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Wildes, Emma
As Lições da Dama Escarlate (Lessons from a Scarlet Lady) / Cherish Books; Rio de
Janeiro; 2020
Edição Digital
1.Romance de Época 2. Literatura Estrangeira 3.Ficção
As Lições da Dama Escarlate © Copyright 2020 — Cherish Books
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Texto revisado segundo novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, através de
quaisquer meios, sem a prévia autorização do autor.
Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, locais ou fatos, terá
sido mera coincidência.
Tradução: A.J Ventura
Revisão: Evelyn Santana
Capa: Gisele Souza
Diagramação: A.J Ventura
SUMÁRIO
Capa
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Epílogo
Epílogo de O conselho de Lady Rothburg
Se você não conseguiu chamar a atenção dele de início, como conseguirá
mantê-la?
Todo o prefácio de O conselho de Lady Rothburg, publicado em 1802.
ELA AGONIZOU — agonizou como uma idiota — sobre o que vestir. Não
apenas para chegar ao evento, mas para cada minuto da estadia na Mansão
Rolthven. Isso, é claro, foi depois que ela se angustiou se seu pai concordaria
ou não com a presença dela, embora no final ele concordasse. Nem Rebecca
tinha certeza se deveria comparecer.
Era uma faca de dois gumes.
— Essa aqui, senhorita? — Sua ama segurava um vestido prateado de
tecido que ela gostava particularmente porque era o vestido mais ousado que
possuía. Não que “ousado” significasse muito no contexto de seu guarda-
roupa, tão cuidadosamente selecionado por sua mãe, mas era o menos
conservador.
Por que não o levar? Afinal, Brianna tinha usado aquele vestido
escandaloso para a ópera e relatou que levou o duque a um comportamento
muito incomum. O tecido prateado era sua melhor opção se ela quisesse ser
notada.
— Sim — disse Rebecca com o que esperava ser indiferença. — E o de
seda azul-marinho também, por favor. Sandálias combinando e meu melhor
xale, pois a noite no campo pode ser fria.
— Sim, senhorita. — Molly dobrou cuidadosamente o vestido de prata e
o colocou na mala.
Cinco dias perto de Robert Northfield. Em sua casa de infância, comendo
à mesma mesa, trocando brincadeiras espirituosas…
Só que, Rebecca pensou com uma pontada, sua brincadeira não era a
menos inteligente em sua presença e se ele seguisse seu padrão usual de
comportamento, ele simplesmente a evitaria como se ela fosse um rato
portador de peste bubônica.
Pensamentos alegres, isso.
Atualmente, ela era relativamente popular. Por uma segunda temporada.
Os jovens bajulavam-na, mas eram homens que procuravam esposas
adequadas. Deus a livrasse de tolos politicamente ambiciosos como Lord
Watts, que valorizava não apenas sua pessoa, mas também a influência de seu
pai.
O muito bonito e desonroso Robert Northfield não estava procurando
uma esposa.
Mas ela estava indo para Essex de qualquer maneira.
— Usarei a de renda âmbar, o de tule marfim e o de musselina rosa. Dois
dos meus melhores trajes de cavalgar e trajes de viagem para a viagem de
volta. — Rebecca lutou contra uma reviravolta de nervosismo no estômago.
— Tenho certeza de que acharemos a Mansão Rolthven mais formal.
Sally apenas assentiu e começou a trabalhar.
Fazendo as malas, Rebecca verificou sua aparência no espelho, alisou os
cabelos e desceu as escadas para jantar. Era costume de seu pai encontrar-se
na sala de estar para tomar um copo de xerez antes de jantar, e ele odiava
quando ela estava atrasada. Inevitavelmente, isso significava uma palestra e,
embora de muitas maneiras ela o adorasse, ele podia ser entediante às vezes.
Ela entrou na sala e disse alegremente:
— Eu estava fazendo as malas. Estou atrasada?
— Quase. — Em roupas elegantes, mesmo para um jantar em família em
casa, seu pai estava distinto e imponente. Ele levantou um pequeno copo de
cristal e entregou a ela com um aceno cortês da cabeça. — Felizmente, isso
significa que não. Você chegou bem na hora, minha querida.
— Obrigada. — Ela aceitou a oferta com indiferença.
— Minha permissão a este passeio não foi dada sem reservas e tenho
pensado nelas.
Rebecca abafou um gemido interior. Isso não era surpresa. Ele
frequentemente tinha reservas.
— A Duquesa viúva… — ela começou.
— É idosa — ele interrompeu. — Embora eu não queira desrespeitá-la.
Sua mãe e eu decidimos aceitar o convite para acompanhá-la. É de último
minuto, mas enviei uma mensagem à duquesa de Rolthven hoje cedo. Ela
gentilmente respondeu com um bilhete de que seríamos bem-vindos, mesmo
com pouco aviso prévio. O assunto está resolvido.
O coração de Rebecca afundou. Estar acompanhada por seus pais era
humilhante. Na verdade, ela era vários meses mais velha que Brianna, mas ali
estava ela, mimada como uma criança, enquanto sua amiga podia dar festas e
vestir o que desejava e… oh, era irritante de muitas maneiras. Rebecca
endireitou a coluna e afundou em uma cadeira bordada, a formalidade fria da
sala enfatizando apenas seu papel como prisioneira virtual.
Naquele momento, ela teve uma pequena revelação. Ou talvez até uma
das maiores. Tudo o que sabia era que a abalava profundamente, porque era o
conhecimento que ela vinha evitando há meses.
A independência era um bem precioso. Ela ansiava, mas a única maneira
aceitável de deixar os pais era aceitar um marido. O tempo estava acabando,
essa era a verdade.
Ela olhou para o copo.
— Então eu não sou confiável sozinha, pelo que entendi? Bri pode
alegremente dar festas e convidar quem quiser, mas eu, sem o benefício de
um homem guiando todos os meus movimentos, não sou confiável por um
momento sem meus pais me acompanhando.
— Sua amiga não é mais uma donzela solteira — disse o pai depois de
uma breve pausa. — Suas ações são governadas pelo marido. Você não pode
dizer o mesmo. Quando puder, tenha certeza de que vamos nos afastar.
— Isso é castigo porque eu não me casei? — Ela ergueu as sobrancelhas
deliberadamente, o copo de xerez tremendo em suas mãos.
— A companhia de seus pais em uma recepção campestre é punição?
Bem, afinal, seu pai era político, e uma virada sutil de mesa era sua
especialidade. Mas Rebecca não estava ansiosa por revelar sua consciência
da presença de Robert, especialmente com uma quantidade tão pequena de
convidados. Os pais dela acabaram de tornar tudo mais complicado.
— Não, claro que não.
— Então estamos de acordo.
Não é exatamente como ela descreveria a situação. Ela escolheu não
comentar.
— E Damien Northfield?
Rebecca congelou, seu copo a meio caminho da boca, preso pela
declaração de sua mãe.
— Damien Northfield? O que a senhora quer dizer? O que tem ele?
— Ele voltou da Espanha.
Ela olhou para a mãe, sem palavras a princípio.
A mãe dela parecia pensativa.
— Eu nunca tinha pensado nisso antes, mas ele é muito adequado. Por
enquanto, ele é o herdeiro de Rolthven…
A ideia era tão ridícula que Rebecca interrompeu:
— A senhora deve estar brincando.
Oh, Céus, ela nunca interrompera sua mãe. Mesmo quando as
sobrancelhas de seu pai se franziram, ela rapidamente cedeu:
— O que eu quis dizer é que eu não o conheço.
Além disso, ele era irmão de Robert. Mas ela não podia usar isso como
argumento, então tomou um gole de xerez de modo pouco polido.
— Eu estava apontando que isso pode ser uma chance de conhecê-lo e,
quem sabe, talvez vocês dois combinem. — A mãe ergueu as sobrancelhas,
os olhos assumindo um brilho que Rebecca reconhecia. — Já faz um tempo
desde que ele esteve na sociedade, mas se bem me lembro, ele tem a boa
aparência de Northfield e uma fortuna mais do que respeitável. Pense em
como Brianna ficaria encantada se você desenvolvesse uma inclinação pelo
cunhado dela e ele por você.
Sua propensão já estava firme para um dos irmãos Northfield, quer
Rebecca quisesse ou não, e se seus pais soubessem da paixão, eles nunca
concordariam em deixá-la ir para Rolthven, com ou sem eles.
— Tenho certeza de que ele é um homem muito agradável — disse ela
em tom neutro —, mas me parece que ele está bastante ocupado como uma
espécie de assistente de campo do general Wellington, não é? Eu não acho
que ele está no mercado para uma esposa neste momento.
— Há rumores de que será nomeado cavaleiro por seu serviço à Coroa —
comentou o pai, sem ajudar em nada.
Rebecca lançou-lhe um olhar de reprovação que dizia “traidor”.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Quer você goste ou não de Northfield, tenho certeza de que outros
rapazes também estarão lá para dar atenção a você e me incomodar para dar
permissão para acompanhá-la nos vários entretenimentos. — Sua expressão
mudou de leve diversão para uma expressão mais séria. Ele acrescentou: —
Essa pode ser uma boa oportunidade para você conhecer alguns deles melhor
fora do tumulto de bailes e eventos sociais lotados.
Sua implicação era clara: um conhecimento adicional poderia ajudá-la a
se decidir. Esta segunda temporada não o agradava, mas ele sofreu suas
recusas inflexíveis de todas as propostas até agora. Como seu vigésimo
primeiro aniversário se aproximava, ela sabia que ele em breve lançaria um
ultimato.
O que ela faria se ele fizesse isso? Não estava em questão que os pais dela
quisessem vê-la resolvida e segura.
— Tenho certeza de que o senhor está certo — ela disse sem nenhuma
inflexão, não querendo batalhar no momento. Quando ela realmente
precisasse brigar — como no caso de Lord Watts como um possível futuro
marido —, ela o faria, mas não tinha vontade de partir para essa viagem já em
desacordo com seus pais vigilantes.
Infelizmente, seu pai era difícil de enganar. Ele disse secamente:
— Sempre fico desconfortável quando você concorda comigo tão
prontamente.
Ela deu-lhe um olhar inocente.
— Nesse caso, eu realmente concordo. Confesso que estou cansada de
todo o turbilhão de Londres e esse passeio parece uma pausa agradável. Só
poder visitar Arabella e Brianna será um momento agradável, tenho certeza.
— E não esqueça o irmão mais novo do duque — disse a mãe em
lembrete.
Como se pudesse, Rebecca pensou com um vislumbre de desespero,
bebendo seu xerez. Ela pensava muitas vezes no irmão mais novo do duque
de Rolthven, mas não da forma que sua mãe queria dizer.
Rebecca teve a sensação de que seriam cinco dias exaustivos.
O desejo é um jogo. Pode-se jogá-lo com nuances sutis ou flertes flagrantes.
No capítulo intitulado: Como correr e ter certeza de que será pega.
B astou Brianna ir até Robbie para ele perceber que ela estava ansiosa.
Ele mal havia entrado no salão central quando se encontrou em meio
a um grupo de lacaios carregando enormes vasos de flores da estufa
e sentiu a mão magra se apertar com uma força surpreendente ao redor do seu
antebraço.
— Preciso de ajuda. — Sua cunhada praticamente o arrastou em direção a
uma lareira de mármore italiano perto de um conjunto de cadeiras de veludo.
— Os convidados estão começando a chegar e o chá será servido em menos
de uma hora. O que você acha das rosas aqui?
Um tom brilhante de flores vermelho-sangue dava um contraste
dramático contra a pedra branca, então ele disse razoavelmente:
— Acho que elas são lindas.
Olhos azuis o encaravam em súplica e havia uma mancha de algo amarelo
em sua bochecha de porcelana.
— Você tem certeza?
Ele tirou o lenço do bolso e limpou a substância, que suspeitava que fosse
pólen.
— Tenho certeza.
O rubor nas bochechas e o movimento nervoso da mão lembraram-lhe
que ela tinha apenas vinte anos e, embora geralmente parecesse
extraordinariamente composta, ainda não estava acostumada à sua nova
posição como duquesa de Rolthven. Seu nível de experiência com esse tipo
de evento era limitado.
— A Sra. Finnegan, a governanta — disse ele com o maior tato possível
—, serve nossa família há trinta anos e saberia exatamente onde colocar as
rosas para obter o melhor efeito. Ela já está acostumada a isso por ter
organizado recepções campestres com bastante frequência antes. Minha mãe
a teria roubado descaradamente para a Itália, se pudesse convencê-la a ir.
Acho que Finnie ficaria encantada se você deixasse a cargo dela algumas
dessas decisões.
Brianna disse com sinceridade cativante:
— Quero que seja perfeito. Prefiro levar esse caso a Colton, pois, se for
um desastre social, não só vou desperdiçar seu tempo, como também o
envergonharei.
Por um breve momento, quando Robert olhou para o rosto adorável dela e
viu a sinceridade em seus olhos, ele invejou o irmão, sua esposa. Não
Brianna especificamente, embora ela fosse linda de todas as formas que uma
mulher pudesse ser, e ele admirasse seu espírito e inteligência, mas a ideia de
que ela se dera ao trabalho de planejar esta recepção. Não que seu irmão mais
velho fosse notar as rosas, muito menos onde elas eram colocadas, mas acima
de tudo, ela obviamente desejava fazer Colton feliz.
Que estranho. Robert estava mais do que familiarizado com damas que
desejavam que ele as fizesse felizes. Ansiavam pelo prazer que ele podia dar
a elas na cama, pelo prestígio de socializar com o irmão mais novo de um
duque, pelos presentes caros e joias que esperavam receber.
Elas alguma vez pensaram nele? Não no lorde Robert Northfield, com sua
generosa herança e extensas conexões. Não se elas o achavam bonito ou um
amante hábil. Mas sobre sua vida, seus pensamentos e aspirações?
