Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Gail Ranstrom
4 - Série Entrelaçada dos
Irmãos Hunter e Irmãs O’Rourke
(James “Jamie” Hunter e Eugenia “Gina” O’Rourke)
Sinopse
Seu desejo é mantê-la como sua amante!
Era hora de fazer uma visita aos irmãos Gibbons. Gina estaria
segura o suficiente esta noite, desde que a Senhora O'Rourke proibiu
suas garotas de entretenimentos nas noites de domingo.
Os irmãos Gibbons não tinham um endereço conhecido. Quando
Devlin queria vê-los, ele simplesmente comentava e, mais cedo ou
mais tarde, os irmãos apareciam na Crown and Bear. Considerando o
que Jamie suspeitava, eles provavelmente não responderiam dessa
vez.
Felizmente, ele descobrira que eram conhecidos por frequentar
uma casa infestada de pulgas na Petticoat Lane, chamada Pata dos
Gatos. Ele deu uma cotovelada na porta e entrou, dando aos olhos
um momento para se ajustar à escuridão. O odor de corpos não
lavados e anos de cerveja e gin derramados era nocivo. Atrás dele,
Charlie tossiu para cobrir seu desgosto e eles se mudaram para uma
seção do bar mais próxima da porta.
— O que diabos vamos pedir? — Charlie murmurou baixinho.
Jamie sacudiu a cabeça. O gin os deixaria cegos e a cerveja
provavelmente era a mais pobre e diluída com água imunda da chuva.
O taverneiro, um homem com um olho bom e outro vesgo,
perguntou:
— O que vão querer, senhores?
— Garrafa de uísque. — Jamie disse. — Traga sem abrir.
Notou que eles estavam chamando a atenção e estava indeciso
se isso era bom ou ruim. A Pata dos Gatos não atraía homens da
classe dos Hunter, mas a maioria dos garotos brigões no local não
pensaria duas vezes antes de agredir um cavalheiro em público.
Quando o taverneiro trouxe o uísque, Jamie segurou-o contra a
luz. Ele estava selado e parecia claro, não nublado com a falta de
água por aqui. Ele acenou para o taberneiro, que abriu a garrafa e
entregou a ele. Jamie arqueou uma sobrancelha, tomou um gole e
estremeceu quando queimou sua garganta. Ele passou a garrafa para
Charlie, que fez o mesmo.
Jamie jogou algumas moedas ao taverneiro e dispensou os
copos sujos oferecidos.
Charlie sorriu quando o taverneiro se virou para atender a outros
clientes.
— Me perguntava o que poderíamos beber aqui que não nos
envenenaria.
— Bem, veremos como nossas cabeças estarão amanhã pela
manhã.
Uma figura alta emergiu das sombras no fundo da sala. Uma
figura menor seguiu em seus calcanhares. Eles se aproximaram de
Jamie com cautela.
— Eu te conheço. — Disse o homem mais alto. — Um dos
amigos do Farrell, não é?
— Hunter é o nome. — Jamie inclinou a cabeça para Charlie. —
E este é meu irmão, Charlie.
— Vocês estão procurando por nós?
— Sim. — Ele pegou a garrafa de uísque. — Nós queremos uma
conversa privada.
Richard “Dick” Gibbons, o mais alto e mais velho dos irmãos,
liderou o caminho para uma mesa em um canto distante. Ele e seu
irmão silencioso, Artie, estavam sentados contra a parede, deixando
Jamie e Charlie sentados de costas, uma posição perigosa nesse tipo
de lugar. Jamie deslizou a cadeira para um lado, ficando de frente
para o salão, e Charlie fez o mesmo, formando um semicírculo. Artie
sorriu com o estratagema.
Dick Gibbons estendeu um copo de latão e Jamie obrigou-se a
derramar um pouco de uísque, depois fez o mesmo com o copo de
Artie.
— Você se lembra do que queríamos da última vez? — Jamie
perguntou.
Dick assentiu.
— Eu quero de novo.
O sorriso do mais velho Gibbon deixou Jamie cauteloso, e
suspeitou que Henley pudesse ter escapado das autoridades há
algumas semanas porque os irmãos Gibbons o alertaram. A venda
dessa informação a duas partes, tanto Devlin Farrell quanto Henley,
teria gerado duplo lucro. Os Gibbons eram traiçoeiros o suficiente
para tal movimento e gananciosos o suficiente para arriscar a ira de
Devlin.
