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Também aqui não precisamos saber o nome dele. Porque esta história,
com a diferença de alguns dias ou algumas horas, pode muito bem servir a um
sem número de eles. E ele morava lá, nessa cidade, em uma casa de três
quartos e varanda, com sala, banheiros e cozinha. Tinha até uma lareira. A casa
era boa, ampla, arejada. Tinha um jardim gramado na frente e era logo ali, quase
ao lado da prefeitura. Atrás da casa, ficava um gramado ainda mais amplo com
uma quadra de vôlei improvisada. A casa ficava bem no centro da cidadezinha,
mas tinha seu espaço privativo, escondida em meio as árvores que lhe faziam o
contorno.
Também não recordo nem o nome da rua, nem o número da casa. Mas,
sem qualquer sombra de dúvida, se fosse agora até lá, saberia chegar nela. A
cor já não deve ser a mesma, logo, nem precisa ser citada. Tinha um canil e dois
cachorros. Pondero que aquilo tudo de grama dava muito trabalho para ser
cuidado. Um dia inteiro para cortar, varrer e, com o zelo dele, fazer os contornos
da grama onde ela beijava a calçada.
Esse tempo em que ela esteve ali, corriam perigo. A estadia dela nesta
casa lhe era facultada pelos riscos que a paixão permite aos amantes. Dentro de
casa, tudo lhes era permitido. Também o foi no espaço em que a natureza lhes
ofereceu proteção. Aos olhos dos transeuntes, nada de anormal se passava
naquela casa. Tudo corria naturalmente, como sempre houvera de ser.
Quatro noites e três dias. Esse era o tempo de o amor ali ser. Por isso o
tempo era esgotado, não em horas, mas em sorrisos e beijos trocados. Por isso
a intensidade dos momentos vividos. O apego não era apenas de pele, envolvia
Ela era livre. Livre de espírito. Sentia-se liberta de amarras e, por isso,
decidiu ficar. Ele não estava livre, não na mesma proporção, mas escolheu se
entregar à loucura que aquilo tudo significava. Como um furacão, ela chegou e
mudou muitas coisas na vida dele. Algumas certezas foram desestabilizadas e
ele, que tinha as rédeas da sua vida nas mãos, sentiu-se soltando-as, não por
completo, mas a ponto de cometer o que, tempos atrás, classificaria como
desatino.
naqueles dias e noites de verão. Entre eles tudo era acordo, era leve e seguia
um ritmo que só se permite a quem está apaixonado.
Não havia vícios, não havia cobranças, não havia espaço para o tédio da
rotina. Até porque não havia tédio já que tudo se fazia novo. O espaço era de
descobertas e de se permitir. De se permitir ir além do moralmente imposto, do
conscientemente seguro, aventurando-se por terras desconhecidas e por
sentimentos inusitados.