Nunca, era o seu pressentimento, ocorrera a qualquer uma das mulheres
com quem dormia refletir sobre seu nível de contentamento. Também era
culpa dele, ele percebeu enquanto estava parado olhando Brianna e sentindo
o perfume das flores de estufa que enchia o ar. Ele escolhia deliberadamente
companheiras que não desejavam nada além de relações sexuais casuais, sem
envolvimento emocional. Ele seduzia um tipo específico de mulher e elas
gostavam imensamente de suas atenções.
Mas era suficiente? Nenhuma mulher jamais olhou para ele como Brianna
olhava para o irmão.
Colton também, em momentos relaxados em que não estava travado,
afastado do mundo em favor de contratos de expedição e cartas para os
gerentes imobiliários, olhava para sua esposa com uma suavidade singular
nos olhos. Robert suspeitava que seu irmão mais velho nem sabia, mas estava
lá.
Era surpreendente que, aos 26 anos, com seu nível de experiência com
mulheres, Robert nunca tivesse contemplado a possibilidade de se apaixonar
por algo que não fosse sarcasmo.
— Você só agrega valor a ele em todos os sentidos, e não quero dizer
apenas ao seu título. — Robert deu um tapinha na mão ainda segurando a
manga, ouvindo a rouquidão em sua voz com descrença. Ele não era
sentimental… pelo menos não achava que era. — Agora, deixe-me ir
encontrar a Sra. Finnegan para você, certo? Depois acho que preciso me
trocar. Passei a maior parte do dia cavalgando.
— Obrigada. — Brianna soltou a manga com um sorriso triste. — Eu sou
muito grata por sua ajuda.
— É um prazer, madame la Duchesse.
Ele fez uma reverência exagerada, o que a fez rir, e depois procurou a
sempre eficiente Finnie, como a chamara desde que tinha idade suficiente
para conversar, explicou que a esposa de Colton precisava de algumas
orientações e subiu as escadas para trocar de roupa.
Todo o tempo ele esteve ciente de que ele havia tido algum tipo de
epifania.
Quando ajustou a gravata no espelho, uma imagem de rosto sombrio
olhou para ele, muito diferente da sua usual expressão de não-me-importo-
com-nada.
Uma batida na porta o fez se virar. Ele disse secamente:
— Sim?
Damien abriu a porta do quarto e entrou.
— Pensei que poderíamos tomar um chá juntos para formar uma frente
unida de solteiros.
Robert forçou um sorriso, tentando se livrar desse clima contemplativo
sem precedentes.
— Você está planejando como sobreviver a isso?
— Sou conselheiro militar. — O irmão dele deu de ombros. — Parece-me
uma estratégia inteligente, embora admita que estou mais acostumado a
medir o movimento das forças francesas do que de jovens ansiosas e suas
motivações.
— Talvez estejamos nos lisonjeando — disse Robert secamente. — É
possível que nenhuma das jovens que Brianna convidou esteja interessada em
nenhum de nós.
A expressão de Damien era de descrença.
— Não frequento a sociedade há um tempo, mas acho que você está
sendo otimista. Somos Northfields, Robbie. Poderíamos ser os homens mais
grosseiros de toda a Inglaterra e ainda seríamos considerados solteiros
cobiçados.
Robert também pensava assim.
— Você provavelmente está certo — ele admitiu. — Pelo menos a
senhorita Marston é encantadora. — Embora tenha sido desaconselhável, ele
acrescentou, porque estava pensando nela especificamente: — E bonita.
E de onde diabos esse comentário tinha vindo? Era desconcertante pensar
que ver a jovem novamente estava em seu subconsciente.
As sobrancelhas de seu irmão se levantaram.
— Marston? Como a filha de sir Benedict Marston?
— Sim. — A resposta foi curta. Robert não havia contado a Damien sua
discordância com o homem em questão.
— Tivemos algum contato. — O rosto de Damien assumiu a expressão
neutra que sempre fazia ao discutir sua profissão. — Ele é próximo do
ministro da Guerra e de Liverpool. Estranho, quando Brianna o mencionou
ontem à noite, eu não fiz a conexão imediatamente.
— Ela é muito amiga de Rebecca.
— Rebecca, é? Você está familiarizado o suficiente com a dama para usar
seu primeiro nome?
Robert pensou em um jardim iluminado pela lua e o roçar da boca no
canto dos lábios macios e tentadores de cor rosa.
— Não. É uma liberdade que eu não aceitaria na presença dela. Nós mal
nos conhecemos.
Exceto que ele se lembrava da plenitude flexível de seus seios contra o
peito e da delicada e assustadora essência de seu perfume…
— Bem, posso sofrer a presença dela por uma chance de falar com seu
pai. Wellington pode usar toda a ajuda que conseguir com Horse Guards e
Marston tem influência. Fico feliz em saber que ela é pelo menos
razoavelmente bonita, para que meu interesse pareça sincero.
Razoavelmente? Um lampejo de irritação percorreu a espinha de Robert
por algum motivo insondável. Era insondável porque Damien, sempre
racional e até comedido, raramente irritava alguém. Ele respondeu com uma
voz fria:
— Ela é realmente impressionante e há rumores de que o pai recusou
muitas ofertas pela mão dela. Depois de conhecê-la, você entenderá o porquê.
Ela não é uma dessas senhoritas com cara de entojo e sorrisos falsos que se
orgulham do fato de que só usam a cabeça para colocar chapéus.
O comportamento de Damien assumiu uma certa alegria.
— Boas notícias. Essa recepção pode não ser tão entediante quanto eu
pensava.
— Você pretende fingir interesse por ela para ganhar uma audiência com
o pai?
— Nada tão nefasto. — Seu irmão parecia perplexo com seu tom irritado.
— Eu apenas quis dizer que presumo que ela estará na companhia de seus
pais a maior parte do tempo e, ao cortejar a atenção de Marston, tenho certeza
de que serei obrigado a cortejá-la também.
Fazia sentido. Por que Robert se importava era um mistério.
Uma breve troca de conversas casuais e uma rápida corrida pelos arbustos
para ajudá-la a escapar de um idiota chato como Watts dificilmente o
elevavam à categoria de além de um conhecido passageiro.
— Vá em frente e corteje-a. — Ele ergueu os ombros em um gesto
deliberado e indiferente.
— Eu não disse que ia…
— Damien, faça como bem entender, por favor.
Ele realmente acabou de interromper seu irmão mais velho com tanta
veemência? Inferno, aquele momento lá embaixo com Brianna o deixou
desequilibrado.
Ele foi em direção à porta.
— Desculpe. Eu odeio assuntos desse tipo. Eles me deixam nervoso.
Vamos tomar um conhaque antes de tudo começar, certo?
SE A ÚLTIMA HORA fosse alguma indicação, Rebecca teria sorte em
sobreviver aos próximos cinco dias com a sanidade intacta.
Ela estava sentada na beirada de um sofá bordado, a xícara de chá na mão
instável. Se ela levasse a delicada porcelana à boca, tinha certeza de que
derramaria chá por todo o colo; então, fingiu que não estava com sede.
Em suma, ela fingiu tomar chá, o que não era algo que uma respeitável
dama inglesa deveria fazer, mas ela estava cansada das regras de
respeitabilidade. Essas mesmas regras a mantiveram ouvindo Damien
Northfield — que era quase tão bonito quanto seu irmão mais novo e
libertino, mas completamente desprovido da atitude e do sorriso maliciosos
— e seu pai ficou envolvido em uma conversa sobre a guerra na Península.
No lado oposto da sala, Robert conversava com Loretta Newman, uma viúva
que era atraente e ainda muito jovem.
É claro, Rebecca pensou zangada, a mulher tinha que ser elegante, loira e
todas as outras coisas que um cavalheiro parecia gostar. Enquanto ela
observava, Robert inclinou-se para a frente apenas alguns centímetros acima
do considerado apropriado e sussurrou algo no ouvido de sua acompanhante.
A Sra. Newman riu e agitou os cílios de uma maneira provocante que fez
Rebecca querer cerrar os dentes. O que eles estavam falando, ela não sabia,
mas eles estavam ali em um canto aconchegante nos últimos quinze minutos
e…
— Senhorita Marston?
Ela desviou o olhar, envergonhada. Damien Northfield olhava-a com
perfeita serenidade de uma cadeira próxima. Ela gaguejou:
— Eu… me desculpe. O senhor disse alguma coisa?
Querido Deus do céu, não permita que ele me pegue olhando para seu
irmão.
Havia uma nitidez em seus olhos que indicava uma inteligência superior.
— Estava pensando — ele disse com uma seriedade particularmente
cortês —, o que está achando de Londres este ano?
Pelo menos não era uma pergunta difícil.
— O mesmo do ano passado — ela disse honestamente. Ele tinha olhos
bonitos, ela notou, mas eram mais escuros do que um azul-celeste. Seus
traços bem definidos de Northfield não mostravam o charme levemente
pecaminoso de Robert ou a reserva de Colton, mas eram algo inteiramente
dele, algo observador e silencioso.
Um sorriso quixotesco torceu os lábios de Lorde Damien.
— Entendi.
Seu pai franziu o cenho para a natureza ambígua de sua resposta. Ela
recusou-se a pedir desculpas, mas concentrou-se no irmão mais velho de
Robert. Certamente ela poderia fazer melhor.
— Eu quis dizer que é um turbilhão.
Aparentemente, ela não poderia fazer muito melhor.
Lorde Damien não parecia se importar. Ele disse em um tom suave:
— Acho o mesmo. Mesmo sem a guerra, tenho medo de ser solitário
demais para passar muito tempo em Londres. Robert é exatamente o oposto.
— Ele olhou na direção em que seu irmão ainda estava flertando com a
desejável Sra. Newman.
— Ele parece andar na sociedade. — Foi um comentário banal e Rebecca
desejou violentamente que pudesse tomar seu chá para dar às mãos algo para
fazer, mas na verdade ela estava com medo de se envergonhar.
— Ele mencionou que vocês dois se conheciam.
Esse comentário chamou sua atenção. Quanto ele mencionara? A colisão
deles na porta? A corrida pelos jardins? Aquele quase beijo em que ela não
conseguia parar de pensar? Ela esperava que Robert não tivesse detalhado a
história toda para o irmão e rezou para que, se ele tivesse, Damien não
escolheria repeti-la agora na frente do seu pai. Certamente como adido de
Wellington, ele teria tato suficiente para não fazer isso.
Tudo teria ficado bem, exceto que ela corou. Para seu horror, sentiu a
corrente de sangue subir e o calor invadir seu rosto.
— Fomos apresentados — ela disse um pouco rápido demais, sem ousar
olhar para o pai.
— Sim, bem, imagino que sim. Você é uma boa amiga da minha cunhada,
pelo que entendi. — A expressão de lorde Damien era branda.
Muito tato. Ele fez parecer muito natural que ela conhecesse um libertino
do mais alto calibre, mesmo que seu pai o desprezasse. Ela assentiu,
agradecida por sua explicação.
— Brianna e eu somos amigas quase por toda a vida. Nossas famílias têm
propriedades muito próximas umas das outras e nos conhecemos quando
crianças.
— Nos conhecemos há pouco tempo, mas ela parece uma pessoa
adorável.
— Ela é. — Pelo menos Rebecca poderia dizer isso com convicção.
Para seu alívio, ele voltou-se para o pai e fez uma pergunta sobre a
próxima sessão parlamentar e ela foi novamente abandonada com sua xícara
de chá agora morna, mas ainda cheia. Era uma tortura não observar, mas ela
não se atreveu sequer a mover os olhos para onde Robert e a viúva bonita
estavam, pelo menos não por alguns momentos.
Para sua consternação, quando ela deu uma olhada rápida, eles tinham
sumido. Ambos.
Um mal-estar se curvou na boca do estômago.
Uma coisa era ter uma paixão sem esperança por um libertino conhecido
e outra era testemunhar suas indiscrições. Ah, ela já o vira dançar, conversar
e sorrir em salões lotados antes, mas sempre havia muitas pessoas circulando
e nunca o viu sair com nenhuma de suas apaixonadas admiradoras. Quando
um homem e uma mulher desaparecem em uma recepção campestre… bem,
ela lia as colunas de fofocas e era esperta o suficiente para saber o que
acontecia.
Eles subiram para onde os quartos estavam localizados?
Era possível.
Doía, embora ela não tivesse o direito de se sentir chateada ou traída. Ela
apenas… se sentia.
Com apenas um pequeno chacoalhar da xícara sobre o pires, ela
conseguiu deixar o chá de lado. Se não escapasse desta sala, ela acabaria
gritando. Quando se levantou, naturalmente seu pai e lorde Damien também
se levantaram educadamente. Rebecca murmurou:
— Com licença. Os lindos jardins da propriedade me chamam. Brianna os
elogiou tantas vezes que preciso ver por mim mesma.
As sobrancelhas de Damien elevaram uma fração e, para seu horror, ele
ofereceu seu braço.
— Por favor, permita-me acompanhá-la.
Não! Ele se parece muito com ele… aquele cabelo castanho volumoso e
seu perfil…
O que ela realmente desejava era ficar sozinha e se recompor. Mas se ela
recusasse a escolta oferecida por Damien, seu pai ficaria imensamente
irritado e ela pareceria grosseira. Então ela colocou os dedos na manga dele e
abriu um sorriso.
— Isso seria adorável.
Eles deixaram a sala juntos através de um conjunto de portas francesas
que ficavam abertas até o fim da tarde. Damien a conduziu pelas pedras do
enorme terraço em direção à parte de trás da casa, onde os jardins formais
estavam dispostos, pelo menos quinze acres deles, ele a informou de maneira
contida, a caminhada mais um passeio. Se ela realmente estivesse interessada
nas flores e nos arbustos esculpidos, teria ficado feliz com a companhia dele,
mas não agora, considerando as aspirações de sua mãe para que olhasse Lord
Damien como um possível candidato a marido.
Isso era muito desconfortável.
Ele selecionou um caminho e ela caminhou ao lado dele, esperando
parecer composta. Para que ele não achasse que ela era uma completa idiota
sem um osso gracioso no corpo, ela murmurou educadamente:
— Está aproveitando sua folga de seus deveres na Espanha, milorde?