— Pensei que você tinha pegado todos.
— Sabe que não — Jamie respondeu, executando seu próprio
blefe. — E você sabe quem eu quero.
Dick parecia pensar se negava ou não.
— Henley, é isso?
Charlie tomou um gole da garrafa e olhou para os irmãos
Gibbons cautelosamente. Seu olhar para Jamie alertou para a cautela,
mas ele estava além disso. Havia apenas uma maneira de lidar com
homens como esses, claramente.
— Henley. — Confirmou.
— É perigoso. — Disse Dick. — Ele ofereceu uma recompensa
por você, não é?
— Sabe que ele sim. — Jamie confirmou. — Foi você quem
atirou em mim duas noites atrás?
Os ombros de Artie tremiam, mas sua risada parecia mais um
chiado. Seu sorriso se dividiu para revelar duas fileiras de dentes
podres. Dick encolheu os ombros, mas não respondeu à pergunta de
Jamie.
— Eu pensei que punhal fosse mais do seu estilo. — Disse
Charlie. — Foi você quem acabou com o velho Cox?
— Um homem inteligente usa o que for preciso para ter o
trabalho feito. Nós ouvimos que os Hunter são perigosos também.
Não fui pago para chegar muito perto.
— Eu não sabia que isso importava para você e seu irmão.
— Não. — Dick se recostou na cadeira e deu uma olhada para
Jamie. — Se houver dinheiro suficiente.
Aqui estava a confirmação de que os irmãos Gibbons jogariam
um jogo duplo sem o menor escrúpulo.
— Diga seu preço.
Os irmãos Gibbons uniram suas cabeças e se comunicaram de
qualquer maneira que fossem capazes, dada a relutância de Artie ou
sua incapacidade de falar. Quando Dick o encarou novamente, ele riu,
expelindo uma nuvem de mau hálito que quase enjoou Jamie.
— Considerando o risco, cem libras. — Disse ele.
Jamie manteve a expressão neutra. A soma era suficiente para
manter uma pequena família por um ano. O Ministério do Interior
nunca pagaria tanto, mas Jamie podia reunir de suas contas pessoais.
E capturar Henley tornou-se um assunto muito pessoal.
— Feito. — Disse ele. — Na entrega.
— Não é nosso jeito habitual de fazer negócios. — Disse Dick,
seus olhos apagados se estreitando.
— Se você conhece a reputação dos Hunter, sabe que honramos
nossas dívidas. E você sabe que não seria sábio nos trapacear. Vocês
já estão vivendo um tempo emprestado, tanto quanto Devlin Farrell
ainda permite.
Ambos os irmãos Gibbons pareciam nervosos pela primeira vez.
Seja devido à ira de Devlin ou dos Hunter, isso não importava. Tudo o
que importava era que os irmãos Gibbons provavelmente não os
trapaceariam novamente.
— Como os achamos quando tivermos a informação?
— No Crown and Bear depois da meia-noite. Se eu não estiver
lá, deixe uma mensagem com Mick Haddon e eu os encontrarei.
Charlie estava esperando por ele no Crown and Bear. Ele já tinha
conseguido uma mesa nos fundos e havia uma garrafa do estoque
privado de Devlin e duas taças. E Deus sabia que Jamie precisava de
uma bebida.
— Ainda não há sinal dos irmãos Gibbons. — Relatou quando
Jamie sentou-se.
— Droga! Onde eles podem ter ido?
— Apenas sabemos onde eles não estão. Não na Pata de Gato, e
não aqui. — Charlie afirmou o óbvio.
— Preciso falar com eles. Eu acho que Henley matou Metcalfe e
roubou sua fantasia para atacar a Senhorita O'Rourke, mas sempre há
a possibilidade de ele pagar para outro fazer isso. O velho Cox está
morto e houve uma tentativa contra minha vida. Aposto uma fortuna
de que haverá outras. Se alguém souber alguma coisa sobre isso,
acho que seria Dick Gibbons.
— Sim — Charlie concordou. — Se ele não está por trás disso, o
inferno sabe quem está, mas estou pensando que devemos
simplesmente colocar esses vermes fora do caminho.
