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Wicked Husbands

Series

01 - Her Errant Earl


02 - Her Lovestruck Lord
03 - Her Reformed Rake
04 - Her Deceptive Duke
05 - Her Missing Marquess
06 - Her Virtuous Viscount
Este é mais uma vez para
minha mãe.
Obrigada por tudo.
Sinopse
Ela se casou com ele pelo título...

Maggie, a marquesa de Sandhurst, está presa em um


casamento de conveniência sem amor. Seu marido se
recusou a consumar a união, e ela não o vê há mais de um
ano. Mas, ela tem um plano para reconquistar sua
liberdade. Tudo o que precisa fazer é criar o escândalo do
século.

Ele se casou com ela por sua

fortuna...

Simon, o marquês de Sandhurst, jurou que nunca


tocaria na esposa que não queria. Quando ele busca
prazer nos braços de uma sereia mascarada em uma festa
cheia de pecados numa casa de campo, fica chocado ao
descobrir que a mulher em questão é na verdade a sua
marquesa.

Seu casamento de conveniência se

tornará um casamento por amor?

Enquanto a verdade é revelada, marido e mulher não


estão mais separados, passando dias e noites explorando
o desejo ardente entre eles. Mas quando o passado de
Simon voltar para assombrar os dois, sua felicidade
recém-descoberta poderá ser destruída para sempre.
Amor é amor para sempre.

Alfred, Lorde Tennyson

Inglaterra, 1878.

MAGGIE, MARQUESA DE SANDHURST, sabia quando admitir a


derrota, e agora estava provando exatamente esse momento. Ela
assistia a primeira noite do infame fim de semana, na casa de
campo de Lady Needham, se desenrolando em toda sua glória
estridente. Como alguma vez pensou que poderia encontrar
coragem para começar um escândalo que rivalizasse com a
devassidão diante dela?

Bem à frente, os mamilos de uma senhora mascarada eram


quase visíveis acima do decote de seu vestido preto de noite,
enquanto bebia champanhe e flertava descaradamente com um
cavalheiro mascarado. À sua esquerda, um cavalheiro tinha uma
senhora presa à parede enquanto ele se deliciava em seu pescoço.
À sua direita, os movimentos furtivos de outro casal sugeriam que
eles estavam envolvidos em algo muito mais depravado.
Ela pensava que era feita de material duro o suficiente para
fazer o que precisava para recuperar sua independência. Qualquer
homem bastaria, disse a si mesma, por mais desagradável que
fosse a tarefa. Ele poderia ser velho ou jovem, baixo ou alto, calvo
e gorducho. Ela não ligaria. Contanto que ele não fosse cruel ou
malcheiroso, poderia suportar.

Tola, ela se puniu. Covarde.

Pois aqui estava ela, com a boca seca, o coração trovejando


no peito, os dedos agarrando as saias. Com muito medo de dar um
passo à frente, jogar a cautela ao vento. Temerosa de se libertar da
prisão de seus erros.

Não havia esperança para isso. Ela não era moldada pelo
tecido que seus companheiros foliões, pois observá-los apenas a
fazia querer retirar-se para seu quarto, aconchegar-se sob as
cobertas e ler o volume de poesia que trouxera consigo. Se ao
menos não tivesse escolhido o dever em vez do amor.

Com um suspiro, ela se afastou dos redemoinhos de saias e


da visão arrojada de libertinos mascarados cortejando suas
desejosas parceiras. Depois de dois passos, ela congelou ao ouvir
um som inconfundível acima das risadas e da música, e do
estrondo de vozes embriagadas. Era o único som que uma senhora
nunca queria ouvir, o som que invariavelmente a fazia estremecer
em seus sapatos.

O terrível som de tecido se rasgando.

O prolongamento de seu vestido, para ser mais específica. A


exuberante cauda de seda desenhada pelo próprio Worth.
Desesperadamente rasgada. Desânimo misturado com verdadeiro
desespero, ela se virou para encontrar o culpado. Ele estava vestido
com perfeição em um preto noite, mais alto do que ela, sua
identidade obscurecida por uma meia-máscara igualmente negra.
A metade inferior de seu rosto revelou uma mandíbula larga, uma
boca esculpida. Não havia como negar que era bonito, mas ele não
pareceu notá-la, seus olhos verdes brilhantes viajavam pelo mar
de iniquidade acima da cabeça de Maggie.

Que idiota. Talvez ele também estivesse bêbado. Sufocando o


desejo de revirar os olhos em frustração, ela tentou chamar a
atenção do homem, pois ele ainda estava sobre os restos mutilados
de sua bela seda violeta.

— Perdão, senhor?

Ele a ignorou ou não a ouviu, preso na loucura do baile. Por


um momento, ela teve a nítida impressão de que sua mente estava
longe da multidão do salão de baile. Ele olhava além de todos eles,
perdido em seus próprios pensamentos errantes.

Mas, este homem e seus pensamentos não eram da sua conta.


Esteja embriagado, encantado ou distraído, infelizmente ele ainda
estava sobre suas saias.

— Senhor? — Ela ergueu a voz, tentando não chamar muita


atenção para si mesma, pois estava com vergonha de ter se dignado
a comparecer à festa notória em primeiro lugar.

Ele permaneceu alheio. Talvez sofresse de um problema de


audição. Oh céus. Ela não tinha escolha se queria salvar sua cauda
de mais danos. Maggie estendeu o braço e colocou uma mão
hesitante em seu braço.

— Senhor?
Ele teve um sobressalto e dirigiu-lhe a força daquele
surpreendente olhar cor de musgo.

— Senhora?

Seu braço era surpreendentemente musculoso, seu casaco


quente com o calor de seu grande corpo. Ela retirou o toque com
pressa, como se fosse uma panela muito tempo no fogão, que
inadvertidamente tocou com as mãos nuas. Ele ainda não
percebeu que tinha pisado em seu lindo vestido de noite. Demorou
para ela recuperar a compostura sob a força daqueles olhos
penetrantes.

— Senhor, — ela começou hesitante, — temo que você esteja


em cima da minha cauda. Você poderia fazer a gentileza?

— Maldição, — ele murmurou, assustando-a com sua


linguagem direta. Seu olhar penetrante foi para o chão, e ele
rapidamente saiu de cima. — Ah, meu Deus, está rasgado em
pedaços, não é?

Ela lançou um olhar sombrio sobre o que seus pés tinham


causado.

— Espero que isso exija alguma correção, sim.

Correção seria um eufemismo muito grande. Sua cauda de


seda completa, com fita pregueada e uma capa de renda e azeviche,
estava muito rasgada. Ela não tinha certeza se a mão de uma
costureira poderia fazer reparos que não fossem notados. Não era
como se não pudesse pagar um vestido novo, mas esta foi sua
primeira vez em usá-lo, e era terrivelmente lindo.
— Lamento profundamente. — Ele soou zangado, atraindo
sua atenção de volta para sua boca carrancuda. — Se você
permitir, ficarei feliz em mandar consertá-lo.

Sua boca estava especialmente fina, ela notou novamente, ao


contrário de seu melhor julgamento, firme, mas esculpida. Ele
tinha uma boca generosa. Beijável. Querido céu. O que ela estava
fazendo, desmaiando pelos lábios de um homem desconhecido?
Não tinha acabado de decidir que era muito covarde para criar o
tipo de escândalo de que precisava? Ela engoliu em seco,
obrigando-se a lembrar o que ele acabara de dizer.

— Agradeço sua oferta, senhor, mas tenho uma costureira


maravilhosa. — Ela pensou na costureira que a atendia em
Londres quando estava em apuros. Provavelmente, a cauda inteira
precisaria ser substituída.

— Mas a culpa é minha. — Ele bancou o cavalheiro, agora


que ela finalmente ganhou sua atenção.

— Absurdo. — Talvez seu horror feminino pelo dano em seu


vestido fosse uma tolice. Afinal, não tinha sido feito
intencionalmente, e ela tinha dinheiro mais do que suficiente para
as alterações de Madame Laurier. — De todas as coisas que
precisam de consertos, o simples tecido é de longe o mais fácil e o
menos caro.

Ele inclinou a cabeça, considerando-a com um olhar


insondável que fez sua pele vibrar com um calor estonteante.

— Sinceramente, duvido que palavras mais verdadeiras


tenham sido ditas.
Havia uma intensidade subjacente em suas palavras que a fez
acreditar que ele era sincero, e não apenas mais um libertino
fazendo lisonjas sem sentido. Pela primeira vez desde que entrou
no turbilhão do salão de baile, Maggie ficou intrigada.

— O que você precisa consertar, senhor? — Uma nova


sensação de ousadia a percorreu.

Seus lábios se curvaram em um sorriso irônico sob a


máscara.

— Você acredita que é meu coração?

Então, ele amava outra. Ela tentou ignorar a pontada de


decepção que a revelação lhe trouxe.

— Eu sei melhor do que ninguém o quão difícil é consertar


um coração. — Franziu a testa ao pensar na vida infeliz em que se
encontrava. A constatação de que havia se estabelecido neste
caminho miserável, era um fardo constante de aborrecimento sob
a sua mente. — Talvez impossível.

— Que homem se atreveria a partir o coração de uma mulher


tão bonita como você? — Ele quis saber. — Um completo imbecil,
com certeza.

Ela riu, entretida por sua bajulação fingida. Um homem que


conseguia rir de si mesmo e daqueles ao seu redor era revigorante.

— Perdoe-me, mas temo que você seja culpado por estar


dissimulando.

— Dissimulando? — Ele pressionou uma grande mão sobre o


coração, fingindo choque. — Estou ferido. Por que você diria uma
coisa dessas?
— Porque você não pode ver meu rosto. — Sorriu, apesar da
situação em que se encontrava. Sua delicada máscara cobria seu
rosto também, exceto sua boca. Afinal, era para isso que uma
máscara servia. Ela teria que removê-la para realizar o que queria.
Mas, por enquanto, havia segurança em seu anonimato.

— Sim, mas você tem os olhos mais extraordinariamente


adoráveis que já vi, — respondeu com notável autoconfiança. —
Acho que são quase violetas.

Outra onda de calor tomou conta dela. Ele era, de alguma


forma diferente, este homem. Perigoso, com certeza.

— Eu gosto de você, — ela confidenciou antes que pudesse se


conter. Droga. Ser honesta demais sempre foi uma de suas
desgraças. Nunca foi boa em esconder suas emoções atrás de um
véu educado. Talvez fosse por isso que ela tinha tanta dificuldade
em se misturar com a sociedade de Londres.

Ele sorriu.

— Você parece alarmada. Não sou de todo ruim, lhe garanto.

Ela balançou a cabeça, tentando recuperar o juízo.

— É apenas porque desisti de seus compatriotas.

— Meus compatriotas? — Ele fez uma pausa, seus olhos


enrugando nos cantos enquanto a olhava com compreensão
crescente. — Você é americana, não é? Achei ter detectado um
sotaque.

— Eu sou, — ela admitiu. — Suponho que isso torne meus


olhos menos lindos agora. — Embora várias herdeiras americanas
como ela tenham ido para a Inglaterra, nem sempre foram bem
recebidas. Ela teve que trabalhar muito para forjar seu caminho, e
a aceitação das damas inglesas não se provou uma façanha fácil
ou às vezes alcançável.

— Claro que não. — Uma emoção que ela não conseguia


definir escureceu sua voz. — Seus olhos ainda são lindos como
sempre. Você gostaria de dançar?

Oh, meu Deus. Seu pulso saltou até que se lembrou de duas
coisas. Ela era uma dançarina péssima e sua cauda estava em
pedaços. Ela sabiamente guardou a primeira para si.

— Eu adoraria, mas temo que minha cauda...

— Maldito inferno, eu já tinha esquecido. — Ele fez uma


careta. — Que idiota. Talvez você queira outra taça de champanhe?

Tardiamente, ela percebeu que o copo que segurava estava


vazio. Quando bebeu tudo? Não conseguia se lembrar. Talvez fosse
por isso que sua cabeça parecia estar cheia de nuvens brancas e
fofas. Sim, tinha que ser isso. Certamente não era o estranho alto
com a boca linda que a enchia de olhares sensuais e sorrisos
desarmadores. Ela provavelmente não deveria ter outra taça de
champanhe.

— Eu adoraria outra, — ela disse. Não tinha vivido sua vida


da maneira que deveria? E o que isso tinha lhe trazido senão
miséria e solidão, e um marido que não via há mais de um ano?

Ele voltou para o lado dela e colocou outra taça de champanhe


em sua mão.

— Aí está você, minha querida.


— Obrigada. — Ela tomou um gole reforçado, acalmando o
feixe irregular de seus nervos. Talvez houvesse esperança para seu
plano maluco, afinal. O estranho diante dela certamente serviria
para um escândalo. Sim, de fato. Certamente parecia o tipo de
homem que aceitaria um convite para pecar. Ela forçou sua mente
para um território mais seguro, tentando se distrair de
pensamentos devassos. — Quem fez seu coração precisar de
remendos? — Perguntou. — Uma esposa?

Ele hesitou, bebendo seu champanhe, e por um momento ela


temeu que tivesse ultrapassado seus limites.

— Não uma esposa, não, — ele disse com cuidado. — Mas


uma amiga muito antiga e querida.

— Uma amante, — ela concluiu em voz alta, então corou com


sua franqueza que sempre a colocava em apuros. — Sinto muito,
senhor, se sou muito franca. Eu não posso me ajudar.

— Você não precisa se desculpar. Todos sabem que aqui, na


casa de Lady Needham, nenhuma das regras padrão da sociedade
se aplica. Você só precisa olhar ao seu redor para ver isso. — Seu
tom era irônico quando seu olhar pousou no casal contra a parede.
O homem apertou as saias da mulher em seus punhos,
levantando-as para revelar suas panturrilhas bem torneadas e
vestidas com meias.

Maggie desviou o olhar, as bochechas ardendo. Claro que


nenhuma das regras padrão se aplicavam aqui. Na verdade, ao que
parece, não havia regras. Foi uma das muitas razões pelas quais
ela decidiu — contra seu melhor julgamento — comparecer. Que
lugar melhor para criar um escândalo do que uma festa que existia
com o propósito de demonstrar licenciosidade?

— É por isso que você está aqui? — Ela não conseguia


reprimir sua curiosidade. — Pela... falta de regras?

Certamente foi o champanhe que a tornou tão ousada. Pois a


verdadeira Maggie nunca teria sonhado em insinuar tal coisa para
um estranho. Quase perguntou se ele procurava uma amante, pelo
amor de Deus. Mas se quisesse forçar seu marido a se divorciar,
ela não poderia ser a mesma. Tinha que ser destemida e ousada.
Alguém sem consciência. Como o homem com quem se casara.

— Suponho que seja, em parte. — Ele tomou outro gole de


álcool. — E quanto a você? O que te traz aqui? Parece muito jovem
para este cenário acelerado.

— Decepção, suponho. — Ela engoliu o champanhe enquanto


ele chegava mais perto. Estava tão perto que ela podia ver a barba
escura em sua mandíbula definida.

— Você certamente é muito jovem para se decepcionar. — Ele


correu um dedo do cotovelo até o pulso, parando para enredar os
dedos nos dela. — Quem se atreveria a desapontá-la?

— Meu marido. — Sua boca ficou seca. Embora, verdade seja


dita, estava muito mais decepcionada consigo mesma do que com
o marquês. Afinal, sabia que ele se casara por causa de seu dote,
da mesma forma que ela, por causa do título. No entanto, não tinha
previsto sua deserção total e sua miséria resultante. Mas, havia
pouca necessidade de divulgar seus pecados íntimos e segredos
para o homem diante dela agora. Este era para ser um caso alegre.
Um meio para o fim.
— Ele deve ser um bastardo absoluto para te causar tanto
sofrimento.

Ela riu sem alegria.

— Eu diria que é um homem frio e sem coração. — Sim, isso


descrevia Sandhurst perfeitamente.

Ele apertou seus dedos.

— Sinto muito, minha querida.

— Você não é o homem que me deve desculpa. — A velha


tristeza floresceu em seu coração quando pensou em Richard, e em
tudo que ela havia deixado. — Mas acho que nunca terei uma
desculpa dele. — O melhor que ela podia esperar dele era raiva.
Talvez uma fúria cega. Ela pretendia traí-lo diante de toda Londres,
para não deixar dúvidas nas mentes de toda a sociedade. Só então,
poderia ser livre. Este homem poderia ajudá-la. Tinha certeza
disso.

— Você o ama? — Ele perguntou, assustando-a.

Sua pergunta a surpreendeu. As pessoas da classe deles


raramente se casavam por amor. Ela não amava o marido, mas
certamente se casou com um coração cheio de esperança. Sua mãe
garantiu-lhe que muitos casamentos modernos começavam com
respeito, e levavam a ternas afeições depois de tempo e dedicação.
Ela esperava cultivar uma relação de carinho junto ao marido, pelo
menos. Em vez disso, seu relacionamento consistia em silêncio.
Mas, era estranho para o homem diante dela ter refletido sobre tal
questão.
— Claro que não, — ela disse finalmente. — E você e sua
querido amiga? Você a ama?

— Eu a amei por muitos anos, — disse, a admissão


aparentemente rasgando-o. — Agora, não tenho mais certeza do
que sinto. Uma necessidade de mudança, certamente.

Ela os viu como eles eram então, um homem e uma mulher


que de alguma forma cruzaram o caminho um do outro no mesmo
baile, ambos perdidos. Procurando. Ela ansiava por escapar da
prisão dourada em que agora se encontrava. Ele ansiava por algo.
Talvez distração. Uma amante. Não tinha importância. O que
importava era que o medo nela havia finalmente diminuído. Estava
pronta, pronta para agarrar as rédeas de sua vida e tomar uma
direção diferente.

— Que tipo de mudança você busca? — perguntou, olhando


para ele por cima da borda de sua taça.

Sua boca pecaminosa se curvou em um meio sorriso.

— Eu acho que talvez seja você.

Ela quase se engasgou com a boca cheia de champanhe.

— Eu?

— Oh sim, — ele disse naquela voz profunda e sedutora. Seus


olhos verdes eram ferozes e diretos, prendendo seu olhar para que
ela não pudesse olhar para nenhum outro lugar. Não havia como
negar sua promessa sensual. — Você.

Ela não deveria ter convidado o estranho para o seu quarto.


Pensou em um de seus poemas favoritos, The Lady's Yes, e como
ele alertava contra os flertes de salão de baile, como eles pareciam
inconstantes à luz do dia. Sim, de fato, ela nunca deveria ter
alimentado tal iniquidade, muito menos se oferecido a isso.

Mas ela precisava de um escândalo. Um escândalo de


magnitude. Tal que seu marido não pudesse ignorar. O estranho
do salão de baile poderia fornecer-lhe isso e muito mais. Ela se
certificaria de que tantos olhos quanto possível a vissem durante
toda a festa na casa. Não haveria dúvida quanto aos pecados que
cometeria. No final da festa, ela removeria a máscara, se despindo
da segurança do anonimato. Todos saberiam que o marquês de
Sandhurst era um corno.

Uma pequena pontada de culpa a perfurou, pois não era o


tipo de mulher que usava um estranho para seu próprio benefício.
Ela não tinha sido, de qualquer maneira, mas o desespero tinha
uma maneira de deixar alguém bastante fraca. Maggie caminhou
por toda a extensão de tábuas polidas do assoalho aparecendo por
entre tapetes grossos. Talvez fosse o champanhe. Talvez fosse a
noite, os olhos dançantes do homem, sua voz profunda carregada
de desejo. Talvez fosse o fascínio de algo mais, o relacionamento
misterioso entre um homem e uma mulher que nunca foi
totalmente realizado por ela.

Para uma esposa de quase um ano, ela ainda era, de alguma


forma, virgem.

Isso tornou sua decisão ainda mais imprudente. O que o


homem pensaria? Não conhecia seu nome, seu rosto. Conversaram
em um salão de baile lotado, e agora ele chegaria a qualquer
momento para tirar sua inocência. Venha para meu quarto, ela
disse-lhe, como se fosse uma frase que tivesse proferido para cem
homens antes dele. Maggie abanou o rosto com a mão, precisando
de ar. O que tudo isso implicaria? Ela tinha ouvido murmúrios de
que o defloramento seria doloroso na melhor das hipóteses,
terrivelmente humilhante na pior. Sua amiga, Victoria, disse que o
leito matrimonial era maravilhoso, mas Victoria estava
completamente obcecada por seu marido libertino reformado, e sua
palavra estava compreensivelmente comprometida por seus
sentimentos.

Uma batida discreta soou em sua porta. Duas batidas


rápidas. Ele tinha vindo.

Ela espalmou as palmas das mãos sobre a camisola, uma


peça bastante formal de algodão e renda. Ao dispensar a criada,
ela amarrou a máscara para esconder o rosto. Afinal, não podia
correr o risco de ser descoberta até que seu plano estivesse
completo. A maliciosa festa da casa de campo de Lady Needham
era o cenário perfeito para tal empreendimento. Os convidados
usavam máscaras durante os três dias, permitindo-lhes se
envolver em atividades que eram decididamente mais pecaminosas
do que a sociedade comum permitia.

A busca de fornicação em um salão de baile. Sim, tinha


certeza de que o casal à sua direita havia feito algo muito perverso.
Diante de seus olhos, ela viu o cavalheiro puxar a saia da senhora
até a cintura. Ele começou a empurrar seu corpo no dela, a
senhora inclinando a cabeça para trás, a boca aberta. Maggie tinha
assistido com fascinação extasiada, uma sensação aguda de algo
até então desconhecido caindo sobre ela. E ao redor deles, os
foliões continuaram, alguns parando para assistir, outros
ignorando totalmente o espetáculo.
Ela respirou fundo antes de correr para a porta e abri-la. Lá
estava ele, o homem que pisoteara sua cauda. Ele parecia de
alguma forma mais alto agora do que no salão de baile, ainda
usando seu fraque preto e sua máscara. O calor fluiu por suas
veias, misturando-se com a incerteza. Por um momento, pensou
em fechar a porta e abandonar totalmente seu esquema.

— Ainda sou bem-vindo? — Até sua voz era de alguma forma


íntima.

A consciência arrepiou sua pele. Ele estava sendo educado,


permitindo que mudasse de ideia. Ela não tinha a menor ideia de
como conduzir um caso. Talvez isso fosse comum para ele. Talvez
fosse um libertino de primeira ordem. Isso tornaria o que ela
deveria fazer mais fácil ou mais difícil?

Mas ele fez uma pergunta, não fez?

Claro que ainda era bem-vindo. Ela não teve escolha. Voltou-
se para o quarto, gesticulando para que ele entrasse, usando
leviandade para disfarçar suas emoções confusas.

— Você é muito bem-vindo, desde que prometa não causar


mais danos ao meu guarda-roupa.

Ele riu, enquanto cruzava a soleira.

— Farei o possível para manter seus vestidos em bom estado,


eu juro.

Não eram seus vestidos que temia que ele fizesse estragos
neste momento. Ela fechou a porta e girou, inexplicavelmente
nervosa, agora que tinha feito o que se propôs a fazer
primeiramente, conseguiu um amante. Se soubesse o que fazer
com ele. Se soubesse o que ele faria com ela. Seria como o casal no
salão de baile? Ele bombearia nela em estocadas rápidas e
violentas? Um pulso em resposta latejava entre suas pernas. Suas
pernas ficaram fracas, sua respiração superficial. Ela tinha
vergonha de si mesma, de sua reação a ele, de sua reação a essa
sem-vergonhice. Mas, uma parte dela gostou.

— A criada da minha senhora ficará aliviada em ouvir isso. —


Ela juntou as mãos na cintura e o observou. Sentiu-se tonta, presa
entre o desejo de fugir e a necessidade de se lançar sobre ele, e
começar essa loucura. Ela esperava parecer equilibrada e
confiante, uma participante experiente no jogo que jogavam agora.

Ele sorriu, seus dentes visíveis em um breve flash branco


antes que ficasse sério novamente. Seus olhos caíram.

— Suas mãos estão tremendo, minha querida.

Ela olhou para baixo também. Então, elas estavam. Querido


céu. Como iria sobreviver à noite?

— Acho que estou um pouco ansiosa, — admitiu.

— Você nunca tinha estado em uma das festas na casa de


Lady Needham antes, não é? — Sua voz tinha conhecimento. Ele
fechou o espaço entre eles, pegando suas mãos aflitas nas suas
grandes e quentes.

Ela ficou consternada por ele enxergá-la com tanta facilidade.


Pensou que tivesse feito um trabalho admirável ao retratar uma
senhora depravada.

— Como você sabia?


— Você é um pouco sincera demais. — Ele levou suas mãos
aos lábios, beijando cada uma com uma reverência lenta que a
desarmou completamente. — Na verdade, nunca conheci uma
mulher tão sincera e adorável.

Ela estava sem fôlego.

— Nunca? — Oh, como esperava que ele não a estivesse


apenas cortejando com elogios sem sentido. Um pensamento tolo,
uma esperança tola, pois não tinha direitos sobre o homem a sua
frente, nem teria. Ele era um meio para um fim. Através dele,
ganharia sua independência. Isso era tudo.

— Nunca. — Ele virou suas mãos e deu um beijo em suas


palmas, depois em seus pulsos. — É maldade da minha parte, mas
estou muito feliz por ter destruído seu vestido.

Um arrepio de puro desejo desceu por sua espinha. Seu corpo


parecia pesado e quente, oprimido pela deliciosa possibilidade do
que estava por vir.

— Isso parece sorte. — Todas as suas bravatas anteriores


falharam. Ela estava desesperada para saber o que estava para
acontecer e, ao mesmo tempo, apavorada.

— Estou ultrapassando meus limites, minha querida? — Ele


ainda segurava as mãos dela. — Você não parou de tremer. Nem
sonharia em assustar você.

— Não, — ela se apressou em assegurá-lo. — Tudo isso é novo


para mim, temo, e bastante assustador.

Ele se acalmou.

— Devo ser seu primeiro amante, então?


Ele adivinhou. Provavelmente, a suspeita dela não era difícil
de fazer.

— Você é. — O constrangimento a fez desejar rastejar para


baixo da adorável cama de carvalho esculpida que ocupava a
parede oposta. De alguma forma, ela não tinha imaginado tanta
conversa. Como imaginou que seduzir um homem seria fácil?
Como acreditou que isso não a afetaria?

— Estou honrado, — disse ele, sua voz profunda e aveludada.


Ele estendeu a mão para tocar o canto de sua máscara. — Deseja
mantê-la?

— Sim. — A barreira tornava suas intimidades de alguma


forma mais administráveis. — Se você não se importa, senhor. Pelo
menos até que as lâmpadas se apaguem.

— Se isso te agrada. — Seus dedos permaneceram em seu


queixo, inclinando-o para cima. — Vou te beijar agora.

Ela colocou as mãos em seus ombros largos. — Por favor,


faça.

— Ela fechou os olhos, esperando. Os outros beijos que


experimentou foram castos e inexpressivos, um simples roçar
superficial de lábios nos dela. Richard tinha sido o cavalheiro
perfeito. O marquês nunca se incomodou.

Mas, se ela esperava agora o mesmo tipo de beijo breve, estava


totalmente errada. Deliciosamente também. Sua boca pressionada
contra a dela, quente e firme, seu lábio superior encaixando-se
naturalmente na costura dos dela. Ele passou os braços em volta
de sua cintura, apoiando seu corpo no dele. A dureza de sua forma
longa e esguia foi uma surpresa agradável. Inclinou para ele,
faminta por mais, ofegando quando sua língua brincou com seu
lábio inferior. No momento em que ela se abriu, ele entrou em sua
boca. Timidamente, correu sua língua contra a dele, provando-o.
Champanhe e pecado.

O calor que permeou seus sentidos durante toda a noite, se


transformou em um fogo que começou em sua barriga e ecoou em
seu sexo. Sua pele formigou. Uma dor constante latejava entre
suas pernas. Ela nunca experimentou uma mistura mais
inebriante de prazer e desejo. Enfim, pensou enquanto imitava seu
beijo.

Ele arrastou sua boca da dela, sua respiração irregular, antes


de deixar cair beijos tentadores sobre seu pescoço nu. Fez um
caminho para o oco na base de sua garganta, onde seu pulso
galopava em um ritmo frenético. Sua máscara de seda raspou
contra ela, igualmente excitante. Ela inclinou a cabeça para trás
para conceder-lhe maior acesso. Seus dedos foram para os botões
do corpete de sua camisola de algodão, desamarrando-os, um de
cada vez.

Céus. Por todas as vezes que ela ficou acordada em sua cama,
imaginando este momento de capitulação, nunca teve nenhuma
ideia de como seria emocionante e terrivelmente assustador ao
mesmo tempo. Ele a estava despindo, e ela não sabia o seu nome.
De alguma forma, impossivelmente, isso aumentou o fascínio.

Ele abriu caminho até o botão entre seus seios e fez uma
pausa, olhando-a. A intensidade de seu olhar quase fez seus
joelhos cederem.

— Você tem certeza, minha querida?


Ele estava lhe dando a oportunidade de mudar de ideia, ela
percebeu através do desejo estonteante que nublava seu cérebro
racional. Claro que não tinha certeza. Nunca esteve tão incerta de
qualquer coisa em sua vida. Mas isso era parte do que tornava tão
atraente compartilhar beijos ardentes com um estranho
mascarado. Ela se sentiu livre pela primeira vez, fortalecida por seu
anonimato. Poderia ser qualquer pessoa que quisesse na magia da
noite. Ela poderia fazer o que quisesse.

— Sim. Tenho certeza.

— Devemos ir devagar. — Ele segurou seus seios através do


tecido fino de sua camisola. — Quero deixá-la louca de desejo antes
de tomá-la.

Suas palavras enviaram uma nova onda de calor e umidade


ao ápice de suas coxas. Seus polegares esfregaram em círculos
preguiçosos sobre seus mamilos, endurecendo-os em
protuberâncias doloridas. Ela queria desesperadamente que ele a
tocasse sem a barreira do algodão. Estendeu a mão entre eles,
tentando ajudar a desfazer a interminável linha de botões com
dedos desajeitados.

— Todos esses malditos botões. — Ele deu um beliscão suave


em seus mamilos que a fez gemer. — O que vocês mulheres pensam
quando compram esses enfeites malditos?

Ela certamente nunca tinha pensado em um estranho


pecaminoso arrancando-o de seu corpo. Maggie abriu mais alguns
botões até que a camisola estivesse aberta até a cintura. Ela tirou
os braços das mangas compridas, expondo o seio ao olhar aquecido
dele.
— Você acha isso preferível, senhor? — Sua voz era gutural,
quase como se pertencesse inteiramente a outra mulher.

— Inferno, sim, eu acho. — Ele espalmou seus seios. — Esta


é uma grande melhoria.

Seu coração disparou, cada parte de seu corpo se concentrou


com uma intensidade enlouquecedora no lugar onde a pele deles
se encontravam. Sua necessidade de um escândalo não a movia
mais. Em vez disso, era ele. Seu toque, seu cheiro, o proibido. Ela
se arqueou contra ele. Seus olhares se encontraram e ele a beijou
novamente, sua boca aberta e voraz. Reivindicando. Ela o beijou
de volta, esfregando sua língua contra a dele enquanto a saqueava.
Ela queria mais.

Ele apertou seus mamilos entre o polegar e o indicador, e


abaixou a cabeça para beijar sua garganta. Ela colocou as mãos
em seu peito, desejando sentir sua forma masculina sem suas
roupas formais de noite. Ele arrastou sua boca mais para baixo,
chupando seu mamilo. Sacudiu o botão suavemente com a língua
em movimentos rápidos e doces. Foi perverso. Foi devasso. De
todas as vezes que ela imaginou realizar seu plano, nunca
imaginou que iria realmente desfrutar do ato de pecado que lhe
daria a liberdade que tanto desejava.

Ele fez uma pausa e olhou-a, um sorriso malicioso curvando


seus lábios. O contraste entre sua pele pálida e sua máscara de
seda preta era tão sedutor quanto seu olhar brilhante.

— Gosta da minha língua em você?

A ousadia de sua fala a chocou. Ninguém havia sequer se


referido a membros em sua presença antes. Corpos eram coisas a
serem cobertas e escondidas, não destinadas à adoração revelada.
Mas ela gostou bastante dessa travessura, de se aventurar no
proibido.

— Você não pode dizer por si mesmo? — Ela voltou, juntando-


se ao seu jogo de provocação.

Ele sugou seu outro mamilo, arrastando profundamente até


que arrancou outro gemido dela.

— Quero ouvir de seus próprios e adoráveis lábios. — Ele


lambeu, empenhado em reduzi-la a uma devassa completa. — Diz.

— Eu gosto disso. — Ela suspirou, afundando os dedos em


seu cabelo comprido e escuro como a noite.

Ele parou, assoprando sobre a protuberância a qual acabara


de dar prazer.

— Do que você gosta? Conte-me.

A boca de Maggie ficou seca. Ela não sabia do que gostava.


Tudo o que sabia era que gostava de cada coisa perversa que ele
fazia. Mas, não podia dizer essas palavras em voz alta.

— Eu não sei.

Ele pegou seu mamilo entre os dentes e mordeu de


brincadeira.

— Conte-me. Se você quiser mais, deve me contar, querida.

Bem. Ela queria mais.

— Gosto da sua língua. — Ela pressionou o seio em sua


bochecha. — Gosto da sua boca em mim.

Ele beijou o monte cheio que ela lhe ofereceu.


— Você está aprendendo.

— Te avisei sobre a minha natureza direta. — Ela estava sem


fôlego enquanto a boca dele traçava uma trilha de volta ao pescoço
e, finalmente, aos lábios.

Suas bocas famintas se encontraram. Ele puxou-a,


empurrando os restos amarrotados de sua camisola, que já
estavam na cintura, para baixo. Ele pousou a peça no chão sobre
seus tornozelos, enviando uma breve corrente de ar por suas
pernas nuas. Uma de suas mãos segurou seu traseiro, enquanto a
outra roçou a curva de sua barriga, e se acomodou no monte no
ápice de suas coxas. Seus longos dedos mergulharam nas dobras
de seu sexo. Todos os pensamentos fugiram de sua mente.

— Sou grato por sua natureza. — Ele beliscou seus lábios e


esfregou a pérola escondida entre suas pernas, aquela que ela só
ousou tocar uma ou duas vezes no banho. A felicidade pura surgiu
através de seu corpo, junto com um desejo por mais.

— Por favor, — ela implorou, incerta do que estava pedindo.


Conclusão. Uma união. Qualquer coisa que satisfizesse o crescente
desejo que a estava deixando tão louca quanto ele disse que queria
fazê-la. Ela nunca soube que algo tão potente e incrível fosse
possível entre um homem e uma mulher. Vingança, liberdade,
certo, errado... tudo caiu. Tudo o que existia para ela era este
momento, este homem e a maneira como ele a fazia sentir.

— Me diga o que você quer. — Suas ministrações


continuaram, seu ritmo aumentando junto com a pressão que
exercia sobre ela.
Ela iria se quebrar, entrar em colapso. Sua respiração estava
presa. Seu coração estava prestes a pular do peito. A sensação
cresceu em um tom selvagem enquanto seus dedos trabalhavam
entre suas pernas. Era como se ele soubesse que ela estava prestes
a se desfazer.

— Eu... — começou, apenas para vacilar. Não achou que


pudesse falar. Ele abaixou a boca para chupar um mamilo duro
mais uma vez, e a represa dentro dela estourou. Ela se contorceu
contra ele, o desejo ondulando por seu corpo em ondas de puro
prazer. Seus quadris se apertaram contra ele enquanto gritava, a
cabeça jogada para trás.

— Você quer que eu te foda, querida? — Ele lambeu um


caminho ao redor da ponta rosada de seu seio.

Quando as ondas de paixão começaram a diminuir, ela sentiu


um novo jorro de umidade entre as pernas. Ele continuou a
provocá-la ali, e sua carne ficou tão sensível ao seu toque que ela
temeu que alcançaria seu pico novamente em outra respiração.

Ela nunca tinha ouvido a palavra foda antes, e tinha a


sensação de que era terrivelmente ruim, mas ela amava o jeito que
soava em seus lábios. O que quer que isso significasse, tinha
certeza de que queria muito.

— Você quer? — Ele perguntou novamente enquanto seus


dedos se moviam sobre ela com experiência.

Ela engasgou-se com a sensação intensificada. Se o prazer


que ele lhe deu antes tinha sido forte, agora a subjugava.

— Sim, — disse-lhe. Queria mais disso, queria ser


preenchida. Por ele, com ele.
Justo quando ela estava à beira, ele afastou-se, assustando-
a. No instante seguinte, ele a tomou nos braços. Ela jogou os
braços em volta do pescoço dele para alavancar-se. Nenhum
homem a havia pegado daquela maneira antes, como se não
pesasse mais do que um travesseiro de penas. E ela pesava muito
mais do que um travesseiro de penas.

— Sou muito pesada. — Não era como se fosse


excessivamente grande, mas possuía as curvas femininas
necessárias. Não era uma senhorita esguia, disso estava certa.

— Você é uma braçada perfeita. — Ele parecia incrivelmente


libertino com sua máscara preta e sorriso sedutor.

Ela não conseguia afastar a sensação de que sob a seda


protegendo o rosto dele de seus olhos, escondia-se um homem
perigosamente bonito. Ele era o oposto do único outro homem
cujas atenções ela sempre quis, exceto Richard.

Marido dela.

Sandhurst estivera muito ocupado para dizer mais do que um


punhado de frases para ela depois de garantir sua fortuna. Tendo
a conquistado, prontamente a abandonou em favor de sua bela
amante. Um ano se passou desde que o viu pela última vez. E como
ele ousava se intrometer em seus pensamentos agora, quando a
liberdade estava ao seu alcance? Para o diabo com ele.

Ela forçou a retirada de todos os pensamentos infelizes de sua


mente, e se concentrou no homem que a carregava pelo quarto
para colocá-la na cama com uma gentileza, que sugeria que ele
pensava que era feita da mais fina porcelana. Ele era tudo que um
cavalheiro deveria ser, e estava grata por ter esta noite para passar
em seus braços. Com os corações precisando de reparos, eles, de
alguma forma, se encontraram. E com sua ajuda involuntária, ela
conseguiria escapar.

Maggie o observou enquanto ele tirava o casaco, a gravata de


seda, e tirava rapidamente a camisa branca. Em uma respiração,
seu peito estava nu para o seu olhar. Ele era largo, musculoso, seu
estômago esticado, peito pontilhado por uma quantidade tentadora
de cabelo escuro. Ela nunca tinha visto um torso masculino nu
além dos blocos de mármore, e tinta a óleo aplicada as telas em
nome da arte. A representação de nenhum artista jamais foi tão
perfeita, pelo menos não aos olhos dela. Desejava tocá-lo.

E então, ele desabotoou as calças, permitindo que também


caíssem. Sua masculinidade projetava-se entre as coxas firmes,
coxas de cavaleiro. Grosso e duro, ergueu-se em alívio orgulhoso
contra uma pequena espiral de cabelos e seu saco. Sua boca ficou
seca enquanto olhava para seu eixo. Ela sabia um pouco sobre
homens e mulheres, tanto por suas amigas herdeiras casadas, que
ousaram compartilhar segredos preciosos, quanto dos romances
atrevidos que lia em particular. Estava ciente de que ele estava
prestes a se colocar dentro dela. Era assustador ter certeza. Seria
muito doloroso? Ela enrijeceu quando uma nova onda de
nervosismo a assaltou. Tentou se preparar com antecedência, mas
preparação e realidade eram totalmente diferentes.

Ele sentiu seu desconforto repentino. Ainda usando sua


máscara e nada mais, ele abaixou seu corpo forte na cama.
Segurou seu rosto e lhe deu um beijo demorado e terno.
— Você não precisa ter medo de mim, minha querida. — Ele
se afastou. — Faremos apenas o que você quiser. Hoje à noite, sou
seu. Você entende?

Ela olhou-o, perplexa. Ele estava se entregando a ela.


Completamente.

— Meu? — Perguntou, duvidando.

— Seu, — ele repetiu. — Seu servo esta noite. Procuro apenas


lhe dar prazer.

— Você já fez isso, — ela disse tolamente. Não sabia o que ele
queria dela. Ele a imaginou como uma mulher que conhecia os
caminhos entre um homem e uma mulher. Talvez quando ele
adivinhou que era seu primeiro amante, imaginou que fosse seu
primeiro amante fora do casamento. A maioria das mulheres
casadas tinha perdido a virgindade, então a suposição dele não era
irracional. — Eu não fiz isso antes, — acrescentou, para ele ter
ideia real da situação.

— Eu sei que você nunca fez. — Ele sorriu e a beijou


novamente.

— Não, — a honestidade a compeliu a dizer. — Não é como


você pensa. Embora eu seja uma mulher casada, meu marido
não... isto é, permaneço... casta.

— Oh, Cristo. — Ele se acalmou, seu olhar procurando o dela,


sua boca ficando tensa. — Você nunca se deitou com um homem
antes?

Ela balançou a cabeça, corando da cabeça aos pés. As


palavras se recusaram a se formar em sua língua.
— Ah. — Ele se inclinou, pressionando seu corpo duro contra
o dela, e a beijou demoradamente. — Isso significa simplesmente
que nossas regras foram alteradas.

Ela rolou em direção a ele, de modo que seus seios se


apertaram contra seu peito duro, e sua masculinidade cutucou sua
barriga.

— Não tenho a menor ideia de quais regras você fala. —


Estava bem ciente de que estava perdida.

— As regras entre você e eu como amantes, — ele disse,


segurando seu traseiro e puxando-a mais completamente. — Você
deve prometer me dizer exatamente o que quer. Promete?

Ela engoliu em seco. Isso era muito mais do que havia


imaginado. Não tinha certeza se poderia encontrar coragem para
dar voz às coisas perversas que ele fazia com ela. Mas com aqueles
olhos vívidos engolindo-a inteira, sabia que faria qualquer coisa
para agradá-lo.

— Prometo, — concordou finalmente.

Um sorriso pecaminoso flertou com os cantos de seus lábios.

— Bom. — Ele a beijou novamente, mordiscando seu lábio


inferior antes de descer por seu corpo. — Eu quero te provar em
todos os lugares.

Sua língua estalou contra a plenitude de seu seio, e então


levemente sobre seu mamilo dolorido. Mas ele não a tomou em sua
boca novamente como ela queria. Em vez disso, se moveu ainda
mais para baixo, para seu umbigo. Ele fez uma pausa, erguendo
os olhos, parecendo cada centímetro no papel de um salteador de
estrada vindo para pilhar. Ele estava perigosamente perto do calor
úmido de seu centro. Ela ansiava por senti-lo ali.

— Abra suas pernas para mim, querida, — ele persuadiu, as


mãos nos quadris dela, acariciando.

Ela obedeceu, estremecendo de ansiedade, olhando-o.

Ele gemeu, seus olhos indo para a sua parte mais privada. O
ar frio atingiu sua pele úmida, aumentando sua consciência ainda
mais.

— Quero te provar. Você quer minha língua em você, querida?

Querido céu. Ele tinha um modo de falar franco e sujo. Ele


pretendia... Sua mente não conseguia formar um pensamento
coerente. Ela ficou chocada e excitada ao mesmo tempo. Não sabia
que os homens faziam tais coisas pecaminosas. Deveria dizer não.
Mas seu olhar e suas palavras travessas combinaram para enviar
outra deliciosa pulsação de desejo a seu núcleo. Queria que ele a
lambesse. Maggie engoliu em seco, atingida pela realização. Ela era
uma devassa.

— Sim, — sussurrou finalmente. — Por favor.

Seus olhos se voltaram para os dela, prendendo-a com o


desejo nu que ela viu refletido em suas profundezas embaçadas.
Ele abaixou a cabeça e chupou o sensível botão de seu sexo em sua
boca, segurando seu olhar o tempo todo. A visão dele lhe dando
prazer, seu rosto mascarado enterrado entre suas coxas, só serviu
para aumentar sua paixão. Ela inclinou a cabeça para trás e gemeu
enquanto ele continuava chupando, ocasionalmente usando os
dentes para roçar suavemente contra a protuberância carnuda tão
ansiosa por sua atenção. Era poesia pura, cantando através de seu
corpo e deixando-a em chamas. Essa era a resposta para os
problemas que a atormentavam, pensou, essa doce distração. Pelo
menos poderia aquecer seu corpo, se não sua alma.

— Mmmm, querida. — Ele ergueu a cabeça, parando a tortura


sensual. Seus lábios estavam brilhantes com seus sucos. — Você
gosta quando lambo sua boceta?

Ela corou, ainda envergonhada por suas palavras, mesmo


agora que ele havia realmente cometido o ato. Não sabia o que
dizer. Uma escrava indefesa de sua própria necessidade, ela viu
quando ele deu um beijo em cada uma de suas coxas, em seguida,
sacudiu a língua para brincar com ela. Ela resistiu, perigosamente
perto de desmoronar. Tantos nomes novos e perversos para
combinar com as sensações que ele abriu.

Ele parou novamente, soprando em sua carne inchada e


escorregadia. Um sorriso verdadeiramente sedutor curvou seus
lábios.

— Diga-me, minha querida. Me diga o que você gosta. Diga as


palavras.

Ele queria ouvir sua confirmação, queria aquele poder sobre


ela. E ele o tinha. Poderia fazê-la dizer e fazer o que ele quisesse.
Ela se afastou muito da trajetória que pretendia. Ela lutou para
forçar sua mente a funcionar.

— Gosto da sua boca em mim. — Embora esta fosse realmente


uma noite de estreias, ainda não conseguia repetir as palavras
sujas dele.

Ele gemeu mais uma vez, abaixando a cabeça para seu sexo.
Sua língua trabalhou sobre ela em uma dança enlouquecedora,
sacudindo seu botão tenro para frente e para trás. Ela não
conseguia se controlar. A sensação selvagem entre suas coxas
percorreu todo seu corpo, fazendo-a ficar tensa. De repente, o
prazer girou fora de controle, batendo nela. Ela estremeceu,
arqueando-se em sua boca esperta, gritando com uma abandonada
liberação.

— Você gozou através de mim duas vezes, querida. — Ele deu


um beijo em seu sexo, e então se levantou.

Sua masculinidade se projetava, dura e longa. Ele gostara de


lhe dar prazer tanto quanto ela de recebê-lo. Estendeu a mão,
segurando seus ombros largos e fortes. Sua pele era quente e lisa,
seus músculos flexionando sob seu toque, enquanto ele se
inclinava sobre ela. Sua escura cabeça se inclinou para sugar seu
mamilo. A umidade gotejou sobre as dobras de seu sexo. O desejo
por ele a deixava sem cérebro.

Maggie o puxou, gemendo. Não entendia o que estava


acontecendo entre eles. Nada em sua vida poderia tê-la preparado.
Deus do céu. Talvez estivesse morrendo de prazer. Parecia possível
quando ele tomou seu outro mamilo em sua boca. Suas mãos
correram acima de seus quadris para se estabelecerem em sua
cintura. Ele arrastou os lábios para o pescoço dela, beijando logo
abaixo da orelha. Ela estremeceu, amando cada toque seu, cada
ação sua.

— Quero ir devagar por você, mas estou ficando louco de


desejo. — Ele pegou o lóbulo de sua orelha entre os dentes e deu
um puxão suave e brincalhão. — Cristo, o que você faz comigo,
mulher.
Ela já estava além do pensamento racional, mas não tanto a
ponto de não saber o que queria. O que precisava. Ela capturou
seu rosto entre as mãos, puxando-o até que seus narizes quase
roçassem. Ele era devastadoramente bonito, isso ela podia
discernir mesmo com a obstrução de sua máscara de seda.

— Não vá devagar por minha causa, — o incitou, sem fôlego.

Um belo sorriso curvou sua boca sensual.

— Eu amo te corromper, minha querida.

Corrompê-la? Ela fez o possível para ignorar o que ele disse,


pois talvez se pensasse na frase por muito tempo, ela a induziria a
um ataque de consciência. Claro, ela não deveria ter nenhuma
consciência por seu marido, aquele estúpido insuportável que
provavelmente não se lembrava de como ela era. Mas, não foi
criada para ser uma senhora que trocava de amores e com um
coração impenetrável. Seus pais, apesar de serem
assustadoramente ricos, sempre tiveram um casamento por amor.
Ela tolamente esperava o mesmo respeito e amor em seu próprio
casamento. Estava terrivelmente errada.

Ele tomou-lhe a boca para um beijo devorador. Ela se abriu


para ele, suas línguas se encontrando. Ele tinha um gosto doce e
almiscarado, uma mistura de ambos. Suas mãos foram entre eles,
deslizando para baixo sobre sua barriga arredondada para sua
boceta, para usar sua palavra obscena para aquela parte de seu
corpo. Ela descobriu que gostava da safadeza disso. Ele trabalhou
seu clitóris, e ela inclinou os quadris, amando cada toque em sua
carne faminta. Queria mais.
— Eu nunca quis tomar ninguém do jeito que te quero. — Sua
respiração era uma lufada de ar quente soprando em seus lábios.

— Leve-me, — ela disse contra sua boca. — Hoje à noite, sou


sua.

— Porra. — Ele baixou a testa para a dela. — Vou perder a


cabeça se não estiver dentro de você em breve.

Ela o queria dentro dela. Sem pensar, moveu-se contra seu


dedo, faminta por mais. Mais profundo. Mais fortes. Oh, meu Deus,
sim.

— Por favor, — implorou. — Te quero.

— Vai doer. — Ele a beijou demoradamente. — Quando eu


entrar em você, entendo que haverá dor.

Ela não deixou de notar seu fraseado.

— Sou sua primeira virgem?

— Sim. — Seu tom era aveludado. — Nós somos os primeiros


um do outro, ao que parece, de maneiras diferentes.

Ela gostou da ideia, descobriu. Estava se encaixando de


alguma forma.

— Eu nunca fui medrosa, — disse, referindo-se à dor. —


Quando eu era menina, quebrei meu braço ao cair de uma macieira
e nem chorei. — Certamente sua entrada não poderia causar tanta
dor quanto um osso quebrado, raciocinou.

— Garota valente, — disse, beijando-a. — Não quero


machucá-la.
— Você não vai, — disse com mais bravata do que realmente
sentia. — Me faça sua.

Ele cessou sua deliciosa tortura. Seu pênis, grande e cheio,


pressionou nela ao invés.

— Enrole suas pernas em volta da minha cintura, querida.

Ela atendeu o seu pedido, permitindo que ele se acomodasse


confortavelmente entre suas coxas. Ele se moveu, ainda sem
penetrá-la. Um prazer quente a atingiu como uma onda do oceano.

— Como se sente? — Ele perguntou, parecendo tenso.

Ela ficou comovida com sua preocupação, mas também


frustrada. Ela não queria que ele fosse contido e cuidadoso. Queria
que se perdesse dentro dela.

— Maravilhosa.

Ele empurrou, lentamente no início, e então, com ritmo e vigor


crescentes. A dor começou, uma queimação desagradável. Foi
sobre isso que ela foi avisada, mas uma vez que sua virgindade se
fosse, nunca mais experimentaria o desconforto que estava
conhecendo agora. Mordendo o lábio, ela empurrou para ele,
levando-o bem fundo. Uma dor aguda a cortou.

E então, ele começou a se mover. A dor diminuiu com cada


impulso longo e lento de seu pênis. Enquanto ela se adaptava à
nova sensação dele enchendo-a, moveu-se junto com ele,
ajustando o ângulo de seus quadris para maior conforto. Logo, o
prazer superou tudo o mais. Nada poderia ter preparado Maggie
para um homem lhe dando prazer daquela maneira elementar. Foi
incrível.
Ele alcançou entre seus corpos para acariciá-la e aumentou
o ritmo e a força de suas estocadas, sua respiração ficando mais
rápida. Seu coração batia rápido contra seu peito. Ela afundou os
dedos em seu cabelo sedoso, inalando profundamente seu
poderoso perfume masculino. Justamente quando pensava que
nada no mundo poderia se comparar às sensações que faiscavam
através dela, ela provou-se errada. Ele ancorou seus quadris e se
chocou contra ela, trazendo intensas ondas de prazer. Ela iria
gozar mais uma vez, percebeu, torcendo-se, querendo mais,
querendo consumi-lo.

Sua vagina apertou em seu pênis quando ela encontrou sua


liberação, e ele se retirou abruptamente. Ele se pressionou contra
sua barriga, e um jorro quente e úmido pousou em sua pele nua.
Sua semente, percebeu.

Ele caiu ao seu lado, envolvendo um braço possessivo ao seu


redor, sua respiração pesada e rápida. Maggie nunca se sentiu
mais viva. Estava inundada por sensações fantásticas, seu corpo
inteiro latejando, seu sexo molhado e inchado. Virou-se e deu um
último beijo em seus lábios, sabendo que daquele momento em
diante, ela nunca mais seria a mesma.

Uma mulher, pensou com a pouca coerência que permaneceu


em sua mente nublada. Ela era finalmente uma mulher. Uma
mulher prestes a se vingar.
ELE ACORDOU COM UMA MULHER, QUENTE E CHEIROSA, pressionada

ao seu lado. Por um momento, pensou que fosse Eleanor, até que
se lembrou de que ela lhe dissera para ir para o inferno, e
provavelmente estava montando seu marido careca e de nariz
vermelho em algum lugar de Londres. Droga.

Simon piscou abrindo os olhos. Empoleirada a seu lado, sua


companheira de cama dormia a sua frente, suas costas eram uma
fatia nua de pele tentadora, longos cachos vermelhos curvados
sobre seu ombro cremoso. As roupas de cama haviam se agrupado
em volta de sua cintura estreita, deixando uma pequena marca no
topo de suas nádegas visível para ele na luz do amanhecer.