Ele parecia reflexivo, um leve sorriso provocando seus lábios.
— Seria idiota dizer que não, não é? Quem gostaria de trocar esse lugar
maravilhoso, uma chance de ver minha família e amigos e tempo para relaxar
pelas dificuldades da guerra?
Rebecca não sabia ao certo como responder. Se ela não estava enganada,
havia um ligeiro sarcasmo no tom dele, mas ela não o conhecia o suficiente
para julgar.
— Eu sou — ele disse sucintamente — ocasionalmente tolo.
Ela piscou.
— Entendo que preferia estar de volta à Espanha?
— Eu gosto dos meus deveres — ele admitiu. — É um prazer me alinhar
contra Bonaparte e suas ambições venais. A visita à casa é agradável, mas,
embora possa parecer estranho, estou ansioso para voltar à guerra.
— É admirável. — Em segredo, ela lia as notícias do jornal avidamente
sobre a busca de libertar o domínio inexorável do imperador sobre a Europa.
— Todos, desde o próprio duque de Wellington até o soldado mais humilde,
arriscam muito pela Inglaterra e pelo mundo.
— Eu gosto do desafio.
Ele falava a verdade, ela podia perceber. Rebecca sorriu para ele. Foi o
primeiro sorriso genuíno que ela conseguiu dar desde que chegou a Rolthven.
— Acredito que sim.
— Também amo minha família, não me entenda mal, mas não sou Colton
com suas propriedades e responsabilidades. Nem sou Robbie com sua atitude
de joie de vivre em relação à vida. Não que meu irmão mais novo seja
superficial de alguma forma. Não tenho certeza se é do conhecimento geral,
mas ele tem um talento especial para números de qualquer tipo, desde
investimentos financeiros a jogos de cartas. Nunca aposte contra ele,
senhorita Marston, pois garanto que perderá.
Por que eles estavam falando sobre Robert de novo?
Ou ela era apenas sensível ao assunto? Era natural o suficiente que ele
mencionasse seu irmão mais novo.
Rebecca murmurou:
— Devo levar seu aviso a sério, para não ser atraída para uma competição
desse tipo.
— Ele também é um violoncelista brilhante. A senhorita sabia?
Por que ele pensaria que ela sabia alguma coisa sobre um ladino como
seu irmão mais novo?
— Claro que não — ela disse bruscamente. — Não passamos de
conhecidos.
— Estava pensando — disse Damien, em seu tom calmo e divertido — se
Brianna poderia ter mencionado. Robbie não fala sobre isso, naturalmente,
pois a música não é um passatempo tão viril, mas ele tem um verdadeiro
talento para isso. Mais uma vez, acho que é o matemático nele. Ele pode
facilmente olhar para uma peça de música e entender o tempo e o ritmo sem
sequer ter que pensar nela como o resto de nós.
Rebecca sentiu como se seu coração tivesse parado de bater. Robert era
músico? Por um instante, ela fechou os olhos. Não foi nada, apenas uma
pequena vibração, mas aconteceu contra a vontade dela.
O amante dos seus sonhos era sua alma gêmea. Ela imaginou seus dedos
longos e graciosos segurando um arco e então os imaginou deslizando sobre
sua pele.
Agora ela podia adicionar um novo devaneio ao seu repertório.
Maravilhoso. Essa seria sua ruína.
— Que inteligente ele é. — O resmungo inadequado era decididamente
não inteligente, então ela desviou a conversa da possibilidade de mais
revelações desconcertantes sobre Robert Northfield. — E você, milorde?
Quais são seus talentos?
Seu rosto assumiu uma expressão enigmática.
— Não sei se é um talento, mas consigo pensar como o inimigo. Estou
certo de que as jovens refinadas não precisam se preocupar com esses
assuntos, mas isso ajuda nosso esforço para frustrar os franceses de vez em
quando.
Longas sombras se prolongaram pelo caminho, e os sons de sua passagem
ao longo do cascalho misturava-se com o gorjeio dos pássaros nas árvores
ornamentais e mais além, nos enormes olmos do parque gramado. Rebecca
respirou fundo e soltou o ar suavemente.
— Tenho certeza de que é um talento de que a Inglaterra precisa. Não se
engane, algumas jovens refinadas também se preocupam com a guerra,
milorde.
— Verdade? — Ele olhou para baixo e ela pensou ter visto um vislumbre
de diversão nos olhos dele, apesar da firmeza de seu tom. — Presumo que
seja uma delas. Perdoe-me, então, por subestimar seu interesse em nossa luta
contra Bonaparte.
— Não há nada a perdoar. — Ela fez uma careta. — Minha mãe acha
meu interesse na política pouco atraente.
Um eufemismo. Falar sobre a guerra foi colocado na mesma categoria de
admitir ser capaz de compor músicas.
— A senhorita é feminina em todos os sentidos, milady — ele disse
galantemente.
— Obrigada.
Ele apontou para a frente, onde uma pequena construção típica de jardins
grandes se empertigava à beira de um lago reluzente. No sol da tarde, parecia
encantador e tranquilo.
— Vamos por aqui? É um lugar agradável para sentar, que não envolve
carrinhos de chá e o burburinho de uma dúzia de outras conversas.
— Se o senhor quiser. — Rebecca inclinou a cabeça, sem saber se queria
se sentar, mas impotente para recusar sem parecer rude. Os degraus rasos
levavam a um ambiente requintado como uma pequena casa de veraneio, ela
descobriu, o interior contendo pequenos sofás com travesseiros macios em
cores brilhantes, mesinhas espalhadas por toda parte, e até um armário
completo de bebidas com copos de cristal e diversos jarros alinhados de
forma artística. Rebecca escolheu uma cadeira que dava para uma das vistas
abertas para a lagoa e se instalou nela, alisando conscientemente as saias.
Damien Northfield apoiou um ombro contra um dos pilares gregos e ergueu
um olhar muito desconcertante em sua direção.
Então, para sua completa e absoluta surpresa, ele disse:
— Melhor agora? A senhorita parecia um pouco infeliz antes.
Lá se ia a chance de que ele não tivesse percebido.
Ela abriu a boca para negar, mas ele a impediu com outro comentário
perspicaz.
— Não estou tentando bisbilhotar, garanto. Se optar por não dizer uma
palavra, considere o assunto encerrado.
Era tentador mentir, aceitar a oferta dele, mas no momento ela se sentia
derrotada. Juntando a presença dos pais, a conhecida aversão de Robert às
jovens elegíveis e agora a graciosa Sra. Newman, ela definitivamente fora
derrotada. A presença da adorável viúva não era algo que ela havia previsto.
Talvez ela precisasse do livro de Lady Rothburg. Por conta própria, ela não
tinha ideia de como proceder. Ou ela deveria tentar? A aversão não
disfarçada de seu pai a Robert era um verdadeiro obstáculo. Rebecca apenas
balançou a cabeça.
— Eu esperava que ninguém notasse que eu não estava prestando atenção
na conversa. Por favor, desculpe minha distração.
— Ser observador é uma segunda natureza para mim agora, depois de
alguns anos na Espanha. — Damien inclinou a cabeça apenas uma fração,
como se estivesse estudando o rosto dela. — Robert mencionou a senhorita
antes.
Bem, isso foi direto ao ponto.
Então ele a pegou observando seu irmão. Talvez ela ainda pudesse blefar
sobre isso. Ela esperava que as mentes dos inimigos fossem as únicas que ele
pudesse ler. Um calor traidor lavou seu rosto pela segunda vez. Algum
vestígio de orgulho a fez fingir confusão, apesar de corar.
— Você está se referindo a lorde Robert?
— De fato. — Sua resposta foi seca. — Aquele que me disse que você era
linda e charmosa. Aquele que você observou secretamente durante todo o
curso do chá, sem consumir uma gota da xícara ou um pedaço de comida.
Robert Northfield achava que ela era linda? E charmosa? Ela não tinha
certeza do que a agradava mais, mas, nos homens, ela achava que o primeiro
poderia ter mais peso. Ela não conseguia pensar em absolutamente nada para
dizer.
Damien continuou em tom de conversa.
— Suponho que realmente não é da minha conta, mas tenho a impressão
de que vocês dois estão familiarizados, mas querem dar a impressão de não
se conhecerem. Admito que isso despertou meu interesse.
Era verdade que, quando Rebecca entrou na sala de estar, ladeada por pai
e mãe, Brianna havia apresentado seu cunhado, e Rebecca murmurou algo
totalmente desnecessário sobre como ela achava que eles talvez já tivessem
se conhecido antes. Se alguém estivesse prestando atenção, dificilmente seria
uma apresentação convincente. Robert certamente tinha se divertido. Ela
podia ver naqueles olhos azuis antes que ele se curvasse brevemente sobre
sua mão.
— Não acho que familiar seja a palavra certa. Fomos apresentados
brevemente na última temporada e depois nos encontramos recentemente.
Isso é tudo.
— Eu consentiria em acreditar na senhorita se não corasse toda vez que o
nome dele aparece na conversa.
Havia refúgio em indignação, mesmo que ele estivesse irritantemente
correto. Sua cor estava intensa no momento, ela tinha certeza. Rebecca
endireitou a coluna.
— O senhor é muito direto.
— Às vezes — ele admitiu, erguendo levemente as sobrancelhas. — Eu
também posso ser desonesto. O que quer que a situação exija. A senhorita
pode ter isso em mente.
— O que isso significa? — Rebecca olhou para ele com total confusão.
— Significa que meu irmão mais novo, cuja reputação faria até um
libertino experiente corar, finalmente está demonstrando interesse em uma
jovem que parece retribuir. Eu não seria um irmão digno se não achasse
divertido. Definitivamente, eu não seria um irmão digno se não gostasse da
ideia de testemunhar sua possível queda.
Os homens eram apenas as criaturas mais estranhas, ela pensou com uma
pontada de irritação.
— Talvez eu seja mais obtusa do que pensava, mas receio não estar
entendendo muito bem o senhor, lorde Damien.
— O que quero dizer é que possui um aliado, senhorita Marston, caso
opte por envolver seu adversário.
— Meu adversário?
— Nunca ouviu falar — disse ele com diversão aberta — que jovens
solteiros desonestos são bastante resistentes à ideia de matrimônio? Robert,
em suposição, será mais resistente que a maioria. Ele tem dinheiro, então não
precisa do seu dote. Ele tem liberdade infinita e mostrou uma propensão a
apreciá-la. Isso será um desafio.
— Não existe “isso”. — Rebecca entrelaçou as mãos com força no colo,
desistindo de negações, já que obviamente havia se traído. — Se o senhor
está certo ou não sobre o possível interesse de seu irmão, existe um problema
intransponível na antipatia de meu pai por Robert. Não sei o que aconteceu
com ele, pois não mostra aversão ao duque ou ao senhor. É obviamente
pessoal.
— Robert e seu pai? — Damien se endireitou, suas sobrancelhas escuras
se unindo. — E a senhorita não tem ideia do porquê?
Ela balançou a cabeça, impotente.
— Além disso, Robert e a Sra. Newman…
— Isso não é nada — ele comentou quando ela se interrompeu. — E
quanto ao outro problema, admito que o acho bastante interessante. Deixe-me
ver se consigo reunir mais informações. É o segredo de qualquer campanha
bem-sucedida.
O que define prazer? Uma alegria física, um momento sereno, uma
apreciação por algo bonito?
Um encontro sexual pode ser os três, se orquestrado corretamente.
No capítulo intitulado: Depois é tão importante quanto antes
POR QUE CADA vez que fazia amor com sua linda esposa Colton estava
convencido de que era mais tempestuoso e prazeroso que a anterior?
Desta vez não foi exceção.
Seu clímax inflamado, em conjunto com o terceiro dela, foi tão selvagem,
tão primitivo, tão arrebatador que ele poderia ter parado de respirar, seu
pescoço arqueado para trás, para que cada tendão se distendesse em alívio,
seu corpo cativo à força dele. Quando os músculos internos dela agarraram e
apertaram, um orgasmo furioso consumiu seu corpo. Talvez até sua alma.
Maldição, ele pensou quando o primeiro fio de consciência retornou ao
seu cérebro, Brianna devia ter algum tipo de poder místico. Ele era um
homem experiente. As mulheres vinham se jogando contra ele desde que ele
tinha idade suficiente para entender como a interação entre homem e mulher
funcionava, e embora ele sempre tenha sido seletivo e discreto, ele se sentia
bastante versado em questões sexuais.
Com Brianna era diferente.
Muito diferente.
Mesmo na noite de núpcias, quando ela estava tímida e nervosa, ele
conseguiu obter uma resposta de seu corpo não instruído. Sua sensualidade
inesperada foi uma bênção para o casamento dele e, como homem com um
apetite sexual saudável, ele ficou agradecido por sua esposa ter apreciado
suas atenções na cama.
Havia mais do que isso também. Era difícil fazer isso, mas ele estava
começando a reconhecer para si mesmo. O desejo sexual era uma parte
normal da vida. A maioria dos homens acharia alguém como Brianna
atraente…
E esse pensamento perturbador fez as sobrancelhas dele se franzirem em
uma careta que ela felizmente não pôde ver, porque o rosto dele ainda estava
enterrado nos cabelos espalhados dela. Ele não se importava com o que a
maioria dos homens poderia querer, ela era dele.
Só dele.
— Humm. — Os dedos delgados dela deslizaram pela espinha dele.
Colton deu um grunhido deselegante ao seu sentimento tácito e se mexeu
para que ele não a esmagasse, rolando para o lado e segurando-a nos braços.
O aroma do sexo se misturava com o perfume delicado dela e ele não
conseguia pensar em nada que gostasse mais. Seu corpo úmido e
tentadoramente curvado repousava lânguido contra ele, a seda de seus longos
cabelos derramados sobre seu peito.
— Hoje tudo correu bem, eu acho — ela murmurou. — Você se divertiu?