— Matá-los?
— Assassinato. — Charlie corrigiu. — Embora exterminar pode
ser mais adequado para a família Gibbons. Alguns homens precisam
morrer. Eles tentaram matar você, e esta noite, depois que eu
coloquei você e Gina no coche, alguém atirou em mim. Duas pessoas,
pelo som dos passos. É um método covarde, Gibbons não arriscaria
um ataque direto a qualquer um de nós.
Jamie rapidamente olhou para Charlie, assegurando-se do bem-
estar de seu irmão.
— Um tiro?
— Covardes. Se eles parassem para recarregar, eu os pegaria.
Houve apenas um tiro na noite em que ele foi atacado. Se
tivesse perseguido o atirador, provavelmente os irmãos estariam
esperando no final do beco sem saída, armados até os dentes.
Ele suspeitava que a ideia de eliminar os irmãos Gibbons tivesse
vindo de Marcus Wycliffe, mas ele sabia que seu irmão não estava
acima de tal coisa.
— A falha em seu plano de melhorar Londres, ao eliminar Dick e
Artie, é que nunca se saberia a verdade deles. Mas devo dizer que
admiro que você não seja impedido por princípios tão elevados como
provas. Se sabe em seu íntimo que alguém tentou matá-lo, isso é o
suficiente para você.
Charlie riu.
— Sim, bem, não podemos nos encaixar nessa pequena área de
alta moral em que você está, Jamie.
— Não tão alta, Charlie. Eu mataria Henley se pudesse colocar
as mãos nele. — Admitiu.
Charlie suspirou e endireitou-se em sua cadeira.
— Estou cansado de falar desse assunto. Só por um momento,
poderíamos falar de coisas mais agradáveis? Senhorita O'Rourke, por
exemplo?
— Ela está em segurança em casa, se é isso que você está
perguntando.
— Apenas metade do que estou perguntando. A outra metade é
o que diabos ela estava fazendo em uma fossa como a Pata de Gato?
— Procurando por Henley, ou por informações sobre ele.
— Bom Deus. — Charlie resmungou baixinho. — Então, você
acabou com isso, não é?
— Pensei que tinha colocado um fim nisso uma semana atrás.
Desde então, nós chegamos a um acordo. Eu ficaria de olho nela, e a
deixaria fazer perguntas para os avós, irmãs e amigos do bastardo.
Então iria escoltá-la para casa e ter certeza de que estaria em
segurança. Agora encontrou um guia para o subúrbio de Londres.
Acha que eu não vi aquele garoto esperando por ela nas sombras,
mas simplesmente não tive tempo de lidar com ele hoje à noite. Mas
eu vou. Acredite em mim, eu vou. Enquanto isso, você pode ver o
quão bem nosso acordo funcionou?
— Extremamente. — Sorrindo, Charlie se inclinou para frente e
colocou os antebraços na mesa em uma atitude de confidencialidade.
— O que confirma minha suspeita.
Certo de que se arrependeria, ele perguntou de qualquer
maneira.
— Que suspeita?
— De que a Senhorita Eugenia interessa a você. Embora tenha a
maioria das herdeiras da sociedade comendo de sua mão, ela resiste
aos seus encantos e você não pode suportar isso. Suspeito que isto
seja mais que uma questão de orgulho. Mais do que uma questão de
proteger a cunhada do nosso irmão. Você se importa com ela, não é?
— Charlie, não me pressione com isso. Eu não estou com
vontade de satisfazer você.
— Não mencionaria isso agora, mas ela faz parte da nossa
família. Você não iria brincar com ela, iria?
Brincar? Não. Ele suspeitava que fosse mais do que isso.
— Se você está perguntando se estou tentando seduzir Eugenia,
não estou.
— Você sempre manteve seus flertes dentro do submundo.
Muito discreto. Muito seguro. Mas acho que vi algo diferente
acontecendo com a Senhorita Eugenia. Algo um pouco mais perigoso.
— Perigoso? Do que diabos você está falando, Charlie? Como ela
poderia ser um perigo para mim?
— Você só esteve com mulheres pelas quais nunca se
apaixonaria, Jamie. Cortesãs, amantes. No momento em que alguma
como a Senhorita Eugenia se aproxima você recua. Nossa pequena
Suzette é um excelente exemplo. Ela pediu demais? Certamente ela
não sugeriu casamento?
