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Silêncio.
Sim, era isso que Storm precisava. Ouvir as batidas
irregulares de seu coração lhe dava certo conforto, fazia-a lembrar
que ainda estava viva, mesmo que uma parte importante de sua
vida não caminhasse mais sobre a mesma terra que ela.
Corin nunca fora somente um mero animal. Era bem mais do
que ela podia colocar em palavras, ou explicar. A ligação entre elas
para outras pessoas poderia soar melodramática.
Seu avô, a presenteara com um pequeno potro manchado
por uma marca branca no torso quando ela tinha oito anos de idade.
Olívia havia falecido numa manhã chuvosa de inverno, e
Storm assistiu sua morte lenta e dolorosamente em silêncio. Sua
mãe definhara tanto que ao estágio final da cólera, ninguém a
reconhecera.
A desidratação óbvia fora um dos primeiros sintomas. O
marquês contratara os melhores médicos de toda Inglaterra, mas
infelizmente ela não pôde ser salva. Para uma criança de oito anos
a dor de uma perda tão repentina poderia acarretar em danos
inimagináveis.
O marquês não conseguia arrancar uma mera palavra da
pequena criança depois da morte prematura de sua jovem esposa.
Temia pelo bem-estar psicológico de sua herdeira, e temia por
perdê-la também.
Mas então Connor trouxera um pequeno potro de uma de sua
viagens, e as coisas melhoraram consideravelmente.
Storm crescera junto com Corin. O animal fechara a ferida
que a pequena garotinha carregava no peito.
— Sei que não deseja ver ninguém, mas saiba que desde o
momento em que foi até a minha casa pedir permissão para
cortejar-me, está em dívida comigo.
Storm tentou não sorrir do argumento inoportuno de sua
noiva, e pediu para que a ela se aproximasse da cama de casal.
Vê-la caminhar até ela diminuiu a dor em seu coração. Freyja
parecia um anjo enviado para protegê-la em seu vestido branco.
Os cachos grossos presos inutilmente pelas presilhas
ameaçavam fugir do coque bem elaborado. Ela era linda de todas
as formas e em todos os sentidos.
— Eu não sei o que fazer, amor. — Storm soluçou sentindo
os olhos arderem pelas lágrimas que segurava vergonhosamente.
Ela estava sentada na cama de frente para Freyja que
permanecia em pé. As mãos calorosas da jovem alcançaram-na, e
acalentaram-na como um bebê.
A essência floral do perfume de Freyja era como um
entorpecente que a embriagava de tal modo que, por um minuto a
fizera esquecer-se completamente do estado deplorável em que se
encontrava.
Storm levantou o olhar para admirar a beleza de sua noiva
teimosa e pudica. Ah, como amava os olhos dela. Eles tinham o
poder de aniquilar todo o mal do mundo.
— Free... — Ela chamou em tom débil.
— Sim, querida?
— Você... Eu am...
Lawrence sentiu sua garganta fechar e vislumbrou Freyja
arregalar os olhos a espera das palavras que não vieram.
Suas palmas das mãos suavam devido a constatação dos
seus verdadeiros sentimentos por aquela mulher.
Aquilo era amor? Ela amava Freyja?
— Storm?
Ouvir aquela voz suave e que por tantas vezes soava séria
chamá-la pelo nome, a fizera entrar em êxtase.
Storm finalmente havia se dado conta do que estivera bem
diante de seus olhos durante todo aquele tempo.
Amava Freyja.
Bom Deus, há quanto tempo a amava? Inferno, a amava?
— Eu estou aqui. Para o bem ou para o mal porque eu amo
você.
Sim, a amava como uma louca.
— Eu não mereço o seu amor, Freyja. Eu nem ao menos
consigo dizer... — Ela sussurrou amargurada, apertando a cintura
fina dela com um pouco de força.
Storm tentou confessar que a amava mais do que qualquer
outra coisa no mundo, tentou dizer que ela a fazia uma pessoa
melhor e que não importava quanto tempo passasse, continuaria a
amá-la.
Mas nada veio. Nem mesmo uma só palavra.
— Escute bem, Storm. Eu quis mil vezes renunciar esse amor
de meu tolo coração e sabe quantas vezes funcionou? Nenhuma.
Quis expulsá-la de dentro de mim, quis apagá-la de meus
pensamentos, mas não há volta, entende? Eu sou sua, cada maldito
pedacinho de mim é seu, e Deus sabe que eu não queria que fosse
assim, mas é! Nada do que diga ou não diga mudará isso.
Storm sentia o estômago pesar como se tivesse engolido
todos os pedregulhos da Baía de Ha Long. Inferno! Por que não
conseguia dizer?
Freyja era tudo para ela, o ar que os seus pulmões inalavam,
a luz que iluminava a droga da sua existência! Tudo!