Ele acabara de se divertir imensamente e, embora não gostasse de uma
casa cheia de convidados, no momento ele se sentia bastante indulgente.
— Foi bastante agradável. Pelo menos as pessoas que você convidou são
aceitáveis.
— Elogios. — Sua voz estava seca.
— Na verdade, é — ele respondeu. — Eu geralmente detesto esse tipo de
evento.
— Eu tinha medo de que você se sentisse assim quando planejei tudo.
— Você estava certa. — Ele tirou um cacho de ouro do ombro dela, um
calor singular que não tinha nada a ver com o seu clímax recente crescendo
dentro dele. — Você me conhece tão bem?
— Biblicamente, Sua Graça.
Colton riu. Escapou dele antes que pudesse pensar sobre isso.
— Você percebe — ele murmurou, beijando sua mandíbula — que você
consegue ser muito impertinente para uma respeitável duquesa?
— Enquanto minha natureza sincera não o repelir, não discutirei com a
avaliação.
— Você? Brianna Northfield? Não discutir? Eu acho isso difícil de
acreditar.
— Colton — disse ela rindo, mas ele amava a luz em seus olhos e
saboreava o suave aperto de seus braços.
— Mas — continuou ele — apesar do tratamento às vezes irreverente de
seu augusto marido, nada em você me repele. — Ele mordiscou o canto de
sua boca, espantado ao perceber que poderia ficar excitado novamente. Após
uma liberação tão explosiva, era uma demonstração do apelo sedutor de sua
beleza.
— Espero que sempre continue assim.
A ligeira nota melancólica em sua voz o fez parar.
— Por que mudaria?
O encolher de ombros dela era perceptível, já que ele a abraçava apertado.
— Os homens se cansam de suas esposas. De fato, poucos as desejam
profundamente, em primeiro lugar.
Ele franziu o cenho, decepcionado por ela estar absolutamente correta.
— Eu desejo você. Talvez deva se lembrar do que acabou de acontecer
entre nós.
— Seria difícil esquecer. — Ela tocou a bochecha dele, apenas um roçar
de dedos.
Sua esposa tinha um ar inocente combinado com o fascínio de uma
cortesã, ele pensou enquanto passava a mão sobre a curva flexível do quadril
dela. Cabelos dourados e aqueles longos olhos azuis da meia-noite, sem
mencionar sua boca, tão exuberante e suave. Vários dos homens presentes
elogiaram sua beleza durante a tarde e à noite. Ele não pensou muito sobre
isso porque concordava de todo o coração, mas agora que eles pareciam
discutir fidelidade, ele tinha sua própria opinião sobre o assunto.
— Você pertence a mim. — As palavras saíram um pouco cortadas
demais.
A reação de Brianna foi inclinar a cabeça para trás e dar-lhe um olhar
confuso.
— O quê?
Ele hesitou, sem saber o que havia motivado sua declaração arrogante.
Claro que ela pertencia a ele, ela era sua esposa. Ele deu a ela seu nome e sua
proteção. O problema era que, para alguns de sua classe, isso não importava.
Era prática comum que, uma vez que a esposa tivesse dado ao marido um
herdeiro, ela pudesse procurar entretenimento em outro lugar se quisesse,
desde que fosse discreta.
Brianna não. Ele não permitiria. A ideia de algum outro homem tocando-
a — bem, ele não se importava em analisar a profundidade primitiva de sua
reação a essa imagem.
Colton escolheu beijá-la em vez de se explicar. Ou talvez o beijo fosse
uma explicação, pois ele devorou avidamente a sua boca, seus braços em
volta a abraçando, seu pênis crescente contra seu quadril. Desta vez, quando
ele a rolou de costas e se estabeleceu entre suas pernas, ele a penetrou
lentamente, com controle medido, em vez de força impetuosa, ouvindo a
mudança em sua respiração enquanto a levava cada vez mais perto do limite.
O calor suave e aveludado de seu corpo o envolveu, e todos os sentidos
estavam concentrados na mulher abaixo dele; visão, som, gosto, toque, a
fragrância de sua excitação inebriante como qualquer bebida.
Depois, quando eles estremeceram juntos, quando seus corpos lisos
pararam de tremer e estavam esparramados em um emaranhado onde ele não
sabia quando um deles terminava e o outro começava, ela tocou em seus
cabelos.
— Posso lhe perguntar uma coisa?
Indulgente nem sequer começava a descrever seu humor depois de um
segundo clímax tão estonteante. Colton sorriu preguiçosamente, não
lembrando-se de ter se sentido tão satisfeito.
— Claro. Deixe-me adivinhar, um colar de diamantes?
— Eu realmente não gosto de joias, você sabe disso. Eu raramente as uso,
a menos que precise.
Ele sabia disso? Agora que avaliou o assunto, ele percebeu com uma
pequena pontada de consternação que era verdade. Raramente a via se cobrir
de pedras preciosas, como tantas damas da alta sociedade, para quem cada
bugiganga cara era um troféu. Ele era realmente tão pouco observador?
Sim, uma voz de repreensão respondeu em sua cabeça. Você tem uma
tendência a ser absorvido por sua própria vida. Agora, como ela apontou,
você a compartilha com outra pessoa. Você pode manter isso em mente.
— Eu estava brincando — ele disse, recostando-se nos travesseiros. —
Não que, se você desejasse mais joias, eu não compraria para você, mas o
cofre da família Northfield já está cheio delas e você sabe que está tudo à sua
disposição.
Ao lado dele, o lençol amarrotado puxado para a cintura, os seios
voluptuosos nus e os cabelos brilhantes derramados sobre a cama, Brianna
deu-lhe um sorriso sonolento.
— É muito mais simples do que diamantes e não vão lhe custar nada.
Ele observou os cílios dela se abaixarem, um sorriso indulgente em seu
rosto.
— O que é?
— Fique.
— Pode repetir?
Sem resposta. Ela estava dormindo. Não que isso o surpreendesse, pois
ele se sentia agradavelmente exausto e ela se levantara cedo para se preparar
para a chegada de seus convidados. Mesmo com os criados para ajudar, os
conselhos de sua avó e a eficiência da Sra. Finnegan, ele sabia que Brianna
havia trabalhado duro para garantir que cada detalhe fosse resolvido antes
que a primeira carruagem chegasse.
Fique. O que diabos isso significava?
Se o comportamento dele mudar, marque a data e analise a causa. Pode ser
que você esteja causando uma boa impressão.
Do capítulo intitulado: Causa e efeito
R ebecca decidiu que seus pais não eram as pessoas mais sutis que já
passaram pela Terra enquanto desejava rastejar para baixo da mesa
de jantar.
Era dolorosamente óbvio — e Rebecca teve a sensação desconfortável de
que todos os participantes perceberam — que ela estava sendo empurrada
para baixo do nariz de Damien Northfield como uma vaca premiada sendo
trotada por um fazendeiro abastado.
Para piorar a situação, era igualmente aparente para todos que a Sra.
Newman havia voltado sua atenção para Robert. Se era uma tentativa séria de
capturar o solteiro mais resistente da Inglaterra ou apenas o desejo de um
interlúdio agradável, ninguém sabia, mas se a mulher pensava que estava
sendo discreta sobre suas intenções, estava muito enganada.
Afinal, o que era uma recepção campestre sem a sedução apropriada,
Rebecca pensou tristemente, pegando seu vinho. No momento, a adorável
Loretta estava curvada provocativamente perto da lareira, seu decote exposto
à avaliação por sua posição, o babado frouxo em seu corpete sem fazer nada
para esconder todas as curvas superiores de seus seios.
— Você deveria relaxar sua expressão.
A leve sugestão fez Rebecca estremecer, seu vinho pingando
perigosamente perto da borda do copo. Damien, sentado — pelas
maquinações de sua mãe — ao lado dela, inclinou-se para perto como se
dissesse algo íntimo.
— Ele está conversando com ela, mas observando a senhorita. Não me
divirto tanto há anos.
Robert a estava observando? Se estava, ela não sabia dizer, mas, na
verdade, estava se esforçando ao máximo para não o ver.
— Minha expressão? — ela perguntou com a voz estrangulada.
— Parece que você quer arrancar o coração dela. Isso seria decididamente
indesejável na mesa de jantar.
— Sua diversão é notada, milorde.
Damien riu baixinho e voltou sua atenção para o peixe.
Maldito seja. Ela teve prazer na profanação silenciosa, mesmo enquanto
reprimia um gemido interior por causa da observação perceptiva dele. Do
outro lado da mesa, sua mãe havia visto o diálogo particular e sorria.
Bom Deus, que pesadelo.
Rebecca atacou seu bacalhau assado com molho de manteiga com falso
entusiasmo, embora seu apetite fosse inexistente. Ela conseguiu engolir
algumas mordidas, cuidadosamente focada em seu prato — em qualquer
coisa, menos em Robert e em seu sorriso infame e infeccioso. A luz das velas
do candelabro fazia algumas coisas perversas na estrutura de seu rosto,
enfatizando suas elegantes maçãs do rosto e a linha sedutora de sua boca.
Pare com isso, ela instruiu a si mesma, antes que você se envergonhe e
outras pessoas comecem a notar.
O que Lady Rothburg sugeriria nessa situação? O mesmo tipo de
comportamento coquete e atraente que a Sra. Newman exibia do outro lado
da mesa? Certamente havia uma maneira melhor; Rebecca simplesmente não
tinha ideia do que poderia ser. Talvez ela pedisse o livro a Brianna hoje à
noite. Ou buscaria essa medida drástica ou desistiria e seguiria os comandos
de seus pais, escolhendo um marido.
Com uma determinação sombria, Rebecca devorou a carne assada e as
batatas com creme, embora seu estômago não estivesse exatamente firme.
Uma onda de alívio tomou conta dela na chegada da sobremesa. Assim que
os pratos fossem limpos, os homens tomariam seu vinho do porto e as damas
se reuniriam para algumas fofocas depois do jantar. Ela, por outro lado, podia
fingir dor de cabeça e fugir para o quarto.
Era um plano perfeito, já que suas têmporas latejavam de verdade.
Até que ele foi meticulosamente frustrado.
Quando ela tentou se retirar, o olhar que recebeu de sua mãe poderia ter
transformado uma montanha em escombros.
— Talvez você só precise de um pouco de ar fresco. Saia para o terraço,
minha querida. Talvez lorde Damien a acompanhe.
Não havia como ela aguentar mais quatro dias dessas tentativas
escancaradas de juntar os dois. Rebecca pigarreou.
— Estou certa de que ele está tão ansioso pelo vinho do porto quanto os
outros senhores. Estou bem sozinha.
— Eu tenho certeza de que ele insistirá.
Bem, agora ele não tinha outra escolha, ela pensou zangada. Damien
inclinou a cabeça.
— Eu ficaria encantado, é claro. Mas prometi à Sra. Newman mais cedo
que mostraria a ela um raro mapa da Manchúria que temos na biblioteca esta
noite. Talvez Robert pudesse escoltar a senhorita Marston?
Um olhar de horror cruzou o rosto de sua mãe. Rebecca abafou uma
risada audível. Uma coisa, é claro, era empurrá-la porta afora no braço do
solteirão mais cobiçado, outra inteiramente diferente, enviá-la alegremente
para um passeio com um libertino conhecido, mesmo que os dois fossem
irmãos.
— Eu… eu, bem…
— Naturalmente, seria um prazer — Robert interveio suavemente, talvez
em um esforço para ajudar Damien a escapar da manobra aberta, talvez
porque ele achasse divertido provocar sua mãe, ou… ela hesitou em acreditar,
poderia Damien estar certo? Robert poderia estar realmente interessado? Ele
murmurou: — Eu também gostaria de um pouco de ar fresco. Vamos?
E com tanta facilidade, Rebecca se viu em seu braço, seu coração batendo
forte pela proximidade, embora felizmente ela não tenha colidido com ele
enquanto saíam da sala de jantar repetindo o último encontro.
Um começo muito melhor do que a última vez em que ficaram sozinhos.
Também não havia o irritante lorde Watts em seus calcanhares, ela pensou,
não tendo certeza se deveria agradecer a Damien ou não. Claramente, ele
achava a paixão dela por seu irmão mais novo divertida o suficiente para
interferir, ou talvez ele estivesse apenas tentando se poupar do casamento
para o qual a mãe dela o empurrava.
Robert realmente a estava observando durante o jantar? Rebecca olhou de
relance para o homem alto ao seu lado através dos cílios. Como da última
vez, ela se viu com dificuldade de achar palavras. Se havia uma chance de
que ele a achasse atraente com a metade da intensidade com que ela o fazia…
bem, ela precisava saber se era verdade.
Ela estava desesperada para saber se era verdade.
Eu preciso daquele maldito livro…
— Está frio lá fora. Gostaria de um xale?
Sua pergunta a fez pular sem motivo algum.
— Uhm, não… não, obrigada. Estava bastante quente lá dentro. Frio soa
delicioso.
— Suas bochechas estão um pouco vermelhas.
Claro que estavam. Como Damien apontou, ela corava de forma
consistente na presença de Robert. Era irritante que ela não pudesse controlar
isso e agora até ele havia percebido. Que humilhante.
— Estou muito bem, garanto-lhe. — Soou mais estridente do que ela
pretendia.
— De fato. — Robert a seguiu para fora, parecendo o perfeito libertino
afável em suas roupas de noite, com um leve sorriso na boca. — Diga-me,
senhorita Marston, você está gostando da recepção até agora? Percebo que
minha cunhada fez o favor de manter o persistente lorde Watts fora da lista de
convidados.
— Isso porque se ela o tivesse convidado, Brianna sabe que eu a teria
estrangulado — ela disse com seriedade. — Meus pais o consideram
extremamente aceitável. Minha opinião difere um pouco.
O ar frio trazia um calafrio de outono, mas era maravilhoso ao atingir
seus ombros à mostra. Nuvens se acumularam ao longo do dia, a lua
obscurecida por uma névoa. Perto, um pássaro cantava em um som baixo e
triste. Seus passos ecoaram na pedra lisa, o enorme terraço deserto, exceto
pela presença deles.
