando sobre seu dia, sobre quão bom está
sendo a propaganda que fiz e como ele faz questão de contar para
quem aparecia que fui eu. É tão bom ter incentivadores dentro da
própria casa!
Chegamos no restaurante, que não está tão cheio. Eu adoro
o clima e o ambiente dos restaurantes orientas, especialmente esse
que ele me trouxe. Pensei exatamente nesse.
Ele até quis pegar uma das salas reservadas, mas preferi
ficar numa mesa comum.
Amo a decoração que traz elementos da cultura oriental,
lanternas japonesas, ambiente meia-luz, velas na mesa, e sou
apaixonada pelas louças típicas, principalmente pelo copo
quadradinho.
Murilo e eu bebemos um pouco de saquê depois de termos
feito o pedido: uma barca para nós dois.
— Estou muito cansada — comento.
— É? Eu estava planejando te dar uma canseira.
Reviro os olhos prendendo o riso. Murilo é terrível! Muito
sacana!
— Talvez eu queira esse tipo de cansaço. — Arqueio as
sobrancelhas. — Quer me contar o quê? — Não aguento mais a
curiosidade.
— Recebi e-mail, meus documentos foram aceitos. Querem
conversar comigo de novo, por isso preciso viajar. — Mostra-se
eufórico e cauteloso.
— Que notícia maravilhosa, Murilo!
Não vou mentir, estou orgulhosa. Fico muito feliz por vê-lo
conquistar suas metas.
— E você vai quando? Deu previsão? Vai ficar quanto tempo
lá? — bombardeio com perguntas.
— Marcou pra final do mês. O tempo que ficarei lá não me
disseram, no máximo uma semana, uma semana e meia. Quero ir
pra ver como tudo vai funcionar, como vai ser a forma de retorno. A
promoção tá garantida, vou mudar de cargo, conversei hoje com o
RH sobre o contrato.
Abro um sorriso de doer a mandíbula. E o sorriso dele é tão
grande quanto o meu. Que orgulho sinto do meu moreno! Muito
obstinado, o que ele quer, ele pega. Atrevido e decidido!
— Estou muito orgulhosa de você, nunca duvidei da sua
capacidade.
A comida chega e eu devoro um dos sashimis. Faz tempo
que eu não como comida japonesa, e pior, eu gosto. Murilo cata um
e come, fazendo uma careta por pura implicância, mas come
normalmente.
Adoro o molho e tempero agridoce e cream cheese. A
primeira vez que comi eu estranhei, foram as meninas que me
levaram, mas depois fiquei com o gosto na boca, com vontade de
experimentar mais uma vez e comi sozinha. Agora Estou sempre
comendo quando tenho oportunidade, mesmo não sendo muito fã
do arroz, que acho muito grudento.
Apanho um makizushi, um dos meus favoritos, no hashi, e
dou na boca de Murilo, que mastiga e ri pra mim. Passa o polegar
no canto da minha boca e lambe o molho, bem sacana.
— Comer peixe cru com você é bom!
Já disse que amo o sorriso dele? É um sorriso descarado
demais!

Em casa, em meio a projetos com prazos curtos, inclusive


um deles para entregar amanhã, decido ligar para os meus pais.
Murilo está na correria com a papelada para anexar em alguns
documentos. Ficou de vir mais tarde para dormir comigo.
Estou com saudade dos meus pais, apesar de tê-los visto no
meu aniversário. Faço uma chamada de vídeo para minha mãe e
espero ela atender. Conversamos por uns dez minutos sobre coisas
aleatórias, até cair no assunto: meu novo namorado.
— O que a senhora está achando de Murilo? — Aproveito
que nós duas estamos conversando. Eu sempre a usei de
confidente, mesmo tendo Ísis comigo desde que comecei essa coisa
de namoro.
— No geral ele parece ser bom rapaz. A forma carinhosa
que te tratou lá no seu aniversário e se preocupou em ligar para
nós, que moramos longe, achei atencioso da parte dele.
— Murilo é diferente, mãe. A sensação é de que gosto dele
mais do que consigo mensurar, sabe? O sentimento vai crescendo
cada vez mais e eu não sei explicar nem controlar — sou sincera
nos meus sentimentos.
— Isso é amor, querida — simplesmente responde e me
olha.
— Não é, mãe, nada a ver.— É um absurdo! — Nos
conhecemos há pouco tempo.
— Só te digo pra ter cuidado, tá bem? Sei que você tem
mania de se entregar nos seus relacionamentos, mas só toma
cuidado. Não quero te ver magoada depois.
— Não tem como ser amor, mãe. Diego dizia que me amava
e olha o que aconteceu — tento justificar.
— Ele não te amava, só tentava te convencer disso. E
desde quando amor tem validade pra começar? — questiona, me
olhando como se falasse: “toma essa!”.
— Sei lá. — Dou de ombros.
— Sinceramente, Alie, não sei como você ficou tanto tempo
com aquele lá. Se eu morasse perto ele NEM chegaria perto. E por
favor, não deixe homem algum te tratar como se você fosse alguém
que não merece ser amada. Você pode, aliás, você é. — Aceno, me
sentindo uma garotinha com os olhos ardendo.
— Obrigada, mãe, eu amo a senhora — agradeço
verdadeiramente, meu coração aperta e quero voltar pra perto
deles.
— Não chora, filha. Você pode ter a idade que tiver, mas
ainda será meu bebê e vou cuidar sim de você. Criei filha minha pra
isso. Não deixe ninguém dizer o contrário.
Saudade é um troço chato. Às vezes eu tenho vontade de
largar tudo e voltar lá, tudo o que eu queria era um abraço dela.
— Eu quero ter o que a senhora e meu pai têm — suspiro,
sonhadora, sorrindo novamente para espantar as lágrimas teimosas.
— O quê? Netos abusados e filhos desajuizados? — faz
graça e gargalhamos. Terminamos a chamada com um gostinho de
saudade, de nos vermos em breve. Despedir-me da minha família
sempre foi doloroso para mim e para eles.
Mexo no celular e passo as fotos na minha galeria. Sorrio
por causa de uma em que estamos Murilo e eu, no dia da sinuca. O
sorriso dele é o mais lindo que já vi, contagia de uma forma ímpar.
Eu amo essa foto!
Confesso que ainda tenho medo de que ele vire sapo. Já
achei também que está comigo porque “não tem nada melhor para
fazer” ou porque “sou uma presa fácil”, mas tento espantar isso da
minha cabeça e curtir o máximo do que estamos vivendo.
Parece que a vida que temos não passa de um sonho louco,
e que vou encarar que minha vida é sem graça. Tenho medo de
perceber que isso que eu vivo com Murilo é apenas minha
imaginação, como se fosse uma válvula de escape. Murilo é
“Hilbert” demais pra ser real. Como assim, esse homem me beija e
sorri pra mim? Ele é muito gostoso! Gostoso até dizer chega. Será
que eu o amo mesmo?

Pegando o celular na minha bolsa para saber onde está


Murilo, mentalmente planejo o que fazer quando chegar em casa.
Não vejo a hora de chegar amanhã, sexta-feira. Mas corto o
raciocínio quando avisto quem eu menos queria. Diego. Ele não
cansa?!
Depois da briga na frente do meu apartamento ele sumiu,
provavelmente para consertar o nariz, que Murilo deve ter quebrado,
mas, pelo jeito, não sumiu de vez, infelizmente.
— Não quero brigar, não voltaremos — pontuo, sem
paciência.
— Olha aí, a senhora segura de si — cínico!
Ele chega mais perto de mim e eu dou um passo para trás,
cautelosa para manter distância, mas ele me puxa pelo braço.
— Acho que precisamos conversar — diz, com um ar
prepotente.
— Não precisamos e não vamos voltar. Esqueça isso. —
Tento me soltar.
— Quando ele te trair, você virá chorar pra mim.
— Não vou, nem ele fazendo isso eu te quero. — Estou de
saco cheio dessa merda toda.
— Você ainda vai ser minha. Escreva o que te digo — chega
mais perto, falando ameaçadoramente.
Eu me assusto com as palavras dele. Ele está se saindo um
psicopata de primeira.
— Diego, por favor, para com isso. Me esquece!
Confesso que estou com medo. Ele chega mais perto.
Segura meu pescoço, apertando, quase me sufocando. Estou com
os olhos arregalados, tremendo de medo e ficando sem ar.
Quanto mais a gente se distancia, mais eu me assusto com
a personalidade dele. Não foi esse o Diego pelo qual me apaixonei
um dia, que dormia na minha cama. Nunca foi! Esse homem na
minha frente é uma pessoa irreconhecível!
— Me solta! — grito fraco.
— Cala a boca! — ele ameaça. — Aquele sujeito ainda vai
me pagar pela briga!
— Não! Me solta!
Ele tenta me agarrar pela mão e eu bato nele gritando por
ajuda, desesperada. Lembro o que Murilo me ensinou no judô, mas
estou desesperada demais para lembrar de algum golpe.
— Lembrarei a você como éramos bons juntos!
Estou tremendo mais que qualquer coisa, mas ainda assim
tento me defender de alguma forma. Meus sinais de alerta afloram
de imediato e o desconforto também, quando sinto sua boca colar
na minha, forçadamente, num selinho nojento, puxando minha boca
para que eu continue no lugar que ele quer.
Escutamos passos chegarem e Diego se afasta rapidamente
e some na escuridão da lateral do prédio. Essa situação está
cansativa! É impressionante a capacidade humana de estragar a
vida dos outros. Tem gente que não suporta ver a felicidade alheia.
Eu me sinto enjoada pelo beijo forçado, por ele ter tocado em mim.
Argh!
Quem chega é Fred, o segurança, e se espanta ao me ver
assustada. Ele me ajuda a voltar para a entrada, perguntando se foi
tentativa de assalto. Murilo está chegando com o celular na mão.
Dou-lhe um abraço apertado, que ele retribui sem entender.
Agradeço a Fred, que acena com a cabeça, e saio calada; Murilo
pergunta o que aconteceu.
— Me abraça, por favor — peço, angustiada, segurando na
sua cintura.
— Que foi que aconteceu?
— Só me abraça.
O cheiro de Murilo é reconfortante. Eu tenho vontade de cair
num choro forte, enquanto limpo minha boca com a mão o mais
forte que consigo.
— Diego aconteceu. — Ainda me sinto apavorada,
lembrando das palavras dele.
Conto a ele o que aconteceu e como fiquei apavorada. Ele
me aperta mais e segura na minha nuca para eu olhar para ele.
— Fica calma, estou aqui.
— Eu Estou com medo. Se não fosse o Fred eu não sei o
que ia acontecer.
— Não pensa nisso. Vamos na delegacia.
— Não. Delegacia não. Ele pode querer se vingar.
Coloco minha cabeça no seu pescoço e ele me abraça
apertado.
— Alexia... — ele me repreende. — Temos que fazer isso.
— Por favor — suplico. — Sabemos como são as coisas
aqui.
— Não concordo com isso, ele tem que ser parado de
alguma forma. — Alisa minhas costas quando volto a abraçá-lo. —
Onde esse cara mora?
— Murilo, Estou pedindo, não. Isso vai me deixar ainda mais
amedrontada, ele é covarde, não confio, pode fazer algo com você.
— No mano a mano eu me garanto.
Faço a viagem pensando nessa loucura de Diego. Quando é
que ele vai me esquecer? Nunca fez questão de mim e quando eu
sigo minha vida ele vem atrás, se dizendo arrependido? Qual é o
problema dele? Eu estou ficando cada vez com mais medo. Passo e
repasso a cena dele tentando me agarrar e fico um pouco agoniada
e agitada. Com vontade de vomitar. A impressão que eu tenho é a
de que ele vai me agarrar a qualquer momento e tentar me beijar
novamente.
Tudo que eu quero é o carinho reconfortante de Murilo na
segurança de um quarto e dos seus braços.
— Vai tomar banho pra relaxar e tira essa roupa suada e
apertada — diz assim que chegamos no seu apartamento.
Concordo com a cabeça e sigo para o banheiro. Minha
primeira reação é vomitar, colocando meu almoço e besteiras para
fora. Diego me dá nojo!
Depois de me sentir melhor, tomo banho, escovo os dentes
e lavo a boca umas cinco vezes para tirar o rastro de Diego, e janto
com Murilo do meu lado. Recebo o carinho de que tanto preciso
para que essa angústia passe.

MURILO
Estou muito puto! Muito mesmo! O cara não se emenda de
forma alguma. O que ele quer com Alexia agora? Ele é louco de
beijá-la e ainda a ameaçar?
Estou com muita vontade de ir atrás dele e dar uma lição de
verdade no filho da puta, já que Alexia não quer dar queixa, mesmo
que eu ache ser o correto a fazer.
Espero que eu não o encontre abordando-a novamente. Ele
vai ver com quantos socos se faz um hematoma, porque não desisti
de dar uma lição nesse covarde. Vou dar um jeito de encontrá-lo,
para que aquele filho da puta não a toque mais.
20
MURILO
Segurando a mão de Alexia, entrelaçada à minha para
atravessarmos a rua, vejo a fachada do lugar que Chris e eu
combinamos. Hoje é sexta-feira. Christian e eu decidimos aproveitar
um happy hour de boa, beber umas cervejas, e bom, ele foi buscar a
“patroa” no trabalho e fui fazer o mesmo. Depois do acontecimento
de ontem, quero que ela se divirta um pouco para esquecer isso.
Então, cá estamos nós com roupas do trabalho, mas morrendo de
vontade de beber umas.
Alexia está toda empolgada para reencontrar Luiza. As duas
se adoram.
— Eu Estou morrendo de fome. — Alie suspende o olhar
para mim.
— Nem fale. Estou varadão de fome.
Chegamos mais perto e encontramos ambos numa mesa já
conversando e bebendo chope. Alexia graciosamente cumprimenta
os dois e troca beijos com Luiza, se sentando logo em seguida.
Faço o mesmo.
Adoro esses barzinhos com música ao vivo, melhor do que
muito restaurante gourmetizado.
Engatamos num papo animado em questão de minutos.
Pedi bebidas para mim e Alie. Vou beber pouco por causa do carro.
— Mas você tá trabalhando com o que, Luiza? — Alexia
indaga, curiosa, no meio do papo.
— Engenheira química — orgulhosamente, ela responde.
— Jura? Que área? Eu nunca entendi química, sendo
sincerona.
— Vocês acharam que ela é doida assim sem influências?
Chris cutuca a leoa, que o olha atravessado e revira os
olhos.
— Cala a boca, Christian!
Gargalhamos e ele levanta as mãos em rendição.
— Eu sou da área de Biotecnologia. Trabalho com
antibióticos.
Alexia faz cara de chocada e as duas engatam uma
conversa sobre o assunto. Minha garota sabe falar de
absolutamente tudo, incrível, não tem essa de não saber o assunto,
ela simplesmente engata, mesmo não entendendo muito bem do
que se trata.
As batatas fritas com cheddar e bacon do jeito que nós
gostamos chegaram e nós quatro atacamos. Sexta-feira à noite é
tão bom, dá uma sensação de alforria.
Olho Alexia colocando os cabelos para trás com as belas
pernas cruzadas numa calça jeans justíssima, pegando sua caneca
de bebida, evidenciando as unhas pintadas e compridas. E assisto
ela levar até a boca, num biquinho, também pintada de vermelho.
Depois reclama o porquê de eu tirar fotos dela distraída. Como não
tirar para admirá-la?
Alexia decidiu parar de beber pra tomar sorvete e comer
hambúrguer pra não ficar bêbada e todos nós resolvemos
acompanhá-la, já que eu e Christian estamos dirigindo. E porra, a
comida daqui é boa pra caralho!
Chris e Luiza são aquele casal que é movido por comida.
Tão sempre saindo pra jantar em restaurantes diferenciados, porque
eles são gastronômicos, todo final de semana é um roteiro diferente
para conhecer comidas variadas.
Luiza arrastou Cristian para dançar, quando um cover de
Roberta Campos começa, pois é a música deles, segundo ela. Mas
Alie preferiu ficar aqui comigo na mesa e aproveito para dar uns
beijos gulosos nessa morena gostosa.
Sinto suas mãos alisarem minha barba e relaxo naquele
carinho. Namorar é gostoso pra caramba! Namorar ela então? É do
caralho!
— Daqui a pouco vamos embora? Estou cansada, moreno.
— Boceja, me fazendo repetir o gesto enquanto alisa meu anel, que
faz par com o dela.
— Vamos. Deixa só eles voltarem.
Geralmente namorar tira a liberdade de algumas coisas,
mas sequer sinto isso com ela, tanto que estamos num happy hour
numa sexta à noite, super relaxados. E quando quero agitação a
arrasto comigo. Ela apoia sua cabeça no meu ombro e sinto o cheiro
do seu cabelo próximo.
O bom de Alie é que ela é toda manhosinha. Adoro mulher
dengosa, manhosa, que me dá uma sensação de grandeza, de
querer cuidar, pois mais que ela não precise, pois sabe ser fatal e
decidida quando quer e eu assisto esse momento aparecer com
gosto. E minha morena é exatamente assim, manhosa, mas fatal
quando quer. E ambas me deixam de pau duro e com uma
sensação de orgulho de tê-la para mim.
Luiza e Chris voltaram animadinhos para a mesa. Alexia
anuncia que estava para ir embora por cansaço.
— Ah, gente, antes de irem. Amanhã iremos na praia. Estão
a fim? — Luísa, empolgada, gesticula enquanto fala.
Eu e Alexia trocamos um rápido olhar. Por que não? Alexia
dá de ombros, aparentemente concordando com a ideia. Concordo
também.
— Pode ser! — Alexia concorda.
Nos despedimos depois de pagar a nossa conta. Em casa,
Alexia dorme enroscada a mim, cheirosa. Adoro ela com minha
camisa!

ALEXIA
Dia de sol, nada melhor que aproveitar o clima quente que
está fazendo, indo para a praia com Christian e Luísa. Adoro os
programas com eles. São bastante divertidos.
Eles acertaram em cheio em nos chamar, pois hoje em
especial está um calorão!
Murilo como sempre trazendo novidades, acabou de me
contar que os pais dele ligaram cobrando uma visita, querendo me
conhecer. Ele está animado para me levar. Não confirmamos ainda,
mas, mesmo assim, eu já estou nervosa em conhecer meus sogros.
E se eles julgarem que eu não sou boa para o filho deles? E se a
irmã for ciumenta ou daquelas adolescentes birrentas?
— Moreno, fico melhor nesse ou no vermelho? — Ando em
direção de Murilo, que está já pronto jogado na cama, vendo-me
vestir. Estou em dúvida entre qual usar.
— Nua — responde, cínico.
— Boa ideia, os homens que estiverem lá vão adorar —
rebato, debochada, de frente para ele.
Murilo puxa minha mão, me fazendo cair em cima dele, em
seguida põe seu corpo sobre o meu, trocando as posições, me
mantendo presa ali.
— O que foi isso? — questiono, surpresa pelo susto.
Ele pega minha outra mão, me imobilizando para cima junto
com a outra que ele está segurando com apenas uma mão, fazendo
meus seios suspenderem. Segura minhas bochechas com a outra
mão, me fazendo ficar de biquinho e olhando diretamente para ele.
Ele quando quer ser assim é só Jesus na causa!
— Você está me saindo uma provocadora de primeira. —
Olha nos meus olhos e eu me arrepio pelo olhar mordaz. — E
quando fica assim, eu tenho vontade de te marcar toda com minha
boca. — Ah, essa voz rouca!
Ele rasteja sua boca no meu queixo e me dá um beijo
quente, soltando meus braços, mas não deixa que eu aprofunde.
Abro um sorriso ao perceber que ele tem ciúmes de mim. Confesso
que meu ego e autoestima melhoraram.
— Está rindo de quê?
— Você aí com seu ciúme.
— Estou errado em não ter, com uma mulher dessas? —
Abro um sorriso maior. — Estou errado em cuidar?
— Bobo. — Rio, me sentindo nas nuvens.
— Cuido mesmo, pronto e acabou!
Nada mais gostoso que o ciúme saudável, é uma sensação
gostosa de amor e desejo. Sentir-se importante para o outro, que é
importante para você. Mais uma vez me pego questionando: será
que eu o amo mesmo?
Murilo é meu porto de abrigo, sei que com ele eu posso
confiar para praticamente tudo. E será que minha mãe tem razão?
Que amor não tem validade para sentir?
— Queria ver se fosse ao contrário, se você estaria aí de
sorrisinho. — Arqueia as sobrancelhas em desafio. Meu sorriso
desmancha na hora, e meu sangue ferve só de pensar em alguma
ex sequer olhando ele. Ou até mesmo aquela biscate do trabalho
dele.
— Sem graça! — Seguro na sua bochecha, fazendo ele
olhar para mim. — Não brinque mais assim. — Mordisco o bico que
formou e o solto.
Olho atravessado para ele por me fazer sentir isso e o
descarado está sorrindo na minha cara, sorriso convencido.
— Já disse que só tenho olhos pra você.
Ele sai de cima de mim, me puxando pra levantar.
— Põe o vermelho, que você fica mais gostosa — responde
minha pergunta anterior como se nada tivesse acontecido.

Encontramos o casal lá se divertindo. A praia até que não


está tão lotada, pelo menos por agora.
— Que bom que vieram! — Luísa me abraça, empolgada.
Estão apenas ela, o marido e o pequeno Igor. Cumprimento
a todos e vejo Murilo arrancar a camisa, ficando de bermuda. Essas
malditas bermudas que marcam sua bunda perfeitamente. E que
bunda!
Os braços dele também estão um pouco mais duros e
volumosos. Deve ser por causa das flexões e esforço físico em cima
de mim.
O clima está fresco e puxo meu vestido para sentar em uma
das espreguiçadeiras. Olho para Murilo, que tem um olhar intrigante
me vendo apenas de biquíni.
Abro um sorriso. A verdade é que somos um casal que
cuida um do outro.
Ele corre para o mar junto com Christian e Igor. Converso
com Luísa, adoro ela. É muito divertida e me contou que quer
engravidar de novo.
Logo Murilo volta, molhado, bagunçando os cabelos e muito
sexy. A cena merecia slow motion e replay.
Me dá beijo e atenção. Percebi que ele atraiu olhares
ficando sem camisa e, segundo ele, eu também estou chamando
atenção com meu biquíni. Vi ele jogar vôlei todo desenvolto. Eu não
me atrevi, pois na aula de educação física eu era aquela que, ou
tomava bolada na cara, ou jogava a bola na rede.
— Realmente, a namorada dele é uma sortuda! — Escuto e
vejo duas mulheres cochicharem na mesa ao lado. E percebo que
se trata de Murilo, pois uma delas perguntou quem era a namorada
e a outra respondeu: “a de biquíni vermelho”, que no caso sou eu.
Olho em direção ao Murilo, que está distraído, conversando.
Para o meu deleite e desespero ele, além de estar sem camisa e
descalço, está de boné para trás e a bermuda molhada, mostrando
os músculos e o caminho da perdição em formato de V. Que
contorno maravilhoso! E o melhor, eu sei o que vem depois...
Ele se movimenta ficando de costas para mim e eu vejo as
costas dele com uns arranhões leves. Minhas bochechas
esquentam de vergonha por talvez alguém reparar e ao mesmo
tempo, no fundinho, algo dentro de mim também se sente poderosa
por saber que sou eu quem o beija e abraça. E que é do meu lado
que ele está.
Pois é, sou sortuda mesmo.
— Festa na praia, tipo um luau, será uma festa boa, uma
amiga minha que tá organizando! Eu Estou doida pra ir e quero
vocês lá também.
Volto minha atenção para Luísa, que me fala de uma festa
mais tarde. Até que será bom, eu nunca fui em um. Confirmo nossa
presença. Conversei com Luísa mais um pouco e caímos na água.
Logo depois o Moreno também entrou enquanto estava distraída.
Mergulhamos juntos e ficamos um pouco na água, namorando.
Sorrio separando nossas bocas. Esse momento daria uma fotografia
excepcional.
Murilo seria um maravilhoso modelo, na verdade ele é, mas
o bom é que é só para mim. A imensidão azul de segundo plano e
ele no primeiro com seu lindo sorriso direcionado a mim. Usarei
Murilo de modelo mais vezes. De preferência sem camisa, pois
aquele ensaio ficou maravilhoso, inclusive uma das fotos é minha
proteção de tela do celular. Não troco de jeito nenhum!
Permanecemos por lá mesmo, bebendo e comendo petiscos
até umas três da tarde, e Luísa resolve ir embora, para que o
pequeno Igor não fique gripado, pois ele estava querendo voltar
para a água. Murilo gostou da ideia do lual.

Eu e Murilo chegamos na praia um pouco antes do horário


marcado para o luau. Inclusive ainda tem umas tendas sendo
montadas. Tudo porque decidimos assistir ao pôr do sol.
O lugar é bacana, é um lado de uma praia que eu ainda não
conhecia. O lugar é ótimo e está rodeado por uma montanha
enorme e verdinha, onde inclusive Murilo deu a volta com o carro
numa pequena ladeira, para ver um lugar ótimo para assistirmos ao
sol se pôr e curtirmos a paisagem maravilhosa. A natureza é
perfeita! Ela nos acalma e nos encanta ao mesmo tempo.
Voltamos lá para baixo quando já está escurecendo, onde a
festa já começou. Chegamos lá e vemos todos vestidos a caráter.
Roupas coloridas, chinelos, colares havaianos e coroas de flores,
inclusive Cris e Luísa, que encontramos na entrada.
Há algumas tochas de bambu em lugares específicos e
montaram um quiosque improvisado com as bebidas e frutas em
uma tenda. Tem algumas flores completando a decoração. E não
podemos esquecer a fogueira, que está acesíssima com algumas
pessoas ao redor. O local está bem aconchegante e lindo. Estou me
sentindo no Havaí.
Pegamos os adereços para ficar a caráter e seguimos
conversando para um lugar bom. A música está tocando, animando
quem está conversando e bebendo. Vejo um local para duas
pessoas com pufes, violão e ukulele e presumo que vai ter alguma
apresentação. Mas enquanto isso tem uma rodinha de violão com
algumas pessoas conversando e tocando.
Ainda segurando na minha mão, fomos em direção ao
quiosque. Chegamos e vejo várias opções de bebidas. Sucos
naturais, refrigerante, água, cerveja e outros tipos de bebidas. Peço
suco de abacaxi e Moreno, um coquetel com álcool.
Ele entrega o meu suco no próprio abacaxi com canudos
coloridos, me deixando surpresa. O do Moreno vem em um copo
com a fruta que ele escolheu na borda, que ele trata de comer em
segundos.
— Tá gostando?
— Estou amando, nunca que tinha ido em um luau.
Eu e Murilo circulamos e conhecemos uns amigos do casal.
Ficamos na rodinha perto da fogueira vendo, conversando e
acompanhando o pessoal tocar e cantar.
Um casal começa a se apresentar cantando músicas
conhecidas, trazendo um clima agradável. Nos aproximamos para
assistir e Murilo me abraça por trás, me enlaçando pela cintura
enquanto me balança devagar para um lado e para o outro.
O casal termina uma música e aplaudimos. Logo eles
começam a tocar o acorde de outra. A maioria do pessoal grita e
assovia com a boca enquanto eles tocam e cantam. Acabo sorrindo
com o clima.
Ele me gira sem se importar mais com o pessoal ao redor e
o show que está acontecendo. Me abraça me colando mais e eu
coloco minha cabeça na curva do seu pescoço, aproveitando o
momento.
— Estranho seria se eu não me apaixonasse por você —
sussurro no seu ouvido a primeira estrofe.
Música, comida, bebida, amigos, clima agradável e meu
moreno. O que eu poderia querer mais?
Continuarmos a nos balançar devagar até a música acabar
e nos separamos sorrindo um para o outro. Murilo segura na minha
nuca e traz minha boca para a sua, me beijando.
Sabe quando você sente cada vez mais paixão pela pessoa,
que só a presença dela já é motivo para sorrir à toa e querer ficar
juntinhos? É assim que estou me sentindo com Murilo hoje, mais do
que qualquer outro dia.
Ele me fita com o olhar brilhante. Hoje eu só tenho vontade
de ficar agarrada a ele, nos momentos só nossos. Sou
completamente apaixonada nesse moreno que está me ensinando
muita coisa.
— Vamos ali? — propõe.
— Onde?
— Vem. — Ele me segura pela mão, me levando em direção
ao seu carro, e sento no banco do passageiro.
— Vamos embora, Murilo? — questiono, intrigada.
— Não vamos.
— O que você tá fazendo? — indago, tentando entender.
— Não se preocupe.
Esquenta minha coxa com sua mão pesada. Murilo para o
carro numa área menos movimentada e escura, não tão distante da
praia. Ele desliga os faróis, deixando tudo mais escuro.
— Esse lugar tá deserto, Murilo, vamos voltar!
— Mas para o que vamos fazer é ótimo!
Murilo sorri para mim, fazendo minha barriga assanhar
totalmente em expectativas. Inclina a cabeça para me beijar, mas o
beijo é tão voluptuoso que fico sem ar e sinto tremer pela urgência
da coisa.
— O que eu quero fazer com você não terá plateia. Quero
matar minha vontade de transar com você dentro do carro desde
sempre. Agora vou te dar um beijo bem gostoso.
Sussurra, abrindo espaço na sua cadeira, a reclinando. Fico
pasma com a ideia dele. Essa voz grossa, o contato visual e a
menção do beijo me deixam totalmente afoita. Em seguida ele
simplesmente cumpre o que falou. E que beijo!
Começa rastejando a barba na minha bochecha, dá um
beijo no meu queixo e outro no canto da boca. Fico entregue e
querendo mais.
— Você deliciosamente me enlouquece — sussurra no meu
ouvido e fico mais arrepiada, umedecendo lá embaixo.
Rodeia os lábios, brincando ao redor dos meus, arfo e ele
enfia a língua na minha boca, me dando o maravilhoso beijo
urgente. Me puxa pela mão para que eu sente no seu colo e assim
faço. Eu disse que o carro dele me chama pra safadeza aqui dentro.
Desde a primeira vez que senti isso.
Murilo tateia meu corpo, me deixando mais afoita.
Massageio seu pau por cima da bermuda. Murilo geme, segurando
na minha cintura. Sem olhar o que estou fazendo, recebendo um
beijo intenso, desabotoo sua bermuda para pôr a mão por dentro.
Ele desce o dedo pela minha barriga, me tocando por cima
da calcinha sem desgrudar nossas bocas, me deixando bêbada de
tesão. Atrevido como sempre foi, dá um jeito de descer minha
calcinha, puxando para cima do seu colo, e um ajeita aqui e ali me
preenche sem pensar duas vezes.
Arfamos juntos quando entra, mas ele põe a sua mão em
cima da minha boca, para que eu não gema, coisa impossível de se
fazer. Olho para ele e vejo o rosto um pouco contorcido. O beijo em
seguida, sentindo o carro uma verdadeira sauna. A expressão que
Murilo faz, prendendo os lábios com os dentes enquanto segura na
minha cintura, é de tirar o juízo. Ainda mais em meia-luz.
21
ALEXIA
Voltamos para a festa como se nada tivesse acontecido e
curtimos o resto do show maravilhoso. A noite maravilhosa, na
verdade. E eu ainda estou pasma que transei num beco escuro
dentro de um carro, mesmo sendo uma rapidinha. Qualquer um
poderia flagrar. Esse homem não me deixa raciocinar direito! Isso foi
uma loucura e tanto!
Como acho ver estrelas romântico, arrasto Murilo para fazer
isso. Ele me olhou sem entender quando propus isso. Preciso
aproveitar que tenho um namorado para realizar as coisas que acho
românticas. Adoro andar na areia, ainda mais assim.
Ele senta na areia e eu fico entre suas pernas, de costas,
abraçada pela cintura. Me sinto tão miudinha quando ele faz isso.
Ficamos quietinhos, calados e confortáveis sentindo a brisa e a
maresia do mar, escutando a música próxima, já que estamos na
festa ainda. e recebo um beijo carinhoso na nuca.
Como ver estrela não é tão legal como pensei, preferi beijar
Murilo.
— Quer uma bebida?
— Sim, por favor. Caipirinha.
Murilo acena, levanta e eu continuo no mesmo lugar. Pego
meu celular e olho as horas para saber se está muito tarde e fico
entretida por poucos segundos, até escutar alguém me chamar, mas
não é a voz do meu moreno.
— Alexia?
Subo meu rosto e encontro Diego sorrindo cinicamente. Era
só o que me faltava!
Parece que ex é da mesma classe que zumbi. Quando acha
que morreu, ele volta pra querer te comer. E pior, tem sensor de
felicidade. Ele pode estar nem aí pra você, e nem te querer mais,
mas vem, como se pensasse: “hum, minha ex está feliz com outro e
me superou, o que eu posso fazer para estragar o momento? Já sei,
vou infernizá-la e dizer que a quero de volta”.
— Eu disse que voltaria. — O seu sorriso sádico me deixa
em alerta.
Levanto, disposta a sair dali e ir até Murilo.
— Alexia, você só tá confusa. Vamos voltar, sou o melhor
pra você.
— Não, Diego, eu Estou feliz no meu relacionamento atual.
Me esquece.
— Não, Alexia! Não vai acabar tudo assim. — Muda
completamente a postura e em seguida puxa meu braço.
— Para e me solta. — Tento me esquivar, em vão.
— Não, vamos voltar sim. Qual o seu problema?
— Sua existência.
Diego claramente está bêbado, e se eu não confio nele
sóbrio, que dirá bebendo e fedendo a álcool.
— Quem você acha que é, hein? Põe o pé no chão. Acha
que ele gosta de você? A primeira mulher gostosa que der mole pra
ele, vai te dar um pé na bunda. Você é só diversão. Abre o olho,
Alexia — tenta me diminuir, mas não cairei.
— Ele gosta. E você não é companhia pra ninguém, merece
ficar sozinho enquanto não mudar de verdade. Eu. Não. Gosto. De.
Você — falo pausadamente para ver se ele entende.
— Você sente saudades que eu sei. Isso é charme. —
Ri com cinismo e aperta meu braço.
Não respondo, pois nem dá tempo; Diego se afasta em um
solavanco.
— Você não cansa?!
Murilo o puxou. E sequer fala mais nada, já chega o
acertando com um soco.
— Calma, cara, a gente estava apenas relembrando os
velhos tempos — Diego provoca Murilo.
Caos!
— Murilo... — Eu o chamo, receosa. Como conheço o
Moreno e o Diego, sei que se começarem a briga de verdade, vai
ser feia. Diego é mais ou menos do meu tamanho. Mas Murilo é um
pouco maior que eu e mais forte.
— Agora não, Alexia! — esbraveja, impaciente.
Arregalo os olhos quando começam a trocar socos.
Assustada, tento parar aquilo, mas não tenho como.
— Para, Murilo! — suplico, mas ele não me ouve.
Murilo soca a boca dele duas vezes o fazendo cambalear, e
o segura pela camisa e soca mais uma vez.
— Quer saber? Fica com ela pra você! Não serve pra nada
mesmo. Vai enjoar rapidinho, é uma frígida insuportável. Cheia de
não me toques, essa puta — Diego debocha, com a boca
sangrando.
— Moreno, vem, não liga. — Até tento segurar ele, mas não
me ouve.
— Repete! — Murilo, ofegante, ameaça ele.
— Isso mesmo. Você vai enjoar dela rapidinho e vai estar
procurando outra. Aposto que vai pra casa das outras e ri dela,
como eu fazia. Pelo menos divide comigo, ou podemos fazer uma
coisa nós três. Ela tem que servir pra algo — meio grogue, ele
provoca.
A confusão estava feita, Murilo deu vários socos em Diego,
que está com o nariz sangrando. Moreno, descontrolado, dá mais
socos fortes o segurando pela camisa, o xingando e mandando ficar
longe de mim. Diego tenta devolver o soco, mas Murilo continua
batendo.
Nunca o vi tão agressivo e boca suja como agora. Diego
tenta se defender, só se defender mesmo, pois não está
possibilitado de bater. Murilo esbraveja palavrões e eu fico sem
ação, só olhando assustada e constrangida.
Os rapazes viram a confusão e tentaram contê-lo. Se
deixassem, o Moreno ia descarregar a raiva nele e, se duvidar, até
deixá-lo desacordado.
— Sabe, você é um babaca. E eu te agradeço muito por ser
um. Pois se não fosse, ela não estaria comigo agora. Valeu amigão,
valeu mesmo — Murilo debocha mais uma vez de Diego, que está
caído na areia, com a voz ofegante.
Vou até Murilo, segurado por duas pessoas, e outras estão
ajudando o babaca a levantar.
— Vamos. — Eu o chamo e soltam ele.
— Se eu te ver perto dela, eu juro que nunca mais vai ver a
luz do dia — Murilo ameaça Diego, que está sendo segurado
também.
Até a polícia apareceu querendo saber o que aconteceu.
Murilo, raivoso, entretanto mais lúcido que Diego, conta o que
aconteceu, querendo prestar queixa. Inclusive o que ele anda
fazendo comigo, e depois dele me olhar de cima a baixo e apenas
acenar, mas não toma uma atitude cabível. Disse que estão ambos
alcoolizados e o mais certo seria irem embora. Murilo,
inconformado, discutiu com ele, mas tive que rebocá-lo porque o
policial ameaçou prendê-lo por desacato. Ninguém entendeu a
atitude do policial, mas ainda assim, para evitar que ele fosse
detido, preferi ir embora em vez de ir para a delegacia, como Murilo
queria.
Faço o caminho calada, assimilando tudo. Diego me traía,
isso era óbvio, eu mesma vi, mas mesmo não estando mais juntos
dói saber disso tudo, ele jogando isso na minha cara, a forma como
ele me tratou e falou de mim... É como se eu fosse ninguém. Ele me
rebaixou da pior forma possível hoje. A única pessoa que eu odeio
agora sou eu mesma, por deixar que ele me afete, que me deixe
mal depois de meses separados. Por ter insistido na gente quando
sequer era para ter dado alguma chance. Minha vida é repleta de
arrependimentos e equívocos.

— Ei, vem aqui — me chama assim que saio do banho. —


Não absorva nada que ele falou.
Me traz para mais perto e seu corpo ainda está com gotas
de água do banho. Murilo me abraça, me reconfortando. Olho seus
belos olhos castanhos.
— Eu Estou magoada, sabe? Não deveria, mas Estou. Dói
saber que dei praticamente minha liberdade pra um relacionamento
e no final não ficou nem o respeito. Ele me traía, eu o flagrei, você
sabe, mas passar na minha cara assim dessa forma, sabendo que
eu ficava esperando-o pra ter um pouco de afeto, pra demonstrar
confiança... Isso dói! É triste! — digo, ressentida e magoada, e em
seguida apoio minha cabeça no seu peito.
— Não liga, você é maravilhosa, ele é um babaca que não
soube valorizar a mulher que teve. Homens pequenos não merecem
grandes mulheres. — Alisa meu rosto.
— Murilo, por que eu?
Patético! Fui tão machucada, pisada, ridicularizada, que
quando chega uma pessoa que gosta de verdade não sei como agir
ou pensar, sempre acho que estou sendo feita de idiota novamente
e que a qualquer momento quebrarei a cara. Qualquer coisa é
motivo para me deixar insegura, mesmo que eu não queira me
sentir assim. Vivo tendo essas recaídas e odeio isso!
— Você o quê? — Ele me olha novamente.
— Por que está comigo, sabendo que existem milhões de
mulheres melhores do que eu por aí, que qualquer uma iria querer
você? Por que eu? — Tento controlar as lágrimas teimosas.
— Eu não quero milhões nem qualquer mulher, quero você.
Porque você é linda, sexy e inteligente, e faz me sentir muito bem. E
porque é a mulher que eu amo — declara-se da forma mais linda e
inesperada possível.
— Ama? — questiono, um pouco boba e incrédula.
— Claro que amo, Alie. E morro de medo de te perder. —
Alisa minha bochecha, expulsando a lágrima teimosa. — Enquanto
for necessário, eu vou te mostrar como você é pra não ficar se
diminuindo.
Sorrio devagar me sentindo um pouco melhor, amada,
cuidada e especial pelo homem que eu amo. Ele me fita com um
biquinho fofo e involuntário e eu sorrio mais um pouco. Saber que é
amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença
gritante.
— Também amo você, Moreno. Você melhora minha vida.
Você despertou as coisas mais bonitas que existem em mim, que eu
nem sabia que tinha, colocou paz no meu coração. Com você eu me
sinto forte, feliz. É uma das poucas pessoas que preferiram me
decifrar em vez de desistir. Você me deixa ser eu mesma sem
parecer patética e eu gosto de ser eu mesma com você, porque eu
sei que você me aceita assim, cheia de defeitos. — Beijo
rapidamente seus lábios. — Às vezes eu tenho medo de achar que
isso é um sonho e ainda Estou naquela vida sem graça.
— Isso parece ser de mentira?
Leva minha mão para seu pau e aperta; eu ofego pela
ousadia. Ele muda drasticamente qualquer situação com esse
atrevimento.
— Sorte a minha que aquele pau pequeno deixou escapar
uma mulher gostosa — sussurra no meu ouvido. — Mas a notícia
boa é que é comigo que ela está.
Gemo com ele beijando meu pescoço e orelha.
— Hoje não vai ser amorzinho não, se prepare. Não esqueci
do que você falou de manhã e a rapidinha no carro não me saciou.
— Sinto sua respiração perto e arfo, com o corpo reagindo.
— Sabe, recriando a cena agora, fiquei com um puta tesão
em ver você todo bravo e boca suja exaltando aqueles músculos
todos, me defendendo. E falando agora desse jeito também —
provoco.
Olho sugestiva para Murilo. Lindo! A praia fez um bem
maravilhoso para ele, queimado do sol e as bochechas meio
avermelhadas, sua beleza latina ressaltada, ficou um pecado de
homem. E gosto muito desse pecado.

MURILO
Foda! Alexia é um mulherão e aquele babaca fala qualquer
coisinha e ela simplesmente quer retroceder, mas não deixo. Brinco
dentro da sua calcinha, sentindo meus dedos melarem. Adoro saber
que ela se desmancha comigo. Alexia com tesão fica fodidamente
sexy.
— Quase pronta...
Continuo estimulando-a e sua respiração fica cada vez mais
entrecortada, apertando o lençol, e arfo sentindo meu pau pulsar
loucão. Acaricio cada vez mais, aproveitando seu melado.
Paro apenas para rasgar sua calcinha de renda. Não estou
para protocolo. Eu ainda estou irritado com tudo, pelo policial
irresponsável e pela situação, e ela precisa saber que é
maravilhosa!
— Murilo! — se queixa e sai mais como uma súplica.
Beijo seu pescoço e mordisco sua orelha, a vendo arrepiar.
Desço a minha bermuda de qualquer jeito e volto a distribuir beijos
molhados nas suas costas e ela empina a bunda para mim e ao
mesmo tempo estremece, vendo que já estou sem nada. Ela tenta
me apalpar de costas mesmo, como eu a coloquei na cama, e
agarra minha bunda com a unha. Atrevida!
— Moreno — choraminga mais uma vez.
Giro-a novamente para mim e a tomo para um beijo,
fazendo-a se apoiar ali na beirada mesmo. Aperto sua bunda e a
cintura e entro o mais fundo que consigo, sentindo a quentura
gostosa, a maravilhosa recepção de sempre. Alexia geme suplicante
pela invasão. Hoje estou a fim de um sexo um pouco mais bruto.
Estou com tesão e adrenalina para descarregar.
— Você fica ainda mais gostosa quando geme — assumo.
Começo o bate e volta, sentindo necessidade de ir mais
fundo a cada vez que ela geme toda delicada. Safada! Viro-a de
frente, fazendo-a deitar, e vê-la toda receptiva para mim, gemendo e
com os olhos em chamas, me deixa ainda com mais tesão.
É muito foda todo esse sentimento que envolve a gente.
Alexia é um combo maravilhoso de meiguice e safadeza e eu amo
muito como ela me faz bem. E a quero pro resto da minha vida!

ALEXIA
Suspiro de puro cansaço, aspirando o cheiro de Murilo
deitado comigo. Desde que Diego voltou a dar as caras me sinto um
pouco mal. Por conta do nervoso, uma agonia, uma inquietação,
uma angústia. Acredito que só quis me dar um susto mesmo, mas
estou com medo que volte a me assombrar.
E a ansiedade se instala ainda mais forte quando lembro
que é no começo da próxima semana que Murilo viaja. Talvez passe
o fim de semana na casa dos meus pais para não me sentir tão
sozinha. Minha mente começa a ter flashes de Diego me
ameaçando e cumprindo a promessa de voltar e tentar me beijar
como ele sempre tenta, com Murilo longe. Me sinto agoniada
quando começo a pensar no que poderia ter acontecido comigo se
Fred não tivesse me ajudado, e a angústia me toma cada vez mais.
— Morena?
Escuto a voz de Murilo longe até ficar mais perto e eu abrir
os olhos.
— Hum — resmungo.
— Teve um pesadelo? Você estava com um sono agitado,
indo pra lá e pra cá na cama. — Sua voz é suave.
— Acho que estava sonhando com esse monte de briga que
acontece ultimamente quando Diego aparece — confesso, meio
grogue.
— Vem. Vou fazer um chá pra você dormir melhor.
Ele levanta da cama e me puxa pela mão em direção à
cozinha. Sigo com ele ainda quieta e assisto ele colocar água no
fogo enquanto eu sento em uma das cadeiras do balcão.
Enquanto eu acordo toda inchada e com os cabelos
desgrenhados, ele continua lindo com cara de sono e com o cabelo
desordenado de forma linda também. Isso é covardia!

Chego na agência um pouco atrasada, mas foi por uma


causa boa. Murilo me provocou como sempre e me deixei levar
numa rapidinha matinal. Entro sorrindo ao me lembrar de como meu
dia foi iniciado. Eu estou uma safada!
Passo direto para a copa pegar café antes de ir para a sala.
Comprei alguns donuts na padaria de trás para ir comendo no
caminho, já que não deu tempo de tomar café em casa. Queria
mesmo era meu cappuccino. Lá encontro Téo, que me deseja bom
dia.
— Por que está atrasada? — pergunta com interesse e sinto
o rosto formigar de vergonha; eu ia dizer que foi o trânsito, mas ele
logo me corta. — Pela sua cara estava dando, né, sua safada? —
acusa-me com sorriso debochado e malicioso.
— Para, Téo! Que coisa! — Estou mais envergonhada ainda
por ver que a menina do atendimento ouviu, e agora ri
discretamente.
— Com um homem daquele eu também me atrasaria
sempre. Tá com a pele tão boa...
— Teodoro… — o repreendo, sem conseguir deixar de rir.
Vou para a sala com ele me seguindo, temos uma reunião
de brainstorming e Nat deve estar por aqui já.

Murilo desde terça-feira está aéreo e cabisbaixo. E hoje é


quinta. Ele está demorando a dormir, pois fica pensativo. Peguei ele
acordado na cama esses dias todos que estamos dormindo juntos.
Tenta mostrar que está tudo bem, mas ele não sabe mentir. Eu
aprendi a lê-lo como ele me lê.
Como agora no jantar, quando mal falou, só respondia o que
eu perguntava e no automático. Uma conversa broxante. E olhe que
Murilo sempre foi bem-humorado e hoje está cansado, com palavras
breves, sequer o reconheço.
— Como passou o dia?
— Normal, e o seu?
— Estressante — suspira, e eu concordo.
Tem alguma coisa no meio além da viagem, em que a
preocupação e ansiedade são normais. Ainda não descobri o que é,
mas saberei; por ora respeito seu espaço. Pego sua mão e o arrasto
para a cama, hoje vou dormir cedo, estou um caco da semana e de
todo o peso mental que me acompanha ultimamente.
Acordo sem motivo aparente, mas logo encontro um. A porta
da sacada está aberta, trazendo o vento forte. Levanto, pois vejo
que Murilo não está na cama, e o encontro debruçado na sacada.
— Ei, Moreno — chamo baixo e o abraço por trás. — Está
aqui sozinho por quê?
— Pensei que estivesse dormindo. — Se assusta um pouco
pela minha aproximação repentina.
— Eu estava. Converse comigo, por que está aéreo? —
peço baixo. — Não me venha dizer que tá tudo bem, que nós dois
sabemos que não tá.
Beijo suas costas e ele gira o corpo, me abraçando, dando
um beijo na minha testa e em seguida me puxa, sentando na
poltrona para sentar no seu colo. Me encolho por causa do vento
forte e ele me abraça.
— Só Estou preocupado com umas coisas, principalmente
com você.
— Comigo? — Franzo as sobrancelhas.
— Não sei se é uma boa ideia viajar, Estou vendo seu
medo, eu precisarei ficar longe... Não iria pra outro Estado em paz
sabendo que ele tá te deixando dessa forma. Estou indeciso.
— Você vai sim. Não podemos parar nossa vida por causa
dele. As meninas estão sempre comigo — tento tranquilizá-lo.
— É melhor ficar por aqui. É mais cauteloso. Depois,
quando isso abaixar eu posso entrar em contato de novo.
Eu poderia dizer pra ele que tem que ficar porque eu preciso
dele do meu lado e ele, com certeza, ficaria. Mas não seria justo e
nem quero que ele desista por mim. A verdade é que eu queria
muito que essa proposta demorasse só mais um tempinho pra ele
precisar viajar. Queria que ele ficasse comigo até isso passar e se
resolver, mas seria egoísmo pensar só no meu lado, enquanto ele
desde antes de me conhecer já queria isso. Jamais cortaria o sonho
de alguém, sabendo que essa pessoa faria o mesmo por mim.
— Murilo, para essa oportunidade é única — sou sincera. —
Nunca te deixaria fazer isso, seria egoísmo.
Murilo fita o nada, pensativo, talvez analisando tudo antes
de decidir de vez.
— Tem certeza que fica bem aqui?
— Duas semanas sem meu Moreno, será que aguento? —
Eu o abraço apertado, rindo, tentando sair do caos que é Diego.
— Não sei. Ficar sem você lá vai ser difícil. — Aperta minha
coluna, me abraçado mais forte.
— Já Estou sentindo falta. — Beijo seu pescoço e ele se
arrepia. — Mas esse fim de semana você será meu.
— Mas eu já sou.
Minha barriga agoniza de um jeito bom com essas palavras
dele.
— Eu sei. Mas “meu” para usar e abusar. — Faço uma cara
sugestiva.
— Gostei! Obrigado por me apoiar.
— Sempre vou estar do seu lado. — Aliso seu rosto. —
Vamos dormir. — Bocejo e ele acena, concordando.
Levantamos e seguimos para o quentinho do quarto. Faço
carinho no cabelo dele enquanto ele faz nas minhas costas. Tento
assimilar essa novidade e planejar a partir daqui de agora.
— Me desculpa pela ausência esses dias, odeio não te dar
atenção — diz baixinho.
— Tudo bem, só não guarda pra você porque me aflige.
— Amo você, ouviu? — Me aperta.
Desço a mão para seu peito e faço carinho ali enquanto me
aconchego mais no seu aperto. Suspiro, acalmando meu coração,
voltando com o pensamento otimista: nada de ruim vai acontecer!
22
ALEXIA
Volto para o quarto depois do banho e vejo Murilo jogado na
cama. Dá até pena de acordá-lo. Esses cabelos sempre
desordenados caindo na testa, fora os músculos descobertos para
meu deleite. Tenho vontade de atacá-lo, mas nosso tempo está
cronometrado hoje.
Esse final de semana passou com um gostinho de saudades
minha e do Moreno. Hoje, segunda-feira, ele está indo viajar. Murilo
vai agora antes do expediente, infelizmente.
— Estou no céu? — A voz para mim já é um som familiar.
Esse jeito dele, palhaço e de bem com a vida, sempre me
cativa.
— Bobo. — E me dá um sorriso que tanto amo. — Levanta
pra não se atrasar.
— Já vou. Que horas são?
— Vai dar seis da manhã. Demora aí não, vou terminar de
me arrumar.
Vou pra frente do espelho me vestir. Viro pra trás para
chamar Murilo, porém ele está escorado na cabeceira me
observando.
— Preferia sem a calcinha — comenta, safado.
— Vai logo. — Rio da cara de pau dele. Ele geme
descontente e me aproximo, parando na beirada da cama. — Que
horas sai seu voo mesmo?
Desliza a mão pela minha barriga, me segurando na bunda,
e me dá um beijo abaixo do umbigo.
— Marcado para as oito. Dá tempo.
Só com essa carícia já fiquei toda arrepiada e uma
sensação deliciosa sobe pelas minhas pernas.
— De quê?
Ele ri safado, me puxando para a cama em um solavanco e
eu caio de lado. Ele rasteja e põe as pernas em cima de mim. Ele já
acorda na safadeza, pois sinto algo pressionando minha bunda.
— Transar. Vamos nos despedir como se deve — sussurra.
— De novo?
Rio com ele, pois passamos esse fim de semana todo
fazendo besteirinhas para se despedir, como se fôssemos ficar um
ano separados. Murilo me beija enquanto me apalpa com vontade
por cima da calcinha. Gemo, me contorcendo.
Aperto seu braço enquanto me beija e me apalpa, me
deixando molhada. Puxo ele para cima de mim e voltamos a nos
beijar.
— Gostosa. — Morde meu ombro e em seguida o lambe.
Gemo quando ele vai passando a mão pelas minhas pernas.
Sem descolar nossas bocas, me viro indo para cima dele. Puxo sua
camisa e passo a mão nas suas costas. Ele chupa meus lábios,
mordisca e volta a me beijar.
Puxa meu vestido e ataca meu pescoço, segurando minha
bunda enquanto aperta.
Deito por cima dele e sento no seu volume duríssimo.
Estamos separados só pelo tecido da calcinha e cueca. Faço
movimentos de sobe e desce contra ele e ofego. Adoro isso!
— Você é muito gostoso. — Gemo, sentindo minha calcinha
encharcada em cima. Ele segura na minha cintura e suga um dos
meus mamilos enquanto eu rebolo no seu colo.
— Vou socar tanto em você que quando eu voltar ainda vai
estar me sentindo no meio das pernas.
— Por favor, gostoso — falo baixo, com a respiração
irregular.
Nos agarramos na cama como loucos até entrar duro como
rocha em mim. Ele se movimenta de forma alternada enquanto sinto
o peso do seu corpo. Abraço suas costas com os pés e ele, com
uma das mãos, segura a minha nuca como apoio.
— Vou ficar com saudades disso — sussurra enquanto se
movimenta.
— Eu também. Estarei aqui te esperando.
— Saber disso me deixa com mais tesão. — Entra de novo
até o fundo.
— Amo a sensação de sentir você. — Ofego, puxando seus
cabelos e o beijando.
— Segure-se, vou te foder gostoso. — Pega mais firme no
meu cabelo.
Ele cumpriu o que prometeu sem se importar com mais
nada, só matando a saudade que ainda virá. Amo quando ele está
assim, no modo cem por cento safado.

— Quando chegar lá, me liga? — pergunto.


— Ligo. Vou direto pra reunião, mas te ligo.
— Tudo bem, qualquer coisa me ligue ou deixe mensagens.
— Pode deixar. Precisamos de férias. Mal posso esperar.
Um mês só na cama com você. Te comer de tudo que for posição.
— Ele sorri com vigésimas intenções.
— Para de atiçar, safado — digo, cruzando as pernas.
— Mas eu não falei nada de mais. — Ele ri e coloca a mão
na minha perna.
— Vamos ficar algumas semanas longe. Não atiça — peço.
— Tudo bem. — Sorri e vai com o dedo em direção à minha
calcinha.
— Murilo... — alerto e gemo ao mesmo tempo.
— Deixa-me fazer um agrado — pede, colocando o dedo
por dentro da calcinha.
Gemo, me contorcendo.
— Suspende um pouco o vestido.
Obedeço sem fazer objeções. Ele, sem tirar uma mão do
volante, passeia os dedos de leve, me eriçando.
— Isso não vai dar certo — resmungo, sentindo seus dedos.
— Deixa de ser resmungona. E abre mais as pernas —
manda e eu obedeço.
Ele desliza os dedos pela minha entrada e eu gemo, me
arrepiando. Continua a me masturbar por dentro e por fora com o
polegar. Mordo a boca para não gemer e dar bandeira do que
estamos fazendo dentro do carro.
Contorço os pés me livrando dos saltos quando ele aumenta
a velocidade dos movimentos. Paramos em um sinal vermelho e ele
se empenha em ir com mais apoio. Gemo baixo tentando me
controlar e fecho os olhos, sentindo as milhões de sensações que
ele me proporciona.
A forma que ele está tirando e colocando o dedo é
instigante. Agarro no banco quando sinto vir.
— Murilo. — Gemo de olhos fechados, mordendo as
bochechas por dentro.
— Isso, safada, geme. — Ele me atiça ainda mais enquanto
dirige.
Não sei como ele tem capacidade para me enlouquecer e
dirigir ao mesmo tempo. Maldito carro automático!
Me contorço mais um pouco no meu banco e minha pele
eriça mais. Logo sinto o orgasmo vir, me fazendo tremer e apertar o
banco.
Abro os olhos e viro o rosto para ver Murilo sorrir e lamber
os dedos.
— Vou chegar no trabalho com cheiro de foda agora. —
Tento parecer séria.
— E isso é ruim? — Ele ri, cínico.
— É sério! — Rio com ele. Não existe pessoa mais safada.
Chegamos no aeroporto e ele estaciona o carro. Ele segue
para fazer o check-in enquanto eu vou ao banheiro me limpar.
Encontro ele saindo do balcão com o cartão de embarque.
Por mais que seja por pouco tempo, confesso que dá um aperto no
coração em não ter ele sempre por perto. Já me acostumei com a
presença e as implicâncias dele.
Ele chega perto de mim e sorri, me derretendo ainda mais.
— Vem, amor — me chama, estendendo a mão para pegar
na minha.
— Vamos. Não quer comer primeiro, antes de despachar
sua mala? — questiono, pois ele não comeu nada ainda hoje, só
uma xícara de café enquanto eu me arrumava.
— Vamos comer então. Meu voo sai daqui a meia hora só.
— Me segura pela mão e andamos juntos para alguma cafeteria.
Entramos, estava cheia, porém tinha lugar para sentarmos.
Pegamos uma mesa de dois lugares.
Comemos juntos enquanto conversávamos. Pagamos a
conta e saímos para ele despachar a mala dele e ir para a sala de
embarque.
— Não faz essa carinha, morena. — Me abraça.
— Desculpa. — O abraço mais forte. — Sou uma boba.
Faltam só dez minutos para o voo dele sair e ele precisa ir
para não perder as chamadas.
— Prometo que vou ficar lá o mínimo de tempo que eu
puder.
— Mas não faz as coisas com pressa não. Não vou fugir —
o alerto de novo.
— Pode deixar. Vem aqui. — Traz meu queixo para me
beijar. Eu o abraço mais apertado, matando a minha saudade com
os beijos.
— Boa sorte lá. Amo você. — Tento me separar, mas ele
continua a me apertar.
— Olha pra mim. — Me pede e eu obedeço. — É pouco
tempo, no máximo duas semanas. Nada de tristeza. Vamos nos
falar todos os dias. — Alisa minha bochecha e eu assinto,
absorvendo a carícia.
— Tudo bem, amor — concordo, com melancolia.
— Se acontecer qualquer coisa com você, por favor, me liga.
— Tudo bem. Agora vai lá pra não perder o voo.
— Se livrando de mim? — Faz cara de ofendido e eu rio.
— De forma alguma — brinco e ele me beija de novo.
Aspiro seu cheiro no pescoço e fico ali por uns segundinhos,
sentindo a quentura da sua pele na minha.
— Te amo.
— Amo mais.
Eu dou outro abraço ainda mais apertado, enquanto ele me
beija na bochecha e alisa minha cabeça. Saímos do abraço e ele dá
um beijo na minha testa e depois um selinho antes de se distanciar
de mim.
Vejo ele entregar o cartão de embarque e olhar para trás,
me presenteando com um sorriso e um tchau com a mão. Retribuo e
o acompanho com os olhos até ele passar pelo detector de metais e
seguir o caminho para a sala de embarque.
Odeio despedidas, mesmo que sejam breves. A dor fininha
insiste em ficar no peito. Eu deveria ficar radiante por ele estar indo
para conseguir um trabalho maior, mas sei lá. Estou com uma
sensação estranha e espero que seja só impressão mesmo. Vai
entender o coração.
Volto para o carro e faço meu caminho de volta ouvindo
música. Era para ser sete e meia, mas cheguei oito e pouco. Porém,
deixei meu cartão com Natasha na sexta-feira para ela bater o ponto
hoje. Só espero não me bater com nenhum superior no meio do
caminho.
Passo na lanchonete e compro suco para Nat e acabo
pegando um para Téo, pois sei que vai chiar se eu não levar.

Subo do almoço e encontro Natasha com cara de morta


jogada na cadeira, sem coragem pra nada.
— Tá assim por quê?
— Mal-estar, depois que almocei fiquei assim. — Revira os
olhos.
— Será que vou ser titia? — Rio pra ela.
— Não viaja. — Revira os olhos de novo e eu dou de
ombros.
A tarde passou rastejando como sempre. E logo que dá o
horário de saída, pego meu carro e vou para casa descansar. Antes
de ir, como medida de segurança, Murilo trocou minhas fechaduras,
para o caso de Diego ter alguma cópia que eu não saiba e até
recomendou que eu ficasse na casa dele em vez da minha.
Chego em casa e está tudo escuro. Odeio essa sensação
de não ter para quem voltar. É estranho sentir falta de uma pessoa
que vi algumas horas atrás.
O filho da mãe tem feitiço, não é possível. Ligo o celular e
vejo algumas mensagens e ligações dele que acumularam durante a
tarde e não pude atender.
“Estou indo para o hotel.”
A última mensagem dele foi de vinte minutos atrás. Entro no
quarto, jogo a bolsa no chão e os saltos em qualquer lugar. Não
aguento essa roupa apertada o dia todo.
Prendo o cabelo e corro para o banheiro pra tomar um
banho quente e relaxar o corpo do dia exaustivo. E olhe que ainda é
só segunda.
Pego uma camisa de Murilo, que fica enorme em mim,
porém confortável, e visto. Tem o cheiro do perfume dele. Usou
ontem e era para ter colocado no cesto, mas como sempre, larga
embolada na gaveta. Ô mania chata, mas hoje não me importo com
isso.
Meu celular toca em algum lugar e eu pego. Tem mensagem
dele.
“Morena, cheguei. Por favor diga que também está
morrendo de saudades.”
Sorrio com aquilo e meu coração se aquece. Como pode
essa pessoa ser tão... minha?
Resolvo ligar para ele, que antes do segundo toque, atende.
Falo com ele, que já disse que está morrendo de saudades,
e sorrio boba. Segundo ele, já deu uma boa impressão. Ainda falou
safadezas, me deixando com as pernas bambas que tive que cruzar
para conter.
Desligo o celular e vou para a cozinha esquentar a comida
que ele falou para comer. Esquento e vou para a sala comer
enquanto assisto.
É estranho saber que uma outra pessoa que nem era para
ser tudo isso na minha vida causa isso, essa sensação de vazio.
“Amo você.”
Checo o celular e vejo que a mensagem dele foi há vinte
minutos. Sorrio boba para a tela do celular e respondo.
“Amo mais. Vou dormir, beijo.” — Envio e logo em seguida
bloqueio o celular.
Sigo para o quarto e me jogo na cama, me aninhando no
seu travesseiro que ainda tem seu cheiro fresco, e caio no sono de
puro cansaço. Murilo era para ser só um passatempo, mas se
tornou muito mais e eu o amo muito. São engraçadas e
surpreendentes as reviravoltas da vida. Um cara que eu não me
imaginava sem, hoje prefiro longe, e o cara que eu achei que fosse
passatempo hoje é a pessoa que eu não me imagino longe de
nenhuma forma.

A semana passou como sempre, um pouco lenta, entretanto


normal. Diego não veio mais atrás de mim e eu agradeço por isso.
Confesso que estou meio amedrontada ainda, mas não falei
a ninguém sobre isso, muito menos a Murilo, pois não quero alarmar
ninguém, e se disser ao Moreno, ele vai ficar preocupado e vai
querer vir embora no próximo avião. Todos os dias, quando chego,
só me sinto segura quando tranco a porta e rezo para ele não vir
atrás de mim. Minhas preces estão sendo atendidas e eu agradeço
muito por isso.
E esse medo está me fazendo mal, pois além de andar
assustada, quando alguém me chama por trás ou chega de
surpresa eu acho que é ele me observando.
Falo com Murilo todos os dias sobre tudo, menos o assunto
Diego. E falando no Moreno, o desgraçado parece que colocou uma
coisa automática escondida no quarto, que durante a semana
todinha eu sinto o perfume mais forte. O ambiente fica parecendo
que ele acabou de passar.
Dá o horário de saída e passo no mercado para comprar
sorvete e algumas outras coisas, tudo que eu costumo comer nos
fins de semana. Em um fim de semana de tédio!
Aproveito e passo pra comprar comida para o jantar. Volto
para casa e me jogo no sofá. Checo o celular e vejo que tem uma
ligação de Murilo, de dois minutos atrás. Disco o número dele e dois
toques depois ele atende, com a voz gostosa.
Conversamos brevemente, e escutar ele dizendo que não
consegue mais dormir desacompanhado e sente saudades de mim
foi o ápice do meu dia. E eu disse que meus dias são monótonos
sem ele. e de fato são. Pediu para que eu tomasse cuidado e que
em breve estaria de volta. Sentir-se amada é uma coisa tão gostosa!
Bloqueio o celular com o coração pequenininho de
saudades. Uma semana e já sinto como não o visse há anos.

Acordo para o trabalho normalmente, depois de uma


semana do cão. Não vejo a hora de Murilo voltar, estou morrendo de
saudades e meus dias estão bem monótonos sem ele para me
encher o saco. Sem contar que estou com outros tipos de saudades
também. Nunca ficamos longe assim!
Na verdade, se pudesse nem saía de casa hoje. Estou me
sentindo mal e nem sei ao certo o motivo. Um aperto no peito desde
que acordei. Odeio essas coisas.
No celular tem uma mensagem de Murilo de dez minutos
atrás, dizendo que talvez venha para casa esse final de semana, e
eu rezo para que seja verdade. Sinto um afago no meu coração,
mesmo com a angústia que insiste em se instalar aqui no meu peito.
No caminho do trabalho até liguei para meus pais pra saber se eles
estão bem.

Desço para casa. Hoje vou dormir na casa de Murilo. Estou


com saudades dele, então vou para o seu apartamento. Meu dia foi
interessante. Almocei com Lizandra e tive um dia produtivo.
— Ficou até mais tarde por quê? — Letícia, uma amiga do
setor próximo, fala comigo no elevador.
Nos conhecemos desde que cheguei na cidade. Ela era
minha vizinha de porta antes de mudar de casa com o marido,
quando engravidou da primeira filha. Foi ela quem me avisou do
processo seletivo aqui na empresa, na época.
— Tinha que terminar o projeto. E você? Cadê William?
— Tive mais trabalho também. E ele saiu no horário pra
pegar Lua na escola.
— Tá de carro? — procuro saber.
— Não. Vou esperar ele aqui.
— Te dou carona. — É bom uma companhia pra ir pra casa.
Esperamos o elevador parar em um andar, onde mais
algumas pessoas entraram. Seguimos para o hall e ela para do
nada.
— Que foi? — questiono, curiosa.
— Esqueci meu celular na gaveta. — Coloca a mão na
testa.
— Vai buscar. Te espero no carro.
Ela acena, entrando no mesmo elevador para subir,
avisando que iria rápido. Desejo boa noite para os seguranças e
sigo para o estacionamento. Estou doida para chegar em casa, vou
comer algo e assistir um pouco de série. Voltar a ser a Alexia de
antes, com a Netflix como companhia em vez de um moreno
maravilhoso. Estou doida para saber quem é a Uber-A em Pretty
Little Liars. Já fiz mil teorias, mas sempre quebradas por algum fato
novo. Tudo parece ser, tudo parece não ser. Essa série está me
consumindo ultimamente!
Sinto alguém puxar meu braço e dou um grito que logo é
abafado com uma mão. Meu coração está batendo descontrolado e
minhas pernas enfraquecem. Sou empurrada com grosseria para a
parede lateral do prédio.
— Sentiu saudades? — Sorri perverso para mim.
— Diego… — Sinto minha garganta fechar e secar na
mesma hora.
— Não vim pra conversar, não mais.
Diego me ataca tentando puxar minha camisa e eu tento
estapeá-lo e me soltar, desesperada.
— Me solta, Diego! — peço, chorosa, sabendo que Murilo
não poderá detê-lo.
Cristo! Me ajuda!
— Cala a boca. Cadê seu namoradinho agora, hum? Vi que
ele não te busca mais, te deu um pé na bunda, foi?
Continua a tentar puxar minha camisa e eu estapeio, mais
desesperada. Minha bolsa uma hora dessas já foi para o chão.
— Para! — suplico.
— Você assim tá me dando mais tesão — sussurra e isso
me enoja.
— Diego, por favor. — Meus olhos já estão embaçados de
lágrimas.
— Cala a boca! — Tampa minha boca e com a outra mão
tenta rasgar minha blusa.
Sinto nojo de tudo. De ter colocado ele dentro da minha
casa, fazer questão de apresentá-lo aos meus pais, de fazer de tudo
para agradá-lo e inclusive me anular para isso.
Como eu consegui ficar quase dois anos com um ser
humano desses e nunca percebi o tipo de pessoa que ele era?
Quão cega eu fiquei nesse relacionamento?
— Alexia?
Sinto passos próximos.
— Seu anjo da guarda é forte, hein? Me espere na sua casa
com uma lingerie combinando e vinho! — Diego me solta e eu
acabo me batendo no chão, chorando e me sentindo um lixo.
A dor que estou sentindo internamente é maior que a do
meu corpo. Letícia aparece com o segurança noturno, que corre por
onde Diego foi. Letícia se agacha perto de mim, me abraçando.
— Esse estacionamento não é de confiança — tenta me
acalmar.
— Foi Diego. — Choro, abraçando-a mais forte.
Ela se mostra chocada e eu continuo a abraçá-la. O
segurança volta ofegante, dizendo que não conseguiu achá-lo no
estacionamento escuro, e segue com a gente até meu carro, depois
de pegar minha bolsa jogada no chão.
— Vamos pra delegacia.
— Eu quero ir embora, quero sair daqui! — digo, chorosa. —
Eu preciso...
Preciso de Murilo. Principalmente dele.
— Não! A gente vai sim. O que ele tentou fazer é muito
grave!
Assinto sem forças para ser contrária. Letícia acaba
dirigindo enquanto vou calada, me sentindo horrível, um caco, e
morrendo de medo dele tentar de novo. Ele não seria capaz. Ou
seria?
Diego mudou tanto, nunca pensei que seria capaz de tentar
fazer uma coisa dessas e isso me assusta!
Paramos na delegacia feminina mais próxima e entramos
juntas, com ela apertando minha mão. Ela me cedeu seu casaco por
causa da camisa rasgada, e agradeci. Tivemos sorte de estar
aberta, já que só fica em horário comercial, o que eu acho
erradíssimo, aliás.
A delegacia não está tão cheia, mas tem gente sendo
atendida. Letícia traz água para mim enquanto liga para o marido, e
nossa vez não chega até me acalmar um pouco. Quando a última
pessoa que estava na nossa frente foi liberada, seguimos para fazer
o boletim de ocorrência.
Nós somos encaminhadas para uma sala reservada, para
conversar com a escrivã. Conto tudo que aconteceu, mesmo me
sentindo exposta por falar, com o máximo de detalhes possível,
como me pediu, enquanto Letícia me conforta apertando minha mão
e me ajudando a contar todo o ocorrido.
Depois que terminamos, fomo para sala do delegado
conversar e contar mais uma vez. E eu me sinto horrível por estar
nessa situação e por, no momento, só ter homens me escutando
aqui. Todos eles me amedrontam. Eu me sentiria mais à vontade, ou
menos constrangida, com uma mulher.
— Qual roupa a senhorita estava? — O policial questiona.
— O que tem a ver? — Letícia pergunta, indignada.
— Temos que saber.
— A roupa não importa, e sim o que ele fez — se altera.
O policial nos olha com cara de tédio e prossegue em pura
má vontade.
— Você não fez alguma coisa pra chamar a atenção dele?
Tem certeza? — questiona sério diretamente para mim e Letícia
bate o pé no chão, impaciente.
— Tenho. A gente não se via há alguns meses desde que
nos separamos — respondo.
— Você deixou claro que estão separados? — Arqueia uma
das sobrancelhas.
Olho para ele tão indignada quanto Letícia do meu lado.
— Sim. Não temos nada há muitos meses. Ele inclusive
entrou em outro relacionamento antes mesmo de terminar comigo.
— Tem certeza que foi seu ex?
— Tenho, e ela estava comigo e viu. Fora o segurança de
onde trabalho. Eu posso pedir algumas imagens da câmera.
— Certo.
William chega logo depois de termos feito todos os
procedimentos exigidos; fiz corpo de delito, coisa que foi horrível,
pois me senti ainda mais humilhada com os olhares duvidosos para
mim.
Meu braço está com um roxo enorme e Letícia deu seu
depoimento, complementando como minha testemunha. Saímos de
lá tarde da noite com eles avisando que vão encaminhar para
investigação e em breve Diego será indiciado. Mas estou
desanimada, duvido que isso vá para frente.
Letícia decide me levar para casa e peço para que me leve
para a de Murilo, enquanto William a segue com o carro. Faço o
caminho calada, me sentindo um caco. Arrasada é pouco para
definir como estou me sentindo.
— Tem certeza que não quer ir lá pra casa? — Letícia me
questiona pela milésima vez.
— Tenho. Você fez demais por mim hoje, obrigada.
Os dois me abraçam e seguem seu caminho. Entro em
casa, tranco-a e confiro mais de uma vez se está mesmo trancada.
Me jogo no sofá, dando uma falsa sensação de segurança, já que
ele não sabe onde Murilo mora, ao menos eu acho. Me permito
chorar o que não consegui na rua, por estar em choque, com a cara
enterrada na almofada, tentando ter algum conforto.
Eu só queria Murilo aqui do meu lado agora, me
acalentando. Estou morrendo de saudades e desesperada pelo que
aconteceu hoje. Diego com certeza vai voltar e eu estarei
desprotegida. E isso me assombra!
Meu celular toca e pego pensando que é Letícia, mas vejo o
visor: é Murilo. Respiro fundo para não denunciar o recente choro e
atendo.
— Morena...
— Oi, amor — respondo com vontade de chorar de novo.
— Vou ter que ficar mais uns dias aqui, pois um filho da puta
aqui atrasou algumas coisas.
— Tudo bem — digo, chorosa e desanimada.
— Aconteceu alguma coisa aí?
— Não. Só saudades.
— Por que eu tenho a impressão que você não tá falando a
verdade?
Porque eu não estou. Vem para casa, por favor, eu preciso
de você.
— Eu Estou. Juro — minto descaradamente, em pura
angústia. — Eu Estou querendo gripar por causa do ar-condicionado
o dia inteiro, por isso que minha voz tá dessa forma.
— Prometo que tá acabando. Toma remédio.
— Tá certo. Eu Estou te esperando.
— Eu sei que tá. Eu te amo, não esquece.
Tenho vontade de mandá-lo largar tudo lá e vir ficar comigo,
pois preciso muito dele. Mas não posso. É a oportunidade da vida
dele, não posso ser egoísta. Amanhã é um novo dia, mas creio que
no decorrer dele tudo melhore. Pelo menos espero.
23
ALEXIA
Acordo um caco. Dormi nadinha, praticamente. Fiquei
passeando pra lá e pra cá e tive alguns pesadelos, pensando que
Diego viria atrás de mim. Um sono conturbado, lembrando tudo que
ele já aprontou ao longo do nosso namoro, até o último
acontecimento. É revoltante e doentio. Se ele nunca gostou de mim,
por que tá me perseguindo?
Letícia tinha deixado uma mensagem pra mim às seis da
manhã para perguntar se eu estava bem e se precisava de carona.
Apenas agradeci, pois preciso do meu carro para ir à casa de meus
pais. A tranquilidade e área verde de Atibaia irão me ajudar.
— Bom dia — sussurro quando chego. Estou desanimada
até para falar.
Hoje eu estou mais antissocial do que qualquer outro dia.
— Bom dia, sis. Que foi? — Nat questiona, preocupada. —
Isso é saudade de Murilo, é? — Faz gracinha, mas nem clima para
isso eu tenho.
Nego com a cabeça, prendendo o choro. Nat vem na minha
direção segurando minha mão, sua expressão preocupada faz com
que eu a deixe me arrastar pela mão. Entramos em uma sala
interditada que será reformada. Como ela sabia que fica
destrancada eu não sei.
— Desabafe pra mim, sis — me pede.
— Nem sei como começar. — Sinto meus olhos arderem
novamente.
— Amiga, você tá me assustando e preocupando.
— O Diego… ontem na saída… ele me agarrou e tentou…
— Não consigo verbalizar totalmente.
Não consigo mais prender o choro e assinto, confirmando o
que provavelmente deduziu por si. Ela vem na minha direção e me
abraça apertado, de forma calorosa. Coloco minha cabeça no seu
ombro, embora ela seja menor, enquanto choro inconsolável como
uma criança, um choro sentido mesmo, de medo e angústia, com
lágrimas grossas, e chego a soluçar.
— A única coisa que pensei era que ia acontecer —
murmuro em meio aos soluços.
— Por que eu deixei você sair sozinha? — lamenta em um
murmúrio, chorosa. Ela entende o meu medo. Ela também é mulher.
— Não foi sua culpa.
— Por que não me ligou? Não era pra você dormir sozinha
nesse estado. Murilo já sabe?
— Não quis contar pra ele não querer vir correndo, capaz de
perder o emprego. Não aconteceu nada, graças à Letícia e ao
segurança noturno.
Ela separa nosso abraço e limpa meus olhos. E vejo que ela
também tem os olhos marejados.
— Prestou queixa, pelo menos?
— Sim. Abri o inquérito e vão atrás dele.
Ela assente e me abraça de novo.
— Vamos lá pra casa. Tem a Liz pra fazer companhia. Pelo
menos não fica sozinha.
— Vou pra casa de meus pais.
— Quer que eu leve você lá? — se mostra solícita. — Se
depender de mim ele não vai mais triscar um dedo em você. Eu
arranco as bolas dele se isso acontecer!
— Não precisa. Será contramão.
— Mas qualquer coisa me liga. Qualquer coisinha que seja.
Não vem com esse papo que vai me incomodar não. Sou sua amiga
também — diz, com a pose de irmã mais velha, embora tenhamos a
mesma idade.
— Obrigada por ser minha amiga. — Abraço-a de novo.
— Eu sou amável demais, né? — Faz graça para quebrar o
clima e eu rio sem muita vontade. — Venha, vamos pra sala. Faça o
que você vê que não pode esperar, o resto eu faço.

Quase oito da noite. Entro no bairro de meus pais e logo


avisto a rua onde morei por tantos anos. Lembranças boas surgem
na minha cabeça. Eu fui a típica criança que brincava na rua de tudo
que é coisa. Que saudades eu estava desse lugar, parece que eu
não venho aqui há mil anos. Eu amava morar aqui, mas também
sempre tive o sonho de ir para a cidade grande.
Eu não avisei ninguém que estava vindo pra cá. Nem meus
pais e nem Ísis e James. Só espero que não estrague o fim de
semana deles, caso eles tenham combinando alguma coisa.
Decido ir direto para a casa de meu irmão. Preciso da minha
amiga de infância antes de falar qualquer coisa para meus pais. E
também não sei se meus pais estão em casa. Eles costumam sair à
noite.
Buzino umas quatro vezes, abro a janela do carro e grito
pela Isis, que aparece com um rosto confuso na porta e percebe que
o barulho é na porta dela. Ela arregala os olhos ao ver que é meu
carro e corre para abrir o portão.
— Milagre! — Vem de bom humor.
Pulo do carro para abraçá-la e a vontade de chorar vem na
hora. Não consigo evitar as lágrimas e ela me abraça com força.
— Vamos entrar pra podermos conversar, você não tá bem.
Me solto do seu abraço e limpo minhas lágrimas. Ela mesma
pega minhas chaves e aciona o alarme do carro. Entro no seu
apartamento e encontro James saindo da cozinha. Ele fez a mesma
cara confusa e surpresa que Ísis.
— O que foi? — Vem na minha direção para me abraçar.
Ele, sempre preocupado, me dá um abraço reconfortante, e
eu amo isso. James sempre me protegeu como a irmãzinha dele,
cada namorado que eu tinha ele fazia o garoto comer o pão que o
diabo amassou para saber se eles valiam a pena. Sempre foi
protetor comigo e com Isis, com quem ele acabou casando e tendo
dois filhos.
— Cadê meus sobrinhos? — questiono, mudando de
assunto.
— Tá lá na casa de meu pai. Estão trazendo-os já — James
responde.
— Então vou esperar eles chegarem — respondo.
Fomos em direção à cozinha e vejo que ainda não jantaram.
Incluíram mais um prato, embora eu não esteja com fome. Meus
pais e os meninos não demoram a vir, vieram jantar aqui a pedido
da minha sobrinha.
Helena faz festa quando me vê. Carrego ela no colo e a
abraço bem apertado de saudade. Apesar de ela ter seis anos, não
é muito alta. Mas com a mãe que tem não poderia ser diferente.
E a reação de meus pais foi a mesma. Igualmente
surpresos, pois eu nunca vim assim, depois do trabalho. Ainda mais
sem avisar.
Enrolei até quando consegui, mas depois do jantar não tive
para onde correr. Por mais que eu seja adulta, passando por poucas
e boas e morando sozinha, quando chego aqui eu me sinto a
mesma adolescente de sempre. E isso é a graça de visitar os pais.
James mandou Helena subir para pôr pijama e ela vai sem reclamar.
— Sua cara não tá boa. Conta logo. Foi o Murilo? — Minha
mãe questiona.
Conto tudo que aconteceu na noite de ontem, fazendo
minha mãe e Ísis chorarem, meu irmão soltar uns palavrões e meu
pai ficar irritado e choroso, abraçando minha mãe enquanto
escutava meu relato.
— Eu vou atrás daquele desgraçado, vou matá-lo! — James
ruge.
— Calma — Isis tenta parar meu irmão.
— Calma? Ele poderia… Olha como ele deixou minha irmã!
— responde, bravo como um touro vendo vermelho.
Escuto o desenrolar de tudo com Ísis me abraçando. Estou
abalada demais até para interferir, apenas segurando no colar que
Murilo me deu, um Ponto de Luz, querendo mais do que nunca a
proteção extra que ele traz.
Antes de dormir, conversei abertamente e a sós com Ísis,
que cismou em me analisar como terapeuta e me acalmou um
pouco quanto ao meu medo. Mas me recomendou consultar um
psicólogo caso me sinta emocionalmente esgotada e se meus
pesadelos continuarem, para que isso não me deixe pior, e aceitei a
sugestão.
Mesmo amparada, ainda me sinto desprotegida e com
medo. Esgotada, decido ir dormir e Isis preferiu que eu ficasse aqui,
com a companhia de Helena. E agradeci por ter alguém dormindo
comigo para que eu não me sinta desprotegida, mesmo que seja
minha sobrinha, uma criança. Não vejo a hora disso tudo acabar e
Murilo voltar!

MURILO
Finalmente! Não via a hora de voltar pra casa para ver
minha morena. Pelo horário ela ainda está acordada, espero. Estou
até com o peito apertado, achei que fosse alguma coisa com ela,
mas ela garantiu que estava tudo bem. Saudades é uma droga!
Odeio essa melancolia.
Eu estava lá, mas a cabeça não saía daqui de forma
alguma. Preocupado! Desde ontem que não nos falamos, porque eu
fiquei em mil reuniões chatas e teve o voo que quase perdi. E quero
fazer surpresa. O táxi estaciona e eu subo para o meu apartamento.
Acho que ela está ficando aqui, pelo menos pedi que ficasse, como
forma de segurança. E se não estiver eu vou para lá.
Está tudo escuro, mas vejo sua bolsa maior no sofá. Deixo a
minha sacola lá mesmo e sigo para a cozinha com uma sacola de
comida que comprei no caminho, e flores. Dei sorte de achar uma
floricultura aberta. Na verdade, estava fechando, mas percebi que
floriculturistas não têm coração tão duro quando descobrem que é
para fazer uma surpresa para a namorada, por causa da saudade
da viagem. Arrumo tudo, coloco o vinho na geladeira para não
esquentar e subo para encontrá-la.
Chego no quarto e a encontro dormindo, enroscada no
travesseiro, e o melhor: vestindo minha camisa, mostrando as
pernas desnudas.
Que visão! Que saudade!
Arranco meus sapatos e vou para a ponta da cama acordá-
la. Esse cheiro familiar é gostoso, me aquece. Isso faz com que eu
me sinta de volta em casa.

ALEXIA
Penso novamente se Letícia não tivesse aparecido, o que
aconteceria, se ele realmente terminaria o serviço. Meu coração
acelera automaticamente e sinto meu corpo tremer por lembrar dele
falando exatamente isso, que “terminaria o serviço”. Depois tremo
de novo pensando em Diego invadindo aqui para que isso aconteça.
Tudo que eu queria era Murilo aqui me acalentando, me abraçando,
me protegendo nos seus braços e me consolando com seu corpo
quente.
— Ei, Morena…
Escuto a voz baixa de Murilo. E escuto mais uma vez. O
meu sonho é tão real que até escuto a voz dele como se tivesse
realmente me chamando.
— Acorda, dorminhoca.
Escuto novamente e abro os olhos para ver Murilo me
olhando, mesmo com a visão ainda embaçada.
— Murilo? — Semicerro os olhos, que ardem um pouco. —
Murilo! — questiono, me dando conta da realidade.
— Em carne e osso pra você.
Vejo ele sorrir para mim de cima e abro um grande sorriso,
agarrando-o pelo pescoço e o derrubando na cama, ficando por
cima do corpo dele enquanto ele me agarra também, me abraçando.
Sem esperar, sinto uma vontade enorme de chorar e acabo
deixando as lágrimas saírem dos meus olhos enquanto enterro
minha cabeça no seu ombro. Murilo dá uma sensação tão gostosa
de acolhimento.
— Imaginei que estaria com saudades, mas não a ponto de
chorar assim. — Alisa minhas costas falando no modo bem-
humorado dele, como sempre.
Continuo chorosa, agarrada ainda mais no seu pescoço,
rezando para que não seja um sonho. Que ele realmente está aqui
comigo, que é real. Estava morrendo de saudades dele.
— Ei, o que foi? — comenta baixo, com um tom preocupado
na voz.
— Saudade.
Levanto meu rosto para fitá-lo, ao mesmo momento que ele
segura minha nuca para me beijar.
Brinca com seus lábios nos meus, me deixando em pura
ansiedade. O pego em um beijo esmagador. Sufocante. Como se eu
quisesse mais dele, e eu quero. Não me importo se vai machucar
sua boca ou a minha.
Ele segura me apertando mais, virando-me, me deitando na
cama novamente, me colocando por baixo, e me fita, separando
nossos lábios.
— Foi o que mais senti também.
Sorrio para ele e avanço mais uma vez para sua boca.
Saudades desse beijo e desse homem!
Fiquei ansiando por esses beijos desde que ele embarcou.
O beijo é intenso, e sorrimos entre um e outro.
Nos separamos de novo com gostinho de quero mais.
— Pensei que ia ficar lá até o meado da semana.
— Também achei. Mas resolvemos as pendências na última
reunião e não liguei mais porque quis fazer uma surpresa.
Beijo ele de novo, só que dessa vez foi um selinho. Ele me
agarra e junta nossas bocas mais uma vez e eu mato um pouquinho
mais da minha saudade. Saudades dessa boca gostosa.
— Vamos levantar… — Beija meu pescoço rapidamente e
eu me arrepio da mesma forma.
— Não — nego, dengosa, colocando minhas mãos por
dentro da sua camisa, alisando suas costas.
— Sim!
Junta os lábios delicadamente no meio, em um selinho
gostoso. Sai de cima de mim e me puxa para sentar logo em
seguida.
— Tenho outra surpresa — comenta.
— O quê? — questiono, curiosa.
— Levanta que mostro.
Em menos de dois segundos, levanto da cama arrumando a
camisa dele no meu corpo e dando um nó no cabelo. Murilo
gargalha me abraçando e me leva para a cozinha. Chegamos lá e
vejo uma coisa que me surpreende.
A mesa que nós quase não usamos, pois nunca temos
tempo de sentar lá, está arrumada para um jantar a dois. E um
arranjo de flores bonito e novo, acompanhando e dando um toque
romântico e fofo.
— Como arrumou tudo isso? — Não escondo minha
confusão.
— Não foi uma coisa demorada.
Rio e tremo um pouco. Não sei como ele vai reagir quando
eu contar de Diego. Mas não contarei agora. Amanhã, quem sabe,
não quero pensar nisso agora, só quero curtir e matar a saudade de
Murilo, sem mais dramas.
— Venha, sente se. — Arrasta a cadeira para mim e depois
vai em direção à geladeira.
Observo de perto toda a decoração arrumadinha na mesa.
Ele trouxe rosas vermelhas por saber que é uma das minhas flores
favoritas e que ele já me deu uma vez e eu super amei. Como não o
amar?
— Vinho é afrodisíaco, sabia? — Sorri torto e eu reprimo um
sorriso.
Murilo é muito safado mesmo.
— Ah, é?
Faço graça e ele traz duas pequenas tigelas com
escondidinho dentro. Estou morrendo de fome, mas quando cheguei
fiquei sem coragem alguma de comer.
— Vai me dizer que fez também enquanto eu dormia? —
questiono, com uma sobrancelha arqueada.
— Não. Isso eu comprei no caminho. — Sorri da expressão
que faço.
É tão gostoso ter a companhia dele. Tudo parece mais fácil
e inofensivo, como se eu fosse mais inalcançável e mais forte, não
sei. Murilo serve vinho para nós e senta de frente para mim.
Jantamos juntos dando sorrisinhos um para o outro, morrendo de
vontade de fazer outras coisas.
Acabamos de jantar e estamos ambos olhando um para o
outro em pé depois de termos colocado os pratos na pia. Murilo me
abraça por trás, me beijando na nuca, e eu fico mole feito uma
gelatina nos braços dele.
Me vira de frente e arruma meus cabelos, colocando-os
atrás da orelha, e avança para me beijar, segurando firme nos fios.
O beijo que ele me dá é muito “uau”, do tipo que minhas pernas
amolecem e me fazem bater palmas, mas não com as mãos.
— Não sei como consegui ficar esse tempo todo sem te
beijar — sussurra a centímetros da minha boca.
Aceno sem querer prolongar o papo, pois também não sei
como fiquei esse tempo todo sem ele. Me suspende e eu enlaço a
sua cintura com minhas pernas, enquanto ele vai em direção ao
quarto comigo no colo, me apertando contra seu corpo.
Desço para o chão ao mesmo tempo que ele puxa minha
camisa, que na verdade é dele, e afunda ainda mais suas mãos nos
meus cabelos, me imprensando na porta.
— Essa boca…
Ele passa o polegar entre meus lábios. Não fico para trás,
puxo a sua camisa com ânsia e distribuo beijos quentes no seu
peitoral gostoso, enquanto aperto minhas mãos nas suas costas.
Murilo geme baixo e toma minha boca na sua novamente.
Sinto meus lábios serem chupados no modo que me deixa bamba e
pegando fogo.
Moreno me arrasta, me fazendo andar de costas enquanto
me segura firme em seus braços, pela minha nuca, enquanto nos
beijamos. Me deposita sentada na ponta da cama e fica em pé, de
frente para mim.
Desabotoo seu cinto e a calça, descendo até o meio das
pernas. E ele tira o resto com o pé.
Distribuo beijos pela sua barriga e no V, perto do cós da
cueca. Dou algumas mordidas de leve em cada lado com os dedos
dentro, na pontinha da cueca, e em seguida toco com a língua. Ele
geme e dá um grunhido. Ah! Moreno. Estou pegando fogo tanto
quanto ele. Me empurra na cama e fica em cima de mim.
— Vou socar meu pau em você.
Sussurra perto do meu ouvido e gemo apertando suas
costas, fincando minha unha na sua pele.
Beija e morde meu queixo e depois desce a boca para meu
pescoço, distribuindo beijos. Me remexo embaixo dele e recebo uma
pequena lambida na nuca. Estou toda arrepiada por isso, é golpe
baixíssimo.
Distribui selinhos pela minha boca e bochechas e depois
beija e mordisca meu queixo e pescoço. Apalpa meus seios
enquanto brinca com os mamilos eriçados com o polegar. Estou um
rio.
A mão dele passa pelo meu tronco e eu seguro seu rosto,
trazendo sua boca para a minha.
Ele suspira com a respiração pesada. Me dá um selinho e
se ajoelha na cama, entre as minhas pernas, e puxa a calcinha. Nos
enroscamos na cama até ele estar totalmente despido em cima de
mim.
— Isso! Agora mostre toda sua gostosura e potência —
sussurro no seu ouvido, passando a mão pelos seus cabelos
macios.
Não vejo a hora de tirar os rastros de Diego do meu corpo,
para me sentir limpa e voltar a ser a velha Alexia. Passeia a mão
pelo meu corpo e eu distribuo beijos pelo seu pescoço e queixo.
O sexo está intenso e quente. Gostoso além do limite, pois
tem um “Q” a mais, que é a saudade.
Murilo me olha enquanto me sinto invadida da melhor forma
possível. Cola nossos lábios e finco minha unha de novo nas suas
costas, fechando os olhos e o sentindo ir cada vez mais fundo.
Nos enroscamos na cama e acabo ficando por cima.
Impossível não ter vontade de morder cada pedacinho desse
homem!
— Safada gostosa.
Murilo está ofegante e me puxa para cima para eu deslizar
logo em seguida sobre ele. Matar o que nos mata. Como não ter
tesão nesse homem?
A cada toque e beijos de Murilo no meu corpo, apago mais e
mais os rastros de Diego. E lembrarei que a última pessoa que me
tocou de forma íntima foi ele, Murilo, e com meu total consentimento
e vontade.

— Me diga, como foi lá?


Questiono levantando o rosto, fitando Murilo com os cabelos
despenteados curtindo a maresia pós foda, sem coragem alguma de
levantar e tomar um banho.
— Uma chatice do cacete. Mas as ações são minhas!
Viro-me para olhar ele direito e sorrio besta, pois sou uma.
— Agora serei o Diretor do meu setor e consegui comprar
uma pequena porcentagem das ações, de início.
Ele sorri abertamente para mim e eu retribuo com a mesma
sinceridade. Pelo menos a viagem trouxe coisas boas. Nunca
duvidei da capacidade dele de conseguir o que quer.
— Sabia que ia conseguir. Parabéns, Moreno!
Dou um selinho demorado e depois me separo, colocando
minha cabeça no seu peito.
— Em breve teremos uma festa aqui para celebrar trinta
anos da empresa e quero a senhorita gostosa como minha
acompanhante.
— Pode deixar.
Ataco a boca dele em um beijo, dedilhando meus dedos
pela sua barriga para descer para seu pau, que pulsa na minha mão
assim que o toco. Ele geme baixo, me dando mais tesão.
— Como foi aqui?
24
ALEXIA
Subo minha mão para seu peito novamente e exaspero.
Estou receosa de contar a ele, pelo menos agora, e estragar tudo.
Falta coragem de tocar nesse assunto novamente.
— Senti saudades de você.
Mudo o foco tentando não entrar no assunto que ainda me
angustia, e volto a acariciá-lo para ele esquecer isso.
Sinto-o pulsar na minha mão rapidamente, voltando à ativa.
Não vou mentir que foi tudo bem, mas também não quero contar
isso agora que ele mal chegou. Quero matar as saudades do meu
moreno, pois fez muita falta. Murilo parece esquecer o que
perguntou e solta pequenos gemidos conforme eu aumento a
pressão da subida e da descida em torno do seu pau, e não paro
até senti-lo firme o suficiente para o que eu quero.
— Sentiu muita saudade de mim lá? Tipo, muita, muita?
— Muita. Saudade de você e da sua boceta.
Sussurra no meu ouvido, me dando uma descarga de
energia pelo corpo. Me puxa totalmente para cima de si e eu vou
sem problema algum, quase encaixada novamente.
— Como pode ser tão fofo e escroto ao mesmo tempo?
Rio e lhe beijo.
— Se mexe, eu ainda estou mortinha de saudades — peço,
exasperada, ao senti-lo pulsar cada vez mais em meu interior.
— Com muito prazer, Morena.
Arrasta a palavra muuuuito e logo ele nos troca de posição,
me colocando por baixo, fazendo tudo que sabe de modo intenso e
safado. Filho da mãe!
— Passei uma semana inteirinha pensando em estar assim.
Resmunga no meu ouvido, batendo e voltando rápido.
Fecho os olhos, pois não consigo mantê-los abertos. Mordo os
lábios com força pela forma que ele está indo. Seguro o seu rosto
de novo e o beijo rapidamente. Está todo suado. Mordisca minha
orelha e eu me deixo levar mais uma vez.
Ele não sabe o tesão que eu tenho quando vejo ele com
esse cabelo bagunçado e revoltado enquanto transamos. Por isso
que eu puxo e repuxo com vontade.
Pelo menos por agora consegui mudar o foco, pois ainda
preciso pensar em como contarei isso.

Domingo à noite, juntos e assistindo a um filme que ele


escolheu, penso em como irei contar a Murilo. Quero contar, mas
estou com medo e me sinto despreparada, sei lá. Tenho medo!
Não queria estragar nosso momento. O dia passou tão bem,
apenas nós dois juntos, trancados dentro de casa. Saímos para
absolutamente nada. Me sinto tão suja e angustiada a cada vez que
penso em tudo. Nem sei se aguentaria se ele fosse… até o fim.
Só em pensar nessa possibilidade meu corpo arrepia de um
jeito péssimo e meu coração acelera de nervoso. Tenho vontade de
gritar a cada vez que isso passa na minha cabeça. Diego se
mostrou um monstro e tenho medo do que pode acontecer ainda.
— Estou ouvindo suas engrenagens daqui, Alexia.
Escuto a voz de Moreno do meu lado.
— Hum?
Saio do meu transe e olho para ele.
— O que você tanto pensa? Não é de agora isso...
Questiona, franzindo a sobrancelha, colocando o copo no
chão e voltando a me olhar. Merda! Paro de olhá-lo e fito um ponto
qualquer, menos ele.
— Alexia… o que você tá escondendo?
Fico calada mais uma vez e eu gemo por dentro, me
sentindo encurralada.
Eu quero cortar esse assunto até ter coragem de contar o
que aconteceu. Estou morrendo de medo dele brigar comigo, ou de
alguma forma achar que eu deixei brechas para isso acontecer.
Nem sei como começar.
— O que foi que aconteceu pra você estar assim, Morena?
Tá desde ontem aérea, com sono leve, toda hora acordava ontem
de madrugada, eu vi. Conta, vai. Esqueceu da nossa cumplicidade?
Pergunta com a voz mais amena, me olhando. Merda,
Murilo!
Sem aguentar mais guardar tudo para mim, começo a
chorar, me sentindo péssima e suja, apática e sem forças. Eu só
quero chorar e receber carinho. Não quero que ele ache que foi
culpa minha, eu não quero carregar a culpa disso, como o policial
deixou subentendido. Eu não aguentaria, eu estou envergonhada
também por fazer parte dessa situação e não ter conseguido fazer
nada além de chorar. Eu só queria sumir até tudo isso se tornar
passado distante o suficiente para não me assombrar, se é que isso
vai acontecer um dia.
Ele chega mais perto, me colocando no colo enquanto choro
compulsivamente no seu ombro. Eu quero que essa angústia passe,
não aguento mais ser assombrada pelo que poderia ter acontecido.
— Eu Estou aqui, calma.
Pede calmo, alisando minhas costas. Tiro meu rosto do seu
ombro e começo a contar, chorando nas partes que não conseguia
verbalizar, mas ele entendia perfeitamente aonde eu queria chegar.
Murilo passou da calma à fúria em pouco tempo, me deixando no
sofá para andar para lá e para cá passando a mão na barba,
impaciente. Se eu pensei que James ficou enraivecido, Murilo está
bem pior.
— Eu vou atrás dele agora! Ele tá pedindo para morrer e
não é de agora.
Murilo anda em direção ao quarto, provavelmente para pôr a
camisa ou pegar a chave do carro. Corro atrás dele em puro
desespero. Percebi que Diego é capaz de muita coisa e não quero
que Murilo vá uma hora dessas atrás dele. Não me perdoaria se ele
se machucasse por minha causa.
— Não vai, Murilo, por favor.
Peço no meio do choro, parando-o no corredor entre as
portas dos quartos.
— Sabia que não era boa ideia ir pra essa porra de trabalho!
Grita exasperado, passando a mão no cabelo logo em
seguida, dando um murro na parede. Mas na situação que eu estou,
sequer me assusto.
— Fica aqui comigo, não vai. A polícia já tá fazendo o
trabalho dela.
Estou morrendo de medo dele ir e Diego aprontar algo, pois
não duvido de mais nada daquele ser. Não quero ficar sozinha e
nem quero Murilo sozinho por aí, dando uma de justiceiro, sabemos
o fim disso. Nunca é o culpado que sai em desvantagem.
— Eu vou dar àquele filho da puta o que ele tá pedindo há
muito tempo. Fui até pacífico demais com ele.
Tenta se esquivar enquanto seguro sua camisa mais forte, o
parando mais uma vez.
— Não vai, por favor. Só preciso que fique comigo.
Murilo me olha e dá um muxoxo chateado, voltando a si e
vendo minha situação deplorável, me abraçando em seguida. Ele
me aperta forte e eu enterro minha cabeça no seu peito. Nos braços
dele me sinto tão pequenininha e protegida.
— Foi aquele dia, não foi? Que perguntei se estava bem?
Questiona baixo, ainda me abraçando.
— Foi.
Murilo suspira pesado, inconformado, enquanto eu me
aperto mais contra ele.
— Por que não me disse logo?
Não respondo, apenas aperto ele mais forte. Como eu iria
contar isso por telefone? Capaz de dar alguma coisa nele do outro
lado da linha.
Eu bem conheço Murilo, sei que ele iria largar tudo e vir, e
pior, poderia acontecer um acidente por querer chegar o mais rápido
possível. Apesar de tudo, tive que pensar nele, pois sei que ele não
faria isso. Moreno fica cego quando está furioso.
— Venha beber água pra acalmar um pouco. Você tá
tremendo.
Moreno me arrasta ainda me abraçando. Acabou fazendo
chá pra mim e eu tomei sem protestar, tudo que eu quero é me
sentir protegida e nada mais.
— Me desculpa por não ter ficado aqui.
Alisa minha cabeça quando estamos deitados na cama, no
silêncio do quarto. Nos recolhemos para a cama mais cedo.
— Não tínhamos como prever isso. Só quero que fique
comigo pra que eu me sinta protegida.
Sussurro, querendo não pensar mais nisso. Murilo continua
a fazer carinho nos meus cabelos. Estar assim com ele é tão
gostoso. Enrolados bem juntinhos, como se fôssemos um só.
— Quer dormir? Descansou quase nada essa noite que eu
reparei.
— Tá cedo, queria assistir algo e ficar com você — peço,
querendo me distrair um pouco.
— Você vai acabar dormindo antes de começar.
— Não vou.
Murilo pega o controle da pequena televisão do quarto. Ele
mesmo escolhe o filme sem eu protestar dessa vez. Me aconchego
nele, sentindo uma paz enorme. Ele é meu anestésico. Tem um
poder enorme de me trazer paz.
Sinto o carinho nos cabelos e ronrono baixo, sentindo seu
cheiro familiar e calmante. Abraço seu tronco, chegando mais perto.
Como ele falou, acabei ficando sonolenta antes mesmo do filme
começar.
Mas não ligo. Esses dias não dormi nada, nem consegui
descansar direito, mas com Murilo aqui acho que consigo dormir de
verdade, sei que com ele Estou protegida. Espero que não tenha
mais surpresas como essa. Não tenho mais emocional pra essas
coisas.

MURILO
Sigo para o trabalho de Alexia para buscá-la; mandei-a ficar
dentro do hall e só sair quando eu ligasse. Estou numa culpa
imensa por tê-la deixado aqui sozinha para acontecer isso. Algo
estava mandando eu ficar, quase cancelei, mas depois da nossa
conversa acabei indo pelo apoio dela. Se acontecesse o que ele
tentou fazer, eu iria no inferno atrás dele. Por essa situação, eu
usaria meu réu primário sem problemas, valeria a pena. É a única
coisa que ele merece, aliás.
Como ele pôde fazer isso com ela, caramba? Que merda ele
tem na cabeça?!
Se ele soubesse a raiva que estou dele... ele quebraria a
própria cabeça para esquecer o nome dela.
Apesar de Alexia ter me pedido para eu não me meter, por
medo, eu não desisti de acertar as contas com ele. A polícia já
deveria estar procurando-o para prendê-lo, mas, pela lentidão,
parece que eles aguardam acontecer o pior para agirem. É
revoltante!
Tento tranquilizar Alexia dizendo que está tudo bem, que
nada vai acontecer com ela. E até tenho uma ideia do que posso
fazer, para deixá-la mais leve com essa pressão psicológica toda em
cima dela, e para sair um pouco dessa situação que deve ser muito
angustiante pra ela. Se para mim causa impotência, imagine nela.
Eu me atento à rua e vejo o fulano andando tranquilo
demais pelo que aprontou recentemente. Sigo com o carro até a rua
onde ele entrou.
Acho que adiantarei o trabalho da polícia!
Ele para, acende um cigarro e volta a andar logo em
seguida, despreocupado e tragando, jogando a fumaça no ar. Aperto
minhas mãos no volante, de raiva, com vontade de dar um só murro
nele para desmontar seu maxilar. Continuo seguindo-o com o carro,
até decidir sair e ir até ele para esse acerto de contas que já deveria
ter acontecido há muito tempo.
Decidi estar dois passos à frente dele pois, se eu estiver de
carro, é muito fácil ele simplesmente ir na minha direção contrária, e
até eu manobrar para voltar ele vai estar bem longe. Isso é o básico
da fuga, quando alguém está te seguindo de carro.
Antes de eu andar na sua direção, o maldito olha para trás e
se dá conta que está sendo seguido. Corre para o outro lado da rua
em disparada e eu entro no carro novamente, disposto a acelerar e
até atropelá-lo se possível, não ligo. Como já falei, usaria meu réu
primário sem problemas.
Começo a caça ao babaca, acelerando o carro, acessando a
rua que ele entra, disposto a barrar sua saída e encurralá-lo.
A rua é estreita o suficiente para não me deixar passar pelos
carros estacionados nas extremidades e deixo o carro lá. Corro
atrás dele, que olha para trás para saber se eu estou perto, mas o
agarro pelo pescoço o empurrando. Ele se desequilibra, tropeça,
mas não chega a cair.
— Caçado! — Rio, sentindo a adrenalina correr pelo meu
corpo.
Ele tenta correr novamente, mas o agarro pela camisa, o
imobilizando junto com o braço no seu pescoço.
— Vai fugir, babaca? — Aperto mais minha imobilização.
— Me solta, seu playboy! — Ele tenta sair, debatendo-se
feito uma cobra.
— Vamos pontuar umas coisas que acho que você tá
resistindo a entender... — Suas mãos tentam folgar o aperto no
pescoço.
— Qual é, tá com medo de Alexia vir rastejando pra mim
implorando pra ser fodida?
Ele ainda tem coragem de debochar. Solto o aperto apenas
o suficiente para ele achar que está solto e tentar sair. Mas eu
ponho o pé na frente para ele tropeçar e cair na rasteira que toma
quando puxa minha perna. Sem sangue de barata, soco seu rosto
com a mão direita, onde tem o anel de compromisso bem grande.
Eu tenho raiva de pertencer à mesma categoria que ele, a de
homem.
Ele tenta se defender, logo em seguida reagindo aos socos.
Hoje ele está esperto! Bater em morto não tem graça!
— Ela estava toda gostosinha de blusinha transparente. Ela
queria me dar, cara, ela quem se fez de vítima. — Ele ri, fechando
os punhos em posição de soco.
Com o ódio estourando, descarrego minha raiva sem dó
nem piedade. Sem chance de defesa. Soco sentindo minha mão
doer, sequer miro mais onde quero dar, apenas vou socando onde
meus punhos acertam.
— Esquece a porra do caminho dela! — mando e o pego
pelo pescoço, a fim mesmo de deixá-lo inconsciente.
— Se ela não for minha, não será de ninguém! — Ofegante,
ele sente o aperto no pescoço, apertando meus punhos para que eu
o solte, e ainda tem a cara de pau de falar isso.
Continuo a segurá-lo até ver que seu aperto no meu pulso
afrouxa, sem forças, e o solto. Queria ter o sangue frio de matá-lo.
Mas eu quero ele pagando o que fez com ela bem vivo e consciente.
Morte seria pouco nesse momento! Antes disso acontecer, eu quero
que ele pague com consciência.
Eu o solto praticamente desacordado no chão e, disposto a
ligar para a polícia, pego meu celular para discar. Mas antes mesmo
de dar a segunda chamada, sinto algo bater nas minhas costas me
fazendo balançar para frente. Me situo e vejo o filho da puta correr
cambaleando.
Desgraçado! Ele me acertou por trás com um balde de lixo,
enquanto eu ligava para a polícia. Corro atrás dele, mas o acabo
perdendo de vista por causa das ruas e becos que ele entra.
Desgraçado escorregadio! Miséria!
Morto de raiva, volto para o meu carro para buscar Alexia no
trabalho. Deve estar preocupadíssima pela minha demora. No
caminho olho ao redor para ver se o encontro em alguma esquina,
mas o desgraçado se camuflou em algum lugar, ele não teria fôlego
para ir tão longe.
No caminho, ligo para minha morena, que me atende
preocupada por causa da minha demora, mas aviso que estou
chegando. Se esse filho da puta acha que vou dar brecha para ele
fazer qualquer coisa com Alie, está muito enganado. E o nosso
acerto de contas ainda não acabou, ele irá pagar por cada merda
que falou e fez para ela.
25
ALEXIA
Sinto o carinho de Murilo no meu ombro e relaxo um pouco.
Depois de todo o susto que passei, as coisas continuam na mesma.
Justiça lenta, como sempre. O fato dele ter evaporado, sumido do
mapa, me deixa com a sensação de que serei pega a qualquer
momento. Estou até me recusando a sair de casa a não ser para
trabalhar, e só me sinto segura quando Moreno me deixa na porta
da empresa e me espera no mesmo lugar.
Mês passado recebi um aviso de férias que estavam
acumuladas e, com isso, Murilo planejou um recesso nosso, para
espairecer um pouco, sair da bolha Diego, pois eu estava quase
ficando doente de medo. E ele conseguiu quinze dias de recesso de
onde trabalha para me acompanhar. Ele achou melhor para que eu
relaxasse.
Vamos usar esses quinzes dias para visitar os pais dele. A
tal visita para conhecer meus sogros, e por isso estamos no táxi em
direção ao aeroporto. Só pensar que em algumas horas eu vou
conhecê-los já me deixa ansiosa de novo. O frio na barriga é
constante.
Viajamos hoje para São Francisco. Nem acredito que vou
para a Califórnia, isso é espetacular, nunca que minhas férias
seriam tão bem aproveitadas. Murilo me alertou que venta um pouco
e é gelado, então vou aproveitar para usar meus casacos mais
grossos.
— Estou com medo. E se eles não gostarem de mim? —
Suspendo meu olhar para fitar Murilo.
— Eles vão. Fique tranquila. Meus pais são gente boa.
— Tomara. Estou com receio de não ser o que eles
esperam. — Sorrio fraco.
— Não se preocupa. Eles vão te amar como eu te amo. —
Ele sorri do seu jeito bonito e eu o beijo castamente.
Em direção a Alamo Square, o bairro onde os pais moram
junto com a irmã dele, seguimos de táxi novamente. Enfim! Não
aguentava mais aquele avião. Eu estou nervosa sim, admito. Porém,
também estou eufórica.
Fizemos o resto da viagem tranquilos, confesso que fiquei
com medo do avião subindo, mas Murilo tentou me distrair e me
relaxar com beijinhos e carinhos no cabelo. Mas não deu muito
certo, só quando ele ficava me dando selinhos me sentia mais
tranquila. Acabamos dormindo na metade do caminho e acordamos
quando estávamos chegando. A vista de cima é maravilhosa.
Dormi umas cinquenta vezes até chegar. Pelo menos teve
algumas paradas para eu respirar um pouco. Faz um frio gostoso e
venta um pouco, como ele falou, mas nem me importo. Amo o frio,
assim o Moreno fica com os braços cobertos. Não estou a fim de
chamar ninguém de “bitch” na frente dos meus sogros. Ciumenta?
Não, cuidadosa.
O taxista explica alguma coisa ao Moreno, mas eu não
presto atenção, pois estou olhando pela janela, apaixonada pelas
casas vitorianas coloridas. Mesmo à noite posso ver que são lindas,
parece uma foto de cartão-postal que vimos na internet, de tão
incrível que é.
Ele achou melhor os pais esperarem em casa, em vez de
buscarem a gente no aeroporto. E eu agradeci por isso. Tenho mais
tempo para me preparar para o encontro. Estou quase parecendo
um cachorrinho na janela do carro. Para mim tudo que vejo é
mágico.
Apenas observo a paisagem enquanto o táxi anda. Estou
encantada e me sentindo em um seriado. Ansiosíssima para ir no
Píer 39 e principalmente na ponte Golden Gate. Parece que o que
eu estou vivendo ultimamente é um sonho, apesar de alguns
pesadelos no meio do trajeto, mas nada tira a beleza desses
momentos.
Qual era a chance de eu estar na Califórnia e namorando
um homem desses? Nem nos meus pensamentos mais otimistas! E
ainda bem que a realidade superou as expectativas, pela primeira
vez a realidade é muito melhor! Saio dos meus devaneios com o
Moreno avisando que chegamos. E mesmo com o encanto, o frio na
barriga volta.
Malas no chão e, ao lado do Murilo, eu olhei para a casa,
que parecia de filme.
Me virei para ele com o coração a mil, e ele logo percebe
meu nervosismo. Me conhece como ninguém. Murilo sabe me ler
sem nem precisar abrir a boca. E eu amo isso, a paciência que ele
tem em reconhecer meus sinais de medo ou outros sentimentos.
— Relaxa, eles são pessoas comuns.
— Não dá, e se eles não gostarem de mim ou não me
acharem boa o suficiente pra você? — confesso todo os meus
medos a ele, tremendo de nervoso.
— Não se preocupe, eu que tenho que achar isso. Meus
sentimentos por você não mudarão por nada. — Segura na minha
nuca e me beija, me derretendo mesmo naquele frio.
— Tudo bem, amo você. — Respiro fundo.
Subimos a escadinha e ele toca a campainha. Não demora
para a porta abrir, mostrando uma mulher de cabelos de
californiana, e meu coração ameaça dar uma pequena parada. É a
mesma da foto que vi na casa de Murilo e eu deduzi ser a irmã dele.
Ela grita assim que vê ele.
— Bela! — saúda, abraçando a irmã apertado. — Saudades
de você, pirralha.
— Eu sei — rebate e eu sorrio de lado pela interação. —
Não sou pirralha, tenho dezoito.
Ela olha para mim, e eu olho para ele de relance e com
medo da reação dela.
— Oi, sou Alexia. — Sorrio, tentando controlar a tensão; ela
abre um sorriso para mim e me puxa para um abraço. Um alívio me
consome. Pelo menos uma acho que já foi.
— Eu sou Isabela, mas pode me chamar de Bela. Vem,
entrem.
Ela dá passagem e entramos na casa, que parece bem mais
espaçosa do que vista do lado de fora.
— Cadê meus pais? — Murilo pergunta à irmã.
— Na cozinha.
Seguimos ela, e pelo meio do caminho eu achei uma foto do
Moreno mais novo e de janelinha. Apontei mostrando e ele me puxa
sorrindo. Murilo abraça os pais apertado, enquanto Bela sorri, me
contagiando. Em seguida a atenção se volta para mim.
— Mãe, pai. Essa é a Alexia — me apresenta e eu dou um
sorriso envergonhado.
Fico olhando os dois, petrificada no lugar, esperando a
reação para ver se passei no teste, até dona Isadora vir na minha
direção e me abraçar apertado.
— Finalmente te conheci! — Sorri de forma calorosa,
mostrando que o Brasil ainda não saiu deles. — Você é linda! —
Segura nas minhas bochechas, que ficam quentes na hora.
Voltei a ter quinze anos, parece!
— É, e é um prazer imenso, e obrigada.
— Meu filho tem bom gosto. — Me abraça, sorrindo, mais
uma vez.
— Não aguentava mais ouvir Mimo ligar e falar de você —
Bela dedura e os pais dele riem.
— Cala a boca! — Murilo agarra a irmã, que é bem menor
que ele, bagunçando seus cabelos.
Rio pelo apelido e o pai de Murilo vem logo em seguida me
abraçar, enquanto Moreno aperta a bochecha de Bela. Ela dá um
tapa no braço dele, tirando a mão enquanto ele ri, pegando nos
cabelos dela de novo.
— Seja bem-vinda à família, minha filha. — Seu Daniel beija
minhas duas mãos depois do abraço.
Pelo jeito essas coisas são de família.
— Obrigada. Fico lisonjeada!
Meus sogros são bem descontraídos e percebi que Murilo
tem um jeitão do pai em algumas ações. Pelo menos dentro de casa
todos falam português e estão sendo bastante simpáticos comigo.
Me senti acolhida. Percebi que o medo era paranoia minha. Malditas
paranoias.
— Vamos sair pra comer? Já liguei pro Justin.
— Quem é Justin? — Murilo pergunta sério, com as mãos
na cintura.
Não deveria pensar assim na frente dos meus sogros e
cunhada, mas ele fica tão gostoso no modo protetor. Como seria um
Murilo pai de menina? Ciumento e babão?
Saio dos meus devaneios doidos pela resposta debochada
da irmã dele.
— O Timberlake que não é. Meu namorado, bebê.
— Como é?
— Não vou te dar nenhum sobrinho por agora. Tenho juízo!
— Dá dois tapinhas no braço dele em puro deboche.
Gostei dela!
— Como é? Pai, está sabendo disso? — pergunta,
inconformado.
— Sabe — Bela dá de ombros, respondendo à pergunta.
Murilo olha para os pais, que dão de ombros, sorrindo. Ele
nega olhando para ela, e Bela ri.
— Gosta de fastfood ou vive de dieta? — Bela me pergunta
arqueando apenas uma sobrancelha, como Murilo costuma fazer
comigo. Credo!
— Como de tudo!
Saímos com Bela de motorista. Ela conhece aqui mais do
que nós dois. Meus sogros não quiseram ir, preferiram deixar a
responsabilidade para ela.
Justin apareceu, deixando Murilo ainda mais enciumado, e
comemos enquanto conversávamos. Eles formam um casal
bonitinho e meigo. Combinam. Justin parece bem na dele, assim
como Bela, que é muito fácil de lidar. Mais fácil que achei que seria
pelo que Moreno já tinha me contado sobre sua família.
Voltamos para a casa dos meus sogros e ficamos
conversando por horas, nos conhecendo melhor enquanto Murilo
encarava o pobre menino que fazia de tudo pra não olhar para ele.
Ela iniciou a faculdade esse ano, e o namorado dela, que é daqui,
faz o mesmo curso. Perdi a noção do tempo conversando, tanto que
o Moreno ficou fingindo ciúmes. Dramático!
— Vamos subir? Estou cansado! — Moreno se queixa com
cara de cachorro perdido, bocejando.
— Vão, viagem é cansativo! — Minha sogra diz. Eu
concordo me despedindo de todos e subo com ele.
Entro no quarto de hóspedes, que tem tons neutros e, ao
contrário de mim, ele não tem quarto na casa dos pais. Quando eles
mudaram para cá, Murilo preferiu ficar no Brasil, para minha sorte.
Tomamos banho e deitamos na cama naquele friozinho gostoso,
com o aquecedor ligado.
— Não sei como meus pais aprovam a Bela namorar. Ela é
a minha irmãzinha de dezoito anos. — Ainda está inconformado,
como se fosse um absurdo.
— Você tá pegando a irmã de alguém. Sabia? — lembro a
ele.
— É diferente — rebate, contrariado. Oh, homem besta!
— Não é mesmo.
— É sim. Isabela é uma criança!
— Ei. — Bato no braço dele. — Deixa-a.
— Vou ficar de olho. — Me beija rápido.
— Não seja babaca, por favor. — Me olha atravessado e eu
dou um selinho para desmanchar o bico. — Bela tem juízo.
— Já estão se defendendo, é? — debocha. — Não sabia
que a amizade estava assim... — implica de novo.
— Ela é supersimpática e risonha. E você tinha me dito que
ela era discreta e fechada, e não achei isso. Nem um pouco difícil
de lidar.
— Mas eu não menti. Não tenho culpa se com você ela
conversou por horas e ainda riu várias vezes.
— Sério? Então sou irresistível. Conquistei a Montenegro
mais difícil! — me acho um pouquinho.
— Pois é. Feiticeira mais gostosa que eu conheço.
Rio com ele e logo a sua boca está na minha em uma
sessão de beijos gostosos, com direito a apalpadas e mão bobas.
Esse homem não existe!

— Está pronta? — Murilo entra no quarto.


— Depende. — Hoje vamos conhecer a ponte Golden Gate.
Finalmente!
Estou empolgadíssima. Sempre via nas fotos e achava
perfeita.
Todos os dias Murilo ou Isabela inventavam um programa, e
eu sempre pedia para irmos conhecer a ponte, que era o meu
sonho, e nunca dava. Mas sempre íamos explorar os lugares novos
com a mesma vontade. San Francisco é toda incrível. Tirei mil e
uma fotos.
Apaixonada é pouco por esse lugar. Moreno sorria a cada
sorriso encantado que eu dava quando conhecia um local novo.
Fomos ao Píer 39, que tem a vista para a baía. Eu ainda não
conhecia e acabamos comendo uma comida divina por lá. Sem
contar que fomos em vários outros restaurantes incríveis.
Descemos e saímos com Justin e Bela no mesmo carro,
com meus sogros no deles. O ciúme de Murilo ainda está presente,
engoliu mais, porém só criou caso quando ela disse que depois do
passeio estava indo para uma festa e ia dormir na casa dele, mas
ela vai assim mesmo. Fiquei com a responsabilidade de acalmar
Murilo e fazer ele esquecê-la pelo resto da noite. Definitivamente
Murilo seria um pai protetor!
Murilo que, como sempre, não deixa passar nada em
branco, me convenceu a pular de paraquedas aqui. Ele acha um
desperdício não fazer isso tendo uma vista tão bela e, segundo ele,
seria o melhor jeito de conhecermos a ponte. Eu não queria, neguei
até onde consegui, mas ele me convenceu e vocês já devem
imaginar como isso foi possível..., Mas sã, sem tesão explodindo no
meu corpo, percebo que foi uma péssima ideia, e estou arrependida
amargamente de ceder ao seu joguinho.
— Deixe de medo, pulou uma vez e gostou. — Sorri de lado.
— Você sempre gosta dos programas que eu proponho.
— A alegria que você viu era felicidade por não ter morrido,
Moreno. Quebra essa pra mim, vai! — Manhosa, abraço sua cintura
fazendo beicinho para ele ter pena.
— Não. Nananinanão. Eu te dei o poder de negar, lembra?
— Eu lembro de você ter me chantageado. Onde já se viu
fazer acordo com você nu em cima de mim?
— Eu estava embaixo, deixei você me dominar. E ainda te
dei o poder de levantar dali se não quisesse pular comigo. — É, foi
esse o “acordo”. Murilo é um abusado de marca maior! Engenhoso!
— Eu sairia perdendo da mesma forma. Seu jeito de fazer
negócios é muito torto — resmungo, inconformada, e ele gargalha.
— Prometo que será inesquecível. — Me beija rapidamente
e eu, ainda contrariada, me rendo.

— Preparada? — Sinto o corpo dele atrás de mim me


abraçando. Estamos prontos para pular.
Mais uma vez estou nessa loucura que prometi que nunca
mais faria. É até engraçado, a última vez que pulei me descobri
apaixonada por ele, hoje estamos pulando de novo, agora com ele
como namorado.
Sem esperar muito, pulamos e sinto toda aquela sensação
novamente, igualzinho à primeira vez. Grito para espantar a
adrenalina do primeiro momento e me permito abrir os olhos, para
contemplar a vista sensacional que está ao meu dispor.
A ponte está relativamente longe por causa da água e
pulamos num lugar seguro. Mas daqui dá para vê-la perfeitamente
enquanto a queda livre cede. Eu me sinto relaxada com essa vista
espetacular, tendo Murilo como companhia.
Marcamos de aterrissar no icônico parque Crissy Field, de
onde dá para ver perfeitamente a ponte em terra firme, em uma
visão completa. O dia está lindo e ensolarado.
Estar próxima e olhando para a ponte que aparece em
milhões de séries e filmes que já assisti é muito emocionante. O
local é lindo demais. Dá vontade de ficar horas apreciando. Estou
muito eufórica por realizar meu sonho. É uma das vistas mais
espetaculares que já vi. Sem contar a sensação gostosa do
paraquedas descendo lentamente.
— A vista é inacreditável. Inacreditável, Murilo! — Eufórica,
repito. Estou extasiada.
— Maravilhosa mesmo — próximo ao meu pescoço, Murilo
me responde. — Igualzinha a você.
Assistimos o barco ao longe passar atravessando devagar.
Daqui onde estamos, perto da ponte, dá para ver toda a baía e já
enxergo o verdinho da grama. Estou muito apaixonada.
Não sei como, mas Murilo consegue tirar várias fotos.
— Morena! — Murilo me chama numa voz extasiada.
— Que foi, amor?
— Seja minha pelo resto da vida! Casa comigo?
Surpresa com o pedido, tento assimilar. Eu estou voando
nos dois sentidos da palavra. Meu coração palpita, batendo
violentamente contra meu peito. Estou trêmula, eufórica e
anestesiada, como se fosse acordar a qualquer momento. Ou
imaginando alguém vindo com as câmeras e dizendo que ele é um
ator disfarçado e eu fui à vítima da vez.
Eu estou realmente emocionada.
Não deu tempo de eu responder nada, pois precisamos
aterrissar e caio com ele no chão, sem sentir minhas pernas o
suficiente para estar em pé diante daquele pedido e declaração e
todo o estado de euforia.
Murilo se joga do meu lado, mas rasteja para cima de mim,
sustentando seu peso com o cotovelo.
26
MURILO
Alexia sem dúvidas é a Mulher da minha vida. Quando
cogitei fazer o pedido, sequer tive dúvidas se era isso mesmo que
eu queria.
Assim que encontrei Alexia naquela sala, senti algo. Me
senti completamente envolvido por aquela morena de pose
profissional.
Olho para ela e só sinto vontade de beijá-la muito, abraçá-la
apertado e mostrar quão intenso é o que eu sinto por ela. Sou muito
orgulhoso em tê-la do meu lado. Criou raízes de uma forma ímpar.
Desde que precisei viajar a trabalho que cogito casar com ela. Me
peguei várias vezes olhando nossas fotos, morrendo de saudades.
E com o coração apertado do que poderia ter acontecido com ela
por estar longe. Sem dúvidas eu a quero perto de mim. De todas as
mulheres com as quais me envolvi, nenhuma me deixou como
Alexia me deixa e isso é muito louco. O sorriso dela é lindo e
sincero. E esse sorriso só me dá mais certeza que essa foi a melhor
decisão da minha vida.

ALEXIA
Na grama, olhando para cima, para ele, o vejo me
presentear com um sorriso lindo.
— Sabe, quando te conheci, não achei que ia se tornar isso
tudo. Mas quando menos percebi, você já fazia parte de mim. Foi
fazendo me apaixonar por você a cada dia, amando sua
sensualidade natural, o seu jeito menina e mulher ao mesmo tempo.
A primeira coisa que pensei quando te vi foi: eu quero aquela mulher
pra mim. Você transforma tudo, deixa tudo muito melhor. Tenho a
plena certeza disso. Casa comigo?
Gemo em euforia por aquela declaração. Falou fitando meus
olhos, me deixando bamba. A forma como ele me olha sempre me
deixa dessa forma, mas hoje é diferente.
— Sim, sim, é obvio que aceito! — Seguro dos dois lados do
rosto dele, e sorrio em meio às lágrimas.
Eu o abraço apertado enquanto coloco minha cabeça no seu
peito.
Estou noiva!
E fui pedida em casamento na vista da ponte Golden Gate.
Golden Gate!
Um sonho da vida sendo realizado junto com outro que eu
não sabia que tinha!
Sentamos na grama. Ele pega uma caixinha branca que
estava no seu bolso e a abre, mostrando um anel que reluz um
pouco por conta da claridade. Não sei como ele confiou em levar o
anel lá para cima. Ele coloca no meu dedo e eu o abraço apertado e
lhe dou um beijo.
Apesar da insegurança que me assombra de vez em
quando, nada me faria mais feliz que casar com Murilo. Depois que
tiramos todo o equipamento, ficamos na grama para curtir o dia
depois dessa aventura alucinante. Extasiada, olho meu anel a cada
dois segundos.
Murilo decidiu fazer um passeio de barco, para passarmos
por baixo da ponte e vê-la mais de perto. Seus pais chegaram com
sua irmã para nos fazer companhia. Recebemos felicitações da
família antes de subirmos no barco e continuamos o passeio, mais
apaixonados do que nunca. O sol está quase se pondo, mas a vista
continua linda.
— Murilo, promete uma coisa pra mim? — chamo sua
atenção, abraçada por trás e sentindo a brisa bem no meu rosto.
— Diga.
— Promete que se acontecer qualquer coisa, que se em
algum momento você tiver dúvidas sobre os seus sentimentos por
mim, não importa o momento ou situação, que você será sincero
comigo e vai falar antes de tomar qualquer atitude? Sem mentiras,
joguinhos ou qualquer outra coisa?
— Eu prometo. Isso não vai acontecer, não duvidarei em
momento algum, mas eu prometo. Você vai casar com um homem,
não um moleque. — Beija o topo da minha cabeça.
Me viro e o abraço novamente, sentindo a segurança que
ele me passa. Ele incrivelmente tem esse poder maravilhoso de me
dar conforto em qualquer situação.
— Por favor, não me machuque, seja sincero que serei
sincera com você.
Ele assente, beijando rapidamente meus lábios, e eu sorrio
no meio dele. Eu vou casar!
A essa altura do campeonato o sol já está se pondo e as
luzes da cidade acendendo. Esse dia está cada vez melhor!
À noite minha cunhada arrastou a gente com o namorado
dela para uma noitada na Upper Market, para comemorarmos.
Segundo ela, seria mais divertido do que em casa. Jantamos em um
restaurante legal e apreciamos vários artistas e shows alternativos.
Saí de lá com várias bandinhas preferidas e mais apaixonada que
nunca pelo lugar e por Murilo, claro.

Mal entramos no quarto e começamos um amasso louco.


Tiro a camisa dele e ele puxa meu vestido, me imprensando contra
a parede. Abraço a sua cintura com as pernas e gemo por sentir o
contato de seu pau na minha calcinha já encharcada. Ainda me
carregando, ele sai de perto da parede, me jogando na cama como
se eu fosse sua presa. E na verdade eu sou e amo isso.
Vem para cima de mim e deita entre minhas pernas para me
beijar. Sinto nossos corpos colados e fico mais desejosa e eufórica.
— Agora somos só você e eu — sussurra no meu ouvido e
eu me arrepio.
Mesmo com toda a nossa pressa, ele me beija
carinhosamente, tornando o beijo ainda mais gostoso, enquanto me
apalpa. E eu não fico trás, querendo cada vez mais contato.
— Vamos testar uma coisinha. — Interrompo o beijo.
— O quê?
— Deita aí na cama. — Me obedece e pego o cordão do
meu vestido.
— Olha lá o que você vai aprontar — me alerta.
— Vou amarrar sua mão. Você vai me ver te chupando, mas
não vai poder me tocar. — Monto nele e o amarro na cabeceira da
cama.
— Não maltrata muito. — Ofega, tentando elevar o quadril
embaixo de mim.
— Xiu, seus pais podem chegar a qualquer momento! — o
alerto. Seus pais estão na casa de algum casal de amigos. É uma
reunião que eles fazem com frequência, pelo que entendi.
Saio de cima dele e um frio de ansiedade percorre meu
corpo ao ver ele com o corpo livre para meu bel-prazer. Nem sei por
onde começar. Analiso o corpo que tem gominhos, o tronco largo e
o volume alto na cueca se destacando e contornando, bastante
apetitoso. Minha boca saliva, mas resolvo deixar por último.
— Sem muita invenção, viu?
— Agora pare de reclamar que você vai gostar. — Sorrio
safada, pensando no que vou fazer.
— Saiba que o que você fizer comigo, vai ter troco.
Qualquer coisa me desamarro em dois segundos e você não vai
conseguir sentar. — Ele me ameaça erguendo o quadril e se
ajeitando. Meus olhos vão automaticamente para sua cueca de
novo.
— Foi inevitável. — Sorrio para ele, que também sorri, se
achando. — Agora vamos deixar de conversa.
Monto nele de novo e começo passando a língua e dando
beijinhos no pescoço, queixo, canto da boca e em seguida a boca,
em um beijo indecente.
Desço dando pequenos beijos no seu corpo. Dou um beijo
em cada mamilo e ele geme baixinho. Acaricio seus braços e passo
a língua na sua barriga, subindo e depois descendo.
— Morena — me alerta em um sussurro fraco.
Dou pequenas mordidas de leve na sua barriga e pescoço e
arranho seu peitoral. Passo para suas pernas e faço o mesmo,
percorrendo os dedos explicitamente, primeiro nas coxas, e depois
com a língua. Ele levanta o quadril de novo se remexendo agoniado,
ostentando a cueca volumosa.
— Estou toda molhada e quente, pena que você não pode
me tocar pra conferir — sussurro em provocação no seu ouvido e
ele grunhe, meio raivoso.
— Você até o final da noite estará fodida. Literalmente. —
Faz força para se soltar.
Depois de explorar seu corpo com beijos, mordidas,
lambidas e carícias, desço a cueca para a nossa alegria. O pau logo
pula.
Grosso, imponente e apetitoso. A vontade que eu tenho é de
devorá-lo.
Murilo consegue tirar o pior de mim, a minha versão mais
safada e fogosa que eu nem sabia que existia, mesmo não fazendo
força nenhuma para isso.
Umedeço os lábios olhando para ele, que me olha
atentamente, e abocanho com toda a fome e ânsia que guardei.
Faço contato visual e o mantenho, vendo-o apertar o maxilar
gemendo rouco e se contorcendo, tentando se soltar. Desço a boca
e dou atenção em tudo. Ele geme mais alto.
— Ei, estamos na casa de seus pais, esqueceu? — o alerto.
— Se sua missão foi me enlouquecer, hoje tá conseguindo.
— Sorrio e volto a abocanhá-lo e massageá-lo.
— A meta é essa — repito o que ele já me falou uma vez.
Subo a boca, passo a língua no topo, faço uma pequena
sucção e rodeio com a língua enquanto o aperto de leve e desço de
novo, indo até onde dá e às vezes forçando um pouco mais.
— Ver você com esse batom na boca ao redor do meu pau
me deixa louco.
Ele resolve se movimentar com o quadril junto comigo e eu
não reclamo. Apenas me concentro no que estou fazendo enquanto
observo suas reações.
Ele logo chega no seu máximo, apertando os olhos e
gemendo baixo, um gemido gostoso de ouvir, que não chega nem a
ser um gemido de verdade, só um som rouco, uma espécie de
arfada, com o rosto suado e bochechas avermelhadas. Cara de
quem gozou gostoso.
— Seu pau é enlouquecedor. — O desamarro.
— Você é enlouquecedora, isso sim! Se prepare que no
segundo round é a minha vez.
Vira-se, trocando as posições e me colocando por baixo. Me
dá um beijo que faz arrepiar da espinha até o último fio de cabelo.
— Amo a sensação de tocar seu corpo e ver sua pele
arrepiando. — Desce para beijar meu pescoço. Fico muita mais
arrepiada e mole nos seus braços.
— Eu fico louca quando você me toca desse jeito —
sussurro em meio aos gemidos e suspiros quase inaudíveis.
Desce e sobe a boca, ralando a barba na minha barriga, e
eu me contorço e fico ainda mais excitada. Para nos meus seios, dá
um beijo e lambe e chupa cada um, sem pressa. Gemo
descontrolada. Desce e puxa minha calcinha.
— Toda melada. — Sorri, safado.
Com a boca, faz a mesma coisa na parte interna da coxa, só
sai de lá quando deixa marcado. Fico ainda mais maluca e gemo
mais alto, me sentindo cada vez mais molhada.
Aos poucos, Moreno vai se aproximando da minha boceta e
passeia a língua por toda a região, molhando ainda mais e
massageando lentamente. Aperto ele com as coxas. Me sinto mais
úmida que o normal com ele fazendo isso.
Sobe, beija, massageia e lambe, alternando às vezes com
movimentos rápidos e vigorosos em toda a minha área, que se
contrai. Sobe de novo e me beija com o meu gosto na boca. O
quarto exala indecência.
Pincela de uma ponta a outra e entra devagar e depois
retira. Faz de novo colocando a pontinha e eu tento sugá-lo para
dentro. Ele nega com a cabeça. Pincela de novo de leve na minha
entrada encharcada e escorregadia e põe novamente, fazendo
movimentos giratórios com o quadril. Arfo e suspiro pesado. Ele
brinca demais comigo. Eu o xingo, já que está achando legal ficar
brincando assim.
— Lembre-se de meus pais — ele me alerta como fiz com
ele.
Ele volta a pôr a ponta na entrada e para. Tremo lá, sentindo
meu coração bombear. Dou um grunhido quando ele põe todo
dentro e em seguida puxa de novo para fora.
— Murilo... — gemo, protestando.
Murilo finalmente deita em cima de mim, sustentando seu
peso, e eu abraço a cintura com as pernas e agarro suas costas
firme como apoio, para ele não inventar de fazer gracinhas. Põe
tudo dentro enquanto mordo a boca dele, quase dissolvendo
embaixo.
Começa a se movimentar devagar, gemendo, saindo quase
todo e voltando. Passeio as mãos nas suas costas e bunda.
E aos poucos vai aumentando a velocidade das batidas,
enquanto eu passo as unhas nas suas costas, gemendo a cada
movimento mais rápido que ele faz.
Murilo segura na minha perna, apertando e indo mais
rápido. Gememos juntos com mais frequência e aperto sua cintura e
bunda, tentando uma aproximação maior. Mordo seu pescoço para
abafar os gritos quando ele pega uma velocidade boa.
— Vou te foder todinha hoje — ele geme junto, batendo e
voltando com força.
Ele sai de dentro e vai para a ponta da cama.
— Vem cá, sobe aqui — fala, batendo na própria perna.
Subo no seu colo e sento de frente para ele. Deslizo
suavemente até ficar encaixada de novo. Suspiramos com a
sensação com a cabeça no ombro dele e nos beijamos, enquanto
rebolo de leve e ele aperta minha cintura, me ajudando com os
movimentos.
Enrolo minhas pernas nele e Murilo segura na minha bunda,
me puxando para mais perto.
— Isso, agora mexe e rebola esse bumbum lindo — ele
comanda. Seguro na sua nuca e rebolo, subo e desço com vontade
enquanto cheiro e beijo seu pescoço, o deixando arrepiado.
— Assim? — o provoco.
A gente se movimenta juntos, em sincronia, quase uma
dança. Posso transar com ele milhões de vezes, mas sinto sempre
como se fosse inédito, mesmo com as sensações e os toques já
familiares. Feliz e realizada, é como eu me descrevo ultimamente.
Hoje, sem dúvidas, foi um dos melhores dias da minha vida!
A viagem em si foi perfeita e tranquila. Se eu pudesse
continuaria aqui. Nem voltava mais para o Brasil. Depois de tantos
parques, pontos turísticos, museus, restaurantes, compras e
passeios, voltamos para casa com as energias recarregadas e com
a sensação de inabalável que espero que não suma tão cedo, além
da ansiedade no peito do que nos espera no Brasil.
27
ALEXIA
De volta em casa, ligo para as meninas, chamando-as para
o dia das garotas amanhã. Moreno sairá para beber com alguns
amigos. Liguei também para Ísis e contei do pedido. Ela vibrou
comigo do outro lado da linha. Contei também aos meus pais, que
ficaram muito felizes depois do susto inicial, quando falei do pedido
de casamento.
Viajar é muito bom, mas estar em casa, deitada na cama e
abraçada a Murilo é muito melhor.
Dedilho seus braços, pensando quão bom é isso. Dois anos
de namoro com Diego e sequer mencionei sobre casamento. Com
Murilo são cerca de oito meses juntos para valer, e já estamos
noivos. Como dizem, amor é mais sentimento do que tempo. É ser
infinito enquanto estivermos juntos.
— Morena, o que você acha de morarmos juntos? — Murilo
quebra o silêncio.
— A gente já está praticamente junto. — Rio com ele. — Eu
vivo aqui, você vive lá. Fazemos mercado juntos, cozinhamos um
pro outro. Enfim! Já temos uma rotina de casal há um bom tempo.
Planejamos a noite toda e eu penso numa vida maravilhosa
ao lado dele. Se depender de mim, será.
Ele sempre vem para a minha casa, mas futuramente
iremos para a dele, que é maior. Ele está planejando uma reforma
no banheiro do quarto principal. E decidiu deixar espaço para mim
em um dos quartos, onde fica seu escritório, para que eu possa
trabalhar.

As meninas entram sem bater, fazendo festa como sempre.


— Olha essa pele corada, passou o que nela?
Liz chega fazendo piada de duplo sentido, e Nat com um
vinho na mão.
— Você tá muito engraçadinha hoje, transou com quem? —
rebato para sacanear, levantando uma sobrancelha um tanto
sugestiva.
Natasha gargalha alto, Liz me mostra o dedo do meio e eu
acompanho sua irmã. Vou à cozinha para buscar o abridor, deixando
as duas lá, mas escuto Nat perguntar, já recuperando o fôlego do
riso, quem iria pedir pizza.
— Você, já que lembrou. Eu vou ver o que tem pra
assistirmos — Liz responde.
Volto encontrando as duas sentadas no tapete felpudo da
sala.
— Qual a novidade mesmo que você tem pra contar pra
gente? — Nat parece criança, não aguenta esperar por novidade
alguma.
— Murilo me pediu em casamento e eu aceitei. — Me
ajoelho perto delas para sentar nas minhas pernas e estendo minha
mão direita, mostrando meu dedo com o anel de noivado. As duas
me olham, incrédulas. — Gente, falem alguma coisa! — peço,
porque elas continuam mudas, me olhando.
— Eu não acredito! — Liz gargalha e se joga em cima de
mim, me abraçando em puro entusiasmo e me derrubando. E em
seguida Nat se joga em cima de nós duas.
— Saiam de cima, porra! — grito abafada com as duas em
meio aos risos.
— Não! — Nat diz, colocando mais peso em cima de nós.
Faço cócegas em Liz, que se move derrubando Natasha no
tapete, e levantamos depois de muito esforço.
— Eu não acredito que ele te pediu em casamento! Vamos
brindar! — Liz, totalmente entusiasmada, vai em direção ao vinho
que elas trouxeram, colocando na taça que Nat pegou.
— Um brinde ao noivado do meu casal favorito: Aliro —
Natasha fala.
— Eu quero vocês como madrinhas!
— Não esperaria outra coisa. — Natasha convencida.
Brindamos e, enquanto eu conto como foi o pedido
maravilhoso, as duas brigam para saber que filme iremos assistir.
Zapeamos todas as categorias e não entramos em consenso. Hoje
queria um com um pouco de ação. E Liz quer romance, como
sempre. Natasha gosta de qualquer um que tenha homens sem
camisa.
— Divergente? — Assinto em concordância e Liz dá um
sorriso satisfeito.
— Claro! Tem o gostoso do Theo James nele — Natasha
concorda, como se fosse óbvio.
Depois de muitos minutos e risadas, a campainha toca
avisando que a pizza acabou de chegar. Assistimos ao filme sem
nenhum problema enquanto comemos.
Quando o filme acabou fomos limpar o que sujamos,
enquanto batemos um papo animado sobre qualquer coisa que
surgisse na roda, e fiquei atualizada das novidades. Algumas até me
deixaram embasbacadas. Murilo chegou, bebeu um pouco com a
gente e papeamos mais. E as meninas decidiram ir depois de mais
uma hora.
— Não foi você quem disse que vinho era afrodisíaco? —
comento, agarrada a ele. — E eu tomei umas duas taças e meia...
— Ah, é? — Ele sorri do jeito bonito para mim.
— Aham. — Aceno, rindo.
Segura na minha nuca e me leva para sua boca.
Apareço em casa antes que Murilo. Decidi vir sozinha de
Uber, a fim de fazer uma surpresa, mas avisei antes dele ficar
preocupado. Decidi cozinhar para nós porque ele está sempre me
mimando. Quero fazer um jantarzinho só nosso, em plena segunda-
feira. E o melhor de tudo é que eu me sinto valorizada fazendo esse
tipo de coisa. Sair da rotina é bom de vez em quando. Quero que a
gente more junto em grande estilo.
O meu dia hoje foi um tanto esquisito. Apesar de sempre
comer no mesmo restaurante com Murilo, depois do almoço eu me
senti muito mal. Senti até vertigens do nada e uma colega que
estava no elevador comigo me perguntou se eu estava bem, mas eu
apenas sorri, concordando. Talvez seja queda de pressão por não
ter me alimentado direito hoje, já que sequer tive apetite para tomar
café. Estava com sensação de saciedade, embora tenha tomado
café na noite anterior, antes de dormir.
Odeio essa sensação de cansaço extremo, fico desanimada
até para comer. Desde a volta da viagem que estou me sentindo
esquisita. Ninguém merece! Além de sentir dor no estômago,
vertigem e enxaqueca, eu passei a ficar com o estômago sensível.
Espero que eu não tenha pego doença alguma no outro país. Meus
exames estavam em dia, fui saudável pra lá.
Deixo isso pra lá, pois devem ser apenas mudanças
climáticas e procuro na internet o passo a passo de um macarrão de
forno. Ligo o som para acompanhar. Começo a preparar antes que
ele chegue, ao som de Can't Remember To Forget You, de Rihanna
com Shakira.
Canto e danço me sentindo o máximo enquanto cozinho.
Estou me sentindo no Masterchef. O cheiro está gostoso. Coloco no
forno para o queijo derreter e corro para tomar banho enquanto ele
não chega.
Volto para a cozinha e coloco a mesa com nossos pratos.
Agora a música que está tocando é Believer, de Imagine Dragons, e
eu corro para mudar, pois no momento é a música do meu
despertador, que inclusive tenho que mudar porque estou enjoada
de ouvi-la. Passo adiante, e Off the Races, de Lana del Rey, toca.
Uma coisa que nunca contei a vocês, eu simplesmente venero
Lana, como venero Amy Winehouse, e essa música que está
tocando agora é a minha favorita.
A campainha toca e sei que é Murilo. Corro para atender e
dou de cara com ele gostoso de roupa social, a mesma com que
saiu de manhã, porém ainda cheiroso e com um sorriso aberto. Oh,
droga!
— Cheiro gostoso. — Repara depois de me beijar e entrar.
Eu o abraço sentindo seu corpo quente e cheiroso.
— Cozinhei pra gente.
— Não sabia. Trouxe comida, até. — Suspende uma sacola.
— Coloca na geladeira.
Ele segue para a cozinha e sigo atrás.
— Vou tomar banho pra gente jantar. — avisa, tirando a
camisa social e colocando a sacola da comida no balcão.
Tiro a assadeira do forno e coloco em cima da pia. A
aparência e o cheiro estão bons. Acho que dessa vez eu finalmente
acertei!
Qualquer dia desses vou jogar na cara de Natasha esse
feito quando ela disser que eu não cozinho direito. Murilo aparece
sem camisa, ainda com o corpo meio molhado e com o short fino
que sempre usa.
— Você me esperando chegar do trabalho com jantar pronto
me deu a sensação de que estamos casados já. — Recebo um
outro beijo.
— Verdade. E eu gostei dessa sensação.
— Vamos jantar? Também quero fazer uma coisa. — Beija
meu pescoço.
— O que seria essa coisa? — Mio como um gato, arrepiada.
— Você vai gostar. — Murilo aperta minha bunda.
Dou um selinho nele, me afastando. Ele senta enquanto vou
buscar o macarrão, que está com um cheiro maravilhoso. O tutorial
da internet pelo jeito deu certinho.
Coloco para mim e para ele e sento para comer.
— E aí? Tá gostoso? — pergunto em expectativa, vendo-o
pegar uma garfada.
— Uhum. — Ele acena, mastigando.
Sorrio por ter agradado e ele bebe metade do refrigerante
que está no seu copo.
— Mentiroso! — desminto quando dou uma garfada e faço
careta. — A comida tá puro sal, Murilo!
— Mas dá pra comer.
— Impossível comer isso aqui!
Olho para ele, sério com o garfo na mão, e em seguida
começa a gargalhar, me levando junto. Levanto para jogar a comida
do meu prato e do dele fora.
— Mas ficou boa, só colocou sal demais — tenta me
consolar.
— Então não ficou boa, né? Segui certinho o tutorial —
resmungo, sabendo que a comida vai ser desperdiçada.
— Não tem problema. — Me para na pia.
— Só queria cozinhar pra você! — demonstro minha
frustração.
Nunca vou conseguir fazer algo que preste!
— Não se preocupe, a gente janta o que eu trouxe. —
Assinto, concordando. — Qualquer dia desses cozinhamos juntos.
Ele traz a sacola e coloca outro prato na mesa para a gente.
Apesar de não ter conseguido fazer uma boa comida, o jantar foi
agradável.
— Me deixe terminar primeiro. — Tento me concentrar no
que estou fazendo.
Ele lavou e eu enxuguei e agora estou guardando para
concluir o serviço. Murilo nesse exato momento está me agarrando
por trás, passando a mão na minha cintura e subindo para os meus
seios. Tudo por cima do meu vestido, ainda. Oh, homem fogoso.
— Larga isso aí — resmunga, beijando meu pescoço. —
Depois eu guardo.
— Beijo no meu pescoço é golpe baixo — murmuro quando
sinto a mão dele subindo e descendo firme.
Ele desce a mão, me apalpando, e me pressiono nele,
sentindo seu pau duro na minha bunda. Murilo me carrega e arrasta
de costas mesmo, em direção ao quarto. Que se danem os pratos!
Ele me põe no chão e volta a beijar meu pescoço enquanto
alisa por dentro das minhas pernas. Arfo com a respiração
acelerada. Estou com o corpo mole e a calcinha encharcada.
— Isso é golpe baixíssimo — murmuro ao sentir os beijos.
Ele suspira no meu ouvido e eu me arrepio. Me pressiono
ainda mais nele e gememos juntos, sinto de novo o pau duro na
minha bunda. Estamos separados apenas pelo tecido da minha
calcinha e sua cueca, já que meu vestido subiu.
Moreno me vira de frente, puxa meu vestido e me beija
gostoso, segurando firme no meu cabelo. Murilo nunca foi
agressivo, apenas fogoso e ele sabe que não gosto que puxem meu
cabelo, mas a forma como ele segura me deixa mole, pois estou
sentindo o peitoral dele diretamente nos meus seios sensíveis.
De costas mesmo, me carrega para a cama. Sento e ele em
seguida vem por cima de mim, me deitando.
— Ahh, Morena — sussurra, alisando meus seios
descobertos e pesados.
Ele põe um na boca, sugando.
— Devagar.
Peço, arqueando as costas de repente, sentindo uma
dorzinha chata.
— Que foi? — Ele para o que estava fazendo e me olha.
— Não aperta muito. Eles estão bem sensíveis esses dias
— respondo, manhosa.
— Desculpa. — Beija o vão dos meus seios e eu volto a
relaxar.
Passa a língua no bico e em seguida coloca na boca,
repetindo o processo. Ele vai para o outro e faz a mesma coisa, tudo
isso passando a mão no meu corpo enquanto eu seguro no seu
cabelo.
— Você está gostando, hum? — sussurra no meu ouvido e
eu só aceno com a cabeça, os olhos meio pesados e o coração
acelerado, aproveitando a sensação.
Murilo beija entre os seios e desce na direção do umbigo em
beijos lentos e muito excitantes. Contorço a barriga, sentindo a boca
descer cada vez mais.
Ele levanta o tronco, me deita direito na cama e em seguida
abre minhas pernas, me deixando exposta, para então me abrir lá
com os dedos e pôr a boca com toda fome que possui.
Puxo seus cabelos com agonia enquanto me contorço e
gemo. Ele introduz os dedos e geme ao constatar quão lubrificada
estou. Céus! Eu estou quase uma cachoeira.
— Hummm, já tá pronta. — Não foi uma pergunta, mas eu
assinto assim mesmo.
Ele sobe e me beija com meu gosto. Gemo e o apalpo o
quanto consigo e tento me livrar da sua bermuda.
Desço com os dedos dos pés enquanto nos beijamos com
vontade, beijo que só rola quando estamos pegando fogo e que tudo
arrepia.
Livra-se do short e logo o pau imponente e gostoso acha
minha entrada encharcada, apenas esperando por ele.
Ele começa a movimentar com o quadril, de leve. Tira quase
todo e depois entra com tudo. Faz isso umas duas vezes e eu só
consigo gemer e apertá-lo onde consigo.
— Você continua gostoso. — Ofego, sentindo ele ir ao fundo
e voltar.
— Cada vez mais gostosa.
Murilo continua a ir e vir cada vez mais rápido e forte. Reviro
os olhos gemendo e vejo ele morder a boca, mantendo o ritmo
rápido.
— Vira pra mim — Murilo pede, deitado do meu lado.
Me viro de lado, meio de costas pra ele, e Moreno beija meu
pescoço enquanto alisa meu quadril e suspende uma das minhas
pernas e em seguida me penetra de vez. Quase tenho uma parada
cardíaca com a profundidade.
Ele solta o ar e eu agarro os lençóis e gemo um pouco alto,
sem me importar com mais nada.
— Gostoso pra caralho!
Murilo grunhe indo forte e bem rápido, fazendo nossos
corpos se chocarem. Sinto ele ir até o fundo e bem rápido. Gostoso
demais. Os gemidos saem da minha boca sem nem me dar conta.
Eu adoro Murilo querendo um sexo mais forte, ele fica muito homão
nessa posição, me reivindicando.
Gememos cada vez mais alto sem nos importarmos com
mais nada, só sentindo e curtindo. A sensação vem surgindo dando
pequenos choques no meu corpo e se espalhando rapidamente.
Murilo aumenta a velocidade, pois está quase chegando lá e
geme rouco, trazendo sensações loucas ao meu corpo. Contraio os
dedos dos pés, perco o controle e grito, tremendo e rolando os
olhos, até que sinto Murilo chegar no seu ápice.
Estamos calados só ouvindo nossas respirações pesadas e
tentando regular os batimentos cardíacos.
— Isso tá ficando melhor a cada vez — penso alto em meio
aos suspiros.
— Muito. — Ele suspira, colocando a mão na minha barriga,
me trazendo para mais perto.
Eu não me importaria nem um pouco se todos os nossos
jantares terminassem dessa forma.
28
ALEXIA
Depois que voltamos à rotina, as semanas foram boas na
medida do possível. Essa semana eu e Murilo vamos para a
festinha da empresa dele e estou empolgada para ir. Essa será a
primeira festa que vamos como casal. Na última a gente se
conheceu, nessa vamos juntos. É tão legal isso!
O caso “Diego” ainda está em aberto. O pedido de prisão foi
dado, ele está foragido, inclusive pediu dispensa do trabalho.
Ninguém sabe dele, nem os pais, pelo menos foi o que nos
disseram. Sei que a mãe dele o acoberta, porque ela nunca gostou
de mim e para ela o filho está sempre certo. Mas não posso obrigá-
la a dizer, né?
E com isso Murilo está mais alerta. Nós vamos juntos para o
trabalho e ele me busca. Não saio mais sozinha por medo e Murilo
está bem cauteloso comigo. Pois é, minha vida está horrível e
limitada por conta disso, não posso mais viver como uma pessoa
normal.
Parece até que sou eu a errada. Enquanto ele está não sei
em que inferno, aparentemente livre, eu, a vítima, tenho que ficar
trancafiada. Mas fora esse detalhe que eu tento fazer com que não
me atrapalhe tanto, está tudo bem.
Puxo a camisa de Murilo, que estou usando, para fora do
meu corpo quando percebo que estou melhor. Acho que essa
situação com Diego está me deixando agoniada e com isso vivo
pondo tudo para fora, inclusive agora. Se não for gastrite ou
desidratação, amém. E péssima hora para ela aparecer, pois estou
com uma campanha grande e não posso me dar ao luxo de ficar em
casa, mal desse jeito. Tomo um banho revigorante e saio enrolada
na toalha depois de escovar os dentes. Eu tive vertigem quando
acordei e a azia não me abandona. Murilo ficou preocupado ontem,
quando me viu com cara de morta e enjoada no sofá, mas o
acalmei.
Volto pro quarto, vendo Murilo de cueca marcando a linda
bunda, vestindo a blusa social. Confesso que ultimamente estou
com um fogo desgraçado, e vendo ele assim, só acende mais. Ele
de roupa social só perde para ele sem nada.
Murilo gira para frente e vejo que está com a camisa social
aberta, abotoando-a e ainda com os cabelos molhados do banho.
Como pode ser tão gostoso fazendo coisas normais? Ele dá um
sorriso convencido e continua a abotoar a camisa.
— Moreno, quais dos dois vestidos?
Me viro e pergunto a ele, que se arruma ao meu lado.
— O preto. Que sutiã é esse? — me questiona com as
sobrancelhas unidas.
— É novo, comprei lá em São Francisco. Por quê? —
questiono de volta, colocando o outro cabide no lugar.
— Comprou número menor por quê?
— Não é número menor, é o mesmo que sempre comprei.
Bela me ensinou a ler as etiquetas de lá.
Respondo colocando o vestido e ele veste a própria calça,
para o meu desapontamento.
— Seus peitos estão maiores, então.
— Deve ser fôrma pequena por causa do país, não sei.
Me viro de costas para ele puxar o zíper do vestido, já que
não consigo fechar sozinha.
— Deve ser então, não podemos confiar nas medidas que
não sejam daqui. — Fecha o zíper e beija meu pescoço.
— Só porque você trabalha em uma marca de lingerie não
significa que eu só posso usar se for de lá — brinco e ele ri, pois eu
praticamente tenho a maioria das coleções de lá.
Ai que sorte eu tenho de ter um noivo que me presenteia
sempre com conjuntos de lingeries. A maioria indecente, mas ainda
assim presentes.
Termino de me arrumar ao mesmo momento que ele e
prefiro pular o café. O cheiro não me pareceu convidativo e fiquei no
suco, acho que desaprendi a tomar ou enjoei do café que Murilo faz.
Fizemos tranquilamente a viagem para o meu trabalho.
Aproveitei para checar algumas coisinhas no meu celular. Os
preparativos do casamento estão andando aos pouquinhos. Ísis está
me ajudando horrores, mesmo de longe.
— Vamos almoçar juntos?
Questiona ainda olhando a rua, já que ele está dirigindo.
— Vem me buscar?
— Venho.
— Então vamos. — Sorri para ele.
Desço do carro com muito custo, depois de ele querer me
prender lá mesmo. Não que eu esteja reclamando de beijá-lo. Só
que o horário não permite muito essas safadezas pela manhã.
Cheguei na agência pronta para a batalha. Começo logo
respondendo e-mails de clientes desesperados e concluindo
projetos que estavam no final. Tive duas reuniões hoje, uma com o
pessoal do departamento de produção, e a outra com o
departamento de planejamento e atendimento. Essa semana lotou
de trabalho, fora o grande que temos.
Sinto de novo o enjoo chato e sigo para o banheiro aqui da
sala, acho que comi demais no café da manhã. Aproveitei que o
apetite voltou pela manhã e comi como antes, só esqueci de
preparar meu estômago. Vomito mais uma vez até sentir que não
tem mais nada para sair. Deus, o que está acontecendo comigo?
Por que meu estômago está tão sensível?
Me apoio na pia com a sensação de vertigem, enquanto
respiro fundo tentando pegar minha cor normal de volta. Lavo o
rosto e o enxugo. Arrumo o cabelo e saio do banheiro como se nada
tivesse acontecido.
Antes das doze ligo para Murilo, que diz que vem me
encontrar. Passo no banheiro e retoco a maquiagem. Em seguida
ele me manda uma mensagem pedindo para eu descer.
Apareço na portaria e ele já está em pé, me esperando. Sou
recebida por um sorriso e meu coração desregula por um momento
e se aquece ao vê-lo segurando um buquê de rosas vermelhas Ele
sorri e o cumprimento com um beijo. Me entrega as flores e eu fico
ainda mais encantada. Sou muito boba sim, mas uma boba
apaixonada.
— Aprontou o que já? — pergunto com humor e ele
gargalha.
Acabo rindo da minha própria desgraça. Pois Diego só
aparecia com flores quando aprontava e queria pedir desculpas,
mesmo fazendo a mesma coisa logo em seguida.
— Nada, estava tendo uma feira de flores lá perto e
comprei. Quis fazer um agrado, está abatida. — Suspende os
ombros. Fico ainda mais derretida e dou um beijo nele.
Uma mulher passa, olha e sorri para ele. Eu a olho séria, de
cara fechada. Que oferecida!
— Bonita ela, né? — me provoca.
Um homem tem que ter muita coragem para falar isso,
sabendo que já brigamos por coisas desse tipo.
— É? — soo debochada, arqueando as sobrancelhas com a
cara de pau dele.
Percebe minha cara de desgosto e gargalha. Dou um tapa
no braço dele e seguro na sua bochecha com a unha, porém sem
apertar muito para não machucar, o olhando séria.
— Você sabe que só tenho olhos para você.
— Isso é golpe baixo, não sabe? — Semicerro os olhos para
ele, que abre o sorriso.
Ele me beija de novo e eu entro no carro.
— Tá com vontade de comer o quê?
— Qualquer coisa. Com a fome que eu Estou, colocaria
qualquer coisa na boca, inclusive pedra.
— Qualquer coisa na boca? — repete o que eu falei com
outra conotação.
— Oh, mente suja! Você entendeu.
Gargalha de novo, colocando a mão na minha perna e
esquentando o local.

Hoje é a reinauguração da empresa em que Murilo trabalha.


Estou meio nervosa, pois vou de acompanhante dele. Agora ele
dirige um setor.
Além do dono, terá outras pessoas também importantes.
Murilo está nervoso com esse novo emprego e a inauguração. Está
com medo de não dar conta.
Eu tive que acalmá-lo com uma dose de sexo mais cedo e
um cochilo para ele não enlouquecer e me enlouquecer junto. Claro
que aproveitei os dois, né? O sexo, porque não tem como recusar
com esse homem, e pelo cochilo, pois ultimamente tiro uns no meio
da tarde quando tenho oportunidade, nos fins de semana.
— Tá pronta? — Murilo vem andando para o quarto.
Termino de pôr os brincos e me viro para ele. Um minuto
aqui. Vamos analisar Murilo. Ele está lindíssimo de terno preto.
Inclusive a camisa social. Não tem quem faça ele usar de outro jeito.
E gravata vermelha, pois, segundo ele, é para combinar comigo. O
cabelo está penteadinho do jeito meio bagunçado próprio dele.
O desgraçado é bonito. Ele cortou o cabelo, assim como a
barba, que está cheia, porém aparadinha. Amo quando está assim.
— Eita! Lá vem você me atentar. Estou duro só de te ver
assim! — Ah, esse olhar sacana!
— Pare, escroto.
Sorrio para ele, arrumando os cabelos que estão soltos,
fazendo cachos leves. Estou com um vestido vermelho e longo. Sim,
escolhi logo a cor marcante. Eu tenho que estar à altura. Não é
muito decotado, mas também não é fechado. O vestido, além de
bonito, é leve.
A minha maquiagem está suave, coloquei uma sombra mais
leve, em tons creme, deixando o destaque para minha boca, que
está em um tom vermelho quase da cor do vestido para provocar
Murilo, claro.
— Tá muito gostosa, sério. Já achava que não ia relaxar lá e
você me aparece assim.
Chega mais perto de mim e sinto seu perfume gostoso.
— Vem não que eu já te acalmei mais cedo. Eu vou ter
muita dor de cabeça com você gostoso e cheiroso desse jeito.
— Posso beijar ou vai sair?
— Pode beijar. É aquele.
— Ótimo.
Chega mais perto e com cuidado para não me bagunçar, e
me beija indecente como ele sabe.
Gemo e o agarro para chegar ainda mais perto. Perdi as
contas de quanto tempo ficamos ali. Eu me controlei ao máximo
para não agarrar seus cabelos e bagunçá-los.
— Vamos, Morena — me chama a milímetros da minha
boca.
— Uhum — nego e o agarro de novo em um beijo.
Ninguém mandou ter uma boca gostosa. E um beijo mais
gostoso ainda.
— Prometo que na volta vai ter pacote completo.
— Gostei disso. — Dou mais um selinho demorado nele e
separo nossos corpos.
— Safada! Só pensa em abusar de mim. — Ri do meu lado,
se ajeitando no espelho.
— Ei! — protesto.
— Não te julgo. Amo você assim. — Sorri do espelho para
mim e eu nego com a cabeça.
Ajeito uma última vez meu cabelo e vestido. Passo perfume,
arrumo a gravata dele, que está torta, pego minha bolsa e
descemos.

A festa está linda, maravilhosa, para ser mais exata. Estou


embasbacada, pois realmente está chiquérrima. Fui apresentada
para algumas pessoas, e as meninas, Luísa e companhia, estão
aqui também. Todas lindas!
A festa acontece em um clube privado. Nessa noite bonita,
tudo está um espetáculo.
Conversamos com mais algumas pessoas e rodamos o
salão. Fiquei louca vendo aquele homem de terno. E bateu a
nostalgia de quando a gente se conheceu. E fiquei ainda mais louca
quando vi várias mulheres tentando puxar papo com ele. Tinha
vontade de mandá-las saírem de perto, ou mostrar a marca que eu
deixei no pescoço dele mais cedo, para elas verem que é meu.
— Não Estou te deixando de lado não, né? — questiona, me
abraçando. Toda hora uma pessoa o chama, inclusive o seu chefe, a
quem fui devidamente apresentada. É um senhorzinho gente fina.
— Não. As meninas estão me fazendo companhia também.
Sorrio e o tranquilizo, porque entendo que é uma festa do
trabalho dele.
— Vamos pra pista.
Me arrasta pela mão indo em direção à pista que já tem
algumas pessoas, inclusive Cristian com Luísa.
Alguns casais estão dançando também, por isso estou aqui
com ele. Ele estende a mão para mim de forma cavalheiresca e eu
assinto, sorrindo, colocando a minha em cima da dele, fazendo
graça. Me cola no corpo dele de forma suave, mas intensa.
— Isso me faz lembrar de quando a gente se conheceu
realmente — comento nostálgica sobre o dia do bar da festa, com a
cabeça recostada no seu peito, enquanto nos embalamos na
música.
— Eu tentei fazer de tudo pra te impressionar. Achei você
muito gostosa com aquele vestido.
Dou um rápido sorriso.
— Sabe, quando eu te vi, quase tive um treco. Calado já
tinha me impressionado. Nem precisava abrir a boca.
— Mas ainda assim fugiu de mim. — Gargalha, assanhando
minha barriga. — Quando te vi saindo da festa tive vontade de te
puxar de volta e te beijar. Ainda me deixou de molho alguns dias.
Dançamos agarradinhos até a música acabar, sem nos
importar com mais ninguém ao redor.
Fomos para um canto um pouco menos movimentado. Amo
cantos afastados de festas.
— Quando sairmos daqui, vamos pedir pizza?
— Sim. Por favor. — Assinto, salivando só em pensar na
pizza nordestina.
Ficamos na festa até a meia-noite, mais ou menos. Nos
despedimos de todos e seguimos pra casa. Foi bastante divertido.
Entretanto, estou esgotada. Ficar de salto muito tempo cansa.
Pedimos pizza no caminho mesmo. Só Deus sabe que
horas vai chegar.
— Cansada demais. — Me jogo no sofá.
— E pra outras coisas, está?
Faz cara sugestiva, sentando do meu lado.
— Você não cansa? — Dou um beijo e o puxo pela gravata
para chegar mais perto.
— De você? Nem um pouco!

A semana está passando normalzinha. Eu ainda me sinto


mal e estou quase indo ao médico saber o que é, pois não passa de
jeito nenhum. Nesse momento estou colocando tudo para fora, no
banheiro, depois do banho, vomitando tudo que comi durante todo o
dia, num enjoo ridículo que não me deixa mentir. Tá na cara que é
pela preocupação com Diego, que não encontraram ainda, isso está
me abalando.
Me jogo na cama sem forças para colocar uma roupa e fico
apenas de calcinha, enquanto Murilo não aparece com a comida
que ele foi buscar na rua de trás, já que nosso restaurante favorito
que pedimos via aplicativo está fechado. Essa vida de casal que não
tem tempo para cozinhar ferra demais!
Faço o que toda mulher faz quando se sente diferente: corre
pro espelho para ver se tem alguma coisa diferente externamente,
evitando ir no google e descobrir que estou com câncer na dor local.
Me olhando calmamente, suponho tudo que poderia ser, e
uma delas me deixa com o coração acelerado. Gravidez. Será?
Qualquer mulher que tem vida sexualmente ativa supõe isso
em um momento da vida, mesmo se protegendo regularmente,
fazendo uso de anticoncepcional. Nunca se sabe, né? Ainda mais
tendo Murilo fogoso do jeito que é, querendo fazer safadezas a cada
oportunidade que ele mesmo cria.
Teve uma vez que eu estava paranoica, com tanto medo de
engravidar nova, logo quando iniciei minha vida sexual, que eu
achei que estava, mesmo que estivesse num período bom de
“celibato”. Até pensei que era a nova escolhida, engravidando do
“espírito santo”. Mas era a merda do meu ciclo que estava irregular
mesmo.
Checo meu corpo calmamente, que aparenta normalidade,
apesar de estar me achando mais cheinha. Inclusive internamente,
pois me sinto pesada. E meus seios pesados, mesmo não estando
na TPM.
Escuto passos pela casa e logo Murilo aparece na porta,
arqueando as sobrancelhas quando me vê despida. Para não criar
paranoia, envolvo Moreno para saber se estou fantasiando coisas
com essa suposição.
— Murilo, eu Estou gorda? — questiono, ainda me olhando.
Murilo me olha cauteloso em uma cara explícita de “em que
merda me meti” e eu questiono novamente.
— Não, mas tá gostosa. — Chega puxando a camisa.
— Gostosa como?
— Alexia…
Fica em alerta achando que estou em algum tipo de
joguinho para deixá-lo em saia justa.
— É sério. De verdade.
— Está com algumas curvas novas, só isso.
Ele sai em disparada para o banheiro, não me deixando
questionar novamente. Deixo para lá e me visto.
Abro minha bolsa para pegar meu pen drive para passar uns
arquivos pro meu notebook e acabo derrubando tudo em cima da
cama por não encontrar ele no lugar que sempre coloco.
Meu coração acelera ao mesmo tempo que minhas mãos
gelam, quando vejo minha cartela de anticoncepcional faltando
alguns comprimidos. Uma grande e enorme hipótese em letras neon
pisca na minha cabeça.
Bingo! Será uma enorme coincidência ou as paranoias se
juntando? Não surta, Alexia!
Tento me acalmar enquanto meu coração bate
violentamente no peito. Se eu estivesse grávida eu saberia, certo?
As mães geralmente sabem quando estão, né? Pode ser só coisa
da minha mente, tenho histórico de achar e não estar.
Mas de qualquer forma, colocarei isso a limpo para não
restar dúvidas. Deus me ajude!
29
ALEXIA
Comprei o teste de gravidez no horário de almoço e estou
sem coragem de fazer. Mas a curiosidade e a ansiedade me
consomem. Estou pensando em mil e uma possibilidades para o
caso de realmente estiver.
Primeiro, o que eu faria? E segundo, como contar a Murilo?
Estou trabalhando no automático só pensando se estou ou não. Ao
mesmo tempo que quero fazer para tirar a prova, tenho medo.
Estou com medo sim, mas Murilo me traz segurança.
Apesar de não saber se é realmente um bom momento para isso,
estou muito inquieta. Moreno nunca me pressionou para isso, na
verdade, nunca paramos de fato para conversar sobre esse
assunto. Mas sei que ele não é contra ser pai, ele adora crianças.
Porém, nesse caos todo penso e não deixo de sorrir. Um
mini Murilo por aí correndo, imagina? Ele seria um bom pai, mas
será que quer ser agora?
Logo agora que ele está crescendo na empresa,
adicionando novas responsabilidades. Ele quer isso? Terá tempo
para ser pai em tempo integral? Eu tenho para ser mãe?
Continuo fitando a tela, sem coragem e pensando em como
lidar com isso.
O horário de almoço foi uma merda também. Murilo ficou
questionando o porquê de eu estar com cara de nojo olhando para a
comida. Mas foi porque estava com puro gosto de metal. Parecia
que estava comendo uma barra de ferro.
Termino meu trabalho e vou direto para casa. Fui de táxi,
pois preciso ir à frente para fazer, preciso estar sozinha em casa e
Murilo está demorando muito para sair do trabalho, ultimamente.
Cargo maior, responsabilidades maiores.
Porém, como da outra vez, aviso. Não quero que ele saiba
antes de eu fazer, para não gerar ansiedade. Vou à cozinha tomar
um grande copo de água e sigo para o quarto, jogando minha bolsa
lá depois de tirar os testes, e corro para o banheiro antes que Murilo
chegue. Estou tremendo!
Abro os testes e leio as instruções. Faço xixi no potinho e
jogo um palitinho lá dentro. Sento no vaso tampado esperando os
três minutos que cronometrei no celular.
Muita coisa vai mudar se der positivo. Uma criança! É muita
responsabilidade e gastos. Estou morrendo de medo desse teste.
Puxo o palitinho ao mesmo tempo que minha garganta
fecha.
Cristo
Do
Céu!
Duas marcações não tão fortes, mas suficientes para eu
saber que deu positivo. Porém, não posso confiar plenamente
nesses testes. Pego o digital, que é mais confiável e ainda mostra
as semanas de gravidez, caso eu esteja mesmo.
Mergulho no xixi e deixo o aparelho deitado na pia. Mais três
minutos de inquietação, para mostrar o seguinte resultado no
pequeno painel digital: “positivo: +3 semanas”.
Cacete, então estou grávida de no mínimo um mês, ou seja,
foi na época ou antes de Murilo ter viajado, se estiver certo.
Continuo a encarar o painel sem saber direito o que se
passa comigo. Começo a organizar meus pensamentos, pois meu
corpo foi tomado por milhões de sensações loucas. Estou com
medo, angústia, os nervos à flor da pele, ansiosa. Essa novidade
me pegou desprevenida. São muitas informações para assimilar.
Como cuidarei de outro pequeno ser humano que vai sair e
precisar vinte e quatro horas por dia de mim? Como vou dar conta?
Rio nervosa em meio ao choro, ainda olhando o papel sem
acreditar. Eu vou ser mãe. Estou tomada por uma ebulição de
sentimentos. Vou da alegria ao medo e desespero.
Limpo meus olhos e corro, parando em frente ao espelho.
Tiro meu vestido e reparo no meu corpo. Realmente estou mais
inchada, meus peitos estão bem maiores. Como não percebi toda
essa mudança? Nem quando me olhei da última vez percebi que
estava tão diferente.
Consigo notar poucas mudanças, sem contar que vivia
tendo a maioria dos sintomas, que até pensei que era cansaço
misturado com gastrite nervosa atacada. Acho que a loucura do
casamento mais a treta com Diego me fizeram esquecer de tomar o
remédio algumas vezes, ou o que eu tomei não fez efeito, já que
não é cem por cento garantido.
Deus! Tomei vinho com Murilo por esses dias. Será que está
tudo bem?
Mal posso esperar para contar ao Moreno, só espero que
ele fique feliz. Entro no box para tomar banho logo, antes que Murilo
apareça aqui me procurando. Eu não tenho ideia de como vou
contar a novidade, estou ansiosa e com medo.
Aliso minha barriga e sorrio boba enquanto a água escorre
sobre meu corpo. Estou anestesiada e começo a ter uma crise de
riso, sozinha, debaixo do chuveiro, ainda desacreditada. Estou muito
feliz.
Acho que minha ficha ainda não caiu de verdade. Aliso
minha barriga ainda sem nenhum sinal alarmante de gravidez,
apenas está inchada, só reparando muito para perceber. Ter um
pequeno moreninho ou moreninha me chamando de mamãe é
inacreditável. Mal posso esperar para ver Murilo no papel de pai.
Será lindo!
Coloco um vestido e vou para a cozinha providenciar nosso
jantar para quando ele chegar. Eu ainda não acredito que vou ser
mãe!
Escuto o barulho das chaves avisando que ele chegou,
enquanto coloco os nossos pratos no balcão e sinto um calafrio de
nervoso. É agora!
— Morena — me chama, querendo saber do meu paradeiro.
Apareço na sala, sorrindo com felicidade e nervosismo.
— Finalmente cheguei, Estou exausto.
Desabotoa os primeiros botões da camisa social e vem na
minha direção me beijar, como sempre faz.
— A gente já estava com saudades.
Sorrio, colocando a mão na barriga. Murilo congela no lugar,
entendendo no ar o que eu quis dizer. Ele está com os olhos
arregalados, em estado de choque, assim como eu fiquei.
Abre e fecha a boca várias vezes e desiste de falar algo,
apenas passa a mão no cabelo até a barba e anda em passos
largos na minha direção.
— Al… Alexia.
Fala meu nome, meio incrédulo, parando de frente para
mim. Estamos bem próximos.
— Fiz o teste agorinha.
Murilo não responde nada, apenas me tira do chão, me
abraçando apertado.
— Não acredito!
Confessa ainda com voz abafada, quase em um sussurro no
meu pescoço, e não evito gargalhar, apertando meus dedos na sua
cintura.
— Acredite!
Rio e ele afrouxa o abraço.
— Eu Estou com medo de não dar conta! Mas Estou tão
feliz! — confesso, chorosa.
Murilo limpa meus olhos molhados.
— Mas vamos dar conta sim. Cacete! Vou ser pai!
Sorri e me dá um selinho demorado, segurando na minha
nuca. Desço as mãos para sua cintura, entrando por dentro da sua
camisa aberta e apertando meus dedos, sentindo sua pele quente.
Abro minha boca para dar passagem à sua língua, que logo
entrelaça com a minha. Aperto ainda mais contra mim e ele sobe a
mão, entrelaçando nos meus cabelos.
Sorrimos um para o outro como dois bobos no meio do
beijo. Não acredito! Seremos pais! Tem uma pequena extensão da
gente crescendo aqui comigo. E eu já amo como se o conhecesse.
Não existem palavras suficientes para descrever o que estou
sentindo agora, por mais assustada que esteja.
Apesar de eu estar amando sentir esses beijos gostosos
dele, estou morrendo de fome e meu estômago está vazio, como se
eu não me alimentasse há anos.
Murilo mordisca meus lábios, chupa logo em seguida e
deixa um beijo no meu pescoço, me arrepiando totalmente,
encerrando um início de preliminar.