Ah sim, sua mulher misteriosa. Seu pênis se agitou quando a


lembrança se filtrou por sua mente nublada pelo sono. Ele pegou
uma virgem que conheceu na festa em casa de Lady Needham.
Inferno. Ela suspirou em seu sono e se acomodou de costas,
revelando seus seios cheios de pontas rosadas mais uma vez. Seus
mamilos estavam duros, implorando para serem chupados.
Gemeu, sua mão indo para seu pênis já rígido e acariciando.
Esperançosamente, ela não estava muito dolorida, pois desejava
tomá-la novamente. Ele tinha feito o seu melhor para facilitar na
hora de fazer amor com ela, mas ele nunca teve uma virgem antes,
e não havia como dizer como seu corpo reagiria.
Moveu a mão sob as cobertas, roçando os dedos sobre sua
coxa arredondada antes de se estabelecer nas dobras úmidas e
quentes de sua boceta. Ah, sim. Ela certamente se sentia pronta.
Ele olhou para o rosto dela avaliando. Sua máscara ainda cobria a
metade superior de seu rosto, mas em seu sono ela havia sido
jogada para o lado. A curiosidade o picou, então.

Quem era ela? Tinha que conhecer seu rosto, esta virgem
inexperiente que o fez desmoronar com a facilidade de uma cortesã
experiente. Ele não iria deixá-la fora de sua vista tão cedo. Ela era
exatamente o tipo de distração de que precisava. Ele retirou-lhe a
máscara. Ela era bonita. Familiar. Ela era…

Bom, doce Cristo.

Ela era sua esposa.

Ele se acalmou, desejando que seus olhos vissem algo


diferente. Já fazia algum tempo desde a última vez que ele esteve
em sua presença — talvez até um ano — mas não havia como negar
quem ela era. O nariz pequeno e atrevido, os lábios exuberantes,
os cachos ruivos rebeldes. Parecia de alguma forma mais selvagem,
mais vibrante e feminina agora, deitada nua com ele. Mas o rosto
de sua mulher misteriosa, a mulher que alterou seu mundo com
sua paixão inocente, era inegavelmente a mulher com quem ele se
casou.

Margaret. Lady Sandhurst. Cristo, todo esse tempo pensara


que ela era uma garota quieta e estudiosa, sentada em casa
construindo sua biblioteca e enviando-lhe cartas petulantes, e em
vez disso ela estava prestes a torná-lo um corno. Ele retirou as
mãos como se fosse um moleque de rua pego roubando. Que
prostituta astuta ela acabou se tornando. Nunca teria imaginado.

Ele rolou para longe e se levantou da cama, seu ardor


efetivamente amortecido pela revelação de que estava prestes a
fazer amor com sua esposa. Novamente. Maldito inferno, ele nunca
quis consumar sua união. Foi forçado a se casar com ela por uma
questão de circunstância, mas jurou nunca torná-la sua esposa de
verdade. E agora, inconscientemente tinha feito exatamente isso.
Seu intestino apertou com a constatação.

— Porra. — Ele procurou por suas roupas descartadas. —


Maldito idiota estúpido.

Ele tinha que sair antes que ela acordasse e descobrisse quem
ele era. Bom Deus, seria melhor permitir que ela pensasse que
havia enganado algum estranho. Ele deveria saber que era ela.
Como não percebeu os sinais? Abaixou-se e enfiou as pernas nas
calças. Ela era americana. Seu cabelo era da mesma cor, todos
cachos rebeldes. Claro que houve a questão da máscara dela, e que
ele nunca sonhou que sua esposa de maneiras gentis se dignasse
a aparecer em uma festa em casa famosa por sua decadência
sexual e liberdade. Como diabos ela recebeu um convite?

Ele encontrou sua camisa e não se preocupou com os botões.


Nenhuma pergunta seria feita se alguém passasse por ele no
corredor, já que provavelmente seriam as partes igualmente
culpadas. Mais ainda, na verdade. Afinal, ele apenas se deitou com
a esposa.

Passando a mão pelo cabelo, saiu do quarto na ponta dos pés.


Fechou a porta atrás de si com um suspiro de alívio. Não havia
motivo para ela precisar descobrir a verdade. Foi melhor para os
dois, realmente. Ele não tinha intenção de fazer o papel de marido.
Nunca. Tinha ido à festa para se distrair, uma trégua do tormento
que o consumia desde o abandono de Eleanor. Ele pode ter sido
forçado a se vender para uma fortuna americana, mas ainda
possuía seu orgulho, por Deus.

Ele caminhou de volta para seu quarto. Seria melhor se


deixasse a casa de Lady Needham antes de vê-la novamente. Ele
não achava que teria estômago para isso.

Maggie acordou com o som de uma porta sendo fechada com


força. Deve ser sua criada, pensou em sua mente nublada pelo
sono. Ela rolou, ciente do ar frio sobre seus seios nus. E uma
distinta, porém nova, dor entre suas coxas.

Deus do céu.

Ela se sentou na cama como se um gongo tivesse acabado de


tocar ao lado de sua orelha. Maggie olhou ao redor, aliviada ao
encontrar seu quarto vazio na luz do amanhecer. Estava sozinha.
Não seria bom para a criada de sua anfitriã encontrá-la em tal
estado de... olhou para si mesma, e descobriu que estava
totalmente nua e prontamente puxou os lençóis até o queixo.

Seu coração disparou. Ela realmente fizera isso. Seu plano de


forçar Sandhurst a se divorciar dela havia entrado em ação. Agora
tudo o que precisava fazer era travar uma guerra de humilhação
pública. Tudo o que precisava fazer era usar um homem que mal
conhecia para promover sua causa. O pensamento indesejado
enviou uma pontada de culpa.
Ela não conhecia seu nome ou rosto. Ele a tinha dado prazer
de maneiras que nunca imaginou ser possível. E então,
aparentemente, ele havia desaparecido. Ela olhou ao redor do
quarto, procurando por um sinal de seu amante apaixonado e
encontrando apenas um pedaço de tecido amarrotado.

Sua gravata.

Ela não o agradou? Sua inexperiência foi demais para ele? Ou


essa era uma prática padrão para os ímpios? Talvez a rapidez com
que compartilhavam todas as noites de desejo que transformavam
suas vidas, e depois nunca mais se vissem novamente sem
remorso.

Quem era ele?

Incapaz de dormir, levantou-se da cama em busca de sua


camisola. Não queria que a criada de sua anfitriã a encontrasse em
tal estado. Com um suspiro, jogou uma camisola de linho sobre a
cabeça, endireitando-a antes de se envolver em um penhoar. Seus
pés descalços cruzaram o tapete até o espelho na penteadeira na
outra extremidade do quarto.

Seu cabelo era um emaranhado selvagem de cachos sobre sua


cabeça. Ela parecia pálida. Diferente. Era uma mulher a caminho
de recuperar sua vida. O maior passo havia sido dado e agora tudo
o que precisava fazer era continuar o que havia começado. Dois
dias de pecado em troca de sua vida. Se ao menos seu momento de
triunfo não parecesse tão vazio.

Maggie encontrava-se sentada ao lado da própria Lady


Needham no café da manhã. Sua anfitriã estava sem máscara,
desafiando sua própria regra de que todos os convidados deviam
permanecer incógnitos durante todo o fim de semana. Sua
reputação a precedeu como uma mulher com um desprezo total
pelas restrições da sociedade bem educada, uma mulher que
buscava prazeres independentemente do custo, e encorajava
outros a se juntar em suas iniquidades. Mas, na verdade, Lady
Needham era uma mulher pequena, com um bom senso para se
vestir e o hábito de falar mais francamente do que estava na moda.

Maggie achava que sua anfitriã era bastante americana de


coração e admirava sua valentia. Ela não tinha muito apetite esta
manhã, mas Lady Needham animou seu ânimo decadente com
suas brincadeiras inteligentes sobre as escolhas de moda dos
outros convidados.

— Abençoados anjos. Você poderia dar uma olhada naquele


ninho de cabelo atroz? — Lady Needham sussurrou, inclinando a
cabeça em direção à infeliz mulher em questão. — Ouso dizer que
um bando inteiro de pássaros poderia se perder nessa
monstruosidade.

Maggie deu uma risadinha no guardanapo, apreciando


intensamente a distração que a língua desenfreada de sua anfitriã
fornecia. Claro, concordou com ela, mas Maggie nunca arriscaria
tais observações em voz alta.

— O que você acha, minha querida? — Lady Needham


perguntou em voz baixa, dando-lhe uma cutucada amigável.

— O vestido dela é um tom horrível de amarelo, — ofereceu.

— Ah, eu amo o seu sotaque, querida menina. Diga 'horrível'


de novo, diga.

— Horrível, — Maggie concordou.


— Uma senhora de Nova York, obviamente. — Lady Needham
tomou um gole de suco e a estudou com um vivo olhar azul. —
Você gostou do baile na noite passada?

Maggie engoliu em seco.

— Gostei, sim, minha senhora.

— Não precisa fazer cerimônia aqui, querida. — Lady


Needham sorriu. — Você não está em Nova York, e nem em
Londres. Você é livre para fazer o que quiser e ser quem quiser.
Minhas regras. E ouso dizer que essas são minhas únicas regras.

— Gosto de suas regras. — Elas eram libertadoras. Um


prelúdio para seu futuro sem as algemas do casamento.

Um cavalheiro entrou na sala de café da manhã, roubando o


olhar de Maggie. Depois do que compartilharam na noite anterior,
ela conheceria sua figura em qualquer lugar, aquele rosto
mascarado bonito e cabelo escuro. Era ele. O homem que fez amor
com ela a noite toda, e desapareceu pela manhã.

Sua respiração escapou de seus pulmões em um voo lento.

Seu olhar frio percorreu a sala de café da manhã, percorrendo


os ocupantes até pousar sobre ela. Maggie congelou.
Espontaneamente, a magia pecaminosa que ele operou em seu
corpo surgiu em sua mente. Ela o imaginou lambendo-a, chupando
seus mamilos, recordou a sensação de seu pau duro e exigente
dentro dela. Ruborizando, desviou o olhar.

— Belo demônio, não é? — Lady Needham perguntou


suavemente. — Devo dizer que estava de olho nele, mas está
apaixonado por outra há muito tempo.
— Você sabe quem ele é? — A pergunta saiu de seus lábios
antes que pudesse pensar melhor sobre sua ansiedade.

— Claro que sim, minha querida. Mas não posso contar. Isso
estragaria a diversão. — Sua anfitriã levantou uma sobrancelha.
— E para que serve o mundo sem um pouco de diversão?

Seu homem misterioso inclinou a cabeça, reconhecendo-a


levemente. Um pouco de diversão, de fato. Ela não conseguia
desviar o olhar. Era como se ninguém mais na sala do café da
manhã, nenhum dos outros festeiros mascarados cintilantes e
risonhos, existisse.

— Ah, parece que nosso galante tem olhos para uma dama
apenas esta manhã. — A voz de Lady Needham ainda estava baixa,
mas uma ponta de curiosidade havia se infiltrado em sua fala
arrastada. — Sortuda, sortuda Lady New York.

— Sandhurst, — Maggie a corrigiu sem pensar. Ela se forçou


a desviar o olhar do homem que tão facilmente definiu seu mundo.
— Eu sou Lady Sandhurst, — admitiu à sua anfitriã. Ela iria
começar aos poucos. Compartilhar seu nome com alguns dos
outros hóspedes, fazer um teste.

Lady Needham estava boquiaberta. Maggie supôs que era


uma espécie de reclusa na sociedade, certamente não era
conhecida por muita coisa, exceto por ter um marido que estava
desesperadamente apaixonado por Lady Billingsley. Ela havia se
acostumado com aquela infeliz fama. E, claro, havia o problema de
ter convencido a amiga, a duquesa de Trento, a lhe fornecer o
convite. Lady Sandhurst não tinha sido convidada.
— Sandhurst, — sua anfitriã repetiu por fim, parecendo
totalmente perplexa.

Infelizmente, não tinha previsto tal reação a sua gafe.

— Peço desculpas, minha senhora, por aceitar em nome da


duquesa de Trento. Estou ciente de que o convite não era para
mim, mas precisava mais dele do que ela.

Lady Needham acenou com a mão desdenhosa.

— Absurdo. Todos sabem que podem repassar um convite a


qualquer interessado que quiser. Isso impede que a companhia
fique estagnada. É apenas que estou familiarizada com sua...
situação, minha senhora.

Ela se mexeu desconfortavelmente, seu espartilho beliscando


sua cintura.

— Sei que a reputação do meu marido me precede.

Lady Needham olhou fixamente.

— Você não sabe, não é?

Maggie franziu a testa.

— Claro que sei, minha senhora. É extremamente difícil evitar


fofocas em Londres, por mais que tente.

— Somente isso, então. — Um pequeno sorriso indecifrável


apareceu nos lábios vermelhos de Lady Needham. — Estou feliz
que você se juntou a nós para nossas festanças travessas, minha
querida. Bem-vinda ao perverso. — Ela ergueu seu diminuto copo
de suco em um pequeno brinde.
— Obrigada. — Maggie supôs que deveria expressar gratidão,
mesmo que parecesse que havia dado sua iniciação ao perverso na
noite anterior. Tinha sido a mais completa recepção. Tentando
abafar o calor que aquele pensamento privado produzia, ergueu o
copo de suco de laranja fresco e recém-espremido do laranjal,
também. A culpa picou sua consciência então, mas ela a varreu
para o lado também. Precisava se tornar perversa para escapar do
mais perverso de todos.

— Acabo de ter um pensamento depravado, minha querida


Lady S.

— Me chame de Maggie, — ela convidou sua nova amiga. Ela


nunca se acostumou com seu nome de casada, especialmente
porque era um manto que nunca usara na verdade. Em seu
coração, ela ainda era a velha Margaret Desmond, que tinha sido
uma espécie de papel de parede na sociedade de Nova York, e
permaneceu como uma em Londres.

— Maggie, então. — Um sorriso completo floresceu no rosto


de Lady Needham. — E você deve me chamar de Nell. Tenho um
delicioso jogo de charadas perversas planejado para esta tarde e
adoraria que você se juntasse a nós. Você poderia?

Deus do céu. Ela nunca se interessou muito em jogos de


salão, e especialmente não do tipo maldosos.

— Receio não saber jogar. Sou uma espécie de recém-chegada


ao perverso, se você se lembra.

— Ah, isso pode ser facilmente remediado. Vou te ensinar. —


Nell piscou. — Além disso, as apostas não são necessariamente
altas. Elas são apenas o que você deseja que sejam.
Maggie ponderou a resposta misteriosa de sua anfitriã
enquanto voltava sua atenção para o prato. De alguma forma, ela
suspeitou que havia algo mais no convite de Nell, algo que era
muito inexperiente para compreender. Não havia esperança quanto
a isso. Supôs que teria que redescobrir seu antigo senso de
aventura se seu plano tivesse sucesso. Talvez tivesse permitido que
a situação durasse por muito tempo.

Maldito, maldito inferno. Simon estudou sua esposa em seu


deslumbrante vestido de tarde em seda violeta. Ela usava estrelas
gêmeas de diamante em seu cabelo artisticamente arrumado. Sua
cintura estava apertada tornando sua silhueta perfeita,
enfatizando seus seios generosos, que eram revelados pelo corte
profundo de seu corpete. Ela riu de algo que um canalha sem valor
lhe disse. Ele desejou que não soasse tão diabolicamente
convidativo. Desejou que ela não fosse tão bonita. Quis nunca ter
conhecido o prazer primoroso de fazê-la gozar na noite anterior.
Mais do que tudo, desejou que não fosse sua esposa. Desejá-la teria
sido muito mais fácil se fosse a esposa de outra pessoa, exceto a
dele.

Mas ela era, e por alguma razão estúpida, ele decidiu ficar no
covil de Lady Needham. E por alguma razão estúpida e igualmente
idiota, se permitiu ser enganado em um jogo de charadas
perversas. Claro, quando sua anfitriã apresentou o convite pela
primeira vez, não percebeu que sua esposa faria parte dos jogos.
Se tivesse feito isso, provavelmente teria corrido na direção oposta,
estilo burro no fogo.

Ou teria?
Ele não conseguia parar de olhá-la. Por que diabos não tinha
feito amor com outra mulher no lugar dela? Qualquer outra mulher
teria feito. Todas as outras mulheres devassas da sociedade
estavam presentes, e ele teve que escolhê-la. Que idiota tinha sido,
tinha ficado muito alheio por sua luxúria para ver o que estava
claramente diante de seu nariz.

Ela olhou-o então, e maldição, se seu olhar azul não enviou


uma onda de luxúria direto para seu pênis traidor. Ele pensou em
como seus seios eram adoráveis, punhados atrevidos com mamilos
deliciosos que se contraíam quando ele os chupava. Pensou em
como era saborosa, doce e almiscarada, em como ela gritou e se
contorceu debaixo dele em sua introdução ao prazer.

Ele tinha tomado a virgindade de sua esposa.

O pensamento ainda foi suficiente para deixá-lo doente.


Quase. Teria sido, se também não o tivesse deixado tão
dolorosamente duro. Desesperado por distração, ele se voltou para
sua adorável anfitriã, Lady Needham. Ela era uma velha conhecida,
loira e pequena, inefavelmente adorável, madura o suficiente para
conhecer as regras do amor cínico e exatamente o tipo de mulher
com quem um homem poderia brincar sem consequências. Ela e
Lorde Needham viveram vidas separadas por alguns anos. Ela
nunca falou o nome dele. Ele nunca tinha achado isso estranho,
mas por algum motivo, achava agora.

— Devo dizer que não me entreguei a charadas desde sua


última festa, Nell. — Permitiu que seus dedos passassem por um
momento em seu cotovelo. — Não esqueci.
Ela sorriu, linhas finas se formando nos cantos dos olhos.
Apesar de tudo isso ela era uma beleza aclamada, mesmo não
sendo uma deusa o suficiente para evitar a mão implacável do
tempo.

— Ah, sim, acredito que você teve Lady Billingsley como


companheira, então.

Ele enrijeceu com a menção de Eleanor, ainda doía.

— E você acabou dançando sobre a mesa.

Sua expressão se tornou maliciosa.

— Dancei? Atrevo-me a dizer que não me lembro.

— Eu vi suas calças, — falou lentamente, relembrando cada


momento de sua performance improvisada. Ninguém se comparava
a Nell quando se tratava de ousadia.

— Estranho, isso. — Ela franziu os lábios. — Normalmente


não as uso.

Ele sorriu de volta, feliz pela leviandade. Tivera tão poucas


oportunidades para isso ultimamente. Se apenas a revelação dela
tivesse algum efeito em sua luxúria amaldiçoada. Mas, embora Nell
permanecesse atraente como sempre, ela não era a mulher que
fazia seu sangue correr para o lado errado de seu corpo.

— Você vai usá-las hoje, minha querida? — Perguntou


suavemente, tentando desviar sua atenção de sua atração
inconveniente por sua esposa. — Deus sabe que preciso de uma
distração agradável.

A maioria das mulheres teria desmaiado com tal pergunta.


Nell jogou a cabeça para trás e riu.
— Suponho que seja você e o resto do grupo a descobrir. —
Ela bateu nele na manga do casaco. — Agora, venha. É hora de
começar as festividades, e se for uma diversão de que você precisa,
tenho exatamente o que precisa, Simon querido.

Queridos céus.

Maggie entrelaçou as mãos nervosamente e caminhou por


toda a extensão do quarto ao qual fora designada por Lady
Needham. Era o quarto de um homem. Disso tinha certeza. Mas,
de quem? Temia que charadas perversas fossem muito perversas
para sua sensibilidade.

Nell, como costumava ser chamada, explicara alegremente


que cada dama deveria se retirar para um quarto designado, e
aguardar os parceiros que ela escolhesse. Após a chegada de seus
parceiros, as charadas aconteceriam. Eles deveriam registrar o
placar e anunciar os vencedores no jantar. Claro, Nell havia
acrescentado com uma piscadela, a parte perversa das charadas
era deixada para a imaginação dos próprios jogadores.

Diabólico abanou as bochechas aquecidas com a mão. Talvez


não fosse tarde demais para escapar. Estava decididamente na
toca do coelho e definitivamente perdida. Um escândalo deveria
bastar. Não desejava criar um segundo. Com sua decisão tomada,
correu para a porta, seus chinelos de seda raspando no tapete.

A porta se abriu, parando-a completamente. Seu coração


disparou, seu estômago parecia estar se inclinando como uma
carruagem em fuga. E então, o nervosismo rapidamente se
transformou em uma sensação muito mais inebriante.

Antecipação.
Era ele.

Ele também se acalmou, seu olhar queimando no dela. Sua


boca sensual se apertou em aparente desagrado. Estaria
esperando outra pessoa? Talvez a noite passada fosse tudo o que
ele queria dela. Talvez ela o tivesse desapontado com sua inocência
desajeitada. Também havia o problema da mulher que ele amava.
Até Lady Needham sabia de seu passado, e ele mesmo disse a
Maggie que amava a mulher há muitos anos. Uma emoção tão forte
não se dissiparia facilmente. Talvez nutrisse arrependimentos.

— Você, — disse ele, a palavra solitária cheia de emoção.

Raiva? Irritação? Ela não saberia dizer.

— Senhor, — disse desajeitadamente, curvando-se em uma


reverência. Provavelmente era uma demonstração boba de
formalidade em suas circunstâncias, mas ela estava
insuportavelmente nervosa. Qual era o protocolo adequado para
saudar o homem que fizera amor apaixonadamente na noite
anterior, o homem cujo nome e rosto desconhecia?

— Maldita Nell por isso, — ele rangeu. — Ela acha que está
sendo inteligente.

Ele não gostou. Na verdade, parecia tão tenso quanto a mola


de um relógio. Ela vacilou, perdida.

— Inteligente? — Lady Needham sabia o que havia acontecido


entre eles? A perspectiva era mortificante, mesmo que fosse o que
ela precisava para que seu escândalo criasse raízes.
— Deixa para lá. — Ele fechou a porta às suas costas antes
de entrar no quarto. — Parece que estamos à mercê dos caprichos
de nossa anfitriã.

Ela o observou.

— Lamento que você ache minha companhia tão ofensiva.

Ele franziu a testa, seus olhos escurecendo para uma


esmeralda profunda e brilhante. Parou a apenas um passo dela,
cerrando os punhos.

— Não exatamente ofensivo. Há coisas na situação aqui que


você não entende.

Foi a vez de ela franzir a testa.

— Você está certo ao dizer que não entendo o motivo de seu


repentino descontentamento. Mas talvez você possa me esclarecer.

— Poderia. — Ele girou nos calcanhares e deu-lhe as costas,


caminhando na direção oposta. — Mas não quero, e acho que estou
muito velho para um jogo de charadas perversas.

Ele alcançou a porta, preparando-se para deixá-la, e naquele


momento a percepção de que ele poderia facilmente destruir seus
planos em pedaços a atingiu. Que tudo o que ela já tinha feito,
todos os riscos que correu, poderiam ser em vão se ele optasse por
não desempenhar seu papel no escândalo. Que depois de tudo isso,
ela ainda acabaria miserável e sozinha, incapaz de se divorciar de
Sandhurst, e seguir em frente com sua vida.

Correu atrás dele, o desespero correndo por ela.

— Espere!
Ele parou, mas não se virou para encará-la, não disse uma
palavra. Sua cabeça estava inclinada como se travasse algum tipo
de batalha interna.

Incerta, agora que ela o fez parar, colocou a palma da mão em


seu ombro. A liberdade estava ao seu alcance. Ela não podia
permitir — não podia permitir que ele — escapulisse. Antes que
pudesse repensar suas ações, aproximou-se, suas saias roçando
suas calças, e colocou os braços em volta de sua cintura magra.
Encostou a cabeça nas costas dele, respirando seu aroma picante,
saboreando sua proximidade, seu calor sedutor irradiando para
ela.

— O que você está fazendo? — Sua voz soou grossa.

Quão rouco.

— Abraçando você.

— Por quê?

— Porque não poderia deixar você ir sem tocá-lo mais uma


vez. — Ela corou, embora ele não pudesse ver seu rosto. Em mais
de um sentido, era a verdade. Não podia deixá-lo ir, não podia
desistir de seu sonho de escapar de seu casamento intolerável. Mas
também gostava de tocá-lo. Ele a fazia sentir coisas, sensações que
nem mesmo Richard havia inspirado.

Ele ficou tenso.

— Você não sabe com o que está jogando, minha senhora.

— Você está absolutamente certo. Eu não sei. — Mas ele não


se libertou, e isso tinha que contar para alguma coisa.
Ele agarrou a mão dela e arrastou-a até a abertura da calça.
Ele já estava duro, mas quando os dedos dela o tatearam, ficou
positivamente rígido. Ele prendeu a respiração. Um calor em
resposta floresceu através dela.

— É isso que você quer? É para isso que veio aqui? Para trair
seu marido?

— Sim. — Outra verdade, arrancada dela. — Você vai me


ajudar?

— Não, porra. — Sua voz era baixa. — Já foi feito dano


suficiente.

Mas ele não se afastou, e nem ela. Havia algo potente e pesado
naquele momento. Seu coração bateu forte contra o peito.

— Por favor? Preciso ter um amante.

Um som estrangulado saiu de sua garganta. — Você precisa


ter um amante?

— É uma necessidade. — Ele não entendia, mas ela também


não exigia que ele entendesse. — Meu futuro depende disso.

Ele soltou a mão dela, seu corpo inteiro enrijecendo.

— Talvez eu conheça seu marido, senhora. Talvez seja até um


amigo meu. Você já pensou nisso?

Claro que ela não tinha. Mas, Sandhurst dificilmente parecia


o tipo de homem que tinha amigos. Ele era um libertino sem
coração. Um canalha frio e insensível.

— Duvido que você seja amigo de um canalha assim.


— Você não me conhece, minha senhora. — Ele deu uma
risada sombria e amarga. — Ou, talvez conheça. Qual seria pior, o
que você acha?

Com as máscaras bem colocadas, era fácil imaginar que eram


estranhos que nunca haviam se cruzado. A suspeita a picou. O que
estava por trás de sua mudança radical? Por que ele faria essas
perguntas?

— Nós nos conhecemos? — perguntou, curiosa.

— Acredito que sim, — ele respondeu enigmaticamente.

Parecia que ele conhecia sua identidade apesar de sua


máscara. Lady Needham havia contado a ele?

— Você sabe quem eu sou?

— Não. — Ele finalmente se virou, passando os braços em


volta da cintura dela. — Começo a pensar que não.

Ele tomou sua boca em um beijo devastador então, quente e


faminto, aberto e possessivo. Ela retribuiu o beijo, prendendo os
pulsos em seu pescoço e pressionando o corpo contra o dele. Suas
línguas se enredaram quando ela o acolheu mais uma vez,
provando-o. Seus mamilos endureceram sob sua camisa e o atrito
duro de seu espartilho. Seus dedos se afundaram em seu cabelo
grosso e macio. Oh, meu Deus, ela estava pegando fogo. O que este
homem fez com ela? Viveu vinte e dois anos sem nunca se sentir
como se estivesse prestes a explodir em chamas. E ainda agora,
aqui estava ela, impotente na escravidão deste estranho.

Ele arrastou os lábios pelo seu pescoço, sugando sua pele


sensível enquanto desabotoava os botões delicados que revestiam
a frente de seu corpete. Ela ficou instantaneamente grata por ter
escolhido usar seu vestido de seda roxa Worth. O corpete era
separado das saias, facilitando sua retirada. Não tinha pensado
nisso naquela manhã, quando sua criada a vestiu. Mas agora,
estava incrivelmente feliz. Ser despida por ele era totalmente
delicioso, um mundo de distância de ser despida discretamente por
sua criada de quarto. Este homem saboreou cada botão aberto,
cada centímetro exposto de sua pele. Ela o ajudou desatando os
laços elaborados em seus cotovelos e tirando o corpete dos ombros.
Ele o puxou como se não fosse mais importante do que uma mosca,
jogando-o no chão em um sussurro.

Ela estava diante dele em seu espartilho de linho e suas saias


elaboradas. Não importa como ela iria se arrumar. Tudo em que
conseguia pensar era em sucumbir mais uma vez à paixão mútua.
Não esperava desfrutar de sua queda em desgraça ou se deleitar
com isso. Pensou em ser estoica, em fechar os olhos e separar a
mente de seu corpo. Ela nunca tinha imaginado isso.

Ele a beijou, demoradamente e forte. Ela o encontrou com


todo o desejo clamando. Quando finalmente ele afastou a boca, ela
o olhou fixamente, sem vacilar. Sempre se considerou uma mulher
de coragem.

— Você será meu amante, meu senhor? Ou preciso encontrar


outro?

Ele ficou rígido, sua expressão dura de raiva.

— Não haverá nenhum outro. Saia daqui. Nada espera por


você neste covil de devassidão além da decepção. Vá para casa,
minha senhora.
Um calafrio caiu sobre ela que tinha menos a ver com o ar frio
do quarto do que com sua advertência cortante.

— Acho que vou precisar encontrar outro, então. Há vários


outros cavalheiros que serviriam.

Isso era mentira, claro. Não queria outro cavalheiro. Por


razões que não se importou em examinar, queria o estranho frio
diante dela, com a boca sensual e queixo forte. Mas ele não a
queria, parecia, e ela tinha muito pouco tempo a perder. Não
conseguia se livrar da sensação de que Lady Needham era a chance
de que precisava.

Ele agarrou sua cintura, prendendo-a quando ela teria


recuado.

— Não fui claro? Não haverá outro cavalheiro. Você já teve seu
quinhão de carne.

A derrota caiu pesadamente sobre seus ombros. Este homem


era um enigma, pronto para saqueá-la em um momento e a clamar
consciência no próximo. De sua parte, ela escolheu não se
envergonhar. Seu marido não tinha consciência, então por que ela
deveria? Seu coração estava endurecido há muito tempo.

Ela endireitou os ombros e olhou-o em desafio.

— Alguém poderia argumentar que foi você quem teve seu


quinhão de carne. Talvez isso tenha sido um erro, afinal.

— Claro que é um erro. — Seus dedos se apertaram sobre ela.


— Mas agora fomos longe demais e não podemos desfazer o que já
foi feito.
Ela teve a sensação, mais uma vez, de que ele falava além de
sua compreensão. Ele sabia de algo que ela não sabia e que a
incomodava bastante. Talvez ela tivesse descoberto o motivo de sua
estranha pergunta sobre seu marido na noite anterior.

— É ela? — perguntou antes que pudesse pensar melhor. —


A mulher que você ama. Ela é sua esposa?

Seus lábios se apertaram.

— Não.

— Você deve amá-la muito.

Ele ficou olhando.

— Não entendo você muito bem, mulher. Apenas alguns


momentos atrás, você estava esfregando meu pau como uma
cortesã experiente, e agora você quer falar sobre meu passado
como se estivéssemos tomando chá e bolinhos.

Ela empalideceu e afastou-se. Talvez o tivesse confundido


inteiramente.

— Nem entendo você, meu senhor. Mas posso ver agora que
você não é o homem que pensei que fosse. — Lágrimas ameaçando
humilhá-la se acumulando em seus olhos, ela abaixou-se para
recuperar seu corpete. Enfiou os braços nas mangas e puxou a
seda aberta em uma tentativa pobre de modéstia. Seu orgulho não
lhe permitiria o tempo necessário para abotoar os botões. — Acho
que você deveria encontrar outra parceira para charadas
perversas.

Ele zombou.
— Você quer que eu foda outra pessoa? Você se importaria de
assistir? É isso? A pequena festa de Lady Needham já a corrompeu
tão completamente?

Maggie engasgou-se com suas palavras grosseiras.

— Não. Como você ousa?

— Como ouso? — Ele riu, mas foi uma risada amarga e


cansada. — Como você ousa? — Ele a pegou pela cintura mais uma
vez, ancorando seu corpo. — Como ousa me fazer te querer tanto
que você é tudo em que posso pensar? Como se atreve a me beijar
e me tocar até que eu queira tanto tomá-la que dói? Você não é
inocente neste jogo perverso que jogamos, minha querida, e sabe
disso.

Sua boca desceu sobre a dela, possessiva e firme. Ela não


queria desfrutar de seu beijo, pois estava misturado com raiva,
mas não poderia negar a maneira como ele a fazia se sentir. Era
elementar, primitivo. Potente. Também estava zangada com ele por
sua frieza repentina em relação a ela, desejando que seus lábios
permanecessem quietos. Não deveria retribuir o beijo. Não queria
feiura entre eles.

Ele recuou, olhando-a. Seus olhos escureceram com uma


paixão tão tempestuosa que ficaram mais castanhos do que seu
tradicional verde.

— Beije-me, maldita seja.

— Quem é você? — Ela perguntou, seus dedos viajando para


as bordas de sua máscara preta. Quis saber com um desespero
que puxou seu coração.
— Ninguém para você. — Ele puxou as mãos dela. — Você
mudou de ideia tão rapidamente, minha senhora?

— Você mudou para mim. — Seu olhar nunca se desviou do


dele. — Você me insultou, meu senhor.

Ele traçou seu lábio inferior com o polegar, olhando para ela
com atenção.

— Sinto muito por ter te insultado.

— Você sente? — Não tinha certeza se acreditava nele. O


desejo era uma coisa. Auto-respeito era outra completamente
diferente. Seu marido a tratava como se ela não fosse nada mais
importante do que uma partícula de fiapo em seu casaco, e ela
estaria condenada se permitisse que outro homem fizesse o
mesmo.

Ele inclinou a cabeça.

— Sinto. Você me afeta e não gosto disso.

Ela ouviu um fio áspero de honestidade em sua voz. Por


alguma razão, acreditou nele. Ele parecia tão perdido em seu
labirinto de sedução quanto ela. Seu polegar ainda distraidamente
esfregava seu lábio. Queria seu dedo, mas de alguma forma
reprimiu o desejo.

— Isso não é desculpa para um comportamento abominável,


— ressaltou.

Sua mandíbula cerrou.

— Estou ciente, mas existem outros fatores que você não pode
saber.
Mas ela queria conhecê-los. Ele não queria compartilhar. Era
porque não confiava nela? Algo estava acontecendo e estava
determinada a erradicá-lo pela sua raiz insidiosa. Agora, porém,
não era a hora. Ela respirou fundo.

— Aceito suas desculpas.

Ele pareceu relaxar, sua boca se curvando em um sorriso.

— Obrigado.

— Mas não quero mais brincar de charadas no momento, —


ela se forçou a dizer. — Impertinente ou de outro jeito. Acho melhor
voltar para o meu quarto agora mesmo.

Seu sorriso desapareceu.

— Como quiser.

Ela se afastou novamente, agarrando seu corpete mutilado


como se fosse um escudo.

— Eu o verei no jantar, meu senhor.

Com isso, ela quase fugiu do quarto dele antes de fazer algo
terrivelmente tolo. Antes que se virasse, e se jogasse de volta em
seus braços.
O JANTAR DAQUELA NOITE FOI UM EVENTO SUNTUOSO servido à
moda russe e carregado com ostras, trutas, faisões, galantinas,
frutas de estufa, creme fresco e estoques infinitos de vinho. Em
suma, Nell havia inventado mais um deleite indulgente com tudo o
que um homem poderia desejar. Conforme a noite avançava, a
companhia ficava cada vez mais barulhenta, as mulheres rindo
com alegria cada vez maior, os homens rindo e piscando enquanto
avaliavam suas próximas conquistas. Simon desejou que pudesse
desfrutar da exibição hedonística, mas sua mente estava muito
preocupada com os pensamentos sobre ela.

Ainda não queria pensar nela pelo nome de batismo, e


certamente não pelo diminutivo que ela preferia, pois isso tornaria
sua loucura muito mais real. Tomou um gole de vinho e depois
outro. Ela estava sentada em frente a ele. Mais um exemplo das
maquinações imorais de Nell.

Ele ergueu os olhos do prato, seu olhar indo infalivelmente


para sua esposa, que estava vestida com perfeição em um vestido
de noite completamente preto que complementava o fogo de seu
cabelo. Ela estava fazendo o possível para flertar com o homem
sentado à sua direita, que ele estava convencido de que era o
lascivo duque de Dunsmere. Ele reconheceria o bastardo em
qualquer lugar. Maldito homem, cuja reputação de libertino de
primeira linha o precedia. Simon encontrou-se carrancudo para o
par enquanto eles riam de alguma bobagem.

Dunsmere não era a companhia adequada para nenhuma


dama, e certamente não para a marquesa de Sandhurst. Se ela
tinha uma reputação a manter, porque destruí-la. É melhor ela não
aceitar o homem como amante. Afinal, ela tinha a missão de traí-
lo. O que ela tinha dito? Há vários outros cavalheiros que serviriam.
Uma sensação desconfortável perfurou seu intestino, e parecia
muito com ciúme.

Ciúmes?

Absurdo. Deitou-se com a esposa, e gostou. Nada mais. O que


lhe importava se ela ficasse com Dunsmere em seguida, contanto
que o fizesse em discretamente? Ele não tinha nada a ver com isso,
disse a si mesmo com firmeza. Ele não precisava de herdeiros dela.
Se ela o traísse, isso dificilmente importaria. Seu orgulho o havia
vencido antes, mas agora sua cabeça estava muito mais fria.
Estava aliviado por ela estar dando tanta atenção ao piolho, de
verdade estava, pois isso o libertava de seu fardo. Estava livre para
encontrar outra mulher e se perder nela.

Sua esposa riu, o som gutural e sedutor, e seu pênis ficou


instantaneamente duro. Droga, droga e droga de novo. Estava
mentindo para si mesmo. Sua paciência o abandonou.

— Compartilhe o motivo de sua frivolidade, — falou alto. O


par se virou com olhares chocados. Ele lutou contra um rubor,
ciente de que estava se comportando de maneira grosseira.
— Perdoe-me? — Os olhos violetas de sua esposa estavam
sobre ele, prendendo-o em seu assento como se fosse um inseto
preservado em exibição.

Ele resistiu ao impulso de ficar inquieto, sentindo-se um


pouco como um garoto sendo repreendido por uma governanta
malvada.

— Eu meramente perguntei sobre a fonte de sua alegria.

O duque ergueu a taça em uma saudação simulada,


aparentemente rindo dele.

— Você, meu velho.

O inferno que ele tinha. Simon apertou a haste de sua taça


de vinho com tanta força que não ficaria surpreso se quebrasse.

— Tenho certeza de que me enganei com você.

— Não. — O cínico tomou um gole de seu vinho, sorrindo. —


Não acho que você tenha. Eu disse muito claramente agora que
estávamos rindo de você.

Simon não pensou duas vezes. Ele ficou de pé. Sim, as


pistolas ao amanhecer já haviam sido proibidas há muito tempo,
mas os punhos certamente não. Ele iria muito bem transformar o
sujeito em uma polpa. Quebrar seu nariz de falcão. Abrir seu lábio
zombeteiro.

— Me encontre lá fora, — exigiu. — Agora.

Seu nêmesis sorriu ainda mais, parecendo contemplar sua


demanda.
— Não, — ele falou lentamente, soando como se não se
importasse. — Acho que não irei, meu velho. Sente-se e alise suas
penas eriçadas.

Ele balançou a cabeça lentamente. Caramba, os últimos dois


dias o colocaram à prova. Tudo o que queria era um pouco de paz
e companhia, uma maneira de se distrair de Eleanor. Em vez disso,
descobriu a paixão mais sedutora de sua vida com uma mulher a
quem ele passou ressentindo no último ano. E agora esse canalha
ousava rir dele na frente de todos, sugerindo que tinha penas como
se fosse uma espécie de galo velho se pavoneando no galinheiro.
Este desaforo foi o suficiente.

— Não irei, — rosnou. — Seja um cavalheiro e me encontre lá


fora.

— Isso é estranho. — O bastardo teve a ousadia de piscar sob


sua máscara. — Eu não sou um cavalheiro. Qualquer um que me
conhece poderá te dizer isso. Na verdade, orgulho-me da minha
falta de conduta cavalheiresca.

— Oh, amor dos anjos abençoados. — Nell levantou-se de seu


assento na cabeceira da mesa, duas manchas rosadas nas
bochechas. Ela parecia estar em levemente aborrecida. — Não
permitirei que toda essa postura masculina ridícula estrague meu
jantar. Sente-se imediatamente, Simon.

Ele deu a ela um olhar de advertência. Pode haver um número


infinito de Simons no mundo, mas é melhor ela não revelar seu
nome completo. Meu Deus, todos estariam melhor se sua esposa
nunca soubesse a identidade do homem que tirou sua inocência.
Mas, ainda não estava disposto a permitir que Dunsmere o
insultasse diante de todos sem reparação.

— Fui gravemente insultado, — disse por fim.

— Que besteira. Você já esteve no centro de uma piada. — O


duque bebeu os restos de seu vinho e gesticulou para que um
lacaio o enchesse. — Nada mais. Esta é para ser uma festa alegre,
não é, Lady Needham? Na verdade, estávamos falando sobre a
tentativa equivocada de minha adorável companheira de patinar
no gelo, quando ela morava num lugar devastado de Nova Jersey.
Não é verdade, minha querida?

Seus olhos ainda estavam fixos nele. Não sabia dizer se lia
horror, desânimo, desgosto ou uma combinação dos três no olhar
dela.

— Nova York, — ela corrigiu calmamente. — E sim, nós


estávamos. Sinto muito, senhor, pelo mal-entendido.

Estava tudo bem ele ser um bundão na cambalhota feita por


Dunsmere, e agora ele se sentia como um idiota. Sentou-se porque
não havia mais nada a fazer, a não ser marchar ao redor da mesa
e esmurrar o duque com seu semblante detestável e risonho.
Certamente este último tinha seu quinhão de apelo, mas não havia
necessidade de continuar a fazer papel de bobo.

— Adorável, meu senhor, Sua Graça. Estou aliviada por ter


sido uma boa diversão. — A voz de Nell estava irônica. — Agora
acalme-se, Sandhurst. Atrevo-me a dizer que não se quis dizer
nada desagradável.

Sandhurst.
Maldito, maldito inferno. Ela escorregou e falou seu nome. Ele
ficou tenso, seu olhar balançando de volta para sua esposa. Sua
pele de marfim adquiriu uma palidez cerosa repentina. Ela olhou-
o com tal intensidade que ele temeu que ela penetrasse no
conteúdo de sua alma negra. E não tinha dúvidas de que ela não
gostou do que viu.

Ela sabia. Esses olhos violetas escureceram para um azul


violento e tempestuoso. A senhora não gostou. Na verdade, nunca
tinha visto uma mulher parecer mais irada do que naquele
momento. Tão rapidamente quanto seu rosto empalideceu, suas
bochechas ficaram vermelhas, sua boca comprimindo em uma
carranca severa. Se ela estivesse equipada com uma arma,
provavelmente a teria atirado na cabeça dele com a intenção de
mutilá-lo.

— Cristo. — A sorte estava lançada. Havia apenas um


Sandhurst. Ele não poderia sair disto. Disse a si mesmo que não
deveria importar, que não planejava vê-la novamente depois desta
festa nesta casa de campo, de qualquer maneira. Odiava ter sido
aprisionado à uma esposa que ele não queria e nem amava.
Certamente, detestava a lembrança de que havia sido forçado a
vender seu título para o pai dela ou enfrentaria a ruína financeira.

Mas, enquanto ela se levantava, pressionando a mão no


diafragma como se estivesse prestes a ficar doente, ele sentiu uma
facada como se uma punhalada de compaixão o atingisse. Eles
fizeram amor, e aquele ato simples alterou para sempre a maneira
como ele a via, gostasse ou não. Ele nunca teve a intenção de
consumar seu casamento. Ele pensava que, se não podia ter um
filho com Eleanor, não precisava de um, nem se importava se seu
título passasse para um parente distante da sarjeta. Mas agora,
tinha feito exatamente a coisa que jurou nunca fazer, e ao fazê-la,
a machucou. Sem querer, mas a machucou do mesmo jeito.

Ela murmurou um pedido de desculpas a Nell e, com a outra


mão pressionada contra a boca, fugiu da sala de jantar diante dos
espectadores chocados e risonhos. Ele observou o redemoinho de
sua cauda de seda preta desaparecer em uma esquina,
perguntando-se se deveria segui-la. Devia-lhe uma explicação?
Disse a si mesmo que não, que ela era tão culpada quanto ele.
Afinal, ela havia flertado perversamente e o convidado para seu
quarto, declarado sua intenção de tomar um amante e torná-lo um
corno. Se ela não tivesse, ele teria encontrado outra pessoa, alguém
que não era sua esposa, e desfrutado de seus encantos.

Só que não teria sido o mesmo. Ela tinha encontrado a sua


direção através das paredes que ele construiu entre eles,
esgueirando-se sobre a barreira como se ela fosse uma ladra. Por
alguma razão, o nome dela fez seu caminho em sua mente naquele
momento, o nome que ela pediu que a chamasse na noite de
núpcias, pouco antes de deixá-la. O nome que se recusava sequer
a pensar.

Maggie.

Ele olhou para Nell, que parecia tão abalada quanto ele.

— Você deve ir atrás dela, Simon, — ela disse calmamente. —


Sinto muito. Eu nunca quis...

— Mas você fez, maldita. — Sua voz estava mais cortante do


que ele pretendia, mas não se importou. — Você fez, e agora terei
que arcar com as consequências.
Ele se levantou, sabendo que Nell estava certa. Ele tinha que
pelo menos seguir Maggie. Talvez ele devesse muito a ela. Não era
totalmente feito de pedra. Ele tinha um coração, mas foi tomado
por outra. Cristo, estava confuso. Sua vida estava desmoronando
como se fosse uma camisa malfeita, com as costuras abertas.
Droga, tinha que tentar acabar com a loucura.

Maggie correu pelos corredores para a santidade de seu


quarto, correndo tão rápido quanto os saltos de seus chinelos de
noite permitiam. Seus arredores eram um borrão, enquanto sua
mente corria para compreender a verdade devastadora que Lady
Needham involuntariamente divulgou. O homem que havia
mostrado os prazeres escondidos em seu corpo, que a beijou e fez
amor com uma paixão que ela nem sonhava que existisse, era o
homem de quem tentava escapar. Ele era o marido que não falava
com ela há mais de um ano, o estranho, porém bonito, que
corajosamente proclamou seu amor por outra mulher e se recusou
a consumar seu casamento. O homem que vivia em pecado com a
esposa de outro homem.

Sandhurst.

Marido dela. Por que ela não sabia? Na esteira de sua


descoberta, tudo começou a fazer sentido. Nell sabia, ela percebeu,
recordando a reação de sua anfitriã quando se apresentou como
Lady Sandhurst. Você não sabe, ela disse.

Claro que não, mulher tola que era. Ela tinha estado muito
cega por um sorriso bonito, um toque de conhecimento e a
promessa de seu plano se tornando realidade para ver o que todo
mundo já sabia. Incluindo Sandhurst. As palavras dele se
repetiram em sua mente enquanto ela continuava sua retirada
determinada.

Você.

Há coisas acontecendo aqui que você não entende.

Talvez eu conheça seu marido, senhora.

Ela se sentiu mal quando todas as ramificações a atingiram.


Felizmente, alcançou a porta de seu quarto e se jogou para dentro,
batendo-a nas costas. Ele a enganou, mentiu para ela, seduziu-a.
Mas, por quê? O que teria a ganhar? Se ele quisesse finalmente
consumar seu casamento, poderia ter feito a qualquer momento.
Não precisava ter se disfarçado e brincado com ela. Não fazia
sentido.

Com um grito de pura raiva, tirou a máscara boba do rosto.


Isso lhe fez bem. Essa teria sido sua única chance de escapar da
solidão de seu casamento. E ele tinha arruinado isso tão bem
quanto tinha arruinado o ano anterior. Por um dia milagroso, ela
recebeu esperança de novo, e agora ele havia tirado tudo. A traição
a atravessou.

Ela tirou os brincos e os jogou na penteadeira, depois tirou o


colar antes de ir para o cabelo. Embora soubesse que deveria
esperar pela ajuda de sua criada, foi dominada pela necessidade
de escapar das vergonhas da elegância. Queria gritar e bater os
punhos. Em vez disso, arrancou sistematicamente os grampos de
seu penteado dramático. Um cacho grande caiu, roçando seus
ombros.

De repente, sua porta se abriu.


Ela girou, o coração batendo forte de descrença, para
encontrar Sandhurst entrando como se pertencesse ali. Ele bateu
a porta atrás de si, arrancando um estremecimento dela. Tentou
não notar a bela figura que ele fazia em seu fraque de noite. Alto,
elegante e esguio. Porra, estava atraída por ele como sempre, o
desejo que sentia era elementar e inegável, mesmo quando queria
correr para ele e esmurrar seu peito largo.

— Maggie, — ele começou com aquele seu sotaque aveludado


familiar, — tudo isso pode ser explicado.

Ela cruzou os braços em uma demonstração de desafio e o


encarou com um olhar feroz.

— Não me chame disso. Apenas minha família e amigos têm


permissão para se referir a mim dessa forma.

Ele parou no meio da sala, seus olhos procurando os dela.

— Eu sinto muito.

Ela deu uma risada amarga.

— Sente muito, pelo quê? Sente muito por ter sido pego? Por
ter mentido para mim? Por fingir ser outra pessoa que não o marido
que me abandonou no ano passado?

Ele se encolheu.

— Suponho que mereço seu desprezo.

— Você supõe? — A temeridade do homem não conhecia


limites. — O que você realmente merece é um soco direto em seu
rosto arrogante, e não desprezo. Você deve se considerar
afortunado por eu não ser uma mulher violenta.
— Tenho certeza de que mereço tudo isso e muito pior. Mas
se importaria de me ouvir, ou você vai continuar sua reclamação
sem objetivo contra mim?

— Te odeio. — Ela não conseguiu se conter, embora soubesse


que estava agindo mais como se fosse uma menina de saia curta
do que uma mulher adulta. — Você também pode remover sua
máscara. Sei exatamente quem você é, para minha vergonha.

Ele a arrancou, jogando-a no chão. Por um momento, sua


respiração parou, pois ela havia esquecido o quão lindo ele era. Era
realmente um homem de boa aparência, com seu cabelo escuro,
queixo rígido, nariz aristocrático e lábios esculpidos. Mas sua
aparência escondeu uma alma fria e tortuosa.

— Não sabia que era você. — Ele efetivamente arruinou o


momento. — Você estava usando uma maldita máscara.

Ela não se comoveu com seus protestos de inocência.

— Não acredito em você.

— Não nos vemos há algum tempo, Maggie. — Ele caminhou


em sua direção, cortando a distância entre eles pela metade. —
Você também não me reconheceu. Você estava muito interessada
em revelar suas intenções de me trair.

— Eu disse para não me chamar assim. — Ela estava


determinada a se manter firme. — Se por 'algum tempo' você quer
dizer um ano inteiro, então está correto. Claro que não te
reconheci. Mal me lembrava de como você era. E não se atreva a
ficar indignado com minhas ações, senhor, pois isso faria de você
o pior tipo de hipócrita. Você obviamente sabia quem eu era.
Poderia dizer pela sua reação no jantar. Não sou uma idiota
completa.

— Eu sabia, mas só descobri quem você era esta manhã. —


Ele passou a mão pelo cabelo, deixando-o torto, e suspirou. — Tirei
sua máscara enquanto você dormia.

Ela contemplou o que ele disse, e teve que admitir que fazia
sentido. Sua reação a ela durante as charadas tinha sido muito
diferente da do amante apaixonado da noite anterior. Ele
descobrira quem ela era e não a queria mais, pelo menos não da
mesma forma de antes. Sim, fazia um sentido devastador e terrível.

Ela olhou fixamente, tentando não notar o quão perto ele


estava ou que podia sentir seu cheiro masculino de sabão e
almíscar.

— Por que você veio aqui, Sandhurst?

— Para a casa de Lady Needham? — Ele parecia


desconfortável. — Deveria pensar que pelas mesmas razões que
você.

— Não. — Ela balançou a cabeça, sua raiva murchando por


dentro como um balão de ar quente ficando mole. — Por que você
veio ao meu quarto?

— Não sei. — Um tom subjacente de honestidade afiou sua


voz.

Ela se afastou, a visão dele a machucando muito.

— Você pode ir. Devo voltar para a casa em Londres ao


amanhecer. — Ela preferia Londres à propriedade rural, sempre
preferiria, e não ligava para o costume da moda de deixar a cidade
no final do verão. — Mas não se engane sobre eu querer o divórcio,
Sandhurst. Vou criar o pior escândalo que você já viu se não
concordar comigo.

Ele a seguiu, pegando seu braço nu. Seu toque era uma
marca quente em sua pele. Ele a girou de volta para encará-lo.

— Nunca tive a intenção de te machucar.

— Suas intenções são discutíveis, pois já me machucou. Mas


esta será a última vez. — E ela nunca quis dizer as palavras que
estava dizendo mais do que essas. Ela iria evitá-lo em todas as
oportunidades. Céus, se precisasse, voltaria para Nova York. A vida
que estava vivendo na Inglaterra não trazia nada para ela, exceto
decepção e solidão.

— Sinto muito, — disse ele novamente, ainda a segurando. —


Não haverá divórcio, Maggie. O escândalo seria maior do que
qualquer delito que você pudesse cometer ao se deitar com algum
libertino inútil como Dunsmere.

— Vou para a cama com ele e uma dúzia de outros, — ela


jurou. — Vou dormir com lacaios. Vou para a cama com seu
príncipe. Farei qualquer coisa para ser livre.

— Você não vai fazer nada disso, maldita. — Sua expressão


era dura e sombria, de alguma forma condenatória e cativante ao
mesmo tempo. — Não haverá divórcio.

Ela pensou no que ele lhe disse na noite anterior, quando ele
não sabia sobre em quem estava usando seus encantos. Seu
coração tinha sido partido por uma amiga muito antiga e querida,
ele disse. Lady Billingsley. O lembrete esfriou seu sangue. Ele
nunca se importou com Maggie. Sempre tinha sido sua amante que
ele queria em sua vida, e deixou esse fato bem claro. Ela havia
desistido do homem que amava para se casar com ele, e ficou sem
nada.

