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Colorir 22

Em um mundo em que a linha tênue entre solidão e amor é representada com tanto vigor,
surgem ambas as partes que cuidam de seus ideias, daquilo que realmente acreditam e ignoram
o que não consegue entender ou decifrar. Todos desejam aquela paixão feroz, aquela que irá te
pegar no momento de distração e agarrar sua mente para levá-la longe, longe demais para
voltar a trás ou para renunciar ao sentimento; Todos querem amor, porque são vazios demais
para admitir que isso é fixo, e não pela falta de alguém. Já a solidão, digamos que não seja algo
atrativo aos olhos, todos fogem dela, certo? Errado, a fantasma solidão está presente em todos
os âmbitos que conhecemos, somos solitários desde o momento em que nascemos, abrimos a
alma e dizemos “uau, como chegamos aqui tão rápido?”, a única coisa que encontramos, é
alguém para dividir isso.

Mas do que estamos falando? Essa história é da própria solidão, aquilo que sobra quando todas
as pessoas vão embora, quando o mundo se dissipa e as portas fecham, ou quando o coração
aperta em altas horas na madrugada e tudo que você encontra é um vazio, longo e frio.

A fantasma solidão anda pelas ruas, fechada e invisível, em uma correria enorme contra o
tempo e as probabilidades, tinha uma missão e precisava se manter fixa a isso, era um propósito
louco e insano, um choque entre as realidades e mundos. Ela atravessou a rua sem olhar para
os lados e se assustou quando o barulho de buzinas e acontecimentos girou em sua cabeça.
Foco, foco, foco..era tudo que conseguia verdadeiramente escutar, mesmo com toda aquela
baderna. Passou pelos becos e explorou um pouco mais o interior da bela cidade que fora
obrigada a viver pela eternidade.

Já te contaram a verdade sobre os fantasmas? Eles não são almas malignas e infelizes que vem
puxar o seu pé a noite por alguma vingança mal estipulada, com certeza não. Fantasmas são
aquelas almas que quando chegam ao fim de seu limite terráqueo, são destinadas a viver como
um sentimento ou sensação; Alguns acabam encaminhados para coisas realmente boas, coisas
que ajudam as pessoas, que antes eram eles, a suportar a ideia de viver um pouco mais. Porém,
nem todos ficam contentes com aquilo que são destinos a ser, e esse, era justamente o caso da
fantasma solidão.

De repente as lembranças voltaram, todas aquelas memórias sobre o que a havia levado até
aquele momento, até aquele segundo que estava correndo como louca para descobrir algo que
evitava diariamente saber. Os segundos estavam batendo na porta para explodir, assim como
sua mente, assim como aquelas pessoas que aguentam até quando verdadeiramente podem e
conseguem, porque tudo havia uma explicação, pelo menos, era assim que ela pensava.

12 minutos atrás…
Solidão estava perto de um lago, observando os patos que aproveitavam a leveza e
tranquilidade do local, enquanto apreciava o barulho dos pássaros que cantarolavam
alegremente. Como sempre, estava sozinha, apenas pensando e pensando, degradando
sua mente com uma milhão de questões e um milhão de coisas impossíveis ou
improváveis. Na verdade, ela tinha uma lista daquilo que considerava como realmente
“impossível”, exatamente 3 coisas:

1: desvendar o propósito do amor

2: saber sua ligação com ele

3: conseguir escapar de sua própria solidão

E assim seguiu, pensando sobre como, se é que conseguiria, desvendar cada uma dessas
opções que havia estipulado. Era como o que costumava ver todos os dias, pessoas
fazendo listas de tudo que poderiam imaginar; Lista de piores jeitos de morrer, de coisas
para fazer durante o verão, de compras, de quantas pessoas já beijaram, ou quantos
desafios conseguiam cumprir. Coisas que faziam para superar o tédio que a vida lhes
proporcionava de graça.

Quando levantou o olhar, Solidão avistou duas crianças, especificamente uma que já
estava a um certo tempo ali, um menino que não parecia interessado em comunicação
ou distrações, qualquer coisa que o tirasse de seu momento único em observar o
movimento das pedras que jogava na água.

Até o momento em que outra chegou, não se pareciam fisicamente, e nem se


comunicavam de forma íntima, por mais que crianças tenham a mania de achar que
todos são seus amigos, então a fantasma deduziu que ambos não faziam ideia de quem
o outro era, o que pareceu estranho imediatamente. Eles se olharam, e a garota que
acabara de chegar perguntou se poderia acompanhá-lo em seu arremesso.

“Você se importa?” Ela perguntou.

“Tudo bem” Ele respondeu. Apenas isso e ganhou um sorriso ingênuo da menina.

Ela pegou a pedra mais próxima e jogou logo depois dele, ambas se rebateram três vezes
pelo lago e afundaram ao mesmo ritmo, fazendo com que os dois rissem e apreciassem o
momento. A parede que antes existia ao redor do garoto sumiu, e ali, eles começaram a
construir algo, não necessariamente duradouro mas significativo.