Ele balançou sua cabeça.
— Suzette é sábia demais para isso. Mas senti que ela estava
ficando mais afeiçoada a mim do que deveria. Em sua profissão, e na
minha, esses adendos não são uma boa ideia.
— Sua profissão não tem nada a ver com isso.
Jamie tomou o resto de sua bebida e começou a ficar de pé. Sua
cama estava chamando. A última coisa que ele precisava em uma
noite como essa era um sermão de seu irmão mais novo.
— Você precisa de uma boa mulher, Jamie.
— Eu tive boas mulheres. Várias, na verdade. Algumas eram
boas. Algumas eram muito boas. E alguns estavam... bem...
francamente ...
— Chega então. Mas esteja avisado de que Eugenia é diferente
dos seus interesses habituais. Ela não é adepta dos joguinhos que
divertem os homens em geral. Apesar de sua imprudência hoje à
noite, ela é muito vulnerável para brincar.
Ele se acomodou em sua cadeira. Não havia nada de
insignificante em Eugenia, e ele suspeitava que Charlie estava certo.
Jamie estava ciente de sua vulnerabilidade. Ele se sentia diferente
sobre ela em relação a qualquer outra mulher. Era algo forte. Mais...
possessivo? E ele tinha mais do que um desejo passageiro por ela.
Charlie abaixou sua taça e baixou a voz enquanto continuava.
— Eu tenho acompanhado você por toda minha vida, Jamie.
Sempre se manteve afastado de apegos estreitos e protegido de
decepções e rejeição. Por qualquer motivo, você definiu seu curso
para a solidão há muito tempo. Se não puder oferecer mais, deixe a
Senhorita Eugenia sozinha. Ela merece mais.
Ela merecia. Sabia disso desde o começo, mas ele retornou
várias vezes, desejando seu sorriso, a suavidade de sua voz, a
sensação dela em seus braços. Ele desejou agora que tivesse deixado
Charlie ou Devlin tirá-la daquele altar. Se ele nunca conhecesse a
sensação dela em seus braços, seu cheiro doce, seus suspiros, não o
incomodaria tanto agora.
Mais alguns dias. Certamente ele poderia aguentar mais alguns
dias.
— Ela deve estar segura o suficiente de mim. Elas sairão de
Londres muito em breve. Sua mãe tem caixas já embaladas. E, com
um pouco de sorte, encontraremos Henley e lidaremos com ele,
portanto não haverá mais nada para nos unir.
Charlie assentiu com compreensão.
— Acho que é melhor para as nossas famílias. Um caso infeliz
tornaria as reuniões bastante difíceis.
Jamie pegou a garrafa. Estava a caminho de casa, sentia
vontade de ficar quieto, felizmente bêbado.
Capítulo Treze
A tarde já tinha passado pela metade quando Gina se vestiu e
desceu as escadas em meio a uma agonia de suspense. Jamie a
entregou quando a trouxe para casa antes do amanhecer? Ou ele
conseguiu escapar despercebido? Ela tentou fazer com que a deixasse
no fim da rua, mas insistiu em deixá-la na porta com a promessa de
voltar mais tarde, e não havia como discutir com ele.
Encontrou sua mãe e irmã na sala de estar, conversando em
tons perfeitamente normais. Ela deu um suspiro de alívio. Se mamãe
soubesse onde estivera na noite anterior, e o que tinha feito, ela
ficaria realmente aborrecida.
Mamãe mal olhou para ela.
— Bom Deus, Eugenia! Você parece que não dormiu em
semanas! Realmente deve ficar em casa esta noite e descansar um
pouco.
Bella veio em seu socorro.
— Na verdade, mamãe, haverá tempo suficiente para descansar
quando vocês voltarem para Belfast. Deixe Gina aproveitar Londres
enquanto puder.
— Bem! Eu não preciso de conselhos de você, Bella. Depois de
ter seus próprios filhos, saberá como me sinto.
Gina revirou os olhos e suspirou. Estava cansada das
reclamações intermináveis da sua mãe, que achava que sempre
estava certa. Gina realmente precisava dormir. Tinha sido pouco
coerente ontem à noite quando Jamie a levara para casa. Exaustão e
saciedade haviam se misturado, confundindo sua mente, de modo
que tudo o que ela conseguia pensar era que nunca queria deixar a
cama de Jamie.