— Volte para a sua Lady Billingsley. — Ela cravou as palmas


das mãos em seus ombros, tentando se libertar. — Tenho certeza
de que qualquer desgosto que você sofreu nas mãos dela poderá
ser consertado.

— Lady Billingsley voltou para o marido, — disse ele, com a


voz áspera.

— Foi decisão dela, — ela adivinhou, entendendo-o um pouco.


Talvez não fosse um canalha insensível, pois parecia que havia sido
ferido pela deserção da mulher. Mas ele ainda era um marido
horrível e amoral, e ela não devia amolecer.

Ele inclinou a cabeça, sua expressão impassível.

— A decisão não foi minha.

Precisamente como pensava. Ele nunca teria encerrado seu


caso. Lady Billingsley o havia deixado e, em vez de voltar para a
casa de sua esposa, ele foi procurar outra mulher para dormir.
Como ousava?

— Temo que você terá que encontrar outra mulher para servir
como sua prostituta, — disse friamente. — Não serei sua
substituta.

— Não estou procurando uma substituta, droga. — Seus


olhos brilharam nos dela. Ele a puxou para seu corpo sólido.

Ela manteve as mãos entre eles, uma cunha de reforço.


— Então, por que você está aqui? — Perguntou novamente,
sentindo que a corrente entre eles tinha mais uma vez se infiltrado
em um território perigoso. Ela o estava pressionando e sabia disso,
mas queria sacudi-lo do jeito que ele a tinha sacudido. Queria
saber o porquê, depois de tudo que ele tinha feito a ela, ainda a
fazia se sentir trêmula por dentro.

— Porque não consigo ficar longe.

O reconhecimento parecia arrancado dele. Ela se acalmou,


estudando sua expressão em busca de qualquer indício de
subterfúgio, e não encontrando nenhum. Ele não queria sentir
nada por ela, isso era evidente. Mas sua noite juntos significava
algo para ele. Podia ver isso refletido em seu olhar e sabia que ele
via o mesmo no dela. Ela não pôde evitar. Que dicotomia tão
estranha, ter desenvolvido sentimentos por um amante apenas
para descobrir que o amante era um cônjuge odiado. Não é de
admirar que se sentisse como se estivesse com amnésia,
reaprendendo lentamente os pedaços de sua vida que havia
esquecido.

Tudo era novo, diferente. Nada era o que parecia, nem


Sandhurst, nem Maggie, nem o que ela acreditava. Pois este
homem havia posto fogo em seu sangue. Ele não era frio. Ele não
era odioso. Pelo menos, não quando pensava que ela era outra
pessoa.

Mas nada disso era suficiente. Ele ainda tinha sido um


marido péssimo e ainda mentia, humilhava-a.

— Não te entendo.
— Cristo, eu não me entendo. — Ele abaixou a cabeça até que
seus narizes quase roçassem. — Você é a última mulher no mundo
com quem eu queria fazer amor, e agora tudo que consigo pensar
é como é estar dentro de você. — Sua respiração caiu quente e fina
sobre seus lábios. — E como quero estar de novo.

O ar parecia ter sido sugado do quarto. Sua admissão direta


não deveria tê-la afetado. Mas seu pulso disparou. O calor deslizou
entre suas coxas. Uma pontada na barriga a deixou formigando.

Como sua raiva fugiu tão facilmente? Quando Richard a


cortejou, ela nunca sentiu o incrível tumulto que seu marido
produzia nela. Ela desejava Sandhurst, mas sabia que não deveria.
Amar Richard foi fácil, doce e leve. Sandhurst a afetou de uma
maneira totalmente diferente, sombria e consumidora.

Queria que ele a beijasse, mas sabia que não devia permitir.
Seu queixo ergueu-se por vontade própria, selando suas bocas. Ele
aceitou seu convite, moldando seus lábios nos dela em um beijo
apaixonado e reivindicativo. Ela se abriu, deslizando sua língua.
Ele provou o vinho que bebeu no jantar, doce e vibrante.

Ela passou os braços em volta do seu pescoço, os dedos


afundando alegremente em seu cabelo macio. Sofria por ele. Por
mais impossível e ilógico que fosse, o desejo que sentia era tão forte
como sempre, talvez a única verdade entre eles. Ela afastou a boca,
desesperada por respirar, e beijou o lado de seu pescoço. Suas
mãos foram para os botões que revestiam seu corpete, abrindo-os.

Então, a sanidade voltou para ela. Certamente ceder a ele


agora seria pior do que imprudente. Seria estúpido. Ela teve que
parar. Eles tiveram que parar. Mesmo que parar fosse realmente a
última coisa que quisesse fazer.

Ela empurrou seus ombros.

— Não podemos.

Ele parou seus esforços para tirar seu corpete, mas seus
dedos não se desviaram dos botões.

— Por quê? — Sua respiração áspera e irregular encheu seus


sentidos. Frustração e desejo se misturaram em sua voz.

— Porque você não gosta de mim, — ela se forçou a apontar,


— e eu não gosto de você.

Ele ergueu uma sobrancelha, olhando para ela como se ele


fosse um deus que acabara de ouvir que era mortal, afinal.

— O que o gostar tem a ver com isso? Somos marido e mulher.


Quero você e sei que você me quer, Maggie. Posso sentir o gosto em
seu beijo.

Ela se fortaleceu contra sua poderosa persuasão.

— É claro que estou atraída por você, ou melhor, pelo homem


que pensei que fosse. O problema é que agora você é mais uma vez
você, não ele.

Ele olhou-a.

— Droga, não tenho a menor ideia do que você está


tagarelando.

— O que sinto por você não é real, — ela explicou. — É para


o homem misterioso que conheci ontem à noite.
— Droga, eu sou esse homem. — Ele franziu a testa,
parecendo perplexo com a lógica dela.

— Não. — Ela se obrigou a não o puxar para outro beijo. Só


mais um, seu corpo mau persuadia. Mais um beijo, carícia. Mais
uma noite. — Você é o homem que está apaixonado por outra. Você
é o homem que me tratou como se eu não fosse mais importante
do que um livro empoeirado em sua biblioteca. Você é o homem
que me abandonou.

— Eu não te abandonei. Dei-lhe uma casa e carta branca para


comprar os enfeites que desejasse. O nosso casamento nunca foi
por amor.

Que tipo de raciocínio arrogante ele possuía. Não sabia que o


pai dela era um magnata do mercado imobiliário que possuía quase
metade de Nova York? Não eram vestidos e bugigangas que queria.

— Tive enfeites e casas toda a minha vida. Eu queria um


marido.

— Cristo. — Ele exalou, sua voz afiada, irritada. — Eu sou seu


marido.

— No nome, — ela insistiu, embora não fosse mais verdade.

— Não. — Ele segurou seu queixo com firmeza, forçando-a a


olhá-lo, quando ela teria se virado. — Sou seu marido tanto de fato
quanto de direito depois de ontem à noite.

Ela estava presa em seu olhar, o calor fervendo por seu corpo
traidor com a lembrança do que eles compartilharam.

— Foi por apenas uma noite.


— Acho que não, minha querida. Você pode se apegar à sua
hipocrisia esta noite, mas ambos sabemos que voltarei para sua
cama. Não haverá outros amantes. — Ele deslizou sua mão livre
dentro de seu corpete aberto, infalivelmente encontrando seu seio
sob o espartilho. Apenas o tecido fino de sua camisa separava sua
pele da dele. Seu mamilo endureceu. — Você me quer. Pode
racionalizar como quiser em sua mente, mas sou o homem que fez
amor com você na noite passada. Não existe homem misterioso.

Ele estava certo, maldito seja. Seu homem misterioso era uma
ficção. O homem que a tinha incendiado estava diante dela,
rolando seu mamilo entre o polegar e o indicador. Como poderia
juntar seu amante acalorado com seu marido gelado? Ela estava
em uma confusão desesperadora, e a pior parte é que ele fazia
sentido.

— Mas o que aconteceu entre nós na noite passada não tem


nada a ver conosco como marido e mulher. — Precisava resistir a
ele por causa de sua autopreservação.

— Talvez. — Ele ainda brincava com seu seio. — Ou talvez,


não. Tenho uma proposta. Esqueça seu plano maluco de me trair.
Pelo próximo mês, deixe-me lhe dar prazer. Mal tocamos a
superfície. Há muito, muito mais que eu poderia te mostrar, se você
apenas dissesse uma palavra.

Ele era um demônio. E ela era uma idiota, pois a oferta cortou
sua determinação de se livrar dele, minando-a.

— Não acho que seria sábio, — se forçou a dizer.

— Poucos interesses prazerosos são sempre sábios, —


ressaltou. — Bebendo muito vinho? Muito divertido, mas muito
sofrimento na manhã seguinte. Exagerar à mesa? Delicioso, mas
quanto mais velho você fica, mais ele cai em volta da sua cintura.
Receio que a sabedoria tenha pouco a ver com qualquer coisa que
valha a pena, minha querida.

Mais uma vez falou uma verdade inegável. Ainda assim, onde
a ideia de tomá-lo como amante a atraíra quando era um estranho,
agora parecia traiçoeira. Não podia se dar ao luxo de se envolver
mais com um homem que provou ser um canalha de primeira
ordem. Já havia sofrido muita solidão e miséria em suas mãos, e
certamente ele só poderia trazer mais.

— E depois que o mês acabar, o que vai acontecer, então? —


Exigiu. — Devemos simplesmente seguir caminhos separados,
como se nada disso tivesse acontecido? Estou livre para voltar para
minha vida em Nova York?

Seu olhar ficou fechado.

— Você ainda será minha esposa.

Não é particularmente reconfortante. Ela franziu a testa,


desembaraçando-se de seus braços com o coração pesado.

— Receio que não seja bom o suficiente para mim.

— Mas você sugeriu tal arranjo hoje cedo. — Ele parecia


irritado. — Você disse que precisava de um amante.

— Para torná-lo um corno. — O desafio a tornou ousada. —


Queria criar um escândalo tão grande que você não tivesse escolha
a não ser se livrar de mim. Viver no purgatório não me convém,
Sandhurst. Quero ir para casa se não quiser ser uma esposa. Estou
cansada dos olhares de piedade de estranhos. — Todos sabiam que
ela se casou com um título, e Sandhurst com uma fortuna. Assim
como todos sabiam que ele passou todo o ano de casamento
vivendo separado dela, traindo o visconde Billingsley.

Sua mandíbula se apertou.

— Para o inferno com os estranhos. Você é minha maldita


marquesa. Ontem à noite, tomei sua virgindade. Não há como
voltar atrás, droga. Estamos irrevogavelmente unidos. Não haverá
escândalo.

Ela se recusou a permitir que ele a intimidasse.

— Tudo na vida pode ser desfeito, meu senhor. Meu pai me


ensinou isso.

— Seu pai está errado.

— Não acho que ele está nesse ponto.

Eles se encararam, chegando a um impasse.

Ele circulou seu mamilo com o polegar, e ela não podia negar
a onda aguda de desejo que o toque simples e único enviou através
dela.

— Você me quer.

— Quero o homem que pensei que você fosse. — A distinção


era importante para ela.

— Que sorte. — Ele puxou seu mamilo entre o polegar e o


indicador. — Pois eu quero a mulher que pensei que você fosse.
Vamos nos perder. Vamos esquecer quem somos, por que estamos
aqui, e tudo o que veio antes. Um mês, Maggie.
Realmente tentador, mas ela se recusou a agitar a bandeira
da rendição.

— Deve ser nos meus termos.

— Seus termos. — Sua voz era monótona.

Ele não queria conceder-lhe o divórcio. Isso era evidente.


Talvez houvesse outra maneira de conseguir o que queria.

— Sim. Meus termos. Vou concordar com um mês. Durante


esse tempo, você não pode perseguir nenhuma mulher além de
mim. — Respirou fundo antes de continuar. — E depois que o mês
acabar, podemos ambos perseguir quem quisermos. Se eu quiser,
posso voltar para Nova York. Não vou pedir o divórcio enquanto
estiver livre para viver como achar melhor.

Ele não pareceu satisfeito com a ideia.

— Nós dois?

Ela não iria ceder nisso. Não tinha nenhuma intenção de se


sentir miserável e solitária novamente, presa em uma vida e um
lugar que não queria.

— Nós dois.

— Prometa-me que não perseguirá Dunsmere, — ele


murmurou. — Eu não aguentaria.

— Infelizmente, não o conheço, — disse-lhe com sinceridade.

— Ele era... — Sandhurst balançou a cabeça. — Deixa para


lá. Não importa mais. Bem. Concordo com seus termos. Mas tenho
um termo também.

Ela deveria ter antecipado isso.


— Continue.

Ele puxou outro botão de sua amarração.

— Durante este mês, seu corpo pertence a mim. Estou livre


para tê-lo quantas vezes eu quiser, e da maneira que quiser.

Seu corpo pertence a mim.

— Eu concordo, — disse baixinho, para não mudar de ideia.

Afinal, tinha ido à casa de campo de Lady Needham em busca


de um escândalo selvagem e perverso. Ela estava procurando um
amante, um meio de garantir sua liberdade. E ela tinha achado
isso, embora com a última pessoa no mundo que esperava.

Seu próprio marido.


ELE TINHA ACABADO DE CONSEGUIR UMA NOVA AMANTE, embora
fosse a última mulher no mundo que ele esperava. Sua maldita
esposa. Ele olhou-a, perguntando-se se tinha ficado
completamente louco.

Sim, por Deus, ele tinha. Por que mais estaria prestes a
embarcar no mais absurdo caso na história do esporte de cama?
Sua esposa, que ele não queria e nem cuidava desde o dia do
casamento, de alguma forma, estava fazendo sua pele ficar quente
como uma chaleira para ferver, e seu pau duro o suficiente para
pendurar um balde de carvão. Ele queria estar dentro dela
novamente, batendo em sua doce e úmida boceta até que a
enchesse com sua semente. O mero pensamento foi o suficiente
para fazê-lo gemer.

Ela parecia insuportavelmente atraente em seu vestido de


seda preta. Seus seios eram uma tentação cremosa saindo de seu
corpete. Queria chupar um de seus mamilos rosados perfeitos em
sua boca. A loucura nunca pareceu mais atraente. Droga. Ela o
enfeitiçou.

Ele a beijou antes de dizer algo estúpido, do tipo como se ela


fosse a mulher mais linda que já tinha visto. Porque de alguma
forma, ela era. Ele esteve tão ocupado mantendo distância que não
percebeu. Talvez, não tivesse se permitido notar.
Seus lábios macios estavam tão ansiosos quanto os dele, tão
famintos. Ele tinha que tê-la. E poderia tê-la quantas vezes
quisesse no próximo mês. Deveria tê-lo horrorizado, a barganha
que acabara de fechar. Tinha ficado ressentido com ela desde que
achou necessário casar-se para restaurar os cofres que seu
perdulário pai esvaziou. No dia do casamento, desejou que fosse
Eleanor ao seu lado, em vez de uma herdeira americana de cabelos
cor de cobre. Ele passou o último ano ignorando a existência dela,
agindo como se não tivesse uma esposa. Na verdade, jurou para si
mesmo que nunca consumaria seu casamento.

Sim, a ideia de ir para a cama com ela por um mês deveria tê-
lo deixado frio e desinteressado, com um pau murcho. Em vez
disso, enviou uma nova onda de urgência direto para sua virilha.

Simon arrastou seus lábios dos dela. Segurou seu adorável


rosto em suas mãos, hipnotizado por um momento pela beleza
pura que ela era. Ele tinha sentido sua falta, olhou através dela, a
viu como um meio para um fim. Supôs que estava muito envolvido
em sua amargura para prestar atenção à joia que havia caído em
seu colo. Ele não cometeria o erro novamente.

— Quero você nua. — Ele estava livre para fazer o que


quisesse, para querê-la. E o que queria agora, mais do que nunca,
era enchê-la com seu pênis, perder o controle, gastar-se dentro
dela. Nada mais importava agora. Ele já tinha caído da maldita
borda, na noite em que levou sua esposa para a cama. Havia algo
animalesco na maneira como ela o fazia se sentir, como se ele
quisesse marcá-la como sua, fodê-la tão forte e tão profundamente
que ela nunca poderia pensar em outro homem novamente. Sim,
sua consciência poderia muito bem ir para o inferno.
Sua boca deliciosa estava inchada com seu beijo. Maggie era
dele de uma maneira que Eleanor nunca tinha sido, e nunca seria.
Ele foi o primeiro homem a tomá-la. Deslizou a mão até sua cintura
fina, ancorando-a. Era preciso acabar com os hectares de tecido
entre eles, disso tinha certeza.

— Você me quer? — Tinha que saber.

— Claro que te quero. — Seus olhos queimaram os dele. —


Mesmo que não devesse.

Não, ela não deveria querê-lo. Assim como não deveria desejá-
la. Mas tudo mudou. Ou talvez nada tivesse acontecido, e pela
manhã, acordaria com a cabeça limpa e nunca mais iria querer ir
para a cama com ela. De qualquer maneira, nada iria detê-lo agora.

Ansiava por remover suas roupas, se livrar de seus


ornamentos, e chegar até a mulher exuberante que se escondia
embaixo deles. Eleanor costumava estar preparada em algum tipo
de criação impertinente, ou completamente nua e esperando por
ele. Ela estava bem ciente do que estava fazendo. Com outras
mulheres, era o mesmo. Mas ele descobriu que havia algo
incrivelmente excitante em Maggie, que pouco sabia como utilizar
a expectativa. Sua inocência prolongou a antecipação e aumentou
o prazer.

Seus dedos infalivelmente acharam os botões com laços de


seu corpete. Ele rasgou alguns, antes de se cansar do longo
processo, e começar a rasgar violentamente.

— Sandhurst. — As mãos de Maggie seguraram as suas, —


este é um vestido muito caro.
Para uma herdeira americana mimada, certamente era
cautelosa. Ele franziu a testa, seu pau furioso por estar dentro
dela.

— Chame-me pelo meu nome de batismo.

Ela mordeu o lábio inferior, parecendo totalmente adorável.


Queria arrancar o vestido dela em pedaços e carregá-la nua para a
cama.

— Eu me esqueci.

Cristo. Ela não sabia seu nome. Supôs que não poderia culpá-
la. Eles tinham sido estranhos durante toda a sua união, mas de
alguma forma ele nunca a esqueceu.

— Simon. — Suas mãos agarraram os lados de seu corpete e


puxaram, rasgando com sucesso os botões restantes de suas
amarras. Vários deles caíram no chão. Ele empurrou o tecido para
baixo sobre os ombros e ela o tirou, mesmo quando sua expressão
estava atormentada.

— Você é um assassino de vestido, — ela murmurou. —


Primeiro minha cauda, e agora meu corpete.

Sim, quando ela colocou dessa forma, parecia que ele estava
decidido a destruir seu guarda-roupa. Mas a verdade era que seu
guarda-roupa era apenas uma barreira inocente que o impedia de
fazer o que queria. Ela.

— Desculpas, — disse com falsa sinceridade. — Seus vestidos


têm botões demais.

— A moda exige isso, — ela respondeu, com as mãos


ocupadas no casaco dele.
Ele permitiu que ela o despojasse disso.

— A moda nunca teve que ficar com um pau excitado,


enquanto sofria por mil botões que o afastavam da mulher que
deseja.

Ela se acalmou, seus olhos encontrando os dele novamente.

— Certamente as outras mulheres que você conheceu usaram


tantos botões quanto eu, se não mais.

Suas palavras o fizeram hesitar, porque, maldita seja, por


mais enfadonho que suas intuições muitas vezes se provassem ser,
ela estava novamente certa. Nunca tinha ficado tão irritado com
enfeites e botões. É verdade que essas mulheres costumavam estar
prontas. Mas durante as vezes em que não estavam, o que
aconteceria? Assistiu a incontáveis saraus e bailes com Eleanor
quando ela foi abotoada e espartilhada com perfeição. Ainda assim,
nunca tinha ficado tão frustrado, tão ansioso para desfazer todas
as suas demonstrações de decoro.

O que havia sobre Maggie que o transformou em um louco


voraz consumido pela luxúria? Cristo, se ela ainda fosse a garota
ingênua e encolhida do dia do casamento deles. Tudo teria sido
muito mais fácil. Mas muito menos delicioso.

— Não dou a mínima para elas, — disse-lhe finalmente,


enquanto sua mente trabalhava seu caminho através da destruição
que ela lhe causou. — A única mulher que quero neste momento é
você.

Ele quis dizer isso. Maggie era seu presente. Um presente que
nunca se imaginou desejar, mas seu mesmo assim. E, olhando
para trás, para tudo o que havia feito, poderia dizer honestamente
a si mesmo que não desejaria um resultado diferente.

Seu olhar permaneceu no dele, exigente e assombrado ao


mesmo tempo. Ele queria piscar, se esconder. Ele não sabia o que
ela queria dele. Pior, estava com medo de não poder lhe dar tudo o
que ela desejava, além de um mero acasalamento de seus corpos.

— E você é o único homem que quero neste momento, Simon,


— ela disse, como se fosse um eco.

Ela era incrível. Sua. Para o mês. O que diabos ele estava
pensando? Como isso seria suficiente? Não queria sentir essa
atração louca que sentia, mas era como se ela tivesse lançado um
feitiço sobre ele.

— Para o inferno com seus enfeites. — Suas mãos foram para


a capa do espartilho. Não tinha mais paciência para fechos. Rasgou
a coisa toda, deliciando-se com o som da destruição. A revelação
de seu espartilho o fez parar. Era amarelo canário, enfeitado com
sedutora renda preta. — Amarelo?

Ela corou, baixando o olhar.

— Não pude resistir.

— Estou feliz. — Sua voz ficou grossa. A cor de alguma forma


complementava seus traços ousados com perfeição. Ele não teria
pensado nisso, mas a vibração do amarelo junto com sua pele
pálida e cabelo brilhante era incrivelmente bela. Ele alcançou atrás
dela, os dedos infalivelmente encontrando os laços de seu
espartilho, e os afrouxando. — Você sempre me surpreende,
Maggie.
— Assim como você me surpreendeu. — Os dedos dela foram
para os ganchos e para os fechos de seu espartilho, desfazendo o
primeiro par de botões. Um pequeno pedaço de sua camisa branca
era visível sob a roupa reduzida.

A boca dele ficou seca ao pensar em quão poucas camadas


restavam entre eles.

— Permita-me. — Colocou as mãos sobre as dela.

— Você não precisa brincar de criada de quarto. — Ela passou


para o próximo conjunto de botões.

— Não estou brincando. — Sua voz estava rouca. — Permita-


me, Maggie. — Ele não conseguia expressar a miríade de emoções
que se manifestavam nele. Talvez tivesse que fazer penitência pelo
ano em que agiu como se ela não existisse em seu mundo. Pela
primeira vez, a palavra 'esposa' teve um significado. Esposa. Sua.
Maggie. Elas tinham o mesmo significado, cada uma tirando seu
fôlego.

— Muito bem. — Ela colocou os braços para o lado. — Sou


sua.

Droga, suas palavras deixaram seu pênis tão rígido que quase
perdeu sua capacidade de agir. Tossiu para disfarçar sua
distração, e pôs as mãos para trabalhar nos enfeites elaborados
dela.

— Você é tão linda.

— Sou? — Parecia surpresa.


Ele procurou em seu rosto por um sinal de desistência, mas
não encontrou nenhum. Ela realmente parecia não conhecer toda
a extensão de seu poder feminino.

— Claro que você é. — Suas mãos encontraram o fecho de


suas saias. Elas estavam atrás o corpo dela, e naturalmente seus
braços a rodearam, suas bocas mais uma vez estavam próximas.
Ele mordeu seu lábio inferior entre os dentes, saboreando a
dilatação de suas pupilas, o rubor em suas bochechas. — Você
deve saber disso.

Ela parecia tonta, passando a língua rosa sobre os lábios


carnudos.

— Não sei nada disso. Se eu fosse tão adorável, certamente


você nunca teria me abandonado na primeira oportunidade
possível.

Ele estremeceu. Era justo, supôs, que o modo como a tratou


não fosse completamente esquecido. Tinha sido um bastardo. Ele
não pensava nela como uma pessoa, mas sim, como um meio para
um fim, uma forma de pagar as dívidas que seu pai lhe havia
deixado, dívidas que continuaram a aumentar com o passar dos
anos. Que ela permitisse que ele a tocasse, era uma façanha
incrível da compreensão dela. Desejou que houvesse algo que
pudesse dizer para absolver seus pecados, mas isso era novo para
ele, possuir compaixão por sua esposa indesejada. Ela era nova
para ele.

— Você é insuportavelmente adorável. — E ela era. Percebeu


que precisava abrir o fecho de sua saia antes que pudesse
prosseguir. Seus dedos percorreram sua cintura, mas não
conseguiu encontrar o prêmio escondido que procurava. — Não
posso abrir suas malditas saias.

Ela riu, empurrando-o de lado para encontrar o fecho por si


própria. Ao soltá-lo, suas saias se amontoaram no chão com um
farfalhar de seda. Ela estava diante dele em sua camisa, espartilho
e anáguas, a almofada de sua anquinha era um esqueleto estranho
agarrado ao que ele sabia ser um traseiro exuberante.

— Você não está sendo justo. — Seus olhos violetas viajaram


por todo o comprimento de seu corpo e permaneceram — a menos
que estivesse enganado — em seu pênis.

Ele engoliu em seco.

— O que você quer dizer? — Cristo, esperava que ela não


quisesse se envolver em um longo debate de algum tipo. Tudo o
que conseguia pensar era em rasgar os tecidos restantes de seus
seios fartos e se perder nas convidativas dobras molhadas de sua
boceta.

— Você ainda está usando todas as suas melhores roupas de


noite, e eu fui reduzida aos escombros de meus adereços
femininos. — Sorriu hesitantemente, alcançando debaixo de sua
jaqueta preta, e ajudando-o a tirá-la de seus ombros.

Ah, então a senhora queria ser ousada. Talvez quisesse fazer


com que ele se envergonhasse gozando antes que tirasse a roupa.
Suas carícias hesitantes, mesmo através de uma camada de tecido,
foram quase o suficiente para desfazê-lo.

— Que gentileza sua em remediar a situação, — disse ele


rispidamente, tentando esconder os tumultuosos sentimentos de
guerra. Sentia-se muito como um barco afundando no mar.
Seu casaco juntou-se à saia dela no chão. Em seguida, ela
trabalhou em sua gravata, atrapalhando-se com a falta de
familiaridade. Ele não podia culpá-la, pois sem seu criado, ele teria
dificuldade para se despir. Tentou ajudá-la, e o resultado foi
apenas mais confusão. Seus olhos se encontraram e eles
compartilharam uma risada. Ele se inclinou e a beijou. O momento
era tão estranho e tão terno, tão familiar. Era tão reconfortante
quanto excitante. Teve que admitir que nunca se entregou a uma
sessão mútua de despir-se com outra mulher. Descobriu que
gostava bastante da intimidade, do que significava o compromisso
compartilhado de fazer amor.

Ela o beijou de volta, sua boca se abrindo para sua língua


exigente. Suas mãos afundaram em seu cabelo da maneira que ela
fazia. A boca dele trabalhou sobre a dela, talvez mais forte do que
deveria, mas não conseguia se conter. Ela fazia coisas com ele,
coisas poderosas que eram tão impossíveis quanto inegáveis. Fazia
apenas dois dias que não se importava em pensar nela sem a
amarga picada do ressentimento? Em vez disso, parecia uma
eternidade.

Ele rasgou a gravata, finalmente desfazendo-a, e voltou suas


atenções para o espartilho dela. Por fim, desfez o último fecho da
roupa chocante, e a jogou no chão. Sua camisa não era uma grande
barreira. Segurou seus seios através do tecido delicado, gratificado
por seus mamilos estarem duros como pedra, famintos e ansiosos
por seu toque. Droga, iria aproveitar cada segundo para torná-la
sua novamente e novamente.

Maggie estava prestes a fazer amor com o marido.


Saber disso a deixou à deriva, a fez sentir como se a sala
girasse em torno dela. Oh, seu corpo o queria. Mas sua mente
empacou com o acordo que acabara de fazer com o próprio diabo.
Um mês pela liberdade dela. Claro que aceitou. Não teve escolha.

Ele puxou a camisa dela pela cabeça e ela o ajudou, jogando-


a fora sem um pingo de timidez. O ar frio fez seus mamilos se
contraírem em picos mais duros. A maneira como a olhou fez sua
barriga formigar. Ele abaixou a cabeça e chupou um mamilo duro.
Ela gemeu. Sua boca sobre ela foi sua ruína. Ela agarrou sua
camisa, querendo sentir seu peito musculoso sem o obstáculo das
roupas.

Sem escolha. Foi por isso que ele a derreteu. Foi por isso que
a fez sofrer. Ela teria rido de si mesma se pudesse. Mas ela estava
além do riso. Além de qualquer coisa, exceto seguir sua
necessidade animalesca.

Ele sorriu e olhou para ela.

— Paciência, minha querida, é uma virtude. — Sua língua


sacudiu contra ela, prolongando o doce puxão de excitação que
seus toques produziam. Mas mesmo enquanto ralhava com ela, ele
arrancou a camisa do corpo.

Finalmente. Ela correu as mãos ansiosas por seu peito, para


o redemoinho de pelos em sua barriga esticada que conduzia às
calças. Quando segurou o contorno rígido de seu pênis, a
respiração escapou de seus pulmões. Ele beliscou seu outro
mamilo com os dentes, exercendo pressão apenas o suficiente para
enviar uma sensação nova e pungente diretamente para seu
núcleo.
Seus dedos ágeis encontraram o fecho de suas calças e as
abriram. Ele estava maravilhosamente nu por baixo, seu membro
quente, duro e macio ao mesmo tempo. Ela o agarrou, satisfeita
quando ele cresceu em sua mão. Tocá-lo trouxe uma dor doce e
florescente a seu sexo, uma necessidade de ele estar dentro dela.

— Ah, inferno, — ele jurou contra o generoso inchaço de seu


seio. Lambeu um caminho travesso em torno do primeiro mamilo,
depois o outro. — Se você insiste em brincar com meu pau assim,
vou gozar na sua mão como um rapaz com sua primeira mulher.

Ela vacilou, liberando-o.

— Você não gosta do meu toque?

— Muito pelo contrário. — Seu tom era áspero enquanto


pressionava a mão dela de volta para ele, incitando-a a subir e
descer seu eixo. Com a outra mão, segurou a sua nuca. Seus olhos
se fundiram. — Gosto muito disso.

Sua boca esmagou a dela em um beijo faminto. Ela inclinou-


se, ainda acariciando seu pênis sempre crescente. Parecia tão
bonito e longo na sua mão. Ela pensou em quanto prazer lhe traria,
e a umidade se espalhou entre suas coxas. Suas línguas se uniram,
suas respirações se tornando quase como uma. Seu perfume a
consumia, aquela mistura de almíscar e especiarias que era inata
dele. Puxou as calças dele dos quadris, e mal o ouviu chutar os
sapatos e os restos das roupas de noite. Agora, ele estava nu e
lindo.

Ele interrompeu o beijo, sua respiração tão irregular quanto


a dela. Seu olhar era escuro e esverdeado, rivalizando com a grama
nova na primavera.
— A cama, — disse ele. — Agora.

Eles se moveram juntos pelo quarto. Quando alcançaram o


colchão alto, ele gentilmente levantou sua bunda para o colchão.

— Deite-se.

Ela correu para o centro da cama, consciente de sua nudez,


mas ainda excitada por seu ar ardente. Observando-o em silêncio,
afundou-se na colcha macia e cheirosa, seu penteado quase
intacto, era como um caroço desconfortável atrás da cabeça. Ele
olhou-a como se fosse um homem faminto, e ela o banquete
colocado diante dele. Ela estremeceu de antecipação enquanto
seus olhos viajavam por sua bela forma, demorando-se no pau que
se erguia orgulhoso e cheio entre as coxas. Estava ansiosa para
senti-lo mais uma vez dentro dela.

Ele se juntou a ela na cama então, separando suas pernas


com suas coxas musculosas. Sua cabeça mergulhou perto de seu
sexo, enquanto pressionava um beijo no topo de seu monte. E
então, sua boca estava nela. Ele chupou, arrastando o botão em
seu centro da mesma maneira que tinha feito na noite anterior. Ela
se contorceu, gloriando-se nas sensações cruas que ele evocava
nela. A língua dele varreu suas dobras molhadas, até sua entrada,
antes de afundar nela.

Ela agarrou punhados da roupa de cama, hipnotizada pela


visão dele entre as pernas. Ele encontrou o olhar de Maggie e
sacudiu sua língua, alternando entre chupar e entrar nela com sua
língua. Justamente quando ela temeu que não pudesse mais
suportar o prazer, ele mudou de sua boca para seus dedos,
levando-a ao frenesi enquanto beijava um caminho de sua barriga
ao pescoço. Deixou cair beijos vorazes de boca aberta sobre ela,
enquanto seus longos dedos deslizavam dentro de sua passagem
lisa. Ela se arqueou, segurando seus ombros largos. Ele beijou o
lóbulo de sua orelha, sua respiração enviando mais prazer
passando por ela. Então, ele pegou sua mão e a abaixou entre eles,
estabelecendo-a mais uma vez em seu pênis.

— Coloque meu pau dentro de você, — murmurou contra sua


pele.

Ela esfregou a bochecha contra a sua barba por fazer, e seus


bigodes.

— Não sei como.

— Vou te mostrar. — Ele apertou os dedos dela ao redor dele,


e os guiou para seu sexo dolorido. — Você pode me sentir, querida?

Enquanto fazia a pergunta, empurrou para frente até que sua


ponta a roçasse.

— Sim, — ela disse, mal conseguindo mais administrar um


discurso coerente.

— Leve-me para dentro. — A pressão de seu grande pênis


aumentou.

Ela inclinou os quadris para acomodá-lo ao mesmo tempo em


que o puxava. Ele a encheu, a esticou. Houve um momento de dor
enquanto seu corpo se ajustava à invasão ainda nova, mas
desapareceu quando ele se empurrou para dentro. O prazer a
atravessou como a flecha de um caçador acertando seu alvo. Ele
enterrou o rosto em seu pescoço, beijando-a ainda enquanto
encontrava seu ritmo, deslizando gradualmente para dentro,
depois para fora novamente. Ela sentiu que ele agia lentamente
para o seu benefício, permitindo que se acostumasse com ele.

Mas, ela queria mais rápido. Mais profundo. Ela se arqueou


contra cada impulso, combinando com o ritmo dele. Suas coxas se
separaram para recebê-lo mais plenamente. Os dedos dele foram
para o cabelo dela, enquanto arrastava a boca de volta para seus
seios. Chupou seus mamilos enquanto se dirigia dentro dela
novamente e novamente. O puxão em seus seios altamente
sensibilizados foi o suficiente para enviá-la cambaleando ao
clímax. Ela estremeceu quando pura felicidade a alcançou,
fazendo-a apertar ao redor de seu pênis.

Ele gemeu e mergulhou mais fundo, mais forte, mais rápido.


Logo, ele bombeou dentro dela, encontrando sua própria liberação.
Ele gritou, jogando a cabeça para trás, e o jato quente de sua
semente a encheu. Ela apertou as pernas ao redor dele,
ordenhando seu pênis a cada gota. Seu coração bateu com força
contra o peito. Seu corpo formigou com um brilho potente de desejo
saciado. Eles haviam reivindicado um ao outro.

Eles permaneceram entrelaçados por algumas respirações, e


então, por fim, ele rolou para o lado, removendo seu peso dela
completamente. Ela tinha quase certeza de que nenhum de seus
membros estava funcionando bem, mas seu pescoço a obrigou a se
mover para a esquerda, de modo que ela enfrentou Simon. Ele
estava deitado de costas, lindamente nu e exausto, olhando para o
teto. Seu perfil era excepcionalmente bonito, notou, mais bonito do
que o perfil de um homem deveria ser, na verdade. Quase lindo.
Era difícil acreditar que depois de um ano de um abandono
gélido, ele estava ao seu lado por sua própria vontade. Seus
sentimentos por ele eram uma confusão. Os velhos ressentimentos
e mágoas permaneceram. Como poderia entender este novo marido
apaixonado que tinha tomado sua vida de assalto? Não podia
esquecer seu passado, mas também não podia negar sua incrível
paixão.

Ele virou-se, sua expressão protegida agora que suas


necessidades foram atendidas.

— Espero que eu deva voltar para o meu quarto, antes de


começarmos a falar de verdade.

Não era isso que ela queria ouvir. Franziu o cenho para ele.

— Você sabe tão bem quanto eu, que todos estamos na


mesma situação. Não há fofoca aqui.

Ele distraidamente acariciou seu estômago.

— Tenho quase certeza de que todos adivinharam quem


somos depois do espetáculo que criei no jantar. Receio que haverá
muita fofoca agora.

— Ah. — A frieza substituiu o maravilhoso calor que ela


estava desfrutando. — Você não gostaria que as notícias
chegassem a Lady Billingsley, não é?

— Eu simplesmente não desejo alimentar a fábrica de fofocas,


— disse, mas olhou para longe dela.

A mulher horrível nunca pararia de atormentá-la? Maggie


desejou que ele tivesse adormecido em vez de escolher falar. Suas
palavras foram como pequenas adagas sendo cravadas em seu
coração.

— Faça o que você deve fazer, — disse friamente. Se ele


quisesse partir, não imploraria para que ficasse, principalmente se
seu coração ainda estivesse em outro lugar. Em um mês, ela
poderia voltar para Nova York e esquecer que já soubera o nome
dele. Ela era forte o suficiente para suportar qualquer coisa. Ele
não poderia quebrá-la. Ninguém poderia.

Ele não falou enquanto se levantava da cama. Ela lhe deu as


costas, não querendo vê-lo saindo furtivamente do quarto como se
não fosse melhor do que um ladrão. Ou um patife provando os
encantos de uma mulher durante a noite. Supôs que ele tinha
bastante experiência em tal coisa. O farfalhar do tecido alcançou
seus ouvidos.

Eles eram estranhos mais uma vez, ao que parecia.

Sua deserção abrupta a machucou. Ela queria cortá-lo com


palavras. Diga algo feio, algo que cavaria sob sua fachada
arrogante e iria direto ao osso.

— Se você foi tão frio com sua puta, estou surpresa que ela
não se cansou de você muito mais cedo, — disse antes que pudesse
se conter. Parecia que ela possuía muito pouco controle no que
dizia respeito a ele.

Todos os sons de tecido desapareceram como se nunca


tivessem existido. Suas palavras atingiram seu alvo. Embora fosse
cruel da parte dela, saboreou o breve momento de poder que isso
lhe deu.
— Ela nunca foi minha prostituta, — ele disse finalmente, seu
tom firme com segurança.

— Nem era sua esposa. — Ela ainda se recusava a ceder à


sua tola vontade e olhar para trás para ele.

— Estou mais do que ciente, Margaret. — Ela o desagradou o


suficiente para merecer o uso de seu nome inteiro, ao que parecia.
O som dele se vestindo foi retomado. — Vou participar das
festividades depois do jantar, e sugiro que você faça o mesmo. Mas
fique bem longe do duque de Dunsmere.

Ela não respondeu, mantendo-se de costas, enquanto ele saía


de seu quarto e fechava a porta. Ocorreu-lhe que realmente deveria
descobrir exatamente quem era o duque de Dunsmere. E então,
como um presente indesejado, também ocorreu-lhe que teria que
sofrer o constrangedor destino de chamar sua criada de quarto
para ajudá-la a se vestir mais uma vez. Maldito seja.

Maldita seja. A sala de estar estava cheia de possibilidades,


cheia de mulheres embriagadas usando corpetes
escandalosamente decotados, que não queriam nada mais no
mundo do que serem fodidas mais tarde naquela noite. Mas ele
tinha olhos apenas para ela. Ele não conseguia decidir o que era
pior, ele ter concordado com o conceito louco dela de nenhum outro
amante por um mês ou o triste fato de que isso não importava.
Apesar de sua promessa a ela, não queria outra mulher. Ele só
queria a sereia ruiva flertando com o duque de Dunsmere.

Moça atrevida e inteligente. Não tinha dúvidas de que ela o


procurara intencionalmente. Antes, estava ansioso para se afastar
dela, frustrado consigo mesmo por permitir que ela o envolvesse
tão completamente, que tudo o que defendia desde o casamento
deles foi destruído. Sua reação a ela o assustou. Ele a queria de
uma forma que não queria nenhuma outra mulher há muito
tempo, talvez nunca. Incluindo Eleanor.

Homens e mulheres estavam se juntando a cada momento,


desaparecendo da sala em busca de prazer. Enquanto observava,
um par de loiras rechonchudas escoltou um homem mascarado,
que ele tinha certeza ser o duque de Eversleigh, para fora da sala.
Sujeito chato e sortudo.

— Devo me desculpar, — ronronou uma voz familiar ao seu


lado.

Ele se virou para encontrar Nell olhando para ele.

— Receio que suas desculpas não tenham importância.

Ela estremeceu.

— Não queria estragar tudo para você, Simon, de verdade.

— Não há nada para estragar, — mentiu. — Não sabia quem


ela era, mas agora sei.

— Você deve ter se divertido muito alisando suas penas


eriçadas. — Seus olhos se estreitaram enquanto o considerava com
um ceticismo velado. — Você desapareceu por duas horas.

— Estava cochilando. — Manteve o tom brando.

— Desperdício. Você estava na cama com ela.

Um rubor culpado surgiu em suas maçãs do rosto.

— Vá para o inferno, Nell.


— Quanta poesia. — Ela riu. — Você não é o único homem
que está apaixonado por ela, você sabe. Dunsmere parece estar
preparado para beijá-la bem apertado.

Seu olhar voltou para sua esposa. Ela estava muito perto do
duque. Seus seios quase roçavam seu braço, pelo amor de Deus.

— Vou matá-lo, — jurou.

— Não terei derramamento de sangue em meu sarau, — ela


advertiu com firmeza. — Diga-me, Simon. Como está Eleanor?

Ele enrijeceu com a menção dela.

— Eu não saberia.

Mas Nell sempre foi um cachorro com um osso.

— Ouvi dizer que ela está morando na propriedade rural de


Billingsley e está reproduzindo.

Reprodução. Eleanor estava grávida. A revelação o atingiu


com a força de um punho. Mas, houve um tempo em que seria
atingido com a força de um garanhão furioso. Ela cumprira seu
dever com Billingsley, então.

— Então, ela deve ser feliz, — forçou-se a dizer, embora não


achasse que fosse verdade. Billingsley era um bruto notório e
costumava beber. A ideia de Eleanor à sua mercê já bastara para
deixá-lo doente. Estava preparado para fazer qualquer coisa para
impedi-la de ir para o marido. Mas ela não quis, e no final, a deixou
ir. Não tinha direitos no que se referia a ela, e nunca teve.

— Você está feliz, Simon?

A pergunta inesperada de Nell o chocou. Em sua lembrança,


ninguém jamais lhe perguntou tal coisa. Não tinha certeza de como
responder. — Suponho que isso depende de minha esposa estar ou
não planejando deixar sua sala de estar com Dunsmere.

Um sorriso brincou com os cantos dos lábios de Nell.

— Você está com ciúmes, — ela observou. — Isso resolve tudo.


Você está definitivamente apaixonado por sua pequena esposa,
como a chama.

Sentiu-se afetado. O diabo que leve isso. Ele estava?


Obcecado, talvez. Consumido pela luxúria e pela necessidade de
estar dentro dela, absolutamente. Mas, a palavra afetado sugeria
algo mais profundo, algo baseado em emoções que não existiam.
Seus olhos procuraram Maggie mais uma vez. Estava
resplandecente em seu vestido de noite. Não havia nenhum sinal
que sugerisse que ela tinha estado nua e em seus braços apenas
uma hora antes. Que ele esteve dentro dela. Mas ele sabia. Sabia
qual era o gosto dela. Onde gostava que seus dentes mordiscassem.
Onde preferia a língua dele para lamber.

— Não gosto disso, — resmungou, mais para si mesmo do que


para Nell.

— Eu ouso dizer que não. — Havia humor na voz de Nell.

Ele estava ficando louco. Não havia nenhuma dúvida sobre


isso. Desviou o olhar de sua esposa, e olhou para a mulher ao seu
lado. Ele tentou atrair uma migalha do desejo que sentia por
Maggie e não conseguiu. Droga, ele não podia permitir que outra
mulher o enredasse como Eleanor fizera. Ele pegou a mão de Nell
e levou-a aos lábios para um beijo vagaroso na curva sensível de
seu pulso.
— Vá para a cama comigo, — ele sugeriu por capricho. Uma
voz sombria em sua cabeça disse-lhe que seria melhor se
esquecesse sua esposa e sua promessa a ela. Afinal, ele não devia
nada a ela. Os últimos dois dias foram uma aberração.

O sorriso de Nell não alcançou seus olhos.

— Eu não sou a mulher que você deseja.

Claro, ela estava certa. Mas ele estava afundando.

— Não sei que diabos fazer.

— Eu devo te dizer. — Seu tom era franco, puro Nell. — Você


irá para o lado dela e a reivindicará. Por que se preocupar em jogar
jogos bobos? Liberte-se, Simon. Você não está mais sobrecarregado
por Eleanor.

Eleanor e Nell foram amigas uma vez, mas algo aconteceu


para mudar tudo isso. Embora ela tivesse continuado a fazer
convites para ele mesmo e Eleanor ao longo dos anos, Nell não se
preocupou em esconder sua antipatia por sua amiga de tempos em
tempos.

Ele considerou a ordem de Nell agora, ansioso pela distração.

— Por que você nutre tanta má vontade em relação a Eleanor?


— Ele sempre se perguntava, mas Eleanor nunca quis discutir a
briga delas.

Sua expressão ficou fechada.

— Alguns segredos ficam melhores guardados.

— Bobagem, — ele desdenhou. — Você não pode me dizer


agora?
— Você não deseja saber. — Sua boca normalmente
exuberante se curvou em uma carranca pensativa.

Ele estava mais determinado do que nunca a ter a verdade.

— Diga-me, Nell. Nossa amizade exige isso.

— Muito bem. — Ela inclinou o queixo em uma demonstração


de desafio. — Ela dormiu com meu marido.

— Needham? — Mas isso era impossível. Eleanor só tivera


intimidade com dois homens, ele e, é claro, Lorde Billingsley,
apenas por necessidade. Ela mesma lhe disse isso. — Certamente
você deve estar enganada.

O olhar de Nell nunca se desviou.

— Eu os vi juntos.

Ele sentiu como se o ar tivesse sido sugado de repente de seus


pulmões. Nunca soube que Nell fosse uma mentirosa, e ela
certamente não teria motivos para disfarçar, agora que ele e
Eleanor não estavam mais se falando. Ele se lembrou da época em
que Nell e Lorde Needham se separaram pela primeira vez. Dois,
talvez três anos.

— Quando? — Perguntou, precisando saber.

— Não importa. — Nell balançou a cabeça como se quisesse


dissipar a lembrança. — É muito difícil para mim discutir isso e
não podemos mudar o passado, por mais que desejemos.

A recusa dela em responder disse a ele que suas suspeitas


eram verdadeiras. Eleanor foi para a cama com Lorde Needham
enquanto professava seu amor por ele, embora fosse amiga de
confiança de Nell. A compreensão de sua traição ainda o atingiu
como um soco no estômago, mesmo que seus laços com ela já
tivessem sido cortados.

— Jesus, — disse finalmente. — Por que você nunca me


contou? Por que nos permitiu ir às suas festas em sua casa como
se nada tivesse acontecido?

— Você nunca teria acreditado em mim. — Ela deu um


tapinha no braço dele de maneira consoladora. — Sei muito bem
como o amor nos torna alheios aos defeitos de nossos amantes. E
quanto a permitir que ela fosse às minhas festas, eu era orgulhosa
demais. Morreria antes de permitir que ela visse o quão
profundamente me feriu.

Seu coração doía por ela tanto quanto por si mesmo. Ele
colocou a mão sobre a dela e deu um aperto reconfortante.

— Sinto muito.

— Você não precisa. Foi há muito tempo e minha vida é


diferente agora. — Ela se recompôs, substituindo sua
vulnerabilidade pela fachada alegre de anfitriã mais uma vez. —
Agora, a menos que você aja com pressa, temo que o duque esteja
prestes a fugir com sua esposa.

Cristo, o bárbaro parecia pronto para jogá-la por cima do


ombro, e carregá-la para fora da sala como se ela fosse despojo de
guerra. Uma raiva profana apoderou-se dele, uma mistura potente
de raiva reprimida contra Eleanor e confusão sobre a forma como
uma ruiva atrevida havia tomado conta de sua mente.

— Vou matá-lo. Eu juro.


Nell transmitiu sua melhor impressão de uma governanta
descontente a ele.

— Eu já te disse. Absolutamente sem derramamento de


sangue. Você deveria fazer o melhor para afastá-la de tudo isso,
Simon. Ela é muito inocente para o nosso grupo.

Ela estava certa. Maggie não pertencia a este covil de


sedutores, ansiosos para tirar vantagem de sua ingenuidade.
Droga, ele não estava certo de que pertencia aqui também. E se
alguém iria se aproveitar da ingenuidade de sua esposa, seria ele.
Malditos Dunsmere e Eleanor, e por falar nisso Needham, todos
direto para o inferno.

Uma rápida investigação com Nell levou Maggie ao duque de


Dunsmere, e ela o procurou, para melhor irritar Sandhurst. Maggie
achou o duque enganosamente espirituoso e encantador. Talvez
muito charmoso. Ela estava ciente de sua tentativa inteligente de
conduzi-la para fora da sala sem que ela percebesse. Sua mão
estava firme em seu cotovelo, demorando muito alto, seu polegar
uma pressão deliberada em sua pele nua. Ele sorriu-lhe, seus
olhos brilhando de alegria, e ela não podia negar que sua diversão
era contagiante. Mesmo que o estivesse usando apenas como um
peão em sua guerra contra Sandhurst.

— Receio que seu marido esteja se aproximando de nós agora


mesmo — disse ele abruptamente, em voz baixa. Ela não ficou
surpresa que, depois da discussão desastrosa no jantar, todos
pareciam saber quem ela e Sandhurst eram, apesar de suas
máscaras. A fofoca adorava viajar. — Se você apenas disser uma
palavra, terei você fora daqui em um instante. Além do seu alcance
insuportável.

Ela ficou tentada pela oferta, mas não era tola o suficiente
para aceitá-la.

— Embora agradeça a sua preocupação, atrevo-me a dizer que


seria como deslizar para uma gaiola com um tigre em vez de um
leão.

Ele apertou a mão no peito largo em uma indignação fingida.

— Estou ferido por você só me considerar um tigre.

Maggie riu, aproveitando a oportunidade para olhar


casualmente para o lado, e confirmar que Sandhurst estava
realmente vindo em sua direção. Ele também não parecia satisfeito.
Bom para ele, pensou. Afinal de contas, ele havia indelicadamente
aconchegante com Nell por algum tempo. Na verdade, ela
secretamente assistiu ao interlúdio, e só podia presumir que havia
uma conversa íntima entre eles. Ele já tinha se cansado de sua
barganha?

— Tem certeza de que o prefere? — Dunsmere soltou um


suspiro. — Eu amo profundamente mulheres com cabelos
flamejantes e seios deliciosos. É uma fraqueza particular minha.

Poucos dias atrás, suas palavras a teriam chocado. Mas,


descobriu que gostava da liberdade de expressão na festa da casa,
seja no quarto ou na sala de estar. Isso a levou de volta aos dias
de sua juventude, quando era uma escritora despreocupada de
poemas que o mundo nunca veria. Quanto tempo se passou desde
que escreveu um verso pela última vez? Muito, muito tempo.
— Não sabia que meu seio poderia ser descrito como delicioso.
— Uma veia selvagem nela garantiu que pronunciasse as palavras
assim que seu marido se aproximasse deles.

Seus olhos eram fendas escuras de gelo esmeralda sob a


máscara de seda que ele vestira mais uma vez.

— Minha dama. — A reverência que ele ofereceu foi


desdenhosa na melhor das hipóteses. — Dunsmere.

— Sandhurst, — reconheceu o duque. — Espero que suas


penas eriçadas estejam agora alisadas, meu velho.

— Tire as patas da minha esposa, — respondeu.

Maggie engoliu em seco, observando-o com novos olhos. Ela


nunca tinha visto este lado particular dele. Oh, ela não era
estranha à sua raiva. Mas desta vez ele estava diferente, muito
parecido com o leão que descreveu.

— Sandhurst, — ela advertiu. Céus, não queria que eles


brigassem. — Sua Graça estava apenas sendo cortês.

Seus lábios se estreitaram.

— Enquanto discutia os méritos de seu seio?

— Pobre de mim. — A voz de Dunsmere era enganosamente


suave. — Você parece irritado. Atrevo-me a dizer que estávamos
apenas terminando a conversa deliciosa que compartilhamos no
jantar.

— Vou te dar uma surra, — rugiu o marido. — Venha para


fora comigo, agora. Prometi a Nell que não vou bater em você na
casa dela.
— Que gentil de sua parte, mas temo que meus dias de
pugilismo tenham acabado. Muitos narizes quebrados. — Ele
bateu o dedo em seu traço perfeito. — As mulheres não gostam
muito, ou pelo menos foi o que me disseram.

Ela quase gemeu em voz alta. Ele estava cavando um buraco


para ela com suas palavras, e logo estaria enterrada até o pescoço.
A rigidez da mandíbula do marido dizia que não escaparia ilesa de
suas travessuras. Tinha que se afastar da situação que se
desenrolava diante dela, e só podia esperar que Simon a seguisse.
Afinal, ela dificilmente queria que ele se envolvesse em uma briga
de socos com o duque. Mesmo que secretamente gostasse do ciúme
evidente na postura rígida e no tom sombrio do marido.