Eles estavam sozinhos.
Bem, por enquanto. Sua mãe não ficaria contente com a situação por
muito tempo. Rebecca nem queria pensar no que seu pai poderia fazer.
Robert levantou uma sobrancelha, divertido.
— E agora eles parecem favorecer Damien.
Ele também percebera. Bem, talvez ela não devesse sentir uma onda de
júbilo, uma voz prática apontou. Provavelmente não significava nada. Todos
os convidados sem dúvida notaram como seus pais a estavam empurrando
para os braços de seu irmão.
— Sim — Rebecca murmurou. — Pobre homem.
Robert riu.
O som continha uma nota convincente que ela desejava poder captar em
música. Havia algo especial em seu rosto também, quando ele dava aquele
sorriso de sempre que fazia seus joelhos parecerem fracos. Os dois irmãos
dele eram igualmente bonitos, ela supunha, mas o carisma de Robert era o
que a atraía. Tinha uma energia; uma força vital e, embora ela dificilmente
fosse uma especialista no assunto da sedução, ela imaginaria que se ele devia
seu sucesso com as mulheres a alguma coisa, era a essa atração inegável.
— Ele sobreviverá. Costuma-se esquecer que meu irmão mais velho dá
conselhos a um dos homens mais importantes de nossos tempos — comentou
Robert enquanto caminhavam para a balaustrada em que apoiou um quadril,
virando-se para encará-la. — Damien não parece astuto, mas é. Quão bem
feito foi aquilo lá atrás? Um resgate rápido com uma manobra pequena, mas
criativa.
Rebecca não pôde deixar de fazer uma careta.
— Suponho que por “resgate” o senhor queira dizer que ele evita a
técnica mais que óbvia da minha mãe.
— Na verdade, eu estava pensando mais em mim e na determinada Sra.
Newman. A senhorita realmente acha que ela se importa com um mapa da
Manchúria? Eu duvido. Eu não acho que a geografia seja um dos interesses
dela. Ela parece estar mais absorvida no estilo mais recente de chapéus do
que nas montanhas de países distantes.
— Pensei que gostasse dela. — Rebecca provavelmente não deveria ter
dito isso, mas saiu mesmo assim. Ela apressadamente alterou: — Pelo menos
essa foi a minha impressão.
— Foi? — Seu tom era seco e seu olhar cintilou sendo demovido do foco
no jardim dos fundos. — Como a maioria das coisas na vida, as aparências
podem enganar. — Ele encolheu os ombros. — Não quero parecer mal-
educado. Ela é uma jovem bastante agradável.
O alívio tomou conta dela, pois isso dificilmente parecia a observação de
um amante. Se eles realmente tivessem desaparecido antes para um encontro
romântico, certamente ele não estaria tão desapegado. Ele podia ter uma
reputação de se envolver em assuntos casuais, mas ela nunca tinha ouvido
falar que ele deixava para trás um rastro de corações partidos. Se ele fosse tão
insensível, não seria tão popular em todas as esferas; se o descuidado
levantamento de seus ombros largos fosse alguma indicação, o leve flerte não
levara a uma sedução.
Ela não tinha o direito de se sentir aliviada, lembrou a si mesma.
Ela não tinha direitos quando se tratava do homem que estava ao seu
lado.
— Entendo. — Isso não foi um comentário brilhante, mas ela não tinha
certeza.
— Mesmo? — ele perguntou com uma voz suave. Olhando para ela de
uma forma que fazia seu pulso ser sentido na garganta.
Ele poderia fazer isso, ela lembrou-se bruscamente. Seduzir com um
olhar, um sorriso, um toque. Isso não significava que Damien estava correto.
Mas lhe dava esperança de que estivesse.
—Rebecca
E ntendo que lorde Robert partiu muito cedo.
levantou os olhos bruscamente, sem saber como interpretar a
observação de Loretta Newman — ou se havia alguma interpretação. Talvez
a mulher estivesse apenas conversando.
— Ele partiu? — Rebecca pegou um pedaço de torrada e deu uma
pequena mordida.
— Na luz do amanhecer. É um dia desagradável para viajar, não é? — A
Sra. Newman olhou para a janela, que mostrava manchas de umidade. A
manhã estava sombria e cinzenta, mas pelo menos coincidia com o fim da
festa, não o começo. Quando Rebecca se levantou e desceu para tomar café
na vasta sala de jantar, descobriu que Robert tinha cumprido sua palavra e
partido para Londres horas antes, apesar da garoa caindo constantemente do
céu cor de fuligem.
— Pelo menos tivemos muito sol durante a nossa estadia. — Foi uma
observação banal. Ela esperava que a viúva bonita estivesse apenas
conversando informalmente, mas sua seleção de assuntos deixou Rebecca
cautelosa. Sentaram-se em relativa privacidade no final da longa mesa, duas
das últimas convidadas a descer para a refeição da manhã. Rebecca tinha
quase certeza de que dormira não havia mais de uma hora, não tinha certeza
se aquele beijo glorioso era algo para comemorar ou simplesmente destinado
a se tornar uma lembrança agridoce.
Loretta pegou a geleia.
— Bem, sim, o tempo esteve generoso. A companhia também foi
encantadora. A duquesa fez um trabalho admirável para alguém tão jovem e
inexperiente como ela. Afinal, é uma família bastante ilustre para se casar.
Tenho certeza de que você concorda, já que deseja entrar nela pelo casamento
também.
O que quer que ela esperasse, não era um comentário tão franco. Rebecca
pegou uma colher de ovos para desculpar sua imediata falta de resposta.
Então ela esfregou os lábios com o guardanapo e murmurou:
— Lorde Damien seria um ótimo marido.
— Não. — A senhora Newman sacudiu a cabeça, com um sorriso
malicioso na boca. — Ele seria um bom marido na opinião de seus pais.
Vamos ser francas uma com a outra. Robert é quem atrai você.
Então, ela tinha uma lista de pessoas que haviam notado seu interesse
pelo filho mais novo de Northfield. O pai dela. Damien. Agora a senhora
Newman. Quantos outros? Brianna não disse nada, mas a verdade é que
estava preocupada em seduzir seu duque.
— Tenho certeza — disse Rebecca com o máximo de equanimidade
possível, pois ficou perturbada discutindo e irritada com a presunção de que
faria isso — que entende o porquê, já que ele também a atrai.
— Vejo que agora estamos conversando de mulher para mulher.
— Aparentemente sim.
Houve uma pausa enquanto Loretta bebia seu chá. Então ela o deixou
deliberadamente de lado.
—Você não é tão despretensiosa quanto eu pensava. E já que estamos
sendo tão abertas uma com a outra, desejo-lhe boa sorte. É certo que, quando
chegamos, achei que lorde Robert poderia ser uma distração muito
agradável… mas comecei a ver seu interesse em outro lugar. Pelo que
entendi, pela maneira como ele está agindo, acredito que há esperança de que
você possa ter sucesso e fazê-lo ver o que é certo. Agora, se me der licença,
acho que a carruagem deve estar pronta para minha partida.
Mais do que um pouco espantada, Rebecca a observou partir.
Ela simplesmente tinha que falar com Damien. Apressadamente, ela se
levantou e saiu da sala de jantar, deixando o resto do café da manhã intocado.
Lorde Damien, ela foi informada pelo mordomo muito formal, estava
com o duque em seu escritório.
Seu coração afundou. Desafiava a imaginação a ideia de bater na porta do
escritório do duque de Rolthven e pedir alegremente para falar com seu
irmão. Rebecca tinha certeza de que até Brianna não interrompia o marido
quando ele estava em reunião ou trabalhando. Também era perfeitamente
possível que Robert não tivesse dito nada sobre o beijo de qualquer maneira.
Talvez ele tivesse simplesmente expressado aborrecimento pela tentativa de
jogo de Damien e deixado para lá.
Então, o que ela fazia agora?
…você não é como…
Não, ela não era. Ela não era nada parecida com as belezas experientes
que o notório Robert Northfield normalmente perseguia. No entanto, ele
estava atraído por ela de qualquer maneira. O suficiente para beijá-la de uma
maneira que teria cumprido as fantasias de qualquer jovem. Ela se lembraria
do toque da boca dele, quente e macia na dela, até que respirasse pela última
vez. Não tinha sido ardente ou apaixonado, nada projetado para varrê-la e
subjugá-la, mas, em vez disso, tinha sido perfeito. A menos que ela fosse uma
idiota completamente apaixonada e não tivesse certeza de que a descrição não
se encaixasse, ela pensava que também havia sido diferente para ele. Havia
uma certa reverência no leve toque da mão dele na cintura dela e ela podia
jurar que a emoção em seu rosto era genuína.
Em resumo, ela pensou que talvez ele estivesse tão confuso quanto ela e,
para um ladino experiente, isso significava alguma coisa.
Rebecca ergueu os ombros.
— Seria possível ver a duquesa?
O mordomo de Rolthven, imponente e de cabelos brancos, inclinou a
cabeça.
— Acredito que ela esteja no vestíbulo, despedindo-se de alguns
convidados, minha senhora.
Rebecca a encontrou alguns minutos depois, o tique-taque do relógio
ecoando em sua alma. Quando lorde Emerson fez uma reverência e saiu da
sala, ela esperou até o lacaio fechar a porta depois do cavalheiro que partia
antes de dizer com a mesma pressa informal que usava quando eram mais
jovens:
— Preciso de um favor, Bri.
Brianna percebeu a urgência em seu tom.
— Claro — ela disse simplesmente. — Qualquer coisa. Do que precisa?
Isso estava realmente ficando arriscado, mas Rebecca já não se
importava.
— Importa-se de interromper seu marido e Damien no escritório por
mim? Não tenho coragem de bater na porta e me fazer anunciar, mas preciso
mesmo falar com ele.
A boca da amiga se abriu em surpresa.
— Certamente vou, se você desejar. Com qual dos dois você precisa
falar?
Rebecca reprimiu uma risada nervosa.
— Sinto muito, provavelmente não estou fazendo muito sentido, mas
meus pais vão descer diretamente para que possamos seguir viagem e, bem,
preciso ver lorde Damien, se possível, por um momento.
Houve uma ligeira hesitação quando ficou óbvio que Brianna queria
perguntar o porquê, mas ela provou ser o melhor tipo de amiga. Ela apenas
assentiu.
— A sala matinal estará deserta agora. A avó de Colton só a usa para
responder sua correspondência. Isso serviria?
— Perfeitamente, obrigada. — Gratidão não descrevia os sentimentos de
Rebecca porque ela nunca havia estado tão perturbada na vida.
Toda aquela introspecção durante a noite trouxe algumas convicções
muito surpreendentes.
A mais convincente de todas era que ela só queria se casar por amor.
Outra conclusão foi de que se o incidente da noite anterior fosse a única
vez em sua vida que Robert a beijaria, ela ficaria desolada para sempre.
Seguindo o lacaio que Brianna instruiu para escoltá-la, Rebecca se viu em
um espaço pequeno e encantador, com uma delicada mesa folheada, aninhada
por uma janela, a cena sombria do lado de fora de vidro com chuva e jardins
úmidos iluminados por paredes amarelas pálidas. Ela andou e olhou para
fora, se perguntando o que ela ia falar.
Quando Damien chegou alguns momentos depois, ela ficou parada,
olhando para as roseiras caídas e exageradas. Havia diversão discreta em sua
voz.
— Você percebe que se sua mãe souber que quis me ver em particular
antes de partir, ela começará a planejar nosso casamento?
Rebecca se virou, um sorriso triste curvando sua boca.
— Na verdade, eu só estava aqui de pé, me perguntando o que diabos eu
queria dizer.
Ele entrou na sala, aquele leve sorriso característico em seu rosto bonito.
— Ah, essa é a beleza de lidar com um espião. Sabemos o que você está
pensando antes mesmo que você o faça.
Rebecca levantou as sobrancelhas.
—Você é um mestre de espionagem? Pensei que fosse um conselheiro
tático ou algo assim.
— Eu tenho muitas funções. — Ele indicou uma cadeira. — Agora, sente-
se e discutiremos o que fazer com meu irmão teimoso.
Ela se sentou, sentindo as pernas moles de qualquer maneira. Damien se
acomodou em um sofá bordado com borboletas, sua masculinidade em
flagrante contraste com a decoração feminina, e ele ergueu uma sobrancelha
de um jeito que ela já havia visto antes.
— Então — ele falou demoradamente —, entendo pelo humor ranzinza
de Robert que as coisas correram muito bem na noite passada.
— Correram bem? — Rebecca puxou a saia. — Ele não está interessado
em casamento. Deixou isso muito claro.
— Minha querida senhorita Marston, odeio dizer-lhe que poucos homens
acordam uma manhã e decidem que o que eles mais querem na vida é se
amarrar para sempre a uma mulher. Vou explicar ainda que homens como
Robert — que não precisam de um herdeiro em particular, que já têm uma
fortuna e que a maioria das mulheres considera irresistíveis —são
particularmente imunes. Nesse ponto de sua vida, ele faz o que bem entende e
acredita que é feliz.
Tudo era verdade. Ela sabia disso e era praticamente o que Robert dissera
sem rodeios.
— Ele está feliz? — ela perguntou, tentando esconder a vacilação em sua
voz.
— Se eu pensasse assim, teria me encontrado na posição ridícula de
empurrar uma jovem pela janela da biblioteca?
Ele tinha razão. Uma risada borbulhou, uma mistura de desespero e
alegria com o tom seco de sua voz.
— Suponho que não — ela admitiu. — Até a Sra. Newman me disse esta
manhã que achava que ele poderia estar sinceramente interessado.
— Ela disse? Suponho que não estou surpreso, pois qualquer um que
realmente prestasse atenção notaria. Talvez, então, desde que seu sincero
interesse tenha sido estabelecido, deveríamos desenvolver um plano.
— Um plano? — Seu estômago se contraiu.