MURILO
Pai! Eu serei pai! Puta que pariu! Melhor notícia do mundo!
Imagine um bebê com os nossos traços misturados? Será
um menino parecido comigo ou uma menina parecida com ela? Ou
ao contrário? Deus! Imagino uma miniatura nossa correndo por aí.
Vai ser foda!
Se parecer com a mãe vou me considerar ainda mais
sortudo! Doido para ver minha Morena no papel de mãe, será linda!
Já quero esse bebê e mal posso esperar para ver Alexia com
barriga grande. Nossa vida não poderia estar melhor, apesar de
tudo.
A imagem de um filho meu nunca me assustou, apesar de
eu nunca ter forçado isso com relacionamento algum que tive. E não
poderia ser com pessoa melhor, no melhor momento.
Futuro marido e pai de uma criança, da mulher que amo pra
caralho!

ALEXIA
Fui na minha primeira consulta para saber sobre o bebê e
conversei com minha ginecologista, que me encaminhou à obstetra
e amiga dela aqui da clínica. Murilo está cada vez mais cuidadoso
comigo depois de descobrirmos a gravidez.
Está tudo bem comigo e estou com cerca de seis semanas,
indo para a sétima. E tive a confirmação de que foi antes de Murilo
viajar mesmo, em alguma das nossas rodadas de sexo louco.
Cristo! Pode ter sido no carro no dia do lual! Meu Deus!
Marquei minha segunda consulta. Parece que depois que
descobri a gravidez, tudo parece mais claro. Estou me sentindo até
mais inchada e tenho um sono absurdo. Durmo sempre que
possível, e até quando não posso.
Corro levantando da cama, assustando Murilo que estava
jogado meio dormindo ao meu lado, quando sinto náuseas.
Ultimamente minhas náuseas matinais têm sido bastante intensas,
às vezes acho que não vou sobreviver.
Coloco as últimas coisas que comi para fora, me sentindo
horrível. Murilo aparece no banheiro para me ajudar enquanto vou
para mais uma rodada de vômitos. Ainda sinto essas ânsias fortes
mesmo tomando as vitaminas.
Meu estômago está em um nervoso absurdo que só consigo
vomitar cada vez mais, até começar a sair absolutamente nada, só
sinto a ânsia. Nunca imaginei que certos sintomas seriam tão fortes.
Qualquer coisinha me cansa ao extremo. Só quero dormir o tempo
todo.
Imagino quando avançar ainda mais.
— Já acabou.
Murilo me puxa para cima, me abraçando enquanto eu
choramingo de puro nervoso. Parece que esse terror matinal não vai
acabar nunca!
— Não aguento mais colocar pra fora desse jeito.
Me queixo ainda com o estômago revirando, num enjoo
muito ruim.
— É porque tá no comecinho, fica calma.
Moreno passa a mão nos meus cabelos, me confortando.
Quando sinto que o nervoso da barriga passou, me separo dele
para tomar banho.
— Vou fazer seu café da manhã.
Murilo sai do banheiro, me deixando sozinha. Entro na água
quente, molhando meu rosto e cabelos. Ultimamente meus dias
começam dessa forma. Eu colocando tudo pra fora feito louca,
achando que vou morrer desidratada e Murilo me acolhendo
dizendo que vai passar.
Falarei sobre isso com a doutora, porque está ficando cada
vez pior. Ah! Contei a meus pais, que ficaram loucos. Minha mãe
quase surtou na linha, assim como meu pai, que quase enfartou, e
depois chorou. Murilo também ligou para os pais dele, que também
choraram, porque serão avós, finalmente. Nosso bebê será o
primeiro neto, ou neta, deles.
Minha cunhada deu a louca gritando que vai ser tia. Meus
sogros até decidiram voltar para o Brasil. Isa suplicou, não estava
aguentando o clima e vem terminar a faculdade aqui. Ísis surtou e
ficou radiante, James ficou besta depois de quase ter um troço. As
meninas, da mesma forma, gritaram como loucas.
Saio enrolada e me visto com a primeira roupa soltinha que
acho. Minhas outras roupas estão me incomodando muito, embora
seja apenas o início da gestação.
Vou para a cozinha encontrar Murilo.
— Suco?
Questiona, colocando um copo na minha frente.
— Já me deu, né? Queria mesmo é café.
— Não pode ficar tomando café toda hora que faz mal, né?
E sei que a senhorita vai tomar por lá, então já tiro o daqui.
— Virou fiscal agora, foi? — questiono com humor.
— Virei.
— Vai tomar banho, fiscal de café.
Faço graça e ele segue pra dentro para a gente não se
atrasar. Levanto da cadeira e cato tudo de gostoso que vejo pela
frente para comer.
Tomo meu café tranquilamente. Aproveito e checo as coisas
do casamento. Hoje eu e Murilo vamos acertar outras coisas
importantes. Casamento dá trabalho demais.
Como quieta e sozinha até Murilo aparecer arrumado e
cheiroso.
— Ainda tomando café? — questiona, incrédulo.
— Estou com fome. Ninguém mandou você me engravidar.
E Murilo, sabe o que eu andei percebendo? Eu posso ter
engravidado aquele dia no carro, não usamos nada. Se nosso filho
descobrir que foi feito numa rapidinha dentro do carro em um beco
escuro, eu não sei como vai ser.
— Então eu caprichei pra fazer esse bebê, porque estava
morrendo de tesão em você aquele dia.
Ele gargalha, me dando um nervosinho na barriga de um
jeito bom, sentando do meu lado e me abraçando pelo ombro.
Descarado!

MURILO
— Tá com fome também, Murilo? — Alexia questiona
enquanto dou passagem para ela entrar primeiro.
— De você? Sempre! — Dou um tapa na sua bunda e ela ri,
se protegendo.
— Pervertido! Estou falando de comida.
— Eu também. Estou doido pra te dar uma comida.
Alexia joga a bolsa no sofá e vira o rosto, com um fingido
semblante de indignação, mas ela mal consegue disfarçar. Apenas
semicerra os olhos para mim. Eu só dou de ombros.
— Sou um noivo bacana, vou cozinhar — me rendo,
desabotoando a camisa social. — Estive pensando, quer yakissoba?
— Você é meu sonho de princesa, meu caro. Quero. — Ela
faz cara de dor, tirando os saltos. — Vou tomar um banho, Estou
cansada.
— Vai, pode relaxar um pouco no chuveiro — incentivo.
— Isso pareceu tendencioso, mas vou mesmo — suspira,
catando nossas coisas para subir as escadas, mas antes me dá um
selinho rápido.
Arranco a camisa social, largando-a no sofá, tiro o cinto e os
sapatos também e sigo apenas de calça social para a cozinha.
Resolvo preparar o jantar para nós dois. É rápido!
Arrumo a cozinha e subo para o quarto. O chuveiro está
desligado e logo a porta é aberta, surgindo Alexia com minha
camisa e todo o vapor do mundo, parece até que ela estava
assando lá dentro.
Ela está cada dia mais bonita com essa gravidez. Conforme
as semanas passam, a barriga começa a apontar mais claramente.
Ela conta nos dedinhos de quantas semanas está, mas sempre
arredonda para meses, e se queixa que não consegue memorizar
por semanas. Tá com nove e alguns dias, quase dez.
— Fez do banheiro uma sauna, não foi?
Ela ri, terminando de secar os cabelos e dando de ombros.
— A água estava quentinha.
— Nem precisava, eu te esquentava. — Dou uma piscadela.
— Vou tomar banho.
Aviso já descendo a calça para arrancá-la. Tomo um banho
legal e logo desço, encontrando Alexia na cozinha colocando a
mesa para nós. Mas um detalhe chama minha atenção: duas taças
postas e um tímido arranjo no meio.
— Hum, o que é isso?
— Comemorar nossa vida, não acha que tá muito boa?
Sorrio abertamente. Minha garota é especial demais! A puxo
pela mão, subindo seu corpo e segurando na sua cintura.
— Eu sou muito sortudo, não sabe? Tenho uma mulher
gostosa que eu amo pra caramba e sou correspondido. Futuro
marido e pai do nosso filho. — Beijo seu queixo.
— A mais sortuda disso aí sou eu.
Sinto seus dedos entrelaçarem na minha nuca e, com a
outra mão, fincar suas unhas vermelhas nas minhas costas. Puxo-a
para mais perto, colocando meus dedos entre seus cabelos e a
tomando para mim. Nosso beijo é interrompido pelo toque da
campainha.
30
ALEXIA
Nos separamos enquanto ele vai atender e me atento a
terminar de pôr a mesa, colocando os pratos e fazendo suco para
nós. A comida pede um vinho, mas não posso beber.
— Isso não é problema meu! — Escuto Murilo alterar a voz
em um tom tão sério que eu até estranho, porque não é típico dele.
— Murilo? — o chamo, saindo da cozinha.
— Já Estou indo, pode continuar o que tá fazendo — ele fala
de lá com um tom nervoso, mas ainda assim vou lá querendo saber
com quem ele tá aparentemente discutindo na porta.
Ando e percebo que ele fecha mais um pouco a porta, mas
ainda mais curiosa, vou e o encontro sério, conversando com uma
mulher de cabelos claros, quase loiros de luzes, com o mesmo rosto
confuso que eu quando nos vemos. Ela me olha rapidamente de
cima a baixo, parando um pouco mais de dois segundos na minha
barriga que já aparenta a gravidez, dependendo da roupa que uso.
— Oi?
Arqueio as sobrancelhas para saber quem é ela e olho para
Murilo, que está petrificado, mas hiperativo.
— Vamos entrar — Murilo age, tentando me fazer sair dali,
praticamente com intenção de bater à porta na cara da mulher,
aparentemente abalada demais para interferir.
— Calma, não precisa fechar a porta assim — peço e ele é
quem me olha de cara fechada. — Quem é você? — questiono,
curiosa.
— Camila. Desculpa, não queria atrapalhar. Me desculpa, eu
sei, é só que... Deixa para lá. — Faz pouco caso com a mão.
Assim que ela diz seu nome, me sinto deslocada entre os
dois. Murilo olha para mim e eu continuo a olhar para ele sem saber
como agir diante daquilo. E amaldiçoo ele por estar sem camisa.
Sabe aquele momento que o balde de água gelada entra em
contato com seu corpo sem esperar? É assim que eu me sinto
agora. Camila, pelo que me lembro, é a ex dele. O que ela está
fazendo aqui?
Olho mais uma vez para a mulher e só consigo pensar que
ela já beijou Murilo e fez outras coisas que não gostaria de ter
pensado. Será que ele gostou dela na mesma voracidade ou
pensou em ter filhos?
Mas não importa mais, Murilo me ama e iremos casar.

MURILO
Droga! Nenhum homem quer atual e ex no mesmo
ambiente. E eu de repente estou com Alexia e Camila se encarando.
É desconfortável!
— Vou sair pra vocês terminarem de conversar — Alexia
resmunga. E seu tom não está muito bom.
— Não. — Seguro na sua mão para que fique ali. — Não
temos mais nada pra conversar, não é, Camila?
Seguro Alexia pelo ombro para que ela não saia e pra que
Camila entenda que eu estou acompanhado agora. Não tenho
tempo para ela, para sequer saber o que veio fazer aqui, depois de
tantos meses querendo conversar.
— Ahn, eu... Sim! Só achei que você poderia me ajudar, não
sei. Ele tá agressivo. Não tenho muito a quem recorrer, minha
família não fala mais comigo direito por causa dele. Estou
desesperada — diz esbaforida, atropelando as palavras, tentando
explicar o veio fazer aqui, pois ela chegou e eu não quis ouvi-la. E
ela insistiu.
— Ele quem? — Alexia pergunta, com a testa franzida.

ALEXIA
— Meu marido, ele tá agindo estranho comigo desde que
descobriu minha gravidez no mês passado. Não sei o que fazer.
Confessa, chorosa, e meu coração automaticamente dói,
pois sei o que é viver nesse tipo de relacionamento. De repente para
mim aquela mulher não é mais ex do meu noivo, é uma mulher
desesperada.
— Entra — sem pensar muito, mando, surpreendendo os
dois.
— Não quero atrapalhar, desculpa.
— Entra logo antes que me arrependa — repito, séria.
Sei que foi ela que terminou com ele, e não tem direito
nenhum de vir atrás. Mas, independente de qualquer erro cometido
no passado ou presente, nenhuma mulher merece apanhar, ainda
mais grávida.
Ela entrou meio receosa e desabafou, dizendo que no
começo ele era maravilhoso, só que fez ela sair do trabalho quando
casaram, proibiu-a de sair com as amigas e agora não tem mais
contato com quase nenhuma delas. Quando descobriu a gravidez
ele ficou estranho, pedindo para ela tirar, pois não quer filho agora e
a criança vai tirar o tempo que os dois têm juntos e não quer dividir
atenção. Porém, ela saiu de casa depois que apanhou da última vez
e está morando de favor com uma das únicas amigas que restaram.
Só que agora ele está perseguindo e ameaçando a amiga também.
Murilo ficou o tempo todo sério e calado, ouvindo. Eu escutei
tudo atentamente, sem saber o que fazer. Sugeri que procure um
advogado, vá na polícia logo e more com algum parente distante até
a poeira abaixar. Ela saiu daqui depois de chorar muito e agradecer.
Acabamos jantando o yakissoba, que ficou uma delícia.
Enquanto eu tento fazer uma comida brasileira comestível, do outro
lado Murilo inventa de fazer comida de outro país, e ainda sai
gostosa. Eu tenho um Hilbert moreno e não sabia.
Ambos calados, trocamos apenas poucas palavras. O que
era para ser um jantar alegre se transformou em algo
desconcertante. Mas penso mesmo é na reação de Murilo quando
eu cheguei. Ele tentou me esconder? E ficou bravo por eu escutá-
la? Estou bem confusa. Mas não vou guardar essas questões para
mim.
Viro para Murilo, que para o que está fazendo, vendo minha
insatisfação com isso.

MURILO
— Por que você tentou me esconder quando eu apareci? —
Alexia me olha, com semblante questionador.
— Ahn? — rebato automaticamente, processando o que ela
falou.
— Por que me escondeu, fechou a porta quando apareci?
Não queria que eu escutasse a conversa? — Semicerra os olhos.
— Não! — agilizo a resposta. — Não tentei, só que... Só que
eu não queria estender o papo com ela, estava tentando fazê-la ir
embora.
— Hum. — Ela termina de secar os pratos que eu lavei e em
seguida sai em direção às escadas.
Ela não aceitou muito bem a resposta, apesar de ser a
verdade. Eu não quis escondê-la, só queria que Camila fosse
embora, não queria estragar a noite. Odeio brigar com Alexia! Ainda
mais por conta de Camila, droga!
Estou com uma mulher por quem faço tudo para vê-la feliz e
despreocupada. Aí, do nada, uma ex aparece!
Como já falei, ninguém quer ser pego pela atual no flagra
conversando com a ex, mesmo que tenha sido uma breve discussão
e sem estar fazendo nada de errado. Mas esses momentos deixam
a gente sem saber como agir. Largo lá e seco as mãos, subindo
atrás dela. Tudo que eu não quero é brigar com Alie. Reencontro-a
de costas para mim, deitada na ponta da cama fitando o chão e paro
na frente dela, me agachando para olhá-la.
— Eu juro que não te escondi — com tom de voz baixo,
acentuo o que falei. — Eu só queria que ela fosse embora, não
queria criar um clima chato entre vocês e nem te preocupar com
bobagens.
Aliso sua mão e ela aceita o carinho.
— Ninguém jamais vai me afastar de você. — Percebo ela
ficar aliviada. — Você é maravilhosa. Mesmo sendo minha ex, quis
escutá-la. Se fosse outra, teria mandado se foder sem se importar.
Abro um pequeno sorriso orgulhoso pela atitude empática
dela. Minha mulher é uma peça rara e eu não a deixo de forma
alguma!
Levanto e beijo sua testa, sentando do seu lado e a puxando
para meu colo.
— Então não ficou chateado por eu ter escutado ela? —
indaga em tom baixo, alisando meus dedos.
— Não, só surpreso. Eu achei que quando a visse de novo
ia sentir alguma coisa, mas não senti nada. Só que não soube como
agir vendo vocês duas no mesmo ambiente. Mesmo que ela tenha
dado um fim no nosso relacionamento pra ficar com esse fulano, eu
não senti nada quando a vi hoje daquele jeito. Não me senti feliz
nem vingado.
Sou sincero com o acontecimento e ela assente.
— Infelizmente ela fez a escolha errada achando que era a
certa. Me compadeci por ela, apenas. Mas eu não quero vocês dois
próximos!
Ela me fita com cara de brava e eu abro um sorriso.
— Apesar de tudo, eu não me senti tão desesperada ao vê-
la. Claro que fiquei meio deslocada em um primeiro momento,
sabendo que é sua ex, não sei se foi pela situação. Mas não surtei
como eu provavelmente faria. Eu consegui me controlar.
— Uhum. — Beijo seu pescoço e a vejo se arrepiando. —
Vocês não estão competindo em nada, eu sou seu, moça.
— Acho bom! Então se não estamos competindo por nada,
não havia porque ser grossa — sou sincera e me assusto com o que
falei e como me senti em relação a ela.
Achei que ficaria morrendo de medo de Murilo me largar,
mas simplesmente não surtei.
— Gosto de você assim. — Beija minha cabeça e eu sorrio.
— Você criou um monstrinho, não se esqueça. — Rio com
ele.
— É. Agora vem aqui me dar um beijo.
Esse encontro de hoje foi só para fortificar que a Alexia que
estou lutando para ser estar vencendo. A vantagem de passar por
momentos muito ruins é que quando acontece algo apenas ruim,
você olha para a situação e pensa: “HAHA. Tente novamente!”.

Leio a mensagem no mesmo momento que derrubo o


celular no chão, com o coração dando galopes.
— Alexia, o que foi?
Murilo aparece no quarto, confuso, me olhando alarmado.
— Veja você mesmo — sussurro quase inaudível, incapaz
de controlar minhas lágrimas de pavor, apontando para o celular no
chão. Moreno abaixa para pegar e lê.
— Eu voltarei para terminar o que começamos, e não terá
cadeia e nem ninguém para te salvar. Aquilo foi só o começo!
Murilo lê ao mesmo tempo que meu coração bate mais
rápido de medo, sentindo-o querer sair pela boca. Moreno esbraveja
e vem me abraçar. Estou inconsolável e morrendo de medo. A
polícia ainda não conseguiu encontrá-lo, está foragido e os pais
insistem em dizer que não sabem. Parece que essa procura por ele
o deixou com mais ódio de mim, claro, pois fui eu que o denunciei.
Essa não é primeira mensagem que recebo dele, e estão ficando
cada vez mais agressivas. Eu o bloqueei, mas ele sempre dá um
jeito de me enviar de um número novo.
Ele está fazendo da minha vida um inferno. Começou isso
essa semana, apenas prometendo que voltaria, e eu que já andava
assustada, fico mais ainda. Tento não ficar por conta da gravidez,
mas é inevitável!
— Olha pra mim.
Murilo pede e eu obedeço, fitando os seus, que claramente
mostram preocupação.
— Ele não vai fazer nada com você, tá me ouvindo?
Mostraremos todas essas mensagens à polícia. E ele vai parar com
isso, nem que eu tenha que fazer isso com minhas próprias mãos.
Mesmo que ele não seja um Bryan Mills da vida, e que não
estejamos em um filme estilo “Busca Implacável”, me transmite um
pouco de tranquilidade apenas por saber que não estou sozinha e
desprotegida.
Assinto concordando e ele limpa meus olhos, me dando um beijo na
testa.
— Termina de se arrumar pra irmos.
Murilo faz um carinho rápido no meu cabelo e eu anuo de
novo, saindo de perto dele.
Termino de me arrumar e sigo para a cozinha comer algo,
mesmo sem fome. Isso tirou completamente meu apetite.
Logo saímos para o trabalho, com ele me levando. Nossa
rotina é praticamente essa desde o último acontecimento antes da
viagem. Os preparativos do casamento estão caminhando. Murilo
está me ajudando e cheio de ideias, ficou responsável pela nossa
lua de mel, já que o casamento em si sou eu quem estou
organizando.
Queremos casar antes do bebê nascer e da minha barriga
ficar imensa. Será uma corrida contra o tempo. Faço a viagem
inteirinha calada e angustiada.
Achei que Diego me esqueceria depois que eu chamei a
polícia, e que havia decidido seguir em frente, mas pelo jeito a
diversão dele agora é me amedrontar. Eu não aguento mais!
Aproveitei para checar algumas coisinhas no meu celular.
Ainda não decidi qual será meu vestido de noiva, pois,
segundo minhas contas, casarei grávida ainda. E até lá meu corpo
vai mudar muito e tenho que escolher um que fique bonito, mas que
não me aperte. Então estou com alguns modelos para experimentar
e andei conversando com as meninas de uma butique, e elas
ficaram de conseguir para mim um vestido de gestante que me
valorize.
— Ainda vai querer sair?
— Vou sim. Acho que minha mãe vem esse final de semana.
— Então vamos.
Sorrio para ele, dando um beijo na sua boca. Desço do carro
com muito custo, depois de ele querer me prender lá dentro. Não
que eu esteja reclamando disso, mas é que o horário não permite
muito essas safadezas pela manhã.
Trabalho pela manhã no automático. Dá meio-dia e desço
correndo para encontrar meu Moreno. Ele, como sempre, está
encostado no próprio carro com aqueles óculos escuros o deixando
gostoso.
— Oi. — Chego sorrindo e o beijando rápido.
— Oi. — Me imita e reviro os olhos. — Gostosa. — Aperta
minha cintura.
— Vamos antes que a gente dê um show na rua. — Me
separo dele.
Entro no carro e ele vai para o banco do motorista.
— Prefere o que, primeiro?
— Comer, né?
Me viro de lado no banco do carona para ver ele gargalhar.
Ligamos o som, pois não consigo viver sem música e também para
acalmar minha mente barulhenta. Almoçamos tranquilamente.
Conversamos um pouco sobre os preparativos do casamento.
— Quando sair do trabalho, vamos jantar? Depois vamos
pra casa —
sugere, estacionando na frente da agência.
— Pode ser.
— Quer escolher um específico?
— Não. Você escolhe hoje.
— Tudo bem. Então vamos depois do trabalho.
Sorrio para ele em concordância.
— Te vejo na volta — me despeço dele.
— Te vejo na volta — repete e me dá um beijo rápido.
Escuto ele falar que no horário de costume vem me buscar e
arrasta o carro. Vejo o carro se distanciar e já sinto saudades. Se
pudesse, hoje não sairia de casa. Estou desanimada e com um
sentimento estranho por conta da mensagem. Mesmo com um
pouco de euforia pelo nosso jantar. Só queria ficar quietinha
abraçada com Murilo. Acho que é o cansaço da gravidez mesmo.
Passei o resto do dia normalmente, como deve ser. Passou
como um borrão. Fiz tudo no automático para acabar logo e eu ir
embora. Desço o elevador cantarolando baixo. Não vejo a hora de
chegar em casa. Estou mais que esgotada do dia. Ainda tenho que
pegar o planejamento do casamento para saber o que falta ver. É
muita coisa para resolver, mesmo com Murilo me ajudando, e isso
está acabando comigo!
Saio da agência e percebo que Murilo ainda não chegou,
pois não o vejo com o carro parado aqui, como de costume. Olho o
movimento da rua, as pessoas saindo daqui da agência e do
trabalho, e decido voltar para esperar Murilo lá dentro.
Um carro para perto de mim e tento correr com o coração a
mil quando vejo a porta abrir, mostrando Diego saindo de dentro
com um boné.
Droga! Cadê você, Moreno?
Antes de dar mais que dois passos, sinto a mão dele agarrar
meu pulso.
— Fugindo de mim, Alexia?
Escuto ele falar de forma debochada, enquanto meu
coração bate descontroladamente. Sinto até minhas pernas
fraquejarem.
— Me solta! — grito apavorada, tentando me soltar, e ele me
puxa pelo braço.
— Você vai entrar no carro sem berrar.
Me ameaça baixo e eu rezo mentalmente para que, onde
quer que Murilo esteja, se teletransporte para cá. Congelo no lugar e
procuro alguém que possa me ajudar. As pessoas do outro lado da
rua passam normalmente, como se não estivessem vendo a cena.
Como se eu fosse invisível!
— Não vou! — grito novamente e ele me olha sério, me
dando um frio absurdo na espinha. A cada dia que passa, Diego fica
mais irreconhecível, ou eu não o conhecia, pelo jeito.
— Entra no carro.
Se altera, apertando meu pulso cada vez mais. Um cara
aparece do nosso lado e eu suspiro aliviada. Estou salva!
— Tá tendo algum problema aí?
O homem questiona e Diego, com toda a calma do mundo,
se vira para o homem ainda me segurando.
— Tem! Ele é louco! — grito e Diego me aperta mais,
causando uma dor absurda no pulso. Parece que meu braço vai
partir a qualquer momento.
— Sou namorado dela, sabe como é.
Ele olha para o cara, que assente e ainda pede desculpas
por ter se metido, sem me questionar se é verdade. Como assim,
gente? Eu mostrei resistência! Como ele pode levar em conta só o
que ele falou?
— Para, Diego!
— Entra! Se eu for partir pra agressão, você não vai gostar
— me ameaça sussurrando só para eu ouvir, entretanto, apesar da
voz baixa, me amedronta ainda mais. Ele me puxa de novo pelo
braço em direção ao carro e sigo contrariada com ele, sem opção,
pois não vou conseguir me soltar nem correr. Estou acuada e sinto
vontade de chorar, rezando para Murilo aparecer logo e me tirar
desse pesadelo.
— Diego, por favor, para com essa loucura. Já tem muito
tempo que nós terminamos. Esquece isso — suplico, morrendo de
medo, sentindo minha garganta fechar de tão seca que está.
Ele abre a porta do carro e tenta me empurrar para dentro,
mas me prendo tentando me soltar mais uma vez e correr.
— Sem gracinhas, Alexia — sussurra descontrolado,
segurando meu queixo com força. Ele me empurra novamente com
grosseria para dentro, mas tento resistir de alguma forma para
ganhar tempo. Acabo caindo no banco junto com minha bolsa e ele
bate à porta, sem dar tempo de eu tentar sair, pois ele já está
sentando no banco do motorista.
— Diego! Para com essa loucura! — grito já tremendo, com
as lágrimas vindo à tona em meus olhos, que ardem como se
tivessem espremido limão em cima.
— Cala a porra dessa boca! Eu já mandei! — grita de volta.
Diego arrasta o carro e escuto Murilo gritar e, pelo retrovisor
do meu lado, vejo ele correr na direção do carro de Diego, chegando
bem perto, porém Diego esbraveja e acelera mais, cantando pneu.
Nossa troca de olhares foi rápida, porém ele me viu.
Só não sei se essa será a última vez que ele vai me ver.
Estou com um aperto horrível no coração com essa hipótese.
— Você agora será minha e de mais ninguém.
Volto para meu inferno com a voz de Diego e me sinto mais
apavorada. Deus!
O carro corre desbandeirado pela avenida. Estou assustada.
Nunca pensei que Diego seria capaz de fazer uma coisa dessas. Ele
corta vários carros, deixando para trás barulhos de buzinas e
xingamentos de motoristas revoltados.
Admito! Estou com medo de morrer e de acontecer um
acidente. E, pra piorar, a pessoa com quem eu dividi a cama e
minha casa tantas vezes é que está fazendo isso.
— Isso vai dar merda, não tá vendo, porra? — esbravejo
com medo do que vai acontecer comigo e com meu bebê. Eu temo
pelas nossas vidas!
— Não vai. Não é assim, Alexia. Você simplesmente me
esqueceu na primeira oportunidade. Vou até te perdoar por ter dado
a queixa — comenta, alisando minha perna, e só sinto nojo. O que
tem na mente desse ser humano, meu Deus?
— Ainda quer recorrer? Olha há quanto tempo terminamos!
E não fui eu quem estava no dia seguinte namorando de novo.
Fecho os olhos quando passa no sinal vermelho voando,
onde tem uma rua de saída de carros.
— Para onde você tá indo? — pergunto quando vejo ele
indo em direção à BR que sai da cidade.
Para onde esse louco está me levando?
— Vamos ficar longe deles. Só nós dois. Você vai ver, meu
amor. Nós ainda vamos ser felizes juntos, vamos recuperar o tempo
perdido.
Diego é um lunático!
O pior de tudo é isso. Ele falando como se fosse uma coisa
óbvia, que eu não estou com ele por causa de Murilo ou das minhas
amigas. Estou assustadíssima.
— Qual o sentido disso tudo? De saber que a pessoa não
quer estar do seu lado?
Tento argumentar para tirar isso da mente dele e tiro a mão
dele da minha perna.
— Gosta sim! Aquele playboy que não te deixa pensar direito —
tenta me convencer, colocando a mão na minha perna de novo.
— Não! Eu penso pela minha própria cabeça. Eu amo
Murilo! — grito já quase chorando.
— Não ama! — esbraveja, tirando a mão da minha perna,
me empurrando para a porta, e bato a cabeça no vidro do carro.
Logo a dor vem e absorvo o que ele acabou de fazer, horrorizada.
Choro de dor, raiva e pavor. Acuada, me sinto uma garotinha
apanhando sem poder fazer nada.
O carro fica em silêncio de repente e só escuto o barulho
dos carros freando lá fora conforme ele vai passando sem respeitar
as leis de trânsito. Até ele quebrar o silêncio.
— Eu sou o melhor pra você. Acredite em mim. Eu sempre
tenho razão. Eu aturei suas chatices, grudes e manhas pra você me
trocar pelo primeiro playboy que aparece? Não tem nem cabimento!
Não me atrevo a falar mais nada. O carro está indo muito
rápido e estou com mais medo ainda, pois dele eu espero tudo. E só
consigo ficar preocupada com meu bebê. Não pode acontecer nada
com meu bebê!
— Sabe quantas mulheres dariam tudo pra estar no seu
lugar e você fica nessa?
Ele ultrapassa o sinal vermelho quase causando um
acidente com um pedestre cadeirante. Fecho os olhos, com medo.
Minha barriga está em um nervoso absurdo e estou fazendo de tudo
para não passar mal, apesar de querer pôr para fora tudo que comi.
Estou tentando ficar calma o máximo possível, por causa do bebê,
mas me sinto abafada. Esses primeiros meses estão sendo muitos
preocupantes.
— Diego, para! Você sempre fez eu me sentir minúscula.
Tudo que eu fazia pra você era pouco. Pra que tudo isso? — choro,
deixando minha vista embaçada. Estou angustiada e impotente.
— Em todas as brigas você sempre voltou. Essa não seria
diferente. Mas por causa daquele playboy de merda, você não
voltou.
— Qual a parte de “você me traiu” que ainda não entrou na
sua cabeça? Independente de Murilo ter aparecido ou não, já
tínhamos rompido! Você não mudava e nem eu te suportava mais!
Mesmo lutando, conversando, sempre ficávamos em círculos!
— Aquilo ali foi um deslize! Você não deveria se importar,
afinal de contas. Tinha esquecido quão chata você é com essa coisa
de discutir relação. O que uma mulher diz pra mim, entra por um
ouvido e sai pelo outro. O que você diz, pra ser mais exato. Vocês
mulheres nunca sabem o que querem, um banco de indecisas e
histéricas. Por isso que nunca dei importância pro que você falava.
Principalmente sobre relacionamentos. Fui até bonzinho te dando
tempo pra repensar suas ações e atitudes. E o que você fez? Saiu
com o primeiro que apareceu. Eu até tentei ignorar, pensei que não
ia durar esse romancezinho e ia voltar como era. Mas já tá durando
demais. Você não pode me esquecer tão fácil assim.
— Olha lá pra fora. Eu não sou tudo isso. Tem milhões de
mulheres aí no mundo. Você não tá namorando de novo? Me
esquece!
Diego solta uma risada debochada, me dando mais raiva e
fico até envergonhada.
— Emily é passado, te falei isso. Muito esquentadinha e
desobediente, não era como você. Aliás, ela não é você. Ela era só
diversão, só servia pra ser usada mesmo. Bobinha, achando que
iríamos casar. — Ele ri, tripudiando dos sentimentos da tal Emily. —
Não serve pra mim, não serve pra casar. Você sim é pra casar. Vai
voltar a ser minha como sempre foi.
Olha de relance pra mim e sorri, me apavorando mais ainda.
Diego acelera mais o carro e coloco o cinto, que ainda não havia
colocado, assim como ele, que não está preocupado em pôr,
temendo pela minha vida e a do meu filho.
De repente ouvimos a sirene da polícia atrás da gente. Ele
grita esbravejando xingamentos e acelera ainda mais, pegando uma
distância considerável. Diego vira o carro com tudo, entrando na
primeira avenida e me jogando com tudo para o lado. Estou
tremendo muito. Acho que se me colocarem em pé agora, eu caio.
— Se fizer alguma gracinha, você morre, entendeu?
Ele levanta a camisa rápido e vejo o cabo de uma faca. Pelo
tamanho do cabo, a faca é grande. Essa perseguição de carros em
uma BR não vai dar certo. Isso é mais que óbvio!
— Se gosta de mim como diz, me deixa em paz. Eu retiro a
queixa e você segue sua vida. Ainda te acoberto agora. Você nunca
fez questão, nem ligava pra mim, Diego. Sejamos racionais! — tento
negociar.
— Meu erro foi não te dar uma lição logo no começo. Hoje
nada disso estaria acontecendo. Você estaria quietinha e me
respeitando. Sabendo o seu lugar de mulher, respeitando e
obedecendo seu homem. Bem que minha mãe falou que você não
prestava, estava cego com você!
Bom, a mãe dele sempre foi uma incentivadora de
discórdias, sempre dizia que não era mulher para o filho dela, que
eu deveria largar o emprego para me dedicar mais a ele e, quem
sabe, ter filhos. Pois, segundo ela, estou ficando velha e se eu não
tiver filhos é porque não estou fazendo meu papel direito. Mal ela
sabe que Diego vivia marcando em cima para eu não esquecer a
pílula, ele nunca gostou de camisinhas. Ela falava isso e mais outros
absurdos, como parar de trabalhar e competir no lugar que só
homem deveria estar. Mas mesmo se fizesse tudo do jeito que ela
dizia ser o correto, ainda falaria mal.
Ele vivia falando que era para eu me esforçar para
conquistar ela. Mais esforço que eu fazia era impossível. Se eu
ficava muito com Diego, achava que era grudenta. Se fosse ao
contrário, dizia que eu estava o deixando de lado. Levantava
hipóteses, infernizando e colocando coisas na cabeça dele, de que
eu o traía.
Eu e Diego até brigamos feio por isso na casa dela, porque
sabemos que ele é um louco ciumento, e com isso, pirou. No dia,
ela simplesmente não fez nada quando viu ele a ponto de me bater,
pois claramente não me suporta. No final ainda saiu comentando
que mereci. “Boa coisa eu não sou”.
— Então, Diego! Eu não presto pra você, me deixa em paz, por
favor. Dá tempo de tudo isso ser diferente — falo com um fio de voz.
Não tenho mais reação nenhuma além de chorar e tremer de medo.
O carro da polícia chega mais perto, encurralando o dele numa
tentativa de ultrapassagem para nos barrar e escuto mandarem
parar o carro. Fico desnorteada com o som das sirenes.
Olho para trás, esperançosa e amedrontada. Não sei qual
dos dois sentimentos sobressai mais. Diego larga o volante e tenta
me machucar de alguma forma, me pegando pelo pescoço. Apenas
grito apavorada vendo o carro sem ninguém no comando do
volante, levando a gente mais próximo do acostamento.
— Olha a pista!
Diego tenta acelerar mais, ao mesmo tempo pegando no
volante, quando outro carro desvia dele, que estava quase na
contramão.
Sinto o carro deslizar sem controle para fora da pista de
novo, mas a diferença é que estamos indo direto para o
acostamento novamente, do outro lado. Grito apavorada vendo o
carro ir de encontro às barreiras de concreto da pista, ao mesmo
tempo que sinto um baque enorme na cabeça, assim como no meu
braço e minhas costas, que estão ardendo e doendo. A dor é
dilacerante!
E sem conseguir ficar com os olhos abertos ou me situar,
apago, completamente zonza, mas antes escuto gritos.
31
MURILO
Droga! Que pesadelo!
Estou com o peito apertado com toda essa merda. Quase fui
preso querendo espancar o idiota que precisou de resgate, pois
estava preso nas ferragens. É por causa dessa merda de situação
que Alexia está desacordada, tomando soro.
Se alguma coisa grave tivesse acontecido com ela ou com
nosso filho, eu não me perdoaria nunca e nem deixaria barato. Seria
um na cadeia e outro no cemitério. Eu iria para a cadeia sem muitos
problemas, para ver esse filho da puta a sete palmos.
Maldito congestionamento!
Quando eu vi o carro saindo com ela dentro, perdi o chão,
mas não poderia entrar em desespero, isso daria vantagem para o
safado.
Tive que pensar rápido. Eu ia atrás dela para não perder de
vista. Anotei a placa no bloco de notas do celular, disposto a ligar
para a polícia no caminho. Mas antes de virar na avenida, avistei
uma viatura e expliquei o ocorrido, junto com a placa e modelo do
veículo, e se prontificaram a começar a perseguição.
Fui apenas acompanhando com o meu carro, com o coração
na garganta, e perdi mais uma vez o chão, com uma batida falha no
peito, quando vi o carro invadir o acostamento, batendo na barreira
de concreto, fazendo o carro derrapar de lado com ela dentro.
Ver aquilo foi como ir ao inferno com a sensação de
fraqueza e impotência. E a dor de perdê-la. Dor essa que não quero
sentir nunca mais.
Fito minha mulher abatida e machucada, com arranhões e
roxos tanto do acidente quanto do que o filho da puta fez, deitada na
maca, ressonando. Acordou no meio do caminho pro hospital e
desmaiou novamente. A médica que fez os primeiros procedimentos
disse que foi o estresse elevado e o corpo fez com que ela
apagasse, reprogramando os sentidos para quando acordasse
novamente. Foi a primeira a sair do carro, porque o lado que
derrapou no asfalto foi o do motorista. Ela ficou suspensa no ar e foi
mais fácil retirá-la, mesmo que desacordada, com um braço roxo e o
pescoço machucado, além da testa sangrando.
Vejo ela se mover devagar, dando os primeiros indícios de
que vai despertar, e avanço para ampará-la.

ALEXIA
Abro os olhos ainda zonza, sem saber direito o que
aconteceu, e fito um teto branco com uma luz forte. Semicerro os
olhos para ter conforto visual. Abro aos poucos para conseguir
enxergar com foco.
A cabeça dói demais, tenho sensação de vertigem, eu estou
mesmo deitada. Sinto o cheiro inconfundível e asséptico de álcool
em gel e detergente, dando a confirmação que estou em um
hospital.
— Murilo... — sussurro o primeiro nome na minha cabeça e
ele aparece do meu lado, apreensivo, mas tentando me tranquilizar
com um olhar, embora esteja abatido. Sinto sua mão alisar meus
dedos de forma delicada, em um carinho preguiçoso.
— Alie... está sentindo alguma coisa? Quer que eu chame o
médico? Vou chamar o médico — me bombardeia de perguntas.
— Eu Estou bem, e o bebê? — o acalmo, mas quero saber
se está tudo bem com minha sementinha.
— Tudo bem também, foi só um susto, graças ao cinto —
suspira, alisando meu rosto com cuidado. — Você quer alguma
coisa? Pode falar.
Nego com a cabeça, começando a chorar, caindo no abismo
dos acontecimentos. Todo o medo e desespero de o carro estar em
velocidade alta, derrapando, a dor na minha cabeça, as ameaças...
Poderia ter acontecido uma tragédia pior agora. Tudo porque Diego
não sabe o que é um “não”.
Murilo senta do meu lado na ponta da cama sem ter como
me abraçar direito, pois estou tomando soro e ele tem receio de me
machucar. Mas faz, com cuidado, acolhedor. Suspira me olhando
com a carinha abatida, talvez lutando contra a angústia que está
sentindo.
— Eu Estou bem agora, isso é que importa. — Passo a mão
nos seus braços, que envolvem meu corpo. — Há quanto tempo
Estou aqui? — não consigo segurar minha curiosidade.
— Quase uma hora. Você acordou no caminho e depois
apagou de novo. A médica que te atendeu falou que o seu estresse
estava elevado, e também desidratada. Eu falei sobre sua gravidez,
ela disse que tá fora de perigo. Só ficou com os curativos na testa e
no pulso.
Automaticamente coloco a mão na cabeça, sentindo um
curativo na testa. E examino meu braço, que tem uma pequena
faixa de atadura no pulso. E alguns roxos no braço, junto com uns
poucos arranhões.
— Seus pais estão vindo amanhã te ver, porque pegar a BR
essa hora é perigoso. Suas amigas ficaram doidas quando
souberam. Queriam vir pra cá te ver, mas eu as tranquilizei.
Uma enfermeira entra e faz as perguntas de praxe, que eu
respondo segurando no meu colar Ponto de Luz. É, eu acredito
muito em amuletos.
Ficarei em observação aqui pelo menos até amanhã, por
causa da gravidez, e porque já marcaram alguns exames com
minha obstetra, que também trabalha aqui no hospital logo pela
manhã. Ótimo!
Me queixei de uma dor fraca no abdômen, mas ela disse
que é normal. Se eu começar a perder sangue ou sentir muita dor,
devo avisá-la. Soube que Lizandra apareceu aqui para me ver e
trazer roupas, mas não pôde subir e Murilo foi buscar lá embaixo.
Mas me desejou melhoras e ficou de me visitar em casa. Eu amo
minhas amigas, nosso lema sempre prevalece em qualquer
situação: “nós por nós”.
Sou acordada por uma ânsia nojenta e acabo vomitando no
chão. Não consegui segurar antes de saber onde tem banheiro aqui.
Murilo corre para me dar suporte sem pensar duas vezes. Apesar
dos vômitos terem diminuído, às vezes ele aparece para dar o olá
matinal.
Tomo banho com ajuda de Murilo.
O meu café da manhã chega. Murilo me deixa com uma
enfermeira, que me serve comida, avisando que iria atender um
telefonema. Sem muita vontade de comer comida hospitalar, mas
dou o braço a torcer.
Pelos exames marcados, a etapa do pré-natal que vamos
fazer é a ecografia. Estou bem ansiosa!
Estou me sentindo muito inchada, enorme, para falar a
verdade. Quase onze semanas já, e sinto que estou quase
explodindo. Agora sei contar em semanas, por incrível que pareça
consegui finalmente entender isso. Na verdade, estou aprendendo
mesmo me enrolando, e virei a amiga chata que fala por semanas
com Lizandra, que revira os olhos pela minha implicância.
Estamos em expectativa para saber o sexo, mas não quero
assumir um lado. Sinceramente? Para mim tanto faz. Mesmo assim
não resisto em abrir um sorriso imaginando uma cópia de Murilo.

MURILO
Enquanto Alexia toma café para a gente ir para a sua
consulta, ando pelo corredor pensando no paradeiro daquele
safado. Quero saber qual foi o fim do filho da puta. Espero que
esteja no necrotério. O desgraçado ainda veio pro mesmo hospital
que ela, tem plano de saúde também. Mas é bom que facilita para
batermos um papinho.
Encontro uma enfermeira no meio do caminho com uma
prancheta na mão e peço informações. Ela indica a direção que
devo seguir. Aproveito a brecha de já estar aqui dentro para não
precisar dar o meu nome de visitante. Acho o quarto dele, com
policiais na porta por causa do seu caso, pois está com prisão
decretada, só esperando ter alta.
Converso brevemente com um dos policiais, o que estava
ontem no local e que agora está conversando com os outros que
fazem a guarda, e ele me explica a situação. Esteve em cirurgia
logo que chegou. Os policiais liberam minha passagem avisando
que eu poderia ficar apenas cinco minutos. Agradeço. Eles sabem
que não sou parente.
Entro encontrando-o deitado na maca, todo enfaixado,
completamente fodido, mas para mim é pouco. Está são, acordado,
tomando seu café. Ele vê a minha chegada e coloca sua bebida na
bandeja, sério, cheio de hematomas e com o braço engessado.
Amputou uma das mãos, ficou preso nas ferragens pelo que me
disseram. Chego mais perto e vejo que sua perna também está
enfaixada, mas inteira.
Ele não diz nada, só me olha.
Agarro sua perna engessada, apertando sem dó. Ele se
contorce de dor, urrando.
— Espero que esteja satisfeito com o rumo das suas
escolhas. — Sem esboçar muita reação, aperto mais sua perna e
ele geme.
Cadê o homem agora? Só é para mulher?
— Eu espero que com o acidente você tenha esquecido
Alexia, de verdade, porque na próxima vez não terá a sorte que teve
ontem.
— Você querendo ou não, eu serei uma parte importante pra
Alexia — contorcendo-se de dor, ele abre a boca.
— Eu sei que é uma parte importante, ela usará você como
parâmetro pra guinada que a vida dela teve depois que acabou com
você, e pra saber que você é o tipo de homem que ela não quer por
perto, nem pra ela, nem pra ninguém. Inclusive para o nosso bebê
que tá na barriga dela, pra quem você será um exemplo a não ser
seguido. Você nunca vai viver com uma mulher como ela, nem hoje
e nem futuramente. Nunca!
Faço ainda mais pressão na sua perna torcida. Ele grita,
berrando de dor. Acho pouco!
— Suma da vida dela. Isso já não é um aviso, é uma
ameaça.
Saio da sala após essa visita breve, para ver se Alie comeu
e sabermos como nosso bebê está.

ALEXIA
— Minha bolsa! — Lembro no corredor do hospital. — Deixei
lá no carro.
— Não se preocupe. Um dos policiais pegou, seus
documentos estavam lá — me tranquiliza e meu coração aos
poucos desacelera. Murilo segura nas minhas costas, me
encaminhando para a sala indicada. Estamos no horário marcado e
fui chamada assim que cheguei. Tem poucas pessoas, uma delas
com a barriga grande já. E automaticamente penso que em breve
estarei aqui assim também.
— Oi, senhora Alexia — Rita, minha obstetra, me saúda
sorrindo.
— Olá, doutora. — Retribuo o sorriso.
Ela cumprimenta Murilo e logo indica para sentarmos.
Conversamos um pouco. Mostrei a ela os exames que fiz ontem,
que ela mesma solicitou, e Liz trouxe os últimos que fiz a pedido de
Murilo.
— Tomou café direito? Foi bem servida? — Ela ri, já
sabendo como é a comida de hospital.
— Uma delícia! — entro na sua brincadeira, rindo.
— Que susto, né? Mas sentiu alguma dor nessa
madrugada? — questiona, olhando para mim por cima dos óculos
de grau.
— Não. Senti umas dores leves, mas passou rápido.
Ela assente e verifica minha pressão, que está normal.
Verificou tudo como da outra vez e me pesou novamente.
— Seu peso aumentou um pouco mais do que achei.
— Isso é ruim?
— Não tanto. Os nutrientes estão indo direto para o bebê.
Mas se continuar assim vai ser difícil para fazer parto normal, pode
acarretar algum problema. Tem como a gente dosar isso até os nove
meses.
Anuo e ela me leva para fazer a ultrassom. Rita passa a
maquininha em cima do gel gelado na minha barriga, que vai
refletindo aos poucos na tela. Sinto ela passar para lá e para cá
fitando a tela e percebo ela mudar um pouco a fisionomia, ao
mesmo tempo que meu coração acelera. Será que é algum efeito do
acidente no bebê?
— Rita? — questiono, querendo saber o que está
acontecendo. Murilo está do meu lado, sério, com a mesma feição
preocupada que eu.
— Me deem um minuto que preciso falar com a outra
doutora que está aqui do lado. Não se preocupem, está tudo normal.
Ela levanta e o que ela falou para mim soou como “se
preocupem, pois é grave”. Moreno segura minha mão, beijando-a
logo em seguida. Cinco segundos depois as duas voltam. A outra
médica sorri para mim e se coloca ao lado de Rita para ver algo na
tela que ela aponta.
— É mesmo — comenta ainda olhando para a tela, e eu e
Murilo observando as duas com grandes interrogações na testa e
muito preocupados.
— O que tá acontecendo, afinal? — temerosa, questiono.
— Você está esperando gêmeos, e não um, como mostrava
na última consulta.
Rita me avisa com um sorriso enorme enquanto a outra
médica pede licença. O quê? Arregalo os olhos com o susto e
levanto com tudo da maca.
— E serão bi vitelinos. Não estão na mesma placenta.
Permaneço em choque, sentindo meu corpo formigar.
Gêmeos? Mas que…. Continuo a olhar para ela sem saber como
reagir.
Escuto um Murilo incrédulo sussurrar algo do meu lado e
olho para ele, apertando sua mão, ainda em choque. Dois filhos ao
mesmo tempo? Como vou cuidar de dois de uma vez?
— Você tem certeza, Rita? — questiono e quem sabe eu
não escute um “me enganei, é apenas um mesmo”, mas ela apenas
confirma com a cabeça.
— Quer ouvir os batimentos? — Gesticulo, concordando.
Minha ficha ainda não caiu. Não estou sabendo lidar com isso. Ela
mexe no aparelho e logo os batimentos não tão ritmados ecoam.
Fito o nada para tentar ver se consigo ouvir outro batimento e, me
concentrando bem, escuto um em outro ritmo, quase sincronizados.
— Na outra consulta eu não percebi, pois estava mais atrás,
não do lado como agora — me explica, limpando minha barriga,
tirando o gel. Ainda em choque, sento de volta em frente à sua
mesa, com Murilo apreensivo do meu lado.
— A partir de agora terão que ter cuidados redobrados. Vai
ter que seguir à risca a dieta balanceada. Certo?
— Aham! — estou no automático.
— Os seus gêmeos são bi vitelinos, pois estão se
desenvolvendo a partir de dois óvulos, que foram liberados e
fecundados ao mesmo tempo.
Não basta Murilo me engravidar, ainda tem que me
engravidar duas vezes no mesmo momento. E nada tira da minha
cabeça que foi no carro! Cristo!
— Entendi.
— Nós vamos nos ver mais vezes. É só seguir direitinho que
não terá problemas.
— Aham.
— Normalmente os partos de gêmeos são feitos por
cesariana, porém também não deixa de ser possível o parto normal.
Caso haja possibilidade e você preferir, é claro!
Assinto, concordando. Ainda estou chocada demais para ter
qualquer outra reação. Eu me limito a aceitar automaticamente o
que ela está falando.
— Sei que assusta, mas em breve você se acostuma.
Sorri para mim, nos despedindo de mais uma consulta.
Marco a próxima. Mesmo sendo gêmeos, podemos fazer sexo
normalmente, porém ela nos alertou de alguns contratempos que
podem ocorrer.
— Nem estou acreditando. E você? — comento com Murilo,
andando pelo corredor novamente. E ele nega com a cabeça
também, tão extasiado quanto eu.
— Nem um pouco.
Levanto um pouco os pés para beijá-lo e ele segura na
minha cintura com cuidado.

Saio do médico junto com Murilo do meu lado, com umas


dicas sobre dores e remédios que posso tomar em casos extremos.
E avisada de que, caso sinta algo, devo voltar no médico ou na
obstetra o mais rápido possível. Do lado de fora Moreno para e
cumprimenta alguns policiais e avisa que amanhã iremos à
delegacia dar um ponto final nesse pesadelo. Finalmente!
Fizemos a viagem com um silêncio confortável, ouvindo
música, e tento assimilar tudo o que aconteceu em relação ao
acidente e à descoberta dos bebês. Meu telefone toca e eu atendo,
mostrando no visor que é minha mãe, avisando que está na frente
do nosso apartamento. Aviso que estou chegando e explico onde
está a chave.
Abrimos a porta, sentindo uma paz por estar ali de novo, e a
primeira a me abraçar é minha mãe, que me examina como fazia
quando eu era criança e chegava da casa de alguém. Checa cada
milímetro do meu rosto e depois me beija repetidas vezes na
bochecha, me abraçando com cuidado, caindo num choro aliviado.
Retribuo o abraço gostoso que ela me dá.
— Mãe, eu Estou bem agora — tento acalmá-la.
Ela me solta e em seguida meu pai vem me abraçar da
mesma forma. Nem Isis nem James vieram por causa do trabalho,
mas me desejaram melhoras.
— Calma, gente, eu Estou bem. Foi só um susto. Já passou.
Entro para tomar banho, examinando meu pulso enfaixado.
Não dói tanto, só lateja um pouco e tenho manchas roxas claras em
alguns lugares do corpo. Saio do banheiro e encontro Moreno na
cozinha, mexendo nos armários junto com meus pais. Sento no
balcão e assisto ele passear para lá e para cá.
— Aconteceu o que com Diego? — questiono baixo.
Moreno para de mexer na panela, virando para mim. Meus
pais também param o que estavam fazendo para prestar atenção.
— Está no hospital. Ficou preso nas ferragens, já que a
batida foi do lado dele e estava sem cinto. Por pouco não morreu.
— Nossa! — exclamo horrorizada, pois eu coloquei o cinto
aos quarenta e cinco do segundo tempo, senão estaria tão mal
quanto ele.
— É. Amputou uma das mãos e quebrou uma das pernas.
Arqueio as sobrancelhas em choque. Murilo dá as costas
para cozinhar novamente, depois de mostrar as mãos em um gesto,
como se falasse: “fazer o quê?”.
Contei a eles sobre tudo o que passei, falei do empurrão e
mostrei o roxo do meu braço, de quando ele me empurrou na porta
do carro, e o curativo na testa. Todos ficaram indignados e com
raiva, claro. E minha mãe confessou que tinha medo que eu
engravidasse dele. Acho que no fundinho também tinha esse medo.
Meus pais decidiram ir na feira comprar frutas para mim
enquanto eu dormia direito. Não que eu precisasse dormir, mas eles
insistiram. E olhe que sequer contei que são dois bebês, esqueci,
mas quero contar para minha família quando estiverem todos juntos.
Acabei obedecendo, morta de cansaço. Só quero ficar deitada e
dormir para finalmente descansar. Murilo me chama, me
aconchegando no seu abraço. Ele faz carinho nas minhas costas
com leveza.
— Amo você. — Beija minha testa.
— Também te amo. Parece que tá tudo contra pra gente não
casar, sei lá.
Não deixo de me sentir frustrada.
— Não se preocupe com isso. Vamos casar sim e seremos
muito felizes — me tranquiliza.
Dormimos agarradinhos e pela primeira vez sinto que
finalmente vai dar certo. Pelo menos é o que realmente espero.
32
ALEXIA
Me arrumo para ir para o trabalho, voltando à minha vida de
antes. Estou tão aliviada! Diego já foi preso. Fiz o corpo de delito e
mostrei as mensagens que ele me mandava. Puxaram a ficha dos
antecedentes criminais de Diego e ele tem duas passagens por
agressão. Lei Maria da Penha. Apenas uma é recente. E logo
lembrei da tal Emily. Ele com certeza a agrediu. Sem contar que
também tem uma por dirigir bêbado e outra por brigas de ruas. Ele é
um delinquente.
Uma das agressões dele, a mais antiga, foi em sua antiga
namorada. Ela deu entrada no hospital toda machucada, inclusive
com costelas quebradas por conta de chutes. Se eu me recordo
bem, foi uma ex que ele me falou que era louca e desequilibrada,
mas obviamente o louco da relação era ele. E ele ter tratado suas
ex-namoradas de forma desrespeitosa e as criticado para mim não
eram sinais de que ele me amava, que eu era diferente ou coisa do
tipo. Só significava que eu seria a próxima a ser taxada como louca
e histérica.
Por mais que ele fosse uma pessoa meio instável, nunca
imaginaria que ele tivesse ficha na polícia. Ele nunca me falou sobre
isso. Ele nunca ter me dado uma surra no tempo em que ficamos
juntos foi um grande milagre. Mas percebi que estava se
encaminhando para isso. Os apertões e empurrões eram cada vez
mais fortes e frequentes.
Juntando tudo, ele vai ter uns anos a mais na cadeia e ficará
um tempo bom preso. Foi preso em flagrante e eu ainda tinha dado
queixa dele antes. A ficha vai ficar ainda mais suja. Não sei qual o
milagre, que estou viva hoje. O que ele mais teve foi chances para
me matar ou me machucar gravemente. Às vezes me pergunto
seriamente o porquê de eu ter ficado com ele, aguentando esse
inferno por dois anos. Mas agora não mais.
Aliso minha barriga, boba, sabendo que são duas crianças.
Murilo depois me contou que tem gêmeos na sua família. Sua mãe
tem irmã gêmea. Falando em família, contamos sobre os gêmeos.
Todos, unânime, surtaram quando souberam. Murilo ficou se
gabando, claro, e tive que ouvir piadinhas sobre nossa vida sexual
ser bastante ativa, principalmente de Isis. Mas foi um bom final de
semana na casa dos meus pais.
Encontro Murilo na cozinha, servindo meu café. O homem é
um espetáculo de roupa social, não me canso de repetir. E o melhor
de tudo, meu futuro marido.
No caminho para o trabalho, faço uma checklist básica do
casamento. Muita coisa para resolver ainda. Inclusive meu vestido,
verei essa semana com minha mãe.
— As meninas estavam querendo fazer um chá de lingerie
pra mim — comento com Murilo no caminho.
— Chá de quê?
Vira para mim como se eu tivesse falado uma coisa de outro
mundo.
— Chá de lingerie. Isso foi ideia de Natasha, não sabe?
Melhor que chá de panela, né? Prefiro ganhar calcinhas, sutiãs e
camisolas bonitas, do que escorredor de arroz. Sem contar que já
temos a casa montada.
— Serão só vocês, né?
Me olha de soslaio e reviro os olhos. Imagine se fosse uma
festa imensa com homens e mulheres? Murilo é louco, às vezes.
— Claro! Lizandra que tá organizando. Eu só vou com
minha presença. Segundo elas, são presentes de madrinhas.
— Gostei desse chá aí.
Sorri safado, provavelmente imaginando coisas indecentes.
Reviro os olhos mais uma vez, sorrindo, também pensando em
safadezas.
À noite, após o trabalho, Murilo e eu fomos para a casa de
um amigo dele, o Christian, que está fazendo aniversário e nos
chamou. Luísa resolveu comemorar com algo rápido em cima da
hora. Fomos do trabalho mesmo, nem passamos em casa. Lá
estava toda a turma do dia do aniversário de Igor.
— Nunca pensei que Murilo fosse capaz de engravidar
alguém. Ainda mais gêmeos.
Zoam meu Moreno enquanto os outros gargalham depois de
termos contado sobre os bebês. Também não achei que
engravidaria de gêmeos, ainda mais numa rapidinha dentro do
carro. Eu ainda não me conformo que foi ali que engravidei.
— Sou foda, mané! — ele rebate cheio de ego e reviro os
olhos por dentro.
Homens não crescem mesmo.
— Vem, Alexia, daqui a pouco eles vão começar a abaixar o
nível pra quinta série e começar a apostar quem tem pau maior.
Luísa revira os olhos também, sorrindo, levantando e me
chamando.
— Aqui tem pastel? Quando estávamos no caminho senti
um cheiro maravilhoso vindo da barraca — comento com água na
boca só em lembrar.
— Para sua sorte, tem. Eu bem sei o que é desejo. Na
gravidez de Igor, eu já desejei comer sabão e terra.
Olho pra ela com estranheza. Deus me livre de ter uns
desejos desses. Prefiro ficar no meu pastel.
— Você comeu? — questiono, curiosa.
— Quase. Achei que estava ficando louca e Cris me
encontrou chorando.
Ela gargalha junto comigo. Histórias de gravidez são as
melhores, espero que não protagonize muitas loucuras.
Ela coloca para mim alguns pasteizinhos de carne e me dá
suco, já que estou evitando refrigerante. Para a minha satisfação,
logo matei o que estava me matando.

MURILO
Olhando Alexia gargalhar conversando com Luísa, sinto a
paz da vida de volta aos eixos. Custou para conseguirmos isso, mas
finalmente chegou. E ainda serei pai de gêmeos! Quem diria que iria
estrear logo com dois?
Minha Morena passou por muita coisa ultimamente. E por
isso, merece a melhor festa de casamento de todas. E estou cheio
de ideias para o dia. Uma surpresa especial para ela. Só preciso
planejar com cuidado para executar sem erros.
Chamo Christian para contar o que quero fazer.
— Vê isso pra mim, me passa o contato, pô.
— Oh, porra, eu sou Christian, mas não sou o Grey. Vou
tentar ver isso pra você.
Gargalho pela resposta dele.
— Tu tá lendo o livro, cara? — Cruzo os braços, colocando
pressão.
— Não te conto a missa metade, Murilo. — Ele nega com a
cabeça. — Luísa estava lendo aí, com um entusiasmo... Quis saber,
né? Aí ela leu em voz alta. O cara é gênio! — Gargalho alto.
— Ficou excitado pelo homem lá, cabaço? — Tiro sarro só
pra dar uma zoada.
— Lá ele, mas o cara tem olho cinza, pô. Nenhum gato que
eu já vi na vida tem olhos cinzas, e o filho da puta, além de
bilionário, é empresário e o caralho e decide querer comer a mulher
lá, virgem, universitária, sem perspectiva alguma de vida. E ela fica
no cu doce. Mas ele presenteia ela com coisas caras, age como se
ela fosse a única boceta no mundo, só pra conseguir foder com ela
amarrada, dando chicotada nas costas, suspensa numa corda. Que
escroto! Alexia nunca leu essa porra? — A indignação dele é motivo
de ainda mais risos. — Luísa ainda me fez assistir ao filme com ela
e eu aproveitei!
— Não. Não que eu saiba — divago, lembrando do dia que
ela amarrou meus braços.
Ela leu ou assistiu, certeza! Uma pena eu não ter recebido
essa informação antes.
— Mas vou ver esse lance pra você. Tenho um amigo que
trabalha nessa área, deve conhecer alguém.
— Fechou, então.
Bato nossos copos num brinde rápido. Alexia terá o
casamento que merece!

ALEXIA
Acordo de madrugada, encontrando Murilo acordado. Eu o
admiro deitado, sem camisa, com a mão embaixo da cabeça e a
outra na testa, olhando o teto, e observo aquela cena,
completamente apaixonada.
Parece uma pintura linda e erótica. Os cabelos bagunçados
e a cara de sono. Como pode ser tão lindo?
Eu tive alguns tipos de namorados, mas Murilo foi o mais
lindo e gostoso, com toda a certeza. Suspiro e ele me olha
arqueando as sobrancelhas, sorrindo do seu jeito maravilhoso, e
alisa minhas bochechas. Retribuo o sorriso e coço os olhos.
— Vamos levantar? — ele sussurra, ainda mexendo no meu
cabelo.
— Não — resmungo, enterrando minha cabeça de volta no
seu peito, e ele ri. — Tá cedo ainda, não?
— Um pouco, mas eu preciso chegar mais cedo hoje.
— De novo? — reclamo.
Murilo nessa última semana se enfiou numa escala nova de
trabalho muito doida. Ele me disse que é acúmulo de funções por
causa da nova função, e tá deixando tudo no lugar para o seu
substituto. Está treinando o substituto e trabalhando no novo setor
para o qual foi promovido.
— É. Vou tomar meu banho logo, pra não me atrasar. —
Levanta para começar o dia.
— Fica aqui comigo.
Eu tento segurá-lo para ficarmos mais um pouco, mas ele se
esquiva, rindo. Dou uma pequena cochilada, ainda morrendo de
sono, com a mão na minha barriga. Vou levantar para fazer café, pra
ele não tomar café sozinho uma hora dessas.
Saio dos meus devaneios com ele só de toalha puxando
meu pé. É a melhor visão do mundo. Gente! Gostoso até dizer
chega.
— Para de me olhar com essa cara de tarada. — O sorriso
sacana já está no rosto. — Você já tá grávida. — Gargalho.
Sacana! Ele saiu de toalha só para me atiçar e ficar rindo de
mim. Mas não vai ficar por isso mesmo.
— Tem certeza? — Arqueio a sobrancelha e passo o meu
pé por cima da toalha, desprendendo-a. Ele agarra meu pé num
reflexo e deixa a toalha cair. Olho no rosto dele, mordendo os lábios.
— Não se pode negar nada pra mim, senão vai ficar de terçol.
É a vez de ele gargalhar mais uma vez e o puxo pelo pé
para cima de mim. Adoro esse cheiro que o sabonete deixa nele.
Dou uma pequena mordida no seu ombro, beijando e logo em
seguida vendo-o se arrepiar. Se for para sentir o gosto do sabão
assim, faço sempre sem me importar. Aliso suas bochechas.
Despretensiosamente desço as mãos pela sua bunda malhada,
dedilhando com os dedos.
Sorri sacana e me imobiliza com as duas mãos para cima,
colando nossas bocas. Estou sedenta.
— Estou adorando você assim.
MURILO
Subo para meu andar com um grande copo de café da
cafeteria no meio do caminho. São seis e meia da manhã agora e
vim para o trabalho mais cedo, deixando Alie dormindo. Ela quis
tomar café comigo, mas sei que ela precisa dessas horas de sono
para trabalhar direito. Não tem ninguém no prédio, praticamente. Só
o segurança que sequer deve ter trocado o turno ainda.
Quando eu acho que tudo vai fluir, aparece um problema no
meio, ultimamente as coisas não estão como deveriam estar. Só
acumulo preocupações numa época em que eu deveria estar
curtindo tudo. Principalmente nossos bebês. Mal posso esperar
para ver como será essa junção de nós dois. Se vierem com os
traços dela, serão as coisas mais lindas do mundo.
Ligo o computador e sento na cadeira, fitando a nossa foto.
A do dia do kart é a minha preferida, além daquela na Ponte Golden
Gate, logo depois do pedido. Não sei o que reluz mais, o sorriso
dela ou a pedrinha do anel.
Pego o segundo porta-retrato para observá-la. Alexia é a
mulher da minha vida, sem dúvida. Esse último problema está
tirando o meu sono de uma forma insuportável e sequer posso
transparecer isso para Alie, já que está gravida e precisa de paz.
Nada está saindo como eu planejei para nós. Tudo parece
estar fora do lugar. Tudo desandou. Estou muito frustrado!
Eu fico praticamente vinte e quatro horas por dia em cima de
planilhas, reuniões e conferências.
Nossa semana está toda desorganizada, nossos horários
não estão batendo, nem todos os dias eu consigo chegar para jantar
com ela. E sei que ela está frustrada com tudo isso, mesmo
relevando.
Minha vida está um verdadeiro embaralho. É tanta coisa na
minha mente para resolver, de trabalho e casamento, que eu
simplesmente estou uma pilha de nervos. Mas espero que acabe
logo de uma vez, antes que tudo piore.
ALEXIA
Sento na cadeira para jantar. O que era para ser uma
semana de escala nova, está durando quase um mês, ele está
numa rotina pesada de trabalhos. E sem previsão de normalizar.
Jantamos quietos, porém minha mente não quer descanso, tentando
decifrar o porquê de ele estar tão aéreo.
— Estava pensando em escolher a cor branca pro enxoval.
O que acha? — comento, colocando meu prato na pia. Murilo fita o
prato, ainda calado. E olhe que Murilo sempre foi bem-humorado e
hoje está com palavras breves, sequer o reconheço.
Pior que a escala doida é Murilo se afastando a cada dia e
sequer faz questão de estar comigo, pois quando chega em casa,
janta e vai trabalhar mais um pouco. Mesmo saindo mais cedo e
voltando tarde. Moreno ultimamente vive aéreo. E também tem algo
que questionei a mim mesma que, se for ver, eu não sei nem o que
sentir.
— Murilo! — chamo sua atenção. — Não está me ouvindo,
né?
— Desculpa. Acho que ficaria legal.
Tento relevar, mas tá cada dia mais difícil.
— Você nem ouviu o que falei — resmungo, chateada, me
sentindo ignorada.
Não faço a mínima ideia do que está se passando com ele,
pois não me conta nada. Sei que tem algo além do trabalho o
preocupando, mas ele finge que não é nada. Quero dar espaço, não
ficar marcando em cima, mas eu não consigo fingir que está normal.
— Estava apenas pensando em outras coisas, desculpa.
— Conta pra mim o que tá acontecendo.
— Não tá acontecendo nada, Morena — se esquiva mais
uma vez.
Vou para o quarto para não acabarmos brigando. Me jogo
na cama e fito o teto, ainda pensando em que porra está
acontecendo com esse homem, afinal de contas.
O sono aparece e acabo me virando para dormir, sem
esperar por ele. Sei que ele não vem dormir agora mesmo. Mas,
então, sinto seu corpo me abraçar por trás, beijando e deixando um
beijo no meu ombro e suspirando baixo.
— Murilo, responde uma coisa pra mim?
— Diga. — Sua voz rouca no meu ouvido é tão gostosa,
apesar de tudo.
— Por que eu tenho a impressão que você não tá feliz por
serem gêmeos? — questiono o que vem me incomodando desde
que saímos da consulta aquele dia. — Você mudou completamente
depois que descobrimos que vem dois bebês.
Murilo me vira de frente, alisando o meu rosto, mas é o seu
que demonstra abatimento e cansaço, com olheiras enormes da sua
rotina louca. Me sinto impotente por não conseguir ajudá-lo mais,
porque ele simplesmente não me conta as coisas, nem como está o
trabalho e nem nada. Ele praticamente fez voto de silêncio.
— Jamais, Alexia. Eu Estou muito feliz; melhor que ter um,
só dois filhos com você. Só Estou preocupado com umas coisas,
mesmo, é normal.
— Eu Estou morrendo de medo. Tem algo te preocupando?
Pode falar comigo, Moreno. — Aliso sua bochecha.
— Nada. Deixe que eu resolvo tudo. Amanhã te levo pra
jantar, prometo.
Ele tenta me tranquilizar, mas só confirma que tem sim algo
tirando seu sono. Só preciso descobrir o que é.
33
ALEXIA
Sentada no sofá, alisando minha barriga, vejo Murilo chegar
do trabalho. Minha barriga está grande para quatro meses e meio.
Na próxima consulta, semana que vem, descubro os sexos. Mal
posso esperar para escolher os nomes, comprar as coisinhas.
Tenho algumas sugestões, mas não cheguei a falar com Murilo
sobre isso, pois ele nunca tem tempo, como sempre.
São exatamente onze da noite e ele está chegando agora.
Detalhe, mais uma vez marcou comigo para jantar, como na semana
passada, que não pudemos fazer isso, já que ele ficou para uma
conferência quase no final do seu expediente. Até disse que não
precisaríamos sair, mas ainda assim quis fazer com que vivêssemos
em paz, resgatar os momentos em casa, mesmo com ele empilhado
de trabalhos.
Me animei, dei mais um voto de confiança, cheguei do
trabalho, cozinhei e saiu bom, fiquei super orgulhosa de mim
mesma, e ele sequer chegou para jantar a tempo. Estou desde às
sete esperando, com mesa arrumada, até não aguentar mais e
jantar sozinha e frustrada depois que ele mandou mensagem
dizendo que não chegaria a tempo.
Fiquei parecendo uma idiota, cheia de esperança,
conferindo as horas no celular para ver se ele daria sinal de vida.
Quem fica em reunião até essa hora? Quem? Nem os donos da
empresa que são os maiores interessados!
Para ser sincera, estou de saco cheio. Não só dele
desmarcar comigo duas vezes e me deixar esperando, mas pela
situação toda. Não tenho mais Murilo do meu lado justamente
agora, na gravidez, onde eu mais queria que ele ficasse comigo.
Tentei ser parceira esse tempo todo, relevar, perguntar, oferecer
ajuda, mas ele sempre me dá uma resposta automática: “não
precisa se preocupar”. Toda vez que pergunto se é algum problema
na empresa ou se precisa de ajuda ele me responde isso. Sempre!
E isso está me irritando profundamente.
Ele respira reuniões e não importa a hora, sempre alguém
do trabalho está ligando. Ele tenta mostrar que está tudo bem, mas
sei que não está. Tem alguma coisa no meio. Nada mais perceptivel
que uma pessoa com uma mente turbulenta tentando ficar quieta.
E Murilo sempre foi transparente.
Achei que subindo de cargo e sendo acionista agora,
mesmo que com pouquíssima porcentagem, as coisas melhorariam
e teríamos uma qualidade de vida melhor, mas pelo jeito me
enganei. É só estresse!
— Desculpa, Morena. Precisei revisar uns documentos
urgentes pra amanhã de manhã.
— Uhum — não vai adiantar discutir, afinal de contas.
Todo dia, quando eu acordo, ele já saiu ou está saindo. E
quando chega, tenta amenizar pedindo desculpas, mas no dia
seguinte faz igual. Não quero saber de desculpas mais!
Ele se aproxima para me beijar e eu sequer saio do lugar,
não recuso, mas também não recebo de bom humor. Ele beija uma
mulher fria. Alisa minha barriga, como sempre faz, e suspira,
jogando o paletó no sofá.
Ele me fita com olheiras enormes. Ele percebeu meu
afastamento agora. E sabe que é com razão.
— Estou ausente, eu sei, e Estou tentando administrar isso,
eu vou te recompensar, tudo bem?
— Não precisa recompensar, Murilo, é só me dizer o porquê
de tudo isso que eu posso entender melhor, pois no momento Estou
te achando um egoísta em pensar só no seu trabalho. Já não é
acúmulo de funções há muito tempo, não subestime minha
inteligência.
Ele suspira, passando a mão nos cabelos, mostrando
inquietação. Claramente tem algo o incomodando, mas o que me
irrita é que ele não divide. Murilo é lindo, romântico e o que for, mas
um dos defeitos mais graves dele é essa dificuldade de dizer
abertamente sobre seus problemas para mim, como se eu fosse
feita de açúcar. E eu odeio essa barreira.
— Não é nada. Nada que você tenha que se preocupar. Tem
consulta essa semana? Eu vou com você.
Tá vendo aí a resposta automática? “Nada que você tenha
que se preocupar”. Ah, vai se ferrar, Murilo!
— Só final do mês, se achar tempo você vai comigo. Tem
comida na mesa, eu que cozinhei. Esquenta.
Resignada, levanto disposta a dormir. Estou esgotada dessa
situação. Deito sozinha na minha maldita solidão, mas não consigo
pegar no sono e começo a pensar teorias loucas para tentar
entender o giro que minha vida tem dado nesses últimos tempos.
Uma hora eu estou insatisfeita e infeliz com meu relacionamento,
outra hora estou amando uma pessoa com quem estou prestes a
me casar.
Talvez nosso maior erro tenha sido ir rápido demais. Pensar
que a fase ruim nunca ia chegar e que íamos ficar naquele amor
para todo o sempre. Talvez essa ideia de casamento seja
precipitada demais. Tantos talvez…
Murilo seria capaz de me trair? Ou ele está começando a
pensar que se arrependeu de me pedir em casamento? Que foi
tomado pelo calor do momento dos nossos pontos altos? Pensou
direito e viu que não eram os planos para ele no momento... Ou até
mesmo não está satisfeito em ser pai, embora sempre me pergunte
se estou me sentindo bem e se quero algo. Não sei!
Esse afastamento tem que tem um motivo plausível!
Está com uma mania horrível de workaholic. Sai mais cedo
para trabalhar na maior da semana, chega mais tarde e quando
chega no horário, trabalha até de madrugada. Dorme muito pouco.
Todas as minhas inseguranças vieram à tona. Estou com medo do
casamento e da gravidez e com ele fazendo isso eu fico ainda com
mais medo de casar e essa ser minha vida em definitivo. Eu não
quero casar nem viver com este Murilo, eu quero que meu futuro
marido seja o Moreno risonho que eu conheci e por quem me
apaixonei, não esse com quem fico cada dia mais desapontada.

MURILO
Frustrado com essa merda de situação, sigo para a cozinha
encontrando uma mesa posta pela metade, com um dos pratos sujo.
Ela cozinhou para nós e eu sequer consegui chegar a tempo
para prestigiá-la. Apesar da nossa rotina doida, ainda assim ela
tenta trazer a normalidade que tínhamos. Sinto um aperto no
coração. Não vejo a hora disso acabar!
Nossa vida agora é nos desentendermos. Discutimos por
praticamente tudo!
Essa merda desandou de vez! Achei que isso acabaria na
segunda semana, mas está se estendendo mais que eu previa e me
causando uma dor de cabeça imensurável. E o foda é que ou é isso,
ou é pior. Mas isso vai acabar no final desse mês, precisa acabar.
Ainda preciso resolver a surpresa do casamento, que empacou.
Eu estou cansado, tudo que eu queria era abraçá-la e beijá-
la. Isso ajudaria e muito, sem brigas ou coisa do tipo. Eu já falei para
ela não se preocupar, mas Alexia não sossega.
Janto sozinho, com um turbilhão na cabeça, pensando em
como resolver a situação. Achei que conseguiria dar conta, mas
estou vendo que deixo Alexia em falta. Mas é para um bem maior,
apesar de tudo. Isso está acabando comigo.

ALEXIA
Colocando o orgulho à parte, sem conseguir pegar no sono
e parar de pensar em teorias loucas, decido levantar da cama e vou
para a sala disposta a chamá-lo. Quero tentar resgatar algo dessa
semana conturbada. Quem sabe conversando de forma amena algo
se esclarece?
E eu também estou morrendo de saudades, carência, na
verdade. Gravidez e carência misturados são um veneno horrível.
Tudo é motivo para chorar.
— Murilo! — o chamo baixo e o encontro com a cara no
notebook. — Murilo! — chamo de novo e ele me olha.
— Pensei que já tivesse pego no sono.
— Tentei, mas não consegui. Vem pra cama, tá aí desde o
jantar e vai acordar cedo amanhã.
— Já vou, só preciso terminar de carregar o documento.
— Custa largar isso um pouco? — Cruzo os braços. —
Chegou tarde, mal nos falamos e uma hora dessas ainda tá
trabalhando. Dá um tempo desse notebook, caramba!
— Eu já vou, Alie, justamente Estou mandando esse arquivo
hoje pra tomar café com você amanhã.
Ele se vira de novo para o notebook e eu continuo o
observando focado na tela. Amargurada com essa recusa dele,
sabendo que ele não vai sair dali tão cedo, eu volto em direção ao
quarto. Eu estou simplesmente cansada dessa frieza. Saco cheio,
para falar a verdade!
Que merda de vida! Cansada! Essa crise antes do
casamento é uma merda!

Acordo pela manhã com Murilo deitado na cama, alisando


meu braço, com semblante sério, pensativo. O ignoro, levantando,
confusa e surpresa por ele ainda estar na cama.
No final dessa semana eu viajo para a casa de meus pais.
Será aniversário de casamento deles, vamos e passaremos o final
de semana com eles. Eu, ao menos, vou. Murilo eu já não sei.
Ele segura meu braço com delicadeza, fazendo com que eu
pare, e viro para trás, encontrando-o sério, com aquela carinha de
cachorro carente. Maldito!
— Eu preciso tomar banho.
Tento fazer com que ele me solte, contorcendo o pulso e ele
levanta, soltando meu pulso, mas me segurando pelas costas. Evito
contato visual. Ainda estou magoada.
— Alie, não me ignora, por favor — me pede e eu finjo que
não ouvi.
Mas a cara de pau dele faz com que eu abra a boca.
— A moeda tem dois lados, Murilo. Se você me abrir o jogo,
a gente se resolve.
Séria, tento me esquivar novamente, mas ele não me deixa
sair, me segurando com delicadeza. Eu simplesmente amo o cheiro
dele. Saudades de ficar cheirando o seu pescoço para sentir esse
aroma maravilhoso. Porque nem intimidade o suficiente para isso
nós estamos tendo.
Tento disfarçar como se fosse corriqueiro — apesar de ser
mesmo —, mas continuo me sentindo afetada.
— Alexia…
— Não vamos brigar de novo agora de manhã. Estou
esgotada!
— Para de me tratar com frieza, poxa!
Ele ainda acha que tem o direito de exigir algo?
— Se você não me ignorasse… Sequer faz questão de ficar
comigo. Vive com a cara nesse notebook e cheio de problemas.
— Não esquenta com isso, Alie, já falei mil vezes pra não te
fazer mal. Cuide dos nossos bebês e deixe que o resto eu resolvo
sozinho.
Reviro os olhos, impaciente. Só sabe pôr panos quentes em
cima. Quanto mais ele diz isso, mais preocupada eu fico.
— Você só sabe falar isso. Eu quero saber, Murilo, o motivo
de tanto afastamento e trabalhos dobrados!
— Isso já vai acabar, prometo. Falta muito pouco. — Cola
sua testa na minha e eu suspiro, trêmula, por estar carente demais
de qualquer contato físico que não seja um abraço de cumprimento.
— Você me falou isso quando tudo começou, Murilo! E eu
Estou cansada de bancar a compreensiva. Final do mês é
aniversário de casamento dos meus pais, nem sei se você vai
comigo. Olha que merda tá tudo isso! E eu sequer sei por que essa
mudança drástica!
Explodo para ver se ele acorda de uma vez por todas e para
de fazer mistério. O que ele tanto faz no trabalho que chega a hora
que chega e ainda sobra para fazer em casa? Nem eu nas
temporadas de final de ano, onde todos querem propaganda e card
de natal e ano novo, trabalhava tanto. E olhe que eu trabalho com
cinco empresas na parte de criação, onde, se eu atrasar meu
serviço, os outros setores atrasam também. E nem por isso eu fico
nessa maratona louca a ponto de esquecer todos à minha volta.
Estou trabalhando feito condenada, já que mês que vem é
mês natalino. Mas quando chego em casa, eu só quero descansar,
por mais trabalho que eu tenha no dia seguinte. O dia é
desgastante, não vejo por que continuar na maratona em casa.
Ele alisa minha barriga. Assinto indicando que desejo voltar
à normalidade. Sinto saudade do Murilo bem-humorado e alegre
que ele deixou de ser. Murilo está apático, vive no mundo da lua e
não sei mais o que fazer.
Sua mão vai para meu pescoço, trazendo meu rosto para
mais perto do seu, e me beija. Seguro nos seus cabelos com meu
maldito coração bobo, aceitando sua língua dentro da minha boca. E
ele me abraça com cuidado, aprofundando.
Ele levanta a mão e alisa minha bochecha. Absorvo o
carinho, fechando os olhos e suspirando. Não poderia ser sempre
assim? Pode ser coisa da minha cabeça, mas estou estranhando o
beijo, ele não está beijando como costuma. Parece louco isso, mas
é o que eu estou achando. Esse não é o beijo dele nem aqui nem na
China! Ele parece que está em qualquer lugar, menos aqui. Murilo
beija com cabeça e corpo, aqui está metade apenas.
Separo minha boca da sua no mesmo momento e o olho,
séria. Murilo expira o ar dos pulmões, frustrado, passando a mão
nos cabelos, me olhando e me soltando completamente.
Não digo nada, apenas dou as costas, disposta a tomar
banho e ir trabalhar. Não vou transar com ele, sabendo que não está
com o pensamento aqui, se doando pela metade.
Estou tão instável que sinto vontade de chorar. Murilo,
quando quer ser babaca, ninguém supera.
Saio para a cozinha já pronta, com a bolsa na mão para
colocar lá na sala. Quanto menos andar, melhor. Apareço no
cômodo e não o vejo. Deduzo que já foi. Entretanto, quando pego
um copo de suco para beber, vejo ele com o terno costumeiro, e seu
perfume logo exala. Oh, droga!
— Posso te buscar pra almoçar?
— Não prometa o que não vai cumprir — desanimada, sem
querer me iludir, faço pouco caso.
— Eu Estou tentando, Alie — exaspera-se, passando as
mãos na barba.
— Aham. Vou nem dizer nada pra não brigarmos. Quando
estiver em frente à agência, tendo a certeza que não vai precisar
voltar correndo pra reuniões, você me liga pra descer.
Pego as chaves do meu carro, que estou usando com
frequência. Quando chegar lá, tomo café direito. Na padaria lá perto
tem salada de frutas e sucos frescos.
— Espera que te levo. — Segura na minha mão.
— Não quero.
— Deixa-me fazer do meu jeito, por favor.
— Eu só queria entender, Murilo... — exasperada, fito seus
olhos castanhos.
— Prometo que tudo isso vai acabar, e logo.
Alisa minhas bochechas. Não retruco, apenas dou mais uma
golada no meu suco, dando o assunto por encerrado.
— Vai pro inferno, Murilo! — grito com ele, que em seguida
bate à porta de casa, saindo resmungando. Idiota! Murilo é um
idiota!
Ele está cada dia mais insuportável. E eu estou cada dia
mais instável, não sei se são meus hormônios ou ele que não
colabora. Na verdade, são as duas coisas.
E o resultado disso é que nós estamos mais distantes e
frios. E tudo começou justamente com esse afastamento dele!
E no começo da semana até estava melhorando. Em dois
dias me buscou para almoçar, estava cheio de chamego, voltando a
ser o Murilo de antes, mas durou pouco. Ele ainda está no ritmo de
trabalho e parece que não vai parar nunca. E não é do trabalho mais
não, é dele mesmo a coisa de não querer parar. Murilo, que não
gostava de rotina, virou um viciado em trabalho.
Decidiu que iríamos jantar hoje para compensar o dia que
cozinhei e ele não apareceu a tempo. Fiquei receosa, mas como
sempre, decidi dar uma chance. Me arrumei às sete horas para
esperá-lo. Deu oito, eu liguei e não atendeu, deu nove e caiu na
caixa postal. Às dez da noite eu me desarrumei ainda mais frustrada
e chateada, e ele chega com a mesma desculpa, tentando pôr
panos quentes: “fiquei em reunião e não puder avisar porque fiquei
sem bateria”. Disse que mandou uma mensagem para mim, mas
não recebi nada.
Não saí de um relacionamento bosta para entrar em outro.
Já relevei demais tentando entender. Ele desmarcava e se
desculpava, eu aceitava, oferecia ajuda, sempre disposta a ouvi-lo,
acordava um pouco mais cedo para ele não tomar café sozinho
quando ele avisava que precisava chegar antes do horário normal, e
deixava sua roupa social separada, mesmo que ele não quisesse
que eu passasse. Mas ultimamente eu estou sem saco. Cansei
dessa situação! Cansei!
E por isso não relevei essa última bola fora dele. Me fazer
esperar quase três horas para no final vir com a mesma desculpa?
Não! Dessa vez não e não me acho egoísta em não relevar.
Que ele ficasse até tarde trabalhando, não ligaria, como não
estava ligando no começo disso. Mas que me incluísse no
problema, me explicasse e não me deixasse de lado, me desse um
motivo, eu seria capaz de entender!
Para ele já não basta mais trabalhar até tarde; quando
voltamos para casa ele se enfia no notebook e não deita para dormir
comigo. Praticamente esquece do mundo! Sempre acabo dormindo
antes que ele, o esperando sair do maldito notebook. Que vida é
essa?
Estamos quase dois estranhos morando na mesma casa.
Nossa rotina mudou totalmente. Sequer temos uma rotina
compartilhada. Estamos vivendo individualmente. Estou me sentindo
muito insegura e impotente diante dessa situação de bosta.
A briga de agora foi por causa de ciúmes da minha parte,
somada à sua bola fora do jantar. Não questionei se ele estava me
traindo, não com essas palavras, apenas queria saber se por algum
acaso ele estava conhecendo alguém ou não estava mais gostando
de mim.
Queria saber onde mora o problema, afinal, para mudar tudo
tão drasticamente, já que prefere trabalhar a estar comigo. Toda vez
que pergunto ele nega ou fica calado querendo me enrolar. Mas
preciso saber, não é?
Como dizem, gato escaldado tem medo de água fria.
Apesar do medo de ele desistir do casamento e da relação
não dar mais certo, e de amá-lo muito, eu preciso saber, não posso
ficar na ingenuidade, tapando meus olhos. Eu preciso de
estabilidade, dentro de mim agora habitam duas crianças. Estou me
sentindo a pior das pessoas com esse nosso relacionamento
briguento, sem sincronia. Estou numa ebulição ridícula e sequer
posso contar com Murilo mais.
Isso tudo é uma merda. E quando penso que terei apoio,
Murilo simplesmente vira workaholic. Logo ele que sempre disse
odiar rotina e monotonia. Ah, vai se ferrar!
Vontade de jogar tudo pra cima. Ainda mais sem ninguém
para desabafar minhas frustrações. Por mais que eu precise
desabafar, não quero envolver as meninas nos meus problemas.
Elas têm os próprios problemas para se preocuparem.
Olho no relógio e já são onze e quarenta da noite. Não vou
esperar por ele, Murilo tem a chave e não vou mais ficar me
preocupando. Vou fazer de conta que ele não chegou do trabalho.
Deito na cama sozinha mais uma vez. Ele desconversa
quando cobro uma explicação, mas como não me preocupar, vendo
tudo isso desabar sobre nós?
Já dei espaço e esse espaço só serviu para nos afastar
ainda mais.
Acabei pegando no sono me sentindo péssima, alisando
meus bebês. Mas não durou muito. Acordei logo em seguida,
morrendo de sede. Checo no relógio e vejo que são quase meia-
noite e dez e o outro lado da cama ainda está intacto. Ou ele não
voltou ainda, ou não quis dormir aqui.
Me recuso a ficar preocupada com a primeira hipótese. Saio
do quarto em direção à cozinha, trôpega de sono. Olho de relance
na sala e vejo ele sentado no sofá com a cabeça no recosto, os
braços apoiados atrás, pensativo, no escuro.
Eu estou tão chateada quanto ele com essa briga. Mas se
ele não me fala, não tenho como adivinhar.
Encho meu copo de água e, enquanto bebo, vejo pela visão
periférica que ele me observa. Sigo para o quarto com o copo na
mão e o coloco perto da cama, para o caso de sentir sede
novamente. Não quero voltar lá. Passo no banheiro, pois a bexiga
está estourando. Ter duas crianças aqui dentro triplicou minha
vontade de fazer xixi.
Deito na cama e me enrolo, querendo que o sono venha e
eu pare de pensar. Preciso descansar. Sinto seu corpo atrás do
meu, como ele sempre faz. O abraço, como sempre, é bom, mas
estou tão chateada que me esquivo, não quero contato algum.
— Isso vai acabar logo, prometo. Te amo, nunca esqueça
disso.
Ele fala baixinho. Não respondo, pois estou ocupada demais
fingindo que estou dormindo.

Acordo sozinha de novo. Levanto e faço minha rotina


calmamente. Amanhã é aniversário de casamento dos meus pais,
eu iria com Murilo amanhã, mas vou hoje, decidi adiantar a ida. Não
estou a fim de mais uma noite estressante. Se ele quiser ir, que vá,
o que eu acho difícil. Não vou esperá-lo. Se eu ficar aqui a gente vai
discutir mais uma vez. Estou com os pés doendo e as costas
também. Parece que estou no nono mês já. Nossa senhora!
O encontro tomando café na xícara, em pé, recostado na
bancada. E tem uma xícara posta na bancada, com cappuccino.
Faço média ao olhar para ele e ele tira a xícara da boca.
— Fiz pra você, não coloquei canela.
— Obrigada. — Puxo a xícara, parando bem perto dele. Eu
simplesmente amo o cheiro de Murilo.
Saudades de ficar cheirando o seu pescoço para sentir esse
aroma maravilhoso.
Provavelmente iremos passar esse final de semana
separados, mas fazer o quê? Já estamos mesmo, de qualquer
forma. Precisamos desse espaço para colocar a cabeça no lugar,
dar um ponto final nisso tudo, seja lá que tipo de ponto final, mas a
partir de segunda-feira eu não quero mais viver dessa forma.
Quando voltar, colocaremos tudo em pratos limpos ou
arrumo as malas, quem sabe. Nem estou a fim mais de comemorar
nada. Só vou porque prometi e eles se empolgaram com minha
possível presença, já que só vou nessa época.
— Desculpa, Morena, não estar sendo o homem que
espera, por estar agindo de forma babaca.
Seguro a vontade de revirar os olhos, bebericando meu
cappuccino, pescando uma torrada do pires.
— Não se desculpe, apenas pare de ser — respondo rude,
de boca cheia.
— Alexia, por favor.
— Não quero brigar, por favor. Isso é desgastante. —
Engulo a torrada e chego na metade da xícara.
— Já falei, não tem necessidade de se preocupar à toa —
com a voz mais amena, ele quebra o silêncio.
— Murilo, eu sei que você mudou completamente. É um
fato. Mas não vou mais perder meu sono por isso.
Mordo mais um pedaço de torrada, sem querer brigar.
— Eu sou assim!
Murilo passa as mãos no cabelo e na barba logo em
seguida, em gesto de impaciência. Eu sei que ele está fugindo do
assunto. Eu o conheço o suficiente para não me enganar.
— Não é, ou você mentiu quando a gente se conheceu. Não
sei se quero casar assim, Murilo. Você tá me escondendo algo, você
mudou drasticamente, não vê? Eu Estou de saco cheio de tudo isso
e de você me deixar de fora. Não sei se quero casar pra ficar
sempre brigando.
Exaspero, tomando o resto da minha xícara. Estou cansada
e o dia mal começou. O olhar dele não tem raiva. Tem nervosismo,
inquietação, frustração e algo a mais. Por que ele não me conta
logo? Que merda é tão grave que tanto atormenta ele?
— Não foi esse Murilo que eu conheci, não foi esse por
quem eu me apaixonei nem aceitei casamento. E não é com esse
que eu quero casar, essa versão de um Murilo apático e que me
esconde coisas. Eu te pedi parceria no mesmo dia que aceitei o
pedido e não Estou vendo isso. Quando você resolver qual Murilo
você é, nós decidimos nosso futuro. E não é esse que eu quero
como marido. Caso você decida não resgatar o homem que eu
fiquei feliz em ser o pai dos meus bebês, acabamos aqui — dou um
basta.
— O que quer dizer com isso?
— Que Estou com vontade de dar na sua cara, Murilo!
Apenas isso! E vou deixar você decidir sobre nosso futuro daqui em
diante. Conduza como achar melhor, Estou te dando sinal verde pra
qualquer coisa, não é isso que você queria, que eu deixasse você
resolver sozinho? Estou seguindo seu conselho, eu lavo as minhas
mãos! Parei aqui
Sigo para a sala pronta para o trabalho e ele vem atrás, me
chamando, mas não dou ouvidos. Pego minha bolsa e a sacola com
minhas roupas para passar o final de semana na casa de meus
pais.
Antes de girar a chave na ignição, a barreira do choro é
quebrada, caindo as primeiras lágrimas. Tento me controlar para
dirigir, mas não consigo. Limpo os olhos umas duas vezes e as
lágrimas insistem em cair. Estou muito sensível ultimamente e eu
odeio isso.
Me debruço no volante e deixo as lágrimas rolarem como
elas querem.
Parece que meu “felizes para sempre” não vai chegar
nunca, toda hora uma barreira ainda maior impede isso. Não avisei
que estava indo, mas ele sabia que eu iria. E se não sabia,
provavelmente deduziu ao ver a bolsa. Que se dane! Ele sabe o
endereço!
34
ALEXIA
Uma música animada toca na rádio, como companhia, me
fazendo cantar baixinho.
Doida para ver todo mundo, mortinha de saudades. Doida
para abraçar meus pais. Trinta anos juntos. É boda de que mesmo?
Não sei! Só sei que darei de presente uma miniviagem para uma
praia próxima. James me deu a dica.
Quase oito da noite, consigo entrar no bairro. A BR estava
pela misericórdia. Parei em frente à casa em que vivi tantos anos.
Continua como eu me lembro da última vez. Branca, de um andar e
varanda, cercada por muros no pátio espaçoso.
Desço a janela do carro e grito pela minha mãe, que logo
aparece com meu irmão atrás. Abro um sorriso verdadeiro de
felicidade ao vê-los. Aponto para o portão para abrirem e passo com
o carro. James abre, e com o carro dentro, pulo do carro para
abraçá-los.
— Vem, vamos entrar logo — minha mãe me chama,
empolgada pela minha visita, e me põe para dentro com James, que
pega minhas coisas.
Conversando, entro em casa, seguindo para a cozinha,
encontrando Isis amassando algo no prato para meu sobrinho, que
está no chão brincando com Helena, que corre para me abraçar.
Adoro esse toquinho de gente.
— Pensei que viria amanhã de manhã. — Isis vem me
abraçar.
— Adiantei a vinda.
— Ah! Cadê Murilo? Ficou preso no trabalho?
— Digamos que ele preferiu.
Ela me analisa, assimilando minha reação. Dou de ombros
sem querer entrar nas minhas lamúrias. Até isso cansa. Meu pai
chega e fica feliz em me ver, e também estranhou a ausência de
Murilo. Dei a resposta automática e não me prolonguei no assunto.
Jantamos juntos num clima legal de família. Comi feito
condenada, porque comida de mãe é muito boa.
— Mãe, diz que a senhora fez pudim! — exclamo,
esperançosa. Ela assente com um sorriso e eu abro outro maior
ainda.
— Eu te conheço o suficiente pra saber que você ia me
cobrar isso.
— Por isso que amo a senhora.
— Sei. Você é interesseira, isso sim. — Ri da minha cara e
eu me contagio.
— Seus netos que querem.
Aponto para minha barriga e ela sorri.
— São dois mesmo, Alie? Estão bem?
James, carregando Levi para sair da mesa, faz graça
passando a mão na minha barriga.
— Claro, né, James? Olha o tamanho dessa barriga. E
estão bem.
Tomando pudim, sigo para a varanda com Isis.
— Por Murilo não vir e pelo seu estado, presumo que as
coisas não estejam bem.
Faço uma careta, mais pelo meu pé doendo. Ela me
conhece como ninguém.
— Nós não estamos muito bem. Na verdade, estamos
péssimos. Isso se ainda estivermos. — Faço o levantamento da
minha situação, passando a mão na minha barriga.
— Conta do início.
Arqueio uma das sobrancelhas e ela faz o mesmo. Contei
tudo. Desde quando nós começamos a nos afastar, até ontem à
noite.
— Homem é um bicho que só Jesus, ingênuo ou burro
mesmo, em achar que consegue fazer qualquer coisa escondido. A
gente tem vontade de matar, mas não vivemos sem, praticamente
um fardo que de vez em quando é recompensador. Eu não acredito
que tenha outra pessoa no meio, seria muito cretino da parte dele.
Acredito que é fase, vocês vão superar, mesmo estando essa
bagunça. Eu e James passamos por cada crise...
— Tomara. Se ele falasse abertamente seria tudo mais fácil.
Tudo! — suspiro, cansada.
— Não se consuma, às vezes o medo de você ser
enganada pode fazer você sufocar o outro sem nem perceber, Alie.
Deixa-o resolver o que seja, você já não deixou pra ele resolver?
Espera!
Aceno, aceitando aquele conselho. Conversamos sobre
coisas aleatórias para não ficar só no meu problema, inclusive sobre
o natal que está se aproximando. Falando nisso, os pais de Murilo
até lá já estarão aqui, de mudança definitiva.
E falando em Murilo, não deixo de vagar meus pensamentos
para lá, onde ele está sozinho, assim espero, sabendo que tudo
depende dele. Que nosso futuro está nas suas mãos. Eu só queria
que tudo voltasse aos eixos, mas só vou saber qual será nosso
destino depois desse final de semana.

O dia amanheceu e foi bem monótono. Eu estava numa


apatia chata que demorei até para descer, só fiz isso para comer,
por causa dos bebês que precisam ser alimentados. Ignorei
algumas ligações e áudios de Murilo. Se quando eu quis que falasse
comigo ele não quis, não tem por que eu atender o telefone. Apenas
enviei uma mensagem dizendo que os bebês estavam bem.
À tarde, aproveitei o cansaço natural para subir e descansar
um pouco. Chequei o celular e não achei mais ligações nem
mensagens novas de Murilo. Talvez ele tenha desistido de consertar
a bagunça que sequer sei por que começou.
Choramingo um pouco ao pensar nisso, mas decido me
manter firme. Se essa for a escolha dele, não vou pedir pra ficar, de
verdade. Chega de tentar fazer as pessoas ficarem do meu lado, no
final a única machucada sou eu. A partir do momento que isso
acontece, é porque já se foi há muito tempo.
Se ele não me ama, eu me amo o suficiente para mandá-lo
embora. Ele continuará a ser pai dos meus bebês, continuará a
fazer parte dos momentos mais marcantes da minha vida, mas
simplesmente não posso implorar para que fique.
— Tia!
Me dou conta que adormeci quando Helena chega pulando
do meu lado na cama, me assustando.
— Diga — ainda de olhos fechados, respondo.
— O tio Murilo chegou!
— Ahn?
Zonza, abro os olhos num rompante, sentindo uma fraqueza
no corpo ao escutar isso.
— Tio Murilo, tia, tá aqui embaixo — repete, ainda me
olhando.
Ainda meio desorientada, levanto da cama. Escutamos Ísis
gritar lá de baixo e Helena sai correndo como entrou,
provavelmente. Passo a mão nos cabelos, levantando da cama e
tentando acordar de verdade e assimilar direito o que ela falou, para
descer. Mas nem deu tempo, pois Murilo em carne e osso aparece
aqui na porta, com as mãos no bolso e semblante cansado e sério.
— Não quero brigar mais uma vez. — Bocejo, coçando os
olhos.
Coloco meus cabelos atrás da orelha vendo-o chegar mais
perto.
— Não vim brigar. Sabe que não consigo ficar longe.
Fala de forma suave. Diria até receosa, e meu coração,
bobo, acelera.
— Como estão nossos bebês?
— Bem, bem calmos, até. Veio aqui para que, então? Pra
terminar tudo logo? — decido ser direta.
— Senta aqui. Vamos conversar.
Passeia a mão no cabelo e suspira. Sento de novo na cama
e ele senta do meu lado, evitando me pôr no colo como sempre faz.
Eu também não quero briga, só quero que esse pesadelo acabe.
— Hum.
Cruzo os braços ainda mais e me viro para ele, que está
pensativo.
— Eu sei, você sabe, que Estou distante ultimamente. Mas
minha intenção desde o início não foi gerar esses momentos de
tensão, tudo saiu do meu controle. O que era pra ser uma semana,
como prometi, virou um mês.
Tudo que eu quero é chorar, meus hormônios estão
comendo minha alma todo santo dia. Mas que droga ele está
falando?
— Se você estiver com outra me fale, não me engane, não
tente me fazer de idiota. Eu Estou grávida, mas não virei uma
tapada. — Ele nega com a cabeça, mas não dou abertura para ele
falar, preciso desabafar primeiro. — A primeira coisa que eu pedi pra
você depois que aceitei esse pedido de casamento foi que, por
favor, não me machucasse, que fosse sincero que eu seria sincera
com você. Aí, do nada, você muda completamente, fica frio e
distante. Mal dorme, vive se enfiando em reuniões e mais reuniões.
Vive me deixando na mão, prometendo que no dia tal iria chegar
mais cedo e é o dia que chega mais tarde. Nem dorme comigo e
quando eu acordo tá pra sair. E quando tá ali de corpo presente, tá
mentalmente em outro universo. Vivia feito uma idiota tentando ser
compreensiva, mas sem saber o que estava acontecendo porque
você se esquivava. Quer que eu pense o que, Murilo?
— Não, Alie, esse afastamento não tem a ver com mulher,
nunca terá a ver. Só quis resolver sozinho as coisas pra não te
preocupar, você precisa ter uma gestação tranquila. Eu achei que
daria conta antes mesmo de você perceber, mas obviamente não
aconteceu. Eu gosto bastante de estar com você, tipo, é o ponto alto
do meu dia. Eu também Estou de saco cheio dessa rotina infeliz. E
isso tudo por dois motivos. O primeiro é que agora eu sou acionista
da empresa, que por um acaso estava uma confusão por causa do
processo de troca de banco. Havia erros nos meus documentos de
compra, muita papelada e com isso a minha retenção ficou presa,
atrasou na previsão. Teve o fornecedor que atrasou a produção
porque declarou falência, e eu, como gerente da minha área, tive
que resolver. E isso estava me tirando o sono, era muita reunião,
muita conferência, muita chatice dentro e fora do trabalho.
— Por que não me disse? — questiono confusa e um pouco
brava por ele não ter me contado logo. — Uma simples conversa
evitaria tudo isso, Murilo. Tem noção de quanta merda eu pensei,
tudo porque você não sabe abrir a boca e contar os problemas?
— Eu não contei logo porque eu estava receoso de precisar
viajar novamente, coisa que eu não quero, pois, a última vez que
isso aconteceu, eu não encontrei notícias boas. Eu não quis
transparecer pra você a possibilidade que estava me tirando o sono
há quase um mês — ele suspira, bagunçando o cabelo
freneticamente, frustrado e grunhindo. — Eu trabalhei dobrado pra
dar conta de tudo ao mesmo tempo, de várias áreas pra não falhar
com você, Alexia, com a sua segurança, entendeu? Eu preferi
trabalhar durante quase um mês em turno dobrado pra não precisar
ficar uma semana direto lá pra resolver essas pendências e não te
deixar sozinha aqui. Queria resolver sozinho sem precisar te
preocupar, pôr as coisas nos eixos enquanto a retenção não
normaliza, que será em breve. Quero uma lua de mel à sua altura!
— Mas deu o efeito contrário, percebe, né? Fiquei morta de
preocupação esse tempo inteiro. Você acha mesmo que dizer pra eu
não me preocupar me deixaria tranquila e serena? Você pelo jeito
não me conhece! — suspiro, sentindo minhas narinas arderem num
estado emotivo que parece que não vai passar nunca! — A gente
não tá casando porque é bonitinho, Murilo. A gente poderia casar
hoje, no civil, que não me importaria. Não entendeu que quero casar
com você porque te amo e não por festa?
Me exalto, mas tento não surtar por causa dos bebês.
Respira, Alie! Apesar de tudo, eu queria que ele contasse comigo,
não estou de enfeite. Estou grávida, mas não sou de papel.
— Nós somos muito imaturos pra esse casamento, Murilo. A
verdade é essa. A gente se ama, mas não temos maturidade
suficiente pra uma coisa dessas. Não é só de amor que
relacionamento sobrevive. No final, vamos acabar morrendo na
praia. É triste, mas é a verdade.
Tento não chorar, mas foi impossível evitar com essa
possibilidade.
Murilo levanta me puxando pela mão, logo em seguida me
abraçando enquanto enterro minha cabeça no seu pescoço,
deixando que as lágrimas desçam. Parece que quando eu o abraço
assim as coisas voltam para o lugar certo. Se encaixam, como se
nunca estivéssemos separados. Aspiro o cheiro dele que tanta falta
senti esses dias.
— Não! Nós vamos conseguir, juntos, sem pessimismo.
Sem medos, enfrentando as barreiras e dificuldades. Só preciso que
fique do meu lado, pra nada me desmotivar. Você e nossos dois
bebês. Eu sei que você quer casar comigo e não é por festa, e eu
quero te dar o melhor, o que você merece. Quando voltarmos eu
quero te levar pra jantar, no lugar que você escolher e fazer tudo
que você tá sentindo falta. Eu quero voltar a ser o seu Moreno, pois
é isso que me faz feliz, te deixar feliz. Me deixa fazer isso?
Me conforta e me sinto mais leve por ter falado todas as
minhas frustrações e ele as dele. Zeramos as mágoas, agora é só o
medo de fracassar e a vontade de fazer dar certo. Choro nos seus
braços, não aguentando a pressão de tudo isso no corpo nesse
tempo todo.
— Não chora que isso me acaba por dentro. Sei que depois
de hoje vai acontecer mais merda, porque não somos perfeitos.
Entretanto, vamos ter mais dias felizes. Hoje só é mais um dia. Eu
só quero mais uma chance, dessa vez pra acertar.
Alisa minhas costas, me apertando nos braços. Eu poderia
citar mais de dez coisas que eu odeio nele, mas ainda assim o amor
sobressairá.
— Quando eu Estou amedrontada eu digo a você. Aprenda
a fazer o mesmo, senão nosso relacionamento vai definhar.
A verdade é que nenhum dos dois sabe se virar sem o
outro. Sempre precisamos de uma pessoa que precisa da gente.
Somos dois perdidos tentando encontrar um lugar. Ficamos
chorando juntos e agarrados um ao outro como se fôssemos a
salvação um do outro.
E talvez sejamos. Ver ele vulnerável desse jeito me
desestabiliza. Saber que sempre esteve aqui por mim quando
precisei, e quando foi a vez dele, não quis demonstrar fraqueza pra
não me ver mal. Isso me machuca demais.
Amar dá um trabalho e tanto. Nunca é cem por cento
alegria, e se fosse não teria graça. É difícil lidar com manias,
costumes, pensamentos, modos de pessoas que viveram com
outros exemplos que não são iguais aos nossos. Um dia somos nós
que erramos, e no outro é outra pessoa. Ninguém é perfeito ou vem
com manual. Cabe a nós tentarmos compreender e tolerar o
máximo que conseguimos. Estamos aqui para tentar acertar e tocar
a vida da forma que achamos certo. Mesmo que para o outro seja
totalmente errado ou louco.
Quando meu choro cessa, me solta, limpando minhas
lágrimas e sorrindo de um jeito bonito e charmoso. Sorriso do Murilo
que eu conheço.
— Prometo te contar tudo agora desde o primeiro momento
e não me enfiar no trabalho como estava fazendo, pois eu tenho
uma mulher, uma companheira, e não uma acompanhante.
Assinto e ele segura na minha bochecha para me beijar.
Sinto que agora estamos na mesma sintonia de novo. Finalmente a
sensação familiar de que está tudo bem volta. Como se
agora a Terra girasse no sentido certo. Como se um copo quebrado
de repente ficasse inteiro.
— Eu amo você, mas tem dias que puta que pariu, hein, dá
vontade de te dar um tiro!
Com ele do meu lado eu percebo que é assim que deve ser.
Pois ele é meu lar, como eu sou o dele. E isso só me fez perceber
que eu o amo muito, assim como ele me ama.
Agora podemos ser quem sempre fomos, não somos
perfeitos e nem exemplos, mas o que importa é que nos
encaixamos e tentaremos fazer acontecer juntos.
— Agora sim, esse é o beijo sabor Murilo — falo contra sua
boca, segurando sua nuca para beijá-lo melhor logo em seguida.
Mas o intercepto. Se ele acha que vai ser fácil assim...
— Não, nada de sexo — nego, levantando e dando alguns
passos.
— Alie? — Ele levanta também.
— Já que você gosta de fazer tudo sozinho, vai saber se
virar. Se arruma que precisamos descer.
Corro pro banheiro disposta a tomar um banho para descer,
largando-o sozinho. Por mais que eu queira, vamos ver como ele
reage diante de uma mini tortura.

Murilo aparece quando estou me maquiando.


— Mas está gostoso, hein? — elogio.
Ele está muito lindo. De bermuda preta, com tênis da
mesma cor. E uma camisa jeans clara de manga dobrada, com
alguns botões abertos.
— Tenho que estar à altura, né? Tá gostosa pra caralho! —
Me analisa descaradamente e eu me arrepio.
Estou com um vestido preto folgado e cabelos soltos. Um
look básico, mas arrumado por conta dos acessórios que uso.
Maquiada e de batom vermelho, pois não abandono mais.
— Pare de me olhar assim, senão a gente não desce — o
alerto e passo meu perfume.
— Seria uma boa. — Me puxa e me agarra, fazendo nossos
corpos se colidirem. — Tem certeza que quer descer? — Faz a
maior cara de safado, roçando o quadril.
— Moreno, não atiça — o alerto de novo, fazendo biquinho.
— Mas não Estou fazendo nada de mais.
— Não faz isso — falo manhosa entre um beijo e outro.
— Você não sabe a porra que faz em mim com esses
batons vermelhos que você usa.
— É? Bom saber. — O beijo de novo. — Agora é sério.
Vamos!
Dou um último beijo nele e me solto. Bendito batom que não
sai. Só um desse para aguentar o Moreno me beijado a cada dois
segundos.
Desço com ele, mesmo querendo ficar lá em cima. Chego
no térreo e o som já está rolando. Meus pais estão lindos, e James
também, assim como meus sobrinhos e Ísis. Vejo alguns dos meus
primos chegando com meus tios e seus respectivos maridos e filhos.
Meus pais adoram casa cheia, por isso chamaram o povo
para festejar com eles, em vez de comemorarem sozinhos. Tenho
apenas um irmão, mas aqui os aniversários e festas sempre foram
cheios de primos e tios.
Fui paparicada por algumas pessoas da família e ouvi umas
perguntas chatas, como: “nossa, você vai ter gêmeos? Coitada!”.
Ou: “você sabe que não terá mais vida, né?” Ou ainda: “você vai
encerrar a fábrica, né?”. E “nossa, eu admiro mães de
gêmeos… Com um só já fico louca!” Mas sempre tem isso, em
qualquer família. Apenas sorrio e balanço a cabeça.
Tomo alguns drinques sem álcool que Murilo mesmo fez
questão de fazer para mim, enquanto socializamos. Passei a maior
parte do tempo com Ísis e James. Jantamos e brindamos com vinho,
menos eu, que fiquei no suco.
Aproveitei para sentar na cadeira, observando todo mundo
bebendo ou conversando, para ficar um tempinho com meus bebês.
Mal posso esperar para ver cada um deles. Estou ansiosíssima para
essa consulta. Quero saber se serei mãe de dois meninos, duas
meninas, ou um de cada.
Meus pais ainda estão alegrinhos e dançando junto com
mais alguns casais. Sorrio pela felicidade deles. Adoram sair para
dançar. Ao contrário do que vocês pensam — ou não —, minha mãe
não é baixinha, é quase do mesmo tamanho que meu pai. Ela tem o
mesmo tipo de corpo que o meu. Algumas pessoas dizem que eu
sou ela mais nova.
Aliso a barriga com carinho, sorrindo boba, fitando-a e sinto
uma ondulação por dentro. E congelo no lugar. Rita disse que por
esses meses já começam a chutar e que seria mais perceptível.
Mas nada me preparou para sentir sem esperar.
Procuro Murilo com os olhos e assim que ele me olha,
chamo com a mão e rapidamente ele fica do meu lado.
— Os bebês mexeram.
Murilo põe a mão espalmada na minha barriga para tentar
sentir. Surpreso, me olha ao sentir, sorrindo abertamente logo em
seguida. Ele não está aguentando de felicidade, assim como eu,
que estou boba por essa sensação.
— O que será que vai vir? — questiona, sentando do meu
lado, ainda com a mão na minha barriga para ver se mexem de
novo.
— Não faço ideia.
— Mas você já tem algum nome em vista?
— Alguns. Gosto de Catarina e Nicole. Para menino não
consegui pensar muito.
Olho para ele, pensativa.
— Gostei dos nomes. Então se forem duas meninas você
escolhe, já que tem algumas opções.
— E menino você escolhe? Quais os nomes que pensou?
— Se forem dois, quero que se chamem David Luiz e
Cristiano Ronaldo.
Olho séria para ele pela palhaçada e ele gargalha da minha
cara. Nem morta vou deixá-lo nomear meus filhos com nomes de
jogadores de futebol. Murilo parece que é maluco.
— Nem morta! — nego de imediato.
— Prefere Neymar e Lionel?
— Eu Estou falando sério, Murilo!
Reviro os olhos, rindo com ele da sua bestagem.
— Estou brincando.
Murilo beija minha bochecha.
— Diga então quais nomes acha bonito.
— Gosto de Bernardo e Caio. Gosto de Tiago também.
— Gostei de todos.
— Então se for menino eu escolho e menina você escolhe?
— Pode ser, mas se forem dois meninos, você só registra se
eu aceitar. Nada de Cristiano não sei o quê.
Murilo gargalha de novo e dou um tapa no braço dele. Ficar
assim é tão gostoso, espero que continue e que, se aparecerem
novos problemas, enfrentemos juntos.

— Ei, Morena... — Sua voz arrastada no meu ouvido me


quebra quando estou batendo a porta do quarto para dormir e ele
gira a chave por cima da minha mão. Devasso!
Moreno segura na minha cintura com as duas mãos e em
seguida andamos devagar até a cama, e percebo que está sem
camisa. Ele subiu cheio de maldade.
— Deixa seu Moreno cuidar de você. — Ele desabotoa
minha roupa, fazendo-a cair nos meus pés. — Matar as saudades,
recuperar o tempo perdido.
Murilo explora meu corpo e sinto as chamas acenderem
com força total. Tiro sua camisa e distribuo beijos quentes no seu
peitoral enquanto aperto suas costas trabalhadas.
— Deixa-me te mostrar o tamanho da minha saudade —
com uma voz arrastada desgraçada, sussurra beijando minha testa
logo em seguida, e aceno, ofegante. Meu corpo está todo ardente.
Meus hormônios em ebulição num desespero imenso.
Desço a mão para suas costas, apertando e aprofundando o
beijo. Murilo desce a boca distribuindo beijos pelo meu corpo e abre
meu sutiã, sugando com voracidade um dos meios seios, a ponto de
me arrepiar toda.
— Amo você, ouviu?
Murilo rosna logo em seguida de soltar meu seio, fazendo
um barulhinho gostoso e excitante. Mas logo volta para sugar o
outro com ferocidade.
Mordo a boca, me sentindo mais excitada que o normal.
Meus seios são os locais mais sensíveis ultimamente. Tiro sua
bermuda e aperto sua bunda, o trazendo mais para mim. Ele ri
mordiscando minha boca e chupando logo em seguida. Preciso nem
dizer como estou, né?
Fecho os olhos e aproveito cada sensação maravilhosa que
me proporciona, principalmente a dele aos poucos me invadindo
enquanto geme. E eu aperto sua bunda a cada estocada do ritmo
gostoso e alucinante que ele dita. Tinha esquecido quão bom é tê-lo
dessa forma.
A gente briga, discute, discorda, tenho vontade de dar na
cara dele, mas não troco esse moreno por ninguém.
35
ALEXIA
Com frio na barriga, faço o percurso com Murilo até a
consulta dos bebês. Saberemos hoje os gêneros. Minha ansiedade
está quase sobressaindo no corpo. Ligo o som para afastar toda
essa ebulição e logo chegamos na clínica.
Eu e Murilo estamos com nossa vida normal novamente e
eu me sinto muito satisfeita. Voltamos à nossa programação normal
e saímos para jantar. Moreno estava todo romântico, tentando se
desculpar. E me colocou dentro do problema, me mostrando tudo
que ele andou fazendo sozinho.
Chegando na clínica, Rita abre a porta e sai lá de dentro
uma menina acompanhada, que entrou depois que cheguei. Logo
acena para mim, me chamando. Levanto junto com Murilo, que vem
no meu encalço para dentro da sala.
— Tudo certo? — questiona, sentando-se na sua cadeira.
— Sim. Mexeram nesse final de semana.
— Eu imagino o susto que tomaram!
— Pois é. Fiquei toda boba.
Sorrio junto com ela. Talvez seja uma coisa corriqueira para
ela atender mães, principalmente de primeira viagem, bobas com
essas descobertas. Fizemos a consulta normalmente, e depois
seguimos para a salinha, para que possamos saber se serei mãe de
meninas, meninos ou ambos.
Sinto o gel gelado na minha barriga e a mão de Murilo
segurando a minha. Ela senta e puxa o monitor para ver enquanto
passa a máquina em cima do gel, na minha barriga.
— Estão vendo isso aqui? Estão reconhecendo?
Aponta a unha na tela e tento decifrar quem é a pessoinha.
Pois para mim não está tão nítido. Meu coração está acelerado de
pura ansiedade. Esperei muito por esse momento.
— Menina? — respondo quase no chute.
— É. — Ela ri num aceno. — É uma menina.
Sorrio abertamente e olho para Murilo, que alisa a barba, a
cara fixa na tela.
— O outro bebê está de pernas fechadas, deixa eu tentar
fazer abrir.
Sinto meus olhos arderem para chorar. Menina! Isso tudo é
tão irreal, assustador e gostoso de passar.
— É menino, né?
Murilo exclama, passando a mão várias vezes no cabelo e
na barba. Ele está ansioso.
— Sim. É menino. Vocês terão um casal. — Nos comunica e
nessa altura do campeonato minhas lágrimas já rolam livremente
pelos meus olhos, num êxtase maravilhoso.
Teremos um moreninho e uma moreninha, não poderia ser
mais perfeito que isso. Mal posso esperar para ver o rostinho deles
e sentir seu cheirinho gostoso. Saímos de lá como dois bobos,
fazendo mil e um planos. Liguei para Natasha me encontrar no
shopping.

Na praça de alimentação do shopping, coloco o papo em dia


com Natasha, já que Liz não veio. Está cada vez mais difícil a gente
se ver assim, cada uma com seus próprios problemas, mas ambas
estão organizando o tal do chá de lingerie.
— Ah, e outra, o dia de noiva é com a gente, tá bem? E seu
chá de lingerie vai ser no mesmo dia da sua despedida de solteira.
Tá decidido!
— Nem invente — nego de imediato.
Já vai fazer a despedida e agora quer pagar o dia de noiva?
Já é demais!
— Cala a boca! Será o presente meu e de Liz pra você.
— Não, Nat. Sério!
Nego e bebo um pouco do meu suco.
— Já tá decidido, vadia. Vou até pagar logo pra você não
fazer isso antes, pois te conheço.
— Natasha! — eu a recrimino, pois a odeio por me conhecer
bem desse jeito.
— Estava pensando em fazer a despedida um dia antes
mesmo.
Dou um muxoxo enquanto ela conta com mil e um planos.
Natasha se empolga rápido demais.
— Ainda acho isso desnecessário.
— Para de reclamar! Não sei como Murilo te aguenta! —
grunhe, revirando os olhos. E faço o mesmo quando ela sorri com
deboche logo em seguida.
— Você que é teimosa.
— Sou mesmo!
— Novidade.
Terminamos de comer e fomos ver as lembrancinhas.
Acabei passando em uma loja infantil e comprei algumas coisas,
pois não resisti.
Meu vestido de noiva já está escolhido, só faltam os ajustes
por conta da minha barriga. Fui com minha mãe e ela chorou me
vendo de noiva. Casaremos no começo do ano, foi a melhor data
que encontramos, pois no final do ano agora seria impossível.
Estarei com sete meses, mais ou menos, e é um mês ok. Dá para
casar e curtir o final da gravidez.
Acaricio minha barriga que pesa como nunca, vendo o
quarto de meus bebês ser construído aos poucos. Confesso que
estou muito apaixonada por cada pedacinho do processo.
Murilo acabou de montar o segundo berço no quarto dos
dois. Colocarei os dois no mesmo quarto por enquanto. Será mais
fácil para mim. Andei pesquisando umas decorações de gêmeos e a
que escolhemos ficou linda. Nos mudamos, inclusive.
Os meses, como previ, estão passando bem rápido, depois
que o ano novo passou. Faltam apenas dois meses para o grande
dia e estou ficando louca!
Nicole e Tiago estão cada vez mais saudáveis e maiores.
Ganhando peso como deveriam, e minha barriga pesa mais que
uma bigorna.
O quarto é pintado de bege claro, com umas pequenas
girafas-bebê de adesivo de parede. É, resolvi fazer essa
brincadeirinha com eles na decoração do quarto. Os móveis são em
cor branca. Colocamos os dois berços lado a lado, mas com uma
pequena cômoda dividindo. O enxoval é em um amarelo claro com
marrom.
— Ficou lindo, né? — comenta.
— Sim, Estou apaixonada.
Seguro sua bochecha e o beijo de forma carinhosa. Murilo
está me saindo melhor que a encomenda. E outra coisa, os bebês
ficam agitados quando ele põe a mão. Muito mais do que quando
sou eu quem converso com eles.
Aliás, eu amo esse momento de ficar a sós com meus
bebês, reforçando nosso laço. É um tempo gostoso que tiro para
ficar com eles.
— Meus pais ligaram querendo saber da gente.
— Daqui a pouco vamos.
É, meus sogros já estão em solo brasileiro. Adoro comer
fora, porque não preciso me preocupar com comida. E as da minha
sogra são maravilhosas, sem contar que lá eu sou bem mimada,
confesso que amo isso.
Dona Dora e Dona Olga se conheceram, foi uma rasgação
de seda que me deixou enjoada. Bela terminou o namoro e disse
que nunca mais vai namorar. Murilo apoiou totalmente a decisão da
irmã, claro. Quero ver até onde isso vai.
Aliás, ela surtou quando soube que vem uma menina
também e disse que ensinará milhões de coisas para ela, incluindo
“como desafiar Murilo”, para deixá-lo maluco. Claro que ele não
gostou dessa ideia e disse que ela está proibida de ficar perto de
Nina.
Murilo e James bebendo foi uma coisa ridícula,
comemorando que vem um menino também.
Pior que homens juntos, são homens juntos bebendo. Além
de ficarem mais barulhentos que o normal, é um inferno, pois fica
um se declarando para o outro: “Você sabe que te considero como
meu irmão, né?” Argh! Que porre! Depois dizem que mulheres é que
são melosas, mas é porque não viram eles próprios bebendo.
Mas o importante é que minha família e a de Murilo se
deram muito bem e estou adorando isso. Ponho a mão de Murilo em
cima, sentindo a guerrinha dentro da minha barriga.
— Acho que estão se chutando pra discutir quem vem
primeiro.
Acabo rindo, passando a mão na barriga, deslizando junto
com a de Murilo.
— Acho bom decidirem depois, ainda falta um pouco para
virem. Eu Estou com medo, sabia?
— Do parto? Eu te entendo. Mas vou estar lá pra ver ambos
nascerem.
Sorrio abertamente para ele. Não poderia ter pai melhor.
— Eu sei que vai.
Decidimos ir à casa de meus sogros para passar o dia lá e
não ficarmos aqui sozinhos em pleno sábado. Ideia deles, que nos
chamaram ontem e não aceitaram um “não” como resposta.
— Devagar, Morena — Murilo me alerta enquanto desço do
carro.
Assinto, saindo do banco com a ajuda dele. Eu estou me
sentindo uma baleia. Meus sogros não moram muito longe, são dez
minutos de carro e vinte minutos andando.
Murilo bateu à porta e quem me atendeu foi Isabela, que
correu direto para minha barriga, me deixando no vácuo. Ela age
como se pudesse ver os dois, porque brinca com a barriga de forma
cômica.
— Achei que falaria comigo primeiro — finjo chateação
enquanto Moreno gargalha.
— Cunhadinha, eu amo você, mas primeiro tenho que falar
com meus pequenos. — Sorri para mim ainda agachada, alisando
minha barriga.
— Só hoje, então te perdoo. — Devolvo o sorriso.
Ela dá um beijo na minha barriga, fazendo um dos dois
chutar, e fica com os olhinhos iluminados. Em seguida levanta, me
dando um beijo na bochecha.
— Venha, a gente tá aqui no fundo.
Isa avisa enquanto Murilo me ajuda a andar com cuidado.
Minha barriga chegou primeiro, claro. Mas assim que cheguei,
congelei no lugar quando em uníssono gritaram “surpresa” não
muito alto para não me assustar, mas a ponto de ficar em choque e
bastante surpresa.
— Achou mesmo que não íamos fazer o chá?
Dona Dora vem na minha direção, sorridente. Continuo
surpresa e não consigo evitar minhas lágrimas de descerem. Eu
estou uma manteiga derretida. Mas com uma surpresa dessas é
impossível me conter.
— Eu não acredito que vocês armaram nas minhas costas.
Minha voz sai chorosa.
Eu e Murilo decidimos não fazer chá de bebê. Por nenhum
motivo especial. Apenas deixamos passar isso. Também porque a
cada dia eu estava me sentindo mais cansada, e o calor dessas
semanas todas deixa qualquer pessoa mais lesada, imagine eu com
quase sete meses e grávida de gêmeos…
A decoração está uma misturinha. Um pouco de azul, outro
de rosa. E como foi tudo debaixo dos panos, pelas minhas costas,
tem poucas pessoas, mas não deixa de ser fofo e especial.
As pessoas são as de sempre.
— Não chora. É pra sorrir.
Limpa meus olhos e não evito sorrir ainda com lágrimas
teimosas caindo. Eu me sinto imensamente feliz. Todos passaram a
mão na minha barriga e até Murilo ficou surpreso, pois não sabia
também. Foi uma surpresa para nós dois. Até meus pais com meu
irmão vieram, só não chegaram a tempo de pegar a surpresa.
Me sinto sortuda até demais com as pessoas que me
cercam. Vivo sendo surpreendida de um jeito bom. Estão sempre
me mostrando como sou especial.
Impossível não chorar com tudo isso.
— Liz! Nat! — chamo as duas, que se aproximam de
imediato.
— E aí, dona redonda?
Natasha chega fazendo graça e olho séria para ela, mas em
seguida acabo rindo. Eu odeio esse apelido, mas ela insiste em me
chamar assim, e acabei me acostumando.
— Não muda, né?
— Nunca! — Ela ri. — Chamou a gente pra quê?
— Um pedido — inicio.
— Que pedido? — Lizandra pergunta, provavelmente se
roendo de curiosidade.
— Mais uma vez quero que sejam madrinhas, mas dessa
vez dos meus bebês. O que acham? — pergunto, sorrindo.
— Mas é claro!
Nat fala sorrindo abertamente e não seguro uma
choradinha. Eu disse que estou uma manteiga derretida.
— Vocês são as amigas que quero levar pra vida toda e não
poderiam existir pessoas melhores pra esse “cargo”. Obrigada por
tudo que vocês já fizeram por mim e por estarem ao meu lado em
todos os momentos difíceis — agradeço a elas ainda chorando,
fazendo-as chorarem também no meio de um sorriso.
Liz é a primeira a me abraçar e Nat vem logo em seguida
em um abraço triplo — ou quíntuplo.
— Nossa amizade ainda tem muito chão pela frente. Vai se
fortalecer ainda mais. Vai me aturar muito ainda! — Nat afirma.
— Vai sim. Não importa o que aconteça na sua vida, quando
você estiver feliz, triste, frustrada ou até com raiva, pode ser até
raiva de mim ou de Nat, não importa que aconteça. Estaremos
juntas — Liz reafirma o que a irmã acabou de falar.
Uma hora dessas eu já estou rindo e chorando feito boba.
— Nós por nós, sis — digo, sentindo gratidão eterna.
— Nós por nós — repetem.
Limpamos nossas lágrimas e em seguida caímos na
gargalhada.
Volto para Murilo, que está soltando sorrisos para o vento, e
me segura pela cintura, colocando a mão na minha barriga.
— Tudo bem? — questiona.
— Tudo ótimo. — Sorrio para ele, que assente.
Coloco minha mão em cima da sua, que repousa na minha
barriga. A ansiedade misturada com a curiosidade em ver os
rostinhos dos dois me consome. Não tem um dia que não penso
nisso, se serão parecidos, embora não sejam gêmeos idênticos, ou
quem vai puxar mais os nossos traços.
Mal posso esperar para segurar os dois no colo e mimar
muito.

Estou com um frio enorme na barriga, e não é por causa da


minha gravidez, e sim por causa do casamento. Casaremos amanhã
e estou que não me aguento de ansiedade.
Natasha vem me buscar aqui em casa, para irmos ao dia de
noiva. Mais tarde, teremos minha despedida de solteira.
Murilo hoje vai dormir na casa dos pais. Minha sogra e
minha mãe se juntaram e acharam que separar a gente é uma ideia
legal. Pelo jeito, só eles, pois eu e Murilo não queríamos muito, mas
acabamos aceitando para agradá-las.
Já peguei também meu vestido e fiz a última prova. Enfim!
Está tudo encaminhado.
Hoje terei um dia relaxante só meu. Nat vai me deixar lá e
vai me buscar mais tarde para a despedida de solteira. Que, aliás,
Murilo também terá com os amigos. Fui recebida muito bem pela
dona que, por sua vez, não resistiu a passar a mão na minha barriga
quando descobriu que são gêmeos.
Parei para lanchar e fui muito bem servida. Fui para a
esfoliação de pele e, por último, relaxo no banho de
hidromassagem.
O banho de hidro é maravilhoso e relaxante, com sais
perfumados, hidratante e pétalas dentro da banheira. Só ficaria mais
perfeito se o Moreno estivesse aqui comigo. Parece que faz dez
anos que não nos vemos. Estamos vetados até de nos falarmos por
telefone. Natasha achou que faríamos coisinhas por telefone e não
deixou. Ela é terrível! Confesso que cochilei um pouco dentro,
naquela maresia. Já falei que ser noiva gestante cansa?
Minha barriga está pesada com essas duas girafinhas aqui
dentro. Estou no sétimo mês e percebe-se que eu só ando dormindo
por aí, o que eu mais tenho é sono. Sono e dor nas costas.
Confesso que estou amando esses paparicos. Preciso
abraçar e agradecer muito minhas amigas por esse presente dos
deuses. Já são sete horas da noite e Natasha tinha ligado avisando
que estava saindo de lá em meia hora.
Tomo uma ducha e me visto, pois fiquei o tempo todo de
roupão. Encontro Natasha na recepção, sorridente, me esperando.
Saio com ela depois de confirmarmos os pacotes que ainda
temos, pois voltaremos aqui amanhã com as outras madrinhas, e
seguimos para casa, onde será minha despedida.
— Gostou de hoje? — questiona no meio do caminho.
— Eu adorei! Nem sei como agradecer.
— Sabe que com a gente não tem essa. Fico feliz que
agradamos. — Sorri para mim.
Fizemos a viagem conversando. Só minha sogra e minha
mãe que não vão participar, pois decidiram sair os quatro, meus
sogros e meus pais, juntos. Eu disse que elas viraram amiguinhas.
Tenho até medo. E nem Isa vai, mandou milhões de mensagens se
desculpando agora há pouco, pois como chegou há pouco tempo,
reencontrou as amigas e decidiram fazer a própria festinha. E no
fundinho até agradeci, pois minhas amigas são terríveis e nada mais
embaraçoso que contar coisas que aprontei com Murilo com a irmã
dele ao lado.
Cheguei no meu apartamento e o mulheril todo estava lá.
Liz, Ísis, Letícia, Luísa e as outras amigas próximas, esposas dos
amigos de Murilo. Enfim! Todo mundo que tenho amizade mais
próxima.
Não são muitas, mas o suficiente para fazer algazarra.
Recebi cumprimentos de todas. Minha sala está cheia de balões
com coraçõezinhos. Fui encaminhada para vestir a minha lingerie,
que estava no meu quarto junto com meu roupão, onde que está
escrito “noiva” atrás. Essas meninas são cem por cento loucas.
Minha lingerie é preta rendada, achei linda!
Desço para encontrar o bate-papo formado que não consigo
nem decifrar quem está falando o que, todas elas de lingerie e robe
por cima. O caos está instalado na sala e na cozinha, com música
animada tocando.
Mulher quando se junta parece formigueiro. Está bem Clube
da Luluzinha e estou amando.
Não deixo de sorrir pela festa que organizaram
especialmente para mim. Nat me entrega uma taça com algo líquido
que percebo ser sem álcool. E coloca uma mini coroa com véu na
minha cabeça.
O canudo nada mais é que em formato de pênis. Isso é ideia
de Natasha, com certeza!
Acabei indo para o meio delas, até dancei algumas músicas
às gargalhadas.
A festa está linda e animada. Eu estou me divertindo
horrores com elas. A decoração está fofa e bem sexy. Misturamos
despedida de solteira, chá de lingerie e dia das meninas. Os
docinhos da mesa são em formato de calcinha e sutiã e tem alguns
pequenos sanduíches com aparência apetitosa. A vibe está bem
descontraída.
— Vamos brincar!
Ísis, sorridente, chama a atenção. As meninas gritam
empolgadas e eu acho tudo muito hilário. Eu sou a única que não
estou bebendo.
Sentamos espalhadas pela sala.
— Aqui. A gente falou com Murilo e ele respondeu algumas
perguntas sobre ele. Você tem que acertar mais que a metade, eu
mesma montei um presente personalizado — Nat comenta.
— E se eu errar?
— Eu levo pra minha casa e faço um ótimo proveito.
Eu rio e Ísis vem com alguns envelopes na mão.
— Preparada?
— Sempre! — confirmo, querendo saber o que essas loucas
estão aprontando.
Escolho um dos envelopes. Ísis abre para ler e espero a
bomba.
— Onde aconteceu o primeiro beijo? — Isis lê, me dando
um sorriso debochado.
Nossa! Se essa foi a primeira pergunta, nem sei o que
esperar do resto. Pensei que seria algo como “qual a comida
favorita dele?”.
— No carro dele — respondo aos risos. As meninas todas
gritam um “uuuuuii” e gargalham. Loucas!
Checam a resposta, que confirma o óbvio. Se Murilo tivesse
errado não teria casamento.
Letícia grita um “próxima pergunta” e logo as meninas se
empolgam para saber.
— Onde foi a primeira vez do casal?
Elas só perguntam coisa íntimas.
— Na minha casa — respondo de imediato, corando e
acertando. E assim transcorreu a brincadeira. Errei poucas
perguntas e ganhei a caixa, claro. Tinha vários produtos eróticos
que, segundo elas, eram para apimentar a relação. E Natasha
acabou dando o nome de “caixa da reconciliação”.
Bebi e dancei mais um pouco. Estou morrendo de saudades
de Murilo. Parece que não nos vemos há dez anos. Mas estou me
divertindo horrores.
Comi e bebi junto com elas e tirei milhões de fotos. Fizemos
outras brincadeiras e não canso de repetir: estou me divertindo
muito! Luísa chamou a gente para brincar de “eu nunca”. Mesmo
ficando só no suco, mas o que vale é a brincadeira.
Para quem não conhece muito a brincadeira, eu explico.
Alguém fala em voz alta algo que nunca fez, e quem já fez bebe um
shot de vinho, que é o que elas estão tomando. Se ninguém beber
uma dose, significando que ninguém fez a tal coisa, então a pessoa
que fez a declaração é que bebe.
Voltamos para a sala em uma grande roda, cada uma com seu shot
cheio, e o meu com suco de uva.
— Alexia começa!
As meninas todas estão exaltadas já. Quero nem saber a
situação desse povo amanhã. Aceno, pensando rapidamente em
dizer uma coisa que eu não fiz.
— Eu nunca enviei nudes.
Jogo na rodinha, apesar de ter recebido um “quase nude” de
Murilo uma vez. Mas elas não precisam saber.
Assim que declaro, Letícia, Ísis e Luísa bebem fazendo o
resto das meninas gritarem, assim como eu, que gargalho.
Passei a vez para Letícia, que está do meu lado, enquanto
Liz enche o copo das três.
— Eu nunca dei um número de telefone falso pra alguém.
Então Lizandra bebe o dela, assim como Nat. E saem mais
milhões de gargalhadas com comentários tipo “vocês são más”, e
passaram a vez pra mais nova da turma, para fazer a roda girar.
— Eu nunca tomei pílula do dia seguinte.
Todas tomam, inclusive eu, provocando uma gargalhada
geral. Quem nunca?
Depois das gargalhadas, chegou em Luísa.
— Eu nunca fiquei ou transei com um estranho na mesma
noite.
Só Nat e Liz que bebem, porém Natasha, além de tomar o
dela, bebeu os das meninas próximas, provocando outra gargalhada
geral. Não existe pessoa mais devassa.
— Agora eu sou universal, tá? — Nat provoca outra
gargalhada.
Chega a minha vez novamente e fito as meninas, que estão
sorridentes querendo saber mais um poder meu.
— Eu nunca transei no trabalho.
Todas tomam, me deixando incrédulas.
— Pelo jeito eu sou a única, né? — pergunto, ainda
boquiaberta.
— Coloca na sua listinha, sis — Nat debocha piscando o
olho e jogo a almofada que estava nas minhas costas na cara dela,
que me devolve logo em seguida. E assim foi passando a
brincadeira, até chegar em Ísis.
— Eu nunca tive sexo com alguém com o dobro da minha
idade.
Comenta, e só Liz bebe, fazendo careta não sei se pela
pessoa ou pela bebida. Eu e Nat fizemos um rápido contato visual,
um olhar cúmplice e voltamos para a brincadeira. Como só Liz
tomou, acabou sendo a vez dela.
— Eu nunca usei comida durante o sexo. — Dá de ombros.
— Chantilly conta? — questiono e todas assentem. Eu tomo
minha dose de suco de uva e Ísis toma a dela, de vinho. As meninas
fazem um coro arrastado de “ui”, caindo na gargalhada.
— Alexia… Alexia… — Ísis faz graça pra cima de mim
enquanto rio, dando de ombros. Ela é tão safada quanto.
Rodou para Letícia novamente. E eu tomo, só que sozinha.
Olho para as meninas, que estão incrédulas. Sorrio abertamente.
— Alexia é mais fogosa do que eu pensei. Não é à toa que
tá gravida de gêmeos — Liz comenta, fazendo as meninas
gargalharem. Qualquer coisinha faz elas gargalharem. Esse clima é
tão gostoso que penso em fazer mais vezes.
A brincadeira acabou depois delas enjoarem e fomos
dançar. Minhas pernas estão pegando fogo, mas estou amando e
não quero parar tão cedo. Daqui a pouco subirei para dormir, assim
como elas, que já estão ficando esgotadas.
Amanhã teremos que acordar belíssimas e dispostas. E só
em pensar nisso o frio na barriga me consome.
Nem acredito que amanhã vou ser oficialmente a Senhora
Montenegro e ter meu Moreno como marido. Tivemos outras
brincadeiras também, como conselhos. Cada uma escreveu um e eu
tive que adivinhar de quem era. O de Natasha não poderia ter sido
diferente: “sempre tenha pomada de assadura em casa”.
Subimos quase onze da noite. Ísis vai dormir aqui em casa
comigo, pois amanhã vamos cedo para o segundo dia de noiva, e
como é minha madrinha com James do lado de Murilo, nada mais
justo!
Depois das meninas irem para casa de táxi, e meus pais
voltarem logo em seguida, pois vão dormir aqui também, caio na
cama esgotada, mas não sem antes receber uma mensagem de
Murilo, que abri de modo ilegal, pois nem isso poderíamos fazer,
enquanto Ísis dorme do meu lado.
“Já se despediu do seu sobrenome e da vida de noiva?
Amanhã será oficialmente uma mulher casada. Nem te vi ainda e sei
que vai ser a mais linda. Não vejo a hora de finalmente te ver de
noiva. Beijos do seu futuro Marido. Amo você!”
Leio aquilo com as lágrimas rolando no meu rosto antes
mesmo de terminar. Até de longe ele me desestabiliza. Passo a mão
na barriga com tamanha felicidade.
“Mal posso esperar por esse acontecimento. Também amo
você.”
Envio logo em seguida e me despeço para descansar.
Minha barriga está em um nervoso absurdo, mas de um jeito bom.
Não canso de repetir: mal posso esperar por amanhã, para ser a
senhora Montenegro!
36
ALEXIA
Nosso casamento vai acontecer no mesmo local em que nos
conhecemos, onde aconteceu o desfile. Escolhemos esse lugar,
pois, além de lindo, é bastante espaçoso e arejado, e possui uma
carga emocional para nós.
Chegamos depois de dar mais uma volta e minha barriga
revira várias vezes. Continuo sentada no carro, pensando o quanto
minha vida mudou.
Nervosa, passo a mão nas pontas cacheadas do meu
cabelo, verificando se a coroa de flores está no lugar. Me recuso a
chorar para não ficar com os olhos vermelhos. Eu confesso que
estou tremendo de ansiedade. O frio na barriga não me abandona
há uma semana.
Ainda não me caiu a ficha que vou casar. Que é real!
Meu pai me tira dos devaneios na porta do carro e eu saio
com o coração a mil. Quando me vê de noiva, quase chora. A
cerimonialista me ajuda, segurando meu buquê de rosas vermelhas
Andamos e paramos no corredor, perto da porta de um dos
salões, onde vai ocorrer a cerimônia.
Me posiciono no lado direito do meu pai, pego o buquê e
respiro fundo três vezes, pois está chegando a hora. É agora!
Quando os violinos da música ecoam, as portas se abrem e
meu coração acelera ainda mais, as minhas mãos suam e a boca
seca. Estou muito nervosa, quase tremendo de expectativa.
Assim que ele me vê entrando, põe a mão na boca com uma
feição surpresa, quase chorando. Fico com vontade de chorar ou
correr para beijá-lo, mas me seguro, pois se eu começar não paro
mais.
Vejo meus sogros do lado direito, assim como os padrinhos
do Moreno. E do lado esquerdo, minha mãe e minhas madrinhas já
emocionadas, olhando na minha direção.
A decoração está linda, com cores e flores em tom pastéis.
Faço o caminho com o coração parecendo uma escola de samba e
rezando para não tropeçar e pagar mico. Minha família está toda
aqui.
Estou ansiosa para finalmente ficar do lado do meu futuro
marido.
Chegamos em frente ao altar e meu pai me entrega ao
Moreno. Vai para o lado de minha mãe e, assim como eu, Murilo
está com os olhos úmidos.
Moreno dá um beijo na minha testa e nas minhas mãos, e
entrelaça nossas mãos para nos viramos para o padre. Aos poucos
a música abaixa até silenciar.
Olho para minhas madrinhas e Téo, que ficou do lado de
Lizandra, e sorrio. Vejo Téo falando “maravilhosa, arrasadora” sem
som enquanto eu olho para ele, que está com um terno arrasador
com alguns detalhes dourados em destaque.
O padre dá início à cerimónia e tudo que eu consigo pensar
é: eu estou casando com meu Moreno. Meia hora depois ele pede
para que falemos nossos votos.
Unimos nossas mãos direitas e Murilo é o primeiro a falar:
— Morena, eu não planejei nada pra falar, pois ficaria
forçado. E mesmo se eu planejasse, com certeza eu esqueceria
tudo assim que eu te visse entrando. — Ele sorri de leve e eu
também, encantada. Escuto várias pessoas falarem “que fofo”, “que
lindo”. E ele logo prossegue. — Independente das dificuldades que
encontramos pelo caminho, eu não tenho dúvida de que é você que
quero ao meu lado. A única coisa que prometo é te amar fielmente
durante toda a minha vida — finaliza.
Sorrio para ele com lágrimas nos olhos, e recebo de volta
outro olhar molhado e um sorriso ainda nervoso. Respiro fundo duas
vezes, pois é a minha vez de falar e eu também não preparei nada.
— Eu também não preparei nada. Pois eu também
esqueceria e agora estaria desesperada tentando lembrar. — Sorrio
e algumas pessoas gargalham. — Aprendi que somos errados para
alguém na hora certa. Que mesmo com as dificuldades e barreiras,
o final compensa. Amar você foi uma das melhores coisas da minha
vida. Eu prometo ser fiel, te amar e respeitar sempre. E tentar fazer
de todos os nossos dias como se fosse o primeiro.
Termino meu pequeno voto deixando a mão dele na minha
barriga, pois Nicole e Tiago estão chutando e não consigo fazer o
resto da declaração sem cair em lágrimas.
Trocamos as alianças e finalmente ele me beija. Primeiro
beija minha testa, na ponta do nariz, e em seguida me dá um beijo
apaixonado e comportado. O beijo transmite saudade e alegria.
Sensação de plenitude e encaixe com euforia. Escuto o padre nos
declarar oficialmente marido e mulher. Nem esperamos a deixa.
A partir de agora eu sou oficialmente a Sra. Montenegro.
Assim que colocamos os pés para fora, somos
recepcionados com bolhas de sabão, deixando tudo ainda mais
perfeito. Aposto que isso foi ideia de Ísis.

Enquanto todos estavam sendo encaminhados para o


espaço da festa, corri com Ísis para trocar o vestido. Vou pôr um
curto para o pós-cerimônia. Nunca que conseguiria ficar pra cima e
pra baixo com o outro. Incomoda demais!
Abro a porta e Murilo está recostado me esperando. Quando
me vê, me mede de cima a baixo. Ele está sem o terno já. Só a
camisa social, colete e gravata.
— Me dê cinco minutos — ele fala já me arrastando para
dentro de novo.
Bate à porta, atacando minha boca e pescoço. Gemo,
segurando no seu braço. Nos beijamos, matando a saudade um
pouquinho. Me controlo ao máximo para não abrir a camisa social
dele e amassá-la.
No meio do agarramento, ele sobe a mão pelas minhas
pernas em direção à minha calcinha e eu me arrepio, ficando
molhada.
— Murilo, não! — Detenho com muito sacrifício.
— Quero saber só a calcinha que tá usando. Você sabe que
sou curioso.
— Falta um minuto! — Isis grita do outro lado da porta e eu
rio.
— Agora não. Eu poderia te mostrar agora, mas não íamos
conseguir nos controlar. E não quero ninguém nos pegando no
flagra. Mais tarde, Marido! — Sorrio para ele, que devolve o sorriso
em negação e me dá mais um beijo.
Nos separamos com muito custo depois de milhões de
selinhos.
— Vamos. — Saímos de mãos dadas e seguimos com as
meninas para o salão.
Entramos juntos no local. Sorrimos para todos. Parece um
sonho. Seguimos até o centro e olho para o Moreno, que sorri com
aquele jeito maravilhoso que só ele sabe.
Cumprimentamos as pessoas. Tem gente para todo lado
conversando, tirando selfies e bebendo. Descemos para o centro da
pista, para nossa primeira dança de casados. Starving, a música
que eu escolhi, começa a tocar.
Se fosse para escolher uma trilha sonora, acho que seria
essa. A música de Murilo e Alexia.
— Além disso, além disso você faz coisas ao meu corpo. E
eu não sabia que estava faminta até que provei você... Não preciso
de borboletas na barriga quando você me dá o zoológico inteiro.
Cantarolo para ele baixinho enquanto dançamos.
— Quanto mais te conheço, mais te quero. Algo dentro de
mim mudou...
Nem acredito que estou casada, e com esse homem. Estou
tremendo, mas de um jeito bom. Minha barriga assanha com
borboletas e pássaros. Me mantenho quietinha no seu braço
enquanto dançamos. E eu tenho ainda mais certeza que escolhi a
pessoa certa. Minha sogra e minha mãe estão que não se
aguentam, vendo o primogênito e a caçula casados.
Antes de chegar na metade da música, escuto um barulho
alto de hélices, tão alto que chamou a atenção de praticamente todo
mundo. Olho para cima e vejo um helicóptero pequeno, com uma
faixa pendurada.
— Sua surpresa chegou. — Murilo sorri para mim, ansioso e
feliz. Sorrio também, mas me atento a olhar para cima novamente.
Surpresa? O que Murilo aprontou?
E leio a faixa: “Morena, que o nosso amor alcance o céu e
que seja tão infinito quanto. Te amo!”
Meu Deus! Meu Moreno é muito lindo!
— Que lindo, Moreno! — Encantada, sorrio.
— Qualquer coisa que eu fizer ainda será pouco pelo que
você merece.
Me enlaça novamente pela cintura para voltarmos a dançar,
e ponho minha cabeça no seu peito, apaixonada demais pelo dia de
hoje. Escutamos assovios, aplausos e gritos de todo mundo, e
quando me dou conta, percebo coisas caírem em nós. São pétalas!
Não! Chuva de pétalas vermelhas?
Eu não acredito! Murilo se superou completamente nessa
surpresa. Nunca imaginaria!
— Murilo! — mal consigo disfarçar a plenitude desse
momento. E sequer quero disfarçar, nem ele, com seu sorriso
contagiante. — Te amo, muito! Eu estou apaixonada nessa surpresa
linda! — sussurro no ouvido dele, não segurando mais minha
emoção enquanto dançamos sob a chuva.
— Te amo mais, Senhora Montenegro — devolve enquanto
a música se encaminha para o final.
Meu Deus, eu estou completamente apaixonada. Chuva de
pétalas! Que incrível! Só vi isso umas duas vezes em filme. E hoje,
é comigo que acontece. Eu estou vivendo um sonho! Por favor, não
me acordem!
As pessoas aplaudem ao fim da música e sorrio ainda mais.
Depois do brinde “aos novos Sr. e Sra. Montenegro”,
comemos, bebemos e dançamos. A decoração e a festa estão
lindas, do jeitinho que planejei.
O Moreno me puxa pela cintura e me arrasta para um canto,
aproveitando a euforia do povo no buquê. Me imprensa na parede e
me beija, o beijo que não conseguimos dar desde a cerimônia. Me
separo dele, ofegante.
— Vamos? — sugiro, um tanto desejosa.
— Vamos, acho que não consigo ficar mais tempo sem
saber qual a calcinha que você tá usando, e quero matar a minha
ânsia de você.
— Não fala isso. Estou com vontade de você desde que
deram essa ideia louca de nos separarmos. Nem deu tempo de a
gente matar um pouquinho a saudade — provoco e, contra a boca
dele, passo as mãos nos seus braços, cobertos somente pela
camisa social.
Nos despedimos e saímos da festa o mais rápido que
conseguimos. Todos nos acompanharam até o carro com a seguinte
inscrição atrás: “Just married”, e alguns balões. Me despeço e entro
no carro, mas não antes de Liz e Nat sorrirem maliciosamente para
mim. Natasha falar em mímica: “me orgulhe”.
Que venha a noite de núpcias!
Lua de mel
ALEXIA
Aliso minha barriga, que já está bastante perceptível, com
meus pequenos dentro, enquanto olho para fora da janela a
paisagem e os carros passando rapidamente.
Só em pensar que faltam pouquíssimos meses para eles
nascerem, fico eufórica e amedrontada com o que me espera.
Minha vida deu um giro fenomenal.
Mal posso esperar para conhecê-los e ver se parecem
comigo ou com Murilo. Como serão os olhinhos, o formato da boca,
se vão ter os dois tracinhos nas bochechas como eu, ou o formato
do nariz e a cor dos cabelos. Estou ansiosa por isso, e
principalmente por pegar e dizer “são meus”.
E, dadas as emoções, nem acredito que finalmente estou
casada. E o melhor de tudo, com o meu Moreno que tanto amo.
Parece irreal, pois pela lógica ainda deveríamos ser namorados, nos
curtindo, e não já marido e mulher com duas crianças prestes a
nascer. Mas a nossa certeza e a necessidade de estar juntos acima
de qualquer coisa deixa tudo pequeno, até a racionalidade. E não
me arrependo, pois entre razão e a emoção eu sempre fui emoção,
e mesmo passando por poucas e boas, estamos aqui felizes.
Murilo estava achando melhor deixar para viajarmos
amanhã pela manhã para eu não cansar, porque são algumas horas
de viagem até a ilha. Mas não me importo, não vejo a hora de
chegar lá e eu não penso em cansaço quando tenho esse homem
oficialmente meu do meu lado e disposto a tudo por mim.
— Acho bom estar suspirando por mim — Murilo chama
minha atenção.
Olho para ele, que ainda está com a camisa social branca. A
diferença é que está sem o colete, com dois botões abertos e com
as mangas dobradas. Muito gostoso, e o melhor de tudo, meu de
papel passado.
— Eu sempre estou suspirando por você. — Tateio,
procurando sua mão, e em seguida a pego, alisando a aliança.
— Tá sentindo algo? Tá quietinha. Se não estiver bem eu
peço pra parar o carro — diz, preocupado.
— Não, eu Estou bem — o tranquilizo, sorrindo.
— Tudo bem.
— Estou tão feliz, parece que é um sonho — confesso,
recostando o rosto no banco.
— Sim. Eu também sinto isso. — Sorri, me derretendo.
Murilo se desprende do cinto e senta no meio, mais perto de
mim. E em seguida coloca o outro cinto e me puxa para eu colocar
minha cabeça no seu peito, e assim fico.
— Não vejo a hora de tirar essa sua roupa — sussurra no
meu ouvido e eu me arrepio.
— Não se atiça uma mulher grávida — brinco.
Ele sorri e me dá um beijo. Aliso sua bochecha e ele fica
que nem um gatinho manhoso, recebendo as carícias enquanto
passa os dedos de leve na minha barriga.
No meio do caminho eu estava entediada e cansada, como
ele previu. Mas como sempre, ele me distraiu com beijos e carinhos
até eu dormir e fizemos o resto do percurso tranquilamente.
Ele acabou descansando também e acordamos quando
estávamos perto.
— Vem, amor — ele me chama, estendendo a mão para
pegar na minha.
Mesmo à noite vejo que o local é lindo. Tem um clima
agradável e gostoso.
Eu e Moreno descemos do carro e logo um menino nos
recepcionou, pegando nossas malas. Assim que entramos no resort,
uma moça nos cumprimenta com sorriso aberto, me fazendo sorrir
em resposta.
A recepção é clean e meio praiana, mas sem tirar a
sofisticação do lugar, que é perfeito. Nem entrei direito e já estou
encantada. Amei! Melhor que viajarmos pra fora.
Deixo Murilo conversando com a funcionária enquanto olho
todo o lugar silencioso, eufórica. O cenário natural deixa qualquer
um inspirado. Um funcionário nos encaminha para onde ficaremos.
Mal posso esperar para chegar.
— Agora somos só eu e você — Murilo sussurra assim que
a porta fecha e me imprensa nela com as suas duas mãos apoiadas
na madeira.
— Sim. Só nós dois — digo de volta.
Seguro no seu ombro e ele me segura pela cintura e me
beija como se não nos beijássemos há anos. Coloco a mão pelos
seus cabelos quando ele intensifica mais, me apertando com
cuidado, pois agora ostento uma barriga saliente.
Gemo, sentindo ele fazer coisas com meu corpo só com um
beijo.
— Quer conhecer o quarto?
— Quero — sussurro, dando selinhos nele.
Murilo reservou nada mais, nada menos que um bangalô só
nosso na área verde, perto da praia. E eu digo que é luxuosíssimo.
Com cama king size forrada num lençol branco impecável e
algumas pétalas em cima, frigobar e uma janela enorme com uma
vista panorâmica de tirar o fôlego, através de uma porta de vidro
para uma sacada que me deixa ainda mais apaixonada.
Seguimos juntos para a sacada e dou de cara com uma
vista incrível para o mar e um acesso direto para a piscina particular.
O bangalô todo tem um charme confortável. Bem acolhedor.
Meu Moreno, sempre me surpreendendo, impossível não se
apaixonar.
— Gostou? — Murilo pergunta por trás de mim, me
abraçando. Estamos na sacada espaçosa do quarto vendo o céu já
escuro e as ondas quebrando sob a luz do luar.
— Eu amei. — Me viro para ele, enlaçando seu pescoço. —
Obrigada. — Repouso minha cabeça no seu ombro.
Ele segura no meu pescoço e eu olho para ele para ser
presenteada com um sorriso maravilhoso.
— Linda — me elogia e em seguida me beija.
Ainda nos beijando, sigo com ele para dentro do quarto, pois
Deus me livre ser expulsa da pousada com menos de uma hora de
chegada por atentado ao pudor.
Nos descolamos e ele me senta na cama, indo pegar duas
taças em uma pequena mesa posta com vinho e algumas outras
coisas, como morangos. Murilo serve as duas taças, a minha com
suco de uva, e traz para perto da cama, junto com os morangos, me
entregando a taça.
Senta na cama, me colocando no seu colo de lado, beijando
meu ombro. Brindamos juntos em meio aos sorrisos. O meu é o
maior, claro!
— Nem acredito que estou casada, sabia? — digo, olhando
para ele com minha taça na mão.
— Você agora é minha, sem restrições.
Sorrio para ele enquanto Moreno retribui. Parece sonho,
estou realizada demais. Bebemos um pouco e Murilo coloca um
morango na minha boca, dando um sorriso safado logo em seguida.
Tira a taça da minha mão, colocando na bancadinha do lado da
dele.
Ficamos em pé e ele me ajuda a tirar o vestido. Abre o zíper,
plantando rápidos beijos onde seus dedos passaram. Arranca do
meu corpo, deixando cair no chão ao redor das minhas pernas
enquanto desce a mão para me apalpar. Solto um pequeno gemido
baixo, imprensando minha bunda nele.
Me vira de frente, segurando na minha nuca para me beijar.
Nossas línguas se envolvem uma na outra enquanto sinto nossos
corpos se arrepiarem juntos. Agarro ele na mesma ânsia com que
me beija, o trazendo para mim com mais urgência. Desabotoo sua
camisa, colocando minha mão por dentro para tocar sua pele. O
beijo está arrebatador, intenso, me deixando em êxtase.
Desço a mão, desabotoando seu cinto e abrindo sua calça
enquanto ele distribui beijos e pequenas mordidas no meu pescoço
e orelha, me arrepiando completamente.
— Deita, vai — pede ofegante e eu obedeço. Assisto ele
arrancar a camisa e a calça, ficando de cueca, mostrando todo o
volume. Gostoso!
Podem passar mil anos, que sempre vou achar que ele está
ficando mais bonito a cada dia.
Vem para a cama, beijando minha barriga, e sobe para os
meus seios, arrancando meu sutiã, apalpando-os logo em seguida,
me deixando ofegante e mais derretida.
Continua a me instigar com beijos maravilhosos pelo meu
corpo, descendo pelas minhas pernas.
Arqueio as costas, sentindo sua barba fazer o caminho, me
dando uns choques e arranhando.
Para na minha calcinha, arqueando as sobrancelhas, e continua a
me olhar com os olhos que me queimam totalmente.
Ele a arranca logo em seguida, abrindo minhas pernas.
— Murilo! — ofego, contraindo os dedos dos pés quando
sinto sua língua gostosa. Me contorço ainda mais enquanto ele
distribui beijos e lambidas.
Puxo e repuxo o lençol, sentindo sua barba me arranhar de
um jeito gostoso, assim como sua língua, que faz um maravilhoso
trabalho.
Sem me importar com mais nada, gemo quando o orgasmo
devastador me atinge.
Ofegante, levo minha mão em direção à sua bunda, onde só
tem a cueca impedindo de tê-lo dentro de mim, e aperto forte.
— Vou te comer bem gostoso — sussurra no meu ouvido o que tem
em mente e só consigo ofegar, levando minhas mãos para suas
costas, e desço de novo para o cós da sua cueca, tentando tirá-la.
— Por favor.
Murilo dá um último beijo e puxa a cueca, mostrando tudo
aquilo. Me chama e vou para a ponta da cama, sendo virada logo
em seguida, ficando de quatro.
— Hummm — geme, me saboreando novamente, e sinto um
arrepio maravilhoso. Mas logo a língua é substituída pelo seu pau,
que passa pra lá e pra cá em toda a extensão antes de entrar aos
poucos em mim e eu me sentir cada vez mais aberta para dar
passagem a ele.
Gemo, agarrando a primeira almofada que vejo. Murilo sai
quase todo e volta novamente, me dando mais tesão.
— Deus! — exclamo quando ele começa a pegar um ritmo
bom.
— É Murilo mesmo — comenta, ofegante, sem parar de se mover. A
sensação dele no meio das pernas entrando e saindo é
maravilhosa.
Moreno vai cada vez mais rápido e gostoso, me fazendo
revirar os olhos de puro prazer.
— Senta aqui.
Sai de dentro indo para a cama e dá dois tapinhas na sua
perna, só me esperando.
Rastejo até onde ele está e sento no seu colo, sentindo me
invadir cada vez mais.
Ofego, soltando ar pela boca quando o sinto completamente
dentro.
— Rebola.
Murilo pede, mordendo a boca e levando a mão
imediatamente para minha bunda.
Obedeço, indo pra frente e pra trás. Ultimamente essa
pra mim é a melhor posição para transar. Além de senti-lo mais, é
melhor por causa da barriga e aqui eu fico no controle.
Murilo agarra com a boca um dos meus seios,
massageando e acariciando o outro, e depois distribui beijos no meu
pescoço. Puxa e torce de leve, arranha com a barba ao redor e em
seguida lambe meus mamilos. Rebolo no seu colo enquanto ele
geme no fundo da garganta, aumentando a vontade de beijá-lo cada
vez mais.
Nada mais gostoso que homem com respiração
entrecortada.
Nossa noite foi embalada por uma sinfonia de gemidos,
suspiros e promessas. Sussurros ao pé do ouvido e olhares de
desejo. A cada toque, a cada olhar, era como se estivéssemos nos
tocando pela primeira vez. Às vezes com pressa, às vezes calmos,
apenas curtindo, mas nunca deixando de nos olhar.
Murilo deita na cama e começa a estocar. Cada vez mais
rápido, com bastante vontade e intensidade, e eu fecho os olhos
absorvendo tudo entrando e saindo de dentro de mim com urgência.
Ele estoca forte, do jeito que só vai quando está perto.
Aumenta a velocidade das chupadas nos meus seios enquanto
reveza de um para outro. Ofego e arrepio cada vez mais. Ele vai e
volta rapidamente mais algumas vezes enquanto eu tenho uma
pequena convulsão, agarrando os lençóis.
Ele geme de um jeito gostoso enquanto goza e eu desabo
na cama com ele.

Dentro da banheira de hidromassagem com espuma e à luz


de velas, Murilo e eu trocamos carícias apaixonadas.
— Amo você assim. Atencioso, cuidadoso e apaixonante.
Não muda, por favor — peço, olhando para ele.
— Você é o motivo de eu ser assim. E não vou mudar.
Sorrio abertamente para ele e, por sua resposta, com o
coração aos pulos, viro para frente e ele coloca a mão na minha
barriga desnuda sob a água. Coloco a minha por cima da dele e as
nossas alianças reluzem.
— Você é tudo que eu procurava.
Sorrio ainda mais por isso. É gostoso e estranho, de um jeito
bom, saber que estamos casados.
A água esfria e Murilo me ajuda com o roupão, para
voltarmos ao quarto.
— Nem acredito que estamos casados, sabia?
Olho bem nos seus olhos escuros que tanto me fazem
admirá-lo e ele pega minha mão, levando-a na boca, onde sustenta
um sorriso contagiante.
Fomos deitar para dormir, esgotados depois de mais uma
sessão gostosa de sexo carinhoso.
Hoje eu me senti amada, desejada e especial como nunca.
Alisa minha bochecha com o quarto escuro, só com a claridade da
lua que entra sorrateiramente pelo quarto.
— Amo você.
Beijo sua boca, alisando seu queixo em seguida.
Relacione-se com alguém que te ame da forma mais bonita,
que te ame sem receios, que te ame. Alguém que desperte teu
sorriso fácil, que te guarde num abraço, que lute com você e por
você. Namore com alguém que te faça morrer de amor e tesão, que
te faça morrer de rir. Noive com essa pessoa, que te deixe com a
autoestima lá em cima e que mostre pra todo mundo que tem
orgulho e sorte de ter você ao seu lado. Por fim, case com ela e
tenha filhos!
Aposto que você quer, no final da sua vida, olhar para trás
com o coração cheio de felicidade, sem falsa modéstia, com plena
convicção e serenidade, e saber que foi bem-amada. Eu tive a sorte
de ter bebês gêmeos com o cara que eu amo e por quem me sinto
completamente amada. Muitos momentos da minha vida me fizeram
acreditar que eu não conseguiria um terço do que eu tenho hoje. E
nada mais gostoso que mostrar e se dar conta que você foi mais,
muito mais do que todos imaginavam.
epílogo
ALEXIA
MESES DEPOIS...
— Murilo! — grito assustada do banheiro, vendo o aguaceiro
no chão. Ainda é madrugada, quatro da manhã, por aí. Levantei
para fazer xixi mais uma vez, como sempre faço, e antes de chegar
achei que tivesse feito nas calças, mas foi incontrolável, até eu
perceber que foi a bolsa.
Eu estou com trinta e três semanas e tinha marcado a
cesariana para daqui a uma semana, quando completo trinta e
quatro, pois, como são gêmeos, a médica achou mais seguro por ter
grande risco de nascerem prematuros. E fez de tudo para que eles
ficassem aqui o máximo de tempo possível.
Desde o final da tarde sinto dores nas costas, mais que o
normal, aquela dor que ia e voltava sempre, sem contar que estava
sentindo cólica nesses últimos dois dias.
Achei que fosse coisa do final da gestação. Minha barriga já
estava baixa e dura, pois um dos dois já estava encaixado. Era
Tiago, foi encaixar nos quarenta e cinco do segundo tempo, pois
estava sentado.
— O que foi?
Ele aparece com a cara amarrotada de sono e assustado.
— Não conseguiu chegar a tempo?
Pergunta ainda zonzo, olhando o líquido no chão.
— Não! Foi a bolsa! — grito quando sinto uma pequena
pontada. As dolorosas e temidas contrações pelo jeito começaram.
— Murilo! — berro quando ele continua parado, sem ação,
me olhando, apenas com um sorriso idiota.
— Ahn… Hospital? — questiona, começando a se mover
sem saber ao certo o que fazer primeiro.
— Primeiro liga pra Rita. Era pra nascerem semana que
vem — oriento.
— Vou ligar. Venha.
Ele finalmente toma o choque de realidade, me levando para
o quarto pela mão, ainda com o sorriso besta no rosto.
Sentada na cama enquanto Murilo liga, coloco a mão na
barriga, mentalizando que tudo vai correr bem, que falta pouco
tempo para finalmente tê-los comigo e com Moreno.
— Ela falou pra gente contar o tempo das contrações e que
é pra irmos pro hospital, que ela já tá indo também.
— Então vamos. — Assinto.
Vou para o banheiro tomar um banho rápido com Murilo
questionando: “vai mesmo parar e tomar banho?”, a cada dois
segundos enquanto me segura. As contrações começaram, porém
não as estou sentindo em intervalos muito curtos ainda.
Murilo rapidamente veste uma roupa, pois estava de cueca
apenas e me ajuda, colocando um casaco e um vestido em mim.
Descemos a escada depois dele correr ao quarto dos
gêmeos para pegar as coisas antes, e seguimos para o carro dele.
Recosto minha cabeça no banco, alisando minha barriga em
nervosismo puro.
Estou com uma dor insuportável nas costas. Murilo toda
hora passa a mão no cabelo, está quase tremendo.
Chegamos no hospital e logo pegam uma cadeira de rodas
para mim. Seguimos para a emergência, pois tive mais duas
contrações nesse meio tempo de casa até aqui.
As contrações não estão tão rápidas, mas doem muito. Rita
chegou logo em seguida para fazer o exame de toque, que mostra
que estou com cinco centímetros de dilatação ainda. Faltam mais
cinco.
Fiz a ultrassom e estão encaixados, com batimentos
cardíacos normais. Minha pressão está boa, pois estou tentando me
manter calma o suficiente para não ter nenhum problema.
As contrações foram ficando mais intensas, doloridas e cada
vez mais rápidas, conforme o tempo foi passando depois de eu
caminhar pra lá e pra cá, como se alguém apertasse a minha
barriga com força pelo lado de dentro. As dores mais fortes da
minha vida.
E começaram a piorar, assim como o nervosismo de Murilo,
que vi tremer na base quando me viu contorcendo o rosto, gritando
por causa do incômodo insuportável. Semelhante aos outros, porém
muito pior. E Rita avisa que já está na hora.
Ele até então estava do meu lado fingindo que estava bem,
tentando me manter calma.
— Em dois minutos Estou lá — escuto um Murilo apreensivo
falar perto de mim e aceno.
Sou levada para o centro cirúrgico e só consigo pensar que
em pouquíssimo tempo estarei segurando meus dois bebês e
finalmente olharei no rostinho de cada um.
Murilo aparece logo em seguida com a roupa e a touca,
ficando do meu lado e segurando minha mão esquerda. A sala tem
mais enfermeiros que o normal.
— Pronta? Faça força quando a dor vier. E tente se manter
calma e focada — Rita me recomenda e, de olhos fechados mesmo,
assinto.
Calma e focada, calma e focada, calma e focada…
Repito sempre que a dor dilacerante que começa na região
lombar se espalha rapidamente para a frente, na parte inferior da
virilha.
Grito várias vezes, apertando a mão de Murilo, que está
claramente apreensivo do meu lado.
— De novo, Morena! — Murilo me incentiva a cada grito que
dou.
— Já estou vendo a cabeça! — Rita me avisa e faço mais
força, sentindo a dor enorme pelo meu corpo. Parece que não vai
acabar nunca!
— Não consigo! — choramingo, com muita dor.
— Falta pouco, amor.
Murilo passa a mão na minha testa suada, colocando alguns
cabelos que saíram para dentro da touca.
Olho para ele e meneio a cabeça, me preparando para fazer
força de novo. Grito mais duas, três vezes, até finalmente ouvir o
choro potente de um pequeno bebê ao mesmo tempo que fito
Murilo, observando concentrado. Eu poderia dizer que esse é um
olhar de admiração, com um sorriso enorme vendo o bebê
chegando.
Sorrio cansada, vendo tudo. Não poderia ser mais
maravilhoso.
— Veio a menina! — Rita nos avisa a chegada de Nicole e
não consigo controlar as rápidas batidas do meu coração acelerado.
Com o coração transbordando, vejo a pequena que ainda
chora, mostrando que acabou de chegar ao mundo, suja e um
pouco roxinha, e ainda assim eu a acho a coisa mais linda que já vi.
— Ela é linda demais.
Murilo chora ao vê-la, da mesma forma que eu.
Apaixonados!
Entretanto, ela logo é tirada do meu peito pela pediatra para
fazer todos os exames necessários.
— Falta o bebê número dois — Rita me avisa, sorrindo, e eu
aceno em concordância, ainda extasiada com minha menininha. Só
falta meu menino.
Ela apalpa minha barriga, fazendo o exame de toque logo
em seguida para saber se Tiago está encaixado. Ela explica tudo o
que faz para ficarmos cientes.
— A cabeça dele está baixa, próxima ao colo do útero. Vou
romper a bolsa dele pra começar a sentir contrações de novo — ela
explica enquanto arrumo a máscara e eu aceno, sentindo o líquido
incontrolável descendo novamente pelas minhas pernas.
— Você vai começar a sentir contrações em pouco tempo. O
lado bom é que ele vai sair mais rápido. — Assinto ainda olhando
para Murilo, que não consegue tirar o sorriso besta da cara. Mas
logo o sorriso e o alívio são substituídos pelas contrações ritmadas
e dolorosas novamente, depois de Murilo cortar o cordão dela para
esperar as benditas contrações reiniciarem com força total.
Não passam nem dez minutos para a dor vir rápido, como
se estivesse me partindo em duas.
— Lembre-se: tente se manter calma e focada. Ele virá mais
rápido — Rita me incentiva ao começar tudo de novo; mais
contrações e mais força com choro de dor.
— Tá doendo muito! — grito na sala, assustando Murilo, que
está mais apreensivo do que nunca.
Todos da sala me incentivam a fazer força.
Falta pouco. Falta pouco. Falta pouco — repito mentalmente
como um mantra, apertando a mão de Murilo a cada grito. Ele
continua ao meu lado, repetindo: “está tudo bem”.
Tiago logo chora, tão potente quanto Nicole, mostrando que
nasceu, e mais rápido que a irmã, como previsto.
Murilo já está chorando comigo e com o bebê, ouvindo o
melhor som que existe no mundo: o choro do nosso filho recém-
nascido.
Ele logo apareceu para ficar no meu peito, como a irmã. Tão
pequeno e frágil, assim como ela. Ambos de cabelos moreninhos
escuros, como o pai.
Eles são as coisas mais lindas que eu já vi na vida! E pelo
olhar cheio de lágrimas de Murilo, vejo que ele sente o mesmo.
Se me perguntarem hoje qual foi o melhor momento da
minha vida, direi que foi exatamente esse!
Ter Murilo comigo nesse momento foi tão importante… Estar
grávida é uma experiência cansativa, emocionante e, acima de tudo,
recompensadora.
Minha ansiedade aumentou ainda mais quando desci pro
quarto. Mal posso esperar para vê-los de novo e amamentá-los.
Menos de dois minutos depois, Murilo apareceu do meu lado
com um sorriso que não cabe nele.
— Acabei de chegar do berçário. E já avisei a todos.
Moreno se aproxima, dando um beijo na minha cabeça, me
recepcionando com um dos seus sorrisos lindos.
— Estou ansiosa — comento. Estou morrendo de cansaço
pelo esforço e sono atrasado. Mas não descanso até pegar os dois
no colo e mimá-los muito.
— Eu também. Eles estão chegando já.
Beija minha bochecha e eu sorrio abertamente. A enfermeira
chega, me encontrando abraçada a Murilo, trazendo um carrinho
com os dois. Meu coração dá um salto, mal esperando a hora de tê-
los nas minhas mãos. Finalmente vou carregar meus filhotes no
colo.
Tiago, com uma roupinha branca, como a irmã, foi o primeiro
a chegar nos meus braços e me senti a pessoa mais feliz do mundo
pegando aquele pequeno serzinho.
Nicole veio logo em seguida, com o auxílio da enfermeira,
para eu conseguir segurar os dois de uma vez, já que não tenho
prática com isso.
— Acha que consegue amamentá-los? — uma delas me
questiona e eu assinto. — Vou colocar um depois do outro.
Então Tiago ficou comigo e Nicole foi novamente para o colo
da enfermeira, sob o olhar de Murilo, como um macho alfa
protegendo as crias.
Tentei colocá-lo para mamar, para dar espaço a Nicole,
porém, no momento que ele sugou, senti uma dor insuportável,
arqueando as costas.
A enfermeira percebeu e chega mais perto.
— Tenta colocar todo na boca dele.
Obedeço e a dor aliviou um pouco, mas ainda dói.
Amamentar é assim?
Nicole veio logo em seguida para meu colo e, mesmo com
um pouco de dificuldade, consegui amamentar e segurar os dois ao
mesmo tempo. Elas saíram para nos dar privacidade e Murilo veio
para meu lado babar as crias. Ele até comprou uma almofada para
amamentação de gêmeos, mas esquecemos de trazer.
Olho meus dois bebês com uma sensação maravilhosa a se
espalhar pelo meu corpo.
Sinto que valeu a pena cada contração, cada lágrima e todo
o sofrimento, vendo-os mamando, lindos e cheirosos no meu colo.
— Eles são lindos demais!
Murilo está que não se aguenta do meu lado. Apenas
assinto, tirando rapidamente meus olhos deles para olhar Moreno
observando os dois e sorrindo bobo.
Os dois adormecidos e mamando. Provavelmente
cansadinhos. São os pequeninos mais lindos do mundo.
Têm os cabelos escuros, como imaginávamos que viriam.
Entretanto, em um tom mais escuro, igual ao de Murilo, pois o meu
é um pouco mais claro. Os dois nasceram com bastante cabelo e se
parecem bem pouco. Pelo menos é o que dá para perceber no
momento.
Tiago abriu os olhos preguiçosos rapidamente e vejo duas
grandes bolas escuras. Automaticamente abro um grande sorriso,
assim como Murilo, tão encantado quanto eu.
— Quer segurar, Moreno? — questiono quando vejo que
Tiago largou o peito de vez.
— Quero!
Acena como um menino que está prestes a embarcar em
uma coisa muito louca. Com cuidado, ele o pega do meu colo,
colocando no seu.
— Ei, papai — Murilo sussurra, pegando a mãozinha dele e
a levando ao nariz para sentir seu cheirinho, enquanto abre um
sorriso ainda maior ao escutar o bebê choramingar, dengoso.
— Ele é lindo, né? — Murilo comenta sem tirar os olhos do
bebê.
— Muito. Nicole também é a coisa mais linda.
Sorrio mais abertamente, fitando minha bebê mais linda com
essas bochechinhas rosadas, ainda mamando.
— Os dois são lindos. Eu Estou apaixonado por eles.
Fito meus dois moreninhos juntos e meu coração se enche
de tal forma que não consigo explicar. Parece que vai transbordar
de amor.
Analiso Nicole alisando sua mãozinha, sentindo a textura
gostosa, fina e macia de pele de bebê.
Olho-a e cheiro sua mãozinha. Estou muito apaixonada por
eles.
— Melhor presente da vida.
Murilo senta do meu lado ainda com Tiago adormecido no
colo e me dá um selinho.
— Concordo plenamente. — Sorrio extasiada com nossa
família finalmente completa.