— Por mais que tenha aproveitado a noite, estou cansada e


devo me retirar, — disse ela, apressando-se para preencher a
lacuna na conversa, para que os dois homens não decidissem
continuar negociando farpas potencialmente letais.

— Vou acompanhá-la, — os dois homens ofereceram


simultaneamente.

Deus do céu. Ela estremeceu e aceitou o braço oferecido pelo


marido.

— Boa noite, Sua Graça. Obrigada pela conversa.

Emitindo apenas um som cru de possessividade, Sandhurst


praticamente a empurrou para fora da sala. Se o duque
respondesse, Maggie nunca saberia. Seu marido estava muito
ocupado levando-a ao seu ajuste de contas.
ELE A LEVOU PARA SEU QUARTO EM vez do dela, talvez por medo
de que o duque a procurasse no silêncio da noite. Maggie nunca
saberia o motivo de sua decisão, com certeza. A porta mal foi
fechada às suas costas antes que ele se virasse para ela, suas mãos
agarrando seus braços enquanto a puxava contra a parede,
prendendo-a com seu grande corpo para que não houvesse como
escapar.

Maggie piscou, assustada com a virulência de sua reação. Ela


agarrou seus ombros.

— O que diabos você está fazendo?

— Punindo minha esposa rebelde, — disse em um tom que


era ao mesmo tempo veludo e uísque para seus sentidos, sedutor
e chocante. Ele puxou a saia dela e colocou uma coxa dura entre
suas pernas.

Ela sentiu a abrasão desconhecida do tecido contra a fenda


aberta de suas calças, e não conseguiu evitar de se esfregar contra
ele. Ela já estava faminta por ele, quente, molhada e disposta. Mas
não estava iria ceder facilmente.

— O que eu fiz? — Perguntou com um meio engasgo,


prolongando o inevitável. Ela esperava despertar ciúme, mas não
raiva. Então, novamente, talvez os dois não estivessem tão
distantes no reino da emoção.
Suas mãos estavam trabalhando sob sua saia, encontrando o
fecho em suas calças e abrindo-o.

— Você sabe muito bem. Não banque a inocente comigo.

Ela enrijeceu quando ele passou a mão sobre a pele nua de


sua coxa. Suas calças deslizaram sobre suas pernas. Ela se forçou
a protestar.

— Simon.

— Você procurou Dunsmere intencionalmente. — Seu olhar


a espetou, segurando-a contra a parede tão firmemente quanto seu
corpo. Os dedos roçaram a parte interna da coxa, atormentando-
a.

— Você estava fazendo um bom trabalho monopolizando Lady


Needham, — ela apontou, tendo dificuldade em forçar seu cérebro
a funcionar adequadamente com ele tão perto de seu centro
dolorido.

— Eu disse para você ficar longe dele. — Ele a ignorou


completamente. Sua expressão foi desenhada com uma
combinação de desejo e irritação. — Você pretendia me deixar com
ciúmes do seu pequeno tête-à-tête?

Claro que pretendia.

— Nem um pouco. — Ela se contorceu quando ele continuou


a dançar ao redor da carne faminta, onde mais ansiava por seu
toque. — O que você e Nell estavam discutindo tão intensamente?

Se ele queria questioná-la como se fosse seu carcereiro,


certamente poderia fazer o mesmo. Pareceu-lhe que ele e Lady
Needham estavam discutindo algo sério. Na verdade, não gostou
da proximidade ou da gravidade de suas expressões. Ela tinha visto
o momento em que Simon pegou a mão de Nell na sua, e não ficou
particularmente animada com isso.

Ele se acalmou.

— O que Nell e eu discutimos não é da sua conta. Somos


apenas velhos amigos.

Mais uma de suas velhas amigas. Uma parte terrível de


Maggie se perguntou se ele já tinha se deitado com sua anfitriã em
seu passado. Ou se desejasse em seu futuro. O calor crescendo
dentro dela colidiu com o gelo.

— Que tipo de velha amiga ela é? — Tinha que perguntar,


embora realmente não quisesse saber a resposta.

— Ela não é o tipo que você gostaria que o maldito duque


fosse. — Suas mãos se enrolaram em torno de sua coxa em um
aperto quase punitivo.

— Pare, — ela gritou, tentando encolher os ombros de seu


aperto. Pela primeira vez, percebeu que estava jogando um jogo que
não tinha experiência para jogar.

— Parar o quê? — Ele abaixou a cabeça, seus lábios roçando


os dela. — Isto? — Por fim, ele tomou sua boca, reivindicando-a em
um beijo que puniu tanto quanto incitou sua necessidade. Ele
segurou seu traseiro nu, esfregando sua boceta sensível contra sua
coxa rígida. — Ou isto?

Ela gemeu, incapaz de evitar sentir as deliciosas sensações


que ele despertou. Mas, não estava disposta a ser desviada de sua
intenção tão sumariamente.
— Pare de ser grosseiro comigo. Não fiz nada errado.

— Além de se associar com o maior sedutor da Inglaterra? —


Ele zombou, abaixando a boca para explorar o pescoço dela. —
Serei amaldiçoado se compartilharei outra mulher.

Ela inclinou a cabeça para trás para permitir um melhor


acesso a sua garganta, mas suas palavras a fizeram parar. Quem
mais ele compartilhou? Ela foi informada de que Lady Billingsley
tinha sido sua amante exclusiva nos últimos anos.

— Não entendo. — Ela se perguntou se talvez a raiva dele não


tivesse sido provocada apenas por ela, afinal.

— Não é nada. — Seus lábios roçaram sua pele novamente.


— Fizemos uma promessa um ao outro. Um mês, sim?

— Sim. — Em um momento, ele estava prestes a devorá-la,


no próximo estava com raiva, contando a ela meia história que ela
nunca tinha entendido antes. — Mas o que isso tem a ver com este
momento?

— Eu quero você. — Sua boca se abriu em seu pescoço,


sugando. — Você me quer?

Mas, estava determinada a não ser influenciada. Sua mente


girava com perguntas. Lady Billingsley fora o assunto de sua
conversa com Nell? Talvez ela tivesse revelado um lado feio do
passado de sua ex-amante?

Ela suspirou, tentando não aproveitar o delicioso calor de sua


boca, embora fosse quase impossível.

— Quero que você me diga a verdade.


— Já te disse. — Ele pressionou uma série de beijos em seu
peito. — Estávamos apenas conversando.

Ele achava que poderia evitá-la tão facilmente? Ela franziu a


testa, afundando os dedos em seu cabelo grosso e macio e
forçando-o a encontrar seu olhar.

— Que outra mulher você compartilhou?

Ele exalou, sua respiração batendo em seu peito como um


cobertor aquecido.

— Por que você tem que ser tão persistente?

Ela não sabia.

— É da minha natureza, suponho.

— Um homem deve ter seus segredos.

Maggie não se importou particularmente com o som disso.

— Detesto segredos.

— Sinto muito, — ele a surpreendeu ao dizer. Ele não a pegou


com esse tipo de desculpa. — Simplesmente não desejo discutir
isso. Não tem nenhuma influência sobre você e eu.

Ela tinha a sensação de que sua concessão lhe custara muito


mais do que parecia. Ele era um homem orgulhoso, isso ela
aprendera rapidamente no pouco tempo que passaram juntos.
Maggie teve pena dele.

— Muito bem. Você não precisa me dizer agora.

— Bom. — Seus dedos traçaram um caminho de calor sobre


sua coxa antes de afundar em suas dobras molhadas para
provocar o dolorido botão que mais ansiava por sua atenção. —
Porque agora, a única coisa que vou fazer é te foder, minha querida.
Duro e rápido até você gozar.

Ela perdeu o fôlego. As palavras perversas a deixaram ainda


mais faminta. Nenhum homem jamais se atreveu a falar tal pecado
para ela. Isso a deixou muito fraca nos joelhos.

— Não precisamos de uma cama? — Se atreveu a perguntar.

Ele aplicou a quantidade certa de pressão com a quantidade


perfeita de velocidade. E então, afundou um dedo dentro dela.

— Não quando você está tão molhada e pronta para mim.

Seus quadris bombearam contra seu ritmo. Seu instinto


assumiu o controle. Ela o queria tanto, apesar da falta de
conhecimento entre eles. Nada importava, exceto a maneira como
ele a fazia se sentir, como se estivesse prestes a se quebrar em mil
pedaços vibrantes.

Ele parou para abrir as calças, e ela o avistou, rígido e


tentador.

— Enganche sua perna em volta da minha cintura. — Ele a


guiou então, abrindo-a mais completamente. Sua boca desceu
sobre a dela, esmagadora e possessiva.

Seu pênis pressionado contra ela, quente e rígido. Ela


arqueou as costas para ajudar a facilitar sua entrada. Enquanto
sua língua mergulhava em sua boca, ele deslizou dentro dela em
um longo e delicioso impulso. Ela gemeu, chupando sua língua,
suas mãos indo para suas nádegas firmes para conduzi-lo ainda
mais fundo. Desta vez, sua paixão correu a galope. Não houve
galope constante, nenhum tempo para beijos e carícias suaves. Ela
também não queria isso. Queria que ele a tomasse, forte e rápido
como disse, fazendo ambos explodirem com seu desejo mútuo.

Ele se retirou dela apenas para deslizar novamente,


aumentando seu ritmo, indo mais rápido, mais selvagem. Com o
polegar, continuou a exercer pressão em seu clitóris, e a onda de
sua primeira liberação a atingiu. Sua boceta apertou seu pênis e
os dois gemeram, perdidos nas sensações, a necessidade de se
tornar um.

Ele arrastou sua boca de volta para seu pescoço, beliscando-


a com os dentes apenas o suficiente para fazê-la estremecer. Nessa
noite, ela deleitou-se com sua ferocidade, do jeito que suas mãos
eram quase ásperas sobre ela, na maneira como a tomava como se
não pudesse esperar mais um momento para enchê-la com sua
semente.

Enquanto ainda tremia com os efeitos de sua paixão, ele


balançou contra ela, achatando-a contra a parede. Uma explosão
quente de sensação correu dentro dela, e soube que ele também
tinha encontrado sua liberação. Apertou-o, enquanto
despencavam da nuvem de prazer, como um. A respiração dele era
tão irregular quanto a dela, o coração batendo forte contra o peito
dela. Ele beijou seu pescoço, em seguida deu um beijo demorado
em sua boca antes de devolver suavemente o pé ao chão e deslizar
de seu corpo. Eles se encararam.

— Partimos amanhã de manhã, — disse ele por fim, com a


voz quase rouca. — Juntos.

Ela assentiu. Se dias antes, partir com o marido pareceria


inconcebível, senão impossível, agora parecia perfeitamente
normal. Não estava certa de que ainda conseguiria manter uma
conversa racional, então se ocupou em reorganizar as saias.
Apenas suas calças, jogadas no chão, permaneceram como um
sinal de seu amor frenético. Ele ajeitou as calças enquanto ela
tentava se recompor.

— Suponho que devo voltar para meu quarto, — disse ela,


quando finalmente redescobriu a capacidade de falar.

— Você vai ficar aqui comigo esta noite, — disse ele, mais por
decreto do que por pedido.

Seu pronunciamento a assustou. Ele não estava apenas


preocupado em observar um falso senso de propriedade? O que
mudou? Ela piscou, perguntando-se se o tinha ouvido bem acima
das batidas loucas de seu coração.

— Eu não entendi.

Sua expressão era impossível de decifrar.

— Quero que você permaneça em meu quarto, — ele elaborou.


— Por favor.

Maggie supôs que ele não estava acostumado a pedir o que


queria. Afinal, era um homem e um Lorde ao mesmo tempo. Mesmo
assim, seu pedido dificilmente foi terno, e embora ela não fosse
imune ao seu jeito de fazer amor, ainda era bastante teimosa por
seus próprios méritos.

— Você pode me perguntar em vez de fazer uma exigência.

Ele franziu a testa.

— Não exigi. Disse, por favor.


— Como sou tola. — Ela quase riu, mas ele estava sério. —
Obrigada por fazer um pedido educado.

Ele passou a mão pelo cabelo, parecendo irritado.

— Droga, mulher, você é tão espinhosa quanto uma roseira


às vezes. Apenas quero que você fique aqui no meu quarto.

— Por quê? — Ela persistiu.

— Porque não confio naquele canalha que auto se chama de


duque, — ele trovejou, seus olhos escurecendo.

Ah. Então, ele tinha ciúme de Dunsmere. Ela estava


secretamente satisfeita. Ainda assim, havia logística a ser
considerada.

— E quanto à criada de quarto? Ela não saberá que estou


aqui.

— Eu serei muito bem a sua criada de quarto esta noite, —


ele rosnou. — De manhã, vou mandar buscá-la para você.

Outro pensamento ocorreu a ela então, e tinha que saber.

— Você confia em mim?

Seu olhar procurou o dela.

— Não tenho certeza. Perdi minha confiança muitas vezes, ao


que parece.

Que paradoxal que lhe fizesse tal confissão, de todas as


pessoas. Ela olhou-o.

— Eu também, meu senhor.

Ele inclinou a cabeça, aceitando o insulto sem palavras.


Ela estava mais convencida do que nunca de que ele e Nell
haviam falado de Lady Billingsley. Uma pequena lasca de triunfo a
cortou com o pensamento. Talvez sua velha e querida amiga não
fosse o anjo que ele acreditava que fosse, afinal. E embora Maggie
não pudesse competir com um modelo, certamente poderia
competir com uma mera mulher. Se ela queria competir, que fosse,
e ela não tinha certeza se queria. Na verdade, seu cérebro estava
fazendo um bom trabalho em convencê-la de que não deveria,
embora seu coração apaixonado sentisse o contrário.

Mas no final, ela estava cansada, e ceder a uma pequena


batalha não parecia uma decisão muito tola.

— Muito bem, — ela capitulou. — Eu vou ficar.

No início da tarde seguinte, eles chegaram a Denver House,


a casa de campo de Simon. Foi a primeira visita de Maggie, já que
eles se casaram em Londres, e ele não se preocupou em lhe
proporcionar uma lua de mel. Em vez disso, fugiu para os braços
de sua amante. Foi uma fria revelação para Maggie, que foi ingênua
o suficiente para acreditar que seu marido a trataria com o respeito
que merecia. Imaginou se estabelecer em uma vida confortável,
conhecer o marido, trocar gentilezas durante o jantar, criar filhos.
Ela não tinha imaginado o abandono, embora tivesse sido avisada
por sua mãe com antecedência, de que nem todos os homens
provaram ser maridos fiéis.

Sua mãe, ela descobriu, tinha sido terrivelmente incapaz em


alertar uma jovem noiva sobre as realidades de um casamento na
sociedade. Uma estranha mistura de sentimentos assaltou Maggie
quando Sandhurst a desceu da carruagem, e ela observou a
fachada imponente da casa que nunca tinha visto. Seu coração foi
para sua garganta. A casa de campo de Lady Needham era
realmente impressionante, mas Denver House era magnífica.

Ela olhou para a imensa estrutura com suas fileiras de


janelas flanqueadas por uma ala leste e uma ala oeste em cada
extremidade. Colunas dóricas se estendiam na frente como se
fossem uma fileira de soldados de prontidão. Duas escadas curvas
desciam para a passagem de cascalho. Esculturas em baixo-relevo
decoravam as paredes de pedra.

A cena inteira tirou seu fôlego.

— Bem-vinda a Denver House. — A voz de Simon estava


grave.

Ela tinha visto muitos edifícios grandes em Londres e Nova


York, mas este lugar era de alguma forma diferente de todos os
outros. Ela forçou seu olhar de volta para seu marido, que a
observava com uma expressão impenetrável gravada em seu rosto
bonito.

— É insuportavelmente adorável.

— É uma pilha de escombros familiares em ruínas. — Sua voz


estava fria.

Ela supôs que, se tivesse sido criada em tal estrutura,


também não teria sido afetada por sua majestade. A casa de seu
pai em Nova York era grande, mas não tão real.

— Você não gosta daqui?

— Vou apresentá-la à equipe, — ele a surpreendeu ao dizer,


contornando sua pergunta com precisão pura.
Embora soubesse que deveria ser severa com ele por não a
trazido para Denver House antes, não podia deixar de ficar
satisfeita com o seu anúncio. Era tarde demais para chegar e sob
todas as circunstâncias erradas, mas ela estava mais uma vez
escolhendo suas batalhas.

— Obrigada. Isso seria realmente maravilhoso.

Ele ofereceu-lhe o braço, parecendo desconfortável.

— Estou ciente de que deveria ter sido feito bem antes.

— Sim. — Não permitiria que ele escapasse de sua censura,


pois embora tivessem criado uma trégua provisória, não havia
varrido um ano de seu mau comportamento. — Certamente deveria
ter.

Um sorriso irônico curvou seus lábios enquanto caminhavam


para a entrada.

— Você não é do tipo que perdoa, é?

— Somente onde o perdão é bem merecido. — Ela manteve a


voz afetada. Não queria que ele pensasse que fazer amor era um
tipo de cura para tudo. Claro que ela gostava das coisas perversas
que ele podia fazer ao seu corpo, mas isso dificilmente significava
que tinha esquecido a dura realidade de sua união. Agora que
estavam longe do mundo dos sonhos da festa de Lady Needham,
era mais fácil suas dificuldades reaparecerem.

— Existe uma maneira de ganhar?

Seus sapatos rangeram no cascalho a tempo. Apesar de sua


cautela, estava gostando daquela fatia da vida como poderia ter
sido para os dois, como talvez tivesse sido se ele já não tivesse
encontrado o amor em outro lugar. Ela teve que admitir que
ansiava pela simplicidade do companheirismo, a facilidade da
amizade, que ela sabia que algumas mulheres encontravam com
seus maridos. Esta não era a vida que imaginou para si mesma,
mesmo quando aceitou seu dever e concordou com seu casamento
de conveniência.

Maggie considerou sua pergunta então, forçando sua mente


para a conversa em vez de nas emoções que surgiam por ela em
seu estranho retorno ao lar.

— Você deseja merecer meu perdão? Verdadeiramente?

— Você duvida de mim?

Ela não conseguiu conter uma risada zombeteira.

— Claro que duvido de você. Um ano de ausência não garante


muita fé em um homem, você sabe.

— Ouso dizer que não. — Ele deu um tapinha na mão


enluvada dela que descansava em seu braço. — Admiro sua
tenacidade, minha querida. É muito americano.

— Obrigada, — ela respondeu. — Eu suponho.

— Permita-me apresentá-la à equipe, e então poderemos


discutir como um homem pecador pode conseguir o perdão de uma
bela mulher. — O olhar que ele lhe deu foi escaldante, acendendo
dentro dela um fogo em resposta.

Ela teve a impressão de que a ideia dele de uma discussão


envolvia pecado e um quarto de dormir, em vez de um diálogo. Mas
embora ela tivesse concordado com sua barganha, ainda possuía
uma memória e uma mente. Ambas a lembravam como foi suportar
sua civilidade gelada seguida de abandono. Ambas lhe recordaram
os olhares de pena, e os sussurros que a seguiam aonde quer que
fosse. E ambas a lembraram de que ele a havia trocado por outra.

— O perdão deve ser conquistado, meu senhor. — Ela


encontrou seu olhar com um outro franco e inabalável. Que ele não
se considere uma exceção a essa regra particular. Pois, certamente
não era.

Simon havia desaparecido. Maggie franziu a testa enquanto


vagava pelas imensas terras de Denver House sozinha. Enquanto
eles haviam passado a noite fazendo amor acaloradamente, ele
deixou sua cama antes do amanhecer. Não apareceu para o café
da manhã, nem se dignou a compartilhar uma refeição da tarde. O
chá também foi ignorado. Ela fizera o possível para rejeitar sua
deserção abrupta e confusa. Fez amizade com a Sra. Keynes, a
governanta. Encontrou-se com vários lacaios e criadas. Mas seu
marido era outro assunto. E quando as seis horas chegaram,
estava se sentindo bastante perturbada com o homem.

Na verdade, não tinha outro recurso a não ser encontrá-lo.


Ela já havia se intrometido em um estúdio, uma biblioteca, vários
quartos e a sala de estar, sem sucesso. Com o ressentimento cada
vez maior, Maggie cortou o corredor e selecionou a porta mais
próxima a ela, abrindo-a.

Móveis envoltos em coberturas a saudaram, um raio de sol


emergindo de um par de janelas distantes. Ela estava prestes a
passar para a próxima sala, aguardando sua inspeção, quando lhe
ocorreu que as cortinas deveriam estar fechadas. Em vez disso,
pareciam ter sido abertas deliberadamente para permitir que um
pouco de luz entrasse no quarto sombrio.

A consciência a atingiu, uma sensação de estar sendo


observada. Ela hesitou na soleira, suspeitando que finalmente
havia encontrado Simon, mas sem saber se ousaria entrar. Havia
uma solenidade no quarto, como se estivesse envolta em segredo,
que a fez se perguntar se ela havia invadido. Afinal, se ele havia se
escondido, sem dúvida havia um motivo.

Mas, o quê?

Ela ficou surpresa ao perceber que se importava o suficiente


com ele para buscar uma resposta. Maldito o seja. Quando ela
começou a desenvolver uma ternura pelo homem que alegremente
fugiu com a amante? Ele certamente não merecia seu afeto. Não
merecia seu corpo ou seu tempo. Ela não devia nada a ele além de
um mês.

Sua carranca ficou mais severa quando finalmente entrou no


quarto, estimulada por seu desgosto. Ela pensava que era feita de
um material mais resistente. Maggie forçou-se a lembrar que
enquanto seus beijos derretiam seus ossos, ele a tratava de forma
abominável. Ele era um canalha.

Ela estava no controle. Sim, estava. Tinha que estar, ou então


estaria perdida em sua escravidão, e isso não aconteceria. Nem por
um momento. Seu marido não era confiável. Sua última
desventura a lembrava, de maneira um tanto zombeteira,
exatamente disso.

Maldito o seja em dobro. Ela limpou a garganta, evocando


uma impressão de sua mãe feroz.
— Simon? — Seu olhar disparou ao redor, mas ela podia ver
muito pouco além das silhuetas enormes de espreguiçadeiras e
sofás que provavelmente estavam há muito fora de moda. Sem
resposta. Ela entrou na sala, jurando que podia sentir o cheiro
dele. — Se você está neste quarto, seria do seu interesse mostrar-
se imediatamente.

Ela tentou espiar em um canto escuro, esperando por sua


resposta. Nada estava próximo até que, depois do que pareceu uma
eternidade, sua voz familiar acariciou seus sentidos como a carícia
de um amante.

— O que será de mim se não o fizer?

Um arrepio de antecipação dançou sobre sua pele.


Finalmente. Ele certamente a havia conduzido em uma alegre
perseguição durante grande parte do dia. Ela girou em um círculo
lento, ainda incapaz de localizá-lo.

— Onde você está?

— Talvez você deva me encontrar. — Uma tendência de humor


envolvia sua voz.

Ele estava se divertindo, não é? Seu olhar se estreitou quando


contornou o que parecia ser uma escrivaninha, e se aventurou no
pedaço do quarto de onde sua voz parecia vir.

— Você é um monstro. Não tem consciência?

Em sua pergunta, ela balançou a cabeça, respondendo a si


mesma.

— Eu sou tola e teimosa. Claro que você não tem consciência.


— Eu tenho uma consciência, — ele falou, parecendo um
pouco indignado. — Simplesmente ignoro isso.

— Estou bem ciente disso, meu senhor. — Onde em nome do


céu ele estava? Ela afastou um tecido particularmente volumoso
de cobertura de móveis, na esperança de encontrá-lo embaixo dela.
Havia apenas um guarda-roupa. — Tenho certeza de que você não
ouve sua consciência desde que era menino.

— Isso é inteligente.

Sua voz estava diretamente atrás dela. Ela se virou para


encontrá-lo elevando-se sobre ela, uma figura escura e convidativa.

— É apenas verdade. — Ela fez o possível para restringir a


qualidade ofegante que ameaçava dominar sua voz. Hoje, mais do
que nunca, não queria mostrar-lhe um sinal de fraqueza, pois
sentia que ele era um caçador perseguindo sua presa. Ela tinha
poucas defesas contra ele além de sua inteligência.

Ele aproximou-se.

— Como você me encontrou aqui?

— Sorte. — Ela cruzou os braços sobre os seios, rezando para


que ele não a tocasse e desse modo derrubasse a parede
infinitesimal que havia construído entre eles. — Ou talvez, azar.

— Sentiu minha falta, minha querida?

Ela tinha sentido, e a descoberta a perturbou. Quando ele se


tornou necessário para ela, um homem que ela perseguia?

— Claro que não, — mentiu. — Sra. Keynes não tem certeza


do que ela deve servir para o jantar. Aparentemente, não deseja
incorrer no seu descontentamento.
— De fato? — Ele estava devastadoramente perto dela agora.
A mão agarrou seu cotovelo, puxando seu braço direito longe de
seu corpo. Com perícia praticada, arrastou os dedos pela parte
interna de seu braço, pegando-a apenas onde sua manga se abriu
para revelar a pele nua. Ele parou em seu pulso, levando sua mão
aos lábios para um beijo prolongado.

— O que é este quarto? — Ela estava determinada a não se


distrair com seu convite flagrante ao pecado.

— Não é nada agora. — Seu aperto aumentou sobre ela, em


advertência, ela supôs.

Ela permaneceu implacável.

— O que era antes de agora?

Abruptamente, ele passou de provocador a tempestuoso.

— Não quero falar sobre isso.

— Tenho certeza que não. Mas há uma razão para se esconder


aqui.

Ele largou a mão dela, girando abruptamente para lhe dar as


costas.

— Abomino seu senso americano de persistência.

— E eu não gosto do seu senso inglês de afastamento, —


rebateu. — Você não pode se esconder para sempre. Diga-me,
Simon. Você pode confiar em mim.

— Posso? — Ele se voltou para ela. — Na minha experiência,


o sexo frágil está longe de ser confiável.
— Que interessante, pois compartilho uma experiência
semelhante com o seu homólogo masculino. — Ela desejou poder
ver seus olhos, mas a escuridão do quarto tornava isso impossível.

— Ponto bem entendido. Você não pode confiar em mim,


pequena Maggie. Nunca faça isso. — Sua voz era amarga,
zombeteira.

Ela não hesitou.

— Você pode ter certeza de que não irei. Mas você pode confiar
em mim, meu senhor. Não sou Lady Billingsley. — Sua ex-amante
o machucou. Maggie sentiu uma pontada de ciúme pela
capacidade de Lady Billingsley de feri-lo, pois isso significava que
ele se importava.

— Você definitivamente não é. — Sua voz era solene.

Ela não sabia se ele lhe fazia um elogio ou um insulto, mas


decidiu pelo primeiro.

— O que é este quarto? — Perguntou novamente, recusando-


se a permitir que ele se esquivasse de sua pergunta. Havia uma
razão para ele ter se escondido em um quarto empoeirado e cheio
de móveis antigos. Estava determinada a saber o que era.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos, e ela temeu que


ele não respondesse. Então, sua voz rouca dividiu o silêncio
inquietante.

— Era a sala de estar da minha mãe.

A mãe dele. A surpresa passou por ela, misturada com


compaixão. Ela sabia pouco sobre a marquesa de Sandhurst
anterior, exceto os fatos relatados a ela pela Sra. Keynes, que
servira na Denver House por quase quarenta anos. A mãe de Simon
morrera de parto quando ele era menino. Além dessa verdade nua
e crua, não tinha muita informação.

Ela colocou a mão em seu braço, a necessidade de confortá-


lo foi um impulso tão forte quanto provavelmente errado.

— Há quanto tempo está fechado?

— Quinze anos, suponho. — A respiração escapou dele em


um suspiro longo e cansado. — Eu era apenas um rapaz. Nunca
tive coragem de mudar isso. Esta é a primeira vez que entro neste
quarto desde a morte dela. Muito estranho como tantos anos
podem se passar e, no entanto, ao retornar, é como se o tempo não
tivesse passado.

Sua tristeza era palpável. Esta rara demonstração de emoção


de seu marido, sempre cauteloso, a emocionou. Por um momento
ridículo, pensou em tomá-lo nos braços antes de afastar a ideia
com seu bom senso. Ele não era digno de seu conforto, e ela não
devia se esquecer disso.

Ela puxou a mão, precisando colocar alguma razão e


distância entre eles.

— As memórias são como um livro que você já leu. Você pode


esquecer os detalhes, mas assim que voltar às páginas, tudo volta.

Ele a considerou através da meia-luz.

— Você é surpreendentemente sábia para uma mulher em


sua tenra idade.
Ela tinha vinte e dois anos e não achava que isso fosse
terrivelmente jovem, principalmente porque ele era apenas sete
anos mais velho.

— Tenho um cérebro, — ela apontou. Embora soubesse que


nem sempre estava na moda as mulheres possuírem um raciocínio
aguçado, nunca teve o costume de esconder seu intelecto.

— E é realmente digno. Começo a ver o quão gravemente


subestimei você, minha querida. — Ele a assustou ao estender a
mão e acariciar sua bochecha.

Um pequeno arrepio a percorreu com seu toque.

— Você esteve se escondendo aqui o dia todo?

— Não. Estive vagando. Enfrentando velhos fantasmas,


suponho. — Seu polegar roçou seu lábio inferior.

Ela se acalmou, seu coração batendo loucamente.

— Talvez você não deva enfrentá-los sozinho.

— Cristo. — Ele a tomou nos braços então, apertando-a


contra ele e enterrando o rosto em seu pescoço. — Como você pode
ser tão gentil?

— Não sou gentil. — Ela tentou não ser afetada pelos lábios
dele em sua pele e falhou terrivelmente. — Meu irmão e minha irmã
mais novos atestariam isso.

Seu aperto sobre ela ficou tenso.

— Eu também tinha um irmão. Minha mãe morreu ao


carregá-lo no ventre, e ele morreu dois dias depois.
Ela o abraçou, deixando de lado o apelo frenético de seu
orgulho para não tratá-lo melhor do que a tratara. Como ela
poderia negar consolo a ele quando estava mostrando sua
humanidade pela primeira vez? Ele parecia frágil, o completo
oposto do homem frio que conhecera.

— Deve ter sido difícil para um menino perder a mãe e o irmão


tão abruptamente.

Seu rosto permaneceu pressionado contra sua garganta.

— Minha mãe era uma alma gentil. Merecia muito mais do


que morrer sozinha no campo enquanto meu pai estava
perambulando com sua amante.

Maggie esfregou suas costas em movimentos suaves. Ele


usava apenas uma camisa, sem paletó, sem colete, totalmente
despido de suas roupas de cavalheiro. A selvageria emanava dele,
como se toda a dor que ele enterrou tivesse voltado à superfície
agora. Ela sentiu como se o entendesse — talvez melhor do que ele
se entendia — pela primeira vez.

— Sinto muito, Simon. — Foi tudo o que conseguiu dizer.


Palavras não conseguiam reescrever seu passado, a tristeza que
havia percorrido sua vida como se fosse um rio. Provavelmente, ele
havia levado muitas coisas em seu caminho.

— Você não precisa se desculpar. A vida tem sua maneira de


corrigir os erros. Meu pai morreu um ano depois nos braços de sua
amante. Apoplexia, disse o médico. Um final adequado.

— Deixando você sozinho, — terminou por ele. — Você não


tinha mais ninguém?
— Tive a mim mesmo. Isso era tudo que eu precisava.

Maggie teve uma infância que, embora longe de ser perfeita,


nunca foi solitária. Seus dias foram preenchidos com irmãos e
amor, embora com uma porção saudável de brigas. Sua desilusão
começou mais tarde, junto com a inevitável e terrível percepção de
que ela deveria deixar o conforto de sua família para trás. Sentiu
pena dele, pelo que ele deve ter sofrido quando menino
repentinamente desolado.

— Você me tem agora também, — disse a ele, odiando que ele


já tivesse se sentido como se estivesse sozinho, embora ela
soubesse que não deveria se importar nem um pouco.

— Eu tenho?

Ela pensou no menino que perdera a mãe, que ficara sem


consolo e amor, e seu coração desmoronou pelo que ele deve ter
sido. As lágrimas arderam em seus olhos e ela piscou para longe.

— Pelo próximo mês, você vai, — disse antes que pudesse


pensar melhor.

— Por que diabos você está aqui, Maggie? — Ele se afastou


para olhar para ela, seu olhar escuro e perscrutador.

Ela não tinha certeza se entendia o que ele estava


perguntando. Ela franziu o cenho.

— Você me trouxe para Denver House.

— Estou bem ciente. — Ele fez uma pausa, parecendo


organizar seus pensamentos. — O que queria perguntar é por que
você está neste quarto comigo? Por que você está sendo tão boa
com o homem que nunca te quis?
Ela sabia, é claro, que ele nunca a quis como esposa. Ele
deixou isso bem claro com sua deserção e silêncio que se seguiu.
Mas ouvi-lo confirmar em voz alta ainda doía. Maggie permitiu que
seu olhar viajasse por seu rosto bonito enquanto procurava uma
resposta.

— Durante o próximo mês, é meu dever.

— Dever. — Seu tom ficou sem vida.

Era possível que ela realmente o tivesse machucado? Embora


soubesse que deveria possuir um coração de pedra dura quando
se tratava dele, não conseguia suportar. Ele tinha um jeito de
penetrar em seu coração quando menos esperava. Na festa de Lady
Needham, eles caíram nos braços um do outro, sem saber o que
aconteceria quando suas verdadeiras identidades fossem
descobertas. Ao fazer isso, eles se tornaram inextricavelmente
ligados de uma maneira que seu casamento nunca havia
conseguido realizar.

— Não quero ser seu dever, Maggie, — ele se intrometeu em


seus pensamentos, sua voz baixa e intensa. — Eu quero mais de
você.

— Quanto mais? — Ela ousou perguntar, embora dissesse a


si mesma que não tinha mais nada que estivesse disposta a dar a
ele. Ele já tinha tomado muito.

— Eu não sei. — Emoções reprimidas tornaram sua voz


embargada.

Não era uma resposta a nenhuma das perguntas que


latejavam em sua mente, mas de alguma forma era tudo que ela
precisava. Ela enganchou um braço em volta do pescoço dele, e
puxou seu rosto bonito para mais perto até que suas bocas mal se
tocassem. Ele não exigiu mais encorajamento. Com um gemido, ele
reivindicou seus lábios em um beijo longo e explorador.

Os dedos de Maggie afundaram em seu cabelo enquanto ela


se abria para ele. A língua dele deslizou em sua boca e ela chupou,
uma onda quente de desejo quase a derrubou naquele momento.
Como é que podia ficar irritada com ele em um minuto, e ainda no
meio de uma sala empoeirada, ela poderia ansiar por ele no
próximo?

Ele finalmente interrompeu o beijo, descansando sua testa


contra a dela. A respiração dele envolveu calorosamente seus
lábios.

— Diga-me como é que você continuamente me surpreende.

Ela olhou fixamente.

— Poderia te perguntar o mesmo.

— Obrigado por me encontrar.

Isso a fez parar. Ela não havia previsto sua gratidão.

— Achei que você precisava ser encontrado.

Ele deu um beijo suave e doce em seus lábios.

— Parece que você tem uma habilidade incrível para me


encontrar quando mais preciso.

— Se você está falando de nosso encontro na casa de Lady


Needham, foi você quem me encontrou, — ela apontou, tentando
manter o controle que tinha sobre seu julgamento. — Você destruiu
minha cauda completamente.
— As caudas são um incômodo, — ele brincou. — Você
deveria ter amarrado corretamente, por Deus.

O sorriso de Maggie se alargou.

— Eu amarrei. Você deveria ter observado onde estava


colocando seus pés excessivamente grandes, por Deus.

Ela gostou de suas brincadeiras, e a descoberta a


surpreendeu como uma picada de agulha no polegar. Para sua
surpresa, estava começando a gostar dele. Um paradoxo, ele estava
cheio de paixão em um momento, e frio e calculista no próximo.

Ele vociferou sem querer. Ele amava sua mãe. Tinha amado
outra mulher que não era digna desse amor. Ela sabia agora que
por baixo de sua fachada escondia-se o menino que ficara sozinho
no mundo, que o menino havia se tornado um homem que ainda
possuía o mesmo medo de ficar sozinho. Ele era imperfeito, era
verdade, mas ela também. E seus beijos a deixavam louca. Seu
toque a deixava em chamas.

Não. Ela tinha que manter-se no curso de sua mente


imprudente, antes que isso a levasse mais fundo no caminho da
ruína.

— Agora tenho pés excessivamente grandes, não é? — Havia


um sorriso em sua voz.

— É incrível que você possa andar com aqueles companheiros


pesados, — brincou, passando as mãos por seus ombros largos.
Ela podia confiar no desejo, se pouco mais. Essa foi a única emoção
entre eles que fez algum sentido.
— Você é uma atrevida. — Ele encontrou seu traseiro através
das camadas de seu vestido, deslizando sob sua anquinha com
precisão infalível. Puxou-a firmemente contra ele.

— E se eu for? — Ela desafiou.

— Vou ter que fazer você pagar.

— Promete?

Ele a beijou novamente.

— Absolutamente.

Quando suas bocas finalmente se separaram, Maggie reuniu


seu bom senso, obrigando-se a lembrar o motivo inicial para
procurá-lo. Não seria bom para eles se tornarem alimento para
fofocas no andar de baixo em seu primeiro dia de residência. Ela
nunca tinha sido tratada como a dona da casa, e não queria perder
o respeito que ganhou de sua governanta. Por mais que quisesse
permitir que ele a arrastasse para o quarto, isso não aconteceria.
Não, agora.

— Sua retribuição terá que esperar, temo, pois provavelmente


está quase na hora do jantar agora. Você vai se juntar a mim?

Ele inclinou a cabeça.

— Eu devo.

— Obrigada. — Ela se afastou, alisando as mãos sobre as


saias. — A pobre Sra. Keynes deve estar fora de si, pensando no
que servir à mesa.

— Tenho certeza de que ela encontrará algo apropriadamente


delicioso. — Ele pegou a mão dela, entrelaçando os dedos em uma
demonstração surpreendente de solidariedade. — Quis dizer o que
disse, Maggie. Obrigado por me encontrar.

Ela apertou seus dedos, uma pontada inesperada de emoção


passando por ela. Se não tomasse cuidado, se suavizaria muito
com ele. E quando o mês combinado acabasse, não haveria como
saber para onde ele escolheria ir. Ela faria o melhor para lembrar
que a trégua deles não duraria para a vida toda, advertiu-se. Seus
pensamentos piegas de momentos antes eram apenas isso,
sentimento em vez de realidade. Eles não se conheciam. De modo
nenhum.

Mas ela não conseguia conter o desejo de conhecê-lo melhor.

— De nada, — sussurrou desejando que passasse a tensão


que ameaçava fechar sua garganta. Você não deve começar a se
importar muito com ele, lembrou-se enquanto ele a escoltava para
fora do quarto.

Se ela já não tivesse começado a fazer isso.

Maggie acordou para descobrir que Simon tinha saído para


dar uma volta. Uma semana se passou desde sua chegada a
Denver House, e eles passaram todas as noites em abandono
sensual. Encorajada pela nota que ele teve o cuidado de deixar, ela
desfrutou de um pequeno café da manhã antes de decidir
continuar suas explorações. Uma sala chamava sua atenção mais
do que todas as outras que já havia visitado, e era a biblioteca. Ela
a encontrou novamente com a ajuda da temível Sra. Keynes, e uma
vez dentro de seus imensos confins forrados de livros, ficou
completamente apaixonada.
A biblioteca era cavernosa, seu teto alto e prateleiras
ornamentadas esculpidas em nogueira luxuosa. Grandes janelas
góticas permitiam que a forte luz do sol iluminasse a sala em sua
extremidade. Um tapete grosso corria por toda a extensão.
Cadeiras e sofás estavam espalhados por toda parte, junto com
uma mesa enorme e uma lareira de mármore deslumbrante. Ela
poderia ter vivido feliz e sozinha em toda esta sala. Sem fôlego pelo
efeito, caminhou até a parede de prateleiras mais próxima, curiosa
para ver que tipo de livros a aguardavam lá. Fazia muito tempo —
muito tempo — desde a última vez que se perdeu na leitura.

Ela descobriu muito latim, como era de se esperar. Nada


chamou sua atenção até que se mudou para o próximo conjunto
de prateleiras. Possuía um número surpreendente de tomos de
poesia, e parecia que seu gosto era mais moderno do que a coleção
típica de poetas centenários. Ela passou o dedo preguiçosamente
pelas lombadas, descobrindo que seu interesse por poesia era
notavelmente semelhante. E então, ela parou, chocada com o nome
em um volume particularmente pequeno.

M.E. Desmond.

Ela conhecia bem o nome, assim como conhecia o conteúdo


do livro em si. Pois ela era M.E. Desmond, e os poemas eram seus.
Ele realmente leu sua poesia? Parecia impossível que ele fosse o
proprietário, pois o volume fora impresso em Nova York com um
número limitado de volumes. Curiosa, apesar de tudo, o tirou da
prateleira. A personificação física de suas palavras nunca falhou
em fazê-la sentir-se humilde.

— Você está precisando de entretenimento, minha querida?


Ela engasgou-se com o som da voz profunda de Simon atrás
dela e se virou para encará-lo. Injustamente bonito, ele usava um
par de botas de montaria enlameadas com calça e casaco de tweed.
Um ar libertino emanava dele com potência suficiente para fazê-la
largar o livro de seus dedos flácidos.

O desejo a atravessou, enviando uma dor diretamente ao seu


núcleo. Ela se esqueceu completamente do que estava fazendo.
Esqueceu tudo, exceto o homem alto e magro que caminhava até
ela pelo escritório. Ele parou a poucos centímetros de distância,
cheirando a couro e ao ar livre, e a seu cheiro familiar e sedutor.
Seus olhos queimaram nos dela.

— Você perdeu sua capacidade de produzir uma réplica


afiada? — Ele sorriu, derretendo-a ainda mais. — Vamos marcar
este dia para sempre.

Ele estava brincando com ela, percebeu, e ela gostava desse


lado dele. Isso provocou uma sensação de intimidade e leveza entre
eles que nem todos os atos sexuais do mundo conseguiriam. Ela
estava olhando como se fosse uma garota apaixonada segurando
as saias da mãe. Maggie tentou se recompor, desejando que ele não
fosse tão indescritivelmente lindo, que seu sorriso não fosse tão
contagiante, que não fizesse seu estômago parecer que estava
prestes a cair na ponta dos pés.

— Você é de uma sagacidade, não é? — Forçou-se a zombar


por fim, desejando não parecer sem fôlego.

— Sempre que possível, — ele respondeu, curvando-se e


recuperando o livro caído, tudo no mesmo movimento fluido. Ele
olhou para o volume em sua mão. — Ah, vejo que você descobriu
um favorito. Você já leu Desmond antes?

Ela engoliu em seco, incerta de como deveria responder. Com


honestidade, supôs finalmente.

— Eu li, sim.

Ele levantou uma sobrancelha, seu interesse claramente


aguçado.

— O que você acha dele? Ele lançou somente uma coleção,


mas gostei bastante.

Oh, céus.

— Por que você acha que o autor é um homem?

— Por que você acha que o autor é uma mulher? — Ele exibiu
uma lógica perfeitamente perfeita.

Ela não estava preparada para responder a essa pergunta em


particular ainda. Havia algo que queria saber primeiro.

— Qual é o seu poema favorito?

— Gosto especialmente do Império, — respondeu sem hesitar.


— Embora haja muitos sonetos que admiro. Ele é um sujeito
inteligente, com certeza.

Império também era um dos poemas favoritos que ela


escreveu. Era uma confluência do mundo que conhecia em Nova
York, e nos primeiros dias de sua infância, os dias em que seu pai
era um homem com o sonho ardente de construir um império em
vez de um homem que possuía um. Quando jovem, muitas vezes
desejou retornar à sua vida de simplicidade, pois a riqueza que seu
pai acumulara com seus hotéis e lojas a havia prendido com tanta
certeza quanto qualquer gaiola dourada. Com a riqueza vieram
responsabilidades e, finalmente, uma vida longe de tudo que ela já
conheceu.

Ela olhou para Simon, perguntando-se se deveria contar a


verdade. Se ele ao menos iria acreditar nela. Mas, estava orgulhosa
de seu trabalho e não o esconderia. Não dele.

— Sempre gostei desse poema também. Afinal, eu o escrevi.

A confusão nublou seus olhos.

— Não compreendi?

— Eu escrevi o poema, — disse em voz baixa. — Eu sou M.E.


Desmond. Ou melhor, era, pois não escrevo um poema há alguns
anos.

— Você não pode ser. — Ele procurou o rosto dela,


procurando uma resposta que aparentemente encontrou. — Meu
Deus. Você está falando sério, não é?

— Margaret Emilia Desmond. — Ela sustentou seu olhar,


inabalável.

— Puta merda. — Simon olhou-a com uma expressão


inescrutável. — Quando você estava pensando em me contar,
Maggie?

Ela encolheu os ombros.

— Não ia te contar. Não escrevo mais poesia. Não parecia


importante.

— Você não escreve mais? Por que diabos, não?


Ela não tinha previsto esse tipo de resposta. Cruzando os
braços sobre o corpete em um gesto defensivo, encontrou seu olhar
sem pestanejar.

— Não sou boa em escrever poemas. Era uma fantasia


infantil, nada mais.

— Uma fantasia infantil? — Ele segurou o livro contra o


coração, e ela não tinha certeza se era um ato inconsciente ou
intencional. — Certamente você não pode estar falando sério,
Maggie. Estes são alguns dos melhores poemas de nossa época.

Ela franziu o cenho.

— Bajulação é o pior tipo de elogio.

Ele franziu o cenho.

— Não estou bajulando você, por Deus. Não faria.

Maggie pensou sobre isso por um momento e teve que


reconhecer o cerne de honestidade que suas palavras continham.
Ele nunca foi um homem de lábia fácil. Era bonito e sedutor,
poderoso e atraente de maneiras que não conseguia compreender
totalmente, era verdade. Mas ele nunca havia prestado a ela o tipo
de subserviência odiosa que outras pessoas tinham feito no
passado.

— Muito bem, — ela permitiu. — Mas a sua é apenas uma


opinião. A única razão pela qual consegui publicar este volume é
que meu pai é rico e pagou a um editor uma bela quantia para fazer
a edição. Não ouso me enganar pensando que sou uma verdadeira
poetisa.
— Besteira. Outros leram seu trabalho e o admiraram como
eu.

Eles leram? Ela não se atreveu a ter esperança. Depois de


descobrir que seu pai havia comprado sua entrada no mundo da
poesia e das aspirações literárias, jurou nunca escrever outro
poema. Seu maldito orgulho, supôs, ou talvez vaidade, mas se sua
poesia não fosse boa o suficiente por si só, não desejaria jamais vê-
la impressa novamente.

— Que outros? — Claro, sabia que não deveria alimentar tais


pensamentos. Desde o momento em que foi matriculada pela
primeira vez na escola — a escola de sua juventude, em vez dos
professores particulares e da escola de formação que teve mais
tarde — ela queria nada mais do que ser poetisa. Mas desistiu
daquele sonho, sabendo que seria infrutífero.

— Lorde Egglesfield, por exemplo, — ele disse, seu tom grave.


— E Lordes Ridley, Cavendish e Tyndale também. Sr. Tobin,
também.

Céus. Embora ela não tivesse ouvido falar de todos os colegas


que ele mencionou, certamente tinha ouvido falar do Sr. Jonathan
Tobin, pois ele era um poeta extraordinariamente talentoso por
seus próprios méritos. Ficou perplexa ao ver que um grupo tão
distinto de homens se dignou a ler os rabiscos de sua juventude.
E admiraram isso.

Ela abanou as bochechas coradas com a mão.

— Sr. Tobin? Você o conhece?

Ele fez uma careta.


— Sim, e ele é feio como o traseiro de um urso.

Ela percebeu ciúme? Um pequeno sorriso flertou em seus


lábios enquanto o contemplava.

— Por que nunca ouvi tais palavras gentis sobre minha


poesia?

— Ninguém sabe quem é M.E. Desmond, — respondeu mais


uma vez, a alma do bom senso. — Tobin é dado à gordura também.

— Claro. Não tinha pensado nisso. — Seu sorriso floresceu


largo quando a última parte do que ele disse permeava girando em
sua mente. — Vi uma gravura do Sr. Tobin. Não parecia nada
rechonchudo para mim.

— Gordo como um porco, — Simon estalou, seus lábios


comprimindo em sua irritação.

— Eu o achei muito bonito. — Não resistiu a empurrá-lo.

Ele a puxou contra seu peito duro. De alguma forma, até


mesmo seu olhar furioso era encantador.

— Vou ter que te punir por isso. — Sua boca mergulhou


deliciosamente perto da dela, seu hálito quente caindo em cascata
sobre seus lábios em tentação. — Por que você não me contou
sobre sua poesia?

Ela lutou para se concentrar em suas palavras ao invés de


sua boca pecaminosa.

— Quando eu deveria ter contado? Você mal falou comigo até


a casa de Lady Needham.
— Você teve muito tempo desde, então. — Uma de suas mãos
deslizou ao redor de sua cintura, e depois para cima para segurar
seu seio sobre o tecido, e a barreira do espartilho que os separava.

Ela arqueou-se, incapaz de evitar a busca pela deliciosa


sensação de seu toque.

— Não achei que isso importasse. Como eu disse, não escrevo


há anos. Não sou mais uma garota de olhos brilhantes, guiada por
sonhos tolos.

Simon estava atento, seu olhar tão penetrante quanto suas


mãos errantes.

— Por quê?

Maggie não estava totalmente certa do que ele estava lhe


pedindo. Ela engoliu em seco, mal segurando seu juízo.

— Por que você deveria se importar tanto?

— Admiro o seu trabalho. — Ele estendeu a mão para


acariciar sua bochecha. — Verdade seja dita, eu lhe admiro. Eu
não queria, mas admiro.

Sua confissão roubou o fôlego direto de seus pulmões. A


admiração não era amor, mas era algo mais do que nada. Ela
passou as palmas das mãos sobre o peito dele, descansando a mão
direita sobre o coração palpitante.

— Nunca pensei ouvir essas palavras de você, de todos os


homens.

Ele estremeceu.

— Suponho que ganhei seu cinismo.


— Você ganhou. — Ela não teve piedade. Seu passado horrível
nunca seria completamente esquecido.

— Pense o que você tem que pensar de mim, mas saiba que
eu só falo a verdade quando digo que você tem um dom, Maggie.
Você deve escrever de novo, tanto para você quanto para os outros.
— Seu tom era solene.

Ela não pensava em escrever há muito tempo. Embora


continuasse a ler poesia e a apreciar as obras de outras pessoas,
realmente sentia que esta parte dela estava encerrada para
sempre. Ela não era uma grande poetisa.

— Não posso escrever. A música não está mais em mim.

Ele segurou o queixo dela entre o polegar e o indicador,


inclinando a cabeça para trás para que ela não pudesse desviar o
olhar.

— O que roubou a poesia de você?

Ela não sabia o que dizer, e ele estava terrivelmente perto. O


desejo se desenrolou dentro dela como uma flor madura.

— Não posso ter certeza, — forçou-se a dizer, e era verdade.


— Minha vida acabou sendo bem diferente do que imaginava que
seria quando era menina. Às vezes, devemos desistir dos sonhos
de nossa juventude.

Ela percebeu a tristeza em sua própria voz. Sua vida tinha


mudado muito desde aquela época despreocupada em que se dava
a sonhos e caprichos. Tinha sido livre para escrever como quisesse,
viver como quisesse. E então, seu mundo havia desaparecido,
substituído por uma escola de formação e vestidos franceses, uma
viagem para a Inglaterra da qual não haveria retorno.

Antes que soubesse o que estava fazendo, foi deixada em uma


terra estranha com um marido que não a queria, e com poucos
amigos preciosos para apoio. A poesia certamente não estava em
primeiro lugar em sua mente. Ela havia cumprido seu dever para
com o pai. Ele queria nada menos do que um título para sua filha,
e ela certamente não queria desapontá-lo, nem mesmo correndo o
risco de se decepcionar. Nem mesmo correndo o risco de perder um
homem de quem gostava muito. Richard estava, como seu passado,
para sempre fora de alcance.

— Espero que você considere escrever novamente, — ele


disse, sua expressão inescrutável como sempre. — Nem todo sonho
precisa ser abandonado.

Era evidente que ele era um filho da aristocracia. Oh, ter


nascido um homem com todo o poder do mundo em seu dedo
mindinho. Maggie franziu a testa.

— Sou muito racional para ter sonhos agora.

Seu pai a chamou de lado antes de enviá-la para a Inglaterra


com sua mãe. Ele lhe disse que os sonhos eram para homens e não
para mulheres. Ela ficou arrasada com suas últimas palavras
antes de ser mandada para a Inglaterra e para um casamento que
serviria para aumentar seu status em Nova York, ao mesmo tempo
que a deixaria totalmente infeliz. Sabia agora que seu pai devia
saber o que ele a estava mandando enfrentar. E doeu. Por um
tempo, ela tinha sido sua filha querida.
Quando menina, e a mais velha de seus irmãos, sempre fora
próxima dele. Ele teve muito cuidado em mostrar-lhe as
complexidades de seus negócios quando ela era bem jovem. Mas
quando ela completou doze anos, sua mãe finalmente deu à luz ao
filho que ele queria. E quase instantaneamente, ou pelo menos
assim que se soube que seu irmão seria um bebê saudável, Maggie
foi posta de lado, substituída. Aos dezessete anos, foi enviada para
a escola de formação. Voltou e se apaixonou por Richard, o doce
filho mais novo de um clérigo de Nova York. Seu pai desaprovou
imensamente, e ela se curvou à sua vontade. Ele a enviou para se
casar com um título em um lugar distante, como alternativa. Ela
foi esquecida.

