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The Art Of Falling For You (#1)

The Sin Of Kissing You (#2)

The Hate Of Loving You (#3)


Seis anos atrás, na calada da noite, acordei com uma cama
fria e um futuro ainda mais frio sem ela.
Eu a teria seguido em qualquer lugar e ela foi embora.
Eu pensei que tinha seguido em frente e deixado tudo o que ela
significava para mim para trás. Mas um primeiro amor nunca é
fácil de esquecer. É ainda mais difícil quando uma vez senti que
nosso amor é inevitável – inescapável. E eu estava certo mais
uma vez.
Uma noite nos traz de volta e atrapalha nossas vidas. Somos
enviados em rota de colisão com um futuro à parte e ainda mais
assustador – um futuro juntos. Estou de volta me aquecendo
no brilho quente de seu olhar e queimando com o fogo
inextinguível de seu toque.
Já percorremos esse caminho antes e nossos corações
despedaçados foram reconstruídos. Por mais fácil que seja
correr de novo, não consigo parar de desejá-la.
Esta é a nossa última chance de ter o que sempre quisemos –
um ao outro. Ou será nossa ruína.
O último livro da Falling Trilogy, um romance do Fulton U
Universe.
Falling
Sinopse
Tabela de Conteúdos
Aviso — bwc
1
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Epílogo
Agradecimentos 1
1
Agradecimentos 2
Essa presente tradução é de autoria pelo grupo Bookworm"s
Cafe. Nosso grupo não possui fins lucrativos, sendo este um
trabalho voluntário e não remunerado. Traduzimos livros com
o objetivo de acessibilizar a leitura para aqueles que não sabem
ler em inglês.
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feitas de forma construtiva e sem desrespeitar o trabalho da
nossa equipe.
Os ônibus pararam ao lado do hotel de frente para a praia que
Maddy e a banda pareciam gostar em LA. Meu estômago deu
um nó quando os freios do ônibus guincharam e o selo ao redor
da porta assobiou.
Fazia vinte e cinco dias desde que parti. Vinte e cinco dias
desde que o deixei. Vinte e cinco dias desde que meu medo me
dominou e eu corri. Corri tão forte e rápido que me senti sem
fôlego desde o dia em que as rodas deixaram o chão no
aeroporto a vinte minutos de distância. Vinte e cinco dias desde
que cometi o maior erro da minha vida.
O violão que eu pensei que tinha dito adeus de uma vez por
todas na lata de lixo na frente da minha casa em Greenwood
estava ao meu lado, encaixado no banco da mesa aparafusada
na frente do ônibus da turnê.
Minha mão tinha disparado sobre minha boca e meus dedos
ficaram dormentes no segundo em que chegou a mim. De
alguma forma ele tinha consertado. As linhas fracas da madeira
rachada mal eram visíveis sob o corpo pesado e brilhante do
violão. Tocava de forma diferente, com um som mais cheio e
profundo. A peça que eu salvei do lixo ficou escondida no
estojo que viajava comigo para todos os lugares.
Minhas mãos tremiam e eu olhava pelas janelas em direção
ao campus. A tela brilhante do meu telefone estava no meu colo
e eu tentei pensar em palavras, palavras que eram diferentes das
que eu tinha escrito antes de sair. As palavras que eu digitei e
deletei centenas de vezes, mas estava com muito medo de
enviar.
Gotas de chuva pontilhavam o vidro escurecido.
— Bay, aqui está sua chave — Maddy a deslizou sobre a
mesa. A pasta de cartões laminados se abriu. Eu tinha uma
coleção agora. Uma pilha que eu não sabia muito bem porquê
estava guardando. Talvez como lembrança. Talvez como um
lembrete de que eu tinha feito isso. Eu estava na estrada com
uma das maiores bandas do mundo. Eu tive meu momento no
centro das atenções para olhar para trás com carinho quando
eu estivesse nas arquibancadas torcendo por ele.
Mas ela não passou por mim e foi na direção do resto dos
caras.
— Holden, você pode dar isso para mim? — Ela entregou o
pacote preso a um elástico para Holden.
O ônibus saiu e eu olhei para o cartão-chave na mesa como
se eu tivesse esquecido o que era e como usá-lo.
— Como você está se sentindo, Bay?
Meu olhar foi para o dela e eu dei de ombros, tentando fingir
que não estava desmoronando. Tentando fingir que não estava
a momentos de desmoronar, como nas últimas quatro semanas.
— Estou bem. Só cansada — O mês passado foi o mais
exaustivo que eu já experimentei. A vida na estrada, não
imaginava que seria assim. A emoção do show foi um impulso
de adrenalina direto para o meu coração, mas tudo ao redor
parecia mudo e abafado. Parecia que eu estava vivendo a vida
de outra pessoa. Como se uma parte de mim tivesse sido
roubada, não perdida, e isso entorpeceu meus sentidos e
roubou a coisa que incendiava minha alma. Dare e Keyton,
diferente e o mesmo, e não mais comigo.
A monotonia da estrada era uma estranheza, com certeza.
Eu vomitava antes de pisar no palco, Holden começou a
aparecer com uma lata de lixo depois de eu quase acertar os seus
sapatos. Eu voltava para o ônibus da turnê depois dos shows e
me enrolava no meu beliche, a menos que estivéssemos
parando em um hotel para passar a noite, e eu escrevia. Eu
escrevi tanto que meus dedos doíam de segurar a caneta e
dedilhar meu violão. Enchi meus cadernos como se os grãos da
ampulheta estivessem acabando. E talvez estivessem.
— Você parece mais do que cansada — Ela se sentou ao meu
lado me cutucando com o cotovelo.
— É estranho estar de volta tão cedo.
— Parece diferente, mesmo tendo passado menos de um
mês, não é?
Eu balancei a cabeça, minha garganta apertada. Keyton
estava em algum lugar da cidade. Eu tinha acompanhado os
jogos. Eu não tinha ouvido os locutores mencioná-lo em um
ainda, mas eu o procurei nas laterais. A notícia de que Vince
havia sido cortado da equipe chegou aos noticiários depois que
ele se afastou por conta do seu abuso de drogas e do acidente de
carro Esse era um problema a menos com o qual Keyton teria
que lidar na equipe, embora talvez eu estivesse prestes a
introduzir outra lombada em sua vida – eu.
— Isso tem alguma coisa a ver com você talvez não querer
voltar a este ônibus amanhã para a próxima etapa da turnê?
Minha cabeça disparou.
— O que? Não! Eu sei que esta é uma oportunidade pela
qual outras pessoas matariam — Eu tinha sido tão óbvia? Se
minhas dúvidas tivessem aparecido em uma bolha sobre minha
cabeça eu não sabia.
— Mas você não é outra pessoa, Bay — Seu olhar suavizou
e ela cruzou as mãos sobre o tampo da mesa — Há uma lista de
razões para fazer o que fazemos. As recompensas são
inimagináveis e empolgantes, mas se seu coração não estiver
nele – se seu coração estiver em outro lugar, isso nunca lhe dará
tudo o que você precisa.
Dentro do meu peito, a queimação piorou, parecendo que
me queimaria em um piscar de olhos. Eu pensava nele todas as
noites. Sonhei com ele.
— E se meu coração não puder ter o que quer? E se eu
destruí minha chance de tê-lo?
Seus lábios se separaram e ela segurou minhas mãos.
— Não se culpe por ter se arriscado, Bay. Eu sei o quão
difícil pode ser. Eu sei como é olhar nos olhos de alguém e sentir
que ela pode te dar o mundo. Mas nem sempre é assim que
funciona. E se você continuar esperando que alguém a sirva ou
seja isso para você, você estará se preparando para a decepção.
“Você tem vinte e dois anos. Muita coisa pode mudar em
sua vida, mas você precisa ter certeza. Você precisa querer isso
porque não é fácil e nunca será fácil. Mas eu vou apoiá-la, não
importa o que você escolher. O ônibus sai amanhã às sete da
manhã. Espero que você esteja aqui, mas entendo se não estiver
— Ela deslizou para fora do assento e caminhou pelo corredor
em direção à frente do ônibus. — Bay?
Inclinei-me para fora, olhando para o corredor.
“Se ele não estiver lá para você, você sempre pode recorrer à
música. Eu vi como você é quando cria e é um dom que não
quero que você esqueça — Ela desapareceu escada abaixo e eu
fiquei sozinha no silêncio.
O medo do que ele via quando olhava para mim foi
compensado pelo pânico de não vê-lo novamente. E Felicia
mandando o violão do meu pai com um bilhete de que era de
Keyton, tinha acabado comigo. Passei meus dedos sobre as
rachaduras e lascas laqueadas e alisadas como se estivesse
olhando para elas através do vidro de um museu. Preservado
para ficar comigo para sempre e foi assim que me senti quando
o segurei com as mãos trêmulas, tremendo tanto, que eu o
guardei com medo de deixá-lo cair e quebrá-lo.
Uma parte do nosso passado foi reconstruída e eu nos
separei novamente.
Logo após o show, eu me trancava no meu quarto de hotel
com sorvete e uma garrafa de água quente no colo, sentindo
como se estivesse me afogando em lágrimas. Elas entupiam
minha garganta e queimavam meus olhos. Minha pele estava
tão quente que parecia que elas evaporariam das minhas
bochechas, mas não evaporaram. Mas a crueza permaneceu.
E agora eu estava de volta. Mas para o que eu voltaria?
Muita coisa poderia mudar em um mês, assim como todos
os sentimentos complicados que eu tinha por Keyton foram
aprofundados, expandidos, preenchendo todos os espaços da
minha alma com um amor que nunca experimentei antes,
também me assustou mais do que nunca tinha me assustado
antes. Ainda mais assustador do que ele pairando sobre mim
com os pedaços quebrados do violão do meu pai na mão, ainda
mais assustador do que o quanto doeu me afastar dele no
campo de formatura, e muito mais assustador do que me abrir
para ele novamente.
Mas agora eu estava de volta para onde começou e me senti
como uma alienígena tentando aprender a se comunicar.
Meu telefone ainda estava no meu colo, a tela agora estava
desligada e eu olhei para o meu reflexo. Eu não queria machucá-
lo mais do que já tinha feito.
Arrastei-me para fora do ônibus e peguei minha bolsa
solitária na calçada ao lado dele. O porteiro do hotel segurou a
porta para mim. Risos e conversas do restaurante do hotel se
espalharam pelo saguão. Minha viagem até o meu andar no
elevador foi felizmente solo. Os corredores do hotel estavam
silenciosos. Minha fechadura apitou e fui recebida em mais um
quarto de hotel. O brilho tinha desaparecido rapidamente após
os primeiros dez ou doze.
Não querendo enviar uma mensagem para ele ainda,
verifiquei a mídia social de Knox, já que Keyton não tinha
nenhuma. Havia fotos dele e Keyton se mudando para a nova
casa e selfies com os pais de Knox. Elas eram de algumas horas
atrás. Os prédios ao fundo ficavam no campus.
Ele estava aqui. Ele estava perto.
Eu levantei da minha cama e coloquei meus sapatos de volta.
No elevador, tentei formular um plano. Knox estava
atualizando regularmente e postou um vídeo dele em pé na
praia com seus pais sorrindo ao lado dele. A praia que eu olhei
durante meu encontro com Maddy.
Antecipação zumbiu em minhas veias. Eles não estavam
longe daqui. No saguão, corri para as portas apenas para
tropeçar para trás e pular para trás de uma coluna de mármore.
Keyton entrou pelas portas pelas quais eu tinha passado
menos de uma hora atrás com Knox e os pais de Knox.
Minha respiração congelou em meus pulmões como se eu
tivesse sido jogada em um fluxo de gelo. Era este o universo me
dizendo que eu não tinha arruinado tudo? Era este o universo
perdoando meu egoísmo e covardia?
Ele estava com uma camisa branca e calça preta. Ele e Knox
estavam vestidos da mesma forma, exceto pelas cores de suas
camisas.
Meu coração doía e ansiava por ele. Dormindo sozinha em
um beliche de ônibus de turismo cercada por estranhos, senti
falta do forte conforto de seus braços em volta de mim.
Ele riu e fechou o guarda-chuva. Os pais de Knox tinham
seus próprios. Ele parecia bem. Ele estava sorrindo. Ele não
parecia cansado ou zangado.
Eu queria correr para ele. Eu queria me jogar nele e dizer que
sentia muito. Como eu estava arrependida e errada em o deixar
do jeito que eu fiz.
Incapaz de me conter, peguei meu telefone e bati em seu
nome. Eu olhei para a caixa de texto vazia por longas horas nos
bastidores antes de um show, e mais horas no ônibus da turnê,
meu corpo balançando com a estrada e meus dedos incapazes
de formular uma frase completa para ele.
Mas ao vê-lo, eu sabia que não poderia me conter. A
injustiça de tudo isso não passou despercebida para mim. Eu
fui a única a ir embora, mas agora eu estava voltando. Voltando
para ele.
Com os dedos trêmulos, digitei a mensagem.

Eu: Eu estarei em LA em breve. Eu gostaria de te


ver.
Sua cabeça baixou, o sorriso ainda estava lá, e ele continuou
com a conversa. Ele pegou seu telefone e olhou para a tela. O
sorriso caiu de seu rosto e meu estômago despencou.
Ele olhou para o telefone por longos momentos de
destruição da alma.
Tanto tempo que eu podia sentir o pulsar do sangue nas
minhas veias pela força com que eu segurei meu telefone.
Seus dedos apertaram em torno das bordas.
Mesmo daqui, eu podia ver a tensão. Eu podia sentir a
turbulência dentro dele.
Minha visão ficou turva e uma queimação começou na
parte de trás do meu nariz, fazendo minhas lágrimas se
acumularem nos cantos dos meus olhos.
Sabendo que era injusto. Sabendo que eu não merecia isso.
Sabendo que isso era um erro que eu não poderia voltar atrás,
mas esperando com cada célula do meu corpo eu poder falar
com ele novamente, eu enviei outra mensagem.

Eu: Por favor.

A tela esmaecida se iluminou novamente em suas mãos.


Usando o polegar, ele desligou e colocou o telefone de volta no
bolso.
Ele se juntou ao seu grupo e sussurrou para Knox. Os olhos
de Knox se arregalaram e ele olhou para Keyton.
— Mamãe e papai, temos uma mudança de planos para o
jantar. Há outro ótimo lugar que encontramos por aqui
durante o acampamento de treinamento, e acho que vocês vão
adorar.
Seus pais olharam para ele surpresos, mas eles voltaram para
suas brincadeiras descontraídas e voltaram para fora da porta.
Parecia que alguém havia plantado uma bota no centro do
meu peito e não desistia. Em vez de voltar para o meu quarto,
saí seguindo um minuto ou mais atrás.
Eles viraram a esquina quando meus pés bateram na calçada.
Ele nunca olhou para trás e por que deveria?
Caminhei na direção oposta em direção ao mar.
Tirando meus sapatos, deixei meus pés afundarem na areia
úmida e caminhei em direção à água.
Não muito longe das ondas batendo, eu sentei e trouxe
meus joelhos para cima e passei meus braços ao redor deles. A
umidade penetrou em meu jeans, avançando em torno de meus
quadris, até que o tecido estava uma bagunça encharcada.
O vento soprava na areia, enviando arrepios pelo meu
corpo. Ondas quebravam ao longe e eu olhava para a escuridão
na minha frente com apenas a lua e pontos de luz flutuando no
horizonte.
A esperança de que ele respondesse minha mensagem
morria a cada minuto que passava. Então tudo ao meu redor
foi banhado pela escuridão.
As luzes do restaurante à beira-mar foram apagadas junto
com a minha esperança.
A noite se estendeu na minha frente com uma tristeza que
afundou até os ossos. Fios de cor apareceram na minha frente,
criando minha silhueta na areia. Eu me desdobrei, ofegando
com os alfinetes e agulhas atirando pelo meu corpo. O sol
nasceu atrás de mim, mas não trazia a promessa esperançosa de
um novo dia, apenas o vazio que se espalhava à minha frente,
como se minha alma estivesse se tornando a sombra na areia.
O ícone da bateria no meu telefone ficou um vermelho
irritado. Os números percentuais diminuíram para um dígito.
E sem novas notificações.
Entorpecida, dolorida e reaprendendo a andar, tropecei de
volta ao hotel. Ligando o chuveiro, me inclinei para a
queimadura e deixei aquecer minha pele, mas não chegou lá
dentro. Não poderia me aquecer. Em vez disso, concentrei-me
no que me restava.
A letra rolou pela minha cabeça. Enrolada em uma toalha,
peguei meu caderno e deixei as palavras saírem de mim. Minhas
lágrimas se misturaram com a tinta na página.
Enfiei minhas roupas de volta na minha bolsa e desci as
escadas caminhando para a área de carga onde o ônibus estava
estacionado. O compartimento inferior foi aberto, cheio de
malas e equipamentos.
Maddy desceu as escadas do ônibus, com os olhos
arregalados.
— Você está aqui.
Meus ombros encolheram e eu olhei para o concreto entre
nós.
— Se estiver tudo bem para você.
Ela passou os braços em volta de mim, quase no nível dos
olhos em suas botas.
— Claro que está tudo bem. Sempre fiquei feliz em ter você.
Eu… — Ela me soltou e deu um passo para trás — Eu sei que
não é assim que você queria que fosse, mas você não está
sozinha. Lembre-se da música e a mantenha perto de você.
— Eu escrevi algumas músicas novas — Minha voz falhou
na última palavra.
Seu último presente para mim. Ele desbloqueou a única
coisa que me levaria embora.
Eu me consolava com as cordas do meu violão, as melodias
flutuando em minha mente e as letras que me lembravam dele.
Se eu não podia tê-lo em carne e osso, pelo menos podia em
meus sonhos até que aprendesse a deixá-lo ir.
— Eu tenho dinheiro suficiente. Eu quero falar com Wisconsin
— Mergulhei minha cabeça na água e aumentei a velocidade na
esteira nos últimos cinco minutos do meu treino.
— Você sabe como está frio lá em cima? — Ernie
resmungou do alto-falante do meu telefone.
Meus pés batiam na esteira do segundo quarto do meu
apartamento no 55º andar, com vista para o horizonte da
Filadélfia. A TV passou para o segmento de esportes do
noticiário local.
— Já lidei com o frio antes. Você age como se eu não tivesse
jogado em Wisconsin.
— Jogar lá e morar lá são duas coisas totalmente diferentes.
O teto salarial deles não nos dará muito espaço de manobra —
A voz áspera de fumante de Ernie, cheia de experiência,
retumbou.
— Eu não me importo. Se vão me sacanear, quero ver como
vão as negociações — Aumentei a velocidade mais meio passo.
Após o acampamento de treinamento, eu me esforcei mais do
que nunca e ainda fui rebaixado para o banco. Segunda
chamada depois de me provar em campo, como um mascote
incrivelmente bem pago. No entanto, teve seus benefícios,
como iniciar uma fundação ajudando crianças como eu e
colocando-as em um caminho melhor. Hoje à noite, eu levaria
um casal que ganhou um leilão da minha fundação para um
show do Without Grey. Sempre que ouvia a música deles, não
conseguia deixar de pensar em Bay.
Não ajudou que seus hits aparecessem ininterruptamente
nos últimos anos, mas suas músicas não foram a única razão
pela qual eu evitei o rádio ou mantive meus canais de streaming
com músicas de décadas passadas.
Without Grey, a música parecia estar inextricavelmente
enredada em minha vida, embora eu só os tivesse encontrado
algumas vezes. Mas esta noite, no show deles, eu seria um bom
anfitrião para os vencedores do leilão. A oferta deles fora
generosa e faria todo tipo de bem.
A voz rouca de Ernie atravessou minha viagem pela
memória.
— É menos dinheiro. Vamos, Keyton, você está me
matando aqui. Tenho três cursos universitários para pagar.
— Seus dez por cento vão cobrir mais do que isso, e pense
em quantos mais acordos de patrocínio podemos conseguir
quando eu estiver realmente jogando.
Eu achava que não havia mais segundas chances no futebol,
mas descobri que a superstição tinha um jeito de fazer as
pessoas reescreverem todos os tipos de regras.
— Aqueles acordos que negociei já são muito bons.
— Pense em dobrar. Tanto para alavancar, se sou eu quem
faz a vitória do jogo pegar ou bloquear.
— Ou você quebra a perna de novo.
— Isso foi há três anos — Eu apertei o botão, aumentando
minha velocidade tentando suar a frustração. Charlotte me
colocou durante minha primeira temporada depois da minha
troca para os Lions. Eu tinha jogado em cinco jogos. Perdemos
todos os cinco, mas o decisivo foi um ataque brutal que me
deixou com a perna em tração por duas semanas antes da
cirurgia e depois meses de reabilitação e fisioterapia. Minha
troca para Miami na temporada seguinte foi por quase nada em
comparação com a maioria dos contratos, mas eu estava
totalmente curado e pronto para jogar. Eles tinham outras
ideias sobre como me usar, e não estava em campo. Mas
adicionou outro anel à minha prateleira, e o brilho da boa sorte
voltou para mim pela troca pela Filadélfia na minha quinta
temporada. A sexta começou em menos de uma semana.
— E a única temporada para a qual você não tem um anel
de campeão. Ninguém quer arriscar. É mais seguro para você
ficar bem sentado no banco.
— Não quero mais ficar no banco.
As rodas estavam girando do outro lado da linha.
— Ainda não gosto disso.
— Você não precisa gostar. Eu tenho que gostar e quero ver
quais opções eu tenho.
Resmungos foram tudo o que veio do outro lado da linha.
— Tudo bem, mas se eles começarem a nos sacanear, nós
caímos fora.
— Vamos ver qual é a oferta primeiro e depois decidir se eles
estão nos sacaneando ou não.
O acampamento de treinamento acabou. Mais uma
temporada estava prestes a começar. Mais um ano de vitórias.
Mais cinco meses sendo um inútil desperdício de espaço.
Cinco anéis de campeonato estavam no cofre do meu
armário. Cinco anéis de três equipes diferentes. As
especulações voaram sobre se eu passaria a próxima temporada
na Filadélfia ou passaria para campos mais verdes e lucrativos.
A mesma coisa vinha se repetindo na minha cabeça desde que
entrei no campo em meio a confetes, fogos de artifício e um
reluzente troféu de ouro erguido no alto.
Todos os anos, nessa época, essas memórias ressurgiam. O
verão que mudou minha vida. O verão que eu perdi Bay e quase
perdi tudo.
Enfiei meu dedo no botão de desaquecimento e desacelerei
da minha corrida para um trote1 e, finalmente, uma caminhada.
Seis anos, dois meses e três dias.
A última vez que a vi, eu disse a ela que não poderia ficar
tanto tempo sem vê-la novamente como antes, e meu desejo foi
concedido como se tivesse pedido a um gênio.

1
Trote é uma corrida mais lenta onde seus pés estão sempre tocando o chão,
podendo evoluir para uma corrida ou regredir a uma caminhada.
Ela estava em videoclipes, comerciais, premiações, tapetes
vermelhos e eventos de caridade. Eu não tive que passar seis
anos sem vê-la. Em vez disso, pude vê-la diariamente, e foi pior,
muito pior.
Meu telefone acendeu ao lado da garrafa de água encaixada
no painel da esteira.
— Knox, o que está acontecendo?
— Você não vai me dar o furo?
Eu ri e apertei o botão de parada.
— Um verdadeiro repórter agora, hein? — Agarrando
minha toalha, passei-a pelo meu pescoço e rosto.
— Só estou tentando provar meu valor agora que estou fora
de campo.
— Continue tirando sua camisa e tenho certeza que o
aumento de audiência das senhoras garantirá seu lugar.
— Os biscoitos finalmente tomaram conta do período de
entressafra — Ele suspirou, mas não parecia nem um pouco
arrependido — O tanquinho não é o que era antes.
Jogando minha toalha no cesto, tirei meus sapatos e fui para
a cozinha. A geladeira estava abastecida com shakes de proteína,
frango grelhado e pratos de vegetais divididos de acordo com as
especificações do meu nutricionista.
— Posso dizer pelo seu silêncio que você está em ótima
condição física, como sempre.
— Estar preparado para entrar em campo é metade da
batalha — A outra metade estava realmente em ter algum
tempo de jogo.
— Você deveria estar nadando em seu dinheiro no estilo Tio
Patinhas e enfiando a cara em um bolo a cada curva. Quantos
caras chegam ao sexto?
— Provavelmente alguns kickers2 por aí.
Sua risada vibrou o telefone na minha mão.
Peguei um dos shakes verdes e fechei a porta da geladeira
com um chute.
— E quantos caras tiveram menos de um jogo de tempo de
jogo em cinco temporadas?
— Estamos tendo essa conversa de novo? Pegue o dinheiro
e corra. Ou não. Além daquele apartamento que Alice
comprou, você provavelmente ainda está gastando dinheiro
como quando estava no time de treinos.
O apartamento imaculadamente sofisticado no Four
Seasons. Quem diria que você poderia viver em um hotel como
este? Eu não diria. A vista era deslumbrante. Um Liberty Place3
brilhava do lado de fora da minha janela. O preço de um ano
neste lugar tinha doído como uma colmeia de abelhas

2
Placekicker, ou simplesmente kicker, é uma posição do futebol americano
que atua no time de especialistas cuja responsabilidade é chutar os field goals,
extra points e, como na maioria dos casos, fazer os kickoffs.
3
Liberty Place é um complexo de arranha-céus na Filadélfia, Pensilvânia,
Estados Unidos.
descobrindo que eu estava atrás do mel delas, mas tinha sido
um compromisso. Alice não queria se mudar para cá. Ela queria
uma casa. Em algum lugar com quintal. Um lugar para começar
uma família.
O apartamento tinha sido um compromisso e o começo do
fim.
— Há uma conversa ou apenas um sermão?
— Estou preocupado com você, cara.
— Não precisa. Estou bem. Nunca estive melhor. A
fundação está indo bem. Eu tenho outra posição puramente
ornamental em outra equipe pronta para chegar ao
campeonato. Não briguei em quê? Quatro anos? — Depois de
mais de vinte anos de amizade, ele ainda se preocupava comigo
como se eu fosse o garoto escondido em seu porão em
Greenwood. Ele não precisava se preocupar comigo, mas os
padrões antigos eram difíceis de morrer – os mesmos que eu
trabalhei para corrigir. Eu não podia culpá-lo por ter o seu
próprio. Pelo menos seus padrões não o deixavam com os dedos
machucados e um lábio quebrado.
— Você sabe o que eu quero dizer.
Eu sabia.
Uma longa expiração profunda do outro lado da linha.
— Você já pensou em entrar em contato com ela?
— Não — Eu tinha. Tantas vezes. Tantas noites eu olhei
para o teto querendo falar com ela novamente. Mas havia
muitas razões para deixá-la viver a vida que ela deveria viver e
nunca me abrir para o tipo de dor que só vinha de quase
destruir a si mesmo e outra pessoa ao mesmo tempo.
— Por que não?
— Que bem isto faria? — Tudo o que provaria para mim
era o quanto as coisas não haviam mudado, e isso era mais
assustador do que qualquer porta batendo na minha cara.
A campainha tocou.
Olhei ao redor para o corredor. Ninguém tinha permissão
para entrar neste andar sem estar na lista ou morar aqui, e meus
vizinhos não eram exatamente conhecidos por pedirem
emprestado uma xícara de açúcar.
— Eu tenho que ir. Alguém está batendo na porta.
— Ok, vejo você na próxima semana. E pense nisso.
— Eu pensarei.
Eu verifiquei pelo olho mágico e respirei fundo e firme.
Abrindo a porta, sorri para a minha visitante, que costumava
ser muito mais do que alguém que toca a campainha e espera
que eu a deixe entrar.
Alice estava no corredor. Ela usava o casaco cor de camelo
que eu comprei para ela no ano passado, embora as folhas mal
tivessem começado a cair. Seu cabelo loiro e liso estava enrolado
em um nó na base do pescoço.
A primeira vez que a vi, pensei que finalmente estava pronto
para algo sério. Ela era linda, gentil e descomplicada. Depois
daquele verão, eu namorei exclusivamente mulheres que nunca
poderiam ser confundidas com Bay. Eu pensei que as bebidas
que eu tinha tomado com Alice dois anos atrás eram um
progresso em superar todos os sentimentos loucos e
complicados que cercavam Bay. Elas não eram.
— Posso entrar? — Ela puxou o lóbulo da orelha, os brincos
tilintando.
Eu dei um passo para trás.
— Claro.
Usando a máquina de café superfaturada, fiz um
cappuccino do jeito que ela gostava e coloquei na mesa, me
movendo para a cadeira em frente a ela. A cadeira deslizou pelo
chão de mármore.
Não nos falávamos há meses, mesmo depois da forma
tranquila como as coisas terminaram entre nós. Estava quase
em silêncio na noite em que ela partiu. Nada de dramáticas
quebras de vidro, gritos e emoções sangrentas. Tinha acabado
e nós dois sabíamos disso.
— Como você tem estado?
Tomei um gole da minha bebida verde, precisando fazer
algo com as mãos. Sentamos em silêncio à mesa como dois
estranhos deixados sozinhos quando o amigo em comum vai ao
banheiro.
— Bem. Ótima, na verdade — Sua xícara tiniu contra o pires
quando ela a colocou na mesa. A estranheza rastejou pelas
paredes, tentando escapar do desconforto da sala. Seu sorriso
era educado, sincero, mas não o que ela tinha para mim quando
eu disse a ela sobre o lugar que encontrei para morarmos depois
da mudança. Ela ainda estava de luvas e casaco, como se
quisesse sair correndo da sala a qualquer momento.
Junte-se à festa.
Foi sempre tão estranho com uma ex? Não que não fosse
muito estranho ficar preso em um quarto com Bay, mas sempre
houve uma familiaridade com Bay, mesmo quando ela estava
ameaçando me alimentar com minhas bolas.
Alice e eu estávamos juntos há quase dezoito meses. Agora,
três meses depois que tudo desmoronou, parecia que não nos
víamos há anos. Sentado em frente a ela, parecia que nunca
tínhamos sido mais do que conhecidos.
— Como você tem estado? Eu ouvi mais sobre as
negociações comerciais girando por aí.
— Eu estava no telefone com Ernie há pouco. Estamos
conversando, mas nada definitivo ainda — A torneira pingou.
Por que ela apareceu depois de meses do nada? Meu estômago
deu um nó com o pensamento de que ela poderia querer voltar.
Nós não tínhamos sido certos um para o outro. Nada tinha me
mostrado isso mais do que sua partida quase sem impacto na
minha vida. Ela merecia mais do que alguém que pudesse vê-la
ir embora e não cortar-se ao meio.
Agarrei-me a algo, qualquer coisa para falar. Como seu novo
namorado, um grande receptor de Nova York.
— Mac também está em negociações comerciais, certo?
Suas mãos estremeceram e algumas gotas de sua bebida
caíram na mesa de castanha.
— Desculpe — Ela pulou e pegou uma toalha de papel e
uma esponja antes de voltar para a mesa. Tirando as luvas, ela
passou a esponja sobre o local e limpou atrás com a toalha de
papel antes de depositar as duas de volta na cozinha — Ele está.
O prazo é de alguns meses, então eles estão tentando acertar
tudo agora.
O modo de limpeza era sua escolha quando ela estava
evitando um tópico. Ela sempre começava com a geladeira,
meu armário, depois o dela. Você pega os pequenos tiques
depois de estar com alguém por um tempo.
— Você pode me dizer, Alice.
Ela congelou com a mão no armário escondendo a lata de
lixo. A porta se fechou, sussurrando em silêncio. Não havia
portas batendo aqui. Tudo era abafado, mudo, moderado, das
cores, aos móveis e à acústica. Era tudo clássico e atemporal, e
eu ainda tinha medo de derramar coisas nos sofás.
Suas costas se endireitaram e ela se virou, caminhando em
minha direção com olhos brilhantes.
— Eu sei que não faz muito tempo desde que terminamos.
Eu não queria que você descobrisse por mais ninguém.
Ela soltou as mãos que estava apertando na frente dela. Um
diamante brilhante estava em seu dedo anelar. Ele rivalizava
com o tamanho do que eu dei a ela.
Eu levei um momento. Eu não tentei me forçar a sentir
nada. Verifiquei cada emoção que passava pela minha cabeça
sem tentar sentir nada específico.
De pé, levantei a mão dela e verifiquei o anel.
Sua mão tremia e eu a cobri com a minha.
— Estou feliz por vocês dois.
Ela soltou uma risada aguda e enxugou os olhos com as
costas da mão livre.
— Está? Eu sei que é muito cedo e eu sei que é uma loucura.
Eu nunca… — Seus olhos se encheram de absoluta convicção
— Eu nunca te trai. Eu nunca pensei em mais ninguém quando
estávamos juntos.
— Eu sei — Alice não faria isso. Ela era tudo que qualquer
cara poderia querer em uma namorada, ou em uma esposa. Só
não para mim. Infelizmente, seu coração estava totalmente em
nosso relacionamento, e eu pensei que o meu também estava.
Não estava. — Não se preocupe comigo. Estou feliz por você.
Eu vi as fotos. Vocês dois parecem o ajuste perfeito.
— É uma loucura a rapidez com que tudo acaba — Ela
soltou uma risada irônica, seus olhos brilhando com descrença
e alegria pura — Em um minuto estávamos na gala da
Headstrong Foundation e depois passamos três semanas juntos
sem parar. Eu me mudei naquele mês.
— Às vezes, quando você sabe, você sabe. — Eu provei as
palavras na minha língua. Não havia uma pitada de amargura
ou a mordida acre de tristeza e arrependimento, apenas
felicidade por ter encontrado alguém que poderia dar a ela o
que ela merecia.
Foi quando a tristeza bateu como um baque no centro do
meu peito, tentando atravessar meu esterno.
Alice deslizou sua mão da minha e passou os braços em volta
de mim.
— Espero que você a encontre novamente.
— Quem? — Meus músculos ficaram rígidos. Eu nunca
tinha falado com ela sobre Bay. Eu nunca tinha falado com
ninguém além de Knox sobre ela. Nem mesmo para LJ, Berk,
Reece e Nix. Em todas as pesquisas que os tabloides fizeram ao
longo dos anos sobre ela, além de alguns fatos rápidos sobre nós
dois frequentando a mesma escola e a coincidência de sua
primeira apresentação ter sido em uma das muitas brigas no
início da minha carreira, não havia nenhum vínculo entre nós.
Alice deixou cair os braços e segurou minha bochecha.
— A mulher com quem você sempre desejou estar quando
estava comigo.
— Eu...
Não havia dor em seus olhos. Tristeza com a dica do que
poderia ter sido, mas não dor.
— Você não precisa dizer nada. Eu só quero que você seja
feliz. Você se esforçou tanto para me dar todas as coisas que eu
queria, mas você precisa abrir espaço para as coisas que você
quer e merece também.
Minha garganta se apertou, fechando, então falar era
impossível.
Ela olhou para mim com aqueles olhos azuis claros cheios de
carinho e preocupação. Gentilmente inclinando minha cabeça,
ela pressionou seus lábios contra minha bochecha e me
abraçou. A lã de seu casaco arranhou meu queixo.
Eu envolvi meus braços firmemente em torno de suas
costas. Eu depositei tantas esperanças em nosso
relacionamento, e agora eu vi o quão injusto tinha sido com ela.
Ela não merecia ser meu campo de provas para saber se eu era
ou não capaz de mudar, mas ela não veio aqui pronta para me
dar um soco na mandíbula, mesmo depois que eu cancelei
nosso noivado.
— Obrigado, Alice.
— Não, obrigada. Sem você, Mac e eu não teríamos nos
conhecido. Acho que isso nos deixa quites — Havia um brilho
em seus olhos, mas seu sorriso era ofuscante.
Limpei a garganta, realmente feliz por ela. Eu tive esse
sentimento uma ou duas vezes, mas não foi o suficiente. Eu
esperava que fosse para ela.
— Quando é o casamento?
Ela enfiou as luvas no bolso.
— No final da temporada.
— Recebo um convite?
Seus sapatos arranharam o chão.
— Se você quiser um, é claro.
Nós nos despedimos com outro abraço, e então eu estava de
volta ao meu apartamento tranquilo, completamente sozinho.
Por muito tempo o silêncio tinha sido um conforto, um
refúgio. Isso significava a certeza de que o perigo não estava à
espreita ao virar da esquina, pronto para cuspir fogo e me deixar
uma bagunça carbonizada.
Eu fui aquele dragão por um tempo. Quando me sentei no
apartamento vazio do acampamento de treinamento que
destruí, com a guitarra de Bay na mão, percebi no que me
tornei. Eu percebi isso, mas não podia fazer nada para detê-lo.
A espiral continuou por mais tempo do que deveria.
O iminente show do Without Grey estava trazendo à tona
todas aquelas memórias antigas. Meu apartamento não parecia
um refúgio – estava para um esconderijo ou um lugar onde eu
tinha sido banido.
Depois de morar com os caras durante a faculdade, com
Knox depois que nos tornamos profissionais, e depois ir morar
com Alice, uma casa vazia não me deixava mais à vontade. Era
um lembrete de tudo que eu tinha perdido.
Agora parecia oco.
A iluminação varreu o palco.
Without Grey começou a segunda música antes do final do
show.
Holden entrou na minha frente, tentando manter meu
olhar através do mar de pessoas da minha equipe e correndo
pelos bastidores.
— Duas músicas esta noite. A primeira será Back Steps, a
segunda será selecionada desta lista por um vencedor do leilão
de caridade.
Uma mão desceu pela parte de trás do meu vestido. A
maioria das pessoas não estavam acostumadas com mãos sendo
enfiadas em suas roupas atrás de um palco escuro, mas depois
de todo esse tempo, mal foi registrado no meu estranho radar.
Mãos estavam no meu cabelo e alguém retocou minha
maquiagem. Eu levantei um pé e tiras foram presas em volta dos
meus tornozelos. Eu odiava esses sapatos.
Um monitor intra-auricular foi instalado. Eu o ajustei,
pressionando-o ainda mais. A música dos instrumentos no
palco fluía pelo fone de ouvido sem nenhum atraso ou ruído
da multidão. Fechei os olhos e respirei. Uma calma fluiu sobre
mim, até que fui arrancada dela por uma agulha enfiada no
meu lado.
Eu respirei fundo, mas contive meu grito.
— Desculpe, uma de suas lantejoulas se desfez — Emily
apertou duas agulhas e uma linha na mão.
Fechei os olhos novamente, tentando me concentrar.
— Bay, você pode abrir os olhos? Eu preciso que você olhe
para cima, para que eu possa terminar seus olhos.
Soltei um suspiro agudo e fiz o que me foi dito.
— Quando o bis terminar, eles estão pedindo fotos com o
vencedor da caridade. Você pode dizer não, não faz parte do
pacote, mas quero saber o que devo dizer se eles perguntarem
— Holden estava ao meu lado com o brilho do tablet
iluminando seu rosto.
— Qual é a caridade?
As pinceladas finais, mechas de cabelo e consertos de
vestidos terminaram e não estava sendo a primeira vez que eu
era tocada no que pareceram horas. Ser o centro das atenções
nem sempre era bom.
Ele verificou seu tablet.
— É uma instituição de caridade focada em crianças em
situações de abuso doméstico. Eles doaram mais…
— Claro. Quanto tempo a agenda permitirá esta noite?
— Este é o último evento desta noite, mas temos a sessão de
fotos às nove da manhã amanhã, o que significa que você
precisa do café da manhã às cinco para fazer o treino e depois
para o cabelo e a maquiagem.
— Não podemos ir com um look recém-saído da cama? Isso
está na moda, certo? — Ter tantas pessoas ao meu redor parecia
claustrofóbico, sem mencionar ser costurada em roupas ou
presa por prendedores de roupas de metal gigantes para ficar
perfeitamente ajustado. Às vezes eu só queria usar calças de
moletom, pentear meu cabelo com os dedos e comer Cheetos
por uma maldita semana inteira e não ouvir uma palavra de
ninguém sobre isso. O mais próximo que cheguei disso foi nos
dois dias em que minha menstruação chegou e eu senti que
meus órgãos internos estavam sendo arrancados, mas nas noites
de shows eu tinha que jogar a garrafa de água quente às quatro
da tarde e aguentar firme no palco.
— Você é hilária! — Sua resposta foi inexpressiva e plana.
Eu ri.
— A única coisa que torna isso tolerável é saber que você
tem que acordar ainda mais cedo do que eu para me deixar lá a
tempo.
Ele resmungou baixinho.
Eu coloquei minha mão em volta da minha orelha, quase
batendo no rosto do maquiador de hoje à noite.
— Desculpe, eu não ouvi isso.
Ele limpou a garganta e se inclinou para mais perto.
— Eu disse que você não me paga o suficiente.
— Você não estava reclamando quando estava bebendo
aquele champanhe que alguém me enviou ontem à noite.
— Me manter embriagado é uma maneira de me manter
feliz — Ele deu de ombros e rabiscou no tablet com sua caneta.
Meus pés latejavam. Meu dedinho do pé gritou comigo
sobre os lindos sapatos de sola vermelha cobertos de cristais
brilhantes que me fizeram pelo menos quinze centímetros mais
alta. Até eu poderia admitir que eles pareciam estelares.
— Você está bem hoje? — Holden me olhou. Todos eles
olhavam.
— Estou bem. Eu me sinto bem. Não é nem meu show.
Duas músicas — Eu levantei um joelho e depois o outro, me
animando. Eles não estavam aqui para me ver. Eles estavam
aqui para ver Without Grey. Meia hora e eu estaria de volta no
carro, depois de volta ao meu hotel onde eu poderia dormir.
No palco, as varreduras das luzes e estroboscópios
terminaram na última nota quando todos os caras pularam
como um só.
Camden pegou a garrafa de água e a toalha entregues a ele
por um roadie que correu para o palco. Ele colocou o
microfone de volta no suporte do e engoliu a água. Ele arrastou
a toalha pelo rosto e em volta do pescoço.
Durante meus shows, eu literalmente tinha que ficar na
frente de um ventilador industrial nos bastidores entre os
intervalos das músicas. Se eu tocasse meu rosto, pareceria um
palhaço demente do espaço sideral.
— Teste. Você pode ouvir tudo bem? — Uma voz
desencarnada falou através do meu fone de ouvido.
Meu estômago deu cambalhotas em saltos mortais. Meus
dedos ficaram dormentes. Um dos roadies enfiou um
microfone na minha mão.
— Sim, eu posso ouvir tudo.
— Os níveis estão bons? — A voz metálica do engenheiro
de som perfurou meu ouvido.
— Se você pudesse reduzir os agudos em um fio de cabelo,
seria ótimo.
— Temos um presente muito especial para você, Philly. Nós
a conhecemos há mais de uma década. Ela tocou guitarra em
Burnout no álbum Hometown Whispers.
Um murmúrio percorreu a multidão.
Talvez desta vez – não. Holden estava lá com uma lata de
lixo.
Emily segurou meu cabelo.
Enterrei minha cabeça na lata de lixo. A pouca comida que
eu devorei no jantar no passeio de carro voltou.
Uma toalha foi colocada na frente do meu rosto depois que
a torção parou. Eu esfreguei minha boca. Holden me entregou
uma garrafa de água com a tampa já aberta. Eu gargarejei um
pouco e cuspi na lata de lixo. Ele o entregou e todo mundo
mergulhou de volta na minha frente.
Emily estendeu uma tira que se dissolvia para o hálito.
Eu deslizei na minha língua. O sabor de menta avassalador
estava mordendo.
— Me desculpe por isso. Achei que estava bem esta noite.
— Está bem. Eu me certifiquei de que ela só contornasse
lábios — Ela riu.
Parecia que todo mundo tinha previsto isso, menos eu.
— Então esta noite, porque vocês são a melhor audiência da
porra do mundo. Nós temos… — Camden estendeu o braço
em direção ao meu lugar no backstage do palco.
Eu coloquei meu sorriso e passei pela minha equipe, me
apressando para fazer minha entrada. Os pelos da minha nuca
se arrepiaram, não como antes dos meus shows, mas como eles
faziam…
Meu olhar colidiu com o dele na beira do palco. Ele parecia
tão diferente, mas tão igual que era como uma lança ao meu
lado. Seis anos. Faziam seis anos desde a noite em que eu disse a
ele que o amava novamente e fui embora. Seis anos desde o dia
em que o violão do meu pai acabou no meu colo no ônibus da
turnê passando por Illinois a caminho de O"Hare. O que Dare
tinha tirado de mim. Aquele que Keyton havia devolvido. E seis
anos desde que eu lhe enviei a mensagem esperando vê-lo
novamente e ele me ignorou.
Quem era ele agora? Dare ou Keyton? Ou alguém novo
sendo todos juntos?
— Bay!
Eu vacilei. Meu calcanhar ficou preso em um dos cabos
colados que atravessavam o palco.
Suas mãos dispararam, mas eu me segurei e transformei isso
em uma corrida no palco, mesmo quando meus dedos dos pés
gritavam seu desagrado.
Eu levantei meu braço acima da minha cabeça e acenei para
o mar de pessoas que enchiam o estádio.
— Olá, Philly. Vocês não se importam que eu invada a festa?
— Meu estômago deu um nó e olhei por cima do ombro.
Nas sombras ao lado do palco, ele estava uma cabeça acima
de todos os outros. Seus ombros estavam ainda mais largos do
que antes. Uma carreira profissional no futebol faria isso com
você.
Sua noiva estava com ele esta noite? As fotos estavam
espalhadas por todos os mesmos sites que eu estava logo após o
Grammy. Aquele tinha sido um dia para curar a tristeza com
sorvete de brownie com pedaços de chocolate duplo. Mas ele
parecia feliz. Eles olhavam nos olhos um do outro e ela
mostrava o anel ofuscante, descansando a mão no peito dele.
Eu tinha subido ao palco durante aquela primeira turnê
com o Without Grey precisando que valesse o que eu perdi,
mas as dúvidas que eu mantive trancadas em um cofre que
fechei seis anos antes bateram mais forte no metal tornando
mais difícil ouvir meus próprios pensamentos.
A voz de Camden me tirou do turbilhão de memórias.
— Você planeja tocar violão esta noite? — Ele se virou e
acenou para um roadie.
O palco vibrou sob meus pés com os aplausos da multidão.
Meus lábios se separaram e eu olhei para o lindo violão
Martin pendurado em seu ombro e que estava nas mãos do
roadie antes de olhar para as minhas mãos. Eu balancei minha
cabeça e ri.
— Isso parece unhas de tocar violão?
Amanhã eu estaria fotografando para uma campanha de
perfume, e a manutenção das unhas estava no contrato. Isso
também significava que eu não tinha tocado por algumas
semanas. Parecia uma eternidade. Eu teria que descobrir
quando seria o próximo intervalo. Talvez eu pudesse tirá-las, se
eu tivesse mais de um dia ou dois para mim.
— Elas se parecem mais com unhas de super vilões.
Lancei-lhe um olhar ferozmente brincalhão, esfregando-as
contra o meu queixo.
— Tenho meus momentos. Agora vamos tocar algo para
seus fãs incríveis que vieram aqui esta noite.
Alguns gritos irromperam da multidão. “Eu te amo, Bay.”
"Eu amo seu cabelo."
Eu acenei novamente e joguei um cabelo para completar.
Todos os olhos em mim tornavam difícil me concentrar
quando eu não estava cantando.
— Algum pedido? — Camden gritou para todo o estádio
com os braços abertos.
As pessoas gritavam cada música em cada álbum que
lançamos. E todas as músicas da lista pré-aprovada fornecida
por Holden. Eu mantive meu olhar no mar de pessoas na
minha frente e o sorriso no meu rosto.
Mas eu senti seus olhos em mim, o calor sempre presente
dele descascando camadas de mim que eu não pensei que
pudessem ser reveladas, aqui na frente de uma multidão.
Without Grey chegou a um consenso, que por acaso era a
música já designada. Engraçado como isso funcionou. Eu
entendi. Mesmo depois de apenas três álbuns, era mais difícil
lembrar os cortes mais profundos de álbuns específicos se eu
não os cantasse há algum tempo.
A banda comemorou a escolha da música, chamando um
dos gritos mais altos da multidão para o palco.
Arriscando um olhar, espiei nas alas. Ele estava com os
vencedores do leilão em um terno sob medida. Para alguém
com seu físico, comprar algo direto na loja era impossível, a
menos que ele quisesse parecer que estava prestes a fazer o
Hulk.
Ele não tinha mudado muito. Ele estava mais velho, mais
distinto. O valentão do colegial e o musculoso da faculdade se
transformaram em um adulto robusto. O rosto bem barbeado
acentuava sua mandíbula e o pescoço forte emoldurado por
um colarinho azul marinho.
Ele sentiu minha falta?
Uma dor ricocheteou em meu peito. Mas ele estava noivo
agora, prestes a se casar. Quando seria o casamento? Já tinha
acontecido? Eu prometi a mim mesma que não olharia para
outro site de fofocas pelo resto da minha vida depois de ver as
notícias do noivado.
Me voltei para o mar de sombras de pessoas com as telas de
seus telefones iluminadas como um campo de vaga-lumes. Meu
estômago se encheu com a leveza e vibração que me atingia toda
vez que eu subia no palco, mesmo bem depois de vomitar. Este
foi o momento em que eu cantei as músicas que foram
cantaroladas durante as madrugadas em um estúdio ou por
horas no meu ônibus de turnê. Ter as palavras ganhando vida
foi o que fez tudo valer a pena.
Mas saber que aqueles telefones vaga-lumes por aí tinham
pessoas ligadas a eles trouxe o nervosismo de volta. Segurei o
microfone com força e fechei os olhos, concentrando-me na
letra, na história que precisava ser contada, embora eu já a
tivesse contado milhares de vezes.
Austin contou a batida com suas baquetas e nos lançamos
no Sweetest Goodbye. Foi uma colaboração que fizemos no meu
primeiro álbum, que me ajudou a subir nas paradas.
A cada poucos compassos, eu não podia deixar de ver se ele
ainda estava lá.
Os vencedores do leilão dançavam e batiam palmas,
acenando com os braços.
Ele ficou ao lado deles como uma babá ou guarda-costas
designado, não alguém curtindo o show. Ou talvez ele estivesse,
antes de eu aparecer.
Através dos aplausos e gritos da multidão e das batidas finais
da bateria, Lockwood correu para receber o pedido de música
dos vencedores do leilão, trazendo-os para a frente do palco.
Troquei abraços rápidos com eles enquanto vibravam de
excitação, e olhei para Keyton.
— Nós temos algumas ótimas pessoas aqui esta noite, que
deram uma tonelada de dinheiro para a Fundação Headstrong.
Dê a eles uma grande saudação do Without Grey.
A explosão de som da multidão atingiu meu estômago como
um baixo super modulado. Ninguém jamais poderia dizer que
os fãs do Without Grey não estavam a bordo com a caridade.
Keyton ficou para trás nas alas do palco.
— Adoraríamos ouvir Craving Chaos — A garota de vinte
e poucos anos com seus pais gritou no microfone.
Camden virou-se para o resto da banda e para mim.
— Você acha que podemos fazer isso?
Eu levantei meu microfone.
— Claro que sim.
Outro rugido do estádio cheio de luzes cintilantes de
telefones celulares.
Mergulhamos direto e fechei os olhos para conter esses
nervos, embora fosse mais fácil desta vez porque ele estava aqui
- não apenas na minha cabeça, mas ao vivo e em carne e osso.
Eu pisei na frente do palco depois da segunda música,
engolindo contra o nó preso na minha garganta.
— Como você se sentiria se eu cantasse três hoje à noite?
A multidão gritou, fazendo barulho no palco sob meus pés.
Eu podia ouvir as vozes de todos tentando descobrir o que
eu estava fazendo no meu ouvido. Puxando o monitor, eu sorri
largamente e me virei para Camden com uma mordida no lábio
e um "não me mate".
Os cabelos arrepiaram na parte de trás do meu pescoço. Um
throwback. Do meu primeiro álbum. Geralmente acústico. Sua
canção.
Camden riu e atravessou o palco mergulhando a cabeça,
ainda muito mais alto do que eu em meus saltos.
Eu sussurrei em seu ouvido. Seus olhos se arregalaram antes
de olhar por cima do ombro para as alas e assentir, correndo
para contar ao resto dos caras. Nós tocamos algumas vezes ao
longo dos anos. Mudanças de tecla fáceis, uma melodia básica.
Foi meu primeiro hit número um.
Fechando os olhos, envolvi o microfone com as duas mãos.
O tecido da manga do microfone combinava com a minha
roupa. Holden mandou fazer depois das primeiras cinco vezes
que o microfone voou das minhas palmas suadas.
O acorde de guitarra começou a música e eu abri meus
olhos, olhando para o mar de pessoas. Depois de todo esse
tempo, foram os olhos dele em mim que me fizeram passar por
um show. Não importa o que acontecesse, eu sabia que pelo
menos uma vez houve alguém que me observou como se não
houvesse mais ninguém no mundo.
Eu me agarrei a isso com respirações profundas enquanto
subia em palco após palco vomitando para começar um show.
Lágrimas grudaram em meus cílios, mas eu pisquei elas de
volta. Foi por isso que eu não a toquei mais ao vivo. A sensação
avassaladora do nosso passado colidiu com o meu presente,
tornando difícil respirar. Mas eu precisava que ele ouvisse,
precisava que ele soubesse que eu ainda pensava nele.
Era injusto e estúpido como eu havia sido todos aqueles
anos atrás, com muito medo de ser o centro de seu mundo.
Muito medo de pensar sobre o que poderíamos ter sido.
Ele estava se casando. Se eu pudesse apenas falar com ele e
dizer a ele o quão feliz eu estava por ele ter encontrado seu mar
calmo que eu nunca fui capaz de ser. Então eu poderia fechar a
porta para sempre e saber que ele encontrou sua felicidade.
Encontrou seu amor.
— Obrigada, Philly — Eu sorri e acenei.
Virando-se para as alas, seu ombro desapareceu por trás das
cortinas e eu me encontrei correndo em direção ao espaço agora
vazio e escuro.
Seu grupo foi embora com um cara em um fone de ouvido
os guiando.
A música pegou novamente no palco.
— Da…Keyton! — Meu grito foi abafado pela bateria
cinética de Austin.
— Bay! — Holden correu atrás de mim.
Ficando na ponta dos pés nos saltos como eu tinha feito para
o anúncio da Chanel alguns meses atrás, eu corri atrás dele.
— Keyton! — Sua cabeça inclinou como se ele me ouvisse,
mas ele não parou ou se virou.
Cabeças se viraram em minha direção e eu tive sorte que
alguém não me jogou no chão por fazer tanto barulho.
Alguém segurou uma cortina preta para eles.
Meu coração disparou, batendo contra minhas costelas.
— Keyton!
Ele parou e se virou. As pessoas ao seu redor fazendo o
mesmo com olhares questionadores.
Eu derrapei até parar na frente dele, cambaleando.
Ele não fez nenhum movimento para me impedir de cair de
cara.
Olhando para ele, minha boca parecia seca como lentes de
contato com uma semana de tão secas e velhas. Teria sido bom
se eu tivesse pensado em algo para dizer antes deste segundo.
Merda.
Ela estava na minha frente, seu peito arfando e seus olhos um
pouco frenéticos.
No palco, ela tinha sido hipnotizante, como sempre. No
vestido, com o cabelo e a maquiagem, as diferenças foram
gritantes. Esta versão polida e aperfeiçoada de Bay não se
comparava à garota que comia Goober4 e fez chocolate quente
que roubou meu coração com uma única nota.
— Oi.
A música abafava a maioria das conversas e barulhos nos
bastidores.
Um esquadrão de pessoas estava atrás dela com fones de
ouvido e tablets. Era como se Maddy tivesse se clonado e
enviado uma equipe inteira para cuidar de Bay.
Uma voz estridente irrompeu na batida de três segundos em
que nos encaramos.
— Eu sei que acabei de te ver no palco, mas eu precisava te
dizer o quão grande fã eu sou. E não quero perder minha
chance desta vez — A jovem de 22 anos cujos pais tinham
licitado neste prêmio de leilão se emocionou, agarrando as

4
Marca de pasta de amendoim com chocolate.
mãos de Bay e empurrando-a para frente como se ela não a
tivesse abraçado há menos de dez minutos.
Eu me encolhi com o quão idiota eu provavelmente parecia.
— Gary, Barbara e Bethany. Esta é a Bay. Mas tenho certeza
que vocês já sabiam disso.
Eles já estavam com os telefones tirando fotos.
O olhar de Bay se voltou para eles e eu pude ver a presença
de palco que ela aperfeiçoou ficando ativo. Esse era o rosto que
ela usava durante as horas em que se apresentava, pisando em
tapetes vermelhos e dando autógrafos. Seu sorriso era genuíno
e agradável, mas ainda cauteloso.
Eu sabia tudo sobre viver uma vida onde todos queriam um
pedaço de você.
Depois de uma rodada de fotos e autógrafos usando
marcadores que apareceram na frente dela entregues pela sua
equipe, seu olhar continuou disparando para o meu.
Acenei para o assistente de produção que estava nos
guiando.
— Você pode levá-los para o After Party5? Eu sigo logo atrás.
Meu trio foi guiado para a área da festa nos bastidores,
esticando o pescoço para dar outra olhada.
A música no palco terminou quando o Without Grey
terminou seu segundo bis. Os bastidores se tornaram uma

5
Tipo de festa mais íntima e exclusiva, após um grande evento.
enxurrada de atividades com equipamentos sendo movidos,
estojos abertos e instrumentos guardados.
O manto de barulho ao nosso redor parecia quase silenciado
sem a música que enchia o estádio, que tinha sido tocada
apenas alguns minutos atrás.
Um roadie passou com dois violões em cada mão. Eram
acústicos elétricos, nada parecidos com o que montei na
Califórnia.
Meu coração deu uma tripla batida e eu procurei por
palavras.
— Recebi seu bilhete pelo violão — A última comunicação
dela há seis anos. A nota que eu não fui capaz de responder,
assim como as mensagens de texto e sua última tentativa de
entrar em contato comigo.
Sentado no apartamento escuro, tentando evitar que minha
vida desmoronasse, eu olhei para o violão dela desejando que
estivesse quebrado novamente, desejando não ter colocado
tantas esperanças e sonhos sobre o que significaria quando
finalmente terminasse.
— Eu… eu não posso te dizer o que significava para mim
recuperá-lo.
Em vez de empurrar esses velhos sentimentos para o fundo,
deixei-os tomar conta de mim. Eu não neguei a dor que uma
vez tinha sido tão aguda, eu verifiquei meu corpo para ter
certeza de que não tinha sido esfaqueado sem notar. A raiva e a
tristeza me jogariam em um lugar escuro se eu negasse.
— Fiquei feliz em saber que chegou em segurança em você
— Com um aceno de cabeça, eu me virei.
Sua mão disparou e agarrou meu braço.
A pressão de seus dedos no meu braço, mesmo através da
minha camisa e blazer, deixou o sangue bombando pelas
minhas veias. Apenas aqueles cinco pontos de contato
pareciam a primeira vez que eu era tocado em muito tempo.
Muito tempo desde que meu coração disparou sem nenhum
esforço físico.
— Podemos conversar? Podemos ir a algum lugar e
conversar?
Me deixe ir embora, Bay. Apenas me deixe ir. Parei, mas não
a encarei.
— Vou ser o acompanhante dos vencedores do leilão até a
meia-noite.
Ela ficou na minha frente bloqueando meu caminho.
— Você quer almoçar? Amanhã.
O cara de cabelo despenteado e um blazer sobre a camisa
abotoada deu um passo à frente, limpando a garganta.
— Você está com a agenda cheia das cinco da manhã até às
quatro da tarde de amanhã.
Seus lábios se apertaram antes que ela mostrasse os dentes
em frustração. Olhando para mim, procurando meu rosto,
suplicando com os olhos.
— Café então? Comemos um sanduíche ou algo assim?
Negar algo a ela nunca foi meu forte, mas eu precisava me
manter firme agora.
— Acho que não seria uma boa ideia — O trabalho para
chegar onde cheguei não foi fácil. Houve tanta merda para
percorrer para poder ficar na frente dela. Mas isso era o
suficiente. A temporada começava em alguns dias. O
acampamento de treinamento sempre foi um lembrete dela
que enviou as memórias tocando no meu peito como um sino
há muito abandonado em uma torre.
Ela agarrou meu braço novamente, os olhos implorando.
— Por favor. Um copo de café. É tudo o que estou pedindo.
Eu soltei uma respiração profunda, tentando me manter
nivelado. Sair deve ser fácil. Depois do nosso passado, eu não
deveria pensar duas vezes, mas as coisas nunca foram fáceis
quando se tratava de Bay.
— Posso te encontrar para um café.
Seus ombros caíram e um sorriso se soltou.
— Mesmo?
— Claro, me diga quando e onde — Olhei por cima do
ombro para a rota de fuga pela passarela dos bastidores.
Sua boca se abriu antes que um olhar frenético de pânico
tomasse conta de seu rosto.
— Holden? Café amanhã. Onde podemos fazer isso? — Ela
falou com ele, virando o corpo sem tirar os olhos de mim como
se eu fosse sair correndo pela porta com a placa de saída
brilhante sobre ela.
Ela não estava errada.
Tinha passado pela minha cabeça. Mais do que passou pela
minha cabeça. Ele piscou como um gigantesco outdoor de
néon dizendo: dê o fora daqui.
Holden digitou algumas mensagens em seu telefone antes
de mostrar a ela com seu olhar focado em mim.
— Amanhã às cinco no Executive Lounge do nosso hotel, o
Four Seasons na 19ª Rua. Eles têm um café bar completo e
menu de comida.
Havia uma urgência em sua voz.
— Holden pode…
— Eu sei onde é — Era o meu hotel. O que eu tinha vivido
no ano passado. Meu hotel onde Bay estava hospedada agora, a
apenas alguns andares de distância. Meu coração bateu direto
em minhas costelas, tornando difícil fingir que isso não me
afetou.
— Oh, tudo bem. Excelente — Ela parecia hesitante em me
deixar ir, me observando como se estivesse estudando minhas
expressões faciais para saber se eu apareceria ou não.
— Eu tenho que voltar para meus vencedores do leilão.
Tenha uma boa noite, Bay — Afastando-me com o coração na
garganta, me preparei para não olhar para trás.
Passando pela cortina preta para a área isolada, não pude
evitar. Mal olhando por cima do meu ombro, eu roubei um
olhar para ela.
Um esquadrão de pessoas a cercava, muito parecido com a
primeira vez que a vi nos bastidores em um mar de ternos. E
assim como antes, ela me encontrou através de suas cabeças e
nossos olhares colidiram.
Um vislumbre de um sorriso curvou as bordas de seus
lábios.
Foi tudo o que me deixei ter antes de desaparecer atrás do
manto de tecido indo para o After Party.
Manter os vencedores do leilão entretidos ajudou a ocupar
minha mente, mas meus pensamentos sempre voltavam para
Bay, especialmente enquanto eles estavam tirando fotos com
Without Grey.
Uma mão gentil pousou no meu ombro.
— Olhe para você, você ficou muito muito melhor do que
tem o direito.
Olhei para baixo apenas alguns centímetros pela primeira
vez, devido aos seus saltos de 13 centímetros, observando a
geniosa que fez todos os sonhos de Bay se tornarem realidade.
E a levou para longe de mim.
Essas emoções guerrearam em meu peito.
— Ei, Maddy.
— É bom ver você, Keyton — Ela ficou na ponta dos pés
mesmo quando me abaixei para abraçá-la. Ela beijou minha
bochecha e se encostou no bar dos bastidores
surpreendentemente pouco povoado, onde eu pedi ao barman
uma garrafa e alguns copos — Você viu o show? — Seu olhar
foi para a porta com cortinas pretas.
— Eu a vi.
Parte da tensão evaporou de sua pose.
— Você viu?
— Eu vi. Vamos tomar café amanhã.
— Isso é ótimo. Incrível — Seu sorriso iluminou como um
sinal de néon antes de escurecer um pouco. Ela ficou mais reta,
alisando as mãos em um olhar mais relaxado do que ela usava
da última vez que a vi — Eu sei de coisas… eu sei que as coisas
entre vocês dois ficaram… mal resolvidas.
— Acho que a carta dela veio em alto e bom som — Como
uma bala de canhão no peito.
— Ela… — Maddy apertou os lábios — Deixa pra lá — Ela
exalou no que soou como um fantasma de uma risada como se
alguma piada interna que eu não estava a par tivesse sido
contada — É para vocês dois descobrirem. Se há uma coisa que
aprendi, é que ninguém pode forçar duas pessoas a resolver seu
passado antes de estarem prontas — Um barman colocou a
garrafa de champanhe em um balde no bar. Minhas
companhias haviam retornado de sua sessão de fotos.
— Onde estão seus lugares? — Maddy levou os copos de
volta para a mesa e abriu a rolha do champanhe como se
estivesse abrindo uma tampa de refrigerante.
— Estávamos do outro lado das alas. Eu vi você falando em
seu telefone e rabiscando em seu tablet o tempo todo.
— Se eu vi um show, eu vi todos. Depois de ter certeza de
que todos estão no palco e aptos a tocar, é hora de apagar o
próximo incêndio.
Apresentando-se, ela encheu os copos, e eu os deslizei sobre
a mesa para minhas companhias para a noite.
— Espero que eles estejam pagando bem.
— Eles estão me pagando o suficiente — O canto de seus
lábios se contraiu — E você, Sr. Estrela do Campeonato
Nacional amuleto de boa sorte? Eu sinto que deveria ter os
caras esfregando sua cabeça enquanto encerramos esta turnê e
começamos o álbum.
— Vocês estão gravando aqui? — Interações de passagem
com Maddy eram boas. Ela nunca tinha feito nada comigo
pessoalmente, além de realizar todos os sonhos de Bay. Às vezes
era difícil não sentir como se ela a tivesse roubado de mim, o
que era uma coisa fodida de se pensar. Mas Maddy tinha um
jeito de entrelaçar minha vida com a de Bay. Embora ela não
fosse a empresária de Bay, ela ainda parecia envolvida na vida
dela, o que significava que ela estar mais na cidade era uma
possibilidade.
Sair parecia uma ideia melhor a cada dia. Não estava fugindo
do meu passado se eu voasse, certo?
— Sim. Tem sido uma cidade mágica para todos nós.
Depois do pesadelo do último álbum, pensei que ninguém
gostaria de estar aqui, mas acabou sendo o melhor para todos
nós, então aqui estamos — Seu olhar melancólico se
transformou em um um pouco mais afiado — Quais são seus
planos? Movendo-se para pastagens mais verdes? Pegando
outro campeonato para a cidade?
— Você está querendo me vender para os paparazzi? — Dei-
lhe um empurrão brincalhão.
— Não, a menos que você queira. — Ela piscou. Seu
telefone saltou sobre a mesa, a tela piscando. Ela bebeu o resto
de sua bebida — O dever chama. Tenha uma boa noite, Keyton
— Ela me deu um beijo na bochecha e correu em direção aos
caras com fones de ouvido e pranchetas vindo em sua direção.
Depois de mais alguns minutos com meus vencedores do
leilão, minha assistente, Gwen, apareceu para coordenar todos
os presentes de despedida que eles ganharam.
Logo depois da meia-noite, como Cinderela saindo do baile,
eu os coloquei no SUV preto voltando para o hotel.
— A Headstrong Foundation precisa de você para duas
sessões de fotos para sua campanha anual de doação. Posso
espremer as duas depois do primeiro jogo da temporada. Ernie
me enviou seu itinerário para as reuniões com Wisconsin, então
as passagens estão no seu telefone.
— Tenho alguma coisa amanhã?
— Não muito. A Adidas queria agendar uma ligação, então
eu coloquei na sua agenda para quatro.
Seria a desculpa perfeita. Gwen poderia ligar e avisar Holden
que minha ligação não havia terminado e eu não poderia ir. A
maneira perfeita de me esconder, infelizmente eu não estava
mais fazendo isso.
— Veja se você pode movê-la para o meio-dia. Tenho uma
reunião às cinco.
Seu olhar voltou para seu tablet.
— Que reunião? Eu não tenho uma reunião aqui.
Eu ri à beira do pânico rastejando em sua voz.
— É uma reunião pessoal.
— Ah… ah! — Seus olhos se iluminaram — Pessoal, como
um encontro.
— Não é um encontro.
Meu carro parou na doca de carga atrás do palco, onde as
malas de viagem de equipamentos estavam sendo carregadas
em semirreboques. Abri minha porta e ela abriu a porta do lado
do passageiro da frente e entrou.
Eu me inclinei para frente.
— Você sabe que eu me sinto um idiota quando você me faz
sentar aqui sozinho.
— Mantendo as coisas profissionais, chefe — ela gritou da
frente.
— Você simplesmente odeia quando estou olhando para o
seu tablet enquanto você move tudo na minha vida como peças
de xadrez.
— Você é muito intrometido.
— Essa é a minha vida — Olhei entre os bancos da frente.
Ela segurou o tablet contra o peito.
— E você não precisa saber sobre todos os soluços que
surgem ao longo do caminho enquanto eu mantenho tudo
funcionando como deveria.
Olhando por cima do ombro, seus olhos se estreitaram.
— E eu quero jogar isso lá fora – eu fico horrível de jaqueta
com isolamento até o chão com pelo falso ao redor do capuz.
Meus lábios também são propensos a secar e rachar quando as
temperaturas caem abaixo de -15 graus.
— Vejo que Ernie pegou você também — Ficar à margem
ano após ano havia acumulado uma frustração insuperável de
assistir meu time jogar e me sentir responsável pelo que
aconteceu em campo, mas não poder fazer nada para consertar
isso. A maioria das pessoas me diria para calar a boca e pegar o
dinheiro, mas eu queria – precisava – provar o que tinha em
mim para ajudar meu time com mais do que gritar
encorajamento do banco.
— Só estou jogando no ar. Caso você queira saber.
Nós ficamos em silêncio o resto do caminho até o meu
apartamento. Eu sozinho com meus pensamentos, que
voltaram para Bay. Levou alguns meses para suas mensagens se
esgotarem uma vez que ela me deixou em Los Angeles depois
da primeira dizendo que ela poderia voltar. Foram meses
sombrios. E quando ela apareceu no loft que Knox e eu
dividíamos em LA quase um ano depois, eu sentei com as
costas contra a parede ao lado da porta da frente bebendo uma
garrafa de whisky com o zumbido do interfone e sua voz do
outro lado, sendo abafado pelo pânico em meu peito.
Mas amanhã eu a veria novamente. Entrei pela entrada dos
residentes, não pela do hotel, onde poderia dar de cara com Bay.
No meu apartamento, peguei uma garrafa de água e olhei
para as luzes brilhantes da cidade. Eu tinha tantas visões
diferentes de onde quer que eu estivesse. Na estrada, nos meus
apartamentos, no campo de um estádio. Minha visão agora era
diferente de LA. Estava mais perto de Charlotte. Não havia
arranha-céus maciços até onde a vista alcançava. O prata do
Liberty One refletia meu prédio de volta para mim.
Estar de volta à cidade foi como voltar para um velho amigo,
e eu não tinha muitos deles, apenas o suficiente para contar nos
dedos de uma mão. Philly foi um dos primeiros lugares em que
me senti seguro depois de deixar Greenwood. O primeiro lugar
em que senti que tinha uma chance de escapar do meu passado.
Era apropriado que este fosse o lugar onde ela reapareceria.
Era hora de finalmente percorrer as águas turvas do meu
passado e encontrar uma pomada para aquelas velhas feridas
que eu não podia fingir que estavam curadas há muito tempo.
O barulho da multidão saindo do show encheu o ar pegajoso
da noite. Um SUV preto com vidros escuros estava parado do
lado de fora da entrada dos artistas para a arena. Entrei no carro
e encontrei meu assento habitual na fileira do meio atrás do
motorista. Isso significava que todo mundo poderia falar ao
meu redor sobre planos sem que eu atrapalhasse.
Saímos para o hotel e fiquei olhando pelas janelas escuras. A
expectativa para o meu café com Keyton amanhã tornou
impossível focar no que quer que Holden estivesse falando. As
pessoas entravam e saíam dos bares, espalhando-se pela calçada,
rindo e cantando com os amigos. Eles sorriam, corriam,
brincavam como as pessoas em seus vinte e poucos anos
deveriam fazer antes que toda a verdadeira seriedade da vida
descesse sobre eles. Coisas como relacionamentos reais, filhos,
casamento.
Keyton estava se casando. Não havia um anel em seu dedo.
O casamento ainda não tinha acontecido. Não que isso
importasse de qualquer maneira. Mas eu ainda queria falar com
ele, e talvez finalmente dar as respostas que ele merecia.
As respostas que eu devia a ele.
No hotel, fui empurrada pela entrada da garagem.
Holden passou a chave e apertou o botão da cobertura no
elevador. Ele disparou, estalando meus ouvidos todo o
caminho.
A suíte era muito parecida com qualquer outra na estrada,
juntando-se ao borrão de camas transbordando de travesseiros,
refeições de serviço de quarto e pesadas portas de segurança que
sempre me faziam pular sempre que se fechavam.
— Boa noite, Bay. O serviço de quarto estará aqui às cinco,
então não fique acordada até tarde assistindo Caçadores de
Casas porque isso é apenas — ele empurrou a manga do blazer
e olhou para o relógio — daqui a seis horas.
— Claro que não vou — Eu pressionei contra a porta,
fechando-a lentamente com minha bochecha contra a madeira
— Vou direto para a cama.
Ele olhou pela fresta da porta.
— Você é uma mentirosa. Vou adicionar um expresso ao seu
pedido de café da manhã.
O silêncio da sala era ensurdecedor. Todas as conversas,
pings e telefones vibrantes desapareceram, e eu fiquei sozinha
com o zumbido suave do aquecedor. Minhas pernas quase
cederam e eu caí contra a parede. Eu o tinha visto. Depois de
todo esse tempo, eu o tinha visto pessoalmente.
Amanhã poderíamos conversar. Endireitando-me, entrei
mais fundo na sala.
Vozes abafadas eram um sussurro através da minha porta.
Elas foram silenciadas completamente no momento em que me
encostei na cadeira de encosto alto na sala de estar. Meus dedos
doloridos afundaram no tapete macio, libertados por um curto
período de sua prisão suada.
Mancando pela mesa de café com vasos de flores e cartões de
fãs e admiradores, peguei os lanches do meu estoque e levei as
batatas fritas mornas da bandeja do serviço de quarto comigo.
Eu me troquei enquanto tentava pensar no meu grande
discurso para amanhã.
Repassei como seria, como uma rotina de dança que os
pobres coreógrafos me ensinaram.
Eu me joguei na cama, e o nó do meu roupão cavou em meu
estômago vazio.
Rasgando o saco de Cheetos, derrubei alguns no edredom
branco. Eu limpei a poeira laranja neon e afundei no colchão
extra macio na nuvem de travesseiro, cercada por travesseiros
extras como se eu tivesse construído um forte. Não era nada
como as camas em que Keyton e eu nos aconchegamos. A cama
no meu quarto em Greenwood era uma básica da Ikea. Nós
dois mal cabíamos na do meu apartamento na Califórnia. Às
vezes, nessas camas, eu sentia que poderia me perder para
sempre e ninguém me encontraria.
Peguei o controle remoto e puxei meus pés para cima,
massageando-os, e folheei o programa de streaming que
Holden tinha instalado no meu quarto e a música de abertura
reveladora. Caçadores de Casas.
Com um salto da cama, eu joguei o saco de Cheetos acabado
na lata de lixo no canto. Eu tinha ficado muito boa no basquete
de quarto.
— Deixe-me adivinhar, você cultiva jardins de borboletas e
seu marido estuda ciência de unicórnios e seu orçamento é de
US $ 2,5 milhões de dólares — A distração bem-vinda do
programa de televisão mundano ajudou a me acalmar depois da
adrenalina de me apresentar e depois ser pega de surpresa por
Keyton.
O casal na televisão falou de algumas carreiras ridículas, mas
seu orçamento era de apenas 1 milhão de dólares, só podiam
estar brincando com a minha cara.
Este casal estava se estabelecendo e comprando um lugar.
Criando raízes e constituindo uma família. Às vezes eles já
tinham famílias. Os últimos seis anos passaram tão rápido.
Alguns dias eu tinha certeza de que acordaria com uma ressaca
assassina da noite em que cantei no karaokê, e tudo teria sido
um sonho. Keyton viria à minha porta, e as coisas seriam
diferentes de alguma forma.
Mas na maioria das manhãs eu acordava em uma cama que
não era minha, e alguém tinha que escrever o nome da cidade
em um pedaço de fita aos meus pés no palco para que eu não
falasse errado.
Nenhum lugar era minha casa.
Visitar minha mãe na casa dela na Califórnia era o mais
próximo que eu tinha de uma casa, mas não era aquela em que
morávamos com meu pai, e não era a nossa casa em
Greenwood. Eu me sentia constantemente fora dos eixos.
Mas amanhã eu veria Keyton. Eu segurei isso enquanto me
aconchegava mais fundo no meu forte de cobertores. Cinco
travesseiros extras e dois edredons sempre foi meu pedido
especial. Considerando o que geralmente as divas exigiam, não
foi muito extremo. Eu não tinha pedido que eles pintassem o
quarto em cada suíte que eu fiquei como eu tinha ouvido que
algumas pessoas faziam.
Depois de episódios suficientes para saber que eu me odiaria
pela manhã, apaguei as luzes e abracei um travesseiro no peito,
enterrando meu rosto nele. Linho prensado limpo. Não era o
perfume que eu mais sentia falta. Não era o perfume que ele
usava como se estivesse costurado em seu DNA. Não era o
cheiro que eu tinha perdido.