— Sua falta de amor por mim não me impede amá-la, Storm.
"Mas eu amo!" Ela quis gritar.
— Por favor, case-se comigo. Estou implorando. Por favor...
Freyja irrompeu num soluço alto, jogando-se em cima dela na
cama de lençóis arrumados.
— Sim. — Ela aceitou o pedido de Storm e então a beijou.
Os lábios de Freyja eram gentis, mesmo que ela não tivesse
a mínima vontade de ser gentil naquele momento.
Storm conseguia ler os movimentos tensos de seu corpo. Ela
sabia o que Freyja queria.
As lágrimas quentes dela molhavam a camisa de Storm,
enquanto sua boca continuava a investir na dela com paixão.
— Amo você, Storm Lawrence Browan Willye.
CAPÍTULO 30
10 anos depois
França, 1841
De fato, tinha.
A primeira coisa que os olhos de Freyja alcançaram foram as
costas dela, em seguida, os cachos presos num coque rígido. Storm
olhava para a rua enquanto esperava acesso à entrada.
Formalidade cuja necessidade nunca existira. Storm jamais
precisara de permissão para nada em sua casa.
Freyja sentira como se tudo dentro de si estivesse prestes a
desabar. Quando a marquesa enfim se dera ao trabalho de encará-
la, um misto de frieza distante perpassou por seus olhos negros.
Continuava tão bonita quanto ela se recordava. A idade só
havia evidenciado a beleza sutil de seus traços bem esculpidos. A
postura ereta, as maçãs altas do rosto...
Tudo continuava o mesmo, menos os olhos.
O antigo olhar acalorado de Storm parecia vítreo ao fitá-la.
Ela correu o olhar escuro pelo rosto da condessa ligeiramente como
se não se importasse nem um pouco com sua presença.
Freyja sentiu a boca tremer de nervosismo, e vergonha diante
daquele olhar inquisidor.
— Seja bem-vinda, milady. É um grande prazer revê-la. — A
entonação de seu cumprimento rouco rasgou a alma de Freyja.
A marquesa fizera uma mensura antes de se dirigir a
Margaret com gentileza.
— Sra. Wolfgang, há quanto tempo, querida.
A graciosidade não fugira de sua personalidade com os anos,
mas algo de insípido consistia agora em suas palavras. Como se
estar ali, diante dela, não somasse em nada.
Storm fora cortês o suficiente, e nenhuma palavra
desagradável saiu de seus lábios. Freyja havia se preparado bem,
mas ao que parecia, Storm não desejava por lavação de roupa suja
naquela noite.
— A França lhe fez bem, milady. Seu rosto está mais...
corado.
A viúva ergueu os olhos e tentou sorrir, mas a marquesa
permaneceu com a mesma expressão indecifrável no rosto
bronzeado.
— Estou muito feliz com o seu retorno!
Diferente da prima, Damian atropelou as formalidades e a
trouxe para dentro de seus braços fortes.
Freyja recebera aquela insinuação de afeto e saudade com
entusiasmo. Os braços musculosos que a rodearam com carinho,
passaram uma segurança que ela não sentia há muito tempo.
Storm não mais prestava atenção a eles. Suas mãos
mantinham-se para trás num trejeito rígido.
A mandíbula delineada parecia tão rija quanto sua postura,
nenhuma amostra do antigo bom-humor emanava dela naquela
noite.
Seu sobretudo vinho feito sob medida, escondia boa parte
das curvas de seu corpo alongado.
Ela cumprimentara Amber, Mackie e Jack com a mesma
frieza com que a havia cumprimentado.
— Acompanhe-me, querida.
A Sra. Wolfgang colocou-se a tagarelar, e a marquesa
passou a trocar amabilidades com seu pai como nunca antes fizera.
Freyja tentara ouvir alguns trechos da conversa baixa, mas
apenas negócios foram citados.
Hampshire, 1844
FIM
Outras obras:
Sinopse:
Katherina Neville é uma jovem francesa, cujo coração fora
quebrado pela mulher que ela acreditava ser o amor de sua vida.
Após desejar morrer ao ver a mulher abandoná-la, Neville muda-se
para Londres, onde viveria com seu irmão gêmeo e a família de sua
esposa. Mas após um ano de sofrimento, de coração partido e de
olhos sem esperança, eis que Katherina os abre para as novas
oportunidades e vê uma nova chance de felicidade surgir em sua
vida. Mas dúvidas surgirão em seu coração: Ela seria capaz de
amar novamente? Feriria alguém tentando curar seus próprios
ferimentos? Leia este romance e descubra as respostas que Neville
encontrou para suas dúvidas.
AGRADECIMENTOS
Instagram:
autora_swyanne17
swyanne_rodriguez
Twitter: SwyanneRodrigu1