Agora, seu pai não se preocupava em enviar-lhe mais do que


uma carta ocasional, e mesmo essas correspondências foram
escritas pela mão de seu secretário. Simplesmente porque ela não
nasceu um filho, e embora fosse tão inteligente quanto James um
dia viria a ser. Era tudo tão horrivelmente, terrivelmente injusto.
Forçou-se a não pensar nas decepções que seu relacionamento
com seu pai havia produzido, pois se ela se demorasse nelas, isso
a machucaria muito. Mas agora, Simon e sua preocupação
surpreendente estavam desconstruindo as paredes que ela
construiu entre seu passado e seu presente.

— Por que você franze a testa tão ferozmente, minha querida?


— A voz de Simon interrompeu suas reflexões perturbadoras.

— Estou pensando no meu pai. — Ela sentia uma estranha


sensação de conforto com o marido agora. Eles haviam
compartilhado suas intimidades. E eram marido e mulher, o que
os unia mais completamente do que qualquer outro homem e
mulher poderiam ser unidos. Mesmo que esse vínculo nunca
tivesse sido verdadeiramente selado antes, desde seu
relacionamento repentino, ela não podia negar sua conexão
profunda. Também não queria mais negar. Ele estava despertando
seu coração e sua paixão, e talvez fosse perigoso, mas ela não se
importava mais.

— O que tem ele? — O tom de Simon foi gentil.

— Estava pensando em como meu pai me criou para ter


sonhos, mas só até ficar claro que ele teria um filho. Quando meu
irmão nasceu, meu pai prontamente esqueceu que eu existia. Sem
mais aulas em seu escritório. Parou de me ensinar aritmética e
filosofia, e de me encorajar a ler os grandes poetas.

— Parece que compartilhamos uma espécie de comunhão,


então, — Simon disse, surpreendendo-a com sua revelação, — pois
meu pai nunca deu a mínima para a minha existência.

— Me pergunto se esse não teria sido um destino melhor, —


ela disse, — do que ter estado perto de seu pai, e então saber que
ele valorizava mais um irmão do que você por nenhum motivo além
de seu sexo. Não posso evitar que nasci mulher. Ainda sou tão
digna quanto James.

— Claro que você é, minha querida. — Simon a puxou para


seu peito então, abraçando-a em seus braços fortes e
aparentemente tentando apagar os problemas em seu coração.

Ela se apoiou nele, absorvendo sua força. Que estranho era


que ele tinha o poder de trazer à tona sentimentos que não sabia
que estava escondendo.
— Uma mulher é tão digna quanto um homem. — Por que,
afinal, seu irmão mais novo deveria ser considerado o herdeiro de
sua família simplesmente por causa de seu sexo? As mulheres
podem ser tão inteligentes, senão mais do que seus colegas
homens.

— Não chore, querida. — Ele pegou suas lágrimas com a


ponta do dedo. Ele era insuportavelmente bonito olhando-a, a luz
das janelas distantes iluminando suas feições aristocráticas. Seus
olhos eram o que mais a assombrava, prendendo-a no chão onde
estava.

— Eu não estou. — Ela fungou, tentando esconder seu


constrangimento. Como eles passaram de falar de seu antigo
hábito de poesia para esta conversa profunda e emocional? Não
queria se demorar com feridas que não tinham um curativo ao
alcance. — Meu pai não foi particularmente gentil comigo quando
me tornei adulta, mas isso dificilmente é problema seu. Sinto
muito, meu senhor.

Ela lambeu os lábios, envergonhada por se permitir afundar


tanto na lama de seu passado. Não era culpa dele que seu pai a
tivesse trocado por seu título. Pela primeira vez em sua vida,
reconheceu as maquinações de seu pai pelo que eram. Ela poderia
estar com tanta raiva de Simon quanto quisesse, mas a verdade é
que seu pai orquestrou tudo. Ele a vendeu por um título e, uma
vez que ela se foi, ele não precisava mais dela. Todas as memórias
felizes da infância no mundo não poderiam suplantar esse fato
amargo.

Simon deu um beijo em sua testa.


— Sinto muito, minha querida. Meu pai também era um
bastardo absoluto. Tudo o que ele me deixou foi uma montanha de
dívidas e nenhuma solução verdadeira.

Nenhuma solução verdadeira. Maggie estremeceu, pois sabia


que tinha sido a solução. Ou melhor, havia sido a disposição de
seu pai de lhe dar um dote farto.

— Suponho que ambos somos vítimas de nossas


circunstâncias. — Ela nunca tinha olhado para a situação de tal
perspectiva, mas quanto mais tempo eles passavam juntos, mais
passava a vê-lo de forma diferente. Sentia uma profunda empatia
por Simon, que era um homem que tinha ficado à deriva no oceano
da vida tanto quanto ela.

— Suponho que sim. — Sua expressão era tão solene quanto


seu olhar procurava. — Talvez devêssemos começar de novo, jogar
fora as velhas mágoas entre nós. O que você diz, minha querida?

Se ele a surpreendeu antes, a chocou agora com sua pergunta


inesperada. A vida solitária que levava desde seu casamento não
poderia tê-la preparado para este momento, para a descoberta de
que seu marido não era totalmente o canalha que acreditava que
era. Que era apenas um homem que havia tomado decisões
indesejadas assim como ela.

— Gostaria muito disso. — As palavras foram arrancadas


dela, uma admissão que não queria dar, mas precisava. Ela só
podia esperar que elas não provassem sua ruína.
VOCÊ NÃO PODE ESTAR FALANDO SÉRIO.

Simon olhou para sua esposa de cabelos cor de fogo e decidiu


que, embora ela parecesse particularmente requintada em um
vestido de tarde azul brilhante, suas sensibilidades americanas
estavam apodrecendo seu cérebro. Tendo habilidade excepcional
como poetisa ou não, ela estava pronta para o hospício. Ela parecia
bastante sincera, seus olhos violetas enormes e brilhantes,
prendendo-o no lugar. De seus elaborado penteado a seus sapatos
de seda, parecia em cada centímetro a marquesa adequada. Ele
desejava bagunçar ela, desfazer alguns de seus botões, dobrá-la
sobre um sofá e afundar dentro de sua carne quente e úmida.
Diabo o leve. Afastou o pensamento de sua mente. Nem sempre
podia estar fazendo amor com ela. Podia?

— Claro que estou falando sério, Sandhurst. — Ela sorriu, e


ele a queria ainda mais. — Então, é você. Esse é o problema.
Ocorreu-me que nunca ouvi você rir.

Ela, nunca? Ele ponderou sua declaração por um momento,


supondo que não encontrava muita leviandade no mundo.

— Rir é para tolos, — retrucou, irritado. Ela havia invadido


sua casa, seus pensamentos e, meu Deus, quase seu coração. Por
que ela tinha que ser tão adorável, tão doce e gentil? Teria sido
melhor se ela fosse uma megera.
Maggie deu-lhe um olhar que imaginou que ela guardava para
gatinhos sem mãe.

— O riso é para quem está feliz.

O que ele diria sobre isso? Franziu o cenho, pensando que


deveria ter agido de acordo com seu instinto e a arrebatado.

— O que diabos a felicidade tem a ver com andar na chuva?


— Ele exigiu, voltando à ideia ridícula de que eles vão dar um
passeio na tempestade que atualmente encharca o campo. — Ouso
dizer que se afogar em nuvens de tempestade e poças de lama não
vai provocar risos ou felicidade.

Ela teve a coragem de afastar sua declaração com um gesto


de sua mão pequena.

— Absurdo. Não está trovejando e você nunca viveu antes de


dançar na chuva.

— Suponho que você também nunca tenha contraído uma


doença pulmonar. — Cristo, ele estava realmente começando a
ficar encantado com sua loucura. De alguma forma, ela era mais
atraente quando sorria e o desafiava a ultrapassar os limites atrás
dos quais ele viveu toda a sua vida.

— Sinceramente, Simon. — Ela franziu os lábios deliciosos


daquela maneira que o fez querer apertá-la em seus braços e beijá-
la. — Para que serve a vida sem um pouco de diversão?

Ele fez uma careta, confuso por sua intensa reação a ela. Era
loucura. Ridículo. Não havia motivo para querer esta mulher que
jurou nunca ir para a cama, muito menos para se encantar por seu
estranho senso de aventura. Ela era tudo que ele não era. Jovem,
idealista, cheia de risos, esperança e inocência. Estava pronto para
ceder aos desejos dela, para esquecer as restrições da sociedade
que diziam que um marido e uma esposa não deveriam se amar.
Ela cuidou dele apesar de seu abandono, de sua natureza
reconhecidamente fria. Ela era o fogo para seu gelo e, droga, ela o
estava derretendo. Ele precisava tomar cuidado ou seria queimado.

Ele forçou sua mente a se concentrar. O que ela disse? Ah,


sim. Mais conversa fiada sobre diversão, entre todas as coisas.

— Isso soa como se fosse algo que Nell diria.

O rosa floresceu em suas bochechas, dizendo-lhe que ele a


prendeu em seu próprio jogo.

— Ela disse isso. Mas, ela estava absolutamente certa.

— Se você quer se divertir, — ele rugiu, fechando a distância


entre eles e deslizando os braços sobre sua doce cintura de vespa,
— Tenho outra coisa em mente. Não envolve chuva, mas envolve
desfazer todos os seus setecentos botões.

Seus olhos se arregalaram, escurecendo com a paixão que ele


reconhecia. Ela não estava imune. Ele deslizou as palmas das
mãos sobre a seda de suas costas, movendo-se para sua nuca. Seu
cabelo era tão macio e cheirava a rosas. Seu pênis ficou
dolorosamente ereto. Para o inferno com a chuva e a dança. Ele a
queria no tapete da biblioteca, embaixo dele, seu pênis deslizando
profundamente nas profundezas rosas e escorregadias de sua
boceta.

— Acredito que você esteja fazendo uma piada, meu senhor,


— Maggie disse, soando tão sem fôlego quanto se sentia. — Seus
olhos estão quase brilhando de alegria.
Talvez ela o tenha deixado piegas, e estivesse tão comovido
quanto ela. Seja qual for o caso, descobriu que não se importava.
O desejo deslizou por seu corpo, misturando-se com a antecipação.
Ele inclinou suavemente a cabeça dela para trás.

— Absurdo. Você sabe muito bem que não estou brincando, e


se meus olhos estão brilhando, é apenas porque estou imaginando
você nua.

Seus lindos lábios se separaram.

— Você não vai me deixar nua até que você saia na chuva
comigo.

Novamente com o absurdo da chuva. Muito bem. Ela poderia


tê-lo parado sob uma chuva gelada pelo resto da tarde, e ele não
achava que isso esfriaria o fervor que corria por seu sangue. Queria
tê-la, e se isso significasse fazer o que ela pedia, o faria de bom
grado. Qualquer coisa para aliviar a dor persistente em suas
calças.

— Você venceu, minha querida. Vou me aventurar no clima


com você.

Ela agarrou seus braços em sua excitação, aparentemente


chocada por ter conseguido sua rendição.

— Você irá?

— Irei. — Ele deu um beijo rápido em sua boca, incapaz de se


conter. Mas com um beijo, inevitavelmente queria mais. — Só por
um momento, sua mulher estranha. — Ele não resistiu a outro
beijo, este demorando mais que o primeiro. Ela se abriu para ele e
sua língua entrou, saboreando-a, reivindicando-a. Ela era dele, por
Deus. Seus sentidos foram preenchidos com ela, o doce aroma de
seu perfume, a suavidade de seus lábios, seu suspiro ofegante
enchendo seus ouvidos, a sensação de suas mãos encontrando o
caminho para seu peito. Querido Deus. Talvez a chuva amortecesse
seu ardor. Ele certamente esperava que sim, pois ela estava se
tornando mais necessária para ele do que o ar, e isso o assustava
como o diabo. Com grande relutância, interrompeu o beijo, mesmo
que suspeitasse que ela teria permitido que prolongasse o
interlúdio.

Ele olhou-a, sua esquisita esposa que passou a significar


muito para ele em tão pouco tempo. A esposa que ele não se
preocupava em ver há mais de um ano. Parecia impossível agora,
enquanto ele olhava para sua beleza descarada. Ela olhou-o, a
paixão mútua refletida em seus olhos vidrados. Ela prendeu o lábio
inferior carnudo entre os dentes, quase como se estivesse lutando
para recompor seus pensamentos.

— Devemos? — Ele perguntou, querendo tirar seu pedido


peculiar do caminho o mais rápido possível, para abrir caminho
para atividades mais agradáveis.

Ela piscou.

— Verdadeiramente?

Ela o achava tão idiota? Supôs que não podia culpá-la. Ele
não tinha sido gentil com ela durante a maior parte do casamento.
Na verdade, não tinha certeza se poderia ser gentil. Parte dele não
conseguia acreditar que estava se dignando a satisfazer suas
fantasias tolas.

Ele limpou a garganta, seu interior todo confuso.


— Verdadeiramente.

— Você não vai se arrepender, — ela prometeu, embora ele


tivesse certeza de que iria.

Mas de alguma forma, nenhuma de suas reservas importava.

— Vamos acabar com isso, — disse solenemente, não


querendo permitir que ela visse o quão profundamente o afetava.

Ela se desvencilhou de seu aperto, para sua consternação,


parecendo de repente como uma fada. Seu rosto inteiro se
iluminou, tornando-se ainda mais adorável, se possível. Ela
agarrou suas mãos, puxando-o em seu rastro.

— Venha, — ela atirou por cima do ombro enquanto se dirigia


para as portas de vidro duplo, no final da biblioteca, que levavam
aos extensos jardins da Denver House. — Se você demorar mais,
temo que a chuva pare.

— Isso seria a maior vergonha, — disse secamente,


permitindo que ela o puxasse como se fosse um cavalo, e ele a
carruagem. Não estava acostumado a seguir ninguém, a se curvar
aos caprichos dos outros. No passado, mesmo com Eleanor,
sempre tinha feito o que queria. Ela havia se submetido a ele em
todos os assuntos. Na verdade, agora que pensava nisso, Eleanor
não parecia ter nenhum capricho próprio. Ela queria agradá-lo,
mas de uma maneira completamente diferente. Maggie queria vê-
lo feliz. Por Deus, ela queria fazê-lo rir, de todas as coisas, e pensou
em conseguir isso com gotas de chuva. Mas por mais estúpida que
sua ideia parecesse, o que aqueceu seu coração frio foi que ela se
importava.
— Não seja um idiota, Simon. — Maggie o puxou até a porta
antes de parar e olhar para trás, parecendo quase tímida, agora
que estava prestes a fazer o que queria. — Você está pronto?

Ele confiava que ela não estava olhando para as calças dele,
pois se estivesse, não teria perguntado. Ele ergueu uma
sobrancelha.

— Pronto como sempre.

— Devemos dançar, — informou-o. — Essas são as regras.

— Ah, agora temos regras?

— Todo bom jogo requer regras. — Ela abriu uma das portas,
e puxou-o pela soleira em seu rastro.

A chuva era tão implacável quanto fria, mas obedientemente


seguiu-a enquanto ela o conduzia alguns passos para longe da
casa, pelo caminho de cascalho que levava aos jardins bem
cuidados. Ela parou e se virou em seus braços, olhando-o
enquanto a água alisava seu rosto e aplainava seus gloriosos
cachos. Ela era ainda mais adorável na chuva do que no
confinamento seco da biblioteca. Havia algo libertador, algo
ridiculamente rebelde em estar no meio de um temporal com ela.
Antes que percebesse, estava sorrindo para ela. Não pôde evitar.
Seu bom humor era contagiante.

— Agora devemos valsar. — Ela sorriu novamente, e foi


transformador. — Mas tome cuidado, meu senhor. Você quase
parece estar se divertindo.

Ele riu disso. Não podia evitar, e tinha que admitir, mesmo
que apenas para si mesmo, que era realmente a primeira vez que
ria a sério desde que se lembrava. Ela era selvagem, sua pequena
esposa. E ele queria mais.

— Você está me deixando tão louco quanto você, — disse


finalmente, ainda sorrindo como um idiota.

— Você riu. — Ela segurou seu queixo.

O toque era tão gentil e, ao mesmo tempo, tão excitante que


ele ficou rígido novamente, apesar do frio e da umidade. Seu pênis
estava duro como mármore, ansiando por uma liberação que só
poderia encontrar em seu corpo voluptuoso. Seu cabelo grudou na
testa, e ele tinha certeza de que parecia ter escapado de um
hospício. Mas, não se importou.

— Acredito que você pediu uma valsa, minha senhora, —


disse-lhe em vez disso, aproveitando cada momento de seu abraço
improvisado na chuva. E com isso, ele começou a cantarolar,
conduzindo-os a uma dança adequada que teria feito vergonha em
qualquer salão de baile.

Ela o seguiu, sorrindo para ele e piscando através das gotas


de chuva que continuavam a encharcá-los.

— Sim, de fato, meu senhor.

Não demorou muito para que ela pisasse em seus pés. Ela era
uma dançarina péssima, ele sabia, quase satisfeito ao descobrir
algo em que ela não se destacava. Pois certamente lhe parecia que,
em muitos aspectos, sua esposa era perfeita. Ela riu dele, o mais
feliz que ele a viu, e percebeu que era isso que ela queria dizer.
Felicidade descarada e crua. Suas bochechas estavam vermelhas,
seu penteado irremediavelmente derrotado, a seda de seu vestido
azul talvez arruinado para sempre, e ainda assim estava brilhando,
inclinando a cabeça para trás para rir como se não se importasse
com quem a ouvisse. Era contagioso, e logo ele estava rindo juntos,
enquanto giravam, e ela pisava em no peito do seu pé.

— Diabos, você é uma dançarina horrível, — ele disse,


enquanto ela ria de outro passo em falso.

— Eu sou, — admitiu facilmente. — Um cavalheiro adequado


manteria essa observação para si mesmo.

— Começo a pensar que não sou um cavalheiro adequado. —


Ele os parou e puxou-a contra seu corpo, levantando seu queixo
molhado com os dedos. — Afinal, um cavalheiro adequado não
faria isso.

Ele a beijou, através da chuva e do frio e do medo de estar


caindo sob o feitiço da pequena americana em seus braços. Suas
mãos voaram para seus ombros, sua boca se abrindo para ele.
Suas línguas se enredaram. Ele saboreou o aperto de seus seios
contra seu peito, o peso de suas saias contra seu pênis
dolorosamente duro. Ela cheirava a rosas e outono.

Ele não duraria muito mais. Tinha que tê-la. Queria tirar-lhe
a seda molhada, revelar suas curvas pálidas, camada por camada,
de dar água na boca, deitá-la no chão da biblioteca e pressionar
seu corpo molhado pela chuva contra o dela. Queria lamber sua
doce vagina, fazê-la gozar em sua língua. Deus, como queria.

Quando interrompeu o beijo para olhá-la, a risada havia


fugido de seu belo rosto também. Ele reconheceu a mesma paixão
que a tomou, a necessidade de serem um. Sua respiração estava
pesada, sua boca aberta. Seus olhos eram do violeta mais profundo
que ele já tinha visto.
— Meu Deus, Maggie, — ele murmurou. — Preciso de você
desesperadamente.

— Sim, — ela disse, segurando sua mão mais uma vez. —


Venha.

Mais uma vez, se permitiu ser puxado de volta pelo caminho


de cascalho, através da chuva torrencial até as portas da
biblioteca. Não sabia o que havia acontecido com ele. Ela tinha feito
algo com ele, algo irreversível, e não tinha nada a ver com dançar
na chuva, mas tudo a ver com ela. Se não fosse cuidadoso, poderia
amá-la.

Querido Deus. Ele não permitiria que isso acontecesse. Não


poderia permitir isso. Além disso, nem sabia mais o que era amor.
Talvez fosse uma ficção que não existia. Quando eles alcançaram
o santuário seco da biblioteca mais uma vez, ele voltou sua mente
para a tarefa em mãos. Deixar sua esposa nua.

Ele a beijou novamente, então começou a trabalhar em seus


botões. A fragilidade da seda molhada não queria cooperar e seu
progresso era lento. Muito devagar. Ele arruinou sua cauda mais
uma vez, ele reparou. Para o inferno com isso. Agarrando cada lado
de seu corpete em suas mãos, ele o rasgou com toda sua força.
Botões caíram no tapete.

— Simon, — ela engasgou-se, parecendo chocada.

— Vou comprar um vestido novo para você. — Puxou


novamente até que seu corpete caiu aberto em sua cintura. — Um
sem os malditos botões.

Ela sorriu, enviando-lhe uma emoção estranha, e o ajudou a


tirar os braços de suas mangas.
— Gostaria de ver um vestido assim.

— Melhor ainda, vou mantê-la nua pelo resto de seus dias. —


Deu-lhe um sorriso malicioso, gostando imensamente de sua ideia.
— Para o inferno com os vestidos.

Ela estremeceu quando abriu a abertura oculta de suas saias,


jogando-as no chão. Ela estava diante dele em suas roupas
íntimas, seus seios uma onda cremosa de tentação. Ele passou as
mãos ainda molhadas sobre seus ombros lisos, desejando-a com
uma intensidade que o assustou.

— Você está com frio, querida?

— Não, — ela sussurrou, e ele soube então, que ela sentia o


mesmo.

Ele puxou as cordas de sua anquinha, e ajudou-a a tirar a


capa do espartilho.

— Vire-se — disse-lhe, querendo desfazer os laços de seu


espartilho.

Ela girou como ele ordenou, dando-lhe as costas. Seus cachos


cederam com o peso da chuva, mas seu cabelo ainda era
incrivelmente vibrante e bonito. Até mesmo seus ombros eram
perfeitos. Ele deu um beijo em seu pescoço enquanto colocava as
mãos em sua cintura marcada. Tão pequena, um contraste tão
delicioso com as curvas exuberantes de seu seio. Quando ela
inclinou a cabeça para o lado, permitindo-lhe maior acesso, ele
beijou um caminho até sua mandíbula. Seus dedos encontraram
infalivelmente o nó que sua incansável criada de quarto havia
amarrado em seu espartilho, e começou a desfazê-lo. Com muito
cuidado, desejando ir devagar, beijou-lhe a borda da orelha.
Quando ela estremeceu de novo, ele pegou o lóbulo da orelha entre
os dentes e puxou suavemente, ganhando um gemido suave.

Ah, que diabo. Apenas o som foi o suficiente para fazê-lo


entrar nela, pressionando seu pênis nas curvas amplas de seu
traseiro. Ela arqueou-se para trás, fazendo-o gemer quando
encontrou sua suavidade. Beijou-lhe o pedaço de pele logo abaixo
da orelha, saboreando-a, lambendo-lhe a chuva.

— Oh, — ela gritou, virando a cabeça para acariciar a dele. —


Oh, Simon.

Os dedos dele finalmente encontraram sucesso, abrindo o nó


dos laços do espartilho. Ele se moveu entre os laços entrecruzados,
separando-os, com a intenção de tê-la gloriosamente nua.

— Querida. — Ele beliscou sua pele o suficiente para fazê-la


estremecer, mas não forte o suficiente para deixar uma marca. —
Mal posso esperar para ter seus lindos seios em minhas mãos, para
pegar seus mamilos na minha boca e chupá-los até que fiquem
duros.

— Sim. — Ela virou a cabeça e o beijou, de boca aberta e


faminta. — Por favor.

O suficiente. Ele não podia esperar mais um minuto. Ele se


afastou e a girou para encará-lo. Se isso era o que ela tinha em
mente desde o início, dançaria na chuva com ela todos os malditos
dias. Estava faminto. Removeu a capa do espartilho e, em seguida,
abriu o espartilho e jogou-o longe, com a intenção de revelar seu
corpo lindo. Apenas uma camisa o separava do que queria.

Sua respiração ficou presa quando a olhou. Ela estava


encharcada, sua pele brilhando de umidade, o linho de sua
camisola agarrando-se aos seios, de modo que seus mamilos
rosados eram visíveis através do tecido. Eles já estavam rígidos,
chamando por ele. Ele puxou-a, segurando seu rosto com as mãos
e beijando-a novamente, incapaz de se conter.

Ela o beijou de volta, e quando sentiu os dedos dela nos


botões de sua camisa, ele gemeu. Ela era uma devassa, sua Maggie,
e não poderia estar mais satisfeito. Ele beliscou seu lábio inferior,
ganhando um gemido em resposta. Ela gostava quando ele era um
pouco selvagem, um pouco rude. O conhecimento apenas
aumentou seu desejo.

Simon tirou sua jaqueta, permitindo que caísse despercebida


no chão. O último botão de sua camisa se abriu, com a ajuda de
Maggie, e ele jogou a roupa fora também. Então, as mãos dela
estavam em seu peito, acariciando um caminho de fogo que levava
direto para seu pênis. Quando ela o segurou através das calças,
não conseguiu evitar de entrar nela, querendo seu toque, querendo
estar dentro dela. Cristo, ela o deixou louco. Tinha que tê-la.
Malditamente, agora.

Ele deu uma olhada pela biblioteca, tendo dúvidas sobre a lã


dos tapetes em sua pele delicada. Seus olhos pousaram em um
sofá enorme e uma ideia perversa se formou em sua mente
depravada.

— Venha, meu amor. — Ele a conduziu até o sofá, seu abraço


nunca se desfez. Ele a apoiou na borda acolchoada antes de parar
para puxar sua última roupa sobre sua cabeça. Ela estava nua,
seus seios redondos e tentadores, suas curvas exuberantes. Seu
olhar mergulhou mais abaixo, para sua boceta.
Ele sabia o que queria.

— Sente-se.

— O que, em nome do céu? — Maggie piscou, drenada das


profundezas de sua paixão por seu pedido. Claro que iria
questioná-lo. — Por quê?

— Silêncio. — Ele pressionou um dedo nos lábios rosa-


rosados que estavam inchados com seus beijos. — Não fale mais.

— Mas, — ela começou, tentando falar além do dedo dele, até


que ele a interrompeu.

— Você confia em mim, Maggie?

Seus olhos violetas eram enormes, penetrando em sua alma.


Ela deu um beijo em seu dedo antes de inclinar a cabeça para trás
para poder falar.

— Sim.

Algo dentro dele mudou, enviando um calor que tinha pouco


a ver com desejo e tudo a ver com as emoções que ela lhe
despertava. Ela confiava nele. Confiava no homem que a
abandonou enquanto passava um ano inteiro com sua amante. Ele
podia admitir agora, pois se não tinha uma consciência antes,
tinha muito bem agora. Maggie tinha feito isso por ele. Ela mudou
tudo.

Ele gentilmente a guiou para uma posição sentada,


precisando mostrar-lhe com suas ações o que não poderia revelar
em palavras. Ela era sua. Ele era dela. E queria fazê-la gritar.
Queria mais do que apenas um maldito mês. Ele caiu de joelhos.
Ela o observou, segurando as mãos sobre os seios enquanto
se sentava sem jeito. Parecia terrivelmente desconfortável. Ele
colocou as palmas das mãos em cada um de seus joelhos nus,
ansioso para ir mais para cima e varrer suas coxas deliciosas, mas
se contendo.

— Você já se sentou nua em um sofá antes? — Perguntou a


ela.

— Você sabe que não.

— Mais um dia de estreias para nós. Dancei na chuva por


você. — Ele curvou a cabeça e deu um beijo primeiro no joelho
esquerdo, depois no direito. Algo lhe ocorreu, então. — Você não
estava usando calças.

Um rubor rosado rastejou sobre suas bochechas.

— Muitas vezes parece que não preciso delas quando você


está por perto.

— Uma senhora que planeja com antecedência. — Ele piscou


para ela, mostrando a leveza de coração que ela o acusou de não
possuir. Ele tinha, por Deus. Simplesmente não houve necessidade
disso antes. Nenhuma outra mulher desejou ouvir sua risada. —
Estou mais uma vez maravilhado com você.

— O que você está fazendo? — Ela perguntou novamente, sua


voz ofegante. Não exatamente preocupada, mas, mesmo assim um
pouco nervosa.

— Fazendo amor com minha esposa. — Ele saboreou a


palavra em sua língua pela primeira vez. Deslizou as mãos por suas
coxas muito lentamente, beijando o interior de seus joelhos. —
Minha vez de uma pergunta. Por que você está escondendo seus
lindos seios de mim?

Ele olhou-a para encontrá-la ainda corada, olhando-o com


uma expressão que nunca tinha visto dela.

— Você gostaria de vê-los?

Ah, ela estava de volta à provocação devassa mais uma vez.


Seu pênis estava duro como pedra, pressionando contra sua calça
apesar do tecido frio e úmido.

— Gostaria.

Encontrando seu olhar, ela removeu os braços. Seus seios


eram perfeitos.

— Aí está você. — Sua aparência estava tão jovial, como se


ela elogiasse o tecido das cortinas do quarto.

Ela tinha coragem, sua Maggie, uma espinha dorsal tão rígida
quanto uma parede de tijolos.

— Amo seus seios. — Suas mãos deslizaram cada vez mais


para cima até que ele alcançou a parte superior das coxas. — Você
vai abrir suas pernas para mim, querida? Quero te dar muito
prazer.

Sem palavras, ela permitiu que seus joelhos se separassem,


abrindo-se para ele. Sem hesitação. Ela era páreo para ele em todos
os sentidos. Seus olhos devoraram cada centímetro de pele
cremosa revelada, demorando-se nas dobras de sua boceta. Ele já
podia sentir seu cheiro doce e terreno. Ela estava excitada, sua
boceta rosa e brilhante, pronta para ele.
Sim, era isso que ele queria. Lutou para controlar o desejo
que corria por ele. Queria ir devagar, torturar os dois com
antecipação, com prazer. Correu as mãos de volta por suas pernas
voluptuosas, amando a sensação, a liberdade de tocá-la como
quisesse.

— Coloque suas pernas sobre mim, — ele a dirigiu


calmamente, ao mesmo tempo, mostrando-lhe onde a queria.

Ela fez o que ele pediu sem mais perguntas, permitindo que
ele a posicionasse como desejava, de modo que a parte de trás dos
seus joelhos descansasse sobre seus ombros. Maldito inferno, sim.
Em seguida, ele agarrou-lhe o traseiro, levando-a até a beira do
sofá até que sua boceta quase tocou o dourado brilhante que
mantinha o estofamento no lugar. Esperava que ela encharcasse
tanto o maldito sofá, que ele precisasse substituí-lo.

Olhando-a, ele deu um beijo na parte interna de cada coxa.


Ela o observou, seu lábio preso entre os dentes. Seus olhos violetas
estavam sonhadores, semicerrados. Ela queria isso tanto quanto
ele. Ainda mantendo o olhar dela preso, ele finalmente abaixou a
cabeça para o prêmio que procurava. Gentilmente, puxou seu
monte até que o botão rechonchudo que ele queria, se projetou
orgulhosamente para frente. E então, ele o tomou em sua boca,
chupando-o.

Ela gemeu acima dele, seus dedos afundando em seu cabelo,


correndo por seu couro cabeludo. Uma onda quente de luxúria foi
diretamente para seu pênis. Ele amava o gosto dela, almiscarado e
algo inatamente dela. Delicioso. Sua língua sacudiu, para cima e
para baixo, de um lado para o outro, antes que a chupasse
novamente. Ela resistiu, pressionando sua boceta molhada em seu
rosto. Perfeito. Deus. Iria perder-se perder nela e não dava a
mínima.

Com um grunhido contra sua carne ansiosa, ele se afastou,


olhando-a para descobrir que ela fechou os olhos, a boca aberta.
Seus seios eram eróticos como o inferno. Ela era uma Vênus em
exibição. Sua. Queria fodê-la com sua língua primeiro e depois com
seu pênis.

Abaixou a cabeça e afundou a língua em sua boceta


escorregadia, uma e outra vez. Ela gritou, torcendo-se contra ele,
e ele sabia que ela estava se aproximando do clímax. Queria fazê-
la gozar como ela nunca tinha gozado antes. Estendeu a mão,
pressionando a mão contra sua barriga e deslizando o polegar de
volta para sua pérola. Trabalhou para frente e para trás, exercendo
tanta pressão quanto ousou, tanto quanto sabia que a fazia se
contorcer ainda mais, o tempo todo mergulhando sua língua
profundamente.

Ela estremeceu, e ele sentiu uma onda de umidade na boca.


Ah, sim. Ela gritou seu nome, quase soluçando com o poder de sua
libertação. Agora, iria transar com ela novamente. Transar até ela
gozar sobre ele mais uma vez. Ela estava tão molhada. Mal podia
esperar para estar dentro dela. Nenhuma outra respiração. Ele
procurou por sua camisa, abrindo-a sobre o tapete.

— Aqui, querida. — Simon pegou a pequena mão. Ela ainda


estava atordoada, a imagem perfeita de uma devassa com seu
cabelo despenteado, boca frouxa e olhos brilhantes. Ele a colocou
de joelhos, ajudando-a a se acomodar no tecido mais macio de sua
camisa. — Quero você desesperadamente.

Ela se abriu para ele, estendendo os braços.

— Quero você também.

Suas palavras enviaram uma nova flecha de calor através


dele, o tipo que perfurou seu coração. Droga. Ele rasgou o fecho da
calça, liberando seu pênis rígido. No próximo instante, estava
dentro dela com um longo impulso. Ela estava quente, escorregadia
e apertada. Céu. Quando ela colocou os braços em volta da cintura
dele e o puxou ainda mais fundo, ele se perdeu. Bombeou dentro
dela, novamente e novamente. Para fora, depois para dentro, um
ritmo delicioso projetado para enlouquecer os dois. Por fim, ela se
apertou nele, sua boceta arrancando o último pedaço de sanidade.
Ele se perdeu, consumindo-se tanto que seu coração quase saltou
do peito.

Querido doce Cristo. Ofegando como se tivesse acabado de


correr para salvar sua vida, desabou sobre ela, pressionando um
beijo em seus lábios perfeitos. Ele encostou a testa na dela,
completamente perplexo com o que ela tinha feito com ele.

Ela emoldurou o rosto dele com as mãos, os olhos brilhando


e um sorriso travesso na boca.

— Talvez da próxima vez você não seja tão desagradável em


dar um passeio na chuva.

Ele não pôde evitar. Ele jogou a cabeça para trás e riu. Puta
merda. Ela estava certa.

— Diga-me, qual é o seu poema favorito?


Maggie se recostou na colcha que Simon tinha espalhado na
grama para o piquenique improvisado, e o observou. Ele a olhava
com uma expressão aberta enquanto mordiscava um sanduíche
preparado por sua temível cozinheira, Sra. Gaston. Ainda não
conseguia acreditar que tinha conseguido convencê-lo a se juntar
a ela para um piquenique com tanta facilidade. Sabia que muitas
vezes era obrigatório nas festas em casas de campo, mas Simon
sempre parecia tão sóbrio, tão exigente e incapaz de leviandade.
Ele mudou. Ele se abriu para ela.

— Você está olhando para mim, — observou ele, franzindo a


testa. — Fiz uma pergunta tão estranha?

Oh céus. Estava sonhando com ele, e se esqueceu o que ele


pediu. Pensou por um momento, tentando ao máximo não parecer
uma idiota. Ah, sim. Poesia. Ela achou o interesse comum
encorajador. Era mais uma coisa que os unia, enquanto antes,
uma coisa bastante grande e infeliz os havia separado.

— Como posso escolher apenas um? — Ela perguntou-lhe. —


Talvez você tenha um favorito?

Seus olhos escureceram.

— Acho que prefiro a poesia escrita por minha esposa.

Ela corou, incapaz de conter um sorriso. Ele certamente sabia


como encantá-la.

— Obrigada, Simon, mas temo que você esteja apenas


tentando me cortejar.

Ele ergueu uma sobrancelha.


— Não sabia que precisava te cortejar. Eu já ganhei você,
afinal.

Mas suas ações desmentiam suas palavras. A menos que


estivesse enganada, ele havia começado a fazer o possível para
conquistá-la.

— Estou começando a pensar que talvez você já tenha.

Um sorriso lento e conhecedor curvou seus lábios sensuais.

— O sentimento é mútuo, minha querida.

Céus. Ele certamente era charmoso quando queria, afinal.


Descobriu que tinha dificuldade em resistir-lhe. Na verdade, não
queria resistir a ele, verdade seja dita.

— Estou feliz. Espero que você descubra que o casamento


comigo não é tão horrível quanto você imaginava.

— Você realmente se importa? — Ele inclinou a cabeça para


o lado, considerando-a daquela maneira intensa que a fazia sentir
como se ele pudesse ver todos os cantos de si mesma que preferia
manter escondidos. — Acho que você deveria me odiar. Não a
culparia, de verdade, e ainda assim você é tão doce comigo.

Sua clara compreensão a assustou. Ele gradualmente


começou a se abrir, e ela descobrira muitas coisas sobre seu
marido, até então. Uma delas era que ele procurava uma família
para pertencer desde a infância. Suspeitou que ele mesmo não
percebeu, mas ela imaginou que era por isso que ele tinha sido tão
envolvido por Lady Billingsley.

Mas, agora que Maggie era uma verdadeira parte de sua vida
e não uma partícula de poeira distante que ocasionalmente
passava por sua consciência, ela esperava que pudesse dar-lhe a
família que ele estava procurando. Foi uma percepção assustadora,
o quão conectada ela estava com ele. Ela não queria apenas se
acomodar por um mês e depois voltar para Nova York. Não mais.
Ela mudou. Ele mudou. Juntos.

— Já te disse que não sou o anjo que você pensa que sou. —
Ela pensou em todos os momentos de sua vida em que fora cruel,
e cometera erros. Pensou em Richard, em como o deixou arrasado
quando rompeu seu romance para partir para a Inglaterra. De fato,
ela não era um anjo.

Ele balançou sua cabeça.

— Não acredito em você.

Ela sorriu tristemente com a insistência dele.

— Eu gostaria de ser perfeita.

— Você já é perfeita, Maggie. — Ele pegou um morango de


estufa vermelho-escuro, levou-o aos lábios e deu uma mordida. Ela
assistiu, em transe. — E você me deixa totalmente louco de desejo
toda vez que penso em seu nome.

O desejo se desenrolou dentro dela. Gostava de ter, pelo


menos, o poder de fazê-lo sentir saudades dela. Era algo, uma
pequena batalha vencida na guerra que ela não percebeu que
queria travar. Queria conquistar não apenas sua paixão, seus
beijos, sua admiração, mas também seu coração. Estava ali, com
uma clareza tão terrível que quase fez sua garganta fechar. Ela iria
arrancá-lo das garras inglórias de Lady Billingsley, se já não tivesse
feito isso. Maggie teve que se perguntar enquanto o observava
devorar lentamente seu morango, fazendo uma queimação
começar bem dentro dela.

— Mas você não gosta de mim. — Ela lambeu o lábio inferior,


uma força do hábito.

— Não gostei da noção de você, isso sim, — ele disse


agradavelmente. — Ouso dizer que você alterou a minha visão.
Para mim, no entanto, essa antipatia mudou imensamente.

— Como mudou? — Ela se atreveu a perguntar.

Ele enviou-lhe um sorriso malicioso.

— Devo mostrar a você?

Oh céus. Ele era um homem tão tentador. Era meio dia, e


estavam ao ar livre. Qualquer um poderia topar com eles a
qualquer momento. Certamente, seria tolice ceder à brincadeira
má que ele prometia. Ela deveria dizer-lhe não.

Ela se pegou sorrindo de volta.

— Sim.

Ele estava sobre ela em um instante, pressionando-a até a


colcha com seu corpo musculoso. Ele a beijou como se tivesse
morrido de fome por muito tempo e movido pela paixão. As mãos
dela foram para o cabelo dele, tirando-lhe o chapéu da cabeça. Seu
alegre chapéu também caiu no esquecimento, meio esmagado sob
suas costas. Ela não ligou.

O dia estava cheio de sol, pássaros cantando e possibilidades


infinitas. Era uma sensação que ela poderia se perder para sempre.
Um sentimento que ela nunca queria que acabasse.
SIMON ENTROU NO SAGUÃO PRINCIPAL DA CASA DE DENVER depois de
um passeio revigorante, com um sorriso no rosto. Não sabia por
que diabos estava sorrindo, mas dane-se, ele estava. Uma quinzena
inteira se passou desde que trouxera Maggie para sua propriedade
rural, um lugar onde uma vez pensou que nunca se sentiria em
casa novamente. Algo mudou, mudou dentro dele. Os fantasmas
foram banidos.

Maggie tinha feito isso por ele.

Sim, talvez a razão pela qual estava sorrindo como um idiota


fosse flagrantemente aparente. A esposa dele. De alguma forma, a
mulher pela qual uma vez se ressentiu, se tornou a que ele queria
desesperadamente. Mesmo agora, pensar nela o deixava duro.
Cristo. Era meio da manhã e ele estava sentindo-se sujo. Ele a teve
apenas poucas horas antes, mas a perspectiva de localizá-la e
arrastá-la para uma sessão de amor improvisada era uma isca
muito potente.

— Meu Senhor.

A voz um tanto magoada de seu mordomo perturbou seus


pensamentos agradáveis. Ele diminuiu o passo, percebendo que
não tinha notado o sóbrio Milton de sentinela.

— Bom dia, Milton. Qual é o problema? Você parece como se


alguém tivesse comido o seu almoço.
Milton piscou para ele, talvez assustado com sua alegria
incomum. Afinal, o marquês de Sandhurst não brincava. Pelo
menos, não o velho Marquês de Sandhurst.

— Você tem um convidado, senhor.

Puta merda. Não gostou da maneira como seu mordomo


cuspiu a palavra como se tivesse gosto ruim. Isso certamente não
era um bom presságio.

— Quem pode ser e onde você o colocou?

— Eu a coloquei na sala de estar, meu senhor.

Ela? Seu convidado era uma mulher? Um peso de chumbo


desceu em seu estômago, efetivamente esmagando seu antigo alto
astral. Havia apenas uma mulher que iria procurá-lo. Não tinha
nenhum relacionamento com a irmã de sua mãe, a condessa de
Northrup, e seu pai era o único filho vivo de sua família. Lady
Northrup não escondeu seu desdém por ele. Não, de fato, não seria
ela quem visitaria Denver House.

Ele engoliu em seco, sua garganta ficou seca.

— Obrigado, Milton. Vou cuidar dela, — conseguiu dizer antes


de ir direto para a sala em questão.

Não poderia ser ela, pensou, sua mente girando com as


possibilidades e ramificações. E se fosse? Bom Deus. Sentindo-se
preso em um sonho bizarro, cruzou a soleira da sala de estar, o
coração prestes a saltar do peito.

Uma mulher estava de costas, seus cachos loiros


artisticamente empilhados sob um chapéu vistoso tão típico de
alguém que ele conhecia muito bem. Observou sua cintura fina e
apertada, e o vestido vespertino de cor rosa coberto com renda. O
reconhecimento viajou por ele com a força de uma pedra pesada
rolando colina abaixo. A senhora adorava tons pastéis e chapéus
com o dobro do tamanho de sua cabeça. Sabia que ela cheirava a
lavanda e espirrava ao menor sinal de água de rosas. Sabia que
adorava poesia, odiava prosa e escrevia cartas sinistras que antes
o deixavam louco de desejo. Ah, sim, não havia como confundi-la.

Eleanor.

Ele conhecia sua silhueta assim como conhecia seu reflexo no


espelho. Afinal, ela era a mulher que ele passou alguns anos de
sua vida amando. Ou, pelo menos, pensou que a amava. Agora,
não tinha certeza. Ela se virou quando ouviu os passos dele se
aproximando, um sorriso de boas-vindas nos seus lábios com arco
do cupido. O tempo que estiveram separados diminuiu por um
momento. Ele quase cruzou a sala e a tomou nos braços como já
havia feito tantas vezes antes.

Mas não fez. O tempo e os segredos desfeitos se interpuseram.


Não tinha esquecido a revelação de Nell e o que significava para
ele, para a mulher que ele uma vez professou amar. Ele não tinha
se esquecido de Maggie, sua esposa. Parou, o corpo rígido de
tensão, e a fixou com um olhar cortante. Ela se encolheu, seu
sorriso desaparecendo. Ela esperava uma recepção muito
diferente, então. O que diabos ela estava fazendo aqui? Não estava
preparado para isso, para ela.

— Por que você veio, Lady Billingsley? — Ele teve o cuidado


de manter todos os traços de emoção em sua voz. Na verdade, não
sabia o que sentiu ao vê-la novamente. Traição? Excitação? Dor?
Provavelmente era uma combinação dos três. Mas, não iria
mostrar-lhe um sinal de fraqueza.

— Eu deixei Billingsley.

Alguns meses antes, as palavras teriam sido suficientes.


Agora, elas o deixaram se sentindo estranhamente sem emoção.

— Você o deixou. — Sua mente se atrapalhou para


compreender o significado de sua revelação para ele. Muita coisa
mudou. Ele pensou em Maggie. O que sentia por ela? Não é amor,
certamente. Mas algo. Pensamentos sobre o que Eleanor havia feito
giravam em sua mente, perguntas que precisava fazer a ela. Mas,
não tinha certeza se sua traição com Lorde Needham importava
mais. Ou, se ela importava mais.

Ela cruzou o chão polido, seus saltos clicando, até que o


alcançou. Uma expressão de expectativa transformou seu rosto
inegavelmente belo.

— Não posso viver sem você, Simon. Eu tentei. Tentei cumprir


meu dever para com seu domínio.

Pensar em seu marido, o Billingsley de nariz bulboso, suando


e se esforçando para produzir um herdeiro, o deixou doente. Ela
fez sua escolha, dever sobre o amor. Com muita frequência em seu
mundo, o dever superava tudo o mais. De alguma forma, esperava
um resultado diferente com Eleanor. Ela provou que ele estava
errado.

— Eu desejei a Deus que você nunca tivesse tentado, — disse-


lhe honestamente antes que pudesse se conter.
Mas ela tinha, e sua aparição repentina em sua sala de estar
não poderia alterar esse fato.

— Sinto muito. — Seu lábio inferior tremeu daquela maneira


que uma vez, infalivelmente, o colocou de joelhos. — Você sabe o
bruto que ele é, Sandy. Não tive escolha.

Ele endureceu com o uso do diminutivo que só ela o chamava.


Isso o levou de volta a quando cuidou dela. Mas, realmente a
conhecia? Não tinha mais certeza.

— Você me traiu, Eleanor.

— Nunca. — Ela parecia uma figura pequena e triste para ele,


de repente. — Nunca trairia você.

Mas, ele sabia de forma diferente.

— E Lorde Needham?

Ela ficou pálida, toda sua forma ficando totalmente imóvel.

— O que tem ele?

Ele quase teve pena dela. Mas não exatamente.

— Nell me contou. Você não precisa mentir.

— Foi há muito tempo, Sandy, e um erro terrível. Nós dois


estávamos cheios das nossas vidas. Isso nunca significou nada.
Você continua sendo o único homem que amei, o único homem que
amarei enquanto viver.

Simon ficou satisfeito por ela ao menos se dignar a reconhecer


a verdade, embora tentasse minimizá-la. Ele teria pensado que ela
poderia mentir ainda mais. Mesmo assim, não podia permitir que
ela reaparecesse em sua sala de estar como se não tivesse lhe dito
abruptamente para ir para o diabo. Ainda assim, teve que admitir
que suas palavras de amor o afetaram, por mais que desejasse que
não.

— E agora? Nós juramos um ao outro, — ele a lembrou. —


Prometi manter minha esposa no nome apenas como você
prometeu que nunca mais iria para o seu leito conjugal.

Seus olhos azuis imploraram aos dele.

— Billingsley não me deu outra opção. Não queria te dizer,


mas ele levantou a mão contra mim.

Ele não pôde evitar. Suas palavras trouxeram uma onda de


raiva instintiva que se abateu sobre ele. Ele agarrou seu cotovelo.

— O que você disse?

— Meu marido prefere me bater em vez de me levar para a


cama, — disse Eleanor, suas mãos delicadas pousando em seu
peito como se fossem um par de borboletas. — Não podia mais
suportá-lo, Sandy. Achei que poderia, mas não sou páreo para seus
punhos.

Punhos. A raiva o atingiu. Suas mãos foram para a cintura de


vespa dela como fizeram tantas vezes antes, encontrando seu lar
conhecido. Talvez Nell se equivocasse em sua fofoca, pois Eleanor
não se sentia nem um pouco culpada por ele. Ela estava bem como
sempre. Ele procurou seu olhar, esperando que mentisse.

— Diga-me que aquele bastardo não bateu em você.

Um soluço subiu em sua garganta, mas ela pareceu sufocá-


lo, mordendo o lábio.

— Não posso. Ele me fez perder meu bebê.


— Vou matá-lo, — jurou, a raiva uma onda o ultrapassando,
ameaçando colocá-lo de joelhos.

— Não. — Eleanor alcançou seu queixo. — Você não deve. Eu


o deixei para sempre, e isso é tudo que importa.

— Simon?

Cristo. O tom feminino cadenciado com seu inegável sotaque


americano pertencia a Maggie. Ele soltou Eleanor e se virou para
encarar a esposa. Ela estava na porta, parecendo
caracteristicamente magnífica em um vestido diurno de seda azul
marinho que complementava sua pele de alabastro com perfeição.
Seus cachos flamejantes estavam presos em um penteado
elaborado que tornava sua elegância comum totalmente
impressionante. Uma punhalada de luxúria foi direto para seu
pênis.

Não escapou de sua atenção que foi Maggie quem o despertou,


Maggie, que ele queria com uma ferocidade que ainda o sacudia.
Sua reação física a Eleanor tinha sido moderada em comparação.
Até confusa. Tardiamente, ocorreu-lhe que Maggie parecia
chocada. Inferno, não podia culpá-la. Ela tinha acabado de entrar,
e vê-lo em um abraço íntimo com uma antiga amante.

Mas Eleanor era uma velha amante? A pergunta o consumiu


com uma persistência dolorosa. Ela tinha que ser, mas como
poderia? Consolo vivia em familiaridade, mesmo que essa
familiaridade fosse errada. O que poderia concorrer com os anos
que ele perdeu em seus braços?

— Quem é ela? — Eleanor exigiu dele quase silvando em suas


costas.
Ele encontrou o olhar de Maggie, muito ciente da dor que leu
nas profundezas violetas. Ela ergueu o queixo, seu semblante
assumindo um ar formidável que ele nunca tinha visto.

— Eu sou Lady Sandhurst, — Maggie proclamou em voz alta,


em um atrevido sotaque americano que de alguma forma o fez
querer arrastá-la imediatamente para seu quarto, não importando
os velhos sentimentos que uma vez mais acenderam como carvão
na lareira. — Esposa de Sandy, — acrescentou, para que não se
enganassem, ele supôs, que ela não havia ouvido grande parte da
conversa deles.

Droga. Provavelmente tinha ouvido muito. Ele caminhou até


ela. Afinal, era sua esposa acima de tudo, e ele finalmente aceitou
o dever de ser seu marido. Suspeitava que não houvesse uma regra
específica para apresentar a esposa à amante. Mas, até ele poderia
reconhecer a precedência com sua mente girando.

Ele ofereceu o braço a Maggie enquanto ficava ao lado dela.


Ela se recusou a aceitar, então ele fingiu que estava inspecionando
a manga do casaco antes de fazer o necessário.

— Lady Sandhurst, não acredito que você ainda não tenha


conhecido Lady Billingsley, — disse, muito consciente de que
parecia estranho como um adolescente tentando cortejar sua
primeira criada.

— Não, eu não a conheci. — Ela se manteve majestosa,


fixando Eleanor com um olhar de rainha. — Tampouco posso dizer
honestamente que jamais quis conhecê-la. Ela não é ninguém que
eu gostaria de conhecer. Por que ela está em nossa sala agora,
Sandy?
Ele não gostou do jeito que ela disse seu nome. Tanto
desprezo. Ele franziu o cenho por sua grosseria e impertinência,
embora não pudesse culpá-la por qualquer uma delas.

— Ela está fazendo uma visita, suspeito.

— Visitando, — Eleanor ecoou. — Reze, minha senhora, não


preste atenção em mim. Estou meramente me entregando à
misericórdia de seu marido como um velho e querido amigo, e ele
foi gentil o suficiente em me oferecer sua ajuda.

Que diabos? Ele não tinha feito tal coisa. Maldita mulher. Ela
estava tentando forçar sua mão e ele não gostou. Nem um pouco.
Esta mulher maquinadora era realmente a senhora por quem se
apaixonara? Não conseguia afastar a suspeita de que falhou em vê-
la como ela era. Que estava cego para sua natureza inconstante.

— Sua ajuda. — Maggie repetiu a palavra como se fosse um


epíteto. — Quão extremamente gentil e generoso da parte dele.
Descobri que meu marido é uma alma muito generosa, Lady
Billingsley.

— De fato. — Eleanor franziu a testa, claramente não


seguindo a linha de pensamento de Maggie.

Simon estava com medo de estar seguindo todo o caminho até


o seu fim inevitável. Ele teve que admirar sua coragem. Não
gostaria de receber o descontentamento dela agora.

— Muito generoso. — Maggie inclinou a cabeça, agraciando


Eleanor com um sorriso adorável que escondia um pouco de
mordida por trás. — Você é mais que bem-vinda para ficar aqui em
Denver House, minha senhora. Mas tenha certeza de que a
generosidade dele não se estenderá a você durante sua gestão aqui.
Ele quase engasgou quando seus medos se concretizaram.

— Maggie, — advertiu, sabendo agora que sua esposa possuía


uma coluna vertebral que era tão imprevisível quanto formidável.
Ainda assim, não esperava uma repreensão tão franca dela.
Simplesmente não foi feito.

Ela não deu a ele um olhar, atenta como estava em sua presa.

— Suponho que você entende o que quero dizer, Lady


Billingsley?