Apesar de minha gravidez ser de gêmeos e marcada para


ser uma cesárea, foi tranquila, sem complicações como pressão alta
ou outros agravantes. Não houve necessidade de UTI, incubadora
ou banho de luz para meus pequenos.
Meus filhotes nasceram em uma quarta-feira e hoje, sexta,
estou voltando para minha casa com meus dois amores da vida.
Aliás, três, contando com meu Moreno lindo que não saiu do meu
lado para nada.
Apesar da primeira noite no hospital ter sido cansativa e
tensa, por conta da amamentação cronometrada, pois nem sempre
eu conseguia segurar os dois do modo certo e de primeira, foi
maravilhoso.
Voltamos para casa à tarde e, no trajeto, ao notar o carro
balançar mais com mais dois integrantes dentro e adormecidos,
penso que minha vida não poderia estar melhor.
Um marido maravilhoso, dois filhos lindos e, acima de tudo,
feliz!
Sento ela do meu lado, vendo a pequena bebê que é a coisa
mais gostosa desse mundo. Não canso de olhá-la.
Entro para o nosso quarto com os dois no colo para dar de
mamar, enquanto Murilo toma banho para dormirmos um pouco, já
que para a gente não existe mais essa de ter hora pra dormir ou
comer.
Fito meus dois bebês agora com roupas de manga. O
cabelo de Tiago é liso como o meu, enquanto o de Nicole tem umas
ondinhas discretas nas pontas, igual ao de Murilo. Sem contar que
os olhos dos dois são bem pretos como os dele. Pelo jeito eu tive
dois “Murilos”, um deles em versão feminina.
Nesses poucos dias percebi que os dois são muito
semelhantes. Sofri tantas dores e incômodos, sem conseguir dormir
e nem andar direito com dor nas costas e pés, sem contar o parto,
para nascerem iguais a ele. Tem graça!
Eu não paro de sorrir à toa. Parece que não vou me
acostumar nunca, que ainda é um sonho louco.
Ver minha barriga crescer cada vez mais e saber que tinha
duas pessoinhas dentro e agora vê-los aqui comigo, mamando, é
muito irreal e gostoso. Olho para cima e vejo Murilo olhando bobo
nós três na porta com os cabelos molhados e de short fino, sem
camisa. E meu peito explode de um jeito bom. Como não o amar?
Parece que foi ontem que nos conhecemos e hoje temos dois bebês
lindos.
— Dormiram? — questiona e eu aceno enquanto ele vem na
nossa direção.
— Sim.
Guardo os seios com os dois dormindo em meu colo. Murilo
pega Tiago, que estava mais perto dele, para arrotar, enquanto eu
levanto com Nicole para ela arrotar também. Seguimos para o
quarto deles e logo deitamos os dois, cada um no seu berço, pela
primeira vez.
Cada primeira vez que vivencio é maravilhosa. Assim como
Murilo que, para o senhor sabe tudo, se embolou todo trocando
fralda.
— Não consigo parar de olhar. — Murilo me abraça por trás,
olhando os dois, cada um em um berço, dormindo quietinhos.
— Nem eu — sussurro para não fazer barulho.
— Tome banho pra descansar. Daqui a pouco é hora deles
mamarem de novo — Murilo comenta no meu ouvido no mesmo tem
de voz que usei com ele e assinto, parando de fitar Nicole.
Sigo de volta para o nosso quarto a fim de tomar um banho
relaxante. Estou cansada, mas parece que não vou conseguir me
desligar para dormir. Só quero ficar lá olhando eles dormindo.
Saio do banho vestida e sigo pela casa para encontrar
Murilo ainda lá dentro do quarto dos dois. Encontro meu Moreno
com a pequena no colo. A cena é linda e eu fico ainda mais
derretida.
— Tem que dormir, papai. Mamãe precisa descansar e papai
também.
O Moreno está conversando com a Nicole, que está
quietinha o olhando hipnotizada. Pelo jeito não sou só eu que fico
em transe com a voz desse homem.
— Acordou, foi? — questiono baixo. Murilo me vê e sorri do
jeitinho que me cativa, e põe a pequena no berço de volta.
— Estava resmungando. Mas já tá quase adormecida de
novo.
Aceno para checar Tiago, que dorme quieto. Não existem
palavras suficientes para descrever o sentimento de ser mãe e,
quando eu o olho, meus sentimentos triplicam.
Sinto o abraço dele de novo por trás, deixando um beijo na
minha bochecha.
Toda vez que ele me abraça eu tenho a sensação de
encaixe, como se nossos corpos fossem feitos para ficarem
entrelaçados.
— Vamos descansar um pouco — me chama.
— Me deixa checar mais uma vez.
Vejo se os dois estão respirando direitinho e se não tem
algum jeito deles se sufocarem. O meu amor por eles é inexplicável
e incondicional. Eles sem dúvida foram as melhores pequenas
grandes coisas que aconteceram na minha vida, assim como o pai.
Saímos juntos de lá, deixando a porta aberta, e logo
deitamos juntos abraçados, com as pernas entrelaçadas, sentindo o
carinho gostoso nos meus cabelos.
Agora vejo que tudo que passei foi necessário para
estarmos aqui desse jeitinho. Agradeço a cada ex que passou na
minha vida, cada um deles me ensinou uma coisa. Com Diego eu
aprendi que ninguém conhece alguém totalmente. Eu ainda
descubro coisas sobre Murilo, algumas me deixam até surpresa,
positivamente. Mas não perco minha sanidade por isso, já que não
posso controlar tudo.

Eu nunca quis que ninguém morresse de amor por mim,


sempre quis um amor recíproco. Alguém que demonstre o que
sente, que se importe comigo, que se preocupe e que me dê
atenção, mesmo quando eu digo que não é nada. Que manda
mensagem para saber como estou e como está sendo meu dia, ou
se preciso de alguma coisa. Alguém que me faça rir, que me faça
feliz, que goste de mim e principalmente me aceite e se orgulhe de
quem eu sou.
Alguém que não tenha medo de demonstrar os sentimentos.
Que me acrescente e nunca me diminua. E vejo que consegui tudo
isso, quando vejo meu Moreno me dando atenção sempre, mesmo
cansado como eu. Principalmente agora, com ele me olhando bobo,
com um sorriso mais bobo ainda.
Mesmo percebendo que a vida materna é difícil, ainda mais
de dois. É mais do que imaginava, mas não me arrependo. Vieram
no momento certo. Se não fosse assim, não seria tão perfeito.
— Amo você.
Segura no meu queixo para me dar um selinho gostoso na
boca.
— Amo mais. Obrigada por ser especialmente desse
jeitinho.
— Você sabe que é meu motivo de ser assim. — Sorrio para
ele, fitando seus olhos castanho-escuros quase pretos, dando outro
selinho logo em seguida.
Em uma determinada parte da vida, temos que fazer
escolhas. Eu escolhi ser desse jeitinho: apaixonada, passional, um
pouco teimosa, decidida, muitas vezes medrosa e insegura, mas
certa de meus desejos e vontades. Se esse é o modo correto?
Sinceramente não sei, mas não consigo ser diferente. Essa sou eu e
me orgulho disso. Aprendi muito, tanto pelo amor quanto pela dor,
mas tudo é resultado das minhas escolhas e hoje me orgulho da
pessoa que me tornei.
Às vezes eu olho para trás, para o resultado de tudo que
vivemos e não consigo acreditar que é minha família, com meu
marido e meus dois bebês. Tiago e Nicole, que saíram de mim e são
as coisas mais especiais da minha vida.
Não sei se existe o “felizes para sempre”, e não sei em que
momento isso chega. Mas eu arrisco dizer que o meu é exatamente
o agora.
Sabe por quê? Porque eu conheci a minha felicidade, e
todos eles têm olhos castanhos e sorrisos capazes de me
derreter completamente. Nosso relacionamento não é do tipo
de receber flores todos os dias, nem restaurantes caros, joias
ou qualquer coisa do tipo, apesar dele me agradar de vez em
quando com essas coisas. Mas nossa chama continua acesa, e
não é por nada disso que pegamos fogo.

Murilo mostra que me ama nas coisas mais simples. No


abraço de bom dia, no elogio e no jantar pronto. O cuidado em
fazer massagens nos meus pés quando reclamo de dor e
sempre me ouvir contar sobre meu dia, mesmo que eu sequer
tenha posto os pés fora de casa.

Eu tenho muitas partes boas dentro de mim, isso é


inegável. Tenho lembranças para recordar e histórias para
contar, além de muito aprendizado. Mas faltava a melhor parte
para ser preenchida, a parte em que Murilo se encaixou, como
se aquele espaço sempre tivesse sido dele. Foi chegando
devagarzinho e quando eu menos esperava, estava
completamente apaixonada pelo atrevido que me mostrou um
lado maravilhoso da vida. Um atrevido completamente meu.
bônus
MURILO
Desde que eu conheci Alexia ela foi prioridade na minha
vida, e eu não me sinto arrependido de tê-la colocado nesse
patamar, pois ela merece e eu a amo.
Ainda me sinto extasiado com tudo. Com a família que
criamos. Meus dois filhotes. Nicole com seu sorriso doce e Tiago, o
mais quieto dos dois, com sua carinha séria.
Quando eles nasceram foi a melhor sensação. Olhei para o
rostinho dos dois, que pareciam me dizer: “vou roubar sua mulher,
esvaziar sua carteira, tirar seu sono e ainda assim vai sorrir de tudo
que eu faço”, e eles estavam certíssimos. Ambos estão com dois
anos agora e deixam Alexia louca, pois juntos são terríveis.
Não poderia estar em um momento melhor da minha vida.
— Papai.
Escuto a voz doce de Nicole me chamando. Abro os olhos
para ver ela e Tiago tentando escalar a cama com sorriso traquina.
Os dois de pijama ainda.
Eles são as coisas mais lindas da minha vida. Sou um pai
coruja, ou babão, como Alexia fala, mas assumo, se pudesse os
colocava no bolso. Principalmente minha princesinha.
— Hum! — resmungo, puxando um e depois outro para cima
da cama. — Cadê sua mãe?
— Lá.
Tiago aponta para a porta do quarto e eu assinto. Cada um
me dá um beijo molhado no rosto e eu só consigo sorrir, apertando
os dois cada um de um lado no braço.
Eles são bem carinhosos, apesar de Nicole não gostar muito
que abracem ela toda hora, mas sempre vem quando chamo. Eles
estão querendo pular na cama, bem acordados. Vou para a ponta
da cama disposto a levantar e os dois pulam nas minhas costas.
Sossego pra quê?
— Faz aquilo, papai — Nicole me pede, Tiago concorda
animado logo em seguida e rio para os dois.
Adoram uma algazarra. Ela principalmente.
— Venham. Vamos fazer exercícios — entro na onda deles,
que estão superfelizes por isso.
Seguro os dois pela camisa, um de cada a lado e começo a
fazer eles de halteres, suspendendo-os, fazendo eles gargalharem
alto.
Alexia fica louca quando me vê fazendo isso, acha que as
camisas vão lacear ou eles vão cair de cara no chão. Mas nem
ligamos, eu consigo segurar os dois, pois não pesam quase nada.
Nicole parece mais comigo do que com a Alie, adora ir
comigo pra academia, para me ver exercitando. E estou esperando-
a ficar maior pra pular de paraquedas comigo. O lance de Tiago é
água, adora as aulas de natação.
Alexia pulou novamente de paraquedas comigo, só que
dessa vez curtiu muito mais. Está menos medrosa, cada vez que
fazemos isso ela ama mais.
E falando na mãe deles, acaba de chegar aqui na porta.
Ainda de camisola, com o cabelo preso no alto da cabeça.
Preciso nem dizer que a maternidade a fez bem, né? Está
muito mais gostosa, com o corpo mais curvilíneo, como sempre
desejou. E belas pernas que, só de olhar desnudas, me dá vontade
de jogá-la nessa cama de novo.
Solto os dois em cima da cama, que caem gargalhando, e
sento junto.
— Vocês são terríveis — Alie comenta com sua voz sempre
calma, chegando mais perto da cama com uma bandeja de café.
Sou ou não um sortudo por ter ela assim, vindo com toda a sua
sensualidade?
Ela senta na ponta da cama, entregando um copo de tampa
para cada um e chega mais perto para me dar um selinho.
— Feliz aniversário, meu amor.
Alisa minha bochecha e me dá mais um beijo rápido na
boca.
— Obrigado.
Dou mais um antes de soltá-la.
— Apaga as velinhas — pede para apagar uma vela
minúscula em um pequeno bolo decorado. Assopro com Tiago e
Nicole batendo palminhas.
E eu e Alie sorrimos. Tudo que fazem nos deixa derretidos.
Levanto para ir ao banheiro, que foi minha ideia inicial ao levantar, e
volto a ponto de ver Nicole em pé na cama, querendo pular de novo.
— Não, mamãe. Senta pra tomar.
— Não quero — responde toda dengosa e Alexia, com toda
paciência do mundo, a segura dando um beijo nas suas bochechas,
fazendo-a sentar direito logo em seguida. Acaba indo para sentar no
seu colo, recebendo carinho. Dengosa!
Recebe um beijo na bochecha sob o olhar de Tiago, que
está quieto bebendo seu líquido. Chego mais perto, sentando de
novo na cama e recebendo uma xícara de café.
— O que quer fazer hoje? — Alexia me questiona com sua
xícara na mão e eu dou uma bela olhada nela, com mil e uma
intenções. Saber o que eu quero fazer é bem fácil.
— Que inclua as crianças — completa e rio enquanto ajudo
Tiago a vir para o meu colo, pois está em pé me abraçando pelo
pescoço, tentando vir de qualquer jeito.
— Não sei.
— Estava pensando... Liga pra seus amigos. E passamos
no mercado pra comprar carne.
Sorri para mim e eu assinto. Nunca me importei com meu
aniversário, mas uma pequena comemoração de vez em quando é
legal.
— É bom! — Aceno concordando e ela faz o mesmo,
mastigando uma torrada e dando na boca de Nicole, que logo em
seguida a puxa pelo braço para comer também. Terminamos o café
e em seguida saímos para o mercado, depois da maratona que é
arrumar duas crianças enérgicas.
Liguei para o pessoal no caminho e disseram que estariam
aqui em breve. Saímos do mercado com sacolas e duas crianças
pedintes com chocolates nas mãos. Alexia ficou na rua para
comprar algumas coisas, mas voltou logo.
O pessoal chegou junto, fazendo barulho. Meus pais
chegaram logo em seguida, com Isa e toda sua petulância e, para
minha infelicidade, seu namorado. Não foi ela quem disse que não
ia namorar mais?
— Nina! Tito!
Ela vem gritando por Nicole e Tiago, que são loucos por ela,
para meu desespero. Os dois correm na direção dela, que agacha
para pegá-los. Louca! Não cresce de jeito nenhum.
Cumprimento todos e a festa passa normalmente, muito
agitada e divertida.
Mas não conseguia parar de olhar Alexia passar pra lá e pra
cá com as pernas de fora. Faz de propósito.
A festa durou até umas oito da noite, depois de muita
bebida, comida e música alta. Alexia ainda lembrou de comprar
bolo, quem mais aproveitou foi Tiago, que agora está com as
bochechas meladas de chocolate e um sorriso com dentes sujos.
— Dá beijo no papai.
Alexia, com uma mochila infantil na mão, fala com Nina e
Tito e eu fico confuso.
— Eles vão por quê? — questiono.
— Você não é inocente, Murilo! — Isabela grita, pegando a
pequena mochila dos dois. Olho sério para ela, que ri dando de
ombros. Olho para Alexia que está rindo também, porém com as
bochechas avermelhadas. Acabo sorrindo também, pegando os dois
no meu colo para receber um beijo babado de cada um.
Sigo com os dois no colo para fora, onde meus pais estão
esperando no carro.
— Pedi pra ela olhar os dois essa noite. Amanhã de manhã
a gente busca.
Alexia me explica enquanto andamos com Isabela a tiracolo
com o namorado.
— Olha lá, viu, dona Isabela?
Olho séria para ela e para o moleque que ela chama de
namorado.
— Mas você é chato, hein? Vou treinar pra quando seus
sobrinhos vierem — rebate, pegando Tiago do meu colo para
colocar na cadeirinha, e olho bem sério para ela. O carro logo
arrasta com todos dentro depois dos dois acenarem, pois sabem
que com ela a algazarra é garantida. Puxo Alexia pela mão para
dentro.
— O que você tá aprontando, hein?
Beijo seu pescoço enquanto entramos em casa.
— Estou aprontando nada. Só achei que gostaria de
terminar isso de um jeito, digamos… mais íntimo.
Vira pra mim com um sorriso lascivo. Pego-a para um beijo
gostoso, que aceita sem problema algum. Lógico que eu gostaria de
terminar essa noite com ela suada e nua em cima da nossa cama.
Mulher gostosa, com esses lábios deliciosos. Ela geme
quando desço a mão, apalpando com gosto sua bunda enquanto
seguro firme seus cabelos.
— Bruto hoje, é? — sussurra, sorrindo de modo provocativo
e perverso para mim. Não respondo, apenas a beijo novamente,
derretendo-a, fazendo com que me aperte com a unha no braço.
Desço a mão para a perna dela, subindo logo em seguida
por baixo do pedaço de pano que ela chama de saia.
Puxo-a para cima, ela enrosca as pernas na minha cintura e
seguimos para o quarto, jogando-a na cama na sequência.
Estou com fome dessa mulher hoje. E só paro quando a ver
totalmente esgotada.
Puxo sua camisa com urgência, abrindo seu sutiã logo em
seguida...
— O que é isso? — comento ofegante ao ver uma frase
tatuada na sua costela.
— Fiz uma tatuagem. Foi de manhã, quando fui comprar o
bolo — comenta, dedilhando minhas costas. Olho novamente a
tatuagem que ainda está meio avermelhada. Estou surpreso e
minha cara mostra isso, pois ela ri.
— A vida é uma escalada.
Leio a delicada frase e em seguida a observo. Ela ainda
sorri.
— Gostou? Doeu pra caramba!
— Achei linda. E Estou surpreso.
— A frase inteira é: “a vida é uma escalada, mas a vista é
ótima”. É pra me lembrar sempre que, mesmo com as dificuldades
que a gente teve ou ainda teremos, precisamos seguir em frente,
continuar fortes, pois mesmo não sabendo o que mais terá pela
frente, o final será compensador. Como agora — explica e eu
automaticamente abro um grande sorriso. Como não a amar?
Beijo-a novamente em meio a um sorriso. Ela com certeza
foi a melhor coisa que aconteceu pra mim. Assim como Nicole e
Tiago, que me matam de orgulho.
— Amo você, Morena!
— Amo você, Moreno.
Alisa meu queixo, trazendo para um beijo. Fito seus belos
olhos castanhos e percebo que tudo começa na hora certa, nem
antes nem depois. Quando estamos prontos para iniciar algo novo
nas nossas vidas é que as coisas acontecem. Se algo acabou em
nossas vidas, é para a nossa evolução. Por isso, é melhor ir em
frente.
Se me perguntassem qual foi o melhor momento da minha
vida, eu faria uma retrospectiva de tudo. De quando a vi pela
primeira vez, naquela sala, de modo totalmente profissional e
gostosa. De quando eu fiz de tudo para impressioná-la da primeira
vez que nos encontramos.
De como eu me senti foda, sem acreditar quando ela aceitou
o pedido do casamento. Do nascimento dos meus filhos, como me
senti vendo cada um deles, uma felicidade sem tamanho. Da
emoção em pegá-los no colo pela primeira vez. Do casamento com
a Alie, vendo-a lindíssima naquela roupa de noiva com a barriga já
grandinha, sabendo que eram meus filhos morando ali dentro. Da
notícia da gravidez quando descobri que seria pai dos filhos dela.
Da notícia que seriam dois, mesmo quase fazendo tudo desandar
de preocupação por isso. Da primeira vez que me chamaram de
papai, pois a primeira palavra de Tiago foi mamãe, e de Nicole foi
“não”. De quando vi cada um andando, dos primeiros sorrisos, dos
dengos para cima de mim. De quando percebi que ela era cada vez
mais minha, enfim, de todos os momentos que compartilhamos em
família. E no final, eu diria: esse exato momento, pois me fez
relembrar todos eles e me sentir a pessoa mais feliz desse mundo.
PRECISAMOS FALAR SOBRE
RELACIONAMENTO ABUSIVO:
Falar sobre o assunto é o primeiro passo. 3 em cada 5 mulheres são
vítimas de relacionamento abusivo. De acordo com o Centro de Controle e
Prevenção de Doenças, cada minuto, 20 pessoas são vítimas de abuso físico por
um parceiro íntimo. Metade das vítimas, entraram em um relacionamento abusivo
quando tinha entre 17 e 24 anos, marcando esse período como extremamente
vulnerável.
Muitas pessoas acreditam que o abuso de parceiro deve ser físico, mas o
abuso psicológico também é um problema muito grave. Relacionamento abusivo
não é só bater, é qualquer relacionamento que lhe cause dor, vergonha e medo.
O abuso pode assumir várias formas, principalmente que envolvam
qualquer conduta que cause danos emocional, diminuição da autoestima ou
controle de ações por meio de ameaças, constrangimento, humilhação,
manipulação, isolamento, vigilância, insulto, perseguição e limitação do direito de
ir e vir.
56% dos homens admitem já terem cometido uma dessas agressões
contra a parceira e, a maioria, mais de uma vez. Algumas das ações citadas são:
xingar, empurrar, ameaçar com palavras, impedir de sair de casa, humilhar e
obrigar a fazer sexo.
Maioria das vítimas ficam em relacionamento abusivos por preocupações
com seus filhos, segurança e finanças limitadas. E para aqueles que foram
capazes de sair, acham que é difícil confiar em outras pessoas e abrir-se a novos
relacionamentos.
Não é amor quando te prendem, não é amor quando te controla e
principalmente: não é amor quando te machuca (seja mental ou física)
Se você ou alguém que você conhece está em um
relacionamento abusivo, há ajuda disponível e você não precisa ir
sozinho.
LIGUE 180
Entre em contato com a Linha Nacional de Violência Doméstica ao 1-800-
799-7233 ou ligue 180. Qualquer pessoa que precisar de informações ou queira
fazer denúncia de um relacionamento abusivo pode ligar de forma gratuita e
anônima para o Ligue 180.
A Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 é um serviço que ouve e
orienta mulheres sobre seus direitos, além de receber denúncias de violência,
sugestões, reclamações, elogios e outros serviços. As atendentes têm
treinamento humanizado e são capacitadas em questões de gênero, legislação,
políticas do governo federal para as mulheres, informações sobre a violência
contra a mulher e, principalmente, na forma de acolher e orientar nos
procedimentos a serem adotados na busca do serviço adequado.
O Ligue 180 também recebe e encaminha ligações sobre outros tipos de
violência contra a mulher, como, por exemplo, Cárcere Privado, Exploração
Sexual e Violência Obstétrica.
O serviço funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, inclusive aos
feriados. O 180 também pode ser acionado de 16 países com os quais o Brasil
mantém convênio, para atender brasileiras que vivem no exterior.
“Violência doméstica é qualquer ação ou missão baseada no gênero que
lhe cause morte, lesão, sofrimento físico ou psicológico e dano moral ou
patrimonial. E a culpa é sempre do agressor.”
Você é melhor e mais forte que imagina. Acredite nisso! Você pode, você
consegue!
Passe para a próxima página!
Continua em...
UM DEVASSO PARA CHAMAR DE MEU #2
Natasha sabe bem o que quer da vida. Uma completa
antirromântica que pensa apenas em curtir sem importar muito com
julgamentos alheios e consequências.
Em um encontro de elevador, conhece Gustavo, tudo que ela
passou a desejar com afinco, mesmo ele sendo seu superior,
tornando tudo ainda mais atrativo: Intenso de belos olhos azuis e
acima de tudo, insaciável. Mas Gustavo também tem desejos, no
qual ela foge de qualquer jeito. Apesar dos objetivos distintos, como
negar o desejo incontrolável pelo devasso mais charmoso que já
pisou no seu ramal?
Copyright © 2019 - Mayara Carvalho, criado no Brasil.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Não é autorizada a cópia, distribuição
comercial, republicações, total ou parcial em qualquer meio sem autorização
explicita da autora. A Violação dos direitos autorais é crime estabelecida na lei n°.
9610/98 e punido pelo artigo 184 do código penal. O livro está protegido pela lei e
registro. Não distribua, respeite o trabalho alheio!
Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou
situações da vida real terá sido mera coincidência.
Versão única, agosto de 2019
UM DEVASSO PARA CHAMAR DE MEU #2
Design da capa & Diagramação: Mayara Carvalho
Revisão: Amabily & Fabiano Jucá (O Ponto e A Vírgula)
Imagem do miolo: Regards Coupables™
(@regards_coupables)
Modelo da capa: Bruno Gomes
Fotografia: Murilo Pozzi
devasso
adjetivo substantivo masculino
3. 1.
que ou aquele que é imoral; que é libertino; obsceno.
4. 2.
quem é libertino e depravado. indivíduo livre de qualquer senso moral.
1
NATASHA

Bocejando e desejando voltar para minha


cama, entro na cozinha do apartamento em passos
duros, irritadíssima ao lembrar do fracasso da noite
de ontem. O canalha com quem eu iria sair
desmarcou quando eu já tinha passado maquiagem.
Isso mesmo, eu crente e abafando que iria transar,
ganhei um bolo de indiferença. Desmarcou por
mensagem de texto ainda por cima! Tem noção da
gravidade? Ainda veio com a proposta de remarcar
para hoje. Aham! Eu vou esperar sentadinha. Em
outro!
Encontro minha irmã Lizandra tomando café
enquanto mexe no celular. Somos muito unidas e
moramos juntas há um tempo. Minha irmã trabalha
numa revista perto de onde eu trabalho, então
sempre damos um jeito de almoçarmos juntas.
— Bom dia, sis. — Ela me recebe com um
sorriso. Qual o motivo dessa alegria assim cedo? Ela
é do tipo que acorda cantando, cozinha feliz,
enquanto eu não suporto um pio. Tenho vontade de
bater em pessoas bem-humoradas pela manhã. Mas
nos amamos muito, juro! Deveria ter um decreto
para que as manhãs começassem a valer a partir
das dez. Meu humor matinal não é o que chamo de
amigável.
A cumprimento com um abraço, com ela
sentada mesmo, e um beijo na cabeça. Ela é mais
velha do que eu, apenas um ano. Tem vinte e sete
anos de pura doçura e romancice. Eu sou a caçula,
temos mais outra irmã, mas ela é meio afastada de
nós.
Depois de um café rápido, Liz me deixa na
frente da agência na qual trabalho. Pedi para ela me
levar porque queria tirar um cochilo no caminho.
Infelizmente não nasci uma burguesinha safada, sou
apenas uma safada, que trabalha como redatora.
Uma publicitária que vive para engolir palavrões e
aguentar cliente chato sem poder dar uma bofetada
na cara. E uma melhor amiga que compartilha do
mesmo desespero e faz com que minha vida não
seja tão ruim.
Entro no prédio clean com janelas e portas
de vidro da Prisma e, em passos rápidos, chego no
hall, onde fica a recepção e a sala de atendimento,
dando bom dia para quem encontro. Estou quase em
cima do horário. Eu vivo atrasada mesmo acordando
na hora certa, parece que o tempo tem algo contra
mim.
Corro para o elevador ao ver que ele está se
fechando.
— Segura o elevador! — peço e uma mão
segura a porta, interrompendo-a antes de ser
fechada totalmente.
Dou um passo para entrar, mas o que vejo
dentro me faz parar. Arqueio as sobrancelhas em
surpresa pelo belo homem de terno que nunca vi por
aqui. É simplesmente lindo, lindo não, gostoso do
caralho, sem exagero.
Acho que vou precisar trocar a calcinha.
Estou impressionada por essa visão logo
cedo de um delicioso homem com olhos azuis
intensos e sobrancelhas expressivas. Cabelos
escuros jogados para trás e barba tomando o
queixo, perfeitamente aparada. Ele sorri charmoso e
eu desfaleço aqui mesmo.
— Entra. — A voz dele me tira do transe. É
aveludada, mansa e penetrante. Muito gostosa de
ouvir. Estou toda arrepiada de novo, e meio
descompassada. Eu, hein.
Entro.
Ficamos cada um em uma extremidade do
elevador e respiro fundo mais uma vez para sentir
esse cheiro de macho alfa, mas macho alfa cheiroso.
Sabonete, perfume amadeirado, um pouco forte e
envolvente. É um cheiro característico de homem, de
pele. Exalou no elevador todo. Nossa!
— Obrigada... — agradeço e tento saber seu
nome.
— Gustavo, e não foi nada. E você, como se
chama? — pergunta e vejo os olhos dele passeando
pelo meu corpo.
Quem será esse homem? Não é todo dia
que encontramos um desse, que vale a pena ser
olhado. Aposto que sabe deixar uma mulher do
avesso na cama e em qualquer lugar. Minha safada
interior já está aqui acesíssima, me incentivando.
Imagine só esse homem em cima de mim!
Homem cheiroso e com voz grossa sempre
vai estar um degrau acima na escada da vida! E ele
já está em um degrau altíssimo. Sorrio de lado e
coloco os cabelos para trás.
— Natasha.
Meus olhos vão diretamente para as suas
mãos, e a única coisa que eu reparei foi no tamanho
dos seus dedos, que são grandes assim como ele, e
está sem nenhum anel de compromisso. Deduzo
que seja solteiro. Um arrepio me corre na espinha
em saber o que ele pode fazer com elas. Sou muito
safada, sim!
O elevador apita e abre, mostrando meu
andar.
— Tchau, Gustavo.
— Tchau. Tenha um bom dia — ele se
despede.
Se você me beijasse ia ser melhor. Minha
mente manda a resposta na hora, mas não falo.
— Obrigada. Para você também. — Dou
com uma mão, junto com o sorriso mais sedutor que
tenho, antes do elevador fechar com ele dentro. A
última coisa que vejo é o rosto bonito estampando
um sorriso cafajeste, que ficaria melhor entre minhas
pernas.
Dou as costas e lembro imediatamente que
não perguntei o que ele estava fazendo aqui no
prédio; afinal, nunca o vi aqui. Se não for um cliente
muito gostoso e importante, é algum funcionário
novo do setor administrativo. Mas já é tarde demais,
o elevador está subindo.
Eu realmente me senti atraída. Interesse
carnal. Suar e ofegar em cima, ou embaixo dele,
como Gustavo preferir.
Sem julgamentos comigo. Quem nunca ficou
assim, sonhando ou olhando algum homem e o
único pensamento que gritou na mente é: imagine
esse homem me fodendo? Se não faz isso, sugiro, é
um passatempo ótimo observar homens e deduzir se
tem pau grande e se fode bem.
E Gustavo se encaixou nos dois, mas só
acredito vendo!
GUSTAVO
Enquanto o elevador sobe, sorrio satisfeito
ao notar a expressão safada dela em mim antes de
dar as costas, e me dá o prazer de me deslumbrar
pela sua bunda redondinha. Já descobri um dos prós
de vir trabalhar aqui com meu tio. Um metro e meio
de pura provocação. Apesar do rosto angelical, ela
tem o demônio nos olhos, e aprecio mulheres que
inflamam com o olhar. Loira, corpo levemente
curvilíneo, olhos ávidos, boca rosada e voz sensual.
Me excita! E já sei onde a quero: na minha cama.
Não sou de passar vontade. Jamais desperdiço
tesão.
E já tenho uma motivação a mais para
aceitar a proposta dele de ser seu novo diretor
financeiro, já que o antigo funcionário não estava
sendo cem por cento honesto. Quase que trouxe um
grande problema para a empresa. E como me fez
uma proposta boa, me demiti do outro escritório e
vim para cá.
O elevador apita mais uma vez, dessa vez
parando no meu andar, onde trabalharei a partir de
hoje. Passo pelo hall limpo e iluminado pela luz do
dia. Uma mulher me aborda, mas não fala nada, fica
apenas me olhando.
Sorrio de lado, vendo-a desajustada ao me
ver. Confesso que adoro isso, das mulheres pararem
na minha, não importa a idade. Eu sei que sou
bonito, sei o efeito que causo e isso não é
convencimento, é a realidade. Uma boa realidade,
gosto bastante.
Amplio o sorriso divertido para ela que volta
a si, vacilante, totalmente instável ao perceber que
eu vi seu desconcerto.
— Hum, bom dia! Você é Gustavo
Maldonado? — ela questiona incerta.
— Bom dia, sim, sou eu. — Ergo as
sobrancelhas para que ela desenrole o assunto.
— Estava à sua espera. Eu me chamo
Mércia, serei sua secretária por enquanto.
— Obrigado, Mércia. É um prazer! —
Estendo a mão e ela cora quando a cumprimento
com outro sorriso.
— O senhor Maldonado está à sua espera
na sala dele. — Ela retoma sua pose profissional.
— Irei lá. — Dou um breve aceno com a
cabeça. —Obrigado por avisar.
É a vez de ela acenar e sigo para a sala do
meu tio, para saber o que ele quer. Provavelmente
conversar, me recepcionar direito e explicar como
tudo funciona de perto. Mas eu já fui recepcionado
no elevador.
Natasha, Natasha! Você que me aguarde!
NATASHA
Entro em casa com as luzes apagadas,
indicando que Lizandra não chegou ainda. Me jogo
no sofá, esgotada, e me pego pensando no Deus
Grego dos olhos azuis que eu não vi depois, apesar
de ter o procurado no horário de almoço. Talvez ele
fosse algum cliente importante que foi fazer uma
visita apenas. Uma pena!
Com preguiça de cozinhar qualquer coisa,
decido pedir pizza. Tem uma pizzaria aqui perto que
é maravilhosa. Às vezes penso em namorar com o
filho do dono, que não é de se jogar fora, só para
comer de graça.
Eu adoro cozinhar, aprendi com minha avó,
mas não é todo dia que estou a fim. Lizandra se
aproveita para me explorar com almoços e jantares.
Mas ela fica encarregada das louças e acho justo,
porque odeio lavar louça.
— Está bom, obrigada, beijo — me despeço
do atendente para confirmar meu pedido, e antes da
ligação ser finalizada minha cara formiga de
constrangimento quando percebo que mandei beijo.
Quem nunca passou essa vergonha, de se
despedir no automático e mandar beijo para pessoas
nada a ver? Eu já mandei beijo para um dos
recepcionistas da empresa várias vezes. De vez em
quando eu acho que ele pensa que eu gosto dele,
porque sorri ao me ver. Coitado!
Eu sou a rainha das vergonhas. Semana
passada eu desejei bom apetite para o garçom.
Lizandra e Alexia, que é minha melhor amiga de
longa data e trabalha comigo no mesmo setor,
ficaram gargalhando e relembrando o almoço inteiro.
Eu não tenho culpa! É meio que automático essa
coisa. Ele me desejou bom apetite e eu sem querer
respondi: você também. Simples! Ele deu risada e as
meninas gargalharam, até que eu percebi o que eu
falei e fiquei muito constrangida. Odeio essas coisas.
Lizandra chega reclamando da sua chefa,
mais uma vez. Ela para assim que me vê.
— Nat, por acaso esse anel é o meu que
sumiu misteriosamente? — Ela arqueia as
sobrancelhas.
— Ah é? — Faço cara de surpresa vendo o
anel em formato de coroa.
— Você mentiu, né? — Nega com a cabeça,
sua voz descrente com um tom de leveza.
— Amanhã te devolvo. Ah! Estou esperando
a pizza chegar. E foi pelo seu cartão.
— Folgada! Vou trocar o lugar que guardo —
resmunga.
— Mas já está salvo aqui.
Rio e ela joga a almofada em mim, antes de
sumir no corredor. Lembro- me de um certo par de
olhos azuis expressivos e meu corpo
automaticamente se arrepia. Eu daria para aquele
homem, sorrindo e satisfeita. Homem que nunca vai
passar batido em nenhum lugar. Será que ele voltará
lá? Espero que sim!
2
NATASHA

— Você viu que gostoso, menina? O


sobrinho do chefão? — Téo se abana.
— Não. Quem é? — Franzo as sobrancelhas
me interessando no assunto. Adoro uma fofoquinha
de departamento.
— Disseram que o novo diretor financeiro é o
sobrinho do chefe, começou essa semana. Vi ele
ontem e pense em um gostoso! Homão com um par
de olhos azuis que só em ver fiquei molhada. — Alie
gargalha, mas eu continuo pensativa.
Recebo aquela notícia surpresa. Homão, par
de olhos azuis e só em olhar excita... Só pode ser
quem eu imaginei. Já se passaram três dias desde o
nosso encontro no elevador, e o vi andando por aí,
me dando a certeza que era funcionário novo. Uma
pena não ser do meu setor. Ele apenas me deu uma
olhada rápida e significativa, mas nem falou nada,
estava apressado com alguns papéis na mão.
Eu estava bolando uma desculpinha para
procurá-lo para alguma coisa, ou lhe chamar para
um happy hour que seria apenas nós dois se
comendo até a madrugada. Mas com essa notícia...
E nem me ache uma pervertida, não ligo.
Dentro dos pensamentos todo mundo tem a mente
suja. Só não admite. E se você está aqui lendo isso,
considere-se uma também.
— Qual o nome dele? — tento tirar minha
dúvida.
— Gustavo, Guilherme, gostoso... Algo
assim. — Meu amigo dá com a mão.
Ah, ótimo! Que banho de água fria!
Não poderia ser só funcionário? Ou sei lá,
um cara qualquer de uma festa qualquer? Justo o
sobrinho do presidente da empresa? Nunca tenho
sorte com homem gostoso. Estava doida para
começar um casinho despreocupado com ele.
— Ah, eu já vi. Imagina aquele homem sem
o terno... — Alimento a mente obscena dele, que se
abana.
Meus planos de transar com ele foram por
água abaixo. Não posso me envolver com um
superior e parente de chefe. Não vou colocar meu
emprego em risco de forma alguma. Vai ser uma
tarefa árdua daqui para frente ignorar esse tesão
que sinto quando o vejo, sem nem ele me tocar,
espero que passe de uma vez.

GUSTAVO
— Tenha uma ótima noite, Mércia — me
despeço da secretária que termina de arrumar sua
mesa.
— Boa noite, Sr. Gustavo.
Vou em direção ao elevador desabotoando
mais um botão da camisa social, querendo me sentir
mais à vontade. Odeio essas roupas me apertando e
sufocando. Apesar de estar sem o blazer e com as
mangas arregaçadas, estou cansado dessa roupa,
não vejo a hora de tirar, eu gosto de ficar livre. De
cueca ou sem nada.
Estou sufocado e cheio de energia, mas não
para trabalhar. Doido para dar uma foda gostosa.
Entro no elevador e vejo o horário. Acho que
quando chegar em casa, irei praticar um pouco de
boxe na academia de Daniel, um amigo meu de
longa data, caso minha nova vizinha não esteja na
casa dela. Ela tá se mostrando disponível desde que
cheguei há duas semanas, mas nunca dou sorte de
encontrá-la, só quando saio para minha corrida
matinal e ela tá fazendo o mesmo.
Me mudei recentemente, por motivo de ex
que não entende que ex é sinônimo de deixar o
outro em paz. Apesar de eu não saber viver sem
mulher, tenho que admitir que algumas são obra do
demônio de tão perturbadas, puta que pariu.
O elevador abre em um dos andares,
surgindo Natasha, deliciosamente gostosa, usando
salto alto para destacar suas coxas grossas e um
vestido com um decote que me deixa a imaginar
seus belos seios, que gostaria de ter na mão ou na
boca. Ela consegue ser sensual até com roupa
elegante. Esses pequenos detalhes fazem grande
diferença, mostra muito sobre sua personalidade.
Natasha continua parada na porta, apenas
me olhando séria. Diria que está surpresa. Sorrio
charmoso, vendo que ela parou na minha. Tá
interessada em mim, não é?
— Não vai entrar? — chamo sua atenção.
— Vou. — Ela sorri minimamente e entra.
Nós dois sozinhos no elevador, de novo.
Se ela soubesse a vontade que estou de
agarrá-la aqui e agora....Mas quero ir devagar, nada
mais excitante do que a aura, o momento que
antecede a transa, esses joguinhos de sedução, ver
a mulher jogando charminho para você notá-la. Criar
expectativas e deixá-la em chamas antes de
qualquer coisa.
Nada mais gostoso que uma mulher louca
para te dar, morrendo de tesão, molhada antes
mesmo de você tocá-la e, quando isso acontece,
amolece toda de tanta expectativa. Quanto mais
expectativa, maior o desejo. Adoro isso!
O tesão é mútuo. O elevador está numa aura
excitante, provocativa. Ela cheira gostoso. Cheiro de
mulher sexy e sensual.
Estou atraído por ela. Esses olhos azuis e esses
cabelos loiros me chamam e me despertam uma
fome deliciosa. O jeito dela é sensual naturalmente,
e tem uma bunda deliciosa. Vontade de puxar para
mim e tascar um beijo bom.
Tudo está me deixando excitado só em imaginar
o que poderíamos fazer. E sinto que é reciproco e o
olhar dela flameja, ela sequer disfarça.
— Então, você é de qual setor? — puxo assunto
como quem não quer nada.
É sempre bom saber o terreno que estamos
querendo entrar, para saber como agir e ir
exatamente onde deve ir.
— Criação. Sou redatora. — Ela me olha, e esse
jeito sagaz me deixa com a pulsação acelerada. No
meu pau, no caso.
Hum, mente criativa. O que poderia sair de
dentro dessa cabeça?
— Ah! Acho que nós vamos esbarrar mais
vezes. Sou o diretor financeiro.
Se depender de mim, não só se esbarrar, mas
se atracar e incendiar juntos.
— Então você fica por cima de mim? — ela
pergunta. Percebo um tom de maldade na sua voz e
meus lábios repuxam automaticamente, por ela ser
safada — No andar do prédio, no caso.
Rio por dentro. Ela não é daquelas sonsas que
se fazem de santa. Ela joga as indiretas, jogando
meu jogo.
— Digamos que sim, mas não me importo muito
se precisar ficar embaixo — respondo com segundas
intenções. — Não me apego a cargos ou andar —
complemento.
Ela continua a me fitar daquele jeito, e em
seguida morde a boca rapidamente. Ah, essa boca!
Isso faz minha mente me levar para um lugar
bom e torturante. E pela forma que ela está olhando
para a porta e segurando sua bolsa, também está
pensando em coisas, pois percebo sua respiração
pesar um pouco, me deixando a um fio de cometer
uma loucura aqui. Eu poderia fazer isso, mas
provocar é bom.
O elevador apita no térreo e percebo sua
respiração pesar num suspiro. Saio do elevador para
não cair na minha própria armadilha, mas ela não
vem atrás, continua parada no lugar com o
pensamento longe.
Ela se excitou só com o próprio pensamento do
que eu poderia fazer mesmo eu não colocando em
prática o que eu realmente quero? Interessante isso!
Interessantíssimo!
— Não vai sair? — a chamo quando estou do
lado de fora.
Ela olha para mim se dando conta e gesticula
concordando, saindo em seguida.
Me despeço dando um pequeno sorriso e uma
piscadela. Sigo para o estacionamento, satisfeito
pela minha primeira semana de trabalho que mal
começou e já estou gostando de estar aqui!

NATASHA
Não acredito que fantasiei e me excitei com ele
do meu lado! Eu morro de medo de pensar coisas
sexuais e gemer, espero que isso não tenha
acontecido e tomara que ele não tenha percebido
minha pequena viagem.
Mas ele tinha que estar com a camisa social
dobrada, mostrando os braços fortes e um pouco
peludos? E o peitoral? Aff, que atentado ao pudor ter
aquele monumento no elevador, todo relaxado
escorado na parede.
Meu autocontrole está de parabéns! Não é todo
dia que eu consigo me controlar quando estou com
vontade de dar para alguém. Acho que não
conseguiria ficar mais um segundo lá dentro, sem
pelo menos tascar um beijo nele para ver se é só
beleza e charme.
Confesso que morro de tesão nisso. Em um belo
homem com um belo braço, pois imagino na minha
cintura, me apertando, ou nos meus cabelos. Sem
contar o volume nas calças!
O desgraçado ainda teve a audácia de dar uma
piscadinha charmosa para mim. Quase ovulei!
Corro para o carro e, antes de ir, o vejo entrar
num carro luxuoso. Grande, como ele, e imagino que
também seja como outras coisas.
Enquanto voltava para casa, eu só conseguia
pensar na cena da minha cabeça. E eu queria muito
que tudo isso fosse apenas um primeiro impacto de
um homem gostoso que a gente vê e se imagina
dando, mas não a ponto de ficar da forma que eu
estou: realmente provocando para que isso
aconteça. Ele é meu superior!
Cumprimento minha irmã assim que chego e ela
me chama para ir à praça aqui perto de casa.
Merecemos esse mimo!
— Quer ver o mexicano, né? — provoco, pois
ele é doido para ficar com ela e ela o deixa na
geladeira.
— Ai, Nat, pare — ela revira os olhos.
Gargalho por saber que eu consigo atingir ela
com isso. Lizandra é muito boba! Não demoramos a
seguir para a rua, mesmo eu tendo chegado há
pouco tempo. Só aceitei porque eu estou mortinha
de fome, e lá embaixo tem muita barraca de comida.
Estou cansada do trabalho, mas nunca recuso
comida.
Decidi que iremos no food truck mexicano
primeiro, que é onde o carinha está. Ela me olha
séria com uma cara de “é sério isso?” Eu não
consigo ficar muito tempo sem provocá-la. Ela me
arrasta enquanto eu rio novamente dela.
Alejandro estava atendendo outra pessoa
quando viu Liz. Os olhos dele chegaram a brilhar.
Ela, em vez de aproveitar, fica fingindo que não está
acontecendo nada. Ele é um mexicano lindíssimo! E
deve ser muy caliente!
Fizemos nosso pedido com ele, que fez questão
de nos atender. Sentamo-nos à mesa que tem
embaixo e esperamos ficar pronto.
— Ele é gato, admita! — Suspendo as
sobrancelhas maliciosamente para ela.
— Às vezes eu tenho vontade de dar na sua
cara. — Ela tenta parecer inatingível, mas só tenta.
— Admita! — continuo a provocá-la.
— Tá, ele é bem gatinho mesmo.
Encho o saco dela até nossos pedidos
chegarem. Eu amo o burrito daqui, e fica melhor
ainda com refrigerante. Alejandro sai da nossa
mesinha, mas não antes de olhar uma última vez
para Liz, que agradeceu os pedidos, e ele sorri. Ele
é lindo, de verdade. Tem um corpo legal e parece ter
mão firme, deve puxar cabelo que é uma beleza.
Viu como é meu passatempo ficar supondo as
coisas dos homens? E o melhor, ele nunca saberá!
— Está perdendo a oportunidade de se divertir.
Aposto que é quente.
— Chega. Ocupa sua boca ai! — ela fala rindo e
morde um pedaço.
Rio dela e como o meu. Ficamos conversando
com Alejandro, que investia nela sem se importar.
Depois Liz e eu nos sentamos em um dos bancos da
praça, que está movimentada como se já fosse
sexta, e conversamos enquanto tomamos açaí.
— Liz, Alejandro fechou o food truck já, vai lá
falar com ele — incentivo.
— Para, Natasha! — ela me repreende.
— Tem certeza que não vai querer? Olha ali. —
Aponto com a cabeça discretamente e ela o olha
fechando as coisas para ir embora. Está sem a touca
e avental. — Eu te desafio, vadia. Vai lá.
— Ganho o quê? — Ela me olha. Nunca vi
pessoa mais competitiva.
— Um beijo quente? — respondo o previsível.
— E o que mais? — ela barganha. Vadia!
— Uma foda, né? Mas aí, irmã, depende de
você — digo e ela semicerra os olhos.
— E meu almoço preferido no sábado.
— Já quer demais por uma coisa que não vou
aproveitar em nada. Vai logo!
Ela ri para mim. Sabia! Lizandra é safada.
Permaneço no meu lugar, vendo-a levantar e ir
até ele. Trocam algumas palavras, ela jogando
charminho e em seguida Alejandro a puxa para a
outra lateral do carro. Ela nunca me decepciona!
Depois dizem que eu sou a mais safada.
Continuo ali tomando meu açaí e mexendo no
celular, até Liz voltar vermelha e bagunçada.
— Pelo jeito foi bom, hein? — procuro saber dos
detalhes.
— Ele é quente demais! — ela sussurra, ainda
ofegante e arrumando os cabelos.
Liz é a legítima mineirinha, como dizia minha
avó. Faz as coisas por debaixo do pano, e eu
sempre fui a mais besta que quer fazer tudo às
claras, por isso levo fama.
— Se quiser arrastar ele lá para casa, eu fico
aqui mais um pouco — proponho.
— Não. Deixa para outro dia. Acredita que ele
quase me fez dar para ele ali? Se não fosse meu
autocontrole, eu estaria fodida, literalmente.
— Menina, quando ele te pegar para compensar
desse tempo todo, você vai ver — digo.
Ri comigo. Tá aí meu exemplo maior de
safadeza, eu sou a caçula, então aprendi com ela.
Digo e afirmo, Liz é safada, mas é sonsa.
— Não vem não, que eu sei que está doida pra
dá. Sua safada! — ela exclama.
— Até parece que você não é uma — respondo
e eu dou de ombros. Vou mentir para quê?
3
NATASHA
Acredita que eu sonhei com Gustavo? Um
sonho muito sacana. Infelizmente foi só um sonho
mesmo. Acordei louca e molhada, quase grito
quando percebi que era sonho. Um maravilhoso
sonho, tenho que ressaltar. E na minha imaginação
sua pegada é uma delícia. Mãozona firme, sabe? Só
de lembrar me dá mais vontade.
Mas a culpa foi da sua pequena encarada e do
sorriso cretino que me deu ontem quando o
encontrei voltando do almoço. E posso estar
enganada, mas ele me fitou de cima a baixo com um
sorriso sacana e comedido. Foi rápido e de um modo
nada profissional. Ele já está na boca das meninas e
causou alvoroço. Até no horário do almoço só escuto
falarem dele, o quanto ele é gostoso e blá blá blá.
Como se eu não soubesse e percebesse isso desde
que o vi pela primeira vez.
Esse desejo está me consumindo! Mas prefiro
não ficar pensando nisso. Tranco a porta de casa,
escutando Liz buzinar para irmos logo, e antes de
chegar escuto meu vizinho do apartamento do lado
me chamar.
— Olá, Luan — sou cordial.
— Sumiu. — Isso na minha língua é nada mais
que: “quero te comer’’, ou “empresta tal coisa’’ e “faz
isso aqui para mim’’.
— Trabalho. Inclusive estou indo agora. E estou
atrasada.
Ele e eu já ficamos algumas vezes. Mas nada
muito “ai meu Deus, que gostoso’’, está mais para
“mas já? É só isso?”. Mas é confortável só ir na casa
ao lado quando o tesão bate.
— Está livre esse fim de semana? — Ele nunca
foi de rodeios. E nem eu.
— Não sei. Mas te deixo uma mensagem. —
Sorrio para ele, já voltando a andar.
Quem sabe não é disso que preciso? Transar!
Acho que isso é falta de sexo, para estar dessa
forma. Mesmo que seja uma fodinha nada
excepcional. Ou melhor, como hoje é sexta-feira e
nunca mais saí para nenhuma festa, e fiquei só com
um carinha nesse tempo, e ele nem era lá essas
coisas, vou ver para onde Téo vai, ele sempre tem
uma festa para ir e vou arrastar Lizandra, que
sempre dá um jeito de acompanhar. Quero beber e
me divertir, pois eu mereço!

Como esquecer os dois metros de homem


com carinha de safado e cafajeste? Não dá. Justo
hoje, na reunião mensal de balanceamento, e ele
como diretor financeiro está aqui com meu setor e o
de produção. Analiso-o discretamente, só isso
mesmo, porque se pudesse, estaria sentando. Com
força.
Ele está sem o blazer, só de camisa cinza,
dobrada no antebraço com alguns botões abertos, e
papéis nas mãos. Que visão da porra!
Muito gato! E tem um jeitão de homem
sacana, sabe? Não sei explicar direito isso, mas uma
mulher entende o que eu digo. Quando vê um
homem e percebe que ele é gostoso e ele também
sabe disso e se comporta como um. É uma
confiança sem parecer exibido. Ele sabe o efeito que
causa e se sente muito bem naquela cobiça, e ainda
faz você molhar a calcinha com apenas um olhar ou
presença.
Estamos esperando sua secretária chegar
para dar início, mas percebo sua encarada, porque
eu estou fazendo o mesmo. Seus olhos azuis
inflamam.
Por que minha vida tem que ser difícil desse
jeito? Ele bem que poderia ser feio, fala sério! Ser
bonito assim e eu não poder beijar é covardia com a
minha sanidade. Ficou ainda mais difícil olhar para
esse homem sabendo que sonhei com ele me
pegando de vários jeitos e bem gostoso.
Levo meu copo com café na boca, pois fiquei
com a garganta seca, mas não deixo de lhe encarar.
Gustavo tem cara que faz mil e uma promessas
apenas te olhando. Que te chama para ele sem dizer
sequer uma palavra. É, eu disse que ia deixar isso
para lá, mas não aguento.
Logo ele sorri para mim. O maldito sorriso de
molhar calcinhas! Porque ele sempre sorri assim
para mim? Retribuo, sendo atiçada por esse homem.
Quase que me queimo com o café enquanto tentava
seduzi-lo.
Por que eu não posso dar para ele, meu
Deus? Eu sou tão ruim assim? Nem precisava dar
várias vezes, umazinha já me acalentava nessa
situação difícil.
A sua secretária chega e ele se vira para ela.
Porra, olha essa bunda na calça social! Olha que
costas deliciosas, imagino minhas unhas passeando
por ali avidamente, sendo consumida por ele numa
foda dura.
Isso é tentação demais!
A reunião logo começa, mas foi difícil ter
foco. Às vezes ele me olhava e tinha a sensação que
não era inocente; eu posso estar vendo coisas, mas
sinto isso, ele faz promessas e esquenta meu corpo
e isso me deixa bamba e louca por não ter certeza
se é isso mesmo.
Suspiro pela minha decadência, pois esse
homem nunca vai para minha cama. Só se eu for
demitida, claro. Auge, viu, desejar homem “proibido’’.
A reunião finalmente acaba, mas, antes de ir,
vejo que ele me dá o mesmo olhar feroz, sabe?
Olhar de quem quer incendiar! Olhar de mil
intenções, mais claro que qualquer outro que eu
tenha recebido. Eu conheço, porque sempre dou
esses tipos de olhares e recebo também. Não estou
louca!

A noite fervia, muito barulho, muita conversa,


muita bebida, som alto e luzes piscando e nós
descemos para a pista de dança. O dono da boate,
que é o carinha que Téo está ficando, parece um
armário, mas é muito bonito, pois meu amigo tem
bom gosto. Ele nos ofereceu uma mesa no camarote
quando fomos apresentados, fazendo eu e Liz
sorrirmos cúmplices. Nada melhor do que ser bem
relacionada.
Alexia não veio, como sempre. Preferiu ficar
com Murilo, e do jeito que ela riu quando perguntei
qual era seu plano para hoje à noite, lhe entregou
completamente que ela não quis vir porque iria
transar e muito essa noite. Não a julgo, meus planos
são iguais, a diferença é que eu não tenho um
namorado bonitão em casa, e nem quero.
As luzes brilham freneticamente e eu danço
com Téo no embalo agitado da música. Liz foi para o
bar há poucos minutos. Logo, um homem começou a
dançar comigo, bonitinho até, decidi dar moral para
saber se rola algo.
— O quê? — repito pela terceira vez para ele
me ouvir.
— Você é mais bonita que sua amiga —
repete ele.
— Isso é um elogio? — questiono. E a
vontade de beijar ele logo passa. Por que você tinha
que abrir a boca, amigo?
— É, ué — responde como se fosse óbvio.
— Comparar ou elogiar uma mulher falando
mal de outra não faz o menor sentido, sabia? E é
desnecessário! — respondo revoltada. Qual o
problema dele?
Dou as costas para ele e ele me pega pelo
braço. Eu me viro com cara de poucos amigos. Qual
é, ele não entendeu que não quero ficar mais com
ele?
— Você reparou que eu não quero mais ficar
com você?
— Mas por que, gata?
— Não tenho que te dar uma justificativa.
Não quero e respeite isso. Agora me solta. — Puxo
meu braço.
— Aliás, sua amiga é muito mais bonita que
você — ele diz bravo, tentando me provocar e me
soltando.
Nossa! Que infantil! Alguém tira o copo de
bebida e traz a mamadeira e a mamãe dele, por
favor.
— É tão feio cuspir no prato que você tentou
comer e não conseguiu… Melhore! — A música é
alta, mas para falar umas verdades sempre
encontramos um jeitinho da outra pessoa escutar.
Encaro-o mais uma vez e dou dois tapinhas
no seu ombro, me despedindo e me distanciando
para dançar com Téo. Babaca! Não tenho paciência
para homem babaca. Aliás, não tenho paciência com
nada.
Liz volta e dançamos mais duas músicas.
Até eu me cansar e ir ao bar buscar algo para beber.
Eu poderia subir para o camarote, mas esse negócio
de subir e descer toda hora não é comigo. Péra,
aliás, é, mas não em escada...
Busco a minha bebida e volto para a pista de
dança. Danço mais três músicas e Liz sumiu com um
carinha bonitinho. Um segundo homem encosta.
Tomara que esse não seja babaca, meu Deus!
Checo rapidamente o conjunto. Bronzeado, corpo
bom e corte militar.
— Qual o seu nome? — ele sussurra no meu
ouvido.
— Natasha. — Sorri. Pelo menos esse não
começou de forma babaca.
— Lindo nome. Quantos anos?
— Vinte e seis — respondo no seu ouvido
por conta da música alta.
Acho que dessa vez me dei bem, porque ele
tem braços fortinhos.
— Faz o que... — Corto ele.
— Querido, você vai me beijar logo ou quer
me alistar no programa do governo? Isso é uma
festa ou cadastro de planejamento social? Vamos ao
que interessa!
Como eu já disse, eu não sou muito paciente, e
pelo jeito vou repetir muito isso ainda. Esse povo cria
um protocolo da porra para dar uns beijos. Para que
ele quer saber meu nome, minha idade, ou o que
faço da vida já que para beijar ou transar não precisa
disso? Vai anotar meu cpf enquanto eu estou
montada nele? Faça-me o favor!
— Direta!
Ele se tocou onde eu quero chegar, e me
puxa para mais perto do corpo dele, me beijando. O
beijo dele é gostosinho. A pegada é bem
comunzinha, pelo menos para mim. E gemo
frustrada internamente. Ultimamente esses homens
que encontro só têm corpo bombado e umas mãos
de moça que não dominam ninguém.
Eu gosto de uma coisa mais bruta, homem
viril, amasso louco, tapa e aperto na bunda, coisas
que não se negam a ninguém. Pegada forte no
cabelo, aperto na cintura, intensidade! Nada muito
agressivo, porque senão eu revido no soco!

GUSTAVO
Despeço-me sem conseguir disfarçar a
minha satisfação de ver a cara de quem foi bem
comida e por mim, óbvio! Eu estava na casa da
vizinha numa foda boa para aliviar o estresse. Muito
safada ela, mas também dengosa. E eu não estava
a fim de dar carinho hoje, foi tesão cru, mas ainda
bem que entendeu antes que as coisas esfriassem.
Quem dá carinho é pai e mãe, eu dou orgasmo e
tremedeira nas pernas!
Meu celular vibra no meu bolso e eu atendo
sem nem olhar o visor.
— Gugu. — Ex é um saco!
A pessoa acaba de aliviar o estresse numa
foda quente, e já se estressa antes mesmo de
chegar ao apartamento. Não sei como ela não cansa
de me perturbar. Sem contar que me chama pelo
apelido que eu odeio. Me sinto um moleque de doze
anos com ela me chamando assim.
— Me esquece, Manuela. — Desligo e volto
a colocar o celular no bolso.
Pior que não adianta bloquear o número, ela
me liga de outros, parece que é dona de operadora,
tem milhões de chips. Não está claro que acabamos
e eu não a quero mais? E esse foi um dos motivos
de estar morando aqui. Ela tirou minha paz o tempo
inteiro, todo dia era briga, mesmo estando
separados. Fazia escândalos na minha porta, já que
éramos vizinhos e isso ajudava a ver quem me
acompanhava, e vinha tirar satisfação se fazendo de
louca, fingindo que está tudo bem entre nós. Pois
para ela nós só estamos “dando um tempo para
pensar melhor’’, não é um fim definitivo.
Assim que chego no apartamento, escuto
arranhões na porta e sorrio voltando a relaxar
novamente. Quando entro, Zeus, meu Golden
Retriever, dorminhoco e bagunceiro, me saúda com
alegria, como se não tivesse me visto há quarenta
minutos atrás.
O carrego, ainda assanhado no meu colo,
lhe dando carinho. Pego seu brinquedo do chão e
jogo longe, e ele se agita no meu colo para descer e
correr atrás, totalmente desesperado. Ele é o meu
único filho enquanto eu não tenho uma mini versão
minha. Pode não parecer, mas eu sou louco para ser
pai. Ter um moleque para lá e para cá, não me
deixando quieto, para mim é uma enorme vontade,
um legado, sabe? Mais um mini Maldonado dos
olhos azuis. Porra! Seria muito foda!
É minha promessa para meu avô, lhe dar um
bisneto e ele o conhecer antes de partir, porque ele
sempre me pede isso. Mas eu quero que o moleque
venha caprichado, então, enquanto ele não vem, eu
vou praticando com mulheres distintas, para quando
for fazê-lo, sair o mais bonito possível quando a hora
de eu me enlaçar chegar.
4
NATASHA

Mais um dia! Por que eu não ganho na mega


sena? E não me venha dizer que é porque eu não
jogo!
A boate foi o fracasso. Pasmem, saí
desacompanhada, diferente de Liz que pegou um
tatuado, logo ela que é tarada por homens assim.
Então dei pro meu vizinho, que me desestressou um
pouco, mas poderia ser melhor. Acho que vou
acabar com isso de uma vez, ele não é excepcional
para eu querer de novo, mas sempre deixo em
aberto para aqueles momentos difíceis.
O elevador abre no meu andar, e a primeira
pessoa que vejo é Gustavo, de pé, atualizando o
cronograma que montamos na última reunião, para
que todos vejam. Sempre colocamos o mural de
metas aqui, para todos terem acesso e saber em
que situação estamos. Como pode ser tão gostoso?
Ainda mais dentro desse terno?
Sabe o tesão? É exatamente tudo que eu
sinto quando o vejo na minha frente, olhando
concentrado para o quadro depois de uma fodinha
meia boca. Eu o quero demais, mas não é querer de
paixão, essas coisas. É desejo, vontade, atração.
Porra, eu estou ficando doida!
Já não aguento mais olhar para ele
disfarçadamente. O desejo não diminuiu como eu
previ. Está a mesma coisa. E está foda. Bem foda.
Eu simplesmente poderia acabar logo com isso, e
dizer a ele para ver no que vai dar. Se fosse
qualquer outro eu diria, porque não passo e nem
reprimo vontade. Não sou o tipo de mulher indecisa
e indefesa, que espera o homem vir atrás; se eu
quero, eu vou e pego, e se for para transar, vou sem
me importar. Sou muito bem resolvida comigo e com
minha sexualidade para ligar para o que as pessoas
acham de mim. Por que eu sou assim? Porque a
vida é minha, foda-se a opinião alheia. Se vão falar?
Que falem. Sempre falam mesmo. O importante é
que no final do dia, o que está na minha consciência
é o que vale.
Mas ele, justo ele, tinha que ser a porra do
sobrinho do meu chefe? É a única coisa, de verdade,
que me segura para não me jogar em cima dele e
ser demitida por assédio. Estou ficando louca! É um
tanto clichê, né? Mas nada é clichê à toa. A vida em
si é clichê.
Esse meu tormento já está se estendendo
mais do que eu previa. Gustavo se vira para mim de
repente, como se soubesse que eu estava ali
pensando nele, e em seguida dá um sorriso
charmoso e bem cafajeste, dando mil e uma
sensações em mim. Ai, minha calcinha! Inferno!
Acabo retribuindo com o meu melhor sorriso
sedutor, sem conseguir controlar. Ele continua a me
encarar e fico desestabilizada, sem nem lembrar
como andar. Eu acho que acabei de perder a noção
das coisas, pois estou flertando descaradamente
com meu subchefe, e estou achando seriamente que
ele está gostando e retribuindo. Olho meu relógio
como se quisesse saber as horas. Puff! A última
coisa que estou querendo saber agora são as horas.
Vou para minha sala, desfilando como se
fosse a dona da porra toda, mas por dentro estou
trêmula pelo olhar que recebi. Será que ele me quer
como eu o quero ou é coisa da minha cabeça? Foi
isso mesmo que eu vi?

Abro a porta de casa e congelo no lugar,


pasma com a cena: Lizandra e Alejandro agarrados
no sofá. Mas graças a Deus, ainda estão de roupas.
Quer dizer, Liz de sutiã e saia embolada e Alejandro
sem camisa e de bermuda aberta. Estavam tão
entretidos que nem viram quando abri a porta.
— Nat. — Liz olha para minha cara e
começa a ter uma crise de risos de puro nervosismo,
enquanto Alejandro fica vermelho e sem graça e
pega uma almofada para tentar esconder o estrago.
— Continuem, finjam que eu não apareci
aqui. — Não controlo minha língua e nem meus
lábios em um riso, e corro para meu quarto.
Ai meu Deus, eu vi o volume! Fecho a porta
e começo a rir da cena. Lizandra me paga por esse
momento constrangedor, tanto para mim quanto para
eles. Só espero que não tenha estragado a foda
deles. Deus me livre ser a pessoa que vai empatar.
Tomo banho, porque meu quarto é o com
banheiro. Ganhei no par ou ímpar quando nos
mudamos, e em seguida pego o celular para mexer
na internet e uso o fone, colocando música para não
correr riscos de escutar o que eu não quero: minha
irmã gemendo enquanto transa.
Me perco na timeline de homens lindos no
Instagram, até Liz bater na minha porta perguntando
se podia entrar. Assim que ela abre, eu a
cumprimento, da cama mesmo, com um sorriso
debochado e malicioso a vendo de banho tomado.
Lógico que não iria deixar isso passar assim.
— Ele já foi? — pergunto, pois estou azul de
fome.
— Já. — Ela ri.
— Então eu posso sair para comer —
levanto e tiro os fones. — Porque você já foi comida.
— Faço graça para ela, que tenta ficar séria,
falhando, claro.
— Para com isso, ridícula — responde ela.
Olho para ela com o mesmo sorrisinho
enquanto saímos do quarto.
— Sem perguntas embaraçosas — ela me
alerta aos risos.
— Estou quieta, uai — me defendo.
— Eu te conheço, Natasha. — Rio mais da
cara dela.
Jantamos juntas, mas não deixei de sorrir
maliciosamente um segundo sequer, implicando com
ela, que revirava os olhos cada vez que olhava para
mim.
Deitada novamente na cama, não evito
pensar na olhada que Gustavo me deu hoje. Está
cada vez mais frequente quando nos encontramos.
Ele me olhou daquela forma mesmo ou eu estou
vendo coisas?
Voltando do almoxarifado, encontro Fábio no
corredor, que me acompanha mais que rapidamente.
Não somos amigos e nem colegas de trabalho. Ele é
extremamente insuportável e insistente. Vive
marcando em cima, querendo transar comigo, e eu
não tenho atração nenhuma por ele. Quem gosta
dele é Amanda, que é umazinha aí que toda vez que
eu passo, me olha atravessado. Já discutimos
algumas vezes por vários motivos. O pior nem é
isso, o problema dela comigo é porque ela inventou
uma competição ridícula, que nem existe entre nós
duas, e quer ser maior que eu em tudo. Por mim os
dois davam as mãos e iriam pro inferno!
— Estou escutando — comento indiferente,
sem parar de andar, mas ele me segura pelo braço e
Deus sabe que eu me segurei para não jogar a
resma de papel na cara dele por essa atitude.
— Quando vai me dar uma chance, hein?
Prometo que não vai se arrepender. — Ele me
encurrala na parede. Olho sério para ele, usando os
papéis como um muro. Reviro os olhos pela
insistência. Mas que coisa!
Fábio é o famoso macho chato do caralho,
que eu digo não e ele volta, achando que eu tenho
amnésia, ou é ele que tem. Ele tem cara de
ejaculação precoce, que fala que a mulher é gostosa
e por isso acabou tão rápido.
— Quando o inferno congelar — respondo
sarcástica, ao mesmo tempo que uma das portas é
aberta, mostrando Gustavo em pessoa e gostosura,
que está me fazendo ter sonhos um tanto quanto
eróticos. Ele entra e para na mesma hora, vendo
aquela cena de Fábio praticamente colado a mim.
Meu coração palpita forte, e a temperatura
do meu corpo vai de um extremo ao outro no mesmo
momento.
— Bom dia? — Ele olha para mim com um
olhar intenso e sério. E eu por um momento não sei
como reagir. Fico alguns segundos congelada no
lugar, até assimilar a situação. Que droga!
— Bom dia. — Finjo uma calmaria e leveza
que não há em mim no momento.
— Éééérr. Vou para minha sala. — Fábio me
solta, olha para Gustavo, assente e sai nos deixando
sozinhos. Frouxo!
— É o melhor mesmo — Gustavo responde,
ainda me encarando.
Percebo o climão que ficou. Eita, me fodi e
não foi da forma que pensei esses dias. Sinto
minhas pernas tremerem por estar em um corredor
vazio com esse homem. Ele continua me fitando
sério.
Será que ele pensou que eu e Fábio temos
um caso e estamos nos agarrando no meio do
expediente? Ai meu Deus!
— Eu já vou também — tento sair pela
tangente.
— Passe na minha sala mais tarde. Temos
um assunto importante a tratar — ele continua no
seu tom sério e sai.
Estou trêmula. Será que ele vai me demitir?
Estou ferrada e com muito medo. Será que ele está
bravo por me ver “agarrada’’ com Fábio no horário
do expediente, ou por minha conduta errada de ficar
flertando descaradamente para ele? Será que
entendi os sinais errado?
Meu Deus! Sabia que isso ia dar merda!
Sabia! Mas eu tenho uma péssima mania de querer
ver até onde a coisa vai dar. Em que merda eu fui
me meter. Maldito! Para que miséria ele foi aparecer
aqui? Eu realmente não posso perder esse emprego.
Pelo menos, se eu for demitida, que ele me
coma primeiro, ou depois. Tanto faz! Não quero sair
perdendo tudo.
Voltei para minha sala e trabalhei no modo
automático, sequer tive apetite no almoço, comi
quase nada. Nunca quis que o horário de saída
demorasse e fosse rápido na mesma proporção,
com medo do que me espera no final dele.
No final do expediente, todos saíram mais
que rapidamente e meu corpo gelou sem ter como
fugir. É agora! A hora da verdade. O famoso “se
correr o bicho pega e se ficar o bicho come”. Não
posso ir para casa, porque sei que amanhã eu já
tenho a carta de demissão para assinar.
Me despeço de Téo e Alie, com a desculpa
que vou ao banheiro primeiro, o que não é
totalmente mentira. Passo no banheiro e ajeito meu
cabelo, retoco o batom e conserto a roupa. Se eu
vou ser demitida, que eu esteja impecável!
Os setores estão praticamente vazios, só
tem um ou dois perdidos ainda saindo. Subo o
elevador para o último andar, tremendo de medo e
ansiedade. A palpitação não me abandona. Esse
andar exala luxo, as portas são de madeira cara e de
correr. O chão é tão lustroso, que vejo meu reflexo.
Passo por uma sala enorme, um grande retângulo
de vidro fumê. Provavelmente aqui é que acontecem
as transações importantes.
Tudo aqui é vidro, praticamente. As janelas
são iguais e enormes como os outros andares.
Passo pela porta de outros cargos, a mesa vazia da
secretária, e chego na grande porta branca e paro
em frente, lendo a placa de sinalização dourada:
GUSTAVO MALDONADO - DIRETOR
FINANCEIRO
Até a porta desse homem é bonita e
imponente, me fazendo ter tremeliques. Dou duas
batidas e espero. Escuto a voz grossa dele lá de
dentro, me mandando entrar, e dou duas respiradas
fundas antes de abrir a porta para saber o que me
espera lá dentro.

5
NATASHA

Ele está apoiado na ponta da mesa preta, com


o céu escurecendo lá trás, fazendo contraste na sala
clean com as cortinas esvoaçando. Não evito em
perceber que está sem o blazer do terno.
A sala dele é bonita e bem sofisticada, mas não
quero falar de móveis, nem cor de parede, muito
menos a estante que tem ao lado, quando se tem
um homem só de camisa social preta com dois
botões abertos e mãos no bolso me fitando. Ressalto
que está muito gostoso.
Me ajuda, meu pai!
— Olha, não é o que você está pensando. Fábio
e eu não temos um caso, e não estávamos nos
agarrando. Só isso! — me apresso a esclarecer
antes mesmo de chegar ao meio da sala.
— Não foi por isso que te chamei aqui. — Ele
continua com o semblante sério, cruzando os
braços, mostrando o volume dos bíceps e alisando a
barba calmamente. O que é tudo isso?!
Eu realmente preferia que ele achasse que
Fábio e eu tivéssemos um caso. Porque aí eu ia
tomar um esporro de leve, e meu emprego não
estaria na berlinda como agora.
— Aqui pode ter relações pessoais entre
funcionários. As únicas regras são que não pode
ficar se agarrando no horário de trabalho e nem
trazer problemas pessoais para cá.
— Por que estou aqui então? — me faço de
sonsa. Se ele falar sobre o flerte eu nego até a
morte. Ainda me farei de ofendida.
— Porque venho percebendo olhares da
senhorita. Estou errado?
Os olhos dele são uns azuis que queimam!
Jesus! E como é que ele me pergunta isso assim?
— Depende. É para minha demissão? —
devolvo sem controlar minha língua.
Merda! Merda! Merda, Natasha! Estraguei tudo!
Ele sorri discretamente de lado, me chama para
mais perto e eu o obedeço. Afinal, querendo ou não
ele é meu chefe. E isso me dá um tesão!
Paro de frente para ele, tentando controlar meu
corpo trêmulo por ele, que me puxa contra si, nos
deixando praticamente colados.
— Não. É para transar mesmo.
Fito seus olhos azuis cristalinos, bem perto dos
meus e umedeço completamente, sentindo seu
braço me apertar contra seu corpo. Sua próxima
ação é me dar um beijo com gosto de alguma bala
refrescante misturado ao café. O choque foi que não
consigo reagir de imediato, mas não demora para eu
agarrar seu pescoço e retribuir finalmente, matando
minha vontade de como esse homem beija.
O beijo é voraz, intenso, praticamente me
devora enquanto me aperta mais contra ele.
Se fosse qualquer outra ocasião isso seria
assédio, mas nesse caso, eu que procurei e quero.
Na sala só se escuta meus gemidos baixos e nossos
suspiros. Ele desce a mão enorme e aperta minha
bunda com ganância me pondo entre suas pernas,
subindo a outra mão para minha nuca, de modo
possessivo.
Eu estou incendiando! Se o beijo dele já me
deixou assim, ofegante e excitada, quero nem ver o
resto. Aliás, eu quero ver sim. Na verdade, preciso!
— Estou com muito tesão em você — confesso
baixo, ainda pegando fôlego e fogo, sem medo de
perder meu emprego. Afinal, foi ele quem me beijou
primeiro.
— Eu sei. — Sorri cínico e cafajeste. — E eu
também, estou com muito tesão em você.
Ele me põe sentada onde estava, na ponta da
mesa, agarrando minhas pernas e prendendo-as no
seu quadril. Ele cola mais em mim, enquanto enche
a mão com meus cabelos novamente, me
dominando.
Olha essa pegada! O beijo é envolvente,
ousado, sem vergonha. Quem diria que o mocinho
de terno era desse jeito! Eu que sou impaciente por
natureza, tiro as mãos da bunda dele que estava
apertando e desabotoo o cinto, descendo a calça até
onde consigo. Preciso desse homem!
Minhas mãos sobem, desabotoando a sua
camisa sem desgrudar nossas bocas. Gustavo me
segura e aperta mais o enlace nos meus cabelos,
me deixando com a cabeça inclinada e
completamente dominada, à sua mercê.
Distribui beijos com pequenas mordidas na
minha orelha e lambidas na minha clavícula e, com a
outra mão, que segurava minhas pernas, vem para
minha calcinha, acariciando com o polegar.
Solto um gemido satisfatório, apertando o tecido
da sua camisa, tentando de alguma forma conter a
excitação, de olhos fechados, absorvendo o que ele
está fazendo com o meu corpo.
Ele volta a me beijar com mais ânsia, enquanto
eu o puxo para mais perto com as pernas, e só
paramos com um estalinho gostoso quando fiquei
sem ar.
Nos encaramos.
— Olha como você me deixou. — Aponta para a
cueca volumosa, contornando a cabeça do pau já
lutando contra o tecido para sair.
Ele é ainda mais gostoso do que eu imaginei. O
corpo dele é mais largo do que aparenta ser no
terno, apesar de que vestido dá para ter uma noção.
Vamos ao close de baixo a cima em câmera
lenta, pois merece muito. Coxas grossas, assim
como a panturrilha. Cueca box azul volumosa, pelos
ralos escuros no caminho da felicidade. Quatro
gominhos, peitoral largo e um pouco trabalhado,
ombros da mesma forma e braços fortes com alguns
pelos, barba feita e olhos sagazes, me olhando com
cara de sacana, com as mãos na cintura esperando-
me terminar a análise. Não me contenho em ver tudo
isso sem morder os lábios. Minha calcinha está
encharcada. Como pode ser tão gostoso, porra?
Exala virilidade!
— Quero ele todo em mim, logo! — o provoco
queimando de tesão. Nem acredito que estou aqui!
Ele volta a me beijar vigorosamente,
desabotoando meu sutiã, e eu puxo sua camisa,
tirando-a completamente e jogando em qualquer
canto. Gustavo passa a mão lentamente pelas
minhas costas, me arrepiando. A pegada dele é
maravilhosa. Senhor!
— Vou te foder toda — sussurra no meu ouvido,
morde a ponta da minha orelha e deixa um beijo no
meu pescoço. — E esse fiapo de pano que chama
de calcinha é uma indecência.
Resmunga quando fico em pé apenas de
calcinha e saltos, pois nem tive tempo de arrancar. E
ele dá um sorriso devasso de mil intenções,
rasgando o frágil tecido, jogando no chão e depois
descendo a cueca. Suspendo as sobrancelhas ao
mesmo tempo em que o tesão eleva a mil. Pense em
tudo que eu descrevi com um bônus de um senhor
pau.
Ele se protege com destreza, colando nossos
lábios com vontade, enquanto me arrasta para uma
poltrona, me pondo no seu colo, e só consigo gemer
e suspirar, o sentindo dentro, indo fundo e voltando.
Ele me segura com mais firmeza na cintura, indo
com intensidade.
Ele não está para romance e eu gosto assim. É
disso que eu estava falando. Sexo tem que ser
assim. Ele é bruto e é disso que eu gosto.
Gemo sem me controlar, sentindo-o bater e
voltar com vigor. O barulho dos nossos corpos
chocando é excitante, de foda quente. Quico no seu
colo, segurando no seu ombro, enquanto ele chupa
um dos meus mamilos. Ele é muito safado! Agarro
seu pescoço e o beijo com vontade para abafar mais
meus gemidos.
Gustavo está morto de tesão, como eu. Leva o
quadril ao meu encontro, sussurrando besteira para
mim com sua voz ofegante, e indo cada vez mais
rápido, apertando mais forte minha bunda. Seu pau
largo, cada vez que entra, reivindica seu espaço, me
fazendo delirar.
— Mais rápido — peço gemendo, quando
percebo que estou quase chegando lá.
Ele leva o sexo para outro nível. Ele continua a ir
e vir, e eu só sei gemer, assim como ele, que está
com a raiz dos cabelos já úmidos de suor. A cara de
puto que ele faz, mordendo os lábios, é excitante
enquanto soca cada vez mais rápido, me fodendo
com vontade. Chego ao orgasmo mordendo seu
ombro para não gritar, extasiada, enquanto ele
continua para chegar ao próprio ápice.
Isso não é um sonho! Isso não é um sonho!
Repito mentalmente. Se isso for um sonho, eu não
vou saber lidar e voltar para a vida real. Ele me
aperta tanto, que chega a doer chegando lá. Logo
depois afrouxa o apertão aos poucos.
Gustavo me fez gozar! Nem lembro a última vez
que isso aconteceu quando eu estava
acompanhada. Acabei de quebrar minha regra de
não pegar ninguém do trabalho. Fui tão firme que
acabei pegando justamente o chefe. Que ironia! Mas
não ligo.
A foda foi sensacional. Eu ainda estou trêmula,
ainda sentindo o corpo e os braços fortes dele ao
redor da minha cintura. Sinto seus apertões em
várias áreas do meu corpo, embora ele esteja com
as mãos paradas.
Regulo minha respiração e decido me vestir.
Saio do colo dele, que ainda está regulando a
respiração de olhos fechados, curtindo a pós-foda.
Suspiro e coloco o meu vestido. Passo a mão no
cabelo tentando tirar o aspecto pós-foda louca e
maravilhosa. Olho ao redor procurando onde ele
jogou minha calcinha, mas não acho. Não quero
prolongar minha estadia aqui, sem contar que Liz já
deve ter chegado em casa.
— Obrigada! Foi ótimo e estou indo — despeço-
me.
— Não! Espera aí, eu te levo de carro. — Ele
abre os olhos, me fitando.
— Não precisa, eu tenho o meu. Tchau! —
aceno e vou em direção à porta.
— Mas...
— Ah! Você me deve uma calcinha — provoco
uma última vez e saio, o deixando desordenado.
Desço de dois em dois degraus, sem querer
esperar pelo elevador, rindo, arrumando meus
cabelos que estão esvoaçando pelos meus passos,
satisfeitíssima com essa foda espetacular!

GUSTAVO
Provocadora e insana. É como eu defino
Natasha agora. Insana por sair assim de repente,
enquanto eu já estava planejando um segundo round
em um motel qualquer aqui perto, e provocadora por
ter deixado a calcinha aqui. Mas ela vai me pagar
por isso, e de um jeito bem gostoso. Mulher
nenhuma jamais fez isso comigo. Faz doce para que
eu a leve em casa, ou fica querendo qualquer outra
coisa, e Natasha fez justamente o contrário,
simplesmente saiu correndo.
Poderia achar que ela não gostou, mas a forma
que ela tremeu no meu colo e me mordeu quando
gozou, as bochechas rosadas e o sorriso frouxo
indicaram o contrário.
Quando vim trabalhar aqui, não imaginaria que
ia dar nessa loucura, mas não me arrependo nem
um pouco. Só que eu nunca me envolvi sexualmente
com ninguém do trabalho.
Natasha é gostosa, impossível não imaginar
comer ela. Quadril largo e cintura fina, cabelos
longos loiros, ótimo para agarrar e puxar, e cara de
safada quando geme.
Ela é puro fogo. Vê-la gemendo e, mesmo
baixinha, aguentando tudo com vontade, foi louco.
Ela me surpreendeu em não se fingir de ofendida
quando eu perguntei e assumiu que queria. Estou
vendo que a partir de hoje meu expediente vai ser
melhor. Eu sabia que ela me queria, desde o
elevador onde suspirou e os seios estavam acesos.
Sem contar na ofegada e os olhares gulosos e
safados para cima de mim. Só quis ter certeza antes
de dar o bote.
Levanto da poltrona em que há cinco minutos eu
a fodia com vontade, e junto minhas roupas; daqui a
pouco o cara chega aqui para limpar e eu não quero
que ele veja meu pau, vão achar que estou me
tocando no local de trabalho.
Meu celular toca insistentemente na gaveta, e
vejo que é um número que não tenho na lista, mas
me adiantando que possa ser Manuela, não atendo.
Ela não para de encher o saco. Desligo sem me
importar, e vejo que já tinha algumas ligações do
mesmo número. Foda-se. Tenho nada para falar com
ela.
Vou para o banheiro — pois ser diretor financeiro
tem suas regalias — ficar pelo menos apresentável,
e me visto como antes.
Antes de sair, deixo minha sala em ordem e
aproveito e checo a lista de funcionários. Procuro
pelo setor dela e logo aparecem seus dados:
Natasha Vargas, vinte e seis anos e natural de Belo
Horizonte. Anoto seu número no meu celular, pois
poderá me servir futuramente. Poderá não, vai
servir!
NATASHA
Ainda de pernas bambas, depois de vir
relembrando todo o prazer imenso que tive, entro em
casa e encontro Liz se jogando no sofá. Pelo jeito
chegou agora também.
— Pegou engarrafamento também, né? — Me
pergunta.
— Pois é! — respondo com cara de tédio.
Nem sabia que tinha engarrafamento nenhum.
Fui pela outra avenida, que é mais rápido. Eu
deveria ser atriz! Apesar de contar praticamente
tudo, assim como ela a mim, eu prefiro deixar isso
como segredo. Não sei o que ela vai achar sobre
isso.
Passo direto para o quarto para tomar um
banho, pois estou com o cheiro do perfume dele na
minha roupa e isso está me deixando com vontade
de transar de novo. Esse homem não é real. Não é
possível! O desgraçado bem que poderia ser ruim
para eu não querer de novo. Cachorro!
Se ele quiser de novo, não vou fazer objeção
alguma, eu não me importaria em repetir a dose
maravilhosa de hoje. Apesar de que essa foda sugou
minhas energias.
Lembro dos beijos dele enquanto a água escorre
pelo meu corpo, e também da pegada no cabelo e
na minha bunda, que inclusive está meio
avermelhada onde ele apertou. Se eu me importo?
Nem um pouco. Isso só mostra que foi bom, e que
eu gostei.
Eu estou muito satisfeita por ter concluído meu
objetivo. Só tem um, porém: Eu saí de lá
praticamente foragida e não sei se ele quer. Só em
pensar nele logo quando tirou a camisa e desceu a
cueca, meu coração palpita. Ele é muito mais
gostoso!
6
GUSTAVO
Enrolo a toalha na cintura depois que saio do
box, e passo a mão no espelho para tirar o vapor e
vejo a marca de dentada no meu ombro. Sorrio por
aquilo e me acho ainda mais foda.
Um sexo só é considerado gostoso se ela te
deixar marcado com unha ou dente. Ao contrário, se
esforce mais. E eu quero outras unhadas aqui. Que
vontade de comer ela de novo! Parece feitiço. Há
anos que eu não transo com uma pessoa assim, que
se entrega ao momento.
Sexo para mim é mais gostoso assim, meio
selvagem. Mas nada muito masoquista, o meu fica
no limite entre o saudável e o excitante. Amo puxar
cabelo e ver a mulher com as costas arqueadas
gemendo, entregue e dominada. Amo dar palmadas
e ver a bunda vermelha e marcada pela minha mão,
e depois pedindo dengosa para alisar o lugar
marcado. Isso dá um tesão a mais em mim, ver a
mulher enlouquecida, me arranhando e gemendo por
uma coisa que eu estou proporcionando. É excitante!
Mas também gosto de uma coisa mais
desacelerada. Eu sou um cara que gosta de dar
carinho, mas depende muito da minha vibe, da
pessoa e muito do momento. Eu deixo o tesão me
guiar entre quatro paredes.
E aprecio também mulher que se permita isso,
sem pudores e vergonhas. Ninguém gosta de transar
com múmia que fica parada esperando terminar, ou
muito dengosa que reclama de algo a todo o
momento. O jeito que Natasha falou abertamente o
que queria, e estava sentindo, foi maravilhoso e
excitante, por isso quero fodê-la mais uma vez.
Só de cueca, sigo para a cozinha comer alguma
coisa. Pego meu telefone para ver a hora e são seis
e cinquenta agora. Decido mandar uma mensagem
para ela, já que peguei seu número ontem.

NATASHA
Sento na cama e sinto um ótimo desconforto no
meio das pernas. Ah! O maravilhoso mundo das bem
comidas. Repasso a noite que tive com aquele
gostoso e só penso uma coisa: quero de novo.
Meu celular apita do meu lado. Vejo uma
mensagem de um número que não tenho na lista de
contatos.
Número desconhecido:
“Fiquei com sua calcinha rasgada como
recordação.”
Rio com o conteúdo da mensagem, já
sabendo de quem se trata. Salvo seu número e logo
respondo.
“Como descobriu meu número tão rápido?”
Envio a mensagem e espero a resposta.
Gustavo Gostoso:
“Uma das regalias de ser chefe. Sei tudo sobre você
agora ;)”
Gargalho com aquilo.
“Preciso me preocupar com isso?”
Mando e ele logo responde.
Gustavo Gostoso:
“De forma alguma, senhorita Natasha Vargas.’’
O respondo e em seguida bloqueio o celular.
Prevejo que ele vai ser meu mais novo vício. E que
belo vício com um belo par de olhos e um senhor
pau!

De volta ao prédio da agência, como se nada


tivesse acontecido na noite passada, passo a manhã
como se não tivesse fodido gostosamente com meu
subchefe na mesa dele. Apesar de passar na
cafeteria do prédio antes, não o vi durante toda a
manhã. Queria muito dar para ele de novo, mas não
sei como ficou nossa “relação” depois de ontem.
Digo e repito: eu o quero novamente e só espero
a reciprocidade dele. Gustavo é gostoso, me
satisfez, então por que não poderia me aproveitar do
momento que Deus me proporcionou?
Só espero que Gustavo não seja um babaca e
finja que nada aconteceu ou algo assim. Mas como
ele me mandou mensagem ontem, presumo que não
ficou bravo quando saí rapidamente.
Checo o celular e resolvo mandar uma
mensagem de termômetro, para saber como
ficamos. Por mim, deixaria rolar até enjoar.
Sei que deveria evitar problemas, mas tem
problemas que são tão lindos, gostosos e cheirosos.
Sem contar que beija bem e tem uma pegada
maravilhosa!
Paro de pensar e mando uma mensagem para
ele.
“Queria transar com você, muito mais”
A euforia me toma por dentro, e menos de dois
minutos depois meu celular vibra com uma
mensagem dele.
Gustavo Gostoso:
“Já estava enviando uma mensagem para
você. Sobe quando acabar!”
Safado gostoso! Leio aquela mensagem e só
com o pensamento de transar com ele de novo fico
úmida e com o estômago assanhado. Ele me quer
na mesma proporção que o quero. E isso é
maravilhoso!
“Já estou toda molhada. Em breve eu subo”
O provoco ainda mais. Já falei que adoro provocar?
Gustavo Gostoso:
“Quando você chegar aqui, a gente conversa do meu
modo.”
Ele promete e eu fico ainda mais ansiosa.
Volto para minha sala depois do almoço com as
meninas, com Alexia ao meu lado, mexendo no
celular também.
— Ei — Fábio me chama assim que me vê.
Alexia segue depois de rir, sabendo que eu não o
suporto.
— Oi. — Meu tom sai tão desanimado
quanto meu rosto olhando para ele.
— O que houve ontem? Teve problemas?
Um sexo quente e gostoso que minhas
pernas fraquejam e minha calcinha molha só em
lembrar. Foi uma coisa maravilhosa, querido, você
não tem noção, pois nunca na vida vai saber fazer
igual!
— Nada demais — disfarço.
— Pensei que você ia ser demitida.
— É, mas não fui.
Entro na sala e sento para terminar meu
trabalho de uma vez, olhando no relógio uma vez ou
outra. Mal posso esperar para subir e ter aquele
homem dentro de mim de novo.
Quando finalmente o final do expediente
chega, eu arrumo minhas coisas lentamente de
propósito e sigo meu caminho até sua sala, já
sorrindo.
Sou muito safada, eu sei. Mas quem não é?
Dou dois toques e abro a porta, o encontrando já
sem camisa, e o analiso de cima a baixo e ele
retribui a olhada, com aquela cara de que vai me
comer, e que vai me comer com vontade.
Ele vem na minha direção e me beija com
toda sua intensidade. Um beijo demorado, gostoso e
envolvente, enquanto aperta minha bunda com
vontade, nos aproximando mais. Gemo baixinho
segurando o cabelo da sua nuca, sentindo a barba
me pinicar no pescoço, onde ele está me beijando e
chupando.
— Não me marque aí — peço num fio de
voz.
— Ah, é, safada? Não quer mostrar por aí
que fodeu com vontade, hum? — Com a boca
próxima à minha pele arrepiada, ele sorri cretino.
Gemo e ele arrasta sua barba pelo meu
pescoço, me dando pequenas cócegas e descargas
elétricas. Estou encharcada, e pelo jeito ele já
percebeu isso. Minhas pernas estão tremendo,
quase vacilando. Ele me gira de costas e sobe meu
vestido, passa a mão espalmada pela minha barriga,
descendo lentamente, mergulhando a mão dentro da
minha calcinha. Empino para traz e sinto seu pau
duro cutucando minha bunda.
— Está gostando? — A voz grave no meu
ouvido me arrepia.
Meneio a cabeça em concordância. Ele
rasga minha calcinha com destreza e puxa meu
vestido, libertando meus seios.
— Você me deve mais uma calcinha — chio.
— Eu pago cada uma delas. — Ele ri
perversamente.
Seguro seu quadril e seu pulso como apoio
quando ele volta a percorrer os dedos em
movimentos assertivos sem o tecido da calcinha
atrapalhando.
— Hum. Molhadinha. Safada! — Ele
continua a alisar meus seios com a outra mão, me
deixando afoita e sem saber o que fazer ou como
reagir a isso, sem ficar com as pernas meio bambas.
Ele insere dois dedos dentro de mim e
movimenta-os, intercalando com o polegar por fora,
como se me fodesse, me instigando.
— Gustavo... — Tento me conter.
Absorta e de olhos fechados, sinto o calafrio
na minha espinha e aperto seu pulso quando a
famosa sensação vem surgindo, me arrepiando.
Minhas pernas vacilam e ele me ampara, não me
deixando cair. Pois ainda estou com meus saltos.
Igual da outra vez.
Extasiada pelo recente orgasmo, e tendo
lenha para queimar, sinto seu pau duro da forma
mais sacana que existe, contra minha bunda. Meu
corpo gira num movimento rápido de Gustavo, que
agarra meus cabelos enchendo a mão e me
beijando.
— Vou pôr meu pau em você. Você gosta,
safada? — provoca no meu ouvido, e eu só assinto
dentro da minha bolha de excitação. Ele me arrasta
indo em direção à sua mesa, e continua me
beijando. Estou de costas para ele ainda.
Ele passeia os dedos nas minhas costas,
contornando minha espinha, e eu arqueio arrepiada.
Distribui beijos e chupa ali, apertando minha cintura
e me deixando ainda mais molhada.
Choramingo, achando tudo isso excitante
demais.
— Vou te deixar bamba de novo, gostosa.
Escuto-o desabotoando a calça e rasgando o
pacotinho. Gustavo, assim como ontem, vai de vez,
sem dó. Deslizou rapidamente. Eu ainda estou
bastante úmida do recente orgasmo.
Inspiro e suspiro umas duas vezes sentindo-o
praticamente todo dentro.
— Machucou?
— Não, pode ir — peço suspirando, com
impaciência e desejo me consumindo.
Ofego quando ele agarra nos meus cabelos
numa boa quantidade e impulsiona para dentro
novamente, e minhas paredes internas lhe dão
passagem para ele entrar.
Eu acho que ele já percebeu que eu amo que
agarrem meu cabelo. Ele não segura a ponto de
machucar, mas é bom, o jeito que ele segura é
dominante enquanto se movimenta.
Ele desce a mão me tocando e aumentando
ainda mais minhas sensações, e reviro os olhos
enquanto gemo. Gustavo não espera mais nada e
deixa um tapa.
Eu amo tapas na bunda, me deixa mais
excitada, e gosto dessa coisa de homem mandão,
viril. Isso me excita ainda mais. Estou molhada com
tudo isso. Adoro ser dominada, ser pega de jeito e
tudo isso aí, mas na cama, porque fora dela quem
manda em mim sou eu.
— Gosta de palmadas?
Ele bate primeiro, para depois perguntar?
— Adoro — sussurro ainda sentindo a bunda
arder.
Ele em seguida apalpa, alisando o local. Ele me
gira, saindo de mim e me agarra pela frente.
Segurando e apertando minha bunda, vai andando
enquanto nos beijamos ferozmente.
Logo estamos no chão, comigo por baixo, nos
agarrando selvagemente. Arqueio as costas e aperto
sua nuca com a unha enquanto ele me invade de
novo sem cerimônias. Esse homem é um animal, no
bom sentido, sempre. Coloco as pernas ao redor
dele e o seguro pelo pescoço enquanto ataco sua
boca para abafar meus gemidos que estão ficando
incontroláveis.
— Transar com você é muito bom — confesso.
Uma dica: se quiser arrancar confissões de mim,
o cara tem que ser muito, mas muito foda. Pois eu
só abro o bico e fico descontrolada assim, transando
loucamente.
Chego ao meu ápice, numa explosão de prazer
imensurável.
Respirações pesadas é tudo que se ouve na
sala dele. Estamos jogados no chão, com ele ainda
em cima de mim.
Olho para o teto tentando assimilar o que
acabou de acontecer. Esse homem suga todas as
minhas energias com vigor.
— Esse foi o melhor sexo do trabalho que tive
até hoje. — ofego, tentando controlar minha
respiração.
— Você já tinha transado no trabalho? —
questiona ele, curioso.
— Não, por isso que estou falando.
Dou uma olhada sugestiva para ele, que sorri
entendendo aonde quero chegar.
— Por mim, sem problemas.
Viro-me, olhando para ele com a sobrancelha
arqueada. Nós dois queremos a mesma coisa, que é
o corpo um do outro. Então por que não querer sexo
regular?
— Estou querendo te comer de novo mesmo.
Sorrio maliciosamente, ouvindo em puro deleite
aquilo.
— Mas com uma condição — chamo sua
atenção.
— Qual?
— Sem cobranças. E tem que ser escondido.
— Por quê?
— Sou funcionária, você é diretor de finanças.
Você é superior a mim e tem pouco tempo aqui. E é
só um caso. Não precisa ninguém saber.
— Vou ser seu segredinho sujo, é, safada? —
Ele me olha sugestivamente.
Ele vira para mim, ficando bem perto e eu o sinto
latejar na minha perna, recebendo um beijo intenso.
Os finais de expediente estão cada vez melhores.
Umas rapidinhas no trabalho não serão nada mal,
pensando bem.
7
GUSTAVO

Depois de mais um dia de trabalho produtivo,


resolvo jantar na casa dos meus tios, onde meu avô
está, depois que sofreu um ataque cardíaco
recentemente. Foi um susto apenas, e ainda bem
que está bem e se recuperando. Ele é pai do meu
pai, e é dele que herdamos o sobrenome Maldonado
e os olhos azuis.
Sempre fui muito apegado a ele. Eu era o típico
neto que onde o vô estava, eu estava atrás.
Domingo era lei eu ir para casa dele, para ele me
ensinar a pescar. Melhores momentos da minha
infância.
Meu primo Rodrigo também participava, mas
sempre foi desgarrado da família. Sempre está
viajando, nunca para em casa. O destino dessa vez
foi Estados Unidos, Havaí. Mas sempre que nos
encontramos é farra. Meu avô é o único que põe um
pouco de juízo na cabeça louca dele.
Sou recebido por abraços calorosos da minha
tia, mãe de Rodrigo. Cumprimento meu tio, que já
estava em casa antes de eu chegar, e subo para o
quarto onde meu avô está ficando, depois de minha
tia Silvia avisar que é para a gente descer daqui a
pouco para jantar.
— Vô.
Chamo e entro depois de dar dois toques na
porta. Ele me saúda da cama mesmo, com um
sorriso, e eu retribuo. Confesso que ele sempre foi
meu herói. E vê-lo vulnerável dessa forma, vendo a
ideia surgir, mesmo que não tenha ficado com
nenhuma sequela grave, me deixa triste, pois ele
sempre gostou de ser ativo e ter sua independência.
— E, aí, garoto, veio finalmente ver o velho
aqui?
Adentro mais no quarto e sento perto.
— Vim. Meus dias estão corridos desde que
entrei lá na agência. E o senhor, está tudo bem?
— Estou. Sua tia está me deixando louco com
essas comidas sem gosto. — Ele se queixa e eu
gargalho. — Já encomendou meu bisneto? — Sorrio.
Toda vez que o visito ele me pergunta isso.
— Ainda não, vô. Nem estou enlaçado. E você
tem que comer essas coisas.
— Vocês têm que procurar, família é tudo,
garoto! Você e Rodrigo só querem farrear! Só quero
ver se não conhecerei um bisneto antes de partir
para reencontrar a Lica! Falando no seu primo, não
falei com ele desde a sua última visita.
Senhor Vinicius é viúvo há pouco mais de sete
anos. E uma coisa que levo muito para a vida, que
ele sempre me falou e ainda fala: os Maldonado
podem ter mil mulheres ao longo da vida, mas que
ama de verdade, é apenas uma, e por ela fazemos
qualquer coisa. Não foi à toa que ele foi casado com
minha avó por mais de cinquenta anos, a perda dela
foi a mais dolorosa e marcante para a família e para
ele, que na maioria das vezes toca no nome dela
como se estivesse aqui conosco ainda.
E eu gostaria de saber se eu vou encontrar essa
tal mulher.
— Quer tentar falar com ele?
Pego meu celular do bolso tentando
encontrar aquele filho da mãe online, e para minha
sorte acho. Sim, sorte de verdade, pois ele nunca
está online e isso é motivo de minha tia ficar louca,
me perguntando se consegui falar com ele e que eu
pague de babá, verificando se está comendo direito
e coisas do tipo.
Faço uma chamada de vídeo e ele logo atende
com seu típico sorriso debochado. Sacana!
Ele é três anos mais velho que eu, mas não tem
um pingo de juízo. Conversamos com ele, que
contou o que anda fazendo e que está na Flórida.
Depois descemos para jantar num final de noite
agradável.

NATASHA
— Vai almoçar com Liz? — Alexia me questiona
com o celular na mão.
— Não. Tenho reunião agora.
Ela arqueia uma sobrancelha em puro deboche.
Reunião na nossa língua é sair para transar.
— Eu também.
Rio para ela, negando, porque sei que Murilo
vem buscá-la. Ela dá de ombros, digitando algo no
celular. Arrumo meu vestido, porque é o que estou
usando ultimamente, pelo simples motivo de ser
mais prático. Quando encontramos um tempinho,
seja no almoço ou depois do expediente, Gustavo e
eu vamos para um motel perto da agência. É mais
seguro.
Não temos dias fixos para transar. Marcamos
quando estamos com vontade, mas a frequência
está ótima.
O homem realmente sabe o que e como fazer.
Semana passada estava bruto de um jeito delicioso,
com aquela cara de safado que fazia quando puxava
meu cabelo. Quando Liz pergunta da minha
demora, ou eu sorrio, ou digo que é o trânsito. Mas
nunca digo quem é, continua a ser o nosso
segredinho sujo. Meu e de Gustavo. E ela acaba não
se importando muito.
Desço para encontrar Gustavo no local
combinado e, assim que saio do prédio, encontro
Murilo encostado no carro, esperando Alexia.
Minha amiga soube escolher esse homem muito
bem, ele é muito bonito e combina com ela. E não,
não tenho queda alguma por ele, mas não sou cega,
não é mesmo?
— E aí? — O cumprimento com dois beijos no
rosto.
Olho para cima, pois ele é tão grande quanto
Gustavo. O que esses homens andaram tomando?
— Oi. Cadê Alie? — ele indaga curioso.
— Descendo. Deve estar se enfeitando. — Dou
de ombros e ele ri.
Vejo o carro de Gustavo passar cantando pneu,
e lembro do nosso almoço. Despedimo-nos e sigo
meu caminho até o grande carro preto de Gustavo,
já parado. Entro e sinto seu perfume gostoso. Esse
homem exala masculinidade crua!
O cumprimento com um selinho rápido e
Gustavo arrasta o carro. O restaurante não é muito
longe. Porém, só pela fachada sei que nenhum mero
funcionário com contas para pagar vem almoçar
aqui.
Sentamos em uma mesa para dois e o garçom
vem nos atender. Deixo Gustavo fazer os pedidos
por nós dois, inclusive o vinho, que é maravilhoso.
Almoçamos enquanto conversamos de forma
bem casual. Nem parecemos que transamos como
dois selvagens.
Já de volta no carro, perto da agência, Gustavo
me agarra para um beijo totalmente abrasador, me
deixando molinha. Que homem gostoso!
— Que tal estender isso na minha casa hoje? —
Ele me fita com seus olhos azuis intensos.
— Não sei. Tenho umas coisas aí para resolver.
— Fim de semana então?
— Não dá, acho. Qualquer coisa a gente se fala.
Dispenso. Esse final de semana Lizandra e eu
vamos comemorar sua promoção. Pela manhã ela
me contou empolgada que finalmente ganhou a
promoção que tanto quis. Agora minha irmãzinha é a
mais nova editora executiva. Está num patamar
altíssimo na revista. Estou muito orgulhosa!
Gustavo não se agrada com minha resposta e
finjo que não vi, dando mais um beijinho na sua
boca. Se dependesse dele a gente se encontrava
todo dia. Haja disposição! Não que eu esteja
reclamando, nunca irão me ver reclamando que esse
homem quer transar comigo sempre, mas um
descanso é bom de vez em quando.
— Ok — responde seco, assentindo sério, e eu
ignoro.
Beijo uma última vez e desço para voltar ao
trabalho.

Por ser sábado e estar sozinha em casa, passo


a manhã inteira fazendo absolutamente nada. Liz
está no trabalho, mas irei buscá-la mais tarde para
irmos para o shopping, jantar e assistir um filminho
no cinema.
Meu celular vibra e o procuro no meio das
almofadas. Vejo que é uma mensagem de Gustavo.
Clico e abro para ler. Ele pergunta se estou ocupada
nesse momento. Respondo que em breve estarei lá
no seu apartamento. Por que não?
Olho no relógio e vejo que ainda tenho algumas
horinhas. Dá tempo de dar uma e buscar Liz, já que
estou de bobeira mesmo. Será uma coisa rápida,
não irei demorar para não me atrasar.
Ele logo me manda outra mensagem, com um
endereço para eu ir. Saio de casa com meu carro e
sigo pelo GPS até meu destino. Procuro pelo seu
condomínio. É fechado, os apartamentos são de alto
padrão. Mas não podia ser para menos, já que
Gustavo é diretor financeiro de uma agência de
publicidade de escalão bom. Vou com o carro para a
portaria que tem o nome do condomínio em grafia
forte, para perguntar as informações que preciso.
Depois de mil frescuras de ligar para Gustavo
para saber se eu posso entrar, e pedir minha
identidade, acho o prédio Spazio, onde ele mora.
Subo o elevador para o terceiro andar.
Toco a campainha e espero abrir. Não demora
muito e Gustavo aparece com os cabelos
bagunçados, de short fino e sem camisa. Ele dá
passagem e eu entro. É impossível notar detalhes da
casa quando esse homem está sem camisa no
mesmo espaço.
Ele me saúda com um sorriso charmoso e eu
retribuo.
Grito assustada quando sinto alguma coisa
úmida na minha perna. Gustavo se assusta olhando
para baixo junto comigo, e vejo um cachorro fofinho.
Ele me lambeu. Sorrio para ele e Gustavo gargalha.
— Vejo que já conheceu o Zeus.
— Ele é fofo! — O cachorro é um Golden
Retriever que parece de pelúcia. Trago ele para o
meu colo, encantada.
— Ele é folgado, isso sim.
— É seu? — pergunto em dúvida.
— É, quer dizer, agora é.
— Ah! — me limito a dizer.
Fiquei com a língua coçando para perguntar de
quem era. Mas não é da minha conta. Quanto
menos soubermos da vida pessoal do outro, melhor.
Afinal, não vai agregar em nada no sexo. Adentro
mais no apartamento e coloco Zeus no chão.
— Vem aqui logo. — Ele me puxa assim que o
cachorro segue seu caminho, e vou de boa vontade
para sua boca. Ele aperta minha bunda enquanto me
imprensa na parede. Esse homem com tesão é
maravilhoso!
— Quer algo? Água, suco... — ele pergunta
ainda agarrado a mim.
— Você — confesso com desejo, e fito seus
belos olhos azuis flamejantes.
Deixo escapar um gemido e um grito assim que
ele vem para me atacar, e eu correspondo com o
mesmo fervor, sentindo seu corpo quente contra o
meu. Como não somos de rodeios, vamos ao que
interessa. Nos atracamos em pé, até cairmos no
sofá. Ele assim é a melhor coisa que poderia querer
em um sábado.
— Pensei em fazer muitas coisas com você,
praticamente a manhã inteira — confessa e eu fico
ainda mais molhada pela intensidade com que ele
fala.
Ele beija meu queixo e pescoço enquanto passa
a mão pelas minhas pernas. Gemo arrepiada,
sentindo minha pele eriçar. Comigo montada no seu
colo, rebolo e o beijo com vontade, sentindo-o
endurecer embaixo de mim. Mais encharcada que
eu? Só as cataratas do Niágara.
Gustavo é virilidade pura!
Nos enroscamos com fervor. Dou-lhe um beijo
ardente e seguimos para o quarto para uma foda
completa, coisa que quase nunca temos
oportunidade de fazer. E como sempre, fizemos
um sexo cru, forte, com tesão e fogo puro. Gustavo
acabou comigo ali mesmo, em socadas violentas e
gostosas, cheio de vontade. Hoje ele está mais bruto
que o normal, e estou amando.
Sem contar que esse homem gemendo é uma
coisa indescritível. Eu tenho tesão absurdo por
homem gemendo, é tão másculo! Estou por cima
ainda, com a cabeça repousada no seu pescoço,
depois de receber uma dose pesada desse homem
que me deixou fraca e de garganta seca.
Estou com um sorriso frouxo, e cansada para
caramba. Maresia pós sexo é a melhor coisa.
Mas a leveza logo passa, quando vejo o relógio
que está atrás dele. Arregalo os olhos ao ver a hora.
Se não sair agora, vou perder a merda do horário de
buscar Lizandra e, se isso acontecer, ela me mata.
Ainda preciso passar em casa.
— Tenho que ir. Estou atrasada. — Pulo do colo
dele já vestindo a camisa, sem sutiã mesmo. Estou
de carro, não faz diferença.
— Fica aqui mais um pouco — ele pede. Penso
em aceitar, mas realmente preciso ir.
Visto minha saia e aproveito para prender os
cabelos em um coque.
— Não é isso, é que eu não posso ficar dessa
vez. — Me apresso a esclarecer quando ele vem na
minha direção.
Corro para a sala e ele vem andando atrás, nu,
para meu desespero.
— Não pode por quê? — Ele segura um dos
meus punhos, me mantendo no lugar.
Merda! Cadê o outro par do meu calçado?
— Eu realmente preciso ir. Tenho um
compromisso e depois nos falamos. — Lhe dou um
selinho rápido e me solto, tentando lembrar se
esqueci de alguma coisa enquanto atravesso a porta
meio desnorteada, com a bolsa na mão. — Beijo!
Não espero resposta e corro para casa o mais
rápido que consigo. Merda!
Pelo retrovisor do carro, vejo o roxo em cima do
meu seio direito, pertinho do mamilo e sorrio por
isso. Ainda bem que ele não me marcou em um
lugar muito visível ou difícil de esconder. Devasso!

GUSTAVO
Encarando a porta recém-batida por Natasha,
sinto o ódio me consumir imediatamente. Ao
contrário da outra vez, eu me importei por ela ter
saído assim sem explicações.
Que porra aconteceu aqui para ela sair daquela
forma?
Aposto que foi para encontrar com aquele
homem com quem estava de conversa ontem. Está
na cara que eles foram se encontrar, que têm um
caso, e achei que ela só encontrava comigo.
Grito uns cinco palavrões seguidos para liberar
mais um pouco da minha ira. Por que eu estou
desse jeito? Não sei. Mas estou com raiva só em
pensar nela saindo assim do nada para encontrar
com ele. Só isso explica o motivo dela não querer
que eu a marque no pescoço.
Confesso que odeio dividir. Principalmente
mulher, não importa se é caso ou não. Não vou
comer uma mulher que outro homem também come
esporadicamente. Ou é minha ou não é. Mesmo que
seja temporariamente.
Lembro-me das palavras dela e meu ódio cresce
ainda mais. Natasha vai me pagar, e muito caro.
Pego meu celular e procuro o contato dela o mais
rápido que consigo.
“Que compromisso é esse, hein? Me responde”
“Natasha, eu não estou brincando. Onde você
está?”
Envio duas seguidas e nada dela me responder.
Mas já chego lá.
Visto minha roupa, me sentindo abafado e não
suportando ficar um minuto a mais aqui. Saio e pego
meu carro. Tenho o endereço dela salvo. Salvei junto
com o número.
Vou até a sua casa, quero saber se ela vai sair
com alguém. Estou impaciente com essa
possibilidade. Que raiva do caralho!
— Caralho! — vocifero batendo no volante.
Congestionamento idiota! Acidente idiota!
Buzino para a lesma que está na minha frente
andar mais rápido, já que a via está liberando aos
poucos. Estou muito irritado. Preciso saber que
compromisso é. Só eu não basto? Tem que ficar se
encontrando com os outros?
Estaciono no outro lado da rua dela e atravesso.
Pelo endereço, a casa é essa. Está tudo fechado.
Mesmo assim aperto a campainha insistentemente,
porém ninguém atende. A filha da mãe já saiu. Eu
não acredito. Volto para o carro irado.
Arrasto o carro e vou para casa sem ter outra
opção. Faço o caminho todo remoendo. Isso mexeu
com meu ego de uma forma que nem consigo
mensurar. Não aceito a ideia dela com outro. Cresce
uma coisa comigo, como um animal. Porra!
No elevador, vejo meu celular vibrando com uma
mensagem dela.
PROVOCADORA:
“Um compromisso, ué. Estou ocupada, depois nos
falamos.’’

Acreditem. Isso é a única coisa que ela me


envia, e minha raiva por ela aumenta ainda mais. Só
a hipótese de outra pessoa, que não seja eu a
beijando, tocando e principalmente a vendo nua,
tenho vontade de socar metade do mundo.
Eu sei o que é relacionamento aberto, sei que
não temos contrato de exclusividade. Eu sempre fui
tranquilo com essa porra, por mais que não goste de
dividir, mas caralho! Não vou enviar mais nenhuma
mensagem para ela. Afinal, não temos nada. Mas eu
estou frustrado com essa merda toda. Depois vamos
colocar isso em pratos limpos!
8
NATASHA

Esperando Liz descer para seguirmos para o


shopping, sinto meu celular vibrar no meu bolso.
Desde o momento que eu estava indo para casa,
que ele vibra avisando que tem notificação. Chatice!
Cheguei em cima do horário combinado no
trabalho dela, para minha sorte, pois aguentar uma
virginiana chata falar sobre pontualidade eu
dispenso. Tem duas mensagens de Gustavo. Acho
estranho, porém abro e leio.
Gustavo Gostoso:
‘’Que compromisso, hein? Me responde.’’
‘’Natasha, eu não estou brincando. Onde você
está?’’
Arqueio as sobrancelhas. Quem ele acha que é?
Coloco o celular de volta na bolsa. Não devo
satisfação alguma a ele. Batuco no volante,
esperando a madame, que está descendo as
escadas da entrada, e decido pegar o celular
novamente, disposta a responder.
‘’Um compromisso, ué. Estou ocupada, depois
nos falamos.”
Eu poderia dizer onde eu estou, mas não quero,
pois daqui a pouco ele vai estar sabendo até o que
eu converso quando chego em casa. Em um
português claro, ele é só um caso, não é meu dono.
Então não tenho que dar satisfação nenhuma de
onde estou e o que estou fazendo. Mesmo que seja
um simples cinema com minha irmã em
comemoração à sua promoção merecida.
Simplesmente não é da conta dele. Assim que envio,
desligo o celular. Não quero ninguém me ligando e
me atrapalhando.
Gustavo e seu piti, eu deixo para depois. Pois
sei que se eu for ligar, vamos discutir. E não é de
hoje que ele está nervosinho.
— Que milagre! Você sendo pontual? — Liz
senta no banco do carona gracejando.
— Eu sou pontual. — Rio com ela, pois sabemos
que eu vivo atrasada, mesmo não sendo intencional.
Arrasto o carro para seguirmos nosso destino.
Olho meu celular desligado e decido não pensar no
ataque do Gustavo. Ele não vai estragar minha noite
com besteiras e coisas sem sentido. O que atrapalha
um caso descomplicado é justamente quando uma
das pessoas acha que é dona da outra, e
geralmente é o homem com cisma de macho alfa, e
eu não estou aqui para submissão. Meu nome é de
vodca, engole quem aguenta. As pessoas se
acomodam muito rápido e se colocam onde não
cabem.
Deixo isso de lado e converso com minha irmã
durante o caminho. Logo chegamos. Subo as
escadas rolantes com ela, que está toda tagarela,
falando sobre quão feliz e satisfeita está com essa
promoção e que sua chefa finalmente reconheceu
todo o seu esforço. Ela, por fim, decidiu ir para o
Outback, aproveitou porque eu disse que iria pagar
nossa noite, como presente. Filha da mãe
aproveitadora!
Entramos no restaurante de iluminação baixa e
piso de madeira escura. O ambiente é bastante
aconchegante e confortável. Tem um estilo
descontraído.
— Algo me diz que ao final dessa noite você vai
ter se arrependido de me deixar escolher.
Liz ri quando estamos sentadas, esperando o
vinho tinto que pedimos.
— Já me arrependi.
Ela ri novamente, nas nuvens com essa
promoção, e sequer disfarça. E eu estou morrendo
de orgulho! Lizandra é um poço sem fundo em
questão de comida e eu não fico atrás.
A noite foi muitíssima agradável. Metemos o pé
na jaca. Passamos mais tempo lá comendo,
conversando e bebendo do que fazendo qualquer
outra coisa. Ainda tivemos estômago para comer
sobremesa, antes de irmos embora. Tanto que
dispensamos o cinema, pois ficamos empanzinadas.
Enquanto Lizandra dirige, já que eu bebi mais
que o permitido, ligo meu celular. Assim que eu
conecto a internet aparece uma mensagem de
Gustavo:
“Amanhã, se não tiver compromisso, venha no meu
apartamento.”
Reviro os olhos e suspiro. Percebi a alfinetada
dele no “se não tiver compromisso’’. Idiota!
Leio e releio, decidindo ou não se vou.
“Por que está agindo assim?” Envio, mas não
obtenho resposta.
Espero dois minutos e em seguida bloqueio o
celular, quando vejo que ele não irá responder
agora. Gustavo está estranho desde ontem. Não sei
qual é o problema dele, porém não é minha culpa ele
ficar putinho por não sei o que, e querer descontar
em mim.

GUSTAVO
Queimando de raiva, destranco o meu
apartamento. Confesso que se eu não estivesse tão
irritado, poderia me arrumar e sair, ou até chamar a
vizinha para transar, só para não ficar atrás. Mas
estou sem saco para isso, por incrível que pareça.
Eu só consigo queimar de ódio por Natasha que
deve estar com o outro lá.
Mas apenas decido trocar a roupa e queimar
essa irritação na academia. O celular toca no bolso
quando estou descendo o elevador, mostrando que é
uma vídeo chamada de Rodrigo, e não Natasha.
Clico e atendo.
— Diga — respondo mal-humorado.
— Credo! Que cara é essa? — Rodrigo sempre
atende sorridente.
— Não é nada. Ligou para quê?
— Eita! Já vi que é mulher. Tomou chá de boceta
de novo? — ele continua com seu costumeiro sorriso
debochado. — Voltou para aquela dondoca, cara?
— Chá de boceta é minha rola! Só estou puto
aqui.
— Eu aposto que foi sim, chá de boceta. Você
tem histórico — continua a provocar.
— Vai se foder, Rodrigo, na moral.
Ele ri tripudiando de mim. Não estou tomando
chá de boceta de ninguém! Filho da puta!
Conversamos brevemente, até eu chegar na
academia vazia, mas também, pelo horário... Meu
celular vibra assim que finalizo a chamada e ao ler o
visor, ignoro. Não quero mais caos na minha vida.
Manuela é um saco!
E sozinho, coloco os fones com o volume mais
alto que é permitido, e libero a adrenalina no saco de
pancadas; se ele falasse, pediria arrego. E a safada
não confirmou nem nada se estava com o cara.
Incrível como ela tem o poder de me desestabilizar e
me deixar puto.

NATASHA
Voltando para casa com Liz, depois de
almoçarmos fora, porque ela ainda está me
explorando pela promoção, e vai ganhar mais que
eu, inclusive, lembro-me da última mensagem que
Gustavo me mandou, se eu poderia ir ao
apartamento dele. Mas até agora ele não respondeu
a minha. Cretino!
E decido ir, para saber de uma vez. Tem homem
que é mais bipolar sentimentalmente que mulheres
que tomam anticoncepcional. E isso só me faz ter
raiva dele. Primeiro age como se estivesse tudo
bem, no seu apartamento e no nosso último almoço,
e depois ele fica irritado me mandando mensagens
como se fosse meu dono.
Chamo um Uber e aviso Lizandra que estou de
saída. Ela apenas concorda. Liz é assim, se eu não
falar, ela também não pergunta. Sempre mantemos
esse espaço entre nós.
Entro no condomínio de Gustavo, já que minha
entrada está liberada desde ontem. E o encontro
totalmente suado na porta, sem camisa, o torso
pingando de suor. O cumprimento quando me dá
passagem, mas o rosto permanece sério e eu não
estou diferente, apesar da visão gloriosa.
Assim que entro, me viro para ele e cruzo os
braços.
— Temos que conversar — ele declara. Odeio,
simplesmente odeio quando a pessoa vem para
cima de mim com essas palavras.
— Temos. Por que você me mandou aquelas
mensagens me cobrando coisas? — vou direto ao
ponto.
— Você me largou daquele jeito, queria o quê?
— ele esbraveja com as mãos na cintura.
Mostro minha mão esquerda e aponto para o
anelar vazio, com cara de confusa, em puro
deboche, mostrando a ele que não temos
compromisso algum. E se tivéssemos?
— Não vem com deboche que estou irritado!
— Ei, ei, ei... Eu avisei que teria um
compromisso e estava atrasada. Qual a dificuldade
de entender isso? — tento manter a calma para não
surtar.
— Isso eu entendi. Só não entendi por que não
me avisou onde estava.
— Você queria o que, Gustavo? Que eu te
dissesse para onde eu iria, com quem e o que
estava fazendo? Olha, vamos baixar a bola? A gente
só transa, está legal? Nada além disso.
Esclareço de uma vez, caso ele esteja se
esquecendo.
— Mas eu não gostei de ser largado daquele
jeito, Natasha. Você é minha! — ele berra e me olha
como se eu fosse a errada.
— Eu não sou sua, querido, eu sou minha. E
faço o que eu quero, você gostando ou não. Não
somos nada e eu nem fico te perguntando o que
anda fazendo, ou pergunto? — jogo as cartas na
mesa.
Odeio homem que acha que mulher é
propriedade dele. Eles esquecem a diferença entre
companhia e propriedade muito rápido.
Ele passa a mão no cabelo, visivelmente
frustrado, e em seguida me olha expressivo.
— Eu só fiquei confuso por você sair daquele
jeito sem me dizer. Achei que já tínhamos intimidade
para isso. — Ele já está um pouco manso e eu
arqueio as sobrancelhas.
— Não temos. Você só precisa saber que
precisei sair. Não tenta querer me controlar. Ou você
se controla ou paramos por aqui mesmo.
Ele me puxa pela mão colando nossos
corpos, mesmo que esteja suado. O mar que ele tem
nos olhos está ainda mais claro e intenso.
— Foi mal, fui irracional
— Tudo bem, apenas se controle porque não
somos nada — sou categórica e ele acena
concordando.
Gustavo me segura pelo pescoço,
aproximando nossos lábios e me atiçando. Ele é
uma coisa maravilhosa para tocar e olhar. Se ele
fosse um deus, seria Adônis, o deus grego da
beleza, porque o homem é um espetáculo!
— Não vai me dizer mesmo onde estava? —
sussurra contra a minha boca.
— Não. — Uso o mesmo tom que ele usou,
enlaçando minhas mãos na sua cintura.
Gustavo me prendeu na sua casa até
começar a anoitecer. Como um bom anfitrião, me
deu comida, e estou falando nos dois sentidos. Foi
ótimo vê-lo passeando para lá e para cá, com toda
sua imponência pelo cômodo enquanto cozinhava.
Tenho um fetiche enorme em homem que cozinha
para mim e depois lava tudo sem resmungar. Acabou
me trazendo em casa e ainda me agarrou no carro,
tentando me fazer voltar para a casa dele.

Saindo do elevador, com Alexia ao meu lado


tagarelando, enxergo Amanda, que assim que me
vê, revira os olhos em desdém. Como se eu ligasse.
Não gosto dela, não me desce desde sempre. Ela se
mostra uma cobra só de olhar. Está estampado na
cara dela isso. Sigo para minha sala e ela me mede
de cima a baixo. Ela ainda acha que está no ensino
médio. Por favor!
Passo mexendo nos cabelos, fingindo que
nem a vi, pois sou dessas. E Alexia ri baixinho,
porque viu. Minha amiga é muito cretina! Eu a amo!
Fofocamos sobre sua nova vida, até
decidirmos trabalhar efusivamente pela manhã
inteira. Então somos interrompidos pelo office boy da
empresa com uma entrega para mim. Detalhe: um
buquê enorme de flores vermelhas.
— Chegou para você, Natasha — ele diz
quando entra na sala.
Não é do tamanho normal, é grande. Recebo
o pacote boquiaberta, com sorrisinhos de Téo e
Alexia que pararam o que estavam fazendo, para
saber de quem é. Ignoro os dois e apenas agradeço
ao homem quando ele sai. As flores são muito
bonitas e de qualidade. Diria até que é de mentira,
se não fosse o aroma delicioso que sinto. E mais um
detalhe: há bombons diversos no meio das rosas.
— Olha ela! — Alexia debocha da sua mesa,
e levanto meus olhos para vê-la rindo em escárnio.
— Está iludindo quem agora, Natasha?
Reviro os olhos enquanto ela gargalha.
Ainda atônita de quem me mandou aquilo, pego o
cartão. Deve ser erro, com certeza. Eu lá sou de
buquê e romance? Quem fez essa brincadeira sem
graça?
— Ela recebe flores agora — Téo não deixa
sua piadinha de lado também.
Abro o papel, ignorando os olhares de
expectativa deles, curiosíssimos, e leio a seguinte
mensagem:
“Tenha um ótimo dia. GM”
Não precisa nem ser gênio para saber que é
Gustavo, né?
Eu realmente estou surpresa, jamais
esperaria isso. Mas ele não deveria fazer isso! Ele é
louco? É só sexo!
Estou tão surpresa e enraivecida, que
sequer sei o que fazer, me sinto totalmente fora da
caixinha. Como ele manda flores para mim e ainda
por cima aqui no trabalho? Ele é louco? Qual a parte
de não temos nada e ninguém tem que saber que
ele não entendeu?
— Me dá um bombom desse aí, Nat. Ou não
vai dividir? — Alexia me pede, e eu jogo na cara dela
de qualquer jeito, que me xinga, assim como o Téo
pidão.
O que deu na cabeça dele para fazer isso?
Eu vou tirar isso a limpo!

GUSTAVO
Olho para aquele meio metro de mulher com
cara de brava e só sei sorrir, mesmo que tenha
jogado as flores que mandei para ela em cima do
meu colo, me deixando confuso. Chega até ser
engraçado ela toda segura de si. Pequena desse
jeito com pose de desafiadora para mim.
— Que porra você acha que estava fazendo,
Gustavo? — Estudo a expressão zangada dela.
— Como assim? — pergunto calmamente.
— Que porra você acha que está fazendo,
mandando flores para mim? — Sua voz aumenta um
decimal, arrumando os cabelos para trás. — Você é
louco? Que brincadeira sem graça é essa?
Franzo as sobrancelhas pela sua pergunta
categórica. Ela não gosta de flores?
— Não. Só quis te agradar, me desculpar
pelo vacilo no final de semana. — Percebo que ela
ficou irritada de verdade. — São só flores, Nat —
tento contornar a situação.
Quando ela ameaçou acabar o nosso caso,
eu senti um gelo na espinha em não a ter e quis me
desculpar de verdade; porque ela tinha razão, e eu
até agora não sei o porquê de eu agir daquela
forma. Só sei que não gosto da ideia de ela ter outro
além de mim. O caso é que eu sou egoísta, não sei
dividir. Principalmente mulher.
— Me agradar? Quer me agradar, me faça
um oral, meu querido! — ela se exaspera,
arrumando os cabelos novamente.
Olho para o ramo de flores no meu colo e
acabo abrindo um sorriso pelo seu jeito desbocado.
Vontade de dar uma lição nela toda vez que ela tenta
me enlouquecer. É, farei isso! A cada vez que ela me
desafiar e me deixar à beira da loucura, quem vai
pagar é a boceta dela.
— Posso providenciar isso também. — Dou
uma piscada. — E se não gostou, cadê os
chocolates? — Arqueio uma das sobrancelhas.
— Eu comi. Não iria fazer desfeita. — Ela dá
de ombros como se fosse uma resposta plausível. —
Mas sério, não faça mais isso, eu não trabalho
sozinha. — Ela pede, mais amena.
— Tudo bem. Só queria te agradar.
— Sem contar que eu não gosto desses
presentes. É romântico demais para o que temos. A
gente só fode. Nada de presentes, agrados só na
cama — pontua.
Natasha é diferente de qualquer mulher com
quem já me relacionei. Nunca vi nenhuma mulher
recusar flores e nem ser fria nesse tipo de coisa. Eu
gosto de agradar mulheres que me relaciono, seja
uma foda comum ou coisa mais séria. Por mais que
não sejamos um casal, mulher tem que ser bem
tratada dentro ou fora da cama. E tentei agradá-la
também, mas pelo jeito ela não curte muito. Acho
que o tamanho das flores foi exagerado.
Como ela falou, se eu quero agradá-la, eu
que lhe faça um oral. E esses tipos de agrados eu
dou com gosto. Nada melhor que fodê-la e a ver com
as bochechas vermelhas, descabelada e com um
sorriso enorme de quem gostou. Safada!
9
GUSTAVO

Meu celular toca insistentemente, me


acordando de uma vez. Estou com preguiça de
acordar cedo e correr hoje. Depois do expediente,
Nat e eu fomos para um motel e ela arrancou todas
as minhas energias. Ela estava selvagem com suas
unhas enormes na minha pele. Minhas costas
arranhadas que o digam. Até quis arrastá-la para cá,
mas ela quis voltar para casa. O ruim de caso
escondido é que não podemos ficar juntos a hora
que queremos. E ela não pode ficar até tarde na
minha casa e eu não posso ir à dela para transar,
pois não mora sozinha.
Essa coisa do escondido é gostosa e chata.
O único contra é isso mesmo. Às vezes eu tenho
vontade de deixar descobrirem que a gente se
encontra mesmo. Mas sei que não podemos fazer
isso por causa do emprego e de todo o resto lá na
agência. Pego o aparelho e atendo de olhos
fechados. A voz de Manuela me faz revirar os olhos.
E como se soubesse o que eu vou fazer, ela se
adianta.
— Não desliga.
— O que você quer, Manuela? — mostro que
não estou a fim.
Que belo jeito de se começar o dia.
— Conversar com você — pede do outro
lado da linha.
— Qual a parte de não temos nada que você
ainda não entendeu? Me esquece!
— É sério, Gustavo! — Escuto ela berrar,
porém desligo mesmo assim.
Levanto para tomar banho, já que não vou
conseguir ficar mais na cama, e sigo para a agência.
Passo na cafeteria no térreo antes de subir e
encontro Amanda, que está sendo atendida.
Tento ser simpático dando bom dia, já que
ela, sempre que me vê, puxa assunto, tentando
chamar minha atenção. Eu sei que ela quer que eu a
coma, está na sua cara, mas ela não me atraiu, ela é
uma pessoa normal e é só isso, normal. Não me
despertou interesse como a bruxa sorridente que
está chegando agora, mas perde o sorriso assim que
me vê.
Sinto um pico de ansiedade no meu peito e
fico confuso. Nem tomei tanto café assim hoje. A
forma que ela anda com toda a segurança deixa
qualquer marmanjo babando, inclusive eu. Mulher
gostosa da porra!
A filha da puta é bonita e alheia ao mundo ao
seu redor, nem parece a manhosa que conheço.
O cara do café chama minha atenção
querendo saber o que eu quero, e eu paro de olhar
para Nat. Confesso que sinto muito tesão desse jeito
atrevido dela. Escuto Amanda resmungar algo,
pegando o próprio café e revirando os olhos
rapidamente, sem um pingo do relaxamento que
estava até agora. Mas Natasha nos ignora como se
não tivesse me visto aqui, indo para o outro balcão.
As duas claramente não se dão bem.
E não demora muito para que o cara que eu
peguei agarrado nela aquele dia chegue perto dela,
distribuindo sorrisos. Fabio. Fiz questão de procurar
quem era ele para não o perder de vista. Parece que
ele a vigia, porque sempre encontra uma brecha
para estar perto dela. Quando estou no andar que
ela trabalha, eu vejo isso: tá sempre junto, tocando-
a, e isso me incomoda. A presença dele me
incomoda. E se continuar, vai levar uma advertência
bem séria, e se desobedecer será demitido sem
pensar duas vezes.
Não me desce a amizade que ele tem com
Natasha. Está na cara que ele quer comer ela. Um
homem entende o olhar do outro. E no olhar que ele
sempre dá para Nat é obvio o interesse. Semana
passada, quando estava na cafeteria, vi dois filhos
da puta secando-a quando passou. Como eu disse,
não aceito dividir. Ou sou só eu ou todo mundo que
ela quiser. E ele não é páreo para mim, mas é
sempre bom evitar estresse com pessoas
insignificantes como ele.
Nunca fui de ficar com várias mulheres de
uma vez. Sempre me concentrei em uma para dar
atenção exclusiva, porque eu também sou exigente
e quero a total atenção. Mas Natasha... Ela me tira
claramente do sério. Só de pensar na possibilidade
de não ter essa atenção completa, porque ela é
indomável e arisca, eu me sinto perdido no furação
que ela é. Planta dúvidas em mim. E eu fico irritado
demais ao pensar nela com qualquer outro, não só
esse babaca.
Sinto a irritação entrar em ebulição dentro de
mim, quando ele coloca a mão no ombro dela,
mesmo ela tirando. Pelo menos isso! Vontade de
agir irracionalmente como um homem das cavernas,
ignorando o fato de sermos apenas foda casual, e
colocá-la nos ombros e a levar para minha sala, e
lhe mostrar quem é que a fode na mesa dessa
empresa.
Recebo meu cappuccino e agradeço. Vou
em direção aos dois. não me contendo em só
assistir. E ignoro com muito custo sua bunda
deliciosa dentro da roupa que usa, implorando um
tapa meu, quando chego perto. E vejo que Natasha
ficou tensa com minha presença perto dos dois.
Atrapalhei o casal?
— Fábio, eu acho que seu horário já
começou, não? Vou querer aquele relatório de
entrada dos clientes para às dez horas — falo o mais
profissional e frio que eu consigo no momento.
— Mas....mas não está todo completo, não
era para semana que vem? — questiona atordoado.
— Então acho bom correr. — Sorrio travando
os dentes, querendo mesmo lhe dar um soco.
Contrariado, o mala sai. E eu continuo a
encará-la, que sorri para a atendente, pegando seu
café expresso.
— Natasha — chamo.
— Sou eu — diz petulante, andando
devagar.
— Ei, qual o seu problema? — pergunto,
pois ela estava agora de sorrisinhos para o outro.
— Talvez você quem tenha, mal conseguiu
disfarçar que temos um relacionamento mais estreito
— soa séria e eu a olho sem entender.
— Ah, é? Você não se importou com
profissionalismo quando Fábio chegou te abraçando.
— Não começa. Vai continuar a conversar
com Amanda, vai, Gustavo. E se afaste um pouco
que ela está olhando para cá.
Arqueio sua sobrancelha pelo seu
atrevimento.
— Da próxima vez que me responder dessa
forma, vai levar tapa na bunda. E percebi que você
não se dá muito bem com ela. — Procuro saber.
— Eu gosto dos tapas — me provoca,
bebericando seu café. — E dela não.
— Por quê? Ela é bem legal. Deveriam ser
amigas — provoco, pois ela me tira do sério, e saber
um ponto fraco dela é bom.
— Então vai lá ficar com ela, Gustavo, e não
me enche o saco! — Suas sobrancelhas se juntam e
ela faz biquinho, toda bravinha. Me dá vontade de
beijá-la aqui mesmo.
Rio de lado e debocho da cara dela. Mas ela
revira os olhos, me dando tchau e as costas para
seguir para dentro. E sigo para trabalhar também,
ainda rindo da sua expressão irritada com minha
brincadeira.
Acabo almoçando com o meu tio e o sócio
dele. Eles estão falando sobre mudanças e
transições e até mesmo das aposentadorias deles.
Mas não me deram muitos detalhes por enquanto.

NATASHA
Vendo que meu expediente está para
acabar, ainda bem, leio a mensagem de Lizandra,
avisando que vai ficar presa na revista por estar
resolvendo uns pepinos. Cargo maior,
responsabilidades maiores.
“Quando tiver perto me liga?” — Espero a resposta.
LIZ:
“Ligo, prometo, e faz algo para jantarmos.”
“não use meu cartão de crédito para comprar pizza!”
“vou usar para um Uber, já que vc quem me trouxe,
né? :p”
Não deixo de provocá-la.
LIZ:
‘’Eu te odeio, cretina! Vai de ônibus ou pague vc
seus “mimos” diários!

‘’Não seja, egoísta irmã, minha alma burguesa não


quer ir de ônibus. Não combina com meus olhos!’’

LIZ: ‘’E eu entro onde aí? vc só quer se mimar com


o meu cartão!”
Rio pela sua mensagem. A pessoa não pode nem se
mimar mais!
Tento focar no meu trabalho, para ver se
assim o horário de ir embora chega mais rápido. O
dia hoje foi bem estranho, fiquei com uma dúvida o
dia inteiro: Gustavo e Amanda são amiguinhos? O
que ele tem para conversar com essa sebosa que o
comia com os olhos? Ela não queria o Fábio? Ou ela
gosta de quem me quer? Vai ver é esse o fetiche
dela: ser ignorada.
Mas ainda assim me irritei, mesmo devendo
fazer o que sempre fiz: tacar o foda-se para ela. Mas
a atenção dele tem que ser para mim, porque as
fodas maravilhosas são comigo. E isso foi o maior
motivo da minha estranheza: por que diabos eu
fiquei incomodada com isso?
Como se ele soubesse que eu estava
julgando-o em pensamentos, meu celular vibra,
mostrando seu nome numa nova mensagem, e
antes mesmo de ler, sei o que é. E o convido para
minha casa. Junto o útil ao agradável. Além de pegar
uma carona, ainda transo. Ele aceita e aviso que em
breve descerei.
Finalizo meus trabalhos e desço. O elevador
nunca mais vai ser igual, só me lembro de Gustavo
com seu perfume gostoso exalando. Encontro-o no
ponto de táxi aqui perto e seguimos.
— Está com algum problema, Gustavo? —
questiono como quem não quer nada, quando
percebo que está muito quieto.
Sim, eu sei que fui eu que falei que não
queria que ele soubesse o que eu faço ou deixo de
fazer, e estou fazendo a mesma coisa. Mas não
consigo ver uma pessoa agindo de modo um pouco
diferente do que costuma e não perguntar. Não sou
tão fria assim.
Sem contar que estou percebendo que
estamos criando um laço a mais que sexo. Uma
amizade superficial, o que é natural, já que nosso
caso dura mais que algumas semanas.
Ontem, quando saí do trabalho, eu fui para a
casa dele, e ele acabou me arrastando para a
padaria do seu prédio para comer. Segundo ele,
tinha um cappuccino maravilhoso, e de fato tinha. E
tinha um pão de queijo delicioso e senti saudades de
Minas Gerais. E contei alguns causos da época que
eu morava lá.
Pela primeira vez estávamos juntos em uma
conversa normal, como duas pessoas comuns, sem
eu estar com a minha mão no seu pau ou sua boca
na minha. Pelo menos não lá na padaria.
Foi meio estranho, mas foi legal também. Eu
me senti bem naquele café da tarde depois do
expediente. Nunca tinha feito isso com qualquer
sexo casual. Não sei se isso vai nos causar
problemas futuramente, mas prefiro não pensar
nisso agora.
— Não, não é nada.
Ele é breve e eu assinto, repousando minha
cabeça no banco para descansar um pouco. Essas
maratonas de sexo me esgotam, mas eu gosto. Hoje
eu tomei uma almofadada na cara, de Lizandra,
porque caí no sono depois do despertador e me
atrasei. Como ela é chata para pontualidade e age
como se fosse minha mãe, querendo que eu
adiantasse, já que ela quem me traria, eu a chamei
de dona Lizandra e só senti o tecido contra minha
cara. Nem um pouco neurótica.
Entramos na minha casa e seguimos para o
meu quarto. Jogo minha bolsa em cima da cama de
qualquer jeito. Finalmente vamos matar nossa
vontade de transar aqui, já que a última vez que me
trouxe para casa, tivemos que nos contentar com
beijos obscenos no carro.
— Está com fome? — pergunto, me livrando
dos meus saltos enquanto ele tira os sapatos.
— De você? Sempre.
— Adoro essa sua fome.
Ele me puxa e eu sorrio, já ansiosa e com
tesão. O beijo inicia calmo, mas ele adentra as mãos
no meu cabelo e puxa meu rosto mais para cima,
ainda me abraçando. O beijo se torna urgente e
agarro no seu braço, ficando na pontinha dos pés,
para ter mais apoio no seu pescoço.
Ofegante e quase sem ar, recebo beijos no
meu pescoço e bem próximo da minha orelha. E
aperto seus braços mais forte, com os pelos
eriçados.
Gustavo, que não é bobo, me agarra pela
minha bunda, me carregando, e enlaço minhas
pernas na sua cintura, e ele vai em direção à minha
cama, colando nossos lábios novamente. Ele me
joga na cama e vem por cima de mim. Desabotoo
sua camisa com urgência, jogando-a longe. E ele faz
o mesmo, abrindo o zíper da frente do meu vestido.
Exclamo quando acaricia meus seios,
enquanto ele distribui beijos no meu pescoço, todo
safado. Desce a boca e captura um dos meus
mamilos, me fazendo revirar os olhos de tesão. Faz
o mesmo com o outro, e eu recuo arrepiada com
esse estímulo maravilhoso.
O chamo com os dedinhos dos pés
contorcidos e muito molhada, implorando por ele
dentro de mim. Ele, com um dos meus seios na
boca, me olha com o céu azul que tem nos olhos e
isso me excitou mais. Que visão maravilhosa!
— Quero você, agora! — suplico.
Ele nega com seu sorriso devasso, agora
com o polegar nos meus mamilos, numa massagem
torturante.
— Por favor — peço, travando as pernas
para conter essas comichões que estão me
deixando doida.
Ele não me responde, apenas beija minha
boca de novo, de modo voluptuoso, arranhando-me
com a barba, descendo em direção ao meu umbigo
e abrindo o resto do zíper do vestido, para arrancar
minha calcinha. Contorço-me ainda mais, ofegando.
Ele hoje está a fim de me levar ao limite!
Gustavo me deixa elétrica, nervosa, e quanto
mais tenho dele, mais eu acho pouco.
— Eu fico louca quando você me provoca
desse jeito.
— Hoje você vai ficar quietinha. Só abra
essa boca se for para gemer.
Ofego pelo seu tom. Gustavo é intenso que
chega a queimar. Tudo com ele é urgente e adoro a
necessidade que impõe. Ele beija como se fosse a
minha boca, ele me chupa como se fosse uma fruta,
uma fruta boa que deseja há anos. Arquejo as
costas e contraio o pé quando, além dele chupar, me
mordisca levemente e, em seguida, acaricia com a
língua até que eu me desfaça ali, fraca, à sua mercê.
Mas não quero gozar assim, não mesmo.
— Me fode de uma vez, caralho! — O puxo
pelo braço. Nunca fui de obedecer a regras.
E ele parece gostar desse meu jeito, porque,
depois de se proteger, se acomoda numa posição
confortável e coloca todo em mim e sinto toda sua
urgência pulsante. Porra! É disso que eu gosto!
Esse ritmo animal, essa loucura e
brutalidade que ele só mostra nessas horas, é um
aditivo. Adoro quando ele me pega de jeito, sem dó.
Assim como está fazendo agora, puxando meus
cabelos, e eu aproveito para arranhar suas costas e
apertar sua bela bunda firme. O desgraçado sempre
vem na missão de me deixar louca. Não existem
palavras capazes de descrever o prazer que eu
estou sentindo, é intenso e animal, com ele me
apertando e eu me movendo freneticamente ao seu
encontro, enquanto gememos e, caramba, que
gemido viril no meu ouvido!
Ele me puxa pelas minhas pernas, troca de
posição e me põe por cima, me encaixando no seu
colo. Gustavo sorri de um jeito cafajeste com seus
cabelos negros desordenados, o deixando sexy
demais para minha sanidade. E nesse momento
seus olhos conseguem ser mais azuis. Azuis ferozes
prontos para me devorar. E eu adoro ser devorada!
Chegamos ao ápice como dois animais, e mordo
seu ombro, para não gemer tão alto. Não quero que
as vizinhas saibam o seu nome.
Fraca e satisfeita, recosto minha cabeça no seu
pescoço, esperando o corpo se acalmar dessa pós-
foda. Gustavo ainda está bem ofegante e suado.
Mas logo se vira, ficando com o corpo parcialmente
por cima de mim, dando a famosa sensação quente
de um tronco sobre o outro, corações quase
sincronizados, e eu tremo inteira.

GUSTAVO
— Quero definir a relação — falo sem rodeios.
Natasha está incrivelmente sexy com seus
cabelos desordenados e livres pelo lençol. O sorriso
frouxo e bonito e as bochechas coradas pela foda
animal que tivemos. Só falta um charuto na minha
mão para completar essa cena.
— Por quê? — Ela franze as sobrancelhas para
mim.
— Porque não gosto da ideia de você saindo
com outras pessoas.
E essa pessoa inclui Fábio ou qualquer outro
que conversa com ela na porta da agência com
sorrisos.
— Você quer fechar então? Mas sem
cobranças?
Ela segura meu queixo, o apertando duas vezes.
— Isso. Não quero dividi-la com nenhum outro.
Vejo-a tremer com a minha fala, mas suspira
preguiçosa.
— Podemos fechar, mas nada de ficar me
controlando, saber com quem estou, o que eu fiz. Só
vamos ser exclusivos, e você não será meu dono —
me alerta e eu entendo as entrelinhas.
— Tudo bem.
Agarro-a pelos cabelos, a trazendo para mim, e
ela segura meus braços. É impossível ficar mais de
cinco minutos perto sem beijá-la. Pelo menos com
esse relacionamento fechado eu me sentirei menos
neurótico. Ela ficará comigo, apenas comigo.

NATASHA
Escuto meu celular começar a tocar dentro da
bolsa, que até antes de começarmos a transar
estava na cama. Atrapalhou minha preguiça,
confesso que estava quase cochilando.
Levanto o rosto assustada, me lembrando de
Lizandra, e pego minha bolsa no chão perto da
cama. Arrasto meu corpo de volta para o peito de
Gustavo, que ainda está gloriosamente nu em cima
da minha cama, relaxando como eu estava.
Abro e vejo que é uma mensagem de Liz,
avisando que estava saindo do trabalho... há vinte
minutos! Arregalo os olhos e levanto-me com tudo,
e me desespero só em pensar que ela pode se bater
com ele aqui dentro.
— Corre! — exclamo.
— Que foi? — Mesmo sem saber, ele procura
sua roupa.
— Minha irmã está chegando! — O apresso e
ele coloca o cinto de qualquer jeito.
Está parecendo que sou uma dona casada,
Gustavo é o amante, e o marido, que seria Lizandra,
está para chegar. Corremos até a sala, dou um
selinho rápido nele em meio a um riso e ele sai.
Volto para meu quarto para pegar os lençóis
suados para colocar na máquina, e corro para o
banheiro tomar um banho e tirar esse aspecto de
pós-foda louca. Se eu fechar os olhos, eu ainda
consigo sentir ele me apertando e gemendo.
Desligando o chuveiro, escuto as chaves de Liz
fazer barulho e a voz dela me chamando e respiro
aliviada. Encontro Liz na cozinha, sorrio e tento me
manter normal, mesmo ela não sabendo o que eu
estava fazendo.
— Como eu não recebi notificação do meu
cartão, presumi que não tinha feito nada. E trouxe
lanche para nós duas. Ainda trouxe cocada. — Ela
joga para mim, e me protejo no reflexo, deixando a
embalagem bater no meu braço e cair no chão e a
fazendo rir.
— Cadê minha comida? — questiono, pois estou
morrendo de fome.
— Aqui. — Ela suspende o saco.
Sentamos juntas para comer. Eu amo minha
irmã. Esqueci de fazer ou pedir comida, estava mais
interessada em ser a comida quando cheguei aqui
com Gustavo.
— Está com essa cara por quê? —ela questiona.
— Que cara?
Paro meu copo de suco no meio do caminho até
minha boca e olho para ela.
— Sei lá. Sem mau humor ou reclamando do
seu dia.
Ela franze as sobrancelhas ao me olhar e eu
olho da mesma forma para ela, que nega deixando
para lá, e sacudo os ombros. Lizandra é maluca!
No final da noite, depois de mandar uma
mensagem para ele, me jogo na cama, esgotada, e
acabo rindo pela forma que Gustavo saiu daqui.
Somos loucos! E eu estou me sentindo uma
adolescente!
10
NATASHA

Coloco meus brincos e ajeito o cabelo. Hoje,


sábado, decidi sair para me divertir em uma boate.
Liz está com preguiça, então irei sozinha.
Semana passada eu fui para o aniversário de
meu pai, junto com Lizandra. Minha irmã mais velha
estava lá junto com seu filho, meus avós e alguns
tios chatos, que acham que devem dar dicas e
singelas sugestões de como você deveria tocar sua
vida. O que mais ouvi foi: “Natasha, não acha que
deveria namorar?”, ou “essa menina vai acabar
ficando sozinha”. E digo que sozinha é que eu não
fico mesmo!
Eu apenas sorria. E confesso, até que senti falta
de Gustavo para darmos umazinha no meio de tanta
chatice. Essa semana mal nos vimos, ele estava
focado em trabalho e eu também, e foi um pouco
bom esse afastamento, mesmo que eu
estranhamente tenha sentido falta da sua
companhia. E ainda falando nele, meu celular acaba
de vibrar com uma mensagem sua. Pego para ler e
vejo que está me chamando para a casa dele.
A proposta é tentadora, mas quero muito ir
nessa boate; percebi que fiquei algum tempo com
esses programas caseiros, não que seja ruim, mas
eu no momento estou a fim de uma agitação. Estou
com saudade de dançar sem ser em cima de um
pau. Quero ver gente e ouvir música alta.
“Não dá! Estou indo para a boate! Quer vir?” —
Envio e logo recebo resposta.
GUSTOSO:
“Que boate? Vou com você!”
Arqueio as sobrancelhas por ele ter aceitado.
Entretanto, apenas aprovo. É até bom ter
companhia, e minha carona para casa já está
garantida.
“Então está bom. É na Seventeen. Daqui a vinte
minutos eu chego lá.”
Envio para ele, que visualiza e confirma que estará
lá me esperando.
Termino de me arrumar, pego minha bolsa e vou
para a sala. Encontro Liz jogada no sofá, assistindo
tv. Coragem para quê?
— Não vai mesmo, né? — questiono.
— Eu não. Deus me livre! — Reviro os olhos e
ela dá de ombros. — Não vou te esperar para
dormir.
— Ótimo! — Beijo sua testa e saio para o carro
que já me espera.
Chego à Seventeen no horário combinado, e
logo encontro Gustavo, bem gostoso, de camisa de
gola polo e calça jeans. Não preciso dizer que está
um tesão, né? E chamando a atenção por todo o
conjunto.
Homem é foda! Se arrumou e ainda chegou
antes que eu. Ele vem na minha direção. O
cumprimento e ele me segura pela cintura em
direção à entrada. Não demoramos muito para
entrar, e logo a batida alta sobressaiu no local, junto
com várias pessoas dançando. Não demorou para
eu ser contagiada com a vibe. Gustavo ficou no meu
enlaço e fomos buscar bebidas, com ele atrás de
mim.
Decidir ir mais para o meio da pista e Gustavo
ficou mais para trás, não quis vir junto, mas ficou me
observando de longe, e é claro que eu sensualizava
bastante para ele, que sorria para mim. Sinto alguém
chegar por trás e continuo dançando, até me dar
conta de que não é Gustavo, quando o vejo chegar
irritado, olhando para um menino que não deve ter
nem vinte e dois anos, e que foi esperto o suficiente
para sair quando viu o shape desse gostoso.
— Precisa rebolar assim? Não pode ser só na
minha cara? — Gustavo sussurra no meu ouvido e
eu aceno sorrindo, indo até o chão cantarolando a
música e subindo novamente. Qual a graça de vir e
não rebolar até me acabar? Subo o corpo ficando
próxima, pois estou de salto alto. Gustavo agarra
meu cabelo assim como minha bunda, mantendo-me
no lugar, me beijando gostoso e dominante.
Que homem é esse?! Aproveito o beijo, claro,
sentindo-o totalmente possessivo. Paramos o beijo,
comigo ofegante.
— Acho mais vantagem rebolando em cima de
mim — ele sussurra, me segurando pelos cabelos, e
gemo me derretendo. Que homem intenso!
Fico nesse joguinho de provocações e vejo
Gustavo tentando fazer de tudo para que os outros
homens não encostem em mim, mesmo que sem
querer. Eu rebolava de costas para ele, e ele
agarrava minha cintura cada vez mais forte,
claramente com tesão. Danço mais algumas
músicas junto com Gustavo, que tenta me
acompanhar.
Nos beijamos a cada cinco segundos, os beijos
cada fez mais quentes, ele até me arrastou para um
canto escuro onde tinha casais se agarrando por
perto, mas eu queria mais privacidade. E ele me fez
a proposta tentadora e irresistível de estender a
diversão por uma coisa mais gostosa, e rebolar do
jeito que eu estava, mas em cima dele e na sua
boca.
GUSTOSO:
“Daqui a uma hora irei passar aí perto para te
buscar.”
Leio a mensagem e titubeio se irei ou não. Quais os
planos dele?
“Vamos para onde?” — Envio e a mensagem chega
no mesmo segundo.
GUSTOSO:
“Em um restaurante legal. Se arrume bem gostosa.”
Restaurante? Fito novamente a mensagem
tentando entender tudo. Mas como a curiosidade me
move, decido aceitar o convite para saber o que ele
está aprontando. E também porque não recuso uma
comidinha.
Meu domingo foi tédio, então nada melhor que
uma saidinha dessas. Acordei cedo em pleno
domingo para fazer faxina. Pois é, minha vida não é
maravilhosa não. Me arrumo do jeito que combina
para qualquer coisa que ele tenha inventado, já que
ele não falou nada de mais, só falou sobre o
restaurante. Gustavo vem me buscar por volta das
oito.
Olho-me no espelho. Muito gostosa, como
sempre. A maquiagem está leve, só destacando
meus olhos claros. Perfumada, sigo para a sala
procurar meu celular e saber de Liz, que assovia
brincando assim que me vê.
— Vou sair, tudo bem? — Passo a mão nos
meus cabelos. — Não sei que horas volto.
— Não está saindo muito não?
— Está com saudades de mim assim, Liz? —
pergunto divertida, tirando uma com a cara dela. —
Está sentindo minha falta, que bonitinha. — Vou para
perto dela e aperto suas bochechas.
— Não! Iludida! Tem homem no meio, né? —
Faz cara de segundas intenções.
— Diga que está com saudades de mim então.
— Sai, Natasha. — Ela me empurra e eu
continuo a rir da cara dela.
— Eu sei que você me ama!
— Estou nem aí para você. — Ela revira os
olhos. — Mas me conta, tem homem no meio?
— Sempre tem.
— Das suas pernas? Eu sei! Só quero saber
quem é esse aí.
Ela segue comigo para a sala, pelo corredor dos
nossos quartos.
— Depois te conto. Mas estou bem servida!
Sorrimos cúmplices. Sempre fui aberta com
minha irmã em quesito homens, mas eu
estranhamente estou com receio de contar sobre
Gustavo, mesmo sem saber o motivo ao certo. Meu
celular vibra na minha mão e eu me despeço de
minha irmã, que se joga no sofá com um lençol na
mão, para hibernar. Saio de casa lendo a mensagem
dele, avisando que está me esperando perto da
minha casa, do outro lado da rua. Logo o vejo
parado e recostado na frente do carro. Puta que
pariu!
Gustavo me olha com os olhos fixos e
reluzentes. Ele está gostoso demais, em um jeans
que o deixa bem apetitoso aos meus olhos. Dou um
selinho rápido na sua boca. Morro de medo de Liz
ver eu me agarrando com ele aqui na frente, mas é
mais forte que a gente.
— Vamos? — ele me pergunta, ajeitando o jeans
na perna.
Aceno e sigo em direção ao seu carro.
— Está uma delícia com esse vestido. Estou
quase desistindo de te levar para jantar, e te comer
ao invés disso — ele diz, repousando a mão nas
minhas coxas, e brinca com o dedo na parte interna.
— Deixe essas baixarias para mais tarde. — Tiro
a sua mão dali e ele ri.
Fizemos o caminho até o nosso destino. Ele me
trouxe em um restaurante bastante conhecido,
porém eu nunca vim aqui. Gente chique é outro
nível. O lugar é requintado, próximo ao mar. E tem a
arquitetura de um navio.
E eu estranho totalmente. Primeiramente, ele
não deveria nem estar me trazendo para restaurante
algum, ainda mais um chique como esse.
Passamos pela recepção depois de confirmar
sua reserva e seguimos para a área externa, até
uma espécie de sacada, onde tinha apenas uma
mesa com duas cadeiras. As outras mesas vizinhas
ficam separadas por uma divisória meio
transparente, porém não dá para ver do outro lado.
O ambiente é lindo, com uma pegada mais
sofisticada. Fico deslumbrada, pois de onde estamos
temos o privilégio de ver a imensidão do mar, que
está negro. Mesmo que já esteja escuro, dá para ver
por conta da iluminação em certos pontos. Gustavo
arrasta a cadeira para mim e eu me sento. Logo ele
senta de frente para mim.
— Sejam bem-vindos. — O garçom nos entrega
três cardápios, um deles é a carta de vinhos, e sai
depois de agradecermos.
— Estou encantada — digo ao olhar a vista
extensa de água.
— Realmente é muito lindo. Sabia que ia gostar.
— Ele sorri ao pegar na minha mão por cima da
mesa.
A música em tom ambiente toca, deixando um
clima bom.
— Por que me trouxe para jantar? — Não
contenho minha curiosidade e a atenção dele se vira
para mim.
— Por que não?
— Porque ... né? — Faço um gesto com a mão,
como se fosse óbvio o motivo.
— Besteira. — É a vez de ele balançar a mão
fazendo pouco caso. — Não é só porque não temos
nada que tenho que te tratar como objeto, depósito
de porra.
Sorrio de lado, concordando, me sentindo bem
com seu cuidado em me tratar direito. E meu
estômago revira. Nunca saí com um cara para jantar.
Meus encontros sempre foram muito objetivos.
Calcinha no chão...
— Esse lugar é perfeito. Obrigada por me trazer.
— Sorrio para ele ainda apaixonada pelo lugar.
Ele sorri e beija minha mão e fico um pouco
constrangida, confesso. Isso está parecendo um
jantar romântico e estou me sentindo um peixe
subindo uma árvore. Totalmente fora do meu habitat,
porque eu não sou romântica e nem sei como agir.
Mas Gustavo age normal, e chama o garçom, que
vem rápido. Ele escolhe um vinho bom e aproveito
para pedir meu jantar, e ele faz o mesmo. A lista é
extensa, tem muitas variedades. Tem pratos
nacionais e internacionais. Mas a especialidade são
frutos do mar, então escolho salmão e ele escolhe
risoto de frutos do mar.
O garçom chega um tempinho depois e serve
nossos pratos e mais vinho.
— Humm — gemo quando experimento a
comida, que é uma delícia.
— Para de gemer assim. — Ele se remexe na
cadeira.
— Pensando em sexo, Gustavo? Na hora do
jantar? — falo com uma expressão de surpresa, e
ele gargalha de uma forma gostosa que me faz rir
também.
Jantamos entre pequenas provocações de duplo
sentido em um clima muito gostoso e confortável. O
local é muito agradável, com uma comida ótima.
Terminamos de comer, e pedimos um petit gateau
para a sobremesa, indecente de tão gostoso. Duas
horas depois estamos do lado de fora, esperando o
carro dele chegar para sairmos.
Sinto sua mãozona me segurar pelas costas,
esquentando o lugar de imediato. Logo estamos
dentro do carro, seguindo para a avenida principal.
— Gustavo... — chamo sua atenção, titubeando.
— Achei bacana me trazer para jantar, mas se eu te
falar uma coisa você vai se chatear?
Mordo os lábios inferiores, ainda indecisa se falo
ou não.
— Não, claro que não! Que foi? — Ele se vira
para mim de relance.
— Eu estou com um pouco de fome ainda. A
comida era deliciosa, mas parecia degustação.
Preciso comer alguma coisa que me sustente para
nossas rodadas de sexo — assumo e ele gargalha
com sua boca que ficaria linda me chupando.
Eu fico me mimando como uma burguesinha,
mas meu estômago não me acompanha. Tento ser
fina, mas eu estou com fome e não sou ninguém de
barriga vazia.
— Confesso que também estou com um pouco
de fome. Queria pegar uma carne, mas achei um
insulto pedir isso tendo frutos do mar como
especialidades.
— Então não está chateado?
— Lógico que não! Eu também gosto de comer
bem. Sou guloso. — Ele me dá uma olhada que vale
mais do que mil palavras. — Tem sugestão de lugar
para comer? Escolhe um restaurante da sua
preferência e nós vamos. — Põe a mão na minha
perna, me esquentando imediatamente.
— Que tal, em vez de restaurante, comermos
em outro lugar? — sugiro já sabendo onde vamos.
— Que lugar? — Ele suspende as sobrancelhas
e eu o imito.
— Você vai gostar.
O guio e paramos na praça perto de casa. A
mesma que eu e Liz costumamos comer. Andamos e
ele segura na minha mão, pois ainda estou com os
saltos.
Paramos em frente a alguns food trucks que
ficam espalhados na praça. O som toca
relativamente alto em alguns dos bares da
redondeza.
— Sirva-se. — Aponto para os carrinhos
parados na movimentada praça, com gente de todas
as idades.
— De verdade? — ele me pergunta.
— É. Vamos. Escolha uma dessas barraquinhas
e a gente come — incentivo.
Ele olha ao redor meio perdido e escolhe
justamente o de comida mexicana.
— Buena elección, mi lindo. — Sorrio para ele,
tentando seduzi-lo em outras línguas.
— Gracias, mi ángel — responde em um
sotaque sexy, e arqueio as sobrancelhas em
surpresa — Tenho minhas cartas na manga —
responde prepotente quando percebe minha reação.
— Já imaginei esse sotaque no meu ouvido. —
Olho de lado para ele, sorrindo ousada.
Fomos em direção ao carrinho e esperamos na
fila por menos de cinco minutos. Seu Luís, o dono do
food truck, ou pai de Alejandro, aquele mesmo com
quem Liz se esbalda de vez em quando, nos atende
e estranha por me ver acompanhada. Sorrio para
ele, que tem um bigode engraçado.
Logo achamos um local para sentar e esperar.
— Só você mesmo para comer na rua toda
produzida de salto, Natasha. — Gustavo sorri,
negando com a cabeça.
— Esse é um dos meus charmes. — Faço
biquinho.
— Onde você estava, hein? — ele diz do nada e
eu enrugo a testa.
— Como assim?
— Onde você estava o tempo todo? Você é
cativante com esse jeito doido, ousado, simples e
sem vergonha de falar as coisas. Eu gosto disso! —
Ele sorri para mim e me sinto tensa.
O que deu em Gustavo hoje? Essa noite está
muito estranha e estou com vontade de ir para casa.
Primeiro que nem era para termos saído para jantar,
agora ele age assim, falando essas coisas. É
desconfortável demais.
— Sério. Ninguém que eu saí admitiu fome
depois de um jantar e ainda me arrastou para um
food truck. Parei poucas vezes assim na rua para
comer. Eu gosto da sua simplicidade.
Abro um meio sorriso por isso. Às vezes eu
esqueço que nós dois temos padrões de vida
diferentes. Alejandro aparece olhando para nós dois,
também estranhando em me ver com alguém, e
entrega nossos pedidos. Agradecemos e ele sai.
Comemos mais do que conversamos. A comida
como sempre é divina.
Paguei a conta, mesmo que Gustavo tenha
ficado contrariado por isso. Ele me levou para o
restaurante e pagou, não reclamei. Não é nada de
mais eu pagar aqui.
— Vai me levar em casa? — Olho para ele,
sentando no banco do passageiro.
— Por quê? Pensei que fosse para a minha.
— Estou empanzinada, não vai rolar nada. —
Mostro minha condição física.
O mal de comer feito maluca é esse.
— Não tem problema. — Ele dá de ombros.
Entramos no carro e seguimos viagem. Nem sei
que horas são. Devem ser onze da noite. Chegamos
ao seu apartamento e, como sempre, Zeus vem todo
alegre me recepcionar e me jogo no sofá com ele.
Estou sem um pingo de coragem para fazer qualquer
coisa. Só quero dormir.
Tomo um banho e Gustavo faz o mesmo logo
em seguida, ficando de cueca para o meu deleite.
Me jogo na sua cama e Zeus vai comigo, todo
carinhoso, com o focinho perto dos meus peitos. Tão
safado quanto o dono!
Dou um beijinho nele e Gustavo apaga as luzes,
resmungando e indo para seu lado da cama, e eu
fico de costas para ele. Com as luzes apagadas,
reflito sobre esse jantar. O que deu nele para me
chamar para um restaurante daqueles? Ainda me
sinto perdida no dia de hoje. Foi... fora do comum!
Gustavo me puxa para perto, ficando numa
conchinha desajustada, pondo uma das pernas por
cima da minha, me prendendo, e tremo com aquele
contato. Por que ele simplesmente não age como os
outros, de simplesmente transarmos e cada um ir
para seu canto? Por que tem que ficar me levando
para almoçar? Tomar café da tarde depois do
trabalho? E agora, jantar!
Apesar de ter gostado da noite, que foi
agradável, e de ele me tratar dessa forma, preciso
colocar limites, está ficando tudo muito estranho
demais para administrar. Eu fico totalmente fora de
órbita, sem saber onde me posicionar. Não sou
acostumada com esse tipo de coisa.
11
GUSTAVO
Chego na agência e subo desejando bom dia
a todos, como sempre faço, e vou direto para minha
sala. Ainda está cedo, e quase ninguém chegou. E
quem chegou ainda está tomando o próprio posto.
Pelo menos sei que hoje o dia está cheio de trabalho
e isso é bom para eu não ficar pensando em
Natasha a cada dois segundos, como aconteceu no
outro final de semana, antes desse da boate.
Estou chegando mais cedo hoje porque Manuela
acordou inspirada, está me ligando desde as seis da
manhã, a cada dez minutos. Já tem milhões de
ligações dela que não atendi, de números distintos,
mas o celular tocando a cada dois minutos aqui no
trabalho é foda. Manuela é um saco!
Jogo o aparelho em cima da mesa de qualquer
jeito, irritado. Uma pena que aqui não tem nada
alcoólico, pois estou em horário de trabalho. Puxo
minha gravata que está me sufocando e suspendo
as mangas da camisa. Fico só com a camisa social e
colete. Mal começou o expediente e já estou
saturado.
Sento no pequeno sofá que tenho na sala,
coloco a cabeça no recosto e os braços na testa. Ela
acha que vamos voltar, que vou querer conversar ou
acreditar que ela não quis fazer o que fez; ela acha
que sou otário. Eu estou cheio de problemas, e um
pensamento em especial me acompanha desde a
semana passada e me deixa receoso e estressado.
A manhã passou o seu curso normalmente, refiz
alguns balanceamentos, reli contratos, fiz planilhas e
mais vários outros probleminhas, mas sempre era
atrapalhado por telefonemas, mesmo que vibrando.
Até decidir desligá-lo de uma vez. Que porra!

NATASHA
O elevador abre no meu andar e quase caio
para trás, meu coração acelera assim que o vejo.
Gustavo, de camisa social no antebraço e aberta no
peito e o cabelo bagunçado, jogado para trás de
qualquer jeito e de braços cruzados. A camisa tão
azul quanto seus olhos. Já falei que adoro os olhos
dele? São muito sagazes!
Ele me cumprimenta sorrindo preguiçoso, com
seus dentes branquinhos. Fez de propósito, porque
sabia que eu iria descer nesse andar.
Gustavo me puxa para dentro, direto para um
beijo gostoso assim que a porta fecha.
— Vamos ao shopping comigo? — ele pergunta.
— Para quê?
— Comprar umas coisinhas, vai ser rápido. O
estoque de camisinha acabou também. — Ele ri,
com nossas bocas próximas.
Acabo concordando. Seguimos em direção ao
shopping, conversando sobre besteiras e coisas da
empresa. Percebia uma tensão nele, mas decidi não
perguntar. Mas ele acabou me contando que o tio
dele e seu pai andaram conversando em ele assumir
futuramente o negócio. Que em breve o primo dele
está vindo de um país aí e estão negociando com o
outro dono para comprar a outra parte da empresa, e
virar uma monarquia nos cargos maiores. E
comentou alguma coisa sobre seu avô, que está
doente, e deduzi ser isso que o está deixando tenso.
Chegamos ao shopping e entramos em uma loja
masculina que só vende roupa social. Depois,
seguimos pelos corredores, e apesar de não
estarmos de mãos dadas, estamos próximos.
Ele passou também em uma joalheria comprar
um relógio novo e fiquei babando nos anéis e
correntes. Deve custar o meu carro um mísero
pingente desses.
Atravessamos um corredor de loja e subimos um
lance de escada. Algumas mulheres que estavam na
outra escada no sentindo inverso ficaram olhando
para ele, e eu cerrei os olhos. Que abusadas!
E me censuro internamente por estar
incomodada. Olho na direção que ele apontou com a
mão e vejo um sex shop.
Gustavo me arrasta pela mão, todo
entusiasmado e entramos. Tem algumas pessoas
sendo atendidas, homens e mulheres. Uma
atendente de traços orientais vem nos recepcionar.
— O que precisam?
— Quero uns brinquedinhos — Gustavo é quem
responde. A atendente sorri largo para ele e o mede
de cima a baixo. Tira o olho, querida. Ele irá usar
comigo!
— Por aqui. — Ela aponta para um
corredorzinho, que daqui dá para ver uma estante.
— Vocês querem que eu os acompanhe?
— Não, obrigada — eu respondo.
Ela sai. Vejo vários vibradores de toda cor e
tamanho.
— Olha, que tal isso? — digo apontando para
uma cinta que tem um pau de borracha no
centro. Ele olha torto para a cinta, me olha
atravessado e depois ri de leve, negando com a
cabeça.
Ele pega o que bem quer e eu pego uma algema
peluda. Vou fazê-lo comer na minha mão com isso.
Alguns géis comestíveis e mil e uma ideias na
mente. E claro, um pequeno vibrador novo para mim,
pois nunca se sabe.
— Eu tenho um de carne e bem satisfatório,
para que um desses? — indaga quando saímos.
— Amore, se eu não pudesse me tocar, eu
nasceria igual ao T- rex. E às vezes tudo que
queremos é uma gozada sem um homem para dar
atenção logo depois. Claro que prefiro o de carne,
mas nunca se sabe. — Dou de ombros.
Fomos em direção ao seu apartamento. Está
tudo silencioso na sala. Nem estou prestando muita
atenção no filme. Ele ligou a televisão e eu me
recostei no seu ombro. Eu deveria ter ido para casa,
mas estamos esperando chegar a comida que ele
pediu. O corpo dele é tão gostoso e aconchegante!
— Eu achei sua cara. Tome. — Ele balança a
mão na minha frente para que eu pegue.
Analiso a pulseirinha dourada brilhante com
pedrinhas cravejadas. Ela é linda e reluzente, porém
discreta. Claramente tem valor alto, pois é ouro.
— Não.
Sento direito para encará-lo.
— Por quê? — Ele arqueia a sobrancelha.
— Não tem cabimento você me dar presente, e
tão caro como esse. Isso já é passar do limite do
caso que temos — sou categórica e óbvia. Onde já
se viu isso?
— E o que tem de errado? É só um presente. —
Ele me olha expressivo.
— Poxa, a gente se desentendeu justamente por
esses presentes e você está fazendo de novo. —
Mostro minha chateação.
Ele fecha a cara e ignoro para não ter climão. A
campainha toca e ele volta com a comida na mão.
Depois do jantar, ele vem sorrateiro, se desculpando,
e acabamos transando na sala mesmo. Eu nunca
vou enjoar do sexo com ele. Incrível. Foi intenso,
gostoso. Abrasador!
Gustavo é insaciável e aprecio muito isso!
Levanto meu rosto para beijá-lo. E sinto uma
sensação diferente nele.
— Está me beijando errado hoje, não? Foi pelo
que eu falei?
— Como assim? — Ele ri.
Dou de ombros, não sabendo explicar. Mulher
sabe quando o cara não está beijando como
costuma.
— Impressão sua. Eu gosto de te agradar, não
precisa se chatear comigo.
— Já te falei como são os agrados que aceito —
me limito a dizer e fecho os olhos, sentindo-o
massagear minhas costas.
Vou amolecendo, sentindo a massagem boa no
meu corpo cansado. Coloco a cabeça na curva do
seu pescoço para absorver o seu cheiro de macho
alfa. Ronrono manhosa quando ele alisa minhas
costas. Eu estou muito mole e cansada.
Abro os olhos de repente, sem saber onde eu
estou e me assusto quando percebo que estou com
Gustavo, com a cabeça no seu peito e agarrados.
É meio estranho dormir agarrada com seu
subchefe barra caso. Merda, isso está ficando cada
vez mais estranho!
— Gustavo! — O empurro levemente para que
acorde.
— Que foi? — soa sonolento, abrindo apenas
um dos olhos.
— Que foi o quê? Que horas são? Eu preciso ir
para casa! — Tento me situar.
— São dez e pouco — diz checando o próprio
celular.
— Por que não me acordou, e pior, por que
estávamos agarrados? — Levanto da cama, elétrica.
— Já está aqui mesmo, fica — me pede
segurando meu braço — E foi você que me agarrou
quando deitei na cama.
— Não dá, preciso trabalhar cedo. Não posso ir
com a mesma roupa de hoje.
Ele veste uma camisa e eu pego minha bolsa. E,
rendido, decide me levar.
Na frente do meu apartamento, me despeço
antes de entrar no apartamento escuro na pontinha
dos pés. E depois de um banho, com a cabeça no
travesseiro, suspiro. A noite de hoje foi estranha.
Não sei o porquê, mas sinto que tem alguma
diferença em algum lugar, mas não sei aonde e
qual. Na verdade, Gustavo está muito estranho e
está me fazendo ficar confusa.
Pela manhã, mais um dia na empresa, enquanto
o elevador sobe, penso que hoje seria um ótimo dia
para simular um mal-estar e sair mais cedo para
voltar a dormir. Ainda assim, decido começar a
trabalhar. Alexia chega logo depois, com dois copos
de café. Um para mim e um para ela. Já disse que
amo a minha amiga?
— Aqui, para não fingir que passou mal para
voltar para casa. Preciso de você hoje. — Ela me
entrega o café. Retiro o que eu disse. Eu odeio
Alexia, por me conhecer muito bem.
— E eu te achando fofa por ter comprado. —
Beberico o café quente enquanto ela ri.
Começamos a trabalhar junto com Téo, que
chega tão morto quanto eu. Aposto que passou o
final de semana na boate. Quando deu meio-dia,
Alexia e eu decidimos almoçar com Liz, pois
percebemos que perdemos a frequência disso,
estamos muito afastadas ultimamente e não
gostamos disso. Eu amo almoçar com elas, pois
sempre volto de bom humor.
No restaurante de sempre, conversamos
desenfreadamente e aproveitamos para fazer o que
é um dos motivos desse almoço: fofocar!
— Alie — Liz a chama. — Sabia que uma
pessoa está de boy novo e não contou? — fala em
tom de confissão.
— Como assim? — Alie questiona interessada.
Congelo no lugar, porém finjo que não é comigo.
Faço cara de paisagem.
— É com você mesmo que estou falando,
Natasha!
— Nat? — Alie me olha querendo saber do
babado.
— Natasha está com um homem misterioso. E
acho que é do prédio de vocês, porque já o vi
entrando lá. Peguei eles no flagra, ele correndo do
nosso apartamento em uma noite, saíram até para
jantar — Liz me dedura, e fico estática na hora.
Então o sorriso que ela me deu no dia é porque
sabia sim.
Lizandra me paga! Alexia dá o mesmo sorrisinho
e levanta as sobrancelhas, sacaneando também
como fiz com ela quando soube que ela estava doida
por Murilo na época. Vadia!
— Natasha? Quem é o homem misterioso?
Jantar e visitando sua casa escondido? Uau! O
babado é quente! — Alie debocha.
— Como você descobriu, sua ridícula? —
indago.
— Você acha que me engana? Você sempre foi
mal-humorada e ultimamente só anda de sorrisinhos.
Óbvio que estava dando regularmente para alguém
e isso tem muito mais de um mês! — Dá um
sorrisinho malicioso.
— Mais de um mês com o mesmo homem? Que
recorde! — Alexia continua ironizando. — Será que é
o mesmo dos chocolates e flores?
— Teve flores e chocolate? Natasha! — Lizandra
se vira para mim.
— Afinal, quem é esse homem, Nat? — Alie faz
o mesmo.
Encurralada, respondo:
— Gustavo — sussurro para as outras pessoas
das mesas não ouvirem.
— Gustavo? Gustavo, Gustavo...? — Alexia
repete, perplexa com a novidade.
Imito-a com deboche e ela revira os olhos.
— O diretor financeiro da agência que chegou
há pouco tempo? — tenta esclarecer mais uma vez,
incrédula.
— Sim. A gente está se pegando e ele é gostoso
demais.
— Natasha, sua louca! — Alie exclama.
Depois do almoço, enquanto voltávamos, Alexia
tenta tirar confissões de mim.
— Me dê mais detalhes, cretina.
— Para, Alie. A gente só transa e, sim, já
transamos na sala dele. — Ela sorri e eu acabo
revirando os olhos sem conter meu riso também. —
Você está terrível!
— Eu? — ela se faz de ofendida ainda por cima.
— Mas está sendo bom, os finais de expediente
estão superinteressantes.
— Entendo. O dia termina tão leve! — Olho para
ela arqueando as sobrancelhas. — Que foi? —
questiona fazendo o mesmo.
— Por isso fica ansiosa pelo final do expediente,
né?
— Você quem está dizendo. — Finge que está
olhando o esmalte das unhas. — Isso é uma das
poucas alegrias da classe proletária.
Gargalho com a cara de felicidade que ela faz.
Alexia é bem louca e está muito mais desde que
começou a namorar Murilo. Eu amo ver minha amiga
leve desse jeito.
— Entendo o sentimento. Juro para você que
entendo. — Rio.
Téo chega logo em seguida perguntando do que
estamos rindo.
— Benefícios de uma boa foda no final do
expediente — Alexia responde.
— Adoro. Pena que nós, pobres mortais, não
temos esse benefício sempre. — Téo me abraça.
Rio porque apenas Alie sabe. Qualquer dia
desses eu conto, pois sei que ele vai fazer
escândalo e vai gritar como uma gazela que é.
Então, aqui e agora, não é o melhor momento.
Alexia sozinha, numa piada interna, ri baixinho,
seguindo para sua mesa.
Voltamos para trabalhar, e como se estivesse
apenas me esperando chegar, o motoboy entra na
sala e todos paramos o que estávamos fazendo para
saber o recado. Mas ele me entrega apenas uma
sacola da Ferrero Rocher! Cristo! Gustavo não tem
jeito! Agradeço atônita e irritada, e ele sai depois de
um aceno rápido.
— Humm, primeiro o buquê e agora Ferrero
Rocher! Olha, até rimou!
Alexia é uma vadia de marca maior! Ela ri por
saber quem me mandou e está claramente se
divertindo.
— Pelo jeito ele gamou. — Sua fala debochada
me faz tremer.
— Cala a boca!
Mando, me sentindo irritada por dentro. Ah, mas
isso tem que acabar de uma vez por todas!