Cultivei o talento de me sentar ereta enquanto cochilava, o que


significava que poderia fazê-lo enquanto uma equipe de
pessoas trabalhava no meu rosto para me preparar para a
câmera. Às vezes eu esquecia como era estar em público como
eu.
A maquiagem havia sumido agora, tirada após a aparição e
as fotos de marketing para a próxima turnê. Meu rosto ardia
com o removedor de maquiagem e a lavagem extra que foi
necessária para chegar no café na hora.
Eu estive preocupada o dia todo.
Mas aqui estava eu finalmente, no salão executivo do hotel.
Não é exatamente o lugar mais quente e confuso para se
conhecer. Estava frio, como se empresários sobrecarregados
com laptops zunindo pudessem superaquecer o lugar – ou
talvez eles não quisessem que ninguém ficasse por mais tempo
do que o necessário para tomar o lanche e o café de cortesia.
Eu apertei minhas mãos entre meus joelhos, balançando no
meu assento e tentando não parecer que estava pronta para sair
da minha pele. De sapatilhas, calças pretas e um suéter preto de
manga curta, parecia mais que estava indo para uma entrevista
de contabilidade do que para encontrar Keyton. Não havia
nenhuma boa recomendação de guarda-roupa para “primeiro
encontro de verdade com o único cara que você já amou e que você
abandonou antes de tropeçar no estrelato”.
Sentar em uma das oito mesas de dois lugares no salão não
era exatamente escondido, mas minhas opções eram limitadas.
Meu nariz ainda queimava da sessão de perfume.
Aparentemente, despejar galões de perfume pungente ao redor
do set aumentaria o ambiente. Uma coisa que definitivamente
aumentou foi meus espirros e olhos lacrimejantes.
Eles teriam sorte se conseguissem vinte boas fotos nas
quatro horas de filmagem.
Toda vez que a porta do salão de negócios se abria, meu
coração disparava. O salão executivo no vigésimo andar não era
nada fora do comum, mas era tranquilo, com decoração suave
e música de piano suave. Calmo e pouco povoado.
Holden e Emily estavam sentados em uma mesa do outro
lado da sala, perto da porta, prontos para interceptar qualquer
um que pudesse ter ouvido que eu estava aqui e passar pela
segurança. Suas cabeças estavam juntas sobre seus tablets,
telefones, portfólios em couro, canetas e marcadores,
orquestrando minha vida.
A parte europeia da minha turnê começaria em pouco mais
de dois meses. Eu tive um descanso de oito semanas antes que a
rotina começasse novamente.
Segurei minha caneca com as duas mãos. Minha perna
saltava para cima e para baixo, sacudindo recipientes de
cerâmica com cubos de açúcar e pacotes de adoçante.
Havia alguns empresários espalhados pela sala, trabalhando
em seus computadores e consumindo ainda mais cafeína.
Eu pedi um chocolate quente. A última coisa que eu
precisava era ficar acordada até mais tarde esta noite. Não era
tão bom quanto o meu, mas eu não fazia o meu há muito
tempo. Tinha sido dois anos atrás, quando eu fui para a casa da
minha mãe no Natal antes de ir para a Austrália para um show
de Ano Novo?
Na minha cabeça, repeti o nome dele várias vezes. Keyton,
não Dare. Keyton, não Dare. Era difícil separar os dois na
minha cabeça. Eu tinha tanta história com Dare, e não tinha
passado nem um mês com Keyton.
Saber que estaria sentada em frente a Keyton pela primeira
vez em mais de seis anos me deixou mais excitada do que a dose
dupla de café expresso que tomei às seis da manhã.
A porta se abriu novamente, e eu me sentei mais ereta.
Ele estava aqui em um blazer azul marinho e jeans com uma
camisa branca. O garoto por quem me apaixonei e o cara que
eu amei na UCLA foram substituídos por um homem.
— Desculpe, estou atrasado — Seus lábios se curvaram, não
em um sorriso completo, mas do jeito que eles faziam quando
eu me atrasava para uma entrevista ou alguma outra obrigação
que não estava no topo da minha lista do dia.
Eu não estava acostumada a alguém não estar feliz em me
ver.
Foi um choque, não que eu não merecesse. Eu estava
preocupada que ele não aparecesse.
— D… Keyton — Eu me levantei, balançando a mesa ainda
mais e derramando um pouco do meu chocolate quente da
caneca — Você veio.
— Eu disse que viria — Ele se sentou, desabotoando os dois
botões do blazer e deslizando no assento, macio como
manteiga.
Sentei-me e limpei os salpicos de chocolate quente da mesa.
O garçom veio com um menu para ele, mas ele acenou.
— Vou tomar um café, leite e açúcar.
Ele cruzou as mãos sobre o tampo da mesa e se inclinou para
trás.
— O trânsito estava um pouco confuso para chegar aqui.
Desculpe por te manter esperando.
— Não estou aqui há muito tempo — Apenas trinta
minutos. Foi meu segundo chocolate quente. Eu estaria
mijando mini marshmallows mais tarde.
— Então… — Ele parou olhando para mim para iniciar a
conversa.
Havia tantas coisas que eu queria dizer a ele desde que o
deixei no meu dormitório. Tantas coisas que eu disse em meus
textos e e-mails durante aquele primeiro ano. Alguns que eu
nem tinha certeza de que ele havia lido – e queria dizer quando
apareci em Los Angeles para tentar vê-lo novamente pela
última vez, voltando de Oslo durante um intervalo na turnê.
Mas eu não sabia se eu conseguiria dizer alguma coisa na cara
dele e o que eu precisava dizer a ele, era diferente do que eu
precisava dizer agora.
Então eu comecei com algo seguro.
— Obrigada novamente pelo violão. Eu não posso te dizer
o quanto significou para mim recuperá-lo.
— Você nunca deveria ter que dizer adeus a isso — Uma
tristeza cintilou em seu olhar.
Meu peito apertou. Era difícil lembrar quem tinha feito o
que a quem neste momento.
— Eu vi sua jogada na temporada passada. A que você
correu em um touchdown — O jogo estava passando no
saguão do aeroporto. Eu estava em Phoenix ou Orlando?
— Minha única jogada — Sua risada saiu como um huff.
— Se era para haver apenas uma, essa foi a que tinha que ser
— Eu ofereci um sorriso fraco e bebi da minha caneca, sentindo
como se meu coração fosse uma marreta tentando quebrar
minhas costelas. Não era assim que eu esperava que a conversa
fosse. Uma noite de descanso não ajudou a juntar os pedaços
de discursos que eu tinha repassado na minha cabeça antes de
ir para a cama. Havia coisas que eu queria dizer, e algumas das
palavras se tornaram uma música no meu peito, os murmúrios
baixos de uma melodia com as palavras fora de alcance. Agora
estávamos falando de futebol.
Seus lábios se apertaram, não com raiva, mas com
determinação. Como se ele não fosse me deixar arrastar isso
com mais gentilezas.
— Você pode dizer tudo, Bay. Não temos que fingir que
estamos apenas nos encontrando como velhos amigos.
— Não estamos? — As primeiras rachaduras estavam
aparecendo.
Ele inclinou a cabeça, olhando diretamente nos meus olhos.
Seu olhar estava aquecido e cheio, como faróis altos à meia-
noite.
— Nós fomos muitas coisas, Bay, mas acho que amigos não
estava no topo dessa lista.
Larguei minha caneca e peguei o guardanapo. A letra de
uma música começou a rolar pela minha cabeça, sobre uma
vida desaparecendo como uma miragem bem diante de seus
olhos quando você finalmente tem a chance de dizer as palavras
que vem praticando há anos, mas nada sai.
— Já estive no mesmo lugar antes, lembra? Todos os
discursos que eu tinha planejado evaporaram assim — ele
retrucou —, no segundo em que fiquei cara a cara com você do
lado de fora da porta do seu apartamento.
— Eu te mandei textos e e-mails – eu até apareci no seu
apartamento em LA.
Ele olhou nos meus olhos com uma emoção que quase
parecia pena.
— Eu sei.
Isso foi um golpe. Muitas vezes eu ia e voltava sobre o que
era pior, sabendo que ele tinha visto minhas mensagens e as
ignorado ou se ele nunca as tinha visto, mas saber que ele tinha
era definitivamente pior. Mas eu merecia.
Olhei para minha caneca, engolindo o aperto e reuni
coragem para olhar para ele.
— Alguma dica de como passar por isso?
Sua risada foi mais calorosa desta vez.
— Não, tudo o que sei é que nunca sai como planejado —
Seu rosto suavizou, acalmou, relaxou. Estava aberto como se ele
estivesse tentando confortar alguém que ele sabia que estava
extremamente envergonhado.
— Eu não sei mais como funcionar sem um plano.
— Nem eu. Que tal começarmos com algo fácil?
Olhei para ele, tentando descobrir o que sobre isso era para
ser fácil. Meu estômago estava um caos e meu coração era uma
britadeira.
— Como você tem estado?
— Bem. E você?
— Keyton, fala sério.
— Você me encontra nos bastidores e é atingida por todos
esses arrependimentos correndo pela sua cabeça, e você sente
que precisa pular ou nunca terá a chance de dizer as coisas que
está ensaiando. Estou deixando você fora do gancho, Bay.
Estou bem agora. O futebol deu certo… de certa forma — Ele
encolheu os ombros.
— Eu não entro em uma briga há anos. Vejo Knox com
frequência e tenho alguns amigos aqui. Claro, eu fui para um
lugar escuro depois que Felicia apareceu com sua carta ou talvez
eu estivesse sempre lá, mas fingindo que não estava. Foi ruim
por muito tempo. Minha vida não se dissolveu e desmoronou
quando você partiu — Um músculo em sua mandíbula
apertou e seu olhar distante deu um nó e torceu meu estômago.
Saber que eu o machuquei tão profundamente – alguém que
eu amei – alguém que eu nunca deixei de amar, me assustou.
Meu coração se apertou, mas mantive meu olhar fixo no
dele, não querendo desviar o olhar e esconder minha vergonha.
Eu precisava que ele visse que era a coisa mais difícil que eu já
tinha feito, sair daquele quarto e sair de sua vida. E correr de
volta depois de um mês para encontrá-lo e saber que ele não
queria me ver, me levou direto para o meu trabalho. Eu tive que
fazer valer a pena. Eu tive que tentar fazer meu trabalho valer a
pena quando senti que tinha perdido um pedaço da minha
alma.
Eu vi algumas notícias sobre ele – não buscando ou
pesquisando profundamente, mas o suficiente para manter um
pouco da minha culpa me comer viva. Mas eu me permiti uma
última viagem depois que descobri onde ele estava morando.
Fiquei na rua de Los Angeles tocando o interfone até o sol se
pôr e meus dedos doerem. Foi quando eu soube que teria que
viver com minha escolha, aquela feita por autopreservação.
Cada atualização que eu me permitia espiar tinha sido
melhor que a última. Temporada após temporada terminava
em um campeonato nacional. Negociações com bônus de
assinatura ainda maiores se acumularam e, finalmente, houve a
notícia de seu noivado. Aquilo me atingiu com força, tão forte
que cambaleei para trás, agarrando meu peito quando li. O
telefone escorregou da minha mão e ouvi a tela estilhaçar, assim
como meu coração.
Eu tinha jurado não olhar de novo depois disso. Ele
encontrou sua felicidade. Eles pareciam tão felizes juntos.
Engoli meus arrependimentos e me agarrei ao fato de que ele
havia encontrado alguém que poderia amá-lo e que era bom
para ele e estava lá para ele, não importa o quanto isso tivesse
me dilacerado.
— E agora?
O garçom veio com seu café e creme.
Eu deslizei o açúcar em direção a ele. Não havia ilusões sobre
o que isso era para mim.
Ele estava para se casar em breve. De alguma forma, pensei
que encontraríamos o caminho de volta um para o outro de
alguma forma, mas agora finalmente era hora de ter a conversa
que não pude ter no meu apartamento e nem sabia se estaria
forte o suficiente para ter quando voltei.
— E agora, as coisas ainda estão boas.
Apertando minhas mãos em volta da minha caneca, eu
empurrei o ar dos meus pulmões.
— Sua noiva é linda. Eu vi uma foto no início do ano
passado.
Ele parou de tamborilar os dedos na lateral da caneca e
baixou o queixo.
— É por isso que você me convidou aqui? Para descobrir
sobre Alice?
Eu empurrei para trás.
— O que? Não. Eu vi você e queria falar com você. Isso é
tudo. Sem expectativas ou obrigações. Eu queria parabenizá-lo
frente a frente. Faz muito tempo. — Baixei meu olhar para o
meu copo antes de arrastá-lo de volta para ele. As ondas de
tristeza e culpa que eu tentei fingir que não me tocaram ainda
estavam lá. As ondas batendo estavam ficando mais fortes e
logo eu estaria na cintura com a ressaca me puxando para baixo
— E eu sei que é minha culpa.
— Alice e eu terminamos há três meses. Ela vai se casar no
início do ano que vem.
Um som escapou da minha boca que fez mais do que
algumas cabeças virarem em nossa direção, incluindo Holden e
Emily.
Holden agarrou os braços de sua cadeira como se estivesse
pronto para se lançar pela sala.
Uma sacudida afiada da minha cabeça e ele se acomodou em
seu assento.
Keyton olhou por cima do ombro.
— Você trouxe reforços para o caso de isso dar errado? —
Ele se inclinou para trás em seu assento com o julgamento
escrito em todos os sulcos finos que enrugavam sua testa.
Eu olhei para frente.
— Não, eles estão sempre lá. A menos que eu esteja na casa
da minha mãe ou no meu quarto de hotel, um deles está sempre
por perto. Vem com o pacote — Dei de ombros. Eles eram
acessórios, e eu tinha esquecido como era não tê-los ali. Eles
eram um cobertor de segurança e um amortecedor para o resto
do mundo — Não é sobre você. É sobre mim.
Ele fez um som de “bom o suficiente” antes de voltar para
seu café.
— Como você está? Para onde quer que eu olhe, seu rosto
está em um outdoor, comercial, ponto de ônibus, balcão de
perfumes.
— As coisas são como são. Vivendo meu sonho, certo? —
Meu sorriso era frágil, então tomei um gole do meu chocolate
quente.
— Parece que nós dois conseguimos exatamente o que
queríamos?
— Parece que sim. — Larguei minha caneca e coloquei
minhas mãos no colo.
— E pelo seu rosto eu posso dizer que você está amando
cada minuto que esta vida lhe deu. — O sarcasmo se agarrava a
cada palavra — Mas você me convidou, então acho que é hora
de você me contar toda a história da noite em que me deixou.
O rosto de Bay corou, mas ela não desviou o olhar.
Olhei para aqueles olhos castanhos de massa de brownie,
querendo descascar tudo e mostrar a ela a crueza com que eu
estava trabalhando para me curar por muito tempo. Sentado
em frente a ela, eu queria segurar sua mão na minha, correr
meus lábios sobre os dela. Foi exatamente por isso que evitei
qualquer contato nos últimos seis anos. Mas esta era a chance
que eu nunca pensei que teria.
Quando entreguei o violão para Felicia, esperava que ela
voltasse correndo para mim. Eu esperava que Bay aparecesse na
minha porta com o violão na mão e me dissesse que tudo tinha
sido um erro. Uma semana se transformou em duas depois que
Felicia me avisou que havia enviado, e foi aí que as coisas foram
de mal a pior. Todas aquelas palavras feias que eu sabia que
eram verdadeiras soaram em meus ouvidos, e perdi tanto de
uma vez só – eu só consegui chegar ao outro lado me agarrando
à beira do penhasco com a ponta dos dedos.
E então ela voltou, meus músculos travados e eu não
consegui deixá-la entrar.
Não depois de sua primeira mensagem em LA, que foi como
um jarro de água gelada sobre minha cabeça. Houve textos e e-
mails que vieram depois, mas eu não conseguia me obrigar a
responder. Toda vez eu sentia que a estaria arrastando para o
poço agitado da minha vida e a afogando bem ao meu lado. E
depois que ela apareceu no meu apartamento em Los Angeles,
eu acordei coberto de meu próprio vômito com Knox batendo
na porta da frente do nosso apartamento, onde eu tinha
desmaiado ouvindo o zumbido do interfone. Ele machucou o
ombro, derrubando a porta que eu estava bloqueando,
desmaiado.
Ela tinha ido embora quando eu cambaleei escada abaixo e
olhando para mim mesmo ainda bêbado, coberto de vômito e
pouco coerente, eu sabia que ela estava certa. Eu estava com
muito medo de perder a lasca de razão que me restava.
Naquele ano, fora do meu tempo na academia ou no campo
de treino, eu era um avião apontando para baixo, motores a
todo vapor, com o chão gritando em minha direção.
Depois de ficar com Monica, ficou mais fácil. Eu não estava
em uma montanha-russa sem meu cinto de segurança
afivelado.
Bay tamborilou os dedos ao longo da caneca.
— Maddy me enviou uma mensagem quando você estava
na reunião com seus treinadores sobre a briga, mais tarde, no
meio da noite, ela enviou outra — Seu olhar estava fixo na
espuma de marshmallow que se dissolvia lentamente em seu
chocolate quente — Foi uma oferta para tocar com o Without
Grey em Seattle. E sair em turnê com eles.
— É um bom começo.
Sentado na frente dela, eu não pude deixar de olhar. Eu a
tinha visto tantas vezes ao longo dos anos. Na televisão, em
capas de revistas, outdoors. Hoje foi a primeira vez que fiquei
tão perto dela por mais do que alguns minutos em tanto tempo,
muito tempo.
— Não pude recusar a oportunidade.
— Você se lembra do que colocou na sua carta? — Minha
garganta apertou, entupido pelas memórias de estar sentado no
meu dormitório escuro e destruído, tentando não arruinar o
que restava da minha vida. Apoiei o cotovelo na mesa e cobri a
boca com a mão fechada.
Ela arrancou seu olhar do meu.
— Eu posso ter bloqueado um pouco disso — Seu lábio
inferior tremeu antes que ela o enfiasse entre os dentes.
Cada palavra tinha sido marcada em meu cérebro, gravada e
esculpida na massa cinzenta suave a ponto de eu ser incapaz de
esquecê-las. Assim como as que ela disse para mim no campo
ensolarado do ensino médio em junho, dez anos atrás.
— Aqui estão alguns dos destaques: quando você estiver
lendo isso, estarei em um avião. Há tantas coisas que eu desejei
desde que você voltou para minha vida. O número um foi
desejar que fosse o momento certo para nós. Mas não é.
Meu estômago deu um nó e torceu como fez quando li
aquelas palavras no meu apartamento no campo de
treinamento. Como eu as repeti na minha cabeça quando
estava em uma lata de lixo ou banheiro ou quando terminei
outra garrafa de álcool.
“Você é digno de amor e merece alguém que te ame, mas essa
pessoa não pode ser quem te consertará. Ninguém pode nos
consertar — Limpei minha garganta — Ainda estou
trabalhando para descobrir quem eu sou. Eu não posso ser a
única a manter sua cabeça acima da água quando estou pisando
no meu próprio oceano. Preciso encontrar meu próprio
caminho — O quão perdida e assustada ela estava me esfolou.
Isso havia rasgado tantas feridas que eu pensei que podia
ignorar, até que não pude mais — Eu queria que você soubesse
sem dúvida. Eu perdoo você. Mas não posso ficar com você. Eu
sinto muito — A raiva e os sentimentos aterrorizados que
brotaram por um longo tempo depois de pensar no que ela
disse não estavam mais lá. Agora eu sentia tristeza por tê-la
empurrado para aquele canto, por ela ter se sentido responsável
por mim de uma maneira que nunca deveria. Ainda havia raiva
e sentimentos complicados que eu provavelmente nunca iria
trabalhar, mas eles não me cegaram, nublando minha visão até
que eu ataquei para escapar de sentimentos muito afiados para
lidar.
Ela enxugou o canto do olho e mordeu os lábios.
— Indo direto para a ferida aberta, hein? Você seria um
ótimo entrevistador contundente.
— Por que não colocar tudo pra fora? — Puxar a válvula de
liberação para acalmar o zumbido em meus ouvidos. Sempre
era melhor tirá-lo do que tentar segurá-lo, tentar apagar ou
sufocar os sentimentos.
Fungando, ela levantou a cabeça.
— Eu estava assustada — Uma longa respiração
entrecortada escapou por seus lábios. Ela olhou ao redor da sala
— Tão assustada.
Os poucos homens de terno e roupas casuais de negócios
estavam sentados em mesas e cubículos, lendo seus jornais,
concentrados em seus laptops ou comendo sua comida. Alguns
faziam os três ao mesmo tempo, mas desapareceram quando eu
estava sentado à mesa com ela. O nó na minha garganta se
transformou em uma bigorna – em mim. O quão perto eu
cheguei de atacar e bater nela em minha fúria cega me manteve
acordado à noite por um longo tempo depois que ela saiu.
Seus olhos dispararam para mim e ela balançou a cabeça.
— Da nossa situação. De quão certo você estava de que estar
comigo resolveria todos os problemas que você estava tentando
resolver. Durante todo o mês, as coisas pareciam estar se
deteriorando para você, e eu não sabia como pará-lo, exceto
indo embora. Quando você apareceu pela primeira vez, você se
parecia tão diferente e quanto mais tempo estávamos juntos,
parecia que você estava piorando. Como se eu estivesse te
deixando pior.
Ela espetou um dedo no centro de seu peito. Seus músculos
da garganta se contraíram e ela tomou um longo gole de sua
bebida.
— A briga… esse foi o meu barril de pólvora — Deveria ter
sido o meu alerta, mas não foi. — Você ficava falando sobre
como você não se importava em ser expulso do time e você me
seguiria pelo país ou onde eu precisasse ir, mas eu vi você jogar.
Eu finalmente vi você jogar, e vi o quanto isso te deixava feliz.
Como você adorava dar autógrafos e tirar fotos com os fãs. E
eu estava com medo…
— Do que aconteceria se tudo acabasse para mim. Se eu
explodisse e perdesse a cabeça… com você — Só o pensamento
já azedava meu estômago. A bile se agitou e minha boca se
encheu de saliva pré-vômito. Ela se preocupou que eu a
machucasse ainda mais do que já tinha, e eu odiava que ela
provavelmente estivesse certa.
A dor atravessou seu rosto e seus lábios tremeram, as narinas
dilatadas.
— Talvez um pouco. Eu sinto muito.
Passei a mão pela nuca, pressionando com o polegar para
aliviar um pouco a pressão.
— Foi inteligente, o que você fez. — Minha mandíbula
apertou e passou meu queixo para frente e para trás. As
histórias que eu contei a mim mesmo no início do nosso verão
foram um excelente exemplo de por que eu não tinha o direito
de tentar começar qualquer coisa com ela. — Entendo. —
Olhando em seus olhos, eu precisava que ela soubesse o quanto
eu realmente entendia. — Eu estava muito mais quebrado do
que você poderia consertar. Esperar que o que tínhamos fosse
consertar qualquer merda quebrada dentro de mim não era
justo comigo ou com você. Você não poderia me segurar por
muito tempo, antes que eu perdesse o controle. Antes que eu
destruísse sua vida e a minha e te deixasse tentando apagar o
fogo na pilha em chamas que criei no meu rastro.
— Eu não culpo você por fugir, Bay. Eu te perdoo por isso.
Porque foi provavelmente a única coisa que poderia ter me
impedido de me tornar tudo o que eu sempre odiei.
Um som ficou preso em sua garganta e ela cobriu a boca
com as duas mãos, as lágrimas transbordaram e escorreram por
suas bochechas. Seu corpo cambaleou.
Atrás de mim havia os sons gêmeos de cadeiras atirando no
carpete e quebrando na madeira.
O velho formigamento subiu pela minha espinha, aquele
que me fez querer enfrentar a ameaça iminente. Seis anos atrás,
eu teria cerrado os punhos ao lado do corpo até que o sangue
pulsasse em minhas veias e a neblina descesse. Em vez disso,
coloquei minhas mãos sobre a mesa e me mantive alerta, mas
não correndo para a borda.
Bay olhou para cima com os olhos lacrimejantes e acenou
com a mão, dispensando seus cães de guarda. Ela pegou um
punhado de guardanapos e os esfregou no rosto, até que
manchas vermelhas cobriam suas bochechas. Sua respiração
trêmula sacudiu a mesa.
— Eu era uma bagunça codependente naquela época,
empurrando cada sentimento que eu tinha no fundo até que
fosse apenas uma questão de tempo antes que explodisse e eu
repetisse os mesmos erros novamente — Eu tinha sido uma
criança fodida, fingindo, quase jogando seu futuro pelo ralo.
— Eu tenho tentado me convencer por tanto tempo que fiz
a única coisa que eu poderia ter feito, mas no meu coração – no
meu coração eu nunca me perdoei pelo que fiz — Ela
descansou a mão, segurando os guardanapos úmidos na mesa.
Corri meus dedos sobre seus dedos, querendo pegar sua
mão e pressionar meus lábios contra ela. Eu queria fazer tudo
ficar bem. Sua pele lisa encharcada de lágrimas estava quente
sob meu toque. Percebendo o que estava fazendo, me afastei e
deixei cair minhas mãos no meu colo.
Um homem se aproximou do lado da mesa.
— Desculpe interromper, mas eu não tinha certeza se era
você até agora. Minha filha é uma grande fã. Posso pegar seu
autógrafo? — Ele empurrou uma caneta e um guardanapo na
frente dela.
Como se ele não pudesse ver que estávamos tendo uma
conversa. Como se ela não estivesse chorando.
Os olhos de Bay se arregalaram, e ela olhou para ele como se
ele tivesse pedido um rim antes de colocar a máscara de volta.
Eu podia ver as rachaduras. Os olhos avermelhados. O sorriso
aguado.
A maneira como ela mudou me disse que isso acontecia
muito com ela. Isso me irritou por ela e atingiu uma parte de
mim que queria dizer a esse cara para recuar e deixá-la em paz.
— Claro. Para quem devo autografar? — Ela pegou a caneta
e o papel da mão dele.
Ele limpou a garganta.
— Para Michael.
Esse idiota apareceu enquanto ela estava chorando para
conseguir um autógrafo para si mesmo. Abri minhas mãos
debaixo da mesa e as alisei pelas minhas pernas, prendendo meu
olhar em Bay. Um sinal e eu tiraria esse cara daqui.
Mas ela não sinalizou. Ela seguiu em frente com os lábios
moldados naquele sorriso de plástico. Mantendo a cabeça
baixa, ela assinou seu nome com um floreio e acrescentou a
personalização no topo.
— Posso tirar uma foto também?
Ela empurrou a cadeira para trás.
— Certo...
— Desculpe — Holden, o mesmo cara dos bastidores do
show, entrou. Ele obviamente sabia que isso tinha ido longe
demais. Ele era o único capaz de traçar a linha que Bay não
parecia capaz de fazer para si mesma — Bay tem que ir agora.
Mas se você me der um endereço, podemos enviar um pacote
VIP de brindes para você – sua filha — Ele entregou seu cartão
ao homem, que ficou olhando por cima do ombro enquanto se
afastava.
— Bay, podemos mover isso para a suíte, se estiver tudo bem
para você — Ele inclinou a cabeça em direção às janelas que
davam para o corredor. Enchia de gente. Quando desci o
corredor mais cedo, ninguém estava na área do vestíbulo.
Agora a segurança do hotel estava ombro a ombro,
segurando as pessoas. As portas do elevador abriram e ainda
mais pessoas saíram. Alguns vieram correndo pelos corredores.
— Podemos terminar isso na minha suíte? É enorme, não
como um quarto de hotel ou qualquer coisa. Só vai ser mais
tranquilo — Ela verificou por cima do ombro.
Eu queria protegê-la, tirar cada telefone apontado em sua
direção. Não porque eles estavam tirando fotos, mas por causa
do desconforto óbvio dela. Eles não podiam ver que ela não
estava de bom humor agora? Ela fez uma cara corajosa e resistiu,
mas seus olhos ainda estavam inchados e vermelhos.
Por pior que fosse a ideia de ir para a suíte dela, eu a queria
fora daqui.
Celulares de todos aqueles empresários desatentos saíram.
Quer eles soubessem quem ela era ou não, eles sabiam que algo
estava acontecendo, e nós éramos os únicos que não se
encaixavam no perfil de um visitante normal.
Eu queria tirá-la daqui, segurá-la e carregá-la para longe de
todos os olhos sobre ela. Era exatamente por isso que precisava
ser uma conversa única para limpar velhas feridas. Ela não
precisava de mim correndo para salvá-la de sua própria vida.
— Certo.
Seus ombros relaxaram e eu fui presenteado com um
pequeno sorriso que não era nem um pouco aguado.
— Ótimo, e desculpe por isso. Eu sei que você
provavelmente também é perseguido.
Flashes dispararam e os seguranças estavam rapidamente
ficando sobrecarregados. A preocupação com sua segurança –
não apenas agora, mas o tempo todo – aumentou. Inquietação
enrolou no fundo do meu intestino imaginando sua vida assim
o dia todo, todos os dias.
— Assim não — Os fãs de esportes ficavam raivosos,
especialmente depois de vencer o campeonato no ano passado.
Mas nenhuma das meninas e mulheres que estavam sendo
retidas agora me poupou um segundo olhar.
Holden apareceu atrás de Bay.
— Me siga. Vamos passar pela cozinha até o elevador dos
funcionários e descer em outro andar, depois voltamos para o
elevador da cobertura.
Bay olhou para mim e assentiu.
— Vamos lá.
Holden assumiu a liderança com um membro da equipe do
hotel e outros dois seguranças vindo atrás de mim. Emily
assumiu a posição atrás de Holden, e Bay e eu caminhamos lado
a lado.
— Desculpe por isto — Bay se inclinou e sussurrou uma vez
que estávamos no elevador dos funcionários — É um risco
ocupacional — O sorriso nervoso não fez nada para acalmar
minha agitação sobre a rapidez com que aquela merda
aconteceu.
— Isso acontece sempre que você sai?
— Eu não saio muito.
Atravessamos o andar deserto do hotel até outra fileira de
elevadores.
— Eu posso ver o porquê.
Outro conjunto de portas do elevador abriu antes do nosso
chegar, e gritos rasgaram o espaço fechado.
O que parecia ser vinte pessoas se espalharam, segurando
pôsteres, fotos, bichos de pelúcia e muito mais para Bay assinar.
Para cada sorriso e aceno, havia alguns que gritavam seu nome
como se não soubessem formar frases completas, avançando
em direção a ela.
Olhei entre eles e a equipe de Bay para ver como eles estavam
lidando com isso. O sorriso fino de Bay estava firmemente no
lugar e ela se encolheu quando alguém jogou algo para ela. Caiu
aos meus pés. Uma cabeça de bobble de plástico desenhada à
sua imagem.
Meus músculos apertaram, e eu me preparei.
Sempre que eu tinha problemas com os fãs, eles geralmente
tinham muito a dizer. Especialmente se minha sorte não tivesse
funcionado naquela semana em um jogo. Naquela época,
geralmente incluía as palavras “inútil”, “escroto” e “merda.”
Atrás dos três seguranças do hotel e um outro cara que eu
não tinha notado antes, que não parava de chamar a atenção de
Holden, Bay deu autógrafos e rabiscou seu nome no que quer
que fosse colocado na frente dela.
O elevador chegou e ela pediu desculpas antes de ser levada
para dentro, deixando alguns seguranças para trás.
Um toque de chave na plataforma de acesso no elevador e
subimos até o último andar do prédio.
— Como eles sabiam em que andar você estava?
Ela riu.
— Os fãs ficam criativos. Lembra dos de Roma, Holden?
Ele revirou os olhos.
— Eles entraram no carrinho de limpeza e surpreenderam
Bay em seu banheiro depois que saímos de um voo de dez horas
onde ela estava lutando contra uma intoxicação alimentar o
tempo todo.
Por que todo mundo estava agindo como se isso não fosse
grande coisa?
Bay balançou a cabeça, jogando-a para trás com os braços
cruzados sobre o peito.
— Vamos apenas dizer que eles viram um lado meu
totalmente novo. Aquelas pobres garotas provavelmente
tiveram os pelos do nariz chamuscados.
— E isso acontece regularmente? — Como diabos eles
estavam mantendo-a segura?
— Isso foi há alguns anos. Desde então, contratamos Eric
para coordenação de segurança em tempo integral — Bay deu
um tapinha em seu ombro.
Sua bochecha se ergueu no que eu acho que era para ser um
sorriso.
Saímos do elevador e entramos em sua suíte. A suíte foi
decorada em cremes e brancos, tons neutros. Grandes janelas
como as do meu apartamento davam vistas panorâmicas da
cidade. Havia uma sala de estar com cadeiras baixas e uma mesa
de centro quadrada com um arranjo de flores frescas.
Estava quieto e vazio até onde eu podia dizer.
Um pouco da tensão deixou meu corpo enquanto
caminhávamos para o refúgio após o caos. Era como a música
sendo cortada em um estádio logo antes de um gol de campo.
O silêncio absoluto depois de tanto barulho quase parecia mais
alto do que os gritos.
Emily entrou na nossa frente.
— O que vocês gostariam de pedir? Qualquer coisa?
Ambas olharam para mim.
— Não, eu estou bem.
— Eu também estou bem.
Deixando cair o tablet ao seu lado, ela assentiu.
— Então vamos deixá-los na sala de estar. Holden e eu
estaremos no escritório se você precisar de alguma coisa, e Eric
está do lado de fora.
Bay mexeu nas mãos dela.
— Desculpe novamente pelo que aconteceu lá atrás.
— Não é sua culpa.
— Quero dizer, meio que é — Ela puxou o rabo de cavalo e
soltou uma gargalhada.
Por mais que ela tentasse não aparentar, ela estava nervosa.
Provavelmente sobre mais do que apenas os fãs, o que parecia
ser uma parte normal de sua vida. Foi um lembrete de muito da
nossa história, como ainda era fácil para mim percebê-la.
— Vejo que você ainda faz isso quando está nervosa.
Ela deixou cair a mão.
— Eu acho que sim. Embora eu geralmente tenha um galão
de spray de cabelo e oito pés de extensões no meu cabelo, então
eu não consigo fazer isso com muita frequência.
— Achava que me vestir antes dos jogos era complicado.
— Saltos de plataforma, vestidos costurados no meu corpo.
Às vezes fica muito louco. Eu pensei que o salão seria seguro,
mas alguém sempre vaza coisas. Aprendi isso ao longo dos anos
— Uma nuvem de tristeza caiu sobre seu rosto.
Foi uma dura lição que ninguém deveria ter que aprender.
Eu odiava que ela sentisse que nunca poderia ter privacidade ou
fazer coisas que outras pessoas pudessem, como tomar uma
xícara de café com alguém do passado.
— As pessoas te vendem com frequência?
Os cantos de seus olhos se enrugaram.
— Mais como sempre — Ela gesticulou em direção às portas
fechadas do escritório que Holden e Emily tinham
desaparecido — Essas são as duas únicas pessoas que eu tive por
perto desde o começo. Não que algumas pessoas não tenham
saído para oportunidades diferentes, mas tem muita gente que
quer ganhar dinheiro rápido vendendo informação. Não que
haja muita.
— Por que não nos sentamos e podemos continuar nossa
conversa? — Apontei para as quatro poltronas creme ao redor
de uma mesa de centro de vidro fosco.
Bay assentiu e se sentou.
Eu caí em uma em frente a ela.
Ela mordiscou o lábio inferior.
— Tem certeza de que não quer nada para comer ou beber?
— Estou bem.
— Talvez para mais tarde? — Um tom esperançoso em sua
voz.
— Tenho certeza que você está muito ocupada, então não
vou te ocupar, mas há mais algumas coisas que eu queria dizer
— Coisas que eu precisava dizer para parar de ter medo de
mostrar a ela como eu estava ferrado. O medo dela descobrir
me deixou em pânico, no limite, e eu precisava liberar tudo isso
para seguir em frente. Eu precisava provar a mim mesmo que
eu poderia seguir em frente, mesmo que cada célula do meu
corpo gritasse para tocá-la novamente.
Com as palmas das mãos pressionadas ela as enfiou entre as
coxas, fugindo para a beirada da cadeira e acenando para eu ir
em frente. Seus calcanhares saltavam para cima e para baixo,
mas seu olhar estava travado no meu.
Meu coração disparou, mas eu segurei ele e todas as palavras
que eu precisava dizer. Eu lambi meus lábios. Isso foi tão difícil
quanto aquelas primeiras palavras que eu precisava dizer a ela
na Califórnia.
— Ser aberto e vulnerável com você me assustou, e eu senti
muitos dos mesmos sentimentos que eu não podia ter
enquanto crescia. Eles tinham sido um convite para o abuso.
Eles tornaram tão fácil para ele me machucar, então eu os cobri
e tentei esquecer.
O balanço de seus joelhos parou.
— Mas estar perto de você e estar com você – realmente
estar com você – trouxe de volta meus sentimentos de perder o
controle porque eu não estava no controle. Eu estava
apaixonado. E você não pode amar uma pessoa quando está
fechado e tentando se esconder. Quando você está fazendo
uma cara corajosa e apenas fingindo que está dando cada
centímetro de você e a deixandoentrar em seu coração.
— Eu…
Eu a interrompi, precisando contar tudo a ela.
— Você não poderia ser essa pessoa para mim porque eu não
estava pronto para ser essa pessoa com você. Então, não… — eu
esfreguei minhas mãos pelo meu rosto — por mais que eu
quisesse te odiar, por mais que eu quisesse quebrar aquele
violão de novo, por mais que eu quisesse correr até desmaiar em
uma sarjeta em algum lugar, eu não poderia culpá-la. Eu não
posso te culpar. Eu não te culpo. Como eu poderia esperar que
você me amasse quando eu me odiava?
— O que eu escrevi…
— Isso não é sobre o que você disse, Bay. Isso é sobre quem
eu era e com o que eu estava lidando. Tínhamos 22 anos, mas
éramos crianças e eu esperava que você me consertasse. Isso não
estava certo. Eu estava com tanto medo de falhar, eu estava
pronto para jogar tudo fora para te seguir por aí e não te perder
de vista porque eu estava com medo de que um dia você olhasse
para mim e percebesse o quão fodido eu estava, porque,
adivinhe só? Eu ainda estava muito fodido.
Eu suguei uma lufada de ar e soltei. Parecia que eu tinha dito
tudo em um longo suspiro, não querendo me acovardar e parar
de falar. Eu arrastei minhas mãos para frente e para trás sobre
meus joelhos.
— Eu sei que foi muito. E eu sinto que você merecia ouvir
isso.
Descansando minhas mãos nas minhas pernas, deixei o
aperto no meu peito diminuir, substituído por uma certeza de
finalmente dizer as palavras em voz alta. Era fácil confundir a
certeza de dizer o que eu precisava com a certeza de estar aqui.
Eu não pertencia aqui, eu não pertencia a ela. Velhos padrões
eram difíceis de quebrar, especialmente aqueles pelos quais
você ansiava, e eu nunca desejei tanto por alguém quanto por
Bay. Eu senti isso no fundo dos meus ossos, como se ela tivesse
sido costurada no meu DNA, mesmo depois de todas as
minhas conversas com Monica e meu noivado com Alice. Mas
o turbilhão de sua vida trouxe coisas em mim para as quais eu
não podia voltar, o que significava que havia apenas uma
opção. Partir.
Eu me levantei do meu assento.
— Obrigado pelo convite para o café.
Ela disparou.
— Espera! Você está indo? É isso? — Suas mãos subiam e
desciam ao lado do corpo.
— Uma revelação de alma por dia é o meu máximo.
— Nós podemos sair. Eu adoraria ouvir o que está
acontecendo em sua vida. Inferno, nós poderíamos assistir
Duro de Matar ou algo assim. Posso fazer com que Holden
mude a chamada que temos mais tarde — Seu sorriso ansioso e
movimentos apressados me mostraram o quanto ela queria que
eu ficasse.
— Isso não é uma grande ideia.
A porta do escritório se abriu.
— Não se preocupe comigo — Emily andou na ponta dos
pés de uma porta para a outra.
— Você provavelmente tem um milhão de coisas para fazer.
O primeiro jogo da temporada está chegando no domingo —
Não que me vestir e sentar por três horas exigisse alguma
energia, mas eu gostava de estar preparado.
Uma dor queimava no centro do meu peito para dizer sim.
Para sentar e conversar com ela até tarde da noite. Para nos
conhecermos novamente.
Passei pelos móveis da sala em direção à porta.
Os passos de Bay seguiram logo atrás.
Passar o tempo com ela era tudo que eu sempre sonhei por
tantas noites, mas o chão em que eu estava ainda era feito de
vidro. Não do tipo frágil e estilhaçado onde a borda era afiada
e bem na ponta dos meus dedos. Esse era resistente, mas eu
ainda podia ver um lugar que eu não queria ir de novo, e ela era
como uma marreta.
— Talvez jantar?
Ela tinha a vida que merecia, e eu não seria o cara para foder
nada com ela. Eu não tinha certeza se poderia ser o cara que ela
precisava que eu fosse quando eu não conseguia nem mesmo
fazer isso com Alice.
— Não acho que seria uma boa ideia. Treinos e jogos serão
minha vida até janeiro, talvez fevereiro, se meu toque mágico
persistir.
A sala ficou quieta da mesma forma que um estádio de
40.000 pessoas faz quando um jogador levava uma pancada
feia.
Ela deu um passo para trás e abaixou a cabeça.
— Você está certo. Desculpe por ser tão insistente — Ela
deslizou de volta para o mesmo sorriso que eu a vi usar com o
cara idiota lá embaixo no salão — Obrigada por concordar em
se encontrar comigo hoje. Obrigada pelo seu perdão — A voz
dela pareceu desistir dessa palavra. Seus olhos brilharam e o
sorriso vacilou — E obrigada por ser tão honesto comigo. Eu…
eu aprecio isso — Abrindo a porta, ela deu um passo para o lado
para me deixar ir.
Seu segurança se levantou de sua cadeira ao lado do
elevador.
Eu me aproximei e passei meus braços ao redor dela. Ela
cheirava diferente. Mas a sugestão de framboesa ainda estava lá.
Enterrado, mas ainda lá. Eu me permiti três segundos
completos antes de soltá-la e recuar.
— Tchau, Bay.
Através da porta que se fechava rapidamente, suas palavras
sussurravam no ar.
— Tchau, Keyton.
Eu fiquei de costas para a porta.
Ele pegou a primeira abertura para sair e pulou nela.
Depois do que eu tinha feito, eu não podia culpá-lo. A
primeira vez que nos vimos na Califórnia, deixei claro que não
tinha nada a dizer a ele.
E aqui eu pensei algumas palavras bonitas e nós poderíamos
continuar exatamente de onde paramos – de onde eu havia
parado. Onde eu tinha o deixado.
— Bay, desculpe interromper, mas a ligação que temos —
Holden ergueu os olhos de seu tablet e o deixou cair ao seu lado
— Ele já foi?
— Sim, muito o que fazer para se preparar para a temporada
— Parecia que outra pessoa estava dizendo as palavras – alguém
que não estava tentando se recompor depois da primeira
conversa real que ela teve em anos. Corri minhas mãos para
cima e para baixo em meus braços, tentando banir um calafrio
na sala com temperatura perfeitamente controlada.
Atravessando a sala, ele pousou o tablet que geralmente
parecia permanentemente soldado à sua mão.
— E você não está feliz com isso.
Estava escrito em marcador na minha testa?
Eu me sentei na beirada dos assentos da sala de estar.
— Pareceu um grande ponto final. Ele nunca tinha sido tão
aberto sobre seus sentimentos antes. Não havia nada de preso
ou cauteloso nele. Ele foi um livro aberto. É o que eu sempre
esperei que ele fosse, e aqui estava ele, e ele praticamente saiu
correndo da sala no segundo em que mencionei jantar ou
assistir a um filme.
— Talvez ele precisasse acordar cedo — Holden ofereceu
como se eu estivesse sentada sozinha em uma festa de
aniversário que ninguém apareceu — Você não pode dizer que
nunca teve que encurtar uma noite por causa do trabalho no
dia seguinte.
Passei os dedos pelos lábios pensando na última vez que os
meus tocaram os dele enquanto ele dormia.
— Ele disse "tchau, Bay" e não me pareceu como um "vamos
conversar mais tarde". Soou muito como um"tenha uma boa
vida" — Meus ombros caíram e eu deslizei do braço da cadeira
para o assento como se tivesse sido derrubada. Eu senti como se
tivesse corrido o dia inteiro e finalmente estava desmaiando.
— Você quer começar algo com ele? — Ele se sentou na
beirada da mesa de café, os olhos fixos nos meus — Vou
cancelar a ligação.
A atração magnética do tablet de Holden o chamou, mas ele
resistiu e se concentrou em mim.
— Não, eu estou bem — Tentei me endireitar na cadeira,
mas o peso no meu peito não diminuiu. Como eu me sentia por
dentro deve ter sido telegrafado em meu rosto. Holden e eu
tínhamos um acordo silencioso de que eu faria o que fosse
preciso para tornar minha carreira um sucesso.
— É muito difícil ter qualquer coisa com alguém que não
quer nada com você — O namoro não estava no meu radar há
muito tempo. Tentar namorar alguém neste negócio era uma
receita para o desastre. Eu tinha visto isso acontecer tantas
vezes, e foi por isso que o choque reverberou através de mim
que eu até queria tentar com Keyton. Depois de tudo o que
aconteceu entre nós, eu estaria mentindo se não dissesse que
um lampejo de esperança estava lá quando descobri que ele não
estava mais com Alice.
O desespero chamou e eles queriam seu look de volta. Eu
precisava engolir isso e esquecê-lo. Nós dois tínhamos
conseguido dizer o que precisávamos dizer. Esse poderia ser o
fim.
— Mas você gostaria, se ele estivesse disposto a isso?
— Por que você está me fazendo essas perguntas? — Eu
acusei.
Holden suspirou, balançando a cabeça.
— Quando foi a última vez que você esteve em um
encontro, Bay?
Eu joguei minha mão em sua direção.
— Você saberia melhor do que eu.
Ele tossiu em sua mão e enxugou o sorriso.
— Julho, um ano atrás.
— Ding ding ding. Peguem um prêmio para o homem —
Injetei uma dose dupla de sarcasmo na minha voz. Vamos nos
concentrar em Holden e não em mim.
Ele nivelou seu olhar para mim, rápido e incisivo. Foi o tipo
de olhar que me fez travar meus músculos, então eu não me
contorci. Ele não estava caindo nessa.
— Onde você quer chegar?
Ele fugiu para a beirada da mesa.
— Talvez, apenas talvez, você não esteja pronta para que as
coisas acabem com ele.
— Você acha que eu deveria pegar um saco de estopa e
sequestrar ele e forçá-lo a jantar comigo? — Não havia opções.
Keyton não queria opções. Havia algumas coisas que a fama e
o dinheiro do mundo não podiam comprar.
— Tudo o que estou dizendo é que você tem pessoas.
Pessoas escandalosamente bonitas, imaculadamente vestidas,
insanamente carismáticas, incrivelmente boas em seus
trabalhos — Ele ajeitou sua gravata imaginária — Seu pessoal
pode ligar para o pessoal dele e armar alguma coisa.
— Não se trata de fotos ou de uma aparição no tapete
vermelho — Olhei por cima do ombro para a porta que se
fechou atrás dele — E acho que perdi minha chance — Meu
corpo caiu na cadeira como uma bateria desistindo de seu
último 1%.
— Tem sido um longo dia. Você está certo sobre a chamada.
Vamos cancelar. Eu vou para a cama.
— Nós voamos para Atlanta amanhã. Precisamos estar no
aeroporto às cinco. Três dias lá e depois voltamos para cá.
Outro dia, outro aeroporto.
— Vamos deixar minhas coisas aqui ou preciso fazer as
malas? — Arrastei-me para fora da cadeira como uma lesma sob
efeito de Zolpidem6.
A cabeça de Holden inclinou.
— Vá em frente e deixe tudo que você não vai precisar em
Atlanta. Vou liberar os dias extras com o hotel. Descanse um
pouco. Parece que você precisa disso.
— Uau. Boa noite, Holden.
De volta ao meu quarto, coloquei meu pijama. Que cuzona
eu era. Este era o meu maldito sonho. Eu posso compartilhar
minha música com o mundo. As pessoas não só sabiam meu
nome, mas gritavam, cercando meu SUV e enlouquecendo
quando me conheciam.
Então, por que a hora que passei com Keyton foi uma das
primeiras vezes em muito tempo que senti que estava
experimentando algo real?

As luzes da cabine estavam fracas, com apenas uma lâmpada de


baixa potência sobre o meu lugar atrás do microfone. Painéis

6
Remédio indicado para insônia, comprado somente com indicação médica
- ATENÇÃO: Não se automedique.
de isolamento acústico creme foram presos à parede, muito
mais elegantes do que o tipo caixa de ovo cinza em alguns
estúdios.
Este foi um longo caminho desde o estúdio de gravação do
porão úmido em que eu trabalhei na faculdade, e muito mais
avançado do que a casa de Freddie em Greenwood.
Eu balancei minha cabeça mergulhando, e tropecei para
trás. Empurrando para frente, agarrei o suporte do microfone
na minha frente, quase fazendo com que eu e ele voasse.
— Bay! Você está bem? — A voz insistente e preocupada de
Holden ressoou pelo interfone da cabine à prova de som.
— Estou bem! — Eu cobri minha boca, bocejando tanto
que minha mandíbula doeu.
— Vamos encerrar.
— Não, eu posso ir mais uma vez.
— Está tudo bem. É a mesa de som. Desculpe, você está aqui
há tanto tempo. Deveria ter me dito que estava cansada.
Todos os olhos do outro lado do vidro estavam focados em
mim.
— Não — Eu sufoquei outro bocejo —, estou totalmente
bem.
Ele murmurou antes de desligar o interfone.
Eu cometi o erro de reclamar que estava cansada no meu
primeiro ano de turnê antes do meu álbum sair. Shows duplos
entre abrir para o Without Grey e tocar em locais menores por
trinta e sete dias seguidos culminaram em uma turnê de
imprensa e tempo de gravação em estúdio. Cochilos eram luxos
tirados com um moletom enfiado debaixo da minha cabeça no
chão, bancadas, em qualquer lugar que eu pudesse me enrolar
e desmaiar por pelo menos vinte minutos.
Holden queria que eu diminuísse a velocidade, mas nós dois
estávamos tentando provar algo a nós mesmos. Nós nos
esforçamos mais do que nunca, o que me levou ao precipício
de um esgotamento intenso logo antes dos dois meses
reservados para terminar meu próximo álbum.
As histórias que circulavam sobre minha falta de
profissionalismo e comportamento de diva quase arruinaram
toda a boa vontade que Holden e eu trabalhávamos em cultivar
logo antes do lançamento do meu álbum. Foi quando aprendi
a nunca reclamar, pelo menos não em voz alta. Esteja sempre
pronta para outra tomada ou outra mudança de roupa ou
outro bis.
De alguma forma, estar no centro das atenções em
ambientes pequenos como esse era muito pior do que estar no
palco. No palco, os rostos se fundiam em um organismo
gigante balançando que recitava todas as minhas letras de volta
para mim. Aqui, eu podia ver a dissecação acontecendo na
cabeça de todos.
O empresário, Holden, tentando decidir o quanto mais
poderia me pressionar.
A assistente, Emily, tentando acompanhar Holden.
O famoso produtor, Leon, nós viemos aqui para falar com
ele sobre meu novo álbum.
O executivo da gravadora contando quantas unidades e
streams eu precisaria no meu último álbum no meu contrato
atual.
O produtor do estúdio que estava feliz por estar na sala.
Senti o mesmo quando trabalhei nos estúdios. Às vezes as coisas
eram chatas, mas havia aqueles momentos mágicos de
unicórnio em que você se sentia como se estivesse voando
acima das nuvens observando um grupo de pessoas dar vida a
uma criação única.
Meu pai teria adorado cada minuto disso. Ainda parecia
surreal que esta era a minha vida. Tudo o que ele queria fazer
era subir no palco e tocar. Algumas noites ele conseguia fazer
isso antes de ir para o escritório no dia seguinte. Ele teria ido a
todos os shows, ouvido todos os álbuns repetidamente. Eu
sabia que ele ficaria orgulhoso. Esta era uma oportunidade
única na vida, e eu continuava determinada a não desperdiçá-
la.
Minhas sugestões e meus pensamentos para o álbum foram
derrubados com uma palavra de Leon, descartada como banal
e sem originalidade. Eles estavam passando pela minha cabeça
por meses, e a primeira vez que eu falei, um homem com mais
Grammys de produção do que quase qualquer pessoa viva, me
disse exatamente como eles eram absolutamente uma merda.
Em vez de rastejar sob o console, mantive minha cabeça
erguida, deixei nas mãos do mestre e fui para o meu lugar na
frente do microfone.
Este lado do vidro era difícil, entre trabalhar com novas
pessoas, experimentar novas músicas, ver o quão bem todos
trabalhamos juntos. Parte exibição do zoológico, parte criança
presa no canto, esperei que o interfone fosse acionado do outro
lado.
Leon se levantou de seu assento. As veias do lado de seu
pescoço incharam. Ele jogou as mãos para cima e saiu da sala.
Sua reputação não era nem um pouco exagerada. Ele podia
ser um gênio musical, mas também era um idiota. Mas eu
trabalharia com ele, se isso nos trouxesse o melhor novo álbum
para os fãs.
Meu estômago revirou, um caldeirão de hostilidade por ser
submetida a seus surtos. Não seria a primeira vez que eu
aturaria alguém assim para fazer o trabalho. É o que os
profissionais faziam, certo?
Tirei meus fones de ouvido e olhei para Holden.
O interfone voltou a funcionar. Holden se inclinou sobre o
console e olhou diretamente para mim, os lábios franzidos e a
mandíbula apertada.
— Estamos bem para esta noite.
Ah Merda. O caldeirão estava transbordando de
preocupação agora.
Coloquei os fones de ouvido no gancho do pedestal do
microfone. Correndo para o corredor, enfrentei Holden. A
porta do estúdio se fechando atrás dele.
— O que aconteceu? Eu disse que poderia ir outra vez se
precisássemos — Olhei para o corredor agora vazio atrás dele
— Ele está tão chateado?
— Leon é Leon e você está cansada — Sua mandíbula ainda
estava apertada, mas não com raiva.
— Eu não estou — Colocando ambas as mãos sobre a boca,
tentei engolir meu bocejo.
— Você está a apenas um Red Bull para entrar em um coma.
Vamos levá-la de volta ao hotel.
— Por que ele enlouqueceu?
— Não se preocupe com isso.
Emily saiu pela porta lateral da produção com todas as
nossas bolsas.
No caminho de volta para o hotel, os dois digitavam
furiosamente em seus telefones e escreviam em seus tablets.
Provavelmente estavam conversando entre si.
Um barulho ecoou pelo interior do SUV preto. Olhei pela
janela. Quando entramos, o sol ainda estava alto. Agora a vida
noturna havia tomado conta da cidade. Keyton jogaria
amanhã. Eu tinha planejado checar o placar antes de me alertar
sobre isso.
Eu tinha seguido sua carreira no início. Foi um golpe
quando eu percebi que ele tinha sido cortado do time e jogava
para o time de treinos, como uma guitarra elétrica perfurando
direto no meu peito. Sua carreira estava vacilando enquanto a
minha estava prestes a decolar. Isso tornou ainda mais difícil
pensar em ligar para ele. O que diabos eu deveria dizer?
Agora que ele caiu de pé, a pergunta ainda reverbera na
minha cabeça.
— Bay, é o seu telefone.
Eu pulei e olhei para minha bolsa no meu colo.
Vasculhando-o, peguei a tela brilhante aninhada entre os
cadernos guardados dentro.
Mais à vontade, bati na tela.
— Oi mãe.
— Ei, Superestrela.
— Ugh, eu odeio quando você me chama assim.
— Do que deveria chamar você quando tenho que ligar para
um número diferente a cada três meses? — Havia pouco mais
de três contatos no meu telefone. Minha mãe. Holden. E
Emilly. Quase nunca liguei. Nenhum dos números foi
registrado diretamente para mim, mas seis meses foram o
tempo mais longo que passamos sem que o número vazasse e as
ligações e mensagens estranhas inundassem.
— Sua filha ou Bay?
— Mas você sabe que é essas duas coisas. Às vezes você
precisa de um lembrete de que você é minha superestrela.
Eu sorri.
— Obrigada, mãe. Como vai?
— Bem. Aproveitando minha aposentadoria antecipada.
Conheci um cara novo.
Uma pontada foi direto para o meu peito. Você pode
esquecer uma dor antiga por um tempo, mas algo a atinge do
nada e ela vem rolando novamente. Sentia falta do meu pai e
sabia que ela também, mas ela merecia ser feliz.
— Vou conhecê-lo em breve?
— Você vai, se você estiver em casa para o Dia de Ação de
Graças.
Eu cobri o final do telefone e sussurrei.
— Ação de Graças? — para Holden.
Ele ergueu a mão, balançando-a para frente e para trás.
— Depende se adicionaremos shows extras ou não. Eles já
esgotaram e as arenas estão procurando mudar algumas coisas
para espremer mais. Os ingressos para a maioria dos shows se
esgotaram em duas horas.
Arenas dignas de pessoas que queriam ouvir minhas
músicas. Lembrei-me de como foi esperar com meu laptop e
um telefone, pronta para clicar em um botão e conseguir um
ingresso para ver um músico que eu amava, e como foi uma
droga quando eles esgotaram. O cabo-de-guerra para não
decepcionar ninguém se intensificou.
— Ainda está no ar. Partimos para a parte europeia da turnê
no final de outubro. Nós poderíamos levar vocês dois para
onde eu estiver.
— Você nem sabe? — Ela disse isso como se eu tivesse
anunciado que tinha esquecido meu próprio nome.
— Eu mal me lembro que dia é hoje — Eu ri e puxei a ponta
do meu rabo de cavalo. Era domingo, certo? Não, sábado.
— Você diz a Holden para parar de correr com você sem
parar — Seu tom de mãe repreendedor me envolveu como um
cobertor pesado.
Eu sufoquei outro bocejo.
— Ele não está me impedindo de parar. Estou totalmente
bem.
— Diz a jovem a três minutos de desmaiar na traseira de seu
SUV.
— Como você sabe?
— É a única maneira que você viaja hoje em dia. Não que eu
possa culpá-la. O show no Rio foi meio louco.
Uma falha de comunicação dos seguranças nos levou para a
rua errada e direto no caminho de uma multidão de fãs que
vinham para o show. Assim que souberam que era eu lá dentro,
quase fomos sacudidos por pessoas tentando tirar fotos e pedir
autógrafos.
— Foi, mas foi minha culpa por tentar dar autógrafos a uma
multidão tão grande.
— Espero que você esteja se protegendo.
Eu odiava preocupá-la, mas estávamos indo bem com os
seguranças. Não houve nenhuma carta estranha ou presentes
enviados em mais de um ano. Até agora era o fanatismo padrão
dos fãs e nada beirando o perigoso. Até Eric havia adotado uma
abordagem mais relaxada.
— Sempre.
— Bem, minhas datas estão abertas para o Dia de Ação de
Graças. Mas terei que verificar com Ray sobre seus planos. Ele
tem filhos na área, então não sei se ele vai querer viajar por aí.
Você vai convidar mais alguém para o nosso jantar, não
importa onde o tenhamos? — Nada sutil sua tentativa de jogar
um verde para colher maduro.
— Não mãe. Nenhum outro convidado.
— Por que não? E aquele cara Mark com quem eu vejo você
em todos os anúncios de balcão de perfume?
Eu ri.
— Sessões de fotos de campanha não significam que
estamos em um relacionamento — Além disso, o hálito de
Mark cheirava como se ele não tivesse comido nada além de
atum de uma semana durante toda a manhã antes de sermos
jogados no meio de um estúdio deserto compartilhando uma
espreguiçadeira branca. Ele pode ter parecido bonito, mas ele
não era um conversador empolgante, e provavelmente foi por
isso que eu consegui sair da filmagem com os pelos do nariz
intactos.
— Mas vocês dois pareciam tão apaixonados naquelas fotos.
— Isso se chama fazer o meu trabalho.
— E aquele do seu videoclipe? Com o cabelo loiro?
— Ele é um ator. Contratado para o trabalho — Ele tinha
sido legal. Não havia bafo de atum ali, mas ele também estava
noivo. Sua namorada extremamente agradável nem sequer
olhou para mim uma vez enquanto estávamos em algumas
situações totalmente comprometedoras.
— Pelo jeito que vocês dois estavam rolando nos lençóis, eu
pensei que talvez…
Eu bati minha mão sobre meus olhos, tentando segurar o
estremecimento.
— Pare de assistir minhas coisas.
— Como eu poderia? Ele aparece nos meus vídeos
recomendados do YouTube o tempo todo.
— É porque você continua assistindo os vídeos.
— Bem, de que outra forma eu poderia ver minha filha? —
Ela riu, mas sob o som melódico havia uma pitada de verdade.
Não houve nenhuma manhã de mãe e filha com biscoito e
chocolate quente desde que me formei. Durante as férias da
faculdade, ficávamos acordadas até tarde ou cedo, dependendo
de seus turnos, assistíamos a filmes e comíamos muitos
biscoitos. A agenda alucinante que eu me forcei deixou muito
da minha vida anterior no espelho retrovisor. Era difícil parar
um trem desgovernado e nada na minha vida parecia estar sob
meu controle.
— Eu também sinto sua falta, mãe.
— É meu trabalho como mãe me preocupar. A primeira
página do manual que eles distribuem no hospital diz "prepare-
se para se preocupar mais do que você jamais se preocupou em
toda a sua vida".
— Obrigada pela dica de maternidade.
— Você está bem?
— Estou bem. Cansada, mas bem. Ansiosa para uma pausa
após o término da turnê. Então podemos fazer uma viagem de
garotas em algum lugar. Onde você quiser. Só nós duas por
algumas semanas — Eu não olhei para Holden para ver o
pânico de olhos esbugalhados rabiscado em todo o seu rosto.
— Isso soa maravilhoso. Eu estarei esperando por isso.
— Eu sei que você estará. Eu te amo mãe — O SUV parou
na frente do hotel.
— Amo você, minha superestrela.
Terminei a ligação e coloquei o telefone de volta na minha
bolsa.
Em algum lugar entre ser empurrada para fora do carro e
entrar no elevador, a fadiga me atingiu como um amplificador
sobrecarregado. Bateu direto em mim, quase me derrubando.
Reuniões em cima de reuniões. Provas de roupas.
Entrevistas. Horas no estúdio. Esta não era a vida que eu tinha
imaginado para mim. Eu pensei que estaria me apresentando
em bares enfumaçados, talvez ser promovida a um cinema que
virou local de concertos em cidades de todos os EUA,
carregando e descarregando meu próprio equipamento.
Esta era uma vida além da minha imaginação e eu a vivia
todos os dias. Mas eu não conseguia me livrar da sensação de
roer no meu peito, aquela que me mantinha acordada até tarde
da noite, que eu tentava preencher com as conversas sobre
reformas de casas em vez de adormecer com meus próprios
pensamentos.
Esse sentimento gritava para mim por ser um pouco ingrata
por tudo que me foi dado e todas as pessoas que contavam
comigo. Mas no final do dia, quando me arrastava para a cama,
lá estava ela, a coisa que eu sempre pensei que não seria um
problema pra mim… ficar sozinha.
A solidão era mais difícil de afastar. Os momentos de
silêncio ecoavam em meus ouvidos com o vazio da vida criada
ao meu redor – aquela em que todos sabiam meu nome, mas
ninguém me conhecia.
Da esteira eu olhava para a cidade sendo banhada pelo sol da
manhã. Correr não era mais uma fuga – era como todos os dias
começavam. Era uma maneira de tirar um pouco de energia,
enquanto eu repassava todo o cronograma que Gwen me
enviou.
Mantenha as coisas calmas, medidas e sem intercorrências.
Se eu soubesse o que estava por vir, poderia desarmar alguns
dos velhos reflexos que vinham de não saber o que diabos estava
acontecendo ao meu redor. Eu não podia controlar tudo, mas
podia garantir que minhas reações não viriam de um lugar que
eu mostrasse estar absolutamente prestes a perder a cabeça. E
funcionava – na maioria das vezes.
Mas esta manhã eu estava inquieto. O rosto de Bay quando
eu saí no outro dia ficou comigo no elevador de volta para o
meu apartamento. O hotel estava cheio de fãs. A segurança era
maior do que eu já tinha visto antes.
Ela estava segura lá em cima? Seu andar estava quieto, mas
ela tinha que sair em algum momento. Ela já tinha ido?
Eu queria voltar para ela. Falar com ela ainda mais. Aceitar
seu convite para jantar. Provar os lábios que ela estava
mordiscando.
Enfiando meu dedo no botão de parada, eu rosnei para mim
mesmo. Pare com isso.
Não tinha sentido sair por uma dessas tangentes novamente.
Bay tinha sua vida, a melhor vida que ela poderia ter sonhado.
Então, por que havia um brilho de tristeza em seus olhos?
Provavelmente porque ela estava sentada na minha frente, o
cara de seu passado que sempre foi nada além de problemas.
Mas a repetição de seu rosto ficou comigo desde que deixei seu
quarto de hotel. Eu não conseguia parar de pensar em como foi
bom correr meus dedos por sua pele, mesmo que fossem apenas
os nós dos dedos.
Mais de algumas vezes nas últimas 36 horas, eu caminhei até
a porta do meu apartamento antes de me convencer a não
voltar lá.
Depois do meu banho, peguei o armamento pesado para
relaxar. Dentro do meu escritório, abri a gaveta da minha mesa
e tirei meus suprimentos. A luz do sol entrava pelas cortinas
abertas.
Sacudindo a tampa da caixa de madeira, procurei o lápis
certo.
Com ele cerrado entre os dentes, abri o bloco de desenho.
O desenho ajudou. Eu não desenhei só a Bay como na
faculdade. Eu desenhei coisas ao meu redor. Cenas que ficaram
na minha cabeça. Cenas do meu passado. Cenas do meu
presente. O raspar do lápis ou carvão contra um bloco de papel
me ajudou a processar um monte de merda voando a 140
quilômetros por hora em meu cérebro.
Hoje eu desenhei ela. Eu me perdi nas lembranças de vê-la
de perto pela primeira vez em seis anos. Não quando ela estava
como Bay pronta para entrar no palco, mas quando ela se
sentou na minha frente com os lábios manchados de chocolate
quente.
O desenho demorou tanto que a lateral do meu dedo doeu
de tanto segurar o lápis. Quando o coloquei no chão, o sol da
manhã não estava espreitando acima do horizonte – estava
abrasador no céu.
Eu empurrei para frente em meu assento para verificar a
hora. O batimento cardíaco acelerado diminuiu. Ainda
faltavam três horas até que eu precisasse estar no estádio.
Arrastando meu dedo ao longo do espaço onde seu cabelo
lançava uma sombra sobre sua testa, borrei as linhas de seu
rosto e levantei o papel.
Ela olhou de volta para mim. O brilho não tinha sido
imaginado. Esteve lá. E não havia nada que eu pudesse fazer
sobre isso – nada que eu deveria fazer sobre isso.
Nós dois fizemos nossas escolhas. Era justo que vivêssemos
com elas, não importa o quanto esperássemos poder levar tudo
de volta. Não havia como apagar o passado.
Depois de um banho, eu fiz meu café da manhã e fui para o
trabalho para sentar a minha bunda, não fazer nada e esperar
que o que diabos tinha feito funcionar até agora, continuasse
funcionando. Às vezes eu me sentia paralisado, como se
qualquer coisa que eu mudasse na minha rotina do dia de jogo
pudesse quebrar o feitiço lançado sobre a minha presença no
estádio. Eu desisti porque os rituais ficaram muito obsessivos.
Eu não podia controlar isso. Todos os outros achavam que sim,
mas isso não significava que eu não queria que eles ganhassem.
Eu só queria poder fazer algo que realmente importasse lá fora.
O primeiro jogo de uma nova temporada. A energia nervosa
levou ao salto da perna sentada, o que levou ao ritmo. Toda a
calma do desenho evaporou em questão de horas. Saí do meu
apartamento quando a espera se tornou insuportável.
Dentro do vestiário, me vesti cedo.
A equipe de apoio e treinamento percorreu a sala com um
propósito. Era menos um quarto e mais uma colmeia. As salas
de fisioterapia ficavam fora do vestiário principal, que não eram
bem armários mas sim como cubículos enormes. As salas de
condicionamento e reabilitação tinham a mais recente
tecnologia de recuperação.
Havia banhos de gelo que pareciam que você estava sendo
esfaqueado por todo o corpo com pingentes de gelo. Não que
eu precisasse deles com meu nível de jogo. Eu pulei em um uma
vez antes de um jogo em LA e acabei fazendo isso antes de cada
jogo para não perder a magia. Quando me mudasse para
Phoenix, com certeza deixaria isso de fora do meu ritual pré-
jogo.
Longe estavam os dias de necessidade de lavar e cuidar do
meu próprio equipamento. Estava tudo colocado no amplo
banco acolchoado em frente ao cartaz com o meu nome.
Favos de atividade todos conectados juntos. Aprender sobre
novos estádios, nova comissão técnica e novas equipes a cada
uma ou duas temporadas, sempre criava um período de
adaptação, mas esta era minha segunda temporada em Philly e
a transição inicial foi menos assustadora do que as outras.
A porta do vestiário se abriu, e o grupo de caras que era a
coisa mais próxima que eu tinha de família, fora de Knox e seus
pais, irromperam pelo batente da porta.
— Keyton! — eles gritaram em uníssono, como se não
tivéssemos nos visto alguns dias atrás no primeiro jogo da pré-
temporada.
Eu abaixei minha cabeça e me preparei para a pilha de
cachorros.
Eles se jogaram em mim, me apertando e gritando sobre
chutar alguns traseiros de verdade nesta temporada. Todo
mundo tinha feito a mesma coisa durante o acampamento de
treinamento e os jogos de pré-temporada.
— Vocês precisam trabalhar em seus olás. Não danifique a
mercadoria ou talvez você não consiga outro anel — Eu dei de
ombros com uma risada, alisando o cabelo que eles
bagunçaram. A confiança sempre desempenhou um papel na
minha função. Se eu jurasse que aconteceria, as pessoas ao meu
redor entravam em fila.
Reece sorriu, seus olhos verdes brilhando com malícia.
— Não é assim que temos essa sorte? Esfregando nossos
dedos em suas mechas maravilhosas? — Ele alcançou minha
cabeça novamente.
Eu dei um tapa nas mãos dele.
— Não se você quiser manter essas mãos para pegar passes.
Ele sorriu e desamarrou seu Adidas vermelho e branco antes
de guardá-los em segurança em seu armário. A obsessão por
tênis não tinha morrido depois da faculdade.
— Obrigado por cuidar desse número para mim cara —
Berk bateu no meu ombro com o punho.
Antes de eu entrar para a equipe, era o número dele – um
número que significava muito para ele.
— Você sabe que eu não pedi a eles para fazer você desistir
— Ele não tinha falado sobre isso na última temporada, mas eu
sabia que tinha sido difícil para ele.
Ele bufou e levantou o queixo.
— Eu sei. Mas se isso nos ajudar a vencer novamente este
ano, estou bem com isso — Um sorriso torto acalmou minhas
preocupações.
— Você vai pegá-lo de volta quando eu sair — Meu número
permaneceu o mesmo de equipe para equipe, ninguém queria
perturbar muito o equilíbrio em qualquer direção.
Todos os três caras voltaram de seus vários estágios de se
despir ou se vestir.
Berk parou de tirar seus tênis surrados.
— Você já está planejando nos deixar?
— Quatro equipes em seis anos. Já me acostumei.
— Mas você nos levou ao campeonato no ano passado —
LJ olhou para mim com os olhos arregalados, como se eu fosse
louco por sair. Ele era o único que poderia ter o menor indício
de compreensão sobre como era estar em um time onde você
nunca jogava. Nosso antigo treinador da faculdade o colocou
no banco durante a maior parte das duas últimas temporadas
por causa de sua melhor amiga, a filha do treinador. Eles
começaram como amigos apenas, mas o ponto de virada
provavelmente veio em algum momento quando eu o
encontrei de joelhos com a saia dela enrolada em torno de seus
quadris "verificando se havia uma picada de abelha". Eles
fingiram ser apenas amigos por mais um tempo antes de
assumirem tudo.
Ele tinha sido um desastre absoluto naquela temporada,
quando mal conseguiu um quarto do tempo de campo.
Tente uma média de menos de um jogo na maioria dos
jogos.
— Eu sei, será bom voltar ao campo com vocês nesta
temporada.
Reece puxou sua camisa que absorvia a umidade.
— Você estava ótimo durante o acampamento de
treinamento. Eu não posso acreditar que eles não ficaram com
você no início.
Eu podia. Eu era um não provado. Um veterano não
aprovado.
— Essa é a vida do amuleto da sorte humana — Eu me
preparei, colocando todo o meu equipamento, embora eu
tivesse sorte de pisar além das laterais neste jogo. "Ai de mim"
parecia errado. Tantos caras matariam para estar na minha
posição. Quantos chegaram à quinta temporada com apenas
uma lesão?
Todos passaram pelos treinos de força, condicionamento e
fisioterapeutas. Reece tinha um ombro ruim. O tendão de Berk
estava se recuperando, e o joelho esquerdo de LJ estava lhe
dando problemas. Depois da minha pausa em Charlotte não
houve nada sério, mas eu não tive um músculo estirado em três
anos.
Enquanto a maioria dos caras estava chegando ao fim de sua
vida profissional, eu tinha pernas e braços frescos – inferno,
meu corpo ainda estava praticamente coberto com o plástico
que era tão satisfatório quanto descascar da tela de um novo
telefone.
O treinador veio para nos dar um discurso empolgante
sobre como esta temporada seria nossa temporada novamente.
Eu tinha ouvido o discurso muitas vezes antes, e não perdi os
olhares disparando em minha direção ao longo dele.
Sem encolher de volta. Nada de ter caras duvidando de suas
chances em campo. Foi o que eu fiz. Mesmo que eu não fizesse
merda nenhuma. Por dentro, meu coração disparou como se
eu estivesse prestes a correr para o campo e pegar uma
interceptação no ar, mas mantive o exterior frio e confiante
cantarolando.
— Vistam-se e vamos mostrar a todos do que somos feitos!
Seu grito final de determinação disparou um pico de
adrenalina através de mim, embora eu não estivesse jogando.
Os cheiros de analgésico, couro, almofadas de plástico e
determinação pairavam no ar, e todos estavam animados.
Alguns minutos depois, era hora de tomarmos nossos
lugares na escalação para irmos para a lateral. Os caras saltavam
na ponta dos pés, saltavam alto no ar ou balançavam para frente
e para trás, os olhares fixos na luz no final do túnel forrado de
funcionários do estádio.
Anúncios ecoaram e reverberaram, ricocheteando nas
paredes pintadas de blocos de concreto. Eu descansei meus
dedos nus contra a parede, sentindo a energia do lugar. Todos
atrás de mim fizeram o mesmo, e então os caras na minha frente
pegaram e estenderam as mãos.
Cada movimento que eu fazia antes de um jogo se tornava
um ritual de equipe. Às vezes eu ficava tentado a entrar na
dança da galinha.
LJ bateu no meu ombro.
— Está pronto?
Uma risada trancada no meu peito.
— Eu estou sempre pronto — Para sentar à margem.
Os caras da frente saíram em direção ao campo e nós o
seguimos, dedos roçando a parede, não perdendo contato até
que corremos para fora do túnel através da bandeira gigante
para começar a temporada antes de encontrar nossos lugares
nas laterais.
Ao meu redor, o estádio ganhou vida como uma fera se
contorcendo e ondulando. Os fãs estavam de pé, gritando
desde o momento em que entraram até a saída. A cidade
certamente tinha um jeito de acolher seus heróis atléticos.
Arrepios subiram em meus braços como chuteiras
pressionando em grama fresca.
Olhei para as arquibancadas e respirei as imagens e sons.
Todo o lugar estava ganhando vida.
A equipe se amontoou e eu tomei meu lugar entre eles.
Lentamente, um caminho se abriu através do amontoado e fui
empurrado para mais perto da frente. Meu capacete balançava
e batia enquanto os caras esfregavam e batiam nele como se eu
fosse um amuleto da sorte. Eu aprendi depois da minha
primeira temporada a usar o capacete durante o amontoado ou
eles esfregariam uma maldita careca na minha cabeça.
O treinador empurrou o fone de ouvido para baixo em volta
do pescoço e bateu as mãos contra a prancheta antes de se
dirigir ao time.
— Vamos todos chegar lá e começar esta temporada da
maneira certa. Keyton está aqui conosco mais uma vez, o que
significa que levaremos o anel para casa em fevereiro. Façam o
que precisa ser feito para levar todos nós até lá e deixar esta
cidade orgulhosa!
A equipe se agrupou ainda mais antes de gritar "nós viemos
para vencer!" e quebrando o amontoado. As linhas ofensivas e
defensivas se separaram, encontrando seus treinadores. O
ataque correu para o campo.
Tirei meu capacete e agarrei meu assento na beirada do
banco.
Berk, Reece e LJ tiveram seu tempo em campo.
Mas a vitória foi apertada. Nos sete segundos finais, um gol
de campo voou pelos ares de um estádio quase silencioso,
pronto para arrebatar o jogo das garras da vitória.
Os deuses do vento estavam conosco e ele voou para longe,
resvalando para a esquerda.
Andar de um lado para o outro se transformou em aplausos.
Toalhas foram jogadas no alto e gritos primitivos rasgaram as
arquibancadas. Eu odiaria ver o que aconteceria quando
perdessemos. Parecia inevitável e como uma bomba-relógio
pairando sobre minha carreira profissional.
Fiz o debriefing7, tomei banho, troquei de roupa e voltei
para o meu carro antes mesmo de alguns fãs terem saído.
Estávamos todos nos encontrando no Tavola para jantar
depois do jogo, que se tornou mais difícil de conseguir uma
mesa do que em qualquer restaurante cinco estrelas da cidade.

7
Reunião onde se reporta a execução de uma tarefa qualquer.
Ainda bem que conhecíamos o proprietário. Nix tinha saído
do The Brothel antes de eu me mudar, mas ele ajudou a manter
um suprimento constante de comida para nossa casa cheia de
jogadores de futebol.
Eu me estabeleceria em outra temporada revisando fitas de
jogos em que não estava e revisando fitas de oponentes para
estudar para jogos em que não jogaria, mas o fio de esperança
estava lá de que eu poderia entrar em campo nesta temporada.
Não na primeira cidade que considerei meu lar, mas em
Wisconsin.
Sentado no meu carro, verifiquei minhas mensagens. Havia
uma de Gwen.

Gwen: A Headstrong Foundation caiu no chão


quando eles viram você em fotos com Bay.
Atenção, eles estão pedindo para ela se
apresentar no SeptemberWeen Carnival.

Olhei para a tela, meu coração martelando em excesso.


Primeiro, havia fotos de Bay e eu espalhadas por aí. Só podiam
ser de quando estávamos tomando café. Elas agora tinham sido
compartilhadas em todos os lugares. A dor gravada em seu
rosto era tão cortante quanto eu me lembrava? Como eu tinha
desenhado? Quão fodido foi que outras pessoas estavam
negociando essas fotos como se não fosse grande coisa?
Segundo…

Eu: Ela respondeu?


Gwen: Eles ainda estão esperando uma resposta
da sua equipe.

Deixei cair minha cabeça contra o encosto.


Ela deveria ser inundada com pedidos como esses. As
chances de ela se lembrar da minha fundação eram pequenas.
Seu pessoal iria ignorar. A Headstrong Foundation era uma
organização pequena e nova. Havia centenas, senão milhares,
fazendo a mesma coisa e tentando fazer a diferença, mas ela não
tinha tempo infinito. Isso não significava que ela abriria espaço
em sua agenda para mim.
Era perigoso esperar que ela o fizesse. Quando a porta se
fechou atrás de mim na sexta-feira, eu fiz as pazes com a última
vez que a vi. A veia protetora e meus velhos instintos me
mostraram que eu ainda não tinha chegado tão longe quanto
pensava.
Mas isso era diferente. Se ela dissesse sim, talvez não tivesse
nada a ver comigo. Talvez fosse sua caixa de seleção de caridade
para o ano. Talvez ela aceitasse e fosse embora assim que
percebesse que eu estava envolvido. Ou talvez fosse o universo
nos dando outra chance. A segunda chance de uma segunda
chance.
E talvez eu estivesse pronto desta vez.
O voo de Atlanta decolou no horário, embora houvesse atrasos
nas pistas principais. As vantagens do voo privado. Às vezes,
porém, eu ansiava por um assento do meio apertado, um
indício da normalidade que uma vez eu tinha dado como certo.
A sessão de hoje com Leon foi melhor do que no sábado e
no domingo, mas algo parecia estranho. Eu acordei suando frio
pensando em trabalhar com ele por dois meses antes de iniciar
uma nova turnê. Ele era um dos melhores. Ele foi altamente
recomendado. Cada álbum em que ele trabalhou ganhou disco
de platina. Eu seria estúpida se voltasse atrás. Eu engoliria ele e
teria o trabalho feito.
Eu confiei minha carreira a Holden, e, às vezes, minha vida.
Eu confiava nele para me guiar na direção certa, mas tinha sido
difícil me acomodar em qualquer coisa que parecesse
confortável durante aquelas duas sessões. Mas algumas coisas
demoram mais para se fundir do que outras. Eu trabalharia
mais e faria o que precisava para entrar na linha. Leon não tinha
uma sala cheia de Grammys porque não sabia o que estava
fazendo.
— Terra para Bay, você vai se juntar a nós esta noite? —
Holden sentou-se à minha frente na mesa de quatro lugares
atrás do longo sofá que fica em um lado do avião.
— Você sabe que a primeira vez que entrei em um desses,
pensei que nunca mais entraria em um? — O interior creme e
dourado gritava um clássico discreto como a partida de pólo em
Uma Linda Mulher. Um arranjo floral fresco estava em uma
tigela de vidro em cada mesa. Viver nesta bolha era estranho.
— Você definitivamente não agiu assim. Você estava um
pouco distraída — Ele largou o tablet e cruzou as mãos sobre
ele. Ao longo dos anos, nós dois mudamos muito. Ele passou
de um empresário inexperiente sob a asa de Maddy para o
vaqueiro solitário do show Bay. Maddy lidava com as grandes
coisas, mas Holden era meu número um no dia-a-dia. Nós
eramos como uma equipe, tanto por cima de nossas cabeças
quanto por manter este navio atravessando as ondas, embora às
vezes parecesse que não tínhamos ideia de onde ele poderia
acabar.
O relógio que ele comprou quando estávamos em Paris
aparecia por baixo de seu punho branco. Não um Rolex – isso
era muito comum para Holden. Era um Patek Philippe.
Custou mais de um ano da minha mensalidade da faculdade,
mas serviu para ele.
Ele parecia ter nascido em um jato particular. Eu não acho
que eu já tinha visto ele em jeans antes.
— Eu estava distraída.
— Muito parecida com você agora — Ele acenou com a mão
na minha direção.
— Há muito em minha mente — Meu reflexo olhou de
volta para mim pela janela.
— Temos a segunda metade de uma turnê de três
continentes e quarenta e oito cidades para terminar em dois
meses, precisamos terminar todo o pré-trabalho para o novo
álbum, decidir sobre a turnê promocional e Maddy vai querer
falar com você sobre as negociações do contrato para o novo
acordo de vários álbuns. Não há muito tempo para distrações.
— Eu sei — Além do meu reflexo, o céu escuro estava cheio
de nuvens e as estrelas pareciam presas no horizonte. Sempre
havia muito o que fazer. Metade do tempo eu não sabia o que
estaria fazendo no dia a dia sem Holden e Emily me guiando de
um local para outro. Em cada parada, eu nunca sabia a extensão
do que estava reservado para mim até chegar. Não havia tempo
suficiente para isso.
Ele soltou um longo e baixo suspiro, do tipo que significa
que algo grande aconteceu. Eu tinha ouvido isso antes de ele
anunciar que meu álbum tinha ido para o número um, mas ele
também o usou para me dizer que eu tinha recebido uma carta
ameaçadora e Eric precisaria de algum apoio para me manter
segura por alguns meses um ano atrás. Era sempre uma questão
de saber que tipo de notícias a respiração trazia.
— Manda bala — Eu mexi os dedos de ambas as mãos —
Pare de se segurar e me assustar.
— Recebemos muitos pedidos para você fazer voluntariado
e trabalhos de caridade — Ele bateu a unha do polegar contra
os lábios.
Esse foi seu movimento de pensamento profundo. Não é
ruim, não é bom. Os benefícios e pedidos de caridade eram
informações que eu já conhecia. Com a minha agenda do jeito
que era, tentávamos encaixar o máximo que podíamos. Nem
sempre era possível. Mas não consegui relaxar ainda.
Ele nunca foi tão cauteloso quando se tratava de dizer não,
se não conseguiríamos fazer funcionar.
— Um novo lote chegou e eu pensei que, desta vez, talvez
você devesse tomar a decisão.
Havia mais nisso. Ele não fazia cara séria a menos que
estivesse preocupado. O zumbido dos motores abafou o aperto
no meu coração.
Deslizando o tablet sobre a mesa, ele me observou.
O que diabos poderia estar aqui que o fez agir tão estranho?
Os nomes no topo eram os padrões com os quais trabalhamos
antes, mas sua atenção cuidadosa me deixou no limite.
Examinei a lista. As datas para muitos não funcionariam
quando alinhadas com a minha agenda.
— Podemos dar a todos eles um belo pacote de mercadorias
que eu possa assinar para seus leilões ou para doar? E talvez eu
possa fazer uma videochamada ou algo assim.
— Para todos eles? — Seu olhar aguçado me enviou de volta
para a lista.
Por que ele simplesmente não botava pra fora logo? Eu olhei
para ele e olhei de volta para a lista, passando por cada um até
que o novo nome que eu tinha perdido antes saltou para mim.
Só que não era novo. Eu tinha ouvido antes.
Minha cabeça disparou.
— Esta é a fundação dele? De Keyton?
Holden assentiu.
— Sim.
— Ele pediu por mim? — A esperança ardeu em meu peito
— Você fez isso? Você entrou em contato com eles?
Ele suspirou balançando a cabeça.
— Eu não toquei nesse assunto depois que você disse para
deixá-lo em paz — Seu tom deixou a desaprovação.
— Mas eu me certifiquei de que fosse adicionado à lista, por
garantia. Alguém do departamento de eventos deles entrou em
contato com Emily, possivelmente depois que as fotos de vocês
dois caíram na web.
Minha esperança despencou com a mesma rapidez. Ele
provavelmente não tinha pedido por mim como forma de me
ver novamente. Provavelmente tinha sido sua equipe.
As fotos nossas já estavam circulando online. Seu "adeus"
parecia final. Olhei para a data. O final da próxima semana. O
resto do cronograma foi apresentado em preto e branco. Ir
causaria um gargalo, o que significaria me manter na base de
Red Bull e café por uma semana, mas eu precisava fazer isso. Eu
precisava mostrar a ele e a mim mesma que fizemos nossas
reparações e que nós dois poderíamos seguir em frente. Eu não
queria que nenhum de nós tivesse que carregar essa bagagem
mais.
— Eu quero fazer isso.
— Eu imaginei — Sua cabeça sacudiu em um aceno afiado
— Já estou trabalhando na reorganização da agenda.
Uma semana.
— Há alguns eventos de imprensa que eles precisam que
você faça uma semana antes.
— O que eles precisarem — Corri meus dedos ao longo da
borda lisa da mesa — Você… você sabe se ele estará lá? — Eu era
uma idiota estúpida e sem esperança por fazer isso. Por esperar
vê-lo novamente e ter uma desculpa para falar com ele mais
uma vez. Talvez saber que seria a última vez tornasse mais fácil
vê-lo se afastar de mim.
Ajudar sua fundação era o mínimo que eu podia fazer. Sem
expectativas. Sem segundas intenções.
— Não sei. Posso confirmar antes de respondermos.
Balançando a cabeça, olhei pela janela. O tempo não parecia
tão sombrio quanto antes.
— Não, tudo bem. Eu vou fazer isso de qualquer maneira.
Mesmo que ele não estivesse lá. O mínimo que eu podia
fazer era apoiar uma instituição de caridade que significava
muito para ele. Meu rosto e meu nome poderiam ser usados
para outra coisa além de vender álbuns ou capas de revistas.
— E gravar na Filadélfia? Como você se sente sobre isso?
Pelo menos para as faixas parciais do álbum.
— Eu pensei que você disse que gravaríamos em Atlanta —
Procuramos casas de aluguel para não ter que ficar o tempo
todo em um hotel. Conversamos sobre colaborações com
artistas locais. Isso não fazia sentido.
A cabeça de Holden inclinou e ele nivelou um longo e
avaliador olhar para mim.
— Acho que Philly será melhor para você. Além disso, o
Without Grey gravou seu último álbum lá e eles ganharam
platina dupla.
— E todas as coisas que assinamos em Atlanta? — O pânico
apertou meu peito — Leon cancelou o acordo? Ele não quer
trabalhar comigo?
Passamos duas horas de reuniões antes de assinar uma
enorme pilha de papéis no final. Eu tive que rubricar cada
página antes de entregá-la a Holden.
— Não foi escolha dele. Foi minha. É meu trabalho cuidar
dessas coisas, não é? Ele tinha um ego superdimensionado e
uma atitude miserável.
— Mas… — O argumento morreu na minha garganta,
totalmente apagado pelo alívio. Pensar em trabalhar tão perto
de Leon não acalmou meus nervos nem um pouco. Gravar na
Filadélfia significava estar mais perto de Keyton. O júri ainda
estava decidindo se isso era uma coisa boa ou não.
— Ele não iria ajudá-la a passar mais fácil pelo álbum.
— Ele é um dos melhores do ramo.
— Você também é — Ele piscou — Além disso, você vai me
dar um relógio novo para o Natal para me compensar por
resolver tudo.
— Você já não tem um? — Bati meu dedo contra o
mostrador de vidro de seu relógio.
Ele assobiou e puxou o braço para trás, acariciando o aço
escovado ao redor do vidro.
— Nunca toque assim no relógio de um homem — Tirando
um pano quadrado do bolso interno do paletó, ele o passou
pelo mostrador do relógio.
Para um cara tão focado em suas roupas e relógios, olhando
para ele, eu teria pensado que ele era um atleta com certeza. Um
tipo elegante embora. Talvez pólo ou remo. Algo refinado e
caro demais para qualquer pessoa sem vários zeros em sua conta
bancária sequer tentar.
— Para onde devo enviar o presente de Natal? Você vai
visitar sua família?
Sua risada irônica foi seguida por um arquear de
sobrancelha.
— Tentando jogar verde?
Eu descansei meus cotovelos na mesa, me inclinando para
frente, feliz por tirar a atenção de mim.
— Eu poderia contratar um detetive, sabe? Descobrir todos
os mistérios de Holden Yates.
— Essa ameaça de novo — Ele balançou a cabeça e mal
conteve seu revirar de olhos.
Ele havia aperfeiçoado o modo gerente, homem nas
sombras.
— Você sabe tudo sobre mim, e às vezes eu sinto que
acabamos de nos conhecer pelo pouco que sei sobre você.
— Você sabe toneladas. Eu me visto de maneira impecável
— Ele puxou as lapelas de seu blazer — Eu posso fazer supino
de noventa quilos. Tenho um gosto excepcional para relógios,
vinho e mulheres.
— Nessa ordem.
Seu olhar se estreitou.
— Mais uma palavra e eu vou deixar você na pista. Você terá
que encontrar seu próprio caminho de volta para o hotel.
Abri o caderno na minha frente e rabisquei as palavras no
topo de uma nova página.
— Ameaças vazias.
— Não — Ele agarrou o papel encadernado em espiral —
Não faça isso.
— "Brilhante. Carrancudo. Rosnando. Os fãs vão amar isso"
— Brinquei de me manter à distância com meu caderno —
Tudo sobre um garimpeiro corajoso cruzando o país,
vasculhando brechós por roupas e sapatos.
Ele caiu para trás em sua cadeira com os braços cruzados
sobre o peito, seu rosto a meio passo de um beicinho.
— Você não faria isso.
— Oh, mas eu faria, se você não fizer como uma piñata e
começar a derramar alguns segredos doces. Uma coisa. Eu sei
que você tem um irmão mais velho e uma irmã mais nova.
Ambos os pais estão vivos. Pelo menos eram dois anos atrás.
Fora isso, sinto que não sei nada sobre você.
— Passamos dezoito horas por dia juntos. Você sabe tudo o
que há para saber — Ele disse isso como se nem todos
tivéssemos um passado. Um que nos moldou e nos guiou, não
importa o quanto nós fingimos que não.
— Eu conheço você agora. Você conhece toda a minha
bagagem e segredos.
— É difícil passar batido quando você literalmente escreveu
três álbuns espalhando-os para o mundo inteiro.
— Você veio direto de Londres para LA? Você fez faculdade
no Reino Unido?
Sua cabeça se ergueu.
— Como você sabia que eu morava em Londres?
Revirei os olhos.
— É a única cidade onde você desaparece por horas a fio
quando não está trabalhando. Além disso, eu vi você da
varanda da última vez que estivemos lá. Você estava se
despedindo de quatro ou cinco pessoas. Achei que se você
conhece tantas pessoas lá, provavelmente havia morado lá.
— A única vez que você não estava assistindo Caçadores de
Casa… eu morava lá. Fui para o internato desde os quatorze
anos. Mas não foi o suficiente para pegar o sotaque.
— Em vez disso, você foi com um sotaque de "velho
dinheiro do Nordeste."
— Não tenho sotaque.
— Não tanto um sotaque, mas um ar. Cuidadosamente
elaborado.
Sua bufada de diversão se transformou em um sorriso.
— Ah, assim que tem sido. Agora você tem um pouco de
informação. Eu morava em Londres.
— O que? Não, eu descobri isso sozinha. Eu preciso de
outra coisa. Vamos, estou faminta por informações.
— Tudo bem, eu odeio pizza.
Eu suspirei.
— Sai fora! — Apontei para a porta hermética do avião —
Quem é você, mesmo? — Agarrando meu caderno no peito,
balancei a cabeça e olhei para esse impostor alienígena que
esteve na minha presença nos últimos seis anos. — Mas você
comeu na minha frente.
— Você sabe o que acontece quando você recusa uma pizza
por não gostar? Oito mil perguntas. Sou conhecido por enfiar
goela abaixo ou dar algumas mordidas e jogá-la fora quando
tenho a oportunidade.
— Sinto que nem sei quem você é.
— Meu segredo sujo foi revelado.
— Nunca mais vou olhar para você da mesma forma.
— Você queria que eu me abrisse, e agora eu me abri. A
página, por favor — Ele acenou para eu entregá-la, balançando
os dedos.
Rasgando a página do caderno, peguei minha caneta.
Holden rasgou a página e enfiou os pedaços no bolso.
No topo da próxima página, rabisquei "Odiador de Pizza"
no topo.
— O que você está fazendo?
Eu o segurei perto do meu peito.
— Nada.
Ele empurrou para fora de seu assento e usando dois dedos,
fez um movimento entre seus olhos e eu, sinalizando que ele
estava me observando.
Mantendo meu olhar inocente, eu não olhei para baixo até
que ele desapareceu no banheiro.
Ele era a coisa mais próxima que eu tinha de um amigo hoje
em dia. De vez em quando, Piper enviava um e-mail ou uma
mensagem de texto, e nos encontrávamos quando eu estava na
cidade, mas ela tinha uma vida e uma família. Parecia que
sempre que eu aparecia, o circo estava na cidade. Eu não queria
perdê-la. Ela era uma das poucas pessoas que ainda me tratavam
como eu, como a velha Bay de antes de minha vida se tornar
minha vida. Felícia era a mesma. A administradora de
residência, em cuja cama eu costumava sentar, tentando não
arrancar meu cabelo por causa do dever de casa de economia,
sempre seria alguém a quem eu podia recorrer, embora as
mensagens tivessem ficado menos frequentes.
Os fusos horários e as viagens tornavam bastante difícil
manter amizades.
Entrar na vida dela sempre que era conveniente para mim
me fazia sentir como a pior amiga do mundo. "Ei, estou livre.
Largue tudo e venha sair comigo porque senti sua falta" Não
parecia legal.
Até minhas mensagens para Spencer eram poucas e
distantes entre si. Ele estava ocupado com sua própria turnê.
Ele nunca pediu nada – nenhum pedido de passagens ou
conexões. Eu tinha passado por mudado de número duas vezes
desde a última vez que conversamos no início deste ano. O fato
de ele ter ficado tão chocado quando eu lhe enviei uma
mensagem doeu um pouco. Era como se ele tivesse esquecido
que já nos conhecíamos, quanto mais éramos amigos.
Holden e Emily estavam comigo dia após dia, parte da
loucura que minha vida havia se tornado.
Mas amigos não deveriam ser pessoas que você não precisava
pagar para ficar por perto?
Amanhã, teríamos notícias da Headstrong Foundation.
Eu teria que descobrir como fazer Keyton passar um pouco
mais de tempo comigo, e como deixar ir o único homem que
eu já amei.
A abertura da temporada e outro jogo. As reuniões do conselho
da Headstrong Foundation. As reuniões com meu agente e
treinadores de Wisconsin. Os últimos dias tinham sido lotados,
e faltavam quatro dias para o SeptemberWeen Carnival 8.
As negociações haviam progredido com Wisconsin. Não foi
um acordo feito por qualquer extensão da imaginação, e havia
apenas dois meses antes da janela de trocas fechar e eu perder
mais uma temporada. A cada passo, as pessoas ficavam me
lembrando de quão monumentalmente estúpido era deixar o
nicho confortável que eu tinha criado para mim.
— Você é louco, garoto.
— Talvez, mas é o que eu quero.
Houve muitos resmungos do outro lado da linha.
— Se eles vierem no meu valor mínimo, apenas aceite. Não
pechinche. Não precisa verificar comigo. Apenas diga sim.
Você é meu agente e estou orientando você a fazer isso como
seu cliente.