Eleanor pigarreou, parecendo um pássaro engasgado com um


verme.

— Devo dizer que não, minha senhora.

— Bem, então sejamos claros. — Maggie atravessou a sala e


parou diante de Eleanor, feroz como um gato selvagem. — Se você
decidir permanecer aqui como uma convidada, não posso impedi-
la, mas não vou tolerar o adultério em minha casa.

— Adultério? — Eleanor gaguejou. Ele suspeitava que


ninguém nunca havia falado com ela com tanta falta de artifício.

— Você não vai aquecer a cama do meu marido. — Maggie fez


uma pausa antes de sussurrar algo ininteligível no ouvido de
Eleanor.

Simon gostaria de ter ouvido. Mas ele permaneceu onde


estava, observando o quadro à sua frente se desdobrar como se ele
fosse um inválido. Ou um completo idiota. E talvez fosse isso que
ele era.

Eleanor empalideceu e seus olhos voaram para os dele.


Cristo, o que Maggie ameaçou? Uma decapitação? Então, ele leu a
mágoa em sua expressão, e soube. Sua esposa havia revelado a
extensão de seu relacionamento. Sua ex-amante não ligou para a
revelação. Ele não podia dizer que a culpava. Sabia o que era
pensar que ela fazia amor com o marido. Era semelhante a uma
faca sendo cravada diretamente em seu intestino.

O tempo e o espaço diminuíram a dor. E se fosse


completamente honesto consigo mesmo, ele teria que admitir que
Maggie também. A dor havia sumido. Ele seguiu em frente. Só
então, sua esposa deu-lhe um olhar furioso que não era um bom
presságio para ele mais tarde. Ele estremeceu.

— Acredito que você providenciará para que a equipe atenda


sua convidada? — Ela perguntou. — Acho que estou muito
cansada para assumir a tarefa.

Ele se curvou, sentindo-se como um bundão completo sob seu


brilho fulminante. Não se podia esperar que ela fizesse preparativos
para o conforto de sua rival. Nunca lhe pediria isso.

— Claro que sim, minha querida.

Ela desapareceu em um redemoinho de seda e cachos


rebeldes. Ele se virou para Eleanor, perguntando-se o que diabos
iria fazer agora. Supôs que teria que permitir que ela ficasse, pelo
menos por alguns dias. Afinal, ela acabara de dizer que Billingsley
a estava maltratando. Não podia, em sã consciência, mandá-la
embora. Mas, também não tinha certeza de que a queria aqui.

Sua mente estava girando, irremediavelmente confusa por


Eleanor, o que ele aprendeu sobre ela, os sentimentos que começou
a desenvolver por Maggie. Por Deus, tinha acabado de se preocupar
em restaurar a ordem em sua vida, e agora a única mulher que
poderia ameaçar arruiná-la apareceu em sua sala de estar como se
ela não tivesse partido.

— Sinto muito, Sandy — disse Eleanor baixinho,


interrompendo seus pensamentos perturbados. — Eu teria escrito
para você, mas não houve tempo. Não poderia saber que você a
teria residindo aqui.

— Maldição, inferno maldito. — Ele cerrou, e soltou os


punhos enquanto lutava para manter o controle sobre si mesmo.

— Por que ela está aqui? — Seu olhar sondou o dele.

Era uma pergunta para a qual não havia uma resposta


pronta. Ele fez uma pausa, imaginando o quanto deveria revelar a
ela.

— Estamos passando um mês juntos como marido e mulher,


— disse ele por fim.

— Você deseja um herdeiro, então.

Simon não gostou da maneira como ela o pressionou, como


se lhe devesse a informação. Na verdade, não lhe devia nada, nem
mesmo um teto sobre sua cabeça para escapar do espancamento
do marido. Falar de Maggie com ela parecia errado.

— Não é da sua conta, Lady Billingsley.

Ela colocou uma mão hesitante em seu braço.

— Esta é a sua maneira de se vingar de mim?

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Você se tem em alta conta, querida. Não penso em você há


meses.
Ela se encolheu e ele conheceu um instante de gratificação,
por menor que fosse, era dele.

— Eu sei que te machuquei, e sinto muito por isso. Com o


tempo, você verá que não tive o que fazer. Fiz o que tinha que fazer,
e no primeiro momento possível, voltei para você.

— Muita coisa mudou. — Ela não era mais sua amante, nem
seria nunca mais. Vê-la o encheu com a bênção da finalidade. O
tempo deles juntos chegara ao fim. — Você pode ficar aqui por
alguns dias enquanto encontra outro refúgio de Billingsley, mas
isso deve ser tudo, Eleanor.

Ela engasgou-se.

— Você não pode me expulsar.

— Eu não estou te expulsando, — retrucou. — Estou apenas


lhe avisando. Sua estadia será temporária. Você não pertence aqui.

Seu aperto sobre ele aumentou, sua expressão derretendo em


desespero.

— Eu pertenço a você.

— Não. — Ele afastou sua mão, endurecendo seu coração


para ela. — Não, e nunca foi.

— Você vai mudar de ideia. — Sua voz tremeu. — Te amo. Por


favor, não aja com pressa.

— Vou te dar alguns dias. — Ele girou nos calcanhares. —


Isso é tudo.

Pois tinha que ser. Ele agora tinha uma esposa que era mais
do que um nome, e uma presença indesejada em sua vida. A dura
verdade era que não queria considerar o quanto Maggie havia se
tornado para ele na última quinzena, porque isso o assustava como
o inferno. Tudo o que sabia agora era que precisava encontrá-la.

As mãos de Maggie tremiam enquanto esperava Simon no


salão luxuosamente decorado que ficava ao lado de seu quarto.
Mandou um recado para que ele a encontrasse diretamente, após
resolver tudo o que ele precisasse para acomodar Lady Billingsley,
e para o seu próprio bem, ela achou melhor não encontrá-lo em
qualquer lugar onde uma cama pudesse ser encontrada. Sua
beleza mortal e suas carícias perversas sempre a desarmavam. Não
podia se dar ao luxo de ser tão tola dessa vez.

Ela suspirou. Embora ela mesma tivesse decorado o salão, os


limites esteticamente agradáveis não lhe traziam alegria no
momento. Não estava preparada para enfrentar a mulher que
detestava de longe, para ver como ela era linda, como sua cintura
era fina, como seus cabelos eram dourados. Ela tinha uma
propensão para se vestir demais, isso Maggie podia ver, mas
parecia ser o único defeito de Lady Billingsley. Dane-se ela. Que
direito ela achava que tinha de se jogar nos braços de Simon?

Todo direito, ela supôs. Maggie franziu a testa e caminhou por


toda a extensão da sala, preocupada, uma dor latejante no peito.
Embora estivesse razoavelmente certa de que havia demonstrado
confiança ao confrontar Lady Billingsley, a verdade desanimadora
disso era que, quando se tratava de seu marido, não tinha
confiança alguma.

Na verdade, temia que ele voltasse para sua amante. Afinal,


ele havia admitido que a amava. Ela tinha sido sua amante por
mais tempo do que Maggie o conhecia. Ela ainda o segurava. Isso
ficou evidente pela maneira como ele se inclinou para ela, com as
mãos em sua cintura quando Maggie interveio. A visão foi quase
insuportável.

Em pouco mais de quinze dias, ele já havia se tornado


importante para Maggie. Necessário. Ela mexeu nas saias, seu
nervosismo aumentando à medida que o marido demorava para
chegar.

Por fim, a porta se abriu e ele entrou. Por um momento, ela


olhou para ele, seus olhos entrelaçados. Ele era incrivelmente
bonito, pensou novamente, desejando que ele tivesse uma verruga
ou talvez um nariz grande, qualquer coisa que estragasse sua
perfeição. Mas, ele estava cortês como sempre, apesar da expressão
angustiada que exibia.

— Sinto muito, — ele disse por fim, demorando-se na porta,


quando ela desejava que ele fechasse a distância entre eles.

Maggie pressionou as palmas das mãos na saia, esperando


não parecer assustada.

— Por quê?

Ele suspirou, o som de um cansaço intenso.

— Não sabia que ela viria aqui.

Ela queria confiar nele, mas não sabia se poderia.

— Você a convidou para vir aqui?

— Cristo. — Ele passou os dedos pelos cabelos, deixando os


longos cachos tortos. — Claro que não. O que você acha que eu
sou?
O homem que havia ignorado sua esposa enquanto vivia
abertamente com sua amante no último ano. Ela sabiamente se
absteve de dizer isso.

— Eu precisava perguntar. Não consigo imaginar por que ela


apareceria aqui, a menos que você tivesse pedido para ela vir.

— Ela deixou o marido e afirma que não tinha outro lugar


para ir, — disse, com firmeza.

E ele acreditou? Maggie franziu a testa.

— Ela não tem amigos ou família?

— Acredito que sim.

Ela queria sacudi-lo pelas lapelas. Sua repentina distância a


frustrou.

— Ela não pode ir até eles?

— Espero que ela possa, mas eu lhe disse que pode ficar aqui
por alguns dias enquanto ela se recompõe.

— Alguns dias. — Seu desânimo não pôde ser escondido.

Ele levantou uma sobrancelha arrogante, parecendo


exatamente o nobre arrogante com quem ela se casou.

— Você me deixaria expulsá-la?

— Sim. — Ela não tinha o menor sinal de vergonha. —


Preferiria isso a ter que ver a mulher que você ama sentada à minha
mesa de café da manhã.

Ele caminhou em direção a ela então, quebrando a barreira


invisível que ele construiu entre eles.

— Não é mais o mesmo entre nós, agora.


— Vi como você a tocou. — Não queria pressionar o assunto
por medo do que ele poderia revelar e quão profundamente doeria,
mas ela permaneceu incapaz de manter sua língua quieta. — Era
muito familiar. — Ela odiava a falha em sua voz.

— Não posso negar o que já aconteceu. — Ele parou diante


dela, seu cheiro flutuando e deixando seu coração mais fraco do
que já estava. — Você sabe que ela e eu já fomos próximos.

— Uma amiga muito antiga e querida, — ela repetiu as


palavras dele no baile de Lady Needham, incapaz de esconder a
amargura de seu tom. — Ela partiu seu coração. Foi escolha dela
terminar as coisas, não sua. E agora, ela está de volta como se
nunca tivesse partido.

Ele procurou seus olhos.

— Tudo o que você disse é verdade.

Uma pontada aguda de dor cortou seu coração. Ela girou nos
calcanhares, incapaz de encará-lo por mais um momento. Ele não
entendia o quanto isso a matava por dentro? Se sentia como uma
flor delicada que acabara de ser esmagada por uma bota
implacável.

— Por favor, seja gentil o suficiente para continuar seu caso


em outro lugar. Não posso viver sob o mesmo teto, sabendo que
você está fazendo amor com ela. — Ela levou a mão aos lábios ao
parar diante da janela, olhando sem ver os jardins abaixo.
Lágrimas humilhantes picaram seus olhos e ela piscou
furiosamente, recusando-se a permitir que caíssem.

Simon a seguiu. Ele colocou a mão em sua cintura,


marcando-a através das camadas de linho e seda.
— Olhe para mim.

— Não. — Ela temeu se envergonhar ainda mais. Já era ruim


o suficiente que ele não se importasse com ela, mas temia ter
começado a sentir algo por ele. Seu coração não poderia suportar
muito mais dor.

— Maggie, por favor. — Ele a agarrou com ambas as mãos,


virando-a à força. — Olhe para mim.

Ela mordeu o lábio e olhou para o chão.

— Saia deste quarto. Estou te implorando. Deixe-me com o


pouco de orgulho que tenho.

Ele ergueu seu queixo para que ela não tivesse escolha a não
ser encontrar seu olhar.

— Prometi a você um mês, e pretendo manter essa promessa.

Se ele tentava tranquilizá-la, estava falhando miseravelmente.


Ele a confundia. Ele a tocou como se importasse, e ainda assim,
ele tocou Lady Billingsley da mesma maneira. O que ele queria?
Ela não saberia dizer. Talvez fosse melhor dar-lhe a sua liberdade.
Afinal, quando as promessas realmente importaram entre os dois?
Ela poderia continuar com sua vida, voltar para Nova York.
Esquecê-lo.

Ele nunca a teria tocado se soubesse quem ela era naquela


noite na casa de Lady Needham. Nunca tivera a intenção de torná-
la sua esposa. Afinal, ele sempre amou outra pessoa.

Maggie estava entorpecida.

— Eu liberto você. Você só tem duas semanas restantes. Não


vou cobrar isso de você.
O polegar dele permaneceu em seu queixo, uma marca
quente.

— Maldita seja, não quero ser liberado. Por que você está me
afastando?

Ela olhou fixamente, ressentimento e ciúme borbulhando


dentro dela.

— Não posso vê-lo com ela. Dói muito.

— Eu não a quero, — ele disse, colocando o rosto dela na


palma da mão. — Quero você.

Ela estava com muito medo de acreditar nele.

— Por quanto tempo? Os próximos dias? Nas próximas horas?


Querer não é mais suficiente.

— Eu não sei. — Ele parecia tão frustrado e perdido quanto


ela. — Nunca desejei uma esposa, maldita seja.

Suas palavras doeram.

— Então, você nunca deveria ter se casado comigo.

— Não foi isso que eu quis dizer. — Ele fez uma pausa,
passando a mão pelo cabelo mais uma vez. — Tive que me casar
com você para salvar as propriedades da ruína. Meu pai me deixou
com um grande fardo de dívidas quando morreu e finalmente fui
forçado a agir. Eu me casei com você porque não tinha outra
escolha. Você tinha o maior dote que pude encontrar, e seu pai
estava faminto por um título de Lorde inglês.

Isso não era novidade para ela. Ela cruzou os braços em uma
postura defensiva. Ele se casou com ela pelo dinheiro de seu pai, e
ela se casou com ele pelo título a mando de seu pai.
— Eu sabia disso, Simon. Não sou idiota. Posso ter pensado
de maneira diferente no início, mas isso não se esconde. Afinal, as
pessoas falam. Entendo que você me odiava por causa disso, mas
o que não entendo é porque devo ser punida por algo sobre o qual
não tinha controle.

— Não estou te punindo. Estou tentando explicar que estou


lhe dando o máximo de sangue que posso. — Ele a puxou contra
seu peito duro. — Um mero mês atrás, você nunca tinha entrado
nos meus pensamentos, e agora você é tudo em que posso pensar.

Sua admissão a comoveu apesar de seus pensamentos. Ela


podia ver claramente que ele lutava contra sua atração por ela.
Provavelmente, se eles nunca tivessem se cruzado atrás da
segurança do anonimato da casa de Lady Needham, ela nunca teria
quebrado a parede que ele mantinha em torno de si. Mas eles
tinham, e ela gostava de pensar que a paixão que haviam
compartilhado desde aquela noite fatídica significava tanto para ele
quanto para ela.

— Não posso ficar longe de você. — Seu olhar baixou para os


lábios dela.

— Então, não faça isso. — Se ao menos suas vidas estivessem


livres. Mas, eles estavam completamente atolados em um mundo
mais interessado em dinheiro do que em amor. Um mundo mais
interessado no corte de um casaco do que no conteúdo de um
coração.

Mas Simon não parecia disposto a permitir que ela se


afundasse em seus pensamentos pesados. Ele olhou para ela como
se quisesse consumi-la. Os pensamentos sobre sua visitante
indesejada voaram de sua mente, empalidecendo em comparação
com a fome crua que ela viu refletida em seu rosto. O desejo entre
eles era real e verdadeiro. Uma punhalada rápida de calor a
percorreu. Só havia uma coisa que ela podia fazer. Ela ficou na
ponta dos pés, e deu um beijo em sua boca esculpida.

Ele inclinou seus lábios sobre os dela, aprofundando o beijo


com sua língua. Suas mãos foram para o corpete, rasgando a
pequena linha de botões cobertos de tecido na frente. Ela não se
importaria se eles rasgassem o vestido inteiro. Estava tão
desesperada quanto ele, tão faminta por ele. Ela se atrapalhou para
ajudá-lo a abrir a capa do espartilho. Ela queria reivindicá-lo, seu
território. Dela.

Ele rompeu o beijo.

— Droga, você tem que parar de usar tantas malditas roupas


íntimas. Ficar nu não deve demorar mais do que completar uma
refeição de oito pratos.

Ela sorriu, afastando suas mãos para desfazer os fechos da


capa do espartilho também. Conseguiu desfazer os primeiros
ganchos e botões antes que ele perdesse a paciência mais uma vez,
separando-os para revelar sua camisa. Ele puxou aquele fino
pedaço de linho e abaixou a cabeça para sugar um mamilo em sua
boca quente e úmida.

Seus dedos se afundaram em seu cabelo enquanto ela se


arqueava. Oh, queridos céus. Ela não conseguia desviar o olhar da
visão deliciosa de sua boca sensual em seu seio. Ele olhou para
ela, seus olhos esmeralda cintilantes derretendo-a enquanto sua
língua saía para provocar sua pele sensível. Ela o amou quando ele
estava em seu estado mais pecaminoso, torturando-a com prazer
até que ela temeu que se fragmentaria em um milhão de cacos de
mulher feliz. Ele chupou novamente, criando um puxão de desejo
inebriante em seu sexo. Já estava molhada, pronta para ele.

— Quero que você me tome, — disse ela, precisando dele mais


do que nunca. Queria que ele a tornasse sua no sentido mais
elementar, que a fizesse esquecer o terrível ressurgimento de Lady
Billingsley em suas vidas.

— Querida travessa, — ele disse, sorrindo contra a curva


pálida de seu seio. Ele raspou os dentes sobre o mamilo, em
seguida, soprou sobre ele. — Quanto você me quer?

Oh, ele era um demônio, seu marido. Mas um demônio que


ela temia estar cada vez mais apaixonada. Querido Deus. Atingiu-
a então, com a explosão de um balde de água fria sobre sua cabeça.
De alguma forma, ele estava ganhando seu coração. Ela congelou,
olhando-o, incapaz de se lembrar do que ele lhe perguntou.

— Tornei você incapaz de falar mais uma vez, amor? — Um


sorriso conhecedor curvou sua boca.

Ele a chamou de amor. Tinha certeza de que ele não queria


ter dito isso, da maneira que queria que ele dissesse. Céus, ela
esperava que seus sentimentos não estivessem estampados em seu
rosto tolo. Certamente poderia ter havido um momento melhor
para ela perceber seus sentimentos. Claro, teria sido preferível que
não tivesse desenvolvido sentimentos. Como desejava ser tão sábia
e petulante quanto Lady Needham, que podia flertar e dar festas
selvagens como se não estivesse fazendo nada mais natural do que
espirrar. Mas ela era, em seu coração, a simples e velha Margaret.
E estava perdendo seu coração para um canalha.

Mas ele era um canalha? Ela não queria pensar nisso.

Ela emoldurou seu rosto, correndo os dedos sobre a abrasão


deliciosa de seus bigodes.

— Tome-me agora, — ela o encorajou, antes de se


envergonhar por confessar sua confusão de emoções para ele. —
Preciso de você, Simon.

Ele se levantou, elevando-se sobre ela mais uma vez, e puxou-


a para um sofá no meio da sala.

— Cristo, o que você faz comigo, mulher. — Ele colocou as


mãos nas costas douradas e se posicionou atrás dela. — Eu tenho
que estar dentro de você.

— Sim. — Ela precisava tanto dele para fazer amor, que nem
se preocupou em se perguntar como eles fariam o acasalamento
em pé. Não importava.

Ele deu um beijo de boca aberta em seu pescoço e levantou a


parte de trás de sua saia, segurando-a em seu braço. Seus dedos
ágeis desamarraram seu bloco de anquinhas e abriram suas
calças. Elas caíram no chão com suas anáguas em um suave
barulho. Ele continuou beijando seu pescoço, carícias apaixonadas
que fizeram seus joelhos ameaçarem ceder. O ar frio beijou seu
traseiro nu, substituído em um momento por seu toque
conhecedor.

— Está pronta para mim? — Seus dedos mergulharam em


seu sexo por trás, brincando com ela antes de deslizar para dentro.
Ela gemeu, empurrando nele por mais.

— Sim, — ela mal conseguiu dizer. Ela se virou, capturando


sua boca. O beijo foi saqueador, devastador. Suas línguas se
enredaram. Ele substituiu seus dedos por seu pênis.

Suas mãos foram para a cintura dela, segurando-a no ângulo


que ele precisava enquanto mergulhava dentro dela novamente e
novamente. Uma nova onda de desejo a atingiu, deixando-a fraca.
Ela agarrou o sofá com tanta força que os nós dos dedos ficaram
brancos enquanto lutava para não cair em uma poça de luxúria
aos pés dele.

Ele bombeou dentro dela, aumentando seu ritmo, e ela se


desfez, alcançando seu pináculo, e gritando. Ela não conseguiu
evitar cair quando a sensação extrema tomou conta dela. Ele a
segurou parada, apenas onde a queria, empurrando com uma
necessidade frenética que logo o teve enchendo-a com sua
semente. Ela gozou quando ele encontrou sua liberação,
deleitando-se com a conclusão de sua união, a incrível sensação
de se perder nela.

Ele desabou sobre ela, sua respiração irregular, seus corpos


ainda unidos. Ela podia sentir o ritmo frenético de seu coração
contra suas costas. No silêncio do rescaldo de sua paixão, ela
silenciosamente rezou para que ela estivesse errada. Esse desejo
seria o suficiente para mantê-lo ao seu lado. Ela não podia suportar
perdê-lo. Nova York não era onde ela pertencia.

Ele acordou de seus sonhos naquela noite com uma mão


descendo por seu peito, direto para seu pênis. Os dedos se
enrolaram habilmente em torno de seu eixo, trabalhando-o para
cima e para baixo. Ele gemeu e se arqueou com o toque capaz,
pensando que Maggie tinha entrado na ponta dos pés em seu
quarto através da escuridão. Ele estava duro e pronto.

— Maggie, — murmurou, — você me quer de novo, não é?

Suas mãos foram para o cabelo dela, mas a textura era


diferente, toda seda macia ao invés de cachos macios. E então,
havia o cheiro. Lavanda. Os seios pressionados contra seu peito
estavam todos errados. Muito pequeno. Seus quadris eram
estreitos também, sua boca em seu pescoço muito familiar, mas
ainda de alguma forma estranha.

— Eleanor. — A compreensão o assustou. Ele empurrou


levemente seus ombros enquanto a vigília voltava para ele. — O
que diabos você está fazendo no meu quarto?

— Senti sua falta, Sandy. — Ela se contorceu contra ele.

Antes, a mera pressão de seu corpo nu o teria incitado à


loucura. Mas, agora havia algo que o impedia de rolá-la de costas
e fodê-la como fez tantas vezes antes. Ele sabia, afinal, que ela
estaria molhada e disposta como sempre. Eles tinham se encaixado
perfeitamente, os dois. Fazer amor foi fácil, apaixonado, sem
esforço.

Pensou novamente em Maggie, e removeu a mão provocadora


de Eleanor de seu pênis.

— Nós não podemos. Maggie está no quarto ao lado.

— Vou ficar muito quieta — prometeu Eleanor, seus lábios


perto dos dele.
Não, não podia. Virou-a de costas e rolou para longe, puxando
a roupa de cama ao redor de si como um escudo.

— Você deve voltar para sua cama imediatamente. Não vou


desrespeitar Maggie, nem vou insultá-la, com os empregados
sabendo da sua presença aqui.

Ele estava confuso, tanto por sua presença em seu quarto,


quanto por sua presença em sua casa. Devia a Maggie seu respeito.
Sua fidelidade. Tudo que se recusou a dar durante toda a sua
união. Eles haviam forjado um vínculo no mês passado. Era
diferente do que compartilhou com Eleanor. Passou a respeitar sua
esposa. Sim, Maggie era incomparável, desde sua poesia até seus
cachos flamejantes e sua disposição de se abrir para ele. Ela era
especial.

— Desrespeitá-la? — Incredulidade atou as palavras de


Eleanor. — E quanto a mim? Quem ela é para você, além dos
fundos de que você precisava tão desesperadamente?

Ele sentiu uma grande onda de vergonha então, e isso fez seu
pênis murchar com mais segurança do que um balde de água fria.
Ela estava apenas repetindo as palavras que costumava dizer a ela.
Lembrou-se deles agora, uma chuva de vergonha caindo sobre sua
cabeça. A mulher com quem casei não significa nada para mim. Ela
era um pecado necessário.

O nojo bateu nele. Levantou-se da cama, espreitando na


escuridão em busca de seu roupão.

— Fiz uma promessa a ela de que lhe seria fiel por um mês
inteiro e, pelo menos, pretendo cumprir essa promessa. Você deve
ir, Eleanor. Exijo isso.
— Muito bem. — Sua voz estava desenhada com mágoa. —
Devo ir. Mas você vai implorar para que eu volte para sua cama,
Sandy. Isso, eu sei.

— Você está errada, — disse ele, com a voz rouca. Cristo, não
sabia mais em que acreditar. Parte dele ainda ansiava pela Eleanor
que pensava que conhecia. Mas, uma parte dele queria Maggie e a
vida que experimentou com ela, cheia de poesia, risos e
sensualidade. Cheio de liberdade.

— Você está errada, Eleanor. — Repetiu, tanto para o


benefício dela quanto para o dele, e, jogando a faixa em volta da
cintura, saiu do quarto.

Maggie não conseguia dormir. Os feios desdobramentos do


dia a atormentavam tanto que, mesmo quando fechava os olhos,
podia ver o rosto de estrutura fina de Lady Billingsley, sua cintura
fina, o halo de cabelo loiro que a marcava como uma verdadeira
beleza inglesa. Sua cabeça doía. Seu coração doeu. Estava
alternadamente quente, depois fria, desconfortável presa sob
muitas cobertas, e depois não o suficiente.

Com um suspiro, tentou afofar o travesseiro com talvez mais


força do que o necessário para a tarefa. Simon tinha vindo para ela
no início da noite, e seu amor tinha sido lento e doce, mas ela
estava quase muito travada com o reaparecimento repentino da
mulher que ele amava, para desfrutar do simples acasalamento de
seus corpos.

O jantar anterior havia sido insuportavelmente afetado. Lady


Billingsley juntou-se a eles e, embora Maggie desejasse nada mais
do que esconder-se no conforto privado de seu quarto durante a
refeição, sabia que não podia permitir que a mulher horrível visse
sua fraqueza. Maggie nasceu da linhagem de guerreiros, e não
estava prestes a ser vencida por uma sílfide que quebrou o coração
de seu marido apenas para retornar como se ela pudesse mais uma
vez atraí-lo de volta para sua teia.

Esperava ter mantido sua dignidade. Por duas vezes, perdeu


a cabeça e quase permitiu que seus verdadeiros sentimentos
surgissem. Particularmente, desejava que Lady Billingsley se
engasgasse com a sopa, para sua vergonha interior. Mas, apesar
de tudo, conseguiu de alguma forma representar o papel de
anfitriã, como se não estivesse prestes a entrar em uma batalha
com a mulher sentada à sua frente na mesa.

Batalha.

Maggie fez uma careta e se virou para o lado esquerdo,


desesperada para expulsar as dúvidas de sua mente, pelo menos
durante a noite. Queria lutar? Algumas semanas antes, a resposta
teria sido um — não— seguro e constante. Estava desiludida com
a vida, com um marido que não a queria, com uma vida de solidão
e ansiando por algo mais. E então, a festa em casa de Lady
Needham. Encontrar Simon livre dos obstáculos foi estimulante.
Seu corpo foi despertado para desejos que nunca imaginou que
existissem. A barganha de um mês nos braços um do outro parecia
fortuita para os dois.

Mas agora, tudo era tão desesperadoramente complicado. Seu


coração de alguma forma se envolveu. Se importava com Simon, o
homem que uma vez considerou frio e distante, mas que descobriu,
ainda tinha as cicatrizes de seu passado sob sua fachada elegante.
Não queria permitir que ele a fizesse sentir tanto.

Um ruído suave filtrou-se por suas perturbadas reflexões


naquele momento, interrompendo sua mente em fuga por um
momento. Prendeu a respiração e ouviu. Parecia vir do quarto de
Simon. Cheia de apreensão, levantou-se da cama e caminhou pelo
tapete para ouvir pela porta. Um ruído baixo alcançou seus
ouvidos, inconfundivelmente a voz de Simon. Em seguida, houve a
voz mais suave de uma mulher.

Maggie encostou o ouvido na porta, sem se importar que fosse


um ato mais adequado para uma garota de escola do que para uma
mulher de sua idade. Estava desesperada para saber o que
estavam dizendo, mas ao mesmo tempo apavorada por saber.
Infelizmente, não conseguia compreender suas palavras, não
importava o quanto tentasse, mas talvez fosse por causa do sangue
subindo para sua cabeça. A raiva a dominou primeiro. Como se
atrevia a mulher a ter tanta ousadia de ir ao quarto de Simon?
Como Simon ousou permitir?

Sob a raiva, uma terrível maré de dor cresceu. Como ele


poderia traí-la em sua casa, e tão rápido depois de fazer amor com
ela? Como ele poderia mostrar a ela tanta paixão apenas para dar
o mesmo a outra mulher? Há apenas um mês, você nunca entrou
em meus pensamentos, e agora você é tudo em que posso pensar,
ele disse a ela, o mentiroso podre. Talvez, ela estivesse errada e ele
não tinha um coração, afinal.

Parte dela queria abrir a porta e confrontar os dois, mas a


outra parte temia muito o que a esperava do outro lado. Não
suportaria vê-lo segurando Lady Billingsley, beijando-a, tocando-
a. Sentindo-se mal, voltou para a cama e afundou-se nela. Não
tinha nenhum outro lugar para ir, ninguém a quem recorrer, e pela
primeira vez em sua estadia infeliz na Inglaterra, sentiu-se
completa e totalmente sozinha.

Lágrimas arderam em seus olhos e, por mais que tentasse,


não conseguiu evitar que caíssem. Depois de todo esse tempo, de
toda a sabedoria que jurou que ganhou, ele ainda tinha o poder de
machucá-la, esmagá-la como se ela fosse uma boneca de papel sob
o salto de sua bota. Foi uma percepção horrível. Queria tanto ser
imune a ele, ter sido tão mundana quanto Lady Needham. Mas,
supunha que no final, ainda era a mesma sonhadora com alma de
poeta que sempre foi, uma garota que ingenuamente acreditava na
promessa da paixão. Que tinha muitos sentimentos, que via o
melhor nos outros, mesmo quando não estava presente, e que
permitia que um canalha machucasse demais o seu coração. Não
era a primeira vez que Simon a machucou, mas enquanto ela
estava deitada na escuridão planejando o que deveria fazer, decidiu
que teria que ser a última.
SIMON ESTAVA COMPLETAMENTE EMBRIAGADO. Bêbado. De cara
cheia. Quaisquer que sejam as palavras que alguém preferisse
usar, ele estava as reivindicando todas. Tomou um bom gole de
uísque, desfrutando da queimadura em sua garganta. Não
conseguiu dormir, então passou a noite em seu escritório, bebendo
e se perguntando o que diabos faria a seguir. Nunca esteve tão
confuso em sua vida, dividido entre o passado e um possível futuro
com Maggie.

Maggie, sua poetisa apaixonada que nunca deixou de


surpreendê-lo. Ele a amava? A verdade é que começou a acreditar
que o amor era mais ficção do que fato, que era um estado
impossível inventado por tolos e românticos. Fora atraído por ela,
por seu corpo sensível e coração bondoso. Ela tinha mostrado mais
generosidade do que ele merecia, e sempre a admiraria por isso.

— Cristo. — Deu outra tragada no álcool. As bebedeiras


também não eram a solução para seus problemas, mas fizeram um
bom trabalho em distraí-lo. Sua mente estava mais leve, mesmo
que seu coração não estivesse.

Uma batida discreta na porta interrompeu sua solidão.

— Entre, — gritou, presumindo que fosse o mordomo com


uma bandeja de café da manhã.
Maggie entrou na sala, parecendo formidavelmente linda em
um vestido diurno de seda azul-marinho. Seus cabelos flamejantes
tinham um estilo simples, com cachos caindo em cascata sobre os
ombros. O corpete de seu vestido favorecia sua cintura fina e seios
fartos com perfeição. Dane-se se ele não ficava duro só de olhar
para ela, com uísque e tudo. Uma série de laços enfeitou suas saias
e mangas, e ele coçou para desamarrar todas, em seguida, tirá-la
de seu vestido, espalhando-a sobre sua escrivaninha, e deslizando
seu pênis profundamente dentro dela.

— Meu Senhor. — Seu tom era duro como o espartilho de


barbatana.

Inferno. O frio que emanava de seu corpo delicioso era


suficiente para amortecer seu ardor. Algo estava errado. Ele
tardiamente percebeu que seus lábios rosados normalmente
carnudos estavam comprimidos em uma linha infeliz.

— Maggie, — ele respondeu, levantando-se enquanto


recordava suas maneiras. — Bom dia.

Ela parou no meio da sala, as mãos cruzadas na cintura. Era


uma beleza ferozmente única.

— Não acho que seja um bom dia, infelizmente.

Ele ergueu uma sobrancelha, tentando afastar uma sensação


crescente de apreensão.

— De fato? E por que isso, minha querida?

— Meu sono é terrível, na melhor das hipóteses, facilmente


interrompido. — Ela olhou-o daquela maneira que ele já conhecia.
Isso desnudou completamente sua alma. E ele não pensava que
possuía uma alma por mais tempo.

— Fale logo, Maggie, — ordenou, fazendo o seu melhor para


resolver o que estava errado, mesmo com seu cérebro encharcado
de uísque. — O que você tem a me dizer?

Ela prendeu o delicioso lábio inferior entre os dentes antes de


se aventurar nas águas perigosas diante deles.

— Ouvi vozes ontem à noite.

O peso do pavor caiu sobre seus ombros. Quanto ela tinha


ouvido?

— De fato? — Oh, droga, ele disse isso duas vezes agora.


Agora, ele era um canalha e um idiota, além, é claro, de um bêbado.

— De fato. — Sua expressão era pensativa, ligeiramente


magoada. Ela nunca tinha parecido mais bonita, e a compreensão
o assustou. — Acredito que você estava conversando com Lady
Billingsley. Em seu quarto.

Maldito inferno. Queria mentir, mas não conseguiu.

— Ela aproveitou para entrar no meu quarto, enquanto eu


estava dormindo.

— E você não achou por bem dispensá-la sumariamente?

Claro que deveria. Não como marido, pois Deus sabia que
maridos e esposas se perdiam quando e onde queriam, mas como
amante. Ele jurou ser fiel a ela por um mês inteiro. Embora não
tivesse feito amor com Eleanor, certamente não fora fiel a Maggie
durante a maior parte do casamento. Sabia disso em seu coração
negro.
— Não. — Sabia ao dizer a palavra que ela poderia custar-lhe
mais do que estava disposto a pagar — tudo que conseguiu
encontrar nas últimas duas semanas, a felicidade provisória que
apenas começou a acreditar que poderia ser possível. — Me afastei
quando ela não obedeceu.

Tudo era um preço muito alto a pagar, droga. Ele queria


Maggie em sua cama. O uísque chacoalhando em sua mente
perturbada não estava dando a ele um pouco de clareza.

— Você dormiu com ela? — Sua voz falhou.

— Cristo, não, — a assegurou. Não faria agora. Não poderia.


O ato antes parecia tão natural, sua mente condicionada pela
sociedade a fazer como todo mundo: casar-se por questões
práticas, encontrar o amor em outro lugar. — Posso ser um
bastardo absoluto, mas até eu tenho moral quando preciso dela.

— Você queria, não é?

Sua pergunta direta o chocou, tanto porque ela ousou


perguntar quanto porque o abalou. A pura verdade era que se ele
quisesse Eleanor, a teria levado. Pelo menos, teria no passado. Seu
tempo com Maggie o havia mudado, e para melhor.

— Você ainda a ama, — Maggie disse então sem esperar por


sua resposta, sua voz sem inflexão exceto um leve tremor que sabia
que significava que ela estava à beira das lágrimas.

Ele amava? O álcool confundia sua mente já confusa. Tudo o


que sabia era que estava desesperadamente enredado nos olhos
violeta de Maggie, sua luz cheia de um brilho acusatório. Ele a
desapontou. E isso o machucou, o atingiu mais do que qualquer
outro golpe em sua vida. Ele era um fracasso total. Lá estava,
colocado diante dele. Vivera quase trinta anos e, no entanto, esse
jovem pedaço de idealismo americano o derrubara.

Ele não era digno dela. Não era digno de beijar sua bainha.

Ela não sabia? Por que ela se atreveu a acreditar nele melhor
do que ele? Ele não era nada mais do que um tolo quebrado,
confuso e ensanguentado.

— Quinze dias não podem mudar um homem tanto quanto


você espera.

— Não vou ficar no seu caminho. — Maggie baixou a cabeça,


recompondo-se com graça. Sua beleza assumiu uma qualidade
frágil pela primeira vez, sua pele pálida se desbotando em um tom
acinzentado. Seus lábios se estreitaram. Mesmo seus cachos
elaborados para cima pareciam ceder em derrota. Ela ergueu o
queixo, o desafio brilhando em seu olhar. — Você deve viver sua
vida como achar melhor.

Ela estava lhe dando liberdade, percebeu, o tipo de liberdade


que ele uma vez sonhou em possuir. Durante os dias em que era
seu marido, muito antes de conhecê-la, a culpa estava no fundo de
sua consciência. Irritando-o. Comendo-o vivo. E agora, ela estava
lhe dizendo para perseguir a mulher que ele amava. Deveria estar
emocionado. Muito feliz. explodindo com euforia.

Em vez disso, sentiu-se apenas vazio. Eleanor não era a


mulher que ele queria, não mais. O que dizer de Maggie, a doce
esposa de quem ele passou a se importar nas últimas semanas?
Ela o inspirou, mostrou-lhe novas facetas da vida, trouxe-lhe
paixão e alegria. Foi generosa e maravilhosa, quando ele sempre foi
cruel. A verdade era que ela merecia muito mais do que um cavalo
bundão e confuso como ele. Talvez o uísque o estivesse fazendo ver
direito pela primeira vez.

— E você? — Perguntou, esperando que ela não o soltasse tão


facilmente.

Se atreveu a pensar que ela poderia lutar por ele com aquele
seu espírito americano feroz. Que pudesse querê-lo apesar de todas
as suas falhas e peculiaridades. Mas ela se virou de costas,
respirando fundo, revelando emoções muito cruas para serem
liberadas.

— Espero encontrar meu caminho. Sempre esperei. — Ela


exalou e se virou para encará-lo, sua expressão exibindo uma falsa
alegria. — Talvez eu escreva novamente. Você me fez ver que não
deveria ter desistido de meus sonhos, e por isso serei eternamente
grata.

Ela falou como se esperasse nunca mais vê-lo novamente, e o


pensamento dela desaparecendo de sua vida o assaltou com uma
estranha sensação de medo. Seu peito se apertou.

— O que você quer dizer com encontrar seu caminho?

— Oh, é apenas uma figura de linguagem, — ela se apressou


em lhe assegurar. — Você não precisa temer que eu fique te
espezinhando. Sempre posso ir para Londres ou ficar com amigos.

— Não, — ele rosnou, talvez mais rápido do que deveria. —


Você deve ficar aqui em Denver Hall. Por que você iria embora?

Ele queria que ela ficasse. Pelo menos, ele achava que sim.
Nunca se sentiu tão à deriva em sua vida. Ele era um barco
balançando no mar, sem terra à vista. Jesus, não tinha uma
bússola para lhe dizer que direção deveria tomar.

— Claro, — ela disse com igual brilho. — Eu nunca iria


embora se você não desejasse isso de mim. Certamente você deve
saber disso, Simon.

Sentindo-se aliviado, ele assentiu.

— Muito bom, minha querida. — Mas quando ele foi diminuir


a distância entre eles e tomá-la nos braços, ela já estava fugindo
do escritório. Ele a observou partir, incapaz de impedi-la.

Maggie estava lendo no conforto da sala de estar, tentando


se distrair do terrível nó que crescia em seu estômago. Ela
procurou Simon na esperança de que ele lhe contasse algo que lhe
desse um motivo para ficar. Esperava que dissesse que não dava a
mínima para Lady Billingsley, embora ela soubesse que era
improvável. Mas ele estava em conflito como sempre, seus olhos
injetados de sangue e seu cabelo despenteado. Ele parecia estar
tão agitado, quanto ela, desconfortável. Mesmo que gostasse dela,
ele ainda tinha sentimentos por sua antiga amante.

Ela temia que tivesse que deixar Denver House. Não na Terra
nenhuma maneira dela permanecer, vendo Simon cair de volta nos
braços de Lady Billingsley. Poderia ir para Londres, supôs, ou
talvez procurar sua querida amiga Victoria enquanto reservava
uma passagem para Nova York. Tentou dizer a si mesma que era o
melhor, mas não conseguia reunir forças.

Não parecia justo que ela tivesse descoberto seus sentimentos


pelo marido apenas para que a única mulher que os mantinha
separados ressurgisse, determinada a destruir a frágil trégua que
eles construíram. Como se fosse uma deixa, sua convidada
indesejada entrou na sala, interrompendo sua paz.

Céus, nunca haveria um tempo em que ela pudesse evitar a


terrível mulher? Ela estava em toda parte. No jantar, na sala de
estar, ficando muito perto de Simon sempre que podia, olhando-o
como se ele estivesse nu diante dela. Ela estava em Denver House
há apenas um dia, e já era um dia demais. Maggie a detestava.
Com grande relutância, ela ergueu os olhos das páginas de
Anthony Trollope para as quais estava tentando escapar.

Lady Billingsley estava, é claro, linda como sempre, usando


um vestido de tarde etéreo, de um rico lilás que enfatizava sua
cintura fina. Maggie jurou que ela usava um espartilho tão
apertado que era um milagre ela não desmaiar sempre que se
sentava. Seus cachos loiros estavam artisticamente dispostos,
dourados como os de qualquer anjo. Mas, ela não era um anjo. Ela
ergueu o nariz ligeiramente quando seu olhar pousou em Maggie,
como se dissesse que a mera presença de Maggie era uma afronta
ao seu senso de nobreza inglesa. As sobrancelhas de Maggie se
juntaram em uma carranca. O sentimento era mútuo.

— Lady Billingsley, que bom ver você. — Estava ciente de que


deveria pelo menos manter a pretensão de ser uma anfitriã feliz.
Nunca seria bom para a mulher descobrir o quanto a aborrecia.

— Minha senhora, — sua inimiga inclinou a cabeça em um a


cumprimento régio. — Estou muito feliz em encontrá-la aqui, pois
isso vai me poupar o esforço de procurá-la.

O desânimo varreu Maggie. Não escapou a ela que a mulher


se recusou a se referir a ela como Lady Sandhurst.
— Por que você precisava me procurar?

A senhora cruzou a sala, diminuindo a distância entre elas, e


enfiou a mão no bolso de seu vestido de dia, extraindo uma pilha
de papel amarrada com fita que pareciam ser envelopes.

— Tenho algo que quero lhe dar, algo que acho que vai alterar
a maneira como você deve me ver.

Maggie balançou a cabeça, olhando o pacote com dúvida.

— Tenho certeza que não. Não quero isso, minha senhora.

— Você deve pegá-los. Quero que você fique com isso. — Lady
Billingsley colocou os envelopes em suas mãos.

Maggie os aceitou, mas apenas porque era fechar os dedos


sobre eles ou permitir que caíssem no tapete. Ela estudou o rosto
de sua adversária, desejando que não fosse tão adorável.

— Não quero nada de você, Lady Billingsley, a não ser nunca


vê-la novamente.

— Entendo que você me despreza, mas eu amo seu marido,


— ela disse, assustando Maggie com sua franqueza. — E sei que
ele ainda me ama muito. Eu estava errada em deixá-lo.

— Mas você o deixou, — ela apontou, — e independentemente


de você aceitar ou não isso, mudou tudo. Antes, você tinha poder
completo sobre ele. Agora, ele não guarda mais nem mesmo uma
pitada de ternura por você.

Claro, ela estava brava. Mesmo sabendo que esta não era uma
guerra que poderia vencer, seu orgulho exigia que não permitisse
que a mulher percebesse isto. Na verdade, ela estava com medo de
que seu marido ainda estivesse apaixonado pela mulher a sua
frente. Afinal, ele nunca tinha dado a ela qualquer razão para ter
esperança por mais do que seu mês de paixão. Ele nunca tinha lhe
falado palavras de amor. As cartas em sua mão queimaram sua
pele em um lembrete terrível.

Cartas de amor. Maggie sabia sem se preocupar em lê-las. O


que tornava sua existência ainda mais humilhante era que ele
nunca havia escrito uma linha para ela. Nem mesmo para
perguntar sobre seu bem-estar. Nem mesmo para saber se ela
ainda existia ou não.

— Ele está tentando me deixar com ciúmes, — Lady


Billingsley insistiu. — Você é uma distração para ele. Leia as
cartas, te imploro. Você verá a profundidade de nossa conexão. Não
pode ser quebrada por uma mera garota americana que
compartilhou sua cama por um mês.

— Não sou uma mera garota americana. — A raiva emprestou


sua nova coragem. — Eu sou uma mulher com sua própria fortuna,
uma poetisa, uma esposa. O que você é além da mulher que se
agarrou a um homem que nunca poderia ser verdadeiramente seu?

— Ele era, — seu nêmesis sibilou. — Ele tem sido meu e assim
o será novamente. Deixe-o livre. Você não consegue ver como ele
se sente preso entre nós? Ele tem pena de você.

Maggie olhou das cartas insidiosas em sua mão para o rosto


da mulher. Ela estava atenta, sua expressão como se tivesse sido
esculpida em mármore. Mas havia uma emoção subjacente em sua
voz, uma urgência, talvez. Suas palavras sacudiram Maggie. Ele
tem pena de você, ela disse. Poderia ser verdade? Ela não se
permitiria pensar nisso agora.
— Deixá-lo livre? Não tenho controle sobre ele.

— Você o fez prometer que te daria este mês, — ela insistiu.


— Ele me contou tudo sobre isso, e seu senso de honra não permite
que se desvencilhe. Está apenas em suas mãos. É por isso que lhe
entrego estas cartas. Você nunca poderá significar para ele o que
eu signifiquei. Nós nos amamos há anos.

— Eu sou sua esposa há um ano. — Ela sabia que seu


protesto era vazio.

— Apenas no nome. Você está na cama dele por pouco tempo.

Chocou Maggie que Simon aparentemente compartilhou os


segredos de seu relacionamento com esta mulher, a mulher que
tinha sido uma barreira entre eles desde o momento em que o
conheceu. Talvez houvesse algo no que Lady Billingsley dizia a ela.
Afinal de contas, ela havia perdido sua ingenuidade, em grande
parte graças a Sandhurst.

— Meu casamento não é da sua conta, — forçou-se a dizer


através dos lábios que ficaram entorpecidos em seu medo
crescente. — Você não pertence aqui, minha senhora. Na verdade,
você faria melhor em voltar para seu marido.

O rosto de sua senhoria se transformou, sua expressão se


tornando presunçosa.

— Não posso. Sandy me ama, e eu o amo. Não cometerei o


mesmo erro duas vezes. Devo tê-lo em minha vida ou não vale a
pena viver.

Querido Deus. Que esperança Maggie tinha de vencer essa


mulher? Não tinha conseguido vencer antes. Agora, não tinha nada
mais do que abraços calorosos e sexo perverso para segurar Simon.
Ele nunca lhe disse palavras de amor, nem as escreveu. Ela olhou
para as cartas com o coração doendo. Decepção a afundou. Sabia
o que deveria fazer.

Ela se foi.

A compreensão foi semelhante a um soco direto em seu


estômago. Simon quase se dobrou, tão violenta foi sua reação. Ele
abriu a porta do quarto dela e entrou, confirmando o que seu
mordomo já lhe havia contado. Sua esposa partiu em uma
confusão de cascos e malas. Seu quarto ainda cheirava a seu
perfume, mas tirando seu cheiro e o punhado de cartas que ela
havia deixado espalhadas sobre sua cama, era como se ela nunca
tivesse estado lá.

Droga. Nunca deveria ter permitido que Eleanor


permanecesse em Denver House, nem mesmo por um dia. Ele
pegou uma carta e examinou seu conteúdo, reconhecendo sua
assinatura juvenil no final da página. Instantaneamente, soube o
que Eleanor tinha feito. Essas cartas eram antigas. Ele nunca
tinha datado sua correspondência como deveria, e se amaldiçoou
por isso agora. Cristo, tinha sido um bundão apaixonado, pensou
com desgosto enquanto lia uma linha particularmente florida.

Ela deu essas cartas a Maggie, sabendo que ela iria lê-las e
presumir o pior. E então, ele encontrou outra carta, enfiada em um
envelope com seu nome. Maggie havia lhe deixado um bilhete, ao
que parecia. Ele o agarrou bem rápido e o abriu.
Ela escreveu que o estava libertando. Ela não queria vê-lo
nunca mais. Estava indo embora, para nunca mais voltar. Seu
punho apertou a carta, amassando-a antes que terminasse de ler.

Ela que se dane. Como ousava pensar que poderia deixá-lo


tão facilmente, sem aviso, sem uma palavra? Ela não poderia. Ele
não toleraria isso. Tinha que encontrá-la. Mas primeiro, precisava
enfrentar Eleanor. Jogando todo o maço de papéis no chão, saiu
do quarto, o nome de sua ex-amante em seus lábios como se fosse
um grito de guerra.

— Eleanor! — Sua visão escureceu com sua raiva quando


percebeu a profundidade que ela tinha afundado. Ela tinha sido
cruel, tinha machucado Maggie. — Eleanor, porra, mostre-se.

Ela recusou-se. Ele sabia a qual quarto fora designada,


resolvendo habilmente o problema imediato de dar-lhe uma
bronca. Sem se preocupar em bater, abriu a porta. Eleanor estava
sentada a uma escrivaninha, mas parou apressadamente à sua
entrada, os olhos arregalados.

— Sandy, qual é o problema?

— Você pode dispensar a pretensão de sua inocência, — ele


sibilou, cruzando a sala até ela, e só parando quando temeu ser
capaz de agarrar seu braço e puxá-la para fora da porta. Ele não
seria violento. — Eu sei o que você fez.

— Você não está satisfeito? — Ela franziu o cenho. — Só deixei


claro para a vaca boba que ela não tem lugar aqui.

Fazia muito tempo que ele não ficava tão furioso. Cerrou os
punhos e respirou fundo, forçando-se a se acalmar.
— Ela é dona de todos os lugares aqui. Ela é minha esposa.

— Apenas no nome. — Eleanor parecia subitamente frágil.

Mas Simon não se comoveu. — Realmente, Eleanor. Assim


como você foi a esposa de seu marido. Se ele bater em você, você
não deve voltar para ele. Mas você precisará encontrar outro
telhado acima de sua cabeça. Você não pode ficar aqui.

— O quê? — Sua tez já pálida havia ficado mais pálida.

— Precisa ir embora. Não posso tolerar suas maquinações, —


explicou, percebendo que havia errado em permitir que ficasse
quando ela chegou. Ela sempre lhe foi uma fraqueza, e ele tinha
pena dela, ainda comovido pelos ternos sentimentos que tinha por
ela. Mas, deveria ter insistido para procurar outro abrigo. Tinha
sido estúpido demais para ver isso.

— Você me ama. — Ela veio até ele e colocou a palma da mão


delicada em seu peito. — Você está bravo. Só fiz o que pensei que
você queria que eu fizesse. Não deve se permitir sentir pena dela.

Ele afastou o toque dela.

— Não, Eleanor. Eu não te amo. Duvido agora que já tenha te


amo. Nem acho que você me ame. Éramos duas pessoas em busca
de algo maior do que nós mesmos, ingênuos o suficiente para
pensar que tínhamos encontrado.

A expressão dela se desintegrou diante dele.

— Como você pode ser tão impiedoso?

— Posso perguntar o mesmo de você, senhora — lembrou ele


com firmeza.
— Você está realmente assumindo o controle daquela
mulher?

Sim, droga. Ele estava. Havia aprendido um pouco sobre a


esposa que havia ignorado. Ela era uma poetisa, uma amante
selvagem, um coração bondoso. Não merecia ser empurrada para
a posição em que a colocou. Disso, sabia com certeza.

— Estou, — disse por fim, sentindo-se como se tivesse


acabado de assumir a primeira causa digna de sua vida. — Eu
preciso, Eleanor. Você fez sua escolha há muito tempo e agora eu
fiz a minha.

Ele a conhecia pela metade de sua vida. Cada um deles foi


deixado em apuros por suas famílias. Ele precisava se casar com
um dote gordo, e Eleanor precisava se casar com uma bolsa gorda.
Mas, ele não era mais o jovem fanfarrão que ela conhecia. Nem ela
era mais a garota que ele admirou. Eles haviam mudado.
Irrevogavelmente.

— Como você pode? — Suas mãos tremulavam ao redor dela


como se fossem borboletas perdidas antes que as pressionasse
contra a boca.

Ele teve a incômoda impressão de que ela estava sufocando


um soluço. Também não queria machucá-la, mas ela o deixou com
uma decisão a tomar. Ele não sabia o que resultaria de seu
casamento com Maggie, mas sabia que estavam inextricavelmente
ligados. Não queria que ela desaparecesse de sua vida.

— Eu sinto muito. — A raiva escoou dele como se fosse uma


vela rasgada. — Vou encontrá-la e, quando voltar, quero que você
saia daqui. Você pode levar minha carruagem.
As lágrimas deslizaram por suas bochechas com seriedade
agora, enquanto uma sensação de finalidade pesava sobre o
momento.

— Para onde devo ir? Billingsley não vai me aceitar agora.