— Vou tirar uma soneca se isso a tranquilizar, mamãe.
Sua mãe conseguiu parecer satisfeita.
— Soneca? Você está mal, garota. O dia já quase se foi. Eu não
acho que uma soneca ajudará você agora, Eugenia. Preferiria que
você cancelasse seus planos para a noite e ficasse em casa. Essas
garotas Thayer são muito... muito...
— Muito envolventes? Interessantes? Agradáveis? Divertidas? —
Bella se levantou e foi até o bule para servir a Gina uma xícara. —
Realmente, mamãe. Você reclamou que Gina ainda não tinha feito
amigos, e agora você reclama que fez. Dê a ela uma folga nos
próximos dias, vai?
Bella trouxe-lhe a xícara enquanto se sentava no sofá e deu-lhe
um olhar de aviso, como se suspeitasse que Gina estava fugindo à
noite.
— Obrigada. — Ela disse em um tom suave, esperando que Bella
percebesse que era para ficar em silêncio e apoiá-la.
Sua irmã deu-lhe um aceno rápido, dizendo que estaria
procurando por Gina mais tarde para algumas respostas.
— Bem... — Mamãe suspirou, recostando-se contra as almofadas
da cadeira. — ...eu realmente não vejo por que Gina deveria se
preocupar em ir em sociedade. Daqui a três dias, estaremos a
caminho da Irlanda. Qual ponto há realmente em socializar agora?
Três dias? Gina se endireitou, sua mente em tumulto. Ela não
poderia estar pronta para partir em três dias. Senhor Henley, Jamie.
Bella respondeu para cobrir o choque de Gina.
— Para fazer amigos, mamãe. Fazer conexões que possam
atendê-la no futuro. Quão agradável será corresponder-se com
Hortense e Harriett para saber tudo o que está acontecendo.
— E que bem isso fará a ela, eu pergunto? Quando voltarmos à
Irlanda, é improvável que Eugenia saia de novo. Que uso ela terá
fazendo amigos na Inglaterra?
— Você não pode mapear a vida de Gina, mamãe. Muitas coisas
podem acontecer. Ela teve cavalheiros interessados em Belfast antes
de sairmos, que provavelmente aguardarão seu retorno. Eles podem
ter conexões em Londres...
— Imagina! Com ambas as irmãs casadas, Eugenia é produto na
prateleira. Quem a quererá agora, mesmo com o incentivo de seu
dote não desprezível?
Gina limpou a garganta e sorriu.
— Você esqueceu que estou na sala, mamãe?
— Ah bem. — Mamãe teve a boa graça de parecer um pouco
confusa. — Eu estava apenas afirmando a verdade, minha querida.
Você sabe que eu não pretendia nenhum insulto.
Estranhamente, Gina acreditou nela.
— Não me insultou, mamãe. — A mãe dela nunca pretendia
insultar, mas não tinha ideia de quão esbaforida era. Ela havia
planejado a vida de Gina para seu próprio benefício e não viu nenhum
motivo para consultar Gina em relação às suas preferências ou aos
detalhes.
Mamãe levantou-se e acenou com a mão.
— Eugenia, espero que você não precise de Nancy. Eu tenho
algumas compras para fazer e desejo que ela me atenda.
Para transportar os pacotes, sem dúvida.
— Estou bastante tranquila hoje, mamãe. Vá e tenha um bom
tempo.
Bella soltou um longo suspiro quando a mãe partiu, deixando-as
sozinhas finalmente.
— Gina, você é uma santa se puder imaginar uma vida inteira
ligada a mamãe.
— Para dizer a verdade, Bella, não consigo imaginá-la. Talvez
seja a única coisa que me mantém calma.
Bella riu e colocou uma mão sobre o estômago.
— Eu rezo para que você me bata na cabeça se eu tratar meus
filhos assim.
— Eu farei. Isso é uma promessa, Bella.
— Quanto a você Gina, ficarei feliz em substituir mamãe. Pelo
menos hoje. — Ela se levantou e ficou em pé ao lado da cadeira de
Gina para lhe dar um leve toque na cabeça. — O que você estava
pensando, Gina?