8
SeptemberWeen: mistura dos nomes do mês de setembro em inglês
(september) com Halloween (dia das bruxas, que é em outubro), sendo assim, um
tipo de aquecimento para as comemorações de Halloween.
Ainda mais resmungos com algumas palavras escolhidas
adicionadas.
— Você é o chefe.
Desligando, olhei pelas janelas para as lascas de luz do sol
rompendo o horizonte.
Todas as manhãs eu acordava com o sol e subia na esteira da
academia vazia no meu apartamento vazio. Esses dias, eu não
estava tentando me cansar correndo até sentir que minhas
pernas falhariam e meus pulmões explodiriam. Isso não o
tornava menos essencial. Não era como se eu estivesse
treinando em campo.
Meu bloco de desenho estava se exercitando. Eu até me
graduei em carvões com papel maior. As telas estavam
desembrulhadas ao lado da minha porta da frente. Esses
sentimentos foram crescendo, e a necessidade de aumentar as
cenas crescia a cada dia.
Sentado no banco de madeira ao lado de meus pesos livres,
bati em um nome em meus contatos e esperei que ele se
conectasse.
— Ei, Keyton. Faz algum tempo — Quase três meses. Na
época em que Alice e eu terminamos.
— Oi, Monica. A temporada está começando. As coisas
ficam ocupadas.
— Como está a corrida?
— Acabei de terminar.
— Ok, bom, eu esperava que fosse por isso que você estava
ofegante e não por algum outro motivo… — Sua voz sumiu.
— Qual é, Monica.
— Não, por favor, não — Inexpressiva e seca como uma
passa de uma década passada.
Joguei minha toalha no cesto e ri.
— Você tem a mente mais suja que a maioria dos caras do
time.
— Foi o que me disseram. É por isso que estamos falando
hoje?
— Não, é sobre Bay.
— Ah, Bay. Esse é um nome que não ouço há algum tempo.
Juro que ouvi o clique da caneta dela. As páginas do caderno
provavelmente estavam sendo abertas.
— Eu a vi. Uma semana atrás.
— E você esperou uma semana inteira para me ligar?
Impressionante.
— Nosso primeiro encontro foi um acidente e tomamos
café no dia seguinte. Era para ser uma coisa única, mas…
continuo sentindo que deveríamos ter dito mais. — Gwen não
me contou se Bay havia aceitado o convite. Uma vez que ela
percebesse que era para a minha fundação, ela provavelmente
faria Holden queimar o convite depois de eu ter fugido de sua
suíte de hotel.
— Por que não vai encontrá-la e conversar um pouco mais?
— Não é tão simples assim.
— Mas pode ser.
— Você pode tentar não soar como uma coruja velha sábia
agora?
— Não — Que bom que ela se dispôs a me ajudar — Diga-
me por que falar com ela o deixa nervoso.
— Recaída. Enlouquecer de novo — Arruinar nossas vidas.
Nós dois havíamos escapado de uma bala do tamanho de Dare
seis anos atrás na Califórnia.
— Ela não é Alice. Eu sei que você sabe disso. Mas você é
diferente, certo? E ela é diferente. Por que não encarar como se
estivesse conhecendo uma nova pessoa? Seu passado sempre
estará lá, mas não há sentido em catastrofizar falando com ela
quando você nem sabe quem ela é agora, e ela não sabe quem
você é. Talvez vocês dois se odeiem.
— Não acho que isso seja possível.
— Tudo é possível, até mesmo as coisas irem bem. Toda vez
que você imaginar o pior, imagine o oposto também como uma
opção.
Em minha mente, tentei imaginar o que poderia ser e me
assustou o quanto eu queria.
— Estou com ciúmes dessa festa que você vai dar no final
desta semana. Meu convite se perdeu no correio?
— Voe até aqui e eu tenho um convite esperando por você.
— Idiota, você sabe que eu não voo.
— Talvez você devesse conversar com alguém sobre esse seu
medo…
— O ponto alto do meu dia. Você me julgando por ter medo
de voar.
— É o seu único defeito.
Ela bufou.
— Sempre um charme. Se precisar conversar mais, sabe que
estou aqui. Mas não deixe seu medo das possibilidades matar o
que poderia ser um novo começo para vocês dois.
— É uma reunião. Talvez.
— Talvez não…
— Tchau, Monica.
— Tchau, Keyton.

Os próximos dias passaram em um piscar de olhos. Horas


foram engolidas pelo jogo do Texas, que nós vencemos, sair
com os caras da Universidade Fulton, revisar horas de fita para
nossos próximos jogos e sessões de treinos, e o trabalho da
Headstrong Foundation. Horas que eu tentei manter o foco no
que estava à minha frente.
Horas em que tentei não sonhar com Bay.
Os ingressos venderam bem para o SeptemberWeen. Quem
não gosta de se sentir bem em doar para a caridade enquanto
também fica bêbado? Hoje foi o último empurrão antes de
fecharmos as vendas de ingressos na manhã de sexta-feira.
Ao longo dos anos, mantivemos a localização do evento em
segredo como forma de aumentar o burburinho em torno dele.
Os participantes foram instruídos a se encontrarem em um
local e receberam o endereço trinta minutos antes do início da
festa.
Isso deixou as pessoas empolgadas por saber de um segredo
que ninguém mais sabia. Uma vez que vazou a notícia de que
Bay havia sido convidada para se apresentar, o local secreto se
tornou uma obrigação de segurança. Eu esperava que eles não
ficassem desapontados e exigissem reembolsos, se ela não
aceitasse. Claro que ela não aceitaria. Não depois do jeito que
eu deixei sua suíte de hotel.
A equipe do SeptemberWeen passou a última semana
lutando por um novo local por precaução, o que significava
que tínhamos mais alguns ingressos disponíveis. Eu esperava
não ter estragado todo o evento e arruinado o trabalho duro de
todos.
Mas hoje não era SeptemberWeen. Era um empurrão final
para SeptemberWeen e um destaque do bem feito por tantas
pessoas que se importavam. Crescendo, eu não poderia
acreditar que havia tantas pessoas por aí que cuidavam de
crianças que não eram deles. Os pais de Knox pareciam uma
anomalia, mas havia mais gente boa por aí.
Eles precisavam de todo o apoio possível para continuar
ajudando ainda mais crianças como eu.
Às vezes me sentia tão distante do garoto que era em
Greenwood, e outros dias jurava que abriria os olhos e voltaria
ao meu quarto com o cadeado na porta.
Agora, eu não me sentia como aquele garoto.
As salas de conferências da Headstrong Foundation nos
dois andares que ocupamos foram transformadas em um
estúdio de televisão e foto, para filmar todas as promoções. As
paredes estavam cobertas de tecido, tudo fora do halo de luzes
no teto era preto, cabos elétricos e fios extras estavam instalados
e colados no chão, e as luzes estavam por toda parte.
A porta aberta que levava ao corredor era a única fonte de
luz além das plataformas que inundavam o espaço como
holofotes.
Meu terno foi feito sob medida. Não apenas alterado, mas
feito do zero para caber nas minhas medidas exatas, mas neste
momento, senti como se alguém tivesse me espremido em um
vestido feminino tamanho 32 da Gap.
Pelo menos eu não estava usando gravata. Não que isso
estivesse me fazendo algum favor.
As entrevistas não me incomodavam. Pelo menos eu não
achava. Mas falar sobre o jogo e falar sobre mim eram duas
coisas diferentes. Monica e eu conversamos muito sobre isso, e
finalmente chegou a hora. Eu nunca estaria livre do meu
passado se passasse todo o meu tempo tentando fingir que não
aconteceu.
Um dos técnicos de áudio prendeu o microfone na lapela do
meu blazer.
Gwen pairou atrás dele.
— Você tem a entrevista da Sports Central agora e então fará
uma promo que vai ao ar hoje à noite e vamos postar online
para que as pessoas saibam que ainda há ingressos VIP e para
dizer a eles que Bay se apresentará.
Minha cabeça estalou.
— Bay? — Ela aceitou.
Depois de não ter notícias de Gwen, pensei que o adeus na
suíte do hotel de Bay seria a última vez que nos veríamos. Eu
me preparei para isso e fiz as pazes com isso. Eu estava errado.
— Eu sei! É insano. A fundação contratou um coordenador
de eventos, o Everest, que tem alguma ligação com sua equipe
e foi um tiro no escuro. Sua equipe ficou num vai e vem, mas
ela disse que sim. Você acredita nisso? Deveríamos ter cobrado
mais pelos ingressos — Gwen estava zumbindo de excitação.
Ela ficou chateada por ter perdido o show de Bay.
Meu cérebro disparou. Eu a veria novamente. Pelo menos
duas vezes. Meu coração batia forte no meu peito.
— Bay está vindo hoje e ela vai se apresentar no
SeptemberWeen Carnival.
Gwen verificou seu tablet
— Sim. Ela deve estar aqui a qualquer minuto. Seu
empresário, Holden, disse que eles chegariam alguns minutos
atrasados depois que ela saiu do estúdio. Confirmamos com a
equipe de Bay que podemos oferecer outra remessa de ingressos
para um encontro com ela.
— Aceitar isso no último minuto é um grande favor. Não
vamos sobrecarregá-la com pedidos extras — O choque do
anúncio de Gwen ainda não havia passado. Meus lábios
estavam dormentes. Eu não tinha me preparado. Eu não tinha
tido tempo de pensar em como seria esse dia quando visse Bay
novamente.
— Holden foi quem sugeriu isso para aumentar a receita do
evento. Podemos oferecê-lo como um complemento para
quem já comprou ingressos.
Holden estava oferecendo dela ainda mais além do que
pedimos? Quanto o cara estava empurrando ela?
Bay estaria aqui. Bay estaria no SeptemberWeen.
Um cara com um fone de ouvido se aproximou.
— Senhor Keyton, estamos prontos para você.
Me sentei na cadeira sob um guarda-chuva forrado de prata.
As luzes me cegaram na sala escura, mas eu podia sentir todos
os olhos em mim. Havia sete pessoas na sala: as que lidavam
com as câmeras e o áudio, Gwen, o entrevistador e outros para
qualquer tarefa necessária para que o evento corresse sem
problemas.
Meu pescoço aqueceu sob meu colarinho e eu flexionei
minhas mãos nas minhas pernas.
Mais barulho veio do corredor e um rebanho de pessoas
apareceu, passando pela porta antes de voltar.
No meio de todas as pessoas em telefones e tablets estava
Bay, iluminada por trás, com as feições obscurecidas pelas
sombras. Ela estava aqui.
Toda vez que a via, parecia a primeira vez que a observei nos
degraus de seu quintal. Isso me arrastou para fora de tudo o que
eu estava passando e em direção a ela. Eu só queria estar perto
dela.
Gwen correu e falou com os recém-chegados em voz baixa.
O entrevistador com o cabelo perfeitamente arrumado e
uma aparência de clube de campo sentou-se à minha frente
com cartões e colocou o fone de ouvido no lugar. Depois de se
apresentar e me guiar pelos tópicos melosos, ele se sentou na
cadeira à minha frente.
— Estamos aqui esta noite apoiando uma causa
maravilhosa, e temos conosco o mais belo do futebol, Daren
Keyton. Obrigado por falar conosco. Você foi chamado de
muitas coisas nas últimas cinco temporadas. A curiosidade do
campeonato, O maravilhoso vencedor e meu favorito pessoal,
O trevo de quatro folhas do futebol.
— Já ouvi isso algumas vezes na minha carreira — Pelo
menos ele não tinha ido com mascote glorificado ou
ornamento superestimado.
— Embora pudéssemos continuar falando sobre sua marca
especial como magia para a equipe campeã, estamos aqui para
falar esta noite sobre uma instituição de caridade que você
começou logo após sua mudança para a Filadélfia há pouco
mais de dois anos. Por que você se interessou tanto pelo apoio
à juventude? E por que na Filadélfia depois de jogar por times
em LA, Miami e Charlotte?
— Estudei aqui e tenho um bom grupo de amigos na área,
então este foi um lugar natural para querer começar o trabalho
da Headstrong Foundation. Existem muitas causas nobres no
mundo e é difícil escolher apenas uma. Então eu trabalhei com
uma equipe… — Minha garganta apertou. Além das luzes e das
pessoas na sala, eu podia sentir Bay me observando.
As respostas preparadas para a entrevista que eu dei com a
equipe de relações públicas da Fundação não pareciam certas.
Monica e eu passamos por isso. Não havia nada para eu
esconder sobre isso.
— Há uma conexão pessoal para mim. Quando eu estava
crescendo, eu lidei com muitos abusos do meu pai — As luzes
pareciam estar queimando minha pele. Bolhas quentes sob
meu colarinho. Esfreguei minhas mãos nas pernas da minha
calça — Foi físico e mental. E levei muito tempo para aceitar o
impacto que isso teve em mim como pessoa e como homem —
Eu lambi meus lábios.
Olhando para cima, vi Bay entrando na sala, saindo das
sombras. Sua expressão chocada era ainda mais profunda do
que a de todos os outros.
Eu alisei minhas mãos ao longo de minhas coxas, deixando
meus dedos arrastarem sobre o tecido macio, e respirei fundo
quando eu queria mudar para as respirações pesadas como se
estivesse prestes a enfrentar um oponente em campo.
Inspirando outra respiração, concentrei-me no entrevistador.
— Levou muito tempo e muitos erros ao longo dos anos
para chegar a um acordo com a minha infância. Eu machuquei
muitas pessoas ao longo do caminho também, pessoas que
nunca mereceram e não deveriam ter sido sobrecarregadas com
minha bagagem. Se não fosse por algumas pessoas em minha
vida que acreditaram em mim e me ajudaram ao longo do
caminho, eu não teria chegado onde estou hoje.
“Eu não quero que nenhuma criança por aí lidando com
dificuldades sinta que não pode falar sobre isso ou que não deve
falar sobre isso. E quero fazer tudo o que puder para ajudá-las a
obter todos os recursos de que precisam para ter uma vida
saudável e feliz.
A sala estava completamente silenciosa. Algumas pessoas
que trabalhavam na organização até trocaram olhares. Eu
nunca fui tão aberto sobre o que passei, mas o passo final para
seguir em frente tinha que ser compartilhar minha história para
aliviar alguns desses sentimentos que surgiram em mim. A
liberação estava lá, a liberdade de não ter que me apegar tanto
ao meu passado. Era um passado que eu só tinha
compartilhado com algumas pessoas, mas que poderia ajudar
algum outro garoto por aí, ou convencer alguém com uma
carteira mais gorda que a minha, a dar a eles o que eles
precisavam.
— Eu preciso que outras pessoas saibam que não há
vergonha no que elas passaram e que elas não precisam lutar
contra isso sozinhas.
Na minha frente, o entrevistador se recuperou e fechou a
mandíbula.
— Obrigado por compartilhar sua história conosco hoje.
— Obrigado por trazer luz ao trabalho que está sendo feito
por todos – não apenas por mim – na Headstrong Foundation.
— Seu trabalho vai mudar vidas.
Eu balancei a cabeça, esperando que ele estivesse certo.
Talvez desse a alguém lá fora a esperança de que eles pudessem
encontrar uma vida além de sua situação atual, uma onde eles
não tivessem que carregar o peso de tanto medo, culpa e tristeza
com eles o tempo todo. Eu ainda estava trabalhando nisso
sozinho. Limpei a garganta, tentando dar um soco no aperto
— Tudo o que estamos fazendo é dar às crianças o apoio, a
ajuda de que precisam e as ferramentas para sair das situações
em que estão presos — Minha garganta parecia que estava
prestes a se esmagar.
— Muito obrigado e a todos os espectadores por aí. Me
disseram que ainda há um número limitado de lugares
disponíveis. Mas quando isso for ao ar, imagino que será ainda
menos quando o anúncio for divulgado de que Bay se
apresentará.
Eu me distraí pelo resto da entrevista, enquanto ele dava
todos os detalhes do evento e focava na mulher no canto.
Aquela dando autógrafos para as pessoas que inundavam os
corredores em todas as direções.
A que eu estaria ao lado para uma sessão de fotos na sala ao
lado.
Aquela que ficava me espiando.
Depois de apertar a mão do entrevistador, levantei e deixei
que eles tirassem o equipamento do microfone. A equipe de
entrevista saiu da sala, mas Bay ainda estava inundada com mais
pessoas do que eu tinha visto nas duas horas em que estive no
prédio.
Ela já ficou mais do que alguns minutos sozinha?
Gwen pairou fora do alcance da plataforma de luz.
— Estamos gravando as promoções online agora — Ela
olhou para o lado onde Bay estava com seu esquadrão de
pessoas — Mas temos alguns minutos. Vou limpar o corredor
— Ela tirou Bay da multidão, enxotando todos da sala antes de
fechar a porta e sair com Holden. Agora Bay estava lá dentro
sozinha. E toda a sua atenção estava voltada para mim.
O calor das luzes, ainda no nível dos olhos para a entrevista
sentada, não aqueceu meu corpo tanto quanto estar sozinho na
sala com ela.
Atravessando o espaço entre nós, ela se abaixou sob as luzes
e refletores configurados para a foto perfeita.
— Isso foi corajoso — Ela me encarou com uma pitada de
apreensão, como se não tivesse certeza de como eu me sentiria
depois de uma declaração tão pública.
Um pouco preocupado, mas mais leve do que nunca.
— Não foi corajoso. Foi a verdade. Eu nunca deveria ter
medo da verdade.
— É preciso muita coragem para ser tão aberto com as
pessoas.
— Você sobe no palco noite após noite, cantando músicas
direto do seu coração. — Músicas sobre mim.
— Claro, mas posso fingir que são da minha imaginação.
Coisas que a musa prepara e deixa na minha porta com um belo
laço em cima — Ela ofereceu um pequeno sorriso.
— Tenho certeza que elas ajudaram alguém. Assim como
espero que o que disse hoje ajude outra criança como eu.
— Tenho certeza que sim. Como não poderia? Você falou
do seu coração. Gwen me disse que você acabou de descobrir
que eu viria hoje. Desculpe a…
A porta atrás dela se abriu. Eu fiquei tenso, pronto para
bloquear quem invadiu.
Gwen estava na porta entreaberta.
— Estamos prontos para vocês dois — Ela olhou entre nós
— Se você estiver pronto…
Bay virou-se totalmente de frente para ela.
— Sim, claro. Você está pronto? — Seu olhar varreu para o
meu.
— Sim, vamos lá — Com o fantasma de um toque em suas
costas, caminhamos para a próxima sala para uma sessão de
fotos – juntos.
A assistente de Keyton nos levou até a sala para a sessão de fotos.
Sua mão roçou minhas costas, iluminando-me com uma
consciência e sentimentos trêmulos, do tipo que eu nunca tive
ao trabalhar com outro profissional mesmo enrolados um no
outro. Mas nenhum desses outros profissionais tinha sido ele.
Eu precisava me recompor. Ninguém tinha me dito que ele
estaria aqui hoje, não que eu não devesse esperar encontrá-lo
em algum momento ao me apresentar para uma fundação que
ele criou.
De alguma forma, eu pensei que estaria mais preparada. Eu
tinha sido jogada em inúmeras salas com três minutos de
preparação e tinha que me virar nos trinta. Isso não era
diferente. Eu ficaria repetindo na minha cabeça até que o
mantra pegasse.
Não é provável.
Sua entrevista me pegou desprevenida. Sua honestidade no
meu hotel não tinha sido uma coisa única. Falando tão
abertamente sobre o que ele passou crescendo – mais uma vez,
meu coração doeu pelo garotinho assustado que se tornou um
adolescente raivoso e depois pelo cara que eu conheci na
Califórnia. Agora ele se tornou o homem que eu ficava
olhando.
Sua mandíbula não estava apertada, e não havia tendões
estressados em seu pescoço.
Ele virou a cabeça, olhos arregalados quando me pegou
olhando para ele.
— Desculpe pelo curto prazo.
— Eu… está tudo bem. Eu disse a eles que estava pronta para
o que eles precisassem.
Agora sua mandíbula se apertou.
— “Sim” é a única resposta que você conhece? — Havia
uma estranha rigidez em sua pergunta. Ele preferiria que eu
fosse uma prima donna que precisasse que todos os pedidos
fossem enviados por escrito em triplicado com uma semana de
antecedência?
— Não — Meus lábios se contraíram.
Ele relaxou.
— Obrigado por estar aqui hoje. Significa muito para mim.
A falta de ar roubou as palavras da minha garganta, e eu
assenti.
Gwen entrou na nossa frente.
— Vamos colocar vocês dois lado a lado com alguns textos
de suporte. Primeiro vídeo e depois algumas fotos. Vamos
precisar de alguns minutos para mudar a iluminação. Falas
rápidas e curtas e a fotógrafa tentará tirar vocês dois daqui o
mais rápido possível com o mínimo de constrangimento — Ela
nos entregou um cartão e soltou uma risada levemente histérica
antes de fugir. Não era uma risada de fangirl; Eu já tinha ouvido
isso milhares de vezes antes. Isso era outra coisa.
A sala fervilhava de atividade do jeito que todos os sets
faziam. Havia tantas pessoas atrás da câmera. Cabelo,
maquiagem, iluminação, som.
— Ela parece legal — Olhei o cartão com as linhas impressas
em fonte tamanho 22. Memorizando-os como eu fazia minhas
letras, eu os definia com uma melodia, para que ninguém
ficasse esperando que eu dissesse minhas falas corretamente.
— Gwen é meu braço direito. Ela trabalha para mim há três
anos — Ele procurou por cima do ombro por ela.
Essa relação de trabalho já progrediu além do trabalho? As
pessoas muitas vezes faziam suposições sobre mim e Holden,
que estava no canto fingindo que não estava atento a tudo o
que acontecia na sala enquanto também percorria seu tablet.
— É difícil encontrar pessoas boas.
— Ela esteve comigo em três mudanças até agora.
— E ela não se importa de seguir você por todo o país?
— Não com o quanto ela é paga. Esses sapatos de sola
vermelha não são baratos.
A cor brilhante espreitava debaixo de cada passo. Não, eu
não estava com ciúmes. Ele podia dormir com quem quisesse.
Então, por que parecia que haviam batido com o pedestal de
microfone no meu peito?
— É como Holden e seus relógios.
Keyton me lançou um olhar.
Gwen voltou.
— Nós temos isso para você. Eles vão combinar, então não
temos que nos preocupar com nenhum conflito de cores com
sua roupa — Ela ergueu uma cabeça de unicórnio de fantasia
peluda e a entregou para mim.
Agora o riso fazia todo o sentido. Foi uma jogada estranha
de constrangimento? Me deixar desconfortável e me manter
parecendo uma completa idiota?
O peso atingiu minhas mãos e me jogou para frente. Keyton
e Gwen avançaram para me firmar.
— As pessoas usam isso em suas cabeças? É tão pesado.
Mudando de posição, fiquei em linha reta. Eles me soltaram,
as mãos de Keyton demorando mais do que as de Gwen.
Ela estava carregando ambas as cabeças como se fossem
feitas de papel machê. Holden deveria tomar cuidado. Ela
provavelmente poderia desafiá-lo em uma competição de
supino.
— E nós temos este para você, chefe — Ela estendeu uma
cabeça de jacaré peluda com uma maldita mão.
Ele pegou dela como se não fosse nada.
Exibidos. Tentei não resmungar.
— Estamos organizando uma convenção de animais de
pelúcia ou uma festa à fantasia? — Ele examinou a cabeça verde
musgosa.
— Estamos improvisando com o que temos em mãos — Ela
voltou para a mesa — Ou você preferiria a opção de
equipamento de bondage de couro — Os laços e anéis de prata
da roupa tilintaram uns contra os outros fazendo sua melhor
imitação de carrilhão de vento de heavy metal. Ela resmungou
baixinho — Isso é o que acontece quando você envia um novo
estagiário para um trabalho sem instruções explícitas. Então é
isso que temos…
Ele me encarou com os olhos arregalados.
— Pelúcia — Dissemos ao mesmo tempo.
A risada encharcada de vergonha quebrou um pouco da
tensão.
O diretor da nossa filmagem improvisada veio e nos
mostrou nossas marcas.
Recitamos as falas dez ou vinte vezes antes que eles
conseguissem as filmagens de que precisavam. Depois de cada
um, Gwen saltou e nos entregou um novo adereço. Ela pegou
as abotoaduras de Keyton e deu-lhe uma nova peça.
Todos os seus movimentos foram coreografados sem uma
palavra. Ele lhe entregou as abotoaduras e enrolou as mangas
de sua camisa até os cotovelos.
A chama do ciúme era difícil de explicar. Difícil de abafar.
Difícil de ignorar.
Eu não tinha direito a ele. Não como ele tinha para mim,
mesmo todos esses anos depois. A marca indelével que ele
deixou em mim em Greenwood foi reforçada em Los Angeles.
Considerando que eu tinha sido uma dos muitos, que estavam
no espelho retrovisor de sua vida.
Ele esteve noivo. Se isso não mudou o feitiço, eu não sei o
que mudaria. Inferno, isso gritava através de um megafone no
meu ouvido.
Emily e Holden pularam para retoques aqui e ali.
— Bay? — Keyton tocou meu ombro.
Eu me empurrei, focando nele novamente. Atravessar os
movimentos tornou-se uma segunda natureza. Eu nem tinha
notado os caras da iluminação mudando as luzes e a câmera de
vídeo sendo guardada.
— Desculpe, o que você disse?
— Podemos sentar por alguns minutos enquanto eles
trocam as luzes — Ele apontou para as duas cadeiras dobráveis
ao lado da mesa dobrável com alguns dos adereços sobre elas.
Sentei-me e enfiei as mãos entre as pernas, tentando não
deixar o constrangimento me comer viva.
— É ótimo você ter Gwen aqui para lidar com todas as suas
necessidades — Meu sorriso era fino como papel de seda.
Sua cabeça inclinou. Uma sobrancelha deixou cair uma
dica.
— Ela é indispensável. Eu não poderia fazer metade das
coisas que faço sem ela.
— Deve ser ótimo ter alguém como ela em quem você pode
confiar, não importa o quê? — Por que estou dizendo isso? Se
ele está com Gwen, por que diabos eu quero saber? Não é da
minha conta. Eu não tenho direito a ele.
Ele não me deve nada.
Estou aqui pela fundação dele e não há nada mais ligado a
isso.
Seus olhos se estreitaram.
— Ela é ótima em seu trabalho. Por que você continua me
fazendo tantas perguntas sobre Gwen? E o Holden? Há quanto
tempo vocês dois estão juntos?
— Ele estava lá na noite em que saí de Los Angeles — Uma
sensação estranha tomou conta do meu estômago. Fez parte da
nossa história. O que eu recitei para repórteres e entrevistadores
e outros gerentes que tentaram aparecer enquanto minha
estrela subia. A história de eu e Holden sendo uma equipe
desde o início. Mas eu tinha esquecido que não estava falando
com qualquer um. Eu estava falando com ele.
Seus antebraços nus flexionaram.
— Você saiu do seu apartamento enquanto eu estava
dormindo e pulou direto em um SUV com ele?
Olhei para minhas mãos apertadas entre minhas coxas. Foi
isso que ganhei por abrir a Caixa de Pandora.
— Não — Olhei para cima — Ele estava no avião que
Maddy arranjou para me levar para Seattle.
— Uau, então uma viagem inteira de trinta minutos para o
aeroporto — Sua voz quase um rosnado.
— Quarenta se você contar a ida até a casa de Felicia para
deixar a carta — Empurrando. Incitando. Picando. Eu não
pude evitar. Há quanto tempo essa situação de Gwen era uma
coisa? Ele não acabou de sair de um noivado?
Sua mandíbula apertou.
— Como foi tê-lo ao seu lado todos esses anos cuidando de
você durante sua ascensão ao estrelato?
Como se ele não tivesse alguém cuidando de todas as suas
necessidades também.
— Ele tem sido ótimo de ter por perto em todas as situações
estressantes em que fui jogada ao longo dos anos.
Keyton recuou como se eu tivesse dado um soco.
Ah merda.
— Eu não quis dizer… eu não estava… — E agora eu era a
idiota, de novo. Eu já tinha deixado de ser a idiota? — Isso não
foi um comentário de comparação.
Um músculo na lateral de sua mandíbula saltou.
— Não se preocupe com isso.
Ele parecia tão seguro de si. Tão no controle e
completamente esquecido do que aconteceu entre nós, como
se isso não o tivesse mudado irrevogavelmente em um nível
celular como aconteceu comigo. Isso tinha me nivelado. Jogar-
me no trabalho era a única coisa que me sustentava.
O momento difícil que ele mencionou durante o café não
foi um lampejo em seu olhar, mas agora ele estava acabado,
todo duro e tenso.
A culpa caiu em mim porque eu estava procurando as
rachaduras nesta nova versão dele, em vez de estar feliz por ele
ter encontrado o caminho para sair da névoa que muitas vezes
o ultrapassou.
E eu estava feliz por ele.
— Eu não estava cavando pra descobrir nada — Estendi a
mão para ele antes de puxar de volta. Já não éramos tão
próximos.
— Não se preocupe com isso — Ele me lançou um olhar,
como se ele não pudesse me olhar completamente.
Ele não poder compartilhar um momento íntimo comigo
despertou uma irritação irracional. Ele podia falar comigo tão
abertamente e isso não significava nada para ele além de superar
o que tínhamos.
— Estamos prontos para vocês dois — Gwen estava na
frente de Keyton, segurando seu casaco.
Ele sorriu para ela e abaixou as mangas, pegando as
abotoaduras que ela tinha na palma da mão estendida. Ele os
prendeu, então pegou o casaco com ela e o vestiu.
Ficamos lado a lado como soldados de madeira. E eu odiei.
Por mais que eu tenha prometido a mim mesma que era apenas
para a fundação, é claro que eu estava aqui porque queria vê-lo
novamente. Estar perto dele novamente. Falar com ele
novamente.
— Por que você não pergunta o que você quer perguntar?
— Ele passou o braço em volta do meu ombro.
O forte calor de seus dedos em volta do meu ombro enviou
chamas esfumaçadas correndo para cima e para baixo no meu
braço.
Meu ombro pressionado contra seu peito e eu lutei contra a
vontade de me inclinar para ele como eu tinha feito tantas vezes
antes. Eu queria envolver meus braços ao redor de sua cintura
pela frente e pressionar minha bochecha contra seu peito,
ouvindo seu batimento cardíaco bater contra meu ouvido.
O flash disparou. Nós dois sorrimos para a câmera quando
um crepitar incendiário ondulou pelo set.
Eu chutei meu calcanhar para cima e alarguei meu sorriso
até minhas bochechas doerem.
— O que você acha que eu quero perguntar?
Seu braço serpenteou ao redor da minha cintura, me
puxando fortemente contra ele.
O roçar de seus dedos quase tocando o espaço entre meu
suéter e cós da minha roupa enquanto o tecido se movia, e eu
amaldiçoei o quase acidente, querendo sentir seu toque contra
minha pele nua.
Através dos lábios mal separados, ele se inclinou. O calor de
sua respiração contornando minha bochecha.
— Você quer perguntar se Gwen e eu estamos dormindo
juntos.
— Você pode dormir com quem você quiser. Tenho certeza
que está tudo bem — Eu rebati rápido demais, como se o
comentário tivesse sido bloqueado e carregado. A raiva áspera,
guerreando com meus nervos desgastados por sua
proximidade, me irritou ainda mais.
Os flashes continuaram a disparar e continuamos posando,
seguindo a direção da fotógrafa sem realmente ouvi-la. Meu
corpo estava no piloto automático enquanto minha mente se
fixava no homem ao meu lado. Cada pincelada, cada toque,
cada olhar tornava mais difícil lembrar que havia outras pessoas
na sala, outras pessoas como Gwen.
Por que eu estava me importando tanto com isso? Ele
poderia foder com metade da Costa Leste e não era da minha
conta. Então, por que parecia que alguém estava tentando
arrancar meu coração com uma colher enferrujada?
Talvez porque eu pensei que tinha superado isso. Eu pensei
que estava totalmente bem com ele estando noivo e seguindo
em frente. Eu tinha me convencido a acreditar. Então, quando
descobri que ele não estava noivo, pensei que tinha uma
chance. Tinha sido um clarão estúpido e esperançoso do meu
barco no meio da noite escura e silenciosa. Eu esperava que vê-
lo novamente seria por uma razão, uma maneira de voltarmos
a ficar juntos, mas talvez não fosse.
Uma risada amarga se formou em meu peito. Parece que a
princesa do pop não conseguiu tudo o que queria.
Virando-me, eu o encarei, incapaz de manter essa pretensão
e precisando saber no que eu estava me metendo ao me
apresentar no SeptemberWeen. Eu precisava arrancar esse
band-aid de expectativa agora.
Baixando ainda mais a voz, sussurrei as palavras que temia a
resposta.
— Você e Gwen estão dormindo juntos?
Seus olhos perfuraram os meus.
— Você e Holden estão? Você e Holden já…?
Fiquei tentada a dizer: "Perguntei a você primeiro".
Olhando em seus olhos, pude ver a necessidade ardente de saber
a resposta tão profundamente quanto eu, e isso trouxe outra
faísca de esperança estúpida.
— Não. Nunca. Ele é meu melhor amigo neste momento,
mas é uma linha que nunca pensamos em cruzar.
Ele olhou para frente e colocou o braço em volta do meu
ombro novamente, inclinando-se para perto. Desta vez, seus
lábios roçaram a concha da minha orelha.
— O mesmo.
O alívio foi rápido e completo. Como uma bobina que eu
não tinha percebido que estava apertando desde a primeira vez
que os vi juntos, explodiu em meu peito, não com dor, mas
com uma alegria desenfreada e incontida.
— Ok.
— Ok. — Ele repetiu.
Abri minha boca, os sons morrendo ali. O que exatamente
havia para dizer? Talvez agarrá-lo e encontrar um armário em
algum lugar?
A fotógrafa clicou uma última estelar, tenho certeza, foto
minha com um caso grave de boca de peixe.
— Muito obrigada aos dois — Ela se aproximou e apertou
nossas mãos — Foi incrível conhecer vocês. Estou honrada.
Nós dois entramos no modo profissional. Agradecendo a
ela e a todos na sala. Ah, sim, havia outras pessoas aqui. Meus
olhares rápidos para D–Keyton foram recebidos com os dele.
Toda vez, alguém chamava minha atenção quando seu olhar
colidia com o meu. Foram momentos fugazes. Segundos
roubados.
Uma multidão de pessoas chegou para quebrar as coisas e
nos fazer assinar as autorizações. De vez em quando, havia uma
diminuída na minha equipe e ele estava lá lidando com sua
própria equipe.
Holden tocou meu cotovelo e me levou para a porta.
— Temos que voltar para o hotel. Você tem que ir ao
estúdio hoje à noite e nós só o reservamos por quatro horas.
Eu pisei no freio, girando para ver Keyton, apenas para
encontrá-lo sendo levado para fora de outra porta. A decepção
bateu no meu estômago.
Timing, certo? Às vezes parecia que nunca iríamos acertar,
como se nunca tivéssemos mais do que alguns minutos para
realmente conversar um com o outro, a sós, antes de sermos
interrompidos ou um de nós ser levado para outro lugar.
Sempre havia SeptemberWeen. Talvez pudéssemos roubar
mais do que alguns momentos juntos. Para quê? Eu não tinha
certeza, mas a esperança de que eu descobriria em breve
queimava mais forte e mais profunda do que em muito tempo.
Inclinada sobre a pia do banheiro da minha suíte de hotel,
arrastei a toalha sobre o meu rosto. Não era uma deles. Eu
nunca submeteria a pobre equipe de limpeza aos galões de
alvejante que seriam necessários para lavar um quilo de
maquiagem do tecido.
Todo o quarto era de mármore e cromo, com uma ducha e
uma banheira de imersão. Eu teria tomado um banho hoje à
noite, mas eu estava preocupada que eu poderia adormecer lá.
Esta semana era SeptemberWeen. Eu veria Keyton
novamente. Eu odiava não ter como entrar em contato com ele.
O número que eu tinha dele em LA havia sido trocado há
muito tempo. Descobri isso da maneira mais difícil quando
uma das minhas últimas mensagens para ele foi para uma nova
pessoa com o número, que me disse para parar de enviar
mensagens de texto para seu avô.
Entrar em contato com alguém nunca tinha sido um
problema antes. Holden rastrearia o número ou seria uma das
quatro pessoas com quem eu falava semi-regularmente. Mas eu
não queria que Holden conseguisse seu número para mim. Eu
queria pedir a ele. Ou melhor ainda, fazer com que ele me
oferecesse.
Eu balancei minha cabeça e coloquei a toalha preta no
balcão ao meu lado, pegando uma toalha de rosto. Não, não era
por isso que eu estava fazendo o evento dele.
A água escorria do meu queixo para a minha camiseta.
Um movimento atrás de mim chamou minha atenção no
espelho.
Holden estava na porta sem o paletó e o botão de cima
desabotoado. Ele parecia amarrotado.
Virei-me, meu estômago começando as primeiras voltas de
um nó.
— O que foi?
Ele suspirou. Seus lábios apertando juntos.
— Estou trabalhando nisso há mais de uma semana — Ele
caiu na borda da banheira grande o suficiente para acomodar
três pessoas.
— Conte-me. — Olhando para mim, preocupação e
decepção irradiavam em seus olhos. — Você está me assustando
— Meus músculos na base da minha mandíbula se contraíram.
Agarrei a borda do balcão — Aconteceu alguma coisa com
minha mãe?
Ele afrouxou a gravata.
— É o aniversário de Piper.
Eu caí contra a pia.
— Maneira legal de me assustar pra caralho — Minha risada
foi abafada enquanto eu batia a toalha de mão no meu rosto —
É 12 de dezembro. Mark tem tudo planejado — Olhei para seu
reflexo.
O músculo do lado de sua mandíbula flexionou.
— E você não poderá ir.
Largando a toalha no balcão, me virei para Holden.
— Não. Não. Nós conversamos sobre isso. Está na agenda
há meses. Desde que eu perdi o último dela. Prometi a Mark
que estaria lá — Depois de perder o terceiro aniversário de
Parker quando eu estava na cidade, seu último aniversário, e
minha festa de aniversário para a qual eu a convidei antes de
desistir no último minuto, eu não iria perder isso.
Ele enfiou a mão no cabelo e tirou o resto do nó da gravata,
deixando-o pendurado no pescoço.
— Eu sei. É uma data com um enorme bloco vermelho ao
redor. Mas a mudança no cronograma, toda a reorganização –
você tem uma obrigação contratual de estar em Sydney para
cumprir e o efeito indireto com as mudanças que fizemos na
semana passada adiando as coisas — Ele deu de ombros, um
encolher de ombros ineficaz e vacilante de derrota — O dia 12
é o único dia em que podemos fazer isso antes do final do ano.
— Mas… a Austrália está à frente de Seattle. Podemos pegar
um voo e chegar lá. — Ele balançou sua cabeça. — Não balance
sua cabeça. Temos que tentar — Uma pitada de desespero
entrou na minha voz, um disfarce para a frustração e tristeza.
Eu prometi. Minhas promessas não valiam muito hoje em dia.
Fora do trabalho, parecia que elas estavam mais quebradas do
que mantidas.
— Eu tentei! — Ele se levantou de seu lugar segurando a
borda da banheira — Eu tentei, Bay — Sua voz suavizou.
— Talvez… — Lambi meus lábios e tentei me agarrar a algo.
Qualquer coisa, mas eu mal sabia onde estaria depois de
amanhã, muito menos como refazer as 5.000 coisas que
sentíamos que fazíamos todos os dias. Juntando minhas mãos,
eu as bati contra minha testa. Pense, Bay. Pensar.
— Confie em mim. Já revisei isso uma centena de vezes. Eu
olhei as rotas de voo. Voos privados não ajudam. Não podemos
chegar lá e levá-la de volta a Viena a tempo para o próximo show
no dia 13.
Eu caí contra a pia.
— Mas eu prometi a Mark — As palavras soaram fracas,
assim como todas as minhas promessas anteriores.
— Eu sei. E lamento não ter conseguido fazer isso — Uma
expressão de dor cruzou seu rosto — Eu sei que você está
tentando chegar lá nos últimos dois anos.
— Três — Olhei para o padrão cinza estilhaçado dos
ladrilhos de mármore branco — Farão três anos que eu vou ter
perdido agora — Eu puxei a ponta do meu rabo de cavalo —
Você sabe onde está meu telefone? — Olhando para cima,
quase estremeci com o quão triste ele parecia. Era um reflexo
do meu próprio rosto?
Ele assentiu e saiu.
Meus pés roçaram o tapete no caminho para a cadeira verde
de espaldar alto na área de estar do meu quarto.
De volta em um flash, ele estendeu meu telefone.
— Eu posso fazer isso. Posso ligar para Mark.
— Não, precisa ser eu. Ela é minha amiga, lembra? — Uma
ainda pior enviaria outra pessoa para fazer seu trabalho sujo.
— Precisa de alguma coisa?
— Um vira-tempo?
Ele vasculhou os bolsos antes de me mostrar as mãos vazias.
Trocamos risadas sem humor.
— Não, eu estou bem. Vou dormir depois disso.
— Cinco da manhã o treinador estará aqui, e então teremos
um dia inteiro.
— Quando não temos?
Ele parou, agarrando-se ao batente da porta, parecendo que
havia mais que queria dizer.
— Está tudo bem, Holden. Eu vou fazer isso — Meus
ombros dobraram e eu agarrei o telefone com mais força.
Sua cabeça caiu e ele saiu do quarto, não deixando a porta
bater atrás dele. Em vez disso, ele travou silenciosamente,
deixando-me sozinha com meu telefone.
Andei de um lado para o outro, olhando para minha tela por
tanto tempo que escureceu. Digitando minha senha, fechei os
olhos. Ela era minha amiga mais antiga. Minha melhor amiga
em um ponto. Era apenas uma questão de tempo até que eu me
tornasse aquela pessoa que ela conheceu.
Mark atendeu no primeiro toque e chamou Piper. Ao
fundo, as crianças riam e gritavam, aumentando a comoção
geral de uma casa alegre e animada.
— Ei, querida. Eu tenho que atender essa. Eu volto já —
Uma porta se fechou — Ei, Bay. E aí?
Peguei meu rabo de cavalo e passei minhas mãos sobre ele.
— Ei, Mark.
— Você não poderá vir, poderá? — A decepção cobriu a
frase, sufocando-a.
Ele já sabia. Era quem eu era agora. A quebradora de
promessas. Aquela com quem nunca se podia contar para
sobreviver. Não admira que ele quisesse fazer uma surpresa. Ele
fez o que qualquer bom marido faria. Ele protegeu sua esposa
de decepções e tristezas.
Eu corri para o modo de desculpas. Era tudo o que me
restava.
— Tentamos de tudo. Absolutamente tudo. Eu sinto
muito.
— Eu sei. Ela sabe que você está ocupada. Ela adoraria ver
você, mas vai entender.
— Quando eu terminar essa turnê, eu juro que finalmente
vamos nos ver por mais do que alguns minutos nos bastidores.
Quando vocês saem para sua próxima missão? — Entrando
com essas promessas mais uma vez.
— Janeiro.
A turnê não terminaria até julho. Fazer promessas que não
poderia cumprir não faria nenhum de nós se sentir melhor
agora.
— Veremos o que acontece.
— Parker amou seu trem. Obrigado por isso — Sua doçura
machucou meu coração ainda mais. Depois de decepcionar sua
esposa e mãe de seus filhos aqui, ele estava tentando me fazer
sentir melhor sobre deixar a bola cair mais uma vez.
— Claro — Eu lutei contra o nó rastejando em minha voz
— O aniversariante merecia um presente extra especial. Eu
cuido de toda a festa.
— Você não tem que fazer isso. Você sabe que não
convidamos você apenas para fazer com que você pague pelas
coisas.
— Eu sei — O nó apertou. Eu mutei o telefone e limpei
minha garganta, olhando para o teto piscando para conter as
lágrimas.
— Nós sentiremos sua falta. Parker continua perguntando
quando você vai ficar no seu quarto novamente.
Uma risada aguda explodiu de meus lábios.
— Parker tem uma queda por despertar às cinco da manhã.
Não que eu me importe — No ano passado eu tinha ficado na
casa deles para o fim de semana, apenas um fim de semana
tranquilo em casa com eles. Nós fizemos churrasco. As crianças
correram no escorregador e todos nós saímos juntos sendo
normais. Com minha agenda regular chamando para despertar
às cinco da manhã, Parker e eu nos tornamos amigos da
madrugada, lendo, fazendo panquecas para todos e brincando.
— Desculpe, Mark — As lágrimas queimaram nos cantos
dos meus olhos.
— Eu sei, Bay — Sua voz transbordava de compreensão, o
que só piorava as coisas.
Encerrando a chamada, desabei na cadeira e lancei meu
telefone do outro lado da sala como se fosse culpa da coleção de
vidro e metal. Dobrando a cintura, envolvi meus braços em
volta de mim e enterrei meu rosto em meus joelhos.
Se eu chorasse muito alto, Holden ou Emily ouviriam e
então eles viriam tentando consertar as coisas. Eu não poderia
consertar isso. Não consegui ir à festa de aniversário da minha
melhor amiga. Eu não podia nem garantir que veria minha mãe
no Dia de Ação de Graças.
Voltando ao banheiro, lavei meu rosto novamente, desta vez
usando a toalha do hotel. Eu me encarei no espelho.
Eu tinha toda a fama do mundo. Todo o dinheiro que eu
poderia querer. E eu estava sozinha no meu quarto de hotel.
Sentei-me na ponta da cama e vasculhei minha bolsa até que
meus dedos roçaram o caderno esfarrapado e gasto. Com
menos de alguns meses de idade, parecia muito com os que me
levaram anos para preencher.
Puxando-o para fora, peguei uma caneta e destampei com
os dentes.
Eu rabisquei o título no topo da página “perdida”.
Depois de escrever até minha cabeça latejar, peguei meu
telefone do chão e me enrolei na cama.
Talvez isso tenha me tornado uma babaca narcisista, mas eu
puxei o YouTube, digitei meu nome seguido de "covers". Foi
um lembrete para mim de por que eu fiz isso, por que eu amava
fazer música. Por que eu não conseguia parar.
Os resultados apareceram na casa das centenas de milhares.
Precisando ouvir alguém cantar as palavras, digitei uma música
que estava tocando mais alto na minha cabeça recentemente.
Dare.
Quase deixei cair meu telefone quando um dos principais
resultados apareceu. Spencer de apenas algumas noites atrás em
um show.
Levantando-me, sentei-me com as costas contra a cabeceira
da cama.
— Tenho uma música para vocês esta noite que alguns de
vocês podem conhecer — Ele tinha uma presença de palco
divertida e dominante. Sua guitarra estava pendurada em seu
ombro. O local parecia apenas uma sala de estar. Mesmo fora
de foco com uma câmera um pouco trêmula, sua alegria no
palco era magnética — É uma música mais antiga, uma faixa
profunda de um álbum que eu amei desde o dia em que foi
lançado, e eu queria tocá-la para vocês hoje à noite.
A dele era uma versão acústica da música, muito parecida
com a que eu cantei na frente de todos em Greenwood High,
mas muito melhor, e nada parecida com a versão gravada para
o álbum.
Em algumas notas sólidas, sua voz retumbou e rolou,
enviando arrepios na minha pele.
Quando as pessoas na multidão perceberam que música era
aquela, alguns assobiaram e outros aplaudiram.
Ele atingiu as notas altas em sua oitava e seus dedos voaram
pelas cordas do violão. Ele deu vida à minha música, tornando-
a sua. Ele adicionou seu próprio selo, sua própria voz às letras e
à história, tornando-as todas novas.
No momento em que ele cantou a última nota, eu tinha
esquecido que já tinha sido minha.
Fui às minhas mensagens.

Eu: Posso te convidar para uma festa pirata?

Eu quase adormeci quando a resposta chegou.

Spencer: Bay?

Eu esqueci que ele provavelmente nem tinha meu novo


número.

Eu: Sim! A menos que você esteja sendo


convidado regularmente para festas piratas hoje
em dia.

Spencer: HAUHAUHA! Não com muita


frequência. Como você está?
Eu: Nada mal. Cover incrível de Dare! Isso foi
insano.

A multidão estava enlouquecida. A letra com seu tom vocal


deu a música toda uma vibe diferente. Mais esperançosa. Talvez
seja por isso que eu gostei tanto.

Spencer: Oh merda. Como você sabia? Não que


eu esteja tentando ser afrontoso ou algo assim. Eu
tenho um cessar e desistir9 vindo em minha
direção?

Que ele sentiu uma pitada de preocupação com isso,


reforçou ainda mais o quão terrível eu era como uma amiga. Ele
costumava cantar o tempo todo no estúdio, tentando me fazer
cantar junto com ele.

Eu: Não! Claro que não. Eu vi no YouTube.

Spencer: Você está bem comigo cantando?

Sua hesitação doeu.


Eu precisava ser uma amiga melhor, de qualquer maneira
que eu pudesse.

Eu: É claro. Foi fenomenal! Adorei o que você fez


com o refrão.

9
Cessar e desistir, também chamado de C&D é uma ordem ou pedido para
cessar uma atividade, sob pena de ação judicial.
Spencer: Eu não queria ser um ladrão de música
descarado.

Eu: Você não é. Eu amei. Você ainda está em


turnê. Onde você está agora?

Spencer: Agora, sentado na parte de trás da van


entre alguns amplificadores a caminho do motel.
Acabei de desmontar todo o equipamento do
meu show.

Parte de mim desejava não ter ignorado aqueles momentos,


as noites bagunçadas e cheias de adrenalina até os primeiros
dias. Eu estava em um ônibus de turismo desde o início. E o
palco só ficou maior, pronto para dar foco em qualquer erro ou
equívoco.

Eu: Você está na Costa Leste?

Spencer: Indo nessa direção. É aí que você está?

Eu: Na Filadélfia por mais algumas semanas,


depois vou para a Europa para a última etapa da
minha turnê.

Spencer: Incrível, Bay! Estou na Filadélfia em


breve, eu acho. Depois dos meus shows em
Richmond e DC. Os horários ficam loucos às
vezes.

Eu teria que pedir a Holden para verificar sua agenda.


Talvez, se ele estivesse de passagem, pudéssemos nos encontrar.
Rostos familiares eram difíceis de encontrar.
Eu: Nem me fale.

Spencer: Tenho certeza que o seu envolve muito


mais do que uma van quebrada e vender
mercadorias depois dos shows até as 2 da
manhã.

Eu: Você sabe que nada disso teria sido possível


se você não tivesse contado ao Walter sobre
Without Grey.

Spencer: Não, ele estava interessado mesmo


antes disso. Eu só sabia que você não pularia no
console e gritaria sobre isso como eu faria.
Estamos no motel. Preciso descarregar essas
coisas no trailer. Foi bom conversar com você.

Eu: Desculpe por ter sumido.

Spencer: Entendo. Você está ocupada. Não se


preocupe com isso.

Eu: Boa noite.

O trem da nostalgia havia parado na estação e não estava


saindo. Peguei meu caderno novamente e voltei para aquelas
noites no estúdio apertado, quase sem ventilação, onde
ouvíamos gritos por horas e horas.
Lembrei-me das vezes em que ele enfiou um pote inteiro de
sorvete debaixo do moletom no meio de maio.
Aqueles tinham sido tempos mais simples. Ser adulto tinha
sido muito diferente do que eu pensava, quando temia ficar
presa em um cubículo trabalhando em planilhas pelo resto da
minha vida.
Agora, isso era tudo que eu conhecia. Foi a única vida que
eu já vivi. O que eu poderia fazer além de cantar e atuar? Eu
certamente não poderia voltar para a firma de contabilidade
para me preocupar com as demonstrações de lucros e perdas.
Ficar sentada pelos próximos cinquenta anos sem fazer nada
não tinha nenhum apelo, mas nem dar uma de Mick Jagger e
tentar manter o mesmo ritmo pelas próximas cinco décadas.
As complicações só aumentaram desde aquele verão fatídico
quando minha vida mudou irrevogavelmente. A maior
mudança foi o homem que eu veria em dois dias.
Saber que eu veria Keyton novamente tinha chutado todas
aquelas memórias em alta velocidade. Muito do nosso tempo
separados ainda era colorido pelo nosso tempo juntos.
Agora não seria um choque quando eu o visse em seguida.
Eu tinha uma data e hora. Antecipação rastejou sob minha pele
e se infiltrou em meu cérebro.
Tomando o rumo que Spencer tinha colocado em minhas
palavras, anotei mais letras. Desta vez não era para mim no
palco; era na mesma linha que Spencer tinha cantado.
Talvez da próxima vez que o visse, eu as entregasse a ele. Um
presente por ser meu amigo, mesmo que eu fosse péssima nisso.
E diabos, talvez as músicas também fossem uma droga.
Fiz uma viagem pela estrada da memória, revisitando o quão
difícil era olhar para trás e perceber que você nunca poderia
saber naquele momento o quão precioso tudo aquilo era, e
como estávamos destinados a repetir os mesmos erros com o
nosso presente.
Os ônibus escolares paravam no estacionamento do ponto de
encontro. Pitoresco e kitschy10 era como todos os rotulavam,
eles também eram muito baratos, o que significava mais
dinheiro para o resto de SeptemberWeen e nossas iniciativas.
Por mais que esta noite fosse para caridade, isso não estava
na minha mente, o que provavelmente acrescentou outra linha
à lista de “razões pelas quais sou uma pessoa terrível”. Mas esta
noite eu veria Bay. Durante a sessão de fotos, sua raiva foi
inesperada. Ainda mais inesperado foi como eu combinei tão
rápido e facilmente com uma pergunta que eu fingi que não
estava rolando na minha cabeça.
Quão próxima ela era de Holden? Eu não esperava que ela
sentisse o mesmo por Gwen. O ar estava limpo, mas como as
coisas sempre aconteciam com ela, não tivemos tempo.
Assim que voltei para a sala onde Bay e eu tiramos as fotos,
ela já tinha sido levada embora.
Ela ainda não estava aqui, o que significava que eu precisava
bancar o anfitrião gracioso. Cumprimentar as pessoas e posar
para fotos combinava com o território. Gwen chamou minha

10
Kitschy é algo que apela ao gosto popular ou de baixo nível e que é
frequentemente de má qualidade.
fantasia de Homens de Preto uma desculpa esfarrapada, mas eu
não tive que buscar uma ou adicionar outra coisa à sua lista.
Ela estava trabalhando com o Comitê de Eventos ao lado da
SWANK, a empresa de planejamento de eventos contratada
para lidar com a logística e o escopo de um evento com mais de
seiscentos convidados.
Knox chegou, quase me derrubando com um abraço. Sua
peruca fez cócegas no meu rosto e pescoço.
— Você tem uma baita festa rolando — Ele inspecionou o
estacionamento lotado de carros.
— Que bom que você conseguiu vir, cara — Eu bati nas
costas dele.
— Eu perdi no ano passado, eu não perderia este ano — Ele
sorriu, sacudindo os braços para o lado.
— Quem diabos é você?
Ele olhou para si mesmo e voltou para cima.
— Eu sou o Rei Goblin.
— Parece que você enfiou um goblin nessa meia-calça.
Como diabos você conseguiu colocá-las?
Ajustando a braguilha, ele olhou. A aristocracia britânica
misturada com glam-rocker dos anos 80 espremido em meias-
calças que nenhum jogador de futebol deveria ser espremido
era um espetáculo para ser visto.
— É uma parte autêntica do traje e levou um mini frasco
inteiro de talco de bebê para espremer nela, mas valeu a pena.
Veja isso — Ele puxou uma bola de cristal e a rolou sobre as
palmas das mãos. Era uma versão do tamanho da palma da mão
de um orbe de vidro que ficaria no meio da mesa de um
médium.
— Quanto tempo você levou para praticar isso?
Ele abaixou a cabeça trêmula.
— Horas. Mas sem treinos e jogos, estou lutando para não
enlouquecer — A bola – que definitivamente não era de vidro
– caiu e quicou sob um carro vizinho.
As pessoas estavam vestidas com fantasias, desde pouco
originais a insanamente intrincadas. Alguns fantasmas foram
espalhados entre invasores alienígenas completos com pintura
corporal e próteses.
Sua mini-performance acabou, seu rosto ficou sóbrio.
— Eu vi que Bay vai se apresentar.
Eu balancei para trás em meus calcanhares e sorri, e apertei
a mão de alguns fãs que passavam.
— Ela vai.
Ele se inclinou para mais perto.
— Como você está se sentindo sobre isso?
— É por isso que você veio aqui? Para me checar? — Mais
uma vez Knox estava cuidando de mim. O velho eu teria ficado
na defensiva ou zangado com isso. Ter pessoas por perto que se
preocupavam comigo não era algo que eu daria como certo
novamente. Mas eu odiava que ele ainda sentisse que a
qualquer momento o novo eu poderia se dissolver, e poderia ter
havido um lampejo de aborrecimento.
— Não, mas eu sei como as coisas ficaram na última vez que
vocês dois estiveram juntos — E ele estava lá para me ajudar a
manter as peças juntas apenas o suficiente para passar pelo pior.
Ele tinha visto o quão ruim poderia ter sido.
— Nós tomamos café há pouco mais de uma semana e nos
vimos na sessão de fotos promocional para hoje à noite.
Estamos bem — Mais ou menos bem, mais andando na corda
bamba do que diabos estivesse acontecendo. Na preparação
para vê-la novamente, eu tentei fingir que não era grande coisa
e eu poderia lidar com isso, mas agora, eu não sentia que sabia
com certeza como esta noite seria.
— O que quer que você diga, apenas saiba que estou aqui se
você precisar de mim.
— Eu sei cara — Agarrei sua mão e fechei os polegares antes
de puxá-lo novamente para um abraço — Você é meu melhor
amigo, é claro que eu sei disso.
— Apenas me certificando — Ele me olhou.
Gwen, ostentando uma peruca ruiva e o perfeito vestido de
Miss Frizzle completo com uma bolsa de O Ônibus Mágico11
para todas as suas necessidades de assistente, veio até mim.
— Os primeiros ônibus sairão em dez minutos. É um
passeio de trinta minutos. Você quer estar no primeiro ônibus
ou no último?

11
O Ônibus Mágico foi um desenho educacional dos anos 90.
— Vou pegar o último — Bay deveria seguir o último
ônibus até lá. Sua agenda tinha sido apertada até esta noite, e ao
invés de arriscar que eles se perdessem no caminho para o local
isolado, nós nos oferecemos para guiá-los.
Tudo o que eu estava fazendo era ter certeza de que ela
estava bem. Eu teria feito isso por qualquer um que ajudasse a
fazer desta a melhor festa de caridade do ano.
— Everest da SWANK e Gale estão cuidando de tudo na
fazenda, então eu vou pular em um dos primeiros ônibus para
ver se eles precisam de mais alguma coisa.
Inclinei-me para mais perto.
— Você pode se divertir esta noite. Certifique-se de escrever
isso — Tocando em seu tablet, eu nem tentei esconder meu
sorriso.
Ela abriu um sorriso – quase.
— Não se preocupe, você está me pagando o dobro pela
ajuda extra.
— Isso ficará ainda melhor quando você pegar algumas
bebidas enquanto ainda está em expediente.
— Vou pensar sobre isso — Ela caminhou em direção às
filas que se formavam do lado de fora dos outros três ônibus
carregando pessoas, alguns com fantasias tão grandes que
tiveram que usar escadas pelas portas de saída de emergência na
parte de trás.
— Ei, Keyton — Uma voz familiar gritou pelo
estacionamento lotado, virando várias cabeças.
LJ e Marisa estavam vestidos como zumbis combinando,
completos com maquiagem de mortos-vivos, sangue e um saco
de cérebros moles. Berk e Jules eram o Capitão América e Peggy
Carter. Eles teciam entre os carros estacionados para chegar até
mim.
— Pessoal, vocês se lembram de Knox? — Mais acenos e
apertos de mão entre meu amigo e família, mais antigo, e minha
mais nova família de amigos.
Berk me abraçou, me dando tapinhas nas costas.
— Onde está o ônibus VIP?!
— Sua carruagem está esperando — Apontei para os tubos
de metal amarelos e pretos parados na metade do
estacionamento.
— Não se preocupe, Keyton. Eu tenho um abridor de latas
para arrancá-lo daqueles assentos — Jules passou os braços em
volta de mim antes de me soltar — Você se superou este ano.
Deve ter sido muito mais fácil planejar tudo isso daqui do que
do outro lado do país.
LJ e Marisa me abraçaram também. Ele deu um passo para
trás e passou o braço ao redor do ombro de Marisa.
— Sinto que está ficando maior.
O murmúrio sussurrado de Marisa para LJ não foi tão baixo
quanto ela pensava, ou talvez fosse esse o seu ponto.
— Isso é o que ela disse.
Eu sentiria falta deles. Fosse Wisconsin ou outro time, jogar
juntos e estar na mesma cidade provavelmente não seria uma
coisa de longo prazo. Seria uma droga deixá-los para trás
novamente.
— Puta merda, é o Rei Goblin — A explosão de olhos
arregalados de Jules fez mais do que algumas cabeças virarem
— Bravo. Comprometimento completo. Amei o delineador.
Knox se envaideceu, seu peito já enorme inflando ainda
mais.
— Bem, obrigado — Ele pontuou com uma reverência
cheia de floreios.
Berk olhou para o estacionamento cheio de pessoas cujos
bilhetes estavam sendo verificados enquanto eram carregados
nos ônibus.
— Ninguém vai duvidar que você sabe dar uma festa.
— Nada disso foi eu. A Headstrong Foundation faz todo o
trabalho. Eu simplesmente apareço.
Berk deu um tapinha no meu ombro e apertou.
— Toda essa autodepreciação está fazendo meus dentes
doerem de tão doce. Financiar todo esse trabalho significa que
você recebe pelo menos alguns elogios. Lide com isso.
— Eu poderia dizer isso para vocês também. Obrigado pelas
generosas doações.
LJ acertou um soco suave no meu outro ombro.
— Vamos lá, você sabe que fizemos isso para as baixas fiscais.
Marisa deu um tapa no braço de LJ.
— Ignore-o. Ficamos felizes em fazer o que podemos. Há até
algumas crianças que conseguiram estágios em museus para o
próximo ano. Todos estão ansiosos para ajudar.
— Nix tem alguns trabalhando em seu restaurante e disse
que está funcionando muito bem.
Ficar emocionado com a ajuda das pessoas era um risco
ocupacional de fazer parte da Headstrong Foundation, mas ver
os caras aqui apoiando isso fez com que o garotinho que eu era
se sentisse muito menos sozinho.
O próximo lote de ônibus se afastou.
— Vocês podem pegar qualquer um dos ônibus. Knox, você
também.
— Eu posso ficar com você um pouco mais — Knox
disparou. Provavelmente esperando para fazer o
reconhecimento da Bay.
Eu o amava, mas eu não ia virar lobisomem completo no
segundo em que a visse. Esta seria a terceira vez que nos víamos.
Eu tinha feito isso todas as vezes sem latir para a lua.
Marisa enfiou os dedos nos de LJ, descansando em seu
ombro e olhou para mim.
— E você?
Eu balançava de um pé para o outro, observando a entrada
da área de estacionamento.
— Vou pegar o último ônibus, mas vocês não precisam
esperar por mim.
Alguns foliões se aproximaram e pediram fotos. Nós três
posamos para algumas fotos e assinamos alguns autógrafos.
Não pude deixar de notar como isso era diferente de quando
Bay era abordada. Fazíamos parte de uma equipe. Claro, um de
nós podia ter feito uma grande jogada – bem, não eu, mas um
dos caras – mas eles queriam nossas assinaturas porque
estávamos em um time que eles amavam. Eu era um pouco mais
reconhecível por causa do meu status de "amuleto da sorte",
mas quase nunca era o tipo de atenção visceral e destacada que
Bay recebia.
Berk passou o braço em volta da cintura de Jules.
— Vamos esperar por você — Ele acariciou o lado de seu
rosto e eu não pude deixar de sentir as labaredas de tristeza e
ciúme coçando na minha pele.
Esses caras tinham encontrado as mulheres sem as quais não
podiam viver. Todos eles caíram em uma normalidade feliz
onde eles acordaram ao lado de uma grande pessoa que estaria
ao seu lado não importava o quê.
Mais alguns fãs vieram até nós enquanto estávamos no
estacionamento. Parecia um pouco como uma dobra do
tempo. Eu tinha voltado no tempo, encostado em carros no
estacionamento de Greenwood, conversando e rindo com
meus companheiros e amigos, mas sem toda a bagagem que eu
tinha lá atrás. Um tipo diferente de vida.
Os dois últimos ônibus pararam, esperando os retardatários.
Não houve nenhum este ano. Aparentemente, ter uma
juggernaut12 vencedora do Grammy se apresentando era uma
maneira infalível de fazer com que até mesmo os elegantes
atrasados aparecessem mais cedo.
— Devemos ir…? — Jules apontou o polegar para as escadas
emborrachadas que levavam aos bancos acolchoados.
Chão de cascalho crocante sob os pneus do veículo lento.
Um SUV preto parou no estacionamento.
A tensão apertada no meu peito relaxou e redobrou.
Todo o meu grupo olhou para mim e percebi que tinha me
agarrado firmemente ao espelho lateral do carro em que estava
encostado. Ela estava aqui.
A porta traseira do passageiro se abriu. O segurança de Bay
nos olhou do banco do passageiro da frente.
Do carro saiu Holden, seguido por Bay. Ela usava uma saia
cintilante que parecia meio rabo de peixe e caía até os
tornozelos com uma fenda indutora que desaparecia sob o
casaco. Seu casaco preto a atingia logo abaixo do quadril,
escondendo o resto da abertura em sua saia.
Glitter brilhou ao redor de seus olhos e no resto de seu rosto.
Silhuetas de estrelas-do-mar e cavalos-marinhos cor de coral
estavam pontilhadas por todo o rosto.
Ela correu para frente, sem fôlego e se desculpando.

12
Juggernaut é uma força literal ou metafórica considerada como impiedosa,
destrutiva e imparável.
— Desculpe, estamos atrasados. Não houve muito tempo
para nos prepararmos depois que deixamos os acessórios da
turnê — Um tipo de beleza impressionante e estonteante que
as pessoas davam como certa até vê-la de perto.
Ou talvez fossem aqueles sentimentos antigos do
estacionamento do ensino médio que me fizeram querer
pressioná-la contra o carro e beijá-la como eu fiz há muito
tempo.
Seus olhos percorreram o pequeno grupo reunido perto de
mim e se arregalaram quando pousaram em Knox.
— Knox, é bom ver você — Ela balançou à beira de um
aperto de mão antes que ele abrisse os braços.
Um momento de hesitação e ela caminhou em direção a ele,
deixando que seus braços a envolvessem.
Eu queria que pudesse ser tão fácil para nós.
— É bom ver você, Bay — Ele a soltou e seu olhar se fixou
em mim.
Ao meu lado, a boca aberta e os socos nos braços me
disseram que ninguém mais esperava que Bay aparecesse aqui.
Ou conhecesse Knox. Ele tinha sido convidado para alguns de
nossos eventos, férias e encontros, mas isso estava mostrando
um outro lado da minha vida que eu nunca tinha falado.
Eu tinha escondido isso deles. A parte de trás do meu
pescoço queimava com os olhares que eu sabia que estava
recebendo.
— Você poderia ter ido direto para lá se isso estivesse muito
fora do seu caminho — O terno parecia uma boa escolha, mas
agora a gravata parecia estar me sufocando. Enfiei um dedo sob
a abertura no topo do nó descansando contra o meu pomo de
Adão. Padrões antigos haviam retornado tão rápida e
facilmente com ela, assim como o medo de que o mal viesse
junto com o bem.
— Merda, desculpe. Estou fora do cronograma? Achei que
Gwen disse que poderíamos nos encontrar aqui e seguir você
— Ela olhou por cima do ombro para Holden.
Um par de gritos estrangulados guinchou atrás de mim.
— Não, está tudo bem. Estávamos prestes a pegar o último
ônibus. Somos só nós — Apontei para os outros dois casais —
Estas são algumas das pessoas que mencionei durante o
acampamento de treinamento. Os caras com quem joguei em
Fulton U. LJ e Berk. E suas esposas, Marisa e Jules. Todos nós
fomos para a faculdade juntos. Pessoal, essa aqui é Bay.
Os quatro não ex-residentes de Greenwood acenaram. Eu
não perdi os olhares de choque saltando entre Bay e eu. Eu
posso ter esquecido de mencionar a coisa toda de conhecê-la.
Abrir para perguntas sobre o que aconteceu entre nós nunca
foi algo que eu queria, e eu não queria que saísse como se
estivesse me gabando de namorar com ela no passado. O que
tínhamos era mais do que isso, e então se foi. Eu não precisava
convidar mais ninguém para o turbilhão que estava em minha
cabeça há anos.
— Você pode vir conosco, se quiser. Você também pode
pegar o SUV e seguir, se estiver ocupada ou tiver coisas para
fazer ao longo do caminho — Eu queria que ela viesse conosco.
Não no SUV sozinha – bem, não sozinha, mas com sua equipe.
Eu nunca a tinha visto com mais ninguém. Não que eu a tivesse
visto muito fora dos eventos oficiais, mas havia uma solidão
persistente nela. Ela teve que cultivar uma separação nos
últimos anos, e isso me fez querer estar mais perto dela.
Bay olhou por cima do ombro dela novamente.
Eu odiava como ela olhava para Holden em busca de
segurança e direção. Eu odiava não ser eu quem ela olhava.
Odiava que eu queria ser quem ela olhasse.
Holden assentiu.
— Você deveria pegar o ônibus.
— Tem certeza?
— Sim, quando foi a última vez que você teve a chance de
sair? Tem sido um longo dia. Relaxe antes de se apresentar —
Holden a enxotou de volta para o resto de nós.
Seu sorriso incerto se contraiu.
— Parece que estou indo com vocês. Lidere o caminho.
— Estamos indo para o último ônibus estacionado ali —
Estava a menos de quinze metros de distância.
Bay caminhou primeiro com Knox, e Holden veio do nada
para acompanhá-la até o ônibus.
Minha mandíbula apertou, mas eu relaxei. Eu não queria
que Holden viesse junto. Eu não o queria pairando.
Caminhando para o ônibus, todos os outros me atiraram
um "puta merda" sussurrado e olhares arregalados de espanto
que estaríamos todos juntos.
— Relaxa — Eu disse entre os dentes — Ela vai voltar, se
vocês não pararem de agir como esquisitos. Vocês agem como
se nunca tivessem conhecido uma pessoa famosa antes.
— Mas não Bay. Até Berk canta algumas de suas músicas no
chuveiro — Jules agarrou meu braço.
— Tudo bem, tenha seu mini-surto, e depois me prometa
que vai tratá-la como uma pessoa normal — Com todas as
maneiras que sua vida mudou, essa parecia ser a peça que
faltava. Normalidade. Não que minha vida fosse normal, mas
eu poderia passar o dia com apenas algumas fotos e autógrafos.
Ela não parecia ter nenhuma interação que alguém consideraria
normal.
Entramos no ônibus e o motorista fechou a porta sanfonada
atrás de nós.
Knox vagou pelo ônibus como se fosse uma relíquia
precisando ser explorada. Bay ocupou um assento de dois
lugares, três lugares atrás do primeiro assento.
Sentei-me no banco de três lugares em frente a ela.
Berk e Jules pegaram o lugar de três lugares atrás de mim e
LJ e Marisa correram para a parte de trás do ônibus, juntando-
se a Knox em sua exploração do ensino médio.
Bay se inclinou para frente, seus olhos correndo para a parte
de trás do ônibus.
— Desculpe se eu deixei isso estranho. Eu posso ir no SUV.
Não quero estragar uma noite divertida com você e seus
amigos.
— Você não está estragando nada. Eles vão se acalmar em
alguns minutos. Eu os fiz prometer que parariam de ser tão
estranhos. Eu juro, eles normalmente não são assim.
Sentei-me na beirada do meu assento, ombros tocando meu
encosto e o da minha frente. Mudando de posição, levantei
meus braços e os descansei sobre os tampos de vinil
acolchoados. Esses assentos sempre foram tão desconfortáveis?
Ou era estar tão perto dela sem o olhar atento de mais ninguém
em um lugar que trouxe de volta todas aquelas velhas memórias
de Greenwood?
Suas pernas estavam dobradas em sua fileira. Se nós dois
tivéssemos as pernas estendidas no corredor, elas estariam
roçando uma na outra. Ou seus joelhos estariam entre os meus.
Ela deu de ombros.
— Risco ocupacional. Estou acostumada com isso.
Uma brasa queimava em meu peito.
Sua aceitação de nunca ser tratada como uma pessoa
normal, acendeu um fósforo no meu coração.
Eu agarrei o normal.
— Como foi seu dia?
Ela enfiou as mãos entre os joelhos.
— Trabalho. Reuniões. Telefonemas. O mesmo de sempre.
E você?
— Me exercitei de manhã. Tivemos uma reunião de equipe.
Passei o resto do dia tentando ficar fora do caminho de todos
que planejavam esta noite.
— O trabalho que sua fundação faz é realmente
excepcional. Há muitas crianças por aí que poderiam usar a
ajuda.
— Infelizmente — Eu caí contra o assento acolchoado do
ônibus. Não deveria ter que existir. Minha base deveria ser
desnecessária, mas não foi o caso. Parte de mim me odiava por
querer ter um corte de salário para jogar em Wisconsin. Meus
bônus de assinatura foram para a fundação. Dar um passo para
baixo por mais tempo em campo era desviar dinheiro que
poderia ser bem utilizado.
Meu próprio egoísmo venceu lá fora, mas o conflito ainda
fervia dentro da minha cabeça. Talvez tudo ainda fosse
fingimento. Talvez o cara que eu pensava que era não fosse tão
bom quanto eu pensava. Talvez eu realmente não tivesse
superado tantas das coisas que tentei deixar para trás.
Estar aqui com Bay colocou todas as rachaduras e falhas em
foco, mas eu estava atraído por ela. Ela me puxou como uma
atração gravitacional que eu não tinha certeza se queria escapar.
Ou seria um pouso seguro ou eu queimaria em sua órbita.
Estava ficando mais difícil negar meu passado e negar os
sentimentos que ela despertava.
Ir no ônibus escolar trouxe de volta todos os tipos de
sentimentos do ensino médio. Eu ia de bicicleta para a escola na
maioria dos dias, mas havia os cobiçados dias de viagem de
campo em que a turma inteira se espremia nos assentos do
tamanho de uma escola primária. Vozes ecoavam nas paredes
de metal e teto e a excitação por perder um dia inteiro de escola
zumbia no ar.
A coisa toda cheirava a álgebra da oitava série e carne de
almoço. Por mais terrível que tenha sido, a mudança de ritmo
foi revigorante. O bombardeio de nostalgia me transformou
em uma versão minha de dezessete anos com um cheiro de pizza
de almoço escolar.
Esta noite, o ônibus estava muito menos barulhento do que
qualquer viagem para uma fazenda local ou parque de
diversões.
Knox tinha sido um rosto familiar inesperado, mas com sua
conexão com Keyton, fazia sentido. Ele estava aqui para apoiar
seu amigo.
Holden e Eric seguiram no SUV. Eu me senti um pouco
idiota pedindo para andar de ônibus com todo mundo
enquanto meus acompanhantes nos seguiam como pais
superprotetores.
O ônibus era uma zona segura. Apenas Keyton e seus
amigos profissionais do futebol. Sem fãs malucos ou situações
de máfia.
Nosso motorista era um fã, porém, ele pediu um autógrafo.
Eu fiz isso rapidamente, olhando por cima do ombro antes que
todos os outros chegassem às portas do ônibus. A última coisa
que eu precisava era que todos eles se sentissem ainda mais
estranhos ao meu redor quando estávamos apenas indo para
um passeio de ônibus discreto para uma performance que eu
estava fazendo… ok, talvez não tão discreto quanto eu gostaria.
O resto da gangue entrou no ônibus. Holden batendo na
minha janela para ter certeza de que eu estava bem foi o único
obstáculo no caminho para a normalidade, além de um
verdadeiro solavanco onde LJ e Marisa se sentaram no banco
alto e tentaram pegar o máximo de ar possível. Eles riram e
implicaram mais do que qualquer casal que eu já tinha visto,
mas o anel em seu dedo e a maneira confortável com que
falavam um com o outro atingiu uma corda de desejo
envolvendo meu coração.
— Ele nos disse que conhecia você, mas de uma maneira
vaga, do tipo, "nos esbarramos por aí" — Berk, com o cabelo
desgrenhado e comportamento de menino enfiado em corpo
de um homem feito de tijolos, descansou o braço no topo do
assento acolchoado à sua frente. Sua fantasia de Capitão
América parecia apropriada, embora um pouco apertada. Jules
estava sentada ao lado dele em uma fantasia de Peggy Carter dos
anos 40.
Knox pegou o terceiro lugar atrás de Berk e Jules, apoiando
as pernas no assento.
— Nós… nos conhecemos. Nós fomos para o ensino médio
juntos. Eu, Keyton e Knox — Apontei para Knox, que tocou a
testa com os dois dedos antes de apontá-los para todos — É
ótimo que todos vocês tenham ficado amigos mesmo depois da
faculdade.
LJ voltou para os assentos que tínhamos na frente com
Marisa.
— Moramos juntos no último ano. Nós quatro — Ele
apontou para Keyton, ele mesmo, Berk e Marisa.
Eu olhei para ela.
— Como foi viver com três caras?
— Tem seus altos e baixos, com certeza — Ela riu — Keyton
provavelmente teve o pior momento de tudo, certo? LJ e eu
ficamos bem perto naquele ano.
Mesmo no interior escuro do ônibus, eu podia sentir o
rubor vermelho de beterraba de sua pele.
— Eu não tenho ideia do que você está falando.
— Vamos. Nem uma única memória? — LJ se inclinou
sobre o topo de seu assento, sorrindo e pairando sobre Keyton.
Ele jogou o braço sobre o rosto, cobrindo a orelha direita, e
bateu a outra mão sobre a esquerda.
— Pare com isso. Eu odeio vocês dois.
Eu ri junto, tentando não deixar a sensação de estar por fora
azedar a diversão que todos estavam tendo. Além de Spencer e
Felicia, eu não mantive contato com ninguém da faculdade.
Era difícil ser amigo das pessoas quando cada interação
começava ou terminava com elas pedindo algo. Felicia estava
fazendo seu trabalho de professora em Nova Orleans. Ela e
Ethan tinham ambos conseguido posições boas. Spencer havia
lançado uma demo um ano atrás e a turnê parecia estar indo
bem.
Keyton, por outro lado, tinha uma equipe inteira de colegas,
caras que passaram por muitas das mesmas coisas que ele e
poderiam estar lá para se apoiar.
Isso amplificou o quanto eu perdi por não crescer com
pessoas como eles ao meu redor. Única, eles disseram na
Rolling Stone quando meu último álbum foi lançado. Mas isso
nem sempre era uma boa coisa.
— Puta merda — Marisa deu um pulo, me encarando com
os olhos arregalados — Você é a garota.
O medidor de confusão de todos disparou direto dos
gráficos, até mesmo o meu. Normalmente, esse tipo de reação
acontecia quando as peças se encaixavam e eles percebiam que
era eu, não depois de já termos sido apresentados e ter sido
estabelecido que eu era, de fato, aquela cantora.
Jules saltou em seu assento, apertando as mãos sobre a boca
antes de soltá-las e sorrir largamente.
— Você é aquela que Keyton desenhou o tempo todo na
faculdade.
Berk e LJ se viraram para mim, me avaliando com novos
olhos. Este não era o estranho olhar de fã com o qual eu estava
acostumada, mas um olhar de você-significa-muito-para-
alguém-que-me-importa. Era um que eu não tinha encontrado
antes.
Ele me desenhou o suficiente durante a faculdade para que
as pessoas ao seu redor me reconhecessem. Isso me balançou
bem no fundo. Nosso tempo juntos em LA tinha sido tão
rápido. Apenas um piscar de olhos quando comparado aos
últimos seis anos e os quatro que estávamos na faculdade, mas
deixou uma marca ilegível em mim. Parecia que nele também.
Ele ainda pensa em mim tanto quanto pensava naquela época?
Ele ainda me desenha?
Muitas das minhas músicas eram sobre ele, e não havia um
dia em que eu não pensasse nele. Mas parecia que ele tinha
seguido em frente, determinado a superar o que éramos. Agora
fiquei imaginando o que poderíamos ser.
Concentrei-me em não me contorcer no meu lugar.
LJ falou primeiro, estalando.
— Era seu violão que ele estava sempre andando por aí.
— Você andou por aí com meu violão? — Virei-me para
Keyton, que havia caído nas sombras de seu assento em frente
ao meu.
As palavras de Keyton foram apressadas.
— Nem sempre. Às vezes eu levava a um luthier13 para ver se
eles poderiam consertá-lo. Ou praticava em outras guitarras
para ter certeza de não estragar tudo mais do que já tinha feito.
— Você consertou meu violão? — Meu coração apertou
ainda mais — Achei que você tivesse pago outra pessoa para
fazer isso.
Ele abaixou a cabeça.
— A maioria das pessoas disse que era uma causa perdida e
não havia nada que eles pudessem fazer, então eu mesmo fiz —
Ele deu um sombrio dar de ombros.
— Deve ter demorado muito — Eu queria estender a mão e
pegar a mão dele. Passar a minha sobre a dele como se as lascas
e os cortes ainda fossem visíveis.
— Demorou muito. Demorou muito tempo para eu reunir
coragem para tentar — Ele me encarou, seu olhar cortando a
escuridão. Isso não era sobre quantas horas ele tinha se curvado
sobre os pedaços de madeira quebrados para juntá-los de volta.
Berk apoiou o cotovelo na perna e apoiou o queixo na mão,
olhando diretamente para mim.
— Eu não posso acreditar que eu nunca notei que você era
a garota do desenho.
Marisa se inclinou para frente, apoiando o queixo no banco
atrás de mim, a menos de trinta centímetros da minha cabeça.