— Se Billingsley lhe machucar, não volte para ele. Você tem


muitos amigos, Eleanor. Procure-os. — Ele suavizou seu tom
enquanto ela continuava a chorar. — Você escolheu seu destino.

— Ele escolheu para mim, — ela argumentou.

— Não. — Pois Simon sabia de forma diferente. Ele teria feito


qualquer coisa para mantê-la, fugido com ela para o continente se
tivesse que fazer isso. Ele havia lhe dito isso, então. Ela ainda tinha
se afastado. Ela tinha feito a ele o maior favor de sua vida.
Simplesmente tinha sido muito estúpido para saber. — Você
escolheu isto. Começo a pensar que você não é a mulher que
acreditei que fosse.

— Mas, te amo.

— Você também mente. Frequentemente e sem escrúpulos. —


Ele se forçou a pensar em Lorde Needham e sua indiscrição com
ele. Quantas outras existiram? Provavelmente, nunca saberia. —
Sinto muito, Eleanor, mas nosso tempo juntos deve chegar ao fim.

— Você está me descartando? — A descrença nublou sua voz.


— Verdadeiramente? Você seria tão insensível a ponto de ir atrás
dela e me jogar fora como se eu não fosse melhor do que o lixo da
lata de lixo?
— Não é lixo, — ele a corrigiu. — Apenas meu passado. Preciso
ir agora. Espero que na próxima vez que nos encontrarmos seja
como amigos.

Ele não esperou para ouvir sua resposta. Ele deixou o quarto,
determinado a encontrar Maggie como se fosse a última coisa que
fizesse.

O transporte alugado fazia muito barulho sobre as estradas


enquanto Maggie pressionava a mão em seu estômago
embrulhado. Talvez sua ideia não tenha sido boa, reconheceu
agora, pois a carruagem que conseguiu obter depois de devolver a
de Sandhurst de volta para Denver House era terrivelmente
barulhenta e velha. Cheirava a azedo, fruta estragada e esterco de
cavalo. A combinação de oscilações, estrondos e odores a enjoou.
Para piorar as coisas já sombrias, os céus se abriram em uma forte
torrente de chuva, e a carruagem estava com goteiras no teto. Mas,
ela não queria que seu marido a encontrasse. Não estava apenas o
deixando, estava desaparecendo completamente. Oh, não se
enganou pensando que ele se daria ao trabalho de encontrá-la, mas
não queria que isso fosse uma possibilidade.

Ela certamente esperava que chegassem logo à propriedade


de Lady Needham, pois não suportaria ficar presa na carruagem
por muito mais tempo. Pelo menos o ambiente desagradável ao seu
redor estava servindo para distraí-la da dor em seu coração.

Maggie nunca se sentiu mais machucada em sua vida. Ela se


sentiu como uma xícara de chá que foi atirada de um telhado para
se estilhaçar em cacos infinitesimais abaixo. Lembrou-se do poema
de Elizabeth Barrett Browning, meu coração e eu. Veja, estamos
cansados, meu coração e eu. Lidamos com livros, confiamos em
homens, foram os versos. Sim, o coração de Maggie estava
realmente cansado. Tinha confiado em Simon e, ao fazê-lo, caiu de
cabeça em sua própria morte. E em nosso próprio sangue encharcou
a caneta. O poema soava terrivelmente verdadeiro.

— Pare esta carruagem!

Uma voz familiar, autoritária e arrogante, mas amada como


sempre, interrompeu seus pensamentos inquietantes. Simon? Não
podia ser. Ela saiu do banco desconfortável para pressionar o rosto
contra a janela suja. Estava com medo de ter esperança, com medo
de que de alguma forma o tivesse conjurado. Talvez estivesse
sonhando, e a qualquer momento ela cairia no chão sujo da
carruagem, e acordaria com a terrível compreensão de que Simon
ainda amava Lady Billingsley, e ele viveria feliz o resto de sua vida
sem ela.

Mas não. Lá estava ele. Seu tolo coração se encheu de alegria.


Agachado sobre seu cavalo, uma expressão feroz gravada em seu
rosto bonito, ele parecia um saqueador de outrora enquanto a
chuva o açoitava. Um herói arrancado das páginas de um livro pelo
qual ela suspirou.

Ele a seguiu. O alívio deslizou sobre ela.

— Pare, — ela falou ao condutor. — Pare imediatamente.

A carruagem gemeu e parou instável e ela já estava de pé,


abrindo a porta. Simon desmontou quando a viu, fechando a
distância entre eles em três longas passadas. Ele agarrou sua
cintura em um aperto quase punitivo, puxando-a para baixo de
sua posição elevada. As chuvas os castigavam. Ele estava
encharcado. Ela não ligou.

— Maldita seja, Maggie. Que diabos você estava fazendo, me


deixando sem uma maldita palavra? — A pergunta foi quase um
rosnado.

Ela procurou seu rosto, não encontrando nenhum indício de


ternura ali. Ele estava todo em linhas duras e ângulos implacáveis.
De alguma forma, ela não havia previsto sua raiva. Enquanto
imaginava sua reação em sua mente, ela esperava seu alívio.
Esperava por sua tristeza. Não tinha pensado em raiva, mas era
um marido irado olhando para ela agora, exigindo respostas.

— Eu escrevi uma carta para você, — conseguiu dizer,


segurando seus braços.

— Um pedaço de merda sem sentido, — declarou ele.

Suas palavras, embora ásperas, deveriam tê-la tocado. Mas,


a deixaram fria, as perguntas clamando dentro dela. Por que ele a
seguiu? Orgulho? Sua raiva? Decidiu começar com o coração de
sua partida.

— Lady Billingsley me deu sua correspondência. Li tudo, e


não poderia suportar que você se separasse de alguém que
obviamente amava tanto.

— Você poderia ter me perguntado, — ele rebateu. — Você


poderia ter vindo até mim, Maggie. Por que você não fez?

— Você nunca me quis desde o início. — Gotas grossas de


chuva caíram em suas bochechas, rolando em uma imitação rude
de lágrimas. Ela as empurrou, não querendo que pensasse que
chorava por ele. — Sei que você certamente nunca me amou.

— Um homem pode mudar, por Deus. — Seu aperto sobre ela


aumentou quando ele deu-lhe uma leve sacudida, como se para
chocar alguma razão nela. — Você nunca pensou nisso?

As profundidades verdes vibrantes de seu olhar a prenderam.

— Pensei que você tinha mudado. Mas então, Lady Billingsley


apareceu, e você parecia tão dividido. Não vou atrapalhar a sua
felicidade.

— Você não vê? — Ele pegou o rosto dela em suas palmas,


puxando suas bocas impossivelmente perto. — Você é minha
felicidade.

Seu coração disparou.

— Eu?

— Você, — ele confirmou. — Não sei como diabos isso


aconteceu, mas de alguma forma você conseguiu apodrecer meu
cérebro.

Oh céus. Isso não parecia nada romântico. Ela franziu o


cenho.

— Não fiz nada disso.

— O inferno que não fez. Antes de pisar na sua cauda na casa


de Lady Needham, eu estava perfeitamente são. Não precisava rir,
ou dançar na chuva, ou uma esposa ao meu lado. Mas então, uma
bela poetisa com cabelos da cor do fogo me fez fazer amor com ela
na maldita biblioteca, e em uma colina no meio de minha
propriedade, e na mesa do café da manhã, e em todos os outros
lugares que eu pudesse. E ela me fez perceber que não sou o
homem que pensei que era.

Ela enrubesceu com a menção dele de suas aventuras


luxuriosas.

— Você, não é?

— Não. — Ele balançou sua cabeça. — Porque o homem que


eu pensei que era poderia viver sem Margaret Emilia Desmond,
uma mulher que é gentil quando não deveria ser, que me fez sentir
em casa pela primeira vez em anos, uma mulher que quebrou o
braço quando era uma menina e nunca chorou.

Lágrimas picaram seus olhos. Ele tinha se lembrado. Tinha


se lembrado de tudo. E talvez, tivesse sentido um amor em resposta
crescendo dentro dele também. Não era uma declaração, mas
serviria.

— Pensei que poderia viver sem você, — ele disse novamente.


— Mas, não posso. Venha para casa comigo, Maggie.

Ele não estava perguntando, mas ela não se importou. Esse


era o jeito de Simon, todo fanfarrão sem um pingo de persuasão.
Não, ele não disse que a amava. Mas ele a seguiu e a queria de
volta. Definitivamente serviria, decidiu novamente.

— Sim, — foi tudo o que ela disse, e então ela estava em seus
braços, sua boca na dela. Estava exatamente onde queria estar.

Algo estava errado. Maggie pôde detectar isso no momento


em que a carruagem alugada parou diante da Casa Denver. As
chuvas finalmente cessaram e os servos circulavam do lado de fora
em uma agitação incomum. Antes que pudesse pensar, a porta da
carruagem se abriu para revelar o rosto chocado de seu mordomo,
Milton.

— Meu Senhor. — Sua voz carregava uma linha distinta de


preocupação. — Lamento dizer que houve um incidente.

— Que diabo é isso? — Simon exigiu.

— Receio que seja Lady Billingsley, — entoou Milton. — Ela


caiu.

— Cristo, — ele rosnou. — De onde?

O mordomo normalmente formidável engoliu em seco.

— De uma janela, parece, Lorde Sandhurst.

O choque a atingiu. Lady Billingsley caiu de uma janela?


Querido céu. A julgar pelo rosto sombrio de Milton, ela estava
gravemente ferida ou pior. E então, algo sinistro lhe ocorreu. Lady
Billingsley não teria simplesmente caído de uma janela. Era
arquitetonicamente impossível. Não, de fato, ela teria pulado por
conta própria.

— Ela está... — Simon permitiu que sua pergunta se


desvanecesse, aparentemente incapaz de completá-la.

— Mandei chamar o Dr. Williams, mas temo que sua presença


não seja necessária, meu senhor.

— Onde diabos ela está? — Simon disparou para fora da


carruagem como se fosse uma bala de canhão, deixando Maggie de
lado em seu rastro.

— No jardim leste, meu senhor, — Milton gritou atrás dele,


mas Simon já estava correndo.
Seu coração despencou. Maggie juntou as saias em seus
punhos, e correu atrás dele tão rápido quanto seus chinelos
permitiam que seus pés viajassem. Ela estava com muito medo do
que iria encontrar, mas também não queria que ele enfrentasse a
cena terrível sozinho.

Ela teve que parar duas vezes por causa das pedras entrando
em seus chinelos. No momento em que alcançou a borda do
imaculado jardim leste, Simon já havia conseguido uma boa
vantagem sobre ela. Seu espartilho mordeu seus lados quando ela
correu para alcançá-lo, o medo emaranhando com o nó crescente
de preocupação em seu estômago.

E então ela viu, uma onda de saias pastel manchadas pelo


inegável vermelho de sangue. O vestido em si parecia estar
suspenso no ar, pendurado sobre a intrincada cerca de ferro
forjada no perímetro do jardim. O ritmo frenético de Maggie
diminuiu conforme a compreensão se infiltrava por sua mente
confusa. Céus. Ela pressionou a mão sobre a boca para abafar o
grito de horror que subia por sua garganta. A imagem inteira veio
junto quando ela viu braços pálidos e uma cabeça loira pendurada
indiferentemente para baixo.

Querido Deus. Lady Billingsley foi empalada na cerca quando


caiu da janela. Sua forma estava totalmente imóvel. As palavras de
Milton voltaram a Maggie enquanto ela observava seu marido
correr para o lado de Lady Billingsley. Mandei chamar o Dr.
Williams, mas temo que sua presença não seja necessária...

Simon correu direto para ela de qualquer maneira, sem


vacilar por um momento enquanto tentava resgatá-la, Maggie
supôs, levantando seu corpo mole da cerca onde se encontrava
cravada. Ele lutou para libertá-la, deixando escapar um grito
desumano de dor. Maggie o alcançou quando ele finalmente puxou
Lady Billingsley de sua ignominiosa posição no topo da cerca. O
sangue vazou de suas feridas novamente. Sua pele era o cinza de
um céu antes de uma tempestade. Seus olhos estavam abertos,
mas sem visão. O vermelho escorreu de sua boca enquanto Simon
a segurava contra ele, caindo de joelhos. Todas as perguntas
remanescentes foram eliminadas. Lady Billingsley estava
realmente morta.

— Eleanor, — ele gemeu. — Jesus, Eleanor. O que é que você


fez?

Uma onda violenta de náusea atingiu Maggie, forçando-a a se


afastar da cena terrível. Ela nunca tinha visto a morte de uma
forma que fosse menos pacífica. A partida de Lady Billingsley da
Terra foi tudo menos isso. Ela pensou em como a mulher deve ter
ficado assustada, caindo pelo ar até a morte. Que horrível.

— Simon, — ela se forçou a dizer através dos lábios que


tinham ficado secos com o terror do momento. — Ela se foi.

— Não, — ele negou. — Ela não foi, droga.

Ela olhou para trás para vê-lo embalando o corpo sem vida de
Lady Billingsley como se ela fosse o seu bem mais querido na terra.
Estava claro para Maggie que seu amor pela outra mulher nunca
havia diminuído. Ele estava arrasado, sua voz carregada de dor
selvagem. Ela se sentia uma intrusa, observando sem saber o que
fazer, como ajudá-lo.
— Simon, — ela disse novamente, colocando uma mão de
conforto em seu ombro. — Você não deve se torturar.

— Onde diabo está Milton? Chame o Dr. Williams, maldito


seja. — Ele embalou Lady Billingsley em seus braços. Ele parecia
selvagem, como se estivesse em choque. E sem dúvida ele estava.
Todos estavam. — Ela precisa de ajuda.

O coração de Maggie se partiu por ele. Ela procurou em sua


mente por palavras, mas o que poderia dizer que aliviaria seu
sofrimento? Ele segurava uma mulher morta em seus braços, a
mulher que ele amava. Era como se o vínculo provisório que eles
forjaram tivesse caído de um penhasco, espatifado nas rochas
abaixo. Maggie era mais uma vez uma esposa indesejada que não
lhe pertencia antes e que certamente não lhe pertencia agora.

Mas ela odiava vê-lo se despedaçar.

— Sinto muito, Simon. — Teve o cuidado de manter a voz


baixa, reconfortante. Foi uma grande façanha, dados os horrores
diante dela. Ela nunca poderia ter imaginado voltar a isso.

— Deixe-me, Maggie. — Sua voz estava áspera. — Por favor.


Preciso ficar sozinho.

Ele não poderia tê-la machucado mais se tivesse lhe dado um


tapa na cara. Ela puxou a mão dele e virou para longe. As lágrimas
que segurava finalmente caíram, lágrimas por Simon tanto quanto
por Lady Billingsley. E sim, por mais egoísta e horrível que fosse,
lágrimas por si mesma também. Sabia instintivamente que nunca
poderia haver uma recuperação de tal tragédia. Nunca. Essa morte
horrível mudaria tudo.
Milton estava atrás dela, seu rosto normalmente inexpressivo
cheio de simpatia aberta. Sabia que ele tinha ouvido a rejeição de
Simon por ela. Ele pigarreou.

— Venha comigo, minha senhora. Você não deve se demorar


aqui. Eu a colocarei sob os cuidados da competente Sra. Keynes.

— Sim. — Ela se permitiu ser escoltada por uma porta lateral


como se fosse uma criança. — Obrigada, Milton. Você é muito
gentil.

— Claro, minha senhora.

— Por favor, fique perto dele, — acrescentou. — Ele não me


quer, mas temo muito que não deva ficar sozinho.

— Farei o que a senhora pedir, minha senhora. — Com uma


reverência, ele a entregou à Sra. Keynes, que pairava sobre ela
como uma mãe galinha.

— Abençoados anjos, Lady Sandhurst. Se acalme agora. A


senhora está terrivelmente pálida. Sente-se. — Profundos sulcos
de preocupação delinearam o rosto redondo e gentil da governanta.
— Você não viu nada, não é, minha querida?

Maggie engoliu em seco, sentindo-se mal de novo ao pensar


no rosto ensanguentado e sem vida de Lady Billingsley.

— Receio que sim.

— Oh, minha pobre querida. — A Sra. Keynes deu um tapinha


em sua mão numa demonstração incomum de carinho. — Sente-
se, e pedirei um pouco de chá. Você não deve pensar nisso. Nem
por mais um minuto. Deus tenha a alma de sua senhoria.
— Deus a tenha, — sussurrou Maggie, sentindo-se como se
estivesse muito longe. Sua visão começou a escurecer. Então,
houve o abismo do nada se estendendo diante dela, chamando seu
nome. Ela caiu de cabeça nele.

As batidas, batidas e sons de vidro quebrando emergindo


do escritório de Simon disseram a Maggie exatamente onde seu
marido estava. Era tarde. Horas se passaram desde seu retorno a
Denver House, e a horrível descoberta do corpo sem vida de Lady
Billingsley. Maggie não tinha visto Simon desde que ele lhe disse
para deixá-lo. Uma mortalha caiu sobre toda a casa, até mesmo os
criados vagando com expressões sombrias.

O jantar foi servido sem Simon ser encontrado em lugar


nenhum e Maggie incapaz de comer. O silêncio penetrante à mesa
tinha sido quase insuportável, e durante todo o tempo em que se
sentou sozinha com o prato cheio à sua frente, tudo que conseguia
pensar era que uma mulher havia se matado. A mulher que Simon
amou. E Simon não queria o conforto de Maggie. Não queria sua
presença.

Foi doloroso ele se afastar dela, especialmente porque foi tão


próximo de sua corrida desesperada para trazê-la de volta para
Denver House. Sabia que ele estava sofrendo, que testemunhou
uma tragédia indescritível, mas sua deserção permaneceu
perturbadora.

Seus sentimentos não importavam no momento, ela sabia,


enquanto pairava perto da soleira da porta fechada do estúdio.
Outro estrondo alto pôde ser ouvido de dentro, junto com uma
maldição abafada. Ela estremeceu e respirou fundo, sua mão
vacilando na maçaneta. Provavelmente ele ainda não desejava vê-
la, mas ela esperou em vão em seu quarto que ele chegasse. Ela
não tinha conseguido esperar mais. Não conseguia afastar a
sensação de que ele precisava dela, quisesse ou não.

A porta se abriu para revelar uma cena mal iluminada de


carnificina de objetos inanimados que, sem dúvida, refletia o
tumulto de sua alma. Ela entrou e fechou a porta atrás de si, atenta
aos cacos de vidro a seus pés, talvez os restos de uma garrafa.
Então ela o viu, de costas, a cabeça baixa.

— Porra, eu disse que não quero nada pelo resto da noite, —


ele quase gritou.

Maggie saltou, parando para contemplar a prudência de sua


invasão. Mas era tarde demais para pensar duas vezes.

— Simon, é Maggie.

Ele se virou ao ouvir a voz dela, seu rosto abatido na


iluminação fraca oferecida pelos dois lampiões a gás na parede
oposta.

— O que diabos você está fazendo aqui?

Não as boas-vindas que ela esperava, mas Maggie estava


preparada para qualquer coisa.

— Estou preocupada com você. Não te vejo há horas.

— Não estou em condições de companhia agora. — Ele passou


a mão pelo cabelo já torto. — Você deveria ir.

Pelo menos ele não tinha jogado nada ainda, raciocinou.

— Não posso deixar você assim.


— Você deveria, por Deus. Não confio em mim. Droga, sou
responsável pela morte dela, Maggie. Eu a matei. — Sua voz falhou
na última palavra, uma rara demonstração de emoção real de um
homem que frequentemente era frio, a menos que estivesse no
quarto.

Seu coração se partiu por ele tão certo quanto sua voz. Ela
não teve escolha a não ser ir até ele, cruzando o escritório e
chegando ao seu lado antes que pudesse pensar duas vezes. Ela
deslizou os braços ao redor dele e ele a surpreendeu inclinando-se
para ela, pressionando o rosto em seu pescoço.

— Você não a matou, Simon. Você não deve pensar uma coisa
tão horrível.

— Eu quase a empurrei da janela com minhas próprias mãos.


— Seu tom foi torturado. A umidade de suas lágrimas deslizou
sobre sua pele.

Santo Deus, ele se considerava responsável pela terrível


decisão de Lady Billingsley. Não é de admirar que ele estivesse
desmoronando diante dela.

— Ela escolheu este fim, não você.

Ele balançou a cabeça, levantando-a para olhá-la. Suas mãos


apertaram sua cintura com um aperto quase doloroso.

— Eu escolhi por ela. Eu a deixei. Meu Deus, se eu tivesse


percebido o quão delicada ela era, eu nunca teria ido.

As implicações de suas palavras eram dolorosamente claras.


Ele teria permitido que Maggie fosse embora se soubesse que Lady
Billingsley se mataria. Aquilo doeu, por mais que soubesse que ele
estava em um estado de espírito difícil, culpando-se por algo que
não tinha poder para impedir.

— Ela não estava bem, Simon, ou então não teria feito o que
fez. Não estava em seu poder pará-la. — Certamente ninguém
tomaria essa decisão final precipitadamente. Ela pouco conhecia
Lady Billingsley além do breve tempo que ela passou em Denver
House, mas Maggie acreditava que por trás de seu adorável exterior
havia alguns demônios feios, demônios que não tinham nada a ver
com Simon.

— Eu a abandonei quando ela mais precisava de mim. Cristo,


eu sou meu pai.

Seu desespero machucou seu coração mais do que o que ele


disse.

— Você não é nem um pouco parecido com ele. — Ele se


recusou a olhar para ela, seus olhos eram um musgo profundo e
cheio de dor, olhando sem ver além dela. — Olhe para mim, Simon.

— Não. Você deve ir, Maggie. Você deveria ficar bem longe de
mim, — ele rosnou, seu tom vicioso. Ele a agarrou pelos braços e
a empurrou.

Ela cambaleou para trás, estremecendo com a raiva crua que


emanava dele. Ela o tinha visto em seu estado mais feio antes,
quando ele descobriu que tinha se deitado com sua esposa sem
perceber. Mas mesmo então, não era como agora, inconstante,
cheio de fúria e dor. Pronto para ferir.

— Não posso te deixar quando você está assim, — disse por


fim, quase torcendo as mãos enquanto o via dar as costas e ir
embora. Ela não conseguia afastar a sensação de que ele estava
mais longe dela agora do que nunca, perdido nos arrependimentos
e tristezas de seu coração. Ele deve ter amado Lady Billingsley
profundamente, mais profundamente do que supôs.

Não tinha sido nada além da culpa que o incitou a segui-la e


impedi-la de deixá-lo? Ela tinha que se perguntar agora.
Certamente ele deve ter sentido algo por ela além do dever. Ele
tinha dito isso, tinha quase confessado sentimentos ternos por ela
poucas horas antes. Isso ainda devia significar alguma coisa.
Afinal, ele certamente nunca se sentiu responsável por ela um dia
em sua vida anterior. Afastou os pensamentos incômodos de sua
mente e o seguiu pelo escritório, sem saber o que fazer, mas não
querendo deixá-lo sozinho.

— Você deveria me deixar, — ele falou por cima do ombro,


parando em seus passos raivosos apenas quando alcançou as
paredes com painéis. — Meu Deus, você deveria ter me deixado há
muito tempo. Sou uma maldita maldição. — Bateu os punhos
contra a parede com tanta força que ela temeu que ele se
machucasse.

Maggie correu para o lado dele, não parando até que estava
perto o suficiente para enlaçar os braços em torno de sua cintura
magra. Ela o abraçou como fizera naquele dia há muito tempo na
casa de Lady Needham, antes de saber que ele era o marido que a
abandonara. Desta vez, era porque ele era o homem que aprendera
a amar, e estava sofrendo. De alguma forma, nada importava —
nada poderia importar — mais do que Simon estar sofrendo,
perdido e confuso. Ele precisava dela.
— Você não é uma maldição, — ela lhe disse com firmeza,
apesar do nó em sua garganta. Ela odiava que Lady Billingsley
tivesse escolhido um fim tão terrível, que tivesse sido rancorosa o
suficiente para se jogar de uma janela sabendo que Simon a
encontraria. Foi um ato final de exercer poder sobre um homem
que não queria mais estar sob seu polegar delicado. E feriu Simon
tão mortalmente quanto qualquer bala poderia ter. Certamente
Lady Billingsley teria reconhecido isso.

— Vá, Maggie, — ele ordenou humilde, descansando sua


cabeça contra a parede. Sua respiração era profunda e engatada,
seu coração batia rápido sob sua orelha. Ele bateu o punho
novamente, assustando-a. — Vá, agora.

— Não. — Ela se agarrou a ele quando este a segurou em seus


ombros encolhidos. Estava com medo de deixá-lo, com medo do
que poderia fazer em sua angústia. Se ele se machucasse de
alguma forma, ela nunca se perdoaria. Não poderia suportar isso.
Não, ela precisava de Simon em sua vida, por mais impossível que
parecesse. — Não estou indo a lugar nenhum.

— Você não tem noção do perigo que está correndo? — Sua


voz estava enganosamente baixa, misturada com escuridão. — Eu
não sou eu mesmo. Jesus, acho que nunca mais serei eu mesmo.

Mas Maggie não se intimidou.

— Não estou aqui para fazer sala de estar com você. Estou
aqui porque você precisa de mim.

Pronto, ela disse isso. Ele endureceu sob seu toque, e ela
temeu que tivesse ultrapassado os limites frágeis que ele ergueu
mais uma vez entre eles. Mas então, ele a assustou ao se virar para
encará-la, suas mãos afundando em sua cintura. Ele a puxou, seus
seios pressionando em seu peito.

Seu olhar queimou o dela, agonia crua e tristeza claramente


refletidas em seus olhos.

— Talvez você esteja certa. Talvez precise. O que você vai fazer
por mim, Maggie?

Ela não tinha certeza se gostou das implicações em seu tom.


Não sabia o que dizer. Era como se a paixão que sempre ardia entre
eles se transformasse em fúria. Não queria manchar o que eles
compartilharam. Mesmo assim, queria mostrar-lhe que estava aqui
para ele, uma âncora de apoio em um mar agitado pela tempestade.

— O que você quer que eu faça por você?

— Nada. Não há nada que você possa fazer. — Ele se afastou


dela, agarrando seus braços, e sacudiu-a com força suficiente para
recuperar o fôlego. — Continuo vendo seu rosto, seu corpo
pendurado empalado naquela maldita cerca. Eu causei isso. Sou
responsável.

Ela segurou seu rosto, tentando confortá-lo, sabendo que não


poderia. Ele estava ferido, culpando-se, perdido nas profundezas
de sua dor agonizante. Não havia lugar para ela em seu coração
depois disso. Tudo o que ele lhe disse no início da tarde do lado
fora de sua carruagem parecia ter desmoronado. Agora, só restava
a colisão chocante para os sobreviventes. Acho que nunca mais
serei eu mesmo, ele disse. Pensar nisso a deixou com medo, medo
de que tudo o que haviam conquistado fosse reduzido a nada. Que
o amor que possuía por ele ficaria para sempre sem ser
correspondido.
Mas ela não conseguia pensar em si mesma, pois isso era
egoísta e fraco. Precisava ser forte para seu marido, para ajudar a
aliviar seu sofrimento.

— Você não deve se punir, — disse ela. — Você não fez nada
errado.

Ele fechou os olhos por um momento.

— Fiz tudo errado.

Ela estremeceu, supondo que ele se referisse à última


quinzena que eles compartilharam juntos. Suas palavras doeram.

— Talvez eu seja a culpada. Se eu nunca tivesse decidido criar


um escândalo, nada disso teria acontecido.

— Eu desejo a Deus que não tivesse acontecido. — Ele parecia


incrivelmente cansado, como se falasse de sua alma. — Mas
aconteceu, e é nosso fardo pesado. Cristo, tenho que mandar uma
mensagem para a família dela, para Billingsley. Eles precisam
saber o que aconteceu.

— Posso escrever cartas para você, — ofereceu-se,


entorpecida. Talvez ele a culpasse tanto quanto a si mesmo. Nesse
caso, era possível que nunca a perdoasse.

— Não. — Ele a empurrou para longe. — É o meu dever.


Jesus, Maggie, saia daqui antes que eu a machuque. Não há nada
que você possa fazer a não ser me deixar com minha miséria.

Ela correu atrás dele enquanto ele se afastava, colocando a


mão em seu braço.

— Por favor, Simon. Não me mantenha à distância.


Ele puxou seus ombros para longe de seu toque com tal
violência que ela perdeu o equilíbrio por um momento, e tropeçou
em um livro que ele jogou em sua raiva. Isso a jogou no chão, sem
fôlego. Sua cabeça bateu no tapete antes que ela pudesse se
segurar.

— Droga. — Ele caiu de joelhos ao seu lado. Sua expressão se


suavizou para uma preocupação. — Você está machucada?

— Estou bem, — disse ela, sentindo-se meramente abalada e


terrivelmente triste por ele, por Lady Billingsley, por si mesma. —
Tropecei no livro.

— Droga. — Ele pegou em suas mãos e a colocou de pé,


cortando o contato no instante em que ela se levantou. — Deixe-
me agora, Maggie. Não confio em mim.

— Mas...

— Agora. — Seu tom era tão feroz quanto sua expressão havia
se tornado. — Vá imediatamente.

Não houve discussão. Sem vitória. Ele não queria sua


companhia ou conforto. Não, não a queria de jeito nenhum.

— Muito bem, — ela permitiu. — Eu devo ir.

Ao sair do escritório, ela não pôde deixar de sentir que estava


cometendo um erro terrível ao deixá-lo sozinho. Mas que escolha
tinha? O orgulho não permitiria que se impusesse quando ele não
a queria ali. Tudo o que lhe restou fazer foi conceder-lhe a solidão
que ele desejava. Ele não a queria, e deixou isso mais do que
aparente. Quão rápido, ela pensou enquanto cortava um caminho
sombrio de volta para seu quarto, o mundo ao seu redor poderia
mudar. Como poderia desmoronar rapidamente, para nunca mais
ser consertado.

Quando Maggie acordou de manhã, o coração estava pesado


e a cama vazia. Simon nunca tinha vindo para ela. Havia passado
uma vigília quase interminável esperando por ele até que, exausta
e com os olhos inchados pelas lágrimas que vinha chorando,
finalmente cedeu ao sono. Os terríveis acontecimentos do dia
anterior pareceram um pesadelo para ela ao permitir que sua
criada a vestisse. Mas a evidência permaneceu em seu reflexo, os
lábios contraídos, as bochechas pálidas, os olhos ainda inchados.

A criada de quarto estava estranhamente silenciosa enquanto


arrumava o cabelo de Maggie em um estilo moderado. Seu vestido
matinal era um preto sombrio. Sim, houve uma morte horrível. Ela
acordou durante a noite duas vezes, jurando que tinha ouvido
gritos. Era assustador pensar no que Lady Billingsley deve ter
experimentado nos momentos finais de sua vida. Foi uma queda
de revirar o estômago, o empalamento na cerca. Maggie rezou para
que ela tivesse morrido instantaneamente, que não tivesse se
demorado muito na dor. E rezou também para que Simon se
recuperasse de alguma forma.

Depois que um último cacho errante foi colocado no lugar,


Maggie agradeceu à sua criada e desceu para a sala de café da
manhã. Perguntou-se como seria enfrentar Simon sob a sombria
luz do dia. Teria dormido? Ela duvidou disso. Provavelmente, os
dias que viriam seriam apenas mais difíceis. Ele havia perdido a
mulher que amava e se sentia responsável por essa perda. Maggie
conhecia sua própria culpa por sua parte no amargo caso. Ela
nunca teria desejado que Lady Billingsley cometesse tal ato, mas
agora tinha uma noção de como reagiria se fizesse tudo de novo.
Ela perseguiria Simon? Ela iria embora sabendo que ele a seguiria?

Tudo isso fez sua cabeça girar e seu coração doer.

Ao dobrar uma curva no corredor inferior, quase colidiu com


a Sra. Keynes, que parecia estranhamente nervosa, suas
bochechas envelhecidas pelo tempo estavam coradas com o esforço
de seu ritmo frenético. Maggie parou perto da mulher pequena,
assustada e um pouco confusa.

— Sra. Keynes, bom dia, — cumprimentou, embora não


sentisse uma gota de alegria.

— Temo que seja tudo menos isso, minha senhora, — a Sra.


Keynes respondeu, soando estranhamente preocupada. — Você
não ouviu as notícias, então?

Notícias? Querido Deus. O coração de Maggie despencou para


a ponta dos pés. Não podia suportar mais notícias terríveis.

— Não ouvi, — disse lentamente, quase com medo de ouvir.


— O que aconteceu?

— É sua senhoria. — A Sra. Keynes apertou os lábios,


parando um momento para se recompor, ao que parecia. — Ele se
foi.

O gelo penetrou em seu coração.

— O que você quer dizer com ele se foi?

— Lamento dizer isso, minha senhora, mas ele desapareceu.


O cavalariço me disse que pegou um cavalo ontem à noite e nunca
mais voltou. — Ela torceu as mãos, a imagem da angústia. —
Enviamos homens para procurá-lo, pensando que talvez seu cavalo
tivesse ficado manco ou...

Maggie conhecia o presságio sinistro da parte não dita das


palavras da Sra. Keynes. Talvez ele tenha sido jogado do cavalo.
Talvez tivesse escolhido se machucar como Lady Billingsley fizera.
Talvez ela nunca tornasse a ver o marido.

— Tenho certeza de que ele voltará em breve, Sra. Keynes, —


forçou-se a dizer com os lábios entorpecidos.

Tentou dizer a si mesma que ainda era muito cedo para se


preocupar. Afinal, ele só poderia ter partido há horas, não dias.
Mas o medo ainda se desenrolou nela, uma cobra esperando para
atacar.

— Claro, minha senhora. Ele provavelmente retornará antes


que percebamos. — A Sra. Keynes lançou-lhe um olhar gentil,
quase compassivo. — A notícia do incidente de Lady Billingsley foi
enviada ao marido dela em Elton Hall. Espero que Lorde Billingsley
chegue no próximo dia ou dois.

— Obrigada, Sra. Keynes, — disse ela, grata que a tragédia


pelo menos tinha sido tratada por seus servos competentes. Ela
imaginou que Lorde Billingsley iria querer manter os fatos
relacionados à morte de sua esposa em segredo. — Sua eficiência
nisso é muito apreciada.

— É uma honra, minha senhora. Ore, perdoe uma mulher


idosa por ter um momento de sentimentalismo. — Ela fez uma
reverência, seu semblante permanecendo tenso como sempre.

Maggie suspeitava que os dois sabiam que as tentativas da


governanta de conduzir a situação como normal apenas
disfarçavam o fato de que, pelo menos no futuro previsível, a vida
em Denver Hall seria tudo menos comum. Se é que alguma vez foi,
para começar.
Um mês depois...

— MAGGIE, LEIA SEU ÚLTIMO POEMA PARA O SR. TOBIN. Imagino que
ele vai adorar tanto quanto eu. — Os olhos de Nell dançaram com
malícia enquanto ela fazia seu pedido.

Maggie, mais uma vez, franziu o cenho para sua anfitriã, que
se tornara uma verdadeira amiga. Ela ainda não estava preparada
para compartilhar seu trabalho e Nell sabia disso. Principalmente
para um poeta brilhante como Jonathan Tobin.

— Tenho certeza de que nossas companhias preferem ouvir a


poesia do Sr. Tobin do que a minha, — ela se desviou, ocupando-
se com a saia de seu vestido de noite.

Embora já tivesse ficado emocionada em fazer companhia a


pessoas como o homem excêntrico que havia escrito alguns dos
melhores versos contemporâneos, agora ela se sentia vazia.
Incapaz de apreciar o mundo ao seu redor. Havia procurado Nell
em um momento de fraqueza, cansada demais de passar dias e
noites sozinha, cheia de medo. A querida mulher dera uma festa
improvisada em sua homenagem, convidando todos os grandes
artistas, romancistas e poetas que conhecia. Era um grupo de
mentes excelentes brilhante e divertido, mas passou despercebido
por Maggie.
Duas semanas se passaram sem notícias de Simon. E depois
outra. Não tinha como saber se ele voltaria. Ela não tinha para
onde enviar suas cartas, nenhuma esperança de saber o que havia
lhe acontecido. Talvez nunca soubesse. Ela escreveu para todos os
associados conhecidos dele. Ninguém sabia seu paradeiro.
Ninguém tinha ouvido falar dele.

Ele estava perdido para ela.

O suicídio de Lady Billingsley foi seu último ato de


manipulação. E funcionou, pois a ponte provisória que Maggie e
Simon estavam construindo se desfizera em cinzas. Ela estava
mais uma vez sozinha.

— Minha dama?

Ela ergueu os olhos do colo, seus pensamentos duros


interrompidos pela voz profunda e gentil do Sr. Tobin. Ele era
realmente um homem bonito, pensou, desejando que não tivesse
passado despercebido. Se a deserção de Simon não tivesse doído
tanto, ela estaria se sentindo mais forte. Teria ficado melhor se ele
nunca tivesse pisado na sua cauda naquela noite fatídica, porque
então nunca teria percebido que seu marido era um homem que
ela poderia amar.

Ela se livrou de seus problemas, forçando um sorriso nos


lábios.

— Minhas desculpas, Sr. Tobin. Temo que estava distraída.

— Sobre um mar escuro e agitado pela tempestade, ao que


parece. — Ele se inclinou para mais perto dela no sofá que
dividiam. — Compartilhe. Simplesmente não é justo manter todos
os seus problemas para si mesma.
Ela relaxou um pouco com sua simples provocação. Gostava
bastante dele. Era enigmático, mas humilde, disposto a apreciar
uma poetisa por seus próprios méritos. Ela achou seu modo de ser
maravilhosamente moderno.

— Tenho certeza de que você não deseja me ouvir falar sobre


as misérias da minha vida.

— Mas, minha querida Lady Sandhurst, — ele falou


lentamente, — as misérias são os melhores poemas. Certamente
você deve saber disso.

— É verdade, — acrescentou Nell, sorrindo daquela forma


irrestrita que possuía. — Misérias e amores perdidos foram criados
expressamente por causa da bela poesia. Assim como os homens
foram criados para agradar às mulheres.

O Sr. Tobin ergueu uma sobrancelha para a anfitriã.

— De fato, Nell? Outros jurariam que é o contrário.

A sombria experiência de Maggie era que nem as mulheres e


nem os homens agradavam uns aos outros.

— Como alguém pode realmente agradar ao outro? —


Perguntou antes que pudesse se conter.

— Eles dizem que o prazer pode ser ensinado, — disse Tobin,


seus olhos e tom sugerindo um significado totalmente malicioso,
escondido por trás de suas palavras educadas e exterior
cavalheiresco.

Ele queria ir para a cama com ela. A compreensão a atingiu


com uma clareza devastadora. Antes ela teria sido ingênua demais
para notar as dicas sutis. Mas Simon mudou isso para ela. Agora,
conhecia o funcionamento da mente de homens e mulheres, mas
tudo isso a deixava se sentindo vazia. Não queria outro homem,
não conseguia pensar além da preocupação frenética que
dominava sua mente. Para onde Simon foi? Onde ele estava agora?

— Talvez, — ela assentiu, — mas apenas se alguém quiser ser


ensinado.

O Sr. Tobin inclinou a cabeça e recuou alguns centímetros,


aparentemente entendendo que ela não era uma esposa da alta
sociedade pronta para ser colhida.

— Dito com eloquência, minha senhora.

— Vamos ter um jogo de salão? — Nell perguntou então, a


todos do pequeno grupo, tentando conduzir a conversa para uma
direção mais segura.

— Eu detesto jogos de todos os tipos, — disse Sedgewick, um


artista conhecido cujo talento rivalizava com o de Burne-Jones. Ele
era tão magro quanto alto, seu corpo franzino desmentido por um
ar pouco convencional.

Maggie riu da resposta dele, grata pela distração da festa em


casa de Nell. Pelo menos aqui ela poderia conter o medo, a dor em
seu coração por um tempo. Cercar-se de pessoas não era um
remédio, mas era alguma coisa. Era mais vida do que morte.

— Ouvi dizer que você não despreza os jogos de quarto,


Sedgewick, — zombou Lorde Montford, cujo livro de poesia mais
recente fez as línguas se mexerem e os livros voarem das
prateleiras.

As senhoras deram risadinhas e os homens riram.


O Sr. Sedgewick levou a mão ao coração, demonstrando um
ar de afronta.

— Sinceramente, Montford, estou chocado com a sugestão.


Temo que você tenha confundido tudo, e o homem em questão é
realmente o Sr. Tobin.

Nell fez um gesto de desprezo com a mão, sempre a anfitriã


imperiosa.

— Cavalheiros, por favor, acalmem-se. Não terei sangue


tirado em minha sala de estar, a menos que seja por uma causa
nobre.

— Por favor, diga-nos, Nell. Qual é a sua ideia de uma causa


nobre? — O Sr. Tobin deu a Maggie um sorriso maroto. — Tenho a
intenção de impressionar Lady Sandhurst, e se o derramamento de
sangue for necessário, não tenho escrúpulos.

Oh céus. Ela supôs que deveria saber que a reunião de Nell


poderia tomar um rumo perverso. Mas, não estava preparada para
flertar e cortejar fingido. Desejou poder parar de amar Simon tão
facilmente quanto ele tinha desaparecido. A vida teria sido muito
mais simples. Mais fácil, com certeza.

— A poesia me impressiona, — ela respondeu. Assim como


um homem forte, um homem honrado. Um disposto a lutar por ela.
Simon não havia lutado. Desistiu e foi embora. Talvez tenha sido
melhor no final. Ele nunca poderia tê-la amado, assim como ela
nunca poderia deixar de amá-lo. O amor provou-se para ela como
toda a alegria de uma ferida purulenta.

— É necessária uma recitação, — decidiu Nell. — Jonny, você


deve recitar um de seus poemas para nós se Lady S. não o fizer.
O Sr. Tobin a agradou ficando de pé.

— Muito bem. Você venceu, Nell, como sempre.

Mas antes que ele pudesse começar, uma comoção soou um


pouco além da sala de estar. Uma porta se abriu. O mordomo de
Lady Needham estava lá, tentando barrar o caminho de um inimigo
invisível atrás dele.

— Sua senhoria, o marquês de Sandhurst, — anunciou


severamente.

A cabeça de Maggie girou. Não pode ser. Ela tinha ouvido


corretamente? Um suspiro ficou preso em sua garganta quando o
mordomo se moveu para revelar o homem de pé atrás dele. Ele era
alto, ligeiramente desgrenhado e certamente não usava roupas
elegantes para a noite. Na verdade, estava enlameado e parecia que
acabara de escorregar do cavalo depois de uma cavalgada de duas
horas. Estava mais magro do que se lembrava, seu rosto um pouco
mais magro e coberto de bigodes, embora bonito como sempre.

Era ele. Como um fantasma, ele pairou sobre eles, seu olhar
verde examinando os rostos dos presentes até que ele a alcançou.
A respiração vazou de seus pulmões. Simon finalmente voltou. O
alívio a atingiu. Ele estava vivo.

Nell foi a primeira a reagir.

— Sandhurst, o que você está fazendo aqui?

— Estou aqui pela minha esposa, — ele quase rosnou.

Ele tinha vindo por ela. Ela queria se alegrar, correr para seus
braços e beijá-lo. Mas permaneceu sentada, cautelosa, olhando
para ele. Porque ele estava muito atrasado. Tarde demais para
lembrar que tinha uma esposa. E ela já havia fechado e trancado
a porta dentro de si. Não estava prestes a lhe dar a chave.

Simon estava de péssimo humor. Ele apenas teve que


cavalgar pelo campo no escuro e na lama para encontrar Maggie.
Estava com frio e miserável enquanto lá estava ela, parecendo
brilhantemente linda em um vestido de noite preto com diamantes
em seu cabelo vermelho e um homem ao seu lado. Por Deus. Sabia
que já havia partido há algum tempo, mas isso daria à sua esposa
o direito de brincar com um bando de poetas lascivos? Claro que
não. Iria arrancar um dos braços de Tobin e espancá-lo com aquela
maldita coisa.

Nell ficou boquiaberta como se ele tivesse uma segunda


cabeça em cima dos ombros. Ele queria sacudir a mulher por sua
interferência, a audácia que ela teve para afastar sua esposa. Ele
finalmente conseguiu voltar para Denver House. Levou algum
tempo, algumas críticas, raiva e garrafas de uísque. Mas, voltou
porque sabia que Maggie o esperava lá. Ele precisava de sua
doçura, seu abraço caloroso, o conforto de sua paixão pronta e
carinho fácil. Sim, no momento em que lutou contra os demônios
que o perseguiam e a névoa de uísque se dissipou de sua mente
confusa, sabia que havia cometido um erro terrível ao deixá-la em
primeiro lugar. Precisava dela mais do que precisava de ar para
respirar.

E então, ela não estava lá. Voltar para casa em Denver House,
com seus fantasmas, tinha sido um inferno o suficiente. Sem
Maggie ali para recebê-lo, ficou perdido. Pelo menos a Sra. Keynes
sabia seu paradeiro, pois poderia muito bem ter perdido a cabeça
se não tivesse descoberto onde encontrá-la.
Então aqui estava ele, esfriando os calcanhares enquanto o
grupo o encarava com perplexidade atordoada. Não estava
acostumado a ser o estranho, a fazer cenas ou guardar emoções
em suas malditas luvas, mas nada disso importava agora. Ele tinha
vindo por sua esposa. Ele não podia não tê-la. Precisava dela.
Desesperadamente, percebeu. Precisava dela para fazê-lo rir de
novo, para apoiar as peças soltas dentro de si. Mas ela permaneceu
sentada, parecendo mais como se estivesse prestes a pular no
maldito abraço de Tobin do que no dele.

Dane-se tudo. Ele recuperou sua sanidade muito tarde.

— Bem-vindo de volta, Sandhurst — Nell disse finalmente no


silêncio chocado que se abateu sobre as pessoas na sala de estar.

— Obrigado. — As palavras pareciam enferrujadas quando as


disse. Ele estivera sozinho por muitas semanas, sem falar com
ninguém, perdido na tristeza, na culpa e na bebida. — Peço
desculpas por me intrometer em sua casa. — Pronto, isso deve
servir. Ele percebeu que estragou um pouco as coisas ao entrar.

— Não pense nisso — disse Nell, sorrindo estranhamente. —


Você sabe que não faço cerimônia.

O diabo que o leve, ele parecia tão mal? Supôs que deveria ter
permitido que seu criado o barbeasse. De repente, sentiu como se
os outros fossem roubar sua respiração. Ele queria falar com
Maggie. Sozinho. Um olhar em sua direção a encontrou olhando-o
rigidamente, sua expressão indecifrável. Ela parecia mais bonita
do que jamais a tinha visto, cada centímetro da marquesa, de seu
penteado perfeito a seu lindo vestido de noite. Ela estava em casa
aqui, e pela primeira vez ele sentiu o intruso.
— Lady Sandhurst, — disse ele, — posso ter uma palavra?

Cristo, mal podia esperar para dispensar a formalidade, para


tomá-la nos braços e enterrar o rosto em seus cachos macios, para
beijar sua boca doce, para se perder dentro de seu corpo. Estava
esperando sua obediência — ele precisava de sua obediência —
então, quando ela disse algo que soou suspeitamente como — não,
— teve certeza de que a ouviu mal.

— Não entendi? — Ele perguntou, notando que ela


permaneceu imóvel.

— Não, — ela disse novamente, mais alto desta vez para que
não houvesse dúvida.

Ela o estava negando, por Deus. Ele olhou-a, pasmo. Isso não
era o que tinha imaginado. De modo nenhum. Ela virou a cabeça,
olhando para o colo como se não suportasse olhá-lo. Tobin sorriu
para ele como se já a tivesse levado para a cama. Sim, ele iria
arrancar um dos membros do bastardo, decidiu, começando a
avançar.

Talvez ele fosse mesmo um louco. Já não sabia quem era, mas
sabia que não ia deixar um poeta idiota fugir com a mulher. Quem
diabos ele pensava que era, sentado tão perto dela? Ora, sua
maldita coxa quase tocava as saias dela.

— Você nunca ouviu falar de decoro? — Perguntou ele a


Tobin, enfurecido com o ar insuportável de presunção do homem.
— Sua poesia é bobagem, senhor. Merda completa.

Ele ouviu alguns suspiros por sua falta de educação. Não se


importou. Tinha passado muito perto de quase todos os círculos
do inferno, e ele muito bem queria o que tinha ido fazer ali. Parou
diante de Maggie, que estava mais uma vez olhando-o com grandes
olhos violetas como se ela não soubesse quem ele era e o que estava
prestes a fazer. Mas, supôs que ela estava em boa companhia,
assim como ele não estava.

Ele estendeu a mão para ela.

— Venha comigo, Maggie.

Tobin se levantou, estufando o peito em um estilo galo de


celeiro.

— Deixe a senhora em paz, Sandhurst.

— Cuide de seus malditos interesses, Tobin. — Ele olhou de


volta para Maggie, forçando-a a encontrar seu olhar. Não queria
implorar diante de todos, mas diabos, ele faria. — Por favor,
Maggie.

— O que quer que você precise dizer a ela pode ser dito aqui
mesmo — exigiu Tobin.

O homem era uma mosca irritante zumbindo em seu ouvido,


apesar das repetidas tentativas de golpeá-la.

— Não, — ele disse lentamente, virando-se para seu nêmesis.


— Não pode.

Abaixe o braço. Antes que percebesse o que estava fazendo,


deu um golpe forte no queixo de Tobin. E percebeu um satisfatório
esmagar de nós dos dedos no osso. Doeu, mas estava muito
satisfeito com seu trabalho para prestar muita atenção. Tobin caiu
para trás, seus olhos revirando.

Maggie engasgou-se e ficou de pé, seus olhos estalando com


fogo acusatório.
— Você nocauteou o Sr. Tobin, seu estúpido.

Bem, que inferno. Essa não era bem a resposta que esperava
dela, mas parecia que ele não tinha muita escolha. Se queria falar
com ela sozinho, só havia uma maneira de fazer isso. Ele se curvou,
pressionou o ombro em sua barriga e o braço atrás de suas saias,
e a puxou no ar.

— Ponha-me no chão imediatamente, — ela insistiu, embora


sua voz estivesse um pouco abafada. Ela realmente teve a ousadia
de bater na bunda dele com o punho.

Ele a ignorou. Também ignorou os homens e as mulheres que


se levantaram e tentaram impedir seu avanço da sala. Ele não
permitiria. Nada o estava detendo agora. Ele pode ter arruinado
completamente qualquer pequena emoção que Maggie alguma vez
sentiu por ele, mas ele tinha ido longe demais para oferecer um
ramo de oliveira agora.

Nell se jogou em seu caminho, manchas idênticas de


vermelho manchando suas bochechas.

— Sandhurst, não pode carregá-la como se você fosse um


Huno.

— Claro que posso. — Ele gesticulou com a mão livre para


demonstrar a falta de sentido de sua lógica. Afinal, ele já estava
carregando Maggie.

— Não seja um idiota. — Ela caminhou atrás, enquanto


continuava a tentar — sem sucesso — parar o movimento dele. —
Você não deve machucá-la.
— Prometo não machucá-la. — Ele franziu a testa para Nell.
— Você deve saber que eu nunca faria isso.

Ela estudou seu rosto, sua expressão franzida, antes de


assentir.

— Muito bem. Leve-a para o escritório, se necessário.

Maggie começou a esmurrar sua bunda novamente.

— Eu não desejo falar com você, — ela gritou.

— Você não está, — disse-lhe. — Você está falando com o


chão. — Isso lhe rendeu outro golpe. Boa. A raiva era uma emoção
que ele podia apreciar. Com um aceno de agradecimento a Nell,
arrastou sua esposa para fora da sala.

Seu marido era um tolo enlouquecedor, arrogante, rude,


sem coração e fanfarrão. Maggie o esmurrou com toda a força
enquanto estava pendurada de cabeça para baixo. Ele a jogou por
cima do ombro como se ela fosse um monte de trapos, e a carregou
pela casa de Nell como se fosse um vagabundo prestes a fugir com
a prata da família. Ele não estava prestes a levá-la a lugar nenhum,
não se ela tivesse uma palavra a dizer sobre isso. Ela deu-lhe outro
golpe sonoro quando o sangue subiu para sua cabeça e a tontura
começou a tomar conta dela. Seus ouvidos zumbiam.

— Sandhurst, pare com esse absurdo. Você está se


comportando como um bárbaro — gritou ela. Querido Deus, os
empregados certamente testemunhariam essa exibição inglória. A
mortificação aqueceu suas bochechas. Esta não era a volta ao lar
que havia imaginado, aquela que desejou.
— Talvez eu seja um bárbaro. — Ele parou sobre uma soleira
e chutou uma porta fechada em suas costas.

Deus do céu. Eles estavam sozinhos.

— Você certamente é. Agora pare de me carregar e me coloque


no chão.

Tão repentinamente quanto ele a agarrou, ele se agachou.


Seus pés encontraram o chão acarpetado do escritório de Nell.
Finalmente. Respirando fundo, ela se levantou e tentou colocar o
vestido em ordem. Sua seda estava irremediavelmente amassada.
Suas mãos tremiam enquanto endireitava o caimento de suas
saias. Estava com medo de olhar para ele, com medo de que isso
arruinasse suas defesas.

Ela ainda o amava. Isso não mudaria, mesmo que ele nunca
a correspondesse. Ela ainda sofria com a maneira como ele a havia
deixado, sem nenhuma palavra, sem aviso, nem mesmo uma
mudança de opinião. Nem uma única letra.

— Aí está você, de pé novamente. — Uma emoção indefinível


tornou sua voz áspera. — Por que diabos você não olha para mim?

Ela cerrou os dedos.

— Você está gritando comigo.

— Maldito inferno, — ele quase gritou, provando bastante seu


ponto. — Não estou fazendo isso.

Sempre arrogante, sempre Simon. Preparando-se, ela olhou-


o finalmente.