GUSTAVO
Pense em uma pessoa fodida, a mais fodida que
imaginar. Agora multiplique por cinco. Fica pior, né?
Agora multiplique de novo e encontre o resultado
que eu estou agora. Fodido é pouco para minha
situação no momento. E o motivo não é nada mais e
nada menos que uma baixinha loira que veio com a
missão de foder comigo, e digo, conseguiu.
Ela tanto me provocou que acabei perdendo o
controle de mim mesmo. Acho que estou começando
a ter sentimentos por Natasha. Isso mesmo,
sentimentos, além do tesão. Como eu cheguei a
essa conclusão?
Gosto dessa nossa relação além de sexo e
gosto de estar com ela. Me sinto muito mais
incomodado com a amizade dela com qualquer
homem, tenho raiva de qualquer um que chegue
perto dela, nem que seja amizade. Vê-la na boate
dançando livre, leve e solta, um mulherão sexy
dançando na boate. Me fez querê-la apenas para
mim.
E bastou um fim de semana legal com ela, com
jantar e boate, para perceber que estou fascinado
pelo seu jeito sem vergonha e autêntico, e por ter me
arrastado para um food truck.
Puta que pariu. A mulher é sensualidade pura.
Ela é sagaz, tem humor mordaz. Sem falar na voz
que usa quando quer me provocar. Natasha me
enfeitiçou sem esforços. Ou tomei chave de xota,
como Rodrigo mesmo disse.
Eu a quero só para mim, sem restrição. Não
quero mais ser uma foda, quero muito mais com ela.
Não quero mais ser seu segredinho sujo.
Olha quão fodido eu estou? No começo eu achei
que era só encantamento por ela ser atrevida, do
jeito desbocado dela. Mas fui caindo em mim e
percebi que não. E o pior de tudo é que eu estou
perdido com tudo isso. Não sei se devo dizer logo e
ver o que acontece ou fingir que nada aconteceu.
Pela primeira vez, eu estou receoso de tomar
toco. Sempre fui seguro de mim, sempre me atrevi,
mas dessa vez eu realmente estou com dúvidas.
Porque ela claramente me enxerga como uma foda e
apenas isso.
E ela frisou bem quando me devolveu a caixa de
chocolates, vazia, mas devolveu. E deixou claro,
caso eu estivesse esquecendo, que só transamos.
Nada de presentes ou jantar. Ou era nesses termos
ou era em nenhum.
Talvez seja só empolgação com ela, ou pelo jeito
que ela é, sem se importar com nada e isso acabou
me fascinando, não sei. Não sei realmente que
merda eu faço!
E confesso que me sinto contrariado por toda
vez que tento fazer algo e ela nega. Foi assim com o
buquê, protestou com o jantar e agora a caixa de
chocolates. Porra!
Ela estava tão chateada que foi embora sozinha
e não falou direito comigo a semana inteira, e agora,
o final de semana todo. Hoje já é sábado. E o
chocolate foi na terça. Meus horários de reuniões
também não me ajudaram.
Resolvo mandar uma mensagem para ela agora
à noite. Estava na casa dos meus pais e fui mimado,
pois ser filho único é isso. Sua mãe querer te entupir
de comida a cada dois segundos e seu pai querendo
saber se já passei o rodo depois que terminei com
Manuela.
“O Zeus está sentindo sua falta.”
Envio. Mas na verdade fui eu que senti. Sou um
panaca!
NATASHA:
“Coitado, ele te falou, foi? Diga a ele que depois vai
me ver.”
Gargalho com aquela mensagem e respondo se
ela está livre. Meu celular vibra no mesmo momento
com uma resposta sua.
NATASHA:
“Não vai dar. Até segunda, chefinho. Um beijo
(aonde preferir)”
Provocativa e insolente. Devassa! A filha da
mãe gosta de me testar de todos os jeitos. Meu
celular toca mostrando que é Ruan. Um amigo de
longa data, fazíamos boxe juntos na minha antiga
academia, até eu decidir começar a treinar sozinho
aqui no prédio.
— Fala aí, cara — atendo.
— E aí? Os caras vão aparecer aqui daqui a
pouco para assistir as quartas de final, vem
também — me convida e eu dou de ombros. Tenho
nada para fazer mesmo e tem uns tempos que não
os vejo também. Preciso espairecer.
— Certo. Apareço então aí — confirmo minha
presença.
— Fechou — ele se despede e desliga.
Vou em direção ao quarto trocar a camisa e
colocar a do meu time. Vai ser bom espairecer sobre
Natasha.
O foda agora é como vou fazer para ela aceitar e
querer ser minha. Pensei em talvez, aos poucos,
parar de tratar ela só como uma foda, mas sem ela
saber, pois quando se tocar vai estar envolvida a
ponto de não poder mais sair. Mas não sei se dará
certo pelo simples fato de Natasha ser imprevisível,
nunca sei como ela vai reagir diante de qualquer
coisa, pois todas as minhas aproximações foram
repelidas, ela é dura na queda.
Se fosse qualquer outra, no primeiro chocolate
ou jantar, estaria nas minhas mãos, mas ela é
diferente e atiça o desafio. E eu estou aceitando,
para fazê-la se render.
12
NATASHA
— Ei. — Fábio chega, colocando as duas
mãos na parede onde eu estou, me imprensando e
assustando.
— Dá para você me deixar passar? — peço,
estranhando sua chegada abrupta.
— Só se me der um beijo. Ouvi dizer que o
motoboy entregou chocolates para você ontem, a
mando de alguém aqui da empresa. Quem é esse?
Me colocou na friendzone mesmo, né? — ele diz e
eu rio, descrente.
— Friendzone? Nem somos amigos e nunca te
dei esperanças, você quem se iludiu. E o que eu
faço da minha vida não é da sua conta!
— Mas você é toda liberal, e eu te trato bem,
você pega vários, que eu sei, e não quer ficar
comigo? — Percebo seu tom indignado, apertando
meus pulsos.
Nada pior que um homem que te trata bem só
porque quer te comer e quando vê que não vai
conseguir nada, começa a agir como um cretino que
sempre foi. No final a bruxa é a mulher que não deu
atenção. Fala sério!
— E daí? Uma mulher desinibida não é um
atestado de disponibilidade sexual, Fábio. E mais um
motivo de eu não querer ficar com você, não pego
vários, para no final acabar te dando. Não mesmo!
Ficamos nos encarando e ele fecha a cara. Está
achando que sou o quê?
— Mas... — O corto antes que fale qualquer
asneira.
— Mas nada. Eu posso ficar com quem eu
quero. Se eu disser não para você, aceite!
Percebo a chegada de alguém, e vejo Gustavo
com o queixo travado e mãos no bolso.
— Estou atrapalhando alguma coisa? — Sua
voz ríspida me arrepia.
— Já terminamos aqui. — Fábio me solta,
amedrontado pela presença do nosso superior, e
decide ir embora.
— Senhor Fábio, na próxima terá advertência,
não é a primeira vez que vejo esse tipo de coisa —
Gustavo avisa, sem querer disfarçar o seu incômodo
e sua cara fechada.
Em seguida, Gustavo dá as costas sem dizer
mais nada, em direção ao elevador. Assisto toda a
cena sem entender, mas sigo atrás, afinal, eu estava
indo embora antes de ser abordada. Que merda foi
essa? Fábio vai me pagar por isso.
Entramos no elevador e ele permanece calado e
eu também. Fui para o canto enquanto ele aperta o
andar. Estou irritada pela irritação dele.
— Quando chegarmos no carro, iremos
conversar.
— Conversar o quê? — indago pelo seu tom.
— Lá dentro conversaremos. — Ele continua
olhando para frente.
Nossa, que grosso. Às vezes ele é um ogro que
me dá raiva!
Andamos em direção ao estacionamento. E
sento no banco do passageiro, mesmo que eu esteja
com meu carro hoje. Mas algo me diz que voltarei
para casa em vez de seguir o seu carro para o seu
apartamento.
— Pode me dizer agora? — questiono.
— Você e Fábio têm um caso ou não?
— Já disse que não! — respondo séria, pela
milésima vez.
— E que cena foi aquela, Natasha? Me explica.
— Um homem babaca me coagindo a beijá-lo,
mas eu não aceitei, se é isso que te preocupa — sou
sarcástica.
— Não me teste, Natasha.
— Não estou, você quem está surtando à toa, de
novo com essa mania de querer me controlar. Para!
Você está agindo muito estranho! Qual a merda do
seu problema, afinal?
DR é uma porra. Por isso que eu evito namoro a
todo custo. Mas pelo jeito não estou totalmente ilesa
dessa praga de discutir relações.
— A merda do meu problema é que você me
deixou louco! A merda do meu problema é que eu
estou gostando de você mais do que você
recomendou, e não gosto dele por perto —
esbraveja. — A merda do meu problema é que eu
quero você só para mim!
Escuto aquilo estática, e faço o que sempre faço
toda vez que vejo um problema maior do que posso
resolver no momento: fujo, e sem pensar duas
vezes, abro a porta do seu carro. Estou confusa com
tudo. Droga!
Era para ser só uma porra de um sexo sem
compromisso, não era para ter sentimentos
envolvidos! Era para a gente só transar, se satisfazer
e cada um ir para seu canto. E de repente, estamos
conversando sobre a vida, fazendo refeições fora do
trabalho, criando uma espécie de amizade e tudo
mais. Sabia que isso não ia dar certo. Essa merda
toda. Maldito momento que isso aconteceu!
Fadigada, sem coragem alguma de levantar da
cama e angustiada a ponto de querer chorar por
essa carga emocional em cima de mim, reflito sobre
as novidades.
Há dois dias, Gustavo disse que está gostando
de mim. Há dois dias isso martela na minha mente,
que mal me deixa dormir. Pensando sobre isso tudo,
ainda não tenho opinião formada. Há dois dias não
nos vemos nem nos falamos. Evitei encontrá-lo em
qualquer parte da empresa.
Confesso que não sei o que fazer, não sei se o
corresponderei, pois não quero perder o que temos,
mas não tenho sentimentos para uma coisa mais
séria. Isso está me matando por dentro. Estou me
sentindo afetada por essa separação, esse muro
gélido que se criou entre a gente, mas na situação
que estamos não dá para agir com normalidade. E
eu sempre fui clara com ele, não o iludi. Então por
que ele decidiu fazer essas coisas?
Essa coisa de sentimentos sempre foi estranha,
deixo isso para outras pessoas, mas para mim? Não,
passo!
Eu sou uma pessoa de momento, enjoo fácil.
Espírito livre, digamos. Eu não sei se quero ter isso.
Sou uma mulher totalmente diferente do que ele
deve estar acostumado. Eu gosto de sair para beber,
de ficar com minha irmã, de ir para festas. Gosto de
boates, de me divertir com minhas amigas. Não sou
romântica. E não sei se ele vai querer me
acompanhar nisso ou achar que não estou dando
atenção.
Decido acordar de uma vez e parar de pensar
nisso. Vou até à cozinha depois de me vestir, ficando
linda como sempre. Estou emocionalmente confusa,
mas isso não é motivo para ficar feia.
Será que se eu disser a Liz que vou largar o
emprego e viver à custa dela, ela vai me xingar
muito?
— Que carinha é essa? — Liz me questiona com
preocupação.
— Não é nada — respondo meio cabisbaixa,
não me importando em transpassar meu estado de
espírito.
— Nat... — Ela arqueia as sobrancelhas
questionadoras para mim. Sempre foi protetora.
— Estou confusa com algumas coisas, só isso
— a tranquilizo, embora me sinta perdida.
— Quando estiver pronta para falar, vou estar
aqui.
— Obrigada. — Aceno.
Termino de tomar café e corro para a agência.
No elevador, a cena se repete. Eu correndo, pedindo
para segurarem, e meu coração acelera ao mostrar
Gustavo sozinho ali dentro. Penso se devo ou não
entrar.
— Vai entrar ou não? — Seu tom é azedo e
cabisbaixo.
Entro, com o coração levemente acelerado, e
vou para o canto, enquanto o vejo apertar o botão
para o meu andar. A aura sexual é agoniante e tensa
ao mesmo tempo.
Gustavo fica me observando de relance, e eu só
consigo pensar o quão fodida eu estou. Eu queria
tanto beijá-lo e receber o seu maravilhoso abraço. O
meu problema é ele e ele é o único que pode parar
com essa agonia que sinto.
— Diz alguma coisa... — chama minha atenção.
Eu o observo. Ele fica lindo de barba grande,
mas fica ainda mais com ela feita e aparada, os
olhos chamam mais atenção, pois parece que os
pelos escurecem. Só sei que eu gosto de observá-lo.
— Não tenho nada para falar — sussurro.
A situação está ruim para ambos.
— Estou sentindo sua falta, o Zeus também —
assume.
Droga, Gustavo! Para de agir assim.
— Tem certeza que não está confundido as
coisas? — pergunto séria.
— Não. Eu não estou confundindo. Eu quero
você, sem precisar fingir que não te quero por perto.
— Não tenho resposta agora. — Me esquivo do
seu olhar com um sentimento estranho.
O elevador apita, abrindo no meu andar, e eu
saio sem olhar para trás, mas com o coração na
boca. Para ser sincera, relacionamentos sérios não
combinam comigo! Não me imagino nessa situação!

Sexta-feira à noite, depois de uma semana


apática, que até Lizandra estranhou meu
abatimento, penso e repenso mais uma vez, sem
saber ao certo o que vou dizer para Gustavo. Minhas
noites estão se resumindo em colocar meus
sentimentos numa balança e saber qual caminho
seguir. Tentando ser razão pela primeira vez, porque
a emoção dessa vez me assusta.
Não sei o que está acontecendo, não sei se é a
pressão ou minha cabeça me pregando peças ou o
quê. Só sei que talvez eu esteja começando a refletir
sobre a ideia de que ele gosta de mim, e talvez eu
possa estar gostando dele também, e só de
considerar isso, tenho a sensação de uma
taquicardia ansiosa no meu peito.
Eu admito! Eu gosto dele. E tenho vontade de
tacar fogo nele por isso. Aconteceu o que eu mais
tinha medo. Estava tentando colocar isso na minha
mente, negando, mas agora eu tenho certeza. Eu
realmente gosto desse babaca. Estava na minha
cara esse tempo todo, meu desconforto por causa
de Amanda. E pior, não sei o que vou fazer com
essa nova descoberta.

GUSTAVO
Puto! É como estou nesse exato momento.
Fossa é uma desgraça!
Por causa dela agora estou aqui, fodido e
passando mais um fim de semana todo trancado em
casa, bebendo e me segurando o máximo para não
ir onde ela mora, pois eu sei que se eu fizer isso, vai
piorar para o meu lado. Aquela cretina é petulância
pura!
Nem parece que há alguns dias ela estava
na minha cama dormindo toda calma e manhosa.
Não conversamos nem trocamos mensagens depois
do encontro do elevador. Na verdade, mal nos
vimos, e quando isso aconteceu, parecíamos dois
estranhos. Ela me ignorou a semana inteira na
agência. Me evitou. E me senti mal por isso. Um
gosto ácido no estômago.
Dei esse tempo para ela pensar, mas eu
estou com vontade de pegá-la e pôr no meu ombro e
só soltá-la quando admitir que é minha. Isso tudo é
uma merda! Estou morrendo de saudade daquela
mulher atrevida que faz o que bem entende e me
deixa fascinado.
Entretanto, Manuela segue sua saga
interminável de tentar vir atrás de mim. Tenta me
ligar mil vezes, mas não atendi quase nenhuma
depois que avisei que não temos mais nada para
falar, outra vez. Ela não vê que não quero falar com
ela?
Ela exige que deveríamos sair e conversar,
como se a gente tivesse algum papo para fazer isso.
Fui claro em dizer que não a quero, mas ela finge
que é surda e volta a bater na mesma tecla.
Mas já dei tempo demais para Natasha. Vou
atrás dela e vai me escutar. Cansei de deixá-la
brincar de gato e sapato. Hoje exijo que me escute!
Eu sou um homem, porra!
Zeus percebe meu estado e vem para meu
colo. Passo a mão nos pelos dele. Eu pareço um
idiota assim, por causa dela. Eu tenho que pôr minha
cabeça no lugar, para começar a conquistá-la.
Meu celular toca e vejo no visor que é minha
mãe. Atendo confuso por ela nunca me ligar uma
hora dessas, já que são quase dez da noite.
Logo escuto sua voz chorosa do outro lado
da linha me dando uma das notícias mais
devastadoras da minha vida. E penso na única
pessoa de quem quero suporte nesse momento, a
mesma que meu coração está me fazendo beber.

NATASHA
Sinto o carinho na cabeça que Lizandra está
fazendo em mim. Ela percebeu que eu não estava
cem por cento e me arrastou aqui para a sala e,
calada, colocou um filme para assistirmos. Ela sabe
que eu precisava disso e mesmo eu não dizendo
nada, ela está aqui do meu lado, me dando suporte.
Lizandra é a melhor irmã que eu poderia ter.
Mesmo tendo idades similares e personalidades
distintas. Ela é a racional e eu a mais impulsiva;
ainda assim, com as nossas diferenças, sempre
fomos muito unidas.
Foi Liz que me deu minha primeira bebida
alcoólica, foi a primeira pessoa que contei sobre meu
primeiro beijo e sobre a primeira vez que transei, e
ficou louca com a segunda notícia. Ela também me
contava. Sempre fomos confidentes em
absolutamente tudo. Ela é tipo meu porto seguro,
assim como das pessoas ao nosso redor. Liz na
nossa família sempre foi isso, sempre recorremos a
ela, o elo que deixa tudo unido. Que faz tudo andar
com calmaria e união. Sempre sabe direção a seguir.
Ela é a primeira pessoa que eu penso
quando está tudo desmoronando ou se reerguendo.
Nossa relação não é só flores, nós brigamos,
discutimos e já ficamos sem falar uma com a outra.
Foram dos piores meses das nossas vidas. Lizandra
sempre sabe o que falar e como falar, ela é minha
melhor conselheira e amiga. E por isso acho que é o
melhor momento para dividir meu peso com ela.
— Liz, posso dividir uma coisa com você?
Estou com a cabeça no seu ombro com ela
me abraçando e alisando meu braço, enquanto
assistimos.
— Estava esperando por isso.
A campainha toca nos interrompendo e pulo para
atender, confusa por quem pode ser naquela hora, e
um frio na barriga se instala antes mesmo de saber o
que é.
13
NATASHA

Encaro atônita os olhos azuis e expressivos


do homem que está me desalinhando
completamente. Mas sua feição não está muito boa,
aparentemente exausto, com Zeus a tiracolo.
— Gustavo... — Engulo a seco. — Eu não
tenho resposta...
— Não vim para isso, só preciso de você.
Você me deixa ficar?
O pedido angustiado me deixa com um nó
na garganta, ele não está me parecendo bem, e
parece que estava chorando. Calada, dou passagem
para que entre. Pego Zeus do seu colo, o pondo no
chão, que corre latindo na direção de Lizandra,
tirada dos devaneios com ele tentando chamá-la
para brincar.
— Liz, esse é Gustavo. E Gustavo, Liz,
minha irmã.
Apresento os dois, totalmente atônita.
Ambos se cumprimentam com um aceno de mãos.
— Irmã, fica com o cachorrinho? — peço,
segurando nas mãos de Gustavo.
Ela concorda. Beijo seu rosto, lhe desejando
boa noite. O arrasto pro meu quarto e ele senta na
ponta da cama, completamente cabisbaixo, já com
os olhos lacrimejantes.
Vê-lo assim me parte o coração de uma
forma tocante.
— O que aconteceu? — Vou para perto,
ficando entre suas pernas para alisar seus cabelos
em uma forma de conforto.
Ele apenas me abraça pela cintura,
colocando a cabeça na minha barriga, deixando as
lágrimas saírem de vez. E espero ele desabar em
choro, enquanto o conforto da forma que consigo,
mas morrendo de vontade de chorar também, só
pela tristeza dele.
Algo muito sério aconteceu.
— Guto... — Continuo a alisar seus cabelos
com calma.
— Eu perdi uma das pessoas mais
importante da minha vida. Meu avô. Acabei de
receber a notícia — ele diz com a voz entrecortada,
e sinto meu coração pesar, mensurando a dor
enorme que está sentindo.
— Tira essa roupa, vamos deitar. — Puxo a
camisa dele do seu corpo, e ele sozinho, aos
poucos, tira os tênis e a bermuda enquanto eu o
observo. — Quer café? — ofereço e ele se limita em
negar com a cabeça.
Gustavo deita de bruços, com a cabeça no meu
colo entre minhas pernas e em cima da almofada, só
de cueca; aliso novamente seus cabelos, fazendo
um carinho preguiçoso enquanto ele chora. Eu me
sinto tão estranha estando aqui com ele, sem ser de
uma forma sexual. Em uma notícia dessas, tudo que
a gente quer é estar em família e ele veio justamente
para minha casa, para ser reconfortado, e isso está
mexendo ainda mais comigo.
— Eu nem tive tempo de me despedir. A última
vez que eu o vi, ele parecia estar se recuperando! —
ele desabafa, com a voz abafada no travesseiro.
— Sabe, as pessoas vão embora. Mas os bons
momentos, as lembranças, vão continuar. E pense
que as melhores pessoas são selecionadas para
irem mais cedo do que deveriam.
Continuo a acalmá-lo em voz baixa, enquanto
faço carinho nele, até ele cessar o choro de vez. A
morte sempre é vista como algo que chega rápido
demais, e nunca estamos preparados quando
acontece. Eu o entendo completamente.
— Você nem o conheceu. Ele amaria te ver.
Olho para ele com o frio na barriga, e dou de
cara com aqueles olhos azuis que tanto me
perturbam, agora quebrados. Eu ainda observo os
homens na rua, nunca parei com essa mania. Mas
sempre acho que falta algo neles, não me interesso
por nenhum mais, pois eles não têm esses olhos,
pelos quais sou apaixonada; esse olhar de Gustavo
já se tornou familiar, mesmo que no momento esteja
transparecendo dor, me olhando de forma carinhosa,
me fazendo sentir coisas nunca sentidas, e isso me
amedronta e aflige.
Ficamos naquela bolha só nossa, nos encarando
sem dizer nada. Encosto meu nariz no seu, e minha
boca na sua sem nos beijar, enquanto suspiro de
olhos fechados e os abro novamente, o encarando
até ele quebrar o silêncio novamente.
— Estou me sentindo perdido com isso.
— Estou aqui.
Ficamos quietos até eu perceber que ele
adormeceu depois de outra crise de choro. Odeio ver
pessoas sofrendo, ainda mais por uma notícia
dessas.
Eu não sei lidar com sofrimento alheio, sempre
tenho a sensação que estou sendo pouco empática.
Que estou fazendo pouco para ajudar, mesmo que
eu esteja ajudando de coração.
Enquanto observo ele dormir, agora com o
semblante sereno, penso em tudo o que está ao
nosso redor, esse momento triste, dele recorrer a
mim, a confissão dos sentimentos dele. Mais uma
vez, cogitei essa coisa da gente como casal.
Nunca na vida que um caso meu chegou nisso.
De eu estar aqui assim, cogitando coisas e
acalentando em momentos difíceis. Não posso me
deixar guiar pelo momento, pelo menos uma vez na
vida. Não posso ser impulsiva.

Acordo pela manhã com Gustavo ainda


dormindo, me segurando pela cintura, Mesmo eu
estando esparramada do outro lado da cama.
Na cozinha, encontro Lizandra tomando café e
me olhando com as sobrancelhas arqueadas.
Calada, pego café para mim e me sento ao seu lado,
depois de lhe desejar bom dia com um beijo na
bochecha.
— Nem precisa de explicações. Sua carinha e a
visita inesperada dele já me fizeram entender tudo.
— Tudo o quê? — Estremeço.
— Tudo. Você está com medo, Nat. De se
apaixonar por ele ou admitir isso. Não é isso que te
aflige? Não é esse o motivo do seu abatimento?
Olho para o meu café preto, sem ter resposta
clara para isso, apesar de que, pela forma que Liz
falou, me deixou ansiosa e com palpitações
confusas. Odeio Lizandra por ficar me lendo quando
eu não quero!
— Ele disse que gosta de mim para namoro.
Mas não sei se correspondo. Eu queria ficar com ele,
mas sem compromisso. Como estava! — A encaro
querendo uma solução.
— Até hoje não entendo essa sua neura de
nunca se permitir apaixonar, logo você que sempre
foi corajosa pra tudo.
Respiro resignada, bebericando mais um pouco
do meu café.
— Eu tenho receio, Lizandra. Eu lembro quão
mal você ficou quando Jônatas te deixou. — A vejo
travar o maxilar ao mencionar esse nome. — Eu
lembro quanto Taís sofreu por causa da safadeza do
pai do Alan, lembro também quão destruída Alexia
ficou quando terminou com aquele babaca do Diego.
Eu só... Eu só não quero ser impulsiva dessa vez.
Nem todo homem tem maturidade para amar uma
mulher livre e eu não quero ser engaiolada.
— Mas isso não significa que vai acontecer com
você — ela rebate.
— E se acontecer, Lizandra?
Minha irmã, resignada, suspira, virando sua
xícara de vez na boca antes de levantar da mesa.
— Eu estou viva. Alexia também, com Murilo, e
nossa irmã Taís também está, e cuidando do Alan
que é a felicidade dela. Ninguém parou de viver por
um coração partido, e você vai partir o dele e o seu
se negar o que está sentindo. E você não é louca!
Vou sair agora, preciso passar para pegar um
documento na portaria da revista e logo estou
voltando. Tudo bem?
— Tudo bem. Vou lá no quarto ver Gustavo. A
família dele deve estar preocupada.
— Comprei ração para o cachorro, que comeu
tudo. — Beija minha testa, me deixando sozinha na
cozinha.
Fito meu café pensando no que ela me falou, e
logo levanto, indo em direção ao meu quarto depois
de passar por Zeus dormindo no corredor,
encontrando Gustavo ainda deitado, mas acordado.
Dá uma dor vê-lo letárgico e abatido.
— Guto? — Subo na cama, levando minha mão
novamente nos seus cabelos em um afago lento. —
Conseguiu descansar?
— Um pouco. Obrigado por me acolher ontem.
— Ele olha para mim e eu aceno.
— Liga para seus pais, eles devem estar
preocupados com você, sem notícias suas.
— Eu vou, pra saber tudo — comenta
cabisbaixo.
— Qualquer coisa pode me ligar.
— Você iria comigo para o... sepultamento? —
ele me pede, quase não conseguindo pronunciar a
última palavra.
Aceno concordando, mesmo sentindo calafrios
em ficar perto da família dele, ainda que seja em um
momento ruim desses.
— Toma uma ducha, vai — mando e ele
concorda, levantando.
Volto para a cozinha fazer café para ele. Ele logo
aparece com a mesma roupa que veio ontem, e com
a cara ainda abatida e os cabelos molhados. Entrego
a ele a xícara com café, e o vejo tomar enquanto
aliso Zeus. Ambos calados.
— Sua irmã?
— Não se preocupa com Lizandra — o
tranquilizo.
Ele bebe apenas metade da xícara de café,
mesmo eu pedindo para tomar direito, mas ele nega
querendo ir embora.
O levo até o carro, morrendo de preocupação de
ele dirigir sozinho nesse estado.
— Me manda notícias? — peço encarando-o.
— Mando.
Suspiro beijando seu peito, que é onde eu
consigo alcançar, e também não sei se devo beijá-lo.
Ele afaga rapidamente meu cabelo e nos soltamos
para ele entrar no carro, já que Zeus já estava lá
dentro disposto a curtir o passeio, olhando pela
janela.
Aceno vendo o seu carro finalmente ir, me
deixando com um apertinho chato no peito.

Me olho mais uma vez no espelho, arrumando


meu vestido preto para ir para o sepultamento do
avô de Gustavo. Já se passaram dois dias do
acontecido, pois estavam esperando um primo dele
chegar de uma viagem. Não nos vimos desde esse
dia, porém ele me manteve atualizada por telefone e
dei esse tempo para ele e para mim também. Irei
passar agora na casa dele para irmos juntos para o
local. A agência não abriu hoje por luto.
— Liz, já estou indo, tá? — aviso minha irmã,
que está com a cara no notebook trabalhando.
— Não irei te esperar, né? — Vira seu olhar para
mim, mas continua digitando.
— Não. Ou seja, vai ter Alejandro aqui sim! E
use camisinha, por favor. — Beijo o topo da sua
cabeça.
— Cala a boca! — Ela ri, sabendo que é verdade
o que eu estou falando.
Sigo para a casa de Gustavo. O espero na
portaria, e ele não demora a sair com seu veículo.
Sua expressão continua cansada e pergunto como
ele está, por mais que saiba que não está nada bem.
Seguimos para o sepultamento, que obviamente
foi pesado e triste. O avô dele pareceu ser uma
pessoa admirável, pois foi muito comovente ver a
despedida da sua esposa. Eu senti bastante, mesmo
não o conhecendo. Mas também fiquei intrigada pelo
fato do primo dele, que descobri no final se chamar
Rodrigo, ter ficado me encarando a cada vez que
sentia que estava sendo observada.
Quase escurecendo, nos despedimos da sua
família. De mãos dadas, como um casal, saímos
para onde o seu carro está estacionado.
— Você quer ir para minha casa ou quer que eu
te deixe na sua? — Gustavo me questiona num tom
baixo.
— Vamos para a sua.
Seguimos viagem em silêncio, e tento colocar
meus sentimentos em uma balança mais uma vez.
Gustavo parecia só mais um devasso que me
enlouquece de uma forma ímpar, mas ele
ultimamente está se mostrando uma pessoa muito
diferente do que eu achei.
— Vamos descer? — Gustavo me tira dos meus
devaneios.
Seguimos para o elevador, ainda calados, e
assim que ele abre a porta, Zeus vem correndo e o
pego para brincar. Gustavo entra quieto e segue
para o outro cômodo.
Lembro de pedir algo para comermos na padaria
do prédio, pois Gustavo não quis comer nada hoje. E
depois de um café, vestida com uma camisa sua,
deitamos abraçados e recém-banhados, no escuro
do quarto.
Acordo sendo pisada por Zeus, que tenta achar
uma brecha a todo custo entre nós dois, e vejo a
hora no celular, quase duas da madrugada, e
percebo quão esgotado estávamos para dormir tão
rápido.
Olho para o lado, vendo Gustavo de bruços, com
a cabeça para o outro lado, e suspiro. Eu sou
corajosa o suficiente para tentar? Eu estou me
sentindo muito mal por ter ignorado ele essas duas
semanas desde que nos desentendemos, quando
ele contou seus sentimentos para mim.
Zeus vê que me acordou e balança o rabinho,
vindo para cima de mim para lamber meu rosto, e
rio, o acariciando.
— O que eu digo para seu dono, hein? —
converso com ele, como se ele entendesse. Mas ao
menos ele está me escutando. — Você me quer
aqui?
— Nós dois queremos. É só dizer que quer —
Gustavo responde num tom de voz rouco ainda.
O coração falha por ele ter escutado esse breve
diálogo com o cachorro, que acabou de correr da
cama, e encaro Gustavo, vendo-o se sentar na
cama, e imito seu gesto. Gustavo, cauteloso, me
abraça e eu acabo retribuindo, pois estou morrendo
de saudades, apesar de tudo. Aliso seu peito com
suavidade e fito seu rosto.
— A única pessoa que quero por perto é
você, Nat. Eu sou besta demais, quando eu gosto eu
arrio os pneus, dou o mundo de mãos beijadas, mas
também quero ser correspondido na mesma
intensidade. — Seu olhar é profundo.
— Que merda você fez em mim, Gustavo?
— Como assim? — Ele arqueia as
sobrancelhas, sussurrando a milímetros da minha
boca.
— Eu quero beijar você, transar com você ou
simplesmente ficar com você sem fazer nada. Mas
também quero te matar por me fazer ter esses
turbilhões de sentimentos que eu não esperava! Eu
te odeio por não conseguir te odiar e sim sentir
essas coisas, Gustavo! — Permaneço olhando nos
seus olhos.
Gustavo abre um sorriso lindo para mim. Ele
agarra meu cabelo com uma mão e, com a outra,
segura meu queixo e puxa meu rosto mais para cima
e me beija. O beijo começa calmo, carinhoso até. Ele
me puxa para mais perto e minhas pernas ficam por
cima das suas, e fico quase sentada no seu colo.
Ele não tem pressa, apenas me beija,
matando sua vontade, enquanto me segura pelos
meus cabelos e eu seguro seu tronco morno e
desnudo com firmeza. Mas acabamos não
transando, estávamos totalmente sem clima e
cansados do dia. Mas comemoramos com beijinhos
e ficamos abraçados no silêncio da madrugada.
Quando estou sentindo os olhos quase
colarem de sono, Guto me dá um beijo no canto dos
lábios, fazendo com que eu abra os olhos.
— Não dorme agora não, precisa responder
primeiro — sussurra.
— Hum? — resmungo.
— Quer ser minha namorada? Eu prometo
um cachorro fofo e folgado, e sexo às vezes, com
um pouco de brutalidade, mas garanto que é bom,
uma mulher que eu gosto nunca reclamou — fala
com graça.
Olho para ele sem saber como vai ser isso.
— Tem certeza que me quer, Gustavo?
Adianto que tem contraindicações. Você é capaz de
amar uma mulher livre?
— Tenho e sou eu aceito as consequências.
— Sabe, eu não estou no meu juízo perfeito,
pois se tivesse eu sequer estaria aqui, sabia? —
Arqueio as sobrancelhas.
— Para de me enrolar!
— Aceito. Mas é pelo cachorro folgado —
respondo com graça e ele ri.
Ele segura nos meus cabelos e leva sua
boca na minha.
— Você acabou de melhorar minha semana!
Estou te achando muito linda com minha camisa,
porque fica ainda menor — ri preguiçoso.
— Eu sou do tamanho normal, você que é
exagerado. Digamos que sou compacta, tenho tudo
em um tamanho menor.
Ele me puxa pela nuca para sua boca num
beijinho gostoso. Só espero que isso não dê zebra.
14
NATASHA

— Liz! — grito para minha irmã assim que


atravesso a porta.
Se eu correr, dá tempo de sair com ela.
Como acabei dormindo com Gustavo, estou
chegando em casa agora para me arrumar para o
trabalho.
— Estou aqui! — ela grita do corredor.
— Pera aí que estou indo!
Corro para o meu quarto e acho uma roupa
para trocar. Pela primeira vez, consigo me arrumar
em tempo recorde. Estou usando uma calça jeans
que fica adequada para o trabalho, porém fico
gostosa, marcando minhas pernas. Percebo que
estou com um roxo no seio esquerdo. Reparei que
não é a primeira vez que ele faz isso, no mesmo
local. O safado me paga!
Num ritmo frenético, vou para a cozinha, a
encontrando encostada no mármore da bancada,
esperando o café ficar pronto enquanto mexe no
celular.
— Bom dia, Liz.
— Bom dia. Está linda! — ela me elogia.
— Eu sou linda — a corrijo com humor.
— Não vale nem a pena elogiar. Egocêntrica!
— implica.
— Irmã, eu estou namorando agora —
anuncio, arrumando meus cabelos com as mãos.
Liz imediatamente se vira para mim,
descrente, e eu rio.
— Estou namorando, Liz, Gustavo e eu nos
acertamos — repito.
— Não estou acreditando, Natasha
finalmente se rendeu?
Ela ri em deboche e eu reviro os olhos. Mas
ela logo me abraça.
— Eu fico feliz que tenha dado uma chance
para um experiência nova. Mas eu quero conhecê-lo,
para saber se ele te merece, já que quando o vi, foi
naquele estado — Lizandra sempre protetora
comigo.
— Pode deixar.
— Ai meu deus, nem acredito que minha
irmãzinha está namorando. — Puxa minha
bochecha, e me abraça apertado mais uma vez.
Rio. Se há poucos meses me dissessem que
eu iria namorar, daria milhões de gargalhadas para a
pessoa e a chamaria de louca. É irreal isso tudo.
Porra! Eu estou namorando! Olha que maluquice!
— Aproveita que está de bom humor e faz
nosso café. Treinar para quando casar. — Gargalha
da própria piada.
— Cretina!
Mas eu mato Lizandra qualquer dia desses,
ainda tive que aguentar seus sorrisos insinuantes
para mim.
Saindo do elevador, travo os dentes
imediatamente com a visão que tenho o desprazer
de ver: Gustavo, por mais gostoso que esteja de
camisa social azul, da cor dos seus olhos e calça
preta marcando a bunda, está conversando com
umas três pessoas, e entre elas, a oferecida da
Amanda, que tenta chamar a atenção dele de
qualquer forma.
Ele está desconfortável, tentando parar ela
discretamente, para minha satisfação. Mas ainda
assim a cena me irrita.
O encaro e sigo, passando perto dos três,
sentindo o cheiro de homem viril invadir meu nariz, e
desejo bom dia, querendo dar a Gustavo mais que
um simples bom dia...
Estou com vontade de agarrá-lo e tascar um
beijo nele, porque eu mal consegui dar pela manhã,
pois estava atrasada.
Sigo para a minha sala e meu celular vibra
no bolso. Vejo que é uma mensagem de Guto.
GUSTOSO:
“Queria muito te beijar ali mesmo. Está muito linda
nessa roupa.”

Pode parecer estranho, mas me derreti com


isso. Esse jeito atencioso dele fode meu psicológico.
Ele não poderia ser daquele tipo que taca o foda-se?
Era só uma foda sem compromisso.
Seria mais fácil para eu poder lidar. Não sei
reagir com esse jeito dele, sempre me deixa sem
ação.
“Também queria.” — Envio em seguida.
Almoço com Liz, porque Gustavo avisou que
estava em reunião com os presidentes e iria almoçar
com eles na sala mesmo.
Doida para que o expediente acabe, ando
pelo corredor, disposta a voltar para a sala com mais
dois briefing para trabalhar. Às vezes eu odeio esse
ritmo frenético.
Sinto meu braço ser puxado para dentro de
uma sala e, assustada, grito, mas sou abafada por
uma mão na minha boca. Com taquicardia, vejo que
é Gustavo me empurrando para a parede.
— Qual o seu problema? — pergunto baixo,
estapeando-o. — Me assustou.
Ele não se abala, colando nossos lábios sob
meus protestos, agarrando meus cabelos, calando
qualquer som que venha da minha boca. E
correspondo, apertando seus braços com o corpo
ficando molinho.
— Só queria um beijo seu — diz quando nos
descolamos.
— O que tanto faz aqui embaixo? — Seguro
na sua bochecha com minhas unhas.
— Papéis e mais papéis. O antigo diretor
financeiro não lidava com tecnologia nem com
organização. — Faz pouco caso.
Estamos em uma das salas que estão sendo
reformadas para a web design.
— Xiu. — Ele tapa minha boca de novo
quando escutamos vozes.
Ficamos quietos nos encarando e percebo
que ele tem um riso preso nos lábios, enquanto eu
mal consigo respirar audivelmente.
— E agora? — pergunto sem som.
Ele dá de ombros, não se afetando. Mas
ficamos quietos, até que o barulho de pessoas
conversando cesse.
— Vai lá para casa hoje de novo? — Ele me
abraça envolvendo minha cintura.
— Vou. — Coloco meu rosto na curva do seu
pescoço onde meu braço também está e aspiro seu
perfume.
O expediente está quase no final e o
perfume dele continua intacto.
— Mas agora preciso ir, de verdade.
Ele acena e antes de sairmos, me beija. Um
beijo calmo, sem pressa, suave, com a mão no meu
pescoço. Um beijo que me faz querer beijar mais.

Destrancando o apartamento, Gustavo entra


primeiro e eu contemplo sua comissão de trás. Ah,
essa bunda! O homem tem atributos na frente e
atrás. E que atributos!
Zeus está sempre feliz ao me recepcionar. E
brinco com essa bolinha de pelos agitada enquanto
sigo atrás de Gustavo.
— Vou tomar banho. Coloca comida para ele
por mim — ele pede e eu apenas aceno.
Coloco a ração e logo o demônio da
safadeza que habita em mim me lembra que
Gustavo foi tomar banho, ou seja...
Arrancando minhas roupas pelo caminho,
escuto o barulho do chuveiro ligado e, sorrindo cheia
de intenções, adentro o cômodo.
Gustavo, gloriosamente nu, um monumento
de homem completamente molhado, a água
escorrendo pelo peitoral enquanto ele joga os
cabelos escuros e molhados para trás. É digno de
comerciais!
Caralho, o homem é muito gostoso, e o
melhor de tudo isso é que só eu que dou para ele.
— Tem espaço para mim aí? — Sorrio
maliciosa.
Ele sequer responde verbalmente, seu
sorriso sacana já mostra que ele concordou de
imediato. Antes mesmo de eu estar com os dois pés
firmes do lado molhado, ele me agarra e me
imprensa contra a parede.
— Você sabe como me provocar, pequena
atrevida — com nossos lábios próximos, ele
sussurra, já com uma das minhas pernas levantada
e sustentada por ele.
Gustavo me carrega como se eu não
pesasse nada; sinto a fricção gostosa no lugar certo
e não deixo de gemer em satisfação. E como é um
devasso de primeira categoria, fricciona mais nossos
corpos, e ofego molhada sem sequer ter entrado no
chuveiro ainda.
Ele toma a minha boca em um beijo fogoso e
eu retribuo com a mesma vontade. Mordo seus
lábios e intensifico o ritmo das nossas línguas se
entrelaçando ávidas, e cada vez mais sinto seu pau
endurecer, me excitando muito mais.
Sem fôlego, nos encaramos e me sinto
totalmente seduzida por seus olhos azuis cristalinos
que emendam tesão.
— Vim tomar banho, e não transar — o
provoco.
— Então vamos. — Sorri entrando no meu
jogo.
Me põe no chão e consigo ver seu pau já
rígido, pronto para mim e eu tenho que ser forte para
não montar nele agora no chão. E ele sabe dos
meus pensamentos, pois está com sua típica cara de
safado, me olhando.
Gustavo me mostra o sabonete, sorrindo
enquanto eu estou debaixo do chuveiro, que ele
mesmo desliga. Eu estou molhada com isso, nos
dois sentidos da palavra.
Ele passa a mão ensaboada pelos meus
seios, alisando e me dando pequenos choques lá
embaixo, me fazendo gemer, sentindo seus dedos
descendo para minha a barriga.
— Vira.
Obedeço totalmente arrepiada pela sua voz
rouca no meu ouvido, enquanto suas mãos firmes
seguram no meu braço e seu corpo encobre o meu
por trás, sentindo seu pau duro contra minha bunda.
Ofego, sentindo suas mãos safadas
descerem pela minha barriga e pernas enquanto
chega cada vez mais perto. Ele expira grave no meu
ouvido enquanto me enlaça forte pela cintura, me
trazendo para perto, distribuindo beijos no meu
ombro, lambendo meu pescoço e o lóbulo da orelha.
— Isso não é banho —digo num chiado.
Guto lambe devagarzinho minha nuca,
passando a língua para o outro lóbulo e clavícula.
— Banho de gato.
Enfraqueço as pernas, mas ele me mantém
firme, e percebo um riso maléfico seu por trás. Perto
desse homem não consigo ser a vadia que sempre
sou nos joguinhos. Ele sempre tem um jeito de me
desestabilizar e me deixar em chamas.
Guto me gira e constato que ele realmente
estava rindo do meu abalo. Encaro seus olhos azuis
e com certeza os meus brilharam, pois meu coração
acabou de dar galopadas no meu peito.
E cada vez que ele tem alguma ação
espontânea, não importa qual, eu percebo que por
mais que eu tenha tentado lutar contra, no final eu
iria acabar aqui do mesmo jeito. É estranho tudo isso
que estou percebendo que sinto por ele. Mas no
momento prefiro não pensar nisso, prefiro apenas
curtir essas novas sensações.
Ele segura meu pescoço, avançando forte
para minha boca, cheio de tesão e eu, quem nunca
fui boba, desço minha mão o alisando, fazendo com
que ele gema contra minha boca. Sinto minhas
costas baterem no azulejo gelado e sou suspensa e
sustentada pela bunda, como se não pesasse nada,
para ele me invadir de vez, sem cerimônias.
Firme, forte e fundo.
Gustavo geme rouco e viril, muito másculo,
mostrando que sentiu o impacto como eu.
Sai quase totalmente para entrar na mesma
ânsia e eu ofego, agarrando seus ombros, sentindo
minhas costas contra a cerâmica fria cada vez que
ele impulsiona o quadril para frente.
Ainda no seu colo, sou levada para o quarto e,
com as costas nos lençóis macios, vejo Gustavo não
perder tempo, se abaixando entre minhas pernas e
em seguida me beijando...
Lá.
Molhado.
Com vontade.
No lugar certo.
Me deixando mais ensopada.
O jeito que me beija e chupa é com ferocidade e
cuidado, como se tivesse degustando, mas com
muita vontade, e eu não controlo os sons da minha
boca. Numa cena sexy pra caralho. Sinto a barba
pinicar dando pequenos choques junto com a língua
quente. O filho da mãe sabe o que faz e faz muito
bem.

GUSTAVO
Sozinho, subo pro meu andar, numa felicidade
plena. Estou assim desde que acordei com Nat
dormindo serena, enroscada em mim, tão manhosa!
Nem parecia o furacão que é acordada.
Mas ela correu pra casa para se arrumar e já
está mais do que na hora dela ter roupa no meu
apartamento para não sair desbandeirada toda vez.
Combinamos de almoçar juntos e eu estou
querendo apresentá-la a Rodrigo futuramente, para
que se conheçam melhor, porque foram apenas
apresentados rapidamente e ela não tinha aceitado
meu pedido de namoro.
Minha manhã foi preenchida por planilhas e mais
planilhas e só me dou conta que o horário de almoço
iria começar quando minha secretária perguntou se
estava liberada, e que já tinha pedido o almoço que
eu havia lhe solicitado pela manhã. Termino a
planilha e não demora para eu receber uma
mensagem de Nat avisando que está subindo.
Busco o almoço e a encontro esperando o
elevador que eu peguei no térreo. E ela sorri assim
que me vê.
Parece tão inofensiva, mas só quem conhece
sabe do que é capaz. Um vidrinho de veneno!
— Está me vigiando para saber o elevador que
pego, Maldonado? — Ela entra.
— Sim, senhorita — respondo e a abraço.
Ela entra antes que eu, e não deixo de dar um
tapa na sua bunda, no vestido que evidencia seu
quadril e coxas grossas. Ela se protege, rindo. A
beijo com prazer e ela corresponde no mesmo
fervor. E deixo um beijo numa pinta que tem em cima
de um dos seus seios.
— Vem me marcar não. — Ela recua.
— Mas não fiz nada, ainda.
— Ainda, né? Por que que você sempre me
marca no seio? — questiona.
— Para não usar decote.
— Cretino descarado! — ela exclama e morde
meu queixo.
Viro-a para a mesa e a cubro com meu corpo,
colocando as duas mãos na mesa. Gargalho e em
seguida escutamos a porta da minha sala ser aberta
em um rompante e sem anúncio. Natasha se
assusta, me segurando firme, e viro o rosto para
saber quem é.
— Que cena linda! — Manuela bate palma
totalmente irônica, com sua mãe a tiracolo. — É
assim que você dá um tempo, né?
— O que está fazendo aqui? Quem deixou você
entrar? — Intrigado e contrariado, pergunto.
Percebo Natasha suspirar tensa e levemente
irritada. Manuela adentra ainda mais na sala,
fechando a porta atrás de si, e fecha a expressão
quando vê Natasha.
Porra! Prevejo confusão, e eu sequer tive tempo
de mencionar as perturbações de Manuela para Nat.
— Poderia pedir para essa sua funcionária sair
para conversamos em particular?
Ela aponta para Natasha com desdém, que está
com o cenho franzido totalmente intrigada, me
enfurecendo.
— Como é? — Natasha, que até então estava
calada, se recompõe.
— O que você ouviu — Manuela continua
debochando.
— Natasha é minha namorada. Tenha mais
respeito, Manuela, e é você quem está sobrando
aqui. — Encaro as duas e vejo Nat suspender uma
sobrancelha debochada para Manuela, que está
claramente contrariada, ela não esperava por essa.
— Uma funcionária, Gugu? — A voz de Manuela
sai esganiçada.

NATASHA
Encarando o projeto de Cruella na minha frente,
rio descrente, já sentindo meu sangue ferver pelo
seu veneno gratuito.
E que apelido broxante é esse, no diminutivo,
para um homem desse tamanho feito Gustavo? Esse
apelido só me faz pensar uma coisa: Gustavo loiro
falando Beu teus.
— Avestruz, primeiro, eu sequer te conheço. E
segundo, vai para o inferno!
Nunca nem a vi, mas já peguei o famoso ranço!
Mesmo de salto, eu sou mais baixa. Mas tamanho
jamais me intimidará. Exemplo maior disso é
Gustavo, sento nele sem medo.
— Deixa que eu me apresente então. Eu sou a
noiva dele, querida! — sorri prepotente.
Em seguida toca no braço de Gustavo muito
intimamente para o meu gosto, que trata de tirar.
Incrédula, suspendo as sobrancelhas, olhando para
Gustavo, para ter uma noção, que está parado
parecendo um bocó.
— Alguém, por favor, me explica essa
palhaçada?

GUSTAVO
— O que vocês duas estão fazendo aqui, afinal?
— Mostro minha irritação, segurando Nat pela
cintura para que ela não saia.
Bruna, a mãe de Manuela, que até então estava
olhando as duas se alfinetarem, intervém. Natasha
está com as sobrancelhas arqueadas na minha
direção.
— Por favor, saiam, que já deu esse papelão! —
Sou categórico, apontando para a saída.
— Realmente precisamos. Será que podemos
ter uma conversa particular? — Bruna tenta
aparentar uma mulher fina que nunca foi.
— Sua filha e eu não temos mais nenhum laço,
Bruna! — me irrito.
— Não sairemos daqui enquanto não
conversarmos, Gustavo. Já que não atende mais
minhas ligações. — Manuela trava o queixo de raiva.
— Vai, fala logo — suspiro passando as mãos
no cabelo.
— Tem certeza? — ela questiona e deixa
subentendido para Natasha sair. — Vai mesmo
conversar assuntos familiares com uma funcionária
presente? — Manuela provoca mais uma vez,
tentando diminui-la.
— Pelo menos eu trabalho, né? Sabe escrever
exceção sem pensar se é com dois s ou só sabe
fazer compras? — Natasha rebate, já sem paciência.
Manuela fuzila Natasha com o olhar, mas minha
garota permanece do meu lado, me trazendo um
pouco de apoio.
— Manuela está gravida — Bruna diz direta.
Incrédulo, escuto suas palavras que senti como
um soco no estômago. Porra! Não é para isso estar
acontecendo.
— Ah, é, quem é o pai? Ela sabe pelo menos?
Ou é roleta da sorte, em quem colar, colou? —
Natasha debocha.
— Francamente, Gustavo, com que tipinho você
foi se envolver! — Bruna se mostra irritada.
— É, uma vadia de marca maior — Manuela diz
por cima.
— Sou vadia, sim, muito obrigada, mas é de um
homem só. E para você é dona vadia, por favor —
Natasha debocha a um fio de ficar ainda mais
nervosa.
— Então, Bruna, tem algum engano. Manuela e
eu não estamos juntos há alguns meses, e até eu
me mudar, ela não me disse sobre suspeita alguma
— pontuo sério. Não tem cabimento.
Ela mexe na sua bolsa e me entrega um papel
junto com um teste de gravidez. Pego e vejo dois
riscos no troço. Natasha tenta sair do meu colo mais
uma vez e eu firmo, e ela me olha com cara de gente
ruim mais uma vez.
Leio sem processar nada, mas vejo que está no
nome dela e o exame consta que ela está grávida e
foi feito recentemente.
— Não é meu!
— Minha menstruação não desceu desde o
término. E pelo que me lembre, a gente estava
relaxado no quesito proteção. Você será pai em
breve!
Ela repete o anúncio, sorrindo. Porra! Estou
perdido e de mãos atadas, isso não era para estar
acontecendo.
— Outra coisa. Minha gravidez é de alto risco,
Gustavo, por conta dos cigarros. Eu já tive dois
sangramentos, liguei para você e sequer me deixava
falar. Eu não estou mais saindo de casa, porque não
posso, porque eu me sinto mal e fico desmaiando.
Só vim aqui porque foi com minha mãe.
— Se for meu, vou assumir. Essa criança vai ter
tudo da minha parte, mas a mãe dela não vai ser
nada minha — digo firme as minhas condições.
As duas não parecem satisfeitas, mas
concordam enquanto eu sigo para a porta para que
elas vão de uma vez, avisando que irei retornar o
contato em breve. Preciso falar com meus
advogados também, e com a pequena raivosa que
está soltando fogo.
— Pretendia me explicar essa merda em algum
momento, ou ia esperar a criança nascer? —
Natasha esbraveja.
— Eu também não esperava por isso! — suspiro
frustrado.
— Se você não esperava, imagine eu que não
sabia que você foi ou é, sei lá mais o que dela! Eu
poderia ter feito papel de idiota facilmente se não
soubesse me defender de gente como ela.
— Eu sei, desculpa, eu iria te contar. Senta aqui,
eu vou esclarecer! — chamo e ela nega.
— Começamos a namorar praticamente ontem e
já tem uma porra dessas assim do nada, Gustavo.
Não, eu estou sem cabeça para escutar qualquer
coisa a mais sobre essa novela mexicana. Meu
horário de almoço acabou, junto com meu apetite e a
vontade de te ver hoje.
Ela dá as costas, batendo a porta atrás de si,
furiosa. Desgraceira! Sequer almoçamos, e também
perdi o apetite. Sentado na minha cadeira, tento
pensar nos meus próximos passos. Manuela
grávida? Porra!
15
NATASHA
Fala sério! Ultimamente parece que estou em
um mundo paralelo. Primeiro, estar gostando de
alguém, namorando essa pessoa e, bum!
Uma ex dele aparece grávida. Nem nos meus
sonhos mais loucos isso estaria acontecendo.
Eu duvido que ela esteja, ao menos que seja
dele. Pode ser precipitado da minha parte, mas essa
gravidez não me desceu nem um pouco. Terminaram
há meses e do nada aparece grávida, armando
aquela ceninha? Nah! Muita coincidência. E não
estou dizendo isso porque ela é ex.
Eu confio sempre nos meus sentidos, até que
ele me mostre se eu estou errada. Algo me diz que
ela não está agindo de boa fé, mas caso estiver
realmente grávida e for dele, Gustavo está fodido,
porque ter um filho daquela mulherzinha insuportável
é para os azarados.
Se ela estiver mesmo, eu caibo nessa nova
etapa? Irei me sentir confortável? Sequer sei se
quero ficar no meio dessa novela.
Admito que não estou sabendo como agir com
essa bomba, porque, querendo ou não, ainda vai
mexer completamente nossas vidas. É muito para
mim. Eu ainda estou me acostumando com esse fato
de sentimentos e namoro.
Meu celular vibra algumas vezes e sei que é ele.
Apago sem querer ler. Fodam-se Gustavo, sua noiva
e o resto do mundo. Não vi Gustavo hoje ainda, ele
me ligou ontem à noite, mas não atendi. Hoje de
manhã também. Ainda estou brava. Estou realmente
magoada por ele não ter me notificado sobre essa
mulher.
O dia seguiu seu curso normalmente, passei
fingindo tranquilidade. Desço para casa, mas antes
de atravessar o hall, encontro Gustavo, saindo
também. Mas ele para assim que me vê. Percebo na
sua expressão que está cansado e triste, ao mesmo
tempo acentuando seus olhos, que já são azuis
cristalinos naturalmente.
Malditos olhos que me instigam. Ele fica de
frente para mim e a merda do meu coração acelera.
Coração idiota!
— Natasha... acho que precisamos esclarecer
várias coisas. — Gustavo soa um pouco autoritário,
com um semblante nada bom. — Sei que está
irritada por ontem, mas se não me deixar esclarecer
não tem como sua raiva passar.
— Preciso ir embora. Tenho compromisso. —
Olho no meu relógio em puro deboche. — Acho
melhor ir também, sua noiva grávida deve estar te
esperando.
— Natasha, não estou de brincadeira. Você vai
me ouvir e se, depois disso, não quiser, tudo bem.
Agora, só vou deixar você ficar me dando gelo e
agindo assim depois que me ouvir! — manda entre
dentes.
Resmungo, me deixando levar em direção ao
seu carro. Bato a porta com grosseria, mostrando
meu protesto. Ele me olha sério e eu o ignoro.
Depois de uma viagem silenciosa, já que quando
eu abrir minha boca, vou começar a falar
desenfreada e quando eu menos esperar vou estar
gritando, chegamos ao seu apartamento.
Cumprimento o cachorrinho porque não sou mal-
educada, e encaro o dono dele.
— Estou aqui, pode falar, Gugu — não dispenso
o deboche e ele suspira passando a mão no cabelo.
— Não sou noivo. — Ele me olha sério e eu
suspendo as sobrancelhas, ainda em puro deboche.
— Você acha mesmo que eu não te contei algo
sobre Manuela porque eu não quis? A minha última
semana foi uma bosta, esqueceu? Ou acha que tudo
foi diversão para te fazer de idiota?
— E por que ela se autointitula sua noiva? Eu
poderia ter saído como uma idiota se não revidasse
o joguinho dela, mesmo sem saber uma linha da
história — esbravejo, já sem paciência.
— Eu sei, mas eu ia te contar! Ela e eu não
temos nada há muitos meses, Nat, mas ela insiste
nessa coisa de noivado!
— Mas ela tá gravida e está dizendo que o filho
é seu! Olha a gravidade disso! Eu estou muito
perdida nessa história, Gustavo! — choramingo
frustrada.
— Vou te contar do início, só me escute.
— Então comece.
Cruzo os braços para saber até onde ele vai.
— Ela era minha antiga vizinha e namoramos
por poucos meses. Mas ela veio com a história de
que os pais dela sempre foram muito tradicionais e
que era filha única. Começou a me pressionar para
casar, antes de pensarmos em filhos ou até mesmo
morarmos juntos. E como ser pai é uma das minhas
maiores vontades, eu a pedi em casamento no calor
do momento. Eu fui idiota, mas a racionalidade some
nesses momentos!
Arqueio as sobrancelhas, surpresa. Como assim
ele morre de vontade de ser pai?
— Depois disso, ela começou a se mostrar de
verdade, totalmente diferente do que vinha sendo no
início. Sequer me deixava respirar, aparecia de
surpresa nos lugares que eu dizia que ia, para saber
se eu estava lá, vivíamos brigando por tudo. Zeus foi
um presente para ela, que ignorou, porque
confessou em uma das nossas discussões que
odeia qualquer bicho e só inventou que gostava
porque queria que eu me apaixonasse por ela. Como
uma coisa leva à outra, discutimos mais, e como eu
estava saturado, terminamos.
— Que vadia interesseira! — comento mais para
mim do que para ele.
— Mesmo depois, continuamos brigando, pois
ela não aceitava o fim, até eu decidir mudar de
apartamento e trabalhar na agência. E é até hoje
assim, age como se isso fosse apenas uma
briguinha boba e iremos voltar. Agora descobriu
onde trabalho e fez aquele circo.
Gustavo vem em minha direção e, como sou
bem menor, tenho que olhar para cima para fitá-lo.
Ele está meio nervoso e desesperado, tentando me
convencer. Estou totalmente desarmada com isso,
mesmo ainda com o pé atrás. Estava pronta para
jogar pedra nele, mas e agora?
Resolvo ir direto ao X do problema.
— E... E se for mesmo seu?
— Vou acompanhar a gravidez e assumir, né? —
Frustrado, ele põe as mãos na cintura. — Mas não
fica me dando gelo, torna tudo pior para mim. — Faz
biquinho involuntário.
— Dê limites à sua ex. Eu não gosto dela!
— Ciúmes, dona Natasha?
Ele me puxa num abraço, com os lábios
esticados.
— Fica aí sorrindo, se fosse ao contrário você ia
ver.
Retruco e ele fica sério na mesma hora.
— Nem brinque com isso!

Liz para seu suco no meio do caminho, me


olhando surpresa pelo que acabei de contar.
Precisava dividir sobre essa gravidez com minha
irmã, para ver se essa frustração passa.
— Como assim grávida, Natasha?
— Mostrou o exame e tudo. Não sei quando vai
pedir DNA, pois ele não sabe se é dele, tem pé atrás
— suspiro.
— Como você está se sentindo com tudo isso?
— Desapontada. Não queria que isso tivesse
acontecendo, mas não posso fazer nada se ele for o
pai do bebê, que não tem culpa de nada. Ela com
certeza vai usar a gravidez para tornar nossas vidas
um inferno. Não queria que o fato dele precisar
passar um tempo com ela me incomodasse —
assumo em voz alta pela primeira vez. — É tudo
muito novo para mim.
— Entendo seu desânimo, mas sofrer por
antecipação é pior.
— O pior de tudo isso é que eu não sinto
verdade nela. E não é implicância, eu juro.
— Está pensando em fazer o quê?
— Não sei. Mas se ela acha que sou uma songa
monga, ela está enganada.
Ficamos brevemente caladas. Gustavo anda tão
perdido quanto eu, mesmo conversando sobre o
assunto. Ontem ele ainda me falou que ela já tinha
tratado de ligar para os pais dele contando, estava
irritadíssimo quando estávamos jantando e recebeu
a mensagem dos pais querendo uma confirmação.
Ele foi categórico sobre o assunto do DNA, e ainda
esclareceu que estava namorando e que não iria
voltar com ela de forma alguma.
— Mas quero saber de você, irmã, estou
percebendo você com pensamento longe — indago
preocupada.
— Impressão sua. Acho que fomos picadas por
um vírus, estou me interessando por alguém. — Ela
sorri brevemente para mim.
— Como assim? Me conta!
— Ele é o segurança da revista. Fica me
cantando e me agradando com coisinhas. Ele me
parece ser um cara legal e fofo, sempre prestativo
comigo. Não tivemos nada, ainda. Apenas nos
beijamos aquela vez que fiquei até mais tarde, mas
não fomos além, mesmo ele me convidando umas
duas vezes.
— Qual o nome dele? Idade? Fotos? —
questiono preocupada.
— Roberto. Ele não tem redes sociais. Não
gosta, é mais velho do que eu, talvez seja um
desses que preciso. Eu o acho muito atraente com
aquele ar todo de quarentão sacana, sabe? — Ela
sorri safada.
— Lizandra, Lizandra... — Sorrio cúmplice. —
Mas cuidado, tudo bem?
Só espero que minha irmã não quebre a cara.
De nós três, eu, ela e minha outra irmã, Liz é a mais
romântica ganhando em disparada. O tipo de pessoa
que se imagina vivendo num romance arrebatador
de novelas.
— Ele quer me encontrar, mas não sei se vou.
— Dá pra ele logo e vê se é bom. Para saber se
é experiente e sabe o que faz — a incentivo,
suspendendo as sobrancelhas. — Quem sabe você
garante uns orgasmos e sexo louco? Hoje é sábado,
aproveita!
Ela sorri, pensativa, e eu sei que está doida para
ir.
— E você? — Ergue as sobrancelhas para mim.
— Vai sair mais tarde?
— Vou. Mas volto ainda hoje.
Logo depois do nosso almoço, sigo para a casa
de Gustavo. E como sempre, sou recepcionada da
melhor forma possível: com um beijo bom e a
mãozona na minha bunda.
Encaro o homão só de short e cabelo molhado
jogado para trás, mostrando que saiu do banho
recentemente. Aposto que só fez passar a mão.
Com uma mão ele me mantém colada no seu corpo,
e com a outra, põe no bolso, tirando de lá a
pulseirinha que não aceitei da outra vez.
— É sua, tome. — Ele balança a mão para eu
pegar. — Não pode negar dessa vez.
Colo nossos lábios mais uma vez.
— Obrigada. Eu achei linda.
Meu coração se aquece por ele estar me
agradando, e ter se lembrado de mim quando
comprou. Estou uma idiota esses dias, não sei o que
acontece.
Olho para ele, que sorri para mim com esses
olhos azuis lindos e brilhantes. Fui ingênua em achar
que eu ia conseguir transar com ele, enjoar e cair
fora como qualquer outro. Estava na minha cara que
ele não era igual aos outros.
— Vai dormir aqui hoje? — ele indaga enquanto
coloca a pulseira no meu pulso.
— Não, mas amanhã venho passar o dia com
você e durmo. Trarei roupa. — Sorrio, colocando
minha cabeça no seu peito e aspirando seu cheiro
no pescoço.
— Não quer fazer isso hoje e voltar comigo?
— Eu durmo aqui amanhã, eu juro.
— Se morasse comigo não precisava ficar nesse
vai e volta.
— Claro que não, bobo. — Gargalho.
— Por quê? — Ele junta as sobrancelhas.
— A gente mal começou a namorar. Moro com
minha irmã e vou continuar lá — sou categórica
quando vejo que ele fala sério.
— Por que impossível? — Soa sério.
— Não tem cabimento. Sua vida está bagunçada
demais para querer mais desordem.
Ele continua a me olhar e, sabe o momento que
você percebe que está dentro de um assunto muito
sério e não sabe como entrou e está procurando
uma forma rápida de sair? Eu estou assim agora.
— Nat... — O corto.
— Vamos deixar o assunto do futuro para
quando o momento certo chegar.
Dou-lhe um beijo, tentando sair daquele assunto.
Sabe quando, por um momento, você entra na
cabeça da outra pessoa e sabe exatamente o que
ela está pensando por pura telepatia?
Foi assim agora, por um segundo percebi que
Gustavo ia me perguntar se eu o amava, ou iria dizer
que me amava, ou algo relacionado a isso, coisa
mais séria. Cortei mesmo, pois não estou preparada
para isso.
Saímos para jantar num restaurante legal e,
como falei, voltei para casa à noite. Mesmo me
desentendendo com Gustavo. Onde já se viu, morar
com Gustavo. Parece que é louco!
Entro em casa caçando Lizandra. Estou curiosa
para saber seu desenrolar com o quarentão.
— Deu? — questiono me jogando no sofá e ela
vem para o meu lado, se jogando em seguida.
Arqueio as sobrancelhas com vigésimas
intenções querendo saber do rolo dela.
— Dei e foi bom. Ele chegou às minhas
expectativas. Ele foi um cafajeste na cama, irmã,
mas depois foi tão carinhoso! — Sorri já toda
romântica, suspirando.
— Já está apaixonada, Liz? Foi tão gostoso
assim?
— Cala a boca, Natasha!
Rio, implicando com sua cara.
— Hum, presentinho. — Ela aponta para minha
pulseira.
— É. Gustavo que me deu.
— É linda. — Ela segura no meu pulso. —
Lembra que... — ela começa a contar empolgada,
mas de repente desanima e corta o assunto.
Continuo a olhar para a cara dela sem demostrar
nenhuma reação. E captei no ar a sua rápida
referência a seu ex-namorado de adolescência, mas
isso é uma lembrança dolorosa para ela e eu prefiro
abstrair.

GUSTAVO
Observo Natasha passando batom
vermelho. Decidimos ir a uma churrascaria
almoçar. Levanto, a abraçando pela cintura e
cheirando seu pescoço com seu perfume gostoso.
Ainda bem que vai dormir aqui hoje comigo, estou
morto de tesão nessa loira gostosa.
Meu celular toca, mostrando uma mensagem de
Manuela no visor. Clico para ler a seguinte
mensagem: “estou voltando do hospital, tive outro
sangramento. Por favor, vem me ver”.
Suspiro com isso. Ainda não paramos para
decidir nada, eu procurei ver com meu advogado e
uma clínica, para saber com quantos meses pode
fazer exame de DNA, mesmo ainda dentro da
barriga. Manuela não gostou muito da ideia e se
ofendeu.
Mas, veja bem, eu preciso de uma garantia, já
que estamos separados há poucos meses. E, por
hora, mesmo sem saber se é meu, não posso
negligenciar esse risco dela.
Nem eu assimilei ainda que serei pai, eu quis
tanto, agora que posso finalmente ser, me sinto
confuso. Parece tão errado e estranho. Como se
tivesse uma sensação estranha de
incompatibilidade, sabe?
Ser pai é um sonho que está comigo desde
sempre. Tenho vontade de criar família. Gosto da
ideia de ser pai e ter um moleque meu correndo por
aí.
Eu não sei se é esse sentimento que esperava
ao me descobrir pai, mas não estou eufórico e
animadíssimo. Estou apenas ansioso de um modo
estranho, e até frustrado.
Mas quem sabe o vendo pela tela comece a cair
minha ficha? Dizem que homem só tem sentimentos
de pai quando vê a criança. Vai ver é isso.
E ter Natasha comigo nessa etapa é essencial.
Está encarando até melhor que esperava. Não é
qualquer uma que consegue lidar com um assunto
da forma que ela lida, apesar de todos os
contratempos.
— Nat — chamo sua atenção e ela se vira. —
Manuela teve um outro sangramento. Vou ter que
dar uma passadinha lá no apartamento dela. Me
espera?
Levanto checando se minha carteira está no
meu bolso. Natasha me olha séria, arrumando os
cabelos atrás da orelha.
— Não quer que eu vá com você? — Franze o
cenho.
— Não precisa. Fica aqui com Zeus. — Beijo
sua testa. — Me espere, meia hora eu estou de volta
para almoçarmos.
Ela aceita, meio contrariada, mas adianto para ir
de uma vez. Eu quero Natasha do meu lado, me
dando suporte, mas sem precisar passar por isso, de
ir visitar uma ex que espera um filho meu. Uma ex
que ela descobriu no susto. Quanto mais cedo eu ir,
mais rápido eu volto.
NATASHA
Cinco e meia da tarde. Cinco e meia e nenhuma
ligação dele, para me dar notícias, o porquê está
demorando, ou se vai demorar para chegar. Iríamos
almoçar por volta de uma e pouco da tarde, que foi a
hora que ela ligou e ele saiu.
Mas acabou que almocei sozinha com Zeus
como minha companhia, enquanto checava o celular
a cada vinte minutos. Se soubesse, não me
deslocava da minha casa para vir para cá.
Mas minha preocupação é que por mais que eu
e Gustavo tenhamos conversado sobre o que ele ia
fazer, não consegui perguntar como ele se sente
com tudo isso, só conversamos sobre as ações dele
e não seus sentimentos em relação a isso.
Confesso também que estou me fazendo de
forte, tentando me manter, na verdade, mas estou
me sentindo abalada, um caco por dentro. Essa
história não está me agradando e, pior, me sentindo
ameaçada de certa forma com ela e sua suposta
gravidez. Isso ainda não me desceu de jeito
nenhum. É novidade isso de Gustavo querer ser pai,
como me confessou. O medo é que queira estreitar o
laço com ela e me esquecer. Esquecer que iríamos
aguentar isso juntos.
E por mais idiota que eu esteja me sentindo, é
assim que estou enxergando tudo. Eu estou
descobrindo uma Natasha insegura que eu não
sabia que existia. E que eu não gosto nenhum
pouco!
Estou desestabilizada!
— Nat? — Guto aparece, me encontrando
sentada no sofá com Zeus no meu colo, recebendo
carinho.
— Hum? — Continuo a alisar Zeus e ele senta
do meu lado.
— Desculpa a demora. Manuela estava sozinha,
brigou com a mãe, que viajou. Tive que ficar lá para
ver se iria acontecer algo — explica o sumiço da
tarde inteira.
— Por que não me ligou, Guto? Fiquei aqui a
tarde inteira te mandando mensagens, te esperando
e você sequer me retornou. — Mostro minha
chateação.
— Manuela estava instável o tempo inteiro,
chorando, dizendo que está com medo de perder a
criança. Nem tive tempo para respirar e esqueci o
celular dentro do carro — suspira.
— Tudo bem, eu só estava te esperando para
não deixar Zeus sozinho. Estou indo para casa.
— Não vai, fique comigo. Eu prometo que não
vou deixar isso atrapalhar a gente. Vamos jantar,
pelo menos, para fazer valer esse final de semana.
Estou morto de fome!
Suspiro, me rendendo, tentando não me abalar
com tudo isso.
16
NATASHA

Irritada, praguejo baixo. Que semana maçante!


Manuela agora aprendeu a ligar chorando, e ele
vai correndo ver o que é. Discutimos duas vezes até,
porque ele larga o que está fazendo para ir. Se ela
ligar porque quer suco de laranja do outro lado da
cidade, ele vai. Inclusive quando está comigo ou no
trabalho. E outra, sempre dá um jeito de me vetar de
tudo. E eu estou tentando não ser a namorada
megera, tento entender.
Às vezes sinto saudades da Natasha desbocada
e dona do mundo que não liga pra porra nenhuma e
foda-se tudo. Tenho saudades de sair com minha
irmã, beber todas e dar para um cara aleatório e
depois tchau.
Quando comecei a me envolver com Gustavo,
era para ser só sexo, puro, gostoso e carnal. Mas,
de repente, quando menos espero, estou no meio de
um “casos de família”.
A maioria das mensagens dele para mim agora
são assim:
“Vou ver Manuela e daqui a pouco volto”
“Desculpa, não vai dar para ficarmos juntos hoje”
“Ela não quer fazer o teste de DNA, porque é um
procedimento complexo e a gravidez é de risco. E a
ginecologista dela não aconselhou”
Acredito que ele está um pouco deslumbrado
com esse filho, apesar de tudo eu não o culpo, mas
isso não melhora nossa situação. Peço o elevador,
que está lá em cima e, quando desce, vejo Gustavo
parado. Ah, ele já voltou. Mais cedo, no horário do
almoço, ele cancelou porque recebeu mais uma
“chamada urgente” dela, e mais uma vez não quis
que eu fosse, para que nós duas não brigássemos e
deixasse Manuela nervosa. É, foi exatamente isso
que ele me falou.
— Vem aqui — ele me chama com um dos
braços estendidos e eu nego.
Ele me abraça a contragosto e continuo imóvel,
sem retribuir.
— Vamos lá pra casa? — Cheira meu pescoço e
tento me manter sã.
— Não. Eu preciso ir ao shopping com minha
irmã.
Sem muita emoção, respondo.
— Está assim curta e grossa por quê?
Ah, ele não sabe?
— Jura que não sabe, Gustavo? — Não deixo
de mostrar meu lado debochada, me soltando dele.
— Se você não me disser, não.
— Que tal porque você me vetou do
momentinho família e foi atrás de Manuela? Hum?
— Não achei que ia ficar chateada com isso, ela
disse que estava com muitas dores abdominais e eu
iria ver se era necessário ir ao hospital, só que
acabou não precisando. E vocês não se dão bem,
poderia piorar tudo.
— Nunca precisa, para que hospital quando se
tem Gustavo, não é mesmo? Eu fiquei. Não gostei.
Pela segunda vez você fez isso. Para de achar que
eu e ela no mesmo local vai sair fogo, como se eu
não soubesse me controlar. Se não me quiser mais
por perto, é só falar, mas não fica me jogando pra
escanteio, que isso tá me frustrando.
— Me desculpa.
— Olha, não sou de pegar no pé de ninguém,
estou me esforçando para ser neutra nessa situação,
mas está difícil, não gostei dessa sua atitude. —
Elevo a voz.
— Só não queria trazer mais problema para
você.
— Quando eu achar que não está dando para
mim, eu simplesmente saio. Enquanto eu estiver
aqui, é porque eu aguento o que vem. Então, pare
de me vetar de tudo.
O elevador abre e sigo para fora, para respirar
um pouco também. Está tudo errado. Tudo! Inclusive
comigo, que estou me sentindo muito estranha.
Ele vem atrás e vejo o carro de Lizandra parado.
Meu braço é segurado e eu paro, virando-me
impaciente para ele. Gustavo simplesmente me
arrasta em direção ao seu carro, depois de fazer um
sinal de espera para Liz. Vou sob protestos, mas ele
apenas me arrasta e sento no banco do passageiro.
— Me desculpa, Nat, não foi por mal. Eu estou
esgotado do dia — suspira. — Eu estou tentando
também, fazendo o que acho certo.
— Não estou falando que não é para você ir
checar ela, Gustavo, eu entendo seu ponto. Só não
acho certo você parar o que está fazendo para ir
atrás dela, porque Manuela quer que você vá lá por
causa de nada, como você mesmo se queixou essa
semana. Eu me sinto um acessório para você e não
gosto de me sentir assim. Quando aceitei
namorarmos, não foi assim que imaginei — falo
minhas frustações pela milésima vez.
— Estou tentando deixar minha consciência
tranquila. Não é porque eu vou atrás dela que gosto
menos de você. Só tenho medo de não dar ouvidos
a ela, e depois ficar me sentindo culpado se algo de
mais grave acontecer — ele suspira, me fitando. —
Eu não sei mais o que fazer para contornar isso.
— Você poderia me incluir mais. Sempre me
joga para escanteio e vai resolver tudo sozinho,
Gustavo. É disso que estou reclamando. A gente
está brigando sempre por isso. Não é a primeira vez
que eu falo, mas você faz o quê? A mesma coisa e
eu estou ficando de saco cheio!
— Você me ajuda mesmo não estando dentro do
problema. Só sabendo que você está do meu lado
querendo dividir a barra comigo, já me deixa mais
tranquilo para pensar e agir. Não gosto de trazer
problemas para você. Eu realmente não sei mais o
que fazer para equilibrar isso.
— Eu também não sei. Eu vou ficar com minha
irmã. Preciso pensar em todo esse relacionamento e
acho que a gente tem que ficar separados um
pouco.
— O que quer dizer? — Sua expressão muda
drasticamente.
— Não quero brigar mais — suspiro em súplica.
— Não é uma separação. É só esse fim de semana.
Segunda-feira a gente se vê e conversamos.
— Tem certeza que prefere isso, Nat?
Aceno e dou um beijo na testa dele, no mesmo
momento que pego minhas coisas para ir.
— Qualquer coisa você me liga — aviso.
É melhor eu ir agora mesmo. Do jeito que
Gustavo está, capaz de a gente acabar brigando feio
por uma coisa que nem é nosso assunto principal,
ou terminando logo de vez.
Desço do carro dele e sigo para o de Lizandra, e
assim que sento no banco do passageiro,
exasperada, vejo o carro dele sair cantando pneu.
— Que foi, problemas?
— A gente discutiu de novo. — Dou um beijo na
testa dela. — Não sei até quando vou aguentar tudo
isso. Sequer o DNA poderá ser feito, ainda por cima.
— Como assim?
— Porque é um procedimento complexo e a
gravidez é de risco, resolveram não arriscar.
Vamos para o shopping e me permito fechar os
olhos para descansar a mente.
Eu estou angustiada e, sinceramente? Não
estou nem um pouco feliz. Estou cansada disso
tudo!
No shopping, Lizandra ri da história que acabei
de contar, enquanto subíamos a escada rolante,
para parar um pouco na praça de alimentação. Liz
me arrastou e comprou mil coisas para casa. Ela
parece uma tiazinha que não aguenta ver um pano
de prato com estampa mais bonitinha. Minha irmã
tem aura de mãe sem nem ser uma.
Paro no topo da escada fazendo com que ela
bata no meu corpo e resmungue que quase caiu,
mas eu a mando calar a boca quando vejo uma cena
que era para ser até então inacreditável.
Inacreditável se eu me deixasse ser enganada.
Eu sabia!
Manuela está entrando em uma loja de roupas,
cheia de sacolas, do tipo que tem que segurar nos
dois braços, sorridente e de saltos. Disposta demais
para quem, até meio-dia, ligou urgente para Gustavo
ir até lá porque não estava se sentindo bem. Bem-
disposta demais para quem sangra três vezes ao dia
e não vai ao hospital coisa nenhuma. Bem-disposta
demais para ser o motivo das briguinhas do meu
relacionamento, como hoje, que estamos longe um
do outro.
— Que foi, Nat? — Liz chama minha atenção
pela quinta vez, acho.
— Olha lá, a ex de Gustavo, que não pode sair
de casa porque a gravidez é de risco. Dá para
acreditar?
Volto a andar vendo tudo vermelho, mas
Lizandra me segura pelo braço quando vê que
minha intenção era confrontá-la.
— Não, Natasha. — Ela me para.
— Não o que, Lizandra? Eu vou lá sim, ela está
me fazendo brigar direto com Gustavo por causa
dessa farsa ridícula! — rebato, nervosa.
— Não. Você não vai lá procurar briga, nem
armar barraco. — Liz aperta meu braço para que eu
permaneça no lugar. — Respira, cacete.
— Ela está enganando o idiota do Gustavo, e ele
está caindo feito um babaca, Lizandra, e eu tenho
que ver e aplaudir?
— Natasha, aprenda de vez em quando a agir
sem estar de cabeça quente. Você vai lá, arma
barraco, ela finge que perdeu o bebê, e aí? Tem
como provar que não? Vamos para a praça de
alimentação comer!
Ela me arrasta como se eu fosse uma criança e
me larga sentada na cadeira, com as sacolas.
Ah, mas eu estou muito brava com isso, apesar
de não estar surpresa, e aliviada, no fundo. Mal
posso esperar para chamar Gustavo e conversar
sério sobre isso. Preciso agir de cabeça fria, como
Lizandra falou, para colocar essa galinha bem longe!
— Come! Come e se acalme aí — Lizandra
mandona coloca uma bandeja na minha frente, com
dois hambúrgueres, refrigerantes e porções de batatas
fritas.
Abocanho um pedaço do hambúrguer de bacon
e me acalmo. Adoro comer com raiva, parece que a
comida fica mais gostosa e eu estou três vezes com
mais fome.
— Eu estou muito brava, irmã. Está na cara que
a safada está fazendo-o comer na mão dela. Eu
estava até começando a me sentir mal e insensível.
Mas no final, eu estava certa, ela está jogando com
ele.
Jogo para fora tudo. Sabia que eu enxergava
uma coisa que ele não vê, mesmo não sabendo ao
certo o quê. Mas eu sei qual é a dela. Me vencer
pelo cansaço.
— Eu sei, você estava irritada esses dias e
abatida, mas o lado bom disso é que ela vai cair fora
da vida de vocês.
Concordo aliviada. Ao menos uma boa notícia.
— Essa situação fez com que nós nos
afastássemos — suspiro.
— Mas vai se resolver. Amanhã você pensa o
que irá fazer. Mas hoje vamos para casa, descansar.
Terminamos de comer e descemos para casa,
mas não antes de vê-la novamente, fumando numa
área reservada. Para quem parou por causa do
bebê, ela se esqueceu muito rápido. Piranha!
Me jogo na minha cama, esgotada do dia,
parece que esse pesadelo não vai acabar nunca.
Gustavo, por mais gostoso e safado que seja, muitas
vezes é ingênuo e sempre acredita nas pessoas. O
famoso “é gostoso, mas é tapado”.
E como dizem, quem não faz acontecer, vê
acontecer. Nunca fui de esperar acontecer, eu faço
as coisas acontecerem.

Disposta a colocar tudo no seu devido lugar, sigo


para me encontrar com Gustavo. Minha cabeça não
parou de funcionar um segundo sequer, eu preciso
acabar com essa história de vez, e desmascarar
aquela víbora. Mas só palavras não vão adiantar, eu
vou passar por implicante e insegura que tem medo
dele voltar para ex, coisa que eu não tenho.
Eu só não quero que uma mentira acabe com
meu relacionamento, que acho super errado também
ela iludir Gustavo pelo lado emocional, por uma
coisa que ele quer tanto, para tirar vantagens.
Mas o que eu poderia fazer? Eu penso tanto em
muita coisa, mas ainda tá tudo embaralhado. Eu
estou me odiando por não ter gravado ou tirado uma
foto do momento, mas eu estava tão possessa que
eu sequer raciocinei, só queria voar minha mão na
cara dela.
Que é uma mentira é um fato, eu tenho total
convicção que é, minhas paranoias não me iludem,
sempre foram certeiras e precisas. Eu confio nos
meus sentidos. Mas como desmascará-la? Como?
Logo o grande carro preto dele encosta e eu
entro.
— Oi. — Ele me puxa para um beijo e eu
retribuo. — Tá a fim de fazer o que hoje?
Faço uma média de olhar em cima dele: sentado
no banco, com roupa social e de óculos escuros. Do
que será que eu estou a fim?
— O que você tiver na mente — respondo, um
tanto maldosa. Ele sorri, pois é um devasso!
— Senti saudades de você no último fim de
semana — ele assume baixo. — Fiquei muito mal
por você ter se sentido daquela forma.
— Também senti saudades.
Gustavo sorri, esperando minha confirmação, e
sei que ele está tentando me dar atenção também e
se redimir pela nossa última discussão. Mas eu
quero mesmo que o fantasma de Manuela suma das
nossas vidas.
O restaurante não é muito longe. Sentamos em
uma mesa para dois e o garçom vem nos atender.
Deixo Gustavo fazer os pedidos por nós, inclusive o
vinho, que é maravilhoso. O clima gostoso e ameno
volta a reinar e eu não me dou ao trabalho de
perguntar sobre o problema, apesar de eu procurar
um jeito de abordar sobre o que vi no shopping.
O garçom traz nossos pratos, um risoto que está
com uma cara maravilhosa.
— Humm — gemo com o garfo na boca.
— Não faz isso. — Ele ri.
— Mente obscena!
— Nunca neguei.
Almoçamos em um clima agradável, enquanto
conversávamos tranquilamente. Ele até voltou a
mencionar o primo dele, querendo que eu conheça
sua família, mas sequer tivemos tempo com tudo
isso. Acho que passar o final de semana longe de
mim nos deu um bom resultado: ele aprendeu a
valorizar a minha ausência e o que eu sempre falei.
Não poderia ser sempre assim? Calmo e nos trilhos,
como um namoro normal deve ser. Apenas um
curtindo ao outro.
Já no final do almoço, quando o manobrista está
voltando com o carro, o celular dele toca e logo ele
pede licença para atender, do meu lado mesmo.
Aceno e o vejo conversar com alguém, e
automaticamente meus olhos reviram quando na
segunda frase eu já entendi quem era e o porquê
dele se agitar. Comemorei vitória antes do tempo.
— Vamos. — Ele pega as chaves. — Vou te
levar de volta pra empresa.
— Por quê? — questiono séria.
— Manuela tá tendo outro sangramento e umas
pontadas. Estou preocupado. Vou te deixar lá e vou
ver levá-la ao hospital.
— É sério? — pergunto incrédula, sentando no
banco do carona.
— Crise agora não, Nat. Por favor — ele
responde e dá a volta.
— Crise? — Rio sarcástica, colocando o cinto.
— Gustavo, você já pensou na hipótese de ela estar
mentindo sobre a gravidez? — pergunto, me virando
para ele.
— Natasha, não. Por favor. Ela não brincaria
com uma coisa séria dessas, ela tá fragilizada. Eu
sei que está se sentindo afetada com isso...
— É sério! Eu ainda acho que ela está fazendo
você comer na mão dela.
— Isso é egoísmo da sua parte, levantar essas
hipóteses só porque você não gosta dela.
— Você ouviu o que eu falei? Ela não está
grávida! — grito saturada. — Eu sinto que ela está
mentindo para você. Encontrei ela no shopping, de
saltos, fumando, fazendo compras com saúde para
dar e vender! Ela está te fazendo de otário e só você
não vê isso!
— Estou esperando esse final do mês para
esses sangramentos pararem, quero conversar com
a obstetra dela também, para saber se é meu ou
não.
— Mas ela não está grávida! Deveria no mínimo
levantar essa hipótese depois dela mentir para você.
— Nat, escuta o que está falando. Tem teste,
tem papel. — Ele me encara como se eu estivesse
blefando, tirando do porta-luvas o envelope com
ambos, colocando no meu colo. — Amor, entenda,
nada do que eu estou fazendo é por causa dela, se
trata de uma criança que ela pode ter perdido,
estamos falando de um possível filho meu! Eu não
quero ser negligente.
— Eu não estou aguentando mais isso,
sinceramente. Não aguento mais você sendo feito de
idiota sem questionar. Acorda! Quer que eu fique
grávida para me escutar como você a escuta sem
pensar duas vezes?
— Quer saber? Gostaria, sim. Mas eu te
noto sem precisar disso. — Eleva a voz.
Me calo sem conseguir rebater, mas logo me
recomponho.
— Então tá bom, vai lá ser feito de trouxa
mais uma vez, mas também não precisa voltar para
mim.
— Como?
— Se você for, quando voltar, eu não estarei
mais aqui. Não tem por que ficar com uma pessoa
que sequer leva em consideração o que eu falei.
Você não fica nem com uma pulguinha atrás da
orelha. Não faz sentido, Gustavo, quando você
prefere acreditar em pessoas que enganam você
sem pensar duas vezes, em vez de levar ao menos
em consideração o que eu falei. Sabendo que a
última coisa que eu quero é te prejudicar. Fica
parecendo que eu estou de picuinha porque não
aceito sua ex, e não quero esse papel.
Abro o envelope e tiro o tal do exame, para
amassar e jogar na cara dele, mas ao pegar o teste
de gravidez, vejo que tem várias formigas ao redor e
um click que eu precisava vem na minha cabeça: xixi
não dá formiga, ao menos que a pessoa seja
diabética e olhe lá, mas pelo tempo, não deveria ter
formiga alguma no exame. Mas eu sei de algo que
dá formiga e que faz um teste dar positivo. Essa
vagabunda acabou de ser pega!
— Eu confio em você, Nat, de verdade. Só
que... eu também não gosto, se quer saber, essa
situação também não está boa para mim, mas não
posso ignorar. Tem uma criança no meio disso tudo.
— Não tem — respondo com ainda mais
convicção. Ele suspira frustrado, mas eu ignoro,
encarando o teste mais uma vez, querendo saber se
minhas suspeitas estão certas. — Confia mesmo? —
Meu tom sério faz Gustavo me encarar.
— Confio, eu super confio, de verdade. —
Trago ele para a seriedade da coisa. Ou ele dá um
ponto final nessa história com Manuela, descobrindo
a verdade, ou comigo.
— Então, se confia em mim, por favor, me
escuta agora — peço quase implorando.
Ficamos olhando um para o outro, sérios.
Gustavo suspira passando a mão no cabelo.
— Eu só estou fazendo o que acho certo. E
não quero perder você.
— Então, marca com ela para ir em um
ginecologista da sua confiança, Gustavo. Um
ginecologista imparcial, para saber como ela vai
reagir, e o que o exame poderá dar, porque é muito
fácil entregar um teste e um exame e evitar um teste
de gravidez a todo custo. Para quem já foi
enganado, você está caindo feito um patinho na dela
novamente. E eu vou com você agora na casa dela.
— Tem certeza que quer ir?
— Tenho. Não vou procurar briga, eu só
quero ir. Vamos levá-la para fazer esse exame, e eu
juro, Gustavo, que se ela estiver, eu peço desculpas
para ela sobre qualquer coisa que você acha que eu
deva. Eu estou falando de coração aberto.
Com uma calma que eu não tinha minutos
atrás, respondo. Ele me encara surpreso e, com
minha convicção, não tem como negar ou protestar,
apenas arrasta o carro. Se ela realmente estiver
grávida, coisa que eu tenho absoluta certeza que
não está, a mesma certeza que eu sei que gosto de
homem, eu estou determinada a pedir bandeira
branca. De verdade, sem provocações e bem sério.
De mulher para mulher. De ex para atual, pois isso
está claramente me afetando. Ela vai ter que aceitar
que agora é a ex. Eu aceito que eles têm um
passado e isso não vai mudar, que eu jamais serei
aquelas atuais que não aceitam o passado e muito
menos filhos do namorado, mas ela tem que saber
seu lugar, pois, claramente, desse jeito não vai dar.
17
NATASHA

Eu realmente não sei como vai ser esse


encontro, pois o último não foi muito bom. Deus me
perdoe por pensar assim, pensar em Gustavo como
objeto, mas se eu desistir agora, coisa que eu não
quero, ela ganha. Não quero pensar assim, mas isso
mexe com meu ego. Mas sabe quando você olha
para uma pessoa e está escrito na testa dela:
''dissimulada''? Eu realmente não descarto que ela
está fazendo ele comer na mão dela, todos os meus
pensamentos levam para o mesmo resultado.
Entramos no bairro onde Manuela mora. Que
é um bairro bom, porém inferior ao que Gustavo
mora hoje. Sequer tem porteiro ou coisa do tipo,
apesar de ser um bairro residencial. Do outro lado da
rua vejo um carro estranhamente conhecido, mas
não sei dizer por que e de onde é. Nossa, que
estranha essa sensação!
Gustavo bate na porta dela umas três vezes
e não obtém resposta. O exame continua aqui no
meu bolso, porque planejo jogar na cara dela se for
tudo como está na minha cabeça. Alguns segundos
depois, ela aparece meio agitada e para mim ela
está muito bem, para quem não põe um pé para fora
de casa. Okay, vou parar de julgar, pois não quero
ser injusta.
Sua cara é de espanto quando me vê, eu
percebo que ela está um pouco apreensiva ao
encarar nós dois. Faço-me de sonsa para não
acabar em briga.
— Achei que viria mais tarde. — Sua voz
some no meio do caminho, mas ela se recompõe.
— Preferi vir agora. Podemos entrar? —
Gustavo pergunta, num tom sério.
Ela nos dá passagem. E eu entro no ninho
da cobra, mas como não tenho medo, sento no seu
sofá e ainda cruzo as pernas. Olho para Gustavo
incentivando-o a falar de uma vez.
— Viemos te buscar, achei que deveria
passar para um especialista, fazer um exame mais
detalhado na clínica que minha mãe vai — Gustavo
mente na cara dura. Olha ele de bonitinho me dando
ouvidos!
Não, eu juro que não quero implicar, mas a
biscate ficou branca na hora! Abriu e fechou a boca
diversas vezes. A encaro, plena, com Gustavo do
meu lado.
— Por que eu tenho que fazer esse teste? —
ela sequer disfarça seu desalinho, me encarando
enfurecida. — É ela quem tá duvidando de mim, não
é?
— Quem não deve não teme, Manu — a
chamo pelo apelido porque o deboche é essencial.
— Eu estou aqui para ajudar apenas. A gravidez é
de risco, não é? Eu te vi fumando no shopping,
prezamos pela saúde do bebê. Não concorda que
Gustavo, sendo o pai, não tem o direito de querer
cuidar do filho?
Respondo calmamente. Ela ensaia um
desmaio, mas eu levanto rapidamente, segurando-a
pelo pulso. Pera aí, aquilo ali no pescoço dela é um
roxo de chupão? De duas uma, ou Gustavo mente
para mim quando diz que vem conversar com ela ou
ela está sim mentindo dizendo que está mal. Se ela
tem gravidez de risco e sangra com um espirro,
como é que tem alvará para transar? Acho que me
perdi em algo.
— Não faça joguinhos — advirto.
— Gustavo! Vai deixá-la fazer isso comigo?
Você também acha que eu estou mentindo para
você?
— É apenas um exame, Manuela. Mais
detalhado. Você só me apresentou um teste, e você
sangra todo dia praticamente e não quer ir para um
hospital. Eu quero saber como anda, eu tenho esse
direito, não acha?
— Gu... Gugu... — Engole a seco, sem saber
que desculpa dar. — Não sei se minha ginecologista
recomenda.
— Grávidas são atendidas por obstetras, e
pelo papel do seu exame, sua ginecologista não é
obstetra, eu pesquisei na internet, Manuela. Não dá
para mentir mais. Aceita que você foi descoberta!
Sai dessa história com o resto de dignidade que lhe
resta! — digo pausadamente, porque fiz meu dever
de casa direitinho.
— Eu estou grávida sim, você querendo ou
não! Gustavo será pai do meu filho! Eu quem lhe
darei seu primeiro herdeiro!
É sério que ela disse isso? Tento ficar
imparcial quanto a isso, mas é impossível. Balanço
as pernas, já incomodada com tudo isso.
— Ah, é, e desde quando xixi acumula
formiga por dias? — Pego o teste do meu bolso. —
Tá achando que aqui tem tapada, sua pistoleira? Xixi
não acumula formiga, mas sabe o que acumula e faz
o resultado dar positivo? Refrigerante! Acha que
iríamos cair nisso? Pelo amor de Deus! Foi uma
falsidade grosseira!
Coloco o teste na cara dela e ela arregala os
olhos, visivelmente desconcertada.
— Como é? — Gustavo pergunta perplexo.
— Todo mundo conhece essa, Gustavo. Não
é possível que não conheça. Mas vai, Manuela,
assume, vai! Ou prefere que façamos uma visita à
sua ginecologista para saírem ambas algemadas do
consultório, porque falsificar exame é crime, caso
sua mau-caratismo e a dela não saibam.
— Minha ginecologista não tem nada a ver
com isso, eu falsifiquei sozinha — assume e eu
respiro aliviada, por finalmente confirmar minhas
suspeitas. Ela arregala os olhos ao perceber que
confessou sob pressão. Tapada!
Gustavo do nada começa a rir e passar a
mão na barba várias vezes. Puro nervoso, eu sei.
— Incrível como eu sempre acabo
acreditando na sua malandragem. — Ele ri mais uma
vez com desgosto. — Tentando me dar outro golpe,
Manuela? Sério mesmo? — Gustavo berra.
— Eu... Eu posso explicar — ela tenta achar
uma saída.
— Não tem o que explicar, porra! — Gustavo
grita e eu seguro o braço dele, tentando acalmá-lo.
— Manuela. Para de tentar manipular. Não
tem para onde correr, você não vai se safar dessa.
Seu pescoço está aí roxo e não é porque você caiu
ou tentou se machucar. Apenas pare — aviso,
tentando de alguma forma fazer Gustavo se acalmar.
— Todo mundo sabe que você está com ele
por dinheiro, sua sonsa. Não somos diferentes, afinal
de contas, a única diferença é que ele diminuiu as
exigências — ela rebate, colocando as asinhas para
fora.
Como é?
— Não confunda Natasha com você. Seu
joguinho acabou, Manuela. Eu até comecei a ter
empatia de novo. Mas você não merece mais nada
que venha de mim. Fez minha vida um inferno pela
segunda vez, e tudo porque eu a deixei. Achei que
você realmente estava tentando ser uma pessoa
melhor — Gustavo esbraveja e me defende. — E se
prepare, que o que é seu está guardado.
Antes mesmo de ela fazer a cena de
injustiçada, e meu Deus, acredite se quiser, Fábio
aparece de toalha, molhado, mostrando que acabou
de sair do banho. Pelo jeito, ele preferiu vir comer
piranha no horário de almoço dele. Sabia que o carro
era conhecido!
— Te esperei no banho e você não vei... —
Ele para de falar e fica tão branco quanto ela.
— E a coisa só melhora! — Bato palma para
não surtar. — Acho que descobrimos quem é o pai
da criança! É sério isso mesmo?
— Você achou que ia correr atrás de você
sempre? Cansei de você me fazer de cachorrinho!
— ele rebate e eu rio. — Pelo jeito é verdade que os
dois estão juntinhos...
— Eu nunca quis que você corresse atrás de
mim, você mesmo se iludiu!
— Que porra é essa, Manuela?! — Gustavo,
irritadíssimo, esbraveja.
— Pois é, esqueci que piranha como você
gosta de dinheiro — ele me ofende. Ah, esse filho da
puta não falou isso!
Antes de eu avançar nele, Gustavo age mais
rápido, socando seu rosto, e confesso que esse
murrão de ódio doeu em mim só de ver. Gustavo
descontou na cara dele a raiva de Manuela. Guto o
soca de novo, sem esperar ele assimilar o primeiro.
Fico petrificada com tudo aquilo. E depois dá mais
outro, derrubando Fábio na mesinha de centro, que
fica caído com a boca sangrando. Pega fogo,
cabaré!
— Tive vontade de fazer isso desde que vi
você rondando Natasha, imbecil — Gustavo diz
ofegante, e eu, de braços cruzados, assisto o circo
pegar fogo.
— Quer saber, Gustavo? — Manuela chama
atenção para si. — É muito fácil te manipular, você é
facilmente iludido com a palavra filho. E só inventei
por causa do seu dinheiro e para viver bem, já que
meu pai parou de me bancar!
— Eu posso te ver na lama pedindo ajuda e
não vou te ajudar mais. Você é digna de pena. Acho
bom você não aparecer mais no meu caminho. E,
senhor Fábio, você acaba de ser desligado da
Prisma e por justa causa, e não esqueça que a
mulher que você tanto quer, está comigo e nunca vai
tê-la — Gustavo, totalmente cínico, escorre as
palavras em puro deboche.
Esse homem é o meu par perfeito, não é
possível!
Além de gostoso, é debochado. Estico os
lábios num sorriso de satisfação. Com tudo
esclarecido, retiro os quase dois metros de homem
puto, que se chama Gustavo, para fora.
— Quer que eu dirija? — pergunto
preocupada.
— Não precisa — ele bufa impaciente.
Fizemos o caminho em silêncio até o
apartamento dele, não tem clima para trabalhar e,
bom, não tem como eu ser demitida. Estou
estressada, mas aliviada por ele ter descoberto logo.
Minhas suspeitas nunca são em vão. Meus sentidos
nunca me alertam à toa. Mas estou chateada por ele
ter duvidado de mim. Isso poderia ter sido evitado.
— Quer conversar?
— Não — ele resmunga. — Tô bem.
— Tá.
Continuo quieta do seu lado enquanto ele
dirige direto para sua casa. Mando apenas uma
mensagem rápida de desculpas para Alexia, porque
não voltei do almoço.
No seu apartamento, Zeus me saúda com
alegria, mas não estou com cabeça para brincar com
ele, apenas faço um carinho até que a agitação
passe e Gustavo passa pro quarto em passos duros.
Suspiro.
Vou atrás e o encontro arrancando a roupa
social. Sua cara de brucutu é um sinal claro de que
está impaciente.
— É errado, mesmo eu querendo ser pai,
ficar aliviado em saber que ela não está grávida? —
ele resmunga.
— Não. Você tem todo direito de se sentir
assim.
— E você está assim curta e grossa por
quê?
— Jura que não sabe? — exaspero,
amarrando meus cabelos. — Olha, vou para casa.
— Por quê?
— Você não está bem e nem eu. A gente vai
acabar brigando de novo. Qualquer coisa você me
liga — aviso.
— Tá — ele concorda.
É melhor eu ir agora mesmo. Do jeito que
Gustavo está, capaz de a gente acabar brigando feio
ou terminando logo de vez. Volto para casa de táxi,
pensando nessa merda toda. Pelo menos com isso
acho que finalmente as coisas vão se encaixar.
Como Liz está trabalhando e ainda está
cedo, decido ser útil para ocupar a mente e limpo a
sujeira acumulada da casa, até roupa eu lavo.
Lizandra chegou e eu estava terminando o jantar.
Ela obviamente estranha e com motivos.
— O que aconteceu? — Seus olhos
arregalados confusos olham ao redor da casa limpa.
— Digamos que a criança se chama Coca-
Cola. E se eu continuasse lá na casa de Gustavo a
gente ia acabar brigando de novo. — Dou um beijo
na testa dela.
— Eita caralho! — ela exclama perplexa.
Conto todos os detalhes dessa confusão,
inclusive a cara de pau de Manuela de ter mentido
pela segunda vez e, claro, o rolê de Fábio. Ela
escuta tudo perplexa.
Sentadas para jantar, meu celular vibra no
meu colo. Desbloqueio para ver que a notificação é
uma mensagem de Gustavo, que não se pronunciou
desde que eu saí da casa dele.
Abro para ler.
GUSTOSO:
“Sei que está me odiando, mas estou sentindo sua
falta já. Desculpas por não acreditar no que você
falou. Queria dormir com você”
Analiso a mensagem e escrevo umas duas
vezes antes de enviar:
“Tudo bem, sei que você tinha suas razões,
apesar de tudo. Também queria dormir com você”
GUSTOSO:
“Então abre a porta, estou aqui”

Releio umas quatro vezes antes de assimilar


e dar um comando ao meu corpo para levantar. Ele
está falando sério?
— Gustavo está aqui na porta — anuncio
para Liz, que enruga a testa, levantando-se.
Corro para a porta e dou de cara com
Gustavo e Zeus na coleira, com cara de indeciso.
Não sei mais quem tem cara de cachorro sofrido.
— Não iria conseguir dormir brigado com
você. Fiz mal em vir? — ele questiona incerto.
— Entra. Iria me chatear se não viesse.
Dou um meio sorriso. Nós dois somos muitos
temperamentais e imprevisíveis, não sei se isso é
bom ou ruim, afinal de contas. Dou passagem para
ele e Zeus entra farejando a casa. Chegamos à
cozinha, onde Liz está colocando mais um prato na
mesa. Ele dá com a mão e ela retribui com um
sorriso.
— Oi, sou Liz.
— Gustavo — eles se cumprimentam
amigavelmente, já que a última vez que ele esteve
aqui, e mesmo eu o apresentando, ele estava
atordoado demais para ser amigável.
Jantamos juntos, e finalmente minha irmã
conheceu meu namorado, depois de me ouvir
falando sobre ele apenas. Depois do jantar, o arrasto
para meu quarto, largando Liz assistindo na sala,
porque percebi ele ainda tenso.
— Desculpa por não acreditar no que você
falava, é que eu achei que ela não brincaria com
isso. Preciso ficar com você, por favor. Eu estou
chateado.
Aceno concordando e deito na cama, do lado
dele. Ele tira a bermuda, ficando só de cueca para o
meu deleite, vendo o deslumbre do dono daquela
bela bunda. Até sem querer ele é totalmente sexy.
Apago as luzes e o abraço.
— Como você está de verdade?
— Aliviado, mas puto. Fui feito de trouxa
mesmo com você me avisando. Mas essa foi a
última vez.
— Hum.
— Desculpa por não acreditar em você.
— Tudo bem. Já acabou — o consolo. —
Mas, por favor, acredite em mim quando eu falar
alguma coisa. Eu não me importo de pedir desculpas
quando estou errada, mas não gosto de ignorar
meus sentidos.
Concorda. Ele beija meu pescoço me
arrepiando, cheio de intenções. Mas não demora
para estar me beijando molhado e gostoso. Seguro
na sua nuca e coloco meus dedos por dentro do seu
cabelo; abraço seu tronco com minhas pernas, o
fazendo encostar mais em mim. Principalmente lá
embaixo.
Além de chupar meus lábios, Gustavo
mordisca e acaricia com a língua. Gemo apertando
minha mão no seu cabelo, e ele intensifica a
pressão. O beijo está gostoso, já está me deixando
sem fôlego, mas não quero interromper.
Ele vira, me colocando em cima dele e puxa
minha camisa, deixando meus seios livres e à
mostra. Sabe aquele beijo com o corpo todo? Que
amolece e arrepia tudo? Trocamos de posição de
novo, me deixando por baixo, e me agarra ofegante
e mais fogoso. O beijo é rápido, voraz, explícito,
impulsivo, quente e me leva por inteira.
Algo me diz que essa noite será boa, muito
boa!

O dia não poderia ter começado melhor. Ter


o corpão de Gustavo atrás de mim sem cueca não é
coisa de se ter todos os dias. Esse devasso me
quebra todinha.
— Tem certeza que quer fazer isso? —
indaga, colocando cueca, para minha infelicidade.
— Está com medo, Gugu? — debocho,
ainda esparramada na cama, sem vontade alguma
de levantar.
Parece que Manuela sugou todas as minhas
energias e tenho vontade de dormir por uma semana
inteira para pôr o sono em dia.
— Vai brincando. — Ele ri, agora subindo a
bermuda e ajeitando o pau na roupa. Mordisco os
lábios ao ver a cena.
Para vocês que estão curiosas, eu decidi
que hoje seria um ótimo dia para chegar com
Gustavo lá na empresa. Quero que não seja mais
um segredo. Ninguém tem nada a ver com nosso
relacionamento. Foda-se o que eles irão achar. Isso
também elimina possíveis pretendentes.
É estranho estar namorando, em breve,
publicamente. Só em pensar nisso bate a euforia,
ou, como ele diz: tesão. Estou tão feliz que esse
pesadelo acabou!
Coloco um vestido maravilhoso, já que em
quase todas as minhas camisas sociais eu estava
me sentindo apertada ou sufocada, pois hoje em
especial eu tenho que estar ainda mais bonita que o
normal.
Desejo bom dia para Lizandra que, como
sempre, já está na cozinha, mas, diferente da nossa
rotina, está sentada na cadeira, com cara contorcida
de dor, me preocupando.
— Que foi, irmã?
— Tem alguma coisa de chá aí, ou algum
remédio de cólica? Não estou me sentindo muito
bem, estou inchada e dolorida. — Faz cara de dor.
— Tem ambos. E está inchada mesmo — a
provoco para ver se consegue rir.
Lizandra terminou com o namorado da
revista recentemente, infelizmente não durou muito.
Ela não quis me dizer o motivo e não forcei. Mas
garantiu que estava bem. Achei, por ela não vir
chorar no meu colo, que ele não foi muita coisa e ela
o superou ou está fingindo bem.
— Você também. Esse vestido não cabe
mais em você como antes. Cadê Gustavo?
Entrego-lhe o remédio junto com o dedo do
meio, a fazendo rir novamente.
— Invejosa! Já foi, precisou ir para não se
atrasar.
Chego ao trabalho e o encontro gostoso
como sempre no hall do térreo, praticamente vazio.
Amo ele com essas roupas sociais, me dá uma
vontade absurda de dar para ela até esfolar. Sorrio,
ele retribui e eu lhe dou um beijo rápido na sua boca,
com a euforia da ansiedade presente no meu corpo.
— Bom dia. Tá bonita hoje, mais corada.
— É porque hoje tive algumas alterações
pela manhã, sabe? Não conte para ninguém, mas eu
transei antes de vir. — Entro no seu jogo.
— Hum, sortudo ele, então. Mas foi bom?
— Foi uma delícia, gostei bastante e quis
repetir a dose. Ele é muito bom no que faz. Pena
que estava no horário de trabalho e não podia me
atrasar, para meu chefe não brigar.
— Bom saber. Eu, como seu chefe, ordeno
que suba no horário de almoço. — Ele sorri para
mim e eu nego com a cabeça, rindo.
— Tudo bem, chefe.
Entrelaço nossas mãos e seguimos para o
elevador; antes da porta fechar vejo as
recepcionistas e as pessoas perdidas do setor
olhando curiosas para a gente. Guto me abraça, me
colocando na sua frente, beijando o topo da minha
cabeça.
— Dormiu bem lá em casa? — indago.
— Fora você roçando no meu pau toda hora,
sim. Estou satisfeito que você finalmente vai me
assumir, estava me sentindo seu segredinho sujo. —
Usa o tom confidencial debochado e eu gargalho.
— Adoro um segredinho sujo.
— Vamos lá para minha casa hoje, hum? Um
jantarzinho, um sexo gostoso...
— Quero.
O elevador apita no meu andar e eu suspiro,
entrelaçando nossas mãos, e sinto daqui Gustavo
transpirar de pura satisfação.
Entramos de mãos dadas e dou de cara com
alguns colegas. Continuo impassível e ajo
normalmente, sorrindo para quem eu geralmente
converso. Algumas pessoas me olham com as
sobrancelhas arqueadas e outras fingem que não
estão nos olhando, mas observam discretamente.
Tenho vontade de gargalhar, não consigo disfarçar o
sorriso, pois se curva sozinho, e não consigo contê-
lo quando vejo Amanda incrédula olhando para nós
dois.
Vejo Teodoro com a cara mais venenosa e
fofoqueira possível, olhando a cena abismado, com
a língua entre os dentes. Alexia também está se
divertindo com a cena, e eu prendo meu sorriso.
Vadia!
Ele me deixa na entrada da minha sala e sorri,
ficando de frente para mim. Mas segura na minha
nuca, me dando um beijo safado e gostoso. No final
do beijo ele repuxa os lábios, segurando no meu
queixo.
— No almoço, vamos sair para um restaurante,
como você merece.
— Estarei faminta. — Faço um contato visual
intenso.
Ele me dá mais um selinho em despedida e sai
em direção ao elevador com as mãos no bolso, que
eu sei que ele quer disfarçar a ereção, sem se
importar com as pessoas olhando-o.
Sou observada por algumas pessoas, mas ajo
normalmente, ajeitando meus cabelos e dando as
costas, para entrar na sala.
— Você é pequenina desse jeito, como é que
aguenta aquele homem do tamanho todo que é? —
Téo e seu tom de fofoca leva muita maldade,
simulando o tamanho grande do pau com as mãos.
— Para de ser escroto, gazela. — Reviro os
olhos, mas acabo gargalhando junto com ele e
Alexia.
— O pau dele marca na calça que eu reparei, é
um escândalo. Se dormindo é aquilo tudo... Alexia
enlaçou aquele gostoso da Volúpia, dá todo dia que
eu sei, e você catou o Maldonado da jeba enorme —
Téo comenta, fofoqueiro que ele é.
Alexia olha séria para ele, de braços cruzados,
mas em seguida põe o indicador na testa e o polegar
na bochecha, com a cara mais incrédula do mundo,
prendendo o riso. Ela sabe que ele não mentiu. Dou
de ombro também, não me importando, mas
gargalho.
— Chega, Teodoro — Alexia freia ele.
— Que vida injusta. Mas ouvi falar que em breve
tem outro Maldonado vindo e é gostoso demais. Ô
Família abençoada. E será meu!
— Para de se iludir — digo para ele.
— Quer apostar? — provoca.
18
NATASHA
— Fiquei pensando em fazer isso o dia todo.
Gustavo sussurra num tom de voz safado, me
agarrando.
— Mate sua vontade.
Colo nossos lábios num beijo quente, tendo seu
corpo cobrindo o meu, me imprensando contra a
parede gelada do elevador do seu prédio.
Que beijo! Gustavo e eu somos fogo e gasolina
juntos, não conseguimos ficar sem estar com a mão
um no outro. Nem precisa ele me beijar para a
chama acender.
— Como se sente sabendo que vai poder me
beijar na frente de todos? — Gustavo questiona, me
abraçando mais forte.
— Vamos continuar a mesma coisa. — O beijo
em selinhos.
— Não mesmo.
O elevador apita e saímos com ele me
agarrando por trás, beijando meu pescoço. Eu entro
primeiro no apartamento e recebo um tapa na
bunda. Sou agarrada novamente e eu rio pelo seu
fogo. Devasso cretino!
Ele vem para cima de mim como um animal, me
mantendo firme nos seus braços, agarrando meus
cabelos com a mão. O jeito que ele me olha é feroz,
é nítido seu tesão. Seus lábios quentes tocaram o
meu e suas mãos firmam mais nos meus cabelos.
Eu entrelaço meus dedos em seus cabelos negros,
querendo o máximo desse homem. Ele desce a boca
e me dá um selinho. Faz isso umas três vezes, me
atiçando antes de me devorar.
Desejo puro, cru e sincero. O beijo que ele me
dá é voraz, intenso e muito gostoso. Esse homem
tem o beijo mais saboroso que provei. Um jeitinho
particular de ser devasso e carinhoso ao mesmo
tempo, que me quebra todinha.
Gustavo me puxa para seu colo e entrelaço
minhas pernas na sua cintura até que ele chegue ao
sofá e eu fico no seu colo. Agarro sua nuca,
gemendo baixinho, sentindo um rio descer entre as
pernas.
Ataco sua boca com um tesão que faz meu
corpo tremer. Rebolo despretensiosamente no seu
colo, sentindo seu pau endurecer contra minha
calcinha já encharcada.
Gustavo passeia as mãos pelas minhas pernas,
apertando minhas coxas com vontade, chupando
minha clavícula. Sua barba me pinica, me dando
comichões bons pelo corpo inteiro.
Começo a desabotoar sua camisa, mas paro
quando escuto uma exclamação surpresa. Congelo
no lugar sem entender muita coisa e viro o rosto
para trás, vendo duas mulheres diferentes lado a
lado com cara de incrédulas, tanto quanto eu.
— Mãe! Magda! — Gustavo arregala os olhos e
eu viro para trás, ainda sentada no seu colo.
Ótimo dia para ser pega no flagra e conhecer
alguém da família do namorado. E pior, a sogra!
— O que estão fazendo aqui? — Gustavo
resmunga.
— Ahnn. Oi? — Sentindo meu rosto esquentar
de vergonha, sorrio amarelo.
Percebo nossa posição e pulo do seu colo, e
Gustavo pega uma almofada para esconder a
ereção. Ajeito os cabelos, concerto a roupa e cruzo
as pernas para ver se consigo dar uma boa primeira
impressão, ou segunda, depois do que aconteceu.
Agora eu sei como Liz se sentiu quando a peguei
com Alejandro agarrados lá em casa.
— Oi, minha linda, você deve ser Natasha. — A
mulher, que eu presumo ser a mãe de Gustavo, age
como se nada tivesse acontecido.
— Sou eu. — Levanto do sofá para
cumprimentá-la, morta de vergonha.
— Meu filhote me falou de você algumas vezes.
Sou Regina e essa é Magda, que me ajudou a criar
ele. — Ela sorri docemente para mim.
— Prazer em conhecer a senhora. — Beijo seu
rosto e ela retribui, depois passo para cumprimentar
Magda.
— Por que estão aqui mesmo? — Gustavo
questiona já se levantando.
— Isso é jeito de falar, moleque? — ela reclama
e dou um pequeno sorrisinho.
— Eu vim trazer comida e eles decidiram vir
juntos para ver você — Magda, uma senhora que
não é tão senhora, fala.
— Deixem no balcão. Cadê meu pai? —
Gustavo coloca as mãos na cintura. Ele está bravo
pela interrupção.
— Já deveria estar aqui. Foi checar se o carro
estava trancado mesmo.
Gustavo acena e eu pego a sacola da mão de
Magda para colocar na geladeira e sair um pouco de
lá. Santo Cristo! Onde fui me meter?
— Se escondendo, Nat? — Gustavo aparece
logo atrás. — Não precisa ficar envergonhada,
minha mãe não vai pensar nada absurdo de você.
— Mas que jeito de conhecer a sogra, né?
Ele gargalha e eu reviro os olhos. Recomposta,
voltamos para a sala para ver o pai de Gustavo
chegando. Eles são bem parecidos, olha, se Guto
envelhecer assim...
— Natasha, é você? — ele questiona sorrindo
assim que me vê.
— É, sou eu. — Sorrio de volta.
O cumprimento na pontinha do pé. Ele é tão alto
quando o filho.
— Meu filho falou de você. Muito!
Sorrio envergonhada olhando para Gustavo,
arqueando as sobrancelhas, e ele faz cara de
paisagem, com uma das mãos na nuca.
— E aí? Quando ia levar ela para a gente
conhecer?
— Em breve. — Ele dá de ombros.
— Queria jantar com vocês lá em casa —
Regina convida abraçando o marido, e ela fica tão
miudinha quanto eu com Guto.
— A gente vai — confirmo nossa presença.
— Maravilha! — Ela sorri.
Eles saíram de lá depois de conversamos por
quase meia hora. Contei na pequena entrevista que
fizeram que tenho mais duas irmãs, pai e mãe. O
jantar ficou marcado para a noite que eles farão
aniversário de casamento.
— Eu ainda estou envergonhada. — Coloco a
mão no rosto, que está formigando, enquanto ele
fecha a porta, e dessa vez a tranca.
Gustavo joga a cabeça para trás, gargalhando e
mostrando seus dentes branquinhos. Por um
momento paro para admirá-lo. Seus olhos cintilantes
logo me encaram e eu sorrio, lhe dando um selinho,
e então voltamos de onde paramos.
Nos separamos bêbados de tesão e sem ar.
— Agora não sei com que roupa eu vou para
esse jantar.
— Qualquer roupa que você colocar vai ficar
gostosa. — Ele me puxa para seu colo de novo, só
que dessa vez de lado. — Estou a fim de fazer um
programa com você. Um final de semana para a
gente namorar de verdade.
— O que está pensando? — indago curiosa,
vendo-o pensativo. Passo as mãos nos seus cabelos
aparados. Delicioso esse homem!
— Um passeio no iate, esse final de semana, em
alto-mar, só nós dois. Tem ninguém usando —
propõe.
— Você tem um iate? — não escondo meu
espanto. — Quão rico você é, Gustavo?
— É da família, na verdade. Todo mundo usa,
todo mundo custeia. O suficiente para te dar o que
quiser.
Sua pose de devasso e egocêntrico me faz
arquear as sobrancelhas. Esse homem saiu de
onde, gente?
— Ah, Gustavo... Você está ferrado! — Ele
gargalha alto.
— Vamos? Podemos sair pela manhã, depois
que for abastecido de comida e combustível.
Atravessamos o mar e podemos ficar num resort do
outro lado, caso não queira dormir lá dentro, e curtir
uma festinha em terra firme.
— Vamos — concordo animada.
— Vou mandar arrumarem então. Nove horas a
saída?
Assinto. Ele pega o celular jogado no sofá e
rapidamente põe na orelha. Enquanto Gustavo fala
ao telefone, vou dando pequenas mordidas no seu
ombro e o arranhando de leve, vendo-o se arrepiar.
Ele não demora a finalizar a ligação, me dominando
novamente. Gostoso da porra!
— Eu ainda quero atenção. — Lambe meus
lábios e eu sorrio enlaçando-o pela nuca.
Assovio quando vejo o iate luxuoso com o nome
Maldonado Family marcando a identificação da
embarcação.
— Gostou? — Gustavo indaga, com uma das
mãos no bolso.
— Eu com um desses, meu filho, estaria um
nojo!
Ele gargalha e eu continuo deslumbrada.
— Venha, vamos subir e aproveitar o passeio.
O devasso estende a mão, cavalheiro, quando
eu passo do deck, para entrar na embarcação
luxuosíssima de um andar e a pequena cobertura
para tomar sol. Ele entra logo em seguida. E me
apresenta cada cômodo, a cozinha, banheiro e o
quarto, tudo muito luxuoso.
O iate é deslumbrante e tem até uma piscina na
ponta, para curtirmos de frente para o mar. O chão é
de madeira clara, os estofados brancos possuem
detalhes de couro mais escuro que o chão. Tudo
bem ornamentado. Madeira, couro, aço e tecidos
finos também estão presentes em toda a
decoração. Mescla tons claros e escuros, que dão
aos ambientes um ar de sofisticação, exalando
riqueza!
Passamos pelo corredor entre as grades de
proteção até a ponta. Sinto algumas vertigens, como
se fosse cair, e me apoio fortemente, disfarçando
antes que despenque no chão.
— Posso pedir para dar partida? — pergunta
Gustavo.
— Claro! Mas não ia ser só nós dois?
— E vai ser. O condutor vai ficar na cabine sem
atrapalhar. Vai atracar, vamos ficar sozinhos e ele
volta para levar a gente de volta. Eu até tenho
habilitação marítima, mas quero ter minha atenção
toda para você.
Ele sorri de um jeito charmoso, me dando uma
piscadinha. Ai, minha calcinha!
Poucos minutos depois, estávamos seguindo
para o litoral. Quando chegamos no meio do
caminho, o iate parou para que curtíssemos o alto-
mar.
Curtirmos o sol com bebidas e um clima
gostoso, só nós dois na piscina da embarcação.
Muito chique! E Gustavo é um pecado com apenas
um short, o volume quando ele fica sentado
despojado é de tirar o fôlego. A maresia é muito
gostosa. Por que não nasci rica também, e sim na
classe do proletariado? Meus olhos azuis não
mereciam isso!
— Está me secando, Natasha? — ele pergunta,
de óculos escuros e sorriso largo, me fitando cheio
de malícia. — Vou entender esse olhar guloso como
sinais, hein?
— Por que não? — Abaixo meus óculos de sol
apenas para piscar para ele. — Nunca transei em
alto-mar.
Arqueio uma das sobrancelhas, sentindo o
arrepio nas minhas costas de pura ansiedade e um
tesão gostoso de estar provocando-o. Ele sorri me
fazendo promessas e mal posso esperar que as
cumpra.
Aproveitamos a vista com Gustavo me
abraçando por trás e eu encostando minha cabeça
no seu peito, até chegarmos do outro lado para
almoçar em um restaurante à beira-mar.
Com chinelo e saída de praia, saio com Gustavo
para almoçar, apesar de eu incrivelmente não estar
com fome e com o estômago levemente embrulhado.
Mas, ainda assim, sentamos num restaurante com a
vista incrível para onde estávamos.
Pedi água e não quis beber nada alcóolico.
Gustavo me acompanhou.
— Que foi que está com essa expressão? — Ele
pega minha mão por cima da mesa.
— Nada, sei lá — suspiro, prendendo meus
cabelos novamente.
Almoçamos num bom clima, mas eu já estava
toda fria, sem clima algum para curtir o resto do
passeio, e voltamos para o Iate depois de uma volta
nas lojas por perto. O passeio tinha tudo para estar
bom, mas eu não estou bem, não mais, e nem sei o
motivo dessa mudança de humor estranha.
Sentamos na espreguiçadeira de casal para
descansar do almoço e eu me sinto muito enjoada e
com o estômago embrulhando, e eu sequer sou de
ficar enjoada com besteiras, e o iate quase que não
balança por estarmos aqui em cima.
— Guto, o balanço do mar está me enjoando. —
Coloco a língua para fora com o gosto amargo na
boca. Qual o meu problema hoje? Nunca fui de
enjoar no mar!
— Quer voltar para beira-mar? Será que foi a
comida?
— Não, não sei. Eu estava assim antes de irmos
comer.
Sem controlar, vomito e contorço meu rosto,
mostrando meu nojo com isso logo em seguida. Eca!
Gustavo levemente se desespera comigo nada
bem e me carrega até a parte que não tem sol, me
trazendo água, e eu bebo, sentindo de repente meus
músculos fracos. Que porra está acontecendo?
— Vou ligar para o condutor para a gente voltar
para casa. Acha que aguenta até lá?
— Aham, só me deixar quietinha.
Fecho os olhos, tentando acalmar a ebulição no
qual meu corpo se encontra. Cheguei à decadência
em alto-mar, em um iate. Auge!
Gustavo volta mais preocupado quando termina
a ligação e me carrega para que eu deite em uma
das namoradeiras acolchoadas das laterais, mas
antes me dá água de coco. Não quis descer para o
quarto porque lá o balanço é maior do que aqui em
cima. Sinto o carinho nos meus cabelos e logo
estávamos seguindo para o outro lado, onde
moramos. Sou muito azarada! Passar mal justo
quando tinha um final de semana marítimo com
Gustavo, e no iate! Eu não estou conformada!
Percebo que realmente caí no sono quando ele
me acorda, avisando que vamos atracar. Ele até quis
me levar para um hospital, mas pedi para ir para
casa, porque deveria ser a maresia e o balanço que
estavam me enjoando, e ele, mesmo um pouco
contrariado e preocupado, acatou meu pedido.
Chego ao seu apartamento um pouco melhor, mas
ainda assim tomo uma ducha e deito, com Gustavo
me abraçando por trás. Encosto minha cabeça no
seu peito, me permitindo descansar por estar
cansada de não sei o quê. O cheiro da loção pós-
banho dele é um pecado.
Naquela mesma noite, acordo renovada, com
Gustavo preocupado comigo, querendo saber se
estou melhor. Tão lindo preocupado!
— Desculpa atrapalhar o momento — peço,
alisando sua barba.
— Não se preocupa. Teremos outras
oportunidades. — Sorri.
Concordo, beijando seus lábios rapidamente e
muito grata. Ele deita por cima de mim, me beijando
de forma casta, e eu aproveito aquele carinho
preguiçoso.
Aliso seus cabelos enquanto nos encaramos a
ponto de sentir um arrepio na espinha. Ele retribui o
afeto, todo protetor. Sorrio pelo seu cuidado.
Num clima totalmente gostoso, levantamos para
jantar juntos e enquanto cozinhava, percebia
Gustavo me observando de longe, todo cuidadoso.
No jantar, ele pegou o vinho que eu estava levando
para a mesa e eu o olho sem entender.
— Bebe suco comigo, que é sem álcool — pede.
— Não estou dirigindo, estamos em casa —
argumento.
— Me faz companhia, para eu não beber
sozinho.
— Eu queria vinho. — Faço biquinho.
— Não, pequena. — Ele o coloca de volta na
geladeira.
— Mas é chato, hein? — resmungo com humor.
Ele sorri para mim e eu acabo sorrindo também.
O jantarzinho só nosso está tão gostoso, mesmo que
seja com suco, infelizmente. Deitamos juntos na sua
cama, de barriga cheia, e eu morta de sono
novamente.
— Nat, sabia que você faz meu coração bater
mais forte? E não senti isso com ninguém, acho que
esse é o tal amor. Acho que te amo. Acho não, tenho
certeza.
Guto solta uma coisa dessas, numa entonação
convicta, me olhando tão expressivo que eu fico sem
ar!
— Sério? — Sinto as pernas tremerem e milhões
de coisas na minha barriga agitarem novamente.
— Sim. Queria que você morasse comigo —
pede.
— Ainda temos pouco tempo juntos... —
argumento, quase sem voz, confusa demais.
— O tempo vale o que a gente faz com ele.
— Eu não sei se quero dar esse passo agora.
Gosto de você, mas... — Engulo chateada o ''eu não
sei se te amo'' na garganta e ele acena, contido.
— Não quero te apressar, mas pensa com
carinho, por favor. Não tenho dúvida alguma dos
meus sentimentos por você. — Ele beija o topo da
minha cabeça e eu me sinto mal por não ter
conseguido retribuir de imediato.
Amar? Eu gosto pra caramba dele, mas não sei
definir se é... amor. Eu não sei nem o que é amar
uma pessoa que não seja minha família ou meus
amigos muito próximos. Me pegou totalmente
desprevenida. Eu me sinto mais tensa que qualquer
outra coisa. Como assim ele me ama? É irreal.

GUSTAVO
— Guga, acorda.
Escuto a voz baixa de Natasha me chamando, e
eu volto para a realidade no escuro do meu quarto.
Que horas são?
— Que foi? Está se sentindo bem? — resmungo
preocupado.
Acabo levantando com ela me puxando para a
sala. Mesmo sem entender muita coisa, a sigo para
saber onde ela está indo e acabo me
surpreendendo. O local está todo montado. Tem
almofadas em cima do tapete perto do sofá, o
pequeno abajur que eu tenho no escritório está
aceso ali perto, deixando o local romântico.
— Para que tudo isso?
— Vem aqui. — Ela continua a me arrastar para
cima do tapete e eu vou. Sento e ela se senta de
frente para mim, em cima das próprias pernas.
— Queria dizer que, mesmo morrendo de medo
de admitir... — Meu coração anseia em expectativa,
por mais que não criá-las. — Eu também te amo, e é
assustadoramente gostoso sentir isso.
Percebo que está nervosa, pois a mão que
passa no rosto está trêmula. Como pode ser tão
linda com essa carinha de menina tímida?
— Estou morrendo de medo, desculpa não dizer
naquela hora e não ser a namorada que você
merece, eu sou medrosa — confessa.
Puxo ela para um beijo apaixonado, a sentando
de frente para mim. Ela admitiu que me ama e eu
bem sei o quanto isso tem gosto de vitória, porque
Natasha é presa para falar sobre o que sente!
— Medo? Ficou com medo de dizer? — Aliso
seus cabelos.
— Quer mesmo saber? — ela suspira e eu
aceno — Se eu tornar real que te amo, você um dia
pode usar contra mim esse sentimento, e isso me
faz vulnerável. Eu só tenho medo de me machucar,
tudo que eu faço é com medo de me machucar. Não
é trauma, é receio. De me fazer de trouxa e eu
aceitar esse papel porque te amo. Perder meu amor
próprio, entende? Meus exemplos são traumáticos.
Minha irmã é uma romântica incurável e toda vez
que é machucada por alguém ela fica muito mal.
Minha outra irmã se apaixonou por um viajante,
diziam se amar para toda vida. Amou tanto, que no
final resultou nela muito mal, por ele ter ido embora e
com um bebê na barriga. E a criança não sabe quem
é o pai até hoje, eles nunca mais se viram. Por isso
que evito tanto essa coisa de sentimentos. Mesmo
as amando muito, eu não quero ficar como elas.
Deixar que brinquem comigo por causa de um
sentimento — ela desabafa, meio chorosa.
Olho para ela, que me olha com os olhinhos
inundados de lágrimas, e quase transbordo. A aperto
contra meu corpo e ela recosta a cabeça no meu
ombro, me enlaçando pelo pescoço. Como aquela
mulher desbocada que admitiu sem vergonhas que
queria dar para mim há alguns meses, virou essa
que está aqui no meu colo, parecendo ainda menor
e admitindo que também me ama e com medo
desses sentimentos?
Ela pode ser desbocada para quem quiser, mas
é comigo que vai se mostrar carente e insegura. Eu
sou um filho da puta sortudo do caralho!
— Mas não precisa ter medo — tento confortá-
la.
— São os exemplos que eu tive — sussurra. —
Que uma mulher quando está apaixonada, pega
toda a dignidade e a sanidade e simplesmente soca
no cu!
Gargalhamos brevemente por ela estar na sua
melhor versão novamente.
— Mas não significa que vai passar por isso.
Confie em mim, não vou te largar nunca. Eu amo
você, nunca me permitiria te machucar — sou
sincero.
— O que eu fiz para merecer você, hein? —
Seus olhinhos brilhantes passeiam pelo meu rosto.
— Apenas foi você — respondo o óbvio, num
sorriso.
Ficamos abraçados juntinhos e acabo a beijando
enquanto a carrego. No quarto, a faceta de mulher
fogosa aparece e some com a da mulher insegura.
Ela geme quando ataco seu pescoço com pequenos
beijos.
O corpo dela é tão delicado e me faz sentir tanta
coisa boa que eu tenho vontade de abraçá-la e dizer
que a amo a cada dois segundos. Tomo sua boca
com mais fogo, precisando de mais dela, que logo
aperta meu braço quando eu apalpo minha mão em
sua pele macia.
Mordo seu ombro e em seguida passo a língua.
Percebo sua pele alva arrepiar, me dando muito
mais tesão. Ofega baixinho no meu ouvido quando
passo a mão nas suas pernas. A sua roupa sai do
seu corpo por mim, porque estou com fome dessa
mulher e ela está com a mesma vontade, tentando
arrancar meu short.
Nat se vira, montando em mim, e essa cena dela
com os seios de fora é excitante pra caralho! Dou
um tapa na sua bunda, apertando sua carne para
estancar a dor e ela, toda manhosa, ronrona.
Arranca minha roupa com cueca e tudo. Adoro essa
fome e atrevimento dela!
Puxo-a de novo pela cintura para ficar encaixada
no meu colo. Sinto sua quentura como um forno em
contato com minha pele e tenho vontade de socar de
vez o mais fundo que eu posso. Nat, como gosta de
provocar, rebola no meu colo, friccionando no meu
pau, e aperto forte sua cintura. Provocadora!
Ela desiste de me maltratar, e em uma ação
rápida, me põe para dentro, me segurando no ombro
como apoio, e suspende o quadril, guiando-me para
dentro. E eu cerro os dentes pelo seu interior úmido
acomodando meu pau, que entra cada vez mais.
Comigo todo dentro, ela me agarra pelo
pescoço, mordendo meu ombro. Em algum momento
ela sempre acaba mordendo meu ombro. E o
contato do seu dente na minha pele acaba me
fazendo firmar mais, e ela geme baixinho.
Abocanho um dos seus seios enquanto ela
rebola gostoso no meu colo e eu ajudo a entrar e
sair, segurando na sua bunda. Nat procura minha
boca, me beija ferozmente e eu a agarro como
apoio, enquanto a ajudo subir e descer.
Quando a vejo cansando, viro nossas posições,
querendo comandar. Com suas pernas enlaçadas na
minha cintura, soco com vontade, intenso e até o
fundo, querendo mais, e ela também. Ela se deixa
levar no embalo e faz com que todos saibam meu
nome, e isso é música para meus ouvidos, me
arranhando como a felina feroz que sempre foi e eu
sigo nas socadas firmes, que deslizam com
facilidade.
Agarro nos seus cabelos e sinto meu pau ir todo
e voltar para ir de novo, potente, e ela alucinada,
com o corpo pingando de suor, e o meu não está
diferente. Aos poucos vejo ela dando os primeiros
tremeliques e a pele, que agora está vermelhinha
dos meus tapas, apertões e chupadas, se
arrepiando. Pego na sua nuca e guio sua boca na
minha, em um beijo molhado e gostoso, enquanto
ela está toda manhosa e, numa última socada,
chego ao meu ápice também.
Beijo sua testa e pescoço, lhe dando carinho e
aproveitando os últimos momentos de prazer.
— Eu amo você, mesmo não falando antes por
falta de coragem. E, se um dia, você tiver dúvidas
porque simplesmente eu não digo a cada dois
segundos, repara bem nas coisas que eu faço,
quase tudo é um jeito torto de me declarar. — Ela fita
meus olhos sem quebrar o contato.
— Te amo — declaro sorrindo, e ela me beija,
ainda com o sorriso no rosto me contagiando. Tenho
motivos ou não de me declarar o cara mais sortudo
desse mundo?
19
NATASHA
Sorrindo à toa, me espreguiço sozinha na cama
de Gustavo e sem despertador. Que noite!
Nem acredito que finalmente consegui me
declarar e me sinto muito bem com isso. Parece que
entramos em outro patamar de relacionamento.
Estamos mais juntos apaixonados do que nunca.
A impressão que tenho é que nossos sentimentos
crescem a cada dia. Com Gustavo, eu gosto de me
demonstrar apaixonada e não me sinto nem um
pouco ridícula nesse papel.
— Não era para acordar agora. Estragou a
surpresa. — Gustavo aparece só de short e
carregando uma bandeja, com Zeus o seguindo.
— Se quiser eu volto a dormir. E assim vai me
deixar mal-acostumada — digo com graça e
surpresa.
Zeus sobe na cama e Gustavo reclama por ele
estar tentando comer o que está na bandeja.
— Bom dia. — Ele segura na minha nuca e me
beija com vontade. Chego a ficar sem ar.
— Nossa! Que bom dia! — digo meio sem fôlego
e ele ri. — E isso aqui? Não vamos trabalhar hoje?
— Aponto para a bandeja.
— Café da manhã para minha namorada, não
pode? — ele diz sorrindo e eu sorrio com os olhos
brilhantes para ele. — Pra iniciarmos a semana com
tudo!
Guto foi para uma reunião importante com os
donos da agência e prevejo muitas mudanças na
Prisma.
Sorrio encantada e meu coração se aquece por
ele ter falado “minha namorada”. Sou uma boba. O
café transcorreu maravilhosamente bem, enquanto
um dava coisas na boca do outro. Parece que eu
estou em um conto de fadas e que vou acordar a
qualquer momento. Pois nunca me imaginaria nessa
posição tão romântica. Isso é a cara de Lizandra ou
Alexia, não de Natasha, mas estou curtindo esses
momentos. Ele me mostrou uma carta de multa do
condomínio que a síndica mandou para cá, por
causa dos “barulhos indecentes”, e eu fiquei morta
de vergonha. Mas o devasso estava rindo, todo
orgulhoso, e acreditem se quiser, enquadrou e está
exposto na sala.
Antes do trabalho, decido ir ver minha irmã, e
Gustavo me leva, porque eu liguei antes e ela estava
cheia de dor, mas recusou minha ajuda. Mas vim
assim mesmo. Liz, quando põe uma coisa na mente,
é pior que burro empacado. Tenho vontade de
esmurrar a cara dela quando começa com a teimosia
descabida.
Entro e a encontro ainda deitada na cama e
enrolada, toda encolhida.
— Está com dor ainda? — Me sento na ponta
da sua cama.
— Estou esperando o remédio fazer efeito para
levantar.
— Fica em casa hoje. — Aliso seus cabelos.
Liz, doente, para de ser a adulta centrada e volta
a ser a garotinha que morre de medo de agulha. E
quando fica assim, é a minha vez de cuidar dela.
— Impossível. Não dá para faltar, sis.
— Ninguém mandou ter cargo importante —
brinco com ela.
Ela faz uma menção de riso, mas se contorce,
provavelmente de dor.
— É sério, Liz. Estou ficando preocupada.
— Eu já vou levantar. É cólica, já falei.
— Ah, é? E as dores nas costas?
Ela não me responde, apenas faz beicinho para
eu não brigar.
— Vou fazer algo para você comer. Continue
descansando. Vou ligar para sua chefe e avisar que
não vai hoje.
Saio do seu quarto deixando a porta aberta e
escuto ela resmungar. Desço para comprar tapioca,
que vendem aqui embaixo, junto com Guto, pois Liz
ama, e vou fazer um agrado para ela, que sempre
cuida de mim. Até acabei comprando uma com
recheio de geleia, que Liz de vez em quando come.
Normalmente acho essa combinação nojenta, porém
fiquei morrendo de vontade enquanto a mulher
preparava.
Volto para casa e logo Liz aparece arrumada
com uma cara de quem está com vontade de ficar na
cama. Coloco a mão na cintura em protesto pela sua
teimosia.
— Eu estou bem. Vou sim!
— Liz... — Olho séria para ela. — Vai precisar a
gente brigar?
— Hum... tapioca — ela foge do assunto.
— Comprei lá embaixo — me rendo à teimosia
dela.
A levamos para o trabalho, sob protestos meus,
porque Liz fez cara de dor algumas vezes e fiquei
preocupada, e ela aceitou, sabia que não ia
sossegar. Vadia teimosa!
O início da manhã foi uma verdadeira merda,
não conseguia focar em absolutamente nada, nada
estava me deixando alegre, só preocupada, nem
mesmo a notícia que Alie está gravidinha. Está que
não se aguenta.
Como se eu estivesse imaginando, transferem
ligação para mim e antes mesmo de saber o porquê,
sinto meu peito falhar. Motivo: Lizandra passou mal e
está indo para o hospital onde tem plano de saúde.
Estava com uma dor absurda, saiu carregada e
chorando.
Sinto perder o chão, preocupada com ela. Não
sei como, mas fui teletransportada para a recepção
com Alexia, depois que lhe contei. Mesmo
atordoada, a única coisa que pensei foi em ligar para
Gustavo e mandar ele descer, que também se
assustou.
Alexia me entrega um copo de água para me
acalmar. Vamos, Gustavo! Desce logo!
— Que aconteceu?
Ele aparece, me amparando. Conto a ele,
chorosa e morrendo de preocupação.
— Ela está em que hospital? Vamos logo!
— Tem certeza que tem como sair? Alexia pode
ir comigo se puder.
— Tenho. Não vou deixar vocês duas irem nesse
estado.
Ele acena e chamo Alexia avisando que Gustavo
vai comigo. Ele me entrega minha bolsa, que nem
percebi que tinha pego.
— Liga para mim, então. Vou aguardar sua
ligação. Não vai ser nada de mais. — Alie me
abraça.
— Certo. Obrigada, sis.
Ele vai dirigindo o próprio carro enquanto vou
pensando na minha irmã. Estou morrendo de medo
de ter acontecido algo grave.
Guto me puxa para fora do carro, pois chegamos
no hospital e nem percebi. Entramos e perguntamos
na recepção sobre Lizandra. Nos orientaram a subir
para o segundo andar, e encontramos com uma das
colegas de trabalho que a trouxe e nos explicou mais
ou menos o que aconteceu. Liz está em uma cirurgia
de emergência, e não veio ninguém ainda explicar
direito o porquê, e em seguida saiu, pedindo para
mandar notícias.
Não consigo controlar as lágrimas. Eu preciso
saber o que está acontecendo com Liz. Essa falta de
notícia me deixa apreensiva e angustiada.
Guto tenta me acalmar e percebo que ele
também está nervoso.
— Eu disse para ela não ir trabalhar, mas você
não sabe como ela é teimosa. E agora está aí em
cirurgia, e eu preocupada. — Limpo os olhos.
Ele me abraça apertado enquanto ninguém
aparece para dizer alguma coisa. Um médico
aparece alguns minutos depois, querendo saber
quem são os parentes de Liz.
Me desprendo dos braços de Gustavo e vou ao
encontro do homem de jaleco.
— Então. Sra. Lizandra precisou fazer uma
cirurgia chamada ovariectomia por conta do
rompimento do cisto que estava com quase oito
centímetros. Tivemos que fazer a retirada dos
ovários. A cirurgia foi um sucesso e em breve ela vai
para o quarto. Ela está passando por alguns exames
para termos certeza se o outro tem algum problema.
— E isso causa o que nela? — questiono
apreensiva.
— Ainda não sabemos exatamente. Porém, as
chances dela engravidar não serão tão efetivas,
depende muito do outro.
Escuto aquilo em choque. Não! Não! Isso não
pode estar acontecendo. Aceno incapaz de dizer
qualquer outra coisa.
— Ela em breve irá para o quarto e sairá o
resultado dos exames. Irei avisá-la e poderá ir vê-la.
— Tudo bem. Se puder, antes de avisá-la, o
senhor poderia me dizer primeiro? Essa coisa de
gravidez é um assunto delicado para ela.
Ele acena e pede licença ao sair. Eu não vou
conseguir ver minha irmã depois dessa notícia. Eu
realmente torço que ela ainda não saiba. Liz vai se
desesperar, com certeza, com essa margem de
gravidez menor.
Gustavo me abraça mais uma vez, pois só
consigo chorar. Estou torcendo para que o outro
esteja bom o suficiente.
Espero o que me pareceu uma eternidade, até
que ele voltasse com os resultados completos do
exame.
— Ela está no quarto já?
— Está, os exames acusaram onovulação, falta
de ovulação devido aos ovários não conterem ovos.
Olho para ele querendo ter uma explicação que
não seja o que estou pensando. Liz não pode estar
infértil. Não pode!
20
NATASHA
Depois de uma crise de choro minha, Gustavo
decide me fazer comer alguma coisa, porque a
manhã e meu horário de almoço passaram que eu
sequer percebi, de tão rápido que tudo aconteceu.
Eu só consigo martelar a notícia, isso não pode e
não deve acontecer. É o sonho dela! É algum erro,
não é possível!
Na volta, descobrimos que como o horário de
visitas tinha terminado, só um visitante poderia ficar
com ela. Gustavo decidiu ir trabalhar, avisando que
depois iria passar para nos ver e que estaria com o
celular ligado, e eu entro sozinha, encontrando
minha irmã deitada, me dando um aperto no peito.
Não aguento vê-la fragilizada e lhe dou um beijo
afetuoso na bochecha.
— Que susto você nos deu, hein, Liz? —
pergunto com suavidade.
— Desculpa. Pensei que não fosse grave, só
uma simples cólica — sussurra chateada.
— Já sabe o que aconteceu? — indago
cautelosa.
— Disseram que eu precisei fazer uma cirurgia
de emergência por causa de um cisto que eu nem
sabia que tinha.
— O médico disse que irá passar aqui. — Perco
a coragem de lhe dar a notícia.
O doutor entra e sinto a tensão se instalar na
sala, e meu peito aperta com o coração acelerado.
Calmamente, ele explica tudo o que aconteceu, e eu
aperto sua mão reconfortando-a, nos preparando
para o baque final, e Liz apenas me olha de lado a
cada palavra séria que o médico diz. Tento me
manter forte, não denunciando meu abatimento pelo
que já sei. A palavra infértil ecoa e minha irmã
desaba numa crise de choro, e eu não consegui ser
forte por nós duas, chorei junto, abraçando-a.
Inconsolável, ela soluça no meu ombro, num
choro tão sofrido que me deixa ainda mais
angustiada, rezando para que consiga cessar,
porque faria qualquer coisa para transferir a dor dela
para mim, só para não vê-la da forma que está. Seu
choro dolorido me desespera. E mesmo sendo mais
velha, é a minha irmãzinha.
— Todo mundo sabia meu desejo de ser mãe.
Não é justo! — lamenta com a voz entrecortada.
— Eu sei. Não é justo.
Seu choro não demora a cessar, e eu a deixo
descansar para que assimile a notícia, fazendo
carinho nos seus cabelos. Ela dorme até anoitecer, e
só me dou conta do horário quando Gustavo avisa
que está aqui embaixo. Estive tão imersa em dar
notícias aos meus pais e Alexia, que sequer percebi.
No corredor, encontro o médico, que me explica que
mesmo sendo uma cirurgia emergencial, ela terá alta
em breve.
E quando beijei Gustavo, que também estava
preocupado, é que eu consegui respirar com mais
calma, depois de um dia turbulento, nem o banho
quente que tomei quando cheguei alcançou o
mesmo efeito.
— Comeu que horas?
Gustavo indaga preocupado, me parando no
corredor para me abraçar, mas me sinto hiperativa
novamente, tentando lembrar se não esqueci nada
antes de voltar para ficar com Liz.
— Almocei naquela hora.
— E não comeu mais nada? Quer parar no
hospital também? — Usa um tom bravo.
— Não tive fome. Lá eu como, prometo.
Paramos em um bistrô perto do hospital e
jantamos. Comi minha comida praticamente em dois
minutos, nem percebi que estava com tanta fome.
Ainda peguei sobremesa. Gustavo me fez
contrabandear petiscos, já que não pode.
Me despedi dele em um abraço apertado e um
beijinho gostoso, agradecendo, pois ele não pode
ficar aqui, infelizmente.
— Te amo. — Abraço mais seu peito morno e
acolhedor.
— Vou sentir sua falta essa noite.
Colo meus lábios nos dele, num beijo carinhoso
e grato, por ele estar cuidando de mim quando eu
sequer lembro-me de comer. Vou ficar morrendo de
saudades de dormir com seu corpão me abraçando.
É, meus amigos, eu fui abduzida!
Subo para ver Liz assistindo à televisão, calada,
mas estica os lábios quando me vê.
— Ainda bem que está acordada. Trouxe seu
lençol favorito. — Jogo nas suas pernas.
— Você é a melhor irmã do mundo. Ainda bem
que lembrou.
— Eu sei que sou uma irmã maravilhosa! — faço
biquinho.
Sento na poltrona ao lado da cama dela, onde
vou passar as próximas horas. E pego meu próprio
travesseiro de pescoço que trouxe. Ela se vira para
mim, com seu rosto abatido e semblante sério.
— Eu nunca vou ser chamada de mãe por
ninguém, sis — sussurra, chorosa, fazendo meu
coração se apertar, e seguro sua mão.
— Vou estar aqui por você.
— Eu sei. Obrigada por isso. Quer subir aqui
para dormir?
— Não, eu sou compacta. Caibo em qualquer
lugar.
Rio e ela me acompanha, mas logo se cala. Liz
aparenta estar um pouco melhor apesar de perceber
ela pensativa na maioria das vezes, e só espero que
essa situação não se torne pior do que já está
sendo.
Dois dias depois, Gustavo estaciona o carro na
frente da casa dos meus pais, após uma viagem
silenciosa. Lizandra fez quase cem por cento da
viagem calada, pensativa na janela. Teve alta hoje e
decidimos trazê-la para cá, ao menos aqui tem Taís
e nossa mãe para cuidá-la com mais tempo que eu,
que trabalho o dia inteiro. E Alan para distrai-la.
Apresento Gustavo a todos, e ele não teve um
pingo de vergonha, agiu como se fossem todos
conhecidos de longa data. Aceno para Taís, de longe
mesmo, que está sentada na cadeira onde Liz acaba
de ir. Não temos uma relação como eu tenho com
Lizandra. Não sei o que acontece, só que não temos
afeição uma com a outra e não conseguimos nos
aproximar. Desde sempre. Com Liz ela até fala mais,
mas comigo não.
Meu pai chamou Guto para ter um papo de
''homem para homem'', e ele foi sem pestanejar, mas
sei que isso é para intimidar, meu pai sempre foi
amigo dos namorados das minhas irmãs. O de Liz,
principalmente, o cretino! Sigo para a cozinha com
minha mãe.
— Estou morrendo de pena de ver ela assim. —
Sua expressão pesa. — A última vez que ficou
abatida dessa forma, foi quando terminou com
Jônatas. Espero que ela supere da melhor forma,
como superou ele. Isso são as duas grandes perdas
dela — mamãe comenta.
— Verdade. Liz ficou bem mal naquela época.
Às vezes eu acho que ela não o esqueceu
completamente — comento.
— Vocês já pararam de conversar sobre minha
vida como se eu não existisse mais? — Lizandra
aparece resmungando.
Me calo, pois sei que esse é o ''assunto
proibido''. Apesar de ela garantir que o odeia, não
gosta que falem sobre ele e o que eles viveram.
Almoçamos juntos e cada uma segue sua vida, sigo
com Liz para o nosso quarto antigo, porque Gustavo
se prontificou em buscar Alan no colégio. Que
saudade eu estava desse cômodo!
Taís aparece logo em seguida, com seu
semblante nada bom, e mesmo que Liz e eu não
estivéssemos conversando nada particular, nos
calamos.
— Vão ficar mesmo me evitando toda vez que
vêm aqui? — Seus olhos inquisidores passam por
nós duas.
— Não estou te evitando — respondo
calmamente.
— Ah, não? — debocha.
— O que foi? — Liz questiona.
— Tentando entender também — comento.
— Vocês duas estão me evitando desde que
chegaram.
— Não te ignorei, eu falei com você e te abracei
— Lizandra se defende.
— Você nunca fez questão de falar. Está fazendo
drama por que agora? — tento entender. — Nunca
fomos próximas, como quer que eu chegue íntima
sua?
— Não é porque nunca quiseram, sempre estive
aqui.
— Ah, Taís! Você sempre fez questão de ser
azeda, desde sempre. Pra que esse joguinho
agora? — Reviro os olhos.
— Não estou jogando, só acho que não é uma
relação saudável a que temos. E não nos dávamos
bem quando eu era adolescente, e olha quanto
tempo tem isso, eu já sou mãe! E meu filho quem
veio me perguntar por que eu não tenho fotos com
vocês. Eu tenho total consciência que na época que
morávamos aqui eu era um porre de adolescente e
vocês também, a diferença é que se apoiam uma na
outra e tinham idades similares, enquanto eu tinha
que ser exemplo o tempo inteiro, nunca sequer tive
irmã para dividir e confidenciar como vocês faziam.
— Se você abrisse a boca nós saberíamos disso,
Taís. Você sequer deu abertura para aproximações!
— Lizandra resmunga, magoada.
— Vocês se mudaram cedo, Liz, e eu engravidei.
Ambas se acostumaram a me ver como a megera da
adolescência, mesmo que eu já tenha arrastado Liz,
que era mais velha, para festas comigo, mas Nat
preferiu que fosse você a irmã mais velha que ela
recorre e esqueceu que tinha mais outra. Quando
Alan me perguntou isso, o motivo de eu não estar
com vocês, vi quão afastada éramos e quão sozinha
eu fiquei depois da maternidade. Eu já pensei muitas
vezes em ligar para vocês, pedir conselhos, chamar
para cá... Mas via que não estavam interessadas,
criavam desculpas. Essa rejeição vem pesando há
muito tempo!
Calada, reflito sobre nossa relação. Me sinto
muito mal por isso agora. Nunca soube o porquê de
nos tratar assim, mas não ficamos à vontade na
presença uma da outra, como se fôssemos duas
estranhas na mesma família. Pelo menos eu não.
Nos acostumamos a nos relacionar como somos
quando eu era criança, e ela, uma pré-adolescente.
— Eu só queria ter o apoio que vocês dão uma
para a outra, eu me sinto sozinha desde que
engravidei, essas pequenas rejeições me
machucaram e sinto falta de suporte, de amiga.
Sinto falta das minhas irmãs!
Ela termina seu desabafo e eu continuo a
olhando séria, assim como Liz. Sabe aquele
momento que você percebe que está sendo cruel
com sua própria irmã e, pior, sem motivos? A gente
nunca se entendeu e nem procurou um meio para
mudar isso, e acostumamos a ser assim. Como
dizem: em algum momento da vida você pode ser o
vilão da vida de alguém. Não que eu seja uma vilã,
mas no momento estou me sentindo dessa forma.
— Eu... Eu não sabia que você se sentia assim
— murmuro.
— Eu também não. É só que sempre é fechada e
séria. Como não temos intimidade, acabamos te
excluindo sem nem perceber. Desculpa, Tá, não foi
intencional — Liz exaspera.
— Estou cansada de ser e me sentir sozinha o
tempo todo com meu filho. Tá foda! — Limpa os
olhos.
— Desculpa a gente. Não foi por crueldade que
fizemos isso — peço verdadeiramente. — Prometo
que seremos mais presentes com você.
Ela acena e Liz e eu seguimos num abraço triplo
com lágrimas nos olhos, que ela aceita sem muito
problema. Com o coração mais leve, volto para casa
depois de ter avisado sobre o convite dos pais de
Gustavo, que será para o final desse mês, e como
ele andou de lado esses dois dias, e eu estou
tentando me redimir, lhe recompensei com uma noite
gostosa só nossa, com um filme bom e uma
madrugada suada.

Chego ao trabalho e só quero ir para casa e


dormir. O dia está um saco, tenho vontade de me
debruçar na minha mesa e dormir até eu sentir que
estou descansada. Estou preocupada com Liz,
mesmo estando tudo bem na sua recuperação, mas
não gosto dela longe de mim.
— Acorda aí, folgada. — Alexia bate a mão na
minha mesa, me assustando. — Eu que estou
grávida e é você quem dorme no trabalho?
— Qual o seu problema? — contesto querendo
voar no pescoço dela.
— Nenhum. Você passou a noite dando e agora
está aí cochilando. — Ri.
— Para de pegar no meu pé, sua peste —
resmungo.
— Termina o que está fazendo e você poderá
sair mais cedo para o horário de almoço. Não
contarei a ninguém!
— Obrigada!
— Não se acostume. — Ela dá ré na cadeira
com rodinhas de volta para sua mesa.
Mostro o dedo para ela enquanto bocejo. Estou
ocupada demais espantando o sono para mandá-la
se foder.
Trabalho, mesmo com sono. Eu gosto de dormir,
mas ultimamente estou de parabéns. Gustavo tira
todas as minhas energias, e pior, nem deixa
recarregar direito. Faço o combinado e saio para
meu horário de almoço faltando dez minutos para
começar.
Não vou direto para o elevador, corro pro
banheiro quando sinto uma ânsia horrível agitar
minha barriga e coloco para fora o pouco café da
manhã que ingeri. Sentada no vaso, fito o teto,
engolindo a seco e tentando me recuperar, sentindo
tudo rodar ainda.
Que porra está acontecendo comigo
ultimamente? Merda! Cair doente agora não.
Ou...
Não! Não! Não! Não. Completamente não!
Impossível! O meu estômago está sensível
demais pelos recentes acontecimentos, só isso.
Eu estar grávida é impossível, eu me cuido. Isso
não pode estar acontecendo comigo, justo agora em
um momento desses. Não. Completamente não!

21
NATASHA
Respiro fundo, trêmula, depois de uma tarde
tensa e turbulenta. Finalmente cheguei ao
apartamento de Gustavo, e agora estou no banheiro
com testes na mão, esperando os minutos cruciais.
Aproveitei que Guto foi buscar a comida para
nós. Rezo e me benzo e faço mil preces, esperando
os minutos passarem e o resultado aparecer. Um
riso apenas. Solto o ar que estava preso e sinto a
angústia se despir no meu corpo. Sabia!
Aliviada, decido fazer logo os outros dois,
mesmo sabendo que não estou, é só para garantir e
não ter dúvidas futuras. Só garantir que não mesmo
e, mais relaxada, espero os outros agirem.
— Nat? — Escuto a voz de Gustavo.
— Estou no banheiro — respondo apreensiva,
olhando para a porta.
Merda! Para que ele foi aparecer justo agora?
Sinto a aflição a cada segundo que passa, mesmo já
sabendo o resultado, mas o coração para quando
vejo ambos os testes e Gustavo invadindo o
banheiro e me encontrando debruçada na pia,
chorando com o peito apertado.
Sinto vertigens sem acreditar no que eu estou
vendo: ambos os palitinhos, riscados. Dois. Cada
um.
Eu estava com sintomas e não queria dar
atenção, mas estavam tão escancarados, que os
enjoos me forçaram a tirar essa dúvida de vez!
Então foi por causa disso que enjoei no iate mês
passado. Gustavo me abraça apertado enquanto eu
choro, o agarrando como se fosse minha última
esperança.
— Que foi? Me conta...
Seu tom preocupado e carinhoso só me dá mais
vontade de derramar mais lágrimas. Suspendo os
dois exames positivos. Gustavo me olha espantado.
— Eu estou grávida, Gustavo!
Dou a notícia entre soluços e sinto um enlace
mais forte no abraço, junto às lagrimas no meu
pescoço. Lágrimas? Percebo que ele chora como
uma criança, me apertando forte. Ambos chorando
abraçados.
O coração dele bate muito desenfreado contra o
meu. Gustavo repete milhões de vezes “obrigado” no
meu ouvido, como um mantra, sem acreditar, e
permaneço no meu choro silencioso, sentindo o
chão se perder entre minhas pernas, a cabeça
dilatar ao processar tudo tão rápido. Ele me carrega
e eu enterro meu rosto no seu pescoço, chorando
sem sequer saber o que sentir.
Num impulso, começo a estapeá-lo, quando me
põe no chão.
— Você é o culpado disso! — vocifero num tom
de voz embargado.
— Eu sou mesmo. — Gustavo sorri orgulhoso,
com os olhos cheios de lágrimas.
Sem freio, desabo de choro novamente, mas ele
me ampara nos seus braços firmes e macios.
— Eu desconfiei, mas não quis te pressionar ou
me iludir.
Ele senta na cama enquanto me aperta nos seus
braços e eu me encolho no seu colo.
— Não precisa se desesperar — tenta me
acalmar.
Limpo os olhos e Gustavo está com um sorriso
enorme. Eu chorando e ele rindo. Cretino!
— Isso não era para ter acontecido. Justo agora
que aconteceu aquilo com Liz! — desabafo
inconformada.
— Olha para mim.
Ele mesmo me segura pela bochecha e me faz
fitá-lo, ainda anestesiada, sem saber como vai ser
minha vida a partir de agora. Tremo o queixo, não
evitando chorar novamente. Eu não tenho jeito para
ser mãe. Nem sei cuidar de mim, imagine de uma
criança? Estou perdida e desesperada!
— Vou estar com você. Estou transbordando de
felicidade que não tem noção. Sabe quantas vezes
desejei isso?
Gustavo sorri abertamente para mim e eu acabo
dando um breve sorriso, me compadecendo da sua
felicidade. Parece um menino quando ganha um
presente. Ficou comigo até que eu me acalmasse, e,
desanimada, fito o chão sem saber o que fazer.
Sabe quão estranho é isso? Ter alguém alisando sua
barriga porque tem alguém dentro? Como vou cuidar
de uma criança, como vou dar a notícia para Liz?
Isso não poderia estar acontecendo. Não poderia!
Sem vontade de comer, Gustavo me puxa para a
cozinha, e brinco com minha comida, me sentindo
apática e fraca, escutando-o falar sobre consultas
para saber sobre o bebê o mais breve possível, e eu
só aceno com um frio na barriga, porque isso faz
tornar tudo real. Essa criança vai ter que sair um
momento e vai precisar cem por cento de mim.
Entende meu desespero?
Pela manhã, estou completamente desanimada,
e Gustavo sorri à toa, me olhando bobo e sorrindo.
Em primeiro momento acabo sorrindo também, e em
segundo lembro o motivo, correndo para o banheiro
com um enorme enjoo e uma vertigem que me
atinge por tabela. Minha barriga está em um nervoso
agoniante, sinto que irei derreter de tão fraca que me
sinto.
Gustavo me ampara pelos cabelos, acariciando
minhas costas.
— Não aguento mais — choramingo e vomito
mais uma vez.
— Terminou?
Aceno chorosa e Gustavo me ajuda a ficar de
pé, me abraçando forte.
— Calma, amor. — Ele alisa minhas costas.
Continuo abraçada a ele até me acalmar. Como
eu fui parar nisso, meu Deus? Tento fazer as contas
da última vez que menstruei e foi logo quando
começou o inferno de Manuela. Lembro também que
Gustavo e eu transamos sem proteção no banheiro
também, porra, e teve mais uma outra vez.
Eu tomo anticoncepcional, e ainda usamos
camisinha sempre. No dia que não usamos
proteção, falha. Mas se for para considerar se
aconteceu no banheiro, eu estaria... com quase dois
meses! Como não me toquei que não estava
menstruando? Foi tanto inferno e pepino para
resolver que não me toquei nisso! Mas quem vai
lembrar-me de não ter sangrado ou de ter ficado
com cólicas?
Tomo banho tentando me acalmar quanto a isso,
para ter um dia no mínimo agradável. Eu vou ser
mãe? Pela primeira vez me atrevo a colocar a mão
na barriga, mas logo tiro.
— Que azar em me ter como mãe, hein,
criaturinha?
Falo sozinha e olho para a barriga, que não está
tão chapada como antes. Já me entreguei à
insanidade, me tragam camisa de força!
No trabalho, depois de fazer o exame de sangue
que Gustavo marcou ontem mesmo, só consigo
pensar como vou contar essa novidade para todo
mundo, principalmente para Liz. Parece que roubei o
sonho dela. A sensação que tenho é essa, que essa
notícia de alguma forma vai jogar na cara dela o que
ela não pode ter. Sem falar que estou morrendo de
medo da maternidade. Não me imagino mãe e nem
amamentando por aí. Não vou conseguir cuidar.
Estou morrendo de medo, não serei uma boa mãe,
tenho consciência disso. Com certeza vou esquecer
a criança nos lugares, esquecer que precisarei
alimentar com hora marcada. Sou muito
irresponsável para uma responsabilidade desse
tamanho.
O tempo está tão gostoso que me arrependo de
não ter aceitado a sugestão de Gustavo e ter ficado
em casa. Mas não posso relaxar no emprego. Não
posso deixar Alexia sobrecarregada. Pelo jeito, duas
grávidas!
Em casa, Guto tenta puxar assunto sobre a
gravidez, mas me sinto sufocada, como se eu
tivesse sendo soterrada por todos esses
acontecimentos. Refletindo, me toco de um fato que
me deixa queimando de raiva.
E eu achando que era por livre e espontânea
vontade!
— Gustavo — o chamo enraivecida.
Ele senta do meu lado e eu o fito, séria.
— Você disse que desconfiava que eu estivesse
grávida, né?
— É. Você estava meio diferente — responde
inocente.
— Você falou que me amava por causa da sua
suspeita ou porque quis? — Cerro os olhos para ele,
que faz cara de confuso com as sobrancelhas juntas.
— Quer saber? Nem precisa dizer nada. —
Levanto do sofá, enraivecida e sem paciência.
Ele tenta me puxar pelo braço, fazendo com que
eu colida rapidamente com seu corpo.
— E eu achando que me amava mesmo. Você é
um grande idiota! — vocifero sentindo o choro vir na
garganta, me esquivando do seu braço.
— Natasha, me deixa falar.
— Não!
Saio em direção ao quarto dele e bato a porta,
largando-o na sala.
— Natasha! — ruge do outro lado da porta.
— Você é um idiota! — grito do outro lado. —
Não se preocupe, não vou te vetar de ver a criança!
— Porra, mulher! Abre a porra da porta.
— Não!
Me jogo na cama sentindo as lágrimas virem. É
por essas merdas que não gosto de me envolver
demais. Gustavo continua a socar a porta me
mandando abrir, mas eu o ignoro. Até ele parar de
bater e resolver me deixar em paz. A fechadura é
destrancada e ele entra no cômodo. Viro o corpo
para o lado oposto, ignorando sua presença, e ele
me abraça por trás, sem chance de eu escorregar
para fora da cama, beijando meu pescoço, me
arrepiando rapidamente.
— Pequena, não disse que te amava por causa
da minha desconfiança, o que eu sinto é verdadeiro,
e já queria te falar e estava vendo um melhor
momento. Quando comecei a desconfiar, naquele
dia no iate, eu quis dizer, mas também não queria
que se sentisse desamparada quando desse
positivo, como deu nesses dois testes.
— Por que não falou antes? — Eu me senti
enganada, como se me falasse isso para eu não
fugir, sei lá.
— Porque você não deixou, sua desconfiada! —
Beija minha bochecha. — Eu amo você e essa coisa
linda aqui dentro. — Passa a mão na minha barriga
e eu tremo com o novo contato.
— Não temos certeza se estou grávida —
resmungo. Só em pensar nesse resultado do teste,
eu tremo. — Só iremos saber quando o resultado
chegar ao seu e-mail.
— Está sim. Intuição de pai! — Sorri
abertamente para mim e eu acabo sorrindo também.
Guto me dá um beijo calmo, sem pressa, suave,
com a mão no meu pescoço transmitindo calma,
nem parece o devasso de sempre.
E, novamente pela manhã, desperto sendo
observada por Gustavo, que encara minha barriga
com os olhos brilhantes. Desacostumada, acho
estranho, entretanto, sem sorriso largo, sem sequer
disfarçar, me dá a confirmação que o e-mail chegou
e ele já viu.
Grávida!
Agora é oficial. Eu serei mãe! Acho que fui
abduzida.
Eu estou grávida pra valer!
Grávida e muito nervosa, enquanto ele só sabe
sorrir, e vem me abraçar, enquanto estou a um
passo de entrar em desespero com as lágrimas já
descendo. Mãe?
— Não está feliz, né?
Ele pergunta com suavidade, me fitando numa
expressão serena. Nego, sentindo tudo desabar por
dentro. Não é tristeza, é medo, é culpa, é confusão,
é angústia!
— Isso me torna a pior pessoa do mundo, né?
Ele me abraça e eu me aconchego nele, não
evitando as lágrimas incessantes descerem.
— Eu sei que você está com medo. De não
saber trocar a fralda ou de sofrer com o parto. Que lá
no fundo você pensa se vai ser uma boa mãe. Isso
não é ruim, apenas mostra que está preocupada
com o bebê. Saiba que vou estar aqui com você.
Gustavo, sempre carinhoso e compreensivo, diz
baixinho, alisando minhas costas enquanto eu choro
abraçada a ele.
— Eu não tenho capacidade de cuidar de uma
criança!
— Meu primeiro bebê não poderia ter mãe
melhor. Acredite em mim! Estou feliz demais com
isso e preciso muito que também esteja. Eu amo
vocês, farei de tudo para os dois ficarem bem!
Aceno e ele me abraça mais forte beijando
minha testa. Pelo menos agora estou mais calma
com isso.
— Me desculpa por ter ficado distante.
Gustavo continua a alisar meu cabelo até eu
relaxar e decidir encarar tudo, e até tento, na
primeira semana com a novidade. Estou digerindo
melhor a notícia. Alie me achou um pouco para
baixo, até achou que eu estivesse doente e eu a
tranquilizei. Minha rotina se baseou em choro, fome,
sono e cansaço.
Engraçado é Gustavo estar mais atento a mim
do que qualquer coisa. Agora ele pesquisa sobre
gravidez o tempo todo. Vive lendo artigos e depois
vem conversar comigo sobre as curiosidades que viu
e o que eu estava achando. É bonitinho demais de
ver ele me olhando bobo. Tento fingir que não vejo,
mas é impossível não querer beijá-lo. Imagino esse
homem quando formos para a consulta que está
marcada para semana que vem. Ontem me peguei
com a mão na barriga uma vez, aleatoriamente. É
estanho pensar em uma pessoa que está dentro de
você, uma preocupação a mais.
E agora, depois de mais um dia cheio e
turbulento por interrupções para vomitar ou por
tonturas, exatamente às três da manhã não consigo
pregar os olhos de puro nervosismo e ansiedade,
por causa do que vai acontecer pela manhã: contar a
Lizandra. Justo agora, em um momento delicado que
ela está passando, o pensamento de não magoá-la
me consumiu.
A família de Gustavo está em festa. Ele ligou,
chorou e sorriu todas as vezes que dava a notícia a
alguém. Mas meu bolo na garganta não me deixa
dormir. Estou com medo da reação de Lizandra, de
deixá-la mal.
Estou até evitando falar com ela, mesmo
morrendo de saudades, e pelo que sei, ela está bem
irritada com isso, pois ligo para Taís, para ter notícias
dela e não atendo suas ligações. A última vez que
eu falei com ela, eu quase chorei e pedi desculpas.
Guto está sempre do meu lado, me acalmando e
dizendo que não tenho culpa pelo que aconteceu
com ela e eu sinto que tenho sim, nem que seja um
pouco. Talvez se naquele dia, eu fosse mais firme e
a tivesse levado ao médico quando Liz estava
reclamando de dor, nem que fosse pelos cabelos, e
a gente tivesse discutido no dia por causa disso,
evitaria o problema e hoje ela me agradeceria.
— Nat. Acordada a essa hora e sozinha? Não
desacelera mesmo, né? — Gustavo reclama.
Ele aparece na sala com voz de sono e logo
em seguida boceja.
— Estou sem sono. Você me deixou cair no
sono quando cheguei.
— No início da gestação a mulher tem que
descansar bastante.
Ele repete uma das coisas que aprendeu nas
suas pesquisas doidas. Reviro os olhos, gemendo
frustrada quando ele me repreende com o olhar.
Recebo um beijo no topo da cabeça e enlaço minhas
mãos no seu pescoço, quando me carrega para a
cozinha.
— Acho que um leite quente vai te fazer dormir.
— Ele abre os armários.
— Que tipo de leite? — Arqueio as
sobrancelhas.
Gustavo gargalha, negando com a cabeça.
— Que faz com água e açúcar — complementa.
Assinto e o vejo passear pela cozinha com suas
costas largas e corpo gostoso se movimentando, me
entregando uma xícara com leite morno logo após.
— Assistir um filme ajuda? — pergunta
compreensivo.
— Acho que sim.
Gustavo me deixa ir para a sala beber meu leite
enquanto ele busca um lençol gostoso e um
travesseiro. Ligo a televisão, colocando em um filme
qualquer que passa nesses horários e que eu já
assisti mil vezes, enquanto ele arruma o sofá e deita
com a cabeça e costas recostadas no travesseiro e
me chama. Deito de barriga para baixo, porque
ainda consigo, entre suas pernas com a cabeça no
seu peito, deixando nós dois enrolados.
Constato que daqui alguns meses não poderei
mais ficar assim. Ele faz carinho nos meus cabelos
descendo para as minhas costas, me acalmando
completamente. Gustavo é um homem perfeito,
parece que nasceu para ser pai e esposo, mas eu
sinto que não o mereço, porque eu não sei ser a
companheira que ele merece, nem conseguirei ser a
mãe que o bebê precisa.
— Estou com medo da reação de Liz — falo
baixinho. — Magoá-la será inevitável.
— Não precisa ter medo, já falei. Eu entendo
seu receio e insegurança, mas ela é sua irmã, com
certeza vai ficar feliz por você.
— Eu sei... Só que... Poxa! Tenho medo de
machucá-la. Ainda é tudo recente.
Choramingo minhas frustações, ficando de
barriga para cima. Gustavo não me responde, mas
começa a beijar meu queixo.
— Tem que relaxar.
— Estou sem clima — aviso quando vejo sua
intenção.
Ele suspira alto e se cala. Que bicho o mordeu?
22
NATASHA

Com um enorme frio na barriga, sigo para a casa


dos meus pais para dar a boa nova. Zeus dorme
quietinho com a cara na minha barriga desde lá, e
olha que passamos da metade do caminho. Tenho
dois chicletes na minha cola agora. Ele e Gustavo.
— Cachorros sentem quando a dona está
gravida?
Me viro rindo para Gustavo, que continua sério
desde que acordei, com o maxilar travado. Sinto que
está tenso pela força que segura o volante.
— Não sei. Procura no Google.
Nossa! Curto e grosso. Ah, claro! Como não
percebi antes?
— Vai ficar fazendo grosserias porque não quis
sexo?
— Não. Só que você está distante demais esses
dias.
— Gustavo, tenta entender meu lado — tento
argumentar.
— E o meu, Nat? — Seu tom raivoso suaviza
logo em seguida. — Poxa, eu estou me sentindo
realizado, no melhor momento da minha vida com a
mulher que amo, e ela nem está curtindo nosso
primeiro filho.
Permaneço calada, porque não tenho o que
argumentar e ele continua depois de um suspiro.
— Eu estou entendendo seu lado, a situação,
mas você não desacelera.
Anuiu, assimilando o seu lado, mas eu quero
desacelerar e é por isso que estou tentando resolver
isso hoje. Ele resmunga, voltando a ficar sério e eu
ignoro, para não me irritar ainda mais, voltando
minha atenção para a janela.
Na casa dos meus pais, cumprimento todos da
minha família e procuro por Liz, tremendo, e a
encontro no quarto, entretida no celular. Mas sorri
abertamente assim que me vê. Para de sorrir, me
sinto uma megera!
— Que carinha é essa?
Ela questiona, juntando as sobrancelhas. Ela
senta na cama e me olha. Nego com a cabeça
tentando prender o choro. Ultimamente eu estou
chorando com muita facilidade!
— Estava apenas morrendo de saudades de
você.
Sou verdadeira, e ela me recebe no seu abraço
reconfortante e não consigo controlar o choro e o
peso enorme que está me deixando sobrecarregada
desde que descobri a notícia da gravidez.
— Me desculpa, sis — peço sem controlar meu
choro compulsivo.
— Irmã...
— Eu não queria, sis, juro que se fosse para
escolher não seria agora — explico em prantos.
— Natasha! Está me preocupando. Engole a
porra do choro e conta logo!
Prendo o choro, me recompondo. Ela segura na
minha mão e me incentiva a falar.
— Primeiro eu queria dizer que nunca foi minha
intenção querer te magoar, juro para você.
— O que é tão grave, afinal? Nada me abala
mais, irmã. A pior coisa que poderia acontecer
comigo, já aconteceu. Então, diz logo, pelo amor de
Deus.
— Estou grávida, sis.
Sussurro com a garganta fechando novamente,
sentindo cada parte do meu corpo tremer de
expectativa e aos poucos vejo seus olhos marearem,
até estarem inundando de lágrimas, como os meus.
A abraço apertado e me sinto a pior pessoa do
mundo.
— Me desculpa, eu não quis te machucar! —
peço.
Nos separamos e vejo um sorriso aberto em
meio às lágrimas.
— Por uma notícia dessa? Eu vou ser tia de
novo!
Sorri, me abraçando por trás quando deitamos
na cama.
— Estou com tanto medo! — desabafo.
— Você vai ser uma mãe maravilhosa. Acredite
em mim!
Suspiro e ela coloca a mão em cima da minha
barriga e tremo, ainda desacostumada com isso, de
ficarem com a mão em cima de mim.
— Não sei. Eu nem sei como aconteceu isso —
reflito mais para mim do que para ela.
— Não sabe mesmo, Nat? — Liz faz graça e eu
dou um muxoxo, a fazendo rir.
Eu preocupada com ela e ela fazendo graça com
minha cara.
— É sério, Liz! Eu me previno sempre, a pílula
que falhou — argumento.
— A melhor forma de prevenir é não fazer. E
você, fogosa do jeito que é, corria risco sim!
Conto a ela sobre minha última semana e ela me
conta sobre ela, como tem passado aqui. E que Alan
e Taís vivem com ela agora e que a distraem
sempre.
— Talvez meu destino seja ser uma tia babona.
— Ri e percebo que foi um riso sentido. — Vou
mimar tanto esse bebê!
Descemos. Liz cumprimenta Gustavo e fomos
almoçar. Contei a meus pais sobre a gravidez. Meu
pai surtou um pouco, pois sou a mais nova, mas logo
chorou por ser avô de novo. Taís ficou meio
chocada, mas logo veio comemorar com a gente.
Gustavo não participou muito, estava frio mesmo
quando fiquei perto dele num carinho; me ignorou
sem disfarçar, e esse gelo está me deixando mal. E
decido recuar, já que ele não me quer por perto, indo
para onde minhas irmãs estão, e comento sobre
nossa distância.
— Você é a única pessoa no mundo que
reclama por ter atenção e o pai da criança gostar da
notícia.
Taís responde e me sinto bem megera, porque
ela sente até hoje pelo pai de Alan, que nunca
conheceu o filho, a abandonou no mesmo dia que
ela descobriu que estava grávida. Eu nunca o
conheci, nem Liz, porque éramos afastadas nessa
época.
— Me desculpa — peço.
— Nat, de verdade agora. Você precisa
amadurecer, mais do que nunca, não sei como
Gustavo aguenta seu gênio do cão — Liz diz. —
Vocês vão ter um bebê em breve e ele nem sempre
vai correr atrás de você, então, dê o braço a torcer
de vez em quando. O relacionamento de vocês está
mais sério, você querendo ou não!
Encaro as duas e Liz está no modo mãezona me
repreendendo e aconselhando.
— Concordo com Lizandra, Nat. Criança não é
brincadeira, vocês precisam ajustar esse
relacionamento, pois agora não é só um simples
namoro. Daqui a pouco não serão só vocês dois,
vem uma responsabilidade a mais e vai precisar de
uma base sólida — Taís completa.
— Você contou que era o sonho dele, finalmente
começou a realizar e você nem sequer comemorou
direito com ele. Sei que foi por medo da minha
reação. Mas pediu desculpas depois disso? — Liz
me repreende.
— Não, ele nem quer falar comigo — respondo,
me sentindo uma criança.
— Então não reclame de ele estar distante —
ela rebate com petulância.
Fito Gustavo, distante, olhando atento para Alan
com Zeus, brincando no chão. Totalmente alheio da
minha conversa com minhas irmãs.
— Mas como eu faço isso? — questiono e volto
minha atenção para elas.
— Você vai saber. — Taís dá de ombros.
Um tempo depois, Gustavo me chama para a
gente ir para casa, e voltamos, depois de me
despedir de todos e beijar e abraçar Liz, matando a
saudade, e avisando que depois volto para ver ela...
Me desculpar? Como farei isso?
A volta foi silenciosa, me deixando tensa. E
assim que chegamos, ele avisa que vai na casa do
tio para uma reunião rápida e de emergência. Até
me chamou para ir junto, mas neguei porque estava
cansada.
Gustavo me deixa sozinha, avisando que
mandaria mensagem quando estivesse saindo, e
que qualquer coisa era para eu ligar.
Me jogo no sofá com Zeus, pensando o que
poderia fazer para voltarmos a ficar bem e para me
desculpar. Me pego alisando de leve minha barriga
já com um pequeno volume embaixo, sem sentir
culpa depois de ter contado para minha irmã. Aos
poucos, minha ficha está caindo. Daqui há alguns
meses vou ter um bebê. Isso é tão... estranho e
empolgante!
Será que vai ser menina? Ou menino? Com
certeza vai ter olhos claros. Agora, no tom de
Gustavo ou o azul do meu? Terá cabelo escuro igual
ao dele, ou claro como os meus? Não importa, se
tiver o mesmo gênio que eu, estou fodida.
Filho... Que coisa estranha. Porém, me sinto
ansiosa e percebo que, pensando bem, quero sim
que ele exista, agora, exatamente onde está. Mesmo
nesse momento delicado. Não sei por que, mas me
sinto esquisita de um jeito bom e nem sei o motivo
de eu estar sorrindo e chorando.
Agora sei o que Gustavo sentiu, e eu o queria
aqui agora comigo, comemorando isso como
merecíamos. Preciso de algo para me reconciliar
com ele, odeio essa distância e gelo que estamos,
logo nós que sempre fomos quentes e próximos o
tempo inteiro.
E, sabendo exatamente o que fazer, sigo em
direção ao meu destino, de Uber. Pelo horário, dá
tempo de ir e voltar, se eu for rápido, já que Guto
não vai demorar.
Meia hora depois estou de volta, correndo para a
cozinha para preparar um jantarzinho bem romântico
para nós dois.
Faço comida ouvindo uma playlist que é tão
nossa, e procuro no quarto as velas aromáticas que
compramos no sex shop. Acho que vão servir por
hoje. Quem sabe as algemas não entrem em ação
também? Os géis eu sei que vou usar!
Arrumo a mesa, organizando os pratos, tudo
direitinho junto com os talheres e as velinhas
estrategicamente posicionadas. Meu celular apita e
vejo que tem mensagem de Gustavo avisando que
está saindo de lá.
Coloco o vinho para gelar e vejo que tem suco
para mim, infelizmente. E isso está sendo um dos
maiores contras dessa gravidez não planejada. Não
poder beber é um saco, mas é para um bem maior.
Corro para tomar banho. Me visto normalmente
e coloco uma lingerie preta e de renda por baixo.
Hoje tem! Ele não perde por esperar, sei
surpreender!
Zeus foi dormir cedo e de barriga cheia depois
de aprontar muito com Alan. Escuto os passos de
Gustavo, pois ele fez questão de se anunciar,
cantando baixo. Acendo as velas e apago algumas
luzes da cozinha, deixando o ambiente num tom
maravilhoso e sexy, e eu mesma abro a porta antes
dele.
— Nat? O que é isso? — questiona assim que
entra.
— Fiz para nós. Aproveite a noite!
Arrasto-o para o sofá, que continua a me olhar
surpreso e confuso. Homem desconfiado!
— Estou adorando, mesmo perdido.
Pelo menos aceitou minha tentativa de ser uma
namorada legal. Ele fica descalço, mas não deixo
tirar a camisa, pois pularia várias partes do meu
planejamento. O arrasto para a cozinha para
jantarmos.
— Hum, jantar romântico, é?
Ele arqueia as sobrancelhas e sorri
abertamente. Mando ele sentar enquanto busco a
comida no balcão. Sentamos para comer e pego
minha taça já com suco.
— Isso é vinho também?
— Não. Suco de uva. — Reviro os olhos
sorrindo.
Jantamos com a playlist tocando baixo, deixando
o clima gostoso e agradável. E ele elogia minha
comida de novo, porque sou cheia de talentos!
— Vem aqui.
Gustavo me puxa, eu colido no seu peitoral e ele
já sorri cheio de intenções sacanas.
— Tenho um presente para você — falo
baixinho.
— Presente? — Franze o cenho.
— Sim. Vai para sala que vou buscar.
Ele acena intrigado e corro para pegar o pacote
que comprei no shopping, quando saí mais cedo.
— Tome.
Sento do lado dele no sofá enquanto ele abre a
embalagem.
— Não acredito!
Diz choroso vendo o minimacacãozinho branco
escrito ''estou chegando, papai''. Sorrio para ele, me
permitindo contagiar pela sua felicidade. Gustavo me
derruba no sofá do jeito delicado dele e me beija, me
amolecendo completamente.
— O que deu em você hoje? Não que esteja
reclamando. — Sorri lindo.
— Quero te agradar. Você está merecendo. —
Faço biquinho de volta. — Desculpa por ter ficado
distante esses dias. Estou feliz pelo bebê, de
verdade. Sinto que ele tem que estar exatamente
onde está.
— Linda! Por isso que amo você.
Sorrio para ele e volto a beijá-lo, matando a
vontade, já que esses dias ficamos um pouco
afastados e não nos beijamos como merecíamos.
— Aawn — gemo quando ele ataca meu
pescoço com pequenos beijos.
Puxo sua camisa nos colando de novo. Sinto
seu corpo quente contra o meu e gemo.
Aperto seu braço enquanto ele me beija e me
apalpa, me deixando molhada. Passeia a mão pelo
meu corpo com mais urgência, assim como faço eu
no dele, sentindo seus músculos dos braços, e suas
costas largas. Esse homem é todo trabalhado na
gostosura.
Gustavo tira meu vestido, me deixando só de
roupa íntima, e contraio a barriga quando distribui
beijos até meu umbigo. Sua barba pinica me dando
comichões e ele continua a descer. Agarro seus
cabelos quando chega exatamente aonde quero que
chegue, e ele é ávido, chupa com fome. Mordo as
bochechas por dentro enquanto ele me tortura com a
boca. Só consigo gemer e agarrar as almofadas.
Deus! Como senti falta disso.
Ele não me deixa gozar ali e, nos braços, me
leva para o quarto, sobrepondo seu corpo quente ao
meu, apertando minha bunda com força.
— Sabe, eu estava pensando em usar aqueles
géis que compramos. — Ergo as sobrancelhas,
sugestiva. Gustavo sorri da mesma forma.
Me viro para o criado-mudo, pois já deixei
facilitado. Pego o primeiro gel que minha mão
alcança e o mostro. Vejo que é sabor de chocolate.
Opa!
Ele apenas me observa. Saio de cima dele e
engatinho na mesma hora que ele se ajeita em uma
posição mais favorável para nós dois. Puxo seu
short e cueca de uma vez, e ele pula com toda sua
gostosura. Seguro no seu pau e lambo com cara de
malvada, calmamente, parte por parte. Ele geme e
se contorce. Beijo e lambo a barriga dele com
vontade e ele empurra o quadril um pouco para
cima. Passo para suas coxas, arranhando de leve, e
ele geme ainda mais forte.
Levanto a cabeça e ele está sorrindo sacana
para mim. Balanço de novo o frasquinho que tinha
deixado do lado da perna dele. Em seguida abro e
coloco umas gotinhas na cabeça do pau. Espalho
com os dedos, acariciando com delicadeza, olhando
para ele, que está com a testa franzida e gemendo
de uma forma gostosa e máscula, como ele sabe
fazer para me enlouquecer. Assopro e ele geme
segurando nos meus cabelos.
— Está frio! — ofega.
Coloco mais um pouquinho e o masturbo com
vontade, enquanto beijo seu corpo até onde dá, pela
posição que estou, e olho para ele vendo o seu rosto
se contorcer ainda mais de tesão, e com a boca em
um O.
— Agora está quente! — avisa enquanto eu
estou com ele na boca, chupando e lambendo
vigorosamente.
Mas decido não brincar muito, pois estou
morrendo de tesão e tenho essa necessidade. Ouvir
ele gemendo meio rouco é muito gostoso, e me
deixa com mais tesão. Não o deixo chegar ali, senão
a brincadeirinha acabaria e eu mesma monto nele. A
cada centímetro preenchido, sentindo-o escorregar
com firmeza e maciez para dentro, fico mais
arrepiada, assim como ele. Ofego e sinto o calor de
ser preenchida totalmente por tudo isso, e suspiro
com a sensação que eu amo sentir e mordo a boca.
Gemo e agarro nos seus braços, mordendo seu
ombro.
Olho para ele, que respira pausadamente,
soltando o ar aos poucos. Seguro no seu pescoço,
quente como os nossos corpos, e começo a me
movimentar subindo e descendo freneticamente,
gemendo, enquanto ele alterna entre beijos,
lambidas e carícias nos meus seios, e eu o agarro
como apoio, enquanto ele me ajuda a subir e descer,
segurando e apertando minha bunda.
Ele troca nossas posições, investindo forte em
mim, com socadas intensas e profundas, me
preenchendo vigorosamente. Se tornou um sexo
quente. Sinto o pau dele ir até o fundo e voltar com
rapidez. Eu reviro os olhos sentindo o prazer
absoluto que ele me proporciona. Guto pega na
minha nuca, e guia minha boca na dele em um beijo
molhado e gostoso.
O agarro contra mim, chegando ao ápice intenso
e ele vem me acompanhando, num rangido feroz. E
colo minha boca na dele, agora num beijo calmo.
— Estou doido para te ter morando comigo. — A
voz rouca de Gustavo ecoa.
Me mantenho em silêncio. Esqueci
completamente desse “detalhe”. Morar é diferente de
namorarmos, e me sinto ansiosa e temerosa com
esse novo passo. Mas não posso colocar o conforto
do bebê abaixo dos meus medos.
— Está com medo de quê? — indaga.
— Morar junto é praticamente um casamento
sem papel. — Abaixo os olhos.
— E tem medo disso?
— Sim. Eu tenho medo de a gente enjoar um do
outro ou não dar conta. Mas eu quero fazer dar
certo.
— Não se preocupe, vamos fazer dar certo. Nem
acredito que vai morar comigo!
— Eu sei que nessas coisas eu não sou tão
segura, é tudo muito novo. Desculpas se eu mostrar
resistência com algo, não é por mal.
— Eu sei, pequena, eu sei.
Acho que finalmente as coisas vão se encaixar
conosco, e é muito estranho somar eu e ele com
mais um.