13
Luthier é um profissional especializado na construção e no reparo de
instrumentos de corda com caixa de ressonância (guitarra, volino etc.), mas não
daqueles dotados de teclado.
— Ele não estava exatamente com aquele bloco de notas o
tempo todo.
— Eu não apenas a desenhei — Keyton interrompeu,
desconforto cobrindo cada sílaba.
Tentei mudar o foco.
— Você ainda desenha?
Ele interrompeu seu olhar tenso para seus amigos, que
estavam fazendo o que os amigos faziam de melhor, deixando-
o envergonhado.
— Sim. Eu também pinto às vezes.
Marisa se inclinou para frente desta vez com uma acusação
ameaçadora.
— Você está pintando e não me contou.
Keyton riu.
— Não é exatamente qualidade de galeria. Eu continuo
dizendo a você, ninguém vai pagar por isso.
— Eles podem por caridade — Ela atirou de volta.
— Eles não são nada de especial. Apenas algo que eu faço
para relaxar — A timidez voltou.
Eu deixei cair minha cabeça para trás contra o assento.
Passamos tantas horas no quarto dele ou no meu, ele
desenhando e eu rabiscando no meu caderno, nós dois
perdidos no que criamos, mas não precisando nos esconder um
do outro.
— Você sempre teve um jeito de capturar um momento
com apenas alguns traços de lápis.
LJ deixou cair o braço ao redor do ombro de Marisa.
— Você o viu desenhar outras coisas? Ele mal mostra a
qualquer um de nós.
O olhar inexpressivo de Keyton foi dirigido a todos os seus
amigos.
— Não consigo imaginar por que não mostraria.
Mas eu queria que eles soubessem que ele era talentoso. Eu
queria que ele soubesse também.
— Se ele continua assim desde o colegial, então eles devem
ser lindos. Ele esboçava coisas cotidianas e capturava o que as
tornava especiais.
— Só desenhei o que vi — Um olhar de soslaio foi tudo o
que ele arriscou.
Berk avançou, levando Jules com ele como se estivessem
presos no quadril.
— Se eu tivesse ido para o ensino médio com Bay, começaria
todas as conversas com essa informação.
— Meu primeiro álbum só saiu depois que nos formamos
na faculdade. Ninguém sabia quem eu era naquela época.
O olhar de Keyton foi para o meu e eu o senti deslizar pela
minha pele. Agora era eu quem agradecia que o interior escuro
do ônibus fornecia sombras suficientes para esconder cada
rubor. E seu olhar me disse que ele sabia quem eu era. Ele
sempre soube.
— Como estão as coisas nesta temporada?
Marisa e Jules gemeram.
— Não os faça começar. Desde que o anúncio de troca de
Keyton foi feito antes da temporada passada, todos ficaram
empolgados com cada treino, cada jogo. Juro que alguns dos
caras já abriram espaço em suas prateleiras para outro anel de
campeonato.
— Sem pressão — Keyton murmurou baixinho.
— Todo mundo tem certeza sobre você — Eu abaixei
minha cabeça tentando pegar seu olhar — Deve ser uma
sensação incrível.
— Mais como assustadora. Não quero decepcionar meu
time. E particularmente não quero decepcionar esses caras, mas
não há nada que eu possa fazer quando não estou em campo.
— Apenas continue emitindo essas boas vibrações.
A conversa flutuou de um tópico para outro à medida que
o passeio progredia. Filmes. A Estação. Programas de televisão.
Coisas normais que eu tinha dado como certo uma vez.
— Estávamos assistindo a Caçadores de Casas –
Internacional e alguém queria saber se o seu prédio parisiense
do século 19…
— Tinha uma lixeira — eu entrei.
Marisa deu um tapa na parte de trás do assento.
— Sim! Quão insanas são essas pessoas?
— Meu orçamento é de $3.000 dólares e eu gostaria de uma
casa de praia à beira-mar. Espero que goste de caixas de papelão.
O ônibus inteiro caiu na gargalhada. A inquietação foi
desaparecendo a cada quilômetro, até que o ônibus diminuiu a
velocidade, o cascalho estalando sob as rodas.
Árvores haviam alinhado nosso caminho para a fazenda,
mas o casulo escuro se abriu com luzes brilhantes no alto do
céu. Carros alegóricos, barracas e um palco transformaram a
área plana.
Em vez de parar na frente do prédio, as pessoas entravam e
saíam, o motorista nos levou pelos fundos.
O ônibus rastejou até parar e as portas se abriram.
Era quase hora do show. Por alguns minutos eu tinha
esquecido por que eu estava aqui, por que eu tinha sido
convidada. Eu não era uma amiga convidada para o passeio
com todos os outros. Eu era a atração principal no circo de três
picadeiros, e era trabalho de Keyton garantir que eu me
apresentasse.
Não havia nada mais do que isso.
Mas o jeito fácil que conversamos e rimos no ônibus. A
forma como seu olhar aqueceu minha pele. Por mais que eu
tentasse negar e fingir que estava fazendo isso apenas por razões
altruístas, eu queria que ele ainda me quisesse. Porque eu ainda
o queria.
Holden, Emily, Gwen e Eric estavam ao pé da escada. Eu me
encolhi, odiando o quanto isso me fazia parecer e me sentir uma
diva. Eu queria sair do ônibus como todo mundo e me juntar à
multidão de pessoas rindo, cantando e gritando do outro lado
da fazenda. A rampa de catering14 e as unidades de ar-
condicionado de grandes dimensões na parte de trás,
significavam que também funcionava como um espaço para
eventos.
— Bay, você já conheceu Gwen.
Outro homem saiu correndo pela porta dos fundos. Estava
ficando mais cheio aqui a cada minuto.
— E este é Everest e Hunter da empresa de planejamento de
eventos, SWANK.
— Ei, Everest. Há quanto tempo — Meu sorriso se alargou
e eu abracei Everest.
— É bom ver você, Bay — Ele me soltou — Estou surpreso
que você tenha conseguido entrar nesse evento. Eu sei o quão
ocupada Maddy e Holden mantêm você — Os olhos verdes de

14
Catering é o fornecimento de comida preparada e alguns serviços correlatos
(copos, louça, toalhas etc.) para festas, banquetes, restaurantes, companhias de
aviação etc.; serviço de refeições coletivas.
Everest se iluminaram com a menção de Maddy. Algum dia em
breve, eu teria que sentar com ela e obter todos os detalhes
sobre as especificidades do que os trouxe de volta à vida um do
outro.
— Eles definitivamente tentam.
Holden limpou a garganta. Certo, nós tínhamos um
horário.
Apertei a mão de todos os outros.
Gwen e Holden nos conduziram para dentro e, em poucos
minutos, meus novos companheiros de equitação se foram. Eu
esperava que pudéssemos sair, mas o circo nunca parou ao meu
redor, e eu não podia culpá-los por querer aproveitar a noite
sem todos os aborrecimentos e comoções extras.
Através da cabeça das pessoas ao meu redor, avistei Keyton,
o que fazia sentido. Era o evento dele. Não há necessidade de
me fixar em ele ser um anfitrião gracioso.
Dentro da sala verde, tirei meu casaco. O suor escorria na
minha pele, embora o quarto estivesse frio. Os caras do som
vieram para me passar pela configuração de áudio. Era um
risco, tocar sem tempo de testes no palco, mas não tivemos
tempo antes dos convidados chegarem.
Eu teria que improvisar.
Eu estava toda preparada e pronta para ir, e Emily verificou
minha maquiagem duas vezes.
Alguém colocou um microfone na minha mão. Segurei o
metal frio, que esquentou em segundos com minhas mãos
úmidas.
Podia ser meados de setembro lá fora, mas eu estava
derretendo. Os nervos corriam pelo meu corpo. Meu estômago
fechou e apertou.
Agora mesmo, eu desejava que Keyton não estivesse aqui.
O braço de Holden disparou com uma lata de lixo na mão.
Inclinei-me para a frente. O pouco de comida que eu comi
no carro voltou direto, queimando meu nariz e minha boca.
Puxando minha cabeça para trás da lata de lixo, peguei o
guardanapo que Emily estendeu.
Antes que eu pudesse pegar a água, uma mão tocou
suavemente a parte de trás do meu ombro.
— Você está bem? — Keyton olhou para mim, seu rosto
enrugado de preocupação.
— Ficará tudo bem. Eu ainda posso cantar — Peguei um
gole da água e cuspi de volta na lata de lixo.
— Eu não me importo com o show. Você está bem? Você
está se sentindo bem?
Emily me deu um purificador de hálito e me ajudou com
meu batom.
— Risco ocupacional — Coloquei na boca, feliz que o
glitter coral e a maquiagem pudessem cobrir pelo menos um
pouco do rubor envergonhado que estava tomando conta do
meu corpo.
— Com que frequência isso acontece? — Ele olhou de mim
para Holden e Emily.
Eles desviaram o olhar, de repente fascinados por encontrar
um lugar para a lata de lixo.
— Na maioria das vezes antes de me apresentar — Eu ri,
tentando jogar fora a humilhação não tão leve de vomitar na
frente dele.
— Na maioria das vezes?
Abaixando minha cabeça, eu mexi nas escamas do meu
vestido.
— Talvez todas as vezes…
— Você vomita todas as vezes antes de se apresentar.
— Não é grande coisa e não afetará meu desempenho —
Uma verificação rápida no espelho — Veja, nova em folha! —
Batendo palmas nas laterais do corpo, dei um sorriso de luz do
sol.
— Podemos esperar um pouco mais, se você precisar.
Isso só levaria a uma segunda sessão de vômito. Melhor
arrancar o band-aid.
— Não, vamos.
A equipe de palco e o técnico de áudio me guiaram pela
passagem de som pelo meu fone de ouvido, já que eu não
poderia fazer isso no palco com todos já do lado de fora.
Keyton pairava nas proximidades.
Meus sorrisos tranquilizadores não pareciam convencê-lo.
Eu tentei não gostar muito dele se importar, e atribui isso a
ele não querer que o artista do seu grande evento e do encontro
depois, desistisse no último segundo.
O frio aumentava à medida que nos aproximávamos do
palco. As portas estavam abertas, e eu pulei na ponta dos pés
para me aquecer sem o casaco que usei no caminho até aqui. A
camada de suor fez minha temperatura baixar ainda mais. Eu
estava ao mesmo tempo suada e congelada.
Keyton verificou comigo mais uma vez.
Eu ofereci um sorriso e assenti. Uma cortina cobria os sete
degraus que levavam ao palco recém-erguido. A banda de apoio
eram caras com quem eu tinha tocado antes.
Keyton parou no topo da escada e olhou para mim.
Um sinal de positivo foi tudo que consegui reunir. Gwen
subiu as escadas atrás dele. A multidão aplaudiu no segundo em
que a cortina foi puxada e ele entrou no palco.
Mesmo com o espaço aberto e o evento não lotado, seus
cânticos cresceram enquanto Keyton lia minha introdução.
— Bay! — Os ajudantes de palco puxaram a cortina e eu
subi correndo no palco, engolindo a bile que sempre fazia
cócegas no fundo da minha garganta durante uma
apresentação solo.
Não havia nada a temer, mas o pânico era difícil de controlar
até o segundo antes da primeira música. Concentre-se na
música. Eu corri com meus olás e agradecimentos antes de
começar a primeira música.
Todo o evento foi centrado em torno do palco. Passeios,
jogos, comida e bares pop-up cercavam todo o espaço.
A performance foi perfeita. Apesar de não ter ensaios com a
banda de apoio local, eles não perderam o ritmo.
Cada pessoa na multidão estava de pé. As pessoas gritaram e
aplaudiram da roda gigante com suas câmeras, filmando toda a
performance. Este era o meu tipo de festa. Todo mundo estava
com maquiagem e máscaras, então não parecia que muitas
pessoas estavam olhando. Estes eram apenas alguns amigos,
macabros e peludos que vieram para se divertir. Não doía que a
bebida era abundante e a cantoria ficou mais alta quando
cheguei ao meu refrão final.
Eu nunca tinha ido a um evento como aquele antes. Ao
longe, um helicóptero decolou e voltou com os foliões. As luzes
do carro alegórico pontilhavam o espaço vazio. Era um
carnaval, rave e Halloween, tudo em um.
Nós tocamos cinco músicas e eu fiz o anúncio escrito no
cartão que Gwen me entregou. O leilão silencioso terminaria
em breve e eu joguei alguns prêmios extras para eles, deixando-
os saber sobre a viagem, com todas as despesas pagas, para
qualquer um dos meus próximos shows e assentos na primeira
fila que estavam disponíveis.
Olhei para o lado do palco. Holden revirou os olhos e riu,
inclinando-se para sussurrar para Emily, que entrou em ação
para fazer o que fosse necessário para que isso acontecesse. Por
isso eram os melhores.
Pode ter havido uma pequena corrida de pessoas indo em
direção à silenciosa área de leilões entre o skee-ball e o tiro de
basquete – com um unicórnio de tamanho adulto e taco
pendurado entre eles como os prêmios finais.
A multidão aplaudiu por outro bis depois que eu já tinha
passado por dois. Verificando com a banda, encontramos uma
outra que todos eles conheciam. Suada da minha performance,
ao invés de ansiedade, eu deixei o palco sem fôlego e
cantarolando com emoção e alívio. Mais um show de sucesso
com um público satisfeito.
Emily empurrou uma garrafa de água na minha mão e
Holden me entregou uma toalha.
Enxuguei para não estragar minha maquiagem e esvaziei a
garrafa plástica de água até que ela desmoronou na minha mão.
— Você tem o meet and greet15 e então terminamos —
Holden fechou a tampa de seu tablet — Ótimo trabalho lá fora.
Eles tiveram que adicionar duas folhas extras ao seu item de
leilão de pacote turístico. As pessoas continuaram dando
lances.
— Impressionante — Eu coloquei minhas mãos em meus
quadris e examinei a área externa dos bastidores em busca de
Keyton, mas o homem que estava uma cabeça acima de todos
os outros não estava aqui.

15
Meet and greet é o momento em que os fãs podem conhecer o artista
pessoalmente e ter esse momento registrado em foto.
Ele tinha muita coisa acontecendo esta noite, e eu não
precisava que segurasse minha mão.
Com minha configuração de energia ligada, entramos na
área de meet and greet para centenas de fotos. Dando a todos
os fãs toneladas de fotos para levar com eles, minhas bochechas
doem no final da hora. Tinha sido um longo dia e eu não podia
mais ignorar o latejar em meus pés.
Eu desabei na cadeira na área da sala verde agora deserta.
Não havia sinal de Keyton desde que ele me apresentou no
palco. Eu queria dizer adeus. Talvez fosse a minha vez de ser a
primeira a sair desta vez. Nós dois tínhamos um jeito de fazer
saídas bem dramáticas.
Eu não queria desaparecer.
Holden e Emily continuaram apontando para os tablets um
do outro. Afundei na cadeira o suficiente para descansar minha
cabeça nas costas e fechei os olhos.
— O motorista está a caminho da entrada lateral.
Se eu tirasse meus sapatos agora, teria que sair descalça.
Meus dedos dos pés se amotinariam se eu tentasse empurrá-los
de volta. Decisões, decisões.
A porta se abriu e os sons abafados da festa aumentaram.
— Desculpe — Era Keyton.
O timbre melódico e retumbante de sua voz fez coisas loucas
e sujas comigo. Eu me levantei e abri meus olhos.
— Ei.
— Ei — Ele olhou para Emily e Holden — Você já estava
saindo ou quer conferir a festa?
Um brilho excitado foi rapidamente extinto. Por mais
divertido que parecesse do palco, eu era uma equipe de
demolição em forma de mulher quando se tratava de diversão
silenciosa.
— Está bem. Eu não quero criar uma cena lá fora. Eu não
sou exatamente imperceptível — Especialmente depois de estar
no palco com essa fantasia mais cedo esta noite.
A porta se abriu atrás dele e Gwen entrou. Ela, Holden e
Emily devem ter ido para uma escola especial de manipuladores
de celebridades para parecer que sempre sabiam o que fazer a
seguir.
— Não haverá problemas — Ele olhou por cima do ombro
— Gwen, temos algumas fantasias extras? Algo que Bay
poderia usar para sair escondida?
Ela assentiu.
— Eu posso fazer acontecer.
— Sério. Você não precisa. Eu sei que você já está muito
ocupada — Eu a chamei, mas ela já tinha ido — Eu adoraria
ficar mais tempo, mas não quero dar trabalho extra para os
outros. Há centenas de pessoas por aí e muitos incêndios que
tenho certeza que ela já está apagando. Ela não precisa. Tenho
certeza de que ela está com as mãos ocupadas.
— Eu sei. Gwen é mais do que capaz e a empresa de
planejamento de eventos está cuidando de todos os incêndios –
grandes e pequenos. Você nos fez um grande favor, o mínimo
que você pode fazer é se divertir esta noite, se estiver tudo bem…
— Seu olhar se desviou de mim para Holden.
— Eu adoraria — Eu me levantei e estremeci. Meus dedos
dos pés irritados com minha celebração prematura de quase
liberdade. Eu gostaria de ter trazido alguns sapatos mais
confortáveis.
Holden deu um passo à frente e acenou para Keyton que
estava agora de pé ao lado dos sofás na extremidade da sala.
— Você tem certeza disso? — Ele olhou por cima do ombro
— A última vez que deixei vocês dois sozinhos, vocês não
pareciam tão felizes quando voltei — Todos os instintos
protetores de irmão mais velho que eu amava nele estavam
levantando suas cabeças.
— Eu sei. Mas Holden, se eu não for com ele esta noite, vou
olhar para trás e me arrepender deste momento. Por mais
assustador que isso possa ser. Por mais magoada que eu possa
acabar. Eu não posso não fazer isso — Meu batimento cardíaco
acelerou, a antecipação de estar sozinha com Keyton me
deixando um pouco tonta.
— Contanto que você não olhe para trás e se arrependa de
não entrar no carro comigo e Emily.
Olhei para Keyton, que fez o possível para fingir que não
estava nos observando a três metros de distância.
— Eu não vou — Eu soava muito mais segura do que me
sentia. Eu poderia me arrepender, mas não havia outra escolha.
Eu teria que dar o salto e me preocupar com o resto mais tarde.
— Isso foi o que eu pensei — Ele estendeu meu telefone —
Você vai precisar disso.
Gwen voltou com algumas opções de fantasias diferentes.
Havia um par de máscaras venezianas com metade do rosto,
uma máscara de mulher-gato e uma máscara de plástico com
um macacão fofo com zíper para combinar. Era macio, quente
e confortável – Mulher Maravilha em forma de pijama,
completa com o traje e tecido de cor nude nos braços e pernas.
Talvez todas as minhas fantasias de show deviam estar na forma
Snuggie16 de agora em diante
— Esse aqui.
Correndo para o banheiro, tirei minha fantasia e pulei para
a outra. Foi um abraço caloroso. Enfiei meu telefone no bolso
– sim, havia bolsos! – e fechei-o completamente. Usando um
prendedor de cabelo da bolsa de truques de Emily, prendi meu
cabelo. Meus pés gritaram ao serem empurrados de volta para
os meus sapatos, mas talvez eu os tirasse mais tarde e deixasse o
chão frio entorpece-los.
Tirei as grandes decorações de glitter ao redor do meu rosto
e esfreguei com água e sabão para tirar a maquiagem, mas eu
aprendi há muito tempo, glitter era para sempre. Fiz o melhor

16
Snuggie é um tipo de cobertor com mangas.
que pude sem o removedor de maquiagem industrial que tinha
no meu quarto de hotel.
Abrindo a porta, parei de repente.
Keyton estava dentro da alcova. Seus ombros largos
parecendo preencher todo o espaço. Sua presença nunca
deixou de fazer meu coração acelerar. Ele abaixou na minha
frente, ajoelhando-se.
— Achei que você poderia usar isso — Na mão esquerda,
ele tinha um par de sapatilhas.
Eu poderia ter chorado.
Ele pegou meu pé direito com uma mão e tirou os saltos. A
onda de alívio estava de volta.
Seus dedos fortes massagearam a sola do meu pé em uma
massagem muito curta. Meus dedos dos pés também
receberam um pouco de atenção.
Ele deslizou a sapatilha preta, acolchoada no meu pé direito
e repetiu a tortura prazerosa no meu pé esquerdo. Pegando
meus calcanhares, ele deu um passo para trás com o braço
estendido, me deixando passar.
Eu não queria passar. Eu queria ficar neste cubículo escuro
com ele.
Mas havia uma sala cheia de pessoas do outro lado da parede
e não tive muito tempo antes que algo acontecesse e eu não
pudesse ficar.
Não querendo perder um minuto, corri de volta para a sala.
Todos ficaram de pé, observando e esperando.
Keyton entregou meus saltos para Emily.
Por favor, não me diga que eles vão dizer que eu não posso ir
lá.
Corri minhas mãos ao longo das pernas do pijama felpudo
da Mulher Maravilha.
— Estamos prontos para ir?
— Se você tem certeza sobre isso — Holden largou o
telefone — Podemos ficar por um tempo, se você quiser, caso
precise de algum apoio.
Keyton deu um passo à frente.
— Uma vez que eles vejam o SUV partir, todos vão supor
que Bay se foi. Não vou deixar nada acontecer com você — Ele
estendeu a mão — Confie em mim.
Olhei em seus olhos e deslizei minha mão na dele.
— Eu vou ficar bem, Holden — Eu não conseguia tirar
meus olhos de Keyton.
As pontas de seus dedos correram por dentro do meu pulso.
Seus olhos me disseram tudo o que eu precisava saber. Eu podia
confiar nele. Ele não sairia do meu lado. E eu me arrependeria
de sair sem passar esse tempo com ele.
Caminhamos em direção à porta. Eu chamei por cima do
meu ombro.
— Eu tenho meu telefone, Holden. Tudo vai dar certo.
Sem esperar por uma resposta, saímos pela porta, Keyton
liderando o caminho.
Eric e Holden ficaram para trás. As portas da sala verde se
fecharam atrás de nós.
Excitação e nervosismo estavam em uma briga no palco do
meu estômago.
Keyton caminhou pelo espaço do evento com a cabeça
erguida, sem se preocupar com o que poderia estar do outro
lado da porta.
Não foi até aquele momento que me ocorreu o quão longe
eu tinha me desviado do caminho da vida que eu tinha antes. A
expectativa de um show de horrores do outro lado de uma
porta não era um dado adquirido para a maioria das pessoas,
nem mesmo pessoas famosas como Keyton.
Os sons do lado de fora ficaram mais altos à medida que nos
aproximávamos. Empurrando as portas abertas, ele sorriu e
olhou para mim.
Segurei sua mão com mais força, cobrindo-a com a outra.
Parecia que eu estava sentada no carro entrando em um
estacionamento de parque de diversões, agarrando os assentos
e pulando, pronta para me divertir – finalmente.
Lá fora, no gramado, havia luzes piscando e risos e gritos
enchendo o ar. O resto da turma estava por perto.
Ele sussurrou perto do meu ouvido.
— Eu os avisei que você estava ficando. Espero que esteja
tudo bem.
O cabelo em meus braços saltou para a atenção em sua
conversa próxima e cheiro familiar.
— Vai ser divertido. Tenho certeza que você quer sair com
seus amigos também.
— E você — Ele ainda não tinha largado minha mão e eu
não tinha largado a dele. Seus amigos estavam lá, porém, e isso
poderia convidar a perguntas, que eu não estava preparada para
responder.
Além dos passeios, havia um carnaval completo, com jogos
manipulados e uma abundância de porcarias para comer. Uma
fantasia de comida frita passou pela minha cabeça.
Marisa mostrou minha roupa com a mão.
— Você é a Mulher Maravilha mais aconchegante que eu já
vi.
— Aquecida também. E eu tenho bolsos — Tirei minha
mão da dele e enfiei as minhas nos bolsos.
Ele ficou ao meu lado de uma forma que parecia mais uma
declaração, uma para rivalizar comigo puxando minha mão da
dele. Toda a minha vida era um grande plano que eu não me
sentia avisada na metade do tempo. Não havia planos para o
que isso significava além desta noite, mas isso não significava
que eu não pudesse aproveitar, que eu não pudesse saborear
cada momento, não importa o que o sol da manhã trouxesse.
— O que você quer fazer primeiro?
Luzes coloridas, risos e flashbacks da infância estavam em
todos os cantos deste lugar.
— Nada. Tudo.
Com um grupo inteiro de amigos, tipo aqueles que eu
nunca tive no ensino médio, nós corremos pelo carnaval.
Nenhum dinheiro era necessário para passeios ou jogos, e o
cordão verde-limão era nosso pacote de bebidas VIP. Ficamos
na fila para o Gravatron, onde nossas costas estavam grudadas
na parede enquanto Welcome to the Jungle tocava no volume
máximo.
Corremos de uma atração para outra, todos contando
piadas e histórias para nos manter entretidos enquanto
esperávamos nossa vez no próximo passeio quase indutor de
vômito. Minhas bochechas doíam de tanto rir e sorrir, embora
meu disfarce escondesse muito disso. Também me permitiu
assistir Keyton sem sentir que todos podiam ver.
Eu não tive que esconder meu sorriso quando os foliões
perguntaram se eu tiraria uma foto deles com ele e o resto dos
caras. Foi bom estar do outro lado da câmera pela primeira vez.
Eu podia ver sua facilidade com quem ele era agora, com que
facilidade ele ria, o quanto seus amigos se importavam com ele,
e ele se importava com eles.
Lágrimas brotaram em meus olhos, mas eu as pisquei de
volta, querendo não me emocionar. Ele finalmente encontrou
uma família com um vínculo que nem seis anos e mudanças
pelo país poderiam diminuir. Ele finalmente encontrou um
pouco de paz.
Sentamos um ao lado do outro com os braços sobre a cabeça
na montanha-russa. Trancada em um pequeno carro ao lado
dele, descansei minha cabeça em seu ombro, absorvendo cada
momento.
Ele abaixou a cabeça em cima da minha. Um peso suave.
Palavras ditas sem abrir a boca.
Eu senti tanto sua falta.
Um anseio que eu nem me permiti reconhecer bateu em
mim como dois caminhões Mack dirigindo um em direção ao
outro a 100 quilômetros por hora. Eu senti falta dele. Eu sentia
falta de estar com ele, rindo com ele, conhecendo-o.
Meus pés não estavam mais em rebelião, mas minhas pernas
sim. Ainda assim, eu não queria parar. Foi uma das poucas
vezes que estive sozinha, não enfiada dentro de quatro paredes,
em tanto tempo que mal conseguia me lembrar da última vez.
A barraca de comida com carolinas e crepes seria a minha
morte, e eu não deveria ter andado no Tilt-A-Whirl17 depois de
ingerir o que tinha que ser meio quilo de açúcar e Nutella.
Todos nós desabamos nos bancos, Keyton ao meu lado, um
pouco suado e muito feliz.
Foi o mais feliz que eu estive em muito tempo.
Eu não queria que a noite acabasse. Eu não queria que meu
tempo com ele terminasse, mas à luz do dia tudo pareceria tão
mágico quanto esta noite?

17
Tilt-A-Whirl é uma atração de parque de diversões onde os carrinhos giram
entre sí, mudando de posição no rítmo das músicas.
Bay tinha que estar cansada. Ela estava prestes a desmaiar na sala
verde quando eu voltei para ver como ela estava, com medo de
que ela já tivesse ido embora. Por mais cansada que ela
parecesse, eu não queria que a noite terminasse com um aperto
de mão e um "obrigado por ter vindo."
Então eu pedi a ela para sair comigo, esperando que um de
seus contratados entrasse para dizer não, mas ela aceitou de
primeira.
Observando-a se divertir sem o peso de quem ela se tornou,
um pedaço de mim que desejava dar a ela o mundo, desejava
dar a ela algo que ninguém mais poderia. Mas esta noite foi uma
noite.
Uma noite para ela sair com meus amigos e quase me
ensurdecer com gritos nos brinquedos do parque. Uma noite
para estar perto dela.
Correr pelos terrenos transformados da fazenda com Bay,
Knox, LJ e Marisa, e Berk e Jules, parecia um universo
alternativo onde todos crescemos juntos. Aqui, nós tínhamos
dezoito anos novamente, saindo em uma feira de outono, rindo
e sendo patetas juntos sem nenhuma preocupação no mundo.
Era um passado que eu desejava ter, mas meu verdadeiro
passado me trouxe a este momento.
O motor do helicóptero do outro lado da fazenda causou
arrepios na minha espinha. Meus músculos apertaram e eu lutei
contra o ácido turvo no meu estômago.
Bay pulou para cima e para baixo e apertou meu braço.
— Um passeio de helicóptero com labirinto? Alguém pode
explicar o que diabos é isso? — Seus olhos se arregalaram por
trás de sua máscara.
Marisa a puxou para frente.
— Quem sabe? Vamos descobrir.
— Pensei que fossem apenas passeios de helicóptero. Isso
soa incrível. Vamos lá — Ela tentou me puxar para a área
isolada da pista de pouso, mas meus joelhos travaram.
Knox interveio.
— Bay, estive tentando roubar alguns minutos com você a
noite toda para me atualizar. Eu posso te levar.
Minha visão se estreitou para as lâminas do helicóptero.
Meu estômago embrulhou, a respiração aumentando em
ofegos e meus músculos tensos. O helicóptero balançou para
frente e para trás, pairando no ar antes de plantar seus esquis de
pouso no heliponto improvisado.
Pânico agarrou meu peito, envolvendo seus dedos de pavor
apertados em volta da minha garganta.
Marisa entrou na conversa, sua voz excessivamente leve
soava como se estivesse no fim de um túnel.
— Vamos fazer isso como uma coisa de garotas. Os caras
podem nos trazer mais bolo de funil.
Bay olhou para mim.
— Você está bem comigo indo com elas? Knox, você está
bem com isso? Podemos conversar depois.
Ele assentiu.
— Não se preocupe com isso. Só queria recuperar o atraso,
podemos fazer isso em outro momento.
— Keyton?
— Nós ficaremos bem. Vá com elas e depois vamos chutar
suas bundas em skee-ball pelo taco dançante gigante — Minha
voz estava tensa.
Um lampejo de uma pergunta dançou em seus olhos.
Minha respiração parou no meu peito e eu trabalhei para
desenrolar o cordão apertado em meus músculos. Eu ofereci a
ela um sorriso que provavelmente beirava serial killer para
esconder meu pânico. Lambi meus lábios e limpei minha
garganta.
— Sério, estaremos aqui esperando com bolo de funil bem
quente quando vocês pousarem.
Ela sorriu e deixou que Marisa e Jules a puxassem. Seus
dedos deslizaram pelo meu paletó.
Desejei que fosse minha pele nua.
Elas correram para a frente sob o zumbido das pás do
helicóptero e a porta foi fechada atrás delas.
Eu estava a segundos de apoiar minhas mãos nos joelhos
para não desmaiar.
Knox colocou a mão no meu ombro.
— Ela vai ficar bem. Ela estará perfeitamente segura.
— Ainda não está a fim de passeios de helicóptero? — LJ
ficou ombro a ombro comigo.
— Uma experiência de quase morte foi mais do que
suficiente para uma vida inteira.
Berk deu um passo para o meu outro lado como se eles
pensassem que minhas pernas poderiam ceder debaixo de mim
só de estar nas proximidades de um helicóptero.
— Despencar milhares de pés no ar em um helicóptero com
o motor parado, ainda deixa você com medo de pular em um
deles novamente? — Sua tentativa de fazer uma piada
fracassou.
— Vou me ater a aeronaves comerciais com vários motores
— Meus dedos pareciam que não abriram por pelo menos uma
semana depois que o passeio turístico pelo Grand Canyon três
anos atrás, quase terminou em uma catástrofe de metal
carbonizado e retorcido — Vamos pegar o bolo de funil para as
meninas.
Eu mantive meu olhar no céu. O medo agarrou minha
garganta com tanta força que eu não conseguia falar. Todos os
cenários do que poderia dar errado passaram pela minha
cabeça, saindo do interior do meu crânio. Se algo acontecesse
com ela…
Knox segurou meu ombro.
— Respire, cara. Ela vai ficar bem.
Eu rasguei meu olhar para longe do céu e olhei de volta para
ele.
— Você não tem como saber isso.
— Você está certo. Eu não posso, não mais do que qualquer
um de nós pode saber sobre qualquer coisa, mas ela vai ficar
bem. E você vai assustá-la se a atacar assim que ela sair do
helicóptero. Acalme-se.
Fechei os olhos e respirei através do medo irracional,
pegando cada cenário do que poderia acontecer com ela e
colocando de lado. Enlouquecer nos poucos minutos em que
ela se foi não faria nenhum bem a nenhum de nós.
Os sons da festa lentamente se aproximaram das respirações
apertadas e tensas que deram lugar a outras mais lentas e
constantes. Os foliões caíram ainda mais na folia bêbada ao
meu redor, celebrando sua caridade. Eu não podia culpá-los
nem um pouco, e o dinheiro que ganhamos aqui, na medida
que suas inibições na mesa de leilão afrouxavam, faria muito
bem no próximo ano e além.
Por um tempo, eu estava preocupado com o que
aconteceria quando eu deixasse a cidade no meio da temporada.
Deixar os caras em apuros não era o que eu sempre quis fazer,
mas eu precisava dar esse passo, e não havia garantia de que
todos jogaríamos juntos depois desta temporada de qualquer
maneira.
Não era uma situação com a qual eu tinha que me
preocupar de qualquer maneira. A ligação de Ernie dizendo
que Wisconsin havia atingido seu teto salarial para o ano e
mesmo meu menor salário comercial não poderia ser
alcançado, esmagou minhas esperanças de que isso acontecesse.
O dinheiro que conseguisse aqui seria bem gasto, e a fundação
começaria seu planejamento assim que todos os números
chegassem.
Estar aqui com os caras e Marisa e Jules não era a pior coisa.
Era a melhor. Talvez fosse um sinal de que eu precisava
finalmente parar de procurar minha chance em campo e focar
no que era mais importante para mim.
Quando o helicóptero de quatro passageiros pousou, eu
estava esperando ao lado da área isolada.
Ela correu em minha direção e jogou os braços em volta do
meu pescoço.
— Voltamos! — Sua máscara caiu um pouco contra meu
ombro. Ela a empurrou para cima, iluminada com excitação
derramando dela — Estávamos guiando as pessoas no terreno
através dele. Tiramos toda a nossa equipe sem precisar refazer o
labirinto — Bombeando as mãos para cima, ela fez barulhos
simulados de multidão.
As pessoas andavam atrás de nós.
Minhas costas endureceram querendo protegê-la.
— Estou feliz que você se divertiu — Eu deslizei a máscara
de volta no lugar.
Seus dedos dispararam para a máscara e seus olhos correram
atrás dela.
— Não se preocupe, ninguém viu.
Ela assentiu.
— Eu esqueci por um segundo.
Minha frequência cardíaca disparou em frustração por ela
ter que se lembrar que ela precisava se lembrar.
Knox saiu cedo, precisando voltar para uma apresentação
no meio da tarde amanhã e ele estaria se recuperando de uma
ressaca de martini de biscoito de chocolate.
Eu o abracei.
Ele bateu nas minhas costas.
— Bom te ver, cara. Deixe-me saber se você precisar de
alguma coisa e como você está indo — Ele me soltou e seu olhar
foi para Bay. Sua cautela fez sentido depois de ser o único a
manter os pedaços de mim em forma quase humana, depois
que ela partiu pela última vez. Mas desta vez eu não era a
bagunça completa e total de más notícias que eu tinha sido
naquela época. Ainda não está nem perto da perfeição, mas não
está mais no limite.
— Ficarei bem. Não se preocupe.
O barulho que ele fez não soou como se ele acreditasse em
mim, mas ele não insistiu.
A noite acabou, saindo um pouco dos trilhos quando
Marisa terminou seu terceiro saco de algodão doce e entrou no
Tilt-O-Whirl.
LJ passou o braço em volta do ombro dela.
— Eu vou levá-la de volta. Obrigado por uma grande noite.
E foi um prazer conhecê-la, Mulher Maravilha.
Aninhada debaixo do braço dele, Marisa parecia estar a um
cheiro de bolo de funil de pintar o chão com vômito néon. Ela
murmurou um adeus.
— Prazer em te conhecer também. Sinta-se melhor, Marisa
— Bay estava um pouco na minha frente para o lado. Perto o
suficiente para que a frente do meu peito tocasse a parte de trás
de seu braço com cada respiração.
— Nós vamos também — Berk segurou a mão de Jules. Seus
dedos se entrelaçaram — Vejo você no treino.
— Tchau, Keyton e Mulher Maravilha. Nós nos divertimos
muito.
— Eu também. E estou feliz por ter conhecido vocês dois.
Talvez eu os veja de novo algum dia — Seu queixo balançou em
direção ao ombro como se ela estivesse tentando checar
comigo, mas a máscara a impediu de chamar minha atenção.
— Isso seria incrível! — Jules sorriu.
Eles desapareceram na multidão depois da meia-noite, nem
um pouco dissuadidos pela queda das temperaturas.
Deslizando minha mão na de Bay, uma corrente elétrica
subiu pelo meu braço, e a coceira de antecipação rastejou sob
minha pele. Eu a acompanhei de volta ao centro de eventos.
Seus passos eram tão rápidos quanto os meus. Estávamos
correndo em direção a algo. O que era, eu não tinha certeza, e
não sabia se queria um alerta.
Com uma mão, mandei uma mensagem para Gwen mandar
um carro nos buscar.
A resposta dela foi imediata. Tínhamos cinco minutos antes
que o carro viesse nos buscar e o momento estaria acabado.
— O carro estará aqui em alguns instantes.
Cinco minutos.
A sala verde estava vazia, escura e deixada para as equipes de
limpeza amanhã.
Fechando a porta atrás de mim, eu a girei e a pressionei
contra a parede. Correndo meus dedos ao longo de seu queixo,
empurrei a máscara sobre seu rosto.
Olhei em seus olhos famintos com olhos igualmente
famintos.
Meus braços se apoiaram em ambos os lados de sua cabeça.
Seus lábios macios e brilhantes me chamavam. Pequenas
manchas de açúcar de canela grudadas no canto de sua boca
para rivalizar com seus lábios já doces, os lábios que eu não
provava há mais de seis anos. Os lábios com que eu ainda
sonhava.
— Quando foi a última vez que você foi beijada?
— Na câmera ou fora dela? — Seu olhar passou dos meus
lábios de volta para os meus olhos.
— Um beijo de verdade — Minha voz caiu. Eu não ligava
para pretendentes em videoclipes ou anúncios de perfumes. Eu
queria saber a última vez que um homem a fez sentir aquela
sensação de dor profunda que só poderia ser saciada por mais
toques — O tipo que permanece em seus lábios e fica gravado
em sua memória.
Sua respiração engatou.
— Seis anos, dois meses e vinte e oito dias atrás. A noite… —
Ela não conseguiu terminar a frase.
Meus lábios caíram sobre os dela. A queimadura de nossos
lábios queimava com uma paixão reprimida que eu tentei negar
desde o primeiro momento em que a vi. Uma dor faminta
socou meu peito como se meu coração estivesse dando um
golpe e pronto para escapar.
Seus dedos puxaram o cabelo na minha nuca e eu a esmaguei
contra a parede, tentando nos fundir em um.
Meus quadris pressionados contra os dela.
Ela se contorceu e se mexeu, envolvendo as pernas em volta
da minha cintura.
Eu me pressionei contra ela, fricção aquecendo meu corpo
ainda mais. Meu pau não apreciava as barreiras entre nós.
— Eu deveria ter mantido a saia — Ela respirou contra
minha boca entre beijos ardentes.
Meu corpo estava tão quente que parecia que fogo líquido
havia sido injetado na minha corrente sanguínea.
Segurando-a contra mim com minhas mãos em sua bunda,
eu me apoiei nela.
A respiração ofegante se transformou em gemidos e seu
aperto em volta do meu pescoço aumentou.
— Eu estive querendo fazer isso a noite toda.
— Eu estive querendo que você fizesse isso a noite toda —
Ela segurou em mim e olhou nos meus olhos — Você vai me
levar para casa com você? — Uma pergunta tão nua que
poderíamos muito bem estar de pé no ar do outono reduzido a
nada.
Tínhamos pedido fogos de artifício para esta noite ou eles
estavam explodindo no meu peito? Era no estilo de um
campeonato nacional, com canhões de confete atirando em
todas as direções. Ela era a mulher mais bonita que eu já conheci
ou conheceria.
— Você nunca precisa perguntar — Eu ataquei seus lábios
com uma ferocidade que só ela despertava em mim. Nossos
corpos tremeram, as vibrações viajaram pelo meu eixo,
tornando mais difícil lembrar que poderíamos ser descobertos
a qualquer minuto.
— Acho que é o seu telefone, a menos que você esteja
carregando um vibrador no bolso — Ela sorriu e soltou as
pernas dos meus quadris.
Eu estava alheio ao zumbido insistente no meu bolso.
Rumindo com o meu telefone, eu o puxei do meu bolso.
— O carro está aqui.
— Eu imaginei — Ela sorriu e pegou sua máscara, que havia
caído no chão.
Nós nos encaixamos na parte de trás do carro como se fosse
um Honda dos anos 90 de duas portas. Nossos dedos se
tocaram.
Ela olhou para mim. Com um olhar, ela fez meu coração
pular, meu sangue aumentar e meu desejo disparar.
Mantendo meus olhos no motorista, eu me inclinei e
sussurrei, deixando meus lábios acariciarem seu lóbulo e fazer
cócegas na concha de sua orelha.
— É uma coisa boa que você está vestindo pijama fechado
nos pés.
Ela estremeceu, embora o calor estivesse aumentando. Seu
olhar disparou para o motorista também, mordendo o lábio.
— Você está dizendo que não quer uma punheta agora? —
O tom leve e inocente de suas palavras enviou o sangue que
restava na minha cabeça direto para o meu pau.
A provocação estava lá em suas palavras, mas eu não iria
expô-la a nenhuma ação que pudesse intensificar os holofotes
sobre ela, como ter um motorista vazando informações sobre
uma mão ilícita na parte de trás de seu carro com o amuleto de
sorte de Philly.
— O que eu quero e o que vou fazer são duas coisas muito
diferentes. Pelo menos até chegarmos ao meu apartamento.
O resto da viagem foi um torturante exercício de contenção.
Cada olhar e carícia era um convite para segurá-la no lugar
enquanto eu a beijava sem fôlego.
Mas eu podia esperar até que ela estivesse em segurança no
meu apartamento.
Ela colocou a máscara de volta para a caminhada desajeitada
pelo saguão. Eu parecia um agente do Serviço Secreto
protegendo uma versão peluda da Mulher Maravilha.
Chegamos aos elevadores do lado dos moradores do prédio.
Mesmo depois que as portas se fecharam atrás de nós, reprimi
a vontade de arrancar sua máscara e pressioná-la contra a
parede. Ainda havia câmeras lá e alguém gravaria essa cena e a
venderia em um piscar de olhos.
Eu não conseguia ler sua expressão na subida, mas seus
dedos ainda estavam enfiados nos meus, seu polegar se
movendo em círculos enlouquecedores, apertando com cada
golpe até que ele se moveu na lateral do meu pulso como uma
contagem regressiva cada vez maior para uma inevitável
explosão.
As portas se abriram e nós saímos por elas, espalhando-se
pelo corredor e comigo liderando o caminho, estávamos ambos
tentando fingir que estávamos correndo.
Caímos no meu apartamento. Eu nem acendi as luzes, mal
consegui fechar a porta atrás de mim.
Roupas caíram no chão com abandono imprudente e
definitivamente havia uma lâmpada ou duas como uma
casualidade.
Iluminada pela lua, ela deixou a última peça de roupa
pendurada em seu dedo antes de cair no chão. Meu coração
disparou, meu sangue trovejou em minhas veias, e meus dedos
coçaram para tocá-la novamente e nunca mais soltá-la.
Pegando-a em um abraço de urso, fui direto para o sofá.
Eu preparei meus braços para fazer uma aterrissagem suave
para nós dois – o sofá para ela e ela para mim.
Meus dedos deslizaram de sua clavícula até seu peito, sobre
a curva de seu seio, passando pela cintura até os quadris. Eu
levantei sua perna, enganchando em volta da minha e espalmei
sua bunda. A apertei.
Debaixo de mim, ela se contorcia, gemia e tinha as mãos em
cima de mim.
Acima dela mais uma vez, eu não pude deixar de sentir o
quão certo isso era. Tudo o que eu conseguia pensar era nesse
momento sem fim. Não apenas o sexo e sentir seu corpo contra
o meu, o implacável bater do meu pau exigindo liberação, mas
tudo isso. Cada momento que eu estava com ela, eu queria
esticá-lo em um nascer do sol que nunca terminaria.
Procurando as calças que eu joguei sobre o encosto do sofá,
peguei minha carteira e tirei uma camisinha. Rasgando a
embalagem como um homem possuído, respirei fundo e a
desenrolei.
— Keyton, eu preciso de você — Ela alcançou entre nós e
envolveu seus dedos ao redor do meu eixo, deslizando-me entre
suas dobras molhadas.
Estremeci, quase perdendo toda a força em meus braços.
Caindo em meus cotovelos em ambos os lados de sua cabeça,
eu a beijei e balancei meus quadris para trás, apontando e
pressionando para frente, deixando sua maciez cobrir a cabeça
do meu pau. Olhando em seus olhos, eu soltei meu peso e
afundei nela.
As paredes de sua boceta se fecharam em torno de mim e eu
respirei fundo através dos meus dentes cerrados.
Suas costas arquearam, pressionando seus seios contra o
meu peito. Seus mamilos duros roçaram minha pele, fazendo
cócegas e provocando.
Movendo meus quadris, eu me afundei completamente
nela.
O encaixe foi perfeito. Apertado, um aperto de ranger os
dentes. Eu estava sendo arrastado pelas ondas de prazer que
desciam pela minha espinha e saíam das solas dos meus pés.
Um espasmo de sua boceta arrancou um gemido da minha
garganta.
Ela se agarrou a mim, segurando através de cada impulso
áspero dos meus quadris. Tão perto do limite, eu não era gentil
ou lento, mas selvagem e desequilibrado.
Seus gemidos, ganidos e suspiros direcionaram meus
movimentos e desejo de fazer desta uma noite que ela não
esqueceria.
Era uma que eu também não esqueceria. Eu queria parar o
nascer do sol e mantê-la aqui comigo para sempre.
Cada suspiro no meu ouvido enviou o formigamento de
prazer subindo pela minha espinha até a ponta dos meus pés.
Suas pernas se apertaram em volta da minha cintura, os
músculos se contraindo e suas paredes se fecharam em torno de
mim com um ritmo muito doce para resistir. Moendo,
empurrando e colidindo, nossos corpos criaram sua própria
sinfonia.
Eu rosnei o nome dela e manchas dançaram na frente dos
meus olhos antes que eu perdesse o controle das minhas
restrições e jorrasse no látex entre nós. Meu coração trovejou
tão alto que meus ouvidos bloquearam todo o som.
Abaixando minha cabeça em seu ombro, eu balancei contra
ela rangendo os dentes contra a supersensibilidade requintada.
Suado e ofegante, eu me mexi para o lado e a segurei contra
mim.
Nós dois entramos no modo de recuperação, silenciosos e
felizes.
Ela passou os dedos pelas minhas costas.
— Quando você ia me dizer que mora no mesmo prédio em
que eu estava?
— Eu não tinha certeza se você tinha notado isso — Ele se
moveu para trás, se libertando de mim e se livrando da
camisinha. O frio mal foi registrado, minha felicidade
superaquecida fazendo minha pele parecer como se fosse um
farol brilhante o suficiente para iluminar o céu noturno.
Apoiei minha cabeça no meu braço, observando-o.
— Difícil não notar com o grande logotipo do Four Seasons
em todos os lugares. Você não estava preso no trânsito quando
o convidei para um café, estava? — Eu balancei minhas pernas
no chão, sem saber como me sentir sobre isso. Ele esteve tão
perto nas últimas semanas. A uma curta caminhada.
Ele se sentou ao meu lado, fazendo as almofadas
mergulharem debaixo de mim. Apoiando os antebraços nas
coxas musculosas nuas, ele apertou as palmas das mãos e
inclinou a cabeça, olhando para mim.
— Eu estava com medo de ir.
Sua honestidade ainda me pegava desprevenida. Ele cortou
todos os pensamentos que corriam pela minha cabeça sobre o
que cada movimento dele realmente significava.
— Eu estava preocupado que ver você de novo me faria
voltar a ser o cara que eu era antes. O de Greenwood e Los
Angeles.
Agora, eu gostaria de ter um cobertor ou minhas roupas de
volta. A nudez parecia profunda agora, a vulnerabilidade tão
perto da superfície. Eu estava quase com medo de perguntar.
Engolindo em seco, eu me preparei.
— E agora?
Ele se virou e passou o dedo pela lateral do meu pescoço. As
faíscas e chamas ainda estavam lá, queimando mais quentes e
mais profundas do que antes.
— E agora estou tentando o meu melhor para não estragar
esta noite — Ele traçou o polegar para baixo sobre o meu lábio.
— Eu também — O sol nasceria em breve, e o mundo dos
sonhos de fantasia desapareceria — Mas ainda temos mais
algumas horas até o nascer do sol. Não vamos desperdiçá-las. —
Segurei sua mão e chupei seu polegar em minha boca.
Suas pupilas dilataram, engolindo a cor que as cercava. Os
músculos apertaram e seu eixo endureceu contra a minha
perna. Todo esse tempo no campo de treinamento e na
academia valeu a pena. Vigor por dias – bem, espero que noites.
Ele enfiou as mãos sob minhas pernas e atrás das minhas
costas antes que eu pudesse recuperar o fôlego, e me puxou
contra seu peito.
Movendo-se através de seu apartamento escuro como se
estivesse pegando fogo, ele abriu uma porta com o ombro.
Cheirava como ele aqui, mais do que quando nos despimos
na entrada do apartamento. Ou talvez eu estivesse um pouco
distraída.
Minhas costas bateram na cama macia e seu corpo cobriu o
meu, me cobrindo com seu calor e força.
As pontas ásperas de seus dedos percorreram meu corpo.
Eles eram calejados e grosseiros, e causavam arrepios na minha
espinha.
Sua fome era inigualável, nem mesmo com a minha. Nossa
última sessão não fez nada para aplacá-lo, apenas borrifou um
pouco mais de fluido de isqueiro no fogo furioso. Ele se
atrapalhou na gaveta da cabeceira e levantou minhas pernas até
meus calcanhares pressionarem contra a parte de trás de seus
ombros.
O ar frio sussurrou em meu clitóris e eu me contorci,
precisando de mais contato.
Minhas costas pressionadas contra o colchão. Minhas
pernas travaram sobre seus ombros. Meu corpo zumbiu em
antecipação.
Seu pau roçou minha bunda, pesado, grosso, tudo que eu
lembrava e sonhava nas noites solitárias que passei sonhando
com ele, sonhando com o prazer cru e visceral junto com o jeito
que só ele podia olhar para mim. O tipo de olhar que escrevia
músicas sem uma única palavra. Eu não conseguia desviar o
olhar e não queria.
Ele apoiou as mãos na cama ao meu lado e olhou nos meus
olhos, pegando a luz fraca vindo da abertura da porta.
— Senti a sua falta.
Minha respiração ficou presa e lágrimas encheram meus
olhos. Eu pisquei para trás e assenti, não confiando na minha
voz.
Alcançando entre nós, eu envolvi meus dedos em torno de
seu eixo e passei meus dedos em sua ponta grossa de cogumelo.
Seu estremecimento enviou um sentimento poderoso
correndo por mim.
Eu o coloquei na minha entrada, assobiando enquanto seus
quadris empurravam lentamente para frente, me esticando
como uma invasão lenta.
— Também senti sua falta.
Mordi seu ombro enquanto ele descansava a cabeça na
curva do meu pescoço com uma mão na minha bunda. Meus
dedos flexionaram e se espalharam contra suas costas, meu
corpo se separando em partes da felicidade irradiando pela
minha espinha. Eu apertei minhas pernas ao redor dele. Eu não
queria que nosso tempo acabasse, não apenas o prazer de
enrolar os dedos dos pés, mas a proximidade com ele.
Balançando meus quadris, eu o instiguei a se mover, um
incentivo insistente para recapturar o que tínhamos recriado na
sala antes. Tinha sido três minutos ou três horas atrás? Eu
estava perdida em um mar de prazer com emoções me
dominando de todos os ângulos. Prazer, excitação e coisas mais
profundas, assustadoras demais para serem tocadas, mas ainda
assim.
— Deixe-me saborear isso — ele murmurou contra o meu
pescoço, fazendo cócegas na minha pele.
Eu não queria que ele saboreasse. Eu não queria que ele
guardasse isso na memória. Eu não queria que isso fosse uma
coisa única que ele olharia para trás com carinho. Eu queria
deixá-lo viciado em todos os gostos e toques como se estivesse
desejando ele.
Levantando-me mais alto com as duas mãos na minha
bunda, ele baixou os quadris, me espetando com seu
comprimento sólido.
Minhas costas se curvaram e eu gemi, ofegando e me
segurando.
Comigo ainda empalada em seu pau, ele inclinou os quadris
e mudou o ângulo de seus impulsos. Ele caiu em mim,
empurrando e balançando os quadris, enviando prazer
correndo pelo meu corpo, centrando no meu clitóris. Os golpes
sem fim, quando ele chegou ao fundo, enviaram faíscas tão
afiadas que chegaram à beira da dor ricocheteando através de
mim.
Seus dedos deslizaram pela minha cintura e pelas minhas
costelas antes de suas palmas rasparem a parte de baixo dos
meus seios. Seu toque se intensificou, apertando e puxando
meus mamilos enquanto sua língua saqueava minha boca.
Era demais. Não era suficiente. Agarrei-me a ele enquanto
ele empurrava em mim com uma ferocidade desenfreada.
Meu orgasmo explodiu, correndo através de mim.
Pontos piscaram na frente dos meus olhos e minhas costas
se curvaram, montando a maré de prazer abafando todos os
meus outros sentidos. Meu grito terminou em uma respiração
ofegante, cavalgando as ondas ondulantes de prazer enquanto
minhas paredes se fechavam ao redor dele.
Dentro de mim, ele engrossou e gemeu, seus impulsos
desleixados e sem a precisão com que ele me levou ao clímax.
Ele caiu em cima de mim com os dois cotovelos ainda na
cama. Eu me enrolei em torno dele, não querendo deixá-lo ir,
não querendo que este momento terminasse.
Ele ficou em cima e dentro de mim, não perdendo
totalmente a ereção.
Não houve reclamações de mim.
Nossa respiração se acalmou, o suor esfriou, e com uma
maldição sob sua respiração, ele lentamente deslizou seus
quadris para trás.
Nós dois gememos quando ele se soltou de mim. Ele entrou
no banheiro.
Eu me joguei nos travesseiros, não odiando a visão de sua
bunda, mas odiando vê-lo sair.
Desde quando eu me tornei a garota pegajosa? Eu era Bay, a
mulher intocável que na verdade permaneceu intocada durante
grande parte da minha carreira profissional. De repente, tudo
empalideceu em comparação com uma noite com ele.
Subindo na cama, sentei-me contra a cabeceira e esperei seu
retorno. A água desligou na pia e ele voltou com uma toalha.
O pano úmido roçou o interior das minhas coxas, e eu não
fiz nada para ajudá-lo.
Ele me observou, separando minhas pernas, me
provocando. Cada golpe adicionava um pouco mais de fluido
ao fogo que estava sob controle apenas por alguns minutos.
Tão rápido quanto ele me limpou, estávamos suados
novamente, com minhas pernas engatadas em volta de sua
cintura e ele afundando em mim novamente.
Desmoronado em uma pilha e limpos de novo, ele me
segurou perto e escovou o cabelo do meu rosto, traçando as
ondas que corriam pelo meu rosto.
— Alguém já te disse que você é linda?
Havia postagens de mídia social e artigos de notícias dizendo
algo assim, mas de alguma forma isso parecia mais real, assim
como tudo parecia com ele. O tipo assustador de real que,
quando deixado dentro, pode causar danos reais. Uma nova
realidade estava aqui. Uma onde eu estava perto o suficiente de
alguém para trazer à tona todos esses pensamentos dos quais me
senti tão desconectada por tanto tempo.
E eu senti que ele era o único que poderia me alcançar. O
único que eu realmente queria deixar entrar.
— Faz algum tempo.
Por muito tempo eu acreditei que ele não me queria mais,
que meu lugar em seu coração havia fechado, mas agora com
ele olhando para mim e seus dedos enxugando as lágrimas em
meus olhos, eu sabia que havia um lugar para mim neste
mundo onde alguém me amou por mim. Onde ele me amava
tanto quanto eu o amava. O tipo assustador de amor que era
mais fácil de fugir do que deixá-lo engolir você inteiro e mudar
você, mas eu não acho que poderia pará-lo desta vez. Eu não
acho que eu queria.
— Então eu vou ter que fazer isso com mais frequência.
Isso me atingiu com um solavanco, fazendo meu coração
pular tão rápido que os pontos dançaram na frente dos meus
olhos.
Eu o amava. Como eu amei no meu quarto do ensino
médio. Como eu amei quando o beijei uma última vez na
Califórnia. Eu o amava, e isso queimava tão brilhantemente no
meu peito quanto um pôr do sol de fim de verão, agridoce, mas
cheio de tantas lembranças felizes. Eu não queria olhar para trás
com arrependimento porque elas terminaram.
Aconchegada contra ele, isso era tudo que eu precisava no
mundo. Como eu tinha sobrevivido tanto tempo sem ele?
Seus dedos apertaram meu ombro.
— A que horas sua carruagem chega?
Minha garganta apertou. Por um momento, eu tinha
esquecido que havia um cronograma a cumprir. Obrigações
fora da minha agenda, com Keyton arrancando outro orgasmo
de mim.
Olhei para ele e tracei meus dedos em seu peito musculoso.
O cabelo no centro entre seus peitorais era novo. Ele estava
mais velho agora e eu também. O que eram algumas horas? Um
dia?
— Segure esse pensamento. — Pulando da cama, corri para
a sala de estar, procurando no chão pelo meu macacão
vermelho, azul e cor de pele. Agarrei-o e procurei pelo telefone
enfiado no bolso. Na minha caminhada de volta para o quarto,
enviei uma mensagem para Holden.
Uma enxurrada de textos voou pela minha tela em resposta.

Eu: Eu preciso de tempo.

Holden: Se é o que você precisa, então deixe-me


cuidar de tudo. Você quer que eu cancele
Spencer também?

Keyton sentou-se contra a cabeceira da cama.

Eu: Não, mantenha Spencer. Cancele todo o


resto.

Holden: Seu desejo é meu comando.

Entrei no quarto com as costas pressionadas contra a porta.


— Vinte e quatro horas. Tenho as próximas vinte e quatro
horas de folga — O riso vertiginoso borbulhou e eu pulei para
a cama, pulando de joelhos antes de afundar na minha bunda
— Tudo bem?
Aqui eu saí correndo e arranjei para passar o dia inteiro com
ele quando ele poderia estar se perguntando quanto tempo
mais até ele ter sua cama de volta para si mesmo.
Estendendo a mão, sua mão descansou na parte de trás do
meu pescoço.
— O que isso lhe custou?
Seu carinho e compreensão quase trouxe lágrimas aos meus
olhos. Sempre haviam trocas. Quando os negócios eram
fechados com meses ou anos de antecedência, os dominós eram
definidos, e uma mudança poderia desorganizar tudo, como
aconteceu com o aniversário de Piper, mas com que frequência
eu fazia algo por mim? Quantas vezes eu tive uma chance?
Além da minha reclusão menstrual, quando eu geralmente
ficava na cama, comendo um monte de porcaria, minha agenda
não permitia muito em termos de férias.
— Eu não tenho um dia de folga há uma eternidade. Vai
valer a pena.
Uma batida de silêncio se estendeu em um solo de silêncio
inteiro antes que ele me arrastasse para baixo ao lado dele e
passasse os braços em volta de mim. Eles estavam bem
apertados. Não apertado como se ele pensasse que eu iria fugir,
mas apertado como se ele não quisesse um centímetro de nós
separados.
O peso inebriante dele sobre mim, quente e forte e aqui, era
como um sonho. Era um sonho do qual eu não queria acordar,
mas a carruagem já estava voltando a ser abóbora, e minhas
pálpebras estavam caídas e pesadas. Eu não poderia ter movido
um músculo mesmo se eu quisesse.
Ele arrastou o cobertor sobre nós dois e enterrou o rosto no
meu cabelo.
Eu me esfreguei contra ele como um gato atrás de uma erva
de gato.
— Então acho que quando acordarmos é melhor fazer valer
a pena.
O sol da manhã era filtrado através das cortinas puxadas das
janelas do meu quarto. Isso normalmente acontecia quando eu
saía da cama e ia para a academia. Revisava minha agenda, fazia
alguns telefonemas e imaginava o que ia comer no café da
manhã.
Mas esta manhã, o peso contra o meu peito me fez querer
encontrar o controle remoto das cortinas blackout e fingir que
o sol não tinha nascido. Tínhamos um dia juntos.
Um dia para passarmos juntos fingindo que amanhã ela não
teria que voltar para o mundo dela e eu para o meu.
— Bom dia — eu murmurei, esfregando minha bochecha
contra o lado de seu rosto. Ela rolou em seu sono, nunca
ficando mais de uma polegada de distância de mim, buscando
meu calor e meu toque.
Por tanto tempo, eu procurei contentamento, a paz
tranquila que eu nunca tive enquanto crescia, mas deitado na
cama com ela, tudo parecia brilhante e fez meu coração
disparar. Era incomparável e inigualável, o que me deixou com
fome de mais desses momentos tranquilos. Esse
contentamento acendeu um fogo em minha alma, não como
um lago tranquilo, mas uma vista de montanha depois de
escalar e respirar o ar novo e fresco.
— Bom dia — ela resmungou contra o meu peito — Como
você sabia que eu estava acordada?
Eu me afastei para tirar o cabelo de seu rosto e olhar em seus
olhos.
— Você parou de roncar.
Seu queixo caiu e ela empurrou meu peito.
— Eu não ronco.
Rindo, eu a segurei firme com os braços ao lado do corpo.
— Quem diria a você?
Ela se contorceu em meu aperto e trabalhou seus dedos
contra os meus lados, me fazendo cócegas.
— Eu nunca ronquei na minha vida.
Ainda na gargalhada de seus dedos desonestos, lutei com ela
até que estávamos ofegantes e mais do que acordados.
Ela acabou em cima de mim, com apenas o fino lençol
branco entre nós. Minha ereção matinal não era mais baseada
apenas na hora do dia. Eu queria puxar o lençol entre nós,
envolver meus dedos em sua cintura e afundar nela. Eu queria
não passar um momento de hoje sem tocá-la. Eu queria barricar
as portas do quarto.
Mas eu não queria que hoje fosse apenas sobre sexo. Seria
definitivamente sobre sexo, mas não apenas sexo.
Inclinando-se para frente, seu cabelo caiu como uma cortina
sendo puxada ao nosso redor. Seus lábios tocaram os meus, tão
macios e doces.
Deslizei minha mão para a parte de trás de seu pescoço,
meus dedos esfregando contra a pele lisa. Eu descansei minha
testa contra a dela.
Seu estômago roncou.
— Vamos te alimentar — Levantando-a, rolei para o lado da
cama e girei meus pés sobre a borda enquanto meu corpo estava
gritando por seu toque. Não deixando a tentação tomar conta
de mim, coloquei um pé na frente do outro. Eu a queria feliz
com o estômago cheio. Eu queria cuidar dela e tornar esse dia
de folga em um que ela não iria esquecer tão cedo, então eu
poderia pensar em colocá-la de volta embaixo de mim
novamente.
— Alimentar? — Ela empurrou o cabelo para trás com
confusão rabiscada em seu rosto.
— Temos bastante tempo. A menos que você queira que
nós dois sejamos incapazes de andar no final do dia.
Seus lábios se contraíram e ela encolheu os ombros com um
brilho de falsa inocência travessa em seus olhos.
— Quero dizer, eu não seria contra.
— Então parece que terei que salvá-la de si mesma — Entrei
no meu armário e peguei uma camiseta e shorts para ela e um
par de shorts para mim.
Ela desceu da cama e vagou pelo meu quarto. Ela era a
tentação final.
Eu queria chutar meu próprio traseiro por não sugerir que
nos isolassemos no quarto, apenas saindo para atender a porta
para a entrega de comida.
Mas hoje não era apenas sobre sexo. Era sobre nós e quem
éramos agora. Esfreguei o centro do meu peito, onde o calor
ameaçava se transformar em um caroço. O que quer que
acontecesse amanhã aconteceria, mas eu a tinha por hoje.
Com minha camiseta pendurada sobre seus quadris e shorts
apertados na cintura, ela me seguiu para fora do quarto.
— Este é um lugar bonito — Ela olhou para as portas abertas
no caminho para a cozinha. Não há necessidade de fechá-las
aqui — Há quanto tempo você mora aqui?
— Comprei há pouco mais de um ano. Quando me mudei
para Filadélfia.
— Você costuma comprar um lugar sempre que muda de
equipe?
— Não — Engoli a vontade de me fechar, de esconder coisas
sobre o meu passado que ela poderia não gostar. Um pequeno
passo — Foi uma triste tentativa de deixar Alice feliz. Ela queria
sossegar e se sentir um pouco menos provisória. Mas não era o
que precisávamos.
Ela caiu para trás de mim. Não mais ao meu lado, mas logo
atrás do meu ombro. As palavras eram calmas, pequenas.
— O que você precisava?
Você. Era a verdadeira resposta. A que eu tentei esconder e
superar, mas não havia nada para superar quando ela era o que
eu precisava.
— Não ficarmos juntos.
— Eram… as coisas estavam ruins? — Seus passos
diminuíram.
Virei-me para ela, sem saber exatamente como dizer que
estive com outra mulher, noivo dela e não senti nem um
décimo do que senti por Bay.
— Não, as coisas nunca foram ruins. Nós não brigávamos.
Às vezes discordamos ou discutimos, mas nunca brigamos. As
coisas nunca foram ruins. Elas eram boas às vezes, geralmente
boas. Estávamos perfeitamente bem.
— O que aconteceu? — Suas sobrancelhas estavam
franzidas em pensamento e curiosidade.
— Eu acordei um dia, olhei para ela e não consegui roubar
uma vida inteira de alegria dela para provar a mim mesmo que
eu poderia estar em um relacionamento estável. Ela merecia
alguém que não conseguiria tirar os olhos dela. Quem não
conseguiria parar de pensar nela. Quem a valorizaria e sentiria
o sol subir e descer a cada respiração dela.
Ela puxou a ponta de seu cabelo caindo sobre seu ombro. A
voz dela era quase um sussurro.
— Você não se sentia assim sobre ela?
— Por mais que eu quisesse — desviei o olhar, a vergonha
queimando as pontas dos meus ouvidos —, não, não sentia. Eu
não podia.
— Por que não?
Confessar o quanto ela ficou em minha mente, em meus
sonhos, seria acumular minhas expectativas sobre ela.
Tentando forçar as coisas quando ela só chegou a um acordo
com sua culpa depois que conversamos algumas semanas atrás.
Eu não iria manipulá-la. Eu não ia transformar isso em algo feio
como eu tentando me agarrar a ela novamente.
— Esse é o tipo de sentimento que só aparece uma vez na
vida.
Ficamos parados no corredor escuro entre a luz do sol das
duas portas abertas. A energia formigante irradiava dela, tão
perto de romper essa barreira que erguemos entre nós.
A barreira estava lá para nos proteger das expectativas e da
realidade, para preservar essa bolha em que estávamos. Mas eu
queria que isso fosse real fora das paredes do meu apartamento.
Eu queria que ela sentisse que não éramos um sonho febril de
sexo, e então voltasse para sua antiga vida sem mim.
— Vamos, vamos comer alguma coisa.
Peguei a mão dela, mais uma vez enroscando meus dedos
nos dela, e passamos pela evidência de nossa urgência noturna
a caminho da cozinha.
— Panquecas? Rabanada? Bacon? Salsicha? O que você
prefere? — Abri a geladeira e tirei uma garrafa de suco de
laranja.
— Você vai cozinhar ou pedir serviço de quarto? — Ela se
inclinou contra o balcão ao meu lado.
Eu sorri.
— Embora seja uma vantagem morar no hotel —
Contornando-a e apertando-a contra o balcão de granito,
descansei meu braço na porta aberta da geladeira — Eu estava
pensando que poderíamos fazer isso sozinhos.
Sua sugestão de um sorriso se espalhou para um sorriso
completo.
— Gostaria disso.
Espalmando o pão, coloquei-o ao lado dela.
— Você tem uma receita ou devo procurar uma?
Sua cabeça girou para mim.
— Achei que você tinha uma receita.
— E vamos de pesquisa — Percorremos as primeiras páginas
de receitas até encontrar uma com boas críticas, depois fomos
em busca de todos os ingredientes que eu tinha à mão.
Pegando tudo o que precisávamos da geladeira, coloquei ao
lado dela.
Ela vasculhou os armários em busca de tigelas e panelas.
Gostei que ela se sentisse confortável o suficiente para
procurar no meu espaço, como se fosse um espaço que ela
queria conhecer e passar um pouco mais de tempo.
Trabalhando em equipe, preparamos tudo e começamos a
cozinhar.
Eu me agachei na frente do forno usando pinças para virar
o bacon e as salsichas. O cheiro de carne salgada lutou contra o
aroma doce de pão frito que enchia o apartamento.
Ela virou a rabanada antes de entregar a espátula para mim
depois de algumas fatias queimadas.
Logo, tínhamos morangos frescos, chantilly, calda, salsicha,
bacon e rabanada, tudo bem quente e pronto para devorar. O
estoque do freezer veio a calhar. Meus armários estavam cheios
e meu freezer também, embora eu tenha me apegado a
proteínas e vegetais durante a temporada. Com tudo colocado
na mesa, não pude evitar o orgulho que transbordava no meu
peito por ter tido tudo isso aqui para fazermos uma refeição
juntos. Eu me senti um pouco mais longe do garoto que ela
conheceu em Greenwood, cuja geladeira e armários sempre
foram vazios.
Bay serviu um copo de suco para nós dois e o colocou na
mesa.
— Você precisa de alguma ajuda?
— Não, está tudo bem — Colocando a toalha na mesa,
sentei-me ao lado dela, não em frente a ela. A mesa sempre
pareceu pequena demais para este apartamento, mas agora era
do tamanho perfeito quando sua perna roçou na minha.
— Eu não como uma refeição caseira desde a última vez que
estive na casa da minha mãe — Ela cruzou as pernas na cadeira
da sala de jantar e puxou o prato de carne do café da manhã para
ela.
— Você não cozinha em casa? — Talvez ela tivesse um chef
em sua casa. Imaginei uma propriedade à beira-mar de cromo e
vidro onde ela se destacava na varanda deixando o vento
chicotear seu cabelo, ou uma casa cheia de tecnologia onde
Holden e Emily voltavam para suas estações de carregamento
junto com seus tablets todas as noites.
— Onde fica minha casa? — ela bufou, despejando uma
quantidade ridícula de xarope sobre tudo em seu prato.
— Você não tem uma casa? Um apartamento em algum
lugar?
— Eu não estive na mesma cidade por mais de algumas
semanas nos últimos seis anos — Ela bateu o garfo contra o
lábio.
— Não houve nenhum lugar para chamar de lar?
— Não é algo que eu gostaria de gastar um monte de
dinheiro e bancar um monte de segurança para tomar conta
enquanto eu estivesse fora. É mais fácil viver em hotéis. Às vezes
alugamos uma casa. Você me disse durante o acampamento de
treinamento "é difícil saber quem realmente se importa e quem
só quer a sua merda". Então, quanto menos coisas eu tenho,
menos há para explorar. Essa tem sido a minha vida.
A solidão dolorosa era palpável. A acidez pungente
percorria o ar.
— Eu mal tenho um telefone. O que eu tenho, raramente
uso. As pessoas erradas sempre encontram e tornam minha vida
um inferno. É mais fácil assim. Eu tenho que enviar um novo
número para minha mãe a cada poucos meses quando o último
vaza.
Sua timidez na noite passada, como uma criança correndo
para brincar com crianças novas, fazia mais sentido. Em vez de
se divertir andando de bicicleta até o pôr do sol, ela passou a
maior parte das interações esperando que nenhuma delas
registrasse cada movimento seu e o vendesse pelo maior lance.
Ela estava sozinha.
— Você está isolada de todos.
Ela fez uma careta, franzindo o nariz.
— Pobre garotinha famosa e rica. A maioria das pessoas me
daria um soco na cara por reclamar de tudo o que tenho. Tudo
que eu fiz. Eu pude viajar pelo mundo, cantar na frente de
estádios de pessoas, conhecer celebridades e realeza. Tem sido
uma vida além do que eu jamais poderia ter imaginado.
— Isso nunca te faz mal? Todas as viagens? Toda a pompa?
— Às vezes me cansava, mas o meu era apenas metade do ano,
não toda semana e se eu viajasse para fora das cidades do futebol
ou internacionalmente, eu era apenas o grandalhão ocupando
muito espaço na calçada. Ainda assim, as viagens, os aviões e os
ônibus tornaram-se monótonos depois de um tempo. Um
quarto de hotel parecia com o outro, e a comida do serviço de
quarto perdeu o brilho na primeira temporada. Batatas fritas
mornas e pãezinhos encharcados simplesmente não tinham
muito apelo.
— Às vezes acontece. Mas eu tenho um monte de gente
dependendo de mim. Não apenas Holden e Emily, mas Maddy,
que foi ao tatame por mim no meu primeiro contrato. Tantos
artistas se ferram quando começam, mas ela usou a influência
do Without Grey para conseguir um contrato inédito. Depois,
há todos os dançarinos e cantores de apoio. As equipes de
estrada e de áudio. Há duzentas pessoas envolvidas em cada
show.
— É muita pressão — Como minha temporada. Um estádio
inteiro de pessoas que trabalhavam se chegássemos aos playoffs
e o bônus que circulava se ganhássemos novamente.
— É o que eu sempre quis — As palavras não significavam
excitação sonhadora. Elas soletraram resignação. Ela empurrou
uma garfada de rabanada em sua boca.
— Você acha que vai fazer uma pausa em breve?
— Você poderia? — Suas palavras foram pontiagudas.
Eu balancei minha cabeça. Era a verdade. O futebol me
deixaria muito antes que eu o deixasse. Bastaria uma temporada
perdida comigo no banco e provavelmente estaria fora.
— Não. Não aparecer no estádio durante a temporada… eu
não saberia o que fazer comigo mesmo.
— Sinto o mesmo em relação à minha música. Quando
estou rabiscando músicas no meu caderno ou no estúdio,
quando elas finalmente ganham vida eu sinto esse lançamento,
como se a história tivesse sido contada e aquele pedaço de mim
pudesse descansar um pouco até que outra música começasse a
ecoar no fundo minha mente — Ela olhou para longe,
fechando os olhos como se só de pensar nisso a transportasse
para outro lugar.
Fiquei feliz por isso significar tanto para ela, e que ela teve a
chance de recapturar esse amor pela música e compartilhá-lo
com o mundo. Eu odiava os quatro anos que eu tinha roubado
isso dela.
— Quando você fala sobre sua música dessa maneira, parece
que está te assombrando.
Ela se virou para mim com uma peculiaridade de um sorriso.
— Às vezes eu sinto que está. As músicas costumavam ser
fáceis de ignorar. Primeiro, escrevê-las era o suficiente, depois
acertar a melodia e tocá-las era o suficiente. Agora, elas querem
ser ouvidas.
— Elas escolheram a pessoa certa para trazê-las à vida.
— É a única vida que conheço agora.
— Talvez eu peça um favor para conseguir ingressos na
primeira fila para assistir a um de seus shows.
Ela lambeu os lábios cobertos de xarope.
— Você tem uma conexão.
— Eu poderia conseguir um número de telefone antigo.
Ela riu.
— Esse telefone foi aposentado há muito tempo. Mas posso
lhe dar o novo — Saindo da mesa, ela voltou com seu telefone
e o deslizou sobre a mesa para mim.
Seus contatos tinham apenas seis números: sua mãe,
Holden, Emily, Piper, Felicia e Spencer. Era um punhado de
pessoas para alguém que milhões poderiam identificar à
primeira vista. E agora eu. Eu fui um dos poucos que ela deixou
entrar em sua vida nos últimos seis anos. Eu segurei as rédeas
das minhas emoções para não sobrecarregar a mim e a ela.
Eu adicionei meu número e estendi para ela.
— Estou em uma lista curta.
Ela lambeu um pouco de xarope do polegar.
Meu olhar se concentrou em seus lábios em volta dele. Uma
sacudida atravessou meu intestino.
— Vem com a fama. Poucas pessoas conseguem entrar no
círculo interno.
— Então estou feliz por fazer parte do seu.
Ela inclinou a cabeça e passou os dedos pelas costas da
minha mão. Ela traçou as linhas das minhas veias do meu pulso
até meus dedos.
— Você nunca saiu.
Eu senti como se nós dois estivéssemos andando no gelo
recém-formado do que quer que fosse, escorregando e
deslizando, sem saber o que era e quanto tempo duraria.
Tentei aliviar o clima, aliviado por estarmos no mesmo
barco remando rumo a destinos desconhecidos.
— Eu diria que durante quatro anos você preferiria ter me
incendiado do que tomar café da manhã comigo.
Seus dedos pararam e ela riu, assentindo.
— Certamente houve um ou dois momentos difíceis na
história que escrevemos juntos na última década.
Tanto tempo perdido para compensar. Eu queria dar a ela o
que ela queria para o dia. Qualquer coisa em meu poder era
dela. Eu a puxei para fora de sua cadeira e para o meu colo.
Envolvendo meus braços ao redor dela, ela colocou os joelhos
em cada lado dos meus quadris.
— O que você quer fazer hoje?
Seu olhar disparou para o corredor que levava ao meu
quarto.
— O que você não faz há muito tempo? Algo que você
sempre quis fazer?
— Honestamente?
— Sempre.
— Quero passar o dia com você fazendo o que quiser. Me
mostre sua vida.
Eu a beijei na ponta do nariz e estendi minha mão.
— Isso eu posso fazer. Apenas lembre-se, você pediu isso.
Suas sobrancelhas enrugaram e ela se inclinou para trás me
olhando antes de deslizar sua mão na minha.
— Não tenho certeza no que acabei de me meter.
O suor escorria pelo meu rosto.
— Não era isso que eu tinha em mente.
Keyton riu, zumbindo na máquina de remo ao meu lado.
— Eu sei, mas isso me ajuda a começar bem o meu dia.
Embora eu normalmente faça isso antes do café da manhã.
Ele me mostrou sua academia depois que comemos. Meus
protestos sobre não ter sapatos para fazer exercícios foram
mortos quando um homem de uniforme de hotel apareceu na
porta da frente com um par de tênis e meias fofas. Um ajuste
perfeito. Droga! Meu recuo sobre fazer tudo o que ele
normalmente faria em um dia não funcionou.
Estúpido serviço de hotel completo, mesmo para pessoas do
lado da residência. O hotel foi dividido em dois, com as
residências e os quartos do hotel ligados apenas por uma porta
no saguão.
— Eu pensei que poderia ser mais fácil do que você voltar
para sua suíte, onde Holden ou Emily poderiam encontrar uma
das mil coisas em sua agenda para desviar o nosso dia. — Havia
uma timidez em suas palavras.
Foi uma doce timidez que me fez querer pular em cima dele.
Ele não queria que eu saísse tanto quanto eu não queria sair.
Não havia dúvida de que, se eu voltasse para a suíte, surgiria
uma reunião de emergência, teleconferência, prova de roupa
ou qualquer outra questão igualmente não tão importante
quanto hoje. Era melhor deixar meu telefone desligado e não
ligá-lo até que o relógio batesse doze horas – ou seis da manhã,
no meu caso.
— Boa ideia, mas os trinta e sete pedaços de bacon podem
ter sido um erro — O treino estava a par com o que meu
treinador geralmente me fazia passar, mas eu não tomava um
café da manhã com tanto xarope que ele ficava correndo pelas
minhas veias. A delícia salgada estava chutando minha bunda
agora.
Sua máquina apitou na conclusão triunfante de seu treino.
A minha deslizou para o resfriamento. Eu tinha que admitir,
malhar com ele superava as sessões sozinha com meu treinador,
ou na esteira nas alas das arenas antes de um show, ou de uma
academia de hotel.
Minha máquina desacelerou a um rastejar que lembrava
pisar em uma calçada em movimento em um aeroporto. Alívio
tomou conta de mim. Eu queria cair no chão e beijar o chão
imóvel.
Ele pulou na esteira e deu um passo atrás de mim, caindo no
ritmo perfeito. Seus braços me envolveram, descansando em
meus quadris e me ancorando em seu peito. Os lábios fizeram
cócegas na concha da minha orelha, quase derrubando minhas
pernas quando elas se transformaram em geleia.
— Agora… — A sua barba matinal raspou contra o lado do
meu pescoço.
Minha respiração se intensificou como se eu estivesse de
volta à velocidade máxima.
Ele apertou o botão PARE quando eu queria fazer qualquer
coisa, menos isso.
— É hora de se limpar.
Eu me virei e empurrei seu peito.
— Pare de me provocar.
Com uma piscadela, ele pulou da esteira e estendeu a mão
para mim.
— Não finja que não gosta.
Isso não vinha ao caso, mas eu olhei, mentalmente
prometendo retribuição mais tarde.
Nosso banho não foi rápido ou eficiente. Era mais lânguido
e meticuloso. Tão meticuloso, que fiquei feliz pelo banco de
mármore aquecido e ainda mais feliz pela atenção de Keyton
aos detalhes quando se tratava de me ensaboar de cima a baixo.
Três vezes.
Todos os pensamentos de retribuir as provocações de antes
se foram com meus dedos riscando os azulejos do chuveiro.
Eu retribuí, é claro.
Ele gemeu meu nome com uma mão apoiada no vidro e seus
dedos enterrados no meu cabelo enquanto ele derramava na
minha boca.
Enxugar um ao outro era tão divertido quanto ficar limpo,
mas ele colocou uma suspensão em qualquer ação abaixo da
cintura até que tivéssemos conseguido sair do apartamento.
Minha decepção foi superada pela curiosidade sobre o que
estaríamos fazendo hoje. Minha agenda normalmente envolvia
ser transportada de um lugar para outro com um rápido
interrogatório antes de cada ligação, entrevista, sessão de fotos.
Hoje era um dia de possibilidades e emoção.
Com ainda mais entregas da loja do hotel, eu estava
equipada para o dia.
Meu disfarce incluía um gorro cinza de tricô, óculos de sol
de tartaruga grandes o suficiente para cobrir metade do meu
rosto, um lenço cinza que esfregava o rosto, suéter rosa e cinza
suave, jeans e sapatilhas quentes e confortáveis.
— Como estou?
Ele me segurou e olhou para mim com uma emoção
fervendo sob a superfície.
Todos os sentimentos eletrizantes do chuveiro
empalideceram em comparação com o olhar de tirar o fôlego
que viajou através do tempo e do espaço para solidificar a
correção disso. De hoje.
— Você está perfeita. Temos seis horas de sol e a cidade é
nossa para explorar à vontade — Ele entrelaçou os dedos nos
meus e saímos de seu apartamento.
A porta se fechou atrás de nós e uma agulha de pânico
ameaçou estourar essa pequena bolha feliz em que estávamos.
Era a primeira vez que eu saía sem segurança ou Holden em
muito tempo. E se tudo isso desse errado e alguém me
reconhecesse? Atrair uma multidão já foi uma preocupação
que tive. Alguém apareceria nos meus shows? Agora, atrair
uma multidão pode significar perigo, não apenas para mim,
mas para os outros. Isso foi uma coisa estúpida e irresponsável
de se fazer? Eu estava me colocando em perigo? Mais
importante, eu estava colocando Keyton em perigo?
No elevador, um homem correu para as portas que se
fechavam lentamente.
Eu me encolhi contra a parede querendo ser invisível.
Keyton olhou para mim. Os músculos de seu pescoço
flexionaram, não esticando, mas pronto.
Sentimentos duplos de conforto e preocupação guerrearam
em meu peito com o pensamento de que ele me protegeria e
que ele sentiria a necessidade de fazê-lo.
O senhor mais velho olhou com sorrisos educados para nós
dois e enfiou o dedo no botão da frente com o jornal na mão.
Meu coração pulou algumas batidas. De repente, me senti
nua até que Keyton se colocou na minha frente, seu braço
roçando meu peito. A amplitude dele me protegeu.
O elevador parou no térreo.
Prendi a respiração, esperando por um ataque. Em vez disso,
as portas se abriram para nada fora do comum.
O homem mais velho inclinou o jornal em nossa direção
antes de sair.
— Tenham um bom dia.
Algumas pessoas esperavam do lado de fora pela chance de
entrar, mas ninguém me poupou um segundo olhar. Por muito
tempo eu queria sair da invisibilidade ao meu redor, mas agora
o pânico de ser vista era muito mais assustador.
Keyton pegou minha mão e me puxou para fora do
elevador.
— Ficará tudo bem — Ele me beijou de uma forma
tranquilizadora que não soava condescendente ou como se eu
fosse uma completa idiota por ter medo de sair — O que você
quer fazer primeiro?
— Nós devemos fazer o que você faz normalmente. Se eu
estiver com você, será um bom dia.
Do outro lado das janelas do saguão, as pessoas andavam
pelas calçadas com seus casacos e jaquetas leves. As lojas
estavam abertas e as pessoas entravam e saíam. Caminhões de
comida e carrinhos pontilhavam a rua.
— E eu quero fazer o que você quiser. Me permita.
Meu olhar se estreitou odiando seu argumento. Eu já me
sentia egoísta o suficiente, mas não queria que isso se
transformasse em um vai-e-vem ao ar livre. Meu treinador
odiaria e eu pagaria por isso com ainda mais tempo na esteira,
mas por que não?
— Depois de malhar, sinto que merecemos um mimo.
Sorvete.
— No final de setembro?
— Você disse o que eu quisesse.
Saímos do prédio para onde as ruas retas se transformavam
em túneis de vento.
— Conheço um bom lugar.
— Não vai estar cheio, certo? — Não querer que o dia de
hoje seja arruinado estava no topo da minha lista. Precisar ligar
para Holden para se livrar de uma situação avassaladora não era
a minha ideia de diversão. Além disso, a última vez que houve
uma subestimação em uma situação de multidão fora de uma
aparição que eu estava fazendo, dois adolescentes acabaram
quase sendo pisoteados. Eles ficaram bem, mas o medo por
mim ou, pior ainda, alguém ser ferido por minha causa, pesou
muito neste dia de diversão imprudente.
Um músculo em sua mandíbula se contraiu.
— Não, não vai.
Um trinado de excitação correu através de mim. Estávamos
fazendo isso.
Cobri nossos dedos entrelaçados com a outra mão e mantive
minha cabeça abaixada e me enterrei ao seu lado. Meu olhar
disparou atrás dos meus óculos de sol. Mesmo com eles, me
senti exposta. Eu não podia deixar o pânico me levar hoje.
Ele tirou sua mão da minha e deslizou seu braço em volta do
meu ombro, me segurando perto.
Meus nervos se acalmaram, menos desgastados e mais
esgotados. O aperto em seu suéter sob sua jaqueta era menos
uma embreagem e mais um aperto no momento em que
chegamos à sorveteria quase deserta.
A sorveteria era pequena, quase do tamanho de um food
truck, com duas vitrines de pedidos. A segunda estava fechada
com uma seta apontando para a outra e com uma tela de metal
que o funcionário da sorveteria abriu sobre ela. Era uma
localização tranquila perto de um parque, provavelmente um
local privilegiado durante os meses mais quentes, mas agora não
havia muitos visitantes.
Havia três mesas de piquenique de metal na calçada em
frente à janela. Duas pessoas se sentaram em uma, terminando
suas guloseimas.
Contra o meu lado, o peito de Keyton roncou.
Empurrando para trás, eu olhei para ele.
Ele e o sorveteiro me olharam com expectativa.
— Desculpe, o que você disse?
— Que tipo de sorvete você quer?
Eu lambi meus lábios.
— Café.
Sua mão pousou contra a parte inferior das minhas costas.
— É isso. Sorvete de café em um copo. Sem cone?
Parando, tentei não ficar hipnotizada pelo quão bonito ele
estava em seu casaco de lã preto. Não era do tipo áspero, mas
do tipo suave e amanteigado que você queria se esfregar como
um gato – ou talvez fosse apenas eu.
— O que você vai tomar?
— Hoje pedi por um sundae — Ele se inclinou contra a
prateleira de metal na frente da janela, curvando-se para falar
com a mulher do outro lado da abertura. Ele olhou de volta
para mim — Vou querer o Cookie Chaos com chocolate
jimmies.
Meu rosto deve ter mostrado que eu não tinha ideia do que
diabos ele estava falando.
Ele riu.
— Eles ficam um pouco irritados por aqui se você os chama
de granulados.
— Certo, jimmies — Parecia surreal estar aqui com ele.
Saindo para tomar sorvete como fazíamos todos os dias.
Ele liderou o caminho com um ar fácil. Eu não sabia se ele
era sempre assim, ou se ele estava sendo para mim. De qualquer
forma, ajudou um pouco.
— Você quer uma bola de sorvete de café em um copo ou
quer mudar seu pedido? — Ele se inclinou. Seu hálito quente
patinou ao longo da minha pele, enviando um arrepio pela
minha espinha enquanto eu o respirava — O chocolate quente
deles parece bom.
Olhando para ele, foi preciso um sorriso largo e um toque
suave na minha mão para lembrar porquê estávamos lá em
primeiro lugar.
— Sorvete de café… — Ele começou, seus lábios se
curvando.
— Certo, desculpe — Eu me inclinei para trás da janela,
olhando para o menu acima. — Vou pegar o sundae de calda
quente de duas colheres em uma tigela de waffle com sorvete
de café, amendoim, xícaras de Reese e jimmies arco-íris —
Vendo seus olhos cheios de diversão e encorajamento, um
pouco do meu nervosismo derreteu — E chantilly e uma cereja.
A mulher com uma camiseta rosa Berries and Cream sobre
a camisa de manga comprida assentiu e fechou a janela antes de
começar a montar nossas bombas de açúcar em um copo.
Eu não poderia estar mais animada, já com água na boca.
— Posso provar? — Ele pegou minhas mãos nas dele.
Olhando em seus olhos cheios de brincadeira e desejo mal
contido, eu queria recomeçar o dia todo para refazer as horas já
passadas. A tarde havia se aproximado muito rápido e tudo o
que eu ficava pensando era como tudo parecia curto.
— Só se eu puder ter um pouco do seu.
Ele passou o polegar pela minha bochecha.
— Claro.
Saindo do caminho, deixamos outro grupo de pessoas fazer
seus pedidos.
Não houve olhares suspeitos ou atenção extra focada em
nós. As pessoas lançaram alguns olhares rápidos para Keyton,
mas ninguém se aproximou de nós.
Foi a primeira vez que me senti normal em muito tempo, e
foi revigorante e assustador ao mesmo tempo. Uma chance de
ser eu, com alguém que me conhecia antes do meu primeiro
nome se tornar internacionalmente reconhecível.
Esse era o tipo de dia que poderíamos ter se eu fosse
contadora de dia e compositora à noite. Talvez eu estivesse
tocando em cafés locais, ou, melhor ainda, saindo em um
estúdio bem depois da hora de dormir de um adulto
responsável, ajustando uma faixa de música até ela zumbir com
uma eletricidade artística.
— Você acha que podemos realmente fazer isso hoje?
— Claro que nós podemos. Se não pudermos, eu cuido
disso e te levo de volta para minha casa. Podemos pedir comida
e assistir TV — Ele disse isso como se não tivesse problemas em
passar por uma multidão de pessoas como jogadores
adversários para me colocar em segurança.
E eu acreditei nele.
Mais do meu nervosismo desapareceu com a certeza de suas
palavras.
— Isso não soa terrível.
— Só se nosso dia não funcionar. O que mais você quer
fazer?
— Provavelmente não é um lugar que você queira ir.
— Eu vou te seguir em qualquer lugar — Um toque de
convicção irradiou de suas palavras, como um power chord18

18
Power chord: Um acorde de energia é um nome coloquial para um acorde
na música de guitarra, especialmente guitarra elétrica, que consiste na nota de raiz
e na quinta, bem como possivelmente oitavas dessas notas.
em um amplificador no máximo. Não parecia que ele só queria
dizer hoje.
Em vez de agarrar suas palavras e dar-lhes mais significado
do que ele pretendia, eu abri minha boca.
A janela se abriu e duas xícaras com uma montanha de doces
açucarados deslizaram em nossa direção.
— Um Cookie Chaos e um sundae de chocolate quente de
café.
Caminhamos até as mesas vazias. O assento de metal frio
entorpeceu minha bunda em cinco segundos, mas eu
mergulhei no sorvete, deixando a combinação de calda quente
e amendoim aquecer meu interior enquanto meu exterior
congelava.
Do outro lado da mesa, suas pernas se estabeleceram do lado
de fora das minhas, me dando calor extra.
— Você sabe quanto tempo faz desde que eu estive em
qualquer lugar sozinha com alguém que não trabalha para
mim?
— Você não tem amigos para sair?
— Não aqueles que eu não pago — Eu ri e enfiei minha
colher de plástico no meu chocolate quente, juntando ainda
mais amendoins — Piper vem aos meus shows sempre que
passo por Seattle. Ela, Felicia e eu fizemos uma viagem de
garotas para Fiji depois que terminei a turnê com o Without
Grey alguns anos atrás. Piper está casada agora.
Keyton soltou um assobio baixo.
— Uau, já?
— Já. Eu estava no casamento. Ela queria que eu estivesse na
festa nupcial, mas eu sabia que seria foda. Ninguém quer que
fotos de paparazzi de seu grande dia apareçam em sites de
fofocas. Mas eu dei a ela uma festa de despedida de solteira
incrível. — Uma pontada cutucou minhas costelas porque eu
estaria perdendo o aniversário de Piper. Os deuses do
agendamento estavam contra mim, mas eles tiraram e também
devolveram, tornando o hoje possível. Afastei os pensamentos
do efeito de transbordamento que teria no resto da minha
agenda.
Ele pegou um monte de biscoitos e sorvete de creme com
um dos Oreos e ainda mais calda quente, segurando-o para
mim.
Eu nem precisei pedir.
Por que isso o tornava dez vezes mais sexy? Se ficasse mais
sexy, ele poderia entrar em combustão espontânea – ou talvez
fosse eu.
Eu peguei a mordida que ele ofereceu, envolvendo meus
lábios ao redor da colher.
Seu aperto na colher aumentou. Pernas debaixo da mesa
apertaram as minhas juntas, enviando um formigamento para
o meu interior.
Estava mais quente aqui de repente?
Ele arrastou a colher entre meus lábios de uma forma que
enviou o formigamento para o modo crepitante.
Ainda estávamos em público.
Afastei meu olhar do dele e me concentrei no meu sorvete.
Decadente. Divino. Delicioso. Muito parecido com ele.
— Ela tem dois filhos agora. Uma menina de quatro anos e
um menino de três anos — Mordi um pedaço de xícara de
manteiga de amendoim — Eles são adoráveis. Hilários
também. Eu sou a madrinha do filho dela.
— Que bom que você ainda é próxima.
Se ele quis dizer não vê-la por mais de um ano e perder sua
festa de aniversário, então sim, éramos próximas. Eu
descobriria algo, marcaria um encontro e perguntaria a ela se
poderíamos ter um dia juntos e tentaria não sentir que eu estava
invadindo sua vida pedindo que ela reorganizasse as coisas para
mim. Talvez eu pudesse marcar algumas datas para depois da
turnê. Mais uma viagem de meninas. Sim! Proativa com muitos
avisos prévios para ter certeza de que não estava recebendo
solicitações de disponibilidade de última hora.
— Com que frequência você vê Felicia? Eu vi o nome dela
no seu telefone. Ela parecia legal.
Minha cabeça disparou.
— Como você sabe…
Ele chamou minha atenção com um olhar conhecedor.
Uma pontada de culpa atingiu meu coração.
— Oh. Eu esqueci — Claro. Foi ela quem entregou a carta.
E aquela que me enviou o violão depois que ele deu a ela.
— Ela terminou o doutorado. O marido dela também. Eles
estão ensinando em Nova Orleans. Eles vieram a um dos meus
shows no ano passado, mas não conseguimos nos ver por mais
de alguns minutos depois – eu tive que fazer um meet and greet
e eles tiveram que voltar para casa para seus filhos.
— E os outros amigos? — Ele olhou para mim.
Dei de ombros. Que outra resposta havia?
— Spencer. Você se lembra dele. Vamos vê-lo mais tarde esta
noite. É sobre isso. Depois da faculdade, todas as pessoas que
eu conheci foram em direções diferentes, e eu estive na estrada
quase 1.500 dias nos últimos 2.000. A maioria das pessoas que
me acompanharam só fizeram isso por interesse. Ingressos para
um show. Uma mensagem de vídeo para impressionar a
namorada. Coisas assim — Era uma merda que 99% das
mensagens que Holden e Emily enviavam para mim eram
pedindo coisas. Isso costumava me incomodar mais, mas eu me
adaptei a sempre esperar pelo pedido.
— Todo dia eu estou escrevendo músicas. Modificando-as.
Descobrindo o que as faz funcionar. Quando não estou em
turnê, estou no estúdio gravando um novo álbum ou fazendo
o trabalho promocional para manter a máquina funcionando.
Não há muito tempo para fazer novos amigos quando você mal
sabe em que cidade está. Também é difícil ser amigo de verdade
de alguém quando parece que todo mundo tem um ângulo. —
Engoli a amargura com uma colher cheia de calda quente e
granulado de arco-íris.
— Você ama isso? — Ele segurou a colher na frente de seus
lábios como se a pergunta tivesse acabado de lhe ocorrer.
Ninguém nunca tinha me perguntado assim antes.
Geralmente era de uma forma que confirmava suas ideias sobre
o quanto eu amava, nunca uma pergunta genuína.
— A música? — Eu sorri, pensando nos primeiros vinte
shows. — A primeira vez que subi no palco e segurei meu
microfone para que o público cantasse sem mim… eu chorei.
Lembrei-me de pensar em como seria para as pessoas
conhecerem minhas palavras. Já vi pessoas com elas tatuadas no
corpo. Isso acaba comigo. Ainda é insano para mim como uma
onda ou um pedaço de papel assinado pode fazer o dia de
alguém. Sorte nem começa a descrever como tudo isso tem sido
para mim. — Como seria nossa vida se eu tivesse ficado? A
pergunta sempre soava no fundo da minha cabeça e apertava
meu coração.
— Mas não há fora de temporada para você, hein? — Ele
comeu outra colherada de sorvete e eu lhe ofereci uma das
minhas proporções perfeitas. Soltando as mãos, ele me deixou
alimentá-lo.
— De jeito nenhum. Mas você sabe disso. — Eu cutuquei
seu braço. — Eu vi você em algumas campanhas publicitárias
de colônia.
Ele gemeu e bateu a mão no rosto.
— Isso não foi um pesadelo?
— Se foi ou não, você parecia muito bem.
Eu ofereci a ele outra colher do meu sorvete. De alguma
forma, ele comendo saiu pela culatra em mim, e meu corpo não
estava mais dormente. Precisávamos ir antes que eu subisse
nessa mesa de piquenique e o derrubasse no chão.
Algumas cabeças se viraram em nossa direção e eu puxei
meu gorro para baixo, evitando contato visual. Sair com um
cara tão alto quanto Keyton não era exatamente a melhor
maneira de me misturar, mas por alguma razão andando com
ele, eu não fui atingida pelo pânico que eu tinha mesmo
quando me aventurava do lado de fora com seguranças.
Normalmente, sempre havia aquele primeiro momento de
parar o coração quando a porta do carro ou do prédio se abria.
Eu me senti segura com ele, o tipo de conforto, criado ao
longo de anos, de momentos mundanos unidos para criar uma
malha de proteção que não poderia ser falsificada ou forjada da
noite para o dia.
— Para onde vamos a seguir, milady? — Ele estendeu o
braço.
— Vai soar muito estúpido.
— Nada soaria. Confie em mim. Você me diz para onde e
nós vamos.
Olhei para ele imaginando o quão louca ele pensaria que eu
era. Respirando fundo, eu deslizei meu braço pelo dele.
— Apenas lembre-se. Você pediu isso.
A caixa gigante azul e amarela do tamanho de um campo de
futebol não teria sido minha primeira ideia de onde levar Bay
para seu dia de folga.
Mas aqui estávamos nós na Ikea, vagando pela seção de
quartos, escolhendo móveis para um apartamento imaginário
de dois quartos, e parecia que eu a tinha levado em uma
maratona de compras na Tiffany's. Sua felicidade transbordou,
tornando difícil para mim parar de sorrir como um maníaco.
— O que você acha da cadeira Bingsta? — Ela bateu o lápis
minúsculo contra o lábio inferior — Isso grita conforto na sala?
Seu olhar se voltou para o meu, procurando minha opinião
real.
Sufocando meu sorriso, eu assenti.
— O complemento perfeito para qualquer sala.
— Que tal aquele? — Ela apontou para a outra
configuração no mini-apartamento, completa com um
banheiro com um grande aviso no vaso dizendo que este não
era para ser usado como um banheiro de verdade. Quantos
motivos foram necessários para eles colocarem aquele aviso?
Sentei-me na cadeira com as costas mais altas do que a
maioria e chutei meus pés para cima.
Bay estava sentada na beirada da cama Malm com uma fita
métrica de papel em volta do pescoço, batendo com o lápis de
carpinteiro no cartão de pedido.
Por um segundo, eu pude acreditar que isso era o que
estávamos realmente fazendo, finalmente indo morar juntos
depois de se formar na faculdade. Fundindo nossas vidas e
nossas coisas e escolhendo algumas que nós dois gostaríamos.
Ela olhou para mim com expectativa.
Voltei para onde realmente estávamos e o que estávamos
realmente fazendo. Brincando de fingir. Um fingimento com o
qual sonhei nas noites em que Bay flutuava em meus sonhos,
mesmo depois de eu jurar que tinha seguido em frente.
— A cadeira é ótima.
— Ótimo — Seus olhos brilharam e seu sorriso era brilhante
como uma lâmpada de mil watts quando ela fez uma anotação
no cartão com o nome e a quantidade.
— E a cama? — Ela se deitou nela. Seus óculos de sol
descansavam em cima de sua cabeça.
Nos primeiros passos dentro da loja, ela estava hesitante, me
segurando como se estivesse com medo de ser arrastada a
qualquer segundo.
Quando passamos pela sala de estar, ela colocou os óculos
em cima da cabeça depois que eu sugeri que ela estava
chamando mais atenção para si mesma, mantendo-os.
Sem eles, ninguém nos deu atenção. Eles estavam todos
focados em como diabos pronunciar os nomes de tudo, desde
as otomanas19 até os panos de prato.
Deitei ao lado dela, nós dois ainda com os pés no chão, um
lembrete de como seria inapropriado tocá-la do jeito que eu
queria.
— A cama parece boa, mas acho que devemos fazer algo
sobre o teto. Este será um inferno para aquecer no inverno.
Ela virou a cabeça para o lado rindo.
— É para isso que serve o papelão de todas essas caixas.
— Uma mulher com um plano. Qual é o próximo? — Eu
compraria toda a maldita loja para ela, se isso fosse o que ela
queria.
Sentando-se, ela esfregou as mãos.
— Cozinhas. Quem não gosta de uma boa pia de fazenda?
Ela partiu naquela direção, não ficando mais ao meu lado.
A mudança em sua atitude entre quando saímos do meu
apartamento e agora, foi de um a oitenta. No começo ela
parecia um cachorrinho assustado, e agora ela estava pulando
como um poodle a base de Red Bull.
Andando para trás, ela me chamou para a cozinha com
armários cinza com portas de vidro com pratos brancos dentro.
— Esta parece com a sua.
— Não, não parece.