— Ou como quiser chamar, se queremos fazê-lo deixar de lado suas
dúvidas e ver o que está bem na sua frente. Eu odiaria ter um tolo teimoso
como irmão. Isso reflete mal nas linhagens da minha família.
Era um elogio, de certa forma, e embora ela tivesse sido banhada com
palavras floridas suficientes de outros cavalheiros para durar uma vida,
Rebecca nunca se sentiu tão comovida.
— Obrigada — ela sussurrou.
Ele acenou com a mão em um movimento enganosamente lânguido, mas
aqueles olhos escuros tinham um brilho reflexivo.
— Não me agradeça ainda. Minha estratégia não está definida. Vou ter
que pensar sobre isso. Derrotar os franceses é um desafio, mas domar um
solteirão determinado pode ser uma tarefa maior. E eu temendo que minha
licença me entediasse até a morte. Finalmente, um feito a realizar.
Sem conseguir disfarçar, ela esboçou um sorriso.
— Robert disse que tinha pena de Bonaparte se você o desafiasse.
Damien parecia inabalável.
— E ele deveria. Imagine o risco que meu irmão corre. Eu já posso sentir
o gosto da vitória.
O BEIJO TINHA SIDO um maldito erro, mas ele não trocaria esse erro por
nada.
E esse sentimento era tão estúpido quanto qualquer homem poderia
expressar. Robert tocou o calcanhar no cavalo. O clima úmido encharcou seu
casaco, seus cabelos e encheu o ar com o cheiro de vegetação fecunda. O
outono, detido pela luz do sol e pela brisa agradável dos últimos dias,
finalmente anunciava sua presença.
Quando chegou a Londres, horas depois, ele estava ensopado, de mau
humor, e mais inquieto do que se lembrava desde que seu pai morreu. Ele não
queria nada mais do que banhar o frio do outono e esquecer o episódio
inteiro.
Bem, exceto pelas performances emocionantes de Rebecca ao piano.
Ninguém que se considerasse um verdadeiro músico as baniria da cabeça.
Nem ele poderia esquecê-la. Ela apontou que não era mais uma garota,
mas também não era uma mulher. Não até que ela se casasse com algum
bastardo sortudo que tocaria aquele corpo delicioso, provaria sua boca doce e
experimentaria a paixão em seus braços…
Se não houvesse um mal-entendido tão amargo entre ele e o pai dela, ele
consideraria ser esse homem de sorte?
Talvez.
Essa percepção era assustadora o suficiente para mandá-lo direto para o
clube quando ele estivesse com roupas secas, a memória de seus lábios
macios se separando em um convite irritantemente inocente. Desde quando as
jovens sem instrução exalam um fascínio tão irresistível?
Ele entrou em seu clube pouco depois das nove, para uma bebida e uma
refeição quente. Mas logo ficou claro que ele estava inquieto demais para
conversar, então se desculpou depois de comer apenas metade do jantar, bem
no meio de uma discussão sobre as corridas de outono, deixando vários
amigos com expressões de espanto no rosto.
Ele explicaria seu comportamento irregular em outro momento. Ou talvez
não quisesse. Com certeza ele não mencionaria o nome de Rebecca Marston.
Inquieto demais para ir para casa e ter um descanso tão necessário, ele se
viu na Curzon Street. Como ainda era cedo, decidiu visitar um velho amigo.
Batendo na porta, ele descobriu que Sir John estava de fato em casa e Robert
entregou seu cartão gravado antes de ser conduzido a uma sala informal
repleta de todo tipo de esquisitices, incluindo um totem esculpido de uma das
tribos indígenas americanas, trazido de volta após uma das viagens de John
Traverston às colônias. De uma maneira bizarra, ele se encaixava na lareira
de mármore italiana, na tapeçaria antiga representando São Jorge e seu
lendário dragão, e todos os outros itens que nunca seriam encontrados em
uma típica casa de Londres.
— Jovem Robert! — Com menos de sessenta anos, seu rosto mostrando
linhas ásperas devido ao tempo que passara ao ar livre durante suas viagens,
Sir John levantou-se de uma cadeira danificada onde estava lendo. Seus
cabelos grossos, misturados de cinza a branco, estavam desarrumados, como
sempre, e ele ainda não estava vestido para a noite, mas com calças
amarrotadas e uma camisa branca lisa. O cheiro do tabaco pairava no ar e um
cachimbo fumegante estava em uma bandeja sobre uma pequena mesa.
— Essa é uma ótima surpresa. Eu não o vejo há meses. Entre e sente-se.
Bebe algo?
Robert ainda estava com uma leve dor de cabeça da noite anterior e já
cometera o erro de provar o licor importado de Sir John antes.
— Sim, mas por favor, não essa mistura revoltante feita por monges
enlouquecidos que você me serviu da última vez.
John riu.
— Na verdade, é de um mosteiro escondido em uma parte remota de
Portugal e considerado um achado raro. Você não ficou impressionado? Ah,
então, que tal um copo de clarete comum?
— Tudo bem, obrigado.
— Para um jovem rapaz que é aventureiro em alguns aspectos, você tem
um paladar ordinário, mas muito bem. — Seu anfitrião moveu-se para
escolher um copo de uma coleção que não combinava em uma mesa de
bambu próxima, alguns deles provavelmente peças insubstituíveis que
somente Deus sabia de onde vinham. Sir John, amigo de toda a vida de seu
pai, adorava percorrer a terra e retornava de cada aventura com uma nova
coleção de tesouros peculiares, a bebida entre eles.
Robert aceitou o copo e sentou-se. Ele não tinha certeza do que o levara a
procurar Sir John.
Não, não era verdade. Ele precisava falar com alguém. Alguém mais
velho e definitivamente mais sábio. Colton era o chefe da família agora, e
Robert amava e respeitava seu irmão em todos os aspectos, mas a diferença
de três anos dificilmente o tornava uma figura paterna, sendo duque ou não.
Desde que Robert se lembrava, John Traverston fazia parte de sua vida, como
um tio excêntrico. Agora ele representava o que Robert havia perdido naquela
noite fatídica da morte de seu pai. John felizmente estava na Inglaterra na
época e prestou seu apoio gentil a uma viúva chocada e seus filhos jovens e
confusos.
Se alguma vez Robert precisou de conselhos sólidos e imparciais, esse era
o momento.
— Como foi o aniversário de Colton? — John pegou uma garrafa de
vidro verde opaco e derramou uma substância marrom em seu copo. —
Lamento não ter conseguido ir, mas, francamente, recepções campestres são
para os jovens. É o privilégio de ficar mais velho. Poder se recusar a
participar de determinados eventos. Você pode me imaginar fazendo charadas
depois do jantar?
O assunto era um gancho perfeito, mas ainda assim Robert hesitou. Ele
não tinha certeza de que tinha ido falar sobre a tentadora Rebecca.
— Foi bastante agradável — disse ele com uma voz descontrolada, que
acabou não sendo muito eficaz.
— Oh? — As sobrancelhas brancas de John se levantaram. Ele bebeu um
pouco do líquido em seu copo com prazer óbvio e Robert abafou uma careta.
Lembrou-se de como ele quase engasgou e cuspiu de forma pouco elegante
no tapete quando provara a bebida desagradável.
— Brianna fez um trabalho maravilhoso em sua primeira incursão real
como anfitriã. Vovó ajudou e, acredito, divertiu-se imensamente. Ela fingiu
ser severa, mas eu pude ver o brilho nos olhos dela o tempo todo.
— Sua avó sempre foi uma matriarca perfeita em todos os aspectos. Real,
mas calorosa. Lembro-me de que quando seu pai e eu éramos meninos, ela
tinha a capacidade de nos aterrorizar com um único olhar, mas se fizéssemos
algo errado sem querer, em uma brincadeira, ela era a primeira a nos
defender. Até o seu avô a obedecia. Eles tiveram um bom casamento, o que é
revigorante em uma sociedade que muitas vezes coloca mais ênfase nas
linhagens e nas riquezas do que no carinho.
Casamento.
Essa palavra parecia assombrá-lo. Robert assentiu e olhou para o copo.
— Sim, eu sei.
— Seus pais também tiveram sorte nesse sentido. Foi uma união
arranjada que floresceu, mas não preciso lhe dizer isso.
Robert se mexeu na cadeira.
— Eu lembro. Agora Colton e sua noiva parecem compartilhar do
mesmo…
Ele não conseguia pensar em como terminar a frase. Não que ainda não
houvesse algum mal-entendido entre seu irmão mais velho e sua linda esposa,
mas quando estavam juntos, havia um vínculo inconfundível.
Aí estava o problema. Robert não tinha certeza de que queria esse tipo de
compromisso. Isso implicava muita responsabilidade.
— O “mesmo”? — Seu tom era gentil.
Silêncio. Maldição.
— A qualquer momento que quiser me dizer por que está realmente aqui,
fique à vontade. Não tenho planos que não possam ser alterados.
John tomou um gole de sua bebida horrorosa e simplesmente ficou
sentado, com um olhar benigno no rosto desgastado.
Bem, diabos, Robert disse a si mesmo, zombando da reprovação, ele
poderia muito bem falar tudo de uma vez.
— Existe alguém. Uma jovem mulher.
— Meu caro Robbie, não estou surpreso. Com você, sempre há uma
mulher.
— Não — Robert disse firmemente. — Não como ela.
— Entendi, então perdoe a observação burlesca. Continue. E essa moça?
— Ela é solteira.
— Entendo. — John apenas parecia vagamente divertido. — Algumas
delas são.
Isso era tolice. Por que ele estava pensando sobre isso, sobre Rebecca
Marston, cujo pai o jogaria na sarjeta pelas orelhas depois que sua mãe
tivesse desmaiado ao vê-lo chegar à sua porta.
— Muito solteira — ele expôs, esfregando a mandíbula.
— Eu não sabia que havia graus, mas continue. Portanto, há uma jovem
muito solteira por aí. Por que ela o trouxe para a minha sala nesta noite
sombria?
— Não sei por que estou aqui.
— Entendo. Posso arriscar um palpite, então?
Robert riu com um som sufocado de assentimento e John franziu a testa.
— Vou dizer que esta jovem cativou seu interesse e você, apesar de sua
determinação em ignorá-la, não consegue tirá-la da cabeça. Portanto, como a
sedução casual não é uma opção, se fosse, não estaríamos tendo essa
discussão, você é forçado, pela primeira vez em sua vida a se perguntar se a
estabilidade é tão assustadora quanto sempre considerou.
Sua boca se apertou e Robert disse mais bruscamente do que pretendia:
— Assustadora? Desculpe-me se eu me ressentir da palavra escolhida.
Não acho que sou covarde.
— Robbie, meu garoto, os medos não evaporam quando alguém se torna
homem. — John contemplou a ponta gasta de sua bota não polida. — Somos
desafiados por nossas emoções a vida toda. Penso que poucas pessoas que o
conhecem bem desconhecem sua cautela em relação ao compromisso
emocional. Você era jovem quando seu pai deixou este mundo tão
inesperadamente. Todo o foco mudou para Colton por causa da pompa e
responsabilidade do título. Ele sentiu a necessidade de se tornar de repente
um pilar de comportamento respeitável, talvez até certo ponto não necessário
em um homem de apenas vinte anos. Damien também se tornou um herdeiro
ducal direto. Ele lidou com isso absorvendo-se nas intrigas da guerra na
primeira oportunidade. Você, por outro lado, decidiu lidar com sua vida
entregando-se ao máximo de prazer possível, fosse mulher, vinho ou um jogo
de dados. Vocês focaram nos caminhos escolhidos um pouco bem demais,
vocês três.
A avaliação não era necessariamente lisonjeira, mas era perspicaz. Robert
quase engasgou com a boca cheia de vinho.
— Acha mesmo isso?
— Você veio aqui pela minha opinião, correto? — Diversão brilhou nos
olhos de John, mas ele era benevolente. — Por que você não me diz quem é
essa jovem mulher que finalmente abriu seu coração antes inviolável?
Bom Deus, ele estava relutante. Mas Robert tinha o crescente medo de
que, pelo resto da vida, ele se lembrasse do toque dos lábios dela se abrindo
sob os dele e da intrigante captura a cada expiração suave de sua respiração.
…eu não me casei por sua causa…
Mais do que tudo, ele desejou que ela nunca tivesse falado isso. Talvez,
se ela não tivesse, ele poderia simplesmente ir embora.
Mas era tarde demais para isso. Ele sabia e, além disso, ela sabia que ele
sabia.
— Rebecca Marston — ele confessou pesadamente. — Filha de Sir
Benedict Marston.
O velho amigo de seu pai se inclinou para trás, com a bebida suspensa na
mão. Depois de um momento, ele disse pesadamente:
— Creio que agora entendo seu dilema. Eu o conheço bastante bem.
Benedict não é um homem muito flexível e sei que pensa mal de você.
— Não pense que não percebi isso — Robert disse com uma pitada de
amargura. — Não há praticamente nada a meu favor. Correto ou não, ele me
despreza como um trapaceiro, minha reputação, como o senhor sabe, está
longe de ser pura, e, embora minhas finanças sejam sólidas, sua filha com
enorme dote poderia ter quem quisesse. Ele não precisa do meu dinheiro, não
tenho nada além de um título de cortesia, e até o nome Northfield não é
suficiente para facilitar essa situação.
— Você tem certeza? Falou com sir Benedict?
— Não. A aula de frivolidade não me atrai. Aceite minha palavra, ele
nunca me deixaria abordar sua filha virginal.
— Possivelmente. Talvez não. Colton exerce uma influência considerável
e Sir Benedict é um homem ambicioso.
— Dada minha reputação, não tenho certeza de que uma linhagem de
renome faça a diferença. — Robert esfregou a têmpora. — Diabos, se eu
realmente pudesse culpar o homem, John. Se a história que ele acha
verdadeira fosse verdadeira, eu não estaria apto a tocar a mão dela. Não sei se
estou mesmo assim. Até agora, eu não havia considerado as implicações de
carregar certa marca de notoriedade.