Felizes e plenos, Gustavo e eu seguimos para


casa da mãe dele, para o aniversário de casamento.
Meus pais estão chegando em breve, com Taís e Liz,
que já vem para voltar à rotina.
Logo descemos do carro e eu olho
impressionada para a casa, que é grande e muito
linda. Tem um jardim bastante espaçoso, com lugar
para estacionar cinco carros, onde Gustavo ocupou
um com o dele.
Entramos depois de Gustavo tocar a campainha
e alguém sorridente atender. O hall é enorme.
Depois da porta, subimos uns cinco degraus no piso
brilhante branco e vejo um rápido corredor
mostrando a sala. Adentramos mais e logo dona
Regina vem nos recepcionar.
— Que bom que vieram. — Ela sorri e nos
cumprimentamos com beijos no rosto.
— Cadê Rodrigo? — Gustavo questiona.
— Daqui a pouco aparece com seu tio, que está
vindo com ele.
— Certo.
— Venham pra cá.
Ela vai em direção à sala e nós a seguimos. Os
pais de Gustavo me parabenizam e me paparicam
pelo bebê, e eu sorrio, mimada por eles. Guto me
puxa pela mão e seguimos para dentro da casa.
Conheci por dentro e é tudo bem chique e um pouco
monocromático. Vi algumas fotos de Gustavo, lindo
desde sempre.
Voltamos para a sala para conversar, e logo
escutamos vozes e a porta sendo aberta. Olho para
trás não contendo minha curiosidade e quase caio
para trás com o homem que aparece. É o mesmo
que ficou me encarando no sepultamento.
Reparando bem, eles até se parecem nas
características físicas. Acho que não tem homem
feio nessa família.
Sem brincadeiras, o tal do Rodrigo é enorme,
com os olhos azuis claros dando um visual super
atraente no rosto barbudo, e está usando uma touca
na cabeça. Bem despojado. O homem é lindo
demais. Claro que acho Gustavo muito mais bonito,
mas ele também é, e muito. Gustavo me apresenta
formalmente para uma mulher, que na verdade é tia
dele e mãe do tal Rodrigo, primo dele, e eu já o vi
algumas vezes nas festas da empresa. Mas nunca
paramos para conversar.
— E aí, Gusta! — Ele chega sorrindo e abrindo
os braços.
— E aí, seu displicente! — Gustavo o abraça.
— Eu estou aqui. Vou ser um cara sério agora.
— Conta outra!
— E é essa a beldade? — Ele me olha de um
jeito galanteador, jogando charme, e eu sorrio
também com o entusiasmo dele.
— Se afaste que é minha! — Gustavo diz
possesivo, e me segura. — Nat, esse é Rodrigo,
meu primo, e Digo, essa é Natasha, minha
namorada.
— Prazer. — Ele sorri me dando um beijo na
bochecha.
— Prazer.
Ele se senta espaçoso no mesmo sofá que
Gustavo e eu estávamos.
— Tem irmãs? — ele pergunta sem vergonha
alguma.
— Tenho mais duas, pode levar — respondo e
ele ri.
Nós três conversamos e gargalho do seu jeito
despojado e nem aí com nada. Imagino esse homem
assumindo a presidência da agência junto com
Gustavo, o fuzuê que vai ser. Já imagino as
mulheres loucas por ele.
Os pais de Gustavo fizeram festa quando
conheceram minha família. E amaram Alan. Depois
que conheci mais eles, vi que são bem mais
simpáticos. Os tios dele também, assim como
Rodrigo, que pelo que percebi ficou analisando
descaradamente Taís, que se fingia de cega, não
gostando das olhadas. Subimos para a área externa
da casa, onde acontecia a confraternização. E fui
apresentada para mais alguns amigos próximos dos
meus sogros e família que foram chegando. Taís
ficou um pouco afastada, brincando com o filho, pois
não tem crianças por aqui, porém, trouxemos o
Zeus. E Liz estava conversando com Rodrigo até
nesse instante.
Jantamos todos juntos, minha sogra está
encantadíssima que vai ser avó. Fico entre as
pernas de Guto e recosto a cabeça no seu ombro
enquanto ele põe a mão na minha barriga, que não
tem muitos traços de gravidez, enquanto
conversamos com seu primo e minha irmã.
— Sua irmã é bem antissocial, né? — Rodrigo
pergunta, apontando para Taís com o queixo, que
está sorrindo ao olhar o filho brincar. — Ou é por
causa do marido que não está?
— Ela é um pouco reservada. Daqui a pouco
encosta — Liz responde. — Ela não tem marido. —
Sorri singelamente para ele.
— O moleque é dela, né? Percebi pela cor dos
olhos.
— Está reparando demais na minha irmã, né? —
Aponto para ele.
— Sou observador. — Sorri cretino e eu reviro
os olhos.
A noite está muitíssimo agradável. Rodrigo sai
logo em seguida, deixando nós três sozinhos. Não
tem muita gente. A festa está bem família mesmo.
Gustavo me sequestrou sem ninguém notar, para
darmos uma fugidinha para namorar com
privacidade.
Taís, esbaforida e suada, aparece, sem nos
darmos conta da sua ausência, e desgrudou de Liz
durante toda a noite, praticamente.
Foi muito bonitinho ver meus sogros juntinhos e
felizes por mais uma década juntos. Fizeram Bodas
de Pérola, trinta anos juntos não é para qualquer um,
quase a idade de Gustavo.
Eram quase onze horas da noite quando
decidimos ir embora, Alan já dormiu esgotado no
colo de Taís e Zeus foi fazer companhia para seu
mais novo amigo, ficando por perto. Irá dormir lá em
casa, porque Liz pediu. E eu e Gustavo voltamos
para o apartamento dele para encerrar a noite da
nossa forma.
23
NATASHA
Satisfeita, mas com um friozinho na barriga,
escuto meu nome ser chamado pela ginecologista
obstetra para minha primeira consulta. Ela me
acompanha desde sempre e confio nela para me
acompanhar e dar apoio nesses meses todos do
bebê.
Estou me sentindo mais segura para encarar
essa gravidez, e estou ansiosa com essa ideia de
ser mãe. A ansiedade está tomando meu ser, com
curiosidade sobre o sexo do bebê e com quem vai
parecer mais, tanto na personalidade, quanto
fisicamente. E Gustavo está mais babão que nunca.
Andei conversando com Taís, que agora está
mais próxima de mim, já que passou por isso, e ela
está me aconselhando coisas que eu nem fazia
ideia. Percebemos que temos mais coisas em
comum do que imaginei, a enxergo como a irmã que
ela é, mesmo Liz sendo minha favorita para sempre
por ser mais próxima.
— Oi, Natasha — Keila me saúda sorrindo.
— Olá. — Retribuo o sorriso.
Ela cumprimenta Gustavo, e iniciamos a
consulta com mil e uma dúvidas. Meu bebê ainda
está uma pequena e adorável sementinha. Estou
com mais tempo que achei, dois meses e mais um
pouquinho. E na próxima consulta já poderemos
ouvir os batimentos.
— Até quantos meses são recomendados atos
sexuais? E queria saber se isso machuca o bebê.
Gustavo pergunta quase no final da consulta,
que foi bem calma. Sua pergunta me deixa surpresa
e constrangida. Quando ela falou que se a gente
tivesse dúvidas era para falar, não imaginei que ele
perguntaria isso.
— Por enquanto estão aptos, e não machuca.
Contudo, se você teve ou tiver algum tipo de
sangramento, ainda mais agora no primeiro
trimestre, eu vou suspender, pelo menos até a
décima quarta semana.
Terminamos a consulta e agradecemos. Chego à
agência com Gustavo, que se despede e sobe.
Encontro Alexia no corredor, mais sorridente que
nunca.
— Vadia! — Me abraça.
— Oi. — Sorrio abertamente para ela. — Tenho
algumas novidades. — Sorrio mais.
— O quê? Conta!
— Promete que não vai gritar.
— Não prometo nada. Pelo jeito o babado é
quente.
Faço um mini suspense para ela, que me olha
em expectativa.
— Conta, pelo amor de Deus!
— Você vai ser titia.
Alexia continua a me olhar séria.
— Sério, Nat. Para de gracinha, conta logo.
— Eu estou falando sério. Você vai ser titia,
acabei de chegar da consulta.
Ela continua a olhar para mim, incrédula, e em
seguida abre um sorrisão.
— Está falando sério? Se isso for pegadinha eu
te jogo da escada, eu estou grávida!
— Uma mulher grávida não ameaça outra
mulher grávida.
— Meu Deus! Não acredito que serei titia. —
Alexia ainda me abraça apertado, sorrindo. — Eles
serão da mesma época!
Dou uma crise de riso numa confraternização só
nossa, com abraços apertados e empolgação a nível
extremo.

GUSTAVO
Saio do banheiro após o banho e olho para
Natasha, dormindo serena no meio da cama, de lado
com a mão na barriga, que já está um pouquinho
mais evidente que antes, por mais que ela disfarce
com roupas mais folgadas, mas é quase impossível
descobrir uma barriguinha com mais de três meses.
E eu estou apaixonado por contemplar essa
cena linda assim, em casa. Cada coisinha que faz, a
barriga crescendo, eu me sinto mais realizado e feliz.
Me sinto o homem mais sortudo da face da terra. Um
filho da puta, para falar a verdade.
Algumas pessoas desconfiaram das mudanças
de roupas dela, mas Nat não deu margem para
fofocas. Falando em agência, Amanda, mesmo
sabendo que estou comprometido com Nat, tenta me
seduzir de alguma forma, seja com roupas
apertadas, que não são permitidas, ou com assuntos
nada a ver, para chamar minha atenção.
Continuo mantendo distância, não só porque
Natasha me mataria se me visse de conversa, e
aguentar Natasha e mais os hormônios de gravidez
é o cão, pois tenho amor ao meu saco, mas também
porque não tenho vontade nenhuma desse tipo de
aproximação.
Os dias estão passando bem, ela está tentando
controlar o nervosismo pelo bebê, que cresce
saudável. Quando me contou do bebê eu tive
vontade de carregá-la, gritar e amassá-la nos meus
braços de tanta felicidade que fiquei.
Confesso que no primeiro momento senti medo,
além da felicidade, por ter que cuidar de uma
pessoinha que em breve vai me chamar de pai.
Porra! Mal posso esperar por isso.
Ontem fomos para mais uma consulta e eu me
senti orgulhoso vendo meu bebê. Não teve emoção
maior do que ver seu poderoso coraçãozinho
batendo. Eu me emocionei, e Nat também.
Ainda não sabemos o sexo, na última consulta
não conseguimos, mesmo com os meses bons para
ver, pois estava com as perninhas fechadas. Sem
contar que não poderia escolher mãe melhor para
ela, ou ele. Ou simplesmente, como Nat diz, “a
coisinha”.
Eu mal posso esperar para quando começar a
se mexer. Tenho até pena de acordá-la agora para ir
à agência, pois vive se queixando de cansaço. Mas,
se eu fizer isso, ela com certeza vai arrancar meu
fígado com as unhas.
E falando nesse humor agridoce dela, Natasha
está mais imprevisível e imperativa que nunca. No
mesmo momento que está tendo um ataque de
risos, chora sem motivo algum, ou porque eu estou
sorrindo besta para ela. Confesso que isso me deixa
confuso, e ai de mim se eu não a acalmar com toda
paciência do mundo.
Nesse pouco tempo, mesmo não reparando,
amadureceu um pouco e está preocupadíssima com
o bebê. Além de aprender a controlar o nervosismo,
como me prometeu. Sem contar que já a peguei
alisando a barriga e conversando algumas vezes.
Mas nunca atrapalhei esse momento dela.
— Vem, amor.
A chamo, abraçando por trás e colocando a mão
na barriga. Todos os dias faço isso, pare ver se
mexe, mas nunca dou sorte, ainda não mexeu. Acho
que ainda é cedo.
— Já amanheceu? — questiona com a cara
enterrada no travesseiro.
— Sim. Te deixei até dormir mais um pouco.
Nat boceja de olhos fechado e se vira para mim.
— Está cheiroso.
— Acabei de sair do banho.
— Por que não me chamou para tomar com
você? Agora vou tomar sozinha! — Está manhosa
demais.
— Porque eu sei que não seria só banho.
Levanta!
Desço para beijar sua barriga, que não consigo
parar de admirar. Planto uns beijinhos lá e ela sorri
boba. Como não amar essa mulher?
Seguimos normalmente nossa rotina. Depois
que fui promovido a presidente semana passada, as
coisas para mim mudaram um pouco. Rodrigo já
está trabalhando aqui na agência e as pessoas já o
conhecem e sabem que houve reajuste de cargos.
Eu fiquei como presidente, e Rodrigo, depois de
um tempo, ficou no meu cargo, ainda sendo
monitorado, porque não é bom confiar nele assim,
com uma responsabilidade desse tamanho.
Como eu já vinha estudando e me acostumando
com algumas mudanças, fazendo dois cargos em
um, estou dominando com um pouco mais de
facilidade que ele, que toda hora liga para meu
ramal.
Mas eu ainda estou sob supervisão do meu tio,
que vem aqui checar antes de largar de vez, até eu
pegar os macetes, e treino Rodrigo da mesma forma
que meu tio faz comigo.
Desejo bom dia para a secretária que me auxilia,
eu pedi para continuar com Mércia, pois estou
acostumado com ela.
— Sr. Gustavo, o Sr. Rodrigo está te esperando
na sua sala — me avisa.
— Obrigado.
Sigo para a sala de Rodrigo e dou dois toques
na porta, entrando e o encontrando sentado com as
duas mãos na nuca, a cabeça recostada em um dos
sofás iguais aos que tenho na minha sala, onde Nat
cochila no seu religioso descanso depois do almoço.
— E aí! — chamo a atenção dele, que se vira. —
Queria falar comigo?
— Oi. Quero. Mas na hora do almoço, tudo
bem? Chama Natasha também. — Seu tom sério me
deixa curioso.
— Tá bom então!
Aceno e vou para minha sala, desabotoando o
paletó e o colocando na cadeira, antes de sentar
nela, dando de cara com uma foto de Natasha e
Zeus dormindo juntos e agarrados, em cima da
minha mesa. Sorrio extasiado.
No horário do almoço, Nat sobe como eu pedi e
eu a recebo de braços abertos. Ela senta no meu
colo, sedenta por um beijo.
— Acho que vou passar em casa hoje. Dormir
por lá. — Alisa minha barba. — Estou preocupada
com Liz. Quero passar um tempo com ela, sinto-a
distante de todo mundo.
— Tudo bem. Quer que eu te leve lá?
— Não sei. Pode ser. — Aceno.
Já imagino a miséria que vai ser para dormir
sem ela, já me acostumei com sua presença no meu
apartamento.
NATASHA
— E aí, casal? — Rodrigo aparece, chamando
nossa atenção quando estamos na sala de Guto em
um dos sofás. Ele nos chamou para almoçar e não
entendi nada.
— Oi — Gustavo e eu respondemos juntos.
— Posso conversar com você? — Aponta para
mim.
— Eu? — questiono estranhando.
— É, mas Gustavo fica se quiser, ele vai saber
mesmo. — Dá de ombros.
Rodrigo senta do nosso lado, e percebo que
está tenso. Gustavo me ajeita no seu colo e eu o
encaro, com a curiosidade correndo em mim.
— Então... Queria ajuda para reconquistar sua
irmã.
Olho para ele bem confusa. Reconquistar quem?
— Taís... A gente teve um rolo há alguns anos.
O menino... é meu. A idade dele coincide com o
tempo em que ficamos separados.
Antes de sequer raciocinar, lhe acerto um soco
no seu ombro, que fica incrédulo com minha ação e
Gustavo chama meu nome em alerta, me puxando
de volta, e sacudo minha mão, que dói. Rodrigo
continua estático com a mão no ombro.
— Então você é o babaca que a abandonou
para viajar para não sei que inferno! Você sabe o
que Taís passou quando você foi embora? Ela
descobriu a gravidez no mesmo dia que você
terminou com ela e foi embora! — esbravejo.
— Eu não sabia de filho nenhum... — responde
ele. — E ela nem quer olhar na minha cara, como se
eu tivesse rejeitado a criança.
— Motivos para isso ela tem! Eu não vou te
ajudar em nada! Taís ficou sofrendo um tempão pela
sua viagem e com um bebê na barriga. Agora volta
como se você fosse a vítima? Ah, por favor!
Gustavo ainda me segura. Estamos nós três em
pé. Ele tenta me puxar, mas estou brava demais
para deixá-lo me levar para onde quer.
— O bebê, Nat. O estresse faz mal — Gustavo
tenta me acalmar.
— Quando a gente terminou, eu não sabia de
bebê algum, Natasha. Não me pinte como um idiota
que abandonou uma mulher grávida! — Rodrigo se
altera, levantando.
— Eu não vou te ajudar em nada, já falei.
Procurou a irmã errada. A casamenteira é Lizandra.
— Chega! Natasha! Não! Se você não pensa na
criança que carrega, eu penso! — Gustavo se altera.
Gustavo me arrasta para perto da janela onde
tem um ar gostoso e eu acabo caindo num choro
nervoso. Ele me abraça para que eu me acalme.
— Me desculpa. — Soluço.
— Você está se estressando com um problema
que nem é seu.
— Vou ser uma péssima mãe! — O remorso me
atinge.
— Não vai, mas aprenda a se acalmar. Controlar
o estresse. Você explode muito fácil. Respira
devagar.
Ele pede e eu obedeço, enquanto ele alisa meu
cabelo e recebo um beijo casto no rosto e um
selinho nos lábios. Era só o que me faltava agora.
Rodrigo ser pai de Alan.
Não deixo de ficar chocada e surpresa. Mas, se
depender de mim, ele que conquiste ela com os
próprios méritos, se tiver. Só não quero ver minha
irmã sofrendo de novo por causa dele.

GUSTAVO
De frente para Rodrigo, tento sanar os ânimos
exaltados e conversar sobre o assunto “filho”, para
ele me esclarecer a história direito, já que depois da
discussão não conversamos mais.
Mas acho que ele está tentando falar com Taís.
Porque as irmãs já conversaram entre si. Acho que é
sina, Maldonado ser louco a ponto de correr atrás
pelas Vargas. Sorrio brevemente por isso, mas volto
a atenção para meu primo, que está sério.
— Diga — o incentivo.
— Como você se sentiu quando soube que seria
pai? — pergunta, exasperado e preocupado —
Quando olhei para meu moleque, depois que percebi
que era meu filho, me senti estranho e diferente.
— Hum, eu senti orgulho e me senti eufórico de
saber que vem um meu aí. — Não evito sorrir.
— Está sorrindo do que, seu desgraçado? Da
minha miséria?
— Não e sim. — Rio. — Você está apaixonado
por ela de novo?
Rodrigo revira os olhos e depois me olha sério.
Suspira e eu abro um sorriso. Eu disse, é sina.
— Se eu tiver, não vai adiantar de nada. Ela não
quer olhar na minha cara.
— Você está tentando se aproximar de Taís por
causa da criança ou por que quer algo mais sério
com ela? Ou por fogo, Rodrigo?
Não adianta ele remexer no passado se não
está com intenções claras. Nat me contou sobre o
que a irmã passou quando esse filho da mãe foi
viajar. Ninguém nunca entendeu essas viagens de
Rodrigo. Mesmo com uma vida ganha, tentava
procurar outros meios de se sentir realizado. Já
tentou milhões de faculdades depois da que
concluiu, mas sempre saía nos primeiros semestres.
E acabou optando por viajar para descobrir sua
verdadeira vocação.
Meu tio acha que isso é pura irresponsabilidade
dele para não amadurecer, mas Rodrigo nunca deu
bola e fica viajando sem parar. Até decidir, por fim,
dar mais uma chance para os negócios do pai,
depois de muito esforço para convencê-lo a pousar
aqui novamente.
— Sei lá, cara. Sinto como se... Sei lá, é louco.
Taís me deixa estressado com a frieza, tenho
vontade de mostrar que ainda sou a porra do homem
que ela dizia que amava. E só a suposição de que
realmente não me quer, um pouco sequer, me deixa
angustiado. Eu já vi um homem saindo do
apartamento dela e foi ácido o gosto que ficou na
minha garganta.
— Se lembre que você a deixou para viajar. E
ela estava grávida! — o lembro.
— E você acha que não sei? Se eu soubesse
que ela estava eu não iria. Essas viagens só foram
perda de tempo!
— É aí que está o problema, Rodrigo. Ela acha
que você está a querendo de volta pela criança, e
não por ela. Pois você terminou, lembra?
— Queria me aproximar dos dois, mas não sei
como. Não sei por onde começar. Umas duas vezes
fui à casa de Taís, e fiquei morrendo de vontade de
dizer que sou o pai dele. Queria abraçá-lo.
Olho para ele, que está com uma expressão
cansada e sentida. Imagino a barra que ele deve
estar passando. Descobrir que é pai assim, do nada,
gostar do garoto antes mesmo de saber do laço. E
pior que o menino também gosta dele. E na hora não
poder se aproximar. Eu já teria dado uma de louco.
— Olha para isso, meu moleque é lindão.
Tira o celular do bolso e acende, para eu ver a
foto dele com Taís abraçados e sorrindo numa festa
de aniversário, na tela principal de bloqueio.
— Já está nesse nível, é? — debocho da cara
dele. — Onde achou essa foto?
— Andei stalkeando as Vargas e achei essa foto.
— Ele dá de ombros. Rodrigo é pirado. — E você, é
pai de um macho ou uma boneca?
— Na próxima consulta, vamos tentar ver de
novo.
Ele acena se levantando e, antes de ir, aviso que
tentarei falar com Nat para ver se ela pede para Liz
ajudar.
— Só tenta acalmar ela, por favor, por mais que
eu a tenha perdoado pelo murro no ombro, não
quero outro.
Gargalho em puro deboche da cara dele. Só
Natasha mesmo para sair assim, batendo nos
outros. Volto ao trabalho, dando atenção para as
coisas que preciso administrar, que não são poucas.
Planilhas e mais planilhas, contratos e mais
contratos. Ainda hoje tenho reunião depois do
almoço com uns sócios.
Me assusto pela porta sendo aberta, mostrando
uma Natasha esbaforida.
— Preciso de você!
Fala como se tivesse corrido uma maratona. E
rio, já sabendo do que se trata. O apetite sexual dela
triplicou. Várias vezes já chegou aqui na sala para
dar uma rapidinha e “voltar a trabalhar em paz”,
como ela mesma diz. E não foi só uma vez. É
praticamente todo dia, ela aparece na minha sala
para uma foda rápida, e depois desce suspirando, se
dizendo satisfeita.
— Sou todo seu.
Natasha fecha a porta, girando a chave e
descendo a alça do vestido com urgência, e dou
espaço na cadeira para que monte em mim. Ela
ataca minha boca com ânsia. A apalpo, já ficando
duro de tesão.
Afasto a calcinha e coloco um dedo dentro dela,
que está quente e molhada. Natasha geme baixinho
na minha mão enquanto estou tão duro quanto um
mastro de ferro. Pulsando de vontade de entrar nela.
A sento na ponta da minha mesa com as pernas
abertas e em pé, com a calça nos tornozelos, e entro
nela. Gemo rouco, segurando suas pernas enquanto
Nat geme baixinho, ainda me segurando.
E soco, numa foda rápida e dura, enquanto Nat
delira gemendo manhosa e baixinho, fincando as
unhas nos meus braços, fazendo com que eu vá
ainda mais rápido enquanto aliso seu botãozinho
inchado.
— Continua assim.
Nat pede enterrando o rosto no meu pescoço,
enquanto morde meu ombro, como sempre faz. Aos
poucos sinto ela se desmanchar com pequenas
tremedeiras e eu a aperto pela cintura, com cuidado,
sempre, liberando minha porra dentro dela.
Suspiro ofegante, assim como Nat, ainda no
meu pescoço suspirando.
— Será que vai ser assim a gravidez toda? Não
que eu esteja reclamando.
— Esse bebê vai me deixar maluca!
Ela se recompõe com sorriso frouxo, numa vibe
bem calma.
— Obrigada por isso.
Me dá um selinho demorado e vai em direção à
porta para voltar ao trabalho. Confesso que estou
amando esse apetite sexual elevado de Natasha. E
espero que continue até o final!
24
NATASHA
Sigo com Gustavo pra um restaurante para
almoçar com Rodrigo, que está nos esperando lá.
Confesso que estou sentindo um pouco de remorso
pelo soco, por mais que ele mereça. E então aceitei,
pois devo um pedido de desculpas a ele.
Mas, das minhas duas irmãs, a que mais está
me preocupando no momento é Lizandra, que não
está agindo como antes, mesmo voltando à sua
rotina normal. Venho percebendo-a afastada e se
desinteressando por tudo. E eu me culpo um pouco,
por não ter mais tanto tempo para ficarmos
grudadinhas como antes, embora ela nunca me
cobre.
Estar grávida toma muito meu tempo, apesar de
estar curtindo a fase e relevando os poucos enjoos.
Meu bebê é a coisa mais linda que existe, mesmo
que eu ainda não o tenha visto. Mal posso esperar
para comprar as coisinhas dele ou dela, apesar de já
ter ganhado algumas coisinhas de Liz e Alie, que
será mamãe de gêmeos, acreditam? E dos pais de
Gustavo, que mandaram uns presentinhos fofos.
Estamos em expectativa para saber o sexo, mas
não quero assumir um lado. Sinceramente? Para
mim tanto faz, e por isso a gente não parou para
escolher nome.
Gustavo chegou a falar que queria que viessem
dois logo, como com Alexia, e eu quase morro
engasgada. Mas fiz questão de mostrar a ele, na foto
do ultrassom que ele guarda na carteira, que é
apenas um. E ainda bem!
Meu corpo teve algumas mudanças singelas e
totalmente normais para a gravidez. As pessoas do
prédio já desconfiaram, mas deixei rolar, não
confirmei nem neguei nada, não é da conta deles.
Quem eu queria que soubesse já sabe.
Chegamos e eu cumprimento Rodrigo
rapidamente, encarando o homem de olhos claros e
cansados na minha frente. Pelo menos ele não
guardou mágoa pelo meu surto.
Eu não irei me meter nisso, mas espero que não
esteja brincando novamente com minha irmã; chegar
assim do nada, agitar a vida dela e depois ir embora.
E dessa vez não é só Taís que ele vai deixar para
trás, caso renuncie à responsabilidade que ele
precisa ter.
Se eu vir que ele realmente quer ela de volta, eu
posso até dar uma ajudinha, mas ele que faça o
resto. Se Taís não aceitá-lo, já não é mais comigo.
Só quero que minha irmã siga a vida dela feliz,
assim como Alan, que merece saber que tem um
pai, tadinho. Meu lado materno morre de pena disso.
Gustavo ficou intermediando mais ou menos o
que Rodrigo e eu achávamos de tudo. Ele acabou
me contando que quer sim voltar para minha irmã e
tentar algo sério. Fiquei surpresa pela confissão e
deixei-o seguir adiante com o que sente. Pelo que
me parece, Taís o nocauteou sem levantar um dedo.
— Rodrigo, quero te pedir desculpas.
— Não se preocupa com isso. Te entendo
perfeitamente.
— Entende? — Fico surpresa.
— Entendo. Se fosse com minha irmã, eu
também faria isso, mas seria mais de um soco no
sujeito.
Ele ri brevemente e eu rio também, com
Gustavo.
— Então posso te bater mais? Nas minhas
contas foi apenas um — sugiro.
— Você é do mal. Sua mão é pesada!
Ele coloca a mão no ombro teatralmente ao
lembrar a dor.
— Não brinque com minha irmã, Rodrigo. Estou
falando sério agora. O que você recebeu, tem mais,
esperando apenas seu primeiro vacilo — o ameaço.
— Nossa! Gustavo está fodido. Eu vou andar na
linha. Não se preocupe.
Nosso almoço transcorreu agradavelmente e
logo voltamos para a agência. Mal posso esperar
para deitar com as pernas elevadas. Mas quando
cheguei, corri para o banheiro para vomitar. Tinha
que ser cria de Gustavo!
Volto para a pia do banheiro, ainda me sentindo
tonta. A pior parte da gravidez é isso. Essas
vertigens, cólica, gosto de metal na boca e enjoo.
— Então é verdade o boato de que está grávida.
Me viro, respirando com dificuldade, para dar de
cara com a vagabunda da Amanda, batendo palmas
em deboche.
— Que feio, Natasha. Isso tudo é para ser
sustentada? Ou é medo de concorrência? E quis
logo amarrar ele. Tenho que admitir, isso foi um
golpe de mestre — continua a jorrar veneno num
falso tom de admiração.
— A concorrência seria você? — Rio sarcástica.
— Não tenho medo de você. Se eu tivesse medo de
cobra não sentava em uma.
Me viro, segurando no mármore da pia como
apoio.
— Vai me subestimando, Natasha, mas saiba
que nem você e nem essa criança catarrenta aí vão
ficar no meu caminho. E não se preocupe, eu
cuidarei direitinho do meu enteado, ou enteada,
quando for visitar o pai. Isso se for de Gustavo,
claro.
Meu sangue ferve de ódio, como nunca senti
antes, e com toda força que sinto no momento, solto
na cara dela um tapa de mão aberta que até estalou
e a fez virar o rosto.
— Nunca mais, Amanda, escute bem, nunca
mais fale assim do meu bebê. A menos que queira
que eu arregace sua cara, e nem essa agência
inteira vai conseguir me tirar de cima de você.
Vocifero com o dedo em riste no rosto dela, que
me olha assustada, perdendo a compostura de
deboche.
— Vai se arrepender, Natasha. Vai tirando onda
de dona disso aqui. — Se recompõe, temerosa,
mantendo distância.
— Veneno de cobra do seu tipo, para mim é
suco!
— Ainda vou te mostrar onde é seu lugar!
Não dou ouvidos a ela. Respiro fundo
começando a tremer de nervoso. Fecho os olhos
para controlar a respiração. Merda! Não posso me
estressar, eu prometi a Gustavo e a mim mesma que
faria uma gravidez calma, mas nada colabora para
isso.
Escuto a voz de Alexia me chamando. Ela logo
surge no banheiro, medindo Amanda de cima a
baixo, mas vem na minha direção me amparar e logo
me segura para sair de lá.
— Você não tem o que fazer não? E, ó, limpa o
veneno da boca, está escorrendo — escuto Alexia
falar, inconformada com Amanda enquanto me
arrasta.
Confesso que se não tivesse me sentindo um
pouco tonta, com certeza gargalharia da atitude de
Alexia me defendendo.
— Tome, sis. Respira fundo.
Alexia me entrega um copo com água e se senta
ao lado da cadeira onde estou. Pego o copo e bebo,
me acalmando um pouco depois de agradecer.
— Quer que eu peça para chamar Gustavo? Ou
te levar lá em cima?
— Não precisa. Isso sempre foi entre mim e ela.
— O que ela fez para te deixar nervosa desse
jeito? — questiona preocupada.
— Ela falou mal do meu bebê, Ali.
Digo chorosa, me sentindo magoada.
— Oh, meu Deus!
Ali me abraça e limpa minhas lágrimas em meio
a um sorriso.
— Você vai ser uma mãe incrível, sis. Estou
morrendo de orgulho de você.
Alexia me abraça de novo até me acalmar e
voltarmos para o trabalho. Subiram dois briefing e
descemos um raf. Pelo menos de trabalho não
posso reclamar.
O expediente acaba e Gustavo me leva até em
casa, e a encontro toda escura. Mesmo nesse
horário, Lizandra já deveria estar em casa. Beijo
Gustavo, que está com cara de cachorrinho, e desço
do carro depois dele falar que é para eu comer
direito.
Entro com minhas chaves e não vejo ninguém
na sala. Mas a encontro no próprio quarto, ajoelhada
na cama, debruçada na janela e olhando a rua. Ela
se vira assustada quando acendo as luzes.
— Está fazendo o que aqui sozinha no escuro?
— Nada de mais. Só vendo as pessoas mesmo.
Qual o milagre por aqui?
— Vim ficar com você. — Adentro mais no
cômodo.
Liz abre um sorriso grande e vem na minha
direção para mexer na minha barriga.
— Está crescendo muito rápido — comenta.
— Também estou achando.
A arrasto para sala e peço pizza para
comermos. Antes que reclamem, é desejo de
grávida. E, ao adentrar no meu quarto, percebo que
meu armário não tem quase nada meu, porque já
levei para a casa de Guto. Estou fazendo a mudança
aos poucos, toda vez que venho aqui eu levo
algumas coisas. Estar grávida é cansativo.
Liz me chama quando a pizza chega e ela
mesma escolhe um filme para assistirmos.
— Sis, você quer conversar? — ofereço.
— Sobre o quê? Não tenho nada para falar —
ela responde na defensiva.
— Poxa, Liz, a gente sempre contou as coisas
uma para a outra. Você está agindo diferente e não é
de agora. Vive trancada dentro do quarto —
comento.
— Você não para com essa mania de eu estar
diferente — rebate sem paciência.
— Então você assume que está diferente. Você
nunca foi assim, para de fugir!
— Natasha, para de dar uma de mãe para cima
de mim, tá? Eu já sou maior de idade há muito
tempo. Dê uma de mãe quando seu bebê nascer.
Irritada, levanta em passos duros até seu quarto
e escuto a porta bater. Dizem que eu sou geniosa,
mas é porque nunca moraram com Lizandra, ela
consegue ser pior que eu nos quesitos sangue
quente e teimosia.
Mas ela que me aguarde. Liz que não pense que
vou esquecer esse assunto, ela vai me dizer tudinho!

Eufórica, vejo minha barriga no espelho. Cinco


meses. Minha barriga deu um belo salto. Está
maiorzinha, e impossível de esconder. Gustavo
tentou me convencer a fazer o exame de sexagem
fetal, para sabermos logo, mas eu não quis.
Não quero acelerar nada da gravidez, inclusive,
mesmo com medo do parto, vou esperar pelo
normal, no tempo que quiser sair.
Dizem que mãe sente o sexo que vem, mas eu
não consigo saber. Às vezes acho que é menina,
mas às vezes acho que é menino. E fico nessa
dúvida eterna. Enquanto o bebê não resolver abrir as
pernas para sabermos, eu me divirto com a
curiosidade de Gustavo.
Ainda não paramos para decidir o nome, mas
conversamos sobre alguns e estamos escolhendo.
Eu mal posso aguentar a ansiedade para saber o
que vem. Se eu vou ser mamãe de um menino, ou
de menina.
Todos os dias penso que em breve vou ter meu
bebê no meu colo. Que vou amamentar.
— Vê se colabora hoje, mamãe.
Aliso minha barriga. Todos os dias eu converso
com meu bebê, na esperança de que ele vai mexer,
mas ainda não me presenteou com isso. E pensar
que não queria que viesse nesse momento da minha
vida. Já pedi desculpas algumas vezes por isso.
Sinto uma espécie de bolinhas na barriga, um
pouco perceptível, e seguro nela para saber se foi
isso mesmo que senti. Chutou?
Continuo a segurar para ver se faz de novo, mas
não sinto nada.
— Faz de novo, bebê.
Peço em expectativa, mas sem ser
correspondida.
— Natasha? — escuto Gustavo me chamar.
— Aqui — respondo.
Esse homem não me dá um minuto de sossego.
Estou quase pedindo uma liminar de distância dele.
Gustavo aparece e sorri abertamente quando me vê
examinando a barriga no espelho.
— Está ansiosa?
— Estou. — Sorrio. — Acho que mexeu nesse
instante. Senti umas coisas estranhas.
Gustavo apressa o passo na minha direção,
coloca a mão na minha barriga e se agacha,
beijando-a. Mal posso esperar para ver esse homem
enorme com o bebê. Será uma cena linda! Guto
passa a mão conversando, pedindo para mexer de
novo, como eu fiz.
— Você também sentiu? — Não evito um sorriso
bobo no rosto.
— Mexeu!
Gustavo alisa de novo e sinto outro pequeno
movimento mais perceptível ainda. Não evito a
pequena emoção. É como se finalmente dissesse:
“estou aqui!” Tentamos fazer mexer novamente, mas
sem sucesso.
— A criança vai ter seu gênio.
Sigo atrás dele para sairmos para a consulta.
— Por quê?
— Pura teimosia. Já percebeu isso, não? Não
quis abrir as pernas na consulta passada, não mexe,
e quando mexe, eu peço e não faz de novo.
Gargalho colocando a mão embaixo.
— Que judiação!
Chegamos e esperamos sermos atendidos,
como sempre fazemos. Converso com algumas
grávidas sobre a gestação e Gustavo mexe no
celular, alheio de tudo. Chega a minha vez e entro
na sala, com ele me acompanhando.
Keila me explica tudo que vamos saber hoje
enquanto me examina. Nesse exato momento, estou
com o coração batendo a mil, deitada para saber o
sexo, com Gustavo do meu lado, mais ansioso que
eu, segurando minha mão. Finalmente!
Keila passa a maquininha em cima do gel
gelado, que vai refletindo aos poucos, na tela.
— Não está de pernas abertas, mas vou tentar
fazer abrir de novo — ela explica.
— Impossível dizer que não parece com a mãe
— Gustavo comenta, e reviro os olhos.
Keila passeia pela minha barriga e eu miro a tela
em curiosidade, meu coração acelerado.
— Aqui, abriu. Acho que agora dá para ver.
— É MENINO!
Gustavo berra e olho para ele, confusa. Como é
que ele viu? Eu ainda estou tentando identificar.
Keila ri ainda olhando na tela.
— O que você viu foi o cordão umbilical.
Explica ainda sorrindo e eu gargalho. Só
Gustavo mesmo para falar isso.
— Mas você está certo. É menino. Um menino
grandinho.
Sorrio abertamente e Gustavo transborda. Ele
me olha sorrindo, com seus lindos olhos azuis
molhados. Não demora para que sermos liberados e
Guto me agarra num abraço choroso.
— É um mini Gustavinho — faço graça.
— É. Nosso menininho.
Gustavo me aperta e beija minha testa, me
soltando para levantar. No caminho para a agência,
sorrimos como dois bobos. Um menino!
— Que nome nós vamos dar a ele? — pergunto
enquanto aliso minha barriga.
— Eu gosto de Elias — comenta. — De
Francisco também.
— Não — nego categórica.
— Poderíamos colocar Francisco — sugere.
— Nem morta! Vai nascer aposentado, né? Não
gostei. Automaticamente eu imaginei meu bebê
nascendo de óculos, sabendo jogar damas e
acordando às cinco da manhã para varrer a calçada.
Gustavo gargalha pelo que falei.
— É antigo, mas é forte. Francisco Maldonado.
— É sério. Esses nomes não. Imagine se fosse
menina e eu colocasse um nome antigo desses?
— Que nome?
— Neide. Já viu uma bebê de colo chamada
Neide? É muito estranho.
Gustavo gargalha mais uma vez enquanto eu
penso no nome para meu bebê. Essa coisa é difícil,
conheço tantos nomes bonitos, mas para nomear
ele, não acho nenhum legal. Fiquei um tempão
pensando, mas é difícil. E do nada surge uma ideia,
que não sei se Gustavo vai querer.
— Guto, e se colocássemos Vinicius? —
titubeio, receosa.
— Quer dar o nome do meu avô?
— Sim, mas só o primeiro mesmo, sem o neto
no final. Ele será Vinicius, porém Vargas.
— Vinicius Maldonado. — Gustavo sorri
abertamente.
— Vinicius Vargas Maldonado — O corrijo com
graça.
— Ele vai ser lindo.
— Vai! — confirmo empolgada.
— Obrigado por isso. Você é maravilhosa.
Ele pega minha mão, beijando-a rapidamente.
Sorrio, alisando minha barriga com uma felicidade
inexplicável. Vou ser mamãe de um menino, e não
poderia ficar mais feliz por isso.
Conto para Alexia assim que chego, que
comemora comigo. E decido contar para Liz no
almoço. Ela ainda está diferente e distante, vive
fugindo de mim. Mas amanhã, sábado, ela não me
escapa. Já sei até o que vou fazer.
A cada cinco minutos eu passo a mão na barriga
enquanto trabalho, com uma felicidade imensa.
Estou doida para ele mexer novamente.
Engraçado como o amo, mesmo não o
conhecendo. Mas sei que vai ser a coisa mais linda
do mundo. Amo tanto quanto o pai... Que, por acaso,
é o amor da minha vida.
Isso mesmo, acabei de falar que ele é o amor da
minha vida. Vocês não estão loucas. Não é só
porque não saio me declarando a cada dois
segundos, como ele, que não sinto. Só sou
comedida para isso. Cada um tem sua intensidade e
forma de demonstrar.
Meio-dia saio para almoçar com Liz, que ficou
me ligando por eu estar demorando. Animada, conto
a ela sobre ser menino e o nome que quero pôr. Liz
grita empolgada. E rio com ela, eufórica novamente.
Almoçamos juntas e a chamo para um fim de
semana nosso, mas ela não aceita, desanimada.
Não aguento mais esse desânimo de Lizandra,
preciso acabar com isso logo, antes que fique
depressiva.
Como ela veio dirigindo, decidiu me levar até o
trabalho, para eu não andar isso tudo sozinha.
Contei a ela sobre as duas últimas de Amanda.
Antes de Liz ligar o carro, o celular dela toca e
interrompe a conversa. Olha o visor e franze as
sobrancelhas.
— É Taís!
Automaticamente penso em Alan, se aconteceu
algo. Liz aperta para atender, e coloca no viva-voz,
para ter Taís chorando na linha, nos assustando.
— O que aconteceu? — Lizandra pergunta
preocupada.
— Acho que estou grávida, e não sei o que
fazer.
Desata a chorar. Olho para Liz, assustada.
Como assim Taís está grávida? De quem? Ai, Deus!
— Explica direito, Taís. É dele? — peço.
— Grávida, Nat. Minha menstruação ainda não
desceu. E tive a mesma coisa quanto estava grávida
de Alan. Não tenho estrutura para fazer o teste. E,
sim... Aquele idiota! A gente transou lá quando nos
vimos e não usamos nada... Estou perdida.... —
Chora mais.
Liz e eu ficamos confusas e preocupadas. Mais
um pepino para resolver. Chocada é meu nome
nesse exato momento.
— Se tiver, vai contar?
— Não sei. Ele quer ter direto sobre Alan, e se
souber dessa criança vai querer também.
— Vocês não se entenderam? — pergunto
curiosa.
— Não. Ainda estou ressentida por tudo o que
aconteceu.
— Achei que vocês estivessem se entendendo,
já que ele confessou que ainda te ama. Acho que ele
não falou isso por causa de Alan, ele legalmente tem
direito pela criança. Acho que deveriam conversar —
Liz aconselha.
— Tenho medo de apostar minhas fichas nele, e
acabar iludida mais uma vez, mas dessa vez, se ele
for embora, não vou ser só eu a ficar pra trás. Uma
vez eu até aguentei, mas duas eu não sei se
consigo. — Ela continua a chorar.
— Irmã, saiba que vamos ficar do seu lado, tá?
Mas pense direitinho.
Digo para reconfortá-la, pois, se eu, namorando
sério Gustavo, fiquei desesperada, imagine ela, na
situação que está. Liz conversa mais um pouco com
ela e desliga. Fizemos o caminho quietas. Que treta
vai rolar se ele descobrir! Vou nem comentar com
Gustavo, para ele não acabar contando para o
primo. Prometi não me meter, e eles que se
resolvam.

— Algo me diz que Lizandra vai ficar putíssima


com essa visita surpresa — Alie comenta.
Decidi, com Alexia, apelar para uma pequena
intervenção em Liz, e saber o motivo de ela estar
nesse desânimo todo. Hoje vai me falar por bem ou
por mal. Nem que a gente brigue depois, mas vai me
contar.
Nossas barrigas estão quase do mesmo
tamanho. A dela está maior, mesmo tendo poucos
meses de diferença da minha gravidez, por causa
dos dois bebês. Dou de ombros, andando em
direção à porta, e abro com minha chave. Está tudo
silencioso... Deve estar dormindo ainda.
Entro com Alie no quarto dela e a vejo deitada
de bruços, acordada, olhando para o nada. O quarto
está uma bagunça horrível e ela sempre foi mais
organizada que eu. Que merda aconteceu aqui?
— Lizandra?
Alexia é a primeira a chamá-la, e Lizandra sai do
transe. Ela olha para nós duas e vejo que estava
chorando. Sinto um aperto no peito, surpresa por
encontrá-la dessa forma. Seguimos para seu lado da
cama e ela suspira desanimada.
— Conta pra gente, Liz. Estamos preocupadas.
Eu confiei em você, confia na gente também —
Alexia pede de modo carinhoso para Lizandra, que
tenta evitar o choro novamente.
— Lembra-se de Roberto? A gente estava quase
namorando. Eu descobri que ele era casado, gente.
Foi horrível descobrir que eu era a outra. E ainda
tem um filho. Ele é a pessoa mais nojenta que
conheço.
Liz desata a chorar. Nunca imaginaria isso.
— Liz... — Alexia aperta a mão dela,
reconfortando-a.
— Pior, eu ainda achei que estava grávida, por
conta das minhas dores, eu juro que desejei não
estar. Por ele ser casado, não queria ele como pai
de um filho meu. Estava me sentindo um lixo e
envergonhada por estar nessa situação, e ainda por
cima vir um bebê... Não aguentaria. E me sinto
culpada, não tem um dia que eu não penso nisso
como um castigo, eu ter complicação de cirurgia por
rejeitar a criança que sequer existia.
Liz continua a chorar sem controle e Alexia, que
estava mais próxima, a abraça chorando. Estou da
mesma forma, nunca que imaginaria isso.
— Qual o nosso apelido? — Alexia pergunta
séria.
— Sis — responde baixo.
— E o que significa?
— Sister, irmãs — sussurra devagar.
— E por que não contou os problemas para suas
irmãs logo no começo? Não estamos de enfeite aqui,
droga — Alexia diz séria e chorosa.
— Eu sou o centro de vocês duas, se eu ficar
mal, vocês ficam pior, e não quero ver ninguém
sofrendo por mim. Ainda mais por aquele babaca ser
o motivo.
— Saiba dividir o peso, sis. Estamos aqui por
você — a reconforto e ela me abraça.
— Fiquei tão envergonhada — comenta ainda
chorosa, com a voz abafada. Continuo alisando os
cabelos dela enquanto me aperta. Alexia levanta da
cama e abre as cortinas que estavam fechadas,
clareando o quarto.
Estou sentida e aliviada pela minha irmã. Que
vontade de tacar fogo nesse Roberto. E me sinto
ainda mais culpada, pois eu a estimulei a ficar com
ele. Sou uma péssima irmã. Às vezes fico tão
imersa em meus problemas que me esqueço de
minha irmã, que talvez precise da minha companhia,
justo ela que sempre esteve lá por mim.
25
NATASHA

Aceno e sorriso para a secretária, que está


arrumando as próprias coisas. Eu e Gustavo
decidimos sair hoje para comprar coisas para o bebê
e para mim, pois minhas roupas já não entram mais.
Vinicius, depois que mexeu na primeira vez,
agora mexe toda hora, e na maioria das vezes só
para Lizandra, que fica toda boba e, claro, se
achando e contando vantagens. Ele claramente
mostra o favoritismo pela madrinha. Meu filho e Guto
é uma amizade que eu não aguento, já cansei de ir
dormir deixando Gustavo conversando e alisando
minha barriga, agitando o bebê. Mas compreendo
essa euforia dele.
Eu adoro percebê-lo me olhando com
ternura, bobo, mesmo me sentindo uma baleia, mas
ele insiste em dizer que não. Meus peitos estão
enormes e Guto nem chega mais perto deles, já
estou produzindo leite e quando se aproximou,
tomou sem querer uma esguichada na cara.
Ando em direção à porta de Gustavo, que
está entreaberta, e uma coisa que escuto me faz
ferver de ódio. Essa voz eu conheço, que merda ela
está fazendo aqui dentro?
Sem pensar muito abro ao mesmo tempo
que vejo Amanda colada com Gustavo, que segura
ela pela cintura. Como é?
— Alguém poderia me explicar que merda é
essa? — questiono batendo a porta atrás de mim.
Deus! Me segura para não dar na cara de
alguém hoje.
— Nat...
Gustavo arregala os olhos assustado,
largando Amanda e a empurrando para criar
distância.
— Oh, Natasha. Nem vi você aí. — Amanda
finge uma cara de surpresa e faz meu ódio subir.
— Chega! Estou por aqui com você, garota!
Avanço para cima dela com todo ódio que
estou sentindo. Dou um tapa estralado no seu rosto.
Nunca provoque uma mulher grávida com hormônios
loucos em ebulição!
Cansei! Se ela acha que eu acredito nesse
golpe horroroso, se ferrou. Amanda subestima minha
inteligência. Ela acha que sou quem? Ao menos que
Gustavo fosse burro demais para me pedir para
subir no mesmo momento que está agarrada com
ela aqui dentro. Burro e idiota!
Amanda grita enquanto agarro os cabelos
dela e lhe acerto um tapa. Não sou fã de briga
feminina, ainda mais por homem, mas olha, ela
pede. Ela vem para descontar, mas Gustavo
interrompe me puxando para o lado.
— CHEGA!
Gustavo grita possesso. Respiro fundo
tremendo de ódio dela. Foram poucos os tapas,
Amanda está com a mão no rosto, ofegante, tanto
quanto eu.
— Você está demitida! — falo entredentes.
Se Gustavo for inteligente não vai se opor. E
se for, nosso relacionamento acabará aqui, e preciso
de uma explicação urgente por estarem agarrados
dessa forma.
— Que eu saiba você não manda em nada
aqui. — A filha da mãe ainda tem coragem de ser
audaciosa. Me segurem!
— Você ouviu Natasha, né? — Gustavo fala
sério.
— Mas... você viu que foi ela que começou.
Ela é agressiva. Eu vou processar vocês, ela por
agressão e você por não ter feito nada. Não pode
me demitir!
— Agressão por quê? Vai dizer o que lá?
Que você é uma cobra e eu não alimento essas
coisas? — indago.
— Natasha! — Gustavo toca no meu braço,
claramente mandando eu ficar quieta.
— Gustavo. Não precisa fazer esse teatro.
Nós fomos descobertos.
Tenta manipular. Não cansa de passar
vergonha. Eu acreditaria caso Gustavo algum dia
desse algum tipo de espaço para que eu pense isso.
Eu confio demais nele para acreditar em uma
pessoa fora do relacionamento que por um acaso
me odeia.
— Chega! Amanda passe no RH. Não falarei
de novo. Não quero esse tipo de pessoa trabalhando
aqui. Você fez uma coisa grave, manipulação não é
tolerável. Depois disso não quero você aqui!
— Gustavo! — ela grita contrariada.
— Vai logo, antes que eu perca a paciência e
isso vá para o pessoal e não faça carta nenhuma de
recomendação. — Gustavo respira fundo.
— Vocês ainda vão me pagar, isso não
acaba aqui.
Amanda sai trotando e fecha a porta com
grosseria. Me solto de Gustavo. Estou puta! Por
mais que ela seja oferecida, alguma confiança ele
deu para ela chegar onde chegou. Estou com ódio,
capaz de fazer merda.
— Não acreditou no que viu, né? —
questiona alarmado. — Nat... eu juro que não
tivemos...
O corto da ladainha.
— Não sou burra. A menos que você seja,
de me chamar para cá com ela aqui dentro. Só
quero saber, que merda ela estava fazendo aqui? —
A raiva é perceptível na minha voz.
Gustavo me segura de novo colocando
menos espaço entre nós e me puxa para sentar no
seu colo, mesmo eu não resistindo. Estou irritada!
— Veio de surpresa, se queixar que você bateu nela.
— Isso faz um tempão. — Reviro os olhos. — Conte
o resto.
— Ela estava aqui se queixando, normalmente, até
chorou. Mas do nada levantou e se jogou em cima
de mim, e em reflexo eu a segurei.
— E por que não fez nada, Gustavo? — Aumento
minha voz.
— Foi a hora que você chegou. Acho que ouviu sua
voz lá fora. Você acha mesmo que eu ia deixar
chegar perto?
— Hum.
— Vocês brigaram por que antes? Já falei milhões
de vezes para parar de se estressar.
— Ela quem provoca. E outra, não tenho sangue de
barata. Acredita que chamou ele de catarrento, e
ainda duvidou da paternidade?
Digo emburrada quando lembro. Que raiva dessa
mulher!
— Ela não vai te estressar mais.
— Espero. Faço de tudo para ter uma gravidez
tranquila, mas é foda.
— Eu sei, mas se acalme, certo?
Aceno e Gustavo passa a mão na minha barriga e
me beija, porque sabe que isso me desarma.
Cretino!
Seguimos para o shopping e o clima pesado
rapidamente se despiu. Como estamos cheios de
sacolas de roupinhas de bebê, ele decide me deixar
comendo enquanto vai levar tudo pro carro. Depois
daqui ainda vamos comprar algumas roupas para
mim.
— Natasha?
Escuto meu nome sendo chamado em repúdio. Paro
de mirar meu lanche e levanto a cabeça para dar de
cara com Manuela me olhando em uma mistura de
deboche e confusão. Continuo séria para ela, que
me mede vendo minha barriga, ao mesmo tempo
que fica com uma cara ainda mais confusa.
Era só o que me faltava!
— Conseguiu mesmo amarrá-lo, né? — Aponta para
minha barriga. — Falou de mim e deu o mesmo
golpe. Mas te digo, isso não será impedimento
algum para ele te largar.
Ela continua com a pose ridícula de superior.
— Por que você não vai se foder? Até pagaria um
Uber só para você ir.
Debocho, pois sei que esse meu lado debochado
sempre a deixa fervendo. Não vou me estressar com
isso. A saúde do meu bebê é mais importante.
— Não sei o que Gustavo viu em você. Além de tudo
é mal-educada.
Pior coisa é ex que não aceita que perdeu. Nunca
entendo esse incômodo ridículo. Parece que não
consegue seguir a vida. Eu, hein! Parece que não
tem vida própria. Já está com o idiota do Fábio, e
ainda assim vem escorrer o veneno.
— Ele viu em mim o que você não tem. Quer que eu
liste?
— Pode ficar com ele, eu estou noiva, ele é duas
vezes mais rico que o Gugu e não é mão de vaca e
nem pobre como o Fábio — debocha do apelido que
ela mesmo deu. — É senador, vários esquemas e
viagens. — Sorri alegremente.
— Não lembro de ter perguntado sobre como anda
sua vida — retruco. — E está velha demais para
sugar baby, não, amore? — debocho.
Pelo jeito ela arranjou um otário para bancá-la, como
ela queria. Mas só em não ficar vindo atrás tentando
dar um novo golpe é o suficiente, quero nem saber
se ela supostamente “deu certo na vida.”
— O papinho está bom, mas preciso ir.
Pisca e sai rebolando. Idiota! Gustavo volta, me
presenteando com um sorriso enorme. O filho da
puta é gostoso demais.
— Quase que não deu no carro — comenta.
— Hum.
— Que foi que está assim?
— Manuela estava aqui agora. — Reviro os olhos.
— Ela fez o que com você? — Preocupado, olha
para trás para ver se consegue achá-la.
— Nada, só veio alegremente dizer que está noiva
de um senador, acredita?
Dou com a mão, não me importando.

Com quase oito meses, aliso minha barriga e o sinto


se mexer. Sorrio por isso, encarando o quarto em
que vivi desde que saí da casa dos meus pais, agora
vazio. É difícil desapegar de uma casa que morei
tantos anos.
O quarto de Vinícius ficou lindo, foi uma coisa linda
ver Gustavo sem camisa, tentando montar o berço,
que ele mesmo fez questão. A maioria do meu
tempo livre é lá dentro. Gustavo fez questão de
arrumar os mínimos detalhes e eu o agradeci muito
por isso. Estou totalmente derretida de antemão
imaginando ele aqui. Estou ansiosíssima para ele
nascer, mesmo morrendo de medo do parto. Mas
Guto sempre garante que estará comigo.
Estou gostando desse gostinho de lar, de casa que
estamos tendo. É diferente quando era aqui com
Lizandra, mas gosto. Sinto-me como uma dona do
lar, cuidando dele, mesmo que no momento seja ao
contrário, com ele cuidando de mim. Até me afastou
do trabalho, por mais que eu garantisse que estaria
bem até semana que vem, melhor que ficar em casa
sozinha, mas ele foi irredutível, e agora fica me
ligando a cada cinco minutos do meu dia.
— Nat!
Liz aparece sorridente, voltando a ser a Lizandra de
sempre. Estou aqui em casa pegando minhas
últimas coisas.
— Que foi?
Ela continua a sorrir. Qual o problema dela hoje?
Será que andou transando por aí?
— O que tem aí? — pergunto quando a vejo com as
mãos para trás.
— Um presente.
— Para mim? — Me interesso.
— Não! Para meu bebê.
— Antes eu era seu bebê — resmungo divertida
arqueando uma sobrancelha e colocando meus
cabelos para trás.
— Você é também, mas ele agora tem prioridade.
— Está certo isso, Vini? — Passo a mão na barriga.
— Mas não me mate de curiosidade. Tem o que aí?
— Abre.
Liz entrega uma caixa média e eu abro curiosíssima
para ver um coelho branco de pelúcia. É gostoso de
apertar, vontade de morder.
— Que lindo!
Encantada, abraço o bichinho cheiroso.
— Assim que vi, pensei logo nele.
— Você será uma madrinha babona demais.
— Madrinha? — Seu tom é surpreso.
— E você ainda tinha dúvidas?
Liz me abraça apertado na medida do possível, e de
novo me presenteia com um grande sorriso.
— Obrigada por isso, sis. Eu amei! Saiba que aqui
sempre vai ser sua casa, tá?
Sorrimos uma para a outra e em seguida ela me
abraça de novo. Não evito em chorar no ombro dela.
— Não esquece de mim.
— Que isso, Nat. Em vinte minutos eu chego lá.
— Eu sei. Estou melancólica hoje.
Fungo limpando meus olhos. E, juntas, seguimos
para a sala esperar Guto vir me buscar. Lizandra
decide fazer brigadeiro e eu, claro, concordo de
imediato.
— Promete para mamãe que não vai dar trabalho
para sair?
Converso com Vinicius, fitando a barriga. Estou
morrendo de medo do parto. Medo de ter alguma
complicação, ou acontecer alguma coisa. E claro, da
dor e de não conseguir empurrar ele como se deve
fazer.
— E também que vai ser um bom menino e não ser
chorão, para deixar mamãe dormir, né?
Aliso a barriga enquanto sorrio para ela. Não existe
melhor momento para mim do que esse.
— Se cumprir com a nossa promessa, prometo que
te deixo mamar por um mês a mais. — Sinto ele
chutar e sorrio abertamente. — Tudo bem, dois.
Lizandra aparece com a panela, sentando do meu
lado. E Guto chega em seguida, cumprimentando
ambas, com um sorriso lindo.
— Gustavo. Te desejo sorte, viu? Para aguentar
esse gênio do cão de Nat, só amando de verdade
mesmo.
Liz fala para ele enquanto cata minhas coisas e ele
ri.
— Ei! — resmungo.
— Precisarei.
Gustavo ri junto com ela.
— Mas muito cuidado com minha irmã, viu?
— Tô sabendo. Capaz dela me fazer chorar em vez
do contrário.
Me despeço de Liz com um abraço e um beijo e
Gustavo se despede dela também com um beijo na
bochecha.
— Vê se faz ela parar de comer porcaria.
Comenta na porta do carro, comigo dentro. Dou
dedo para ela enquanto ri. Gustavo acena sorrindo e
em seguida arrasta o carro.
— Estou cansada — resmungo.
— Chegando lá vamos a gente toma um banho
relaxante.
O clima ainda está frio e chuvoso. Sinto o cheiro
gostoso de terra molhada e tenho uma vontade
enorme de comer. Vinicius me faz comer muita coisa
que, em estado normal, eu nem chegaria perto, mas
isso já é demais.
— Quando você nascer eu deixo você comer.
Prometo.
Em casa, deito cansada e Gustavo se aproxima de
mim. Meus pés estão inchados e doendo.
— Vai me dizer o porquê de estar quietinha assim?
— Não é nada — sussurro.
— Nat...
Gustavo me olha também deitado, de frente para
mim.
— Estou pensando no parto, só isso. Estou com
medo.
— Vou estar com você. — Alisa minha cabeça.
— Eu sei. Mas estou com medo de não conseguir ter
força o suficiente para tirar ele — choramingo. — Eu
estou com pressentimento ruim.
— Para com isso. Vai dar tudo certo.
— Promete uma coisa para mim? — O encaro. —
Que se eu te deixar de lado, mesmo sem querer, vai
compreender?
— Por que está assim hoje?
— Não sei. Acordei melancólica.
— Fique tranquila. Vinicius vai ser o único homem
que vou deixar te roubar de mim.
Rio fraco para ele enquanto ele ri para mim.
— Você me ama mesmo? E vai continuar mesmo
que às vezes eu seja teimosa? Ou se tiver
dificuldades de ser uma boa mãe? — Guto olha para
mim com uma feição confusa por causa de minhas
perguntas francas. Estou uma pilha.
— Sei que você vai ser a melhor mãe. E outra, não
quero que mude, amo você desse jeito teimoso. Já
ouviu dizer que homens podem até casar com as
tímidas, mas se apaixonam pelas loucas? No meu
caso me apaixonei pela louca, mas não vou casar
nunca com uma tímida.
Aceno alisando sua bochecha e barba.
— Também amo você do seu jeito paciente e
amoroso.
— Repete.
Reviro os olhos e sorrio.
— Amo você e não tem pessoa melhor para eu
amar.
Sou tirada dos meus devaneios pelo telefone
tocando. O nome e a foto de Guto piscam no visor e
eu atendo. Essa é a decima ligação, que eu me
lembre, desde que ele saiu para o trabalho. Nem me
deixou dormir direito depois que foi, pois toda hora
ligava para saber como eu estava. Até eu decidir
levantar e ir para a sala assistir e tomar café, porém
acabei pegando no sono aqui mesmo.
Nat? Está tudo bem?
Te falei que sim meia hora atrás. — Rio e ele
acompanha.
Estou chegando para almoçar então.
Tudo bem.
Desligo, sentindo uma ansiedade estranha no meu
peito. Hoje acordei assim, ansiosa sem nem saber o
motivo. Gustavo logo chega dando um beijo em mim
e outro na barriga. Ele acaba indo cozinhar para a
gente, pois estou proibida de fazer isso, já que acha
que vou me machucar. É, ele está nesse nível de
cuidado.
Guto decidiu trabalhar só até hoje, antes de tirar um
pequeno recesso para ficar comigo nessa reta final
de gravidez. Ser o próprio chefe é outra coisa.
Almoçamos juntos e peço para ir com ele para me
despedir de todos. Na verdade, tive que implorar,
porque estava receoso em me levar. Não aguento
mais ficar trancada aqui sozinha.
No caminho recebo uma ligação de Liz, querendo
saber se eu estou em casa, mas a chamo para me
encontrar lá na agência para tomar um café comigo.
Chego e cumprimento algumas pessoas e
praticamente todas passam a mão na minha barriga,
me fazendo ficar com ciúmes.
Sim! Eu tenho uma coisa egoísta comigo de não
gostar quando as pessoas vêm colocar a mão em
cima. Passo no meu setor onde estão trabalhando e
cumprimento os dois.
— Se for bonito que nem o pai vai ser sucesso! —
Téo comenta.
— Meu bebê vai ser lindo. Independente de com
quem parecer.
— Exibida.
Mando beijos por cima dos ombros. Decido deixá-lo
trabalhar e sigo meu caminho para a sala de
Gustavo. Fiquei lá mexendo no celular com os pés
para cima enquanto ele trabalha, até Liz me mandar
uma mensagem avisando que está aqui embaixo.
— Vou pedir para Mércia te levar lá embaixo! —
Gustavo me segura, esperando o elevador.
— Não. Liz está aqui embaixo já.
— Certo. Vou adiantar e desço.
Entro no elevador, aperto o botão do térreo e solto
beijo para ele, que sorri do jeito lindo que me
encanta toda. Desço o elevador e saio do hall
cantarolando uma música e segurando na barriga
pesada.
Vejo Liz do outro lado da rua, sorrindo e acenando.
Sorrio para ela. Espero a sinaleira ficar vermelha
para atravessar. É mais fácil eu ir que ela vir e me
buscar. A rua é curtinha.
Atravesso na faixa para encontrar Liz, mas me
assusto com o cantar de pneus junto com a voz
esganiçada de Liz.
Olho para ela, que está com uma cara apavorada.
Mas não tenho tempo de raciocinar, pois caio no
chão com o impacto e minha visão fica turva; sinto a
barriga tremer, de repente, ao mesmo tempo que
endurece de um lado.
Vinicius...
26
GUSTAVO

Em meio aos papéis, meu celular toca me


tirando do foco completamente. Resolvi sair de
licença mais cedo, pois conheço a mulher que amo e
sei que ela não vai sossegar e nem eu sossego com
ela. E pelo que eu vejo, meu filhote vai ser tão
elétrico quanto ela. Mesmo geniozinho difícil, estou é
muito ferrado, mas sabe? Eu adoro me sentir assim.
Acho que não me sentiria tão realizado com Natasha
se ela fosse amena e sempre acatasse tudo que eu
quisesse. Não teria graça.
Não me imaginaria namorando ou tendo um filho
com Manuela mais. Pode parecer clichê, mas o amor
é clichê, fazer o quê? Nem dela e nem de outra
mulher. Bagunço os papéis para ver no visor que é
Lizandra. Estranho, mas rapidamente atendo para
saber o que é.
Oi, Liz!
Gustavo?
A voz dela está tremida e chorosa e meu coração
automaticamente acelera.
Vem para o hospital, o perto da agência, por favor.
Agora!
O que aconteceu?
Vem logo! Nat quase foi atropelada, mas está
consciente. Vem logo!
Estou indo para aí.
Desligo o celular com o corpo tremendo, o peito
apertado e o coração a mil. Mesmo em choque jogo
o celular no bolso e saio da sala em disparada.
Desço pelas escadas para ir mais rápido. As
pessoas me olham, algumas cochicham,
provavelmente já souberam o que aconteceu.
Estou muito desesperado e preocupado com Nat e
Vinicius.
— SAI DA FRENTE, PORRA!
Grito buzinando várias vezes, acelerando mais o
carro. Acho bom terem anotado a placa e os meus
amores estejam bem, pois eu mato quem fez isso!
Eu mato!
Estaciono o carro um pouco para fora, mas foda-se!
Estou nem aí se tiver multa.
Entro no hospital disparado e eufórico perguntando
por Nat e eles me encaminham para a ala da
maternidade onde ela está.
Vejo Lizandra no corredor, de cabeça baixa e
escondendo o rosto. Ando mais rápido e coloco a
mão nas costas dela, que me olha com os olhos
cheios de lágrimas. Não...
— Liz... cadê Nat? — pergunto angustiado e
morrendo de medo da resposta. — Vinicius.... —
Engulo a seco, passando a mão no cabelo,
exasperado.
— Ainda está fazendo exames, chegou consciente,
mas gemendo de dor. A bolsa dela estourou e
segundo a enfermeira a pressão dela está alta —
comenta chorosa.
Passa a mão no rosto ao chorar e me sinto ainda
mais exasperado.
— Aconteceu o quê? Me explica, pelo amor de
Deus.
— Ela estava atravessando a rua para me encontrar
do outro lado, mas do nada um carro acelerou e
quase a atropelou; não passou por cima e nem nada
disso, mas a derrubou. Só tive reação para gritar e
socorrer depois. O carro saiu cantando pneu sem
prestar socorro.
Filho de uma puta!
— Não anotaram a placa?
— Eu não tive reação para nada, Gustavo. Nem sei
como vim parar aqui.
Aceno e levanto andando de um lado para outro. Se
acontecer algo com algum dos dois eu não vou me
perdoar por ter deixado Natasha sozinha. Meu filho
tem que nascer bem e Nat também estar bem. Tem
que dar tudo certo.
— Me desculpa — Liz me pede com a voz
embargada.
A abraço, pois sei que ela não teve culpa. E está tão
abalada quanto eu estou.
— Keila? — Me lembro de um detalhe, a obstetra
que acompanhou Nat.
— Já liguei. Foi a última coisa que Nat me pediu
antes de seguirem com ela para a sala.
Ficamos alguns minutos esperando até Keila
aparecer apressada e entrar onde, segundo Liz, Nat
está. Mais alguns minutos de molho e a obstetra
aparece; eu e Liz nos levantamos para saber o que
está acontecendo.
— Natasha estava com pressão alta, mas foi
normalizada — nos explica e eu respiro um pouco
mais calmo. — Então descartamos a pré-eclâmpsia.
— E agora?
— Colocamos ela no soro, será necessário fazer o
parto o mais breve possível, pois a bolsa estourou e
ela está com contrações.
— Podemos vê-la? — questiono angustiado.
— Ela já vai subir para a sala. Mas, na hora do parto,
apenas um na sala.
— Sem problemas. Eu ainda vou buscar as coisas
— Liz fala.
Entramos juntos atrás de Keila para ver Nat, no soro,
com cara abatida e chorosa. Os cotovelos
arranhados e outros arranhões não muito grandes
nas pernas. Me aproximo dela e dou um beijo na sua
testa.
— Ainda bem que veio. — Nat chora segurando na
minha mão e meu coração dói.
— Eu disse que estaria aqui.
— Eu estou com medo.
— Vai dar tudo certo!
Ela acena e Liz beija o rosto dela, do outro lado.
Ainda está com pouca dilatação, segundo Keila.
— Está doendo — Nat choraminga.
— Pense que é nosso bebê que vem em breve — A
consolo, fazendo carinho nos seus cabelos.
Ficamos lá por pouco tempo, pois Nat começou
realmente a chorar de dor, me deixando aflito e
desesperado enquanto apertava minha mão forte.
Keila correu depois que viu que Nat estava dilatada
o suficiente, entrando em trabalho de parto, para
preparar a sala de cirurgia e recebê-la nos próximos
minutos.
— Preparada, amor? Vai dar tudo certo.
— Eu estou com medo.
Olha para mim com os olhinhos vermelhos. Sou
orientado a pôr a roupa e a touca para subir com
Natasha e assistir meu filho nascer. Entrego minhas
chaves para Liz buscar as coisas no apartamento.
Mas antes escuto as irmãs se despedindo
brevemente enquanto Liz manda coragem e energia
para Nat, que está morrendo de medo.
— Cuida de meu bebê, Liz. Por favor. Eu amo você o
suficiente para isso.
— Para com isso, Nat. Você vai conhecer ele.
Liz se debruça na maca em que ela está deitada,
beijando sua testa.
— Eu estou com medo. Muito medo.
Sigo para a porta com o coração acelerado e
morrendo de medo de tudo. Ninguém falou que ia
ser dessa forma assustadora. Subo com uma
enfermeira, pois Nat já tinha ido. Chego e a vejo
deitada, e os enfermeiros junto com Keila, se
posicionando.
Sou orientado a ir para a cabeceira, onde o rosto de
Nat está, e ela entrelaça a sua mão na minha.
O meu coração está quase saindo do meu peito,
meus ouvidos quase mudos com a pressão que
estou sentindo nesse momento.
— E agora?
Me pergunta com os olhinhos cheios de lágrimas,
parecendo uma garotinha indefesa e me deixando
angustiado.
— Vai dar tudo certo. Vini está vindo ao mundo.
Sorrio e beijo a testa dela.
— Ele vai cumprir o trato.
Tento acalmá-la com a promessa que, segundo ela,
os dois fizeram dele sair rápido.
— Pronta, Nat? — Keila pergunta com gentileza,
arrumando a máscara no rosto.
Natasha apenas acena negativamente e ela fala
''dará tudo certo'' sem voz, colocando a máscara de
volta no lugar.
Keila dá algumas instruções para ela respirar
devagar e fazer força, prendendo a respiração por
alguns segundos, colocando o queixo próximo ao
peito, fixando os pés onde tem duas enfermeiras,
cada uma de um lado para segurar e ela não fechar
por reflexo as mãos e concentrando a energia na
parte baixa do abdômen.
"Por favor, meu Deus, que tudo saia bem",
"por favor, meu Deus, que tudo saia bem",
"por favor, meu Deus, que tudo saia bem".
Repito milhões de vezes, como um mantra.
Nat começa a fazer força ficando vermelha a cada
comando e em seguida respira pegando fôlego,
relaxando completamente no intervalo entre as
contrações.
— De novo, Nat! — Keila repete.
Estou com o coração batendo descontrolado e me
borrando de medo. Nat aperta minha mão mais forte
a cada contração e eu dou as instruções para ela
respirar. Nat faz isso diversas vezes, até Keila avisar
que a cabeça corou, que já dava para ver.
Respiro e inspiro diversas vezas para manter a
cabeça no lugar.
— Eu não aguento mais! — Natasha grita chorando
e fazendo força. — Está ardendo!
— A cabeça já apareceu, mais um pouquinho —
Keila pede.
Nat faz mais força repetindo que está cansada e que
não está conseguindo mais. Keila continua a pedir
cada vez mais. Tudo é ágil e desesperador!
— Vamos ter que usar o fórceps. — Escuto a
obstetra pedir a uma enfermeira.
— Isso é o quê? — indago, perdido e desesperado
pela situação.
— Um aparelho para puxar a criança — explica
rapidamente. — Natasha não está fazendo força o
suficiente e não podemos perder tempo.
Olho para Natasha que está vermelha, totalmente
suada e visivelmente cansada, chorando. Mas estou
desesperado. Não quero que ele saia dessa forma.
Parece dolorido demais para ambos.
— Nat, foca em mim! — peço sentindo o suor
escorrer entre minhas sobrancelhas, e ela não está
diferente. — Sei que está doendo, mas assim que
nascer para. Respira fundo só um pouquinho mais e
faz a maior força que você puder. Vini só precisa
disso para nascer.
Ela acena chorando de olhos fechados, caindo
algumas lágrimas no meio do suor.
— Ela vai tentar mais uma vez — aviso a todos na
sala.
— Certo. Só preciso de mais um empurrãozinho que
eu já consigo ajudar com as mãos para puxar o resto
do corpo para fora.
Me viro para Natasha, que está inspirando e
respirando, fazendo a respiração cachorrinho. Nat
segura nos joelhos para facilitar mais um pouco e
suspira. Seguro sua mão e respiro fundo e devagar
com ela.
Natasha volta a fazer mais força e os enfermeiros
incentivam cada vez mais, assim como eu, que não
saio do seu lado. Meu coração está acelerado e
estou nervoso demais, parece aquele jogo que o
time precisa fazer um gol para ser campeão e faltam
menos de cinco minutos para encerrar e ele
finalmente consegue partir para o ataque, em
direção à trave do time adversário, driblando todos.
Só que o gol é o meu filho.
— Está vindo. Empurre com toda sua força, porque
ele vai sair.
Meu coração acelera cada vez mais e Natasha grita
de dor, fazendo força, até finalmente ouvirmos um
chorinho dengoso, então Keila o suspende e consigo
ver meu filho pela primeira vez.
Meu corpo está tremulo, e as lágrimas, agora de
felicidade, inundam meus olhos completamente, com
o sentimento forte e inexplicável que me toma. Meu
maior presente, aquele que tanto pedi, finalmente
chegou!
Eu poderia explicar tudo que passou na minha
cabeça ou todas as reações do meu corpo, mas
nada, absolutamente nada, seria capaz de descrever
um por cento do que estou sentindo. Não há
explicação ao ver ele, branquinho e com os cabelos
negros, chorando cada vez mais. É uma emoção
sem igual.
Corto o cordão umbilical com a mão tremendo. Estou
completamente descontrolado, não sei se pego ele
da mão dela ou se grito bem alto; se me encosto na
parede para não cair, ou simplesmente corro da sala.
Estou prestes a ter uma síncope! Preciso pegar no
meu colo.
Colocam Vini, chorando e sujinho, no peito de Nat.
Meu filho é a coisa mais linda que existe.
— Ele é lindo. — Natasha chora me levando junto
mais uma vez.
— Ele é. Você conseguiu.
Uma enfermeira o pega e tenho vontade de dar um
tapa na sua mão para soltá-lo, mas tive que deixar,
pois é para fazer uns exames.
Sou orientado a sair enquanto Natasha ficou na sala
para limparem tudo lá. Saio ainda com lágrimas
caindo pelo meu rosto, de medo e felicidade plena e
absoluta.
Desde que soube da notícia que ela estava grávida,
eu me senti feliz e realizado, mas hoje, com o
primeiro choro dele, sinto que nada se compara.
Nada! Não vai existir nada melhor que o que acabou
de acontecer.
Se estou morrendo de medo? Óbvio. Pensei muito
sobre o que eu queria ensiná-lo, os valores corretos,
e também refleti muito sobre a pessoa que sou, o
tipo de homem que sou, já que eu vou criar um em
breve. Ainda mais no mundo de hoje, com as
brutalidades que na maioria das vezes são causadas
por homens.
Enquanto ando no corredor com um pediatra, que
me chamou para acompanhar ele e Vini até uma
sala para me fazer algumas perguntas, logo
encontro Lizandra e desabo no chão, encostado na
parede, não aguentando de choro de felicidade.
— Nasceu? — Lizandra corre se ajoelhando em
frente a mim.
— Sim. Ele é lindo!
Choro sem conseguir me conter, assim como ela,
que me abraça. Levo Liz para ver Vini pelo vidro
mesmo e a emoção foi a mesma, vendo-o no meio
de outros bebês, mas ele parecia o mais bonito de
todos.
Depois de alguns minutos eu caminhei para o quarto
onde levariam os dois e entrei sozinho, já que ela em
breve, quando o bebê chegasse, poderia vir ver. Nat
já estava lá e corro para ficar do seu lado. Estamos
os dois sorrindo bobos.
— Viu como ele é lindo? — Nat, extasiada, me
pergunta.
— Os cabelos deles são pretos como os meus.
— Sim. Ele só não abriu os olhos para vermos.
— Mas é lindo. Deu tudo certo. — Aliso seu cabelo.
— Eu tive tanto medo!
Natasha diz chorosa e com os olhos molhados
novamente.
— Xiiiu, deu tudo certo. O importante é isso.
A abraço, colocando sua cabeça recostada na minha
barriga enquanto a aliso, e ela me abraça pela
cintura. Beijo sua testa e dou um selinho na sua
boca, a fazendo sorrir.
— Obrigada. Você me deu o presente que eu nem
sabia que queria. — Sorri em meio às lágrimas.
— Nos presenteamos — respondo.
A enfermeira chega com um pequeno embrulhinho
nas mãos e meu coração salta.
— Aqui está o menininho de vocês. Fez sucesso
aqui nos corredores com a quantidade de cabelo. —
Sorri para a gente.
Nat agradece sorridente pegando-o no colo e
colocando-o no peito; ele suga com vontade e ela
faz uma careta, mas logo sorri boba, assim como eu.
— Ele é a coisa mais linda do mundo — comenta
boba.
— Demais. Eu estou apaixonado por ele.
Continua a mamar enquanto babamos nele, até ele
abrir um olhinho tímido e preguiçoso e fechar logo
em seguida, mas vejo que é tão azul quanto os
meus, me deixando orgulhoso. Ele é lindo acordado,
com as bochechas rosinhas e pele alvinha com os
cabelos pretinhos feito carvão.
Ver Nat, mesmo que sonolenta, amamentando é a
cena mais linda, que me deixa morrendo de orgulho
da minha família.
— Quer pegar? — ela oferece.
— Quero, mas e se eu não pegar direito? —
questiono com uma grande insegurança.
— Eu consegui, você também consegue.
Pego com todo cuidado do mundo e sorrio
abertamente, sentindo-o completamente no meu
colo. Ele me fita com os olhos claros lindos que
parecem ter o formato igual ao de Nat. Observo seus
tracinhos familiares, mas não sei definir se é meu ou
de Natasha, e sinto o coração explodir novamente.
Sim! Se me perguntarem qual a melhor coisa do
mundo, eu responderia que é Vinicius. Meu sonho
finalmente foi realizado e não poderia ter sido
melhor, apesar de todo o desespero na sala do
parto.
Lizandra entra dizendo que avisou todo mundo sobre
o nascimento repentino e que avisou para ninguém
vir hoje, pois Natasha estaria cansada. Chorou
vendo Vinicius de pertinho pela primeira vez e ficou
besta quando o pegou no colo. Ficou com a gente
um pouco até decidir ir para casa para Natasha
descansar, ficou de vir amanhã para vê-los
novamente. E avisou que vai passar no meu
apartamento de novo para buscar Zeus, para não
ficar muito tempo sem ninguém no apartamento, e
ainda trouxe uma muda de roupa para mim, um
moletom. Não pediria uma cunhada melhor. A
enfermeira chegou para a nova vistoria, deu café a
Nat e logo saiu.
Ela boceja e em seguida pega no sono. Observo
Vinicius dormir quieto em uma espécie de berço,
entre a cama de Nat e minha poltrona, onde vou
passar a noite.
Natasha e eu preferimos manter ele aqui, apesar da
enfermeira ter se oferecido para levar ele para o
berçário. Já é quase uma da manhã, nem vi a hora
passar. Ele é tão lindo com a chupeta na boca e
enroladinho. O fito para ver se está respirando
direitinho.
Estou morrendo de cansaço e fome, mas não
consigo desligar. Vejo que os dois dormem
tranquilamente e desço para comer algo, coisa de
dois segundos, avisando a enfermeira da minha
breve saída. Estou há várias horas sem comer e não
sou muito fã de comida de hospital.
Deito na poltrona e me sinto realizadíssimo. Escuto o
chorinho de Vini e corro para vê-lo. Com cuidado,
pego ele e coloco no meu colo. Ele abre os olhinhos
de novo e dessa vez encontra o meu, e ele logo para
de chorar e me observa.
Abro o maior sorriso que eu consigo. Meu coração
se encheu de uma tal forma que não consigo
explicar. Parece que vai transbordar de amor.
— Oi, papai... Você foi muito desejado por mim,
sabia? — falo baixinho para ele, não aguentado de
emoção, mesmo sabendo que ele não me entende.
Mas pelo jeito reconhece minha voz, pois fica atento
ao que estou falando, mesmo sonolento e
choramingando.
— Guto? — escuto Nat chamar, sonolenta. — Ele
acordou?
— Sim. Acho que quer mamar de novo.
Levo ele para Nat, que o coloca para mamar logo em
seguida, segurando na sua mãozinha. Ele terminou
de mamar e pegou no sono.
Estou com sentimento de gratidão profunda por
Natasha ter me dado ele, mesmo com todas as
dificuldades de aceitar no início. Mas sei que o ama
tanto quanto eu. Ele é a coisa mais incrível que
aconteceu na minha vida, e amo Natasha mais por
isso, pois ela foi a principal responsável por isso.
Parece que vou explodir a qualquer momento e não
poderia estar me sentindo mais realizado.
27
NATASHA

Fito meu bebê no meu colo, mamando, e eu


quase morrendo de tanta paixão. Nem acredito que
sou mãe, parece um sonho. É engraçado e
desesperador ter essa coisinha gostosa no meu
braço.
Parece louco e irreal. Ele é meu bebê, eu sou mãe
dela, e ele é meu filho!
É um desespero gostoso, bom, e estou muito
apaixonada por ele. O desespero é maior por saber
que agora não está mais tão protegidinho aqui na
minha barriga, como nos últimos meses, e que
precisa de mim para praticamente tudo.
Apesar do parto ter sido totalmente tenso, dolorido e
cansativo, penso que valeu a pena, faria tudo
novamente para ter a sensação de viver de novo,
como se eu tivesse sendo reiniciada no exato
momento que vi aquele rostinho lindo, aquela vida, o
ser humano tão pequeno gritando e chorando para
avisar que chegou. Apesar de ter apressado um
pouco o nascimento, não foi tão prematuro, tinha
acabado de completar nove meses.
Chorei de emoção ouvindo o chorinho, e tenho
vontade de chorar novamente só em pensar nesse
momento inexplicável, e a sensação maravilhosa
que me causou. Foi lindo e emocionante, parecia
que eu e Gustavo, principalmente ele, morreríamos
de emoção, era visível no rosto dele. Tudo pareceu
um sonho, estava anestesiada, e mesmo cansada,
sem conseguir dormir direito, me sentia elétrica.
Eu me sinto uma mulher completa, agora sim me
considero uma mulher, como nunca me senti antes.
E penso que a partir de hoje não somos mais um
casal com um cachorro folgado e um filho a
caminho; somos muito mais, agora somos uma
família, e eu entendo isso.
Tenho vontade de agradecer a Gustavo a cada dois
segundos, e dizer que eu o amo muito por ter me
proporcionado isso.
— Pelo jeito não sou só eu que me sinto bobo. —
Gustavo entra no quarto com roupa trocada.
— Ele é lindo. Ainda estou flutuando.
Paro de fitar Vinicius para olhar o pai dele. Os dois
homens mais lindos da minha vida.
— Fiz o caminho todo rindo à toa, provavelmente as
pessoas do prédio me acham um maluco.
Gargalho imaginando a cena. Gustavo chega mais
perto, dando um beijo na minha cabeça e fitando Vini
adormecido no meu colo.
— E agora a gente faz o quê? — pergunto um pouco
apavorada em estarmos sozinhos em casa.
Os pais dele acabaram de vir nos visitar.
— Na hora a gente descobre. — Ri e cheira meu
pescoço.
O ponho no berço e sigo com Gustavo para o nosso
quarto.
— Vamos tirar um cochilo, amor — chamo.
— Adoro você nesse modo apaixonado.
— Mas eu sou uma mulher apaixonada. — Sorrio
para ele. — Só não saio divulgando por aí.
— Como não te amar?
Beija de leve meus lábios e aprofunda o beijo, não
ao ponto de me acender, já que não posso fazer
essas libertinagens ainda, mas um beijo gostoso que
transmite milhões de coisas.
Fomos deitar e ele me abraça; coloco minha cabeça
no seu peito e rapidamente sucumbo ao sono. Mas
acordo sem motivo aparente e percebo que Gustavo
não está na cama. Levanto e vou direto para o
quarto de Vinicius para vê-lo na mesma posição da
outra vez, em pé, em frente à grade do berço
olhando Vinicius dormir sereno.
— Não conseguiu dormir? — questiono.
— Não. Já acordei umas duas vezes para ver se ele
está respirando.
Abro um sorriso entendendo completamente, pois
acordei provavelmente para fazer isso. Vou para
perto dele e fito meu bebê gostoso dormindo calmo.
Gustavo sai de perto do berço me abraçando e
voltamos a deitar. Tudo pareceu às mil maravilhas
como um fim de novela, até eu acordar no meio de
madrugada com ele gritando feito sirene.
Eu e Gustavo levantamos juntos e corremos o mais
rápido que pudemos para ver o que ele tem. Pego
ele com todo cuidado que consigo e nino para ele
voltar a dormir. Mas continuou a chorar, e um choro
que partiu meu coração.
Fiquei quase dez minutos ninando-o para ele parar,
mas nada adiantou e começou a soluçar chorando,
choro com lágrimas. Comecei a querer chorar junto
de puro desespero, Enquanto Gustavo não sabia
direito o que fazer.
— Está na hora dele comer, não? — Gustavo
pergunta e eu nego. — Está trocado?
Aceno checando pela milésima vez, e está limpo.
— Tá frio para ele, será?
— O aquecedor está ligado e está agasalhado.
— Eu não sei o que pode ser.
— Nem eu, me ajuda — peço chorosa, ainda mais
desesperada.
Mesmo não estando na hora, coloco ele no peito,
acalmando-o um pouco e me dando um alivio. Assim
como Guto, que respira aliviado. Ele mamou até
pegar no sono novamente. Coloco ele no berço de
novo e antes de chegar no meu quarto ele volta a
chorar.
— Sou uma péssima mãe, não consigo nem fazer
ele parar de chorar!
— Deixe-me tentar acalmá-lo agora.
Gustavo balança ele com toda calma do mundo
enquanto conversavam coisas sem sentido e aos
poucos ele foi se tranquilizando, me deixando
perplexa. Mas decido ir deitar deixando os dois ali e
só me dou conta que Gustavo ficou a madrugada
inteira lá quando acordei às seis, para dar de mamar.
Encontrei os dois dormindo no sofá. Acordo ele, que
está abraçando a Vini, no seu peito, como se fosse
um bote salva-vidas.
— Ele pegou no sono mesmo agora. Esse safado
estava de manha — Gustavo comenta sorrindo,
mesmo cansado.
— Me dê ele e vai deitar um pouco.
Pego Vinicius do seu colo, que foi para o meu sem
reclamar ou perceber a mudança. Gustavo vai
dormir na cama enquanto fico com Vini. Estou
morrendo de sono, mas preciso ficar com ele, já que
esse safado acabou de abrir esses olhos azuis para
mamar.
— Não foi isso que a gente combinou — reclamo e
em seguida sorrio, pois sou muito boba. — Não me
invente de trocar o dia pela noite, rapaz!
Se essa for minha rotina a partir de agora, eu estou
ferrada.
E passou a ser, para meu completo desespero.
Quando eu brincava de boneca isso parecia mais
fácil!
Vinicius trocou o dia pela noite e tivemos que fazer
revezamento. Apesar de sermos pais de primeira
viagem, Gustavo está conseguindo levar com mais
tranquilidade do que eu, pois eu acabo me
desesperando por não saber dizer exatamente o que
a criança precisa para parar de chorar. Digamos que
eu virei a emoção e Gustavo virou a razão. E eles
estão mais apegados que nunca. Gustavo consegue
ser mais babão que qualquer outra coisa. Eu acho
tão bonitinho ele tentando ser o máximo presente.
Divide comigo todos os cuidados.
Vinicius, manhoso, demorou a entender que o berço
era o local de dormir e descansar. E até isso
acontecer ele chorava de um lado e eu do outro.
Mesmo me sentindo idiota por isso, aprendemos
alguns truques para conviver com esse safado
manhoso!
— Que é o bebê de titia?
Liz babona brinca com ele.
Ah! Outra coisa, percebi que só eu que não consigo
fazer Vinícius dormir rapidamente. Lizandra, com
dois minutos, faz ele babar no peito dela e, Gustavo
da mesma forma tem esse poder.
— Você está com a cara péssima. — Liz ri de mim.
— Tenha um recém-nascido em casa, chorando e
querendo sugar seu peito a cada três horas e tente
permanecer com seu rostinho angelical impecável e
maquiado. — Lizandra gargalha chamando atenção
de Vinicius.
— Diz para ela, titia, que é porque tem um menino
muito bonito querendo atenção. — Liz brinca com
ele, cheirando seu pescoço.
— Fica com ele enquanto tomo um banho? Por
favor? — suplico.
— Vai que estou sentindo seu ranço daqui —
provoca.
— Vai se foder. — Dou dedo ao levantar do sofá.
— Olha a boca perto de Guguinha. Meu Deus!
Coitada dessa criança.
Escuto ela fazer graça e vou para o banho. Ela
agora aprendeu a chamar ele assim, depois que
comentei que a mãe de Gustavo o chama assim pela
semelhança, e confesso que achei esse apelido
estranho. Vini é muito mais bonito, não acha?
Volto e vejo Liz e Gustavo cochichando algo.
— Podem falar.
Imponho sem escapatória. Gustavo passa a mão no
cabelo, exasperado.
— Agora! — completo ao me sentar no sofá onde eu
estava antes.
— Estávamos comentando sobre o seu acidente.
— Achou o desgraçado que fez isso?
Comento enraivecida só em lembrar que meu filho
poderia ter alguma sequela, ou sei lá, tivesse sido
morto, que Deus me livre, por causa de uma
irresponsabilidade. A raiva toma meu corpo.
— Estava com Rodrigo agora, ele quem foi atrás da
câmera de segurança do prédio da frente e acionou
a polícia para resolver por mim, que não tinha
condições na hora — Gustavo comenta.
— E deu em quê?
— Vão entregar a fita amanhã, pois vai procurar nos
arquivos e vamos mandar para polícia.
— Acho bom achar antes de mim... — Liz comenta
enraivecida.
Liz com raiva é um cão. Perto dela sou um gatinho
indefeso. Ainda mais quando mexe comigo, é aí que
ela fica bem pior.
— Conto com você. — Arqueio as sobrancelhas para
ela, que faz a mesma coisa.
Liz vai embora logo em seguida, deixando um
pequeno álbum em veludo azul, sem estampa,
dizendo que tinha surpresinhas. E pegamos o álbum
para ver. Passando as fotos, vejo que é do meu
parto. Teve fotos? Como? Lizandra lembrou disso?
Não acredito!
Vou passando até ver uma que me deixa com os
olhos cheios de lágrimas. O exato momento em que
Gustavo viu Vinicius. A foto mostra claramente a
emoção de Guto ao ver o filho pela primeira vez.
Apesar do susto que foi, fico satisfeita que tenha
dado tudo certo. Agora só falta achar quem quase
me atropelou e acelerou meu parto.

Sigo com Gustavo para o prédio para encontrar Liz,


Rodrigo e o advogado de Gustavo, que estão lá nos
esperando, depois de eu ameaçar Gustavo para
poder ir. Depois de mais de um mês em análise,
procurando gravações de vários prédios, nos
chamaram para ver a fita junto com a polícia.
Olho pro lado, vendo Gustavo com toda sua
gostosura, dirigindo, e tateio minhas mãos para suas
coxas, próximo ao pau. Já passei da quarentena há
um bom tempo, desde o final do oitavo mês que
decidimos parar de transar por que não estar
conseguindo achar posições confortáveis. Mas Guto
fica fugindo, receoso por medo de me machucar.
Guto segura minha mão rápido, pois eu estava
subindo sorrateiramente.
— Para de fazer isso. — Sua voz evidencia que meu
toque causou reação nele.
— Estou subindo pelas paredes já, sabia? —
comento.
— Vamos esperar mais um pouco.
Foge, como sempre faz quando toco no assunto. Ele
está com medo de me machucar, pois andei
conversando com Keila, e ela disse que algumas
mulheres se queixam de dor e a musculatura pode
estar um pouco rígida, o que pode ser dolorido. Mas
eu preciso transar para relaxar e ele não entende!
— Fique fugindo. Uma hora você não me escapa. —
Pisco para ele, arrancando um sorriso seu.
— Eu estou me segurando aqui. Quando eu te
pegar, você é que não me escapa — rebate.
Ele me olha sério com mil e uma promessas, dando
umas agonias na barriga e entre as pernas. Cruzo-
as imediatamente. É até gostoso esse clima de
poder e não poder, para transar. A gente fica se
provocando, mas uma hora a coisa vai acontecer.
Mal posso esperar.
Chegamos no prédio e seguimos para dentro, para
encontrar Lizandra, Rodrigo e o delegado com
alguns policiais.
— Me dá o meu sobrinho — Lizandra pede assim
que chego, pois é babona demais. Entrego o bebê
conforto com ele dentro.
Sentamos, e eu fiquei do lado de Gustavo para a
gente assistir. Acharam fitas de outros
estabelecimentos e até o da agência.
Assistimos o momento que apareço barriguda,
andando feito uma pata para atravessar a rua. A
câmera muda de sentido mostrando outra
perspectiva, e em seguida um carro aparece
acelerando, me atingido.
Mas não aparece quem é o motorista. Suspiramos
frustrados. Revemos novamente a cena, só que em
outra perspectiva, do outro lado, essa filmagem é da
lanchonete do lado. Da câmera da lanchonete deu
para ver rapidamente o rosto de uma pessoa, mas
bem rápido, por causa da curva que o carro fez. A
foto congelada fica mais próxima, no zoom, até
mostrar um rosto meio embaçado. Essa cara de
galinha eu conheço.
— Conhecem? — o delegado pergunta.
— Ela era funcionária da agência há poucos meses,
e quando foi demitida, por conta de uma briga
comigo, prometeu se vingar, mas não levamos fé.
Comento perplexa. Claro que tinha que ser a
vagabunda da Amanda.
— Temos todos os dados dela, inclusive onde mora,
documentos. Tudo! — Gustavo comenta.
— Isso se enquadra em tentativa de homicídio
doloso e omissão de socorro contra meus clientes —
o advogado de Gustavo reafirma a ação que está
querendo mover. — E se não for parada, poderá
atentar novamente.
— Sabemos. Com essas provas já podemos fazer
uma busca de prisão preventiva da acusada — o
delegado nos explica na sua pose firme.
Acenamos concordando. Eu sabia que ela não
prestava, mas a ponto de me atropelar? Eu estando
grávida? Isso é demais até para ela. Eu e Gustavo
fomos para casa depois de termos deixado uma foto
dela e seus dados para fazer a busca, para
aguardamos mais notícias.
— Eu ia ter um parto normal, sem aquele sofrimento
todo que tive por causa dela.
Continuo a falar, me sentindo mal.
— Não pensa nisso. Guguinha está aqui, bem, e
você também.
A gente tinha a nossa rixa, mas não sabia que era
tão ruim a ponto de me atropelar por nenhum motivo
relevante.
28
NATASHA

— Natasha.... — me alerta mais uma vez.


— Para de fugir.
Sento no seu colo e puxo sua camisa, tirando-a de
vez, passeando minhas unhas pela sua pele alva.
Distribuo beijos no seu pescoço.
— Estou morrendo de saudades de você. A gente só
faz trocar fraldas.
— Eu sei, mas pode estar muito recente. Não quero
te machucar.
Aperta minha cintura enquanto eu o beijo e rebolo no
seu colo devagar, instigando. Nada melhor que sentir
o pau ficando duro embaixo de mim. Gustavo se
rende e leva minha boca na sua, aprofundando o
beijo enquanto me aperta. Ele me coloca no sofá,
por baixo, enquanto alisa meu corpo por cima do
vestido, libertando meus seios pelos dois botões da
frente.
Escuto o chorinho de Vinicius virar uma sirene em
dois segundos e eu gemo insatisfeita por essa
interrupção.
— Merda, Vinicius!
Resmungo empurrando Gustavo de cima de mim e
correndo para o quarto. Encontro ele chorando para
se acabar no berço. E para quando pego. Manhoso
de uma figa!
— O que ele tem? — Gustavo aparece logo em
seguida ainda com a barraca armada.
— Manha e vontade de atrapalhar a nossa fodinha.
Nino ele para lá e para cá para ver se dorme, mas
continua com os olhos bem abertos, mostrando que
não vai cair no sono novamente tão cedo.
— Dessa vez você me escapou — comento com
Gustavo, que ri.
— Deixa, quando eu te pegar, você vai ter forças pra
nada depois.
— Só no aguardo e na promessa....
— Pode esperar.
Ri enquanto vai para o nosso quarto, provavelmente
vai tomar banho frio!
— Não foi assim que a gente combinou, seu chorão!
Comento com ele no meu peito, e recebo um rápido
sorriso banguela. Ainda por cima é debochado.
Realmente, é o meu filho!
— Fique rindo, você é um empata-foda sim. Mas
ainda vou fazer isso com você para ver se é bom.
Resmungo indo para a sala com ele, já que ele
babou minhas chances de encurralar Gustavo, que
estava quase cedendo! Estou quase subindo pelas
paredes, não aguento mais, quase me ajoelhando
para Gustavo me comer, e já que estou
ajoelhada....rs!
Só meu filho mesmo para me fazer rir num momento
desses. O processo contra Amanda está rolando, ela
está sendo vista como foragida, já que não a
encontraram na sua casa; Gustavo está bem
preocupado comigo e com o bebê, receoso que essa
louca apronte novamente. Ainda mais agora que
voltou a trabalhar no período integral, embora
almoce em casa para ver Vinicius.
— Mamãe precisa fazer uma coisinha com o papai.
E você não pode atrapalhar.
Negocio com Vinicius enquanto ele me olha sério
com os seus grandes olhos azuis. É a segunda vez
que ele faz isso comigo. Ele é oficialmente um
empata-foda. Parece que tem sensor, eu e Gustavo
estamos abraçados, ele continua dormindo. É eu
avançar com um beijo ousado ou uma caricia
quente, ele acorda berrando. Mas hoje vai ser
diferente. Tem que ser!
Nino ele depois de ter mamado e ele adormece.
Coloco a chupeta nele e espero adormecer de
verdade para colocá-lo no berço. Corro atrás de
Gustavo, que saiu do banho e está se secando. O
homem é um espetáculo de tão gostoso!
— Cadê ele?
— Acabou de dormir. — Chego mais perto com
milhões de intenções.
— Sabe o que isso significa? — Dedilho minha mão
no seu peito.
— O quê? — Entra no meu jogo.
— Que você não me escapa.
— Seu filho que não me deixa chegar muito perto.
— Hoje vai ser diferente.
Nego com a cabeça, fitando seus olhos lindos. Mas
o telefone toca e eu choramingo frustrada. Ele
apenas ri da minha reação chorosa, me abraça e
atende o próprio aparelho. Escuto que encontraram
Amanda na casa dos pais. Nos agitamos e seguimos
para pôr um ponto final nessa história de uma vez.
Entramos e somos encaminhados para a sala do
delegado. Resolvemos algumas coisas, ele deixou
claras outras, junto com o advogado que já nos
esperava. Antes de irmos e saber como vai ficar, fui
atrás dela, que estava algemada.
— O que você quer agora? — esbraveja quando me
vê.
— Ver até onde vai sua cara de pau.
Então eu dou um tapa no rosto dela. Os policiais
intervêm e Gustavo me segura.
— Eu poderia ter morrido, sua idiota! — exclamo.
— E era para ser mesmo. Minha intenção nem era te
atropelar, mas você estava passando justamente na
hora que eu estava lá. Apenas aproveitei o
momento.
— Você é doente. A troco de quê?
— Você não podia vencer tudo, Natasha! Você
sempre quis ser a melhor.
— Vencer? A gente nunca entrou em uma
competição. Você que sempre me viu como ameaça
quando na verdade eu não estava nem aí pra você
— respondo exasperada.
— Fabio foi o quê? Ele me disse que nunca gostou
de mim por sua causa.
— Eu nunca fiquei com ele, nunca quis. Ele é
dissimulado. Jogou com você, e agora você está aí,
algemada e desempregada, e ele sabe Deus aonde.
— Já jogou na minha cara? Pode ir — rebate com
amargura.
— Vou mesmo. Só te digo que aproveite esse tempo
para se arrepender, porque você se afundou
sozinha.
Saio de lá irritada, e além de tudo, com pena, por ser
fraca e ter se deixado levar pelo idiota do Fábio, que
nunca nem deu bola pra ela; se iludiu e cavou a
própria cova por uma ilusão que ela mesmo criou,
por um homem que nunca a quis. Cadê o amor
próprio?
Ela vai ser indiciada por não prestar socorro para
mim, e por dolo direto, pois sabia que poderia
acontecer e mesmo assim fez, por pura maldade. Me
atropelou de propósito. Vai ficar presa
preventivamente até a sentença.
Perdeu a liberdade por troco de nada. Voltamos para
casa um pouco aliviados por ela agora estar presa.
Meu filho dorme sereno no berço, e recebo um
abraço apertado por trás, de Gustavo, me
amassando contra ele e me dando um beijo no
pescoço, me deixando molinha.
Ele também está que não aguenta mais. Nem a
própria mão dá jeito na situação que se encontra, e
também porque andei aprontando por aí com ele,
para atiçá-lo.
Gustavo me arrasta para o quarto, apalpando meu
corpo com força, mostrando que estamos na mesma
vontade. Me para na ponta da cama para atacar meu
pescoço e puxar minha roupa.
— Gustavo.
Chamo-o segurando a mão dele, prendendo a
camisa com meu corpo.
— Que foi? — Levanta o rosto.
— Meu corpo não está como antes...
Apesar de eu não ter engordado tanto na gravidez e
ter perdido peso depois que Vini nasceu, meu corpo
mudou um pouco. Sem contar que minha barriga
não está como antes, não desinchou
completamente. Gustavo arqueia uma das
sobrancelhas e ri logo em seguida.
— Está com medo de eu não gostar?
— Também.
Sim! Estou insegura com meu corpo. Parece
inacreditável que a Natasha dona da porra toda que
não liga para porra nenhuma está insegura.
— Ah, Nat. Você acha que eu já não te vi sem roupa
depois que teve Vini? Está mais gostosa, isso sim.
Além do mais, é só uma lembrança do que era a
casinha dele alguns meses atrás.
Aceno concordando e Gustavo segura na minha
nuca para me beijar com carinho, mas com fome,
arrepiando tudo no meu corpo. Ainda em pé, desço a
cabeça dele com um sorrisinho maléfico, que vai
sem problema algum, entendendo o que eu quero.
Gustavo vai arranhando minha barriga com a barba
em direção às minhas pernas. Distribui beijos pelas
minhas pernas, passando os lábios bem perto do
meio das minhas pernas bambas. Agarro seus
cabelos enquanto ele me tortura, sentindo minhas
pernas tremerem de ansiedade, e sua língua perto
do tecido da calcinha, tentando adentrar pelo
elástico.
Gustavo me derruba na cama, caindo por cima e
atacando meu pescoço, cheio de fogo, lambendo por
onde desce, parando exatamente onde eu quero.
Com ânsia, fome. Vontade.
Santo Cristo! Como eu consegui ficar sem isso
nesses meses?
Gustavo suga e lambe me causando pequenos
choques, e abro mais a perna segurando o lençol
enquanto ele me chupa lá embaixo. Pego um
travesseiro e coloco no rosto para morder e abafar
meus gritos, antes que “vocês sabem quem” acorde
e acabe com minha diversão. Mordo mais forte o
travesseiro enquanto me contorço em cima da cama.
Volta a chupar e tremer a língua, dando pequenos
golpes em cima. Sinto as tremedeiras se apossarem
do meu corpo enquanto me contorço. Sinto o
travesseiro sair do meu rosto e Gustavo aparecer
por cima de mim com seus lindos olhos azuis.
— Um. Vai contando.
Diz e volta a atacar meu pescoço. Ainda estou
trêmula, mas no jogo. Ataco sua boca enquanto
tento arrancar sua calça. A mão dele passa pelo
meu tronco e eu seguro seu rosto, trazendo sua
boca para a minha.
Troco nossas posições e desço para chupá-lo,
abocanhando com toda a fome que estava nesse
tempo. Com ânsia, sentindo seu gemido rouco e viril
de satisfação, totalmente sem pudor.
Gustavo geme a cada movimento meu. A cada vez
que sugo, lambo ou simplesmente acaricio com a
mão.
— Para, senão vou gozar.
Pede e me joga na cama, ficando por cima. O beijo
que ele me dá é voraz, gostoso, alucinante.
— Quero você agora. — Saiu quase em uma súplica
no meio do beijo.
— Não.
Passeia a mão pelo meu corpo e eu distribuo beijos
pelo seu pescoço e queixo.
— Para de negar — choramingo.
— Depois meu pau entra na brincadeira e em você.
— A gente vai dormir de exaustão por motivo
diferente hoje.
Promete, sem parar de passear com os dedos no
meu corpo. Gustavo me beija e eu passeio a mão
pelo seu ombro e costas, o apertando cada vez mais
forte, com saudade. Mordo seu ombro e agarro sua
nuca intensificando boca no seu pescoço, deixando
a marca. Com os dedos dos pés mesmo, arranco
sua cueca.
— Mata minha vontade. Prometo que faço tudo que
quiser — suplico tremendo de tesão.
— Tudo? Vou querer muita coisa de você hoje.
Gustavo sorri, abrindo minhas pernas para se
acomodar. Adentra, devagar e firme, me fazendo
sentir uma pequena ardência, e enrijeço a ponto de
Gustavo parar ao perceber meu desconforto.
— Machucou, não foi?
— Não. Só ardeu, voltei a ser virgem, parece —
comento.
— Por cima acha que melhora? Ou quer parar? —
indaga atencioso.
Lógico que não quero parar, mas sentir dor por
causa disso ninguém merece. Gustavo sai de dentro
e substitui com o dedo, me deixando um rio, quase,
mais molhada e relaxada. E volta, tentando mais
uma vez fazer fluir melhor.
Vai adentrando aos poucos, e eu reviro os olhos,
sentindo o prazer dele ir totalmente. Estou quase
gozando de novo o sentindo dentro de mim,
pulsando.
Gustavo aperta forte minha cintura, se movendo
devagar. Mas peço para que vá mais rápido e ele
obedece. Gustavo geme comigo a cada estocada
gostosa que ele dá.
— Aguenta de quatro? — Sua voz ofegante me
arrepia.
Oh, se aguento!
Agarro os lençóis, indo ao seu encontro, fazendo
com que nossos corpos se choquem, causando o
barulho oco e gostoso de um sexo firme e cheio de
desejo. Gememos juntos para matar a porra da
saudade que estava quase nos matando.
Gustavo segura nos meus cabelos e na cintura,
intercalando com tapas na minha bunda, me
deixando dolorida e com mais tesão. A cada
estocada eu gemo mais, sentindo ir até o fundo e
voltar. Gustavo continua a ir e voltar sem trégua,
com pressão. Gemo a cada estocada intensa, ele
pega minha mão, colocando em cima para eu me
tocar e sinto a tremedeira; com as pernas fracas,
chego no ápice, me sentindo numa montanha-russa,
e ele não demora a me acompanhar.
Totalmente fraca e com a respiração pesada, abraço
meu devasso suado e tão ofegante quanto eu.
Ofegantes e satisfeitos.
29
NATASHA

Apaixonada, vejo meu filhote dobrar o risinho


para o pai, que brinca com ele e Zeus. Ele e Gustavo
são uma amizade que só. Está ativo demais com
sete meses, os dentinhos estão o deixando mais
fofo. Todos os dias é uma descoberta nova, o tempo
está passando muito rápido.
Essa semana nós vamos fazer aniversário de
namoro e não sei o que fazer de bonitinho ou fofo.
Vinicius foi exceção.
O devasso me dobrou direitinho. Eu só queria
algumas fodinhas gostosas, mas a peste me
amarrou e ainda me fez mãe. E pior, eu hoje não me
importo com mais nada disso. Apenas aceitei. Pois
não adianta, ele é engenhoso, pior que eu quando
quer algo.
— Ele precisa de um corte urgente — interrompo a
brincadeira.
Os cabelos de Vinicius estão bagunçados, pois
Gustavo não o penteia e quando faz isso, parece
que fica a mesma coisa, pois deixa arrepiado.
— Vou cortar. Vou tosar ele e Zeus — faz graça e eu
bato no seu braço.
— Nós vamos que horas?
Vamos passar o fim de semana lá na casa de praia
dos pais de Gustavo, onde haverá uma
confraternização em família.
— Antes da doze — responde.
Enquanto Gustavo foi levar os dois para tosar, como
ele mesmo disse, eu fui arrumar a casa e nossas
coisas. Confesso que me divirto um pouco em ser
mãe dona do lar. Sou bela e do lar, às vezes do bar
também, quando eu e Gustavo vamos, mas
recatada? Nunca!
Eu amo Gustavo justamente por me tratar feito uma
princesa que sou, e à noite como uma vadia que
também sou, mas apenas dele.
Ultimamente estou dando mais valor aos programas
familiares, ou de casais. Baladinhas e barzinhos não
têm tanta graça como antes. Eles voltam, e meu filho
antes com um cabelo parecendo do Senninha, agora
está com um topete, parecendo o de Gustavo. Sabia
que não poderia confiar em Gustavo para ser o
responsável por isso, era só aparar o cabelo dele,
mas confesso que ficou lindo.
Seguimos viagem por duas horas até o litoral. A
casa fica em uma propriedade privada, e é
simplesmente muito bonita. Daqui visualizo o mar,
bem atrás da casa. Entramos e meus sogros já
estavam lá. Os demais, como Rodrigo, vêm mais
tarde. Da cozinha tem acesso à areia da praia. Muito
chique, me sinto em Hamptons.
Taís não demora a chegar com os filhos, totalmente
sorridente. Mando beijo para Léo, que tem quase a
mesma idade de Vini, e ele retribui com seu rostinho
naturalmente sonolento.
Almoçamos juntos e resolvi fico com minha irmã e as
crianças, porque Gustavo saiu com Rodrigo sem
avisar para onde e demora a voltar, fazendo com
que eu suba sozinha com Vini depois da janta, sem
esperá-lo, já que não atende o telefone.
Está muito escorregadio para meu gosto.
Levanto pela manhã sem Gustavo de novo na cama,
só o vi chegando e vindo me abraçar. Desço e
procuro saber dele. Encontro minha sogra
alimentando meu filho, que para de comer assim que
me vê.
Mas ela não sabe informar para onde foi,
exatamente. Concordo insatisfeita. Não é de hoje
que está assim, distante, vive saindo agora sem me
dar nenhuma satisfação e volta como se não tivesse
acontecido nada. Virou graça agora isso!
Nos traz para um final de semana em família e mal
fica comigo. Desço com Vinicius para a areia da
praia para tomarmos um pouco de sol, ele está lindo
com seu colete inflável.
Vinicius nunca viu praia e está louquinho. Sento com
ele no raso, para ele pôr o pé e sentir a água bater;
ele fica quietinho enquanto converso coisas
totalmente aleatórias com ele, que me ouve feito
gente grande.
Escuto movimentação e viro o rosto, vendo Gustavo
sem camisa e só de bermuda e com a camisa no
ombro, junto com Rodrigo, segurando Alan no
pescoço e Taís logo atrás com Léo, com seus
cabelos tão loirinhos quanto os da mãe.
Vinicius se agita vendo o pai chegar e ele vem
sorridente e tenta me dar um beijo, mas me esquivo.
Não estou a fim de gracinha. Hoje estamos fazendo
aniversário de namoro e ele nem lembrou.
Simplesmente chega como se não tivesse
acontecido nada.
Ele não se abala e carrega Vinicius que vai com ele
para a água. Continuo na areia observando tudo e
Taís senta do meu lado com Leonardo.
— Que cara de azeda é essa? — questiona por trás
dos óculos de sol.
— Não é nada. — Reviro os olhos e dou um muxoxo
descontente.
Ela ri e fica calada e eu também. Rodrigo está
segurando Vini, que bate o pé na água, e procuro
Gustavo até ser surpreendida com ele me
carregando por trás, indo em direção à água.
— Me solta!
Dou tapas nas suas costas, pois está me carregando
de modo totalmente animalesco, nos ombros. Dá um
tapa na minha bunda e me enfureço ao mesmo
tempo que me coloca na água. Esmurro o peito
desnudo dele.
— Quanto mau humor. — Sorri, tirando onda com a
minha cara.
— Deve ser porque você está nem aí pra mim.
— Eu fui te beijar e você rejeitou.
— Deve ser por que você agora vive de saidinha,
né? — Mostro minha irritação.
Segura na minha bochecha, sorrindo, e dá um beijo
em cima dos meus lábios, mesmo a contragosto da
minha parte.
— Estava resolvendo algumas coisas.
— Você está cheio de coisas para resolver
ultimamente, né?
Bato no seu peito e me esquivo tentando ir para o
raso, mas ele me segura, me mantendo no lugar.
— Eu sou um homem ocupado. — Dá de ombros.
Ainda debocha esse filho da puta!
— Não está esquecendo nada hoje, não? —
questiono mais magoada que qualquer outra coisa.
Ele pensa e fico em expectativa para saber se
lembra, mas ele apenas nega. Dou um rugido de
nervoso e saio. Dessa vez ele não ousa me segurar
de novo. Entro em casa e subo para o quarto.
Estava aqui memorizando tudo o que eu iria fazer
hoje à noite. Iria fazer uma noite super romântica
para nós dois aqui no quarto, e ele simplesmente
nem lembra. Também não vou falar, vai passar em
branco!
Acabo adormecendo depois de tomar banho para
tirar o sal e acordo horas mais tarde, vendo um
bilhete na cama.
Pego e abro para ler.
‘’Não esqueci do nosso aniversário de namoro. O
meu mistério foi para preparar uma coisa especial
para nós. No armário, na última gaveta, tem uma
roupa que quero que use. Me encontre às seis horas
no deck. Não se atrase tanto!
Capriche bem e fique mais linda. A noite vai ser
inesquecível, prometo.
PS: quando estiver pronta me mande uma
mensagem.
Amo você,
Guto.’’
Sorrio boba pelo bilhete feito à mão e corro para o
guarda-roupa atrás da roupa que ele separou para
mim. Vejo um conjunto de croped e saia longa de
renda branca.
A roupa em si é linda. Além dela, tem um conjunto
de lingerie mais que indecente. Hoje vai pegar fogo!
O que será que esse homem está preparando para
mim? Mal posso esperar para saber. Corro para
tomar banho e saio enrolada na toalha. Sigo para a
janela para ver se vejo algo no deck, mas daqui não
dá para ver absolutamente nada.
Depois de arrumada e muito bem perfumada, vestida
com a roupa rendada que ficou um pouco colada no
meu corpo, com um decote lindo e uma fenda não
muito grande do lado, deixando a produção simples
e ousada, envio uma mensagem para Gustavo
avisando que estou pronta e desço as escadas.
Logo recebo a resposta.
‘’Na varanda tem uma caixa com uma venda, pegue
e use. Não espione. Vão te trazer até aqui.’’
O que esse homem está aprontando? Estou
morrendo de curiosidade para saber. Ele está cheio
de mistérios. Mas vou esperar para ver o que ele
tanto está aprontando. Desço pro deck e apanho a
venda; tem uma mulher já me esperando, avisando
que seria ela quem iria me guiar pelo caminho de
madeira, e agradeço por isso, já que estou com o
salto que também estava escolhido para que eu
usasse.
Meu coração está a mil, morrendo de curiosidade, e
sigo com ela, vendada e sem espionar, como
solicitado. A mulher me para de repente e espero um
comando qualquer.
Chamo Gustavo ainda sem tirar a venda. Escuto a
voz dele ecoar fazendo uma contagem regressiva,
me dando uma ansiedade incontrolável, e manda eu
tirar a venda, no que obedeço rápido para saber o
que ele aprontou.
Assim que tiro, fico congelada no lugar, sem reação.
Não! Ele não fez isso!
30
NATASHA

Gustavo está arrumado e cheiroso de frente


para mim, exalando felicidade. Olho ao redor
rapidamente, vendo todo mundo da minha família ali.
A decoração está linda, com o sol já no final como
pano de fundo. Fora o azul do mar como a cereja do
bolo.
— Essa foi a melhor forma de te amarrar até
aqui. — Gustavo mantém o sorriso. — Se eu te
pedisse não viria, então...
Continuo impassível no lugar com o coração
dando galopadas no meu peito. Poucas vezes na
vida eu não soube como reagir. Escuto o riso do meu
filho, gargalhada dobrada, talvez tripudiando de mim.
Igualzinho ao pai!
— Então, como você é de ação, resolvi fazer
toda essa surpresa e você tem que dizer sim.
Continuo chocada com o coração acelerado.
Não acredito que ele teve audácia de armar uma
arapuca dessa para mim. Maldito momento que o
desafiei.
— Não...
Olho para ele séria, que murcha um pouco
com minha reação.
— Não acredito que fez isso.
Eu nem sei o que falar ou fazer. Mas
estranhamente não estou tão desesperada, e mais
estranho ainda, adorei a surpresa. Abro um sorriso
enorme para ele.
— Então, casa comigo?
É a vez dele de abrir um grande sorriso para
mim. Gustavo me faz querer coisas que eu nem
achava que queria, até me mostrar como poderia
ser.
— Não responde agora. Dê seu sim quando
for a hora.
Gustavo se ajoelha para fazer o pedido
formalmente enquanto olho chocada para ele, que
teve a audácia de fazer tudo isso sem saber se eu
iria aceitar ou não. Vê como ele é muito mais
engenhoso que eu quando quer? O temperamental
de nós dois sempre foi ele, esse cretino!
— Natasha, minha baixinha mais teimosa,
aceita casar comigo? Prometo tudo que quiser.
Sorrio ainda tremendo e com o coração a
galope. Com um pedido desse, impossível não dizer
sim.
— Caso!
Saltito de felicidade por dentro. Santo Cristo!
Estou nervosa como jamais fiquei na vida. As
pessoas aplaudem sorridentes. Gustavo levanta e
me beija gostoso, mas comportado. Ele separa
nossas bocas com um sorriso sem tamanho.
Olho por onde eu vim e penso seriamente em
sair correndo desesperada e gritando.
— Já que aceitou, vamos casar. Nem pense
em fugir.
Aceno sorrindo, sem ter para onde correr. Taís
aparece do meu lado, feliz e arrumada. Coloca uma
coroa de flores de rosas e mosquitinhos na minha
cabeça e me entrega um buquê, que eu, como uma
péssima apreciadora de flores, identifico como rosas
brancas.
Gustavo vai para o seu local de volta, para me
esperar. O deck é bem largo e tem o caminho para o
altar e os poucos bancos de madeira rústica, para os
convidados, que são apenas familiares mesmo. Isso
até está me fazendo ficar mais segura.
A decoração é charmosa. Tudo arrumado para
ficar de acordo com a beleza natural do deck. Fora a
pétalas de rosas distribuídas pelo chão, fazendo o
caminho até o altar onde tem uma cortina aberta
para o mar, que assustadoramente tem um
senhorzinho que acredito que seja a pessoa que vai
celebrar essa loucura, tornando tudo ainda mais
delicado.
Miro Gustavo lá da ponta, vestido apenas com
a calça e a camisa social bege e um colete. A
diferença é que a camisa é branca e está com dois
botões abertos e uma pequena flor na
lapela. Gostoso!
Estou com o coração a mil, de verdade. Nunca
me imaginei aqui e assim, é esquisito e gostoso.
Meu pai vem para meu lado, entrelaçando meu
braço. Estou tremendo.
Um toque suave começa a ecoar no local e
logo reconheço a música. Wildest
Dreams instrumental. Estou segurando o máximo
minhas lágrimas. Respiro fundo e só consigo fitar
Gustavo na outra ponta.
Eu vou casar, puta que pariu! Meu coração
está parecendo uma escola de samba.
A cada passo sinto que vou desmaiar a
qualquer momento. Não acredito que estou nessa
situação. A música vai progredindo enquanto vejo
todos. Alie segurando um bebê e Murilo, outro.
Lizandra, Taís, Rodrigo segurando meu filhote no
colo, que assiste a tudo, quietinho, e vendo eu
passar por ele. Aqui estão todas as pessoas que eu
amo e com quem gostaria de dividir esse momento.
Meu pai me entrega a Gustavo, que dá um
aceno e viramos. O altar recebeu cortinas em bege e
vasos de flores nas cores alegres do casamento.
O senhorzinho dá início à cerimônia e tudo
que eu consigo pensar é: EU ESTOU CASANDO.
Sim, casando com letras garrafais, para ter noção do
meu desespero!
Depois de vários minutos falando, chega a
hora dos votos e não tenho a mínima ideia do que
vou falar. Ele é quem começa, me deixando um
pouco ansiosa.
— Que eu amo você não é novidade. Não
imagina a emoção de saber que você agora vai ser
minha. Saiba que você me presenteou com a coisa
que mais aguardei na minha vida, e que, mesmo não
me dizendo que me ama a cada cinco minutos, sei
que ama pelos detalhes. Desde os primeiros
contatos eu percebi que ia ser a mulher da minha
vida, e hoje percebo que isso não mudou, apenas
fortaleceu. Eu prometo ser seu porto seguro, cuidar
de você, e tudo que for meu será seu, inclusive meu
coração, e meu amor, até que a morte nos separe.
Gustavo termina seus votos e eu não evito em
dar uma choradinha. Eu sou uma boba! Continuo a
olhar para ele ainda chorosa e ele levanta a mão,
passando o polegar debaixo do meu olho para limpar
as lágrimas teimosas.
Quando vim para cá, achei que só iriamos ter
um jantar legal e sexo gostoso, mas ele vem e me
apronta uma dessas. Gustavo sorri para mim
mostrando seus grandes olhos azuis, me dando
coragem, e respiro fundo para começar os meus. O
melhor jeito sempre vai ser a sinceridade.
— Você me faz desejar coisas que nem sabia
que queria. Me deu a coisa mais linda que pude ter
na vida e te amo cada vez mais por isso. Você é o
principal motivo das minhas alegrias ultimamente. E
é estranho, mas eu me apaixono cada vez mais por
você a cada dia, e não me arrependo de nada. Serei
sua, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença,
não importa o rumo que nossas vidas tomem.
Sorrio para ele com lágrimas nos olhos, e ele
retribui sorrindo em meio às lágrimas. Falar
abertamente de sentimentos sempre foi difícil para
mim, mas com ele parece ser tão mais fácil. E sem
esperar, segura na minha nuca e me beija.
— As alianças — sussurro parando o beijo.
— Verdade.
Gustavo sorri olhando para o lado e aponta
para eu ver Vinicius engatinhando rapidamente em
direção à gente.
Me derreto ao vê-lo se aproximando
alegremente, todo penteado e com roupa de
suspensório. Espero ele chegar onde a gente está e
Gustavo carrega ele, tirando a caixinha de aliança do
bolso, e Vini logo vai para mão de Lizandra, sem
reclamar. Trocamos as alianças finalmente selando
tudo e em seguida ele volta a me beijar do jeito
gostoso que só ele sabe. Chupando meus lábios e
apertando minha nuca. O beijo transmite euforia e
amor. Sensação de plenitude e felicidade extrema.
A cerimônia foi intimista, e isso transmitiu
muita delicadeza da parte de Gustavo em não trazer
tanta gente, sabendo que eu não me sentiria
confortável, sem contar que deixou os momentos
ainda mais emocionantes!
Seguimos para a área da festa, que é na areia
mesmo, depois de termos tirado uma foto nós três
juntos. A decoração está igualmente linda.
O local é coberto, com várias lâmpadas
suspensas que complementam a decoração rústica
e floral. A única e grande mesa recebeu um arranjo
floral, dando um toque especial.
Porém, tinha pufes espalhados, com
iluminação gostosa e aconchegante. A outra mesa
está decorada de um jeito bem romântico, onde o
bolo aparece como destaque. Adivinhem! O topo do
bolo nada mais é que uma noiva amarrada. O filho
da mãe ainda fez graça.
Iluminação feita com velas, e luminária fio
decorando o lugar, dando a sensação de um céu
todo iluminado por estrelas. Os balões em tons
pastéis, superdelicados, decorando o resto.
Velas, mobílias de madeira rústica e luzes
espalhadas dando um toque romântico e
aconchegante ao ambiente. Enfim! Tudo lindo!
A festa está animada. A pista de dança, em
uma outra tenda reservada, se destaca. Até Vinicius
está lá. Sorrio ainda extasiada e em seguida beijo
Gustavo, apaixonada, boba que me tornei. Minha
barriga assanha com seu beijo e parece que está
diferente. Ele sempre me beijou assim, mas hoje
está mais gostoso, não sei.
Arrasto ele para a pista de dança para
dançarmos juntinhos, nossa primeira dança. Nessa
altura do campeonato eu já estou descalça.
Adoro a música que está tocando e que diz
muito sobre mim, para ele. Não escolhemos a
música nem planejamos isso. Apenas arrastei ele
quando achei a música certa para dançarmos.
Nosso casamento não está sendo nem um
pouco tradicional e estou amando.
— Pra você guardei o amor, que nunca soube
dar, o amor que tive e vi sem me deixar, sentir sem
conseguir provar, sem entregar, e repartir...
Cantarolo enquanto aliso a nuca de Gustavo e
nos balançamos no embalo calmo da praia e no
nosso próprio ritmo, com a cabeça recostada no seu
peito enquanto ele me abraça pela cintura. Curtindo
o momento juntos. Nem acredito que casei!
— Achei, vendo em você, explicação
nenhuma isso requer, se o coração bater forte e
arder, no fogo o gelo vai queimar.
Fecho os olhos me sentindo protegida no seu
abraço.
— Gostou mesmo da surpresa?
Sussurra ainda me abraçando, quase no final
da música.
— Pior que sim.
Beijo seu peito e volto a recostar minha
cabeça. Com Gustavo me abraçando, me sinto ainda
menor. Minha cabeça bate exatamente no seu peito,
e eu adoro isso, pois sempre que nos abraçamos eu
consigo ouvir seu coração.
— Amo você, baixinha.
Sorrio e o aperto ainda mais. Terminamos a
dança e fomos socializar com todos. Converso com
todo mundo, inclusive francamente com minha irmã
que reencontrou seu ex namorado, da forma mais
inacreditável possível recentemente e se percebeu
ainda apaixonada. A vida de Lizandra está uma
loucura interminável, que só ela para contar em
detalhes.
Fiquei com meu filhote que não teve muito de
mim hoje e se comportou direitinho, até o desejo e a
vontade de dar pra ele sobressair. A casa ficou para
a gente, todo mundo vai voltar ainda hoje, aproveitar
que não está tão tarde, e a gente volta amanhã à
noite.
Gustavo disse que não planejou lua de mel,
pois sabia que eu não ia relaxar em uma viagem
sem Vinicius. Pelo menos ele me conhece, né? E
Vinicius me deve uma viagem de lua de mel!
Mas de hoje para amanhã dá para fazer muita
coisa. Vini vai hoje, para a gente curtir nossa
primeira noite, mas confesso que estou com o
coração apertadinho em deixá-lo ir e eu ficar aqui. E
se ele chorar ou sentir falta?
Levamos todos para os carros, e quando os
vimos sairem do nosso campo de visão, eu quase
mudo de ideia para deixar meu bebê com a gente.
— Não pense muito.
Gustavo me puxa, entrando em casa e me
agarrando logo em seguida. Agarro ele na mesma
ânsia, o trazendo para mim com urgência. Arranco
sua camisa e subimos para o quarto, com ele me
carregando no colo. Me põe no chão e me imprensa
na parede, do lado da porta do quarto, me instigando
com um beijo maravilhoso enquanto nos agarramos.
Nos separamos ofegantes e ele me puxa para
entrar no quarto.
— Esse quarto nem é o nosso... — sussurro.
— Agora é. Tem algumas coisinhas para a
gente.
Fico surpresa ao ver o quarto com pétalas na
cama, meia dúzia de rosas pelo chão, garrafa de
espumante em cima da cama, com algumas velas no
chão dando um ar bem gostoso.
Que homem é esse?!
— Agora somos só nos dois...— Gustavo me
segura firme.
— Sim, senhor, Maldonado.
Fito seus olhos azuis apaixonantes. Dedilho
seu peito e em seguida puxo sua nuca para um beijo
daqueles!
— Você existe mesmo?
— Sim, mas só para você.
Alisa minha bochecha com uma mão e com a
outra me segura possessivamente na cintura.
— Amo você, sabe, né?
— Sei. Eu percebi que te amava quando me
dei conta de que todos os meus planos para a vida
incluíam você, que te amava quando te esquecia por
minutos e te lembrava pelo resto do dia. Obrigada
pela surpresa. — Beijo novamente sua boca.
Gustavo segura minha nuca, aprofundado o
beijo apaixonadamente, e eu retribuo ainda mais
apaixonada.
Eu já não desacredito de mais nada.
Brindamos juntos e ele logo me puxa para
ficar por cima de mim. O beijo está arrebatador,
intenso, me deixando em êxtase e arrepiada, tudo ao
mesmo tempo. Gustavo me gira, me deixando de
costas para ele e anda comigo enquanto beija meu
pescoço. Viro de frente para ele e arranco sua
camisa, beijando seu peito e o arranhando de leve.
Ele gemendo é a coisa mais gostosa do
mundo. Entrelaça suas mãos no meu cabelo e gruda
em mim, dando um beijo cheio de vontade; estamos
apertados um no corpo do outro e sei que agora a
coisa vai pegar fogo.
O beijo é tão gostoso que aflora tudo, de tão
intenso que é. É engraçado saber que ele agora é
meu marido.
Empurro ele para a cama e monto em cima;
enquanto ele apalpa meus seios, exploro a sua boca
mordendo seus lábios de modo totalmente
depravado. Rebolo no seu colo enquanto ele geme
no fundo da garganta, aumentando a vontade de
beijá-lo a cada mais. Jogo ele na cama e desço a
boca, beijando sua barriga. Arranco sua calça
enquanto o olho descaradamente.
— Eu comprei um presente de casamento
para você — Gustavo sussurra.
— O que é?
— Um jogo chamado “verdade ou
consequência”, misturado com jogo da memória. Vou
pegar, acho que vai ser interessante. — Ele levanta
dando um sorrisinho safado.
Sorrio porque sei que não é um joguinho
inocente, pois, vindo de Gustavo, um devasso
completo, nada é. Vejo o deslumbre da sua bunda
na cueca. Suspiro alto tentando controlar meu corpo
e logo ele volta. Sento na cama e ele se aproxima
com a caixa na mão.
Abro e vejo algumas cartas, tipo de baralho.
São imagens de posições sexuais que se a gente
não acertar a combinação, como um jogo da
memória comum, podemos responder à pergunta e
falar a verdade ou pedir a consequência, pegando
uma das outras cartas que são da cor preta que dita
o que tem que ser feito. O jogo só tem perguntas
quentes e desafios loucos. Estou doida para usar.
Confesso que estou muito empolgada para
jogar. Espalhamos a carta na cama e Gustavo joga a
caixa no chão, ficando de frente para mim.
— Inicie — comanda.
Aceno e viro um par, errando. Ele arqueia as
sobrancelhas e eu o imito. Eu errarei todas de
propósito porque não terá graça e estou doida para
pagar uma consequência.
— Verdade ou consequência? — pergunta.
Olho para ele sorrindo e ele retribui. Safado!
— Verdade.
Deixarei as coisas mais picantes para depois,
claro. Quando estivermos pegando fogo. Ele arqueia
as sobrancelhas e sorri tentando formular uma frase
para me perguntar.
— Com quantos anos você fez o primeiro
oral?
— É sério que quer saber isso? — questiono
intrigada e desacreditada. Ele acena. — Com
dezesseis anos.
Ele vira um par, errando, e olha para mim
sorrindo. Pelo jeito ele também quer jogar o jogo.
— Verdade ou consequência? — pergunto.
— Verdade.
— O que mais gosta de fazer em mim?
— Sexo oral. Por mim ficava te chupando aí o
dia inteiro.
Cruzo as pernas, excitada. Acho que as
coisas começaram a esquentar. Sem ele mandar eu
pego uma carta e viro errada de novo. Ele me olha
semicerrando os olhos enquanto sorrio de um jeito
bem vagabunda para ele. Sorriso que você só dá
para o homem que te come há muito tempo.
— Verdade — respondo antes dele perguntar.
— Defina o sexo em uma frase ou palavra.
— Fácil! É a melhor coisa que inventaram
depois da comida. E com você? Gostoso além do
limite — sou objetiva e sincera.
Ele aprova minhas palavras. Sorrio dando de
ombros enquanto ele vira a carta, me olhando.
— E o que tem mais curiosidade em
experimentar? — pergunto antes dele escolher o que
quer.
— Anal. No caso, eu comendo. Nada perto do
meu rabo. — Sua cara de devasso me deixa em
alerta.
Por que ele tinha que ser tão sincero? Acho
que na próxima vou escolher consequência, senão
estou ferrada! Gargalho alto com sua resposta. Viro
a carta, errando, lógico, e ele sorri, pois foi o par da
mesma carta que virei antes.
— Me excite sem me tocar.
A aura sexual já está presentíssima aqui no
quarto. Nós dois estamos excitados, porém nos
torturando para ver até onde o outro aguenta.
Gustavo acena e me puxa para mais perto
dele.
— Não pode me tocar — advirto.
— Eu sei. — É a vez dele sorrir
maliciosamente para mim.
Antes dele se aproximar já me sinto arrepiada
e excitada. Gustavo coloca o nariz perto do meu
pescoço e aspira o cheiro, me arrepiando
completamente. Mio um pouco e sinto ele sorrir
contra minha pele.
— Coloque sua mão na minha coxa — pede.
Coloco e ele pega minha mão, colocando em
cima do seu pau, e aperta em cima logo em seguida.
— Não pode me tocar, Gustavo — advirto.
— Mas é você que está me tocando, então
vale. Aperte ele — comanda.
Arqueio as sobrancelhas e faço o que ele
pediu, e, não me contendo, cruzo as pernas. Ele
joga baixo demais. Gustavo coloca a boca no meu
ouvido e começa a falar coisas que ia fazer comigo.
O que ele falou? Imaginem! Só digo que não
economizou em palavras excitantes.
Gustavo termina sua provocação sorrindo,
pois gemi várias vezes sem me conter. Devasso!
Voltamos para o jogo fazendo promessas implícitas
com os olhos, pois ele está no mesmo espírito que
eu.
— Eu também quero desafio — responde
ofegante.
— Você nem virou a carta.
— Estou nem aí. Pegue uma carta —
comanda.
Faço o que ele pede.
— Se masturbe para mim — leio para ele.
Ele acena puxando a cueca e o pau duríssimo
salta. Eita! Sorri para mim se acariciando devagar e
eu cruzo as pernas para conter o rio que já desceu
nas minhas pernas. Estou em um alto nível de
excitação já. Gustavo começa a passar a mão
devagar, me olhando e ofegando. Ele quer me
enlouquecer, não é possível!
Gemo junto e ele sorri enquanto a mão sobe e
desce freneticamente, e o abdômen ora se contrai,
ora relaxa.
— Chega! — ofego.
Gustavo sorri e eu levanto, sentando no colo
dele mesmo de calcinha ainda. Ele logo puxa meu
sutiã, liberando meus seios e abocanhando um.
Gemo, pois ultimamente meus seios estão
supersensíveis e essa caricia de Gustavo dá uma
coisa entre minhas pernas que fico louca.
Guto me gira na cama de qualquer jeito e eu
rio pela atitude desesperada dele. Puxa minha
calcinha, ficando entre minhas pernas, e me beija
com gosto. Sinto o pau quente em contato com
minha pele e tremo.
Seus gemidos são como música nos meus
ouvidos, e logo estou dançando em cima do seu
mastro, nos deixando levar. Nossa noite é embalada
por uma sinfonia de gemidos, suspiros e promessas.
Sussurros no pé do ouvido e olhares de desejo. A
cada toque, olhar, é como se estivéssemos nos
tocando pela primeira vez. Às vezes com pressa, às
vezes calmos, apenas curtindo o outro, mas nunca
deixando de nos olharmos.
Olho para ele adormecido do meu lado depois
de termos aprontado horrores, inclusive um banho
de banheira com pétalas de rosas e mais
champanhe, muitas declarações nossas, e percebo
que meu coração, sempre quando olho para ele,
acelera de um jeito que parece que vai sair pela
boca e meu estômago revira, lembrando cada olhar,
toque e declarações dele para mim.
Eu o amo e sinto que é a coisa mais gostosa
que eu aprendi a fazer. Como dizem, se você nunca
pensou em tocar fogo nele, ele não é o homem da
sua vida!
Me envolver com Gustavo resultou na melhor
coisa da minha vida. E sinto vontade de beijá-lo para
sempre em agradecimento por não ter desistido de
mim no primeiro momento, quando mostrei
resistência. Eu realmente tirei uma sorte imensa.
epílogo
NATASHA

Ultimamente, o único sentimento que me


habita é plenitude. Me sinto ainda mais realizada
com nossa vida de família. Estou me sentindo uma
outra mulher e gosto do resultado disso tudo.
Parece estranho eu falar isso, logo eu que
sempre batia na mesma tecla que nunca me
apaixonaria e era feliz na minha vida, de ser leve,
livre e solta. E realmente era, foram bons tempos de
que não me arrependo nem um pouco, mas ter
Vinicius e Gustavo é muito melhor.
Às vezes aqueles dois parecem ter a mesma
idade, que eu tenho que colocar ordem. Ele está
bem esperto e nervoso, tentando andar direito, e
imagino, quando andar de verdade, porque
segurando nas coisas faz desordem o suficiente. Ele
está com quase dez meses e é bem traquinas. Eu e
Gustavo nos mudamos para uma casa maior, com
piscina, para o nosso peixinho se esbaldar. Agora eu
tenho closet. Chique, né?
É perto de Taís, inclusive. Preferimos, pois o
apartamento estava ficando pequeno para nós três e
Vinicius crescer dentro de um local sem espaço para
aprontar com Zeus estava me deixando louca. Sou
muito apaixonada nele sim, e vai me ouvir falar
sempre.
Eu sinto que os dois são os amores da minha
vida. Vinicius está ficando cada vez mais esperto e
brincalhão, me deixando ainda mais apaixonada.
A gravidez não é só medo, como eu
imaginava. São realizações e aprendizados também.
Mudei muita minha percepção das coisas depois que
ele nasceu. Só em lembrar dele nascendo, pegando-
o no colo pela primeira vez, a primeira vez que olhou
para mim... Tudo isso é indescritível.
Ele já me chama de mamãe e me derreti
completamente, mesmo que sua primeira palavra
tenha sido obviamente “papai”, e Gustavo chorou
feito um idiota. Foi engraçado, pois ele estava
chorando no berço, como sempre, e fomos ver esse
chorão. Quando viu Gustavo, ele estendeu os
bracinhos e chamou ''papapa'', várias vezes,
dengoso, e Gustavo congelou no lugar. Tive que dar
um tapa nele para pegar o menino que chorava
chamando-o. Só sei que, no final, Vini calou a boca
no colo dele e Gustavo é que começou a chorar.
Deito quase em cima de Gustavo, com uma
das pernas e um braço em cima, pois o corpo é
gostoso e quente.
— Guto... — o chamo no escuro já com o
coração desenfreado.
— Hum...
Se move um pouco para me olhar. Dou um
selinho nele, não resistindo ao ver aquela boca
gostosa.
— E se você fosse pai de novo?
Comento e ao mesmo tempo sinto o coração
dele bater consideravelmente mais rápido embaixo
de mim.
— Natasha...
— Quatro semanas.
Continuo dedilhando minhas mãos como
quem não quer nada e fito seu rosto surpreso e
sorridente.
— Não brinca!
Ele me gira ficando por cima e vejo ele sorrir
abertamente. Meu coração está tão ou mais
acelerado que o dele. Rio, tentando não enlouquecer
com essa nova realidade. Estou desesperada, mas
logo em seguida começo a chorar ao imaginando ter
outra criança em breve.
Confesso que quando descobri eu quase tive
um troço. Tanto pelo parto que tive com Vinicius,
quanto pela idade dele, que eu ainda acho pequeno
para ter uma outra criança pequena para cuidar.
Estou com medo de, mesmo sem querer, deixar Vini
de lado, ou ele se sentir assim.
Gustavo me aperta, me aninhando nos seus
braços e me colocando por cima do seu corpo de
novo. Ele me acolhe nos seus braços fortes.
— Vou estar com você. A gente vai dar conta,
como estamos dando com Vini.
O bom é isso, com nossa intimidade Gustavo
aprendeu a me ler quase totalmente. Mas ainda não
aprendi a fazer isso com ele.
— Eu vou arrancar seu pau!
Choramingo no colo dele. Ele roça em mim,
me instigando, sinto toda a gostosura entre minhas
pernas e automaticamente fico molhada. Devasso
descarado! Fito seus olhos, beijo seu queixo e em
seguida sigo para sua boca dando um beijo gostoso
e apaixonado nele.
— Amo você desse jeito apaixonada, não
sabe?
— Amo você também. E me apaixono mais
por você a cada dia.
Gustavo sorri abertamente, pois agora sou
oficialmente uma idiota apaixonada e casada que
vive se declarando à toa. Ele me dá um beijo
gostoso com mil e um significados. Nem acredito
que vou ser mãe mais uma vez, tudo isso junto com
a pessoa que faz meu coração bater mais forte.
Que me ensinou que amar não é tão
assustador quanto parece. Que é mais gostoso que
assustador, na verdade. Que podemos sim nos
apaixonar sempre. Que não precisa estar sempre
junto e grudado, mas que sinta vontade de estar
sempre.
Intimidade e amor é mais que isso. É poder
chorar e ele entender o que está se passando sem
perguntar, como agora. É falar ''eu te amo'' de boca
cheia, literalmente. É poder se entregar totalmente,
sem que isso seja usado contra você futuramente, é
aguentar todos os obstáculos juntos, é, acima de
tudo, abrir o coração sem medo da resposta, só pelo
fato de confiar plenamente na pessoa e ela apenas
concordar e seguir com você.
Ele poderia simplesmente me expulsar da sua
sala depois da nossa primeira transa, por eu ter sido
''fácil demais'', ou que eu não seria digna de ter o
que tenho hoje por fazer o que bem entendo, sem
vergonha de ser quem sou. Se eu fosse mais amena
e obediente, não seriamos nós, se ele fosse mais frio
ou arrogante, também não seriamos nós.
Somos ácidos, irritantes, safados,
praticamente o oposto em questão de
personalidades, mas conseguimos nos encaixar e
nos amar dessa forma, depois dos conflitos e
obstáculos, e isso nos tornou mais fortes, até para
esperar o novo bebê. Dar por dar, sem
compromisso, é gostoso e interessantíssimo. Depois
vai cada um para seu canto, sem pressão, sem
pedidos de casamento, filhos e cobranças.
Mas melhor que tudo isso é ganhar abraços
por motivo algum, é receber afagos e um ''eu te
amo'' baixinho no meio do escuro, como fez agora, é
sair juntos de mãos dadas, é ter um bebê gostoso e
risonho. Sexo é gostoso, mas amor é lindo, sublime,
e fazer com a pessoa que você ama e se sente
completa é melhor ainda.
Eu poderia ter deixado passar tudo isso que a
gente divide hoje por puro receio de abrir mão da
minha doce liberdade. Entretanto, me permiti e
permiti ele entrar na minha vida para amá-lo com
todos os defeitos no pacote, não só o que ele tem de
bom para me oferecer; eu escolhi tudo aquilo que
me irrita também, foi uma escolha que eu tomei e
não me arrependo.
E por isso somos isso. Puro amor. Ele é meu
conforto em meio ao furacão, me fez tornar uma
mulher que nem sabia que queria ser e que o ama a
cada dia mais, e sei que é recíproco. E às vezes sou
o conforto dele e tentamos sempre estar no
momento certo para que tudo aconteça.
— Amo você por ter me dado toda essa
família linda.
Gustavo sussurra quando estou abraçada a
ele, acariciando seu rosto.
— Você foi uma das realizações mais bonitas
para mim.
Sussurro, baixo, de volta. Ele sorri e beija
minha mão, me apertando mais contra ele.
A gente abriu mão do conforto da nossa
solteirice para sermos livres junto. Ser livre em
companhia. Nós fomos muito diferentes no começo.
Ainda somos quem sempre fomos, mas novos lados
nossos apareceram. Ele chegou mais perto que
qualquer outra pessoa. Eu escolhi estar com ele
porque a gente pode ser o que quiser e ter a
tranquilidade de saber que nos encaixamos assim.
A gente escolhe amar quando não quer dormir
sozinha, quando troca a cama espaçosa para estar
juntos, acordar olhando um para o outro. A gente
decide amar quando vai conhecer o pai, a mãe, a
família… Quando a família da outra pessoa passa a
fazer parte do convívio. A gente decide amar quando
abandona os flertes, quando o interesse de uma
pessoa vale mais que as investidas de outras mil. A
gente escolhe amar quando descobre defeitos e
ainda assim não sai do lado. E com ele sinto tudo
isso. Se isso não é amor ou a melhor coisa do
mundo, eu não sei mais o que é. Mesmo depois de
ter conhecido vários sorrisos, o dele sempre vai ser
o meu preferido.
Por ele valeu a pena me jogar no abismo do
amor porque ele extraiu coisas minhas que eu nem
sabia que existiam, porque andar de mãos dadas
com ele parece a melhor coisa do mundo. Ele tem
sensação de lar desde a primeira semana… Custou
eu entender isso, mas agora que sei, parece ser a
melhor coisa do mundo. Por ele eu aprendi a dividir
o edredom, mesmo que resulte em briga por eu
deixá-lo passando frio a madrugada inteira. Noites
calmas assistindo e enroscados. Com ele eu aprendi
que ser cuidado é melhor que qualquer outra
sensação de uma noite qualquer com uma pessoa
qualquer.
Amor é olhar e acariciar o outro enquanto ele
dorme e sentir orgulho e sorte por estar ali. Eu
lembro de todo primeiro beijo apaixonado que dei na
vida. De cada um, e o melhor de tudo: Gustavo está
em todos eles.
Não somos um casal comum, clichê, que se
conheceu de forma mais clichê ainda. Não tivemos
primeiro encontro, nem segundo e muito menos o
terceiro. Gustavo me fez desejar coisas que nunca
imaginei, que nem pensava em querer. Até ele
chegar assim do nada, insolente e safado me
fazendo desejá-lo desde o primeiro momento que vi,
como se fosse feito exatamente para mim. Um
devasso que veio e se infiltrou, se tornando
irreversivelmente meu.
Passe para a próxima página!
Continua em...
NOVAMENTE MEU – TAÍS E
RODRIGO
Taís quando conheceu aquele belo viajante de olhos azuis urgentes,
sabia todas às consequências de se envolver com alguém que
poderia ir embora a qualquer hora, mas como controlar a paixão
iminente por Rodrigo?
Ela só não esperava sair desse caso de paixão grávida e sem o
homem que amou intensamente.
Anos se passaram depois de tudo e o que ela não esperava
aconteceu: se reencontram e percebeu que o ele hoje é um homem
ainda mais lindo e seu coração continua bobo, logo agora que
estava prestes a tentar um novo relacionamento.
Rodrigo também não esperava reencontra-la e nem que alguns
sentimentos fossem aflorar de imediato tanto pela única mulher que
conseguiu lhe desestabilizar, tanto pela criança que a chama de
mãe.
Copyright © 2019 - Mayara Carvalho, criado no Brasil.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Não é autorizada a cópia, distribuição
comercial, republicações, total ou parcial em qualquer meio sem autorização
explicita da autora. A Violação dos direitos autorais é crime estabelecida na lei n°.
9610/98 e punido pelo artigo 184 do código penal. O livro está protegido pela lei e
registro. Não distribua, respeite o trabalho alheio!
Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou
situações da vida real terá sido mera coincidência.
Versão única, dezembro de 2019
NOVAMENTE MEU #2.5
Design da capa & Diagramação: Mayara Carvalho
Revisão: Mayara Carvalho
Imagem do miolo: Regards Coupables™
(@regards_coupables)
Fotografia: Shutterstock
PRÓLOGO
SETE ANOS ANTES

TAÍS
— Está terminando comigo?
— Estou. Mas não se sinta mal, eu realmente preciso ir. — Tenta me explicar pela
milésima vez.
— Não vai, amor. Por favor. — Mal aguento minhas lágrimas.
Eu estou gravida de você! não vai!
Ele vem na minha direção e segura no meu rosto, me fazendo olhar para ele. Dou
de cara com os olhos azuis maravilhosos que me encantou desde o primeiro
dia. Inflamam por mim não importa a situação.
Rodrigo me aperta mais contra seu corpo enquanto retribuo o máximo que
consigo. Tentando o convencer pela milésima vez a não me deixar.
— Eu preciso ir. Sou como um pássaro, preciso estar sempre voando. Tenho
o espírito livre, Tá. — Diz baixo.
— Você disse que me amava.
— Eu amo, vem comigo então.
— Eu não posso, tem a facul...Fica! — O abraço chorando.
— Uma parte de mim ficará com você, prometo. Você não quer ir comigo e eu não
posso ficar. A melhor solução é essa.
Realmente, ficará uma parte sua comigo. Eu poderia dizer que acabei de
descobrir que estou grávida dele. Mas se ele rejeitar o bebê não vou conseguir
superar isso, não tem como parar suas ideias de viajar. Desde que nos
conhecemos ele me alertou sobre suas viagens e possível partida. Eu quem
achava que Rodrigo seria superável. Não esperava me apaixonar tão
perdidamente por ele a ponto de ama-lo como nunca antes.
Eu sabia que isso poderia acabar como estou agora, arrasada. Mas não pude
evitar. Rodrigo é urgente demais que acabo passando por cima do meu bom
senso na maioria das vezes.
— Eu prometo que venho aqui quando puder.
— Não! Quer ir? Vai! Mas não volta. Se for agora vai ser para esquecer tudo
quando passar dessa porta. Se eu não sou o suficiente para fazer ficar, não quero
suas migalhas.
Decido, me separando do seu corpo, magoada.
— Taís...
Tenta me puxar pelo braço, mas me esquivo.
— Quer saber? Eu que não quero mais que fique. Seja feliz, Rodrigo, e ache o
que quer que seja que você tanto procura viajando. — Vocifero.
— Tenta entender Taís.
— Não! Não terminou comigo? Pronto! Agora só me esquece que farei o mesmo.
Vou em direção a porta do quarto que ele está hospedado. Viajantezinho de
merda! Bato a porta o deixando para trás, não evitando as lágrimas ainda
mais. Escuto ele berrar meu nome, mas estou descendo as escadas o mais
rápido que consigo. Não vou conseguir mais olhar para cara dele novamente sem
me desmanchar em lágrimas.
E agora vai criar um bebê sem pai com a merda da faculdade para administrar,
ainda por cima. Burra!! Taís você é uma burra! Burra!
Chego em casa, sem me importar se fiz o caminho chorando para quem quiser
ver. Foda-se tudo.
— Taís. O que aconteceu? —Minha mãe pergunta preocupada.
— Quero ficar sozinha.
Passo direito indo em direção ao quarto, que hoje é só meu. Depois que minhas
irmãs se mudaram para morarem juntas eu fiquei sozinha nele. As vezes isso é
bom e as vezes isso é ruim, pois sinto falta da presença delas, mesmo não
falando muito comigo.
Eu deveria estar acostumada com rejeições, já que minhas irmãs fizeram isso
comigo. Eu sou uma idiota! Sempre sou deixada de lado, por todas as pessoas ao
meu redor. Idiota!
Além de idiota é burra, por ter se apaixonado por um viajante qualquer. Idiota Tais,
você é uma idiota!
Choro compulsivamente jogada na cama. Viro de barriga para cima e coloco a
mão em cima dela, satisfeita com minha decisão de não o contar sobre a
gravidez. É melhor ele não saber do que rejeitar a criança e isso eu não
aguentaria, olhar para meu bebê e saber que foi rejeitado, como eu fui.
— Agora é eu e você, bebê. — Digo baixo ainda chorosa. — E não me abandona
também.
Rodrigo é um idiota! E o odeio! Na verdade, me odeio. Por ama-lo e agora estou
me sentindo um lixo sem ninguém por perto para desabafar. Em um acesso de
louca ligo para Lizandra, minha irmã do meio.
Taís? — Atende confusa.
Caio no choro compulsivo de novo e ela volta a chamar meu nome e perguntando
o que aconteceu.
Estou grávida! — Berro chorando.
Grávida Taís?
Ela berra do outro lado e escuto Natasha, minha irmã mais nova falar algo do
outro lado.
Sim. Estou desesperada.
Já falou para mamãe?
Natasha fala, pelo jeito Lizandra colocou na viva voz.
Não! Estou com medo.
E seu namorado? Falou com ele? Se acalma. — Responde.
Volto a chorar e escuto ela resmungar ''aí merda'' e Liz rebater com um ''fica
quieta''
Ele terminou porque queria viajar.
Que filho da puta! Não quis o bebê? — Liz quem diz.
Não! ele não soube, não contei.
Taís... E agora?
Não sei, Liz. Tem como você vim aqui amanhã? Por favor, estou com medo de
falar sozinha. — Suplico.
Acho que dá. Mas só consigo depois do trabalho.
O importante é vim. Eu realmente preciso. — Suplico.
A gente vai. Só se acalma, por favor. — Natasha responde.
Agradeço e desligo. Por mais que minhas irmãs não morram de amores por mim,
quando eu preciso elas sempre me amparam. E eu agradeço muito por isso. Só
espero que meus pais não briguem tanto comigo, pois de alguma forma eu quero
essa criança, não teria coragem de não o ter. É estranho, mas eu o amo, mesmo
sabendo que ainda é uma bolinha de sangue.
Vou ama-lo e cuida-lo, minha única prioridade da vida. Rodrigo a partir de hoje vai
ser passado, e não quero vê-lo nem pintado de ouro!

PRIMEIRO
Não! Isso não pode estar acontecendo.
Taís pensa com o coração batendo violentamente o vendo novamente depois de
tantos anos. Tanta pessoa no mundo e tinha que se parar justo frente a frente com
ele?
Qual a probabilidade de sua irmã mais nova, depois de mil anos, namorar
justamente com o primo do seu ex e pai do seu filho?
Rodrigo pensa mesma coisa, porém não consegue disfarçar, o encanto, ao
perceber o choque de como aquela jovem mulher que já era linda, sempre foi,
virou esse mulherão de parar o trânsito.
Os corações dos dois bateram acelerados, porém, Taís, continua não querendo
vê-lo nem pintado de ouro. E por isso continua séria, mesmo descompassada e
Rodrigo só tenta entender o porquê de estar tão nervoso a vendo novamente.
Eles foram praticamente obrigados a se cumprimentarem, mas ela não quis
quebrar a distância, e só pensou que o filho, está mais próximo que o pai e não
sabe e isso a desespera. Enquanto Rodrigo se sentia mal, ao notar a indiferença
e o repúdio de Taís ao vê-lo.
Mesmo depois do término precoce, posto por ele mesmo, ficou tentado a ficar, por
ela, mas sentia que precisava procurar o que tanto lhe faltava, era agonizante não
se sentir completo, no qual sente-se assim até hoje.
Mas vê-la diferente e ainda mais linda, fez algo dentro de si acender, numa
necessidade enorme de falar com ela, perguntar sobre como tem passado todos
esses anos com sua partida...e se ainda pensava nele de alguma forma. Qualquer
coisa, apenas para escutar sua voz...
Mas Taís só quer distância querendo ficar o mais longe que conseguisse, em vê-lo
tão mais viril e charmoso a olhando descaradamente, mesmo com o coração
acelerando sem a sua permissão. E acelerou ainda mais, nervoso, quando
percebeu que os olhos dele caírem diretamente na criança ao seu lado.
E quem o conhecesse, saberia que aquela criança era seu filho, porque ele
prometeu que uma parte dele ficaria, mas não saberia que se tornaria presente
nos traços tão acentuados do seu filho, nos gestos pequenos e quase
imperceptíveis. Mas para seu alívio, Rodrigo não o reconheceu como filho,
apenas adorou a criança, e percebeu desajustado e surpreso que era filho de
Taís. Mas dela e de quem? Será que casou? O pensamento lhe causa aflição.
Ela segue para fora do grupo social para pensar um pouco. Se sente mal com
tudo isso. De privar seu filho, que está brincando alegremente com Zeus, o
cachorro da irmã mais nova, de saber que o casal de senhores que se viu
totalmente apaixonados pelo garoto, era de fato seus avós. E se sentiu trêmula,
ao ver que ele conversava alegremente justamente com Lizandra, sua irmã.
Ele parece tão à vontade.... Sem se importar com minha presença. Acho que sou
a única trouxa que sente alguma coisa com a presença dele, mesmo que seja
incomodo.
Enquanto ela pensa isso, revoltada, sentindo sufocada que precisava pensar um
pouco, Rodrigo sente o mesmo, por ela ter o ignorado, agido tão friamente. E
pensou, que talvez, Lizandra pudesse ser uma pequena ponte, para saber mais
sobre como está a vida dela e descobriu, que para seu alívio incompreendido, não
era casada.
E quando decidiu conversar com ela, não a encontrou, só viu seu vulto entrar na
casa, e ele segue logo atrás, mesmo sem ela perceber até o banheiro, e espera
ela abrir novamente a porta para empurrar em seguida lá dentro de novo. Ficando
no mesmo cômodo sozinhos.
— Me solta! — Pede assustada.
— Taís...
Ao mesmo momento que a chama, o coração dela acelera. E pensa que talvez se
ignorá-lo, ele vai embora a esquecendo de novo, como no passado.
— O que você está fazendo?
— Quer conversar com você.
Pelo menos essa era a ideia inicial dele.
— Conversar sobre o que? — Berra.
Taís tenta controlar o coração acelerado por ele estar próximo demais dela, e por
estarem sozinhos. Mas o medo dele saber que é Alan é seu filho, e querer fazer
parte da vida dele, assim como querer a guarda compartilhada a assombra. Ele
não sabia o que queria conversar, só que queria chegar perto dela, de alguma
forma, porque seu corpo pedia isso, que se aproximassem e tentar pelo menos
uma conversa amigável.
Mas ver ela, totalmente brava com os braços cruzados, e cara amarrada deu uma
vontade enorme nele de querer beija-la.
E assim o fez.
A pegou nos braços, colocando seus corpos ao mesmo tempo que atacou sua
boca. No primeiro momento ela tentou sair, mas depois se rendeu um pouco
assustada, sentindo o gosto do beijo do homem que o fazia sentir sensações
loucas.
Ele logo desceu suas mãos tateando o corpo mais acentuado da única mulher
que foi capaz de se permitir e assumir que ama. Rodrigo a coloca sentada na pia
enquanto ainda beija de forma urgente, assim como ela que o aperta como pode.
Aos poucos ambos foi se entregando no momento.
Como sempre, Rodrigo sempre foi muito urgente para Taís, que não conseguia ter
bom senso perto dele, sempre acabava, nos seus braços.
Depois do momento de entrega, onde depois Taís correu desesperada por ter
transado com ele de novo e se sentido horrível, pois prometeu que não o queria
vê-lo e no mesmo dia que o vê acaba se rendendo e transando. Tentando pro a
cabeça no lugar, ao lado da irmã, como se Liz fosse seu forte, afinal, ele não seria
cara de pau ao ponto de aborda-la novamente, seria?
E pensou certo, Rodrigo depois de ter sigo largado, confuso e sem conseguir
dizer o que nem ele sabe o que quer dizer, tentou se aproximar dela de novo, mas
não obteve sucesso.
Só ficaram próximos de novo quando o jantar foi servido. Mas ela logo o despistou
ficando com o filho. E ele se sentiu um pouco esquisito e diferente, quando no
final da noite, a viu com o moleque adormecido no seu colo e ela abraçada a ele o
observando dormir com um sorriso bobo e materno.
Que diria que Taís ia ser mãe....
Depois de se despedir da família, que por um acaso é do seu filho também, foi
embora para casa das irmãs, ficar sozinha um pouco para pensar e quem sabe,
dormir.
Deitada observando o filho sereno adormecido, percebeu que Alan parecia com
Rodrigo de fato, hoje mais do que nunca, a ponto de estranhar que ninguém
percebeu nenhuma semelhança sequer.
E uma noite que deveria ser legal, acabou virando uma confusão, pelo menos
para ela, trazendo à tona coisas que não queria, enquanto ele, ainda na festa, não
sentia mais vontade de ficar nem socializar. Apenas remoer seus sentimentos ao
reencontra-la.