19
Uma otomana é um tipo de sofá que normalmente não tem um respaldo.
— Os armários não são da mesma cor, mas sua cozinha é
definitivamente tão arrumada quanto. Perfeitamente
planejada.
— Eles não estão perfeitamente planejados — Eles estavam?
— Eu verifiquei se há poeira para ter certeza de que você
realmente os usou antes.
— Eu mantenho minha cozinha arrumada. O que há de
errado com isso? — Usar um prato e uma xícara na maioria dos
dias ajudou na organização. Além disso, eu gostava de manter
os armários abastecidos, para que eu pudesse ver se estava
ficando sem alguma coisa.
— Não é nada como os lixões bagunçados que eu lembro da
faculdade. Muitos dos apartamentos eram bagunça absoluta.
— Essa é a coisa sobre envelhecer. Uma vez que são suas
próprias coisas, você quer cuidar delas. Tenho certeza que você
faz o mesmo…
E me ocorreu porque estávamos aqui. Não só para correr e
brincar um pouco, mas ela nunca tinha feito isso antes.
Nenhum apartamento. Nenhuma casa. Nada de encontrar um
lugar para morar depois da faculdade com uma mistura de
móveis, pratos e tudo mais da faculdade e os primeiros salários
de adultos.
Até eu tinha provado isso. Na primeira metade da
temporada, eu estava com o salário da equipe de treinos. Não
era centavos, mas não era dinheiro de jogador de futebol
profissional. Mesmo morando com Knox, eu não queria ser
uma farsa, e ele queria economizar seu dinheiro.
Depois que meu status de amuleto da sorte foi consolidado
e as vírgulas da conta bancária se multiplicaram, eu economizei
cada centavo que não precisei gastar. Depositar dinheiro com
base na magia do touchdown teria sido estúpido, então Knox e
eu fomos colegas de quarto até que eu fosse trocado no ano
seguinte.
Qualquer um que tivesse visitado nossa casa provavelmente
pensaria que éramos dois caras recém-saídos da faculdade, não
atletas profissionais. O que Bay teria pensado se eu a deixasse
entrar no dia em que ela tocou o interfone por tanto tempo que
causou um curto-circuito? Eu nunca saberia.
Mas ela não teve nenhum desses ritos de passagem. Tão
orgulhoso dela como eu estava, odiava como sua vida tornou
quase impossível fazer as coisas que a maioria das pessoas fazia
depois da faculdade. Não que minha jornada tenha sido
normal, mas eu nunca tive medo de sair do meu apartamento
por causa de preocupações sobre o que os fãs fariam comigo.
Vagamos pelas passarelas de setas iluminadas, conversando
sobre onde os itens caberiam em nosso apartamento
imaginário, Bay fazendo ainda mais anotações.
Ela fugiu na frente depois de pegar um carrinho e adicionar
mais itens.
Parei para verificar uma prateleira, verificando o preço e
memorizando para ela. Mas vinha em três cores diferentes. Eu
odiava não conhecer seus gostos agora, não conhecê-la bem o
suficiente para escolher sem precisar verificar.
Sua cabeça coberta de chapéu estava a muitas pessoas de
distância para chamar seu nome. Definitivamente seria um
arruinador do dia chamar seu nome e ver as cabeças virarem.
Eu quebrei meu cérebro antes que a resposta batesse direto
em mim.
— AGN!
Ela parou, sacudindo com tanta força que seu carrinho
bateu em uma caixa de metal cheia de bichos de pelúcia,
enviando um estrondo de metal contra metal pelo espaço.
Algumas pessoas olharam para mim antes de seguir em
frente. Merda, não tão discreto quanto eu esperava. Eu ofereci
um sorriso de desculpas e olhei além deles.
A cabeça de Bay levantou em câmera lenta com olhos
arregalados e incrédulos.
Merda. Essa provavelmente não era a melhor maneira de
chamar sua atenção.
Ela correu em minha direção com o carrinho e a cabeça
baixa.
— Desculpe — Eu fiz uma careta — Eu estava tentando
chamar sua atenção. Exceto chamar seu nome, era tudo que eu
tinha.
Seus dedos bateram ao longo do topo da alça de plástico do
carrinho de compras, mas ela não olhou para cima.
— Você sabe quanto tempo faz desde que alguém me
chamou assim?
Merda, definitivamente a escolha errada. Eu tinha acabado
de arruinar nosso dia de diversão?
— Eu vou de não muito tempo.
Ela olhou para mim com um olhar indiscernível em seus
olhos.
— Não desde Greenwood.
— Desculpe, eu poderia ter corrido na frente e te pego e te
trazido de volta. Mas havia uma prateleira aqui que achei que
você gostaria — O que pareceu completamente estúpido agora.
Por que eu tinha que saber seus pensamentos sobre uma
determinada peça de mobília para um apartamento
imaginário?
— Eu estava pensando no azul marinho — Eu tentei manter
a vergonha fora da minha voz.
Ela olhou para e para a prateleira e seus lábios se contraíram
com um sorriso.
— Acontece que você já conhece meu estilo — Seus dedos
roçaram os meus — E eu não me importo com o nome quando
você o diz. É um bom lembrete.
Quem iria querer um lembrete disso? Eu dei a ela o nome na
frente de toda a escola, e isso ficou com ela por três anos.
Inferno, eu não gostava do meu nome de Greenwood. Eu ainda
me encolhia se alguém me chamasse de Dare.
— De quão idiota eu era no ensino médio.
Ela puxou a frente da minha camisa, me trazendo para mais
perto até que nossos lábios roçaram.
— Não, de tempos mais simples — Adicionando o nome e
o número da prateleira à sua lista, partimos novamente.
Finalmente acertando o maior prêmio de toda a viagem,
peguei duas bandejas e fizemos fila para o nosso prêmio de
almôndega sueca.
— Uma pessoa pode comer tantas almôndegas ao mesmo
tempo? — Ela apontou o garfo para o meu prato cheio de purê
de batatas, molho e uma pilha de almôndegas.
— Não tenho certeza, mas com certeza quero provar.
— Você vai ficar doente — Ela cortou uma almôndega ao
meio, girando-a no molho ao lado de alguns brócolis. Seu
pequeno zumbido de satisfação com sua comida tocou em uma
necessidade primordial que eu nunca senti antes.
— Foi tudo o que você esperava que fosse e muito mais?
Seu olhar examinou o restaurante estilo cafeteria com
cadeiras de plástico dobráveis para facilitar a limpeza, mesas um
pouco desequilibradas, balançando sempre que você
descansava o braço nelas e copos de plástico texturizados cheios
de refrigerante levemente sem gás. Ela olhou nos meus olhos,
estendendo a mão sobre a mesa para cobrir minha mão e
apertando-a.
— Foi ainda melhor, porque eu pude vir com você.
As almôndegas se alojaram na minha garganta e meu
coração disparou como um gol de dez jardas voando pelo céu.
Com um olhar para ela, eu acreditei que vir para a Ikea era
uma experiência mágica para ela só melhorada porque eu estava
lá.
— Se é assim que você se sente sobre a Ikea, mal posso
esperar para levá-la a uma Target20.
O refrigerante jorrou de sua boca e ela a cobriu rindo.
— Se você me levar a um Target, talvez eu tenha que me
casar com você — Ela limpou a bagunça na mesa e empurrou
os guardanapos sujos sob o prato na bandeja.
Segurei as palavras que queria dizer: "vamos nos casar".
Levou quase um ano para Alice e eu concordarmos em morar
juntos, e mais seis meses antes que eu sentisse que era
apropriado começar a pensar em anéis.
Saber que Bay não estaria na minha cama amanhã parecia
errado, o tipo de erro que eu fingi que não estava lá e que eu fui
capaz de cobrir desde a última vez que adormeci com ela em
meus braços.
Tivemos hoje. O que aconteceria amanhã ainda
descobriríamos.
Depois de deslizar nossas bandejas para a bancada, mais
algumas cabeças se voltaram em nossa direção. Meus pelos
subiram.
O lugar foi ficando cada vez mais cheio. Seu nervosismo
havia desaparecido, mas os olhares estavam se aproximando.

20
Supermercado típico.
Com tantas pessoas ao redor, caçadores de autógrafos e selfies
podem nos sobrecarregar rapidamente. Eu disse a ela que a
manteria segura e pretendia manter minha promessa. Mandei
uma mensagem para Gwen enquanto Bay ia ao banheiro.
Quando ela voltou, tirei o chapéu do bolso e puxei-o sobre
sua cabeça, sobre seus olhos.
Ela sorriu e empurrou para cima.
Coloquei seus óculos de sol.
Eu não queria que o dia dela fosse estragado por ser
reconhecida. Eu também não queria descobrir como os meus
sentimentos encurralados e acelerados apareceriam enquanto
Bay estivesse envolvida.
Precisávamos sair agora.
Mais pessoas se reuniram perto das portas. Eu disse a ela que
a manteria segura hoje. Meus músculos se contraíram quando
os telefones celulares foram sacados.
Pegando sua mão, eu a guiei para fora pelas portas
automáticas. Um carro parou do lado de fora da entrada.
— Para onde agora?
Depois de voltar ao meu apartamento para me recuperar das
almôndegas suecas, paramos na sala de jogos do prédio. Eu a
venci na sinuca e ela chutou minha bunda no air hockey. Muito
rapidamente, era hora de ir para o nosso único evento agendado
para o dia.
Sentamos em um estúdio totalmente diferente de qualquer
outro em que já estive com ela antes. O lugar não era apertado.
Não era úmido. O equipamento, os móveis e até as paredes não
pareciam estar no mesmo lugar há sessenta anos.
Tudo estava limpo e elegante. Brilhante e imaculado. Uma
mesa curva estava coberta de eletrônicos e computadores.
Nossas cadeiras rolantes ergonômicas eram macias. Não
havia uma única rachadura no plástico ou no couro.
Holden apareceu antes de desaparecer novamente. Bay
mexeu nos aparelhos eletrônicos dos monitores dos
computadores. Enormes alto-falantes ficavam em cima da mesa
de som e eu não tinha dúvidas de que eles poderiam estourar
meus tímpanos se estivessem no máximo.
Nada disso fazia sentido para mim, mas ela os testou em
uma melodia curta que ela cantou quando chegamos. Sua voz
em um estádio cheio de milhares ou mesmo em um palco na
frente de uma multidão de centenas não se comparava a ela
cantando para mim. Apenas nós dois, notas sem esforço com
uma cadência doce e suave. Isso me trouxe de volta àqueles dias
deitado em sua cama em Greenwood ou nosso tempo juntos
em LA.
O desejo de ter mais desse tempo me atingiu como um
desejo. Eu precisava de mais horas em um dia.
— E se eu deslizar isso para cima… — Ela tocou o quadro, e
sua voz saiu como Alvin e os Esquilos em alta velocidade.
— É este o som que você está procurando para seu novo
álbum?
Ela riu.
— Os fãs definitivamente ficariam chocados.
A porta à nossa esquerda se abriu. Na porta, uma silhueta
masculina congelou, insegura.
— Spencer! — Bay jogou os braços em volta do pescoço do
cara com quem ela fugiu segundos depois de me ver na
Califórnia, e que roubou meu assento durante o meu jantar
com ela antes de sair correndo.
O ciúme eriçado queria se libertar. Ele queria se enfurecer e
rugir para ele tirar suas malditas mãos dela. Mas eu separei esses
sentimentos.
Bay e eu passamos o dia inteiro juntos. Nós conversamos,
rimos, nos beijamos e fizemos sexo alucinante em várias
superfícies no meu apartamento. Tinha sido um dia cheio.
Nem uma vez ela sentiu que queria estar em outro lugar. Ele
não era uma ameaça.
Desmontei os navios de guerra que cruzavam meu peito e
respirei fundo.
— Você se lembra de Keyton no verão depois da formatura
— Ela caminhou com ele até mim. Ele tinha cabelos castanhos
claros, compridos em cima e curtos nas laterais. Ele não era
magricela, mas também não era volumoso como a maioria dos
caras com quem eu saía. Ele se encaixava no perfil de roqueiro,
complementado com um maxilar definido e maçãs do rosto
flertando com um toque feminino. Ele provavelmente pegava
algumas mulheres depois de seus shows.
Estendendo minha mão, relaxei meus músculos para ter
certeza de que não iria fazer força ao agarrar sua mão. Entrar no
modo de destruição prejudicaria o grande dia que tivemos. Ele
era amigo de Bay, e amigos estavam em falta.
Seus olhos se arregalaram e ele bombeou minha mão duas
vezes antes de soltar.
— Sim, eu me lembro. O jogador de futebol — Ele olhou
entre nós — Eu não sabia que vocês dois ainda mantinham
contato.
Bay não esclareceu e nem eu. Parte de mim queria dizer que
havia muita coisa que ele não sabia sobre a vida dela, mas pelo
que eu sabia, ele sabia muito mais do que eu.
Dando um passo para trás e dando-lhes espaço, sentei-me no
sofá ao longo da parede dos fundos.
— Como foi na estrada? — Bay estava sentada no sofá ao
meu lado, nossas pernas pressionadas uma contra a outra.
Mais uma vitória somada à coluna do mantendo a calma.
Spencer caiu em uma das cadeiras com rodinhas, afundando
os calcanhares para arrastá-la para mais perto.
— Exaustivo. Caos absoluto. Uma luta além de todas as
lutas — Seu rosto se abriu em um enorme sorriso — Foi a
melhor época da minha vida. Muito melhor do que trabalhar
na academia 24 horas em que estive durante os dois anos em
que gravei minha demo.
— E agora você está pronto para fazer o álbum completo?
— Ela brilhava, lançada todo o caminho para frente com as
mãos presas entre as pernas como se não pudesse confiar nelas
se não as mantivesse contidas. Era a excitação de que ela havia
falado enquanto tomava sorvete. Não nervosismo ou
preocupação, mas animação por falar de negócios com um
amigo.
— Tentando. Fiquei chocado como o inferno quando você
se ofereceu para me trazer aqui — Ele olhou para ela como se
ainda não tivesse certeza do que estava fazendo aqui.
— Depois de assistir o cover que mencionei para você, assisti
mais algumas, e você cantou uma que quero colocar no seu
próximo álbum — Ela parecia impressionada.
— Esteve me checando? — Ele brincou.
Eu ficava repetindo na minha cabeça que suas piadas e
brincadeiras fáceis não eram uma ameaça. Porque não era.
Além disso, o que havia para ameaçar? Bay e eu passamos um
total de 24 horas juntos nos últimos seis anos. Eu não poderia
exatamente pegar uma bandeira e plantá-la em sua vagina,
reivindicando-a para mim.
— É o que os amigos fazem, certo? — Ela se inclinou contra
mim e deixou cair a mão na minha perna, tranquilizando sem
nem perceber o que estava fazendo. Depois da tranquilidade e
felicidade do nosso dia, não parecia que nos víamos há menos
de quarenta e oito horas desde que nossas vidas colidiram mais
uma vez. Estar com ela fez parecer que os seis anos separados
foram apenas algumas horas, como se eu tivesse acordado
naquela manhã em seu apartamento, a beijado, e ido ao
encontro do meu destino e a abraçado forte depois de receber
as notícias do descarrilamento da minha carreira.
Era assustador o quão real essa versão da minha vida parecia
em questão de horas com ela.
A cabeça de Spencer caiu.
— Estou feliz que você ainda pensa em mim dessa maneira.
Ela se adiantou.
— Claro que penso.
— Bay… — A boca de Spencer abriu e fechou — Eu sei que
fui um merda no final — Ele passou as mãos sobre o jeans.
Meus instintos protetores ameaçaram romper a calma que
pensei ter criado aqui. O que diabos ele fez que foi tão merda?
— E pedir para você entregar minha demo para Walter
estava fora de cogitação, especialmente quando você ainda nem
tinha assinado o contrato. Eu não deveria ter colocado você
naquela posição.
Era disso que eles estavam falando quando eu interrompi a
conversa quando jantamos? Sua necessidade de se desculpar
parecia engraçada à luz de eu sentado ao lado de Bay, de tudo
que fizemos um ao outro.
— Quantas vezes eu tenho que dizer que está tudo bem?
Olhe onde você está agora — Orgulho escorria de cada palavra,
como uma irmã assistindo seu irmão cruzar a chegada.
Ela me observaria em campo? Gritaria nas arquibancadas e
torceria por mim, incapaz de desviar o olhar? Eu conseguiria
jogar para ela?
— Olhe onde você está — Ele olhou por cima do ombro —
Eu não posso acreditar que eles me deixaram entrar aqui. Estou
esperando ser abordado por um segurança nos próximos trinta
segundos.
— Ha ha. Muito engraçado.
— Então, o que exatamente estou fazendo aqui? Quando
recebi o convite, não pensei que nos encontraríamos no
estúdio. Você está gravando? Eu adoraria assistir.
Bay também não havia me explicado completamente, não
que eu precisasse de muita explicação para qualquer coisa que
ela quisesse fazer. Estar juntos tinha sido minha prioridade. Eu
estaria pronto para qualquer coisa menos bungee jumping ou
um passeio de helicóptero sobre a cidade.
Holden voltou para o estúdio.
A cabeça de Bay virou em sua direção.
— Ótimo, você está aqui.
— Você já contou a ele? — Holden acenou seu tablet
brilhante na direção de Spencer — Eu precisava estar aqui para
bloquear a porta para que ele assinasse uma contrato de não
divulgação, se ele estiver bem com isso.
Meu braço serpenteou em torno de suas costas, dedos
tocando seu quadril. Eu odiava o quanto Holden dirigia sua
vida. Às vezes parecia que ela não tinha controle sobre nada que
acontecia com ela. Ele deveria estar cuidando dela, mas a
irritação gritava que ela estava sempre andando pra lá e pra cá,
nunca tendo tempo para si mesma, e mal conseguia se lembrar
em que cidade ela estava. Ela deveria ter um lar, um lugar para
escapar da loucura do mundo em que ela foi mergulhada.
Os olhos de Spencer saltaram entre nós três.
— Bem com o quê?
Bay se inclinou para frente e tirou o caderno da bolsa. Não
era a mesma em que ela havia escrito suas músicas sobre mim,
mas estava bem gasto. Acabado.
— Tenho algumas músicas que gostaria de compartilhar
com você. Depois de assistir suas performances, elas vieram até
mim e eu queria ver se você gostava de alguma.
Ele caiu direto da cadeira. Ele bateu na mesa de mixagem de
comprimento de parede atrás dele e sua bunda caiu no chão.
— Você está brincando comigo? — Atirando para cima,
seus olhos pareciam estar a um centímetro de cair. Esta era a sua
chance, como uma escolha de primeira rodada depois de ser um
calouro na faculdade.
Um presente. Ela estava lhe dando um presente, do tipo que
um músico como ela não precisava dar a ninguém. Suas
palavras. Suas músicas. A voz dela.
Ela e Spencer passaram as próximas horas trabalhando em
música. Eu joguei meus pensamentos quando perguntado, mas
na maior parte eu estava feliz em sentar e assistir seu trabalho,
vê-la mergulhar na música, oferecendo seus ajustes através do
microfone para Spencer na cabine.
Eu não a tinha visto deste lado do vidro orientando outra
pessoa. Uma confiança tomou conta dela, diferente da que ela
tinha no palco. Isso não era para se exibir.
Spencer encontrou seu ritmo depois que se acalmou. Ele se
livrou disso e mergulhou na música que Bay havia escrito para
ele. Parecia bom, melhor do que bom, combinava
perfeitamente com a voz dele, embora fossem as palavras dela.
Ela pegou um violão e eles tocaram a melodia e o ritmo da
música antes que ela fizesse sua mágica para misturar tudo com
os vocais. Eles encerraram a gravação em uma música e ela disse
a Spencer para vir ouvir.
Eu era a caixa de ressonância deles. Ambos me olharam
como se eu pudesse fornecer mais do que os pensamentos de
um novato.
Spencer cruzou os braços sobre o peito, olhando
atentamente.
— Você ligaria isso no carro e cantaria junto?
Olhei para Bay.
— O refrão é pegajoso e provavelmente vou cantar pelo
resto da semana.
Eles trocaram olhares e celebraram com um:
— Sim!
Depois que eles terminaram de gravar as três músicas,
Spencer foi levado por Holden para salas desconhecidas,
provavelmente para assinar uma chance de lançar essas músicas.
Bay sentou no meu colo enquanto os replays saíam dos alto-
falantes.
Estar tão perto dela nunca envelheceria, mas a noite estava
se estendendo, o que significava que nosso tempo estaria
chegando ao fim. Eu não poderia ficar mais seis anos sem poder
segurá-la em meus braços novamente.
— Essas músicas são incríveis.
Seus braços enrolaram em volta dos meus ombros.
— Você acha? Espero que Spencer goste delas.
— Se ele não gostar, ele é um idiota — Eu acariciei o lado de
seu rosto.
Ela estava confortável deste lado do vidro. A ponta de
ansiedade que espreitava sob a superfície sempre que ela saía,
ou mesmo antes de uma apresentação, evaporou. Em vez disso,
no estúdio com Spencer, sua empolgação por fazer música era
contagiante.
Eu me perguntei se seu amor pela música havia morrido em
sua ascensão ao estrelato, mas não morreu. Eu podia ver. Eu
podia sentir isso com cada olhar e aceno. A expressão
determinada quando ela pediu a ele para cantar uma linha
novamente ou incorporar um ajuste que eles criaram juntos.
Ela amava isso. O que significava que ela nunca iria embora
desta vida. E ela não deveria – era onde ela ganhava vida. Mas
eu não tinha ideia do que isso significava para o que quer que
viesse a seguir para nós.
Seus dedos brincaram com os botões da minha camisa.
— Obrigada por vir. Tenho certeza de que não era isso que
você tinha em mente quando eu disse que poderíamos passar o
dia juntos.
Eu a beijei – não do jeito que eu queria, mas o único tipo
que eu poderia dar a ela sem deixá-la cair no sofá e dar-lhe uma
provocação do que aconteceria quando voltássemos para a
minha casa.
— Hoje é sobre você se divertir. Eu estou bem com o que
quer que você queira fazer.
— Devemos resgatar o Spencer? — Ela mordiscou o lábio
inferior — Eu sinto que Holden o está mantendo como refém
neste momento.
— Lhes dê mais alguns minutos.
Ela descansou a cabeça no meu ombro e eu arrastei minha
mão pelas suas costas. Se o mundo acabasse neste momento, eu
ficaria contente.
Mas isso não aconteceu. Holden e Spencer voltaram antes
que seus minutos terminassem. Spencer parecendo ter visto um
fantasma acenando com números de bilhetes de loteria
premiados para ele.
Bay se levantou e começou a música antes de voltar para
mim, tão feliz em ouvir isso quanto ela estava tocando suas
próprias músicas para mim antes de Spencer chegar.
Spencer ficou ao lado do quadro com os olhos fechados até
a última nota terminar. Quando eles abriram, ele olhou para ela
como se ela fosse uma milagreira.
— Ainda tenho medo de estar sonhando. Isso é de outro
nível. Minha voz não lhes faz justiça.
— Eu as escrevi para sua voz — Ela bateu em meus braços e
eu os soltei de sua cintura. Levantando-se, suas mãos
balançaram os ombros de Spencer — Você não está ouvindo o
que estou ouvindo? Holden, me apoie.
Holden ergueu os olhos de seu tablet, girando na cadeira.
— É assassino. Sua voz e sua forma de cantar, com a
produção e as letras de Bay. Isso é um hit top 100.
Spencer se virou para ela, o ceticismo gravado
profundamente em seu rosto.
— E você quer que eu fique com isso?
— Se você quiser — Ela deu um passo para trás.
Eu escovei meus dedos ao longo da parte de trás de sua perna
como eu fiz na primeira vez que ela tocou em público durante
o acampamento de treinamento, dando-lhe minha força e
confiança de que ela iria arrasar em tudo o que ela fizesse.
— Você está brincando comigo? — Ele gritou tão alto que
alguém do lado de fora deve ter ouvido, mesmo com as paredes
à prova de som — Claro.
Ele se jogou sobre ela, quase a derrubando.
Ambos riram, seu vínculo se solidificou através da música.
Respirei fundo e a observei com outro cara apertando-a com
força, procurando por ciúmes ou insegurança para explicar a
forma como meu coração disparou.
Mas não estava lá. Foi a felicidade de como ela foi capaz de
compartilhar suas letras e criar uma música que outros
ouviriam, mesmo que não fosse ela cantando. Os sentimentos
foram inesperados. Com Alice eu pensei que tinha superado
todos aqueles velhos e destrutivos comportamentos. Agora eu
sabia que era porque eu não sentia por ela o que sentia por Bay.
Não havia uma atração inegável que tornasse difícil não pensar
nela, não sonhar com ela. Este tinha sido o verdadeiro teste.
Talvez eu pudesse lidar com isso. Talvez eu pudesse lidar com
a gente.
Nós terminamos as coisas no estúdio. Bay sorriu enquanto
examinavam os detalhes menores. Spencer poderia abrir para
ela em alguns shows na última etapa da turnê na Europa. Os
contratos foram cruzados e pontilhados para Bay como
compositora da nova faixa principal de seu álbum. Ele
finalizaria as músicas quando ela estivesse de volta à Filadélfia.
A viagem para o meu apartamento foi tranquila. Muito do
dia tinha sido gasto protegendo-a contra o pior cenário em que
tudo daria errado.
Mas agora estávamos na minha sala, sentados em um monte
de travesseiros no chão com uma tigela de Goobers21 e pipoca
ao nosso lado. A TV estava desligada, mas não precisávamos de
nada para nos manter ocupados além de um ao outro.
Ela se inclinou contra o meu peito. Seu cabelo roçou minha
bochecha.
Olhei para o fogo crepitando na lareira que eu nunca tinha
usado antes. Depois de algumas tentativas fracassadas, descobri
como ativá-la.
Depois de algumas horas no estúdio, o sol já havia se posto.
Nosso dia estava acabando, quase no fim. O tique-taque mais
próximo das cinco da manhã, quando ela iria embora, era
marcado por cada batida do coração.
O silêncio do meu apartamento parecia um conforto agora,
mas também significava que não havia nada para abafar meus
pensamentos. O que antes era uma mistura de tantas emoções
embrulhadas em Bay agora tinha um foco singular.
A pergunta esteve se repetindo na minha cabeça o dia todo.
Começou como um sussurro, mas agora ficou mais alto até ser
um rugido em meus ouvidos.
— O que acontece agora?

21
Goobers: Amendoim coberto de chocolate.
Meus braços envolveram mais apertado ao redor de sua
cintura.
Ela olhou diretamente para o fogo.
— Não sei — Ela aninhou a cabeça contra a barba por fazer
no meu queixo.
Nem eu, mas eu sabia que esta não poderia ser a única noite
que passaríamos enrolados um no outro.
Uma lasca egoísta da minha alma queria que ela trancasse a
porta e me dissesse que não estava indo embora, que ela tinha
tomado sua decisão e que era eu, mas esse foi um sonho
ganancioso que me lavou de vergonha.
— A temporada termina em janeiro. Fevereiro, se minha
sequência se mantiver.
Mudando de posição, ela olhou por cima do ombro, tristeza
nublando seu olhar.
— Partirei para Londres na primeira semana de novembro.
A turnê vai até o final de julho.
— A tempo para o acampamento de treinamento.
Ela caiu para trás contra o meu peito e colocou as mãos em
volta das minhas com a cabeça dobrada contra o meu ombro
como se estivesse com medo a qualquer momento que alguém
entrasse no quarto e nos separasse.
— E eu estarei terminando o próximo álbum.
— Eu posso sair com você depois que a temporada acabar.
Me juntar à sua equipe de roadies — Eu coloquei minhas
pernas sobre suas estendidas, tentando envolvê-las. A
temporada era de 17 semanas, meio ano, incluindo
acampamento de treinamento e playoffs. Eu compraria um
jato se precisasse para vê-la sempre que ela tivesse uma folga,
por mais curta que fosse.
— Nós dois pulando de hotel em ônibus de turismo para
hotel por alguns meses antes de você partir para outra
temporada — Ela parecia distante, como se já estivéssemos nos
afastando um do outro.
Um aperto apertou meu coração como um punho
contraindo o fluxo sanguíneo.
— E você ficaria feliz com isso? Que tipo de relacionamento
seria?
Eu segurei mais ferozmente.
— Nosso. Quem disse que existem regras? Pode não ser
perfeito. Mas seria nosso.
— Alguns dias atrás, você estava pronto para se despedir de
mim e nunca mais olhar para trás.
O chute mental de como eu tinha lidado com as coisas se
intensificou. Meu medo sobre o que estar perto dela de novo
poderia me levar pode agora parar qualquer coisa nova entre
nós antes de começar. Eu não ficaria satisfeito com sundaes
compartilhados e uma viagem à IKEA. O desespero aumentou
para vê-la novamente.
— Eu estava errado. Eu deveria ter lidado melhor com isso.
— Depois de como deixei as coisas, não te culpo. Como
você sabe que não vou estragar tudo de novo? Eu sei mesmo
como estar em um relacionamento? Você estava com Alice.
Você estava noivo — Ela parecia estar falando mais consigo
mesma do que comigo, falando sobre o que poderíamos ter
juntos.
— E eu sabia que não era o certo. Para qualquer um de nós.
Ela esticou o pescoço e olhou nos meus olhos.
— E isso parece certo para você? Minha vida não é minha.
Centenas de pessoas dependem de mim — Virando-se em meus
braços, ela se sentou na minha perna — Eu vi isso acontecer
com tantas outras pessoas.
— Não som...
— Agendar alguns dias de relacionamento todos os meses.
Cada jantar sendo interrompido. Todos os dias, outra história
de tabloide ou mais paparazzi caçando você. Os horários
entram em conflito até que nós nos veremos uma vez por
semana e se transformarão em uma vez por mês e depois para
uma vez a cada poucos meses — Ela traçou os dedos sobre meus
dedos — Até que as coisas desmoronam.
Uma urgência para ela não nos descartar tomou conta do
meu coração. Não cairíamos em suas armadilhas. Depois de
uma década de erros, finalmente conseguiríamos acertar.
— Nós não somos outras pessoas — Lambi meus lábios
secos de inverno — Não estou dizendo que façamos nada
louco. Não precisamos nem colocar um nome nisso. Mas eu
quero te ver — Eu levantei seu queixo com meu dedo — Não
consigo não te ver.
Um lampejo de dor brilhou atrás de seus olhos. Dor e
saudade – os mesmos dois sentimentos arranhando meu peito
agora.
— Quando poderemos nos ver de novo? — Ela passou os
braços em volta do meu pescoço e inalou profundamente,
como se estivesse tentando imprimir meu cheiro — Eu preciso
checar meu telefone. Holden carrega meu calendário lá.
Levantando-se, ela foi buscar seu telefone. A perda de peso
dela descansando contra mim, as curvas suaves de seu corpo
que se encaixavam perfeitamente no meu, seu calor
superaquecendo meu corpo era acentuado, e mostrava o
quanto eu a desejava perto de mim.
Peguei meu telefone do bolso de trás.
Nós nos reunimos. Bay sentou-se de joelhos entre minhas
pernas.
Ela digitou em seu telefone com as sobrancelhas franzidas.
— Vou para Los Angeles amanhã.
Corri minhas mãos sobre sua coxa. Olhando para o meu
telefone, meus músculos enrijeceram.
— Quando você está de volta? — Reuniões, treinos, viagens
para os jogos e os próprios jogos foram carregados no meu
calendário por Gwen.
— Em uma semana. No próximo sábado — Seus lábios
roçaram minha pele. Suave e doce.
Eu bufei. Uma risada meio sem graça e sem humor.
Ela não estava errada sobre a dificuldade de nos vermos.
— O que? — Ela inclinou a cabeça e olhou para mim.
— Esse é o dia depois de eu partir para LA.
Seus dedos roçando a base do meu pescoço pararam.
— Quando você está de volta?
— Terça feira à tarde. O que você estará fazendo então?
— Eu tenho uma sessão de gravação de manhã. Talvez
possamos almoçar tarde? Ou jantar? — O pensamento de
passar duas semanas um sem o outro transformou a agulha do
pânico em um cutelo no meu coração. Acabamos de encontrar
o caminho de volta um para o outro. Nós dois crescemos tanto,
e agora as coisas que sempre amamos e sonhamos estavam nos
mantendo separados.
— Você provavelmente vai estar cansada, mas podemos
tentar — Eu escovei meus lábios contra sua testa — Quando
você parte para Londres?
— Dia três de novembro. É uma terça-feira. Você estará aqui
no fim de semana anterior? — Seus olhos iluminados de
esperança encararam os meus.
— Tenho um jogo fora de casa na Geórgia — Eu deixei cair
minha cabeça para trás, xingando baixinho.
Ela se animou.
— Eu poderia voar para a Geórgia.
Eu escovei meus dedos pelo braço dela.
— Nenhum tipo de parceira é permitido no hotel do jogo
antes de jogarmos.
Seu corpo cedeu.
— Nós vamos nos ver por cinco dias nas próximas seis
semanas, não é?
— Não importa por quanto tempo possamos nos ver, eu
aceito. Você tem uma vida e uma carreira. Eu também. Não há
nada que possamos fazer sobre isso.
Não há? Tão rápido quanto as palavras entraram na minha
cabeça, eu as empurrei para longe. Eu não ia ser o cara que ela
deixou para trás em LA que estava disposto a jogar tudo fora
para segui-la porque eu não poderia ficar sem ela. Havia
mensagens de texto, telefonemas, videochamadas, voos
fretados, se necessário. Nós dois tínhamos tudo isso à nossa
disposição.
— Nós nem sabemos o que é isso.
— Somos apenas nós, nos conhecendo novamente.
Descobrindo se nós gostamos um do outro.
— Pelo menos parte de você gosta muito de mim — Ela riu,
liberando um pouco da pressão que apertava a válvula do que
viria depois que ela saísse do meu apartamento pela manhã.
— Nós dois estamos na mesma página, mas o júri ainda não
está certo sobre você.
Ela se virou no círculo dos meus braços e montou no meu
colo.
— Ah, acredite em mim. Cada parte de mim está em pleno
acordo — Se pressionando contra mim, ela sorriu.
Um silvo saiu dos meus lábios.
— Música para meus ouvidos.
Sentei-me e segurei sua nuca. Minha ereção, não mais
aceitando ser ignorada, pressionou contra o jeans áspero e a
combinação do zíper, que não fez nada para sufocar o sangue
que corria para o meu pau.
Eu a beijei, colocando tudo nisso. Eu queria que ela se
lembrasse disso como um beijo abrasador, louco por você, não
me canso de você. O tipo que a faria esquecer todos os outros
lábios. Todos os outros homens. Todos os outros amores.
Nossas vidas pareciam destinadas a se cruzar. Nosso timing
nunca foi certo. Nossos futuros estavam avançando em
direções diferentes.
Meu coração estava partido quando se tratava dela, mas
talvez um pouco de calor e tempo pudessem preencher essas
rachaduras, moldando-as em uma nova criação. Ou os
estilhaços enfraqueceriam e quebrariam, deixando-me sozinho
novamente.
Nós passamos uma noite inteira juntos desde SeptemberWeen.
Houve alguns encontros no meu hotel ou no dele que fizeram
parecer que estávamos tendo um caso, correndo juntos,
arrancando nossas roupas e tendo um orgasmo suado e sem
fôlego antes de alguém bater na porta e termos que nos separar.
Mas na terça eu poderia vê-lo novamente quando seu voo
pousasse. A programação de segunda-feira foi leve: apenas
sessões de demo, ajustes, teste de cabelo e maquiagem para as
premiações em dezembro, terminando a produção das músicas
que prometi a Spencer, e uma sessão de fotos para o meu novo
álbum que ficou no caminho para liberar mais horas para
passar com ele.
Acontece que o momento para sua viagem nunca foi tão
perfeito. Estar na mesma cidade e não se ver teria dificultado
ainda mais a concentração.
Eu assisti ao jogo dele no fim de semana, que Philly ganhou,
entre as teleconferências. Se alguém tinha dúvidas sobre por
que todas as televisões nas proximidades estavam sintonizadas
no jogo, ninguém o mencionou.
Tivemos algumas teleconferências e entrevistas pela manhã.
Agora, eu estava no meio do meu dia de destruição abdominal,
o que significava que eu tinha um roupão confortável, meias
mais confortáveis e todos os doces que eu pudesse enfiar na
boca para descansar da segunda-feira brutal. Isso e uma
reencenação de O Iluminado na minha calcinha supersensível.
Ao longo dos anos, a semana da minha menstruação havia
se reduzido a alguns dias, e depois alguns no nível do
Armageddon, o que era uma droga. Super fodido. Mas isso me
deu um cronograma consistente de trinta e seis horas de quase
solidão e atividades apenas por telefone e espaço para respirar
longe de todos quando eu não me sentia culpada por não estar
ligado.
Claro, eu poderia ter tomado a pílula ou o adesivo ou
qualquer outra coisa para fazê-la parar, mas eu também estaria
desistindo do momento de inércia total na hora de dormir sem
a culpa.
Comida gordurosa e doces cheios de açúcar significava que
minha bunda seria chutada na quarta-feira, quando saísse do
meu casulo de comida para parada cardíaca a tempo de uma
sessão comercial de um produto que eu nem conseguia
lembrar.
As pessoas não se cansam de olhar para mim? Eu com
certeza sim. Mas todas as pessoas no set ganham dinheiro,
inclusive eu. Hoje não era um dia sobre reclamações. Era sobre
a solidão.
Meu telefone tocou nos cobertores. Vasculhando os
guardanapos e as embalagens enrugadas, eu o agarrei.
D-Keyton.
— Ei, estranho.
Ele riu. O barítono quente dele enviou arrepios na minha
espinha. Eu sentia falta dele.
— Faz menos de vinte e quatro horas desde que
conversamos.
Nossa! Eu já era a não-namorada pegajosa? Parte de mim não
se importava. Eu não ia esconder o que eu sentia por ele, e eu
precisava que ele soubesse o quanto eu sentia falta dele. A outra
parte estava com medo de que ele achasse tudo muito
esmagador ou pior, sufocante.
— Mas sempre fico feliz em conversar com você,
especialmente nessas viagens longas.
— Onde estão os caras?
— Eles estão em seus quartos. Não há nada para fazer no dia
do jogo, exceto sentar e esperar. O ônibus sairá em alguns
minutos, e então teremos mais sentar e esperar no estádio.
Eu rolei na minha cama, me sentindo como a eu do ensino
médio que não o via fora da escola há semanas.
— Como você ocupa seu tempo? — Abracei o travesseiro
com uma garrafa de água quente equilibrada em cima dele
contra meu estômago.
— A Fundação tem muitos planos para o próximo ano para
eu assinar. Ernie me mantém alerta com propostas, acordos e
negociações comerciais.
— Negociações comerciais? — Meu coração pulou uma
batida. Estávamos pensando em terminar o álbum aqui, para
que eu pudesse estar mais perto de Keyton. Não que eu quisesse
ir para o estágio cinco me agarrar a ele depois de uma noite
juntos, mas ele se mudar tornaria ainda mais difícil ver um ao
outro.
— Nada para esta temporada. Quem sabe lá para a frente?
— Você estará na Filadélfia no ano que vem? Nós
reservamos o estúdio aqui para continuar trabalhando no
álbum — Talvez pudéssemos fazer planos reais. Aqueles em
que nos víamos por dias e semanas em vez de horas. Eu odiava
adicionar qualquer pressão ao que estávamos fazendo, mas
Holden fez planos para um ou dois anos, e eu queria arranjar
tempo não apenas para ele, mas para minha mãe e amigos. Já
era hora de dar prioridade às pessoas que eram importantes para
mim.
— Eu adoraria ter você por perto na próxima temporada —
Ele suspirou, sua voz murcha — Houve um pouco de conversa,
mas acabou agora. Parece que nosso recorde este ano tirou o
brilho do meu status de amuleto da sorte. Talvez eu tenha
muito mais tempo para passar com você depois desta
temporada.
Um choque de emoções me atingiu como uma maré. A
excitação de vê-lo mais foi quebrada pelo que isso significaria
para ele. Por mais que eu quisesse que ele estivesse perto, jogar
significava muito para ele.
— Nos seus termos.
Ele soltou um longo suspiro.
— Veremos. O que você vai fazer hoje à noite? — Sua voz
voltou.
— Ficar na minha cama, assistindo televisão e comendo.
Prestes a tirar uma soneca.
— Já era hora de Holden te dar um tempo. Juro, não sei
como você tem tempo para dormir às vezes.
Abri minha boca para corrigi-lo antes de fechá-la.
— Eu vou dormir profundamente esta noite depois de falar
com você.
— Você ficaria assustada se eu dissesse que senti sua falta?
— Havia uma sugestão de provocação hesitante em suas
palavras.
Eu gostaria de poder estar lá com ele agora. Ele era uma
corrente inescapável ondulando pela minha vida. Não importa
o que estava acontecendo, quem eu estava encontrando, ou
onde eu estava cantando, eu queria saber que teria o conforto
de seus braços para voltar. Foi rápido demais, insanamente
rápido para pular direto no trem Keyton.
— Não, isso não me assustaria nem um pouco. Você ficaria
estranho se eu dissesse que roubei seu cachecol da última vez
que te vi? — Fazia uma semana em Memphis, ou seria
Houston? Uma preciosa janela de quatro horas antes de nossos
voos decolarem em direções opostas novamente.
Peculiar seria uma maneira gentil de dizer isso, mas eu
adorava enrolar seu cachecol em volta do meu pescoço quando
saíamos do hotel. Cheirava como ele, funcionava para esconder
meu rosto se algum fotógrafo estivesse tirando fotos e me
ajudava a me acalmar quando tudo parecia esmagador.
Depois de apenas uma questão de horas, eu me tornei
viciada em como ele me fazia sentir. Mas isso não era verdade,
ele foi costurado no tecido do meu ser desde que eu tinha
dezoito anos. Voltar a me apaixonar por ele parecia inevitável,
como se as areias do tempo estivessem esperando por sua
abertura para mudar e nos trazer de volta. Pelo menos é o que
eu estava dizendo a mim mesma. Eu só podia esperar que o
circo da minha vida não mudasse o que ele sentia por mim.
Ele riu, uma gargalhada que fez o telefone vibrar no meu
ouvido, enviando tremores pelo meu estômago.
— Eu me perguntei onde diabos o havia deixado. E não, isso
não me deixaria estranho.
Conversamos até tarde e acordei depois da meia-noite com
o telefone colado na lateral do meu rosto e o ritmo suave de sua
respiração me confortando. Eu o amava tanto que doía. Estar
longe dele era como ser arrastada para debaixo d’água e se
debater para a superfície. Vê-lo novamente parecia que eu
finalmente tinha sido capaz de emergir e engolir ar fresco e
limpo. E agora que eu dei minha primeira tragada em uma
eternidade, eu não podia voltar atrás.
A filmagem se estendeu. Luzes extras estavam sendo instaladas
porque havíamos perdido o sol da tarde. Lá fora, podia ser sete
ou meia-noite. Eu tinha perdido toda a noção do tempo.
Continuei cochilando e esperando que alguém colocasse sais
aromáticos debaixo do meu nariz para me preparar para a
câmera.
Spencer tinha adorado as faixas que eu tinha enviado, então
o lado bom estava um pouco maior hoje. Sua empolgação louca
era contagiante e eu mal podia esperar para ouvi-lo tocar as
músicas.
Uma equipe havia transformado o loft industrial em uma
paisagem de inverno. Pelo menos eles não tentaram fazer isso lá
fora.

Keyton: Você ainda está fazendo sua sessão de


fotos?

Bay: Infelizmente.

Keyton: Sem saída.

Bay: Talvez se eu roesse minha própria perna.

Keyton: Não vai acontecer. Eu amo essas pernas.


Especialmente quando você as envolve em volta
da minha cintura tentando me apressar para
entrar em você.
Bay: Não é justo! Você não tem permissão para
me excitar e incomodar quando estou em uma
sala com vinte outras pessoas.

Keyton: Isso vai manter sua mente longe das


coisas.

Bay: Está mais para me manter pensando nas


coisas…

Olhei ao redor, segurando meu telefone perto do meu peito,


sorrindo como se eu tivesse um segredo. E tinha. Seu nome era
Keyton e eu sentia falta dele.

Keyton: E fez você sorrir. Esse era o meu objetivo.


Eu sinto sua falta.

A pessoa do guarda-roupa veio com um novo par de saltos.


Por um total de cinco segundos, tive um doce alívio. Minha
alegria nos dedos dos pés foi interrompida quando o novo par
foi colocado, beliscando meu dedo do pé já latejante. Pelo
menos eu não teria que ficar mais do que alguns minutos de
cada vez.
Olhei para o telefone, desejando apertar meu coração. Não
nos víamos fora das videochamadas há duas semanas.

Bay: Também sinto sua falta.

Holden atravessou o estúdio para gritar com alguns caras da


gravadora. Eles estavam arrancando tudo de mim para o último
álbum antes de negociarmos. Entrar em uma nova rodada me
deixou exausta e nós nem tínhamos começado. Holden e
Maddy tomaram as rédeas, mas todos olharam para mim para a
palavra final. Todos os olhos estavam em mim com seus
futuros em jogo com base em meus polegares para cima ou para
baixo.
Ele marchou de volta para mim com uma garrafa de água e
uma tigela de nozes.
— Nós deveríamos ter terminado três horas atrás — Ele
olhou por cima do ombro — Eles estão tirando sarro neste
momento.
— Você deve estar super zangado para deixar seus
britanismo aparecer — Apertei meus lábios, falhando
miseravelmente em manter meu sorriso em segredo.
— Eu posso pegar essas nozes de volta — Ele empurrou a
tigela de volta.
Eu me arrastei para frente e peguei a tigela. Algumas
amêndoas se espalharam pela borda e caíram na montanha de
tecido ao meu redor, perdidas em um mar de chiffon.
— Esta roupa é a número trinta? Perdi as contas quando
Emily e eu tivemos que ligar para Berlim sobre os shows
adicionais.
Desenhando os olhares horrorizados dos maquiadores e
assistentes de guarda-roupa, joguei a noz sem sal no ar e peguei.
— É a roupa número vinte e dois, o penteado número dez e
a maquiagem número doze. As cinco camadas superiores da
minha pele desapareceram — E doíam como se eu tivesse
surfado e esquecido o protetor solar.
— Eu prometo que vamos tirar você daqui na próxima meia
hora — Sua mandíbula estava firme e ele falava sério, mas estava
distraído. Mais distraído do que eu já o tinha visto. Todas as
perguntas foram evitadas, todos os estímulos desligados. Cada
convite para compartilhar se voltava e se concentrava em mim.
— Não foi isso que você disse duas horas atrás? O que
diabos está acontecendo?
Ele abaixou a cabeça.
— Eles estão chamando agora alguns termos de contrato
quando se trata deste álbum. Eu sei que é chato, me desculpe.
Farei o que puder para acabar com essa tortura o mais rápido
possível. Fomos além da acomodação e tecnicamente
satisfazemos os termos…
Estávamos todos trabalhando duro, e ele estava estressado.
Eu poderia sentar em roupas bonitas e tentar parecer
interessante por mais algum tempo.
— Está bem. Todos aqui estão recebendo horas extras pelo
menos.
Um sorriso quebrou o olhar de pedra que ele lançou por
cima do ombro. Seu telefone tocou. Olhando para baixo, sua
carranca se aprofundou.
— Vou atender esta ligação, então vamos embora daqui —
Ele saiu apressado da sala e o fotógrafo se virou para mim.
Segurar um tigre de cristal transparente em minha palma
estendida não deve ser doloroso. Pesava talvez duzentos
gramas? Uns quatrocentos gramas no máximo. Mas meus
dedos estavam dormentes.
Holden não havia retornado, embora tivesse passado da
marca de meia hora.
Minhas pálpebras caíram. Meus pés doíam. Meu corpo
estava esgotado.
O fotógrafo trocou os cartões de memória e conferiu os
termos da gravadora. Se alguma vez houve um momento para
desenvolver visão de calor, agora era a hora.
Onde diabos estava Holden? Quanto tempo a ligação dele
poderia demorar?
O elevador industrial chegou ao andar. Cabeças se viraram
para o estrondo do portão de segurança de madeira.
Saindo da área escura estava o único homem que nunca
deixou de me surpreender. Ele examinou a sala e se concentrou
em mim, sentada no sofá com uma tonelada métrica de tecido
ao meu redor.
Uma excitação de manhã de Natal me atingiu, quase me
derrubando.
Keyton estava aqui. Como diabos ele estava aqui? Como ele
sabia onde me encontrar? Eu queria pular, arrastar este vestido
junto comigo, e correr para ele. Mas eu estava presa ao sofá.
Trabalhando furiosamente, eu desabotoei, desprendi e
desenganchei o vestido da espreguiçadeira que eu estava
apoiada por tanto tempo que minha bunda direita estava
dormente. Um alfinete me espetou. Eu continuei e chupei no
dedo.
Ele atravessou o espaço sem olhar para mais ninguém. O
canto de sua boca levantou e ele se agachou na minha frente.
— Parece que você poderia usar um resgate, princesa.
Um arrepio percorreu minha espinha e eu estava pronta
para encontrar uma longa trança para jogar pela janela mais
próxima.
Olhei para o meu vestido ridículo e sorri, dando uma
gargalhada vertiginosa de ensino médio.
— Veio me buscar na minha torre?
— Isso pode ser arranjado.
— Achei que você não voltaria até terça — Olhando para
ele, eu não conseguia tirar o olhar estrelado dos meus olhos.
— Gwen fez sua mágica e aqui estou eu.
— Parece que alguém vai ganhar uma caixa inteira de vinho
no Natal — De pensar que em algum ponto eu estava com
ciúmes dela. Ela subiu para o topo da minha lista de pessoas
favoritas.
— Vai acabar até o Ano Novo — Ele riu e olhou para o
armazém de material ao meu redor como se estivesse tentando
descobrir onde estava a minha outra metade.
— Como você sabia onde eu estava? — Tentei me levantar,
mas fiquei presa em alguns clipes que não vi.
Ele mergulhou e me libertou.
— Holden. Mandei uma mensagem para o seu telefone e ele
me deu a localização e disse que você precisava de uma fuga da
prisão.
— Ele não está aqui? — Eu chicoteei, protegendo meus
olhos para olhar além das luzes nas arquibancadas ao redor do
set. A mesa em que ele foi colocado estava vazia — Ele nem está
no prédio?
— Não soou assim em sua mensagem. Você não sabia que
ele tinha ido embora? — Uma carranca se formou.
Eu balancei minha cabeça.
— Podemos nos preocupar com isso mais tarde — Ele
estendeu a mão — Venha comigo.
Olhei por cima do ombro para o mar de pessoas aqui para
mim, mas provavelmente tão cansadas de estar aqui quanto eu
estava. E para baixo no meu vestido – o vigésimo terceiro da
sessão. Quantas fotos mais eles precisavam tirar? Depois de oito
horas eles tinham que ter encontrado pelo menos uma que não
me fizesse parecer uma colegial insegura. Será que eu deixei essa
versão de mim para trás, ou tudo isso foi para tentar encobrir
quem eu era naquela época?
Parecia apropriado que Keyton viesse em meu socorro.
Eu deslizei minha mão na dele.
O toque áspero de seus dedos calejados contra minha pele
levantou arrepios por todo o meu corpo.
Seus dedos apertaram os meus como se ele não tivesse
pensado que eu realmente iria com ele.
— Onde estamos indo?
— Embora — Ele olhou por cima do ombro, seus olhos
disparando para o elevador industrial.
Eu balancei a cabeça.
— Vamos lá — Nós dois nos levantamos e caminhamos
vagarosamente em direção ao elevador como se ninguém
notasse o jogador de futebol e a mulher em 157 metros de
tecido fugindo em direção à saída.
Tentei manter meu rosto neutro, mas por dentro me sentia
mais leve do que nunca, como se estivéssemos saindo da
detenção.
— Bay?
Bastou a pessoa anônima atrás de nós para decolarmos,
dissolvendo em gargalhadas e fazendo nossa grande fuga. Coma
nossa poeira!
Eu não tinha pensado que ela diria sim. Eu tinha esperanças –
sempre – mas nunca, por nenhum segundo eu pensei que
estaria puxando a grade de madeira pela tira de náilon e
enfiando meu dedo no botão para baixo enquanto uma
enxurrada de pessoas corria em nossa direção como se eu fosse
um viking que invadiu, a jogou por cima do meu ombro e a
roubou para minha aldeia.
Holden tinha me avisado onde ela estaria, quase como um
convite para tirá-la de lá. Vamos torcer para que não apareça
nos jornais que eu sequestrei Bay. Foi de longe a coisa mais
louca que eu fiz em alguns anos. A alegria inundou minhas
veias.
Bay segurou meu ombro, meio escondida atrás do meu
corpo. Esta noite ela estava tão ampla quanto eu. O volume de
seu vestido – provavelmente medindo pelo menos um metro e
oitenta – não era exatamente furtivo.
— Bay, onde você está indo? — Um coro de pessoas gritou
lá de cima.
Nossas cabeças desapareceram sob o chão e seus chamados
foram abafados.
Seus dedos agarraram com força a manga da minha jaqueta
e ela se inclinou na cintura. Seus ombros tremeram.
Ela estava tendo dúvidas?
Eu me virei e coloquei minhas mãos em seus ombros
— Ei, nós podemos…
Ela olhou para mim com lágrimas de riso nos olhos.
Ofegante, ela agarrou a frente da minha camisa.
— Eles vão ficar tão chateados — Ela enxugou as lágrimas,
borrando a maquiagem ao redor dos olhos.
A tensão que irradiava pelo meu corpo aliviou, substituída
por uma bola brilhante enfiada direto no meu peito.
O elevador atingiu o andar térreo e eu puxei a grade,
ajudando-a a sair.
Ela me segurou e se curvou, enfiando a mão debaixo do
vestido e apoiando uma mão no meu braço.
Um par de enormes saltos altos emergiu de todo o tecido, e
ela não estava mais cara a cara comigo, mas quinze centímetros
mais baixa. Ela suspirou e revirou o pescoço. De seus suspiros e
gemidos, eu poderia dizer que ela estava balançando e
flexionando os dedos dos pés.
Seu olhar disparou de mim para os sapatos. Minha
descrença em como ela se espremeu neles deveria estar escrita
em todo o meu rosto.
— Eu sei, certo? Continuo perguntando por que preciso
usá-los quando ninguém os vê.
Eu tirei os saltos dela.
Ela sorriu para mim, o tipo de sorriso que ganhei dela
quando nos tornamos mais do que dois corpos planetários
relutantes circulando um ao outro. Era provocante. Tímido.
Perfeito.
O torno apertou meu coração e eu a guiei em direção à
porta, enlaçando seu braço no meu.
Na frente da porta de aço industrial, desgastada para dar
uma aparência verdadeiramente industrial, ela congelou. Seus
dedos se apertaram novamente. Ela olhou para si mesma e de
volta para a porta. Com um leve puxão, ela congelou e se
afastou de sua rota de fuga.
— Eu não posso acreditar que Holden foi embora — ela
murmurou, quase para si mesma.
Foi um movimento idiota da parte dele, mas ele contou
comigo para tirá-la de lá. Pelo menos ele estava tentando cuidar
dela apesar do que quer que estivesse acontecendo com ele. Ele
não parecia alguém que deixaria a peteca cair quando se tratava
de Bay.
Holden não deveria ser aquele que cuidava dela? Quem a
impediria de ficar tão exausta como estava agora? Havia
sombras profundas sob seus olhos que nem a maquiagem
conseguia apagar.
— Tenho um carro esperando lá fora — Parte de mim
queria jogá-la sobre meu ombro agora, tirá-la de seus sapatos
dolorosos, sua agenda ininterrupta, sua vida na gaiola. O que
provavelmente me renderia uma porta bem merecida batendo
na minha cara.
Seu olhar disparou para o meu com uma curva de seus
lábios, mas a preocupação ainda nadava em seus olhos.
— Eu não sou exatamente imperceptível.
— Você nunca foi — Eu empurrei a porta. Uma noite
nublada nos recebeu. A umidade pinicava minha pele.
Ela nunca foi. Desde o primeiro momento em que a ouvi
cantar, ela foi a pessoa mais notável da minha vida, sempre uma
parte de mim, como se nossas almas tivessem sido costuradas
uma fibra de cada vez através de cada nota de seu violão e seus
lábios.
O motorista fixo de Gwen estava ao lado do SUV preto com
a porta do passageiro de trás já aberta.
Bay correu pela calçada e entrou no carro. Pelo menos a
maior parte de seu corpo conseguiu. Demorou um pouco para
conseguir colocar a quantidade volumosa de tecido para
dentro.
— Como você não se perdeu nessa coisa?
— Uma lanterna e um mapa do tesouro para toda hora que
eu me sentar — Ela derrubou o material cinza, cuspindo um
pouco de sua boca.
Eu sentei ao lado dela com o valor de uma loja de
departamentos entre nós e bati a porta.
— Uma bússola também.
Ela assentiu, entalada no carro.
A porta pela qual tínhamos entrado se abriu e as pessoas
saíram para a calçada, as cabeças balançando para trás em estado
de choque. Eu me preparei para as consequências, quando o
senso de responsabilidade de Bay superasse a emoção da fuga e
ela voltasse para dentro.
Bay avançou.
— Vamos lá.
Agarrei-a pela cintura para impedi-la de cair no espaço entre
os assentos e se perder no abismo do tecido.
O motorista olhou para mim e eu assenti.
Ela esfregou o pescoço, apertando os ombros e rolando a
cabeça.
— É assim que aquele casal se sentiu no final de A Primeira
Noite de um Homem? — Ela olhou pela janela com as costas
apoiadas na porta.
A cena em que Dustin Hoffman interrompe o casamento
de sua ex após algumas maquinações de bastidores de sua mãe
e ela sai correndo, pegando um ônibus da cidade ainda com o
vestido certamente veio à mente com sua roupa.
— Não está sentindo que foi uma fuga bem-sucedida?
— Por algumas horas — Ela olhou para mim, caindo contra
o assento — Tenho certeza de que Holden terá uma montanha
de mensagens inundando seu telefone enquanto conversamos.
Assim que ele reaparecer…
— Tenho certeza que ele pode lidar com isso.
— Verdade. Eles provavelmente vão remarcar o que não
conseguiram para outra lacuna minúscula na minha agenda.
Por que ela sempre parecia a última pessoa em sua lista de
pessoas para quem fazer coisas?
— Você pode tirar um tempo para você.
O tecido enrugou e deslizou. Apoiando as mãos na parte de
trás do encosto de cabeça do motorista e nas dela, ela me
encarou.
— Todo trabalho que eu recuso é dinheiro que Holden ou
Emily ou Maddy não conseguem colocar em seus bolsos. Cada
show que eu recuso é dinheiro que a equipe de estrada não
consegue enviar para suas famílias.
— Então você só está fazendo isso pela bondade do seu
coração? — A frustração aumentava por ela não conseguir se
separar do trabalho, do peso e da responsabilidade de todos ao
seu redor.
Ela me lançou um olhar.
— Claro que também tem haver comigo, mas chega um
ponto em que o dinheiro é mais do que eu poderia gastar na
vida e passa a ser outra coisa. Você nunca se afastaria do seu
time no meio da temporada. Ignorar responsabilidades por
algumas horas é bom, mas elas ainda estarão lá pela manhã —
Ela caiu contra mim.
Seu comentário "nunca se afastaria" foi mais um golpe
direto do que ela sabia. Deixar a equipe em apuros era
exatamente o que eu estava planejando fazer, mas não parecia o
mesmo. Eu literalmente não tive nada a ver com suas vitórias.
Mas não seria o caso. Um vazio se formou em meu peito.
Meus problemas com responsabilidade tinham a ver com a
sensação de que eu não tinha controle sobre nenhum dos
resultados dos jogos que meu time jogava.
Bay tinha total responsabilidade. Não havia show sem ela.
Não havia álbum. Não havia turnê que empregasse centenas de
pessoas e se apresentasse para mais estádios de pessoas em um
mês do que fizemos em toda a temporada. Suportar esse tipo de
peso devia ser muito sufocante.
Eu poderia me afastar do futebol agora. Arrumar minhas
malas, encontrar um bom lugar para morar e fazer o que diabos
eu quisesse com o resto da minha vida. Mas eu ainda me
agarrava ao sonho de poder jogar. Mesmo depois de um
punhado de anéis de campeonato incrustados de diamantes,
continuei.
— Mas você não parece feliz com isso — Procurando por
suas pernas sob todo o tecido fofo, agarrei sua perna e a girei.
Meus dedos correram pela linha fina de sua perna até o
tornozelo.
Ela descansou a cabeça contra a janela, um mergulho
confuso, mas curioso em suas sobrancelhas.
Pegando um pé em minha mão, eu trabalhei meus polegares
nas solas de seus pés.
Ela assobiou e gemeu.
Meus dedos pararam por um momento, sem saber se eu a
estava machucando.
Seus olhos se abriram, lábios entreabertos.
Eu já tinha visto aquele rosto antes. Meu sangue corria mais
forte, aquecendo as veias indo direto para minha virilha. Eu
pressionei mais forte em seu pé.
Outro gemido.
A cabeça do motorista sacudiu e o carro desviou um pouco.
Agora mesmo, eu gostaria de ter encomendado um carro com
divisória – por mais de uma razão.
— Quieta ou ele vai pensar que estou fazendo algo
indecente com você — Corri meus dedos sobre seus pés,
massageando ao longo do peito do pé e beliscando.
As pontas dos dedos dos pés estavam vermelhas. As laterais
também.
Aborrecimento ondulou através de mim. Há quanto tempo
ela estava usando aqueles sapatos? Por que ela os estava usando
quando ninguém podia vê-los?
Com cuidado com os pontos sensíveis, trabalhei para liberar
a tensão neles.
Sua mão disparou para o encosto de cabeça, segurando-o
com força.
— Você está. — Ela deixou cair a cabeça para trás,
empurrando os seios para cima no vestido — Cem por cento
indecente. Como aprendeu a fazer isso?
Saiu como uma acusação.
Minha risada não pôde ser contida.
— Muito tempo jogando bola vai te ensinar alguns truques
sobre anatomia humana — Alongamento para aquecer para
um jogo. Estar pronto para cada bloqueio ou passagem na
prática. Me esforçando mais do que todos os outros, esperando
pela minha chance. Eu me concentrei em Bay, em dar a ela o
alívio que ela precisava agora. O que eu precisava era ser quem
daria isso a ela.
Suas contorções, gemidos e suspiros me incitaram a
continuar minha massagem em seus pés, mesmo que minha
ereção estivesse prestes a levar isso de alívio muscular para
preliminares.
Eu rolei os dedos dos pés entre meus dedos e ela deu um soco
no teto do SUV, nem mesmo segurando os xingamentos.
Parecia muito com outras vezes que eu a ouvi gritar, o que
trouxe consigo uma série de flashes mentais, mas a situação do
vestido tornava qualquer tentativa de sexo no banco de trás –
apesar do motorista – impossível.
Uma risada espontânea e retumbante explodiu do meu
peito. Tirei meus dedos dos seus pés antes que ela quebrasse
uma janela.
— Se você parar, eu juro, vou twittar seu endereço
residencial para meus fãs e dizer a eles que há um pacote de
prêmios do Time Bay de edição limitada escondido lá.
— Puxando as grandes armas, eu vejo.
— Esta é a melhor massagem nos pés que já tive na minha
vida — Ela gemeu e desabou no assento.
— Eu nunca vi você tão relaxada.
Seus olhos se abriram e o canto de sua boca se ergueu. Ela
verificou o motorista.
— Você e eu sabemos que isso não é verdade.
Deslizando os pés para fora do meu colo, ela se virou para
que estivéssemos sentados lado a lado.
— Você já usou suas habilidades de várias maneiras para me
transformar em uma bagunça desossada antes.
O carro sacudiu quando descemos para a garagem
subterrânea do nosso prédio. Eu sussurrei contra o lado de seu
pescoço.
— Pronta para eu fazer isso de novo?
Ela estremeceu e olhou nos meus olhos com um fogo
abrasador que prometia que teríamos sorte se chegássemos ao
sofá, quanto mais à cama.
De mãos dadas, corremos para o elevador. As portas se
abriram em alguns outros andares, mas o vestido gigante
impediu qualquer um de entrar. Houve alguns olhares duplos
no saguão, mas ninguém disse nada. Ninguém gritou o nome
dela ou correu atrás de nós.
Chegando ao meu andar, eu meio a carreguei, meio a abracei
para mim.
Ela falou contra meus lábios.
— Não podemos rasgar o vestido. É um Valentino. Eles vão
ficar chateados o suficiente por tê-lo tirado daquela sala.
Com cuidado com todos os alfinetes e presilhas,
trabalhamos freneticamente para tirá-la do vestido. Eu não
conseguia parar de olhar para ela de pé com nada além de shorts
masculinos, maquiagem borrada e um penteado bagunçado.
Eu não queria parar de tocá-la e odiava pensar em quão pouco
tempo tínhamos juntos antes de nos separarmos novamente.
Sempre havia uma contagem regressiva de quanto tempo
tínhamos juntos, mas em vez de contar os meses ou semanas,
nosso tempo se reduzia a horas.
Horas que planejei aproveitar ao máximo. Colocando
minhas mãos ao redor de seu pescoço, eu encarei os olhos da
mulher que me possuía por dentro e por fora.
Uma olhada.
Um toque.
Um gosto.
Juntando nossos lábios, o beijo começou como um
arranhão, um roçar suave de seus lábios cheios e macios contra
os meus. Era um bálsamo calmante para todas as dores criadas
por estar longe dela.
Logo, voltou ao tom frenético que veio de saber que nosso
tempo juntos seria muito curto. Qualquer coisa que não fosse
para sempre parecia que não duraria o suficiente.
Levantando-a e segurando sua bunda com uma mão, eu a
carreguei para o quarto com as pernas em volta da minha
cintura.
Cada aperto e gemido borrifava fluido de isqueiro nas
chamas do meu desejo, ameaçando consumir nós dois.
A cabeça do meu pau mergulhou dentro dela e meus joelhos
se dobraram. Eu preparei nossa queda, cobrindo-a. Meu
movimento para me levantar foi interrompido pelos beijos de
Bay em meu pescoço.
— Está tudo bem. Eu não quero esperar — Sua respiração
sussurrou em minha pele, espalhando o calor e a perda de
controle por todo o meu corpo.
Sua mão se estendeu entre nós e ela correu a cabeça do meu
pau contra sua abertura molhada.
Afundei em sua doçura quente e aveludada antes de voltar a
mim. Sem proteção.
— Merda — Puxando para fora, estendi a mão e bati na
minha mesa de cabeceira, pegando uma camisinha e rolando
como se minhas mãos estivessem correndo uma corrida de cem
metros.
— Eu apaguei totalmente — Suas palavras sem fôlego,
lábios brilhantes e dedos errantes me chamaram de volta.
— Desculpe — A última coisa que eu queria fazer era
atrapalhar a vida dela com meu erro estúpido.
Ela me empurrou para mais perto.
— Eu vou te perdoar, se você me der aquilo que eu quero
— Seus quadris se contorceram sob os meus.
Balançando meus quadris, eu a penetrei novamente. Minha
mandíbula apertou e eu lutei para evitar que meus olhos
rolassem para trás na minha cabeça.
— O que seria aquilo? — Minha fome e necessidade por ela
cresceram. Agarrei-me aos meus movimentos lentos e firmes,
não querendo que isso acabasse muito rápido.
Seus dedos agarraram meus ombros com mais força.
— Acho que vou deixar você descobrir.
A grosseria de sua invasão enviou felicidade crua e explosiva
através do meu corpo. As faíscas ameaçavam fritar cada
terminação nervosa inundada pela onda de satisfação sexual.
Seus impulsos ásperos e rolantes empurraram o crescendo
mais alto.
As palavras foram perdidas para o poder de seus impulsos
quando ele prendeu minhas coxas para baixo e corcoveou em
mim como se estas fossem nossas últimas horas na Terra.
Minhas costas arquearam, atirando no chão, e eu bati as
palmas das mãos na madeira, com tanta força que seus vizinhos
do andar de baixo provavelmente reclamariam. Meu corpo
zumbiu com felicidade não adulterada.
Sobre mim, seus impulsos exigentes tornaram-se
descontrolados e desleixados, transbordando com a evidência
de como éramos bons juntos.
Gemendo, ele caiu em cima de mim, apoiando os braços ao
lado da minha cabeça. A necessidade e a urgência inescapáveis
se desvaneceram em um estrondo de felicidade, suado, saciado
e mole.
Eu envolvi minhas pernas ao redor de sua cintura, não
querendo um centímetro entre nós ainda.
— Você estava com saudades de mim?
Ele riu, deixando cair a cabeça no meu ombro, e rolou para
o lado.
— Sempre.
Minha pele formigava.
— Talvez da próxima vez cheguemos na cama — Inclinei a
cabeça para trás e dei uma olhada de cabeça para baixo na cama
coberta com edredom cinza a poucos metros de distância.
— Passos de bebê, Bay — Depois de cuidar da camisinha,
subimos na cama dele. Era muito mais confortável do que o
meu colchão top de linha do hotel – talvez fosse porque eu
estava aqui com ele.
Seus dedos correram ao longo da curva do meu ombro.
— Está ficando mais difícil ficar longe de você.
Minha respiração engatou. A agitação no meu estômago me
fez querer fechar as portas com um martelo, para que
pudéssemos ficar nesta cama para sempre.
— Eu sei como você se sente.
— Você parte para Londres em três semanas.
Uma turnê ininterrupta, cansativa, recompensadora,
indutora de vômito e de euforia.
— E sua temporada não termina por mais três meses — Eu
escovei meus dedos pelo cabelo acima de sua orelha —
Devemos aproveitar ao máximo o tempo antes de eu partir.
— Venha para o meu próximo jogo em casa. É um jogo em
casa, então não é necessário viajar.
— Daqui a dois domingos, certo? — Eu posso ter
memorizado sua agenda. Posso ter.
Seus lábios se contraíram.
— Certo. Se você estiver na cidade.
— Provavelmente. O estúdio tem ocupado mais da agenda
ultimamente.
— Você vai voltar para o Natal?
Não adianta fazer promessas que não poderia cumprir. Eu
balancei minha cabeça.
— Acho que não. Minha mãe estava perguntando a mesma
coisa. Eu estava pensando em fazê-la voar até mim em vez disso.
Seu zumbido de compreensão não escondeu sua decepção e
levou a minha mais profunda no meu peito.
— Você poderia vir até mim?
— Nós vamos jogar.
Apoiei minha cabeça na minha mão.
— Poderíamos ter nosso próprio Natal antes ou depois,
completo com chocolate quente e filmes de Natal. Eu poderia
até pegar algumas meias — Deslizando meus dedos pelo seu
peito, eu espiei para ele, odiando que eu não podia dizer "sim, é
claro que posso ver você e podemos passar o dia inteiro juntos".
Tudo era compromisso e compensavam as coisas que nossos
horários não permitiam.
— Você me ganhou no chocolate quente — Sua risada
profunda e doce como chocolate tornou o medo da distância
um pouco menos agudo.
Estávamos fazendo planos. Planos flexíveis, mas planos para
o que aconteceria quando deixasse a Filadélfia e fosse para a
estrada. Alguns medos sobre como navegaremos no próximo
ano foram dissipados – ou todos os outros que mergulharam
de cabeça em um relacionamento como esse tinham o mesmo
nível de esperança de que tudo daria certo?
Seus dedos roçaram.
— Você virá ao meu jogo.
— Não sei se seria uma boa ideia… — Um estádio cheio de
gente comigo nas arquibancadas significava um pesadelo
logístico. Tristeza ondulava em meu peito. Eu queria estar lá
para ele, torcendo junto com todo mundo, mas não conseguiria
pegar meu ingresso na bilheteria e encontrar meu lugar nas
arquibancadas.
— Que tal um camarote? Ninguém vai incomodá-la lá em
cima. Você pode relaxar, comer, beber e me ver não jogar —
Seu sorriso e risada não escondiam o vislumbre de frustração
que cintilou em seu olhar por seu status no banco.
— Talvez eu seja seu amuleto da sorte se eu aparecer.
— Como você pode não ser? — Ele escovou meu cabelo
atrás da minha orelha, me fazendo cócegas com os fios.
Ficamos ali em silêncio, não constrangidos ou sufocantes,
mas contentes. Eu nunca senti esse tipo de silêncio, mesmo
sentada sozinha no meu quarto de hotel.
Não foi até o décimo toque do telefone de Keyton, que
retumbou contra o chão da sala, que sabíamos que nosso
tempo estava quase acabando.
Ele saiu da cama.
Eu me mexi e sentei contra a cabeceira com as pernas
cruzadas sob os cobertores quando ele entrou. Mesmo sabendo
o que estava por vir, eu me preparei para a sensação de nunca
ter tempo suficiente.
— Isso não é justo. Você sentada assim na minha cama me
faz querer lançar isso pela janela e me tornar um eremita.
Mesmo.
— É Holden?
— Claro que é. Ele disse que nos divertimos, mas é hora de
voltar para o castelo.
Rastejando pela cama, peguei o telefone de suas mãos.
— Ele realmente disse isso.
— Acho que isso faz de você a princesa de verdade agora.
— Isso faz dele o dragão?
— Mais como uma fada madrinha muito exigente.
— Ele ajudou a tornar todos os meus sonhos realidade —
Sentei-me olhando para a tela brilhante. Tudo parecia tão
distante agora com Keyton tão perto.
Ele deslizou na cama e passou os braços em volta de mim. O
calor de seu peito nu contra minhas costas me confortou.
Foi quando percebi que a promessa que fiz de ir ao jogo dele
não era algo que eu pudesse fazer de improviso. Passando meu
dedo pela tela, eu bati uma mensagem para Holden.

Eu: Aqui é Bay. Preciso ir ao jogo do Keyton no


próximo domingo. Você pode fazer isso
acontecer?

Holden: Você vai voltar se eu disser não?

Eu: Não

Holden: Ainda bem que você está me dando


várias opções.

Eu: Preciso ir

Holden: Isso é tudo que você tem que dizer.


Faremos com que funcione com os dias de
descanso pré-tour embutidos na programação.

Eu: Obrigada.

Holden: Não mencione isso. De verdade – de


verdade mesmo, não mencione isso. Vai arruinar
minha reputação. Temos algumas ligações para
fazer para Sydney e para o Japão hoje à noite e
às seis da manhã. Você pretende voltar ou quer
que a gente vá até você?

Eu me inclinei contra Keyton, segurando seu braço forte e


musculoso em volta do meu peito. Invadir sua casa com meu
circo me daria mais tempo com ele, mas também o sujeitaria a
mais loucuras da minha vida.
Eu: Estarei aí em vinte minutos.

Largando o telefone de Keyton na cama, descansei minha


cabeça em seu ombro.
Seus lábios roçaram o lado do meu rosto.
— Você tem que ir.
Eu balancei a cabeça.
— Quando eu vou te ver de novo?
— Não tenho certeza — Eu odiava esse sentimento. Deixá-
lo foi ruim, mas saber que levaria tanto tempo até que eu o visse
novamente, e a incerteza de quando isso poderia acontecer, era
ainda pior.
— Mas você pode vir ao meu jogo — Ele acariciou meu
pescoço.
— Sem Holden me trancando no meu quarto, eu estarei lá
— Olhei em seus olhos e puxei sua cabeça para um beijo, meus
dedos gentilmente segurando a parte de trás de seu pescoço.
— Deixe-me me vestir, para que possamos caminhar.
Eu pressionei minha palma contra seu peito. A batida sob
minha palma aumentava quanto mais eu a segurava ali. Com
um pouco de força, endireitei meu braço.
Ele me deixou empurrá-lo até os cotovelos.
A caminhada não era longa e ele devia estar cansado depois
de pousar algumas horas atrás. Ele precisava descansar. E eu
precisava pensar.
— Você fica. Eu posso fazer isso sozinha. Além disso, eu
gosto de salvar essa visão de você — Eu levantei meus dedos
como se eu tivesse uma câmera invisível — Clique. Apenas
preservando isso para mais tarde — Enfiei a polaroid imaginária
no meu bolso de trás inexistente.
— Pelo menos deixe-me levá-la até o elevador.
— Porta da frente — O coelho frágil e assustado não era
como eu queria que ele me visse. Ele não deveria se sentir como
se tivesse que entrar em modo de proteção toda vez que
estávamos juntos. Eu poderia chegar ao lado do prédio do hotel
sozinha. Era uma ideia terrível. Qualquer um poderia me
reconhecer, mas eu não queria que Keyton se sentisse como se
tivesse que entrar em modo de proteção no segundo em que
saíssemos em público porque eu fiquei tão assustada. Situações
de baixo risco em que eu tomava precauções me relaxavam um
pouco. Passos de bebê.
Saindo para a sala de estar, olhei para a montanha de tecido
em que apareci aqui.
— Merda — Não é exatamente um vestido feito para se
misturar.
Por cima do meu ombro, Keyton estendeu um conjunto de
roupas dobradas. Moletom, leggings, meias.
— Depois de saber seus tamanhos, imaginei que ter algumas
roupas de reserva para quando pudéssemos fugir juntos não
seria a pior ideia.
— Todo esse tempo você esteve escondendo seus poderes de
super gênio de mim — Envolvi meus braços ao redor de sua
cintura e apertei meus olhos fechados, meu coração pulando
com sua consideração e carinho. Quem diria que moletons,
leggings e meias eram a chave do meu coração?
Ele sabia.
— Razões puramente egoístas. Se você tivesse roupas aqui,
não teria que voltar tão cedo.
Olhei por cima do ombro.
— O que vamos fazer sobre o vestido?
Ele levantou a outra mão. Uma mochila enorme balançando
em suas mãos.
— Um Valentino em uma mochila. Tenho certeza de que
um designer em algum lugar está tendo um aneurisma sem
saber porquê.
Ele esfregou o nariz contra o meu e me deu um beijo nos
lábios.
— Se você não contar, eu também não.
Com minhas roupas novas e confortáveis, sapatos sem salto
forrados de lã e mochila de alta costura, nos beijamos mais uma
vez no elevador depois de uma negociação mais intensa, que
pode ou não ter sido travada com nossos lábios e mãos, quase
terminando com eu estar atrasada para os meus telefonemas ao
redor do mundo.
Minha touca puxada para baixo sobre meu cabelo e minha
cabeça inclinada, eu saí do elevador para o espelho enorme que
funcionava como uma porta entre as residências e o hotel, me
sentindo como se estivesse entrando no filme A Origem.
Respirações em pânico apertaram meu peito e meus
músculos rígidos quando a porta se fechou atrás de mim. Eu
estava em guarda, mas fazendo isso, e as pessoas passavam por
mim. Cada par de pés que se aproximava apertava meus
pulmões até que eles se afastavam. Uma simples caminhada
pelo saguão era aterrorizante e emocionante ao mesmo tempo.
Depois de subir o elevador o mais longe que pude, mudei
para as escadas, correndo por elas e enviando a Keyton ainda
mais apreciação mental, já que meus pés não estavam gritando.
Eric se levantou, seus olhos arregalados no meu retorno
solo, mas ele não disse nada e abriu a porta da suíte.
Holden sentou-se nos sofás da sala de estar da suíte e fechou
uma revista, fingindo ser indiferente. Eu nunca o tinha visto
lendo uma revista em sua vida
— Como foi sua aventura de fuga?
— Você age como se não tivesse orquestrado isso — Acenei
um dedo totalmente crítico em sua direção — Para onde você
desapareceu?
— Nenhum lugar.
— Oh, desculpe, você estava lá o tempo todo usando seu
traje de invisibilidade? — Eu provoquei.
Seu rosto caiu, remorso escrito por toda parte.
— Desculpe, eu fugi. Não vai acontecer de novo — Ele
parecia miserável.
— Eu só queria que você tivesse me levado com você — Dei
a volta no sofá e sentei no braço — O que está acontecendo
com você, Holden? Está tudo bem?
— Encantadora — Seu sorriso não conseguia esconder o
tom secreto da palavra.
— Holden, sério, o que está acontecendo? — Eu me inclinei
para frente.
Ele se inclinou para trás.
— Nada que vai te afetar.
— Se isso afeta você, afeta a mim. Depois de seis anos
trabalhando juntos, seis anos de amizade, você não sabe disso?
— Sinto muito por ter saído durante a sessão de fotos. Isso
não afetará mais meu trabalho.
— Holden… você pode falar comigo. Você pode me dizer o
que está acontecendo. Talvez eu possa ajudar.
— Eu estou lidando com isso. É o que eu faço — Seu sorriso
fácil estava de volta — O vestido ainda está no Keyton?
Boa maneira de me bloquear e mudar de assunto, mas deixei
passar. Ele comandava minha vida e eu ainda sabia tão pouco
sobre a dele. Mais uma entrada na lista de razões pelas quais eu
era uma amiga de merda, mas jurei que faria melhor.
— Emily pode ir buscá-lo. Em! — Ele gritou por cima do
ombro.
— Está bem. Eu trouxe comigo.
A porta do escritório se abriu e Emily saiu, tablet na mão.
— Com você… — A pergunta parou e seu olhar disparou
para a mochila na minha mão, horror gravando cada linha
perfeitamente esculpida — Esse é o Valentino?
Emily correu para frente como se tivesse visto sangue saindo
da bolsa.
— O que? Não!