— Nosso passado tem um hábito desconfortável de se arrastar atrás de
nós. Espere até você ter a minha idade. — John o olhou com as sobrancelhas
levemente erguidas. — Diga-me, o que ela acha?
— Rebecca não conhece a história toda, mas está ciente da desaprovação
de seu pai.
— Ah, você falou com a jovem, então.
Um par de olhos azuis, cabelos sedosos como uma meia-noite enluarada,
lábios intoxicantes, macios, quentes e dispostos…
— Conversamos — Robert disse, sem vontade de discutir o beijo. — Ela
afirma que não se casou na temporada passada por causa da… sua absurda
paixão por mim.
Ele simplesmente gaguejou. Robert Northfield não gaguejava.
— É absurda? — John se torceu uma sobrancelha espessa. — Se for
mútua, quero dizer.
Robert deu a ele um olhar sombrio.
— Pode ser apenas luxúria. Ela é adorável.
— Mas você entende muito bem a luxúria, Robert. Se essa moça tem
tanto controle sobre você, talvez seja diferente.
— Uma pessoa não muda completamente sua vida por um talvez. —
Robert realmente não conseguiu ficar sentado nem mais um momento, então
se pôs de pé. Ele caminhou até o totem e olhou para um dos rostos
sorridentes. — E se não for da minha índole permanecer fiel? Eu a
machucaria e…
— E você não aguentaria fazer isso — John terminou por ele quando
hesitou. — Isso diz muito aqui. Seu sentimento está no alinhamento
adequado, pelo menos. Ele suspeita desse romance?
Ele sendo Sir Benedict. Robert pensou no comentário de Loretta Newman
e na interferência de Damien. Aquele olhar sombrio que ele recebeu na noite
em que passeava com ela no terraço também não foi sutil.
— Outros perceberam, e Sir Benedict é um homem observador. Eu acho
que ele suspeita. Embora eu nem tenha certeza de que eu suspeito de um
romance.
— Desculpe-me — disse John gravemente, mas havia uma pitada de riso
em sua voz —, mas acho que sim. E eu, pelo menos, estou esperando esse
momento há algum tempo.
A desilusão pode assumir várias formas. Ocasionalmente, esconder a
verdade é um curso de ação prudente. Mas também pode ser uma sentença
de morte para um laço de confiança em formação. Se você está enganando
seu amante, seja cuidadosa.
Do capítulo intitulado: O que ele precisa saber
O RETORNO à sua rotina devia ser tudo o que ele precisava, ainda assim
Colton percebeu que precisava conscientemente tentar relaxar a mandíbula
enquanto a carruagem seguia pela rua molhada. De repente sua vida não
estava mais ordenada.
Ele e Brianna tinham voltado do campo há uma semana e embora a
celebração de aniversário tivesse sido considerada um retumbante sucesso
por todos, incluindo ele, as coisas no casamento tinham entrado numa espiral
descendente desde a noite erótica do seu aniversário.
Sua linda esposa escondia algo dele. Pensando bem, ele sentira isso há
um tempo.
Ela não deveria, ele garantiu a si mesmo, afundando ainda mais no banco
do veículo em movimento. Brianna não era traiçoeira, ou pelo menos ele
pensava que não. Muito pelo contrário, ela era acolhedora, inteligente,
interessada e muito, muito bonita.
O último detalhe lhe causava algum desconforto.
Ele estava longe de ser o único homem a notar. Ela atraía atenção aonde
quer que fosse, e embora nunca tivesse sido remotamente do tipo que flertava
com outros homens na sua presença, havia algo inerentemente sensual na sua
jovem esposa que era impossível não notar.
Era uma maldição perceber que quando um homem se casava com uma
mulher tão atraente quanto Brianna ele estaria condenado a suportar a
repugnante sensação de profundo ciúme. Colton não havia considerado o
assunto até recentemente, simplesmente porque não havia ocorrido a ele que
pudesse ter razões para se preocupar.
A carruagem parou. Ele desceu, notando que o bairro não era moderno
nem degradado, mas cheio de casas e negócios respeitáveis. O pequeno
letreiro do estabelecimento que ele procurava era discreto e bem pintado. Não
dava nenhuma indicação da natureza do serviço oferecido, e era exatamente
assim que ele queria.
Ele entrou no Hudson and Sons e imediatamente um jovem atrás de uma
mesa levantou-se e fez uma reverência.
— Sua Graça. Meu pai está esperando o senhor. Por aqui.
— Obrigado — ele disse sombriamente.
Momentos depois, sentou-se diante de um homem de cabelos escuros,
olhos tristes e um cavanhaque em um escritório desarrumado. Colton
pigarreou, imaginando se algum ser humano poderia estar mais infeliz do que
ele naquele momento, mas o Sr. Hudson o impediu, dizendo com
surpreendente empatia:
— Sua carta foi bastante direta, Sua Graça. Não há necessidade de revisar
tudo de novo. Você deseja nos contratar para seguir sua esposa, correto?
— Não desejo contratá-los para nada, mas sim, você tem razão.
— O senhor pode ter certeza de que somos muito competentes nessas
questões e que sua confiança nunca será comprometida.
— É melhor que não seja. — Colton raramente usava sua posição para
intimidar, mas isso era importante para ele. — Madame la Duchesse nunca
pode saber. Se houver um problema, tratarei dele em particular.
— Entendo. — Hudson inclinou a cabeça. — Por favor, entenda que
somos experientes nesse tipo de coisa.
— Não sou experiente nisso — disse Colton, olhando abstratamente para
onde um mapa detalhado de Londres estava pendurado na parede. —
Abomino contratá-lo, para ser franco.
— Pouquíssimas pessoas desejam passar por nossa porta, Sua Graça.
— Eu acho que isso é verdade. Com que frequência receberei relatórios?
— Sempre que desejar. Sugiro uma vez por semana, a menos que
vejamos algo fora do comum. Muitas vezes, se um caso está sendo
conduzido, descobrimos rapidamente.
— Nem por um momento eu acredito que minha esposa esteja realmente
tendo um caso.
Hudson ergueu as sobrancelhas como se dissesse: Então por que o senhor
está aqui?
Ignorando a própria dignidade, Colton disse calmamente:
— Rezo para que ela não esteja. Meu secretário lhe enviará um cheque
bancário para suas taxas.
— Eu preciso de uma descrição e alguns detalhes sobre sua rotina diária.
Como ela usa seu tempo?
— Não tenho certeza da programação exata da duquesa. Suspeito que as
coisas usuais que uma dama costuma fazer.
Era verdade. Ele não acompanhava os movimentos de sua esposa durante
o dia todo; muito pelo contrário. Como o sustento de não apenas sua família,
mas muitas outras pessoas, dependia dele, Colton dedicava a maior parte de
sua atenção ao trabalho. Brianna costumava sair para fazer compras ou visitar
amigos, e ela também realizava trabalhos de caridade em vários orfanatos,
para os quais ele dava fundos extras. O dia dela era dela e o único momento
que eles tinham juntos era à noite. Mesmo assim, ele passava a noite em seu
clube com bastante frequência. Era um arranjo perfeitamente normal para um
casal de sua estatura.
Não era de admirar que tantos homens e mulheres encontrassem a
oportunidade de ter contatos casuais.
— Eu entendo. Seria útil, mas não é uma necessidade. Meu homem vai
determinar rapidamente os hábitos de Vossa Graça.
Hudson rabiscou em um pedaço de papel, seu rosto profissionalmente
neutro.
— Não tenho certeza de que ela tenha hábitos — Colton defendeu a
esposa, embora tecnicamente falando ele fosse o acusador. — Não do tipo a
que você se refere. Houve apenas um momento aqui ou ali, quando fui
surpreendido por algumas de suas ações, isso é tudo.
— Surpreendido? De que maneira?
Sim, surpreendido. Ele precisava enfrentar os fatos irrefutáveis. Metódico
por natureza, ele até se sentou e escreveu uma lista de razões pelas quais
começou a se sentir preocupado.
Tudo começou com aquele vestido provocador que ela usara na ópera.
Ele observou que esse era o começo de sua mudança de comportamento. Ela
aumentou sua confiança no quarto em um ritmo surpreendente, fazendo
coisas que ele não podia imaginar que qualquer jovem adequada pensaria
sozinha. Inferno, ela o amarrou na cama e o levou ao clímax com a mão.
Depois, montou nele e sobre seus quadris como se soubesse exatamente o que
fazer.
Ele certamente nunca fizera amor com ela nessa posição antes. Nem
sugeriu que ela usasse a boca no seu membro. As roupas íntimas sugestivas
também pareciam estranhas para uma jovem anteriormente inocente com uma
educação cuidadosa, e ele acreditava que era uma tortura sair com ela em
público, sabendo que ela usava apenas aqueles pedaços de pano sob os
vestidos.
Nos primeiros meses do casamento, ela estava exatamente como ele
esperava. Tímida na cama, incerta, quase sempre um pouco envergonhada no
dia seguinte.
Algo mudou desde aquela época. Ele precisava enfrentar isso. Sua esposa
agora fazia amor como uma cortesã e certamente não tinha sido instruída por
ele.
Os homens a notavam, a queriam. Ela era linda e possuía uma certa
vitalidade que não passava despercebida.
Era por isso que ela se recusou a dizer a ele que estava grávida? Ela ainda
não tinha sequer mencionado a possibilidade.
Talvez a criança não fosse sua.
Santo Deus, como o pensamento o devastava. Não tinha nada a ver com a
linhagem da família, o dinheiro ou o maldito título. A ideia dela nos braços
de outro homem… Ele não suportava. Poderia ela tão docemente alegar amá-
lo e ainda assim estar traindo-o ao mesmo tempo?
Não, ele realmente não acreditava nisso, mas, ao mesmo tempo, precisava
saber.
No entanto, ele dificilmente contaria tudo isso ao Sr. Hudson, da Hudson
and Sons Enquiries, não apenas por causa de seu próprio orgulho, mas
porque nunca iria envergonhar Brianna de bom grado.
— É particular — ele disse brevemente, seu olhar firme.
Se Hudson achava que Colton estava atrapalhando sua própria causa, ele
era diplomático demais para dizê-lo.
— Entendo. Mas uma descrição física seria útil, pois sua família é sem
dúvida grande e o fluxo de pessoas é grande.
A descrição física era fácil, pois ele conhecia cada centímetro de sua
forma deliciosa, do topo da cabeça brilhante até os dedos dos pés.
— Isso ajuda? — Ele entregou uma pequena miniatura pintada
recentemente. Só o fato de entregar o estojo deu a ele uma sensação de perda.
— Muitíssimo. Meus cumprimentos. A duquesa é adorável. Diga-me, há
alguém de quem você suspeita especificamente, Sua Graça? — Hudson tocou
o retrato em miniatura de Brianna com contemplação pensativa. — Amigo,
colega, parente? Muito raramente é um estranho o traidor.
Por um momento, Colton ficou tão sentido que pensou em se levantar e
abandonar a busca. Então ele decidiu ser firme. Se sua esposa fosse inocente,
tudo ficaria bem. Se ela não fosse… bem, então ele não tinha certeza do que
faria, exceto ficar destroçado. Em mil fragmentos.
— Não.
Ele se levantou, terminando a dolorosa entrevista, e nunca havia ficado
tão agradecido por deixar um compromisso em sua vida.
Em breve, ele saberia, pensou tristemente enquanto voltava para a
carruagem.
Ele só esperava que a revelação não o mandasse direto para o inferno.
L ady R não era nada menos que um gênio. Rebecca sentiu as mãos de
seu noivo permanecerem na cintura quando ele a levantou da
carruagem e a fome ardente em seus olhos a fez sentir um aperto no
estômago. Sem dizer uma palavra, ele a guiou pelos degraus de sua casa na
cidade.
Seu noivo.
Robert Northfield, ninguém menos.
— Eu mantenho apenas uma equipe modesta. — Ele abriu a porta. — E
eles são discretos.
De fato, eles precisavam ser, pensou ela, divertida contra a vontade, para
servir a um libertino de sua estatura e com sua reputação. Para sua surpresa,
ela não se ressentiu mais da ideia, pois se lembraria enquanto respirasse do
momento em que ele a puxou na carruagem e a agarrou em seus braços.
Ele parecia desprotegido.
— Eles estão acostumados a vê-lo trazer mulheres aqui. — Ela apertou a
mão dele.
Robert balançou a cabeça, seus olhos azuis diretos.
— Ninguém como você. Nunca.
Ela acreditava que isso era verdade. Nenhuma virgem ansiosa que o
despiu desavergonhadamente em sua carruagem depois de ter proposto
casamento descaradamente, com uma promessa escandalosa de uma vida
inteira de realização sexual. Rebecca ficaria mais envergonhada por suas
ações, se não tivessem produzido o resultado desejado. Se ela tivesse
apresentado sua proposta em termos de amor romântico, contando o quanto
ela queria abraçar o filho dele em seus braços, como ela sonhava tantas vezes
com o sorriso dele do outro lado da mesa do café quanto com a paixão que
partilhariam em sua cama, qual teria sido a reação dele? Ela não tinha
certeza, mas podia adivinhar.
Para os homens, o amor representa vulnerabilidade. Quando um homem
se apega emocionalmente a uma mulher, ela exerce uma grande influência
em sua vida. Você deve entender que isso assusta a maioria deles, admitindo
ou não. Obviamente, o medo deles varia em graus de um homem para outro.
Eles abraçam a paixão, mas andam com amor com mais cuidado. É um
presente glorioso quando um homem lhe dá os dois.
O quarto dele ficava no segundo andar e ela teve um breve vislumbre de
uma cama enorme coberta de seda escura, um armário no canto, um par de
botas perto de uma cadeira esculpida, antes que ele a segurasse pelos ombros
e a olhasse nos olhos.
— Você tem certeza? Você não teve tempo para se preparar, conversar
com sua mãe ou o que as noivas fazem. Rebecca, não posso dizer com
honestidade que estou relutante em levá-la para a cama, mas posso dizer que
não tenho desejo de arruiná-la.