SEGUNDO
— Mãe, estou pronto. — Alan chega saltitando com a mochila nas costas.
— Pegou tudo?
— Aham.
Sorri para ela, que retribui com todo amor. Olha para o menino que tem os
mesmos grandes olhos azuis do pai e o cabelo escuros. As pessoas geralmente
acham que os olhos é dela, por ser da mesma cor, mas o dela, nem de longe é
tão reluzente quando o deles.
Ainda está surpresa e aliviado por ninguém ter desconfiado desde os dois dias
que esteve perto.
Falando nessa data, vê-lo mais uma vez, foi tão...ou mais estranho e
desesperador. A família toda de Rodrigo paparicando o menino e dando toda
atenção do mundo foi bonito, porém sufocante. Sem falar em Rodrigo, com Alan,
jogados no chão brincando alheio a tudo no dia seguinte do jantar, foi ainda pior.
Era nítido a rápida amizade dos dois, em uma tarde. E se sentiu mal, em privar o
filho de saber que está brincado com o próprio pai sob olhares sério do avô
paterno.
E foi por isso, por não aguentar aquele núcleo todo família, pois não basta
Rodrigo a encarando sempre quando tinha oportunidade, que saiu com o menino
mais cedo, para tomar sorvete.
Alan até perguntou algumas vezes sobre o pai, mas sabe que esse é um assunto
que a mãe não gosta de falar de forma alguma. Sempre responde com grosseria,
sem querer, pela insistência do menino e sentindo-se mal logo depois, ou incapaz
de verbalizar uma resposta sem lembrar tudo o que aconteceu sem querer cair no
choro, ou ficar envergonhada, em não saber de fato onde pai estava ou
simplesmente contar o que aconteceu e o menino se sentir mal de alguma forma.
Mas agora sabe...
Mesmo assim, ainda quer que as coisas continuem como estão. Não sente
preparada para contar que os dois são pai e filho, pois sente medo de Rodrigo
querer tirar seu único companheiro de vida, ao querer pedir a guarda
compartilhada, ou total. Uma vez que além dele ser o pai, tem como dá uma vida
muito melhor que ela ao menino.
Taís ainda não entende o porquê de ele ter voltado e ficar no seu enlaço. E não
consegue parar de pensar, mesmo não admitindo, que a transa que tiveram no
banheiro, mostrou que ele consegue mexer com ela, mas do que queria.
Eu deveria odiá-lo, mas por que diabos eu tenho vontade de beija-lo mais uma
vez?
E não deveria, justo agora que estava se permitindo a gostar de alguém outra vez.
Conheceu o Hugo a pouco tempo, ele se mostrou interessado nela desde que a
conheceu e ela receosa, achou que finalmente era a hora de se permitir sair de
um celibato sem fundamentos. Justamente quando Rodrigo voltou e a tomou para
si como se não tivesse quase dez anos que não se viam.
Você não deveria pensar nele, Taís. Ele te abandonou e não quis mais nada com
você, lembra? Se questiona indignada e se censura enquanto anda pelo bairro, no
caminho do colégio onde Alan estuda.
— Mãe, será que tio Rodrigo vai trazer mesmo meu tablet que me prometeu?
Pergunta, assustando a mãe, a tirando dos seus devaneios.
— Esquece ele, Alan.
O menino acena concordando fazendo ela ficar um pouco mal pela grosseria sem
motivos. Foi grossa, tentando acalmar o coração acelerado a menção do nome da
pessoa que está a assombrando desde o fatídico jantar mês passado.
E percebe que ele fez com o filho exatamente o que fez com ela. O encantou com
seu jeito cativante e o deixou na deriva, numa esperança de vê-lo mais uma vez.
Do outro lado, Rodrigo estava pensativo jogado na cama, do quarto da casa dos
pais, pois ainda não comprou sua própria residência, se questiona se realmente
Alan era seu filho e afinal, o que sentia por Taís.
Ele a queria de volta, isso é fato. Tentou argumentar que só queria conversar, mas
vê-la tão perto e tão longe o fez sentir mal. E agora percebe. Ainda se sente
atraído e apaixonado pela desgraçada que o ignorou de verdade no reencontro.
Sobre o fato da paternidade, desde o pai comentou inocente com a mãe e ele
ouviu, sobre a similaridade dos dois, logo depois que Taís desceu com o garoto
para rua, que pensa nisso. Mas até onde ele sabia, Taís não estava grávida dele,
ou estava e não sabia?
Ainda se sentia estranhamente ansioso e nervoso em pensar nisso. Filho? Seria
mesmo ele filho dele?
Estranhamente gosta da notícia de ser pai, do moleque que adorou desde o
primeiro contato, e percebe que é reciproco, pois, o menino também gostou dele,
desde o primeiro momento. Aos poucos começa a encaixar as peças do quebra
cabeça que estava desmontado na sua cabeça. Depois de uma rápida conta,
depois que perguntou o garoto a idade dele, onde as contas assustadoramente
batem com o tempo que estão separados, ao menos que ela tenha entrado em
outro relacionamento logo em seguida que terminou com ele e acabou
engravidando. E se não, ao menos que ela descobrisse quando fosse embora.
Mas e agora? Porque não contou?
Mas tudo apontando que seja, Tais não seria capaz de esconder a paternidade
dele. Ou seria?
Precisava tirar essa história a limpo. Depois de ter prometido um ipad para o
garoto, para assim ter um motivo para vê-lo de novo. Pois quando Taís decidiu
descer com o menino, para irem embora, ele se sentiu estranho e com vontade de
ir atrás e tentar uma nova aproximação.
Levanta da cama com um gás a mais e corre para tomar banho e se arrumar, para
pelo menos tentar encontrar com ela e o garoto, na frente da sua escola, pois não
se contentou e perguntou ao garoto onde estudava, que não ofereceu resistência
alguma em contar em uma das conversas dos dois.
Arrumou-se o mais rápido que conseguia, disposto a colocar tudo nos eixos. Pega
o carro, sem tomar café, ainda precisava falar com uma das irmãs de Tais, para
ajuda-lo e dá pelo menos o endereço.
Precisava começar de alguma forma. Pois só sabia onde ele estudava e não
podia perguntar isso ao garoto.
Estaciona o carro na frente do colégio, do outro lado da rua ao ponto de ver ele
acenando para Taís e entrando, enquanto sorria abertamente retribuindo. Rodrigo
ver o sorriso da criança enquanto andava no meio da multidão de mini-
estudantes e não consegue em sorrir também.
Sentiu se orgulhoso ao ver o menino pela primeira vez, e não teve dúvidas, é sim
seu filho. O coração nunca se engana. E o dele, que está acelerado, mostra isso.
Precisa conversar com Tais, e tentar uma aproximação de qualquer jeito. Ela se
vira disposta a ir trabalhar, e dá de cara com ele. Não conseguiu controlar o
coração que acelerou. Até quando vai se sentir assim?
Questiona a si própria, o vendo, lindo na roupa social e óculos escuros. Sério e
imponente para ela.
O desgraçado tinha que ter ficado mais bonito? Tenta ignora-lo de qualquer forma
andando em direção ao caminho.
— Taís, a gente precisa conversar.
— Não precisamos. Tudo foi dito a milhões de anos atrás.
Chega mais perto dela a deixando totalmente desnorteada e com o coração ainda
mais acelerado, porém o dele não estava diferente.
— Me escuta...eu quero você de volta. Vai dizer que também não sente nada por
mim?
Pergunta a deixando sem voz, tanto pela aproximação, tanto pelo
questionamento. Ele não deveria ter dito isso, não deveria.
— Isso não é hora e nem lugar para falar sobre isso.
Se esquiva tentando sair de perto dele, que logo a segura de novo a fazendo
parar.
— Me diz onde é sua casa então. Vamos conversar.
— Rodrigo, eu estou atrasada. Não estou afim de brigar. Poderia por favor voltar
para o buraco que saiu?
Pela primeira vez ela o olha. Olho a olho. É nítido a mágoa de Taís, por ter sido
trocada pela viagem enquanto vocifera. E ele percebeu isso, e sentiu-se mil vezes
pior por aquilo.
Mas Taís só queria fugir dele, além de sentir-se sufocada pela presença, sente
medo que com essa aproximação e insistência, descubra que Alan é seu filho.
Isso ainda assombra de todo o jeito. Ele não pode tirar ele dela, não pode!
Segue o caminho em passos rápidos rezando para que não venha atrás. Ele a
olha se distanciar, pois, sabe que se forçar a barra vai ser pior. Volta para o carro
puto da vida esmurrando o volante.
Merda Taís! Quando ela está assim é pior que tudo. Teimosa feito a peste.
Segue para o trabalho pensando em como aborda-la novamente, porque desistir
não está nos seus planos!

Os dias passaram, tentou conversar com ela outras duas vezes, mas o ignorou
com maestria, inclusive fingiu que não o conhecia, e acabaram discutindo, mas
pelo menos ele não desistiu e a seguiu, até descobrir onde mora. E da última vez
até tentou ser romântico, mas não deu muito certo.
Sentiu como se uma faca tivesse fincada no seu peito, ao vê-la saindo sorridente
de casa com o filho e acompanhada de um homem numa alegria ímpar. Chegou
no exato momento que o homem lhe abraçava apertado, como se fosse sua,
numa audácia de pôr o focinho no pescoço dela. Mas a irmã disse que ela não era
casada! Quem era o sujeito?
Sabia que estava irritada com ele e que não queria vê-lo mais, quando
terminaram, pois, mesmo disse, mas não sabia que era tanto. De um lado sentia
que merecia essa frieza, por ter a abandonado grávida, a trocando, mesmo não
sabendo da existência da criança, mas por outro se questionava o porquê te ser
tão...fria e desinteressada dele e o que ele tinha para falar. E afinal, quem era o
homem que estava ali onde era ele quem deveria estar?
Perdido, também viu mais duas vezes o garoto entrar no colégio e sentiu vontade
de despedir dele e dizer que era o pai. E até chorou um pouco, sozinho, sentindo
um aperto no peito em não poder chegar perto. Tinha que se aproximar de alguma
forma, e pensou em Natasha. A mulher do seu primo, e irmã dela.
E hoje seria a melhor oportunidade de convocar ajuda e acabar com aquela
tortura. Desbloqueia o celular e fita a tela, enquanto está debruçado na janela,
vendo a foto de mãe e filho sorridentes num aniversário, que apareceu de
background do próprio aparelho.
Uma foto que achou stalkeando as duas irmãs de Taís, em redes socais. Não
evita sorrir também, olhando os dois abraçados e sorrindo, um sorriso orgulhoso
no rosto percebendo que o menino tem mais dele do que dela, um Maldonado
legítimo. Como não percebeu antes essa semelhança toda?
Agora entende a conexão repentina dos dois. Eles se reconheceram, mesmo não
sabendo o que eram.
Saí da janela e volta para sala que agora trabalha, na empresa do pai, vendo que
já são quase o horário do almoço, e ele combinou de fazer a refeição com ambos
para que pudessem conversar e um pouco nervoso, saiu da sua sala, disposto a
contar tudo a ela e a Gustavo, sobre Taís e Alan.
Ainda está receoso com tudo.
Sabe que Natasha pode não gostar muito de saber, ou se sabe, não vai ajudar.
Mas não custa tentar, com certeza ela verá a situação e ajudará. Pelo menos é o
que espera enquanto chega na porta, encontrando sentados juntos na sala dele.
Os dois descobriram que ela está gravida recentemente. E não deixa de ficar feliz
pelo primo, um sonho que tanto quis, finalmente se realizou. Pelo menos tem
alguém feliz, e perto da cria.
— E aí, casal? — Tenta de alguma forma chamar atenção, sem saber como
começar a explicar.
— Oi. — Respondem juntos.
— Posso conversar com você?
Direciona a palavra a loira do seu primo. Por isso quando conheceu achou que a
via de algum lugar, mas era só alguns traços que a fazia lembrar brevemente a
irmã mais velha.
— Eu? — Natasha estranha.
— É., Mas Gustavo fica se quiser, ele vai saber mesmo. — Dá de ombros.
Rodrigo senta do lado, ainda se sentindo muito tenso.
— Então. Queria ajuda para reconquistar sua irmã. — A careta confusa que
Natasha faz, faz com que ele complemente. — Taís... A gente teve um rolo a
alguns anos atrás, o menino...é meu. Ele tem mais ou menos a idade que ficamos
separados.
Antes de respirar sem saber se era uma boa ideia, sentiu um soco no ombro,
quase no queixo, o deixando surpreso por ter sido Natasha. Como uma pessoa
daquele tamanho tem uma mão tão pesada?
Rodrigo continua, estático com a mão no rosto olhando para Natasha possessa e
o primo tentando segurar a pequena fera que tenta avançar de novo de qualquer
forma.
— Então é o babaca que a abandonou para viajar para não sei que inferno. Você
sabe o que Taís passou quando você foi embora? Ela descobriu a gravidez no
mesmo dia que você terminou com ela e foi embora! — esbraveja enraivecida.
— Eu não sabia de filho nenhum... E ela nem quer olhar na minha cara, como se
eu tivesse rejeitado a criança. — Tenta se explicar a qualquer custo a irmã da mãe
do seu filho.
— Motivos para isso ela tem! Eu não vou te ajudar em nada! Taís ficou sofrendo
um tempão pela sua viagem e com um bebê na barriga. Agora volta como se
fosse a vítima? Ah por favor!
Pelo jeito grosseria e teimosia é característica de família, além dos olhos claros e
cabelos loiros. Rodrigo sente-se surpreso, culpado e triste, em saber que
descobriu a gravidez no mesmo dia do término, isso o faz sentir uma pessoa
horrível.
Agora entende toda a frieza dela com ele, no momento que a deixou para viajar,
de alguma forma, também rejeitou a criança. O buraco é mais embaixo que
achava. Porém, acha injustas as palavras de Natasha. Quem ela acha que é
afinal para julga-lo dessa forma? Até onde ele sabia, Natasha mal falava com
Taís.
Desde que reencontrou Taís e antes mesmo de descobrir que Alan é seu filho
tenta se aproximar de qualquer forma, enquanto a irmã dela, que omitiu a criança
e ainda assim não quer conversa, sem contar que nem dormir direito consegue
pensando nisso. Pensa indignado olhando sério para a cena a sua frente, ela
discutindo brevemente com o Gustavo, que tenta puxa-la de qualquer forma.
— Quando a gente terminou, eu não sabia de bebê algum, Natasha. Não me pinte
como um idiota que abandonou uma mulher grávida.
Ruge sentindo injustiçado.
— Eu não vou te ajudar em nada, já falei. Procurou a irmã errada. A casamenteira
é Lizandra.
E enraivecido, segue em passos duros de volta a sua sala, pensando o que fazer
e acha que deu tempo de mais para Taís, precisam conversar seriamente sobre
Alan.
Cansei! Taís tem que me ouvir, sou o pai da criança e ela não pode me negar
nada.
Pois não quer mais perder nenhuma etapa do crescimento do garoto. Apesar de
se sentir triste e frustrado por não ter acompanhado as outras.

TERCEIRO
Os dias passaram, e Taís sente feliz em ter conseguido sair para jantar com Hugo,
mesmo que não tenha sido tão bom quanto ela queria que fosse. Ainda se sente
estranha.
Pois não consegue tira-lo da cabeça de jeito algum. Mas não consegue, pois ele
vive se mantendo presente, nas tentativas de chegar perto. O que ele queria
afinal? A quer de volta realmente?
Era o que parecia, de todas essas tentativas de chegar perto e de tentar
conquista-la de todas as formas. Isso a deixa sufocada e nervosa a cada
aproximação.
Como semana passada, que apareceu com flores, a deixando completamente
surpresa. Mas não pegou, apenas o ignorou e entrou em casa, o deixando
sozinho do lado de fora.
Só a hipótese dele ainda a querer, a deixa ansiosa, com borboletas no estômago,
mesmo achando tudo irracional. Está se esforçando para gostar de Hugo que é
um cara incrível, mas o coração idiota não bate igual quando ele aparece.
Porém com os dias que se passaram depois das flores, ele não foi mais atrás
dela, e pensou que ele finalmente decidiu esquece-la de novo, desistiu e ao
mesmo tempo que a deixa aliviada, a deixou frustrada, mesmo não admitindo.
Mas, esse repentino sumiço era típico dele, e sentia que era melhor assim, pois
sabe que não pode largar tudo e reviver o amor que sentia por Rodrigo, ele não é
de confiança. Pelo menos é o que sente, afinal, ele é espirito livre como já falou
uma vez, e não pode colocar todas as expectativas juntamente com o filho e em
seguida ele ir embora.
Hugo é centrado, responsável e gosta dela, a trás segurança ele é a melhor
opção, mesmo que, Rodrigo não seja uma opção. Manter os sentimentos e o filho
longe é o melhor a se fazer.
Pensa sobre o rumo que a vida deu, só com o aparecimento dele, enquanto limpa
a casa na sua folga. Aproveitar que Alan está brincando na casa dos pais, que o
chamou para lá, depois do jantar.
Escuta a campainha tocar a tirando dos devaneios e dá de cara com ele, justo ele.
Rodrigo! E os dois de novo sentem a mesma coisa. Coração batendo
descompassado, mãos suando e necessidade de chegar mais perto. Mas Taís
continua com sua habitual frieza, e logo é atropelada por um Rodrigo entrando
sem ninguém mandar na sua residência.
— Que porra você está fazendo aqui?
Esbraveja nervosa por estarem tão perto e sozinhos novamente. E ela já viu o que
acontece quando estão assim.
— Conversar.
— De novo essa história?
— Taís, eu cansei de brincar de gato e rato.
— Não tem ninguém brincando aqui. Eu quero que vá embora.
— Eu não vou. Porra! Custa me ouvir?
Chega mais perto dela a deixando totalmente desnorteada. O que ele queria aqui
afinal?
Ela se distancia de novo, para manter a compostura.
— Alan é meu filho ou não?
Pergunta, a deixando desesperada. Droga! Ele não poderia ter descoberto, não
poderia.
— Não. Ele é MEU filho. — Tenta transparecer calma.
— Vai negar?
— Ele não é seu filho.
— Não negue, Taís, um Maldonado reconhece o outro de longe. O menino me
adorou.
— Não importa! — Esbraveja quase chorando.
— Eu quero fazer parte da vida dele.
Logico que ele se aproximou pela criança. E me permitindo iludir que me queria
de volta. Taís, você como sempre sendo uma idiota!
Pensa desesperada com o que Rodrigo falou. E agora?
— Vai dá uma de pai agora?
— Vou.
— Onde estava quando ele nasceu? No primeiro ano? No primeiro dia de escola?
Ah! Eu chuto, viajando, curtindo a vida, com cada dia uma mulher diferente.
Joga na cara dele, os dois magoados por motivos diferentes. Ele por não está em
um momento da vida do filho, e ela por imaginar ele com mulheres diferentes,
enquanto ela sofria pelos dois.
—Se você me contasse eu ficaria.
— Não ficaria Rodrigo. Você sabe, que iria passar por cima de tudo, por conta
dessa sua obsessão de viajar. Me diga, achou o que tanto procura?
Vocifera magoada e debochada. Ele ferve de ódio.
— Eu vou fazer parte da vida dele!
— Não vai! Ele está bem sem saber que o pai está vivo, e vai continuar assim!
— Vou sim, você querendo ou não.
Diz tudo que Taís não queria e sentia medo de ouvir. Ele querer o filho dela.
— Vai embora. Agora! — Grita em desespero.
— Já vou mesmo.
Antes mesmo dele colocar os dois pés para fora, dá de cara com Alan surpreso,
mas logo um sorriso enorme toda conta do rosto liso do menino.
—Tio! Você veio.
O menino corre em direção a ele, que sente um pedaço do seu coração partir ao
ouvir o menino chama-lo de tio e não de pai, como deveria. Ele pega no colo, no
mesmo momento que o menino avança sobre ele. E o abraça apertado com uma
vontade enorme de chorar.
Não importa o tamanho da criança. A primeira vez que o pai carrega no colo
sempre vai ser memorável.
Por mais vontade de dizer que é o pai, não pode despejar essa nova informação
para o garoto, uma vez que nem ele próprio assimilou direito a novidade.
— E ai, campeão!
O coloca no chão bagunçando os cabelos lisos do menino que estão quase na
testa.
— Trouxe meu tablet?
Pergunta ansioso e esperançoso, pois para ele, o único motivo de Rodrigo está ali
é esse.
— Trouxe, está no carro.
O menino abre um sorriso enorme contagiando Rodrigo que sente seu peito
encher de alegria por isso. Corre para o carro que está estacionado do outro lado,
para pegar a caixa, e logo volta, sendo observado por duas pessoas com
expressões diferentes. Mas apenas uma delas feliz, que era o garoto.
O menino abre outro sorriso e os olhos quando Rodrigo entrega a caixa do IPad
da Apple para o garoto.
— Aqui. Configurei para você. Baixei o joguinho daquele dia e tem meu contato,
para quando quiser falar comigo por vídeo. Pede para alguém te ensinar.
Rodrigo olha para Taís de solário, que está séria olhando a interação.
— Obrigado, tio.
O menino vai para abraçar mais uma vez Rodrigo, que está agachado que o
aperta de novo querendo leva-lo para sua casa.
— Mas primeiro tem que fazer as atividades da escola, certo?
— Pode deixar.
— Toca aqui que eu já vou. Está tarde.
Rodrigo estende a mão, para o menino que dá dois toques em cumprimento
sorrindo e segurando a caixa com a outra. O garoto acena e Rodrigo não evita em
abraça-lo novamente com força, dando mais um beijo no menino que despede
efusivamente com a mão, sentindo-se feliz e querendo fazer a mesma coisa com
a mãe dele. Porém ela é outra história.
Segue para o carro sentindo estranho, pedido, triste e feliz ao mesmo tempo. Já
em casa, não evita em chorar, mais uma vez. Mal conhece a criança, mas já ama
como nenhuma outra pessoa.
E se amaldiçoou, por precisar viajar, por tentar buscar algo que completasse
plenamente. Até hoje não entendeu esse sentimento de vazio e ser incompleto.
Mesmo com pessoas ao redor e tudo que uma pessoa gostaria de ter. Essa
merda de viagem só fez afastar das pessoas amava e pior, vetou de participar de
cada etapa do crescimento e a melhor parte, o nascimento e as primeiras
palavras. Se odiou por cada ano de vida da criança.
Joga o tênis com grosseria na parede sentindo irado com os pensamentos que
estão o deixando perturbado.
Mas calmo pelo rápido surto, pensa em um jeito de reconquistar Taís, pois mesmo
com a cabeça dura e teimosia, ainda a quer de todas as formas... ainda ama e
percebe que por mais que tente lutar contra o corpo dela pede por ele. Tem que
pedir!
Aquele homem não poderá sem um empecilho, ela não pode gostar dele! Taís é
dele, desde que se conheceram!
Ainda pensa na noite que transaram no banheiro, percebeu que entre eles, sem a
razão dominando a cabeça dela, ainda continuam o mesmo, os corpos ainda se
completam igual á anos atrás fácil. E promete para si mesmo, que Taís ainda será
dele novamente e reconhecer a criança como seu filho, um Maldonado, como
deveria ser desde o começo. Sem contar na troca rápida de olhares que deram.
Ele viu que ela ainda o amava. Não viu coisas, não está se iludindo!
Mas sabe que está ferrado, pelo que Natasha contou, que se sentiu abandonada
na partida dele.
Nunca foi homem de desistir!
Enquanto ele tem pensamentos motivadores, Taís, depois de ter colocado o filho
para dormir e fugir dos questionamentos da irmã, chora sozinha no próprio quarto
com medo de perder Alan para Rodrigo. Ele não tinha que ter voltado...não tinha!

QUARTO
Dois dias passaram a e angustia de Taís não passa, apesar de ter achado
bonitinho como Rodrigo ficou no dia que entregou o IPod a Alan, e sentir-se uma
megera, não consegue tremer de medo de perder o garoto para ele. Mas além de
perder o garoto, tem medo de se re-apaixonar por Rodrigo, com essa
aproximação toda.
Falando nele, insiste em impor a merda da presença. Ainda se sente confusa
com tudo isso. Rodrigo conversa com Alan todo o momento, pelo presente que
ele deu ao menino. E se odeia ao sentir o coração gelar e aquecer ao ouvir sua
voz e seu riso no aparelho do garoto. E falando em se odiar, brigou com Hugo, por
não querer sair para jantar com ele. Não estava no clima para romance e ele se
chateou, pois ela sempre colocava dificuldades para sair com ele. Ela sabia que
fazia isso sem nem mesmo querer, mas sempre esfriava com seus convites.
Ver as risadas dos filhos ecoar enquanto conversam deixa a mãe coruja se
sobressair e a mãe racional, que talvez pensa, que poderia aceitar a aproximação
de Rodrigo com Alan, apenas com ele.
Mas isso não é hora de pensar nisso, em Rodrigo, pois desde o dia anterior Alan
estava febril. Inclusive, trabalhou a parte da tarde toda em automático e
preocupação por isso, pois o colégio ligou e ele precisou voltar para casa e ficou
com a avó, pois não poderia sair do trabalho. Além de febril estava se queixando
de dor de cabeça.
Preocupada, segue para o próprio quarto onde o menino deitou depois de ter
tomado banho, com uma sopa que fez assim que chegou do trabalho, já que ele
não foi para a escola, pois ficou receosa dele piorar.
— Filhote.
Taís fita o filho sonolento, desde que chegou do trabalho, no dia anterior e sente
angustiada de ver o filho, ativo, naquela situação, resmungando ainda de olhos
fechados. Sempre ficou assim, desde quando ele tinha poucos meses de vida.
— Vem tomar uma sopa que mamãe fez.
O menino ainda de olhos fechados nega manhoso. Além de tudo não consegue
comer nada direito que reclama.
— Um pouquinho, vai. Se não amanhã a gente vai no médico; você quer ir no
médico tomar injeção?
Chantageia sem remoço algum.
— Não.
— Então venha. Mamãe te dá na boca e deixo você dormir. Prometo.
Alan abre os olhinhos azuis quebrados deixando Taís ainda mais preocupada e
com pena. Ele se senta ainda enrolado e Taís aos poucos convence o filho de
comer um pouco mais, já que não quis tomar nada que ela deu até acabar
vomitando na metade do prato.
— Alan!
Taís exclama preocupada arrastando o garoto, que chora manhoso, para o
banheiro. Ver o filho doente é a mesma coisa de tortura-la. Depois que põe o que
acabou de comer para fora leva ele para o chuveiro para tomar banho.
Colocando o filho debaixo do chuveiro, já que sujou a roupa inteira, pensando que
se até amanhã não melhorar, vai leva-lo no pronto socorro. Depois de troca-lo e
mudar os lençóis, tenta em mais uma tentativa de dá algo para ele comer, dessa
vez suco, antes de dormir, mesmo com medo dele vomitar de novo, e ele ter
tomado sem muitos problemas, só uns resmungos que ia vomitar de novo. Ela o
enrola e o abraça para dormir, ou ele pelo menos, pois ela cair no sono de
verdade é quase impossível.
— Minha perna está doendo. — Reclama manhoso.
— Onde? — Pergunta preocupada.
— Aqui.
Aponta para os joelhos. E Taís massageia de leve, disposta a leva-lo no pronto
socorro ao amanhecer.
Do outro lado, pela manhã, Rodrigo pensa em um jeito de fazer Taís entender que
quer ela e não só a criança enquanto segue para empresa para trabalhar.
Até que está achando tudo menos entediante que achava que seria. Sem contar,
que pelo menos, com Alan ele fala, tem progresso, pois o menino o adorou sem
esforço e sente que ama o menino com nenhuma outra pessoa. Só se sente mal
em não estar cem por cento dos dias com ele.
Estaciona o carro e sobe para o andar da presidência, desejando bom dia para
algumas pessoas. Precisa conversar com primo, sobre tudo, precisa desabafar,
mesmo que o pai estar do seu lado, para ouvi-lo.
— Mércia, Gustavo já chegou?
Pergunta dando de cara com a secretária do ramal depois de ter passado na sua
sala.
— Já, acabou de entrar.
Acena e segue para a sala do primo.
Taís sempre foi uma incógnita para ele. Na verdade, foi uma das coisas que o fez
apaixonar por ela, pois o deixava intrigado. Aos poucos que foi a conhecendo e
apaixonando cada vez mais, ao ponto de ama-la e por isso está assim,
praticamente se rastejando para ela. Pois é a única que consegue isso dele, se
fosse qualquer outra já teria desistido e caído na cama de outra na segunda
tentativa, mas ela é diferente, sempre foi diferente e seu dúvidas, o fim de
relacionamento foi ruim, tanto para ela, como para ele, que pensou em milhões de
vezes em voltar, mas precisava se encontrar, o único motivo de ficar longe esses
anos todos.
O cumprimenta num aperto firme de mãos, vendo o primo sentado na sua cadeira.
— Diga — Gustavo o incentiva a falar.
— Como você se sentiu quando soube que era pai? Quando olhei para meu
moleque, depois que percebi que era meu filho me senti estranho e diferente.
Explica o porquê daquela pergunta, com sinceridade, passando a mão no cabelo
exasperado sem saber direito no que esperar dessa conversa.
— Hum, eu senti orgulho e me senti eufórico de saber que vem um meu aí.
Ao ver o sorriso do primeiro, Rodrigo pensa quanto ambos estão fodidos.
— Está sorrindo do que seu desgraçado? Da minha miséria?
— Não e sim. Você só está apaixonado por ela de novo?
Rodrigo revira os olhos e depois o olhar sério. Isso nem precisava de pergunta
para saber. Era só ver ele correndo feito um cachorrinho.
— Se eu tiver não vai adiantar de nada. Ela não quer olhar na minha cara. O
nosso último encontro foi tenso, pois questionei a paternidade.
Resmunga chateado, em lembrar de Taís sem demonstrar nenhuma emoção com
a reação dele.
— Você está tentando se aproximar de Taís por causa da criança ou por que quer
algo mais sério com ela? Ou por fogo, Rodrigo?
— Sei lá, cara. Sinto como se.... sei lá, é louco. Taís me deixa estressado com a
frieza, tenho vontade de mostrar que ainda sou a porra do homem que ela dizia
que amava. E só a suposição que realmente não me quer, um pouco se quer, me
deixa angustiado. Eu já vi um homem saindo do apartamento dela e foi ácido o
gosto que fiquei na garganta.
— Se lembre que você a deixou para viajar. E ela estava grávida!
Joga na cara de Rodrigo que esbraveja internamente: mais que porra!
— E você acha que não sei? Se eu soubesse que ela estava eu não iria. Essas
viagens só foram perda de tempo!
— É aí que está o problema, Rodrigo. Ela acha que você está a querendo de volta
pela criança, e não por ela. Pois você terminou, lembra?
Gustavo apesar deter falando uma coisa obvia clareou uma coisa em Rodrigo que
pensa se deu essa impressão e tentar concertar o mais rápido possível.
— Queria me aproximar deles dois, mas não sei como. Não sei por onde começar.
Umas duas vezes fui na casa de Taís fiquei morrendo de vontade de dizer que
sou o pai dele. Queria abraçá-lo.
Lembra do dia que os abraçou depois de saber que ele era seu filho e não evita
em se emocionar.
— Olha para isso, meu moleque é lindão.
Tira o celular do bolso e acende, para mostrar o primo a foto dele com Taís
abraçados e sorrindo na tela principal de bloqueio.
— Já está nesse nível é? Onde achou essa foto? — O primo debocha em tom de
brincadeira.
— Andei stalkeando as Vargas e achei essa foto. E você, é pai de um macho ou
uma boneca?
— Na próxima consulta, vamos tentar ver de novo.
Levanta, disposto a voltar ao trabalho, depois do primo prometer falar com
Natasha para ver se ela poderia ajudar em algo.
Enquanto isso, segue para fora, decidido, mais do que nunca em pedi uma
chance a Taís, em uma conversa clara e limpa, sem brigas e discussões, sobre a
situação dos dois, e abre mão de pedir guarda compartilhada, se ela o aceitar
sem picuinha a aproximação dele.
Até dá um jeito de conseguir dobra-la e colocar na cabeça dela para aceita-lo de
volta. Faz o trabalho em automático. Rezando para chegar o horário de saída,
mas não aguenta, e vai atrás dela no horário de almoço. Sem se importar se vai
encontrá-la ou não.
E por incrível que pareça a encontra. Mas não em um bom momento. Pois está
desesperada com Alan no colo.
Pois o garoto acabou passando mal, mesmo passando a parte da manhã
relativamente bem, até a avó que estava olhando o garoto, a ligou desesperado,
por Alan estar suando frio, febre alta. E por isso, saiu do trabalho desesperada,
sem se importar em ser demitida.
Rodrigo sai do carro e corre em direção a Taís.
— Taís?
Chama a atenção dela que está impaciente com o menino no colo.
— Agora não, Rodrigo. Agora não!
— O que aconteceu? — Pergunta preocupado.
— Alan está passando mal, Rodrigo. Desde ontem. Vou levar ele em algum pronto
socorro. — Comenta chorosa. — Estou vendo se tem algum taxi ou vizinho para
me levar rápido.
— Venha que vou levar vocês.
Rodrigo pega a criança do colo dela que se encolhe. Olha para o menino suado e
tremendo com a pele branquinha meio avermelhada. Taís segue com ele em
direção ao carro, desesperada.
— Taís, a porta.
Aponta para porta aberta, que ela tão desesperada, esqueceu de trancar. Ela
volta correndo para trancar enquanto ele coloca Alan que está apático no banco
de trás do carro. Em não demora para Taís correr para o ficar com filho e Rodrigo
arranca com o carro em direção ao primeiro pronto socorro, sob coordenadas de
Taís, desesperada.
Assim que chegam, encontra o local cheio, como era de se esperar. Ela corre em
direção a algum enfermeiro que a ignora totalmente e pede para aguardar e eles
obedecem, até que Alan reclama dengoso, cheio de dor. Rodrigo se irrita pela
demora, enquanto Taís bate o pé impaciente e nervosa, ao ver o filho naquela
situação. Irritado, o pai do garoto para o primeiro enfermeiro sorridente que vê,
que o atende com descaso. Vendo que nada que fizesse, surtiria efeito para um
atendimento mais rápido, puxa Taís para fora com Alan no colo em direção ao
carro.
— Rodrigo, para onde estamos indo? — Taís questiona confusa.
— Para outro hospital. Aqui ele vai piorar.
Arrasta o veículo caro em direção avenida novamente. Taís apenas se manteve
calada, olhando para o filho no banco de trás, checando a cada dois segundos a
temperatura.
Com o filho no colo e Taís a tira colo, entram os três no hospital, atordoados e
preocupados, encontrando uma enfermeira que orienta ambos a seguirem com
ela para serem atendidos.
Diferente do postinho, o prontuário foi feito com rapidez. Taís respondeu todas as
perguntas, aflita, como o início de todos os sintomas.
Colocaram Alan na maca para fazer os primeiros procedimentos, verificar a
pressão, frequência respiratória e a temperatura da febre. Rodrigo e Taís
desempenhando os seus papéis, pela primeira vez juntos, compartilham a
apreensão do diagnóstico.
Dengue, do tipo clássico.
E por conta disso, Alan estava um pouco desidratado, e precisaria tomar um
antitérmico para baixar a febre e uma bolsa de soro antes de ser liberado.
Taís e Rodrigo fita Alan recém adormecido, tão apático e pequeno enrolado
naquela maca hospitalar, já que o ar-condicionado castiga, principalmente Taís
chorosa, sentindo-se culpada, entretanto aliviada pela febre cedida, sentada na
única cadeira do local encolhida, que saiu tão apavorada que pegou um casaco
para o filho, mas não pegou para si própria e agora está tremendo de frio, pela
camisa fina e sem manga que está usando.
Rodrigo em pé, sente-se tão culpado quanto, angustiado para definir melhor,
refletindo em quantas vezes, ela teria passado por isso, sem ele saber, e que iria
passar mais uma vez se não chegasse naquele exato momento.
E tira o olhar do soro que pinga demoradamente para enxergar a mãe do seu filho
naquele estado, sofrendo silenciosa, fazendo com que ele se sinta duplamente
culpado. A pior pessoa do mundo, em ver as duas pessoas que ama assim,
vulnerável.
Sem pensar duas vezes a põe no colo, sob protesto e a enrola com seu paletó.
— Fica aqui.
Ele pede baixo, a mantendo no seu colo num abraço e ela se rende, chorando
calada, numa angustia que não passa.
— Obrigada. Se você não viesse comigo acho que estaria esperando atendimento
até agora.
Pede encarando seus olhos azuis que tanto a desestabiliza, mas foi o olhar
quebrado dela que o deixou se sentindo pior, mesmo num agradecimento.
— Não fiz mais que minha obrigação. Me desculpa por não está aqui nas outras
vezes.
Taís não fala nada, apenas desata a chorar abraçada a ele e mesmo em um
momento como aquele, de vulnerabilidade, Rodrigo gosta do momento dela tão
próximo e sem as pedras no punho, com sua frieza habitual.
— Me deixa aproximar dele, por favor. — Pede angustiado. — Não quero que
passe isso sozinha nunca mais.
Não tem dúvidas que ele seria bom pai, mas o que a deixa instabilizada e ele
querer viajar e iludir o menino. Não aguentaria ver a criança sofrendo pela partida
dele, como ficou a alguns anos atrás.
— Tudo bem. — Se rende sem outra opção.
— Não, eu quero uma resposta certa. Não em um momento assim, em que está
vulnerável.
— Você é o pai dele, de uma forma de outra você iria se aproximar. E seria injusto
dizer não, depois de ter me ajudado hoje. Só te peço que não faça promessas a
ele.
Tenta um acordo de paz. Com medo dele querer tirar a força. Se não pode vencer
os inimigos, se juntasse a eles. Isso é o único pensamento dela por agora. Nem
que com isso tenha que matar os próprios demônios com as próprias unhas. Só
para saber que o filho ficará feliz em ter um pai.
— Obrigado.
Agradece verdadeiramente.
— Só por favor, não conte a ele sobre essa paternidade. O deixa criar confiança
em você. Por incrível que pareça ele é desconfiado de tudo.
— Parece alguém que eu conheço.
Tenta fazer graça, mas para Taís não teve nenhuma. Se calaram, e ela quase
adormecida no seu colo, recebendo um afago nos cabelos. Ela o encara, dos
olhos para boca, quase em um chamado para juntarem as bocas, mas a presença
de uma enfermeira que veio para checa-lo e assinar a alta e a receita e as
indicações a faz sair do colo dele, totalmente envergonhada.
Longe do pronto socorro, quase as sete da noite, com o pequeno garoto ainda
adormecido, fizeram um caminho silencioso.
Depois de ter colocado o menino no quarto de Taís, já que ele fez questão de
carregar o menino até lá, ele volta para sala depois de ter enrolado e dando um
beijo de boa noite, para ver Taís na cozinha.
— Está com fome?
Pergunta tentando agradecê-lo de alguma forma e ignorar o climão que se
instalou.
— Eu como em casa, não se preocupe.
Percebe o constrangimento dela de tê-lo ali. Eles dois se fitam com corações
acelerados, e morrendo de vontade de se tocaram novamente, como no hospital e
quem sabe, se beijarem.
— Então já vou. Amanhã trago mais remédios.
Bate nas pernas tirando ela do transe de estar o observando tão charmoso de
roupa séria, social. Concorda, o levando até a porta.
— Rodrigo, mais uma vez obrigada por hoje.
— Não se preocupe. Fiz o mínimo.
Ela acena e ele fica em dúvida se deve ou não despedir com um beijo, mas
decide ir aos poucos, capaz dela se irritar e voltar à estaca zero. Mas apenas
acenam em despedida e ele vira as coisas depois de desejar boa noite e ela fazer
o mesmo.
Ver ele de costas indo em bora, Taís engoliu o ‘’fica’’ na garganta e fecha a porta
para comer alguma coisa e deitar perto do seu filho adormecido.

QUINTO
Os dias passaram a e angustia de Taís passou por seu filho ter melhorado, mas o
tormento continua. Rodrigo depois daquele dia continua mais presente que nunca,
vindo visitar o menino todos os dias e fortalecendo ainda mais o laço dos dois.
Pois quando ele não está, Alan ainda o faz permanecer presente.
Teve até climão, quando Hugo foi chamá-la para mais um jantar, ignorando o fato
de Alan ter adoecido recentemente e encontrou Rodrigo lá dentro, a vontade
como se morasse ali a anos. Quis saber quem era e discutiram mais uma vez,
pelo ataque de ciúmes de seu futuro ou até mesmo ex, namorado. Rodrigo
também se incomodou com um visitante que queria roubar sua família. Assim ele
se sentia, ameaçado, ao ter o ‘’namorado’’ da sua mulher bem ali, abraçando o
seu filho e rondando a todo momento.
Mas Taís sentia que estava sendo de certa forma egoísta, iludindo Hugo, já que
com o sem Rodrigo, percebia que não sentia nada pelo amigo de profissão e que
estava tentando ir se enganar na marra; esquecer a pessoa que voltou a ser
constante na sua vida.
Foi franca para o que sequer foi namorado para chamar de ex, que nem chegou ir
além de beijos, que não queria usa-lo para esquecer o pai do seu filho e foi
chamada de tola e outros insultos que a magoaram, por ainda pensar no homem
que a abandonou a quase dez anos atrás. Ele estava certo, mas isso não
significava que ele tinha direito de jogar isso na sua cara. E enquanto ele
vociferava enraivecido, agindo diferente de como havia prometido que iria não iria
se iludir por estarem tentando, viu que realmente, Hugo não era homem para ela:
Além de não causar ardor algum no seu corpo, não teve empatia.
Porém as borboletinhas no estomago insiste em permanecer instalada na barriga
de Taís pela pessoa que não deveria. Toda vez que vê os dois brincando na sua
sala, pensa que isso talvez seria rotineiro se ele ficasse quando se descobriu
gravida.
Ele ainda insiste em permanecer nos seus pensamentos a assombrando.
Como semana passada, que sonhou com ele a pegando de todas as formas, e
ficou ainda mais constrangida quando o viu horas depois a secando
descaradamente. Filho da puta gostoso!
Falando em transas, o revival insiste em voltar a sua memória em flashes a cada
vez que está sozinha, ou até mesmo acompanhada. Além disso, pensa com
angustia sobre sua menstruação que está atrasada e se deu conta que não
usaram nada, pensa e roga a todos os santos que não seja o que ela está
pensando, mesmo sentindo-se estranha como na gravidez de Alan.
Ele não seria tão certeiro…será?
Uma única vez apenas para engravidar de novo dele seria muito azar. Ainda mais
nesse momento da vida e com o mesmo homem.
Uma coisa é Alan, já crescido um pouco e ele querer assumir a paternidade, outra
coisa é um bebê novo na barriga. Provavelmente vai querer acompanhar tudo e
querer por seu sobrenome, até querer guarda, quem sabe? Ou achar que é
demais e regredir com Alan e ir embora novamente depois que o menino já ter se
apegado.
Quando levantou a hipótese, ligou desesperada para irmã. Que a aconselhou
falar, se tiver mesmo, mas a coragem de fazer o teste não tinha.
As vezes sente vontade de fugir de tudo isso e voltar só quando a mente esvaziar,
se sente sufocada. Saí dos devaneios onde estava fitando uma foto de Alan
vestido de coelhinho da páscoa.
Pare de pensar nisso, Taís. Se repreende. Mas o frio na barriga insiste em se
instalar.
Preciso saber...se realmente estou, mas cadê a porra da coragem? Se joga no
sofá para pensar em todo o giro que a vida deu desde que ele apareceu.
Deus!
Em um até sem pensar muito sai de casa em direção a farmácia, aproveitando
que Alan ainda está no colégio. Ainda bem que está de férias do trabalho, senão
iria enlouquecer para além de tudo isso, dá conta de planilhas contábeis.
Enquanto ela ia na farmácia, Rodrigo estava no meio do caminho, em direção a
casa de Taís, antes mesmo do horário de almoço. Precisava urgente conversar
com ela, e falar sobre a paternidade de Alan, para colocá-lo no plano de saúde da
própria empresa.
Falando em Alan, não consegue guardar o amor pelo menino, e mal pode esperar
para sair com ele, leva-lo aos locais e claro, dizer que tem avós paternos também.
Está se sentindo um pouco realizado, com a guarda baixa de Taís em
aproximação, não tanto quanto ele queria, pois não esconde o desejo que tem por
ela e vê-la sempre sem toca-la já está o deixando agoniado, o famoso tesão
acumulado.
Na última vez não teve nem um por cento que queria dela. Mais bonita impossível,
claramente o amadurecimento, com os anos o fizeram bem. Assim como a
maternidade.
Rodrigo batuca no volante, impaciente entrando no bairro onde ela mora, e
inclusive planeja reconquista-la o mais breve possível para comprar uma casa
para morarem e jogar o fulano que está tentando rouba-la para si, para mais longe
possível.
Ele sai do carro a ponto de ver Taís com uma sacolinha na mão para entrar em
casa. Adianta os passos para dá tempo de pega-la antes de entrar em casa, e ao
mesmo tempo que ele a chama, Taís treme.
— O que está fazendo aqui agora?
Questiona nervosa por estarem tão perto, afinal, estava com teste de gravidez
para saber se espera mais um filho dele ou não.
— Conversar.
Franze a sobrancelha em confusão, afinal desde o ocorrido no hospital que ela
não o trata assim.
— Agora não que estou ocupada. — Tenta afasta-lo de qualquer forma.
Ele não deveria estar aqui, não agora. Droga!
— Ocupada com que Taís? Pelo amor de Deus.
Comenta exasperado com o muro que de repente criou entre eles.
— Rodrigo, para de marcar em cima, Alan não está aqui, se não reparou.
Foi grossa para afasta-lo, mas Rodrigo não escuta e continua na insistência,
enquanto ela rebate para abrir a porta. Mas, quando Rodrigo tenta pega-la pelo
braço para virar para si, o saco da farmácia acaba caindo revelando duas caixas
de testes de gravidez, que cai no chão.
Desesperada, corre para pegar, mas Rodrigo foi mais rápido apanhando do chão
e a olhando confuso e assustado a fazendo ficar desesperada.
— Taís...
Sentiu seu peito falhar uma batida de tão dolorida. Se for do sujeitinho, ele não irá
aguentar! Isso significa que as poucas chances que ele lutou para pegar na
marra, acaba de ir ao ralo.
— Vai embora.
Entra em casa com os corações aos saltos, mas Rodrigo não obedece, vem logo
atrás nervoso tentando entender se é o que ele acha, afinal, não usaram
camisinha e ele tem plena certeza disso, que foram descuidados. Apesar de não
saber se ela andou se relacionando com alguém pelo mesmo tempo, aquele cara
que a viu beijando, mas torce que não.
Taís passa a mão nos cabelos exasperadas sem saber o que falar e agir.
— É meu, Taís?
Rodrigo questiona calmo, sabendo que gritar não iria resolver a situação. Taís
pode estar esperando outro filho dele.
— O que você acha, seu idiota?
— Não quis te ofender, mas não ia me dizer, né?
Ele suspira aliviado, mas o nervoso volta duas vezes pior. Corre risco de ela estar
gravida e dele mais uma vez.
— Eu e Hugo já terminamos e não chegamos a ir além. Nem fiz o teste ainda, não
sei nem o que pensar.
Assume nervosa e perdida. E ele se alivia, ao receber essa notícia.
— Faz o teste, vou ficar aqui fora esperando, e só assim a gente conversa. Tudo
bem?
Taís acaba aceitando, afinal, não teria outra opção, e essa parece bastante viável.
Ela segue para o banheiro para fazer o teste deixando Rodrigo na sala,
apreensivo.
Ser pai de outra criança em menos de dois meses, será? Sem conter abre um
sorriso, mesmo sabendo que vai ser difícil a partir de agora. Pensa que poderá
acompanhar todas as etapas, e fazer tudo para compensa-la nessa gravidez,
caso esteja, o que não fez na de Alan.
Mas não é assim que Taís pensa de lá do banheiro, chorando perdida vendo os
dois testes apontar positivo. Mas um filho de uma pessoa imprevisível como
Rodrigo. E agora?
Ele vendo que ela está demorando demais a ponto de deixa-lo mais nervoso com
a espera, segue para dentro de onde ela foi, para saber o que aconteceu.
Bate na porta, e só escuta um ‘’vai embora, eu te odeio!’’ dela, chorosa e de certa
forma, manhosa.
— Abre, por favor, amor. — Pede mais carinhoso que consegue.
Ela abre e ele a vê chorando. Rodrigo chega mais perto a abraçando, mesmo
contra a vontade e de repente aquele mulherão todo ficou pequena nos seus
braços, entendo tudo.
Será pai, mais uma vez. Mas dessa vez, será diferente!
Taís chora compulsivamente contra seu peito sentindo-se perdida com mais um
filho e com toda loucura com sua vida se tornou com a volta do homem que ama,
mesmo tentando lutar contra.
— Eu vou estar com você.
— Não faça falsas promessas. — Chora sentindo-se mais perdida que nunca.
— O que você quer que eu faça para acreditar em mim? Por deus, Taís.
Rodrigo pede cansado tentando de toda forma convencê-la.
— Eu estou com medo.
Assume olhando para ele vendo os olhos azuis, tão cintilantes quanto do filho.
Olhos esses que a fez se apaixonar desde a primeira vez que se viram no luau.
— Eu prometo que vou ser o melhor pai para essa criança e para Alan. Só me
deixa tentar, eu quero reparar meus erros.
Rodrigo alisa as bochechas dela em um gesto de carinho e Taís sente que por
mais que consegue esconder, o coração besta insiste em bater mais forte para
ele, mas a merda da insegurança, por ir embora novamente insiste em instalar no
seu peito, a deixando angustiada e amedrontada.
Ele vendo que não afastou a caricia, tenta avançar para beija-la, mesmo ela
sabendo que isso ia acontecer, não existia forças, para afasta-lo e no seu interior,
sentia que queria aquele beijo. Mas o toque da campainha e a voz de Alan
gritando assustou os dois os afastando.
Deus! Alan! Tais correu para porta para pegar o filho na porta, limpando os olhos,
afinal, mãe nunca chora. Agradeceu a vizinha que fez o favor de trazê-lo, junto
com sua amiguinha, colocando o menino para dentro.
— Como foi a aula? — Questiona entrando.
— Hoje foi legal! Fiz um gol! — Exclama arregalando os olhos iguaizinhos de
Rodrigo.
É notável a semelhança cada vez maior entre os dois enquanto Alan cresce.
— Rodrigo!
Ele exclama vendo o pai sentado no sofá, que abre um sorrisão para vê-lo.
— E aí, campeão. — Bagunça seus cabelos e os dois fazem um toque estranho
na mão, em cumprimento.
— Está fazendo o que aqui com minha mãe?
Questiona inocente, deixando os adultos em saia justa.
— Vim te ver, mas ela me disse que estava na aula e resolvi esperar.
Rodrigo inventa a primeira desculpa relaxando Taís totalmente, que manda tomar
banho para almoçar. Rodrigo acabou ficando e almoçando com os dois, e depois
disso não comentaram mais sobre a gravidez.
Mesmo não admitindo está feliz para caramba com a notícia que seria pai e saiu
distribuindo sorrisos para quem quisesse. Ao contrário de Taís, que deixou Alan
jogar vídeo game, só para ter um momento a sós, para pensar sobre o que seria a
partir de agora.
— Jogar sozinho é ruim! — Alan reclama.
— Eu jogo com você.
Se oferece, mas o menino nega tristonho.
— Que foi, bebê? — Pergunta a ele que deixa o controle e o jogo de lado.
— Nada.
— Diz para mamãe.
Ele nega mais uma vez e ela acaba deixando passar. Ele volta a jogar sozinho
enquanto faz afazeres pendentes. Rodrigo aparece a noite para conversar com
Taís e ver o seu moleque antes de dormir. Jogaram vídeo game juntos.
— Tio, você bem que poderia ser meu pai, né?
Alan exclama do nada deixando Rodrigo surpreso, assim como Taís, que ficou
congelada no lugar.
— Sério?
— Sim. A gente poderia jogar vídeo game sempre. Você é mais legal que o Hugo.
Rodrigo se encheu de orgulho com a confissão do filho, sabendo que o
favoritismo é dele. E logo colocou o menino para dormir, quer dizer, Rodrigo o
levou para cama e contou milhões de histórias que viveu enchendo os olhos do
menino de surpresas.
Taís chega no quarto vendo os dois dormindo juntos e não evita dá o sorriso bobo.
Volta para sala com luta interna, se acorda ou não ele para ir embora, mas nem
precisa, pois Rodrigo aparece logo em seguida na sala.
— Já vou. Amanhã a gente conversa. — Ele sorri pegando o blazer para ir
embora.
Ela apenas acena, concordando e segue com ele até a porta, mas como da outra
vez, vê-lo ir teve uma vontade enorme de chama-lo. E sem pensar muito o chama.
— Fica!
Segura nos seus dedos. Rodrigo se vira abrindo um sorriso confuso e satisfeito.
— Pensei que não ia dizer isso.
Ele volta colando direto sua boca na sua, a fazendo andar de costas enquanto
segura firmemente no seus braço e nuca. Os anos passaram, mas os dois sentem
que ainda assim, o beijo é gostoso e se encaixam como antes. Mas logo a
sensação que ainda é pouco surge. Rodrigo afunda ainda mais suas mãos nos
cabelos de Taís a imprensando na parede mais próxima.
Ela geme sentindo-se seu coração acelerar com a proximidade e beijo. Mas não
consegue afastar, apenas toma a boca na sua novamente sentindo seus lábios
serem chupados do modo que a deixa bamba.
Rodrigo explora o corpo dela com as mãos sentido seu tesão se espalhar feito
chamas entre os corpos dos dois. Ele a arrasta em direção ao quarto e puxando a
camisa que ela usa. Taís não fica para trás, arrancando a blusa dele distribuindo
beijos quentes em seu peitoral enquanto apertava a mão nas suas costas
trabalhada.
Rodrigo solta um gemido viril, dolorido entre as pernas a querendo matar à
vontade como quer, desde que a viu novamente. Deposita ela na cama indo por
cima, a fitando nos olhos. Claramente os dois estão entregues ao momento.
— Essa boca...
Ele passa o polegar entre os lábios de Tais, que está bêbada tesão. Ah anos que
não se sentia assim, tão...viva.
Taís segura a nuca do homem da sua vida aproximando os dois ainda mais os
corpos, desabotoando a calça social para se livrar o mais rápido que consegue.
Ele ajuda, ficando de cueca e distribui beijos sobre seu pescoço descendo para os
seios enquanto ela se contorce. Não existe homem no mundo que consegue
acendê-la dessa forma, como ele faz com maestria.
— Rodrigo....
Geme quando sente os lábios dele descer entre sua barriga, sentindo uma
incomodo nervoso entre as penas, e tenta aliviar cruzando. Mas Rodrigo abre
novamente puxando o short juntamente com a calcinha, colocando o rosto e os
lábios, ente elas.
Estar ali é como o paraíso. Sentindo o gosto, os arrepios e vibrações da única
mulher que foi capaz de amar. Entre caricias quentes, as apaixonadas, os dois se
acenderam cada vez mais, até chegar ao ponto de não aguentarem e se conectar
de outras formas.
Olho no olho, corpos colados, mãos entrelaçadas, promessas silenciosas e ritmos
as vezes não tão ritmados os dois se perderam entre si até chegarem na
exaustão se aliviando, quase ao mesmo tempo. Agora sim as coisas começam a
se encaixar. Ele pensa sentindo o peso dela sobre si.
— Me deixa tentar mais uma vez. Eu juro que não vou embora. Acredita em mim.
Pede, ofegante, ainda com ela sobre si, descansando o rosto no seu peito, mas
que sobe o rosto logo em seguida para dá uma resposta a ele que fitava com
expectativa.
— Tenho medo de você enjoar. Vida de pai e mãe não é fácil e não é tão bonita
quanto pintam. Você é um pássaro livre, lembra? — Calma, ela confessa o maior
medo.
— Eu quero com todas as experiencias. Prometo por você, por Alan e por esse
bebê que está desenvolvendo. Me deixa ao menos tentar te reconquistar, amor.
Ela acena fazendo as borboletas agitarem no seu ventre e em seguida ele dá um
grande sorriso de pura felicidade, mesmo insegura tem a sensação que agora sim
as coisas começam a se encaixar.

SEXTO
No dia seguinte depois de terem se perdido um no corpo do outro, Rodrigo saiu
da casa dela, entre risos e beijos, como um adolescente antes que os pais dela a
pegassem.
Mas a verdade é que ela preferiu que ele fosse antes que Alan acordasse e visse
os dois desnudos e juntos no quarto dela, rindo como dois bobos.
Era inevitável, para ela, a diferença entre estar com ele e não estar. Que ele
mesmo indiretamente a fazia bem. Mas sentia que ainda era muito recente para
assumir um compromisso sério com ele, e contar para Alan. Ainda não estava
com os dois pés na frente para confiar nele totalmente.
E por isso, ficam nesse clima, namorando de longe, com olhares, sorrisos e
promessas sexuais nas entrelinhas, já que não se visitaram intimamente, depois
daquela vez, nas vezes que ele foi visitar o menino. Sentia que voltou a ser a
mesma garota inconsequente que se apaixonou pelo viajante galanteador e que
transou na primeira noite que se conheceram.
Assim como Rodrigo, que distribui sorrisos para quem quiser, com a notícia que
será pai, inclusive, já está planejando comprar uma grande casa para morar com
sua mais recente família. Enquanto isso Taís foi para a primeira consulta, saber
como está o mais recente bebê.
Para ela era estranho e engraçado estar grávida novamente, e mais estranho
ainda, do mesmo cara, pai do primeiro filho. Logo ela que achava que iria passar
o resto da sua vida com Alan, até então seu único companheiro. Mas gosta de ver
ele se esforçando, está se deixando ser reconquistada por ele novamente.
Às vezes se pergunta se dá uma outra chance a ele é certo, mas não tem como ir
contra o corpo e à vontade. Pode até tentar, mas no final a razão vira pó perto
dele.
Enquanto ela pensa, no seu dilema eterno, Rodrigo pensa em um jeito de estarem
as sós novamente, e ainda não relaxou em reconquista-la, ainda sente que
qualquer deslize ela volta a se trancar. Ligou para algumas corretoras, para saber
de uma boa casa para morarem, inclusive comunicou aos pais as novidades, que
quase deram um treco, por saber que seria avó duas vezes, em menos de seis
meses da volta do único filho.
Já era quase sete da noite quando ele entrou no carro para ir para casa dela, e
sem dúvidas, era a melhor parte do seu dia. Pois mesmo não admitindo, esperava
por ele a noite, como se fosse realmente uma família, que de fato era, mesmo
meio torta e nada convencional e cheias de problemas pendentes para
resolverem.
Planejam contar do bebê junto com a notícia da paternidade a Alan, e Taís tenta
de qualquer forma, que o menino assimile e nem fiquei revoltado pela omissão, e
nem com ciúmes do novo bebê da mãe.
Rodrigo estaciona e Alan corre do quarto, quando escuta ele cumprimentar a mãe
que sorri meio boba apaixonada para ele.
Ele bagunça o cabelo do menino e em seguida se vira para Taís, que está com o
coração acelerado, vendo Rodrigo se aproximar para dá um beijo, na bochecha,
mas querendo na boca.
Sente-se como, desde a outra vez que eles transaram, que tem vontade de beija-
lo e agarra-lo sempre, afinal, foram anos longe um do outro, e não será só uma ou
duas vezes que irá resolver a vontade que tem um do outro.
— Já estava tirando a comida do fogo.
— Oba!
Rodrigo e Alan falam juntos provocando uma risada de Taís. Ultimamente anda
mais risonha, mesmo com a natureza calada que tem, que até Alan percebeu a
súbita mudança da mãe, que antes vivia retraída.
Taís termina de desligar o fogo e enquanto Alan correu para lavar as mãos,
Rodrigo aproveitou para ir na cozinha atazanar Taís, se ralando nela por trás.
— Pare com isso! — Ela pede sabendo que Alan apareceria a qualquer momento.
— Quer transar com você, de novo, e de novo, bem fundo e cheio de vontade.
Desce a mão boba da cintura pelas pernas dela, indo direto na sua vagina, ao
mesmo tempo que aperta o quadril na bunda dela, que sente seu pau, a deixando
excitada. Taís engole um gemido na garganta e tanta afasta-lo, mas isso só
piorou, pois acabou ralando mais nele e ele gemeu safado, de pura provocação
no ouvido dela a deixando mais nervosa, que até derrubou o garfo na pia.
Ele percebe a aproximação de Alan e dá um beijo na sua nuca a arrepiando e sai
dando um sorriso safado, vendo que ela ficou desconcertada.
— Filho da mãe!
Resmunga voltando a pegar os pratos para eles jantarem. Sentaram juntos a
mesa e comeram, depois Alan correu para jogar vídeo game antes de dormir e
levou Rodrigo junto.
— Você namora a minha mãe?
O garoto pergunta, sem tirar os olhos da tela, depois da segunda rodada, onde
Rodrigo perdeu vergonhosamente na corrida, para o filho.
Da cozinha, escuta alguns talheres caindo, mais uma vez e ri por dentro,
percebendo que Taís escutou.
— Não.
— Porque vem todo dia? Hugo não vem todo dia.
O menino pergunta mais uma vez tentando entender a presença constante dele.
Ele não responde, pois, a chegada de Taís meio apavorada cortou o assunto.
Achava que cada dia mais difícil explicar a frequência de Rodrigo lá e tinha que
contar mais rápido que nunca.
— Alan, está na hora de dormir e Hugo não vem mais aqui, tudo bem?
Chama o menino, tentando desviar o assunto que os dois entraram. Mas mesmo
assim Rodrigo responde.
— Para te ver, né?
Não era todo uma mentira.
— Você poderia namorar minha mãe, né? E vir morar com a gente, em vez de vir
todo dia, já que Hugo não vem mais.
Taís tosse nervosa. Alan está cada vez mais impossível com esses
questionamentos afiados. Não é a primeira vez que faz isso, deixando os dois em
uma saia justa.
— Vai logo, Alan! Se despede de Rodrigo que ele já vai.
Taís diz com a voz esganiçada dando a Rodrigo uma vontade enorme de beija-la.
Eles dois se despedem, e Alan corre para escovar os dentes para a mãe checá-lo
antes de dormir.
— Tchau, Rodrigo.
Se despede dele, mas ele a agarra pela bochecha dando um beijo daqueles,
aquela a deixa se batendo de um lado para o outro na cama sem conseguir
dormir, pensando apenas no seu corpo quente sobre ela.
— Você é maluco? — Questiona ofegante.
— Você, vai me deixar com bolas roxas. — Dá um último beijo nela e sai sorrindo.
Dia seguinte, depois de Rodrigo sair do trabalho, no horário de almoço indo
encontrar com a corretora para ver a casa e marcar de o mais breve possível
levar os dois para conhecerem e claro, falar antes com Taís, para se mudarem o
mais breve possível, ele passou no shopping e comprou o pequeno e primeira
roupinha do seu bebê. E não evitou em sorrir em saber que está comprando pela
primeira vez a roupa de um bebê seu.
Quando voltou para casa já era umas oito e tanta da noite, já estava tarde para
passar na casa de Taís, e ver os dois, pois ele tinha quase certeza que já estão
indo dormir. Depois de tomado banho e jogado na cama, pensando seus próximos
passos, não deixou de pensar em Taís, e a tortura que é chegar perto dela e não
transarem. Logo ele que transava a hora que bem queria estava sendo regulado,
por ela, pois não transa com Taís desde a última vez que descobriu o bebê e vai
fazer quase um mês já.
Levanta disposto a ir lá, pois sabe que vai passar mais uma noite de inferno. O
tesão que está não consegue nem dormir, e muito menos ficar na mão,
literalmente. Como estava tarde, as ruas já não estavam movimentadas, e por
isso chegou na metade do tempo que costuma chegar lá. Estacionou o carro e viu
a casa escura, mas não recuou. Seguiu para a porta dele e deu algumas batidas
chamando-a o mais alto que ela possa escutar, mas não o suficiente para Alan e
nem os vizinhos acordarem.
Logo a porta é aberta, por ela com um rosto sonolento e confuso de camisola
curta e sem sutiã. Rodrigo sentiu seu pau sacudir dentro da bermuda com aquela
visão.
— Que merda você está fazendo aqui? — Tais cochicha.
— Saudades.
Entra fechando a porta atrás de si logo em seguida. Taís não evita dá um sorriso
besta pela declaraçãozinha fofa. Mas rodrigo não estava muito afim de muito
romantismo, e logo agarrou tomando sua boca na sua, deixando Taís bamba
segurando-a com força, pelo atrevimento brusco dele, porém adorou toda a ânsia
e fome, pois estava igual. Sente que depois que transou com ele, o fogo e
vontade duplicou.
Rodrigo a arrasta para o quarto a apertando em locais estratégicos fazendo Taís
gemer baixo. No quarto, a gira de costas, cheirando os cabelinhos da sua nuca a
deixando mais excitada que nunca. Desde sempre ele sabe que fazer isso é a
mesma coisa que acender um botão em Taís.
Apertou ela nos braços e deslizou uma mão por dentro do vestido. O efeito foi
mais que imediato, pois ela empinou mais a bunda e gemeu, sentindo o pau dele,
duro mais que nunca. A arrastou para cama e a colocou sentada no seu colo. Viu
ela morder os lábios, depois que puxou a camisa dele, e não evitou em dá um
beijo urgente a deixando mais excitada e ofegante.
Puxou seu vestido para fora do corpo, e deu de cara com os peitos dela, a sua
disposição. Não aguentando, agarrou um deles enquanto colocava o outro na
boca. Taís geme baixo, apertando os cabelos dele, não conseguindo se controlar.
Ele tateou procurando sua mão e colocou por cima do short, enquanto ela
apertava sentindo pulsar na sua mão.
O nível de excitação dos dois estava muito mais além de alto. Os beijos entre os
dois foram se tornado mais quentes e urgentes. Com respirações
ofegantes. Acabaram enroscados na cama, com ela por cima. Vê-lo ali, naquela
situação, para ela, ainda parecia quase impossível, com ele dentro de si, depois
de ser invadida da forma mais urgente possível. Mas para ele parecia a melhor
coisa do mundo, a sentindo contraindo ao redor do seu pau.
— Você estava me deixando louco.
Rodrigo comentava ofegante, enquanto ela subia e descia em seu pau com ajuda
dele que a puxava para cima, para deslizar rapidamente logo em seguida.
Ela deu um sorriso rápido sentindo ser invadida a cada vez mais rápido. Logo ele
a puxou para ficar por baixo e tomou seus lábios indo devagar e compassado
olhando para ela, a vendo fechar os olhos a cada vez que o sente ir até o fundo.
— Nunca esqueci de você.
Ela assume o deixando surpreso. Taís falar sobre sentimentos, ainda mais no
sexo, é novo, até para ela. Rodrigo não evitou sorri com aquilo enquanto a sentia
contrair ainda mais ao redor.
— Confesso que também. Achei que tinha de perdido para sempre, quando você
ficou me dando gelo.
Ri dando um beijo nela.
— Você mereceu.
Faz um bico que ele achou fofo e logo os dois se beijaram, se perdendo um no
outro, como se aquele ali, fosse a primeira vez deles juntos e de fato, a primeira
vez de muitas.

SÉTIMO
— Não sei se é uma boa ideia.
Taís vira para Rodrigo. Ambos estão deitados na cama dela, as seis da manhã,
ainda despidos, depois de uma longa noite. Mal dormiram, agindo como
adolescentes na calada da noite, até brigadeiro fizeram, para suprir a glicose que
perderam nas atividades físicas.
— Por favor! — Pede mais uma vez.
— Fico receosa.
Comenta fitando o peito desnudo e largo dele sentindo vontade de beijar cada
pedacinho, para matar a saudade que ainda está te matando. Rodrigo acabou de
falar sobre a casa, a proposta. Mas Taís sente que ainda está cedo, e prefere ir
com calma tudo. Não pode de repente contar a Alan sobre o pai, que vai ganhar
um irmão ou irmã e que vão se mudar.
Acha muita informação de vez para o menino.
— Quero levar vocês lá, pelo menos. É espaçosa tem quarto para Alan e o bebê,
um grande para a gente fazer o que bem quiser....
Fala dedilhando no vão dos seios desnudos dela a deixando arrepiada de
imediato.
— É gostoso comer você escondido, mas está foda. Sem contar que sua barriga
daqui a pouco cresce. Alan é espero, vai sacar já, já o que está rolando.
Comenta virando, ficando por cima dela, vendo seus olhos azuis claros, o fitando.
— Não prefere vim para cá? Eu amo minha casa! — Comenta tentando fazer ele
mudar de ideia.
— Não. Tem um colégio perto lá da agência, a mudança não vai ser tão brusca. A
nova é linda também!
— Pensou em tudo, né?
Suspira se mostrando rendida enquanto ele abre um sorrisão sabendo que
conseguiu domar a fera.
— Sim. Mas agora estou pensando em outra coisa.
Sussurra passando a língua em cima dos lábios dela a acendendo totalmente.
— Vamos combinar assim, a gente conta para Alan, se ele reagir bem, vamos
para conhecer a casa. Quem vai decidir tudo é ele. Certo?
Comenta enquanto aperta os dedos nas costas dele.
— Combinado.
Sorri sabendo que precisará ter uma conversinha com o filho. Mas sabe que o
menino é do time dele, pelo simples fato de ficar dando sugestões e
questionamento para os dois, sobre namoro.
Depois que Rodrigo foi embora, Taís acordou Alan para ir para a escola e o
menino foi meio cabisbaixo. Desde a semana passada ela percebeu a pequena
mudança do filho, porém ele sempre nega quando pergunta.
— Dá um beijo na mamãe para entrar.
Taís pede, agachada, perto do portão de entrada ao menino que olha ela. Ele
acena e beija a bochecha dela a fazendo sorri boba.
Sempre foi uma mãe coruja e faz de tudo para ver o sorriso fofo do pequeno ser
que apareceu de repente na sua vida e não se arrepende nenhum pouco. Mas
percebe a face alva do filho ainda triste.
— Que foi? Conta para mamãe.
Pede sentindo seu coração ficar apertadinho. O menino nega e dá um último beijo
nela de novo, logo em seguida entrando, se juntando com o pessoal da sua
idade.
Taís volta para casa ainda com o coração apertadinho e aproveita para dormir um
pouco antes de arrumar tudo enquanto não dá a hora de pegar ele na escola e
fazer o almoço.
Gravidez sempre é exaustiva.
Do outro lado Rodrigo comunicou seus pais sobre o andamento das coisas e eles
dois logo intimam Taís e Alan para verem. Ambos mau cabem dentro de si com
vontade de ver aquele pequeno garotinho lindo, que se apaixonaram pelo jeitinho
dele, e que é seu neto.
E aproveita para planejar algumas coisas. Taís não perde por esperar.
À noite, depois de Rodrigo não ter ido no almoço. Taís ajuda a Alan, com a
atividade, tentando ter um tempo com o filho, já que está achando que ele abatido
demais. A campainha toca tirando os dois do momento e escuta Rodrigo chamar
na porta; Taís grita para abrir e ele encontra os dois no chão do jeito que estavam.

Alan logo corre com a desculpa que ia ver os avós, deixando os dois sozinhos.
— Acho que seu filho está dando um de cupido.
Taís comenta guardando as coisas dele. Enquanto ri, mas para quando acha um
papel amassado dentro da bagunça que encontrou lá dentro. Ultimamente ela
está deixando ele ser mais independente e arrumar a própria mochila, mas pelo
jeito, ele não arrumou.
Se trata de um aviso escolar. Abre para saber do que se trata e encontra um aviso
de uma gincana escolar, de interação de pais e filhos.
Com o intuito de melhorar o convívio e as socialização, fortalecendo os vínculos
familiares. O que estava escrito ela entendeu, só não entendeu o porquê dele não
a entregar. Mas logo cai em si quando vê um aviso, que as brincadeiras vão ser
com os pais.
Rodrigo questiona a Taís o que ela está lendo. Ela apenas entrega e Rodrigo puxa
e lê, mesmo ficando confuso o porquê de tudo.
— Alan estava agindo estranho esses dias e achei o possível motivo.
Comenta séria entendendo tudo.
— Hoje? — Rodrigo pergunta implicitamente sobre a paternidade.
— Hoje.
Taís afirma sentindo seu coração bater a mil. Enquanto Taís vai buscar ele na
casa dos pais, que é do lado, Rodrigo pensa em como falar e só a possível revolta
ou recusa do menino o deixa mal. Pois, ele gostar dele é uma coisa, outra e saber
que ele é o pai que não o viu nunca.
Alan logo chega com a mãe, sentindo-se confuso por ela ter buscado ele, pois, ele
fez questão de o deixarem sozinhos, em uma tentativa de juntarem os dois. Pelo
menos é o que sua mente infantil achava, que eles dois não estão namorando por
falta de um empurrãozinho.
— Vem aqui.
Tais chama colocando seu filho no seu colo, com Rodrigo sentado do lado dela,
no sofá.
— O que você tinha me pedido quando descobriu que sua tia ia ter um neném?
— Um irmãozinho para brincar comigo. — Responde inocente.
— E se a mamãe tivesse grávida e namorando o Rodrigo?
Questiona com o coração a galopes. O menino arregala os grandes olhos e em
seguida abraça ela que fez cara de choro.
— Que foi?
Questiona puxando-o para mais perto do seu colo.
— Eu queria que Rodrigo fosse meu pai também!
O coração de Taís aperta um pouquinho com as palavras do filho.
— Se eu te dissesse que você pode ver seu pai?
Taís questiona com o coração a mil. O menino olha para ela confuso, pois ela
nunca deu brecha para esse assunto, sempre muda.
— Ele vai querer?
— Claro que vou.
Rodrigo atropela as palavras vendo Taís mais nervoso que qualquer outra coisa
sem saber como contar.
— Mentira!
Alan grita ainda chorando. O coração de Taís aperta um pouquinho com as
palavras do filho. E Rodrigo fica ainda pior.
— É verdade. Olha esses olhos, a gente tem a mesma cor. Olha seu cabelo, não
é igual?
Rodrigo sente que está diante de um juiz e que vai ser massacrado a qualquer
momento se o filho não o aceitar.
— O colega da minha sala disse que ele não gosta de mim porque sou feio! Que
fui achado no lixo!
Comenta ainda chorando e Rodrigo puxa ele para seu colo, que vai e o abraça.
— Não gostou de saber que sou seu pai?
Rodrigo questiona baixo enquanto Taís enxuga as lágrimas.
— É de verdade?
— Sim! Você é meu filhão, e eu não te vim te ver antes porque não sabia.
Rodrigo alisa os cabelos do menino enquanto ele o olha com os grandes olhos
azuis um pouco avermelhado do choro. Mas Alan abre o sorriso com os dentinhos
para ele e Rodrigo abre um maior ainda.
— Toca aqui.
Rodrigo suspende a mão e ele bate logo em seguida. Rodrigo levanta do sofá
com ele no colo, segurando em um aperto.
— Filho, gostou de saber?
Taís pergunta apreensiva com medo do menino revoltar-se contra ela, por ter
escondido esse tempo todo. Mas ele apenas acena limpando os olhos, quando
Rodrigo coloca-o no chão.
— Eu vou contra a todo mundo da minha sala.
Comenta sorridente fazendo Taís e Rodrigo sorrirem mais ainda, de puro alívio.
Jantaram juntos. Rodrigo tinha vindo para levarem eles para jantarem, mas, teve
uma surpresa maior.
— Oh mãe, meu pai pode dormir aqui hoje?
Alan questiona quando os dois estão na cozinha junto com Taís, achando que
estão ajudando. Rodrigo congela no lugar, assim como Taís que percebeu que o
menino referiu ele como pai, pela primeira vez.
— Peça a ele. — Taís comenta, de costas mesmo.
— Você quer dormir aqui...
Rodrigo fica em expectativa para saber se o menino vai completar a frase com o
que ele quer ouvir.
— ...pai?
O menino completa sem perceber que o chamou e Rodrigo abre o maior sorrisão
por isso.
— Quero. — Acena sorrindo.
— Você vai morar com a gente?
O menino continua seu interrogatório, mas logo Taís o manda para escovar os
dentes para dormir. A noite está se tornando pequena diante de tantas novidades.
Rodrigo termina de arrumar as coisas com ela, enquanto comenta sobre tudo.
Os dois na cama deitados entrelaçados, sentindo-se uma paz interior por tudo,
tentam colocar em ordem todos os passos daqui em diante.
— Pelo jeito ele não tem objeção de morarmos juntos.
Rodrigo comenta recebendo cafuné e Taís.
— Mas espera pelo menos ele fazer a prova do semestre. Falta poucos meses.
— Pode ser. E o bebê? — Questiona.
— Está bem. Acho que a próxima consulta podemos saber se vai ser menino ou
menina.
— Você quer que seja qual? — Questiona.
— Não sei. Eu acho que vem menina. — Deduz.
— Quero que venha outro menino.
— Vou ficar louca. — Ri o levando junto.
— A próxima consulta é quando?
— Semana que vem, minha mãe vai comigo.
— Porque não me avisou?
— Não quero brigar, tá? só deduzi que você estaria ocupado. É estranho contar
com outra pessoa a não ser ela.
— Tudo bem.
Beija ela e logo os dois adormecem entrelaçados, sabendo que agora eles dois
podem começar suas vidas, de verdade, como merecem.

OITAVO
Depois de saírem de mais um dia de exame de rotina no pré-Natal, onde
descobriram que estavam esperando outro menino. Rodrigo quase desmaiou ao
ver o pequeno filho pela primeira vez, já que era a primeira vez que acompanha
ela e sentiu seu peito se encher de uma forma não que cabia dentro de si, apenas
chorou olhando o pequeno bebê pelo ultrassom.
E por executou sua surpresa no final de semana inteirinho, deixando Taís
preocupado por ele não ter aparecido lá apenas ter ligado para falar com os dois e
saber onde está.
Mas Ele estava ocupado demais com a surpresa. E com ajuda dos pais, ou da
mãe, mais certamente, que estava louca para conhecer Taís e Alan mais de perto,
ajudou sem pensar duas vezes. E por isso conseguiu fazer tudo em um final de
semana. Arrumado e perfumado, quase no final do dia, Rodrigo apareceu na casa
de Taís.
— Mãe, o pai chegou.
Alan abre a porta para Rodrigo, que abre um grande sorriso pela forma que
chamou. Parece que não vai se acostumar nunca com isso, mas em breve terá
outro menininho ainda. Rodrigo e Alan escuta Taís gritar algo de longe.
Provavelmente do quarto alguma coisa que os dois não entenderam muito bem.
Alan volta para o sofá onde está assistindo desenho e Rodrigo entra em direção
ao quarto de Taís, onde a porta está entre aberta, a vendo apenas de calcinha e
sutiã e claro que ele não perde a oportunidade de invadir de vez a assustado.
— Que droga! Me assustou.
Resmunga puxando o vestido da cama para vestir. E Rodrigo não deixa de dá um
sorriso besta a vendo com a barriguinha de grávida e a pega para um beijo.
— Vamos aonde mesmo?
— Surpresa!
— Aí Rodrigo. Me conta?
— Jantar na casa dos meus pais, mas a surpresa é antes.
— Na casa dos seus pais?
Taís praticamente berrou. Morrendo de medo de encontrar pela primeira vez com
a sogra.
— É. Eles querem conhecer Alan e você. Vai!
— Se ela não gostar de mim?
Rodrigo olha para Taís que está apreensiva e continua incrédulo.
— Ela já te ama, mesmo sem te conhecer. Só pelo fato de ter me colocado na
linha, pelo menos é o que ela acha.
Ele revira os olhos pôr a mãe ter pensado nisso. E Taís acaba sorrindo beijando
sua boca logo em seguida.
— Vou acreditar em você.
— Se arruma que daqui a pouco saímos.
Rodrigo quase não cabe dentro de si para mostrar sua surpresa que preparou. Ela
acena e enquanto isso os dois ficam na sala esperando, assistindo. Taís aparece
arrumada e os três segue em direção a tal surpresa dentro do carro dele. Logo os
três seguiram de carro para um bairro residencial.
— Ver casa uma hora dessas? — Taís questiona confusa.
— Vai ser rápido.
— Tudo bem.
Rodrigo entra com os dois e logo Alan entra primeiro vendo a grande sala vazia.
— Eu escolhi essa. Acho que cabe nos quatro perfeitamente. Ou cinco, quem
sabe?
— Quatro está de bom tamanho.
Taís responde cortando a gracinha de Rodrigo. Alan olha tudo muito curioso.
— Mostrar a vocês a cozinha.
Rodrigo leva os dois para ver uma cozinha quase equipada praticamente.
— É linda!
Taís exclama empolgada vendo a bela cozinha na sua frente. Rodrigo sorri e
arrasta os dois para cada cômodo. Pela mão, arrasta ela para os quartos. Assim
que ele abre a porta, tem uma grande surpresa. Onde tem um quarto de bebê já
montado e equipado. Como que já tivesse um serzinho nascido para dormir ali.
Taís leva a mão na boca surpresa com aquilo e Rodrigo sorri vendo que
conseguiu alcançar seu objetivo. O esforço e correria valeu a pena.
— Que lindo!
Exclama não evitando as lágrimas virem nos seus olhos. O quarto todo decorado,
em verde e branco. Com os móveis todos combinados. Berço, cômoda, guarda-
roupa, trocador, cadeira de amamentação e com uns adesivos de urso na parede.
Tudo minimamente decorado.
— Eu não acredito!
Taís nessa altura do campeonato já está chorando, em pé, ainda em choque,
observando tudo. Rodrigo a abraça por trás dando um beijo na sua têmpora.
— Surpresa! Mas se quiser mudar algo, fique à vontade.
Sussurra sorridente no ouvido dela e mesmo entre as lágrimas sorri, pois são de
pura felicidade.
— Eu amei!
Os dois se beijam apaixonados e Taís com um sentindo enorme de gratidão, por
ele ser o Rodrigo que ela conheceu. E Rodrigo sente que que finalmente começou
a fazer as coisas certas e dá ao bebê o que infelizmente, não deu para Alan, para
sabe que isso pode ser recompensado de alguma forma, pelo menos tentar.
— Pai, e o meu?
Alan interrompe olhando para ele com os olhos azuis em expectativa.
— Esqueci do seu. — Rodrigo faz cara de sentindo colocando a mão no rosto e
Alan demostra a mesma cara de decepcionado assentindo. — Mas vamos aqui.
Rodrigo pega na mão dele que vai ainda com a carinha triste. Assim que ele abre
a porta congela no lugar vendo seu quarto, também arrumado, com brinquedos
arrumados e até um videogame instalado junto com uma pequena televisão na
parede. A cor da parede verde, junto com a roupa de cama.
Alan logo se espalha para ver tudo. Conhecendo cada pedacinho do local
encantado. Taís também ficou ao olhar o quartinho do menino todo arrumado.
— Vamos ver o da senhorita.
Rodrigo puxa Taís para o último quarto, deixando Alan no seu, vendo tudo de
perto. Entra e mostra o deles, uma grande suíte também já arrumada.
— Nossa!
Fica surpresa mais uma vez vendo tudo arrumado.
— Está aí o porquê de eu ter sumido sexta e sábado.
Abraça ela novamente por trás, segurando na sua barriga e alisando.
— Você é incrível!
Vira o dando um beijo apaixonado que ele aceita sem muitos problemas.
— Eu amo você, Taís, e todas essas viagens mostraram que é com você que
quero ficar.
Taís separa o beijo surpresa e se sentindo amada e coração aquecido, pois essa
foi a primeira vez que ele fala depois do reencontro.
— Eu também amo.

NONO
Era quase onze da noite quando a bolsa de Taís estourou. O casal já estava na
sua residência nova e Alan na nova escolinha que é integral.
Ambos se sentiam satisfeito na vida que estava levando. Rodrigo nem se fala,
sentindo ainda mais completo vendo seu pequeno filho que se na verdade se
chama Leandro, ou apelidado de Léo, se desenvolvia cada vez mais. Aguentou
sorrindo as crises de Taís sobre seu peso e a nova maternidade. Provando pela
primeira vez a paternidade desde o começo.
No hospital, depois de deixar Alan com os avós, Rodrigo parecia mais nervoso
que Taís, e de fato estava. Nunca esteve naquela situação, esperar pelo filho que
está prestes a nascer. Onde foram necessárias duas enfermeiras perguntarem
mais de uma vez se ele estava se sentindo bem ou se queria beber água.
Mas tudo que ele queria era ter seus filhos no braço e finalmente conhece-lo.
— Respira, Rodrigo.
Comenta entre uma contração e outra na sala de espera, aguardando estar
dilatada o suficiente para iniciar o parto.
— Eu estou. Você está bem?
Questiona preocupado passeando a mão pelos próprios cabelos mais uma vez e
depois mais outra.
O grito de Taís, seguida a um gemido sofrido, sentindo a contração mais forte foi o
suficiente para deixa-lo mais nervoso largando a mão dela e andando de um lado
para outro, angustiado. Chegam para checar a dilatação que inda faltava um
pouco. Assim passou quase a noite inteira. Taís gemendo de dor e Rodrigo
inquieto, para quem via de fora, achava que era ele quem ia ter o bebê.
Era quase uma da manhã quando finamente subiram para a sala de parto.
— Rodrigo se você não se acalmar vou pedir para não te deixarem entrar.
Taís avisa segurando a pontada de dor antes de subir e deixar ele para vestir a
roupa cirúrgica.
— Até lá em cima eu estarei calmo. Prometo.
Dá um beijo na testa dela e deixa a maca andar indo com um outro enfermeiro
para sala colocar a roupa.
A verdade é que ele sabe que não vai ficar calmo até lá, ao contrário, vai ficar pior
e tem consciência disso.
— Só não desmaia, não passa esse vexame, Rodrigo.
Fala para si mesmo andando pelo corredor branco. Entrou na sala vendo Taís já
ligada aos aparelhos e foi para seu lado, como foi ordenando.
— Pronta, mamãe? — O obstetra que acompanhou faz a pergunta tomando seu
posto.
— Sim.
Tais responde mais ansiosa que tudo. Rodrigo mesmo com ciúmes que quando
descobriu que o de Taís obstetra era um homem, também acenou confiando no
homem.
A cada mando dele pedindo para Taís fazer força, Rodrigo sentia seu coração dá
galopes no peito, enquanto Tais gritava fazendo a força e apertando a mão dele.
— De novo. Começou a corar.
O médico avisa deixando Rodrigo mais trêmulo que qualquer outra coisa.
Taís grita mais uma vez, de novo, e mais uma tentando expulsar o bebê. Mas
emoção maior foi quando Rodrigo escutou o chorinho dengoso e potente do bebê
escutar na sala anunciando seu nascimento. Teve que segurar a mão de Taís com
força e firmar o pé no chão para não cair.
Acabou chorando, junto com ela, vendo o pequeno bebê ainda roxo, com os
cabelos claros, fios loiros brilhantes como o dela acalmando um pouco no colo da
mãe que sorri e chora, junto com Rodrigo que sente uma coisa jamais sentida: Ver
de perto o nascimento do seu filho.
— Tem seus cabelos.
Rodrigo fala dada a emoção enorme, sentindo aquela sala pequena demais para
gritar de pura alegria e emoção.
—Tem.
Ela também sente o que ele está sentindo pela primeira vez. A emoção única de
ver o filho pela primeira vez. O pequeno bebê foi levado pela enfermeira e Rodrigo
acabou saindo da sala para Taís fazer os últimos procedimentos e tomar um ar.
No corredor do hospital mesmo agarrou a primeira enfermeira que viu, que foi
uma das que estavam na sala, para um abraço a deixando confusa, porém alegre,
pois por incrível que pareça, é acostumada com reações diversas. Ele sorri
abertamente largando ela que lhe deseja parabéns e segue seu caminho
enquanto ele saca o celular para ligar para os pais que ainda não sabem da
notícia.
—Rodrigo? — A mãe atende confusa e sonolenta.
— Meu filho nasceu! — Comenta mais que eufórico na linha.
— Cristo! Vamos para ai! Cadê Alan? — Comenta assustada e eufórica.
— Alan ficou com os pais de Taís. Ele é lindo, mãe...
Rodrigo não aguenta a emoção e fala choroso na linha sentindo uma coisa que
nunca sentiu na vida.
— Eu sei que é. A gente vai para aí.
— Vem quando amanhecer.
— Tudo bem. Beijo!
Rodrigo desliga depois de se despedir. Com um enfermeiro que foi chama-lo para
avisar que Taís já estava subindo para o quarto e que Léo já estava indo logo em
seguida.
Em menos de dois minutos ele já estava lá com um sorriso aberto para Taís que
mesmo cansada do parto, estava morrendo de felicidade vendo o encantamento
de Rodrigo pelo filho.
— Como você está? — Ele anda em direção a ela, sentando na ponta da cama e
lhe dando um beijo na testa e mais um sorriso enorme.
— Cansada. Mais feliz e você? — Sorri sentindo o carinho dele no rosto.
— Muito feliz. Estou ansioso para ver ele.
Sorri feito menino, fazendo Taís sorri abertamente com o coração aquecido. Daria
tudo para ter esse momento no nascimento de Alan, e não sozinha com a mãe,
pensando como seria ele vendo o nascimento do primeiro filho.
O bebê logo chega na mão da enfermeira e Rodrigo confere o rostinho do bebê
assim que ela entrega para Taís.
— Ei, Léo.
Rodrigo sussurra sorrindo abertamente e segurando a mãozinha dele que estava
na boca chupando. Em seguida ele abre os olhinhos azuis cinzentos fitando Taís
que está quieta observando seu bebê. Ela põe ele para mamar que vai sedento.
— Isso filhote. Mas depois vai arranjar um desses para você que esse é meu, tá?
Estou só emprestando.
Taís sorri das palavras de Rodrigo. Ele termina de mamar logo depois que caiu no
sono. Enquanto os dois observa e alisa a mão dele de leve sentindo a textura de
pele de bebê.
— Quer pegar agora? — Taís pergunta.
— Quero.
Acena feito menino ganhando presente. Assim que segurou o pequeno bebê
sonolento sentiu a coisa mais inexplicável do mundo, sabendo que aquele bebê
loirinho e bochechudo era seu filho.
E Taís também não deixou de se encantar, quase chorando o vendo com Léo no
colo e sente que pagaria quanto fosse possível para ver essa cena com Alan onde
só tinha ela, o filho e a mãe na sala. Mas também pensa que o importante é que
ele tenta se redimir até hoje por isso e que fez diferente na gravidez de Léo.
— Ele é lindo. E é a sua cara.
Rodrigo fala baixo, ainda fitando o bebê no seu colo.
— Sim. Mas ao contrário, Alan é você todinho.
Comenta se recostando na cama e bocejando em puro cansaço.
— Meus filhotes são lindos, rapaz.
Fala orgulhoso como um macho alfa fala da cria e deixa um beijo na bochecha
gordinha e rosada do seu filho.

Já em casa, um dia depois de repouso no hospital, Rodrigo mal pode esperar


para fazer Alan conhecer o irmão. Que também está mais que eufórico para
conhecer.
— Mãe.
O garoto corre em direção aos dois, onde Rodrigo fez questão de levar o bebê no
braço para dentro de casa.
— Não pula no colo. — Avisa parando ele que freia os pés no chão.
— Deixa-me ver ele.
Pula ao redor do pai o acompanhando andar junto com a mão para sala, onde os
pais e sogro estão esperando ansiosos o bebê.
— Venha.
Rodrigo senta abaixando o bebê para Alan olhar.
— Ele tem o cabelo igual da mamãe.
Comenta curioso, vendo o irmão pela primeira vez, onde ele escolheu o nome,
dada as opções que os pais deram para ele decidir.
— Tem. Vai cuidar dele? — Rodrigo questiona.
— Vou. Eu agora sou fortão.
Mostra os braços e Rodrigo gargalha junto com todo mundo. Pois disse que agora
ele seria o irmão maior e mais forte e por isso que tinha que defender e cuidar do
irmão menor.
Os dois fazem o cumprimento costumeiro dele e Taís chega mais perto para beijar
e mimar o filho mais velho, que não viu a pouquíssimos dias. Mas sente como se
tivesse separados a mil anos.
Os pais de Taís ficaram um pouco e decidiram ir embora para eles dois
sossegarem, assim como os de Rodrigo, que ficaram mais um pouco, babando o
neto. As irmãs acabaram ligando também quando souberam e combinou de visita-
la no fim de semana e que queriam fotos imediatamente.
Alan ficou grudado na criança a maior parte do tempo, assistindo o bebê dormir
quieto e manhoso no sofá enquanto os pais faziam algo para comerem.
— Ô mamãe, ele vai poder brincar comigo quando? — Alan grita da sala.
— Quando ele tiver maior, amor.
— Ele vai poder usar minha bicicleta?
— Vai. Mas só quando ele tiver do seu tamanho. —Fala de volta.
— Mas ele só vai ficar dormindo? Parece uma almofada, não faz nada! —
Comenta cabisbaixo.
— Não. Ele ainda está pequenininho.
Rodrigo vai para sala checar os dois que estão como deixou.
— Ah. — Acena concordando.
O jantar logo fica pronto e os três jantam. Enquanto Rodrigo ajuda Alan a escovar
os dentes, Taís dá de mamar a Léo que até então está calminho. Rodrigo revezou
com ela, enquanto ela tomava banho e depois daria boa noite a Alan, ficou com
Léo.
Encantado com o bebê que está com a chupeta na boca dormindo calmo no colo
do pai. Rodrigo sente-se bobo ainda olhando o bebê, vendo a coisa pequenina, o
serzinho tão bonitinho que dá uma felicidade absurda.
— Dormiu? — Taís aparece na porta do quarto.
— Sim. Mas estou com medo de deixa-lo aqui sozinho. E se acontecer alguma
coisa?
Questiona preocupado e ela apenas ri.
— Traga ele.
Avisa pegando o berço portátil para levar para o próprio quarto. Os três seguiram
e mesmo o bebê já dormindo Rodrigo nina, sentindo o cheirinho dele. Taís
arrumou tudo para eles dormirem e logo colocou o pequeno bebê deitado já
dormindo, no pequeno berço, do lado da cama deles.
De luzes apagadas e deitados juntos, sentem uma paz incrível. Nem parece que a
menos de um ano atrás, a ideia de estarem assim, seria mais distante que o Brasil
da china.
— Eu estou muito feliz. Parece muito bom para ser verdade, sabe? — Rodrigo
comenta sentindo afagos no cabelo.
— Sei. É gostoso sentir, né?
— Muito. Estou apaixonado por ele e não sei nem se vou conseguir dormir.
— Descansa, pois, amanhã o dia vai ser duro. Agora são dois.
— Vai. Mas não ligo, estou feliz.
Vira o rosto para ele que está sorrindo quase com o maxilar doendo. Chega o
rosto para perto encostando os lábios no dele em um selinho de olhos abertos.
Ele junta novamente os lábios no dela em outro selinho e depois mais um fazendo
ela sorri com a sensação maravilhosa de vida familiar, assim como ele que está
amando tudo.

DÉCIMO
CAPÍTULO FINAL!
— Quem é o bebê de papai?
Rodrigo brinca com Léo de modo totalmente babão, enquanto Taís mais boba
ainda assiste de longe, escorada na porta, a interação dos dois em cima da sua
cama, junto com Alan que está perto olhando o bebê.
Alan desde que subiu de cargo, para irmão mais velho, está fazendo seu papel
direitinho. Taís já o pegou várias vezes, ele dentro do quarto do irmão, olhando o
bebê dormir pelo berço ou simplesmente levando os brinquedos para lá para ficar
perto.
De início, Taís achou que ele ficaria enciumado, já que até ontem era o filho único
que era paparicado sempre, não que isso tenha mudado, mas a chegada de um
bebê, sempre acaba reduzindo o tempo para ele.
Mas, Alan surpreendeu todos, gostando da novidade e é mais protetor que
qualquer coisa.
— Papai será que ele vai gostar de vídeo game? — Alan questiona curioso
sentindo o bebê segurar no seu dedo.
— Mas você vai ensinar a ele?
— Vou. Mas o play um é meu.
Rodrigo gargalha chamando a atenção do pequeno bebê que já tem dois meses
apenas, mas que reconhece o som dá risada ou a voz do pai em qualquer lugar.
Taís chega entrando no quarto sorrindo não cabendo de felicidade dentro de si.
Ver Rodrigo no modo paizão com os dois é a melhor coisa que ela poderia ter e
querer.
— Esse mocinho está se comportando?
Sobe na cama para pegar o pequeno bebê dos cabelos loiros e brilhantes,
contrastando com os outros dois rapazes da vida dela. Recebendo uma bela
olhada de Rodrigo no seu decote que está mostrando diretamente para ele.
Ela revira os olhos fazendo ele abrir um sorriso de mil e um significado.
— Como um anjinho.
— Ele deu risada para mim, mamãe.
Alan relata eufórico toda vez que isso acontece. Taís rir ajeitando o bebê no seu
colo.
— Ele gosta de você.
Sorri. Rodrigo se rasteja da cama, dando um beijo na bochecha dela, a segurando
pela cintura. Levantando da cama logo em seguida, carregando Alan nas costas
que vai sorrindo sapeca.
— Vou levar ele para tomar banho. Vai querer o que para jantar? — Questiona
com o filho mais velho nas costas.
—Não sei. Vou ver o que é mais rápido.
—Vou pedir comida. Para você descansar um pouco, já que sou uma tragédia na
cozinha.
— Pizza! — Alan pede quase gritando.
Taís acena concordando para pedir pizza deixando Alan delirante em comer pizza
em vez de comer alguma coisa com legume.
— Só hoje.
Avisa aos dois que estavam atravessando a porta em direção ao quarto do
menino. Os dois gritam juntos ''sim senhora'' como ela fosse a comodante. Eles
dois aprenderam isso, para brincar com Taís, a cada ordem que ela dá.
Ainda rindo eles dois saem a porta fora deixando Taís com um sorriso bobo no
rosto. Ela acaba se virando para o bebê que a olha sem desviar o olhar.
— E você, rapazinho. Vai ficar igual a eles também?
Enquanto Alan é Rodrigo em pessoa, Léo apesar de parecer com os dois, tem os
traços de Taís, a deixando mais parecido com ela. Loiros com os olhos azuis
acinzentados. Passa a mão nos cabelinhos loiros arrumando novamente para o
lado.
— Você é o bebezinho de mamãe.
Brinca alisando as bochechas rosadas dele. Para ela, ainda é tudo irreal. Dois
filhos com Rodrigo, juntos e felizes. Parece ser tão...delírio.
Ela levanta logo em seguida. Para trocar seu bebê e seguir para sala.
Os dois logo voltam, ambos de banho tomado. Provavelmente Rodrigo entrou na
onda de Alan. E Taís já imagina a situação do seu banheiro depois disso.
A pizza logo chegou para felicidade de Alan e jantaram juntos, os três, com Léo
cochilando no sofá.
— Mãe, antes de a gente dormir. Pode assistir? Por favor! — Suplica juntando as
mãos.
— Está tarde e está frio. — Taís ordena.
— Vamos para cama que é maior.
Rodrigo dá o veredito deixando Alan feliz que saltita correndo em direção ao
quarto dos pais. E Taís só faz olhar séria para ele, irônica, de sobrancelha
arqueada.
— Que foi? — Questiona.
— Eu tentando fazer ele dormir para termos um tempinho e você acabou de trocar
por um filme infantil.
Ainda com as sobrancelhas arqueadas e sorriso zombeteiro, comunica dos seus
planos.
— Droga! Alan você não prefere história não? Papai conta.
Grita imediatamente ouvindo a resposta do filho:
— Não!
— Bem feito!
Taís debocha levando Léo no colo, para o quarto com Rodrigo atrás. Ele arruma a
cama para os quartos, com Taís no meio, com Léo acordado que garra seu peito
logo em seguida para mamar. E os outros dois, cada um de um lado jogados
assistindo o filme que escolheu.
Enquanto assiste seu pequeno bebê dormindo no colo, ainda com o peito na
boca, já com bom tempo do filme. Olha para baixo, vendo Rodrigo já nocauteado,
jogado na cama, abraçando suas pernas e Alan da mesma forma, com a cabeça
no seu colo.
E pensa que não poderia estar em momento melhor. Com os três rapazes da sua
vida ao redor de si, perto, como uma fortaleza.
— Rodrigo, vai colocar Alan na cama.
Chama baixo o despertando e levando o menino no colo em direção ao outro
quarto. Ela aproveita e leva Léo que dorme serenamente e de barriga cheia para
o seu.
Checa dez vezes se está tudo certo seu bebê e sente duas mãos enormes, a
agarrar pela barriga.
— Nem pense, queridinho. Agora estou cansada.
— Nananinanão. Não se pode mostrar o que eu posso ter e negar. Está nas
regras.
Arrasta para fora do quarto, a imprensando na parede próxima.
— Que regras? Nunca vi isso.
— Nas minhas regras. E você terá que cumprir.
Ele não espera e a toma para um beijo fogoso a calando completamente. A
arrastando para o quarto, onde os únicos sons que saiam da boca dela, foram
gemidos de puro prazer o sentindo entrar em sair de dentro dela.
— Era para ter lhe deixado de castigo.
Taís comenta ofegante e suada em cima da sua cama que até então seus filhos
estavam a pouco tempo.
— Isso seria tortura. Meu pai não ia gostar e nem eu. — Rebate provocando risos
de Taís, que se rasteja para cima dele novamente.
— Eu amo você, sabia? — Deixa um selinho demorado e molhado na boca dele.
— nunca deixei.
Rodrigo sorri levando sua mão nos cabelos dela, colocando atrás da orelha e
dando outro selinho, mas dessa vez rápida.
— Também amo. Vocês três são a razão da minha vida hoje.
Taís sorri pela declaração fofa dele.
— A senhorita me deu a coisa que eu sequer compreendia que era. Sabia?
Olha sério para ela que franze as sobrancelhas.
— Como assim?
— Filho e Família. Era isso que eu procurava e nunca encontrei. Porque não tinha
você. Passei todos esses anos procurando uma coisa que você podia me dá e eu
burro não vi. Agora me sinto completo!
— Com não te amar, Rodrigo?
Agarra ele pelo pescoço trazendo para sua boca para um grande e belo beijo
apaixonado.
— Você e nossos pequenos que me tornou uma pessoa feliz e completa. Não
poderia querer menos.
Em seguida Taís abre um sorrisão não deixando de ter seu coração acelerado e
aquecido pelas palavras dele. E não poderia sentir menos o que ele sente:
Sensação que vai transbordar de amor a qualquer momento. Enfim tudo está aos
seus lugares. Como deveria ser a anos atrás. E finalmente ele encontrou o que
tanto procurava e melhor, foi ela quem deu!
Continua em...
UM CRETINO PARA CHAMAR DE
MEU #3
Lizandra por conta da sua natureza romântica
incurável e altruísta, coleciona decepções amorosas.
Depois de ser diagnosticada infértil, perde a
esperança de ter o que sempre aclamou: uma
família. Ainda aceitando o que chama de destino, vê
uma pequena cor na sua vida cinza: Uma garotinha
de olhos verdes e covinhas cativantes que se
apaixonou perdidamente.
Ela só não contava com a ironia da vida, onde o pai
da garotinha fosse justamente o cretino do seu ex
namorado que quebrou seu coração quando
adolescentes. Mas como lidar com sentimentos
reprimidos e desejos se aflorando, pelo o cretino
agora tatuado e ainda mais charmoso rondando sua
vida novamente?
Copyright © 2019 - Mayara Carvalho, criado no Brasil.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Não é autorizada a
cópia, distribuição comercial, republicações, total ou parcial em
qualquer meio sem autorização explicita da autora. A Violação dos
direitos autorais é crime estabelecida na lei n°. 9610/98 e punido
pelo artigo 184 do código penal. O livro está protegido pela lei e
registro. Não distribua, respeite o trabalho alheio!
Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes,
pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
Versão única, Novembro de 2019
UM CRETINO PARA CHAMAR DE MEU #3
Design da capa & Diagramação: Mayara Carvalho
Revisão: Carol Façanha & Fabiano Jucá (O Ponto e A
Vírgula)
Imagem do miolo: Regards Coupables™
(@regards_coupables)
Modelo da capa: Orlando Barone
Fotografia: Murilo Pozzi
Agradecimentos
Aos meus leitores por nunca me abandonar. Amo
vocês por estar sendo o que preciso!
cretino
adjetivo substantivo masculino
5. 1.
que ou quem é ou se apresenta de modo insolente; audacioso, petulante.
6. 2.
Que age de modo cínico até irônico. que infringe qualquer padrão de
dignidade.
''Talvez a gente se esbarre por aí novamente, com o coração mais
feliz e maduro, talvez a gente sinta falta e, depois de tantos e
reencontros, decida pousar no mesmo lugar. Aprendendo a aceitar
aquilo que não soubemos aceitar, amando aquilo que não
conseguimos amar, descobrindo aquilo que tentamos esconder e
resolvendo tudo aquilo que deixamos para depois. Talvez a gente se
esbarre novamente com o coração mais calmo e decidido a lutar e a
ficar. ''

Tatiane Argenta
1
LIZANDRA
Sinto o vento frio entrar pela janela.
Encaro minha xícara com o resto do café expresso aguado.
Porque foi mesmo que eu achei uma boa ideia comprar a cafeteira
de cápsulas?
Com a sensação de desalinho e solidão em que acordei hoje,
esta casa silenciosa me parece de repente grande demais depois da
mudança de Nat.
Tudo por causa de uma data. Um ano desde a notícia que me
devastou. Mesmo não querendo pensar e sentir essas emoções
que me sufocam toda vez que estou sozinha, acabo me
martirizando e questionando: por que eu?
Depois do diagnóstico e ver minhas chances de ser mãe
evaporarem como poeira, e que mesmo tentando não deixar todas
as incertas angustiantes me sufocar, sinto que não fui mais a
mesma. Nada é como antes.
Eu ainda sorrio das piadas sem graça de Natasha, assisto
meus programas preferidos, me divirto, olho homens na rua e faço
minha rotina como sempre fiz, mas não é a mesma coisa. Mesmo
assim, tento seguir em frente o quanto posso. Os meus objetivos
foram em função disso, eu planejei minha vida acadêmica para ser
estável e assim poder ser mãe e de repente, quando estou apta
para tal, simplesmente não poder.... Hoje me sinto sem um
propósito!
É desesperador saber que ali foi meu fim de linha.
Infelizmente, não irei poder observar traços ou manias de
uma pequena miniatura minha e me orgulhar quando fizer alguma
coisa boba, ou simplesmente ser agraciada com um sorriso singelo
do meu próprio filho.
Todos a minha volta se encontram, casaram e tiveram filho, e
no final, eu continuo aqui, como sempre: sozinha. Vazia, como o
resto da casa. Às vezes sinto que sou uma merda de um tanto faz
nesse mundo. Sorrir já não tem mais muito sentido, chorar também
não vale mais a pena e assim eu sigo a vida. Nem quando descobri
a mentira de Roberto fiquei assim, apesar de cada dor ser única.
Tenho uma mania absurda e idiota de achar, que o outro vai
agir da mesma maneira transparente que eu, que o outro vai
querer na mesma intensidade que quero . Nada me preparou para a
porra do baque de saber que o cara era casado e pai de duas
crianças, uma delas recém-nascida. E eu estava com suspeita de
gravidez!
Estava desenvolvendo um sentimento mais forte por ele que
de repente foi interrompido bruscamente, já nos relacionávamos por
alguns meses. Eu quis chorar igual criança quando rala feio o
joelho. Eu sou ingênua demais! Mania de ver romance em tudo, que
a pessoa que eu estou é a certa!
E ainda agiu como se a errada fosse eu, por não ter tomado
nada no dia seguinte, mesmo já usando pílulas. Eu deveria ter
desconfiado a partir do momento que ele nunca me chamou na sua
casa e me encontrava apenas em motéis mais afastados. Ou em ter
entrado em pânico quando contei e antes mesmo de saber, mandou
eu interromper ‘’o estrago’’.
Deveria! Deveria desconfiar que tinha algo errado e não só o
fato de ele não querer ser pai além de ser um babaca de marca
maior. Pensei que, talvez, seria o homem que realizaria meu sonho,
e viveria comigo uma rotina familiar e simples, como sempre quis,
mas Roberto só me via como outra função: ser a outra. Para diverti-
lo quando ele achava que a esposa não o satisfazia como antes.
Eu tenho nojo de mim por me ter passado por um papel
desse, mesmo sem saber. Eu fui ingênua com tudo! E eu me odeio
por isso!
Dado ao meu histórico, eu não deveria ser tão boba. Estou
tão cansada de ser enganada e magoada. Desde a adolescência
que eu coleciono decepções.
Meu primeiro namorado; galinha, estava comigo e a escola
inteira; o segundo só me enrolava para namorar e fazia pressão
para transarmos, até que descobrir que ele era virgem e estava
comigo só para provar os amigos que não seria mais. O terceiro, o
maldito terceiro, que mais me causou estragos emocionais.
Não foi o primeiro amor, nem o primeiro beijo, muito menos a
primeira transa, mas foi marcante. Estávamos no primeiro ano,
namoramos o ensino médio inteiro. Três anos juntos! Achava-o lindo
com aqueles cabelos em um tom loiro meio dourados, combinando
perfeitamente com olhos verdes e sorriso sem vergonha mostrando
as covinhas. Sem contar o jeito sacana e abusado que me ganhou
de primeira.
Chamava-se Jônatas, ou chama, se ainda não morreu.
Realmente o amei, como ninguém antes, a gente sempre tem
aquele amor marcante e ele foi o meu. Mas o sonho virou pesadelo
quando eu estava prestes a me mudar contragosto, por conta do
trabalho do meu pai. Era ano de vestibular e toda confusão pós-
colégio.
Optamos em tentar um namoro a distância, planejamos as
datas comemorativas e férias que poderíamos viajar para nos
encontrar. Não ia ser fácil, mas tentaríamos fazer acontecer. Um dia
antes da viagem ele me deu uma das noites mais felizes que ainda
recordo de toda a minha vida. Com vista para cidade, eu me senti
amada, protegida, especial para ele, como se fossemos um do outro
para sempre. Ganhei até um anel de recordação e símbolo nosso, já
que no dia seguinte iria embora. Estava indo tudo como planejamos,
sentia que iria dá certo.
Achava que éramos um casal perfeito, mas ele pôs fim em
tudo aquilo, minutos antes de pegar a estrada para cá, alegando
que era o melhor, mas sinto que ele queria ficar sem a carga que
seria namorar alguém que não poderia estar ali sempre quando ele
quisesse e satisfazer suas vontades.
Eu sei que namorar a distância é a mesma coisa de não
namorar ninguém e é uma merda. Não iríamos nos tocar, nos beijar
todos os dias. Mas quando nos víssemos, nós iríamos aproveitar o
máximo um do outro e íamos nos falar todos os dias. E se não
desse certo, saberíamos disso, sairíamos com a sensação de
tentarmos. Mas ele sequer levou isso em conta e com toda mágoa
que estava jurei não o ver nunca mais e desde então sigo com
minha promessa.
A partir disso, as coisas foram de mal a pior. De todos os
relacionamentos que saio, sinto que não fui suficiente. Minha vida é
uma sucessão de erros.
Às vezes eu me acho muito boba com essa coisa de
casamento e querer filhos, sempre sou um alvo fácil, mas parece
que é impossível conseguir isso. É pedir demais um marido que me
ame?
Sou financeiramente estável, casa própria e habilitada, mas
não tenho o que eu realmente preciso, que é um lar de verdade e
que chame de meu. Onde eu tenha um propósito, que eu saia
ansiando para voltar. Por isso, quando soube que eu era a outra, caí
fora. Dou muito valor a família para destruir uma.
Só quero pertencer a alguém e quero alguém que pertença a
mim por inteiro. Mas pelo jeito parece que isso será uma coisa que
nunca vou conseguir. Nada é como planejamos e queremos. Tento
colocar isso toda vez na minha cabeça, mesmo que, como
romântica incurável que sempre fui, anseio, necessito disso. Ter
essa maldita urgência é como brasa na pele.
Odeio ser uma na multidão. Mas talvez o meu destino seja
ficar só. Tento me convencer disso sempre. Talvez seria melhor
assim. Apenas eu.
Atravesso a cidade em direção ao meu trabalho. Ao menos
nisso me vejo muito satisfeita. Já que a NOVAC é uma revista muito
conhecida e é bem vista no mercado e estou em um grande cargo
depois de tanto lutar para sobressair e subir na hierarquia, de forma
considerável. Virei editora-chefe recentemente.
Sou apenas um grau abaixo da minha chefe suprema:
diretora chefe de redação e presidente da empresa, ela faz questão
de ter os dois cargos para ter domínio total do que se passa na
revista e isso faz com que o meu se torne mais difícil.
Talvez hoje, se eu não me sentir muito sobrecarregada, ligue
para Alejandro, que virou meu casinho esporádico e o leve lá para o
meu apartamento, para me distrair um pouco. Pelo menos a parte
boa de morar sozinha é isso. Transar na sala e não ser atrapalhada
por Natasha, como da outra vez. Nunca esqueci essa vergonha que
passei.
Dentro da cafeteria do térreo e tomando um café digno,
converso com Suzana que é minha vizinha que encontrei no ponto
de ônibus enquanto passava, e resolvi dá carona. Atenta, a escuto
falar sobre um dos seus trabalhos, dessa vez no orfanato local. Ela
é assistente social e está no último ano de psicologia.
É uma companhia e tanto depois que Nat se mudou.
— E aí, vai amanhã mesmo para a ação social que te falei?
— conta empolgada.
— Para ser sincera, tinha esquecido. Mas ainda dá tempo? —
desculpo-me com um olhar.
— Dá, claro. Você pode contribuir com mantimentos básicos
ou brinquedos, se quiser. Mas só sua presença será válida!
— Então eu vou.
Amo crianças e passar um tempinho em uma ação social irá
me fazer bem e ser útil.
Ando pela redação da NOVAC para saber como anda os
editores, em minha checagem matinal diária já tendo noção de que
preciso falar com a produtora executiva para mandar o progresso
para que eu veja antes de encarar a chefe mor, Scarlet e antes de
ela autorizar. Afinal, é meu trabalho.
Sou responsável por supervisionar os editores, praticamente
coordeno essa revista como um todo, organizando todo o fluxo de
entrega de textos, cobrando e mantendo os prazos diretamente
pelos diretores. Além de participar nas decisões administrativas.
É, muita coisa, mas até que eu gosto. Como Nat costuma
dizer, sou uma virginiana chata e louca em organização. Ordem é
meu lema aqui dentro. E minha conta no final do mês compensa,
pelo menos na maioria das vezes, dependendo das raivas que
passo por aqui. Mas nem tudo é ruim, pois a revista recebe alguns
convites por semana para lançamentos de coleções, festas de
inaugurações, comemorações promovidas pelas grifes, como o baile
Vogue daqui do Brasil. Às vezes revezamos a função de prestigiá-
los e já fui em alguns.
Estamos quase em cima do prazo deste mês, preciso acelerar
todos. Depois de passar pelo quadro onde ficam penduradas as
folhas já escolhidas para revista, vejo qual sessão falta fechar.
Sento na minha mesa de chefe de setor, tendo agora uma sala só
minha, no andar de cima e encaro meu notebook: uma foto minha
com os meus cinco sobrinhos, contando com os gêmeos de Alexia,
e sorrio com o coração aquecido. Gosto dessa foto porque me traz
paz quando estou prestes a enlouquecer dentro dessa sala.
E me pego refletindo sobre como será o dia de amanhã. Mal
posso esperar perder as energias com aquelas crianças elétricas!
2
LIZANDRA
Com uma ansiedade no peito, disposta a ter um dia
recompensador, encaro o casarão onde funciona orfanato. Nunca
tive oportunidade de vir aqui e ver as crianças de perto por falta de
tempo, mas sempre contribui por intermédio de Suzana.
Tive uma manhã agitada, em meio de embalagens e
presentes. Suzana até passou lá para confirmar minha presença.
Sabendo que meu porta-malas e bancos traseiros estão cheios, me
sinto com uma sensação boa Ser útil por esses pequenos seres
humanos que não tem afeto nem amor dos pais, por conta de
qualquer eventualidade que seja, aperta meu coração.
Em frente aos portões enferrujados, já vendo movimentação
naquilo que deveria ser jardim com a grama falhada, noto presença
de senhoras e crianças, mesmo não sendo o ponto alto do evento,
pelo horário que cheguei. Avisto Suzana passando e aceno com a
mão, para que ela abra para mim. Assim que me vê, aproximam-se
com um sorriso enorme.
— Estava esperando você.
— Cá estou. Meu porta-malas está cheio, algumas coisas
estão pesadas com comida.
— Vou pedir para pegarem daqui a pouco.
Empolgada, me pega pela mão para entrar. Concordo e a
sigo. O lugar é espaçoso, limpo e organizado, entretanto, precário.
Não é o local adequado para uma criança viver. Logo penso nos
meus sobrinhos que poderiam ser qualquer uma delas e meu
coração aperta ainda mais.
Suzana logo acha ajuda e retiramos tudo do carro, assim
como os presentes. Algumas abrem o sorriso, umas gritam felizes
quando vêem do que realmente se trata a minha chegada. Meu
coração se aperta de novo. Não tem coisa mais linda que um sorriso
sincero de criança, enche meu coração de alegria de forma
inexplicável. Tenho vontade de pôr todos no bolso e levar embora.
Ganhei vários abraços e beijos empolgados. Retribuí todos com
sinceridade e brinco o máximo que posso com todas elas, numa
tarde agradável.
Aproveito o clima mais tranquilo, para conhecer o local
melhor. Perto do pequeno parque com brinquedos espalhados e
enferrujados com balanços vazios, encontro uma criança sozinha,
afastada das outras, sentadinha num banco de cimento, com
rostinho quase emburrado de tão sério, olhando a jardim mal
cuidado.
Intrigada, chego perto para saber o porquê de não estar junto
com as outras. Talvez seja pelo braço enfaixado e atadura na testa.
O que será que aconteceu com ela para estar assim e aqui?
Tento chamar sua atenção com meu melhor sorriso amigável,
mas ela ignora totalmente. Sequer me olha, apenas afasta o
corpinho rapidamente, repelindo minha aproximação. Repreendo-
me mentalmente por ter sido brusca, acabei assustando-a. E sinto
meu coração pesar de angústia, com vontade colocá-la no colo e
mimá-la muito.
Odeio ver criança machucada.
— Qual o seu nome? O meu é Liz. — sento ao seu lado, mas
não obtenho resposta. — Por que não vai brincar também?
Tento avançar, para pôr a mão nos cabelos dela, mas ela se
encolhe tremendo mais uma vez, dando um gemidinho sofrido de
medo ou pavor, me desarmando completamente.
O que será que aconteceu para ela estar desse jeito?
Analiso novamente.
Tem cabelos loirinhos dourados, puxado a um castanho claro
e mesmo um pouco bagunçados, mas vejo que é bem cuidado. A
pele branca tem alguns arranhões fracos. Deve ter uns três anos no
máximo, pois é pequena e cheiro de talco infantil. Ela parece tão
pequenininha e indefesa que sinto necessidade de cuidar, carregá-la
e apertar muito em um abraço.
— Você gosta de chocolate? Eu adoro comer bombom.
Busco de outra forma chamar a atenção dela, mas sem
sucesso algum. Desisto de falar por agora. Ela provavelmente deve
estar me analisando e quando perceber que não corre riscos
comigo, talvez me deixe aproximar. Não sei se essas coisas
funcionam, mas conto com a sorte da psicologia infantil que suzana
me conta.
Ficamos sentadas, lado a lado, caladas observando o nada e
eu pacientemente espero que o silêncio resulte em algo.
— Ei...
Escuto a sua voz suave, um pouco baixo e tenho vontade de
mordê-la. Engulo minha grande vontade de sorrir por ter dado certo
e me viro para ela com a cara mais normal que consigo.
— Oi? — respondo cautelosa.
— Você viu o meu papai?
Pergunta ainda no tom baixo e meio dengosa, coçando os
olhos querendo chorar, me olhando pela primeira vez. Encaro
aquela criança tendo finalmente seus olhinhos verdes, quase
dourados nos meus azuis e sinto meu corpo arrepiar completamente
pela intensidade que trocamos.
O que foi isso?
O seu questionamento me atinge como um soco forte no
estômago e tenho vontade de chorar. Se descubro quem é o pai, eu
mato. É muita covardia e crueldade deixar uma criança assim aqui,
nesse estado. Sem resposta, sinto a garganta secar.
— Você pegou seu brinquedo?
Mudo de assunto, não tendo coragem de contar a verdade.
Esse é o lar dela, me parte o coração, mas também não posso
mentir, não conseguiria plantar expectativas no coração tão
pequeno de uma criança que me olha esperançosa.
Sou muito emocional sim. Estou nem aí se vivo me ferrando
por isso.
Ela nega um tanto tristonha e volta à sua posição inicial me
deixando com mais dó. Começo a contar a ela sobre mim, sobre
minhas irmãs e meus sobrinhos. Conto também do que o mais
velho, Alan gostava de brincar. Até sobre Zeus falei, tentando criar
uma intimidade para mostrar que não era o perigo. Mal me dei
conta das horas se passando até uma mulher avisar que eu não
poderia ficar mais e estava na hora de eles se recolherem para
seguir o cronograma da noite.
A feira já havia terminado, assim como as crianças já tinham
entrado. Abaixo meu olhar para a pequena e mais uma vez, sinto
uma dor enorme no coração, em deixá-la sozinha.
— Suzana tá ainda? Chama ela para mim, por favor. — peço.
— Chamo. E ela não pode ficar mais tempo aqui fora.
Assinto e ela dá as costas logo em seguida nos deixando as
sós. Volto a falar como se nada tivesse acontecido e calada, ela
apenas me escuta. Ao notar a presença de Suzi esbaforida e
sorridente, se encolhe como fez comigo me deixando pior pela
situação que já não está nada boa.
— Jurei que já tivesse ido embora. Até fiquei me perguntando
porque não se despediu. — usa o tom de voz controlado.
Pelo jeito ela já sacou no ar a situação.
Ela sabe de algo.
— Não. Fiquei aqui com ela.
— Já está na hora dela entrar. Eu estou indo embora, vamos?
— põe as mãos na cintura, lançando um olhar desconfiado entre eu
e a bonequinha que nos ignora com maestria.
— Não posso ficar mais um pouquinho?
— Infelizmente não, Liz, mas pode voltar amanhã se quiser.
Assinto mais uma vez com os olhos cravados naquele
pinguinho de gente de novo, que está quieta. Tenho aflição em
deixá-la aqui e voltar para casa. Mesmo sabendo que está sendo
cuidada e supervisionada antes de eu vê-la...simplesmente não
consigo ir.
— Ei...amanhã eu volto, tudo bem?
Aviso, ciente de que não vou ter resposta. A garotinha
obedece à Suzana, descendo do banco sem que ninguém encoste
nela.
— Estou te esperando no carro, Suzi. — comunico, indo em
direção ao portão enquanto ela entra com a pequena.
Entro no carro com um aperto no peito e exaspero. Tomei um
choque de realidade sobre adoção. É, estou sendo precipitada, mas
começarei a cogitar esse assunto mesmo sabendo que dura anos.
Acabei de achar uma motivação na minha vida sem graça. Suzana
entra no banco do carona e repuxa os lábios satisfeita.
— Obrigada por ter vindo, espero que tenha gostado.
— Eu gostei muito! — repondo vaga, mas verdadeira.
— Amanhã não terá feira, mas poderá vir caso queira.
Durante a semana é mais difícil.
Aceno enquanto dirijo.
Não estou me contendo de curiosidade. Ela é a garotinha
mais intrigante que já conheci. Tem algo nela, que sinto necessidade
de cuidar. Faria isso com qualquer outra criança se visse assim,
mas ela tem um jeitinho que eu fico morrendo de dó, não sei
explicar. Tenho vontade de pôr no colo e abraça-la, ou leva-la para
minha casa e não deixar ninguém tocar ou fazer mal algum a ela,
me sinto angustiada.
No meio do caminho, resolvo perguntar.
— Aquela garotinha, qual o nome dela? — questiono
intrigada.
— A loirinha? Segundo o documento que acharam, se chama
Jade. Chegou ontem, tadinha. — comenta com pesar.
Não evito sorrir feito uma idiota por saber seu nome.
— O que aconteceu para ela estar daquele jeito? — indago
preocupada.
— Um acidente na estrada. Não sabemos muito detalhes, só
sabemos que a mãe morreu na hora no acidente, enquanto estavam
atravessando a cidade.
— E o pai? — reflito, com pena, por uma garota tão pequena
ser órfão de mãe.
— Estão tentando entrar em contato com algum familiar.
— Entendo...
Sigo caminho pensando nela e como é que não conseguiu
nenhum contato com a família? Nem o pai? Lembro que foi
justamente dele que ela me perguntou. Que porra de situação ela
vivia para o pai não dar falta? Que pai insensível é este? Mesmo
que eventualmente sejam separados da mãe...ele continua sendo o
pai! Obrigação dele procurar saber todo dia! Estou com uma raiva
que faz meu sangue ferver por pensar na irresponsabilidade.
Entro em casa ainda angustiada e tomo um banho para ver se
relaxo. Mas não consigo por muito tempo. Assisto um filme, mas
continuo tensa, me sinto egoísta de estar aqui e ela lá. O único jeito
é dormir logo para ver se amanhã chega e a vejo de novo.
Não adianta.
Pela manhã acordo com o pensamento nela. Estou me
sentindo péssima por estar daquele jeito, preciso mudar a situação
dela. Eu a imagino comigo com facilidade. É acolhedor a situação
na mesma medida que é louco e até imprudente, eu a vi apenas
ontem e não sei seu histórico familiar. Mas é isso. Não quero ser
racional. Essa hipótese me afaga de uma forma inexplicável, me
sinto animada como nunca senti, como não sentia há muito tempo!
Procuro alguma coisa sobre o acidente na internet, pelos
jornais locais, mas não acho nada, só uma pequena nota falando a
mesma coisa que Suzana me falou junto com a foto de um veículo
muito amassado e sem informações pessoais da vítima. Trabalho
um pouco em casa, pois estou atolada e no final da tarde, sigo pro
shopping, sentindo o vento frio entrar no carro.
Decidi comprar um presente para Jade, já que ontem não
ganhou. E também como um acordo de paz, para perder qualquer
medo de mim. E acabo pegando algumas historinhas das princesas
da Disney, que é o que imagino que criança gosta. Vou direto para o
orfanato, encontrando algumas crianças no pátio sendo
supervisionadas.
Procuro por Suzana sem saber se está aqui, mas logo a
encontro, conversando com uma das crianças maiores. Algumas me
olham curiosas, como da outra vez e cumprimento quem encontro
com sorrisos e abraços. Cumprimento-a e trocamos poucas
palavras. Mas sigo procurando-a no meio, mas não a encontro.
— Liz, ela tá ali, olha.
Ela aponta com o rosto para o lado, e vejo que ela está no
mesmo local de ontem. Sentada com as perninhas cruzadas em
cima do banco, quieta como da outra vez. Agradeço e ando em
direção a ela, tentando controlar minha euforia de vê-la novamente.
— Jade.
Chamo-a com a voz suave e surpreendentemente, ela me
olha, porém continua com a cara séria.
— Voltei para te ver. Você gosta de ouvir histórias?
Questiono sorrindo e ela desconfiada me olha de lado,
impassível. Ainda assim, tiro a primeira história da minha bolsa e
vejo que é da Cinderela. Sento do seu lado e abro o livro com
cheirinho de novo. Sem esperar resposta, pois sei que não terei,
começo ler para ela.
— Era uma vez, uma bela jovem chamada Cinderela, que
vivia com seu pai, um comerciante viúvo muito rico....
Começo, mas Jade não dá o braço a torcer e nem conversa
comigo. Mas pelo menos não me afasta, e logo no meado, percebo
que está prestando a atenção na história que estou contando. Tento
encenar fazendo vozes, fisionomias e gestos para entretê-la quando
percebo que está realmente prestando atenção.
Nenhuma criança é forte o suficiente para ignorar uma história
dessas.
—…O príncipe, sabendo do sucedido, veio imediatamente
buscar a Cinderela, montado no seu cavalo branco e a levou para o
castelo, onde a apresentou ao rei e à rainha. Poucos dias depois,
casaram-se numa linda festa, e foram felizes para sempre.
Fecho o livro. Sorrio para ela que percebe que foi pega no
flagra por estar concentrada, mas vira o rosto rapidamente. Seguro
uma gargalhada na garganta pela reação, porém finjo que não vi.
— O cabelo de Cinderela é loiro, igual o seu, né?
Tento manter conversa sobre coisas aleatórias até que ela
boceja. Percebo que já escureceu e que é acostumada a dormir
cedo. E me toco que passou a tarde sem comer, escutando
historinhas comigo.
Vejo Suzi acenando para mim de longe, apontando para o
pulso, mostrando que está na minha hora, infelizmente. Mostro o
polegar e olho para Jade que está olhando nós duas conversamos
de longe por sinais.
— Amanhã eu venho de novo, tudo bem?
Aviso quando levanto para ir embora e Suzi chega para
buscá-la. Preciso antes falar com a diretora daqui. Apanho seu
livreto e estendo para ela pegar, mas não estende a mão e dou a
Suzana que acena, a levando e sigo ao lado.
— Você já pensou no apadrinhamento? — pergunta.
— O que é isso? — questiono me interessando.
— É alguém que queira auxiliar e acompanhar a vida de uma
criança. Não tem nenhum vínculo jurídico. A diretora pode
esclarecer.
Assimilo o que disse, colocando meus cabelos atrás da
orelha.
— Ela está aí? Queria bater um papinho com ela.
— Tá. Venha, eu te levo.
Dentro do velho casarão, sou indicada a seguir para sala da
diretora, uma mulher de cinquenta e poucos anos, que me recebeu
cortês se apresentando como Antônia. Sento-me de frente para ela
depois de me apresentar e lhe cumprimentar no aperto de mão.
Encaro a mulher com semblante sereno e curioso. Ela tem
cara de avó que faz bolinho de chuva.
— Então! Queria saber mais sobre Jade. — dou meu melhor
sorriso.
— Não sei se posso dizer muita coisa, pois o caso está no
Judicial ainda e não sabemos se ela vai ficar aqui.
— Por favor? Eu sou amiga de Suzana e vim ontem e hoje. —
faço minha melhor carinha de pidona — É que me encantei por ela.
Suplico mais um pouquinho e ela acena suspirando, rendida.
— A garotinha foi encaminhada para cá há dois dias, por
conta de um acidente na estrada, não sabemos muito sobre sua
situação, estamos em busca de algum familiar para resolver isso,
mas caso ninguém apareça, ela ficará para adoção. — comenta
deixando os lábios em uma linha fina.
— Só souberam isso? — mordo os lábios.
— As hipóteses do juizado, é maus tratos, por causa do seu
comportamento recluso e arisco...que inclusive a mãe estava
fugindo do pai, o agressor no caso. Mas nada é concreto, ainda está
em análise e o procurando para esclarecimentos. Se for confirmado
isso, ele perde a tutela sobre ela e responderá processo judicial.
Sinto incômodo e uma raiva se apossar rapidamente no meu
corpo a ponto de eu travar os dentes.
— Entendo. E sobre esse apadrinhamento? Como é?
— Apadrinhar afetivamente uma criança é permitir que ela
passe algum tempo com você, por alguns períodos, um dia da
semana ou o final de semana.
Não evito sorrir em pensar em Jade indo para minha casa
para brincar com Zeus e Alan.
— Mas Jade não pode.
Que banho de água fria!
— Por quê? — questiono confusa.
— O mínimo para participar é seis anos. E só crianças que
não tem possibilidade de retorno à família de origem. E ela tem.
Primeiro a criança deve ser destituída de sua família biológica.
Murcho um pouquinho por isso e meu coração dói em pensar
a família voltando e não deixando vê-la mais.
— E adoção?
Sigo meus impulsos, sem nem saber se vou ter algum tipo de
avanço com Jade e ela gostar de mim, para querer morar comigo.
Sequer sei como vivia antes. Mas quero que se sinta amada,
acolhida e suprida de qualquer rejeição e falta de amor que tenha.
Quero ela perto de mim e pronto.
Não existe lógica quando o coração fala mais alto.
— O caso dela ainda está aberto. Você pode tentar quando
fechar.
— Entendo. — aceno.
— Mas tem o apadrinhamento provedor. — me olha
segurando uma caneta.
— Como assim? — franzo as sobrancelhas.
— Contribuir mensalmente com uma quantia financeira. Você
pode ajudar com qualquer coisa que faça a estadia dela ser um
pouco melhor. Ela só não pode sair daqui.
— Como faço para participar, é só vim trazer? — me
interesso.
— Tem cadastro direitinho, apesar de não ser reconhecido em
fórum. Você pode interromper a qualquer momento o
apadrinhamento e retornar posteriormente.
Despedimo-nos, comigo prometendo trazer os documentos
necessários na próxima visita para o cadastro. Encontro Suzana me
esperando.
— Achei tão bonitinho sua paciência com ela, Liz. — comenta
andando do meu lado.
— É. Ela só precisa de tempo. É só uma criança.
— As duas noites aqui, ela chora para dormir e tomar banho.
No primeiro dia ela fez um auê para não dormir que acordou
algumas crianças. Dormiu sozinha, de puro cansaço, no tapete do
quarto.
Seu relato me deixa angustiada por ela estar passando por
isso. Será possível que ela não tem nenhum familiar para olhar por
ela?
— Eu imagino. — a única coisa que verbalizo com a garganta
seca.
Mais uma vez sigo para casa pensando sobre Jade e que
farei amanhã para me mais aproximar dela. Só sei que estou
empolgada e esperançosa de ter um contato a mais e saber para
onde essa história vai me levar.
3
LIZANDRA
A redação está uma loucura, cada redatora focada, sentada
na sua cadeira, de frente ao computador escrevendo efusivamente.
Temos que fechar ainda essa semana e começar o planejamento do
próximo mês.
Acabei de voltar do horário de almoço, comprei umas roupas
para Jade, porque não resisti e entrei numa loja infantil. E também
uma boneca da Disney, a Cinderela, porque parece com ela e foi
tema da leitura de ontem.
Subo para minha sala, com uma resma de fotos para
selecionar e anexar nos materias. Mas sou avisada no meio do
caminho que Scarlet está me chamando na sua sala. Sigo, já
sabendo que é algum problema para resolver. Depois de dois
toques, e escuto ela me mandar entrar, a encontrando na sua pose
sempre séria atrás da mesa. Nunca vi essa mulher sorrir. Ela aqui é
conhecida como megera. Mas ela sabe e nem liga. E eu estou nem
aí, tanto quanto ela.
O que ela tem de bonita tem de gente ruim, então já
perceberam que a filha da mãe tem uma beleza desgraçada. Mas
eu não a acho tão ruim, e só não a provocar. Eu a odeio às vezes
apenas. Normal!
— Me chamou? — faço a pergunta retórica, depois que ela
apontou para que eu sente a sua frente.
— Quem autorizou essa matéria?
Mostra-me uma via de rascunho. Droga! Não acredito que
rodaram a matéria errada.. Pelo menos, estando na fase de teste
final, não foi a definitiva a rodar com suas milhares de cópias.
— Ninguém, a senhora autorizou a outra pelo que me lembre.
— esclareço também confusa por estar essa matéria e não a outra.
— Pelo jeito não foi bem assim que entenderam. — dá um
pequeno sorrisinho debochado e engulo o palavrão na garganta.
— Vou corrigir o erro antes que as outras sessões fechem e
rodem a revista completa.
— Não esperaria outra atitude sua. — acena imponente.
Sou liberada da sua sala, neutralizando minha raiva. Apesar
de eu trabalhar em constante parceria com ela pelos nossos cargos,
não temos intimidade alguma, ela sempre deixou evidente esse
afastamento. Apresso para fazer o que disse de uma vez!
No final do expediente mesmo cansada sigo para ver Jade,
rezando que dê tempo, nem que seja meia horinha, já que saí
atrasada da revista para resolver problema que não fui eu quem
causei.
Bato no portão de ferro para alguém me atender. O pátio está
vazio e Suzana vem atender, já pronta para ir embora.
— Dá tempo?
Ela apenas sorri e abre o portão para mim.
— Normalmente não, mas abro essa exceção. Ela passou o
dia inteiro te esperando no banco. Tomou café lá mesmo, porque
não quis ficar depois do banho, não teve quem fizesse a tirar. —
comenta enquanto andamos.
Abro um grande sorriso por isso. Será mesmo que ela está
me esperando ou foi só por costume?
— Suzi, eu posso te ligar durante o dia? Para me dizer sobre
como ela está passando...
Ela demonstra uma grande felicidade assentindo. Sim! Eu
estou parecendo uma perseguidora louca para cima de Jade, mas
estou nem aí. Quero garantia que ela está bem.
— Pelo jeito você foi nocauteada por uma miniatura de gente.
— faz graça e é minha vez de assentir.
Avisto Jade de vestidinho e Suzi me avisa que não poderei
ficar muito tempo. Avisei antes de irmos que iria na diretoria para
fazer o cadastro.
— Oi, pequena. Trouxe um presente bonito para você, gosta
de presente?
Sinto seu cheirinho gostoso de neném pós-banho. Adoro esse
aroma dela. E percebo que o curativo da testa foi devidamente
trocado. Desconfiada, ela me olha de lado, impassível e ainda
assim, lhe mostro a caixa. Quando acho que vai me deixar no
vácuo, ela aceita, estendendo o braço bom timidamente, titubeando
se pegaria, balançando as perninhas para fora do banco.
— Bonita, né? Sabia que ela é a mesma da historinha? —
comento.
Sento ao seu lado colocando minha bolsa no chão, em cima
das sacolinhas de roupa que trouxe. Vejo que ela está tentando abrir
a caixa com uma mão e sorrio satisfeita por ela ter gostado.
— Quer que eu ajude?
Pergunto solícita e ela me olha séria, acena positivamente
meio tímida ainda, me surpreendendo mais uma vez. Opa! Acho que
alguém está indo com minha cara aqui. Entrego-lhe a boneca, que
examina.
— Olha que eu tenho aqui. — arregalo os olhos mostrando
um pacote de cookie.
Abro e coloco entre mim e ela para ela comer enquanto conto
uma nova historinha, a de Rapunzel.
— Era uma vez um casal que há muito tempo desejava
inutilmente ter um filho. Os anos se passavam, e seu sonho não se
realizava. Afinal, um belo dia, a mulher percebeu que Deus ouvira
suas preces. Ela ia ter uma criança!....
Faço cara de surpresa e ela arregala os olhos arqueando as
sobrancelhas me dando vontade de gargalhar. Desenvolvo a história
para ela que aos poucos timidamente, começa a comer o
biscoitinho. Enceno como da outra vez fazendo vozes, gestos e
fisionomias para entretê-la que presta atenção totalmente em mim, e
só desvia o olho para buscar um cookie do pacote.
— ...Rapunzel, ao vê-lo, correu na sua direção, chorando. Ao
abraçá-lo, as lágrimas da Rapunzel inundaram-lhe o rosto e
molharam os seus olhos cegos, que imediatamente se curaram.
Finalmente estavam juntos assim, os dois jovens foram para o
palácio do príncipe, se casaram e viveram felizes.
Concluo e percebo que no pacote só tem o farelo de biscoito.
Pelo jeito temos uma ratinha de chocolate aqui! Percebo que a boca
dela está suja do lado e levanto a mão para limpar em reflexo, mas
me contenho.
— Limpa aqui, ó.
Aviso, fazendo o gesto em mim, mas ela se aproxima, para
que eu limpe, me deixando completamente surpresa. Passo meu
dedo da forma mais leve possível. Agora quem tem medo do toque
sou eu. Limpo rapidamente sorrindo para ela e mudo o foco, mesmo
me sentindo orgulhosa do avanço.
Mostro a capa de Ariel, para saber se ela quer que eu leia
mais um e ela acena, bocejando, segurando a boneca que dei. Pelo
jeito está tarde para ela já, mesmo assim começo a contar. Mas me
derreto completamente quando ela me chama, com a vozinha mais
fofa que existe, avisando que está ‘’com fio’’ e sinto vontade de
mordê-la. Dou-lhe o meu casaco, ajudando-a vestir, e a peça fica
enorme em seu pequeno corpo.
Depois disso continuo a ler em pura empolgação e percebo
que está quietinha demais e minha perna está nitidamente pesada.
Tiro minha atenção do livro para vê-la cochilando com a cabeça
repousada nas minhas coxas, abraçada a boneca. Como alguém foi
capaz de machucar esse toquinho de gente, meu deus!
Chamo-a em tom baixo pelo nome, que abre os olhos
sonolentos. Quando acho que vai sentar, ela se arrasta mais um
pouquinho largando a boneca e vindo para meu colo procurando
aconchego.
Fico surpresa e confusa. Mas não deixei de gostar, mesmo
sem saber se ela fez isso porque quis ou por causa do sono.
Enrosco-a nos meus braços sentindo uma coisa inexplicável se
apossar do meu corpo ao abrigar seu pequeno peso no meu peito.
Se eu estivesse alguma dúvida que a quero para mim, acabou de
ser sanada.
Percebo que pode chover a qualquer momento. Mas não
quero levantar agora para colocá-la lá dentro. Olho o rostinho dela
que para mim os traços já são familiares. Sorrio boba e não resisto
em tirar uma foto assim. Beijo suas mãozinhas e sua bochecha,
sentindo a textura macia da sua pele.
A foto se transforma em minha nova proteção de tela.
Rendo-me para que não fique gripada, levanto com cuidado
para não a acordar, que me abraça pelo pescoço, manhosa, com o
rosto na curva, fazendo com que eu me sinta bem. Suzana aparece
para me chamar, tenta tirar Jade do meu colo, mas eu nego.
— Pega a bolsa para mim e a boneca, eu a levo.
Concorda me ajudando. O vento realmente está gelado. Se
estou com frio? Estou, mas foda-se! O importante é ela está
quentinha no meu colo.
Andamos em direção ao casarão; peço para colocar ela na
cama e me levam para o que chama berçário, que é algumas camas
e berços, onde fica os meninos pequenos. Deito-a na cama, com
meu casaco mesmo e coloco a boneca do lado e enrolo. Não resisto
em dar um beijinho na sua bochecha e saio mais silenciosa que
consigo para não acordar ninguém.
Pego minha bolsa na mão de Suzi e sigo para sala da
diretoria. Apresento os documentos depois de fazer a inscrição e
entrego as roupinhas que comprei para ela. Sou atualizada do caso
dela, que continua na mesma : ainda estão tentando entrar em
contato com alguém. Mesmo com essa notícia, saio de lá me
sentindo muito feliz.
Até o estresse que passei na revista se tornou pequeno!
Dois dias se passaram e eu e Jade conseguimos ter uma
ligação a mais. Agora ela me deixa chegar perto e sempre me
espera chegar do trabalho. Ontem estava com uma roupa que dei e
o casaco, que virou dela, pois fica para cima e para baixo usando.
Confesso que adorei quando vi e Suzi me contou que ela não
quis que ninguém pegasse de volta, muito menos a boneca, que
dormem juntas.
Até me agradeceram pela minha paciência com ela, porque
mesmo eu chegando fora do horário, me deixam entrar, pois já me
conhecem. Jade esses dias está dormindo no meu colo, sem birras.
Também está mais obediente, só não deixa ninguém tocar
muito nela nem se enturma, se mantém calada. Brinca sozinha com
a boneca que dei e passa as tardes com os livretos, mesmo não
sabendo ler, apenas folheando vendo as imagens. Ah! Ela tem dois
anos, perguntei a diretora.
Eu a conheço a menos de uma semana, mas já sinto uma
ligação tão forte!
Mordo a caneta, vendo a revista completa. Hoje é dia de
fechamento, e preciso revisar pela enésima vez, antes dela ser
enviada para a gráfica rodar as tiragens superiores a um milhão de
cópias, afinal saiu recentemente uma nota, que aqui é a revista com
maior circulação nacional. Já perceberam o grau de pressão que é,
para mim, revisar antes de Scarlet fazer o mesmo e dá o sinal verde
para rodar esse tanto de cópias da revista.
Mudo a atenção para meu celular que acendeu sozinho e
sorrio, ao ver a foto dela dormindo no meu colo. Impossível não se
apaixonar, mal posso esperar pelo final de semana para lhe dedicar
mais tempo.
Já fazendo parte da minha rotina, saio da revista e sigo para
vê-la. Praticamente de passe livre, apenas cumprimento por quem
passo, seguindo para o mesmo local de sempre. Ela me recebe com
um sorriso lindo de dentes miúdos, um sorriso de verdade, com
lábios esticados e covinhas à mostra, deixando as bochechas mais
gordinhas e eu me derreto ali mesmo, com o coração acelerado e
aquecido.
Ela sobe no banco, se jogando no meu colo e eu agarro no ar,
surpresa. Ela ri escondendo o rosto logo em seguida me fazendo rir
junto. Como não querer morder uma coisa dessas?
Esses momentos nossos fazem bem para ela, quanto faz
para mim!
Por isso, durante o resto da semana nossos laços se
estreitam cada vez mais. Jade agora fala, pelo menos comigo.
Perguntou outras vezes pelo pai, me deixando angustiada, mas
sempre mudei de assunto. Lemos praticamente todo o livro de
historinhas da Disney todo. E Cinderela é realmente seu preferido.
Ontem dei um caderno de colorir e uma caixa de lápis de cor.
Saí da livraria parecendo uma revendedora de tantos livrinhos que
comprei para ela e as crianças do orfanato, fora meus sobrinhos. O
curativo da testa já saiu e só está uma marquinha tímida que em
breve vai sumir, pois não levou ponto, foi só um arranhão feio, assim
como o braço que agora está só na tipoia. Mas mesmo antes, isso
não a impediu de aprontar todas quando está comigo.
Penso que ela é tão familiar já, que não lembro como era
minha vida semana passada. Mas mesmo com todas essas boas
novidades, nenhuma é páreo para a notícia que recebi no almoço.
Deveria estar feliz e não desesperada como estou. Suzana me ligou
porque encontraram a família dela, seu pai. Eu torcia que isso
acontecesse, para que ela não tivesse sido rejeitada, mas agora
meu lado egoísta de querê-la só para mim está amedrontada em
nunca mais vê-la.
Até estou pensando na hipótese de caso revoguem sua
guarda, irei pedir para que passem para mim. Contudo, estou
ansiosa para encarar esse tal familiar.
Com o coração na boca e pernas trêmulas, afoita, adentro
pelo portão, quero vê-la antes de tudo, e saber as condições que
será com essa chegada. Sequer tive cabeça para terminar meu
expediente, sai mais cedo, sem esperar dar o horário.
— Lizandra. — Suzi, séria, me intercepta.
— Oi. Ele chegou? Cadê Jade? — disparo as palavras.
— Jade está lá dentro, e ele está com Antônia na sala.
Sinto minhas pernas tremerem ainda mais, angustiada e
nervosa por saber disso. Não consigo conter meu frio na barriga.
Céus!
Jade chega correndo, provavelmente por ter escutado minha
voz e a agarro no meu colo, e sorrio totalmente besta, enquanto ela
me olha com rostinho sapeca. Sequer parece a mesma da semana
anterior. Essa menina está se tornando cada vez mais especial para
mim, já ganhou um espacinho do meu coração.
Aproximo meu rosto para que ela me dê um beijo, porque
agora eu aproveito essa intimidade e ela dá, e eu a amasso no meu
colo, com todo o amor que tenho por ela. Tenho vontade de apertá-
la até não aguentar mais, ou sair correndo para ninguém tirá-la de
perto de mim. Meu coração dá um aperto em pensar em ficar longe.
Eu não aguentaria.
Escuto Suzana elogiar nossa interação e sorrio em
retribuição, enquanto Jade me conta que seu pai está aqui. Meu
peito aperta cada vez mais. Decidida a espantar essa sensação,
faço cócegas na sua barriga e ela gargalha, se agitando, mostrando
os dentes miúdos.
— Olha ele aí. — escuto Suzi anunciar o sujeito.
Perco o sorriso, parando de brincar com Jade e sinto como se
estivesse entrando num mundo paralelo, ao encarar o sujeito na
minha frente, a pessoa que jamais jurei ver novamente em toda
minha existência.
Cretino!
4
JÔNATAS
Horas antes...
Atravesso a cidade num tempo recorde, sentindo meu mundo
desabar com a notícia devastadora. Estou angustiado e enraivecido
na mesma proporção. Já vi que confiança é uma cadela, não se
pode vacilar um segundo sequer que é crucial. O gosto ácido de
remorso me angustia de uma forma péssima, temendo encontrar
Jade machucada de forma grave, e espero de verdade que não, que
a irresponsabilidade de Raquel não tenha trazido consequências tão
graves, pois eu faço o diabo ressuscitá-la para dar conta do
estrago.
E eu sequer sabia, que indo em direção a cidade vizinha, para
resolver esse problema, seria só a ponta do iceberg de confusões.

LIZANDRA
Encaro o homem totalmente diferente do nosso último contato
com seus mesmos cabelos loiros. Vestido formalmente, agora de
barba. O olhar verde continua penetrante. Parece tão mais...homem
e maduro. Menos menino e mais homem, encorpado, forte.
Estava na minha cara! Como não percebi que eles dois tem a
mesmas características praticamente? Sua expressão confusa
mostra que ele também não esperava me encontrar aqui.
— Liz? — por pouco suas sobrancelhas não se unem.
Sinto o coração gelar, numa taquicardia fina, por ouvir sua voz
novamente e constatar que sempre soa diferente quando ele me
chama, parece que...é diferente como as pessoas costumam
chamar. E como sempre, tem o mesmo efeito, faz meu coração
idiota acelerar.
Eu nunca quis que o ver novamente, porque sempre tive
pavor de imaginar como eu reagiria ao seu reencontro.
— É Lizandra, Jônatas.
Não consigo nem disfarçar meu desprazer de vê-lo, apesar de
não estar nem um pouco a fim de disfarçar mesmo. Como esse
idiota tinha que ser pai dessa coisa linda que vem dando cor aos
meus dias? Suzi pega Jade do meu colo e me amaldiçoo por me
sentir desprotegida, sob seus olhares, sem tê-la nos meus braços.
Quer dizer que ele virou pai? Quer dizer, é óbvio, já se
passaram muitos anos, normalmente é seguir a vida, casar, ter filhos
e esquecer do passado.
Ninguém é igual a mim que sofre pelos corações partidos até
hoje!
Censuro-me, tentando manter a cabeça no lugar, sem deixar
esses pensamentos me invadirem em momento inapropriado.
Disposta a ir embora e não discutir com ele, pois se for para deixar
minha raiva sobressair, vai dar merda, decido deixar para depois
minha conversa com Antônia. Percebo que sequer Suzi está aqui
para que eu me despeça dela e de Jade e resolvida, dou as costas.
Sinto meu cotovelo ser segurado, fazendo com que eu pare
de seguir meu caminho e me viro, já com a raiva entalada na
garganta.
— Não precisa fugir, Liz. — arqueia as sobrancelhas com um
início de sorriso. Desgraçado! — Quanto tempo, hein?
Permaneço séria, sem qualquer menção de sorriso, afinal, a
última vez que nos vimos, estava em dedo em riste no seu rosto,
chorando como nunca, lhe prometendo que estava saindo da minha
vida para nunca mais voltar. Que não era para cruzar meu caminho,
pois eu o odiava na mesma proporção que até então o amava. E eu
o amei muito. E até então, eu cumpri minha promessa. Mas não é
nosso relacionamento que estou enraivecida, isso é passado, e sim
a sua crueldade com a própria filha. Estou enojada e indignada com
tudo. Como ele foi capaz?
Sem me controlar acerto um tapa na cara dele que estala e
seu sorriso cretino some no mesmo momento. Ele coloca a mão no
rosto e vejo seu maxilar ranger.
— Como foi capaz de deixá-la num orfanato quase uma
semana, seu idiota?! — esbravejo, não me contendo.
— Qual o seu problema? — rebate e vejo fúria nos seus olhos
e a raiva é visível no seu tom de voz que mudou completamente. —
Você não sabe o que está falando!
Ainda ficou putinho? Ah, vai se ferrar! E olhe que nem joguei
na rodinha sobre as agressões.
— Como você foi capaz, Jônatas? Eu sei o suficiente, que
chegou machucada e sem contatos de familiares por uma semana.
Que tipo de pessoa é essa que você se tornou? Ela é só uma
garotinha! Espero, de verdade, que você nunca mais a veja.
Vocifero trêmula de nervoso e ódio dele.
— Não venha querer dizer o que não sabe, Lizandra. Se é tão
boa mãe, vá cuidar dos seus próprios filhos!
E sua frase me cala e recuo, magoada e com vontade de
repente de chorar, mas não irei fazer isso na sua frente, ele não tem
que saber que fui afetada pelo que disse. Totalmente péssima, com
a sensação que vou desabar em choro a qualquer segundo lhe dou
as costas mais uma vez em direção a saída, não dando conta de
segurar as lágrimas, e dessa vez ele não me segura. Ainda bem.
Acho que depois de hoje não vou podê-la ver mais. Que
merda! Para mim nada dá certo!

A reunião de pauta do próximo mês rola sem que eu preste


atenção, só consigo repassar a noite de ontem como um looping
infinito, tentando de toda forma colocar os últimos acontecimentos
numa espécie de delírio. Tinha que ser ele? Justo ele o pai dela?
Desde então me sinto angustiada, e ainda magoada pela
nossa discussão, na verdade, suas palavras. Estou temendo perder
o avanço com Jade com essa aparição dele, não aguentaria me
separar dela, assim tão bruscamente. E sobre ela ser filha dele,
para mim não faz diferença alguma, eu enxergo apenas Jade, o
afeto que sinto por ela e nada mais, não importa quem a fez.
A única coisa que me acalenta é o processo que está
correndo. Apesar de tudo, não desisti do processo de adoção,
alguma chance eu tenho que ter.
— E você Lizandra? Qual seria um bom tema para abordar
no especial?
Scarlet com seu olhar afiado me encara e percebo que a
redação inteira também. Mês que vem é edição de aniversário da
revista e será uma edição especial, e percebo que preciso de uma
assistente urgente. Olho meus papéis de anotação que fiz semana
passada com ideias, leio rapidamente para me achar.
— Sátira. Acho válido ironizar as últimas edições da
concorrente, as mais bizarras, principalmente aquelas sobre
comportamentos femininos. Acho interessante inverter isso. E se
fizéssemos um guia do homem perfeito no mesmo padrão que
essas revistas fazem das mulheres, colocá-los na mesma
condições? Nada mais interessante que uma revista feminina
ironizar justamente isso.
As pessoas ficam em silêncio assimilando minha ideia para
tema. Estou esgotada dessa chatice e nem é meio dia ainda. Scarlet
faz uma cara pensativa, talvez considerando o que eu disse.
— É justamente por esse motivo que você ganhou a
promoção, Lizandra, sempre sagaz!
Sorrio de lado, satisfeita por ter contribuído, mas mesmo ela
me elogiando assim na reunião, não melhorou meu humor. Desligo
meus ouvidos mais uma vez e isso foi por mais uma hora, até que
se dar por encerrada e junto minhas coisas, disposta a me afundar
no trabalho até que dê no final do expediente.
— Lizandra. — Scarlet me chama e reviro os olhos
internamente. Hoje não estou bem!
— Pois não...
— Antes de ir embora, passe na minha sala.
Concordo, já imaginando qual será o motivo dessa vez. No
meu horário de almoço ligo para Suzana para me atualizar enquanto
não chego, mas as notícias foram desanimadoras. Jade não quis
falar comigo e Jônatas estava com Antônia mais uma vez. De
repente ele chega, e estraga todo o meu relacionamento com a
pequena. Se isso tiver dedo dele, eu juro que não deixarei barato.
No final do expediente, como fui solicitada, subo para a sala
da minha chefe a encontrando, como sempre, séria e ocupada.
Ultimamente já visitei essa sala mais que gostaria.
— Porque saiu mais cedo ontem? — cruza as mãos em cima
da mesa.
— Eu precisei resolver umas coisas. Uma menina no orfanato
para ser exata.
— E.…não poderia ter ido vê-la depois?
Conto a ela sobre Jade e a situação em si, como a conheci,
meus planos, sem mencionar que o pai dela é um ex babaca que
namorei. Fui totalmente sincera com minha chefe cascuda, afinal,
ela sabe sob minha incapacidade de engravidar, eu estava aqui
quando me senti mal.
— Vai precisar de advogados? Posso disponibilizar.
Mostra-se solícita, mas mantém sua pose. A megera tem
coração?
Acho que estou em um mundo paralelo ultimamente, afinal,
se fosse em dias comuns, ela apenas me avisa que já tinha
justificado e que poderia ir.
— Obrigada. Mas no momento não sei de muita coisa.
Sou liberada e sigo pro orfanato, mas antes compro uma
bebida para Jade. Apreensiva, adentro os portões de ferro, não
querendo encontrar Jônatas. e prossigo até encontrá-la sentada no
local de sempre, com cara amarrada e braços cruzados.
Chamo-a, mas não olha e ainda fecha, me ignorando, como
se não estivesse me vendo. Frustrada, respiro fundo para tentar
entender sua birra. Com toda calma do mundo, sento ao seu lado e
sem ela esperar, puxo pro meu colo, de frente para mim, enquanto
ela se bate, tentando me fazer soltá-la. Mas que menina turrona!
— Porque está assim hoje?
Ela para de tentar sair do meu colo e me olha com os braços
cruzados fazendo biquinho, tremendo o queixo, para começar a
chorar. E tento entender, tudo isso começou quando Jônatas
apareceu ontem, será que ela lhe enxerga como ameaça por
alguma atitude dele? É a única coisa que vem na minha mente, uma
vez que ela estava normal comigo esses dias, até ele aparecer.
— Conta para mim, boneca.
— Você não deu tchau a ‘’eu’’ ontem!
Explica numa voz magoada, sofrida, já soluçando com as
bochechas vermelhas, com lágrimas caindo e os bracinhos
cruzados, me dando mais dó. Eu realmente não me despedi dela
ontem, saí magoada que sequer lembrei desse fato. Sem querer, a
deixei de lado, sem lembrar que poderia sentir falta disso, pois
esses dias estava dormindo comigo. Sem evitar, sorrio pela sua
carência e manha, sentindo minha falta.
— Perdoa, boneca. Eu prometo que nunca mais esqueço,
tudo bem?
Tento um acordo, mas ela permanece de biquinho, com os
olhos molhados, me examinando, para saber se deve aceitar. Onde
saiu tanta personalidade nesse toquinho de gente?
Mas ela para o fim, concorda, limpando os olhos com as mãos
e ajudo a limpar, abrindo meus braços para receber um abraço e ela
vem, repousando a cabeça no meu peito e eu aperto seu pequeno
corpo contra o meu, suspirando serena e satisfeita, sentindo seu
cheiro de colônia de bebê.
Como vivi minha vida sem ela?
— Trouxe seu suco, quer? — averiguo se está com fome.
Dou um beijo nas suas bochechas quando ela senta de novo
para me responder, mas ela nega com a cabeça, mostrando uma
fisionomia sapeca, pedindo por ‘’Tindelela’. Pelo jeito, ela nunca vai
cansar desse livro!
— Só vou contar se tomar.
Barganho, porque quando falei com Suzi meio dia, ela me
disse que fugiu do almoço. Largou o prato cheio e saiu correndo. Ela
faz biquinho, pedindo ‘’chocoiate’’ junto com um olhar de gatinho,
que é praticamente irresistível.
— Não. Só amanhã, se tomar o suco.
Doce é com ela mesmo. Se der biscoito recheado ela come
que é uma beleza, agora qualquer comida de verdade, corre.
Entrego o suco e ela se aninha no meu colo, enquanto eu pego a
história da bendita ‘’Tindelela’’. Estou aqui, mas meu pensamento
está na conversa que quero ter com Antônia que não tive ontem.
— Com sua varinha, ela transformou uma abóbora em uma
elegante carruagem. Cinderela podia ir ao baile, mas seu vestido
continuava arruinado.
— Bibidibobidi...booum!!!
Jade entra pelo meio narrando levantando os braços no
''boom''. Gargalho, pois até ela já gravou onde fica cada cena. Ela
não demora a adormecer e a ponho no berçário e sigo para a
diretoria, para ouvir de Antônia que tem poucas atualizações do
caso e que só em breve para me contar o andamento, mas adiantou
que Jônatas está já resolvendo o processo.
Desorientada, atravesso o portão, traçando minhas possíveis
ações quando tiver informações concretas, e acabo me batendo em
alguém, dando dois passos para trás e ser segurada pelos ombros.
Levanto o olhar para ver justamente o dito cujo: Jônatas.
Surpresa, percebo que seus dois braços são fechados de
tatuagens diversas. Onde não tem tecido tem desenhos coloridos.
Seus dedos quentes estão fincados na minha pele e sem entender,
percebo uma pontinha ansiosa se instalar pelo meu corpo, ao ver
sua ação de dá mais um passo.
— Dá pra me soltar? — indago agressiva, tentando puxar
meu braço.
— Quero conversar com você. — uma linha apareceu entre
suas sobrancelhas que se juntaram.
— Não vamos conversar.
Sua expressão endureceu me encarando, fazendo com que
eu levante meu olhar.
— Porque está agindo dessa forma, Liz?
Comenta chegando mais perto e solto minha mão de
imediato.
— Lizandra. Não somos íntimos e não te devo satisfações,
Jônatas!
Nos encaramos brevemente, até ele relaxar os lábios,
repuxando devagar e sei que vem besteira da sua boca.
— Não quis falar na frente de Jade, mas ficou gostosa, hein?
Bundão! — ele pisca para mim e o encaro, totalmente descrente da
sua cara de pau, sentindo de repente uma garotinha, corando
ridiculamente.
— Cretino! — vocifero e tento passar, sem sucesso
novamente. Encaro-o com os olhos praticamente saindo faísca, mas
ele permanece sereno.
— Gostosa! — Retruca de imediato, insolente, e me faz corar
novamente.
Raivosa, lhe deixo sozinho, para não me estressar ainda
mais. Sinto um tapa ser acertado na minha bunda e cética que ele
foi ousado a esse ponto, me viro de vez para trás, para encará-lo de
braços cruzados e apenas pisca na minha direção, sorrindo
convencido a ponto de mostrar suas covinhas que tanto gostei um
dia.
— Cretino!
Acerto pela segunda vez um tapa na sua cara, para ele
entender que não quero gracinhas comigo e que não temos
intimidades alguma mais e se encostar em mim sem permissão não
irá sair ileso.
Era só o que me faltava, não basta ter voltado, ainda insiste
em se manter presente.
5
JÔNATAS
Afinal, o que Lizandra fazia aqui no orfanato essas duas
vezes?
Descrente, vejo a mulher seguir em passos duros, quase
marchando, com uma bela bunda rebolando, que não tinha na
minha época. É inacreditável reencontrá-la assim nessa situação
depois de anos, agora ela acha que sou um monstro que não me
preocupo com minha filha.
Mas não deixei de perceber que a desgraçada continua
petulante e ainda mais bonita. Antes ela era praticamente tábua e
hoje está com um corpo mais acentuado, com peitos volumosos. Os
cabelos que antes eram bem maiores no qual eu puxava quando
passava por mim, por saber que ela odiava, agora estão menores.
Está mais mulherão. Deu até vontade de um revival.
Mas também irritado pelo tapa do dia anterior. A
personalidade atrevida continua, pelo jeito. O próprio diabo de saias.
Reencontrá-la me faz lembrar o moleque que fui na nossa época e
isso me deixa estranho.
Decido seguir para conversar com Antônia e ver Jade. Estou
confiante depois de sair do fórum hoje. Foi uma manhã intensa de
questionamentos, depois de ter passado na delegacia para ter
detalhes do acidente, já que foram eles quem encontraram o carro
de Raquel. Fui com meu advogado, um amigo meu que veio mais
que rapidamente quando lhe contei a situação, para me auxiliar no
processo, afinal, eu não posso me defender.
E só consigo pensar no pepino que tenho que resolver depois
daqui. Vou ter que ficar na cidade até se resolver tudo da guarda de
Jade para irmos para casa. No momento agora eu preciso ganhar a
liminar da guarda provisória para encerrar o processo e voltar para
casa com ela e apagar que isso um dia aconteceu. Estou rezando
que meu advogado me comunique o quanto antes, e com notícias
boas. Liguei para meus pais, que ficaram chocados com a notícia, já
que precisou ficarem com minha irmã que está para ter bebê.
Essa porra não poderia estar acontecendo, na moral. Jade
num orfanato a vários quilômetros de distância. Intimação do
conselho tutelar para prestar esclarecimento. Quatro dias que
precisei viajar a trabalho e ela me apronta uma dessas! Porra!
Mas minha confiança é que minha situação não está tão ruim
como previ, a melhor coisa que eu fiz foi ter um processo de guarda
total contra Raquel. Por que fiz isso? Porque não confio Jade com
ela e tenho meus motivos. E vi que a melhor coisa que fiz foi
terminar de vez o nosso ioiô.
Namoramos por dois anos, estávamos já por um fio, num
relacionamento turbulento quando se descobriu grávida, e foi toda
aquela felicidade, passamos por cima de tudo, voltamos ser casal, a
trouxe para morar comigo. Fiz a minha obrigação. Mas ao decorrer
dos meses, via que Raquel não queria ser mãe, usou a gravidez
para não terminarmos, já que ela era não queria. E voltamos a ser o
que éramos, duas pessoas se estranhando, dessa vez dentro da
mesma casa com uma criança prestes a nascer.
Até que logo depois que Jade fez um ano, decidi romper de
vez, pois via que não tinha mais como lutar por uma coisa
fracassada, ela não tinha paciência e não queria que minha filha
crescesse nessa situação, mas ainda assim, prezando por uma boa
amizade. Ficou morando comigo, não houve sequer brigas por esse
acordo, mas ainda assim, ela tinha o direito de visitá-la, porque era
mãe. Os pais dela iam lá, tentava nos fazer reatar, porque
aparentemente Raquel era uma nova pessoa, estava tentando se
aproximar de Jade, mas não dava mais para mim.
Estava começando a ter fé nela, depois de uma conversa que
tivemos sobre a depressão pós-parto. Até me pediu desculpas sobre
seu comportamento, porque queria deixar o passado para trás e
decidi deixá-la se aproximar de Jade, afinal, minha filha merece uma
mãe presente. Só não esperava por isso, eu fico angustiado só em
pensar o que ela poderia fazer com essa criança se esse acidente
não tivesse interceptado. E me culpo até agora por não ter levado
comigo para a viagem, mesmo sendo de negócios, mesmo sabendo
que ela ficaria enjoada e entediada lá, que poderia ter custado a
vida dela. Era para ignorar que era semana dela. Foda-se a semana
dela!
Suspiro, e encontro um grupo de crianças maiores que me
olham curiosos, mais precisamente para meus braços que são
completamente tatuados. Para eles, devia ser habitual ver tanta
pintura.
Tatuagens é um estilo de vida que adotei, viciei assim que fiz
minha primeira, tem até o pezinho de Jade, tatuei assim que
nasceu. Mas só fechei mesmo recentemente, por causa da minha
profissão, em estar em início de carreira e não teria credibilidade,
mesmo sendo o escritório que meu pai era sócio. Segui o exemplo
do meu pai e andei fazendo aplicações ao longo dos anos, e juntei
dinheiro suficiente para investir em algo que valha a pena. Ser sócio
de alguma advocacia maior.
Encontro uma funcionária de lá, e procuro saber sobre Jade,
e ela se apresenta como ‘’Suzana, a assistente social’’ e se não me
falha a memória, estava perto de Liz ontem quando nos
encontramos pela primeira vez. Mesmo me dizendo que ela já
estava dormindo, me deixa vê-la.
Acompanhado por ela, adentramos no berçário que ela está,
no silêncio absoluto, e a encontro enrolada, abraçada a uma boneca
e aninhada a uma peça de roupa.
Sorrio, alisando sua face rosada e ela se conserta na posição,
dengosa que só. A melhor coisa que me aconteceu. Percebo que
seu machucado na testa está seco e já não usa mais a faixa no
braço e um aperto me destrói por dentro, em saber que ela poderia
estar morta.
— Ela só dorme com esse casaco, estranhou o orfanato como
qualquer criança, mas isso foi amenizado por causa de Lizandra,
quem deixou aqui para ela. Aquela loira... — Suzana sussurra.
— Ela trabalha aqui? — questiono intrigado e curioso.
— Vem aqui para fora para conversamos, aqui vai acordar as
crianças. — usa o mesmo tom ameno.
Concordo, beijando a testa de Jade, com o coração apertado,
em saber que vou deixá-la aqui por mais uma noite, fora as outras
que teve sem mim, sentindo minha falta, achando que deixei ela
aqui de propósito.
Saímos e ela retoma o assunto.
— Liz foi praticamente o anjo para Jade e para a gente
nesses dias, num cuidado especial, se apaixonou assim que viu, no
dia seguinte já era madrinha provedora. — ela percebe minha
confusão e esclarece: — Arcou com roupas para ela se manter
confortável na medida do possível.
Fico surpreso com o que acabou de me contar. Então
Lizandra cuidou de Jade esse tempo? Que ironia do destino! Peço o
número dela que ficou receosa de dar e até relutante, mas acabou
cedendo, porque disse que queria agradecê-la por isso. Além disso,
algo que não comento com Suzana, também quero explicar a ela
que não sou o que ela pensa, estou me importando com sua
opinião.
E na volta para o flat, depois de uma conversa com a diretora
daqui que ainda não me recebe com bons olhos, penso sobre o que
Lizandra tem feito por Jade. Sequer esperava lhe reencontrar, achei
até que já estivesse casada com seus filhos, que era seu sonho
desde que a conheço. E confesso, estou rezando que não esteja
casada. Essa hipótese me deixa aflito.
E ao deitar na cama, olho pro seu número, lembro dos seus
olhos azuis quando a interceptei no caminho e por um momento
veio um flash do passado, quando ela ficava me fitando quieta sem
dizer nada, com esses mesmos olhos. O corpo pode ter mudado,
mas o olhar continua o mesmo. Mas que....
Estranhamente estou ansioso para consertar esse mal-
entendido. Nunca gostei de pendências!

LIZANDRA
— Own, ela é muito fofa. — Taís exclama na cozinha de
Natasha, vendo a foto de Jade.
Sábado. Decidimos almoçar juntas. E por isso estamos na
cozinha de Nat preparando o almoço. Alexia daqui a pouco chega
com os seus gêmeos.
— O que tem de fofa tem de sapeca. Geniosa feito o cão.
Taís gargalha junto com Natasha e acabo rindo também.
— Acho que ela é uma Vargas perdida. — Nat comenta.
— Você precisa ver ela ao vivo!
Nat sorri para mim enquanto Taís corta umas coisas os
temperos entregando a ela logo em seguida.
— Eu imagino, sis. Mas e o caso Jônatas? — Natasha
questiona. — Você me falou sobre ele ser pai dela, mas não me
explicou o resto. Tiveram alguma aproximação?
— Óbvio que não, né Nat? Ele é um idiota que não quero ver
nem pintado de ouro!
Só em mencionar sobre ele, sinto minha raiva voltar
subitamente. Minhas duas irmãs fazem a mesma expressão, apenas
uma sobrancelha arqueada.
— Nem para transarem? Aposto que deve estar mais
experiente. — Natasha pisca para mim e em seguida, faz
movimento de oral com as línguas e dedos. Podre!
Apenas reviro os olhos pela sua baboseira, enquanto ela e
Taís riem. Mereço!
— Mas se ele ficar com a guarda, vão ambos embora. — Nat
toca num assunto importante.
— Eu não gosto de pensar nisso, mesmo tendo que trabalhar
com essa hipótese. Não me imaginaria longe dela, sabe?
— Eu imagino, irmã, você se apega muito rápido e pelo jeito
ela também está apegada a você. É foda! — Taís tenta me
acalentar.
— Vou lá vê-la depois do almoço.
A ansiedade ruim me aflige com a hipótese de não a ver
nunca mais caso ele ganhe esse processo de guarda. Engulo a
seco, sentindo o nó na garganta, rezando que eu tenha qualquer
chance ainda de adotá-la.
6
JÔNATAS
DIAS DEPOIS...

Folgo a gravata, suspirando de cansaço. Mais um depoimento


de esclarecimento e eu considero um sucesso. Elias, meu advogado
já declarou ganho, mas não quero me iludir, apesar que, senti que
tenho grandes chances de ganhar logo a guarda total, coisa que
sempre quis. Pelo menos a guarda provisória eu já garanti, até final
desse processo que espero que acabe o mais breve possível, estou
tentando adiantar o máximo possível para deixar esse pesadelo
para trás.
Até liguei para meus pais porque estavam preocupados que
prometeram vim aqui em breve vê-la. Até falaram sobre o
sepultamento de Raquel, e para a família dela, eu sou o culpado.
Nem quero pensar sobre eles agora, apesar de eu lamentar como
tudo acabou. Estive esses dias pensando mesmo em Liz, sequer
tive tempo de ligar....na verdade fiquei receoso. Estou esperando
por uma oportunidade de vê-la pessoalmente, porque pela sua
recepção nesses dias, não irá me ouvir. Mas parece que a mulher
está me evitando a todo custo, escorregadia que só a peste!

LIZANDRA
— Ei!
Jade me saúda com alegria antes mesmo de diminuir mais a
nossa distância. Não aprende a me chamar pelo nome de jeito
nenhum. Ela corre na minha direção, tirando seus cabelos do rosto.
O que essa menina está tomando para ficar desse jeito?
Preciso de uma dose para minhas segundas feiras.
Carrego-a no colo com apenas uma mão já que a outra está
ocupada. Sorri para mim com uma cara de sapeca que tenho
vontade de mordê-la. E me beija na bochecha sem que eu peça, me
derretendo completamente.
Tá vendo porque não dá para ficar longe dela de forma
alguma? Sei que ela também vai sentir minha falta. Essa separação
não pode acontecer de forma alguma. Conversando no almoço na
casa de Natasha no sábado, Gustavo me indicou a fazer uma
petição de inscrição no cartório da vara da infância, mesmo com o
processo rolando, para me mostrar como pretendente à adoção
caso ele for julgado não apto e estou disposta a isso.
Com ela no meu colo, sento no banco cansada, e ela
escorrega, correndo novamente para buscar a boneca no chão e eu
a espero. Foi se o tempo que tinha disposição para correr para um
lado e para o outro. Ou ser surpreendida por um pedaço de gente
pulando nas minhas costas enquanto estou distraída agachada
catando sua sandália. Haja pique!
— Trouxe uma coisa para você. — limpo seu rosto suado, lhe
mostrando seu copo com tampa que comprei recentemente.
Me olha curiosa e esperançosa. E eu faço biquinho derretida
a cada vez que ela pergunta se é ‘’chocoiate’’
— Não, salada de frutas.
Ela faz uma expressão frustrada e o jeito que ela cruza os
braços é adoravelmente engraçado, pois segura os dois cotovelos
por fora, em seguida de um berro birrento ‘’eu não goto’’
— É gostoso. Se comer ganha chocolate e ainda te mostro
outra coisa que trouxe!
Barganho e sorrio satisfeita, sabendo que ganhei. Faço ela
experimentar numa colherada que não resmunga muito. E assisto
sua sentença.
— Gostou?
Com as bochechas ainda cheia ela acena mastigando. Ela
engole e abre a boca novamente mostrando que gostou e lhe dou
mais uma colherada. E foi assim até terminar. E pedir pelo
‘’chocoiate’’ em seguida, mostrando que não esqueceu. Eu me
rendo e lhe dou um bis.
Uma hora depois, lhe ponho no berçário, depois de assistir
vídeo pelo meu celular. Eu estou me sentindo Natasha,
memorizando as músicas infantis. Mas para mim não é incômodo
algum.
No lado de fora do portão, Jônatas me para e me encara.
Sinto o coração a solavancos. Que merda é essa que acontece
comigo para eu ficar assim toda vez?
Não digo nada, apenas o encaro e me esquivo, mas ele
segue, bloqueando minha passagem. Suspiro por ter que aguentá-lo
afim de me provocar!
— Liz... — ele cantarola meu apelido em seguida sorri. —
Depois desses dias fugindo de mim, finalmente te encontrei. —
continua na sua pose inabalável com as mãos na jaqueta que usa.
— Não estou fugindo de você, Jônatas. — friso seu nome,
pausadamente.
O jeito que ele sorri é convencido. Claramente tirando onda
com minha cara, não engolindo nada do que eu falei. E eu tenho
vontade de socar seu ombro por isso, porque sim, eu estive o
evitando esses dias.
— Bom, queria esclarecer algumas coisas com você... —
percebo que fica desajustado pela primeira vez, usando um tom
mais sério.
— Não quero saber, Jônatas. — corto-o.
— Nem que Jade em breve vai voltar comigo? — suspende
as duas sobrancelhas. — O processo está bem encaminhado.
— Eu duvido, Jônatas. — sinto a garganta seca. — Isso seria
um erro, ela voltar a sua responsabilidade, afinal, se fosse
responsável não estaríamos conversando sobre isso.
Sou firme nas minhas palavras, mesmo temendo que isso
possa ocorrer, embora eu ache de extrema irresponsabilidade ele
ter essa guarda sem que averigue primeiro. E eu tenho razões para
ter essa opinião, Jade ficou uma semana aqui sozinha. Qual é?
Ainda tenho vontade de arranhar a cara dele. E pior, se isso
acontecer, eles irão embora. E eu?
— Não é isso que a Vara da Infância acha. — petulante, ele
estala a língua. — Eu queria realmente lhe esclarecer isso. Mas
como não quer, tudo bem.
— Eu espero de verdade que você perca esse processo, Jade
merece alguém melhor para chamar de pai! Boa noite!
Vejo ele se mostrar irritado, cerrando os dentes e faço o
mesmo, me controlando para não lhe socar mais uma vez e
decidida a não cair nas provocações dele, suspiro para me manter
sã. Empurro seu ombro, finalmente passando por ele, já
destravando meu carro que pisca.