O jet lag era mais como o jet me arrastar, mas Keyton estaria de
volta amanhã e eu queria fazer algo por ele. Fazia menos de uma
semana desde a nossa grande fuga da minha sessão de fotos do
inferno.
Sua viagem para Miami se sobrepôs à minha para Nova York
de uma maneira imperfeita, o que significava que nem nos
víamos no aeroporto.
Mas a ideia me ocorreu quando folheei meus antigos
cadernos de composição, que sempre guardava em uma das
minhas bolsas. Os que eu escrevi depois do último show do
meu último ano do ensino médio. Na página seguinte, vi
exatamente o que precisava. Sem pensar duas vezes, eu estava
de pé e fora da sala, correndo para o escritório.
— Preciso de uma cozinha — A porta do escritório da suíte
bateu atrás de mim.
Eu pulei. Todos nós pulamos. Talvez isso tenha sido um
pouco mais dramático do que eu pretendia.
Emily pulou, caneta pronta.
— Mesa do Chef? Para quantos? Alguma cozinha em
particular que você tenha em mente?
— Não é um restaurante. Eu só preciso de uma cozinha. E
esses ingredientes — Eu levantei o papel rasgado do meu
caderno.
— O chef da cozinha no andar de baixo está de plantão e
pode preparar o que você quiser. Ou podemos pedir para Emily
comprar algo em um restaurante.
— Não quero que ninguém faça nada para mim. Eu só
preciso de uma cozinha e das coisas desta lista — Apontando
para a lista, olhei para todos, que trocaram olhares de confusão.
A frustração aumentou.
— Por quê? — Holden perguntou como se eu tivesse
pedido um DeLorean e um pouco de plutônio.
Meus dentes cerraram.
— Porque eu quero fazer alguma coisa.
— Mas…
— Eu quero fazer alguma coisa. Você pode me ajudar a fazer
isso, ou eu preciso descobrir isso sozinha? Ir ao supermercado
será um show de merda, mas farei isso, se precisar — Com
minha nova técnica de disfarce, eu conseguiria. Entrar, correr
pelos corredores e voltar.
Holden falou com cautela, pronunciando cada sílaba mais
do que o normal como se estivesse testando se eu realmente
queria isso.
— Eu vou fazer acontecer.
O alívio de não ter que testar minhas habilidades de disfarce
e a excitação para começar fizeram a próxima hora se arrastar
enquanto Holden organizava tudo.
Uma hora depois, ele estava ao meu lado na cozinha de um
apartamento residencial igual ao de Keyton, olhando para o
meu avental enquanto eu amarrava o tecido na cintura.
— Você tem certeza disso? — Ele inclinou o saco de açúcar
para examiná-lo como se eu fosse uma cientista maluca.
Agarrei-o dele e o coloquei no balcão.
— Eu não estou cozinhando metanfetamina, Holden.
— Tem certeza de que não prefere que eu mande o chef
aqui? Ele poderia ajudar.
— Você quer dizer supervisionar. Eu deveria estar ofendida,
seu idiota. Eu vivi uma vida antes de ser Bay. Eu cozinhei,
limpei e até conseguia me vestir. Eu sei que é difícil de acreditar.
— Quanto tempo faz? Seis anos desde que você cozinhou
qualquer coisa para si mesma?
Ser arrastada pela onda da fama aconteceu tão rápido que eu
tinha esquecido como era fazer as coisas por mim mesma. Às
vezes eu esquecia que eu tinha permissão para fazer as coisas por
mim mesma. Quando as obrigações contratuais foram
colocadas em cima de cláusulas de exclusividade empilhadas na
coordenação de viagens, eu tomar uma decisão precipitada
adicionaria muito trabalho extra e dores de cabeça para todos,
inclusive para mim.
Era mais fácil entregar as rédeas a todos ao meu redor, mais
fácil me deixar definir o objetivo de ser a maior que havia e
deixá-los traçar o plano para chegar lá. Então eu senti como se
estivesse apenas a passeio, indo em direção ao destino que eu
tinha concordado, mas sem pensar em tudo que seria necessário
para que isso acontecesse. Eu não estaria onde estou hoje se não
os tivesse deixado lidar com isso, e talvez isso fosse parte do
problema. Eu precisava reaprender a controlar meu próprio
destino.
— Eu sei me virar na cozinha — Percorri a lista de
ingredientes que rabisquei depois de pedir a receita à minha
mãe — Quando foi a última vez que você comeu algo caseiro?
— Cozinhar em casa nem sempre significa bom — Ele
estremeceu.
— Você não comeu meu chocolate quente e pãezinhos de
canela — Depois que Keyton apareceu daquele jeito, eu queria
fazer algo por ele. Eu precisava, para lembrá-lo de que isso nem
sempre era quem eu seria.
— Ok. O treinador estará aqui ás sete horas. Tem certeza de
que quer começar isso tão tarde?
A massa pode crescer e descansar em algumas horas. Eu não
dormiria muito esta noite, mas valeria a pena.
— Eu sei o que estou fazendo.
— Deixe-nos saber se você precisar de alguma coisa.
— Eu não precisarei. Eu fiz isso uma tonelada de vezes. Já
faz alguns anos, mas posso fazer as coisas sozinha — Fazer isso
para Keyton foi uma pequena flexão dos músculos da
independência que eu deixei atrofiar.
Todos os utensílios de cozinha estavam fora e limpos.
Medindo todos os ingredientes, comecei a trabalhar. Minha
mãe e meu pai adoravam cozinhar juntos. Os dois acabavam
cobertos de farinha ou açúcar em pó e eu fingia não notar as
marcas de mãos brancas na bunda da minha mãe. Aqueles
momentos domésticos tranquilos eram aqueles que eu tinha
dado como certo. Apesar do quanto meu pai adorava música,
nós o deixamos mais feliz.
Como ele se sentiria sabendo que eu consegui tudo o que ele
sempre sonhou em uma carreira musical, mas troquei meu
amor para chegar lá?
Durante a primeira prova da massa, minhas pálpebras
caíram. A adrenalina de assar lentamente desapareceu.
Coloquei um cronômetro no meu telefone, peguei algumas
toalhas de cozinha e as transformei em um travesseiro
improvisado para descansar um pouco. O linho áspero não foi
suficiente para impedir que meus olhos se fechassem.
Keyton adoraria isso. Vê-lo devorá-los na minha cozinha em
Greenwood, eu adorava colocar ainda mais cobertura neles
para ele. Me lembrei que o mandava para casa com um
contêiner cheio deles.
Ele poderia levá-los na próxima vez que saísse da cidade.
Talvez eu pudesse fazer alguns para ele manter no freezer.
Sonhei com ele lambendo meus dedos enquanto eu o
alimentava com pãezinhos de canela até meu cronômetro
apitar. Bater minha cabeça nos armários acima de mim não
estava nos planos, mas eu continuei mesmo com o topo da
minha cabeça latejando.
Quando ele voltasse para a cidade amanhã e viesse me visitar,
teríamos pãezinhos de canela e chocolate quente pela manhã
para comemorar por mais uma semana de intervalo.
Uma vez que eu saísse em turnê, seria ainda pior. Um buraco
deu um nó no meu estômago que tinha acabado de ser
preenchido com a emoção de vê-lo novamente. O tempo se
estenderia em semanas, senão meses, e pensar em subir no palco
era o suficiente para trazer a sensação de boca aguada que seguia
a cada apresentação.
Polvilhando farinha na bancada, usei uma espátula para
alisar os generosos montes de recheio de açúcar com canela. Isso
trouxe de volta todos aqueles sentimentos de casa, tanto de
Greenwood quanto de Glendale, onde morávamos antes.
Lembrei-me de meu pai tentando roubar outro dedo de glacê
antes de minha mãe bater na mão dele.
Essas foram as memórias felizes que despejei na cozinha,
memórias de casa e família. Rolando e fatiando a massa,
coloquei os rolinhos de canela na assadeira e os deslizei para o
forno.
Talvez eu pedisse a Holden que me encontrasse uma
cozinha com mais frequência, para que eu pudesse cozinhar
para Keyton. Eu poderia entregá-los a ele durante a noite
enquanto estivéssemos separados? Os tablóides iriam me
marcar com o apelido de namorada excessivamente apegada, se
eles descobrissem. Isso me deixou um pouco sóbria. Assim que
mais pessoas descobrissem, a lupa desceria sobre nós,
dissecando cada pedacinho de nossas vidas. Cada sorriso para
um fã de nós dois seria salpicado com manchetes gigantes
pingando insinuações.
Por mais que eu temesse, eu não queria esconder o que ele
significava para mim. Eu não queria fingir que Keyton não
estava na minha vida. Eu queria anunciá-lo no microfone ou
convocar uma coletiva de imprensa para que todos soubessem,
mas era uma complicação que eu estaria adicionando à vida
dele, impondo injustamente a ele.
A próxima vez que tivéssemos um período de tempo juntos,
eu poderia fazê-los em seu apartamento, deixando o cheiro
persistente deles em seu apartamento, como se eu estivesse
tentando me imprimir nele mesmo quando eu não estava lá.
Poderia diminuir essa distância entre nós, mesmo quando
estávamos a oceanos de distância.
Holden ou Emily enfiavam a cabeça de vez em quando,
provavelmente tentando ter certeza de que eu não tinha
incendiado o lugar.
Os cheiros vindos do forno se intensificaram. Fechei os
olhos, imaginando como teria sido minha vida. Na minha
cabeça, Keyton e eu estávamos juntos, e tirava isso do forno
depois de um dia escrevendo músicas e trabalhando em nosso
estúdio caseiro. Ele voltava do treino todo suado e cansado,
apenas para se animar e se esgueirar para a cozinha para roubar
um bolinho de canela sem que eu visse.
Era uma loucura como os sonhos podiam mudar, e ainda
mais louco como eles podiam se sentir tão inatingíveis do
mesmo jeito.
Eu ajeitei minha mochila de viagem que eu levava em jogos,
entrando na fila com o resto dos caras que passavam pelo
terminal. Setenta caras andando pelo terminal para pegar as
bagagens não eram exatamente imperceptíveis, mas a escassa
multidão matinal manteve as paradas para autógrafos e fotos
no mínimo. Tudo o que eu queria fazer era chegar a Bay, vê-la,
abraçá-la, beijá-la. Meus passos aceleraram, e eu estava na frente
do grupo a caminho da retirada de bagagem.
Berk e LJ já estavam em seus telefones com Jules e Marisa.
Reece saiu correndo no segundo em que as portas se abriram.
Com a gravidez de Seph, ele ficou mais ansioso por estar longe.
Por mais feliz que eu estivesse por ele, me assustou saber que
um bebê estaria por perto. Uma pessoa pequenina, tão
pequena e vulnerável. Alguém que eu sabia que me importaria
instantaneamente por causa de quem seus pais eram, e temeria
toda a merda que poderia acontecer em sua vida.
Não queria dizer que saí correndo gritando da sala em que
qualquer criança entrasse, mas era muito mais fácil trabalhar
com a fundação e lidar com as coisas de um nível mais distante,
sabendo que ajudaria as crianças, do que sentar cara a cara com
elas. Eu não cheguei nesse ponto ainda. Tudo o que eu
conseguia pensar quando olhava para eles era em mim
crescendo.
Lembrei-me da incerteza caótica e arrepiante de nunca
encontrar uma base sólida em qualquer lugar fora do campo de
futebol e sempre esperar pela próxima queda na montanha-
russa. Meus amigos estavam passando pela vida uns com os
outros, sempre parecendo prontos para flutuar em uma
nuvem. Para mim, ter um filho seria como ser jogado no meio
do oceano durante um furacão sem um bote salva-vidas.
Mas o relógio estava correndo na chegada segura do menino
ou menina de Reece. Eu tinha pouco mais de sete meses para
me livrar do medo de esmagar um bebezinho que caberia na
palma da minha mão.
A coisa toda de criança estava muito longe para mim.
Mesmo se Bay e eu tomassemos a grande decisão de nos dar
uma chance, sua agenda era tão insana que as crianças não
estariam em nosso futuro até anos depois. Ainda havia tempo
para trabalhar com minha merda e colocar minha cabeça no
lugar. Talvez um dia eu possa ser um bom pai, mas hoje não era
esse dia.
Meu telefone vibrou no meu bolso. Eu o peguei.

Bay: Já aterrissou?

Eu abri um sorriso, amando ela me checando. Nossas


conversas de texto se estenderam até tarde da noite até que um
de nós parou de responder apenas para acordar com o telefone
preso ao lado do rosto.

Eu: Caminhando em direção à retirada de


bagagem.

Bay: Perfeito. Eu tenho uma surpresa para você.

Eu: Qual é a surpresa?

Talvez tivéssemos outro dia inteiro juntos. Ou ela descobriu


algo para o Natal. Eu adorava fazer planos com ela. Mesmo
com as lacunas em nossas agendas diminuindo, a expectativa
das horas que eu poderia passar com ela fazia valer a pena.
Nenhuma resposta ao meu texto. Conhecendo-a, ela foi
afastada por Holden. De vez em quando eu queria trancá-lo em
um armário e quebrar seu tablet ao meio, mas ele estava apenas
fazendo seu trabalho. Aquele que Bay queria que ele fizesse.
Nossas mochilas da equipe deslizaram na esteira de retirada
de bagagem em um ritmo lento de tartaruga. Os crachás ou fita
colorida nas alças eram as únicas diferenças entre todas elas.
O voo fretado foi tranquilo, a maioria dos caras ainda
estavam esgotados do jogo e de qualquer comemoração que
eles fizeram depois. Fiquei tentado a ligar para Gwen e pagar
meu próprio caminho para voltar para a cidade mais cedo, mas
Bay tinha uma agenda cheia e eu não queria pressioná-la a
abandonar responsabilidades ou sobrecarregar sua agenda para
a próxima vez que eu estivesse fora para ter tempo comigo.
Esses jogos de estrada pareciam mais longos do que antes.
Cada dia longe da cidade, longe de Bay, parecia muito longo.
Sempre houve um tique-taque do relógio ao longo do nosso
tempo juntos. Primeiro, foi a formatura em Greenwood,
depois o fim do campo de treinamento em Los Angeles. Agora,
o início de sua turnê em algumas semanas pairava sobre nós. A
urgência de consolidar o que tínhamos antes de ela partir era
quase insuperável. Eu não queria deixar um fio pendurado
entre nós tão fino que poderia ser cortado novamente.
Minha bolsa com o DK na etiqueta rolou. Agarrei-a da
esteira ao mesmo tempo que uma mão envolveu meu cotovelo,
apertando. O estalo inicial de tensão muscular tomou conta.
Em vez de seguir adiante, dei um tempo e relaxei.
Provavelmente um fã ansioso.
Virando-me, dei uma olhada em quem eu esperava que fosse
um fã e tropecei, caindo para trás no cinto e olhando para a
surpresa bem na minha frente – bem, um pouco à minha
esquerda – enquanto deslizava junto com o resto do
equipamento da equipe. O silêncio atordoado foi quebrado.
Este lugar estava cheio de gente.
— AGN?
Com um chapéu, óculos escuros e um moletom como na
nossa primeira excursão à IKEA, Bay estava aqui, me pegando
no aeroporto. Ela riu e fez um pequeno movimento de mãos de
jazz.
— Surpresa.
Subindo, meu coração disparou. Eu a envolvi em meus
braços, abraçando-a com força.
— O que diabos você está fazendo aqui? — Meu sorriso ia
de orelha a orelha. A alegria pura rasgou através de mim.
Seu chapéu caiu de sua cabeça, caindo no chão atrás dela.
Eu enterrei meu rosto em seu cabelo, respirando-a.
— O que? Eu não posso pegar meu cara no aeroporto?
O cara dela. Essas palavras enviaram fogos de artifício no
meu peito. Escovando seu cabelo para trás de seu rosto, eu a
beijei.
— Eu gosto do som disso — Deus, eu gosto do som disso.
Eu amei. Peguei o chapéu cinza macio e o coloquei de volta em
sua cabeça, forçando seu cabelo na frente de seus olhos como
uma cortina.
Ela deu um tapa em minhas mãos e arrancou o chapéu,
tirando o cabelo do rosto.
— Idiota — Mas seu sorriso era tão largo quanto o meu.
Pairando sobre seu ombro alguns metros atrás, Eric e
Holden estavam de sentinela, visualmente imperceptíveis. Por
uma fração de segundo, esqueci o quão cuidadosa ela precisava
ser e fiquei feliz por eles estarem lá mantendo-a segura no
caminho para mim.
— Aquela era sua? — Ela apontou para a esteira de
bagagens.
— Sim, deixe-me… — Eu estiquei meu pescoço procurando
por ela. Correndo pela linha passando pelos meus
companheiros de equipe, eu a localizei. Com um puxão limpo,
tirei-a da pilha de bagagens e voltei para Bay.
— Peguei.
— Agora você está pronto para sua surpresa?
— Eu pensei que você estar aqui era minha surpresa — Eu
não conseguia parar de olhar para ela, e deslizei meu braço ao
redor de sua cintura, mudando para manter minha bolsa no
meu ombro. Havia mais? O que mais eu precisava quando a
tinha aqui?
— Não, não era. Isso é — Ela se curvou, pegando uma bolsa
que eu não tinha notado a seus pés. De dentro, ela tirou uma
garrafa térmica e um pequeno recipiente de plástico
transparente com um bolinho de canela.
— Eu não tinha certeza se você precisaria sair direto daqui
com a equipe ou se poderia vir comigo, então trouxe isso para
dentro.
— Você pegou isso para mim? — Mesmo com tudo o que
ela estava acontecendo, ela estava pensando em mim, talvez
tanto quanto eu estava pensando nela.
Ela os segurou.
— Não, eu o fiz.
Pulsos elétricos correram sob minha pele. Ela tinha feito
tudo isso para mim.
A mulher que todos queriam um pedaço, usou seu tempo
fazendo chocolate quente e bolinhos de canela para mim.
Peguei a garrafa térmica de sua mão e abri a tampa, cheirando
o aroma amargo e rico. Memórias de sentar em sua cozinha,
tocá-la debaixo da mesa e ter certeza de que sua mãe não viu
inundaram minha mente. Então o líquido saudável e doce
cobriu o poço de fome no meu estômago. Eu me obriguei a
desacelerar e saborear os sabores e cheiros em vez de devorá-los
como eu queria.
— É chocolate quente. Seu chocolate quente.
Ela assentiu.
— Você fez isso também?
O recipiente transparente estava nas palmas de suas mãos.
Ela assentiu.
Tantos sentimentos correram através de mim, queimando
no fundo do meu peito. Com tudo acontecendo em sua vida,
ela fez isso para mim. Inferno, eu ficaria feliz se ela tivesse
pegado para mim no caminho até aqui. Mas o tempo que ela
levou para fazer isso…
— Mal posso esperar para comê-lo. Eu juro, nada se
compara aos seus bolinhos de canela e chocolate quente — Eu
gostaria de poder ver os olhos dela, escondidos atrás daqueles
óculos escuros. E eu desejei que ela não tivesse que se esconder.
Mas o resto de sua felicidade irradiava felicidade de me ver.
— Você precisa ficar ou dizer a alguém que você está indo?
— Ela inclinou a cabeça, olhando para a fila de jogadores de
futebol e funcionários.
— Estamos bem. Esta é a melhor surpresa que já tive —
Normalmente, eu as odiava, mas essas eram do tipo que eu
poderia experimentar alegremente todos os dias. Envolvi meu
braço com a garrafa térmica em seu ombro. Ela segurou o
bolinho de canela e minha boca encheu de água – não apenas
pelo doce em suas mãos.
— O carro está aqui fora — Ela apontou através do
conjunto de portas deslizantes onde um SUV preto estava
parado com um motorista parado no meio-fio. Mesmo que
fosse apenas uma carona de volta ao hotel, eu aceitaria. Ainda
era tempo a sós com ela.
Holden caminhou na nossa frente e Eric atrás.
Bay me abraçou com um braço em volta da minha cintura,
debaixo do meu casaco, sua excitação vertiginosa estava
pegando.
— Bay? — A pergunta disparou como um grito quando
estávamos a um metro e meio da porta.
Nós quatro ficamos tensos. Eu podia sentir isso no ar. Isso
passou de leve e divertido para um desastre em potencial.
Sua expressão brilhante vacilou. A preocupação se infiltrou
em seu aperto em mim.
— Oh meu Deus, é a Bay! — Outra voz se somou à conversa
normal do aeroporto. Os cabelos da minha nuca se arrepiaram
e meus músculos viraram granito.
Uma mão agarrou nossos ombros.
— Bay, vamos embora.
Bay olhou por cima do ombro e acelerou o ritmo, eu
também. A onda de pânico me inundou. Vozes se ergueram,
telefones saíram e as pessoas correram em nossa direção.
Deixei cair a garrafa térmica. Ela caiu ao lado de Bay e
ricocheteou no chão, espalhando chocolate quente pela tampa.
Eu puxei Bay mais perto de mim, protegendo-a e precisando
tirá-la daqui, o medo ondulando através de mim.
Passamos pelas portas. Eu verifiquei por cima do ombro
para ter certeza de que não estávamos prestes a ser atingidos.
Eric parou, girando para conter a multidão na porta, e Holden
já tinha a porta aberta e puxou minha mochila das minhas
mãos.
Bay pulou no carro e eu a segui. Holden bateu a porta antes
que eu pudesse alcançar a maçaneta. Sua urgência aumentou
meu alarme. Precisávamos tirá-la daqui.
Eric subiu no banco da frente. A batida da porta balançou
o carro.
Emily deixou Holden pela porta dos fundos atrás de Bay.
Ele atirou em seu assento e jogou minha mochila por cima do
ombro nas costas.
Nós nos afastamos do meio-fio. O motorista teve que
desviar das pessoas que haviam inundado a estrada à nossa
frente. Isso poderia ter ido mal. Muito ruim.
— Todo mundo bem? — Eric olhou para trás do banco da
frente.
— Estamos bem. Só um pouco bagunçada — A risada frágil
de Bay colocou todos os meus instintos protetores em alerta
vermelho. Ela estava colocando uma cara corajosa para mim.
Talvez até para ela mesma. O punhado de vezes que ela quis
voltar para seu quarto sozinha… eu não ia deixá-la fazer isso de
novo. A espiral estava começando. Catastrofização e pavor
estavam se transformando em uma bola de agulhas rolando
pelo meu peito.
Uma mão estendida do banco de trás com um guardanapo.
— Precisamos parar para você se trocar?
— Não, está tudo no meu casaco.
Bay abriu os botões. Uma grande mancha branca de glacê na
frente do seu casaco preto. Em um braço, o chocolate quente
pingava do ombro até o final da manga. De quando eu o deixei
cair. O chocolate quente que ela gastou seu precioso tempo
fazendo. Eu entrei no modo de surtar e joguei de lado como se
não fosse nada para tirá-la de lá.
— Merda, me desculpe.
Ela empurrou o casaco e o dobrou, evitando que as manchas
tocassem em qualquer outra coisa. Sua mão esfregou minha
perna.
— Não foi sua culpa. Eu poderia ter ficado no carro e
Holden ir buscar você.
Eu odiava pensar nela sentada no carro, atrás de vidros
escuros, incapaz de sair da bolha feita para protegê-la.
— Você deveria poder vir me buscar no aeroporto, se quiser.
Ela deu de ombros e sorriu, sua mão continuando os afagos
reconfortantes para cima e para baixo na minha perna.
— Eu não sinto muito. Todos nós fazemos trocas. E eu
queria ver você.
Mesmo que ela não fosse quem ela era, eu não poderia
mantê-la segura a cada minuto de cada dia. Com que
frequência coisas ruins acontecem com pessoas que realizam
tarefas mundanas em suas vidas? Eu respirei fundo. Eu não
conseguia controlar a situação. Eu não podia controlar aquela
multidão de pessoas. Tudo que eu podia controlar era como eu
reagia a isso, e eu não queria estragar nosso tempo juntos
perdendo a calma. Eu falaria com Holden e me certificaria de
que ela não corresse um risco como aquele novamente.
— Estou feliz que você veio — Deslizei meu braço ao redor
de seu ombro, segurando-a contra mim, enquanto soltava a
trava de ferro dos meus músculos e enchia meus pulmões com
o cheiro dela — Como é o resto do seu dia?
Seus ombros caíram.
— Está lotado. É por isso que eu queria vir esta manhã. Não
há outro momento para vê-lo hoje.
A decepção dela refletiu e amplificou a minha.
— Posso ir junto?
Suas sobrancelhas se ergueram.
— Você gostaria? São provas, ensaio geral para a turnê,
alguns encontros e cumprimentos. Não terei muitos
momentos de silêncio.
Meu vício por ela significava que eu não estava disposto a
desperdiçar qualquer momento.
— Eu adoraria ver o que faz a máquina Bay funcionar.
Mesmo um olhar do outro lado da sala será bom o suficiente
para mim. Não preciso de babá.
Ela olhou por cima do ombro.
— Tudo bem?
Holden fechou a tampa de seu tablet.
— Claro. Vamos preparar o Keyton e deixá-lo confortável.
Há uma chance de fazermos um almoço solo. Também
precisamos rever as músicas do novo álbum para o encontro da
rádio amanhã.
Passei minha mão ao longo de sua perna.
— Não se preocupe comigo. Você não precisa me entreter.
Entramos na área de desembarque da Wells Fargo Arena. O
SUV parou em um conjunto de portas.
— A Arena?
— Onde mais se preparar para uma turnê de estádios e
arenas? — Bay sorriu.
Todas as portas atrás e à nossa frente se abriram.
Holden abriu a porta de Bay e ela deslizou para fora.
— Vai ser um longo dia. Se você quiser sair a qualquer
momento, não pense que vou me sentir mal.
Eu a segui e peguei sua mão. Nem em um milhão de anos eu
pensaria em ir embora, e eu não queria que ela pensasse que eu
iria, me adicionando à lista de merdas-que-Bay-tem-que-se-
preocupar-hoje.
— Quando digo que estou aqui, estou aqui. Embora eu
desejasse não ter derrubado meu chocolate quente e esmagado
meu bolinho de canela.
Ela sorriu.
— Não se preocupe. Tem mais.
Isso aliviou um pouco da minha raiva de mim mesmo por
arruinar suas surpresas para mim sem sequer prová-las.
Emily entregou a ela uma bolsa idêntica à que ela tinha
dentro da esteira de bagagens.
— Eu posso ter superestimado as receitas de chocolate
quente e canela, então há cerca de três dúzias de pães para o seu
freezer e uma mistura de chocolate quente para o inverno
inteiro — Seu ombro se encolheu levemente, como se ela
estivesse envergonhada por ter gasto tanto tempo e esforço
cozinhando para me fazer feliz.
Aqueles sentimentos que eu tentei fingir que não estávamos
prontos estavam batendo na porta do meu coração, querendo
ser solto. Eu queria banhá-la na enxurrada de emoções que
saíam de mim, mas eu estava com medo de sobrecarregá-la. Em
vez disso, me conformei com.
— Mal posso esperar.
No interior, os corredores eram uma enxurrada de
atividades e pessoas. Parecia dia de jogo novamente.
Todos os cômodos do corredor estavam cheios de pessoas.
A música ecoou pelos corredores e retumbou nas paredes.
Com minha sacola de guloseimas, segui Bay. Holden fez
anúncios nas salas pelas quais passamos, e o número de pessoas
cresceu. Nenhum deles estava gritando o nome de Bay ou
agarrando-a. Eu não estava mais no limite. Esta era a sua equipe.
Ela abraçou e sorriu para todos: dançarinos, figurinistas,
técnicos de som e ajudantes de palco movendo gigantescas
caixas pretas e prateadas.
No chão da arena, fileiras de mesas foram montadas.
Bay estava na frente e as ondas de pessoas continuavam
chegando, preenchendo o espaço. Pelo menos duzentas
pessoas, talvez mais. Fiquei de lado, tentando não atrapalhar,
mas querendo estar perto. A bolsa com as guloseimas dela ainda
estava na minha mão. Seria um café da manhã de campeões
assim que as coisas se acalmassem e eu encontrasse um lugar
para ficar e vê-la trabalhar.
Ela pegou uma cadeira e ficou em uma das mesas para que
todos na parte de trás pudessem vê-la. Holden entrou atrás dela
e eu fiz o mesmo, não esperando que ela caísse no chão de
concreto.
— Olá a todos! — Ela acenou e a multidão acenou de volta
— Espero que todos tenham tido uma ótima pausa, mas
estamos prontos para fazer isso mais uma vez.
— Espero que não seja apenas um! — Uma voz do fundo
gritou, e mais pessoas riram e aplaudiram.
— Vamos passar os próximos oito meses inteiros. Depois a
gente conversa. Todos aqui são os melhores no ramo, e eu
confio em todos vocês para dar vida às músicas na minha cabeça
e dar ao público uma das melhores experiências de suas vidas, e
obrigada por confiarem em mim o suficiente para participar
dessa nova jornada e partir em turnê longe de seus amigos e
familiares. Significa o mundo para mim — Seus olhos
brilharam.
O mar de rostos expectantes todos olhavam para ela. Eles
estavam esperançosos, animados e felizes. Tanta coisa dependia
dela. Seus meios de subsistência e seus futuros estavam nas
mãos dessa mulher.
Este não era um estádio como o meu, onde os jogos
aconteciam estando eu lá ou não.
— Agora vamos ter um ensaio incrível hoje e fazer desta a
melhor turnê que já fizemos.
Todos comemoraram, aplaudindo e cantando.
Eu estendi minha mão.
Ela sorriu e pegou, pulando da mesa, e juntou-se, pulando
para cima e para baixo em um canto que ficou cada vez mais
alto antes de irromper em gritos e aplausos.
Um ritual noturno de jogos. Eu podia sentir isso em meus
ossos.
As pessoas voltaram para o que estavam fazendo antes do
discurso animador de Bay.
Depois disso, foi difícil acompanhar para onde estávamos
indo.
Bay tinha acessórios de guarda-roupa coloridos, com
lantejoulas, penas, couro, às vezes fantasias iluminadas.
Alterações e mudanças foram feitas em tempo real.
Emily me colocou em um lugar nas alas do palco. Terminei
meu chocolate quente e bolinho de canela. Bay tinha comido
antes de me pegar? Além de uma mordida no meu bolinho de
canela depois de beber meia garrafa de água, ela não tinha
comido nada desde que eu a vi.
Seu rosto alternava entre sorrisos e risadas e foco intenso
sempre que alguém a acompanhava em cada faceta do palco.
Ela praticou os caminhos pelos alçapões no andar que eles
levariam na turnê e passou pela coreografia com os dançarinos.
Os tempos de iluminação e de som foram ensaiados até ficarem
perfeitos.
E por um momento de aperto no coração, ela voou em uma
plataforma, voando sobre o público imaginário.
Ela manteve o sorriso, mas às duas sua energia estava
diminuindo. Ela estava nisso há mais de seis horas. Estávamos
em uma sala menor, e Bay e vinte dançarinos estavam passando
por outra rotina de dança.
Holden passou por mim. Eu me levantei da minha cadeira
dobrável e o agarrei.
— Ela comeu?
Ela não estava fora da minha vista por mais de alguns
minutos, mas eu precisava ter certeza.
— Ainda não — Ele deixou cair o tablet ao seu lado com um
olhar tenso de aborrecimento, não para mim, mas pelo mesmo
motivo que eu fiz a pergunta.
— Por que não?
— Ela quer terminar com os dançarinos, para que eles
possam ir para casa em vez de esperar que ela coma e termine as
coisas. Confie em mim, eu já tentei convencê-la três vezes —
Pela forma como suas narinas se dilataram de exasperação,
acreditei nele. Mas ela também assina os cheques dele – o quão
duro ele iria contra o que ela queria, mesmo que fosse o que ela
precisava?
Seus passos estavam fracos, e os intervalos entre as rotinas se
estendiam de alguns segundos a quase um minuto. Cinco
minutos antes de eu prometer a mim mesmo que entraria, eles
terminaram. Todos trocaram abraços e os dançarinos acenaram
e saíram correndo da sala.
Bay parou por um segundo antes de se deitar
dramaticamente no chão com as costas da mão pressionada
contra a testa, o peito subindo e descendo e os braços abertos
ao lado dela.
Ela espiou com um olho aberto antes de fechá-lo.
Cheguei a ela antes de Holden, agachado ao lado dela.
— Você precisa comer.
Seus olhos brilharam com excitação exausta e brincadeira.
— Só se você pegar uma pá para me levantar do chão — O
suor brilhava em seu rosto e ela olhou mais fundo nos meus
olhos — Você ainda não está entediado?
Eu empurrei uma mecha de cabelo suada de sua testa.
— Nem um pouco.
A inclinação preocupada de seus lábios se transformou em
um sorriso completo.
Eu lhe ofereci minhas mãos e ela as pegou, deixando-me
puxá-la para cima.
— Ei, Holden. Podemos comer alguma coisa? — Ela apoiou
as mãos nos quadris.
— Oh, você quer dizer a comida que eu tenho tentado fazer
você comer nas últimas três horas? Não, desculpe, Emily
comeu tudo — Sua vibe irmão-irmã estava com força total.
— Ei! — Emily gritou atrás dele.
Ele revirou os olhos.
— Sim, vamos pegar um pouco de comida.
Pegamos comida no departamento artístico, onde havia
bandejas de comida, bem como refeições em caixas, e
encontramos uma sala que parecia mais um armário. Estava
quieto, além disso, estávamos sozinhos.
— Você esteve ocupada.
Ela assentiu, incapaz de falar com a boca cheia de sanduíche
de peru e queijo.
Finalmente, ela estava comendo. Eu nunca fiquei tão feliz
em ver alguém com maionese no canto da boca.
— É sempre assim?
— Apenas antes e durante uma turnê — Ela deu mais duas
mordidas, suas bochechas cheias como um esquilo — Há
muitas partes móveis e muitas pessoas para coordenar. Estou
com tanta fome. Eu deveria ter pegado outro sanduíche.
— Eu posso pegar um — Eu fiquei de pé.
Sua mão disparou e ela me agarrou.
— Não, estou bem por enquanto. Eu gosto de estar aqui
com você.
O duplo desejo de ficar com ela e fazer com que ela coma
mais comida guerreava dentro de mim. O egoísmo de querer
ficar venceu.
— Caso você não saiba, eu gosto de estar aqui com você.
Do lado de fora das portas, a comoção não parava.
— Eu não tinha ideia de que tudo isso ia para uma turnê.
Ela riu, cobrindo a boca com a mão.
— Nem eu. Na primeira turnê, acho que dormi dois dias na
casa da minha mãe quando terminei.
— Você já…
Uma batida suave interrompeu nosso momento de silêncio.
Emily enfiou a cabeça para dentro.
— Bay, depois que você comer – Holden foi muito claro
sobre isso – depois que você comer, o garotinho do vídeo viral
está aqui. Vai ser um encontro rápido.
— Eu posso ir agora.
Emily olhou para o prato inacabado de comida em seu colo.
— Você não terminou sua comida.
— Eu terminei — Ela me entregou o sanduíche meio
comido — Estou cheia. Eu não quero que eles tenham que
esperar.
Agarrei sua mão quando ela tentou me passar.
— Bay, você não comeu.
Ela se abaixou.
— Eu sei, mas esse garoto é adorável e eu quero fazer isso
especial para ele. Ele foi intimidado por cantar minhas músicas
e eu não quero ter pressa. E só temos espaço para mais duas
horas e eles precisam me colocar na plataforma aérea
novamente.
— Você vai comer — Eu me levantei e segurei nossos pratos,
seguindo ela e Emily.
O garoto começou a chorar quando viu Bay. Ele tinha talvez
um pouco mais de sete anos. Os hematomas na lateral do rosto
de quem o havia espancado haviam amarelado, mas ainda
estavam lá.
Um baque me atingiu no peito, do tipo que eu tive logo
antes de ser arrastado de volta à minha infância. Eu podia sentir
como o choque atordoado de um golpe se transformaria em
um fogo furioso do local onde o punho havia acertado,
espalhando-se pela pele e pelos músculos, às vezes pelos ossos.
Engoli o ar e me encolhi, tentando não imaginar o tipo de
golpe que seria necessário para deixar um hematoma tão
grande. Como seus pais estavam, eu nunca saberia. Eu estava
com medo do que eu faria se alguém machucasse meu filho –
eu não sabia do que eu poderia ser capaz. Que escuridão
espreitava em mim que eu nunca me livraria completamente,
como uma mancha na minha alma? Afastando-me, concentrei-
me em Bay.
Ela se sentou no chão com o garoto, cobrindo-o com tanta
atenção e elogios.
Agora sua determinação fazia muito mais sentido.
A cada poucos minutos, eu lhe dava outra mordida em
alguma coisa. Ela olhou para mim com agradecimento e passou
seu tempo cantando junto com seu novo melhor amigo,
assinando todos os brindes da turnê que eles tinham em mãos.
Ele estava em êxtase e seus pais também.
— Ele não sorria desde que foi atacado, mas eu jurava que
seus lábios iam cair de quão feliz ele ficou desde o momento em
que a mensagem de que ele conheceria você chegou. — A mãe
do menino segurou as duas mãos de Bay com lágrimas nos
olhos.
Minha garganta apertou. Esses eram bons pais, do tipo que
foram dilacerados por alguém machucando seu filho. A tristeza
deles foi substituída pela alegria e gratidão por Bay passar
alguns minutos com eles.
Ambos os pais a abraçaram forte e posaram para mais fotos.
Bay fez o garotinho prometer que continuaria cantando e disse
que não ficaria ofendida se não fossem suas músicas. Eles
cantaram uma juntos e ela gravou uma mensagem para ele,
dizendo-lhe para tocar sempre que se sentisse para baixo.
Ela o apertou com força em outro abraço antes de Holden
aparecer para levá-la de volta ao palco.
Eu a segui e empurrei um quarto de um sanduíche em sua
mão.
— Obrigada.
— Você nunca precisa pedir.
Ela foi montada novamente para outra rodada de voo acima
do piso de concreto da arena. O chão não cedeu, e Bay estava
pendurada acima dele. Eu não podia olhar.
Olhando para o chão, tentei não enlouquecer.
— Não é fã de alturas — Os sapatos de Holden apareceram.
— Não muito — Eu apoiei minhas mãos em minhas coxas
— Você está deixando ela se esforçar demais.
— Ela tem uma mente própria.
Endireitando-me, mantive meus olhos focados em Holden.
— E ela está preocupada em decepcionar as pessoas ao seu
redor. Deixando você para baixo.
— É um clube grande o suficiente para todos nós. Ela faz o
que é preciso para ficar no topo neste jogo.
— Ela vai ficar doente.
— Temos uma equipe excelente para garantir que ela não
fique desta vez.
— Desta vez? Isso significa que ela ficou doente antes?
Seu estabelecimento de limites precisava de trabalho. As
pessoas continuariam a empurrá-la e exigir se ela deixasse. E eu
era outra pessoa dividindo seu tempo já precioso. Velhos
problemas e erros eram difíceis de superar, mas eu seria bom
para ela desta vez.
— Apenas aprendendo seus limites. Todos nós precisamos
— Seu olhar derivou acima da minha cabeça — Ela vai ficar
bem desta vez. Você tem minha palavra.
Olhei para Holden, seu olhar treinado em Bay como um
falcão. Eu acreditei nele, mas isso não significava que ela
conhecia seus limites e os cumpriria se houvesse mais uma coisa
que ela pudesse fazer para facilitar a vida de outras pessoas ou
fazê-los sorrir como aquele garoto.
Duas horas depois, com as luzes apagadas na arena,
estávamos de volta no SUV e fomos para o nosso lugar. Não é
o nosso lugar do jeito que eu gostaria, mas o mais perto que
podíamos chegar agora.
— Na minha casa ou na sua?
Ela dirigiu seu olhar para o banco de trás.
— Holden?
O brilho da tela iluminou seu rosto.
— Você pode dormir mais se ficar na suíte esta noite.
Tomei a decisão antes que ela pudesse.
— Suíte então.
— Você não tem nenhuma roupa lá.
— Eu me viro. Não se preocupe.
Ela assentiu sonolenta, descansando a cabeça no meu
ombro.
— A que horas ela tem que acordar amanhã?
Holden verificou seu tablet.
— Cinco — Ele olhou para baixo novamente — Seis e meia.
— Ok.
Quando chegamos ao hotel, um grupo de fãs estava
acampado na frente. Eric encaminhou o motorista para a
garagem. Isso acrescentou mais tempo na viagem até a suíte,
mas Bay foi sonâmbula durante todo o caminho. Não me
ofereci para carregá-la, mas apenas porque sabia que ela ia lutar.
Dentro da suíte, eu a levei para o quarto dela, aquele em que
passamos algumas horas algumas semanas atrás, antes que ela
tivesse que sair novamente. Despindo nós dois, eu a coloquei
no chuveiro.
Sua cabeça descansava contra o azulejo, os olhos mal
abertos, e ela ocasionalmente soltava murmúrios incoerentes.
Se eu não estivesse lá, ela teria desmaiado ou deitado no chão e
adormecido?
Com mais eficiência do que a ereção insistente entre minhas
pernas teria gostado, passei a bucha ensaboada sobre sua pele e
para baixo em suas curvas.
— Obrigada por passar o dia comigo — ela murmurou.
Mantendo uma mão sobre ela, peguei uma toalha da pilha e
a sequei, beijando sua nuca e segurando-a contra mim. Enrolei
o tecido macio e fofo ao redor dela. Ela se recostou na parede.
Não querendo deixá-la ir, enrolei minha toalha em volta da
minha cintura com uma mão com a ajuda dos meus dentes.
Quando olhei para cima, ela estava dormindo no canto, os
lábios entreabertos, as pernas mal segurando-a.
Mesmo depois dos jogos em que participei, nunca estive tão
cansado.
Erguendo-a em meus braços, olhei para a mulher que
segurou meu coração na palma de sua mão, mesmo quando eu
não acreditava que tivesse um. Talvez fosse por isso – sempre
tinha sido dela.
Eu a coloquei na cama macia como travesseiro e peguei uma
camiseta de uma das gavetas. Deslizando-o sobre seu corpo,
subi na cama ao lado dela.
Ela suspirou e se enrolou em mim.
Enterrado em cobertores, eu descansei minha cabeça na
dela, e os suaves fios de sua respiração contornavam meu
pescoço. Deixá-la só seria mais difícil para mim, e seria muito
pior quando ela fosse embora.
Eu sentei na beira da cama, Bay enrolada no meu travesseiro
depois de me alcançar enquanto dormia. Aparentemente, meu
travesseiro aquecido era um substituto adequado.
Estar com ela era como encontrar alguém cantando seu
nome depois de uma vida inteira de silêncio. Quando a
encontrei antes, foi como me agarrar a uma bóia em um
furacão. Eu estava me agarrando a ela para manter minha
cabeça acima da água, e teria sido apenas uma questão de tempo
antes de nos arrastar para baixo.
As coisas eram diferentes agora. Nós éramos diferentes.
Todos aqueles sonhos que desejávamos e esperávamos se
tornaram realidade. Então, por que isso foi o mais feliz que eu
estive em muito tempo? Houve momentos de alegria antes, do
tipo que vinha de uma grande vitória ou uma captura
impossível ou verificar minha conta bancária e saber que não
poderia gastar tudo em cem vidas.
Esse contentamento que eu sentia ao redor dela era quase
indescritível. Isso me fez sentir invencível. E isso me assustou
pra caralho. Porque viver sem isso – tê-la arrancada de novo –
depois de todo o trabalho que eu fiz para ser um homem de
quem ela pudesse se orgulhar e o homem que ela merecia, eu
não tinha certeza do que aconteceria se tudo desmoronasse
novamente.
Em vez de focar nesses sentimentos, eu me concentrei no
agora, neste momento com ela. Ela ainda estava aqui. Eu ainda
estava aqui.
Deitei-me e tirei o cabelo de seus ombros.
Ela era a única mulher que eu já amei, a única mulher que
conhecia a maior parte da minha história e segredos, e a única
mulher por quem eu arriscaria tudo que construí, não porque
eu precisava dela para sobreviver, mas porque viver sem ela seria
– sobrevivência. Respirações tomadas, mas não uma vida
vivida.
Um ronco suave chacoalhou no fundo de sua garganta e ela
se virou.
Abrindo um sorriso, afastei o cabelo de seu rosto.
Ela esfregou o nariz e se aconchegou mais no travesseiro.
Deslizando para o espaço atrás dela, eu passei meus braços
ao redor dela e a abracei forte.
O contentamento caiu sobre mim como um cobertor e
fechei os olhos, respirando o cheiro dela. Perdê-la não era uma
opção desta vez, e eu faria o que fosse preciso para ter certeza de
que não estragaríamos tudo de novo.
— Tem certeza que precisamos ir? — Peguei minhas
abotoaduras de sua cômoda.
Sua risada tocou no meu coração.
— Você não tem que vir. É uma sessão promocional do
vencedor do concurso de rádio. Entraremos e sairemos em
algumas horas. Tenho certeza que você tem coisas melhores
para fazer — Com seus saltos, estávamos quase olho no olho.
Ela colocou os braços sobre meus ombros e passou os dedos
pelo cabelo na parte de trás da minha cabeça. — Então eu posso
voltar para você.
— O que poderia ser melhor do que passar um tempo com
você? — Beijei a ponta de seu nariz e passei meus braços ao
redor dela. Minhas mãos roçaram sua pele nua — Falta alguma
coisa no seu vestido?
O vestido laranja e azul marinho estava preso no decote alto
e batia logo acima do joelho. Com mangas compridas, não era
exatamente revelador, mas eu não era um cara da moda.
— Eu preciso de uma pequena ajuda — Ela se virou,
olhando por cima do ombro, sabendo exatamente o que vê-la
aberta faria comigo — Você pode fechar para mim?
Inclinado, decidi dar o melhor que consegui. Se nós dois
estivéssemos esperando durante as duas horas até nossa noite
sozinhos, eu me certificaria de que ela estivesse tão ansiosa para
voltar para o nosso quarto o quanto eu estava.
Eu a beijei na parte inferior de suas costas, segurando-a com
meus dedos atravessando sua cintura.
Ela balançou para frente, sua respiração falhando.
Com uma mão, eu passei por suas costas, afastando
obstruções imaginárias, apenas para cobrir a área com beijos
suaves como sussurros, sob sua pele.
Ela estremeceu e engasgou.
Sorri contra sua pele e puxei o zíper, fechando lentamente
os dentes de metal até chegar ao topo. Uma vez lá, eu envolvi
um braço ao redor dela, pressionando-a mais apertado contra
mim e beijei sua nuca antes de terminar o zíper e prender o
fecho do colchete.
Meu pau gritou comigo por provocar nós três.
Pisando na frente dela, eu encontrei seu olhar vidrado. Os
lábios se separaram, um pouco trêmulos e corados, ela se
inclinou para mim e atacou minha boca.
Eu agarrei sua bunda, amassando e apertando-a com força.
Uma batida na porta foi tudo o que nos impediu de nos
arrancarmos de nossas roupas.
— É hora de ir — A voz de Holden se tornou meu som mais
odiado no mundo — Eles acabaram de anunciar onde vamos
nos encontrar. Os paparazzi já estão em movimento, o que
significa que os fãs serão os próximos. Precisamos chegar lá
rapidamente antes que as coisas se tornem incontroláveis.
Eu escovei meu polegar ao longo de seu lábio inferior.
— Você vai precisar de um retoque.
— Você vai estar na lista proibida de Emily.
— Vai valer a pena — Emily era uma mini-Gwen em
formação, mas eu suportaria sua ira a qualquer hora por um
beijo de Bay qualquer dia. Pegando sua mão, saímos de seu
quarto. Toda a equipe estava lá, casacos já abotoados e prontos
para sair.
Bay não tinha casaco. Enrolei o meu em volta dos ombros
dela, adorando vê-la segurando as bordas das lapelas.
Dentro do carro, Eric sentou-se na frente. Emily e Holden
estavam na última fila conversando e mandando mensagens.
Bay e eu sentamos no meio, o lugar que ela costumava sentar
sozinha enquanto os dois na parte de trás martelavam os
detalhes de sua vida e Eric assumiu o modo de sentinela.
— Merda — Holden soltou um longo suspiro.
A risada de Bay foi interrompida e ela se virou para ele.
— O que há de errado? — Seus dedos pararam de amassar
minha coxa, significando que eu poderia me concentrar em
mais do que seu seio pressionado contra meu peito. A
provocação valeu a pena e me manteve ainda mais perto de
dizer ao motorista para virar à direita e voltar para o hotel.
Ela seguiu seu olhar pela janela escura até o carro.
— Merda.
A tensão encheu o carro. O que deveria ser um encontro de
uma hora com os vencedores do concurso e uma primeira
audição de algumas faixas do álbum parecia uma cena de máfia.
— Eu disse a eles para não anunciar o local — Holden
empurrou o telefone no ouvido, levantando a voz para quem
estava do outro lado.
— O que nós fazemos? — Meu braço apertou ao redor de
sua cintura.
Sua mão, que estava apenas me provocando, acariciou
minha perna para me acalmar.
Tentei me acalmar, mas não estava funcionando. Meu pulso
disparou. Meu sangue correu em minhas veias com a
adrenalina aumentando.
As pessoas estavam por toda parte. Eles não estavam
gritando ou berrando, mas sua antecipação era palpável daqui.
Os fotógrafos também desceram, grandes lentes intrusivas
preparadas e prontas para a foto perfeita.
— Ficará tudo bem — Ela se virou para mim com um
pequeno sorriso e um lampejo de medo — Isso acontece às
vezes.
Eric se inclinou entre os encostos de cabeça dianteiros do
motorista e do passageiro.
— Vamos dar a volta no quarteirão. Eles estão tentando
colocar mais segurança na porta. A garagem está bloqueada,
então não há outra maneira de entrar agora.
O prédio tinha restaurantes na parte de baixo e escritórios
na parte de cima. Era um edifício padrão de pedra e vidro de
vinte andares, exceto pelas centenas de pessoas amontoadas em
torno da entrada principal.
Minha mandíbula ficou tensa.
Sua mão alisou minha camisa.
— Nós ficaremos bem.
Eu não tinha certeza se ela estava dizendo isso para mim ou
para ela mesma. Meu coração bateu em minhas costelas.
A preocupação engrossou o ar dentro do carro. A conversa
e as brincadeiras morreram durante as quatro curvas à direita
no caminho de volta para a frente do prédio.
Cada célula do meu corpo gritava para nós darmos a volta
por cima e tirá-la daqui.
O círculo ao redor do quarteirão não ajudava muito no que
dizia respeito à segurança. Eles estavam sobrecarregados.
— Nós vamos entrar por um dos restaurantes em vez disso
— Eric gritou do banco da frente.
Nossa viagem passou direto pela entrada principal, mas
agora as pessoas pareciam ter notado a quem o carro pertencia,
então a entrada alternativa não impediu que a maré de pessoas
aumentasse, apenas a estrangulou temporariamente.
Bay tirou meu casaco e o devolveu para mim, quase
mordiscando os lábios antes de parecer que se lembrava de sua
maquiagem e os apertar ao invés.
— Prometemos ao estilista que tiraríamos fotos completas
do vestido.
Ela estremeceu quando entramos no carro, mesmo debaixo
da minha jaqueta. Minha raiva em toda a situação borbulhou.
Por que diabos ela concordaria com um acordo onde ela
congelaria sua bunda só para fotos?
— É outubro.
— Tem mangas compridas. Eu vou ficar bem. Vamos
apenas correndo direto para dentro — Seu olhar disparou pelos
vidros escuros para a multidão de pessoas.
Bay apertou minha mão. Emily e Holden manobraram até a
porta, e Eric saltou.
Os flashes dispararam, incrivelmente rápidos, antes mesmo
de escorregarmos de nossos assentos.
Em segundos, a imprensa estava ligada. Fossem estranhos ou
a equipe de Bay, corpos pressionados contra nós, empurrando
e apertando-nos no que parecia ser uma investida no campo
com um linebacker de 130 quilos preso a cada braço.
Fomos arrastados para a entrada. A enxurrada de pessoas
crescia a cada segundo.
Bay estendeu a mão quando papéis e marcadores foram
enfiados em seu rosto para tentar assinar memorabilia22
enquanto tentávamos nos empurrar em direção à entrada. Sua
voz estava tensa. Seu sorriso era rígido. Seu olhar estava cheio
de medo.
Um pico de proteção bateu em mim, me atirando direto
para o limite.