A fantasma Solidão se levantou as poucos, em movimentos lentos e precisos, mesmo que


ninguém conseguisse vê-la, não gostava de lembrar do quanto era insignificante. Se
sentiu tonta por um segundo, e então percebeu, que todos os seus itens na lista de coisas
impossíveis não eram lá extremamente impossível. Agitou os pés e olhou as pessoas
sentadas naqueles pequenos bancos ao redor do grande parque.

Amigos jogando, outros conversando, um casal jovem e animado rindo de algo, e um


casal de idosos com as mãos unidas conversando sobre como os pássaros amarelos
pareciam mais alegres, famílias passeando e contando suas histórias longas, pessoas se
amando por mais que, se ficassem sozinhas, passariam a adquirir o sentimento de
solidão. Mesmos que entendesse isso, A fantasma precisava de mais respostas, e foi aí
que começou a correr em direção ao único lugar que obteria isso, A casa do Sr. Amor.

Parou em frente a uma residência grande, vermelha e um pouco rústica, como aqueles
telefones antigos que costumava apreciar em um curto tempo. Já havia escutado muitos
rumores sobre onde o amor morava, como agia, seus amigos e até mesmo seus jeitos preferidos
de espalhar a cultura do que considerava paixão.

Tentou olhar pelas janelas mas tudo parecia tão vazio que começou a apostar que estava no
lugar errado, provavelmente aqueles rumores estavam incertos, afinal a maior deles estava.
Olhou para a grande porta com o número 22 gravado em dourado ao alto dela. 22 na
numerologia do amor significava ‘Tudo ou Nada’, o que lhe parecia fazer sentido.

Pensou em bater, chegou a esticar a mão para poder ouvi-la ao toque da madeira, também
pensou no que falaria quando a porta fosse aberta, afinal eles eram um complexo de
separações, meras fumaças que lhes atormentavam cotidianamente e analogamente. Por que
estava com tanto medo? Já teve de lidar com coisas bem piores e situações que nunca imaginou
que conseguiria escapar ou solucionar de forma que garantiria seu sucesso. Era só mais um
sentimento, como aqueles que era obrigada a conviver diariamente. Mas a grande verdade, é
que ele era algo, e ela se considerava nada.

Bateu uma vez na porta e esperou, quase que uma eternidade inteira, mas nada aconteceu,
então refletiu baixinho:

— O amor, ele realmente mora aqui? — A dúvida pareceu ecoar dentro de sua mente e bater
em todas as paredes.

— Acho que foi passear. — Alguém responde. Solidão pareceu se assustar com a voz que surgiu
e continuou. — Mas não demorará voltar. —

De repente, a porta se abre e um frio gelado vem contra Solidão, que excitou por um segundo
antes de prestar atenção ao que estava acontecendo. Deu um passo à frente e afastou a porta
para que pudesse adentrar ao local que tanto desejava desvendar. Tudo era vazio, exatamente
como havia visto ao lado de fora, era tudo branco que constantemente, piscava como luzes de
natal em várias cores. Os olhos da fantasma brilharam diante de tanta cor, aquele lugar parecia
um arco-íris particular, mesmo que oscilasse constantemente.

— Parece…comigo? — Sua voz soou baixa e cautelosa, enquanto ainda observava aquelas
pequenas artes sendo esboçadas. Assim como a solidão, o amor se colorida e voltava a estaca
zero, sendo por um segundo, aquilo que era retratado como contrário.

— Um vazio absoluto, formado do nada. — Uma voz respondeu novamente, mas soava
diferente. Ao virar de costas, Solidão encontrou a figura do tão famoso Sr. Amor. Ele estava
encostado sobre a parede e a observava concentrado.

— Mas…como? Por que? — Ela perguntou confusa.

— Querida, amor não pode ser encontrado do nada. O amor é construído a partir desse nada,
ele é feito de momentos, como uma bela pintura expressiva e única. — Ele descreve. A
fantasma Solidão sente um choque em sua mente, nunca havia imaginado que amor poderia ser
tão vazio quanto a solidão, um sentimento que vai e volta.

— E-Eu não entendo. — Solidão sussurra.

— A princípio, amor não é algo, ele é o momento; O momento em que você balança a cabeça e
diz “nossa”, perdido em um mundo único de sentimentos e isso, meu bem, é sua própria pintura
de amor, o seu colorido. — Sr. Amor disse, com tanta convicção que convenceu A fantasma
Solidão.

A solidão e o amor são duas coisas que andam de braços dados, mãos entrelaçadas e trabalham
juntas diariamente. Estando com aquelas pessoas que te fazem sentir amado, a solidão parece
distante e isolada, mas quando está sozinho, ela aparece te abraçar e te puxar para o fundo, até
mesmo ao meio de tantas pessoas é possível se sentir só. Mas isso não precisa ser ruim,
aproveitar a si é algo único, é como descobrir mais sobre algo que você tem a tempos e nunca
reparou verdadeiramente.É sobre como você vê a solidão e não sobre o que ela é.

Então, pinte suas próprias borboletas, porque mesmo que desapareçam por um tempo, elas
irão voltar, vivas como nunca.

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