— Eu não sei o que você quer dizer. — Ela contemporizou.
— Não venha com toda a timidez comigo, Gina O'Rourke. Você
ficou quieta quando eu saía escondida à noite. Eu não farei menos por
você. Mas deve ver o perigo em não dizer a ninguém sobre onde está.
Mary, a lavadeira, relatou que seu vestido reserva estava faltando.
Então Nancy trouxe para mim esta manhã. Ela disse que encontrou no
seu quarto quando ela o estava arrumando. O que você anda
fazendo?
Céus! Tinha ficado tão exausta quando chegou em casa que
simplesmente largou o vestido onde estava, em vez de escondê-lo.
— Ela contou para mamãe?
— Ela veio até mim, Gina, para poder evitar a histeria de
mamãe. Repito, por que você precisou de um vestido de lavadeira?
— Eu queria sair anonimamente. Peguei o xale de Mary também
para cobrir minha cabeça. Você sabe que ninguém nota servos, Gina.
Eu pensei que poderia ir a lugares impróprios para uma jovem
mulher, talvez ouvir coisas de que eu não estaria a par de outra
forma.
— Não é de admirar que esteja exausta. Mas você deve parar,
certo.
— Certo. Assim como você fez.
— Eu não estou achando graça, Gina.
— Nem eu. Três dias, Bella. É tudo o que me resta antes que
mamãe me leve de volta a Belfast. Três dias para encontrar as horas
que faltam da minha vida.
Bella franziu a testa e sentou ao lado dela.
— Eu não posso imaginar o quão difícil deve ser para você, Gina.
Sabe que vou ajudá-la de qualquer maneira que puder, mas não
posso tolerar você rondando as ruas de Londres depois da meia-noite
e se colocando em perigo. Se eu perdesse você, não conseguiria
imaginar uma coisa dessas.
— Você não vai me perder, Bella. James assumiu a
responsabilidade de cuidar de mim. — Calor penetrou em suas
bochechas com o pensamento de quão bem Jamie tinha cuidado dela
na noite passada.
— Jamie está cortejando você, Gina. Espero que ele proponha
em breve e que você se case e fique em Londres comigo e com Lilly.
— Pobre Bella. Se eu soubesse que você estava pensando nessa
direção, eu teria lhe dito mais cedo. Jamie está apenas tentando me
manter longe de problemas. Ele está cuidando de mim. Desde que o
Senhor Henley me abordou no jardim do Morris...
— O quê?
— O Senhor Henley veio a mim disfarçado. Ele falou comigo e
estava me arrastando para as sombras quando Jamie veio me
procurar. E desde então, ele quase não me deixa fora de sua vista. Eu
tentei desencorajá-lo, mas ele não vai desistir. A sociedade pode
pensar que estamos namorando, mas seu propósito real é me vigiar.
É por isso que estou me esgueirando. Eu não posso tê-lo pairando o
tempo todo. As pessoas não falarão livremente com ele carrancudo
atrás de mim.
Bella suspirou e seus ombros caíram.
— Eu estava tão certa... até Drew achava que vocês estavam
namorando.
— Não. Muito distante disso. — Embora tivesse feito uma bela
imitação disso ontem à noite, depois de ter pedido a ele.
Bella apertou a mão dela.
— Muito bem, Gina. Como Jamie está cuidando de você, eu vou
me manter em paz. Três dias. — Repetiu ela. — Se houver algo que
eu possa fazer para ajudar, você deve me dizer. Agora corra e se
troque. Encontraremos a Senhora e o Senhor Renquist no La Meilleure
Robe em meia hora.
Capítulo Vinte
A emoção crua nos olhos de Gina lhe tirou o fôlego. Ela o queria.
Ele poderia tê-la esta noite e deixá-la ir amanhã? Poderia sair agora, e
nunca mais fazer amor com ela? Não, ele não podia. Um paradoxo.
Um enigma sem resposta. Ele só podia ficar ali, esperando. Querendo.
Rezando.
Ela deu um passo em sua direção, e ele começou a respirar
novamente. Quando entrou em seus braços e ele os fechou sobre ela,
se sentiu inteiro. Como se tivesse tudo o que importava no mundo. E
quando ela ergueu os lábios para os dele, os tomou como se tivessem
sido oferecidos completamente, sinceramente, com uma verdade crua
que o humilhou.