— Eu não serei criticada, Sandhurst.


— Pare de me chamar pelo meu título, tudo bem? — Ele
franziu a testa, feroz em seu ressentimento. — Não vou deixar você
agir como se fôssemos estranhos.

— Mas somos estranhos. — Ela permitiu que seu olhar


percorresse seu rosto, ao mesmo tempo assustadoramente familiar
e, ao mesmo tempo, diferente. Ele não tinha se alimentado bem em
sua ausência. Suas bochechas estavam quase encovadas, seu
corpo poderoso reduzido a um arame que ele nunca tinha sido
antes. Seu cabelo estava mais longo do que nunca, seus bigodes
precisando desesperadamente de um corte. Ele parecia, por si
mesmo, terrível. Mas ainda assim tão bonito. Ainda tão amado. —
Tenho certeza de que nunca o conheci, meu senhor.

Seus olhos queimaram os dela, implacáveis.

— Você se esqueceu do quão bem me conhece?

Sua pergunta despertou uma dor enterrada há um mês. Ela


não queria pensar em fazer amor com ele, pois isso a reduziria a
uma poça de fraqueza. Não podia ser fraca diante dele agora. Ele a
havia deixado, a machucado. Não iria perdoar tão
precipitadamente. Se pudesse.

Ela ergueu o queixo, uma pequena demonstração de desafio.

— Existem outras maneiras de conhecer um homem. São


dessas que falo, e certamente nunca o conheci como pensava.

— Eu diria que o mesmo poderia ser dito sobre você, senhora,


— ele respondeu, seu tom tão frio quanto o gelo do Lago Wenham.
— Eu mal saí e você já está saltitando com poetas e libertinos.

Ela engasgou-se com sua afronta.


— Saltitando? Como você ousa?

— Do que você mais chamaria, minha querida? — Ele agarrou


seu cotovelo e a arrastou contra seu corpo em um aperto de
punição. — Preciso saber uma coisa. Tobin está dormindo com
você?

Sua grosseria a pegou de surpresa. Tinha sonhado com


Simon voltando para ela, mas não tinha sonhado com aquele
estranho cruel com as provocações e os olhos mortos. Ele voltou
como o mesmo homem que tinha sido em seu escritório naquela
noite terrível, alguém quase assustador.

— Claro que não, — negou. — Como você ousa sugerir uma


coisa tão horrível?

— Eu sou um homem, querida. Conheço os caminhos do


mundo. Por que você viria para a casa de Nell se não estivesse
procurando um homem para sua cama depois que eu parti?

O — querida — que ele usou parecia vazio, uma mera casca.


Se ela tinha se machucado antes, estava arrasada agora, esmagada
por suas acusações e seu desejo de ver o pior nela.

— Eu não sou Lady Billingsley, — ela disse-lhe ferozmente. —


Nell me contou tudo, sabe. — Foi um pequeno consolo saber que o
modelo de referência que tirou Simon dela era, na verdade, uma
mera mortal, afinal. Uma mortal enganosa e manipuladora que
fizera o possível para arruinar o que não era dela. — Não trairia
nossos votos, não depois do que compartilhamos.

— Estou mais do que ciente de que você não é nada como


Eleanor. — Seu olhar permaneceu duro sobre ela, seu toque quente
através das camadas de seu vestido e roupas íntimas. — Você fala
como se nosso casamento estivesse no fim. Estamos
inextricavelmente ligados, Maggie.

Ela balançou a cabeça, a tristeza ameaçando esmagar seu


coração.

— Estamos casados, sim. Mas não há razão para que não


possamos continuar a viver vidas separadas, assim como fizemos
durante a maior parte de nossa união.

Quando ela quis se desvencilhar de seu toque, ele segurou-a


firme.

— Para o inferno viver vidas separadas. Eu proíbo.

Ela teve a ideia de bater na cabeça dele com um objeto pesado.


Sua arrogância não conhecia limites. Ele realmente acreditava que
ela se jogaria em seus braços quando a tratou como se não fosse
mais importante do que uma peça de mobília?

— Você não pode voltar depois de desaparecer por um mês


inteiro e esperar que eu aja como se você nunca tivesse partido.

— Eu não desapareci. — Suas sobrancelhas se juntaram,


fazendo-o parecer mais sério do que antes. — Levei algum tempo
para colocar minha maldita mente em ordem.

Ele não percebeu como agonizantemente longo tinha sido o


mês durante o qual ela não teve nenhuma palavra, nenhuma
esperança de que ele voltasse para ela? Ela procurou seu olhar,
tentando entendê-lo.

— Você me deixou sem uma palavra.

— Eu precisava, Maggie. Depois do que aconteceu na noite da


morte de Eleanor, não confiei em mim mesmo para não machucá-
la. — A confissão pareceu difícil para ele fazer. Sua expressão era
de dor, sua voz tingida de algo como pesar.

Mas a frieza dela não derreteria tão facilmente.

— Por que você não pode ter pelo menos me deixado uma
carta? Algum tipo de explicação sobre aonde você tinha ido?
Quando ou se você retornaria? Eu temia o pior.

— Não estava pensando decentemente. Tudo era uma


confusão em minha mente, mas a última coisa que queria era te
fazer mal. Tive que sair o mais rápido possível. Não confiei em mim
mesmo, não depois do que aconteceu com Eleanor, e não depois de
praticamente te jogar no chão em meu escritório.

— Eu poderia tê-lo ajudado, — disse ela, dando voz ao


pensamento que tinha sido um lembrete constante e doloroso
durante sua ausência. — Você me afastou quando tudo que eu
queria era diminuir o seu sofrimento.

Seu aperto aumentou sobre ela.

— Você teria se jogado debaixo de uma carruagem por mim.


Eu vi nos seus olhos naquela noite e não pude suportar. Já tinha
machucado Eleanor e não suportaria machucar você também.

Ele realmente tinha sido motivado pelo medo de lhe fazer mal?
Isso explicaria sua partida abrupta, certamente. Queria acreditar
nele. Ele parecia desamparado, a ferocidade de sua raiva foi
drenada dele, substituída por uma vulnerabilidade que ele nunca
havia exibido.
— Sua partida me machucou mais do que qualquer outra
coisa poderia ter feito, — ela disse baixinho, tendo pena dele, mas
não o suficiente para ceder.

— Eu sinto muito.

A simples declaração a chocou. O marquês de Sandhurst, o


homem que outrora vivera com sua amante em flagrante
indiferença pelo casamento, estava diante dela, magro e triste,
totalmente humilhado. Nunca teria pensado que veria esse dia. Oh,
ele havia se desculpado com ela antes, mas apenas por questões
insignificantes, e nunca tinha sido tão completo, tão sério. Em
certo sentido, ela o estava desculpando. Em outro sentido, ainda
era muito pouco dele, e muito tarde.

Quando ela não respondeu, ele continuou.

— Lamento ter começado o nosso casamento da mesma


forma. Sinto por todas as mágoas que já lhe causei. E sinto muito
por ter lhe deixado da maneira que fiz. Não tenho nada a dizer
sobre mim mesmo, Maggie. Não a culpo se você não conseguir
encontrar em seu coração forças para me perdoar. Fiz algo errado,
e sei disso.

Sua admissão a assustou tanto quanto seu pedido de


desculpas. Ela ansiava por mostrar-lhe um sinal de ternura,
segurar sua bochecha eriçada, puxar sua boca para a dela. Mas,
não conseguiu. Seu coração não permitiria que confiasse nele.
Outro golpe seria demais.

— Temo que seu pedido de desculpas, embora apreciado, seja


tarde demais para ter boas consequências, — ela se forçou a dizer,
sentindo-se entorpecida.
— Maldição, Maggie, o que você quer que eu faça? — Ele
voltou a ser o estranho severo que havia entrado pela porta da sala
de estar de Nell não muito antes.

— Volte para sua vida assim como eu voltarei para a minha,


— ela disse, embora fosse realmente a última coisa que quisesse.
Tornou-se uma questão importante o que ela deveria fazer em vez
disso. A escolha era pesada.

— Não. — Seus lábios se comprimiram em uma linha firme.


— Não quero minha antiga vida. Quero uma vida com você. Quero
o que estávamos começando a ter, droga.

Ela também. Uma vez. Agora, não podia confiar nele. Lutou
para se livrar de suas garras e conseguiu desta vez. Depois de dar
um passo em retirada, ela se abraçou protetoramente.

— Se você precisa que eu viva com você, não terei escolha a


não ser concordar. No entanto, temo que nosso mês como amantes
seja tudo que teremos.

— Se eu exigir de você? — Ele apertou a mandíbula. — Que


diabo você pensa que sou, algum tipo de tirano?

Ela olhou-o, desejando que fosse mais fácil, que eles


pudessem voltar e evitar toda a miséria entre eles. Desejando não
ter que permanecer tão firme em sua determinação de não permitir
que ele voltasse para sua vida de qualquer maneira que realmente
importasse.

— Suponho que deveria estar feliz que você não respondeu,


— disse severamente. — Cristo, não vou forçá-la a nada que você
não deseje. Você precisa saber disso.
— Muito bem, — disse ela com firmeza. — Então, quero ficar
aqui com Lady Needham, por enquanto.

— Com aquele Tobin réprobo babando em cima de você como


um cachorro no cio? Acho que não, — ele zombou.

— Sandhurst. — Ela estava frustrada.

— Maldição, me chame pelo meu nome de batismo, — ele


grunhiu. — Se você quer que eu lute por você, lutarei. Mas, pelo
menos você pode deixar de fingir que não me é íntima.

Ele queria lutar por ela? Uma tola centelha de esperança


acendeu em seu peito. Ela se forçou a apagá-la.

— Você me provou que não é um fingimento.

Ele levantou uma sobrancelha, seus olhos ardentes sobre ela.

— Preciso te lembrar, meu amor?

Lá estava ele novamente, um vislumbre do cavalheiro polido


que ela conhecera ainda escondido sob seu exterior grosseiro.
Como desejou que nada de horrível tivesse acontecido. Se ao menos
Lady Billingsley ainda estivesse viva e bem, se Maggie nunca
tivesse partido naquele dia, se Simon não a tivesse seguido, se eles
tivessem encontrado o amor imediatamente em vez de um ano
depois. As possibilidades eram inúmeras de como eles poderiam
nunca ter alcançado esta encruzilhada atual e desesperadora.

Mas, eles tinham.

— Não preciso ser lembrada, — disse estoicamente.

— Acho que talvez você queira, — ele respondeu, fechando a


distância entre eles em dois passos.
Ele estendeu a mão, agarrando sua cintura desta vez, e
puxando seu corpo. Ela não pôde lutar contra sua resposta. Tinha
sentido falta dele, de seu toque, de seu beijo, de seus olhos verdes
brilhantes, tudo sobre ele. Até mesmo sua arrogância e sua
fanfarronice. Apesar de suas dúvidas, ela deslizou os braços ao
redor de sua cintura magra, espalhando as palmas das mãos em
suas costas. Ele se sentia diferente agora do que antes, mais duro,
mais forte. Seu olhar nunca deixou o dele.

Com uma surpreendente demonstração de gentileza, ele


acariciou sua bochecha. Ela quase podia acreditar que ele gostava
dela. A emoção cintilou escura e exigente em seus olhos. Talvez ele
tivesse sentido falta dela, como sentira dele. Talvez, também tivesse
sofrido em seu exílio autoimposto.

— Meu Deus, Maggie, — ele gemeu.

Antes que pudesse pensar mais, ele baixou os lábios nos dela.
Ela o beijou de volta porque precisava, não podia, e por mais que
soubesse que não deveria permitir que ele violasse suas defesas,
deleitou-se com a sensação de sua boca na dela. Ela o abraçou,
seus seios esmagados contra seu peito, desejando que pudesse se
envolver em torno dele, agarrando-se para sempre. Desejando que
não houvesse tanta melancolia se escondendo sob o desejo fervente
entre eles.

Sua língua varreu dentro de sua boca, brincando com a dela,


saboreando e reclamando como desejava que ele fizesse. Sua
resistência se desfez, uma grande bola de lã atirada montanha
abaixo. Ele afundou os dedos em seu cabelo, desfazendo o
elaborado penteado que sua criada de quarto fizera no início do
dia. Ela não deu a mínima. Eles se beijaram várias vezes, nenhum
deles particularmente se importando em respirar. Ela lembrou.
Lembrava-se de tudo, de cada momento glorioso de estar em sua
cama, em seus braços.

Seus seios se apertaram, seu sexo dolorido ficou molhado.


Ainda o queria. O queria mais do que escrever outro poema ou
dançar na chuva. O queria mais do que tudo, mesmo depois de
tudo o que havia acontecido entre eles. Céus. Ela tinha que parar
a loucura antes que perdesse a cabeça e o coração.

Virou o rosto, interrompendo o beijo aparentemente


interminável. Quando quis se desvencilhar de seu abraço, ele a
segurou com força com a mão que ainda se agarrava a sua cintura.
Ele pressionou sua bochecha contra a dela, seus bigodes, uma
abrasão não totalmente indesejada em sua pele. Seu nariz afundou
em seu cabelo logo atrás de sua orelha enquanto ele inalava
profundamente seu perfume. Tentou não notar que ele a segurava
como se fosse preciosa. Como se fosse necessária.

— Preciso de você. — Ele disse isso em seu ouvido, seu hálito


quente, seus lábios roçando a concha delicada. — Você não tem
ideia do quanto.

Maggie fechou os olhos com força, contra as lágrimas que


ameaçavam cair. Tantas emoções a percorriam que não conseguia
entender o que sentia, o que deveria estar sentindo. Seu coração
estava decididamente em guerra com sua mente.

— Eu não posso fazer isso, — conseguiu dizer.


— Você pode. — A mão que havia desfeito seu penteado
deslizou para a nuca, acariciando suavemente. — Não vou perder
você, não agora.

— Você já perdeu. — Ela se odiava por dizer aquelas palavras,


desejou poder se lembrar delas no momento em que foram ditas.
Mas era obrigatório, não era? Ela teve que forçá-lo a se afastar,
mantê-lo a uma distância segura enquanto redescobria suas
defesas.

Ele jogou a cabeça para trás e olhou para ela, prendendo-a


com o olhar.

— Não perdi, Maggie. Posso sentir isso em sua resposta.

Ela desejou que ele não fosse tão perceptivo.

— Sempre vou valorizar o tempo que compartilhamos, mas


agora acabou e nunca mais vai acontecer novamente.

— Olhe nos meus olhos e diga que não sente nada por mim,
— ele exigiu, implacável em sua busca para vencer a batalha, se
não a guerra.

Ela não podia. Ele sabia disso. O olhar dela passou por seu
ombro, focalizando a escrivaninha do outro lado da sala.

— Por favor, me solte.

Ele a surpreendeu ao fazer o que ela pediu, afrouxando seu


abraço e se afastando. Ela sentiu a ausência de seu toque
imediatamente.

— Vou liberar você por hoje. Mas, não para sempre. Você é
minha, e malditamente, a terei de volta.
Envolvendo os braços protetoramente em torno de si mesma,
ela se virou para fugir do escritório. Não podia permanecer em sua
presença mais um momento, pois se o fizesse, temia que se
perderia novamente. E certamente, esse seria o maior erro que
cometeria, mesmo que resistir a ele fosse quase impossível.
BOM DOCE CRISTO. ELE teria que cortejar sua esposa. Simon
não tinha previsto isso. Esperava — tolamente, reconheceu — um
caloroso retorno ao lar, uma esposa feliz que o abraçasse e o
levasse prontamente para a cama. Em vez disso, deparou-se com
uma cabeça-dura rígida que se recusava a se curvar mesmo depois
de beijá-la loucamente.

Ela não ficou impassível, é claro. Sentiu sua resposta a ele, a


maneira como seu corpo se fundiu levemente ao dele. Tinha visto
sua determinação vacilar em seus olhos. Mas, ela permaneceu
firme em sua resolução de mantê-lo à distância. No final, ela saiu
do escritório de Nell, batendo a porta nas costas e deixando-o em
sua poeira com nada mais do que um pau duro e um coração
machucado.

Mas, certamente não foi derrotado. Sua amável anfitriã lhe


dera um quarto, e ele tomou banho e trocou de roupa. É certo que
deveria rever dois últimos itens antes de entrar na sala de estar de
Nell em um frenesi de fúria. Mas, estava desesperado, sua mente
girando com as implicações de Maggie deixando Denver House para
o covil de iniquidade de Nell, e ele não tinha parado para pensar
sobre os caprichos da sociedade educada. Tinha sido uma tolice
alimentada pela falta de sono, percebeu. Tinha sido estúpido e
cruel com ela, idiota que era.
Agora era um novo dia, e ele estava preparado para desfazer
sua primeira tentativa desastrosa de reconquistar sua esposa. Ele
parou diante da porta do quarto dela e deu uma série de batidas
fortes. Ele soube por Nell que Maggie estava se escondendo de
companhia desde sua chegada no dia anterior. Ela não tinha ido
ao café da manhã. Era hora de ela sair de seu casulo.

A porta se abriu para revelar o rosto simples e carrancudo de


sua criada.

— Meu Senhor?

— Lady Sandhurst está aí? — Ele perguntou, tentando não


permitir que sua irritação transparecesse. Sentiu como se a mulher
estivesse agindo como uma guarda nas portas do castelo.

A criada piscou.

— Receio que Lady Sandhurst não esteja recebendo visitas.

Franzindo o cenho, ele agarrou a porta com a mão para que


ela não tentasse fechá-la na cara dele.

— Receio não ser um visitante. Sou o marido dela e exijo uma


audiência imediatamente.

— Sinto muito, meu senhor. — A expressão da mulher passou


de desagradável à ansiosa. — Ela me deu instruções expressas
para não permitir a entrada de ninguém.

— Bem, onde diabos ela está? — Cristo, isso estava beirando


o ridículo. Ele não gostou de ser tratado como um vagabundo na
porta do maldito quarto de sua esposa.

— Ela está tomando banho, — respondeu a empregada.


A simples frase trouxe uma série de imagens sensuais à sua
mente. Maggie esguia e brilhante, seus seios nus, seu glorioso
cabelo ruivo caindo sobre seus ombros cremosos. Ele a imaginou
se ensaboando com um pano, sua mão substituindo a dela,
imaginou esfregando seus mamilos rígidos. Oh, inferno. Ele já
estava ficando duro. Forçou sua mente de volta ao momento.

— Excelente, — retrucou, colocando o ombro na porta e


criando força suficiente para empurrar para o lado a mulher
indesejada. Ele ultrapassou a soleira e entrou no quarto de Maggie.

— Mas, meu senhor...

— Seus serviços não são mais necessários, — ele a


interrompeu suavemente. — Sua senhoria deve tocar se você for
necessária.

Ele podia dizer o instante em que ela soube que tinha sido
completamente derrotada, pois seus olhos baixaram para o chão e
seu rosto ficou pálido. Ela estava dividida entre a lealdade a sua
senhora e o conhecimento de que ele era seu empregador, ele sabia.
Ele tinha vencido. Ela fez uma reverência.

— Sim, meu senhor.

Simon esperou que ela saísse apressadamente do quarto


antes de se virar para a porta fechada que, sem dúvida, levava a
um quarto de banho. E à sua esposa nua. Seu pênis se contraiu.
Forçou-se a controlar seu desejo. Ela precisava de tempo.
Cortejando. Ele a machucou novamente, e ele entendeu isso. Não
podia correr para dentro do quarto, puxar seu corpo quente e
escorregadio da banheira, dobrá-la e afundar profundamente em
sua doce vagina. Não importa o quanto quisesse.
Não.

Ganhar Maggie de volta exigiria muito mais tato e controle do


que isso. Se pudesse reconquistá-la. O pensamento indesejado o
atingiu como uma bola de chumbo no estômago. Ele quis dizer o
que disse. Não podia perdê-la. Não conseguiu entender muito no
tempo em que esteve fora, a não ser perceber que não poderia ficar
sem ela. Precisava de seu sorriso, sua tolice, sua paixão, sua poesia
e todas as outras partes americanas estonteantes dela.

Ele cruzou o quarto e abriu a porta que o mantinha longe


dela, tomando cuidado para ficar o mais quieto possível. A
banheira era grande e funda, dominando a pequena sala de
ladrilhos. Ela estava de costas, o cabelo não solto como ele havia
imaginado, mas empilhado no alto de sua cabeça. Percebeu o
movimento gracioso de seu pescoço e ombros. Seus braços nus
esticados sobre a borda da banheira em cada lado dela. No silêncio,
ele reconheceu o som abafado de sua respiração.

Ela estava dormindo. Simon cruzou a soleira, pensando que


talvez fosse uma bênção. Afinal, se ele a pegasse de surpresa, ela
não teria a chance de jogar o sabonete em sua cabeça. Quando
alcançou a banheira, caiu de joelhos atrás dela. O delicioso aroma
floral de sua água de banho o alcançou. Rosas. Ele pressionou o
rosto contra o cabelo dela, inalando. Ele nunca se cansaria de seu
doce perfume. Incapaz de se conter, passou as palmas das mãos
sobre seus ombros nus, descendo pelos braços, parando quando
alcançou suas mãos. Enredou os dedos nos dela enquanto beijava
sua orelha. Ninguém nunca o fez se sentir tão apaixonado quanto
Maggie.
Ninguém iria.

Ela se mexeu repentinamente, acordou com um sobressalto


pelo contato e se virou para encará-lo. A água espirrou pela lateral
da banheira, parte dela caindo em suas botas, mas ele não se
importou. A expressão em seu rosto mudou de assustada para
surpresa.

— Simon? — Ela parecia sem fôlego enquanto o olhava com


uma trepidação indisfarçável. — Onde está Osborn? O que você
está fazendo aqui?

Ele quase sorriu para sua rápida rodada de perguntas. A


senhora não estava imune, isso era evidente. Bom. Seu olhar viajou
avidamente sobre seu rosto, apreciando a beleza inegável que ela
possuía. Era rara, sua Maggie, como uma flor selvagem brilhante
e desafiadora entre as ervas daninhas.

— Isso é um monte de perguntas, — comentou lentamente,


querendo tocá-la novamente, mas não querendo fazê-la recuar
para mais longe do que já tinha ido, para a extremidade oposta da
banheira.

— São apenas duas, — disse ela, lambendo os lábios


deliciosos em seu evidente nervosismo.

— Três. — Ele ignorou seus joelhos quando começaram a doer


por permanecer tanto tempo no chão duro.

Suas sobrancelhas se juntaram.

— Você veio aqui para discutir aritmética?

Sempre teimosa, sua Maggie.

— Claro que não.


— Então, talvez você queira responder uma das minhas três
perguntas, — ela falou.

E sempre a sagacidade, mesmo nua e linda, tentando proteger


os seios de seu olhar. Muito tarde. Ele já tinha tido um vislumbre
de seus lindos mamilos, de dar água na boca.

— Vim aqui para perguntar se você gostaria de me


acompanhar em um passeio, — ele disse honestamente. — Mas
quando cheguei, você estava tomando banho.

— Não tenho ideia do porquê Osborn permitiria você aqui. —


Seus olhos vibrantes se estreitaram em suspeita. — O que você fez
com ela?

Ele teria sorrido se a tensão entre eles não fosse tão profunda.

— Eu a dispensei.

— Você não tinha o direito de fazer isso. Ainda preciso da


ajuda dela. — Manchas vermelhas idênticas marcavam suas
bochechas enquanto sua ira crescia.

— Vou ajudá-la, — disse, prestativamente. — Vou fazer um


trabalho minucioso de aplicação de sabão em seus seios.

Ela olhou fixamente.

— Você está fazendo uma piada?

Bem, Cristo, ele supôs que estava. Imagine isso. Estar de volta
à presença dela fez coisas com ele. Aqueceu seu coração frio. O fez
sentir como se não estivesse tão insuportavelmente sozinho nesta
vida. Ele pigarreou, perguntando-se se realmente enlouqueceu
com a morte de Eleanor, ou se Maggie de alguma forma colocou de
lado tudo o que pensava que sabia sobre si mesmo. Talvez um
pouco dos dois, decidiu.

O que diabos ela disse? Ele estava tendo dificuldade em focar


em seus seios mal protegidos pelos braços, e suas pernas deliciosas
visíveis sob a água. Ah, sim.

— Ficaria feliz em ajudá-la, — ofereceu novamente.

— Isso não é necessário, — ela negou rapidamente. — Posso


fazer por mim mesma.

Ela não queria que ele a tocasse, percebeu. Esperava que


fosse porque ela não podia confiar em si mesma e não porque o
desprezava. Sabia que nunca a tratou com o respeito e
consideração que ela merecia. Ele a machucou muitas vezes para
esperar que ela pudesse perdoá-lo, mas ele era um bastardo egoísta
e estava disposto a tentar ganhar seu perdão de qualquer maneira.

— Bobagem, — ele rebateu. — Diga-me de que ajuda você


precisa, e eu apenas a darei.

Ela apertou os lábios, parecendo sentir o cheiro de algo podre


no quarto.

— Preciso que você saia.

Certamente não era a resposta que procurava. Ele estava farto


do jogo peculiar que eles jogavam. Levantou-se, decidindo
aproveitar sua vantagem depois de tudo, e então caminhou até a
extremidade oposta da banheira. Ela o encarou com olhos
arregalados, mas não se afastou imediatamente como pensou que
ela faria. Uma pequena vitória. Ele caiu de joelhos para que
estivessem mais uma vez se encarando. Ela estava perto dele, perto
o suficiente para beijar.

— Eu não vou embora, — disse por fim. — Parece que já fiz o


suficiente disso.

— Sim, — ela concordou suavemente, — você já fez.

Se ele se sentiu como um bastardo antes, sentiu-se como um


criminoso agora. Precisava explicar-lhe, se pudesse. Ele não se
entendia inteiramente, mas não podia suportar que ela pensasse
que a terrível confusão que ele criou em sua vida era de alguma
forma culpa dela.

— Nunca foi por sua causa.

Ela o estudou daquela maneira, vendo diretamente através


dele.

— Obrigada por admitir isso.

— Não nego que fui um marido horrível para você, —


continuou, sabendo que teria de perder o orgulho para
reconquistá-la. Ele era o culpado e sabia muito bem disso. — Eu
nunca deveria ter abandonado você quando nos casamos. Se não
tivesse, teria visto que o que estava procurando estava bem diante
de mim.

— Você estava procurando Lady Billingsley, — ela o lembrou


asperamente.

Ele inclinou a cabeça, reconhecendo que merecia cada farpa


amarga e muito mais.

— Pensei que tinha encontrado uma mulher que pudesse


amar. Mas, encontrei uma mulher quebrada com uma alma
superficial, uma mulher que não podia me amar porque ela nunca
se amou primeiro.

Maggie permaneceu sem se mexer, o rosto impassível.

— O que isso tem a ver comigo?

— Tem tudo a ver com você. — Ele não conseguiu se conter


mais, estendendo a mão para afastar um cacho caído de sua
bochecha. Seus dedos permaneceram em sua pele macia e quente.
Ela não deu de ombros como esperava. Ele se forçou a continuar.
— Quando Eleanor decidiu voltar para Billingsley, pensei que tinha
perdido a única mulher que poderia amar. Mas então, pisei na
cauda de uma linda mulher no baile de Nell, e percebi que estava
errado.

Ele parou, quase com medo de continuar. Não se permitiu


pensar nisso, refletir sobre a ideia durante o mês que passou longe.
Mas agora, que estava de volta à presença dela, tudo estava claro.
Ele amava Maggie. Amava a poetisa, a sedutora, a libertina de
olhos violeta e cabelos de fogo que o punha de joelhos e o fazia
dançar na chuva. Amava que ela tivesse sido gentil com ele quando
não deveria, que ela se importasse o suficiente para querer ouvir
sua risada, que ela era sem artifícios, em casa e em sua pele.

Maldição, ele não tinha a intenção de fazer as coisas dessa


maneira, ajoelhar-se diante dela em um chão que certamente era
uma forma de tortura, para se abrir para o desprezo ou a rejeição.
Queria levá-la para cavalgar, flertar com ela, talvez roubar um
beijo. Mas ela estava nua no banho, mais gloriosa do que havia
imaginado, e não conseguia parar de fazer papel de bobo. Ele
olhou-a, com medo de dizer mais, com medo de não dizer.
Seus olhos estavam arregalados, fixos nele.

— O que você está dizendo?

— Estou dizendo, — ele começou, apenas para fazer uma


pausa e respirar fundo. Cristo, nunca teve a intenção de revelar-
lhe tanto. Não hoje, talvez nunca. — Estou dizendo que te amo,
Maggie.

Mais uma vez, ela não produziu o tipo de resposta que ele
esperava. Ela balançou a cabeça, sua expressão ficando triste.

— Não, você não me ama. Não tenho certeza se você sabe o


que é amor.

O inferno que ele não sabia. Ele enrijeceu.

— Claro que sei o que é amor.

— Você acha que sabe o que é amor, — ela rebateu. — O amor


certamente não envolve voar de mulher para mulher, e desaparecer
por um mês inteiro, deixando a mulher que você professa amar
supor que você se foi para sempre.

Eles estavam de volta à sua partida. Um impasse. Que o diabo


leve isto. Ela não viu que ele não tinha escolha? Quando ela caiu
no chão em seu escritório, ele ficou enojado de si mesmo. Era como
se tivesse se transformado em um monstro diante de seus olhos.
Estava louco de culpa, bebida e tristeza, e não tinha certeza do que
faria. Com o tempo e a distância, sua sanidade havia retornado.
Estava em um lugar muito melhor agora. Ele até fez a barba, por
Deus.

— Eu tive que sair, — ele repetiu. — Não podia confiar em


mim mesmo.
Seus lábios se comprimiram em uma linha severa que disse a
ele que ela estava muito descontente.

— Você poderia ter deixado uma palavra. Você poderia ter


voltado no dia seguinte. Você não fez nenhum dos dois.

Ele supôs que não deveria esperar que ela entendesse. Cristo,
ele não se entendia. Tudo que sabia era que estava perdido em sua
dor e sua culpa.

— Sinto muito. Não posso dizer de outra maneira. Eu não era


eu mesmo.

Sua expressão suavizou levemente, mas ela manteve a


postura defensiva, os braços cruzados sobre os seios deliciosos.

— Eu sei que foi difícil para você perder a mulher que amava.

— Foi uma tragédia. — Ele repetiu a única resposta que foi


capaz de encontrar em sua busca autoimposta. — Isso nunca
deveria ter acontecido.

— Não, não deveria, — ela disse calmamente. — Mas


aconteceu, e agora devemos viver para sempre com sua marca em
nossos corações. Principalmente no seu.

Era hora, ele percebeu, de dizer a ela a verdade que havia


descoberto recentemente.

— Maggie, não amo Eleanor há algum tempo. Na verdade, não


tenho certeza se já fiz isso. Ela era uma maneira de manter a
solidão afastada. — Ele fez uma pausa, tentando encontrar as
palavras adequadas. Se houvesse alguma.

— Então, o que eu fui? — Ela perguntou, sua voz baixa, olhos


o observando.
Ele queria desviar o olhar, mas não conseguiu. Maggie era
muito mais para ele, mais do que jamais poderia ter imaginado que
ela seria. Mais, certamente, do que sempre quis que ela fosse.
Inferno, ele nunca teve a intenção de consumar seu casamento, e
agora não poderia viver sem ela.

Ele engoliu em seco.

— Inicialmente, você era uma necessidade. Depois, você era


uma linda estranha com quem não pude evitar fazer amor.
Finalmente, você se tornou algo inebriante, algo que eu sabia que
não deveria ter, mas ao qual não pude resistir. Como uísque. Mas,
em todo o tempo que passamos juntos, você foi uma coisa acima
de todas as outras.

— O quê?

— A mulher que eu amo, — disse-lhe novamente, mais


determinado, agora que já tinha dito a ela uma vez. E ele quis dizer
as palavras, droga. Disse como nunca quis dizer em sua vida. —
Minha esposa. Uma mulher que me fez dançar na chuva, que me
fez rir, que me ensinou que a vida não precisa ser tão séria nem
tão solitária. — Ele estendeu a mão para ela novamente, segurando
sua bochecha. Ele ficou animado quando ela não deu de ombros.
A água perfumada de seu banho se agarrou ao ar entre eles,
provocando seus sentidos. — Diga-me que você não sente nada por
mim, Maggie. Te perguntei ontem, e agora te pergunto de novo.

Ela ficou em silêncio por um instante, ainda olhando para ele


como se não tivesse certeza do que esperar.
— Você sabe que eu não posso te dizer isso. Claro que tenho
sentimentos por você. Simplesmente não posso me dar ao luxo de
tê-los. O preço é muito alto.

O alívio floresceu em seu peito. Ela não podia negar que ainda
se importava. Ele tinha esperança, então, que se a pressionasse, a
parede que ela estava fazendo o seu melhor para construir entre
eles poderia ser quebrada.

— Qual é o preço do amor? — Ele perguntou, deslizando a


mão para a nuca dela, e puxando seu rosto para mais perto muito
lentamente.

— Querido. — Ela balançou a cabeça. — Por favor, não,


Simon. Dói muito.

Mas ele não conseguia. Não conseguia se livrar da sensação


de que parar agora custaria a ele a única coisa que mais queria.
Ela. E ele não poderia suportar essa grande perda. Nem agora, nem
nunca.

— Não consigo parar, — disse honestamente. — Afaste-me se


for preciso.

Ele sabia instintivamente que ela não iria, que não poderia
resistir a ele, mais do que ele a ela. Estava lá em seus olhos. Ela
estava à beira de um penhasco, precisando apenas de outro
pequeno empurrão para desequilibrá-la. Ele tinha que
reconquistá-la, por Deus. Não poderia perdê-la. E que melhor
maneira de conquistar Maggie, a poetisa, do que com palavras?

— 'Não peça mais nada de mim, querida'. — Ele recitou os


versos do poema que o atormentava havia dias. — 'Tudo que eu
posso te dar eu dou. Coração do meu coração, se fosse mais, mais
seria colocado aos seus pés'.

Lágrimas não derramadas brilharam em seus olhos vívidos.

— 'Amor que deve ajudá-lo a viver, música que deve estimulá-


lo a flutuar', — ela respondeu, com a voz um tanto trêmula. —
Algernon Charles Swinburne.

Ele inclinou a cabeça, um pequeno sorriso curvando seus


lábios. Ele estava ciente de que nunca tinha tido muita delicadeza.
Mas Maggie o havia mudado. Ela o fez sorrir, o fez rir, iluminou
sua vida sombria com seu cabelo de fogo e natureza teimosa, seu
belo corpo, e alma igualmente bela.

— Você também conhece o poema, — observou ele, abalado


pelas fortes emoções que o agitavam. Ele nunca esperou sentir
tanto, ser tocado pelo simples ato de recitar um poema.

Um pequeno sorriso de resposta floresceu em sua boca


deliciosa.

— Conheço.

— Estou te dando tudo que posso, — disse-lhe. — Não sou


um anjo pelos padrões de nenhum homem, mas amo você. Quero
consertar tudo. — Ele não sabia mais o que fazer, exceto arrastá-
la do banho e levá-la para a cama. Essa ideia em particular tinha
um apelo cada vez maior. Ele mudou quando o pensamento de uma
Maggie nua e molhada embaixo dele enviou uma onda de fome a
seu pênis rígido. Não, desta vez era diferente. Por mais que
quisesse seduzi-la, também queria que ela acreditasse nele.
Embora sua paixão fosse inegável, ela significava muito mais do
que fazer amor jamais poderia. Ela se tornou uma parte necessária
de sua vida, e ele seria condenado ao inferno se a entregasse a
algum libertino babão como Tobin.

A mente de Maggie estava tão confusa quanto a sala dos


fundos de uma costureira após um incêndio. Ela pensou em outro
poema de Swinburne, este decididamente sombrio. Amor morto,
morto por traição, permanece rígido. Ela se sentia totalmente presa,
contida como uma prisioneira que tivesse que se decidir entre se
proteger e se entregar a Simon. Ela olhou-o, seu rosto bonito tão
insuportavelmente perto do dela, caindo no verde atraente de seus
olhos. Ela o queria com um fervor que a abalou até agora.

— Você pode fazer as pazes ligando para a criada de minha


anfitriã, — disse-lhe, agarrando-se às suas defesas de batalha o
melhor que podia.

— Droga, mulher, — ele rosnou, — por que você insiste em


ser tão teimosa?

Ele era simplesmente difícil de resistir, mas por alguma razão,


quando ele ficava tempestuoso, derretia seu coração. Afinal, ela o
amava. Nunca parou. — Estou com medo, — ela admitiu baixinho,
ciente de que seu banho havia esfriado há muito tempo, e que ela
estava nua e vulnerável diante dele. Ele poderia facilmente tirá-la
da banheira, deitá-la na cama e persuadi-la com suas mãos e boca
hábeis. Mas ele não tinha, e ela admirava sua moderação.

— Receosa? — Ele pareceu genuinamente perplexo com sua


resposta. — Com medo de que, querida?

Ela hesitou, temendo que estivesse prestes a revelar muito a


ele, mas não querendo não dizer as palavras que clamavam para
serem ouvidas.
— Com medo de que você me deixe novamente.

— Não irei embora, — prometeu. — Nem hoje nem nunca


mais. Você está muito presa a mim, meu amor.

Seu amor. Ela era? Pensou no tempo que tiveram juntos. Ele
satisfez seus caprichos, confortou-a, ouviu-a, mostrou-a o seu
prazer. Ele a perseguiu naquele dia fatídico também. Percebeu, de
repente, que precisava saber alguma coisa agora antes de
prosseguir.

— Preciso saber de uma coisa, Simon, — disse, quase odiando


qual seria a resposta.

Ele acariciou sua bochecha com a ponta do polegar,


aquecendo-a com o simples toque.

— O que é?

— Você me disse que se arrependeu de me perseguir no dia


em que Lady Billingsley morreu. — Talvez fosse egoísmo dela
abordar o assunto. Certamente, era egoísmo da parte dela precisar
saber. Mas, não pôde evitar. — Você ainda se arrepende? Você
gostaria de ter permitido que eu partisse, se isso significasse
poupar Lady Billingsley?

Ele a encarou, e ela sabia que ele não esperava a pergunta.


Sua expressão era ilegível. Desejou imediatamente poder refazer o
momento, que não tivesse ousado perguntar quando
provavelmente não queria ouvir a resposta. E então, veio o estrondo
profundo de sua voz, uma palavra apenas.

— Não.
Ela piscou, certa de que o tinha ouvido mal. Seu tolo coração
se encheu de esperança.

— Você não gostaria?

— Não, — ele disse novamente. — Eleanor fez sua escolha, e


eu fiz a minha. É você, Maggie. Sempre será você.

Sempre.

A admissão era o que precisava ouvir dele, e mais uma vez


supôs que era por causa da poetisa que existia dentro dela. As
palavras sempre foram a isca mais potente. Talvez fosse uma tola
por acreditar nele, mas acreditava. Sua expressão era
desprotegida, seus sentimentos por ela transparentes em sua cara.
Não havia dúvida de que ele quis dizer o que disse. Afinal, Simon
não era um hipnotizador. Estava falando sério, direto ao ponto e
irremediavelmente arrogante.

Mas, ele poderia se humilhar diante da esposa que nunca


quis. Ele a amava o suficiente para voltar para ela, mesmo depois
dos horrores da morte de Lady Billingsley. Ele a seguiu repetidas
vezes. E ela o amava ainda mais por isso.

Antes que pudesse contemplar a sabedoria de suas ações,


jogou os braços ao redor do pescoço dele e puxou-o para um beijo.
A água espirrou em suas roupas de montaria, respingando em suas
botas e no chão ao seu redor. Ela não ligou. Sua boca na dela era
o paraíso.

Fazia muito tempo, e aquele abraço sem restrições era como


voltar para casa depois de uma jornada difícil. Ela se derreteu nele
com um suspiro, abrindo-se para sua língua exigente. Ele
interrompeu o beijo para tirá-la da banheira com um grito
descarado. Ela estava nua e pingando, ensopando completamente
suas roupas de montaria. Ele não pareceu se importar enquanto
caminhava de volta para seu quarto para baixá-la suavemente para
a cama.

Ela o esperou, observando enquanto ele rapidamente se


desfazia de suas roupas molhadas. Como o amava, pensou
enquanto seu olhar viajava de seu cabelo escuro para seu rosto
lindamente masculino, e seu peito largo. Ela quase não ousou
acreditar que desta vez ele era bem e verdadeiramente dela. Que a
amava.

Mas estava lá no brilho cintilante de seu olhar, e a


compreensão a deixou sem fôlego. Por mais impossível que
parecesse, o marquês de Sandhurst, o homem cujo coração infame
havia pertencido a outra, estava apaixonado.

Por ela.

Desta vez, seu amor era por sua indesejável noiva americana,
a velha Margaret Emilia Desmond.

Maggie sorriu, abrindo os braços para ele quando juntou-se a


ela na cama. Seu corpo era duro e delicioso, pressionando em suas
curvas suaves precisamente onde ela o queria. Sua grande e
conhecedora mão passou por sua cintura, parando em seu quadril.
Com o outro braço, ele se apoiou, olhando para ela.

— Você me perdoa, Maggie?

Seus dedos perversos mergulharam em suas dobras


escorregadias então, momentaneamente roubando seu fôlego
quando uma ponta de desejo disparou por ela. Ela se arqueou para
ele, querendo mais.
— Claro que perdoo. — Como não poderia, quando ele havia
tão claramente desnudado a parte mais escura de si mesmo para
ela ver? Pensou novamente nos vislumbres que vira do garoto
solitário que ele tinha sido, e seu coração doeu. Queria torná-lo
completo, apagar essa parte de seu passado. Para preencher sua
vida com tanto amor e risos que ele não se sentisse mais sozinho.

Ele abaixou a cabeça de forma que suas testas quase se


tocaram, seu hálito quente soprando em seus lábios.

— Maldito inferno, mulher. Você vai ser a minha ruína.

Sentindo-se ousada, ela alcançou entre eles onde seu pênis


estava rígido e insistente contra sua barriga. Enrolou os dedos em
torno de seu comprimento, acariciando-o como aprendeu que ele
gostava.

— Eu certamente espero que sim, — ela respondeu, satisfeita


quando ouviu sua inspiração aguda. Correu o polegar lentamente
sobre a cabeça de seu pênis. — Pois você já se tornou a minha
ruína.

— Eu, meu amor? — Ele deu um beijo demorado em sua boca


pronta.

Quando ele quis se afastar, ela o apertou com a mão livre,


abrindo a boca para sua língua. Uma onda de prazer em resposta
a atingiu, deixando-a faminta por mais. Para reclamá-lo. Para ser
reivindicada por ele. Ela era inegavelmente sua, e queria que ele a
tomasse forte e rápido, para fazê-la explodir com seu clímax e lavar
os últimos resquícios de dor entre eles.

Para fazer um novo começo.


Ela queria mostrar-lhe o quanto o queria, o quão
profundamente se importava. Maggie interrompeu o beijo e
empurrou seus ombros, deitando-o gentilmente de costas. Ele a
encarou, a compreensão surgindo em seus olhos vívidos.

— Maggie, você não precisa.

Ela sorriu antes de abaixar a cabeça para pressionar um


caminho de beijos por seu peito, até seu estômago magro. Quando
alcançou seu pênis, ela beijou lentamente seu comprimento. Seu
gemido tenso disse que ela estava lhe dando o mesmo prazer que
ele tão livremente lhe deu.

— Mas, eu devo. — Ela tomou a ponta dele em sua boca.

Ele se sacudiu contra ela, sua mão se acomodando em seu


cabelo quando outro gemido o deixou. Ela lambeu, chupou,
amando o gosto dele, o cheiro almiscarado que era inato dele. Sob
sua orientação, ela o levou profundamente em sua garganta.

— É o suficiente. — Ele agarrou seus braços para puxá-la de


volta contra ele. — Quero gozar dentro de você, querida, não em
sua boca.

Suas palavras lhe enviaram uma onda de desejo. Ele a puxou


para outro beijo voraz. Suas línguas se enredaram. Ele a rolou de
costas, suas mãos deslizando até sua boceta. Tocou-a num ritmo
preguiçoso sobre sua protuberância sensível, levando-a ao frenesi.
Ela agarrou seu pênis novamente, imaginando-o dentro dela,
desejando-o tanto que doeu. Ele afundou um dedo profundamente,
a pequena invasão era uma provocação pequena para aquela que
ela realmente desejava.
Simon interrompeu o beijo, sua respiração tão irregular
quanto a dela.

— Você está pronta para mim, querida?

— Sim, — ela sussurrou em uma exalação rápida. Quando ele


tirou os dedos, ela o guiou. Uma mexida de seus quadris e um
impulso rápido dele, e estava dentro dela. Ela se deleitou com a
sensação, o prazer avassalador de tudo isso.

Ele enganchou as pernas dela em volta da cintura, e os dois


cederam ao abandono de seu desejo, tensionando um contra o
outro, as mãos nos cabelos um do outro. Ele empurrou nela
repetidamente, abaixando a cabeça para chupar um mamilo em
sua boca. Ela estava fora de si, sem cabeça para qualquer coisa
agora, mas tendo mais dele, tudo dele, mais rápido, mais duro. Ela
atingiu o clímax de repente e violentamente, apertando seu pênis
em uma série de espasmos estremecidos.

Ele gemeu, balançou nela e jogou sua semente. O jorro quente


dele foi o suficiente para fazê-la estremecer novamente. Ele se
deitou completamente sobre ela, seu grande corpo a prendendo na
cama, enquanto ele lhe dava outro beijo prolongado. Enquanto o
mundo lentamente voltava ao normal, ela o abraçou, agarrando-se
ao amor que nunca pensou que encontraria. Ele era
insuportavelmente precioso para ela, esse estranho por quem ela
cruzou o oceano para se casar. Finalmente, ele era
verdadeiramente dela.

Ela percebeu que na agitação de fazer amor, se esqueceu de


dizer a ele. Ocorreu-lhe que ele lhe não exigia isso, que estava
disposto a amá-la sem que ela o amasse em troca. O senhor egoísta
com quem se casou havia se tornado um marido altruísta. As
palavras que escondeu dele ultrapassaram o nó de lágrimas de
felicidade em sua garganta.

— Eu te amo, — ela disse no silêncio saciado que caiu entre


eles.

Ele ergueu a cabeça para olhá-la, segurando seu rosto com a


mão.

— Você me ama?

A autêntica esperança em sua voz foi o suficiente para fazer


sua represa interna estourar. As lágrimas se soltaram,
escorregando por suas bochechas enquanto sorria para ele.

— Eu amo.

— Então, por que diabos você está chorando, minha querida?


— Perguntou no típico estilo tempestuoso de Simon.

Ela riu então, admirada com a maneira maravilhosa que a


vida tinha de resolver tudo para o melhor quando ela menos
esperava.

— Porque você me fez uma mulher muito feliz.

— E você me fez o homem mais feliz da Inglaterra. — Ele deu


outro beijo rápido em sua boca antes de rolar para o lado e segurá-
la com força contra ele.

Saciada e oprimida de amor e alegria, Maggie se aninhou


contra ele, cruzando os braços sobre os dele. Seu coração batia
forte e firme contra suas costas, seu pênis aninhado contra seu
traseiro. Isso, pensou consigo mesma, certamente era o paraíso.

O estrondo de sua voz a assustou.


— Maggie?

Ela olhou para o abraço possessivo dele sobre sua barriga


nua, finalmente se sentindo livre de todos os fantasmas de seu
passado.

— Sim?

— Você acha que se importaria terrivelmente em dizer isso


apenas mais uma vez?

Ela sorriu. Sim, seu tempestuoso marquês havia sido


domesticado de fato.

— Eu te amo.

— Por Deus. — Um sorriso de resposta estava em seu tom. —


Acho que nunca vou me cansar de ouvir isso. Amo você, minha
selvagem e maravilhosa americana. E se você me deixar de novo,
vou persegui-la e amarrá-la à minha cama.

Maggie se virou em seus braços, dando-lhe outro longo beijo.

— Vou cobrar de você essa promessa, meu senhor. Pois se


você me deixar novamente, farei exatamente o mesmo.

Ele jogou a cabeça para trás e riu como ela nunca o tinha
ouvido rir antes. — Não esperaria nada diferente, meu amor.
QUERIDA.

Com um suspiro, Maggie ergueu os olhos do poema que


estava tentando escrever. Dez das quinze linhas que havia escrito
até agora foram sumariamente riscadas. Alguns dias, a poesia era
fácil para ela. Na maioria dos dias, precisava lutar e se agarrar a
ela.

Simon entrou na biblioteca em suas roupas de montaria,


parecendo elegante e pecaminosamente bonito ao mesmo tempo.
Seu coração deu uma grande pontada de amor. Cada dia que
passava, nos meses que se seguiram desde que ele tinha ido atrás
dela na casa da Nell, só os aproximou, tornando seu amor mais
forte. Não achava que poderia se cansar de ver sua linda cabeça
deitada no travesseiro todas as manhãs.

— Como foi seu passeio matinal? — Perguntou, grata pela


interrupção. Ela tinha escrito uma grande quantidade de poesia
recentemente, seu amor pela arte tinha sido renovado junto com
sua felicidade. Esperava publicar outro volume em breve, e Simon
a encorajou maravilhosamente.

— Muito revigorante, mas gostaria que você se juntasse a


mim. — Ele caminhou pela sala, diminuindo a distância entre eles
num momento.
Ele pegou as mãos dela e a colocou de pé. Atualmente, ela
agradecia a ajuda, dada a relativa redondeza de seu estômago.

— Você sabe que não consigo cavalgar adequadamente na


minha condição.

Simon a puxou para um beijo faminto antes de piscar para


ela.

— Enquanto você continuar a me montar, não vou reclamar.

Ela tentou suprimir um sorriso com suas palavras perversas,


mas não conseguiu manter uma fachada devidamente séria.

— Você é um demônio de homem, — disse ela sem ralhar, —


falando assim comigo.

— Você gosta quando sou mau, — ele respondeu com


facilidade. — Posso dizer pela maneira como seus olhos ficam
naquele adorável tom de violeta escuro, e a maneira como você
tenta franzir a testa para mim, mas realmente não consegue parar
de sorrir.

Ele a conhecia muito bem. Ela inclinou a cabeça, admitindo


o ponto.

— Muito bem. Acho que sou um livro muito fácil de ler.

Suas mãos se apertaram em sua cintura, ou o que restava


dela, dado o bebê que crescia dentro dela.

— Não é fácil de ler, meu amor. Simplesmente sei todas as


melhores partes de cor.

Ela se inclinou para outro beijo, pensando que seu maldito


poema certamente poderia esperar. Por que decidiu escrever algo
sobre o amor, afinal? Cada vez que tentava escrever sobre o homem
que amava, acabava se transformando em uma bolha trêmula de
soluços ou jogando tudo fora. Ela supôs que, às vezes, os aspectos
mais maravilhosos da vida nunca poderiam ser escritos
adequadamente.

— Você está carrancuda, — ele disse, dando outro selinho nos


lábios dela antes de se endireitar novamente. Ele enfiou a mão na
jaqueta e tirou uma carta, entregando-a a ela. — Talvez isso te faça
sorrir de novo.

Com sua curiosidade aguçada, Maggie pegou a carta de suas


mãos e examinou seu conteúdo. O choque a fez quase deixá-la cair
de seus dedos dormentes. Não pode ser. Como ele poderia ter feito
isso sem ela saber?

— O que você fez, Simon?

Ele sorriu para ela.

— Mandei alguns de seus poemas para a Livingston Press.


Achei que era hora de o mundo ver mais uma vez o seu trabalho.

Ele sempre a surpreendia, esse marido dela. Ela não sabia


que ele tinha tal esquema em mente. Ele nunca disse uma palavra.
A linguagem brilhante da carta voltou a ela, animando seu ânimo
decadente.

— E eles querem publicar um volume completo? — Nunca


tinha sonhado com tal possibilidade. Afinal, fazia muito tempo que
não publicava uma palavra, e mesmo assim, tinha sido apenas por
causa da influência de seu pai.

— O editor disse que ficaria muito feliz em imprimir outro livro


de M.E. Desmond. Na verdade, ele o considera um achado bastante
raro, pois como você sabe, o misterioso Desmond escreveu apenas
um volume. — Aquele olhar penetrante dele a observando,
medindo sua reação. — Você está feliz?

Ela jogou os braços ao redor dele, rindo quando seu estômago


desajeitado não permitiu que ela o abraçasse como queria.

— Feliz? Estou absolutamente emocionada. Não acredito que


você fez isso por mim.

Ele a pegou em um abraço quase esmagador.

— Por mais que eu queira, não posso mantê-la só para mim,


posso?

Como ela o amava. Se ela não tomasse cuidado, se


transformaria em um regador em cima dele. Deus sabia que ela
tinha feito muito disso desde que ficou grávida.

— Obrigada, Simon.

— Sou eu quem deve agradecer, — ele disse contra seu


ouvido.

— O que você deve me agradecer? — Ela perguntou, confusa.

Ele recuou para olhar amorosamente para ela. Suas mãos


foram para a barriga dela, habilmente escondidas nas camadas de
suas saias.

— Por me amar apesar de mim mesmo. Por me dar a família


que sempre quis. Encontrar uma editora para sua poesia é o
mínimo que posso fazer depois de tudo que você fez por mim,
Maggie. Você me fez inteiro de novo.

— Não, — ela disse suavemente, colocando as mãos sobre as


dele enquanto o bebê dava um chute. Ela pensou em tudo que
deixou em Nova York, e no quanto ganhou na Inglaterra. Nunca
poderia ter imaginado o quão completa se sentiria nos braços de
Simon. — Nós nos tornamos inteiros novamente.

Quando ele a tomou de volta em seu abraço para outro beijo


apaixonado, ela soube instintivamente que o melhor ainda estava
por vir.

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