22
Memorabilia: fatos ou coisas que suscitam memórias, lembranças.
Mais pessoas viraram a esquina. Os dez metros do meio-fio
até a entrada do restaurante pareciam uma luta contra uma
correnteza tentando nos arrastar para o mar.
Aconteceu em um piscar de olhos, quase um flash. Em um
segundo, ela estava sorrindo, dando autógrafos, lutando para
seguir em frente mesmo com meu braço em volta dela. No
próximo, meu olhar se voltou para um rosto. Um que fez os
cabelos da minha nuca se arrepiarem.
Foi além de olhos estrelados, beirando a desequilibrada.
Uma lacuna na fila de fãs que se aglomeraram para se
espremer para outra foto se abriu e a foto foi tirada.
A investida foi limpa, estilo chute-rápido-para-o-
quarterback. Seus dedos envolveram uma lâmina de metal
brilhante.
Eu pulei na frente dela, imprensando meu corpo entre ela e
a multidão de pessoas pressionando com tanta força que eu não
conseguia respirar. Ou talvez eu estivesse prendendo a
respiração. Adrenalina gritou em minhas veias. A raiva
incandescente explodiu do meu peito.
Meu punho bateu em seu rosto. Eu bati nele uma vez. Duas
vezes.
A multidão se separou. Gritos rasgaram o ar.
Agarrei sua mão, apertando seu pulso com força suficiente
para esmagar o osso até que a faca bateu no cimento.
Mais uma batida do meu punho cerrado em seu rosto.
Agarrando-o pela camisa, eu o joguei no chão. Ele lutou para se
levantar, o rosto manchado de sangue.
Minha mão disparou para sua garganta, meus dedos
apertando. A nuvem tingida de vermelho e raiva ameaçava as
bordas da minha visão. Eu queria apertar ainda mais forte até
que seus suspiros e garras desesperadas na minha mão
terminassem. Eu queria bater sua cabeça no chão até que ele
parasse de se mover. Eu queria que ele nunca mais fosse uma
ameaça para Bay.
Bay. Eu precisava ter certeza de que ela estava bem.
Voltando a mim, eu afrouxei meu aperto de esmagamento
para restrição.
Eric se agachou ao lado dele junto com outros três
seguranças de terno com um conjunto de braçadeiras e rolou o
atacante de bruços.
A adrenalina trovejava em minhas veias, meu coração
acelerando. Eu dei um passo para trás. Então outro. Uma
cavalgada de pessoas inundou, batendo em mim.
Uma mão tocou meu braço. Eu vacilei.
Bay olhou para mim. Não com medo, mas com
preocupação. Seu olhar procurou meu rosto.
Eu recuei, não querendo que ela olhasse para mim. Não
querendo ter feito isso com ela novamente. Bile amarga
queimou em meu intestino.
Mais segurança se espalhou ao nosso redor. Holden e o resto
da equipe abriram espaço para os policiais que tinham acabado
de chegar. Ele nos alcançou e nos empurrou para dentro do
restaurante.
Não mais sob a pressão das pessoas e do perigo, minhas mãos
tremiam. Eu as apertei e olhei para o sangue que cobria minhas
mãos, pingando dos meus dedos. O padrão pontilhado lento
marcando meu caminho.
— Dare!
Eu vacilei.
— Keyton — Bay estendeu a mão para mim e eu dei um
passo para trás, batendo na mesa atrás de mim. Talheres e copos
chacoalharam.
— Bay! — Holden gritou da porta, empurrando as pessoas.
Ele estava aqui. Ele cuidaria dela.
Eu girei e disparei. Passando pelas mesas de clientes
atordoados através das portas duplas que levam à cozinha. Os
gritos na minha cabeça se aquietaram, deixando-me apenas
com o que acabei de fazer.
Eu tinha batido em um cara até sangrar, na frente de
espectadores e câmeras, de Bay. Minhas mãos tremiam, a
adrenalina ainda queimando em minhas veias. Escapar. Eu
precisava sair. Correr.
Agarrando uma toalha da prateleira de aço inoxidável,
enrolei-a em minhas mãos. Eu precisava sair daqui. A placa de
saída brilhante no canto de trás me chamou.
As pessoas pularam fora do caminho. Não havia tempo para
se desculpar por ser o idiota com sangue em cima dele na
cozinha. Limpei minhas mãos com a toalha, manchando-a de
vermelho brilhante, mas o sangue ainda estava lá.
Virei-me e corri em direção à placa. Meu coração disparou
ainda mais forte agora. Bile correu para minha garganta. E
manchas dançavam na frente dos meus olhos.
No beco, a areia molhada rangia sob meus sapatos.
Verifiquei as duas extremidades do beco.
A porta bateu atrás de mim, apenas para abrir um segundo
depois.
— Keyton! — Bay me chamou.
Minha mão latejava. Agarrei a toalha ainda mais forte,
fazendo meu punho saltar como se tivesse coração próprio.
— Volte para dentro — Era perigoso aqui para ela. Ela
estava segura em algum lugar? — Não é seguro.
Menos de dois passos depois, ela agarrou meu braço, me
virando.
— Onde você está indo? — Seu cabelo estava despenteado,
o estilo baixo e casual arruinado como se eu tivesse passado
meus dedos por ele a tarde toda.
Atrás dela, Holden e Eric pairavam na porta. Por que diabos
não poderíamos ter vindo dessa maneira?
— Eu preciso sair daqui.
Ela segurou meu braço.
— Ok, eu não acho que o carro caberia aqui, mas podemos
encontrar o motorista no final do beco — Sua cabeça virou.
Sacudindo-a, dei um passo para trás. A luta contra meus
demônios não tinha acabado e eu não a queria perto de mim.
— Eu vou. Você fica. Volte para dentro com Holden.
— Você não pode ir embora — Ela segurou em mim, seus
dedos apertados e pânico em sua voz.
Sua preocupação me suavizou um pouco, trazendo-me de
volta a mim mesmo ainda mais, mas ainda não era seguro. Ela
precisava ir.
— Você vai ficar bem. Eles vão mantê-la segura. Apenas
volte para dentro.
— Eu não posso voltar lá sem você.
— Você fez isso nos últimos seis anos sem mim — Eu soltei,
me xingando por não ser capaz de protegê-la.
Ela olhou nos meus olhos e lambeu os lábios. Seu olhar
mergulhou antes de disparar de volta para o meu.
— Eu não quero voltar lá sem você.
Eu arranquei a toalha da minha mão.
— Eu tenho o sangue de outro cara em cima de mim. Eu
queria matá-lo, tirar a vida dele por tentar te machucar.
— Mas você não fez. Você se deteve — Ela apertou a mão
contra o meu peito — Ninguém te culpa. Eu não te culpo. Ele
poderia ter me machucado. Ele poderia ter machucado outras
pessoas.
Meu coração batia descontroladamente contra minha caixa
torácica.
— Eu não me importo com nenhum deles. Tudo o que me
importa é você — Eu levantei minha mão e parei antes de tocar
seu rosto. O sangue ainda cobria minha pele. Ele escorria pelo
lado da minha mão, pontilhando o punho branco da minha
camisa.
Seu olhar disparou para minha mão.
— Você está sangrando.
— Não es… — Olhei para minha mão. O sangue vermelho
brilhante continuou a rolar pela minha mão e pelas pontas dos
meus dedos quando eu o segurei na minha frente.
Bay agarrou meu pulso, seu medo palpável.
— Holden! Ele está ferido — Ela me empurrou para frente,
correndo em direção à porta aberta.
Houve uma enxurrada de atividades, corpos e gritos, só que
desta vez, Bay me segurou. Fomos guiados para um banheiro.
Holden amaldiçoou baixinho.
— Nós vamos ter alguém aqui em alguns segundos para te
examinar. Tem alguém na porta. Ninguém que não deveria
entrar aqui vai entrar — Ele agarrou a borda da janela antes de
desaparecer.
Dentro do banheiro, enfiei as mãos sob a torneira e acionei
o dispenser de sabão, esfregando minha mão e assobiando com
a queimadura aguda. A água passou de vermelho para rosa, mas
mantive minhas mãos sob a água corrente.
Um corte na lateral da minha mão era de onde todo o sangue
tinha derramado. Pelo menos eu não precisava me preocupar
com isso estragando meu tempo de jogo inexistente.
— Keyton — A voz de Bay me tirou da furiosa esfregação.
— Estou bem — Passei uma mão sobre a outra. O fluxo de
sangue não era mais tão constante.
Em suas mãos, ela agarrou um punhado de toalhas de papel.
Ela pegou minha mão.
Eu o peguei, não querendo derramar sangue nela.
— Está bem.
— Pare de dizer isso. Não está bem. Você se machucou —
Sua voz vacilou.
Empurrando em linha reta, eu a alcancei com minha mão
ilesa.
— Não é nada.
— Não é nada — Sua voz falhou e seus olhos brilharam, os
dedos apertando as toalhas de papel esbranquiçadas — Você se
cortou me protegendo.
De alguma forma, ela recuando com remorso e culpa
enchendo seus olhos como as lágrimas que ela piscou de volta
cortando ainda mais fundo do que qualquer ferida.
— Ei — Eu pulei para ela, mantendo minha mão longe dela.
Arrastando-a de volta para mim, pressionei minha mão contra
a parte inferior de suas costas e a segurei contra mim— Isso não
é culpa sua.
A porta se abriu e o médico entrou correndo com uma
enorme bolsa vermelha.
Depois de colocar algumas luvas e me sentar em uma cadeira
que alguém trouxe do restaurante, ele começou a trabalhar.
O corte nem precisaria de pontos. Algumas bandagens de
borboleta e um pouco de cola médica cuidaram disso. Ele o
enrolou em um curativo. O tempo todo, meu olhar estava
preso em Bay.
— Mantenha-o seco. Se ficar vermelho e macio na próxima
semana, você pode precisar de antibióticos. Mas você também
deve consultar seu médico, já que você trabalha com as mãos…
e precisamos de você nesta temporada — O médico ofereceu
um sorriso nervoso e um soco antes de sair. Um baque suave da
porta sinalizando sua partida.
Bay estava com os braços em volta de si mesma. Holden
havia trazido outra cadeira para ela depois que ela insistiu em
ficar depois de nos informar que o evento havia sido cancelado
e que sairíamos assim que eu saísse e dessemos nossos
depoimentos à polícia.
Ela saiu do banheiro e outro policial entrou para pegar meu
depoimento enquanto Bay dava o dela.
Meu olhar ficou fixo na porta, esperando que ela voltasse e
não querendo olhar para minha manga manchada de sangue.
Bay correu de volta e o oficial pediu seu autógrafo. Seu
maldito autógrafo. Ela foi atacada e as pessoas ainda a queriam.
Um pingo do meu sangue manchou a manga do vestido dela e
aqui estava ela dando autógrafos para os fãs. Eu não queria que
isso me deixasse amargo, mas uma parte de mim queria atacar e
trancá-la no meu apartamento, onde ela estaria segura.
O buraco no meu estômago se alargou em uma caverna.
— Eu sinto muito.
Sua cabeça apareceu. O resto dela em seguida.
— Pare de dizer isso. Você não tem do que se desculpar.
— Fui atrás daquele cara.
— Estamos fazendo isso de novo? Quer dizer que foi atrás
do agressor com a faca? Aquele que poderia ter me machucado
ou qualquer outra pessoa lá fora? — Suas mãos frias seguraram
minhas bochechas enquanto ela se agachava na minha frente
em seus saltos — Você o tirou, o prendeu e deixou os
profissionais assumirem. Você não tem do que se arrepender.
— Eu sinto muito.
Foi a minha vez de empurrar minha cabeça para trás.
— Se importa de me informar sobre o que você tem que se
desculpar? — Eu a puxei para o meu colo, o latejar e queimar
na minha mão facilmente ignorável quando eu a segurei. Tê-la
tão perto ajudou a fazer tudo parecer menos terrível. Ela não
recuou ou olhou para mim como se estivesse com medo. Ela
não teve que gritar meu nome para me tirar do cara.
Não houve olhares de recriminação de ninguém.
Um estremecimento a percorreu. Ela olhou para seus
sapatos. Um pedaço de gaze ensanguentada descansava ao lado
de seus saltos amarelos anteriormente imaculados, mas agora
arranhados e com listras.
— Ele estava vindo atrás de mim. Ele poderia ter machucado
alguém lá fora por minha causa — A angústia escorria de cada
sílaba.
Corri meus dedos sob seu queixo e a virei para mim.
— Você não pode se culpar por aquele cara louco.
Ela esfregou o nariz contra o meu.
— Eu vou fazer um acordo com você. Você não se culpa e
eu vou tentar não me culpar.
Eu não gostei desse acordo. Eu não gostei do jeito que ela
disse que tentaria, quando eu sabia que pesava muito sobre ela.
— Vamos para ca... minha casa.
— Ali estão os lugares ao ar livre, se você quiser assistir de lá —
O atendente do camarote apontou para a porta que dava para
as três fileiras de assentos estilo estádio na mini varanda.
— A comida está bem aqui — Ele apontou para os sete –
sete! – rechauds de inox — Se você quiser mais, podemos
providenciar para que chegue logo antes do pontapé inicial. Há
também um bar de serviço completo e cidra de maçã quente
sem álcool. Os garçons estarão aqui em alguns minutos.
A menos que eu tivesse sido infectado por uma tênia, de
jeito nenhum eu precisaria de mais comida. Ele achava que eu
era na verdade dois pré-adolescentes equilibrados nos ombros
um do outro procurando por lanches?
— Está bem. Não preciso de ninguém, posso me servir.
O que seria mais embaraçoso do que estar sozinha nesta
suíte Presidential Club? Estar aqui com alguns garçons e um
barman para me ver assistir ao jogo sozinha.
Essas mesmas pessoas podem sub-repticiamente tirar uma
ou duas fotos de Bay Pós Ataque! Holden e Emily geralmente
lidavam com minhas mídias sociais, mas, eu postei uma nota
depois do ataque. As perguntas sobre Keyton estar lá comigo e
o que aconteceu devido ao seu passado estavam aumentando, e
eu queria esclarecer as coisas, contar a eles exatamente o que
aconteceu, como ele me salvou e como o agressor estava sob
custódia.
Holden ou Emily poderiam ter feito isso, mas senti que o
primeiro post sobre mim e Keyton deveria ser meu. Todos
precisavam saber o quanto ele significava para mim e o quanto
eu estava grata pelo que ele havia feito. Eu não queria que
ninguém pensasse que isso era nem um pouco como um
retorno ao cara que ele foi uma vez. Ele realmente mudou, e eu
não queria que houvesse uma dúvida de que eu acreditava que
isso era verdade.
Houve uma enxurrada de apoio, milhões de comentários,
curtidas e compartilhamentos. Havia ainda mais perguntas
sobre mim e Keyton. Nós éramos oficiais na mídia social agora.
O resto do mundo tinha sua janela para nós estarmos juntos.
Eu ainda não tinha certeza de como me sentia sobre isso, mas
eu não queria que ele pensasse que havia um segundo
pensamento em minha mente sobre o quanto eu precisava dele.
O quanto eu o amava.
Minha mãe ficou tão chocada quanto qualquer outra ao vê-
lo ali. Eu nunca disse a ela o que aconteceu entre nós em
Greenwood ou LA, então ela ficou feliz por termos nos
reconectado a tempo e ele ter me protegido. Ela até me disse
que eu deveria trazê-lo para casa na próxima vez que eu fosse.
Ela parecia feliz por eu ter encontrado alguém, que alguém
estava lá para mim. Alguém que não está na folha de
pagamento.
Também remarcamos o evento, convidando os vencedores
da rádio para o hotel em vez de ir até eles, já que não queríamos
que o local vazasse novamente. Foi uma bagunça, mas em
termos de relações públicas, correu tão bem quanto podia. Em
termos de saúde mental, eu poderia fingir com o melhor deles
que não sentia que meu coração poderia explodir quando mais
do que algumas pessoas estivessem ao meu redor ou alguém
esbarrasse em mim.
— Toda a nossa comida e serviço de bar está incluído na
suíte — Foi só então que eu percebi que ele estava falando o
tempo todo.
— E eu aprecio isso e tenho certeza que eles fariam um
trabalho maravilhoso. Haverá uma boa gorjeta deixada para
eles, mas eu gostaria de sair por conta própria. Não há
necessidade de trazer mais ninguém.
— A comida já está aqui, certo? — Eu levantei a tampa do
refratário. Molho de frango de búfalo. Peguei um prato e
peguei um pouco, junto com um pouco de aipo. Pegando uma
colher gigante, eu enfiei na minha boca provando que eu
poderia realmente servir e me alimentar.
Cobrindo minha boca com as costas da minha mão, eu
murmurei:
— Viu. Tudo bem.
O homem de terno com um crachá prateado brilhante
passou por algumas reações diferentes antes de escolher a
melhor.
— Se essa for sua preferência. Vou avisar a equipe.
— Obrigada. E se houver alguma coisa que alguém queira
que seja assinada, pode deixar lá fora com o Eric. Também
teremos alguns presentes para a equipe — Estendi minha mão
para apertar a dele.
Todo o seu comportamento mudou de derrotado para
encantado. Ele agarrou minha mão com as suas e a apertou
como se estivesse trabalhando em uma bomba de água dos anos
1800.
— Muito obrigada. E eu queria dizer, eu amei seu último
álbum. Minha playlist Lembre de mim esteve repetindo nos
últimos três meses. Isso me ajudou em alguns momentos
difíceis — Seus olhos se encheram de lágrimas mal contidas.
Esses momentos, quando eu via o quão feliz minhas músicas
faziam alguém, eram os melhores e mais difíceis. Minhas
músicas poderiam estar lá enquanto alguém enfrentava os
momentos difíceis da vida. Isso tornou ainda mais importante
continuar. Isso fez com que recuar parecesse uma
impossibilidade, se mesmo uma pessoa pudesse ser tocada pela
minha música.
Eu apertei seu braço.
— Não tem de quê.
— Suas letras – eu as amo tanto. Há tanto nelas que todo
mundo que faz cover delas me dá arrepios. Eu tenho alguns
deles misturados lá também. Você já ouviu alguma?
— Já ouvi alguns. Você já ouviu Spencer Hayes? — Ele
adoraria as novas músicas – espero. Talvez eu devesse falar com
Holden sobre lançar mais composições de músicas.
— Não, nunca, mas vou dar uma olhada nele no meu
próximo intervalo — Ele saiu da sala, tonto e sorrindo.
Rindo, voltei para o meu prato de patê de frango, roubando
outra mordida cheia de aipo antes de deixar o prato. Talvez eu
pudesse fazê-los dar ao pessoal toda a comida restante também.
Não havia sentido em tudo isso ser desperdiçado.
Eu vaguei pelo grande espaço vazio por conta própria. Era
melhor do que o normal, mas mais uma vez fui atingida pela
solidão deserta deste momento. Envolvi meus braços em volta
de mim e olhei para o estádio cheio de pessoas nas
arquibancadas compartilhando bebidas, rindo e torcendo
juntas.
Eu disse a Keyton, Holden e Emily repetidamente que eu
estava bem depois do ataque, mas ficar sozinha ficou mais
difícil, assim como estar perto de outras pessoas.
Alguém poderia ter se machucado. Keyton poderia ter se
machucado mais além do pequeno corte. Sozinha, eu me
preocupei. Eu pulei com barulhos altos. Perto de muitas
pessoas, eu ficava pensando no que aconteceria se alguém
aparecesse querendo me machucar.
Mesmo agora, do lado de fora das portas, Eric trouxe outra
pessoa para segurança. Holden tinha encontrado uma sala de
conferências para vigiar. Tanto por estar sozinha. Exceto
quando eu estava com Keyton, isso era tão seguro quanto eu
me senti estando sozinha na semana passada.
Atrás de mim, a porta da suíte se abriu. Eu pulei. Em vez da
equipe de bufê e bartender, eram dois rostos que eu não
esperava.
— Bay! — Jules e Marisa entraram no camarote com gritos
vertiginosos. Não eram como os de fãs, mas como os de amigas
– do mesmo tipo que Felicia e Piper me cumprimentavam nas
visitas muito infrequentes que espremíamos na agenda. Eu
estava determinada a torná-las mais frequentes depois da turnê,
quando eu não seria a amiga de merda que sempre desistia ou
aparecia uma hora atrasada.
Cada uma delas me abraçou e eu as abracei de volta, feliz por
não ser a única nesta caixa grande sozinha.
— O que vocês estão fazendo aqui? — Eu olhei para elas,
tentando descobrir se eu tinha perdido uma mensagem sobre
elas virem.
— Uma coisa de última hora. Keyton mencionou a LJ sobre
você vir ao jogo e, claro, ele me contou. Nós não queríamos que
você tivesse que se sentar no jogo sozinha, então aqui estamos.
— Marisa fez uma varredura de mão de demonstração. Seu
sorriso vacilou um pouco — Espero que esteja tudo bem — Ela
olhou ao redor da sala como se elas pudessem estar se
intrometendo.
— Está perfeito. Eu estava me perguntando como eu
comeria toda essa comida sozinha. Keyton não precisava
solicitar para o pacote de vinte pessoas.
— Se tivéssemos nos avisado antes, poderíamos ter
convidado Elle e Seph, você ainda não as conhece, mas elas são
incríveis.
— Ele provavelmente não queria espalhar muito a notícia
— Eu peguei a bainha do meu suéter até perceber como isso
poderia soar. Cambaleando para frente, acenei minhas mãos na
minha frente — Não que ele achasse que alguma de vocês
falaria sobre isso ou algo assim. Apenas quanto mais pessoas
souberem… mais chances há… — Baixei a cabeça. Frustração
fervia em meu peito que eu não poderia ser convidada para um
jogo como qualquer outra pessoa.
Jules esfregou meu ombro.
— Está tudo bem, Bay. Entendemos. Bem, não
"entendemos" como em saber o que você está passando, mas
nós entendemos. Especialmente depois do que aconteceu no
início desta semana. Você está bem? — Ela ofereceu um aperto
reconfortante.
— Estou bem — Minha resposta instintiva às entrevistas.
— Você é mais forte do que eu — acrescentou Marisa —
Um cara me atacou durante o último ano da faculdade. Keyton
veio em meu socorro lá também. Ele sabe como lidar consigo
mesmo.
— Ele sabe — Olhei entre as duas. Esta era uma conversa
que amigas teriam, não alguém procurando por um tweet
suculento ou clipe de som. Elas estavam preocupadas comigo.
Preocupadas com Bay, a meio amiga, não Bay, a cantora.
— Mas ele tirou o cara e LJ me levou para casa. Eu tive que
dormir na cama dele naquela noite, eu ainda estava tão
assustada — Ela estremeceu.
— Quando estou com Keyton, ajuda com os pesadelos. Eles
não são tão assustadores agora. Mais como acordar de um
sonho onde você sente que está caindo e menos como se um
cara estivesse vindo atrás de mim com uma faca. Mas eu chego
lá.
— Se você precisar conversar, você tem o meu número. Ou
você pode pegar com Keyton — Ela riu.
Jules me abraçou novamente.
— Estamos todos felizes por você estar bem. Eu não posso
imaginar. Achávamos que a comida de Marisa era perigosa —
Afastando-se, seus olhos estavam cheios de risadinhas
brilhantes.
— Ei! — Marisa saltou atrás de mim — Sob a tutela de LJ
aprendi a cozinhar. Eu até fiz o jantar para ele ontem à noite.
Jules se inclinou.
— Homem corajoso.
Marisa a encarou.
— Eu posso ouvir você. Nem todos podemos ser virtuosos
da cozinha. Se LJ e eu nos divorciarmos, vou me casar com um
dos seus brownies de chocolate.
— Você cozinha? — Eu me virei para Jules.
Ela abaixou a cabeça e colocou o cabelo atrás da orelha.
— Um pouco.
Marisa passou o braço em volta do meu ombro.
— Ela está sendo irritantemente humilde. Sua websérie de
culinária acumulou mais de cinquenta milhões de
visualizações.
— Marisa… — A advertência de Jules foi indutora de
sorrisos. Esse era o tipo de se gabar que só uma pessoa que
amava outra poderia fazer, do tipo que nunca faria por si
mesma.
— Isso é incrível, Jules. Posso experimentar algumas de suas
coisas? — Peguei um dos baldes de pipoca. O caramelo
agridoce estava cantando para mim do outro lado da sala.
— Você não precisa. Não é grande coisa.
O braço de Marisa bloqueou a tentativa de Jules de recuar.
— É uma grande coisa.
O olhar de Jules disparou para o teto.
— Marisa. Estamos falando com Bay aqui. Ela tem
cinquenta milhões de visualizações em um vídeo. Eu acumulei
cinquenta milhões em seis anos.
Aí veio a parte que eu odiava, a parte em que outras pessoas
evitavam falar comigo sobre suas vidas porque não faziam jus à
minha.
— Não subestime o que você realizou. As pessoas têm faro
para o talento. Posso experimentar um pouco do que você fez?
— Você não precisa. Não é grande coisa.
— Seus biscoitos de chocolate com manteiga queimada e
caramelo são alucinantes. Seus biscoitos de chocolate com
caramelo salgado com chips de café expresso são uma mudança
de vida. Seus biscoitos crocantes de caramelo são de explodir a
alma.
— Por favor, desculpe-a, a intoxicação alimentar ao longo
dos anos envenenou sua mente.
— Você acha que eu não posso apreciar biscoitos crocantes
de caramelo que explodem a alma?
— Não, mas tenho certeza de que as pessoas estão sempre
pedindo coisas para você ou tentando fazer com que você as
experimente. Eu sei que você está ocupada.
— E você sabe para quem eu amo fazer as coisas? Pessoas
que nunca pensam em perguntar. Você tem uma loja?
— Não, eu cozinho em casa e dou para bancos de alimentos
locais. Assim que o programa online decolou, o volume de
pedidos me fez ficar quase 18 horas por dia tentando cumpri-
los. Agora só cozinho para eventos especiais.
Marisa mordeu uma asa de búfalo.
— Ela cobra pelo aroma deles também.
Eu ri.
— Eu pagaria de bom grado pelo aroma de alguns.
— Você não precisa. Amigos sempre comem de graça —
Sua última palavra foi pontuada por uma batida de quadril.
Uma reconfortante batida de quadril me fez gostar ainda
mais das duas.
Assim que Marisa descobriu o bar completo, ela deixou
nossa cidra de maçã quente de lado e foi direto para as mimosas
de cranberry e martinis de floco de neve.
Com nossos pratos carregados, sentamos no bar de frente
para o estádio nas banquetas de couro.
— Vocês duas vêm a todos os jogos em casa? — Eu inalei
um mini-cheeseburger.
— Eu tento — Jules apontou um palito de mussarela para si
mesma — Marisa gosta de antagonizar LJ e fingir que ela não
vai aparecer, mas ela geralmente aparece.
Marisa mastigou alguns nachos.
— Eu tenho que mantê-lo na ponta dos pés. Você já foi a
um jogo antes?
Eu balancei minha cabeça.
— Apenas o último no acampamento de treinamento
quando Keyton começou, mas não era um jogo como este —
Minha mão passou na minha frente pelas janelas em direção ao
estádio repleto de pessoas.
O pontapé inicial começou e a multidão estava de pé
durante a maior parte do primeiro quarto. Terminou com uma
pontuação de 16-14 e nenhum jogo para Keyton.
— Ele vai ficar chateado por não estar lá fora — Eu
mastiguei o milho caramelizado.
— Eu sei que isso o incomoda, mas cara, o que eu não daria
para Berk descansar. Juro que ele passa mais tempo no banho
de gelo do que no banho de verdade.
— Você deveria ouvir LJ descendo as escadas. Um esqueleto
em um xilofone faria menos barulho.
— Como vocês lidam com tudo isso? — Olhei entre as duas.
O corte em sua mão me deixou em pânico, mas vê-lo se
machucar semanalmente seria tão difícil – ainda mais difícil
porque eu sabia que era o que ele queria. Ele sonhou em fazer
isso toda a sua vida. Como eu poderia me manter sã e ainda vê-
lo colocar seu corpo na linha?
Marisa pousou sua bebida com um olhar melancólico pela
enorme janela.
— Eles amam isso. Cem por cento, sem arrependimentos,
adoram isso. Aconteça o que acontecer depois desta temporada
ou da próxima, eles têm apenas uma pequena janela para o seu
sonho. Eu nunca poderia dizer a ele para não torcer até a última
gota que puder.
Keyton obteve os benefícios superficiais, mas não o tipo de
satisfação suja, imundo e de tirar o fôlego. Eu podia sentir o
quanto o machucava não viver cada pedacinho de seu sonho.
Sentir que ele nunca teve uma chance.
Seria como me pedir para subir no palco noite após noite e
dublar as palavras de outra pessoa. Lentamente, isso me
desmantelaria tijolo por tijolo.
— Hora de dar a você a experiência completa do futebol da
Filadélfia — Marisa desceu do banco.
— O que isso significa? — Olhei para Jules que riu em sua
mão.
— Significa equipar-se senhoras, vamos lá fora — Ela
apontou para os assentos do outro lado do vidro como se
estivéssemos subindo o Himalaia — Pelo menos um pouco,
para que eu possa dizer a LJ que não fiquei muito mole e fiquei
dentro o tempo todo — Um olhar tímido surgiu em seu rosto.
Reunindo provisões, migramos para fora, empacotadas
com parkas e cobertores fornecidos na suíte, nossa respiração
escapando em baforadas na frente de nossos rostos. Os
aquecedores de assento eram úteis, assim como as luvas, o
chapéu e os cobertores sobre nossos colos, mas minhas
bochechas estavam geladas. Nós três nos amontoamos, rindo e
bebendo cidra de maçã.
— Uma das ruínas de estar tão alto — O vento açoitou
minhas bochechas.
— Eu amo o homem, mas vou durar meio quarto aqui, no
máximo — Marisa saltou para cima e para baixo em seu
assento.
Jules respirou em suas mãos.
— Nenhuma de nós precisa se preocupar com o
congelamento de óvulos. Meus ovários devem estar sólidos
como rocha neste momento.
— Você já buscou isso?
Ambas as cabeças viraram na minha direção. Claro que não
é um assunto estranho para trazer à tona com duas pessoas que
eu mal conhecia.
— Você já?
Minha guarda subiu como sempre. Eu pensei sobre isso. Eu
ainda não tinha trinta anos, mas ouvi que congelá-los o mais
jovem possível aumentava as chances mais tarde. Talvez meu
próximo álbum fracassasse e as pessoas se esquecessem de mim.
Ou talvez minha vida ficasse ainda mais insana antes de eu me
jogar do trem da estrela pop.
Uma parte de mim ansiava por uma garotinha com os olhos
de Keyton ou um garotinho com seu sorriso despreocupado.
— Não, houve um artigo na Cosmo ou em outra revista. Foi
uma leitura interessante. Vocês estão planejando ter filhos em
breve? — Meus goles eram grandes demais para o quão quente
a bebida estava. A cidra de maçã queimou na descida.
O vapor subia da caneca de Marisa.
— Estamos pensando nisso, mas LJ não quer viajar quando
eles estiverem aqui, então estamos esperando para ver como
esta temporada vai.
— O mesmo. Berk está nervosamente animado com as
crianças – ainda mais agora com Reece e Seph grávidos.
Keyton havia falado sobre eles.
— Esses são os dois que deveriam vir para SeptemberWeen.
Foi ela que lançou o anúncio de sexo na faculdade e ele
respondeu?
Elas riram.
Marisa se enrolou mais no cobertor.
— Ela tem tanta sorte que Reece apareceu por engano e não
um pervertido total.
Jules colocou o dela em volta dos ombros.
— Você acha que eles vão contar essa história para seus
filhos?
— Bem, queridos filhos, a mamãe estava querendo perder a
virgindade, perguntou ao papai o tamanho do pau dele e foi aí
que ele se apaixonou.
O líquido quente queimou na saída do meu nariz. Eu tinha
soltado mais bebida pelo nariz no último mês do que na maior
parte da minha vida. Lutando, peguei alguns guardanapos.
Jules pegou um pouco e me enxugou.
— Ela não perguntou isso a ele!
Ainda mais risadas. Jules limpou a cidra no meu colo.
— Ela perguntou. Foi a pergunta número um.
Marisa entrou na conversa.
— Acho que foi a número três. A primeira era quanto
tempo ele poderia durar. A menina sabia o que era importante
para ela.
Desta vez todas nós caímos na gargalhada.
O quarto começou com um apito chocante soprando pelos
alto-falantes - ou talvez fosse apenas o frio tentando tirá-los da
minha cabeça.
O vento de inverno estava muito mais frio do que eu
esperava para o final de outubro. Quase tinha gosto de neve no
ar.
Marisa acenou.
— Estamos na tela grande — Ela apontou para a tela enorme
à nossa frente no estádio.
Jules acenou também.
Seus nomes apareceram na tela.
Marisa Saunders-Lewis. Esposa - LJ Lewis.
Jules Vaughn. Esposa - Berk Vaughn.
Bay.
Sem designação. Não que deveria haver. Keyton e eu não
estávamos nos escondendo, mas meu post não o chamava de
meu namorado. Eu não queria jogar isso nele. E nosso status
tinha sido semi-ocultado pelo homem com a faca.
Mas ver meu nome lá em cima sozinho não tinha a mesma
motivação que uma vez teve.
Pela primeira vez, eu queria a notação, o modificador do
meu nome, mostrando que eu tinha alguma conexão com o
mundo exterior, que não estava sozinha. Que eu fazia parte de
um casal. Parte de um com Keyton.
O jogo estava perto – tão perto que não tive minha chance em
campo. Mas os parabéns quando a jogada final terminou com
uma tentativa fracassada de Atlanta na end zone fizeram
parecer que eu tinha segurado todo o time adversário sozinho.
Qualquer outra pessoa estaria pulando junto com a equipe,
animada por estarmos um jogo mais perto dos playoffs. Mas a
dor no meu peito crescia a cada segundo que passava do relógio
do jogo.
Deixando Berk e LJ para trás, saí do vestiário. Não precisava
nem tomar banho.
A conferência pós-jogo foi uma piada como sempre. Uma
enxurrada de perguntas para mim na minha camisa imaculada
enquanto o resto dos caras estavam sujos e ainda suando de
arrebentar suas bundas no campo.
As perguntas foram lançadas em minha direção como se
qualquer coisa que eu tivesse feito tivesse um impacto no
resultado. Eu sempre esperei pelos escárnios ou provocações
dos caras da equipe sobre o quão inútil eu era, mas eles nunca
vieram. Eles pareciam tão felizes quanto qualquer um em
confiar na minha boa sorte, ou porque acreditavam nela ou
porque adoravam usá-la para entrar na cabeça do outro time.
Saber que Wisconsin estava fora fez com que as paredes da
sala lotada de cadeiras dobráveis parecessem estar se
aproximando de mim, prontas para torcer e dobrar o metal. O
prazo de negociação era em menos de duas semanas e não havia
uma palavra de Ernie. E não haveria.
Pendurei minha mochila no ombro e saí, ainda mais ansioso
para chegar a Bay, para ter certeza de que não houve nenhum
problema e para ver o que ela achou de seu primeiro jogo
profissional.
Jules e Marisa acenaram de seu lugar ao lado da porta do
vestiário. Jules puxou o zíper de seu casaco.
— Obrigada por nos deixar fazer companhia a ela.
— Obrigado por fazerem isso.
Marisa revirou os olhos.
— Como se você tivesse que pedir duas vezes. É o que
fazemos quando há uma nova mulher na vida de um Fulton U.
Ela é incrível por sinal. Mas tenho certeza que você já sabia
disso.
Uma leveza de pluma encheu meu peito com a rapidez com
que elas a aceitaram. Elas largaram tudo depois de saber que ela
assistiria ao jogo sozinha.
— Eu sei.
Berk e LJ se juntaram a elas alguns segundos depois e todos
foram em direção às saídas.
Em vez de Bay esperar no corredor vazio que leva à saída dos
jogadores, Holden ficou ao lado de Eric com as mãos enfiadas
em seu casaco preto.
— Bay queria descer para parabenizá-lo pela vitória.
Olhando para cima e para baixo no corredor, vi que havia
menos pessoas do que durante um jogo, mas ainda muito mais
do que eu gostaria. Depois do que aconteceu no início da
semana, sua hesitação em relação às multidões fazia muito mais
sentido.
Eu caminhei até ele, abrindo meus punhos e lutando contra
a raiva queimando em meu peito. Ele tinha esquecido o que
tinha acontecido menos de uma semana atrás?
— Diga a ela não. Não é seguro. Eu vou encontrá-la — Eu
procurei no corredor, esperando não pegar um olhar dela.
Seu queixo se projetou.
— Ela queria cumprimentá-lo depois do seu jogo.
— Há muitas pessoas.
— Obviamente, era um risco que ela estava disposta a
correr.
— O seu trabalho não é garantir que não haja riscos? —
Apontei para os dois.
A carranca de Holden cresceu para um brilho.
— Remover o risco é impossível. Mitigar o risco é o meu
trabalho. Ela não está aqui de biquíni cantando no microfone
anunciando que está aqui, está?
Minha mandíbula apertou.
— Você quer vê-la ou devemos levá-la embora e enrolá-la em
plástico bolha antes de voltar para levá-lo até ela em uma maca?
— Sua secura cáustica ralou meus nervos.
Dei um passo para trás e afrouxei o aperto na alça da minha
mochila. Meu aborrecimento e raiva por não jogar estavam
surgindo por Holden estar entre mim e Bay. Respirei fundo e
dei outro passo para trás.
— Ela está por aí?
Holden balançou para trás, pego de surpresa pela minha
mudança de tática.
— Sim. O carro estará pronto quando vocês dois estiverem.
Ela queria passar esta noite com você.
Eu balancei a cabeça, caminhando em direção à porta.
— Está custando a ela… — Seus lábios se apertaram e sua
mão disparou, agarrando meu braço — Todo esse tempo com
você está custando a ela. Eu queria que você soubesse disso. Eu
queria ter certeza de que você não estava tomando isso como
garantido.
— Eu não estou — Nosso olhar fixo durou mais alguns
segundos antes que seu queixo abaixasse e ele me soltasse.
A janela fosca na porta de vidro estava entre mim e ela.
Sacudi a tensão do jogo e meu desentendimento com Holden,
não querendo que isso a tocasse.
Ela pulou quando a porta se abriu antes de sorrir assim que
entrei para fora da luz forte do corredor.
— Ótimo jogo — Ela olhou por cima do meu ombro em
direção à porta fechada. Seus ombros ainda estavam tensos.
Eu mordi de volta a reação instintiva para contar a ela todas
as razões pelas quais não tinha sido meu mérito vencê-lo.
— Obrigado.
— Desculpe por causar o show paralelo lá fora com Holden
e Eric, mas eu queria descer para ver você como todo mundo
— Seus passos em minha direção eram lentos e medidos,
inseguros e tímidos.
Um peso foi colocado em meus ombros com sua incerteza.
— Estou sempre feliz em ver você. Estou feliz que você
desceu. Como foi assistir com Jules e Marisa?
Parte da tensão se afrouxou.
— Elas são hilárias. É muito divertido estar com elas. Você
tem sorte de ter um grupo tão grande de amigos ao seu redor —
Os ruídos aumentaram no corredor.
— Todo mundo finalmente tomou banho e se trocou,
prontos para comemorar sua vitória.
Sua risada desanimada não incutiu muita confiança em
quão bem ela lidou com as consequências do ataque.
— Você está pronta para sair daqui? — Eu estendi minha
mão.
Seu olhar saltou da porta para a minha mão. Alívio irradiava
dela e ela o pegou, entrelaçando seus dedos nos meus.
Puxando o capuz do suéter sobre a cabeça e tirando os
óculos de sol do bolso da frente, ela os enfiou no nariz.
— Pronta.
Com o melhor disfarce que tínhamos, saímos da sala. Eric
ficou na frente e Holden nas costas, ambos alertas, assim como
eu, mas não notáveis. A segurança do estádio também estava
aqui, então meu medo não era tão grande, mas minha
preocupação com Bay era.
A viagem para o meu apartamento foi rápida, embora eu me
sentisse mais como se fôssemos duas crianças sendo deixadas no
cinema por nossos pais superprotetores. Neste caso, porém,
toda a ajuda para manter Bay segura era bem-vinda.
Lá dentro, acendi as luzes e examinei meu apartamento.
Sinais de Bay estavam aqui. Um suéter que ela havia deixado.
Chinelos confortáveis que ela pegou algumas semanas atrás.
Um par de almofadas da Ikea no sofá cinza. Parecia uma casa.
Como nossa casa.
Pedi pizza, servi uma taça de vinho para nós dois e me sentei
no sofá ao lado dela. Ela folheou a seleção de filmes.
— Eu posso explodir depois de toda a comida que comi no
jogo — Ela colocou as mãos na frente do estômago, estufando
as bochechas.
— Sem problemas. Você pode me ver comê-la, então.
— Comi mais porcaria hoje do que há muito tempo. Já faz
muito tempo.
— Você esteve vivendo em circunstâncias incomuns por um
tempo.
— Totalmente perdida — Ela me entregou o controle
remoto — Você escolhe.
Seus dedos traçaram a borda de sua taça de vinho.
— 3 de novembro estará aqui em breve — Sua voz parecia
distante. Desfocada.
— É quando você voa — O dia para o qual tentei me
preparar, mas sabia que me atingiria como uma marreta
quando chegasse.
— Para Londres.
— Como você se sente com isso? — Eu sabia como isso me
fazia sentir – como se estivesse me preparando para perder a
única pessoa sem a qual não poderia viver. A inevitabilidade
assustadora de nossa separação, que poderia durar semanas ou
meses a fio, se aproximava.
Ela me abraçou forte, enterrando o rosto no meu peito. Seu
coração batia rápido como um filme de terror.
— Eu não quero ir sem você, mas você tem uma vida e uma
carreira como eu.
Eu escovei minha mão sobre sua cabeça.
— Já fizemos os planos para quando nos veremos em
seguida — Depois do Natal. Depois do fim da minha
temporada, depois dos playoffs, mas antes do Campeonato
Nacional. A única brecha que podíamos abrir.
Seus dedos apertaram minha camisa.
— Eu sei.
Corri minhas mãos em suas costas, desejando poder sempre
protegê-la.
— Você ainda está assustada com o que aconteceu.
Ela balançou a cabeça.
— Ele nem chegou perto de mim. Eu sei que é estúpido —
Sua voz estava cheia de constrangimento.
Eu inclinei seu queixo para cima.
— Você tem todo o direito de se sentir assim. Nunca deveria
ter acontecido. Ninguém deveria ter que viver com o medo e
nas situações em que você foi colocada.
— Holden disse que os policiais descobriram que ele estava
me seguindo desde que cheguei à Filadélfia. Não o tempo todo,
mas o suficiente para ser um pouco assustador. Ele poderia ter
atacado a qualquer momento. Ele viajou desde Delaware.
Forçando meus músculos a não apertarem, eu a segurei
perto.
— Ele ainda está sob custódia, certo? — Ele a estava
seguindo desde que ela chegou aqui e eu nunca o tinha visto,
nunca pensei que um ataque pudesse acontecer. Isso mostrou
como ela estava certa em ser cautelosa em situações públicas, e
aqui estava eu tentando tirá-la mais. Eu estava a três segundos
de envolvê-la em plástico bolha e colocá-la na minha cama.
A racionalidade tomou conta. Eu não podia escondê-la. Ela
estava vivendo esta vida muito antes de eu reentrar nela.
Escovando as mãos contra os olhos vermelhos, ela se sentou
e assentiu.
— Havia testemunhas suficientes para que eles nem
precisassem de mim lá.
— Eric está trazendo mais segurança?
— Sim, mas na turnê é diferente. Eu mal vejo o lado de fora
do hotel, ônibus de turismo ou estádio. É muito mais fácil de
conter.
Uma existência em uma gaiola. Eu odiava a necessidade
disso. Eu odiava que me desse um pouco de alívio saber que
sem mim por perto ela provavelmente voltaria a como vivia
antes, com menos lacunas para as pessoas se aproximarem dela.
E eu odiava como essas conexões foram roubadas dela para
mantê-la segura.
— Você consegue fazer isso?
Ela riu.
— Eu não tenho exatamente uma escolha. Além disso, é
para isso que serve a bebida, certo?
— Vai queimar como um filho da puta no caminho de volta
se você estiver vomitando antes de cada show — Era assim que
ela normalmente lidava com a estrada? Bebendo para
entorpecer seus nervos?
Suas costas enrijeceram e ela se levantou do sofá.
— O que isso deveria significar? — Com os braços cruzados,
ela andou na minha frente.
Esfreguei minhas mãos sobre meu rosto. Isso não era sobre
a minha pergunta. Era sobre seus medos e preocupações. Eu
tinha visto a diferença entre Bay performer e Bay musicista.
Elas não chegam perto uma da outra em termos de como ela se
iluminou durante cada pedaço de seu mundo.
— Você está feliz?
— Estou vivendo a vida que qualquer um sonharia. Meu
rosto está em outdoors. Consigo ver o mundo. Tenho pessoas
que farão qualquer coisa por mim. Pegam qualquer coisa para
mim.
— Não foi essa a pergunta que fiz — Inclinei-me para
frente, pressionando as palmas das mãos e descansando-as
contra meus lábios.
Chegar nela assim não tinha sido o caminho certo. Eu
precisava recuar, para que ela não sentisse que eu estava
atacando suas escolhas, mas para mostrar a ela que eu estava lá.
— Meu pai morreu há quatro anos e meio. Cirrose — Bati
meus dedos indicadores contra meus lábios — Ele devia estar
em suas últimas quando apareceu na Califórnia.
Ela parou de andar. Minha mudança de assunto a pegou
desprevenida.
— Eu sinto muito. Você tinha falado com ele antes disso?
— Não. Ele tentou entrar em contato comigo algumas vezes
em LA, mas eu me recusei a deixá-lo causar mais problemas
para mim. E parei de me deixar causar mais problemas para
mim, pelo menos tentei — O som escapando dos meus lábios
oscilou à beira do riso. — Isso mexeu com a minha cabeça por
um tempo – ele morrer. Na noite em que descobri, tinha
acabado de terminar minha primeira temporada fora do time
de treinos. Ganhei um belo bônus de assinatura. Eu tinha sido
cauteloso com meu dinheiro quando estava no time de treinos,
mas senti vontade de estragar tudo — A borda do penhasco em
que eu estava se desintegrou debaixo de mim em um piscar de
olhos.
“Knox e eu tivemos uma noite louca em Las Vegas. Ficamos
chapados além da crença. Quase entramos em algumas brigas.
Eu estava vindo treinar bêbado também. Que diabos importava
se eu não estava jogando? Eu consegui entrar no time. Tinha o
dinheiro. Tinha o anel do campeonato. E eu estava tentando o
meu melhor para jogar tudo fora — O torno no meu peito
apertou ao dizer a ela tudo isso, abrindo-me para deixá-la saber
o quão fodido eu estava.
“Achei que seria uma ótima ideia fazer um passeio de
helicóptero sobre o Grand Canyon, aparecer em algum lugar e
pousar como se eu fosse um dos caras do Entourage. Knox
havia atingido seu limite e estava pronto para a noite. Entramos
em uma briga. Algo estúpido — Eu apertei meus olhos
fechados. Tinha sido ele me dizendo que era hora de voltar para
o hotel.
Mas minha atitude foi "foda-se ele". Meu pai estava morto,
não havia mais ninguém no planeta que pudesse me dizer o que
fazer.
“Então decidi ir sozinho. Eu não precisava de nada nem de
ninguém. — Esfreguei minhas mãos. — O que eu queria era
ficar entorpecido e testar as isso fazendo algo emocionante.
Com uma garrafa de Jack Daniels e mais dinheiro do que um
jovem de 23 anos deveria ter, fui procurar minha grande
aventura.
Seu braço apertou em volta do meu ombro.
— O que aconteceu?
— Nos primeiros vinte minutos, vistas arrebatadoras,
truques aéreos e uma queda na minha tolerância ao álcool.
Sentei-me com a cabeça contra o vidro olhando para todas as
pessoas que viviam suas vidas. As luzes traseiras movendo-se
pelas ruas. Nada disso parecia real. Eu não me sentia real — O
suor escorria na minha testa. Meu pulso acelerou e minha
garganta apertou.
— A vida que eu estava vivendo era irreconhecível perto da
que eu tive crescendo em Greenwood. Mas lá estava eu,
sozinho com uma garrafa de bebida, brigando com alguém que
eu amava como um irmão.
Ela se agachou na minha frente, estendendo a mão. Dedos
em volta do meu antebraço.
— E quando você pousou as coisas eram diferentes.
— Não exatamente — Fechei minha mão sobre a dela,
centrando-me neste momento. Eu respirei estremecendo para
me ajudar a passar pelo resto. Eu estava seguro aqui com ela.
Ela se arrastou para se sentar no sofá ao meu lado.
— Primeiro, foi preciso uma pequena falha no motor. — Eu
estremeci, suor escorrendo ao longo do meu couro cabeludo,
pensando na sensação de estômago despencando. Meus dedos
agarraram a borda do sofá, e era difícil respirar.
Eu vivi um monte de merda, mas nunca duvidei que
chegaria ao outro lado. Eu poderia ter sido machucado,
espancado e maltratado, mas eu sabia que sobreviveria. A
queda livre no helicóptero foi a primeira vez que senti o frio
aperto do dedo da morte na minha nuca.
— O piloto se recuperou, embora provavelmente estivesse
apenas um pouco menos bêbado que eu. Mas para a queda livre
de dez segundos, Deus, dez segundos parecem muito tempo
quando você pensa que está despencando em direção à morte
— Não houve nem tempo para gritar. Sem chance de berrar ou
bradar. Todo o som estava entupido na minha garganta pelo
medo.
Quando aterrissamos, eu literalmente beijei o chão, caí de
joelhos com as mãos cerradas na parte de trás da minha cabeça
e meu nariz tocando terra firme
“Eu tenho um pouco de clareza sobre o que eu estava
fazendo comigo mesmo. Em quem eu corria o risco de me
tornar. Me afogando em álcool, vomitando antes do treino de
ressaca, eu estava tentando me matar e arruinar minha vida. Eu
jurei a mim mesmo que nunca seria como meu pai. Eu nunca
faria o que ele fez — Eu comecei a trabalhar com Monica
alguns dias depois disso por recomendação de alguns dos caras
que tiveram que vê-la por sanções de controle de raiva.
“Eu trabalhei isso. Com certeza não foi fácil. Levou muito
tempo para descobrir que ele nunca foi realmente meu pai.
Não da maneira que eu merecia, e não de uma forma que
permitisse que ele me ensinasse o que era ser um homem. Ele
tinha tanta raiva nele e, de certa forma, ele morrer me libertou
de muito da minha. Se eu não tivesse mudado, teria me
devorado por dentro — Houve muitos questionamentos sobre
minha humanidade quando percebi pela primeira vez o quão
boa sua morte tinha sido para mim.
“O helicóptero me deu dois presentes: um tapa na cara para
acordar e começar a ver um terapeuta e um medo paralisante de
helicópteros. — Sua cabeça sacudiu um pouco. — Às vezes
acordo à noite sentindo que estou em queda livre, não apenas
pelo ar, mas também de volta ao meu antigo caminho. Apenas
ouvir as pás do rotor pode enviar um pânico frio na minha
espinha.
— No SeptemberWeen… é por isso que você não quis subir.
Eu balancei a cabeça, me sentindo um pouco covarde. Com
meus pés solidamente no chão, eu poderia estar no alto, como
se estivesse olhando pela janela. Mas uma vez que minhas solas
deixassem o chão, todas as apostas eram canceladas.
— Mas você me deixou ir.
— Meus problemas não são seus. Você estava feliz e
animada para ir.
— Você estava pirando o tempo todo, não estava?
— Berk e LJ me ajudaram a me distrair, mas sim. Eu estava
definitivamente perdendo minha cabeça por uma boa parte do
seu passeio. Se você ama o que está fazendo e não consegue se
imaginar fazendo outra coisa, estou 100% com você. Mas eu sei
como é ter tudo o que você sempre sonhou e ainda sentir que
sua vida está ficando fora de controle.
Sua cabeça mergulhou e seus dedos roçaram as costas dos
meus. Ela olhou nos meus olhos e sua boca se moveu com
palavras sem som, como se estivessem sendo estranguladas de
sua garganta.
— Não sei o que quero.
O silêncio tornou-se palpável, tão espesso que eu podia
sentir o gosto. Parecia uma lança atravessando meu coração. Eu
queria que ela me escolhesse. Egoísta como era, eu queria que
ela dissesse que se dane, ela não iria para Londres, e ela
cancelaria tudo para ficar comigo.
— Eu voltei — Ela juntou as mãos.
— Para o meu apartamento. Você me disse.
Ela olhou de volta para mim com lágrimas brilhando em
seus olhos.
— Não, antes disso — Sua voz falhou.
Inclinei-me para frente, descansando meus antebraços em
minhas coxas.
— O que? Quando?
Uma respiração trêmula, sussurrada por seus lábios.
— Um mês depois que eu saí.
— Depois que você pegou o violão.
Suas narinas se dilataram e ela olhou para as mãos.
— Quando te enviei mensagem de texto. Eu já estava de
volta.
Eu respirei fundo.
— Você estava na cidade — Ela voltou, muito mais cedo do
que eu pensava, assim como eu implorei em minha mente.
— Eu estava no hotel. Aquele em que você parou com os
pais de Knox. O da praia. Eu vi você e enviei as mensagens para
você.
Meus olhos se fecharam. O "por favor" final de sua
mensagem quase me derrubou.
Mas uma vez que Marcie e Dale chegaram à cidade, foi mais
fácil fingir.
— Foi um momento ruim para mim.
— Você parecia tão bem. Tão feliz. Mais leve do que eu
tinha visto você o tempo todo em que estivemos juntos.
— Knox passou dois dias me deixando sóbrio e me forçando
a dormir. Houve uma pausa de três dias nos treinos, então eu
me afoguei em uma garrafa, mais do que uma. Eu senti como
se estivesse sendo engordado como um peru para Ação de
Graças.
— E-eu não sabia.
— Eu sei, esse foi o ponto. Eu já tinha transformado o filho
deles em meu guardião, o mínimo que eu podia fazer era não
adicionar outra pessoa à lista de preocupação — Eu não tinha
ilusões sobre o que era, mas não conseguia pisar no freio. Se
alguma coisa, eu tinha cortado as linhas e estava procurando a
queda mais íngreme que eu poderia encontrar.
— Quando tive coragem de responder, percebi que não
tinha nada para lhe oferecer. Então finalmente mudei meu
número para evitar a tentação de ligar para você nessa nova vida
que você começou.
Lágrimas brilharam em seus olhos.
— Eu queria voltar. Eu queria voltar para você.
— Eu estava uma bagunça, Bay — Eu segurei sua bochecha
— E agora sei como as coisas funcionaram, eu teria partido o
telefone ao meio, se isso significasse que você não voltaria para
bancar a enfermeira para mim.
Seus olhos brilharam.
— Seis anos, Keyton. Tudo que eu tinha era a música. Foi o
que me fez continuar.
Eu escovei as lágrimas se acumulando nos cantos de seus
olhos.
— Estamos aqui agora. Temos o resto de nossas vidas para
compensar o tempo perdido.
Mas havia uma parte de mim que queria mantê-la aqui e
segura, manter todos afastados que pudessem aborrecê-la ou
colocar o olhar de medo em seus olhos. A música estava lá para
ela quando ela pensou que tinha me perdido, mas meu coração
sempre pertenceu a ela.
Ela adorava a música, mas eu não queria que ela vomitasse
antes das apresentações ou precisasse ser medicada para se
apresentar.
Uma batida cortou a tensão como uma respiração ofegante
nos libertando da intensidade esmagadora das expectativas e
perguntas iminentes.
Peguei a pizza e dois pratos para nós.
Ela voltou a encher nossas taças de vinho e enfiou os pés sob
as pernas no sofá.
— Sua vida é sua vida. O que quer que você escolha e como
queira vivê-la, quero que saiba que estou lá para você. Nós
vamos fazer isso funcionar. Vamos nos fazer funcionar —
Apertei sua mão para tranquilizá-la de que não seria outra
pessoa que queria um pedaço dela sem dar tudo de mim em
troca.
A conversa foi mais lenta. As engrenagens giravam na cabeça
de Bay. Ela estava aqui comigo, mas também refletindo sobre
tudo o que eu disse.
Deus, eu esperava que eu não tivesse fodido tudo com
maestria.
Indo para meus armários, peguei seu lanche de cinema
favorito, Goobers e pipoca. Achei o filme perfeito.
— Eu sei que é um pouco cedo para isso, mas achei que
sempre é tempo para um filme de Natal perfeito.
Ela relaxou lentamente, e no momento em que Nakatomi
Plaza apareceu na tela, ela se mexeu, descansando as costas
contra o meu peito. Eu envolvi meus braços ao redor dela, mas
houve uma hesitação, quase como se ela estivesse esperando
que eu jogasse outra bomba nela para nos separar novamente.
Eu esperaria meu tempo e faria da maneira certa desta vez.
Eu daria a ela o tempo e o espaço que ela precisava, porque eu
não poderia sobreviver ao perdê-la novamente.
— Eu tenho uma surpresa para você — Ele desligou o motor e
se virou para mim no banco do passageiro.
A viagem pela ponte para Nova Jersey fora inesperada, mas
nunca indesejada. Uma curta viagem de carro, sentada ao lado
de Keyton, ouvindo rádio e cantando juntos velhas músicas foi
maravilhoso. Fora da cidade, onde as casas se espalhavam e as
pessoas nas ruas eram menos e mais espaçadas, parecia mais
seguro. Mais silencioso. Nenhuma multidão esmagadora estava
pronta para surgir a qualquer momento.
Era quase uma piada cruel que tivéssemos encontrado essa
janela de tempo para ficarmos juntos agora e não pudesse ter
uma em dezembro para ver Piper em seu aniversário. Enviei-lhe
uma mensagem para checá-la, mas não tive resposta. Talvez
Mark tivesse dito a ela que eu não conseguiria – de novo.
Espiando pela janela da frente, olhei para a casa de tijolos
vermelhos de dois andares aninhada em um terreno amplo com
árvores e cercas vivas ao redor do perímetro da propriedade.
— Onde estamos?
— Vamos. Você vai ver — Ele abriu a porta e pulou para
fora.
Parecia que todos haviam entrado no modo de distração
desde o ataque. Eles aproveitaram qualquer chance para tirar
minha mente disso. Os relatórios da polícia foram arquivados.
A resposta da mídia social continuou a ser esmagadora. As
consequências emocionais estavam diminuindo, especialmente
quando eu estava perto de Keyton.
Eu abri minha porta.
— Que tipo de surpresa? — Eu perguntei sobre o capô do
carro.
Ele contornou a frente e passou direto pela minha pergunta.
A casa era um grande ponto de interrogação. Ele tinha
comprado? Acalmou um pouco do medo que eu tinha dele
possivelmente se mudar para outra cidade. Filadélfia estar na
Costa Leste significava que as conexões aéreas seriam muito
mais fáceis.
— Temos o dia inteiro livre.
— Para que exatamente? — Meus dedos subiram de seu
braço até seu ombro, pensamentos de porquê tínhamos saído
do quarto fervendo na minha cabeça, prontos para aumentar o
fogo. No entanto, ele resolveu isso com Holden, e eu estava no
jogo, especialmente porque tínhamos menos de uma semana
até Londres.
— Tantas perguntas. Você é tão impaciente — Seu sorriso
de esconder algo fez meu estômago dar cambalhotas.
Ele me levou pelo caminho pavimentado de pedra ladeado
de arbustos na altura do joelho e flores de outono.
— De quem é essa casa? — Eu puxei seu braço.
— Aluguei para uma ocasião especial — o sorriso não era
menos travesso.
Uma batida dupla e esperamos. Para quê ou quem, eu não
fazia ideia.
A porta se abriu. Meu olhar passou de Keyton para a porta.
Provavelmente poderiam ter ouvido o grito estridente a dois
estados de distância.
Paradas na porta, Piper e Felicia estavam uma ao lado da
outra com sorrisos largos no tapete vermelho e a excitação
saltitante que só vinha de ver velhos amigos.
Nós caímos em um amontoado de risos e abraços, apoiados
por Keyton nos impedindo de cair nos arbustos da passarela.
— O que vocês estão fazendo aqui? — Eu posso ter gritado.
Então me processe! Estas eram Piper e Felicia.
— Eu voei ontem à noite — Piper saltou e me apertou com
mais força.
Felicia apertou minhas mãos.
— Cheguei esta manhã.
— Mas o que? Como?
Ambas olharam além de mim para o homem com a mão
apoiada nas minhas costas.
— Keyton.
Eu me virei e olhei para ele.
— Você as convidou para me ver.
Seu olhar mergulhou, a cabeça inclinada e chamou minha
atenção.
— Eu pensei que você poderia ter um dia das mulheres.
Meus olhos inundaram com uma avalanche emocional.
Piscando e olhando para o céu em uma técnica que aprendi ao
longo dos anos para não estragar minha maquiagem, sorri e
descansei minhas mãos contra seu peito.
— Você… — Eu segurei sua bochecha, tentando me
controlar. Ele era o lembrete que eu precisava. Ele era o passado
que eu tinha perdido. Ele estava cuidando de mim de maneiras
além do que eu poderia imaginar e neste momento, eu sabia
que não o merecia — Obrigada. Quanto tempo eu tenho?
O relógio de contagem regressiva estava sempre correndo.
Sempre havia demandas no meu tempo que eu não conseguia
me livrar porque perder uma causaria uma cascata.
— Como eu disse — ele passou os dedos sob meu queixo e
beijou meus lábios, os seus firmes, mas macios, puxando as
vibrações do meu estômago com força total —, você tem o dia
inteiro. Eu vou buscá-la amanhã de manhã às 6h da manhã.
Houve um problema com alguns aparelhos para o palco, então
você não pode ir à arena hoje. Holden disse que você tem um
ensaio e preparação para a pré-gravação de Ano Novo amanhã
porque o espaço alugado foi reservado para hoje — Seus dedos
entrelaçados com os meus — Divirta-se.
Eu balancei a cabeça e olhei por cima do ombro para os dois.
— Vocês aceitam isso? Um dia inteiro com a pior amiga do
mundo?
Ambas reviraram os olhos.
Piper agarrou meu braço e me arrastou em direção à porta
da frente.
— Não se preocupe, Dar…
Ele estremeceu.
— Desculpe, Keyton. Nós a pegamos. Vamos garantir que
ela esteja bem.
Nossos dedos se separaram. Felicia recuou e fechou a porta.
— Como ele convenceu vocês a virem?
— Nos convencer? — Felícia franziu o cenho — Ele não
precisou nos convencer. Ele perguntou e nós dissemos, claro.
Já faz muito tempo desde que tivemos a chance de sair. Achei
que você estava entediada em sair comigo, já que tudo que eu
falo é sobre meus filhos e aulas. Não é nem de longe tão
emocionante quanto a sua vida.
Piper entrou na conversa.
— Sim, o treinamento do penico não é o tópico mais
espetacularmente excitante.
— Não, claro que não. Eu amo vocês duas, e eu senti tanto
a sua falta. Achei que falar sobre viajar e o que estava
acontecendo, além de nunca estar por perto, significava que
vocês provavelmente estavam cansadas de mim.
Nosso abraço coletivo continuou.
— Parece que somos todas amigas de merda!
Felicia limpou uma lágrima do olho.
— Somos. Essa casa é linda.
— Vocês duas ainda não fizeram o tour — Piper não
conseguiu conter sua excitação vertiginosa — Eu juro, cobri
cada centímetro quadrado deste lugar e fica cada vez melhor.
Havia uma piscina aquecida, banheira de hidromassagem,
bar - completo com torneiras de chopp, bancos de bar e uma
luz de néon brilhante no teto - uma parede de escalada, skee-
ball e minijogos de fliperama de basquete. Dance Dance
Revolution tinha até sido lançado para uma boa medida.
— Keyton disse que o lugar é todo nosso. Ele também
providenciou um chef para cozinhar para nós, alguns
massagistas e uma surpresa especial para hoje à noite. — Piper
olhou por cima do ombro — Você acha que é um stripper?
Felícia balançou a cabeça.
— Você acha que o namorado de Bay contrataria um
stripper para ela?
Piper deu de ombros e então seu rosto se iluminou, os olhos
arregalados no prato.
— Você acha que ele é o stripper?
Eu caí na gargalhada e a agarrei por trás assim que ela chegou
ao topo das escadas da sala de jogos do porão.
— Deus, eu senti sua falta.
Ela se inclinou para trás e segurou meus braços.
— Eu também, Bay.
Droga. Hoje não vai ser sobre lágrimas.
— O que vocês querem fazer primeiro?
O cheiro de carnes e queijos do café da manhã inundou a
sala.
— Comida! — Nós partimos em direção à cozinha com
Piper liderando o caminho.
Lá dentro, um homem de uniforme de chef com tatuagens
aparecendo sob o colarinho e um batedor olhou para cima
quando entramos na cozinha.
— Olá, senhoras. Eu sou Wade.
— Ele está prestes a me fazer esquecer que sou feliz no
casamento — Felicia subiu em seu assento do outro lado do
balcão de café da manhã, de frente para o fogão — Talvez
Keyton esteja planejando enviar um stripper.
O chef tatuado com olhos castanhos claros era
definitivamente agradável aos olhos. Ele jogou o pano de prato-
por cima do ombro e colocou uma mimosa na frente de cada
uma de nós.
— Hoje, estou ao seu serviço.
Piper limpou a garganta e arrastou sua bebida para mais
perto.
— Eu posso fazer panquecas simples, de mirtilo ou de
chocolate. A torrada francesa de brioche de café está aquecendo
no forno junto com as salsichas e o bacon. Omeletes podem ser
feitos na hora com o que você quiser, ou Ovos Benedict com
bacon defumado com mel. Há também frutas frescas e para o
almoço…
A mão de Felicia se ergueu e ela apoiou a outra no balcão,
balançando a cabeça como se estivesse prestes a desmaiar.
— Você vai ter que desacelerar, Wade. Nós… — ela apontou
entre ela e Piper — …somos duas mães que trabalham. Esse
nível de mimo pode nos matar, então por que não vamos
devagar? Quero torradas e salsichas. Em seguida, os Ovos
Benedict com mais molho holandês ou o que você achar
apropriado. Então eu vou precisar correr ao redor da piscina do
quintal algumas vezes antes de comer mais algumas panquecas.
Ele sorriu, exibindo dentes brilhantes brancos perolados.
Ele certamente tinha seu apelo. Quem eu estava enganando?
Ele era gostoso pra caralho. Mas saber que ele estava aqui para
mim por causa de Keyton acrescentou outra marca a todas as
razões pelas quais essa turnê seria a mais difícil em que já estive.
— Mais. — Piper acenou com o prato sacudindo o bacon
crocante que Wade havia colocado nele — Eu vejo o quanto
você tem aí. Estamos apenas nós três aqui. Me sirva mais, Wade.
Rindo, ele acrescentou mais tiras ao prato dela.
Ela deu sua primeira mordida e fechou os olhos, os lábios
ainda ao redor do bacon.
— Estes estão cobertos de xarope de bordo?
Wade assentiu.
— Não apenas um rostinho bonito — Ela olhou para ele
melancolicamente enquanto ele trabalhava no prato da torrada
francesa de Felicia.
A manhã terminou com os estômagos cheios e assistindo
reality shows na sala de estar em sofás enormes que ameaçavam
nos engolir inteiras.
Piper tomou um gole de sua mimosa.
— Esta é a primeira vez que consigo comer uma refeição
inteira ininterrupta em quem sabe quanto tempo.
Felícia riu.
— Fui ao banheiro e quase deixei a porta aberta por hábito.
Sempre que a fecho, de repente há dedos sob a fresta da porta
gritando por mim como se eu tivesse sido sugada para outra
dimensão.
Esfreguei minhas mãos ao longo da haste do meu copo.
— Fico feliz em fornecer a você uma pequena fuga.
Voltamos para a cozinha para a segunda rodada.
Wade veio e encheu o copo de Piper e ela brindou com o
meu.
— A fila de segurança do aeroporto foi onde meus dois dias
de liberdade começaram. Eu os amo mais do que tudo no
mundo, mas às vezes eles são idiotas.
— As crianças?
Ela relaxou de volta em seu assento.
— Inferno, Mark também. Eu o amo até a morte, mas isso
não poderia ter vindo em melhor hora. Logo antes de toda a
loucura do feriado começar.
Felicia ficou de pé nos degraus da cadeira e pegou a garrafa
antes que Wade chegasse, enchendo seu próprio copo com uma
piscadela.
— Eve me disse ontem que queria trocar sua fantasia de
Halloween. Ela não quer mais ser uma Jack-in-the-box23, ela
quer ser uma astronauta.
Piper assentiu.
— Eu juro – você sabe o quê? Não! Nós não estamos
fazendo isso. Chega de nós fazendo a coisa da mãe reclamando.
Como vai, Bay? Especialmente depois do que aconteceu na
semana passada?
— Eu quero ouvir, sério. Eu amo ouvir sobre o que está
acontecendo com vocês — E eu amava. Eu tinha perdido tanto.
Piper cruzou um braço sobre o peito, segurando seu copo
como um aguilhão.
— Você não fugirá do assunto. Bota pra fora.
Tomei um gole fortificante da bebida do meu copo.
— Estou bem. Melhor. Ficando melhor. Keyton ajudou
muito com isso — Eu não queria puxar o dia para baixo e fazer
tudo sobre mim.
Piper disparou com um olhar de conhecimento.
— Não posso dizer que estou surpresa. Vocês dois sempre
tiveram uma conexão.

23
Personagem de restaurante de fast-food que é um palhaço, que se assemelha
ao brinquedo que é uma caixa que ao girar uma manivela o palhaço pula para
fora.
— Sim, claro. Nos dois anos e meio antes de ele finalmente
me notar, estávamos definitivamente conectados.
— Você sabe o que eu quero dizer. Uma vez que ele viu
você… ele não poderia desver você. A maneira como ele te
olhava, parte da razão pela qual me apaixonei por Mark foi
quando o vi olhar para mim como Keyton olhava para você.
— O que?
— Tudo o que estou dizendo é que estou feliz que vocês
encontraram o caminho de volta um para o outro.
Felicia colocou seu copo em um porta-copos na mesa de
centro do tamanho de um tênis de mesa na nossa frente.
— Quando ele apareceu com seu violão… eu juro que nunca
quase chorei olhando para alguém antes. Também poderia ter
sido uma loucura hormonal pós-parto, mas puta merda.
Meu estômago deu um nó com o desejo de alcançá-lo
através do tempo e contar tudo pessoalmente, não por meio de
uma carta. Eu gostaria de ter descoberto uma maneira de fazer
isso funcionar sem que nós dois nos afogássemos.
Sua mão cobriu a minha.
— Eu sei que você teve seus motivos para sair. Dado onde
você acabou, ninguém invejaria a escolha difícil que você fez.
Estou feliz que ele me ligou. Estou feliz por estarmos aqui com
você.
Piper cobriu minha outra mão.
— Eu também. Mark me contou sobre você não poder ir à
minha festa.
Eu respirei fundo e gaguejei tentando explicar tudo para ela.
— Eu não estou chateada. Claro que estou chateada por
você não estar lá. Mas não estou brava com você, Bay. Assim
como nossas vidas são agitadas e parecem fora de controle, eu
sei que a sua também é, ainda mais.
Felicia me cutucou nas costelas como uma irmã mais velha
faria.
— É diferente com a família.
Meu peito apertou e lágrimas queimaram na parte de trás
dos meus olhos. Eu não merecia a compreensão delas depois de
todas as vezes que as decepcionei nos últimos anos.
Piper apertou meu ombro.
— A família perdoa muito mais do que centenas de
milhares, senão milhões de fãs exigindo sua atenção.
Olhei para frente e para trás entre elas.
— Eu não quero que vocês duas nunca pensem que eu
subestimei nossas amizades ou não me importo com vocês.
Felicia deu um tapinha na minha perna.
— Nós sabemos. E acho que falo por nós duas aqui — Ela
olhou para Piper, que assentiu — Sempre que tiver um dia ou
algo assim, avise-nos. Podemos não ser capazes de vir todas as
vezes. Se você estiver em Pequim ou Melbourne,
provavelmente é um não, mas avise-nos e iremos se pudermos.
Você não estará sendo uma diva por ligar para suas amigas e
perguntar se elas querem sair.
— Especialmente se você tem bebida na prateleira de cima
— Piper esvaziou o resto de seu copo e agitou-o.
O tambor batendo no meu peito sinalizando todas as
minhas falhas ao longo dos anos mudou seu tom para uma
celebração. Minhas amigas estavam aqui comigo. Eles me
amavam e se importavam comigo. Elas não achavam que eu era
a pior amiga que existe e eu não tinha danificado nosso vínculo.
Uma nova música tocou, cheia de alegria, amizade e amor pelas
pessoas que eu nunca daria por garantidas e que tornaram
minha vida mais plena.
Descemos para a sala de jogos antes do almoço. Depois de
uma partida skee-ball onde Felicia ganhou, eu joguei basquete
enquanto Piper limpava o chão que a gente dançou com Dance
Dance Revolution.
As bebidas abundantes podem ter sido parte da razão pela
qual ela ganhou. Risos ricochetearam nos tetos abobadados e
corremos pela casa como se fosse o melhor parque de diversões
do mundo.
Depois de um almoço mais delicioso do que merecia ser e de
outro coma alimentar, partimos para a parede de escalada em
esteira24 (quem sabia que isso existia?), depois um filme no
cinema, completo com poltronas confortáveis, e assamos

24
Parede de escalar em esteira é como uma esteira de caminhada na vertical
com leve inclinação e com partes em relevo para escalar.
nossos próprios biscoitos antes de pular na banheira de
hidromassagem antes do jantar.
Felicia encheu nossos copos e se recostou.
— Wade pode me matar se o jantar for tão delicioso quanto
tudo o que comemos hoje.
Piper arrastou óculos imaginários pelo nariz.
— Olhando para ele, me pergunto por que não decidi me
tornar chef. Hum. Talvez ele faça aulas virtuais de culinária. Se
Mark aprendesse a cozinhar assim, talvez eu nunca o deixasse
sair do quarto, exceto para cozinhar.
Felicia distribuiu os biscoitos ainda quentes.
— Vocês dois se conheceram na faculdade, certo?
— No primeiro ano deles. Eles moravam do outro lado do
corredor.
Felicia e eu fizemos aww.
Piper revirou os olhos.
— Ele ficou tão bonitinho com suas novas camisas rosa
depois de misturar brancas e coloridas na lavagem. Adorável e
a coisa mais doce de todas. Estamos juntos desde então — Ela
tinha um olhar distante e sonhador em seu rosto.
Eles tinham sido quase inseparáveis desde o encontro.
Como seria Keyton e eu se eu não o tivesse deixado em LA? Ou
se eu não tivesse saído de Greenwood logo após a formatura e
tivéssemos feito as pazes naquele verão? Teríamos filhos agora?
Uma garotinha e um garotinho que brincariam com Violet e
Parker?
Uma pergunta rolou na minha cabeça.
— Se você não tivesse se casado com Mark, o que você acha
que estaria fazendo agora?
Ela espiou por cima do ombro através das janelas
emoldurando a cozinha onde Wade mostrou suas habilidades
com facas fazendo nossa refeição.
Nós caímos na risada.
— Além de me servir para Wade em uma bandeja de prata?
— Eu a chutei debaixo d’água.
— Ai! — Ela se curvou e esfregou a mão ao longo de sua
canela — Não sei. Talvez eu ainda estivesse no Japão? Ou
Áustria?
— Felícia, e você?
— Provavelmente mergulhada na pesquisa, tentando
disputar assistentes de pesquisa e buscar subsídios. Ah, certo, é
isso que estou fazendo agora, mas com crianças adicionadas à
mistura. Nos conhecemos quando estávamos ambos neste
caminho, então as coisas já estavam definidas. É bom ter
alguém lá que entenda. Estamos vinculados aos mesmos prazos
de concessão e financiamento. Analisando comentários
enigmáticos semelhantes nos artigos que enviamos aos
periódicos.
— E você, Bay? — Piper passou a mão pela água — Eu estou
pensando que você não tem muitos arrependimentos, dado
onde você está — Ela gesticulou para tudo ao meu redor sem
nenhuma ideia de como essa pergunta rolou pela minha cabeça
como um trem de carga.
— O que você estaria fazendo se não fosse "Bay"? — Ela
acrescentou brilho extra ao meu nome.
Wade me salvou anunciando que o jantar estava servido,
mas a pergunta ficou comigo durante a refeição cheia de
risadas. A surpresa de Keyton acabou sendo um dos mais novos
blockbusters ainda nos cinemas. Não sei como ele conseguiu,
mas um homem apareceu com uma maleta trancada a sete
chaves, fez sua mágica no home theater e em pouco tempo o
som Dolby Surround estava nos sacudindo até os ossos. Fazia
tanto tempo desde que eu me sentei em um cinema com
minhas amigas, comendo caixas de doces de cinema, comendo
pipoca e bebendo Cherry Coke. Os filmes foram seguidos por
um colapso no sofá mais macio do mundo em um coma de
junk food.
Piper e Felicia estavam dormindo no sofá grande o
suficiente para ser uma cama de casal.
Peguei alguns cobertores da cesta ao lado da TV e os
coloquei sobre duas das melhores amigas que eu tinha no
mundo.
Minha vida era tudo o que eu com dezoito anos poderia ter
sonhado, mas as coisas que eu amava, elas mudaram junto com
quem eu amava. As escolhas que eu tinha que fazer agora
determinariam se eu olharia para momentos como esses como
memórias distantes ou apenas uma de uma longa sequência que
se estendeu ao longo dos anos até que estivéssemos todas
grisalhas e não pudéssemos mais desmaiar confortavelmente no
sofá.
A pergunta não me deixou e exigiu uma resposta. Eu só não
sabia se eu era forte o suficiente para fazer isso.
Eu entrei no escritório de Maddy me sentindo como se tivesse
sido chamado a sala do diretor. O cômodo tinha um ambiente
casual. Velas tremeluziam e covers instrumentais baixos de
artistas com quem ela trabalhava eram quase inaudíveis ao
fundo. Parecia mais um estúdio de gravação do que um
escritório executivo abafado.
Mas Maddy não era o típico executivo de poder. Ela me
abraçou.
Com seus saltos, estávamos quase olho no olho.
— Como vai? Ainda não consigo acreditar no que
aconteceu na semana passada — Ela apertou meu braço e me
abraçou mais uma vez — Sente-se.
Caminhando para seu bar, ela me serviu uma taça de
champanhe e uma para ela. Eu poderia jurar que ela tinha na
torneira.
Mesmo que eu tivesse pelo menos meio pé sobre ela sem os
saltos, Maddy sempre me intimidou com sua determinação e
capacidade de sair de qualquer lugar levando o que ela quisesse.
As arestas foram suavizadas ao longo dos anos, mas ela não
se tornou o sucesso que era agora deixando as coisas deslizarem
e não prestando atenção aos detalhes.
— O que estamos comemorando?
— Você não viu as indicações ao Grammy?
— Isso foi hoje? — Holden geralmente me mandava uma
mensagem com notícias assim. Onde diabos ele estava? Os atos
de desaparecimento dele estavam ficando mais frequentes.
Sempre que eu tentava falar com ele sobre isso, ele se abaixava e
se esquivava como um campeão de boxe dos pesos pesados —
Não, eu não vi — Eu coloquei meu copo na mesa entre as duas
confortáveis cadeiras de couro preto e passei minhas mãos
úmidas sobre minhas pernas.
Ela tomou um gole de seu copo e o brilho em seus olhos
diminuiu. Seu olhar nivelado para mim.
— Três para você. Dois para Without Grey. É um ótimo dia!
— Uau! — Eu caí para trás na cadeira tomando um gole do
meu copo. Não importa quantos álbuns eu vendesse, eu
sempre sentia que estava esperando que todos caíssem em si e
me dissessem que era tudo lixo, revendo as minhas letras e
descobrindo que eu era uma fraude. Eu continuei sendo
provada o oposto, e eu ainda não sabia como me sentia sobre
isso. Às vezes eu achava que era simplesmente excelente em
fingir que sabia o que estava fazendo. As bolhas do champanhe
fizeram cócegas no meu nariz.
— Tente não parecer tão feliz com isso — Ela tomou um
gole de seu copo — Também é o momento perfeito para as
renegociações de contratos. Você está quase terminando seu
terceiro álbum. A Nexus Records quer falar sobre os próximos
cinco!
— Cinco? — Saiu como um chiado.
— Eu disse a eles que nunca na minha vida envolveria você
em mais do que três. Mas também temos a Mixtape Records e
a Artistra interessadas, então acho que podemos tirá-los do
foco de cinco álbuns. Também vamos conseguir um acordo
ainda melhor nas opções de streaming, já que perdi isso da
última vez.
— Meus próximos três álbuns levarão muito mais tempo
para serem gravados. Os três primeiros – diabos, até este –
foram mais fáceis, já que eu tinha tantas músicas antigas escritas
— Eu tinha sondado completamente as profundezas do
desgosto, traição, perda, esperança, medo e alegria extraídos da
minha vida antes desta vida. Eu ainda tinha alguma experiência
real, verdadeira? Uma luz brilhou através da preocupação.
Keyton. Ele era real. Mas me forçar a escrever sobre nós parecia
errado.
Não era por isso que eu queria estar com ele. Não por mais
material para meus álbuns. Deitada ao lado dele com os braços
em volta de mim, eu não queria me mover. Mesmo sentar com
ele em silêncio faz meu coração disparar. Eu também sabia
como era ser o centro do mundo dele – um mundo que seria
despedaçado quando eu voasse a milhares de quilômetros de
distância.
— E a música que você fez para… — Ela vasculhou em sua
mesa encontrando um pedaço de papel — Spencer? Holden
me enviou algumas semanas atrás e está pronto para o Top 100
agora. Alguns de seus melhores trabalhos. Tem certeza de que
quer dar a ele? — Suas sobrancelhas mergulharam com
ceticismo.
A música para Spencer tinha sido mais fácil sabendo que
não seria eu quem a cantaria. Meu poço não estava seco, mas
estava secando para as músicas que eu queria tocar.
— Posso dizer pelo jeito que você está pulando de alegria
que está pronta para que eu mostre todos os números e fale
sobre estratégia de negociação — Seu copo raspou contra a
mesa.
— Não é isso. Eu… eu não sei, Maddy — Apenas dizer isso
parecia assustador. Do tipo monstro-no-armário-quando-
você-tem-cinco-anos assustador. Este era um desconhecido
iminente que poderia lançar toda a minha vida e a vida de todas
as pessoas mais próximas a mim – que dependiam de mim – no
caos absoluto.
— Você precisa de uma pausa — Ela se recostou em seu
assento.
Eu congelei e atirei para frente no meu assento.
— Você tem meus quartos grampeados ou algo assim?
De pé, seu sorriso se aprofundou.
— Esse é um olhar que eu já vi antes. A maneira como você
entrou aqui como se sua bateria estivesse se aproximando do
zero. Após o ataque, não posso culpá-la por querer tirar uma
folga.
— O que seria necessário para que isso acontecesse? — Eu
não podia decidir agora. O chão estava se movendo sob meus
pés, tantas mudanças acontecendo ao mesmo tempo e não
havia tempo suficiente para pensar em tudo. Não havia tempo
suficiente para ter certeza de que estava fazendo a escolha certa.
Talvez eu devesse esperar até que a turnê terminasse e Keyton e
eu pudéssemos ver como saímos. Meu intestino se apertou ao
imaginar uma vida onde nós dois estávamos sempre na estrada,
nunca realmente capazes de encontrar um lugar que
pudéssemos chamar de lar fora dos braços um do outro por
mais meia década ou mais.
Ela girou em sua cadeira, de frente para seu computador.
— Posso adiar as negociações por algumas semanas. Mas
assim que os números chegarem para esta turnê, quem quer
que nós assinemos vai querer fazer um anúncio. Depois disso,
uma vez que as coisas esfriem, é mais difícil pegar as negociações
com vantagem. Depois, há a determinação de horários de
turnês. Gostamos de marcar turnês com pelo menos 18 meses
de antecedência. Precisamos contratar toda a equipe técnica,
roadies, dançarinos de apoio, cantores de apoio. Você sabe o
que acontece ao terminar tudo isso.
Algumas semanas não eram suficientes. Tantas pessoas. Se
eu puxasse o plugue sem aviso, isso deixaria as pessoas sem
trabalho. Irritaria as pessoas. Os decepcionaria. Medo e pânico
apertou na base do meu pescoço. Meus ouvidos esquentaram.
Algumas semanas para tomar decisões para o meu futuro. Para
o sustento de centenas de pessoas. E para o meu futuro com
Keyton.
— Algumas semanas…
— Talvez alguns meses. Você estará ocupada com a turnê.
Holden também estará no circuito. Não se preocupe com isso.
Mas aproveite as próximas semanas e não deixe que ele te
apresse. Ele terá sua porcentagem para alimentar sua obsessão
por relógios no devido tempo
.O que eu faria sobre Holden? Se eu simplesmente parasse,
iria inviabilizar completamente tudo o que ele construiu para
mim nos últimos seis anos.
Meus dias nunca foram meus. Até os meus dias de descanso
menstrual foram marcados pela loucura. Eu não sabia se sabia
como não fazer nada por mais do que alguns dias de cada vez.
Talvez eu pudesse facilitar as coisas.
— Gostaria de talvez produzir para outras pessoas. Como o
trabalho que fiz com Spencer — Eu me preparei para o
escrutínio e confusão, talvez Maddy me colocando pra baixo
gentilmente, mas me deixando saber que ninguém me levaria a
sério.
A cabeça de Maddy se inclinou.
— Podemos analisar isso. Tem certeza de que deseja
adicionar outra coisa ao seu prato?
— Você me conhece. Não consigo parar de trabalhar — A
confissão de querer puxar o plug fez cócegas na ponta da minha
língua, mas ainda não. Eu não poderia tomar uma decisão sem
falar com Keyton primeiro e descobrir como ele queria que seu
futuro fosse. Eu não iria simplesmente aparecer no
apartamento dele dizendo "ei, adivinha? Deixei de ser uma
estrela pop, vamos ficar juntos para sempre. Sem pressão".
— Holden apresentou Spencer como um ato de abertura
para a próxima turnê. Poderíamos lançar Spencer fora de seus
shows como fizemos com você. Imagine o que isso poderia
fazer por ele.
Meu estômago se apertou. Eu estaria roubando Spencer de
sua grande oportunidade, se eu parasse? Esta poderia ser a
oportunidade de uma vida para ele.
Agarrei o braço do meu assento.
— E se o trouxermos para esta turnê? Para um dos últimos
shows? — Nós poderíamos curtir. Eu poderia mostrar a ele as
cordas, trazê-lo ao palco para duetos e usar meu palco para
ajudar a lançar sua carreira para um novo nível agora sem
pendurar tudo isso na próxima turnê – aquela que pode nunca
acontecer.
— Nós poderíamos fazer isso funcionar. Ainda não
finalizamos os atos de abertura. Você sabe como eles podem ser
inconstantes.
— Seria perfeito. Seu som é distinto e acho que meus fãs
também adorariam.
— Bom, estou feliz. Também lhe dará um amigo em turnê.
Eu sei que é difícil fazer isso sozinha. Pelo menos o Without
Grey tinham uns aos outros, não importa o quanto eles
quisessem se matar ao longo dos anos.
— Você acredita que faz uma década desde que toquei no
álbum deles?
Se eu não estivesse trabalhando com Freddie, se não estivesse
disponível naquela noite, minha vida seria irreconhecível agora.
Se Keyton não tivesse me ouvido cantando naqueles degraus de
trás e se tornasse a inspiração para um álbum inteiro de músicas.
Se ele não tivesse aparecido no acampamento de treinamento e
me irritado tanto, eu não teria cantado na frente de todos.
Grande parte da minha vida estava toda embrulhada nele, e
tínhamos menos de uma semana.
Um peso pressionado no meu peito, uma pressão
inescapável de tristeza esmagadora se aproximando de todos os
lados. Senti o medo do que aconteceria quando os horários
mudassem e os cancelamentos se acumulassem para nós dois,
do que nos tornaríamos quando a realidade para nós dois
voltasse.
— Você está me dizendo — Ela se sentou no banco ao meu
lado — Surpreendente. Depois de viajar com eles em sua
primeira turnê de verão, eu definitivamente não achei que
acabaria aqui — Gesticulando com o copo, ela apontou seu
escritório.
— O escritório é muito chique.
— Você certamente poderia dizer que eu tenho um pouco
de ajuda para adicionar um pouco de ostentação a este lugar.
— Você vai pegar a estrada em breve com os caras?
— Veremos. Estamos todos envelhecendo.
Maddy era apenas quatro anos mais velha que eu, mas a vida
mudou rapidamente quando as prioridades mudaram. Eu sabia
disso, e ficava mais claro a cada dia que passava.
— Depois da loucura da última década para mim e os caras,
eles finalmente estão pensando em realmente se estabelecer.
Qual é o sentido de todo o dinheiro e fama se você está sentado
sozinho em um quarto de hotel bebendo uma garrafa de Jack
Daniels noite após noite?
— Isso é uma experiência pessoal? — Terminei meu copo e
o coloquei na mesa entre nós.
Ela riu.
— Experiência pessoal de arrancar garrafas de Jack das mãos
das pessoas. Se pudermos fazer uma pequena turnê e evitar que
todos enlouqueçam e percam a cabeça, podemos tentar na
primavera. O álbum está vindo. Quando estiver mais perto de
terminar, poderemos descobrir o resto da logística.
— Temos sorte de ter você nos mantendo na linha.
Sua risada foi mais alta desta vez.
— Só porque nunca fui boa em me manter na linha.
Na ocasião, a gerente Maddy escapuliu e eu tive um
vislumbre da bagunçada de 22 anos que se apresentou pela
primeira vez com a mochila surrada e o termo de não
divulgação amassado. Ela ficou mais relaxada com o passar dos
anos – amadurecida após o Everest Era.
O telefone em sua mesa tocou.
Ela se inclinou sobre ele.
— Merda. Eu tenho que atender essa, Bay. Você está
convidada a ficar até eu terminar.
— Está bem. Você ficou sem bebida.
— Nunca! — Ela engasgou e encarou — Como você ousa
me insultar assim?
Eu apertei meus lábios juntos.
— Você está perdendo o jeito, Maddy — Com um abraço
rápido, deixei-a ir para a sua chamada.
Eric esperou na área de recepção para me levar de volta ao
carro.
Pegando meu telefone, eu ri das mensagens empilhadas no
bate-papo em grupo com Piper e Felicia. Eram principalmente
gifs e fotos aleatórias do nosso dia juntos, mas era bom saber
que elas estavam a apenas um texto de distância e elas não
sentiam que estavam me incomodando enviando mensagens.
Eu senti o mesmo.
Enviei uma mensagem para Emily para que alguém fosse até
o caminhão de armazenamento com temperatura controlada
que viajava com a turnê. Era onde todas as coisas que eu não
queria expostas à devastação dos solavancos e batidas do dia a
dia eram mantidas trancadas a sete chaves. Eu disse que era para
quando eu conseguisse meu próprio apartamento, mas isso
tinha sido seis anos atrás, e eu precisava delas agora.
Holden apareceu cinco minutos antes da teleconferência
que ele marcou com Londres, sem fôlego e corado.
Eu bati a pasta fechada. Ele estava literalmente correndo por
aí apagando incêndios? Ele tinha uma namorada secreta? Ele
estava fugindo de um chefe da máfia que ele irritou?
— Fale comigo, Holden. O que está acontecendo com você?
— Hum, o que? Nada — Ele pegou seu tablet e o colocou
na mesa da sala de conferências.
— Você continua desaparecendo.
Ele zombou.
— Ocupado, ocupado, mantendo você ocupada.
O sistema de bate-papo por vídeo apitou para nos alertar
sobre uma chamada recebida. Meu olhar se estreitou para
Holden, que entrou direto na ligação com um sorriso cheio de
charme e arrogância, como se não houvesse nada nem um
pouco estranho com o que ele estava fazendo.
Depois que a ligação terminou, Holden fez as malas e saiu
correndo da sala.
Antes que eu pudesse correr atrás dele e prendê-lo no chão
para me dizer o que diabos estava acontecendo, Emily bateu no
meu braço.
— Eu coloquei o que você pediu no seu quarto.
Minha frustração estava aumentando com Holden, mas eu
não iria descontar em Emily, e fiquei aliviada por ter chegado
tão cedo.
— Obrigada, Emily, você é uma salva-vidas.
Suas bochechas ficaram muito coradas, como se eu a tivesse
pedido em casamento, e seus braços abraçaram o tablet contra
o peito.
— Apenas fazendo o meu trabalho.
— Eu não poderia fazer isso sem você. Mesmo.
Ela olhou para cima.
— Eu sei que você não gosta de bajulação ou entusiasmo,
mas eu queria te dizer que trabalhar para você foi a coisa mais
emocionante que me aconteceu em toda a minha vida. Ver
você se apresentar nunca perde a graça.
— Mesmo quando você está segurando meu balde de
vômito?
A descarga de tomate se transformou em escaldadura do
carro de bombeiros.
— Todo mundo fica nervoso. Eu nunca poderia fazer isso.
Uma vez tentei cantar durante um solo de coral no ensino
médio e vomitei tanto antes, que estourei um vaso sanguíneo
no meu olho e jurei nunca mais cantar. Pelo menos você vomita
e continua.
Eu estremeci, abalada por sua admissão. Todo mundo
estava escondendo coisas de mim?
— Você canta?
Sua boca abriu e fechou, e ela balançou a cabeça como se eu
tivesse perguntado se ela havia assassinado alguém.
— Não, de jeito nenhum. Nunca.
Mas eu podia ver. Um lampejo de desejo. Ela queria ser
capaz de fazer isso sem ser obscurecida pelo medo. Eu tinha
visto aquele mesmo olhar quando me olhei no espelho,
querendo cantar, quando nada saia.
Ela provavelmente tinha feito a mesma coisa. Que tipo de
amiga eu seria se não a ajudasse?
— Quando voltamos ao estúdio?
Sua garganta se apertou. Ela percorreu o tablet, aliviada por
estar de volta ao seu território normal.
— Em dois dias.
— Perfeito.
Talvez eu pudesse escrever uma música para ela. Uma que a
chamasse de uma maneira irresistível para fazê-la superar seu
medo. Eu estive lá. Ajudá-la a superar o estrangulamento em
sua voz era o mínimo que eu podia fazer.
Era a cena perfeita.
Bay veio depois das duas, usando a chave que eu dei a ela. Eu
queria que este fosse um lugar para onde ela pudesse escapar,
mesmo que eu não estivesse aqui, mesmo que ela só estivesse na
cidade por mais alguns dias. Eu precisava dar isso a ela,
precisava saber que este era um lugar para onde ela sempre
poderia voltar.
— Ei, eu pensei que você tinha uma reunião de equipe esta
tarde. Eu vim para ficar um pouco no silêncio antes de você
voltar.
Ela não tinha vindo com sua bolsa como costumava fazer.
Em sua mão estava o estojo do violão que eu carreguei comigo
por quatro anos, aquele com o qual eu passei horas. Eu
conhecia cada detalhe dele. Não havia dúvida.
— Acabamos cedo. Você trouxe seu violão.
Meu peito queimava com o fogo do arrependimento e do
tempo perdido. Eu tinha depositado tantas esperanças e desejos
em juntá-lo de volta. Por muito tempo, eu pensei que não era
possível, mas aqui estava ela comigo.
— Tudo bem? Eu juro, não vou demorar muito. Eu tenho
algumas músicas que preciso por pra fora, e ficar sentada no
quarto do hotel não estava ajudando — Ao lado da porta, ela
tirou os sapatos e os jogou em uma pilha junto com os meus.
Seu casaco saiu e ela abriu o armário de casacos e o pendurou
entre os meus outros.
Seu braço em volta de mim. A mala bateu na minha mão.
Corri meus dedos pelo cabelo dela e beijei o topo de sua
cabeça.
— Claro. Vou ficar fora do seu caminho.
Ela agarrou minha mão, procurando meus olhos com os
dela.
— Eu não quis dizer isso dessa maneira.
Eu a beijei, provocando seus lábios com minha língua.
— Eu sei. Faça suas coisas. Você comeu?
Sua cabeça abaixou com um olhar tímido.
— Ainda não.
— Vou fazer alguma comida para nós.
Seu sorriso era doce como sorvete. Ela correu para a sala de
estar, pousou o violão e aproximou a poltrona da janela.
— Eu serei rápida.
Depois de tirar o caderno da bolsa com um lápis preso entre
os dentes, ela caiu na música.
Eu nunca a tinha visto criar antes. Não tão nua. No ensino
médio, ela mal cantava, remexendo nas músicas mais antigas,
tentando encontrar sua voz. Em LA, ela foi atormentada com
preocupação e incerteza.
Esta versão dela não estava tão preocupada com como ela
soava – ou talvez ela estivesse confortável o suficiente perto de
mim agora para não esconder nada do processo.
Todas as notas perdidas, acordes conflitantes e gemidos de
frustração estavam à mostra.
O almoço estava pronto e ela comeu com uma mão, jurando
que terminaria em poucos minutos. Observá-la se tornou meu
novo passatempo favorito.
Entreguei a ela uma caneca de chocolate quente feito com a
mistura que ela me deu. Eu queria guardá-lo para saborear
quando ela se fosse, mas o cheiro da caneca e seu sorriso
iluminado eram uma troca com a qual eu poderia viver.
Sua voz não estava mais na ponta dos pés como em nossas
primeiras noites juntos no estúdio. Não havia nenhum indício
de esperança que ninguém mais a ouvisse, nada do nervosismo
que irradiava dela antes de suas apresentações.
Não querendo me sentir como um perseguidor que se
achava no direito de assistindo seu trabalho, peguei meu bloco
de desenho e sentei no sofá a poucos metros dela.
Seu foco era absoluto, e eu tentei capturá-lo – não apenas o
olhar em seu rosto, mas como era o nosso tempo juntos.
Uma vez que ela partisse, eu voltaria para casa esperando
encontrá-la assim, absorta em sua música por tanto tempo que
ela se esqueceu de comer, então eu faria o jantar para ela e a
deixaria continuar até que sua musa estivesse finalmente
cansada.
O sol tinha se posto e seu telefone tocou de sua bolsa na
porta da frente.
Sua cabeça apareceu e ela olhou para mim com os olhos
arregalados e virou a cabeça olhando para fora. Na janela, seu
reflexo formava duas Bays.
— Oh meu Deus, é tão tarde.
Ela se levantou, seu caderno caindo no chão e o lápis
rolando no tapete.
— Eu sinto muito. Eu não… eu nem percebi.
— Bay, está tudo bem. Atenda seu telefone.
— Você pode segurar isso? — Ela estendeu seu violão. O
mesmo que eu tinha quebrado. O mesmo que eu tinha
consertado. E naquele momento, eu soube.
Ela me perdoou. Não apenas em suas palavras ou em seus
pensamentos. Nem mesmo conscientemente. Mas por
completo até as profundezas de sua alma.
Peguei o violão, reverentemente tentando manter minhas
emoções sob controle antes de deixá-las fluir sobre mim. Não
as isolando. Mas sentindo todas as maneiras que isso me
atingiu. A alegria. A dor. O medo. O amor.
O amor que eu sentia por ela agora eclipsava todos os outros
amores que eu tinha por ela: meu amor adolescente nascido da
minha necessidade de me conectar com alguém, e meu amor
recém-formado na faculdade aumentado pelo pedestal em que
eu a coloquei.
Agora, eu a amava por querer passar o resto da minha vida
com ela, aproveitando seu amor por mim e sendo o melhor
homem possível para ela.
Ela brincou com as pontas de seu cabelo depois de terminar
sua ligação.
— Eu tenho que ir agora. Mas posso voltar esta noite, se
estiver tudo bem para você. Eu sei que você tem que sair de
manhã cedo. E me desculpe por ter demorado tanto. Eu… não
era assim que eu queria passar uma de nossas últimas noites
juntos.
— Teremos muitas mais noites juntos — Minha garganta
apertou. Emoções correram pelo meu corpo – arrependimento
pelo tempo que perdemos quando eu saí de manhã, felicidade
pelo quão animada ela estava por voltar para mim. Amor por
ela — Claro. Eu vou esperar por você — Eu a segui até a porta
da frente.
— Você não precisa — Ela agarrou seus sapatos e enfiou os
pés neles.
— Eu quero — Seu sorriso se espalhou e ela colocou os
braços sobre meus ombros.
— Está tudo bem em deixando meu violão aqui?
Esfreguei meu nariz contra o dela.
— Eu cuido disso para você.
Um beijo rápido em meus lábios.
— Eu sei.
Ela se foi por muito tempo, e o tempo que tive com ela foi
muito curto.
Passei a noite repassando as horas que passamos juntos. Eu
queria que os anos se estendessem até a eternidade, para
realmente estar com ela. O único problema na minha cabeça
era o pensamento de uma família. Eu queria uma com ela e
fiquei apavorado de uma vez.
Uma família. Não apenas Bay, mas crianças. Eu podia dizer
que ela as queria por como ela falou sobre seu futuro e como
ela se dava bem com elas. Mas tinhamos tempo. Ela sairia em
sua turnê e eu falaria com Monica todos os malditos dias se isso
fosse necessário para superar os medos que me acordavam no
meio da noite.
A porta se abriu um pouco antes da uma da manhã. Larguei
meu bloco de desenho, minha cerveja solitária da noite
terminada.
Ela correu para mim.
— Sinto muito pelo atraso. Não era para durar tanto — Sua
voz estava frenética.
De pé, pousei o bloco e a dobrei em meus braços.
— Você está ocupada. Entendo. Estou acordado porque
não consegui dormir. Confie em mim, adorei a ideia de você
deslizar na cama ao meu lado para me acordar.
Seu corpo cedeu com alívio palpável.
— A que horas você sai de manhã?
— Seis.
— Eu parto em quatro dias — Seus olhos brilharam com
lágrimas descontroladas — Você se vai pelos próximos dois dias
e meio — A hesitação em sua voz arranhou meu coração.
Nunca havia tempo suficiente.
— Então precisamos aproveitar ao máximo esse tempo. Eu
vou te dar algo para se lembrar de mim.
De mãos dadas, caminhamos para o meu quarto. Aquele
que eu queria que fosse nosso.
Tirei suas roupas, tomando meu tempo e saboreando cada
centímetro de pele revelada.
Suas mãos estavam ocupadas em minhas roupas.
Não havia a urgência de nossos outros momentos juntos,
embora o relógio de contagem regressiva pairasse no alto.
Este não seria o fim. Não é aqui que nos despedimos, não
importa quantos quilômetros houvesse entre nós.
Na cama, exploramos os corpos um do outro. Minha cabeça
enterrada entre suas coxas. Sua boca no meu pau usando seu
arsenal sexual completo até que eu peguei uma camisinha e
deslizei dentro dela.
Impulsos rolantes e esmagadores com nossos corpos tão
próximos que sua respiração se espalhou pela minha bochecha.
Seu clímax foi afiado, apertando ao meu redor tantas estrelas
dançando na frente dos meus olhos. Desmaiamos, suados e
saciados.
Adormecendo ao lado dela, o último pedaço da minha paz
no lugar, eu sabia como era minha vida sem ela e com ela. Sem
ela não era uma opção.
Acordei quando o sol ainda era um rumor no horizonte.
Sentado na minha cadeira, eu a observei dormir. O bloco de
desenho estava equilibrado no meu colo, não fazendo a menor
justiça a ela.
Depois de sair da cama pouco antes do nascer do sol, peguei
meu lápis quando a coceira em minhas palmas chegou a alturas
inegáveis.
Sua perna estava pendurada debaixo dos cobertores, e ela se
enrolou no travesseiro que eu estava usando.
— Você vai continuar me desenhando ou vai voltar para a
cama? — ela murmurou contra o travesseiro cinza.
— Como você sabia que eu estava desenhando você?
Um olho se abriu, brilhando com diversão.
— Eu já vi esse olhar antes. Em Greenwood. Você sempre
tem um olhar de intensa concentração e contentamento
quando desenha, como se estivesse vivendo o momento,
experimentando e capturando tudo de uma vez.
Essa mulher me conhecia como ninguém no mundo. Ela
possuía cada fibra do meu ser e acendeu cada fio da minha alma
em chamas. Coloquei o bloco de notas e o lápis no chão e me
arrastei para a cama ao lado dela.
— Tem uma coisa que eu preciso te contar —
Desmoronando ao lado dela, eu segurei sua bochecha,
deslizando meus dedos por sua pele.
Seus olhos se arregalaram, mas ela não disse uma palavra,
esperando por mim.
— Já sei como me sinto, mas não queria apressar as coisas.
Eu não queria que você pensasse que eu estava forçando sua
mão ou tentando arrancar algo de você.
— Você não faria isso.
— Já tive meus momentos — Meu polegar correu em seu
lábio.
Eu estava na beira do meu penhasco com o vento rugindo
em meus ouvidos. Eu não tinha mais medo dos estilhaços ou
do estilhaçamento. Eles não podiam me impedir de dar tudo de
mim para ela.
— Alguém disse uma vez: "Se eu não fizer isso, será uma
pergunta em minha mente para o resto da minha vida." Você é
minha pergunta, aquela que reverberou na minha cabeça desde
a primeira noite em que ouvi você cantar. "Como posso ser o
tipo de homem que ela merece?"
Ela encontrou meu olhar, seus olhos brilhando.
— Você já é. Neste ponto, eu não sinto que mereço você,
mas eu nunca quero que você adivinhe o que eu sinto por você.
Eu odeio a ideia de deixar você.
Coloquei seu cabelo atrás da orelha.
— Mas você tem que ir.
Sua garganta se apertou e ela assentiu.
— Eu te amo, Bay.
Uma lágrima derramou sobre a borda de sua pálpebra.
Eu odiava vê-la chorar, mas seu sorriso amenizou o aperto
no meu peito.
Ela deslizou seus braços sob os meus e me segurou mais
perto.
— E eu te amo desde que me lembro. Mesmo quando eu
lutei contra isso. Mesmo quando tentei fingir que não. Mesmo
quando eu me fui. Eu sempre te amei.
— Eu sempre vou te amar — Eu encontrei meu nascer do
sol antes do amanhecer na minha própria cama, envolto em
lençóis e descansando no meu travesseiro — Nunca haverá
alguém tão perfeita para mim quanto você.
— Você pode estar exagerando. Tenho certeza de que há
muitas mulheres por aí que podem ser perfeitas para você.
— Nunca. Eu nunca poderia me arrepender de um único
minuto do tempo que tive com você. Desde a primeira nota
que você cantou, você tocou um acorde no meu peito que
reverberou nos últimos dez anos. Não poderia haver outra
pessoa lá fora, porque não há outra Bay lá fora.
— Talvez você devesse escrever algumas músicas no meu
próximo álbum. Elas fariam letras matadoras.
Eu sorri, o humor passando de desnudar a alma para uma
serena satisfação.
— Você pode tê-las. Adicione-as ao seu caderno e, quando
estiver na estrada e as ler, poderá pensar em mim.
— Eu não preciso de letras para fazer isso — Seus braços se
apertaram — Quanto tempo até você precisar sair?
Erguendo a cabeça, verifiquei o relógio.
— Mais trinta e cinco minutos — Eu escovei minha mão
sobre seu cabelo e beijei sua têmpora. O brilho no meu peito
que fazia parecer que eu estava flutuando.
— Posso levar uma foto sua comigo?
— Você quer isso? — Meu batimento cardíaco pulou.
— Eu sempre amo ver como você me vê. Isso me fará sentir
como se você ainda estivesse aqui comigo.
— Mesmo quando não estou. Eu estou.
Faríamos isso funcionar.
Eu fiquei tentada a voar para Wisconsin para seu último jogo
só para vê-lo. Nosso tempo juntos estava sendo consumido tão
rapidamente que eu queria que meus dias sem fim nunca
acabassem, apenas para evitar que a terça-feira chegasse. Mas o
fim de semana acabou e ele voltou para mim.
Entrar em um avião tinha perdido a emoção há um tempo
atrás, mas agora o pavor enrolou no fundo da minha barriga.
Enquanto uma noite tranquila na casa de Keyton era o que
eu queria, haviam obrigações que vinham junto com quem eu
era, e elas não eram de todo ruins. Holden havia desaparecido
novamente e Emily estava se recuperando de um resfriado e se
isolou para garantir que nenhum de nós ficasse doente. Ela
estava tomando suco de laranja e pastilhas para a garganta.
A viagem de Keyton parecia ter se estendido para sempre e
aconteceu muito rápido, tudo ao mesmo tempo, sinalizando a
contagem regressiva para minha turnê.
Depois de uma reunião na minha suíte, completa com um
orgasmo de enrolar os dedos do pé, nós nos recompusemos o
suficiente para estarmos apresentáveis. Meu telefone ditava
tudo hoje em dia, já que Holden tinha levado seu ato de
desaparecimento para o próximo nível.
Eu esperava que ele não estivesse tão distraído assim que a
turnê começasse. Preso em um ônibus de turismo por horas a
fio, ele não seria capaz de evitar minhas perguntas insistentes
por muito tempo. Talvez Emily e eu pudéssemos fazer uma
missão de reconhecimento quando ele escapulisse com seus
amigos de Londres. Eu jurei que se houvesse um problema sério
que ele estivesse escondendo de mim, eu chutaria sua bunda
por não me deixar saber.
Mas esta noite era sobre mim e Keyton, não meu empresário
chato. Keyton e eu não ficaríamos encasulados no meu quarto
ou no apartamento dele. Precisávamos respirar, e eu precisava
de pelo menos um punhado de horas para descansar minha
vagina. Ela foi colocada para trabalhar. Nunca havia falta de
coisas que pudéssemos fazer fora de nossas quatro paredes, mas
agora que as pessoas sabiam que estávamos juntos, onde quer
que ele fosse visto, eles me procuravam, o que tornou o modo
de navegação anônima mais difícil. Então esta noite nós
tínhamos reservas para o jantar. Quem não gostaria de exibir
este pedaço bem costurado e doce de homem?
Enquanto caminhávamos pela cozinha, alguns dos seus
chefs e outros funcionários da cozinha se viraram para nos
seguir, passando pelas panelas em chamas e estantes de aço
inoxidável até a mesa do chef na parte de trás da cozinha.
— Holden pediu isso como um favor. O restaurante queria
alguém de grande nome antes que a equipe de estrelas Michelin
chegasse para revisar. Não precisamos ficar o tempo todo.
— Me deixe curtir uma noite com minha namorada — Ele
sussurrou em meu ouvido e deslizou a mão em volta de mim,
descansando na parte inferior das minhas costas.
O formigamento do toque viajou pela minha espinha.
Ouvi-lo dizer isso me fez sentir como se estivesse de volta ao
ensino médio, saindo para jantar com o jogador de futebol
estrela. De certa forma, eu ainda era aquela garota.
Além de minha mãe, Piper, Felicia e Spencer, ele
provavelmente era o único que podia me ver dessa maneira – a
verdadeira eu sem todas as outras coisas grandiosas ao meu
redor, como Eric seguindo atrás de nós como se eu houvesse o
escolhido da loja de excedentes do Serviço Secreto.
O maître abriu a porta para a sala isolada de meias janelas
com vista para a cozinha.
Eric conseguiu uma cadeira do nada como um mágico de
rua e a jogou do lado de fora da porta.
Inclinei-me para fora da porta.
— Pode entrar, você sabe.
— Estou bem.
— Sério, Eric. Podemos ver você pela porta de vidro.
Sua sobrancelha se arqueou.
— O que significa que todos podem ver você.
Touché. Eu tinha ficado muito menos relaxada sobre as
medidas de segurança que Eric e Holden insistiam desde o
ataque. Caminhar até a casa de Keyton era o comprimento da
minha coleira e até mesmo com meu disfarce de inverno
completo.
Tirei o cardápio das mãos do maître e entreguei a ele.
— Pelo menos peça o jantar, para não me sentir uma
completa idiota.
— Não como no trabalho.
— Nós vamos pedir a eles que façam isso para levar.
Ele se sentou firme.
— Por favor.
Ele olhou para mim com uma carranca e hesitou antes de
tirá-lo de minhas mãos e se sentar.
Keyton e eu caminhamos até a mesa de quatro lugares com
luzes de chá e um arranjo de rosas frescas no centro. Ele puxou
minha cadeira para mim e olhamos para o menu.
— Puta merda, há doze pratos neste menu, todos com
harmonização de vinhos.
Ele riu e deixou cair a mão no meu joelho debaixo da mesa.
— Você teria que me carregar daqui em cima do ombro se
eu bebesse tanto.
Seus dedos roçaram meu joelho, enviando correntes
ondulantes de desejo inundando meu corpo.
— Parece uma maneira perfeita de desfrutar de um bom
jantar — Sua boca dizia bom jantar, mas seus dedos diziam
"prender você contra a parede do banheiro".
— Talvez possamos pedir uma versão para viagem da
refeição como a de Eric.
Antes que meu plano de fuga pudesse ser elaborado, o chef
entrou e se apresentou.
Keyton e eu nos revezamos nas provocações através de
carícias debaixo da mesa. Foi lúdico e divertido de uma forma
que parecia uma nova norma para nós. Eu sentiria falta dessa
proximidade quando voasse na terça-feira, mas não seria
deixada para trás.
Nós poderíamos fazer isso. Nós poderíamos fazer isso
funcionar. Se ainda estamos aqui juntos depois de uma década
do dano que causamos um ao outro, poderíamos sobreviver a
alguns meses de separação devido ao trabalho.
Uma vez que sua temporada terminasse, eu não me
importaria de dividir o quarto do ônibus de turismo com ele, e
ele faria de cada quarto de hotel e de cada nova cidade uma nova
aventura. Talvez pudéssemos sair e explorar um pouco.
Disfarces e Eric mantendo distância poderiam nos deixar vagar
pelas ruas de Roma ou pelos Mercados de Inverno em Berlim.
O pensamento de uma onda de alegria ao encontrar tesouros
escondidos com Keyton ajudou a amenizar algumas das
mágoas que tentavam arruinar os últimos dois dias que tivemos
juntos.
Saindo do restaurante, ele passou o braço por cima do meu
ombro e me abraçou. Minhas baforadas de ar pairavam no ar
na frente do meu rosto, uma razão perfeita para me aconchegar
mais contra ele, segurando a frente de seu casaco para aquecer
meus dedos.
No carro, ele traçou meus lábios com o polegar.
— Você é linda.
Do jeito que me fez sentir ao vê-lo dizer isso, você pensaria
que ninguém nunca tinha dito as palavras para mim antes, que
as pessoas não tinham gritado a plenos pulmões na minha cara.
Mas ele disse isso e me viu, cada parte de mim.
— Quando estou com você, eu me sinto como eu. Eu me
sinto a verdadeira eu.
Ele passou o dedo pelo lado da minha bochecha.
— Eu sempre quero a verdadeira você. Eu quero isso com
você enquanto você me tiver.
— E se for para sempre?
— Então seu desejo é minha ordem — Ele capturou meus
lábios com os seus, derramando todo o amor e paixão em cada
carícia de sua língua ou beliscar meus lábios.
— Quero que sejamos reais.
— Real e para sempre. Duas promessas fáceis de cumprir.
Eu afundei em seu aperto com minha cabeça pressionada
contra seu ombro. Meu futuro tornou-se mais claro – um sem
a vida frenética, nunca parando e com o homem a quem eu dei
meu coração há mais de uma década.
Mais cheia do que deveria e um pouco enjoada, cheguei à
suíte. Com as ligações matinais que tínhamos que fazer para
Londres, era mais fácil ficar na minha suíte do que na casa de
Keyton esta noite, embora eu preferisse estar lá. Parecia mais
um lugar onde as pessoas viviam, não um lugar por onde as
pessoas passavam.
Mesmo com minhas roupas nas gavetas e armários do meu
quarto onde eu estava há quase dois meses, este não parecia um
lugar que eu chamaria de lar.
A declaração de Keyton ontem tinha sido o empurrão final
que eu precisava para dizer a verdade a Maddy e finalmente
decidir em que caminho eu queria seguir. Cantar era tudo em
que eu conseguia pensar, mas agora não era compatível com a
vida que eu queria. A vida que eu queria era cheia de amigos e
familiares, e não era ditada por uma agenda exigente e uma lista
interminável de obrigações que só me afastavam ainda mais das
pessoas que eu amava.
Era uma vida com Keyton onde eu poderia ter o melhor dos
mundos que me foi mostrado. Eu poderia ter minha música e
o homem que eu amava, que me amava de volta tão feroz e
irrevogavelmente quanto eu o amava.
Dentro da sala, sobre a mesa havia uma cesta. Minha cesta
de guloseimas para sempre que eu descansasse trinta e seis horas
por causa da minha menstruação.
Meu telefone apitou com uma ligação de Holden.
— Ei, Bay, desculpe a cesta estar atrasada. Achei que Emily
estava cuidando disso, mas com ela doente, tive que me esforçar
para entregar para você. Tem tudo o que você precisa?
Keyton olhou para a cesta cheia de absorventes internos,
absorventes, Goobers, biscoitos de chocolate com manteiga de
amendoim e um bilhete dizendo que havia novas temporadas
de Caçadores de Casas no FireStick.
Olhei para a cesta enquanto a percepção da água gelada
derramou sobre mim.
— Sim, eu tenho tudo que preciso. Falo com você mais
tarde — Meus lábios estavam dormentes.
— Você precisa de ajuda para fazer as malas? Precisamos
pegar o avião às seis da noite de amanhã.
— Seis horas amanhã à noite. Entendi. Estarei pronta —
Encerrei a ligação e olhei para a caixa que geralmente sinalizava
meu desejo de morrer por dois dias, mas pelo menos poder fazê-
lo em paz. Meu estômago deu um nó, não se acomodou nem
um pouco, e não o tipo de náusea que eu costumava ter quando
estava menstruada.
Keyton olhou para mim e de volta para a cesta.
— Você está menstruada?
Inclinei minha cabeça.
— Você estava literalmente dentro de mim algumas horas
atrás.
Suas narinas se dilataram e a caixa de absorventes balançou
em sua mão.
— Mas você deveria estar menstruada.
— Sim — Tirei-a de sua mão e a empurrei de volta para a
cesta.
— E está atrasada.
Eu arrastei meus dedos pelo meu cabelo e me virei, sentando
no sofá.
— Sim — Quarenta semanas a partir de hoje seria agosto. A
turnê terminaria em julho. O que diabos eu estava pensando?
Eu não conseguiria fazer uma turnê completa durante a
gravidez. Parir no palco em uma arena cheia de dezenas de
milhares de pessoas não era a minha ideia de diversão.
Eu me levantei e andei de um lado para o outro, puxando as
pontas do meu cabelo.
— Quão atrasada? — A voz de Keyton rompeu a avalanche
de pensamentos colidindo em minha cabeça.
— Um dia. Estou um dia atrasada — A expectativa de
Keyton voltar para a cidade tinha apagado todos os
pensamentos sobre minha menstruação, especialmente porque
a cesta de guloseimas não tinha chegado. As distrações estavam
no auge de todos os tempos.
— Com que frequência você fica um dia atrasada?
Parei de andar e olhei para a cesta.
— Nunca — Mesmo com turnês e fusos horários. Eu era
regular o suficiente para construir uma agenda de turnês em
torno do meu período. Eu sempre esperei que isso me desse
algum tempo sozinha, uma chance de assistir reality shows,
comer porcaria e ficar sozinha por doze horas inteiras.
— Oh — Uma palavra. Nada mais depois.
Inesperado. Esperei o pânico sobre o que fazer a seguir, mas
não houve nenhum. Houve uma calma. Esta seria a
oportunidade perfeita para dar um passo para trás, a chance
que eu não sabia que estava procurando para pular da roda do
hamster e fazer algo real para mim.
Então uma pontada de culpa passou por mim porque eu
não estava pensando sobre esse bebê em potencial por ele, mas
como isso me permitiria sair da vida que eu construí para mim
e sempre sonhei.
Todos os sentimentos que tive foram reexaminados através
de uma nova lente. Meus mamilos estavam mais sensíveis
porque os cuidados de Keyton estavam ainda melhores ou
porque eu estava grávida? Meu estômago estava revirando com
muita comida ou o enjôo matinal, que eu ouvi tanto falarem?
Ele estava olhando para mim em choque porque isso era uma
notícia chocante, ou isso mudou tudo sobre ele querer estar
comigo?
Eu me sentei depois que Bay foi dormir. Nós dois ficamos um
pouco catatônicos quando a percepção nos atingiu. Nenhum
de nós parecia ter as palavras. Tomamos banhos separados,
cada um perdido em seu próprio mundo de silêncio atordoado
e pensamentos tumultuados.
Nós deitamos na cama, sua cabeça descansando no meu
peito até que ela adormeceu. Sua respiração constante
sussurrava em minha pele. Olhei para o teto creme, tentando
manter meu aperto nos fios lentamente se desenrolando,
esgarçando e quebrando sob a pressão.
Eu fui cuidadoso por tanto tempo, não só porque havia
tantas maneiras de ser pego em situações ruins quando uma
criança estava envolvida, mas também porque eu não era capaz
de ser um bom pai. Eu mal estava no ponto de ser um bom ser
humano.
As cicatrizes eram profundas. Eu sabia disso agora. Eu tentei
fingir que estava bem por tanto tempo. Levou anos para chegar
a este ponto, para ser o homem que eu pensei que poderia ser,
o homem que ela precisava, até mesmo o marido que eu
esperava ser.
Entrei em contato com um joalheiro sobre um anel.
Trabalhar ideias sobre seus pensamentos sobre anéis nos
próximos meses seria complicado, mas eu queria que ela ficasse
impressionada. Eu deveria ter começado a comprar alianças
depois da nossa primeira noite juntos, mas deveríamos ter mais
tempo. Eu deveria ter mais tempo.
Meu peito ficou apertado, respirar era uma tarefa que eu
não sentia desde o campo de treinamento. O pânico aumentou,
me dominando. O suor brotou na minha testa e minha pele
estava pegajosa. Deslizando para fora da cama, peguei meu
telefone.
Saindo do quarto, apoiei minha mão na parede, arrastando
o resto do caminho. Fechei a porta do banheiro sem acender a
luz. O brilho do meu telefone forneceu o suficiente. O estojo
liso deslizou na minha mão enquanto eu colocava minhas
lentes de contato e buscava o nome.
Passando meus dedos pelo meu cabelo, eu estava mais
sufocado a cada toque. Senti um pouco de alívio quando ela
atendeu no oitavo toque, grogue e mal-humorada.
— Monica? Alô, Monica? Eu preciso ver você.
— Que diabos? — Ela bocejou — Você sabe que horas são?
— Eu preciso ver você.
— O que aconteceu? O que há de errado? — Sua voz estava
um pouco mais alerta, embora fosse no meio da noite.
O latejar na minha cabeça bateu ainda mais forte.
— Eu posso ir até você?
— Claro. Keyton, o que há de errado?
— Estarei aí em algumas horas — Terminei a ligação e abri
a porta do banheiro.
Eu gritei, me impedindo de balançar. Eu apertei minha mão
no meu peito. Apenas outro lembrete que eu já estava
perdendo a minha cabeça. E se eu tivesse batido nela? E se eu
bater no nosso filho? Ser acordado no meio da noite por uma
criança e esquecer onde eu estava não estava fora de questão. A
bile subiu na minha garganta, me sufocando.
A forma sombria de Bay estava no corredor, seu cabelo
grande e seus braços em volta da cintura.
— Você está indo — Não era uma pergunta.
Tentei passar por ela, mas ela estava na minha frente.
— Há algumas coisas com as quais tenho que lidar.
Ela levantou a mão em direção ao meu peito, mas não me
tocou.
— Se eu não tivesse acordado, você teria me dito que estava
indo embora?
Minha mandíbula apertou.
— Talvez eu quisesse ser o fugitivo pelo menos uma vez —
Porra. Foi um golpe baixo. Mas eu precisava sair. As paredes
estavam se fechando e eu não conseguia lidar.
Ela engasgou, seus olhos arregalados, mesmo na fraca
iluminação da área de estar.
— Eu posso estar grávida e você está correndo para a porta.
Esfreguei minhas mãos sobre meu rosto. A tensão estava
apertada em mim como uma bobina forçada além das
configurações recomendadas de fábrica.
— Eu preciso lidar com algumas coisas primeiro.
— Com quem você estava falando?
Meu olhar estalou para o dela.
Ela inclinou o queixo em direção ao telefone em minha
mão.
— Vim ver se você estava bem. As coisas estão ficando
loucas dentro da minha cabeça também. E eu ouvi você. Não é
assim que você fala com nenhum de seus amigos homens.
Quem você vai ver?
Havia tantas coisas que eu queria dizer, tantas coisas que eu
queria fazer. Eu pensei que tinha muito mais tempo para
trabalhar com tudo isso, mas não tive. Sentindo-me
encurralado com minha mente em chamas e jogada no caos, fiz
a única coisa que pude.
Com nada mais do que meu telefone na mão, virei-me e
caminhei pelo corredor até a porta da suíte dentro de uma suíte.
Holden e Emily estavam tendo sua reunião de manhã cedo
com os horários estabelecidos na mesa.
Seus olhos se arregalaram.
— Ei, Keyton. Bay precisa de algo? Podemos pegar se você
quiser.
Eu não parei. Que desculpas eu poderia dar? Que
explicações eu poderia dar?
E então eu estava fora da porta da suíte. Ela fechou
silenciosamente atrás de mim com um assobio suave e clique da
fechadura, e então eu saí correndo.
O corredor estava deserto e o tapete macio cobria meus
passos trovejantes.
Corri direto para as escadas, meus pés descalços batendo nos
degraus de concreto e metal, quase pulando de patamar em
patamar vinte lances abaixo. Eu cheguei no fundo coberto por
um brilho de suor.
Saí pela frente do hotel.
Paparazzi estavam estacionados do lado de fora e pegos de
surpresa, dando-me tempo suficiente para mergulhar para um
dos carros de traslado do hotel.
— Você está bem?
Meu coração martelava como se estivesse a segundos de
dividir meu esterno.
— Algo está errado? — O motorista girou com o braço atrás
do banco à minha frente.
— Sim, eu — Olhei para ele atordoado, entorpecido e
precisando de um saco de papel marrom — Preciso ir ao
aeroporto. Agora.
Seus olhos dispararam para a multidão reunida ao redor do
carro com câmeras piscando e de volta para mim. Com um
olhar sombrio, ele assentiu.
Bati a porta e deixei cair a cabeça entre os joelhos.
— Você quer falar sobre isso?
Eu atirei.
— Parece que eu quero falar sobre isso, porra? — Meu olhar
tão empolgante quanto minha voz. E meu rosto caiu. Enterrei
minha cabeça em minhas mãos e puxei minhas raízes, tentando
arrancá-las. O trabalho de remendo que eu pensei que tinha
feito em mim mesmo deveria aguentar. Eu tinha feito tudo o
que podia para ser o cara que Bay merecia, e em questão de
horas eu provei o quão errado eu estava.
— Desculpe, cara. Eu… eu só preciso chegar a Charlotte.