Com o coração na boca, encaro meu trabalho incompleto,


sem conseguir focar, pois, estou com a sensação ruim no peito,
desde a conversa semana passada com Jônatas sobre o processo
que estava encaminhado ao seu favor. Até estou me consultando
com um advogado para pôr em prática o que Gustavo me indicou a
fazer.
E minha aflição está pior, porque ontem lá em casa, Suzana,
como assistente social do orfanato com detalhes sobre o processo,
deixou escapar que ele está por um fio de ganhar a guarda
provisória e tirá-la de lá me deixando num misto de conformada e
revoltada. Ela poderá finalmente sair do orfanato para ficar com ele.
Eu implorei por mais detalhes, mas ela não me contou de forma
alguma, nem por reza. Está tudo uma tremenda loucura!
Vejo que deu meu horário de almoço e corro para o orfanato,
ter uma conversa com Antônia, para ao menos ter detalhes dessa
guarda.
Estou numa angústia que engulo o choro a cada esquina que
meu carro passa até chegar ao meu destino. Não vejo Jade, porque
estão em horário de almoço e não quis atrapalhar.
Antônia me atende minutos depois e, ciente do meu elo com
Jade e minha vontade de adotá-la desde o primeiro dia que a vi, foi
bem realista: Eu não posso fazer absolutamente nada enquanto
esse processo estiver rolando, apenas se ocorrer alguma
irregularidade e surgir divergências que coloque Jade em risco. Ele
é o pai e tutor legal dela. Aparentemente não tem nada que impeça
ele de exercer sua função.
Arrasada, saio de lá, sequer vejo minha bonequinha
novamente. Estou me sentindo tão inútil e desamparada. Que
droga!
— Lizandra?
Saio dos meus devaneios, tirando minha atenção da
maçaneta do carro, olhando para saber que me chama. Mais
constrangedor que conhecer a sogra, é reencontrar a antiga, mesmo
que, ela sempre tenha sido um doce comigo e eu com ela.
Dou o sorriso mais constrangedor da minha existência, lhe
cumprimentando.
— Quando John contou que lhe reencontrou aqui eu não
acreditei.
Que ótimo! O filho dela ainda espalha para família. Tento ser
amigável, pois ela nunca foi ruim para mim. Sempre me tratou bem.
— É. Jamais imaginei também. Espero que a senhora esteja
bem. E Duda também.
Sou breve sem saber o que falar além de começar a xingar o
filho dela, que se não fosse irresponsável e babaca, não precisaria
disso tudo.
— Duda está quase tendo bebê e vou ter que voltar para
casa.
— Grávida? — arqueio as sobrancelhas surpresa. Duda é a
caçula da família deles e vivia com Natasha na época.
— Sim. Está surtando com a gravidez, é um menino.
— Eu imagino. Bom, preciso trabalhar.
Me despeço dela com um abraço afetuoso e um sorriso
amigável.
— Tudo bem, minha querida. Obrigada pelo apoio com minha
neta, sempre soube que tinha coração bom.
Presenteio-lhe com um sorriso largo, antes de ir de vez. Eu
não posso perder essa menina de jeito nenhum, ela é a luz da
minha vida! Principalmente por alguém que possa colocar a vida
dela de alguma forma em risco. Tê-la para dedicar meu tempo e ser
recompensada com sorrisos é gostoso. Estou imponente!
Sequer quis almoçar, só por volta das três da tarde, no
trabalho que comi umas besteiras para conseguir ao menos tentar
exercer minha função. Sinto que não estou sendo uma funcionária
que fez por merecer o cargo que estou, ainda mais o fluxo da revista
sendo confiado a mim, mas não estou conseguindo me doar como
deveria.
Ainda inconformada, volto à noite para as minhas visitas
rotineiras de Jade, querendo aninhá-la no meu colo e desejar que
ninguém a roube de mim. Ainda bem que hoje é sexta-feira, pois
estou esgotada mentalmente.
Antes mesmo de atravessar o portão, congelo no lugar, ao ver
Jônatas carregando Jade que usa um moletom que eu dei, em
frente a um carro.
Sinto o chão sob meus pés sumir e tudo desabar em torno de
mim, constatando o que eu não quero crer. Isso não pode estar
acontecendo! Jade assim que nota minha presença, me chama com
a mão sorrindo ao me ver e praticamente flutuando, me posto de
frente para Jônatas, que a põe dentro do carro.
— O que está acontecendo aqui? — indago, mesmo sabendo
a resposta.
— Jade está indo embora comigo, ganhei a provisória.
Sinto o choro queimar minha garganta quando engulo com
muito custo. Era o que eu mais temi em ouvir. Viro para Jade que
está dentro do veículo, me olhando pela janela, esperançosa que eu
fale com ela. coloco a mão dentro do carro, alisando as suas
querendo memorizar a textura.
— Você vai cuidar direito dela dessa vez, Jônatas?
Tento me certificar a ele que passa as mãos no cabelo
freneticamente me olhando sério, com um semblante carregado.
— Eu sempre cuidei muito bem de Jade, Lizandra não sugira
coisas que bem quer e sem saber.
— Eu só estou me certificando. Já que ela chegou aqui super
saudável para passar a temporada no orfanato. Ficou uma semana
aqui abandonada. — debocho e ele fecha mais a cara. Foda-se!
— Eu sempre cuidei dela, não preciso que você fique ditando
o que é certo e errado, não quero seu alvará de pai do ano. Tentei te
esclarecer e você não quis. O que precisei resolver, também já
resolvi. Vai viver sua própria vida!
Ele se exalta, vociferando com raiva e sequer tenho ação
para retrucar, pois ele entra e bate à porta do carro com força,
sequer me dando tempo de me despedir de Jade que não daria
tempo de falar com ela, faz biquinho de choro, já começando a ficar
vermelha,, me chamando com a mão enquanto o carro segue. A bile
de choro vem sem que eu controle e as lágrimas quentes e
dolorosas descem.
Às vezes me pergunto seriamente que merda estou fazendo
com minha vida. Como já disse, sou uma sucessão de erros. Eu
sequer me despedi dela! Estou perdida e vazia.
Suzana aparece e ao ver minha situação, se compadece, me
abraçando afetuosamente, tentando me consolar e desabo no seu
ombro, sentindo uma dor enorme no peito.
— Ela ficou me chamando, Suzi. Como foi que ele ganhou a
guarda dela assim tão rápido?
— Você precisa ir para casa e descansar, amiga.
Suzana limpa meus olhos me puxando pela mão logo em
seguida. Sigo com ela sem objeções até meu carro. Fiz
praticamente o caminho todo arrasada, sequer lembro claramente
como cheguei, não registrei metade do caminho que passei.
Suzana me deixa sozinha no meu apartamento, depois de
ficar um tempo comigo e me contar que ele conseguiu a guarda
provisória, mas que falta muito pouco para ficar com a definitiva,
mostrando que eu, como sempre, perdi.
Mais uma vez faço meu papel de coadjuvante que logo sai de
cena.
Fatigada, passo tempo significativo debaixo do chuveiro
quentinho. Estou tão chateada e magoada com tudo. Inconformada
é a palavra certa. Eu considero Jade da família, adotaria sem
problema algum. Queria ela para mim. Cuidaria com todo amor que
eu guardei todos esses anos para um filho.
Com a casa escura, depois de um jantar silencioso, deito na
minha cama, sem intenção alguma de dormir. Achei que finalmente
minha vida ia ter sentido depois de tudo, e tomo uma rasteira
dessas.
Minha cabeça está em Jade lá sozinha com ele. Nem sei se
ela já comeu, se está sendo bem tratada por ele. Massageio minha
testa para me acalmar, em pensar em uma hipótese de ela não
estar bem. Estou com o coração pesado e odeio essa sensação.
Era um pouco mais de meia noite quando meu celular tocou
de um número que não tenho na agenda. Mas mesmo assim
atendo, escutando a voz de Jônatas, fazendo a taquicardia de
ansiedade se instalar no meu peito.
— Liz, sei que discutimos mais cedo, mas Jade está com
febre e eu não conheço nada na cidade. Poderia vir aqui, por favor!
Deixa nossas diferenças de lado, não é por mim, é por ela.
Trêmula e pela segunda vez no dia, sinto sem chão com a
hipótese de Jade adoecida. Ele me manda seu endereço e não
demora muito para que eu saia de casa.
7
LIZANDRA
Apavorada, chego no seu endereço, um flat. E sigo para sua
porta depois de minha entrada ser liberada pelo porteiro. Bato na
porta e escuto o chorinho dela me deixando mais angustiada. Odeio
vê-la chorando!
Ele abre a porta com ela no colo ainda choramingando.
— O que aconteceu?
Pergunto preocupada entrando quando ele me dá passagem.
— Febre alta que não passa. Preciso levá-la na emergência.
Conta, exasperado. Jade percebe que sou eu e dengosa se
joga no meu colo. Aninho-a no meu colo e ela enterra o nariz no
meu pescoço. Sinto seu corpo quente, me preocupando ainda mais.
— Tentou dar algum remédio ou algo para ela comer?
— Não quis se alimentar de nada. E não a medico sozinho. A
febre aumentou agora.
— Checou quanto ela está de febre? — questiono,
acalentando-a que choraminga.
— Deu trinta e sete.
Suspiro concordando. E com ela no meu colo, decidimos
seguir, antes que piore, para um pronto socorro, que encontramos
estranhamente vazio. Não sabemos se foi pela nossa aflição ou pela
febre alta, mas rapidamente fomos encaminhados para o
atendimento até o pediatra da unidade. Até se referiram a mim como
‘’mãe’’ e foi muito estranho e embaraçoso negar o parentesco.
Jade dengosa, não cooperou muito, mas Jônatas a fez, e
assisto de acompanhante, ela no colo dele que está preocupado e
carinhoso, para ser medicada na veia sem que se contorça demais.
Enquanto estávamos esperando o remédio fazer efeito para
medir sua temperatura novamente, o sangue esfriou, percebi quão
gelado está aquele corredor vazio a ponto de bater os dentes. Estou
com um casaco fino que não dá conta de aplacar. Jade ao menos
está deitada numa maca infantil enrolada com seu cobertor que
trouxemos. Vê-la assim, vulnerável e chorosa me parte o coração.
Escuto apenas movimentações dos plantonistas, porque os
demais pacientes e acompanhantes da emergência do corredor
estão calados na sua própria bolha. Jônatas se põe na minha frente,
fazendo com que eu encare.
Mas ele sério, apenas me abraça, trazendo uma sensação
estranha, entretanto, quente e acolhedora. Meu coração bate feito
tambor, ao ser encaixada entre seus braços fortes e sinto que o seu
também está quase sincronizado ao meu, rápido. Relutante, tento
sair, mas ele me prende ali e eu cedo, morta de frio. O gelado do ar-
condicionado arrepiando minha espinha falou mais alto.
— Obrigado por vir. — ele sussurra, mas perto do meu ouvido
fez com que eu me arrepiasse e me odiasse no mesmo momento.
— Eu sou louca por ela.
Calamos. E enquanto sinto meu corpo esquentar no seu calor,
penso um pouco em tudo. Qual a hipótese de nós estarmos assim
abraçados novamente? Não sei como é um Jônatas depois de dez
anos, mas assim dá a sensação que continuamos os mesmos.
Mas não demoramos sair daquela situação, porque Jade
recebe alta, pela febre cedida. E foi muito mais constrangedor e
gelado quando ele me soltou.

JÔNATAS
Pelo retrovisor interno, vejo Jade e Liz no banco de trás,
ambas cochilando e sinto tranquilo, apesar da preocupação de
algumas horas atrás. Minha ex namorada com minha filha juntas
aqui está me deixando inquieto e confortável ao mesmo momento.
É nítido o amor das duas, e que ela só ficou febril pela falta de
Liz. E até o flat, imagino como seria se essa cena fosse constante.
O que é muito estranho, pela nossa relação atualmente!
Eu poderia googlar onde fica o hospital mais próximo, mas
num impulso, quis que ela viesse. Me senti ainda mais esquisito
abraçando-a. Não pelo abraço em si, mas pelo o que esse abraço
me causou. Está tudo muito louco!
— Já que está tudo bem com ela, eu já vou, Jônatas —
evitando fazer contato visual, Liz se despede.
— Não, é perigoso voltar sozinha. Passa o resto da noite com
a gente.
Peço, de repente, querendo que ela não vá embora logo. Eu
estou me sentindo mal pela discussão no início da noite, não medi
metade das minhas palavras e ela veio quando pedi, me deixando
com remorso.
Ela analisa brevemente, encarando minha pequena que
acorda procurando por ela e subimos para meu apartamento
temporário com Jade ainda mais dengosa no colo de Liz que se
mostrou pacífica e solícita o tempo inteiro.

LIZANDRA
Vendo Jônatas se virar nos trinta para fazer Jade se
alimentar, carinhoso e paciente, percebi que talvez, ele não seja tão
péssimo pai como achei. E estou bastante acanhada em estar aqui.
Estou constrangida demais com essa situação toda.
Jade quis vir pro meu colo e acabou dormindo em cima do
meu peito depois de eu mimá-la muito com carinhos nas costas e
cabelos e beijinhos esporádicos. Sei que fica calma com isso.
Faço de tudo para não ter muito contato visual com ele, mas
percebo que me encara e me amaldiçoei por ter lembrado dessas
manias dele de ficar assistindo o que eu faço.
— Acho que agora dormiu. — aviso, sem graça.
Como fingir que está na melhor fase da vida para o homem
que foi meu ex namorado ficando desse jeito? A vida nunca me
ajuda!
Deixo levá-la para cama e enquanto isso, observo seu apart-
hotel. Tudo em um ambiente só, praticamente, mas amplo e bem
dividido. Só o banheiro que é à parte. Ele volta, sisudo, sentando ao
meu lado e desajustada, brinco de rodar meu anel. Porque eu não
vou embora de uma vez, estou morta de sono!
— Eu não vou conseguir dormir, vou ficar monitorando a
febre, pode dormir na cama com ela.
— Não estou com sono. — minto.
Calamos mais uma vez, num clima estranho de estarmos lado
a lado assim, sozinho na madrugada fria. Jônatas levanta, indo até o
frigobar, pegando o vinho e servindo em duas taças, me entregando
uma.
— Queria te contar sobre o processo, sei que ainda está
receosa comigo de como Jade ficou uma semana lá.
Suave, ele comenta. Até agora ele não me pareceu nenhum
pouco agressivo com ela, como julguei. E acabo acenando rendida,
querendo escutar, afinal, ele tem a guarda dela. Estamos ambos de
guarda baixa. Só ele não ter ido embora hoje mesmo e ter ligado
para mim pedindo ajuda me deixa mais vulnerável a aceitar a lhe
ouvir.
— Jade não ficou esses dias no orfanato porque eu quis. Ou
porque sou um pai ruim. Cuido dela desde que nasceu, eu precisei
viajar a trabalho. Eu liguei milhões de vezes para Raquel, não me
atendia de forma alguma e isso me deixou em alerta, liguei para os
pais dela, mas sequer colaboraram, aqueles filhos da puta. Uma
sucessão de desculpas esfarrapadas, avisando que eu tinha que dar
tempo de ela ser mãe, porque éramos separados e nada de ela me
atender, até que começou a dar número inexistente e eu decidir
verificar essa porra com meus próprios olhos e ver a merda feita,
porque avisei que não era para Jade não ir para casa de ninguém,
não confiava elas sozinhas, Raquel nunca aceitou Jade, manteve a
gravidez numa tentativa de continuarmos juntos. Procurei por dias
sem dormir, até em hospitais e necrotérios da região fui. Minha filha
não estava segura nem com a própria mãe!
Expilo o ar dos pulmões, bebericando o vinho para ouvir essa
história até o final.
— Sou louco por ela. Eu que escolhi nome, montei quarto e
sem ela, porque Raquel sempre se desinteressou pelo assunto
nossa filha. Foi até diagnosticada com depressão pós-parto,
recusou a amamentá-la e nunca foi próxima de Jade, mas eu estava
sempre ali, tentando contornar a situação, mas quando vi que não
dava mais, separamos.
Exaspera-se, também tomando um gole da sua bebida. Vê-lo
contar com tristeza e frustração me faz ter empatia pela situação e
mais culpada pelas minhas palavras duras na nossa discussão.
— Jônatas.... Apenas estava pensando no bem-estar dela e
pela situação, julguei mal.
— Eu sei que numa parte você está certa, fui irresponsável
em ter deixado elas sozinhas para viajar. Eu estava desconfiado de
Raquel, mas caramba, ela era a mãe! E aos poucos tudo se
encaixou, vendo onde chegou. Desde o nosso acordo de ela ter
direito a cada duas semanas, percebia que Jade voltava reclusa e
odiava ir, queria sempre ficar comigo. Não tem um dia que o
remorso me corrói quando penso nas hipóteses diferentes do fim
dessa história.
— Queria pedir desculpas pela nossa discussão e pelo que
falei, não foi certo. — assumo meu erro, envergonhada. Logo eu
que odeio pré-julgamentos, fiz com ele e me sinto a pior das
pessoas.
Eu o magoei e ele me magoou, porque estávamos com
nervos à flor da pele querendo apenas a mesma coisa: o bem-estar
de Jade.
— Também queria pedir desculpas, não deveria ser tão
severo. Entendo seu lado também, vocês duas criaram uma ligação
rápida e muito forte. E a gente sabe que Jade ficou com febre por
sua culpa.
— Minha? — indago surpresa e sem entender.
— Não exatamente, mas ela ficou com febre emocional, por
estar longe, está na cara. Só dormiu com você e olhe que eu faço
isso há dois anos. E se eu perdesse a guarda, e se pudesse, eu
escolheria você para cuidar dela.
Suspiro trêmula pela sua confissão. Eu estou sem palavras
pela sua expressão sisuda me encarando firme. Preciso ir embora
logo antes que esse clima acabe dando merda.
— Eu preciso ir embora. Eu realmente preciso.
Decidida, levanto e Jônatas me acompanha até a porta, mas
antes que eu abra, ele me puxa pela mão, fazendo com que eu
tropece para trás e ele me ampara com suas mãos firmes. Engulo
qualquer coisa que tenha tentado passar na minha garganta,
encarando-o. essa proximidade pela segunda vez no dia e sem
justificativa me desarma, porque me deixa sem ar.
— Eu...eu preciso ir. — vergonhosamente gaguejo.
Calado, leva a mão pela minha nuca, fazendo com que
nossos olhares grudem e em seguida nossas bocas. Sua língua me
invade e eu cedo passagem. Sua mão firme me traz para mais
perto, colando nossos corpos e sinto tudo reagir, cada centímetro e
átomo do meu corpo reage a seu aperto nos meus cabelos.
O beijo se torna voraz e só percebo quando o gelado da porta
entra em contato com meu corpo e sua pele se arrepia pelos meus
dedos Com as mãos nas suas costas, por baixo da camisa,
tentando um contato mais próximo, sinto os gominhos da sua
barriga sólida.
Quando sinto um apertão com vontade na minha bunda que
percebo que foi longe demais. E empurro seu ombro, arfante. Estou
atordoada, não deveríamos fazer isso!
— Nunca...nunca mais me beije. Foi um erro isso aqui. E não
faça mais!
Saio do flat pelas escadas, sequer pedi elevador algum. Estou
com os nervos à flor da pele. Estou com o coração desenfreado e
parece que vou cair a qualquer momento pelas pernas trêmulas.
Ele não poderia me beijar. Não poderia!
Que merda passou na cabeça dele para fazer isso?
Eu tenho vontade de matar Jônatas, ainda mais por
desencadear coisas em mim. E seu maldito cheiro insiste em ficar
em mim. Tudo me lembra muito antes, mas está diferente também.

JÔNATAS
Exasperado, jogo meu corpo cansado no sofá macio e
suspiro, tentando assimilar todos os acontecimentos de duas
semanas para cá. Bagunço os cabelos frustrado. O plano era
apenas desfazer o mal-entendido e voltar para casa com Jade. Mas
estou com a provisória e não poderei me mudar de imediato.
Esperar ao menos o processo finalizar. Ainda tem o fato de Liz e
Jade serem um grude.
E o beijo.
Se antes ela não queria me ver nem pintado de ouro, imagine
agora depois do beijo. E só imagino amanhã quando Jade acordar e
não a ver aqui. É berreiro na certa.
O gosto do seu beijo está na minha boca, ainda é palpável a
textura da sua pele nas minhas digitais. E eu só queria ir até o final,
lhe despir e lhe dá prazer. Sempre gostei de ouvi-la gemer. Dá dez a
zero em qualquer uma, e sequer é estridente. É manhoso, é
sensual. Liz sempre foi brasa, mesmo agindo calmo e se tornou o
que eu sempre vi: Uma mulher gostosa demais com os beijos mais
cálidos que já provei. Ela é um convite puro de perder o juízo.
Depois de checar a temperatura normalizada de Jade, deito
ao seu lado, tentando reorganizar a mente e toda essa loucura que
nem eu mesmo sei como me meti.
8
JÔNATAS
Descendo para o café com a pequena tagarela no meu colo,
que pergunta desde que acordou ‘’ cadê eia’’ que como já
imaginava, que se tratava de Lizandra.
— Eu vou ligar para ela depois, filhota.
Ela faz cara de choro, cruzando os braços, porque quer ver
nesse exato momento. E sei que se começar agora, não para mais.
— Eu peço para ela vir, mas se você comer, tudo bem?
Tento um acordo. Jade para a cara de choro na hora e
concorda de imediato. Desse tamanho fazendo pequenos
trambiques. Estou é muito ferrado!
Na mesa, com nosso café escolhido, disco o número de Liz
de uma vez. Jade me cobra a cada dois segundos, a cada intervalo
do gole no suco, pedindo ‘’liga, papai!’’ repetidamente.
Suspiro, sem saber se ela vai me atender. Essa madrugada
andei pensando muito e não cheguei à conclusão nenhuma. Pior
que preciso voltar para casa o mais breve possível, continuar minha
saga interminável de um escritório de advocacia bom para me
associar.
Numa voz séria, Lizandra atende perguntando por Jade.
Momentaneamente fico sem palavras, mas retomo minha
consciência.
— Está aqui. Inclusive liguei por causa dela que não para de
perguntar.
— Estão no flat?
— Sim, tomando café.
Com o telefone na mão seguro Jade que tenta fazer uma arte
quase derrubando o suco. Reclamo e escuto o riso de Liz do outro
lado, e acabo sorrindo também, enquanto Jade olha emburrada para
mim por ter reclamado.
— Ela prefere Nescau. Cinco minutos chego, estou por
perto.
Desligo tentando conter minha pequena ferinha. Pelo menos,
Liz está me tratando cordialmente e não seca como os últimos dias.
Troco a bebida de Jade, seguindo o conselho, mesmo eu já
lhe dando para experimentar antes e seu sucesso e
inacreditavelmente, mas não surpreendente, ela toma com menos
birra. Menos de um mês e Liz já sabe contornar algumas manhas de
Jade. Vai entender!
Não demora para que Lizandra aparecer e para me atazanar,
de vestido delineando suas coxas alvas e grossas. Coço a garganta,
tentando disfarçar ao sentir uma vibração tentadora entre as pernas.
É nítido a felicidade de Jade ao vê-la chegando, tanto que a
espera de pé na cadeira. Minha filha sorri quando Liz chega até nós.
Cumprimenta-me de forma indiferente, mas sorri para minha filha
que pula no seu colo, a ponto de me contagiar rapidamente.
Recomponho-me.
E enquanto Jade diz que tomou café, ela checa se está com
febre.
— Está mentindo que eu sei!
Lizandra a pega no pulo mentindo, que esconde as mãos no
rosto rindo. E assisto a interação íntima das duas. É palpável a
preocupação dela com minha filha e isso é até uma ironia do
destino. Eu até estranho, porque Jade sempre foi introspectiva com
quem não conhece. Vivia no meu enlaço, hoje espera Liz ansiosa
desde que acordou.
Pelo menos não é apenas comigo que ela consegue fazer
viciar rápido. Alfineto-me e me repreendo mentalmente.
Eu olho para Liz, mesmo estando com minha filha no colo,
mas só penso nela montada em mim, nua, contraindo em torno do
meu pau e gemendo meu nome até não aguentarmos mais. Minha
mão formiga só com a vontade de lhe dominar pelos cabelos para
trazer para mim. Puta merda!
Até escutar a voz de Lizandra pedindo permissão para
alguma coisa.
— O quê? — volto para realidade.
— Sair para algum lugar, gastar essas energias.
— Vamos. — me incluo, concordando.
Querendo gastar energias com ela e de outra forma,
seguimos para rua, e mais uma vez, sem conseguir controlar, viajo
no movimento interessante que sua bunda faz enquanto anda na
minha frente. Eu estou muito pervertido por Lizandra, meus
pensamentos só vão para uma direção.
Tento pensar em um assunto para diminuir o clima, mas não
consigo pensar em nenhum. Por incrível que pareça, estou com
receio de piorar as coisas, principalmente por percebê-la claramente
desconfortável ao meu lado enquanto andamos. Talvez peça
desculpas, e fingirei que esse beijo não existiu, mesmo eu querendo
muito mais.
Quem diria que depois de anos, eu estou atraído por Lizandra
mais uma vez. Doido para saber como ela fode com mais alguns
anos experientes. Será que continua manhosa e safada? Será que
continua gostando de vir por cima?
Liz nos trouxe a uma praça, onde tem alguns brinquedos
infantis e crianças correndo assim como adultos bebendo juntos em
grupos. Está bem movimentado. Jade se agita vendo as milhões de
possibilidades no que pode fazer aqui livre, já querendo pular do
colo de Lizandra.
— Primeiro, você vai comer algo. Fica aí com seu pai que vou
comprar.
Jade estranhamente obediente, vem pro meu colo, e nós dois,
seguimos ela com o olhar, depois de sentarmos num banco de
madeira próximo, até parar numa barraquinha e trazer de lá um
copo e colher com algo dentro.
Ela volta e Jade se joga novamente colo de Liz, mostrando
que me troca sem pensar duas vezes.
— Comprei salada de frutas. — anuncia.
— Ela não come. — aviso antes que Jade cuspa, como da
última vez que dei.
— Come sim. — responde convicta.
— Ela não gosta. — rebato.
— Quer apostar? — vejo um pequeno sorriso debochado
sobressair nos lábios rosados.
De braços cruzados, concordo. Liz enche a colher e Jade
abre a boca, mastigando sem fazer cara feia, como se fosse seu
prato favorito, totalmente diferente quando a fiz experimentar.
— Eu disse!
Sorri zombeteira. Já falei que sempre a odiei nesse modo?
Sempre me enraivou com esse sorrisinho, por qualquer assunto que
seja, tenho vontade de lhe dar uma bela palmada na bunda.Faço de
tudo para não me mostrar atingido com esse sorriso, mas ela
percebe e sorri ainda mais arqueando a sobrancelha. Filha da mãe,
fez de propósito!
Jade faz sua parte no acordo e come tudo, e com Liz, corre
para um brinquedo. Eu decido por ficar. Meu celular toca mostrando
o visor que é meu pai.
— John? O bebê nasceu! — totalmente eufórico me dá a
notícia.
— Agora? — minha animação é completa.
— Na madrugada. Tem os olhos de sua irmã, lindo! — o velho
está quase chorando.
— Envia uma foto, pai. Duda agora vê o que é bom. — rio
com felicidade extrema pelo meu primeiro sobrinho.
Quando Duda contou que estava grávida eu quase surtei,
mesmo ela sendo adulta já. Ela é minha irmã mais nova, oras! Irmãs
não deviam fazer esses tipos de coisas, não importa a idade!
— Mando sim. Sua mãe está que não se aguenta aqui. E
Jade?
Encaro Jade descer do escorregador para encontra Liz em
baixo. Ambas sorrindo e sorrio também!
— Está bem melhor, teve febre ontem, mas já está brincando.
— Tudo bem então, me dê notícias, estou morrendo de
saudades de vocês.
Despeço-me dele colocando o celular no bolso, vendo agora
ambas brincarem no balanço, Liz com ela no colo, segurando as
mãos de Jade nas correntes. Logo as duas cansam de brincar e
sorridentes, vem ao meu encontro.
— Sua vez, cansei!
Liz senta ofegante ao meu lado. E penso que o dia mal
começou para Jade e ela está cansada. Jade eufórica, pula do colo
de Liz para o meu. Deixo-a no pula-pula e volto a sentar ao lado de
Lizandra.
— Liz, queria dizer sobre o beijo... — inicio o assunto.
— Foi um erro. — responde convicta e seca.
Sinto uma pontada de frustração, por não ter aberturas para
qualquer coisa.
— Fui impulsivo, não deveria ter te beijado. Não farei de novo.
— desato a falar e ela apenas acena voltando a olhar para onde
Jade está.
— Tudo bem, Jônatas.
Acena mais uma vez sorrindo sem mostrar os dentes.
Almoçamos por lá mesmo, o que não faltou foi coisa para Jade
fazer, tanto que ficamos até escurecer.
Tentei conversar com ela, ser no mínimo amigável para
quebrar a barreira que ela impôs durante todo o dia, e tentando
estabelecer uma relação amigável sem mencionar sobre o beijo. Ela
não me dá atenção, apenas sorri para um homem de cabelos
escuros retribuir e acenar.
— Dois minutos. Vou falar com Alejandro.
Disparada, segue em direção a ele que não está tão longe.
Os dois se cumprimentam com beijos nas bochechas e abraços
calorosos. Alguma coisa rola aí...
Me sinto duplamente frustrado com essa percepção.
Incomodado e impulsivo, me dou a desculpa de buscar Jade no
último brinquedo, que é onde eles estão perto, o suficiente para
ouvir ela confirmar ‘’mais tarde então, mi amore. Estarei lhe
aguardando’’ num tom zombeteiro e íntimo para ele que gargalha e
ela acompanha.
Encucado, analiso o contexto e não gosto nenhum pouco.
Finjo serenidade vendo, com minha visão periférica, ambos se
despedirem e ele a checar antes de ir. Percebe que eu estou o
encarando sério e sorri para mim, não se abalando, me causando
fúria. Jade descabelada, sai do brinquedo.
— Seu namorado? — questiono o mais inofensivo possível.
— Talvez! — levemente cínica me responde e corta o
assunto.
Apenas aceno, pensando em algo para que esse encontro
não aconteça, mesmo estranhando esse meu incômodo com ele.
Lizandra nos arrasta para um food-truck, que infelizmente é onde
esse tal de Alejandro está.
— Burrito, mi cariño? — abre o maior sorriso para Liz.
Mexicano fajuto!
Que raiva desse homem!
— Sim, hermoso, o de sempre. E você Jônatas? — questiona
séria para mim.
Ah, para ele tem sorrisinho? O de sempre? Pelo jeito eles se
veem e muito. Tem até códigos de comida e apelidinhos bregas.
— Não vou muito com a cara de mexicano. — respondo mal-
humorado.
— Experimenta! — tenta me incentivar.
— É gostoso? — suspiro e tento ser um pouco flexível,
apenas para agradá-la mesmo.
— Eu sempre faço, né Liz?
O mexicano fajuto se mete retrucando e Lizandra ri negando
com a cabeça e eu entendo o contexto, me causando fúria. Ainda dá
trela para esse babaca!
— Liz, as comidas daqui tem pimenta; acho melhor comermos
em outro local, por causa de Jade. — tento sair daqui de uma vez.
Ela nega com um sorriso e pede para o mexicano fajuto fazer
algo para criança, voltando a sentar onde estava e inconformado,
sem outra desculpa, me rendo parcialmente.
O clima ficou levemente tenso, juntos. Lizandra decidiu virar
atenção para Jade, fiquei apenas de telespectador de ambas. E
antes de eu me conformar onde estou, o mexicano fajuto volta com
os lanches.
— Para a minha hermosa.
Entrega primeiro o de Liz que sorri para ele. Incomodado,
com uma leve pinicada no corpo, coço a garganta.
— E para essa pequena princesa.
A refeição de Jade é posta na sua frente, que sorri para ele.
Até minha filha, está me saindo uma vira-casaca de primeira!
— E um burrito para o emburrado!
Debocha fazendo Liz gargalhar e Jade também, mesmo sem
entender o porquê. Mostro uma expressão severa, não fazendo
qualquer menção que achei engraçado como as duas, mas ele não
se abala. Se ele acha que vai ficar de gracinhas comigo, está muito
enganado. Acabei de levar para o pessoal. A noite dele vai ser
estragada já, e sei exatamente o que fazer.
— Obrigado, moça. — devolvo o deboche me referindo aos
cabelos compridos dele.
Liz agradece mais cordial e comemos silenciosamente. Está
um cheiro bom, tenho que admitir. Sentindo o gosto de vitória
misturado com o ardor da pimenta, dou minha cartada para ela não
se encontrar com ele.
— Jade, quer dormir com Liz hoje?
Usei minha filha e não me arrependo nenhum pouco disso.
Essa foi a única forma que achei de interromper o encontro dos
dois. Jade acena efusivamente arqueando as sobrancelhas em
surpresa, assim como Liz, quando eu a olho.
— Hoje? — ela questiona meio contrariada.
Claro! Ou você acha que eu te deixaria se encontrar com o
babaca?
— Não quer? Quer dizer, desculpa, achei que... — me faço de
magoado.
— Não! Eu adoraria! — se adianta, desajustada.
Concordo sereno por fora, mas por dentro sorrio triunfante. Se
ferrou, babaca!
— Vamos? Está ficando tarde. — olho no relógio, me
levantando, não dando chances de ela retrucar, mesmo colocando
cara feia.
— Vamos!
Lizandra chama o babaca do cabelo grande, se achando o
próprio Tiago Iorc e antes fosse, assim estaria sumido e sem
notícias. Ele vem rapidamente, feito cachorrinho.
— Esse anjinho aqui vai dormir comigo hoje.
Eles se despedem, com minha filha no colo. Ele concorda, me
encarando e de braços cruzados, me sentindo por cima, sorrio
debochado, acenando com o rosto e uma sobrancelha elevada, em
ironia, zombando da sua cara e ele trava o maxilar, semicerrando os
olhos para mim, claramente com raiva. Ganhei essa, babaca!
— Não tenho pressa, você sabe. O que mais teremos é
tempo. — faz questão que eu escute, mas o pior foi vê-los num
selinho rápido, bem na minha frente, fazendo com que eu perca a
compostura de vitória rapidamente, mas me recomponho.
Se depender de mim, esse dia não irá chegar tão cedo, vou
atrapalhar o quando puder. Passo as mãos nos cabelos, sentindo
minhas entranhas nervosas. Não vou deixar concorrente se criar,
enquanto eu quero que ela passe pela minha cama. Sem dá tempo
de Liz abrir a carteira, lhe entrego o dinheiro dos lanches.
— Fica com o troco e corta esse cabelo que está horrível.
Irritado, debocho mais uma vez saindo com as duas de lá,
antes que eles voltem de conversinha, mas antes escuto ele retrucar
‘’Lizandra gosta’’. Se ele acha que vai me tirar da jogada assim está
muito enganado, ele mal sabe quem sou eu!
— Vai deixa-la dormir comigo por quê? — Liz que nunca foi
boba, questiona quando voltamos para o flat.
— Preciso reler umas documentações do processo e preciso
de silêncio. Fiz mal? — digo uma coisa que não é mentira. Matei
dois coelhos em uma solução apenas.
Ela não se opõe, apenas acena com a cabeça. Depois de
pegar coisas para Jade, me despeço de ambas com seu endereço
salvo, que me deu, caso precisasse e que amanhã ela mesmo traria
Jade aqui se eu precisar de mais tempo. Jade foi sem pensar duas
vezes, depois de me dá um beijo babado de boa noite e Liz um
aceno de cabeça.
Poxa, também queria outro beijo molhado, mas na boca, por
Lizandra!

LIZANDRA
Satisfeita, adentro no meu apartamento com Jade. Apesar de
ter desmarcado com Alejandro, estou feliz de ela estar aqui. Nem
acredito que ela está aqui na minha casa! Imaginei isso tantas
vezes!
Percebo que Jade não me acompanha pela casa, está
retraída, parada perto do sofá, como se estivesse receosa de dar
um passo sequer.
— Venha, entre!
Confusa, tento pegá-la, mas ela se esquiva com o rostinho
amedrontado e logo entendo. Provavelmente tem pequenos
traumas com a tal de Raquel e estamos cem por cento sozinhas, o
local é desconhecido para ela... O pensamento dela deve estar na
hipótese de eu fazer algo ruim com ela, e isto faz com que o bolo
ácido de angústia volte com força total até minha garganta.
Agachada na sua frente tento pegar na sua mão, mas ela
recua em direção à parede amedrontada de modo que não ouso
avançar.
— Essa é minha casa. Não vou te machucar. Eu já briguei
com você ou te fiz ter dodói? — questiono calma e ela balança a
cabeça negando, ainda desconfiada. — Não vou bater em você,
nem fazer nada que não queira. Você não gosta de mim? Eu
também gosto de você. Venha, se não quiser ficar eu ligo para seu
pai te buscar.
Paciente, tento um acordo da forma mais delicada possível
que conheço.
— Me dá um beijo. Venha.
Peço, estendendo meus braços. Ela titubeia, mas acaba por
vir, tímida e delicadamente, suspendo-a do chão para o meu colo.
— Eu ainda sou igual. Tudo bem? Vai querer que eu ligue
para seu pai?
Ela nega ainda calada, me deixando amargurada por essa
situação deixar uma garotinha totalmente agitada e falante, trancada
e receosa, com medo de ser machucada de alguma forma.
Sem mostrar resistência, seguimos para meu quarto, para
procurar alguma muda de roupa para mim. Estou cansada, Jade no
parque esgotou minhas energias! Giro para trás, para vê-la pulando
na minha cama. Ela não cansa?
Depois do banho, seguimos para a sala e me jogo no sofá
junto com ela que não quis de jeito algum sair do meu colo. Ela
quem escolhe o filme, mas a maior parte do tempo mostrei no meu
celular algumas fotos minha com minhas irmãs, Alexia, e meus
sobrinhos, apontando quem era quem para ela saber mais sobre
mim. E exausta, não demora a adormecer pesado.
Ponho-a na minha cama e do quarto, escuto o bipe da
campainha. Preocupada pelo horário, sigo para atender, e escuto a
voz de Jônatas me chamando.
Com a testa franzida, completamente confusa, tento entender
sua visita, mas antes de eu perguntar qualquer coisa, adentra feito
furação.
— Que se foda! Quem tem que te beijar sou eu!
Sequer esperar que assimile a situação, me puxa pela nuca,
avançando para minha boca logo em seguida, totalmente eufórico e
possessivo, chocando nossos lábios com ânsia.
9
LIZANDRA
Tentando assimilar a situação, mas qualquer coisa evapora da
minha mente, quando sua língua quente, captura o lóbulo da minha
orelha, descendo para meu pescoço, totalmente safado. Ele sabe
que é golpe baixo. Sua mão agarra minha bunda com virilidade.
Outro golpe baixo, e ele sabe disso também.
Jônatas afoito e másculo, num impulso, me imprensa de vez
na parede e agarra minha nuca para um beijo intenso. Não demora
para que nós mergulhemos num beijo safado demais até para
descrever. Falta palavras, mas meu corpo reage e esquenta sem
muita demora. É como se nunca deixássemos de fazer isso e isso
me apavora.
— Sua boca fica melhor colada a minha! — num grave baixo,
assopra, com nossos lábios próximos.
Como apoio, seguro forte sua cintura e deliro com seus
gominhos duros e relevados. Sem controlar, ofego baixinho e
Jônatas afoito, desce as mãos da minha bunda para minhas coxas,
me trazendo para seu colo em cima do sofá.
Trêmula e sentindo os comichões do meu corpo destruírem
meu juízo, experimentando sua mão máscula me pressionar pela
cintura, gemo do fundo da garganta num prazer legítimo.
Prazer culposo, mas prazer.
Úmida e entrando numa contradição que eu sei que vou me
arrepender, não detenho; deixo que arranque meu vestido para que
eu fique apenas de calcinha e seu sutiã. É um passe livre para que
com os lábios capture um dos meus mamilos intumescidos.
Com tesão correndo enlouquecido em cada veia, puxo sua
camisa para cima. Minha consciência me alerta para que caminho
estou indo, Remember com ex é uma praga tóxica, eu sei e no
momento estou infectada. Por que essa química tinha que estar tão
viva?
Contemplo seus braços tatuados e tronco viril, mostrando que
o garoto ficou para trás. E sem conseguir deter, minhas mãos
mapeiam cada centímetro. Nossos lábios se chocam novamente
num beijo faminto e bruto, não me dando espaço para pará-lo. É
arrebatador e cálido!
O beijo é voraz, me deixando sem raciocinar nem meu próprio
nome. Fricciono minhas coxas no seu colo, sem vergonha alguma,
ou vergonhosamente, dependendo da perspectiva Quase delirando,
seu pau se destaca mais, fazendo pressão mesmo debaixo da
bermuda. Sinto minha calcinha ir embora, pelo lado. Ele a rasgou!
Ele me deita no sofá, me deixando à sua mercê, trêmula e
inquieta, e mais uma vez, não me dando tempo para me situar,
coloca as mãos por baixo das minhas costas descendo a boca para
me chupar.
Intenso. Com ânsia e capricho. Faminto, a palavra que melhor
se encaixa.
Seu oral é a sua especialidade desde sempre, até mesmo na
adolescência quando éramos inexperientes, mas havia curiosidade
de sobra. Ficávamos horas só naquilo sem nos importar. Éramos
inexperientes. Gostávamos de testar coisas, ver o que boca ali, mão
aqui causavam no outro, mas nosso foco mesmo era os finalmente.
Mordo a boca para não gemer alto.
Sinto a barba pinicar dando pequenos choques junto com a
língua quente, molhada e aveludada e sem conseguir conter sua
tortura boa com sua boca, língua e mãos. Puxo seus cabelos, me
jogando de vez nas sensações indescritíveis.
Ele sorri lascivo com os lábios molhados dos meus fluidos,
satisfeito, arrancando com destreza o resto de roupa que usa. E
tenho que admitir, seus cabelos revoltos é um tanto erótico, um
estímulo visual maravilhoso, ainda mais quando segura um dos
meus pés que estavam no seu ombro, mordiscando meus dedos. É
quando posso ver com mais clareza seu corpo tatuado. Isso acabou
com minha sanidade, todo esse corpo robusto que não tinha antes,
ainda mais nessa aura de prazer, parece que valorizou todo o
documento que já era impressionante por si só.
Ele me puxa me pondo no seu colo novamente. Ele está todo
mandão! Seus dedos voltam a esquentar onde pressiona no meu
corpo, me arrepiando na espinha pelos beijos espalhados no
pescoço junto com sua respiração audível e finco minha unha no
seu ombro, não podendo fazer barulhos.
Lábios cerrados, me encarando firme, adentra pulsante, me
encaixando de vez. E eu tenho vontade de morder sua pele até
magoar, ver o vermelho, sentir o gosto da carne.
Eu quem comando, talvez, até mais faminta, que ele
demonstra estar. Mas ele me acompanha, apertando minha carne
da bunda, ofegante e caralho! Abocanha meus seios, num prazer
puro e cru, assim como todo o momento. Sequer trocamos qualquer
palavra, é desejo vivo, bruto e impulsivo. É suor e prazer e nada
mais.
Vinco minha unha no seu braço e avanço para sua boca que
retribui o beijo totalmente animalesco, quicando no seu colo, num
ritmo frenético.
Jônatas para, me pondo de pé e logo apoiada no sofá, de
costas para si, e eu obedeço como a submissa que nunca fui.
— Seu cheiro é um convite tentador. — sussurra, arfante,
lambendo minha clavícula.
De olhos fechados, aceno. E é a vez de ele comandar como
quer, me apertando pela cintura, deslizando com facilidade, gerando
um barulho oco e excitante dos nossos corpos chocando, ainda
mais seus lábios passeando nas minhas costas, com mordiscadas,
lambidas e pequenos chupões enquanto investe cada vez mais
bruto e faminto. Tudo é a perdição para mim, sentindo as pernas
não querendo se sustentar mais sozinha, me jogo mais uma vez,
nas sensações extraordinárias e não demora para que ele me
acompanhe, me firmando no lugar para que eu não caia.
No sofá desabo ao seu lado, ofegantes, suados e sem roupas
ou pudores. De olhos fechados, esperando o corpo acalmar, minha
consciência vai retomando.
— Pode dizer, eu conheço seu corpo melhor que qualquer
outro.
Já irritada, escuto seu ar convencido percebendo que o
desgraçado veio apenas marcar um território onde não é
proprietário. Um território que não divide vínculo algum com ele. Um
território que sou eu.
Sinto o braço dele me puxar para seu colo, mas me esquivo.
— Cai fora, agora! — raivosa, ordeno. — Você é um
verdadeiro cretino, Jônatas. Você não tinha direito algum de agir
dessa forma, eu não sou um objeto para que você use e prove
alguma coisa para si mesmo!
Sentindo-me usada, ainda que consentindo, percebo que ele
só veio para mostrar que ainda conseguia transar comigo.
Finalmente entendo toda a sua jogada de oferecer Jade para dormir
aqui em casa. Jônatas me dá nojo com essas atitudes
inescrupulosas, sem medir o efeito que vai chegar nas pessoas.
— Liz, nós gostamos, qual o problema?
Sem entender a gravidade da situação, o cretino começa a se
vestir despreocupadamente.
— Foi armação sua, não foi? Perguntar a Jade se queria
dormir comigo...você usou sua própria filha, Jônatas, por sensação
de posse de uma pessoa que não é porra nenhuma sua, por causa
de Alejandro? Faça-me o favor!
— Brigar comigo não vai te fazer gostar menos da nossa
foda, Lizandra.
Não sei se tenho mais ódio dele por ter vindo aqui reivindicar
algo que não é dele, ou de mim por cair, por ser fraca e ter cedido
rapidamente depois de tantos anos! Não deveríamos estar aqui!
— Como sempre, você tinha que estragar as coisas. Cai fora!
— com menos paciência, ordeno.
— Amanhã passo para buscar Jade.
Ele sai e eu fico sozinha na minha sala silenciosa, suspiro
levantando a cabeça e me recosto no sofá. Que merda eu fiz?
Fiquei anos sem vê-lo. Jurei nunca mais reencontrá-lo para a
primeira tentativa dele eu simplesmente cair. Eu sou uma idiota!
Sua completa idiota!
E mais uma vez, fez o que bem quis sem se importar com a
consequência que isso traria, mais uma vez mostrou que não
mudou nadinha. Jônatas não pensou na filha dele, que está alheia a
esse inferno que estou sentindo, que isso pode dar merda como
deu. Estragando o pequeno clima que tivemos hoje na praça.
Agora eu não conseguirei nem olhar para cara dele, quanto
mais ficar mais que dois minutos perto. E quem sobra nisso tudo?
Jade! É claro que ele não pensou. Como sempre só pensa no lado
dele e o que quer no momento. Egoísta! Idiota! Babaca! Agh!
Que raiva por ceder e não ter lhe dado um soco assim que
entrou aqui. E pior, sequer sei o que vai acontecer de amanhã em
diante, se eu continuarei a ver Jade por esse evento.
Por que tudo tinha que ser tão complicado?

No ritmo frenético desde que acordei com Jade montada nas


minhas costas como se eu fosse cavalinho, escuto a música infantil
berrar na tv da sala. Sem contar que, na hora do café, ela cismou
que queria café preto, não deixei e ainda assim, roubou um
pouquinho, rápido, no vacilo que eu dei as costas para pegar seu
Nescau.
Mas até prefiro estar assim, não me dá tempo de pensar em
certas coisas, e nada melhor que essa pessoinha energética
pulando na minha sala sem motivo aparente, para me focar. Sequer
liguei para seu pai, não estou com cabeça para conversar ou vê-lo.
E não me importo de passar o dia todo com ela, melhor jeito de
passar o resto do final de semana.
Abaixo o volume da música quando escuto a campainha
tocando e Jade mais que rapidamente corre para ficar entre minhas
pernas, me segurando, quando Natasha e Vinicius entram
tumultuando.
— Irmã desnaturada! Não fala comigo desde o nosso almoço!
— Estive ocupada.
Sutilmente, faço sinal para que ela veja Jade me segurando
firme, como se eu fosse sua salva vidas, analisando desconfiada
minha irmã. Natasha sequer disfarça seu sorriso quando finalmente
vê a garota. Guguinha sorri para mim desavergonhado, e me derreto
completamente.
— Oi! — Natasha acena empolgada e Jade se torna ainda
mais introspectiva.
— Está empolgada demais, Nat. — alerto-a.
— Desculpa, me exaltei.
Nat joga o filho para mim, avisando que estava apertada e
invade a casa sem cerimônias, puxando para cima o vestido ainda
no meio do caminho. Tão ogra!
— Quem é o bebê mais bonitinho de titia?
Aperto no meu colo, amando o cheirinho de bebê que ele tem,
enquanto ele emite sons fofos e meu grude no meu enlace. Olhando
tudo desconfiada, sento no sofá e Jade o analisa, séria, e em
seguida me olha.
— Ei, eu quero sentar. — balança minha mão.
— Senta aqui, venha. — dou espaço ao meu lado e ela nega.
— Não cabe vocês dois no meu colo, fique perto de mim, venha.
— Não. Ele disse que quer ficar no chão e eu quero sentar. —
ciumenta, tenta me convencer e eu gargalho. Ela é impossível!
Ofereço espaço novamente ao meu lado, mas ela nega mais
uma vez, fazendo biquinho.
— Ele é feio! — resmunga cruzando os braços e Natasha
chega na sala.
— Meu filho é um gato! Você quem tá feia emburrada. —
como se estivessem a mesma idade, Nat provoca Jade que não
deixa barato.
— Não! É você! — rebate na mesma hora e Nat incrédula,
coloca a mão na cintura arqueando as sobrancelhas.
— Liz segure sua ferinha!
Nego, assistindo o duelo de titãs, ou mini titãs, já que as duas
são pequenas e gênio forte. E como dizem, os iguais se
reconhecem, e não demorou para as duas estarem entrosadas,
como se fossem amigas de longa data, e Nat como se estivesse a
mesma idade, ficou provocando-a, e ela não fica por baixo. Estava
tão de bom humor, que até ficou com Vini na sala assistindo
televisão, enquanto eu e Nat preparamos almoço.
— Vai fingir que está bem mesmo? — Nat fingindo prestar
atenção na panela, quebra o silêncio.
— Estou bem.
— Ah mais não, tá. Está toda estranha, desajustada. Tá
escondendo o que? — finalmente me fita, curiosa.
— Escondendo nada. — tento disfarçar. Tudo que eu não
quero falar é que transei com Jônatas na noite anterior. —
Impressão sua.
— Vai me dizer que transou com Jônatas. — seu tom é
debochado, mas logo sua expressão se torna cética vendo que
acertou.
— Vou ver os meninos. — tento fugir, mas ela intercepta.
— Me explica esse rolo de vocês. Foi um Revival ou tão se
acertando?
— Foi um erro, Natasha. Por favor, não quero remoer isso.
Ela acena, com uma das sobrancelhas arqueadas, totalmente
debochada e quando penso que esqueceu, começa a cantar
evidências com bastante ênfase. Eu odeio minha irmã!
A tarde foi tranquila e Nat foi embora quando Gustavo veio
buscá-la. Já anoitecendo, Jade banhada, estranho por Jônatas não
ter aparecido ainda e sequer ligado, mas quando penso que sumiu,
aparece. Jade corre para o colo dele, como sempre quando o vê e
fico um pouco distante.
Eu realmente não sei como reagir ou me comportar diante
dele. Entretanto, aqui em baixo fisgou lembrando que ele chegou a
visitar e me odeio dez vezes mais por isso.
— Liz...
Me encara sério e seus olhos estão mais verdes que qualquer
outro dia e com queixo travado, continuo indiferente, ao saber sua
intenção.
— Não Jônatas. Sem pedidos de desculpas. — interrompo.
Outro pedido de desculpas não irá adiantar porra nenhuma.
Ele sequer tinha direito de fazer o que fez.
— Você não pode vir aqui, chegar e brincar comigo, Jônatas
sabendo que vai embora depois, meça suas ações. Eu não vou ser
brinquedo mais uma vez na sua mão, por favor, não torne tudo mais
difícil que está sendo. Eu amo sua filha, mas não vou ficar
aguentando esse tipo de atitude. Apenas se mantenha afastado de
mim. — esclareço qualquer coisa que ele não tenha pensado.
Sem demorar ou rebater, ele vai embora com Jade depois de
ela se despedir de mim toda carinhosa. E sozinha novamente no
meu apartamento vazio, suspiro frustrada, me jogando no sofá e os
flashes voltam na minha memória da forma mais crua, sem que eu
permitisse.
Repreendo-me severamente por pensar nisso.
10
LIZANDRA
Numa monotonia insuportável, finjo que estou interessada na
reunião. Mais uma reunião da revista, dessa vez aqui na minha sala.
Só com chefes de setores mesmo e Scarlet que está sempre
presente.
A semana passou turbulenta, sequer vi Jade desde terça e
hoje já é sexta-feira. Soube que os pais dele vieram para aí visitá-
los e o clima entre mim e Jônatas não melhorou. Estou falando com
ela por telefone todos os dias, para aplacar a ausência.
Mas pelas notícias, o processo dela está para ser finalizado,
não tem muita coisa que esclarecer. E só o pensamento dela voltar
para BH meu coração doí.
Scarlet chama, numa voz polida e decido prestar atenção no
que está acontecendo. Parece que as reuniões são marcadas para
o dia que eu menos quero debater.
— Presta atenção, que você quem resolve isso. — recebo um
sermão de leve.
Suspirando, concordo. E levemente impaciente, assisto ela
retomar sua fala. Estou pensando em ir vê-la hoje, estou mortinha
de saudades. Ontem no telefone Jônatas até tentou retomar o
assunto que eu relembrei mais vezes que deveria, me causando
desconforto. Mas evitar é a melhor opção. Eu prefiro esquecer do
que remoer.
Quase duas horas depois, a reunião dá por finalizada e até o
final do meu expediente, foi organização, decisões e e-mails para
Scarlet. Ligo para Jônatas que não me atende e sigo para casa.
Frustrada, não querendo jantar sozinha, decido seguir para
rua, tentando pela terceira vez o telefone de Jônatas que cai na
caixa postal. Vou passar para ver Alejandro também, depois da
situação de Jônatas implicando com ele. Ele me recebe de bom
humor, como sempre e eu retribuo.
— Olá, hermosa. Está com fome? — me abraça cortês.
Aceno, beijando sua bochecha. Uma vez, ele me propôs um
relacionamento mais sério, logo quando começamos o nosso
casinho, ele tinha terminado recentemente um namoro longo e
decidimos afogar nossas mágoas no corpo do outro. Mas não achei
justo com ele. Eu o amo, mais como amigo que me faz companhia
nas noites solitárias e que me proporciona um bom sexo. Ele
merece mais, é tão maduro e atencioso que morro de medo de
estragar essa relação gostosa que temos, mesmo ele querendo,
talvez, ser a pessoa certa para mim, mas o problema é que eu dei
folga ao meu coração judiado.
— Vou fazer um caprichado!
Concordo e enquanto ele vai preparar, procuro saber dos
meus sobrinhos. Confesso que ser tia de muita criança nem sempre
dá tempo de dá conta de todos, ainda mais quando se é madrinha
da metade. Fiquei pendurada por uns dez minutos com Alexia no
telefone que se empolga rápido demais na conversa. Alejandro me
faz companhia enquanto como e como toda vez, o tempo com ele
flui.
Percebo que Jônatas não retornou e desapontada, me
despeço de Alejandro, que estava até com vontade de chamá-lo lá
para casa, mas esmoreci completamente. Sigo andando, me
distraindo com a rua movimentada e encontro Luan, vizinho de
apartamento e ex caso de Natasha. Decidimos ir juntos.
Sinto uma das minhas mãos serem seguradas e olho para
trás, vendo Jônatas de roupa social.
— Estava te procurando, amor. — numa falsa intimidade, me
pergunta. — Pensei em pegar um sorvete antes.
Ele tem a patifaria de me abraçar por trás, beijando meu
ombro, como se fóssemos um casal. Apenas acena para Luan que
desajustado por estar aparentemente servindo de castiçal, se
despede e segue sozinho.
— Qual o seu problema, Jônatas? — pergunto enraivecida,
me esquivando do seu abraço.
— Está louca de ir embora sozinha com ele? Te fiz um favor,
não seja mal-agradecida! — com as mãos no bolso, ele sequer se
abala do que fez, sua expressão insolente.
Jônatas me obriga a odiá-lo, de verdade.
— Eu te pedi alguma coisa? Acho que não! E outra, eu que
decido quem é para mim ou não. E daí se rolasse alguma coisa?
Não seria como se eu fosse casar com ele. É só para sexo, sabe?
Cru e intenso, e no dia seguinte cada um para seu canto. —
debocho.
— Você não era assim, Lizandra. — me fita profundamente
que fico desajustada.
— É, eu mudei mesmo. A vida me exigiu isso. — encarei-o.
De fato, isso está saindo de controle.
Ele morde os lábios rapidamente.
— É até irônico, que eu estou atraída por essa também.
Jônatas não me deixa rebater, não que eu tenha palavras
para sua atitude direta, e nossos lábios se unem com calidez e
ferocidade, no meio da avenida, exalando seu perfume contra minha
roupa. E o cheiro e perturbadoramente bom, parece exalar por conta
própria, porque sequer percebi que era tão gostoso antes de
estarmos nessa proximidade.
Nos separamos, com um estalo dos meus dedos na sua
bochecha. Esbaforida e desajustada, encaro-o novamente.
— Você não pode chegar assim na minha vida agir como se
ainda estivéssemos juntos, Jônatas! Você quem escolheu sair, não
queira tomar posse do que não é seu! Cai fora da minha vida! Eu
não sou mais a idiota que conheceu!
Decida, lhe dou as costas, mas ele me segura, me fazendo
encará-lo novamente.
— Pelo menos assume que a nossa química não mudou, o
sexo foi gostoso pra caralho! — exaspera-se.
— Não é verdade, entenda que somos passado.
— Será mesmo?
Seu tom irônico, alisando minha bochecha me enraivece e
desconcerta. Acerto um tapa na sua mão e outro no seu peito, mas
ele me para, segurando pelo cotovelo. Irritada, me esquivo. Ele é
muito cretino! Porra!
— Essa sua atitude está ficando ridícula, para com isso, cadê
Jade?
Dou conta que ele está aqui uma hora dessas e sozinho.
— Minha mãe está com ela, Liz. — responde
despreocupado.
— Então vá ficar com elas e vê se me esquece! — irônica,
rebato.
— Vem comigo, tem vinho e eu para passar a noite.
Reviro os olhos e ele sorri de lado, preguiçoso por eu estar
enraivecida. Porque ele está se divertindo às minhas custas? Dou
as costas mais uma vez, eu não suporto ficar mais um segundo
sequer aqui no mesmo ambiente. Cretino!

JÔNATAS
Dirigindo, percebo quão tenso estou pelo aperto que seguro o
volante. Solto ar dos pulmões que sequer sabia que prendia. Só
Lizandra para me deixar dessa forma. A safada me deixa maluco!
Lizandra tem um poder único de mexer comigo, sério. Mulher
dura na queda! Não está querendo nem olhar na minha cara. Estou
é muito ferrado!
Tudo porque transamos e olhe que foi boa. Não aguentei vê-
la se jogando para o mexicano de meia tigela, foda-se se agi
precipitado. E agora não sei o que fazer, estou confuso com tudo.
Estou quase a amarrando na cama e só soltá-la de lá quando ela
finalmente assumir que está atraída também.
Vê-la novamente me fez repensar muita coisa sobre tudo, na
noite passada principalmente que mal dormi. Confesso que irei
sentir falta dela, de nos darmos bem, apesar de tudo. Mas ela não
quer me ver nem pintado de ouro. Sei que eu terminei, mas tinha
meus motivos. E ela tinha que entender.
Estou chateado demais com toda a situação, confesso, e
penso como será quando voltar para casa, como ficará tudo, pois
Liz será apenas a pessoa que minha filha adora. Jade vai sentir falta
dela e pior, pressinto que eu também.
E é questão de pouco tempo até resolver a situação e dar o
rumo na minha vida. Mas me sinto estagnado, sem saber para onde
ir depois desse reencontro nosso. Revê-la e ainda vê-la beijando
outra pessoa principalmente… me incomodou de uma forma que
não esperava. Estou bastante fadigado. Nossa foda está tendo mais
importância do que achei que teria, andei pensativo sobre a situação
de tê-la nossas vidas, na minha novamente.
São muitos ‘’e se’’ que nem sei quero mexer nisso, se quero
reconquistá-la, mas não é como ela estivesse esperando e
desejando por isso, porque mesmo se eu estiver começando a ter
sentimentos novamente, minhas chances são praticamente nulas,
eu deveria estar com meu cavalo na sombra há horas, pois ali
quando quer ser gênio ruim, é com força. Mas sinto falta da Lizandra
carinhosa e de beijar sua boca e isso é um incentivo muito bom.

LIZANDRA
‘’ Você vem vê-la hoje? Ela está dengosa e com saudades.
Prometo me comportar! :D’’
Foi a mensagem que Jônatas me mandou um pouco antes do
meu expediente acabar. E eu estou indo matar minhas saudades
dela que mal aguento. Parece que não a vejo a meses e sequer
quero imaginar como vai ser minha abstinência dela quando eles
forem embora. Só o pensamento desse acontecimento meu coração
dói fininho numa ansiedade triste.
Encontro os dois entrando no prédio e é Jade quem me vê,
pois grita empolgada correndo na minha direção, pulando no meu
colo. A felicidade singela é contagiante. Eu a amo tanto!
Abraço apertado sentindo seu cheiro familiar e calmante de
bebê enquanto ela me segura pelo pescoço com a mão e na cintura
pelas pernas. Saudosa, distribuo beijos pelo seu rosto enquanto ela
se esquiva rindo com os dentinhos miúdos. Retribuo o sorriso e é a
vez dela de me beijar várias vezes na bochecha, me enchendo de
amor, e encostamos os narizes, e sorrio, mas uma vez, acarinhada
e sentindo minhas energias recarregarem. Com certeza, amanhã
estarei bem melhor para encarar o trabalho.
— Sentiu saudades?
Pergunto olhando para ela que assente mostrando as
bochechas gordinhas e rosadas.
— Muita?
Questiono de novo fazendo ela abrir outro sorriso enorme.
Dou mais uns beijinhos na sua bochecha não aguentando. Minha
atenção é virada para o pai dela, que de braços cruzados, nos
assiste. Apenas meneio a cabeça para não ser mal-educada. E
depois dele fazer sinal, subimos para seu flat.
No elevador, sinto a mão dele repousar nas minhas costas em
um gesto automático por estarmos próximos e me sinto totalmente
constrangida por isso. Sinto sua mão esquentar o local que está
repousado.
Tudo que eu não queria agora é ter ele me tocando, ainda me
sinto constrangida pelo que fizemos e insiste em permanecer na
minha cabeça. Além da irritação, a vergonha é maior do que
qualquer coisa.
Imagine você transando loucamente com seu ex e depois de
anos e ter que olhar para ele frequentemente. Não tem como, é
embaraçoso.
No andar seguinte entra mais duas pessoas lotando a cabine
e nos aproximamos mais e presto atenção no que Jade me conta.
Mas o gesto de Jônatas de me pôr na sua frente e detalhe, a cabine
está apertada, e resmungar baixinho um xingamento perto do meu
ouvido me faz prender a respiração até o elevador abrir novamente
e sair as duas pessoas.
Olho para ele, tentando entender sua ação, mas apenas o
vejo de maxilar trincado, encarando um homem que percebo que
está com os olhos cravados em mim e sorri brevemente. Estico os
lábios rapidamente e volto minha atenção para Jade, ignorando
ambos, principalmente Jônatas que exaspera irritado, querendo
marcar um território que nem é dele.
Dentro do flat, Jade desabrocha, pegando seus brinquedos
para me mostrar.
— Chegamos agora do aeroporto, deixamos minha mãe. Não
jantamos, você já? — Jônatas com as mãos no bolso, morde os
lábios rapidamente.
— Não, pelo horário o restaurante aqui tá funcionando, será?
— Acho que não, mas posso pedir algo aqui do lado. A
comida é boa!
Concordo. Por mais que eu esteja brava com a cara dele, eu
não consigo tratá-lo mal. Apenas evito contato o máximo que eu
posso. E entramos em consenso em pegar pizza.
— Pelo jeito continua sabendo do que eu gosto.
Ele comenta bem-humorado assim que desliga, se referindo a
quando me adiantei e falei o sabor que gostamos. Conheço ele,
mesmo que inconsciente.
Dou de ombros me limitando apenas nisso. Como é
impossível comermos pizza e fazer Jade comer outra coisa, ela se
empolgou ao saber que ela também vai comer com a gente. O clima
continua tenso, mas tem a pequena para amenizar, fazendo graça,
pendurada nas minhas pernas com os braços, feito um macaquinho.
— Se importa se eu for tomar banho? Para mim é maratona
quando estou sozinho com ela.
Nego, não me importando dele ir. Esqueço do tempo com
Jade, até ele voltar, cabelos molhados bagunçados e sem camisa,
com a toalha no pescoço. E me amaldiçoou por seguir o olhar para
onde ele passa a tolha, dos braços tatuados até a barriga. Exibido!
— Gostou, Liz? — me provoca. E o sujeito ainda diz que irá
se comportar.
— Não. — sou monossilábica e o seu sorriso de lado marca
presença em seus lábios. — Por favor, veste uma camisa.
— Eu não. Estou bem à vontade assim. — cruza os braços,
insolente.
— Custa vestir, Jônatas? Imagine se eu ficasse na minha
casa com você de visita só de sutiã, ou sei lá, de camisa, mas sem
sutiã?
— Eu ia amar muito.
Dá um sorriso muito cafajeste me dando uma olhada
sugestiva.
— Jônatas, eu estou falando sério!
— Continua mandona.
Escuto-o resmungar indo para o quarto buscar o resto da
roupa. A campainha toca e eu decido atender. Nessa altura do
campeonato eu já estou descalça e com os cabelos presos, porque
tinha uma pessoinha atracada nas minhas costas. Jônatas
praticamente atende a porta comigo e vejo que é uma mulher com
bom humor e a pizza.
Eles trocam palavras cortês, como se já se conhecessem e
deslocada, saio na tangente, deixando ambos na porta dialogando.
Pelo jeito, ele fez amizades por aqui.
Risos ecoam e olho pra trás rapidamente, para saber se
estavam se despedindo, pois eu estou mortinha de fome, nada mais
e me adianto, pegando a pizza, agradecendo. Mas não deixo de
escutar ela mencionando sobre Jade, que amanhã ficará com ela. E
me pergunto: Por quê?
Sirvo para mim e para Jade sem esperar Jônatas terminar sua
conversa interminável. Entretanto, ele se faz presente, atacando
uma fatia, abocanhando quase metade, sem nem mesmo sentar ao
nosso lado.
Ele sai andando mastigando e volta com duas taças de vinho,
e a garrafa, afastando meu copo de refrigerante.
— Ei! Estou bebendo!
— Já podemos beber vinho sem esconder garrafa. — seu tom
de voz é nostálgico que remete a bons tempos. — Aqui.
Agradeço e beberico um pouco o vinho e ele se junta a nós,
batendo sua taça na minha rapidamente, brindando sem motivos.
Sua ação me deixa estranha, estarmos assim tomando vinho numa
noite até agora agradável. Jade está quietinha, mastigando sem
nem mesmo mandarem, porque é pizza, claro.
— Desculpas, mas escutei sobre Jade, ela vai olhá-la...? —
comento bebericando novamente meu vinho, preocupada se ela é
confiável.
— Vou precisar sair amanhã, acho que finalmente irei me
livrar do Fórum. Não aguento mais tanta babaquice, provar que eu
sou bom pai para pessoas que sequer já trocaram a fralda dela. —
resmunga chateado.
— E é que horas? Eu fico com ela, era só me pedir. — tento
entender.
— Não queria abusar. — debocho, com apenas uma
sobrancelha arqueada e ele ri de lado, mostrando suas covinhas,
passando as mãos nos cabelos De repente, me sinto estranha. —
Por causa do seu trabalho, será à tarde… Eu falei com ela, porque
ela tem uma filha e Jade se deu bem.
Ele levanta, com o prato vazio. E me preparo para fazer o
mesmo.
— Leve-a na revista que eu trabalho, é a NOVAC e me avise.
— Proponho.
— Valeu!
E Jônatas simplesmente beija minha bochecha, casto e foi
natural, acho, mas fez com que meu corpo reagisse
vergonhosamente arrepiado, e com uma fina taquicardia.
Desajustada, pigarreio, sentindo meu corpo formigar devagarzinho,
principalmente na bochecha onde seus lábios tocaram.
11
JÔNATAS
Organizo os brinquedos de Jade, aproveitando que pediu
para dormir com Liz e eu deixei. É bom para as duas ficarem juntas
o quanto conseguirem, antes de voltarmos para casa já que o final
do processo praticamente chegou. Só estou cumprindo cronograma
jurídico mesmo.
É até engraçado essa ligação de ambas. Minha filha se deu
bem justamente com minha ex namorada. E pior, Liz é toda leoa
quando se trata da minha pequena. Quão ferrado um homem pode
estar nessa situação? Duas mulheres geniosas unidas por minha
culpa, quase sempre o resultado para nós, homens, nunca é bom. E
pior, eu gosto das duas juntas, por mim seria uma cena constante.
Meu plano é voltar essa semana já, preciso voltar a minha
vida e meus projetos de sociedade que estão em pausa por conta
disso. Mas também estou me sentindo um ser humano horrível por
separar as duas. Já vi o que a falta de Lizandra faz com Jade e
estou me preparando psicologicamente para enfrentar nossa vida
sem ela depois de doses diárias da sua presença contagiante, eu ao
menos tenho experiência.
Mas o fato é que estou terrivelmente mexido e me pergunto
se algum dia eu deixei mesmo de gostar dela. Lizandra sempre me
fascinou e não seria diferente dessa vez, ainda mais depois que
percebi que nossa química continua explosiva como sempre foi. Eu
estou fodidamente de quatro novamente por ela e pior, ela não quer
nem olhar na minha cara e conhecendo como a conheço, sei que
me odeia muito mais. Mas eu nunca fui homem de desistir do que
quero e se eu a conquistei uma vez, consigo outra, ela não pode ser
tão imune a mim.
Dessa vez quero fazer certo.

LIZANDRA
Pelo retrovisor vejo Jade dormindo serenamente e de
chupeta. Ela ainda usa, mas é raramente. Quase nunca vejo, mas
quando está de dengo pega e desse jeito parece ainda menor. Amei
acordar com ela adormecida no meu pescoço, quis dormir de novo
comigo e claro que não recusei, amo sua companhia e conversamos
feito gente grande deitadas na cama antes de adormecermos.
Com o carro parado em frente ao flat, ligo para Jônatas para
pegá-la aqui em baixo para que eu possa seguir para revista, antes
que me atrase. Ele atende, com uma voz preguiçosa e sonolenta e
me amaldiçoei por ter me arrepiado. Isso vai parar quando?
Talvez hoje ligue para Alejandro, estou a fim de um chamego,
de um sexo que não seja com Jônatas, quem sabe seja isso meu
peso na consciência maior? É disso que preciso para parar de
pensar e ficar me arrepiando com bobagens.
Escuto dois toques na minha janela e vejo Jônatas sonolento
e cabelos desordenados e engulo a seco, de repente pela visão que
não esperava.
— Bom dia — seu tom de voz sussurrado quando saio do
veículo me obriga a me recompor mais que rapidamente.
Respondo, e ele intercepta meu caminho até a porta traseira
onde Jade está na cadeirinha. Confusa e com uma leve taquicardia
por estar segurando meu pulso para que eu pare, encaro seus olhos
verdinhos.
— Não me seja fria, vai. — pede quase dengoso e ele sabe
que isso é golpe baixo.
— Estou tratando normal. — respondo com calma.
— Não é o suficiente, eu sinto falta da Liz bem-humorada.
Estou me sentindo malzão com sua frieza, estou tentando me
redimir por todo os erros. — num puxão, nossos corpos se colam e
ele me prende com a mão pesada na minha cintura. — Estou
mexido por você novamente, Liz, doido para ter você de novo. O
que eu faço com esses sentimentos?
Chega mais perto abaixando o tom de voz, deixando nossos
rostos próximos.
— Esquece. A gente foi passado… não mistura as coisas. —
gaguejo nervosa.
Sinto meu corpo trêmulo dos pés à cabeça, a ponto de
perceber meus joelhos fracos, não aguentando mais sustentar meu
corpo, diante dessa declaração, não deixando de encarar seus
olhos verdes que estão mais claros que o normal. E seu olhar sai
dos meus olhos, encara minha boca e volta para os meus olhos.
Ainda bem que o carro me sustenta.
— Admite que ainda mexo com você, como mexe comigo,
não é possível que só eu esteja dessa forma. Passado já foi, eu
quero você no agora. Caramba, Liz, você ainda tem capacidade de
me fazer sentir tudo novamente!
Segura meu pescoço nos aproximando mais e engulo seco
com taquicardia, ansiosa a ponto de adormecer os músculos. Teve
meses que sonhei com esse dia, que ele voltava e se declarava
para mim, mas agora, depois de tantos anos? Parece tão errado e
fora de contexto. Não dá para simplesmente colocar tudo no bolso e
fingir ser o que ele se lembra de mim.
— Exatamente. Passado já aconteceu e você quem decidiu
acabar com tudo, Jônatas. Minha vida seguiu, não fiquei estagnada
te esperando, não dá para simplesmente te encaixar.
— Eu quero você, somos melhores juntos que separados.
Lembra?
Sussurra calmamente a frase que eu disse a ele quando
soube que iria me mudar e morar aqui, alisando minha bochecha e
espalmo minha mão no seu tronco duro e relevado, para manter
nem que seja um pouco de distância. Porque ele tinha que ter esses
músculos tão firmes?
Ele acha o quê? Que é assim? Não quero e tchau! Agora eu
quero e venha?! Por favor! Eu não tenho mais dezesseis anos. Eu
tenho vinte e sete. Foram onze anos que se passaram e não um.
Não é assim que tudo funciona.
— Lembro. E lembro também que você falou que separados
viveríamos melhor. Eu não sou mais aquela garota, Jônatas, supere
isso, a Lizandra de ontem não é a mesma que você está vendo
hoje. Não se iluda com lembranças de um passado que não volta,
chega disso, não somos compatíveis. Você voltou com dez anos de
atraso.
Com o gosto amargo de nostalgia na boca, o empurro para
manter distância. Remexer em coisa que nem deveria mais lembrar
é a pior coisa que se pode fazer. Inclusive comigo.
— Eu também não sou o mesmo, e daí? E eu quero essa que
estou vendo aqui na minha frente, a mulher que está me deixando
louco pela segunda vez. Você é insuperável, Lizandra. Admite para
si mesma, que pelo menos gosta mais do que queria.
Suas palavras afiadas vieram pra me enlouquecer, ele
ensaiou isso, para me deixar dessa forma, não é possível.
Insuperável? Porque ele tinha que ser tão...franco? Seu
sobrenome, aliás. Porque simplesmente não para de fazer isso?
Qual o problema de esse ser humano?
Com calma, tentando ao menos, lhe entrego Jade alheia a
tudo isso no seu colo e ele permanece me encarando, numa
expressão firme e significativo.
Vou para entrar no carro e ele pega novamente meu
cotovelo.
— Esse erro que você acha que cometi lá trás, foi só para
mostrar que se for para ficar juntos, ficaremos. E se depender de
mim, só descanso quando tiver você.
Calada, entro novamente no carro, pegando uma grande
lufada de ar, me preparando psicologicamente para trabalhar depois
de tudo.
— Já falei o que tinha o que falar, por favor, não esqueça de
me ligar quando tiver chegando lá na revista.
Limito-me em acenar depois do recado, pois tenho a leve
sensação que se eu abrir a boca mais uma vez, o que quer que eu
fale, vai vir no meio de um choro.
JÔNATAS
Chateado e frustrado como passei o dia inteiro, com a
impaciente no meu colo que pergunta por Liz a cada dois segundos
desde que acordou pela manhã. Parece o burro do Shrek no
caminho, repetindo: “chegou, papai?’’ a cada dois segundos.
Deixando o carro estacionado, sigo atrás de Lizandra na
revista. Encarando o prédio espelhado com o logo no topo em
destaque em neon rosa elegante, sinto uma pontada de orgulho
dela. Acompanhei ela na escolha, decidiu que iria fazer jornalismo e
agora está aqui, na revista famosa que minha irmã e qualquer
mulher que eu conheça lê.
Liz simplesmente voou!
Antes de adentrar o hall a vejo saindo e perto das escadas,
vejo o exato momento que um cara, que está equipado, parece ser
segurança da revista, a pega pelo braço a fazendo virar já arisca.
Pressentindo problemas, adianto os passos, escutando-a vociferar
enraivecida: ‘’não toca em mim!”
— Liz?
Faço uma média de olhar entre ela e o sujeito que faz o
mesmo comigo. Somos quase do mesmo tamanho, mas ele tem um
adicional de cassetete na cintura, por ser segurança. Mesmo assim,
se for preciso, entro numa briga com ele sem nem pensar duas
vezes.
— Oi, amor.
Diferente do que achei que me receberia, ela sorri para mim,
puxando a mão que ele segurava com grosseria, pondo no meu
ombro em apoio, antes de colar nossos lábios com volúpia, me
deixando completamente surpreso e sem ação.

LIZANDRA
Trêmula de adrenalina, com os lábios formigando, separo
meus lábios do de Jônatas que está atônito, com sobrancelhas
levemente juntas. Logo a gravidade da minha ação me golpeia, e
sem dizer uma palavra, sinto a vergonha me atingir. Eu o beijei!
Sou interrompida por uma coisa nada agradável de ouvir.
— Pelo jeito você gosta mesmo de homens comprometidos.
— Em tom debochado, Roberto bosteja.
É, ele mesmo, o ser humano desprezível que me fez de
trouxa por dois meses e é responsável pela metade do caco que
sou hoje. Encarando- a agora só me pergunto como fui dá ouvidos
a ele? Como fui gostar? Às vezes me pergunto seriamente o que me
fez sentir atração por ele. Hoje eu olho e só sinto nojo!
— Tá louco, babaca! — Enraivecido, ele tenta avançar, mas
seguro seu ombro.
— Vamos embora, John. — Tento contornar a situação, o
chamando pelo apelido, numa tentativa, em vão, que ele me ouça.
Eu só preciso ir embora, estou a ponto de desabar. Ele me faz
mal, só em presença.
Chamo pelo apelido em uma tentativa de ele me ouvir. Fico
trêmula de pura raiva e irritação também. Estou ao ponto de
desabar.
— Isso mesmo, cara. Isso aí é uma vadia, cuidado, hein?
Trêmula dos pés à cabeça, tendo seu olhar porco em cima de
mim, sinto a razão me abandonar, ao ponto de perder a compostura,
querendo ir para cima dele, cega de raiva, mas Jônatas me segura
com uma mão, pois a outra está com Jade que está assustada e
sem entender nada.
— Repete essa porra!
Sem controle, Jônatas põe Jade no meu colo que me abraça
apertado pelo pescoço, escondendo o rosto, avançando para cima
de Roberto.
— Não precisa ficar bravo. O que queria dela eu já tive. Pode
dizer, ela é bem fácil!
Com lágrimas teimosas querendo descer, me sinto menos que
um lixo. Fácil? Ele me ludibriou por semanas, com sua pose de bom
moço me entregando chocolates e elogios. É, eu sei, ele me
conquistou com coisas meia boca e clichê, comparada a tudo. Mas
ele me pareceu tão...verdadeiro e singelo na época.
Jônatas dá o primeiro soco. Na boca e de vez. Recuo com
Jade quando vejo agora uma briga de Roberto querendo descontar
e Jônatas revidando por cima. Chamou a atenção de algumas
pessoas e não tenho reação alguma de gritar ou tentar separar. Só
consigo abraçar Jade para protegê-la, que me aperta, me agarrando
com força e com a cabeça enterrada no meu ombro. Ela está
assustada tanto quanto eu.
Roberto tenta jogar baixo, tentando pegar o cassetete preso
na cintura, mas os outros seguranças aparecem separando a
confusão. Tem poucas pessoas aqui, que saíram do prédio, mas o
suficiente para me deixar constrangida por essa cena toda.
Jônatas com roupa amassada e cara nada boa, se solta com
marra, jogando os cabelos para trás.
— Da próxima vez, finja que ela nem passou por você. Vem,
Liz.
Escuto ele me defender, antes que eu dê as costas e saia em
disparada com Jade no meu colo, com as vistas embaçadas e tento
me manter forte, pois se eu desabar agora não paro tão cedo. Estou
atordoada demais. Fiquei um bom tempo sem vê-lo. Esse imbecil,
felizmente, não é do turno que trabalho. Ele fica à noite, mas não sei
que raios ele está fazendo aqui agora de tarde.
Jônatas me alcança. Olho para seu rosto que está
avermelhado de raiva ainda e os cabelos desordenados. Assim
como a camisa social amassada. Ele está indo para o fórum e vai
chegar todo amassado, por minha causa.
— Me desculpa por isso e...e....obrigada por me defender.
Peço num sussurro envergonhado. Encará-lo faz com que a
realidade de o ter beijado me esmurra, ele irá querer uma
explicação que eu não quero dar. Jônatas tem que ficar por fora dos
meus problemas, viu? Eu sou uma sucessão de erros!
Tudo porque eu quis mostrar para ele que não estou tão
quebrada quanto ele imagina. Pelo menos superficialmente.
— Não se preocupe, jamais deixaria alguém falar essas
coisas de você.
Tenta desamassar um pouco a camisa e ajeitar o cabelo. E
ajudo como consigo, arrumando seus cabelos e camisa.
— Vou colocar o blazer por cima, dá pra disfarçar.
Calada, vejo ele trocar a cadeirinha de carro e me entregar
uma mochila infantil.
— Jônatas, eu... — atordoada, tento dá uma explicação que
sequer sei como fazer.
— Na volta passo na sua casa. — ele me corta e eu agradeço
mentalmente por isso.
Despedimos-nos brevemente e sigo para casa com o som
baixo, para ter algo em que me concentrar além do trânsito e
conversando qualquer coisa com Jade que está quietinha, para não
tentar me afundar em pensamentos ruins, disposta a inventar algo
na cozinha quando chegar, já que Jade me pediu ‘’bicoito’.
Entro em casa com Jade adormecida e depois de pô-la na
cama, tento relaxar no banho, mas sem energia alguma, me jogo no
sofá, exausta e além de tudo, triste. Estou um caco. Arrasada.
Rever Roberto depois de muito tempo foi tão... angustiante e
desesperador, para falar a verdade.
Ele me tratou como se eu fosse lixo. Achei que ele seria o
cara certo para mim. Mais velho e experiente, pé no chão. Achei que
era isso que eu precisava, parar de sair com homem da minha
idade. Mas vejo que foi a pior decisão da minha vida aceitar as
investidas dele. Eu estou arrasada, e não evito as lágrimas de
virem. Minha vida está uma completa confusão e não consigo parar
de pensar nas investidas de Jônatas, nunca pensei que ele iria se
declarar daquela forma, mas não posso me iludir, além de tudo, tem
Jade no meio. Não é justo com ela se colocarmos os pés entre as
mãos. Eu só quero me refugiar num lugar quente até que meu
coração pare de latejar. Não aguento mais tanta decepção, tanta
ilusão, tanta mágoa!
Eu preciso recuperar nem que seja dez por cento da antiga
Lizandra, mas é difícil!
— Ei...
A voz sonolenta de Jade chama minha atenção e ela escala
meu corpo, ficando em cima de mim e tento disfarçar meu recente
choro. Chorar não passa nada, mas alivia.
— Dodói? — indaga manhosa e inocente.
Aceno e estico os lábios, num sorriso sem vontade e ela me
examina, passando a mão gordinha na minha bochecha,
expulsando a lágrima teimosa que ainda caía e foi ainda mais difícil
segurar o resto do choro. Com o coração aquecido, sorrio para ela,
de verdade dessa vez. Ela põe a cabeça no meu peito e de olhos
fechados, aperto-a no meu abraço.
Ela sempre é minha bateria. Onde recarrego tudo e me
desfaço dos sentimentos ruins. Não é à toa que seu pequeno nome
significa preciosa. Pois realmente é, pelo menos a minha. É
praticamente inexplicável esse amor veloz e imenso que eu sinto
por ela.
— Boneca, amo você, sabia?
Confesso e ela sorri para mim, com as bochechas gordas e
dentes curtos e tenho vontade de mordê-la, mas me contento em
beijar seu rosto várias vezes, fazendo ela piscar diversas vezes a
cada um.
— Vamos comer? Você escolhe. — ela mostra uma cara de
sapeca.
— Menos chocolate.
— Bicoitinho?
Mostra o dedinho, mostrando o número um, tentando me
convencer, feito gente grande.
— Vamos fazer um bolo de chocolate? — proponho e ela
acena efusivamente.
Seguimos para cozinha ocupar a mente e foi uma bagunça,
Jade ficou suja da cabeça aos pés, assim como minha cozinha
inteira, pois meteu a mão na farinha enquanto eu fazia e jogou para
cima como se fosse neve. Comemos o bolo depois de limpas e
quase oito da noite, Jônatas chega, fazendo com que meu corpo
reaja com sinais de ansiedade.
Temerosa e angustiada, pergunto sobre o final do processo.
Jônatas abre um pequeno sorriso, confirmando sem nem mesmo
abrir a boca.
— O pesadelo acabou!
Ele exaspera aliviado e tento me contagiar, mas não consigo,
por saber que eles realmente vão embora. E ele percebeu, pois
chegou mais perto me deixando desajustada e cruzo os braços me
sentindo desprotegida com ele próximo.
— Porque me deu aquele beijo, Liz?
Pergunta expressivo, e sinto a garganta secar, sem saber
ainda que resposta dar.
12
LIZANDRA
— Quer café? Fiz bolo. — fujo do assunto e ele concorda.
Sigo para cozinha e ele vem atrás, deixando Jade na sala
assistindo TV.
— Não foge do assunto, Lizandra. — faz uma nova tentativa.
— Fui impulsiva, não pense errado.
— Como você não quer? Falo tudo aquilo para você pela
manhã e em seguida me beija daquele jeito...caramba, Liz, eu
quase não raciocino o resto do dia, muito menos no Fórum.
Chega mais perto, invadindo completamente meu espaço me
fazendo sentir um pouco do seu perfume amadeirado.
— Jônatas, por favor...
Fecho os olhos para não cair na tentação da boca dele. Por
que ainda tinha que me atrair tanto? Porque tinha que ser desse
jeito? Por que mexe tanto comigo depois de tudo? Eu simplesmente
não posso me entregar para ele, vai mais além do orgulho. Muito
mais.
Estou cansada de ser iludida com palavras bonitas e em
seguida feita de idiota o tempo todo por todos. Preciso de um tempo
para mim, para catar todos os pedacinhos que ainda estão no chão,
já que hoje algumas partes que estavam coladas, despencaram e
quebraram.
Ele segura na minha bochecha, fazendo com que eu o
encare.
— Eu não quero te iludir, Liz. Não vou fazer promessas
perfeitas, só quero tentar fazer certo.
— Eu não quero, Jônatas. Para de falar essas coisas, por
favor. — sentindo a voz trêmula falhar, peço. — Não me faz me
sentir mal.
— É por causa daquele cara? Quem é ele, Lizandra? —
escorrego pro lado, saindo de perto dele, atordoada.
Parece que ele não enxerga as coisas. Eu simplesmente não
estou apta para isso.
— Não é da sua conta! Chega, Jônatas!
Encerro o assunto de uma vez. Não quero contar justamente
a ele o passado que quero apagar e esquecer. Ele fica exasperado
passando a mão nos cabelos, levando para cintura logo em
seguida.
Voltamos para sala e entrego mais um pedaço de bolo a
Jade, que pede para dormir aqui comigo novamente. E vejo que seu
faro é igual ao do pai, mais uma vez Alejandro ficará para depois.
Pelo jeito afogarei as mágoas de outra forma hoje que não com o
mexicano.
— Se não for problema, pode ficar. É até bom, que assim
consigo arrumar nossas coisas e vocês passam mais tempo juntas
para se despedirem. — o coração doí com suas palavras.
— Vocês vão que dia? — na frente da rua com Jade no meu
colo, indago temendo a resposta.
— Amanhã. Preciso resolver umas pendências.
Apenas aceno, chateada, concordando sem ter o que dizer. E
ele despede de nós duas, com beijos na testa, casto inclusive em
mim, fazendo com que eu prenda a respiração.
Eu nunca sei como agir quando ele faz essas coisas.

JÔNATAS
Mesmo com a notícia boa, não consigo estar feliz. Olhos as
malas tão desarrumadas quanto a minha vida. Preciso organizar o
quanto antes ambas coisas.
Já comuniquei a minha família minha volta e eles estão
ansiosos. Mas de certa forma eu estou nenhum pouco feliz. Queria
mesmo comemorar com ela, do jeito completamente meu. Juntos,
na cama por essa vitória. Mas ela quer? Não!
Eu já não sei o que fazer para Lizandra me aceitar e confiar
em mim. Minha vida amorosa está inexistente. Tudo por causa dela.
Eu podia ir conhecer a mulher que quisesse. Mas ninguém me dava
a porra da emoção, mesmo com nossas trocas de farpas quando
ficamos perto do outro, como ela me dá.
Lizandra tem uma teimosia ímpar, caramba! Eu abrir meu
coração, joguei as cartas na mesa e ela renega, é claro que ela
também está mexida, mas nega até a morte se for possível. E me
mostrou do que era capaz, quando quer, na madrugada que
transamos. Liz claramente quer se entregar a mim, mas tem medo.
Medo de quê? Eu estou mostrando o suficiente, que estou mais
maduro e a querendo, mas ela se prende. Vai contra si mesma. E
aquele homem e toda a briga que entrei por causa dela não me
desceu.
Eu a quero como nunca. Ela precisa ser minha. Precisa! E eu
não posso esperar. O tempo já está se esgotando e de uma hora ou
outro eu vou precisar voltar para casa.
Com ou sem ela.

LIZANDRA
Com o coração espatifado, vejo o carro de Jônatas
estacionado com o porta-malas, Jade no meu colo adormecida. Pedi
folga hoje e inesperadamente consegui. Passei o dia inteiro com
Jade, num clima angustiante de despedida, porque Jônatas tinha
avisado que estava indo embora hoje e não tive cabeça para ir
trabalhar, sabendo que não irei vê-la tão cedo. Eles ainda nem
foram e já eu estou morta de saudades.
Em passos calmos, Jônatas chega até a mim.
— Estou tentando mais uma vez. Vem com a gente ou se
pedir para ficar, eu fico, Liz. De verdade, eu estou disposto a isso, a
fazer dar certo como não deu antes.
Para ele, eu só ofereço meu silêncio. Encarando seus olhos
verdes que brilham feito esmeraldas sinto o choro que prendo vir na
garganta, cada partícula do meu corpo tremer em ebulição e o
coração doer fininho.
— Não tenho mais cabeça para aventuras, Jônatas. Revival a
essa altura do campeonato?
— Do que você tem tanto medo? Eu estou disposto a reparar
todo o meu erro! É só você dizer que me aceita de volta! —
exaspera. — Sei que eu quem terminei, sei que eu fui babaca, mas
eu amadureci, Lizandra, caramba!
— Tem questões e questões, Jônatas! Não vou viver uma
aventura como se tivesse quinze anos só porque você decidiu isso!
Eu não confio em você! — também perco minha paciência.
— Cara, é exatamente isso, não temos mais essa idade, Liz.
Somos adultos. Você acha que doeu só em você o nosso término,
que foi uma decisão difícil só para você? Eu sacrifiquei nosso
relacionamento em prol do seu crescimento e do meu! Poderia dar
certo o namoro a distância assim como poderia definhar.
— A gente só saberia se tentasse, Jônatas! Você não foi
nobre ou porra nenhuma disso, você foi egoísta em só me falar das
suas decisões depois de ter me iludido que iria dar certo! Mas
esperou eu estar indo embora para me contar! — Vocifero, já com
os olhos molhados de reviver tudo isso de forma tão crua.
— Éramos imaturos para isso! E no final deu tudo certo, foi a
decisão correta que fiz no momento, você não estaria nesse
emprego, no patamar que vive hoje. A gente se reencontrou depois
de anos solteiros. Não se parece um sinal para você? Eu não quero
ir embora nessa situação, Lizandra! — percebo que ele também
está tão angustiado quanto eu nessas lembranças.
— Eu trocaria tudo que eu tenho para ter a vida que a gente
tinha planejado, porque era com você! Eu não ligo para carro
nenhum, Jônatas, nem cargo, se no final do dia eu me sinto vazia e
sozinha. Mas isso também não importa mais, porque eu não vou
com você, não sinto nada por você, e se estiver sentindo, eu vou
esquecer como já esqueci antes!
Jogo para fora minha maior mágoa os ‘’se’’ me castigam de
uma forma inexplicável mesmo quando não quero. Não evito cair no
choro sentindo tudo aceso novamente em mim. Minhas mágoas
estão praticamente em carne viva, tendo uma conversa que era
para ter acontecido a dez anos atrás. Ele me abraça e eu choro
descontrolada no seu ombro. Estou um verdadeiro caco.
— Pense que se a gente tivesse dado certo, Jade não
existiria do jeitinho que é.
Ele me acalenta, e eu choro copiosamente, abraçando Jade
que ainda está adormecida no meu colo, sequer se assustou com os
níveis de estresse elevados entre nós.
Comenta comigo ainda abraçada e chorando copiosamente.
Me separo, limpando meus olhos e sem Jade, que ele pegou.
Eu não posso me iludir mais uma vez, dar razão ao meu lado
romântico, porque no final só eu me magoo. Agora já é tarde para
voltar tudo. Eu não estou mais em condições de tentar viver outro
romance. Eu só preciso ficar sozinha.
— Só diz para mim que nunca fui nada para você, que eu vou
embora, Liz. Que não sente nada por mim. Diz isso nos meus olhos
que eu não insisto mais.
Ele me olhou como se quisesse me entender. Como se
tentasse ler meus olhos, encontrar algo dentro deles. E aquilo
poderia não fazer o menor sentido, mas o fato era que eu havia
ficado um pouco desconfortável com o jeito como ele me olhou, me
sentindo completamente exposta.
Fecho os olhos, respirando fundo e o encaro novamente,
trêmula e angustiada, totalmente desalinhada.
— Eu não sinto nada por você, Jônatas.
Da forma mais fria que consigo, declaro. Seu rosto assume
uma expressão frustrada e chateada, acenando.
— Então eu estou indo embora. O único motivo no qual eu
poderia ficar não me quer perto. Eu lavo as minhas mãos!
Num tom mais gélido que o meu, ele dá o ponto final em tudo,
e as lágrimas descem sem controle, vendo-o colocar Jade
adormecida na cadeirinha e seguir pro banco do motorista.
— Tenha uma boa vida, Lizandra. Adeus!
A faca já fincada no meu peito rodou vendo seu carro seguir
na avenida na direção oposta a mim, para bem longe, a ponto de eu
sequer mais ver o farol. Mal entro em casa e desabo num choro
doloroso o suficiente para durar uma madrugada inteira e meus
olhos mal abrirem pela manhã de tão inchados que ficaram.
A realidade de ter voltado à vida sem graça assumindo seu
posto mais uma vez me deixa com uma sensação de tanto faz. A
realidade inverteu, eu quem fiquei e decidir não seguir junto. E é
doloroso admitir, mas eu me tornei a pessoa errada de outra
pessoa. Não foi intencional, mas acabei pagando na mesma moeda,
a diferença é que eu nunca sequer dei ilusões que tudo acabaria
bem, porque em finais trágicos, eu sou mestre. Às vezes tenho
vontade de passar uns bons meses fora, longe de tudo e todos para
me reconectar comigo mesma.

JÔNATAS
Fito Jade adormecida e enrolada, na minha cama, decidi
deixá-la dormir comigo, porque quando acordar vai ser um chororô.
A casa continua a mesma, do jeito que deixei, mas estou com a
sensação estranha dentro dela, sentindo frio, não propriamente do
clima da cidade, mas é em mim mesmo em que há algo
estranhando minha própria casa. Não tem mais gosto de lar.
Aliso seu rostinho com as bochechas rosadas e
automaticamente sorrio. Ela, sem dúvidas, foi a melhor coisa que
aconteceu na minha vida. Mesmo de surpresa. Ver pela primeira vez
esse pequeno bebê loiro e chorona, me deu coragem para muita
coisa nesse mundo.
Preciso lembrar como eram nossas vidas antes de tudo.
Antes de reencontrar Lizandra, dar um jeito na minha vida de uma
vez.
Tentei consertar tudo, ela optou por não querer, não queria
que terminasse assim, mas não tem como eu ficar correndo atrás de
uma pessoa que não quer ser alcançada. Mesmo que eu não vá
esquecê-la tão cedo, ainda mais depois disso tudo que
protagonizamos nessas semanas.
Bagunço meus cabelos e me lanço na cama ao lado de Jade
para tentar descansar. Sentindo o seu cheiro e ouvindo o barulho da
chuva que começou a cair lá fora, tento relaxar. O plano era só
pegá-la e voltar para casa, mas nada é como planejamos. Quis
apenas sair com Jade, porém ficou uma parte minha com Liz,
mesmo ela não se tocando disso e se soube, ignorou.
13
JÔNATAS
Mulher veio pré-programada, não é possível. Decidi trazer
Jade no shopping, para espairecer e divertir. Dois dias de dengo e
chorinho no meu ombro. Fiz todas as vontades, comprei boneca,
roupa que ela escolheu. Dei sorvete, deixei brincar no parque, estou
cheio de sacolas, mas agora está irritada comigo sem motivo algum,
toda emburrada de braços cruzados me olhando séria, como se eu
tivesse alguma culpa de algo. É coisa de mulher, só pode!
Mas eu sei o que é, saudades. Liz, sem dúvidas, é a pessoa
mais especial desse mundo. Tanto para mim, tanto para minha filha,
que a fez derreter em dois tempos. E desde que voltamos ela está
com esse humor instável.
Carrego-a para irmos para casa dos meus pais, visitar minha
irmã e seu bebê recém-nascido. Ela me olha com biquinho triste e
quem é pai sabe quão isso é angustiante não poder fazer nada.
Acaricio suas costas, quando ela apoia a cabeça no meu ombro
querendo chamego.
Eu sei, filha, a falta que ela faz depois que entra nas nossas
vidas, vai passar, aos poucos vai doer menos.
Apesar de ela ter meu número, ela não ligou ainda, sequer
sei se isso irá acontecer. Jade até pergunta por ela, mas eu estou
tentando entretê-la ao máximo para ver se esquece um pouco essa
falta.
E o pior não é nada, quando acho que deixei aquela cidade
para trás, no começo da semana irei pisar lá mais uma vez, a
negócios. Enquanto estive lá, também chequei a cidade para saber
se tem investimentos bons. E até achei um escritório ótimo de
advocacia, irei lá para conversar e ficaria feliz se for vantajoso,
mesmo que para isso eu tenha que transferir de cidade.

LIZANDRA
Focada a colocar minha vida nos eixos, vim com todo gás
nessa segunda-feira para resolver todas as pendências do meu
trabalho. Acabei de sair da sala de Scarlet que me chamou para
esclarecer a confusão na entrada da revista no final da semana
passada, e ela, com uma leve satisfação, garantiu que ele não iria
mais causar constrangimentos comigo. Foi demitido, porque ela
sempre foi a favor de ter apenas mulheres no prédio, justamente por
esse tipo de coisa. Não era apenas comigo que andava se
engraçando, além de ser a outra, eu era a outra que também era
traída. Inacreditável, né? Fui tão enganada quando a mulher dele.
Tomei um puxão de orelha também, para manter a ordem das
coisas. Mas sem advertência. Ainda bem. Estou tentando voltar com
minha produtividade e ocupar a cabeça também, o peito tá
pequeninho de saudades. Saber que no final do dia não vou buscar
Jade me dá uma tristeza... Sequer tive coragem de ligar para
Jônatas, mesmo discando seu número diversas vezes todas as
noites.
Do trabalho sigo direto para o shopping. Gustavo, meu
cunhado, jogou uma bomba no colo Taís recentemente. Decidiu
casar com Natasha e detalhe: é surpresa. E agora por estar se
aproximando, decidiu me pedir ajuda para os toques finais.
Organizar casamento em um mês é o cúmulo da loucura, mas
confesso que quero ver Natasha nessa posição: como noiva. Logo
ela que corre como o diabo foge da cruz. Estou encarregada da
roupa dela, porque eu a conheço melhor que Taís. Está em cima da
hora já que é próximo final de semana.

JÔNATAS
Parece mentira. Eu longe da casa dela, no centro da cidade, a
encontro justamente aqui, na mesma hora no estacionamento. Ela
saindo e eu chegando para jantar antes de seguir viagem depois de
uma tarde cansativa e produtiva no escritório de advocacia. Acho
que dessa vez dará certo.
Ela está de costas, jogado coisas no porta-malas, com um
vestido que poderia ser maior, evidenciando suas coxas grossas,
mas a conheço de olhos fechados porque meu corpo simplesmente
percebe que está próximo, me fez olhar imediatamente para sua
direção. Ela percebendo ou não que estou com meus olhos
cravados nela, olha para trás, diretamente nos meus olhos, parando
de organizar a mala do carro.
Encaro sua íris cor ágata azuis, me recobrando do momento e
meu corpo reage imediatamente. Sem sequer raciocinar, travo meu
carro, andando até ela. E percebo que engole a seco quando estou
próximo.
Não falamos nada, apenas nos encaramos e coloco as mãos
no bolso, para conter minha vontade de tomá-la pelos braços.
— Cadê Jade? — sua voz sai rouca e baixa e me praguejo
mais uma vez.
— Em casa. Ela está com saudades... — engulo o ‘’eu
também’’
— Em breve ligarei, estou sentindo o mesmo. — sua
expressão vacila. — Diz que mandei beijo.
— Eu também quero um, também senti saudades.
Trago-apara perto, fazendo o que eu quero, onde ela tem que
estar. Encaro-a, percebendo que seus olhos estão opacos e tristes.
Diferente do que é normalmente. Liz tem olhos tão profundos que
fazem com que eu quisesse descobrir o que quer que fosse que ela
teimava em esconder de mim. Ela olha ao redor parando de me
encarar, ficando desconfortável.
— Jônatas, por favor...
Sua voz saiu mais como um miado dengoso e espalmo mais
minha mão nas suas costas. Ficar perto dela assim é gostoso
demais. Não a solto, mas também me mantenho calado.
Ficamos em silêncio por algum tempo e ela incrivelmente não
me afasta, talvez tão magnetizada quanto eu no momento. Seguro
no seu queixo, fazendo-a me encarar mais uma vez. E como não
sou de perder tempo, colo nossos lábios com voracidade querendo
matar a saudade de cada pedacinho dela. Liz corresponde na
mesma ânsia, e é isso que me dá a certeza que ainda teríamos
chance se ela simplesmente se deixasse levar, confiar em mim,
mesmo que tenha motivo para o oposto.
— Volta para mim, vai. Eu irei te fazer feliz, só confia em mim.
Perdoa meus erros, por tudo que te fiz passar e chorar. Me perdoa
por tudo que já te fiz de mau, Liz! Eu quero te beijar, relembrar
apenas os melhores momentos e apagar os ruins, por no lugar
desses lembranças melhores. É só dizer que quer tentar.
Dou mais alguns selinhos, voltando a encarar e seus olhos
estão perfeitamente sedutores. É nítido que ela amoleceu. Ela
claramente desalinhada, empurra levemente meu corpo, respirando
com uma certa dificuldade e mesmo com sua recusa, sorrio ao vê-la
tentando fingir que imune a mim. O que vale a pena nunca é fácil,
porra!
Ela escorrega pro lado, correndo para o banco do motorista e
a deixo ir, ainda me divertindo da sua ação. De certa forma isso me
afaga, eu não vou desistir. O foda é que agora estou cheio de
vontade, pau meio acordado, me induzindo a correr pro banco do
passageiro e só sair dali direto para sua cama. Mas sei que se fizer
isso ela me empurra para fora e ainda passa o pneu por cima de
mim.

LIZANDRA
Depois do banho atendo Alejandro que me presenteia com
um sorriso imenso e costumeiro, mostrando que trouxe comida.
Cedo passagem agradecendo pela atenção. Ele se convidou ao me
ligar e não quis negar, mesmo que eu não esteja tão disposta hoje a
nada depois com o meu encontro com Jônatas. O que ele fazia aqui
novamente?
Acostumado a ficar aqui dentro, ele se joga no sofá e eu o
acompanho. Ele me abraça de lado e eu apoio minha cabeça no seu
ombro. Talvez eu ponha um fim nisso logo de vez, não sei. Estou
sem saco e preciso de tempo para mim.
— Como está? — pergunta.
— Normal...
Suspendo meu olhar para ele que me examina preocupado.
Ele, antes de tudo, é um ótimo amigo. Colamos os lábios
naturalmente num selinho apenas e percebo que não sinto aquele
tesão todo que Jônatas me faz sentir e isso é uma droga. Nos
separamos, e volto a posição que eu estava.
— Alê, queria dizer que... — inicio.
— Nem precisa, Liz. Já estava esfriando mesmo. — ele
sempre prático, não espera eu falar o que ensaiei durante o banho.
— Minha vida está um completo caos. Eu juro que se eu
estivesse inteira, você seria minha escolha. Mas não mando no
coração. Não é justo com você eu te usar de estepe, mesmo sendo
o nosso trato no início. Eu te acho um amigo incrível para ser usado
dessa forma. — sou sincera.
— Fique tranquila, se eu te forcei a barra sobre algo mais
sério, desculpas. É aquele cara lá, né? Não dá para competir com
ele. Ele tem uma bebê fofa!
Sorri doce para mim.
— Não é por causa dele. Jônatas não tem nada a ver com
isso aqui. — respondo me sentindo afetada de repente.
— Tudo bem, Liz, não se preocupa, eu também estou
conhecendo uma pessoa, ela me parece muito bacana. Tô gostando
dela. Para você tem problemas?
Nego, sem mágoas, nunca fomos fixos e muito menos
exclusivos.
— Claro que não tem problemas. Continuamos amigos? —
questiono.
— Sempre!
Decide levantar, indo até a porta. Despedimos-nos com um
selinho rápido e uma leveza perfeita.
— Só diz a ele que estou de olho e se ele aprontar, eu tenho
facas afiadas!
— Jônatas não tem nada a ver!
Reforço e ele acena, sorrindo, se despedindo de uma vez, me
dando as costas. Até parece que Jônatas tem algo a ver com isso!

Vendo minha irmã apaixonada passando por mim, depois do


final da cerimônia linda com direito a pedido fofo de Gustavo e o
susto de Natasha com o casamento surpresa, sorrio encantada.
Minha irmã está linda na roupa que escolhi para ela. A maluca agora
é uma mulher casada. É até engraçado isso, Natasha casada, quem
diria. Homem apaixonado é fogo!
Sentada sozinha na mesa, com Nina no meu colo adormecida
feito um pacotinho, presto atenção na pista de dança. Nat e Gustavo
dançando, assim como Taís e Rodrigo e Alie e Murilo com Tiago
sendo feito de sanduíche pelos dois. E pensando na família linda
que cada uma deles construíram, não deixo de me sentir feliz, mas
também um peixinho fora d’água. Suspiro pensando que gostaria de
ter esses momentos também. Receber esse cuidado que Murilo tem
com Alexia, depois de tudo que minha amiga passou com seu antigo
relacionamento abusivo, enquanto dançam e a reverência que
Gustavo tem com Natasha. O brilho no olhar vendo-a dançando com
Vinicius. Logo ela que sempre foi uma cafajeste assumida.
Minha cabeça vai imediatamente em Jade e...Jônatas. Os
dois estão fazendo uma enorme falta sem estar aqui comigo. Me
sinto um zero à esquerda naquela confraternização, mesmo todos
me incluindo, já que esse é um estado de espírito.
Liguei ontem, e quase chorei na linha quando ela me
perguntou porque eu não vou lá vê-la. Jônatas entrou junto na linha,
porque estava no viva-voz, com a intenção de me estabilizar, com
uma voz muito gostosa falando que eu seria bem recebida se fosse.
Ele me mandou seu endereço por escrito no final da ligação. Vendo
a felicidade das minhas pessoas preferidas da vida, me dou conta
que esse idiota tanto quis que me dobrou um pouco.
Toda a insistência...e quando foi embora, senti um vazio
terrível. E não só por ficar longe de Jade.
— Tira essa carinha, irmã. Me parte o coração. — Nat senta
do meu lado, esbaforida.
— Estou sem clima, Nat. De verdade. — olho para ela.Alexia
e Taís iguais, sentam também em torno da mesa.
— É Jônatas? Vocês ainda estão no impasse? — Taís
pergunta. Eu e ela andamos conversando essa semana e ela quis
saber algumas coisas.
— Não tem impasse, sis. Eu decidi não querer.
— Porque, Liz? Ficar aqui sofrendo adianta de nada. Só te
deixa pior. — Alie comenta.
— Tem questões, gente, eu estou tentando organizar minha
vida, mas cada vez que ele aparece ele bagunça mais e não quero
isso. — frustrada, conto que nos vimos no shopping e que nos
beijamos.
Natasha começa a cantar Evidências com um certo exagero e
eu reviro os olhos quando ela vem toda debochada cantando mais
empolgada o refrão: e nessa loucura de dizer que não te quero, vou
negando as aparências, disfarçando as evidências, mas para que
viver fingindo se eu não posso enganar meu coração, só sei que te
amo! Ela sequer disfarça sua indireta direta. As meninas apenas
riem do seu teatro mixuruca.
Ela logo suspira, mostrando seriedade me encarando.
— Irmã, eu sei que não tenho respaldo algum de te encorajar
para homem algum, justamente para ele que te fez mal, mas irmã, é
nítido que todo esse amor inacabado de vocês te magoa
profundamente até hoje. Te prende e você tem noção disso. Eu só
quero que coloque sua cabeça no lugar, veja se é válido tentar mais
uma vez. Dá vazão ao que sente, porque isso está mexendo com
você, não negue para mim.

— Mas eu não sou mais uma adolescente boba que se ilude


facilmente, irmã. Eu não posso viver uma aventura adolescente
porque nossa química é boa, ou porque ele se diz disposto. Não
tenho mais idade para isso! Eu estou quebrada!
Encaro as três para ver se elas entendem e me ajudam nessa
bagunça interminável. Eu sempre estou dizendo que sou adulta, me
convenço que não sou mais a antiga Lizandra, mas a questão é que
Jônatas sempre me faz agir feito uma adolescente, não consigo ser
madura e racional. Porque ficamos tão tolas diante de pessoas que
faz nosso coração acelerar?
— Deixa esse rancor por ele ser seu ex de lado e assume que
quer tentar mais uma vez. Não é errado ouvir o coração, se fosse
assim, nem com Rodrigo estaria e eu estou feliz para caramba com
nossa nova chance de viver bem. Para de sofrer antecipadamente
ou remoer o passado! — Taís comenta, por ter passado algo
parecido.
— Concordo, se apegar no passado é a pior coisa que
podemos fazer com a gente, experiencia própria. E daí que
aconteceu tudo no passado e ele te magoou? Somos errantes, Liz.
Não tem como voltar para lá, mas tem a oportunidade de viver aqui
no presente com ele e a garotinha que te ama. Tem uma família
pronta só esperando você! — Alexia também me aconselha.
— Eu estou casando hoje, mas mesmo amando muito o
Gustavo sei que se depois não estivermos mais na mesma página,
vamos terminar entendendo que deu o que tinha que dar e eu não
vou me sentir culpada por isso. Casei? Não estou feliz? Eu poderia
negar. Casamento também é uma aventura, irmã, nada é definitivo.
Pode durar a vida inteira ou simplesmente ser melhor acabar com
uma semana e ao menos estará com coração limpo. Eu só quero
sua felicidade, você sabe disso. E jamais em hipótese alguma eu
mandaria arriscar seu coração por algo que não tem futuro. Eu sei
que vocês se gostam ainda, era tudo muito intenso na adolescência
entre vocês, Jade também, é louca por você. Não vale a pena
arriscar? E se der errado, como da outra vez, você tem a nós,
quantas vezes precisar, tenha certeza disso. E eu chuto saco como
ninguém!
Abraço minha irmã caçula que de repente parece ter virado o
guru do amor, assim como as duas pessoas importantes na minha
vida. Estou com o coração tão pequeninho com medo do futuro.
Tanto medo! É como uma corrente, me aprisiona.
Suspiro e Natasha começa a cantar mais uma vez e dessa
vez as meninas acompanham. Mereço!
Durante o resto da noite fiquei pensativa, assim como em
casa, com o coração a galopes e taquicardia frequente. Permaneci
assim, imersa a hipóteses, nervosa, angustiada e ansiosa até o
aeroporto, onde embarquei no avião com destino a Belo Horizonte,
sem sequer entender o que eu vou falar quando chegar lá.
14
JÔNATAS
De frente pro computador e de luzes apagadas, minha
atenção é transferida pela campainha que toca, mesmo sendo três
da manhã. Preocupado e estranhando, atendo.
Sou surpreendido por Lizandra se jogando nos meus braços
sem pensar duas vezes, me dando um beijo urgente. Retribuo sem
dificuldades, mesmo sem entender porra nenhuma. Ela gosta de
fazer isso comigo, reparei. Estou sonhando?
Separamos-nos ofegantes e antes de eu assimilar qualquer
coisa, ela sorri brevemente para mim.
— Diz que não estou sonhando e que veio pela gente. — é a
primeira coisa que consigo verbalizar.
— Ainda estou no prazo de aceitar a tentativa de darmos
certo? — solta o ar dos pulmões, claramente nervosa.
Então ela sorri. Um sorriso torto, quase triste, mas ainda
assim divertido. Um sorriso lindo.
Retribuo, satisfeito por ela estar aqui pela gente. Pego-a
novamente no meu braço enlaçando e a deixando bem próxima de
mim. Fecho a porta.
— Claro, eu poderia estar casado que você ainda estaria no
prazo. Eu quero ser o homem certo para você, Lizandra. Quero
cumprir minhas promessas inacabadas, eu faço o que for
necessário para te ter na minha vida.
Sussurro ainda abraçado a ela que está fitando seu rosto,
nossas testas estão coladas. Seus olhos azuis estão incertos. Seus
lábios rosados me dão tesão. E seu rosto sem maquiagem mostra a
palidez de quem não dormiu nada essa noite.
— Eu pensei muito essa madrugada... percebi que vocês são
importantes demais para deixá-los ficar longe de mim. Eu tenho
medo, Jônatas, mas a saudade me sufocou, eu estava sentindo sua
falta como da outra vez e não quero mais viver de saudades e
angústias.
Assume com a voz de choro e a aperto mais. O cheiro natural
dela se mistura com o perfume fraco já que usava. Sem conseguir
raciocinar direito, levo minha boca à sua que aceitou meu beijo sem
objeções. Não sei por quanto tempo fiquei naquilo. Tudo parecia tão
calmo e gostoso que só queria ficar ali.
Continuo a beijá-la enquanto aliso sua cintura andando com
ela calmamente em direção ao meu quarto. Meu peito está quase
explodindo por ter ela aqui comigo. Entro no quarto e a repouso na
cama.
Ela me encara e continuo igual, com os meus olhos fixos no
dela. Ela parecia estar tão compenetrada naquela ligação quanto
eu, talvez preocupada ou surpresa com minha atitude.
Ela estava com medo, eu via isso. Vamos conversar, mas
não agora. Só quero ter a certeza que ela não é um sonho.

LIZANDRA
Ofegante de mais um beijo bom, percebo com calma quão
encorpado ele ficou. Dizem que mulher amadurece quando tem
filhos, mas você já percebeu quão bonito fica um homem quando
vira um pai? Estou falando de pai mesmo de tempo integral, quão
gostoso fica com o ar maduro?
Observo com tesão suas costas largas anexadas de dois
braços inteiramente tatuados, a cintura delineando perfeitamente o
quadril e bunda boa de apertar dentro de apenas uma cueca preta.
Mesmo ele de costas a visão que eu tenho dele é maravilhosa.
Como uma pessoa pode ser gostoso até de costas enquanto tranca
o quarto?
Ele se vira, sorrindo cheio de intenção para mim quando vê o
que eu estou fazendo. Logo está perto, me causando arrepios com
suas mãos alisando minhas coxas, me induzindo a abrir as pernas.
Mesmo deitada, estou sustentando meu peso com os cotovelos. E
ele está deitado virado para mim, próximo das minhas pernas, mas
sobrepõe seu corpo no meu, puxando a roupa que uso com
destreza e urgência arrancando meu sutiã.
Seus lábios encaixam no meu, num beijo intenso e cheio de
fome. Ele já mudou o tom do momento. Desce os beijos pelo meu
pescoço e só fecho os olhos engolindo a seco pela carícia,
escutando ao pé do ouvido sobre meu cheio.
Sua boca safada vai descendo, as mãos acompanham,
fazendo uma parada nos meus seios. A boca continua sozinha no
trajeto, pela minha barriga contorcida até ficar entre minhas pernas.
Não demora para sua língua quente me invadir rapidamente me
fazendo soltar o ar de vez.
Contorço, não conseguindo engolir meus gemidos e
sussurros baixos, de olhos fechados com a respiração pesada. Jogo
a cabeça para trás quando ele adiciona o dedo, sem pressa alguma
enquanto me olha vendo minhas reações. Puxo seus cabelos
dourados e macios com vontade.
Gemia cada vez mais enquanto sentia sua língua me penetrar
e lamber cheio de fome. A cada lambida que dava era uma reação
diferente em mim a ponto de me segurar pelos quadris com sua
mão ábil para ir com mais empenho. Até que por fim, os primeiros
tremores foram surgindo no meu corpo. Ele continua no ritmo dos
espasmos, dando um resultado maravilhoso aqui em baixo, pois
estou quase subindo pelas paredes.
— Jônatas! — chamo seu nome num impulso tendo meus
músculos tremelicando em tensão e relaxando logo em seguida.
Eu ainda estava trêmula quando vejo seu rosto na mesma
altura que o meu a centímetros, sorrindo satisfeito e um ‘’Q’’
descarado. E me beija sedento, chupando agora meus lábios, me
fazendo gemer novamente em satisfação.
Ainda sensível, sinto seus dedos tocarem ali, sem abandonar
meus lábios um segundo sequer. Jogo meus braços para seu
pescoço o puxando mais para mim, que puxa minhas pernas em
torno da sua cintura, empurrando para dentro como se nunca
estivesse esquecido o caminho, arrancando um suspiro involuntário
da minha boca a cada vez que o sentia pulsar dentro.
Eu estou com fome desse homem de uma forma inexplicável,
a cada vez que ele afunda, sem carinho, numa safadeza crua e viril.
E eu aprecio isso, sou romântica, mas isso não significa que eu
goste apenas de sexo fofo.
Enrosco minhas pernas no seu quadril fazendo ele ir mais
fundo dentro de mim enquanto eu agarro com força suas costas
passeando desordenadamente da sua bunda até sua nuca
enquanto ele investe cada vez mais sobre mim, formando uma
sincronia gostosa do movimento, numa fome excepcional.
Gemo manhosa, querendo um pouco de carinho bruto
também, com meus braços em torno da sua cintura e ele sorri,
beijando meu pescoço. Eu me arrepio ainda mais, pelos seus lábios
mordiscando o lóbulo da orelha e socando tão bem a ponto de eu
torcer os dedos dos pés e meu calcanhar no seu quadril. Aperto sua
cintura, para que ele mude um pouco o ritmo e ele parece ainda
saber os meus sinais.
— Sempre manhosa. — ofega com voz grave e maravilhosa.
Esse homem tem um efeito horroroso em cima de mim.
Ele me gira de costas, beijando minhas costas, agora mais
carinhoso que antes, calmo, degustando o momento. Cheio de
mordidas e chupões onde alcançava. Eu adoro essa linha tênue
dele entre safado e amoroso.
Delirando, puxo mais para mim, e ele bombeia com carinho,
entretanto, intenso e firme, pois sabe que eu gosto. Eu adoro esse
encaixe que temos na cama. É incrível como parece que não se
passou o tempo que passou. A mão é mais firme e máscula, os
beijos, nem se fala, a voz é mais grave, as respirações ofegantes
me arrepiam, mas ainda tem traços do antigo Jônatas. Ainda me
deixa molhada e bamba. E contorcendo em espasmos curtos, dou
os primeiros sinais que chegaria no ápice. Ele intensifica mais um
pouco, elevando mais as sensações que me proporciona, até que
meu corpo tivesse a sensação única de prazer intenso quase junto
com ele.
Ofegantes e feito dois adolescentes na primeira vez, sorrimos
suados, num time só nosso. Fecho os olhos sem dizer uma palavra.
Continuei quieta, incapaz de dizer qualquer coisa, enquanto me
concentrava no som que sua respiração emitia, gradativamente
ficando mais calma, pois fazia isso perto do meu ouvido.
Meus membros começavam a formigar um pouco, me
fazendo lembrar que precisava dar explicações concretas, pôr tudo
a limpo, porque não falei metade do que precisamos falar. Aos
poucos, voltei a sentir o frio do quarto se chocando contra minha
pele um pouco úmida de suor. Mas mesmo assim me senti um
pouco acolhida com o corpo dele me cobrindo e acabei achando
que ele tivesse dormido em cima de mim, pelo silêncio.
Inesperadamente, ele sai me deixando exposta.
Meus olhos, levemente desfocados, conseguiam ver apenas
um borrão do rosto dele me olhando novamente. Ficamos um bom
tempo em silêncio, só conectados por olhares, enquanto eu
permanecia na minha luta interna de como abrir o coração para ele.
Dizer que não estou preparada para isso agora, que espero que ele
entenda o que está acontecendo comigo. Não estou pronta o
suficiente para contar. Preciso de mais tempo. Eu preciso me
preparar mentalmente para contar que eu não sou o que ele
espera.
E me perco no seu rosto másculo avermelhado pós-sexo. Tão
bonito! Sempre foi, mas Jônatas homem feito é um pecado que até
as mais fervorosas se sentiriam tentadas.
— Viagem é cansativa e vejo que não dormiu nada ainda.
Sua voz sai sussurrada. Concordo, aliviada e ele me puxa
para o banheiro. Estou tão cansada, de um jeito diferente. Estou um
caco ainda e nem reclamo de ir junto com ele.
Durante o banho, tentando organizar minha mente. Depois do
momento, me entrego a uma sensação gostosa de lar debaixo do
lençol, com uma camisa sua, seu abraço e nada mais.
Enquanto sinto o abraço de Jônatas por trás de mim e seu
nariz próximo da minha nuca, fungando como uma criança carente,
a cada dois segundos ali, me arrepiando toda vez, eu penso no
quarto silencioso o que faria a partir daqui.
Eu não estou pronta para contar sobre Roberto e toda a
minha história depois que nos separamos, porém não quero ficar
longe. Quero estar e ao mesmo tempo sinto medo disso tudo. Sinto
que eu posso estar me levando para um local sem volta, um que
envolve sofrimento e eu mais quebrada.
— Descansa que amanhã terá uma pessoinha cheia de
saudades querendo sua atenção o dia inteiro.
Escuto a voz de John bem-humorada sussurrar perto da
minha nuca, arrepiando levemente e aceno sentindo um pouco
acolhida, sorrindo também.
Pela manhã, sou acordada por Jade eufórica por me ver ali na
sua casa, mais precisamente na cama do seu pai. Tinha planos de
acordar primeiro que ela, mas a viagem e a noite com John me
cansaram.
Foi a melhor forma de acordar, de receber seu abraço
dengoso cheio de saudade e sinto uma boa paz, como acontece
quando estou com ela.
Jônatas aparece procurando-a com uma bandeja na mão e
encaro seu rosto cínico num sorriso satisfeito, mas o sentimento da
insegurança logo surge, por encarar tudo e dar explicações.
Continuo abraçada a Jade enquanto acaricio seus cabelos, ela fica
ainda mais manhosa com a cara enterrada no meu peito.
Dou um pequeno sorriso tentando acalmar meus demônios.
Suspiro enquanto ele passa a mão delicadamente nos meus
cabelos e me sinto ainda pior.
— Fiz café para a gente. — anuncia, orgulhoso.
— Desde quando você sabe preparar algo? — indago com
humor.
— Desde nunca!
— Sempre soube que você é péssimo cozinheiro.
— Não sou bom cozinhando porque sou melhor comendo!
Ele se vangloria me dando olhadas safadas e dou minha
primeira gargalhada do dia. Jade me observa com as sobrancelhas
juntas. Ainda bem que ela é inocente!
— Você é exibido!
Tomamos café na cama e me sinto uma rainha entre eles,
ambos me dando atenção como se minha presença fosse a melhor
coisa do mundo e eu amei me sentir acolhida dessa forma.
Durante a manhã, ganhei uma pequena sombra: onde eu ia,
Jade vinha atrás. E sorria a cada vez que eu percebia sua presença
atrás de mim. Eu me derreto demais nela!
Fui arrastada para almoçar na casa dos pais dele e morta de
vergonha, fui. E é bem estranho voltar lá com Jônatas com um a
mais que é Jade.
Cumprimentei todos que quiseram saber sobre minha vida,
porém contei superficialmente as partes boas. Foram até tranquilos
e não fizeram nenhuma pergunta que me deixasse em saia justa
com John. Sequer perguntaram se estávamos juntos e eu agradeço
isso, porque ainda não paramos para conversar francamente.
Jade adormeceu depois do almoço e vi que essa era a hora
de pôr os pingos nos is.
— Que conversar agora? — senta ao meu lado.
— Depende. O que você quer saber?
Não estou preparada para contar a ele sobre Roberto e muito
menos minha condição.
— Tudo, Liz, você não me contou. Quem era aquele
segurança lá?
Engulo a seco, sentindo o corpo tremer por motivos distinto.
— Não sei se o momento bom é esse. Eu não estou
preparada agora. É difícil!
— Tem certeza? — percebo que está contrariado.
— Tenho, ele faz parte de um passado que eu ainda não
assimilei nem aceitei. — não quero estragar nosso momento com
Roberto, não mesmo.
— Então, me diga, o que fez durante esses anos, a gente
precisa se conhecer de novo, não acha?
— Me tornei o que eu planejei ser. — dou de ombros.
— Eu também, me tornei advogado. Quer ver minha vara? —
apesar de tudo, ele manteve o bom humor.
Gargalho alto. Porque homens não crescem nunca?
— Eu adoro seu sorriso, prometo que vou mantê-lo aí. — me
puxa para seu colo. — Eu sei que tem medo da história se repetir,
mas se depender de mim, eu vou para onde você apontar.
— Onde aprendeu a ser gado assim? — indago de bom
humor.
— Estou tentando te trazer segurança e você me chama de
gado, vida? — finge uma falsa chateação e eu rio de lado
apaixonada por ter me chamado pelo nosso apelido de antes.
Beijo seus lábios com carinho, alisando seu rosto. Em um ato
ousado, subo minha mão para seus cabelos entrelaçando nos fios
macios, trazendo mais sua boca na minha em um beijo quente.
John me enlaça com uma mão pela cintura para mais perto
enquanto me beija fogosamente me derretendo completamente.
Puxo sua camisa passando a mão no seu corpo agora totalmente
malhado e mais forte e ele me carrega em direção ao quarto, porque
a saudade ainda é muita para um tempo tão curto que temos
juntos.
— Vai hoje mesmo? — ele indaga, comigo enroscada no seu
corpo suado e respiração ofegante de uma rodada intensa com
gemidinhos abafados.
— Vou. Amanhã é segunda e preciso trabalhar. — suspiro
com pesar.
— Não vou poder ir com você, apesar que estou quase
fechando negócios com um escritório lá. Cantarelli, conhece?
— Aham. Eles prestam serviços jurídicos para a revista.
Recebo um beijo dele que me enlaça pela cintura.
— Também quero prestar meus serviços a você.
Sacaneia sorrindo, prendendo meu lábio inferior com o dente
e gemo baixo de pura satisfação apertando seu braço. Jônatas me
puxa para mais perto enquanto devora minha boca de um jeito
gostoso e devasso.
Antes que eu fosse embora, decidimos passear um pouco
com Jade, que acordou toda dengosa e mal humorada, e jantar fora
antes que eu fosse para o aeroporto novamente.
E assim seguimos num jantar com meus dois amores. Depois
John decidiu me levar numa praça que eu não vinha há anos e era
ponto de encontro na nossa época de adolescência. Foi pura
nostalgia! Jade tentou me dar virote, cismando que queria tomar
sorvete, mas neguei por estar tarde.
— Mas eu quero! — cruza os braços chateadíssima e eu
sequer levo a sério, ainda mais por falar errado, o ‘’queio’’.
— Eu disse não! Você não manda nem no seu próprio nariz!
— E por que eu tiro meleca então?
Rebate nervosa atropelando as palavras cruzando os braços
de novo como se aquilo fosse uma justificativa válida. Tenho
vontade de rir, mas tenho que permanecer firme. Agacho perto dela
e a chamo para mais perto que continua no mesmo lugar ainda de
braços cruzados.
— Vem aqui, boneca.
Peço carinhosa e ela amolece vindo ainda com a cara
amarrada para perto e estende os braços para me abraçar e a
carrego no colo levantando.
— Ouça a mã.... Ouça mais a mim. — Me corrijo no meio do
caminho quando percebo que ia me referir como mãe dela.
Acho que estou ficando louca! Olho para John, mas ele
parece não ter percebido meu deslize. Deixo Jade seguir na frente
saltitando enquanto eu acompanho com minha mão entrelaçada na
de Jônatas.
— Liz, não quero te assustar, mas percebi que nas nossas
duas vezes não usamos nada, você toma anticoncepcional, né?...
não que eu me importe de ser pai novamente, adoraria na verdade ,
mesmo sendo cedo demais para isso... ou não.
Meu sorriso morre, temerosa pelo que ele acabou de falar.
— Não se preocupe. Eu tomo.
Minto. Na verdade, apenas uso um repositor hormonal para
não perder meu desejo sexual já que com a cirurgia eu poderia
correr risco disso. E essa sua frase me deixou ainda mais
angustiada com a incerteza do nosso futuro.
Mas Jade logo dá meia volta, apavorada, gritando pelo pai,
quase chorando e num impulso a pego no meu colo onde ela pulou,
mostrando que está amedrontada, escondendo o rosto no meu
pescoço.
— Que foi? — Jônatas tenta entender, e eu também.
Antes que ela respondesse, uma mulher surge na nossa
frente. Aparenta uns sessenta anos, intrigada ao ver Jade no meu
colo.
— Quem é você? — acusa. Franzo as sobrancelhas em pura
confusão. — Quem é você? O que está fazendo com minha neta?
Repete num tom mais brando. Arquejo apenas uma
sobrancelha em deboche e ela continua me olhando com essa cara
de desprezo. Avó? Então é ela que sequer avisou a Jônatas onde
Jade, agora apavoradíssima no meu colo, foi com a mãe.
— Ela não lhe deve satisfações. — Jônatas me segura pela
cintura, disposto a passar por ela, mas ela não deixa, querendo
discutir.
Seguro Jade mais protetora que posso enquanto ela me
aperta com a cara enterrada no meu pescoço. Ela sempre se
assusta com confusões iminentes e sei que essa mulher não é uma
boa presença para ela.
— Eu sou avó dela. Tenho direito de saber!
— Não! Não tem! — Jônatas se irrita.
— E quem é você para falar isso? Vai me dizer que já tratou
de arranjar uma substituta para Raquel? Sempre soube que você
não prestava. O corpo mal esfriou!
— Não sou substituta de ninguém. E sua opinião sobre ele é
problema seu! — me defendo.
John me segura pela cintura, me arrasta para seguir nosso
caminho, passando por ela com hostilidade.
— Claro que não é! Ela nunca irá ser sua filha! A mãe dela
sempre será a Raquel! — sua última fala me aflige e, querendo ou
não, as palavras dela me desestabilizam. Aperto mais Jade e
respiro fundo alisando suas costas.
Andamos em direção ao carro para seguir ao aeroporto,
Jônatas se desculpou pela cena da mulher, mas eu fingi que não me
afetou. O tempo inteiro as frases “Ela nunca irá ser sua filha! A mãe
dela sempre será a Raquel’’’ permanecem na minha cabeça, de
certa forma, me castigando.
— Eu vai? — Jade pergunta quando soube que eu estou indo
embora.
— Não. Mas semana que venho ver você sim.
— Eu não quero.
A vozinha já está chorosa e estou quase chorando também.
Mas acabo por ir, pela reação dela por trocar o pai sem pensar duas
vezes.
— Vai passar rápido. Promete para mim que vai se
comportar.
Jade apenas sorri sapeca prometendo absolutamente nada.
Gargalho mais uma vez, a apertando e ela retibuí, toda afetuosa.
Confesso que já estou com uma saudade imensa deles já. Viro
minha atenção a Jônatas que está observador. Encaixo-me no seus
braços tentando aplacar esse gosto ruim de despedida.
— Você sabe que o sentimento de Jade é o mesmo que o
meu, né? — sela nossos lábios num carinho.
— Eu sei. Odeio despedidas.
Eu o beijo mais uma vez, num beijo de verdade de saudade,
mesmo evitando fazer isso na frente de Jade, para não confundi-la
em qualquer coisa que sequer sei ao certo o que vai ser.
Escuto meu voo ser chamado e Jade tenta me agarrar para ir
comigo a todo custo. Chateada por precisar voltar, solto um beijo no
ar para os dois me distanciando, mas vejo Jade fazer biquinho pra
chorar e a expressão de Jônatas igualmente triste.
Despedida é uma droga!
Antes de entrar pro próximo saguão, olho mais uma vez para
Jade com a cabeça repousada no ombro dele que a acalma,
provavelmente chorando enquanto o pai está sorrindo para mim.
Foi um final de semana incrível, não posso negar, mas eu
sentia que a realidade duraria por pouco tempo.
15
LIZANDRA
— Mas já estão juntos? — Taís questiona bebericando seu
suco.
Ela, Natasha e Alexia esperam minha resposta. Agora que as
três trabalham no mesmo prédio fica fácil se juntarem e me esperar
na porta da revista para saber o que aconteceu no meu final de
semana depois do casamento.
A semana tá passando tão lenta, chata e sem graça que eu
queria poder trazer a Jade quando ela pediu.
— Eu não sei, foi um bom final de semana, mas não me sinto
o suficiente para ele. — resmungo chateada, tentando afastar
minhas inseguranças.
— Não contou? — Nat indaga surpresa.
— Não tive coragem. — mordo os lábios. — E se ele me
rejeitar por isso? Eu não aguentaria. — mostro a ela meu medo.
Estamos nos falando por chamada de vídeo a noite e estou
morta de saudade dos dois. Mas não falo com ele desde ontem,
estive o evitando, confesso.
— Ah Liz, poxa, amiga— Alexia faz beicinho.
— Não me sinto pronta, a realidade é cruel e eu não suporto
tocar nesse assunto. Ele falou algo em ter mais filhos, é muita
pressão tentar corresponder a uma expectativa que não tem como
dar jeito!
— Se ele te rejeitar é porque não gosta realmente de você,
sis. E se isso acontecer, eu, Taís e Nat estaremos aqui como todas
as vezes colando seus caquinhos, como sempre fazemos uma com
a outra. — Alie aconselha.
Todo dia repenso sobre como me sinto com a nossa relação,
me sinto insuficiente para ele, estou me sentindo horrível, porque os
acontecimentos insistem em fazer morada da minha cabeça. O fato
de ele falar sobre a pílula, o encontro com a avó de Jade... É
horrível querer estar em um lugar ou com alguém e sentir que não é
o suficiente de estar ali. Eu me sinto um pouco horrível por não ser o
que ele provavelmente espera de mim. Eu não sou o que ele acha
quem eu sou, o que ele vê é apenas a superfície. E embaixo disso
tem uma coisa que eu não consigo expor, não ainda e que se eu
pudesse, apagaria.
Elas parecem me compreender e almoçamos num clima bom,
apesar de tudo. Pela noite, em casa, meu celular vibra mais uma
vez, e eu sei que é Jônatas. Fecho os olhos, tentando me manter
calma.
Eu odeio essa sensação de impotência! Não me sinto o
suficiente para nada e ninguém, estou quebrada! Toda vez que
alguém tenta se aproximar de mim eu fujo covardemente; foi assim
com Alejandro e qualquer outro homem que se aproxima, mesmo
que seja por amizade. Eu fujo com medo de não ser o suficiente
mais uma vez, porque nunca fui para ninguém.
Porque eu sabia que quanto mais eu me agarrasse à sua
presença ao meu lado, mais difícil seria de aceitar a dor em não tê-
lo mais tarde quando soubesse de tudo.
Ele liga mais uma vez e atendo, decida, tentando acalmar
meu coração. Sua voz bem humorada surge, querendo saber do
meu sumiço repentino e eu não consigo sorrir, apenas me sinto
horrível do que eu estou prestes a fazer.
— Jônatas, me escuta. — eu o corto. — Eu quero acabar com
qualquer coisa que tenhamos começado, eu fui impulsiva, eu não
quero viver em ponte aérea, eu amei o nosso final de semana, mas
não é para mim, eu não sou o que pensa. Me desculpa, não tem
nada a ver com o nosso passado, é o meu presente, eu não estou
pronta para ninguém, por favor me esqueça. — termino o
telefonema com voz embargada.
E sequer espero sua resposta, ainda no pânico de ter feito o
que eu fiz, desligo o aparelho covardemente com medo de ouvir a
réplica, sentindo a dor enorme no peito em ser a pessoa errada
dessa vez, mas foi necessário. Mesmo eu querendo tirar tudo que
aconteceu da cabeça, eu não consigo. Sabia que ele sentiria
vontade de ter outro bebê, mais cedo ou mais tarde e eu só vou
empatá-lo.
Quando eu contar, ele provavelmente vai perceber que não
sou o que ele procura. Sou apenas a ilusão da antiga namorada
perfeitinha. E não vou suportar ficar com ele do meu lado sabendo
que está frustrado. É desesperador as incertezas!

Espantando a melancolia, adianto meus trabalhos, participo


de duas reuniões na parte da manhã e resolvo problemas a tarde.
Almocei na minha sala para não perder tempo. Eva, a secretária de
Scarlet conseguiu me dar uma ajudinha. Eu realmente preciso de
uma assistente, preciso falar com Scarlet sobre isso.
Sigo para casa uma hora depois do final do expediente. Faço
minha viagem tranquila, planejando passar o fim de semana
assistindo minhas séries, quem sabe ir na casa de uma das minhas
irmãs visitar meus afilhados, que são muitos.
Estou cheia de remorso por fazer o que eu fiz com Jônatas.
Não estou orgulhosa da minha atitude, nenhum pouco. É um
martírio! Ele estava me saindo uma pessoa tão boa que fiquei com
medo de decepcioná-lo com a realidade que eu não sou capaz de
gerar uma criança! Jônatas deixou claro que gostaria de um outro
filho e isso eu não posso dá-lo de jeito algum.
Entro na minha rua já com a garganta fechada e os olhos
começando a arder. Eu odeio essa melancolia!
Paro o carro no meio fio ao perceber a presença de Jônatas e
Jade na minha porta me esperando. Com o coração a galopes,
desço do carro.
— Mamãe!
Jade a desbandeirar, corre na minha direção, eufórica,
pulando no meu colo de uma vez só. Eu a encaro com o coração
em modo suspenso por tentar entender se foi isso que eu escutei,
mas o choro vem sem nem esperar confirmação. Jônatas parece tão
surpreso quanto eu por ela ter me chamado dessa forma.
Caio num choro pela forma que ela me chamou sem
conseguir conter, com seu pequeno corpinho num abraço apertado
e saudoso, me acalento , flutuando, sendo afagada como jamais
aconteceu. Sinto suas mãozinhas no meu pescoço e o queixo no
ombro me abraçando com saudades, mostrando que sentiu tantas
saudades quanto eu, principalmente do seu cheiro de neném.
O jeito que me chamou foi tão espontâneo que me aquece de
uma forma tão gostosa. E ter esse prazer de ouvir isso, ser
chamada assim pela primeira vez na vida, é inexplicável, pois eu a
tenho como uma filha desde a primeira vez que a vi. É um sonho
que acabei de realizar e sem esperar! Eu sentia isso dentro de mim.
Foi ligação de alma que tivemos. É inexplicável nosso amor pela
outra.
— O que vocês fazem aqui?
Encaro o amor da minha vida, com o coração miudinho,
engolindo a seco, por estar numa expressão séria, mas percebo que
seus olhos estão levemente molhados.
— Não seria um telefonema que irá me parar, Liz. Eu não vou
desistir de você assim por ligação. Voltei mais uma vez para fazer a
gente dá certo, só quero que você tente comigo.
Sua determinação faz o pé da minha barriga gelar. E faz com
que minha crise de choro permaneça, do jeito que estou
amargurada e cansada de tanto pensar. Ele me abraça e rodeio
minhas mãos na sua cintura absorvendo e aproveitando cada
segundo daquele abraço, fazendo sanduíche de Jade.
Num impulso lhe beijo sentindo tudo aflorar no meu corpo e
ele aceita meu carinho. Rindo, boba e eufórica, adentramos no meu
apartamento e encaro a realidade de ter Jônatas no meu sofá, com
uma perna em cima da outra. Baixo os olhos, colocando Jade no
chão que já está ambientada na minha cara.
— Você sabe o porquê de eu estar aqui. — sucinto, responde
sem eu nem mesmo perguntar.
— Eu sei. Não estou orgulhosa da minha atitude, agi para não
magoar você.
Externo um pouco da minha bagunça interna, tenho tanto
medo de ele me abandonar mais uma vez. Ainda acho muito
recente tudo que estamos vivendo e queria aproveitar um pouco.
Nós nos reencontramos por agora, não queria despejar tudo assim...
Ele dá dois tapas no sofá para que eu sente ao seu lado e
obedeço, ele me abraça pelos ombros. Ao menos quer
aproximações. Suspiro recostando minha cabeça no seu ombro,
sentindo sua fragrância gostosa que tive saudades. Ficamos quietos
até ele quebrar o silêncio.
— O que é que está te atormentando tanto, hein?
— Não é nada demais. Não vamos estragar o momento. Só
quero ficar quieta. — me sinto encurralada.
Ele se afasta para me olhar e eu tiro minha cabeça do seu
ombro o fitando também.
— Conta. Nada pode abalar a gente.
— Será mesmo? — mostro minha descrença e ele apenas
acena. — Me dá um tempinho, tem coisas que nem eu mesmo
assimilei.
— Divide. Estamos em um passo que é um caminho sem
volta, Liz. Minha filha te reconhece como mãe.
Jônatas me olha tão profundamente que tenho vontade de
chorar mais uma vez.
— Eu também não gosto da situação, John.
— Eu e Jade gostamos e precisamos de você, não se fecha.
Sinto que só eu estou me doando para fazer isso dá certo!
— Eu não quero ser um erro na sua vida, Jônatas. Eu só
quero que entenda que eu tenho cicatrizes irreparáveis e elas me
perseguem. Eu quero você, mas também quero que me entenda.
Sou uma pessoa complicada!
Exaspera e percebo sua irritação ao levantar do sofá em
passos duros, me deixando sozinha na sala e suspiro colocando
meus braços em cima dos meus olhos, refletindo. Eu odeio brigar e
discutir com as pessoas que gosto, odeio! E odeio mais ainda ser
pressionada dessa forma.
Custa ele respeitar meu espaço? Isso não é uma notícia fácil
de se dar.
Foi um começo de noite difícil. Estávamos no mesmo
ambiente, mas sentia que me evitava, mencionou sobre precisar ir
para reunião com o escritório Cantarelli e concordei em ficar com
Jade enquanto ele ia resolver. Deu tempo apenas de jantarmos
juntos, pizza, que Jade amou. Recebi um beijo frio na testa, igual a
Jade e não gostei nenhum pouco.
A pequena, feito um sapinho, pula nas minhas costas e
seguimos em direção ao banheiro. Quem diria que estaria em um
momento desses. Tomando banho com uma bebê que atende por
minha filha.
E só consigo pensar na minha relação com seu pai, eu quero
contar, não gosto de esconder as coisas, só não sei como ficarei
depois. Canto para Jade, alisando seus cabelos para que ela durma
num silêncio gostoso.
— Eu gosto quando você canta para mim, desde quando eu
morava na sua barriga... — Jade corta o silêncio com sua voz
dengosa.
— Como? — desço os olhos para encará-la.
— Você cantava para mim quando era minha mamãe antes.
Mas você não me viu, porque eu fui embora.
Encaro séria aquele pequeno ser humano aparentemente
angelical. Essa seria uma boa hora para correr para bem longe, mas
só consigo abrir um sorriso sincero e ela retribuiu enchendo meu
coração de amor.
Que criança às vezes é bizarra a gente sabe. Mas também
ouvi falar que crianças até quatro anos tem flashes de memória de
vidas passadas.
Minha avó sempre me disse isso, inclusive conta que quando
era criança eu cismei que Natasha era minha filha, sempre fomos
grudadas, como sou até hoje. Queria assumir as responsabilidades
dela a todo custo, mesmo sendo apenas um ano e meio mais velha.
Acho que é por isso que eu sou tão protetora com ela. Se existem
outras vidas, acredito que Natasha já foi minha filha. E ela se
comporta como se fosse, até hoje.
Mas escutar isso assim, cara a cara, é diferente de só se ouvir
falar a respeito. É um tanto inusitado. Mas prefiro ver o lado lindo da
coisa, isso só me dá a certeza que o meu amor por essa garotinha
veio de outras vidas. E que eu tenho a honra de ser mãe dela mais
uma vez, mesmo que, de forma indireta, nessa!
Eu gosto da teoria que as almas vão se procurando ao longo
da história, que se reencontram de formas diferentes, mas nunca
deixam de se amar. E não é só amor de casal. Há milhares de
formas de amor e seria desperdício ter apenas uma.
Meu amor por essa garotinha vem de outras gerações e
épocas, mas continua tão lindo, puro e verdadeiro que eu sinto que
ela saiu do meu ventre, mesmo eu nunca passando pela experiência
de gerar uma criança. É irreal, mas tão verdadeiro para mim.
Inexplicável!
— Mamãe, porque parou de cantar? — Jade já rebobinada
me olha novamente.
Coloco sua cabeça no meu peito novamente, cantando com
ainda mais amor, enquanto aliso seus cabelinhos dourados e ralos.
Ela se aninha em mim e eu aproveito aquele momento.
— Você sentiu saudades de mim? — indago apaixonada,
querendo ouvir de novo.
— Muito, mamãe.
E eu abro um sorrisão besta novamente por ela ter me
chamado de mamãe. Parece um sonho isso. Um maravilhoso e
delicioso sonho.
— Eu também senti muitas saudades sua.
— Porque não foi me ver, uai? — pergunta afiada. Já
mencionei que ela tem um leve sotaquinho mineiro gostoso?
— Não deu, estive ocupada. — aliso suas bochechas.
— Então eu quero ficar aqui com você.
Ela se impõe decidida e eu rio. Pode ser traquina e birrenta
como for, mas é tão amorosa comigo que tenho vontade só de ficar
aqui com ela. Nem parece aquela garotinha chorosa e turrona das
primeiras vezes que nos vimos.
Com ela ali debaixo da minha asa, amparada e recebendo
muito amor, encaro a pequena no sono tranquilo.
Levanto devagar, renovada, disposta a fazer minha vida
andar. Escuto Jônatas adentrar na sala, sem o terno, apenas de
camisa social e ofego. Sempre o achei bonito de roupa social. Fica
muito mais maduro.
Ai, ai...
Vai ser gostoso assim no inferno! Uma semana sem esse
homem depois de termos retomado a nossa vida sexual juntos
novamente me deixou fogosa em relação a ele.
Ele me cumprimenta com outro beijo na testa, avisando que
iria tomar banho e o deixo ir. Ele finge que está me tratando normal,
mas percebo irritação por nossa pseudo discussão.
Não sei quantas horas fiquei ali pensando sobre tudo. Eu sei
que ele merece saber. Precisamos conversar e sei disso tudo. Mas
cadê a coragem? O medo da rejeição é pior e me amedronta.
Jade já me chama de mãe, como ele falou, é um caminho
sem volta. Se é para recomeçar de uma vez, que seja para deixar
tudo para trás. E se ele rejeitar, vai ser mais um para conta.
De supetão tomo coragem, ando disposta ao corredor, o
interceptando no banheiro ignorando o fato de estar sem camisa de
cabelos molhados e o arrasto para sala.
— Não age frio comigo, Jônatas, eu preciso de compreensão,
não frieza da sua parte.
— Não estou te ignorando. Estou cansado, só isso, de tentar
te fazer dividir o que lhe prende. — cruza os braços.
— Preciso de coragem e carinho, John, não age assim. —
sou sincera querendo compreensão — Você está me pondo
pressão, não está respeitando meu espaço. E isso me deixa
temerosa!
Ele exaspera, suspirando e abre os braços para que eu me
encaixe ali e vou secando com minha própria roupa o resto das
gotas de água do seu tronco.
Abraço mais apertado, tentando criar coragem para contar
logo.
— Não estou te desrespeitando, Liz, só sinto que em vez de
tentarmos dar certo, você ficando pondo obstáculos. Eu estou
tentando, me doando e percebo você apenas pela metade.
— Eu estou um caos. Sabe o que é ter a confirmação que o
que aconteceu comigo é irreversível? Sabe o que é ser arrancada
uma coisa que desejava muito, sabe? Você é capaz de gostar de
uma mulher que não pode lhe dar filhos, Jônatas?!
Embargada num choro desesperado, confesso o que ele tanto
quer ouvir, me soltando do seu abraço para encará-lo.
16
LIZANDRA
— Liz... — ele dá dois passos à frente e eu dou mais dois
para trás.
— Você enxerga uma pessoa que eu não sou e eu estava
com medo de não corresponder a suas expectativas. Eu fui mais
pisada do que posso contar, droga! Minha vida é uma sucessão de
erros desde sempre. E tenho medo da rejeição, Jônatas, e uma
outra rejeição sua seria pior do que todas as outras! Eu estava com
medo de te contar e você ficou me encurralando!
Ele me encara em choque, com as mãos na cintura, sério e
eu continuo deploravelmente chorando sem conseguir controlar,
angustiada e frustrada. Magoada. Jônatas me puxa e me abraça
apertado pelo pescoço e cintura enquanto repouso minha cabeça no
seu peito.
— Me desculpa. Me desculpa por isso.
Pede sentido, pois sabe o quanto isso me abala, o quão ruim
isso é para mim e só consigo chorar por tudo sem querer ouvir mais
nada abraçando a cintura dele. Sequer contei quantos minutos
foram o suficiente para que o choro cessasse, mas ele esperou
pacientemente, me abraçando enquanto eu continuo meus soluços.
Não era um choro normal, daqueles silenciosos. Era um choro que
fazia perder o fôlego. Um choro forte, cheio de lamentações.
Lamentações não só pelo diagnóstico, mas por toda aquela vida.
Toda aquela maldita vida que eu levava havia tantos meses, ou
anos. Por ser o que era, querendo ou não. Por ser insuficiente para
todos!
Segura minhas bochechas levantando meu rosto que ainda
desce algumas lágrimas descontroladas.
— Olha aqui, vida. Eu nunca, escute bem, nunca vou te
rejeitar por isso ou por qualquer coisa. Eu amo você para fazer isso,
entendeu? Eu sou capaz de lhe amar do jeito que estiver. Não
precisa sofrer por isso,
— Ama? — sinto meu coração falhar um pouco nas batidas
descontroladas.
— Amo. Como dizem, o amor nunca morre. E na verdade,
nunca fiz questão de matá-lo. Eu quero você, Liz. Como for. A
gente não precisa de mais filhos para ser família, para ser feliz, não
é regra. Você está feliz tendo só Jade?
Confessa encostando a testa na minha e eu assinto fechando
os olhos tentando parar as lágrimas teimosas.
Ele me aperta novamente no seu abraço me arrastando, me
pondo no seu colo, sentado no sofá. Continuo ali sendo embalada
por carinhos dele.
Ele era meu.
Vê-lo ali, ao meu lado, como se nada mais importasse, era
simples. Era bom e gostoso. E a cada minuto que passava ficava
melhor, porque parecia não haver complicações ou limitações. Ele
estava ali e isso era tudo.
— Liz, sabia que Jade nunca chamou Raquel de mãe? Foi a
primeira vez dela também se sentir filha de alguma mulher.
Eu me viro completamente surpresa para ele, recebendo um
beijo no nariz.
— Verdade? — fito seus olhos verdes.
— A mais pura. Você já é mãe, já temos Jade.
Abro um pequeno sorriso concordando. É, eu já sou mãe. Eu
e Jade de uma forma ou de outra nos completamos. Ela precisava
de uma mãe e eu de ser uma.
— É. Eu sou.
Aliso suas bochechas beijando rapidamente sua boca. Como
quem não quer nada comecei a contar baixinho sobre Roberto, o
sentindo se enrijecer de um modo ruim, atrás de mim a cada coisa
que contava. E o xingava de nomes que não me atrevo a contar
para vocês.
— Prometo que a partir de hoje, ele e tudo isso será
passado.
Na minha adolescência eu sabia que era o homem da minha
vida quando ele tinha o mesmo desejo que eu, que era ter um
bebê.
Sonhei com isso desde sempre, em engravidar dele, ter toda
aquela magia de casal que são pais de primeira viagem, de ele ter
ensinando coisas desde sempre. Mas não foi realizado, porém por
outro lado, ele me presenteou com Jade e não poderia ser melhor.
Sinto o carinho de Jônatas, as mãos passeando pelas minhas
coxas. Só que o carinho que ele estava fazendo antes era inocente
e esse agora é completamente com segundas intenções, pois sinto
seus dedos sorrateiramente querendo adentrar na minha calcinha,
já que estou de vestido. Dou um tapa na sua mão para tirar e ele ri.
— Para com isso, não me atiça que Jade está aqui.
Ele aperta minha bunda, me puxando para mais perto, me
fazendo sentar praticamente em cima a ponto de arrepiar tudo.
Cretino safado!
Eu o reclamo, derretida, capturando rapidamente sua boca o
deixando completamente surpreso, fazendo uma cara engraçada
quando solto seus lábios.
— Uai, mulher! O que foi isso?
— Você está me provocando, Jônatas. Uma semana é pouco
para você?
— Claro que não!
Jônatas avança sedento novamente para minha boca
enquanto me abraça forte pela cintura colando nossos troncos.
Arrepiada pelo vestido embolado e seu shorts fino que usa bem em
contato com minha calcinha já umedecida. Mordo seus lábios
puxando e em seguida dou um selinho olhando para ele. Bêbada de
tesão e saudade.
Arranco meu vestido, ficando apenas de calcinha. Jônatas
agarra meus seios.
— Caralho, que gostosa! — Ele chupa um dos meus mamilos
com vontade, a ponto de estalar quando soltou.
— Xii. Cala a boca!
Coloco a minha mão na sua boca para fazê-lo falar mais
baixo, pois se Jade acordar, acabou a brincadeirinha.
— Senta nela que eu calo!
Escorregamos para o chão e rio, provocadora, arrancando
minha calcinha, e eu obedeço, afinal, ele pediu. Sinto sua língua
habilidosa entre minhas pernas, me apoiando pela bunda. E quem
tem que se controlar para não fazer barulhos dessa vez sou eu.
Aperto e puxo seus cabelos enquanto sinto a onda de prazer me
sentindo tremer na sua boca que não para até que o ápice me atinja
de uma forma intensa.
Despidos, escorrego pro seu pau e sinto a costumeira
fisgada, em um encaixe lento e viril. Jônatas devora minha boca
com voracidade, para abafar meus gemidos
Obedeço rebolando enquanto Jônatas devora minha boca
com urgência para abafar meus gemidos enquanto segura na minha
bunda possessivamente me ajudando e rebolar, e abafar os
gemidos que escapavam dos meus lábios. Enquanto o sentia ir
fundo, deixava o ato da respiração ser desafiadora, mas não
importava.
A onda de prazer veio, como eu previra e sentia vir cada vez
mais perto. Tentei não fazer barulho, mas ignorei tudo isso para
senti-lo plenamente vir, quase junto comigo, firme, a ponto de me
sentir dolorida, mas de uma forma boa.
— John, e agora?
Eu o abraço mais enquanto recebo carinho nas costas, ainda
jogados no tapete da sala. E no meu corpo tem apenas seus braços
e sua camisa.
— Agora o quê?
— Nós moramos em cidades diferentes...
— Vai ser que, se me aceitar mesmo, virei para cá para sua
cidade, o acordo com o grupo Cantarelli está decolando, já falamos
de valores e porcentagens, tudo indica que fecharemos em breve —
sorri orgulhoso e eu fico surpresa. — Quando disse que estaria
disposto a fazer dá certo, não era brincadeira.
— Percebi. Amarei ter Jade aqui pertinho de mim.
Beija minha bochecha, levantando e me carregando no colo.
— Só ela? Não podem esquecer do papai aqui. — sorri
fazendo graça.
— Sim, papai. Não vamos esquecer de te incluir no pacote.
Depois de muitos anos, por fim me sinto plena e fecho os
olhos extasiada com a sensação que tudo dará certo...Me sinto tão
leve. Parece que vou sair flutuando a qualquer momento. Estou tão
aliviada por John me aceitar. Finalmente tenho a sensação que
pertenço a um lugar meu e não estou só de passagem ou intrusa.

JÔNATAS
Aliso a cintura de Liz enquanto ela dorme tranquila com Jade
na cama. Elas duas juntas me deixam apaixonado. Aproveito que
ambas ainda dormem para refletir sobre o que Liz me contou. Ela
nunca foi uma mulher de querer mundos e fundos, joias e mansões.
Nunca. Sempre foi sonhadora. Mas sonhava com coisas simples.
Filhos e Marido. Uma romântica incurável que sonhava em viver
uma comédia romântica clichê.
Porém, por outro lado, eu queria mostrar a ela que a vida
poderia ser mais que isso. E não vou ser hipócrita dizendo que não
queria experimentar um pouco da vida antes dessas
responsabilidades. Eu era adolescente e por mais que amasse
Lizandra e a vida que sonhávamos em ter juntos, não queria que
ambos vivessem essa responsabilidade logo. Era questão de tempo
para que isso acontecesse. Eu queria curtir a vida antes de viver
como um adulto. Além disso,, poderíamos ter enjoado do outro
assim como poderíamos não saber lidar, adolescente vive muito
intensamente.
A noite que ela foi embora foi a pior. Chorei feito um filho da
puta em casa de arrependimento e tentava me consolar que era o
melhor para nós dois. Noventa por cento dos primeiros três meses
foi eu brigando comigo mesmo em pegar o primeiro ônibus e ir atrás
dela, negando tudo aquilo que falei. Mas meu pai me aconselhou
não ir, porque eu já tinha a magoado com minha decisão estúpida e
se eu tinha feito aquilo pelos meus motivos, tinha que aguentar as
consequências.
E também só obedeci, porque eu tinha certeza que ela me
mandaria embora.
Mas como tudo que é nosso, sempre volta. Ela está aqui onde
nunca deveria ter saído me deixando extasiado sentindo o cheiro do
seu cabelo aqui bem perto do meu rosto. Mostrando que apesar de
tudo, a escolha foi a certa.
O gosto ruim na garganta ainda permanece em saber que ela
passou por com aquele babaca filho da puta. Se eu soubesse,
desceria a porrada mais na cara dele. De saber que sofreu por não
poder engravidar e me amaldiçoou por ter jogado algumas vezes na
cara dela logo quando a gente se reencontrou.
E agora entendo o receio dela de não querer contar logo. Eu
fui um idiota em ficar pressionando. Ela poderia ter dito e em
seguida ido embora ou realmente ter brigado comigo. E nem ia ter
direito de ficar bravo, pois eu tinha que respeitar seu espaço,
independente de eu querer ajudá-la ou não.
Mas agora está tudo bem. E planejo como será nosso final de
semana, prevejo que será perfeito!

LIZANDRA
Arrumo umas coisas na mala, ansiosa. Jônatas cismou de
irmos passar o final de semana na casa dele, porque tinha planos
para nós que só poderia ser lá. Tivemos uma manhã tranquila,
acordei primeiro e fiquei ali, boba, admirando ambos dormindo na
mesma posição. Jade é um clonezinho do pai.
E me senti realizada, preparando café para nós, adoro essa
simplicidade do lar, de preparar café, cuidar deles. Essa sempre foi
minha vocação e vontade mesmo.
Jade acordou emburrada e ainda permanece, porque não
quer voltar. O humor dela pela manhã é naturalmente emburrado.
Às vezes tenho a sensação que sou mãe de uma mini Natasha e
não gosto muito dessa ideia não. Pois esse mal humor pela manhã
é a mesma coisa. Um porre que tenho vontade de simplesmente
fugir. Mas com Jade eu não posso jogar algo na cabeça ou xingar
como fazia com Nat. Então tenho que respirar fundo e continuar
paciente.
Tudo pronto, sigo para sala, encontrando Jade no colo de
Jônatas, um fazendo biquinho para o outro e em seguida sorrindo.
Abro um sorriso bobo vendo a interação dos dois. John brinca com
ela fazendo cócegas enquanto ela se esquiva sorrindo com os
dentinhos pequenos abertamente. Jônatas não poderia ser um pai
diferente.
Seguimos de carro, duas horas cansativas de viagem, mas
sequer me importei, fomos direto para casa dos pais dele que já
aguardavam a gente.
E é bem estranho voltar lá com Jônatas e com Jade, mas eles
me receberam, como da outra vez, com alegria. Duda finalmente
estava lá e conheci seu bebê, que é a coisa mais fofa do mundo e
Jade ficou enciumada quando ele foi para meu colo. Passamos uma
tarde agradável, relembramos muitas coisas que aprontamos juntas
com Nat. Minha cunhadinha se transformou numa mulher tão linda e
está doida para rever Natasha, sua melhor amiga de encrencas,
ambas não vale um real!
— O que te fez aparecer aqui, afinal? — foi o que me
perguntou assim que nos vimos.
— Decisões...seu irmão...
— Finalmente Jônatas tomou vergonha na cara e reencontrou
a única que valia a pena. A única cunhada que presta!
E sua resposta aqueceu quentinho o pé da minha barriga. E
eles ficaram surpresos e maravilhados quando viu Jade dengosa me
chamar de mamãe. E sem nem mesmo precisamos falar, entendeu
que estávamos juntos novamente.
Alguns amigos da época do colegial foram visitar Duda e
conhecer o bebê, já que ela não morava mais no bairro. E ficaram
surpresos ao me rever com Jônatas. Recebi felicitações como se
fosse casamento de tão empolgados. Mas John ficou todo
animadinho quando um dos amigos que andava com ele no futebol
me elogiou.
— Só cuido do que é meu. — foi o que disse, antes me
marcar território me abraçando e me puxando para seu colo. Bobo!
Jade adormeceu a tarde e quando escureceu, Jônatas decidiu
me arrastar para um programa surpresa, deixando Jade lá com os
avós tranquilamente.
Sequer sabia para onde ele estava me levando até que seu
carro subiu a ladeira até o alto do morro que tem vista inteira para a
pequena cidade que crescemos. Aqui era um point nosso e de
qualquer adolescente na época. Fazíamos cinema, ficava
inacessível o espaço de tanta gente e veículos, piqueniques, os
mais corajosos acampavam com o namorado para ter sossego para
transar. Coisa de adolescente dos anos noventa.
Mas agora está deserta, as poucas pessoas estão saindo
pelo fim do pôr do sol que dá para assistir e como todas as vezes,
fico sem fôlego pela vista da minha cidade. Saudade imensa desse
lugar! Eme me traz milhões de lembranças. Fiquei esses tempos
todos sem vim aqui por causa dele e a ironia é que eu voltei
justamente por causa da mesma pessoa e ainda a filha do sujeito
me chama de mãe e eu choro todas as vezes que escuto.
— Alguns motivos me fizeram escolher aqui... — ele me
abraça por trás.
— Quais são eles?
Jônatas segura minha mão e me arrasta até um carvalho
saudável, apontando pro tronco rabiscado com canivete com várias
siglas. Por fim, ele indica as nossas iniciais dentro de um coração.
Tinha esquecido dessa árvore! Todo casal que se prezasse
tinha suas iniciais ali, porque tinha a lenda que essa árvore por ser
um carvalho, era sinônimo de durabilidade, como seu tronco.
— Nossas raízes, estão aqui, amor. — beija meu pescoço.
— Que brega, John. — rio, mas apaixonada por essa
relíquia.
— Eu gosto, é praticamente um patrimônio da cidade.
Ele me acompanha no riso, me levando de volta para perto do
carro e me sento no capô e ele permanece em pé, entre minhas
pernas ainda ostentando seu sorriso lindo de covinhas.
Seguro no seu pescoço, beijando seus lábios com carinho e
sem pressa alguma, logo atacando minha boca com mais
voracidade.
— Amor, quero que aqui seja nosso começo e recomeço. Que
esse local volte a ser nosso como era antes, que seja nosso lar.
Foi aqui que eu te pedi em namoro uma vez e te peço
novamente, garota.
— Te amo, amor.
Jogo meus braços ao redor do seu pescoço, me sentindo uma
adolescente em cima de um capô, exatamente na mesma cidade
onde tudo acabou anos atrás, beijando o garoto que dedicava gols
para mim e que continua a aquecer meu coração de uma forma
extraordinária!
— Você sabia que sou tarada por tatuagem? As suas me dão
tesão... — beijo seu pescoço demoradamente. Talvez fique marca,
mas estou nem aí, quero ele marcado como meu, para nenhuma
mulher chegar perto.
— Me marcou, Liz? — ele com tom de voz leve, se afasta
para me olhar. — Tá possessiva assim é?
Seus lábios abriram bem devagar em um sorriso lindo que me
deu uma vontade enorme de sorrir também.
— Só cuido do que é meu. — devolvo sua frase.
É, nunca disse que não era ciumenta.
— Ah é? Sabia também que eu iria fazer uma tattoo na região
do meu pau?
— Ué, tatuar o quê? — questiono curiosa.
— Agite antes de usar. — ele faz simulação de masturbação
com a mão e eu gargalho.
— Não, John, você não falou isso! — gargalho alto.
— Falando em tatuagem. Olha isso aqui.
Ele estende o braço tatuado e aponta para o antebraço e no
meio de um dos milhões desenhos vejo em romanos a data que
começamos a namorar, lá no passado e do lado não tem a data do
fim, e sim um símbolo do infinito. Pela cor e a camuflagem de alguns
outros desenhos por perto, vejo que não é recente.
— Estou dizendo, gado demais. Não acredito que fez isso! —
satirizo, completamente surpresa.
Abro um sorriso singelo em puro deleite. John sempre foi
amoroso e o tipo de cara que surpreende em dias aleatórios.
— Ah Liz, eu todo apaixonado e você tirando onda. — faz
biquinho e eu o imito, irreversivelmente apaixonada. — Pode ter
sido trouxa, mas quis eternizar você de alguma forma. Me deixava
com a consciência mais tranquila.
Os olhos continuam lindos, verdes amarronzados. A boca
meio rosada também, as sobrancelhas grossas, a covinha na
bochecha, apaixonante demais!
— Eu também eternizei você. Aqui oh. — pego sua mão
colocando em cima do meu peito e ele sorri abertamente, apertando
meus seios de forma safada.
Ele me traz para perto da sua boca, me puxando para um
beijo delicioso, levando a mão para minha nuca para intensificar.
Chupa e morde meus lábios, dando um beijo no pescoço logo em
seguida passeando a barba recém aparada pelo meu corpo fazendo
com que sinta as fisgadas entre minhas pernas. Sorrio colocando
meus dedos por dentro dos seus cabelos macios. John me leva para
lugares maravilhosos sem nem sair de perto.
Adoro o contato dos lábios dele com o meu, me deixa afoita e
dominada. Os olhos de John transmitiam confiança, carinho, paixão
e me fazia sentir amada em cada pedacinho do meu corpo.

JÔNATAS
Felizes e saciados, rindo à toa, buscamos Jade na casa dos
meus pais. As duas se enfurnaram no quarto da minha filha e estão
até então de modo que aproveito para ver os envelopes
acumulados para saber se o documento autenticado chegou, mas o
documento que chegou me fez ranger os dentes de raiva e
preocupação. Mais essa! Porra!
Estava cheio de planos, minha noite com Liz foi tão gostosa e
tão nossa, mal chegamos em casa e já vem coisas para estragar.
Ela me abraça por trás, afetuosa, apaixonada, apoiando a
bochecha nas minhas costas, e eu absorvo e aproveitando cada
segundo daquele abraço.
— Quero carinho, senhor Franco. — beija meu ombro bem
humorada. — Que foi que está tenso? — seu tom muda para
preocupado.
Suspiro, chateado, prevendo tudo, pois sei que iremos nos
despedir desse bom humor quando eu contar sobre o envelope. Não
será mais agradável para ela do que já está sendo para mim. Porra!
17
LIZANDRA
Confusa e preocupada, encaro John com uma expressão
séria e indecifrável. O que está acontecendo com ele afinal?
— Vê essa merda!
Vira o papel para mim e sem entender, pego para ler, leio
brevemente e entendo ser uma intimação de audiência de guarda
para essa semana. Faço uma média de olhar para ele, tentando
entender.
— Você acredita nessa merda, Liz? Eles ainda acham que
tem o direito de brigar pela guarda da minha filha!
Enraivecido, ele exaspera nervoso, se mostrando carrancudo.
Trêmula, tento entender mais essa. Jade não pode jamais ficar com
aquela louca!
— E o que vai acontecer agora, John? — eu me preocupo,
pois querendo ou não, ela é avó materna biológica de Jade.
— Eu vou entrar com outro processo no tribunal de justiça,
requerendo a guarda. Vou lutar mais uma vez para ter minha filha
em paz, Liz. Eu estou cansado, mas não vou deixar que concedam
nem a guarda provisória para eles.
Suspira claramente descontente. Estou em choque. Só em
pensar em Jade longe de nós e sendo maltratada, bate uma
angústia e desespero. A vida dela está praticamente em jogo se ela
for morar com os avós nem que seja provisório. Eles querem atingir
Jônatas, algo muito maldoso eles planejaram para alcançar isso,
querer a guarda dela assim de repente.
— E agora? Corre mesmo esse risco? — sinto minha
garganta fechar.
— Eu poderia te dizer mil e uma legislações, o que poderia e
não poderia acontecer. Mas eu, como pai e em uma situação
dessas, estou confuso.
Seguimos pro sofá, tentar organizar a mente de alguma
forma.
— Demora muito isso?
— Não sei. Eu tenho a guarda dela, mas como tudo é recente
do outro processo, tenho medo de perder nem que seja temporário.
Não quero minha filha com eles. Nem que seja uma semana.
Percebo que está desestabilizado com essa má notícia. Aliso
seus cabelos macios e seu rosto compreendendo a situação,
tentando reconfortá-lo.
— Eu não poderei voltar para cidade com você. Não quero
dar munição para eles em acusarem de tentativa de fuga.
Não consigo esconder minha decepção e chateação.
— Tudo bem, virei nos outros finais de semana. Jade quem
não vai gostar disso.
— Tenho vontade de apagar esse pessoal todo da minha
vida. — confessa enraivecido.
Jade, sonolenta e cheia de dengo, aparece na sala vindo pro
meu colo e abraço aquele pinguinho de gente que estava
adormecida até então.
— Não gosto do escuro! — reclama.
— Eu deixei sua luz acesa. — aliso seus cabelos.
— Mas quando fecho o olho fica escuro. — cruza os braços,
chateadíssima.
Rio com Jônatas e decido levá-la de volta para cama.
— Não quero dormir sozinha! — permanece na sua carranca.
— Você é grande já, pequena, tem que dormir sozinha. —
John faz carinho nela.
— Mas você também é e dorme com a mamãe. — as suas
respostas continuam cada vez mais afiadíssimas.
Sem ter como rebater, sabendo que voltarei para casa
sozinha, seguimos para dormir quentinhos debaixo da coberta como
uma família e de fato, somos. A vida é uma merda! Quando
pensamos que vai acalmar, vem outra bomba por cima!

Era domingo à noite quando eu resolvi ir embora. Jade estava


mais dengosa que o normal. Provavelmente já pressentindo a
saudade e não disfarçando como eu e Jônatas. Passou o domingo
todo no meu enlace.
Deitada na minha cama, vivendo uma semana maçante e
com o coração miudinho de saudade, lembro do meu último final de
semana que foi tão gostoso ao lado dos meus amores. Jade chorou
de soluçar quando me despedi. Tentou até me parar no embarque.
Correu desesperada para ir junto. Eu, claro, voltei um caco. E ainda
estou.
Toda essa situação está péssima! Sua vozinha chorosa ainda
ecoa claramente na minha cabeça:
‘’ — Mamãe, fica aqui comigo. — pede, dengosa esticando os
braços para vir pro meu colo.
— Você ama a mamãe? — pergunto tentando não demonstrar
minha situação.
— Aham. — acena efusivamente — Fica aqui!
Eu embarquei chorando, pelo seu pedido e vozinha pedindo
de modo totalmente dengoso e desesperado um ''pucavô''. Quase
dava a louca e trazia ela, ignorando qualquer responsabilidade e
processo. Odeio essa situação. Odeio tudo isso!
Eu estou com saudades de John também. Essas doses
homeopáticas estão me matando lentamente. Na nossa última tarde
estava bem inspirado, é terça-feira e ainda sinto a fricção dele no
meio das pernas e se duvidar vou chegar em casa com essa mesma
sensação ainda. Porém a vontade que eu tenho é de senti-lo
realmente mais uma vez e não só a lembrança.
Meu telefone toca, e pego, achando que é o despertador mais
uma vez, mas como telepatia, é ele, numa chamada de vídeo uma
hora dessas da manhã!
Seus gominhos da barriga é a primeira coisa que vejo, numa
visão que deixa pouco para a imaginação. Logo depois seu queixo
com a barba loira junto com uma expressão e um sorriso para lá de
cretino me desejando bom dia e eu respondo. Ele tentou me
assanhar, safado!
— Que cara é essa? — John me questiona com os olhos
semicerrados.
— Nada, acordei agora e ah, estou com a sensação de você
entre minhas pernas ainda!
Ele achou o quê? Que iria se safar e eu ficar passando
vontade sozinha?
— Droga Liz! — pragueja e eu rio da expressão dolorida dele.
— Imagine. Uma dose boa da de hoje se repetindo... que
pena que estou longe! — faço cara de pesar e olho para ele que
está com cara de quem pensou no que falei e não poderá fazer. —
Acho que ficará para sexta-feira que vem. Ou sábado, né?
— Quando você chegar, vai pagar por isso. — me ameaça.
— Hummm. — saboreio aquilo em puro deleite enquanto
cruzo as pernas para acalmar o fogo que subiu.
Eu o encaro logo em seguida com sua expressão contrariada
e rio mais uma vez. Pergunto sobre o processo que ele foi ontem e
ele me explica sobre o não acordo que está correndo atrás da
guarda total, nem compartilhada ele quer e eu concordo
plenamente. Nós nos despedimos e sigo para minha rotina.
Pela noite encontro Suzi e a arrasto para meu apartamento,
pois ela quer saber sobre as novidades que eu ainda não contei e
ficou surpresa sobre eu contar minha novela com Jônatas e sobre
Jade me chamar de mãe.
— Eu senti que tinha uma tensão entre vocês quando se
encontraram, até me afastei com Jade, só não sabia que era sexual.
Menina do céu!
Ele se serve de mais uma colherada de sorvete rindo para
mim.
— Para você ver, Suzi. Final de semana passado estava lá
com eles, uma pena não virem. Acredita que os avós dela brigaram
na justiça para pegar a menina?
— Sério? Então daqui a pouco eu vou ser notificada para
intermediar isso, porque eu fui a assistente social no processo aqui
que mal acabou.
— E o que você pode fazer para dar um fim nisso? —
pergunto esperançosa.
— Vou ver, mas oh, se alguém te perguntar se me conhece,
você nunca nem me viu! — avisa com graça e eu concordo,
gargalhando.
— Obrigada, amiga. Se fosse por mim e John, esse pessoal já
tinha sido apagado das nossas vidas. Aquela menina é tudo para
mim!
— Ai, que bonitinhos!

Dentro da minha sala, estressada, trabalho de má vontade de


puro cansaço. Nem fui para o almoço ainda porque tento terminar
esse cronograma, Scarlet jogou muita coisa para eu resolver hoje.
Quase um mês desde que o processo começou, John me dá
atualizações quando vou lá e por telefone. Nas últimas duas
semana fui depor, eu não entendi bem o porquê de precisar da
minha presença. A juíza avaliou meus documentos, até
antecedentes criminais me pediram assim como avaliação
psicológica.
Jônatas me explicou porque estou com ele, e por isso era
incluída na avaliação de guarda dele.
A saudade está sufocante. Eu vou ainda hoje para vê-los
quando sair daqui. Paro de encarar o wallpaper de nós três de
semana passada que fomos para sorveteria. Jade está em pé no
colo de John, que está sorrindo a segurando pelas pernas e Jade
segurando um sorvete com a bochecha completamente melada de
chocolate enquanto eu sorrio segurando o celular. Debruço na mesa
me sentindo horrível, meu dia tá um porre!
Suspendo o rosto ouvindo a porta ser aberta e dar de cara
com minha chefe.
— Está ocupada? — entra séria, como sempre é.
— Estava planejando uma pausa, não consegui almoçar
ainda. — exponho, torcendo que não me peça para fazer nada.
— Ainda não foi? — faz a pergunta retórica e ainda assim
nego. — Eu realmente preciso que venha nesse exato momento. Te
libero mais cedo.
Com a flexibilidade de eu ir para casa de Jônatas mais cedo,
aceno.
— Estive organizando as matérias por categoria. Só preciso
encaminhar para os diagramadores a segunda parte e imprimir os
arquivos que você ainda não viu.
— Envia, imprime e sobe. — ela vai em direção a porta da
mesma forma que veio. Mas antes de bater à porta, retorna. — Você
come massa, né?
Aceno desconfiada e ela sai. E faço o que avisei que faltava.
Não demora muito que eu saia da minha sala e bata na dela. É um
privilégio e tanto estar no andar que a sala dela fica com o setor
jurídico. Mas eu ainda resolvo coisas lá em baixo na redação.
Cumprimento Eva com dois beijos no rosto e em seguida entro na
sala da Megera depois da sua permissão.
Ela aponta para uma das poltronas numa parte da sua mesa
que parece sala de estar e sentada, com o IPod na mão, recebo
feedback dos outros setores, para saber se ainda falta documentos.
— Pedi a comida. — me comunica andando até a mim.
— Não precisava. — sorrio completamente sem graça.
— Eu iria almoçar de qualquer jeito. Como você também
não...
Concordo um tanto sem jeito. Almoçar junto com a chefe sem
avisos prévios é tão desconcertante!
— Aqui. — entrego um dos papéis para ela ver.
— Esse aqui eu já vi. — ela já com um marcador vermelho
nas mãos, faz um ‘’X’’ enorme na folha. — Esse pessoal parece que
perdeu amor à vida. Como é que ela me escreve um artigo de como
chamar atenção de homens que demonstram desinteresse. Isso
aqui é o quê? Revista de que século? Sinceramente, Lizandra, a
redação tinha post mais interessantes quando era você e Alana
quem escreviam essa área. — resmunga jogando o papel para o
lado.
Confusa, tento entender se minha chefe me elogiou. Isso foi
um elogio?
Ela pega o outro papel e resmunga irritada enquanto lê,
fazendo outro ‘’X’’ e algo me diz que as duas irão receber um e-mail
ainda hoje com um aviso de refazer para entregar segunda pela
manhã. O outro ela não reclama e faz um ‘’V’’ na cor verde. Pelo
menos um, né?
Batem na porta, e Eva surge logo em seguida avisando que o
almoço já está subindo e Scarlet avisa que podem entrar.
Rapidamente organizamos a mesa com os papéis e duas
funcionárias da cantina do térreo trazem para gente. Confesso que o
cheiro está maravilhoso.
Agradeço com um sorriso e Scarlet apenas agradece, nos
deixando as sós novamente.
— Espero que lhe agrade, Lizandra. — comenta prendendo
os longos cabelos escuros e eu aceno. Estar aqui assim com ela
dessa forma é muito estranho. Parece que estou no mundo
paralelo.
Mas uma coisa tenho que reconhecer, com ela não tem
besteiras, é palpável sua humildade, ela se impõe como chefe, é
nítido sua seriedade, mas não é aquela coisa hostil que te humilha,
pelo meu ponto de vista ao menos. Não a temo como a maioria
aqui, apenas a respeito, como ela que me respeita. Um dos maiores
prós da minha chefe.
— Você bebe? Quer vinho? — olho para ela com as
sobrancelhas franzidas. Oxe!
—Não, obrigada. — prefiro negar. Vai que é um teste.
— Não se preocupe, eu também vou tomar, irei sair mais cedo
também. E além do mais comer um fettuccine sem um vinho é
quase um pecado.
Ela se levanta, provavelmente indo buscar o vinho. Que
estranho! Scarlet volta com o vinho e duas taças. Ela mesmo serve
para nós duas.
— Não se preocupe, uma taça é inofensiva, ao menos que
seja fraca para bebidas.
— Obrigada, não sou. — agradeço pegando a minha taça.
— Mas se contar para alguém, eu te demito. — seu tom é
sério a ponto de me arrepender em ter aceitado. — Não foi sério.
Foi uma piada...
Ela sorri brevemente da própria piada comendo logo em
seguida. Acabo rindo de puro nervosismo. Que mulher louca! Eu
nunca sei quando ela está falando sério ou brincando. Na verdade,
para mim tudo é sério, porque ela não brinca.
— E o processo da justiça, já foi resolvido? — sobe os olhos
para me fitar.
— Não sei, mas tá cansativo!
Ela sabe sobre Jade desde o orfanato e sobre o fato desse
novo processo que Jônatas está enfrentando porque eu precisei da
sexta-feira de folga da semana passada para ir depor. Scarlet é bem
estranha, parece ser uma boa pessoa, mas na maior parte do tempo
parece que vai comer sua cabeça com seu olhar examinador e
sério. Se eu contar que almocei tomando vinho na sala dela, com
ela de cabelo preso extremamente informal enquanto
conversávamos coisas que não era do trabalho, as pessoas vão me
chamar de louca e mentirosa. E provavelmente vou me achar
também, pois parece que estou em um mundo paralelo.
— Você se apegou mesmo a ela, né?
— Muito, amo aquela menina. — não evito dá um sorriso
besta como sempre me lembro dela. — Ela já me chama de mãe.
Scarlet faz cara de surpresa. Espera aí, aquilo foi um breve
sorriso de lado da vaca mor? Sorriso doce e não diabólico depois de
ferrar com sua vida? Isso é novidade.
18
LIZANDRA
No silêncio do quarto, escuto a respiração de Jônatas no meu
ouvido, com seus braços ao redor da minha cintura e me sinto
finalmente bem. Está vendo o porquê do meu desespero de vir
logo? Preciso estar perto deles, me faz bem. Eu gosto desse
cuidado dele, de ficar nós três juntos. Esperei por isso a semana
toda.
Cheguei agora à noite, Jade já estava dormindo, mas não me
impediu de amassá-la e beijar suas bochechas gordinhas, matando
o mínimo de saudade, pois farei isso mesmo com ela acordada
amanhã. O seu cheirinho gostoso me acalmou completamente.
Acaricio seu braço para conseguir pegar no sono. Como
cheguei cansada, me joguei direto na cama, e ele nem sugeriu
nada, estava estampado na minha cara, mas não estou
conseguindo pregar o olho por um motivo em especial: Jônatas
próximo demais de mim.
Eu estou cansada, sei que amanhã será cansativo com Jade,
mas o fogo no rabo que ando ultimamente por causa dele não está
em consenso.
— Está acordada?
John sussurra preguiçoso e eu me arrepio brevemente. Não
só porque a mão dele desceu para as minhas pernas.
— Você não está me deixando dormir...
— Desculpa, se não quiser...
Quando eu me viro para ficar de frente, suspendo o olhar com
um sorriso, que retribui com um ainda maior. Recebo um beijo
carinhoso na boca, que era para ser uma simples troca de afeto,
mas ele levou para outro patamar, avançando indecente, e quando
me dei conta, já tinha seu corpo sob o meu.
— Prefiro você. — mordo rapidamente sua boca e ele geme
satisfeito.
Minhas palavras o incentivam a atacar minha boca com mais
urgência e me livro das nossas roupas o mais rápido que consigo.
Eu necessito dele. Com urgência!
Sequer precisa de muita preliminar, já embarquei pronta para
ele.
— Estava morrendo de saudades. — admite sussurrando.
Eu, apenas gemo, o sentindo pulsante dentro.
— Saudade de mim ou disso? — exaspero, por ter seu corpo
pesado sob o meu.
— Pode ser as duas coisas? Mas garanto que foi mais de
você.
Beija rapidamente meu pescoço me deixando afoita. Seguro
no seu queixo com as duas mãos, para atacar sua boca, pois sou
dessas e juntos, no prazer só nosso, matamos a saudade não só da
semana, mas de todo esse tempo separados. Ora rápido, ora
devagar, mas gostoso das duas formas. Com seu corpo quente e
suado contra o meu, na mesma urgência. John faz coisas
maravilhosas com o meu corpo que viro uma gelatina nas suas
mãos.
— Ainda bem que não fui o único que estava morrendo de
saudades.
John comenta, bem-humorado, ainda me abraçando. Sorrio
preguiçosamente, de olhos fechados, tendo o corpo relaxado o
suficiente para querer dormir imediatamente.
— Você não imagina quão ruim é ficar lá sozinha.
Levanto meu rosto para fitar o seu que está com os cabelos
bagunçados e completamente suado. Gostoso!
John me fita mais uma vez e me dá um beijo rápido me
provocando outro sorriso. Com ele, eu só tenho vontade de ficar
assim, sorrindo à toa.
— Prometo que até final do mês estamos indo de vez.
— Espero que passe logo.
Beijo seu peito rapidamente. Nada melhor que estar aqui. Me
sentindo cuidada, desejada e amada.