Ele se atrapalhou com a roupa dela enquanto se beijavam, se
desfazendo do vestido rapidamente, mas diminuiu a velocidade com
os cordões. Ele não demorou a soltá-los completamente, apenas
soltá-los o suficiente para empurrar o espartilho ofensivo e a chemise
para baixo sobre seus quadris, deixando-a em apenas suas meias
brancas e sapatos. Ele a levou para a cama e tirou a manta de cima,
querendo vê-la contra a roupa de cama, mas o arrastou com ela, seus
dedos trabalhando o nó de sua gravata. Ele jogou os sapatos por cima
do ombro, mas decidiu deixar as meias de seda como um lembrete
erótico da natureza sensual desse encontro. O paletó, o colete, a
camisa, as botas, as calças e as roupas de baixo foram rapidamente
jogados e ele se deitou na cama ao lado dela.
Seu cabelo tinha se soltado, enredado em seus ombros como um
manto escuro. Suas bochechas estavam coradas com o calor de sua
paixão, e ele a amava tanto por isso, como nunca. Que ela o queria
desesperadamente dessa maneira era imensamente satisfatório. Que
ela se entregaria em suas mãos era uma confiança sagrada.
@Esta noite ele a amaria como ela merecia.
Ele a beijou profundamente, suspirando quando ela o convidou
com sua língua e seus gemidos suaves. Oh, Deus, os sons que ela
fazia quando ele descobria um ponto sensível ou aprofundava uma
carícia o inflamavam, e os usou como um guia para o prazer dela. Ele
tomou seu tempo, apreciando cada momento.
Quando ela mal conseguia respirar, ele deixou sua boca para
beijar o caminho até os seios e cuidar de ambos. Seus mamilos
maduros eram doces em sua língua, provocando-o, prometendo-lhe
delícias, e ele os tomou avidamente.
Podia ler seu elevado estado de excitação em sua respiração
rápida e pela maneira inquieta como ela se arqueava para ele. Ela
precisaria ser liberada em breve ou ele a perderia para a escuridão da
luxúria da paixão sem o refinamento do amor. Sua própria
necessidade aumentava com uma intensidade alarmante, mas ele não
podia, não antes dela. Ele empurrou de volta com toda a
determinação que tinha, sabendo que a recompensa seria tudo o que
ele queria.
O cheiro dela não negava o desejo e arrastou sua língua para
baixo, mais baixo, ainda mais baixo, até que ele encontrou aquele
local que pulsava contra sua língua e lhe dizia que ela era dele pelo
tempo que quisesse, mas ela estava à beira. Ele sabia quanta pressão
ela precisava, e o momento certo para aplicá-la, mas a manteve
ansiosa por essa liberação, negando-a para intensificá-la quando a
concedesse. Ela era como um incêndio, queimando quente e rápido.
Para ele. Só para ele.
— Por favor, por favor — ela pediu.
E ainda assim ele esperou, saboreando o gosto doce e salgado
dela, o cheiro que despertava algo profundo dentro dele, uma
necessidade primitiva.
Ela se curvou para cima, as unhas apertando os ombros dele
para puxá-lo sobre ela, para forçá-lo a entrar nela, mas ele a
empurrou para trás. Em breve. Mais um momento. Só mais um
momento
E lá estava o suspiro e a respiração que lhe dizia que ela estava
a segundos de desmaiar. Ele sacudiu a língua e pressionou com
firmeza enquanto ela se arqueava, a cabeça jogada para trás quando
a primeira onda de choque a atingiu. Ele levantou-se acima dela e
empurrou profundamente, entrando nela no exato momento em que
seu clímax começou, e ela gritou com o puro êxtase daquilo.
Ela estava apertada, seus músculos internos ondulando e
apertando em torno de seu eixo, o que provocou um grunhido de
prazer primordial. Mas ainda não tinha terminado. Ele a levou para
outro clímax enquanto empurrava de novo e de novo, mais e mais
rápido até que sua própria liberação se misturou com a dela. O
mundo ficou fora de controle, bloqueando a razão e o pensamento.
Tudo o que existia era prazer, puro e primitivo.