Gwen me encontrou no aeroporto com roupas, sapatos, meu


passaporte, um cartão de crédito reserva e um olhar de
profunda preocupação. Não querendo brigar com ela, peguei
o pacote e saí sem dizer mais nada. No vôo para Charlotte, senti
como se meu cérebro estivesse tentando sair do meu crânio,
como se minha pele estivesse sendo arrancada da minha carne.
Depois que as rodas pousaram, eu estava em um táxi e
correndo para o prédio indescritível de cinco andares que eu já
tinha estado muitas vezes antes. A placa de nome brilhante ao
lado da porta combinava com todas as outras neste andar.
Quando eu bati na porta do escritório do quinto andar até que
Monica a abriu, minha camisa estava encharcada e parecia que
eu tinha corrido até aqui da Filadélfia.
— Agora você vai me dizer o que está acontecendo? — Ela
segurou a porta aberta. A mulher de cinquenta e poucos anos
com uma saudação amigável e um nariz torto de não desperdice
meu tempo olhou para mim com os olhos cheios da
compreensão preocupada que ela havia aperfeiçoado.
Correndo para dentro, olhei ao redor da sala desejando por
Deus que houvesse um bar. Esses velhos hábitos estavam
prontos para se destacar. Meu estômago revirou e torceu. Mas
não havia bar. O escritório parecia exatamente como da última
vez que estive lá. A mesmice sempre me ajudou a me centrar,
mas nada poderia fazer isso agora.
Em vez disso, afundei no sofá, balançando para frente e para
trás com a cabeça nas mãos. O pânico me sufocou e o pavor frio
inundou meus sentidos. Meu coração batendo em meus
ouvidos ameaçou abafar todo o resto.
Ela se sentou ao meu lado e segurou meu ombro.
— Você está tremendo, Keyton.
Minha cabeça estalou.
— Ela está grávida — Mesmo sem um teste, senti que era
verdade. Este foi o único pedaço de kryptonita que restou em
nosso relacionamento e foi lançado como uma lança direto no
meu peito. Um medo que eu pensei que teria mais tempo para
enfrentar e lidar. Claro que o universo jogaria a cabeça para trás
e riria, empurrando direto para a ferida aberta gigante que eu
ainda não tinha reunido forças para tentar curar.
Minhas pálpebras pareciam revestidas de vidro.
— E eu não sei o que fazer.
— Bay está grávida? — Os olhos de Monica se arregalaram
atrás dos óculos e ela deixou cair a mão do meu ombro.
Eu balancei a cabeça, olhando para ela para aquele bálsamo
de sálvia para consertar isso e me ajudar a sair da borda.
Ela se mexeu no sofá, virando-se para mim com uma perna
dobrada.
— Quando você descobriu?
— Algumas horas antes de eu te ligar — De pé no meio de
seu quarto de hotel sentindo como se meu mundo inteiro
tivesse sido empurrado para fora de seu eixo.
— Ok — Sua cabeça inclinou — Por que você me ligou?
Minha cabeça empurrou para trás.
— Por que eu não ligaria para você? Um bebê? Eu vou ser
pai. Você não vê o que diabos há de errado com isso?
— Vamos fazer isso passo a passo — Seus lábios se apertaram
antes de alisar de volta. Ela se levantou e me serviu um copo de
água. Segurando-o, ela esperou que eu o pegasse.
Minha mão tremia, mas eu o agarrei, bebi em três goles e
coloquei na mesa na minha frente.
Ela se sentou em sua cadeira.
— Você quer ter um filho com Bay?
Eu me levantei do meu assento e olhei para as janelas do
chão ao teto, esfregando minhas mãos pelo meu rosto.
— Claro que eu quero. Eu quero ter uma família com ela.
Eu a amo. Eu sempre a amei — Eu me virei e encarei Monica,
esperando que ela tivesse um livro para eu ler ou uma sugestão
de podcast. Um feitiço mágico. Uma poção. Qualquer coisa.
Eu coloquei minhas mãos em cada lado do meu pescoço e
apertei meus olhos fechados.
— Então qual é o problema?
— Como você pode me perguntar isso? — Meus olhos se
abriram. Respirar era um desafio. Eu estava sem fôlego como se
tivesse corrido meio país sem parar — Você sabe qual é o
problema.
Ela cruzou as pernas e cruzou as mãos sobre os joelhos. Seus
diplomas estavam pendurados nas paredes, e os livros que ela
havia escrito estavam nas prateleiras. Isso significava que ela
deveria ter perguntas melhores do que "qual é o problema?"
— Eu não vou saber até que você me diga.
— Esse não é o seu trabalho?
— Há quanto tempo estamos fazendo isso?
— Três anos. Quatro? Desde Vegas.
— Exatamente.
Sentei-me no sofá como se estivesse balançando à beira de
um penhasco.
— Eu não posso fazer o que meu pai fez comigo para uma
criança. Um bebê. O bebê de Bay. Nosso bebê.
— E por que você acha que faria?
— Eu me sinto fora de controle. Quando ela me contou,
fiquei em pânico e com calor. Eu estava procurando as saídas,
não porque queria fugir, mas porque queria protegê-la de mim.
— Por que você volta a esses velhos sentimentos? Por que
você acha que seria capaz de machucá-la agora?
— Eu já fiz isso antes. Eu a machuquei mais do que
ninguém, e eu a amo.
— E ela machucou você.
Meu olhar saltou para o dela e eu assenti.
— Mas vocês dois ainda encontraram o caminho de volta
um para o outro.
— E se eu amar esse bebê e fizer as mesmas coisas? Eu não
me sinto pronto. Eu não posso estar pronto.
Seu rosto suavizou e ela se inclinou para frente e me deu um
tapinha nas costas da minha mão.
— Ninguém está pronto para ser pai. Esse pânico, medo,
sentimentos fora de sua mente? Todos os pais os têm. Senti-los
não faz de você um pai ruim, e isso não significa que você não
pode lidar com isso.
— Não quero estragar tudo.
— Você sabe como você realmente estraga tudo?
Eu apertei meus olhos fechados sentindo como se minha
cabeça estivesse sendo mantida debaixo d’água e lutei para
respirar, deixando minha cabeça cair.
— Fugir da pessoa que amo em vez de falar com ela.
— Olhe para isso. Você nem precisa mais de mim — Ela deu
um tapinha no meu ombro.
— E se eu estragar tudo de novo? — Olhei para ela, tentando
me impedir de desmoronar.
— Você acha que as pessoas que têm suas merdas
controladas nunca se preocupam em estragar suas vidas? Você
acha que controlar seus problemas de raiva significa que você
nunca mais ficará com raiva? Ou você nunca vai cometer um
erro novamente? Como pessoa, como namorado ou marido,
como pai, deixe-me tranquilizá-lo agora, você vai ferrar as
coisas. Você provavelmente vai estragar tudo, mas um passo em
falso quando você está tentando o seu melhor não é uma coisa
ruim. Ninguém tem todas as respostas. Não tenho todas as
respostas.
Eu abaixei minha cabeça.
— Keyton, olhe para mim.
Arrastei meus olhos para encontrar seu olhar.
Ela olhou para mim com uma compreensão calma.
— Você não é seu pai, Keyton. E o quão assustado você está
agora, o quanto você está preocupado em machucar as pessoas
que você gosta – isso deve lhe dizer alguma coisa.
Em algum lugar lá no fundo eu esperava que meu pai se
arrependesse do que ele tinha feito, que ele estivesse
arrependido sobre isso, mas isso trouxe à tona a possibilidade
de que eu pudesse ser essa pessoa, machucando as pessoas ao
meu redor e me arrependendo. Mas sob tudo isso, eu sabia que
ele nunca se importou. Ele não estava nem um pouco
arrependido pelo que tinha feito. Ele nunca se importou com
ninguém além de si mesmo. Ele nunca foi capaz de sentir o tipo
de medo que eu tinha, de machucar as pessoas que eu amava,
porque ele nunca amou ninguém, muito menos a si mesmo.
— Você nunca será como ele. Se você a ama, você precisa
dizer isso a ela e você precisa estar pronto para os altos e baixos.
Você pode fazer isso através deles. Você fez tanto para se curar
e superar tudo o que passou. Não se negue a encontrar o amor
com alguém que te ama de volta só porque você está com medo.
— E se eu estragar tudo? — Meus dedos se curvaram, as
pontas dos dedos cavando em minhas palmas.
Ela deu um tapinha nas costas do meu punho fechado e
olhou nos meus olhos.
— O fato de você estar aqui comigo agora e não com ela, me
diz que você já estragou tudo.
Meu estômago deu um nó, o buraco se aprofundando a
cada segundo que passava.
As linhas de censura diminuíram e ela me deu um tapinha
no braço.
— Mas isso não significa que você não pode contornar isso.
Pense nisso como seu primeiro teste. Agora coloque sua bunda
de volta em outro avião e pare de ter medo de se deixar ser feliz.
— E se ela não me perdoar por isso? — Levantei-me e
caminhei até a porta do escritório, abrindo-a e voltando.
— Então você encontra uma maneira de ganhar o perdão
dela, assim como ela ganhou o seu e você ganhou o dela antes.
Saí do escritório dela e desci correndo para pegar um táxi. O
terror sufocante de que eu tinha arruinado tudo que Bay e eu
construímos nos últimos dois meses me agarrou, espremendo
o ar dos meus pulmões.
No momento em que liguei meu telefone, uma enxurrada
de mensagens chegou. Gwen. Ernie. Berk. Reece. LJ. Marisa.
Todos me bombardeando com pontos de interrogação e
mensagens em maiúsculas referenciando a mesma coisa.
Wisconsin.
Eu estava caindo da beira de um penhasco incapaz de
recuperar o fôlego.
— Não. Não não — Eu balancei o telefone e olhei para ele
como se eu pudesse de alguma forma voltar os ponteiros do
tempo.
Eu precisava voltar para Bay. Eu precisava explicar. Eu
precisava dela.
Ele partiu. As alturas que eu estava voando quando ele me disse
que me amava não se comparavam ao tombo que eu tinha
levado. Ele partiu. Eu disse a ele que estava grávida e ele pegou
o telefone para ligar para outra mulher e foi embora.
Eu devo ter gritado. Mas não consigo me lembrar.
Holden e Emily invadiram a sala depois que ele saiu. Eu não
sei quanto tempo se passou entre quando a porta se fechou
atrás dele e quando caí na real que ele realmente fez isso.
Holden estava em sua camisa de botão com as mangas
arregaçadas e sem gravata. O nariz de Emily tinha um tom de
vermelhidão de tanto assoar.
Ambos olharam para mim com uma mistura de choque e
preocupação.
Trocando olhares, eles me levantaram do chão, me
ajudando a subir na cama. Enrolada, enterrei meu rosto no
travesseiro. O serviço de arrumação havia entrado enquanto
estávamos fora e trocaram todas as roupas de cama por lençóis
limpos que não cheiravam a nada como ele. Eu chorei ainda
mais. Tão forte que eu senti como se estivesse me afogando.
Era como se ele tivesse me quebrado de novo, só que desta
vez não havia um violão para reconstituir.
— Minha menstruação está atrasada.
O silêncio consumiu a sala antes que eu me dissolvesse
novamente.
Uma mão esfregou minhas costas, e pelo toque da pulseira
do relógio no final de cada toque, eu sabia que era Holden.
Finalmente, meus soluços diminuíram e minha cabeça
latejou, bigornas caindo no meu cérebro. Caí em um sono
irregular e sem sonhos, mais como deslizar para o esquecimento
do que para descansar do mundo. Minha queda livre estava me
mergulhando na escuridão e na solidão.
Acordei na manhã seguinte com a cabeça latejando como se
tivesse sido enfiada em um torno. Ao lado da cama havia um
copo de água com condensação escorrendo pelas laterais e um
par de ibuprofeno.
A porta do meu quarto se abriu. Alguém parou no banheiro
e abriu a água.
Um lampejo de esperança atravessou a névoa na minha
cabeça. Tudo tinha sido um pesadelo? Isso foi Keyton com café
da manhã?
Mas não era ele. Holden entrou.
Eu derrubei as pílulas.
Ele se sentou na beirada da cama e estendeu um pano
úmido.
Tudo tinha acontecido do jeito que eu me lembrava. Esta
era a minha realidade agora.
— Eu pareço muito ruim, hein? — Minha voz soou rouca e
áspera como se eu não a tivesse usado em semanas, e eu estava
chorando tanto que meu estômago parecia que eu tinha feito
mil flexões.
— Como lixo absoluto — O canto de sua boca se contraiu
em uma tentativa de sorrir.
Eu ri como cascalho em um triturador de lixo. Depois do
que aconteceu, eu ainda podia rir. Nem tudo estava perdido,
mas o vazio interior me fez sentir como se tivesse sido escavada,
deixando-me uma concha.
— Qual o itinerário de hoje?
— Nada, Bay. Eu… não temos nada até o voo de hoje à noite.
— Certo. Eu esqueci — A dor no meu estômago. A
sensação de esfaqueamento e raiva — Londres. Partimos esta
noite.
— Emily também foi buscar um teste de gravidez — Holden
levantou minha mão e segurou a dele em torno dela.
Eu me encolhi, me enrolando. Era muito cedo? Quanto
tempo depois de uma menstruação atrasada os resultados
levariam?
— Aconteça o que acontecer, nós a protegemos. Não se
preocupe com nada. Apenas descanse um pouco.
— Sinto como se já estivesse descansado há muito tempo.
Há muito a ser embalado, eu farei isso.
Ele abriu a boca antes de fechá-la e assentir.
— Parece um bom plano. Eu vou deixar você saber quando
Emily voltar.
Eu estava sozinha novamente, com apenas meus
pensamentos. Todas as ideias sobre como fazer nosso
relacionamento funcionar foram apagadas.
O que importava? Keyton já havia partido.
Depois de arrumar minhas malas, tomei banho e tentei me
recompor. Liguei a TV para abafar os pensamentos na minha
cabeça. Melhor que as coisas sejam barulhentas demais do que
ficar sozinha com meus próprios pensamentos.
Haveria pessoas do lado de fora do hotel. Haveria câmeras e
fãs, caçadores de autógrafos e selfies. Se eu não era Bay, quem
diabos eu era? Certamente não uma namorada ou uma futura
esposa. Talvez uma futura mãe. Eu não conseguia nem pensar
tão à frente ainda.
Ele partiu ao menor indício de que eu poderia estar grávida.
Não, não havia mais nada além da música agora.
Verifiquei todas as gavetas embaixo da televisão de 65
polegadas.
— Temos grandes novidades no mundo esportivo. O
renomado amuleto da sorte Darren Keyton assinou um
contrato de três anos com o Wisconsin Bison. Esta é uma
notícia chocante apenas dois dias antes do prazo de negociação.
A maioria já aconteceu, mas parece que ele precisará investir em
um guarda-roupa de inverno para dar o salto da Filadélfia para
Milwaukee. Uma coisa que geralmente não ouvimos sobre
essas negociações é um pagamento. O tight end deixará muito
dinheiro na mesa com essa mudança, mas esta é a primeira vez
que ele assina um acordo em que se juntará ao time titular.
Caí na cama, olhando para a televisão enquanto os
apresentadores brincavam sobre o que a mudança significava
para ele no meio da temporada e como era incomum.
Como se alguém fugisse na primeira chance que tivesse. Por
que me surpreendi? Por que não prestei atenção aos sinais?
Quando eu o vi no show, ele foi embora. Na minha suíte de
hotel depois do café, ele foi embora. Depois que o cara me
atacou, ele saiu correndo. E eu disse a ele que poderia estar
grávida e ele se foi porta a fora.
Se isso não era um sinal, eu não sabia o que era. Continuei
deixando meu passado com ele colorir como eu o via e como
via nosso amor. Estávamos machucando um ao outro. Era
como um reflexo. Não podíamos evitar.
Ele não era o bad boy de Greenwood, que se interessou por
uma nerd da equipe de palco. Ele era um cara que corria
quando ficava com medo. Eu era a garota que corria com a
mesma intensidade, mas pensei que juntos, desta vez
poderíamos conquistar alguma coisa. Que finalmente
terminamos de fugir dos grandes sentimentos assustadores que
nos fizeram.
Só que não havia um nós. Ele cuidou disso quando me
deixou para ir para outra mulher, fugindo na primeira chance
que teve. Eu estava pronta para desistir de tudo por ele. Deixar
essa vida para trás por ele. Um bebê tinha sido uma desculpa
perfeita para dar um passo para trás e respirar.
A piada estava em Keyton. Ele não precisava fugir da cidade
para ficar longe de mim. Eu estava saindo hoje à noite às 18h,
pronta para terminar a última etapa da minha turnê e então
descobrir qual seria o próximo passo para mim.
A porta da suíte se abriu. Holden e Emily correram como se
esperassem que eu estivesse em uma poça novamente.
Olhares selvagens dispararam para a televisão e de volta para
mim.
— Eu vi. Estou bem — Essa foi a maior mentira que eu já
contei, do tipo que eu não poderia escapar, mas eu continuaria
dizendo até que eu pudesse acreditar na mentira mesmo por
alguns minutos. Desmoronar não era uma opção, mesmo que
tudo que eu queria fazer era me enrolar de volta na minha bola
e esquecer que tudo existia. Eu queria esquecer que eu existia.
Como eu fiz em Los Angeles depois que ele se recusou a me
encontrar, eu voltaria a abraçar minha música. Os fãs. A turnê.
Os shows.
Eu faria a mesma coisa que eu tinha feito nos últimos seis
anos. O show tinha que continuar, mesmo que tudo o que
restasse de mim fosse a casca da pessoa que eu tinha sido uma
vez, a visão que eu tive de como as coisas poderiam ser, de ter
uma família com o único homem que sempre me viu,
destruído. Não havia mais ninguém que me visse como ele. Me
amasse como ele. Me machucasse como ele.
O voo de Charlotte tinha demorado uma eternidade. No
caminho para o aeroporto, eu peguei um presente de última
hora, uma oferta de paz, uma tentativa desesperada de me
redimir um pouco aos olhos dela e provar o quão errado eu
estava. Eu invadi a porta aberta da suíte e corri para o quarto
dela.
Lá dentro, uma governanta desligou o aspirador e tirou os
fones de ouvido, olhando para mim com os olhos arregalados.
Estava vazio. Todos os sinais de Bay e sua equipe se foram.
— Desculpe — Saí da suíte.
Ela se foi.
Apoiei minha mão na parede para não cair de joelhos. Cada
respiração queimava meus pulmões. Minha cabeça zumbiu,
uma tontura zonza tomou conta de mim, e parecia que eu
estava no helicóptero de novo, caindo em direção ao chão.
Sugando respirações que pareciam cacos de vidro, tentei me
concentrar. Ela não tinha desaparecido no ar.
Contra todo instinto e noção de decência, coloquei o nome
dela em um site de fofocas.
Bay saiu do Four Seasons Philadelphia vestindo um casaco
preto longo assimétrico Alexander McQueen, botas Valentino e
jeans Levi's. Ela é tão pé no chão! Adicione a roupa dela ao seu
armário hoje!
Ela fará um grande anúncio em Londres antes de terminar
a última etapa de sua turnê mundial! Uma segunda noite foi
adicionada ao show de Berlim. Aproveite esses ingressos antes que
esgotem!
Peguei meu telefone e caminhei pelo corredor vazio.
— Gwen, eu preciso que você descubra de qual aeroporto
Bay está saindo.
— Quando ela decola e para onde ela está indo?
— Eu não sei quando ela decola. Estou no Four Seasons
agora. Um dos sites de paparazzi disse que ela estava indo para
o aeroporto trinta minutos atrás. Ela está indo para Londres.
— Ok, pode levar algum tempo.
— Eu não tenho tempo. Se ela está saindo do Philly
International, ela já pode estar em um avião. Se ela for para
Teterboro, se eu infringir algumas leis, posso alcançá-los lá ou
pelo menos chegar alguns minutos depois. Gwen, preciso vê-la
antes que ela entre naquele avião.
— Vou ver o que descubro.
A chamada terminou e eu corri para a garagem não
querendo perder um segundo assim que Gwen ligou de volta.
Meu coração batia como se estivesse tentando sair direto da
minha garganta. Nunca houve oito minutos mais lentos na
minha vida.
Antes que o telefone tocasse, eu atendi.
— Sim, você a encontrou?
Ofegante, Gwen disse as palavras.
— Ela está saindo de Teterboro às seis.
Verifiquei a hora. Menos de uma hora para chegar. Não
tinha como eu conseguir. Mesmo quebrando um recorde de
velocidade em terra sem trânsito, não conseguiria chegar a
tempo.
Respirações profundas não pararam o pânico entorpecente
que me dominou, e eu apoiei minhas mãos contra a parede.
— Um carro está entrando na garagem agora. Vai levá-lo ao
aeroporto de Filadélfia. Há um helicóptero sendo abastecido
agora. Você pode simplesmente fazer isso.
Fiquei de pé, incapaz de me mover, até que os faróis do SUV
piscaram sobre mim e me tiraram do meu congelamento.
— Você faz milagras, Gwen.
— Lembre-se, o Natal está ao virar da esquina.
— Eu não vou esquecer isso — Eu pulei no carro antes que
o motorista pudesse deslizar para fora do seu lado — Você sabe
para onde estamos indo?
— Sim, e me disseram que um pé de chumbo será
compensado.
— Dobrado. Apenas me leve para o aeroporto.
Navegando através de luzes amarelas, chegamos no
momento em que as pás do helicóptero começaram a girar no
ar.
Correndo para fora do carro, voei direto para a porta aberta
do helicóptero de seis lugares, empurrando o aperto travado
que meus músculos tentavam decretar. Meu estômago revirou,
bile correndo para minha garganta. Eu tranquei meus dentes.
Minhas mãos estavam apoiadas na borda da porta. Tirando-as,
eu me joguei no primeiro assento. Deslizei para o centro dos
três assentos e afivelei o cinto. Com uma respiração trêmula, eu
tranquei meus dedos atrás do meu pescoço e dobrei na cintura,
não confiando que meus instintos não me forçariam a pular de
volta para a pista de pouso do helicóptero em segurança. Não
tive tempo para um colapso completo.
O helicóptero levantou do chão e meu estômago caiu como
se eu estivesse em uma montanha-russa. Fechando meus olhos
e respirando profundamente, eu cavei meus dedos mais fundo
nos músculos tensos do meu pescoço. Estávamos a poucos
metros do chão.
Eu precisava chegar à Bay.
Meu estômago deu um nó e eu arrastei mais ar em meus
pulmões.
A voz do piloto invadiu minha cabeça e eu sobressaltei,
esquecendo que estava com o fone de ouvido.
— Estaremos lá em cinquenta e sete minutos. Já temos
autorização de pouso para Teterboro.
Eu balancei a cabeça, não confiando em minha boca aberta
com a pressão tapando meus ouvidos. Estávamos alto agora.
Muito mais alto do que alguns metros. Não havia como saltar
agora.
Minha respiração congelou no meu peito como se eu tivesse
sido empurrada para temperaturas de nevasca com nada além
de um protetor de testículos. Chiado, respirações afiadas
fizeram pontos nadarem na frente dos meus olhos. Enfiei a mão
no bolso, concentrando todo o meu mundo no motivo pelo
qual eu estava fazendo isso. Fechando meus olhos, eu lambi
meus lábios secos e tentei serrar através das garras do medo as
palavras que eu queria dizer para a mulher que eu não poderia
viver sem.
Recitei o que queria dizer como um mantra, cada vez me
aprofundando no amor que eu tinha por ela. A necessidade. Se
ela acreditasse em mim ou não, se ela estava disposta a arriscar
seu coração novamente por mim, o cara que a quebrou mais
vezes do que deveria ter sido permitido, eu não iria embora até
que eu dissesse a ela o quanto ela significava para mim. O
quanto ter uma família com ela significava para mim. O quanto
esse bebê significava para mim.
E em pouco tempo minha tortura terminou.
Aterrissamos e eu quase caí na pista e beijei o chão. Em vez
disso, corri pela pista, correndo para o avião com o número de
voo que Gwen havia me mandado. O ar do inverno esfolou
minha pele branca e úmida.
O Gulfstream 350 com as escadas abaixadas foi iluminado
por dentro e um tapete foi desenrolado. Uma comissária de
bordo estava no topo da escada.
Algumas pessoas saíram do hangar do aeroporto em direção
às escadas. A bagagem estava sendo carregada na barriga do
avião.
Holden saiu e ficou no pé da escada, falando em seu
telefone.
Então eu a vi de casaco preto, botas e jeans, com um chapéu
puxado para baixo sobre as orelhas.
Meu coração gaguejou e eu corri em direção a ela.
Ela tomou um gole de uma bebida fumegante na mão e
subiu as escadas até o avião.
— Bay!
Todas as cabeças se viraram na minha direção, mas meu
olhar estava focado nela. Somente ela.
— Bay! — Minha respiração se reuniu em baforadas na
frente do meu rosto.
Eu estava na base da escada ao lado de Holden, que se
colocou no caminho. Eu poderia bater nele e ele provavelmente
voaria seis metros. Eu poderia jogá-lo na pista por se colocar
entre nós. Eu poderia destruí-lo para chegar até ela.
E destruir qualquer chance que eu tive no processo.
Ela estava no topo da escada, seu rosto neutro. Eu quase
teria preferido que ela jogasse sua bebida em mim do que me
encarasse com aquele olhar impassível.
— Como você sabia que estaríamos aqui? — Holden
cruzou os braços sobre o peito. Embora ele fosse elegante e o
sotaque certamente me impressionasse, pelo fogo em seus
olhos, eu não duvidei que ele tentaria me dar um soco se eu
tentasse chegar até ela através dele.
— Preciso falar com ela — Eu olhei para ele.
Depois de ver o quanto ele tinha feito por Bay e como ele
tinha sido alguém em quem ela poderia se apoiar em toda a
loucura que era sua carreira, eu não duvidei que ele não me
quisesse perto dela depois do que eu tinha feito.
— Preciso explicar — Suplicando com tudo que eu tinha
em mim, eu olhei em seus olhos — Por favor.
Talvez ele tenha visto minha dor, ou a necessidade de
consertar as coisas. Ou talvez ele soubesse que ela nunca seria
capaz de seguir em frente sem essa conversa. Seja qual for o
motivo, ele olhou por cima do ombro.
A porta do avião estava vazia. Bay e a comissária de bordo
tinham ido embora, provavelmente não querendo
testemunhar minha abjeta humilhação no aeródromo. Mesmo
as outras pessoas que estavam indo para o avião estavam longe
de serem vistas agora.
A mandíbula de Holden apertou e ele fez uma careta,
profunda e agourenta.
— Você tem dez minutos — Ele olhou de volta para o avião
— Não me faça me arrepender disso. Espero que você tenha
trazido as grandes armas, porque você vai precisar delas —
Balançando a cabeça, ele saiu do caminho.
Recuperando-me por alguns segundos, subi as escadas,
tentando me lembrar de todas as coisas que planejei dizer
enquanto subia.
Nunca saia do jeito que eu queria com Bay.
Dentro da cabine, procurei por ela no interior. Havia sofás
de couro ao longo de um lado do avião e dois conjuntos de
quatro cadeiras com uma mesa no centro.
Na parte de trás, havia duas portas. Um provavelmente
levava a um quarto e o outro a um banheiro.
A porta do banheiro se abriu e Bay saiu de moletom e calça
de moletom, secando as mãos em uma toalha com uma
expressão de dor no rosto.
— Ele já foi? — Ela espiou pelas janelas antes de se
endireitar, olhando diretamente para mim.
Sua cabeça foi jogada para trás e ela deixou cair a toalha.
— O que você está fazendo aqui?
— Eu precisava falar com você.
Sua expressão atordoada desapareceu de volta ao vazio
neutro.
— Eu não tenho nada a dizer a você. As palavras nunca me
dizem nem metade das suas ações.
— Eu sinto muito — Eu andei pelo corredor, precisando
estar perto dela, precisando que ela soubesse o quanto eu
estraguei tudo.
— Você sente muito — Seu rosto se contorceu em uma
máscara de tristeza e raiva.
Meu peito doía, a dor se espalhando.
— Eu sei que errei.
— Eu disse que poderia estar grávida e você fugiu —
Lágrimas brotaram em seus olhos e ela as afastou — Você disse
que estar comigo era algo que você nunca iria se arrepender e
você se foi.
— Estava errado. Eu estava errado. E isso é um
arrependimento que vou ter para o resto da minha vida.
— Eu disse a você o que eu precisava. Eu te disse o quanto
eu queria algo real, e em uma hora, você passou de querer passar
o resto de sua vida comigo para sair pela porta sem olhar para
trás. Como posso concordar em passar o resto da minha vida
com você se nem sei se você estará lá pela manhã? Você teria
rolado para fora da cama e escapado me deixando para trás sem
nem mesmo um bilhete.
Eu abaixei minha cabeça.
Ela estava certa. Sobre tudo. Mas estávamos fazendo essa
dança em torno um do outro por mais de uma década.
— Você acha que um bilhete torna tudo mais fácil? — Olhei
para ela, minha visão embaçada com lágrimas — Uma nota
para analisar cada linha, procurando um código secreto ou
mensagem para dizer onde as coisas deram errado e como
corrigi-las?
— Você foi embora porque estava com medo. Eu fiz
exatamente a mesma coisa.
Enfiei a mão no bolso e envolvi meus dedos ao redor do
tecido.
— Nunca tive tanto medo de nada na minha vida.
Dentro do meu bolso, passei meus dedos sobre as letras
impressas na frente.
— Medo de ter filhos. Você falou sobre uma família.
— Nós conversamos sobre isso.
— Conversas e realidade são duas coisas muito diferentes.
— Quem é Monica? — Sua voz falhou quase perdendo o
final do nome de Mônica. Ela se aproximou. Agora ela estava
de pé na ponta do sofá, não mais a meio avião de distância de
mim.
— Minha terapeuta — Eu me chutei pensando em como
tudo soava para ela. Ela não apenas pensou que eu a
abandonaria enquanto ela estava grávida do meu filho, mas que
eu iria direto para outra mulher.
O desespero com o quão incrivelmente fodido eu estava foi
apenas ligeiramente diminuído pelo arrependimento de que eu
tinha vindo para ela como um homem que ainda era um
trabalho em andamento, do tipo que não era completo o
suficiente para ser perfeito para ela. Mas eu não desviei o olhar,
precisando que ela soubesse que era verdade, sem dúvida ou
hesitação, que nunca poderia haver outra mulher para mim.
— Você saiu para ver sua terapeuta — Sua cabeça inclinou
e ela caiu na beirada do sofá.
Eu balancei a cabeça, vergonha queimando no meu peito
por eu ter abandonado a mãe do meu filho do jeito que eu tinha
porque minha cabeça ainda estava uma bagunça. Todo o
trabalho, conversas internas e pensamentos que eu tinha
resolvido, e durante um momento em que a maioria dos caras
que amavam a mulher com quem estavam e queriam passar o
resto de suas vidas estariam pulando no ar batendo com os
punhos. Eu saí sob o manto da escuridão.
— Eu tinha medo de me tornar ele — Uma queimação se
instalou no fundo das minhas narinas.
— Seu pai? Keyton… — Sua voz perdeu um pouco do fio
da navalha. As almofadas de couro se moveram e ela deslizou
para mais perto — Você nunca, nunca poderia ser como ele —
Ferocidade e veemência rasgaram suas palavras — As
preocupações e o medo que eu tinha sobre nós, nunca foram
de que você se transformasse nele.
— Sempre que vejo uma criança agora, especialmente
alguém que conheço ou alguém que sou próximo – inferno, até
mesmo Felicia quando ela veio à minha porta com seu bebê
amarrado ao peito – tudo o que consigo pensar é que ele me via
tão pequeno e vulnerável e mesmo assim ele me machucava —
Eu apertei meus olhos fechados e cerrei meus punhos,
apertando-os contra minhas coxas antes de eu tomar uma
respiração trêmula e soltar meu aperto. — E me assusta saber
que alguém seria capaz disso. Me assusta saber que eu poderia
ser capaz disso.
Ela disparou para frente e pegou minhas mãos nas dela.
— Você não é — Puxando-me para frente, ela não me
deixou evitar seu olhar — Você não é. Eu não posso saber como
foi passar pelo que você passou. Eu nunca poderei saber ou
realmente entender o que você passou. Não importa o que
aconteça aqui esta noite, eu preciso que você saiba que eu não
te odeio. E eu não quero que você pense por um segundo que
eu acredito que você poderia me machucar assim ou machucar
seu filho — Sua voz falhou e ela fungou.
Colocando minhas mãos para baixo, seus lábios apertados.
“Mas o que você fez. Como você acabou de sair no segundo
em que se assustou… como podemos ter um relacionamento se
você não fala comigo? Se você fugir de mim e nem me deixar
saber o que está acontecendo? Eu pensei que tínhamos
superado isso e finalmente fossemos capazes de confiar um no
outro. E então surge a notícia de que você está indo para
Wisconsin — Olhos acusadores cortaram através de mim —
Você não mencionou isso nenhuma vez.
Eu não mencionei. Eu empurrei para os cantos da minha
mente, não querendo me decepcionar novamente. Minhas
palavras para Ernie ir em frente, não importa o que, sem me
consultar, soaram em meus ouvidos. Eu finalmente consegui a
única coisa pela qual eu estava lutando na minha carreira, e isso
pode me custar a única pessoa que fez minha vida valer a pena.
— Era para ser um negócio morto.
— Mesmo que fosse só um negócio para começar, você
deveria ter me contado. Você deveria estar lá para mim. Você
deveria ter me deixado estar lá para você.
A pulsação na minha cabeça não ia embora. Eu queria jogar
meus braços ao redor dele e deixá-lo me abraçar. Eu queria
expulsá-lo do avião e dizer a ele que não podia mais fazer isso.
Deixá-lo entrar convidava essa dor de cortar a alma da qual eu
não podia escapar.
Meu coração doeu pelo menino que pensou que poderia ser
capaz do que ele tinha sido submetido, e eu odiava seu pai por
sempre levá-lo a duvidar de si mesmo, mas não havia palavras
minhas para consertar isso. Se ele não acreditasse, ficaria com
medo de ser aquele homem para sempre; e eu sempre tinha o
medo no fundo da minha mente de que um dia tudo seria
demais para ele e ele partiria para encontrar uma vida mais fácil
e menos complicada sem as lembranças de seu passado – sem
mim.
— Mas você não estava lá para mim. Você me deixou para
lidar com tudo sozinha. Eu fiquei com medo — Lágrimas
nadaram em meus olhos novamente e eu odiei meus ductos
lacrimais traiçoeiros. Minha voz ficou mais alta, tensa —
Inferno, eu estou cagando de medo metade do tempo da minha
vida e quem eu estou deixando para trás e quais erros eu cometi,
mas eu compartilhei isso com você.
Minha raiva cresceu novamente, fazendo-me cerrar as mãos
no meu colo.
— Toda a conversa sobre querer que nossas vidas se juntem
e descobrir isso, mas você estava fazendo planos antes de mim e
não me disse o que estava acontecendo. Comecei a fazer planos
para o ano que vem depois da turnê para estar perto de você, e
você nem vai estar aqui. Falei com Maddy sobre me afastar de
tudo, encerrar as coisas nos próximos dezoito meses, e você
nem podia me dizer que havia uma chance, Dare — Engoli em
seco, meus dedos voando para meus lábios.
Ele estremeceu.
Merda.
Ele abaixou a cabeça.
— Não, você está certa. Você está certa sobre tudo.
Olhei para ele, vendo a angústia irradiando de seu olhar.
— E que tipo de vida teríamos se você ainda tivesse medo de
escorregar e me chamar de Dare? Eu nunca quero que você
tenha medo de mim. De qualquer forma.
O aperto no meu peito diminuiu.
— Às vezes é difícil para mim lembrar.
— Às vezes é difícil para mim esquecer. Esquecer essa parte
da minha vida, tentando deixar Dare para trás, eu nunca
poderia fazer isso. Eu vejo isso agora e eu aceito. É parte de
quem eu sou e eu não teria você sem isso.
Ele esfregou as mãos sobre o rosto.
— Eu quero estar lá para você e para o bebê. Minha cabeça
está finalmente no lugar e estou bem — Seus lábios se
apertaram — No meu caminho para ficar bem. Eu sei que o
que eu fiz foi uma merda. Mas eu quero estar aqui para você,
você e o bebê.
Eu me afastei.
— Se é por isso que você voltou, então você está fora do
gancho — Eu apertei minhas mãos entre minhas coxas. A risada
menos engraçada escapou dos meus lábios — Se você tivesse
esperado mais algumas horas, você saberia que estava livre. Fiz
um teste de gravidez e deu negativo e, se isso não fosse
confirmação suficiente, fiquei menstruada — Eu joguei em um
floreio de braço arrebatador que enviou cólicas socando meu
estômago.
A garrafa de água quente estava no sofá ao meu lado. Eu
estaria sentada com ela descansando contra mim até que eu
tivesse que me mover novamente. Sinalizava que eu não ia ser
mãe. Keyton e eu não estávamos unidos pelo resto de nossas
vidas por uma mini versão dele ou de mim, ou talvez a
combinação perfeita de ambos.
Ele caiu de joelhos na minha frente, pegando minhas mãos
nas dele.
— Não quero ficar de fora. Eu nunca quis estar fora do
gancho. Tudo que eu queria era nunca machucar você ou
nosso filho como eu tinha sido machucado — Ele fechou os
olhos e apertou minhas mãos com mais força. Olhando para
mim com lágrimas nos olhos, ele respirou fundo, como se
aquelas velhas memórias o revisitando quase o tivessem
quebrado novamente. — Nunca duvide que eu queria ter um
bebê com você. Eu ainda quero isso de uma forma desesperada,
quase assustadora. Eu sei que não estamos prontos, mas agora
eu sei que nunca estaremos realmente prontos. Você estar
grávida não foi o problema. Meu medo era o problema. Só
agora vejo que meu verdadeiro medo é viver uma vida sem você.
Eu fiz isso. Já fiz isso por muito tempo e não quero mais. Eu
não posso suportar a ideia de saber que você não está voltando
para casa para mim.
— Como eu sei que você não vai fazer isso de novo? Eu
preciso de pessoas na minha vida com quem eu possa contar.
— Eu sei. Não há nada que eu possa dizer para fazer você
acreditar nisso. Mas eu posso provar isso para você todos os
dias.
Sacudi suas mãos das minhas. Passando a mão pela testa,
olhei pela janela, meio esperando que Holden entrasse
insistindo que precisávamos sair agora.
Do lado de fora havia um helicóptero que não estava ali
antes. O interior ainda estava iluminado, e o piloto estava
sentado na cabine.
Eu me virei de volta para Keyton.
— Como você chegou aqui?
O pomo de Adão dele balançou.
— A única maneira de chegar da Filadélfia até aqui em
menos de duas horas.
— Você entrou no helicóptero? — Ele tremeu ao me contar
sobre o incidente do helicóptero. Ele mal conseguia olhar para
ele quando eu subi durante o SeptemberWeen.
— Eu precisava te dizer como eu realmente me sentia antes
de você partir. Era a única maneira. E eu precisava te dar isso —
Do bolso, ele tirou um pacote de tecido verde dobrado. Tinha
uma fita branca em volta.
Eu peguei dele, minhas mãos tremendo.
Olhando dele para o tecido, puxei a fita. Ele se desfez, caindo
sobre os lados das minhas mãos.
Desdobrando-o, eu segurei o algodão verde macio nas
palmas das minhas mãos e tentei ler as palavras através das
minhas lágrimas ofuscantes. A tela impressa na frente em letras
brancas era uma pequena equação: “Mamãe + Papai = Eu”
com um pequeno coração pendurado no “u”.
— Seja lá quando isso vai acontecer, eu quero com você —
Seus dedos envolveram meus pulsos — Não haverá um dia em
que não me arrependa de como lidei com a notícia, mesmo que
não fosse real. Tudo o que tenho pensado é como eu poderia
ser o marido que você merece e poderia construir uma família.
Eu não conseguia tirar meu olhar do macacão. Sonhei em
ver um bebê gordinho e gorgolejante com os olhos.
Mas vê-lo partir, ele fugiu daquele futuro, e quem poderia
dizer que ele não faria isso de novo, mesmo depois de eu ter
desistido de tudo para viver nossa vida juntos? A música era
tudo o que me restava. Encheu-me o suficiente para continuar,
mas não a sensação transbordante que eu tinha com ele.
Meu peito doía, cada grama do meu coração tornando mais
difícil recuperar o fôlego. Eu fechei meus olhos.
Ele mostrou tudo para mim. Todos os medos e
preocupações. Tantos deles eu compartilhei. O futuro
desconhecido era assustador quando outra pessoa não estava
controlando minha vida, quando eu me permitia chegar perto
o suficiente dele para que ele pudesse me machucar de uma
maneira que rivalizava com a primeira vez que ele fugiu de mim
em uma chuva de lascas de madeira. Talvez os medos sempre
estivessem lá, como farpas, tentando sair do meu coração para
me permitir finalmente me curar. Ser a garota assustada no
palco com o violão, cantando meu coração para o mundo
inteiro, ou para uma plateia de um só.
Abrindo os olhos, olhei para o homem que ganhou meu
coração quando menino, que sempre esteve ligado à minha
alma e que foi tecido no próprio tecido do meu ser.
A estrada que percorremos tinha sido longa e sinuosa,
atravessando as extensões de distância e tempo. Agora que
estávamos aqui juntos, essa encruzilhada parecia que iria dividir
nossa história daqui para a eternidade ou forjá-la através do
fogo das feridas do passado e do presente.
Mas a pergunta permaneceu. Como eu queria viver o resto da
minha vida?
Passos soaram na escada que levava à porta do avião.
Holden entrou na entrada do avião.
— Bay, desculpe interromper, mas estamos a cerca de dez
minutos de perder nossa janela de decolagem até amanhã.
Olhei de Holden para Keyton, meu pulso martelando em
minhas veias.
— Eu não posso — Minha voz falhou. Eu me afastei,
minhas narinas queimando com as lágrimas em construção que
eu não podia deixar cair.
Sua cabeça caiu e ele se recostou, descansando as mãos no
topo das pernas. Ele ficou sentado por longos e excruciantes
momentos em que eu não podia ter certeza de que essa era a
resposta certa. Eu não podia ter certeza de que não estava
correndo ficando parada.
— Eu entendo — Ele saiu do chão e deu dois passos,
curvando-se, ele pressionou os lábios no topo da minha cabeça
— Espero que você encontre a felicidade, mesmo que não possa
ser comigo. Isso é tudo que eu sempre quis para você, era que
você fosse feliz, mas não importa o que aconteça, eu quero que
você saiba que eu te amo. Eu sempre te amei e sempre te amarei,
AGN. — Sua voz vacilou e eu fechei meus olhos e apertei meus
lábios.
Um soluço feio tentou escapar da minha garganta.
E então o calor dele se foi. Ele passou correndo por Holden
e o avião balançou com seus passos retumbantes descendo as
escadas.
— Bay…
— Não — Eu levantei uma mão.
Ele deu um passo para trás e apertou as duas mãos.
— Não precisamos sair agora.
Limpei as lágrimas do meu rosto.
— Vamos perder nossa janela se não o fizermos — Atrasaria
todos em Londres. Com o canto do olho, peguei a figura
solitária se afastando do avião quando todos os outros estavam
andando para frente.
Esta vida era segura. Esta vida era caótica e louca. Esta vida
estava livre de deixar alguém perto o suficiente para me
machucar novamente.
Emily e Eric, junto com algumas outras pessoas, entraram
no avião. Os motores ligaram, forçando mais ar aquecido
através das aberturas. As vozes abafadas de todos ao meu redor
pareciam tão distantes. Uma comissária de bordo saiu para
recolher os casacos de todos e guardá-los. Oito horas sobre o
oceano. Em oito horas, estaríamos a um continente de
distância. Em oito semanas, ele me mostrou como minha vida
poderia ser diferente com alguém que eu amava. Em dez anos,
ele provou que nunca poderia e nunca haveria alguém que eu
amaria tanto quanto eu tinha amado o garoto quebrado me
observando em nossos quintais.
A comissária de bordo caminhou pelo corredor.
— Todos podem, por favor, tomar seus lugares? Estamos
prontos para decolar.
Por um tempo, despencar para a morte em um helicóptero
parecia o momento mais aterrorizante da minha vida. Mas
depois de beijar o topo da cabeça de Bay, sabendo que seria a
última vez que eu a sentiria novamente, eu ficaria feliz em ter
sofrido um acidente de avião em chamas ao invés de sentir o
fogo queimando em meu peito. Parecia que a carne estava
sendo arrancada dos meus ossos, e tudo que eu podia sonhar
era a dormência para fazer isso parar de doer tanto. A dor quase
me deixou de joelhos.
O sol se pôs e o ar passou de frio a escaldante na pista aberta
com as turbinas a jato levantando ainda mais ar.
Olhei para o piloto do helicóptero do outro lado da pista e
não tinha ideia do que fazer a seguir. Como eu seguiria minha
vida sem ela? Os motores do jato ligaram e eu tranquei meus
joelhos para não virar e correr de volta para ela.
Ela me disse que não. Eu não fui perdoado. Já não era esse o
nosso Modus Operandi? Parecia a dança que fomos
condenados a repetir a cada meia década.
Talvez ela conseguisse um próximo álbum matador sobre
nossos dois meses de paraíso.
Seu avião iria taxiar e levá-la de volta ao seu mundo de
ônibus de turnê, fãs adoráveis e uma programação ininterrupta
que não a deixaria sem tempo para pensar em mim antes que
ela caísse em um sono de feliz esquecimento.
Eu… pensar na minha vida além deste momento era muito
doloroso para suportar. Com pernas de pau, voltei para o
helicóptero. O motor do avião atrás de mim ficou mais alto, e
logo as rodas deixariam o chão e, com elas, meu coração.
Uma voz quase abafada pelo rugido do motor animou meus
ouvidos.
— Espera!
Eu me virei.
No topo da escada do avião, Bay acenou com os braços.
Saltando escada abaixo em dois saltos, ela correu em minha
direção, correndo tão rápido que seus pés mal tocaram o
asfalto, baforadas escapando por entre seus lábios. Seu cabelo
chicoteou atrás dela no ar gelado.
Meu coração gaguejou, com muito medo de sonhar. Com
muito medo de ter esperança.
Seu rosto estava brilhante e molhado.
— Espera — Ela correu em minha direção, não parando até
que ela estava a meio passo de mim — Eu não poderia ir, não
sem te dizer — ela gritou sobre o barulho do aeroporto.
Eu apertei minhas mãos nas laterais das minhas pernas para
não tocá-la.
— Me dizer o quê?
— Que eu poderia entrar naquele avião e ir para Londres e
continuar vivendo a vida que tenho vivido nos últimos cinco
anos — Ela engoliu em seco e seu rosto caiu, lágrimas brilhando
em seus olhos — Mas eu não quero. Não quero viver mais um
dia sem que você saiba o quanto eu te amo e sem sentir o
quanto você me ama. Você me assusta mais do que qualquer
coisa que eu já enfrentei antes, porque você é meu único. Estou
com medo, Dare — Ela olhou nos meus olhos, me mostrando
exatamente como eu a fazia se sentir. O medo, a saudade, o
amor. Queimava tanto que parecia quente o suficiente para
chamuscar o ar.
Eu a peguei em meus braços.
— Você me assusta também, Bay. Nunca amei ninguém
como amo você, e nunca amarei, mas prometo que passaremos
por isso juntos e nunca deixarei meu medo de como me sinto
por você me forçar a fugir novamente. Da próxima vez que eu
correr, quero você ao meu lado correndo em direção a um
futuro que nenhum de nós poderia imaginar, um futuro que é
lindo e perfeito e imperfeito e confuso e nosso.
Segurei seu rosto entre minhas mãos.
Ela assentiu com lágrimas escorrendo pelo rosto e agarrou a
frente do meu casaco.
— Eu quero isso com você. Eu preciso disso com você. Eu
te amo, Keyton. Sempre te amei e acho que não conseguiria
parar se quisesse, mas não quero. E eu nunca vou.
— Eu também te amo, Bay. Agora e sempre.
Holden nos empurrou para fora da pista e de volta para o avião.
Fizemos as pazes no quarto na parte de trás do avião,
abraçados na cama de casal. Houve mais conversas, risos e
lágrimas. Finalmente, estávamos compartilhando tudo de nós
mesmos sem hesitação ou reserva, o bom, o ruim e o feio. Era a
única maneira de lidarmos com tudo isso juntos, como uma
equipe.
E foi na coletiva de imprensa para dar início à turnê de Bay
que ela anunciou que seria sua turnê de despedida.
O choque me abalou até o meu núcleo. Em todas as nossas
conversas no avião, ela não disse nada sobre se aposentar.
A sala explodiu em uma enxurrada de perguntas e vozes
levantadas. Holden apenas pegou sua caneta e tablet,
resmungando baixinho sobre ser o último a saber.
Alguém na sala me reconheceu, talvez de um dos jogos de
Londres que jogamos.
— Isso tem alguma coisa a ver com o jogador de futebol
americano na sala?
Bay se inclinou para mais perto do microfone.
— Absolutamente.
A sala explodiu em uma loucura ainda maior, mas com seu
olhar fixo no meu, parecia que finalmente tínhamos nossa paz.
Holden interveio quando as perguntas continuaram como
uma mangueira de incêndio depois que ela respondeu mais de
vinte.
Sentamos em um carro no caminho de volta para o
aeroporto para pegar meu voo de volta. Flashes dispararam do
lado de fora dos vidros escuros, iluminando o interior do carro
em luzes brilhantes. As pessoas batiam contra o vidro gritando
seu nome.
— Tem certeza que vai deixar tudo isso para trás?
Ela olhou nos meus olhos, sem vacilar e desprotegida.
— Não há dúvida em minha mente.
— O que vem depois? — Olhei para nossos dedos
entrelaçados descansando na minha perna.
— O que quisermos. Bem, não o que queremos — Ela
mordiscou o lábio inferior — Vou ter que terminar a turnê e
encerrar todas as obrigações contratuais. Minha vida não será
minha por pelo menos um ano, talvez mais. Tenho certeza de
que Holden está no telefone com Maddy agora, discutindo
tudo.
— Eu vou apoiá-la, não importa o que você decidir.
Ela trouxe nossas mãos unidas para cima e beijou as costas
da minha mão.
— Eu sei e essa é a maior razão pela qual sou corajosa o
suficiente para fazer isso. Eu quero sentar na arquibancada e
torcer por você. Quero encontrar um estúdio tranquilo e
trabalhar na minha música. Eu quero construir uma vida com
você.
— Nunca quis mais nada na minha vida.
Nosso adeus no aeroporto não foi tão choroso quanto antes
da nossa última decolagem. Ela se agarrou a mim com as pernas
em volta da minha cintura e os braços em volta do meu
pescoço. O gelo cortante de Londres não era páreo para o calor
de seu corpo contra o meu.
— Eu te amo, Bay — Meus dedos afundaram em seu cabelo
e eu a segurei para mim.
— Eu também te amo. Três semanas até que eu consiga fazer
isso de novo — Afrouxando seu aperto, ela deslizou pela frente
do meu corpo.
— Uma janela de dezoito horas, mal posso esperar —
Apoiando-me no corrimão das escadas para o jato, eu escovei
seu cabelo para trás e puxei seu chapéu para baixo sobre suas
orelhas.
Ela balançou a cabeça.
— Não será suficiente.
— Não, mas será o suficiente por enquanto. Temos o resto
de nossas vidas, Bay.
Eu cuspi um pedaço de grama preso na minha boca. Meus
dedos doíam, e o frio congelante penetrou em minhas luvas.
Agachado, olhei para a fileira empilhada de atacantes
defensivos.
O curativo de borboleta acima da sobrancelha direita estava
saindo de todo o suor escorrendo pelo meu rosto, embora
estivesse tão frio que congelou sob o adesivo.
Meu corpo gritou por alívio, gritou por descanso, mas a
adrenalina aumentou para me dar a motivação que eu
precisava. Esta era a temporada que eu queria por tanto tempo.
No camarote, Bay estava me observando. O perdão dela era
um presente que eu nunca daria como certo.
Alguém deu um tapa no meu capacete.
O relógio do jogo estava funcionando. Estávamos perdendo
por um, com vinte e duas jardas restantes.
Meu sangue gritou em minhas veias. Eu podia sentir meu
pulso em minhas pálpebras. Dois dedos foram colados juntos
após uma quase luxação na última jogada do quarto.
Sopros de respiração formaram uma nuvem entre as duas
linhas de jogadores.
O estádio ganhou vida com os torcedores, não preocupados
em congelar suas bundas.
Testei minhas chuteiras no chão, esperando o sinal.
O QB25 de Wisconsin gritou e tudo se moveu em câmera
lenta. Um bolso se abriu em nossa linha e um linebacker foi
direto para ele. Cavando fundo para a última explosão de
adrenalina, eu o acompanhei e o interceptei, batendo meu
ombro nele e derrubando-o.
Batemos no chão a centímetros do QB e a bola voou por
cima. Eu apareci, rastreando o perfeito arco em espiral
descendo o campo.
Minha respiração congelou em meus pulmões, mas não
tinha nada a ver com as temperaturas.
Tudo parou, e todo o estádio estava de pé em quase silêncio.
Uma ponta do dedo da bola de um de nossos caras e ele a
atirou no ar.
Minha mão bateu no meu peito, agarrando minha camisa.
O QB agarrou a parte de trás das minhas ombreiras.
E a recuperação.
O running back segurou a bola com as mãos enluvadas e
bateu contra o peito antes de cair na end zone.

25
QB: abreviação de quarterback
De pé, atordoado, assisti o estádio entrar em erupção e meus
companheiros correram em nossa direção.
Os bancos laterais foram esvaziados e todos saíram para o
campo. A franquia que não chegava aos playoffs há mais de
uma década acabava de conquistar seu segundo campeonato
nacional – seguido.
Corpos empilhados em cima de mim. A equipe me
levantou, me abraçando, gritando sua empolgação para os céus
bem ao meu lado.
Suado, cansado e vibrando com a alegria da vitória, juntei-
me à comemoração do meu time.
Chapéus foram enfiados em nossas cabeças e câmeras
invadiram as festividades. Os entrevistadores enfiaram
microfones em nossos rostos.
Em meio à loucura, o troféu com uma bola de futebol
prateada no topo foi levantado por nosso quarterback. Ele
agarrou-me e empurrou-o em minhas mãos.
— Eu não teria pensado que seria tão próximo com você
conosco por toda a temporada! — Ele sorriu e me sacudiu —
Mais um?
Olhei para o mar de pessoas, absorvendo a energia, vivendo
o momento da minha segunda vitória no campeonato depois
de colocar todo o meu sangue, suor e lágrimas neste time.
Através da confusão de pessoas e confetes caindo, a
multidão se separou.
Bay caminhou em minha direção, ainda em sua roupa de
apresentação do show do intervalo completa com uma jaqueta
de Wisconsin que não estava nem perto de ser quente o
suficiente. Mas ela queria sair com um estrondo para sua
performance de despedida.
— O suficiente — A palavra soou na minha cabeça. Devolvi
o troféu ao QB — Na próxima temporada vocês estarão por
conta própria.
Seu rosto caiu, mas eu não fiquei para a enxurrada de
perguntas, em vez disso, deslizei minhas mãos ao redor da
cintura da minha esposa e a girei, levantando seus pés do chão.
Ela riu e me abraçou de volta, embora eu estivesse suado e
nojento.
— Parabéns, Sr. Keyton.
Envolvi meus braços mais apertados em torno dela e
sussurrei em seu ouvido.
— Parabéns, Sra. Keyton — Um bombardeio de felicidade
me atingiu ao dizer essas palavras.
Uma mão pousou no meu ombro e me puxou de Bay.
— Estamos aqui com Darren Keyton e sua namorada e
performer do intervalo, Bay. Vocês dois tiveram uma noite
estelar.
Segurei Bay perto de mim, meu coração batendo como se eu
tivesse acabado de terminar a jogada vencedora.
— Nós certamente tivemos, e eu não poderia ter feito isso
sem ela ao meu lado.
— Alguma palavra ainda sobre quando vocês dois vão se
casar?
Nossas alianças estavam na cômoda em nossa casa alugada
não muito longe do estádio. A cerimônia privada que
realizamos com menos de vinte participantes em uma ilha
particular longe de olhares indiscretos ainda não era de
conhecimento público. Todas as noites, quando chegávamos
em casa, eu colocava o anel no dedo dela e dizia "sim" de novo.
Inclinei-me para o microfone.
— Ainda estamos tentando decidir o momento perfeito.
As entrevistas foram ininterruptas com microfones enfiados
em nossos rostos, mas não consegui esconder meu sorriso.
Acho que não parei de sorrir desde que ela desceu correndo as
escadas do jato particular e caiu em meus braços.
As próximas horas se dissolveram em uma procissão de
celebração. Foi um borrão de chuva de champanhe, banhos de
Gatorade, entrevistas de dez segundos com clipes de som,
coletivas de imprensa e algum tempo com a equipe de
fisioterapeutas sendo remendado.
Bay fez suas próprias entrevistas durante a noite. Repórteres
a interrogaram sobre seu próximo álbum, próxima turnê,
próxima linha de produtos. Ela manteve a evasiva e os
direcionou para dois artistas em ascensão com quem estava
trabalhando.
Depois dos canhões de confete, passamos para o vestiário. O
chão estava encharcado de álcool e suor. Eu tinha ficado em
cômodos como este pelo que pareceram anos da minha vida
combinados, e esta pode ser uma das últimas vezes que estive
aqui.
A maioria dos jogadores tinha ido embora, já comemorando
a grande vitória. Eu tinha anéis suficientes para cobrir uma mão
e meia. A novidade da festa há muito havia sido eclipsada pelo
meu amor pelo jogo, mas até isso havia diminuído.
Mãos deslizaram em volta da minha cintura.
Levantando meus braços, eu me virei no aperto de Bay e
deixei meus braços em volta dela. Ela já estava de casaco.
Holden estava no final dos armários.
— Ei, você conseguiu! — Eu estendi minha mão.
Ele descruzou os braços.
— Como se eu fosse perder a possível última apresentação
dela.
Apertamos as mãos.
— Obrigado por voltar. Ela estava uma pilha de nervos
pensando em fazer isso sem você.
— Como se eu fosse permitir isso.
Bay revirou os olhos.
— Obrigada por vir, Holden — Ela o abraçou e beijou sua
bochecha.
— Melhor tomar cuidado. Aquele seu marido pode ficar
com ciúmes — ele sussurrou baixo o suficiente para apenas nós
ouvirmos.
Ela olhou por cima do ombro.
— Não, ele sabe que tem meu coração.
— Tudo bem, chega de troca de amor sufocante. Tenho um
avião para pegar. Vejo vocês dois depois que está próxima turnê
terminar — E ele se foi.
— É estranho não vê-lo todos os dias?
— Sinto falta dele. Felizmente, ele tem aquele tablet
cirurgicamente preso à mão, então eu sei que ele está sempre lá
quando eu preciso dele.
— Ele é um bom amigo.
— Um dos melhores.
Abotoei os dois primeiros botões de seu casaco e puxei o
chapéu do bolso, puxando-o para cima e para baixo sobre os
olhos.
Seus lábios franziram. Ela o empurrou para cima e deslizou
as mãos nos meus bolsos, descansando o queixo no meu peito.
— Ótimo jogo.
— Grande performance.
Ela torceu o nariz.
— Era tudo luzes e fogos de artifício. Fumaça e espelhos.
— E você.
— Vamos para casa.
A casa podia estar na traseira de um carro. Um estúdio. Um
terminal de aeroporto. Enquanto eu estava com ela, eu estava
em casa. A neve começou a cair no caminho. Eu poderia
apreciá-la ainda mais, já que não teria que jogar nela nunca
mais.
O sol do amanhecer estava perto do horizonte quando
chegamos à nossa casa alugada. Nós a adaptamos com um
estúdio e qualquer outra coisa que precisássemos para
sobreviver ao inverno congelante de Wisconsin.
Nós tiramos nossas roupas de inverno pela porta ainda
coberta de enfeites de Natal e fomos direto para o nosso quarto
na casa estilo chalé de três camas.
Ao lado da cama havia uma garrafa de champanhe em um
balde de gelo. Uma bandeja estava na cômoda com recipientes
de comida esperando por nós.
Eu me virei para Bay.
Ela bateu os dedos contra os lábios.
— Ok, eu posso ter pedido um favor a Holden para fazer
isso acontecer.
— Nesse caso, não podemos estragar todo o seu trabalho
duro — Peguei as alianças da cômoda e me arrastei para a cama
ao lado de Bay.
Ela cruzou as pernas no centro da cama com duas taças de
espumante prontas na bandeja.
— Isso nunca envelhece — Segurei sua mão na minha e
olhei em seus olhos com os anéis sobrepostos na ponta de seu
dedo. Não fazíamos isso todas as noites, mas apenas naquelas
grandes noites, aquelas em que nos lembramos de quão
extraordinário era nosso amor e da sorte de estarmos juntos —
Toda a minha vida, esperei para encontrar a única pessoa que
acreditasse em tudo. Eu era o suficiente para acreditar também.
O dia em que te encontrei foi o dia em que finalmente parei de
viver e ganhei vida — Deslizei os anéis em seus dedos e virei sua
mão, beijando sua palma.
Sua mão correu sobre a parte de trás da minha cabeça.
Lábios pressionados contra o topo da minha cabeça.
Ela pegou meu anel da minha outra mão e descansou minha
palma contra seu peito.
— Você fez meus sonhos se tornarem realidade em mais de
uma maneira, e eu nunca teria forças para fazer metade das
coisas na minha vida, se você não tivesse acreditado em mim
primeiro. Eu te amo, Dare. Eu te amo, Keyton. Eu te amo
marido — Ela deslizou o anel no meu dedo.
Esta noite foi uma noite de proximidade. Uma serenidade
silenciosa caiu sobre nosso pequeno segredo, em nossa casa,
que era um com o outro. Bebemos nossas bebidas e assistimos
a neve cair do lado de fora da janela.
— Todos os dias, agradeço ao universo por me colocar na
minha garagem na noite em que você tocou pela primeira vez.
Me assusta pensar como as coisas teriam sido para mim, se eu
nunca tivesse ouvido você cantar — Minha vida seria vazia e eu
nem saberia.
— E eu poderia nunca ter sido corajosa o suficiente para
deixar alguém ouvir minha voz, se você não tivesse sido o
primeiro a ouvir — Ela me apertou mais forte e suspirou.
— Você vai sentir falta? De performar? — Eu odiava a ideia
dela desistir de tanto, de se afastar de um holofote que puxava
a maioria das pessoas para ele como um raio trator inescapável.
A luz acariciou sua pele, delineando a curva de seu nariz e a
leve separação de seus lábios. Seu olhar permaneceu fixo na
neve lá fora.
— Talvez algum dia? Mas agora, estou feliz em dizer que é a
última apresentação da minha carreira.
— Talvez na próxima temporada eu possa assistir você dos
assentos frios como todo mundo.
Peguei o copo dela e coloquei na mesa de cabeceira junto
com o meu.
Mudando de posição, entrelacei nossos dedos.
— Esta foi a minha última temporada.
Ela se levantou, os olhos arregalados e os lábios entreabertos.
Sua cabeça balançou de um lado para o outro.
— O que? Por quê?
— Está na hora — Estar na estrada longe dela tinha sido
difícil, especialmente quando ela deu uma vida na estrada por
mim.
Ela tentou soltar as mãos, mas eu segurei firme.
— Mas você trabalhou tanto.
— E provei para mim mesmo que eu poderia fazer isso. Não
há mais nada a fazer.
Seu olhar se intensificou, quase indignada em meu nome.
— Não faça isso por mim.
— Faço tudo por você — Eu beijei as costas de sua mão —
Mas esta decisão é toda minha. Está na hora. Oito anéis de
campeonato são suficientes. Tudo o que estou fazendo neste
momento é cortejar uma lesão que pode me afastar de você.
Contanto que você esteja ao meu lado, isso é tudo que eu
preciso.
— Dare…
Agora eu adorava quando ela me chamava assim. Outra
coisa só para nós.
— Não há nada que eu me arrependa sobre como eu joguei.
É hora de passar para a próxima parte da minha vida. A melhor
parte.
Ela suavizou, segurando nossas mãos entrelaçadas contra
seu peito.
— Que parte é essa?
— A parte em que eu acordo ao seu lado todas as manhãs e
durmo com você em meus braços.
Eu aumentei a música, fazendo anotações a cada poucos
compassos sobre as mudanças que eu precisava fazer.
O estúdio que construímos tinha todo o equipamento e
espaço que rivalizava com alguns dos melhores em que já
trabalhei. Mas este era meu. Acordar no mesmo lugar todas as
manhãs e acordar ao lado de Keyton foi uma escolha vencedora
no lugar da minha vida de turnê.
A casa de tijolos vermelhos de quatro quartos com
venezianas brancas e detalhes em um acre de terra estava perto
o suficiente de uma rua principal para que pudéssemos
caminhar até o supermercado. Uma cidade pequena, a apenas
alguns minutos fora da cidade, que era o local perfeito para
estar em nossa pequena bolha. Muitos outros atletas moravam
nas proximidades, incluindo a casa que Keyton havia alugado
para a minha noite das garotas com Piper e Felicia a apenas
alguns quarteirões de distância, então não houve muitos
desentendimentos com fãs desde que nos mudamos para nossa
casa.
Nossa casa. As palavras ainda pareciam estranhas, mas tão
certas. Estar na Filadélfia nos manteve próximos dos amigos de
Keyton, que agora também eram meus amigos e o mantinha
ocupado com o trabalho em sua fundação. Era uma vida cheia
de prazeres simples, muito tempo quieto e tempo não tão
quieto quando nós dois estávamos nus em um piscar de olhos
sem as mesmas demandas que comandaram nossas vidas por
tantos anos.
A porta se abriu, batendo contra a parede à prova de som.
Antes que eu pudesse girar minha cadeira, fui girada tão
rapidamente que agarrei os braços para não voar.
— Puta merda, Bay!
— O que aconteceu?
Meu coração disparou.
— Puta merda — Ele passou os braços em volta de mim e
me puxou para fora do meu assento, me segurando com tanta
força que meus braços estavam presos ao meu lado — Você
conseguiu! — Pulando para cima e para baixo, ele me sacudiu
ainda mais, ainda tonta pelo giro da cadeira.
Não era urgência em seu tom, mas excitação.
— Estou completamente disposta a levar o crédito por tudo
o que fiz, mas talvez você possa me dizer primeiro — Rindo, eu
me inclinei para trás para olhar para ele.
Ele me soltou, sentando-me de volta no meu lugar, e
empurrou o telefone na frente do meu rosto.
A tela brilhante cegou meus olhos, acostumados com a
penumbra do estúdio, e tentei focar nas palavras e imagens.
Segundos se passaram enquanto eu percorria a tela
procurando o que poderia ter levado à sua entrada estrondosa.
Minha mão disparou para minha boca.
— Puta merda!
Ele pegou o telefone da minha mão.
— E o recém-chegado chocou o mundo com seu disco de
estreia, Fixtures, produzido por ninguém menos que Bay.
Ambos estarão prontos para um gramofone de ouro em
fevereiro — Sua voz estava cheia de admiração.
Seu sorriso parecia maior do que o meu parecia.
— Viu, eu te disse — Ele apoiou as mãos no apoio de braço
e caiu de joelhos na minha frente.
Corri minha mão ao longo de sua bochecha, olhando para o
homem que nunca duvidou de mim, mesmo quando eu
duvidava de mim mesma.
— Você disse.
Meu telefone acendeu no console, um nome familiar
piscando na tela.
— Parece que Holden está perdendo o jeito. Você descobriu
antes dele.
— Você vai atender? — Ele acenou com a cabeça em direção
ao telefone.
Eu coloquei meus braços sobre seus ombros.
— Não. Eu posso ligar de volta. Primeiro, quero comemorar
com meu marido.
— Você ainda está bem em manter isso em segredo? — Ele
olhou fixamente para mim.
Ele sugeriu que não contássemos as notícias. O circo da
mídia finalmente estava morrendo ao nosso redor. Os ciclos de
notícias e mídias sociais corriam por novos rostos e histórias
interessantes. Estávamos nos tornando notícia velha e os
holofotes estavam diminuindo. Ele estava preocupado sobre
como as notícias poderiam nos colocar de volta no centro das
atenções que estávamos mais do que felizes em estar fora à parte
de seu trabalho na fundação.
A essa altura, fiquei surpresa por termos conseguido isso por
tanto tempo.
— Por quanto tempo você quiser. Eu gosto de ter esse
segredo com você. Algo que é só nosso.
Ele me puxou para mais perto.
— Não posso dizer que não me importo de ter a AGN só
para mim.
— É mesmo, Dare? — Passei minhas mãos sobre a coluna
grossa de seu pescoço.
— Isso mesmo — Suas mãos caíram dos braços das cadeiras
até minha cintura — Eu já te disse que você é incrivelmente
talentosa?
— Apenas uma vez por semana. Não posso dizer que me
importo de ouvir isso — Tão confiante quanto eu fingi estar
quando entreguei as faixas finais para Spencer e Holden, eu
estava segurando minha respiração para ver como elas seriam
recebidas. Quatro hits número um em um álbum de estreia não
foi tão terrível.
Agora havia empresários e gravadoras me chamando de todo
o país, mas eu estava determinada a levar o tempo que precisava
para entrar nessa nova vida em um ritmo que funcionasse para
mim. Um ritmo que funcionasse para nós.
Meu telefone tocou e vibrou com textos e chamadas
recebidas. Eu o peguei, segurando o botão para desligá-lo.
— Você não quer responder a nenhuma dessas?
— Não, eu quero comemorar com você, aqui em nossa casa.
Ele deslizou as mãos atrás dos meus joelhos e nas costas e me
levantou da cadeira, cruzando o espaço para o sofá ainda não
batizado.
— E eu não queria colocar um sofá aqui porque eu pensei
que você nunca iria embora.
Segurando em seu pescoço, eu pressionei meus lábios contra
os dele, sorrindo através das minhas palavras.
— Parece que você estava errado — O couro frio pressionou
contra minhas costas e um arrepio percorreu minha espinha.
— Mas eu estava tão certo sobre você — Ele olhou para mim
com uma adoração amorosa que trouxe lágrimas aos meus
olhos.
— Obrigada por não desistir de nós — Minha vida sem ele
tinha sido uma concha vazia de vida e agora parecia que estava
estourando pelas costuras com uma felicidade que me mudou
de muitas maneiras.
Seu peso caiu em cima de mim.
— Nunca.
Eu separei minhas pernas e as envolvi em torno dele.
— Eu sou a mulher mais sortuda que já viveu para que você
me ame como você ama.
— Estou feliz por ser o homem que pode te dar o mundo.
Fomos feitos um para o outro, AGN.
Obrigada por fazer parte da jornada de Keyton e Bay de volta
um ao outro. A história deles era uma que eu mal podia esperar
para contar e não posso acreditar que finalmente chegou às suas
mãos. Como adoro fazer em todas as minhas histórias, tenho
uma pequena cena extra desses dois.
Espero que gostem e passem um pouco mais de tempo com
os dois.
Meus dedos doíam, mas eu precisava baixar essa melodia. O
relógio corria quando a música precisava ser entregue. A última
para o novo álbum. Não era meu, eu estava flertando
perigosamente com o antigo território depois de cinco anos
desde o meu último álbum.
A intensidade do calor do verão foi repelida por uma brisa,
agitando as folhas das árvores que sombreavam parte do
quintal.
Puxando a caneta entre os dentes, olhei para o deck e a
grama, para o enorme playground e a casinha. Muitas vezes eu
vim aqui para escrever. Não se parecia em nada com o meu
quintal em Greenwood, mas para essa música em particular, eu
precisava daquelas lembranças antigas.
Aquelas em que Dare se tornou meu e eu me tornei dele.
Demorei tanto para admitir, até para mim mesma, mas agora
nunca estive tão feliz. Fechei os olhos e coloquei meus dedos
contra as cordas.
Começando de novo e de novo, eu rasguei as linhas da
música. Voltei para o dia em que nos sentamos juntos no sofá e
como ele olhou para mim como se sempre soubesse que todos
os meus sonhos se tornariam realidade. Mas o que eu não tinha
percebido era o quanto eles estavam entrelaçados com ele. A
única pessoa que me viu. Seu perdão e amor eram quase
irresistíveis, mas eu estava determinada a devolver tudo a ele
combinando cada olhar, toque e beijo para fazer tudo o que
passamos desaparecer no fundo de nossa felicidade atual.
As peças clicaram e eu as cantei no meu telefone e fiz
anotações ao longo das linhas das letras.
Um alerta apareceu no meu telefone. Os portões foram
abertos e eu sorri.
Um farfalhar suave veio pelos meus alto-falantes. Desta vez,
da babá eletrônica vinculada no andar de cima.
Colocando meu violão de lado, eu apoiei minhas mãos nas
minhas costas para me levantar dos degraus de trás com uma
bunda dormente. Não é exatamente o lugar mais ergonômico
para escrever músicas, mas tempos desesperados exigem
medidas desesperadas.
Fechei a porta e coloquei meu violão ao lado dela.
A porta da frente se abriu.
— Eu pego ela! — Keyton gritou, largando as sacolas com
apenas um passo para dentro e correndo escada acima.
Sorrindo, fui até as sacolas e peguei algumas.
Seus passos desciam as escadas com um salto feliz.
Eu não tinha certeza de quem gostava mais, ele ou ela.
— Diga-me que você não está carregando nenhuma dessas
sacolas de supermercado para a cozinha — Ele disse do
corredor.
Tirei o mini marshmallow da sacola.
— Eu não pensaria nisso.
— Parece que voltei bem na hora — Ele cantou com ela em
seus braços e caminhou até a cozinha.
Eles eram meu mundo inteiro.
Ele soprou a língua para mim de bochecha com a de Claire.
— Já que a mamãe está determinada a não me ouvir.
— Dada tão engraçado — Suas frases cresciam a cada dia e
ela adorava quando eu tocava violão para ela.
Keyton já tinha uma pequena camisa para ela, mas suas
habilidades de captura ainda precisavam de algum trabalho.
Ela riu de um jeito que só as crianças podem rir, todo o
corpo dela se contorcendo nas mãos dele. Com pouco mais de
duas horas, os cochilos estavam ficando cada vez menores, mas
Keyton sempre adorava ser o único a tirá-la do berço,
especialmente agora que eu estava grávida de 38 semanas do
nosso segundo.
— É um saco de marshmallows e cacau em pó, não estou
carregando cem quilos aqui.
Ele balançou a cabeça e saltou no lugar com Claire contra
seu peito. A garotinha com o nome de sua mãe, que era um
presente para nós todos os dias.
Olhando para os dois juntos, como ele estava atento e
quanta alegria enchia seus rostos enquanto eles riam e sorriam
um para o outro, fez com que as lágrimas brotassem em meus
olhos. Estúpidos hormônios da gravidez.
Pensar que ele achava que não era feito para isso ou que ele
teria feito uma criança passar pelo que ele passou ainda partia
meu coração. Mas nós construímos essa nova vida juntos. Uma
amorosa e feliz que eu não poderia me imaginar ficar sem.
Ele a colocou na cadeira alta e correu para pegar o resto das
sacolas.
Peguei alguns palitos de pretzel e um pote de iogurte e os
coloquei em sua bandeja. Esfregando meus dedos nas minhas
costas, sentei-me na cadeira ao lado dela com lenços
umedecidos prontos para o inevitável banho de iogurte vindo
em minha direção.
Keyton entrou e colocou as sacolas no balcão.
— Sinto que ela recebe mais iogurte no rosto e nas roupas
do que na boca.
Um montinho rosa caiu no meu braço.
— E em mim.
— Você pode pegar outro? Nesse ritmo, serão necessárias
três potes para ela comer uma porção completa.
Ele riu e abriu a geladeira e com um lance por baixo, jogou
em minha direção.
— E a multidão enlouquece — Eu coloquei minhas mãos
em volta da minha boca e imitei uma multidão aplaudindo.
Hoje em dia, as únicas multidões que estávamos na frente eram
durante os eventos da Headstrong Foundation, mas os eventos
black tie tendiam a receber aplausos muito mais educados.
— Este é de longe o meu público favorito — Ele abriu um
armário e sorriu para nós duas por cima do ombro — Holden
estava farejando para você voltar para a frente de uma multidão
com aquela ligação ontem à noite?
Eu balancei minha cabeça.
— Ele desistiu disso anos atrás. Ele estava apenas checando
seu mais novo afilhado — Correndo meus dedos sobre meu
estômago, eu fiz uma careta quando um pé se alojou bem
debaixo das minhas costelas.
Keyton veio e correu os dedos ao longo da minha coluna
com a quantidade perfeita de pressão.
Eu gemi e seus lábios roçaram o lado do meu pescoço
— Eu amo quando você faz esse barulho.
Afastando suas mãos, eu ri e limpei Claire enquanto Keyton
fazia o café da manhã.
Depois de enviar os arquivos de áudio para Holden,
observei Keyton e Claire correrem pelo quintal até caírem na
grama.
Os dois foram atraídos de volta para casa com uma boa
limonada fresca.
Depois da hora do banho e da hora de dormir de Claire,
deitei na cama. Eu tinha um travesseiro de corpo inteiro contra
minhas costas e um livro ao meu lado.
A porta do banheiro se abriu e a névoa fumegante escapou
para o frio ártico do nosso quarto.
Seu corpo ainda úmido enviou arrepios de desejo através de
mim, embora eu estivesse me sentindo mais como uma
desajeitada criatura marinha encalhada agora.
Keyton pegou seu moletom e uma calça e subiu na cama ao
meu lado.
Uma vibração de decepção me atinge enquanto ele cobre
seu corpo. Mesmo depois de seu tempo longe do campo, ele
manteve os treinos, não tão extenuantes, mas ainda o suficiente
para me deixar com água na boca.
— Desculpe, eu transformei o quarto em um frigorífico —
Eu rolei para o meu lado para encará-lo.
Ele se deitou em cima dos cobertores e me puxou para perto.
— Você está me ouvindo reclamar? — Seus dedos roçaram
a concha da minha orelha.
Uma emoção elétrica percorreu meu corpo, que estava
aquecido agora.
— A contagem regressiva começou e então tudo muda
novamente — Eu mordi meu lábio. Desta vez, aprendi a não ler
O que esperar quando você está esperando, mas com minha
música entregue, as outras preocupações surgiram. De vez em
quando, parecia que o que tínhamos era bom demais para ser
verdade, que depois de tudo que passamos teríamos essa
felicidade e contentamento para sempre.
— Quando olho para trás nos últimos cinco anos, não há
uma mudança que eu gostaria de fazer em nada. Eu amo você,
Sra. Keyton e este novo pequeno vai ser outra adição à nossa
família a enchê-la com mais amor ainda.
— Olhe para você, Sr. Vamos ter um time de futebol inteiro
de crianças.
Ele tinha se tornado pai com uma facilidade que o chocou,
mas não a mim. Ele se deleitava e saboreava cada momento.
Seu sorriso se alargou.
— Um time de futebol seria um pouco demais, talvez apenas
um time de basquete.
Eu empurrei seu peito e ri.
— Não é você quem os carrega.
Ele capturou meus pulsos e pressionou minhas palmas
contra seu peito, colocando suas mãos em cima das minhas.
— Eu sei o quão nervosa você está, mas tudo vai ficar bem
— Ele salpicou meu rosto com beijos. Minha testa. Minhas
bochechas. E meus lábios — Você já é a melhor mãe e a melhor
esposa. Eu sou sortudo.
— Eu diria que nós dois temos muita sorte. Mas eu posso
estar disposta a ter um pouco mais de sorte esta noite — Meus
lábios se contraíram em um sorriso e eu esperava que meu olhar
de venha aqui fosse convincente o suficiente.
Sua frequência cardíaca martelava sob minhas palmas e seu
olhar disparou para o meu estômago.
— Bay…
Eu cortei seus protestos com um beijo.
— Estou bem. Enquanto você estiver — Desviei o olhar,
tentando não pensar nos meus tornozelos inchados e…
Suas mãos estavam em volta da minha cintura e ele me rolou
em cima dele, me levantando para que minhas coxas pudessem
se acomodar em torno de seus quadris. Meu núcleo nu esfregou
contra a calça de moletom grossa ainda em torno de sua cintura.
— Você só tem que pedir — A cutucada insistente de seu
pau debaixo de mim evaporou qualquer dúvida que eu pudesse
ter — De qualquer forma você vai me ter, eu quero você.
Embora minha barriga fosse enorme, ele olhou para mim
como se eu nunca tivesse sido mais bonita e senti isso em meus
ossos. Uma barriga pesada não iria parar nenhum de nós e com
as mãos em meus quadris, eu não me sentia tão desajeitada.
Ele me pegou, contrariando minha sensação de
desequilíbrio.
Mudei meus quadris e nós dois gememos.
— Vamos fazer desta uma noite inesquecível — Eu me
enterrei contra ele, lasciva e faminta. Os hormônios correndo
pelo meu sistema e desejos não apenas de chocolate quente.
Ele se sentou e agarrou a parte de trás do meu pescoço antes
de um beijo ardente que roubou meu fôlego.
— Todas as noites com você são inesquecíveis.
Muito obrigada por fazer esta jornada incrível com Bay e
Keyton. Teve seus altos e baixos e estou tão feliz que você
chegou a este ponto com os dois.
Se você gostou da trilogia, significaria o mundo para mim,
se você deixasse uma resenha para toda a série ou para qualquer
um dos livros. Você encontra todos os livros AQUI.

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