— Mamãe. Oh, mamãe. Mamãe.


A vozinha urgente as mãozinhas me pressionando
efusivamente, mostrando uma Jade sorridente ao ver que abrir os
olhos preguiçosamente e resmungar mais dormindo que acordada.
Estou nocauteada depois de ontem, ou hoje no caso. John não
queria me dar trégua.
Com o olho mais fechado que aberto, abro os braços para ela
se encaixar no meu colo. Aperto ela no enlaço beijando seu rosto
diversas vezes.
— Sentiu saudades? — questiono baixo.
— Aham. Vai ficar aqui comigo? — a pergunta inocente dela
me quebra.
— Isso é o que eu mais quero.
Jônatas aparece no cômodo, fazendo Jade tentar se
esconder no meu colo. Gargalho pela reação dela, por saber que
supostamente fez algo errado.
— Sabia que você ia vir acordá-la — John comenta.
— Você estava com saudade da mamãe, diga a ele. — falo
para Jade.
— É, papai. Mamãe estava dormindo não.
Mente, pois ela que me acordou. Nunca vi pessoa mais
trambiqueira, meu Deus! Vive largando caô por cima de Jônatas que
como conhece a peça, sabe que está mentindo.
— Foi, Jade? — questiono para ela que vira para mim
sorrindo. Terrível! — Vou levantar, pois estou faminta.
— Que tal um café na rua? — John propõe. — Não é todo dia
que a gente tem você aqui.
Concordo, gostando da ideia e sorrio por esse cuidado e essa
recepção toda vez que chego.
— Quer tomar banho comigo? — questiono a Jade.
— Quero! — os dois respondem e fito Jônatas, pela cara de
pau dele.
— Você não, papai. — Jade nega e eu concordo em deboche
olhando para ele.
John levanta resmungando enquanto eu e Jade fomos juntas
para o banheiro, com ela atracada nas minhas costas rindo.
Descemos para rua, nós três, para procurar um lugar para
tomar café. Jade estava resmungando de fome, por incrível que
pareça.
Decidimos não voltar para casa e passar o dia fora, o destino
foi o shopping, Jade se animou com as possibilidades que poderia
aprontar lá, tanto que assim que chegamos ela ficou eufórica pelos
brinquedos montados.
Enquanto ela brinca na enorme piscina de bolinha com mil e
um labirintos, sendo supervisionada por fora por mim e por John,
aproveitamos para conversar um pouco parando para acenar a cada
dois segundos.
— Acho que entramos na reta final, a última sessão está
marcada para daqui a quinze dias. — puxa minhas pernas para ficar
repousada na sua.
— Tudo isso? O outro foi mais rápido, não sei porque esse
está levando tanto tempo. — resmungo chateada. Fitando Jade que
está rindo e descendo direto para um dos tobogãs. — É uma briga
desnecessária. Parecem que não tem senso.
Era quase uma da tarde quando conseguimos tirar Jade dos
brinquedos. Ela acabou chorando e fazendo birra querendo ficar.
Dizem que entre dois e três anos é a fase de “adolescência” do
bebê, que quer fazer o que quer e nem sempre obedece; e eu
preciso me preparar muito para a adolescência de verdade.
Depois do almoço fomos ao cinema, assistir um filme infantil.
Porém nem eu e nem John assistiu de fato. Eu tentei até, mas
Jônatas não deixou, às vezes alisando minha nuca
despretensiosamente, mesmo sabendo que meu corpo não enxerga
como algo inocente. Quando não era assim, era cheirando meu
pescoço. Nem com uma sala repleta de crianças, ele baixa o fogo.
Logo voltamos para casa, porque Jade estava adormecida e
shopping com ela assim é extremamente sem graça, já que a
intenção de vir era passar um dia legal com ela para matar as
saudades, uma vez que amanhã estou voltando. Deixo-a no seu
quarto completamente cor de rosa. Até os móveis tem detalhes. Eu
imagino um Jônatas pai de primeira viagem, de menina e sozinho.
Não consigo evitar sorrir.
— Você se empenhou para fazer Jade se divertir. Agora é
minha vez. — John me intercepta.
— Você não tem dois anos de idade. — rebato.
— Mas eu sou tão fácil de agradar. É só tirar a roupa.
— Ai que cretino!
— Temos um motivo, comemorar, sou o mais novo sócio do
escritório Cantarelli. — me dá a notícia com um sorriso enorme.
— Sério? — agarro seu pescoço, empolgada. — Não
acredito!
— Falta pouco para temos nossa vida, Liz.
Trago sua boca na minha não querendo esperar mais.
Amanhã já é domingo e estarei indo embora. Afinal de contas
ficaremos uma semana sem nos ver antes de viver nosso sonho. E
só em pensar nisso o coração fica apertadinho de saudade deles
dois.
Jade mais uma vez não me largou. Ficou no meu colo o
tempo todo e entrou em desespero quando viu eu pondo minha
bolsa no carro. Vim dirigindo, depois do trabalho que saí mais cedo.
Ela faz cara de choro inconformada. Mas eu a entendo,
tadinha. Está apenas tentando lidar com as vontades e emoções.
Até eu estou em uma situação dessa. No entanto, neste momento
não posso fazer muita coisa. Se pudesse, ela estaria comigo há
muito tempo. Só que eu não posso deixar de trabalhar enquanto
isso se acalma e nem trazer ela para ficar comigo.
Toda essa situação é uma merda do caralho! Esses avós dela
não veem que isso faz a menina sofrer? Ridículo isso de querer
afetar Jônatas. Não percebe que a maior afetada disso tudo é a
criança!
— Fica aqui. — pede de biquinho, com os olhos cheios de
lágrimas, quase me nocauteando.
— Falta pouquinho para você ir comigo. — Eu a aperto nos
meus braços prendendo o choro. — Semana que vem eu venho ver
você de novo. Prometo que falta pouco para você ir.
Olho para Jônatas pedindo apoio, mas percebo que ele está
tão desolado quanto nós duas. Por que tem que ser tudo tão difícil?
Sem ter mais como adiar o inadiável, John aproveita para
pegá-la do meu colo, que repousa a cabeça no ombro dele,
dengosa e chorosa. Vê-la assim me deixa angustiada, porque não
posso fazer nada.
— Prometo que farei o possível para essa situação não se
estender.
Eu o beijo demoradamente já sentindo gosto de saudade da
despedida.
— Eu sei que fará. Amo vocês.
Abraço ambos para me despedir, tentando controlar a
saudade que estava invadindo meu peito.
19
LIZANDRA
Semanas depois...
Orgulhosa, encaro o quarto que era meu agora repaginado.
Decidi usar meu tempo sendo otimista, dedicando para fazer um
quarto novo para Jade quando eles se mudarem.
Aquele quarto completamente rosa era enlouquecedor. Ela
com certeza vai amar!
— Ficou fofo demais! — Natasha descabelada e suja de tinta,
também se orgulha. Alexia e Taís concordam.
Pois é, junte quatro mulheres, mães, num sábado pela
manhã, para uma reforma de quarto infantil que o resultado final
ficará extraordinário. Um incrível room makeover.
O tema não poderia ser diferente, Cinderela. Só faltam os
móveis que ainda precisam montar. Mas a decoração está toda
aqui. Mal posso mostrá-la a surpresa. Não pude ir lá essa semana,
e estou me sentindo muito culpada por isso. Amanhã é aniversário
de minha mãe e ela sempre fez questão que todas estivessem
presentes, senão é ofensa. Jônatas pareceu entender
completamente, mesmo sabendo que viveríamos de saudade por
mais uma semana.
— Ai, que saudade da minha filhota! — sorrio, mesmo morta
de saudades.
— Eu estou doida para conhecê-la, Liz. — Alie comenta
ansiosa.
— Nem fala, eu só quero ver quando nossos pais saberem
que serão avós de mais uma. — Taís ri.
— Eles já sabem que eu e John voltamos. Estão doidos para
reencontrá-lo e conhecer Jade.
Liguei para meus pais semana passada, eles precisavam
saber sobre essa minha decisão antes de eles chegarem aqui para
morar comigo, mesmo eu sendo adulta.
— Quero muito ver isso. — Nat, levemente maldosa, me
olha.
— Coitado.
Rimos e decidimos almoçar fora, como antes, sem
preocupações. Natasha repete a cada segundo que está com
saudades de Vini, mas que está adorando o dia. Alexia a mesma
coisa, toda hora Murilo ligava porque um dos gêmeos queria escutar
sua voz. Taís, há mais tempo no ramo, desligou o celular para não
ser incomodada.
Taís como motorista, nos levou para a praia mais próxima,
aproveitar o sábado entre a gente perto do mar e relaxar. Eu estou
muito satisfeita que depois de anos e indiferenças desnecessárias,
Taís está conosco se divertindo. É tão bom estar inserida agora no
estilo de vidas dela, de mãe.
— Mas me diga, Liz. Já pensou onde Jade vai estudar
quando se mudarem? Ela já estuda, falando nisso? — Natasha me
lembra um assunto importante.
— Ih é verdade! Eu acho que ela não frequenta escolinha.
Sequer pensei nesse assunto importante, apesar do berçário lá na
revista, a idade dela lá é para estudar. Conversar com Jônatas
sobre esse detalhe.
— Matricula no que os meninos estão. Eu gosto de lá, sem
contar que é mais fácil de buscar. — Taís indica.
— É, Taís e eu revezamos para buscar os meninos.
— Lá é período integral e ela pode fazer alguma atividade à
tarde. — Alexia complementa.
— Se escolher natação, não indico que Jônatas vá como
acompanhante. Ao menos que você queira que as outras mulheres
fiquem o babando, igual o que aconteceu com Gustavo sem camisa.
E o idiota nunca repara. — Natasha fecha a cara. Provavelmente
imaginando a cena. Gargalhamos pelo ataque de ciúmes dela.
— Nem fala! — Alexia revira os olhos.
Em casa, disco o número de Jônatas, mas sequer chama. A
buzina ecoa aqui em frente e vou ver para saber se alguma delas
esqueceram algo. Mas para minha completa surpresa, é o carro de
Jônatas.
Corro até seu carro, em disparada , descrente que estão
aqui.
— É nessa casa que tem alguém com saudades de duas
pessoas de olhos verdes? — John sorri saindo do veículo. Não
acredito!
Num impulso, me jogo nos seus braços, recebendo um
abraço apertado, o mais forte que consigo e ele retribui na mesma
intensidade. Inacreditável que ele está aqui.
Meu dia melhorou em mil por cento.
— Cadê Jade? — questiono eufórica sentindo sua mão na
minha cintura.
— Deixei com meus pais.
— Mentira! Mamãe! — antes de cair na mentira, Jade
desmente e grita de dentro do carro, doida para sair dali.
Abro um grande sorriso me separando de Jônatas, pegando-a
dali, matando minha saudades. Eu a encho de beijos enquanto ela
sorri para mim. A bichinha está que não se aguenta, eufórica.
Estávamos morrendo de saudades da outra. Sinto John me
abraçar por trás dando um beijo na minha nuca. Isso será finalmente
o início da nossa vida?
— Por que vieram? Reformulando, como conseguiram vim?
— Digamos que o amor da sua vida consegue qualquer coisa.
— se gaba.
— Verdade. Como resistir essa carinha de boneca? — beijo
Jade e ele resmunga e eu gargalho.
— Vamos entrar, porque aí vocês dois me contam o porquê
de estarem aqui hoje.
Entramos, comigo beijando minha filhota cada dois segundos,
não aguentando de felicidade, ao vê-la tão pertinho de mim. É tão
bom estar aqui com ela. Se ser mãe é isso, era exatamente o que
queria.
— Também quero um abraço desse. — John vem para perto
mais uma vez, me dando um selinho demorado. Ah, esse homem!
— Agora me conte porque os meus dois amores de olhos
verdes estão aqui? Não que eu não tenha gostado, estou amando
na verdade.
— Viemos morar com você. Não era isso que queria? Você
pediu e a viemos. — dá de ombros.
— Mas e o processo? E toda a coisa de não poder sair de lá?
— Já deu como finalizado, só preciso semana que vem ir lá
com você para formalizar algumas coisas. Viemos de mudança, os
móveis deixei para minha irmã.
— Não acredito nisso! De verdade? — abro o maior sorriso
que eu poderia dá na vida.
— Sim. Está preparada para aguentar a gente todos os dias?
— Óbvio! É o que eu mais quero!
Avanço novamente para sua boca em outro selinho demorado
e Jade resmunga algo querendo sair do meu colo. Aproveito e a
arrasto para seu quarto novo. John vem atrás, curioso para saber
qual a surpresa que tinha para ela.
Eu fiz questão de arrumar tudo, inclusive um cantinho para
ela fazer a bagunça dela com os brinquedos. Tem prateleiras ao seu
alcance para que pudesse pegar.
— Gostou? — questiono quando vejo ela parada observando
tudo.
Ela acena para mim com os olhos verdinhos, arregalados em
surpresa.
— É da pincesa! — exclama eufórica.
— Sim! — sorrio boba.
Ela corre para ver o papel de parede e esclareço a John meu
mini projetinho de duas semanas. John sorri tão abertamente e
satisfeito quanto eu.
Decidimos que enquanto Jônatas armava os móveis do
quarto novo dela, como se adivinhasse o que andei aprontando ao
não trazer, fizemos a mudança. Ele não trouxe quase nada, só
coisas de Jade e Santo Cristo, só tem tralha. Doarei mais da
metade, nem da caixa irá sair.
Mas o resultado final ficou perfeito.
E foi tão gostoso a sensação de ele colocar suas roupas na
parte que separei no guarda-roupa e ele ficou reclamando que sou
igual a Jade, que guardo mil coisas aleatórias e blá blá blá.
Assistindo TV, despretensiosamente sinto John acariciar meu
braço, descendo pela minha cintura, indo diretamente para minha
bunda, subindo logo em seguida para descer novamente.
— Ai, que saudade! — John resmunga e eu rio sentindo a
mesma saudade que ele se refere. — Não quer pôr Jade para
dormir não? Deve estar cansada da viagem. — sugere com mil
intenções por trás disso.
— Está cedo, topa jantar fora?
— Eu quero! — a pequena se anima. John também concorda,
rendido.
— Mas aí quando voltarmos... — faço cara de sonhadora e
subo meus olhos para o dele que está mais verde que nunca me
fitando sério.
— Está muito provocadora ultimamente.
Rio. E como sempre com eles, a noite é agradável e como
imaginei, na volta Jade estava cansada adormecida.
No quarto, trocando de roupa, Jônatas me surpreende
atacando minha boca com urgência. Minha mão automaticamente
vai para sua cintura, por debaixo da sua camisa e o puxando para
mais perto.
— Eu preciso de você, nesse exato momento. — sussurra
mordiscando meus lábios rapidamente e eu gemo baixinho.
— Eu iria tomar banho. — respondo ofegante.
— Não seja por isso, vou te deixar molhada.
Aceno avançando novamente para sua boca ele desce as
duas mãos para minhas pernas. Eu me enrosco na sua cintura até
me derrubar na cama ficando por cima. Fito seus belos olhos
verdes, levo minha mão para o seu rosto, alisando, passeando pela
barba enquanto ele fecha os olhos manhoso. Abro um sorrisinho
idiota por isso. Ele pega minha mão e beija.
— Já falei que adoro seu cheiro natural? — resmunga
enfiando o rosto no meu pescoço e dou uma leve arquejada
arrepiada.
— Uhum. — suspiro fechando os olhos.
Agarro sua cintura mais uma vez sentindo a boca dele descer
com pequenos beijos e fico absorta a sensações que ele está me
causando. Língua úmida nos meus mamilos e suspiro sentindo lá
em baixo molhar ainda mais, porque ele beija do umbigo para cima,
sempre voltando para meus seios. Mantenho os olhos fechados e
seguro no seu cabelo, ofegando e solto gemidos curtos e baixos,
pelo que está fazendo.
— Vou te venerar, cada pedacinho... — sinto seu hálito
quente contra minha pele e causa mais uma onda de arrepio.
Incapaz de falar qualquer coisa, sou virada de bruços,
sentindo logo em seguida pequenos beijos molhados pelas minhas
costas arrepiando por onde desce, passeando as mãos entre
minhas coxas sem pretensão alguma de realmente fazer algo. Já
estou muito mais que encharcada. John mordisca minha pele a
queimando completamente. Santo Cristo!
Decido virar novamente, arrancando sua camisa. Eu o fito na
mesma intensidade que ele me observa.
Quando o fito na mesma intensidade que ele me observa,
parece que tem algo a mais entre o nosso relacionamento. Algo
acabou de mudar e não sei dizer ao certo se é porque finalmente
vamos morar juntos. Só sei que me sinto cada vez mais dele, e ele
meu.
— Amo você.
Sussurra a centímetros da minha boca avançando sedento.
Sinto meu coração bater violentamente contra meu peito assim
como os arrepios na minha pele. Fora o tesão absurdo que estou
sentindo.
Sua boca escorrega pela minha clavícula e pescoço.
— Vai ficar marca. — ronrono fincando minhas unhas nas
suas costas.
—Um milhão a um. — rebate e eu sorrio automaticamente por
ter deixado ele marcado todos os fins de semana que estive lá.
Tenho que renovar, né? Para saber que ele continua me
tendo. Volta a passar a língua no vão dos meus seios, indo direto
para meu umbigo e mordisca meu quadril. Suspiro em ansiedade o
sentindo bem perto de onde eu quero e preciso.
Ofego apertando seus cabelos quando ele finalmente toca lá,
manipulando sua língua sedenta, o mantendo ali. Travando minhas
pernas perto do seu pescoço.
E se mantêm ali, até perceber meus pequenos tremores e
abandonar ensopada e latejante, me deixando frustrada e com uma
sensação horrível de um orgasmo interrompido. Abro os olhos para
tentar entender o que aconteceu e ele desprende minhas pernas do
seu ombro.
— Droga, Jônatas. Por que parou? Estava quase! — Mostro
minha insatisfação. Ele sorri de lado e tenho vontade de estapeá-lo.
— Quero que goze no meu pau. Prometo que pago por isso
depois.
Sem roupa, volta para cima de mim. Ele sorri agarrando no
meu cabelo me beijando lascivo e o empurro para sentar e ponho
minhas pernas ao redor do seu colo.
Encaixados, nós dois gememos juntos. Mordo os lábios e
contraio sentindo o orgasmo começando a se instalar novamente no
pé da minha barriga. Não vou durar nadinha, já estou vendo.
Deslizando para dentro, encaro seu rosto, numa expressão de
maxilar cerrado e sobrancelhas franzidas. Não deixo de soltar
pequenos gemidos, sentindo-o entrar tomando seu espaço e sair e
quase todo para retornar fazendo o mesmo.
Ele deita me repousando mais no seu corpo e ele próprio dita
o ritmo indo e voltando de modo vigoroso e incansável. Fecho os
olhos sentindo o orgasmo vir mais rápido, como flecha solta no ar.
As respirações ofegantes que John dá é se tirar o juízo. A sensação
que que tenho é que esse vai terminar de me nocautear.
Meus gemidos estão meio descontrolados, porém não está
alto e quando aumento, ele me cala com um beijo. Finco minha
unha mais uma vez, mas dessa vez na sua bunda, em puro
desespero.
Chego ao ápice, e Jônatas continua, até vir também,
gemendo de um jeito totalmente gostoso e satisfatório no meu
ouvido. O quarto só escuta a nossa respiração pesada sem
sincronia.
Estou mole, suada, ofegante e mais leve. E meu sorriso
transparece isso pela cara de satisfeito de Jônatas.
— Prometo que todos os nossos finais de dias serão assim.
— fala de modo totalmente preguiçoso.
— Eu agradeceria. — sorrio extasiada e leve.
Minha vida ultimamente parece tão encaixadinha. Nós nos
encaixamos perfeitamente. Eu pedi uma família e mesmo com
alguns contratempos, essa é muito além que o esperado. Muito
melhor.
— Obrigada pela surpresa. Eu amei, de verdade. — sussurro
no breu do quarto.
— Faço de tudo para manter vocês felizes.
Melhor que começar a amar uma pessoa, é permitir voltar a
amar uma mesma. Eu estou me permitindo agarrar as chances que
a vida está me dando e até agora estou amando o resultado.

20
LIZANDRA
Chegando no quintal da casa de Nat, que arregala os olhos
com Vinicius no colo, vindo rapidamente na minha direção, vejo que
a festa começou. Natasha achou melhor fazer a comemoração aqui
na casa dela, ela se mudou recentemente e tem piscina, para os
meninos se divertirem mais. Já vejo Jade querendo vir aqui sempre.
Ela sorri abertamente para mim antes de soltar um sorriso
maléfico, em puro deboche, para John ao meu lado.
— Quanto tempo, né, senhor Jônatas? — Nat sorri
diabolicamente para ele novamente.
— Quem diria, hein, Nat? Pelo menos agora, não vai mais me
extorquir, né? — ele sorri de volta apontando para Vinicius que já
está com o sorriso aberto para Jade.
— Uma pena. Uma pena mesmo. Cadê Duda?
— Está lá. E você continua a mesma pentelha. E faça seu
filho tirar os olhos do meu bebê!
— Não temos culpa que meu filho é lindo! — Gustavo sorri
para nós três. Babão.
Apresento Jônatas a Gustavo e de longe, vi meus pais fitar a
gente. É hoje!
Alexia e Taís chegam até nós, empolgadas, querendo
conhecer Jade de perto. Nat, já sem Vini no colo, estende o braço
para Jade que se joga para o colo dela sem pensar duas vezes. As
duas até que se deram bem, desde a última vez que se viram.
E eu amo essa interação que ela está tendo, é reclusa desde
que conheci. Apesar de aprontar comigo, e tê-la à vontade com
minha família e saber que eles gostam dela sem reservas, já a
pegou como família, como eu.
— Vamos lá falar com meus pais. — chamo ele.
— Eita Jônatas! — Nat ri em escárnio e deboche. — Vou levar
Jade para piscina.
De mãos dadas, seguimos até eles. Abraço ambos,
desejando parabéns a minha mãe que sorri do jeitinho materno que
sempre teve.
— Jônatas! — meu pai o cumprimenta com apertos de mãos
e em seguida cumprimenta minha mãe com um beijo fazendo o
mesmo que eu. — Quanto tempo né?
— Pois é! — encolhe os ombros não se importando muito.
— Lizandra agora é adulta. Mas saiba que ela continua sendo
minha filha como antes. E espero que dessa vez deem certo. —
meu pai olha para ele que está sério.
— Eu amo sua filha, se depender de mim nós nunca vamos
passar por aquilo novamente. — fala firme e tenho vontade de beijá-
lo muito.
— Pai, a gente conversou, pontuamos tudo, e estamos
colocando cada coisa no seu lugar. Não se preocupe quanto a isso
que estamos mais maduros para tentar de novo. — reforço toda a
situação.
— Logo uma menina, né, seu Jônatas? Você vai passar com
uma o que eu passei com as três e vai me entender.
Meu pai debocha de John e Gustavo gargalha de lá,
chegando perto com Nat com Jade. Tadinho dele. Está sendo
debochado por todos. Que mal tem em ser pai de menina?
Minha mãe sorri, encantada, vendo Jade de perto, que
imediatamente vira a menina tímida.
— Daqui a pouco ela se acostuma com vocês. — explico.
Seguimos para a beira da piscina. Está um sol de lascar e
Natasha está do meu lado com cara de morta e óculos escuros e
coque para disfarçar a situação. Eu me atrevi a falar disso e quase
tomo um tapa.
Jade corre totalmente feliz brincando com Zeus e Alan.
Nina, a filha de Alie só gargalha na piscina com o irmão e
Murilo e é tão gostoso sua risadinha dobrando. Menos de um mês
de diferença entre Vinicius, mas é uma miss-simpatia.
John e Gustavo estão em algum lugar por aí. Meu pai está na
churrasqueira e minha mãe por perto transitando, porque não
consegue ficar sentada e quieta. Nunca vi!
Puxo meu cabelo para prender. Mesmo dentro da piscina, o
sol tá muito quente.
— Hummmmmm.... — Natasha me olha com cara de
maliciosa e arqueio uma sobrancelha para ela.
— Que foi?
— Você aí. Toda marcada. Sua safada! — gargalha e lembro
da marca roxa no pescoço que meu cabelo estava cobrindo até
então.
— Pare, Natasha. Você é terrível! — reviro os olhos
colocando o cabelo como estava.
Acabamos passando o domingo juntos. Minha mãe está mais
que sorridente, pois adora isso, ver a gente juntos. Ter os meninos
gritando e brincando e eu também, me sinto bem e encaixada
novamente nessa nova realidade.

Com felicidade genuína e sorriso à toa nos lábios, ando no


saguão do térreo em direção aos dois amores da minha vida. De
camisa social branca e calça também social escura mostrando um
pouco das duas tatuagens do pulso está John segurando uma bebê
no colo, mais linda ainda com os cabelinhos penteados e mochila
nas costas e um sorriso fofo assim que me vê, me derretendo
completamente.
Ele, claro, está chamando atenção, pois aqui é um prédio
feminino e uma peça dessas assim do nada é quase uma exposição
no museu. Minha vida está perfeita! Jade foi matriculada no colégio
e no balé, mas eu estou com o coração apertadinho, amanhã ela já
começa.
Jônatas já foi no escritório, e caramba, como fica gostoso
todo social. Nessa primeira semana ele ainda não está trabalhando
de fato, por causa das aulas dela, toda a transferência de
documentação.
Jade abre os bracinhos já se jogando para cima de mim, me
chamando de ‘’mamãe’’ assim que me vê. Eu a pego no colo,
beijando sua bochecha, mortinha de saudades.
Eu amo chegar em casa e encontrar ambos me esperando.
Recarregar as energias com eles. Jônatas está arrumado para ir ao
escritório resolver as pendências, e está mais cheiroso do que me
lembro durante o dia.
Trocamos palavras breves e num selinho rápido em meio ao
um sorriso com vontade de beijar de verdade, nos despedimos e
com Jade de mochila no meu colo, subo para minha sala, pegar
minhas coisas.
Confesso que estou doida para ir embora, não estou me
sentindo nenhum pouco bem desde o almoço, mas precisarei ir no
shopping com Jade por ser extremamente necessário para comprar
sua roupa do balé.
Com Jade no chão da minha sala, pego o que preciso, mas
antes de dá meu expediente por encerrado, Scarlet aparece na sala,
com alguns papéis na mão, depois de dar dois toques.
— Preciso que venha na minha sala nesse exato momento.
— fala sem tirar os olhos dos papéis.
— Estava indo embora...
Ela finalmente me olha vendo Jade comigo aqui na sala.
Aguardo pelo pequeno esporro que apesar de poder crianças, os
setores não são permitidos a presença delas em horário de trabalho.
Mas para minha surpresa não vem, e sim um pequeno sorriso em
direção a Jade.
— Não irei demorar, e não posso adiar.
— E ela? — aponto para a pequena que observa tudo.
Scarlet anda na minha direção, parando do meu lado e
estendendo os braços para Jade, com um sorrisinho que nunca vi
ela dá na vida. O sorrisinho não deboche eu diria. E uma frase
calma "vem com a tia, rapidinho" para me deixar mais intrigada.
Jade me olha pedindo permissão e eu concedo, e ela vai pro colo da
minha chefe.
— Está com todos os arquivos dos setores? Vamos precisar
deles.
— Estou no notebook, estava selecionando, preciso passar
para nuvem.
— Faz isso.
E sai com minha filha. Rapidamente, jogo os arquivos para
nuvem e sigo com o Ipod na mão, preocupada por Jade estar
estranhando o local. Mas para minha surpresa, encontro Scarlet
tranquila, com Jade no colo, que está com canetinhas e papéis
rabiscando.
Ela aponta para a cadeira a frente e resolvemos as
pendências que ela se referia.
— Mamãe, ó. — Jade interrompe, me mostrando um desenho
e sorrio, elogiando.
Meia hora depois, meu expediente dá como o encerrado
finalmente. Jade se despede de Scarlet com um beijo na bochecha,
a deixando surpresa pela espontaneidade do meu bebê. A
expressão da minha chefa seria um bom meme. Ela aos poucos
está menos introvertida nos locais novos. Já socializa melhor, em
vez de ficar quietinha no meu colo achando que todos vão te fazer
mal. Acho que, aos poucos, as lembranças ruins de Raquel estão se
perdendo na sua memória.
Descansando no sofá, a televisão continua ligada e minha dor
no estômago também permanece desde que cheguei. John chegou
que nem percebi a hora, também não vi o exato momento que Jade
dormiu aqui comigo e ele a pega no colo, enquanto eu levanto,
resmungando tentando acordar de verdade, com a dor abdominal,
junto com a queimação ainda presente.
Jônatas beija minha testa e leva Jade para seu quarto.
Levanto indo para cozinha fazer algum chá para melhorar e eu
conseguir dormir. Como não jantei, aproveito para fazer isso com
Jônatas, que aparece alguns minutos depois, recém banhado, me
agarrando por trás, contando sobre tudo.
— John, não. — tiro sua mão da minha barriga me separando
dele.
— Que foi? Está se sentindo bem, Liz? — indaga
preocupado.
— Estou. Foi só um mal jeito que me agarrou. — sorrio para
ele tentando mostrar que seu apertão foi nada demais.
Ele concorda, beijando minha bochecha, se desculpando. E
rezo para que na manhã seguinte sumisse, mas não foi isso que
aconteceu, fui recepcionada pela queimação e a ânsia antes mesmo
do despertador tocar. Mas deixei de lado, tomei remédios para
conter, e às sete da manhã seguimos de carro com uma Jade
elétrica pelo seu primeiro dia de aula.
No portão, sorrio já com os olhos cheios de lágrimas por vê-la
fardada e de bolsinha nas costas, toda independente. Porque está
sendo tão difícil deixá-la entrar?
Ela vem me beijar, tranquilamente se vendo animada com mil
crianças ao redor. Ela está que não se aguenta para entrar, quase
me tratando com desdém. Uma das responsáveis por ela, está na
porta recepcionando sua turminha. Pelo menos foi isso que ela me
disse quando veio me recepcionar junto com Jade, com um
sorrisinho amigável.
— Promete para mamãe que vai obedecer. — peço e ela
acena.
John buzina e ela acena com a mãozinha e essa é minha
deixa para ela finalmente entrar junto com a mulher e mais algumas
crianças do tamanho dela. Eu a beijo novamente amassando-a.
Parece que eu estou abandonando e que nunca mais iria vê-la.
Ela nunca ficou sem mim ou sem John por perto, depois que
aconteceu com Raquel. Estou em alerta por causa disso e antes de
sair, fiz ela prometer me contar absolutamente tudo o que acontecer,
tudo. E antes de sairmos, tive que conversar sobre consentimento.
Ser mãe de menina é ter preocupação dobrada. Enquanto
ela, por outro lado, está nem aí para mim, apenas acenando já
entrando com a mochila nas costas. Minha bebê aos poucos vai
ficar independente e quando eu menos esperar, vai estar adulta. É
essa sensação que tenho, o primeiro passo para independência é a
escola.
John me chama e finalmente a deixo ir para aula. Sento no
banco do passageiro me recuperando.
— Ela está bem, a roupinha do balé, você colocou na mochila
dela?
— Coloquei. Será que meu bebê vai ficar bem lá sem a
gente? — indago preocupada, querendo voltar e buscá-la.
— Claro. A pergunta é: Você vai ficar bem sem ela? — John
faz graça colocando a mão na minha perna.
Recosto minha cabeça no banco e espero o resto da viagem
até o meu trabalho concluir. Além da azia a cabeça parece que vai
explodir a qualquer momento. Santo Cristo!
— Vida, está sentindo algo? — escuto a voz de John no meu
inconsciente não tão assim.
— Não. Estou bem. — respondo ainda de olhos fechados,
apertando os dedos dele.
Sinto minha mão ser beijada e volto a apertar seus dedos
rezando que essa dor de cabeça suavize um pouco para trabalhar
direito. Cochilo e Jônatas me acorda já na frente da revista. A
sensação que tenho é que acabei de passar a noite acordada em
uma rave. Meus ossos estão doloridos demais.
— Até mais tarde, vida. — eu o beijo com carinho na sua
boca.
Sorri bonito para mim e paro um momento para contemplar
aquela beleza.
— Que foi? — questiona sorridente.
— Nada. Já disse que você é lindo? — viro meu rosto em um
sorriso bobo no rosto e ele abre um maior ainda. Alisa minha
bochecha suavemente e em seguida deixa um selinho na minha
boca.
— Você que é linda, gostosa. E o melhor de tudo isso, é
extremamente minha.
Roça nossos lábios e toma minha boca com sagacidade me
derretendo completamente. Dou mais um selinho nele em
despedida e saio do carro com um tchauzinho com a mão.
Na minha sala, me concentro em trabalhar. Tem momentos
que a dor está em picos maiores que largo que estou fazendo para
recostar a cabeça na cadeira. E para piorar o estômago está
queimando mais ainda. Estou quase chorando de dor. John veio me
buscar para almoçar, mas estava com o estômago tão irritado que
mal comi. Apenas belisquei e tomei metade do meu suco. Mas pelo
menos a dor de cabeça tinha cedido um pouco.
Jônatas estranhou até minha falta de apetite, porém disfarcei.
Não quero preocupá-lo à toa. Apesar que estou um pouco
apreensiva com essas dores de repente. Tento espantar qualquer
pensamento ruim, afinal, dores no estômago não me trazem boas
lembranças.
21
LIZANDRA
No portão em meio de várias mães, minha filha aparece de
collant, meia calça, sapatilha, tutu e tiara. Com a mochila dos
vingadores, que ela mesmo escolheu, nas costas, assim como a cor
da roupa.
— Mamãe! — pula no meu colo, elétrica.
— Boneca! Gostou? — questiono e ela acena eufórica com
um sorriso lindo.
Somos interrompidas pela mulher de manhã e espero para
saber o que ela quer, e logo me avisa que a bonequinha aqui no
meu colo, brigou de manhã e olho para Jade que está toda
desconfiada me olhando de volta.
— Brigou? Por quê? — questiono confusa.
— Um coleguinha disse que ela não pode usar mochila com o
Hulk porque meninas são fracas e ela bateu no rosto dele. Ele me
contou chorando e ela afirmou intrigada que tinha feito isso e que
ele estava tentando tomar da mão dela.
Escuto aquilo e não sei se rio ou se choro por ela ter
arrumado confusão no primeiro dia de aula e ter se defendido
sozinha. Ela é terrível e ainda pedi para se comportar. Totalmente
perdida, peço desculpas, e aviso que irei conversar com ela, já que
Jade nunca foi agressiva com ninguém. Encontro Taís e Alexia
chegando para pegar os meninos, Vinicius inclusive.
— Nat mandou a gente ir lá na casa dela hoje. Tinha
esquecido de te ligar. Ainda bem que te vi. — minha irmã me
notifica.
A coisa mais linda é ver meus sobrinhos fardados. Exceto
Alan que está de roupa de judô, mas continua tão quanto. E já falei
que sou apaixonada por Nina de Maria Chiquinha com os cabelos
negros cacheados, assim como Tiago? Ambos são cópia fiel de
Murilo, nem precisa de DNA.
— O que ela quer?
— Sei lá. Disse que era para a gente ir lá, sem desculpas.
Inclusive vou agora para levar Vinicius, que ela me pediu.
— Vou ver se John vai, sigo atrás.
Elas concordam e entro no carro com Jade e Alan, que quis
vir com a gente por causa dela. E aviso sobre a ''intimação'' de
Natasha e a briga no colégio de Jade.
Jade e Alan parece terem se dando bem desde o último final
de semana, no aniversário de minha mãe. Foram conversando e
brincando o caminho inteiro, mesmo tendo uma diferença gritante de
idade entre eles. Mas meu sobrinho sempre brincou com todos os
primos, até com Vinicius que é o mais novinho. Não é atoa que é
meu xodó, babei muito nesse olhão azul quando nasceu.
Com Vinicius no colo de Jônatas e Tiago no meu, seguimos
com as pestinhas para casa de Nat, que está com as luzes acesas.
Murilo estacionou praticamente junto e Tito se jogou pro colo do pai
mais que rapidamente.
Nat nos recepciona, sua pestinha abre os braços e ela faz o
mesmo assim que se veem. Nunca vi mãe mais babona. E só
consigo pensar que diabos é que ela chamou todo mundo para cá
hoje assim do nada.
As crianças correm para brincar com Zeus. Alan se exibe com
o roupão de judô e mostrando alguns golpes para os menores que
estão assistindo. Alan é o único que consegue colocar ordem
nessas pestinhas, deixar quietos em um lugar só.
— Qual foi da intimação? — questiono indo para cozinha com
ela, largando as pestinhas para trás com os homens que riem de
algo banal.
— Guto vai chegar com Rodrigo, pera ai.
— Vai me dizer que está grávida de novo? — indago irônica,
cruzando os braços.
— Sua estraga-prazeres! — não sei dizer se ela está
assustada ou feliz. Mas diria que estão as duas coisas.
— Nat do céu! — exclamo em choque. Outra criança?
— Gente... — Taís sussurra chocada e Alexia só sabe rir pela
careta de Natasha.
— Estou morrendo de medo porque Vinicius vai completar um
ano ainda... Gustavo quase morreu de felicidade quando contei. —
deixa um sorriso bobo cair na boca.
Eu a abraço apertado em pura felicidade. Ser tia de novo?
Isso é maravilhoso! Gustavo e Rodrigo aparecem e depois dos
cumprimentos, engatam uma conversa com John, inclusive abriram
uma cerveja, mesmo sendo dia de semana.
Antes do jantar, Natasha conta logo de uma vez e John faz
graça provocando-a e Nat educada mostra o dedo do meio para ele
que ri. A idade e as provocações dos dois continuam os de sempre.
Conto a Nat de Jade na escola e a briga que ri alto dizendo
que ela honra mais o sangue da família que qualquer um dos
meninos.
— Falou o que para Jade sobre isso? — questiona.
— Nem parei para conversar com ela ainda, mas Alan saiu
em defesa, que ele quem começou... — suspiro.
— Me recuso ser sua irmã se você vier com papo para cima
dela, que ele bateu porque quer ser amigo dela ou coisa similar.
— Nem pensei nisso.
— Ainda bem, pois ia dar na sua cara. Não ensine a ela que
tomar tapinhas, puxão de cabelos, por mais inofensivos que sejam
por agora, de meninos é sinônimo de gostar. Tem que ensiná-la a se
defender, sem ser tão agressiva. Aposto que futuramente isso irá
livrá-la de muitas coisas.
— Tem razão. — pondero.
A dor volta com tudo e me curvo um pouco para ver se
acalma, e logo sinto a voz de Nat perguntando se eu estou bem.
Aceno concordando e aviso que irei no banheiro. Mas dessa vez
coloco para fora a pouca coisa que comi hoje. Meu Deus! O que
está acontecendo afinal?
Tentei até me manter ativa e feliz no jantar descontraído, mas
foi difícil. Espero de verdade que não seja o que estou pensando.
Mas não evitei em pensar, pela semana que passou
turbulenta, com dores, enxaqueca frequentes e algumas vertigens.
John está alarmado comigo, mas esquivo. Não o quero preocupado
e eu rezo que não seja uma das minhas suposições. Estou sem
coragem de fazer exames.
Jade tirou de letra os primeiros dias. Não chorou nenhuma
das vezes. No dia seguinte a fiz pedir desculpas para o colega e ele
se desculpou também. Também não forcei nada de abraços e nada,
ela não estava a fim de amizade com ele.
Quarta-feira, fomos para a audiência pendente e assinei mil
documentos e John estava com um sorriso enorme no rosto. Não
vimos os avós de Jade nessa nossa rápida vista nem nada,
voltamos no mesmo dia. E agradeço por isso.
Aproveito que irei trabalhar mais tarde e John levou Jade no
colégio, para tomar café com calma, já que ultimamente não tenho
tempo para isso. John daqui a pouco volta aqui para me buscar.
Em pé na pia, sinto umas tonturas, vertigens fortes e me
agarro no mármore, me curvando, sentindo o chão faltar em baixo,
assim como a visão que ficou mais turva que antes.
Escuto a voz alarmada de Jônatas e sinto suas mãos ágeis
nas minhas costas, porém, não tenho nem forças nas pernas para
sustentar meu próprio peso, num apagão completo.
Sentindo a consciência voltar junto com uma dor de cabeça
forte e minha testa suando frio, me dou conta que estou num
pronto-socorro, pelo cheiro inconfundível de álcool e água sanitária.
O último lugar que queria estar era aqui, estava evitando o máximo.
Não tenho boas recordações.
Por quanto tempo apaguei?
— Vida... está me ouvindo? — John pergunta tom suave e
preocupado. — Está sentindo alguma coisa? Você apagou durante
vinte minutos. Tiveram que por você no soro.
Resmungo tentando me levantar. Seu corpo aparece no meu
campo de visão, totalmente solícito e apreensivo.
— A cabeça dói um pouco.
O médico logo aparece também, me cumprimentando e
fazendo as perguntinhas de praxe, avisando que terei que fazer
alguns exames. De sangue e imagem, inclusive, pois John contou,
como se eu não estivesse ali, que eu estava com dores abdominais.
Irei fazer um rápido check up para saber se está tudo bem e antes
de ser liberada, depois do resultado, claro.
Morta de medo do que pode dar, sigo para fazer os exames
solicitados. Eu não consigo receber outro diagnóstico ruim. É muito
para mim!
Enquanto o resultado não ficava pronto, Jônatas me levou
para almoçar na cantina do térreo. Estou morrendo de fome, são
doze e pouca já, fiquei horas em salas aleatórias esperando minha
vez de fazer os exames e todos os procedimentos.
Demorou mais porque eu expliquei minha condição: a
cirurgia, que apesar de ter sido a mais de um ano, pode interferir em
algo, não sei e a situação do ovário que mesmo estando aqui, nem
sempre funciona a cada dois meses. Enfim, todo aquele drama que
já estou cansada de saber.
— Você estava sentido dor desde o começo da semana
passada e não falou por que, Lizandra? — John questiona sério, de
roupa social, com a camisa branca dobrada.
— Não quis te preocupar... — fito o restinho do meu suco em
cima da mesa da lanchonete.
— Não quis me preocupar? Por favor, Liz! — se mostra
indignado e eu me encolho um pouco.
— Tenho medo de hospital, não estou preparada para um
diagnóstico ruim...de novo.
Ele suaviza a expressão me encarando e nos levantamos. Ele
beija a topo da minha cabeça.
— Mas dessa vez eu estou aqui com você. E não será nada
de ruim, você vai ver.
Alisa minhas bochechas e aceno concordando. Jônatas quem
pega meus exames e conversa brevemente com o médico
afastados pois não tive coragem de ouvir suas considerações. Logo
se despedem.
— E aí? —pergunto sentindo a apreensão tomar conta do
meu corpo.
— Vamos para casa. — John não dá nenhuma dica do que
pode ter sido, o resultado que está na sua mão dentro de um
envelope.
— John... — perco a fala, apreensiva e ele permanece sério,
segurando minha mão, já me arrastando para fora.
Fizemos a viagem calados e tento abrir o cheque de
possibilidades e me preparar para cada uma delas. Para ele estar
assim só pode ser uma coisa, a única que pensei e isso não é nada
bom. Não irei aguentar se for isso!
Assim que chegamos, destranco a porta impaciente. John me
senta no sofá coçando a barba e me fitando. Eu estou odiando essa
situação!
— Evoluiu, não foi?... O câncer de ovário. — Sussurro quase
sem voz e engulo a seco, temendo pela resposta.
Vejo os olhos de Jônatas marejarem. Não pode ser isso!
22
LIZANDRA
Ele apenas levanta me deixando confusa.
— Vem aqui.
E me puxa para o quarto, enquanto fico parada esperando a
resposta. John fica de frente para mim e eu tento saber de uma vez,
apreensiva. Mas ele calado, me gira, ficando atrás de mim, nós dois
em frente para o espelho.
— Tem sim algo aqui dentro, mas é um presentinho especial
da natureza, mamãe. — sussurra no meu ouvido com a voz
embargada, pondo a mão em cima da minha barriga.
Até tento falar, mas a garganta seca fecha completamente,
embargando já em um choro urgente. Não pode ser...! Como?
— Aproximadamente nove semanas, acredita?
Me viro para ele com um sorriso largo me sentindo
extremamente em êxtase e fraca, mas fraqueza de um jeito bom, é
como se eu não pesasse uma grama sequer. Estou em turbilhão
de pensamentos, questionamentos, euforia, nervoso e qualquer
outra coisa que não conseguiria explicar...
Eu estou grávida? Grávida?
Grávida?
Grávida?
Grávida!! Eu estou grávida!
Agarro John que me abraça forte de um jeito totalmente dele.
Carinhoso e alegre se juntando comigo na euforia. Choro no seu
peito sentindo tudo que é ruim que habitava em mim se esvaziar
como fumaça em vento forte. Eu vou ser mãe de novo? Seremos
pais!
Meu sonho está se realizando mesmo contra tudo? Eu fiz
parte da probabilidade baixa que foram escolhidos pela natureza?
Aperto o amor da minha vida, enquanto choro inconsolável
recebendo o abraço mais gostoso do mundo. E que eu serei a
grávida mais realizada do mundo. Fito seus olhos lindos que estão
marejados como o meu, de pura felicidade.
— Eu amo você, vida. Você me deu os melhores presentes do
mundo. Me fazendo mãe pela segunda vez! — seguro na sua nuca,
deixando nossos rostos mais próximos ainda e a emoção falar por
mim.
Estou em uma felicidade que não dá para medir a proporção.
Minha vida parece tão completa agora, tão certa e encaixada. Estou
praticamente flutuando. Não existe emoção nenhuma nessa
vida que explique isso!
— Não poderia ser melhor. Não teria pessoa melhor para ser
mãe dos meus filhos.
Ele me agarra mais forte, enquanto permaneço no meu choro
o abraçando, sinto suas mãos me segurarem e logo ser levada pelo
corpo dele, que me põe sentada no seu colo.
— Tem certeza que não foi erro? — sussurro juntando as
pontinhas dos nossos narizes.
A ficha ainda não caiu! Estou apaixonada e boba pela notícia.
A melhor notícia do mundo!
— Não. Seremos pais, amor. Acredite!
O beijo tentando transpassar toda a emoção e agradecimento
por estar me fazendo a mulher mais feliz do mundo. Do planeta!
Jônatas beija repetidamente meu pescoço me deixando imersa
naquele carinho gostoso que é estar nos seus braços.
— Como foi isso? Me explica! — pergunto com uma grande
interrogação.
— Depois falaremos termos técnicos. Quero comemorar, com
você. Essa notícia gostosa.
Ele me fita e vejo seus olhos verdes mais claro que o de
costume. .
— Como o que, senhor Franco? — mostro meu sorriso largo
de pura felicidade ainda com os olhos molhados do choro.
— Pelos meios isso foi possível. — roça nossas bocas
deixando um selinho rápido.
Aceno tomando sua boca em um beijo gostoso. A vontade
que tenho é de me fundir ao corpo de John, pela felicidade que
estou. Sinto meus pés tocarem o chão gelado e o vestido passa
pela minha cabeça, mas logo sou carregada, novamente pelos
braços fortes dele.
O pai dos meus filhos, o amor da minha vida.
Sou levada para o meio da cama, com delicadeza. Assisto
com um sorriso idiota no rosto, John se despir. E porra, como é sexy
um homem de calça social, arrancando a camisa e mostrando as
tatuagens coloridas do corpo.
Ele volta e sinto beijos no pescoço, descendo pelo vão dos
meus seios e contorço já me sentindo ficar úmida. Quando John
chega na minha barriga e beija, porém, não é sexual, é algo como
devoção, distribuindo beijos e alisando calmamente.
Sobe o rosto para o meu em um sorriso contagiante
mostrando as covinhas e faço o mesmo, não aguentando em mim.
Parece que ainda estou imersa ao mundo paralelo! E eu não quero
sair dele!
Jônatas está bem calmo, apesar que vejo o volume
perceptivo na sua cueca branca, para meu desespero.
— Linda! Você será a grávida mais bonita do mundo!
Sorrio me sentindo a mulher mais feliz do mundo. Notei em
seus olhos um brilho diferente, como se ele estivesse com
sentimentos à flor da pele e não duvido que meu olhar transmitia a
mesma coisa.
Nossos lábios se uniram novamente, esquentando o meu
corpo completamente e dessa vez o beijo não era nada calmo, senti
uma de suas mãos na parte interna de minha coxa, tocando meu
local sensível por cima do tecido e reprimo um gemido atacando
mais forte sua boca e ele geme ao notar que eu estou bastante
molhada. Apenas fechei os olhos, esperando as novas sensações
provocadas por ele vir.
Os arrepios que me percorriam a cada toque era uma
sensação gostosa. O nosso beijo havia sido cortado mais uma vez e
aproveito para ofegar e gemer sentindo sua boca agora fazer
caminhos pelo meu corpo, chegando novamente a minha barriga,
dando beijos carinhosos e excitante ao mesmo tempo, olhando para
mim logo em seguida sorrindo torto. Esse sorriso é a minha
perdição!
Suas mãos ágeis na minha calcinha, retirando-a. Os arrepios
que me percorriam a cada toque era uma sensação gostosa. O
nosso beijo havia sido cortado mais uma vez e aproveito para ofegar
e gemer sentindo sua boca agora fazer caminhos pelo meu corpo,
chegando novamente a minha barriga, dando beijos carinhosos e
excitante ao mesmo tempo, olhando para mim logo em seguida
sorrindo torto. Esse sorriso é a minha perdição!
Mordo meus lábios enquanto ele faz movimentos com a
língua e eu me agarro no lençol como se fosse minha salvação até
chegar ao pico mais alto. Jônatas me faz sentir sexy, e desejada e
amo a sensação.
Ele afasta e me lança um olhar pervertido e morde os lábios
ao me ver completamente nua para o bel prazer. Totalmente
entregue a ele, como sempre fui, desde sempre, sem exceções. Eu
chamo para mais perto e levo minha mão para dentro da cueca e o
volume da boxer me fez soltar um gemido baixo, de satisfação e
John se arrepia ao me ter lhe massageando.
Sempre gostei de preliminares, com ele principalmente, mas
meu corpo pedia por Jônatas o mais rápido possível. Eu o giro para
onde eu estava e me posiciono em cima dele. Suas mãos foram até
minha coxa e cintura e seu pau aos poucos, foi se encaixando em
mim, quando o senti por completo, movimento meu quadril
lentamente, o fazendo apertar minhas coxas com certa pressão
gemendo baixinho. A respiração dele é lenta, profunda, me
arrepiando completamente.
— Você é a porra da mulher da minha vida! — John rosna
fitando meus olhos, intensamente.
Meu peito se aquece de uma forma inexplicável. O momento
está sendo...tão nosso!
— Você lembra quantas vezes imaginamos esse momento,
Lizandra? Ele chegou! — continua a me fitar, intenso. Concordo
extasiada. — Essa notícia é tão boa para você quanto para mim. Eu
vou ser pai, porra, com você!
Ataca minha boca com urgência e cravo minhas unhas nas
suas costas enquanto trocamos pequenas juras e afirmando quão
sortudos éramos de estarmos neste momento. Provavelmente
deixará marcas.
Ele, com essa toda atenção e essas coisas simples, faz uma
diferença enorme para mim. E isso fez tudo ser ainda mais especial.
Deitados na cama, como se o mundo fosse perfeito,
conversamos sobre essa boa notícia, depois de eu ter ligado para
meu trabalho, avisando que não iria por conta disso, que iria depois,
conversar direito com Scarlet e encaminhar os exames.
— O médico mostrou os exames e falou que às vezes, os
ovários, voltam a funcionar sem uma explicação clara, sabe? Esse
problema se agrava quando está ligada a questão emocionais. Sua
situação da cirurgia inesperada e o choque de perder um meio que
ajudou a ficar com anovulação no outro. — John me explica
traçando o dedo na minha barriga coberta por um vestido, depois do
banho.
— A notícia foi um choque. Sem contar que isso era meu
objetivo. Ser mãe! Creio que minha vontade foi tanta que de alguma
forma, me atrapalhou. Mas com vocês, eu meio que parei de pensar,
sabe? Tirei o foco. Vocês dois foram o meu remédio. — subo meu
rosto para fitá-lo e beijo rapidamente sua boca. — Quero minha filha
aqui. Vamos buscar ela? Trazer Jade para casa.
— Tem certeza? São duas e pouca da tarde ainda.
Poderíamos aproveitar para dormir.
— Tenho. Quero ela aqui, com a gente. A casa sem ela é
vazia.
Levanto fitando minha barriga enquanto Jônatas coloca uma
camisa e pega as chaves do carro. Grávida? A ficha ainda não caiu!
O sorriso largo não abandona minha boca.
— Está aí, vidinha? — sussurro alisando minha barriga menos
chapada que o normal. Porém sem demonstrar uma gravidez. E
mesmo se tivesse, nunca passaria pela minha cabeça. — Mamãe
ama você, muito. E terá uma irmãzinha mais velha para lá de
bagunceira.
— Vamos, Liz. — John me tira do meu momentinho. —
Chorando?
Questiona agachando na minha frente, vendo meus olhos
cheios de lágrimas.
— De felicidade. Pura realização. — respondo com um sorriso
que não me abandona.
John estende a mão e pego, levantando. Vou direto para seus
braços recebendo um afago gostoso e um aperto bom e seguimos
para buscar minha filhota. Ela ainda está em aula, o balé começa só
às quatro e vai até às cinco da tarde. Mas caso ela quiser ficar,
deixaremos aqui e vamos buscá-la no horário normal.
Espero que dessa vez ela não queira. Quero muito dá a
notícia a ela que agora é irmã mais velha, mal posso esperar para
escolher o nome e tudo que tenho direito. Comprar tudo!
Jade aparece com sua inconfundível mochila nas costas,
saltitando com as bochechas cheias, pulando direto no meu colo.
— O que tem na sua boca? — questiono curiosa.
— Dentchixs. — faz graça abrindo um sorriso gostoso,
mostrando que não tem nada na boca.
Gargalho com John. Pelo jeito ela já está aprendendo coisas
novas com as crianças daqui, já imagino qual vai ser a próxima
pérola. E ela logo pergunta se ‘’Aian’’ pode ir conosco. Os dois são
uma amizade que só, mas nego e ela se rende em ir sozinha e
seguimos com ela para casa com ela tagarelando o que aprendeu
hoje.
— A mamãe tem algo para te contar. — inicio o assunto com
ela no meu colo e John ao meu lado. Franze as sobrancelhas para
mim, provavelmente me analisando. Terrível! — Você gostaria de ter
um irmãozinho ou uma irmãzinha?
— Não. — ela nega desdenhando da notícia e Jônatas rir. Se
vier uma outra Jade eu não sei o que vai ser de mim!
— Não? Mas a mamãe está grávida. Você vai ganhar uma
irmãzinha ou irmãozinho para brincar à vontade. — sorrio para ela
que acena sem se importar muito com a notícia.
Para ela, as coisas não têm tanta importância, como para
nós. Mas sei que quando ela se der conta de tudo, vai amar. Estou
que não me aguento com a notícia. Não vejo a hora de contar a
minha família e principalmente a Natasha, que mesmo mascarando
os sentimentos, sei que no fundinho ela se sente culpada, pois na
cabeça dela, em não ter me obrigado a ir ao hospital no dia, deixou
brecha para que acontecesse. E que também foi ela quem me deu
incentivo para sair com o traste. É, ela é louca!
Decidimos jantar fora e à noite, no silêncio do quarto, sinto a
ficha cair realmente, com Jônatas pondo a mão na minha barriga.
— Amo você, vida. — beija meu ombro e sorrio extasiada de
olhos fechados.
— Também. Hoje foi um dos melhores dias da minha vida. —
pego sua mão dando um rápido beijo.
Felicidade e satisfação são os sentimentos que me
dominaram hoje. Não poderia ser melhor!

JÔNATAS
Felicidade completa. Ser pai tendo Lizandra como mãe é a
melhor coisa que eu poderia pedir. Pai de novo? Quem diria!
Mas confesso que antes dessa boa notícia aparecer ela me
deixou bastante preocupado com essas dores. Eu tinha reparado,
mas ela fugia, escapava. E isso é um dos defeitos de Lizandra que
eu mais odeio. Ela simplesmente tem mania de sofrer calada,
sozinha, para não preocupar o outro.
Vê-la na cozinha com cara de dor, sofrida, curvada no
mármore foi desesperador, e quando a vi simplesmente apagar no
exato momento que a peguei, foi ainda mais. Ter Liz desacordada
nos meus braços foi o ultimato para levá-la para o hospital mais
próximo.
Estava com medo de ser tarde demais para algo muito ruim,
mas aí veio a melhor notícia do mundo, uma notícia inesperada, ou
talvez nem tanto, nem que seja no fundinho.
É como se agora não faltasse nada. Claro que antes disso,
também tinha a sensação que não faltava, mas ter outro filho, é
como se uma coisa que já fosse boa, acabasse de melhorar além do
esperado. Transbordou o que já estava completo.
Não vejo a hora de vê-la com a barriga maior, estou ansioso
para isso. Ter esses pequenos prazeres que nunca tive, com um
filho. A gestação de Jade foi bem diferente do que eu esperava.
Claro que a amei desde que soube da sua existência, mas não foi
como essa, a felicidade compartilhada.
Ter Raquel grávida, acompanhá-la nas consultas e comprar
as roupinhas não foi aquela coisa de pai da primeira viagem
descobrindo as coisas juntos. Eu era o único empolgado, apesar da
circunstância.
Mas o importante que minha filha hoje tem mãe que é louca
por ela e nossa convivência desde o primeiro dia foi gostosa.
Trocamos muito amor e nunca me arrependi disso. Nem quando ela
tinha poucos dias de vida, e eu não tinha ideia do que estava
fazendo para ela parar de chorar as quatro da manhã. Essa
gestação de Liz será maravilhosa pois é com ela. Simples assim!
Nossas expectativas estão juntas. A ansiedade a
empolgação. Nem acredito que depois de dez anos, depois de tanta
merda que passamos estamos aqui e assim: esperando um bebê.
— Ei, vida. — Liz se escora em mim, colocando uma das
pernas por cima das minhas e sorrio tirando seus cabelos do rosto.
— Está acordado ainda porquê?
Fito seus olhos azuis. Ela pode me dizer mil vezes que não é
a mesma Lizandra de dez anos atrás, mas quando me olha casta
desse jeito, a enxergo a mesma de sempre.
— Pensando. Estou sem sono. — aliso seus cabelos a
trazendo mais para cima de mim e abraçando mais forte, arrepiado,
sentindo-a beijar manhosa meu pescoço, repetidas vezes.
— Quero carinho do pai dos meus filhos.
Beija minha boca, fazendo pressão com o quadril contra o
meu e gemendo ao mesmo tempo. Preciso nem dizer como já fiquei,
né? Lizandra gosta de testar minha sanidade. Estou vendo que essa
gravidez vai ser maravilhosa, mas do que eu achava. Sorri lasciva
para mim puxando um dos meus lábios com os dentes.
Ponho minhas duas mãos nas suas costas nos virando, a
deixando por baixo.

LIZANDRA
Volto para a área livre, vendo Jade de boia, com John com
ela, assim como Gustavo que está fazendo Vinicius nadar. Alan está
dentro, pelo meio brincando. E Taís com Léo dentro, também
nadando, escorada em Rodrigo que está sentado na borda a
olhando.
Nat chamou para casa dela tomar banho de piscina neste
sábado quente. Eu ainda não contei da gravidez, apesar de estar
muito ansiosa para isso, já marquei a consulta, mesmo que os
documentos apontem que estou aproximadamente de nove
semanas, acredita?
Estou tão realizada! A minha ficha ainda não caiu! Mal posso
esperar para saber de tudo!
Sento do lado de Natasha que está de óculos escuro
observando o povo na piscina.
— Vamos para piscina! — Natasha me puxa pela mão e sigo
para água.
Entro na piscina, a água está quentinha, o sol está
escaldante. Taís grita afundando e logo ela surge na superfície junto
com Alan que tinha puxado o pé dela por baixo, provocando
gargalhada de todos, de Rodrigo principalmente.
— Deixa-a brincar também Alan. — grito para ele que já saiu
da piscina, assim como Jade, com ele colocando uma luva de box
infantil para cima, para ela não pegar.
— Tia, não pode. É de menino. — ele rebate com ela
tentando pegar.
Jade não dá ouvidos e desiste de tentar pegar e começa a
bater nele fazendo Zeus entrar na brincadeira derrubando Alan e
Jade aproveita para sentar na barriga dele ainda distribuindo
pequenos soquinhos nele que se defende com os braços enquanto
Zeus late ao redor.
— É de menino, mas ela está melhor que você, filhão. Bem
feito! — Rodrigo grita para ele gargalhando deixando Jade ainda
batendo nele. — Liz, sua filha é terrível! — ele vira para mim e eu
apenas dou de ombro concordando.
Nada melhor que está em família. E mal posso esperar para
contar que em breve virá mais um bebê para completar toda essa
felicidade. Era umas cinco e pouca quando decidimos pedir comida
para jantarmos. Ainda estamos na casa de Nat, o clima está muito
gostoso e decido que é a hora de dividir com minha família.
— Gente, eu tenho uma coisa para falar. — chamo a atenção
de todos, principalmente de Nat que está no chão com Vinicius no
colo.
Olho para cada um com John atrás de mim. Nat faz
movimento com a mão para que eu continue logo e Taís faz o
mesmo impaciente. A convivência está tornando ambas iguais.
— Só quero avisar que você duas vão ser tia! — antes de
terminar eu já estava chorando. Falar isso é tão gostoso e
emocionante para mim, contra que estou esperando um bebê. — Eu
serei mãe, acreditam? Teremos mais um bebê.
Antes mesmo de saber a reação delas, eu sou pega em um
abraço de urso pelas duas, em um abraço triplo. Nós três choramos
juntas, abraçadas. Elas viram de perto tudo que passei, seja Nat
dando apoio, me ajudando a superar ou Tais me ajudando nos
primeiros dias da cirurgia, onde fez questão de ser uma companhia
diária.
— Estou tão feliz! — Nat me aperta mais forte sorrindo
enorme logo em seguida para mim que estou tão ou mais com os
olhos cheio de lágrimas.
— Eu te disse, Liz, que os momentos bons iriam vir. — Taís
sorri abertamente para mim, também com os olhos molhados.
Nós nos separamos para ver os homens nos observando.
John está com um sorriso enorme vendo tudo.
A partir dali nossa noite de domingo ficou ainda melhor e
especial. Ter uma chegada de bebê na família é sempre
emocionante para as Vargas, mas dessa vez, foi muito mais, pois
ele foi mais esperado antes mesmo de saber que viria.
23
LIZANDRA
Desde que descobri a melhor notícia do mundo minha vida só
melhora. Tudo ultimamente parece ser mais leve. Hoje irei ter mais
uma consulta, saber se é uma bonequinha ou um príncipe. Mal
caibo em mim.
Meu corpo está começando a tomar mais forma, agora sim
começou a parecer que estou grávida. Entre treze e catorze.
Natasha está com seis semanas e está pior que eu, conversamos
bastante sobre esse período e ela contou que a segunda gravidez
está sendo mais intensa, pois tem a sensação que sente tudo com o
dobro da intensidade. Brinquei que poderiam ser gêmeos e Alexia
colocou pilha que era assim que ela se sentia, e Natasha quase
morre com a possibilidade. Mas sabemos que é um bebê apenas.
Contei a ela sobre meus hormônios loucos, ela primeiro rio,
rio não, gargalhou na minha cara e segundo disse que era normal e
que na gravidez de Guguinha ela invadia o escritório de Gustavo na
metade do dia para transar. Segundo ela, é uma das maiores
vantagens da gravidez.
O elevador apita me tirando dos devaneios e saio,
cumprimentando algumas pessoas. Recentemente eu contei para
umas amigas mais próximas sobre a gravidez e claro, surtamos
todas juntas. E já ganhei alguns mimos fofos de bebê, chorei, claro!
Encontro Eva correndo para um lado e para o outro,
totalmente esbaforida. Eu a chamo e ela logo vem na minha direção.
— Scarlet ainda não apareceu? — questiono começando a
ficar preocupada.
Aceno resignada. Semana passada eu encontrei Scarlet na
sala dela chorando. Fui até ameaçada de ser demitida por tentar
ajudá-la, mas não dei bola, acabei a ajudando a se recompor e a fiz
pegar um carro para ir para casa, pois estava bem mal. E foi um
susto, porque não esperava aquela cena. Ela pareceu um bichinho
medroso que quando alguém chega perto simplesmente ataca, para
ficar na pose. Que ela nunca me escute!
E desde então ela ainda não apareceu aqui na revista. Isso é
quase um evento, pois nem quando a está doente, ela deixa de vir.
No primeiro momento eu não entendi, mas depois das últimas
notícias que soubemos, começo a entender um pouco ela e sua
crise de choro, principalmente quando me viu.
— Faz assim, me mande o que não for coisa jurídica e
sigilosa. Avise às meninas que vamos ter reunião agora às dez,
comigo. Por favor e estou na minha sala, qualquer coisa liga ou
vem. Tentarei falar com ela por e-mail.
Dou meu recado e ela acena concordando indo fazer o que
eu pedi.
— Ah! Aqui, tudo da revista que conseguir pegar que ela
resolve quando chegar. — ela me entrega uma resma de papel que
estava em mãos e me arrependo de ter sido solícita.
Na minha sala, escaneio alguns documentos e envio para o e-
mail corporativo dela e faço meu afazeres, até ela retornar horas
depois. Não ousei perguntar como ela estava. Apenas pedia tal
informação e ela me respondia alguns minutos depois e aproveitei
para avisar sobre minha reunião que solicitei.
Espero que ela não interprete errado e ache que quero tomar
seu lugar.
Levemente nervosa por ter inventado isso, sigo para sala de
reunião. Irei apenas deixá-la ciente que enquanto Scarlet não tiver
presente, eu irei ser a pessoa que elas irão procurar informações e
coisas do tipo, que é para tratar comigo. É, se eu não chamar essa
responsabilidade para mim, depois, vai atrasar tudo e todos vão se
ferrar e de qualquer forma, tudo da redação que chega em Scarlet é
por mim que passa primeiro.
Eva me aparece com um copo de suco, sem eu ter pedido,
mas agradeço assim mesmo pela boa vontade e preocupação dela
comigo. Estar grávida é ter atenção redobrada. Nem estou com a
barriga tão perceptível, mas ganho atenção boa. Mal posso esperar
para ela crescer ainda mais.
— Aposto que meu sobrinho ou sobrinha está com sede. —
faz graça me fazendo gargalhar.
Com a secretária da minha chefe ao meu lado, deixo o grupo
de mulheres confusas por ser eu nesse papel de frente, ciente sobre
tudo.
— A cobra deve estar trocando de pele. — uma faz graça e
os risos ecoam.
— Tenham empatia.
As meninas daqui são gente boas, mas são cruéis quando
querem. E não concordo nenhum pouco como elas estão fazendo
graça com Scarlet, claramente ela está abalada. Acenam
visivelmente constrangida pela reclamação. Termino a reunião e
desço para o almoço. Prevejo muito aborrecimento fazendo jornada
dupla.
Desço sozinha e encontro Natasha e Taís aqui embaixo me
esperando e estranho completamente.
— O que está fazendo aqui, louca? — questiono depois de
beijar sua bochecha.
— Sequestrar, né? Jônatas agora te monopoliza e nem
almoçar comigo mais pode. — resmunga fazendo bico.
— Gustavo está em reunião, né? — questiono divertida e ela
acena sorrindo.
— Mas hoje tem outro motivo de eu vir. Eu e Taís vamos levar
a você no shopping, a primeira loucura de grávida, comprar roupas
desnecessárias porque achou bonitinho. É praticamente um ritual.
— Mas eu nem sei se vai vir menino ou menina, sis. —sorrio
para a loucura dela, abraçando Taís.
— Vamos, vaca!
— Quem até um dia desses que produzia leite é você e vai de
novo. — tiro uma com a cara dela.
— E você também. Dê adeus a esses peitinhos também.
Você teve sorte, é mãe de uma pestinha de quase três anos e
continuou com o corpinho todo em cima. Enquanto nós, eu e Taís,
meros mortais passamos por tudo aquilo para ter aquelas outras
pestinhas. Aí você não satisfeita, me inventa de engravidar. Mas
ainda assim, vai ter dois filhos com o corpinho todo em cima. Eu
odeio você!
Gargalho alto com ela. Natasha tem o poder de transformar
minha antiga situação, aquela que nunca gostei, em uma coisa boa.
Ela é desse tipo, que cutuca a ferida alheia e ainda assim faz a
pessoa rir.
E me pega pelo cotovelo enquanto vou arrastada,
praticamente.
— Isso é loucura, gente. — aviso quando Taís dá partida no
carro.
— Você fala isso agora. Quando chegar lá, você vai ver e
quando menos esperar vai estar comprando mil roupas fofas. —
Taís relata e Nat concorda.
— Jônatas vai surtar. — rio com elas.
— O presente é nosso, irmã. — Taís sorri abertamente para
mim que estou no banco do passageiro, mandei Natasha para
sentar atrás, hierarquia básica de irmãs e ela me xingou. — Mas
cuidado, pois se não será Rodrigo que surtará no meu ouvido e terei
que acalmá-lo no sexo. Na verdade, vamos gastar sim!
Gargalho junto com Natasha que dá de ombros.
— Gustavo nem liga mais. A fatura vem, ele me olha, eu
sorrio e sento no seu colo. Fácil! — Natasha também conta a tática
dela e gargalhamos. — Eu vou comprar umas coisas para mim
também.
— Rodrigo gostou dessa coisa de ver vocês duas grávidas e
me inventou de querer outro filho, acredita? Tirei logo o cavalinho
dele da chuva, sou o quê? — Taís relata.
— Cuidado viu? Porque eu não queria outro, Vinicius estava
de bom tamanho e quando menos espero, aqui ó. Cuidado com o
rapidinhas de banheiro.
— Três eu não aguento. — Taís dá dois toques em cima do
volante. — Vou começar a encapá-lo com frequência.
— Dá atrás, boba. — Nat levemente maldosa, indica. Olho
para trás, para vê-la rindo, mal conseguindo disfarçar.
— Natasha?? —iIndago surpresa.
— Foi a noite toda eu gemendo e xingado Gustavo que nunca
mais ia fazer aquilo. Eu tinha dito que nunca faria, mas ele me
testou até conseguir. Mas foi essa para nunca mais. Olha o meu
tamanho, olha o de Gustavo, daí você vê a proporção. Não aguento
essas coisas não! — relata indignada e eu gargalho disso, não
aguentando.
— Deus tenha piedade. — Taís chocada, bate mais uma vez
no volante, dessa vez eu acompanho.
— Testa, boba. Eu sobrevivi e vocês são maiores que eu.
Natasha gargalha alto me levando junto a ponto de pôr a mão
na minha barriga, pela expressão aterrorizada de Taís. Eu tenho
irmãs piradas.
No shopping elas estavam certas. Comprei mil coisinhas
fofas. Comprei uma roupinha do bebê para presentear John, já que
ele quem me deu a notícia e não tive oportunidade de ser a primeira
a saber e contar a ela de forma especial. Mal posso esperar para ter
meu bebê aqui vestindo tudo isso. A ansiedade é grande.
Mais cedo que o final do expediente, encontro Jônatas me
esperando. nem preciso dizer que ele fica mais muito, muito
gostoso de roupa social, de modo sério. Sério, olha esse homem,
meu homem.
— Oi, amor da minha vida! — enlaço no pescoço de John. É
tentação demais para uma pobre grávida feito eu.
— Oi, amor meu. — beija minha boca. — Que sacolas são
essas? — questiona pegando da minha mão.
— Natasha e Taís. segundo elas: primeira loucura de grávida.
Vamos? Estou ansiosa. — não deixo de demonstrar minha euforia
por isso.
Ele concorda e seguimos para clínica antes de buscar Jade.
Como ela estava me esperando no horário marcado, entramos
direto. Minha obstetra, doutora Anna, me cumprimenta com um
largo sorriso, assim como faz com John. Ela checa minha pressão e
peso, anotando tudo, como da última consulta e logo sou
encaminhada para uma outra salinha, dentro da sala dela mesmo,
para isso.
John vem atrás me ajudando a sentar na maca e deito logo
em seguida. Ela põe sua luva e passa o famoso gel na minha
barriga. Meu coração está palpitante de um jeito louco!
— Eu particularmente acho uma das melhores partes do meu
trabalho. Só perde para o nascimento. — se mostra empolgada,
pegando a maquininha para pôr na minha barriga.
— Vamos ver, depois deixo escutar o coraçãozinho, tudo
bem?
John e eu acena efusivamente. John não larga minha mão.
Ela passa a máquina por cima do gel e não tiro meus olhos do
monitor.
— Tem preferência? Vocês têm uma menina, né?
— Não temos preferência. — eu e John dissemos juntos. —
É, o nome dela é Jade. — respondo.
— Então avisa a Jade então que ela terá um irmãozinho,
cheio de saúde e de personalidade, que estava fugindo de mim.
Olho para John que está fitando a tela. O sorriso largo de
satisfação. E eu não sei nem como reagir, só sinto as lágrimas
descerem em velocidade surpreendente. Menino?
Que venha a cópia de John, por favor! Não tem explicação
para o que estou sentindo. É como se meu peito estivesse
explodindo.
— Vamos ouvir o coraçãozinho dele?
Aceno eufórica apertando mais ainda a mão de John que está
tão ou mais emocionado que eu. Minha vida está ficando cada vez
melhor!
Logo escutamos um pequeno batimento meio tímido e
ritmado. Choro ainda mais de alegria. É o coração, do meu filho ali.
Mostrando que está aqui dentro, se desenvolvendo. John alisa meu
cabelo e eu não consigo parar de fitar a tela enquanto escuto o
melhor som que escutei até hoje na minha vida. Sorrio boba, boba
apaixonada.
Saímos de lá com John com a foto na carteira, do lado da
ultra de Jade e outra consulta marcada.
— Obrigada por ser a melhor parte da minha vida. — abraço
John no estacionamento.
A felicidade não me cabe. É inexplicável!
— Você que é da minha. Um menino, vida.
Ele não tira o largo sorriso do rosto me contagiando. Choro no
seu ombro, de alegria, de euforia, de realização, ele retribui, me
apertando com delicadeza e me acalma com um carinho nos
cabelos.
Fomos buscar nossa pestinha no colégio e ela vem saltitando,
onde estava sentada com Alan que levanta junto, com roupa do
judô.
— Tia! — sorri ao me ver. Beijo sua bochecha com carinho.
Ele está crescendo cada vez mais rápido e ficando ainda mais
bonito. Se meu bebê vier com essa mesma beleza dos meus
sobrinhos vou agradecer e muito!
— Gostou do balé? — pergunto e ela nega.
— É ruim! Eu quero fazer aquilo. — aponta para roupa de
Alan.
— Ela me viu hoje, tia, na aula. — Alan explica.
— Você quer fazer Judô? Mas você é pequenininha. — beijo
sua bochecha.
Faz biquinho dengosa. Natasha logo aparece para buscar as
pestinhas.
— E ai vaca! Foi na clínica? — questiona curiosa.
— Sim. — abro um sorriso.
— Vai contar ou fazer mistério?
— Menino!
— Outro? Porra! Jade está lascada rodeada de garotos se
derem um de protetores na adolescência.
— Olha a boca, Nat. — protesto.
— Eu quero esses três aí bem longe dela! — John que estava
mexendo no celular responde.
— Olá oh, machão que vai proteger a filhinha de tudo e que
vai virar freira. Iludido! — Nat debocha dele em um tom de voz
ridículo e gargalho enquanto John semicerra os olhos para Natasha
que ri.
— Mantenha seu moleque bem longe dela. Meu filho vai
protegê-la e mais ninguém.
— Pois saiba que as Vargas não resistem à um belo
Maldonado de olhos azuis, e os três são. — tira mais uma com a
cara dele. Natasha não cresce! O John sempre cai na dela.
Gargalho mais uma vez e dou um beijo me despedindo dela,
saindo com John.
— Ela estava brincando, amor. — beijo rapidamente seus
lábios.
Entramos no carro e partimos para casa.
— Jade, sabia que você terá um irmãozinho? — questiono
olhando para trás e ela nega.
— Quer escolher o nome, papai? — ela mostra as mãozinhas,
sem saber. Achei que ela ficaria mais empolgada.
Em casa, morta de cansaço e recém-banhada encontro
Jônatas e Jade juntos na sala. Ele costurando roupas de bonecas
enquanto ela vestia. E um detalhe importante, ele está com os
cabelos cheio de presilhas e com a boca de batom.
Gargalho, mostrando a sacola das roupinhas. E Jade tenta
fazer alguns golpes que eu julgo ser judô. Pelo jeito ela gostou
mesmo da coisa! Nunca a vi tentando fazer nenhum passinho de
balé nesse tempo que ela faz.
Sorrio boba mostrando um macacãozinho fofo sem estampa,
na cor vermelha.
— Que lindo! — John pega com delicadeza como se fosse o
próprio bebê nas mãos.
O nosso final de noite foi bem gostoso, eu e John ficamos
abraçadinhos, conversando, enquanto ele alisava minha barriga,
imaginando como será nosso bebê e alguns possíveis nome. E
penso seriamente o que será da minha vida se vier uma outra Jade.
— Já pensou em algum nome para o bebê? — questiono
baixo no escuro.
— Acho que já temos nome. — eu me viro para ele confusa.
Ainda não paramos para decidir nome nenhum.
— Temos?
— Sim. Henrique.
— Henrique?
Repito o nome já com os olhos cheio de lágrimas. Esse é
exatamente um dos nomes que escolhemos para os nossos futuros
filhos quando éramos adolescentes. Ele lembrou. Sorrio em meio
às lágrimas e ele limpa meus olhos e beija minha boca com
delicadeza.
— Então será Henrique!
Concordo pondo minha mão em cima da sua bochecha
acariciando ali. Sou tão apaixonada por esse homem!
24
LIZANDRA
Os dias estão passando bem. Estou com dezesseis semanas
e minha barriga está tomando uma forma linda. A maior parte do
tempo fico boba alisando-a e conversando com Henrique, meu
pequeno bebê mais lindo do mundo. Estou doida para que mexa,
mas a doutora explicou que é entre dezoito e vinte semanas.
John é uma atenção redobrada comigo. Não me deixa fazer
muita coisa e estou quase proibida de carregar Jade, pelo menos
em pé. Toda vez que ele a ver no meu colo, me olha feio para não
fazer peso na barriga, pois ela fica praticamente em cima. Mas nem
ligo, não vou parar de amassar meu bebê que está ficando cada vez
mais esperta, por causa da barriga que não está tão pesada ainda.
Falando em Jade, ela está ficando cada vez mais
independente. Também fez amizades lá, tem mil amiguinhos. No
final de semana passado simplesmente foi para um aniversário de
uma delas, a menina é tão traquina quanto ela.
Matriculamos ela no Judô, como ela queria, já que não estava
gostando nenhum pouco do balé. E no Judô ela todo dia vem com
novidade, tentando fazer com John o que aprendeu lá. E pior, ele vai
na onda dela.
Daqui a poucos meses ela faz três aninhos. Logo depois do
meu, fazemos aniversário praticamente na mesma época, coisa de
uma semana. É, somos as duas virginianas e Jônatas está muito
fodido.
Mas o dela eu quero comemorar, mesmo que ela esteja
fazendo três aninhos, para mim é o primeiro aniversário. E falando
em aniversário, estamos indo para o de Alan.
Meu celular tem duas mensagens de Alexia e uma de
Natasha e quatro ligações de Taís. Mas não deu tempo de pegar
para ler nem retornar chamada, já que sei que as mensagens são
para isso.
— Mamãe! — Jade entra no quarto feito furacão.
— Oi. — sem tirar os olhos do espelho, já que estou pintando
a sobrancelha, respondo.
Percebo ela chegar mais perto, e do espelho mesmo vejo seu
rosto curioso observando o que estou fazendo?
— Mamãe, está escrevendo o que?
Me olha e eu paro de desenhar para gargalhar. O
“escrevendo” saiu “iquevendo”. Eu acho muita graça do jeito que
fala, é inevitável não rir.
— Não estou escrevendo, mamãe, estou desenhando aqui ó.
— mostro a diferença das duas sobrancelhas para ela que acena
como se tivesse entendido.
Prontos, seguimos para festa, e logo vejo Alie acenar
sorridente para mim com Nina batendo palminhas no seu colo. Sigo
para mesma mesa de Alie, cumprimentando todos.
— Essas Vargas não resistem aos olhos azuis de um
Maldonado e isso é fato!
Rodrigo egocêntrico, debocha de Jônatas que está com a
cara fechada. Jade correu para o chão assim que viu Alan para lhe
entregar o presente. Eles já estão se entrosando como melhores
amigos, mesmo na diferença gritante de idade. Murilo e Gustavo
que acabou de sentar aqui e Rodrigo riem dele. Homens juntos não
crescem nunca!
— Fica na sua, Rodrigo.
— Não posso fazer nada se temos esse poder em cima das
Vargas, amigo. — Rodrigo e Gustavo brindam e Murilo ri, pois a dele
não está no meio.
— Minha filhota não vai dá confiança a esses moleques que
vocês chamam de filhos não.
— Será? — Rodrigo continua e John fica ainda mais irritado.
— Claro! Ela irá para o colégio de freiras ainda esse ano.
Eu, Taís e Alexia gargalhamos primeiro, sendo seguida dos
outros dois.
— E você está rindo de que, Murilo? Nicole está aqui para
fazer par com Vinicius. Quase a mesma idade e meu filho honra o
sobrenome. — Gustavo provoca Murilo.
— Uma porra! Ela será amiga de convento de Jade.
Gargalhamos mais uma vez, só que dessa vez da cara
fechada de Murilo colocando a mão nos cabelos da filha que está
alheia a tudo, comendo brigadeiro que Alexia dá.
— Vocês são um bando de iludidos achando isso. Meu pai
também achava isso, só para constar, viu, Murilo? — Alexia arqueia
uma sobrancelha para Murilo que não gostou nadinha dessa
resposta. — Sem contar que ela ainda nem completou um ano,
então pare de sofrer antecipadamente.
—Exatamente. Eles ainda são crianças. Além do mais Jade e
Alan são primos. — defendo minha filha.
— Ainda bem que eu só faço macho. — Rodrigo se glorifica
como se isso fosse motivo para alguma coisa.
— Será mesmo, amor? Se eu te disser que estou grávida de
novo e de uma menina? — Taís sorri cinicamente para Rodrigo que
coloca a mão no coração.
— Está falando sério, Taís?
Ficamos todos em silêncio ouvindo o desenrolar da cena.
— Claro que não! Só queria ver sua reação. Essa barriga aqui
não forma mais nenhuma criança.
— Será mesmo? — ela acena convicta.
É impossível ficar alguns minutos aqui sem rir. John me puxa
e me beija rapidamente em um selinho. Nat aparece com Vinicius e
Jade aparece correndo, chorando, pois foi derrubada por alguma
criança maior. Eu a coloco que fica quieta, mas Jônatas a puxa para
seu colo, semicerrando os olhos para Vinicius que estava perto e
como se entendesse alguma coisa.
— Pare de ficar sorrindo para a filha dos outros, rapaz. —
John resmunga para Vinicius que sorri mais abertamente. —
Debochado igual a mãe.
Gustavo gargalha de novo puxando Nat para sentar na sua
perna.
— Nat, Gustavo e Rodrigo estavam dizendo agora a pouco
que nós não resistimos aos olhos azuis deles. Concorda? — Taís
delata aos dois.
— É porque foi eu e Taís que ficamos atrás de vocês, né?
Somos tão obcecadas pelos seus olhos, que os dois Maldonadinhos
correram atrás da Vargas, né? E Liz agora está aí, desolada porque
não teve um. Se enxerguem! — Nat debocha pisando nos dois
como sempre faz, acabando com o ego deles.
Gargalhamos alto pela resposta dela. Não dá um crédito.
Sinto um beijo rápido de John na minha nuca. Não aguenta ficar
longe nem por um segundo sequer.
— Fazer o que se gostamos de mulher maluca? — Gustavo
faz graça e recebe um olhar semicerrado e desacreditado de Nat.
Gustavo não se abala e beija-a, que resmunga algo como ele
passará a noite com Zeus.

— O que acha de nos mudarmos? — Jônatas questiona ao


meu lado.
— Para onde e por quê?
— Duas crianças. Jade crescendo, acredito que precisamos
de mais espaço.
— E vamos para onde? — repito a pergunta.
Quando eu e Nat achamos a casa para comprar, gostamos
exatamente por ser pequena. Éramos só nós duas, solteiras e sem
filhos. Mal passávamos o dia em casa. Mas agora, são quatro
pessoas dentro. Sendo duas crianças que vão crescer quando eu
menos esperar. É plausível a mudança.
— Estou com um caso de divórcio. Típico casal que tem tudo,
mas não conseguem se entender. Está vendendo suas propriedades
para dividir o dinheiro, quem está fazendo todos esses contratos sou
eu. E entre elas tem uma que está desocupada a um bom tempo,
deixaram a reforma pela metade, sabe? A casa é grande, perfeita
para nós.
— Parece um ideia boa... — divago.
— A gente vai passar por lá, pela frente. É bem perto da rua
principal. Um pouco para trás, no bairro residencial. Posso pedir a
chave a eles, para te mostrar no almoço.
Aceno concordando. Talvez a gente precise mudar mesmo.
— Como está esse garotão aqui? Está aí campeão? — John
graciosamente brinca com a barriga. Sinto suas mãos de modo
delicado alisar minha barriga. Ele ama isso e eu amo quando ele
faz. Me sinto tão amada. — Estou doido para ele mexer.
Levanta a cabeça me fitando com um sorriso grande me
levando a sorrir também.
— Eu também estou doida para que isso aconteça. Estou
preocupada, nem um chutezinho se quer. — fecho os olhos
sentindo-o seu carinho ali.
A minha obstetra explicou na última consulta que ele já deve
ter mexido, mas eu não tenha reparado por ser muito leve ou rápido.
Mas como não reparei se eu espero isso desde que descobri a
gravidez?
— Jade demorou para mexer também. E também só mexia
quando eu conversava ou alisava.
Ele comenta e eu sorrio forçada, o imaginando tocando a
barriga de outra mulher afetivamente. Eu fico tão cega em questão
de Jade ser minha bebê que esqueço que ela não veio de uma
gestação minha. Claro que isso não muda absolutamente nada para
mim, mas é super estranho ter Jônatas, alisando e conversando
com a barriga que não seja a minha. E não falo isso por Jade, e sim
pela mulher gestante.
— Essa carinha por acaso é ciúmes, Lizandra? — sorri
presunçoso.
— Oi? — eu me faço de desentendida.
— Nem finja. Você sabe que comigo mesmo sem querer você
é transparente feito água. — ele ri me trazendo para mais perto.
— Às vezes eu odeio ser assim com você.
— Odeia nada. Isso me ajuda muito a te entender quando sua
teimosia sobressai e sofre calada.
Rio de novo. Não sei se choro por isso, dele me ler sempre ou
se agradeço dele saber que eu não estou bem, mesmo eu não
falando.
Beijo seu pescoço e decido levantar para dar início a nossa
rotina, que é acordar uma pequena ferinha que finge que está
dormindo para não tomar banho. Essa última semana a venho
percebendo inteiramente desinteressada comigo, desde que eu
contei sobre a gravidez, na verdade. Vive de birra e chora por nada.
E me sinto completamente frustrada com isso, porque ultimamente
ela não está tão apegada a mim, ainda fica comigo, mas percebo
que não como antes. Não sei se é os famosos hormônios me
deixando sensível com coisas que não ficava até então ou o que. E
isso me faz questionar que tipo de mãe eu serei.
— Estou percebendo você tensa esses dias. — Jônatas me
tira dos devaneios.
— Preocupada com Jade. Me sinto uma péssima mãe. Ela
está agindo estranho, fazendo birra, não está confortável mais na
situação que estamos e não sei como mudar isso. — externo minha
frustração e encaro seus olhos preocupados.
— Você está fazendo seu melhor, calma. É ciúmes.
— Mas não é o suficiente! Não estou sabendo lidar com ela
assim instável ou eu quem estou. Eu percebo ela contrariada
quando me vê conversando com ele. — relato para ele me sentindo
horrível.
John apenas me aperta com cuidado enquanto choro
incontrolável no seu ombro me sentindo uma péssima pessoa e uma
péssima mãe. Será que eu estou tão imersa a gravidez e não estou
percebendo?
— Estou com medo de falhar. De que com o nascimento dele,
ela se sentir menos minha filha. Eu nunca fiz distinção, o espaço
que ela tem em mim ninguém chega perto. Mas estou com medo,
que mesmo sem querer, ela se sinta de lado. E eu tento envolvê-la
desde que descobrimos.
— Eu a conheço e sei que isso é uma reação gritante de
ciúmes. Ela quer sua atenção a qualquer custo, ela quer ver você se
importando com ela, nem que seja com birra.
— Eu queria que ela ficasse feliz e não assim. Henrique é a
soma de nós dois, companhia para ela, não alguém que irá tomar o
seu lugar. Não quero que com a chegada dele, ela se sinta inferior
de alguma forma, abandonada.
— Ela é pequena, vida, está tentando lidar com a ideia de não
ser mais filha única. Vamos conversar com ela, direitinho. Mostrar
que o nascimento dele não faz ela perder nada. Ela vai ganhar um
irmão e não um adversário que vai roubar a mãe preferida dela.
John me acalma alisando minhas costas e aceno, rendida.
No horário do almoço, Jônatas veio me buscar para vermos a
casa que é perfeita como falou. A entrada é por uma escada, pois
em baixo, do lado, fica a garagem. A varanda da casa é acima da
garagem. A porta de vidro da sala fica ali em frente. Tem a sacada
de proteção para Jade e foi um dos pontos bons que achei. A
cozinha é planejada. A casa foi recém reformada, porém a reforma
não foi até o final, pois vimos lá alguns vestígios de trabalho
incompletos. O quarto principal foi o que mais gostei, é o último do
corredor e tem uma banheira que já me imaginei com John em
várias situações. As janelas são boas e o local arejado. Eu me
imagino facilmente morando ali.

JÔNATAS
Planejando o que irei fazer para o aniversário de Liz, mesmo
ela falando algo sobre preferir apenas passar o dia conosco, mas
isso não significa que eu não queria lhe dá um dia que merece.
Estou com mil planos na mente. Fervilhando na verdade, estou
doido para que o dia chegue logo, para recompensar todos esses
anos que passamos longes. Eu quero que ela esteja totalmente feliz
e realizada. E se depender de mim, farei o impossível para isso.
— Jônatas, aqueles papéis acabaram de chegar. — um dos
advogados me tira dos meus devaneios.
Aceno concordando e ele me entrega. Passo os olhos,
satisfeito.
— Valeu!
Lizandra faz aniversário sábado agora. Hoje já é quinta.
Tenho até amanhã para pôr meus planejamentos em execução.
Volto ao trabalho e logo o casal que está se divorciando aparecem.
Eles geralmente estão juntos para resolver essa coisa da divisão, já
que todos os bens adquiridos depois de casados ser partilhado.
Fechamos um contrato de compra.
No almoço busco ela, que sempre me aparece sorridente.
Preciso nem dizer o quão linda ela está com essa barriguinha
perceptível e sorriso delicado. Eu amo essa mulher!
— Oi, lindo!
— Oi, minha linda. — seguro na sua cintura sem muita força
percebendo a protuberância perto daquele local. Onde meu filho
está nesse exato momento.
Fito seus olhos azuis, é, eu sempre fui um homem
apaixonado. Ainda mais quando se trata dela.
— Que foi que está me olhando assim? Eu adoro esse olhar.
— continua a me fitar e vejo suas pupilas dilatarem.
— Nada; digamos que eu esteja te admirando. — sorrio
abertamente para ela, beijando rapidamente sua boca.
— Gosto disso. Vamos almoçar? Seu filho está me fazendo
querer comer a cada dois minutos. — beija minha boca, mordendo
meus lábios. É, ela atiça.
— Quer comer o quê?
— Estou morrendo de vontade de comer macarrão! Nossa,
salivo só em pensar!
Gargalho das reações sofridas dela.
— Isso seria o seu primeiro desejo? — arqueio uma
sobrancelha e ela arregala os olhos com um sorriso enorme
— É?
A inocência dela em algumas coisas me deixa ainda mais
apaixonado nessa fase dela grávida. Está certo que eu apesar de
não ser pai de primeira viagem, descubro algumas coisas com ela,
mas essa coisa dela de ser tudo tão novo, as descobertas, de ser
tudo maravilhoso, que eu fico ainda mais apaixonado por tudo, por
ela.
25
LIZANDRA
— Mexe, mamãe! — aliso minha barriga. Estou inquieta para
que mexa logo.
Em frente ao espelho só de roupa íntima comparando meu
corpo de agora com o de antes, vendo onde cresceu. Meus seios
estão começando a ficar maiores, minha barriga já está em um bom
tamanho.
Vou fazer vinte e oito anos e percebo em como Lizandra de
vinte e seis era infeliz e vazia. Posso dizer que esse ano de vinte e
sete foi o mais turbulento da minha vida, turbulento, mas no final,
bom. Perdi coisas que não estava preparada, mas ganhei outras
bem melhores no lugar, no tempo que era para ser.
Minha gravidez não está sendo enjoativa, consigo viver
normalmente sem esses efeitos, mas o cansaço está vindo. Eu
achava que era preguiça de Nat quando me contava que dormia o
dia inteiro, mas agora percebo que não é bem assim.
Jade está na sala, de quimono e tutu por cima dançando
aleatoriamente e fazia os golpes ao mesmo tempo, junto com alguns
brinquedos espalhados e o filme capitã Marvel, no momento sua
heroína favorita, perdendo até pro Hulk, passando para ninguém
que ela mesma escolheu assistir. É, ela aprendeu a gostar das
mesmas coisas de Alan que ganhou um skate recentemente e já
estou vendo-a me pedindo um, mas ela quer mesmo uma
‘’bitiqueta’’.
Jônatas ainda está na empresa e por isso estamos sozinhas
em casa. Olho para trás, vendo a pequena me encarando. Eu a
chamo para perto para receber um beijo e ela nega, numa
expressão desconfiada.
— Que foi, boneca? Não quer beijar a mamãe? — eu a trago
para cima da cama e ela continua emburrada, negando. — Você
negou? — faço cara de ofendida tentando tirar um riso dela. Mas em
vão.
Parece que voltamos à estaca zero quando ela age assim.
Como no começo, que ia pisando em ovos para conseguir me
aproximar.
Eu a viro para ficar de frente no meu colo a vendo fazer um
biquinho de choro me deixando assustada e com o coração
apertadinho e quando menos espero, chora inconsolável, de modo
berrante, soluçando ficando vermelha imediatamente. O chorinho é
de partir o coração.
Eu não sei mais o que fazer para ela parar de agir assim,
estou com uma sensação horrível de impotência. Não consigo
deixar as lágrimas virem. Serei uma péssima mãe para esse bebê!
Não estou dando conta nem de fazer Jade se sentir confortável na
situação, imagine quando essa criança nascer?!
— Boneca de mamãe. — falo com cuidado alisando seus
cabelos e tirando do rosto, a abraçando no meu colo. Quero
conversar com ela, sobre esses ciúmes de Henrique. Quero que ela
saiba que não tem motivos para isso.— Você está muito brava
comigo? — questiono deitando na cama com ela junto.
— Não.
— Você está com medo da mamãe não gostar de você? É
isso?
Ela acena positivamente e timidamente deixando meu
coração miudinho. Quando Nat nasceu eu tinha a idade dela. Foi
uma das notícias mais legais da minha vida, ver aquela peste
recém-nascida. Quero que os dois tenha a mesma relação de
amizade que eu tenho com minhas irmãs.
— Prometo que seu irmãozinho não vai roubar seu lugar.
Nunca que vou deixar de gostar mais dele do que de você ou de
você do que dele. Eu amo os dois iguais. Ele vai ser um amiguinho
igual Alan é.
Faz biquinho de choro, me deixando com o coração mais
apertadinho ainda. Lidar com emoções que não sabe de onde vem é
um tanto angustiante. Eu a entendo perfeitamente.
— Não é para chorar, vidinha. — aliso suas bochechas com
calma. — Vem aqui me dá um abraço, vai.
Ela me abraça colocado a cabeça no meu ombro, enquanto
aliso suas costas com calma. Beijo suas bochechas a abraçando
mais forte e John aparece no ambiente.
E franze as sobrancelhas quando vê ambas com os olhos
molhados.
— Liz?! Está sentindo alguma coisa? — John aparece
alarmado.
— Não se preocupe, apenas duas virginianas se entendendo.
— encaro a pequena miniatura minha, percebendo que é mais
parecida comigo do que qualquer outra coisa. É a cara do pai, mas
o temperamento é como o meu.
Ele deita do outro lado, fazendo um sanduíche de Jade.
— Falta poucas horas para o amor da minha vida fazer
aniversário, sabia? — ele me fita com um sorriso contagiante.
— Bobo!

JÔNATAS
Exatamente sete e meia de um sábado e estou em pé, com a
casa silenciosa, depois de deixar Liz adormecida na cama,
abraçando meu travesseiro. Confesso que quase voltei, mas preciso
começar a organizar umas coisas.
Estou com algumas surpresas para o dia de hoje e para ela, e
começa agora para não perder um segundinhos desse dia especial.
Por isso que acabei de chegar da floricultura, com um buquê de
cravos vermelhos, onde até sei é a flor que ela mais acha bonita.
E mesmo não estando em Minas Gerais, dei meu jeito de
“preparar” seu café da manhã favorito. Comprar uma cestinha de
pães de queijo, mas pão de queijo mineiro, raiz. Ela é louca nesses
pães!
Deixo as flores em cima do balcão e faço café para mim, já
que ela não pode tomar e enquanto a cafeteira faz seu trabalho eu
decido fazer o meu, que é por coisas saudável para ela e que eu
cuidadosamente forço ela comer pela manhã.
Pego as louças mais bonitas que temos, assim como uma
bandeja perdida que nunca usamos. Arrumo tudo, não esquecendo
jamais a tal da Nutella, caríssima que tem gosto de Nucita, doce de
criança. Mas ela e Jade devoram parecendo duas desesperadas.
Não questiono jamais.
Encho alguns balões em forma de coração e vou ao quarto
pendurá-los, com o rabo na mão para não acordá-la antes da hora.
Mas ao menos isso está ao meu favor, Lizandra dorme feito pedra.
Volto para cozinha e me arrisco a fazer um bolo de xícara feito no
micro-ondas.
Poderia acordar Jade para tomar café com a gente, mas eu
prefiro deixar ela dormindo e mais tarde, quando acordar sozinha,
vê a mãe, pois o que quero fazer com Liz, Jade não pode ficar
presente e quero um início de dia bem preguiçoso com ela na cama.
Decoro o bolinho com M&M e ponho a pequena vela em cima
para acender. Ponho tudo tentando fazer mágica e sem derramar na
bandeja e sigo para o quarto acordá-la e começar esse dia. O
primeiro presente será um tanto espacial, assim como o último!

LIZANDRA
— Vida! — sinto alguns beijos ser distribuídos pelo meu rosto
e tento pará-lo para conseguir dormir mais um pouco.
— Hum, vamos dormir mais um pouco. — resmungo
abraçando seu pescoço ainda de olhos fechados.
— Não, acorda. Tenho uma surpresa para você. — sussurra
no meu ouvido despertando um botãozinho em mim de curiosidade
e abro um dos olhos para ele que gargalha.
— Vem, planejei um dia especial para você.
Beija minha boca, me ajudando a sentar, ainda sonolenta,
resolvo acordar de vez, dando de cara com uma surpresa incrível,
mas muito incrível mesmo. O quarto está com uns balões de
coração pendurados, uma bandeja de café na cama e John,
extremamente lindo, com um sorriso que me derrete completamente
e faz meu coração expandir ainda mais, se for possível.
— Não acredito! Não acredito que fez isso! — ponho a mão
na boca, incrédula
— Fiz, mas isso é só para iniciar o dia.
— Então temos mais?
— Temos, claro que temos!
Eu o puxo para um beijo gostoso, mas nenhum pouco
indecente, de puro agradecimento, pois meu coração não aguenta
de tanto amor.
— Amo você, muito. — sorrio para ele, apaixonada.
Ele me beija novamente de modo carinhoso e nos soltamos
com um suspiro da minha parte.
— Venha, se alimente, pois depois disso quero te dá um
presente.
— Achei que esse fosse o presente.
Ele nega pegando um pão de queijo, para pôr na minha boca.
Aceito rapidamente, pois amo pães de queijo e esse está quase
parecido com o que minha avó fazia. Tomamos café juntos, e não
evito em sorrir boba a cada dois segundos, vendo a delicadeza dele
em me agradar. Eu sou ou não sou uma mulher sortuda em ter esse
homem para mim?
No final ele levanta para pôr as coisas na cozinha e fui
proibida de sair do quarto. Ele volta, com um buquê de flores de
cravos, vermelhas. Minha flor favorita! E uma xícara com um bolo e
uma velinha no topo. Dou outro sorriso bobo.
— Faça um pedido. — senta de frente para mim em cima da
cama, com o buquê na mão, ainda, e a xícara perto do meu rosto.
— Tudo que gostaria eu já conquistei. — sorrio realizada e
assopro a velinha começando a lacrimejar com aquele amor e
cuidado dele hoje.
— Então pegue as flores, e pegue seu presente, dentro delas.
Ele me entrega as lindas flores e primeiro olho boba para
aquilo e depois para ele, me incentivando a pegar o papel dobrado
em canudo no meio.
— Achei que as flores fosse o presente.
— Não. É o papel. A flor é o embrulho! — ele me fita em
expectativa.
— Tem o que dentro? — coloco as flores do meu lado, ficando
apenas com o papel na mão.
— Abre!
— Uma certidão? ué. — franzo as sobrancelhas vendo o
cabeçalho do papel terminando de desenrolar.
— Leia direito, até o final. E alto, por favor.
Passo meus olhos por cima do papel parando em uma linha
em especial e sinto meu coração começar a bater
consideravelmente rápido com o que tem escrito.
— Jade Franco dos Santos...Vargas? — olho para ele que
ainda me olha com os mesmos olhos em expectativa. — O que é
isso, John? — denuncio minha surpresa pelo tom tremido na minha
voz.
— Leia o resto. — incentiva.
— Filiação: Jônatas Franco dos Santos e Lizandra Vargas de
Lima. — sinto meus olhos marejarem mesmo não entendendo muita
coisa de como meu nome está na certidão dela e olho para ele que
está como eu.
— E aí? Gostou da surpresa? — ele está todo em
expectativa.
— Eu amei! Como... Como fez isso? — questiono atônita
fitando o papel sem acreditar.
— Adoção unilateral. No meio do processo de guarda, eu pedi
isso, retirei o nome dela, já que nunca foi mãe está morta e pus o
seu que é a mãe dela realmente. Foi por isso que precisei de você
em algumas sessões do fórum e todo aquele documento que
assinou fez parte. Fiz de tudo para que não desconfiasse, mesmo
correndo muito risco... digamos que Suzana teve uma parte
importante nisso, no empurrão. E desculpa por fazer você sofrer
com a demora de vim. Eu quase desistia disso.
Me explica de como conseguiu aquela façanha e eu não
desconfiei de nada, em momento algum. Nunca passou pela minha
cabeça uma coisa dessas, nem sabia que existia, na verdade. O
sentimento do momento é tão...tão...eu simplesmente não consigo
definir em palavras exatas. Sorrio em meio ao choro de pura
felicidade. Melhor presente de aniversário da minha vida!
Vou para cima dele em um abraço forte e coloco nossas
bocas em um beijo urgente.
— Obrigada! Obrigada! Obrigada! — repito sem controle
fitando seus olhos lindos.
— Quero ser o seu melhor sorriso e que as suas únicas
lágrimas sejam de alegria. Feliz aniversário, amor da minha vida.
Sussurra me beijando novamente, selando todo aquele
momento mais que mágico.
Desço meus beijos para seu pescoço e ele se vira, me pondo
por baixo. Em nenhum momento deixo de ficar com alguma parte do
corpo dele na minha mão, seja braço, costas ou cabelos, enquanto
ele desce beijando meu pescoço, provocando arrepios bons e
gostosos na minha área que de repente ficou sensível. John
continua com os beijos pela minha barriguinha saliente e
arredondada e cintura, enquanto passeia a mão bem delicada ali.
Ele sobe de novo e beija meu queixo e boca junto com
pequenas mordidinhas. Puxa meu vestido para fora do corpo
beijando meu pescoço sentindo a mão dele alisar minhas costas.
Agarro seus cabelos enquanto gemo baixo. Beijo no pescoço
enquanto alisa minhas costas é golpe baixo, mas tão bom.
Meu aniversário nunca começou tão ótimo!
Com sorrisos frouxos, seguimos para o quarto ao lado acordar
minha filha agora no papel! Jônatas a pega no colo numa leveza
impressionante e amassa como eu sempre faço ou qualquer pessoa
que fique perto dela dois segundos. Eles trocam umas palavras
cochichadas no ouvido e fico de telespectadora, até ela virar para
mim sorrindo.
— Paiabens, mamãe! Te amo. — ela estende os braços para
mim e eu pego de novo no meu colo, apertando e agradecendo.
Vontade de morder essas bochechas gordas.
— Papai estava pensando, uma menina muito bonita vai fazer
aniversário semana que vem. — arregalo os olhos quando ela me
fita enquanto John fala pegando- a no colo de novo. — E mamãe
disse que ela merece muito uma festinha. O que você acha? —
Jônatas questiona e ela sorri abertamente entendendo que é ela.
Arregala os olhos verdes, acenando efusivamente. E desata a
falar suas ideias doidas de como quer.
—Você quer uma festa do Hulk vestido de balé e quer se
fantasiar de Power Rangers amarelo? — recapitulo a ideia maluca
dela.
Ela acena eufórica. Santo Cristo! Se eu fizer isso será uma
festa de maluco. Mas é Jade, fazer o quê? Jônatas dá de ombros.
Natasha me ligou para me desejar parabéns e nos intimou ir
para lá, pelo sol quente. Tudo é motivo de piscina. Ganhei presente
dela e um beijo babado de Vinicius que estava de sunga e colete
inflável. Taís chegou assim como Alexia com suas crias.
O dia estava muito agradável e divertido. Nunca gostei de
comemorar meu aniversário com festas, sempre fui daquele tipo de
pessoa que prefere comemorar com pouquíssimas pessoas, se
duvidar, nem comemorar. Sempre preferi, pois é mais íntimo e até
mais divertido, estar com pessoas que amo de verdade sem
precisar de muitas cerimônias para deixar todas se sentindo
agradável e coisa do tipo, pois isso já é costume quando nos
juntamos e somos uma família.
Contei sobre o presente da manhã, de Jade ser legalmente
minha filha e que agora é oficialmente uma Vargas e claro, eu e as
meninas choramos juntas por isso e comemoramos como sempre
comemoramos. Com gargalhadas, som alto, comida e muita
conversa fiada.
Voltamos esgotados de um dia que foi incrível.
— Ei, vida! — Jônatas me tira dos meus devaneios e
suspendo a cabeça para ver ele descalço e com o celular na mão.
— Vem aqui.
Ele me puxa pela mão para eu levantar da cama e fico de pé.
— O que você quer comigo, homem? — questiono em bom
humor.
— Dança comigo.
— Agora e assim? — pergunto confusa.
— Sim, agora e assim.
— Nem temos som aqui. Jade pode acordar.
— Pelo jeito você andou se esquecendo de algumas coisas.
Ele me estende um lado do fone que está plugado no seu
celular e põe outro. Sorrio besta porque tínhamos essa mania de
dividir o fone noventa por cento das vezes e ele ri também sabendo
que acabei lembrando disso.
— Perdoe. — brinco, plugando o fone no meu ouvido.
Ele faz o mesmo do lado dele e me segura, dando play na
música, e recosto a cabeça no seu ombro. Heaven ecoa no meu
ouvido, enquanto nos balançamos. Sempre gostamos de dar trilha
sonora aos momentos da nossa vida.
Não é dança de salão nem nada do tipo, apenas nos
abraçamos ficando com os corpos colados nos balançando para lá e
para cá. Nosso primeiro beijo teve trilha sonora porque foi em uma
festa, mas foi uma bem romântica e famoso do final dos anos
noventa que não lembro de cor o nome, nossa primeira vez também
teve trilha sonora, maioria dos nossos momentos juntos tem música
envolvida.
Abraço mais o corpo de Jônatas contra o meu enquanto ele
acaricia com leveza meus cabelos e ponho minha cabeça mais no
seu peito, sentindo meus olhos inundarem. Eu pareço pequena
demais perto dele.
Jônatas já me fez sofrer, muito, mas também foi a pessoa que
mais me fez feliz. Todas as minhas realizações estão ligadas a ele.
Ele, sem dúvidas, é a melhor pessoa da minha vida, motivo de muito
sentimentos meus.
Enquanto os últimos acordes da música ecoam eu continuo
ali, calada, abraçada a ele sentindo um carinho preguiçoso na
cabeça. Ele levanta meu queixo e sorri sem mostrar os dentes,
alisando minha bochecha limpando rapidamente com o polegar a
lágrima teimosa que desceu.
— Não é para chorar.
— Não é tristeza.
Ele desce a boca para beijar a minha e selamos nossos lábios
sem invadir a boca de ninguém com a língua, é apenas um beijo
amoroso com os lábios fechados e encostados.
— Passa o celular para cá. — peço e ele tira do bolso, me
entregando.
Acesso no meio das músicas de streaming e acho a música
que quero.
— Minha vez de fazer você ouvir uma música que escolhi. —
sorrio entregando o celular.
Voltamos a posição e When I Look At You começa a tocar na
sua calma. Eu e John continuamos abraçadinhos, indo para lá e
para cá com calma. Quem vê de fora vê apenas duas pessoas se
balançando no silêncio do cômodo. Mais aqui para nós é todo um
universo. Um universo nosso.
Ele encosta o nariz no meu e fechamos os olhos, juntos,
escutando a música falar muito o que sinto com essa volta dele para
minha vida. Abro meus olhos e fito os seus. É lindo, o amor da
minha vida. Se existe essa coisa de alma gêmea, Jônatas com
certeza e a minha.
A música acaba e continuamos ali, parados e abraçados
sentindo a emoção e ações falar por nós. Jônatas segura minha
nuca e me beija com calma e ternura. Ficamos ali, sem vontade
alguma de prosseguir para começar algo a mais. Era só um beijo
carinhoso transmitindo mil coisas.
— Espera aí, vou buscar o último presente do dia. — ele me
solta, puxando o fone do meu ouvido.
Aceno concordando e vou para cama, vendo-o de costas
mexer em algo dentro do guarda roupa. Outro presente?
Ao se virar com uma caixinha na mão, ele me faz arquear as
sobrancelhas em curiosidade. John sobe na cama, ficando em cima
dos joelhos me entregando.
Pego com cuidado e abro a caixa, e franzo as sobrancelhas
vendo um balãozinho sair, em forma de coração parando sem sair
totalmente da caixa, olho dentro e vejo que tem um anel prendendo,
como âncora.
— Pegue!
Ele me incentiva e com mãos tremendo pego o delicado anel,
de pedras. O anel é simplesmente lindo!
John pega o anel da minha mão e me fita sério. Eu continuo olhando
para ele sem saber o que pensar ou como agir com esse presente
tão lindo.
— Amor da minha vida, — amo quando me chama assim e
não só de "vida". — eu quero amar você para sempre, eu quero ter
você pra mim, só para mim, todos os dias o dia todo. Não encontro
palavras para dizer o quanto eu amo você, porém nem poderia ser
resumido nisso. Quero você perto de mim a todo instante, apertar
você no meu abraço para nunca mais largar. Casa comigo?
Continuo a olhar John e sinto meus olhos marejarem com a
linda e fofa declaração. Casar?
— Aceita? — questiona.
— Sim. Eu aceito tudo que você me propõe. Aceito ser sua
por completo.
Levo meu corpo de encontro ao seu. Sem movimentos
bruscos por causa da barriga. Sorrio boba fitando seus olhos, com
nossos rostos perto um do outro.
Jônatas com certeza é a minha alma gêmea. Esse tempo que
ficamos separados só foi para afirmar o quão bom somos juntos.
O que é nosso sempre volta!
— Se depender de mim, nunca que vai tirar esse sorriso do
rosto. — beija rapidamente a minha boca.
— Antes de você voltar, minha vida era tão vazia, John. Tão
amargurada e sem graça. Eu me perguntava o que eu estava
fazendo com ela. Às vezes eu não acredito que é real, sabe? Tudo
isso. — respiro fundo sentindo minhas lágrimas descerem pelo meu
rosto. — Eu sou mãe de uma menina e em breve de um menino. E
foi você que me proporcionou tudo isso.
John limpa meus olhos, me pondo no seu colo e me
abraçando com carinho, beijando o topo da minha cabeça.
— Não chora, vai. Olha para mim. — pede e suspendo o meu
rosto fitando seus olhos verdes, tão verdes quanto o de Jade. —
Não era para ficar chorando assim.
— É de felicidades, juro. E realização vendo tudo isso
acontecer.
Jônatas pega o anel e põe no meu dedo com cuidado, comigo
ainda no seu colo e em seguida beija a minha mão, em cima do
anelar.
Sorrio boba com a ação tão singela. Eu amo esse homem!
— Eu tenho você como uma das pessoas mais importantes
da minha vida, e não tenho receio em dizer isso.
Jônatas sorri abertamente me virando e me deitando
delicadamente na cama. Sorrimos juntos, bobos.
Desde que me entendo por gente, esse foi o melhor
aniversário, o melhor dia da minha vida, mais surpreendente, sem
dúvida. Jade agora é minha filha no papel, o amor da minha vida é a
mesma pessoa que me viu adolescente e de quem estou esperando
um filho e com quem irei casar. Tem coisa melhor?
26
LIZANDRA
Fito meu anel apaixonada, estou nesse looping de admirá-lo
no meu dedo desde antes o começo da semana, dois dias atrás,
quando ele faz a surpresa mais linda que tive na vida. Contei às
minhas amigas daqui a surpresa linda que ele aprontou para mim e
foi uma conversa boa na hora do almoço. Pense em uma revista
que só trabalha mulher, e uma delas contando novidades. Claro que
não poderia sair menos que muitos risos.
Estamos esperando o aniversário de Jade passar para
mudarmos e terminar a pequena reforma que estava incompleta.
Na saída pego o carro e saio em direção ao colégio de Jade
para irmos ao shopping. Jônatas que não gostou muito dessa minha
ideia, de sair sozinha de carro com Jade estando grávida, mas está
tudo sob controle.
Minha molequinha não teve judô hoje e com isso suponho
que ela não esteja mulambenta nem suada para irmos no shopping.
Pelo menos é o que eu espero. E pego a pequena estudante e
seguimos para comprar o que precisa da decoração, e as coisa
pequena para o aniversário dela.
Ah! Pela graça de Deus, consegui convencê-la de escolher o
tema da capitã Marvel, com direito a fantasia. É uma coisa que ela
gosta e é bonitinho. Pois estava imaginando por um hulk com roupa
de balé e ela vestida de Power ranger. Ia ficar engraçado, claro!
Caso ela quisesse mesmo esse tema. Mas ainda bem que ela
decidiu pelo outro. Vai ficar lindo e combina com ela e sua
personalidade!
Enquanto transitávamos no shopping escolhendo as coisas,
escuto uma voz que faz meu corpo tencionar.
— Quer dizer que conseguiu mesmo enrolar aquele otário? —
sorri debochado para mim apontando para meu anel no dedo.
— Roberto, licença. — peço impassível tentando arrastar o
carrinho com Jade dentro.
— E está grávida também? — ri ainda mais me causando
fúria. — Pelo jeito enrolou o babaca pelas bolas, pelo jeito caiu no
que você estava tentando me jogar. Quando cansar de brincar de
casinha ou querer algo mais gostoso que seu namoradinho propõe,
me procure, mulher grávida fica ainda mais fogosa que eu sei. Fazer
aquelas sacanagens que fazíamos.
Olho aquele ser me perguntando o que eu vi nele, para achar
que seria ele o cara certo. Alma podre!
— Eu poderia listar o que ele tem diferente e melhor que
você, mas não quero perder meu tempo com pessoas insignificantes
na minha vida. E não quero nada com você, de lixo já basta o que
eu acúmulo em casa na lata. E me dê licença, eu preciso passar, ou
vai ser necessário chamar os seguranças para você sair do meu
caminho? — eu ,e altero um pouco, mas respiro para me controlar
por conta de Jade que está quietinha e também por conta de
Henrique.
Se ele acha que vou me mostrar vulnerável como da outra
vez ele está muito enganado. Ele me feria quando o que eu tinha
com Jônatas era incerto, que ele não sabia da minha condição.
Agora? Ele terá que fazer muito mais que isso para me atingir.
Jônatas já provou que é meu de qualquer forma, que me ama.
Desse daí eu não preciso de mais nada, nem migalhas que ele me
dava e eu achava que era o jeito dele me amar.
Ele finalmente me cede espaço e empurro o carro passando
de cara fechada.
— Fale para sua patroa que ela vai me pagar pelo que me
aprontou.
Reviro os olhos e olho para trás, agora é a minha vez de sorri
debochada.
— Bem feito. Foi pouco! Isso é a lei do retorno.
Arrasto o carrinho e volto a fazer compras com Jade que está
quietinha. Suspiro nervosa, trêmula, por isso. Ele não me afeta
emocionalmente, mas encontro assim sempre me deixa nervosa
depois. Ligo para John, que disse que estava a caminho daqui para
buscar a gente e nos encontramos na praça de alimentação. O amor
da minha vida é muito gostoso!
— Já te falei que você ficou linda com esse vestido? —
questiona quando chego perto.
— Já, de manhã. Inclusive tem uma foto disso aí no seu
celular.
Rio dando um selinho nele, que me acompanha com o riso.
— Estou com vontade de comer mexicano. — peço a John
que me olha sério enquanto estamos chegando em casa.
— Tá mesmo? Não prefere outra nacionalidade não?
— Não. Quero tortilhas.
— É desejo ou vontade? — pergunta. Ele está fazendo de
tudo para que eu desista, mas eu realmente quero comer comida
mexicana.
— Faz diferença? É desejo.
— Não tem outra coisa que queira?
— Até tem... — desço meus olhos para o meio das duas
pernas, onde ele está sentado e a calça social evidenciando
bastante o volume. — Mas eu realmente quero comer tortilhas, ou
quer que Henrique nasça com cara mexicana? — abro um
sorrisinho para ele que fecha a cara.
— Você ainda vai me deixar louco, Liz. Louco! — resmunga
se levantando, arrumando a calça social nas coxas gostosas e
disfarçando o volume que eu estava olhando até então.
Rio entrelaçando nossas mãos, e seguimos para o foodtruck
mexicano.
— Olar, mi amore. Vejo que está muito feliz! — Alejandro
mecumprimenta como sempre fez, não se abalando por John estar
do meu lado segurando minha mão possessivamente. — Tortilha ou
burritos?
— Hermoso, eu estou e muito. Vou querer tortilhas e você,
John? — pergunto para ele que está de cara fechada encarando
Alejandro.
— É, vai querer o que emburradinho? — provoca ele.
Tadinho.
— Ainda não gosto de mexicano. — responde ainda fitando
Alejandro.
Ele solta minha mão e me abraça de lado, beijando o topo da
minha cabeça; Alejandro dá as costas revirando os olhos e
sentamos no banquinho, olhando Jade brincar de lá.
Meu lanche logo chega, me fazendo salivar. Tem um bom
tempo que não como isso!
— Aqui, mi amore. — ele me entrega o lanche.
— Mi amore...Mexicano fajuto! — Jônatas resmunga.
— Olha! Está esperando um nino! — ele aponta para minha
barriga sorridente, bem sincero. Retribuo o sorriso. Apesar de a
gente ter se enrolado várias vezes, antes de Jônatas, eu ainda o
enxergo como antes de a gente começar e terminar o caso. Um
amigo que me divertia quando vinha para cá.
Ele coloca a mão na minha barriga dando um rápido carinho.
— Parabéns, sei que será uma ótima mãe.
— Quer pegar no meu pau também, ou só na barriga dela?
Afinal, metade do trabalho foi meu.
— John! — reclamo ele que dá um muxoxo não se
importando.
Jonatas ciumento é terrível. Alejandro sorri não se abalando.
Ele é cínico, aposto que está aproveitando para tirar uma com o
amor da minha vida. Em casa, percebo Jade fitando minha barriga
que já ficando maior, totalmente intrigada.
— Quer tocar? — pergunto. — Toca na barriga da mamãe.
Ele gosta de você, sabia?
— Gosta? — ela me analisa para saber se eu estou
mentindo.
— Gosta.
Sorrio pegando as mãos dela pondo na minha barriga. De
primeira ela fica tentada a tirar, mas aos poucos começa a passar a
mão com mais confiança.
— Ele está aqui? — questiona curiosa.
— Está. Fale com ele.
Ele tenta ver dentro da barriga como se fosse um vidro fumê.
Rio e ela olha para mim sorrindo.
Se ela soubesse o quão importante para mim é ter essa
aceitação da parte dela. Do envolvimento.
— Henriquê. — ela puxa o “r” e o “e” falando quase certinho.
— Mamãe é minha, mas você pode ficar com o papai, um
pouquinho.
Mostra as regras a ele e eu gargalho de novo segurando as
mãos dela em cima da minha barriga. Ela repete “mamãe é minha”
por cima da minha barriga, babando tudo e arregalo os olhos
percebendo uma tremida na minha barriga, mas veio de dentro.
E pelo jeito Jade também sentiu, pois tirou a boca rápido e
está com os olhos arregalados.
— Você sentiu? — pergunto atônita e ela acena. — Ele
chutou. Ai meu deus!
— Chutou? — ela junta as sobrancelhas. — Ele chutou você,
mamãe?
— Chutou amor, ele chutou para você. — sorrio abertamente
em pura felicidade.
— Oh seu feio, chuta a mamãe não. — ela reclama e eu
gargalho com um sorriso enorme e com os olhos cheio de lágrimas.
Sinto novamente o chute, como uma resposta do que ela
falou e ela arregala os olhos como se ele a tivesse desafiado.
— O que vocês duas tanto apronta? — John aparece. —
Escutei as gargalhadas de lá.
— Henriquê chutou a mamãe. — delata o irmão.
— Chutou? — John arregala os olhos vindo em dois tempos
na nossa direção.
— Chutou, papai. Esse feio. — reclama como se o ‘’chute’’
fosse a coisa ruim.
John põe a mão na minha barriga sorrindo abertamente e
sentimos o terceiro chute. Hoje ele está que está. Começou, agora
para parar vai ser demorado. E estou amando isso.
Jade ficou meio confusa por estarmos felizes, porque
supostamente ele está me “chutando” e isso é errado. Mas logo
desacanhou e achou legal ver o bebê chutar em cima da sua mão.
Sento direito na cama e os meus dois amores de olhos verdes
ficaram paparicando minha barriga. Alisando e conversando.
Henrique chutou mais algumas vezes em intervalos de tempo,
mas agora parou de vez. Jade contou os mil planos que ela tem
para o aniversário dela e dormiu nas minhas pernas.
— Jade me contou seu dia, como sempre faz e hoje, contou
que um homem brigou com você no shopping. Aconteceu o quê?
Tenciono o corpo. Droga!
Esqueci disso, de Jade sempre contar absolutamente tudo
que aconteceu no dia, com detalhes, sem passar nada. Tenho duas
opções, omitir e me sentir mal depois, ou contar e minar minha
noite.
— Foi Roberto. Acabamos nos topando com ele lá. —
confesso baixo.
— O que ele falou?
— As mesmas nojeiras de sempre. Mas não me abalei,
relaxe.
— Não ia me contar, né? — percebo seu tom de voz calmo,
mas raivoso.
— Não sei, não quis estragar a nossa noite, vida. — tento
aliviar um pouco.
— Não sabe, Liz? É sério? O cara te fez mal, capaz de
aprontar algo com você, já que estava sozinha, grávida e com uma
criança e você não ia me contar nada?
Eu me viro para fitar seu rosto sério.
— Me desculpa, John. Ele só foi lá, fez ceninha e acabou, não
dei importância. Ele me abalava antes, quando a gente não tinha
esse laço todo. Mas agora ele não é nada, um embuste que faço
questão de nem me lembrar da existência.
Tento contato, mas John não quer, coloca uma parede entre a
gente e me sinto muito mal.
— Temos todo esse laço, mas você não me contou, Liz.
Adianta de que esse laço? — ele me fita sério e eu continuo calada
me sentindo pior ainda.
— A intenção não era essa. Eu não tinha decidido que não
iria contar. A diferença é que a informação chegou antes e não foi
em quem contei. Não menti e não é falta de confiança, John. Só
estava esperando para contar amanhã, nós dois acordados
sozinhos. Para ser sincera, nem lembrava mais, depois que o bebê
começou a chutar. Ele é insignificante que nem me importei. Não
vamos brigar por causa dele, por favor, vida, ele falou coisas que
marido de ninguém que escutar da mulher. Não é necessário
ficarmos assim por causa dele.
Eu o abraço, mostrando que não quero briga. Odeio
desentendimentos. Ele me abraça protetoramente beijando minha
cabeça.
— Eu fico com raiva, Liz. Por esse homem nojento que esteve
perto de vocês e eu não estar. E você, por não ter me contado na
hora. Promete, que vai me contar tudo, Liz? Eu não quero esse
homem perto de você. E se chegar eu quero saber no mesmo
momento e se não tiver, me ligue, entendeu? Odeio o fato de você
ter passado por isso e eu não estar junto.
— Tudo bem, prometo. Saiba que ele não afeta mais nada em
mim. Eu olho para ele e sinto nojo. Só!
Arrisco um beijo rápido na sua boca que ele aceita e
escorrego para mais perto no seu abraço gostoso. John é meu
porto seguro, ficar brigada ou discutir para mim sempre é horrível,
ainda mais por Roberto, que não vale o ar que respira.

Três aninhos! Hoje é o aniversário da minha bebê. Tão fofa e


esperta. Minha filhota! Vive com a boca ou mão em cima, alisando e
conversando com Henrique desde que ele mexeu.
Orgulhosa, vejo pronta a primeira festinha da minha filha ,
tanto para mim como para ela. Minha bebê ficou linda com a
fantasia.
Nat e Taís foram as primeiras a chegarem, logo algumas
amiguinhas delas com os pais, eu até chamei minha chefe por
educação. Mas não sei se vem. Téo apareceu e algumas meninas
de lá da revista com seus filhos.
Natasha está toda boba, porque é menina a bebê e Vinicius
está louquinho com a novidade. Nem preciso falar de Gustavo, né?
A família mais louca e estranhamente fofa que conheço. Meus pais
também chegaram, os de Jônatas também, junto com sua irmã.
Vieram de Belo Horizonte e quando menos esperei a varanda
estava cheia, crianças correndo, Jade sumida brincando por aí,
pessoas conversando, música alta. Enfim! Tudo que tem em festa
de criança.
— Liz, senta aí, repara esse desfile de homem bonito. — Nat
aponta para os homens tomando conta das crianças no brinquedos.
— Como é que você fala isso assim? Sabendo que um deles
é meu marido? — finjo ciúmes e rimos.
— Mas concordo, são bonitos, apesar de eu achar o meu
moreno o mais lindo de todos com esses cabelos já bagunçados....
— Alie dá de ombros, se sentindo superior.
— Guto ganha, já viu aqueles braços e olhos? Sem falar na
bunda. — Natasha toma partido. — Guto claramente é o mais
gostoso daí. Desculpa amiga, mas é a verdade.
— Ei, John é muito mais, tá? Ele tem olhos verdes e
tatuagens nos dois braços e fora outros atributos. — defendo meu
futuro marido.
— Tão falando de quê? — Taís chega sozinha sentando do
lado de Nat.
— Falando quem é o mais bonito aí, entre os quatro. — Alie
responde.
— Claro que é Rodrigo. Nenhum deles ganha do meu
marido.
— Só que não! Murilo é o maior e tem beleza latina que
nenhum dos três tem. Obvio que é o mais bonito! — Alie volta a
defender seu marido.
— Ei, Gustavo e ele são do mesmo tamanho! E Guto tem
olhos azuis lindos, eu não consigo olhar para ele, dois segundos
sem umedecer. — Natasha comenta e rimos da confissão dela.
— Concordo com Nat, no caso, Rodrigo tem esse mesmo
efeito em mim. Sem contar, vocês já viram a largura de Digo? O
homem intimida qualquer um.
— Aí é problema de vocês, prefiro o meu loiro, tatuado e de
olhos verdes que tem um sorriso maravilhoso e um queixo
quadradinho. Desculpa, mas nenhum deles tem o que meu tem, ele
é diferenciado. — mando beijos por cima do ombro e elas reviram
os olhos.
— O que vocês estão debatendo aí? — Murilo questiona com
os outros três homens ao redor esperando resposta. Eita!
— Nada. — respondemos juntas e somos encaradas por
quatro pares de olhos de cores e tons diferentes.
— Hum! — Gustavo semicerra os olhos para Nat que sorri de
modo angelical para ele.
— Quero saber o que acontece, para virem assim iguais. —
Nat comenta, com Tiago no colo que fita ela com o semblante sério.
É engraçado, ele está sempre com as sobrancelhas franzidas, como
se estivesse entendendo quem são as loucas que vive com a mãe
dele. — Ele parece mais com você, Murilo.
— Pensei nisso também. — comento alisando minha barriga,
com John já sentado do meu lado.
— Nem me fale, Alan é a cara desse daqui oh. — aponta para
Rodrigo. — E Léo mesmo loirinho, tem as mesmas manias dos dois.
Eu costumo dizer que moro com três Rodrigo’s em casa. — Taís
relata.
— Temos culpa? Fazer o que se meus genes são mais fortes
que os de Alie? — Murilo se gaba e Alexia revira os olhos.
Rodrigo e Gustavo riem concordando e Nat revira os olhos
seguida de Taís.
— Aqui é a mesma coisa. Jade é a cópia de John, já acordei
várias vezes com dois pares de olhos verdes iguais, na minha cara.
— relato enquanto Nat gargalha.
— Preciso nem comentar sobre Vinicius. Mas se minha
menina não vier loira e de preferência minha cara, eu vou fazer um
escândalo naquele hospital. Ah se vou, mando fazer devolução! Eu
sofro para parir duas vezes, carrego uma barriga enorme para vir a
cara do pai. Tem nem graça, né Gustavo? — rebate.
Gargalho como todos na mesa. Natasha não muda de jeito
nenhum!
— Mamãe, vem cá. — Jade aparece eufórica na mesa
tentando me puxar pelo braço.
— Pra quê? —questiono. — Quer ir no banheiro?
Ela nega e tenta me puxar mais uma vez. Acabo levantando e
pedindo licença para saber onde ela quer me levar, aproveito e
passo nas outras mesas para fazer sala.
Chego na rodinha que ela está, só tem criança do tamanho
dela, uma pior que a outra.
— Mamãe, diga, meu irmão está aqui? — aponta para minha
barriga e eu sorrio abertamente por isso.
Como não me apaixonar por essa fofura que é minha bebê?
— É, aqui dentro tem um bebê, o Henrique. — conto para as
crianças que fazem cara de surpresa.
Rio novamente com aquilo, amo crianças e suas inocências.
— Como ele foi parar aí, tia? — uma delas me pergunta
curiosa.
Ai, meu Deus! Pergunta embaraçosa uma hora dessas?
— Vocês querem refrigerante? — mudo de assunto.
Todas elas acenam, Jade inclusive. Pego refrigerante para
todos e volto para mesa com um sorriso enorme e bobo.
Ver Jade inclusa na gravidez é a melhor coisa que eu poderia
pedir. Saber que ela conta do irmão para as amiguinhas é a melhor
coisa que poderia querer. A festa em si foi linda, e uma loucura, ela
fez questão de dividir o primeiro pedaço do bolo com Alan, e isso foi
motivo de encherem o saco do meu pobre John com isso. Já no
final, John foi pegar a bicicleta que ele guardou por aqui mesmo,
para entregar a ela. Deixamos para entregar agora, já que se fosse
antes, ela iria querer brincar aqui dentro. Ela deu um gritinho logo
em seguida, vendo-o chegar com a bicicleta na mão como se não
pesasse nada.
— Não foi isso que uma menina pediu? — ele põe no chão e
ela logo corre para sentar, sorridente.
Ela eufórica põe o pé no pedal testando arregalando os olhos
logo em seguida. John agacha perto, querendo saber se ela gostou.
Ver a interação dos dois é tão gostoso de assistir.
Ela estende os braços, agradecendo num abraço e faz o
mesmo comigo. Ela e todas as crianças da festa testaram a
bicicleta. E no final, ela veio toda dengosa pedir se uma amiga podia
dormir lá em casa. Giovana é muito fofinha, cabelos escuros e olhos
cinza. Mas é da mesma laia que Jade, não vale um real. Desse
tamanho querendo levar amiga para dormir em casa. Já prevejo
minha casa cheio de gente na adolescência dela.
— Às vezes sinto que estou sonhando. — digo, assim que
Jônatas me abraça por trás.
— É nosso sonho, vida. — Beija meu pescoço e sinto a
mulher mais sortuda do mundo.
27
LIZANDRA
Meses depois...
Batuco no volante, com o carro em movimento em direção a
casa, com Liz no banco do passageiro ressonando em pura
exaustão com as duas mãos na barriga linda, grande. Jade ficou na
casa de Taís. Lizandra gostou até, porque vive cansada e ter uma
criança como Jade não é o que chamamos de sossego. E Liz está
precisando, pois é a reta final da gravidez.
Minha família, com certeza, é a minha maior conquista.
Mesmo naquele tempo do reencontro, que nós dois não
conseguíamos nos entender, tinha amor ali, amor reprimido,
principalmente dela. Era nítido, relembrando tudo.
Paro o carro em frente de casa, para chamá-la para entrar,
mas ela acorda sozinha, apertando minha mão dando um gritinho
estrangulado me assustando.
— Liz? O que foi? — questiono preocupado.
Ela solta uma lufada de ar, e sussurra:
— A bolsa.
Quê?
— Está aqui no banco de trás. — respondo, para acalmá-la.
Provavelmente achou que perdeu.
— Não! — ela nega em outro gritinho sofrido. — A bolsa
rompeu!
Ela fecha os olhos de novo, apertando minhas mãos
novamente e sinto meu sangue sumir por todo meu corpo.
— Seu filho quer nascer, John. — ela choraminga. — Me leva
para o hospital, liga para obstetra, faz qualquer coisa!
Suspira novamente, engolindo a seco e sorrio sentindo uma
felicidade sem tamanho. É hoje!
LIZANDRA
No hospital, na sala pré-parto e eu só consigo gemer de dor,
apertando as mãos de John. Como dói! Jônatas está preocupado,
assustado diria, a cada grito que eu dou, ele alisa meus cabelos me
acalmando. Estou muito nervosa, apesar de ansiosa.
A última vez que vieram me checar, eu estava com seis de
dilatação. Mas a dor é demais, quase insuportável. Mas sei que é
para meu filhote nascer. A pessoa mais esperada da minha vida.
— Aguenta mais um pouco, nós já vamos conhecer o nosso
Henri. — ele sorri de ladinho para mim mostrando as covinhas.
Lindo!
Henrique tem que vim com covinhas também!
— Eu sei. Eu sei. — respondo em um mantra. —Olha lá, não
solta minha mão. — peço.
Confesso que estou com muito medo do parto. Muito mesmo.
De não conseguir fazer força o suficiente ou de acontecer algo fora
do esperado. O medo do meu antigo problema dar as caras de
alguma forma e me deixa inquieta.
— Eu vou estar com você, como estou agora. — ele reforça,
pois está segurando minha mão como um nó, de tão entrelaçada
que está.
Aceno, percebendo outra contração chegar, forte e rápida
como um raio.
Não sei quantos minutos ou horas se passaram, mas eu mal
conseguia respirar sem gritar de dor e logo fui para a sala cirúrgica
junto com a obstetra e Jônatas, anunciando que estava pronta para
ter naquele exato momento.

JÔNATAS
Mais uma vez estou em uma sala cirúrgica para ver mais um
filho meu nascer. A única diferença é Liz que está deitada apertando
minha mão. Apesar do seu semblante tenso, sei que está tão
ansiosa quanto eu estou. Compartilhamos do mesmo sentimento.
Nosso menino! Não dá para acreditar que estou aqui e assim
com ela.
Depois de tanta merda que passamos, juntos e separados,
com o diagnóstico dela. Agora estamos aqui na sala de parto. O
destino é curioso, brica de uma forma ímpar.
Meu coração está batendo muito rápido e minhas pernas
estão fracas. Parece até que sou eu quem vai ter o bebê. Liz olha
para mim, com a carinha de menina de antes. Está morrendo de
medo, é nítido.
— Vai dá tudo certo, vida. — com dificuldade, a acalmo,
beijando sua mão com alguns tubos colado.
Ela acena, pegando fôlego, pondo uma cara de dor logo em
seguida. A médica dá as ordens a ela e em pouco segundos Liz
está fazendo força apertando minha mão. A cada gritinho dela é
uma saltada que meu coração dá.
— De novo, vida!
Reforço o que a médica está dizendo. Deus sabe a felicidade
que estou. É a primeira vez que vejo um filho meu nascer de forma
natural. Já que minha boneca que está alheia a tudo na festa da
amiguinha foi Cesária. Imagino ela vendo o irmãozinho. Sou tirado
do meu rápido devaneio com Liz dando um grito alto e estrangulado,
e em seguida um chorinho forte e dengoso ecoando na sala.
O som mais gostoso de ouvir.
O som do meu filho. Anunciando sua chegada.
A sua chegada mais que esperada. Desejada com muito
afinco.
Desejado desde que eu e a mãe dele éramos adolescentes e
no ensino médio. Olho para Liz, que está tão sorridente e chorosa,
apesar da cara abatida de dor e do esforço que acabou de fazer.
Linda! A mãe dos meus filhos é linda!
LIZANDRA
Ver o sorriso de Jônatas e o choro do nosso filho é como se
eu fosse levada para outro patamar de vida. Algo irreal e
inexplicável.
— Eu amo você! — sussurro para John sentindo minhas
lágrimas rolarem, escutando o chorinho dengoso do meu filho.
Meu filho! Nasceu de mim!
Ele beija minha testa com cuidado e a enfermeira traz ele
para mim e é aí que eu caio no choro. Vendo meu filhote sujinho,
vermelhinho, bochechudo e loirinho como eu sabia que viria.
Cabelos de anjo!
Sinto seu corpo tocar meu peito ainda choramingando
dengoso e seguro seu corpinho com cuidado e felicidade extrema.
Meu filho! Meu!
Meu e do amor da minha vida que assiste tudo como se fosse
seu filme favorito.
Aliso o corpo de Henri que parou um pouco de choramingar,
mas ainda chia um pouquinho. O som mais lindo do mundo.
John beija minha testa novamente e sorri, vendo tudo aquilo
maravilhado. O momento é tão importante para mim quanto para
ele. Nós dois sabemos o sonho desse momento desde que nos
conhecemos por gente.
Se não fosse a vida, o destino me fazer encontrar com Jade
naquele orfanato, não sei como estaria minha vida agora. Talvez na
mesma amargura de sempre, ou com outro coração partido, vazia e
sozinha.
Como dizem, faça o bem que o resto vem. Eu cheguei lá no
orfanato para ajudar crianças e fui recompensada da melhor forma
possível. Reencontrei minha filha. Sim, reencontrei, não encontrei, o
que temos parece ser coisa de outra vida. E de bônus, ganhei outra
oportunidade de dá certo com Jônatas.
Na sala, sinto uns afagos gostoso de John e com meu
presente do universo em minhas mãos, com um biquinho fofo de
choro e de olhos fechados, contrastando as bochechas vermelhas e
gordinha e os cabelos loiros, em um tom dourado penteado para o
lado.
— Ele é a coisa mais linda do mundo, vida. — eu me derreto
fitando minha vidinha.
— Ele é. — John se derrete comigo. — Ele é nosso. — e se
mostra orgulhoso.
Ponho ele para mamar e me sinto tão apaixonada, completa
vendo pôr a mãozinha em cima do meu peito e não resisto em
alisar, aquela mãozinha tão pequena e macia. A felicidade é tão
grande que transbordo, em lágrimas vendo a coisa que eu mais
desejei no mundo nas minhas mãos, finalmente.
— Obrigada por isso, John! — sinto meus olhos arderem e
não deixo de chorar me sentindo extremamente completa. — Você
me deu as duas coisas que sempre quis na vida. Filhos e amor.
Fito seus olhos, os mesmos olhinhos da minha Jade, que eu
me apaixonei desde a primeira vez que vi. Esses olhos dizem tanta
coisa que nem é necessário ele abrir a boca.
— Você também me deu essas coisas. Essa alegria
compartilhada está sendo a coisa mais gostosa da minha vida.
Rio em meio as lágrimas, fitando meu filho, bochechudo. Tão
lindo!
— Está. É como se fosse um delicioso conto de fadas que
não tem fim.
Vejo que Henri adormeceu. Passo a mão nos seus
cabelinhos, saltado do gorro que usa e olho para John que está com
um sorriso enorme vendo aquilo. Suspendo-o, para que ele
carregue. John chega perto e com todo cuidado do mundo,
transferimos ele de um colo para o outro.
Finalmente minha vida está encaixada. Sorrio para os dois na
cama e me sinto imensamente feliz. Saber que finalmente estou em
uma família de verdade. A minha própria família.
— Obrigado por me fazer o homem mais feliz do mundo. —
ele suspende os olhos, fitando o meu e eu sorrio completamente
apaixonada pelos homens da minha vida!

— Cadê ele, mamãe? — Jade curiosa questiona.


Amasso ela no meu colo, beijando seu pescoço. É como se
tivesse há mil anos sem vê-la. John foi buscá-la. Não a vejo desde
de antes de ontem quando ele nasceu.
Mas falamos por telefone, ela está super empolgada para
conhecê-lo. Irei ter alta daqui a pouco e John acabou trazendo ela,
para vir me buscar.
Nós duas não estávamos aguentando de saudade.
— Está vindo. Agora me abraça apertado. — peço
novamente, com ela no meu colo em cima da maca.
Ela obedece e me beija várias vezes, babado minha
bochecha. Como eu amo essa boneca!
Jade transformou minha vida. Sem ela, nada que consegui
seria possível e não teria sentido sem ela no meio. Minha pequena
foi responsável por uma coisa tão grande e nem sequer imagina.
Transformou a vida de nós dois. Minha e a de John.
Sem ela nó dois nunca teríamos nos reencontrado e voltado.
Henrique sequer existiria. Provavelmente estaria sozinha e ainda
achando que iria ficar só o resto da vida.
— Você me ama? Eu amo você, muito. — fito seu rosto e rio,
percebendo que as bochechas de Henrique são iguais.
— Amo. — ela acena, beijando minha bochecha de novo.
A porta é aberta e eu e ela olhamos, vendo meu pequeno vim
do berçário, mas antes vejo John sentado perto, rindo da minha
interação com minha filhotinha.
A enfermeira põe meu filhote bochechudo e lindo nas minhas
mãos e Jade estica o rosto, ficando de joelhos para ver.
Passo a mão nas suas bochechas e cheiro seu pescoço. O
mesmo cheiro de bebê de Jade. O cheiro que tanto amo.
Desço o braço para ela ver ele meio adormecido, meio
acordado e em seguida olha para mim com um sorriso enorme, de
pura felicidade.
— É ele, mamãe? Meu irmão?
Aceno, pela inocência dela, a coisa mais linda da minha vida.
Meus dois amores juntos.
— É, seu irmãozinho, que brincava com você na barriga da
mamãe. Agora está aqui, para brincar pertinho de você.
— Ah!
Ela concorda, ainda olhando ele incerta, alisa com um
dedinho só o rosto dele, pego o mesmo dedo e ponho na mão dele,
que fecha ao redor e ela arregala os olhos pelo contato.
Rio e olho para John que ainda está com o mesmo rostinho e
o chamo, para participar do nosso momento. E ele chega, pondo
Jade no seu colo que vê ele direito.
— Mamãe é minha e papai só um pouquinho. — Jade explica
para Henri recém acordado, com um olho só aberto e em seguida
boceja.
Gargalho junto com Jônatas, pelas palavras dela que ri
também sem saber ao certo o porquê de termos gargalhado.
Recosto a cabeça no ombro de John e recebo um beijo no
topo da cabeça.
— Sou muito sortuda, por ter vocês. — admito, olhando minha
família finalmente completa.
Jade beija a cabeça de Henrique, ainda alisando a mão dele.
Gesto lindo!
— Amo você, minha vida. — recebo um selinho rápido e
gostoso.
John puxa o próprio celular do bolso.
— Vamos tirar uma foto, do dia mais gostoso das nossas
vidas. — chama a gente e Jade vira, vendo-o posicionar o celular,
sem desgrudar do irmão.
Todos os instantes em todos os anos, o universo remexe e dá
um jeito de tirar e colocar pessoas em nossos caminhos, algumas
permanecem outras precisam seguir adiante. Às vezes a partida é
dolorosa, outras vezes é um livramento.
Eu na maioria das vezes não me conformo de início, mas
agora entendo que tudo tem um propósito. Absolutamente tudo tem
um por quê.
O que tem que ser seu, sempre volta para você.
E Jônatas é a prova viva disso. Depois de encontros e
desencontros da vida, ele está aqui comigo, mostrando isso. Ainda
mais forte que nunca.
Que somos um do outro. Tudo que nos pertence volta, cedo
ou tarde volta. A vida nos testa, nos separa para no final mostrar
que não estávamos errados em reconhecer no outro, que existe um
pouco de nós, do nosso amor bem ali.
Só que agora, nosso amor bate no coração dessa pessoinha
que fizemos juntos, resultado de tudo que passamos, mostrando
que valeu a pena cada etapa do nosso relacionamento. No final,
tudo que queremos é a porra de um amor recíproco!
epílogo
LIZANDRA
Vendo minha imagem refletida no espelho vestida de noiva,
sinto meus olhos molharem. É tão, tão irreal tudo isso!
É tão inacreditável isso. De estar casando com ele. O amor da
minha vida, depois de tantos anos e desencontros, a gente
finalmente vai concretizar todo nosso amor.
Eu sequer imaginava que uma coisa dessas ia acontecer
comigo, depois de tudo. Mãe de dois filhos, que são a minha vida e
agora noiva – por poucas horas agora - dele. Do homem que me fez
sentir completa da melhor forma possível.
A reciprocidade de sentimentos que existe entre nós dois, é
inexplicável. John é diferente, é meu príncipe, minha vida. Isso me
faz transbordar de prazer e felicidade todos os dias, em vários
momentos do meu dia, mostrando que somos um do outro a cada
dia.
Eu me sinto em outro mundo, e se esse não é o real, não faço
questão alguma de voltar. Quero continuar aqui, vivendo meu conto
de fadas com meus três amores de olhos verdes que tanto me
derrete.
Nosso casamento vai ser agora, em um sítio que alugamos.
Eu gosto da ideia de um casamento ao ar livre e ele concordou. Vai
ser agora no final da tarde, quase escurecendo.
Gostamos da ideia do pôr do sol, de uma coisa mais natural.
Do que tradicionalmente em uma igreja. Jade que estava no meio,
concordou quando perguntei onde ela preferia. Mas não sei se é
porque ela viu uma piscina nos fundos da casa e queria usar, ou
outro motivo. Mas esse primeiro é a cara dela.
— Minha irmã? — a voz de Nat me tira dos meus devaneios e
olho para trás, a vendo com um sorriso enorme entrando com sua
pequena Stela no colo e Jade saltitando do lado.
As duas é um grude que só. Já estou me imaginando, depois
de aguentar Natasha a vida toda, agora ser mãe de uma.
Mas é inegável que meu anjo está cada dia mais linda. Quatro
anos, pois eu e John resolvemos fazer o casamento quando Henri
estivesse mais espertinho, com um ano.
— Oi, Nat.
Dou um beijo no topo da cabeça de Jade que chega primeiro
perto de mim, que suspende o rosto rindo, mostrando as covinhas
que me derrete.
— Não poderia deixar de te ver antes de tudo.
Vem até a mim, arrumando minha sobrinha que é tão Gustavo
quando o próprio Vinicius. Ambos nasceram de cabelos escuros e
olhos azuis, feito os dele. Nat surtou com isso, claro, pois estava
crente e abafando que nasceria loira, como ela.
Sinto minha mão ser apertada por ela e sorrio ainda mais
amplamente naquele momento bom.
— Queria dizer que estou muito, muito feliz com esse dia, não
sabe? — Questiona amena, me fitando e eu aceno. — você sabe
que sempre desejei isso para você, te ver realizar seus sonhos.
Mesmo que no começo eu não conseguia entender porque diabos
você queria um homem grudado em você. — faz piadinha, pois é a
Nat e isso nunca vai mudar.
Sinto meus olhos marejarem, pois todo esse momento está
mexendo comigo de uma forma inexplicável.
— Vem cá!
Ela me abraça com a mão ocupada e enterro minha cabeça
no seu ombro.
— Você bem sabe como eu me senti culpada de tudo que
aconteceu com você. — beija minha bochecha rapidamente. — Eu
tô tão feliz de você não desistir do que queria, mesmo parecendo
impossível. Tudo por conta dessa pestinha aqui. — ela captura as
bochechas de Jade que estava até então brincando com Stela e em
seguida resmunga.
— Tudo aquilo valeu a pena, irmã. Não tem o mesmo peso
que antes. Você foi meu anjinho da guarda nesses anos todos. Eu
também fico feliz que você mesmo que sem querer tenha achado o
que eu sempre desejei para nós duas.
— Então foi você quem fez macumba para mim e Guto, né,
piranha? E eu aqui sendo fofa!
Faz um jeito para acabar com aquele momento e eu gargalho.
Natasha não sabe ser fofa muito tempo.
— Eu vou descer, para ficar no meu lugar. Guto deve estar
me procurando com Vini. E o senhor Jônatas já está lá em baixo,
quem está sobrando é o pobre coitado do Henri que tem que ouvir
ele perguntar por você, como se ele tivesse resposta. — revira os
olhos e eu abro um sorriso, limpando meus olhos, onde minha
maquiagem é a prova d’água. Tinha que ser assim, pois eu sou
chorona demais.
— Como ele tá? Tá bonito? — não consigo controlar a
ansiedade que se instalou no meu peito, sabendo que vou descer
em poucos minutos. Estou só esperando meu pai.
— É o Jônatas né, Liz? — ela revira os olhos fazendo pouco
caso. — Sempre será o magricelo.
Rio negando. Essa picuinha dos dois não vão acabar nunca.
Não vivem sem discutir quando veem o outro, mas sei que os dois
se gostam, são bons amigos.
— Vai lá, desce e avisa que estou indo, pois eu estou doida
para descer também.
Ela acena e dou um beijo na bochecha de Stela que está
quietinha no colo de Nat com seus olhões azuis. Ela é tão na dela,
tão calminha que nem parece filha de Nat.
Na verdade, nem parece filha de quem é. E falo isso para
Natasha e Gustavo. Taís costuma dizer que nossas filhas são
trocadas, pois essa bebê é tão manhosa e sorridente, ao contrário
de Jade, que como já falei e sabemos, é mais Natasha que a própria
Natasha na idade dela.
Ela sai deixando eu e minha filhota sozinhas que me observa
atenta com seus olhos verdes que me derrete. Já mencionei isso?
Que esses olhos foi a porta de tudo, esse olharzinho dela me deixa
apaixonada e disposta a fazer tudo por ela.
— Mamãe está bonita? — pergunto mostrando meu vestido
de manga cumprida rendada e que acentua minhas curvas. Estou
usando grinalda também, que está presa no meu cabelo, preso em
um penteado muito bonito.
— Aham! Parece uma princesa! — ela sorri mostrando os
dentinhos tortos e engraçados. — Aquela do filme, tinderela.
Aos poucos, ela está se corrigindo. Tentando falar certinho as
coisas que falava errado antes. E confesso que isso ainda é mais
lindo, essa transição. Na verdade, eu sou uma mãe babona. Cada
etapa dela eu me derreto.
— Hum Cinderela. Que honra! — gracejo, fazendo uma
reverência e ela gargalha, o som mais gostoso desse mundo.
— Porque papai não pode vim te ver logo? Toda hora ele
fica: “Jade, vai ver sua mãe”, “Jade, como ela tá?” — repete em um
tom imitando Jônatas, aparentemente de saco cheio das perguntas
dele.
Tadinho da minha vida. Ninguém dá crédito a ele. Nem Jade.
— A gente já vai descer. Seu vô tá aí?
— Tá esperando a gente ir, mamãe. Eu quero ir logo, porque
eu vi que tem docinho na mesa e chocolate. — fala a palavra
chocolate certo dessa vez arregalando os olhões. — Mas não me
deixaram comer, esses feios!
Gargalho me rendendo de vez. É quase um pecado deixar a
menina chocoite ver que tem e não poder pegar um para comer.

Enquanto meu pai me leva até onde Jônatas está lindíssimo


em um terno totalmente escuro e só com a gravata clara, eu conecto
meu olhar no dele. Tenho vontade de fazer tanta coisa, e a principal
é abraçá-lo e beijá-lo muito.
Abrindo os parênteses, o homem fica um pecado de terno.
Vendo-o bem ali me esperando, uma retrospectiva passou na
minha cabeça como uma flecha.
Nossas primeiras trocas de palavras no começo de tudo
quando ele me parou no meio do corredor, todo charmoso e
sorridente, me dizendo francamente sem desviar o olhar que estava
reparando e muito interessado em mim e que queria sair comigo. E
ali percebi quão bonito e chamativo era seus olhos. Os olhos do
menino loiro e bonito que sentava no fundo da sala que de repente
fiquei apaixonada. A ponto de pensar nele na maioria das aulas, de
olhar discretamente com meu espelho para saber se estava me
olhando. De como dávamos perdido nos nossos amigos, enquanto
nos conhecíamos por debaixo do pano. De como ele me agradava,
com um bombom ou música nova da nossa banda do momento e
esperava para ouvir juntos. Sem contar o nosso primeiro beijo, que
fiquei nervosíssima, mas com um sorriso bobo o resto da noite. De
como eu me senti feliz a ponto de perder o sono lembrando da
nossa primeira vez juntos que foi simplesmente espetacular e
intensa. Mesmo que tenha sido meio escondido, na casa dele. Das
músicas que dedicávamos o outro no fone, no nosso mundinho
particular, coisa que ainda fazemos. De como foi dolorido viver uma
vida sem ele.
Enfim! Cada momento nosso naquela época até chegar no
nosso reencontro, que apesar de ter sido difícil e turbulento, eu
considero mágico, tudo o que passamos, até conseguir nos
entender novamente e decidirmos tentar de novo com um olhar
diferente. De como percebemos que éramos do outro para sempre,
até chegarmos onde estamos, com nossa família construída que eu
considero a mais linda do mundo, assim como Jade e Henri.
E agora ele aqui, ansioso, esperando eu chegar até ele,
enquanto minha filhota vai comportada na minha frente como
daminha, sabendo que nossa vida é a coisa mais bonita que
cultivamos de lá para cá.
— Muito mais bonita que eu imaginei. — beija minhas mãos
trêmulas, quando fico do seu lado finalmente.
Eu claramente estou quase chorando, mas estou tentando me
controlar.
— Você está ainda mais lindo. — elogio, tentando despir o
nervoso que de repente fiquei.
— Tenho que estar à altura da senhora França. — sorri de
lado do jeito dele que amo.
A cerimônia é iniciada, e nem sei quem está mais
emocionado. É um sonho que finalmente estou concretizando e não
poderia ser melhor, não poderia ter noivo melhor, não poderia ter
daminha melhor. Se fosse tudo diferente não estaria sendo tão
mágico como agora.
Disso eu tenho certeza. Os nossos votos foram simples, pois
não precisamos de muitas palavras bonitas para ser sincera,
entretanto, me fez chorar quando ele falou que prometeu a si
mesmo, quando me pediu em namoro e que eu seria dele e
comprimiu.
Fui aos prantos e se eu não tivesse dito já tudo que eu tinha
pensado quando entrei e o vi, não teria condições de eternizar tudo.
Alguns colegas nosso do Ensino Médio até vieram, o que ele
tinha mais afinidade, já que ficou por BH depois de concluir o ensino
médio e foi maravilhoso voltar um pouquinho para aquela época
vendo aqueles rostos conhecidos que eu nem lembrava.
A cerimônia logo é finalizada, e enquanto todos ovacionam,
nos beijamos, selando tudo aquilo que já sabemos, mas que
fazemos questão de relembrar e nos sentimos sortudos mesmo
assim.
Hoje ele é a melhor parte de mim, e é bem diferente de tudo
que eu imaginei, mesmo o conhecendo antes. Tivemos que nos
desconhecer para nos conhecer novamente com outros olhos,
perceber outras coisas que não nos demos conta, mesmo que
aquele olhar de antes, permaneça sempre entre nós. Tivemos que
nos afastar para darmos conta que somos só metade sem o outro.
Nós nos separamos em um sorriso e ele limpa minha lágrima
teimosa. Estou tão feliz!
Ele segura na minha mão para descermos para o salão de
festas e nossos amigos comemoram junto.
Eu me sinto imensamente sortuda em viver a vida que levo. A
decoração da festa está linda. Muitas flores, sedas e escolhemos
uma decoração mimosa e rústica ao mesmo tempo. Combinou
bastante.
Henri assim que me vê abri os braços e eu faço o mesmo,
pegando meu pacotinho no colo para amassar.
Sabe, eu já vivi muitas coisas lindas de um tempo para cá,
mas nada se compara a chegada dele. É como se tudo, fosse
transformado em coisas boas, em forma de uma criança linda de
olhos verdes e cabelinhos loiros.
Paramos para tirar uma foto de família, nós quatro e perdi
minha filha para a mesa de doce. Em seguida fui cumprimentar cada
um.
As pessoas foram fazer seus discursos e chorei na maioria
deles. Eu me sinto muitíssima sortuda por tudo isso!
Mas, emoção foi maior, quando vi minha bonequinha lá em
cima também, pegando o microfone da mão de Nat e perguntando
“falar o que, tia?” e Nat cochichando alguma coisa para ela que
acena.
— Oi, todo mundo! — ela saúda todos e eu coruja, olho para
John que sorri junto comigo. — Mamãe é muito bonita, papai não. —
gargalhamos todos, sem exceção. Ela sempre tira uma com a cara
de Jônatas. — Mas eu gosto dele, e de Henrique também, mesmo
chorando.
Ela faz o discurso totalmente do jeito dela. E me surpreendo
por ela lembrar da época do orfanato, mesmo que seja breve.
As pessoas fazem um corinho “ooown” depois que ela termina
e de uma alta gargalhada por parte de Jônatas que dá chocolate
escondido e ela contou. Mas não deixo de me derreter, com essa
pessoinha que eu amo demais. Chamo ela para um abraço, que
corre na minha direção sorridente.
Depois do discurso das madrinhas, ganhei um abraço coletivo
das melhores pessoas desse mundo: Taís, Nat e Alie. Melhores
amigas da vida, pois se contagiam, fica feliz por mim como se fosse
elas no meu lugar. Foram meus maiores suportes nisso tudo.
— Posso curtir minha mulher agora? — John me abraça por
trás, pela cintura, beijando meu pescoço.
— Humm, claro que pode. — eu me viro, rodeando meus
braços no seu pescoço. — Te deixei de lado, não foi? Desculpa. —
beijo sua boca que me aceita deliciosamente.
— Está tudo bem. — cola nossos narizes. — Você feliz eu fico
feliz.
— Você existe mesmo? — suspendo meus olhos,
encontrando sua imensidão verde.
— Claro que existo! — ele graceja. — Eu poderia te mostrar
mil formas, mas estamos em público. — sussurra já totalmente
safado.
— Não me testa... — peço manhosa, segurando mais forte na
sua nuca.
Ele gargalha e tudo se agita em mim.
— Vamos dançar?
Ele pergunta, e eu aceno, já que estamos bem próximos da
pista de dança debaixo de uma tenda, onde tem uma banda ao vivo
cantando praticamente nossa playlist da vida.
John me puxa para termos nossa preciosa dança. Me enrosco
nele novamente
Fico ali, me sentido protegida no seu abraço, enquanto nos
balançamos e não deixo de fechar meus olhos, mentalizando um
agradecimento por tudo isso.
Às vezes acho que Jônatas não existe, que foi só um fruto da
minha imaginação.
— Não sei se é possível, mas eu me apaixonei mais um
pouco por você. — fito seus olhos verdes que eu me apaixono a
cada olhada.
— É possível, pois é o que eu mais faço a cada dia. — a voz
baixa dele é tão gostosa.
— Obrigada por ser a melhor pessoa da minha vida.
Agradeço, roçando nossos narizes, olhando ele tão intenso
quanto eu sinto.
Amar é tão prazeroso e gratificante. E quando é amor
verdadeiro, poderá passar anos, no final ele voltará e permanecerá
ao seu lado, mesmo depois de ter pulado de relacionamentos,
tentado habitar em um coração que não era compatível. Tudo isso
foi importante, para sabermos que o tempo todo o amor verdadeiro
estava aqui, tão perto e tão longe por conta dos obstáculos, mas
que no final foi superado e percebemos que o melhor era voltar de
onde paramos, apenas tendo a maturidade de enxergar novas rotas
e saídas. O caminho da vida nem sempre é reto.
Um conselho valioso que aprendi esse tempo todo, apesar
dos pesares.
Quer ser amado? Ame antes, se entregue antes, se doe,
cuide, fale sobre amor… dane-se seu ego e seu medo de não ser
retribuído. Quer cuidado? Cuide.
Eu nunca me arrependi de ser cem por cento coração,
mesmo que eu me ferrei para caramba, porque sem amor não sou
absolutamente nada. E John com o dele, me deu absolutamente
tudo!
bônus
LIZANDRA
— Mamãe! — Ensino a Henrique, que está sentado me
olhando sério com seus olhinhos verdes lindos.
— Não, Jade! — Jade toma a palavra.
Ele olha para ela e sorri. Eles dois juntos são terríveis. Ele
adora essa irmã. Às vezes ‘’brigam’’, claro. Mas é um grude que só.
Termino de pentear os seus cabelos.
Ele está com quase onze meses, esse gostoso!
Henrique é a coisa mais bonita da minha vida, é
estressadinho, mas é a coisa mais linda do mundo. Os cabelinhos
tão loiros e ondulados quanto o meu, mas os olhos tão verdes como
o de John e o sorriso tão lindo quanto o de Jade.
Ter ele na primeira vez no meu colo, foi a sensação mais
inexplicável do mundo!
O nascimento dele foi o melhor momento da minha vida, sem
comparações. Está no mesmo patamar do dia que Jade me chamou
de mãe pela primeira vez.
Ver aquele momento, do meu filhote nascer, aquele chorinho
dengoso, tendo John ao meu lado...foi tão, tão...perfeito!
Ele olha para mim e para Jade, imaginando provavelmente
que somos duas loucas.
— Fala! — Jade fica sem paciência. — Jade! — repete.
— papapapa! — repete o que ele sempre fala quando peço.
Reviro os olhos e Jade reclama. Ele e John preciso nem dizer,
né? Só fala papai, mas não quer de jeito nenhum falar mamãe.
Jônatas ficou se achando quando aconteceu isso, claro. Mas
era esperado, é um amor que só, vivem juntinhos. Engraçado que
vejo mais semelhança minha em Jade do que em Henrique. Jade a
cada vez que cresce, mas parecida comigo fica, e eles dois são uma
coisa de louco, quando John chega, ninguém consegue mais ficar
com Henrique, pois ele vai doido atrás.
Eu até achei que Jade ficaria com ciúmes, mas ela só disse
‘’é bom, porque a mamãe é só minha’’. Nós aproveitamos esse
tempo dos dois para passarmos nosso tempo juntas brincando e
pintando as unhas.
— Não! mamãe, vidinha. — peço pegando-o para o meu
colo.
— Papapapai. — rebate.
— Você é feio. — Jade revira os olhos levantando da minha
cama.
Rio e levanto junto, disposto a procurar algo para eles
comerem. Está quase na hora deles dormirem, John está atrasado,
inclusive. Ele geralmente chega mais cedo, mas por esses dias está
chegando mais tarde, porque o sócio dele quer vender a parte, e
John está com uns contratos bons aí e o que ele mais fica é em
reunião.
Meu amor é tão lindo exercendo a profissão, fica gostoso e
sério, mas, continua o mesmo menino lindo que conheci. Semana
passada ele arrastou a gente para ver ele jogando bola, à noite. Foi
ele, Gustavo, Rodrigo e Murilo, e outros amigos dele aí, foi vários
homens que pareciam moleques, e nós mulheres ficamos na
arquibancada assistindo enquanto torcíamos feito malucas, com
crianças no colo.
Ver ele em quadra e eu na arquibancada me levou para um
tempo gostoso do Ensino Médio. Claro que ele fez gol e fez
comemoração para mim, como fazia. Me senti extasiada demais.
— O que você quer comer? — questiono com Henri no colo,
indo para cozinha, com Jade no meu enlace.
Jade sorri sapeca para mim, e sei exatamente o que ela quer.
— Não, pizza não.
— Pufavô! — pede já falando certinho. — Pufavô mamãe, eu
ganhei a faixa amarela. — põe as mãozinhas em súplica.
Sorrio me rendendo. Essa semana ela subiu mais uma faixa
no judô. Ela pratica até hoje, com quase quatro anos. Mas é fora do
colégio, está em uma academia que ensina isso para crianças.
Assim como Alan, a amizade dos dois continua forte, para o
desespero de John, pois ela já foi para lá dormir com ele várias
vezes e vivem grudadinhos. Alan está com dez anos e está um
rapaz lindo.
— Tudo bem, mas só por isso. — aviso.
— Brigada mamãe. — sorri. — Vem, seu feio!
Chama Henri que se anima para ela. Sigo para sala com o
celular na mão e o ponho ele no chão, que engatinha para perto
dela.
Peço a pizza que Jade quer enquanto assisto o dois na sala
brincando. Aproveito que está tudo sob controle e corro para o
banheiro, estimando voltar em menos de dois minutos. Mãe de dois
tem dessas coisas, é ter uma torcida gritando sem nome e você tem
que terminar o que está fazendo no mínimo de tempo possível.
Não me pergunte a última vez que eu parei para tomar banho
na banheira que tenho aqui. É um pecado ter ela e tomar banho no
chuveiro correndo. Antes de sair, a porta é aberta por John, me
assusto mesmo deixando ela aberta, para caso de Jade ou
Henrique vir atrás.
— Susto da porra! Custava chegar me chamando? — ponho
a mão no peito.
— Jade disse que você tinha vindo para cá, vim conferir. —
sorri cínico e cafajeste para mim.
— Besta! Deixa eu adiantar que eles dois estão sozinhos lá.
— Pensei que iria tomar banho.
— Não dá, né?
John me fita de cima a baixo e nega, me puxando para seus
braços e gemo baixo sentindo nossos lábios selarem em um beijo
gostoso apertando minha bunda desnuda.
— Tudo bem, toma banho depois. — sussurra.
— Porque?
— Toma comigo, na banheira. Vamos pôr os pequenos para
dormirem, vai.
Ele me beija novamente e eu aceno. É, essa proposta é boa.
Ele sai do banheiro e saio logo em seguida vestida
novamente. A pizza chega e comemos juntos, com Henri no enlaço
de John que faz ele dormri em dois tempos.
Ver meu bebê no colo de John é uma coisa tão gostosa. Ele é
um pai perfeito. Tem mais paciência que eu, e mais jeito também.
Os primeiros dias foram tenso, eu chorei junto, quando ele chorou a
primeira vez com lágrimas. Jade ficou ao redor tão confusa quanto
eu, vendo ele chorar para se acabar, para descobrimos que era
cólica. Mas o meu herói, John, resolveu o probleminha em dois
tempos.
— Vamos? Jade dormiu finalmente.
Aparece na sala onde estou catando os brinquedos.
— Aham. — aceno carregando o balde com os brinquedos. —
Já vou.
Aviso e ele acena, entrando para o quarto. Passo no quarto
de Jade primeiro, para deixar os brinquedos. E checo minha filhota
que já está dormindo serenamente. Tão lindinha!
Beijo rapidamente suas bochechas gordinhas e sigo para o
quarto de Henri, fazer o mesmo. Mas é muito lindo essa pestinha!
As bochechas rosadinhas, cabelos de anjos, e pose linda.
Faço o mesmo que fiz com Jade, aliso seus cabelinhos e saio de lá,
depois de ligar a babá eletrônica que John cismou de comprar e
deixo a porta aberta.
Sigo para o quarto, procurando John. O encontrando só com
a calça social desabotoada, e descalço, vamos ressaltar que a cada
dia que passa ele fica ainda mais gostoso e o melhor de tudo, é
inteiramente meu.
— Que visão, em? — brinco entrando no quarto.
— É para você. — sorrio colocando as mãos na minha
cintura. — Vem aqui, me dá um beijo.
Vou sem pensar duas vezes para seus braços, recebendo um
abraço gostoso e um beijo ainda mais. Que homem!
— Senti saudades de você hoje o dia inteiro. — confessa e eu
derreto.
— Eu também. Pensei em você o tempo todo, estava me
perguntando que horas você iria chegar. — dou mais um selinho
nele.
— Vamos para o banho, eu coloquei a banheira para encher
já. — ele me solta e eu aceno.
Ele me puxa pela mão em direção ao banheiro do quarto e
sigo, vendo a banheira quase cheia, com a água espumando,
provavelmente ele jogou alguns trecos que compramos da última
vez.
— Venha.
John me puxa para frente dele e arranca meu vestido, me
virando de costas, fazendo uma leve massagem no meu ombro.
— Estava pensando, nunca mais paramos para ficar assim,
relaxando sem preocupações. — digo a John.
— Sim, por isso que fiz questão hoje. — beija minha
bochecha e pescoço.
Enquanto ele arranca as roupas dele, procuro umas velas
aromatizadas que foi até Nat quem me deu. Acendo três, uma na
pia e as outras na quina da banheira, já cheia.
— Venha. — John me chama entrando.
Tiro minha calcinha e vou para junto, sentando na frente dele,
sentindo meu corpo emergir na água quentinha.
Gemo satisfeita, por finalmente relaxar.
— Não geme. Estou já estou ficando excitado tendo você aqui
pelada na minha frente. Não piora minha situação.
Rio repousando minha cabeça no seu peito.
— Piorar? Eu gosto disso.
— Eu tento ser romântico, tomar banho na banheira e você
fica na safadeza.
Gargalho e dou um jeito de ficar de lado, para olhar direito no
seu rosto e ele me abraça como dá.
— Perdoa.
Beijo seu queixo e subo para sua boca, beijando
esporadicamente ali fitando seus belos olhos verdes sob a poucas
luzes da vela.
— Amo você, vida. — confesso baixo, beijando novamente
seu queixo. — Muito!
— Que gostoso ouvir isso! Você é minha vida, amor é pouco.
Me beija calmo e sereno, sem deixar de ser intenso e eu
boba, sorrio no meio disso.
— Sabe o que eu penso? Que a vida sempre dá um jeito de
trazer o que é nosso!
— Sim, ele nos apresenta e depois nos separa, para a gente
saber que somos melhores juntos.
— Penso exatamente assim. — sorrio boba o beijando
novamente, com vontade, fogo e paixão.
A vida é um tanto curiosa, a um tempo atrás me sentia
devastada, sem pertencer a lugar algum, hoje, estou aqui e assim.
Chega a ser engraçado o fato de passar tantas horas nos dias
de alguém, dividir momentos, confissões, trocar conselhos e planos
e ainda assim achar pouco.
A vida é feita de altos e baixos, alegrias e tristezas,
realizações e frustrações e precisamos entender que nada é mais
natural que isso. A gente só sente alegria porque já sentiu tristeza,
só comemora as realizações porque já sentiu o peso da frustração.
São as adversidades que nos fazem gratos quando as coisas dão
certo.
Com tudo que passou, percebi que nem tudo é preto no
branco. Felicidade é sentir cada angústia e tirar lições valiosas
delas, felicidade é acordar triste e despertar para mudanças
necessárias na vida. Felicidade é sentir a inquietação de algo ruim e
chegar lá e mudar. Um um dia triste não significa uma vida triste, ao
menos que você queira.
A gente precisa estar preparada para a instabilidade dessa
vida… nada está sob controle; Felicidade e amadurecimento é ter a
oportunidade de fazer diferente a cada dia e fazer o certo, é
recomeçar quantas vezes for preciso. É muitas vezes deixar medos
e orgulho de lado para correr atrás do que quer, John me ensinou
isso, ensinou e fez isso por mim e por ele antes de eu mesma
entender isso, que nem tudo vai dar certo, como imaginamos.
Eu tinha apenas ido fazer uma boa ação a troco de nada, fui
em um orfanato e a vida me retribuiu de uma forma inexplicável que
eu não consigo mensurar e agradecer até hoje.
Vendo tudo, lá de trás até aqui, percebo que às vezes, a
realidade é melhor que o sonho. Se acontecesse tudo como eu
queria, não seria tão gostoso como agora.
Talvez eu seja romântica demais, dramática demais ou assisti
filmes água com açúcar, também demais. Mas sempre acreditei no
amor em tudo isso que nos cerca, sempre achei fascinante isso de
estar tantos anos com uma mesma pessoa e ainda se sentir sortudo
por estar ali. E isso acontecer comigo é a melhor parte. Encontrei e
reencontrei um cretino imensamente meu que me mostrou que o
que é nosso sempre irá encontrar um jeito de voltar.
FIM!

Passe para a próxima página!


CONHEÇA MEUS OUTROS
TÍTULOS
UM ATREVIDO PARA CHAMAR DE MEU #1
UM DEVASSO PARA CHAMAR DE MEU #2
HEFESTO - DEUSES GREGOS • LIVRO I
A PESSOA INCORRETA: DEUSES GREGOS • SPIN-OFF
HEFESTO
EROS - DEUSES GREGOS • LIVRO II
A DEUSA DO AMOR: DEUSES GREGOS • SPIN-OFF
EROS
BELA MEGERA: LIVRO ÚNICO
Apesar de ter um signo conhecido como pouco sonhadores e de poucas palavras,
May, encontrou na escrita a melhor maneira de se divertir enquanto se expressa,
transpassando seus sentimentos e anseios para páginas em brancos, e suspira a
cada história que surge com a possibilidade de causar emoções e entretenimento
a quem ler e embarca de cabeça em cada uma delas.
Grande fã de comédia românticas de narrativas leves, nos seus romances não
faltam personagens desbocados e apaixonantes com humor mordaz. Misturando
humor, cenas quentes e personagens engraçados e contagiantes.
Redes sociais:
WATTPAD • INSTAGRAM • FACEBOOK • PINTEREST

Conheça outros livros: AMAZON

Compartilhe, recomende esse ebook e deixe sua avaliação, é importante e faz


com que mais pessoas alcance essa história e me incentiva a produzir cada vez
mais!
Se gostou do livro e avaliou, me envie o print para o meu e-mail:
mayaracarvalhoautora@gmail.com com seu endereço, com assunto
avaliação BOX, que enviarei marcadores e postal dos livros. Não percam!

Você também pode gostar