Lágrimas translúcidas escorriam dos cantos dos olhos dela
quando a tempestade passou e ele voltou ao momento. E para ela.
Era gloriosa, a coisa mais excitante que já tinha visto, e ele a amava
como nunca pensara que amaria alguém ou alguma coisa.
Ela estendeu a mão para tocar seu rosto e traçar a linha de sua
mandíbula enquanto ele pairava sobre ela.
— Ah, Jamie. Não tenho palavras para expressar...
Havia paixão escrita em cada toque e ela suspirou, expressando
o que não precisava ser falado. Ainda enraizado dentro dela, cresceu
duro novamente com a visão dela embaixo dele. Quando ela sentiu
sua aceleração, sorriu e esticou os braços acima da cabeça, abrindo-
se para ele e dando-lhe o presente de sua confiança.
O presente o humilhou e ele prometeu amá-la. Ele retribuiu o
sorriso enquanto aceitava seu convite, movendo-se novamente,
construindo sua excitação com uma paciência nascida da
autonegação. Oh, ela tinha muito a aprender sobre a profundidade da
paixão de um homem, e ele estava comprometido em ensiná-la.
Ela soube aonde estavam indo antes de chegarem até lá. Ali
estava, elevando-se sobre o nevoeiro. A propriedade de Ballinger, a
torre de sua estranha capela erguendo-se como uma estaca no
coração do terreno. O mesmo lugar que pensava visitar esta noite
com sua pequena chave depois que todos se recolhessem.
Ela encontraria, finalmente, a porta que abriria? Missy guiou-a
pelo portão de ferro e por um caminho que contornava a casa e
levava à capela. A pistola no bolso que estava contra a coxa de Gina a
confortava.
— Você acha que ele está aqui?
— Se não está aqui agora, virá em breve. Ele... Christina disse
que este é o seu lugar favorito.
Ela estremeceu com mais do que o frio. Christina, de fato!
Henley amava este lugar porque era o cenário de todos os seus
devaneios. A cena de sua desgraça. Sua mão foi para a garganta
quando ela parou na porta da capela.
— Venha, Gina. Estará mais quente lá dentro. — Missy
prometeu.
Ela entrou em um pequeno vestíbulo, esperando por uma
lembrança ou um sentimento de familiaridade, mas nada veio. Devia
ter estado inconsciente ou fortemente drogada quando foi levada para
lá.
Missy acendeu uma vela, abriu outra porta e fez sinal para que
Gina a seguisse até a sacristia. Os capuzes pretos estavam
pendurados em estacas e espalhados pelo chão, e um banco virado
dava testemunho do caos daquela noite longínqua.
Um calafrio profundo penetrou nela. Ansiosa por dissipar a aura
do mal, passou pela sacristia até a nave. Um altar estéril estava à sua
frente e, diante dele, um tapete vermelho jogado atrás de um alçapão
aberto.
Seu estômago se apertou. Embora não se lembrasse disso, sabia
que tinha sido levada por aqueles degraus de madeira para a
escuridão abaixo. Ela enfiou a mão no bolso e agarrou o cabo da
pistola, consolando-se com o fato de que, dessa vez, estava
preparada para se defender.
Missy passou por ela e abriu uma porta atrás da sacristia, onde
vestes e vasos sagrados eram mantidos. Ela pegou um cálice de
estanho e uma garrafa de vinho sacramental.
— Estou com sede, Gina. O Senhor Henley obviamente ainda
não está aqui. Vamos tomar um gole de vinho de comunhão? — Ela
riu enquanto colocava o vinho no cálice.
Gina olhou para a câmara embaixo do alçapão.
— Tem certeza de que não está aqui? Ele poderia estar lá
embaixo.
— Absurdo. Se tivesse nos ouvido, teria aparecido. Teremos
tempo para uma bebida antes de descermos para esperar por ele.
— Como ele vai saber nos procurar lá?
— Eu ouvi dizer que ele mora lá embaixo. — Ela se ocupou
colocando o cálice no altar e derramando uma generosa medida de
vinho nele.
A lista que o Senhor Renquist encontrou! Velas, isqueiro,
cobertor, vinho. Eles suspeitaram que o Senhor Henley estava
estabelecendo novas instalações, e assim ele fez. Ah, mas Missy
também sabia disso. E agora Gina sabia o que tinha que fazer.