Um dos criados deixara uma luz acesa para seu retorno e a luz fazia
brilhar seus cabelos castanho-dourados. Ela estendeu a mão e tocou a
mandíbula dele, sentindo a leve ponta de uma barba sob a superfície raspada,
seus dedos sérios e gentis.
— Estou preparada e não preciso falar com minha mãe.
As sobrancelhas arqueadas se ergueram, mas as mãos dele deslizaram
pelos braços dela com uma leve carícia.
— É mesmo? Estou curioso para saber como.
— Mostre-me — Rebecca sussurrou evasivamente enquanto empurrava o
casaco dos ombros para poder terminar de desabotoar a camisa dele. —
Quero que você me mostre todos os aspectos perversamente maravilhosos do
que acontece entre um homem e uma mulher. Eu quero vê-lo, senti-lo.
Quando ela tirou a camisa dele da calça, ele ajudou, tirando-a dos
ombros. Seu peito era firme, a musculatura bem definida, os ombros
assustadoramente largos.
— Duvido que tenhamos tempo para toda educação perversa na próxima
hora, mais ou menos — murmurou ele, vestido apenas de botas e calças, uma
protuberância notável na frente da última. — Mas farei o meu melhor. Agora,
se você não se importa, prefiro não ser o único que está sem roupa. Vire-se,
meu amor, e vamos ver se minhas fantasias fazem justiça a você.
NÃO QUE ROBERT nunca tivesse sido seduzido, mas certamente nunca
havia sido seduzido por uma ingênua inocente. Primeiro ela propôs — e ele
aceitou — e agora, de uma maneira um tanto desajeitada, mas inteiramente
excitante, Rebecca conseguiu despojá-lo da maior parte de suas roupas com
um entusiasmo que não lembrava nada do que ele vivera em sua imaginação.
Virgens amedrontadas.
Parecia que ele precisava ajustar seu pensamento, pelo menos quando se
tratava de sua futura esposa.
Esposa.
Isso era algo que ele teria que digerir mais tarde. No momento, o latejar
entre as pernas impedia o pensamento racional.
Ele desabotoou o vestido dela com facilidade, tirou-o dos ombros sedosos
e formou uma poça de tecido cor de limão ao chão, com um suave
movimento de musselina sobre a pele macia e quente. Sob a renda recatada
de seu chemise, seus seios cheios estavam delineados de uma maneira que fez
o sangue correr pelas veias dele, e ele arrancou os grampos que prendiam
seus cabelos com dedos impacientes, jogando-os de lado sem cuidado.
A seda de zibelina caiu para baixo, cobrindo a linha graciosa de sua
coluna. Robert se inclinou para a frente e inalou sua fragrância delicada. As
mãos dele seguraram os cotovelos dela e, parado atrás dela, ele a pressionou
contra si.
— Pelo que vejo até agora — ele sussurrou em uma voz sugestiva de
necessidade erótica enquanto admirava a parte superior dos seios dela —,
você é mais do que eu imaginava. Mas preciso ver tudo.
— Eu não estaria aqui se não quisesse tudo. — Rebecca se inclinou de
bom grado no peito dele, seu traseiro aninhado com suavidade provocadora
contra suas coxas. — Eu confio em você.
Passando os dedos pelos cabelos macios dela, ele parou, sem saber se
alguém já havia dito isso antes. Eu confio em você. Certamente ela o fazia,
para colocar o futuro em suas mãos. Era lisonjeiro, e a ideia de casamento
cristalizou-se em algo mais para ele naquele momento definitivo, algo além
de suas reservas egoístas anteriores de que sua liberdade seria reduzida e sua
vida mudaria de maneira irrevogável.
— Você pode confiar em mim — ele assegurou com uma voz que refletia
sinceridade inesperada. — Qualquer coisa que você queira me dar é seguro.
— De alguma forma, eu sei disso desde o começo.
Ela estava dizendo a verdade, ou não estaria ali agora, nos braços dele,
seminua. Se ela lhe entregasse a virgindade, não havia como voltar atrás.
Não havia volta para nenhum dos dois.
Segurando-a no círculo de seus braços, ele estendeu a mão e lentamente
puxou a fita em seu corpete. O tecido se separou, a sombra entre seus seios se
aprofundou, e a roupa deslizou para baixo, expondo a carne pálida e opulenta,
firme e rígida, seus mamilos um delicado coral. Seu olhar se desviou para
baixo, para o pedaço delicado de pelos pubianos entre as coxas finas dela,
aqueles cachos escuros atraindo seus dedos.
E boca, embora talvez fosse melhor não ser muito ousado na primeira
vez, não importava o que ela dissesse. Ele seria gentil, prometeu a si mesmo,
a tensão feroz de seu membro contra o confinamento de suas calças, fazendo-
o cerrar os dentes, usar toda a delicadeza que possuía e não apressar as
coisas…
— Depressa — Rebecca disse com a cabeça apoiada no ombro dele. —
Toque-me. Faça alguma coisa. Eu estou… eu não sei.
O pedido inundou seu sangue já aquecido e, brevemente, ele se perguntou
se a ansiedade dela era resultado dessa química inconfundível entre eles ou de
uma sensualidade inata. Se ele tivesse sorte, eram os dois, ele decidiu, e a
ergueu em seus braços.
— Não se preocupe, eu vou tocar em você. — A voz dele estava longe da
indiferença praticada usualmente no quarto. Geralmente ele provocava,
tentava, brincava de flerte e desejo. Isso era diferente. — Vou tocá-la tão
profundamente que você nunca esquecerá, nunca esquecerá esta noite. Ele a
deitou na cama, seu olhar admirando todos os detalhes de pernas longas, a
curva sensual dos quadris femininos, a plenitude daqueles luxuosos seios.
Cabelos ricos e brilhantes derramavam-se por toda parte, o contraste de
escuro contra os lençóis brancos evocava as pinturas superlativas dos antigos
mestres, quando a beleza feminina era um objeto a ser reverenciado e
estudado.
E os olhos dela, tão compridos e com aquela cor luminosa incomum,
reminiscente do mar sob o sol do verão, observaram quando ele se sentou
para tirar as botas e depois se levantou para desabotoar as calças. Rebecca
não fez segredo de estudar sua ereção, seus lábios macios se separando em…
surpresa? Admiração? Trepidação?
— Você é enorme. — O olhar dela estava concentrado.
Robert soltou uma risada abafada e se juntou a ela na cama. A mão dele
acariciou seu quadril nu.
— Mas, querida, você não tem com que me comparar, não é?
— Não, mas…
Ele a beijou, tentando reprimir esse primeiro lampejo de apreensão
virginal, puxando-a para perto o suficiente, seu pênis ereto roçou seu quadril,
mas não mais, para acostumar-se à sua excitação e intenções. Com
exploração reverente, ele traçou a linha graciosa de sua coluna, o mergulho
de sua cintura, o arco de suas costelas, até que ele segurou um de seus seios
perfeitos. O peso quente e flexível encheu sua mão até transbordar. Com a
carícia íntima, ela estremeceu.
— Perfeito — Robert disse a ela, seus lábios roçando sua bochecha no
ouvido dela. Ele sussurrou: — Você é perfeita. Projetada apenas para mim.
Quantos homens pensaram em estar aqui assim, com você?
A especulação era tão estranha que ele ficou surpreso com a pergunta que
acabara de fazer. Para sua surpresa, ele ficou com ciúmes daquelas fantasias
desconhecidas, assim como ficara inquieto vendo sua valsa nos braços de
pretendentes no início da noite.
— Não consigo pensar em mais ninguém, não agora. Somos apenas nós
dois no mundo inteiro.
Rebecca virou a cabeça e beijou seu ombro enquanto ele acariciava um
seio delicioso.
Ela estava certa. Os homens que a queriam no passado foram banidos.
Eles perderam e ele ganhou. Ele disse suavemente:
— Não. Não há ninguém além de mim e você.
Naquela frase curta e baixa, tão carregada de significado, todos os
amantes de seu passado dissoluto também foram deixados de lado para
sempre.
— Estou pronta — ela sussurrou — quando você estiver.
Ele estava mais do que pronto, e a declaração ingênua dela trouxe um
sorriso para o rosto dele, pois ele duvidava que ela estivesse lá ainda, e apesar
de sua aceitação e capacidade de resposta até agora, ele tinha toda a intenção
de tornar esse momento não apenas um desfecho, mas um começo.
— Você ficará — ele murmurou com um sorriso pecaminoso quando
inclinou a cabeça — em breve.
Quando ele levou um mamilo firme e ereto à boca, o suspiro trêmulo dela
foi uma ampla recompensa.
— Robert. — O nome dele era uma única expiração, cheio de significado.
Ele se dedicou à sedução, ao prazer requintado que pretendia dar a ela, à
magia desse momento único para os dois. Normalmente ele podia ser
desapegado, exceto no nível físico de suas amantes, mas a mulher em seus
braços não estava nessa categoria.
Ele se mexeu. Ela se moveu em resposta acalorada. Sua boca procurou as
pontas eretas dos seios dela enquanto os dedos encontravam o aperto úmido
entre suas pernas. Com cada sucção, cada golpe, Rebecca se mexia inquieta,
sua tentação corporal encarnada, o roçar de sua pele contra a dele quase mais
do que ele podia suportar, às favas com sua suposta sofisticação.
Com cuidado, ele provou e provocou seus seios luxuriantes enquanto, ao
mesmo tempo, girava a mão em círculos lentos e tentadores contra as dobras
da fenda úmida. Ela apertou os ombros dele e gemeu, muito menos tímida do
que ele esperava, com as pernas separadas para permitir o acesso. A
fragrância delicada que derivava de sua pele e o cheiro mais terreno da
excitação feminina inflamavam seus sentidos e ele já estava pegando fogo.
— Diga-me como se sente — insistiu ele, exercendo a quantidade certa
de pressão, sentindo a umidade com profunda satisfação, o nó sob as pontas
dos dedos inchando.
Rebecca arqueou, seus mamilos eretos roçando seu peito.
— Parece… ah… eu…
A resposta incoerente era exatamente o que estava procurando, e ele sabia
que ela estava perto do clímax, tanto pela cor cada vez mais profunda em seu
rosto adorável quanto pelo aperto frenético de suas mãos. Ele
deliberadamente lambeu seu lábio inferior em um deslize sensual.
— Apenas espere. Acho que você está quase no limite, minha querida.
Quando ele foi ultrapassado, um grito de surpresa e prazer rasgou a
garganta dela e estremecimentos perceptíveis sacudiram seu corpo esbelto.
Robert assistia com os olhos semicerrados, sem ter certeza de que não iria
chegar ao clímax com ela naquele momento e apenas pela alegria de ser o
responsável por dar a ela o primeiro gosto de felicidade orgástica.
E ele apenas começara.
Ela queria um tutorial ousado. Era uma combinação perfeita, pois ele
certamente se qualificava como instrutor. Ele deslizou para cima, entre as
pernas ainda abertas, e se posicionou com o pênis apenas tocando sua
pequena abertura, seu sorriso preguiçoso, embora seu corpo estivesse tenso
como uma corda de violino, esperando que ela se recuperasse o suficiente
para abrir os olhos. Apoiado nos cotovelos acima do corpo trêmulo dela, ele
viu suas pálpebras tremerem para cima.
— Agora — ele disse sucintamente — você está pronta.
— Isso foi… — Ela parou e depois deu uma risada sufocada. — Não
completei uma frase desde que nos despimos, não é?
— Um bom sinal. — Robert se moveu o suficiente para testar a passagem
dela, iniciando sua penetração em seu corpo com uma pressão lenta. — A
maneira mais prazerosa do mundo de deixar uma mulher sem palavras.
Ela percebeu o que ele estava fazendo, seus olhos se arregalando.
— Assim. — Ele se abaixou e ergueu a perna dela, dobrando-a no
joelho, colocando o pé sobre a cama. — Quanto mais aberta você estiver,
mais fácil será.
Com entusiasmo encorajador, Rebecca moveu-se para fazer o mesmo
com a outra perna, as coxas abertas para a entrada dele, o olhar segurando o
dele com emoção pungente, o sorriso cativante e notavelmente sem medo.
Eu confio em você.
Nunca ele tinha sido tão cuidadoso, tão contido, tão consumido pela
luxúria que ele pensou que entraria em combustão. Quando ele rompeu a
barreira que fazia dela uma donzela e viu a pontada de dor, Robert a beijou,
na testa, na ponta do nariz, nos lábios em toques suaves e lentos para
tranquilizar e confortar.
— Vai melhorar — ele sussurrou —, eu juro. Vai ficar muito, muito
melhor.
— Não sou uma flor delicada — respondeu Rebecca com humor
surpreendente, o aperto no bíceps dele diminuindo. — E só porque eu te amo,
não significa que não espero que você cumpra sua reputação, lorde Robert.
Se o seu virtuosismo é tão lendário, mostre-me o porquê.
Eu te amo.
— Você diz isso tão facilmente — Robert murmurou em resposta, seu
membro carente pedindo que ele se movesse, mas a emoção o manteve
imóvel. Sua voz era rouca. — Rebecca, eu…
Talvez fosse a intuição feminina, mas ela sabia exatamente a coisa certa a
dizer.
— Apenas me mostre. — O pedido era um sussurro suave.
E quando ele o fez, quando ele se moveu sobre ela com golpes lentos e
seguros até que ela começou a ofegar, então gemeu e finalmente gritou, seu
próprio prazer foi tornando-se mais agudo pelo prazer desinibido dela, até
que a primeira onda contagiante se apertou em torno de seu pênis, a explosão
de êxtase sacudiu todo o seu corpo enquanto ele penetrava fundo e se perdia.
Em seus braços circundantes, em seu corpo delicioso, em sua alma.
Mal-entendidos são inevitáveis. Eles surgem na superfície quando você
menos espera e confundem os dois. Como você lida com o resultado de cada
um é uma medida de sua afeição um pelo outro.
Do capítulo intitulado: A arte da discussão.